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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0349.11.000257-4/001 Númeração 0002574-


Relator: Des.(a) Geraldo Augusto
Relator do Acordão: Des.(a) Geraldo Augusto
Data do Julgamento: 10/03/2020
Data da Publicação: 17/03/2020

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - REEXAME NECESSÁRIO - SERVIDOR


PÚBLICO - ADICIONAL DE TEMPO DE SERVIÇO - LICENÇA PRÊMIO -
CONTAGEM DE TEMPO - LEI COMPLEMENTAR Nº 033/2004 - ADICIONAL
DE INSALUBRIDADE - DIREITO RECONHECIDO PELO MUNICÍPIO -
PORCENTAGEM - DIFERENÇAS- SENTENÇA REFORMADA
PARCIALEMENTE.

O estatuto dos servidores equipara tempo de serviço prestado mediante


vínculo de natureza permanente, inclusive celetista, para fins de obtenção
dos quinquênios e das férias prêmio e não deixa dúvidas de que se trata de
tempo pretérito, ao introduzir no texto legal a expressão: "que o servidor
houver prestado".

Levar-se-á em consideração para o cômputo do tempo de labor aquele que o


servidor prestou de efetivo exercício de serviço público mediante vínculo de
natureza permanente, de forma que o período laborado como contratado não
se contabiliza, uma vez que esse possui natureza temporária.

É devido o adicional de insalubridade, uma vez que o Município de Jacutinga


já realiza o pagamento ao servidor apelado. Conforme previsto no art. 81, da
Lei Municipal nº 33/2004, a porcentagem prevista para o adicional de
insalubridade é de 30%, do que se depreende que a referida verba foi paga a
menor, sendo devidas as diferenças ao servidor, observada a prescrição
quinquenal.

AP CÍVEL/REM NECESSÁRIA Nº 1.0349.11.000257-4/001 - COMARCA DE


JACUTINGA - REMETENTE: JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE
JACUTINGA - APELANTE(S): MUNICÍPIO JACUTINGA - APELADO(A)(S):

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OSMAR DE LIMA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em NEGAR PROVIMENTO AO AGRAVO RETIDO, EM REEXAME
NECESSÁRIO, REFORMAR PARCIALMENTE A SENTENÇA E DAR
PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. GERALDO AUGUSTO

RELATOR.

DES. GERALDO AUGUSTO (RELATOR)

VOTO

Trata-se de reexame necessário e de recurso de apelação contra


sentença que, nos autos da ação de declaratória de obrigação de fazer
ajuizada por Osmar de Lima em face do Município de Jacutinga, julgou
parcialmente procedentes os pedidos iniciais, condenando a parte ré a
incorporar os quinquênios com o devido adicional, com início da contagem
em 06.02.1999, com seus reflexos em 13º, férias, abono férias e férias
prêmio; a incorporar na ficha funcional do autor o direito a licencia prêmio,
contando o tempo de serviço desde 06.02.1999; a pagar ao autor as
diferenças salariais referentes aos quinquênios incorporados e não pagos,
com seus reflexos no 13º, férias, abono de férias e férias prêmio, observada
a prescrição quinquenal. Condenou, ainda, ao pagamento das diferenças
salariais referentes ao adicional de insalubridade. Juros de mora desde a

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citação e a correção monetária desde o vencimento de cada parcela nos


termos do art. 1º-F, da Lei nº 11.960/09. Ante a sucumbência recíproca
condenou as partes ao pagamento dos honorários advocatícios no importe
de 10% sobre o valor atualizado da causa na proporção de 20% para o autor
e 80% para o réu, vedada a compensação e observada a gratuidade da
justiça deferida ao autor. A parte autora arcará com 20% das custas,
suspensa a exigibilidade uma vez deferida a gratuidade da justiça a essa
parte. O Município não foi condenado ao pagamento das custas por ser
isento, nos termos do art. 10, da Lei Estadual nº 14.939/03 (fls.135/138v).

Irresignada recorre a parte ré (fls.143/173) requerendo, de início, a


apreciação do agravo retido (fls.88/90) interposto contra decisão que
indeferiu o pedido de perícia para fins de apuração do adicional de
insalubridade. No mérito alega, em síntese, que o tempo de serviço laborado
sem concurso não serve para efeitos estatutários, uma vez que antes de ser
nomeado no cargo o apelado foi contratado precariamente para exercer a
função de encarregado do cemitério. Sustenta que o período trabalhado a
título precário não pode ser utilizado para fins de aquisição do adicional por
tempo de serviço. Pontua que antes da Lei Complementar nº 33/2004 o
regime jurídico adotado pelo Município era o celetista (art. 83, da Lei
Orgânica 1.121/98) de forma que o período trabalhado até a entrada em
vigor da Lei Complementar não pode ser computado para o servidor adquirir
o adicional por tempo de serviço e a licença-prêmio disposta nessa lei.
Esclarece que o Município ao possibilitar que o tempo de serviço de seus
servidores celetistas seja computado para efeito de adicionais estatutários
cria normas sobre vínculo celetista, situação que ofende a competência
legislativa da União. Entende que o efeito jurídico da equiparação disposta
no art. 37, da Lei Complementar nº 33/2004, além de usurpar a competência
da União para legislar sobre a matéria, ao estender indevidamente vantagens
estatutárias ao vínculo celetista ofende o principio da isonomia. Assevera que
a Lei Complementar nº 33/2004, art. 113, não previu o aproveitamento
retroativo do período pré-estatuto, devendo ser considerado para fins de
aquisição der férias-prêmio apenas o período adquirido após a vigência do
estatuto dos servidores municipais de Jacutinga. Informa que a Lei

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Complementar nº 33/2004nao possibilita a conversão das férias-prêmio não


usufruídas em pecúnia. Argumenta, por fim, que o adicional de insalubridade
foi regulamentado com a Lei Complementar nº 93/2011. Requer o
conhecimento e o provimento do recurso.

Contrarrazões, em resumo, pelo não provimento do recurso (fls.179/206).

É o relatório.

Examina-se o recurso.

De plano, por se tratar de questão prejudicial ao mérito do recurso de


apelação, impõe-se a análise e julgamento do recurso de Agravo Retido.

Em suas razões, o então agravante insurge-se contra decisão


interlocutória que indeferiu o pedido de concessão de perícia (fl.86), porém o
adicional de insalubridade já é pago à parte autora e o objeto da discussão
refere-se à majoração do percentual de incidência do cálculo.

Conforme bem fundamentado na decisão agravada, o objeto dos autos


não é a concessão do adicional de insalubridade, uma vez que este já é pago
pela parte ré à parte autora. Procura o requerente apenas a correção do
percentual pago, para que fique de acordo com o art. 81, Lei Municipal nº
033/2004, bem como o pagamento das diferenças dele decorrentes.

Destarte, prescindível a produção de prova técnica, pois a questão é


unicamente de direito, limitada à observância de percentual previsto em lei.

Isso posto, NEGA-SE PROVIMENTO AO AGRAVO RETIDO.

Quanto ao mérito, conhece-se do reexame necessário e do recurso de


apelação porquanto presentes os pressupostos de

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admissibilidade.

Osmar de Lima ajuizou ação ordinária com a pretensão, em síntese, de


receber o adicional por tempo de serviço com incidência de 10% sobre o
vencimento do cargo efetivo, a cada quinquênio completado, mês a mês,
contados a partir de sua admissão em 06.02.1999 e seus reflexos, com as
diferenças salariais do período não prescrito; licença-prêmio a cada
quinquênio completado; adicional de insalubridade e seus reflexos (fls.
02/10).

No que tange a prescrição quinquenal sabe-se que o início da contagem


do prazo coincide com a violação do direito administrativo. Aqui, trata-se de
obrigação de trato periódico, renovada, mês a mês, e assim sendo,
encontrando-se prescritas eventuais parcelas devidas e vencidas no
quinquênio anterior ao ajuizamento da ação.

Como se sabe, constitui direito adquirido do servidor a contagem do


tempo de serviço prestado à iniciativa privada e, como também ao serviço
público para fins de aposentadoria, posto que a Constituição garante a
contagem recíproca do tempo de serviço nas atividades pública e privada
para efeito de aposentadoria.

No caso, entretanto, o que pretende o autor é a utilização desse tempo


de prestação de serviço ao ente público Municipal, pelo regime celetista, para
fins de adquirir férias-prêmio e adicionais por tempo de serviço.

Em regra, tem-se que serviço prestado pelo regime celetista não se


presta ao fim colimado, desde que estes direitos são, a princípio, exclusivos
do servidor público detentor de cargo de provimento efetivo, mas nada obsta,
entretanto, que o legislador municipal assegure-os a seus servidores, diante
da autonomia que goza.

Assim, há de se verificar o direito a partir do regramento do Município de


Jacutinga; se este, diante de sua autonomia, previu ou não a extensão das
vantagens e benefícios próprios de servidores estatutários - férias-prêmio e
quinquênios - aos servidores regulados

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pelo regime celetista.

A Lei Municipal nº 033/2004 ao dispor sobre o estatuto do servidor


público do Município de Jacutinga trata de forma específica no art. 79 sobre o
adicional por tempo de serviço e sobre a licença-prêmio no art.113:

"Art. 79 Por quinquênio de efetivo exercício no serviço público municipal, será


concedido ao servidor um adicional correspondente a 10 % (dez por cento)
do vencimento de seu cargo efetivo, até o limite de 5 (cinco) quinquênios,
observado o disposto nos artigos 36 a 39 desta Lei.

§ 1º O adicional é devido a partir do dia imediato àquele em que o servidor


completar o tempo de serviço exigido.

§ 2º O servidor que exercer, cumulativamente mais de um cargo, terá direito


ao adicional calculado sobre o vencimento de maior monta.

Art. 80 O servidor, ao completar 30 (trinta) anos de serviço público municipal


terá direito a um adicional trintenário.

Parágrafo único. O adicional previsto no artigo anterior será de 10% (dez por
cento) sobre os vencimentos.

[...]

Art. 113 Após cada quinquênio ininterrupto de exercício, o servidor efetivo


fará jus a 3 (três) meses de licença prêmio com a remuneração de cargo
efetivo, podendo ser convertido em espécie."

Ainda, os arts. 36 a 39 dessa Lei devem ser observados para a


concessão das férias-prêmio e dos quinquênios, assim dispõem:

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"Art. 36 O servidor da administração direta, submetida ao regime estatutário,


ocupante de cargo ou função pública, terá direito à contagem de tempo de
efetivo exercício de serviço público, para fins de férias-prêmio e quinquênio.

Art. 37 Para efeito de quinquênio de que trata o artigo 36, considera-se


tempo de efetivo exercício de serviço público aquele que o servidor houver
prestado, mediante vínculo de natureza permanente, inclusive celetista, à
administração direta de qualquer dos Poderes do Município, assim como às
suas autarquias e fundações públicas.

Art. 38 Para efeito dos benefícios de que trata o artigo 36 desta Lei
Complementar, não será computado o tempo de efetivo exercício, se o
servidor, nos termos da legislação de origem:

I - gozou férias-prêmio ou benefício de mesma natureza;

II - contou, em dobro, férias-prêmio ou benefício de mesma natureza, para


fins de aposentadoria;

III - incorporou o período de férias-prêmio ou do benefício de mesma


natureza, para obtenção de outros direitos ou vantagens;

IV - converteu, em espécie, o período de férias prêmio ou benefício de


mesma natureza.

Art. 39 Para efeito de quinquênio prevalecerão para o servidor público


municipal que já receba o benefício as normas em vigor na data de sua
concessão."

Da leitura atenta, nota-se que o estatuto dos servidores equipara tempo


de serviço prestado mediante vínculo de natureza permanente,

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inclusive celetista, para fins de obtenção dos quinquênios e das férias prêmio
e não deixa dúvidas de que se trata de tempo pretérito, ao introduzir no texto
legal a expressão: "que o servidor houver prestado", de modo que sem razão
o Município ao pretender a aplicação da lei apenas em relação ao tempo
futuro e não ao já prestado.

Ademais, pouco interessa ao caso concreto, outrossim, se por omissão


do legislador municipal ou do Chefe do Executivo, a determinação contida na
Lei Orgânica (Emenda à LOJ, de 16/02/1998), ou na Lei Municipal
nº1.121/98, que fosse implementado o instituído o regime jurídico único e o
plano de carreira dos servidores públicos (art. 83), só tenha se dado anos
mais tarde, se com esta implementação foram garantidos os direitos dos
servidores, especialmente no ponto tratado nos autos, acerca do tempo de
serviço pretérito prestado.

Entretanto, alterando posicionamento anterior no qual reconhecia que


todo o período laborado pelo servidor, inclusive como contratado deveria ser
utilizado para contagem do tempo de efetivo exercício de serviço público,
mister se faz o reposicionamento ante a disposição legal de que o vínculo
seja permanente com o ente municipal, a teor do art. 37.

Assim, levar-se-á em consideração para o cômputo do tempo de labor


aquele que o servidor prestou de efetivo exercício de serviço público
mediante vínculo de natureza permanente, de forma que o período laborado
como contratado não se contabiliza, uma vez que esse possui natureza
temporária.

Ao que se apura dos documentos acostados aos autos, a Emenda à Lei


Orgânica Municipal nº 09/199 (fls. 33/35) indica a inexistência de regime
jurídico único dos servidores públicos no Município de Jacutinga, tanto que a
Emenda a Lei Orgânica Complementar nº 08/1998 (fl.32) determina a
instituição de regime jurídico único na municipalidade.

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Com efeito, repisa-se que o tempo de efetivo exercício de serviço público


a ser contabilizado para fins do art. 37, da Lei Municipal nº 033/2004, a ser
considerado é aquele de natureza permanente com o Município de Jacutinga
independente do regime jurídico ao qual o servidor/empregado público
esteve submetido anteriormente a essa lei.

Nesse mesmo sentido, colaciona-se julgado desta 1ª Câmara Cível:

"EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO - AÇÃO


DECLARATÓRIA - DIREITO CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E
PROCESSUAL CIVIL - SERVIDORES PÚBLICOS DO MUNICÍPIO DE
JACUTINGA - ADICIONAL POR TEMPO DE SERVIÇO - LEI
COMPLEMENTAR MUNICIPAL N.º 33/2004 - CONTAGEM DE TEMPO DE
SERVIÇO PRESTADO SOB A ÉGIDE DE CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA -
IMPOSSIBILIDADE - PREVISÃO EXPRESSA DE CONTAGEM DE TEMPO
DE EFETIVO SERVIÇO SOMENTE SOB VÍNCULO PERMANENTE -
CONSIDERAÇÃO DO TEMPO DE SERVIÇO PRETÉRIO SOB REGIME
CELETISTA - POSSIBILIDADE - EXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL -
PROCEDÊNCIA PARCIAL DO PEDIDO - FIXAÇÃO DA VERBA
HONORÁRIA - FASE DE LIQUIDAÇÃO.

1. Apenas o tempo de serviço prestado sob vínculo permanente, incluído o


celetista, pode ser computado para fins de contagem de tempo de efetivo
serviço público para concessão de quinquênios, nos termos do art. 37 da Lei
Complementar Municipal n.º 33/2004 de Jacutinga, donde insubsistente a
pretensão de se computar período de contratação temporária, prevista no art.
37, inc. IX, da Constituição da República, para aquisição daquela vantagem.

2. O contratado temporário do Município de Jacutinga para atender a


necessidade temporária de excepcional interesse público não faz jus à
contagem de tempo precário para a percepção de adicional por tempo de
serviço, cuja natureza de vantagem pecuniária devida pela

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decorrência do tempo de serviço não se coaduna com o caráter transitório e


de prazo determinado da contratação temporária.

3. A fixação de honorários advocatícios em casos de prolação de sentença


ilíquida deve ocorrer quando liquidado o julgado, nos termos do art. 85, § 4º,
inc. II, do CPC. (TJMG - Ap Cível/Rem Necessária 1.0349.12.000390-
1/001, Relator(a): Des.(a) Edgard Penna Amorim , 1ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 13/02/2019, publicação da súmula em 18/02/2019)"

"EMENTA: ADMINISTRATIVO. AÇÃO ORDINÁRIA. SERVIDOR PÚBLICO


DO MUNICÍPIO DE JACUTINGA. REGIME JURÍDICO E BENEFÍCIOS.
ADICIONAL POR TEMPO DE SERVIÇO. FÉRIAS-PRÊMIO. CÔMPUTO DO
PERÍODO SOB O REGIME CELETISTA. POSSIBILIDADE. PREVISÃO NA
LEI COMPLEMENTAR Nº 033/2004 - ESTATUTO DOS SERVIDORES
PÚBLICOS DE JACUTINGA. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE.
PAGAMENTOS JÁ REALIZADOS. PERCENTUAL. PREVISÃO NO
ESTATUTO. SUPERVENIÊNCIA DA LEI COMPLEMENTAR Nº 093/2011.
UTILIZAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO COMO BASE DE CÁLCULO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA VINCULANTE Nº 4.
INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA. EFEITO REPRISTINATÓRIO.
APLICAÇÃO DO ART. 81, DO ESTATUTO. SENTENÇA PARCIALMENTE
REFORMADA.

- O servidor público que ingressou nos quadros do funcionalismo do


Município de Jacutinga por meio de concurso público e sob o regime
celetista, tem direito ao cômputo desse período para fins de adicional por
tempo de serviço e férias-prêmio quando convolado o regime único em
estatutário.

- É devido o adicional de insalubridade ao autor, visto que a Municipalidade


já o pagava desde o regime celetista, em base de cálculo equivalente a 30%
sobre o vencimento do cargo.

- Reconhece-se a inconstitucionalidade do dispositivo que estabelece o


salário mínimo como base de cálculo do adicional de insalubridade.
Incidência da Súmula Vinculante nº 4, sendo desnecessário o
encaminhamento do processo ao Órgão Especial porque já apreciada

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pelo Pleno do STF. (TJMG - Ap Cível/Rem Necessária 1.0349.09.024868-


4/001, Relator(a): Des.(a) Alberto Vilas Boas , 1ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 15/08/2018, publicação da súmula em 23/08/2018)"

Com efeito, a contagem de tempo para fins de adicional por tempo de


serviço e de licença prêmio deve ser considerada a data da posse da parte
autora, ou seja, a partir do dia 02.07.2001 (fl.112/113, 115).

Ainda com relação às férias prêmio, entende-se que está correta a


sentença, eis que uma vez averbado o tempo de serviço, há de submeter à
apreciação do Município pedido de fruição das férias prêmio adquiridas,
desde que seu gozo depende de conveniência e oportunidade por ato do
chefe do executivo.

No que se refere aos valores pretéritos devidos à parte autora a título de


quinquênios e seus reflexos em demais parcelas de vencimentos (13º, férias
e terço de férias), de fato, são devidos, devendo ser calculados sobre o
vencimento base do cargo, observada a prescrição quinquenal.

Quanto ao adicional de insalubridade, tem-se que, a princípio, a prova


que se faz necessária é a técnica-pericial para a verificação da existência do
trabalho em condições de periculosidade ou de insalubridade e o grau de
exposição do servidor, sendo tudo o mais dependente de critérios
estabelecidos em lei, assim como percentuais específicos de cada grau e
base de cálculo para a incidência.

De fato, o inciso XXIII, do art. 7º, da Constituição Federal, que


estabelecia entre os direitos sociais estendidos aos servidores públicos, pela
redação do seu texto original, o adicional a ser pago em virtude do risco
decorrente do exercício de atividade insalubre ou perigosa foi abolido
daquele texto (desconstitucionalizado) com a reforma administrativa e
consequente alteração advinda com a EC

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nº19/98.

Assim, o reconhecimento do direito ao adicional de


insalubridade/periculosidade a servidor público e o seu respectivo pagamento
continua dependente da previsão no ordenamento jurídico infraconstitucional
de cada um dos entes administrativos.

Portanto, tão-somente se previsto em lei e desde que preenchidos os


requisitos para a sua concessão, o adicional de insalubridade/periculosidade
será devido àquele que exercer atividade insalubre ou perigosa, nas
condições, nos limites e percentuais estabelecidos na própria lei e conforme
se apurar em prova pericial.

No âmbito dos servidores do Município de Jacutinga, o adicional de


Insalubridade/Periculosidade foi instituído pela Lei nº 033/2004, no art. 81 a
83, in verbis.

"Art. 81 Os servidores que trabalhem com habitualidade em locais insalubres


ou em contato permanente com substâncias tóxicas ou com risco de vida
fazem jus a um adicional de 30% (trinta por cento) sobre o vencimento do
cargo efetivo.

§ 1º O servidor que fizer jus aos adicionais de insalubridade e periculosidade


deverá optar por um deles, não sendo acumuláveis estas vantagens.

§ 2º O direito ao adicional de insalubridade ou periculosidade cessa com a


eliminação das condições ou dos riscos que deram causa à sua concessão.

Art. 82 Haverá permanente controle da atividade de servidor em operações


ou locais considerados penosos, insalubres ou perigosos.

Parágrafo único. A servidora gestante ou lactante será afastada, enquanto


durar a gestação e a lactação, das operações e locais

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previstos neste artigo, exercendo suas atividades em local salubre e em


serviço não perigoso.

Art. 83 Na concessão dos adicionais de penosidade, insalubridade e


periculosidade serão observadas as situações específicas da legislação
municipal.

Parágrafo único. Os locais de trabalho e os servidores que operam com raios


-x ou substâncias radioativas devem ser mantidos sob controle permanente,
de modo que as doses de radiação ionizantes não ultrapassem o nível
máximo previsto na legislação própria."

Da análise das fichas financeiras acostadas aos autos (fls.116/129)


percebe-se que o Município de Jacutinga já realiza o pagamento ao servidor
apelado do adicional de insalubridade no patamar de 20% do vencimento
base nos meses apresentados na referidas fichas. Tem-se, então, que há o
reconhecimento pela municipalidade do adicional de insalubridade à parte
autora.

Dessarte, conforme previsto no art. 81, da Lei Municipal nº 33/2004 a


porcentagem prevista para o adicional de insalubridade é de 30%, do que se
depreende que a referida verba foi paga a menor, sendo devidas as
diferenças ao servidor, observada a prescrição quinquenal.

Nesse contexto, deve ser mantida a r. sentença que condenou o ente


público ao pagamento das diferenças salariais do adicional de insalubridade.

Quanto à correção monetária, até o dia 29/06/2009 essa deve ocorrer


segundo os índices da Tabela da Corregedoria-Geral de Justiça e a partir de
30/06/2009 seriam aplicados os índices da caderneta de poupança, de
acordo com a alteração implementada pela Lei 11.960/09 ao art. 1º-F da Lei
9.494/97. Entretanto, certo é que o STF declarou a inconstitucionalidade do
§12, do art.100, da CR/88 e, por

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arrastamento, do art.1º, da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pelo art.5º,


da Lei nº 11.960/09.

Com efeito, em ambos os dispositivos há previsão de que, nas


condenações impostas à Fazenda Pública, os índices a serem aplicados
para cálculo da correção monetária e dos juros de mora são os da caderneta
de poupança. Assim, uma vez declarada a inconstitucionalidade do primeiro
dispositivo, impôs-se a declaração de inconstitucionalidade do segundo, por
mera consequência lógica.

Ocorre que, ao reconhecer a repercussão geral do RE 870.947/SE, em


27/04/2015, o Supremo Tribunal Federal afirmou que as decisões das
referidas ADI¿s nº 4.357 e 4.425 somente se aplicam aos débitos estatais de
natureza tributária, não alcançando a atualização monetária das
condenações impostas à Fazenda Pública até a expedição do requisitório, o
que permaneceu como matéria controvertida.

É sabido que no julgamento do RE 870.947/SE, em 20.07.2017, o STF


manteve - também no caso de atualização dos créditos reconhecidos contra
a Fazenda Pública antes da inscrição em precatório -, o mesmo
entendimento já manifestado nas ADI¿s nº 4.357 e 4.425 em relação à
inconstitucionalidade da utilização da TR como índice de correção monetária.

Não obstante, cumpre salientar que, no julgamento RE 870.947/SE, não


foi estabelecida a modulação dos efeitos temporais da decisão, a fim de
definir a partir de quando o IPCA-E deverá ser aplicado, em substituição à
TR.

Com efeito, o Relator do Tema 810/STF, Min. Luiz Fux, deferiu


"excepcionalmente efeito suspensivo aos embargos de declaração opostos
pelos entes federativos estaduais, com fundamento no artigo 1.026, §1º, do
CPC/2015 c/c o art. 21, V, do RISTF", considerando que, in verbis:

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"(...) a imediata aplicação do decisum embargado pelas instâncias a quo,


antes da apreciação por esta Suprema Corte do pleito de modulação dos
efeitos da orientação estabelecida, pode realmente dar ensejo à realização
de pagamento de consideráveis valores, em tese, a maior pela Fazenda
Pública, ocasionando grave prejuízo às já combalidas finanças públicas."
(decisão publicada no DJe de 25/09/2018)

Entretanto, por ocasião do julgamento do referido Embargos de


Declaração em 03.10.2019, esses foram rejeitados não havendo modulação.
Dessa forma, a correção monetária será efetuada pelo IPCA-E desde
30.06.2009, a partir do vencimento de cada parcela, nos termos do RE nº
870.947/SE.

Dessarte, quanto aos juros de mora estes devem observar o disposto no


artigo 1º-F da Lei nº 9.494, de 1997, seguindo a redação dada pela Lei nº
11.960, de 2009, sendo contados desde a citação.

Por fim, em relação aos honorários advocatícios merece reforma a r.


sentença, já que por ser ilíquida e proferida em face da Fazenda Pública, o
arbitramento deverá ocorrer apenas durante a fase de liquidação do julgado,
na forma do art. 85, §4º, inciso II do CPC/2015, mantendo-se, entretanto, a
proporção dos honorários sucumbenciais fixados em sentença.

Com tais razões, NEGA-SE PROVIMENTO AO AGRAVO RETIDO, EM


REEXAME NECESSÁRIO, REFORMA-SE PARCIALMENTE A SENTENÇA
E DÁ-SE PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO PROVIMENTO AO
RECURSO, para colocar como termo inicial para contagem de tempo do
adicional por tempo de serviço e da licença-prêmio a data da posse do
servidor público no cargo efetivo, modificar a forma de correção monetária e
determinar que a fixação dos honorários sucumbenciais ocorra na faze de
liquidação de sentença, nos termos do art. 85, § 4º, inciso II, do CPC.

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DES. EDGARD PENNA AMORIM

Acompanho o em. Relator, a quem peço licença apenas para registrar


que no julgamento da Apelação Cível/Remessa Necessária n.º
1.0349.12.000390-1/001, cuja ementa S. Ex.ª ora transcreve, o vínculo
anterior ao ingresso do servidor no regime estatutário possuía natureza
precária, por meio de contratação temporária.

No presente caso, contudo, observa-se da CTPS acostada aos autos,


que o vínculo do autor era celetista, o que, à primeira vista, permitiria o seu
enquadramento na previsão do art. 37 da Lei Municipal n. º 033/2004.

Ocorre que a contratação do demandante pelas regras da CLT ocorreu


em 1999, quando já estava vigente a Lei Municipal n.º 1.121/98, a qual
instituiu o regime jurídico único estatutário no âmbito do MUNICÍPIO DE
JACUTINGA.

Neste contexto, conclui-se que o vínculo anterior do servidor, conquanto


celetista, não poderia ser permanente, pois em desacordo com o regime
estatutário já instituído à época da contratação.

Com estas considerações, acompanho o em. Relator.

DES. ARMANDO FREIRE - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO RETIDO, EM


REEXAME NECESSÁRIO, REFORMARAM PARCIALMENTE A SENTENÇA
E DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO PROVIMENTO AO
RECURSO."

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