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Antropologia Social - 2023.2
Antropologia Social - 2023.2
28/09 EVANS-‐PRITCHARD,
E.E.
Bruxaria,
oráculos e
magia entre
osAzande.
Introdução.
Capítulos 1,
2
e
3.
Rio
de
Janeiro:
Jorge
ZAHAREditor.
05/10 GEERTZ,
Clifford.
A
interpretação das
culturas.
Rio
de
Janeiro:
Guanabara
Koogan.
[1973]
1989.
Cap
9
Um
jogo absorvente:
notassobre a
briga de
galos balinesa.
Revisão:
Introdução à Antropologia
Destaques:
Sociedades com
projetos expansivos que
as
colocam ”em relação”
(de
poder)
com
outras sociedades e
outros
povos.
Pensar sobre a
diferença a
partir dessa assimetria de
poder
Gregos – Mito
da
antiguidade clássica:
Império/
viagens – os ”outros”
– Ásia e
Egito
Império árabe
Descoberta da
América
Revisão:
Introdução à Antropologia
Questões gerais:
O que é o humano?
Ideia de progresso
Estudos de culturas
”Os europeus não podiam descrever o
que
viam porque não tinham estoque cultural
para
ver o
que
acontecia”
Revisão:
Introdução à Antropologia
RAÇA X CULTURA
Povos sem estado – pesquisa sobre instituições políticas e
formas de
organização social
Povos sem moeda – pesquisa sobre sistemas econômicos e
de
trocas
Povos sem ciência – pesquisa sobre sistemas de
pensamento e
conhecimento
Revisão:
Observação participante:
“observações minuciosas e
detalhadas”
registradas na forma
de
um
diário,
aptas a
captar os “imponderabilia da
vida real”,
os “acontecimentos”,
“ações”
e
“comportamentos”
das
pessoas (idem).
• “documentação concreta e
estatística”
feita por meio de
tabelas,
quadros sinópticos,
censos,
genealogias:
apreender o
esqueleto – estrutura das
relações sociais –,
sendo necessário completá-‐lo
com
a
apreensão da
carne
e
do
sangue;
• observação de
como essa estrutura é vivida – ”espírito”
– entrevistas,
opiniões,
narrativas – do
organismo
social.
Questões importantes:
entrada
no
campo;
tempo
da
pesquisa;
aprendizagem da
língua;
convívio com
os
”nativos”;
participação na vida cotidiana;
diário de
campo;
sistematização das
informações;
registro;
saída do
campo;
escrita
Revisão:
EVANS-‐PRITCHARD,
E.E.
Bruxaria,
oráculos e
magia entre
osAzande.
Introdução.
Capítulos 1,
2
e
3.
Rio
de
Janeiro:
Jorge
ZAHAR
Editor.
[1937]
Fruto de
vinte meses de
trabalho de
campo,
realizado entre
1926
e
1929,
junto
a
este povo do
sul do
Sudão,
a
monografia é vasta em contribuições tanto teóricas quanto etnográficas,
resultantes de
um
envolvimento intenso
com
as
ideias azande.
A
bruxaria,
questão central
do
livro,
longe de
ser um
tema concebido antes
da
ida a
campo,
se
impôs como objeto
de
estudo por conta de
sua presença constante entre
os nativos e
pela
importância atribuída a
ela,
notada desde
os primeiros contatos do
antropólogo com
a
sociedade.
O
autor mostra como a
bruxaria faz parte
de
um
sistema de
pensamento racional e
coerente -‐ que
envolve os
oráculos,
a
magia,
a
feitiçaria,
os adivinhos e
as
drogas etc.
-‐ capaz de
dar sentido não apenas a
eventos físicos e
objetivos,
como faz a
racionalidade científica ocidental,
mas
também aos acasos e
a
acontecimentos imprevisíveis.
https://ea.fflch.usp.br/obra/bruxaria-‐oraculos-‐e-‐magia-‐entre-‐os-‐azande
Revisão:
EVANS-‐PRITCHARD,
E.E.
Bruxaria,
oráculos e
magia entre
osAzande.
Introdução.
Capítulos 1,
2
e
3.
Rio
de
Janeiro:
Jorge
ZAHAR
Editor.
[1937]
Os Azande entendem a
bruxaria como condição hereditária e
biológica,
que
é disparada por um
ato psíquico,
por
vezes involuntário,
incitado por ciúme,
inveja,
ódio ou cobiça,
e
que
desencadeia uma série de
infortúnios a
quem
ela se
destina.
Evans-‐Pritchard conta que
viu a
luz
característica da
bruxaria atravessar a
floresta e
se
instalar na residência de
um
homem que
– não por acaso,
segundo a
lógica zande – faleceu pouco tempo
depois.
Nesta obra,
Evans-‐Pritchard dialoga com
as
principais teorias então correntes sobre a
razão humana.
Ao identificar
a
racionalidade que
subjaz à bruxaria zande,
a
monografia avança em relação à teoria da
mentalidade primitiva de
Lucien
Lévy-‐Bruhl (1857-‐1939)
e
à noção de
representações coletivas de Émile
Durkheim (1858-‐1917),
que
lhe
serviram de
ponto de
partida.
https://ea.fflch.usp.br/obra/bruxaria-‐oraculos-‐e-‐magia-‐entre-‐os-‐azande
Revisão:
GEERTZ,
Clifford.
A
interpretação das
culturas.
Rio
de
Janeiro:
Guanabara
Koogan.
[1973]
1989.
Cap
9
Um
jogo absorvente:
notas sobre a
briga de
galos balinesa.
Antropologia Interpretativa
(Geertz
– Cap
1
-‐ UMA
DESCRIÇÃO
DENSA:
Por uma Teoria Interpretativa da
Cultura)
O
conceito de
cultura que
eu defendo,
e
cuja utilidade os ensaios abaixo tentam demonstrar,
é essencialmente
semiótico.
Acreditando,
como Max
Weber,
que
o
homem é um
animal
amarrado a
teias de
significados
que
ele mesmo teceu,
assumo a
cultura como sendo essas teias e
a
sua análise;
portanto,
não como uma
ciência experimental
em busca de
leis,
mas
como uma ciência interpretativa,
à procura do
significado.
É
justamente uma explicação que
eu procuro,
ao construir expressões sociais enigmáticas na sua superfície.
Todavia,
essa afirmativa,
uma doutrina numa cláusula,
requer por si mesma uma explicação.
Visto sob esse ângulo, o objetivo da antropologia é o alargamento do universo do discurso humano.
Compreender a
cultura de
um
povo expõe a
sua normalidade sem reduzir sua particularidade.
(Quanto mais eu
tento seguir o
que
fazem os marroquinos,
mais lógicos e
singulares eles me
parecem.)
Isso os torna acessíveis:
colocá-‐los no
quadro de
suas próprias banalidades dissolve
sua opacidade.
Revisão:
GEERTZ,
Clifford.
A
interpretação das
culturas.
Rio
de
Janeiro:
Guanabara
Koogan.
[1973]
1989.
Cap
9
Um
jogo absorvente:
notas sobre a
briga de
galos balinesa.
(Geertz
– Cap
1
-‐ UMA
DESCRIÇÃO
DENSA:
Por uma Teoria Interpretativa da
Cultura)
Resumindo,
os textos antropológicos são eles mesmos interpretações e,
na verdade,
de
segunda e
terceira mão.
(Por definição,
somente um
"nativo"
faz a
interpretação em primeira mão:
é a
sua cultura.)
Trata-‐se,
portanto,
de
ficções;
ficções no
sentido de
que
são "algo construído",
"algo modelado"
— o
sentido original
de
fictio — não que
sejam falsas,
não-‐fatuais ou apenas experimentos de
pensamento.
CAPÍTULO
9:
UM
JOGO
ABSORVENTE:
Notas sobre a
Briga de
Galos Balinesa
A
invasão
De
galos e
homens
O
embate
As
vantagens e
o
direito ao par
Brincando com
o
fogo
Penas,
sangue,
multidões e
dinheiro
Dizer alguma coisa sobre algo
Revisão:
GEERTZ,
Clifford.
A
interpretação das
culturas.
Rio
de
Janeiro:
Guanabara
Koogan.
[1973]
1989.
Cap
9
Um
jogo absorvente:
notas sobre a
briga de
galos balinesa.
Se
se
toma a
briga de
galos,
ou qualquer outra estrutura simbólica coletivamente,
organizada,
como meio de
"dizer
alguma coisa sobre algo"
(para
invocar um
famoso rótulo aristoteliano),
enfrenta-‐se,
então,
um
problema não de
mecânica social,
mas
de
semântica social.
Para
o
antropólogo,
cuja preocupação é com
a
fomulação de
princípios sociológicos,
não com
a
promoção ou a
apreciação de
brigas de
galos,
a
questão é:
que
é que
se
aprende sobre tais princípios examinando a
cultura como uma reunião de
textos?
(p.210).
No
caso em pauta,
tratar a
briga de
galos como texto é salientar um
aspecto dela (na minha opinião,
o
aspecto
principal)
que,
tratando-‐a
como um
rito ou um
passatempo,
as
duas alternativas mais óbvias,
se
tenderia a
obscurecer:
sua utilização da
emoção para
fins
cognitivos.
O
que
a
briga de
galos diz,
ela o
faz num vocabulário de
sentimento — a
excitação do
risco,
o
desespero da
derrota,
o
prazer do
triunfo.
Entretanto,
o
que
ela diz não é
apenas que
o
risco é excitante,
que
a
derrota é deprimente ou que
o
triunfo é gratificante,
tautologias banais do
afeto,
mas
que
é com
essas emoções,
assim exemplificadas,
que
a
sociedade é construída e
que
os indivíduos são
reunidos.
Assistir a
brigas de
galos e
delas participar é,
para
o
balinês,
uma espécie de
educação sentimental.
Lá,
o
que
ele aprende,
é qual a
aparência que
têm o
ethos
de
sua cultura e
sua sensibilidade privada (ou,
pelo menos,
certos aspectos dela)
quando soletradas externamente,
num texto coletivo;
que
os dois são tão parecidos que
podem ser articulados no
simbolismo de
um
único desses textos;
e
— a
parte
inquietante — que
o
texto no
qual se
faz essa revelação consiste num frango rasgando o
outro
em pedaços,
inconscientemente.
(p.210)
Revisão:
GEERTZ,
Clifford.
A
interpretação das
culturas.
Rio
de
Janeiro:
Guanabara
Koogan.
[1973]
1989.
Cap
9
Um
jogo absorvente:
notas sobre a
briga de
galos balinesa.
GOLDMAN, Marcio. Favret-‐Saada, os afetos, a etnografia. Cadernos deCampo (USP), n.13, pp. 149-‐153. 2005.
FAVRET-‐SAADA, Jeanne. 2005. Ser afetado. Cadernos de Campo(USP), n.13, pp. 155-‐161.
O
objetivo último deste texto é refletir sobre a
possibilidade de
manter o
ponto de
vista
antropológico
tradicional,
quando o
objeto observado faz parte
do
coração da
sociedade do
observador
GOLDMAN, Marcio.
2003.
Os tambores dos
mortos e
os tambores dos
vivos.
Etnografia,
antropologia e
política em Ilhéus,
Bahia.
Revista deAntropologia,
vol.46, n.2, São
Paulo,
pp.
423-‐444.
GOLDMAN, Marcio. Favret-‐Saada, os afetos, a etnografia. Cadernos deCampo (USP), n.13, pp. 149-‐153. 2005.
FAVRET-‐SAADA, Jeanne. 2005. Ser afetado. Cadernos de Campo(USP), n.13, pp. 155-‐161.
Na
verdade,
o
fato de
os tambores que
ouvi serem ou não dos
mortos (ou de
alguma banda afro,
do
vento,
ou
outra coisa qualquer),
ou mesmo o
fato de
acreditar ou não que
o
eram,
não tem
a
menor importância.
O
que
importa é que,
querendo ou não,
levei a
história a
sério,
fui por ela afetado no
sentido que
Jeanne
Favret-‐
Saada (1990,
p.
7)
confere à expressão.
Ou seja,
o
evento me
atingiu em cheio – certamente de
maneira
distinta daquela pela
qual atingiu meus
amigos
(e
talvez até mesmo como parte
das
tradicionais histórias de
antropólogos tendo experiências místicas)
mas,
não obstante,
de
um
modo que
permitiu o
estabelecimento de
uma certa forma
de
comunicação involuntária entre
nós (p.
9).
GOLDMAN, Marcio.
2003.
Os tambores dos
mortos e
os tambores dos
vivos.
Etnografia,
antropologia e
política em Ilhéus,
Bahia.
Revista deAntropologia,
vol.46, n.2, São
Paulo,
pp.
423-‐444.
GOLDMAN, Marcio. Favret-‐Saada, os afetos, a etnografia. Cadernos deCampo (USP), n.13, pp. 149-‐153. 2005.
FAVRET-‐SAADA, Jeanne. 2005. Ser afetado. Cadernos de Campo(USP), n.13, pp. 155-‐161.
Num registro menos acadêmico,
sempre imaginei que
as
técnicas de
trabalho de
campo
que
utilizei em
Ilhéus se
assemelhavam muito ao que
se
denomina,
no
candomblé,
“catar folha”
:
alguém que
deseja
aprender os meandros do
culto deve logo
perder as
esperanças de
receber ensinamentos prontos e
acabados de
algum mestre;
ao contrário,
deve ir reunindo (“catando”
)
pacientemente,
ao longo dos
anos,
os detalhes que
recolhe aqui e
ali (as
“folhas”
)
com
a
esperança de
que,
em algum momento,
uma síntese
plausível se
realizará.
(p.455)
Entretanto,
dado
o
caráter segmentar desse movimento,
foi preciso e
inevitável que
essa convivência fosse
diferenciada.
O
que
significa que,
o
que
costumamos denominar “ponto de
vista
nativo”
,
não deve jamais
ser pensado como atributo de
um
nativo genérico qualquer,
negro,
de
classe popular,
ilheense,
baiano,
brasileiro ou uma mistura judiciosa de
tudo isso.
Trata-‐se
sempre de
pessoas muito concretas,
cada uma
dotada de
suas particularidades e,
sobretudo,
agência e
criatividade (p.456).
GOLDMAN, Marcio.
2003.
Os tambores dos
mortos e
os tambores dos
vivos.
Etnografia,
antropologia e
política em Ilhéus,
Bahia.
Revista deAntropologia,
vol.46, n.2, São
Paulo,
pp.
423-‐444.
GOLDMAN, Marcio. Favret-‐Saada, os afetos, a etnografia. Cadernos deCampo (USP), n.13, pp. 149-‐153. 2005.
FAVRET-‐SAADA, Jeanne. 2005. Ser afetado. Cadernos de Campo(USP), n.13, pp. 155-‐161.
Favret-‐Saada entende a
necessidade do
etnógrafo aceitar ser afetado pela
experiência indígena,
o
que,
diz
ela,
“não implica que
ele se
identifique com
o
ponto de
vista
indígena,
nem que
ele aproveite a
experiência
de
campo
para
excitar seu narcisismo”
(Favret-‐Saada,
1990,
p.
7).
Favret-‐Saada:
Como
se
vê,
quando um
etnógrafo aceita ser afetado,
isso não implica identi.car-‐se
com
o
ponto de
vista
nativo,
nem aproveitar-‐se
da
experiência de
campo
para
exercitar seu narcisismo.
Aceitar ser afetado supõe,
todavia,
que
se
assuma o
risco de
ver seu projeto de
conhecimento se
desfazer.
Pois se
o
projeto de
conhecimento for
onipresente,
não acontece nada.
Mas
se
acontece alguma coisa e
se
o
projeto de
conhecimento não se
perde em meio a
uma aventura,
então uma etnografia é possível.