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A Genética contra
os crimes ambientais:
identificação de madeira ilegal
provenientes de unidades
de conservação utilizando
marcador molecular*
Núbia Esther de Oliveira Miranda1,2, Edivaldo Barbosa de Almeida Júnior1,3, Rosane Garcia Collevatti1,2
1
Laboratório de Genética & Biodiversidade, ICB, Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia
2
Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução, ICB, Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia
3
Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas, Escola de Agronomia, Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia
Autor para correspondência: rosanegc68@hotmail.com
Palavras-chave: sequenciamento DNA de cloroplasto, estudo de caso, genética da conservação, ecologia molecular
*Material didático desenvolvido na disciplina de Genética da Conservação, coordenado pela Profa. Rosane Garcia Collevatti, do curso de graduação em
Ecologia e Análise Ambiental do Departamento de Ecologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Goiás, como uma atividade do
Estágio Docência (bolsistas CAPES/UFG) dos discentes dos Programas de Pós-graduação em Ecologia e Evolução, Genética e Melhoramento de Plantas.
tringido e regulamentado pela Portaria N.º das duas áreas de extrativismo certificado
83-N de 26 de Setembro de 1991 do Ins- (Áreas A1 e A2) e de duas populações de
tituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos aroeira de unidades de conservação onde a
Recursos Naturais Renováveis – Ibama: extração da espécie é proibida por lei (Áreas
B1 e B2).
“Art. 1º. Fica proibido o corte e a explo-
ração da Aroeira legítima ou Aroeira do Para determinar a origem da madeira é pre-
sertão (Astronium urundeuva), das Ba- ciso:
raúnas (Melanoxylon brauna e Schinopsis
1. Observar as sequências de DNA do ban-
brasiliensis), do Gonçalo Alves (Astronium
co de dados das áreas de plantio (A1 e
fraxinifolium) em Floresta Primária.
A2) e das unidades de conservação (B1 e
Art. 2º. A exploração da Aroeira ou Aro- B2).
eira do Sertão (Astronium urundeuva) das
2. Determinar as sequências de DNA de
Baraúnas (Melanoxylon brauna e Schinop-
cada amostra dos lotes apreendidos nas
sis brasiliensis), do Gonçalo Alves (Astro-
quatro lojas moveleiras.
nium fraxinifolium) em Floresta Secun-
dária, só poderá ser efetivada através de 3. Comparar as sequências de DNA de cada
Plano de Manejo Florestal de Rendimen- amostra com as do banco de dados das se-
to Sustentado, dependendo de projeto quências de DNA de cada área (A1, A2,
previamente aprovado pelo Ibama.” B1 e B2).
Nesta atividade foi proposta a determinação 4. A partir da comparação das sequências de
da origem de madeiras cortadas de aroeira DNA, determinar se a madeira é oriun-
com a utilização de um marcador molecular da das áreas de extrativismo A1 ou A2 e,
cloroplastidial (cpDNA) como evidência portanto, é realmente certificada, ou se a
para uma investigação criminal de explora- madeira é oriunda das unidades de con-
ção madeireira em áreas ilegais. servação, portanto de origem ilegal.
O Instituto Chico Mendes (ICMBio) rece-
beu uma denúncia anônima de que quatro
INSTRUÇÕES
lojas moveleiras, de uma cidade localizada PARA O PROFESSOR
no sudeste do estado de Goiás, estariam 1. Esta atividade poderá ser realizada indivi-
comercializando produtos provenientes de dualmente, ou em grupos de alunos de, no
madeiras de uso não certificado, i.e., oriun- máximo, quatro pessoas.
das de áreas onde a extração é proibida.
2. Cada grupo deverá receber o problema
Nas quatro lojas denunciadas, no entanto,
proposto, uma cópia do procedimento
os proprietários apresentaram documentos
para realizar a atividade, uma cópia de
certificando que a origem da madeira era de
cada painel, de cada tabela e das questões
áreas de extrativismo certificado, Áreas A1
para serem discutidas.
e A2. Para avaliar a procedência do material,
os fiscais do ICMBio coletaram um lote de 3. É recomendável que o professor aplique
amostras de cada loja. Este lote era compos- esta atividade em turmas que já tiveram
to por câmbio da madeira de cinco pranchas contato prévio com os conceitos de gené-
por loja, totalizando 20 amostras. Os frag- tica mendeliana e de populações.
mentos de tecidos do câmbio de cada amos- Os recursos didáticos que deverão ser utili-
tra foram acondicionados em saquinhos zados consistem em três painéis, conforme
esterilizados individuais e conduzidos a um descrito a seguir:
laboratório de análise genética. O DNA
das amostras de câmbio foi extraído e a re- 1. Painel 1 – Banco de dados contendo as
gião cloroplastidial trnS-trnG foi sequen- sequências de DNA para o marcador mo-
ciada por pesquisadores deste laboratório. lecular cloroplastidial trnS-trnG das áre-
As sequências obtidas foram comparadas as de extrativismo certificado (A1 e A2) e
com bancos de dados do laboratório, con- de unidades de conservação (B1 e B2) no
tendo informações da composição genética estado de Goiás.
Área A2:
TCCTAATTGAAAAAAAGACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAATTGAAAAAAACACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAAGACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAACTGAAAAAAAGACAAATACTATGTCACATTACAC
TCCTAATTGAAAAAAACACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAAGACAAATACTATGTCACATTACAC
Área B1:
TCCTAATTGAGAAAAAGACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAATTGAGAAAAACACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAAGACAATTACTACCCTACATTACAC
TCCTAACTGAAAAAAAGACAAATCCTATGTCACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAACCCAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAAGACAAATACTATGTCACATTACAC
Área B2:
TCCTAATTGAGAAAAAGACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAATTGAGAAAAACACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAAGACAATTACTACCCTACATTACAC
TCCTAACTGAAAAAAAGACAAATCCTATGTCACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAACACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAAGACAAATACTATGTCACATTACAC
2. Painel 2 – Localização geográfica das áre- certificado (A1 e A2) e nas unidades de
as de extrativismo certificado (A1 e A2) e conservação (B1 e B2).
das unidades de conservação (B1 e B2) no
4. Painel 3 – Sequências de DNA das
estado de Goiás. Os pontos indicam os lo-
amostras dos lotes apreendidos nas qua-
cais de ocorrência das populações naturais
tro lojas moveleiras.
de aroeira e, os quadrados, as áreas para
as quais o laboratório de análise genética 5. Tabela 2 – Sequências de DNA de aro-
possui banco de dados. eira encontradas nos lotes de madeira
amostrados nas quatro lojas moveleiras e
3. Tabela 1 – Sequências de DNA de aroei-
origem das amostras.
ra encontradas nas áreas de extrativismo
Painel 2.
Localização geográfica das
áreas de extrativismo certificado
(A1 e A2) e das unidades de
conservação (B1 e B2) no
estado de Goiás. Os pontos
indicam os locais de ocorrência
das populações naturais de
aroeira e, os quadrados, as áreas
para as quais o laboratório de
análise genética possui banco
de dados.
Painel 3. Lote 1:
Sequências de DNA das
AMOSTRA 1: TC C TA AT TG A A A A A A A G A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
amostras dos lotes apreendidos
nas quatro lojas moveleiras. AMOSTRA 2: TC C TA AT TG A A A A A A A G A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
AMOSTRA 3: TC C TA A C TG A A A A A A A G A C A A ATA C TATG TC A C AT TA C A C
AMOSTRA 4: TC C TA A C TG A A A A A A A G A C A A ATA C TATG TC A C AT TA C A C
AMOSTRA 5: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TATG T C A C AT TA C A C
Lote 2:
AMOSTRA 1: TC C TA AT TG A A A A A A A G A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
AMOSTRA 2: TC C TA A C TG A A A A A A A G A C A A ATA C TATG TC A C AT TA C A C
AMOSTRA 3: TC C TA AT TG A A A A A A A C A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
AMOSTRA 4: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TATG T C A C AT TA C A C
AMOSTRA 5: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
Lote 3:
AMOSTRA 1: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TATG T C A C AT TA C A C
AMOSTRA 2: TC C TA AT TG A G A A A A A C A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
AMOSTRA 3: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A AT TA C TA C C C TA C AT TA C A C
AMOSTRA 4: TC C TA A C TG A A A A A A A G A C A A ATC C TATG TC A C AT TA C A C
AMOSTRA 5: TC C TA A C C G A A A A A A A C C C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
Lote 4:
AMOSTRA 1: TC C TA AT TG A A A A A A A G A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
AMOSTRA 2: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TATG T C A C AT TA C A C
AMOSTRA 3: TC C TA A C C G A A A A A A A C C C A AT TA C TA C C C TA C AT TA C A C
AMOSTRA 4: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TATG T TA C AT TA C A C
AMOSTRA 5: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TA C C C TA C AT TA C A C
Tabela 2.
Lote Amostras Sequências de DNA Área Sequências de DNA de aroeira
encontradas nos lotes de
1 1 madeira amostrados nas quatro
lojas moveleiras e origem das
amostras.
2
2 1
3 1
4 1
S1, S2, S3 etc. As sequências estão ali- d) preencher a Tabela 2 com os resultados
nhadas de forma que cada base nitro- das sequências de DNA de cada amos-
genada em uma posição no DNA em tra, para cada lote.
um indivíduo corresponde à mesma
4. Analisar os resultados da Tabela 2:
posição no indivíduo abaixo;
a) determinar quais amostras são realmen-
c) para analisar as sequências de DNA e
te oriundas de áreas de extrativismo
determinar se são iguais ou diferentes,
(Áreas 1 e 2) e quais não são oriundas;
deve-se comparar cada base nitrogena-
da (total de 40) e verificar se são iguais b) preencher os resultados na Tabela 2.
ou diferentes;
d) lembrar-se de que sequências diferen-
ENTENDENDO A ATIVIDADE
tes devem possuir nomes diferentes. Questão 1: Em relação ao banco de dados
das áreas A1, A2, B1 e B2. Quantas e
3. Analisar o Painel 3 - A partir das sequên- quais sequências de DNA são exclusivas
cias de DNA de cada uma das amostras de cada área? Quantas e quais são com-
dos quatro lotes apreendidos nas lojas partilhadas? Quais áreas são mais seme-
moveleiras: lhantes entre si? Discutir sobre a seme-
a) determinar as sequências de DNA de lhança entre as áreas.
cada amostra; Questão 2: Foi possível encontrar a origem
b) comparar as sequências de DNA das de todas as madeiras dos quatro lotes
amostras com as do banco de dados de aroeira? O banco de dados utilizado
das diferentes áreas (A1, A2, B1 e B2), só possuía sequências de DNA de duas
conforme descrito no procedimento 2; áreas de extrativismo e duas unidades de
conservação? Este fato causou problemas
c) atribuir nomes às sequências de DNA
para a atribuição dos locais de origem das
das amostras da seguinte forma: se a
amostras? Comentar sobre os problemas
sequência da amostra for igual à se-
envolvidos na atribuição dos locais de ori-
quência de alguma das áreas do banco
gem e apontar soluções para eles.
de dados, dar o nome igual às sequ-
ências de DNA do banco de dados; Questão 3: Como a genética contribuiu para
se as sequências de DNA forem di- a elucidação do crime ambiental?
ferentes, atribuir um novo nome; se- Questão 4: Quais as principais dificuldades
quências iguais sempre devem ter o na utilização deste método baseado em
mesmo nome; marcador molecular?
RESPOSTAS
Conjunto de sequências de DNA da Área A1: Painel 1.
Banco de dados contendo
TCC TA AT TG A A A A A A AG AC A AT TAC TATG T TAC AT TAC AC [1] as sequências de DNA
TCC TA AT TG A A A A A A AG AC A AT TAC TATG T TAC AT TAC AC [1] para o marcador molecular
cloroplastidial trnS-trnG das
TCC TA AC TG A A A A A A AG AC A A ATAC TATG TC AC AT TAC AC [2] áreas de extrativismo certificado
TCC TA AT TG A A A A A A AC AC A AT TAC TATG T TAC AT TAC AC [3] (A1 e A2) e das unidades de
TCC TA ACC G A A A A A A AG AC A A ATAC TATG TC AC AT TAC AC [4] conservação (B1 e B2) no
estado de Goiás.
TCC TA AT TG A A A A A A AC AC A AT TAC TATG T TAC AT TAC AC [3]
Sequências (S1, S2, S3 e S4)
Tabela 1.
Área Sequências de DNA Sequências de DNA de aroeira
encontradas nas áreas de
A1 S1, S2, S3 e S4 extrativismo certificado (A1
e A2) e das unidades de
A2 S1, S2, S3, S4 e S5 conservação (B1 e B2).
Tabela 2.
Lote Amostras Sequências de DNA Área Sequências de DNA de aroeira
encontradas nos lotes de
1 1 S1 A1 ou A2 madeira amostrados nas quatro
lojas moveleiras e origem das
amostras.
2 S1 A1 ou A2
3 S2 A1 ou A2
4 S2 A1 ou A2
5 S4 A1 ou A2 ou B1 ou B2
2 1 S1 A1 ou A2
2 S2 A1 ou A2
3 S3 A1 ou A2
4 S4 A1 ou A2
5 S5 A2
3 1 S4 A1 ou A2 ou B1 ou B2
2 S7 B1 ou B2
3 S8 B1 ou B2
4 S9 B1 ou B2
5 S10 B1
4 1 S1 A1 ou A2
2 S4 A1 ou A2 ou B1 ou B2
3 S12 ?
4 S13 ?
5 S14 ?