Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Moderna Feitiçaria - Encliclopédia de Ocultismo
A Moderna Feitiçaria - Encliclopédia de Ocultismo
Mas o estereótipo persiste, e as bruxas continuam a ser objeto de calunia, lutando para
desfazer a imagem de companheiras do diabo. Para muitos, a bruxa era, e ainda é, a adoradora do
demônio. Bem recentemente, em 1952, o autor britânico Pennethorne Hughes classificou
algumas feiticeiras da história como "lascivas e pervertidas", atribuindo-lhes uma longa lista de
pecados reais ou imaginários. "Elas faziam feitiços", escreveu, "causavam prejuízos,
envenenavam, provocavam abortos no gado e inibiam o nascimento de seres humanos, serviam
ao diabo, parodiavam os rituais cristãos, aliavam-se aos inimigos do rei, copulavam com outros
bruxos ou bruxas que chamavam de íncubos ou súcubos e cometiam abusos com animais
domésticos."
Diante de tantas acusações, não chega a ser surpreendente o fato de que as palavras
"mago", "feiticeiro" ou "bruxo" e "magia", "feitiçaria", ou "bruxaria" continuem a despertar
profundas reações. "A feitiçaria é uma palavra que assusta a uns e confunde a outros", observa
uma escritora radicada na Califórnia, também praticante de feitiçaria, conhecida pelo nome de
Starhawk. "Na mente do povo", ela observa, as bruxas do passado são "megeras horrendas
montadas em vassouras, ou maléficas satanistas que participavam de rituais obscenos." E a
opinião contemporânea não tem demonstrado bondade maior para com as feiticeiras atuais,
considerando-as, como aponta Starhawk, "membros de um culto esquisito, que não tem a
profundidade, dignidade ou seriedade de propósitos de uma verdadeira religião".
Mas trata-se de fato de uma religião, tanto para quem a religião é "uma necessidade
humana de beleza", como no sentido que figura no dicionário: "sistema institucionalizado de
atitudes, crenças e praticas religiosas". Até mesmo o Departamento de Defesa dos Estados
Unidos cedeu às reivindicações dos praticantes da Wicca para que esta fosse considerada como
religião válida e, em meados da década de 70, o Pentágono recrutou uma feiticeira, Lady
Theos, para revisar o capítulo referente a bruxaria no Manual dos Capelães do exército. As
contribuições de Lady Theos foram atualizadas em 1985, por uma erudita neopagã chamada
Selena Fox. Outro sinal dos tempos pode ser visto nos cartões de identidade dos membros
das forças armadas, nos quais as palavras "pagão" e "wiccan" agora aparecem com fre -
qüência, embora certamente em menor número, do que os nomes de outras afiliações
religiosas.
Apesar desse reconhecimento e embora a Constituição americana — tal como a
brasileira — garanta o direito à liberdade de crença, a prática de feitiçaria ainda enfrenta
duras críticas e até mesmo uma perseguição premeditada. Esses ataques naturalmente não
se comparam, em escala e em violência, com o prolongado reinado de horror que
predominou do século XIV ao XVII, período descrito pelas feiticeiras contemporâneas como
"a época das fogueiras", ou "a grande caçada às bruxas". De fato, a perseguição atual é
comparativamente até benigna — demissões de empregos, perda da custódia dos filhos,
prisão por infrações aos bons costumes —, mas causa prejuízos que levaram a alta
sacerdotisa da ordem Wicca, Morgan McFarland, a rotular estes tempos como ua era das
fogueiras brandas".
Pelo menos em parte, a fonte da relativa tolerância atual, bem como as raízes desse
renascimento da Wicca, podem ser encontradas nos trabalhos elaborados no início do
século XX pela antropóloga inglesa Margaret Murray. As pesquisas de Murray sobre as
origens e a história da feitiçaria começaram, como ela posteriormente registrou em sua
autobiografia, com "a idéia comum de que todas as feiticeiras eram velhas pade cendo de
alucinações por causa do diabo". Mas ao examinar os registros dos julgamentos que
restaram da Inquisição, Murray logo desmascarou o diabo, segundo suas próprias palavras,
e descobriu em seu lugar algo que identificou como o Deus Chi-frudo de um culto à
fertilidade, uma divindade paga que os inquisidores, em busca de heresias religiosas,
transformaram em uma incorporação do diabo. À medida que aprofundou o estudo daqueles
registros ela se convenceu de que esse deus pos-
suía um equivalente feminino, uma versão medieval da divina caçadora das épocas
clássicas, que os gregos chamavam de Ártemis e os romanos de Diana. Ela supunha que as
feiticeiras condenadas reverenciavam Diana como líder espiritual.
Na visão de Murray, a feitiçaria seria o mesmo culto a fertilidade anterior ao
cristianismo, que ela denominou culto a Diana, e seria "a antiga religião da Europa
ocidental". Vestígios dessa fé, segundo ela, poderiam ser rastreados no passado a ate cerca de
25 mil anos, época em que viveu uma raça aborígine composta de anões, cuja existência
permaneceu registrada pelos conquistadores que invadiram aquelas terras apenas nas lendas
e superstições sobre elfos e fadas. Seria uma "religião alegre", como a descreve Murray,
repleta de festejos, danças e abandono sexual e incompreensível para os sombrios
inquisidores, cujo único recurso foi destruí-la até as mais tenras raízes.
Em 1 9 2 1, Murray divulgou suas conclusões em O Culto a Feiticeira na Europa
Ocidental, o primeiro dos três livros que ela publicaria sobre o assunto, em um trabalho que
outorgaria certa legitimidade à religião Wicca. Outros estudiosos, contudo, imediatamente
atacaram tanto os métodos utilizados por Murray como suas conclusões. Um crítico
simplesmente classificou seu livro como "um palavrório enfadonho". Embora o trabalho de
Margareth Murray nunca tenha desfrutado de muito prestígio nos círculos acadêmicos,
recentes estudos arqueológicos induziram alguns historiadores a fazer ao menos uma
releitura mais criteriosa de algumas de suas teorias mais polêmicas. Mesmo que a seu
modo, Murray realmente conseguiu, através de uma reavaliação favorável da feitiçaria,
abrir uma porta para um fluxo de interesse pelo culto a Diana.
queles que acataram a liderança de Murray e se aventuraram a penetrar
por aquela porta logo descobriram que estavam também na trilha de um
escritor e folclorista americano chamado Charles Leland. Em 1899, mais de
duas décadas antes de Murray apresentar suas teorias, Leland havia
publicado Aradia, obra que ele descreveu como o evangelho de La Vecchia Religione, uma
expressão que desde então passou a fazer parte do saber "Wicca". Ao apresentar a tradu-
ção do manual secreto de mitos e encantamentos de um feiticeiro italiano, o livro relata a
lenda de Diana, Rainha das Feiticeiras, cujo encontro com o deus-sol Lúcifer resultara
numa filha chamada Aradia. Esta seria Ia prima strega, "a primeira bruxa", a que revelara os
segredos da feitiçaria para a humanidade.
Aradia é no mínimo uma fonte duvidosa e provavelmente uma fraude cabal;
contudo, terminou servindo de inspiração para inúmeros ritos praticados por feiticeiros
contemporâneos, inclusive para a Exortação à Deusa, que convoca seus ouvintes a
"reunir-se em lugares secretos para adorar Meu Espírito, a Mim que sou a Rainha de
todas as Feitiçarias". Embora a obra conte com poucos, ou raros, defensores no círculo
acadêmico, em oposição aos que lhe lançam duras críticas, Aradia de certo modo
reacendeu as chamas desse renascimento da feitiçaria, e sua ênfase no culto à deusa tornou
o livro muito popular nas assembléias feministas.
Um trabalho mais recente com enfoque similar, porém de reputação mais sólida, é
o livro de Robert Graves, A Deusa Branca, publicado pela primeira vez em 1948. Em estilo
lírico, Graves apresenta argumentos que revelam a existência de um culto ancestral
centrado na figura de uma matriarcal deusa lunar. Segundo o autor, essa deusa seria a única
salvação para a civilização ocidental, substituta da musa inspiradora de toda criação
poética. Mas, se por um lado muitos entre os primeiros leitores encontraram nesse livro
fundamentos para a prática de feitiçaria e se mais tarde ele continuou a inspirar os
seguidores da Wicca, o próprio Graves expressou profundas reservas com relação à
bruxaria. Sua ambivalência torna-se aparente num ensaio de 1964, no qual o autor
sublinha a longevidade e a força da religião Wicca, mas também faz críticas ao que ele
considera como uma ênfase em jogos e brincadeiras. Na verdade, o ideal para a feitiçaria,
escreve Graves, seria que "surgisse um místico de grande força para revestir de seriedade
essa prática, recuperando sua busca original de sabedoria".
A referência de Graves era uma irônica alfinetada em Gerald Brosseau Gardner,
um senhor inglês peculiar e carismático, que exerceria profunda — embora frívola, do
ponto de vista de Graves — influência no ressurgimento do interesse pela feitiçaria. Gardner,
que nascera em 1884 nas proximidades de Liverpool, tivera diversas carreiras e ocupações:
funcionário de alfândega, plantador de seringueiras, antropólogo e, finalmente, místico
declarado. Pouco afeito às convenções, era um nudista convicto, professando um perpétuo
interesse pela "magia e assuntos do gênero", campo que para ele incluía tudo: desde os
pequenos seres das lendas inglesas até as vítimas da Inquisição e os cultos secretos da
antiga Grécia, Roma e Egito. Pertenceu, durante certo tempo, à famosa sociedade dos
aprendizes de magos chamada Ordem Hermética da Aurora Dourada.
Gerald Gardner enfureceu os círculos acadêmicos quando anunciou que as teorias de
Margaret Murray eram verdadeiras. A feitiçaria, declarou, havia sido uma religião e
continuava a ser. Ele dizia saber isso simplesmente porque ele próprio era um bruxo. Seu
surpreendente depoimento veio à luz em 1954, com o lançamento de A Feitiçaria Moderna,
o livro mais importante para o renascimento da feitiçaria. Sua publicação teria sido
impossível antes de 1951, ano no qual os frágeis decretos de 1753 contra a feitiçaria
foram finalmente revogados pelo Parlamento britânico. Curiosamente, o Parlamento rescindiu
esses decretos cedendo às pressões das igrejas espíritas, cujas tentativas de contato com as almas
dos que já se foram também haviam sido reprimidas pela lei. A revogação contou com
pouquíssimos oponentes, porque os legisladores imaginavam que certamente após mais de três
séculos de perseguição e 200 anos de silêncio, a feitiçaria era assunto morto e enterrado.
Se a prática não havia desaparecido, como A Feitiçaria Moderna tentava provar, o
próprio Gardner admitiu ao menos que a feitiçaria estava morrendo quando ele a encontrou pela
primeira vez, em 1939. Gardner gerou muita polêmica ao afirmar que, após a catastrófica
perseguição medieval, a bruxaria tinha sobrevivido através dos séculos, secretamente, à medida
que seu saber canônico e seus rituais eram transmitidos de uma geração para outra de
feiticeiros. Segundo Gardner, sua atração pelo ocultismo havia feito com que se encontrasse
com uma herdeira da antiga tradição, "a Velha Dorothy" Clutterbuck, que supostamente seria
alta sacerdotisa de uma seita sobrevivente. Logo após esse encontro, Gardner foi iniciado na
prática, embora mais tarde tenha afirmado, no trecho mais improvável de uma história
inconsistente, que desconhecia as intenções da velha Dorothy até chegar ao meio da cerimônia
iniciática, ouvir a palavra "Wicca" e perceber "que a bruxa que eu pensei que morrera queimada
há centenas de anos ainda vivia".
Considerando-se devidamente preparado para tal função, Gardner gradualmente assumiu
o papel de porta-voz informal da prática. Assim, lançou uma nova luz nas atividades até então
secretas da bruxaria ao descrever em seu livro, por exemplo, a suposta atuação desses adeptos para
impedir a invasão de Hitler na Inglaterra. De acordo com Gardner, os feiticeiros da Grã-Bretanha
reuniram-se na costa inglesa em 1941 e juntos produziram "a marca das chamas" — uma intensa
concentração de energia espiritual, também conhecida como "cone do poder", para supostamente
enviar uma mensagem mental ao Führer: "Você não pode vir. Você não pode cruzar o mar". Não
se pode afirmar se o encantamento produziu ou não o efeito desejado mas, como Gardner salientou
prontamente, a história realmente registra o fato de Hitler ter reconsiderado seu plano de invadir a
Inglaterra na última hora, voltando-se abruptamente para a Rússia. Gardner declara que
esse mesmo encantamento teria, aparentemente, causado o desmoronamento da Armada
Espanhola em 1588, quando muitos feiticeiros conjuraram uma tempestade que tragou a
maior frota marítima daquela época.
Quando não reescrevia a história, Gerald Gardner assumia a tarefa de fazer uma
revisão da feitiçaria. Partindo de suas próprias extensas pesquisas sobre magia ritual, ele
criou uma "sopa" literária sobre feitiçaria feita com ingredientes que incluíam fragmentos
de antigos rituais supostamente preservados por seus companheiros, adeptos da prática,
além de elementos de ritos maçônicos e citações de seu colega Aleister Crowley,
renomado ocultista que se declarava a Grande Besta da magia ritual. Gardner decidiu
então acrescentar uma pitada de Aradia e da Deusa Branca e, para ficar no ponto,
temperou seu trabalho incorporando-lhe um pouquinho de Ovídio e de Rudyard Kipling.
O resultado final, escrito numa imitação de inglês elisabetano, engrossado ainda com
pretensas 162 leis de feitiçaria, foi uma espécie de catecismo da Wicca, ressuscitado por
Gardner. Assim que completou o trabalho, seu compilador tentou fazê-lo passar por um
manual de uma bruxa do século XVI, ou um Livro das Sombras.
Apesar dessa origem duvidosa, o volume transformou-se em evangelho e l i t u r g i a
da tradição gardneriana da Wicca, como veio a ser chamada essa última encarnação da
feitiçaria. Era uma "pacífica e feliz religião da natureza", nas palavras de Margot Adler
em Atraindo a Lua. "As bruxas reuniam-se em assembléias, conduzidas por sacerdotisas.
Adoravam duas divindades, em especial, o deus das florestas e de tudo que elas
encerram, e a grande deusa tríplice da fertilidade e do renascimento. Nuas, as feiticeiras
formavam um círculo e produziam energia com seus corpos através da dança, do canto e
de técnicas de meditação. Concentravam-se basicamente na Deusa; celebravam os oito
festivais pagãos da Europa, buscando entrar em sintonia com a natureza."
Como indaga o próprio Gardner em seu livro, "Há algo de errado ou pernicioso
nisso tudo? Se praticassem esses ritos dentro de uma igreja, omitindo o nome da deusa ou
substituindo-o pelo de uma santa, será que alguém se oporia?"
Talvez não, embora a nudez ritualística recomendada por Gardner causasse, e ainda
cause, um certo espanto. Mas para Gardner as roupas simplesmente impedem a liberação
da força psíquica que ele acreditava existir no corpo humano. Ao se desnudarem para
adorar a deusa, as feiticeiras não só se despiam de seus trajes habituais, como também de
sua vida cotidiana. Além disso, sua nudez representaria um regresso simbólico a uma era
anterior à perda da inocência.
Gardner justifica a nudez ritualística em sua adaptação da Exortação à Deusa, de
Aradia, na qual a prima strega recomenda a suas seguidoras: "Como sinal de que sois
verdadeiramente livres, deveis estar nuas em seus ritos; cantai, celebrai, fazendo música e
amor, tudo em meu louvor." A recomendação da nudez, acrescentada à defesa feita por
Gardner do sexo ritualístico — o Grande Rito, como ele o chamava —, virtualmente pedia
críticas. Rapidamente o pai da tradição gardneriana ganharia reputação de velho
obsceno.
Dicionário do Feiticeiro
Implementos Ritualísticos
Os seguidores da Wicca falam do ano como se ele fosse uma roda; seu calendário é
um círculo, significando que o ciclo das estações gira infinitamente. Espaçadas
harmonicamente pela roda do ano Wicca estão as oito datas de festas, ou sabás. Estas diferem
dos "esbás", as doze ou treze ocasiões durante o ano em que se realizam assembléias para
celebrar a lua cheia. Os quatro sabás menores, na verdade, são feriados solares, marcos da
jornada anual do sol pelos céus. Os quatro sabás maiores celebram o ciclo agrícola da terra: a
semeadura, o crescimento, a colheita e o repouso.
O ciclo do sabá é uma recontagem e celebração da ancestral história da Grande Deusa
e de seu filho e companheiro, o Deus Chifrudo. Há entre as seitas Wicca uma grande
diversidade em tomo desse mito. Segue-se uma dessas versões, que incorpora várias crenças
sobre a morte, o renascimento e o fiel retorno dos ciclos, acompanhando o ciclo do ano no
hemisfério norte.
Yule, um sabá menor, é a festa do solstício de inverno (por volta de 22 de dezembro),
marcando não apenas a noite mais longa do ano, mas também o início do retorno do sol.
Nessa época, narra a história, a deusa dá à luz a deus, representado pelo sol; depois, ela
descansa durantes os meses frios que pertencem ao deus-menino. Em Yule, os iniciados
acendem fogueiras ou velas para dar boas-vindas ao sol e confeccionam enfeites com
azevinho e visco — vermelho para o sol, verde pela vida eterna, branco pela pureza.
Imbolc (1º de fevereiro), um sabá importante também chamado de festa das velas,
celebra os primeiros sinais da primavera, o brotar invisível das sementes sob o solo. Os dias
mais longos mostram o poder do deus-menino. Os iniciados encerram o confinamento do
inverno com ritos de purificação e acendem todo tipo de fogo, desde velas brancas até
enormes fogueiras. Durante o sabá menor do equinócio da primavera (por volta de 21 de
março), a exuberante deusa está desperta, abençoando a terra com sua fertilidade. Os
iniciados da Wicca pintam cascas de ovos, plantam sementes e planejam novos
empreendimentos.
Em Beltane, 1º de maio, outro grande sabá, o deus atinge a maturidade, enquanto o
poder da deusa faz crescerem os frutos. Excitados pelas energias da natureza, eles se amam
e ela concebe. Os adeptos desfrutam um festival de flores, o que geralmente inclui a dança
em volta do mastro, um símbolo de fertilidade.
O solstício de verão (por volta de 21 de junho) é o dia mais longo e requer fogueiras em
homenagem à deusa e ao deus. Também é uma ocasião para pactos e casamentos, nos quais
os recém-casados pulam uma vassoura. O sabá mais importante da estação é Lugnasadh
(pronuncia-se "lun-sar"), em 1º de agosto, que marca a primeira colheita e a promessa de
amadurecimento dos frutos e cereais. Os primeiros cereais são usados para fazer pãezinhos em
forma de sol. À medida que os dias encurtam o deus se enfraquece e a deusa sente o filho de
ambos crescer no útero. No equinócio do outono (por volta de 22 de setembro), o deus
prepara-se para morrer e a deusa está no auge de sua fartura. Os iniciados agradecem pela
colheita, simbolizada pela cornucópia.
Na roda do ano, opondo-se às profusas flores de Beltane, surge o grande sabá de
Samhain (pronuncia-se "sou-en"), em 31 de outubro, quando tudo que já floresceu está
perecendo ou adormecendo. O sol se debilita e o deus está à morte. Oportunamente, chega o
Ano Novo da Wicca, corporificando a fé de que toda morte traz o renascimento através da
deusa. Na verdade, a próxima festa, Yule, novamente celebra o nascimento do deus.
A coincidência desses festivais com os feriados cristãos, bem como as semelhanças
entre os símbolos da Wicca e os do cristianismo, segundo muitos antropólogos, não seria
apenas acidental, mas sim uma prova da pré-existência das crenças pagãs. Para as autoridades
cristãs que reprimiam as religiões mais antigas durante a Idade das Trevas, converter os
feriados já estabelecidos, atribuindo-lhes um novo significado cristão, facilitava a aceitação de
uma nova fé.
Cerimonias e Celebrações
A cena está se tornando cada vez mais comum: um grupo se reúne, geralmente em
noites de luar, em meio a uma floresta ou em uma colina isolada. Às vezes trajando túnicas e
máscaras, outras inteiramente nus, os participantes iniciam uma cerimônia com cantos e
danças, um ritual que certamente pareceria esquisito e misterioso para um observador casual,
embora seja um comportamento indiscutivelmente religioso.
Assim os bruxos praticam sua fé. Como os adeptos de religiões mais convencionais, os
iniciados em feitiçaria, ou Wicca, usam rituais para vincular-se espiritualmente entre si e a
suas divindades. Os ritos da Wicca diferem de uma seita para outra. Vários rituais da
Comunidade do Espírito da Terra, uma vasta rede de feiticeiros e pagãos da região de Boston,
nos Estados unidos, estão representados nas próximas páginas.
Algumas cerimônias são periódicas, marcando as fases da lua ou a mudança de
estações. Outras, tais como a Iniciação, casamentos ou pactos, só ocorrem quando há
necessidade. E há também aquelas cerimônias que, como a consagração do vinho com um
athame, a faca ritualística (acima), fazem parte de todos os encontros. Seja qual for seu
propósito, a maioria dos rituais Wicca — especialmente quando celebrados nos locais eleitos
eternamente pelos bruxos — evoca um estado de espírito onírico que atravessa os tempos,
remontando a uma era mais romântica.
"A magia", diz o sumo sacerdote Arthen, "está se unindo às forças psíquicas para pro-
mover mudanças." Parte do treinamento de um feiticeiro, ele observa, é aprender a usar a
energia psíquica e uma técnica primária com esse objetivo, um ritual praticado em quase
todos os encontros e o de elevação do cone do poder. Como a maioria das atividades, isso
acontece no centro de um círculo mágico. "Especialmente no caso deste ritual", diz Arthen, "o
círculo mágico é visualizado não apenas como um círculo, mas como um domo, uma bolha de
energia psíquica — uma maneira de conter o poder antes de começar a usá-lo."
Ao tentar gerar energia para formar o cone do poder, os bruxos recorrem à dança, à
meditação e aos cânticos. Para "moldar" o poder que afirmam produzir, reúnem-se em torno
do círculo mágico, estiram os braços em direção à terra e gradualmente os levantam, como se
vê aqui, em direção a um ponto focal acima do centro do círculo. Quando o líder da
assembléia sente que a energia atingiu seu ápice, ordena aos membros: "Enviem-na agora!"
Então, todos visualizam aquela energia assumindo a forma de um cone que deixa o círculo e
viaja até um destino previamente determinado.
O alvo do cone pode ser alguém doente ou outro membro do grupo que necessite de
assistência em seu trabalho mágico. Mas seu destino também pode estar menos delimitado.
Como a prática da feitiçaria está profundamente vinculada à natureza, o cone do poder pode
ser enviado, diz Arthen, "para ajudar a superar as crises ambientais que atravessamos.