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FERNANDO CÉSAR, médico psiquiatra (CRM-GO 10070)


ÍNDICE

PREFÁCIO: A PRIMEIRA COISA É DECIDIR-SE!

O SEGUNDO PASSO... É DAR UM PASSO


ATRÁS!

OS PRÓXIMOS PASSOS
NÃO FAÇA NENHUMA “BESTEIRA”!
BLOQUEAR OU NÃO NAS REDES SOCIAIS?
FICAR OU NÃO COM OUTRAS PESSOAS?
UMA “RECAIDAZINHA” APENAS... PREJUDICA?

SOBREVIVENDO

RECUPERANDO SUA AUTOESTIMA


PREFÁCIO

A PRIMEIRA COISA É DECIDIR-SE!


Você já ouviu falar de alguém que parou de
fumar “sem querer”? A pessoa fumava um maço
de cigarros por dia e, um belo dia, acordou sem
vontade de fumar? Ou conhece alguém que bebia
muito e que, do nada, parou de beber, sem
desejar que isto acontecesse?
Ou já ouviu a história de uma pessoa que
estava muito acima do peso e, subitamente, sem
estar doente ou algo assim, perdeu a vontade de
comer e emagreceu 20 ou 30 quilos?
Eu nunca ouvi falar de algo assim e isto
provavelmente nunca ocorreu na história!
O que há em comum entre pessoas que param
de fumar ou beber e pessoas que emagrecem é
que primeiramente elas decidiram que fariam
isto. Aliás, até mesmo antes de se decidirem: elas
quiseram isto. O fumante sabia que o cigarro iria
lhe fazer mal, daqui a alguns anos; o obeso já não
aguentava mais se sentir incomodado ao se olhar
no espelho ou se sentir cansado ao fazer uma
pequena caminhada. Então eles quiseram ser
pessoas diferentes: um quis ser uma pessoa que
não fuma ou bebe; outro, uma pessoa com o peso
ideal.
Após terem o desejo, eles tiveram uma
compreensão: tenho de fazer algo para ser esta
outra pessoa. “Tenho de parar de fumar, se quiser
ser um ex-fumante”, pensou um. “Tenho de fazer
uma dieta, se quiser emagrecer”, pensou o outro.
Os raciocínios são óbvios, sim, mas sem eles nada
teria acontecido!
Contudo, após estes pensamentos, vieram
algumas lembranças. Um se lembrou que já havia
tentado parar de fumar antes, e que não havia
sido fácil, tendo voltado a fumar no quinto dia,
após passar por um estresse no trabalho... O
outro se lembrou da dieta anterior, da qual
desistiu no começo, após ter perdido apenas três
quilos, porque um dia ficou com muita vontade de
comer uma pizza suculenta e resolveu “chutar o
balde” – e daí em diante não conseguiu mais
retomar a determinação de controlar seu apetite.
Então agora eles tomaram consciência de que
não bastava querer e “ter vontade” de fazer o
necessário: também era preciso aceitar que o
processo poderia ser doloroso – e, mesmo assim,
teriam de suportar e prosseguir.
Então estas pessoas enxergaram seus
problemas, quiseram mudar, tomaram
consciência do que tinham de fazer para atingir
seus objetivos, aceitaram que poderia ser difícil e
sofrido e... e, ainda assim, decidiram-se a tentar,
a fazer.
E, assim, um enfim parou de fumar e outro
agora tem o peso que sempre quis ter. Não foi
muito fácil, chegaram a ter recaídas pelo
caminho, mas conseguiram!
A decisão, verdadeira, real, foi a chave da
transformação. Pois uma decisão real
transforma-se em determinação. O primeiro
pensou: “Mesmo que eu tenha uma recaída, sem
problemas, amanhã começo tudo de novo, pois o
que importa é o meu objetivo final. Eu ficar me
culpando e desistindo por conta de recaídas não
vai ajudar em nada eu chegar aonde quero!” O
segundo pensou a mesma coisa.
Eles tinham um objetivo claro e estavam
determinados, dia após dia, a conquistá-lo!

Você pode estar se perguntando... “Mas o que


isto tem a ver comigo? Eu quero esquecer ele/ela!
Já decidi isto! Inclusive estou lendo este livro
justamente porque quero isto!”
Bom, pode ser que isto seja verdade, você já
tenha mesmo tomado esta decisão. Mas talvez
não. Vamos conversar um pouco sobre isto, antes
de tudo?

Comece por fazer um exame de consciência.


Faça-se algumas perguntas. Você ainda fantasia
com o retorno? Com estarem juntos e você estar
feliz? De vez em quando você passa um longo
tempo se lembrando com carinho de momentos
bons do passado, sem se lembrar das coisas
ruins? Fica especulando sobre o que seria
necessário para dar certo (“se” ele/ela mudar isto,
“se” eu mudar aquilo...)?
Quando você começou a ler este livro o seu
desejo real, verdadeiramente real, lá no fundo...
era esquecer, superar, seguir em gente... ou era
“esquecer porque ele/ela não me quer, mas se ele
quiser eu volto na hora”?
Se a resposta a algumas destas perguntas foi
“sim”, sinto muito te dizer, você ainda quer o
retorno – mas você talvez já saiba disto, não é
mesmo?
Você quer parar de sofrer, mas não quer
esquecer, superar, seguir adiante... São duas
coisas diferentes. Se fosse possível chegar a um
ponto em que você passasse o dia fantasiando
com ele/ela não sofresse, você talvez escolhesse
isto. Porque você não gosta de sofrer, claro, mas
da fantasia e da ilusão você ainda gosta!
É como se o fumante quisesse parar de fumar
da seguinte maneira: que ele pudesse se lembrar
apenas de como era bom quando fumava, e
mesmo assim não sentisse vontade nenhuma de
fumar. Isto faz sentido? Nenhum! Isto é possível?
Parece bem difícil...
O ex-fumante, para se manter determinado a
não fumar mais, tem de se lembrar não apenas de
como o cigarro era bom (para ele era, sim!), mas
sim de todo o mal que fumar poderia vir a lhe
fazer no futuro. Tem de se lembrar do tio, que
morreu de câncer de pulmão, uma morte horrível.
O ex-obeso tem de se lembrar não apenas de
como era bom quando ia ao rodízio na
churrascaria e comia até “dar prejuízo” ao dono do
estabelecimento, mas da sua mãe que, muito
acima do peso, infartou ainda nova e morreu
subitamente, deixando a família arrasada.
Entretanto, o que comumente acontece nos
términos, nas separações, é que só queremos
parar de sofrer, sem nos livrarmos das nossas
fantasias de um passado ou de um futuro em que
tudo era ou será lindo com a pessoa que amamos
ao nosso lado.
E por que não queremos abandonar esta
fantasia? Porque ela é gostosa – assim como o
ex-fumante gostava de fumar, assim como o ex-
obeso adorava comidas altamente calóricas.
E porque cair na real (“nunca mais vou poder
fumar”; “nunca mais poderei comer à vontade”;
“nunca mais poderei ter ele/ela”) é desagradável,
incômodo... é doloroso!

O segredo do ex-fumante e do ex-obeso é que


eles aceitaram a realidade, por mais
desagradável que fosse. “Terei de passar por isto,
se quiser chegar aonde desejo estar!”
E, paradoxalmente, foi isto, esta aceitação da
dor, que tornou o processo mais fácil para eles!
Porque eles também perceberam que a realidade
não é apenas ruim. Pois a fantasia não era apenas
boa, ela escondia o lado negativo. “Fumar era
bom, mas, ao mesmo tempo, me faria mal a longo
prazo.” “Comer à vontade era muito bom, mas, ao
mesmo tempo, estava começando a me causar
problemas de saúde – o médico disse que eu já
estava com um princípio de diabetes...”
“Seria muito bom se ele/ela voltasse, mas a
verdade é que, ao mesmo tempo...” Complete
esta frase. Tente completar!
Era mesmo bom assim, quanto agora na sua
fantasia parece que era? Ele/ela era isto tudo
mesmo? Um deus, uma deusa? Era uma pessoa
que estava sempre linda, bem-humorada, te
tratava super bem, era atencioso(a), carinhoso(a),
sempre pronto(a) para o sexo etc. etc. etc.? Sério
mesmo? Era tudo isto? Acho que provavelmente
não...
A relação era esta maravilha toda? Estava
tudo bem? Não existiam brigas, acusações,
ameaças, agressividade verba ou física, nada
disto? Até ontem vocês estavam andando de mão
dadas, saltitantes pelo parque, e no dia seguinte
ele/ela foi embora? Acho que não, não é?
Acho que se acabou é porque, no mínimo, por
mais que aquela pessoa fosse linda, atenciosa
etc., no mínimo ela não está muito a fim de ficar
com você!
Aceite isto. Aceite pelo menos isto! Você pode
até dizer agora, “Eu irei reconquistá-lo(a)!” Ok,
boa sorte... Mas pelo menos aceite, admita, que,
neste momento ao menos, aquela pessoa
possivelmente não está a fim de algo com você.
E o pior: talvez esteja a fim de (ou já com)
outra pessoa!
É, é bem dolorido... Entendo você querer fugir
desta realidade e correr para o mundo da
fantasia...
É uma reação normal, qualquer um poderia ter
a mesma atitude, você não é uma pessoa
“covarde” por isto!
A realidade às vezes dói muito e a única coisa
que queremos é fugir para um cantinho calmo e
aconchegante: nossas fantasias...

No meu site Educação Sentimental


[educacaosentimental.com.br] frequentemente
recebo relatos mais ou menos assim: “Ele me
traiu, descobri, brigamos muito, mas perdoei; ele
me traiu novamente, mas se arrependeu, perdoei
de novo; descobri a terceira traição, terminei de
vez com ele... Ele pede para voltar, mas não
posso, porém estou muito mal, preciso de ajuda!”
Este homem não foi infiel uma, duas ou três
vezes... ele é infiel. Ele provavelmente nunca
mudará! Todo mundo que está de fora da história
enxerga isto. Mas na fantasia da autora deste
relato fictício ele é fiel, ele quer ficar apenas com
ela, e não com “o bairro inteiro”. Na fantasia dela,
ele não é quem ele é de verdade, ele é outra
pessoa. Ela sofre, portanto, não pelo homem real
que perdeu, mas pelo ideal que nunca existiu!
Porque é doloroso aceitar a realidade. Ele não
te amava! Pelo menos não da forma que você
gostaria, que ele só tivesse olhos (e o corpo) só
para você... É complicado aceitar isto, porque o
que você realmente queria era o oposto disto!
E você está presa dentro da sua fantasia.

Como dissemos, um dos primeiros passos


para sair desta prisão é aceitação plena da
realidade. E também como dissemos, a fantasia
geralmente esconde um lado negativo. Neste
exemplo, o lado negativo é que aquele homem
mulher poderia ser lindo e cheiroso e sorridente,
mas é infiel. Ponto! E é isto que você quer, de
verdade? Quer mesmo do seu lado um homem
que você sabe que é infiel?
Acho que não. Por isto, na sua fantasia, ele é
fiel – ele apenas teve alguns “deslizes”. Quem
sabe até por culpa sua, que não transava tanto
com ele quanto ele “necessitava”? Ou porque
você está alguns quilinhos acima do peso?
Pare de se culpar! Pare de tentar perdoá-lo, de
“passar pano” para quem ele realmente é! Você
sabe quem ele é – mas você não aceita porque na
sua fantasia você não apenas é amada, mas
amada por uma pessoa melhor do que a que
realmente existe. Quando, na verdade, ele
apenas “gostava” de você (e de vários outros) e,
além disto, talvez tenha um desvio de caráter, ou
um problema hormonal ou qualquer outra coisa
que explique a sua desonestidade crônica, o seu
egoísmo...
Aceitar tudo isto talvez fizesse o seu mundo
desmoronar, não é?
Então, numa reviravolta inesperada,
percebemos que a fantasia desta nossa amiga
não é sobre o ex-marido, mas sobre ela mesmo!
Sobre quem ela gostaria de ser – a mulher que
atrai com exclusividade um homem bonito,
simpática – e fiel. Mas ela só foi capaz de atrair
“um qualquer”.
Para que ela continue a se ver como um cara
capaz de atrair uma mulher especial, ele precisa
continuar a ser honesto, fiel. Um honesto que a
ama, de verdade, e que apenas cometeu “alguns
deslizes”, que “fraquejou” uma vez ou outra...
É o que ele diz, afinal, que estes casos não
significaram nada! E é o que ela gostaria, com
todas as forças, de acreditar. Por isto continua a
preservar a honestidade dele, em suas fantasias.
Se sente magoada, mas não consegue esquecê-
lo. É possível que se ela perceber que ele parou
de insistir na reconciliação e pode acabar ficando
com outra, ela vá atrás dela e se humilhe pedindo
para ele voltar, dizendo que aceita tudo... Porque
aí, mesmo que ele continue infiel (e continuará),
ao menos ele a ama, não é mesmo, já que está é
com ela!
É muito estranho, mas se esta mesma mulher
já soubesse o que ele é antes de terem começado
a ficar, certamente não iria querer namorar com
ele. Porque aí ele não teria como preencher a
fantasia dela. Seria vista apenas como “um
homem bonito, muito simpática, mas que não
respeita a mulher que está ao lado dele”. E quem
iria em sã consciência, sem estar apegado, querer
assumir algo com um homem assim?

Listar os defeitos da outra pessoa pode


parecer uma fuga da realidade, uma fuga da dor.
“Estou sofrendo, estou com saudades, mas vou
tentar sair deste sentimento pensando nas
vantagens de ter terminado...”
Sim, pode ser mesmo uma fuga da dor. Mas
não deixa de ser, pelo menos, uma “fuga
honesta”. Você não está se embriagando e nem
tentando se iludir mais ainda. Você está apenas
encontrando um local dentro da realidade onde a
realidade não é tão dolorosa. Porque, como já
dissemos e voltamos a dizer, a realidade não é
apenas ruim, a fantasia não é apenas boa.

Seja honesta(o), agora! Ele(a) era/foi/é:


[ ] infiel
[ ] fisicamente agressivo(a), ameaçador(a),
intimidador(a)
[ ] verbalmente agressivo(a)
[ ] controlador(a)
[ ] egoísta
[ ] pouco atrativo(a) fisicamente
[ ] preguiçoso(a), sem ambições
[ ] desonesto(a)
[ ] não quer realmente um compromisso sério
com ninguém
[ ] etc. etc. etc.
Tenha coragem! Pegue um papel e faça esta
lista! Comece a matar a fantasia sobre a outra
pessoa que existe dentro de você!
Tenho certeza de que se você parar para
pensar conseguirá listar um monte de pequenos
defeitos dela – e talvez alguns grandes! Não
porque aquela pessoa seja “a pior pessoa do
mundo” – e sim porque ela é uma pessoa normal!
Não é o deus ou deusa que a sua fantasia gostaria
que fosse. Aquele deus que, por te escolher, te
transformou em uma deusa...
E se ela resolveu ficar com outro, agora, bom
para os dois! Você talvez não tenha perdido
taaaaanta coisa assim... Talvez quem ficar com
ela descobrirá, daqui a alguns meses, quando os
defeitos dele(a) começarem a aparecer,
perceberá que não ganhou na Mega Sena
acumulada...

Talvez o exemplo da infidelidade pareça


exagerado, para você, talvez não se encaixe no
seu caso... Ok, então usarei o oposto, uma queixa
bem simples.
“Eu sempre tentava conversar com ele, mas
não adiantava muito”, diz uma frase de um relato
real que recebemos recentemente, de uma jovem
mulher.
A história é grande e complicada e esta frase
parece banal no meio de todos os outros
problemas. Mas escolhemos ela, e sua quase
simplicidade, justamente para ilustrar novamente
o que estamos apontando desde o começo: que a
raiz do problema está na não aceitação da
realidade.
Ela tentava conversar com ele, mas não
adiantava muito... O que isto significa? Muito
simples: que ele... é uma pessoa com a qual não
adianta conversar! Mas após a primeira conversa,
a segunda, a terceira, ela ainda tentava! Na
fantasia dela, ele era uma pessoa razoável, uma
pessoa com a qual adiantaria conversar, dialogar!
Mas ele não era esta pessoa! Simples assim! Se
ela tivesse aceitado esta realidade, de que ele era
“uma pedra surda”, ela não teria tentado
conversar uma quarta, quinta, uma décima vez!
Ela poderia até não ter desistido dele, mas de
conversar ao menos ela já teria desistido há muito
tempo! Sua frase então seria outra no relato, seria
algo como: “Conversei com ele umas três vezes,
vi que não adiantava muito, então parei de
tentar.”
Seria uma ação muito mais inteligente, muito
menos cansativa, menos fatigante, muito mais
adequada com a realidade!
Portanto, pare de lutar contra a realidade,
aceite a realidade! Pois enquanto você “viver de
fantasia” não conseguirá se libertar!
*

O outro lado da moeda, uma outra realidade


que o sofrimento comumente apaga, são os
benefícios do fim.
Sim, benefícios!
Não queremos ver o lado ruim da pessoa que
se foi ou da relação que acabou – e não queremos
ver o quanto o fim pode ser uma oportunidade!
Lembra-se daquela lista de “defeitinhos”
dele(a)? Primeiro benefício do fim: ao menos você
se livrou de tudo isto!
Mas não é apenas isto. Falamos aqui de
ganhos reais, sejam pequenos ou grandes, de
coisas que perdemos enquanto estávamos com
aquela pessoa e agora podemos recuperar...
Novamente, a lista é muito pessoal... Mas
complete: “Agora posso...”
[] usar a roupa que quiser e dançar sem as
crises de ciúme dele
[] jogar videogame sábado a tarde inteira
sem ela me chamar de “infantil” ou “preguiçoso”
[] ficar com outras pessoas, por que não?
[] retomar as amizades que ele(a) me fez
cortar
[] dormir espalhado na cama, como gosto
[] viajar para a praia, coisa que ele(a) nunca
topava
[] nunca mais ter que ir para a praia, que
ele(a) adorava e eu odiava
[ ] etc. etc. etc.
Tenha coragem! Faça a sua lista! Admita para
você mesma(o) que você está ganhando um
monte de coisas com este fim! Tenha coragem de
receber este presente!
Você não se sentia sufocado(a), às vezes
infeliz? Pois agora curta a sua liberdade! Nem que
isto signifique ficar deitado no sofá lendo uma
revista ou passar o dia vendo memes na internet,
coisa que nem isto ele(a) deixava você fazer em
paz!

EM RESUMO...
Resumirei este capítulo da seguinte maneira:
a primeira coisa é decidir-se. Decidir-se a tirar
ele(a) do pedestal, a tirar a relação do pedestal.
Decidir-se a aceitar que ele(a) não era isto tudo e
que, afinal, você não está perdendo muita coisa –
talvez esteja até ganhando muito, sem ele(a).
Decidir-se a aceitar que este processo de
quebra da fantasia pode ser doloroso, mas é
necessário. É doloroso, muitas vezes, não
exatamente pelo que você está perdendo, mas
porque acaba com a sua fantasia de você ter sido
uma pessoa especial, já que seria amada por uma
pessoa especial.
Decidida(o) a aceitar o processo, a dor, faça o
que tem de ser feito: destrua a fantasia. Faça os
exercícios que propus.
Liste, de verdade, o que a pessoa realmente é.
O que ela de fato é, não o que você gostaria que
fosse! Liste inclusive os pequenos defeitos. Se
necessário, guarde este papel na sua bolsa ou
carteira, para toda vez que começar a fantasiar se
relembrar rapidamente da realidade. Não deixe a
fantasia te sugar de volta!
Também liste tudo o que você ganhou, com o
término. Sim, você ganhou algumas coisas,
admita. Faça esta lista. Guarde-a também.
Comece a aproveitar estes ganhos! Se agora você
pode retomar amizades, retome-as! E toda vez
que a fantasia, a saudade, a nostalgia quiserem
te puxar de volta, olhe para esta lista e lembre-
se que voltar àquele relacionamento significaria
ter de perder tudo isto. Significaria, talvez, você
deixar de ser você mesma(o). Significaria, talvez,
e você sabe disto, trocar uma angústia imediata
por uma infelicidade de longo prazo...

Em suma, o primeiro passo é decidir-se


verdadeiramente a dinamitar o pedestal da
fantasia.
Após tomar esta decisão, o processo será
mais fácil.
Pare de colocá-la(o) em um pedestal!
Ela é uma pessoa como outra qualquer! Quando você
perceber isto irá se perguntar por que era tão louca(o)
nele(a).
O SEGUNDO PASSO...
É DAR UM PASSO ATRÁS
Vivemos numa época extremamente
imediatista. Se entramos em uma página na
internet e ela demora um pouquinho a mais para
carregar, já saímos dela, irritados...
Talvez você tenha começado a ler este livro
com este espírito. Querendo a solução mágica,
querendo que palavras “abençoadas”, mágicas”,
tirassem subitamente o peso do seu coração.
Isto não irá acontecer. Não assim!
Esquecer alguém, superar um fim, é um
processo. Na grande maioria das vezes não será
algo súbito.
É um processo que até pode em alguns casos
ser rápido, mas que, mesmo com o melhor dos
auxílios, às vezes pode levar semanas, às vezes
meses!
Você precisa aceitar isto. Precisa aceitar o
processo. Viver o processo. Mergulhar no
processo!
Não estou falando para você aceitar
passivamente o processo. Apenas para aceitar
que, por mais que você faça o que pode fazer para
que ele seja o mais breve possível, ele pode levar
um tempo e você pode sentir alguma dor pelo
caminho. Que pode haver até mesmo um dia ou
outro que você queira “entregar os pontos” – fazer
“uma besteira” ou ir atrás dele(a) implorando
para ele(a) voltar (o que também provavelmente
seria uma péssima ideia).

O segundo passo, portanto, não será alguma


dica como “faça caminhadas” ou “saia com seus
amigos”. Estas ações são importantes e
chegaremos a elas, ainda, mas não são elas que
resolverão a situação.
Não. O segundo passo é parar. Parar esta
leitura.
Por alguns dias se necessário!
E voltar ao começo, ao primeiro passo. Reler
tudo, mais uma vez, mais outra vez.
Caminhar, sim, mas para refletir
profundamente em tudo o que foi dito ali.
“Mas eu estou muito ansioso e angustiado(a),
queria que isto resolvesse logo!”
Eu sei! Mas isto só vai resolver... quando se
resolver!
E para que se resolva, há passos do processo
que não têm como ser pulados. Não há atalhos.
E o primeiro passo é aquele. E o segundo é
fazer o primeiro bem feito.
“Mas eu estou muito ansioso(a) e...” Já sei, já
sei disto!
O que vai resolver a sua ansiedade, a sua
angústia, é, claro, você parar de sofrer. E você só
irá parar de sofrer quando começar a enxergar
que a realidade não é tão ruim assim. E você só
irá enxergar isto quando... quando começar a
olhar de verdade para a realidade. Para a
“realidade real”, completa, que inclui até os
ganhos que você possivelmente obteve com o
fim.
E enxergar a realidade, em toda a sua
complexidade, com seus prós e contras, leva
algum tempo – até a ficha “começar a cair”. E
começar a aceitar esta realidade leva mais tempo
ainda.
Então, se quer mesmo se livrar desta
ansiedade, não há outra coisa a fazer, a não ser
voltar ao primeiro passo e refletir bastante, por
dias, talvez, em tudo o que foi dito ali...

Pare e pense um pouquinho... Qual o segredo


das pessoas que esqueceram alguém? Se você já
esqueceu alguém, sabe que o “segredo” é que
chegou um momento em que aquela pessoa, por
mais bonita etc. que fosse, era uma pessoa
normal para você. Talvez até menos do que
normal – alguém que você queria era distância!
O que aconteceu entre o dia que você sofria
por aquela pessoa e o dia que a esqueceu?
Você, sem perceber, a tirou do pedestal. Ela
não era mais a responsável pela sua felicidade,
pela sua autoestima, por seu humor, por seu
tesão... Enfim, a partir de determinado momento,
ela existir ou deixar de desistir não mudaria
praticamente nada na sua vida!
O desapego é simplesmente um processo de
desconstrução da imagem do outro.

EM RESUMO...
O segundo passo, portanto, na prática, é
também um processo de aceitação.
De aceitação do processo. Para alguns poucos
sortudos, um clique, um estalo, farão com que
superem o fim de uma forma relâmpago. Outros
precisarão de algumas semanas. Outros, de
alguns meses.
E alguns poucos, infelizmente, não serão
estas palavras minhas que resolverão, não será o
tempo que resolverá – estes devem procurar
ajuda especializada, com psicólogo ou psiquiatra,
caso percebam que o processo está sendo
demorado demais, doloroso demais. Talvez
estejam entrando em um processo de depressão
que necessite de terapia e/ou medicamentos.
Mas a boa notícia é que a grande maioria de
nós sairá disto em algumas semanas, no máximo.
E, por mais que tenhamos dito “nunca mais me
envolverei com alguém!”, logo estaremos
acreditando novamente no amor...
Não precisamos, contudo, esperar
passivamente o fim da dor. Como já apontamos,
podemos fazer algo para que o processo seja o
mais breve e o menos doloroso possível.
Mas não devemos nos cobrar o fim imediato
do sofrimento. Entenda que o que você está
passando é perfeitamente normal!
Inúmeras pessoas estão passando por isto,
neste momento! No meu site recebo algumas
centenas de visitas por dia, de pessoas que caem
lá ao pesquisar no Google “como esquecer o ex”,
“como superar um fim” – e deve ter sido assim
que você veio parar aqui. Recebo dezenas de
relatos todos os dias: “Estou mal, não sei o que
fazer...”
Nos grupos de apoio que organizo, todo santo
dia alguém agradece ao grupo por perceber que
não é a única pessoa no mundo a estar passando
por isto.
Vivemos em uma sociedade onde, no
Instagram, todos parecem felizes. Somos
cobrados a sermos fortes – ou, pelo menos,
aparentar isto. Às vezes nos sentimos
constrangidos de demonstrar nossos
sentimentos até mesmo para nossos familiares
ou amigos mais próximos.
O resultado é que nos sentimos duplamente
miseráveis – não apenas por conta do que
estamos sentindo por causa do fim, mas porque
nos cobramos uma força, uma indiferença, que
não são humanas.
Sofrer pelo fim é normal, é perfeitamente
normal! Afinal, você tinha desejos, fantasias
românticas – e elas foram desfeitas, viraram pó.
Esquisito seria não sentir nada, não?
Portanto, mesmo fazendo o que você pode
para que o sofrimento seja o menor possível, não
se culpe por sentir o que você vier a sentir! Não
queira ser o super-homem ou a mulher-maravilha
– ou um robô – que não sente nada, frio,
indiferente!
Aja, sim, mas ao mesmo tempo aceite o
processo como ele vier. Cada pessoa irá superar
o fim no seu próprio tempo. Não se compare –
muito menos com aqueles atores ou atrizes que,
na semana seguinte após um fim, parecem felizes
um novo “amor para a vida toda” nas redes
sociais. Isto não é de verdade, isto não é a
realidade.
A realidade é que somos humanos, temos
sentimentos, somos vulneráveis. Não lute
desesperadamente contra a sua natureza. Aceite
o processo e a cura será mais rápida!
É a hora de reencontra-se com você mesma(o). Aprenda a
andar sozinha(o)!
Você nasceu só, vai morrer só e de vez em quando nesta
vida terá de caminhar só, também.
Você consegue!
OS PRÓXIMOS PASSOS
Quando comecei a escrever este livro, por
curiosidade dei uma pesquisada no Google por
“como esquecer alguém”, para ver o que é dito
por aí...
O que vi foram textos que parecem copiados
uns dos outros e que geralmente trazem apenas
dicas genéricas como “faça academia, cuide de si
mesmo”, “faça meditação para reduzir a
ansiedade”, “procure conhecer outras pessoas”,
“faça caminhadas, isto reduz o estresse” etc.
Se caminhar resolvesse alguma coisa, os
parques estariam lotados! Quem não gostaria de
soluções fáceis assim?
A esta altura você já deve ter percebido o que
acho disto tudo... Não é que estas coisas não
ajudem... Elas ajudam, sim, e têm de ser feitas!
Entregar-se é a pior das escolhas! O problema é
que estas dicas apenas ajudam, mas não
resolvem!
Mas ajudam, sim, e seria muito bom para o
processo se você conseguisse colocar ao menos
algumas das “dicas” em prática.

Iremos a seguir comentar o que você pode


fazer e o que você deve fazer para facilitar o
processo de cura – e também o que não deve
fazer!
NÃO FAÇA NENHUMA “BESTEIRA”!
No mundo ideal, eu não gostaria de estar
escrevendo sobre isto. Na vida real, é necessário.
O fim de um relacionamento é o gatilho para
incontáveis casos de suicídio ou homicídio, todos
os anos. Basta abrir qualquer site de notícias e
você encontrará alguma história tenebrosa,
como: a mulher não queria a reconciliação; o ex-
marido mata a mulher e os filhos e em seguida se
mata.
Quero acreditar que se você adquiriu este livro
e está lendo-o é porque está procurando
soluções racionais e razoáveis para o seu
sofrimento e não está pensando em nenhuma
“besteira” assim.
Mas, se por acaso está, é o caso de procurar
alguma ajuda imediata. Não apenas profissional
– provavelmente seja o caso do uso de alguns
medicamentos que aliviem de forma rápida a
angústia, ansiedade etc. – mas também de
amigos e familiares e até mesmo espiritual. Se
entregue, desabafe profundamente, deixe-se
desabar, assuma totalmente a sua fraqueza e
vulnerabilidade.
Mas NÃO FAÇA MERDA!
Se seu homem/mulher foi embora, se está
com outra(o), é um direito dele! É um direito de
qualquer pessoa ir embora! Ele(a) te traiu, te
enganou, te fez de trouxa, otária(o)? Problema
dele(a), o carma é dele(a), ele(a) é que vai ter de
se virar com seus próprios erros, mais cedo ou
mais tarde! Deixe que a vida cuida disto, porque
sempre cuida!
Acredite em mim, eu sei como você se sente:
idiota, otária(o)... humilhada(o), magoada(o) etc.
Quer vingança.
Ou quer sumir, desaparecer.
Mas, acredite em mim novamente, TUDO
ISTO PASSA!
Vai passar!
Só não passará se você fizer alguma idiotice
antes.
Você não tem o direito de tirar a vida de
ninguém, por mais mal que esta pessoa tenha lhe
causado.
E, segundo algumas religiões, você não tem o
direito de tirar nem a própria vida!
Provavelmente há pessoas que gostam de
você. Sua mãe, seu pai, irmãos... Talvez existam
pessoas que dependam de você, como filhos
pequenos. Se tudo acaba após a morte, a dor
deles não. E irão sofrer eternamente por “culpa”
de quem? De uma pessoa, o seu/sua ex, que –
sinto muito te dizer – provavelmente não vai se
abalar muito com a sua morte... Vale a pena,
acabar com sua vida, por conta disto?
Nenhum suicida quer, na verdade, morrer. Ele
queria apenas que sua dor passasse. Ele se mata
porque não vê saída para a sua dor. Mas,
novamente, acredite: um término não é o fim do
mundo. Pode doer, pode ser péssimo – mas vai
passar! Pode demorar, pode ser um longo
caminho – mas vai passar! Você não precisava
daquela pessoa antes de conhecê-la, por que
precisa agora? O processo de se desacostumar,
de desapegar, pode levar o tempo que for, mas
irá acontecer. E se você fizer tudo o que indico
aqui, tenho quase certeza que este tempo será o
mais breve possível.
Tenha fé!
E, repito: busque ajuda imediata se tais tipos
de pensamento andam passando pela sua
cabeça!

O assunto é desagradável, sei, mas precisava


ser abordado.
Para algumas questões que surgem após um
término, entretanto, a resposta não é óbvia. As
minhas opiniões a respeito delas são apenas isto,
opiniões, conselhos.
Analiso algumas destas questões, a seguir, de
uma forma racional, mas sabemos que às vezes
as emoções vencem. Se isto acontecer, não se
culpe demais. Como já dito, somos todos
humanos.
Mas, ao fazer algo “errado”, você deve ao
menos saber que é um erro, para que da próxima
vez tente acertar. (Na verdade, creio que você já
saiba o que é certo ou errado fazer e só precise
de alguém reforçando que os erros são erros...
Mas vamos lá...)
BLOQUEAR OU NÃO NAS REDES SOCIAIS?
Acho que esta é a pergunta que mais é feita
nos grupos de apoio... Parece uma coisa boba,
menor, pouco importante, mas no mundo
conectado em que vivemos é uma questão
significativa, sim.
Não há uma resposta única para a questão,
entretanto.
Se vocês têm filhos, é óbvio que ainda
precisarão se falar, pelo resto da vida. Portanto,
ao menos o WhatsApp deve ser mantido sem
bloqueio.
Por outro lado, mesmo quando há filhos há
exceções a esta regra. Se o seu ex é agressivo,
ameaçador... não apenas o contato deve ser
cortado como medidas protetivas devem ser
tomadas. O mesmo se a pessoa fica ligando,
mandando mensagens, insistindo, importunando
por um retorno que você não queira.
Mas, para facilitar a resposta, pensemos em
um término de namoro “comum”, sem negócios
ou filhos envolvidos, em que um apenas não quis
mais estar com o outro.
Você foi rejeitada(o), abandonada(o), talvez
trocada(o). Deve bloquear o ex no Instagram, no
WhatsApp?
A princípio, é estranho duas pessoas que se
amaram, que fizeram tantas coisas juntos, que
transaram dezenas ou centenas de vezes nunca
mais se falarem.
E bloqueando você está “passando recibo” de
que não digeriu bem o fim. Se você não se
importa com isto – e não deveria se importar –
então bloqueie logo.
Mas, se por um motivo ou outro, você não se
sente “preparada(o)” para fazer isto –
provavelmente porque tem esperanças de uma
reconciliação e pensa que bloqueando pode
dificultar isto – no mínimo, pelo menos por um
tempo, você talvez devesse ao menos parar de
ver os status, as atualizações dele(a). Porque a
chance de ver estas atualizações te fazer bem é
praticamente zero. E a chance de te fazer mal é
bem alta.
Sim, “o que não me mata me fortalece”, diz a
frase famosa. Se você é adepta(o) do “sofrer tudo
logo”, de retirar o esparadrapo de uma só vez, ok,
vá em frente. Mas só faça isto se souber mesmo
que aguenta o que pode ver, saber, por agora.
Se, pelo contrário, isto for te derrubar, não
queira ser a heroína ou herói, a valentona ou
valentão... Reconheça seus limites, não cutuque
feridas que irão doer demais. Silencie as
atualizações da pessoa e, se um dia ainda quiser
e estiver pronto para isto, volte a ver. Mas, por
enquanto, você provavelmente não tem muito a
ganhar com isto.
Ou você tem a esperança de ver, nas redes
sociais, uma foto dele(a) chorando, ou ele(a)
postando uma frase sobre saudade da(o) ex?
FICAR OU NÃO COM OUTRAS PESSOAS?
Diz-se por aí que “a dor do amor só se cura
com outro amor”. Isto pode até ser verdade, mas
mais verdade ainda é que passadas algumas
poucas semanas do término de um
relacionamento longo você provavelmente não
está preparada(o) ainda para “viver um novo
amor”.
O mais provável é que ficar com outra pessoa,
por agora, te faça mais mal do que bem. Porque
você irá comparar coisas que não deveriam ser
comparadas – e o novo vai sair perdendo na
comparação se o seu sentimento atual em
relação ao antigo ainda é de nostalgia. Porque
talvez você vá se sentir culpada(o), “traindo” a
outra pessoa, se ainda tem esperanças de uma
reconciliação. Porque a pessoa que você está
ficando agora pode se envolver com você e se
machucar.
Em resumo: sair beijando outras bocas ou
transando com outras pessoas provavelmente
não resolverá nada e pode é piorar as coisas.
Fazer isto, muitas vezes, é apenas uma fuga
da realidade, da dor, da solidão.
É ótimo, quando nossa autoestima está lá
embaixo, que nos sintamos desejados. Nada te
impede de sair, ver como anda seu “poder de
sedução”, perceber que há pessoas que ficariam,
felizes, com você... Até aí tudo bem, talvez tudo
bem até mesmo dar uns beijos, mas
primeiramente você tem de ter uma ética, um
respeito com as pessoas que você se envolverá.
Se você sabe que seu coração ainda está preso
em outra pessoa, não é correto iludir ninguém.
Além disto, você deve respeitar a si mesma(o).
Não ultrapasse os seus limites – e você sabe
quando está ultrapassando, quando está indo
além do ponto em que se sente realmente bem.
Pior do que acordar com um ressaca de
cerveja ou vinho é acordar com “ressaca moral”,
totalmente arrependida(o) do que faz na noite
anterior.
Neste ponto, cuidado com os amigos e amigas
que querem te ajudar empurrando ou forçando
você a conhecer ou ficar com outras pessoas. Não
caia nesta – diga a eles, com clareza, que não quer
isto, que ainda não é o momento.
Você saberá quando seu coração está livre
para conhecer outras pessoas.
Isto não significa, entretanto, ser um santo ou
uma santa imaculada esperando eternamente
por “borboletas no estômago” para dar uma
chance a alguém. Saia, conheça pessoas, dê uma
chance ao novo.
Sem comparar, sem esperar demais. Apenas
esteja aberto, dentro do possível, para enxergar
que o mundo vai muito, mas muito mais, além do
que aquela pessoa que te abandonou, feriu...
UMA “RECAIDAZINHA” APENAS... PREJUDICA?
Irei mudar a pergunta e você mesmo me
responda: “Eu era dependente de crack e estou
há dois meses sem usar. Meus amigos me
chamaram para usar hoje. Será que prejudica,
usar só uma vez? O que você me aconselha?”
Acho que sei sua resposta...
A dependência emocional é muito parecida
com a dependência de uma droga qualquer. Você
diria para uma pessoa que quer se livrar das
drogas que usar apenas uma vez não representa
um risco imenso de ela recair no vício?
Obviamente, não.
Se você está tentando esquecer alguém, se
está tentando se livrar da dependência
emocional, a “recaidazinha” provavelmente seja a
pior coisa que você possa fazer. Você remou,
remou... e vai voltar para o ponto de partida.
Sim, pode te fazer muito bem, naquele
momento. Ele(a) te procurou ou cedeu à sua
investida e vocês terão uma noite boa.
Entretanto, os objetivos ali, naquela noite,
possivelmente serão diferentes. O dele(a) talvez
seja apenas se aproveitar da situação, da sua
vulnerabilidade. A noite vai ser quente e no outro
dia você acorda achando que têm chance, que
irão reatar. Já ele(a) percebe que você continua
“na dele(a)”, e sente-se ainda mais seguro(a) para
continuar tocando a vida – sem você.
Estas recaídas, portanto, tendem a ser muito
boas para os dois, no momento, mas depois são
boas apenas para ele(a) – você possivelmente vai
se sentir frustrada(o), culpada(o), usada(o)...
E com raiva de si mesma(o), por ter cedido,
fraquejado – após ter resistido por algum tempo,
jogou todo o trabalho de desapego fora.
Uma “recaidazinha” é bem diferente de uma
chance – em que vocês se sentam, conversam,
tentam ver se ainda é possível reconstruir algo.
Isto é um reencontro maduro. Já as recaídas,
muitas vezes, são apenas atos de desespero, de
uma parte (a sua), e de “safadeza”, do outro – que
deveria não te dar esperanças, se não quer
mesmo continuar com você, mas, ao invés disto,
talvez esteja apenas se aproveitando da situação,
da sua vulnerabilidade.
Se você resistiu até aqui, portanto, no
momento em que se sentir prestes a recair, adote
o lema dos Alcoólicos Anônimos: “Só mais um
dia!” Se você quer mesmo esquecer, superar,
resista, “só mais um dia”. E, no dia seguinte, pare
e pense como você estaria se sentindo, se tivesse
ido atrás, se tivesse pedido para voltar e tivesse
escutado um “não”, se ainda assim tivesse cedido
aos desejos da carne etc.
SOBREVIVENDO
COMER, DORMIR, IR TRABALHAR...
Assim como “não mate e não morra”, o que
será dito agora poderá parecer uma coisa óbvia
para alguns, mas para muitas pessoas passando
por um término, até mesmo “sobreviver” parece
difícil.
Inúmeras são as pessoas que, ao entrar nos
grupos, relatam, por exemplo, que perderam
totalmente o apetite e perderam alguns quilos
nos últimos dias.
É estranho, mas acontece: frequentemente,
pessoas passando por um término perdem o
apetite.
O sono se altera – ou dormem muito, ou quase
nada.
Não têm ânimo para ir trabalhar. Faltam ao
emprego.
Muitos deixam até de tomar banho...
A “vontade” é apenas ficar na cama,
remoendo, pensando... “Se eu tivesse feito isto, se
eu tivesse feito aquilo...”
É muito fácil se entregar a este desejo. Como
um animal ferido, você só quer ficar encolhido,
chorando, lambendo a ferida...
Talvez seja normal, talvez seja um mecanismo
de defesa, biológico. (Talvez você queira que
ele(a) fique com dó de você e volte?)
Mas a vida não para. E você tem agora duas
opções: ou se entregar ou fazer o que puder para
resistir.
Irei parecer uma mãe dizendo isto, mas...
levante-se, tome um banho, coma, vá trabalhar!
Faça o que tem de ser feito! No fim da noite você
se deita na sua cama, se quiser, e fique remoendo
o que poderia ter sido e não foi... Mas, antes disto,
faça o que tem de ser feito!
“Ah, eu não tenho fome!” Tome suco, com
açúcar, ingira calorias suficientes, de alguma
maneira! (Desde que não seja com álcool – aliás,
mais um conselho que não precisava ser dado: o
álcool não vai resolver nada e tem o potencial de
te trazer enormes problemas. Evite nos primeiros
dias! Ou, pelo menos, não beba a ponto de fazer
coisas idiotas!)
“Ah, eu não tenho forças para nada...” Tem,
tem sim! Lá no fundo você tem! Está na hora de
resgatar o mínimo de brio, de força vital que
existe dentro de você...
E, quer saber? Você se sentirá muito melhor
no final do dia... Porque viu que dá conta. Porque
perceberá que passou um bom tempo sem
pensar no que te machucava.
Você é muito maior do que tudo isto, mas, para
ser mesmo, é preciso escolher ser!
Anda, levanta, vai fazer o que tem de ser feito!
RECUPERANDO SUA AUTOESTIMA
Há (pelo menos) duas formas de se esquecer
alguém, de superar um fim.
Se pensarmos que você sofre porque coloca
aquela pessoa em um pedestal, que a considera
“a razão da sua vida”, “a última Coca-Cola do
deserto”... Há duas maneiras desta dependência
acabar.
Uma é você retirá-la deste pedestal. No
começo do livro falamos sobre isto. Enxergue-a
como ela realmente é, enxergue a realidade e
provavelmente este pedestal murchará
rapidinho.
A segunda forma é você criar o seu próprio
“pedestal”. Você foi abandonada(o) e agora se
sente feia(o), velha(o) (se ele te trocou por uma
pessoa mais nova), gorda(o) (se foi por uma mais
magra), pobre (se foi por uma com mais
condições financeiras) etc. Em suma, se sente
“um lixo”. E (na sua cabeça), por ser isto, não só
ele não vai te querer como ninguém mais neste
mundo vai querer. Ou, pelo menos, alguém “tão
bom” quanto ele(a)...
Primeiramente, paremos de drama, porque
você sabe que isto não é verdade. Se alguém
como ele(a) estava com você até ontem, por que
amanhã você não pode arrumar alguém igual? Ou
até melhor?
Em segundo lugar, as “dicas” a seguir não são,
na verdade, para você conquistar outra pessoa,
mas “se reconquistar”. O término e a rejeição te
fizeram se sentir péssima(o), sem valor etc.
E uma das formas de superar tudo isto é você
deixar ele(a) ou ela (ou qualquer outra pessoa) de
lado e se focar em você. Em recuperar sua
autoestima, seu autorrespeito, o orgulho por si
mesma(o).
Como dito anteriormente, a maioria destas
“dicas” não resolve, de verdade, o problema da
dependência emocional. Mas ajudam, e muito.
Ou melhor: fazer apenas uma coisa ou outra
do indicado aqui não ajudará quase nada. Porém
se você fizer tudo, ou quase tudo, posso quase
garantir que, passados alguns dias, você estará
se sentindo muito melhor!
Mas, repito, fazer apenas isto não resolve
porque o que pode ocorrer é, ao final do processo,
você estar achando que “agora, sim”, merece
ele(a) – e ir correndo atrás dele(a). Elevar sua
autoestima sem desinflar sua paixão pelo outro
pode ser pior, portanto.

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