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Indaial - SC

Vol.: II - N.: 1
Out 2013

RESENHA
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM FOCO
A CARTA DA TERRA NA EDUCAÇÃO

ARTIGOS
QUEIMADAS
SISTEMAS AGRÍCOLAS SISTENTÁVEIS
EDITORA

CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI


Rodovia BR 470, KM 71, nª 1.040, Bairro Benedito
Cx. Postal 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Desenvolvimento
Sustentável

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2
Propriedade do Centro Universitário Leonardo da Vinci
FICHA CATALOGRÁFICA

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Revista UNIASSELVI-PÓS: Desenvolvimento Sustentável - Centro Universitário Leonardo


da Vinci (Grupo UNIASSELVI). – Indaial: UNIASSELVI, 2013.

35p. : il. col.


Periodicidade: Semestral.
ISSN: 2317-5966

1. Ensino superior. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI.


II. Programa de Pós-Graduação EAD.

CDD 378.005

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APRESENTAÇÃO
O programa de Pós-Graduação a Distância da Uniasselvi apresenta
a segunda edição de sua revista on-line. Esta revista tem por objetivo
socializar produções pertinentes e relevantes nas mais diversas áreas
compreendidas pelo programa. Na presente edição o tema que orienta as
discussões é: Desenvolvimento Sustentável.

Esse termo ganhou destaque no Relatório de Brundtland da ONU que


o definiu como o atendimento das necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as
suas próprias necessidades. No Brasil o tema se destacou devido às
conferências da Organização das Nações Unidas realizadas no país: a
Eco 92 e a Rio + 20. Pesquisadores brasileiros, como o Dr. José Eli da
Veiga, compreendem o desenvolvimento sustentável não como conceito,
mas como um novo valor para a sociedade. Nessa perspectiva, o
desenvolvimento sustentável é um marco histórico tão importante para a
sociedade quanto foram as ideias defendidas na Revolução Francesa de
liberdade, igualdade e fraternidade.
Reitor do Centro Universitário
Leonardo da Vinci
Nesta edição são quatro os trabalhos que compõem a revista, dois artigos
Prof. Dieter Sargeli Sardeli de Paiva
e duas resenhas. O primeiro artigo intitulado “Queimadas: infração de
responsabilidade administrativa objetiva ou subjetiva”, autoria de
Diretor da Uniasselvi-pós
Josué Lazzaris Zampoli, discorre sobre a responsabilidade objetiva e a
Prof. Carlos Fabiano Fistarol
responsabilidade subjetiva no que diz respeito a queimadas. A discussão
promovida pelo autor parte da observação feita acerca do uso do fogo,
Editor-Chefe
em atividades agropastoris, sem a autorização dos órgãos responsáveis.
Prof. Evandro André de Souza
No segundo artigo, “Viabilidade econômica de sistemas agrícolas
Presidente do Conselho Editorial
sustentáveis: “uma proposta para incentivar desde um ponto de vista
Prof. Norberto Siegel
educacional e econômico a mudança para uma agricultura sustentável””
de José Alfredo Pareja Gómez de la Torre, a discussão se volta para a
Membros do Conselho Editorial
necessidade de considerar as questões financeiras e educacionais no
Profª. Bruna Gabriela Scopel
momento de analisar o desenvolvimento de sistemas de agricultura
Profª. Clotilde Giliam Rostocev
sustentável. O autor discorre sobre a viabilidade de rendimentos
Prof. Anaor Junior Cardoso de Aguiar
financeiros nas lavouras sustentáveis, no entanto, destaca a importância
Prof. Edinan Cardoso Dourado
de políticas governamentais, educacionais e monetárias para delinear
Profª. Denise Voltolini
essas questões.
Profª. Patrícia Cesário Pereira Offial
Profª. Ivan Tesck
Após os artigos, são apresentadas duas resenhas a fim de proporcionar
Profª. Cláudia Regina Pinto Michelli
algumas reflexões sobre as seguintes obras: Desenvolvimento sustentável
Profª. Célia Regina Appio
em foco: uma contribuição multidisciplinar de Gilson Batista de Oliveira e
Prof. Márcio Selhorst
José Edmilson de Souza-Lima e A Carta da Terra na educação de Moacir
Prof. Lírio Ribeiro
Gadotti. A primeira resenha é de autoria de Edinan Cardoso Dourado,
Profª. Natalie Aurélia Cidral
este expõe a sua percepção acerca da temática abordada pelos autores,
Prof. Raphael A. Pereira da Costa
a saber: desenvolvimento sustentável. Em uma resenha crítica, Dourado
Profª. Sorinéia Goede
resume a obra colocando o seu ponto de vista.
Profª. Joanara G. P. Matuszaki
A segunda resenha, escrita por Sorinéia Goede, reflete sobre as
Revisão Editorial:
transformações que o termo sustentabilidade tem apresentado nos
Profª. Erika de Paula Alves
últimos tempos, assunto discutido na obra. A autora finaliza sua discussão
Profª. Bruna Alexandra Franzen
com algumas perguntas que levam o autor a refletir sobre o papel da
sociedade na definição de determinados conceitos e valores.
Projeto Gráfico:
Raphael Povoas
Por fim, a revista apresenta uma coletânea de trabalhos pertinentes e com
discussões atuais e importantes para quem é da área e estuda a temática
proposta e, também, para a sociedade de modo geral. Esperamos que
a partir da leitura deste material seja possível construir compreensões e
desenvolver ideias.

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ÍNDICE

Queimadas: Infração
de responsabilidade
administrativa objetiva ou
subjetiva

Josué Lazzaris Zampoli

Viabilidade econômica
de sistemas agrícolas
sustentáveis: Uma proposta
para incentivar desde um
ponto de vista educacional
e econômico a mudança
para uma agricultura
sustentável

José Alfredo Pareja Gómez


de la Torre

Desenvolvimento
sustentável: Uma breve
reflexão

Edinan Cardoso Dourado

Sustentabilidade na escola:
Conciliando o ser humano,
a aprendizagem e a
educação

Sorinéia Goede

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ARTIGO
QueimadaS: infração de
reSPonSabilidade adminiStratiVa
obJetiVa ou SubJetiVa

Josué Lazzaris Zampoli


Pós graduando em Direito Penal pela Uniasselvi.
Bacharel em Direito pelo Centro Universitário FACVEST.
Policial Militar Ambiental do Estado de Santa Catarina.
Contato: zampoli@hotmail.com

RESUMO nistrativa ambiental, por força da legislação vigen-


te e da doutrina dominante, é de responsabilidade
O presente artigo trata da infração administra- objetiva, na qual se configura a responsabilidade
tiva ambiental de queimadas, no que concerne à do degradador, desde que estabelecido um nexo
responsabilidade administrativa,pautando-se pe- de causalidade entre a conduta e o dano ambien-
las teorias da responsabilidade objetiva ou da res- tal havido. Não obstante, verificou-se também, a
ponsabilidade subjetiva. possibilidade de ser aplicado ao infrator ambiental
a responsabilidade administrativa subjetiva, quan-
O uso do fogo em atividades agropastoris, do comprovado nos autos que o proprietário do
perpetrado sem autorização do órgão ambiental, terreno rural em que ocorreram as queimadas não
é uma das práticas mais lesivas ao ambiente, seja teve qualquer participação ou foi mandatário do ilí-
pela destruição do meio, seja pela agressão à saú- cito ambiental em epígrafe.
de pública em detrimento da qualidade de vida. A
pesquisa aqui discutida tem como objetivo geral, Palavras-chave: Queimadas. Responsabili-
discutir sobre a infração administrativa ambiental dade. Administrativa Objetiva. Responsabilidade
de queimadas na região do planalto serrano cata- Administrativa Subjetiva.
rinense. Como objetivos específicos, tem-se: exa-
minar a teoria da responsabilidade administrativa
objetiva; analisar a teoria da responsabilidade ad- 1 INTRODUÇÃO
ministrativa subjetiva; identificar a responsabilida-
de administrativa do agente, diante da prática da O presente artigo científico trata da infração
infração ambiental de queimadas. A metodologia administrativa ambiental de queimadas, no que
empregada foi a bibliográfica, documental e doutri- concerne à responsabilidade administrativa, pau-
nária, sendo adotado o método indutivo, descritivo tando-se pelas teorias da responsabilidade objeti-
e interpretativo. Dentre vários teóricos estudados, va ou da responsabilidade subjetiva.
cita-se: Fiorillo (2010); Freitas (2010), Machado
(2011) e Milaré (2011). Nesse seguimento, por fim, O tema se justifica uma vez que o uso in-
restou clarividente, que a responsabilidade admi- sustentável do fogo em atividades agropastoris é

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considerado uma das práticas mais lesivas ao am- ambiental civil (subdividido em responsabilidade
biente, lesionando a formação vegetal dos campos subjetiva e objetiva), administrativa e penal; na
da serra catarinense, os quais são constituídos por seção 4 será abordada a infração de queimadas,
diversas espécies nativas, pertencentes do Bioma ensejando definir a responsabilidade administrati-
Mata Atlântica que, por sua vez, estão tutelados va do infrator ambiental no que tange à responsa-
pelas leis ambientais. bilidade objetiva ou à responsabilidade subjetiva.
Por fim, na seção 5 serão apresentadas as consi-
A pesquisa tem como objetivo geral discutir derações finais.
sobre a infração administrativa ambiental de quei-
madas na região do planalto serrano catarinense
e como objetivos específicos: examinar a teoria da 2 PRELIMINARES
responsabilidade administrativa objetiva; analisar a
teoria da responsabilidade administrativa subjeti- Historicamente praticado pelos agricultores e
va; identificar a responsabilidade administrativa do pecuaristas do planalto serrano catarinense, entre
agente, diante da prática da infração ambiental de os meses de agosto e setembro, são comuns as
queimadas. incidências de queimadas: ações humanas, em
desfavor do ambiente, constituindo basicamente
A problemática sobre o tema está voltada à em atear fogo nos campos, objetivando limpar e
responsabilidade administrativa, indagando-se se renovar as pastagens na propriedade propiciando
o infrator ambiental que terá a responsabilidade melhores condições para a atividade agropastoril.
administrativa objetiva ou subjetiva. Tendo como
primeira hipótese que o infrator ambiental terá sua Figura 1 - Infração ambiental por fazer uso de
fogo em áreas agropastoris sem autorização
responsabilidade administrativa pautada pela teo-
ria da responsabilidade objetiva, uma vez que os
dispositivos legais e a doutrina dominante que con-
ceituam a infração administrativa consideram ser
independe da culpa ou dolo do agente degradador,
bastando somente à caracterização da degradação
ambiental e o nexo de causalidade para ser impu-
tado a responsabilidade administrativa. E, como
segunda hipótese, que o infrator ambiental, no que
tange as infrações de queimadas, terá sua respon-
sabilidade administrativa apurada com base na
teoria da responsabilidade subjetiva, ou seja, faz-
-se necessário haver a culpa ou o dolo do agente Fonte: Imagem fotografada às margens da Rodvia
degradador, combinado com o tipo administrativo SC-438, próximo ao município de Lages/SC.
infracional e o nexo causal.
Ressalta-se que o uso insustentável do fogo
A metodologia empregada na realização do em atividades agropastoris é uma das práticas
presente trabalho foi a bibliográfica, documental e mais lesivas ao ambiente, uma vez que a forma-
doutrinária, sendo adotado o método indutivo, des- ção vegetal dos campos da serra catarinense é
critivo e interpretativo. constituída por diversas espécies nativas, perten-
centes do Bioma Mata Atlântica que, por sua vez,
Destarte, o presente artigo científico será de- estão tuteladas pelas leis ambientais.
senvolvido em cinco seções: a seção 2 contempla
as preliminares; a seção 3 está dividida em três Nessa senda, visando à infração administrati-
subseções e discorre sobre as responsabilidades va de queimadas, indaga-se acerca da responsa-
bilidade administrativa, é objetiva ou subjetiva?

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3 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL 3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL

A responsabilidade no Direito Ambiental, so- A responsabilidade civil pode ser definida


mente se justifica, se este for capaz de estabele- pela obrigação que uma pessoa tem de ressarcir
cer mecanismos aptos a intervir no mundo econô- outra por danos a esta sofridos. A reparação da
mico de forma a fazer com que ele não produza danosidade, como qualquer outro tipo de repara-
danos ambientais além daqueles julgados social- ção, ocorre através das normas de responsabilida-
mente suportáveis. Quando tais limites são ultra- de civil que, por sua vez, funcionam como meca-
passados, necessário se faz que os responsáveis nismos, simultaneamente, de tutela e controle da
por exorbitar esses limites sejam responsabiliza- propriedade.
dos e arquem com os custos decorrentes de suas
condutas ativas ou omissivas. Nas palavras de Edis Milaré:

A responsabilidade por danos causados ao A responsabilidade civil pressupõe prejuízo a


terceiro, ensejando pedido de reparação do
ambiente, no sistema jurídico brasileiro, é matéria
dano, consistente na recomposição do statu
que goza de status constitucional, visto que está quo ante (repristinação = obrigação de fazer)
inserida em um capítulo especialmente voltado ou numa importância em dinheiro (indenização
à proteção do meio ambiente. A Carta Magna de = obrigação de dar). (MILARÉ, 2011, p. 1246).
1988 estabeleceu uma tríplice responsabilidade a
ser aplicada aos causadores de danos ambientais, Destarte, a responsabilidade civil ambiental
como pode ser observado no art. 225, § 3º, CF/88: resume-se no fato de que o poluidor, o degrada-
“As condutas e atividades consideradas lesivas ao dor, deve reparar os danos resultantes de sua ati-
meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas fí- vidade. Essa responsabilidade pode ser subjetiva
sicas ou jurídicas, a sanções penais e administra- ou objetiva.
tivas, independentemente da obrigação de reparar
os danos causados”.
3.1.1 Responsabilidade subjetiva
Não obstante, pela Constituição não definir se
o regime da responsabilidade é objetiva ou subje- Na teoria da responsabilidade subjetiva para
tiva a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente o que o dever de indenizar surja é requisito haver: a
definiu como sendo objetivo e, portanto, indepen- conduta do agente, o dano, o nexo de causalidade
dente de culpa, como depreende-se do art. 14,§ 1º: entre a conduta e o dano; ou seja, o dano deve ter
decorrido da conduta do agente por culpa ou dolo.
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades
previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, O comportamento do infrator será reprovado
independentemente da existência de culpa,
a indenizar ou reparar os danos causados ao
ou censurado quando, ante circunstâncias concre-
meio ambiente e a terceiros, afetados por sua tas do caso, entender-se que ele poderia ou de-
atividade. O Ministério Público da União e dos veria ter agido de modo diferente. Portanto, o ato
Estados terá legitimidade para propor ação de ilícito, para fins de responsabilidade civil, qualifica-
responsabilidade civil e criminal, por danos
causados ao meio ambiente.
-se pela culpa. Não havendo culpa, não há, em re-
gra, qualquer responsabilidade reparatória.
Assim sendo, cumpre ressaltar
A responsabilidade em matéria
que a responsabilidade em matéria Nessa senda, o Código Civil
ambiental é bastante abrangente,
ambiental é bastante abrangente, po- podendo ser aplicada a pessoas físicas nos art. 186, art. 187 e art. 927, ca-
dendo ser aplicada a pessoas físicas e a pessoas jurídicas, subdividindo-se put, aduz:
em penal, administrativa e civil.
e a pessoas jurídicas, subdividindo-se
em penal, administrativa e civil.

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Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão No mesmo caminhar, Machado alude que:
voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que [...] Não interessa que tipo de obra ou
exclusivamente moral, comete ato ilícito. atividade seja exercida pelo que degrada, pois
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular não há necessidade de que ela apresente
de um direito que, ao exercê-lo, excede risco ou seja perigosa. Procura-se quem
manifestamente os limites impostos pelo seu foi atingido e, se for o meio ambiente e o
fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos homem, inicia-se o processo lógico-jurídico da
bons costumes. imputação civil objetiva ambiental. Só depois
[...] é que entra na fase do estabelecimento do
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 nexo de causalidade entre a ação ou omissão
e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a e o dano. É contra o Direito enriquecer-se
repará-lo. ou ter lucro à custa da degradação do meio
ambiente. (MACHADO, 2011, p. 369).
Assim, para se responsabilizar alguém é ne-
cessário demonstrar a culpa do agente (a impru- Assim, a responsabilidade objetiva em matéria
dência, a negligencia e a imperícia), além da con- ambiental, quer significar que quem danifica o ambien-
duta inicial, comissiva ou omissiva e do nexo de te tem o dever jurídico de repará-lo. Não importando a
causalidade entre o fato e o dano. Ao passo que razão da degradação para que haja o dever de repa-
a imprudência refere-se à prática de ato perigoso, rar. A responsabilidade sem culpa tem a incidência na
a negligência, por sua vez, refere-se à pratica de indenização ou na reparação aos danos causados ao
ato sem tomar as precauções adequadas e a im- ambiente e aos terceiros afetados por sua atividade.
perícia diz respeito à prática de ato por agente que
não tenha aptidão técnica, teórica ou prática.
3.2 RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA
AMBIENTAL
3.1.2 Responsabilidade objetiva
A responsabilidade administrativa ambiental
De outro norte, na teoria da responsabilida- surge no cometimento de uma infração adminis-
de objetiva, ao contrário da subjetiva, o dever de trativa, ou seja, o autor da infração ambiental es-
indenizar surge considerando apenas a conduta, tará sujeito às sanções administrativas, previstas
o dano e o nexo causal, independentemente do na Lei de Crimes Ambientais Lei nº 9.605/98, em
agente ter agido com culpa ou dolo. seu Decreto regulamentador Decreto Federal nº
6.514/08 e, subsidiariamente no Código Estadual
Nessa linha, o Código Civil brasileiro, no art. do Meio Ambiente Lei Estadual nº 14.675/09.
927, parágrafo único, alude que: “Haverá obriga-
ção de reparar o dano, independentemente de cul- No entanto, a importância da regulamentação
pa, nos casos especificados em lei, ou quando a dos ilícitos administrativos, em matéria de tutela
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do ambiental, reside no fato de que essa esfera de
dano implicar, por sua natureza, risco para os di- responsabilidade não depende da configuração
reitos de outrem.”. de um prejuízo, podendo coibir condutas que
apresentem mera potencialidade de dano ou mes-
Essa teoria, já consagrada no sistema jurídico mo de risco de agressão aos recursos ambientais.
brasileiro, quando aplicado no Direito Ambiental,
adota a teoria do risco integral. Assim, todo aquele No magistério de Vladimir Passos de Freitas:
que causar dano ao ambiente ou a terceiros será
[...] a responsabilidade administrativa tem por
obrigado a ressarci-lo mesmo que ocorra culpa ex-
objeto a aplicação das penas, que todavia
clusiva da vítima, caso fortuito ou força maior. não fazem parte do direito penal, porque não
são aplicadas pelo Estado na sua função
jurisdicional, mas no exercício de um poder
administrativo. (FEITAS, 2010, p. 26)

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Quando cometida uma infração administra- lar os valores mais elevados e preciosos, ou, se
tiva em desfavor do ambiente, a quiser, ele atua somente onde há
responsabilidade administrativa do Quando cometida uma infração transgressão de valores mais im-
administrativa em desfavor do ambiente,
causador, pessoa física ou jurídica, portantes ou fundamentais para
a responsabilidade administrativa do
será apurada através de procedi- causador, pessoa física ou jurídica, a sociedade” (NORONHA, 1968,
mento administrativo próprio, ins- será apurada através de procedimento apud FREITAS, 2010, p.31).
taurado pelos Órgãos Ambientais, administrativo próprio, instaurado Nota-se que um crime am-
pelos Órgãos Ambientais, vinculados ao
vinculados ao Sistema Nacional biental poderá obter dimensões
Sistema Nacional do Meio Ambiente.
do Meio Ambiente - SISNAMA e internacionais, como: um desastre
ao Sistema Estadual do Meio Ambiente - SEMA, nuclear, a poluição dos oceanos por vazamento
designados para as atividades fiscalizatórias, con- de petróleo, a poluição de rios que transpassam
forme elenco do art. 70, §§ 1º, 3º e 4º, da Lei nº por mais de um país, entre tantos outros. Por
9.605/98, objetivando, entre outras providências, esse motivo é que a tutela penal do meio ambien-
defender e preservar os bens ambientais para as te passa a ser tão importante, pois o bem jurídico
presentes e as futuras gerações, ante a proteção protegido é mais amplo do que o bem protegido
entalhada na Constituição Federal, nas leis, atos, em outros delitos penais.
normas e resoluções infraconstitucionais, aos in-
teresses difusos e coletivos, em proveito da digni- O direito ao meio ambiente ecologicamente
dade da pessoa humana. equilibrado, na sua concepção moderna, é um dos
direitos fundamentais da pessoa humana, o que,
por si só, justifica a imposição de sanções penais
3.3 RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL as agressões contra ele cometidas. No mesmo ca-
minho, Édis Milaré cita Ivette Senise Ferreira:
Precipuamente, Fiorillo, esclarece os funda-
mentos constitucionais do direito criminal ambien- ultima ratio da tutela penal ambiental significa
que esta é chamada a intervir somente nos
tal, aludindo que:
casos em que as agressões aos valores
fundamentais da sociedade alcancem o ponto
A Constituição Federal, ao estabelecer que do intolerável ou sejam objeto de intensa
“não há crime sem lei anterior que o defina” reprovação do corpo social. (FERREIRA,
(art. 5º XXXIX), entendeu por bem disciplinar 1995, apud MILARÉ, 2011, p.1275)
o conceito de crime através de instituto
elaborado por força da própria determinação
maior: é a lei que estabelece no direito Assim, para o direito penal moderno, a tute-
positivo o que é crime. (FIORILLO, 2010, p. la penal deve ser reservada à lei, partindo-se do
625) princípio da intervenção mínima no Estado Demo-
crático de Direito, tal tutela deve ser a ultra ratio,
Nesse sentido, a responsabilidade penal am- ou seja, só depois de se esgotarem os mecanis-
biental surge no cometimento de um crime am- mos intimatórios é que se procurará com a eficá-
biental, ou seja, quando o agente tem suas con- cia punitiva na esfera penal.
dutas típicas e antijurídica elencadas nos tipos da
Lei de Crimes Ambientais, Lei nº 9.605/98 ou A responsabilidade penal ambiental segue
em outra normal penal de cunho A responsabilidade penal ambiental a teoria da responsabilidade sub-
ambiental. segue a teoria da responsabilidade jetiva, como pode ser observa-
subjetiva, como pode ser observado no do no elenco do art. 2º, da Lei nº
A tutela penal é sempre o re- elenco do art. 2º, da Lei nº 9.605/98. 9.605/98:
curso extremo de que se vale o Es-
tado para coibir as ações ilícitas. Nesse prisma, Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre
Vladimir Passos de Freitas cita Edgar Magalhães para a prática dos crimes previstos nesta
Lei, incide nas penas a estes cominadas,
Noronha: “incube ao Direito Penal, em regra tute-

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na medida da sua culpabilidade, bem como 4 INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA DE QUEIMADAS
o diretor, o administrador, o membro de
conselho e de órgão técnico, o auditor, o
gerente, o preposto ou mandatário de pessoa
A milenar cultura das queimas de campo,
jurídica, que, sabendo da conduta criminosa inicialmente citado, por muitos é ainda utilizada,
de outrem, deixar de impedir a sua prática, para limpar as propriedades rurais ou com o ob-
quando podia agir para evitá-la. jetivo de renovar as pastagens, como se obser-
va no planalto serrano catarinense. Ressalta-se
Dessa forma, o infrator, ao perpetrar o crime que o Estado de Santa Catarina constitui o Bioma
em desfavor do ambiente, só responderá penal- Mata Atlântica, sendo, portanto, objeto de especial
mente caso tenha agido com culpa ou dolo, obser- preservação, por força da Lei nº 11.428, de 22 de
vado o nexo de causalidade entre a conduta ini- dezembro de 2006, que dispõe sobre a utilização
cial, omissiva ou comissiva e o resultado. Alguns e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata
crimes ambientais exigem que o infrator tenha agi- Atlântica e dá outras providências.
do com dolo para responder penalmente, outros,
agindo simplesmente com culpa, responderão O uso do fogo em atividades agropastoris é
igualmente, na medida da sua culpabilidade. uma das práticas mais lesivas ao ambiente, seja
pela destruição do meio, pela agressão à saúde
No mesmo sentido, nos termos do art. 3º, da pública, pela deterioração da qualidade de vida e,
Lei nº 9.605/98, a responsabilidade penal ambien- sobretudo, por sobrepor o lucro à valorização da
tal atinge também as pessoas jurídicas: qualidade de vida do homem.

Art. 3º As pessoas jurídicas serão


responsabilizadas administrativa, civil e
Nesse sentido, Curt Trennepohl aduz:
penalmente conforme o disposto nesta Lei,
nos casos em que a infração seja cometida Infelizmente, ao invés do corte da vegetação
por decisão de seu representante legal ou em regeneração, o uso do fogo para a
contratual, ou de seu órgão colegiado, no renovação de pastagem é uma prática muito
interesse ou benefício da sua entidade. comum no Brasil. Em inúmeros casos, sem
que exista nenhuma autorização dos órgãos
ambientais e sem obstar as mais elementares
Parágrafo único. A responsabilidade das pes- normas de precaução, o fogo utilizado foge
soas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, ao controle e se alastrar pelas florestas,
autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. destruindo importantes recursos naturais.
(TRENNEPOHL, 2009, p.270)

Todavia, a responsabilidade penal ambien-


tal da pessoa jurídica, apresenta-se controvertida Por conseguinte, verifica-se que o solo, após
na doutrina e nos entendimentos jurisprudenciais. as incidências de queimadas, torna-se arenoso,
Conduto, em que pese à discussão doutrinária e ocasionando o seu empobrecimento com perda
jurisprudencial, essa responsabilidade é legalmen- da fertilidade e matéria orgânica; vulnerabilidade
te prevista, como observado no dispositivo supra- e carreamento de solo causando erosões devido
mencionado, além de previsão constitucional, en- à perda de vegetação e nutrientes; morte de ani-
talhada no art. 225, §3º, da Carta magna de 1988. mais; emissão de gás carbônico, entre tantos ou-
tros danos.
Dessa feita, o sistema constitucional brasilei-
ro reconheceu expressamente no art. 225, §3º,
CF/88, a possibilidade de as pessoas jurídicas,
pelos efeitos e decisões de seus dirigentes, produ-
zirem danos ao meio ambiente, circunstâncias que
justificaria a sua responsabilização pela prática de
crimes ambientais.

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Figura 2 - Infração ambiental por fazer uso de autorizado pelo órgão competente, que
fogo em áreas agropastoris sem autorização exigirá:
I - comprovação de que constitui o único
modo viável de manejo da propriedade, ante
às suas peculiaridades, assim reconhecido
por responsável técnico;
II - adoção das medidas preventivas contra
incêndios e queima de áreas protegidas; e
III - adoção das demais medidas previstas
contidas em instrução normativa da FATMA.

Dessa forma, para que haja controle e susten-


tabilidade na utilização do fogo, constata-se que
o legislador pátrio acautelou-se para não ocorrer
o uso indiscriminado do fogo. Porém, não o proi-
biu, desde que presentes as condicionantes para
Fonte: Imagem fotografada na Reserva do Aguaí, a modalidade de queima controlada. Esta é cons-
município de Bom Jardim da Serra/SC. tituída basicamente da aplicação controlada do
fogo em combustível, tanto no es-
Nesse interim, o Decreto Fede-
Para que haja controle e sustentabilidade tado natural como alterado sob de-
ral nº 6.514/98, o qual dispõe sobre na utilização do fogo, constata-se que terminadas condições de clima, de
as infrações e sanções administra- o legislador pátrio acautelou-se para umidade do material combustível,
tivas ao meio ambiente, estabelece não ocorrer o uso indiscriminado do de umidade do solo, entre outros,
fogo. Porém, não o proibiu, desde que
o processo administrativo federal
presentes as condicionantes para a de tal forma que ele seja confirma-
para apuração dessas infrações modalidade de queima controlada. do a uma área predeterminada e
e dá outras providências, trouxe a conduza a intensidade de calor e a taxa de propa-
lume no art. 58, preconizando que: “Fazer uso de gação para favorecer certos objetivos do manejo.
fogo em áreas agropastoris sem autorização do
órgão competente ou em desacordo com a obtida: Dessa feita, o interessado na obtenção de au-
Multa de R$ 1.000,00 (mil reais), por hectare ou torização para queima controlada, deverá previa-
fração”. mente à operação do emprego do fogo, definir as
técnicas, os equipamentos e a mão de obra a se-
Assim, o citado Decreto, o qual regulamentou rem utilizados; fazer o reconhecimento da área e
a Lei de Crimes Ambientais, define que fazer uso avaliar o material a ser queimado; promover o en-
do fogo em áreas agropastoris é considerado in- leiramento dos resíduos de vegetação, de forma a
fração administrativa ambiental, desde que seja limitar a ação do fogo; preparar aceiros de, no mí-
perpetrado, sem autorização do órgão ambiental nimo, três metros de largura, ampliando essa faixa
competente ou em desacordo com a autorização quando as condições ambientais, topográficas, cli-
obtida, fixando, a priori, a indicação da sanção máticas e o material combustível a determinarem;
administrativa de multa simples, no valor de R$ providenciar pessoal treinado para atuar no local
1.000,00 (um mil reais), por hectare degradado ou da operação, com equipamentos apropriados ao
fração deste. redor da área, e evitar propagação do fogo fora
dos limites estabelecidos; comunicar formalmente
No mesmo caminho, a Lei Estadual nº 14.675, aos confrontantes a intenção de realizar a queima
de 13 de abril de 2009, a qual institui o Código Es- controlada, com o esclarecimento de que, opor-
tadual do Meio Ambiente, estabelece que: tunamente, e com a antecedência necessária, a
operação será confirmada com a indicação da
Art. 253. É proibido promover queimadas,
inclusive para limpeza de áreas destinadas data, hora do início e do local onde será realizada
à formação de reservatórios, exceto quando a queima.

12
Vale lembrar, que, no viés do gar o processo administrativo, uma
desenvolvimento ambiental susten- As queimas devem ser utilizadas vez que, se pautado pela responsa-
quando existe real necessidade da sua
tável, as queimas devem ser utiliza- aplicação, observando-se quais serão bilidade objetiva da infração admi-
das quando existe real necessidade os benefícios e os danos causados nistrativa, o proprietário do terreno
da sua aplicação, observando-se por ela. Deve ser considerado o fato degradado pelo fogo, cometido por
quais serão os benefícios e os da- de que a ação do fogo sobre qualquer terceiro, arcará com a responsabili-
área não é totalmente benéfica e a sua
nos causados por ela. Deve ser utilização dependerá de análise técnica dade civil ambiental em recuperar a
considerado o fato de que a ação e viabilidade de sua execução, como área danificada e responderá pela
do fogo sobre qualquer área não é norma preventiva. sanção administrativa de queima-
totalmente benéfica e a sua utilização dependerá das. De outro norte, se essa autoridade ambiental
de análise técnica e viabilidade de sua execução, balizar-se pela responsabilidade subjetiva da infra-
como norma preventiva. ção por fazer uso do fogo em áreas agropastoris,
o proprietário do terreno em questão terá somente
De outra banda, em algumas situações em a obrigação de fazer, reparando o dano ambiental,
que ocorrem as queimadas sem a autorização do e o causador do fogo, por sua vez, havendo nexo
órgão ambiental competente, não são os proprie- de causalidade combinado com o dano ambiental,
tários que ateiam fogo no terreno, objeto de fisca- responderá pela sanção de queimadas.
lização ambiental, e sim um transeunte que passa
pela estrada marginal da propriedade. Em outras Dessa forma, o impasse apresentado é quesi-
situações, é comum a alegação dos autuados pelo to vencido, pelo simples fato de a legislação am-
uso do fogo para renovação das pastagens, sem biental adotar a responsabilidade objetiva como
autorização, de que o incêndio foi provocado por bem observado por Paulo Affonso Leme Macha-
terceiros ou por raios. do: “[...] não se aprecia subjetivamente a conduta
do poluidor, mas a ocorrência do resultado preju-
Nas palavras de Trennepohl: dicial ao homem e seu ambiente.” (MACHADO,
2011, p. 273).
As autoridades policiais dificilmente
descobrem os autores de um incêndio
O passo decisivo veio com a Lei nº 6.938/81
(proposital ou intencional) numa pastagem,
primeiro pela extrema dificuldade de chegar que trata da Política Nacional do Meio Ambiente,
à autoria num caso desses, depois porque sendo que a partir dessa norma a legislação am-
os próprios policiais sabem perfeitamente biental brasileira consolidou a responsabilidade
que a comunicação é uma mera tentativa de
objetiva, mediante a qual se configura a respon-
elidir a responsabilidade diante da legislação
ambiental. (TRENNEPOHL, 2009, p.271) sabilidade do degradador desde que estabelecido
um nexo de causalidade entre a conduta e o dano
Nessa esteia, os agentes fiscais ao empre- ambiental havido, sem a necessidade de caracte-
garem diligências com o fito de apurar a respon- rizar a intenção de causar o dano ou mesmo de
sabilidade pela degradação ambiental, mediante ter havido culpa.
a utilização do fogo em campos nativos, torna-se
dificultoso identificar quem perpetrou a infração Para Freitas: “[...] com a responsabilidade
ambiental, se ele não é flagrado no objetiva a situação se equilibra, pois é possível o
cometimento da infração adminis- Se pautado pela responsabilidade réu fazer prova de que nenhuma
trativa ou logo após, com objetos objetiva da infração administrativa, o responsabilidade teve.” (FREITAS,
que indiquem sua participação. proprietário do terreno degradado pelo 2010, p. 175). Para eximir-se da
fogo, cometido por terceiro, arcará responsabilidade pelos danos cau-
com a responsabilidade civil ambiental
Nesse momento, surge um im- em recuperar a área danificada e sados ao ambiente, por intermédio
passe que deverá ser definido pela responderá pela sanção administrativa de uma queimada sem autoriza-
autoridade ambiental, quando jul- de queimadas. ção, cabe ao acusado comprovar

13
concretamente que tomou as medidas de precau- a utilização do fogo na agricultura, pratica milenar ain-
ção necessárias para evitá-la e que não teve ne- da presente na região serrana do Estado Catarinen-
nhuma participação na sua realização. se, mesmo sem autorização dos órgãos ambientais.

Assim, estabelecido o nexo de causalida- Nesse contexto, o uso do fogo em atividades


de entre a ocorrência de fogo em campo nativo e agropastoris é uma das práticas mais lesivas ao
o dano ambiental, não há que se procurar com a ambiente, seja pela destruição do meio, agressão
culpa ou dolo. A responsabilidade objetiva produ- à saúde pública, em detrimento da qualidade de
ziu uma significativa mudança no que diz respeito vida e, sobretudo, sobrepondo-se o lucro à valo-
à predominância do interesse da sociedade sobre rização da dignidade da vida humana, bem como,
o interesse individual, de modo que se alguém, em da preservação ambiental.
razão de sua atividade, cria um risco para socie-
dade, esta deve defender-se atribuindo àquele os Por conseguinte, verifica-se que, após as in-
encargos decorrentes dos danos que porventura cidências de queimadas, o solo se torna arenoso,
venham a ocorrer. empobrecido, perde a fertilidade e a matéria orgâ-
nica o que causa erosões devido à perda de vege-
Todavia, verificou-se também que o Estado, tação e nutrientes; morte de animais; emissão de
ao imputar à pessoa física ou jurídica a autoria de gás carbônico, entre tantos outros fatores. Aborda-
uma infração ambiental, deve este, através da au- -se, para tanto, que o ideal seria que o fogo fosse
toridade ambiental que instaurou o processo ad- definitivamente banido das atividades agrícolas,
ministrativo para apuração dessa infração, trazer contudo, fatores econômicos, sociais e culturais o
aos autos comprovações que possam definir a impedem.
responsabilidade do administrado, por ter utilizado
o fogo em áreas agropastoris, sem autorização ou Nesse seguimento, por fim, a pesquisa em
em desacordo com a obtida. Assim, quando essa tela organizou-se buscando solucionar a proble-
autoridade, por insuficiência de provas no curso mática frente ao tema, restando claro e evidente
do processo que possam imputar que a responsabilidade administra-
Por insuficiência de provas no curso do
ao infrator a responsabilidade pela processo que possam imputar ao infrator tiva ambiental, por força da legisla-
degradação causada pelo fogo, ou a responsabilidade pela degradação ção vigente e da doutrina dominan-
quando comprovado nos autos que causada pelo fogo, ou quando comprovado te, é de responsabilidade objetiva,
o proprietário do terreno rural em nos autos que o proprietário do terreno uma vez que, a Lei da Política Na-
rural em que ocorreram as queimadas
que ocorreram as queimadas não não teve qualquer participação ou foi cional do Meio Ambiente Lei Fede-
teve qualquer participação ou foi mandatário do ilícito ambiental em ral nº 6.938/81, a consolidou, na
mandatário do ilícito ambiental em epígrafe, decidiu o pleito, como medida qual se configura a responsabilida-
epígrafe, decidiu o pleito, como me- de inteira justiça, aplicando a teoria da de do degradador, desde que esta-
responsabilidade subjetiva, restando
dida de inteira justiça, aplicando a apenas ao proprietário do imóvel rural belecido um nexo de causalidade
teoria da responsabilidade subjeti- a obrigação de fazer, devendo reparar entre a conduta e o dano ambien-
va, restando apenas ao proprietário a área degradada, objeto de infração tal havido, sem a necessidade de
do imóvel rural a obrigação de fa- ambiental. caracterizar o animus de causar o
zer, devendo reparar a área degradada, objeto de dano ou mesmo de ter havido culpa.
infração ambiental.
Assim, aponta-se que, na infração adminis-
trativa de queimadas, independe da vontade do
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS agente em atear fogo nas áreas de pastagens,
ou ser mandatário deste, bastando somente, para
Ao findar o presente artigo científico se pode que sua conduta motive uma sanção administra-
evidenciar alguns encaminhamentos no que tange tiva, ser comprovado nos autos do processo ad-

14
ministrativo ambiental, o dano ambiental existente Ambiental Brasileiro. 19. ed. São Paulo:
combinado com o nexo causal. Malheiros, 2011.

Não obstante, verificou-se também a pos- MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 7. ed. São
sibilidade de ser aplicado ao infrator ambiental a Paulo: RT, 2011.
responsabilidade administrativa subjetiva, quando
comprovado nos autos que o proprietário do ter- SANTA CATARINA. Código Estadual do Meio
reno rural em que ocorreram as queimadas não Ambiente, Lei Estadual nº. 14.675, de 13 de
teve qualquer participação ou foi mandatário do abril de 2009. 1. ed. Florianópolis, SC: SDS,
ilícito ambiental em epígrafe, restando apenas ao 2009.
proprietário do imóvel rural a obrigação de fazer,
devendo reparar a área degradada, objeto de in- TRENNEPOHL, Curt. Infrações Contra o
fração ambiental. Meio Ambiente, Multas, Sanções e Processo
Administrativo. 2. ed. Belo Horizonte: Fórum,
2009.
REFERÊNCIAS

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1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em: 11 mar.
2012.

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janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>.
Acesso em: 11 mar. 2012.

BRASIL. Lei de Crimes Ambientais, Lei nº.


9.605, de 12 de Fevereiro de 1998. Brasília:
Senado Federal, Subsecretaria de Edições
Técnicas, 2010.

BRASIL. Decreto Federal nº. 6.514, de 12 de


Julho de 2008: Legislação de Direito Ambiental.
4. ed. São Paulo: Rideel, 2009.

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de


Direito Ambiental Brasileiro. 11. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010.

FREITAS, Vladimir Passos. Direito Administrativo


e Meio Ambiente. 4. ed. Curitiba: Juruá, 2010.
MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito

15
ARTIGO
Viabilidade Econômica de
Sistemas Agrícolas Sustentáveis:
Uma Proposta Para Incentivar
Desde um Ponto de Vista
Educacional e Econômico a Mudança
Para uma Agricultura Sustável
José Alfredo Pareja Gómez de La Torre
Formado em Administração, Webster University. Espacializações em:
Finanças, Universidad Andina Simón Bolivar; em Educação a Distân-
cia: Gestão e Tutoria, UNIASSELVI; cursando Gestão Ambiental na
Uniasselvi. Contato: japareja@gmail.com

Orientadora: Professora Erika de Paula Alves

RESUMO incentivo, ou justificativo, financeiro para se inte-


ressar, pois não há atividade humana eficiente e
Neste estudo é analisada a problemática da inovadora sem um incentivo econômico. Ao final,
segurança alimentar perante uma população que o estudo leva a discussão para uma estratégia de
precisa de uma agricultura que consiga se manter inserção de análise de projetos excludentes dentro
no tempo e seja sustentável. Segundo as previ- dos cursos que abordem gestão agrícola. Assim,
sões dos especialistas não há maneira de conti- os agricultores poderão visualizar, além das vanta-
nuar tirando mais recursos da natureza sem con- gens ambientais, o potencial financeiro de mudar
siderar a reciclagem e/ou reincorporação destes suas práticas. Por último, observa-se que qualquer
ao meio ambiente. Nesse contexto, foi exposta que seja a estratégia desta mudança é indispen-
primeiramente casos de sucesso internacional sável considerar políticas educacionais e monetá-
de sistemas de agricultura sustentável. Logo, são rias por parte dos governos.
apresentadas quatro opções, levando em con-
sideração a viabilidade econômica; pois se não Palavra-Chave: Agricultura sustentável. Sis-
houver potencial econômico não haverá interes- temas Agrícolas. Viabilidade Econômica. Projetos
se em grande escala, consequentemente, reper- excludentes. Educação agrícola e econômica.
cussão real na sociedade com um todo. Logo, no
estudo é desenvolvida uma proposta para incenti-
var e implantar sistemas sustentáveis levando em 1 INTRODUÇÃO
conta os agentes da atividade agrícola. Isso sobre
uma perspectiva educacional e econômica, por- Nestes últimos anos tem-se escutado que a
quanto, para que os agricultores, como um todo, produção atual de alimentos provavelmente não
sejam motivados para mudar suas práticas tradi- poderá acompanhar o constante aumento da po-
cionais é fundamental que estes: tenham a base pulação, apresentando uma situação de pressão
educacional para poder discernir entre agricultu- muito forte no uso da água, das matérias primas
ra tradicional, aliás, consumidora constante de e das terras agrícolas. Essa pressão é refletida no
recursos, e uma prática sustentável. Tenham um

16
fato que “apesar de um aumento de 30% na efici- seja, vai-se aproximando à classe média consu-
ência de recursos, o uso de recursos globais au- mista, há mais procura de carne. Com isto, há um
mentou 50% nos últimos 30 anos.” (THE WORL- aumento na procura de: terra, insumos, animais,
DWATCH INSTITUTE, 2010, p.22). pesca industrial e piscicultura. Assim, essa nova
classe média, que, aliás, vai só aumentando, con-
Desde uma perspectiva histórica, se dermos segue satisfazer seus novos “desejos” de proteína
uma breve olhada à história das civilizações an- animal, que em muitas situações desnecessários.
tigas que entraram em crise e que logo foram ex- Resultado? Pressão forte na produção de grãos
tintas, todas elas começaram a ter reduções no para sustentar as demandas de engorde destes
fornecimento de alimentos. Nesta perspectiva, é animais de abate.
conhecida a história dramática dos maias, civili- • Emissão de Gases: Pressão na emissão de
zação que diante da pressão alimentar provocou gases de efeito estufa nos processos agrícolas,
as condições para uma erosão acentuada de seus apresentando os seguintes pontos críticos:
solos agrícolas, ajudando a gerar as secas muito a. Animais de engorde: Os animais domés-
fortes e contínuas, reduzindo o fornecimento de ticos que produzem uma grande quantidade de
alimentos e causando as bases para uma crise, gás metano. “18% dos gases de efeito estufa são
levando finalmente à extinção dessa civilização. produzidos pelo gado que é criado para alimentar
Fazendo uma breve análise entre essa civilização a crescente demanda da humanidade por carne.”
e as condições atuais da sociedade moderna, o (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p.51).
autor de livro Plano B 4.0, faz a seguinte pergunta: b. Energia: O sistema convencional precisa
de muito fornecimento de energia.
Será que a nossa civilização enfrenta um c. Desperdícios: Na agricultura tradicional os
destino semelhante? Até recentemente, isso
desperdícios orgânicos geralmente, folhas, cas-
não parecia possível. Resisti à idéia de que
a escassez de alimentos também poderia cas, etc., não são reincorporados ao solo, colabo-
derrubar a nossa civilização global no início rando assim com os gases de efeito estufa.
do século XXI. Mas o contínuo fracasso para
reverter às tendências ambientais que estão
Nesse cenário da atividade agrícola conven-
afetando a economia mundial de alimentos me
leva a concluir que, se continuarmos a fazer cional atual e a sua relação direta entre a pressão
negócios da maneira tradicional, um colapso populacional, o aumento exagerado no consumo
não será apenas possível, mas provável. de alimentos e a geração de gases de efeito es-
(BROWN, 2009, p.24).
tufa; cabe-se perguntar: Como o Brasil vai se pre-
parar, sustentavelmente nesse cenário e como
Assim, levando em consideração a situação vamos educar nossos agricultores? Geopolitica-
atual, a seguir apresenta-se três pontos críticos a mente o Brasil tem uma posição única e privilegia-
serem seriamente refletidos para garantir a segu- da, pois é o único país com extensões continen-
rança alimentar da sociedade. tais disponíveis ainda para aplicações agrícolas.

• Nutrição: Além do aumento da população, A agricultura ocupa hoje em dia 60 milhões de


tem-se o problema do excessivo consumo de ali- hectares. Somos os únicos no mundo a dispor
mentos, ou seja, pratos cheios demais de comida e de 100 milhões de hectares para crescer, sem
contar áreas de preservação permanente.
de proteína animal, resultado? Uma população com (NEVES, 2011, p 29).
sobrepeso em números preocupantes e um desper-
dício nos insumos. Por outro lado, há uma popula- Em outras palavras, o país tem a disposição,
ção desnutrida, e em situações extremas pessoas através das tecnologias adequadas, 170% de ca-
que não tem nada para comer ao final do dia. pacidade adicional em terras agrícolas, é uma ex-
• Proteína Animal em excesso: Na medida celente oportunidade para implantar um agrone-
em que o mundo subdesenvolvido vai tomando gócio sustentável. Logo, quais das atuais técnicas
conta de um padrão de consumo ocidental, ou agrícolas sustentáveis podem ser consideradas

17
17
viáveis em termos econômicos, para da economia. Assim, a produção de
aproveitar dessa excelente oportu- O país tem a disposição, através das alimentos deve proteger: os ecos-
nidade? Antes de responder essa tecnologias adequadas, 170% de sistemas, a segurança alimentar, o
pergunta primeiramente temos que capacidade adicional em terras agrícolas, solo, a preservação dos recursos
deparar que o setor agrícola tem que é uma excelente oportunidade para naturais, os lençóis freáticos, entre
implantar um agronegócio sustentável.
enxergar a necessidade urgente de os mais importantes.
produzir alimentos sustentáveis em grande escala,
em vistas de alimentar à população com um todo e Em vistas de aprimorar esse elo, a seguir
não somente nichos de mercado de produtos orgâ- apresenta-se técnicas com um histórico já pro-
nicos. vado e de sucesso: Sistemas agroflorestais,
Policulturas Perenes, Permacultura, e Práticas
Assim, há uma necessidade de produzir sus- Agroecológicas com Biotecnologia na Agroindús-
tentavelmente com preços competitivos, logo, tria. É interessante observar o potencial de apro-
esse processo tem que captar o interesse dos veitamento dessas técnicas, pois a maioria dos
agentes do setor agrícola: dos pequenos, médios plantios não tem destino final nas agroindústrias.
e grandes agricultores; dos governos; dos inves- Somente 10% das lavouras mundiais tem esse
tidores financeiros; e, dos investidores não finan- destino, ou seja, só 10% ao nível mundial das
ceiros: tais como: empresas agroindustriais. culturas praticam monocultura a grande escala.
(THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p.26).
Levando em consideração esse grande desa-
fio, no artigo vão-se analisar técnicas de agricultu- Desta maneira, pode-se concluir que ao nível
ra simples, mas efetivas, com tecnologia de ponta mundial muitas das atividades agrícolas de tamanho
em biotecnologia. Que aprimoram a incorporação médio e pequeno praticam uma agricultura menos in-
da matéria orgânica de uma maneira científica, tensiva e com grande oportunidade para se implantar
e ajudam na absorção de CO2 no solo e não à todo um novo sistema de sustentabilidade, aliás:
atmosfera. Essas técnicas neste artigo vão-se
se alinhar junto com as ferramentas necessárias A maior parte das propriedades agrícolas
estão localizadas em paisagens do tipo
para conscientizar à sociedade da prática de uma mosaico, com grande oportunidade para
agricultura sustentável. se usar áreas não cultivadas para fins
de conservação e de ajuda para que as
Mudar o raciocínio dos agricultores e da popula- comunidades agrícolas sustentem ou
restaurarem os valores do ecossistema e ao
ção leva tempo, de fato anos, aliás, é um processo mesmo tempo aumentem a produtividade
muito complexo. Assim, neste artigo vão-se apre- agrícola e atinjam objetivos mais amplos de
sentar opções para desenvolver uma ideia de proje- desenvolvimento rural. (THE WORLDWATCH
to educacional, em vistas de ter alternativas de téc- INSTITUTE, 2011, p.26).
nicas de projetos agrícolas sustentáveis, e viáveis
financeiramente, nos currículos educacionais. Neste contexto, é fácil visualizar que se tem uma
grande oportunidade para que os governos possam
2 OPÇÕES PARA UMA AGRICULTURA SUS- aplicar políticas que incentivem à agricultura e à edu-
TENTÁVEL cação sustentável nas áreas rurais. Assim, o maior po-
tencial da agricultura sustentável é no
O maior potencial da agricultura
Além da necessidade econômi- sustentável é no pequeno e no médio pequeno e no médio produtor agrícola,
ca, a agricultura tem que ser dinâ- produtor agrícola, pois os países pois os países terão que “aprender a
mica, atingindo um elo direto com terão que “aprender a cultivar mais cultivar mais alimentos e, paralelamen-
os ecossistemas da região onde é alimentos e, paralelamente, melhorar te, melhorar a forma de proteger os
praticada. Atividade que tem víncu- a forma de proteger os ecossistemas e ecossistemas e sustentar as comuni-
lo direto com os sistemas ecológi- sustentar as comunidades rurais.” (THE dades rurais.” (THE WORLDWATCH
cos e não é somente mais um setor WORLDWATCH INSTITUTE, 2011, p.26). INSTITUTE, 2011, p.26).

18
Se levar a consideração a questão da neces-
sidade de insumos, na agricultura sustentável, o
consumo de agroquímicos poderá ser drastica-
mente reduzido. Reduzindo os problemas ambien-
tais relacionados à produção, aplicação e espalha-
mento destes nas lavouras. Além disso, a redução
na aplicação dos agroquímicos poderá ser refleti-
da nas finanças dos agricultores. Hoje, esses in-
sumos consumem grande parte dos orçamentos,
ou seja, o agricultor é financeiramente dependente Fonte: Disponível em: <www.vivaverdelca.com.br>.
das produtoras de agroquímicos. Acesso em: 27 jul. 2013.

Outros dos grandes benefícios das agroflores-


2.1 SISTEMAS AGROFLORESTAIS tas é a presencia de espécies arbóreas e arbustos
que conseguem fixar nitrogênio no solo, ajudando
Os sistemas agroflorestais é, em linguagem na sua fertilização, essencial na produção agríco-
simples, uma mistura de árvores e arbustos no la. Na natureza existem vários arbustos perenes e
meio dos cultivos, assim, tenta se aproximar pelo árvores que fixam nitrogênio, tais como:
menos um pouco aos processos naturais que as
florestas fazem na ciclagem de nutrientes e da [...] Sesbania, Gliricidia, Tephrosia e
Faidherbia, que os agricultores podem plantar
água. Água que enquanto passa através das flo-
para melhorar a fertilidade do solo. Estas
restas vai absorvendo nutrientes biológicos e mi- plantas retiram nitrogênio do ar e o transferem
nerais, processo conhecido como água verde. para o solo através das raízes e da serapilheira
Desta maneira, essa técnica pode minimizar os foliar, quando suas folhas podadas e outras
biomassas são incorporadas ao solo. (THE
impactos ambientais e ainda ajudar aos ecossiste-
WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p.109).
mas, tanto na polinização como na manutenção da
flora e fauna dos ecossistemas regionais.
Assim pode-se observar que há uma série de
métodos, sendo o elo entre todos eles o concei-
Entre os maiores benefícios dos sistemas
to da Agricultura Sempre-Verde. Que na prática
agroflorestais é a geração de água verde, que de
é uma maneira viável de fazer atividade agrícola,
fato pode ser tão importante quanto à água subter-
embasada na ciência, que preserva os solos e au-
rânea, dos rios e das chuvas. Logo, os sistemas
menta a produtividade dos agricultores.
agroflorestais tem o potencial de ajudar em minimi-
zar os impactos das secas prolongadas, melhoran-
do a boa gestão da água.
2.2 POLICULTURAS PERENES

Figuras 1 e 2 – Sistemas Agroflorestais


Nos Estados Unidos através do instituo “The
Land Institute”, no estado de Kansas, vem se de-
senvolvendo uma ideia inovadora para ser inse-
rida na produção de grãos. A ideia é mudar a co-
leta de grãos para que sejam perenes através da
biotecnologia, em outras palavras, mudar o cultivo
anual para uma lavoura que possa se manter pro-
duzindo grãos pelos menos 4 anos, economizan-
do assim energia e gastos vários.

Fonte: Disponível em: <www.ciflorestas.com.br>. Acesso Entre outros benefícios, na policultura perene
em: 27 jul. 2013. há uma mistura com outras espécies que ajudam

19
fixar nitrogênio, ajudando na fertilização e produ- Os níveis de carbono no solo eram
zindo óleo dessa espécie parceira. Assim, a po- significativamente mais altos em áreas
de gramíneas perenes na vegetação
licultura perene consegue atingir três necessida- remanescente — cerca de 4%, em
des: alimento, combustível e lubrificantes. “Essas contraposição a 1,5% em áreas do sistema
policulturas imitam as comunidades vegetais que tradicional de cultivo contínuo. (THE
compõem a pradaria selvagem” (THE WORL- WORLDWATCH INSTITUTE, 2010, p.55).
DWATCH INSTITUTE, 2010, p.53).
Uma das explicações disso é que ao gerar
O simples fato de que essas plantas sejam raízes mais profundas, essas plantas têm maior
perenes, torna-se bem mais fácil a lavoura. Por- capacidade de absorver e incorporar carbono no
tanto, elas trazem benefícios tanto ao agricultor solo, como pode ser observado na foto a seguir:
como ao meio ambiente. No entanto, cabe-se lem-
brar de que essa técnica não exime ao agricultor Figura 3 – Raízes de policulturas perenes
de praticar a rotação de plantios; a grande diferen-
ça é que será em cada 5 anos, que seria a vida
útil do plantio, e não só em 6 meses que é a vida
útil dos cultivos de grãos tradicionais.
Fonte: Disponível em: <http://ngm.nationalgeographic.
Pesquisas do Land Institute mostram que,
com/2011/04/big-idea/perennial-grains-text>. Acesso
comparadas às plantas anuais, as plantas
alimentícias perenes oferecem maior proteção em: 25 jul.2013.
contra a erosão do solo, aproveitam a água e
Embora as dimensões estejam exageradas,
nutrientes de forma mais eficiente, sequestram
mais carbono, são mais resistentes a pragas nesta foto, pode-se notar o enorme comprimen-
e intempéries e precisam de menos energia, to e densidade relativa da raiz de uma planta de
trabalho e fertilizante. (THE WORLDWATCH grão perene. Ela é bem mais profunda, portanto,
INSTITUTE, 2010, p.53).
permite várias vantagens: melhorar a captação
dos nutrientes, reduzir gastos em fertilizantes,
Além desses benefícios essas lavouras ge-
aprimoramento na produtividade da planta, entre
ram muita matéria orgânica em comparação às
outras.
culturas tradicionais que são demandantes desta.
Outro benefício importante é que, as raízes,
Estudos resultantes de pesquisas de longo
prazo revelam perdas médias de 328 libras ao serem bem mais profundas, aprimoram o forne-
de matéria orgânica por acre ao ano com cimento de água à planta. Quesito chave em anos
aração convencional, enquanto análises do muito secos, como aconteceu nos USA em 2012,
plantio direto relatam um aumento médio
de fato a pior seca há 60 anos. O aprimoramen-
de 956 libras de matéria orgânica por acre
ao ano. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, to no fornecimento de água faz que essas culturas
2010, p.54). possam ser mais produtivas, ao se comparar du-
rante um período de tempo de longo prazo.
Deste modo, essa geração continua de maté-
ria orgânica traz ainda outros benefícios reduzem Uma comparação de longo prazo feita pelo
Rodale Institute de 1981 a 2002 revelou que
a movimentação da água sobre a superfície do
sistemas orgânicos produziam safras com
plantio, produzem maior penetração de água nas rendimento equivalente ao dos métodos
lavouras. Além disso, essas culturas geram raízes convencionais. Os ensaios mostraram que,
bem mais compridas, aprimorando a absorção de quando a precipitação pluvial era 30% menor
que o normal — nível típico de seca — o
CO2. Estudos no Instituto, “The Land Institute”,
rendimento dos métodos orgânicos era 24% a
têm demonstrado essa capacidade de absorção/ 34% superior ao dos métodos convencionais.
incorporação de CO2: Os pesquisadores atribuíram o aumento do
rendimento a uma melhor retenção de água

20
em virtude de níveis mais altos de carbono
no solo. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, Observes-se que a Permacultura pode ter
2010, p.53).
grande potencial aqui no Brasil, assim, vários pro-
jetos poderiam ser desenvolvidos. Pois há muitas
Portanto, esses rendimentos equivalentes,
lavouras de arroz e recursos hídricos no Brasil.
que somados à diminuição na aplicação de in-
sumos e gastos de energia, fazem dessa lavou-
ra perene um potencial de reditos financeiros ao
2.3 AGROINDÚSTRIA SUSTENTÁVEL
agricultor.
Depois de ter estudado esses sistemas de
agricultura sustentável, a seguir será analisado
2.2 PERMACULTURA
a viabilidade delas na agroindústria. Além disso,
será observada a relação existente entre essas
A permacultura é uma com-
A permacultura é uma combinação de lavouras intensivas e sua neces-
binação de culturas em parcerias
culturas em parcerias sinérgicas, ou sidade de fornecimento energia.
sinérgicas, ou seja, cultivos que
seja, cultivos que conseguem produzir As atividades agroindustriais, es-
conseguem produzir vários produ- vários produtos na mesma lavoura
pecialmente de commodities tais
tos na mesma lavoura, tais como a
como soja, milho e carne, demandam grande
lavoura combinada de milho, feijão e abóbora.
quantidade de energia, gerando assim gases de
“Pesquisadores constataram que essas combi-
efeito estufa.
nações conseguem gerar o dobro, ou mesmo o
triplo, de rendimento do que se consegue com
No caso do gado, essa atividade gera enor-
monoculturas.” (THE WORLDWATCH INSTITU-
mes quantidades de gás metano. Problemática
TE, 2010, p.55).
que poderia ser minimizada por meio do aprovei-
tamento desse gás, porém, para atingir isso tem
Além de melhorar o rendimento das lavou-
que se mudar o jeito de enxergar essa atividade.
ras alguns desses sistemas podem gerar ainda
Mas como pode ser feito isso? Através de uma
proteína animal. Neste contexto podemos citar
combinação dos sistemas referidos acima com
as práticas aplicadas na China de aquicultura de
técnicas modernas que produzem energia desse
arroz. “[...] cujos sistemas de arroz/peixe, arroz/
gás metano, ou seja, biogás. Métodos que po-
caranguejo e arroz/camarão passaram de 5000
dem abrir várias possibilidades de aproveitamen-
hectares em 1994 para 117.000 hectares em
to dessa energia, tornando assim a agroindústria
2001” (THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2011,
de consumidora energia para uma atividade au-
p.84) Ou seja, um acréscimo na área cultivada
tossuficiente nas suas necessidades energéti-
de 2.240% num período de só 7 anos. Aumento
cas, e até com a possibilidade de fornecer à rede
bem significativo que reflete a capacidade produ-
elétrica.
tiva desse tipo de lavoura.
A produção intensiva de carne e leite,
A produtividade do arroz gera gás metano. Assim, para diminuir
Voltando à atividade pecuária,
aumentou entre 10% e 15%, esse impacto e até para aproveitar esse a produção intensiva de carne e
mas o maior ganho foi em fato várias fazendas no Brasil, e em leite, gera gás metano. Assim, para
proteína: cada mu (1/15 de outros países, vêm aproveitado esse diminuir esse impacto e até para
um hectare) produziu 50 kg
gás para produzir energia elétrica e aproveitar esse fato várias fazen-
de peixe. Outros benefícios
observados foram a redução adubo natural. Com isso, consegue-se das no Brasil, e em outros países,
no uso de inseticidas e cobrir as necessidades energéticas e vêm aproveitado esse gás para
na incidência de malária, até fornecer energia à rede elétrica. produzir energia elétrica e adubo
pelo fato de os peixes
serem predadores da larva do mosquito
natural. Com isso, consegue-se cobrir as neces-
transmissor. (THE WORLDWATCH sidades energéticas e até fornecer energia à rede
INSTITUTE, 2011, p.84). elétrica. Exemplo disto é a experiência de uma fa-

21
zenda em Mato Grosso que produz carne e grão empresários poderão ter menores custos de pro-
sem poluir, segundo o Globo Rural do dia 10/ dução. Além disso, essas empresas poderão tam-
set/20121. bém melhorar suas receitas através da geração
de energia e créditos de carbono, como foi expos-
Outro exemplo disto é na China onde a fá- to acima e como diz o seguinte estudo:
brica Huishan Laticínios tem investido em um
gerador de energia que aproveita o gás metano O estudo indica que, se os 64 milhões de
hectares das terras cultiváveis dos EUA,
gerado de mais de 60.000 vacas. Desta maneira,
atualmente com plantação de milho e soja,
essa agroindústria virou autossuficiente nas suas fossem convertidos em lavoura orgânica,
necessidades energéticas e ainda consegue for- haveria sequestro de 264 milhões de toneladas
necer energia à rede elétrica, segundo o seguin- de dióxido de carbono; isso é equivalente a
fechar 207 usinas de carvão para produção de
te artigo:
energia (225 megawatts), aproximadamente
14% da capacidade instalada de energia
O resultado disso será a produção de 5,66 elétrica gerada por carvão nos Estados
megawatts de energia, quantidade suficiente Unidos ou na China. (THE WORLDWATCH
para suprir as necessidades de 3.500 INSTITUTE, 2010, p.53).
famílias, nos padrões americanos, que são
diferentes dos chineses, já que os orientais
gastam menos energia em suas residências. Mas para que isso possa ter sucesso em gran-
(CICLOVIVO, 2010, s/p). de escala e ter um impacto real na sociedade, é
necessário conscientizar à popu-
Nesta empresa, além da gera- É necessário conscientizar à população e aos lação e aos agentes que fazem
agentes que fazem parte do setor agrícola.
ção de energia renovável é produzida Em outras palavras, massificar uma cultura parte do setor agrícola. Em outras
mais de 600.000 toneladas de adubo de agricultura e alimentação sustentável. palavras, massificar uma cultura
natural. Ou seja, em termos econômi- de agricultura e alimentação sus-
cos a empresa faz economia de insumos e ain- tentável.
da gera receitas adicionais, tais como: venda de
energia à rede elétrica, venda de fertilizante na- Isto pode e precisa ser atingido por meio da
tural e venda de créditos de carbono. educação, começando desde o ensino básico até
o ensino superior, inserindo esse quesito dentro
Nesses dois exemplos citados pode se en- dos planos já estabelecidos da Educação Am-
xergar a enorme capacidade que há para aprimo- biental (EA). Não basta ser cientes que a agricul-
rar os processos agroindustriais atuais, visando: tura sustentável é melhor para o país e o planeta,
a) gerar lavouras sustentáveis nas agroindús- é preciso enxergar que esse tipo de prática tam-
trias; b) mudar a gestão das fazendas e princi- bém pode ser financeiramente viável. Pois se as
palmente o paradigma de serem grandes deman- pessoas não conseguem enxergar ganhos finan-
dantes de energia para se tornar autossuficientes ceiros nas suas atividades, dificilmente elas ficam
e até potenciais fornecedores; e, c) gerar proje- interessadas em mudar suas práticas. Logo, para
tos sustentáveis integrados à cadeia produtiva atingir esse objetivo é necessário educar em ter-
de alimentos, através dos quais os medianos e mos de agricultura economicamente sustentável.
grandes agricultores vão se integrando a uma
agroindústria sustentável.
3 EDUCAÇÃO VISANDO UMA AGRICULTURA
Tendo isto em mente, pode-se visualizar ECONOMICAMENTE SUSTENTÁVEL
que no futuro essas mudanças poderão ser mais
atraentes em termos financeiros. Os governos Em vistas para que as futuras gerações pos-
logo poderão reduzir os subsídios agrícolas e os sam valorizar a necessidade de uma agricultura e
alimentação sustentável é importante desde o en-
1
Fonte: http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-rural/t/edicoes/v/
granja-sustentavel-modelo-produz-carne-e-grao-sem-poluir-no-
sino básico inserir essas questões nos currículos
-mt/1984945/. Acesso em: 13/01/2013.

22
de Educação Ambiental (EA). Conceitos básicos ser ensinado nas escolas através de lavouras
e práticos de agricultura, para que logo essas no- simples, literalmente bem simples, onde as
vas gerações possam ter um conceito mais real crianças possam enxergar de onde vêm os
de onde vêm os alimentos e como podem ser pro- alimentos. Ensino que pode fazer a grande
duzidos sustentavelmente. diferença para compreender todo um processo
natural que a sociedade moderna não enxerga
Sob esse contexto, vão-se expor duas etapas mais, pois a pessoa urbana não tem mais esse
importantes no processo educativo da população, contacto direto que se tinha antigamente com o
nos primeiros anos de ensino nas escolas e no campo.
ensino superior. Em vistas de gerar adultos que
consigam enxergar nas alternativas de geração de Assim, o potencial desse ensino poderá trazer
alimentos sustentável uma opção de atividade eco- as seguintes vantagens: a) Reduzir desperdícios,
nômica que seja viável e que seja interessante. escolhendo produtos nutritivos e estimulando à fa-
mília a se alimentar melhor; b) adquirir as bases
do conhecimento para que logo quando as crian-
3.1 NAS ESCOLAS ças sejam adultas possam: colaborar, incentivar e
inovar na produção de alimentos sustentáveis; e,
Considerando que na sociedade moderna a c) aprender a relação direta entre alimentação, ali-
maior parte da população mora nas cidades, as mento e a gestão agrícola:
crianças pequenas dificilmente sabem enxergar
de onde vêm os alimentos, que o leite do super- Se uma pessoa não souber como cultivar,
cozinhar ou preparar o alimento, não saberá
mercado vem da vaca, que os ovos vêm da gali- como comê-lo. Essas lições vão muito além
nha, que a cenoura, e a mandioca são tubérculos, daquelas atualmente ensinadas em sala de
e assim por diante. Logo, como fazer de uma ma- aula. Os alunos ficam entusiasmados quando
neira prática e simples para que as crianças con- descobrem o sabor de alimentos frescos e
de qualidade, e seus hábitos alimentares de
sigam ligar esses alimentos à natureza? fato mudam após aprenderem sobre nutrição.
(THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2011,
Uma alternativa é através das escolas. É im- p.41).
portante levar em consideração que as refeições
nas escolas são um termômetro da É importante levar em consideração
cultura alimentar, pois as crianças que as refeições nas escolas são um 3.2 NO ENSINO SUPERIOR
são vulneráveis aos novos gostos e termômetro da cultura alimentar, pois
modos de pensar que ainda estão- as crianças são vulneráveis aos novos No ensino superior essas
-se formando. gostos e modos de pensar que ainda crianças que têm estudado nas
estão-se formando. escolas as lavouras básicas pode-
Na realidade, apesar rão compreender melhor a logísti-
do estereótipo de um serviço simples, a
ca produtiva dos alimentos. Logo, aqueles alunos
alimentação escolar é parte de uma ecologia
bastante complexa que exige sincronismo de que decidirem optar por cursar alguma profissão
diversas variáveis. Para ser eficaz, a reforma atrelada à produção agrícola, poderão enxergar
da merenda escolar exige mudanças em melhor a cadeia de produção de alimentos, po-
todo o sistema, dada a interdependência do
dendo assim: inovar, aprimorar e criar opções
processo que traz o alimento da terra até a
mesa. (THE WORLDWATCH INSTITUTE, agrícolas produtivas, sustentáveis e lucrativas.
2010, p.72).
Dessa maneira a sociedade poderá gerar pro-
Neste contexto, é importante relacionar fissionais que apresentem ideias ou processos
a interdependência que traz esse conceito do agrícolas sustentáveis. Ideias que, além disso,
alimento da terra até a mesa. Relação que pode poderão ser estudadas desde uma perspectiva fi-

23
nanceira, através do ensino de análise de projetos de tempo, aliás, anos.
agrícolas. Projetos que poderiam ser interpreta-
dos como uma trilha para incentivar aos agentes O interesse dos agricultores no
reflorestamento de suas terras pode crescer
que fazem parte da atividade agrícola, ou seja: o
com a exploração das possibilidades de
agricultor, enxergando maiores benefícios econô- aumento de renda através do desenvolvimento
micos de suas terras; o estado, enxergando maio- de cadeias de valor do agroflorestamento. A
res receitas e menores subsídios; e, os agentes semente de carité, na África Ocidental, é um
exemplo bastante conhecido de um produto
financeiros, enxergando serviços financeiros nes-
agroflorestal, com frequência, colhido por
sas atividades. grupos de mulheres e adquirido por empresas
nacionais e por indústrias farmacêuticas.
(THE WORLDWATCH INSTITUTE, 2010,
p.101).
4 APLICAÇÃO DA INFORMAÇÃO CONSIDERA-
DA EM ANÁLISE DE PROJETOS
Logo, e fácil enxergar os benefícios desse
sistema, não em tanto, há toda uma estrutura eco-
Na questão financeira, uma opção para in-
nômica e financeira que trava o inicio de uma ativi-
centivar as lavouras sustentáveis é através de
dade sustentável e a grande escala. Por exemplo,
análise de projetos excludentes, em vistas de
o governo teria que fazer incentivos financeiros e
mudar a agricultura tradicional para uma agricul-
tributários, os quais terão um peso adicional, ali-
tura sustentável, deste modo, os agricultores e o
ás, muito forte no orçamento do estado. Assim,
governo poderão comparar atividades agrícolas
uma maneira para que o governo destravar esse
equivalentes dos cultivos a serem produzidos.
processo é considerando os contin-
gentes naturais.
Se analisar um projeto que Ao incentivar a mudanças por meio de
políticas monetárias, o governo reduzirá
seja sustentável versus um proje- o risco dos conhecidos contingentes
Em outras palavras, ao incenti-
to agrícola tradicional, sem dúvida, econômicos, tais como uma seca prolongada
var a mudanças por meio de políti-
no curto e médio prazo o projeto e/ou variações extremas do clima.
cas monetárias, o governo reduzirá
tradicional poderia trazer melhores
o risco dos conhecidos contingentes econômicos,
frutos financeiros para o empresário e para o Es-
tais como uma seca prolongada e/ou variações
tado. Porém, se analisar sob uma perspectiva de
extremas do clima. A questão é só começar, mas
longo prazo os projetos sustentáveis podem ser
como todo processo complexo, a largada é bem
economicamente mais viáveis.
atrapalhada. Assim, uma das grandes questões é
como criar planos de investimento a grande esca-
Assim, para captar o interesse, é necessário
la para começar alavancar a mudança.
que o governo faça incentivos fiscais e financeiros
para o agricultor e as empresas agroindustriais.
Toda questão que mexe com agricultura sus-
Com isso, a mudança torna-se bem mais atraente
tentável converte-se também uma questão eco-
não só no longo prazo, mas também no mediano
nômica, portanto, esses incentivos tem que ser
prazo. Consequentemente, o processo de análise
norteados por políticas estruturais de longo prazo.
da mudança de lavouras converte-se num convite
Políticas que deverão delinear: O planejamento
interessante e real para fazer investimentos sus-
da educação; os investimentos necessários em
tentáveis.
logística; e, o planejamento para
Deve-se lembrar, que ao final das
desenvolver fontes de financiamen-
Neste sentido, a seguir apre- contas, todo processo produtivo, sob
um contexto capitalista e de mercado, to.
senta-se um exemplo no qual os
é incentivado através das perspectivas
sistemas agroflorestais demons- financeiras das atividades econômicas.
Deve-se lembrar, que ao final
tram receitas atrativas. A pesar de Logo, o incentivo econômico poderá ser
das contas, todo processo produ-
ter que esperar um longo período um dos melhores parceiros para uma
nova era agrícola.

24
tivo, sob um contexto capitalista e de mercado, logo passando ao longo da cadeia de distribuição
é incentivado através das perspectivas financei- até o consumidor final dos produtos alimentícios a
ras das atividades econômicas. Logo, o incentivo serem consumidos.
econômico poderá ser um dos melhores parceiros
para uma nova era agrícola. Neste processo de decisão, e tendo como
perspectiva a questão financeira do agricultor, há
Em vistas de desenvolver esses projetos e dois pontos importantes, que podem fazer a gran-
que sejam conhecidos pelos agentes que atuam de diferença entre escolher um projeto sustentá-
na atividade agrícola, a seguir se apresenta duas vel ou continuar com uma lavoura tradicional:
ideias que poderão servir como modelos para deli-
near métodos pedagógicos nos cursos que envol- • Considerar os incentivos financeiros e de
vam gestão agrícola. Esses formatos poderão ser redução de impostos do governo. Se não houver,
esboçados e aprimorados por meio das pesquisas o projeto deverá considerar o tempo de recupera-
e processos específicos na atividade econômica ção financeira do investimento num maior prazo,
em questão, levando em consideração: logo, havendo um alto risco de não fazê-lo.
• Na etapa de avaliação do projeto é funda-
• Projetos através de cooperativas agrícolas, mental considerar todos os insumos a serem con-
através da gestão de espalhar esses novos sis- sumidos e seu impacto no ecossistema da região.
temas agrícolas entre os agricultores pequenos e
médios. Nesta etapa, pode-se considerar o aprovei-
• Projetos através das agroindústrias, as tamento de recursos naturais (água, solo, vege-
quais compram seus insumos a vários agriculto- tação), alternativas de minimizar impactos am-
res, desde pequenos até grandes fazendeiros. bientais, sistemas de tratamento e reutilização de
resíduos (líquidos, sólidos e gasosos). (NEVES,
Nessas duas alternativas o primeiro passo 2011, p.121).
é desenvolver o marco geral dos projetos
excludentes. Se apresentando os seguintes Dentro do período de análise, é bem crítico
passos macros: a fase de médio prazo, pois uma atividade agrí-
cola sustentável poderia gerar na média um 30%
Quadro 1 – Informações básicas para análises de a menos de produtividade, porém apresentando
projetos menor consumo de recursos naturais e insumos.
PROJETO (BARILLA CENTER FOR FOOD & NUTRITION,
Lavoura Sustentável ou
Lavoura Tradicional Comparação Custo/Benefício 2012, p.136) A pesar disso, um cultivo sustentá-
*Estudos
*Pesquisas
Valor Presente Líquido
Ponderação dos Contingentes
vel poderia atingir receitas mais estáveis, tendo
Oportunidade Decisão
*Processos
*Demanda Energéticas
*Custos Energéticos menor impacto aos contingentes naturais. No lon-
*Variação do CLima
*Demanda de Insumos * Custos Insumos go prazo é comprovado que iguala ou até pode
*Análise
*Avaliações superar as produtividades tradicionais, pois além
Fonte: O autor. das receitas da atividade agrícola em si, as sus-
Uma vez que estamos tratando do tentáveis consideram a bioagricultura como parte
desenvolvimento sustentável de sistemas integral do negócio.
produtivos no agronegócio, temos que
pensar na viabilidade financeira e no
desenvolvimento da cadeia como um todo.
(NEVES, 2011, p.118). 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, como expressa Neves, ao se analisar O foco deste artigo foi de argumentar sobre
um processo de análise destes, é básico analisar a necessidade de considerar a questão educacio-
a sustentabilidade começando desde a lavoura e nal e financeira na hora de analisar o desenvol-

25
vimento de sistemas de agricultura sustentável, REFERÊNCIAS
em especial considerando-o dentro do plano da
Educação Ambiental (EA). Para atingir isso, foram BARILLA CENTER FOR FOOD & NUTRITION.
apresentados os sistemas agrícolas sustentáveis Eating Planet 2012, Nutrition Today: A
com maior sucesso, assim, teve-se uma base challenge for manking and for the Planet. Ed.
para se comparar esses sistemas inovadores com 1. Milan – Itália. Edizione Ambiente, 2012.
as lavouras tradicionais.
BROWN, Lester. Plano B 4.0: Mobilização para
A partir disso, foi analisado o “como” fazer Salvar a Civilização. Ed. Português. São Paulo.
para mudar, de fato a grande escala, as lavou- New Content Produtora e Editora, 2009.
ras tradicionais para uma agricultura sustentável,
ou seja, para que possam ter um impacto real na CICLO VIVO. Laticínio chinês aproveita o
sociedade como um todo, norteando assim a dis- gás metano do gado para produzir energia.
cussão para o campo da educação. Neste ponto, Disponível em: <http://www.ciclovivo.com.
além da questão educacional, ficou mais fácil vi- br/noticia/laticinio_chines_aproveita_o_gas_
sualizar a problemática ambiental e educacional metano_do_gado_para_produzir_energia>.Último
em relação à questão econômica, em especial acesso: 10 jan. 2013.
no que tange aos agentes da atividade agrícola
como um todo. Assim, foram expostas opções, ou GLOBO RURAL. Granja sustentável modelo
ferramentas financeiras, para mudar o paradigma produz carne e grão sem poluir no MT. Disponível
“econômico” atual dentro da atividade agrícola, in- em: <http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-
serindo a problemática econômica dentro da Edu- rural/t/edicoes/v/granja-sustentavel-modelo-
cação Ambiental. produz-carne-e-grao-sem-poluir-no-mt/1984945>.
Acesso em: 10 jan. 2013.
Assim, ao final desta análise ficou em aberto
a possibilidade de uma longa pesquisa a se de- NEVES, Marcos. Agronegócios &
senvolver e descobrir. Isso em vistas de implantar Desenvolvimento Sustentável: Uma agenda para
esse processo educacional, e, principalmente, de a liderança mundial na produção de alimentos e
conscientizar aos agentes que fazem parte dessa bioenergia. Ed. 1. São Paulo. Atlas, 2011.
atividade agrícola, tão importante para garantir a
segurança alimentar da sociedade. Argumentan- THE WORLDWATCH INSTITUTE. 2010
do que é viável ter rendimentos financeiros nas Estado do Mundo: Transformando Culturas, do
lavouras sustentáveis, mas para atingir isso é Consumismo à Sustentabilidade. Ed. Português.
preciso que haja políticas governamentais, em es- Salvador. UMA -Universidade Livre da Mata
pecial educacionais e monetárias, que consigam Atlântica, 2010.
delinear essas mudanças.
THE WORLDWATCH INSTITUTE. 2011 Estado
Desta forma, a análise apresentada é mais do Mundo: Inovações que Nutrem o Planeta. Ed.
um caminho para estimular e atingir uma produti- Português. Salvador- UMA- Universidade Livre
vidade agrícola sustentável, procurando dar valor da Mata Atlântica, 2011.
agregado à decisão econômica dessa mudança,
aliás, fundamental para manter as atividades agrí-
colas. Talvez uma segunda etapa desta propos-
ta seja a elaboração de uma longa pesquisa que
possa levar à prática o que foi argumentado neste
texto.

26
27
RESENHA

Desenvolvimento Sustentável:
Uma Breve Reflexão

Autor: Edinan Cardoso Dourado. Formação: mestrado em


Desenvolvimento Regional pela Universidade Regional de Blumenau e
graduação em Licenciatura em História pela Universidade do Estado
da Bahia. Trabalha na Pós Graduação a Distância da Uniasselvi. E-mail:
edinandourado@ibest.com.br

OLIVEIRA, Gilson Batista de; SOUZA-LIMA, José sador-docente do UNICURITIBA e do Programa


Edmilson de (orgs.). Desenvolvimento susten- de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desen-
tável em foco: uma contribuição multidiscipli- volvimento (PPGMADE-UFPR). Líder do grupo de
nar. São Paulo: Editora AnnaBlume, 2006. p.168. pesquisa Epistemologia e Direito (CNPq/UNICU-
ISBN:978-85-7419-681-7. RITIBA) e pesquisador do grupo Epistemologia e
Sociologia Ambiental (CNPq/UFPR). Está à frente
Gilson Batista de de um programa de investigação acerca dos fun-
Oliveira é Doutor em De- damentos epistêmicos, teóricos e metodológicos
senvolvimento Econômi- do campo de conhecimento ambiental no Brasil.
co pela Universidade Fe-
deral do Paraná - UFPR. No livro sobre o qual discorre-se no presen-
Professor Adjunto II, em te momento, os autores caminham no sentido de
regime integral com de- propor novos conceitos, novos modos de ser ao
dicação exclusiva, da inquietar formas tradicionais de fazer as coisas,
Universidade Federal da que já não mais produzem resultados benéficos
Integração Latino-Ameri- para a humanidade. O termo “desenvolvimento”,
cana (UNILA). Membro do Grupo de Pesquisa In- nesse livro, é encarado como algo plural. Muito
terdisciplinar em Racionalidades, Desenvolvimen- mais que crescer e aumentar o montante de ri-
to e Fronteiras (GIRA) da UNILA e do Grupo de quezas produzidas, é preciso fazer com que es-
Pesquisa em Gestão Pública e Desenvolvimento sas riquezas regressem àqueles que produziram.
da UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do Enfim, o debate em questão é “como prosperar
Paraná. Editor da Revista Orbis Latina/ Pesquisa distribuindo riquezas nas mãos dos milhões que
os seguintes temas: desenvolvimento regional a produziram”. Esse ponto por si só já justifica a
(rural e urbano) e políticas públicas para promo- importância do debate, “contrariar o processo de
ção do desenvolvimento das regiões. crescer é concentrando, pois tal procedimento re-
sulta em exclusão social”.
José Edmilson de Souza Lima é Pós-Doutor
em Meio Ambiente e Desenvolvimento. Pesqui-

28
O livro - Desenvolvimento Sus- objetivo desse capítulo é discutir
Ampliar os debates a respeito do
tentável em Foco: Textos para Re- o desenvolvimento regional sob a
desenvolvimento sustentável e, por
flexão-traz cinco textos com aná- que não dizer, desenvolvimento perspectiva endógena, isso é, es-
lises que norteiam a questão da socioambiental. tudar os fatores internos da região,
sustentabilidade socioambiental. capazes de transformar um impul-
Trata-se de uma reunião de artigos científicos pu- so externo de crescimento econômico em desen-
blicados em renomadas revistas, congressos ou volvimento para toda a sociedade. Para tanto, si-
seminários acadêmicos, o que restringiu a leitu- multaneamente revisou e aproximou abordagens
ra e a discussão do tema. Assim, esse livro teve das ciências econômicas de aportes construídos,
como objetivo principal ampliar os debates a res- tendo por base as ciências socioambientais, apre-
peito do desenvolvimento sustentável e, por que sentando novas pistas analíticas e interdiscipli-
não dizer, desenvolvimento socioambiental. nares para a dimensão econômica das experiên-
cias associativas humanas. A partir da discussão
No primeiro cenário - Uma discussão sobre proposta, o autor conclui que as variáveis endó-
o conceito de desenvolvimento – Gilson Batista genas, por definição, são as socioculturais, logo
de Oliveira. O principal objetivo é esclarecer o não podem ser negligenciadas durante as elabo-
conceito de desenvolvimento, rações das políticas de desenvolvi-
enfatizando a controvérsia A busca desenfreada pela mento socioeconômico.
industrialização e pelo desenvolvimento
existente entre este e o conceito econômico levou a maioria dos países
de crescimento econômico, assim do mundo a concentrar seus esforços No terceiro cenário - Econo-
como discutir a relação entre na promoção do crescimento do mia ambiental, ecológica e marxis-
desenvolvimento e ambiente, produto interno bruto (PIB), deixando a ta versus recursos naturais - José
qualidade de vida em segundo plano.
desenvolvimento e industrialização Edmilson de Souza-Lima. Toma-se
e o conceito de desenvolvimento humano. O como referência os recursos naturais e a racio-
autor procurou mostrar que a busca desenfreada nalidade instrumental para promover um diálogo
pela industrialização e pelo desenvolvimento epistemológico e exploratório, envolvendo três
econômico levou a maioria dos países do abordagens da economia: a ambiental, a ecológi-
mundo a concentrar seus esforços ca e a marxista. Esse terceiro ce-
na promoção do crescimento O autor demonstra que as abordagens nário recorreu a alguns fundamen-
do produto interno bruto (PIB), ambientais e ecológicas da economia, tos da teoria econômica tentando
por fazerem concessões à racionalidade
deixando a qualidade de vida em e à racionalidade instrumental, não resgatar as diferentes formas com
segundo plano, pois o crescimento conseguem questionar as causas as quais essas teorias enfrentam
econômico era visto como meio e centrais da crise ambiental, na medida os processos de apropriação dos
fim do desenvolvimento. Por fim, em que enfrentam as referidas recursos naturais. No final, o autor
contradições.
demonstrou-se que essa visão demonstra que as abordagens am-
está mudando lentamente, apesar de ter deixado bientais e ecológicas da economia, por fazerem
graves danos para a humanidade. concessões à racionalidade e à racionalidade ins-
trumental, não conseguem questionar as causas
Mergulhamos no segundo cenário - Elemen- centrais da crise ambiental, na medida em que
tos Endógenos do desenvolvimento regional: enfrentam as referidas contradições.
considerações sobre o papel da sociedade local
no processo de desenvolvimento sustentável – O quarto cenário - A construção do imaginá-
Gilson Batista de Oliveira e José rio Ecológico em Curitiba – José
Edmilson de Souza-Lima. Traz uma As variáveis endógenas, por definição, Edmilson de Souza-lima. Analisa
são as socioculturais, logo não
discussão sobre o papel da socie- podem ser negligenciadas durante as possíveis influências dos meios
dade local no processo de desen- as elaborações das políticas de escritos de comunicação de mas-
volvimento. Ele nos mostra que o desenvolvimento socioeconômico. sa no processo de construção do

29
29
imaginário ecológico da cidade de Curitiba. Essa lar a cooperação e a participação dos agentes da
experiência precisa ser estudada com mais pro- sociedade civil organizada, sociedades de bairro,
fundidade, uma vez que seus nexos causais e, organizações não governamentais, sindicatos, en-
sobretudo, seus significados socioculturais per- tre outros. Esse planejamento deve ser em função
manecem obscuros para sua própria população. dos habitantes e não somente de suas indústrias
Nessa discussão, tomando como e empreendimentos lucrativos. A
ponto de partida a comparação O autor conclui parcialmente que a ação conjunta é um dos pontos
Curitiba ecológica não é resultado
entre matérias jornalísticas sobre centrais da busca do desenvolvi-
exclusivo e único da mídia e da imprensa,
ecologia e o mundo vivido, o autor mas de todo um projeto histórico, mento urbano sustentável.
conclui parcialmente que a Curitiba caracterizado como modernidade.
ecológica não é resultado exclusivo O sexto Cenário - Inovação
e único da mídia e da imprensa, mas de todo um tecnológica e a pequena e média empresa local
projeto histórico, caracterizado como modernidade. – escrito por Antoninho Caron – apresenta que
Conclui-se também que a Curitiba ecológica cons- as pequenas e médias empresas representam e
truída com o propósito de produzir impactos positi- simbolizam as forças produtivas vivas de uma so-
vos sobre ambiente, terminou por provocar efeitos ciedade e, por meio delas, se expressa o sentido
contrários, ao atrair, com sua fama, uma série de de risco, de empreendimento, de auto-realização,
problemas que vêm se multiplicando como fontes de criatividade, de iniciativa e de autopreservação
de desequilíbrios socioambientais. Como emblema da realização do sonho empresarial, geração de
desse efeito contrário, é possível destacar o cres- empregos, da interiorização do desenvolvimen-
cimento de favelas, aliado ao crescimento popula- to e complementação da ação de grandes em-
cional. Esse é o preço da fama, pago pela Curitiba presas. A contribuição específica do estudo foi
ecológica. observar o fenômeno da inovação
Só há vencedores se todos ganharem. tecnológica na pequena e média
É preciso um plano diretor unificado
O quinto cenário é denominado para toda região, pois sem isso é empresa, com base na visão e na
de Planejamento e Desenvolvimen- impossível ter qualidade de vida. Na percepção do empresário sobre o
to Regional: considerações sobre busca de desenvolvimento, é preciso ambiente econômico competitivo
a região metropolitana de Curitiba, priorizar investimentos nas áreas que o cerca e conhecer o compor-
periféricas, com o propósito de reduzir
escrito por Gilson Batista de Olivei- disparidades e melhorar os serviços tamento e as atitudes dos empre-
ra. No processo de planejamento públicos da cidade polo para, então, sários e dirigentes das empresas
regional, de acordo com o autor, resolver problemas nas regiões que querem e precisam inovar para
é importante prestar atenção não centrais, articular a cooperação e a competir. Constata-se, por meio da
participação dos agentes da sociedade
somente nos problemas evidentes, civil organizada, sociedades de bairro, pesquisa de campo e das entrevis-
mas igualmente buscar ajuda e organizações não governamentais, tas apresentadas, que o conceito
pensar no todo gera o sucesso da sindicatos, entre outros. de inovação é que orienta as ações
qualidade de vida, pois, na metró- empresariais e pode ser sintetiza-
pole, só há vencedores se todos ganharem. As- do como inovação tecnológica que nada mais é
sim, de forma didática, o autor apresenta que é a ampliação da produção e a introdução de novos
preciso um plano diretor unificado produtos, isso é, passar a fabricar
Não é somente o lucro que determina a
para toda região, pois sem isso é estratégia da inovação, mas também a produtos que a empresa não fabri-
impossível ter qualidade de vida. capacidade de empreender, de criar. Além cava, mas poderiam estar sendo
Na busca de desenvolvimento, é disso, o modo de pesar do empresário produzidos por outros fabricantes
preciso priorizar investimentos nas e da empresa estimula a capacidade de ou concorrentes. De acordo com o
perceber a oportunidade, de correr o
áreas periféricas, com o propósito risco de empreender. autor, os empresários querem mu-
de reduzir disparidades e melhorar dar, estão dispostos a mudar, en-
os serviços públicos da cidade polo para, então, tendem que a mudança é necessária, todavia têm
resolver problemas nas regiões centrais, articu- dificuldades e facilidades para gerir as mudanças

30
por serem suas empresas pequenas e locais. Não O oitavo e último cenário discorre sobre Ca-
é somente o lucro que determina a estratégia da pital social e cooperativismo no processo de de-
inovação, mas também a capacidade de empre- senvolvimento sustentável: estudo da cooperativa
ender, de criar. Além disso, o modo de pesar do Bom Jesus-Lapa-PR. Esse capítulo é de autoria
empresário e da empresa estimula a capacidade de Pedro Salanek Filho e Christian Luiz da Silva.
de perceber a oportunidade, de correr o risco de De acordo com os autores, a ação da comunidade
empreender. fortalece a rede pela educação e pela formação e
estabelece os valores de confiança contra o opor-
O sétimo cenário - A ação do Estado em con- tunismo e a ação individual, estabelecendo laços
sequencia da interação e interdependência das verticais e um capital social estrutural. A base do
dimensões do desenvolvimento cooperativismo, contudo, é indivi-
sustentável: um modelo economé- Assim como o conceito multidisciplinar do dual e não necessariamente pro-
desenvolvimento sustentável, a prática move o fortalecimento da rede. A
trico e analítico dos equipamentos
exige um sistema complexo em prol de
urbanos – desenvolvido por Chris- maior interação e interdependência dos adesão voluntária e individual pode
tian Luiz da Silva, Marcus santos agentes que garanta a continuidade das ter base em transações econômi-
Lourenço e Heloísa de Pupi e Silva ações e o fortalecimento em um projeto cas e não da busca pela interação
direcionado por um objetivo comum da e ação coletiva. Enfim, de acordo
– trata da transformação da ação
comunidade local.
do estado. Essa transformação, com as discussões realizadas nes-
de acordo com os autores, ocorreu em virtude se capítulo, o cooperativismo é um tipo de organi-
de uma nova dinâmica internacional, fundamen- zação que promove a aproximação e a interação
tada no comércio internacional e na revolução dos agentes, apesar de não ser suficiente para
tecnológica. A ação do Estado, como um sistema garantir o fortalecimento do capital social. Diferen-
complexo, retroalimenta-se em prol de um cres- tes cooperativas podem ter capitais sociais dife-
cimento e deve ser avaliada, levando-se em con- rentes em razão da sua história e das característi-
sideração que seus recursos são escassos. Tão cas dos cooperados. No estudo de caso realizado
fundamental quanto definir racionalmente o uso pelos autores, observou-se a preocupação de
do recurso é acompanhar a sua aplicação e ava- manter a rede e o capital social alimentado para
liar a relação entre o impacto direto o longo prazo, contudo há uma dis-
e indireto, previstos e realizados. De acordo com os autores, a ação puta entre o resultado operacional
da comunidade fortalece a rede pela
Esse processo deve ser contínuo e educação e pela formação e estabelece os (curto prazo) e estratégico (longo
gerar novos valores de análise. As- valores de confiança contra o oportunismo prazo) do cooperado. Os autores,
sim como o conceito multidisciplinar e a ação individual, estabelecendo laços ao final, sugerem a realização de
do desenvolvimento sustentável, a verticais e um capital social estrutural. um estudo comparativo entre as
prática exige um sistema comple- cooperativas de ramos e locais di-
xo em prol de maior interação e interdependên- ferentes, a fim de avaliar o capital social e relacio-
cia dos agentes que garanta a continuidade das nar as convergências e divergências.
ações e o fortalecimento em um projeto direciona-
do por um objetivo comum da comunidade local. O livro analisado é uma obra que pode ser
Urge, então, desenvolver uma base de informa- criticada por alguns, por não ter um direciona-
ção que permita a retroalimentação da análise, a mento geral, mas, para outros, é o depoimento
fim de se estabelecer um projeto de desenvolvi- de estudos de caso sobre a temática “desenvolvi-
mento sustentável. Nessa perspectiva, os autores mento sustentável”, como desafio de um modelo
propõem duas abordagens: uma teórica e outra industrial-urbano consumista, que já provou que
prática. A teórica envolve análise de outros indica- não é viável. Por essas palavras recomenda-se o
dores–base. A prática está relacionada ao estudo livro para entender às possibilidades de uma nova
de impacto de investimento de um equipamento sociedade que respeite os recursos e os atores
público, a fim de relacioná-lo com os valores indi- sociais.
cados nesse texto.

31
RESENHA
Sustentabilidade na Escola:
Conciliado o Ser Humano, a
Aprendizagem e a Educação

Autora: Sorinéia Goede. Formação: mestrado em Desenvolvimento


Regional e graduação plena em Educação Física. Trabalha na Rede
Municipal de Ensino de Pomerode e na Pós Graduação a Distância da
Uniasselvi. E-mail: sorineia.goede@uniasselvipos.com.br

GADOTTI, Moacir. A Carta da Terra na Educção. quando, em 1987, a Comissão Brundtland recomen-
São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo dou a redação de uma nova carta sobre o desenvolvi-
Freire, 2010. ISBN: 978-85-61910-41-9. mento sustentável. A partir dessa data a temática sus-
tentabilidade é referência para a evolução de todas
Moacir Gadotti é Dou- as áreas de conhecimento.
tor em Ciências da Edu-
cação pela Universidade A Carta da Terra, documento que norteia os es-
de Genebra, professor de critos do livro resenhado, foi redigida e aprovada no
Filosofia da Educação na Fórum Global Rio 92, evento que ocorreu paralela-
Universidade de São Pau- mente à Conferência das Nações Unidas sobre Meio
lo, diretor Ambiente e Desenvolvimento, organi-
do Instituto A Carta da Terra, documento que norteia zado pela Cúpula da Terra (ECO-92),
os escritos do livro resenhado, foi redigida
Paulo Frei- e aprovada no Fórum Global Rio 92, evento ocorrida na cidade de Rio de Janeiro.
re e autor que ocorreu paralelamente à Conferência Foram debatidos e aprovados 34 tra-
membro do das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e tados, por mais de 108 países, dentre
Grupo de Referência da Década das Desenvolvimento, organizado pela Cúpula da eles a Agenda 21, Tratado da Educa-
Terra (ECO-92), ocorrida na cidade de Rio de
Nações Unidas da Educação para o Janeiro. ção Ambiental, Declaração do Rio de
Desenvolvimento Sustentável. Par- Janeiro, entre outros. A primeira pu-
ticipou da Conferencia Rio-92 e é autor de vários li- blicação do documento pode ser encontrada no livro
vros sobre educação e sustentabilidade. Atualmente Tratado das ONGs, pelo Fórum Brasileiro de ONGs e
desenvolve uma proposta educacional orientada pelo Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desen-
paradigma da sustentabilidade. volvimento. Contudo, a Cúpula da Terra não aprovou
a Carta da Terra nesse evento, sendo que as discus-
O livro versa sobre as transformações que o ter- sões sobre o tema foram retomadas após dois anos
mo sustentabilidade tem apresentado nas últimas dé- e, em 1996, Mirian Vilela passou a coordenar a Inicia-
cadas, principalmente após publicação do documen- tiva da Carta da Terra. Após a organização de comi-
to “Carta da Terra”, em 1992. A história toda começou tês nacionais e internacionais, em junho de 2000 foi

32
lançado o texto final da Carta da Terra, no Palácio da vitais mais sustentáveis, entre outros. Percebe-se
Paz em Haia, na Conferência Internacional da Carta a intensão de firmar o documento como guia para
da Terra. orientar a formação e a capacitação dos cidadãos
a fim de que possam melhorar a qualidade de vida
As críticas afirmavam que faltava, na primeira de todos. Ao final do capítulo, apresenta-se uma lis-
versão do documento, a visão ética fundamentada tagem nominal de instituições e sujeitos comprome-
na Declaração sobre os Direitos Humanos. Des- tidos com a promoção e sistematização da Carta da
sa forma, oito anos após a primeira versão, a Carta Terra no Brasil e no exterior.
da Terra foi reescrita e legitimada como documento
norteador de projetos e ações sociais que buscam a O terceiro capítulo do livro versa sobre a temáti-
sustentabilidade. Atualmente ele está traduzido em ca da Ecopedagogia e atende, dessa forma, as atuais
mais de 50 idiomas e conta com o apoio de 2,5 mil correntes pedagógicas relacionadas ao desenvolvi-
organizações. mento sustentável, como a Pedagogia da Terra e a
Pedagogia da Sustentabilidade. Após estudos ates-
De acordo com Gadotti (2010, p.54) “a missão tarem que a Pedagogia do Desenvolvimento Sus-
da Carta da Terra é contribuir na cons- tentável (GUTIERREZ, 1994) não
trução de formas sustentáveis de vida De acordo com Gadotti (2010, p.54) “a apresentou a abrangência necessária
missão da Carta da Terra é contribuir na para inovar a educação, lançou-se
com base no seu marco ético, que
construção de formas sustentáveis de
inclui o respeito à comunidade de vida com base no seu marco ético, que o conceito de Ecopedagogia, citado
vida, a integridade ecológica, os direi- inclui o respeito à comunidade de vida, a inicialmente no livro Ecopedagogia e
tos humanos, a diversidade, a justiça integridade ecológica, os direitos humanos, cidadania planetária, de Cruz Prado e
a diversidade, a justiça econômica, a Francisco Gutierrez (1999). No Rio de
econômica, a democracia e a cultura
democracia e a cultura de paz.”
de paz.” Desta forma, no primeiro ca- Janeiro os discursos formais sobre a
pítulo, o autor realiza uma abordagem histórica do Ecopedagogia iniciaram em 1999, quando ocorreu a
desenvolvimento conceitual da Carta da Terra e do aprovação da Carta da Ecopedagogia, com princípios
termo sustentabilidade, relacionando-os à educação. que defendiam a Pedagogia da Terra. Desde essa
data, o Instituto Paulo Freire (IPF), esta engajado na
A essência da Carta da Terra está em modifi- promoção da Década da Educação para o Desenvol-
car a percepção humana para com o Planeta Terra vimento Sustentável (2005-2014).
e para com a vida em geral, trilhando, dessa forma,
caminhos para a sustentabilidade. Para alcançar tal A Ecopedagogia parte da consciência planetária
meta, o documento enumerou os seguintes subte- que busca nova consciência ética e social e que ultra-
mas para discussão: I. Respeitar e cuidar da comu- passa a cidadania ambiental, reeducando o olhar das
nidade de vida; II. Integridade Ecológica; III. Justiça pessoas para evitar agressões ao meio ambiente e à
social e econômica; IV. Democracia, não violência e vida (GADOTTI, 2010). A educação para a cidadania
paz. Foram definidos também princí- A educação para a cidadania planetária planetária consiste na renovação dos
pios e valores que ONGs, entidades e consiste na renovação dos currículos currículos nos sistemas formais e na
nos sistemas formais e na educação educação popular, engajando sua ade-
sujeitos precisariam partilhar para al-
popular, engajando sua adesão em
cançar a sustentabilidade: liberdade, todos os níveis de ensino. A cidadania são em todos os níveis de ensino. A ci-
igualdade, solidariedade, tolerância, está relacionada com a consciência e, dadania está relacionada com a consci-
respeito à natureza e responsabilida- a formação desta depende da educação ência e, a formação desta depende da
(GADOTTI, 2010). educação (GADOTTI, 2010).
de compartilhada.

No capítulo seguinte, o autor apresenta o pro- As críticas das teorias pedagógicas pautadas
cesso de expansão da Carta da Terra no Brasil. De- nos conceitos da Ecopedagogia, aos modelos peda-
senvolve o texto mediante a citação de vários proje- gógicos tradicionais consiste na demasiada ênfase
tos escolares sobre educação ambiental, cultura da ao homem, concepção denominada de antropocen-
paz entre jovens e crianças, construção de relações

33
33
trismo. Em contra ponto, as críticas à Ecopedagogia
afirmam sua busca por mudanças nas relações so- Admite-se que o paradigma centrado no desen-
ciais e ambientais da atualidade e, por isso, segundo volvimento integral do ser humano é valorizado por-
Gadotti, ela é utópica. que possibilita a superação dos limites e a melhora
das capacidades individuais. Para alcançar tal meta,
O quarto e último capítulo, intitulado “Um passo a há séculos as escolas trabalham a partir de estraté-
diante”, relata as mudanças futuras que permearão a gias de ensino e aprendizagem centradas na aqui-
Carta da Terra e os ambientes educacionais. Inicia-se sição de novos conhecimentos e no aprimoramento
com a pauta abordada pelo Conselho Internacional biológico e social do ser humano. O que não pode
da Carta da Terra que reuniu-se em Devemos superar a fragmentação das acontecer é a substituição das corren-
2007 na Amana-Key, uma empresa áreas de conhecimento por abordagens tes pedagógicas antropocêntricas por
de consultoria e educação executiva interdisciplinares, tanto na escola aquelas que priorizam a aquisição de
de São Paulo, para planejar a expan- como nas universidades e nos centros conhecimentos e de habilidades re-
de pesquisa, conciliando, por exemplo,
são do processo de ação da Carta a realização de atividades físicas em ferentes a valores sociais. Devemos
da Terra. Afirmou-se a necessidade meio a natureza ou em habitações superar a fragmentação das áreas
de trabalhar como organização ca- construídas preocupando-se com a de conhecimento por abordagens in-
órdica , na qual a essência deve ser sustentabilidade. terdisciplinares, tanto na escola como
duradoura e a sua forma transitória. As ações devem nas universidades e nos centros de pesquisa, conci-
acontecer em rede, na horizontalidade e no respeito liando, por exemplo, a realização de atividades físi-
à diversidade, criando pontos de irradiação e proces- cas em meio a natureza ou em habitações construí-
sos catalizadores em setores chaves da sociedade, das preocupando-se com a sustentabilidade.
ao invés de centralizadas e, assim, será formado um
design organizacional diferente do modelo hierárqui- Sempre será necessária a preocupação com o
co predominante na atualidade. desenvolvimento biológico da criança. Isso diz res-
peito à aprendizagem sobre a boa alimentação, o
No livro são citados três desafios da Carta da controle de emoções, a compreensão de conceitos
Terra mencionados por Oscar Motorama no seminá- e vocabulários, a pré-disposição à autonomia. As
rio na Amana-Key que são: disseminação, educação vertentes de aprendizagens culturais e políticas têm
e mudança cultural. Gadotti defende a superação da a obrigação de contemplar a aquisição de tais habi-
fragmentação, a otimização e o empoderamento das lidades. No entanto, as aprendizagens de comporta-
ações que já são realizadas. mentos culturais e/ou simbólicos é que o tornam su-
jeito pertencente a determinado grupo ou sociedade.
Como sequência do seminário em 2009, o Pro- Dessa forma, todo ser humano tem as necessidades
grama de Educação da Carta da Terra publicou o do- inerentes à espécie e aquelas adquiridas no contato
cumento Um guia para usar a Carta da Terra na Edu- social. E a educação e o ensino exercem o papel de
cação. A partir desse documento, inúmeros projetos instigar a escolha pessoal e a responsabilizar-se so-
escolares podem ser desenvolvidos na perspectiva bre elas. Corroborando, Gadotti (2010, p.59) explica
da sustentabilidade, como o projeto de produções ar- que “[...] em processos educativos não é possível se-
tísticas do Instituto Harmonia da Terra, em Florianó- parar competências de valores éticos”. Tal ideia pode
polis. ser enfatizada tanto para o sujeito que ensina como
para aquele que aprende.
No entanto, com a expansão da proposta da
sustentabilidade, as mudanças no ensino e na educa- Adaptar concepções teóricas da educação e do
ção descentralizam o aprimoramento do ser humano ensino às necessidades de cada sociedade é uma
como foco principal da ação educativa. Tal fato impli- alternativa que deve ser considerada nos planeja-
ca a reconfiguração dos valores sociais, culturais e mentos governamentais e escolares, tendo em vista
econômicos, confirmando a necessidade da mudan- que o acesso à informação é facilitado pelos meios
ça cultural mencionada por Oscar Motorama. de comunicação e tanto professores como estudan-

34
tes podem ter acesso aos escritos sobre a temática. fender a bandeira da sustentabilidade na educação
É papel do Governo nortear as propostas educativas estamos novamente ensinando e educando conteú-
da nação, a partir da demanda que emana da socie- dos de forma colonizante e que, possivelmente, não
dade. terão significados para o aprendiz, nem no momen-
to presente e talvez nem no futuro. A questão que
Se o tema sustentabilidade não for discutido em permanece referente à aculturação e à colonização
espaços públicos, novamente o foco do ensino e da de conceitos é: cada sociedade pode definir o que
educação formal se direcionará à aquisição de valo- é um conceito e valor importante para seu grupo ou
res e conteúdos importantes somente para determi- determinados valores e conceitos dizem respeito à
nadas sociedades, prosseguindo com a aculturação, índole de todo o ser humano e de toda a sociedade
em que uma cultura se sobressai e diminui outra, e enquanto partícipes desse mundo?
um ensino colonizante que acontece na realidade de
muitas escolas brasileiras. Tal contexto contribui para
acumular aprendizagens pouco significativas, des-
contextualizadas com o entorno social do aprendiz.
Talvez esse seja um dos motivos pelo desinteresse
das crianças em estudar os conteúdos ministrados
nas escolas.

O interesse de salvar o planeta da depredação


da natureza mediante a diminuição da exploração
de matérias-primas deve iniciar pela conscientização
autônoma de cada sujeito e da sociedade. E esse
deve ser o objetivo inicial a ser abordado nas escolas
que pretendem aderir a proposta da sustentabilidade
como conteúdo disciplinar.

Concluindo, as principais críticas ressaltam o pro-


cesso de aculturação contínuo, caso não haja discus-
sões na sociedade sobre o tema. As estratégias de
ensino que priorizam a aprendizagem de forma autô-
noma e a partir da cultura dos sujeitos são o cerne
para que melhorias sejam possibilitadas, superando
a fragmentação disciplinar pela interdisciplinaridade.
O abandono do desenvolvimento biológico devido à
ênfase na aprendizagem de conteúdos referentes a
lutas sociais e valores culturais é um vetor que deve
ser enfatizado quando se pretende ampliar a interdis-
ciplinaridade entre áreas de conhecimento.

Dessa forma, nos próximos anos haverá mudan-


ças não somente na educação e no ensino como é
realizado atualmente, mas nas relações sociais e nas
virtudes priorizadas pela sociedade. Cada sociedade
é única e seus valores e sua cultura devem ser respei-
tados. Ou não? Esse é o ponto principal nas discus-
sões sobre educação e sustentabilidade, pois ao de-

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