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Propriedade do Centro Universitário Leonardo da Vinci

FICHA CATALOGRÁFICA

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Revista UNIASSELVI-PÓS: Ética Profissional - Centro Universitário Leon-


ardo da Vinci (Grupo UNIASSELVI). – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

46p. : il. col.


Periodicidade: Semestral.
ISSN: 2317-5966

1. Ensino superior. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI.


II. Programa de Pós-Graduação EAD.

CDD 378.005

Indaial / SC Volume 10 Número I Nov.2019


2
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

REVISTA
UNIASSELVI-PÓS

Nov.2019 Número I Volume 10 Indaial / SC


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REVISTA
UNIASSELVI-PÓS

Apresentação
A UNIASSELVI, por meio do seu Programa de Pós-Graduação
Lato Sensu, apresenta a 10ª edição da Revista Uniasselvi-Pós.

Esta edição inicia com a entrevista da Professora Neuzi Schot-


EXPEDIENTE EDITORIAL ten, Gerente de Capacitação e Formação Continuada da Uniasselvi.

Em seguida, o leitor irá encontrar sugestões de leitura de várias


Reitor do Centro Universitário áreas do conhecimento.
Leonardo da Vinci
Prof. Hermínio Kloch O leitor também terá à disposição para leitura, oito artigos, com
os seguintes títulos: Absenteísmo: O Impacto Nas Equipes e no Clima
Diretor do Programa de Pós-
Organizacional, Educação a Distância Na Área Da Saúde, Síndrome
Graduação Lato Sensu:
De Burnout e o Endomarketing, Fim da Conjugalidade: O Dano Moral
Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Nos Casos de Infidelidade Conjugal, Pesquisa Em Deficiência Inte-
Presidente do Conselho editorial: lectual: Análise Dos Artigos Publicados Entre 2013-2016 Pela Revista
Prof. Carlos Fabiano Fistarol Brasileira De Educação Especial, A Gestão Escolar Democrática na
Formação Continuada do Professor, O Fator Coach no Desenvolvi-
Membros do Conselho Editorial: mento Humano e Organizacional e Violência Escolar.
Profª. Ana Karoline dos Santos
Profª. Elys Regina Zils Desejamos a todos uma ótima leitura!
Profº Fernando Luis Berndt
Profº Marcio Oliveira da Silva
Profª. Noemi Back Oliveira
Profº Jairo Martins
Profª Fernanda Ludmilla Leles Manso

Revisão Editorial:
Profª. Elys Regina Zils
Profª. Evelise Paulis
Prof. José Roberto Rodrigues

Diagramação:
Equipe Produção de Materiais

CENTRO UNIVERSITÁRIO
LEONARDO DA VINCI

Rodovia BR 470, Km 71,


n. 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/
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Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
e-mail: pedagogico-posead@unias-
selvi.com.br

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REVISTA
UNIASSELVI-PÓS

Índice

6 Entrevista
Neuzi Schotten
Artigo
Absenteísmo: O Impacto
Nas Equipes e no Clima
Organizacional
Autoras: Vanessa Spotti de Souza
35
e Fabiana Tramontin Bonho

Dicas de Leitura
9
Artigo

41
Educação a Distância
Na Área Da Saúde
Autora: Ândrea Regina de
Camargo e Cleide Camargo
Artigo

11
Síndrome De Burnout
E O Endomarketing
Autoras: Fernanda Niehues
e Elrita Neumann
Artigo
Fim da Conjugalidade: O
Dano Moral Nos Casos De
Infidelidade Conjugal
Autoras: Samantha Sabrine dos
47
Santos e Patrícia Fontanella

Artigo
Pesquisa Em Deficiência Intelec-
tual: Análise Dos Artigos Publica-
dos Entre 2013-2016 Pela Revista
Brasileira De Educação Especial
19
Autor: Edlaine Fernanda Aragon de Souza

Artigo

57
A Gestão Escolar
Democrática na Formação
Continuada do Professor
Autor: João Carlos Greco

Artigo

25
O Fator Coach no Desenvolvi-
mento Humano e Organizacional
Autores: Flávius Demétrius Mailiote
e Simone Cristina Schmitz

63
Artigo
Violência Escolar
Autora: Ana Paula Farias Mohr da Rocha

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UNIASSELVI-PÓS

Entrevista Entrevistada
Neuzi Schotten
Possui graduação em Pedagogia pela Associação Catarinense de Ensino (1985), especialização em
Psicopedagogia (1998) e em Educação Escolar Contemporânea (2018). Mestrado em Educação pela
UNIVALI (2004). Professora no curso de licenciatura em Pedagogia, autora de disciplina do Curso de
Pedagogia à Distância do Centro Universitário Leonardo da Vinci e professora em cursos de Especia-
lização. Professora concursada e aposentada nos anos iniciais da Rede Municipal de Pomerode. Atuou 24 anos na Se-
cretaria Municipal de Educação destes, 10 anos como Secretária de Educação. Tem experiência na área de Educação
atuando como gestora e como professora. Como professora atua principalmente na área da Alfabetização (Pesquisa de
Mestrado). Desde janeiro/2013 trabalha na Educação a Distância da UNIASSELVI desempenhando, inicialmente a fun-
ção de Coordenadora dos Articuladores e Tutores Externos e atualmente atua como Gerente de Capacitação e Formação
Continuada. Em 2017 recebeu o título de Professora Emérita do Centro Universitário Leonardo Da Vinci – UNIASSELVI.

Perguntas res educacionais. O fator econômico decide, em


linhas gerais, quem terá sucesso através da edu-
cação e quem não, arrisco dizer que define quem
1. Quais lições você aprendeu sobre educação vai aprender e quem não vai. Com uma economia
no decorrer de sua carreira? estável, os recursos para a educação aumentam e,
sendo bem geridos, garantem uma educação ca-
Trabalho na Educação desde os 18 anos de idade paz de transformar a vida das pessoas e a partir
e lá se vão quase 40 anos. Foram tantas as lições disso, transformar o Brasil.
que aprendi e são tantas que aprendo a cada dia.
Mas acho que a principal lição que aprendi é que o
conhecimento só tem valor quando é compartilha- 3. Quais competências e habilidades você con-
do. O conhecimento que construí deve me tornar sidera que o professor do século XXI deve ter
uma pessoa melhor e uma profissional mais quali- para ministrar aulas mais significativas e inte-
ficada. O conhecimento norteia todas as decisões ressantes?
e fundamenta minhas ações. É muito gratificante
poder contribuir com outro profissional e dele rece- A formação inicial e continuada deve contribuir
ber também as contribuições do conhecimento que para que o professor desenvolva inúmeras habili-
construiu. Cada um de nós constrói conhecimentos dades que, juntas, o tornam competente. Mas aci-
diferentes a partir do que vivemos, do que estu- ma de tudo ele precisa gostar de gente. Há algo
damos, das interações que tivemos. E, neste con- que antecede a formação e que precisa ser con-
texto, a riqueza está nos diferentes saberes. Pa- siderado. E isto é muito pessoal. Depois disto, há
rafraseando Paulo Freire, ninguém sabe mais ou que se considerar que a força da inércia represen-
menos, sabemos coisas diferentes. Como é bom ta um forte obstáculo a ser enfrentado, quando se
aprender com o outro! Gosto de conversar com o buscam mudanças na prática educacional. A polê-
senhor que cuida do jardim e com a senhora que mica, ainda atual, com relação à transferência do
me ajuda a cuidar da minha casa, com meus co- centro do processo do professor e dos conteúdos
legas de trabalho, com meus superiores... E como para os educandos, deve desencadear reflexões
aprendo em cada uma dessas conversas! pessoais e de classe, a fim de que o professor con-
siga enxergar a criança e o jovem contemporâneo
como sujeitos de sua própria aprendizagem.
2. Quais desafios você considera mais impor-
tantes para a educação no Brasil?
4. Como você considera que todos nós pode-
Considero o fator econômico como sendo o maior mos nos preparar para as modificações no
desafio do Brasil para a educação. Quando a po- mundo do trabalho no qual estamos vivendo?
pulação tiver maior acesso aos bens materiais
e culturais, à ciência e à educação de qualidade, Estudando. Sempre. Não há outro caminho. Quem
podemos pensar que teremos melhores indicado- tem conhecimento transita por diferentes espaços.

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UNIASSELVI-PÓS

O conhecimento desencadeia a capacidade de nos jetivo habilitá-los para o exercício de suas atribui-
adequarmos a diferentes situações. Neste contex- ções. Além da capacitação inicial, é oferecido aos
to, é preciso lembrar que informação não é conhe- colaboradores a Formação Continuada para que
cimento. A informação mediada provoca a refle- todos tenham a possibilidade de desenvolver e
xão e, se provoca reflexão, ocorre aprendizagem. aperfeiçoar suas competências como profissional
Quem tem conhecimento sabe que deve aprender e como pessoa ao longo da atuação profissional.
sempre e quem aprende sempre está preparado O maior tesouro que uma instituição tem são as
para novas situações. pessoas. Sei da minha responsabilidade para com
o desenvolvimento dos colaboradores da UNIAS-
SELVI. Assim, me dedico com afinco, dando sem-
5. Após a aprovação da Lei das Diretrizes Básicas pre o melhor de mim para que a equipe de milhares
da Educação em 1996, a educação a distância no de profissionais da educação que temos continue
Brasil passou a apresentar um crescimento expo- fazendo a diferença na vida das pessoas que pro-
nencial. Quais aspectos você destacaria acerca curam a UNIASSELVI para realizar seu sonho de
desta “revolução” na educação no Brasil? curso superior e para trilhar pelo caminho do de-
senvolvimento e realização profissional.
A história da Educação a Distância registra práticas
muito antigas no Brasil e no mundo. Após a apro-
vação da Lei 9394/96, a Lei de Diretrizes e Bases 7. Na sua opinião, quais ações foram respon-
da Educação Nacional, a educação a distância foi sáveis para que a UNIASSELVI se consolidasse
legitimada. Percebo a Educação a Distância como como umas das maiores empresas de educação
um grande avanço no Ensino Superior no Brasil. do Brasil, tendo obtido nota 5 nas avaliações de
Considero-a, inclusive, como uma grande ação de recredenciamento do MEC recentemente?
inclusão social. Por meio dela, inúmeros brasileiros
tiveram e têm acesso ao Ensino Superior e inúme- A UNIASSELVI sempre teve compromisso com
ras regiões possuem hoje profissionais formados. a Educação. Ela é fruto do sonho de um grande
Lembro que há pouco mais de uma década, crian- educador. Assim, tem no seu DNA a prática da in-
ças dos mais longínquos rincões deste país eram clusão de todas as pessoas no ensino superior.
alfabetizadas por mães voluntárias que, na maio- Cada colaborador, independente do Setor que atua
ria, não havia concluído os anos iniciais do Ensino na UNIASSELVI, tem a consciência de que traba-
Fundamental. Hoje contam com professoras licen- lha com educação. A nota 5 é o resultado da de-
ciadas graças à educação a distância. Os jovens dicação de milhares de pessoas que trabalham na
contemporâneos que, entre outros, já nasceram UNIASSELVI e que passaram por ela durante es-
digitais, se identificam com esta modalidade de en- tes 20 anos de Instituição e 13 anos de EAD. A res-
sino. Cabe às Instituições de Ensino Superior que ponsabilidade social da UNIASSELVI está revelada
oferecem a educação a distância, por meio de seus na sua missão, visão e valores que estão presen-
profissionais, desenvolverem tecnologias mediado- tes no trabalho de cada colaborador, de cada deci-
ras que chegam até o acadêmico, conduzindo seu são, de cada projeto pedagógico das centenas de
processo formativo. cursos oferecidos na graduação e pós-graduação.
E, acima de tudo, está presente em cada egresso
que no dia da formatura levanta seu Diploma como
6. Comente sobre a importância da sua atual fun- o trunfo de sua trajetória nesta Instituição que tanto
ção como gerente do setor de capacitação e for- o honrou como acadêmico.
mação continuada da UNIASSELVI, uma empresa
que tem mais de 200 mil alunos em todo o Brasil.
8. Recentemente, a professora elaborou um con-
O Centro Universitário Leonardo Da Vinci – UNIAS- teúdo a respeito da Cultura UNIASSELVI nas di-
SELVI – seleciona com rigor seus colaboradores. ferentes culturas. Comente, por gentileza, sobre
Mas, ao iniciarem suas atividades na instituição este trabalho.
passam por uma capacitação, que tem como ob-

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A cada semestre, organizamos a Formação Conti- 9. Para finalizar, deixe uma contribuição para os
nuada dos colaboradores. Em 2019/2 trabalhamos alunos sobre a importância da educação na his-
com “A Cultura UNIASSELVI nas Diferentes Cultu- tória de cada um.
ras”. Refletimos sobre o conceito de Cultura a partir
de Gramsci, sobre o conceito de cultura escolar e As pesquisas mostram que os sujeitos com cur-
so superior têm melhor colocação no mercado de
sobre as duas vertentes da cultura. A partir desta
trabalho e, por sua vez, têm uma remuneração
reflexão teórica, adentramos na vertente francesa
melhor. Só por esta razão, já poderíamos definir
que traz a cultura como um processo civilizatório e
a importância da educação na vida de cada pes-
a vertente alemã que apresenta a cultura como os soa. Mas, não gosto de colocar o aspecto financei-
usos e costumes de um determinado grupo. Assim, ro como mola propulsora para que uma pessoa se
a cultura UNIASSELVI (cultura acadêmica, forma dedique aos estudos. Não faço esta análise para
intelectuais) chega às diferentes culturas dos gru- dizer que receber o provimento de forma que pos-
pos regionais onde os mais de 500 Polos de Apoio samos usufruir dos bens e das belezas da vida seja
Presencial da UNIASSELVI estão localizados. O desnecessário, mas atribuir a educação apenas a
grupo de tutores, intérpretes e gestores de cada isto, parece-me muito “pequeno”. A educação nos
Polo refletiu sobre como a cultura UNIASSELVI emancipa, nos atribui autoridade (diferente de au-
chega no Polo que, por sua vez, tem sua cultura toritarismo), nos explica os fenômenos do mundo
própria. Eis o desafio! A síntese do trabalho destes e da vida, nos possibilita argumentação e diálogo
e permite nos posicionarmos de forma consciente
grupos em cada um dos Polos está fazendo parte
diante a um fato... Depois destas quatro décadas
de um documento que ainda se encontra em fase
dedicadas à educação, continuo pensando que a
de elaboração. O documento servirá de subsídio
educação é um processo de humanização. E se
para os colaboradores que trabalham on-line com encontro alguém que, apesar de todos os títulos
os Polos para que possam conhecer um pouco da acadêmicos que possui não se humanizou, pen-
cultura dos milhares de acadêmicos que atendem so: “O processo educacional deste sujeito não se
todos os dias. O documento também consiste em efetivou. Apenas lhe atribuiu títulos. Que pena!”. A
um registro da realidade cultural deste imenso Bra- educação não estaciona no campo da inteligência,
sil, haja vista, que a UNIASSELVI se encontra em mas instala-se no campo da sabedoria. Que assim
todos os estados brasileiros. possamos ser: sábios e humildes!

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Dicas de Leitura

A ESCOLA DO FUTURO - O QUE QUEREM


(E PRECISAM) ALUNOS, PAIS E PROFESSORES
Autores: Marcos Piangers e Gustavo Borba

Os populares autores Marcos Piangers e Gustavo Borba escrevem sobre a


escola do futuro. Como será essa escola? Como ensinar a nova geração que vive
conectada? O que os alunos esperam da escola? A obra apresenta reflexões não
só para os profissionais da educação, mas também para os pais.
Editora Penso, 2019
ISBN: 978-85-8429-165-6
Número de páginas: 131.

OS OUTROS DA BÍBLIA: HISTÓRIA, FÉ E CULTURA DOS


POVOS ANTIGOS E SUA ATUAÇÃO NO PLANO DIVINO
Autor: André Daniel Reinke

Este livro traz uma narrativa histórica dos povos mencionados na Bíblia, focando
nas interações que esses povos antigos tiveram com o Israel bíblico. Quais as in-
fluências que os mesopotâmicos, egípcios, cananeus, persas, gregos e romanos
trouxeram para o Reino de Israel? Como eram as culturas e as crenças religiosas
daqueles povos? As relações com esses povos podem ter influenciado a religiosida-
de do antigo Israel e na doutrina da Igreja Cristã? Essas são algumas perguntas que
estão respondidas neste livro. André Daniel Reinke realizou uma ampla pesquisa,
englobando temas como a geografia histórica, os sistemas políticos, a cultura geral
e, especialmente, o pensamento religioso de cada um desses povos. A partir do en-
tendimento desses povos sobre o sagrado, o autor faz uma comparação com a nar-
rativa bíblica e com a prática dos antigos hebreus, respondendo à pergunta central
de sua pesquisa: quais são as convergências e as divergências entre a fé “pagã” e
a fé bíblica? Este livro é uma obra fundamental para que o leitor possa compreender
melhor os contextos históricos, culturais e religiosos dos povos que tanto influencia-
ram na jornada do Reino de Israel e na própria construção da Bíblia.
Editora Thomas Nelson, 2019
ISBN: 978-85-7167-027-3
Número de páginas: 352.

ESCOLAS CRIATIVAS: A REVOLUÇÃO QUE


ESTÁ TRANSFORMANDO A EDUCAÇÃO
Autores: Ken Robinson e Lou Aronica

Qual o papel das escolas com relação à criatividade? No livro, os autores apre-
sentam soluções práticas e inovadoras para transformar a educação. São muitas
histórias, pesquisas e recomendações de profissionais de todo o mundo. A pro-
posta é de que a obra inspire alunos, professores, pais, gestores e demais profis-
sionais da educação a repensar sobre o verdadeiro propósito da criatividade, da
aprendizagem e do ensino.
Editora Penso, 2019
ISBN: 978-85-8429-162-5
Número de páginas: 262.

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SALA DE AULA INVERTIDA: UMA METODOLOGIA


ATIVA DE APRENDIZAGEM
Autores: Jonathan Bergmann e Aaron Sams

A obra ajuda a superar os desafios da aprendizagem. Neste livro, os autores expli-


cam como usar adequadamente diferentes metodologias associadas à tecnologia,
para que os alunos obtenham mais autonomia, mais motivação e melhor desem-
penho na vida acadêmica.

A ideia central do livro é que o aluno assista previamente às principais explicações


gravadas pelo professor ou estude o material indicado. O encontro presencial pas-
sa a ser a oportunidade para esclarecer dúvidas, realizar atividades, trocar conhe-
cimentos e fixar a aprendizagem. O sucesso da Sala de Aula Invertida na educa-
ção básica e superior, em escolas e universidades de diversos países do mundo,
incluindo instituições de referência como Harvard e MIT, confirma que esse mode-
lo chegou para revolucionar a relação dos alunos com o conhecimento.
Editora LTC, 2016
ISBN: 978-85-2163-045-6
Número de páginas: 116.

ACLS: SUPORTE AVANÇADO DE VIDA EM CARDIOLOGIA


Autor: Barbara Aehlert

A obra abrange assuntos como assistência cardiovascular de emergência, ava-


liação das vias aéreas, ritmos de parada cardíaca, ritmos cardíacos, síndromes
coronarianas e acidente vascular cerebral isquêmico.
Editora Elsevier, 2018
ISBN: 978-85-3528-859-9
Número de páginas: 304.

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Artigos
Síndrome De Autoras:
Burnout E O Fernanda Niehues
Elrita Neumann
Endomarketing

Resumo

O estudo teve como objetivo fazer um levantamento nas bases pesquisadas sobre o surgimento da Síndrome
de Burnout, suas definições, aspectos gerais, desencadeamento e como ela tem sido vista por especialistas e
organizações. Buscou-se falar sobre a história, os fatores de risco, o surgimento e o desdobramento da doença no
Brasil e no mundo. Mostrou-se o ponto de vista de pesquisadores, escritores, estudiosos do tema e a importância
de novas pesquisas. Os materiais estudados e mencionados neste artigo demonstram a origem da Síndrome
de Burnout, o desmembramento da doença e as estratégias que as organizações vêm buscando para evitar
este mal, com ações preventivas, estratégias de marketing para contorná-las, com a aplicação do Endomarketing
para prevenir o adoecimento dos colaboradores, com um ambiente de trabalho orientado para a motivação e a
satisfação dos indivíduos etc.

Palavras-chave: Pressão no ambiente de trabalho. Síndrome de Burnout. Desencadeamento. Formatos de


trabalho.

1 INTRODUÇÃO Síndrome de Burnout, que afeta, por um lado, em


nível pessoal (exaustão emocional: sensação de
Na definição de Farber (1991), Burnout é uma não poder dar mais de si em nível emocional), por
síndrome do trabalho que se origina da discrepân- outro lado, em nível social (despersonalização: ati-
cia da percepção individual entre esforço e conse- tude distante perante o trabalho e as pessoas em
quência, influenciada por fatores individuais, orga- geral, até mesmo com os colegas) e, por fim, em
nizacionais e sociais. Conceituamos Burnout como nível profissional (falta de realização pessoal: sen-
um distúrbio da psique, que se caracteriza pelo es- sação de não realizar adequadamente as tarefas e
gotamento físico, mental e psíquico do ser humano. de se considerar incompetente).
O nome “Burnout” vem do inglês e significa, literal-
mente, “queimar por completo”. A síndrome inicia O diagnóstico da doença ainda é de difícil
por prolongados e excessivos períodos de trabalho acesso e possui algumas faces, são elas: a exaus-
e altos níveis de estresse. Existem fatores de ris- tão emocional, a despersonalização do indivíduo e
co para o desenvolvimento da síndrome, como a o sentimento de insatisfação profissional. Dentre
organização e as características próprias de cada os estudos relacionados a essa temática, destaca-
indivíduo com relação ao trabalho e à sociedade. -se o Burnout, que corresponde a uma reação ao
Para as organizações, a síndrome transparece em estresse ocupacional crônico, caracterizado pela
aumento de custos com rotatividade de funcioná- drenagem dos recursos emocionais, uma atitu-
rios, absenteísmo, queda na qualidade do trabalho, de negativa, insensível e cínica com o trabalho e
produção, entre outros. Schaufeli e Leiter (2001) a tendência de avaliar um trabalho negativamente
definem Burnout como uma resposta prolongada a (GONZALEZ-ROMA et al., 2006). Não existe uma
estressores crônicos em níveis pessoal e relacional definição única para a síndrome, mas existe um
no trabalho, determinado a partir das dimensões consenso entre os estudiosos do tema, visto que
conhecidas como exaustão emocional, desperso- definem a síndrome como sendo de estresse labo-
nalização e reduzida realização profissional. Nessa ral crônico.
definição fica patente o caráter tridimensional da

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Este estudo se justifica devido à Síndrome de e as pressões de trabalho. Para Siqueira e Almeida
Burnout ser um fenômeno pouco conhecido em Neto (2015), as relações interpessoais à intra-orga-
nossa realidade, que pode ser considerado um nização podem gerar a supressão da manifestação
problema de saúde pública. Para que possamos emocional do trabalhador, diminuição de atitudes es-
compreender a Síndrome de Burnout, é necessário pontâneas, exposição ao risco dos efeitos colaterais
compreender a natureza e a evolução dos fatores negativos da competitividade, embotamento afetivo
estressores nos quais os trabalhadores são (estão) e funcionamento grupal disfuncional e conflituoso.
submetidos. A escolha do tema foi importante, pois
a pesquisa serviu para elucidar e esclarecer algu- Segundo Minayo e Souza (2003), transtornos
mas dúvidas; ele será de benefício para todos os psiquiátricos menores ou doenças psiquiátricas
profissionais, tendo em vista que essa síndrome não psicóticas, segundo a Organização Mundial
acomete muitos trabalhadores. de Saúde (OMS), são os responsáveis por acome-
ter em torno de 30% dos trabalhadores ocupados.
Ainda com relação aos transtornos mentais e com-
2 SÍNDROME DE BURNOUT portamentais, no Brasil, entre os trabalhadores do
Regime Geral da Previdência Social, eles repre-
A competição global trouxe pressões às insti- sentam a terceira maior causa de afastamento do
tuições, que é repassada aos colaboradores com trabalho superior a quinze dias, assim como apo-
o intuito de manter a pessoa atenta, motivada, sentadoria por invalidez.
pronta para trabalhar e aprender, aplicando os re-
cursos disponíveis e suas características pessoais; O Burnout foi observado inicialmente em mea-
no entanto, a pressão excessiva, a que causa Bur- dos dos anos 1970, no momento em que se iniciou
nout, pode prejudicar a saúde dos funcionários e o a diminuição da importância econômica do setor
desempenho da organização. Burnout pode ocor- industrial e a ascensão do setor terciário. O psicó-
rer em situações múltiplas e variadas e podem se logo Fregenbauer, em 1974, foi o primeiro a utilizar
agravar quando a pessoa percebe que não recebe o termo “Burnout” com o objetivo de expressar a di-
a atenção esperada nem o apoio das pessoas que minuição gradual de energia, a perda da motivação
estão ao seu redor e quando suas atividades são li- e do comprometimento, acompanhado de sintomas
mitadas, além da maneira de satisfazer os requisitos físicos e psíquicos diagnosticados em profissionais
que trabalhavam com dependentes de substâncias

Quadro 1. Sintomas Associados a Burnout

Sintomas Individuais do Burnout - Limongi-França e Rodrigues (2007)

Psicossomáticos - quando ocorrem enxaquecas, dores de cabeça, insônia, gastrite e úlcera, diarreias,
crises de asma, palpitações, hipertensão, maior frequência de infecções, dores musculares e/ou cervicais,
alergias e suspensão do ciclo menstrual em mulheres.

Comportamentais - acontece o absenteísmo, o isolamento, a violência, a drogadição, a incapacidade de


relaxar e as mudanças bruscas de humor.

Emocionais - sinais de impaciência, distanciamento afetivo, sentimento de solidão, sentimentos de alie-


nação, irritabilidade, ansiedade, dificuldade de concentração, sentimento de impotência, desejo de aban-
donar o emprego, decréscimo do envolvimento de trabalho, baixa autoestima, dúvidas de sua própria
capacidade e sentimento de onipotência.

Defensivos - envolvem negação de emoções, ironia, atenção seletiva, hostilidade, apatia e desconfiança.

Fonte: Limongi-França (2007).

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químicas (TAMAYO; LIMA; SILVA, 2002). mente nos levam a pensar sobre a quantidade e
A Síndrome de Burnout é composta por três a qualidade de informação, pesquisas realizadas
aspectos multidimensionais que se referem a um sobre a doença, o quanto ainda temos pela frente
conjunto de variáveis que permeiam tal fenômeno, a buscar em pesquisas, tratamentos, melhorias no
quais sejam: a exaustão emocional (EE), a desper- estilo de vida e como os novos modelos de traba-
sonalização (DP) e o envolvimento pessoal no tra- lho estão levando os profissionais a adoecerem. A
balho (EPT). OMS tem demonstrado preocupação com o cres-
cimento do número de indivíduos que têm desen-
• A dimensão da Exaustão Emocional (EE) carac- cadeado a síndrome. Considera-se quatro fatores
teriza-se pela perda de energia, pouca tolerân- de risco para o desenvolvimento da doença, e que
cia, fadiga crônica, nervosismo, além de rigidez são pontuadas em diversas pesquisas e publica-
no comportamento, resultado de trabalho es- ções científicas, são elas: a organização, o indiví-
tressante (MENDES, 2002; BAKKER, 2005). duo, o trabalho e a sociedade.

• A Despersonalização (DP) representa o com- Com relação aos números levantados por or-
ponente do contexto interpessoal no Burnout, ganizações internacionais, 18% dos problemas de
caracterizada por atitudes e comportamentos saúde profissional da comunidade europeia estão
negativos, irônicos e cínicos (TAMAYO, 2008). associados à doenças ansiosas e depressão, nos
Estados Unidos e no Canadá 11% dos problemas
• A terceira dimensão denominada Envolvimento estão associados ao estresse e no Brasil esse nú-
Pessoal do Trabalho (EPT) é considerada uma mero alcança 70% ­­­– Dados do International Stress
combinação das outras duas (EE e DP), pois Management Association (ISMA). A OMS tem consi-
em um ambiente organizacional propício, essas derado Burnout como umas das principais doenças
duas dimensões consecutivamente contribuem dos europeus e americanos, seguidas por diabetes
para o surgimento de um sentimento de baixa e doenças cardiovasculares. No Brasil, o índice de
realização profissional, seguido de ineficácia e trabalhadores com doenças ligadas à depressão e
incompetência (MASLACH, 2007). à ansiedade chegam ao número alarmante de 70%,
o que preocupa e muito as autoridades competen-
Conforme Maslach (1999), nas várias definições tes. Quanto ao reflexo nas organizações quanto à
do Burnout, embora com alguns elementos divergen- síndrome, destaca-se: implicações financeiras re-
tes, existem cinco elementos comuns. São eles: lacionadas à insatisfação do colaborador, absente-
ísmo, rotatividade de pessoal, baixa produtividade,
1. A predominância de sintomas relacionados à qualidade de trabalho, afastamento do ambiente de
exaustão mental e emocional, fadiga e depressão. trabalho por doença ocupacional e, por fim, aposen-
2. A ênfase nos sintomas comportamentais e men- tadoria precoce do trabalhador. Além dos custos fi-
tais e não nos sintomas físicos. nanceiros, com admissões, demissões, treinamen-
3. Os sintomas do Burnout são relacionados ao tos, ainda existe a imagem da empresa.
trabalho.
4. Os sintomas manifestam-se em pessoas “nor- 3 SÍNDROME DE BURNOUT E O CLIMA
mais” que não sofriam de distúrbios psicopato- ORGANIZACIONAL
lógicos antes do surgimento da síndrome.
5. A diminuição da efetividade e desempenho no O clima organizacional é parte importante das
trabalho ocorre por causa de atitudes e compor- organizações, por isso destaca-se a importância de
tamentos negativos, como desânimo, esgota- que gestores tenham conhecimento sobre as doen-
mento e exaustão emocional do trabalhador. ças que podem afetar o trabalhador, assim como os
transtornos mentais. Gestores, líderes, supervisores
Qual a importância de se aprofundar os es- e coordenadores necessitam ficar atentos as suas
tudos quanto à Síndrome de Burnout? Quais os equipes, aos sinais que os indivíduos passam, às si-
avanços realizados nas últimas décadas quanto ao tuações do cotidiano que podem levar à insatisfação
tema? Por que a Síndrome preocupa a Organiza- dos seus colaboradores etc. É dever do gestor moti-
ção Mundial da Saúde? São perguntas que real- var e criar um clima favorável para que seus lidera-

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dos possam atuar de forma saudável. Equipes mo- relação entre o clima organizacional e o Burnout.
tivadas, que trabalham em um ambiente prazeroso, Schein (1982) entende que o clima organizacional
onde sentem-se parte de um propósito, são profis- contribui para moldar o comportamento dos indi-
sionais mais felizes. Da mesma forma que um am- víduos, através de procedimentos administrativos,
biente agradável motiva, estima e potencializa bons participação nas decisões políticas e administra-
resultados e ótimas performances, um ambiente tivas, recompensa e incentivos, influenciando de
inóspito pode ser doloroso e causar esgotamento fí- modo significativo nos fatores motivacionais dos
sico e emocional aos indivíduos. Segundo Machado servidores da organização.
e Goulart (2005), o clima organizacional nasce da
cultura organizacional e da necessidade de satisfa- As organizações têm sua própria cultura, va-
ção dos seus colaboradores. lores, história e identidade, nos quais construiu ao
longo de toda sua existência; fazer com que seus
Para Chiavenato (2010), o clima organizacional colaboradores se sintam parte desta história é a
é favorável quando proporciona satisfação das ne- grande sacada dos gestores. Colaboradores moti-
cessidades pessoais dos participantes, produzindo vados e engajados na busca pelo crescimento pro-
elevação da moral interna. É desfavorável quando fissional é hoje o maior desafio das organizações.
proporciona frustração daquelas necessidades. De Para que esse sentimento perdure, é necessário
modo geral, as organizações precisam criar ações que as pessoas se sintam parte de algo maior.
internas que possam prevenir o adoecimento de Rotatividade, absenteísmo e falta de comprometi-
seus colaboradores, e cabe aos gestores, líderes mento são um problema comum nas organizações,
e supervisores administrar o comportamento de e implementações como o Endomarketing podem
seus liderados, objetivando a necessidade de alto trazer para as organizações sucesso com relação
desempenho, porém, com qualidade de vida. De ao clima organizacional. Para isso, deve-se criar
acordo com Tamoyo (2008), o clima organizacional meios de amenizar o problema. Segundo Mendes
refere-se à forma como o ambiente organizacional é (2004), indicadores como prazer, satisfação, bem-
percebido e interpretado pelos empregados. A litera- -estar, sofrimento e Burnout (tipo de acometimento
tura nessa área fornece as dimensões do clima or- de estresse específico de condições do trabalho)
ganizacional. Entre os componentes mais frequen- constituem elementos da psicodinâmica do traba-
tes utilizados, encontram-se a estrutura, o estilo de lhador, estudados sob a ótica de diferentes aborda-
liderança, a comunicação, o controle, o apoio orga- gens, como a Medicina do Trabalho, a Psicologia
nizacional, os conflitos e a confiança. Social e a Psicologia Organizacional e do Trabalho.

Coda (1993) afirma que o clima organizacional Dias (2007) diz que o “Endomarketing” pode
é o indicador do grau de satisfação dos membros ser entendido como um processo estruturado, ali-
de uma empresa em relação a diferentes aspectos nhado ao planejamento estratégico empresarial,
da cultura ou realidade aparente da organização, visando melhorias da comunicação e buscando a
tais como: política de RH, modelo de gestão, mis- relação com ganhos de produtividade nas organi-
são da empresa, processo de comunicação, valori- zações. Cerqueira (1994) define Endomarketing
zação profissional e identificação com a empresa. como sendo um conjunto de processos, projetos
Para Payne e Mansfield (1973), o clima organiza- ou veículos de comunicação integrada que permi-
cional é considerado como o elo conceitual de li- te a venda e a consolidação de uma nova imagem
gação entre o nível individual e o nível organizacio- dentro da empresa. Para Kotler (1998), a comuni-
nal, no sentido de expressar a compatibilidade ou cação interna permitirá que ele [funcionário] seja
congruência das expectativas, valores e interesses bem informado e que a organização antecipe res-
individuais com as necessidades, valores e diretri- postas para suas expectativas. Isso ajudará a ad-
zes formais. Já Maslach e Leiter (1997) acreditam ministrar conflitos e a buscar soluções preventivas.
que o Burnout não é prioritariamente um proble-
ma intrínseco à pessoa, mas é, fundamentalmente, Bekin (2004) apresenta dez pontos de questio-
resultante das características do ambiente social namentos necessários para se cultivar o ambiente
da organização, em que a pessoa exerce as suas onde o empregado é o primeiro cliente. Basicamen-
funções profissionais, visto que existe uma forte te estão ligados à informação e à comunicação,

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que levam à motivação e, consequentemente, ao podendo os índices sofrerem alterações de acordo


processo de satisfação dos empregados. São eles: com as ocupações pesquisadas, o contexto onde
é aplicado e o país. Os sintomas apresentados
1. A alta direção da empresa está empenhada no por indivíduos acometidos pela doença podem ser
trabalho orientado para o cliente e para a valori- pontuados como: sintomas físicos, psíquicos, com-
zação dos funcionários. portamentais e defensivos. Tais sintomas podem
2. A gerência está comprometida com essa visão acometer o ser humano em níveis de ordem pes-
e possui capacidade de liderança, transmitindo soal, profissional e social.
aos funcionários responsabilidade, vontade de
participação e capacidade de iniciativa. Países mais desenvolvidos buscam por maior
3. O conhecimento é disseminado por todos os conhecimento e investem em pesquisas, criam
setores da empresa, tanto para integrar seus índices para mensurar a prevalência da doença,
diversos setores quanto para estimular o poten- desencadeamento, tratamento e prevenção. No
cial do indivíduo. Brasil, infelizmente, não dispomos de pesquisas
4. Os funcionários conhecem os objetivos da em- na área ou índices que possam apontar o agravo
presa voltada para o cliente e suas responsabi- da síndrome entre os trabalhadores, assim como o
lidades nessa linha de atuação. tratamento e a sua implementação ou prevenção.
5. Os funcionários conhecem as suas tarefas, sen-
tem-se motivados e estão envolvidos em um Para a elaboração desse artigo foi realizado
trabalho de equipe que dá margem à iniciativa levantamento de dados nas bases do Google Aca-
individual. dêmico, Esbsco, buscou-se artigos relacionados
6. Os treinamentos são realizados constantemen- à Síndrome de Burnout, ao clima organizacional,
te, tanto no aspecto técnico quanto no reforço Endomarketing, estresse no ambiente de traba-
de valores e atitudes. lho, doenças relacionadas a fatores estressantes.
7. Os processos de avaliação são transparentes, A pesquisa foi efetuada nos anos de 2018 e 2019.
informando corretamente o principal interessa- Por meio da pesquisa foi possível concluir que
do: o funcionário. existem muitas áreas de atuação a serem pesqui-
8. Há um permanente processo de informação e sadas, assim como a aplicação de pesquisas em
comunicação, configurando o livre acesso à in- países desenvolvidos e subdesenvolvidos, diferen-
formação e à capacitação de todos. tes etnias, culturas, entre outros.
9. O processo de comunicação tem o modelo da
‘mão-dupla’, o que permite que os funcionários Com base em materiais disponíveis, vê-se
revelem suas necessidades e expectativas. que muitos autores debatem sobre o tema e que
10.O atendimento às expectativas e às necessi- muitas dúvidas pairam sobre o assunto, e mesmo
dades dos funcionários, com base em critérios sendo trabalhado desde a década de 1970, pouco
claros e nos objetivos da empresa, gera um am- ainda se tem sobre o desmembramento, as compli-
biente de confiança mútua e alta eficiência. cações e a prevenção do adoecimento dos indiví-
duos quanto as suas ocupações.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Conclui-se que Burnout apresenta-se como
um fenômeno psicossocial que se relaciona ao BAKER, M. J. Selecting a research
estresse crônico, ao cotidiano dos indivíduos no methodology. Westburn: The
trabalho, à exaustão emocional, à despersonaliza- Marketing Review, 2005.
ção do indivíduo e à falta de realização profissio-
nal. Existem áreas de atuação que são mais afe- BEKIN, S. F. Endomarketing: como praticá-lo com
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um envolvimento emocional maior. Áreas de saú- BEZERRA, A. E. P. Liderança como força
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Artigos
Pesquisa Em Deficiência Autora:
Edlaine Fernanda
Intelectual: Aragon de Souza
Pedagoga pela Universidade Estadual
Análise Dos Artigos Publicados Vale do Acaraú (2009). Pós-graduada
em Educação Especial Inclusiva pela
Entre 2013-2016 Pela Revista UNIASSELVI (2012) e em Deficiência
Intelectual pela UNIASSELVI (2016).
Brasileira De Educação Especial E-mail: edlaine.aragon@gmail.com

Resumo

Esta pesquisa teve como objetivo analisar o conteúdo de artigos publicados na Revista Brasileira de Educa-
ção Especial sobre Deficiência Intelectual, no período de 2013 a 2016. A escolha da referida revista deu-se
pela sua relevância nacional com relação à produção de conhecimento na área de educação especial, visto
que ela possui a classificação na Qualis A2, pela Capes. Este estudo caracteriza-se por pesquisa bibliográ-
fica com abordagem qualitativa, realizada por meio do levantamento na base de dados SCIELO – Scientific
Eletronic Library On-line –, no qual foram encontrados 10 artigos que versam sobre Deficiência Intelectual
no período delimitado para o estudo. Eles foram organizados em duas categorias de análise, a saber: con-
cepções de professores sobre Deficiência Intelectual e ensino e aprendizagem para alunos com Deficiência
Intelectual, apresentando o contexto geral das pesquisas apresentadas, tipo de pesquisa, ano de publicação,
gênero dos pesquisadores, área de concentração e, além disso, se desdobrou em analisar o que os pesqui-
sadores apontaram com relação a cada categoria elencada para análise. Os resultados das análises dos
artigos revelaram a necessidade de estudos voltados para observações sobre as adaptações curriculares
realizadas nas salas de aula regulares, formação inicial e continuada de professores regulares e especia-
listas na área da educação especial, ensino que abrange a formação acadêmica na rotina de necessidades
educacionais especiais, rompendo com concepções deterministas que não acreditam no potencial de desen-
volvimento do aluno com deficiência intelectual.

Palavras-chave: Educação especial. Deficiência intelectual. Pesquisa bibliográfica.

1 INTRODUÇÃO po do conhecimento. Dessa maneira, analisar os


apontamentos das pesquisas publicadas nessa
A deficiência intelectual é um tema relevan- revista sobre deficiência intelectual permite ob-
te em pesquisas na área da educação especial, servar quais aspectos do ensino e aprendizagem
por ser uma área ampla e com muitos temas a se- as pesquisas têm se debruçado, além disso, com-
rem explorados por pesquisadores desse campo. preender as implicações da pesquisa para o de-
A presente pesquisa teve interesse em investigar senvolvimento do campo investigativo na área da
por meio dos artigos publicados entre os anos deficiência intelectual.
2013 e 2016 quais foram os principais temas estu-
dados nesse campo e os desafios apontados para
essa área. Nesse sentido, pretende-se compre- 2 DESENVOLVIMENTO
ender o que as pesquisas em Educação Especial
indicam a respeito da deficiência intelectual. Essa A pesquisa foi desenvolvida a partir da abor-
é a questão motivadora para o presente estudo, dagem qualitativa, na perspectiva da análise de
visando analisar quais foram as problemáticas conteúdo. O estudo iniciou pelo levantamento de
apontadas e o que as pesquisas indicam para o artigos da Revista Brasileira de Educação Espe-
campo da deficiência intelectual. cial cujo objeto de estudo foi deficiência intelectual.
Dessa forma, uma busca no sítio eletrônico da re-
A escolha da referida revista se deu pela re-
ferida revista indexada ao Scielo – Scientific Ele-
levância nacional com relação à produção de co-
tronic Library On-line – foi feita a partir do descritor
nhecimento na área de educação especial, visto
que ela possui a classificação na Qualis A2, pela de deficiência intelectual, resultando na seleção
Capes, aliando teoria e prática, a fim de divulgar de dez artigos que datavam entre os anos 2013 e
cientificamente os estudos e práticas nesse cam- 2016, conforme a seguir:

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• BRAUN, Patrícia; NUNES, Leila Regina d’Olivei- Nesse sentido, na sequência da seleção de
ra de Paula. A formação de conceitos em alunos artigos científicos sobre a temática pesquisada, foi
com deficiência intelectual: o caso de Ian. realizada a análise de conteúdo com base na pro-
• BRITO, Jessica de; CAMPOS, Juliane Aparecida posta de Bardin (2011, p. 125) a partir de três fases
de Paula Perez; ROMANATTO, Mauro Carlos. cronológicas destacadas a seguir: “a pré-análise, a
exploração do material e o tratamento dos dados,
Ensino da matemática a alunos com deficiência
inferência e interpretação”.
intelectual na educação de jovens e adultos.
• CECHIN, Michelle Brugnera Cruz; COSTA,
Na pré-análise foi realizada a leitura explora-
Adriana Corrêa; DORNELES, Beatriz Vargas. tória de todos os artigos selecionados para verificar
Ensino de fatos aritméticos para escolares com se todos tratavam do tema de estudo da pesquisa,
deficiência intelectual. observando se estavam dentro do período tempo-
• COSTA, Ailton Barcelos da; PICHARILLO, Ales- ral estipulado para a seleção dos dados. Além dis-
sandra Daniele Messali; ELIAS, Nassim Chamel. so, foi possível apreender as primeiras impressões,
Habilidades matemáticas em pessoas com de- como o maior número de pesquisadoras do sexo
ficiência intelectual: um olhar sobre os estudos feminino em relação à participação masculina que
experimentais. ocorreu em apenas quatro dos dez artigos selecio-
• DIAS, Sueli de Souza; OLIVEIRA, Maria Cláudia nados, indicando a presença marcante de mulhe-
Santos Lopes de. Deficiência intelectual na pers- res nesse campo.
pectiva histórico-cultural: contribuições ao estudo
A segunda etapa foi a exploração do material
do desenvolvimento adulto.
buscando compreender os principais temas abor-
• FANTACINI, Renata Andrea Fernandes; DIAS,
dados. A relação deles com diferentes fatores,
Tárcia Regina da Silveira. Professores do atendi- como ano de publicação, localidade e instituições
mento educacional especializado e a organização proponentes da pesquisa e outras percepções que
do ensino para o aluno com deficiência intelectual. emergiram durante a exploração do material. Nes-
• JOAQUIM, Érica Roberta; DANTAS, Luiz Edu- sa etapa foi possível perceber nos artigos as se-
ardo Pinto Basto Tourinho. Ensino de futsal para guintes características:
pessoas com deficiência intelectual.
• LEONEL, Waléria Henrique dos Santos; LEO- • As publicações não se concentram em um úni-
NARDO, Nilza Sanches Tessaro. Concepções co ano ou número específico da revista, sendo
de professores da educação especial (APAES) em 2013 três, em 2014 duas, em 2015 três e
sobre a aprendizagem e desenvolvimento do em 2016 duas publicações, mostrando que ao
longo desses anos a pesquisa em deficiência
aluno com deficiência intelectual: um estudo a
intelectual esteve presente nas publicações re-
partir da teoria vigotskiana.
alizadas pela revista.
• PEDRO, Ketilin Mayra; CHACON, Miguel Clau-
• Não houve uma concentração em uma determi-
dio Moriel. Softwares educativos para alunos nada instituição na realização dos estudos. As
com deficiência intelectual: estratégias utilizadas. pesquisas são, em sua maioria, realizadas por
• SANTOS, Teresa Cristina Coelho dos; MAR- estudiosos de universidade públicas, somente
TINS, Lúcia de Araújo Ramos. Práticas de pro- um artigo foi realizado por pesquisadores de
fessores frente ao aluno com deficiência intelec- universidade privada.
tual em classe regular. • Quanto à localidade em que as pesquisas fo-
ram realizadas, 50% dos estudos são de univer-
Após a seleção dos artigos, foram aplicados sidades do Sudeste, 20% foram realizados na
os conceitos de Bardin para realização da análise região Sul, 10 % na região Nordeste e 10% na
de conteúdo, que se configura como: região Centro-oeste, indicando a concentração
de pesquisas nessa área na região Sudeste e
Um conjunto de técnicas de análise das comuni- Sul, que juntas somam 70% das pesquisas se-
cações visando obter, por procedimentos, siste- lecionadas. Essa constatação mostra a neces-
máticos e objetivos de descrição do conteúdo das sidade de incentivo de pesquisas nesse campo
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que nas regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste
permitam a inferência de conhecimentos relativos para que possamos ter dados que abranjam a
às condições de produção/recepção (variáveis in- realidade nacional.
feridas) dessas mensagens (BARDIN, 2011, p. 48).

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• Com relação ao tipo de pesquisa, observou-se


que 80% dos artigos eram de relatos de pesqui- Fantacini e Dias (2015) apontam, em estudo
sas empíricas, 10% apresentou revisão de lite- realizado com professores que atuam no atendi-
ratura e outros 10% apresentou ensaio sobre o mento educacional especializado, a importância
tema, apontando a preocupação em apresentar de investir na formação continuada dos professo-
pesquisas relacionadas a práticas com alunos res, com foco nas adaptações curriculares e no
com deficiência intelectual.
ensino colaborativo, a fim de efetivar as práticas
inclusivas. Sugere-se ainda, a partir dessa pesqui-
Partindo desse primeiro levantamento de da-
sa, implementar novos estudos que tenham como
dos no processo de exploração foi possível definir
objetivo investigar o trabalho pedagógico realizado
as duas categorias de análise sendo: 1) formação
na sala de aula visando acompanhar o desenvol-
de professores para a prática pedagógica em Defi-
vimento e o aproveitamento acadêmico do aluno
ciência Intelectual; 2) Ensino e aprendizagem para
com deficiência intelectual de maneira mais siste-
alunos com Deficiência Intelectual. Essas catego-
mática, indicando ações que possibilitem a efetiva-
rias orientaram a fase seguinte de tratamento de
ção de ações pedagógicas a serem desenvolvidas
dados, inferência e interpretação, por orientarem
nesse campo, bem como a necessidade de pes-
uma nova leitura de maneira mais aprofundada
quisas que investiguem como ocorre o processo
que teve como desdobramento o entendimento
de inclusão de pessoas com deficiência intelectual
dos apontamentos dos pesquisadores em relação
na sala de aula comum com propósito de conhe-
a cada categoria elencada para análise.
cer estas práticas e quais avanços e desafios elas
apontam para o campo de estudo.
A primeira categoria “Formação para a prática
pedagógica em Deficiência Intelectual” foi compos-
A segunda categoria de análise “Ensino e apren-
ta por quatro artigos, sendo um ensaio e três rela-
dizagem para alunos com Deficiência Intelectual” foi
tos de pesquisa. Esses artigos apresentam indica-
constituída por seis artigos, sendo cinco relatos de
ções comuns para o desenvolvimento de práticas
pesquisa e uma revisão de literatura nos quais apre-
pedagógicas junto aos alunos com deficiência inte-
sentaram três artigos tratando do ensino de matemá-
lectual, destacando as potencialidades que essas
tica para alunos com deficiência intelectual, outros
pessoas possuem e não acentuando as dificulda-
dois utilizando a perspectiva histórico-cultural de Vy-
des por elas apresentadas, propondo uma mudan-
gotsky como fundamento teórico para compreensão
ça de paradigmas à luz da teoria histórico-cultural
sobre o processo de apreensão de conceitos por
de Vygotsky, tanto para profissionais que atuam na
alunos com deficiência intelectual e ainda um artigo
sala de aula comum quanto para os que atuam em
sobre o ensino de um programa de futsal para um
salas de atendimento educacional especializado.
grupo de alunos com deficiência intelectual.
Leonel e Leonardo (2014, p. 553) indicam que “as
escolas precisam, então, oportunizar reais condi-
O fato de haver três artigos específicos sobre
ções de aprendizagem dos conteúdos científicos”,
o ensino de matemática para alunos com deficiên-
salientado a importância na mudança em perspec-
cia intelectual chamou atenção por apontar uma
tivas deterministas que reforçam uma visão infanti-
preocupação do campo, visto que esses artigos
lizada de pessoas com deficiência intelectual que,
representam 30% do total de artigos selecionados
muitas vezes, dificulta o desenvolvimento da auto-
para o estudo. Nesse sentido, pode-se aferir que
nomia dessas pessoas.
o ensino de matemática tem ocupado um espaço
relevante nos estudos sobre o processo de ensino
Leonel e Leonardo (2014) e Santos e Martins
e aprendizagem na área da deficiência intelectual.
(2015) apontam que os professores ainda apresen-
tam práticas pedagógicas presas a modelos tradi-
Cechin, Costa e Dornelles (2013, p. 89) de-
cionais de ensino que, ao receberem alunos com
monstraram por meio do relato de experiência prá-
deficiência intelectual, consideram o aprendizado
tica de intervenção com alunos com deficiência in-
desses alunos lentos, contudo, mostram ainda que
telectual, constituído pela aplicação de encontros
não há mudanças significativas nas ações pedagó-
para o ensino de fatos aritméticos, apontando que:
gicas realizadas pelos professores.
“o ensino direto é uma abordagem eficaz para os

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alunos com necessidades especiais e transtornos atividade, a compreensão do conteúdo”, ou seja, o


na aprendizagem, contribuindo para propostas pe- conhecimento sobre a maneira como o aluno atua
dagógicas que visem ensinar na diversidade”. sobre o objeto de aprendizagem é um fator impor-
tante para o trabalho de planejamento e ação pe-
Brito, Campos e Romanatto (2014) abordaram dagógica junto a esses alunos.
o uso de jogos para aquisição de saberes mate-
máticos mostrando que eles se configuram como Apresentamos a pesquisa de Joaquim e Dan-
recursos importantes para aproximar o conteúdo tas (2016), que relatou a pesquisa sobre a aplica-
abordado da realidade do aluno. Nessa pesquisa, ção de um programa de ensino de Futsal para jo-
o grupo de alunos fazia parte de uma turma de EJA vens e adultos com deficiência intelectual, no qual
– Educação de Jovens e Adultos –, o que motivou os autores mostram a importância de romper com
os pesquisadores a buscarem jogos que condiziam perspectivas normalizadoras, buscando o desen-
com a realidade desses alunos, ou seja, não infan- volvimento da autonomia pelos alunos dentro de
tilizando o jogo e sim mostrando seu potencial para suas potencialidades físicas e intelectuais.
diferentes faixas etárias e contextos sociais.

Costa, Picharillo e Elias (2016, p. 157) apre- 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS


sentam revisão de literatura focada em pesquisas
empíricas sobre o ensino de matemática para pes- O presente estudo possibilitou um olhar so-
soas com Deficiência Intelectual, com buscas em bre o campo da deficiência intelectual, tendo como
bases de dados nacionais e internacionais. Os au- base de informações os artigos publicados na Re-
tores apontam a necessidade de pesquisas nesse vista Brasileira de Educação Especial, que corro-
campo e apontam que “ainda é necessário apro- borou para apontar avanços como a compreensão
fundar os estudos acerca das operações aritméti- do aluno com deficiência intelectual como sujeito
cas, principalmente multiplicação e divisão, além de aprendizagem e não como uma eterna crian-
dos conhecimentos de geometria básica”. ça (DIAS; OLIVEIRA, 2013), mostrando que es-
tes possuem habilidades para aprendizagem de
Como citado anteriormente, os dois artigos tra- conhecimento científico (LEONEL; LEONARDO,
tam da perspectiva histórico-cultural de Vygotsky 2014), sendo necessário o avanço em pesquisas
como fundamento teórico para compreensão sobre sobre as adaptações curriculares que proporcio-
o processo de apreensão de conceitos por alunos nem situações de aprendizagem para estes alunos
com deficiência intelectual, ambos utilizam pesquisa (FANTACINI; DIAS, 2015).
empírica com alunos em escolas regulares.
Os estudos selecionados trazem em grande
Braun e Nunes (2015, p. 76) afirmam que parte relato de pesquisas empíricas que contri-
“compreender como ocorre o processo de forma- buem sobremaneira para a formação dos profes-
ção de conceitos por alunos com deficiência in- sores nesse campo, visto que, ao estudarem os ar-
telectual é uma questão crítica para o educador tigos, podem conhecer relatos de ações realizadas
pensar e propor formas para ensinar e favorecer em salas comuns e especializadas.
seu desenvolvimento”, o que mostra a relevância
do estudo em tentar compreender como o aluno Dessa forma, os estudos mostraram que exis-
com deficiência intelectual constrói os conceitos e te muito a ser pesquisado sobre as percepções de
os aplica nas atividades propostas. Nesse sentido, professores tanto da sala comum quanto das salas
a possibilidade de aprendizagem se torna profícua, de atendimento educacional especializado, bem
pois as intervenções serão pensadas dentro da ló- como sobre as estratégias de ensino e aprendiza-
gica de compreensão do aluno. gem para alunos com deficiência intelectual, o que
torna este um campo fértil para futuras pesquisas.
Pedro e Chacon (2013, p. 209) defendem
que “é preciso que o professor atente para as ha-
bilidades e dificuldades desses alunos e recorra
a estratégias que possibilitem o entendimento da

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UNIASSELVI-PÓS

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Artigos Autores:
Flávius Demétrius Mailiote
O Fator Coach no Graduado em Processos Gerenciais (UNIASSEL-
VI – IERGS), Pós-Graduado em Administração

Desenvolvimento de Pessoas (UNIASSELVI-PÓS), Pós-Graduan-


do no MBA em Coaching (UNIASSELVI-PÓS).

Humano e E-mail: flaviusdemetrius@hotmail.com

Simone Cristina Schmitz


Organizacional Bacharel em Administração de Empresas (PUC), Licenciatura em
Ciências Físicas e Biológicas (PUC), MBA em Marketing (SENAC),
Pós-Graduada em Gestão de Pessoas (FGV), Pós-Graduada em
Docência do Ensino Superior (IERGS), Pós-Graduada em Admi-
nistração Rural (ULBRA). E-mail: scschmitz@hotmail.comcom

Resumo

O acúmulo de conhecimentos obtidos através das mais variadas pesquisas em ramos diversos traz consigo,
de tempos em tempos, uma nova seara de profissionais com necessidades distintas de seus antecessores. O
mesmo saber que aclara a direção pretendida exige que certos comportamentos sejam adquiridos para que pro-
fissionais se tornem aptos para corresponder à demanda dos novos modelos empresariais, bem como tenham
qualidade de vida através do trabalho. Neste cenário, surge um profissional representando um novo modelo de
competência capaz de realizar mudanças e romper paradigmas. Este, por sua vez, faz frente às exigências mer-
cadológicas inerentes ao âmbito empresarial: o coach. Com o surgimento da metodologia de coaching, as lacunas
apresentadas no cenário empresarial, que são representadas, dentre outros desafios, pelo absenteísmo, retenção
de talentos, captação de talentos promissores e modelos de gestão, podem vir a ser preenchidas.

Palavras-chave: Coach. Coaching. Coachee. DHO. Projeto UMAH. Talentos.

1 INTRODUÇÃO Em sequência ao raciocínio, tem-se que o pro-


cesso de coaching surge como uma forma de apri-
Este artigo científico objetiva evidenciar o pro- morar habilidades e características das pessoas de
fissional coach como peça-chave no desenvolvi- modo customizado, ou seja, a técnica auxilia o indi-
mento humano e por consequência organizacional víduo ao alcance de resultados efetivos.
das empresas que possuem interesse na amplia-
ção de seus resultados através de pessoas. Dos chefes autoritários advindos da Revolu-
ção Industrial aos líderes humanistas da atualida-
Alves (2015, p. 11) afirma: de, temos uma notável mudança comportamental
evidenciada no seio corporativo. Contudo, a “trans-
Com o advento da globalização, o mercado pas- formação” chefe/líder transcrita na literatura segue
sou a demandar um rápido ajuste a interferências
em rota de colisão com a prática cotidiana, o que
internas e externas, visto que houve um substan-
cial aumento da velocidade dos meios de comu- demonstra a natureza demagógica do assunto.
nicação e transporte. Nesse panorama, tornou-se Em outras palavras, muitas empresas admiram-se
imprescindível o desenvolvimento de novas com- de seus quadros de liderança como sinônimo de
petências e habilidades profissionais, antes não
acompanhamento da tendência mundial, porém,
tão demandadas, como foco em resultados, dina-
mismo e capacidade de trabalhar com imprevis- na prática (e não difícil de detectar), o que se cons-
tos. Assim, ocorreu o início da aplicação de uma tata é uma casta de chefias travestidas de líderes.
metodologia para atendimento de demandas es-
pecíficas dos profissionais, visando potencializar a
geração de resultados e competências individuais,
o coaching! O processo de coaching também pode 2 LIDERANÇA
ser interpretado como uma nova abordagem ao
estilo tradicional de trabalho, uma transformação
2. 1 O CLICHÊ EMPRESARIAL
os gerentes de hoje nos líderes de amanhã.

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Embora o termo “chefe” esteja caindo em Sabendo a real atribuição do empowerment,


desuso no Brasil, o comportamento que caracteri- vemos que algumas empresas possuem gestores
za este tipo profissional continua a todo o vapor. que se utilizam da prática do Falso Empowerment,
O agente que dá ordens e delega afazeres está que ocorre sob o pretexto, por parte do gestor, de
abrindo caminho (forçosamente) para o agente que estar empoderando o colaborador para a execução
dá exemplo e inspira responsabilidade. Não obs- de funções que exigiriam a atenção do próprio ges-
tante, o caminho é ainda longo para o atingimento tor, porém, na verdade o que ocorre é um repasse
do objetivo e conversão total dos chefes em líde- de afazeres seguido do abandono e/ou negligência
res. Afinal, novas aprendizagens é um processo por parte do gestor relapso para com seu subordi-
comum em uma cultura como a brasileira; agora, nado. Uma vez que o profissional em situação de
novos comportamentos é outra história. liderado percebe tal negligência, não tarda a apre-
sentar os sintomas que caracterizam os fatores
Nesta emergente necessidade de transforma- que estão na base da Síndrome do Esgotamento
ção imposta pelo mercado de trabalho surge uma no Trabalho, ou seja, esgotamento emocional (sen-
categoria intermediária: o gestor. Um híbrido de sação de não conseguir mais aguentar a situação),
chefe e líder, ou uma fusão parcial de ambos, este falta de realização pessoal (sensação de que aqui-
possui porções características tanto de um como lo que se realiza no trabalho não traz realização ou
de outro que são necessárias (aos olhos do empre- que não tem importância), entre outros fatores.
gador) para “gerir” as equipes sob seu escopo.
Claro (2009, p. 27) afirma que “o maior valor
A nova tendência é de que os gestores sejam in- das empresas está no talento das pessoas e es-
centivados a atuarem como facilitadores, motiva- sas pessoas não permanecem em organizações
dores e líderes com visão integral dos problemas,
que não lhes fornecem autonomia e chances de
além de ter bom relacionamento com sua equipe.
De modo geral, o fator humano é imprescindível crescimento”. Todavia, a linha que separa a auto-
para o sucesso da administração das organiza- nomia propriamente dita do falso empoderamento
ções, em contrapartida, lidar com pessoas ainda é muito tênue e, de fato, na conjuntura do mercado
é uma dificuldade para a maioria dos gestores de trabalho contemporâneo, esta “autonomia”, em
(ALVES, 2015, p. 11). muitas situações, é o arauto do descaso e da negli-
gência da gestão instituída. Cabe ao profissional,
María Marcela Fernández de Claro (2009, p. seja na posição de líder ou liderado, identificar prá-
17) esclarece que “o gestor deve estimular e criar ticas como esta, a fim de se resguardar do resulta-
condições necessárias para que a organização e do deste tipo de artifício: a estagnação da carreira.
as pessoas possam desenvolver-se mutuamente a
partir das relações que estabelecem”. Vieira (2015, p. 169) adverte o seguinte:

Considere a perspectiva de um funcionário que


2.2 FALSO EMPOWERMENT vê nas palavras e nas atitudes de seu chefe que
ele é importante e, não só isso, que ele também
Primeiramente, vamos assumir o que é em- pertence àquela empresa. E que juntos estão
ajudando e construindo um mundo melhor. E
powerment, segundo a visão de Claro (2009, p. 26):
todo aquele empenho e trabalho não é apenas
dinheiro, e sim uma visão de vida. E para este
O Empowerment busca reduzir a hierarquização funcionário fica tudo claro: “Não sou um peão ou
ou a distância entre os diferentes níveis organi- um recurso, eu sou a própria empresa”.
zacionais e promove a inversão da pirâmide or-
ganizacional. Dessa forma, o nível de comprome-
timento, engajamento e motivação das pessoas Todo o sistema de hierarquização de uma em-
aumenta consideravelmente. Cresce também o presa é verticalizado representado por pilares. O
espírito de cooperação e de compartilhamen- empowerment é um fenômeno de horizontalização
to dos objetivos organizacionais. As pessoas se de poder, ou seja, um prodígio de equidade de res-
sentem mais livres para oferecer sugestões, ex- ponsabilidades.
por suas ideias e opiniões.

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3 COACHING “O papel do coach é estimular o coachee a


acessar seus recursos internos, tomar consciência
de suas capacidades, buscar forças e motivação
3.1 O PROCESSO DE COACHING para a realização, acreditando em seu potencial. As-
sim sendo, o coachee caminhará sozinho e obterá
O coaching tem a capacidade de ajudar as sucesso em seus anseios” (ALVES, 2015, p. 25).
pessoas a encontrarem novos caminhos e alterna-
tivas para suas vidas, nos ramos pessoais e pro- Todo o colaborador é um coachee! Coachee/
fissionais, através da mudança comportamental do treinado: é a pessoa que quer, de livre e espontâ-
indivíduo, que é acelerada por um agente externo. nea vontade, receber todo o exercício disponibiliza-
do pela empresa; e, igualmente, de outros assuntos
Baseado fundamentalmente no diálogo, o coa- que julga importantes para o seu trabalho e desen-
ching está se tornando uma evolução espontânea volvimento na organização. Não obstante, deve-se
da ideia de liderança. Possuindo como pilares a
manter em constante observação que o coaching
estratégia mútua, o desenvolvimento e a mudan-
visa o desenvolvimento eficaz, proporcionando cres-
ça comportamental, o coaching se preocupa com
a facilitação, não com aconselhamento (ALVES, cimento pessoal e profissional para o coachee atra-
2015, p. 17). vés da mudança de comportamento do indivíduo.

Desenvolvimento é a palavra-chave do pro- De acordo com Alves (2015, p. 92):


cesso de coaching em qualquer meio ao qual for
aplicado! O líder de ontem era um tomador de decisão e
alocador de recursos que perguntava a melhor
maneira de explorar as habilidades de um fun-
Lotz e Gramms (2014, p. 17) definem que “o cionário em proveito da organização. Os funcio-
coaching é um processo que estimula reflexões nários eram vistos como ferramentas e recursos
para potencializar o desempenho e o aprendizado para a consecução das metas da organização.
de um indivíduo, promovendo o desenvolvimento O líder atual é um desenvolvedor de pessoas e
pessoal e profissional”. construtor de relacionamentos que pergunta:
“como posso ajudar essa pessoa a se tornar a
mais valiosa como indivíduo, bem como para to-
Alves (2015, p. 25) define a metodologia de dos nós?” O líder atual é um coach.
coaching da seguinte forma:
Reiterando o que foi observado, “o coaching
O coaching é o maior e melhor programa de ca-
é um processo que visa gerar mudança compor-
pacitação e desenvolvimento humano do país.
Trata-se de um conjunto de técnicas, ferramentas tamental, porém, em alguns casos, este método é
e conhecimentos de diversas ciências — como a capaz de transformar de modo tão profundo o indi-
psicologia, gestão de pessoas, administração, re- víduo que passa por esse processo que o mesmo
cursos humanos, programação neurolinguística se torna um agente transformador em seu ambien-
(PNL), sociologia, entre outras — que visa o alcan-
te” (ALVES, 2015, p. 56). Uma transformação no
ce de resultados rápidos e permanentes em qual-
comportamento de uma pessoa implica em mudar
quer contexto, tanto pessoal quanto profissional.
Coaching é uma parceria continuada que estimula praticamente suas raízes. Isto, por sua vez, não é
e apoia o cliente a produzir resultados gratificantes uma tarefa de fácil realização.
em sua vida pessoal e profissional. Por meio do
processo de coaching, o cliente expande e apro- As competências técnicas são mais simples de
funda a sua capacidade de aprender, aperfeiçoa serem desenvolvidas, apesar de envolverem pro-
seu desempenho e eleva a sua qualidade de vida cessos de aprendizagem que precisam de tempo
e de planejamento. No entanto, as competências
Para que o coaching exista, necessariamente de atitudes pressupõem maior complexidade para
serem desenvolvidas, precisam de um trabalho es-
deve haver três elementos distintos, a saber: o co-
pecífico que leve à mudança de crenças, hábitos,
ach (profissional que aplica as ferramentas da me- vícios e cultura de uma pessoa, ou seja, a uma
todologia), o coachee (indivíduo/cliente que passará mudança comportamental (CLARO, 2009, p. 67).
pelo processo) e o coaching (o processo propria-
mente dito).

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Claro (2009, p. 60) ressalva um cuidado que um profissional do setor de Recursos Humanos
as empresas devem se atentar: que segue um conjunto de procedimentos para
avaliar a aderência e alinhamento do candida-
O colaborador procura um gestor que não apenas to com a vaga ofertada. Entretanto, as perguntas
ensine como desenvolver corretamente seu adotadas nas entrevistas seguem um padrão que,
trabalho, mas que seja seu coach e lhe ensine
muitas vezes, não é capaz de extrair o máximo de
muito mais do que prevê o escopo. Hoje, as
regras para que possamos reter nosso capital evidências que colaborem para a adesão ou elimi-
intelectual mudaram muito nos últimos anos e nação do candidato em potencial. Isso pode acar-
as organizações que não atentarem para este retar numa grande perda para ambos os lados.
detalhe terão de correr atrás do prejuízo. Por esta razão, fazer os questionamentos asserti-
vamente com a metodologia correta é o diferencial
As pesquisas da Fortune Magazine com 1.000 que possibilita a escolha do profissional que, de
empresas que utilizam coaching “observaram que fato, possa vir a contribuir para o crescimento da
o processo aumenta a produtividade (53%), os re- organização e seu próprio.
lacionamentos (71%), o trabalho em equipe (67%),
a redução de conflito (52%), a redução de custos Krausz (2007, p. 26) enunciou que o processo
(23%) e o turnover (12%)” (ALVES, 2015, p. 106). se fundamenta de acordo com os seguintes pres-
supostos, os quais podem ser empregados na oca-
Um estudo da Latin American Human Resource sião da entrevista:
Partnership (LAHRP) pesquisou: em 2010, 182
empresas de 16 países latino-americanos, sendo
39 do Brasil. Constatou-se que 84,6% já utilizam • As pessoas sabem mais do que acham que sa-
o coaching. Estes dados mostram a amplitude do bem.
coaching ao trabalhar com empresas, executivos, • As pessoas possuem recursos nem sempre
profissionais, estudantes e qualquer pessoa que adequadamente aproveitados para elevar a sua
busque o sucesso com foco e atitude (ALVES, performance.
2015, p. 107).
• Perguntas adequadas, úteis e estimulantes produ-
zem mais resultados do que ordens e comandos.
Sendo o processo de coaching uma realidade:
• Toda falha representa uma oportunidade de
aprendizagem.
É emergente considerar que a sociedade atu-
al, caracterizada pela multiplicidade e variedade • Toda aprendizagem é precedida de alguma for-
de organizações, elegeu o trabalho como espa- ma de experimentação.
ço de atuação e afirmação do indivíduo. Em de- • Querer é o primeiro passo para o poder e o fazer.
corrência, é no mundo do trabalho que se con-
figura a arena de concretização das habilidades
individuais que, transformadas em produtos e Conforme assegura Lyons (2003, p. 44) “o po-
serviços, afetam a sociedade de uma forma geral, der direcional ou estratégico de qualquer diálogo
tornando o trabalho uma “prerrogativa humana” de coach está fundamentalmente em sua capaci-
(KARKOTLI; RIHAN, 2010, p. 7). dade de questionar”. Este processo deve ser inicia-
do pelo coachee através do desafio de se questio-
Acolhendo a afirmação anterior, é correto pon- nar e, por conseguinte, ter uma visão mais ampla
derar a importância do coach nos mais distintos da situação em que se encontra. Saber perguntar
processos internos de uma empresa. Da captação para se conseguir as respostas adequadas é es-
de talentos (admissão) às estratégias de retenção sencial. Os questionamentos são fundamentais em
de talentos (programa de redução de turnover). um processo de coaching.

Não há dúvidas que o profissional coach pos-


3.2 O COACH NA CAPTAÇÃO sui ferramentas imprescindíveis para a captação
DE TALENTOS de novos talentos para compor o quadro de cola-
boradores de uma organização. Seu inquestioná-
Ninguém oferece seus préstimos a uma em- vel poder de obtenção de informações e resultados
presa via CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) através de pessoas é o mais eficiente e eficaz.
sem antes passar pela avaliação de, pelo menos,

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A base do valor econômico mudou e estamos em Analisando este cenário, inevitavelmente sur-
uma nova era em que pessoas que se comunicam ge a pergunta: o que faz com que tantos profissio-
melhor e tem maior capacidade de relacionamento
nais renunciem as suas posições mesmo em um
interpessoal vem se sobressaindo a pessoas que
panorama de recolocação incerto como o atual? E
têm somente capacidades técnicas. A busca por
profissionais que tenham estas habilidades em ainda: o que as empresas podem (e devem) fazer
equilíbrio está acirrada e exige que os líderes para reverter este quadro crescente?
estejam cada vez mais preparados para reter tais
talentos nas empresas assim que os encontrar. Sabe-se que o trabalho continua sendo um
A falta de talentos nas empresas torna-se, sem
elemento importante na estrutura social, sendo
dúvida, o maior obstáculo para o crescimento
depois da família, a segunda esfera da vida mais
das organizações. As empresas necessitam
desenvolver os seus próprios talentos em vez de valorizada. Fabíola Radaê Gewehr Cargnin (2015,
apenas contratá-los (NONES, 2015, p. 47). p. 19) enfatiza um aspecto vital ao dizer que “o
trabalho tem um sentido ligado à possibilidade do
No aclamado quadro do programa Fantástico indivíduo de modificar o meio e a si próprio a par-
chamado Emprego de A a Z, o consultor de carreira tir daquilo que ele faz e produz, constituindo desta
Max Gehringer ao fazer uma simulação de entrevis- forma, a própria sociedade em que vive”.
ta com algumas pessoas em busca de recolocação,
inicia com a seguinte pergunta: “Por que você quer Juciléa Tatiana Nones (2015, p. 17) contribui:
trabalhar nesta empresa e em nenhuma outra?”
Uma pergunta objetiva e aberta como esta possi- As pesquisas têm igualmente mostrado que tanto
a estabilidade profissional quanto a qualidade de
bilita ao entrevistador saber assertivamente o que
vida no ambiente de trabalho são grandes prio-
motivou o candidato a buscar uma oportunidade na- ridades para uma considerável parcelada popu-
quela empresa, além é claro, de salário. Similarmen- lação. Quando ambos estes motivadores se en-
te, Roberto Justus em seu programa O Aprendiz faz contram ausentes, o dinheiro, o mais óbvio dos
pessoalmente entrevistas com candidatos a estágio, motivadores externos, se torna um agente de ex-
iniciando a entrevista com uma pergunta análoga. trema prioridade, já que é o único resultado que
se pode obter naquele trabalho específico, então
será uma guerra por cada centavo a mais que se
Toda a resposta recebida é relativamente pro- pode conseguir. Se o dinheiro, porém, é valoriza-
porcional ao questionamento feito, portanto, a ha- do, ofertado e recebido como um ato de autovalo-
bilidade de fazer perguntas que exigem mais do rização, ele se justifica pelo seu significado.
que uma resposta pronta e engessada é uma das
características primordiais do coach. À luz dos fatos, o turnover é uma situação que
traz consequências negativas para qualquer orga-
nização, uma vez que, além de ser dispendioso na
3.3 O COACH NA RETENÇÃO questão do tempo e financeira, há também a incer-
DE TALENTOS teza, pois não se sabe se um novo colaborador irá
se adaptar ao clima organizacional e aos demais
No passado, um trabalhador durante toda a colegas e vice e versa. Há também o fato de os
sua vida prestava seus serviços para uma, no má- afazeres da função serem absorvidos por outros
ximo duas empresas até que enfim se aposenta- integrantes até a nova contratação, o que gera es-
va. Nos dias de hoje, a realidade criou um novo tresse devido à sobrecarga de trabalho.
panorama. Carteiras de trabalho apresentam um
verdadeiro carnaval de carimbos que representam A retenção de pessoas-chave competentes é uma
admissões e rescisões de contratos. estratégia competitiva no mercado global atual.
Muitas organizações vêm travando a “guerra de
talentos”, na qual as poucas pessoas altamente
Segundo a página de economia do G1, “qua- talentosas deixam suas organizações em busca
se 25% dos brasileiros pedem demissão de forma de novas oportunidades em empresas que são
espontânea”. Entre janeiro e agosto de 2018, 2,253 vistas como um lugar melhor para trabalhar. Deve-
milhões de brasileiros deixaram o emprego por se considerar muitos fatores de custo aqui. Além
vontade própria apesar da crise que deixou mais da perda imediata da contribuição de trabalho
e conhecimento organizacional do funcionário,
de 14 milhões de desempregados em todo o país.

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há também um impacto sobre a capacidade da formato de coaching com cada líder (gerente geral,
organização de produzir resultados de negócios gerentes de loja e supervisores) com o foco no de-
(LYONS, 2003, p. 69).
senvolvimento da estratégia de liderança e comuni-
cação” (ALVES, 2015, p. 75). Com processos bem
Outro impacto positivo da redução de turnover desenhados e uma comunicação assertiva para al-
para a empresa está no fato de que o grupo de tra- cançar o engajamento dos colaboradores com os
balho não será prejudicado com perda de produtivi- processos internos, houve o melhorando nos resul-
dade devido ao tempo de aprendizagem de funcio- tados dos estabelecimentos. O papel do líder que
nários novatos. utiliza ferramentas de coaching em sua gestão é
saber ouvir e saber perguntar de forma que as pes-
Um dos principais motivos pelo qual um profis- soas estejam envolvidas na definição das alternati-
sional decide encerrar sua carreira em uma empre- vas e na tomada de decisões. Da mesma forma, o
sa é, sem sobra de dúvida, a estagnação. Qualquer papel do líder em uma empresa que adota técnicas
indivíduo quer ter a sensação de estar progredindo de coach será de acompanhar e instigar os colabo-
na carreira. Se a empresa, através do gestor, não radores a compreenderem quais são as posturas
proporciona nenhuma forma de ascensão ou ainda limitantes para obter o sucesso. “Esta é uma ten-
dificulta o progresso dos profissionais, é inevitável dência observada nas corporações que reafirmam
que eles venham a procurar outro lugar para ofe- a expectativa de que o líder seja o incentivador, o
recer seus serviços. Não obstante, durante este aglutinador da equipe, que ele utilize técnicas que
período, estarão plenamente desmotivados, visi- se aproximam das técnicas utilizadas por um coa-
velmente infelizes e certamente ressentidos com a ch” (ALVES, 2015, p. 100).
empresa (ou o gestor). Este tipo de situação tem a
tendência de se propagar para a equipe afetando
o desempenho da mesma e os resultados obtidos. 3.4 RESISTÊNCIA AO PROCESSO
Muitas vezes, o conflito se instala quando a orga-
nização apresenta políticas de gestão de pessoas, Como descreveu Whitmore (2004 apud
mas não as aplica. KRAUSZ, 2007, p. 156), as justificativas mais co-
muns para resistir ao processo de coaching são:
Quando empresas investem no treinamento
de seus líderes com o objetivo de transformá-los • Receio de ser criticado pelos pares, subordina-
em Líderes Coachs, há uma grande reversão do dos, superiores hierárquicos.
cenário supracitado. Afinal, as organizações pre- • Receio de ser tachado de incompetente, inca-
paz de resolver suas dificuldades sem a ajuda de
cisam de pessoas com alto nível de comprometi- alguém de fora.
mento. A autonomia, a criatividade e a capacidade • Receio de ser cobrado pelos resultados.
de liderança passam a ser atributos essenciais das • Receio de ser considerado como privilegiado,
protegido, “queridinho do chefe” etc.
pessoas dentro das empresas.
• Perder o seu tempo precioso em vez de fazer o
seu trabalho.
Para ilustrar o impacto do uso desta metodologia, • Não obter os resultados esperados e ser des-
podemos citar a mudança comportamental geren- pedido.
cial, já que a visão do gerente tradicional como • Ter que se submeter a um “treinamento” que po-
alguém que designa tarefas e as monitora já não derá expor as suas limitações.
existe mais em organizações. Afinal, os gestores • Resistência à mudança. Ter que sair da sua
motivam, os líderes inspiram! O coaching é uma zona de conforto.
forma concreta de desenvolver-se e tornar-se um • Achar que não tem mais nada para aprender.
• Falta de flexibilidade.
exemplo inspirador para o meio em que convive
• Insegurança/baixa autoestima.
(ALVES, 2015, p. 73).
• Receio de que seus pares e subordinados dei-
xem de respeitá-lo.
O emprego do coaching para as lideranças • Não deseja assumir maiores responsabilidades.
já teve seus efeitos comprovados no mercado de • Acha que quem precisa mudar é o chefe.
• Não confia na organização ou na pessoa que
trabalho. Um destes casos de sucesso ocorreu na sugeriu o trabalho de coaching.
empresa Subway que possuía um alto índice de • Considera que admitir suas limitações colocará
turnover. A solução adotada foi o “treinamento em em perigo o seu cargo

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O Líder Coach precisa ter em mente que seu e se desenvolver ao lado de gestores e lideranças
liderado gerará expectativas que acarretam em com sólida experiência no mercado em suas res-
inúmeras emoções. Um processo não deve, em hi- pectivas áreas. O objetivo é treiná-lo passando por
pótese alguma, ser imposto a um profissional. Ao diversas áreas da empresa expondo-o a grandes
contrário, deve ser de conhecimento do líder as jus- desafios para acelerar seu desenvolvimento. Este
tificativas supracitadas para que antecipe os receios profissional passa por um ciclo completo que ga-
do colaborador e trabalhe progressivamente para rante que ele conheça a atuação da empresa a
removê-los até que não exista mais barreiras e se fundo e tome decisões que são baseadas não só
observe claramente o leque de oportunidades que na realidade de uma área, mas que é pensada na
o processo de coaching trará a todos os envolvidos. organização como um todo e também em aspectos
Deve-se também ter em mente os benefícios gera- do mercado. Todavia, os programas trainee no Bra-
dos para a empresa, os quais são: desenvolvimento sil estão ficando cada vez mais escassos, o que
em cadeia; maior sinergia coletiva; estimulação da aumenta grandemente os critérios e a disputa por
criatividade; melhoria no processo de tomada de de- uma vaga no programa.
cisões; saúde dos profissionais; confluência de ob-
jetivos; retenção de talentos (ALVES, 2015, p. 73). Uma vez cientes que um programa de trainee
possui uma duração que varia de 6 meses a 4 anos
Em um cenário corporativo que está claro que (dependendo do nível de responsabilidade que irá
todos são beneficiados pelas ações individuais e exercer na empresa), é necessário estar presente
coletivas, não há como negar a tendência natural para o fato da inviabilidade de expandi-lo para to-
de desenvolvimento pluralizado. dos os interessados no interior de uma organiza-
ção. Todavia, existe a possibilidade de satisfazer
a necessidade por parte dos colaboradores que
4 PROJETO UMAH DHO almejam uma oportunidade de ascensão em suas
carreiras através de um programa interno com mol-
4.1 PROJETO UMAH PARA DESENVOLVIMENTO des similares ao de trainee. Este programa recebe
HUMANO E ORGANIZACIONAL o nome de Projeto UMAH (a saber: Projeto Uma
Hora). Tem por objetivo possibilitar que um colabo-
O que todas as empresas têm em comum? A rador tenha a chance de conhecer e exercer deter-
resposta é: setores. Quanto maior a empresa, ten- minada função pelo período de uma hora (1h), sen-
dencialmente, maior é o número de setores que a do em dias e horários específicos acordados entre
compõe. É notório que no interior de organizações de o colaborador interessado e os líderes das áreas
porte mais robusto alguns profissionais se deparem correspondentes.
com setores ou repartições das quais nunca ouviram
falar. Alguns inclusive criados pela própria empresa Os resultados esperados desta interação en-
como resposta a uma necessidade. É neste ponto tre profissionais de setores distintos são:
que fica claro para estes profissionais que ainda há
opções a serem avaliadas quanto às profissões as • Aumento da consciência coletiva.
quais podem se engajar. É impossível mensurar o • Desenvolvimento de novas habilidades e com-
número de profissionais que viraram o lema de suas portamentos.
carreiras quando se depararam com outras possibili- • Anestesia da sensação de estagnação.
dades, alguns cedo, outros quase tarde demais. No • Ampliação do acervo intelectual.
entanto, essa transição é uma realidade. • Engajamento e sinergia.
• Resultados mais consistentes e elevados.
Dentre os seletos profissionais que têm a • Aumento do entusiasmo.
oportunidade de vislumbrar o portfólio completo de
possibilidades de uma organização está o trainee. O renomado escritor Napoleon Hill afirma: “o
Como o próprio nome sugere, o trainee é um novo funcionário entusiasmado é naturalmente aquele
profissional que está em fase de treinamento. No que é feliz no trabalho. Portanto, irradia uma atitu-
Brasil, o trainee tem a oportunidade de aprender de mental saudável que se espalha para os outros
ao redor, e esses também assumem parte de sua

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atitude. Assim todos tornam-se trabalhadores mais pessoa do que alterar seu comportamento; fato este,
eficientes” (HILL, 2017, p. 255). bem conhecido no cerne das empresas.

Um dos aspectos mais positivos desta inicia- Líder coach é aquele que suscita o desenvol-
tiva é o fato de ela possibilitar que um profissional vimento e o amadurecimento profissional de sua
tenha contato com uma área que ele tenha inte- equipe, ensinando-os a pensar como líderes, fazer o
resse e possa, através da imersão, ter um posicio- que líderes fazem, transformando-os para que eles
namento mais assertivo obtido pela prática. Isso se responsabilizem por criar alternativas válidas.
evita, por exemplo, que este profissional acabe por
ser desligado da empresa (ou se desligando) por O trabalho tornou-se a maior fonte de oportu-
se deparar com uma realidade que idealizava de nidades para desenvolver habilidades e destrezas,
outra forma ou por não ser capaz de fazer a entre- agora, a sociedade está organizada de tal forma que
ga esperada para a função. Uma vez tendo viven- se a pessoa não estiver inserida em um trabalho,
ciado as nuances da função desejada, a decisão acaba por ter sua capacidade de se desenvolver re-
de seguir em frente com uma possível candidatura duzida, pois é o único meio conhecido ofertado para
à vaga futura pode ser melhor avaliada, tanto por tal. Deve-se tomar o trabalho como fonte primária de
parte do colaborador como por parte da equipe que oportunidades para interação e contato social (ne-
testemunhou seu desempenho no período corren- twork) visando, é claro, a carreira. Uma vez que o lí-
te ao projeto. Isto previne perdas de tempo, capital der coach está presente para isto, sua compreensão
humano e até recursos financeiros, pois será res- e interação junto aos colaboradores sob sua lideran-
ponsável por uma prévia situacional que facilita o ça passam a atingir um nível mais elevado.
entendimento das partes interessadas na tomada
de decisão com a certeza da assertividade em caso Os profissionais em posição de liderança co-
de uma futura mudança setorial via promoção. meçam a perceber as transformações ocorridas
em sua equipe que geram benefícios muitas vezes
intangíveis, a saber: profissionais mais colaborati-
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS vos e com tomada de decisões mais velozes. Den-
tre os benefícios do coaching, podem ser citadas a
Mediante as exposições apontadas até o pre- elevação e a manutenção da autoestima da equi-
sente momento, observa-se empiricamente no ce- pe, o ganho de performance, o aumento da produ-
nário que abrange o mercado de trabalho atual, e tividade, a redução do nível de estresse derivado
mediante a prerrogativa de um Líder Coach via em- de uma melhor organização das ações organiza-
powerment que quando o indivíduo se sente dono cionais e, associados a estes, em geral, há o au-
do seu trabalho, sente-se mais responsável por ele mento dos resultados esperados.
e, por sua vez, o trabalho ganha maior significado
em sua vida. Existe uma equação tácita para o sucesso em
cada empreendimento. O fator coach se revela um
No entanto, este benefício se faz valer com ponto nevrálgico nesta equação contemporânea.
maior vitalidade quando não se trata de um mero Ignorá-lo pode trazer consequências negativas que
clichê empresarial ou um falso empoderamento. tenderão à ruína em um breve lapso de tempo. A
Um colaborador quer autonomia para realizar as verdadeira natureza de qualquer programa de coa-
tarefas para as quais foi contratado, todavia, não ching no âmago das empresas é fazer com que os
deseja ser negligenciado por sua liderança sob o colaboradores se vejam e sintam-se como parte do
pretexto do regime de empowerment. negócio, pois as pessoas tendem a lutar com mais
afinco por aquilo que creem lhes pertencer.
Atualmente, uma grande dificuldade para as or-
ganizações é o desenvolvimento de características Considera-se então, que o fator decisivo na
pessoais mais humanas em colaboradores, principal- atualidade para o efetivo desenvolvimento huma-
mente naqueles voltados para áreas mais técnicas no e, por consequência, organizacional de todo e
que acabam se comportando de modo engessado. É qualquer empreendimento é o profissional enga-
mais fácil ensinar conhecimentos técnicos para uma jado em transformar pessoas através da mudança

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comportamental. Um profissional engajado em ins-


pirar profissionais a atingirem o nível de excelên- KARKOTLI, Ana Paula Balbueno; RIHAN,
cia que jamais haviam aspirado em suas carreiras. Gilson. Aspectos legais em gestão de
Alguém com a capacidade de gerar o entusiasmo e pessoas. Indaial: UNIASSELVI, 2010.
a motivação necessários para fazer com que os in-
KRAUSZ, Rosa R. Coaching executivo: a
divíduos trilhem um caminho que, inevitavelmente,
conquista da liderança. São Paulo: Nobel, 2007.
os levará ao sucesso. Este é o Fator Coach!

LOTZ, Erika Gisele; GRAMMS, Lorena. Coaching


e mentoring. Curitiba: Editora Intersaberes, 2014.
REFERÊNCIAS
LYONS, L. O coaching no cerne da
ALVES, Erika de Paula. Introdução ao estratégia. In: GOLDSMITH, M.; LYONS,
coaching. Indaial: UNIASSELVI, 2015. L; FREAS, A. Coaching: o exercício da
liderança. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
CARGNIN, Fabíola Radaê Gewehr. Psicologia
organizacional. Indaial: UNIASSELVI, 2015. NONES, Juciléa Tatiana. Coaching e
gestão para resultados através de
CLARO, María Marcela Fernández de. Gestão pessoas. Indaial: UNIASSELVI, 2015.
de pessoas. Indaial: UNIASSELVI, 2009.
SEJA TRAINEE. O que é trainee? [s.d.].
G1. Economia. 2018. Disponível em: https:// Disponível em: https://sejatrainee.com.br/o-
g1.globo.com/economia/noticia/2018/09/24/quase- que-e-trainee/. Acesso em: 1º nov. 2018.
25-dos-brasileiros-pedem-demissao-de-forma-
espontanea.ghtml. Acesso em: 25 out. 2018. VIEIRA, Paulo. O poder da ação.
São Paulo: Gente, 2015.
HILL, Napoleon. Como aumentar seu
próprio salário. Porto Alegre: CDG, 2017.

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Artigos
Autores:

Absenteísmo: Vanessa Spotti de Souza


Gestora em Saúde – Universidade Fede-
O Impacto Nas ral de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
E-mail: vanessassouza@hcpa.edu.br
Equipes e no Clima Fabiana Tramontin Bonho
Bacharel em Administração de Empresas, Universidade Luterana
Organizacional do Brasil e Ciências Contábeis pela Universidade Unip. Pós-
-graduada em Auditoria e Perícia Contábil, Gestão educacional,
Gestão e Tutoria EAD e Controladoria. Professora-tutora do
Grupo UNIASSELVI. Mestranda em Desenvolvimento Regional
pela FACCAT (orientadora). fabiana.bonho@uniasselvi.edu.br

Resumo

Com o absenteísmo, as equipes acabam sendo sobrecarregadas para que consigam realizar todo trabalho
proposto com um número reduzido de funcionários pelas constantes faltas de membros da equipe.
Assim, sobrecarregam-se alguns e a equipe pode se tornar muitas vezes competitiva, afetando o clima
organizacional da empresa, fazendo inclusive que o relacionamento entre os colegas de trabalho se torne
difícil, já que a equipe acaba rotulando o colega ausente como descomprometido e irresponsável. O presente
trabalho procura conhecer e analisar os impactos e a influência do absenteísmo nas equipes e no clima
organizacional, verificando quais podem ser as ideias para amenizar ou solucionar este problema tão comum
nos dias atuais. Para este trabalho, foi realizada uma revisão bibliográfica nos sites Scielo, Biblioteca Virtual
em Saúde (BVS) e portal CAPES, utilizando as palavras-chave: “absenteísmo”, “equipes”, “liderança”,
“gestão de pessoas” e “clima organizacional”, analisando os artigos relacionados ao assunto estudado. O
cultivo de um ambiente de trabalho agradável, o fortalecimento da cultura organizacional da empresa e a
valorização dos colaboradores podem ajudar a reduzir os índices do absenteísmo na organização. É preciso
engajamento por parte de todos, inclusive participação do gestor, dando suporte e motivação à equipe. O
planejamento de atividades que propiciem a melhoria no clima e no ambiente de trabalho deve ser pensado
em grupo, fazendo com que todos se sintam inseridos como peças-chave da empresa e da equipe.

Palavras-chave: Absenteísmo. Equipes. Liderança. Gestão de pessoas. Clima organizacional.

1 INTRODUÇÃO O índice de absenteísmo refere-se ao controle


das ausências nos momentos em que os
trabalhadores encontram-se em seu tempo
As constantes mudanças tecnológicas, os mé-
programado de jornada de trabalho. O conceito
todos de trabalho inovadores e a concorrência na pode ainda ser melhor compreendido pelo
carreira fazem com que as equipes sejam constan- somatório dos períodos em que os empregados
temente cobradas pelos gestores a darem o seu de determinada organização ausentam-se do
máximo nas empresas. Muitos colaboradores não trabalho, incluindo atrasos, dentro de sua jornada
estão preparados para estas cobranças ou não se normal de trabalho.

sentem motivados a se doarem para tais tarefas,


sendo assim, podem ocorrer ausências, cujo indi- Com o absenteísmo, as equipes acabam sen-
cador para identificar esse número chamamos de do sobrecarregadas para que consigam realizar
absenteísmo. todo trabalho proposto com um número reduzido
de funcionários pelas constantes faltas de alguns
Em função das ausências dos funcionários, membros da equipe. Assim, sobrecarregam-se
muitas empresas acabam sendo prejudicadas na alguns e a equipe pode se tornar muitas vezes
produção e nos serviços oferecidos, alguns funcio- competitiva, afetando o clima organizacional da
nários podem alegar salários ruins, insatisfação, empresa, fazendo inclusive que o relacionamento
más condições de trabalho e problemas de saú- entre os colegas de trabalho se torne difícil, já que
de. Sobre o absenteísmo, Penatti, Zago e Quelhas a equipe acaba rotulando o colega ausente como
(2006, p. 1) relatam: descomprometido e irresponsável.

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O aumento do absenteísmo, a falta de con- constante atenção dentro da organização, pois, con-
fiança e o aumento da competitividade entre os forme Turrioni e Silva (2016, p. 28), “o clima orga-
colaboradores da equipe acabam por desmotivar e nizacional afeta diretamente o comportamento dos
prejudicar o resultado do clima organizacional, au- colaboradores, que tendem a se tornarem mais re-
mentando o estresse no ambiente de trabalho. ceptivos, produtivos e comprometidos quando vivem
em um clima positivo e motivador em que seu esfor-
O clima organizacional visa analisar o nível de ço é reconhecido e recompensado”.
satisfação do colaborador na empresa e verificar
quais pontos podem ser melhorados ou modificados Sobre o clima organizacional, Ângelo (2015,
para que o clima da empresa seja mais adequado. p. 1) afirma que se trata do “indicador de satisfação
Algumas empresas procuram dar alguns benefícios dos membros de uma empresa, com relação a di-
aos colaboradores, visando muitas vezes influenciar ferentes aspectos da cultura ou realidade aparente
e/ou criar um clima organizacional melhor na visão da organização, tais como: políticas de RH, modelo
do empregado, como planos de saúde, vale alimen- de gestão, processo de comunicação, valorização
tação, participação dos lucros etc. profissional e identificação com a empresa”. Mene-
zes e Gomes (2010, p. 159) comtemplam que:
De acordo com Ângelo (2015, p. 1), “a defini-
ção mais usada de clima organizacional é a de um O clima organizacional é um dos construtos
conjunto de propriedades mensuráveis do ambien- de maior centralidade dentro do campo do
comportamento organizacional e tem sido uma
te de trabalho percebido, direta ou indiretamente,
das variáveis psicológicas mais investigadas em
pelos indivíduos que vivem e trabalham neste am- organizações. Diretamente relacionado com o
biente e que influenciam a motivação e o compor- estudo das percepções que os trabalhadores
tamento dessas pessoas”. Com a mesma opinião, constroem acerca de diferentes aspectos do seu
Nascimento e Silva (2012, p. 111) afirmam que o trabalho, o clima organizacional corresponde
comportamento dos funcionários é diretamente in- a um dos atributos mais relevantes à detecção
dos elementos reguladores e orientadores do
fluenciado pelo clima da organização.
comportamento humano dentro de organizações.

O presente trabalho procura conhecer e analisar


Algumas empresas sofrem todos os dias os im-
os impactos do absenteísmo nas equipes e no clima
pactos do absenteísmo nas equipes. Com o aumen-
organizacional, sugerindo ideias para amenizar ou
to das ausências, os demais colaboradores sofrem
solucionar este problema tão comum. Existem atu-
com as constantes sobrecargas no trabalho, fazen-
almente trabalhos que falam do absenteísmo em di-
do com que futuramente esses funcionários venham
versas áreas, principalmente na área da saúde, nas
a adoecer devido à carga de trabalho excessiva e
quais há um grande déficit financeiro e de recursos
ao estresse causados nas equipes. Os gastos com
humanos que, somado ao constante aumento de
horas extras, demissões e novas contratações tam-
atendimentos na área da saúde, afeta a equipe, o cli-
bém pesam no orçamento das empresas.
ma organizacional e as instituições de saúde, refletin-
do, assim, no atendimento final do paciente. O absenteísmo ocasiona não só custos diretos,
mas também indiretos representados pela dimi-
nuição da produtividade, aumento do custo da
2 REFERENCIAL TEÓRICO produção, desorganização das atividades, redu-
ção da qualidade do produto/serviço, diminuição
da eficiência no trabalho, problemas administrati-
Penatti, Zago e Quelhas (2006) reforçam que,
vos, limitação de desempenho e até mesmo obs-
nos dias atuais, as empresas têm em seus colabo- táculos para os gestores (SILVA, 2014, p. 3).
radores parceiros, os quais entram com a mão de
obra, ou seja, o esforço do trabalho, a dedicação e Podemos observar que as relações pessoais,
a produtividade, podendo assim serem recompen- os estímulos para o bem-estar dos colaboradores e
sados através desses esforços, implicando retornos as recompensas podem refletir no trabalho destes
significativos. Com o envolvimento cada vez maior profissionais, assim como a ligação entre a políti-
dos colaboradores em todas as etapas de serviço
ou produção, o clima organizacional necessita de

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ca e atividades da empresa. O absenteísmo muitas cionados trabalhos que abordassem os temas re-
vezes pode ser o reflexo do clima organizacional lacionados. Além desses artigos, utilizou-se livros e
da empresa, fazendo com que o colaborador insa- sites que tratam do tema e que foram relevantes ao
tisfeito acabe por se afastar temporariamente do trabalho de pesquisa.
trabalho, visando fugir de uma situação ou confron-
to com a realidade insatisfatória. Cardoso, Cardo-
so e Santos (2013) analisam que muitas vezes as 4 RESULTADOS
condições de trabalho, a liderança, a falta de mo-
tivação e de estímulo são algumas das possíveis A partir da análise dos trabalhos relacionados
causas da insatisfação do colaborador, refletindo na pesquisa, podemos verificar que o absenteísmo
assim no aumento do absenteísmo, sendo uma faz com que toda a equipe seja afetada, indepen-
causa que parte da própria organização. dente do segmento em que a instituição trabalhe.
A importância da chefia na tentativa de melhorar
Uma das consequências para os gestores das o clima organizacional das equipes afetadas pelo
áreas afetadas pelo absenteísmo são as constantes absenteísmo é muito importante. Ela deve ana-
reposições necessárias nas equipes de trabalho, lisar cada pessoa como um ser individual, com
para que as tarefas sejam executadas no tempo cer- cultura diferente e que possui várias experiências
to com a mesma qualidade cobrada pela instituição. profissionais em outras instituições, trazendo uma
bagagem que pode oxigenar a equipe que já está
O absenteísmo é um fenômeno que se não for acostumada aos padrões antigos definidos pela
bem observado, avaliado e controlado pode tra- empresa, como salienta André (2010).
zer consequências negativas para a organização,
pois as ausências de alguns colaboradores aca-
bam sendo supridas por outros que são sobrecar- Mesmo em situações difíceis, como problema
regados de tarefas, interferindo no seu desem- de elevado absenteísmo e/ou clima organizacional
penho, na qualidade dos produtos e serviços, na em baixa na equipe de trabalho, o líder deve saber
produtividade e, consequentemente, nos custos agir com calma nas situações de maior estresse e
(CARDOSO; CARDOSO; SANTOS, 2013, p. 7). conflito, para que o colaborador não se sinta pres-
sionado e, assim, piore o clima na equipe. Muitas
O líder possui grande importância dentro da vezes, o líder acaba por se tornar autoritário, po-
equipe, conforme relatam Silva e Fernandes (2018, dendo inclusive ser mal visto entre os colaborado-
p. 5): res. Conforme Nascimento e Silva (2012, p. 112):

A forma como o líder se posiciona com relação Lideranças autoritárias, exposição pública de de-
a sua equipe de trabalho é importante para que ficiência no desempenho profissional, trabalho
o ambiente seja harmônico, gerando comprome- incompatível com a competência do funcionário,
timento e responsabilidade, uma vez que este ameaças e humilhações constantes, avaliação
posicionamento do líder não seja adequado, e errônea do trabalho realizado, desvalorização dos
cause insegurança e insatisfação, pode interferir resultados, ameaças de transferência ou demis-
diretamente no desempenho dos colaboradores são são comportamentos que chefes e gestores,
e, por sua vez, fazer com que ocorra o absenteís- advindos da sua cultura, promovem no ambien-
mo no grupo. te organizacional e que caracterizam assédio
moral, ou seja, agressões psicológicas bastante
comuns que causam constrangimento, humilha-
3 METODOLOGIA ções, agressões verbais. Essas são atitudes que
abalam o psicológico das pessoas e as adoecem.

A metodologia desta pesquisa foi realizada


através de uma revisão bibliográfica da literatura Analisando as afirmações, pode-se observar
nos sites Scielo, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) que o absenteísmo, unido a um clima organizacio-
e portal CAPES. Definida entre os anos de 2005 e nal negativo, pode influenciar tanto a produtividade
2019, utilizando as palavras-chave: “absenteísmo”, da equipe e do trabalho como interferir na gestão
“equipes”, “liderança”, “gestão de pessoas” e “clima do líder, prejudicando a liderança e toda equipe en-
organizacional”. Durante a pesquisa, foram sele- volvida.

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crescimento pessoal e profissional, pois a cultura


A chefia deve lembrar que a orientação, a organizacional deve ser direcionada para revelar
o potencial criativo dos trabalhadores, criando
motivação e o reconhecimento auxiliam para que
condições para sua participação efetiva no plane-
os objetivos sejam alcançados. As necessidades
jamento de tarefas, nas resoluções de problemas
profissionais, como treinamentos e capacitações, e, sobretudo, nas tomadas de decisões que afe-
devem ser pensadas em alguns casos como situ- tam o bem-estar individual e coletivo.
ações pontuais para atender às necessidades de
colaboradores específicos para que se possa ter Os autores concordam que o clima organi-
resultados mais eficazes. O cultivo de um ambiente zacional reflete na equipe e no absenteísmo. As
de trabalho agradável, o fortalecimento da cultura equipes de trabalho atualmente estão cada vez
organizacional da empresa e a valorização dos co- mais competitivas e algumas vezes é necessário
laboradores podem ajudar a reduzir os índices do que o gestor analise o andamento dos processos
absenteísmo na organização. antes de afetar o clima da equipe. Alguns autores
falam de possíveis técnicas que podem melhorar
Para Silva e Fernandes (2018, p. 7), “[...] não ou amenizar o índice de absenteísmo e do clima
existe a liderança certa ou errada, e sim a ideal organizacional.
para cada situação e momento”, cabe ao líder, com
seu conhecimento, experiência e aprimoramento,
saber identificar qual é a melhor forma de condu- 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
zir a sua equipe de trabalho e ter flexibilidade para
impor cada estilo de acordo com as adversidades As relações profissionais sofrem impactos tan-
do dia a dia, para assim não ocorrer o absenteísmo to pela pressão no cotidiano do trabalho como pela
em sua equipe. influência exercida nas mudanças tecnológicas
que acabam por aumentar as cobranças do ges-
De acordo com André (2010, p. 228), deve-se tor sobre as equipes. Para que a equipe não seja
“priorizar, por meio de um planejamento das metas afetada pelo absenteísmo, é necessário acompa-
diárias, o preparo para reuniões com dados objeti- nhar e analisar as causas de tantas faltas e propor
vos e séries históricas, ouvir seus colaboradores e mudanças nas áreas mais afetadas buscando que
suas bases, estar aberto às novas ideias e refletir o colaborador se sinta motivado e parte da engre-
antes de emitir uma opinião pode ajudar”. nagem que move a estrutura da equipe.

Menezes e Gomes (2010) afirmam que “co- Propor atividades que melhorem o ambiente
nhecer o clima organizacional implicaria, assim, de trabalho e ações preventivas, como reuniões de
investigar fatores individuais, associados direta- suporte terapêutico e ginástica laboral, são ideias
mente aos valores, às necessidades e aos tipos de simples que podem melhorar o clima das equipes.
personalidade dos indivíduos, bem como em anali- Assim, como ter um espaço dedicado ao bem-estar
sar as políticas, as normas e os códigos que repre- do colaborador para que nele possam ser realiza-
sentam a cultura da organização”. das ações e reuniões periódicas para discutir os
processos, as atitudes e os comportamentos das
Já Aguiar e Oliveira (2015) contemplam que equipes para ajudar a esclarecer dúvidas e desfa-
“fortalecer a cultura organizacional é sempre um zer mal-entendidos entre os colaboradores. Propor
caminho para reduzir as taxas de absenteísmo, alguns programas de qualidade de vida aos cola-
pois um ambiente de trabalho agradável motiva o boradores, programas de conscientização sobre
colaborador a cumprir seus horários e funções”. o tema alertando sobre os impactos que refletem
Complementando as ideias dos demais autores nas equipes, analisar planos de carreira a partir de
sobre o clima organizacional, Sachet (2019, p. 11) avaliações de desempenho e assiduidade, assim
afirma que: como promover ações para a melhoria do clima
organizacional entre as equipes, os líderes e os
Partindo deste princípio, observa-se que as rela- gestores podem trazer alguns resultados positivos
ções entre colaboradores precisam ser trabalha-
contra o absenteísmo.
das de forma a atender as suas expectativas de

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REVISTA
UNIASSELVI-PÓS

É preciso engajamento por parte de todos, MENEZES, Igor Gomes; GOMES, Ana Cristina
inclusive participação do gestor dando suporte e Passos. Clima organizacional: uma revisão
motivação à equipe. O planejamento de atividades histórica do construto. Psicologia em Revista,
que propiciem a melhoria no clima e no ambiente Belo Horizonte, v. 16, p. 158-179, 2010.
de trabalho deve ser pensado em grupo fazendo
com que todos se sintam inseridos como peças- PENATTI, Izidro; ZAGO, José Sebastião;
-chave da empresa e da equipe.
QUELHAS, Oswaldo. Absenteísmo: as
consequências na gestão de pessoas. Simpósio
de Excelência em Gestão e Tecnologia, Niterói,
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Nov.2019 Número I Volume 10 Indaial / SC


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UNIASSELVI-PÓS

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UNIASSELVI-PÓS

Artigos
Autores:
Ândrea Regina de Camargo
Educação a Bacharel e Licenciada em Enfermagem. Espe-

Distância Na
cialista em Gestão Pública Municipal – Saúde
Pública. Gestão em Enfermagem e Nefrologia

Área Da Saúde Cleide Camargo


Tecnóloga em Logística. Bacharel e Licenciatura Ple-
na em Administração. Pós-graduada em Logísti-
ca Empresarial. Docência no Ensino Superior
Resumo

O uso da Educação a Distância – EAD – na busca de fontes de informação, realização de pesquisas, acesso à
base de dados de artigos, teses e periódicos, uso de programas de simulação para treinamento de habilidades
e tomada de decisões se tornaram essenciais para o conhecimento dos profissionais da área da saúde. Este
trabalho tem como objetivo identificar a visão dos profissionais da saúde mediante o aprimoramento profissional
por meio da educação a distância. A pesquisa foi de natureza exploratória e descritiva, com abordagem
qualitativa, realizada por meio de uma revisão bibliográfica. Nos resultados foi averiguado diversas facilidades
e dificuldades dos profissionais da saúde mediante o seu aprimoramento profissional por meio da EAD. Assim,
a Educação a Distância ainda é uma prática pedagógica desafiadora a ser colocada como prioridade nas
ações dos profissionais de saúde, assim como o uso das TIC como componente pedagógico também é um
desafio para as instituições de ensino para os docentes e discentes. Na EAD, principalmente com relação
aos profissionais da saúde, é necessário paciência, aceitação, dinamismo e disponibilidade para aprender às
novas ferramentas pedagógicas, visto que ela vem proporcionando ao profissional acesso ao conhecimento
e promovendo a democratização do saber, não apenas pela sua flexibilidade, mas também por possibilitar a
utilização de recursos dentro da própria instituição de trabalho.

Palavras-chave: Educação. Educação a Distância. Saúde. Profissionais de saúde.

1 INTRODUÇÃO De acordo com o Decreto 5.622 (BRASIL,


2005, s.p.), a Educação a Distância – EAD – se ca-
A sociedade tem passado por diversas mudan- racteriza como uma “modalidade educacional onde
ças no campo tecnológico e na democratização do a mediação didático-pedagógica nos processos de
ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de
acesso à educação, o que vem, a partir da adoção
meios e tecnologias de informação e comunicação,
de novas tecnologias voltadas às práticas pedagógi-
com estudantes e professores desenvolvendo ativi-
cas, influenciando as Instituições de Ensino Superior
dades educativas em lugares ou tempos diversos”.
(KARPINSKI et al., 2017). Com o desenvolvimento e
o aprimoramento de novas Tecnologias de Informa- A Educação a Distância se refere a uma moda-
ção e Comunicação (TIC), foi possível estabelecer lidade organizada de autoestudo, supervisionada por
uma interação adequada e efetiva entre os sujeitos do professores que orientam e acompanham a distância
processo de educação formativa, além de promover a todo o desenvolvimento dos alunos, sendo conside-
disseminação de informações e, consequentemente, a rada uma alternativa para a educação continuada,
construção coletiva do aprendizado por meio da me- pela possibilidade de disseminação de informações,
diação tecnológica (NASCIMENTO; VIEIRA, 2016). transposição de barreiras geográficas e otimização
do tempo para o desenvolvimento das atividades
Atualmente, vive-se a era da cultura digital, propostas. Ela possibilita que os profissionais, por
meio dessa modalidade, tenham a oportunidade de
que significa o acesso à rede como um meio de
realizar suas atividades de trabalho simultaneamente
comunicação com o mundo, como um local no qual
com a formação (CERQUEIRA, 2017).
as pessoas aprendem a viver em comunidade, a
cooperarem e se auxiliarem mutuamente, ou seja, No Brasil, a EAD está presente desde 1904,
a aprendizagem colaborativa e a partilha possibi- quando teve início o oferecimento de cursos por
litando a concretização da Educação a Distância correspondência, sendo posteriormente praticada
(SLOMSKI, 2016).

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através do rádio (1923) e da televisão (1961). Nes- no-aprendizagem não apenas pela característica
sa época, o principal enfoque dessa modalidade de de acessibilidade em qualquer tempo e lugar, mas
ensino era a veiculação de cursos de alfabetização principalmente pela multiplicidade de recursos que
e profissionalizantes. Atualmente, possui uma co- oferece, a interatividade e a diversidade de estímu-
notação diferente da praticada anteriormente pelo los (RODRIGUES; PERES, 2008). O aprendizado
fato de destinar-se, principalmente, à formação de através de recursos tecnológicos possibilita a flexi-
adultos em nível de graduação, pós-graduação, ex-
bilidade de uso, a formação de grupos virtuais, mi-
tensão, cursos sequenciais e educação continuada.
nimizam as dificuldades de acesso às bibliografias
e fortalece as discussões (CERQUEIRA, 2017).
O Ministério da Educação (MEC), pela Porta-
ria n° 4.059, de 10 de dezembro de 2004, ofereceu
a possibilidade de as instituições de Ensino Supe- Com os processos de mudança que vêm ocor-
rior credenciadas modificarem o projeto pedagógi- rendo rapidamente nos setores sociais, o setor da
co de seus cursos, de modo que poderão, em até Saúde também vem passando por momentos de
20% das disciplinas e componentes do seu currícu- grandes transformações, em que há a necessida-
lo, utilizar método não presencial (NASCIMENTO; de de recursos humanos que correspondam às
VIEIRA, 2016). necessidades e às demandas do setor. O uso da
EAD na busca de fontes de informação, realização
A partir de 2006, por meio do Decreto 5.800, de pesquisas, acesso à base de dados de artigos,
foi instituído o Sistema Universidade Aberta do teses e periódicos, uso de programas de simulação
Brasil (UAB), objetivando o desenvolvimento e o
para treinamento de habilidades e tomada de deci-
fomento da modalidade de EAD nas Instituições
sões se tornaram essenciais para o conhecimento
Públicas de Ensino Superior, bem como estimular
dos profissionais da saúde.
pesquisas em metodologias inovadoras de Ensino
Superior respaldadas em tecnologias de informa-
ção e comunicação (UAB, 2006). A oportunidade de utilizar a web se tornou con-
dição fundamental para capacitação dos profissionais
A popularização das tecnologias digitais e a da saúde, pois possibilita o aperfeiçoamento profis-
introdução da informática em todos os níveis so- sional constante e de qualidade por meio do acesso
ciais alteraram os modos de comunicação e, nesse a sites de universidades e revistas científicas, além
sentido, a forma de viver em sociedade. A aprendi- de poder entrar em contato com outros profissionais
zagem digital desse novo contexto socioeconômi- para troca de informações e da realização de cursos
co tecnológico, exige do professor, acostumado à a distância (RODRIGUES; PERES, 2008).
mera transmissão na educação, a sua imaginação
criadora para atender às novas demandas sociais
A EAD se tornou uma ferramenta preciosa
de aprendizagem interativa, na qual a mediação
para favorecer o crescimento dos profissionais da
das TIC deixa de ser meramente instrumental para
saúde por meio da disseminação de informações
converter-se em ações de sentimentos, trocas, co-
nhecimentos e, com isso, os indivíduos passam a a partir dos cursos a distância mediados pela inter-
ter a necessidade de desenvolverem outras racio- net, bem como a importância de desenvolver estu-
nalidades, ritmos de vida e relações com os obje- dos na área da educação por meio dela, como re-
tos e com as pessoas (SLOMSKI, 2016). curso para educação continuada dos profissionais
da saúde. Assim, o problema de pesquisa deste
As características que a EAD apresenta con- Trabalho de Conclusão de Curso, visa responder
tribuem claramente para a democratização do à seguinte pergunta: qual a visão dos profissionais
acesso ao conhecimento, amplia os espaços edu- da área da saúde mediante o seu aprimoramento
cacionais e diversifica o processo de aprendiza- profissional por meio da Educação a Distância?
gem (KARPINSKI et al., 2017).
O objetivo geral deste trabalho é: identificar a
visão dos profissionais da saúde mediante o apri-
2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NA SAÚDE moramento profissional por meio da Educação a
Distância, sendo que os objetivos específicos são;
A Educação a Distância tem se mostrado van- conhecer a contribuição da EAD para os profissio-
tajosa como instrumento para processos de ensi- nais da saúde e refletir sobre o seu uso nos pro-

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cessos de ensino-aprendizagem na área da saú- dos, o aluno geralmente é descrito como alguém
de. Para atingir os objetivos propostos, a pesquisa que tem mais de 25 anos, neste caso, observou-
foi de natureza exploratória e descritiva. O estudo -se que a maioria apresenta idade entre 26 a 33
exploratório e descritivo permite compreender de- anos, grande parte trabalha na área relacionada
terminada realidade e fornece subsídios para uma ao objeto de estudo do curso (86%) e o curso de
possível e futura intervenção (GIL, 2010). EAD é importante por contribuir para a capacitação
profissional dos pesquisados (KARPINSKI et al.,
A pesquisa adotou abordagem qualitativa, pois 2017). Uma das grandes facilidades constatadas
o trabalho foi constituído a partir das diversas inter- nos artigos foi a flexibilidade temporal e a quebra
pretações dos artigos e textos explorados, além de das barreiras geográficas, principalmente dos lo-
constar também a apresentação dos dados obtidos, cais distantes dos grandes centros urbanos, onde
visando à compreensão do problema de pesquisa. a pesquisa é fomentada continuamente.
Além disso, a pesquisa qualitativa analisa diver-
sos fenômenos, manifestações, ocorrências, fatos, O avanço das TIC trouxe grandes oportunida-
eventos, vivências, ideias, sentimentos, enfim, as- des de democratização da educação, pois o acesso
suntos que possam representar alguma ação ou às informações pode ser compartilhado em tempo
mudança de comportamento na sociedade. real, mesmo em espaços distintos, assim a incorpo-
ração da EAD contribui para a potencialização dos
Como metodologia foi adotada a Revisão Bi- programas de educação permanente para o aprimo-
bliográfica, desenvolvida com base em material já ramento dos profissionais (SILVA et al., 2015).
elaborado, constituído por fontes secundárias por
meio de livros, trabalhos e artigos científicos. Para Outro aspecto destacado pelos sujeitos que já
a busca dos materiais foram utilizadas as seguin- participaram de qualquer experiência na EAD é que
tes bases de dados: Scielo, Medline, Lilacs e sites o material disponível oferece grande auxílio durante
oficiais do Ministério da Educação, do Ministério da a execução de um curso na modalidade a distância,
Saúde e outras bases eletrônicas que abordam o permitindo, assim, a possibilidade de pesquisa em
tema em questão. Foram adotados os seguintes várias fontes, a facilidade e a agilidade no acesso às
descritores: Educação a Distância; Educação Per- informações, além de facilitar o acesso a materiais
manente; Educação Continuada; Saúde e Profis- bibliográficos (SILVA et al., 2015).
sionais de Saúde. A seleção adotou como critério
de inclusão autores brasileiros e trabalhos com Ainda foi ressaltado como agentes facilita-
estudo que abordam a Educação a Distância para dores a autonomia e a flexibilidade de horários
o aprimoramento dos profissionais da saúde publi- proporcionada pela EAD; os entrevistados enten-
cados entre 2008 a 2019. O próximo tópico deste deram que o aluno é o centro do processo de en-
trabalho abordará o desenvolvimento através dos sino-aprendizagem, pois é ele quem determina o
Resultados e Discussões dos artigos revisados. seu próprio ritmo de estudo e sua forma de fazê-lo.
Também foi ressaltado o aprendizado colaborativo
como uma experiência dos participantes na moda-
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO lidade a distância.

Foram revisados 11 artigos, sendo 6 Scielo, 4 Segundo Macedo et al. (2014), o uso das fer-
Medline e 1 Lilacs, cujos pontos principais foram ramentas educacionais providas pelo ambiente da
divididos para melhor visualização e compreensão teleodontologia tornará o conhecimento mais pró-
do leitor em dois tópicos, classificados em Facilida- ximo, a partir do momento em que será possível a
des e Dificuldades, descritos a seguir. intercomunicação rápida e eficiente entre os profis-
sionais da saúde. Considerando o cenário repleto
de desafios para a construção e consolidação do
3.1 FACILIDADES SUS, o avanço nas iniciativas de EAD na área da
saúde é fundamental para ampliar o acesso a uma
Os discentes que estudam na EAD geralmen- formação de qualidade em estados com as gran-
te são adultos, 50% dos respondentes são casa- des dimensões territoriais (PAIM, 2008).

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A enfermagem, principalmente, é considerada dizagem estejam em evidência, as mídias ainda


por muitos uma profissão essencialmente prática, são vistas com restrições por muitos educadores,
porém, esse fato não se opõe à utilização da EAD tanto pelo contexto em que nasceram como pelo
como forma ou meio para viabilizar a educação con- receio com relação a seu desempenho, pela falta
tinuada através da realização de cursos livres, de de condições de ensino e a disponibilidade desses
extensão e pós-graduação. De acordo com Rodri- recursos nas Instituições de Saúde em que atuam
gues e Peres (2008), o espaço virtual permite reunir
(SLOMSKI, 2016).
e integrar diversas mídias com finalidades diferen-
tes, possibilitando a criação de atividades variadas
O uso otimizado dos recursos tecnológicos
e multifacetadas, podendo ser utilizados recursos
diversos, como áudios, vídeos e hipertextos, para requer uma política de inclusão digital dos grupos
recriar a realidade, oferecendo oportunidades de envolvidos, a fim de promover interação, sociali-
experimentação prática por parte do aluno sem que zação e conversações que deem vazão à comu-
este coloque em risco a vida de um paciente real. nicação dialógica e à construção colaborativa do
conhecimento na educação superior a distância
Segundo pesquisa realizada por Silva et al. (SLOMSKI, 2016).
(2016), é importante destacar que, ao incorporar o
EAD nos programas de saúde, se alcança um gran- Além disso, deve-se considerar que nem to-
de número de trabalhadores capacitados e, assim, dos os profissionais possuem habilidades para a
temos o desenvolvimento de profissionais com pos- utilização de ferramentas virtuais, de modo que é
tura crítico-reflexiva e comprometidos com a quali-
necessária a instrução destes mediante o desen-
dade no desenvolvimento das práticas de saúde.
volvimento de competências para assimilação das
novas tecnologias. Para tanto, é preciso uma co-
As mídias sociais têm sido utilizadas em di-
versos contextos como forma de dinamizar o fluxo municação efetiva com os tutores. Para o alcance
de dados e informações para a tomada de decisão, dessas competências, necessita-se de conheci-
contribuindo para a questão da produção do co- mento para utilizar as novas tecnologias da infor-
nhecimento em redes e a ampliação dos canais de mação e comunicação, não apenas como meios
comunicação para acesso aos serviços de saúde de melhorar a eficiência dos sistemas, mas, prin-
(PINTO; ROCHA, 2016). cipalmente, como ferramentas pedagógicas efeti-
vamente a serviço dos profissionais que atuam na
saúde (SILVA et al., 2017), visto que uma das dis-
3.2 DIFICULDADES cussões centrais na EAD se relaciona à mediação
pedagógica enquanto aspecto inerente à prática
Foram encontradas nos artigos revisados difi- da docência e, na maioria das vezes, responsável
culdades em aceitar ou cursar a EAD com o mes- pela aprendizagem.
mo nível de qualidade que a educação presencial,
alguns, por medo da inovação e da mudança de O professor que atua na EAD necessita repen-
papéis dos agentes educacionais; outros, por pre- sar a sua prática pedagógica, pois existem situações
conceito ou por acreditar que a Educação a Dis- que exigirão domínio de outras habilidades e com-
tância é um caminho mais fácil para obtenção do petências, como a interatividade virtual, que passa a
diploma (NASCIMENTO; VIEIRA, 2016). ser um recurso fundamental para o aprendizado na
EAD. A interatividade virtual também se apresentou
Na área de saúde, em particular na área de como um fator de dificuldade, porém decisivo para a
enfermagem, a consolidação das estratégias do satisfação dos estudantes. Os entrevistados apon-
ensino a distância ainda é pequena, principalmente taram sentir a necessidade de se comunicar com
por ser esta uma profissão que requer o exercício o professor utilizando a linguagem escrita, porém,
da prática; muitos discentes e docentes questio- quando utilizaram essa linguagem, alegaram não
nam como seria a utilização da EAD. serem compreendidos (SILVA et al., 2017).

Muitos educadores ainda sentem dificuldade Em pesquisa realizada por Coelho, Azeve-
no manejo das TIC. Embora os benefícios das no- do e Tedesco (2017), por meio da análise fatorial
vas tecnologias para o processo de ensino-apren- de um questionário aplicado aos participantes de

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uma conferência sobre EAD, os pesquisadores ção a Distância se tornou uma oportunidade única e
identificaram três fatores relacionados à satisfa- democrática com relação à educação.
ção dos participantes, sendo a presença social o
fator de maior impacto, contribuindo com 60% da Ficou evidente nos artigos que mesmo a área
variân­cia, seguido por percepção de oportunidades da saúde possuindo profissões extremamente vol-
iguais (equidade), com 7%, e, por fim, habilidades tadas à parte prática, é possível o desenvolvimen-
técnicas, com apenas 4%. Dessa forma, quanto to de ações educacionais práticas e interativas por
maior o nível de presença social percebido pelos meio da Educação a Distância, que, permeada
participantes, maior a sua satisfação com o even- pelo uso das tecnologias da informação e da co-
to e melhor a qualidade do processo de ensino- municação, vem proporcionando ao profissional
-aprendizagem, pois a criação de um alto grau de acesso ao conhecimento e promovendo a demo-
presença social pode promover estratégias mais cratização do saber, não apenas pela sua flexibili-
parecidas com aquelas dos cursos presenciais e, dade, mas também por possibilitar a utilização de
assim, tornar o ambiente virtual de aprendizagem recursos dentro da própria instituição de trabalho.
mais familiar aos estudantes, criando um clima de
aprendizagem mais positivo e melhorando a expe-
riência global de aprendizagem. REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 5.622, de 19 de


4 CONSIDERAÇÕES FINAIS dezembro de 2005. Regulamenta o art.
80 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
A Educação a Distância ainda é uma prática 1996, que estabelece as diretrizes e bases
pedagógica desafiadora a ser colocada como prio- da educação nacional. Disponível em:
ridade nas ações dos profissionais de saúde, haja http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/
vista pelo número restrito de apenas 16 artigos dec_5622.pdf. Acesso em: 15 nov. 2014.
acadêmicos encontrados na pesquisa bibliográfica.
CERQUEIRA, D. B. Construção e
validação de ambiente virtual de ensino-
Na EAD, principalmente com relação aos pro-
aprendizagem a distância sobre cirurgia
fissionais da saúde, é necessário paciência, aceita-
segura. Dissertação. Universidade Estadual
ção, dinamismo e disponibilidade para aprender às
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade
novas ferramentas pedagógicas, visto que ela vem
de Medicina de Botucatu. Botucatu, 2017.
proporcionando ao profissional acesso ao conheci-
mento e promovendo a democratização do saber,
COELHO, W. G. C.; AZEVEDO, P. C.;
não apenas pela sua flexibilidade, mas também TEDESCO, R. A percepção do outro no
por possibilitar a utilização de recursos dentro da ambiente virtual de aprendizagem: presença
própria instituição de trabalho. É necessário que os social e suas implicações para Educação a
docentes e, principalmente, os gestores de saúde Distância. Revista Brasileira de Educação,
se reorganizem para a utilização de recursos mul- Rio de Janeiro, v. 22, n. 70, jul./set. 2017.
tididáticos voltados ao uso da EAD, evidenciando
a importância da formação e atualização destes GIL, A. C. Como elaborar projetos de
profissionais quanto ao uso das TIC, ressaltando pesquisa. São Paulo: Atlas, 2010.
técnicas para a interatividade e a troca de experi-
ências entre os profissionais. KARPINSKI, J. A. et al. Fatores críticos para o
sucesso de um curso em EAD: a percepção
Mesmo com diversas dificuldades apresenta- dos acadêmicos. Avaliação, Campinas,
das nas pesquisas com relação à EAD, é importante Sorocaba, SP, v. 22, n. 2, p. 440-457, jul. 2017.
ressaltar que o aprimoramento profissional é essen-
cial para a área da saúde, visto que muitos profissio- MACEDO, M. C. S. et al. Tele odontologia
nais, pelo acúmulo das jornadas de trabalho ou pe- no processo de divulgação e implementação
las barreiras geográficas não conseguem participar de Bancos de Dentes Humanos. Revista da
de cursos, não se atualizam, dessa forma, a Educa- ABENO, Londrina, v. 14, n. 1, p. 30-37, 2014.

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NASCIMENTO, J. P. R.; VIEIRA, M. G. Os SILVA, A. K. L. et al. Impedimentos de Trabalho


desafios da institucionalização do ensino na EAD. Psicologia: Ciência e Profissão,
superior na modalidade a distância: a visão v. 37, n.3, p. 683-696, jul. set. 2017.
dos gestores de uma universidade federal.
Ensaio: Aval. Pol. Pub. Educ., Rio de Janeiro, SILVA, T. C. et al. Percepções de
v. 24, n. 91, p. 308-336, abr./jun. 2016. estudantes de enfermagem sobre educação
a distância. Ciência Y Enfermeria,
PAIM, M. C. Projeto EAD SUS/BA: incorporação Brasília, v. 22, n. 2, p. 129-139, 2016.
do ensino a distância aos processos de educação
permanente para profissionais do Sistema Único SILVA, A. N. et al. Limites e possibilidades
de Saúde do Estado da Bahia. 2008. Disponível do ensino a distância (EAD) na educação
em: http://www.abed.org.br/congresso2008/ permanente em saúde: revisão integrativa.
tc/511200815733AM.pdf. Acesso em: 22 set. 2019. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro,
v. 20, n. 4, p. 1099-1107, 2015.
PINTO, L. F.; ROCHA, C. M. F. Inovações na
atenção primária em saúde: o uso de ferramentas SLOMKI, V. G. et al. Tecnologias e mediação
de tecnologia de comunicação e informação para pedagógica na educação superior a distância.
apoio à gestão local. Ciência & Saúde Coletiva, JISTEM, v. 13, n. 1, p. 131-150, jan. /abr. 2016.
Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 1433-1448, 2016.
UAB-UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL.
RODRIGUES, R. C. V. R.; PERES, H. Informações da Universidade Aberta.
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Indaial / SC Volume 10 Número I Nov.2019


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REVISTA
UNIASSELVI-PÓS

Artigos
Fim da Conjugalidade: Samantha Sabrine dos Santos
Autores:

O Dano Moral Nos Bacharel pela Universidade Re-


gional de Blumenau - FURB
Casos De Infidelidade E-mail: samantha-sabrine@hotmail.com
Patrícia Fontanella
Conjugal Doutora pela Universidade de Lisboa - FDUL
E-mail: patricia.fontanella@unisul.br

Resumo

O presente artigo tem como objeto de estudo a responsabilidade civil no Direito de Família, especificamente
quanto às questões sobre a extinção da conjugalidade pela não observância do dever de fidelidade recíproca,
disposto no artigo 1.566 do Código Civil brasileiro. Por meio da análise jurisprudencial, comparativa e doutrinária,
sobre o tema, foi estabelecido um script padrão dos casos em que a infidelidade ultrapassou a esfera do mero
aborrecimento e causou efetiva lesão ao direito constitucional à personalidade gerando, por conseguinte, o
dever de indenizar.
Palavras-chave: Direito de Família. Infidelidade conjugal. Responsabilidade Civil. Dano moral.

1 INTRODUÇÃO culpa, mas não os suprimiu de todo. A Lei 11.106


de 2005 descriminalizou o crime de adultério e com
Por aproximadamente 86 anos, durante a vi- o advento da Emenda Constitucional nº 66 de 13
gência do Código Civil de 1916, muito se falou em de julho de 2010, qualquer discussão acerca da
culpa nas relações conjugais, principalmente por culpa para fins de concessão da separação ou do
se tratar de um fator predeterminante à concessão divórcio no Brasil foi abolida.
do desquite, uma das três possibilidades previstas
no diploma legal para pôr fim à sociedade conju- Não havendo mais “cônjuge culpado” e “côn-
gal1, que, por sua vez, também tinha um rol taxa- juge inocente” para fins de ruptura da conjugalida-
tivo de motivos2, em que todos, necessariamente, de, traz-se a discussão de culpa, desta vez, sob
pressupunham a discussão de culpa. outro aspecto: a responsabilidade civil e o dano
moral fundamentado no descumprimento dos de-
A relevância da culpa nas questões relacio- veres conjugais.
nadas ao fim da conjugalidade começou a ser
amenizada pela Lei 6.515 de 1977, que instituiu a Ocorre que o casamento, assim como as de-
separação judicial e regulamentou a ruptura do ca- mais relações interpessoais, também está sujeito ao
samento por meio do divórcio. O Código Civil de “instituto da responsabilidade civil” (VENOSA, 2017,
2002, acompanhando o contexto social e a evolu- p. 439). O próprio Superior Tribunal de Justiça já se
ção jurisprudencial, reduziu bastante os efeitos da posicionou no sentido de que não há óbice para a

1 Art. 315 do Código Civil de 1916. A sociedade conjugal termina: I - Pela morte de um dos cônjuges. II - Pela nulidade
ou anulação do casamento. III - Pelo desquite, amigável ou judicial. Parágrafo único. O casamento valido só se dissolve
pela morte de um dos cônjuges, não se lhe aplicando a presunção estabelecida neste Código, art. 10, segunda parte.

2 Art. 317 do Código Civil de 1916. A ação de desquite só se pode fundar em algum dos seguintes motivos: I - Adultério.
II - Tentativa de morte. III - Sevícia, ou injúria grave. IV - Abandono voluntário do lar conjugal, durante dois anos contínuos.

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aplicação das regras gerais de responsabilidade O cenário político da época era instável. O
civil no âmbito familiar3, principalmente quando as Brasil passava de Império à República e a influên-
situações apresentadas fogem da habitualidade e cia da Igreja Católica ainda era muito sentida na
causam algum ferimento psíquico e moral no côn- sociedade, principalmente nas relações matrimo-
juge lesado, alvejando diretamente o direito consti- niais (LAUX, 2001). Ainda que diante deste con-
tucional à dignidade humana, cuja proteção está po- texto, a primeira impressão não pareça favorável,
sitivada na proteção aos direitos da personalidade o Decreto n. 181 logrou êxito em regulamentar o
prevista no art. 11 e seguintes do Código Civil. casamento civil de uma forma notavelmente com-
pleta, abrangendo diversas situações que hoje,
Este trabalho visa, por meio de análise juris- 129 anos depois, permanecem no ordenamento
prudencial e da doutrina contemporânea, verificar jurídico brasileiro.
quais os critérios em que o descumprimento dos
deveres conjugais, notadamente o de fidelidade, o As primeiras noções de culpa e sua relevância
qual tem sido considerado gerador de dano moral dentro do Direito de Família estão intimamente re-
e, consequentemente, reconhecido o dever de re- lacionadas à instituição do casamento civil, especi-
paração civil para com o cônjuge lesado. ficamente quanto ao fim do casamento, e foi exata-
mente com referido decreto que surgiram as figuras
do “cônjuge culpado” e do “cônjuge inocente”, pre-
2 A CONTEXTUALIZAÇÃO DA CULPA conizando, assim, caso ocorresse o fim da socie-
NO DIREITO DE FAMÍLIA dade conjugal, salvo por mútuo consenso, teria de
haver necessariamente um responsável (art. 82)4.
O Decreto n. 181 de 24 de janeiro de 1890,
promulgado pelo Marechal Manoel Deodoro da No Código Civil de 1916, os direitos e deve-
Fonseca, “Chefe do Governo Provisório da Repú- res de ambos os cônjuges estavam expressamen-
blica dos Estados Unidos do Brasil”, foi a primeira te previstos, tanto de maneira genérica ao casal,
lei brasileira que efetivamente instituiu e regula- como se verifica no artigo 2315, como de forma es-
mentou o casamento civil, separando a Igreja do pecífica ao marido (Capítulo II), e à mulher (Capí-
Estado, substituindo a jurisdição eclesiástica pela tulo III), esclarecendo que o não cumprimento das
civil (LAUX, 2001). normas ensejaria ao outro cônjuge o direito de re-
querer o desquite.

3 Civil e processual civil. Família. Abandono afetivo. Compensação por dano moral. Possibilidade. 1. Inexistem restrições
legais à aplicação das regras concernentes à responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar/compensar no
Direito de Família. 2. O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento jurídico brasileiro não
com essa expressão, mas com locuções e termos que manifestam suas diversas desinências, como se observa do
art. 227 da CF/88. 3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida implica em se reconhecer a
ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque o non facere, que atinge um bem juridicamente tutelado,
leia-se, o necessário dever de criação, educação e companhia - de cuidado - importa em vulneração da imposição legal,
exsurgindo, daí a possibilidade de se pleitear compensação por danos morais por abandono psicológico. 4. Apesar das
inúmeras hipóteses que minimizam a possibilidade de pleno cuidado de um dos genitores em relação a sua prole, existe
um núcleo mínimo de cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos
quanto à afetividade, condições para uma adequada formação psicológica e inserção social. 5. A caracterização do
abandono afetivo, a existência de excludentes ou, ainda, fatores atenuantes - por demandarem revolvimento de matéria
fática - não podem ser objeto de reavaliação na estreita via do recurso especial. 6. A alteração do valor fixado a título de
compensação por danos morais é possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal
de origem revela-se irrisória ou exagerada. 7. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 1159242/SP, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/04/2012, DJe 10/05/2012, grifo nosso).

4 Art. 82 do Decreto n. 181 de 24 de janeiro de 1890. O pedido de divórcio só pôde fundar-se em algum dos seguintes
motivos: § 1º Adultério. § 2º Sevícia, ou injúria grave. § 3º Abandono voluntário do domicílio conjugal e prolongado por dois
anos contínuos. § 4º Mútuo consentimento dos cônjuges, se forem casados há mais de dois anos.

5 Art. 231. São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca; II - vida em comum, no domicílio conjugal (arts.
233, IV, e 234); III - mútua assistência; IV - sustento, guarda e educação dos filhos.

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O desquite, por sua vez, era uma das três for- desquite, a mudança do regime legal de comunhão
mas possíveis previstas para colocar fim à socie- universal de bens para a comunhão parcial de bens,
dade conjugal, sem, no entanto, dissolvê-la, já que entre outros. No que tange à culpa, a perda do inte-
até o ano de 1977 o casamento era indissolúvel, resse pela discussão já começa a dar sinais sutis:
conforme previsão constitucional. As outras duas nos 54 artigos sancionados, em nenhum há menção
possibilidades tratavam-se da morte de um dos da palavra “culpa”, tampouco foram feitas referência
cônjuges, única hipótese em que o casamento se- às expressões “cônjuge culpado” e “cônjuge inocen-
ria dissolvido, e da anulação do casamento6. te”; em contrapartida, nota-se que o legislador, em
alguns artigos, substituiu a palavra culpa pela ex-
Diversos artigos do Código Civil de 1916 po- pressão “dar causa”, quando faz referência ao mo-
dem ser citados como exemplos claros do dese- tivo que ensejou o fim da conjugalidade.
quilíbrio entre cônjuge culpado e cônjuge inocente
dentro do processo de desquite: o artigo 320 que A linha temporal nos leva ao Código Civil de
preconizava que somente a mulher inocente teria 2002; no entanto, é necessário mencionar que a
direito à prestação alimentícia; os artigos 321 e o Constituição Federal de 1988 incorporou em seu
326 que oneravam o cônjuge culpado com a pres- texto a novidade trazida pela EC n. 9 de 28 de junho
tação alimentícia dos filhos naquele e neste com a de 1977, fazendo constar no artigo 26, §6º: “O casa-
perda da guarda em favor do cônjuge inocente. mento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após
prévia separação judicial por mais de um ano nos
Conforme o artigo 324, a perda do direito de casos expressos em lei, ou comprovada separação
usar o nome do marido dava-se ao fato de a mu- de fato por mais de dois anos.”7, e a Lei 7.841 de 17
lher ser condenada na ação de desquite, o 232 que de outubro de 1989, haja vista sua contribuição para
abordava a culpa quanto à anulação do casamento, a desconstrução da culpa na sociedade conjugal.
e os artigos 304, 306 e 307 quanto aos bens dotais.
A Lei 7.841/89 deu nova redação ao caput do
A relevância da culpa nas questões atinen- artigo 40 da Lei 6.515/77 para, nos casos da con-
tes ao fim da conjugalidade iniciou seu descenso versão da separação judicial em divórcio, excluir a
no ano de 1977, em que, nas palavras de Tartu- necessidade de comprovar a causa da separação,
ce (2018, p. 9), “vivificamos a grande revolução do restando apenas a comprovação do lapso temporal:
Direito de Família” do século XXI: primeiro com a
Emenda Constitucional n. 9 de 28 de junho que Redação do caput do artigo 40 antes da Lei
alterou o texto constitucional, a fim de que o ca- 7.841/89 - No caso de separação de fato, com
início anterior a 28 de junho de 1977, e desde que
samento não fosse mais tido como indissolúvel, e,
completados 5 (cinco) anos, poderá ser promovida
posteriormente, com a Lei 6.515 de 26 de dezem- ação de divórcio, na qual se deverão provar o
bro do mesmo ano, um importante marco para o decurso do tempo da separação e a sua causa.
casamento civil, pois, após quase um século desde Nova redação do caput do artigo 40 - No caso
que foi instituído, somente nessa oportunidade é de separação de fato, e desde que completados
que surgiu a possibilidade de se dissolver a socie- 2 (dois) anos consecutivos, poderá ser promovida
ação de divórcio, na qual deverá ser comprovado
dade conjugal por outro modo que não a morte de
decurso do tempo da separação (grifo nosso).
um dos cônjuges: o divórcio.

Assim, é de fácil constatação a perda progres-


A Lei 6.515/77 trouxe mudanças consideráveis
siva do interesse pela discussão da culpa sobre o
ao Código Civil de 1916: o divórcio, a extinção do

6 Art. 315. A sociedade conjugal termina: I- Pela morte de um dos cônjuges. II- Pela nulidade ou anulação do
casamento. III- Pelo desquite, amigável ou judicial. Parágrafo único. O casamento válido só se dissolve pela morte de um
dos cônjuges, não se lhe aplicando a presunção estabelecida neste Código, art. 10, segunda parte.

7 Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.


[...] § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos
expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos. [...]

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fim da conjugalidade, pois, o próprio legislador foi Conforme o menor prestígio da culpa nas
aos poucos se desvinculando do dogma, nas pala- questões que versam sobre o fim da conjugalida-
vras de Madaleno (2017, p. 78): de, tem-se a Lei 11.106 de 28 de março de 2005
que não alterou propriamente o Código Civil, mas
Mostra a trajetória processual brasileira que cada revogou o artigo 240 do Código Penal, descrimina-
vez interessava menos ao Direito ocupar-se em lizando o adultério, e finalmente, a Emenda Consti-
longos embates jurídicos da pesquisa da culpa
tucional n. 66 de 13 de julho de 2010 que extinguiu
pela derrocada nupcial. A visão moderna do
casamento, que prioriza a dignidade da pessoa, de vez as “causas subjetivas (culpa) e objetivas
não podia mais permitir vazios conflitos internos de (tempo)”9 para dissolução da sociedade conjugal,
ponderação da dignidade conjugal, sugerindo que tornando o divórcio “limpo e direto, que não exige
a pesquisa da culpa gerasse a responsabilidade prova alguma que não seja a da existência do ca-
social e jurídica pelo fim do amor. samento” (MADALENO, 2017).

O Código Civil de 2002, publicado 86 anos Traçada a linha cronológica da culpa no Direi-
após a publicação do primeiro Código Civil brasilei- to de Família, partindo do ponto de maior prestí-
ro, em 1916, na parte especial sobre Direito de Fa- gio ao de menor prestígio, o inconformismo reside
mília, é caracterizado pelo compilado das normas no seguinte fato: se a discussão de culpa não tem
anteriores. Algumas questões provenientes do Có- mais relevância para o fim da conjugalidade, por
digo Civil de 1916 ainda permaneceram, outras fo- que os deveres conjugais permaneceram no orde-
ram alteradas, de toda forma, a relevância da culpa namento jurídico?
seguiu perdendo força principalmente pela maior
flexibilidade dada aos cônjuges de pôr fim à vida A fidelidade recíproca, por exemplo, é um de-
conjugal. Um destes exemplos é o artigo 1.573 do ver conjugal expresso no artigo 1.566 do Código
Código Civil atual que trouxe um rol exemplificativo Civil e também um dos “pilares da sociedade mo-
de motivos que podem vir a tornar insustentável a nogâmica”; no entanto, a não observância desse
comunhão de vida8, ao contrário do que acontecia dever, ou seja, a infidelidade, embora eivada de
com o Código Civil de 1916, onde o rol das causas reprovabilidade social, não tem relevância jurídi-
que poderiam ensejar o desquite era taxativo, sem ca para o Direito. A infidelidade conjugal por si só
margem para interpretações (artigo 317). passou a ser tratada como uma “vicissitude da vida
em sociedade” e, então, o cônjuge traído poderá,
Sobre o que não alterou, é de suma importân- tão somente, requerer a separação ou o divórcio;
cia destacar os deveres conjugais. O que antes es- Diz-se “tão somente” porque o casamento, em que
tava no artigo 231 daquele código, passou a com- pese se tratar de um contrato especial de Direito
por o artigo 1.566 deste, com a pequena inclusão de Família, não se pode executá-lo como ocorre
de um inciso: com as obrigações comuns.

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:


Ocorre que o histórico evolutivo do Direito de
I – Fidelidade recíproca;
II – Vida em comum, no domicílio conjugal; Família acompanhado pelas mudanças sociais la-
III – Mútua assistência; tentes, que interferem diretamente nas leis e vice-
IV – Sustento, guarda e educação dos filhos; -versa, não resultaram na obsolescência da culpa,
V – Respeito e consideração mútuos (grifo mas na análise da culpa sobre outro enfoque: a
nosso). responsabilidade civil e a possibilidade de se ob-
ter indenização pelos danos morais causados pelo

8 Art. 1.573 do Código Civil de 2002. Podem caracterizar a impossibilidade da comunhão de vida a ocorrência de algum
dos seguintes motivos: I - adultério; II - tentativa de morte; III - sevícia ou injúria grave; IV - abandono voluntário do lar
conjugal, durante um ano contínuo; V - condenação por crime infamante; VI - conduta desonrosa. Parágrafo único. O juiz
poderá considerar outros fatos que tornem evidente a impossibilidade da vida em comum.

9 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Divórcio: Alteração constitucional e suas consequências. Disponível em: http://www.ibdfam.org.
br/artigos/629/novosite. Acesso em: 18 ago. 2019.

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cônjuge que, ao não cumprir com os deveres con- quantum indenizatório é o valor da coisa atingida10,
jugais previstos no Código Civil, deu causa ao fim diferentemente do que ocorre quanto ao bem ima-
do relacionamento. terial, moral ou extrapatrimonial. O dano moral ca-
racteriza-se pela afetação psíquica e moral, a ofen-
sa à honra, privacidade, intimidade, nome e até à
3 O INSTITUTO DA própria imagem da pessoa física ou jurídica11.
RESPONSABILIDADE CIVIL
Neste sentido, conforme Gonçalves (2009, p. 359):
“Todo e qualquer ato realizado por alguém,
seja intencional ou não, ainda que tenha caráter Dano moral é o que atinge o ofendido como pes-
omissivo, gera alguma consequência” (MODRO, soa, não lesando seu patrimônio. É lesão de bem
que integra os direitos da personalidade, como a
2016, p. 11), e é junto a quando a consequência
honra, a dignidade, intimidade, a imagem, o bom
resulta em dano que é aplicada a responsabilida- nome etc., como se infere dos art. 1º, III, e 5º, V e
de civil. Em poucas e renomadas palavras, tem-se X, da Constituição Federal, e que acarreta ao lesa-
que o instituto da responsabilidade civil busca “[...] do dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação.
restaurar um equilíbrio patrimonial e moral violado”
(VENOSA, 2017, p. 437), sendo o interesse em Existe divergência doutrinária quanto ao con-
restabelecer este equilíbrio à fonte geradora da ceito de dano moral. Enquanto alguns doutrinado-
responsabilidade civil (DINIZ, 2013). res conceituam o dano moral como a lesão em si,
como é o caso de Gonçalves, citado anteriormente,
Ainda nas palavras de Diniz (2013, p. 51), “a outros conceituam o dano moral como o efeito da
responsabilidade civil é a aplicação de medidas lesão. Segundo Modro (2016, p. 12), “dano moral,
que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou portanto, é a dor resultante da violação de um bem
patrimonial causado a terceiros, em razão de ato juridicamente tutelado”.
por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela
responde, por alguma coisa a ela pertencente ou Segundo Modro (2016), dano moral difere do
de simples imposição legal”. dano patrimonial também no quesito quantum de-
beatur, pois, existindo entendimentos jurispruden-
A busca pelo statu quo ante ou a compensa- ciais semelhantes sobre dano moral, envolvendo
ção de natureza indenizatória do que não pode ser similitude fática a que foi atribuída determinada
efetivamente reparado ou restabelecido depende quantia a título de indenização, perfazendo uma
da natureza do bem lesado, que pode ser material espécie de script padrão de “causa/consequên-
ou imaterial. A lesão ao bem material (patrimonial) cia”, o dano moral é essencialmente subjetivo, não
é de fácil constatação e mensuração porquanto existindo uma medida econômica preestabelecida,
afeta coisas precificadas, sendo que, em regra, o (Súmula 281/STF)12. Para alguns doutrinadores, o

10 Apelação cível. Ação de cobrança. Furto de veículo. Seguro acionado. Cobertura negada. Procedência parcial na
origem. Insurgência recursal. Alegação de ausência de garantia contratual. Evento não previsto na apólice. Fato avaliado
como apropriação indébita. Irrelevância da conceituação dada ao evento delituoso. Relação de consumo. Dever de
indenizar reconhecido. Nos casos de contrato de seguro de veículo automotor, verificada a perda da coisa segurada,
pouco importa a tipificação dada ao crime do qual o segurado é vítima, de modo que deve a seguradora cumprir com sua
obrigação de indenizar o segurado. Dano material. Quantum indenizatório. Excesso verificado. Adequação ao valor de
mercado do bem evidenciado nos autos. A indenização deve sempre se dar da forma mais ampla, a fim de que a reparação
seja integral. Lucros cessantes. Ausência de prova sobre a destinação comercial do veículo e dos valores que deixou
de auferir. Pedido indenizatório afastado. "indemonstrado o uso comercial do veículo para fins de transporte de cargas,
improcede a pretensão de lucros cessantes por sua paralisação, pois a prova da sua destinação econômica constitui
o fato constitutivo do direito do autor (art. 333, I, CPC)" (apelação cível n. 2010.081269-5, de xaxim, rel. Des. Monteiro
rocha, julgada em 9-5-2012). Recurso conhecido e parcialmente provido. (TJSC, Apelação Cível n. 2010.075474-0, da
capital, rel. Des. Jairo Fernandes Gonçalves, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 16-08-2012, grifo nosso).

11 Súmula nº 227/STJ. A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

12 Súmula nº 281/STF. A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na Lei de Imprensa.

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valor fixado deverá atender a três finalidades: ca- so ordenamento jurídico pelo parágrafo único do
ráter compensatório, caráter punitivo/dissuasório, artigo 927 do Código Civil: “Haverá obrigação de
caráter exemplar/pedagógico (MELO apud DINIZ, reparar o dano, independentemente de culpa, nos
2013), e para o Superior Tribunal de Justiça, con- casos especificados em lei, ou quando a atividade
forme entendimento uniformizado13, deve-se obser- normalmente desenvolvida pelo autor do dano im-
var o caráter bifásico para fixação de indenizações plicar, por sua natureza, risco para os direitos de
por dano moral.14 outrem”. No tocante à responsabilidade civil sub-
jetiva, adotada majoritariamente pelo ordenamento
Consoante é o entendimento do Egrégio Tri- jurídico brasileiro, é imprescindível a comprovação
bunal de Justiça de Santa Catarina15: da culpa em sentido estrito ou do dolo para que
surja o dever de indenizar (DINIZ, 2013), sendo as-
[...] A reparação pecuniária envolvendo o cons- sim, aquele a que der causa, mediante apuração
trangimento moral deve sempre ser estabelecida do ato ilícito, nexo causal, dano e culpa (leia-se
de molde a impor coerente e estreita equivalência
culpa ou dolo), estará obrigado por lei a reparar a
entre o montante indenizatório e o interesse jurídi-
co lesado. Exatamente por isso, não se deve atri- ofensa (artigo 927, caput, do Código Civil).
buir cifra que resulte em um ganho extraordinário e
desproporcional, tampouco impor minguado valor, Pois bem, estabelecida a definição de dano
dissonante do prejuízo experimentado. A razoabi- moral, diversas são as indagações que cingem o
lidade, à luz das especificidades do fato, das con- tema: a comprovação da existência e a extensão
dições das partes envolvidas, da intensidade do
do dano, a precificação da lesão psíquica, o enri-
dano e da sua repercussão, é que deve tutelar o
respectivo arbitramento. (TJSC, Apelação Cível n. quecimento sem justa causa de quem pleiteia, a
0038134-22.2012.8.24.0038, de Joinville, rel. Des. eficácia da pecúnia como compensação, entre ou-
Jorge Luis Costa Beber, Segunda Câmara de Di- tras, mas uma indagação em especial é de suma
reito Civil, j. 08-08-2019). importância à discussão do dano moral no Direito
de Família: a distinção da efetiva lesão ao direito à
Quanto ao fundamento, tem-se a responsa- personalidade do mero aborrecimento.
bilidade civil objetiva e a subjetiva (DINIZ, 2013).
Naquela não há a discussão de culpa, refere-se à Sabe-se que o mero aborrecimento, o “dissa-
culpa no sentido amplo, pois o dever de reparar in- bor cotidiano”, não gera danos morais passíveis
depende da comprovação de culpa ou dolo, sendo de indenização. Entende-se que meros aborre-
baseada na Teoria do Risco, incorporada em nos- cimentos fazem parte da vida em sociedade, são

13 STJ. NOTÍCIAS. O método bifásico para fixação de indenizações por dano moral. Disponível em: http://www.stj.jus.
br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias-antigas/2018/2018-10-21_06-56_O-metodo-bifasico-para-fixacao-de-
indenizacoes-por-dano-moral.aspx. Acesso em: 21 ago. 2019.

14 “[...] as Turmas da Seção de Direito Privado do STJ, em razão da dificuldade de se sistematizar parâmetros objetivos,
vem uniformizando a adoção do critério bifásico para garantir o arbitramento equitativo da quantia indenizatória,
valorados o interesse jurídico lesado e as circunstâncias do caso, minimizando eventual arbitrariedade ao se adotar
critérios unicamente subjetivos do julgador, além de afastar eventual tarifação do dano”. (AgInt no AREsp 900.932/MG,
Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/02/2019, DJe 27/02/2019, grifo nosso).

15 Apelação cível. Ação declaratória de inexistência de débito e cancelamento de registro nos sistemas de proteção
ao crédito c/c indenização por dano material e moral. Sentença de parcial procedência. Inconformismo da demandada.
Responsabilidade civil. Inscrição indevida nos cadastros de proteção ao crédito. Ausência de dívida. Ato ilícito incontroverso.
Dano moral in re ipsa. Prejuízo presumido. Precedentes. Pedido de minoração do quantum indenizatório. Viabilidade.
Necessidade de observância aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade. Redução imperiosa. Acolhimento do
recurso no ponto. Recurso conhecido e parcialmente provido. A reparação pecuniária envolvendo o constrangimento
moral deve sempre ser estabelecida de molde a impor coerente e estreita equivalência entre o montante indenizatório
e o interesse jurídico lesado. Exatamente por isso, não se deve atribuir cifra que resulte num ganho extraordinário e
desproporcional, tampouco impor minguado valor, dissonante do prejuízo experimentado. A razoabilidade, à luz das
especificidades do fato, das condições das partes envolvidas, da intensidade do dano e da sua repercussão, é que deve
tutelar o respectivo arbitramento. (TJSC, Apelação Cível n. 0038134-22.2012.8.24.0038, de Joinville, rel. Des. Jorge Luis
Costa Beber, Segunda Câmara de Direito Civil, j. 08-08-2019, grifo nosso).

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infortúnios cotidianos e, portanto, não consubs- Em se tratando o Direito de Família e o Direito


tanciam um efetivo dano psíquico. O dano moral Civil, ramos do direito privado e consistindo o instituto
indenizável seria, então, situações que fogem à da responsabilidade civil instrumento vital para a ge-
razoabilidade, ao moralmente aceitável pela socie- rência da vida em sociedade, por que não seria pos-
dade, o comportamento que “[...] cause sofrimen- sível a aplicação de tal instituto ao Direito de Família?
to, vexame e humilhação intensos, alteração do
equilíbrio psicológico do indivíduo, duradoura per- Considerando a divergência doutrinária entre
turbação emocional [...].” (TJSC, A. C. n. 0000001- juristas muito respeitados no Direito de Família e no
13.2014.8.24.0046, rel. Des. Newton Trisotto, Se- Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM -
gunda Câmara de Direito Civil, j. 02.03.2017). é que se mostra sensato o modelo dual ou binário
proposto pelo doutrinador Flávio Tartuce: com culpa
Assim, nos questionamos sobre o que é ha- e sem culpa, haja vista atender melhor aos “múlti-
bitual nas questões que versam sobre o fim da plos anseios da sociedade pós-moderna, identifica-
conjugalidade, qual o limite do razoável e que si- da pelo pluralismo e pela hipercomplexidade”.
tuações seriam capazes de gerar um dano moral
indenizável. Do exposto, conclui-se pela aplicabilidade da
responsabilidade civil nas questões que versam
sobre o fim da conjugalidade quando, do descum-
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS primento do dever conjugal de fidelidade recíproca,
advierem situações que suficientemente provadas,
A contextualização histórica da culpa no Direi- ensejam a reparação. A exemplo estão os casos ci-
to de Família que, não concidentemente, confunde- tados no subtítulo 4, cujas demandas foram proce-
-se com a contextualização histórica do casamento dentes não pela conduta infiel verificada, mas por
civil, permite verificar de forma ampla a perda do ter sido a traição e as circunstâncias da descober-
interesse legislativo e social pelo “causador” da ta causadoras de profundo dano psicológico, que
ruptura conjugal. cabe dizer, ultrapassem a “esfera do mero aborre-
cimento” e do moralmente aceitável.
A inquirição da culpa dentro do casamento e
a estigmatização do cônjuge culpado e do cônju-
ge inocente objetivavam justamente “desestimular REFERÊNCIAS
a dissolução da família”, persuadindo os cônjuges
por meio de “intimidações” a ficarem no relaciona- ANDRIGHI, Nancy. Recurso Especial nº
mento (DIAS, 2013). 1.159.242. 2012. Disponível em: https://ww2.stj.
jus.br/processo/revista/documento/mediado/?com-
ponente=ATC&sequencial=14828610&num_re-
Com o advento da Emenda Constitucional n.
gistro=200901937019&data=20120510&ti-
66/2010, que extinguiu de vez as causas subjetivas
po=51&formato=PDF. Acesso em: 21 ago. 2019.
(culpa) e objetivas (tempo) para a decretação do
divórcio, as questões referentes à culpa perderam BRASIL. Constituição da República Federativa
todo o sentido, já que automaticamente foi extinta do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988.
também a “separação-sanção”. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1988/
Ocorre que, ao contrário das causas subjeti- constituicao-1988-5-outubro-1988-322142-publi-
vas e objetivas do divórcio, os deveres conjugais cacaooriginal-1-pl.html. Acesso em: 19 ago. 2019.
persistiram no tempo, seja pela norma (artigo
1.566 do Código Civil) ou pelo sentido coletivo da BRASIL. Decreto nº 181, de 24 de janeiro de
sociedade brasileira, fato é que negar a culpa exis- 1890. Promulga a lei sobre o casamento
tente no casamento é justamente o desrespeito a civil. Sala das sessões do Governo Provi-
sório. Disponível em: https://www2.camara.
um desses deveres, e negar a culpa para dissolver
leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-
o casamento é negar o dever de fidelidade, pas-
-181-24-janeiro-1890-507282-publicacaoori-
sando este a constituir mera faculdade jurídica, o
ginal-1-pe.html. Acesso em: 20 ago. 2019.
que não pode acontecer.

Nov.2019 Número I Volume 10 Indaial / SC


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UNIASSELVI-PÓS

Artigos Autor:
João Carlos Greco
Graduado em Direito pela Universidade

A Gestão Escolar
Augusto Motta, na cidade do Rio de Janeiro,
com mestrado em Direito pela Universi-

Democrática
dade de Roma “La Sapienza”, na Itália.
Graduado em Pedagogia pela UNIVALI

na Formação
– Universidade do Vale do Itajaí. Gradua-
do em História pelo Centro Universitário

Continuada do
Leonardo da Vinci - Uniasselvi, em Blume-
nau. Especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal

Professor
pela Universidade Regional de Blumenau – FURB. Advogado
e professor em Blumenau. E-mail: grecojc@netron.com.br

Resumo

A gestão democrática é aquela que propicia o diálogo entre os envolvidos, aquela alicerçada nos princípios
da democracia e voltada para a construção política do cidadão, amplamente incentivada pelas políticas edu-
cacionais brasileiras implementadas desde a década de 1990. O Plano Nacional de Educação recomenda
que cada sistema de ensino implante a gestão democrática. A gestão escolar constitui uma dimensão e
um enfoque de atuação que objetiva promover a organização, a mobilização e a articulação de todas as
condições materiais e humanas necessárias para garantir o avanço dos processos socioeducacionais dos
estabelecimentos de ensino, orientados para a promoção efetiva da aprendizagem pelos alunos, de modo a
torná-los capazes de enfrentar adequadamente os desafios da sociedade globalizada e da economia centra-
lizada no conhecimento. Por efetiva, entende-se, pois, a realização de objetivos avançados, de acordo com
as novas necessidades de transformação socioeconômica e cultural, mediante a dinamização da competên-
cia humana, sinergicamente organizada.

Palavras-chave: Conhecimento. Aprendizagem. Gestão.

1 INTRODUÇÃO desses cursos que, de outra forma, poderiam cur-


sar, pelo contexto em que se inserem.
Com relação à formação inicial de professo-
res, Santos (2008) aponta que esta é responsável Assim, a agilidade e a democratização com
pelo começo da socialização profissional e por for- que as informações circulam cotidianamente pelo
necer as bases do pensamento pedagógico. Logo, mundo implicam em dinâmicas diferenciadas de
o que se espera dessa primeira formação é que ela acesso e desenvolvimento do conhecimento, re-
seja capaz de criar processos reflexivos sobre a te- querendo, portanto, novas maneiras de abordagem
oria e a realidade da autuação do professor. pedagógica e diversos posicionamentos do profes-
sor em sala de aula.
A formação e a prática docente na voz do
professor de escola pública são interessantes e Na análise e na interpretação dos aconteci-
gratificantes, apesar das mazelas do Estado e mentos, fatos e eventos históricos se fazem neces-
dos baixos salários, pois agregam valores únicos sários, o que sugere aos professores que selecio-
que serão sentidos mais tarde ao longo da vida no nem alguns conceitos-chave, os contextualizem e
magistério. Trata-se aqui da educação como uma sistematizem coerentemente de forma precisa com
possibilidade/oportunidade de formação, autônoma os dados empíricos que estão ao seu alcance.
e democrática e, como tal, responde a determina-
das demandas sociais, por isso, o interesse numa No exercício da docência com estudantes de
perspectiva democrática em se tratando de docen- diferentes faixas etárias e condições socioculturais,
te. Isto porque o curso de formação continuada, é necessário introduzir e encaminhar tarefas que
especificamente promovidos pelo Governo Federal promovam atividades de ensino e aprendizagem
e Estadual, na atualidade, tem recebido uma aten- norteadas por critérios, pois as palavras geralmen-
ção especial por parte da sociedade, possibilitan- te circulam confusas para os alunos.
do, aos professores de escola pública, participar

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2 CONCEPÇÃO DE GESTÃO mar as duas dimensões e relacionar o máximo pos-


sível os conceitos nas mais diversas realidades.
A gestão escolar constitui uma dimensão e um Para estudantes do ensino fundamental, é preciso
enfoque de atuação que objetiva promover a orga- que o conceito espontâneo esteja apreendido para
nização, a mobilização e a articulação de todas as que conceitos históricos possam ser introduzidos,
condições materiais e humanas necessárias para de forma simples e direta.
garantir o avanço dos processos socioeducacio-
nais dos estabelecimentos de ensino, orientados Com isso, a busca pelo conhecimento é um ato
para a promoção efetiva da aprendizagem pelos consciente e que permite ao professor ser mais autô-
alunos, de modo a torná-los capazes de enfrentar nomo e mais crítico. Neste sentido, Freire (2011) con-
adequadamente os desafios da sociedade globa- sidera a palavra mais que instrumento neste proces-
lizada e da economia centrada no conhecimento. so de ensinar e aprender, pois a palavra representa
a origem do diálogo. O diálogo aqui neste contexto
Por efetiva, entende-se, pois, a realização de ocorre entre professor/aluno e entre aluno/aluno num
objetivos avançados, de acordo com as novas ne- processo de interação no chão da escola.
cessidades de transformação socioeconômica e
cultural, mediante a dinamização da competência As políticas públicas de formação docente
humana e organizada. foram abundantes nos últimos anos. Desde a pro-
mulgação da Lei de Diretrizes e Bases, em 1996, a
É diferente daquela participação em que a co- formação docente inclui duas frentes: a formação
munidade escolar apenas aprova as decisões pre- inicial, que inclui todos os processos de qualificação
viamente tomadas pela diretora e/ou sua equipe. em cursos de graduação em licenciatura e pós-gra-
É muito comum hoje, que na tentativa de ser um duação; e a formação continuada que reúne todos
gestor democrático, o Diretor consulte os professo- os projetos de formação em serviço, como os cursos
res, ou até o próprio Conselho Escolar, sobre suas e as capacitações oferecidos pelas redes de ensino.
decisões. Podemos dizer que esta é uma pseudo-
gestão democrática, porque ela queimou etapas Vale lembrar que a formação docente é uma
importantes que é o processo de elaboração e pla- das políticas do eixo Valorização dos Profissionais
nejamento das propostas. da Educação, porque é sabido que a execução de
um currículo inovador requer revisão de concep-
É fundamental que o gestor valorize o proces- ções docentes que devem sempre ser atualizadas.
so decisório o qual compreende a identificação das
metas e objetivos perante os problemas a serem Estado, Política e Educação andam sempre
enfrentados, a execução e a avaliação dos resul- juntas, e sempre será assim, pois convém explicar,
tados, como indicador para retomada do planeja- que a política educacional de um país se consti-
mento. É com esta postura que o gestor, de fato, tui pelo conjunto de políticas públicas que estão
se aproximará do exercício democrático. em vigor naquele período histórico. As políticas
educacionais são sempre a expressão das inten-
O gestor é um líder democrático que usa todas cionalidades dos governantes para responder às
as situações do cotidiano para ensinar alunos, pro- demandas sociais para a educação, logo, todas
fessores, funcionários e pais a participarem da so- elas implicam uma ideologia e um particular projeto
ciedade. O diretor deverá abandonar a roupagem de político, normalmente alinhado às concepções polí-
chefe e tornar-se um líder, o que se denomina gestor. ticas partidárias dominantes.

A aprendizagem e a apropriação dos conheci- O Estado, aqui entendido como um conjunto


mentos e os conceitos científicos podem ocorrer de dos poderes políticos de uma nação; o governo; o
forma muito diferente, dependendo da escola, dos gerenciador institucional do poder é a instituição
alunos e do ambiente em que se encontra. que, desde os primórdios do capitalismo, foi eleita
a instituição para equalizar as forças que movem a
Diante da constatação deste processo, é pos- sociedade. A economia capitalista implica a contra-
sível tomar alguns cuidados na tentativa de aproxi- dição de classe e isso resulta em conflitos de todas

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as ordens. É ao Estado que cabe a tarefa de admi- reformado, o sistema educacional poderia servir
nistrar o interesse de todos, por isto sua condição aos interesses de todos: aos pobres porque, pela
de instituição pública. escolarização, veriam ampliada sua esperança em
melhorar a qualidade de vida; aos mais abastados,
O Estado moderno é concebido como institui- porque veriam satisfeitas suas necessidades de
ção gerenciadora dos conflitos que são próprios de segurança convivendo pacificamente com os desi-
uma organização social com bases capitalistas. Na guais que atuariam com espírito de cidadania. Este
acepção original do Estado, a mediação no exer- quadro explica a inclusão e a expansão das polí-
cício da liberdade constitucional e da igualdade ticas de atendimento aos jovens e adultos – EJA,
constitucional entre os homens, compreende a ins- Educação Especial, Educação Indígena e Educa-
tauração da equidade, implicando, pois, que esta ção Profissionalizante.
instituição se represente como a instância de jus-
tiça e da vontade universal de todos na sociedade Para dar curso à reforma, os representantes
organizada politicamente. Tais faculdades, entre- governamentais de perfil neoliberal buscaram con-
tanto, só se consolidam mediante a constituição de solidar o novo projeto de educação, fazendo uso
um Estado autenticamente democrático, depositá- dos dados estatísticos que evidenciavam a baixa
rio dos interesses da coletividade e desprendido produtividade do sistema em todos os níveis de en-
dos interesses de classes mais abastadas. sino público; a falta de vagas, altas taxas de eva-
são e repetência, a centralização administrativa,
As políticas públicas nacionais implicam na professores pouco qualificados, entre outros. Este
política educacional local, pois na maioria dos ca- movimento impulsionou os discursos para uma in-
sos os estados e os municípios organizam suas terpretação bipolar acerca da educação escolar;
políticas públicas tomando como ponto de partida por outro lado, vista como a grande culpada pelo
as orientações do Ministério da Educação - MEC. atraso e pobreza; e, por outro, como o principal
Como exemplo, podemos citar o Programa de Am- setor da sociedade responsável pela promoção do
pliação do Ensino Fundamental de nove anos, que, desenvolvimento econômico, a distribuição de ren-
de programa nacional, desdobrou-se em diversas da e a elevação dos padrões de qualidade de vida.
versões para atender as demandas locais.
Na visão imediata dos adeptos da filosofia ne-
A lei 11.274/2006, sancionada em 6 de feve- oliberal, as falhas de produtividade necessitavam
reiro de 2006, altera a Lei de Diretrizes e Bases da de resolução, a fim de corresponder às demandas
Educação Nacional (Lei 9.394/1996), dispondo so- do mundo do trabalho, levando a educação a cum-
bre a duração de 09 anos para o ensino fundamen- prir com o seu papel: formar um novo perfil de ser
tal, com matrícula obrigatória a partir dos 6 anos humano. Na acepção dos gestores, as mudanças
de idade. Esta lei possibilitou que cada município de ordem administrativa eram, portanto, o funda-
organizasse sua política pública e a implantasse. mento da qualidade e da superação da crise edu-
cacional. Tratou-se de consolidar a lógica do custo-
Cada município a instituiu ao seu modo, va- -benefício nas políticas sociais.
riando as condições de oferta e o atendimento à
demanda expressou as diretrizes políticas de cada Em busca da almejada qualidade, as políticas
administração municipal ou estadual. públicas, de aparência inovadora primavam pela efi-
cácia e eficiência. A lógica do discurso enfatizava que
São diversas as políticas públicas que fazem a educação brasileira não cumpria com seu papel,
parte da política educacional do Brasil, o que, na razão pela qual havia pobreza e desigualdade social.
sua maioria relacionam-se entre si. A relação entre
elas deriva-se do alinhamento político que assu- Esta retórica abolia as explicações históricas e
mem perante o projeto educacional estabelecido. trazia promessa de mudança na estrutura da educa-
ção, adequando-se aos novos padrões produtivos,
Ao agir diretamente sobre experiências reais apenas com um redimensionamento das políticas
e suas contradições, a retórica dos representantes educacionais. A partir de estimativas e estatísticas,
do Estado vincula-se à construção da ideia de que, os problemas que se arrastam pela história da Re-

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pública do Brasil, como a exclusão escolar e o currículo das comunidades. Para tanto, torna-se apropriada
impróprio à realidade da maioria da população brasilei- a política da descentralização administrativa que,
ra, foram atacados com a elaboração de políticas para além da facilidade em contemplar as necessidades
todos os níveis de ensino. locais, também se desenvolveria com a participação
representativa dos segmentos envolvidos.
Viñao (2001, p. 95), pesquisador das políticas
educacionais espanholas, analisa “que a reforma edu- Logo, o princípio da autonomia é um dos funda-
cacional processa-se alterando fundamentalmente as mentos da gestão descentralizada, visto que quan-
políticas educativas das nações, afetando o governo e do se valoriza a participação das pessoas, é impor-
a administração do sistema educativo e escolar, a sua tante conceder-lhes autoridade para decidir e definir
estrutura ou financiamento, o currículo, conteúdos, encaminhamentos para as questões analisadas.
metodologia e avaliação do sistema educativo”. As al-
terações são promovidas pelas instâncias políticas, li- No campo pedagógico, serve de exemplo para
nearmente presumindo a consolidação de políticas de o exercício da gestão descentralizada, a formulação
inovações e, por consequência, de melhorias. dos projetos pedagógicos nas escolas e dos pro-
jetos educativos nas redes de ensino. Ao convidar
É razoável conceber novas políticas públicas educadores e pais para discutir e elaborar os refe-
quando se deseja modificar o contexto educacional, ridos projetos, é preciso dar-lhes autonomia para
mas esse processo não pode prescindir da discussão fazer opções quanto aos fundamentos da proposta.
ampla e alargada com a sociedade e com os profis-
sionais da educação, haja vista que a unilateralidade Neste processo, as políticas públicas nacionais,
e o centralismo administrativo são procedimentos que como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),
historicamente comprometeram a qualidade da edu- servem como referenciais metodológicos, uma vez
cação brasileira. que se constituem num conjunto de orientações cur-
riculares para professores que atuam no magistério
Decorrentes dessa cultura, as políticas públicas público e privado do sistema educacional brasileiro.
gestadas nos órgãos oficiais nem sempre tiveram o
resultado esperado na prática escolar, porque o pro- O que é um sistema de ensino? Esclarecer este
cesso não propiciou a interlocução desejada com a conceito é muito importante porque há muitas pesso-
comunidade educacional. as que confundem com rede de ensino, mas sistema
não é sinônimo de rede. Os sistemas de ensino in-
Este contexto cultural implica incertezas e favo- cluem as três redes: a pública, a privada e a do ter-
rece o mercado, sobretudo porque o Estado, nas úl- ceiro setor (filantropia). No caso do sistema munici-
timas décadas, tem assumido, preponderantemente, pal, ele abrange as escolas de educação infantil e de
o papel de catalisador dos efeitos sociais do modelo ensino fundamental existentes no município.
econômico. Serve ao ofício de administrar as ques-
tões políticas para equalizar as forças constituintes A ideia de gestão descentralizada é constituída
da sociedade e legitimam a racionalidade e a técnica sob o pressuposto da autonomia administrativa, finan-
como fundamentos da reforma cultural exigida pelo ceira e pedagógica das instituições. Entre as institui-
novo modelo produtivo. ções encontram-se os municípios que, ao gerenciar
seus sistemas de ensino, podem, inclusive, baixar nor-
Pela institucionalização das políticas públicas, o mas complementares para torná-los mais conveniente
Estado naturaliza a mudança constante. Fortalece os às demandas da sua realidade educacional.
valores liberais nas relações sociais e produz consen-
sos em torno da imperiosa reforma educacional, que se Esta medida concedeu vigor ao papel do Con-
mostra pouco propensa a afetar as estruturas porque selho Municipal de Educação nos municípios, uma
mascara as relações de poder que lhe são intrínsecas. vez que estes passaram a atuar como gestores do
sistema municipal, podendo, pois, programar polí-
Além disto, reconhece-se progressivamente a im- ticas públicas que atendam às demandas públicas
portância de a administração pública desenvolver-se ou privadas do seu município.
em acordo com as demandas expressas na realidade

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Ao ser implantada a lei do sistema, o Conse- fundamental e necessária, considerando a realida-


lho de Educação ganha poderes deliberativos que, de da gestão escolar no Brasil.
anteriormente, ficavam sob os cuidados do Conse-
lho Estadual de Educação. O princípio da autono-
mia fundamenta também o processo de descen- 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
tralização no aspecto administrativo. Pretende-se
A atividade docente vem se modificando em de-
que esta aproximação possibilite um olhar mais
corrência de transformações nas concepções de es-
cuidadoso sobre a realidade social e educacional,
cola e nas formas de construção do saber, resultando
assim como facilite a participação da comunidade
na necessidade de repensar a intervenção pedagógi-
na gestão escolar. ca na prática escolar. Na sociedade contemporânea,
as rápidas transformações no mundo do trabalho, o
Os princípios da descentralização estão articula- avanço tecnológico configurando a sociedade virtual
dos com o modelo de gestão democrática, porque re- e os meios de informação e comunicação incidindo
ferendam a autonomia decisória e a organização de com bastante força na escola, aumentam os desafios
órgãos colegiados como é o Conselho de Educação. para torná-la efetivamente democrática.

Não se pode esquecer que a gestão do Con- Os professores são cobrados cada vez mais
selho de Educação deve respeitar as normas le- em sala de aula, por isso, justifica-se a necessida-
gais nacionais. Os pressupostos da política de ges- de de atualização constante. Ao longo da minha
vida de docente sempre procurei fazer cursos de
tão descentralizada não significam desorientações
aperfeiçoamento e de formação continuada, pois
com relação às políticas nacionais e, por isso, têm
servem para enriquecer os conhecimentos do pro-
limites ao potencial de ação de seus entes federa-
fessor e atualizá-lo dentro do contexto da escola.
dos (municípios e estados) quanto ao desenvolvi-
mento de seu próprio projeto educacional. A formação continuada mostrou a possibilidade
de implementação de novas estratégias na esco-
la, no entanto, isso demanda mudanças profundas
3 A FORMAÇÃO INICIAL E com relação ao processo de ensino-aprendizagem
CONTINUADA DO GESTOR ESCOLAR e também na estrutura e na organização da escola.
Será um processo penoso, pois toda mudança gera
Considerando a complexidade do trabalho do conflitos, insegurança e o nosso modelo de organi-
gestor, a formação inicial sozinha não é capaz de zação ainda precisa de muitas adaptações.
garantir ao professor todo o aperfeiçoamento para
a carreira de gestor. Assim, a formação continuada Os discursos nos encontros de formação fo-
tem grande importância em tal contexto. cam o aluno como sujeito. Fala-se da sua forma-
ção humana integral, entendendo que cada um
A formação continuada articulada à formação tem sua particularidade e que aprende em momen-
inicial e às condições de trabalho, salário e carrei- tos diferentes, mas na prática, ainda é a nota que o
ra, é uma das dimensões importantes para a mate- classifica e diz se ele poderá avançar.
rialização de uma política global para a formação e
a valorização do profissional da educação. É necessária uma mudança institucional, ou
seja, a dinâmica de contratação de professores,
Deve-se entender o ensino como criação, e com dedicação exclusiva, para que possam se en-
não pela transmissão de conhecimentos já exis- volver com a comunidade escolar, além de uma
tentes. Tal criação baseia-se em modelos já exis- efetiva mudança junto aos estudantes, modifican-
tentes, porém elabora um conhecimento novo que do a cultura, em que a avaliação deixa de ser uma
faça sentido ao aluno. Para tanto, criar não é tarefa quantificação de seu conhecimento apenas, mas
simples, não é simplesmente aplicar uma teoria, um instrumento que auxilie na aprendizagem.
exige muito esforço do professor.
Existem alguns problemas básicos e não fo-
Diante destas considerações, destaca-se a ram ainda solucionados, por exemplo, a dificuldade
importância de pensar nos processos de formação dos professores em trabalharem em mais de uma
do gestor, e como essa formação irá influenciar as escola, as avaliações bimestrais durante o ano le-
suas práticas. Essa aquisição de conhecimentos é tivo quando os alunos precisam absorver os conte-

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údos o mais rápido possível para depois devolver Gestão da educação; impasses perspectivas e
essas informações básicas. A escola precisa ser compromissos. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
vista como algo mais, como um elemento funda-
mental na vida desses jovens e não apenas como BRASIL. Lei nº 11.274/2006, de 6 de fevereiro
um local de trabalho do professor. de 2006. Brasília, DF. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/
A formação continuada é uma das opções que lei/l11274.htm. Acesso em: 23 out. 2019.
pode provocar essa mudança que vai muito além das
técnicas, conceitos e metodologias. É um desenvol- CHIARELOTTO, Arivane Augusta. Políticas
vimento de todos em benefício da capacidade de so- públicas em educação: formação pedagógica
lucionar problemas com relação ao contexto escolar. para docentes. Itajaí: UNIVALI, 2008.

Acreditamos que a formação continuada é a FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia:


forma de aproximar os pressupostos teóricos com saberes necessários à prática educativa.
a prática pedagógica do professor em sala de aula, São Paulo: Paz e Terra, 2011.
além de possibilitar que encontremos caminhos
mais adequados a nossa realidade. GIMENO SACRISTAN, José; PÉREZ GOMEZ,
Ángel. Compreender e transformar o
É necessário que todos se envolvam, pois a ensino. Porto Alegre: Artmed, 2000.
escola é feita pelos alunos, professores, pais, equi-
pe pedagógica e gestora. Sabemos, também, que OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky. Aprendizado
a formação continuada não desenvolve o mesmo e desenvolvimento: um processo sócio-
sentido para todos os envolvidos, mas a combina- histórico. São Paulo: Scipione, 1993.
ção de alguns fatores poderá levar as práticas dife-
renciadas em sala de aula. PÉREZ GÓMEZ, Ángel Ignacio. A cultura
escolar na sociedade neoliberal.
O desenvolvimento profissional envolve for- Porto Alegre: Artmed, 2001.
mação inicial e continuada articuladas a um pro-
cesso de valorização da identidade profissional PIAGET, Jean. A epistemologia genética.
dos professores. Não se ignora que esse desafio São Paulo: Abril Cultural, 1983.
precisa ser prioritariamente enfrentado no campo
das políticas públicas. POPKEWITZ, Thomas Stanley. Reforma
Educacional: uma política sociológica; poder
Todavia, não é menos certo que os profes- e conhecimento em educação. Trad. Beatriz A.
sores são profissionais essenciais na construção Neves. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
desta nova escola, entendendo que a democrati-
zação do ensino passa pela sua formação, sua va- SANTOS, Antônio Roberto dos. LDB 9.394/96:
lorização profissional, suas condições de trabalho. Alguns passos na formação de professores
no Brasil. In: GRANVILLE, Maria Antonia
É certo que temos muito a fazer, pois as polí- (Org). Teorias e práticas na formação de
ticas públicas não são suficientes e por mais que professores. Campinas: Papirus, 2. ed., 2008.
as coisas tenham melhorado um pouco, ainda falta
muito para conseguir uma educação de excelên- SAVIANI, Dermeval. Sistemas de ensino e
cia. Acreditamos que dias melhores virão, apesar planos de educação: o âmbito dos municípios.
da falta de vontade política em melhorar o nível da In: VER. EDUCAÇÃO E SOCIEDADE. Campinas/
educação e o nível dos professores. São Paulo, Unicamp, no. 69, dez/1999, p. 119-135.

VIÑAO, Antonio. Fracasan las reformas


REFERÊNCIAS educativas? La respuesta de un historiador.
In: SOCIEDADE BRASILEIRA DE HISTÓRIA
AZEVEDO, Janete Maria Lins. de. O Estado, a DA EDUCAÇÃO (Org). Educação do Brasil:
política educacional e a regulação do setor da história e historiografia. Campinas, SP: Autores
educação no Brasil: uma abordagem histórica. Associados; São Paulo: SBHE, 2001.
In: FERREIRA, N. S.; AGUIAR, A da S. (Org).

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Artigos Autora:
Ana Paula Farias Mohr da Rocha
Pós-graduada em Orientação Educa-

Violência cional, Educação especial inclusiva


e Libras - Língua Brasileira de Sinais

Escolar (UNIASSELVI). Graduada em Pedago-


gia (UNIASSELVI). Professora na Escola
Estadual Visconde de São Leopoldo.
E-mail: paula.mohr.rocha@gmail.com
Resumo

A violência é um tema que afeta a vida de todos os que a cercam, deixando feridas que dificilmente cicatri-
zam. Esse problema estende-se às escolas fazendo com que discentes e docentes vivenciem diariamente
momentos de pavor. Em muitos casos, há omissão por parte do responsável diante dos abusos e agressões
que os menores sofrem em alguns lares, muitas vezes, a própria família causa tal sofrimento, tornando a
criança e o adolescente vulnerável às drogas, ao bullying, ao cyberbullying, ao desrespeito com os professo-
res, à agressividade e à depredação do patrimônio escolar. Além disso, é de suma importância o posiciona-
mento por parte da escola, de autoridades específicas e principalmente da família, para zelar pela criança e
pelo adolescente, respeitando, orientando, cuidando e, principalmente, amando, para que a vítima encontre
um refúgio e para que possa ser identificada a raiz do problema, assim, possibilitando a ação a ser tomada
diante de tais violências. Dessa forma, o estudo busca investigar e reportar através de pesquisas bibliográfi-
cas uma compreensão dos tipos de violência que alunos e professores enfrentam diariamente e como cons-
cientizar e prevenir tais violências.

Palavras-chave: Violência. Conscientizar. Prevenir.

1 INTRODUÇÃO crianças e adolescentes têm de se relacionarem


com as drogas e, até mesmo, com o tráfico delas.
A violência percorre por diversos setores até Há casos em que traficantes observam os jovens
chegar à escola. Uns dos que mais afeta crianças para tentar corrompê-los, infelizmente, em muitas
e adolescentes é a violência familiar. Manifestan- vezes, conseguem. Esses jovens acabam levando
do-se como agressões, abusos ou negligência por as drogas para dentro da escola na qual estudam.
parte dos responsáveis, sejam por abandono, por Dependendo da escola, os traficantes já abordam
não levar a escola ou por não dar assistência na na saída, objetivando recrutar novos integrantes.
educação dos menores. Em muitos casos, o res-
ponsável está vendo que a criança ou o adolescen- A escola se encontra no meio de diversos ti-
te é vítima de algum ato de violência, porém não pos de violência, como drogas, bullying, desrespeito
faz nada para cessar este tormento, tornando-se com os professores, agressividade, depredação do
cúmplice de tais atos. Por outro lado, no intuito de patrimônio escolar etc. Nesse sentido, este trabalho
educar, os pais acabam exagerando nos castigos tem o objetivo de abordar o tema violência escolar e
como forma de correção. Há responsáveis que medidas de prevenção e conscientização.
pensam serem donos de seus filhos, como se fos-
sem objetos, esquecendo que eles precisam ser
vistos como um ser humano integral. 2 VIOLÊNCIA ESCOLAR

Desse modo, algumas crianças e adolescen- A escola deixou de ser só um espaço para a
tes vivem em um ambiente atribulado, presencian- educação e convívio de crianças e adolescentes,
do diversos problemas, inclusive mau exemplo de tornando-se também um ambiente que precisa lidar
seus familiares. Em alguns casos, esses proble- com os conflitos diariamente, entre eles, a violên-
mas avançam etapas, ou seja, saem da infância e cia. A falta de estrutura familiar é um dos principais
chegam à fase adulta. casos que traz a violência para dentro da escola.

Outra questão que muitas vezes se entrelaça Muitas famílias estão em situação de elevada vul-
à violência escolar é a facilidade nas quais essas nerabilidade: adolescente que trabalha e cuida de

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seus irmãos; meninas que têm filhos cedo; vivem cipavam do “Projeto comunitário dos menores do
na mesma casa três gerações que se cuidam e jardim X”, supervisionado por uma assistente social
trabalham para o sustento coletivo. O ambiente e que realizava atividades, esses recebiam merenda.
as condições de vida costumam provocar muito Com o objetivo de ocupá-los e afastá-los das ruas,
estresse relacionado à sobrevivência, rupturas pois simplesmente depredavam residências e esco-
de vínculo, uso abusivo de drogas e muito sofri- las. Foi a partir desse conhecimento que a autora
mento nas relações comunitárias, sobretudo nos resolveu realizar um estágio em uma escola da rede
locais em que há violência relacionada a tráficos estadual que possuía o maior número de crianças e
de drogas e armas (LYRA; CONSTANTINO; FER- adolescente ligados ao projeto. Os alunos eram re-
REIRA, 2010, p. 150). beldes e irrequietos, mas a agressividade deles se
manifestava no recreio, no qual eles brigavam muito
entre si. As causas dessas brigas iam desde lanche
Desse modo, é notório que muitos alunos diferente que o aluno trazia até um simples toque
sofrem com todo o tipo de violência por parte de que era dado sem querer no corpo do colega (GUI-
seus familiares, como abandono, abusos, drogas MARÃES, 2005 p. 4).
e agressões. Conforme Abreu (2000, p. 60), “uma
criança submetida a castigos e sem oportunidade Diante do que foi relatado pela autora, a vio-
de negociar seus desejos com os pais, possivel- lência só é praticada porque o indivíduo tem algo
mente terá estrutura para se tornar uma pessoa dentro de si, ou seja, um vazio ou um trauma.
sujeita à submissão intensa ou ao ato de rebeldia”.
Há pais que confundem responsabilidade de cuidar Conforme Guimarães (2005, p. 4), qualquer
com opressão, causando dor e sofrimento, tratan- brincadeira e comentário poderia ser interpretado
do seus filhos como se fossem objetos. como ofensa e a partir disso a briga corporal era
só um passo. É possível perceber que a violência
Dessa forma, muitas crianças e adolescentes é praticada porque há lacunas dentro da criança e
enxergam nas drogas o preenchimento das lacu- do adolescente que foram preenchidas com sen-
nas deixadas pelas famílias. Atualmente, em algu- timentos negativos, os quais fazem se manifestar
mas escolas, é possível encontrar alunos usuários. tais violências, lamentavelmente, nos dias atuais, é
Isso faz com que a escola se torne um local com possível presenciar tais comportamentos exteriori-
diversos problemas, gerando inúmeros tipos de zados pelos alunos na maioria das escolas.
violência por parte dos alunos.
É possível presenciar crianças sendo agredi-
Para Ristum (2010, p. 79), “a violência escolar das por seus colegas. Muitas delas preferem ficar
se expressa em várias modalidades: violência en- isoladas a terem um convívio social. Dessa forma,
tre alunos, violência de aluno contra professor, da surgem as famosas “brincadeiras”, tornando a vida
escola e do professor contra o aluno, [...] do aluno das vítimas dolorosas, causando o desinteresse
contra o patrimônio da escola (depredação), entre pela escola e prejudicando o aprendizado delas.
outras”. Devido a isso, a escola deixa de ser um Essas “brincadeiras” que causam sofrimento são
lugar de refúgio e segurança, tornando-se um am- chamadas de bullying.
biente difícil de conviver.
Dentre as diversas formas de violência entre alu-
nos, o bullying é, atualmente, uma das que mais
De acordo com Assis e Marriel (2010, p. 46), têm preocupado os profissionais da escola e tam-
“a violência dos estudantes se manifesta por meio bém os pais. Antes pouco estudado e considera-
de diversas situações, como: vandalismo, picha- do próprio para idade e ambiente escolar, as pes-
ções na parede, xingamentos e agressões físicas quisas sobre bullying escolar evidenciam sua alta
a professores, indisciplina no recreio e roubos no frequência, a grande diversidade de suas formas
e as consequências danosas para todos os que
ambiente escolar”. Tais comportamentos causam
neles estão envolvidos: agressão, vítima e teste-
tensão no ambiente escolar, tornando difícil o con- munhas (RISTUM, 2010, p. 81).
vívio entre os professores, os alunos, a equipe
gestora e os demais funcionários. O bullying na escola sempre existiu, entretan-
to, era visto pelos pais ou pela comunidade escolar
Após a autora conhecer um grupo de crianças e
como “coisa de criança”. As vítimas sofriam cala-
adolescentes num bairro de periferia, a qual parti-

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das por saberem que não seriam ouvidas. Atual- cias, é preciso um trabalho em conjunto com toda
mente, esse assunto é levado a sério, mas ainda a comunidade escolar, além das autoridades neces-
é possível ver vítimas que se calam por medo do sárias, agindo de forma democrática e participativa.
agressor. Além disso, os que presenciam tal cruel-
dade não a denunciam por medo de se tornarem
as vítimas e passarem por tais constrangimentos. 2.1 MEDIDAS PARA
O bullying pode ser de forma verbal, física e psi- CONSCIENTIZAÇÃO E PREVENÇÃO
cológica, podendo atravessar os muros da escola, DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA
que é o caso do cyberbullying.
Para amenizar tais violências, é preciso um
Segundo Serna (2018), o cyberbullying é a despertar de atitudes de todos os envolvidos:
violência praticada contra alguém através das
tecnologias, como e-mail, messenger, SMS ou re- O enfrentamento e a superação da violência na
escola dependem do posicionamento de “todos os
des sociais; quem pratica esse ato tem o intuito
autores” que nela atuam. Especialmente o minis-
de intimidar, difamar, ridicularizar, humilhar e até tério e as secretarias de educação, os diretores,
ameaçar a pessoa. Ao contrário do bullying, não é os professores, os funcionários, os alunos e seus
comum a violência ser praticada por mais de uma familiares, bem como os parceiros comunitários,
pessoa e, na maioria das vezes, a vítima não sabe ONGs, conselhos, empresas e sociedade geral
têm o papel na discussão crítica e na proposição
quem é o responsável por tanto sofrimento.
de melhores posições para o ensino no país, em
um cenário em que a violência não seja aceita
Outra forma de violência é a depredação con- como valor (ASSIS; MARRIEL, 2010, p. 61).
tra o patrimônio escolar. De acordo com uma en-
trevista realizada por Guimarães (2005, p. 3-4), em É preciso o empenho de todos para conscienti-
uma escola em que era possível verificar esse tipo zar e diminuir a violência na escola. Dificilmente ela
de violência, “os funcionários relataram que não será extinta, exemplo disso é o caso das drogas ou
havia a invasão de gente de fora e que o ‘quebra- excesso de consumo de álcool, mesmo com inúmeras
-quebra’ era feito pelos próprios alunos, principal- campanhas e projetos realizados, não houve sua total
mente os do ‘ginásio’ que danificavam torneiras e extinção. No entanto, é preciso conscientizar, pois, a
válvulas das descargas, agindo de tal forma ‘por cada pessoa que conseguir entender a destruição que
farra’, só para bagunçar”. Nesse sentido, represen- esses males causam na vida dos seres humanos, ha-
ta que alunos depredadores têm prazer em destruir verá menos indivíduos sofrendo devido a isso.
o patrimônio da escola, como se fosse uma diver-
são. O que eles não enxergam é que a instituição Abreu (2000) afirma que essa mobilização e
escolar é deles mesmos, ou seja, deveriam zelar. conscientização deverá ser realizada com a parti-
cipação de todos os órgãos públicos e da comu-
Por fim, é analisada a violência contra profes- nidade local. A autora ainda ensina os seguintes
sores, algo assustador e que causa pânico entre os passos: identificar os problemas que afligem os
profissionais. Esse tipo de violência vai desde furar membros da comunidade, realizando um diag-
os pneus dos carros dos docentes até ameaças, nóstico para ter certeza o que está acontecendo;
chegando, em alguns casos, à violência física. Ris- identificar os objetivos de quem pratica os atos de
tum (2010, p. 82) contempla um caso relatado por violência na escola, procurando entender qual é
uma professora que temia reprovar seus alunos, ou o objetivo e o porquê de tal prática; identificar as
até mesmo dar notas baixas a eles, devido a ame- demais relações que podem ter reflexo na escola,
aças veladas que recebia, essa professora contou, ou seja, ir além dos muros da escola, conhecendo
a título de exemplos, a fala de um aluno ao receber como é a vida da pessoa, quem é a família e seus
uma nota baixa: “por menos que isso já morreu um”. amigos; hierarquizar os problemas, priorizando o
que necessita ser resolvido urgentemente.
Atualmente, é possível ver facilmente o desres-
peito com os professores, que outrora eram tratados Nesse sentido, há, ainda, os critérios que irão
com temor, e hoje muitos fazem pouco caso da pre- se relacionar com a ação devida, critérios que bus-
sença desses mestres. Para amenizar tais violên- cam identificar estratégias na ação para minimizar

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ou resolver de maneira efetiva o problema; além família. Com isso, é dever de todos zelar pela se-
disso, atribuir competências e responsabilidades gurança e bem-estar da criança e do adolescente,
aos envolvidos, distribuindo atividades para cada porém a família tem que ser a primeira interessada
um; e avaliar a ação durante e no término do pro- no seu dependente.
cesso, para analisar se o objetivo foi alcançado ou
se haverá necessidade de mudanças. Dessa forma, uma estrutura familiar forte, ali-
cerceada em respeito, compreensão, repreensão,
Para isso ser realizado, deve-se prevenir, es- cuidado e principalmente amor, possibilita ao aluno
tando atento aos sinais que a criança ou o ado- poder enfrentar violências dentro e fora do ambien-
lescente transmitem, seja através de isolamento, te escolar, pois ele verá no seu lar um refúgio para
mau comportamento, marcas de agressão etc. O se abrir, pois a família o protegerá, procurando
professor é o observador principal, pois é ele que seus direitos com o auxílio da escola ou de autori-
tem um contato direto com os alunos, além de toda dades competentes.
comunidade escolar e órgãos competentes.

Desse modo, é necessário resgatar o aluno, REFERÊNCIAS


mas, para isso, em muitos casos, é preciso resga-
tar a família inteira, porque a raiz da violência mui- ABREU, Sergio Roberto de. Violência na
tas vezes é encontrada no meio familiar. escola: o papel das instituições. In: ARRIETA,
AZEVEDO GRICELDA (Org.). A Violência na
escola: a violência na contemporaneidade e
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS seus reflexos na escola. Canoas: UBRA, 2000.

Diante de tudo que foi apresentado neste ar- ASSIS, Simone Gonçalves de; MARRIEL,
tigo, fica evidente que a violência se tornou um Nelson de Souza Motta. Reflexões sobre
violência e suas manifestações na
fenômeno assustador diante de inúmeros fatores.
escola. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2010.
Em alguns casos, ocorrendo devido ao mau exem-
plo dos responsáveis, sendo omissos diante das
ALVES, Nilda; GARCIA, Regina Leite (Org.) Fazer
agressões e abusos sofridos pelos seus filhos, ou
e pensar dos supervisores e orientadores
seja, negligentes e sem amor.
educacionais. São Paulo: Loyola, 1994.

Por trás de um aluno agressivo, calado, vítima


GRINSPUN, Miriam Zippin. Autonomia
ou praticante de bullying, usuário de drogas, que e ética na escola: o novo mapa da
desrespeita os professores e depreda o patrimô- educação. São Paulo: Cortez, 2014.
nio escolar há a verdadeira raiz de tais violências.
De alguma forma, quem pratica tais ferocidades GUIMARÃES, Áurea Maria. Dinâmica
necessita preencher ou esvaziar isso dentro de si. da violência escolar: conflitos e
Até porque, se os familiares, a escola ou as auto- ambiguidade. Campinas: Coleção
ridades não cuidam, os traficantes de plantão su- Educação Contemporânea, 2005.
prem esse vazio.
LYRA, Gabriela Franco Dias; CONSTANTINO,
A maioria dos casos de violência escolar é pela Patrícia; FERREIRA, Ana Luísa. Quando
falta de estrutura familiar. A negligência de muitos a violência familiar chega até a escola.
responsáveis é alarmante. Se a família fizesse seu Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2010.
papel, sendo presente na criação e educação de
seus filhos, orientando e cuidando, grande percen- RISTUM, Marilena. Violência na
tual da violência escolar não existiria. Entretanto, escola, da escola e contra a escola.
não isentas, sociedade, autoridades específicas e, Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2010.
principalmente, escola têm um papel fundamental
na intervenção diante dessas violências, pois mui- SERNA, Juan Moises de la. Cyberbullying.
tas vezes a escola identifica o problema e relata à Madri: Babelcube. 2018.

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