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MATERIAIS DIDÁTICOS Genética na Escola – ISSN: 1980-3540

A Genética contra
os crimes ambientais:
identificação de madeira ilegal
provenientes de unidades
de conservação utilizando
marcador molecular*

Núbia Esther de Oliveira Miranda1,2, Edivaldo Barbosa de Almeida Júnior1,3, Rosane Garcia Collevatti1,2
1
Laboratório de Genética & Biodiversidade, ICB, Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia
2
Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução, ICB, Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia
3
Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas, Escola de Agronomia, Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia
Autor para correspondência: rosanegc68@hotmail.com
Palavras-chave: sequenciamento DNA de cloroplasto, estudo de caso, genética da conservação, ecologia molecular

*Material didático desenvolvido na disciplina de Genética da Conservação, coordenado pela Profa. Rosane Garcia Collevatti, do curso de graduação em
Ecologia e Análise Ambiental do Departamento de Ecologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Goiás, como uma atividade do
Estágio Docência (bolsistas CAPES/UFG) dos discentes dos Programas de Pós-graduação em Ecologia e Evolução, Genética e Melhoramento de Plantas.

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A perda acelerada da cobertura vegetal coloca em risco


os recursos naturais e a diversidade biológica, além de
afetar a produtividade econômica. Atualmente, a despeito
da fiscalização para coibir a prática, grande parte dos
desmatamentos são feitos de forma ilegal. Para auxiliar o
ensino de Genética da Conservação e Ecologia Molecular
é proposta uma atividade que demonstra como o uso de
marcador molecular, baseado no sequenciamento de DNA
de cloroplasto, pode auxiliar na identificação de amostras
apreendidas por órgãos ambientais para resolver e estabelecer
provas em crimes ambientais envolvendo desflorestamentos.
A atividade pode ser utilizada como simulação de aula prática
ou como uma atividade complementar à aula expositiva para
alunos de ensino superior.

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O objetivo da atividade é mostrar como


o uso de marcadores moleculares,
baseados no sequenciamento de DNA de
lavouras, regiões para extrativismo, reflo-
restamento e mineração. Essa perda mas-
sificada e acelerada da cobertura vegetal, Marcador Molecular
cloroplasto (cpDNA), pode ser empregado além de afetar a produtividade econômica, é qualquer dado molecular
herdável capaz de evidenciar
para determinar a origem da madeira extra- também coloca em risco os recursos natu- polimorfismo entre indivíduos.
ída de florestas naturais a partir de amostras rais e a diversidade biológica. Nesse sentido, Pode ser um fragmento de DNA,
apreendidas pelos órgãos de fiscalização am- o Código Florestal, bem como a ação fisca- codificante ou não, ou uma
biental. Para essa finalidade, é preciso com- lizatória das agências reguladoras ambien- proteína.
parar as sequências de DNA de amostras tais (IBAMA, ICMBio, órgãos estaduais e
apreendidas com as sequências de DNA de municipais) são ferramentas utilizadas para Sequenciamento pode
um banco de dados pré-existente contendo controlar o uso das áreas destinadas ao uso ser definido como a série de
métodos empregados para
sequências de amostras de populações na antrópico e proteger os remanescentes flo- determinar a ordem específica
área de ocorrência da espécie, especialmen- restais. A despeito disso, a taxa de desma- das bases nitrogenadas
te nas unidades de conservação e nos locais tamento no Brasil continua aumentando e adenina (A), guanina (G),
destinados ao extrativismo, com a finalidade boa parte dessa prática está baseada na ile- citosina (C) e timina (T) em
de determinar a origem da madeira e se a galidade. uma molécula de DNA (veja
o artigo Sequenciamento de
madeira foi removida de localidades em que
A utilização de técnicas genéticas em inves- DNA: decifrando o manual
o corte é ilegal. de instruções dos seres vivos,
tigações forenses cada vez mais vem sendo
Genética na Escola 03.03, 45-52,
A metodologia inclui a coleta de material utilizadas como fontes de evidências em 2009).
apreendido, o sequenciamento e a compa- investigações criminais. Na resolução e no
ração do mesmo com um banco de dados estabelecimento de provas em crimes am-
de sequências visando gerar provas sobre bientais, esta ainda é uma ferramenta pouco
remoção ilegal de madeira, de modo que o utilizada no Brasil, mas que tem apresen-
relatório possa ser utilizado em processos tado resultados positivos tanto na identifi-
de crime ambiental. É importante frisar que cação de espécies quanto no rastreamento
o pressuposto fundamental do uso desta da origem de produtos obtidos por extra-
técnica para identificar o local de origem é tivismo ou caça (GRAVENA et al. 2008;
a existência de diferenças genéticas detectá- SANCHES et al. 2011). Esses resultados
veis entre as áreas. Desta forma, para que o positivos, aliados às técnicas que permitem
local de origem seja determinado, é neces- a obtenção de material genético a partir de
sário ter um banco de dados de sequências madeira já processada, abrem um impor-
de DNA abrangendo diversas áreas, tanto tante campo de investigação para auxiliar o
Unidades de Conservação quanto áreas de combate de crimes de desmatamentos flo-
extrativismo. Além disso, muitas vezes so- restais (DEGUILLOUX et al. 2003).
mente um marcador molecular não é sufi-
A aroeira, Myracrodruon urundeuva (sin.
ciente para diferenciar amostras de diferen-
Astronium urundeuva) pertence à famí-
tes locais. Dessa forma, pode ser necessário,
lia Anacardiaceae e possui outros nomes
para determinar o local de origem definiti-
comuns como aroeira-vermelha, aroeira-
vo, o sequenciamento de mais de um mar-
-mansa, aroeira-branca, aroeira-da-praia,
cador molecular, embora a atividade, aqui
aroeira-do-sertão, aroeira-do-paraná. Ou-
apresentada, utilize somente um marcador
tras espécies desta família que também são
molecular.
conhecidas por aroeira são: Schinus molle,
Astronium fraxinifolium e Lithraea brasilien-
PROBLEMA PROPOSTO sis. De grande plasticidade ecológica, a aro-
O Brasil possuiu uma das maiores áreas de eira ocorre nas Florestas Estacionais Semi-
cobertura vegetal e de diversidade florística deciduais, desde o Nordeste, passando pelo
do planeta. Além da grande importância Centro-Oeste do Brasil, chegando ao Rio
dessas áreas para a conservação, elas tam- Grande do Sul e estendendo-se à Argentina
bém constituem uma importante fonte de e ao Paraguai (LORENZI, 1992). Devido
desenvolvimento econômico para o País, o ao extrativismo da madeira, M. urundeuva
que acarreta a substituição de áreas nativas encontra-se atualmente ameaçada de ex-
por sistemas produtivos como pastagens, tinção (MMA, 2008), sendo seu corte res-

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tringido e regulamentado pela Portaria N.º das duas áreas de extrativismo certificado
83-N de 26 de Setembro de 1991 do Ins- (Áreas A1 e A2) e de duas populações de
tituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos aroeira de unidades de conservação onde a
Recursos Naturais Renováveis – Ibama: extração da espécie é proibida por lei (Áreas
B1 e B2).
“Art. 1º. Fica proibido o corte e a explo-
ração da Aroeira legítima ou Aroeira do Para determinar a origem da madeira é pre-
sertão (Astronium urundeuva), das Ba- ciso:
raúnas (Melanoxylon brauna e Schinopsis
1. Observar as sequências de DNA do ban-
brasiliensis), do Gonçalo Alves (Astronium
co de dados das áreas de plantio (A1 e
fraxinifolium) em Floresta Primária.
A2) e das unidades de conservação (B1 e
Art. 2º. A exploração da Aroeira ou Aro- B2).
eira do Sertão (Astronium urundeuva) das
2. Determinar as sequências de DNA de
Baraúnas (Melanoxylon brauna e Schinop-
cada amostra dos lotes apreendidos nas
sis brasiliensis), do Gonçalo Alves (Astro-
quatro lojas moveleiras.
nium fraxinifolium) em Floresta Secun-
dária, só poderá ser efetivada através de 3. Comparar as sequências de DNA de cada
Plano de Manejo Florestal de Rendimen- amostra com as do banco de dados das se-
to Sustentado, dependendo de projeto quências de DNA de cada área (A1, A2,
previamente aprovado pelo Ibama.” B1 e B2).
Nesta atividade foi proposta a determinação 4. A partir da comparação das sequências de
da origem de madeiras cortadas de aroeira DNA, determinar se a madeira é oriun-
com a utilização de um marcador molecular da das áreas de extrativismo A1 ou A2 e,
cloroplastidial (cpDNA) como evidência portanto, é realmente certificada, ou se a
para uma investigação criminal de explora- madeira é oriunda das unidades de con-
ção madeireira em áreas ilegais. servação, portanto de origem ilegal.
O Instituto Chico Mendes (ICMBio) rece-
beu uma denúncia anônima de que quatro
INSTRUÇÕES
lojas moveleiras, de uma cidade localizada PARA O PROFESSOR
no sudeste do estado de Goiás, estariam 1. Esta atividade poderá ser realizada indivi-
comercializando produtos provenientes de dualmente, ou em grupos de alunos de, no
madeiras de uso não certificado, i.e., oriun- máximo, quatro pessoas.
das de áreas onde a extração é proibida.
2. Cada grupo deverá receber o problema
Nas quatro lojas denunciadas, no entanto,
proposto, uma cópia do procedimento
os proprietários apresentaram documentos
para realizar a atividade, uma cópia de
certificando que a origem da madeira era de
cada painel, de cada tabela e das questões
áreas de extrativismo certificado, Áreas A1
para serem discutidas.
e A2. Para avaliar a procedência do material,
os fiscais do ICMBio coletaram um lote de 3. É recomendável que o professor aplique
amostras de cada loja. Este lote era compos- esta atividade em turmas que já tiveram
to por câmbio da madeira de cinco pranchas contato prévio com os conceitos de gené-
por loja, totalizando 20 amostras. Os frag- tica mendeliana e de populações.
mentos de tecidos do câmbio de cada amos- Os recursos didáticos que deverão ser utili-
tra foram acondicionados em saquinhos zados consistem em três painéis, conforme
esterilizados individuais e conduzidos a um descrito a seguir:
laboratório de análise genética. O DNA
das amostras de câmbio foi extraído e a re- 1. Painel 1 – Banco de dados contendo as
gião cloroplastidial trnS-trnG foi sequen- sequências de DNA para o marcador mo-
ciada por pesquisadores deste laboratório. lecular cloroplastidial trnS-trnG das áre-
As sequências obtidas foram comparadas as de extrativismo certificado (A1 e A2) e
com bancos de dados do laboratório, con- de unidades de conservação (B1 e B2) no
tendo informações da composição genética estado de Goiás.

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Área A1: Painel 1.


Banco de dados contendo
TCCTAATTGAAAAAAAGACAATTACTATGTTACATTACAC as sequências de DNA
para o marcador molecular
TCCTAATTGAAAAAAAGACAATTACTATGTTACATTACAC
cloroplastidial trnS-trnG das
TCCTAACTGAAAAAAAGACAAATACTATGTCACATTACAC áreas de extrativismo certificado
(A1 e A2) e das unidades de
TCCTAATTGAAAAAAACACAATTACTATGTTACATTACAC
conservação (B1 e B2) no
TCCTAACCGAAAAAAAGACAAATACTATGTCACATTACAC estado de Goiás.
TCCTAATTGAAAAAAACACAATTACTATGTTACATTACAC

Área A2:
TCCTAATTGAAAAAAAGACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAATTGAAAAAAACACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAAGACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAACTGAAAAAAAGACAAATACTATGTCACATTACAC
TCCTAATTGAAAAAAACACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAAGACAAATACTATGTCACATTACAC

Área B1:
TCCTAATTGAGAAAAAGACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAATTGAGAAAAACACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAAGACAATTACTACCCTACATTACAC
TCCTAACTGAAAAAAAGACAAATCCTATGTCACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAACCCAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAAGACAAATACTATGTCACATTACAC

Área B2:
TCCTAATTGAGAAAAAGACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAATTGAGAAAAACACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAAGACAATTACTACCCTACATTACAC
TCCTAACTGAAAAAAAGACAAATCCTATGTCACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAACACAATTACTATGTTACATTACAC
TCCTAACCGAAAAAAAGACAAATACTATGTCACATTACAC

2. Painel 2 – Localização geográfica das áre- certificado (A1 e A2) e nas unidades de
as de extrativismo certificado (A1 e A2) e conservação (B1 e B2).
das unidades de conservação (B1 e B2) no
4. Painel 3 – Sequências de DNA das
estado de Goiás. Os pontos indicam os lo-
amostras dos lotes apreendidos nas qua-
cais de ocorrência das populações naturais
tro lojas moveleiras.
de aroeira e, os quadrados, as áreas para
as quais o laboratório de análise genética 5. Tabela 2 – Sequências de DNA de aro-
possui banco de dados. eira encontradas nos lotes de madeira
amostrados nas quatro lojas moveleiras e
3. Tabela 1 – Sequências de DNA de aroei-
origem das amostras.
ra encontradas nas áreas de extrativismo

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Painel 2.
Localização geográfica das
áreas de extrativismo certificado
(A1 e A2) e das unidades de
conservação (B1 e B2) no
estado de Goiás. Os pontos
indicam os locais de ocorrência
das populações naturais de
aroeira e, os quadrados, as áreas
para as quais o laboratório de
análise genética possui banco
de dados.

Tabela 1. Área Sequências de DNA


Sequências de DNA de aroeira
encontradas nas áreas de A1
extrativismo certificado (A1
e A2) e das unidades de
A2
conservação (B1 e B2). B1
B2

Painel 3. Lote 1:
Sequências de DNA das
AMOSTRA 1: TC C TA AT TG A A A A A A A G A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
amostras dos lotes apreendidos
nas quatro lojas moveleiras. AMOSTRA 2: TC C TA AT TG A A A A A A A G A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
AMOSTRA 3: TC C TA A C TG A A A A A A A G A C A A ATA C TATG TC A C AT TA C A C
AMOSTRA 4: TC C TA A C TG A A A A A A A G A C A A ATA C TATG TC A C AT TA C A C
AMOSTRA 5: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TATG T C A C AT TA C A C
Lote 2:
AMOSTRA 1: TC C TA AT TG A A A A A A A G A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
AMOSTRA 2: TC C TA A C TG A A A A A A A G A C A A ATA C TATG TC A C AT TA C A C
AMOSTRA 3: TC C TA AT TG A A A A A A A C A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
AMOSTRA 4: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TATG T C A C AT TA C A C
AMOSTRA 5: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
Lote 3:
AMOSTRA 1: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TATG T C A C AT TA C A C
AMOSTRA 2: TC C TA AT TG A G A A A A A C A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
AMOSTRA 3: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A AT TA C TA C C C TA C AT TA C A C
AMOSTRA 4: TC C TA A C TG A A A A A A A G A C A A ATC C TATG TC A C AT TA C A C
AMOSTRA 5: TC C TA A C C G A A A A A A A C C C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
Lote 4:
AMOSTRA 1: TC C TA AT TG A A A A A A A G A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C
AMOSTRA 2: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TATG T C A C AT TA C A C
AMOSTRA 3: TC C TA A C C G A A A A A A A C C C A AT TA C TA C C C TA C AT TA C A C
AMOSTRA 4: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TATG T TA C AT TA C A C
AMOSTRA 5: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TA C C C TA C AT TA C A C

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Tabela 2.
Lote Amostras Sequências de DNA Área Sequências de DNA de aroeira
encontradas nos lotes de
1 1 madeira amostrados nas quatro
lojas moveleiras e origem das
amostras.
2

2 1

3 1

4 1

PROCEDIMENTO e para as unidades de conservação, B1 e


B2, e localização geográfica das áreas:
PARA OS ESTUDANTES
1. Ler atentamente o problema proposto. a) analisar as sequências e determinar
quais são presentes em cada área;
2. Analisar o Painel 1 e Painel 2 – Sequên-
cias de DNA cloroplastidial do marcador b) preencher a Tabela 1 com os resulta-
molecular trnS-trnG para amostras das dos, atribuindo nomes diferentes para
áreas de extrativismo certificado, A1 e A2, as sequências diferentes, por exemplo,

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S1, S2, S3 etc. As sequências estão ali- d) preencher a Tabela 2 com os resultados
nhadas de forma que cada base nitro- das sequências de DNA de cada amos-
genada em uma posição no DNA em tra, para cada lote.
um indivíduo corresponde à mesma
4. Analisar os resultados da Tabela 2:
posição no indivíduo abaixo;
a) determinar quais amostras são realmen-
c) para analisar as sequências de DNA e
te oriundas de áreas de extrativismo
determinar se são iguais ou diferentes,
(Áreas 1 e 2) e quais não são oriundas;
deve-se comparar cada base nitrogena-
da (total de 40) e verificar se são iguais b) preencher os resultados na Tabela 2.
ou diferentes;
d) lembrar-se de que sequências diferen-
ENTENDENDO A ATIVIDADE
tes devem possuir nomes diferentes. Questão 1: Em relação ao banco de dados
das áreas A1, A2, B1 e B2. Quantas e
3. Analisar o Painel 3 - A partir das sequên- quais sequências de DNA são exclusivas
cias de DNA de cada uma das amostras de cada área? Quantas e quais são com-
dos quatro lotes apreendidos nas lojas partilhadas? Quais áreas são mais seme-
moveleiras: lhantes entre si? Discutir sobre a seme-
a) determinar as sequências de DNA de lhança entre as áreas.
cada amostra; Questão 2: Foi possível encontrar a origem
b) comparar as sequências de DNA das de todas as madeiras dos quatro lotes
amostras com as do banco de dados de aroeira? O banco de dados utilizado
das diferentes áreas (A1, A2, B1 e B2), só possuía sequências de DNA de duas
conforme descrito no procedimento 2; áreas de extrativismo e duas unidades de
conservação? Este fato causou problemas
c) atribuir nomes às sequências de DNA
para a atribuição dos locais de origem das
das amostras da seguinte forma: se a
amostras? Comentar sobre os problemas
sequência da amostra for igual à se-
envolvidos na atribuição dos locais de ori-
quência de alguma das áreas do banco
gem e apontar soluções para eles.
de dados, dar o nome igual às sequ-
ências de DNA do banco de dados; Questão 3: Como a genética contribuiu para
se as sequências de DNA forem di- a elucidação do crime ambiental?
ferentes, atribuir um novo nome; se- Questão 4: Quais as principais dificuldades
quências iguais sempre devem ter o na utilização deste método baseado em
mesmo nome; marcador molecular?

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RESPOSTAS
Conjunto de sequências de DNA da Área A1: Painel 1.
Banco de dados contendo
TCC TA AT TG A A A A A A AG AC A AT TAC TATG T TAC AT TAC AC [1] as sequências de DNA
TCC TA AT TG A A A A A A AG AC A AT TAC TATG T TAC AT TAC AC [1] para o marcador molecular
cloroplastidial trnS-trnG das
TCC TA AC TG A A A A A A AG AC A A ATAC TATG TC AC AT TAC AC [2] áreas de extrativismo certificado
TCC TA AT TG A A A A A A AC AC A AT TAC TATG T TAC AT TAC AC [3] (A1 e A2) e das unidades de
TCC TA ACC G A A A A A A AG AC A A ATAC TATG TC AC AT TAC AC [4] conservação (B1 e B2) no
estado de Goiás.
TCC TA AT TG A A A A A A AC AC A AT TAC TATG T TAC AT TAC AC [3]
Sequências (S1, S2, S3 e S4)

Conjunto de sequências de DNA da Área A2:


TCC TA AT TG A A A A A A AG AC A AT TAC TATG T TAC AT TAC AC [1]
TCC TA AT TG A A A A A A AC AC A AT TAC TATG T TAC AT TAC AC [3]
TCC TA ACC G A A A A A A AG AC A AT TAC TATG T TAC AT TAC AC [5]
TCC TA AC TG A A A A A A AG AC A A ATAC TATG TC AC AT TAC AC [2]
TCC TA AT TG A A A A A A AC AC A AT TAC TATG T TAC AT TAC AC [3]
TCC TA ACC G A A A A A A AG AC A A ATAC TATG TC AC AT TAC AC [4]
Sequências (S1, S2, S3, S4 e S5)

Conjunto de sequências de DNA da Área B1:


T C C T A A T T G A G A A A A A G A C A A T T A C T A T G T T A C A T T A C A C [6]
T C C T A A T T G A G A A A A A C A C A A T T A C T A T G T T A C A T T A C A C [7]
T C C T A A C C G A A A A A A A G A C A A T T A C T A C C C T A C A T T A C A C [8]
T C C T A A C T G A A A A A A A G A C A A A T C C T A T G T C A C A T T A C A C [9]
T C C T A A C C G A A A A A A A C C C A A T T A C T A T G T T A C A T T A C A C [10]
T C C T A A C C G A A A A A A A G A C A A A T A C T A T G T C A C A T T A C A C [4]
Sequências (S4, S6, S7, S8, S9 e S10)

Conjunto de sequências de DNA da Área B2:


T C C T A A T T G A G A A A A A G A C A A T T A C T A T G T T A C A T T A C A C [6]
T C C T A A T T G A G A A A A A C A C A A T T A C T A T G T T A C A T T A C A C [7]
T C C T A A C C G A A A A A A A G A C A A T T A C T A C C C T A C A T T A C A C [8]
T C C T A A C T G A A A A A A A G A C A A A T C C T A T G T C A C A T T A C A C [9]
T C C T A A C C G A A A A A A A C A C A A T T A C T A T G T T A C A T T A C A C [11]
T C C T A A C C G A A A A A A A G A C A A A T A C T A T G T C A C A T T A C A C [4]
Sequências (S4, S6, S7, S8, S9 e S11)

Tabela 1.
Área Sequências de DNA Sequências de DNA de aroeira
encontradas nas áreas de
A1 S1, S2, S3 e S4 extrativismo certificado (A1
e A2) e das unidades de
A2 S1, S2, S3, S4 e S5 conservação (B1 e B2).

B1 S4, S6, S7, S8, S9 e S10

B2 S4, S6, S7, S8, S9 e S11

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Painel 3. Sequências de DNA do Lote 1:


Sequências de DNA das
amostras dos lotes apreendidos AMOSTRA 1: T C C TA AT T G A A A A A A A G A C A AT TA C TAT G T TA C AT TA C A C [1]
nas quatro lojas moveleiras.
AMOSTRA 2: T C C TA AT T G A A A A A A A G A C A AT TA C TAT G T TA C AT TA C A C [1]
AMOSTRA 3: T C C TA A C T G A A A A A A A G A C A A ATA C TAT G T C A C AT TA C A C [2]
AMOSTRA 4: T C C TA A C T G A A A A A A A G A C A A ATA C TAT G T C A C AT TA C A C [2]
AMOSTRA 5: T C C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TAT G T C A C AT TA C A C [4]
Sequências (S1, S2, e S4)

Sequências de DNA do Lote 2:


AMOSTRA 1: TC C TA AT TG A A A A A A A G A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C [1]
AMOSTRA 2: TC C TA A C TG A A A A A A A G A C A A ATA C TATG TC A C AT TA C A C [2]
AMOSTRA 3: TC C TA AT TG A A A A A A A C A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C [3]
AMOSTRA 4: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TATG TC A C AT TA C A C [4]
AMOSTRA 5: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C [5]
Sequências (S1, S2, S3, S4 e S5)

Sequências de DNA do Lote 3:


AMOSTRA 1: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TATG TC A C AT TA C A C [4]
AMOSTRA 2: TC C TA AT TG A G A A A A A C A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C [7]
AMOSTRA 3: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A AT TA C TA C C C TA C AT TA C A C [8]
AMOSTRA 4: TC C TA A C TG A A A A A A A G A C A A ATC C TATG TC A C AT TA C A C [9]
AMOSTRA 5: TC C TA A C C G A A A A A A A C C C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C [10]
Sequências (S4, S7, S8, S9 e S11)

Sequências de DNA do Lote 4:


AMOSTRA 1: TC C TA AT TG A A A A A A A G A C A AT TA C TATG T TA C AT TA C A C [1]
AMOSTRA 2: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TATG TC A C AT TA C A C [4]
AMOSTRA 3: TC C TA A C C G A A A A A A A C C C A AT TA C TA C C C TA C AT TA C A C [12]
AMOSTRA 4: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TATG T TA C AT TA C A C [13]
AMOSTRA 5: TC C TA A C C G A A A A A A A G A C A A ATA C TA C C C TA C AT TA C A C [14]
Sequências (S1, S4, S12, S13 e S14)

Questão 1: Em relação ao banco de dados a sequência S5, que é exclusiva. A Área B1


das áreas A1, A2, B1 e B2, quantas e quais tem uma sequência exclusiva (S10), com-
sequências de DNA são exclusivos de partilha a sequência S4 com todas as outras
cada área? Quantas e quais são comparti- áreas e as sequências S6, S7, S8 e S9 com
lhadas? Quais áreas são mais semelhantes a área B2. Esta última tem uma sequência
entre si? Discutir a semelhança entre as exclusiva (S11). As áreas A1 e A2 são mais
áreas. semelhantes entre si, bem como as Áreas B1
e B2. Provavelmente, a maior semelhança
A Área A1 não apresenta nenhuma sequ-
entre as áreas A1 e A2 e B1 e B2 se deve à
ência exclusiva. A Área A2 apresenta todas
proximidade entre as áreas.
as quatro sequências presentes em A1 mais

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Tabela 2.
Lote Amostras Sequências de DNA Área Sequências de DNA de aroeira
encontradas nos lotes de
1 1 S1 A1 ou A2 madeira amostrados nas quatro
lojas moveleiras e origem das
amostras.
2 S1 A1 ou A2

3 S2 A1 ou A2

4 S2 A1 ou A2

5 S4 A1 ou A2 ou B1 ou B2

2 1 S1 A1 ou A2

2 S2 A1 ou A2

3 S3 A1 ou A2

4 S4 A1 ou A2

5 S5 A2

3 1 S4 A1 ou A2 ou B1 ou B2

2 S7 B1 ou B2

3 S8 B1 ou B2

4 S9 B1 ou B2

5 S10 B1

4 1 S1 A1 ou A2

2 S4 A1 ou A2 ou B1 ou B2

3 S12 ?

4 S13 ?

5 S14 ?

Questão 2: Foi possível encontrar a origem O rastreamento da origem do material ba-


de todas as madeiras dos quatro lotes seia-se nas variações observadas em cada
de aroeira? O banco de dados utilizado uma das áreas e nas diferenças entre as se-
só possuía sequências de DNA de duas quências de DNA de cada área. Seguem as
áreas de extrativismo e duas unidades de análises:
conservação. Este fato causou problemas
Lote 1: Não conseguimos determinar a área
para a atribuição dos locais de origem das
exata das amostras, mas conseguimos de-
amostras? Comentar os problemas envol-
terminar que 4 amostras (1 a 4) são oriun-
vidos na atribuição dos locais de origem e
das de áreas de extrativismo. Já a origem
apontar soluções para eles.
da amostra 5 não pode ser determinada

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porque possui as sequências de DNA S4, variação ao longo da distribuição da espécie


compartilhada por todas as áreas. investigada. Assim, fomos capazes de rastre-
ar essa variabilidade e identificar sua prová-
Lote 2: Também conseguimos determinar
vel origem. Desta forma, a análise genética é
que 4 amostras são de áreas de extrativis-
fundamental em problemas onde a identifica-
mo, mas não exatamente qual é a área.
ção por características morfológicas não pode
Porém, para a amostra 5, conseguimos de-
contribuir, por exemplo, para a identificação
terminar que é oriunda da Área 2 porque
de origem.
esta amostra possui a sequência S5, exclu-
siva desta Área. Questão 4: Quais as principais dificuldades
na utilização deste método baseado em
Lote 3: Não conseguimos determinar a ori-
marcador molecular?
gem da amostra 1 porque esta amostra pos-
sui as sequências de DNA S4, compartilha- A principal dificuldade é estabelecer bancos
da por todos as áreas. Já para as amostras de dados robustos e abrangentes, ou seja, com
2, 3, 4, conseguimos determinar apenas que muitos marcadores moleculares e com sequ-
elas são oriundas de unidades de conserva- ências de indivíduos de muitas áreas, para a
ção (B1 ou B2), porque estas amostras têm maioria das espécies que se encontram ame-
sequências de DNA compartilhadas entre açadas por atividades exploratórias ilegais.
as áreas. Para a amostra 5, determinamos Isso envolveria a capacitação de profissionais
que é oriunda da Área B1. Desta forma, para lidar com a geração de dados genéticos e
por comercializar madeiras de plantios, a a designação de verbas específicas para a im-
loja moveleira correspondente ao lote 3 pode plementação desse banco de dados. A partir
ser autuada por crime ambiental. disso, a utilização do método seria facilitada
e poderia ser realizada rapidamente, forne-
Lote 4: A amostra 1 é proveniente de área
cendo indícios robustos para solucionar casos
de extrativismo (A1 ou A2), mas a amos-
de crimes ambientais.
tra 2 pode ser oriunda de qualquer uma
das quatro áreas. Entretanto, as amostras
3, 4 e 5 não puderam ser rastreadas, ou REFERÊNCIAS
seja, não podem ter origem determinada. DEGUILLOUX, M.F; PEMONGE, M. H; PE-
Só sabemos que se trata de material ilegal TIT, R. J. DNA-based control of oak wood
porque podemos excluir as Áreas A1 e A2 geographic origin in the context of the coope-
rage industry. Ann. For. Sci., v. 61, p. 97-104,
como fontes de origem. As sequências de
2004.
DNA do lote 4 são muito diferentes das
presentes nestas duas áreas. Apesar disso, GRAVENA, W.; HRBEK, T.; SILVA, V. M. F.;
não conseguimos rastrear sua origem por- FARIAS, I. P. Amazon river dolphin love fe-
tishes: from folklore to molecular forensics.
que o material apreendido apresenta sequ-
Mamm. Sci., v. 24, p. 969-978, 2008.
ências que não estão presentes nos bancos
de dados e este problema só poderia ser LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de
contornado se contássemos com um ban- identificação e cultivo de plantas arbóreas na-
co de dados maior, que englobasse grande tivas do Brasil. São Paulo: Plantarum, v.1, p.
368, 1992.
parte das populações naturais da aroeira,
ao longo de toda sua distribuição. MMA. Instrução Normativa MMA nº 6, de 23
de setembro de 2008, que reconhece as es-
Questão 3: Como a genética contribuiu para pécies da flora brasileira ameaçadas de extin-
a elucidação do crime ambiental? ção. Disponível em: http://www.ibama.gov.
As análises genéticas, além de permitirem a br/documentos/lista-de-especies-ameaca-
das-de-extincao.
identificação de espécies, também permitiram
rastrear a origem do material com base na SANCHES, A.; PEREZ WAM; FIGUEIRE-
comparação de sequências obtidas a partir DO, M. G.; ROSSINI, B. C.; CERVINI,
da análise de uma região do DNA. Isto só M.; GALETTI JR, P.M.; GALETTI, M.
foi possível porque o marcador molecular uti- Wildlife forensic DNA and lowland tapir
(Tapirus terrestres) poaching. Conservation
lizado foi capaz de evidenciar o polimorfis-
Genet. Resour, v. 3, p. 189-193, 2011.
mo entre indivíduos (amostras) e apresentar

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