Você está na página 1de 17

TERAPIA BIOENERGÉTICA

AULA 4

Profª Nathalie Pailo Perozin

1
CONVERSA INICIAL

Bem-vindos(as). Nesta aula, vamos nos aprofundar no aspecto corporal


da abordagem. Primeiramente, vamos lembrar os conceitos que vimos a
respeito desse tema anteriormente.
Iniciamos pelo estudo da origem da abordagem e a percepção de Reich
sobre a importância do corpo como parte do processo terapêutico.
Em seguida, estudamos a visão de homem e de mundo da abordagem,
na qual vimos que o corpo responde às experiências vivenciadas durante o
nosso desenvolvimento e dependendo destas experiências serem positivas ou
negativas marcas ficam gravadas no corpo na forma de couraças musculares –
o que impacta não apenas o corpo como também nossas emoções,
comportamentos e qualidade energética.
Vimos, também, que nossos mecanismos de defesa são compostos por
algumas camadas, entre as quais a camada de defesa corporal é a mais
importante de ser trabalhada, pois é ela que permite a real transformação das
demais camadas (emocional e ego).
Por fim, estudamos cada uma das estruturas de caráter e quais são as
características corporais mais comuns nos indivíduos que apresentam cada
uma das estruturas.
Nesta aula, estudaremos mais a fundo o conceito e o processo de
formação das couraças musculares, passando por um breve estudo do sistema
nervoso; conheceremos os sete segmentos corporais nos quais as couraças se
formam; além disso, iremos nos aprofundar no estudo de alguns aspectos
importantes na prática da terapia Bioenergética relacionados ao corpo –
respiração e grounding.

TEMA 1 – SISTEMA NERVOSO

Iniciaremos por um breve estudo a respeito do envolvimento do sistema


nervoso no processo de formação das couraças musculares. Inclusive, é
devido à relação íntima do sistema nervoso autônomo (ou vegetativo) com os
processos emocionais que Reich denominou a segunda fase de seu trabalho
de Vegetoterapia Caracteroanalítica (Volpi; Volpi, 2003).
Segundo Volpi e Volpi (2003), o sistema nervoso é responsável pela
integração do organismo com o ambiente, pois detecta os estímulos (externos

2
e nternos) e, a partir destes, desencadeia respostas musculares e glandulares
no organismo. Conforme vimos até aqui, as couraças se formam a partir dessa
integração do indivíduo com o meio; por isso a importância de compreender a
relação do sistema nervoso nesse processo.
A autorregulação também é impactada por esse sistema. Veremos na
figura a seguir como ocorre essa relação.

Figura 1 – Sistema nervoso

Fonte: Perozin, 2021.

Como podemos ver na figura, o sistema nervoso é divido em Somático,


que controla as atividades voluntárias do organismo, e Autônomo ou
Vegetativo, que controla as atividades involuntárias do organismo. Nós
estudaremos especialmente o SNA, pois é ele que controla funções vitais que
interferem diretamente na saúde e capacidade de autorregulação do
organismo, como: respiração, circulação do sangue, temperatura corporal,
digestão, entre outros.
O SNA é, por sua vez, divido em Simpático e Parassimpático. O SNA
Simpático é ativado por situações de estresse e perigo e tem como função
preparar o organismo para a ação ou fuga – a respiração aumenta, os
músculos se contraem, entre outros. No caso da corporal, como temos visto,
em situações de trauma. o organismo se contrai e, dependendo da intensidade,
frequência e relevância das experiências, essas contrações podem se tornar
crônicas. O sistema Simpático é o responsável por executar essas contrações.
O SNA Parassimpático é ativado em situações de relaxamento e tem
como função colocar o corpo em estado de repouso – respiração lenta,
músculos relaxados, entre outros. No caso da corporal, quando as experiências
de vida são prazerosas e tranquilas, esse é o sistema responsável pela função
de expansão.
Segundo Volpi e Volpi (2003), quando a atividade de um desses
sistemas aumenta, a atividade do outro reduz. É dessa forma que o organismo
3
se equilibra, ou seja, funciona de acordo com sua capacidade de
autorregulação. Já se o estado biológico estiver alterado em uma ou outra
direção (expansão ou contração), uma perturbação no organismo será
inevitável.
Chegamos então na conclusão de que: a ausência de pulsação entre
contração e expansão é o que representa a couraça (Volpi; Volpi, 2003). A
seguir, estudaremos esse tema mais profundamente.

TEMA 2 – COURAÇA MUSCULAR

Sobre couraça muscular, podemos dizer de forma simplificada que esta


corresponde ao enrijecimento crônicos dos músculos de uma região do corpo,
que ocorrem devido às situações aversivas vivenciadas pelo indivíduo durante
seu desenvolvimento.
Fazendo uma relação com o SNA Simpático, segundo Volpi e Volpi
(2003), quando ocorre uma situação aversiva, esse sistema contrai a
musculatura do indivíduo, com o objetivo de proteção/defesa. Essa contração
se mantém até que o ambiente propicie relaxamento e, quando isso não
ocorre, ou quando as contrações ocorrem repetidamente, a musculatura
permanece num estado de tensão. Essa rigidez crônica, conforme vimos
acima, é o que chamamos de couraça muscular.
Apesar de a couraça afetar a maleabilidade da musculatura, não é
apenas nessa estrutura que ela atua, pois também impede ou reduz a
circulação energética no organismo. Segundo Volpi e Volpi (2003), para
compensar esse bloqueio, o corpo adota novas formas e posturas – e é devido
a isso que conseguimos perceber indícios da estrutura do caráter do indivíduo
ao observar o seu corpo.
O estado corporal pode ser relacionado ao caráter do indivíduo, pois o
comportamento é sempre uma manifestação muscular, ou seja, toda couraça
psíquica (caráter) possui um equivalente somático (muscular) (Volpi; Volpi,
2003). Quando ocorre o enrijecimento dos músculos, há também o
enrijecimento das atitudes caracteriais (as excitações e sensações emocionais
ficam bloqueadas).
Lowen (2017) também aborda esse tema destacando que todas as
experiências de vida de um indivíduo ficam registradas tanto em sua
personalidade como ficam também estruturadas no seu corpo.
4
Pela observação da forma, da postura e do comportamento corporal do
indivíduo, é possível fazermos a relação com seu comportamento caracterial.
As couraças geram uma redução na sensibilidade, na fluidez e na vitalidade do
organismo como um todo. Alguns dos fatores que podem ser observados para
fazer essa relação são: o jeito de falar, entonação e impostação da voz; a
maneira de gesticular; o jeito de se mover e caminhar; pontos de rigidez ou de
flacidez corporal; pontos de dor; entre outros.
A identificação das couraças musculares e o trabalho com estas é
essencial dentro da Bioenergética, uma vez que, de acordo com Lowen (2017),
crescer como indivíduo demanda um compromisso com o corpo e apenas por
intermédio deste é possível experimentar a vida e a existência. Segundo o
autor (2017, p. 99), “o eu não pode divorciar-se do corpo e a autopercepção
não pode separar-se da consciência corporal”.
Antes de finalizarmos esse capítulo, é válido ressaltar que podem existir
tipos diferentes de couraças musculares. As couraças crônicas, das quais
estamos falando aqui, são formadas no início da vida, ou seja, durante as fases
do desenvolvimento (da concepção até puberdade). Já as couraças que
podemos chamar de “flexíveis” são aquelas que surgem continuamente, no dia
a dia, conforme vamos vivenciando experiências negativas; porém, essas
podem ser desfeitas com muito mais facilidade (Volpi; Volpi, 2003).
Seguiremos, agora, para o estudo dos segmentos corporais, nos quais
as couraças musculares estão dispostas.

TEMA 3 – SEGMENTOS CORPORAIS

De acordo com as descobertas de Reich, as couraças musculares estão


dispostas em sete segmentos corporais, aos quais ele chamou de “segmentos
de couraças”. Cada um desses segmentos se apresenta no formato de um
“cinturão”, que compromete todas as estruturas da região, como tecidos,
órgãos e músculos.
Veremos abaixo uma figura com a disposição de cada um dos
segmentos, que são: ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático, abdominal e
pélvico. Em seguida, estudaremos cada um dos segmentos, considerando suas
características, sistemas e órgãos que compõe cada um deles.

5
Figura 2 – Segmentos de couraça

1. OCULAR

2. ORAL
3. CERVICAL

4. TORÁCICO

5. DIAFRAGMÁTICO

6. ABDOMINAL

7. PÉLVICO

Créditos: procurator/Shutterstock.

3.1 Segmento ocular

O primeiro segmento, ou segmento ocular, corresponde ao nível dos


telerreceptores, sendo composto pelos olhos, ouvidos, nariz e pele. É através
destes sistemas que percebemos e nos relacionamos com a realidade fora de
nós (Vopi; Volpi, 2003).
A couraça muscular nesse segmento é muito presente na estrutura de
caráter Esquizoide, pois afeta a percepção, a clareza da realidade e a
capacidade de contato e afeto do indivíduo com o mundo externo – estas são

6
características do indivíduo com essa estrutura, como vimos anteriormente.
Porém, pode ser encontrada em outras estruturas caracteriais também.
Ao atender a um paciente com comprometimento neste segmento, será
possível perceber alterações nesta região corporal, seja no quesito
comportamental ou físico. Veremos a seguir alguns padrões que podemos
observar relacionados a cada segmento.
Referente a região dos olhos, alguns dos padrões podem ser:

• Olhos arregalados, tensos, fechados, caídos, apertados ou sem vida;


• Facilidade ou dificuldade em fazer contato visual com as pessoas, com o
terapeuta e com o mundo ao redor;
• Maneira de olhar – se é fixa, variante, tensa ou relaxada;
• Entre outros.

Referente aos ouvidos, podemos observar se há dificuldade de prestar


atenção, de focar no que está sendo dito, de absorver a informação que
escuta, de manter a atenção na conversa, entre outros.
Referente ao nariz, podemos observar se a respiração da pessoa é
profunda ou curta – no sentido de quanto à vontade ela fica para inspirar o ar
do mundo/ entrar em contato com o mundo através da respiração, entre outros.
Referente à pele, podemos observar a facilidade ou dificuldade de tocar
e ser tocado, a postura corporal no sentido de ser convidativa à proximidade ou
não, entre outros.
Outro impacto possível das couraças ocorre na saúde física do
indivíduo, o que vamos chamar de biopatias. No caso da couraça ocular,
algumas delas são: erros de refração (como miopia, astigmatismo ou
hipermetropia), rinite, sinusite, enxaqueca, alergias e urticárias na pele, entre
outros (Volpi; Volpi, 2003).
No caso de alguns segmentos, podemos observar também a relação
com distúrbios psíquicos. Tratando-se do segmento ocular, esses distúrbios
são aqueles relativos à deficiência na percepção da realidade em algum grau,
como: psicose, síndrome do pânico, anorexia e esquizofrenia.

3.2 Segmento oral

O segundo segmento, ou segmento oral, é composto principalmente


pela boca (e estruturas relacionadas – lábios, língua, dentes etc.), incluindo

7
também a mandíbula. Os comprometimentos nessa região costumam estar
relacionados à fase de amamentação e desmame, como já vimos
anteriormente.
A couraça muscular nesse segmento é muito presente na estrutura de
caráter oral. Ela afeta a capacidade de independência, autossustentação e
autoconfiança do indivíduo.
Referente aos padrões que podem ser observados nessa região para
identificação da presença de couraça, alguns são:

• Expressão dos lábios (apertados, tensos, contidos ou projetados para


fora, soltos, com aparência de bico);
• Expressões faciais na área da boca (movimentos contidos ao falar –
abre pouco a boca – ou movimentação extrema – movimenta bastante a
boca, faz careta etc.);
• Disposição dos dentes (bem distribuídos, projetados para fora ou para
dentro, encavalados etc. – hoje em dia, com o uso comum de aparelhos,
é mais difícil identificar esses padrões);
• Tensão na mandíbula (constante ou pontualmente);
• Entre outros.

As biopatias mais comuns relacionadas a esse segmento são: bruxismo,


ATM (disfunção da articulação temporomandibular) e problemas ortodônticos
(Volpi; Volpi, 2003).
Os distúrbios psíquicos mais comuns são: depressão e bulimia.

3.3 Segmento cervical

O terceiro segmento, ou segmento cervical, é composto pelo pescoço,


garganta e parte superior do trapézio.
Deste segmento em diante, não teremos relação específica com uma
estrutura de caráter, pois esse padrão de couraça pode se apresentar em
diversas estruturas.
A couraça neste segmento afeta a capacidade de relaxamento e
entrega, costuma representar uma busca excessiva por controle (externo ou
interno) e autoconservação.
Referente aos padrões que podem ser observados nessa região para
identificação da presença de couraça, alguns são:

8
• Movimentação da cabeça e do pescoço (pode-se perceber se a
movimentação é livre, fluida, ampla ou contida, tensa, limitada);
• Posição do pescoço (se é caído para frente, contido para trás, esticado,
encurtado etc.);
• Características da voz (entonação, impostação etc.);
• Facilidade de fala e expressão, entre outros.

As biopatias mais comuns relacionadas a esse segmento são: torcicolo,


artrose cervical, problemas na tireoide, problemas relacionados a voz e fala,
entre outros.
Já os distúrbios psíquicos podem variar de acordo com a estrutura de
caráter, não sendo possível nesse caso definir distúrbios específicos.

3.4 Segmento torácico

O quarto segmento, ou segmento torácico, é composto por toda área do


peitoral e coluna torácica, incluindo coração, pulmão e membros superiores.
Esta região está relacionada também com a glândula do timo, responsável pela
imunidade do organismo (condição de difere de indivíduo para indivíduo, assim
como as impressões digitais) (Volpi; Volpi, 2003).
A presença de couraça neste segmento afeta a capacidade de entrega e
abertura do indivíduo para o mundo, assim como tem relação com sua
individualidade, autoconfiança e defesa.
Referente aos padrões que podem ser observados nessa região para
identificação da presença de couraça, alguns são:

• Postura peitoral (peito projetada para frente, estufado ou projetado para


dentro, fechado);
• Movimentação com a respiração (observar se o tórax se movimenta com
a entrada e saída de ar – muitas vezes fica rígido, não se movimenta);
• Posição dos ombros (caídos/fechados ou bem-posicionados);
• Movimentação dos braços (se é livre, fluida, contida, exagerada);
• Entre outros.

As biopatias mais comuns referentes a esse segmento estão


relacionadas a problemas: respiratórios, de coração, de pulmão, na coluna
torácica, nos ombros, nos membros superiores, entre outros.

9
Os distúrbios psíquicos podem variar de acordo com a estrutura de
caráter, não sendo possível nesse caso definir distúrbios específicos.

3.5 Segmento diafragmático

O quinto segmento, ou segmento diafragmático, é composto pelo


diafragma – músculo muito importante no processo respiratório.
A presença de couraça neste segmento afeta a integração da parte
superior e inferior do corpo, gerando uma cisão, e está relacionada também
com a capacidade de entrega, confiança, relaxamento e autoaceitação do
indivíduo (por possibilitar essa integração do corpo como um todo).
Referente aos padrões que podem ser observados nessa região para
identificação da presença de couraça, alguns são:

• Amplitude da respiração (se é ampla e profunda ou curta e contida);


• Movimentação do tórax e abdômen com a respiração (quanto mais as
duas áreas se movimentarem, mais solto o diafragma está; quanto
menos se movimentarem, mais rígido está);
• Integração da parte inferior e superior do corpo (às vezes, é possível
perceber a cisão);
• Liberdade de movimento de rotação do tronco (se o corpo é mais
retilíneo, sem liberdade de movimento de rotação, indica rigidez na
região), entre outros.

As biopatias mais comuns referentes a esse segmento estão


relacionadas a problemas respiratórios e na região central da coluna (conexão
da torácica com a lombar), entre outros.
Os distúrbios psíquicos podem variar de acordo com a estrutura de
caráter, não sendo possível, nesse caso, definir distúrbios específicos.

3.6 Segmento abdominal

O sexto segmento, ou segmento abdominal, é composto por toda região


do abdômen, órgãos abdominais, coluna lombar e função dos esfíncteres.
A presença de couraça neste segmento está relacionada a
comportamentos de retenção, que podem se expressar na forma de:

• Controle;

10
• Mesquinhes;
• Compulsividade (especialmente por limpeza e organização);
• Tensão na região;
• Dificuldade em relaxar;
• Constipação intestinal;
• Entre outros.

Referente aos padrões que podem ser observados nessa região para
identificação da presença de couraça, alguns são:

• Movimentação do abdômen com a respiração (se há liberdade de


movimentação ou se fica rígido e contraído);
• Formato do abdômen (encolhido, rígido ou flácido, projetado para fora);
• Capacidade de sustentação do corpo (se há tônus na região ou não);
• Mobilidade e tônus da coluna lombar (se é rígida ou móvel, se tem dor
ou não, se tem hérnia ou não etc. – abdômen está diretamente ligado à
sustentação da lombar);
• Entre outros.

As biopatias mais comuns referentes a esse segmento estão relacionadas


a problemas intestinais, nos órgãos abdominais, na coluna lombar, no controle
dos esfíncteres (que podem ser tensos demais ou soltos demais), entre outros.
Os distúrbios psíquicos podem variar de acordo com a estrutura de
caráter, não sendo possível nesse caso definir distúrbios específicos

3.7 Segmento pélvico

O sétimo e último segmento, ou segmento pélvico, é composto por toda


região pélvica, que inclui: quadril, últimas vertebras da lombar, sacro, assoalho
pélvico, sistema reprodutor, genitais e se estende também às pernas e pés.
A presença de couraça neste segmento afeta a relação do indivíduo com
sua sexualidade, a confiança em sua capacidade de autossustentação e
estrutura pessoal, o contato com a realidade, a sensação de segurança e a
capacidade de ação no mundo.
Referente aos padrões que podem ser observados nessa região para
identificação da presença de couraça, alguns são:

• Posição do quadril e dos glúteos (projetado para frente ou para trás);

11
• Mobilidade da região (limitada ou ampla);
• Presença ou não de tensão na região (rigidez, tensão ou flacidez, falta
de tônus); firmeza do contato das penas e pés com o chão;
• Formato e posição das pernas e joelhos (joelhos bem-posicionados, com
desvio para dentro ou para fora, pernas muito fechadas ou muito
abertas/ distantes);
• Formato e contato dos pés com o chão (peito do pé arcado, pés chatos,
distribuição do peso);
• Entre outros.

As biopatias mais comuns referentes a esse segmento estão


relacionadas ao sistema reprodutor (masculino e feminino), sexualidade (como
ejaculação precoce, frigidez, falta de libido), incontinência urinária (por falta de
tônus no assoalho pélvico), dores e problemas articulares e musculares na
região como um todo, entre outros.
Os distúrbios psíquicos podem variar de acordo com a estrutura de
caráter, não sendo possível nesse caso definir distúrbios específicos

TEMA 4 – RESPIRAÇÃO

Falaremos agora a respeito de uma das funções corporais considerada


de extrema importância pela Bioenergética: a respiração. Segundo Lowen
(1985), uma boa respiração é essencial para uma saúde vibrante, pois é
através dela que conseguimos o oxigênio que mantém aceso o fogo do nosso
metabolismo, o que nos assegura da energia que precisamos.
Os distúrbios de respiração podem se apresentar tanto na função de
inspiração como de expiração. No caso da inspiração, podem estar
relacionados ao medo de entrar em contato com o mundo, ou seja, a pessoa
inspira superficialmente para se proteger do mundo. Esse padrão respiratório
prejudica a vitalidade, uma vez que a oxigenação é reduzida. No caso da
expiração, podem estar relacionadas ao medo de se entregar, a uma sensação
de insegurança, ao medo de entrar em contato com as sensações e
sentimentos, entre outros. Esse padrão respiratório prejudica a capacidade de
relaxar e se entregar, uma vez que mantém uma porcentagem de ar sempre
retida.

12
Alterações na respiração são muito comuns e costumam ser
encontradas na maioria das pessoas em algum grau, pois esta é uma das
primeiras funções corporais impactadas quando vivenciamos qualquer situação
de tensão – como medo, tristeza, susto, raiva, entre outras. Podemos observar
em nós mesmos esse processo. No momento que nos deparamos com uma
situação aversiva, imediatamente retemos a respiração, tensionando a
musculatura da região e reduzindo a mobilidade de todas as áreas corporais
envolvidas nesta função. Como já vimos anteriormente, quando essas tensões
são muito intensas ou repetitivas, podem se tornar crônicas, dando origem à
couraças.
Dito isso, as práticas respiratórias utilizadas pela Bioenergética não têm
como objetivo estimular a capacidade, a profundidade ou a
percepção/consciência da respiração, mas sim promover a liberação das
couraças que impedem a respiração de acontecer na sua forma natural
(Lowen, 1985).
A respiração natural, quando estamos em nosso estado relaxado,
envolve em algum grau todos os músculos do corpo, principalmente aqueles da
região do tronco. Ao entrar, o ar expande os pulmões (expandindo também o
tórax), o diafragma contrai e desce para permitir esse movimento, o abdômen
se estende e a pelve se move levemente para trás e para baixo. Ao sair o ar,
toda essa movimentação ocorre novamente, no sentido oposto – pelve se
move para frente e para cima, abdômen relaxa, diafragma sobe, pulmões
esvaziam, tórax relaxa. A garganta, a boca e o nariz também têm participação
importante nesse processo, uma vez que a tensão em uma dessas áreas reduz
a capacidade respiratória (Lowen, 1985).
Em conteúdo posterior, abordaremos as práticas corporais, na qual
veremos exercícios de respiração com essa função de liberação das couraças
e promoção de uma respiração natural.

TEMA 5 – GROUNDING

Outro aspecto de extrema importância na Bioenergética é o grounding.


Este termo foi criado por Lowen e se refere tanto a uma qualidade do indivíduo
como a um dos exercícios da Bioenergética.
Referente ao grounding como qualidade, o indivíduo com um bom
grounding é aquele que tem a sensação de contato dos pés com o chão bem
13
desenvolvida e está em contato com as realidades básicas de sua existência,
ou seja, está firmemente plantado no chão, ciente de sua sexualidade e
orientado para o prazer. Essas qualidades faltam às pessoas que estão “em
suspenso”, ou seja, com seu grounding comprometido (Lowen, 1985).
Por sua vez, o grounding como exercício tem como objetivo aumentar a
qualidade de grounding do indivíduo, ou seja, busca aumentar a conexão dos
pés com o chão, a sensação de base e estrutura pessoais, a capacidade de
autossustentação, entre outros. De acordo com Lowen (1985), o resultado
imediato do grounding é um aumento no senso de segurança do indivíduo, uma
vez que sente o chão sob si e seus pés apoiados nele.
Quando o indivíduo está “em suspenso”, tem medo de cair, de relaxar,
de se soltar e se entregar. Porém, se o indivíduo tem um bom grounding,
sente-se confiante de que, independentemente do que ocorra, será capaz de
dar conta e se sustentar. A qualidade de grounding é importante também para
as funções de prazer e descarga relacionadas à sexualidade, assim como a
capacidade de entrar em contato com os sentimentos e sensações.
Nos tempos atuais, é comum darmos mais valor e atenção para as
atividades da metade superior do corpo, que são muitas vezes consideradas
mais “elevadas”, como pensamento, fala, organização, comunicação,
consciência, controle, entre outros. Fazemos isso em detrimento das funções
na metade inferior do corpo, que podem ser relacionadas com funções de
natureza mais animal, como sexualidade, defecação e locomoção. Porém,
Lowen (1985) destaca que é na nossa natureza animal que residem as
qualidades de ritmo e graça, e quando nos negligenciamos essa região,
perdemos em grande parte essas qualidades.
Veremos, posteriormente, alguns exercícios para ativar e desenvolver a
qualidade de grounding.

NA PRÁTICA

A compreensão a respeito do processo de formação das couraças e


como estas se apresentam no corpo, a partir dos segmentos de couraça, é
essencial para o aspecto corporal de nossa atuação com a Bioenergética.
A partir deste conhecimento, somos capazes de identificar no corpo do
paciente formatos, posturas e comportamentos que nos auxiliarão na

14
compreensão do perfil do paciente e na elaboração do projeto terapêutico
adequado.
Porém, é importante destacar que, ao identificar um padrão corporal,
não devemos “carimbar” o paciente, acreditando que conhecemos e sabemos
tudo a seu respeito. Os padrões corporais são indicativos de estruturas de
caráter, de comportamentos específicos, de doenças e distúrbios específicos,
mas isso somente poderá ser confirmado a partir de uma troca mais profunda
com o paciente e identificação de outros indicativos que confirmem as
suspeitas – como, por exemplo, história de vida, relato de emoções,
pensamentos e comportamentos, histórico médico de doenças e distúrbios
psíquicos, entre outros.
As informações corporais a respeito do paciente podem ser construídas
através da observação (ao olhar o corpo, os movimentos, a postura do
paciente), através de informações médicas (dores, doenças, tratamentos já
realizados ou em andamento), mas também a partir da aplicação de práticas
corporais.
No início de um processo terapêutico, não temos muitas informações
sobre o paciente, então podemos começar com práticas básicas, como, por
exemplo, de respiração e grounding. A partir da execução dessas práticas,
podemos observar como o paciente as executa (se tem facilidade ou
dificuldade para fazer o exercício, se consegue se entregar ou se é resistente
etc.) e as sensações e pensamentos que relata após a prática – para isso,
devemos perguntar a ele quais foram as sensações e pensamentos ao final
das práticas.
No caso das sensações e pensamentos, podemos receber diversos tipos
de retorno dos pacientes. Alguns dizem que não sentiram nada e/ou não
pensaram em nada. Esse tipo de retorno pode indicar que não há couraças na
região, mas também podem indicar exatamente o contrário, que há uma
resistência em entrar em contato com a região, emoções e pensamentos
relacionadas a ela. Aos poucos, com o treino e a prática, vocês conseguirão
identificar cada caso. As demais percepções e informações que você tem sobre
o paciente também podem ajudar nisso.
Por exemplo, se você percebe que o tórax do paciente é estufado e
rígido, não se movimenta com os exercícios de respiração, mas ele fala que
não sente nada com os exercícios, você pode imaginar que isso é uma

15
resistência. Já se você percebe que a região do tórax tem mobilidade, a
postura da região está adequada e o paciente se aprofunda nos exercícios
respiratórios, você pode imaginar que a região está livre de couraças ou, se as
tem, é em grau baixo.
É mais comum que um paciente sem couraças em determinada região
diga que a sensação com os exercícios foi agradável do que diga que não
sentiu nada. Enfim, são critérios de observação que você construirá na prática,
estes são apenas alguns exemplos.
Já no caso de pacientes que relatam sensações, emoções,
pensamentos e lembranças, você pode relacionar essas informações relatadas
com outras informações que já tenha coletado, a fim de compor, cada vez em
mais detalhes, o seu entendimento a respeito do perfil do paciente. Lembrando
que, na Bioenergética, nossa compreensão a respeito do paciente terá sempre
três componentes: mente/psique – corpo – energia. A partir de todo conteúdo já
estudado, você vai se tornando cada vez mais habilitado para fazer a relação
entre todos estes aspectos.
É interessante que, no momento de um atendimento, especialmente no
caso de um atendimento individual, você tenha em mãos um mapa corporal,
para que possa fazer anotações de suas percepções a respeito do corpo do
paciente (formas, postura, tensões, dores, flacidez etc.) e, com o andamento do
processo terapêutico, possa relacionar essas anotações com as demais
informações coletadas, validando suas percepções iniciais.

FINALIZANDO

Nesta aula, estudamos a relação do sistema nervoso e suas subdivisões


com a formação das couraças musculares. Aprendemos que o Sistema
Nervoso Autônomo ou Vegetativo, dividido em SNA Simpático e
Parassimpático é responsável, respectivamente, pelas funções de contração e
de expansão do organismo. Quando as contrações são muito intensas ou
frequentes, adotam um estado crônico, o que dá origem às couraças
musculares.
Estudamos também o conceito de couraças musculares e como elas
interferem na saúde do indivíduo como um todo, podendo comprometer o
corpo, o caráter e a circulação energética. Mais uma vez se faz essencial
destacarmos a interligação destes três aspectos do organismo.
16
Na sequência, vimos que as couraças estão dispostas em sete
segmentos corporais, chamados de segmentos de couraça. Estudamos
detalhadamente como um deles e como impactam as emoções, os
comportamentos, o corpo, a saúde física e a saúde psíquica. Os sete
segmentos que vimos são: ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático,
abdominal e pélvico.
Finalizamos os estudos nos aprofundando em dois pilares importantes
da Bioenergética: a respiração e o grounding. Independente das características
individuais de cada indivíduo, esses pilares devem sempre receber nossa
atenção no processo e no projeto terapêutico.

REFERÊNCIAS

LOWEN, A. Bioenergética. São Paulo: Summus, 2017.

LOWEN, A.; LOWEN, L. Exercícios de bioenergética: o caminho para uma


saúde vibrante. São Paulo: Ágora, 1985.

VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M. Reich: da vegetoterapia à descoberta da energia


orgone. Curitiba: Centro Reichiano, 2003.

17

Você também pode gostar