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O TEATRO DAS OLIGARQUIAS uma revisdo da “politica do café com leite" aprestos mi Claudia Maria Ribeiro Viscardi- Oe A chamada “politica do café com feite", denominagao atribuida a alianga Minas-Sdo Paulo, usufrui ha muifos anos um estatuto de tese consagrada na historiografia e tem raizes profundas no » imaginatio politico brasileiro, a ponto de ser mencionada em um Samba de Noel Rosa intitulado Feifigo da Vila, quando o compo- Sitor diz que “Sao Paulo da café, Minas da leite e a Vila Isabel da Samba™. * é O trabalho de Claudia Vis¢ardi, que agora se transforma em livro, € uma obra fundamental para questionar essa crenga. Partindo de uma pesquisa de grande profundidade, fundamentada nos arquivos privados de politicos, cruzando-os com material de imprensa e publicag6es oficiais, a autora nos oferece uma andlise objetiva e densa, que questiona mitos cristalizados. Tomando o caso de Minas como referéncia primordial, a autora analisou diversos processos sucessérios presidenciais da Pri- meira RepGblica, visando compreender as bases de sustentacdo das aliancas politicas estabelecidas. O resultado dessa investi- gagao oferece dados consistentes para refutar trés grandes teses consagradas: 1. A existéncia do consenso politico mineiro interno como Suporte para sua projegao na esfera nacional; 2. A estabilidade) de, alianga, Minas-Sa0 Paulo como instrumento de neutra¥zacdo dos conflitos politicos do sistema oligarquico; 3, A hegemonia exclusiva dos interesses cafeciros no controle do Estade Republicano. Nos argumentos apresentados pela autora, o famoso "consenso", pedra angular da cultura politica mineira, se mostrou precario e limitade @ © que expliea a projegao politica do estado no cendrio nacional & sua forgal econdmica e a presenca numérica de sua baneada federal; assim, a alianga Minas-Sao Paulo foi circuns- taneial ¢ chamam atengdo os conflitos que marcaram a relagao entre os dois estados; é ressaltado, no éntanto, que a inexistén- Gla de allaneas duradouras entre esses dois estados nao impediu quie o regime republicano adquirisse consisténcia é relativa estabilidade; ao contrario, foi exatamente a auséncla de aliancas monoliticas ¢ permanentes gue garantiram uma heutralizagao dos conflitos intra-oligarquicos. Finalmente, Claudia Viscardi remarea a importancia do Estado na Primeita Republica, sua autonomia em relacda aos interesses Gafeeiros @ a presenga de outros grupos oligarquicos. Por todas essas conttibuicoes, O Teatro das Oligarquias: uma revisao da “politica do café-com-ieite” é¢ uma leitura fundamental para © entendimento da complexidade do Estado Republicano em geral ¢ em Minas particularmente. Marieta de Moraes Ferreira Professora do Departamento de Historia — Instituto de Filosofia Tem ce t7e7e 969 | @ Ciencias Socials da Universidade Federal do Rio de Janeiro — WI oe, ewoheones Fabiane Popinigls ta -DHISTIUF! Prot Aa 15790-19 O TEATRO DAS OLIGARQUIAS uma revisdo da “politica do café com leite” Claudia Maria Ribeiro Viscardi Belo Horizonte |2001 @iie 2001 © Editora C/ ARTE Auti CCuAuora Mana Rinetno Viscager Editor: FERNANDO PeDRO DA SiLvA, Coordenadora da colegio: Buiawa Reciva De Frerras Dura Conselho editorial: AnroNto EUGENIO De SALLE CoBLHO, Euana Reciva pe Frets Durea Licia Mania Lerre Perera Lucia Gouvta Prvcnre Masia AUXLIADORA DE FARIA ‘Mani Anpets Retiro ‘Manitia Novalis ba Mata Mactiapo (Oravio Soares Dutet ‘Reciva HeLeNa Awves va Sitva ‘Watter Seaastiio Revisto: rita Mania FONs#CA BARBOSA, Projeto grafico: Roorico FurmmtCanooso Capa: Masia bo Carmo Fretras ‘Todos os dteitos reservados. Proibida a reprodugho, armazenamenta out transmissto de partes dest livro, através €e qualsquer meios sem prévia autorizagio por escrito Diitos exclusivos desta edicior Ealtora C/ Arte ‘Av. Portugal, 2085~Conjs. 12/14 Cop 31580-000 - Belo Horizonte - MG abs: Oxx Gt) 3443-1426 ‘comartetcomartevirisal.com br ‘www.comarteccom Ribeiro, 1962 - ardi, Clbudia Mari V8221 0 Teatro das oligarquias: uma tevisio da politica do 2001 “café com leite” / Claudia Maria Ribeiro Viseard. - Belo Horizonte : C/Atte, 2001. - (Horizontes histéticos) 376 p. Bil. ISBN 85-87073-38.9 |. Brasil - Histéria - Repiblica - 1889-1930, 2, Brasil - Politica e governo. 3. Minas Gerais - Polltica e governo. ‘Titulo, I. Série, CDD: 320.981 DU: 33 (81) Aos meus amados pais, Dinaura e Tit6, exemplos de dignidade e generosidade infinitas. A Octavio e Pedrinho, meus dois amores. Ao término deste trabalho, nao poderia deixar de sericionar aqueles que direta ou indiretamente contribuiram oste resultado final. Foram muitas pessoas e instituigdes. imeco pelas segundas. liste trabalho s6 foi possivel em razao do apoio da ‘ilversidade Federal de Juiz de Fora, 4 qual estou vinculada, vés de seu Departamento de Histéria e de sua Pré-Reitoria i. P'6s-Graduagao e Pesquisa, na qual destaco 0 apoio sério e mpetente do Alcebiades (Jtinior). ‘Tive igualmente 0 apoio da Fundagaéo de Amparo 4 \quisa de Minas Gerais (FAPEMIG), através da concessao de bolsas de iniciagao e do financiamento de parte do projeto i) pesquisa. O apoio do CNPQ também foi importante na inplementagao das bolsas de iniciagao citadas. O apoio da PHS, através do programa PICDT, foi indispensavel & ‘lizagiio do trabalho. Agradeco @ Fundacao Cultural Alfredo Ferreira Lage unialfa) que, através dos beneficios derivados da Lei Murillo iendes de Incentivo a Cultura, tornou possivel o sonho de liza a publicagio deste livro. _ Agradego também As instituigdes arquivisticas que me heram. Comegando pelo Arquivo Histérico da UFJF, através apoio da Eliane Casarim - enquanto esteve por ld - e de seu ai Nacional, do Arquivo do CPDOC/FGV (em especial, Inés e Jurandir), da Biblioteca Nacional, da Fundagao Casa de Rui Barbosa, do Instituto Histérico e Geografico Brasileiro (IHGB) e do Arquivo Ptiblico Mineiro. Devo um agradecimento especial 4 Profa. Marieta de M. Ferreira, pela sua destacével competéncia, responsabilidade e seriedade académicas. A Profa. Anita Prestes, coma qual aprendi nao s6 a importancia destacada dos militares no contexto da Primeira Reptiblica, como também pude vivenciar seu compromisso e seriedade com o ensino ea pesquisa universitaria. A Profa. Armelle Enders, que prestou importante apoio durante 0 processo de qualificagao e realizou algumas leituras posteriores de textos provisérios. Ao Prof. Américo G. Freire, colega de curso e amigo, do qual guardo lembrangas sempre agradaveis na tao comum “troca de figurinhas” entre doutorandos de tematicas aproximadas. Aos professores Otavio Dulci e Eduardo Kugelmas pelas sugestées de aprimoramento do texto. De Juiz de Fora, agradeco 0 apoio dos membros do Nticleo de Histéria Regional e também meus amigos: Maraliz de Castro Vieira Christo, Ignacio José Godinho Delgado, Alexandre Mansur Barata, Patricia Falco Genovez, S6nia Maria Souza, Luiz Ant6nio Vale Arantes, Anderson José Pires e Ménica Ribeiro de Oliveira. Aos dois tiltimos, um agradecimento especial, pelo apoio as minhas dificeis incursées na Histéria Econdmica. Nao poderia deixar de mencionar aqueles que foram meus bolsistas, sem os quais, o trabalho teria ficado ainda mais dificil. De Juiz de Fora: Anderson Haber, André Candido, finio Martins, Jaqueline Gomes, Fernanda Tréccoli, Raquel Silveira e, em especial, Rita de Céssia Menezes Roque. De Belo Horizonte: Lucas J6rio Vasconcelos e Luis Carlos de Souza. Por fim, 0 apoio dos meus numerosos familiares, principalmente o de Pedro, meu filho, por ter tido a paciéncia e a compreensao de ter convivido, por anos importantes de sua vida, com uma mae sempre ocupada, muito “viajante” e as vezes absorta. Ao Octavio, meu marido, pela sua postura sempre amavel, complacente e generosa. A Maria do Carmo, minha empregada, que sem entender muito para que eu me esforcava tanto, me proporcionou a indispensavel “infra-estrutura”. A todos, meu agradecimento sincero. Prefacio .. introdugéo Capitulo 1 - Um Novo Roteiro para a Mesma Pega 1 deralismo Brasileiro: Parametros Atuais de Di tlografica |,2 - Federalismo em Corda-bamba: Uma Proposta Alternativa 50 Capitulo 2 - Caem os Principais, Elevam-se os Coadjuvantes 2.1- A Imposig&o de uma Nova Ordem: A Sucessio de R. Alves 2.2.- Candidaturas Presidenciais e Interesses Cafeeiros Capitulo 3 - O Diretor Também Quer Entrar em Cena siren 4.1 - A Produgao Cafeeira dos Estados de Minas, Sao Paulo e Rio de Janeiro ... 4,2. - O Estado Nacional e a Crise do Caf .3 ~ Os Limites da Autonomia: uma Releitura do Convénio de Taubaté Capitulo 4- A Pega Entra em Cartaz ‘4.1 - Bases Politicas do Governo Afonso Pena 1|,2- A Sucessao de Afonso Pena e a Candidatura Milita Capitulo 5 - Os Segurancas Invadem 0 Palco ! sein 5.1 - A Politica Salvacionista: o Reverso da Politica dos Estados 5,2. A Sucessao de Hermes ¢ o Reodernamento de Forgas... Capitulo 6 - Briga de Atores, Corte na Cena... : 6.1 O Governo Wenceslau Bras e o Ressurgimento Paulista 6,2- A Sucessao de Wenceslau e os Obices da Alianga ... Capitulo 7 - O Publico Ameaga Participar 7.1- Executivo Fragil, Legislativo em Luta. 7.2- A Dificil Alianga Minas-Sao Paulo 7.3 - A Emergéncia de Novos Atores no Contexto da Reacao Republicana Capitulo 8 - Fim do Primeiro Ato se 4.1 - O Governo Bernardes e as Bases da Ruptura entre Minas e S40 Paulo 4,2 -O Governo Washington Lui: 4.3 - Das Umas as Armas.. Conclusio .. Bibliografia Referenciada Fontes Primérias..... ‘A Ruptura da Alianga ____Indice de Tabelas —————____ Quadro Comparativo dos Percentuais das Exportagées Mineiras .... Percentual do Valor da Produgao do Café no Conjunto das Exportagdes Mineiras (1890/1924) Média Qitingiienal da Produgao de Café em Minas Gerais (1890/1924) ei) Produgao Percentual de Gafé dos Principais Estados Expor- tadores Brasileiros (1891/1930) .. 129 Fontes Percentuais de Receitas das Unidades Federadas po: Categorias de Impostos (1914-1923) ... O Imposto de Exportacao no Orcamento de Seis Estados Exportadores Brasileiros (1889-1906) ... mele Porcentagem da Receita Derivada do Imposto de Exportagao do Café sobre a Receita Global do Estado de Minas Gerais (1898-1913) 2: Porcentagem da Receita Derivada do Imposto de Exporta- c&io do Café sobre a Receita Global do Estado de Sao Paulo (1898-1913) ‘ HES Porcentagem da Receita Derivada do Imposto de Exportagao do Café sobre a Receita Global do Estado do Rit de Janeiro (1898-1913) mele == * indice de Queding == ite Percentual de Representagao do Crescimento de Deputados na Transicao do Império para a Reptiblica 7 Ocupagio Ministerial por Estado Ocupacao de Presidéncias de Comissdes do Parlamento por Estado * Percentual de Participagao por Estado na Escolha Prévia das Candidaturas Presidenciais . 64 {indices Eleitorais das Eleigées Presidenciais da Primeira Reptiblica .. . 68 SucessGes Nao Contestadas 70 Sucess6es com Algum Tipo de Contestacio .. 70 Caniter Geral das Sucessées da Primeira Republica . ae . : Graf 1+ Hivolugao dos {indices de Ocupagao Ministerial 2 2- Eyolucao da Producao Cafeeira em Minas Gerais na Primeira Reptblica . a 129 - Byolugao Comparativa da Produgao Cafeeira de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Sao Paulo na Primeira Reptiblica «ue 130 4- Comparagao do Impacto dos Impostos do Café sobre as Receitas dos Trés Estados... 58, . 138 AN: Arquivo Nacional IHGB: Instituto Histérico e Geografico Brasileiro AH: Arquivo Historico da Universidade Federal de Juiz de Fora CPDOC: Centro de Pesquisa e Documentacio de Histéria Contemporanea do Brasil — Fundacao Gettilio Vargas APM: — Arquivo Pablico Mineiro PCR: — Fundac&o Casa de Rui Barbosa Colegdes e Arquivos AAP: Arquivo Afonso Pena APJ: Arquivo Afonso Pena Jiinior ARA: Arquivo Rodrigues Alves AEP: Arquivo Epitacio Pessoa AWB: Arquivo Wenceslau Brés ARJ: Arquivo Ribeiro Junqueira ARS: Arquivo Raul Soares AAB: Arquivo Artur Bernardes AJP: — Arquivo Joao Pinheiro ARB: Arquivo Rui Barbosa CPH: Colegio Jornal “O Pharol”, Juiz de Fora, Minas Gerais indice das Charges ee ae ee |= Varianpo 0 paabar, THEO, publicado originalmente em Careia, Rio de Janeiro, 22 (1103); 14, 10 ago. 1929. (IN: GUIMARAES, Manoel Luiz Salgado et alli (org). A revolugiio de 30: textos e documentos. Brasilia: Editora Universidade de Brasilia: UNB, 1982, Vol.1, p.91,)... . 20 Caricatura p& O Matto. Colecao Alvaro Cotrim. (IN: FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Rodrigues Alves: apogeu e declinio do presidencialismo. Rio de Janeiro: J. Olympio e Sao Paul da Universidade de Sao Paulo, 1973, volume 2, p. 543. Davt Campssta, KLIXTO, publicado originalmente na revista Fon Fon, Rio de Janeiro. (IN: VIEIRA, José de Aratijo. A Cadeia Velha: memoria da camara dos deputados. Brasilia: Senado Federal e Rio de Janeiro: Fundagao Casa de Rui Barbosa, MEC, 1980, p.101.) ..165 Pineiro MacHApo. J. CARLOS, publicado originalmente em Careta, Rio de Janeiro. (IN: VIEIRA, José de Aratijo. A Cadeia Velha: meméria da camara dos deputados. Brasilia: Senado Federal ¢ Rio de Janeiro: Fundagao Casa de Rui Barbosa, MEC, 1980, p.60.) ... 1192 Pintieiro Macao. KLIXTO, publicado originalmente em O Matho, Rio de Janeiro. (IN: VIEIRA, José de Araujo. A Cadeia Vella; meméria da camara dos deputados. Brasilia: Senado Federal e Rio de (eau Fundagio Casa de Rui Barbosa, MEC, 1980, p.92.) Rur Barposa. MADEIRA DE FREITAS, Arquivo Histéria da Fundagao Casa Rui Barbosa. (IN: VIEIRA, José de Aratjo. A Cadeia Velha: meméria da camara dos deputados. Brasilia: Senado Federal ¢ Rio de Janeiro: Fundagao Casa de Rui Barbosa, MEC, 1980, p.90. Agrur Berarpes. THEO, Arquivo O Globo. (IN: GUIMARAES, Manoel Luiz Salgado et alli (org). A revolucdo de 30: textos e documentos. Brasilia: Editora Universidade de Brasilia,1982, 2v, p- 205.) .. . 290 Quanpo & que vem 1880? STORNI, publicado originalmente em Careta, Rio de Janeiro, 23 (1126): 18 jan. 1930. (IN: GUIMARAES, Manoel Luiz Salgado et alli (org). A revolugao de 30: textos e documentos, Brasilia: Editora Universidade de Brasilia, 1982, Ly, p. 173... . 346 A Primeira Reptiblica é uma das fases mais estudadas da his- do Brasil. O interesse dos pesquisadores em focalizar as pr Meiras décadas do regime republicano tem produzido uma biblio- gratia j4 consideravel e que continua a crescer. Do acervo assim construido, 0 ponto forte diz respeito historia politica do perfodo. Embora os historiadores ¢ os cientistas sociais tenham dado ultimamente maior atengio aos seus aspectos econémicos, sociais e culturais, 6 no campo politico que se encon- {ram os tragos mais notaveis da Primeira Reptiblica. De fato, a mu- danca de regime em 1889 representou a possibilidade de uma rofundagao da vida nacional, anunciada pela propria idéia de Re- pliblica, com sua potencialidade democratica, a que se acrescenta- vam a instituigao do sistema federativo, a separacao entre o Estado a Igreja Catélica e a adogio do principio do sufragio universal. Contudo, os fatores de continuidade sobrepujaram os fatores de mudanga, e o que seria uma refundacao tornou-se recomposicaio ue elites, pelo alto. A Reptiblica foi, em grande medida, novo rétulo para uma velha garrafa. Por isso mesmo é que 0 estudo do processo politico desperta enorme interesse. E assim as andlises da politica das oligarquias, ilo coronelismo e das relagdes federativas nos ajudam a entender como se preservou no regime republicano o sistema de participa- gio restrita com 0 qual o Brasil havia inaugurado sua vida inde- pendente. Em busca da légica do processo, certas caracterizagdes do perfodo ganharam relevo pela sua aparente veracidade e por sua ‘aceitagao generalizada. E 0 que ocorre com a nogao de que teria 4 vigorado na Primeira Reptiblica um condominio mineiro-paulista, apelidado de “café com leite”. Visto como esteio do regime, ao ar- ranjo do “café com leite” se credita a estabilidade do poder das oli- garquias durante varias décadas. E ao rompimento da parceria en- tre os dois grandes estados se associa, como resultado inevitavel, o colapso do sistema em 1930. No entanto, a despeito de idéias tao arraigadas como esta, a hist6ria politica da Primeira Reptiblica é matéria bastante comple- xa, oferecendo aos pesquisadores campo fértil para testar e eventu- almente retificar interpretac6es correntes. E 0 que se conclui da lei- tura de “O Teatro das Oligarquias”, importante contribuicéo de Claudia Viscardi ao estudo do perfodo. Pesquisadora experiente, a autora se debrucou sobre vasta documentagao para construir e substanciar uma interpretagao al- ternativa a respeito da légica do processo politico da Reptiblica em suas primeiras décadas. Desse esforco resultou uma obra madura, empiricamente sdlida, muito bem estruturada em termos analiti- cos, convincente em suas conclusdes. O impulso da investigacaio de Claudia Viscardi derivou de sua dtivida a respeito da tese do “café com leite”. Em que medida se pode falar de coalizao entre Minas Gerais e Sao Paulo como eixo da estabilidade do regime? Para responder a esta questo, a autora procedeu a um minucioso exame das sucessdes presidenciais, reconstituindo a formagao das aliangas hegem6nicas em tais con- junturas. Sua andlise revela que a aludida parceria nao desempe- nhou a fungao estabilizadora que se lhe atribui. Na realidade, ela s6 vigorou na fase final do regime, e com resultados desfavordveis para a ordem federativa vigente. Sob esse Angulo, a Primeira Reptiblica abrangeu quatro fa- ses bem distintas. A primeira foi a da hegemonia militar. A segun- da, de 1894 a 1906, correspondeu a hegemonia paulista, com pouca participagao nacional das elites mineiras. De 1906 a 1918, deu-se 0 contrdrio: os mineiros ocuparam o proscénio, e os paulistas foram relativamente marginalizados. Entre 1919 e 1929, mineiros e paulistas compartilharam o nticleo do poder nacional, num esque- ma bastante restrito de dominio sobre o restante do pais. Uma das indicagées mais sugestivas de Claudia Viscardi refere-se, precisamente, ao sentido desestabilizador da parceria “café com leite” quando ela se concretizou nessa tiltima fase. Isso porque o seu funcionamento, de cunho duopélico, esvaziou em grande medida a influéncia dos demais estados, notadamente aqueles de 12 maior peso politico - 0 Rio Grande do Sul, a Bahia, 0 Rio de Janeiro ¢ Pernambuco - que até entio haviam desempenhado papéis rele- vantes nos processos sucess6rios. Ora, a l6gica do federalismo da Primeira Republica repousa- va na incerteza periédica da sucessao presidencial. A cada quatro anos a hegemonia tinha que ser recomposta. Isso se fazia por meio de maquinagoes politicas em circuito fechado, que a autora exemplifica com trechos de cartas e declaracées de figuras nelas envolvidas. Conversacées entre os protagonistas (os chefes das oli- garquias estaduais) tinham lugar, esquemas eram engendrados para atrair aliados e afastar competidores. Havia aproximagées, reaproximagées, vetos, retaliacdes , nao s6 entre pessoas e grupos, mas entre estados, como parte de um jogo de xadrez geopolitico. Assim, a instabilidade era condi¢ao para o relativo equilibrio do jogo das oligarquias. Tudo isso, evidentemente, era permeado por interesses mais amplos do que a mera captura de espacos de poder. Uma das hip6- teses que orientaram a autora diz respeito a importancia da esfera politica para a promogao dos interesses economicamente dominan- tes, vale dizer, os interesses da cafeicultura e do comércio do café. Os poucos estados que produziam café se empenhavam firmemen- teem manter o controle do governo federal, arena decisiva para 0 setor da agro-exportagao. Mas para manter esse controle os estados cafeeiros precisavam se compor com outros estados poderosos, de base econémica diversa, o que dava a estes tiltimos consideravel margem de influéncia na formacio das aliangas sucessérias. O pa- pel estratégico exercido pelos gatichos ao longo do regime ilustra bem a situagao. Como as aliancas de governo eram sempre datadas, valendo para um mandato, a hegemonia tinha que ser renegociada periodi- camente. As implicagées politicas desse padrao sao bem analisadas por Claudia Viscardi. Em primeiro lugar, o carater plural das com- posig6es oligarquicas conferia ao Estado certa autonomia perante os interesses em jogo. Isso se tornou patente com o crescente envolvimento governamenial na valorizacao dos pregos do café, em atendimento a demandas do proprio setor cafeeiro. O resultado foi o fortalecimento do Estado perante os interesses privados do- minantes, processo que prenunciava 0 modelo de Estado ativo, intervencionista, que caracterizou o periodo posterior 4 Revolugao de 1930, Tendo em conta essa dinamica, fica mais clara a conex&o entre os rumos da Primeira Reptiblica e o regime subseqiiente. 13 Em segundo lugar, o referido padrfio impunha algum limite ao exclusivismo das elites cafeeiras, as quais tendiam a identificar o pais com o café. A diversidade de interesses entre estados cafeei- ros e estados cuja economia se voltava predominantemente para o mercado interno era elemento essencial da cena brasileira nessa época. No apogeu do sistema de negociacéio oligarquica — entre 1906 e 1918—o distanciamento entre os primeiros (sobretudo entre Mi- nas e Sao Paulo) proporcionou aos segundos condi¢oes efetivas de influir em ambito federal. Porém estas condicdes foram alteradas quando Sao Paulo e Minas estabeleceram seu duopélio politico, ou seja, quando de fato operou'o esquema do “café com leite”, em de- trimento dos antigos parceiros. Somando-se aos varios fatores de ctise que emergiram ao longo dos anos 20, a dicotomia entre os interesses exportadores e os interesses ligados ao mercado interno se transformou num fosso que concorreu fortemente para inviabilizar o regime. Nesse sentido, Claudia Viscardi acrescenta novos elementos de suporte a interpretagao politica da Revolucéio de 1930 introduzida por Boris Fausto em estudo classico do tema. A autora examina as conjunturas sucessérias com um olhar mais detido para a légica da atuagao da elite politica de Minas. E o terreno mais adequado para submeter a tese do “café com leite” ao crivo analitico desejado, diante do debate existente na literatura a respeito dos interesses (econdmicos ou estritamente politicos?) da oligarquia mineira na indigitada parceria com os paulistas. A in- vestigacao assim conduzida representa uma importante contribui- ao a historiografia mineira. Ajuda a esclarecer a quest&o contro- versa da diferenciagao entre os dois estados no tocante as relagoes entre economia e politica ou entre 0 Estado ¢ o sistema produtivo. Claudia Viscardi se opée a perspectiva que identifica em Minas uma oligarquia essencialmente burocratica, dissociada do mundo da producao, em contraste com a oligarquia paulista, organicamente ligada ao café. Prope, ao contrario, que a distingao entre os dois estados era basicamente quantitativa, de nivel de desenvolvimen- to, e n&o qualitativa, entre um modelo de representagao de interes- ses e outro burocratico. Ambas as elites atuavam de modo andlogo com 0 objetivo de promover os interesses de seus produtores. Nesse ponto cabe assinalar que o carter diversificado da eco- nomia mineira introduz certa complicagio ao debate. Minas nao era um estado cafeeiro do mesmo porte de Sao Paulo, Sua produ- cdo era bem menor e além disso a cultura do café estava concentra- da em apenas duas areas, o Sul e a Mata. Contudo, eram Areas prés- 14 as e de grande peso politico na época, o que dava fundamento a ypretacdo tradicional do arranjo entre os dois estados como ex- io de interesses de classe (isto é, do setor cafeciro). Contra ieléia é que se construiu a nogao de que, do lado mineiro, 0 \jo nao se assentava nesses interesses, que nao seriam tao rele- tes, mas em objetivos eminentemente politicos de preservacéo oligarquia por meio do uso patrimonialista do Estado. Ambas yertentes pecam pelo reducionismo. A alternativa café versus litica de clientela nao condiz com a realidade da economia mi- na Primeira Reptiblica, marcada pela diversidade interna, tanto » setores produtivos quanto entre sub-regides com perfis com- iamente distintos, como alias ocorre até hoje. Se em Minas a tvalidade do governo em relagao ao setor privado era maior que Sho Paulo, a raz principal estaria na multiplicidade de inte- 08 a compor, 0 que logicamente requeria a agao do Estado e im fazia expandir a buroeracia. Alias, 86 quando se leva em conta esta diversidade interna inas 6 que se pode compreender como foi possivel a oligar- mineira transitar da alianga com Sao Paulo nos anos 20 para tra composigio que expressava os interesses da produgao de reado interno contra Sao Paulo no conflito terminal da Primeira liblica. Minas era café - e continua sendo, pois ha muito ocupa rimeiro lugar na cafeicultura brasileira. Mas era também leite, 0 indicava 0 apelido “café com leite” em alusao a sua pecuaria. ra arroz, feijéo, milho, agticar, queijos, téxteis, mineracdo, rurgia, 4guas minerais. A esses comentarios, provocados pelo estudo de Claudia cardi, convém acrescentar um tiltimo ponto. O valor de sua pes- ‘a nao resulta apenas da contribuicao que oferece 4 historiografia eira Reptiblica. Igualmente importante é sua percepgao do 880 politico em si. O “teatro das oligarquias”, para ela, nao era jogo de cartas marcadas, como fica claro no caleidoscépio das junturas sucessérias analisadas. A politica é certamente pauta- por contingéncias, mas é também espaco de opgoes, de estraté- 4, de preferéncias dos atores. Ao evitar as armadilhas do jorminismo e ressaltar 0 que havia de aberto na histéria que nar- » analisa, este livro se constitui em trabalho exemplar no ambito Hist6ria Politica. Otavio Soares Dulci 15 O erro bisico de todo materialismo politico - materialismo este que nto é de origem marxista nem sequer moderna, mas tao antigo quanto a histéria da teoria politica - é ignorar a inevitabilidade com que os homens se revelam como sujeitos, como pessoas distintas ¢ singulares, mesino quando empenhados em alcangar um objetivo completamente material e mundano. Eliminar essa revelagtio - se isto de fato fosse posstvel- significaria transformar os homens em algo que eles nao sito; por outro lado, negar que ela é real e tem conseqiiéncias proprias seria simplesmente irrealista. Hannah Arendt Lima Barreto, indo além dos limites de seu proprio tempo, ou do offcio, intrinsecamente nacional, de caricaturar seu rio pais, ao caracterizar a Primeira Reptiblica Brasileira, com. etdfora de um pais inexistente, “A Reptiblica dos undangas”. Para Assis Barbosa, 0 termo expressaria um. de trapalhadas e encrencas, confusamente manifestadas, .yés da construgao de um sistema institucional, inspirado no lelo norte-americano, e exercido pelos grandes estados: 0 dos (Minas Gerais), o dos rios (Rio de Janeiro), o da cana ambuco) e o do Kaphet (Sao Paulo).' Oautor retrata irénica e comicamente uma realidade vivida ele e narrada pelos historiadores: um pats, cuja marca politica cipal era a hegemonia polftica dos grandes estados. voduz criticamente seu modelo de Federalismo; zomba {falseamento das instituicdes pretensamente democraticas; la elite de seu tempo. Esobre este modelo politico de Reptiblica que pretendemos ofundar a andlise. Escolhemos como foco primordial a mada politica do café com leite, expressio que inspira a ‘emonia politica dos dois estados cafeeiros: Minas e Sao Paulo, ante toda a Reptiblica Velha. Nossa intengdo € questionar o ter hegeménico, permanente e isento de conflitos dessa alianga. O que ora apresentamos ao leitor é uma verso resumida nossa tese de doutorado, defendida em 1999 na Universidade ROSA, Assis (org.). Os melhores contos: Lima Barreto, 3ed, S40 Paulo: Global,1893, p. 8. 19 Federal do Rio de Janeiro, sob orientag&o da Profa. Dra. Marieta de Moraes Ferreira. Para esta verso foram exclufdas, entre outras, referéncias especificas a politica interna mineira, as quais venho paulatinamente publicando sob a forma de artigos.* Aorigem da expresso café com leite ainda reina no campo das hipoteses. Armelle Enders afirma que a expressao tornou-se popular, provavelmente, ao final dos anos vinte. Cita a divulgagao de um maxixe datado de 1926, que continha referéncias aproximadas 4 expressao. O mesmo se deu com 0 samba de Noel Rosa, que € de 1934, onde se fazia alusées ao fato de Minas produzir leite e Sao Paulo 0 café. * Antes mesmo das cangGes citadas, a imprensa divulgou um cartoon (reproduzido adiante), no ano de 1929, que contém referéncias indiretas 4 expresso. Mas nao se sabe ao certo, exatamente o perfodo em que ela tornou-se difundida. VARIANDO. O PALADAR WL = Café com Ieite # J1G\, = Essa historia de eaté com leite ji estd pio! traga-me um churrasie, ® VISCARDI, Cidudia M.R. Minas Gerais no Convénio de Taubaté: uma abordagem diferenciada, CD-RON dos Anais do Ill Congresso Brasileiro de Histérie Econdmica © IV Conferéncia Internacional de Histéria de Empresas, Curitiba: ABPHE,1999; VISCARDI, Claudia M. R. Minas de dentro para fora: 8 politica interna mineira no contexto da Primeira Repibica, Locus, Revista de Histéria, Juiz de Fora: EDUFJF, volume 5, nimero 2, 1999; VISCARDI, Claudia M. R. Elles politicas mineiras na Primeira Reptiblca brasileira: um levantamento prosopogréfico, CD-RON dos Anais das Primeiras Jornadas do Historia Regional Comperade, Porto Alegre: 2000. * ENDERS, Amelie. Pouvoirs et federalisme au Bresil:18B9-1930. Tese de doutorado. Paris: Universite de Paris IV- Sorbonne/institut dhstoire, 1993, p. 46 (nota 40). « GUIMARAES, Manoel L. Set ali(orgs.), A revolugdo de 30: toxtos e documentos, Brasilia: UNB, 1982, volume 1, p. 91. : 20 ‘Na pesquisa que fizemos, em grande parte das fontes ais dos acontecimentos do periodo, nao encontramos referéncia & expressao. Muito embora a imprensa nao idlo nossa fonte prioritaria de pesquisa, tivemos acesso a ;onsideravel da mesma, sem naturalmente esgoté-la. inte no encontramos qualquer referéncia a relagéo café Hie, ugerimos a hipdtese, a ser comprovada em eventuais jiisas futuras, acerca do periodo pos 30, de que a expressao sido divulgada pelo regime Vargas, com o fim de ificar a Reptiblica Velha, em funcao da ruptura pretendida sjoverno, em relacao aos eixos basicos do regime pregresso. Segundo Pedro Fonseca’, foi durante o perfodo que liou a divulgacao dos resultados eleitorais e a deflagragao mento revolucionario, que Vargas comegou a alterar o seu #0 quando se referia ao regime republicano. Tal mudanga do #0, que se deu no sentido de desqualificar o regime anterior, damental para o projeto politico varguista nos anos louros. Para justificar a implantagao de um estado mais lizado e autoritario, Vargas precisaria, necessariamente, sper com o passado e com o regime federativo. Acreditamos ha sido, por esta ocasiao, que se produziu, no discurso, a ile quea Primeira Reptiblica fora monopolizada pela alianca om Ieite. Com o fim de desprestigiar o carater liberal do mie predominante na Velha Republica, Vargas denunciaria {orgdes de seu Federalismo, a partir dat, enfocado como mero revezamento entre dois estados poderosos. Como os 108 anos da Repuiblica Velha haviam sido, de fato, dominados ta alianca - conforme sera visto - o discurso produzido foi ‘ aceito e incorporado pela historiografia. A estratégia escolhida para a contestagao da tese da politica cont leife foi a andlise das sucessdes presidenciais. Elas sistiam nos arranjos politicos mais importantes da Primeira blica, Através delas, é possivel perceber como se compunham lecompunham parcerias politicas entre as unidades federadas, nadas auténomas, a partir da Constituigao de 1891. NSECA, Pedro C. D. Vargas: O capitalismo em consirugao: 1906-1954, So Paulo: Brasiliense, Ip, 193. at No decorrer da leitura, o leitor perceberé o enfoque slado sobre uma das unidades federativas a compor a café com leite, qual seja, Minas Gerais ¢ isto se devea varias Minas desempenhou fundamental papel na organizagao ementacéio do modelo politico em vigor no periodo. ou com a mesma énfase em sua desagregacao. Além de a maior representagao eleitoral no cendrio federal, durante 4 Primeira Republica, era o segundo maior estado em iincia econémica, através de sua producao de café. Ala Dividimos o trabalho em oito capitulos. No primeiro, 5 uma discussao historiogréfica relativa a alianga politica # com leite e de seus fundamentos econémicos. Foi tada, igualmente, uma abordagem alternativa acerca das las aliancas politicas processadas no contexto oligdrquico. segundo capitulo tratou da instalagado das bases de um Jo de relag&o entre os estados na Primeira Reptiblica que aria ao longo dos anos. O foco central foi a andlise do 40 sucess6rio ocorrido no governo Rodrigues Alves. Esta ve como marco principal a quebra do monopélio e vigorava desde a Ao contestar a existéncia de uma abordagem que, para quase totalidade dos historiadores, serviu de fundamento estabilidade do regime politico da Primeira Republica, qual seja, o daalianca mineiro-paulista, torna-se imprescindivel apresent: um novo arranjo alternativo, que tenha conferido ao sistema um grau minimo de funcionalidade. Dessa forma, sugerimos uma hipétese central a nortear presente pesquisa. Ela diz respeito ao modelo politico em vigor no periodo em foco. Afirmamos que ele teve a sua estabilidad garantida pela instabilidade das aliancas entre os estadog politicamente mais importantes da Federagio, impedindo-se, a um s6 tempo, que a hegemonia de uns fosse perpetuada e que a exclusao de outros fosse definitiva. Tal instabilidade péde conter rupturas internas, sem que o modelo politico fosse ameagado, até o limite em que as principais bases de sustentagaéo desse modelo deixaram de existir, ocasionando a sua capitulacao. Para a comprovacao dessa hipétese central, partiremos de dois pressupostos basicos. O primeiro diz respeito a Minas: Gerais. O estado viveu internamente, durante todo o perfodo em foco, arduas disputas intra-elitistas, que interferiram na luta: Ppor sua projecao nacional. Assim, a sua importancia politica no periodo nao derivou do apaziguamento interno de suas divergéncias, mas, sobretudo, de seu poder econdmico, condicionado por ser 0 segundo maior exportador nacional de café, aliado ao fato de possuir 0 maior contingente eleitoral. Osegundo se refere as relagdes entre o Estado Republicano e a cafeicultura. O fato de a economia agro-exportadora, O quarto capitulo tratou da sucessao de Afonso Pena. predominante no perfodo em foco, estar condicionada a ascensao you-se comprovar que, muito embora tivesse ocorrido uma de pregos do mercado internacional para a ampliacao de seus tiva de aproximacao dos paulistas em relacao a candidatura lucros, a tornava refém das politicas cambial, fiscal e monetaria ina de David Campista, 0 candidato nao possufa 0 respaldo estabelecidas nacionalmente. Portanto, a esfera da politica se ais importantes do PRM, impedindo-se a constituia de importancia fundamental para que os interesses stizagéo de uma alianga em torno de seu nome. econémicos dos cafeicultores fossem contemplados. Dai, 0 O quinto capitulo tratou do governo Hermes e de sua interesse premente, dos estados cafeicultores, em manterem-se no yo. Procurou-se conferir uma interpretacao diferenciada poder. Ao mesmo tempo, a necessdria alianga com estados nao da politicas de “salvac6es”, realgando o papel do Exército cafeicultores, aliada 4 luta constante por hegemonia limitaram a © ator polftico. Ao mesmo tempo, destacou-se uma anilise aco dessas elites na defesa de interesses exclusivistas, garantindo Pacto de Ouro Fino", desmistificando as teses que apontaram ao Estado Republicano a detengao de certa margem de autonomia, ento como 0 simbolo formal de uma alianga entre Minas e em se tratando dos interesses do café. Paulo. iafio te % sta sobre o cargo presidencial, qu aio de 1894, ; r O terceiro capitulo tratou especificamente do Convénio de até, Procurourse, através da andlise das relagdes politicas, idas em torno da primeira politica de valorizagao, istificar que seu fundamento estivesse na alianga nacional Minas e Sao Paulo. politicos mi 22 im to quantitativo.* Mesmo assumindo o risco de envolver o «em um mundo de atores, interesses e circunsténcias leas, os mais diversificados, acreditamos ter sido esse 0 Jhor caminho de exposicao de nossos argumentos. (Além de ser uma narrativa, este trabalho esté inserido no po da Histéria Politica. Como o leitor também podera ber, ele se encontra a meio caminho entre uma Histéria e produzida no contexto da “segunda geracao” sivales ede sta recente renovacao: Isto implica em assumir , ao tratarmos de fatos histéricos predominantemente de ‘iler politico, buscamos sempre relaciond-los ao contexto snOmico, social e, com menos incidéncia, ao ambiente cultural qual foram gestados. Para que tal objetivo pudesse ser ingido, recorremos a um “velho” conceito, recentemente Jomado sob nova 6tica por R. Rémond,’ qual seja, 0 conceito i) sutonomia relativa do politico, de autoria de Anténio Gramsci. ie conceito serviu de parametro norteador de toda a noss hordagem acerca das relagées entre as elites politicas e -onémicas. De Gramsci também nos apropriamos do contig shegemonia, que consiste numa construgao de grupos aliados © exercem uma diregao politica, intelectual e ideolégica e tempo, podendo prescindir de ‘a dominacaio econémica, nao existindo uma correspondéncia ea de Washington Luiz) e da Revolucdo de 1930. A primeira (iveta entre a infra-estrutura econémica e a superestrutura sucessdo, em razao de seu cardter consensual, mereceu uma \{tica. O vinculo entre as duas é organico a abordagem também breve. A segunda foi abordada com maior o-politica que se resolvem as principais contradigdes profundidade, identificando-se as razdes da rapida ruptura da ‘ondmicas: alianga mineiro-paulista. Para isto, foram enfocadas as politicas Pode parecer estranho ao leitor 0 fato de nos utilizarmos econdmicas relativas ao café, que foram empreendidas ip parte das prerrogativas metodolégicas gramscianas, ao naquele contexto. Por fim, analisou-se a reacdo armada contra esmo tempo que optamos pelo uso do conceito de elite e nao a eleigdo de Juilio Prestes, identificando o seu impacto sobre 0) Je classe, categoria adotada por Gramsci. Acreditamos que 0 desgaste do pacto politico republicano, que se consumaria onceito de elite - o qual parte do pressuposto de que em toda a posteriori. 4ociedade existe uma minoria que detém o poder em Osexto capitulo tratou das duas sucessées ocorridas, fin © governo de Wenceslau Bras. A primeira delas, de cardtef consensual, teve uma andlise menos delongada. A segunda, qi deu origem a escolha de Epitacio Pessoa, buscou comprovar a dificuldades existentes nas tentativas de composigao de ur alianga mineiro-paulista. Foi abordada, também neste contexto, a segunda politica de valorizagao do café, de forma meno aprofundada, j4 que, em fungao do contexto em que foi projetad| - o da I Guerra Mundial - nao ofereceu muitos subsidios qué contribuissem com as andlises pretendidas pela pesquisa. O sétimo capitulo tratou da Reagao Republicana, evento evento marcado por duas inovacées fundamentais. A primeira diz respeito a concretizacao de uma alianga mineiro-paulista, dé carter conjuntural e eivada de conflitos. A segunda refere-se emergéncia de novos atores politicos, formados nao sé pelag. oligarquias regionais renovadas, como pela presenca de setor médios, militares e trabalhadores. Foram abérdados també neste capitulo a terceira politica de valorizagao do café e of problemas politicos dela advindos e de sua relacéo com 0 Pprocesso sucess6rio. O tiltimo capitulo trata de duas sucessGes (a de Bernardeg Como 0 leitor podera perceber, este trabalho se constitu! ———— r : em uma narraiva segunclo a pensa Lawrence Stone, Para o autor Pion ne, rnin raraen tn es en tal estilo consiste em organizar materiais em seqiiéncia | REMOND, René, Por que a Histéria Politica? Revista Estudos Histéricos, Rio de Janeiro: FGV! cronolégica, concentrando 0 contetido em uma tinica historia Bee se eee PORTELLI, Hugues. Gramsci oo bloco histérco, coerente, embora envolvendo sub-tramas. Volta-se sobre 0 heen ated so Cre FO ee ier ee homem e menos sobre as circunstancias; trata do particular ¢ partido, 2ed, S40 Paulo: Brasiliense, 1992. 25 24 contraposigao a uma maioria que dele esta privada ~ seja mail apropriado para o entendimento das relagées de poder qui queremos analisar na Reptiblica Velha. Por estarmos mai interessados nos conflitos que se dao no interior da propria elite a Mesma Pega Ao iniciarmos a volumosa pesquisa que resultou em nossa) tese de doutorado, tinhamos por objetivo realizar uma revisao historiografica sobre um modelo de federalismo republicano: bastante consolidado.pela historiografia nacional. Ele foi cumprido. Agora, ao trazer a pesquisa a um ptiblico maior, em forma de livro, nosso objetivo também se ampliou rumo a consolidagao de nossa proposta revisionista. Tal objetivo, porém, bem mais ambicioso, s6 seré realizado na medida em qi pesquisas complementares acerca do tema possam proliferar, Assim, esperamos que este livro contribua para o despertar novas dtividas, novas questées e, sobretudo, novos interesses. (Os que clamam por observar fatos sem pressupostos intelectuais enganani-se a si mesmos. Algumas generalizagdes antecipadamente aceitas, em cujos termos julgamentos de importincia podem ser formulados, silo necessdrias para 0 historiador, se nao quiser ser envolvido pela enorme massa de | detalhes que confronta.’ te capitulo tem por objetivo discutir as bases do mo Brasileiro que vigorou durante a Primeira Republica. im do tema, de forma direta ou indireta, e da pesquisa ‘ira realizada, procuramos definir as bases de um modelo durou intacto, durante boa parte do regime republicano. mo tempo, procuramos identificar as causas responsaveis Jin progressiva erosao, ao longo do proprio regime. ‘Conforme afirmamos na Introdugao desse trabalho, o nosso © primordial é contestar a existéncia da alianga café com omo o eixo de suistentagao da Reptiblica Velha. O objetivo oO 0 remeté a diias contingéncias. A primeira é abordar, de ictitica, como o referido eixo foi tratado pela historiografia, lo a justificar a sua desconstrugao. A segunda é propor idlise alternativa 4 que estava em vigor. 11+ Federalismo Brasileiro: Parametros Atuais de Discussao Historiografica ————_ 4.1.1- A “Geocraria” pas OLIGARQUIAS: | Para o conceito de elite adotado ver BOBBIO, Norberto et ali, Dicfondiro de politica, Brasilia: UnB, 1986, p.385 a 391. Acerca da teoria das elites ver: ALBERTONI, Ettore A. Doutrina da classe politica e teoria das elites, Rio de Janeiro: Imago, 1990; DAHL, Robert A. Uma critica do modelo de elite dirigente IN: PARSONS, Talcott et all. Sociologia poiltica iJ, Rio de Janeiro: Zaher, 1970, p-p.90-100; MARTIN, Roderick. Sociologia do poder, Rio de Janoiro: Zahar, 1978; BOTTOMORE, T. As elites @ a sociedade, Rio de Janeiro: Zahar, 1965; MILLS, Wright C. A elite,do poder, Rio de Janeiro: Zahar, 1962. Nos trabalhos acerca da Primeira Republica, produzidos a iy do seu término, ou seja, no pés 30, é comum encontrarem- ical Objectivity, a"Noble Dream’? IN: WEHLING, Amo. A invengao da Histéria: obre o historicismo, Rio de Janeiro: UGF/UFRU, 1994, p. 129, epud. Prngnl «pert, on,” ce, 0% | rio. hfs porte, toft by, 26 a ee rg et a eae epee i neem ne Lesyortta obyInbs te-henooce jvbyo | sipre associado ao cumprimento de um apel desagregador | ordem estavel do regime. Todas as vezes que a alianga Sho Paulo vivenciava uma crise, o Rio Grande do Sul era tado como um tertius.> | a busca de elementos que levariam os gatichos a terem uma Janeiro, Pernambuco e Bahia, 4 segunda grandeza; os demi © relativamente aut6noma no quadro nacional, os estados brasileiros, a terceira grandeza. As oligarquias dominan| {isaclores costumavam relacionar tal postura as especificidades tinham seu poder fundamentado em uma economia dinamica, 4 interesses econdmicos. Alegava-se que, por estar o Rio ide do Sul volta i rcado interno, leresses seriam necessariamente distintos daqueles estados dos para a economia agro-exportadora.® Nao cabe aqui contestar, com profundidade, a rsidade entre os interesses econdmicos dos estados e de | vlacdo com o desempenho nacional dos mesmos. Mas 0 anunciamos, por hora, a ser abordado no decorrer da I {jutisa, é que o desempenho politico do Rio Grande do Sul, | fera federal, nao esteve necessariamente condicionado | iefesa de politicas nacionais voltadas para a protegdo das momias de mercado interno. Ao mesmo tempo, Minas ais dispunha de uma dinamica economia de mantimentos , embora nao fosse hegeménica no estado, abarcava a jor parte de seus municipios rurais. Caso este argumento «© valido, o carater da produc&o econémica gaticha, ao os de afastar gatichos de mineiros, contribuiria para a sua yoximagao. Um outra referéncia comum ao desempenho federal dos jichos relaciona-se a sua parceria estabelecida com os militares. condic&o de elementos desagregadores, o Exército e os oO se algumas tendéncias recorrentes.* A primeira delas diz respeill a hierarquia dos estados na Federagao. Barbosa Lima Sobrinh foi responsavel pela disseminagao de um esquema que divi as oligarquias estaduais em trés classes ou grandezas: Min. dispunham. As demais caminhavam ao reboque da Histéri disputando, entre si, as migalhas de soberania, distribufdas p “triunvirato” hegems6nico: Os quarenta anos de federalismo brasileiro resumem-se a un segunda, de terceira classe, segundo podiam candidatar-se presidéncia, @ vice-presidéncia da Repiiblica, ou @ cols nenhuma? Oelocomum entre os varios trabalhos encontra-se na idéit de um “triunvirato”, composto pelos estados de Minas Geraii Sao Paulo e Rio Grande do Sul, responsavel pela condugad politica do regime.* Uma segunda tendéncia recorrente na historiografia tem a ver como papel do Rio Grande do Sul na Federacao. O estadé ? Dada a extensio dos trabalhos produzidos, optamos por fazer recortas, sem os quais a taréf en tes proposta ficaria inviabilizada. Nao serdo tratados os trabalhos produzidos antes de 1930. Pelt emotiva: Sao Paulo na federagdo brasileira: 1889-1937, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. pesquisa que nos fol possivel realizar, nao encontramos nenhuma referéncia a alianga café coll 9, FRANCO, Afonso A. de M. Rodrigues Alves: apogeu e declinio do presidencialismo, Rio de Ieite neste periodo. Acerca do pés-30, optamos por realizar uma escolha obedacendo a critério iro: José Olympio, 1973, p.238; ENDERS, Amelie. Pouvoirset..op.cil p. 329. Para Campelo qualtalivos. Selecionamos os autores que trataram, com determinado nivel de prioridade, 0 te 1uza, 0 triunvirato hegeménico ora formado pelo PRM, pelo PRP e por Pinheiro Machado do Estado Republicano ou que contibuiram, de alguma forma, com sugestées em prol dil OUZA, Maria do Carmo C. de. O proceso poltico-partidario na Primeira Repdblica, IN: MOTA, construgo ou desconstrugao do modelo em vigor. ‘los G. (ora,). Brasil em porspectiva, 15ed., So Paulo: Difel, 1985, p.188. Steven Topik afirma 8 BARBOSA, Francisco de Assis. Juscelino Kubitschek: uma reviséio na politica brasileira, Rio nndo obstante o fata dos trés estados juntos nao controlarem 0 Congresso, eles controlavam Janeiro: José Olympio, 1960, p. 324-325- apud. Edgar Carone esbogou uma “geografia das oligarqui [xecutivo Federal. TOPIK, Steven. A presenca do estado na economia politica do Brasil de dividindo-as em oligarquias partidérias (Minas, Séo Paulo e Rio Grande do Sul) - marcadas ! Record, 1989, p. 27. rigidas estruturas partdarias — e oligarquias pessoais (demals estados) -fragiizadas pelas faogd relacionadas a politica de parentela, CARONE, Edgar. A Republica Velha: inslitulgSes e class0) 181, p.33e 119. Lov , Lp. sociais (1889-1930), 5ed, Rio de Janeiro: Bertrand, 1988, p. 273 a 287. Iglésias fala de oligarq| n ostadista na Republica, Rio de Janeiro; José Olympio, 1955, p. 479. PERESSINOTTO, Renato | de primeira a quarta classe sagundo sous potenciais de intervengao sobre a polltica IGLESIAS Classes dominantes ¢ hegemonia na Republica Velhe, Campinas: Unicamp, 1994, p. 204. Francisco. Trajetoria politica do Brasil (1500-1964), Sao Paulo: Cia das Letras, 1993, p. 209. RESSINOTTO, Renato M. Classes dominantes...op.cit. p. 214, Esta concepeao esta presente * Varios autores defendem a idéla de hegemonia do “triunvirato”. Entre eles destacamos LO' mbém em: MARTINS FILHO, Amilcar. A economia politica...op.cit. p.126 ¢ LOVE, Joseph. O Joseph. O regionalismo gaticho, S40 Paulo: Perspectiva, 1975, p. 118 e 117 LOVE, Joseph, a cppuasi,_s0 dufetrls 2 29 PFC ge {a eee San age ene » be Yer nhl. liyenciada. Partiu-se do pressuposto de que o Estado»: ronslituiu-se em mero instrumento, sob 0 controle das pec beta atuando em prol do atendimento oo Ela Notsel We. 4° fey abe gatichos costumavam se unir para fa ean hegemonia Minas-Sao Paulo.” Ao longo deste trabalho, se perceberd que o poder d intervengao do Rio Grande do Sul sobre o regime republic foi muito consideravel. Através do exame de sua atuacio, no} processos sucessérios, perceberemos que nem sempre ela se det inentés do regime republicano, esperamos resgatar de forma desagregadora ou mesmo alternativa a crise di jitivamente auténomo desses dois agentes politicos. hegemonia mineiro-paulista. E de que o Exército nem semp! mio tempo, ao relativizarmos 0 grau de interferéncia dos atuou ao seu lado, guardando uma relativa margem de autonomig ‘aleicultores sobre 0 controle das politicas ptiblicas, Uma outra tendéncia recorrente na historiografia dil patar os niveis de autonomia do Estado Nacional, respeito aos papéis dos diferentes atores politicos do regime. AG { feito na andlise das politicas de protegao ao café. conferir aos estados-atores 0 poder de vida e morte sobre 0} destinos do Estado Nacional, a participagao de outros agente} foi subestimada ou relegada ao mero papel de espectadores. Aq nos referimos ao Exército e ao préprio Estado Nacional. 40 papel desempenhado pelo governo Campos Sales et BO Pape “EsTapiLizapon” DE Campos Sates De ator principal dos primeiros dez anos da Republica, _fegime republicano. As referéncias ao seu governo Exército passou a ser abordado como mero coadjuvante no; voltadas para o éxito do presidente paulista em demais periodos, s6 voltando a ter a sua acdo destacada, na estabilidade ao regime, através das mudancas década de vinte, quando sua participacgao, em prol da lonais por ele realizadas."? desestabilizagao do regime, foi realgada. Em geral, o papel a cle “politica dos estados” de Campos Sales tratou-se de uma 4 io, atribuida por ele mesmo, a uma nova forma do ez ‘ vo Federal relacionar-se com os estados-atores. Segundo também encontrarem-se referéncias ao controle que as oligarquia, ‘© propria do regime republicano, Campos Sales achava tiveram sobre o governo militar de Hermes da Fonseca.* instabilidades da ae tinham por fundamento as des ease exi: 0 Executive eo gl : f que dividiam o mondarquico e do eet -30, o interregno da Primeira SVisto como 6 perfodo de sua aus sgime, Soe ae por uma conjuntura autonomia como ator politico durante o regime foi, por ae | provocada pela cisdo do Partido Republicano Federal e dividi resso entre republicanos e LOVE, Joseph. O regionalismo..op. ct. p. 118 @ 116. LOVE, Joseph. A focomotiva..op. cit. 9.27 mpeldividiu’ o CongressojentieatcD ah SCHWARTZMAN, Simon. Um enfoque tedrico do regionalismo politico, IN: A palitica tradicio irados. Esta diviséo havia contribuido para fragilizar o brasileira: uma interpratagao das relagbes entre o centro e a periferia, IN: BALAN, Jorge (org) Centro e periferia no desenvolvimento brasileiro, Sao Paulo: Difel, 1972, p. 108. "FRANCO, Afonso A. de M, Um estadista...op.cit. p. 653. Souza também relega os militares born esta idéia esteja disseminada no decorrer de multas obras citadas, encontra-se dominio das cligarquias hegem@nicas. SOUZA, Maria do Carmo C. de. © processo politico leh FRANCO, Afonso A. de M. Um estadista...op.ct.p.477. PANG, Eul-Soo. Coronelismo partidério na Primeira Republica, IN; MOTA, Carlos G. (org.). Brasif em...op.cit. p. 203 e 224, jas (1889-1943): a Bahia na Primeira Republica brasileira, Rio de Janeiro: Civilizagao | 1979, p. 23. onferiu a0 regime oligarquico um tom imobilsta, sob o domin’o hegemdnico da alianga oligérquics Hlonato. A invengao republicana, Rio de Janoiro: Vértice, 1988, p. 142; CARONE, Edgard. entre Minas 6 S80 Paulo. FAORO, Raymundo. Os danas do poder. formagao do patronato politiod 1 ropiiblica (1869-1990), Sao Paulo: Difol, 1975, p. 101. Afonso Arinos afirma que @ brasileiro, 6ed, Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1984, volume 2, p. 542. Para Jodo Cruz.Costa o Exércit {ios governadores foi a concretizagao do Federalismo no Brasil. FRANCO, Afonso A. de afastado pelas cligarqulas do poder, passaria a atuar como um “Poder Moderador’, agindo toda fslaclista...op.cit, p. 474 @ 475, Para Iglésias, a estabilidade do perfodo ¢ vista como ‘as vezes 6m que se fzesse necessério estabiizaras insltuigdes COSTA, Jodo C, Pequena Histd Bi contin oro igarquias. IGLESIAS, Francisco. Trajetoria ae .op.ci. LZ da Ropiblica, 2ed, Rio de Janeiro: Civiizagao Brasileira, 1972, p. 67 6 68. — 2p ‘ ee 12 wag a Ache £S. Fs Wo 20 Exe ty Cla) ay 0 Legis ane 30 ee Oe ee sane Dh coe (0 aps cn deo im lee od a hetweno Chay Bhool > flifiie. olor €ge Catete, tornando a gestao de Prudente de Morais totalment 5\ Sf. oe ee ee ge Ok ros 00 de Cagrere9 . tne ok led eo) ‘cia da Camara derivaria da indicagao do situacionism iiivo Federal garantiria o seu controle sobre a renovagao rosso. Ela, porém, nao durou muito. Como serd visto, ‘0 de presses politicas sobre o governo Afonso Pena, 0 io foi novamente alterado, voltando a funcionar como ‘orlanto, esta primeira alteragaéo regimental teve breve estéril, segundo sua avaliagao." A solugao apontada por ele implicava em conferir 4 Executivo Federal um maior grau de autonomia em relacao @ Parlamento, palco das principais disputas. Ao mesmo tempi pretendia desatar os nés gérdios geradores das discérdias no ambill | do Legislativo, através da realizacio de junta com 0 J estados, denominada por ele de “politica dos estados”,a qual 4 segunda mudanga teve um impacto muito maior sobre ® | enseusemmanteesearnannon com 0 Executivo Federal, ser ©, no s6 pelas suas conseqiiéncias, como pela sua jue abrissem mao de sua autonomia constitucional.”? eiicia. Através dela,o diploma do deputado eleito passou Pelo que se encontra implicito em seu trabalho, iin de apuracao da eleigao, assinada pela maioria da hegemonia do governo federal nao seria repassada aos estado ) apuradora,no Ambito do municipio. Com esta medida, atores. Caberia a eles apoiarem o Catete, fortalecido em seu podt ‘ise que fossem enviadas ao Congresso, duplicatas de de arbitrio. Dessa forma, o modelo de Estado Nacional propos! i que © mesmo optasse pela veracidade de uma e a por Campos Sales pairava nas alturas, Je cla outra. O resultado mais imediato dessa medida foi \l regionais, relegados aos estados-membros. Daf as referéncias qui IDpigio dos conflitos do Congresso para fora dele. Cabia fazia a necessidade de erigir-se um Executivo Federal de cardte ‘Jocais’a escolha dos deputados eleitos que comporiam meramente administrativo, infenso as disputas e interess¢| Jativo Federal. Nao obstante a votacao se desse no tegionalistas. A despolitizacao do Estado ‘Nacional ser! pio, a filtragem final ficaria sob a responsabilidade dos OS } contraposta a politizacdo dos estados-atores, resguardando-se @ regionais que, através de suas comissGes executivas, poder soberano e auténomo do Catete.— lam a composicao de suas bancadas. Como dissemos, 0 Para a resolucao dos conflitos que perturbavam a order] 4 deixava as fronteiras federais e se imiscuia nos estados. do Congresso, C. Sales propés algumas mudancai inato Lessa afirmou que esta medida contribuiu também. _Internoda Camara. Tais modificagées visavam conter as disput esvaziamento da soberania do Legislativo Federal, na partidérias no Ambito do Parlamento, que tanto ameagaram em que as eleicées j4 vinham decididas, esvaziando-se" ordem da gestao Prudente de Morais. Elas tiveram um impact 1 «la comisséo de reconhecimento sobre as mesmas."? politico fundamental para a estabilizacéo do regime, naquel fas na pratica, conforme seré visto, 0 esvaziamento da momento. Esta modificagao ocorreu através de duas medidas. A 9 de reconhecimento n&o ocorreu. A despeito do envio de primeira, relativa 4 eleigao da Presidéncia da Camara, e Hin lista pelos estados, acomissa ‘a o poder de contestar_ segunda, relativa ao envio das atas eleitorais para o Congressq) i), Perdera o poder dé escolha, mas mantivera o seu poder - A partir das reformas de Campos Sales, o Presidente di ‘Tanto & que, ao longo desse trabalho, serao observadas | Camara Federal deixou de ser o membro mais idoso, passando a situagdes de ardua disputa, nao sé pela Presidéncia da @ ser 0 mesmo Presidente da legislatura finda. Esta mudanga fo como principalmente pela composigao da comissao de fundamental, na medida em que cabia ao presidente da Camat hecimento. E, por diversas vezes, os destinos das bancadas nomear os cinco membros que compunham a “comissao dé 74m nas maos da “comissao dos cinco”. verificagao de poderes”, ou seja, em suas maos, estava o control exemplo mais veemente que denota o nao esvaziamento sobre a renovagao do Poder Legislativo. Através dessa formula lamento, enquanto Jociis de hegemonia, encontra-se no 20, ; Fenat. A iavengdo..op.ctp. 106, oil cooks, a CGR aS Te Mie ow oka. clea arlbjcod , VF G.Mnoile Onn yalhgacos Persone opromepingryperrtisn Ab, Conpale ole SALES, Manuel Ferraz de Campos. Da propaganda a presiiénola, Brasilia: UNB, 1983, p. 115 a 119. * Idem, poder de decisao sobre as intervengées federais nos estados, conseqiiéncias das lutas entre faccdes no interior dos estat eram: a duplicidade de atas eleitorais, de assembléias legislalt\ eaté de presidéncias de estado. Tais duplicidades eram resolvi no ambito do Parlamento e do Judiciario Federais. Cabia ao Po Judicidrio julgar os pedidos de habeas corpus - instill normalmente usado para este fim - e ao Poder Legislativo apro\ ou nao a intervencao federal sobre o estado, vitima da dissidén intra-oligarquica. Dessa forma, ambos os poderes mantiveraf patados da Federagao. se razoavelmente fortalecidos. se do pressuposto de que a construgao da alae) Muito embora estivesse preocupado com sua prépi /paulista veio conferir ao regime republicano a sucessao, C. Sales nao propés uma férmula permanente, qj le politica que lhe faltava, desde a extingao do Poder | conduzisse 4 renovacao do Executivo Federal. Certameil lor, Dessa forma, os personagens desestabilizadores da » porque este ainda nao era um problema visivel naqut foram afastados da cena politica, em troca de uma conjuntura. A tinica referéncia encontrada a este respeito esta] ilizagao do poder, por parte de uma alianga que, muito alusdo de que as sucessdes deveriam resultar da compe ‘io fosse isenta de conflitos, era inquestionavel. partidaria. Mas de partidos organizados em torno de idéial a nao de interesses personalfsticos ou meramente regionais. /Os eventos fundadores da alianga a u auséncia desses partidos, segundo Campos Sales, caberia jstem divergéncias entre os historiadores acerca dos Catete conduzir 0 processo sucessério." fundadores da ci lianga. A este respeito, quatro Em seu governo, isto foi possivel. A partir do ap se dos. Os primeiros afirmam que a J conferido por um seleto grupo de estados-atores - Minas, § foi construfda na primeira década republicana, Paulo e Bahia - 0 Catete fez de Rodrigues Alves 0 seu sucesii nite com o fim de conferir um novo ordenamento sem contar com muitas resisténcias e a revelia do Par ional ao regime que se iniciava.* Republicano Federal (PRF). Esta agao, porém, nao podef (rabalhos nao atentaram para o fato de que Minas Gerais ‘a-se imersa em ferrenhas lutas internas, que impediam indo tivesse uma efetiva participacgaéo nos principais imentos nacionais, naquele periodo. Lembre-se, aqui, a principal elemento disfuncional do regime republicano, qual le neutralidade convenientemente assumida por Minas, jhios, todos concordam que, até 1930, a estabilidade do ini garantida pela associagéo hegeménica entre os dois o fundamento de sua prépria renovagao. 1 governo Floriano, quando serviu, inclusive, de op¢ao de Isto implica em dizer que o grau de estabilida a os degredados do regime. Mesmo os historiadores, que | conferido pela “politica dos estados” 4 ordem institucii jram prioritariamente ao estudo de Minas no periodo, m que o estado permaneceu a margem da politica federal brasileira precisa, no minimo, ser relativizada. Esta tarefa, | perfodo qué marcow a-agao do presidente Silvi fundamental importancia, escapa, porém, aos limites dé trabalho. Mas acreditamos poder contribuir para of a is 5 nee lllrma que @ alianca café com leite fora projetada na Convengao de ltu, ou seja, antes necesséria renovagso, @ partir das referéncias que est ‘xivento da Repablica, multo embora tenha se tornado eficiente a partir do governo de presentes nos préximos capitulos. tle Morais. SILVA, Hélio. O poder civil, Porto Alegre: LPM, 1985, p. 74. Para Souza, a ‘iro-paulista surgiu apés 0 governo de Fioriano Peixoto SOUZA, Maria do Carmo C. ——_——_ 1490 paltico-partidario na Primeira Republica, IN: MOTA, Carlos G. (crg.). Brasil em. * SALES, Manuel Ferraz de Campos. Da propaganda...op.cit. p.187 a 189. 190, 191 © 212, Para Boris Fausto foia partir da eleicdo de Prudente de Morais em 1894. Hors. Arevolugso de 1930: historografia e histéria, 14ed, S40 Paulo: Brasilense, 1994, -5 hey & Grid 4 et Picaceo Tule © fll , yrolockrgy oe olfon ba Moy § Ae boul 2 im Ge. @O 45 obcak ae Bepot: ae ae . 2 .f.. - e)|6 UO al ‘Heels bor o~ vivtics40 he A. Feve ¥/ b Choy Brando, em prol da efetivacao de um acordo interno entre as elites mineiras, habilitando-as para uma acao nacional mais realgada.'® Os segundos afirmam que a alianca surgiu no governo, 4 _Campos Sales. Para estes, a alianca foi resultante do pacto oligarquico ou serviu de fundamento para sua consecugao. Nestes casos nao é raro encontrar-se uma confusdo de conceitos, provocada pela associagao da “politica dos estados” de autoria de Campos Sales a politica”do café com leife, de autoria dos Préprios pesquisadores. Para os analistas citados, 0 acordo interestadual conferia ao regime a sua estabilidade, da mesma forma que o fazia a “politica dos estados” de Campos Sales.” Como sera visto no segundo capitulo desse trabalho, o que proporcionou relativa estabilidade ao regime republicano foram as medidas tomadas por Campos Sales, apoiadas pelos maiores estados da Federagao. O fato de Minas Gerais ter composto a chapa presidencial, que sucedeu o governo dé Sales, nao implicou que ja existisse uma alianca entre os dois estados, na medida em ‘que houve Tesisténcias de ambos em torno da indicagaéo de Afonso Pena para 0 cargo de vice-presidente. Além disso, se no _. perfodo houvesse uma alianga preferencial, por parte de Sao \ Paulo, ela deveria ser com a Bahia, estado que desempenhava um papel politico muito mais ativo do que o desempenhado por * Minas, na ocasiao. Tais consideragdes seréo retomadas, com maior profundidade, no préximo capitulo. HA um terceiro grupo de historiadores que atestam a 4 origem da alianca Minas-Sao Paulo entre os governos de R. Alves e Afonso Pena (1902-1909). Muito embora nao se refiramao fato, ~provavelmente o que motivou o marco foi a ocorréncia, no *°Podemos citer, dentre outras: WIRTH, John. O fle! da balanga: Minas Gerais na federagaobrasilsira (1889-1937), Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982; RESENDE, Maria E. L. de. Formagdo e estrutura «do dominago em Minas Gerais: 0 novo PRM, 1889-1908, Belo Horizonte: UFMG, 1982; FRANCO, Afonso A. de M. Um estadista...op.cit. *” Os autores que tém por marco o governo Campos Sales so: MARTINS FILHO, Amilcar. Aeconomia olitica...op. cit. p. 53. WIRTH, John. O fie! da...op.cit. p. 232, LOVE, Joseph. A locomotiva...op. Cit. p. 277 BELLO, José M. Histéria da republica, Ged, Séo Paulo: Cia Editora Nacional, 1972, p. 167 e 168. IGLESIAS, Francisco. Trajetéria poltica...op.cit. p. 208. 30. CASTRO, Sertério do. A Republica que a revolugdo destruiu, Brasfia: UNB, 1982, p.119. José Maria Belo delxa transparecer a Gitada confusao, ao tratar a8 mudangas regimentais operadas por Campos Sales ao mesmo tempo em que atesta a origem da alianga entre Minas 0 Sao Paulo, p. 167 © 168. Martins afirma que a politica do café com lelte foi uma exacerbago da politica dos governadores. Surgitam no mesmo perfodo e parecer estar incluidas no ambito do mesmo pacto, p.32, 33 e 127.Cintra afima que a politica dos governadores foi um mecanisme centralizedor, engenhado pelas \ Cede el fia con ota ue pl ike. Le cope cats. Loker», ai gg aw Se ee ee eee Apr, fOrea a A $B (1192-1904) perfodo, do Convénio de Taubaté, evento que teré uma andlise destacada no capitulo terceiro, do presente trabalho. Conforme veremos - nos capitulos dois e quatro, respectivamente - em ambas as sucessées citadas, Minas e Sao Paulo encontravam-se trilhando diregdes opostas. Procuraremos | realgar, também, que o primeiro programa de valorizacéo soca ho no resultou de uma alianga politica nacional entre os dois stados da Federagao. Hé um quarto grupo que atrela a emergéncia da alianga a )4.2 sucessao de Hermes da Fonseca, ou seja, ao chamado ”! Ouro Fino”, ocorrido em 1913. Tais autores partem do pressuposto de que, até entao, vencidos vinte e quatros anos de regime (mais de 50% dele), a alianga entre Minas e Sao Paulo ainda nao havia ocorrido. Para a emergéncia do acordo, eles se basearam em um evento real, ocorrido na cidade de Ouro Fino, Minas Gerais, entre representantes de cada um dos dois eadael\ como fim de interferirem sobre a sucessaio de Hermes da Fonseca.” Concordamos com Enders acerca do carater circunstancial da aproximagao entre os dois estados, a sef tratada no capituls oO cinco desse trabalho. Conforme sera visto, tal aproximacdo nao chegava a constituir-se em uma alianga e logo se romperia no, préximo evento sucessério. (ime EN Curler all Por fim, hd autores que chegaram a falar em “rotativismo”, . como se tivesse havido um planejado revezamento entre Minas e Sao Paulo na ocupagao dos cargos presidenciais e na efetivagao da alianga café com leite. Para esses trabalhos, o principal fator, Rory tod ae 2G oO oligarquias dominantes, para garantirihes o controle sobre o Estaio Nacional 9. estados: foram Minas e Sao Paulo que, unidos, conseguiram transformar seus interesses regionais em nacionais. CINTRA, Anténio Octavio. A poliica tradicional brasileira: uma interpretagao das relagées centre o centro e a periferia. IN: BALAN, Jorge (org.) Centro e periferia no desenvolvimento krasifeiro, ‘S40 Paulo: Difel, 1972, p. 38 ¢ 39, "" Para Edgar Carone, a politica do café com loite se inicia em 1906, no governo Afonso Pena. | CARONE, Edgar. A Repiiblica velha...op.cit. p. 305. Afonso Arinos parece no ter chegado a um acordo consigo mesmo a respeito do evento fundador da alienga minciro-paulista. Ele fala de trés ocasi6es que deram crigem a alianca: a primeira foi na sucesso de R. Alves, referenciada em FRANCO, Afonso A. de M. Um estadista...op.cit. p.457; a segunda fol na sucesstio de Campos Sales e a lerceira no goveme Afonso Pena, referenciadas em FRANCO, AfonsoA. de M. Rodrigues Alves...op.cit. p, 174 @ 627, respectivamente. °” Enders afirma que a alianga surgiu no Pacto de Ouro Fino, por razes meramente circunstenciais, | ligadas & intengdo de barrar a ascensdo de Pinheiro Machado. ENDERS, Armelie. Pouvoirs et op.cit. p. 416 € 450, 0 mesmo afirmam Daniel de Carvalho e Assis Barbosa em CARVALHO, Daniel de. Capitulos do memérias, Rio de Janeiro: José Olympio, 1957, p. 141 @ BARBOSA, Francisco de Assis. Juscelino Kubitschek...op.cit. . 218, respectivamente, | frocks de Ours Ftteo - 4919 - Padls 72% | wa vor te Niyrd cle" Firrete .

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