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Copyright © 2021 Evilane Oliveira

Chama Distorcida
1ª Edição

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e


acontecimentos que aqui serão descritos são produto da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e

acontecimentos reais é mera coincidência. Esta obra segue as


regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. É proibido o
armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte desta obra,

através de quaisquer meios, sem o consentimento escrito da autora.


A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº.

9.610. /98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Todos os direitos reservados.

Edição Digital | Criado no Brasil.


Sinopse

Prólogo

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10
11

12

13

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Próximo livro

Agradecimentos

Outras obras
Sempre fui uma boa garota. Eu era uma boa filha, uma boa
aluna, uma boa pessoa. Mas a vida sempre dá um jeito de foder as

pessoas boas. Eu estava cansada de tentar juntar os cacos de


quem eu amava, eu precisava que alguém catasse os meus.

Matteo Trevisan não era essa pessoa.

Ele veio como uma bola de demolição, destruindo o restante

dos meus pedaços.

Matteo era poderoso, não apenas no sentido de ter se

tornado dono de mim tão rápido, e sim por pertencer à família mais
poderosa de Chicago. Ser um dos homens mais poderosos da

cidade tinha suas regalias, porém, principalmente, deveres.


Ele foi o único a me corromper, e mesmo assim, a cada vez

que seu corpo se apossou do meu, eu implorei pela próxima vez


como um animal preso implora pela liberdade. A diferença era que

eu queria estar na prisão.

Eu queria pertencer a Matteo.

Eu descobri, tarde demais, que um homem poderoso como

ele jamais rolaria na sujeira ao meu lado. Ele era um príncipe, e


príncipes sempre ficam com princesas, não com plebeias. Certo?
MATTEO TREVISAN

Observei mamãe entregar a bola de futebol que Prince havia


pedido de presente de Natal antes de sentir Romeo se sentar ao
meu lado. Meu irmão era maior que eu uns bons centímetros, mas

eu já o estava acompanhando na altura. Rocco era o maior de nós,


mas eu sabia que logo o alcançaria também.

— Você queria uma bola também?

Sua pergunta me fez desviar os olhos do meu irmão mais

novo com a nossa mãe.

— Não.
— Então, por que você está tão irritado? — Romeo me

encarou, completamente sério. Seus olhos eram como os meus e os


de Prince. Tão azuis que pareciam gelo. Porém, diferente de mim e

Prince, nele eram inquietantes.

Suspirei, desviando os olhos dos seus. Eu não podia contar.

Era idiota e bobo. Eu era um homem, não a porra de um maricas.

— Só quero sair. Tem uma festa...

— Tá e eu sou idiota. — Romeo se ergueu e inclinou a

cabeça, me estudando. — Não engula merda, Matteo. Tudo que


você pensar, coloque para fora.

Ele se afastou e eu vi minha mãe se aproximar. Ela não tinha

nenhuma caixa de presente, e isso me deixou ainda mais irritado.

— Ei, garoto crescido. — Mamãe sorriu para mim e seus

olhos azuis ficaram ainda mais límpidos. — Eu não comprei nada...

— É claro. Prince e Lake merecem, Matteo não —


resmunguei, interrompendo-a.

Mamãe passou a mão pelo meu cabelo, completamente

calma.

— Tenho um presente para você, mas antes quero conversar.

— Ela sorriu, sem se importar com a minha grosseria, e segurou


minha mão. — Um dia, seus irmãos vão precisar de você. E só você
será capaz de ajudá-los. Você, Matteo. Não Romeo. Não Rocco. —

Ela tirou o cabelo escuro do rosto e sorriu mais uma vez. — E

quando isso acontecer, eu sei que você não falhará. Porque você é

meu Matteo.

— Não parece...

— Não duvide do meu amor, filho. — Mamãe deu um sorriso

triste. Eu quis socar meu próprio rosto, odiava deixá-la mais triste.

Ettore já fazia um ótimo trabalho. — Um dia, você terá seus filhos, e

essa vai ser a coisa mais emocionante da sua vida, mas, também, a

mais assustadora.

— Não terei filhos.

— O.k. — Ela riu como se não acreditasse em mim e olhou

para o meu rosto pelo que pareceram horas, então tirou uma caixa

da bolsa. Era de veludo, simples. — Este é o seu presente. Quero

que leve com você para sempre.

— O que é? — questionei. Ansioso, abri a caixa.

Dentro tinha um colar fino com um pingente — um crucifixo. E

ao lado estava um anel de ouro branco com um diamante brilhante


brilhando no topo. Era delicado, parecia algo da minha mãe, sem

dúvida.

— O que...

— Ele vai te guiar. — Ela segurou a cruz entre os dedos e


depois tocou o anel. — E ele vai ser da sua esposa. Da pessoa mais
especial da sua vida. Alguém que você não consiga se imaginar

sem. Aquela que você vai desejar ter para sempre.

— Mãe. — Gemi, rindo.

— Espere e verá.

Eu não esperava por este presente. Na verdade, eu

realmente não o queria se me perguntasse antes, mas a maneira


que minha mãe os encarava os transformou em mais que joias.

Eles eram tesouros. E eu os tinha para mim.

— Amo você, Matteo.

E eu a amava mais que a mim mesmo.


Você pode fazer isso.

Eu posso, certo?!

Mordi meu lábio enquanto assistia a Carolyn no sofá com um


pote de pipoca. Ela estava bem hoje, e eu queria que continuasse
assim. A ligação de hoje de manhã a deixou nervosa. Estava

cansada de me preocupar com ela. Me sentia culpada por pensar


assim, mas era a verdade.

Carolyn vivia em um círculo vicioso que me deixava


deprimida.

— Vá logo, Boo. Ficarei bem — minha mãe falou, me fazendo


voltar ao presente.
— O.k.

Saí de casa e andei até onde meu carro esteve há alguns

dias. Hoje não mais. Ele foi mais uma coisa que o vício de Carolyn

tinha tirado de mim. Eu havia ganhado do meu pai quando fiz


dezesseis anos. Parecia tanto tempo, mas não era. Eu estava com

dezenove anos, e desde os dezessete morava em Chicago. Vim

fazer faculdade com um sonho bonito de me reconectar com


Carolyn. Uma ilusão boba, mas foi isso que aconteceu.

Em um mês, eu entendi que meus planos foram apenas isso.

Planos.

Carolyn era viciada em heroína e qualquer coisa que a

deixasse fora de órbita.

Pensei em voltar para casa depois que descobri. Pensei em

ligar para o meu pai e minha madrasta, C.K., mas não consegui.

Meu pai havia ficado magoado pela minha vinda. Odiava admitir,

mas não queria parecer idiota aos seus olhos.

Papai sempre foi tudo que tive, e depois que C.K. chegou,

ambos se tornaram minha tábua de salvação. Nunca fui uma garota

popular ou amigável. Eu era boa, tentava ser boa, mas nunca


consegui a afeição das pessoas. Sempre me achei uma intrusa. Até
hoje.

O Uber me levou até Navy Pier, eu suspirei ao ver o lugar

turístico cheio de pessoas. Hoje seria bom para mim. Tinha que ser.

Minha vizinha me avisou que um dos vários restaurantes em Navy

Pier estava contratando, então, cá estava eu.

— Obrigada. — Entreguei o dinheiro ao motorista e saí do

carro, andando rápido.

Não era exatamente cedo, quase oito horas da noite. Esse foi

o horário que ela me disse para vir, então ainda tinham algumas

pessoas no lugar. Eles fechavam daqui a uma hora.

Entrei na loja com a fachada em neon onde diziam ter os

melhores cafés da região. Eu nunca havia posto os pés no local,

mas gostei do que vi.

— Com licença. — Forcei minha voz sobre o barulho dos

clientes assim que cheguei ao balcão.

— Olá, sou Beatriz. Em que posso ajudá-la? — Uma senhora

ergueu os olhos.

— Hum — sorri —, estou à procura de emprego, e soube que

estão contratando...
A mulher me encarou dos pés à cabeça e suspirou.

— Olha, nós estamos, mas preciso saber se você faz o

trabalho bem. — Ela empurrou os óculos para a cabeça repleta de

cabelos pretos e fios brancos.

— Eu posso começar agora — falei, rapidamente. Beatriz


abriu a boca, mas ficou sem fala, então logo voltou a fechá-la. — Eu

realmente preciso do trabalho — insisti, enquanto minhas mãos


suavam.

Precisava quitar as dívidas de Carolyn e pagar a minha


faculdade que estava atrasada. Meu pai mandava o dinheiro dela

para mim, mas as últimas parcelas usei para pagar as coisas da


minha mãe.

Me sentia estúpida e cansada de tentar consertá-la, mas

quem o faria se não eu?

— O.k., mas isso não é garantia do trabalho. — A senhora

me lembrou e suspirou antes de me dizer o que fazer.

Pela próxima hora limpei mesas, lavei pratos e até servi


alguns clientes. Não era ruim, na verdade, eu achei bom. Esse

trabalho me manteria ocupada. Era o que eu precisava.


Assim que terminei tudo, Beatriz se aproximou. Um homem

foi para a parte da frente fechar tudo, enquanto o rosto da mulher se


retorceu com medo. O que estava acontecendo?

— Sempre fechamos mais cedo aos finais de semana — ela

explicou quando me viu franzir as sobrancelhas.

— Por quê? — Minha voz saiu mais confusa ainda ao ver o

homem olhar para a rua, parecendo nervoso.

— É perigoso. — Ela parou de falar e eu suspirei. O.k. —


Enfim, volte amanhã que falarei se a contratarei ou não. Preciso

falar com meu marido e ele não está aqui hoje. — Beatriz sorriu.

Acenei, engoli em seco e me despedi dela antes de sair. Ouvi

carros ao longe, e mesmo com o aviso de Beatriz sobre o perigo


aqui a essa hora, eu segui pela avenida. Agora passava das nove

da noite. Não era tão tarde, mas o Navy Pier estava fechando, as
ruas estavam desertas.

Assim que alcancei a pequena multidão, meu peito deu um


salto. Um carro passou em uma velocidade insana ao meu lado e eu

pulei, assustada, levando a mão ao meu peito.

Vi uma multidão logo à frente e me aproximei. Meu sangue


esfriou ao ver carros lado a lado, apostando corrida. Eu sabia que
isso era ilegal aqui, mas, infelizmente, muitas coisas erradas
aconteciam mesmo assim.

— Ei, anda logo. — Alguém me empurrou.

Eu gemi, quase caindo no beco escuro e me virei a tempo de


ouvir gritos. Meus pelos se eriçaram e meus olhos dobraram de

tamanho. Um homem estava de pé sobre outro, enquanto apontava


uma arma bem no rosto dele.

— Então, cara, onde estão suas bolas? — o homem alto de


cabelos escuros gritou, meio rindo e meio sério.

Dei um passo para trás e me assustei quando meu pé

deslizou e eu caí. Minha bunda doeu e o medo me agarrou quando


ergui meus olhos.

O homem armado estava olhando diretamente para mim.


Com seus dedos ainda apertados contra a arma, ele atirou enquanto

me encarava.

Ele matou o homem olhando dentro dos meus olhos.

Meu Deus.

Gritei enquanto me arrastava para trás. Finquei minhas unhas

no chão para me erguer, ainda ouvindo o tiro. As batidas do meu


peito estavam enlouquecedoras e minha boca completamente seca.
Me ergui com dificuldade e voltei a olhar para o homem.
Dessa vez, vi o cara morto no chão e o homem de cabelos escuros
ainda concentrado em mim.

Ele iria me matar.

Me virei, tentando comandar minhas pernas. O barulho do

meu sapato contra o chão soou tão alto quanto os tiros, e quanto
mais eu corria, mais ouvia os tiros.

Assim que me afastei o bastante, eu me curvei para tentar

respirar. Minha sombra estava sobre a água diante de mim, e

quando uma segunda apareceu, eu quase pude sentir a morte me

envolvendo dos pés à cabeça.

Um braço contornou a minha cintura e uma mão foi posta

sobre meus lábios. Tentei gritar enquanto ele me arrastava até o


beco escuro entre duas lojas que já estavam fechadas.

— Por que você correu? — A voz soou assim que ele

empurrou meu corpo contra a parede.

Senti lágrimas encherem meus olhos quando a minha

bochecha bateu na parede fria. Ele vai me matar.

— Eu não vou perguntar de novo, porra. — Sua voz soou

próxima ao meu ouvido. Sua mão já não estava em meus lábios,


mas eu ainda não conseguia falar nada. — Mais uma chance.

— Me assustei. Eu nunca tinha vindo aqui — gritei, tremendo,

antes de senti-lo empurrando seu peito contra a minha coluna.

— E o que diabos você está fazendo aqui? — Sua mão

envolveu meu cabelo e eu funguei.

— Trabalho novo. Por favor, por favor, me deixe ir — implorei.

— Você não deveria estar aqui. — Ele me puxou da parede e

me fez virar.

Sufoquei ao ver seus olhos azuis. Eram tão claros que me

deixaram sem fala, mas não pela cor, e sim pela escuridão que

havia ali dentro. Uma escuridão que me envolveu até a alma.

— Você me ouviu? — ele berrou mais perto.

Estremeci, acenando.

— Obrigada. Obrigada — agradeci assim que ele me soltou.

Ele guardou a arma na parte de trás da calça.

— Não me agradeça. Ainda não. — Seu olhar escureceu


mais um tom enquanto ele deslizava os olhos por mim.

Não era um olhar igual ao dos homens na rua, que me

deixavam com nojo, esse parecia intenso a ponto de desvendar


todos os meus segredos.

Dei um passo para o lado e andei devagar.

— Não procure o perigo, Flame, ele pode gostar de você a

ponto de nunca te deixar ir.

Ele se virou e andou em direção à escuridão, me deixando

tensa e completamente confusa.

Não voltei ao Navy Pier. Não podia. O medo me cegou,

mesmo que eu quisesse muito um emprego não podia trabalhar


para Beatriz naquele lugar. Não depois de tudo.

Então, quando dias depois minha mãe me disse que a boate


da cidade estava precisando de meninas, eu relutei muito. Até

perder meu carro, dias atrás. Eu não podia me dar o luxo de perder

mais nada, então precisava trabalhar. Não importava em quê.

— Não tem vaga para garçonete ou só dançarina? —

questionei a chefe das meninas assim que a cumprimentei, ao

chegar ao Village.

O lugar era amplo e muito bonito. Apenas homens ricos

entravam por essas portas, segundo minha mãe.


— Você não quer ser prostituta? — Sua voz altiva chegou a

mim.

Suspirei ao ver as meninas que estavam conosco se

remexerem.

— Eu só... — Minha voz cessou, nervosismo remoendo meu

estômago.

Eu não havia feito sexo ainda, e a ideia de transar com

alguém por dinheiro me nauseava.

— Não temos vaga para garçonete ou apenas dançarina. Os

homens querem ter um gosto do que colocamos na vitrine. — Andy

apontou para o palco. — Decida, querida.

Suspirei, tentando engolir o caroço em minha garganta.

Tudo bem, Blue. Você consegue.

Eu conseguiria?

Eu não tinha tanta certeza.


Meu celular vibrou pela terceira vez em alguns minutos. Eu

estava cansado pra caralho, havia passado a noite separando

cargas com Prince e Travis. Tão cansado, que só me joguei na

cama quando cheguei.

Estendi a mão para a mesa de cabeceira e gemi ao ver o

nome do meu irmão.

— Matteo.

— Eu sei que é você. Por que diabos você fala seu nome
para alguém que sabe para quem está ligando? — A voz ruidosa de

Prince me fez respirar profundamente.

— Você está me ligando para falar sobre a porra do que eu

falo quando atendo o celular? É sério isso? Vai comer uma boceta,

Prince — rugi, puxando minhas cobertas.

— Já comi, mas você não pode dizer o mesmo, não é?

Não podia, mas não porque não queria. Eu só não tive tempo
para isso. Precisava focar no que importava. Eu me mudaria em

breve para Oak Park para me tornar um capo. Eu nasci na Outfit,

sabia dos meus deveres, mas depois que Rocco tomou o poder

relaxei com isso. Fiz os trabalhos que me eram ordenados, mas


nunca realmente me preocupei com títulos.
— O que você quer, Prince? — questionei, jogando as

cobertas para longe.

Cacei meus chinelos e me aproximei da janela. O lago estava

bonito daqui. Estava chovendo, o que realmente não era uma

novidade nessa época do ano.

— Preciso que venha me buscar. — Sua voz mudou.

Suspirei, apertando meus olhos.

— Onde você está?

— Lago Michigan.

— Porra, Prince.

Me movi em direção à porta, pegando minhas armas e

enfiando-as na calça.

— Estou indo.

Prince estava em um momento bosta da vida. Depois que a


nossa irmã foi embora e nem mesmo nos enviou uma mensagem do

caralho, ele havia se perdido.

Todos nós estávamos preocupados.

Cheguei ao ponto turístico do lago e vi Prince sentado na

areia, encarando a água enquanto a chuva castigava nós dois. Me


aproximei devagar e me sentei ao seu lado.

— Você deve me achar um maricas. — Sua voz soou alta,

me fazendo o encarar. — Não deveria estar perdido assim. Não...


por ela.

— Vocês são quase gêmeos, cara. Eu entendo. — Segurei


seu ombro e apertei para dar ênfase. — Perdê-la não está sendo

fácil para mim, mas para você é pior.

Só queria que ela falasse com Prince. Eu não ligava para


Lake Trevisan, eu queria que ela se fodesse, mas eu precisava do

meu irmão inteiro.

Levei Prince para o carro e liguei o aquecedor. Apertei o

volante e suspirei, começando a dirigir para casa.

— Então, quem era a menina no Navy Pier? — Ele tirou a


camisa encharcada e estendeu as mãos para o ar quente.

— Ninguém mantém a boca fechada naquele lugar? —

questionei ao meu irmão, e ele deu de ombros. — Eu não sei quem


era, mas nunca a tinha visto.

— E correu atrás dela por quê?

— Porque ela fugiu, e quando alguém foge é porque deve


algo — expliquei, encarando-o com as sobrancelhas arqueadas. —
Acabou o interrogatório?

Prince olhou para fora do carro em silêncio e permaneceu


assim.

A garota de cabelos vermelhos e olhos escuros era um

pequeno enigma para mim. O que ela fazia ali e por que correu?
Quando me aproximei, eu soube que ela apenas não sabia onde
tinha se metido.

Flame não fazia ideia de quem eu era ou o que eu


representava nessa cidade.

Eu gostei disso.
As meninas ao redor eram bonitas, na verdade, a maioria
parecia ter saído de uma revista de moda. Meus olhos se
arregalaram quando o som mudou e a luz ficou mais fraca. Uma

garota dançou sobre o poste e eu senti meu batimento cardíaco


acelerar.

Não pela garota, mas pelo que ela estava fazendo. Eu seria
capaz de dançar assim?

Meu estômago se retorceu.

— Ei, Blue. — Uma voz ecoou acima da música.

Eu me virei e vi Andy. Seu cabelo preto estava sobre o ombro


e seus olhos eram tão azuis que eu fiquei fascinada.
— Oi, Andy — murmurei em resposta.

Ela se sentou, encarando a menina que fazia o teste.

— Você é a próxima.

Suas palavras me deixaram mais nervosa ainda. Meu pulso

acelerou, mas fiquei de pé. Estava tudo bem. Eu precisava do

emprego, era minha única saída. Carolyn estava com uma dívida do
tamanho do Everest e apenas eu poderia ajudá-la.

Que sorte a minha.

Subi no palco, tremendo levemente. Mesmo que não

houvesse ninguém além das meninas que também estavam

buscando o trabalho e Andy, eu me senti tensa.

— Deixe a música fluir, Blue — Andy falou, com um olhar

suave.

A voz melódica de Ariana ecoou e eu fechei meus olhos,


sentindo o poder das palavras. Deslizei pelo poste e arqueei as

costas, segurando a barra de aço entre os dedos. Meus quadris

balançaram e eu senti minhas entranhas se apertarem. Havia

alguém me observando, eu sabia, mas é claro que havia — Andy e

as outras meninas —, porém, quando abri minhas pálpebras eu o vi.


Estava escuro na parte de cima, mas eu podia vê-lo parado
com os braços juntos, focado em mim. Balancei ao som da música e

voltei a fechar os olhos. Quando a música acabou, eu respirava com

dificuldade e ele havia sumido. Quem era ele?

Não sei o motivo, mas meu corpo ficou rígido ao me lembrar

do homem em Navy Pier.

— Porra, você é muito gostosa. — A voz de uma menina loira

sentada no bar ecoou.

Saí do meu transe e a encarei sem graça.

— Desça. Próxima — Andy gritou.

Segui seu comando, sentindo minhas pernas bambas.

Depois que todas fizeram teste, eu respirei aliviada quando

ela disse que eu havia passado para a próxima etapa. Todas as

meninas precisavam falar com o chefe da Outfit, que era também o

dono do Village.

Minha mãe e toda a Chicago me deixaram cientes de quem

eram os donos dessa cidade. A Família Trevisan era composta por

quatro irmãos que não seguiam regras. Eles eram mafiosos. Eu

estava nervosa sobre trabalhar para eles, mas eu precisava do

emprego.
Enquanto Andy nos levava para o andar das garotas do

Village, olhei ao redor e vi várias meninas rindo e conversando.

— Você, novata. — A voz de uma delas me saudou.

— Ei, sim. Você é a menina que me chamou de gostosa? —


perguntei, querendo me enturmar.

— Raina. — Ela acenou e sorriu.

— Nome diferente... mas muito bonito — me apressei para


completar. Ela sorriu e estendeu a mão. — Sou a Blue.

— E eu tenho um nome diferente? — Ela se virou enquanto


ria, porém parou assim que a porta se abriu e quatro homens

entraram no local.

O primeiro deles tinha cabelo loiro e olhos azuis, porém eram


tão rígidos que engoli em seco, com medo. O próximo era da

mesma altura, mas o cabelo era escuro. Ele também tinha um olhar
escuro que me deixou arrepiada.

Meu coração parou assim que o terceiro deu um passo para


o lado e se fez presente. Minhas mãos começaram a tremer e eu

respirei com dificuldade. Ele era o homem do Navy Pier. Oh Jesus.

Na luz do dia eu pude ver cada pedaço dele, sem sombras.


Seu rosto era quadrado, seus olhos também eram azuis como os
dos seus irmãos, mas o que me deixou sem fala foram as tatuagens

pulando pela gola da sua camisa.

— Andy, as novas — o loiro resmungou, parando no meio da


sala.

— Essas aqui. — Andy segurou duas meninas que estavam


ainda há pouco dançando comigo e me chamou.

Engoli em seco e andei até elas, evitando encarar o homem

inquietante.

— Vocês foram obrigadas a estar aqui? — ele questionou


com firmeza. Nós três negamos rapidamente. — Vocês estão
devendo algo a Outfit?

— Não, senhor — as duas responderam prontamente, mas

eu me calei, engolindo em seco.

— Responda. Não tenho o dia todo — ele gritou e eu pulei


em meu lugar, tremendo.

— Minha mãe deve dinheiro, mas eu vou pagar tudo com o


trabalho — falei rapidamente.

Ele se aproximou, me fazendo encolher.

— Quem vai pagar essa merda é a sua mãe. Não quero


mulheres que só estão aqui porque alguém as obrigou,
indiretamente ou não. Saia daqui. Agora — ele berrou, parecendo
furioso.

Engoli em seco pela milionésima vez e olhei para Andy antes


de voltar a encará-lo.

— Eu preciso do emprego... eu... por favor, não me demita...

— Você sabe limpar e cozinhar? — A voz rígida do homem


do Navy Pier ecoou.

Eu o encarei, sentindo meu coração bater contra minhas

costelas.

O tempo pausou enquanto eu o olhava e o via me encarando


diretamente. Ele se lembrava de mim? Não parecia, e essa
constatação me deixou aliviada.

O loiro se virou e eu forcei meu peito para respirar.

— Sim, eu-eu sei...

— Qual o seu nome?

Sua pergunta me fez lamber meus lábios secos antes de


responder.

— Blue.
— Você está contratada. Pegarei seu contato com a Andy
para avisar quando você começa. — Ele se virou e começou a
andar para a porta com o outro homem que eu não havia olhado.

— Encontre outra menina e mande essa para casa — o loiro

gritou para a Andy, que acenou rapidamente.

— Droga — resmunguei assim que a porta se fechou.

Andy andou até mim e fez uma careta.

— Você seria um prato cheio aqui. É uma pena. — Ela se

afastou e encarou as meninas. — Se alguém quiser indicar outra

garota, essa é a hora.

Raina se aproximou e apertou meu ombro.

— Matteo é um Trevisan. Eu diria que o mais calmo daqueles

quatro. Você se sairá bem.

Eu não tinha tanta certeza.

Testei o nome dele em meus lábios. Matteo. Droga, eu estava

tremendo. Me sentei em uma cadeira e esqueci tudo ao meu redor


enquanto pensava na minha decisão de aceitar o emprego.

Eu aceitei de supetão, nem pensei nisso.


Eles eram a máfia, pessoas perigosas. O que eu tinha na

cabeça?

Merda!

Raina me ofereceu carona assim que foi dispensada por

Andy, que aceitei de bom grado. Não estava com a cabeça boa.

— Vou ligar, o.k.? — ela avisou assim que parou no


acostamento. A chuva castigava o seu para-brisa e eu sabia que me

molharia.

— Não tenho muitas amigas aqui, então, obrigada. — Olhei

para ela e seu sorriso me deixou relaxada.

— Vamos marcar uma bebida.

— Um cinema? — indiquei, tentando afastar a onda de

nervosismo por chegar em casa. — Eu não bebo muito.

— O.k., cinema! Te vejo em breve.

Saí do seu carro, apertando meu casaco e sorrindo ao ver a


loira ir embora. Me virei e suspirei.

O.k., seja corajosa, Blue.

Andei lentamente em direção à porta, ouvindo meu coração

batendo contra os meus ouvidos. Meu casaco já estava


completamente molhado e meus cabelos pingando. O dia realmente

estava uma merda. Retirei meus cabelos do rosto e fiquei parada de

frente para a porta. Eu sempre fazia isso. Era um ritual besta que
envolvia medo. Medo de encontrá-la sem vida no meio da sala.

Mordi meu lábio e balancei a cabeça, espantando os pensamentos

horríveis. Apertei a maçaneta e respirei fundo. Estava tudo bem.

— Você conseguiu o emprego? — Ela se ergueu do sofá

assim que me viu entrar.

Seu cabelo tão ruivo quanto o meu estava embolado no alto

da cabeça, seus olhos fundos e o semblante tenso. Não era por

mim. Eu já não mais esperava o seu afeto ou preocupação. Tudo

era sobre seus problemas. Suas dívidas.

— Não. Não o de prostituta, no caso — resmunguei,

passando por ela e entrando na casa pequena e suja. Eu tentava


deixar tudo em ordem, mas Carolyn não era capaz de fazer o

mesmo.

— E qual? — Ela me seguiu enquanto eu pegava latas do


chão e enfiava no lixo.

— Eu ainda não sei direito, mas é para um dos Trevisan. — O


sobrenome pesou em minha língua, estremeci ao me lembrar dos
olhos dele.

Eram azuis, mas algo escuro em suas íris me paralisou. Ele

tinha cabelos negros como a noite, mas seus olhos pareciam o

oceano. Engoli em seco, balançando a cabeça e encarando minha


mãe.

— Trevisan? — Sua voz caiu e ela arregalou os olhos. —

Não! Eles querem me matar...

— Você está devendo a eles. Uma hora eles iriam cobrar,

mas não se preocupe, ninguém está vindo. — Me aproximei da pia e


comecei a lavar as louças que ali estavam.

— Entendi. — Ela começou a se coçar, então desviei os

olhos. — Seu pai ligou. Eu não disse nada a ele.

— É óbvio que não. — Revirei os olhos, cansada. — Vou ligar

de volta depois.

Meu pai não sabia sobre os vícios da minha mãe. Ele morava

a quatro horas de Chicago, e depois que decidi, há dois anos, vir

ficar com a minha mãe, ele ficou magoado e nós só nos víamos em
feriados. Ele nunca vinha aqui, era melhor assim.

Se ele soubesse o que Carolyn fazia... Deus, acho que ele a


mataria e me levaria para casa a reboque.
— Estou aliviada que agora você vai poder quitar nossas

dívidas. — Minha mãe sorriu nervosamente e se abraçou. — Você é

bonita, Blue. Linda. Ganharia mais sendo prostituta, porém, algo me

diz que esse Trevisan vai recompensar você de uma maneira


melhor. — Ela riu sozinha, festejando.

Eu apenas me encolhi, engolindo o caroço em minha


garganta.

O sobrenome Trevisan nessa cidade fazia qualquer pessoa

tremer dos pés à cabeça, eu não era uma exceção. Porém, Matteo
Trevisan me fez mais que tremer.

Eu o cobicei, isso era imperdoável.

O príncipe da Outfit jamais olharia para mim.

Era a regra básica.

A realeza não se misturava com o lixo.

Raina jogou o balde de pipoca no lixo enquanto saíamos do


cinema. Ela havia me dito que precisava beber algo depois do filme

e eu não me opus.
— Você vai gostar de lá. Os meninos são meio doidos, mas

você se acostuma. — Raina riu quando me viu arregalar os olhos.


Andamos duas quadras até chegarmos a Navy Pier.

— Eu... — Minha voz cessou quando vi Matteo parado em

frente a um carro preto e caro.

Meu estômago deu um nó e eu quis ordenar as minhas

pernas que se mexessem, mas nada disso aconteceu. Raina me


puxou em sua direção e eu a assisti se jogar nos braços de um

homem loiro que estava ao lado do meu futuro chefe.

— Ei, Ray. — Sua mão foi para a bunda da minha amiga.


Raina se afastou dele depois do beijo e sorriu para mim e depois

para ele.

— Essa é a Blue, minha nova amiga.

Meu coração se aqueceu com sua apresentação. Sorri para

ele e acenei.

— Era você. — As sobrancelhas de Travis se juntaram e ele

encarou Matteo, que estava focado em mim. Arregalei os olhos ao


vê-lo tão concentrado.

— Travis, por que não leva Raina para a pista? — Matteo

falou pausadamente.
Engoli em seco ao ver a minha amiga ficar rígida. Ela me
olhou, abriu a boca, mas voltou a fechá-la. Travis a arrastou sem

outra palavra. Ergui meus olhos para o homem de olhos azuis e ele

se ergueu do carro. Matteo deu um passo em minha direção e eu


dei dois para trás.

— Pare. — Sua voz fez minhas pernas ficarem inertes. —


Você está dando um jeito de estar comigo muitas vezes, Flame. Já

estou começando a achar essa merda séria.

— Eu não... eu estava no cinema... Raina quis vir... — Tentei


explicar, enquanto tremia.

— O.k. — Matteo segurou uma mecha do meu cabelo e a


levou até o rosto. — Espero que quando começar a trabalhar, você

pare de tremer ao me ver.

Ele se afastou e meu coração relaxou as batidas ao vê-lo

voltar para o lugar onde estava.

Eu fui embora em seguida.

Duas semanas depois, recebi uma mensagem com um

endereço, horários e um arquivo com o contrato de trabalho. Eu


precisaria dormir no trabalho, mas estava liberada dos afazeres
depois das quatro da tarde. Isso era reconfortante, acho.

No dia seguinte, eu me ergui e corri para o banheiro. Tomei


um banho rápido e peguei as peças de roupas que eu tinha. Separei

várias e enfiei em uma mochila. Peguei carregador, meu Kindle e


itens de higiene pessoal. Quando terminei, saí à procura da minha

mãe, mas ela não estava na casa.

Mordi meu lábio enquanto ponderava se ir para outra cidade


e deixar Carolyn aqui era seguro. Porém, balancei a cabeça. Minha
mãe sabia se cuidar.

Peguei o ônibus que me levaria a Oak Park e fui a viagem


inteira lendo. Quando desci em frente ao prédio alto e luxuoso,
tentei respirar fundo e me concentrar.

— Bom dia! — murmurei para o porteiro e ele sorriu para


mim. Me surpreendi ao ver que ele não era muito mais velho que eu.
— Eu sou a Blue. Vou começar a trabalhar hoje no... — Olhei para a

mensagem e suspirei. — Último andar. Matteo Trevisan. Você pode


avisar que estou aqui?

— É claro. Eu sou o Aaron. — Ele sorriu, pegou o interfone e

telefonou. Depois de alguns segundos me encarou. — Ele autorizou


a sua entrada. Tenha um bom dia!

— Obrigada!

Andei com rapidez para o elevador e apertei o botão,

querendo chegar lá o mais rápido possível. Eu estava nervosa, não


pelo trabalho em si, eu amava cozinhar e arrumar as coisas, porém,
estar na casa de mafiosos não era algo que eu desejava. Se meu

pai soubesse... não queria imaginar a confusão.

Quando o elevador abriu as portas, eu arregalei os olhos. Eu


já estava dentro do apartamento. Ele era enorme e bastante claro

por conta das paredes de vidro. O sofá era branco, como a maioria
dos móveis que eu conseguia ver. A tevê era algo de outro planeta,
e eu quase gemi ao ver os livros amontoados na parede.

— Você vai entrar ou o quê? — A voz rouca estalou.

Ergui os olhos e vi Matteo descendo a escada. Andei para


dentro e as portas do elevador se fecharam, me assustando.

— Eu não imaginei que o apartamento fosse tão grande,

então contratei uma equipe de limpeza. Eles virão uma vez na


semana para limpar tudo. Você só precisa o manter em ordem e
cozinhar.
— Tudo bem — falei, apertando a minha mochila. — Eu
posso começar agora, só preciso deixar minhas coisas em algum

lugar — murmurei, encarando-o. Tentei focar em seu rosto, porém,


seu peito estava nu e ele só usava uma calça de moletom.

— Suba a escada. Quarto à direita. — Ele se virou e andou

para outro lugar enquanto eu seguia seus comandos.

Quando entrei no quarto, não consegui acreditar que eu


dormiria aqui. Minha Nossa Senhora. A cama dava duas da minha,

e a vista era de tirar o fôlego. Meu banheiro era perfeito, tinha até
uma banheira. Eu nunca havia entrado em uma banheira.

Excitação correu pelo meu peito e eu suspirei, tentando me

conter. Eu precisava começar a limpar tudo, não relaxar em uma


banheira. Joguei minha mochila no armário e desci a escada, pronta
para começar o dia. Andei para onde Matteo havia sumido e

encontrei a cozinha.

Ela era tão linda como todo o apartamento. Preparei café e


panquecas ao ver que a geladeira estava cheia. Estalei ovos e

também fritei bacon. Quando montei a mesa, me questionei se havia


mais alguém na casa. Por via das dúvidas, coloquei dois lugares.
— Porra, que cheiro é esse? — Uma voz soou. Eu me virei e

vi o outro irmão que estava no Village. — Ei, Blue — ele me


cumprimentou, mas seu rosto não demonstrava nenhuma simpatia.

— Oi. Hum, eu vou me retirar — falei, suavemente, e me

afastei. Ao encontrar Matteo na porta, baixei meus olhos e saí.

Voltei para o quarto e fechei a porta, respirando


profundamente.

O.k., Blue, tudo vai ficar bem.


— Ela cozinha bem — Prince resmungou enquanto levava
mais uma garfada à boca. Acenei, mordendo o pedaço de bacon. —
Romeo falou com você sobre o Date? Acho que lá será uma boa

para expandirmos as corridas do Navy Pier.

Eu amava correr, e por isso, uma das minhas prioridades

dentro de Chicago, sempre foi o Navy Pier. Porém, com a nossa


mudança, Navy Pier ficou para trás junto com nossos irmãos mais

velhos. Não que eles não se fizessem presentes.

— Podemos conhecer lá primeiro — falei, pegando um

bocado de ovos e enfiando na boca. Merda. — Ela realmente

cozinha bem. Nunca comi uma panqueca tão gostosa.


— Nem me fale. — Prince riu e deslizou o olhar para o

celular.

— O que foi? — questionei, apontando com o queixo a tela

do seu telefone.

— Nada. Ainda continuo esperando Lake me responder. —

Ele deu uma risada amarga e eu escondi a mágoa dentro de mim.

— Esqueça essa imbecil — rosnei, irritado.

Prince ergueu o olhar, furioso.

— Não fale assim dela. Ela ainda é nossa irmã!

— Não minha. Foda-se, ela está longe e nem mesmo liga.

— Rocco não a deixa voltar, Matteo. Você sabe disso! — ele

gritou e se ergueu, enquanto eu bebia o suco para tentar me

acalmar.

Lake se mudou para uma escola onde o Satanás bate as


botas, e desde então não entrou em contato comigo ou com Prince.

Meu problema não era ela não falando comigo. Foda-se ela. Porém,

Prince era ligado a ela de uma maneira que nenhum Trevisan era.

E ela estava matando-o.


— Lake é egoísta, Prince. Se não fosse, ela já teria ligado
para você. Se acostume a viver sem ela, antes que você faça

alguma bosta — pedi, completamente tenso, e me ergui.

Prince balançou a cabeça antes de eu o deixar sozinho. Subi

a escada e estaquei quando ouvi uma música baixa soando. Parei

em frente ao quarto de hóspedes e semicerrei os olhos. Que porra

ela estava ouvindo?

A porta estava meio aberta, então me aproximei enquanto me

questionava o motivo de estar fazendo isso. Essa mulher continuava

sendo um enigma para mim desde o dia em que a conheci no Navy

Pier. Sua inocência me atraía como a porra de um imã.

Suspirei assim que a vi. Blue estava apenas de calcinha e


sutiã enquanto dançava no meio do quarto. Meu pau ficou duro de

apenas ver isso. Ela era pequena em todos os lugares, menos lá.

Antes que ela me visse, me virei e fechei a porta. Deus sabe

que foi a porra de um desafio.

Prince havia apostado com Travis que eu comeria Blue. Ela


era o meu tipo, palavras do idiota. Eu, porra, não iria. Ela era nossa

empregada, eu não podia foder com uma pessoa que ficaria

próxima a nós.
Eu só precisava convencer meu pau disso.

O Date não era apenas um bar, atrás dele havia uma pista de
apenas um sentido. Era escondido, não que eu ligasse caso não

fosse. A polícia de Chicago não mexia nos negócios da Outfit. Não


depois do que Rocco, Sienna e Prince fizeram.

— Então, gostou do resultado? — Prince questionou,


acendendo um baseado. Prince nunca foi de beber ou fumar, mas

desde que Lake foi para o inferno, meu irmão estava se jogando.

Já fazia duas semanas que estávamos morando em Oak


Park. O Date estava sendo reformado e agora estava pronto para o

trabalho. Blue estava conosco há mais de uma semana. Ela se


escondia pela casa, então eu não a via muito.

— Está foda. — Segurei meu celular e liguei para Rocco.

— E aí? — ele respondeu no primeiro toque.

— O Date será um bom lugar. Podemos centralizar as


corridas e os negócios — falei, assistindo ao Prince conversar com
Travis. — A reforma foi boa.
— Você decide. Sienna está perguntando se Blue está bem e

se ela está fazendo as coisas direito. Meu Deus, Passarinha. — Ele


grunhiu, me fazendo sorrir. Sua esposa se preocupava mais comigo

e Prince do que com seus próprios filhos. Eles estavam em seu


ventre ainda.

— Ela cozinha bem.

E é uma tentação dos infernos.

— Que bom. Chegaremos aí na próxima semana.

— Beleza.

Escondi meu celular na calça e me aproximei dos meus

amigos. Travis vinha de Chicago para abrirmos as corridas aqui. Ele


ficaria responsável pelas apostas.

— Raina está aqui com a garota do Matteo — ele murmurou,

e eu estapeei sua cabeça. — Porra, cara.

— Ela não é minha, idiota — falei, vendo Prince começar a

rir.

— Vamos lá. Preciso levá-la de volta. — Ele andou para


dentro do bar.

Eu vi a loira que ele comia regularmente no Village.


— Ei, está pronta? — Travis questionou, mas Raina estava
focada em outra garota.

Blue.

— Começamos agora — Raina gritou sobre a música.

Vi quando Blue virou a cerveja nos lábios e fez uma careta.


Que porra era essa? Quando ela afastou a garrafa, seus olhos se
expandiram assim que me viu.

— Oh...

— O que você está fazendo aqui? — perguntei,

completamente rígido, me aproximando com Prince.

— Blue, se divertindo? — Meu irmão se sentou ao seu lado.

— Hum, sim — respondeu, visivelmente nervosa. — Raina

me disse que estava na cidade e... — Blue evitou me encarar


enquanto explicava e eu permanecia em silêncio.

— Toma, prova. — Prince estendeu o baseado em sua


direção.

— Não, obrigada. — Ela fez uma careta.

— Vamos embora — falei para Prince, porém me lembrei que

precisava esperar Zyon e Saori. Os dois eram soldados da Outfit e


estavam vindo prestar conta. — Vou para o escritório...

— Não, cara, vamos lá. Quero beber. — Travis segurou meu

ombro e pegou um copo, enchendo-o de uísque.

Segurei o copo e o virei, sentindo o líquido descer


queimando. Olhei ao redor e encontrei Hope sentada sozinha a uma

mesa mais afastada.

— O que essa puta está fazendo aqui? — Prince seguiu meu


olhar e se ergueu.

Eu o segui em direção à irmã de Cesar, o rato traidor que

Prince matou. Hope nos viu antes que chegássemos até ela, então
se ergueu. Seu corpo ficou rígido enquanto seu olhar derivava de

Prince para mim.

— O que sua boceta está fazendo aqui, porra? — Prince

questionou, gritando.

Hope engoliu em seco ao se afastar.

— Na-nada. Já estou indo...

— Você deveria ir embora de Oak Park. Ou quer que eu faça

um buraco na sua testa como fiz com a do seu irmão? — Puxei

Prince pelo braço e me aproximei de Hope, que agora estava

branca como papel.


— Saia daqui.

Hope não precisou de outro incentivo, ela correu para a porta.

Olhei para o meu irmão e não o reconheci. Eu odiava encará-lo e

não ter ideia de quem ele era ou o que faria a seguir.

— Que porra é essa, Prince? — questionei, rígido.

— O quê? Você quer mais ratos aqui? — Ele me encarou,


confusão e escárnio dançando em seus olhos. — Foda-se, Matteo.

Ele virou sua cerveja e se afastou. Apertei meus punhos e me


virei para Travis, Raina e Blue.

— Você. Vamos. — Apontei para Travis e me encaminhei

para o escritório, que seria meu a partir de agora.

Depois de duas horas com Zyon e Saori, Travis saiu para ver

como Raina estava. Eu despachei os dois e fui em busca do meu


amigo e das duas mulheres. Quando achei Travis, eu quis socar sua

cara. Raina e Blue estavam dançando sobre o balcão.

— Travis — grunhi, irritado, enquanto ele estava virando um


copo e encarando Raina. — Cara, que merda é essa?

— Deixa as meninas se divertirem. — Ele riu enquanto me


encarava.
Eu me sentei, decidindo que deveria fazer isso. Pedi mais

uma bebida e engoli o líquido enquanto observava Blue. Seus

quadris balançavam ao som da música e seu sorriso era destinado a


Raina.

— Seu celular, mano — Travis avisou, apontando para a tela

acesa.

“Estou aqui.”

Porra. Me ergui e olhei ao redor. Quando vi Charlie na


entrada, andei em sua direção. Ela se agarrou a mim e gemi assim

que senti sua língua em minha boca. Desci minha mão para a sua

bunda e apertei. Porra, essa garota sempre dava um jeito de se


meter em encrenca.

— Vamos para casa — ela pediu, mas eu neguei ao me


afastar.

— Vamos beber.

Ela fez beicinho e eu ri. Nem fodendo. Andei de volta para o

balcão e encontrei Blue e Raina ainda dançando, rindo juntas.

Charlie encarou as duas e depois a mim. Eu fodia Charlie


regulamente há três meses, mas não apenas ela. Ela sabia, mas se

tornava meio louca quando via outra mulher.


— Quem é essa? — Sua pergunta me fez erguer as

sobrancelhas. — Raina trouxe uma amiga para você? — Ela baixou


os olhos quando apertei sua cintura.

— Por que você não mantém a boca fechada? — questionei,


irritado. Odiava perguntas e cobranças, Charlie amava fazer os dois.

— Eu só... — Ela parou de falar quando seu celular tocou.

Sorri, levando meu copo à boca. — Droga.

— Você sabe o caminho para a saída. — Indiquei a porta.

Charlie suspirou, se virou e foi embora.

Fiquei mais uma hora no bar, e depois que Raina sumiu com

Travis, vi Blue sozinha.

O.k., vamos lá, porra.

Agarrei o braço dela e a puxei enquanto as pessoas abriam

espaço.

— Você deveria estar em casa — grunhi, entrando no carro


depois de enfiá-la no lado do passageiro.

— Eu disse a você. Raina me chamou... — Ela tentou


explicar enquanto eu pisava no acelerador.
— Eu sei. Eu sei. — Liguei o som do carro um pouco alto,

deixando claro que eu não queria conversar.

— Aquela garota é sua namorada? — Ela não pensava o


mesmo.

— Eu não namoro.

Em alguns minutos, entrei na garagem e abri a minha porta.

Blue fez o mesmo e nós andamos até o elevador privado. Quando

chegamos à cobertura, ela andou na direção das escadas sem me


encarar.

— Quando você for sair, me avise. — Derramei as palavras.

— Hum, por quê? — perguntou, rígida.

Sim, por quê, idiota?

— É um problema?

— Não, quero dizer... Eu li o contrato que você enviou para

mim. Depois das quatro, eu posso fazer o que eu quiser, não? —

Ela se virou e seu olhar cauteloso me disse que ela estava

realmente confusa.

— Preciso saber onde está caso haja algum problema...

Que porra, Matteo? Foda-se.


— Ah, o.k. — Ela acenou e se virou, porém, cessou seus

movimentos novamente. — O meu salário, hum, é aquele valor


mesmo? — Suas bochechas coraram.

— Sim — semicerrei os olhos —, é claro — respondi

firmemente.

— O.k. — Ela acenou devagar. — Boa noite, sr. Trevisan.

— Matteo. — Apertei minha mandíbula.

— O quê? — Suas sobrancelhas se juntaram e eu estalei

meus dedos.

— O meu nome é Matteo, não sr. Trevisan.

Blue engoliu em seco, porém acenou.

— Boa noite, Matteo.

— Boa noite, Flame.

Blue se virou e subiu a escada enquanto eu caía no sofá,


apertando meus olhos.

— Onde você está? — Gravei um áudio e mandei para

Prince. Eu sabia que ele não estava em casa, suas chaves não
estavam na mesa.
Ele visualizou, mas não digitou nada. Em seguida, uma
imagem apareceu. Quando vi Hope dormindo completamente

coberta, eu suspirei.

Porra, Prince.

“Não fode, porra.”

“Já fodi.”

Apertei o celular e suspirei novamente. Como diabos eu ia


controlar meu irmão, se nem eu mesmo conseguia me controlar?

Estava em nosso sangue fazer merda todos os dias do inferno.

Subi a escada e parei em frente ao quarto de Blue. Estava


começando a me perguntar se a ideia de trazer a garota para Oak

Park foi boa.

Foda-se.
Flame.

Meu estômago esfriou ao me lembrar do dia em que o


conheci e ele me chamou assim. Passei o restante da semana
pensando nisso e tentando ficar fora da vista dos dois homens da

casa. No sábado pela manhã não tinha nenhum sinal dos irmãos

Trevisan. Eu limpei a casa e fiz o almoço, e quando terminei escutei


a porta abrir.

— Ei, Blue. — Prince entrou na cozinha e foi para a


geladeira.

— O almoço está pronto. Você vai precisar de mim? —

questionei a Prince, evitando encarar seu rosto.


Eu ainda não estava certa se podia me sentir relaxada na

presença deles. Obviamente, os dois não faziam nada comigo, mas


a imagem do Matteo atirando em uma pessoa no Navy Pier me

deixava em alerta.

— Não. Você está indo para Chicago, certo? — ele

questionou, enquanto virava uma garrafa de água na boca.

— Sim. Voltarei na segunda de manhã.

— Espere o meu irmão e a minha cunhada. Você volta com

eles de helicóptero.

— Não precisa — resmunguei, engolindo em seco.

— Estou morto de fome. — Matteo entrou sem camisa na


cozinha, então encarei meus pés, me odiando por sentir meu colo e

bochechas começarem a esquentar.

— Posso servir agora — falei enquanto me movia, mas

Prince balançou a cabeça.

— Vá para casa, Blue. Nos viramos.

Eu sorri para ele e acenei. Olhei para Matteo e pedi licença.

Subi a escada com o celular na mão e suspirei ao ver o nome do

meu pai na tela.

— Oi, papai — resmunguei ao atender.


— Estou em Chicago. Me passa o endereço da sua casa.

Suas palavras me deixaram rígida. Porra.

— O senhor está onde? Eu posso ir até aí.

— Quero ver sua mãe, Blue.

Respirei fundo e ordenei meus pensamentos.

O.k., tudo bem.

— Vou enviar por mensagem.

— O.k., Boo. Te vejo daqui a pouco.

Assim que desliguei, disquei o número da minha mãe. Ela

demorou para atender, mas o fez.

— Papai está indo aí. Arrume tudo e, por favor, tome um

banho — falei rapidamente, pegando minha mochila.

— O que ele está vindo fazer? — ela berrou, respirando com


dificuldade. Talvez, arrumando suas porcarias.

— Não sei. Coloque um dos seus moletons. Não fode tudo,

o.k.? — implorei, descendo a escada. Vi Travis na sala e sorri. —

Estou indo.

— Ei, onde é o incêndio? — o amigo de Matteo e namorado

de Raina questionou.
— Chicago...

— Quer carona? Estou indo para casa. — Ele pegou as

chaves e eu ponderei sua oferta, porém, não podia recusar.

— Sim.

— Estou indo e levando Blue — ele gritou em direção à

cozinha enquanto eu chamava o elevador.

— Ei, você já vai? — Matteo apareceu, sua pergunta era


direcionada a seu amigo.

— Sim. Vejo você amanhã.

— Não vai almoçar? — Me virei e olhei para Matteo, seu


olhar duro mudou do amigo para mim.

— Cara, eu preciso ir. Vou dar uma carona para a Blue.

O elevador chegou e eu entrei quando as portas se abriram.


Me virei e acenei para me despedir de Matteo. Vi sua mandíbula

apertar antes que as portas do elevador se fechassem.

Travis era uma boa companhia. Ele fazia piadas e cantava as


músicas que tocavam na rádio. Eu o agradeci quando cheguei em

frente à minha casa. Ela não era horrível, na verdade, era a única
coisa bonita que eu possuía. E só morávamos nela porque a
escritura estava em meu nome. Se estivesse no da minha mãe, ela

já teria sido vendida há muito tempo.

— Boa folga! — Travis sorriu enquanto saía do meio-fio.

Suspirei ao me virar e ver o carro do meu pai na garagem


enquanto caminhava para a porta.

— Ei, Boo. — Papai me envolveu em seus braços assim que


entrei.

— Papai, como C.K. está? — questionei, me afastando e

procurando mamãe ao redor e não a encontrando.

— Está ótima. Sua mãe está terminando o almoço. — Assim

que ele respondeu sobre sua esposa, eu respirei aliviada.

— Que bom.

Nós nos sentamos à mesa e meu pai começou a questionar


mamãe sobre o trabalho dela.

— Uma porcaria, mas eu preciso, certo? — Ela sorriu para


nós. Ela trabalhava no posto de gasolina da cidade durante a noite.

— Sim, todos nós. — Papai me encarou e semicerrou os

olhos. — E a faculdade? Como está?


Meu peito ficou dolorido. Odiava me lembrar que eu havia
trancado a faculdade por causa da minha mãe. A última vez que um
cara veio cobrá-la, ele levou todo o dinheiro que eu usaria para

pagar a minha mensalidade.

— Está ótima — menti, sentindo meu coração começar a


doer. Odiava mentir para o meu pai, mas era tudo que eu fazia
ultimamente.

Por causa da Carolyn.

E ela nem mesmo se sentia mal. Era isso que me deixava

com raiva. Ela não deu a mínima que tive que deixar meus sonhos
em stand-by.

— Você será uma fisioterapeuta incrível.

Seria, se eu me formasse.

Estava esperando receber meu salário para pagar a dívida da


minha mãe e minha faculdade. Já havia visto que tinha um campus
em Oak Park, então tudo voltaria ao normal.

— C.K. já conseguiu engravidar? — A pergunta de Carolyn

pareceu um tapa em papai.

— Mãe!
— O quê? Não entendo a demora. Faz tanto tempo que estão
juntos. — Ela deu de ombros enquanto eu ficava rígida.

— C.K. e eu vamos adotar. — Papai deixou a admissão cair


dos seus lábios.

— Ah, meu Deus — sorri —, isso é ótimo! — falei para ele e

pulei da cadeira, abraçando-o com força ao me sentir feliz. —


Parabéns, papai. Vocês merecem.

Ignorei Carolyn e os seus comentários pelo resto do tempo.

Papai fez o mesmo.

— No Dia de Ação de Graças eu vou para casa — disse com


firmeza, então meu pai sorriu enquanto andávamos até seu carro.

— C.K. vai amar.

— Amo você, papai.

— Amo você, Boo. — Ele beijou minha testa e encarou nossa


casa. — Carolyn ainda é a mesma. Espero que ela não esteja

colocando você em problemas.

— Não se preocupe com isso — falei e beijei sua bochecha.

Ele acenou e foi para o seu carro. Mandei beijos até ele sumir

pela rua.
— C.K. é oca por dentro, será? — Carolyn questionou

enquanto pintava as unhas assim que entrei.

— Pare com isso. C.K. é incrível e merece um bebê, não

importa se é pelo meio convencional ou adoção — falei, irritada,


antes de subir para o meu quarto.

Tomei banho e meu celular tocou assim que saí. O nome de

Raina apareceu e eu suspirei ao atender. Estávamos conversando


com bastante frequência, e amei revê-la dias atrás, em Oak Park.

— Ei.

— Você vai sair hoje? Se não for, o que acha de fazermos

algo de meninas? — ela murmurou.

— Você não dança hoje? — Ouvi um barulho ao fundo.

Dança era a maneira mais aceitável de falar que ela iria se


prostituir.

— Sim, podemos sair depois disso. Eu posso sair depois da

meia-noite.

— Posso ir para a sua casa, mas sair não é algo que eu

deseje hoje.

— Sério? Aquela Charlie falou algo com você aquele dia?


— Não, não. — Neguei, porque Charlie não era um problema.

Eu nem a conhecia. Só a vi aquele dia no bar. Claro que notei que

ela e Matteo eram próximos, mas isso não era da minha conta. —
Travis me deu uma carona. — Mudei de assunto.

— Ele me contou. Olha, então amanhã a gente almoça

juntas. Pode ser?

Desligamos depois que marcamos em um restaurante legal.

Escolhi um vestido simples e saí do quarto. O silêncio me


incomodou, mas pensei que mamãe estivesse dormindo.

Infelizmente, ela não estava. Um homem enorme estava parado na

porta enquanto minha mãe tremia e tentava abrir a calça dele. Que
merda era essa?

— Mãe? — chamei, entrando na sala.

Os olhos dele derivaram dela para mim, então senti meu

estômago revirar quando ele observou meu corpo de cima a baixo,

faminto.

— Você não, Carolyn. Ela.

Suas palavras me fizeram engolir em seco. Senti o nojo

retorcer minhas entranhas.

— Não. Ela é minha filha. Por favor, Brian...


— Ela te deve quanto? — questionei, pegando meu celular.

— Dois mil. — Ele deu um passo em minha direção enquanto

eu discava o contato, me sentindo tão pequena.

Porra, Carolyn.

— Eu esqueço a dívida se você foder comigo...

Nem morta, porra.

— Ei, Blue. — A voz de Raina soou alegre.

— Eu preciso de ajuda. — Funguei e me odiei por fazer isso.

— O que houve?

Expliquei à minha amiga sobre Brian e a dívida da minha

mãe, obtive o silêncio como resposta.

— Raina? Me desculpe, eu não tenho mais para quem ligar

— falei baixinho, me sentindo completamente envergonhada.

— Eu... espera Blue. — A ligação ficou abafada, mas ouvi

vozes ao fundo por alguns segundos. Me virei e encarei Brian,

engolindo em seco ao vê-lo apoiado na porta. — Matteo quer falar


com você.

O quê?

— Raina, não, eu só...


— Você só o quê, Flame? — ele me cortou, com a voz fria e

indiferente.

— Me desculpe, a Raina... ela...

— Passe para Brian. Agora. — Sua demanda me fez

começar a tremer.

— Eu...

— Eu não vou pedir de novo. Se eu pedir, irei aí e eu mesmo


matarei sua mãe do caralho.

Ele era tão mandão, cruel e arrogante.

Estendi o telefone para o Brian e ele o pegou. Vi seu rosto

ficar branco conforme Matteo falava com ele.

— Claro, cara. O.k. — Ele me devolveu o celular e saiu da

minha casa como o diabo foge da cruz.

— Pode descontar do meu salário — afirmei, colocando o

celular no meu ouvido, porém, Matteo já havia desligado.

Respirei profundamente e senti a raiva encher meu peito. Eu


não acreditava que estava nessa posição mais uma vez.

— Que porra é essa, Carolyn? — gritei ao me virar. — Você


disse que devia cinco mil. Cinco mil. E agora tem essa merda de
dois mil?

— Eu peguei durante essa semana...

— Você quer me foder? — berrei, indo em sua direção. Parei

quando percebi que iria sacudir seus ombros. — Você me fez


trancar minha faculdade, eu trabalho seis dias da semana e você

aproveita para fazer mais dívidas?

— Desculpa, Boo. — Ela piscou os cílios e as lágrimas

começaram a descer. — Eu me senti sozinha...

— Você é inacreditável. — Balancei a cabeça. — Eu vou


pagar os cinco mil e vou embora...

— Não, Boo, por favor. Eu vou me comportar. — Ela soluçou


e me abraçou. Carolyn parecia uma criança, e eu queria muito ser

forte e conseguir me afastar, mas ela era minha mãe.

Quem abandonava a própria mãe?

Eu a levei para o quarto e só saí de lá quando ela

adormeceu. Me deitei na minha cama e suspirei ao pensar na


conversa com Matteo.

Tentei não entrar em contato com ele, mas quando vi já tinha

enviado a mensagem.

“Obrigada e me desculpe.”
Não recebi nenhuma resposta.

— Não sei o que diabos Matteo vê nela. — Raina bufou

enquanto pintava minhas unhas de nude.

— Por que vocês não se dão bem? — questionei, curiosa,

sobre sua relação com Charlie.

— Ela nasceu na máfia e adora dizer que Travis vai me dar


um pé na bunda assim que se casar. — Raina engoliu em seco e eu

franzi as sobrancelhas.

Ela terminou com as minhas unhas e eu a ajudei com o

cabelo longo e loiro. Travis a levaria para sair hoje.

— Raina, desculpa a pergunta, mas como funciona o lance

entre vocês dois? — questionei, mordendo meu lábio enquanto


enrolava a mecha lisa no babyliss.

— Eu gosto dele. Tipo, amor mesmo. — Sua voz baixou e ela

evitou me encarar. — Mas Travis gosta da minha boceta, o resto


não.

Meu coração apertou e eu me sentei na sua frente.


— Ele quem perde. Sua boceta deve ser incrível, mas seu
coração... bem, querida, ele é precioso — murmurei com firmeza.

Ela sorriu, jogando os braços a minha volta.

— Sinto como se nos conhecêssemos há anos.

— Eu compartilho o sentimento. — Sorri, encarando-a. —


Travis nunca falou sobre seu trabalho?

Raina engoliu em seco e acenou.

— Ele paga a Andy para eu não transar com os clientes.

Apenas danço.

— Então, como você fala que ele não gosta? — Arqueei a


sobrancelha.

— Ele tem uma noiva, Blue. — Meus olhos se arregalaram e

Raina sorriu. — É da máfia, como ele. Pura e inocente. A esposa


perfeita.

— Mas...

— Não se engane. Mulheres fora da máfia só podem ter um


gosto. Os homens dentro dela noivam com as princesas criadas lá
dentro, não conosco.
Suas palavras me fizeram ficar deprimida. Odiava traição,
mas quando vi os olhos de Raina percebi o quão machucada ela
ficava por Travis ter alguém além dela.

E eu me coloquei em seu lugar. O que diabos eu faria?


— O.k., Remy. Sorria para a câmera — pedi para o meu
sobrinho e ele piscou, completamente sério.

— Ele só sorri para o Romeo e, em raras ocasiões, para mim


— Lunna falou às minhas costas.

Respirei fundo, pegando o bebê do berço.

— Eu o farei sorrir, espere e verá. — Passei por ela e

caminhei para fora do quarto.

— Aonde você pensa que vai? — Sienna parou diante de

mim e estendeu os braços.

Eu a fulminei enquanto passava Remy para ela.


— Então, o que são os seus? — questionei, seguindo-a

escada abaixo. Estávamos na casa de Romeo para celebrar o


aniversário dele.

— Não vou contar até você me dizer quem é C. — Sua


mudança súbita de conversa me fez semicerrar os olhos. — Vi uma

mensagem dela que ela se referia a Blue como... deixa eu ver...

puta. Blue é a garota que contratou, certo? Por que você está
deixando essa C falar assim da Blue?

Sienna sempre foi protetora e, naturalmente, ela ocupou o

lugar materno da família, porém, depois que engravidou, seus


hormônios estavam realmente fazendo-a pensar que Prince e eu

éramos seus filhos.

— C é uma foda e ela é louca. Não que isso seja da sua

conta, claro.

— Matteo, cuidado — Rocco grunhiu do sofá enquanto mexia

em um notebook.

— Diga a ela para respeitar as mulheres. Isso é horrível —

minha cunhada pediu, insultada.

— Como você chamava a Milena? Espera, deixe-me pensar.

— Levei a mão à cabeça, e Sienna me fulminou.


— Ela realmente era uma puta e queria destruir meu
casamento — ela berrou e Remy a encarou. — Desculpe, querido.

— Matteo, você realmente está chateando uma grávida de

gêmeos? — Prince perguntou enquanto jogava com Romeo, então

me virei para Sienna.

— Desculpe, mamãe.

Sienna me deu um tapa no ombro e eu caí rindo no sofá.

Quando anoiteceu, eu dirigi para o Village com Prince. Travis

já deveria estar lá. Assim que cheguei, andei diretamente para

Brian, que estava no bar virando o copo.

— Quanto a vagabunda deve? — Me sentei ao seu lado e ele

me encarou.

— Sete mil ao todo, e já veio pedir mais hoje. Eu vendo? —

Brian me encarou sem piscar.

— Venda. Problema dela — respondi firmemente. — Vou


quitar os sete, e tudo que ela pedir agora é por conta dela. — Me

ergui, porém voltei a me sentar. — Eu espero que essa sua tática de

foder as viciadas em troca de mais tempo tenham parado, senão

vou levar isso ao Rocco e ele vai cortar seu pau.

— Cla-claro, Matteo.
Me afastei e pedi uma cerveja enquanto via Raina dançando

no poste. Ela era realmente bonita, e eu entendia por que Travis a


mantinha.

— Você realmente está olhando para Raina? — A voz dele


ecoou irritada.

Olhei para ele enquanto bebia minha cerveja.

— Eu e todos os filhos da puta daqui — resmunguei,

erguendo as sobrancelhas.

— Você é meu amigo, Matteo. — Travis apertou o copo.

— Ela sabe sobre Kiara? — perguntei, realmente curioso.

— Sim. — Ele se afastou e eu fiz uma careta. — Posso ter as

duas, certo?

— Pode? — questionei com seriedade, fazendo Travis engolir


em seco. — Escolha a que quer e mande a outra embora...

— Meus pais vão me matar se eu cancelar o noivado, você


sabe disso. — Ele latiu, furioso.

— Então, sua escolha está feita. — Dei de ombros.

Travis não disse mais nada, apenas focou sua atenção


naquilo que ele mais queria, mas não podia ter.
— Ei, Blue. — A voz de Prince me fez virar. Ele estava

acenando para alguém do outro lado, então olhei naquela direção e


vi Blue sorrir para ele.

Essa menina realmente estava aqui?

Quase como se sentisse meus olhos, Blue me encarou. Em


dois segundos ela começou a andar em minha direção. Ela usava

um vestido de alças preto e um casaco sobre os ombros.

— Ei, nós podemos conversar? — ela pediu, mordendo o


lábio.

— Sobre o quê?

Seu cabelo caiu em seu rosto, mas ainda vi suas bochechas


quentes.

— Minha dívida.

— Sua? — Arqueei a sobrancelha.

— Da minha mãe. — Blue suspirou. — Isso importa? — Sua


voz aumentou, nervosa.

Dei de ombros.

— Fale.
— Ela deve sete mil dólares a vocês e eu quero quitar tudo
esse mês. O salário realmente é incrível e estou um pouco chocada
por receber tanto em um mês, mas vai me ajudar muito...

— Você quer dar seu salário todo para as merdas da sua

mãe? — perguntei, rigidamente.

Blue olhou ao redor de maneira desconfortável.

— Eu preciso ajudá-la...

— Você vai se manter com três mil dólares? Como?

— Eu sou bem simples, se já não percebeu. — Ela apontou

para a roupa.

Deslizei meus olhos, me demorando em seu decote exposto.

— Eu quitei a dívida da sua mãe e dividi em três vezes para

descontar do seu salário. Mas se eu souber que você pagou as


drogas da sua mãe depois disso, vou despedir você.

Blue desviou os olhos e piscou várias vezes.

— Eu não quero que...

— Que o quê, Blue? — questionei, me aproximando. Segurei


seu rosto e me inclinei. — Que eu me meta na sua vida? Tarde

demais, Flame. Eu vou me meter pra caralho.


Blue ficou tensa e me olhou em silêncio. Segurei seu queixo
e apertei.

— Você volta comigo hoje. Passaremos na sua casa para


pegar suas merdas. — Me afastei, vendo a pequena plateia que

havia nos encarando.

— O quê? Por quê? — Blue gaguejou e eu a encarei em


silêncio. — Tá, o.k.

— Eu vou levar apenas dois minutos — Blue resmungou


enquanto saía do carro onde eu estava. Prince ficou com Sienna e

Rocco na mansão e só voltaria para Oak Park amanhã.

— Vai lá. — Acenei para a casa e a observei enquanto ela


andava até a porta. Seus quadris balançavam e sua bunda era uma

tentação dos infernos. Me imaginei mordendo logo abaixo e meu

pau virou pedra.

Imagens de Blue deitada em minha mesa com as pernas

abertas se formaram em minha mente. Sua boceta era rosa e

estava molhada, pronta para mim.

Porra, porra, porra.


Olhei para o relógio e semicerrei os olhos ao ver que se

passaram dez minutos.

Saí do carro e andei até lá. A porta estava aberta quando

forcei a maçaneta, então entrei. Primeiro vi pernas, e depois um


choro baixo. Me aproximei e olhei para o corredor. Blue estava

chorando, com a mãe embalada em seus braços.

— Ela-ela-ela... — Flame tentava falar, mas seus soluços


eram mais altos.

Me aproximei e suspirei ao pegar sua mãe e a colocar no


quarto. Os olhos da sua mãe se abriram quando Blue começou a

limpá-la.

— Mãe, o que você fez? — Blue questionou, ainda chorando.


Eu me afastei até a porta. — Você estava caída quando cheguei...

preciso levar você ao hospital...

— Eu usei demais. Desculpa, Boo. Eu só preciso dormir e

ficarei bem. — Sua mãe se virou na cama.

Flame fechou os olhos enquanto abraçava as próprias


pernas.

— Você sabe que a culpada dessa merda é ela, não é? —


perguntei, com raiva por vê-la cair por uma idiota viciada que não
dava a mínima para ela.

— Matteo...

— Vamos embora — chamei, saindo do quarto e indo para a

sala.

— Eu não posso ir, preciso checá-la... — Blue me seguiu e eu

me virei para encará-la.

— Ela vai dormir até amanhã ou até depois, por causa da


heroína. Você não precisa ficar — resmunguei, seguindo para a

porta. — Vamos, Flame.

— Não, você não entende...

— Se você não for comigo, você está demitida. — Minhas

palavras saíram furiosas, nem eu entendia o motivo. O rosto dela


caiu, em choque.

Se Blue queria ficar, esse era um problema dela, não meu.


Mas eu não retiraria minhas palavras.

— Você é inacreditável! — ela gritou, andando para o

corredor.

— Entre outras coisas!


Quando ela voltou, estava com a mochila nos ombros e o

rosto completamente raivoso. Segui-a até o carro e eu dirigi, saindo


de Chicago.

— E se ela usar mais? — Blue questionou quando já


estávamos na estrada há quinze minutos.

— Você não pode salvar sua mãe, Blue. Não é assim que

funciona.

Ela se sentou de lado e me encarou enquanto seus olhos

azuis ainda brilhavam.

— Eu sou a única coisa que restou na vida dela. Eu preciso

tentar...

— E você vai se destruir tentando — falei, rapidamente.

— Não foi justo o que fez. — Ela encarou as mãos no colo.

Não foi. Ela estava certa.

— Você deveria ter chamado aquela Charlie para ir com


você...

— Deveria, mas ela não estava lá, você sim — respondi,


focado na estrada.
— Eu faço o seu tipo? — Sua pergunta me fez apertar o

volante e a encarar. — Quero dizer, eu...

— Meu tipo é aquele que tem uma boceta. Você tem uma,
presumo? — questionei com seriedade.

Se possível, Flame estava realmente pegando fogo.

— Você é tão... Urgh! — ela grunhiu, se virando para a

estrada.

— Quê? Perdeu as palavras? — incitei, diversão nadando em

minhas veias.

Blue me encarou furiosa.

— Explícito. — Ela definiu.

Apertei o botão da garagem do nosso prédio.

— Uau, essa é a primeira vez que alguém me chama assim.


— Eu ri enquanto murmurava.

Segundos depois ouvi pneus derrapando e olhei ao redor.

Puxei minhas armas do porta-luvas e olhei para Blue.

— Calma — resmunguei, mas ela se abaixou e cobriu sua

cabeça.
Ficando rígido, vi os homens baixarem os vidros dos carros.

A chuva de balas começou enquanto o carro do Prince recebia


todas, se mantendo intacto.

— O que... — Blue gritou quando acelerei ao ver o portão

abrir.

O carro voou pelo portão e eu o fechei antes que os filhos da

puta entrassem também.

— Oh meu Deus! — Blue gritou, olhando para mim.

— Ligar para Rocco — grunhi para o carro. No terceiro toque


meu irmão atendeu. — Tentaram me matar agora.

— O quê? — Rocco gritou, e sua voz reverberou pelo carro


enquanto Blue ainda choramingava. — Onde? Estou indo.

— Na entrada do prédio. Porra, eu sabia que morar nessa

merda ia dar errado! — gritei para ninguém em específico.

— Me explica essa porra direito, Matteo! — meu irmão

berrou. Respirei fundo e expliquei devagar o que havia acabado de


acontecer. — Prince. — Rocco socou algo e eu ouvi quando ele

quebrou alguma coisa.

— O quê?
— Eles achavam que era Prince. O carro é dele. Você
entendeu? Merda. — Rocco bateu em uma porta e praguejou.

— Onde está Prince? — questionei enquanto sentia a dor


irradiar do meu peito e fluir pelo meu corpo. — Não o quero em Oak

Park. Deixe-o aí.

— Calma, Matteo. Quero vocês de volta em casa. Essa ideia

foi uma estupidez...

— Não. Eu vou ficar.

— Então, estou chamando o helicóptero. Pouso daqui a vinte

minutos.

Rocco desligou e eu apertei meu punho. Soquei o volante

inúmeras vezes, só parei quando Blue passou pelo câmbio e

envolveu seus braços em mim. O que ela estava fazendo?

Minha mão doía, meu peito parecia que ia explodir e


preocupação enchia a minha mente.

— Calma. Está tudo bem — Blue sussurrou.

Meu coração ainda batia furioso, e pensar no que aconteceu


deixava ainda mais claro que alguém queria matar meu irmão. Isso

estava me deixando insano.


Blue se remexeu em meu colo. O cheiro de morango me
consumiu.

Porra, Flame.

Eu deveria soltá-la, porém continuei tocando no que não era

meu. Deslizei a mão até debaixo da sua bunda e abri minha porta.
Me ergui com ela no colo e andei em direção ao elevador.

— Você está bem? — questionei, sentindo seu corpo tremer

enquanto suas pernas me envolviam e sua cabeça repousava em


meu ombro.

— Não sei. Ainda estou escutando os tiros. — Ela fungou

enquanto eu ficava em silêncio no elevador.

Assim que entramos no apartamento, eu me sentei no sofá e


afastei Blue. Ela cruzou as pernas e fungou novamente. Seus olhos
estavam vermelhos e seu cabelo estava em todas as direções.

Porra, como ela podia ser tão linda?

— Se o carro não fosse... — Blue nem conseguiu terminar.

— Mas ele era, e eu vou matar quem fez isso. — Segurei seu
pulso rígido e me inclinei, olhando dentro dos seus olhos tão azuis

como seu nome.

— Matteo...
Ela não terminou, porque antes que ela tivesse a chance,
empurrei minha boca na sua. Blue segurou meus ombros enquanto
eu lambia seus lábios, pedindo passagem. Quando tive a chance,

suguei sua língua e apertei sua cintura com minhas mãos. Puxei-a
de volta para o meu colo enquanto minha mente me mandava

controlar meu pau e minhas mãos.

Puxei seu cabelo vermelho e mordi sua boca enquanto ela


gemia meu nome de maneira incoerente. Derivei para seu pescoço
e lambi sua pulsação.

— Ah meu Deus! — ela gritou quando nos virei e deitei seu


corpo no sofá.

Seu vestido subiu e eu vi suas coxas brancas e a calcinha

rendada preta. Deslizei a mão e me curvei, beijando seus lábios.

Porra, eu precisava foder essa menina.

Mas meu celular tremeu, me dizendo que não seria hoje.

Blue se afastou e eu suspirei ao fazer o mesmo. Ela puxou

uma almofada para o colo e baixou a cabeça. Tirei o celular do


bolso e atendi Prince. Graças a Deus.

— Você está bem? — Sua preocupação era palpável.


— Sim. Está tudo bem — respondi, passando a mão pelo
cabelo.

Blue se ergueu e andou até sua mochila que estava no chão.

— Você está vindo?

— Sim, o Enzo estava dormindo. Ele está a caminho. Não


fique perto das janelas. Não sabemos de nada, então é melhor se

precaver.

— Eu sei. Vou esperar vocês.

Desliguei o celular e vi Blue mordendo o lábio, ainda sem

conseguir me encarar.
Seus olhos estavam focados em mim e eu quis encará-lo,
mas não conseguia. Estava com medo dos tiros, porém, quando ele
surtou socando o volante, meu corpo reagiu antes que eu pudesse

pensar. Em segundos eu estava em seu colo, abraçando-o como se


ele fosse um menino.

Esperei que ele me afastasse, que dissesse que eu era


louca, mas ele não o fez. Pelo contrário, ele me envolveu como se

eu fosse uma tábua de salvação. E eu continuei agarrada a ele até

aqui. Continuei, porque mesmo que eu quisesse, não conseguiria


descer.

Os tiros ainda estavam sacudindo meus ouvidos. Achei que


eu os ouviria por um longo tempo. Pelos segundos que sua boca
esteve na minha, eu os esqueci. Tudo sumiu ao meu redor, meu

nome, os tiros e o perigo que era beijar esse homem.

— Suba e descanse. — Ele acenou para a escada enquanto

eu mordia o meu lábio. — Flame.

Eu o encarei e senti meu estômago girar. Oh, Senhor. Por

que ele tinha que ser tão bonito? A camisa preta estava agarrada ao

seu peito, enquanto a jaqueta estava sobre seus ombros.

— Eu posso esperar sua família com você. Vou fazer um café

para eles — murmurei, já andando para a cozinha. Matteo não me


impediu e eu agradeci por isso.

Quando cheguei à cozinha, coloquei água na chaleira e a pus

para ferver. Em poucos minutos preparei o café. Escutei o elevador


se abrir e deixei a mesa posta.

— Blue estava com você? — Ouvi Prince questionar.

Apareci na sala e engoli em seco. Uma mulher loira se jogou


nos braços de Matteo e o apertou contra ela como se o pensamento

de o perder fosse demais.

— Oh meu Deus, você está bem mesmo? — Ela fungou

enquanto se afastava e o checava.

— Estou, Si. Eu juro — Matteo falou.


Sienna acenou, limpando as bochechas. A esposa do Rocco
se virou, e quando me encontrou me encarou por alguns segundos.

Fiquei desconfortável, mas passou assim que ela sorriu e se

aproximou.

— Você está bem, querida? — Sienna semicerrou os olhos.

— Sim, obrigada.

— Ela é tão linda — ela falou para os Trevisan, mas estava

me olhando. — Você tem quantos anos?

— Dezenove. — Mordi meu lábio e escutei alguém tossindo.

— Jesus, ela trabalhar aqui não é um crime? — ela


perguntou para Matteo.

— Se for — ele sorriu —, ele é o menor dos crimes que

cometemos. — Sua resposta a fez revirar os olhos.

— Eu fiz café. Posso servir...

— Não, querida, vá dormir — Sienna respondeu, balançando


a cabeça.

— Licença — acenei —, eu vou me retirar — murmurei

devagar e vi os dois irmãos mais velhos de Matteo me encarando.

— Foi um prazer, Sienna.


Ela sorriu e acenou enquanto eu pegava minha mochila velha

e subia a escada com pressa. Me joguei na cama e minha mente


me levou até Matteo me beijando minutos atrás.

Minha calcinha estava úmida e meus seios doíam. Queria


que ele tivesse me tocado. Droga, quem eu queria enganar? Se ele

tivesse ido adiante teríamos transado naquele sofá e eu não teria


negado.

Eu dormi depois de um mundo de pensamentos sujos e

desejos indecentes me perturbarem.

— Bom dia — saudei Sienna assim que ela apareceu, tão

linda quanto ontem.

— Bom dia, Blue. Estou bastante enjoada, nenhuma

novidade. — Ela gemeu ao se sentar à mesa e acariciar a barriga


proeminente antes de se servir de suco. — Cadê todos?

— Quando acordei não tinha ninguém aqui embaixo —

respondi enquanto terminava de arrumar os talheres na mesa. —


Você precisa de mim para mais alguma coisa?
— Sim. — Ela suspirou e acenou para a cadeira ao seu lado.

— Que se sente.

Pensei em recusar, pois eu tinha uma pilha de roupa que


havia chegado da lavanderia para guardar em seus lugares, mas

obedeci. Sienna sorriu contente, então relaxei.

— Lunna vai amar você — ela murmurou, pegando o celular

e ligando para alguém.

— Olá! — A voz feminina soou cansada e preocupada.

Eu fiquei apreensiva na hora.

— Quero apresentá-la para a Blue. — Sienna virou o celular

e lindos olhos azuis se fixaram nos meus. Seu cabelo era preto e
um bebê estava em seu colo, mamando.

— Olá, Blue. Queria conhecê-la desde que Sienna falou

sobre você. — Lunna sorriu.

Suspirei, encantada com o bebê.

— Qual o nome dele?

— Remy. — Lunna sorriu e olhou para o filho. — Você é

muito bonita. Não deixe Matteo ou Prince entrar na sua calça. — Ela
voltou a me encarar e eu arregalei os olhos, sentindo minhas
bochechas pegarem fogo. — Com quem?
— O quê? — gritei, nervosa.

Sienna arregalou os olhos também.

— Oh meu Deus! Foi com Matteo! — ela gritou, enquanto

Lunna sorria largamente. — Graças a Deus. Ele vai se aquietar.

— O quê? Não, vocês entenderam errado...

— Com Prince? — Sienna franziu as sobrancelhas.

— Eu preciso ir. — Engoli em seco. — Desculpa. — Me ergui

rapidamente e me afastei dela, sentindo meu estômago afundar.


Matteo vai pensar que falei algo dele para elas. Ah meu Deus. —

Não comentem nada com Matteo, por favor.

— É claro, querida. Não se preocupe. — Sienna sorriu.

Corri para a escada e passei o restante do dia focada nas

tarefas que eu precisava fazer.

O barulho na porta do meu quarto me despertou. Tentei ficar

parada, mas quando virei o rosto vi Matteo, sem camisa, antes de


sentir suas mãos em meu corpo. Eu gemi quando ele mordeu a
minha bunda e suspirei quando suas mãos grossas separaram as
minhas coxas. Pensei em o afastar, mas quando dedos impiedosos
fincaram em minhas carnes, minha boceta latejou. Oh, droga.

— Oh. — Arqueei quando suas mãos subiram pelas minhas


coxas e seguraram o tecido fino da minha calcinha. Ela foi afastada

antes de eu gritar ao sentir a língua úmida deslizar pelas minhas


dobras. Meu coração rugiu, batendo como um louco, e eu tentei

respirar, mas outro gemido alto ecoou quando lábios sugaram minha
boceta.

— Vamos, Flame, goze.

Meu corpo se acendeu como uma árvore de Natal com seu

comando. Enrolei meus dedos e gozei em seu rosto enquanto


gritava e gemia, completamente incontrolável. Matteo puxou minha

cintura para me virar e eu suspirei, ainda mole. Seus dentes

morderam minhas coxas e eu tremi ao senti-lo subir pelo meu corpo


até o meu top. Matteo puxou o tecido e suas mãos agarraram meus

seios sensíveis.

— Eu amo seus peitos.

Sua voz rouca me fez gemer. Mas quando sua boca brincou

com meus mamilos, eu me perdi.


Matteo empurrou minhas pernas abertas e eu o assisti brincar

com seu pau na entrada da minha vagina. Era tão imundo, mas tão
bom. Ele se tocou furiosamente, e quando gozou jatos de sêmen

atingiram a minha boceta.

Matteo grunhiu ao se libertar e eu o assisti, fascinada,

empurrar seu gozo com os dedos para dentro de mim.

Senti seu corpo já tenso ficar ainda mais rígido. Os olhos


azuis que estavam começando a me enfeitiçar se fecharam como se

estivesse acontecendo uma luta dentro dele. Meu coração quebrou

um pouco quando suas mãos me deixaram.

Matteo se ergueu e eu fiquei em silêncio enquanto o via abrir

a boca e voltar a fechá-la.

— Pode ir — murmurei, depois de alguns segundos.

Matteo passou a mão nos cabelos e respirou fundo.

— Não deveríamos...

— É só sair — pedi, indicando a porta.

Quando ele saiu, eu senti dor em lugares que eu

desconhecia. O frio envolveu minha barriga e eu me curvei na cama.

O que eu havia feito? Por que ele reagiu assim? Ele não

queria? Eu não conseguia entender. E eu queria muito.


Fui para o banheiro e levei meu tempo tomando banho.

Coloquei outra roupa e me deitei, fechando os olhos com força,

querendo dormir, mas não consegui. Não queria chorar, mas logo as
lágrimas encheram meus olhos.

Queria entender o que aconteceu, mas eu não entendia.

Peguei meu celular e liguei para Raina. Quando ela atendeu,

eu ouvi seu soluço na linha. Podia apostar trezentos dólares que ela

também ouviu o meu.

— O que ele fez? — perguntamos juntas.

— Fale primeiro — pedi, tentando me controlar.

Raina respirou fundo.

— Ele me deixou. Pedi que me escolhesse à noiva e ele me


deixou. — Suas palavras eram tão cruas quanto o choro em sua

voz.

— Sinto muito, Raina. Tenho certeza de que Travis voltará

rastejando — murmurei com firmeza antes de ela choramingar.

— Espero que sim, droga, porque eu não posso viver sem


ele. — Raina respirou fundo. — Agora, conte o que aquele pedaço

de lixo fez com você.


— Quase perdi minha virgindade com Matteo, mas ele surtou

e me deixou sozinha...

— Ah, querida, sinto muito — Raina resmungou. Ouvi

farfalhar de tecido do outro lado da linha. — Você quer vir para a


minha casa? Podemos ficar juntas tomando sorvete e assistindo a

filmes ruins — ela ofereceu, suspirando.

— Não tenho um carro, lembra? — constatei devagar antes


de ponderar. — Mas posso chamar um Uber. Te aviso quando eu

estiver dentro do carro.

Nós desligamos. Eu troquei de roupa e escolhi um casaco,

porque estava bastante frio. Peguei um pijama, meu carregador e

saí do quarto. Quando desci a escada não vi ninguém. Chamei o

elevador enquanto entrava no aplicativo de viagens.

— Que porra você acha que está fazendo?

A voz de Matteo me fez pular. Me virei e o encontrei

descendo a escada, apenas com uma calça escura.

— Raina. Eu vou para a casa dela... — respondi, apertando o


botão mais uma vez.

— Nem fodendo. Volte para o seu quarto!

Sua voz autoritária me deixou confusa e alerta.


— Não sou sua filha, e já falei que fora do meu horário de

trabalho eu posso ir e vir a hora que eu quiser... — afirmei, irritada,

enquanto ele atravessava a sala e chegava até mim.

— Você não vai sair daqui. — Ele segurou meu braço e eu

tentei sair do seu domínio, mas só piorou. Seu braço envolveu

minha cintura e ele me puxou contra si. — Está tarde, não vou
deixar você sair, Blue.

— Como se você se preocupasse!

Matteo me ergueu do chão e me colocou sobre o seu ombro.

Ele andou para a escada e eu bati em suas costas.

— Matteo, me põe no chão! — gritei, assustada, antes de

ouvir uma porta abrir.

— Que merda... — Prince murmurou, mas eu não conseguia


vê-lo.

— Prince, me ajude! — implorei, enquanto Matteo continuava


seu percurso.

— Fique fora do meu caminho — Matteo grunhiu.

Arranhei suas costas. Assim que uma porta se fechou, ele me

jogou sobre a cama enquanto eu lutava para respirar.

— Você não pode fazer isso comigo! — gritei, furiosa.


Matteo se aproximou, subindo na cama e ficando sobre meu

corpo.

— Eu posso fazer o que eu quiser, Flame, e você sabe disso.

— Matteo se inclinou e sua boca deslizou pelo meu pescoço até

meu peito.

Sua sentença me deixou com a boca aberta. Matteo mordeu

meu mamilo e se afastou. Ele fechou a porta e eu olhei ao redor,


vendo que estávamos em seu quarto, não no meu.

— Matteo...

— Silêncio. Vamos dormir.

Ele puxou minha calça jeans e se deitou ao meu lado. Meu


peito bateu descompassado quando seu braço ficou sobre mim e

sua palma aberta contra minha barriga.

— Boa noite, Flame.

Fechei meus olhos, lutando contra a minha língua. E antes do

que eu achava possível, adormeci.


— Matteo! — Uma mão empurrou meu ombro e eu abri
minhas pálpebras, encontrando um anjo vermelho possesso me
encarando.

Porra, Flame.

— O quê? — grunhi, puxando meu travesseiro para cobrir

meu rosto.

— Onde está a chave? — Blue gritou enquanto revirava os

meus bolsos.

— Que horas são? — perguntei ao me virar e ver seu cabelo

solto brilhando com a luz do sol. Merda, as mechas eram como


chamas dançando ao seu redor. Perfeita.
— Seis. Eu preciso começar a trabalhar. Onde está a chave?

— ela explicou.

Envolvi meu braço em sua cintura e a puxei de volta para a

cama.

— Nem fodendo vamos nos levantar às seis — afirmei,

cheirando seu cabelo. Blue se afastou até ficar de pé. Eu ainda

estava sonolento, por isso que não me mexi até escutar a porta se
abrindo. — Blue! — gritei, mas ela já não estava no quarto.

Eu quis me erguer, mas seis horas ainda era madrugada, e


eu não consegui.

Duas horas depois encontrei o café da manhã servido, mas

Blue havia sumido.

— Bom dia, Fred Flintstone. — Prince apareceu com a cara

amassada. Franzi as sobrancelhas enquanto pegava bacon e ovos.

— O desenho lá do tempo das cavernas onde o homem colocava a

mulher no ombro...

— Vá se foder — mandei, irritado.


Ele somente ergueu as mãos. Nós comemos em silêncio, e
quando terminamos Prince me encarou.

— Você está bem? — questionei, preocupado. Desde

anteontem estávamos procurando as pessoas que atiraram em seu

carro com Blue e eu dentro.

Rocco já estava rastreando um dos carros, era questão de


tempo para termos um nome.

— Sim. — Prince engoliu o suco e me encarou. — Sabemos

que foram os Zenduryc. E eu vou enfiar minha arma no rabo do que

tentou matar você.

— Não sei se fico lisonjeado. — Nós rimos.

No dia seguinte, eu e Prince fomos convocados por Sienna


para uma festa beneficente ou alguma merda assim. Infelizmente,

agora todo mundo queria os Trevisan socados em algum lugar.

O medo faz isso.

Apertei a gravata e suspirei ao olhar para Prince do outro

lado do salão conversando com alguns caras. Vi Travis se aproximar


com Kiara ao seu lado, tão bonita quanto eu me lembrava. Seus

cabelos eram pretos e seu rosto parecia de uma boneca.

— Matteo, como vai? — ela perguntou, sorrindo.

— Estou bem. — Acenei. — O casamento está chegando.


Ansiosos? — questionei, apenas para fazer Travis ficar puto. Seus
olhos semicerraram e Kiara sorriu radiante.

— Sim, bastante. Travis disse que será o padrinho dele — ela

comentou, olhando entre nós.

— Sim, sim.

Passei os olhos na multidão e suspirei ao ver Blue com

Sienna. Eu não fazia ideia do motivo da minha cunhada estar tão


apaixonada por Blue, mas ela estava. Sienna havia convidado Blue

para a festa hoje de manhã, quando nos visitou.

Flame estava com um vestido azul-claro que apertava em


todos os lugares certos e alcançava o topo dos seus joelhos. Eu
queria levantar seu vestido e a foder. Porra, como eu queria. Seu

cabelo ruivo estava solto e em ondas. Me imaginei segurando os


fios e puxando-a para mim.

Santo inferno, eu estava fodido.


— Você ouviu alguma coisa que Kiara falou? — Meu amigo

tocou meu ombro.

Desviei os olhos de Flame e voltei para ele.

— Não — respondi, com firmeza.

Kiara ficou sem graça, mas eu não me desculpei. Os dois

saíram de perto de mim e Prince se aproximou com a minha família.


Incluindo Blue.

— Di Castellani — Rocco murmurou, me fazendo erguer

minha taça e bebericar o líquido doce. Encarei o homem de meia-


idade, mas que em nada dizia ter a idade que tinha.

Gideon cumprimentou todos com um aperto de mão, e


quando chegou a minha vez eu vi Charlie ao seu lado ficar rígida.

Ela nunca soube disfarçar. Essa era uma das coisas que eu

detestava nela. Porra, se você quer fazer seu marido de idiota, faça
direito.

— Como andam os negócios? — Romeo engrenou na


conversa.

Sienna começou a falar com Charlie. Lembrei-me de Blue,

então me virei e vi seus olhos arregalados e sua boca aberta.


Flame me encarou e nojo cobriu suas feições. Eu não a
recriminava.

Já dormi com a maioria das mulheres nesse salão, e todas


elas tinham marido.

Quando Charlie e seu marido se afastaram, Sienna me

encarou como todos.

— Isso é sério? — Sua voz era enojada. — Você dorme com

essa mulher?

Rocco colocou a mão na coluna da esposa, tentando conter


seu surto.

— Entre outras coisas. — murmurei, honesto.

— Cara, cala a boca. — Romeo pediu virando o copo.

Sienna revirou os olhos e foi cumprimentar outra pessoa com


Rocco ao seu lado. Aproveitei a deixa e me aproximei de Blue. Ela

ficou rígida quando segurei seu braço e a guiei para longe.

— Matteo, você está fazendo uma cena estúpida — ela

grunhiu furiosamente enquanto andávamos entre as pessoas.

— Se você ficar relaxada e sorrir, não vai ser uma cena —


argumentei.
Ela seguiu meus comandos e logo atravessamos o salão.
Abri a porta da biblioteca da mansão e soltei Flame.

— O que está fazendo? — questionei quando ela me


empurrou.

— Não se aproxime de mim! — Ela me tirou da sua frente e

abriu a porta. Eu quis pegá-la de volta, mas não o fiz.

Eu não sabia o que diabos estava acontecendo comigo, mas


Blue tinha tudo a ver com essa merda. Tocar nela mexeu comigo de

uma maneira errada.

Blue não era apenas uma menina que eu foderia, ela


trabalhava para mim.

Por isso, eu a deixei ir.

Dias depois, cheguei a minha casa e fui direto para o

banheiro. Quando saí, me vesti e parei diante do seu quarto. Porém,

ficou claro que ela não queria falar comigo quando bati inúmeras

vezes à sua porta e ela não abriu. Blue não havia falado comigo
desde o dia da festa, e eu tentei pra caralho.
As lembranças da noite em que a toquei atacaram minha

mente e eu suspirei. Senti meu pau dar o ar da graça assim que me


lembrei das minhas mãos em seu corpo. Merda.

— Flame, dá pra abrir essa droga? — gritei, socando a


madeira. — Eu vou arrombar — avisei, gritando, mas nada

aconteceu. Chutei a porta duas vezes até ela romper.

Procurei Blue pelo quarto e banheiro até constatar que ela


não estava aqui.

Onde diabos ela tinha ido?

Desci a escada e Prince apareceu, já pronto para a nossa

inauguração. O Date abriria hoje para corridas e seria um evento.

Eu só queria saber onde Blue se enfiou antes de sair.

— Vamos? — ele chamou, indo para o elevador.

— Sim.

Assim que nós chegamos ao Date, eu vi Raina. Procurei Blue

ao seu redor, mas ela não estava. Vi Travis se aproximar e seu


semblante de merda continuava o mesmo de dias atrás. Desde que

havia deixado Raina, ele estava com um humor do cão.

— Você viu a Blue? — questionei, sabendo que seus olhos

estavam treinados sobre Raina, e se Blue estivesse aqui estaria na


companhia da amiga.

— Sim, está com Raina e dois idiotas.

Que merda? Cerrei meu punho, mas deixei para lidar com

Blue depois. As primeiras corridas foram fodas, as pessoas estavam

eufóricas. A quantidade de dinheiro que estava entrando era


quilométrica e eu queria mais.

— Sucesso, porra! — Prince me olhou, balançando o

dinheiro.

Sorri e dei de ombros.

— Volto já — Travis murmurou antes de caminhar em direção

a Raina. Blue estava com ela dessa vez. Observei-a rir e vi um cara

próximo a ela.

— Calma, Fred. — Prince segurou meu ombro, então percebi

que eu estava me movendo.

— Você sabe quem é aquele idiota? — questionei a Prince,

mas ele negou.

— Foco. A última corrida vai começar e você pode pegar


Blue. — Meu irmão se virou para a pista e eu fiz o mesmo.

Quando a corrida terminou, eu entrei em um dos carros e


apostei alto em mim. Sim, eu era um bastardo.
— Você tem certeza? — Prince semicerrou os olhos, só dei

de ombros.

Oak Park era minha e eu faria o que quisesse aqui dentro.

Uma menina andou até a pista e sorriu para mim. Eu sorri de

volta e acelerei quando ela deu a largada. Meu sangue bombeava

pelo meu corpo e eu tremi com a sensação enlouquecedora de estar

no controle. Sempre foi atrás do volante que eu me encontrava.

— Filho da puta! — Prince gritou assim que cheguei em

primeiro lugar.

Nós comemoramos e eu me virei para trás. O olhar de Blue

estava preso em mim, por isso andei em sua direção. Ela engoliu

em seco enquanto encarava Raina e falava algo.

— Blue, você está fugindo de mim? — perguntei, encarando

Flame e o imbecil que a fazia rir momentos atrás. — Matteo


Trevisan. Quem é você? — Estendi a mão e o homem arregalou os

olhos ao ouvir meu sobrenome. Bom, filho da puta, porque eu sou

capaz de arrancar seus dentes.

— Ninguém. A gente já está indo — o amigo dele falou e

ambos saíram, deixando Blue e Raina sozinhas comigo.


— Não, eu não estou fugindo de você. Eu não sou o diabo e

você não é a cruz. Porém, nós sabemos quem está mais próximo de

ser o capiroto, certo?

— Aí que você se engana, Flame. — Me inclinei, segurando

seu cabelo na base do seu pescoço e ela me encarou. — Não estou

perto de ser. Eu sou o diabo.

Blue se afastou rapidamente, me fazendo sorrir.

— Vamos comemorar a inauguração. — Prince chegou com


um champanhe.

Eu o encarei e vi o baseado em seus lábios.

— Parabéns! — Raina pegou uma taça cheia e virou,

batendo-a na mesa a sua frente. — Nós já estamos de saída.

— Ray — Travis a chamou e ela o encarou.

— Não fode, Travis, eu não sou a porra do seu balde para


você jogar e ir buscar quando sente vontade. Vá se casar com a sua

puritana e deixe a puta aqui para quem quiser.

— Não fale essa merda! — ele gritou, mas Raina já estava


puxando Blue para a saída.

— Ei, não tão rápido — falei, segurando o braço de Blue.


Raina bufou e seguiu sozinha. — Você quer brincar comigo, Flame?
— Para com isso, Matteo. — Ela bateu em minha mão e

tentou se soltar. Era inútil. — O que diabos você está fazendo? —


Blue me encarou antes de olhar ao redor. As pessoas estavam nos

encarando, vendo o show.

— O que foi, porra? — gritei para a suposta plateia e todos


desviaram o rosto rapidamente. — Isso, caralho, foquem suas

atenções nas vidas de merda que vocês têm.

— Matteo — Blue grunhiu, tentando se soltar.

— Vamos para casa...

— Vou ficar com Raina hoje...

— Nem fodendo — falei firmemente e a levei para fora do


Date.

Raina estava ali perto com Travis, e os gritos não eram

bonitos.

— Por que você está fazendo isso? — Blue perguntou,

trêmula, quando segurei sua cabeça entre minhas mãos.

— Você queria estar com aquele filho da puta, Flame? —

Minha pergunta a fez me encarar com as sobrancelhas juntas. —

Você acha que pode?

— Não sou sua, Matteo. Pare com isso...


— Foi você que escolheu isso, Flame. Não foi uma escolha
minha. — Puxei seu corpo contra o meu e a empurrei contra a

parede de tijolos, prendendo-a com meus braços.

— Eu achei que seria descomplicado, mas você... o que você

está fazendo? — ela perguntou, confusa.

— Vamos para casa. — Descansei minha testa contra a sua.

— Lá não é minha casa! — ela gritou.

Quando vi suas lágrimas, fiquei rígido e me afastei devagar

enquanto ouvia o barulho de música vindo do bar.

O que eu estava fazendo?

— Vai embora. — Rígido, acenei para Raina.

Blue ficou parada me olhando e suspirou. Ela cruzou os

braços e ergueu o queixo enquanto as lágrimas ainda brilhavam em


seus olhos.

— Onde está Charlie? — Sua pergunta soou tão ciumenta,


que eu realmente quis dizer que iria pegar Charlie, mas não o fiz.

Não sei por quê.

— Não sei, Flame.


— Ela é casada, Matteo. — Seu rosto se retorceu. — Qual é
o seu problema? — Suas palavras eram recheadas de nojo. — Você
gosta disso? Faz isso com frequência?

— Que merda, Blue? — gritei, apertando seus pulsos.

— Onde está ela, aliás? Por que não liga para ela e vocês
vão foder nas costas do marido dela? — Seu queixo se projetou
para cima e eu quis sacudir seus ombros.

— Eu estou chamando-a para ir para casa? — gritei, me


sentindo um lixo.

Porra. Por que eu estava encurralando Flame? Que merda

era essa?

— Você é impossível.

— Foda-se, Blue. Vai embora.

Ela foi.

E eu não a vi por dias.


Minha mãe passou três dias questionando por que eu estava
em casa e não em Oak Park trabalhando. Eu ignorei seus
questionamentos. Eu estava irritada comigo mesma e

decepcionada. O que eu fiz? Meus olhos arderam com lágrimas


quando vi o dinheiro na minha conta. Matteo havia transferido mais

de vinte mil dólares.

Funguei e disquei seu número enquanto apertava meus

dedos contra meus olhos.

Eu ainda não podia acreditar que Charlie era casada. Que

Matteo e ela ficavam escondidos do marido dela. Eu sentia nojo só

de me lembrar.
— Matteo — ele respondeu com rispidez.

O que havia acontecido conosco? Por que brigamos? Cristo,

por que eu o havia deixado me tocar daquela maneira? Foi uma

estupidez minha, e agora eu havia perdido meu emprego.

— Você está me despedindo? — questionei, tentando

controlar a emoção em minha voz.

— Por que a pergunta? — Sua questão soou sem paciência.

— Você transferiu vinte mil dólares para a minha conta —

expliquei.

— É o seu salário.

O.k. Meu salário. Piada dos infernos.

— Eu não vou há três dias, Matteo — lembrei-o, virando na

cama e fechando os olhos.

— Você quer pedir demissão? Se for, vou avisar quem lida


com isso.

Ouvi um barulho ao fundo e engoli em seco. Onde ele

estava?

— Não. Não quero — respondi, por fim. — Chego aí em uma

hora.
— O.k.

E desligou.

Eu precisava ficar longe de Matteo. Ele era meu patrão e

esse era um bom motivo para não haver nenhum envolvimento

entre nós, se já não tivesse um ótimo motivo — Matteo era um

mafioso. Um homem perigoso que não gostava de ser contrariado.


Eu precisava me afastar. A partir daquele momento, eu evitaria estar

com ele. Era melhor assim.

Eu não sabia o motivo da dor que irradiou pelo meu coração,

e era melhor não saber.

Assim que entrei no prédio, Aaron sorriu para mim e eu o

cumprimentei.

— Você estava doente? — ele perguntou, rindo, enquanto me

entregava a correspondência dos meninos.

— Algo assim.

Até parece. Doente? Só se for de vergonha.

Subi para o apartamento e encontrei o lugar todo bagunçado.


Caixas de pizza nas mesas e algumas garrafas de refrigerante. Meu
Deus.

— Merda. Bem-vinda de volta, Blue. — A voz de Prince

chegou a mim e eu o vi descer a escada. Uma menina estava ao

seu lado com o cabelo desgrenhado preso em um coque feito às


pressas.

Ela era loira e mais alta que eu alguns centímetros. Ela

passou andando rápido e sumiu no elevador. Me virei para Prince e


ergui as sobrancelhas.

— Ela.. Ah, eu não... — ele começou a coçar a cabeça. —


Ela estava com Matteo. — Prince entregou o irmão, fazendo uma

careta.

— O.k. — murmurei lentamente enquanto tentava me lembrar


de como andar.

Meu peito estava dolorido e eu detestei sentir isso.

Por favor, coração, não faça isso.

— Vou deixar a minha mochila no quarto e desço para


começar a arrumar essa bagunça — falei, tentando não encarar

Prince para que ele não visse que suas palavras me magoaram.

— Eu ajudo...

— Não. Não precisa — interrompi, andando rapidamente.


Voltei do quarto em tempo recorde e comecei a limpar tudo.

Quando terminei a sala, fui para a cozinha e preparei o almoço. Já


era tarde, então eu apostava que eles já haviam tomado café.

Assim que finalizei a parte de baixo fui para os quartos. O

meu estava arrumado, já que eu não dormi nele, mas o do Prince


era um terror. Meus dedos tocaram em uma trouxa na sua cômoda e
eu suspirei ao ver a maconha. Nas vezes em que estive no Date, eu

o vi com um baseado na boca. Em casa não, mas realmente nunca


prestei atenção.

Deixei o pacote no mesmo lugar e finalizei a limpeza. Quando

cheguei ao quarto do Matteo, tentei focar na limpeza, mas minha


mente me levou a imaginá-lo com a moça que eu vi saindo do
apartamento. Nem percebi que estava parada até ver meu reflexo

em um dos espelhos.

Meu Deus, Blue.

Troquei seus lençóis e coloquei na pilha de roupa suja com


as do Prince. A lavanderia passaria para pegar em breve. Quando
terminei, entrei em seu closet para arrumar e me peguei segurando

uma das suas camisetas entre os dedos. Levei-a ao nariz e inspirei,


sentindo o cheiro fresco de hortelã.
— Pare com isso, Blue. Você vai se machucar e sabe disso
— murmurei para mim mesma e saí do quarto.

Uma semana depois eu ainda não havia visto Matteo.

Quando eu acordava, ele já não estava na cama, e quando eu ia


dormir ouvia apenas seus passos. Eu estava cansada de tentar ver

seu rosto.

No almoço, não era uma surpresa ver apenas Prince à mesa.

— Eu preciso ir ao campus — avisei a ele enquanto levava

uma garfada da salada à boca.

— Eu te levo lá. — Sua oferta era apreciada, porque eu não


sabia qual ônibus pegar.

— Obrigada.

— Mas antes me conte uma coisa. Qual seu curso? — Prince


ergueu a sobrancelha.

Comecei a falar sobre minha profissão com entusiasmo e

paixão.

Desde criança, eu sabia que queria ajudar as pessoas a

ultrapassarem suas privações. Meu sonho era ver alguém


recuperado com a minha ajuda.

Estávamos saindo da garagem do prédio depois das duas da

tarde, quando Prince encarou, por trás dos óculos estilo aviador que
descansavam em seu rosto, o carro preto estacionado no meio-fio.

— Merda. — Ele manobrou o carro e pisou no acelerador,

voando pela via.

Meu coração bateu descompassado quando olhei para trás e


vi que estávamos sendo seguidos. Me virei e olhei para Prince.

— São os mesmos? — questionei, tremendo.

— Sim. — Ele me encarou, tenso. — Vou tentar dirigir para

casa. É o único lugar seguro...

Acenei enquanto o carro deslizava pela pista. Apertei meu

cinto de segurança e vi Prince ligando para alguém.

— Estão me seguindo — ele resmungou, segurando o


volante com força.

— Onde está? — A voz de um homem estalou, imaginei que


fosse Romeo, seu outro irmão.

— Saindo de Oak Park. Eles vão começar a atirar. — Prince

gritou enquanto olhava pelo retrovisor, então me abaixei


instintivamente.
— Calma. Vamos pegar esses desgraçados.

A linha ficou muda e Prince continuou dirigindo. O barulho

dos tiros começou a soar e eu fechei meus olhos, apavorada.

Pensei em meu pai e o quão puto ele ficaria se eu fosse morta em


um confronto entre homens tão perigosos.

— Vai ficar tudo bem, Blue — Prince murmurou para mim, só

então percebi que estava soluçando quando ele tocou minhas


costas.

O trajeto que levaria quase meia hora, foi feito em dez


minutos. Prince derrapou na avenida de Chicago e eu vi carros

amontoados. Um fuzil estava nas mãos de dois homens e vi Rocco,

Romeo e Matteo também com armas.

O carro parou e Prince apertou o meu joelho.

— Ei, tudo bem. — O irmão do Matteo me puxou para os


seus braços, então solucei em seu peito, morrendo de medo. —

Estamos bem.

— Eu sinto muito — murmurei sobre os soluços.

Prince sorriu e limpou a minha bochecha.

Os disparos começaram e cessaram rapidamente. Quando

Prince saiu do carro, eu continuei onde estava, com muito medo de


ser pega. Me virei e vi o carro que nos seguia parado e os homens

fora com as mãos na cabeça. Jesus Cristo.

— Vamos para a mansão da minha família, à noite voltamos


para Oak Park.

— Por quê? — perguntei a Prince quando ele entrou e fechou


a porta.

— Vamos conversar com aqueles filhos da puta.

Respirei fundo com o olhar no rosto dele. Conversar seria a

última coisa que fariam, presumi ao encará-lo.

Prince estacionou minutos depois, e eu só saí do carro

quando ele abriu a porta. Vi Romeo adiante com Rocco, então

procurei por Matteo ao redor, logo ele saiu do seu carro. Ele estava

sem camisa, apenas com uma calça baixa.

— Ele está puto porque você estava comigo, então apenas

relaxe, o.k.? — Prince avisou enquanto me guiava para dentro da


mansão.

Meu peito apertou quando Matteo nem mesmo me olhou.

O que diabos eu havia feito para merecer isso?

Sienna apareceu na escada, mas o cachorro enorme ao seu


lado me fez parar de andar.
— Oh, Blue! Você está bem? — Ela se aproximou e mandou

o cachorro ficar. — Está ficando corriqueiro. — Sienna me abraçou e


eu devolvi o gesto. Limpei meu rosto e me afastei para encará-la. —

Desculpe, não quis soar...

— Está tudo bem. Eu sou um imã para coisas horríveis, pelo

visto — falei, lutando contra as lágrimas, então ela me abraçou

novamente com mais força.

— Eu imagino seu medo. Vamos subir, Lunna está aqui com

Remy.

Enquanto ela me guiava escada acima, olhei para trás e vi

Matteo encarando Prince.

Assim que chegamos a um quarto iluminado, vi Remy. Ele


estava na cama, brincando com suas mãos. Relaxei e sorri ao ver

Lunna sorrindo ao lado dele.

— Ei. — Sentei-me na poltrona, ainda sorrindo.

— Blue, você está bem? Sienna me contou que estava com

Matteo aquele dia, e hoje com Prince. Sinto muito. — Ela pegou
Remy da cama e o embalou nos braços.

— Sim, fiquei muito assustada, mas estou bem — falei


devagar e ela me olhou com simpatia.
Sienna e Lunna ficaram comigo por horas, e quando

anoiteceu eu já estava preocupada. Haviam pedido pizza e eu comi

duas fatias com as cunhadas de Prince.

— Será que eles estão prontos para ir? — questionei,

mordendo meu lábio.

— Rocco está subindo. Vá encontrar com eles lá embaixo. —

Sienna sorriu e eu encarei sua barriga redondinha.

— Você já sabe o sexo? — perguntei, me erguendo.

— São dois homens. — Ela sorriu. — Amo e Rhett. — Sienna

acariciou a barriga e eu arregalei os olhos. — É isso aí! São


gêmeos.

— Nossa, desejo uma gestação esplêndida a você — falei

com firmeza.

Quando ela me convidou para aquela festa eu tentei recusar,

mas Lunna me enviou uma mensagem pedindo que eu


acompanhasse a sua cunhada, já que ela não poderia ir por causa

de Remy.

Me arrependi de ceder quando vi Matteo com Charlie.

Me despedi dela e saí do quarto. Lunna já havia ido para

casa há alguns minutos, com Romeo e seu bebê. Eu estava


apaixonada pelo garoto, porém, não pedi para pegá-lo, pois estava

com medo. Ele era tão pequeno.

Quando desci a escada escutei um grito, então andei para

uma sala ao lado. Assim que entrei vi Travis, Matteo e Prince

jogando videogame.

— Prince — chamei e ele ergueu a cabeça. — Eu vou para

casa. Amanhã chego cedo no apartamento, prometo...

— Vou pegar uma bebida. — Travis saiu da sala.

Franzi a testa ao ver um bar ali ao lado.

— Esqueci meu celular no quarto, espera um minuto. —

Prince se ergueu.

Quando abri a boca para falar algo, ele já havia sumido.

— Estou indo — avisei a Matteo antes de caminhar para a


porta com pressa.

Ele não me impediu.

Disquei o número da Raina e mordi meu lábio.

— Você está bem? — Sua voz soou e eu suspirei aliviada.

— Você pode vir me buscar na casa do Matteo? Em Chicago

— pedi, sentindo minha garganta apertar.


— Estou perto. Chego em cinco minutos.

— Obrigada. — Desliguei a chamada e olhei para a fonte na

entrada da casa.

O leão estava com a boca aberta e a água jorrava por ela. A

construção era linda, porém perturbadora.

— Vamos para o Village.

A voz de Matteo soou e eu ouvi Travis responder algo.

— Quer carona, Blue? — Prince apareceu na minha linha de

visão e eu neguei, abraçando meu próprio corpo.

— Raina está vindo. — Com isso, ele acenou e se

aproximou.

— Você está bem mesmo, não é?

— Sim... — Parei de falar quando Raina estacionou. —

Tchau. Te vejo amanhã.

Prince se afastou enquanto eu andava para a porta do carro,


então a abri e entrei. Minha amiga ficou rígida quando Travis passou

dirigindo.

— Ei, tudo bem? — perguntei, apertando sua mão.

— Sim, e você? Fiquei sabendo dos tiros. Que loucura.


Nem me fale.

— Para onde você está indo? — questionei quando ela virou


na avenida que levava ao Village e não para a minha casa.

— Andy está com problemas e me ligou. Sairemos rápido,

prometo — ela murmurou com firmeza e eu suspirei.

A boate estava lotada. Hoje era folga de Raina e por isso ela
me resgatou. Ela me puxou pela mão e eu me espremi entre as

pessoas. Quando chegamos ao bar, vimos a Andy.

— Vanessa quebrou a porra da perna e Amanda está... você


não vai acreditar... — Andy gritou acima da música enquanto

andava para uma porta e nos enfiava dentro. — Grávida! Aquela


estúpida. Jesus, quem engravida por acidente hoje?

— Mas ela não veio por isso ou está passando mal? — Raina
questionou, preocupada.

Andy esfregou os dedos nas têmporas.

— Passando mal. Você precisa cobrir Vanessa. E você —


Andy apontou para mim e respirou fundo — você vai dançar. Eu vou

pagar mil dólares, e você vai ganhar uns cinco quando eles a virem.

— Andy, ela não está nisso. Eu fico no lugar da Vanessa.


— Sem sexo. Travis ainda paga por isso. Não se preocupe —
Andy falou, fazendo Raina ficar rígida.

— Com sexo — minha amiga falou com firmeza.

— Raina. — Eu a encarei.

— Foda-se. Ele não vai controlar isso. — Raina me olhou e


meus ombros cederam quando vi a certeza em seu olhar.

— E você? Vai me ajudar?

Ponderei seu pedido por alguns segundos e decidi recusar,


mas pensei melhor e cheguei à conclusão que poderia muito bem
aceitar. Foda-se. Eu podia dançar na merda do poste.

— O.k. Se mexam e vistam-se.

Com o coração batendo na garganta, eu segui Raina para os


bastidores. Ela pegou duas roupas e colocou diante do meu rosto.
Escolhi uma e ela sorriu ao me puxar para a cadeira.

— Você vai ficar linda.

Eu estava com medo disso, mas mesmo assim a deixei me


montar como se eu fosse sua boneca. Quando ela terminou, eu me

virei e suspirei. Caramba.


Prince fumou a merda dele diante de mim e eu tentei não o
encarar como se quisesse chutar sua bunda. O que ele estava
fazendo com a Blue? A questão me atormentou por horas, mas eu

não iria perguntar.

Primeiro, eu estava dando um tempo de olhar para aquela

garota.

Segundo, meu irmão queria que eu perguntasse.

Nem fodendo.

— Que caralho... — Travis berrou ao meu lado, então segui

seu olhar.
Raina havia acabado de descer do palco e estava levando

um cara para a parte dos quartos da boate. Travis pagava para que
ela não trepasse com outros homens. Ele seguiu o casal enquanto

eu escutava uma música lenta começar e via as luzes baixarem. Eu

contava nos dedos de uma mão as mulheres do Village com quem


já fiquei, porque elas realmente não eram interessantes para mim,

mas algo me fez girar.

A luz focou nas pernas claras e depois subiu até focar nos

seios grandes empurrando o sutiã branco. O conjunto era indecente,

mas as asas de anjo em suas costas me fizeram semicerrar os

olhos. Quando o cabelo ruivo apareceu, o sangue foi para o meu


pau e eu encarei seu rosto. Ela estava sem máscara e com os olhos
fechados.

Lembrei-me da primeira vez que a vi. Nesse mesmo palco,

dançando essa mesma música. Deus, eu vou estrangular essa

garota. Olhei ao redor e apertei meu copo ao ver cada maldito com

a atenção fixa nela. Vários jogavam dinheiro nela e outros faziam fila

na frente da Andy, pedindo para fodê-la.

Eu assisti a sua dança com tanta fúria, que o copo se

quebrou entre meus dedos. Quando a luz se apagou, eu marchei

até Andy e a encarei.


— Quero ela no três agora. E isso não é um pedido —
ordenei, gritando.

A mulher arregalou os olhos, porém acenou freneticamente.

Entrei no quarto com lençóis vermelhos e me servi de uísque.

Quando a porta se abriu, eu me sentei e encarei Blue. Seus olhos

azuis estavam nervosos e seu corpo estava coberto pelo casaco


grosso que usava quando a vi descer do carro do Prince mais cedo.

— Matteo...

— Que porra é essa? — Ergui o queixo em direção ao palco.

— Andy pediu, porque uma das meninas não pôde vir...

— E você apenas sobe lá e dança para dezenas de filhos da

puta? — perguntei, furioso.

— Não ouse. Eu faço o que eu quiser — ela afirmou,

empurrando os ombros para trás. — Você não fala comigo há dias.

Hoje, eu quase fui morta com seu irmão, e você nem mesmo olhou
para mim...

— Se aproxime.

— Não. — Blue ficou tensa e eu me ergui. Ela deu passos

para trás até eu a encurralar. — Matteo...


— Não? — questionei, deslizando a mão pela gola do seu

casaco. Eu o abri e vi o sutiã de antes. Tirei o casaco enquanto Blue


tentava segurá-lo. — Você é minha, Flame.

— Não sou. Eu não sou sua, Matteo! — ela gritou em meu


rosto enquanto eu tocava suas costas. Abri o sutiã e Blue segurou a

frente para que ele não caísse. — O que você está fazendo?

— Solte.

— Não.

Eu puxei seus braços e arranquei o sutiã. Blue gritou quando


ergui seus braços e a prendi contra a parede. Seus mamilos rosa
fizeram minha boca encher de água.

— Me peça para sugar — falei com a voz rouca, mas Blue

balançou a cabeça. — Flame.

— Eu quero sair, Matteo.

— Sério? — questionei e toquei a calcinha pequena e branca.

Ri quando senti a umidade. — Sua boceta quer outra coisa.

— Miserável! — Blue gritou, com as bochechas pegando


fogo, como seus cabelos.

Sorri e me inclinei.
— Peça, Blue, você sabe que quer — sussurrei na sua orelha

e lambi o lóbulo, fazendo-a gemer. Ela parou assim que percebeu o


que fazia. — E eu quero lamber você. Seus mamilos, sua boceta,

porra, até sua bunda. Você só precisa pedir e eu te darei.

— Peça você — Blue falou e eu me afastei. — Tanto quanto


minha boceta quer você, seu pau também a deseja, então, por que
você não pede, Matteo? — Suas palavras foram firmes, e eu a

admirei. Porra, como admirei. Porque Flame estava certa. Meu pau
desejava sua boceta.

— Eu posso lamber sua boceta, Flame? — Me inclinei e

lambi seu pescoço. — Posso sugar e morder seus mamilos?

Me afastei, e quando olhei para o seu rosto soube que ela

estava lutando.

— Apenas meus mamilos e você vai me deixar ir — Blue


negociou.

Sorri e mordi meus lábios.

— Como quiser, Flame.

Me curvei e assoprei os montes rijos. Blue estremeceu e


juntou as coxas.

— Mordo, lambo ou sugo?


— Os três. — Sua voz falhou.

Deslizei minha língua sobre o ponto rosa e Blue gemeu. Fiz o

mesmo no outro seio e ela pulou, fazendo os dois balançarem.


Apertei o esquerdo entre os dedos e suguei o direito enquanto ainda

segurava os braços dela contra a parede.

— Oh, Matteo — Blue gemeu meu nome quando mordi seu


peito.

Brinquei com os dois, dando atenção devida a cada um, e


quando soltei seus braços, juntei seus seios e chupei os mamilos

juntos. Blue soltou um grito ao gozar, então lambi mais uma vez
seus seios antes de me afastar.

Blue estava vermelha das bochechas aos seios, que subiam


e desciam com a respiração alterada. Notei os arranhões da minha

barba por fazer espalhados pelos seus peitos e um líquido brilhando


em sua coxa.

— Vá — murmurei rouco. Blue me olhou e engoliu em seco.


— Juro que se não sair daqui agora eu vou foder você, Flame. E

nós dois sabemos que não podemos. Não mais.

Ela respirou fundo, pegou o casaco e o vestiu. Quando a


porta se fechou, levei minhas mãos à cabeça e chutei uma garrafa
que estava no chão.

Porra. O que essa garota estava fazendo comigo?

Quando apareci do lado de fora, encontrei Blue com Prince e


Travis havia sumido.

— Estou indo — avisei ao meu irmão e comecei a andar em


direção à saída, mas ele me puxou.

— Leve Blue. Raina sumiu com Travis e eu... bem, vou cuidar
da minha vida. — Meu irmão me encarou e eu semicerrei os olhos.

— Não é nada de mais.

— Cara, se você se enfiar em merda...

— Relaxa. Zyon está vindo.

O.k. Foda-se.

— Vamos — rosnei para Blue.

Ela simplesmente respirou fundo e começou a andar. Quando

ela se sentou no carro, abraçou a si mesma. Dirigi até em casa com

o som ligado para que não precisássemos conversar. Blue aceitou


numa boa.
— Vou para o quarto — Blue avisou enquanto atravessava a

sala assim que entramos no apartamento.

Eu a segui depois de jogar as chaves na mesa. Assim que

passei por seu quarto, ouvi um soluço e parei, vendo pela fresta da
porta Blue sentada com as mãos no rosto. Porra.

Fechei meus olhos e pensei se não deveria entrar em seu

quarto, porém, eu sabia que não era o certo. Eu tinha que parar de
brincar com essa menina, porque logo eu estaria fodido como meus

irmãos mais velhos.

E eu não queria nada disso.

Uma semana depois, cheguei a minha casa à noite depois de

um dia fodido no Date. Rocco estava satisfeito com o trabalho, ainda

mais com as corridas. Eu subi a escada, mas parei quando percebi


o silêncio.

— Prince — chamei meu irmão que havia vindo para casa


antes. Ele apareceu com um fone no ouvido. — Onde está Blue?

— Quê? Na faculdade, cara. — Ele me encarou como se eu

fosse estúpido por não saber disso.


Respirei fundo, apertando meu nariz.

— Faculdade?

— Sim, ela transferiu do campus de Chicago para de Oak

Park. Começou há alguns dias, chega tarde, no entanto. Pensei que

soubesse — esclareceu e desapareceu dentro do seu quarto.

Peguei meu celular, pesquisei onde ficava e, depois de tomar

banho, saí.

Permaneci dentro do carro enquanto via estudantes irem e


virem pelo campus. Não foi difícil descobrir qual era o curso de Blue

e onde o prédio ficava quando enviei os dados dela para um amigo

e pedi para ele verificar.

Meus dedos batiam no volante, seguindo a melodia de uma

música, mas parei quando vi Blue. Ela sorria enquanto segurava a

mesma mochila que trazia de casa e dois livros nos braços. Um cara
estava ao seu lado, falando freneticamente sobre algo.

Continuei onde estava e notei que Blue pareceu


desconfortável quando o cara se aproximou dela. Seu rosto girou,

como se procurasse alguém ao redor, mas não havia mais ninguém.


O homem tocou seu cabelo e ela deu um passo para trás. Abri a

porta do meu carro ao mesmo tempo em que o cara empurrou Blue


contra a parede.

Meu sangue estava fervendo, minhas costas rígidas e eu só


conseguia enxergar vermelho diante de mim. Quem esse

desgraçado achava que era, porra?

— Me solta! — Blue gritou, apavorada.

Puxei o homem pela blusa e segurei sua cabeça. O sangue

respingou quando empurrei seu rosto contra o muro onde ele


encurralava Blue. O cara gritou e ouvi seu nariz quebrar na terceira

vez que colidi o seu rosto contra o concreto. Satisfação encheu

meus sentidos.

— Matteo! — Blue gritou atrás de mim enquanto eu puxava o

homem e o jogava no chão. Minha bota foi empurrada contra suas

costelas diversas vezes, mas eu desejava mais. Fazer muito mais.


— Por favor, pare. — Blue segurou meu braço. Respirei com

dificuldade enquanto ela chorava e tentava me afastar do homem.

— Por favor.

— Eu sei que você está me ouvindo. — Me abaixei até ficar

próximo ao rosto completamente machucado do cara. — Eu vou te


deixar vivo para se lembrar que não deve mexer no que me

pertence. Sei que ela é perfeita, mas é minha.

Blue fungou acima de mim, então me ergui e segurei seu


braço. Ela não conseguia falar de tanto soluçar, e quando a sentei

no banco do passageiro com o cinto de segurança afivelado, eu

respirei fundo.

— Você... oh meu Deus... — Blue pegou o celular com os

dedos trêmulos e ligou para a emergência, chamando uma

ambulância para o desgraçado. — Ele vai morrer...

— Eu o mataria se você não estivesse comigo — falei,

pausadamente.

Blue balançou a cabeça veementemente.

— Não faria...

— Você não faz ideia do que sou capaz, Flame. E por você,

porra, eu posso multiplicar minha crueldade. — Minhas palavras a


fizeram engolir em seco. Elas me deixaram completamente certo de

que eu fodi tudo, cada grama.

Dirigi para longe da sua faculdade com os dedos apertados


ao redor do volante.
— Você estava esperando alguém? — Blue questionou

depois de alguns minutos.

— Sim. Não sabia que estudava aqui — menti, sem encará-

la.

— Comecei há alguns dias. — Sua voz ficou baixa. — Minha

aula foi uma das últimas a terminar. Você deve ter desencontrado da

garota.

— Não, não desencontrei — murmurei, cansado, e a encarei.

— Agora me conta quem diabos é aquele cara.

Blue abriu a boca e voltou a fechá-la.

— Eu o vi na aula. Conversei com ele uns dias, mas... eu não


sei o que fiz. Será que dei alguma brecha? — Sua voz falhou.

Reprimi a vontade de dizer que era por ela ter dado atenção

a ele. Mas era mentira.

— Você não fez nada. Homens como ele pensam com o pau.

São doentes de merda.

Blue me encarou e acenou, respirando fundo.

— Você sempre volta sozinha a essa hora? — A irritação em


minha voz não passou despercebida.
Blue mordeu o lábio e me encarou, ainda com o rosto
vermelho e molhado.

— Ônibus. Tem muita gente nesse horário...

Blue parou de falar enquanto eu dirigia pelas ruas.

— E a menina que veio buscar? — Flame pressionou,


olhando para o colo.

— Eu vim buscar você. Não gosto que ande esse horário


sozinha. Então virei buscá-la todos os malditos dias.

Blue me olhou e eu a desafiei a falar algo. Para o próprio bem

dela, ela manteve os lábios colados um no outro.

Blue era diferente de todas as mulheres com quem já fiquei.

Ela era inocente demais, mas também sabia me seduzir como


ninguém. Blue era a junção do que eu mais amava. Submissão e

safadeza.
Matteo dirigiu por longos minutos, eu sabia que ele não

estava indo para a casa.

— Para onde estamos indo? — questionei, vendo seus dedos


baterem contra o volante.

— Você vai ver.

Não demorou muito para o carro parar. Encarei o chalé bonito


e suspirei. Matteo saiu do carro e eu estremeci ao ouvir a porta

batendo. Saí também e o segui até a cabana.

Assim que entramos, eu suspirei ao ver o quanto o lugar era

bonito. Matteo ligou a lareira elétrica e o lugar começou a esquentar.


Fiquei parada, querendo questionar o que estávamos fazendo aqui,

porém as palavras ficaram presas.

— Você está bem?

Sua voz soou atrás de mim quando Matteo afastou meu


cabelo do ombro. Sua boca deslizou pelo meu pescoço, me fazendo

estremecer.

— Sim-sim — respondi, tremendo.

As mãos de Matteo entraram por baixo da minha camisa e

tocaram minha barriga. A ponta dos dedos roçou os meus seios e


meus mamilos ficaram rígidos. Desejei sentir sua boca neles

novamente.

Matteo segurou minha cintura e me fez girar. Seus olhos

estavam escuros e sua boca a poucos centímetros da minha. Engoli

em seco, lambi meus lábios e senti Matteo puxar minha cintura em

direção a ele.

— Você me pertence, Flame.

As palavras, o tom da sua voz, a maneira como ele me

segurava... me fizeram perceber que eu estava apaixonada por ele,

não exatamente por causa delas, mas pela minha reação a elas.

Eu gostei.
Eu quis pertencer a Matteo Trevisan.

E eu sabia que era um erro.

Sua boca desceu sobre a minha e eu segurei seus ombros,

tentando permanecer de pé. Sua língua era faminta, suas mãos

impiedosas, e eu caí em um redemoinho de paixão. Mordi seu lábio

e suspirei quando Matteo desceu para o meu pescoço. Ele chupou a


pele clara e eu gemi quando ele me ergueu. Envolvi minhas pernas

ao seu redor enquanto o sentia se mover.

Ele se curvou assim que me deitou sobre um lugar macio ao

lado da sala. Suspirei ao sentir suas mãos puxarem meu vestido

pela minha cabeça. O calor ainda irradiava da lareira e beijou minha

pele nua.

Matteo tocou minha cintura e seus dedos brincaram com

minha entrada. Gemi quando sua boca capturou o meu mamilo. Ele

trocou os dedos pelo seu pênis e eu tentei relaxar enquanto o sentia

entrar dentro de mim. Ele era grosso, e eu me senti ser rasgada

enquanto seus quadris empurravam.

— Porra, Flame, você é tão apertada. — Matteo gemeu e

segurou meu pescoço. Ele não apertou, apenas manteve seu


domínio sobre mim enquanto lágrimas se formavam em meio a dor

e prazer.

Matteo me fodeu lento e depois rápido, com carinho e depois

como se não pudesse ter o suficiente de mim. Quando seus lábios


sugaram meu mamilo mais uma vez, a dor diminuiu e eu gozei,

ainda sentindo a ardência horrível.

— Porra, você... — Matteo parou de falar quando o beijei.

Abracei seus ombros e enfiei minhas unhas em sua pele,


marcando-o. Eu o queria para mim. Droga, eu realmente o queria.

Queria Matteo de uma maneira que nunca quis nada.

— Sua boceta é o paraíso. — Ele gemeu enquanto se movia


novamente dentro de mim. Tentei afastar a dor, porém, eu estava

realmente dolorida. Gemi de dor e ele parou. — Flame?

— Ei — murmurei, tentando relaxar. Me inclinei para beijar


seus lábios e me afastei.

— Você... — A voz dele cessou e eu o senti se retirar de mim,


lentamente.

Matteo se ergueu e eu puxei a colcha grossa que havia ao

lado para me cobrir. Seus olhos quase saíram do rosto quando


olhou para os lençóis. Sangue estava nos panos brancos.
— Você era virgem? — A voz de Matteo soou apavorada.

— Sim — respondi rapidamente, tentando entender o seu

medo.

— E você não pensou em me dizer? — Seu grito me fez pular


na cama.

— Eu... — As palavras sumiram quando vi que ele caçava


suas roupas. — Matteo, não é nada de mais...

— Você tem dezenove anos e era virgem. Com certeza, tinha

algo demais nisso. — Matteo continuou se vestindo.

— Eu nunca namorei... eu... Só não tive chance, entende? —

Me ergui e senti o seu sêmen deslizar pela minha perna enquanto


eu tremia suavemente. — Matteo, por favor, calma — pedi ao me

aproximar, ainda com a colcha contra meu peito, mas ele se afastou.

— Eu não consigo nem olhar para você.

Suas palavras foram como lâminas. Droga, eu não estava

pedindo-o em casamento. Longe disso, inferno! Sabia que isso era


impossível. Por que ele estava assim?

— O.k. — Acenei, vendo-o se afastar.

Droga, droga.
Encontrei Matteo depois de tomar banho. O lugar era

realmente bonito, mas além disso, havia tudo aqui. Até comida. Eu
desejei saber de quem era o local, mas não queria perguntar a ele.
Não depois de tudo.

— Estou pronta. — Suspirei e mordi o lábio.

— Vou tomar um banho e depois saímos. — Ele não me

olhou, nem nada do tipo, apenas passou por mim como se eu fosse
um móvel na sala. Não a mulher com quem ele havia acabado de
dormir.

Não a menina que estava com o mundo completamente

abalado por causa dele.

Matteo nem fazia ideia do que tinha acontecido.

Ele não demorou no banho, então logo estávamos em seu

carro. Calados. Eu odiei isso e quis chorar, mas me segurei o


quanto pude.

Pelo menos, até cair na minha cama.


Duas semanas depois

Eu sabia que tinha cometido um erro ao transar com Blue.

Mesmo antes de a tocar eu sabia, mas depois de ver o sangue nos


lençóis, foi como se o diabo tivesse subido apenas para dizer que

tinha avisado.

— O que está fazendo? — Blue perguntou assim que me viu

na sala.

Ela estava segurando seus livros e eu havia acabado de

pegá-la na faculdade. Eu cumpri com a minha promessa. Eu a

buscava todas as noites, mas não nos falávamos. Isso era o certo.

— Limpando. — Indiquei minhas armas sobre a mesa.

Blue as encarou como se elas fossem monstros


aterrorizantes. E elas eram. Pelo menos para os que já matei

usando-as.

— Você quer algo para comer? — ela questionou ao se


sentar no sofá e puxar as pernas para cima.

— Sim. Pizza de pepperoni — murmurei, voltando a


desmontar e limpar minhas belezinhas.
Blue ficou digitando no celular por um tempo e depois ficou

em silêncio, me olhando.

— Quem ensinou você a atirar?

A pergunta dela me fez elevar o rosto. Blue olhou para longe

de mim assim que nossos olhos se encontraram.

— Sei desde os nove anos. Romeo me ensinou antes que


meu pai o fizesse — falei devagar e senti um gosto amargo na boca

ao me ouvir chamar Ettore de pai.

Um pai não mataria minha mãe. Não ela, não depois de tudo.

— Como assim? — Blue franziu as sobrancelhas

acobreadas.

— Meu pai nos ensinou tudo. A matar, mutilar e torturar —

falei lentamente, fazendo Blue arregalar os olhos a cada palavra. —


E a aula também era seu divertimento conosco.

— Ele ma-machucava você? — Sua voz falhou.

Sorri ao me lembrar das sessões de tortura.

— Era o que ele fazia de melhor.

Os olhos dela ficaram suaves e eu vi o brilho de lágrimas lá.

— Eu sinto muito.
— Não se desculpe pela merda que outra pessoa fez —

resmunguei firmemente. Flame acenou duas vezes e fungou. — Eu

tive minha vingança. Não se preocupe. Eu me diverti como a porra


de uma criança quando come doce.

Blue desviou os olhos dos meus rapidamente.

— Foi ele que te ensinou a machucar as pessoas? — Sua

questão me lembrou do homem a agarrando no campus.

— Ele me ensinou tudo que sou. Ele e meus irmãos —


respondi, com honestidade.

Rocco e Romeo fizeram tudo antes que nosso pai pudesse.


Eles nos empurraram em direção à escuridão de maneiras

diferentes das que foram feitas com eles. Eles me ensinaram a ser

insano, antes que Ettore pudesse.

— Como está o seu peso morto? — perguntei, mudando de

assunto.

— Peso morto? — Ela franziu as sobrancelhas.

— Aquela que diz ser sua mãe. — Sorri.

— Não ouse, Matteo — Blue grunhiu, apertando as mãos.

Peguei minha flanela do bolso e limpei o cano da minha arma. — Eu

a amo, apesar de tudo, então não fale assim, por favor.


— Ela não merece você — afirmei antes que eu pudesse me

parar. — Brian falou que pagou tudo a ele. Eu já tinha pagado, então
o dinheiro veio para mim, agora eu quero saber quando o viu.

Blue desviou o olhar e eu inclinei a cabeça.

— Minha mãe o chamou no dia que você me pagou.

— É claro que ela chamou — falei, balançando a cabeça.

— Eu pedi, Matteo. — Ela se alterou e respirou fundo. — Eu

paguei logo tudo. Havia algumas contas atrasadas da casa, então


quitei tudo.

— E a sua faculdade?

— Eu paguei as parcelas que estavam atrasadas também.

Está tudo pago. — Blue se apressou para responder uma pergunta

que eu nem sabia de fato que era real.

— Ela pegou o dinheiro da sua faculdade para drogas? —

perguntei, nervoso.

— Eles iam matá-la...

— Teriam feito um favor a você! — gritei.

Blue se encolheu, seu rosto caiu e ela tentou segurar o choro,

mas falhou.
— Você... ela é minha mãe! Eu nunca a deixaria para

morrer... — Blue soluçou e se ergueu, eu fiz o mesmo, porém

coloquei-a para se sentar novamente. — Me deixa!

— Não. — Segurei seu cabelo próximo ao pescoço e a fiz me

encarar. — Eu entendo seu amor por ela, mas na próxima vez que

eu souber que pagou dívidas que ela fez, eu mesmo vou enfiar uma
bala na cara dela.

— Você é horrível — Blue murmurou, com o queixo

tremendo.

— Eu sou um demônio, Flame. E o demônio ama suas

chamas.
O interfone tocou e eu me soltei de Matteo para atender.
Minhas pernas estavam bambas e meu coração batia
freneticamente. Por suas palavras agora, e por tudo que passamos.

Lembrar da nossa noite juntos ainda estava me deixando confusa e


deprimida. Estávamos afastados, mas era o certo. Não era?

Aaron avisou que o entregador estava aqui, então autorizei a


subida. Peguei refrigerantes que Prince estocava e voltei para a

sala.

Peguei as pizzas do entregador e me sentei longe de Matteo

enquanto suas palavras ainda zumbiam em meus ouvidos como

grilos insistentes.
— Ela não é a melhor mãe do mundo. — Deixei as palavras

saírem. Matteo ergueu o rosto para me olhar. — Mas é a única que


tenho. Talvez, você entendesse...

— Mas eu não tenho mãe. Era isso que você ia dizer? —


Matteo me interrompeu, apertando os punhos.

— Não! — Balancei a cabeça rapidamente. — Pare de

colocar palavras na minha boca, Matteo — gritei, indignada. —


Talvez, você entendesse se estivesse em meu lugar. Se sentisse a

culpa que sinto. — Meus olhos se encheram de lágrimas. Matteo me

olhou sem expressão. — Eu vivi longe dela por toda minha vida.
Quando meus pais se separaram e ela me perguntou se eu iria com

ela, eu corri para o meu pai. Eu a deixei, não o contrário. Só vim


morar com ela no último ano, a vida dela já estava essa bagunça.

— Você não tem culpa...

— Então, sim, eu tento limpar a lambança que ela faz — eu o

interrompi. — Eu não sei fazer diferente. E você não pode dizer que
não devo ajudá-la. Não me chantageie com isso, porque não é justo!

— berrei, incontrolável. Agora as lágrimas deslizavam pelas minhas

bochechas.

— Flame...
— Meu nome é Blue! — rosnei, de repente, irritada pelo
apelido enquanto eu chorava.

Matteo se aproximou, e antes que eu entendesse o que faria,

já estava em seu colo. Eu me enrosquei nele como se ele fosse um

copo de água no meio do deserto.

— Não faça isso comigo. Por favor.

— Não estou fazendo nada — ele respondeu meu murmúrio.

Me afastei para o olhar, então ele segurou minha bochecha e sorriu.

Eu odiava seu sorriso. Suas covinhas eram perfeitas e eu tinha

vontade de beijá-las. — Você quer que eu dê um estoque de

heroína a ela?

Meu coração parou com sua pergunta, franzi as sobrancelhas

enquanto Matteo segurava meu rosto com ambas as mãos.

— Você quer que eu dê a porra de um estoque a ela? Eu faço

a ligação agora. Você quer?

— Você não entendeu. — Balancei a cabeça.

Ele respirou fundo, ainda preso a mim.

— Ela vai morrer de overdose. Você sabe disso tão bem

quanto eu. A questão não é se, é quando. Então, se você acha que

sua culpa vai amenizar pagando as drogas dela, foda-se, Flame,


você está errada. — Matteo apertou o seu domínio sobre mim

quando tentei me afastar. Ele me olhou profundamente nos olhos e


eu odiei deixá-lo ver o quão machucada eu estava. — Agora, se

você quer salvá-la, enfie-a numa clínica de reabilitação.

O meu queixo tremeu e eu mordi meu lábio. Matteo era um

idiota.

— Ela não quer...

— Tente, eu pago.

— Não quero seu dinheiro, Matteo — falei com firmeza e


puxei meu rosto das suas mãos. — Vou pagar com meu salário.
Pare. Você acha que não percebi que me pagou o dobro do que

ganho?

— Eu pago o quanto eu quiser. Prince também está pagando


— ele rosnou, irritado, enquanto eu balançava a cabeça. — Você
não pode me impedir.

— Quando Charlie e outras pessoas souberem, vão dizer que

você está me bancando. Eu não quero nada disso. Não quero seu
dinheiro, Matteo.

Ele franziu as sobrancelhas e sorriu.


— Charlie te incomoda mesmo, não é? — questionou.

Quando tentei sair do seu colo, suas mãos seguraram meus


quadris. — Não se mexa, Blue. Você está acordando meu pau.

Minhas bochechas ficaram vermelhas e Matteo se inclinou

para beijar minha pulsação.

O dia em que ele me pegou dançando no Village voltou para

a minha mente, deixando-me arrepiada e trêmula. Nunca gozei tão


forte como naquele dia, e Matteo nem ao menos tinha me tocado,

fora meus seios.

— Não vamos fazer isso. — Deixei minha voz sair, mas


Matteo segurou as pontas da minha camisa e puxou, tirando-a. —
Matteo — protestei, mas saiu mais como um gemido.

— Porra, Prince vai descer para comer — ele rosnou,

descansando a cabeça em meu ombro. — Vista. Vamos para o


quarto.

Eu não falei nada, não conseguia formular palavras para


dizer que ficarmos mais uma vez era um erro, então Matteo me

puxou pela escada. Quando chegou ao corredor, gritou avisando a


Prince que havia pizza na sala.
Assim que ele fechou a porta do quarto, engoli em seco ao
olhar ao redor. Minha pulsação acelerou e eu me virei. Matteo puxou
a camisa e eu mordi meu lábio quando vi as tatuagens que iam do

seu braço até seu pescoço.

— Flame.

Era assim que eu me sentia. Em chamas. Por ele, droga,


acho que nunca me senti tão atraída por ninguém, além de Matteo
Trevisan.

— Matteo.

Ele sorriu e parou na minha frente, então inclinei a cabeça

para o olhar.

— Preciso que diga, Flame.

— Não sou sua...

— Você assinou sua sentença sujando meu pau com seu

sangue. O jogo começou e eu não gosto de perder. — Ele segurou


meu pescoço, deslizando o dedo pela minha pulsação. — Agora,
diga.

Eu não pertencia a ele. Nunca o faria, porque ele não

pertencia a mim. Matteo Trevisan era algo que eu poderia apenas


ter em momentos fugazes, nunca quando eu quisesse. Isso me
deixou doente.

— Diga você — desafiei, semicerrando os olhos.

Matteo parou de sorrir e seu corpo ficou rígido. Então eu


soube que não teria diversão.

— Não sou de ninguém, Blue.

Suas palavras não deveriam me magoar, mas o fizeram,

porque aos poucos eu sabia que Matteo estava se infiltrando na

minha corrente sanguínea. Me intoxicando, me fazendo desejar não

só em pequenos momentos, mas sim ele por inteiro.

Até ele, eu nunca havia experimentado a abstinência de algo.

A ânsia de ter apenas um pouco. Até Matteo, eu nunca soube o que


era ser viciada.

Igual a minha mãe.

— Então estamos quites, porque eu também não pertenço a

ninguém.

Passei por ele e abri a porta. Matteo não me seguiu e eu

agradeci, porque eu sabia que se ele tivesse feito, eu não o pararia.

Deus sabe que eu nunca resistiria àquele homem.


Na manhã seguinte fiz meu trabalho e me tranquei no quarto

para estudar. Eu havia voltado para a faculdade há pouco tempo,

mas estava animada e muito feliz. Não tinha feito muitos amigos,
mas conheci algumas pessoas bem legais. Fora Ryan. Ainda não

acreditava que ele tinha tentado me agarrar à força. Nunca mais o vi

pelo campus, e agradeci a Deus por isso.

— Ei. — Atendi o número da minha mãe quando vi seu nome

na tela.

— Boo, eu estou com problemas.

Suas palavras foram como um balde de água fria sobre


minha felicidade.

— Quanto? — perguntei, soltando a caneta na escrivaninha.

Apertei minhas têmporas e esperei ela me dizer.

— É pior... — Essa palavra. Porra, essa palavra me fez parar

de respirar. — Brian me pegou comprando da Bratva.

Meu Deus.

— Onde você está? — questionei, tremendo.


— Estou no porta-malas dele. — Minha mãe fungou. — Ele

está me levando para o Rocco. Eles vão me matar, Blue. Eu sei...

Meus olhos embaçaram com as lágrimas e meu peito doeu.

— Vou resolver.

Mas eu não sabia nem mesmo se podia.

Matteo ia matá-la dessa vez. Eu sabia.

Saí do quarto com o celular na mão e o procurei pelo

apartamento. Não o encontrei, então chamei um Uber e fui para o

Date. Ensaiei minhas palavras no caminho, tentei pensar na melhor


maneira de falar e trazê-lo para o meu lado, mas eu não fazia ideia.

Só quando desci em frente ao Date percebi que eu ia

implorar pela vida dela a ele. E ontem ele havia dito que a mataria
se eu pagasse suas dívidas. Ele não ia me ajudar, eu sabia, mas

precisava tentar.

— Matteo — murmurei para um homem alto e negro que

estava na entrada. Era Zyon, pelo que me lembrava de Raina

falando.

— Venha.

Zyon me guiou pelo local vazio, totalmente diferente da


lotação que ficava à noite. Quando paramos em frente a uma porta
grande, ele acenou para que eu entrasse. Matteo estava sentado

quando coloquei os pés dentro do escritório.

— O que está fazendo aqui? — Ele estalou, me encarando

com os olhos semicerrados.

— Eu sei que não posso pedir isso a você. Sei que é errado e

você vai me odiar, mas eu preciso.

As palavras o fizeram se erguer. Eu abracei meu próprio

corpo e o encarei.

— Brian está com a minha mãe. Ele a pegou...

— Por que ele está com sua mãe? — Matteo ergueu as

sobrancelhas. Senti minhas lágrimas molharem minha bochecha. —


Blue.

— Ele a pegou comprando drogas da Bratva. — Deixei as


palavras saírem.

Matteo me encarou sem se mexer, seus olhos nem piscaram.

— Ela o quê?

— Eu sei. É horrível...

— Horrível? Isso é uma sentença. Rocco não vai perdoar. Ele

arrancou o rosto de dois traficantes ano passado. Eu sei que você


deve ter ouvido essa história.

Sim. Eu ouvi. O Navy Pier ficou com manchas de sangue por

semanas.

— Você quer que eu a livre. — Matteo cruzou os braços e se

encostou na mesa.

— Por favor, Matteo. Eu faço o que quiser, juro. Eu só preciso

dela viva para levá-la para uma casa de reabilitação — implorei, me

aproximando e segurando sua camisa.

— Não posso.

Duas palavras malditas e eu estava me sentindo

despedaçada.

— Matteo...

— O que eu vou dizer para o meu irmão, Blue? — Matteo

balançou a cabeça e passou a mão no cabelo. — Que ela é mãe da


garota que contratei e nas horas vagas fodo? Que merda é essa?

A maneira que ele colocou, me reduzindo, me fez tropeçar

para trás.

Meu Deus, era assim que ele me via? Era só isso?

— Eu pago. Diga que pagarei por ela...


— Eu disse a você que mataria aquela mulher se você

pagasse alguma dívida dela, Blue! — ele gritou, enfurecido.

— Não tenho mais ninguém. — Balancei a cabeça.

— Eu não posso. Não posso.

Eu poderia implorar por horas, mas o olhar de Matteo me

dizia o suficiente — ele não me ajudaria. Por ele, Rocco mataria


minha mãe hoje e fodam-se as consequências.

Eu me virei e corri para fora enquanto chorava tanto que meu

corpo tremia. Minhas pernas perderam a força e eu quase caí se


não tivessem me segurado.

— Ei, aonde vai com tanta pressa? — Prince sorriu, mas


parou quando viu meu estado. — Ei, Blue, o que houve?

Prince me guiou para fora do Date enquanto eu mais

soluçava que contava sobre minha mãe. Ele me ouviu atentamente


e, quando finalizei, seus dedos deslizaram pelas minhas bochechas.

— Eu vou tentar. Rocco, raras vezes, me escuta. — Prince


tirou o celular do bolso e se afastou.

Eu não conseguia ouvir nada do que ele dizia, mas quando

ele se virou e sorriu, eu soube que ele conseguiu. Corri para ele e o
abracei tanto que meus braços doeram. A vibração da sua risada
me fez chorar mais ainda.

— Vá esperá-la em casa, Blue. — Ele acenou para o seu


carro e enfiou as chaves na minha mão.

— Obrigada. Prince, vou ser grata a você para sempre —


murmurei, emocionada. — Não importa o motivo, dia ou momento,

se você precisar, me ligue.

— Eu farei. — Ele beijou minha testa e me soltou, então corri


para o seu carro.

Dirigi para casa ainda chorando, e quando estacionei corri


para dentro. Minha mãe estava encolhida no sofá, soluçando.

— Ei, mamãe — chamei ao me aproximar.

Ela gritou e correu para os meus braços.

— Nunca senti tanto medo, Boo. Obrigada por não desistir de


mim — mamãe murmurou entre soluços, então me sentei no sofá e

a abracei tanto quanto eu podia.

— Nunca, mãe. Eu nunca vou desistir de você.

Não importava quantas vezes eu precisasse pisar no fogo, eu


nunca abriria mão dela.
Depois que a ajudei a tomar banho, levei-a para o quarto e
ela adormeceu. Me sentei no sofá e respirei fundo para ligar para a
clínica que eu havia encontrado há alguns meses, mas que eu não

tinha tido coragem de ligar. Mamãe nunca quis, então eu só deixei a


ideia de lado.

— Olá. Eu quero internar minha mãe.

Minha mãe não falou muito sobre a internação quando


propus. Ela parecia cabisbaixa, triste e seus olhos não encontravam
os meus. Porém, ela não foi contra também, e isso foi o que me

aliviou.

No dia seguinte, eu já havia arrumado suas malas e elas


estavam no carro. Observei-a olhar para a casa e senti meu peito

doer.

— Vou ficar bem, Boo. — Ela me olhou e segurou minha


bochecha.

Eu sabia que ela iria.

Quando a deixei na clínica, fiquei aliviada ao ver tanta gente


simpática a recepcionando. Saí de lá me sentindo bem e eu queria
continuar, por isso, quando fiz minhas próprias malas, não me
permiti chorar.

Era hora de voltar a ser cuidada.

Era hora de voltar para casa.


Rocco recebeu Prince e eu no escritório no Village. Eu estava
com raiva, furioso comigo mesmo. Saber que Rocco havia deixado
Carolyn ir depois que Prince pediu por Blue, me deixou ainda mais

furioso.

Não com ele. Essa merda era a coisa certa a se fazer, e eu

era grato ao meu irmão por ter feito. Minha fúria era em relação a
mim. Eu deveria ter ajudado Blue.

— O.k., quem vai começar a falar? Você que pediu pela mãe
dela ou você que estava fodendo-a? — Rocco enfiou a mão no

bolso da calça enquanto fumava. Apertei minha mandíbula. — Ou

eram os dois? Porra, é isso? Vocês dividiam a mesma garota?


— Cara, relaxa. — Prince se jogou no sofá. — Matteo estava

dormindo com ela, não eu.

— Sério? Porque se eu me lembro bem, quem pediu pela

mãe dela foi você, não ele. — Nosso irmão apontou o charuto em
nossa direção.

— Não que eu não quisesse, você já viu Blue? Ela é gosto...

— Prince não terminou a frase, porque soquei seu rosto. — Que


porra, Matteo!

— Cala a maldita boca, Prince. Desde que começou a ficar


chapado vinte e quatro horas por dia, você não cala mais a boca —

gritei, com o corpo rígido. Meu irmão se ergueu, mas antes que ele

me empurrasse, Romeo nos separou.

— Calma, porra! — ele pediu, enquanto eu me virava para

Rocco.

— Não pedi porque a mãe dela se aproveita do dinheiro dela

e de tudo. Ela é uma drogada, e se ela morresse seria um favor


quilométrico para Blue.

Rocco me observou por um longo tempo antes de puxar a

fumaça do charuto.
— E se fosse Violetta? — Sua pergunta me fez trotar para
trás. — Se fosse sua mãe, Matteo, você a deixaria?

— Que porra? — perguntei, confuso. — Você ia matá-la ou

sabe-se lá o quê, e está tentando me dar sermão?

— Não. Não estou. — Rocco negou com firmeza e me

encarou mais sério ainda. — Eu estou fazendo você pensar. Minha


mãe também era uma drogada e, porra, ela era horrível, mas eu não

a deixaria morrer!

Suas palavras reverberaram pela sala. Rocco nunca falou

sobre sua mãe conosco. Por isso, todos estavam calados, em

respeito.

— Você pode achar o que quiser, é sua mente. Porém, querer

impor essa merda na cabeça de uma menina de dezenove anos é

um pouco sujo, você não acha?

Eu fiquei em silêncio. Eu não tinha resposta para isso. Rocco

não me pressionou, quando acabamos saí do seu escritório e

encontrei Raina na boate.

— Blue mandou entregar as chaves.

Suas palavras soaram e ela passou a chave do carro para

Prince.
— Obrigado. — Meu irmão foi para o bar e Raina saiu

andando em direção à saída.

— Onde ela está? — perguntei, seguindo a loira.

— Não sei — Raina respondeu firmemente.

Segurei seu braço e me inclinei em sua direção.

— Eu juro que se você não falar essa merda...

— Eu não sei, Matteo. Ela me deu as chaves e foi embora.

Eu não perguntei nada, foi rápido. — Soltei o braço de Raina e ela


se afastou. A amiga da Blue me encarou com irritação.

— Eu sei que você vai falar com ela, e quando o fizer avise
que vou caçá-la até no inferno. — Me afastei dela e andei para o

meu carro, sentindo raiva e medo sacudirem meu peito.

Onde diabos você está, Flame?

Quando cheguei a minha casa, subi a escada e fui direto para


o seu quarto. Não havia mais nada dela em nenhum lugar. Suas

roupas sumiram e seus itens de higiene também. Ela veio aqui


enquanto eu estava em Chicago.
Voltei para a sala e Prince me encarou, sentado no sofá.

— O que está rolando?

— Nada — respondi, me jogando na poltrona.

— Eu conheço você. Se fosse nada você não teria me


socado. — Ele apontou para o próprio rosto para dar ênfase.

— Eu não sei é melhor? — perguntei, com sarcasmo.

— Aquela menina não é para você. Na verdade, você não é

para ela. — Ele ergueu os braços quando o encarei. — Não me leve


a mal.

— Por que você não cala a maldita boca? — questionei,


frustrado, e peguei meu celular. O nome de Lake apareceu na minha

agenda, senti um aperto no peito.

Eu não falava com ela há meses. Ainda estava sem acreditar


que ela realmente foi capaz de sumir, sem ligações ou mensagens.
Lake havia sido protegida por nós por anos, e quando ela tinha a

oportunidade de ser grata, era isso que recebíamos.

— Essa idiota já mandou alguma mensagem para você?

Enquanto esperava por sua resposta, silenciosamente


implorei para que não. Se ela não havia falado comigo, eu queria
que não tivesse falado com ninguém mais. Sim, eu era um idiota.
— Não e estou pouco me fodendo para ela. Você deveria
fazer o mesmo.

Prince saiu da sala e eu fechei meus olhos, querendo estar


frente a frente com Lake e desentalar algumas coisas bem na cara

dela.

Meu pai me recebeu na porta de casa com um sorriso tão


grande, que mal cabia em seu rosto. Abracei-o com força e me

permiti relaxar. Eu estava segura.

— Boo, o que houve?

Sua pergunta ficou sem resposta, porque C.K. apareceu com

os braços abertos e chorando.

— Nem acredito que voltou para casa. Fiquei tão feliz com
sua ligação. — Ela fungou e eu beijei sua bochecha.

— Também estou feliz, C.K.

Ela e papai me levaram para dentro, e depois de conversar


sobre coisas bobas subi para o meu antigo quarto. Minhas coisas
ainda estavam do mesmo jeito que deixei. Me virei e vi os dois
parados na porta.

— Igual, hum? — falei, sorrindo. Ambos deram de ombros. —


Amo vocês. Estou bem cansada da viagem, então no jantar eu

conto tudo, o.k.?

Meu pai abriu a boca, mas voltou a fechá-la quando a morena


baixinha deu uma cotovelada nas costelas dele. Eu ri e meu pai

revirou os olhos.

— É claro, Boo. Descanse.

Quando fiquei sozinha, subi em minha cama e abracei meu


travesseiro. Meu celular tremeu e eu abri a imagem da minha mãe

sorrindo para a câmera enquanto andava no jardim. Meu coração

ficou leve instantaneamente.

A foto de Raina apareceu na tela em seguida, então atendi

sua ligação.

— Deixei o carro com Prince — ela avisou. Agradeci em uma

lufada de ar. — Agora, você vai me dizer o que houve?

— Eu voltei para casa. Para o meu pai — expliquei, olhando

para o teto do meu quarto. — Não diga a ninguém isso, por favor.

— E Matteo?
Matteo Trevisan morreu para mim.

— O que é que tem? — desconversei, cansada. Fiz círculos

na minha colcha de cama enquanto aguardava.

— Ele me perguntou onde você estava. Como eu não sabia,

não menti. Essa é a parte boa. — Raina riu. — Sua mãe está bem?

— Sim, eu a internei antes de vir. Obrigada por tudo, Raina.


Vou dever a você para sempre. — Funguei, passando a mão no

rosto, irritada com as minhas lágrimas.

— Não foi nada de mais, querida. — Ela suspirou. Esperei

que ela falasse algo, mas quando ouvi, quis ter desligado antes que

ela pudesse. — Ele vai caçar você até no inferno, Blue. Ele disse.

— Ele não vai me achar.

Mas era mentira. Se ele quisesse, me encontraria em um


segundo. Mas ele não queria e era bom assim. Eu não precisava

dele para nada.

Não mais.

— Você se envolveu com a pessoa errada, Blue. Você sabe

disso, não sabe?

Eu sabia.
— Sim e me arrependo amargamente.

Raina suspirou e depois de um silêncio reconfortante, nos

despedimos.

Se Matteo achava que eu era um peão no seu jogo doentio,

ele estava enganado. Eu tinha sentimentos, era um ser humano. Ele


não iria me ferir novamente.

Os dias foram passando tão lentos quanto uma tartaruga, e

quando fez três semanas que eu estava em casa, decidi ir visitar

minha mãe. Meu pai ainda não sabia que ela estava em reabilitação.
Eu não queria preocupá-lo, pelo menos era isso que eu dizia para

mim mesma.

— Você vai a Chicago? — C.K. questionou enquanto

colocava panquecas diante de mim.

— Sim. Papai falou que estão tentando adotar. — Sorri ao


mudar de assunto e ela se acendeu como uma árvore de Natal.

— Sim. Nós estamos há um ano na fila... — C.K. começou a


contar sobre a decisão dos dois, senti-me muito bem enquanto

conversava com ela.


Saí de casa no carro da C.K. Meu pai ainda não havia

perguntado sobre o meu, e eu tinha que pensar em um motivo para


vender que não fossem as dívidas da Carolyn.

— Ei. — Me aproximei da minha mãe no jardim da clínica e


ela ergueu os olhos. Fiquei apreensiva com seu semblante tenso. —

Você está bem? — Franzi as sobrancelhas.

— Eu quero ir para casa.

Meu estômago afundou.

— Mamãe, mas...

— Não preciso estar aqui, Blue. — Ela me encarou e as

lágrimas em seus olhos me deixaram triste. — Eu vou me controlar,


eu sei que consigo.

Sua mão pegou a minha de repente, gemi quando ela a


apertou, fincando as unhas em minha pele. Uma enfermeira se

aproximou e gentilmente fez Carolyn tirar as mãos de mim.

— Carolyn, calma. Você não quer machucar sua Blue, certo?


— A voz dela soou suave. Mamãe balançou a cabeça, negando. —

Que tal ir pintar agora? Será divertido.

Carolyn acenou rapidamente e me encarou.

— Desculpa, Boo. — Ela se afastou com a moça de branco.


Nervosa, fiquei sentada no banco por alguns segundos. Meu

estômago girou quando vi as marcas das suas unhas em meu

braço. Me virei e vomitei meu café da manhã na lixeira. Minha

barriga doeu e meus olhos se encheram de lágrimas. Me ergui e


caminhei até o banheiro mais próximo enquanto imagens da minha

mãe voltavam. Ela não estava bem.

Lavei meu rosto e as mãos, sentindo a náusea me deixar

gelada. Quando me olhei no espelho, suspirei ao ver meu semblante

cansado.

— Você está bem? — Raina perguntou assim que abriu a


porta para mim. Havia marcado com ela um almoço enquanto

estava na cidade.

— Sim.

— Não parece, você está pálida. — Ela me seguiu até o sofá.

Suspirei quando abracei meus joelhos.

— Estou cansada da viagem. — Dei de ombros, bocejando.

— O.k., tudo bem. Você quer se deitar enquanto termino o

almoço? Comprei sorvete. — Raina se ergueu e me deu a mão,


então a peguei e agradeci.

Eu me senti aliviada quando me deitei em sua cama e me

aconcheguei em seus lençóis. Adormeci rapidamente, e nos meus

sonhos Matteo retornou. Não sabia que sentia tanto a falta dele até

aquele momento.

Quando Raina me acordou, meu peito estava dolorido pela

saudade e seu semblante apreensivo me deixou nervosa. Me sentei


devagar e suspirei enquanto olhava para ela.

— O que foi? — questionei, franzindo as sobrancelhas e

esfregando meus olhos.

— Travis está aqui e ele avisou a Matteo de você. Eu tentei

impedir, mas ele é um idiota.

Suas palavras me fizeram respirar fundo. As batidas do meu

peito duplicaram e eu encarei minha amiga. Me sentei rapidamente

e calcei meus sapatos. Eu realmente não estava com ânimo para


discutir com Matteo. Eu ainda me sentia cansada e apostava que

tinha pegado um resfriado.

— Podemos sair antes dele — murmurei, me erguendo.

Ela acenou e pegou sua bolsa.


— Podemos ir ao cinema. Travis está lá fora, então ele não
vai nos ver até estarmos dentro do carro.

Nosso plano era bom, mas foi por água abaixo quando um
Bugatti preto estacionou. Era Matteo. Borboletas voaram no meu

estômago quando o homem vestindo um casaco preto saiu do carro

e marchou até mim. Seus olhos azuis estavam furiosos.

— Até que enfim, porra! — ele gritou ao me alcançar.

Raina ficou rígida, porém a toquei pedindo que se acalmasse.


Esse problema era meu.

— O que você quer? — falei, entredentes.

— Onde você estava? — Seus olhos estavam mais frios

ainda. — Como diabos você some assim? — Matteo segurou meu

braço e me puxou em direção ao seu carro.

— Não é da sua maldita conta, Matteo! — gritei, puxando


meu braço. — Não me procure, não fale comigo. Porra, não me

olhe! — berrei, tremendo.

Matteo riu. O filho da puta riu!

— Você vai para casa comigo...

— Eu não vou. Não me obrigue a isso — rosnei, me soltando

e o encarando enquanto lutava contra as lágrimas. — Não quero


estar no mesmo local que você. Não posso. Não depois do que fez.

— Eu tentei proteger você, Blue!

— Não, você me magoou!

Matteo passou a mão pelo cabelo enquanto eu cruzava meus

braços.

— Blue, eu não queria...

— Olha... — Olhei ao redor e vi Raina parada com Travis. —


Não estou mais morando em Chicago, estou bem e realmente quero

esquecer o tempo que estive aqui, então, viva sua vida. Não me
procure.

Matteo acenou e deu um passo para trás. Eu me senti

perdida quando o assisti se virar e ir embora.

Levando um pedaço de mim com ele.

Meu coração. Admiti, derrotada.


Se eu dissesse que estava bem, seria uma mentira do
caralho. Eu estava irritado com o mundo, e ficar no mesmo local que
eu era um teste de coragem. Pelo menos foi o que meus irmãos

estavam dizendo quando voltei da casa de Raina.

Blue não queria mesmo estar comigo. Nem na porra da

minha presença.

Sentado no cais, encarei o lago e joguei pedras nele. Me

senti sufocado ao me recordar das vezes em que minha mãe trazia


Prince e eu para brincar aqui. Ela era sempre tão sábia em suas

palavras... eu sabia que ela me falaria algo inteligente nesse

momento.
Não deixe sua raiva guiar seus passos e decisões. Você está

no controle, não ela.

Não parece que estou no controle, mãe.

Ela está. Aquela ruiva que apareceu como um anjo, agora


parecia o demônio, me perturbando e tirando meu foco. Eu estava

cansado disso.

— Eles chegaram — Prince gritou de casa.

Eu me ergui, jogando as pedras que ainda estavam em

minhas mãos. Quando entrei no escritório do meu irmão, eu sabia


que algo estava errado. Rocco estava sentado, enquanto Sienna

estava afastada de braços cruzados olhando para longe.

— O que o Bellini queria? — perguntei ao me sentar com

Prince ao meu lado.

Rocco havia saído para uma reunião com um dos seus capos

mais antigos que o tinha apoiado em sua ascensão, e ontem ele


ligou pedindo por uma reunião com o Don, então Rocco foi até ele.

— Bellini está doente. — Rocco respirou fundo e virou o

uísque na boca, parecendo preocupado. — O filho vai ocupar seu

lugar, mas ele quer uma troca mais significativa.

— O quê? — Prince semicerrou os olhos e eu fiz o mesmo.


— O que o velho quer? — questionei e olhei para Sienna. —
Si, você está bem?

Ela se virou ao me ouvir e acenou sorrindo, mas sem falar.

— Ele quer que você se case com a filha dele. — Romeo

derramou as palavras quando Rocco encarou a esposa e me

esqueceu.

— O quê? — perguntei, rindo, mas nenhum dos meus irmãos

estava achando graça. — Você está pensando nisso — afirmei,

olhando para o meu irmão mais velho.

— Você está com vinte e três. Pense sobre isso, é o mais

fácil...

— Desde quando você orquestra casamentos, cara? —

perguntei, irritado. Rocco ficou em silêncio. — Você aceitou, não foi?

Ele não negou. Eu me ergui e Sienna se aproximou com o

semblante preocupado.

— Matteo, às vezes o casamento traz felicidade. Veja eu e

Rocco, Lunna e Romeo... — Si murmurou, tentando me acalmar,

mas eu balancei a cabeça.

— Muita merda rolou para vocês estarem bem hoje —

lembrei-a, furioso.
Ela desviou os olhos, sabendo que eu estava certo.

— Bellini é um dos poucos aliados fiéis que temos. Preciso

que se case com a filha dele. Ela tem dezoito anos, é bonita e...

Cara, eu não sei mais o que falar. — Romeo se aproximou e eu


ergui a mão, mandando-o parar.

— Não fala, então — rosnei, tenso. — E Oak Park? —

perguntei a Rocco.

— Continua igual depois do casamento. — Ele se ergueu e


se aproximou.

Casamento. Porra.

— Mexa suas cordas, Don. Eu sou seu discípulo. — Me


curvei para ele e me afastei quando vi o fogo em seus olhos.

Saí da mansão, sentindo mais peso sobre os meus ombros

do que quando entrei. Inferno. Chutei o pneu do meu carro e entrei,


socando o volante em seguida. Ainda não conseguia acreditar que
Rocco aceitou um casamento em meu nome.

Eu sabia que ele fazia o que era preciso em nome da Outfit,

que possivelmente esse casamento seria importante, mas por que


diabos eu?
No dia seguinte fui para uma das corridas do Date depois de

falar com Romeo. Ele queria que eu visitasse a minha noiva. Piada
do caralho. Ele já havia comprado um anel e disse que eu precisava
estar lá amanhã.

— Ei, mano, Prince contou sua merda. — Travis franziu as

sobrancelhas e Zyon nos encarou, confuso. — Matteo ficou noivo.

Que merda.

— Nossa, chefe. Eu digo parabéns ou o quê? — Zyon

questionou e eu até ri com sua confusão.

— Diga que me fodi e tudo certo — murmurei, mas ele não o


fez.

— Pense pelo lado positivo, você vai ter uma boceta para se
enfiar todas as noites — Prince resmungou ao nosso lado.

— Você sabe que eu tenho qualquer boceta na hora que eu

quiser, certo? — Virei minha cerveja e fuzilei meu irmão com os


olhos.

Ele riu e desviou os olhos dos meus.

Menos uma.
Meu subconsciente me lembrou e eu o mandei se foder.

As corridas começaram e eu as assisti com eles. As pessoas

estavam animadas, o lugar ficava mais cheio a cada dia que


passava.

— Eu preciso ir, cara — Zyon me avisou.

Acenei e o observei caminhar entre as pessoas.

Zyon era um soldado em que confiávamos muito. Foi por ele


que descobrimos as merdas que o antigo capo de Oak Park, Cesar,

havia feito.

— O que ela está fazendo aqui? — Prince rosnou, ficando


rígido.

Eu me virei e vi Hope com duas garotas.

— Cara, deixe essa menina — Travis murmurou gemendo,


enquanto eu arqueava a sobrancelha. — Ele está sendo um

perseguidor do caralho.

— Quer compartilhar, Prince? — perguntei, semicerrando os

olhos.

— Você pode perseguir Blue e eu não posso perseguir Hope?


— Meu irmão cuspiu com o sarcasmo pingando da sua língua.

Antes que eu pudesse responder, ele caminhou em direção à loira.


— Fica de olho nele — pedi a Travis enquanto entrava no
carro que eu dirigiria hoje.

— Deixa comigo — ele respondeu ao se afastar e eu relaxei


no banco.

Corri com um dos caras da cidade, e quando ganhei não

comemorei nada. Eu queria beber. A porra da cerveja não tinha feito


efeito algum.

— Onde está Prince? — perguntei, entrando de volta no bar.

Peguei um copo de uísque e Travis apontou para a mesa

onde Prince estava com Hope e as outras garotas, mas ele estava
beijando a amiga dela. E Hope não parecia contente. Deus, o que

diabos estava havendo com Prince?

— Ei, vamos lá. — Cheguei na mesa e apertei o ombro dele.

— Senta aí — ele pediu, sorrindo. Deslizei na cadeira depois

de Travis. — Miley, Brittany e, claro, Hope — Prince apresentou as


meninas, enquanto Hope segurava seu olhar.

— Olá, querida. — Travis passou o braço pelos ombros de


Brittany enquanto Prince estava focado em Miley.

Eu encarei Hope e a vi engolir em seco.


— Você gosta dele? — perguntei próximo ao seu ouvido e

seus olhos se arregalaram. O.k., sim. — Prince está com muita


merda na cabeça ultimamente, então, conselho de amigo, corra.

Alguém deveria ter aconselhado Flame antes de entrar em


meu caminho.

A sensação de aperto na garganta voltou, então virei o copo

com bebida, querendo tirar a ruiva da minha cabeça. Esquecer que


a magoei, que ela disse na minha cara, com todas as malditas

palavras, que queria esquecer.

Eu odiava saber que estava tão irritado com isso, com seu

afastamento e... por quê, porra? Ela não era ninguém. Blue Dawson

era a lama que eu pisava e eu não deveria sentir sua falta. Não

deveria me sentir mal por ser honesto.

— Eu tento, mas seu irmão é um perseguidor. — A voz de

Hope me fez voltar ao presente. — Espero que Miley tire o foco dele
de mim — ela falou entredentes.

Encarei meu irmão. Ele estava entretido com Miley,

realmente.

— Sorte sua. Parece que ele está focado nela.


Hope não respondeu e eu foquei minha atenção na minha

bebida, afastando todo o resto. E resto significava Hope, Prince e,

principalmente, Blue.

Romeo enfiou a caixa de veludo entre meus dedos e eu


apertei minha mandíbula. Sienna estava próxima, ainda parecendo

miserável. Eu não precisava que ela me dissesse que estava com

raiva disso. Mas não tanto quanto eu.

— Só entregue a ela. Lunna comprou-a com a ajuda de

Sienna — meu irmão me falou.

Acenei e respirei fundo.

— Eu entendo, o.k.? — murmurei, olhando para minha


família.

— Eu sabia que entenderia. — Rocco segurou meu ombro.

A porta se abriu e Rocco cumprimentou Dario Bellini. Nós

fomos encaminhados para dentro da casa e eu fiquei próximo a

Prince.

— Antonella Bellini. — A voz de Dario ecoou.


Ergui meus olhos e vi uma menina descer os degraus da

escada. Seus cabelos eram pretos e seus olhos castanhos. Ela


tinha uma pele branca, mas o conjunto era realmente algo

espetacular.

— Antonella, é um prazer. Esse é meu irmão Matteo —

Romeo nos apresentou e eu dei um passo à frente, pegando a mão

dela.

Seus olhos se prenderam aos meus quando beijei o dorso da

sua mão. Me afastei rapidamente e ela sorriu.

— É um prazer.

Nós fomos jantar, e quando finalizou Antonella e eu ficamos

sozinhos em sua biblioteca. Eu vi que seu pai não queria, mas


Rocco foi firme ao dizer que eu queria falar a sós com ela.

— Você é bonita, Antonella — murmurei, me servindo com a


bebida que havia ali.

— Você também...

— Você quer se casar comigo? — Minha pergunta foi direta,

e enquanto esperava sua resposta engoli o uísque.

— Eu... — Ela abriu e fechou os lábios diversas vezes.

Quando ergui a sobrancelha, ela desviou os olhos dos meus. —


Não. Não quero, mas isso não é sobre meus desejos. É sobre meu

dever.

— Concordamos — falei em um fôlego e me aproximei. Tirei


a caixa de veludo do meu terno e a abri, pegando o anel de

diamante. — Vamos fazer isso.

— Vamos. — Ela acenou suspirando, então entreguei o anel

a ela.

Antonella colocou o anel sozinha e mordeu o lábio.

— Ella.

— O quê? — perguntei, confuso.

— Me chamam de Ella. Não Antonella. — Sua explicação me

fez acenar.

— O.k., Ella.

Nós saímos da biblioteca e Ella sorriu, mostrando o anel para

todos. Sua mãe a abraçou, enquanto Sienna e meus irmãos

estavam com os olhos em mim.

— Ao casamento. — Sorrindo, ergui meu copo de uísque.

Assim que saímos da casa dos Bellini, minha família me


olhou como se eu fosse uma bomba prestes a explodir. Eu não era.
Na verdade, eu estava aliviado. Ella não esperaria deveres de mim

quando nem ela mesmo queria os fazer.

— O casamento será daqui a sete meses — Sienna me

avisou quando entramos na mansão. Eu dormiria aqui hoje por

quê... bem, porque eu queria.

— Temos tempo para Lake voltar — Rocco falou ao se sentar

no sofá. Sienna arregalou os olhos. — Para o casamento.

É claro.

Prince saiu sem falar nada, eu me sentei e liguei o Xbox.

— Se for por mim não precisa — falei, rispidamente.

Rocco e Sienna me olharam.

— Não fale isso — Si implorou. Só dei de ombros. — Lake

está longe, sem nós, sem Prince... Para ela, deve ser mil vezes pior.

— Eu quero que ela se foda! — murmurei entredentes,

deixando Sienna rígida. — Não preciso dela e não a quero nessa


porcaria de casamento, então, não a traga.

Sienna abriu a boca para retrucar, mas Rocco a parou.

Bom, porque falar sobre a caçula dos Trevisan me deixava

com ódio.
Os dois se retiraram e eu fiquei jogando sozinho. Meu celular
tremeu com uma notificação, então abri a mensagem de Travis.

“Raina está indo para o Bloomington.”

“E eu com isso?”

“Raina nunca saiu de Chicago para tão longe. Junte dois


mais dois.”

Foda-se. Flame.

“Mande a localização de Raina quando ela parar.”

“O.k.”

Apertei meu celular entre os dedos e fechei os olhos, jogando

o controle para o lado.

— Olhe pelo lado bom, Antonella é bonita. — Rocco se


aproximou, segurando um copo cheio de uísque.

— Sim, ela é.

Mas não era ruiva, não tinha peitos fodíveis e, porra, não
tinha aqueles olhos azuis que me fascinavam.

— Sienna está chateada com tudo isso. Ela quer que você,
Lake e Prince se apaixonem e essa besteira toda que ela e Lunna
andam alimentando. — Meu irmão se sentou no sofá ao lado e me
encarou. — Poderia ter escolhido Prince, mas não quis, Matteo.

— Se eu estivesse em seu lugar, também não o escolheria —


falei com firmeza. Ele ficou em silêncio, esperando que eu

concluísse. — Prince anda fumando e bebendo mais. Desde que


Lake foi embora, ele está perdido.

— Isso vai passar. Eles têm uma ligação muito forte... É

normal ele estar perdido. Lake deve estar também. — Rocco


esfregou o rosto e me olhou. — Não me arrependo de ter enviado
Lake para a escola depois que descobri que ela havia matado

Salvatore...

— O quê? — gritei, de maneira rígida. Rocco pareceu


surpreso por alguns segundos, mas se recuperou. — Que merda é

essa, Rocco?

— Dias depois da morte dele, entramos nas filmagens e


vimos que ela estava com Salvatore e Giulio. Conversamos com ele

e ele escreveu o nome dela. — Ele passou a mão pelo cabelo e me


encarou. — Quando a confrontei, ela assumiu.

— Que porra... você acreditou? — rosnei, me erguendo. —

Lake, Rocco! Estamos falando dela...


— Eu sei, eu sei. Descobri recentemente que ela havia
mentido. Giulio matou Salvatore depois que ele pediu. — Suas
palavras eram firmes, mas não faziam sentido para mim.

— Cara, Prince sabe disso? — questionei, apavorado com a


reação do meu irmão.

— Sabe. Todos sabem.

Menos eu. Todos sabiam, menos eu.

O barulho do meu coração era alto. A culpa corroeu meu


estômago e eu quis ligar para ela. Quis pedir que voltasse, quis
viajar até ela e a trazer de volta.

— Você a deixou lá depois de tudo. Qual é o seu problema?


— gritei, ficando de pé.

— Ela não quer voltar.

— Talvez seja porque quem deveria confiar nela a mandou

para o quinto dos infernos!

— Eu sei dos meus erros, Matteo! — Rocco gritou.

Sienna apareceu de pijama, com a barriga à mostra. Os

gêmeos já estavam dando as caras.


— Por que não me contou? Por que ninguém me contou? —
berrei, furioso.

Si me encarou com os olhos arregalados.

O silêncio deles me deixou cego de raiva quando saí pela


porta e ninguém me parou.
Eu não melhorei da minha indisposição, os enjoos estavam
ainda mais frequentes. Acordar todas as manhãs estava sendo um
terror.

— Ei, tudo bem? — A batida na porta me fez fechar os olhos

enquanto meus braços estavam agarrados ao vaso.

— Estou morrendo. — Gemi e me afastei, encostando


minhas costas na parede fria. — Entre, C.K. — pedi, passando a

toalha úmida em meu rosto.

Quando a esposa do meu pai apareceu, eu sorri.

— Acho que estou com uma intoxicação alimentar — falei,


quando ela se sentou ao meu lado. — Porém, não lembro de ter
comido nada diferente.

— Pode ser outra coisa. — Ela sorriu devagar e eu franzi as

sobrancelhas. — Há quanto tempo está sem menstruar?

Não entendi sua pergunta... então a ficha caiu quando ela


sorriu e passou a mão pelo meu cabelo. Meu Deus. Não podia ser...

— Não sei... — Minha voz parecia de outra pessoa, não


minha. — Mas não pode ser... Eu só transei uma vez quando perdi

minha virgindade... — falei, sentindo minhas bochechas queimarem.

C.K. suspirou e me puxou para os seus braços.

— Não precisam de muitas vezes para engravidar, Blue. —

Fechei meus olhos enquanto ela limpava meu rosto. — Eu tenho


alguns testes guardados. Sabe, eu tentei por muito tempo. — Sua

voz ficou emocionada e eu congelei.

Oh meu Deus. Ela tentava há muito tempo ter um bebê e eu

podia estar grávida.

— Eu sinto muito, eu...

— Blue, não se desculpe. — C.K. segurou minhas bochechas

e beijou minha testa. — Vai ficar tudo bem, querida.

Ela saiu do banheiro e voltou com três testes na mão. Depois


de me ensinar a usar, C.K. me deixou sozinha e disse que esperaria
do lado de fora.

Assim que terminei, eu a chamei enquanto meus dedos

tremiam.

— Ah, querida. — C.K. me abraçou, segurando os três testes

positivos enquanto eu soluçava. Eu estava grávida. Eu tinha um

Trevisan no ventre. — Está tudo bem, Blue.

Não estava. Nunca ficaria bem novamente.

Não com um filho do Matteo crescendo dentro de mim.

— Você tem o contato do pai do bebê ainda?

Sim. Não.

— Meu pai vai me matar — falei, fungando. Minha madrasta

riu e balançou a cabeça de um lado para o outro. — Minha

faculdade... meu Deus, eu sou um desastre.

— Blue, não seja dura consigo mesma. — C.K. me levou

para o quarto.

Trêmula, suspirei. Eu estava grávida. Dele.

— Não quero contar a ninguém. Não posso... — murmurei,

sentando-me na cama.
Matteo ia me matar. Eu sabia disso. Lembrei-me das suas

palavras quando falou que não pertencia a ninguém. Ele acharia


que engravidei para prendê-lo. Eu conhecia aquele homem há

pouco tempo, mas sabia do que ele era capaz.

— Você está abalada. Descanse, baby. Amanhã falamos

sobre isso. — C.K. me ajudou a deitar.

Quando minha madrasta saiu, eu senti minhas lágrimas


descerem. Me imaginei contando a Matteo, mas não consegui. Não

consegui, porque eu temia sua reação. Eu estava apavorada com a


possibilidade da sua rejeição.

A tela do meu celular acendeu, e como se fosse um truque do


destino, havia uma mensagem dele. Abri, sentindo meu peito bater

descontrolado.

“Desce.”

Desce? Meus olhos se arregalaram e meu coração parou. Me

ergui rápido e andei até a minha janela. O carro dele estava


estacionado na frente da casa. Me afastei da janela e comecei a

respirar com dificuldade.

Oh meu Deus, como ele me achou?

Raina.
Ela veio hoje aqui, mas foi tudo tão rápido. Como ele

descobriu? Ela não falaria. Apertei minhas têmporas enquanto


pensava, mas nenhuma explicação apareceu.

“Vou tocar a campainha.”

Droga.

“Estou indo.”

Enviei enquanto saía do meu quarto, puxando meu robe. Meu


pai já estava dormindo, cansado do trabalho. Apenas C.K. estava

acordada comigo, assistindo a um filme. Isso antes de eu correr


para o banheiro vomitar.

Saí de casa andando rápido até seu carro. Abri a porta e


entrei, me sentando no couro macio e quente. Relutei em o encarar,

quis entender o que estava acontecendo entre nós. O que eu sentia


e, o mais importante, o que ele sentia.

O que Matteo estava fazendo aqui? Por que viajou mais de


três horas de carro?

— Como você me achou? — perguntei depois de um silêncio

angustiante.

Meu coração pediu que eu o encarasse, implorou, e eu segui


seu pedido. Me arrependi assim que o fiz. Seu rosto estava tomado
pela tristeza. Meu peito afundou e eu quis saber quem o havia
magoado.

— Travis rastreou Raina — Matteo explicou sem me encarar.


Ele ergueu a cabeça e fechou os olhos. — Eu dirigi por mais três

horas até aqui e não sei o porquê.

Suas palavras pareciam facas afiadas perfurando meu peito.


E só esse homem podia fazer isso comigo. Só ele era capaz de me
rasgar inteira e me costurar de volta em segundos.

— Então o que houve, Matteo? — questionei, me virando e

descansando minha cabeça contra o banco. — Quem fez isso com


você? — A raiva em minha voz me atordoou e a ele também.

— Eles. Todos. — Matteo apertou o volante e seus dedos


ficaram brancos. — Eu sempre sou o último a saber de tudo. A

escolher qualquer merda. Eu sempre fico no escuro...

— Ei, tudo bem. — Toquei sua nuca e acariciei seus cabelos.


Matteo me encarou e esticou a mão, tocando minha bochecha. —
Sua família é bem complicada...

— Fodida, você quer dizer. — Ele se virou mais e agora eu

estava segurando sua bochecha.

— Você quer entrar? — perguntei de repente.


Matteo acenou no mesmo segundo. Saímos do seu carro e
andamos para dentro de casa. Subimos para o meu quarto e eu
fechei a porta devagar, temendo acordar meu pai. Quando me virei,

Matteo estava olhando cada canto do quarto.

— Você era líder de torcida, que surpresa. — Ele sorriu,


pegando um porta-retratos de cima da minha mesa. Na foto eu

estava com o uniforme vermelho e branco.

— Uma das melhores — falei, andando para a minha cama.

Matteo deixou a inspeção de lado e veio para a cama comigo.

Eu me virei para o encarar, mas ele me puxou para o seu peito.

Respirei seu cheiro fresco e me senti em casa. Me senti como se


todos os meus caquinhos tivessem sido colados.

— Senti sua falta, Flame. — Sua voz rouca me fez o encarar.


Seus olhos estavam presos em mim.

— Não duvido em nenhum momento — murmurei com

firmeza e toquei seu rosto. — Eu não sei o que estava acontecendo


com a gente, Matteo. Mas eu sei que não era bom. Nem para você e

nem para mim...

— Era?

— Nós somos uma bagunça de cinzas e faíscas.


Parei de falar quando ele nos girou e ficou sobre mim. Seus

quadris espalharam minhas pernas e eu ofeguei ao sentir seus


lábios nos meus. Famintos, buscando alívio de algo que eu não

fazia ideia, mas queria ajudá-lo a escapar. Segurei seus ombros e

aprofundei o beijo, chupando sua língua e mordendo seus lábios.


Suas mãos seguraram meus quadris e ele empurrou contra mim,

lento, mas fazendo com que uma necessidade doentia começasse a

crescer.

— Tire isso. — Sua demanda foi firme, então obedeci.

Não pensei nos motivos para não o fazer, apenas tirei meu
robe, depois minha camisola e, por último, a calcinha. Matteo

desceu pelo meu corpo enquanto apertava meus seios e eu tremi ao

sentir sua língua sacudir sobre meu clitóris. Era tão íntimo, tão bom.

— Sua boceta é a porra do céu. — Sua voz me fez gemer

seu nome.

Matteo mordeu, lambeu e sugou minha boceta como se ele

não pudesse viver sem. Eu chorei em meio ao prazer quando o

clímax varreu meu corpo. Minha respiração se alterou, meus

pensamentos ficaram brancos. Matteo subiu, beliscando meu


mamilo e deslizando para dentro de mim. Me senti cheia e molhada

enquanto seus quadris empurravam.

— Flame... Deus... você é perfeita. — Ele gemeu,


abocanhando meu seio enquanto sua mão maltratava o outro

mamilo, esfregando e beliscando.

— Matteo... — Gemi sem ar.

Ele me girou, e quando fiquei sobre meus joelhos na cama,

Matteo me fodeu com rapidez, meu ventre apertou e eu mordi meu


travesseiro, querendo gritar, mas sem poder.

— Isso, Flame, quietinha. Você não quer que seu pai me


escute fodendo sua boceta, certo?

Sua boca suja me deixou arrepiada. Eu corei envergonhada

enquanto minha vagina ficava mais úmida.

— Matteo... — implorei, sem conseguir me conter.

Seus dedos encontraram meu clitóris e eu gozei com os

toques rápidos dele. Gritei contra o travesseiro e estremeci quando

Matteo gozou dentro de mim.

De novo.

Só que dessa vez, eu já estava grávida.


Ele me puxou para o seu peito e eu lutei contra mim mesma.

Eu queria falar agora, dizer que estava grávida e que era dele, mas
estava com medo. Temia sua reação. Ele assumiria o filho? Ficaria

comigo?

— Estou noivo, Blue.

O tempo pareceu parar. Meu coração perdeu batidas e meu

estômago rodou, me fazendo sentar na cama. Puxei o lençol e o


encarei, enquanto lutava contra as lágrimas e o desespero.

— O quê? — Minha voz saiu fina, apavorada.

— Vou me casar — Matteo murmurou e se sentou, ficando de

costas para mim.

— Então... — As palavras sumiram, meu peito doía e eu não

conseguia pensar na dor que estava me consumindo. — O que você

fez? Por que veio aqui? Qual é o seu problema? — Minhas


perguntas saíram frenéticas enquanto eu tentava controlar o volume

da minha voz.

— Eu não sei. — Ele puxou o cabelo, ainda de costas.

Abracei o travesseiro, me sentindo frágil como nunca.

— Eu tento fugir da sua vida, do seu jogo doentio, mas você

tem prazer em me encontrar. Tem prazer em me ferir... por quê,


Matteo? O que eu fiz para você? — implorei por uma explicação.

— Eu não sei, Blue! — Ele se ergueu e começou a se vestir.

— Quando percebi, eu já estava aqui. Quando percebo, eu já estou


com você. Sempre é assim. Suas chamas me atraem... — Matteo

passou a blusa pela cabeça e pegou suas chaves.

— Se você sair, eu juro que nunca mais quero te ver —

prometi, implorando com os olhos para que ele me escolhesse,

optasse por mim e nosso bebê.

— É a última vez que nos vemos. — Matteo se aproximou e

beijou minha testa.

Eu não me mexi, apenas fiquei parada enquanto era puxada

para o redemoinho que era Matteo Trevisan.

Ele saiu pela porta e eu nem mesmo me mexi para


acompanhá-lo. Eu o deixei sair da minha vida pela última vez,

prometendo a mim mesma que Matteo Trevisan nunca mais me faria

implorar por nada. Nunca.

Na manhã seguinte eu desci para tomar café e encontrei meu

pai e C.K. juntos. Dei bom-dia aos dois e me sentei.


— Pai... — Comecei a falar, mas fui interrompida.

— Quem era o homem naquele carro ontem?

Sua pergunta me fez engolir em seco. Ele não estava

dormindo, pelo visto.

— Ninguém — respondi com firmeza.

— Blue. — Papai parou e respirou fundo. — Você pode me

contar tudo. Qualquer coisa. Quero que confie em mim. Eu sempre

vou fazer o melhor por você.

Meu queixo tremeu com suas palavras e eu enxuguei meus

olhos.

— Eu sei e eu quero realmente dizer algo que descobri

ontem. — Mordi meu lábio e segurei sua mão. — Estou grávida, pai.

Seu rosto se transformou. Um segundo calmo e, no outro,


completamente assustado.

— O quê?

— Eu sei, fui burra. Irresponsável e tudo que estiver

pensando — afirmei rapidamente. — E estou morrendo de medo.

Apavorada.
Papai se ergueu e me abraçou. Me senti bem, amada e
protegida como sempre acontecia quando estava em seus braços.

— Vai ficar tudo bem, Blue. Você é jovem, mas é esperta,


estudiosa. — Ele segurou meu rosto e beijou minha testa. — C.K. e

eu vamos ajudá-la.

— Obrigada, papai. — Abracei-o com força e ele riu quando

se afastou.

— Agora, você precisa colocar o endereço do canalha aqui.


— Papai colocou um bloco de papel e caneta na minha frente. — Eu

vou lá fazê-lo casar-se com você.

Suas palavras me fizeram ficar rígida.

— Pai, não. Eu não quero isso — menti, engolindo em seco.

— Eu não vou contar a ele sobre o bebê.

— Blue. — Meu pai se afastou e me encarou como se não


me conhecesse. — Você não pode fazer isso...

— Pai...

— Blue, ele tem direitos. — Sua voz ficou firme. Olhei para
C.K., que estava calada até agora. — Querida, pode me ajudar?

— Blue está assustada, Benjamin. Deixe-a digerir tudo, o.k.?

— Sua esposa veio até mim e beijou meus cabelos. — Tome seu
café da manhã. Marquei uma consulta para você.

Agradeci a Deus por C.K. naquele momento como jamais fiz.

Quando chegamos à consulta, segurei a mão de C.K. e pedi


que entrasse comigo. Ela poderia me achar patética e medrosa,

mas eu não conseguiria fazer isso sozinha. Jamais.

A médica me fez tantas perguntas que fiquei tonta. Respondi


tudo o mais detalhado possível, então ela me pediu alguns exames

e receitou vitaminas que eu precisava tomar.

— Vamos ver o seu bebê? — A doutora sorriu e eu suspirei,


apertando a mão da minha madrasta. — E... aqui está ele ou ela.

Não consigo ver ainda.

Encarei a tela preta e branca, tentando distinguir meu bebê. A


médica passou o dedo na tela e me mostrou enquanto sorria. Meu

peito bateu como o dele, forte e poderoso, enquanto lágrimas


embaçavam a minha visão.

— Vou imprimir algumas fotos e você pode levar.

— Posso ter o vídeo?


— Claro. — Ela continuou medindo meu bebê, e quando
finalizou me limpou e me ajudou a sentar.

Segurei as imagens e sorri em meio a lágrimas.

Você será a razão da minha vida.


MESES DEPOIS

Eu aprendi duas coisas sobre Ella. Um, ela era simples —


tudo estava bom para ela, nada a incomodava. Dois, ela amava o
lago Michigan.

— Sei que parece que o inferno subiu, mas não acho uma

boa ideia — avisei, andando até alcançá-la no cais. Tínhamos


almoçado juntos e eu a trouxe para a mansão.

Estávamos em pleno verão, e a umidade da cidade estava


deixando qualquer um com a camisa encharcada de suor.

— Desejo não me falta, mas... não o farei. — Ella sorriu e eu


me sentei no cais.
— Que bom.

Ela se sentou ao meu lado e balançou as pernas acima do

lago, agora completamente fresco.

— Qual o nome dela? — Virei o rosto para encará-la,


confuso. — Eu sei que tem. Vamos lá, estamos noivos há meses e

você nunca me beijou. — Ella sorriu castamente e eu senti como se

seus dedos estivessem esmagando meu peito.

— Não existe outra garota — menti rapidamente, tentando

não pensar em Blue.

Deus e o diabo sabiam que desde que a deixei naquela

cama, em Bloomington, eu lutava para não voltar lá e trazê-la de

volta. Ella não merecia isso e, principalmente, Blue.

— Então, por que...

Bati meus lábios nos seus antes que ela continuasse. Abri

minha boca e chupei seu lábio inferior. Ella não retribuiu o beijo, por
isso, me afastei.

— Okay... — Ela virou o rosto para o lago e eu sorri.

— Pensei que queria me beijar — falei, rindo.

— Não — ela sorriu, seu rosto vermelho —, quero dizer, meu


Deus, você me deixa confusa. — Ela franziu as sobrancelhas e
passou a mão no rosto. O diamante em seu anel brilhou com os
reflexos do sol.

— Ei, casal, vamos jogar ou não? — Prince gritou e Ella ficou

rígida por um segundo.

— Vamos lá. Vou jogar duas partidas e te deixo em casa.

Ela acenou e a gente se ergueu.

Antonella se sentou no sofá, mexendo em seu celular

enquanto eu e Prince jogávamos. Depois de quase uma hora, meu

celular tocou.

— Matteo.

— Ei, cara. Preciso de você aqui. — A voz de Zyon me fez

suspirar.

— O que houve? — Me ergui rapidamente e Ella me encarou.

— Encontramos outro carro em frente ao seu apartamento.

Peguei o desgraçado e quero brincar.

É claro que ele queria.

— Estou a caminho. — Desliguei o celular e encarei Prince.

— Leve-a para casa e me encontre em Oak Park.


— Matteo... — Ella se ergueu e me acompanhou em direção

à saída. — Você pode me deixar no caminho...

— Contramão, querida. Prince vai deixá-la. Você está segura

com ele — afirmei, pegando minhas chaves. — Te vejo em alguns


dias.

Pensei em beijá-la, mas não o fiz. Não parecia certo.

Assim que entrei no Date meu sangue já estava quente e eu


queria quebrar alguns ossos. Entrei na sala onde Zyon havia

colocado um dos dois idiotas. O outro era do Prince.

— Teremos que matar todos vocês? — questionei, puxando


uma cadeira. Me sentei enquanto encarava o homem de barba
grande e olhos escuros.

— Algo assim.

— Não é um problema. Só tem uma coisa que eu gosto mais

do que foder, é matar. — afirmei, sorrindo. Ele olhou para Zyon. —


Por que você não me conta mais sobre esse plano de vocês?

— Não é um plano — ele rosnou, começando a mostrar as


garras. — Vamos matar seu irmão. É apenas questão de tempo...
Porra! — ele gritou quando chutei seu rosto.

— Você vai morrer, e o bom é que você sabe que essa merda

é mais certa que o Dia de Ação de Graças.

Ele engoliu em seco e eu sorri ao me erguer. Me virei, andei


até a mesa de mogno e tirei minhas facas de uma das gavetas.

— Para a sua sorte, hoje eu quero me divertir, porém, não


manuseio tão bem quanto meu irmão. Prince realmente sabe como

infligir dor com eficiência.

Seu rosto ficou apertado e eu sorri. Droga, eu estava ansioso.

Quando saí do quarto, havia tanto sangue no chão que o piso

estava coberto. Zyon me acompanhou até um dos banheiros e eu


lavei minhas mãos, completamente tenso.

— Cara, aquilo foi animal — ele resmungou, limpando as


mãos também.

— Realmente foi. Precisamos entrar neles. Continuarão vindo

se não nos sentarmos e conversarmos — resmunguei, irritado.

— Sim, essa merda vai continuar. — Zyon acenou.


— Eles não tiveram sorte nas duas vezes, mas quem sabe na
próxima? Preciso tirar Prince de Oak Park. — Respirei fundo e
sequei minhas mãos.

— Você sabe que tem sangue até na cueca, certo?

Porra. Era verdade.

Deixei Zyon e, grunhindo, fui tomar banho.

Assim que saí, esperei Prince terminar com o seu cara no


corredor. Algo estava apertando meu estômago quando percebi que

muito tempo tinha se passado. Bati à porta e abri. Meu estômago


retorceu quando vi a bagunça que ele havia feito. Porra.

Procurei meu irmão e o encontrei de pé, respirando com


força, enquanto seus ombros subiam e desciam. Voltei a olhar para

o homem, ou o que restou dele. Ele estava com a barriga aberta e


sua boca estava rasgada como a do Coringa. Seus dedos tinham

ido embora.

— Cara, vamos. — Andei até ele e o puxei pelo braço.

— Ele... — Prince lutou contra sua respiração enquanto o

puxava com mais força. — Ele...

— Calma — pedi, fechando a porta e o levando até o


banheiro.
— Ela... ele falou...

Seu corpo começou a tremer e eu o enfiei debaixo do

chuveiro, sentindo meu coração bater contra a minha garganta. O


que Prince tinha?

— Prince, respire fundo — mandei, enquanto via a água

descer sobre seus cabelos e molhava não apenas ele, mas eu


também.

— Ele falou sobre ela. Onde ela está. Eles sabem dela. —

Sua voz ficou mais forte.

— Ela quem? — Segurei sua cabeça com força.

— Lake.

Meu coração parou e eu entendi a bagunça naquela sala.

— Vamos trazê-la de volta — falei, com firmeza. — Termine

seu banho. Vamos voltar para Chicago. Precisamos falar com


Rocco.

Prince acenou e eu saí do banheiro, já pegando meu celular.

— Precisamos conversar.
Quando entrei na mansão com Prince ao meu lado

parecendo mais atormentado que os dias anteriores, eu me deixei


ficar alerta. Prince era uma bomba e eu estava esperando-o

explodir, porém, cuidando e tentando amenizar estragos.

— Ele não vai querer trazê-la. — Ele assoprou a fumaça da

maconha na minha cara e meu rosto se retorceu.

— Cara, pare de ficar chapado — pedi, irritado.

Prince me olhou.

— A erva me deixa calmo, Matteo. Você não quer me ver

sem ela.

Foda-se.

Entrei no escritório do Rocco e o encontrei com Romeo.

— Os Zenduryc sabem onde Lake está.

— Que merda? — Rocco se ergueu.

Acenei e contei o que eu sabia antes de Prince completar

com tudo que havia acontecido ontem.

— Precisamos trazê-la para casa — afirmei.

Ele engoliu em seco enquanto passava a mão pelo cabelo e

o puxava.
— Estou tentando trazê-la para o casamento do Matteo e já

está difícil. Não sei o que aconteceu, mas ela não quer vir. — Rocco

respirou fundo.

— Você sabe o porquê. — Apertei meu punho. — Ela não

quer vir por causa de vocês. Por mentirem e não confiarem nela —

argumentei, irritado, fazendo Romeo desviar os olhos. — Eu vou


buscá-la e juro que eu a trarei para casa nem que seja amarrada.

E eu cumpriria essa promessa.

Ir até a Suécia deveria ser fácil, mas nada com o nome


Trevisan era. O jato levou um dia para estar pronto, pois estava em

manutenção e Rocco estava conversando com pessoas importantes

de lá para que nada desse errado no meu pouso.

— Estou ansiosa para conhecê-la — Ella resmungou

enquanto andávamos pelo jardim da casa dela. Eu não queria vir

aqui, porém Romeo disse que era o certo. Foda-se.

— Você vai gostar dela. Lake é incrível — falei com firmeza e

a ajudei a descer a escada que levava a um campo de rosas.


— Sim, Prince não gosta de falar dela, mas aposto que sim.

— Antonella sorriu para mim.

Acenei, não querendo entrar nesse assunto. Prince e Lake

eram duas peças de quebra-cabeça. Ninguém conseguia decifrá-


los.

— Escolhi o vestido hoje. — Suas palavras me fizeram

acenar, mas nada além disso. Ella encarou meu peito e eu segui
seu olhar em direção ao colar que minha mãe havia me dado. O

anel brilhava com a luz do sol. — Que lindo. — Sua mão ergueu

para tocar a joia, mas eu dei um passo para trás.

Aquele anel era sagrado. Ella não podia tocá-lo. Não era

dela. Nunca seria.

— Então, o nome dela? — Minha noiva mudou de assunto e

eu fiquei rígido.

— De novo isso? — rosnei, irritado. Ella arregalou os olhos,

assustada. — Você não está errada, Antonella. Existe outra mulher,

mas você e ela nunca vão se encontrar. E eu nunca vou falar sobre

ela com você, então pare com essa merda.

Antonella desviou os olhos e se afastou depois de acenar.

— Preciso ir. Te vejo quando voltar.


Deixei-a sozinha e andei rápido para o meu carro.

Meu celular tocou e eu respirei fundo ao ver o nome de Brian

na tela.

— O quê? — perguntei, tenso, enquanto entrava em meu

carro.

— Carolyn está aqui.

Meu punho se enrolou no volante e eu balancei a cabeça,


furioso. Essa vagabunda não estava em reabilitação, porra?

— Não venda nada a ela e a coloque em um quarto. Estou a


caminho.

Desliguei a chamada e pisei no acelerador. Fúria encheu

meus sentidos e, ao mesmo tempo, satisfação. Eu veria Blue.

Eu colocaria meus olhos na minha Flame depois de meses.

Assim que cheguei ao Village, Brian acenou para o corredor

que levava aos quartos. Ouvi os gritos de Carolyn antes mesmo de

chegar lá.

— Brian, me tire daqui! — a mãe da Flame gritou antes de eu

abrir a porta.
Carolyn se afastou ao ver que era eu. Sua roupa estava

limpa, seus cabelos bem-feitos, ela parecia bem. Muito bem.

— O que você está fazendo aqui? — rosnei, irritado.

Ela mordeu o lábio e olhou para qualquer lugar, menos para


mim.

— Eu-eu... — Sua boca se abriu, mas ela não conseguiu


formular nada.

— Eu vou enfiar minha arma na sua boca. É isso que quer?

— Me aproximei com o corpo rígido e ela balançou a cabeça


rapidamente. — Então, Carolyn, o que diabos você está fazendo

aqui? Você não estava na reabilitação?

— Blue não pagou a clínica e eles me liberaram. Eu... ela não

sabe ainda. Eu só... — Seus olhos se encheram de lágrimas e eu

respirei fundo. — Eu tentei me controlar, mas quando vi já estava

aqui.

Porra fodida dos infernos.

— Vamos. — Acenei para fora e ela ficou parada. — Agora.

Carolyn me seguiu e eu andei para fora do Village com ela.

Quando entramos em meu carro, dirigi para fora do estacionamento.

— Não conte para ela... por favor...


Seu desespero me fez apertar o volante.

Eu queria ver Blue. Porra, nem que fosse de longe. Eu

precisava vê-la.

— Não vou.

Quando paramos em frente à clínica de reabilitação que ela


fazia parte, Carolyn me encarou confusa.

— Você quer ficar bem? — questionei e ela acenou rápido. —


Então nós vamos entrar nessa merda, eu vou pagar o resto do seu

tratamento e vou voltar a ver você quando estiver limpa.

Ela começou a chorar e eu saí do carro. Andei com ela para


dentro e fomos para a recepção. A atendente sorriu para a mãe de

Blue e abriu a boca.

— Carol, Blue está louca de preocupação. Onde estava? —

ela perguntou, preocupada, mas eu só ouvi a parte do nome da


Blue. Ela estava aqui?

— Passe todo o valor do tratamento dela nesse cartão.


Agora. — Empurrei meu cartão nas mãos dela e logo seu foco
mudou para profissional.

— Eu vou te pagar — Carolyn falou ao meu lado, mas eu a


ignorei. Sabia que ela não teria como pagar, e tudo bem.
— Fique bem, Carolyn. Esse é o meu pagamento — afirmei
rígido e olhei para o relógio, vendo que estava tarde. Eu viajaria
logo.

— Mãe! Meu Deus, onde você estava? — A voz da Flame

soou assim que a atendente me devolveu meu cartão.

— Ei, Boo. Eu estou bem. — Carolyn se afastou de mim.

Eu fiquei de costas, tentando juntar minha merda e me virar.

— Ma-Matteo? — Blue chamou e o tom das suas palavras

eram aterrorizadas.

Me virei devagar e deslizei os olhos por ela. Blue estava de


tênis e um vestido azul. Seu cabelo estava em ondas que caíam

pelo seu colo. Ela estava perfeita, mas não foi isso que me acertou
no peito.

— Que porra é essa? — gritei ao ver a barriga enorme diante

de mim.

— Sam, você pode levar minha mãe? — Blue pediu a


atendente e ela se afastou com Carol.

— Você está grávida? — Minha voz soava desacreditada.

Ela estava grávida. Minha Flame estava grávida.


— Sim... — Blue mordeu o lábio e seus olhos se encheram
de lágrimas.

— É meu?
É meu?

O suor deslizou pelas minhas costas, minhas mãos


começaram a tremer e minha respiração se alterou. Se isso não era
um ataque cardíaco, certamente era algo parecido.

Passei meses longe dele, meses lutando contra o que eu

sentia por ele com minha gravidez de pleno risco, meses mais no
hospital que em casa. Tudo isso enquanto tentava esquecê-lo.

Esquecer que ele nunca seria meu. Que ele era noivo de alguém.
Tentei lutar contra meu lado racional que dizia que eu devia ligar e

contar para ele. Nunca consegui.


Eu não tinha coragem, porém sentia medo. E foi esse medo

que me paralisou.

Meu bebê estava bem, eu cuidei dele, não precisava de

Matteo ou do seu mundo sujo. Nós dois éramos livres e eu poderia


cuidar dele sozinha.

Como fiz durante todos esses meses.

— Não.

Matteo apertou a mandíbula enquanto me olhava com tanta

intensidade que me assustou. Ele estava de camisa preta simples e


calça jeans que moldava seu quadril e coxas. Tudo era simples, mas

essa palavra nunca faria jus a esse homem.

— De quem é?

Sua pergunta me fez ficar gelada.

— Você não o conhece — murmurei com firmeza e olhei


sobre o ombro, vendo Sam levar mamãe para os quartos. — Ei,

Sam. Eu vou levá-la.

As palavras pareciam fel em meus lábios. Eu tentei o quanto

pude continuar pagando a clínica, mas, juntando com as contas do

hospital, eu não consegui. A culpa corroeu meu estômago por isso.


Mamãe estava melhor. Ela parecia mais feliz e alegre. A clínica
estava fazendo bem, mas nem tudo era do jeito que eu esperava.

— Blue, Matteo pagou pelo resto do tratamento. Ele é um

homem muito bom — mamãe falou animadamente.

Arregalei os olhos. Que merda!

Sam levou mamãe e eu fiquei sozinha com Matteo.

— Eu vou devolver tudo — falei ao me virar.

Ele riu, coçando a barba por fazer.

— Se preocupe em sustentar seu filho. Não quero de volta.

— Ele apontou para a minha barriga com ironia.

Semicerrei os olhos, desacreditada.

Matteo se virou e andou para fora sem esperar por uma

resposta minha. Bem, ele podia se foder com seu sarcasmo, mas do

meu filho ele não falaria assim.

— Nunca mais fale com esse tom sobre ele. Nunca — gritei,

alcançando-o e empurrando seu peito.

Matteo me olhou com frieza e eu quis bater em seu rosto e

depois o beijar.

Deus, eu estava uma bagunça.


— Quanto tempo? — Ele quis saber, parando meus

movimentos. Ele segurou minhas mãos e se aproximou até ficar


cara a cara comigo.

— Não é da sua conta! — gritei, furiosa, mas ele segurou


meu rosto.

— Fique feliz por não ser meu, Blue, porque eu o tiraria de

você assim que nascesse. — Meu coração bateu rápido com o


sorriso cruel que delineou seus lábios. — E o levaria para a minha

esposa cuidar. Você sabe...

Suas palavras se perderam, porque soquei seu peito com

tanta força que até me surpreendi. Mas não ele. Matteo riu do meu
desespero. Da minha agonia. Ele me prendeu dentro dos seus

braços e se inclinou.

— Nunca. Você nunca vai tirá-lo de mim! — gritei, antes que


ele pudesse falar algo. — Ele é meu. Meu. Você não é pai dele e
nunca vai ser!

Matteo parou de sorrir.

E eu percebi o que tinha feito. Idiota.

Ele segurou meu cotovelo e começou a me guiar para fora da


clínica, longe de todos.
— Pare! — pedi, puxando meu braço da sua posse, mas

Matteo não o fez.

Ele abriu o carro e me colocou dentro. Bati no vidro, pedindo


para sair, mas Matteo apenas correu para o lado do motorista e

entrou. Minha garganta estava doendo, minha cabeça parecia


explodir e meu peito estava dolorido.

— Me deixe ir — pedi, tentando me acalmar.

— Eu nunca vou te deixar ir. — Matteo prendeu os olhos nos


meus ao falar. — Nunca mais. Eu juro, Blue, que quando você ousar

sair de perto de mim, eu estarei morto.

— Ele não é seu... — Tentei reforçar minha mentira enquanto

lágrimas enchiam meus olhos. — Me deixe ir...

— Ele é meu, Blue! — Matteo gritou, saindo do


estacionamento. — E eu prometo que você vai se arrepender de ter

escondido isso de mim.

— Matteo, ele não...

— Pare de mentir! — ele berrou, agarrando o volante. Fechei

meus olhos, apertando minhas mãos contra meu rosto. — Eu te


odeio tanto, Blue. Tanto.
— Matteo. — Choraminguei, perdida, enquanto ele me olhava
com nojo.

— Eu esperei isso, essa porra de segredo, qualquer segredo,


da minha família, mas nunca de você! Nunca.

Meu coração parou ao ver seus olhos brilharem com mágoa.

— Você me enganou. Você me afastou do meu filho, meu


sangue, e para quê? — Matteo gritou, nervoso, enquanto eu olhava

para a avenida e o via acelerar mais.

— Eu estava com medo — confessei, tremendo e começando


a fungar. — Pare o carro, por favor.

— Medo? — Matteo balançou a cabeça e respirou fundo. —


Você deveria estar com medo agora, não antes. Antes eu a levaria

para a minha casa e assumiria você. Hoje, porra, hoje eu vou fazer
você sentir o mesmo que eu.

Eu não consegui responder. Ele parecia fora de si, nervoso.

Me virei e agarrei minha barriga. Senti chutes começarem e


suspirei. Estava com quase seis meses e tinha começado a sentir

meu bebê mexer há pouco tempo. Era mágico, eu me sentia uma


pessoa muito abençoada.
Matteo parou o carro e eu olhei para fora, vendo que
estávamos no aeroporto. Franzi as sobrancelhas e o encarei. Ele
saiu e abriu minha porta, ainda calado.

— O que estamos fazendo aqui? — questionei, tremendo. Ele

pegou minha mão e me tirou de dentro do carro. — Matteo, você


está me deixando nervosa.

— Vamos viajar.

O quê?

— Matteo, eu não vou para lugar algum! — gritei, enquanto

ele me puxava. Acompanhei-o a passos rápidos com medo de cair.


— Você vai me machucar! — berrei, cansada.

Ele parou na frente da escada para o jato.

— Vamos. — Ele acenou para a escada e eu balancei a

cabeça.

— Vamos conversar, por favor — pedi, fungando e limpando

meu rosto.

— Eu tenho que subir nesse jato agora, e avisei que você

não sairia de perto de mim até eu estar morto, então comece a subir

essa escada. — Matteo estalou, furioso.


Respirei fundo, decidindo escolher minhas batalhas. Essa era

uma que estava perdida.

Subi a escada e me sentei em uma poltrona, agarrando

minha bolsa. Graças a Deus eu havia colocado meus remédios na


bolsa ao sair para buscar minha mãe na clínica.

Matteo se sentou na poltrona do outro lado do corredor e

focou sua atenção na janela. Eu sabia que havia errado com ele.
Esconder que ele era pai do nosso bebê foi baixo até para mim,

mesmo que tudo tenha sido levado pelo medo.

Infelizmente, eu estava cansada de lágrimas e discussão.

Queria me acalmar e tomar meu remédio. Descobri a hipertensão

em uma das minhas consultas. Desde então, eu me medicava e

tentava controlar minha comida.

Uma mulher elegante passou e eu sorri quando ela se

aproximou de mim.

— Com licença, você pode me dar um copo de água? —

pedi, tentando parecer calma e não a louca desesperada que eu

estava sendo segundos atrás.

— Claro. Um segundo.
Quando ela voltou, eu segurei a taça com gelo e água e

agradeci. Tirei meu porta-comprimidos e peguei minhas vitaminas e

o medicamento para a pressão. Engoli tudo com a ajuda da água e


suspirei. O.k. Vai ficar tudo bem.

Peguei meu celular e enviei uma mensagem à minha médica

perguntando se eu podia viajar. Se ela dissesse que não, eu não


saberia o que fazer, porque Matteo não me escutava. Segurei minha

respiração quando ela visualizou e respondeu.

“Pode. Tome sua medicação e não se estresse.”

Fale isso para o pai dele. Pensei, suspirando. Me virei e o vi

com a atenção no celular. Ele estava falando com a esposa? Meu


peito apertou com o pensamento.

A mulher voltou e pediu para que colocássemos o cinto. Eu


pus o meu e depois que decolamos, o sono começou a me assolar.

Senti uma manta sobre mim e agradeci a moça com um sorriso.

Bocejei enquanto lutava contra o sono por minutos, mas desisti e

me virei, adormecendo em seguida.


Meu estômago roncou assim que acordei. Minha poltrona

estava reclinada e a manta me mantinha aquecida. Me virei devagar


e vi Matteo de pé, com o celular no ouvido.

— Diga a ela que eu não ligo, porra. — Sua voz reverberou


pelo jato. — Voltarei amanhã cedo, então diga a ela isso.

Era sua esposa? Quis saber como ela era. Seu nome, se era

bonita. Onde eles moravam. Era no apartamento? Se mudaram?

Quis me torturar imaginando a vida dos dois.

— Olá. Pousaremos em meia hora. Você quer comer? — A

aeromoça apareceu, tampando a visão de Matteo.

— Sim, por favor. Você tem frutas, proteína e salada? —


perguntei, mas fiz uma careta. — Não estou de dieta, quero dizer,

sim, mas não por mim, é pelo meu bebê — expliquei devagar e ela

riu.

— Temos sim. Trarei para você em um minuto. Vou arrumar

sua poltrona.

— Muito obrigada.

Ela se afastou e eu me ergui, olhando para a porta que dizia


ser o banheiro. Matteo estava parado com o celular na mão, me

olhando. Ignorei-o e fui para o banheiro. Fiz xixi, me limpei e saí.


— Faça essa merda acontecer. Passe no meu cartão. —

Matteo desligou o celular e guardou no bolso. — Você dormiu

bastante — ele murmurou, sem me olhar, enquanto voltava a se

sentar.

— Os remédios e os hormônios — resmunguei, voltando para

o meu lugar.

— Por que os remédios? — ele questionou assim que a

simpática Sidney voltou com minha comida.

— Obrigada.

Ela saiu e me deixou diante de uma bandeja com um jantar


incrível.

— Minha gravidez é de risco — falei devagar e Matteo franziu

as sobrancelhas. — Tenho hipertensão. Se eu não me cuidar, meu


bebê pode nascer com problemas. Eu posso ter problemas. — Um

caroço cresceu em minha garganta. Talvez seja isso o que ele

queira. Que eu morra no parto e ele possa ter meu filho para si e
sua esposa.

— A dieta é por isso também? — Ele apertou o nariz.

Acenei enquanto enchia meu garfo com alface.


Matteo ficou em silêncio pelo resto da minha refeição.

Quando terminei, olhei pela janela e suspirei ao ver as nuvens. Era


tão bonito.

— Onde estamos? — perguntei quando vi a neve cobrir o

solo.

— Irlanda — Matteo respondeu e eu percebi que ele havia se

aproximado. — É bem frio nessa época do ano. Mandei comprar


roupas para você.

Me virei e encarei seu rosto perfeito, tentando acalmar meu

coração.

— Para que me trouxe aqui? — perguntei, engolindo em

seco.

— Vim buscar Lake. Será rápido. — Ele se afastou até sua

mala e tirou um casaco grosso e preto. Uma touca e luvas. —

Deixe-me vestir você.

Acenei e me ergui, então ele colocou o casaco sobre meus

ombros. A touca e as luvas eu coloquei sozinha. Voltei a me sentar


quando Sidney pediu, avisando que iríamos pousar.

Matteo me ajudou a descer a escada enquanto eu apertava o

casaco contra mim. O frio não era algo de outro mundo, ou tão
diferente do de Chicago, mas minhas roupas não eram as mais
adequadas.

Matteo me enfiou em um carro preto que estava próximo e eu


olhei pela janela enquanto o carro deslizava pela pista. Estava

amanhecendo, e Dublin era linda. Queria ver mais dela, porém o

carro estacionou.

— Você está cansada, com sono? — Matteo questionou,

ainda dentro do carro.

Balancei a cabeça, havia descansado bastante no avião e

estava sem sono.

— Estou bem.

— Vou para a escola onde Lake está. Você quer ir ou ficar no

hotel? — Ele não me encarou quando perguntou, então ponderei um


pouco.

Se Matteo veio dos Estados Unidos até aqui, algo tinha

acontecido, então era melhor eu não o deixar sozinho. Sabia como


sua família tinha a tendência a machucá-lo, e por mais que eu
quisesse não dar a mínima, eu ainda o fazia.

— Vou com você.


Levou dez minutos para chegarmos a uma construção bonita
e enorme.

— Lake Trevisan — Matteo respondeu ao homem que nos


recebeu quando questionou o que desejávamos. — Agora, de

preferência.

O homem acenou rápido e eu assisti a Matteo andar de um


lado para o outro no escritório enquanto esperava pela sua irmã. Ele

parecia tenso, preocupado e, Deus o ajudasse, eu esperava que a


conversa com a caçula da família dele fosse boa.
Blue me observou por longos minutos, mordendo a boca. Seu
corpo estava coberto pelo casaco grosso, mas eu ainda podia
vislumbrar o ventre inchado. Deus, eu queria tocar. Sentir que era

real.

Eu seria pai.

Santo Inferno, eu teria um filho.

— Você está bem? — Blue se ergueu da cadeira e parou ao

meu lado, tocando minhas costas. Com apenas um toque, ela foi
capaz de me acalmar. Como diabos isso tinha acontecido era a

grande questão.
— Sim. Aliás... — Olhei para seu rosto e engoli em seco. —

Quando você fala do bebê, você diz “ele”. É um menino? —


questionei, sentindo meu coração apertar.

— Eu não sei. — Ela mordeu o lábio. — Vou saber na


próxima consulta.

— O.k. — respondi na mesma hora que abriram a porta.

Uma garota apareceu. Seu cabelo era preto, seus olhos

azuis, mas ela não parecia minha Lake. Não parecia minha irmã.

— O que... ah, meu Deus! — Seus olhos se encheram de


lágrimas e ela correu para os meus braços. Segurei-a contra mim

enquanto a confusão desaparecia e o meu peito era recolocado no

lugar.

Minha Lake estava em casa.

— Ei, baby — murmurei, segurando sua cabeça enquanto

abraçava a sua cintura. Ela soluçou contra minha camisa e me


encarou com os olhos bonitos e brilhantes que herdou da nossa

mãe. — Você está linda — falei quando ela se afastou.

— Onde ele está? — Lake olhou sobre meu ombro.

Eu não precisava que ela dissesse o nome para saber de

quem ela estava falando.


— Prince ficou em Oak Park. Trabalhando.

— Oh... — Ela desviou os olhos e eu vi que estava magoada.

— Rocco falou sobre seu casamento. Ela é a Antonella? — Lake

sorriu, dando um passo em direção a Blue. — Meu Deus, você

engravidou alguém? — minha irmã gritou, surpresa.

— Oi, Lake. Eu sou a Blue. — Flame estendeu a mão para a


Trevisan mais nova.

— Blue... — Lake me encarou confusa, mas pegou a mão

dela. — Você é linda. Então, hum, o que você é do meu irmão?

— Lake? — Gemi, balançando a cabeça.

— Nada — Blue falou de maneira firme e me olhou. — Eu

não sou ninguém.

— Mãe do meu filho. É isso que ela é — rosnei, irritado pelas

suas palavras. — Você terá mais um sobrinho em breve. — Me virei

para a minha irmã.

— O.k... — Lake olhou entre nós e suspirou. — Olhe pelo

lado bom, você vai ter um filho lindo. Blue é fantástica. — Lake

sorriu e eu relaxei.

— Sim, ela é — confirmei e me movi para o sofá. A sala era

enorme e muito bem mobiliada. Rocco escolheu uma escola boa


para Lake, não tínhamos dúvida disso.

— Adorei ver você, mas o que está fazendo aqui? — Lake se

aproximou e eu bati no lugar ao meu lado, pedindo-a para se sentar.

Quando ela o fez, comecei a falar.

— Vim buscar você.

Ela se ergueu ao me ouvir, com o corpo completamente


rígido. Eu já previa sua reação, por isso apenas a encarei.

— Lake...

— Não posso voltar... — Seu rosto ficou escuro e eu me


ergui. — Ele disse que eu não deveria voltar... Eu fiz algo horrível e

ele está me punindo...

— Inimigos descobriram seu paradeiro e podem usar isso


contra nós.

— Não... — Seus olhos se arregalaram e eu acenei. — Mas


não posso voltar...

— Olhe para mim — pedi, com firmeza, e segurei seu rosto.

— Você precisa voltar. Não apenas pelo motivo que vim. Por ele.

— O que ele fez? — Sua preocupação me deixou mais leve.


Porque no jogo de preocupação, Prince e ela eram as únicas

pessoas no mundo que brigavam um pelo outro com a mesma


garra.

— Ele está perdido — falei, sentindo minha garganta fechar.

Odiava falar dele como se eu não o conhecesse mais. — Ele


machuca as pessoas, usa-as e, porra, ele está a maior parte do
tempo drogado. Ele não é mais nosso Prince. Ele é outra pessoa.

Lake levou as mãos ao rosto e soluçou. A culpa estava

refletida em seus movimentos.

— Eu fiz isso com ele. — Seu choro ecoou pela sala. Segurei
seus ombros, puxando-a para mim. — Eu o deixei, não respondi
suas mensagens, não fui uma boa irmã.

— Você pode mudar isso — afirmei, afastando seu corpo

para encarar seu rosto. — Vamos para a casa e conserte isso.

Lake acenou, tremendo, e eu a puxei de volta para mim,


respirando aliviado.

Porra, graças a Deus.


Lake levou uma hora para arrumar suas coisas, enquanto
Blue ficou me ignorando por todo o tempo fodido. Nós fomos para o
hotel e eu deixei as duas tomando banho e descansando enquanto

pegava meu celular e ligava para Rocco.

— E aí? — Ele apareceu com o rosto cansado.

— Você está bem? — Franzi as sobrancelhas.

— Sienna está tendo contrações desde ontem, então não, eu

não estou bem.

— Espere, ela já vai ter nossos garotos? — questionei,


ansioso.

— São de treinamento ou alguma merda assim. Agora me


conta, como foi? — Ele se jogou em um sofá.

— Lake aceitou voltar. — Respirei fundo. — Não conte a ele

— pedi, sabendo que se ele soubesse que ela estava indo para
casa ia se enfiar em maconha.

— Não vou. Conversei com ele sobre voltar para casa. —


Rocco passou a mão pelo rosto e balançou a cabeça. — Ele não

quer, principalmente agora que a chance de ela voltar é real.

— Preciso falar algo e não quero que você surte, o.k.? —


murmurei, andando até a porta e verificando se estava fechada.
— Desembucha. — Rocco semicerrou os olhos.

Ignorei seu rosnado e respirei fundo.

— Blue está gravida.

— Que porra é essa, Matteo? — ele gritou, se erguendo. —

Você está noivo.

— Eu sei, cara...

— Você não sabe usar camisinha?

Sei, mas não quis. Em nenhuma das vezes que entrei em seu
corpo, e se eu fosse entrar novamente, porra, não usaria

novamente.

— Eu sei. Eu sei, porra, mas com ela... — Parei de falar e me

sentei, passando a mão na cabeça. — Ela escondeu de mim —

falei, suspirando.

— Como diabos? — Rocco arregalou os olhos. — Foi antes

de você ficar noivo.

— Sim, antes. — Apertei meu punho e o mordi, preocupado.

— O que vou fazer?

— Você vai assumir seu filho e vai se casar com Antonella. —


Sua firmeza ao falar me fez respirar fundo. — Ou você está
pensando em desistir?

Sua pergunta ficou na minha mente, brincando comigo.

Porém, eu não podia fazer isso. Blue havia me enganado, Ella

nunca saiu do meu lado.

— Não. Vou seguir com o casamento.

Eu me odiei ao pronunciar as palavras.

— Bom. Espero por vocês. Se cuidem.

Desliguei a chamada e me deitei na cama, encarando o teto.

O que você diria, mãe? Questionei em pensamento enquanto

segurava o colar e apertava os olhos.

Blue dormiu no voo de volta, enquanto Lake ficou lendo e eu

tentando não enlouquecer. Queria falar com Blue, não sabia o que

dizer, mas tinha certeza de que na hora as palavras viriam.

— Meu Deus, eu estou dolorida. — Flame gemeu, descendo

a escada do jato. Observei-a em silêncio enquanto Lake colocava o

par de óculos no rosto e jogava os casacos.


— Esqueci como é quente aqui nessa época do ano. — Ela

sorriu para mim e eu dei de ombros. — Não vejo a hora de ver

Remy.

— Ele é lindo. — Blue entrou na conversa, sorrindo.

— Você conhece as meninas? — Lake questionou,


interessada. Blue acenou. — Hum. — Ela me olhou e eu me afastei.

— Então, hum, como é o lance do casamento dele e o bebê de

vocês...

— Lake — rosnei, furioso. — Entrem no carro.

As duas bufaram, mas seguiram meus comandos. Blue evitou


me encarar no trajeto até a mansão, e quando chegamos ela ficou

rígida dentro do carro.

— Eu quero ir para a casa da Raina. Podemos conversar


mais tarde — ela falou quando abri sua porta.

— Blue, saia. Você não vai ficar longe de mim — afirmei,


apertando a porta. — Não vou dar oportunidade para fugir com meu

filho, então saia da porra do carro.

Ela balançou a cabeça, respirando fundo para controlar as

lágrimas que já enchiam seus olhos.


— Ei, tudo bem. — Lake a encarou e suspirou. — Preciso de

você, Blue. Me dê um pouco de força, por favor?

Blue era como uma babá pronta para limpar a bagunça dos

outros e cuidar deles, por isso, não me surpreendi quando ela saiu
do carro ao lado de Lake.

Me virei e entramos na mansão. Tudo estava silencioso, até

entrarmos na sala de jogos. Lake parou de respirar quando viu


Remy deitado em seu tapete, brincando com bonecos.

— Oh. — Ela foi surpreendida por duas mulheres a


agarrando, uma com dois bebês ainda na barriga. — Eu senti tanta

falta de vocês. — Lake choramingou, fungando e abraçando as

cunhadas.

— Você está tão linda. — Lunna se engasgou com o choro e

tocou o cabelo de Lake. — Olhe isso aqui. — Ela pegou a mecha

rosa do cabelo dela e sorriu.

— Você está linda, nem parece que deu à luz recentemente,

e você... Jesus, nunca vi você tão grande. — Ela riu para Sienna e

beijou o ventre da esposa de Rocco.

— Eu não vejo a hora de chutar os dois daqui. — Si gemeu

para dar ênfase.


Olhei para os meus irmãos e foquei em Prince. Ele estava

sentado no sofá, mexendo no celular, mal vendo que Lake estava

em casa. Rocco pegou o celular dele e Romeo o puxou para ficar de

pé.

— Ei. — Lake se aproximou e ficou parada, sem saber o que

fazer. — Eu...

— Preciso sair — Prince falou de repente e passou por ela

como se fosse um raio.

Ninguém falou nada por alguns segundos. Dei um passo em

direção a Flame.

— Eu preciso conversar com Blue, então volto já — avisei a

minha família.

Sienna se virou junto com Lunna.

— Meu Deus, você está tão linda. — Lunna se aproximou e

sorriu, abraçando Blue. — Parabéns pela gravidez.

— Espero que seja ruivo como você — Sienna afirmou,

também agarrando-a.

— Obrigada. Eu também quero que ele nasça ruivo.

Eu a guiei para longe das mães corujas Trevisan e subi a


escada com ela. Assim que fechei a porta do meu quarto, Blue se
virou.

— Deita — pedi, engasgado.

— Não vamos transar, Matteo! — Blue arregalou os olhos.

— Deita. Não é isso — falei, me aproximando da cama.

Ela se sentou depois de alguns minutos ponderando. Eu a fiz


deitar-se e fiquei de joelhos ao lado da cama.

— Não se assuste — avisei a ela antes de subir seu vestido

até seu peito. Respirei fundo ao colocar a minha mão sobre seu
ventre. Sua pele clara contrastou com a tinta escura que manchava

a minha.

Senti uma movimentação e acariciei. Minha garganta fechou

e eu não consegui engolir.

— Ele está agitado — Blue murmurou, encarando o teto.

— Estou vendo — resmunguei, enquanto ainda segurava sua

barriga. Beijei-a e respirei fundo novamente. — Eu quero que more


comigo — falei, com firmeza.

Blue se apoiou nos cotovelos para me encarar.

— Eu vou cuidar de vocês, Blue. Para sempre, eu juro.

— E Antonella? — Sua voz diminuiu.


Eu me afastei, sabendo que esse ponto iríamos discutir.

— Antonella não vai ficar em seu caminho ou você no dela.

— Meu caminho? — Blue se sentou e desceu o vestido. —

Você vai se casar, Matteo.

— Sim, mas ainda quero você e ele — afirmei, me


aproximando enquanto Blue se esquivava e se erguia da cama.

— E quando se casar? Você quer que eu e meu filho


moremos com vocês? — Sua voz soou magoada e eu quis entender

por quê.

— Sim... não. Eu não sei, mas não vou ficar longe dele —
afirmei. Blue desviou os olhos lacrimosos. — Flame...

— Não me chame assim! Esse não é meu nome e eu o


escondi de você por isso! — Blue gritou, chorando. — Pela sua vida,

pela sujeira e maldade que eu sei que habitam em você. Porém,


mais ainda, e eu me sinto uma imbecil confessando, por saber que

você nunca seria nosso. Você será dela, dos filhos que vão ter
juntos, não meu e dele.

— Blue...

— Meu filho vai ser considerado um bastardo.


— Nunca! — gritei, me aproximando e tentando segurar seu
rosto, mas ela se esquivou de mim. — Eu juro, eu vou fazer até o
impossível para que ele nunca se sinta assim.

— Você não pode jurar. — Blue fungou e mordeu o lábio, sem

me encarar. — Deus, como eu me arrependo...

— O quê? — confuso, perguntei enquanto ela erguia o


queixo.

— De você! De ter aceitado aquele emprego, de ter deixado


você me ter! Eu deveria ter transado com qualquer pessoa, menos
com você. — Suas palavras me acertaram mais do que eu um dia

admitiria para ela ou qualquer pessoa. — Amo meu filho, mas eu sei
que você vai fazer da minha vida um inferno.

— Blue.

— Você mesmo disse. Eu sou o diabo, lembra? Eu fui tão

estúpida!

Blue andou pelo quarto e fechou os olhos, tremendo,


enquanto tampava os lábios.

— Eu não vou fazer você sofrer. Eu juro! — argumentei,


querendo me aproximar, mas seu estado estava me deixando alerta.
— Eu estou sofrendo desde o dia que me disse que estava
noivo, Matteo. — Blue limpou as bochechas e andou para a porta.
Estava magoada, mas eu não deveria. Matteo nunca me

prometeu nada, nunca disse nada além de palavras de posse ditas


na cama. Eu sempre soube que nunca o teria, porém hoje eu me

permiti sentir um pouco de esperança.

Tola.

— Abre a porta — pedi, batendo na madeira. Tentei abrir,


mas estava trancada.

— Diz que vai ficar comigo em Oak Park — ele ordenou,


completamente frio.

Por que diabos eu gostava dele? O que eu vi nesse homem,


e por que não conseguia esquecê-lo?
— Você esqueceu quem é? Você mexe seus pauzinhos de

merda e eu estou a sua mercê! — gritei, enfurecida, ao me virar. —


Você adora fazer isso. Adora controlar meus passos, minha vida.
Você acha que desde o dia que descobri minha gravidez eu não

sabia que você me arruinaria?

— Eu nunca vou fazer mal a você. — Ele inclinou a cabeça,


como se apenas pensar isso o machucasse.

— Seu nome é como uma maldição — falei, respirando


fundo. — Ninguém se aproxima por vontade própria, porque tem
medo de se queimar. Você me chama de Flame, mas o único capaz

de me queimar é você.

— Eu te chamo de Flame porque você é luz. Você é perfeita.


— Matteo se aproximou e tocou meu rosto. — Eu posso ser o diabo

ou filho dele, mas o insultei quando toquei em você. Porque você,


Flame, é tudo que ele mais odeia. Eu gosto e não deveria.

— Pare de falar essas coisas — pedi, sem fôlego e querendo


fugir daqui. — Não fale essas coisas quando você vai se casar com

outra.

Matteo se virou e chutou o abajur. Ele puxou a tevê e ela caiu


no chão, rachando. Levei as mãos aos lábios, abafando meus gritos.
Matteo continuou seu ataque quebrando computador, videogame e
o que estivesse em seu caminho até alguém abrir a porta.

Tropecei para fora e vi Lake. Não sei por que fiz isso, mas eu

me agarrei a ela.

— Matteo! — Rocco gritou com o irmão enquanto eu


apertava minhas pálpebras.

— Calma, Blue. Pense em seu bebê. — Sienna tocou minha

coluna e eu funguei.

— Pare com isso. Olhe o que fez com a mãe do seu filho! —
Romeo berrou no quarto enquanto eu ainda não conseguia olhar

para ninguém.

— Quero ir para a minha casa — falei, soluçando.

Lunna segurou minha mão.

— Não! — Matteo gritou e eu me virei, vendo Rocco o

segurar. — Vamos para a casa.

— Não. Não, por favor, não o deixe me levar — implorei a


Sienna. — Não quero.

Meu corpo sacudiu com soluços. Eu queria sair daqui, queria

Raina, minha mãe, papai ou C.K. Eu queria minha vida simples de


volta. Sem Matteo me deixando louca.
— Blue, você precisa se acalmar. Pense em seu filho.

Ela estava certa. Meu bebê precisava que eu estivesse bem.


Matteo não tiraria isso de mim.

— Matteo não vai levar você para onde não quer ir — Lunna
afirmou me encarando, mas eu sabia que era mentira. Ele poderia
fazer o que quisesse, ninguém o pararia.

— Lunna. — A voz de Romeo estalou e ela ergueu o rosto.

— Você vai permitir? — ela questionou ao marido, confusa.

— Matteo é adulto. Ele faz as escolhas dele, ninguém vai


interferir nisso — Rocco disse e Sienna ergueu o rosto. — Não

ouse, Sienna.

— Blue vai ficar conosco. Se Matteo quer apenas o filho por


perto, tenho certeza de que ela aqui vai ser o suficiente. Certo,

Matteo? — Ela me olhou sem esperar por ele. — Tudo bem, Blue?

Nada estava bem, mas tinha que servir por enquanto.

— Sim.
Sienna, Lake e Lunna me levaram para outro andar, e pelo
rosto da caçula, aqui deveria ser seu quarto. Era iluminado e muito

chique.

— Está igualzinho. — Ela sorriu, olhando para todos os


lugares enquanto Sienna e eu nos sentávamos.

— Não mexemos em nada. — Sienna sorriu e a encarou,


seus olhos encheram-se de lágrimas. — Nem acredito que está em
casa.

As duas se abraçaram e Lunna se sentou, segurando Remy,


que parecia bem quieto em relação a tudo. Deslizei meu dedo em
sua bochecha e suspirei. Ele era lindo.

— Obrigada por me ajudarem — falei devagar. Remy me deu

os bracinhos, então Lunna o empurrou em meu colo e ele deslizou


as mãos em meu rosto molhado.

— Você gosta do Matteo? — Lake se sentou no chão diante

de nós.

— Sim, mas queria que não.

Era a primeira vez que eu assumia que realmente sentia algo

por ele. Ninguém além de Raina mensurava o amor que eu sentia


por aquele homem. Matteo sempre foi o meu segredo mais secreto.
— Eu sinto muito, Blue. — Lunna sorriu tristemente. Funguei,

limpando meu rosto. — Queria que Antonella não existisse.

— Não fale isso. Ela é uma vítima disso tanto quanto fomos
— Sienna falou com firmeza. — Ella não é uma menina ruim.

Não importava. Eu a odiava. Odiava Antonella por ela ter o


anel dele em seu dedo.

— Eu a odeio e nem a conheço — Lake disse firmemente e


me encarou. — Blue é perfeita para Matteo. Eles terão um filho.

— Eu sei. Eu também quero que fiquem juntos. — Sienna


suspirou tristemente.

Eu também queria. Por mais idiota que isso soasse, eu ainda

o queria. Eu o queria para mim e para o nosso filho.

— Você tem certeza sobre eu ficar aqui? — questionei à


esposa de Rocco, sentindo meu peito apertar.

— É claro. Logo terei Amo e Rhett, então preciso de

ajudantes — ela falou séria e depois riu. — Estou brincando!

— Não está não. — Lunna riu e Lake também.

Me senti mais leve com elas, como se meu peito tivesse sido

libertado de um peso enorme. Não havia sido, mas a companhia e


apoio me ajudaram.
Meu pai estava irritado e eu não o culpava. Pedi que
enviasse minhas coisas por um Uber. Quem diabos faz isso? É claro

que conversei com ele, expliquei que estava ficando em Chicago,


mas ele obviamente não estava bem com isso.

— Ele está irritado? — Raina se sentou na cama do quarto


onde eu estava hospedada na mansão dos Trevisan.

— Magoado e irritado. — Mordi meu lábio, jogando o celular


na cama e me virando para ela me ajudar a colocar o biquíni
vermelho.

Sienna amanheceu querendo entrar na piscina e Rocco não


deixou, porém ela estava satisfeita com a banheira de
hidromassagem que faria maravilhas para as dores que ela sentia.

Raina veio me visitar e Sienna a convidou também. Emprestei um


dos meus biquínis para ela, porém haviam ficado um pouco grande.

— Ele vai superar. — Ela bateu em minha bunda e eu acenei.

A casa estava deserta, apenas com as meninas. Os homens

estavam trabalhando e os soldados ficavam mais fora que dentro da


residência.
— Você já a viu? — Ray quis saber.

Eu neguei.

Estava na mansão há quatro dias, e nenhum sinal de

Antonella. Não sei por que eu queria tanto vê-la, mas estava
ansiosa pelo dia.

— Eu também não a conheço — minha amiga murmurou

quando descemos a escada. — Sorte sua. Quando vi Kiara desejei


nunca ter visto.

— Por quê? — questionei, segurando meu roupão.

— Porque ela é uma maldita Barbie.

Eu sorri, revirando os olhos.

— Você é uma Barbie e ninguém te odeia.

— Ela me odeia — Raina resmungou, me olhando com uma


careta. — Travis ainda me liga e insiste. Não sei o que eu faço,

Blue.

— Você o manda se foder — afirmei, mas balancei a cabeça.


— Não faça isso. É horrível. Apenas diga que não pode ser a

segunda opção dele e, por favor, não acabe grávida como eu.
— Nem fodendo, querida — ela falou rápido, e eu ergui as

sobrancelhas. — Sem ofensas.

— Vocês são umas lesmas — Lake gritou dentro da piscina e


eu dei de ombros.

Entrei pelo lado raso e andei pela rampa até a água bater em

meus seios. Me virei e vi Sienna na hidro, sorrindo e bebendo um


suco.

— Você está bonita daqui — murmurei, sabendo que ela

estava tentando se manter firme. Sienna estava com quase oito


meses e os bebês poderiam chegar a qualquer momento.

— E você também. — Ela sorriu e ergueu o copo.

Nós ficamos na piscina por um tempo, aproveitando que o

clima estava quente o bastante para isso, e quando estávamos


prestes a sair os homens chegaram.

Rocco ajudou Sienna a sair da hidro e a levou para dentro

enquanto ela ficava vermelha a cada vez que ele se aproximava e


falava algo em seu ouvido.

— Ray. — Travis apareceu com Romeo.

Suspirei. Matteo deveria estar por perto. Era sábado, e eu

sabia que ele viria aqui. Ele fazia isso quando eu morava com ele.
— Cadê o meu convite? — Raina perguntou a ele enquanto

nadava. O casamento dele seria essa semana.

— Você realmente quer ir? — Seu rosto ficou rígido.

— Quero. Eu quero. — Ray sorriu.

Eu saí da piscina e Lake fez o mesmo. Lunna já havia saído

com Remy para o almoço e cochilo da tarde. Andei para dentro da


casa e vi Romeo sumir escada acima.

Entrei na cozinha colocando meu roupão e parei ao ver uma

mulher morena presa a parede com um homem a sua frente. Meu


peito deu uma cambalhota quando vi que era Matteo. A tatuagem
era inconfundível.

— Sua... — Ray parou de falar quando me viu quieta.

Matteo se virou e então eu pude ver o rosto da menina. Ele


estava vermelho.

— Oi. Eu sou Antonella. — Ela estendeu a mão.

Eu pisquei, querendo não ter visto os dois juntos.

— Merda. Com licença. — Raina me puxou para fora da


cozinha enquanto meus lábios estavam selados e meus olhos

ardendo.
Oh meu Deus, ela era perfeita.

— Também não queria ter visto ela — falei a Raina assim que
chegamos no topo da escada. — Você viu? Ela é linda.

— Que linda o quê? Ela é ridícula. Você é linda. — Minha


amiga me puxou para o quarto e fechou a porta.

— Eu... — Parei de falar quando ouvi batidas.

Era ele?

Meu coração flutuou e eu me recriminei. Eu não deveria


querer Matteo na minha porta quando era óbvio que ele escolheu
ficar com ela.

— Eu vou me trocar lá embaixo e vou embora. Andy quer que


eu ajude a mudar alguns móveis de lugar.

— Eu vou com você! Me espere — falei com urgência.

Ela acenou antes de abrir a porta e sair de vista.

Vi Matteo parado e andei até a porta. Não ficaria presa em


um quarto com ele.

— Você precisa de algo? — questionei, tentando ficar bem.


Soar sem ser ansiosa, irritada ou ciumenta. Nada disso. Só a mãe
do filho dele.
— Antonella veio sem me avisar. — Suas palavras me
fizeram franzir as sobrancelhas.

— Essa casa é da família dela.

— Não. Minha família. — Matteo se inclinou em minha

direção. — Sua, depois que nosso bebê nascer.

— Não, minha não. — Balancei a cabeça e cruzei os braços.


— A única família que tenho está em Bloomington, que é onde eu

deveria estar. Não estou aqui porque quero. Longe disso.

Matteo engoliu em seco e bateu o punho na parede ao meu


lado.

— Por mim você estaria comigo. Eu cuidaria de você...

— O que Antonella acha disso? — perguntei, erguendo a


sobrancelha.

— Ela não acha nada, porque ela não importa! — Ele tocou

meu rosto e se aproximou, descansando sua testa na minha. —


Você importa, Flame. Nosso filho.

Suas palavras eram lindas, mas eu acreditava em ações.

— Se eu importasse, você estaria comigo — afirmei sem


titubear.
Ele fechou os olhos.

— Matteo? — A voz suave da cozinha fez com que nos


afastássemos.

Antonella nos encarou, com o semblante preocupado.

— Ela está bem? — Sorrindo, a noiva dele se aproximou.

— Sim, está. — Matteo se afastou de mim e eu senti meu


coração diminuir.

— Matteo contou agora de você. — Antonella suspirou e


colocou as mãos nos quadris. — Não sei como vamos fazer para a
Outfit pensar que o bebê é meu, uma vez que você já está com

bastante tempo.

— O quê? — gritei, sufocada, e encarei Matteo. Ele parecia


tão confuso quanto eu. — Você acha que eu vou dar meu filho a

você?

Antonella arregalou os olhos e olhou para Matteo.

— Eu pensei...

— Você definitivamente pensou errado — rosnei, balançando

a cabeça. — Eu nunca vou deixar meu filho a um metro de você.


Nunca. Então se acostume com a ideia de o Matteo ter um filho fora
do casamento.
Bati a porta na cara dos dois e agarrei minha barriga,
respirando fundo.
Antonella estava com os olhos arregalados e abrindo e
fechando a boca como a porra de um peixe. Minutos atrás eu estava
falando sobre Blue para ela na cozinha, e sua irritação foi palpável

quando avisei que Blue estava aqui.

— Eu... — Antonella tentou falar, mas eu ergui a mão.

— Pare. Você a ouviu? — perguntei, com firmeza, e Ella


acenou. — Então estamos na mesma página. O filho é dela, não

seu. Ela vai criá-lo.

— Mas... mas... — Ella franziu as sobrancelhas e me

encarou. — É uma vergonha. Ele será um bastardo, um filho fora do

casamento...
— Seu Don é um bastardo. Você já viu alguém sobreviver

depois de falar isso? — rosnei, tenso. — Cuidado, Ella.

— Desculpe, não foi minha intenção. Eu só queria ajudar —

afirmou, com os olhos arregalados.

Eu sabia que sim, mas agora Flame estava mais irritada do

que antes, e se eu quisesse que ela fosse comigo para Oak Park,

eu precisava amansar a fera.

— Você pode voltar para casa com seu segurança? —

perguntei, passando a mão no cabelo. Ella demorou para responder,


mas logo confirmou. — Bom.

— Eu já vou. — Ela se aproximou e se ergueu, quase

batendo seus lábios nos meus, porém desviei antes.

Ella não falou sobre isso, mas a mágoa estava visível em seu

rosto. Havíamos nos aproximados nos meses que passaram, mas

nunca a toquei de maneira diferente. Apenas um beijo.

— Flame, abre a porta — pedi assim que Ella sumiu.

O silêncio foi minha única resposta e eu quis chutar a porta,

porém não o fiz. Eu esperei por um longo tempo, até ela mesma

abrir a porta. Quando me viu, Blue tentou fechar, mas eu enfiei meu

pé, impedindo.
— Eu vou sair agora — ela disse ao se afastar, mas entrei no
quarto e fechei a porta.

— Para onde? — questionei, me aproximando.

Ela cruzou os braços e eu aproveitei para ver seu corpo. Ela

estava com um short jeans e um moletom. Perfeita, porra.

— Não interessa. — Flame me fulminou com os olhos azuis.

— Você sabe que não vai sair até me dizer... o que me faz

lembrar que preciso designar algum soldado para fazer sua

segurança a partir de hoje. — Peguei meu celular e mandei uma

mensagem para Dick. Ele era o responsável pelos soldados da

mansão.

— Não se atreva, Matteo...

— Prontinho.

Encarei Blue e ela estava com os olhos fechados,

balançando a cabeça.

— Não quero isso. Não quero nada disso. — Ela se sentou

na cama e tocou a barriga, acariciando-a. — Nunca imaginei que

engravidaria na minha primeira vez. Eu fui tão burra.

— Ei. — Me aproximei alguns passos, mas parei quando a vi

ficar rígida. — Nós dois fomos imprudentes. Mas tudo bem, porque
vamos ter um filho, Blue.

— Eu sei e o amo mais que a mim — ela me encarou e

mordeu o lábio —, mas não podia ser com você, Matteo. Não

quando eu sabia quem você era, de onde vinha e o que fazia para
viver. Eu fui mais que imprudente. Fui tola.

Ela já havia falado que se arrependia de me ter como pai do

nosso bebê, e a cada vez parecia que ela estava enfiando a mão
dentro de mim e brincando com meus órgãos.

— Eu sei que não sou fácil, droga, Blue, eu sou terrível,


mas... — Parei de falar, porque realmente não havia desculpa para

dar. Blue e nosso filho mereciam viver uma vida sem a máfia, sem
as regras, crimes e sangue.

— Mas o quê? — Blue se ergueu e ficou esperando.

— Mas eu sou o pai dele. E eu vou ser para sempre, então


pare de jogar o quanto sou sua pior escolha na minha cara.

Flame se encolheu e desviou os olhos dos meus. Dei um

passo para trás e engoli em seco.

— Eu vou me manter longe daqui para evitar seu estresse —


afirmei antes de me virar e sair do seu quarto.
Desci a escada e encontrei Prince parado enquanto

assoprava a fumaça para cima. Peguei seu baseado e saí para a


parte de trás da mansão. Traguei a droga tranquilizante e assoprei.

Fiz isso várias vezes enquanto estava sentado no cais para me


sentir bem.

— Essa merda é boa — falei para Prince.

Ele riu e lambeu o papel para enrolar um novo.

— Eu sei, cara. — Meu irmão acendeu o baseado e nós


fumamos juntos. — Blue está sendo uma dor na sua bunda, hum?

— Queria que fosse na bunda e não no coração. —


Semicerrei os olhos, mas meu peito sacudiu, e quando vi estava

gargalhando junto com Prince.

— Os dois maconheiros estão o.k.? — A voz de Lake ecoou.

Ergui o rosto e a vi de braços cruzados. Prince tentou se


erguer, mas ela empurrou seu ombro, fazendo-o se sentar
novamente.

— Pare com essa merda. Cheguei há dias e você sequer

olha para mim. — Sua voz ficou furiosa e ela se sentou diante dele.
— Eu sei que machuquei você, droga, eu me machuquei fazendo

isso. Mas não me arrependo, porque você sabe, eu nunca poderia


mentir para você. Nunca. Você e eu somos diferentes. Nós dois
somos ligados. E eu amo isso e não posso perder você, Prince.

Prince tragou o baseado encarando-a e soltou a fumaça


diante do rosto dela, parecendo tão calmo. Eu não o reconhecia.

— Você deveria ter pensado nisso antes de sumir e me

ignorar por meses. — Ele empurrou as mãos dela e se ergueu. —


Não me toque novamente.

Assisti ao meu irmão sair andando em direção à mansão


enquanto Lake mordia o lábio, lutando contra as lágrimas. Passei

meu braço pelos seus ombros e a trouxe para mim. Isso foi o
suficiente para ela soluçar e deixar o choro fluir.

— Dê tempo a ele.

— Ele é um idiota. Eu o odeio. — Ela soluçou e eu comecei a


rir. — Você está muito chapado. Idiota. — Lake me empurrou e eu ri

ainda mais.

— Desculpa — falei, tentando parar de rir. — Diga a Blue que

ela deveria morar comigo — pedi, me virando para minha irmã. Ela
semicerrou os olhos e eu dei de ombros. — Preciso estar de olho

nela.
— Essa é a forma bonita de dizer que quer controlá-la. Não
vou dizer nada.

— Você é uma péssima irmã.

— Sou, não é? — Ela me encarou e eu vi, por baixo do


divertimento, a tristeza.

— Ele vai te perdoar. Dê tempo a ele.

— Eu espero que sim. — Ela fungou e me abraçou. — Vou

dizer a Blue que você a ama. — Lake se ergueu.

Eu me virei e a vi andar em direção à casa.

— Ei, eu não pedi isso! — gritei, mas ela apenas me ignorou.

Pestinha.

Quando retornei para a casa, Blue havia realmente saído.

Raina não estava em lugar nenhum, então liguei os pontos. Procurei

Travis na sala de jogos e o encontrei com Prince.

— Para onde Raina foi? — questionei, me aproximando.

— Senta aí, cara. — Prince bateu no lugar vazio ao seu lado


no sofá, mas eu neguei, concentrado em Travis.
— Travis.

— Ela não me disse — ele rosnou, com os olhos na tevê.

— Eu sei que você a rastreia, por que diabos não faz isso
agora? — grunhi, fervendo de raiva. Queria pegar Blue longe de

todos. Sei que falei que pararia de aparecer e causar menos

estresse nela, mas agora era uma ótima oportunidade para levá-la

comigo. Eu precisava dela em Oak Park comigo.

— Você o quê? — Prince o encarou enquanto nosso amigo

tirava o celular do bolso e entrava no aplicativo de rastreio. — Cara,


você e Matteo se merecem. Vocês vão se casar e estão atrás de

outras mulheres...

— Volte a fumar seu baseado — pedi, passando para o


Travis.

— Ela está no Village.

O.k., porra.

Saí de casa e encontrei Dick do lado de fora. Ao invés de


entrar no carro e ir até Blue, eu me dirigi a ele. Dick era um cara

grande, com tatuagens por todo lugar, que era bom no que fazia.

— Quem você designou? — perguntei, passando a mão pelo

meu cabelo.
— Giulio — Dick falou e eu semicerrei os olhos. — Sei que

ele é um soldado ainda em processo de confiança, mas ele é um

dos melhores que temos. Você me pediu o melhor, é ele.

— Ele a acompanhou agora? — perguntei, tirando o celular

do meu bolso.

— Sim. — Dick me encarou, semicerrando os olhos.

Eu me aproximei, ficando cara a cara com ele.

— Aquele filho da puta não é confiável. Eu não o quero

próximo da mãe do meu filho. Você me ouviu? — rosnei, apertando

meus punhos e ele acenou. — Se algo acontecer a ela, eu vou


matar você.

Me virei e caminhei para o meu carro. Pisei no acelerador e

dirigi até o Village enquanto apertava o volante.

O carro nos seguindo estava me incomodando muito. Será

que era o segurança que Matteo falou? Olhei para Raina e sobre o

ombro.
— Você está vendo o carro escuro? — perguntei, engolindo

em seco.

— Há algum tempo. — Ela soou preocupada. Toquei meu

ventre, engolindo em seco. — Fique calma. Vamos descer no


Village, não é como se alguém fosse nos atacar no território da

Outfit.

Ela estava certa.

Quando estacionamos, o carro deslizou e parou. Um homem

moreno desceu do carro e eu engoli em seco ao vê-lo. Ele era


bonito, mas parecia incerto. Saí do carro e ele me encarou.

— Eu me chamo Giulio. Fui designado para ser seu guarda-

costas ou algo desse tipo. — ele falou, com o corpo ereto.

Respirei fundo, percebendo seu sotaque.

— Você é de onde? — questionei, curiosa.

Raina começou a andar para o prédio enorme e eu a segui,

porém ele também o fez.

— Itália.

Oh.
— Entendi. Então, Giulio, eu não preciso de segurança.

Matteo está exagerando — falei séria. Giulio abriu a porta para mim

e Ray. — Obrigada.

— Infelizmente eu não posso me dar folga. Então vou tentar

ser discreto. Você vive sua vida e eu faço meu trabalho — ele

murmurou e nós entramos no elevador.

— Discreto? Sei — murmurei abafado e olhei para Ray, que

parecia querer um buraco para se enfiar. — O que foi? — perguntei,

franzindo as sobrancelhas.

— Depois falamos...

— Raina — Giulio a cumprimentou e eu abri a boca, chocada.

O elevador se abriu e Ray balbuciou um cumprimento e

correu para o apartamento da Andy. Segui-a e nós entramos


enquanto Giulio ficava no corredor.

— Meu Deus, você já ficou com ele! — gritei, arregalando os


olhos.

Ray tampou minha boca.

— Você quer ligar para a rádio e anunciar? — ela perguntou

entredentes. Neguei para ela me soltar. — Foi quando cheguei aqui,

ano passado. Ele é bonito.


— Ele é lindo — falei, encarando-a. — Sua vaca sortuda. —

Nós rimos até ouvir uma tosse.

— Estão atrasadas. — Andy fulminou a gente e eu sorri. —

Vejo que está grande. — Ela acenou para minha barriga e eu me

aproximei.

Andy era jovem para sua idade. Com cabelo negro como a

noite, ela poderia ter sido uma modelo, sem dúvidas.

— Ela está grávida de um Trevisan. — Raina compartilhou a

novidade.

Andy me encarou por segundos até suspirar.

— O diabo teria sido um genitor melhor.

Suas palavras me deixaram sem fala.

— Andy — Ray alertou, franzindo as sobrancelhas.

— Não me levem a mal. — Andy andou em direção ao

corredor. — Sua vida será um inferno tão perto daquela família.

Me senti mal por suas palavras. Eu sabia dos defeitos

daquela família, mas eles também eram fiéis a quem amavam, as

meninas eram amigas e me acolheram.


— Não acho — falei, mordaz. — Meu filho será amado e
muito feliz. Mas, obrigada pelo seu comentário.

— O.k. — Andy suspirou e olhou para dentro da porta. — É


um quarto velho com milhares de tranqueiras. Jill está vindo morar

comigo e eu preciso liberar o quarto. Andem, vamos começar.

Raina me deu uma máscara para a poeira e colocou uma em

si mesma. Minha amiga tirou a maior parte do lixo acumulado e

depois fomos desfazer as gavetas, separando lixo das coisas

importantes. Tirei vários boletos vencidos e amassei, jogando-os no


saco preto.

— Que lindo — Ray murmurou e ergueu uma fotografia velha


e desgastada.

— É a Jill, Andy? — perguntei, tirando os olhos do bebê na


foto e focando em minha própria gaveta.

— Não. — Ela pegou a foto e sorriu. — Esse é meu Roman.


Não era lindo? — Orgulhosa, ela guardou a foto em uma pasta azul.

— Muito lindo. — Sorri.


Não aguentei ficar sentada por muito tempo. Eu deixei Raina
e Andy juntas e fui pegar água. Quando engoli o líquido gelado e

refrescante, lembrei-me de Giulio. Droga, será que ele queria água?

Andei até a porta com um copo cheio e o encontrei de braços


cruzados, de frente para a porta.

— Ei, trouxe água para você. — Saí para o corredor e

entreguei o copo em suas mãos. — Você já viu um verão mais


horrível que esse? Jesus, queria ter engravidado no inverno. —

Gemi, rindo, enquanto Giulio permanecia sério.

— Obrigado. — Ele engoliu tudo e me devolveu o copo.


— De nada. Aliás, deixa eu perguntar. — Voltei a ficar de

frente, encarando-o. — Se você é italiano, você conhecia Sienna


antes? — questionei, curiosa.

Giulio engoliu em seco, demorou, mas ele acenou.

— A Itália é linda. Um dia gostaria de ir visitar...

— Acho bem complicado. — Sua voz soou divertida, me


fazendo inclinar a cabeça em confusão.

— Por quê?

— Você é a Outfit, nós somos a Cosa Nostra. — Giulio

arregalou os olhos, me deixando ainda mais confusa. Ele olhou para

os lados e depois relaxou.

— Eu não sou a Outfit — murmurei baixinho ao me

aproximar. — Eu sou a Blue.

— E eu o Giulio. — Ele falou sério, mas eu acabei rindo.

— Desculpe — pedi, levando a mão à boca sem conseguir

parar. — Ficou engraçado, não acha? — perguntei, rindo, e apertei

meus lábios.

— Eu acho que você é doidinha da cachola.

Me curvei enquanto gargalhava, sentindo meu peito zumbir.


— Desculpe, é sério.

— Fique parada. — Giulio ficou rígido e eu franzi as

sobrancelhas. Ele se aproximou perigosamente e bateu a mão em

meus cabelos. Um bicho voou e eu arregalei os olhos.

— O que é isso?

A voz de Matteo me fez virar e levar a mão ao peito. Ele

estava de pé a dois metros de mim e Giulio. Seus olhos foram para

o segurança e ele andou reto, pronto para brigar.

— Ei — falei, entrando na sua frente.

— Eu vou arrancar os malditos dentes dele — Matteo rosnou,


tentando me tirar do caminho, mas eu segurei seus braços. — Que

porra você está fazendo com ela? — ele gritou por cima de mim.

— Dick me enviou. Estou seguindo ordens — Giulio

respondeu firmemente. Admirei-o por isso. Com a raiva que Matteo

estava, eu duvidaria que eu conseguisse abrir a boca.

— Saia, Blue. — Matteo me olhou e eu neguei. — Você ia

beijá-lo?

Sua pergunta me fez arregalar os olhos. Que merda?

— Pare. Por favor — implorei de maneira rígida, enquanto ele

continuava a tentar passar por mim. — Vamos para casa. Vamos,


por favor — pedi, colocando a mão sobre seu peito. Matteo parou e

me encarou. — Vamos lá.

— Tá. — Ele acenou, mas seu olhar foi para Giulio. — Não

quero você próximo a ela.

Não vi a resposta de Giulio, porque Matteo segurou minha


mão e nós fomos para o elevador. Ficamos em silêncio enquanto

estávamos no Village, mas depois que entramos em seu carro, eu o


encarei.

— O que foi aquilo? — questionei, enquanto ele saía do


estacionamento e entrava na avenida.

— Você não respondeu a minha pergunta. — Ele apertou o

volante.

— Eu não ia beijá-lo. E ele não estava fazendo nada.

Matteo balançou a cabeça, mas ficou em silêncio.

— Você não pode agir assim...

— Assim como, Blue? — Ele reagiu, furioso. Seus olhos

azuis brilharam e eu ignorei, inflamada.

— Como se eu fosse sua! — gritei, cansada. — Você é tão


hipócrita. Tão imbecil, estúpido e idiota. Você é tudo isso e mais.
— Uau, fale mais, Flame. Desabafe — ele pediu, rindo, então

soquei seu braço.

— Estava beijando-a quando entrei na cozinha, e agora surta


por um homem estar próximo a mim — rosnei, parando de agredir

seu braço. — Eu odeio você — falei, sentindo como se minha vida


fosse um eterno looping. Tudo se repetia. Matteo irracional, eu
magoada. Matteo irracional, eu magoada.

Estava cansada disso.

— Eu não estava beijando-a. — Sua voz ecoou e eu olhei

pela janela, sufocada.

— Mas já beijou, certo? — questionei, me virando.

Por favor, não. Por favor, não.

Mas seu rosto me disse o bastante. Ele havia beijado

Antonella. Será que ele a tocou como fez comigo? Ele adorou o
corpo dela como se ele fosse perfeito como fez com o meu?

Deus, no que eu havia me transformado?

— Eu a beijei uma vez, e nunca a toquei de outra maneira. —


Ele correu para se explicar, mas eu me perguntei do que adiantava.

Ele o faria em breve, depois de enfiar uma aliança de ouro no dedo


dela.
— Esqueci que vocês seguem os costumes da igreja —
ironizei, irritada.

Matteo passou a mão pelo cabelo e apertou.

— Blue, não faça isso — ele pediu, na verdade, implorou. —


Quero parar de brigar, quero que fique saudável para nosso filho.

Suas palavras me fizeram engolir minhas objeções. Ele


estava certo. Eu deveria focar em meu filho, não no pai dele ou com

quem ele dormia.

— Você está me levando para Oak Park? — questionei ao


ver que estávamos saindo de Chicago. — Você é impossível. —

Apertei meus olhos e respirei fundo.

Matteo não respondeu. Seu silêncio nos seguiu até a sua

casa. Parecia que fazia tanto tempo desde a última vez que estive
aqui. Parecia um século atrás. Olhei ao redor ao me lembrar das

duas vezes que um carro nos alvejou com balas.

— Estamos mais protegidos agora — Matteo falou enquanto

entrávamos na garagem subterrânea. Não quis saber como. Alguma


coisa me dizia que ele usou os meses longe para trabalhar muito.

Entramos no elevador e eu arregalei os olhos ao perceber

que eu estava sem minha bolsa.


— Esqueci minhas coisas na Andy — falei, preocupada.
Matteo me olhou, confuso. — Minhas vitaminas, documentos,
dinheiro.

— Vou pedir a Prince para trazer. Mas não se preocupe,

tenho seus medicamentos aqui.

As portas se abriram e eu suspirei ao entrar no apartamento.


Senti saudades daqui, admiti internamente.

Matteo subiu a escada e eu o segui, pois estava na hora de

uma das minhas vitaminas. Entrei no meu antigo quarto e suspirei

ao ver que tudo estava do mesmo jeito. Fui para o banheiro e franzi

as sobrancelhas ao ver meus produtos de higiene aqui. Eu tinha


levado tudo.

Engoli em seco quando percebi que compraram e colocaram


de volta aqui. Abri o armário e peguei minhas vitaminas, estudando-

as. Até meu remédio para a hipertensão estava aqui.

— O que estamos fazendo, Matteo? — questionei, sozinha.

Coloquei a banheira para encher e despejei sais, querendo

ficar nela. Tirei minha roupa, prendi meu cabelo e entrei, suspirando.

— Ei, você acordou, hum? — murmurei quando senti um

chute na minha barriga. Descansei minha mão sobre ele e respirei


fundo. — Mamãe está fazendo muita bagunça. Desculpe. Seu pai

me deixa louca, mas não é de todo culpa dele. Eu deveria me


acalmar, pensar em você antes de mim.

Ele chutou mais uma vez e eu sorri.

— Vou me comportar, prometo. — Inclinei minha cabeça,

pousando-a na toalha atrás de mim e fechei os olhos.

Senti mãos por baixo das minhas coxas e suspirei quando me


pegaram no colo. O sono era bem-vindo, e eu estava tão confortável

que nem abri minhas pálpebras. Me colocaram sobre a cama e senti

secarem minha pele com um pano felpudo.

Me virei e agarrei meus travesseiros, suspirando e voltando a

dormir.

Quando acordei, eu me virei na cama e abri meus olhos.

Lembrava vagamente de voltar para a cama. Olhei para baixo e

minhas bochechas coraram quando percebi que estava nua. Matteo


me tirou da banheira.

Droga.
Me sentei na cama e olhei ao redor, vendo que não tinha

ninguém aqui. Saí da cama e andei até o armário. Quase chorei ao

ver que nada aqui me servia mais. Eu havia deixado algumas


roupas na lavanderia, mas elas estavam pequenas. Vislumbrei uma

camisa masculina no fundo e a peguei. Ela era grande e alcançava

o topo das minhas coxas, mas teria que servir.

Minha barriga roncou quando escovei os dentes e penteei o

cabelo com os dedos. Saí do quarto mordendo o lábio e ouvi

murmúrios no andar de baixo. Não queria descer e dar de cara com


os amigos do Matteo e Prince, mas estava com fome.

Quando alcancei o final da escada, Travis, Prince, Zyon e

Matteo se viraram. Quando me viram, os amigos do pai do meu


bebê se viraram rápido mais uma vez. Okay. Andei para a cozinha

pensando no que preparar.

— Volto já — Matteo murmurou para os amigos.

Abri a geladeira e franzi as sobrancelhas ao ver cerveja e

pizza.

— As compras estão subindo — ele avisou próximo, então

me virei, peguei ovos e andei para o fogão.

Sorri ao sentir um chute do bebê.


— Calma. Vamos comer daqui a pouco — falei com ele,

ligando o fogo. Então ele me chutou mais uma vez. — Ei,


esfomeado!

Fritei meus ovos e coloquei queijo. Peguei água e me sentei


à mesa enquanto Matteo continuava por perto.

— Não vou fugir. Pode ficar com seus amigos — falei, dando

uma garfada.

— Eles estão de saída. Tem corrida no Date — Matteo

murmurou ao se sentar também. O sinal sonoro das portas se


abrindo o fizeram ir até lá.

Ele voltou com sacolas de supermercado e minha bolsa.

Matteo colocou perto de mim e guardou as coisas, deixando o suco


verde fora.

— Tome. Isso faz bem. — Ele deixou a garrafa perto de mim


e eu fiz uma careta. — Prove.

Peguei a garrafa e me servi. Quando coloquei na boca, fiz de

tudo para não fazer careta e empurrei a taça na mão dele.

— É ótimo, tome aí.

Matteo semicerrou os olhos, mas pegou a taça. Ele levou aos

lábios, e quando provou cuspiu no chão, sujando tudo. Eu arregalei


os olhos e ri.

— É horrível — ele grunhiu, pulando a lambança para lavar a

boca na pia.

Engoli minha água e tirei o gosto verde da minha língua.

— Não compre essa merda novamente — falei.

Ele ergueu a mão com um sinal positivo.

— Nem fodendo.

Matteo pegou papel toalha e limpou o chão. Terminei de


comer ao mesmo tempo que ele deixou o piso limpinho.

— Você quer assistir a um filme? — Matteo me seguiu até a

sala de onde os meninos haviam sumido.

Me deitei no sofá e agarrei as almofadas.

— Que horas são? — perguntei enquanto ele colocava no

aplicativo de filmes e séries.

— Quase sete.

— O.k.

Matteo escolheu um filme horrível e eu tive que aguentar


duas horas de uma baboseira sem fim. O próximo eu escolhi
enquanto ele fazia pipoca. Nós ficamos juntos no sofá e suspirei

quando ele começou a fazer massagem em meus pés.

— Qual nome vamos dar a ele? — questionei quando os

créditos do meu filme começaram a subir. Ele era incrível, aliás.

Deslizei a mão em minha barriga, sentindo nosso filho mexer.

— Você nunca diz ela — Matteo resmungou, apertando meu

tornozelo esquerdo.

Era verdade.

— Se for uma menina ela vai ficar chateada por termos ficado
chamando-a de ele por meses — avisei. Franzi a testa, mordendo

meu lábio. — Eu pesquisei alguns nomes italianos — falei,

suspirando. Matteo me encarou, parecendo surpreso. — Eu gostei


de Vito se menino, e Nina se for menina. E você? — Ergui meus

olhos e ele se aproximou, colocando minhas coxas em cima das

suas.

— Não precisa ser italiano. Quero que ele ou ela tenha o

nome que você amar.

E lá se foi mais um pedacinho do meu coração.

— Eu realmente amei esses, você gostou?

— Sim. Eu gostei. Quer pensar em mais algum?


— Eu amei Enrico também.

— O.k., ficamos com Vito. — Ele me interrompeu, rindo.

Fiquei confusa até ele explicar que Enrico era o nome do Don

da Cosa Nostra.

— Vito e Nina — murmurei, suspirando.

Matteo se inclinou, tirando meu cabelo do meu rosto.

— Eu também espero que ele ou ela nasça com seu cabelo,

Flame. Você é perfeita.

— Não fale essas coisas — pedi, desviando os olhos dele.

— Eu sei que gosta. — Matteo segurou minhas bochechas

enquanto estava curvado sobre mim no sofá. — Vou fazer as coisas


direito, Flame. Eu juro.

O que ele quis dizer com isso?

Não tive chance de perguntar, pois as portas do elevador se


abriram e nós nos separamos rapidamente. Me levantei e suspirei
quando vi Travis, Raina e Prince.

— Ei... — Me ergui olhando para minha amiga, mas parei ao


ver suas lágrimas. — O que diabos você fez? — gritei com Travis.
Blue andou até a amiga e a arrastou para o quarto enquanto
eu encarava Travis em busca de resposta.

— Eu não... — meu amigo parou de falar e puxou o cabelo.


— Estou de saco cheio disso. Não quero me casar. Raina é minha

garota, vocês sabem disso. — Travis se sentou e apertou o punho,

tremendo. — Se eu desistir disso meu pai vai me matar.

Realmente. Theodore queria um casamento para fortalecer

os vínculos com a família Bonnucci. Kiara era perfeita para isso.


Filha única de um homem poderoso que era aliado a Rocco.

— Por que não fala com Rocco? Às vezes meu irmão sabe

as escolhas certas a serem feitas — Prince murmurou enquanto


fumava.

— Arrume um noivo melhor para Kiara. — Encarei Travis e

murmurei, dando de ombros e sentando-me a sua frente.

— Quem, idiota? — Prince semicerrou os olhos.

— Você — Travis falou com firmeza e se ergueu. — Porra,

você seria perfeito. A família dela desistiria e meu pai não poderia
me culpar.

— Eu ainda não peguei a onda, mas a erva deve ser da boa.

— Meu irmão olhou para o baseado e riu.

— Ele está falando sério. Apaga essa merda. Não é para

fumar perto da Blue — resmunguei, irritado.

Prince apagou e se dirigiu a Travis.

— Cresça suas bolas, mano. Não vou me casar com

ninguém.

— Cara... — Travis gemeu e eu suspirei.

— Enfrente seu pai, fale com Rocco. Faça algo. Não me

envolva nisso.

Prince se afastou do Travis e se jogou no sofá. Meu irmão

podia estar chapado, mas estava certo. Se Travis não queria se


casar, ele precisava lidar com a situação.

— Você precisa fazer isso, cara. Se você quer Raina, vá até

seu pai e fale a ele. — Segurei os ombros dele e baguncei seu

cabelo. — Vá armado, caso isso dê merda.

— Preciso falar com a Ray. Você pode pegar Blue? Ela

estava irritada quando chegamos — ele pediu.

Acenei e caminhei para a escada. Me aproximei do quarto de

Blue e a ouvi pela porta.

— Giulio é legal. Ele me fez rir. Eu não me lembrava da

última vez que tinha gargalhado. — Blue parou de falar e eu senti

algo pesar sobre meu peito. — Ele era legal, então, se eu pudesse
voltar no tempo... sim, eu o escolheria a Matteo.

Me apoiei na porta e puxei a gola da minha camisa. Que

conversa do caralho era essa? Eu sabia que Blue não gostava de

mim a ponto de se vangloriar por ter um bebê meu, mas isso? Porra,

isso era demais.

— Mas você nunca sentiria isso — Raina murmurou,

fungando.

— Nunca, porque só aquele desgraçado dos olhos azuis me

tira o chão. Só ele é capaz de me fazer ir da fúria ao amor em


segundos. — Flame fungou também. — Eu o amo e ele vai se casar

com outra. Isso dói como o inferno.

Seu soluço e confissão tiraram o peso e colocaram angústia

em meu peito. Eu precisava de Blue. Não era mais o desejo


avassalador, era muito mais. Eu queria acordar com ela e a beijar

antes de dormir. Eu queria que ela tivesse orgulho de me pertencer.

— Fale mais sobre como dói. — Ironia pingou das palavras


de Raina.

— Somos duas idiotas. — Blue riu.

— Duas idiotas apaixonadas e estúpidas.

— Seria o título de um livro incrível — Flame comentou.

Bati à porta e forcei a maçaneta. As duas se viraram na cama


para ficarem de frente para mim. O cabelo de Flame estava preso

no alto da cabeça e ela usava uma das minhas camisas. Perfeita.

— Travis quer conversar com a Raina. Vamos para o nosso

quarto — chamei, abrindo mais a porta.

— Seu. — Blue estalou, encarando as mãos.

— O quê?

— Seu quarto, Matteo. — Ela ergueu o rosto e eu suspirei.


— Vamos — chamei, apressado.

Blue abraçou a amiga e avisou que logo estaria de volta. Por

mim, nem fodendo.

Nós fomos para o quarto e eu fechei a porta. Blue andou até


a cama e se deitou, segurando a barriga.

— Preciso descansar. Não quero brigar e nem conversar, que


é o mesmo que brigar, porque você nunca fica calmo o suficiente,

então não fale nada. Me deixe descansar.

Encarei-a sem reação e andei para a cama, tentando


controlar minha boca. Queria falar sobre o que ela disse de Giulio.
Isso ainda estava fodendo minha cabeça. Eu precisava que Blue me

dissesse que era mentira. Me deitei ao seu lado e fiquei de frente


para ela, encarando seu rosto.

— Pare. Estou falando sério... Matteo. — Ela semicerrou os

olhos e bateu em mim. — Pare.

— Estou em silêncio, como pediu.

— Sei... Que porra...

Blue gritou quando fiquei sobre ela e tampei seus lábios. Seu

olhar azul se expandiu quando ela me encarou sobre si.


— Fale novamente como você preferia que Giulio fosse pai
do nosso bebê — ordenei enquanto meu coração batia rápido. Com
sua barriga imprensada contra meu estômago, empurrei suas coxas

abertas, fazendo a camisa subir, porém, não o bastante. Tirei minha


mão dos seus lábios e puxei o tecido, desnudando seus seios.

— Matteo.

— Fale, Blue — rosnei, furioso por apenas me lembrar disso.


Apertei seu mamilo rosa e maior que a última vez que coloquei

meus olhos nele e ela suspirou. — Você preferia Giuliote fodendo e


manchando o pau com o seu sangue? É isso?

— Você não deveria ter ouvido... — Ela parou de falar


quando apertei mais.

— Eu quero que diga na minha cara, porra. Fale e eu vou me

casar com Antonella feliz. — Minha voz saiu apertada, rígida, e Blue
entendeu.

Seus olhos ficaram úmidos e ela empurrou minhas mãos dos


seus seios.

— Não fale o nome dela quando estiver me tocando! — Blue

gritou, me empurrando.

Segurei seu cabelo na base do seu pescoço, fazendo-a parar.


— Você o queria fodendo você aquela noite ou não? A
pergunta é simples! — gritei, sentindo mais que fúria ao imaginar os
dois fazendo o que eu fiz com ela. O que só eu fiz com ela. — Diga.

— Sim.

Deus, foi como se ela tivesse me atingido com um bastão de

beisebol.

Me afastei de Blue, respirando com dificuldade. Ela puxou


sua camisa para se cobrir. Eu encarei o chão enquanto tentava

respirar e não quebrar tudo, como fiz na mansão. Tentei me lembrar

da maneira que minha mãe me ensinou a respirar para não surtar e

bater em todo mundo.

Violetta era capaz de me acalmar como ninguém.

Mas ela não estava aqui.

Nunca mais estaria.

— Prince vai levar você de volta para a mansão amanhã

cedo — avisei, suspirando e pegando minhas chaves da mesa.

Saí do quarto a passos pesados, sem olhar para trás.


As lágrimas estavam descendo por meu rosto como se não
houvesse um fim. Segui-o, tentando pensar em algo para acalmá-lo.

Para desfazer o que acabei de fazer, mas não havia nada.

— Você me trouxe para Oak Park — falei nas suas costas,

descendo a escada. — Você!

— E eu estou levando você de volta a Chicago — ele falou,


pegando sua carteira e o celular que estava tocando de cima da

mesa. Vislumbrei o nome de Antonella e fiquei rígida. — Matteo.

O.k. Te vejo em meia hora.

Não! Ele não faria isso.

— Tchau. — Ele guardou o celular, andou para a porta e


apertou o botão com pressa.

— Você vai fazer isso? Você vai me deixar aqui para ir para

ela? — questionei, mesmo me odiando por deixá-lo saber o quanto


estava me machucando. — Matteo, eu juro que se fizer isso...

— O quê, Blue? — ele gritou, virando-se para mim. — O que


você vai fazer?

— Matteo...
— Você se esqueceu que eu sou o diabo? Que eu manipulo

as coisas para serem como eu quero? É por isso que queria Giulio a

mim, certo? Porque você sabe que o dia em que dormiu comigo,
você assinou sua sentença. Eu posso estar casado no próximo mês,

mas você ainda será minha. Sempre.

Meu peito doeu ao ter a verdade dolorosa jogada em meu


rosto por ele.

Matteo estava certo, não adiantaria negar. Como não


adiantaria me descabelar quando ele controlasse a minha vida.

Nada ia acontecer, porque ele estava certo.

Eu sempre seria dele.

O bebê em meu ventre só selou isso.

— Eu não quero te ver nunca mais. Nunca mais. Eu vou para


Chicago. — Engoli em seco, acenando. — E vou sair cada vez que

você entrar. Vou sumir cada vez mais. Nem depois do nascimento

dele, eu quero te ver. Eu juro a você.

— Foda-se, Blue — ele grunhiu assim que as portas se

abriram. — Com suas palavras, agora estou repensando se tiro ou


não ele de você. Obrigado por me esclarecer.
— Eu te odeio! — gritei, enquanto as portas se fechavam e

levavam meu sono com ele.

— Que gritaria é essa? — Prince perguntou da escada

enquanto eu chorava com as mãos presas ao rosto. — Ei, Blue. —


Ele me puxou para os seus braços e eu solucei.

— E-ele disse que vai ti-tirar o meu fi-filho de mim. — Tentei

explicar em meio ao choro enquanto Prince me puxava para o sofá.

— Sente-se, vou pegar água para você. — Fiz o que ele

pediu e logo o vi retornar. Segurei o copo entre meus dedos e


suspirei, tentando me forçar a parar de chorar. — Matteo não vai

tirar seu filho de você, Blue. Ele jamais faria algo assim.

— Para me machucar, ele faria.

Do mesmo jeito que o machuquei hoje.

— O.k., vamos dizer que sim, mas Rocco nunca permitiria.

Sienna, então... — Prince acariciou meu joelho e apertou, me

fazendo suspirar. — Matteo está perdido.

— Eu quero que ele se foda! — falei, com raiva, e balancei a

cabeça. — Não, eu só quero que ele se case e me esqueça.

Que mentira.
A verdade era que eu queria que ele me amasse. Me amasse

a ponto de não se casar com Antonella. Me amasse a ponto de se

impor a Rocco. Mas era uma ilusão dolorosa.

Prince me ajudou a ir para o andar de cima, mas Raina e

Travis ainda estavam no meu quarto, então fui obrigada a voltar

para o de Matteo. Puxei as cobertas e funguei, tentando sonhar com


um lugar onde eu e Matteo ficaríamos bem, sem discussões ou

brigas.

Não existia lugar assim.

Prince me levou para Chicago, como Matteo disse. Quando

acordei, ele já estava me esperando com café da manhã na mão.

Saí daquele apartamento desejando que fosse a última vez. Mas eu


sabia que não era.

Matteo e eu sempre estaríamos nessa gangorra. Ele

puxando, eu cedendo. Era uma vergonha admitir, mas era a minha


realidade.

Quando chegamos à mansão, Lake estava na sala jogando


sozinha enquanto ria e tomava achocolatado.
— Você foi péssimo — ela disse, e só então percebi o fone

de ouvido que usava. — Nunca mais. Não voltarei novamente. —


Lake ergueu os olhos da tevê e viu Prince e eu parados. — Preciso

ir, beijos.

— Bom dia — murmurei, me aproximando e me sentando ao


seu lado.

— Bom dia. — Ela olhou de mim para Prince e ele se virou,


subindo a escada. Lake suspirou e forçou um sorriso para mim. —

Não esperava por você. Matteo avisou ontem que você estava

ficando lá.

— Algumas coisas mudaram desde ontem. — Acariciei minha

barriga.

Lake colocou a mão. Meu bebê se remexeu para a tia e eu

sorri, vendo-a se iluminar.

— Ele será ruivo como você, mas muito fodão igual ao seu
pai e tios — Lake previu e eu sorri, escondendo minha apreensão

sobre o legado Trevisan.

— Oh meu Deus! — O grito estridente de Sienna fez a mim e

Lake pularmos do sofá. Subimos a escada para encontrá-la parada,


segurando a barriga. Tebow latiu e eu vi a poça de água aos pés
dela. — Minha bolsa estourou!

— Eles estão vindo — Lake gritou enquanto me aproximava


de Sienna e sorria.

— Você vai conhecer os amores da sua vida.

— Oh meu Deus, sim! — Ela riu em meio a lágrimas e

segurou minhas mãos com uma força surpreendente.

Lake pegou o celular e avisou à família e a Rocco. Em

segundos, Prince desceu a escada e bateram à porta. Ajudamos

Sienna a descer enquanto Lake foi buscar as bolsas dos bebês.

— Passarinha! — O grito de Rocco deve ter sido ouvido a

léguas.

— Rocco, eles estão vindo. — Ela sorriu e chorou ao mesmo

tempo, enquanto o seu marido a ajudava a se mover para fora.

— Sim, Passarinha. Eles estão vindo.

Rocco levou Sienna em seu carro, enquanto Lake e eu fomos

com Prince.

O hospital estava calmo quando chegamos. Sienna foi


encaminhada para a sala de parto e nós ficamos amontoados na
sala de espera, tão ansiosos que nenhum de nós estava parado. Eu
roía minhas unhas e Lake batia o pé, incontrolável.

— Você está bem, certo? — Prince questionou enquanto


andava de um lado para o outro.

— Estou — respondi com firmeza.

Porém, quando as portas da sala de espera se abriram, eu


duvidei fortemente se continuaria. Matteo entrou com a mesma

roupa de ontem, e ao seu lado, Antonella.

Meu estômago caiu aos meus pés e eu me forcei a olhar para


o outro lado. Ao sentir a mão de Lake segurar a minha eu sorri,

tentando permanecer forte, mas eu não conseguia parar de pensar


que ele dormiu com ela. Que ele a tocou como me tocava.

Minha barriga girou e eu me ergui, andando às pressas para


o banheiro próximo. Mal deu tempo de eu abrir a tampa do vaso e

cair de joelhos. Vomitei todo o meu café da manhã. Me ergui e me


curvei sobre a pia, limpando meus lábios. Quando parei, me olhei no

espelho e ergui o queixo. Eu estava com medo, raiva e tristeza ao


mesmo tempo, e tudo estava refletido em meus olhos.

Foda-se, Matteo Trevisan.

Estava cansada de amar você.


Bateram à porta assim que terminei de lavar as mãos e
limpar meu rosto. Não queria que ninguém me visse cair por Matteo,
então fiquei em silêncio esperando quem quer que fosse ir embora.

Estava cansada de todo esse drama, cansada de tentar lutar contra


meus sentimentos, cansada desse embate estúpido que minha vida

havia se transformado.

Eu queria Matteo, queria sobre seus erros, quis perdoar cada

uma das vezes em que ele me machucou. Quando me negou ajuda,

quando me forçou a ficar ao seu lado. Todas elas. Me questionei,


sentindo-me doente, se eu estava em uma relação doentia.

Por que eu o amava? Ele me arruinou. Continuava me


machucando.
Então, pelo amor de Deus, por quê?

— Eu vi você entrar, então por que não sai? — A voz grossa

e divertida de Giulio soou pela porta e eu respirei fundo. Droga.

— O que está fazendo aqui? — questionei, ainda sem me


mexer.

— Eu atropelei uma mulher e a trouxe para a emergência. Ia


passando quando vi você correndo. O que está fazendo aqui? —

Sua voz suave parecia estar contando como uma folha caiu da

árvore, e não que ele quase matou alguém com seu carro.

— Sienna está tendo os gêmeos — expliquei e me aproximei

da porta, ainda fechada.

— Ah... — Giulio não falou mais. — Você pode sair daí? As

pessoas já estão me encarando.

Eu ri, forçando a maçaneta. Giulio estava com calça jeans

preta e uma blusa branca que se estendia por seus ombros. Seu
olhar encontrou o meu e eu sorri.

— A mulher está bem? — perguntei, me afastando do

banheiro.

— Quem? — Ele franziu as sobrancelhas enquanto

andávamos.
— A mulher que atropelou.

— Sim, ela quebrou o braço, mas vai ficar bem — ele

explicou assim que chegamos perto da sala de espera.

— Não sei se posso ficar aqui — falei, olhando por cima do

ombro.

— Por quê? — Ele continuou andando e eu suspirei quando a

conversa na sala de espera parou. — Ah, olá. — Giulio franziu as

sobrancelhas para a família Trevisan enquanto eu ainda permanecia

escondida. — Atropelei uma moça e a trouxe.

— Giulio! — Lake se ergueu assim que dei alguns passos e

entrei na linha de visão de todos.

Matteo estava de pé ao lado de Antonella sentada. Prince

cruzou os braços, encarando Giulio como se ele fosse o diabo. Seu

irmão fez o mesmo.

— Ei, Lake... — Giulio ficou rígido.

Olhei entre ele e Lake, achando isso estranho, mas deixei de

lado.

— Eu vou para casa e retorno quando os gêmeos nascerem

— expliquei a Lake e olhei para Giulio. — Vamos?

Giulio pareceu confuso, mas logo acenou.


— Você acha que vai a algum lugar com esse desgraçado?

— A voz irada fez meus olhos rolarem.

— Não apenas acho, eu vou — afirmei entredentes e me

virei.

— Matteo, Giulio é de confiança — Lake interveio


rapidamente, encarando o irmão, confusa.

— Confiança? Quando ele matou Salvatore foi um ato

confiável? — Prince gritou.

Arregalei os olhos, totalmente surpresa. Salvatore era irmão


de Sienna, eu sabia pois já a tinha ouvido falando sobre ele.

— Não faça isso. Você não estava lá. Não sabe o que isso
fez a ele. — Lake soou quase doente, então toquei seu ombro.

— Estou indo. — Giulio saiu andando e eu encarei a irmã

Trevisan mais nova.

— Você está bem? — questionei, realmente preocupada.

— Sim. — Ela forçou um sorriso e apertou meu braço. — Vá

para casa.

Eu acenei e me virei, indo embora.


Encontrei Giulio na saída e o silêncio nos acompanhou

enquanto andávamos até o carro. Me abracei e Giulio ligou o rádio,


deixando bem claro que não queria conversar. Por mim, o.k.

Assim que ele estacionou o carro, eu o vi olhar para a casa e

o seu olhar não era bom.

— Você não gosta de morar aqui, não é? — questionei,

engolindo em seco.

— Eu amo meu lar. — Sua voz saiu firme.

— Então, por que não volta para casa?

— Você realmente não faz ideia no que se meteu, não é,

Blue? — Giulio riu, sem humor. — Suas lágrimas são como o


oxigênio para Matteo.

Suas palavras me acertaram.

— E ele nunca te deixará partir. Porque você pertence a ele.


— Ele afastou o olhar e respirou fundo. — Eu pertenço a Outfit. Sou

a máquina de matar deles e nunca serei capaz de ver meu pai outra
vez.

— Eu... eu... — Tentei falar, mas nada se formou.

— Boa sorte, Blue.


Eu sabia que precisaria.

Quando entrei na mansão, meu celular tocou. Tirei-o da bolsa


e o levei ao ouvido. Meu pai me saudou e eu sorri, porém, parei ao

ver Matteo de pé na parte inferior da escada.

— Oi, papai — murmurei, fechando a porta e parando no


corredor.

— Ei, Boo, estou em Chicago, na sua casa. — Suas palavras


me deixaram tensa. — Onde está sua mãe? Não tem ninguém aqui,

já chamei.

— Pai, eu... — Meu coração bateu com força e eu evitei


encarar Matteo. — Estou a caminho.

— Espere. — Papai tampou o fone do celular e sua voz ficou


longe. — A vizinha disse que sua mãe está na... reabilitação? Blue,

o que está acontecendo?

A confusão em sua voz me deixou em desespero. Oh meu


Deus.

— Estou indo.
— Blue, o que diabos está acontecendo? — ele gritou e eu
escutei sua respiração alterada. — Boo, me diz que isso é mentira.

Andei de volta para a porta enquanto escutava papai pedindo


para que eu falasse que era mentira o que a vizinha disse. Vi Giulio

ainda em seu carro, então entrei e fechei a porta.

— Dirija — pedi, sem fôlego.

— Blue! — meu pai gritou na linha.

— Estou chegando pai. — Respirei fundo.

Desliguei a chamada e expliquei a Giulio para onde me levar.


Olhei sobre meu ombro e mordi meu lábio ao ver Matteo de pé me

encarando.

— Obrigada. Não precisa me esperar — resmunguei


rapidamente e saí do carro assim que ele estacionou.

— De nada.

Giulio dirigiu para longe e eu me virei, encontrando papai

sentado na varanda da minha casa, com as mãos na cabeça,

parecendo completamente perdido. Meu coração latejou.


— Pai...

— Dois anos trabalhando para pagar as drogas dela ao invés

de estudar e focar em seus sonhos. Dois anos limpando vômito dela

e cuidando dela depois de crises. E agora, você está grávida, Blue.


— Meu pai não me olhou enquanto falava, e quando me encarou,

desejei que não tivesse feito. Havia tanta decepção nas suas íris

que me deixaram sem ar. — O que você fez com a sua vida, Blue?

O que você deixou Carolyn fazer com a sua vida? — ele gritou, se
erguendo. — A vizinha acabou de me contar tudo. Tudo.

— Pai, eu tentei ajudá-la...

— Ela não merece ajuda! — Sua voz cortou o ar e eu dei um

passo para trás. — Ela te abandonou não só uma vez, mas três.

Todas as vezes por homens que encontrava. Então, ela chegava,


me olhava nos olhos e dizia que ia embora com eles. Três malditas

vezes ela te deixou chorando nos meus pés, Blue.

— Ela quis me trazer...

— Sim, na última vez, porque eu pedi. — Arregalei os olhos,

sem ar. — Eu sabia que você ficaria, mas pedi que ela o fizesse
para você pelo menos sentir que ela te queria. Que ela te deu

opção.
— Pai...

— Carolyn ama a si mesma. Sempre foi assim. — Meu pai

balançou a cabeça e puxou o cabelo castanho. — Agora, eu


descubro isso? Que você quitou as dívidas de droga dela, que

cuidou dela enquanto se drogava e pausou seus sonhos por causa

disso... como você acha que estou me sentindo, Blue?

— Eu sei, me desculpe...

— Você só voltou para casa porque havia internado a


Carolyn. Você me enganou por ela...

— Eu só quero que ela fique bem. Eu não queria preocupá-lo.


— Me aproximei, sentindo meu queixo tremer. Papai fechou os

olhos, enquanto negava. — Eu sinto muito, papai. Não queria

decepcioná-lo.

— Quem é o pai do seu filho, Blue? Quero conhecê-lo, hoje

— papai afirmou rigidamente, então arregalei os olhos. — Você vai

mentir novamente?

— Não. Eu só... Matteo só é pai do bebê. Ele não está

comigo...

— Meu Deus, Blue. — Papai apertou as têmporas. — Ligue

para ele e peça para vir aqui. Isso ou você volta comigo hoje para
Bloomington.

Peguei o celular enquanto papai subia a escada. Abri a casa

e nós entramos. Graças a Deus tudo estava em ordem. Liguei para

Matteo e deixei minha bolsa na mesa para me distanciar do meu


pai.

— Você realmente está ligando para mim, porra? — A voz de

Matteo soou furiosa. — Depois de sair do hospital, e depois daqui


com aquele desgraçado, você ainda tem coragem de me ligar?

— Meu pai quer conhecer você — falei, ignorando suas


merdas estúpidas.

— Como?

— Ele está na cidade e quer saber quem é o desgraçado filho

da puta que engravidou a filha dele. Quer que eu desenhe para

você? — gritei, enquanto meu queixo tremia. E antes que eu


pudesse me deter, solucei.

— Estou a caminho.

Ele desligou e eu me virei, vendo papai de pé atrás de mim.

— Por favor, não peça para ele se casar comigo. Ele já é


noivo — afirmei rapidamente e me aproximei.
— Noivo? — Meu pai arregalou os olhos e eu acenei,

suspirando.

— Me envolvi com ele antes. Porém, hoje ele é de outra


pessoa. Não posso ver o senhor pedir isso a ele, porque a resposta

para isso está clara. Se ele quisesse ficar comigo e nosso filho, ele

estaria, então, por favor, não peça.

— Ah, Blue. — Papai suspirou e passou as mãos pelo

cabelo. — Que confusão você se meteu... — Ele tocou seu peito e

me olhou com amor. — Você saberá cuidar do meu neto. Você


sempre foi essa menina educada e maravilhosa. Seu filho terá

orgulho de ser seu.

— Eu te amo e quero ser metade da pessoa incrível que você

é para o meu filho. Me desculpe por mentir e esconder os erros da

Carolyn. Eu pensei que poderia ajudá-la. Consertá-la...

— Você pode, Blue. Ela está em reabilitação, lembra? —

Papai me puxou para os seus braços e eu o abracei com força. —

Você será uma mãe incrível, Blue.

— Espero que sim.

Nós fomos para o sofá e eu me aconcheguei em seu peito.


— Esse Matteo é um idiota se escolheu outra pessoa a você.

— Suas palavras me fizeram rir. — Você é linda, simpática, um ser


humano incrível. O que esse idiota tem na cabeça? Merda.

— Pai, por favor... — pedi, rindo.

Ele acariciou meu braço e depois minha barriga.

— Ele vai se arrepender.

— Como você sabe? — Ergui a cabeça e apoiei meu queixo

nele.

— Porque, às vezes, os homens fazem coisas estúpidas e

erradas. Nós nos arrependemos em seguida. Sempre.

— Tem certeza?

— Sim. — Meu pai sorriu. — Agora, vamos nos divertir com o

palhaço.

Eu ri, porém, sabia que Matteo era tudo, menos palhaço.

E papai, bem, papai nunca o assustaria.


“E aí?”

Enviei a mensagem para Prince pela décima vez desde que


saí do hospital. Sienna ainda estava em trabalho de parto.
Estacionei o carro e parei em frente à casa de Blue. Eu estava

nervoso pela primeira vez na minha vida. Não conseguia entender o

motivo, mas eu estava inquieto desde que ela disse que o pai queria
falar comigo.

Inferno, eu havia engravidado a menina dele. Se eu estivesse


em seu lugar... porra, eu mataria o infeliz.

Saí do carro e andei a passos largos até a porta. Antes que

eu apertasse a campainha, Blue apareceu. Seu rosto estava


inchado e seus olhos vermelhos. O que havia de errado? Desde que

a vi reagir ao telefonema com o pai, eu sabia que estava


acontecendo algo, mas até ouvir seu soluço na ligação eu ainda

queria acreditar que ela estava bem.

— Ignore tudo que ele falar e, por favor, fique calado. Apenas

acene. — Sua voz ainda estava quebrada.

— O que diabos ele fez a você? — Apertei meu punho.

— Ele? — Blue franziu as sobrancelhas e riu. — Ele é a única

coisa boa na minha vida, e eu juro por Deus que se você agir como
um maldito mafioso com ele, vou matar você.

Porra, ela parecia realmente amar o cara.

— O.k., Flame...

— Entre, Boo. Deixe o garoto entrar. — Uma voz forte soou e

ela suspirou, abrindo a porta.

Entrei na casa e vi um homem maior que eu alguns

centímetros, parado no meio da sala. Ele tinha cabelo escuro e

olhos iguais. O pai da minha Flame estendeu a mão para mim.

— Benjamin Dawson. — Seu rosto era fechado, porém eu

não iria deixar sua mão no ar.


— Matteo Patrick. — Estendi a mão e omiti meu sobrenome.
Alguma coisa me dizia que Benjamin não ficaria feliz ao pesquisar e

encontrar algumas coisas sobre mim e meus irmãos.

— Sente-se, Matteo. — Ele estendeu a mão, indicando o

sofá, então me sentei ao ver Flame ao seu lado, quase como se

fosse pular em cima de mim para o proteger a qualquer momento.

— Blue me contou sobre a situação de vocês.

— Sério? — perguntei com firmeza e encarei o rosto bonito

de Blue. Ela ficou rígida e encarou o pai.

— Sim. Você é noivo.

Bom, porra, obrigado, Flame.

— Era.

— O quê? — A voz de Blue sobressaiu a do pai quando

ambos fizeram a mesma pergunta.

— Eu era noivo. Não sou mais — expliquei sem a encarar,


focando minha atenção em seu pai.

A raiva de ouvir Blue dizer que Giulio seria uma escolha

melhor como pai me magoou e eu estaria mentindo se dissesse que

ainda não queria quebrar algumas coisas.


Mas, quando saí do apartamento, me senti sufocado. Blue

tinha motivos para falar isso. E apesar de tudo, ela ainda me amava.
Escutá-la dizendo isso apenas selou nosso destino.

Não haveria Giulio ou qualquer outro.

Não haveria Antonella ou qualquer outra.

Éramos nós dois.

Seria um longo caminho, eu sabia, mas também sabia que


nós sempre dávamos um jeito. Sempre daríamos.

Ontem mesmo eu havia conversado com Antonella sobre o


arranjo em que estávamos, e mesmo ela odiando a ideia de

encerrar o casamento, não se opôs quando avisei que conversaria


com Rocco hoje. Bom, eu ainda não havia conversado, mas era

questão de tempo.

Amo e Rhett só precisavam nascer.

— Tudo bem. Acho que assim as coisas ficam melhores — sr.

Dawson falou sério.

Olhei para a Blue, que estava se movendo.

— Pai. — Ela suplicou com os olhos.

— Eu quero que se case com minha filha. Hoje.


— Pai! — Blue gritou, arregalando os olhos enquanto eu

continuava encarando o homem diante de mim. Ele tinha cabelo


castanho e olhos escuros. Eu podia ver o nariz de Blue nele. E ele a

amava.

— É o melhor, Blue. Você está sozinha e em breve terá um


bebê. Isso é algo que um homem honrado faria, e eu espero que
Matteo seja um. Compreende, Matteo? — Seus olhos procuraram

os meus, e eu vi uma rigidez nele que eu compartilhava.

— Não posso me casar com Blue — respondi firmemente e vi


minha garota fechar os olhos e virar o rosto enquanto seu lábio

tremia.

— O quê?

— Pai, por favor. — Ela implorou enquanto o olhava. — Pare.

Você está me magoando...

— Estou tentando entender...

— Não posso ainda. Não namoramos, não noivamos, não

fomos a um encontro. Eu quero fazer essas coisas antes do


casamento. Blue merece isso...

Os dois se viraram para mim, e enquanto seu pai acenava

parecendo satisfeito, Flame queria me matar. Era compreensível.


— Fico feliz que pense assim, Matteo. — Sr. Dawson se
ergueu e eu fiz o mesmo.

— Nós o avisaremos sobre o casamento.

O pai de Blue conversou com ela e logo tratou de se


despedir. Eu fiquei parado, esperando enquanto Flame fechava a

porta e se virava para mim.

— O que foi isso? — ela gritou, se movendo em minha

direção.

— O quê? — Cruzei os braços, encarando-a.

— Você é tão... egoísta. — Blue piscou, engolindo em seco.


— Suas palavras, o jeito que fala sobre deixar um casamento... você
faz tudo parecer tão simples... E não é!

— Flame.

— Eu não vou a um encontro dos infernos com você, não vou

namorar e muito menos me casar com você — Blue gritou, e eu


semicerrei os olhos.

— Por quê? — questionei, ficando rígido.

— Porque eu não sou a segunda opção de ninguém. E eu,


com certeza, não sou estúpida. Você estava com ela há uma hora!
Dormiu com ela. — Flame bateu em mim quando me aproximei
muito. — Não me toque.

— Você disse que queria que nosso filho fosse daquele


fodido. Você queria que eu reagisse como, Blue? — gritei, furioso, e

segurei seu pulso, mantendo-a perto de mim.

— Eu falei da maneira simples que seria. Ele não é herdeiro


de uma máfia. As coisas seriam simples. Foi isso que falei — Blue

afirmou rapidamente.

— Você acha que serei menos pai por isso? Foda-se! As

minhas responsabilidades, um dia serão dele. Você sabe disso. —

Semicerrei os olhos, rígido.

— Isso conforta você? Porque, a mim, não!

— Eu não tenho tempo para isso, Blue. — Me afastei dela e

andei em direção à porta.

— Mas já? — Ela riu sarcasticamente e eu balancei a


cabeça. — O quê?

— Você é uma hipócrita. Reclama das minhas ações, mas as


suas não são melhores. — Abri a porta e bati a madeira, descendo a

escada.
Quando entrei em meu carro, soquei o volante. Como diabos

Blue voltaria para casa?

Voltei, furioso, e abri a porta. Meu peito sacudiu ao vê-la

curvada no sofá com seu corpo balançando. Os soluços me


deixaram doente. Era isso que eu fazia com Flame.

Eu a desestabilizava, tirava o seu pior e saía, deixando-a

para lidar com suas lágrimas.

Eu me odiei.

— Vai embora! — ela gritou quando ergueu a cabeça e me

viu.

Me aproximei rapidamente depois de fechar a porta e me


sentei, puxando-a para mim.

— Flame — chamei seu nome enquanto ela tentava se


afastar. Envolvi seu corpo e a coloquei em meu colo. Envolvi meus

braços em sua cintura e beijei seus cabelos. — Porra, baby —

resmunguei, me sentindo sufocado. — Não chore...

— Você me faz chorar. Você sempre faz isso e eu odeio.

Odeio deixar você me afetar dessa maneira. Odeio, Matteo. Eu

odeio.

A palavra se impregnou em mim como fogo. Me incendiou.


Não como quando a vi a primeira vez dançando naquele

poste.

Ela flutuava ao redor e parecia tão... minha. Como se ela me


pertencesse.

Quando a vi na sala com as meninas e percebi que Rocco


não permitiria que ela ficasse no Village, me senti dividido entre dor,

por não a ver dançar mais uma vez, e prazer, por saber que

ninguém a veria daquele jeito. Nunca.

Agora, no entanto, eu não me sentia queimando de

necessidade e posse.

Parecia que algo dentro de mim estava sendo arrancado,

tirado do meu peito.

— Me desculpe.

Nunca peça desculpas.

— Me perdoe.

Nunca peça perdão.

— Por favor, Blue.

Nunca implore.

Você é um Trevisan.
Blue ergueu o rosto e eu segurei suas bochechas. Deslizei

meus dedos por suas bochechas e beijei seus lábios rapidamente.

— Não vou fazer isso outra vez. Eu prometo. Diga que me

desculpa — pedi, sufocado, enquanto suas mãos se apoiavam em


meu peito.

— O que está fazendo? — Seus olhos estavam em confusão

e eu a compreendia.

— Eu quero que isso dê certo — falei, sem fôlego. — Preciso

de você.

— O quê? — As íris azuis se expandiram.

— Eu quero você, Blue. — Assenti, respirando fundo. —


Quero pra caralho. — Segurei a base do seu pescoço e a encarei.

Seus lábios molhados, seus olhos brilhantes e seu rosto angelical,

que deveria ser considerado um perigo para os demônios.

Blue Dawson deveria ser considerada um perigo.

— E a Antonella? — Sua voz ecoou suave, mas firme.

— Não a quero — dei de ombros —, nunca quis. — Suspirei

e toquei seu ventre. — Vocês são tudo que eu quero. Tudo.

— Não brinque comigo — ela pediu, rígida.


Sorri, desviando os olhos dos seus. Enfiei minha mão na gola

da minha camisa e puxei o colar que minha mãe havia me dado

anos atrás. Abri a corrente e tirei o anel bonito que minha mãe me

fez jurar entregar apenas a minha esposa. A pessoa que eu jamais


deixaria escapar.

Eu nunca deixaria essa garota escapar.

— Blue, você aceita se casar comigo? — perguntei, sentindo

tanto medo quanto o dia em que Rocco desceu a escada com nosso

pai e disse que ele havia matado minha mãe.

— Não faça isso — Blue pediu, respirando com força.

— Faço. — Acenei, sem titubear. — Não enlouqueço por sua

causa por posse, Blue. Eu sei que me pertence, mas quero que

deseje me pertencer. Diga a palavra, me deixe saber.

Blue olhou para o anel por longos segundos e o segurou

entre os dedos.

— Por que estava com ele no colar? — Blue ergueu o olhar.

— Minha mãe o deu a mim — falei rapidamente e a vi

arregalar os olhos. — Ela me disse para dar a alguém especial.


Alguém que eu desejasse ter para sempre em minha vida. Não há

ninguém que eu ache mais especial que você, Blue.


— Você não pode fazer isso. — Ela fungou, limpando o rosto.

— Por que não?

— Não pode me deixar chorando em um segundo e no

próximo me pedir em casamento. Isso não é normal.

— Flame, eu sou um Trevisan. Não somos normais.

Blue se afastou até que eu a deixei se erguer. Ela andou de

um lado para o outro com sua barriga bonita enquanto seu cabelo

estava espalhado pelo seu peito. O vestido azul era colado ao seu

corpo e deixava pouco para a imaginação.

— Dois meses. — Blue parou e se virou para mim enquanto

abraçava o próprio corpo.

— O quê?

— Vou responder em dois meses. — Ela suspirou, andando


de volta para mim e me entregando o anel. — Se em dois meses

não fodermos tudo mais uma vez, eu me casarei com você.

— Você está brincando, certo? Em dois meses eu quero já

estar casado com você.

— Pise no freio. — Blue mordeu o lábio e suspirou. — Vamos


aos poucos.
— Você está falando sério — constatei, confuso.

— Somos horríveis juntos — Blue me lembrou e respirou

fundo, tocando nosso filho. — Mas eu quero mudar isso. Eu quero


me casar com você, mas...

— Sem mas. — Me ergui rapidamente e segurei sua mão.


Deslizei meu anel em seu dedo e beijei sua bochecha. — Você

acabou de dizer “eu quero”. Você perdeu, baby.

Blue abriu a boca para rebater, mas eu empurrei meus lábios


nos seus. Ela segurou meus ombros e eu segurei sua bunda

perfeita. Flame gemeu ao sentir minha língua deslizar pela costura

dos seus lábios. Mordi sua boca e beijei o caminho dela até sua
clavícula. O decote do vestido estava exposto e eu enfiei meu rosto

em seus seios, tocando-os com posse.

— Estão doloridos, Matteo.

— Estão combinando com meu pau.

— Porco. — Ela riu enquanto eu empurrava seu vestido para


fora.

Lambi o mamilo tenro e mordi a carne enquanto minha mão

segurava e apertava. Blue suspirou e eu envolvi meus lábios no


mamilo rosa e chupei devagar, levando meu tempo.
— Oh meu Deus.

— Diga meu nome. Eu estou te fodendo, não ele.

Ela bateu em meu ombro e eu a guiei pela casa enquanto


beijava seu colo e seu pescoço. Quando chegamos ao seu quarto,

Blue se sentou na cama e segurou o vestido no lugar.

— O quê? — questionei, sem fôlego, enquanto tirava minha


camisa e ia para a calça.

— Eu... — Ela fechou a boca e engoliu em seco. — Não sou

mais do jeito que se lembra.

— Como assim? Você está com nosso filho na barriga. Se


possível, está mais perfeita que antes. Qual o problema? —

questionei, me aproximando e esquecendo minha calça.

— Eu sei, mas a gravidez me deu mais curvas e bem,


estrias...

— Você é perfeita do jeito que é. Eu fodo minha mão todo


maldito dia pensando em você. Meu pau ama você, querida. Não se
esconda de mim — falei entredentes a ponto de explodir.

— O.k., mas desligue a luz.

— Flame, eu quero e preciso ver sua boceta. — Soei


torturado e, porra, eu estava sendo.
Blue mordeu o lábio e eu me movi, deitando-a na cama.
Puxei sua calcinha pelas coxas e cheirei o tecido, vendo-a molhada.
Porra.

— Abra as pernas, Flame — ordenei, tenso, e tirei meu pau


da minha calça.

Bombeei meu pau algumas vezes e suspirei quando Blue

abriu suas coxas e eu vislumbrei sua boceta molhada. Deslizei


meus dedos dentro dela e suspirei quando os coloquei na boca.
Perfeita do caralho.

— Goze na minha boca, baby — pedi, me ajoelhando. Lambi


suas dobras e chupei seu botão inchado em meus lábios. Blue
gritou enquanto eu sorria, comendo sua boceta como se eu não

tivesse tomado café da manhã.

— Matteo! — ela gritou assim que adicionei um dedo em seu


canal apertado. Juro que nunca entrei em uma boceta tão boa

quanto a dessa mulher.

Depois que ela gozou em meu rosto, me ergui e apertei meu


pau algumas vezes, e quase me envergonhei quando aproximei
meu pau da sua entrada e gozei em suas dobras.

— Como da primeira vez.


Sorri para a minha obra de arte e Blue gemeu quando
espalhei meu sêmen e enfiei dentro dela.

— Vamos levar um tempo aqui — avisei, deslizando dentro


da sua boceta.

Blue sorriu como se a ideia não fosse apenas boa, mas, sim,

excelente.

Porra, eu me casaria com a mulher nem que eu a forçasse.


Matteo realmente levou um tempo me fodendo, e eu juro que
amei cada segundo.

— O que vamos falar? — questionei quando estávamos


próximo à casa da sua família. Sienna estava em casa com os

gêmeos depois de poucas horas desde o parto. Perguntei a Matteo

se isso não era arriscado, ele disse apenas que não ficavam muito
tempo em hospitais.

Eu não entendi.

— Não precisamos falar nada. — Matteo apertou minha mão

enquanto me guiava para dentro da casa. Ele estava com a mesma

roupa de ontem, enquanto eu usava uma das roupas que havia


deixado para trás quando me mudei.
— Matteo! — resmunguei, contrariada.

— O.k., Flame, fale o que quiser. Eu não devo satisfação a

eles. Eles nunca me contam nada. — Sua voz soou magoada, então

toquei sua coluna, triste. — Não se sinta mal. O filho do meio


sempre é esquecido.

— Eles amam você — falei, tentando aliviar seu

ressentimento.

— Eu sei. — Matteo segurou meu rosto e se aproximou. —

Mas eu não espero mais muita coisa dessa relação. Eu tenho você
e isso me basta. Você e nosso filho.

— Sempre vamos estar ao seu lado, mas eles são sua

família...

— Minha família. — Matteo se afastou e acenou, mordendo a

boca. — Eu espero que essa família pare de me esconder coisas.

Ele entrou na sala de jogos me puxando atrás de si, sorri ao


ver Lake e Prince juntos. Será que fizeram as pazes? Eu esperava

que sim.

— Ei, como vocês estão? — questionei, sorrindo, então os

dois se viraram.
— Bem... o que estão fazendo... juntos? — Lake foi a
primeira a falar enquanto encarava minha mão envolvida pela do

Matteo.

— Noivos. — Matteo ergueu nossas mãos e o diamante

brilhou com a luz.

— Que porra... é o anel da mamãe? — Lake se ergueu e


seus olhos começaram a lacrimejar.

— Sim. — Matteo me soltou e andou até o sofá. Ele bateu ao

seu lado, mas fiquei parada enquanto via Lake se recompor.

— Ele é lindo e combina com você, Blue. — Ela sorriu e me

puxou para os seus braços. — Eu sabia que ficariam juntos — a


irmã mais nova de Matteo sussurrou e se afastou.

— Obrigada, Lake. — Sorri ao me virar para Prince e o

encontrei folheando fotos. Me aproximei e me sentei na poltrona. —

O que é isso tudo?

— São fotos. Parabéns, aliás. Matteo demorou para tirar a


cabeça da bunda. — Prince sorriu para mim e eu ri quando Matteo o

acertou com uma almofada.

— Tem do Matteo? — perguntei, sorrindo e me curvando

sobre a mesa. — Nosso bebê pode ser parecido com ele e ruivo
como eu, vocês sabem...

— Esse é ele. — Lake me entregou uma e eu franzi as

sobrancelhas ao ver o bebê bonito naquela foto. Ele parecia o

mesmo da foto que vi na casa de Andy. Parecia a mesma foto, o


mesmo lugar...

— Não sou eu. — Ele se aproximou e encarou por cima do

meu ombro. — É Prince.

Encarei Prince e depois a foto. Relaxei, balançando a


cabeça. Talvez Andy apenas tenha tirado uma foto de Roman bem
parecida com essa.

— Aqui. Esse sou eu. — Matteo me entregou uma foto e eu

deixei a outra sobre a mesa. O bebê dessa foto era gordinho, tinha
olhos azuis lindos e sorria.

— Com certeza, é você. — Sorri o olhando e Matteo bateu


sua boca na minha. — Ei!

— Parem com isso. — Lake enfiou o dedo na garganta

enquanto Matteo sorria.

— Vou ver Rhett e Amo. Vamos, Blue. — Ele se ergueu e eu


fiz o mesmo.
Nós subimos a escada, deixando os meninos para trás.

Matteo me guiou até o seu quarto para trocar de roupa antes e eu o


esperei, mexendo em algumas fotos espalhadas.

— Mova sua bunda, baby. — Ele acenou para a porta e nós

saímos.

— Então, hum, como você acha que eles são? — questionei,

sorrindo enquanto subíamos mais um lance de escada.

— Loiros e olhos azuis. Aposto dez mil dólares.

— Eu não tenho dez mil dólares, idiota.

Matteo riu e bateu à porta. Fiquei surpresa quando Rocco

abriu e uma sala apareceu. Não era apenas um quarto, era uma ala.
A decoração era linda e parecia que Sienna havia decorado.

— Que surpresa ver os dois juntos. — Rocco mediu a mim e

depois Matteo. — Álcool em gel nas mãos e cotovelos. Não


respirem perto do rosto deles. Se não está apto a seguir minhas
regras, se vire e saia.

— Rocco! — O gemido veio do corredor.

Matteo deu de ombros, pegando o álcool em gel e enchendo

as mãos e me dando também. Rocco nos guiou até o quarto onde


Sienna estava numa poltrona amamentando dois bebês.
— Pare de assustá-los — Sienna grunhiu para o esposo e
sorriu para mim. — Blue.

— Parabéns, Sienna — murmurei, me aproximando, mas


antes olhei para Rocco. Ele estava de braços cruzados, parecendo

incomodado.

— Rocco, eu juro por Deus...

Me virei e encarei os bebês. Matteo acabou de ganhar os dez

mil que eu não tenho para pagar. Amo e Rhett tinham cabelos loiros
quase brancos e os olhos como os dos pais. Azuis. Eles mamavam

juntos e as mãos dos dois estavam entrelaçadas.

— Eles são perfeitos — falei, emocionada, antes de deslizar


a mão em meu ventre. — Não vejo a hora de ter o meu em meus
braços também.

— Passa rápido, você vai ver.

Matteo passou por mim e se ajoelhou próximo aos dois


bebês.

— Rhett, Amo, Remy e Vito serão um pequeno exército. —

Ele sorriu, tocando na mão dos dois e eles envolveram seus dedos
com força.
— O.k., pare com isso. — Sienna riu, afastando sua mão. O
seu desconforto era compartilhado por mim. Não queria que Vito se
envolvesse com o mundo obscuro que o pai e seus tios viviam.

Porém, seria inevitável.

Saímos do quarto tempos depois e Matteo me levou para o

seu. Ele tirou a camisa e eu levei a mão aos lábios ao ver o estrago
que eu fiz com minhas unhas. Passei os dedos e ele olhou por cima

do ombro.

— Minha noiva tem garras — ele brincou e seus lábios se

esticaram. A covinha que se formou em seu queixo era

imperceptível vista de longe, mas eu conseguia ver com clareza de


onde estava. Meu peito sacudiu enquanto eu o delineava com a

ponta dos meus dedos.

Deus, como eu o amava.

Amava-o acima dos nossos erros, dos seus defeitos e das

nossas decisões. Eu o amava acima de tudo isso.

— Ei, o que foi? — ele questionou, segurando meu rosto.

— Nada — menti e sorri, fazendo-o relaxar.

Não me sentia segura para dizer que o amava, e odiava

saber o motivo disso.


Matteo beijou minha boca e eu relaxei em seu peito. Nos

deitamos juntos e eu suspirei quando nosso baby chutou. Matteo riu


ao colocar a mão.

— Você nunca falou sobre sua mãe antes de hoje —


murmurei devagar, pensando sobre isso.

— Não gosto de falar sobre ela. — Ele suspirou, ainda

acariciando meu ventre.

— Por quê? — Empurrei a questão, tentando entrar pelas

frestas dele.

Matteo era fechado demais, e se eu quisesse conhecer o

homem que eu amava, precisava ser persuasiva.

— Ela tinha cabelo escuro como todos nós. — Matteo cheirou

meus cabelos. — Ela amava fazer café da manhã, mesmo tendo

mais empregadas que um ser humano comum. Prince sempre foi


seu preferido. Ela o amava mais que o ar.

— Nenhuma mãe tem filho preferido.

— Falou a filha única. — Ele riu. — Violetta Trevisan era a

calmaria numa tarde chuvosa, o arco-íris depois de uma

tempestade. — Sua voz ficou suave e ele trouxe seus olhos para
mim. — Como você.
— Eu? — Engoli em seco, mexida com sua comparação.

— Você é tudo que eu nunca quis, mas sempre precisei. —

Ele tirou meu cabelo do meu rosto e suspirou. — Minha mãe sabia
disso.... — Encarei seus olhos, apaixonada. — Não vejo a hora de

me casar com você.

Eu derreti. Eu também não via a hora.

Matteo ficou em Chicago só aquela noite. No dia seguinte, ele

me ajudou a arrumar minhas coisas e as levou para o seu carro. Eu

realmente não queria voltar para Oak Park, mas ele tinha trabalho e
não queria me deixar aqui.

— Ei, garota. — Giulio apareceu ao lado do carro e eu sorri.

— Ei, como você está? — perguntei, encarando o seu rosto

franzido.

— Bem. Hum, vejo que se acertou com Matteo. — Giulio

sorriu e eu acenei, tentando não me sentir estúpida. — Fico feliz. Eu

não entendia bem o ciúme dele comigo, já que nunca olhei para
você de maneira diferente. — Ele pareceu genuinamente confuso.

— Os ciúmes de Matteo são incompreensíveis. — Sorri.


— Enfim, fique bem. — Giulio se afastou e, segundos depois,

Matteo saiu da mansão segurando seu carregador.

— Você estava conversando com Giulio? — Matteo

questionou rigidamente.

— Sim.— Toquei seus braços. — Ele é um bom amigo, e eu

nunca olharia para ele de maneira diferente...

— Isso foi antes ou depois de dizer que queria que ele fosse

pai do meu filho? — Matteo se afastou e entrou no carro.

Fiquei parada, tentando pensar em como arrumar essa

bagunça.

Matteo buzinou e eu abri a porta, deslizando para dentro em


seguida. Me virei para ele depois de colocar o cinto e o vi focado em

dirigir. Toquei sua coxa e engoli em seco.

— Me desculpe. Eu não deveria ter dito aquilo. Nunca. Foi

horrível.

— Não se desculpe pelo que sente — ele rebateu, sem me


olhar.

— Não quero que Giulio seja pai do nosso bebê. Se eu


pudesse voltar atrás faria tudo do mesmo jeito, porque minhas

decisões me trouxeram até aqui. Até você e nosso filho — falei com
firmeza e apertei sua coxa. — Você será um pai incrível e seu filho

vai amar você. Eu nunca duvidei disso nem por um segundo.

Matteo apertou o volante, ainda em silêncio.

— Vito terá sorte de ter você como pai e eu de ter você como

marido — resmunguei por último e me virei.

— Flame — Matteo chamou e eu me virei, ansiosa. — Eu sou

o único sortudo por ter vocês dois. — Ele me olhou por alguns

segundos e voltou para a pista.

— Prince ficou? — questionei, mudando de assunto. Saber

que eu o havia magoado me sufocava.

— Ele vai viajar — Matteo falou e eu franzi as sobrancelhas.

— Rocco e um dos nossos primos decidiram fazer algumas viagens

para lugares próximos. Prince quer ir.

— Como assim? — questionei, confusa.

— Queremos território, Blue. — Matteo me olhou de lado e

suspirou. — Estamos expandindo, e para isso precisamos conhecer

esses lugares.

— Então, Prince vai para um lugar que não é de vocês? Isso

não é perigoso?

— É, mas ele está decidido. Não podemos fazer muito.


Não gostava muito de pensar em Prince longe porque,

convenhamos, ele já tinha muita coisa para lidar. Eu sabia que ele
tinha seus problemas, mas nunca perguntei a Matteo e nem a ele.

— Você não acha que ele anda fumando muito? — perguntei,

nervosa.

— Sim e já falei com ele. — Matteo suspirou e bagunçou o

cabelo. — Prince tem muitas merdas, Flame. Não tente entendê-lo.

Eu não o faria.

Arrumei minhas coisas no closet ao lado das de Matteo e

suspirei. Eu realmente não queria desfazer as malas, mas Matteo


acordou e me perguntou por que elas ainda estavam arrumadas. É

claro que eu não falei que era por temer que brigássemos.

— Já vai! — gritei para o interfone e atendi.

Quando o Aaron falou que havia uma Antonella pedindo para

subir, eu fiquei nervosa, porém, o que poderia acontecer?

Pedi para deixá-la subir e me arrependi assim que me olhei.

Droga. Tentei desamassar a blusa do Matteo e arrumei meus


cabelos, colocando-os para o lado.
O elevador se abriu e eu me senti pior quando vi o salto
preto, as pernas longas cobertas por uma calça, e blusa de seda.

Seus cabelos estavam em ondas bem-feitas e seu rosto estava

impecável.

— Matteo não está — murmurei rapidamente e indiquei a

sala.

— Oh, eu não sabia. — Ela mordeu o lábio e se sentou numa

das poltronas.

— Eu queria dizer que sinto muito por tudo isso...

— Pelo quê? — Antonella franziu as sobrancelhas. — Eu já


me conformei com o bebê de vocês. Matteo e eu podemos ter os

nossos.

Suas palavras me deixaram confusa.

O quê?

— Matteo me pediu em casamento — falei, sentindo meu

estômago girar impiedosamente.

— Oh meu Deus! — Ela abriu a boca, chocada. — Eu... meu


Deus, ele fez isso antes do Rocco negar seu pedido de anulação do

noivado ou depois? — Suas palavras me nausearam.

Rocco negou? Como assim?


— Eu não estou entendendo — falei, sem fôlego.

— Matteo ainda vai se casar comigo — Antonella afirmou, me


fazendo levar a mão à boca. — Me desculpa, você está bem?

Não, eu não estava.

Minha visão começou a embaçar e a dor forte na parte


inferior da minha cabeça me disse que eu precisava ir para o
hospital. Rápido.

— Hospital — murmurei, tentando me acalmar e pensar em

meu bebê.

Por favor, por favor.


Não podemos cancelar o casamento.

Por que você quer se casar com Blue?

Estacionei meu carro enquanto meu sangue bombeava pelas


minhas veias e me deixava insano. Eu estava há um dia com a
conversa que tive com Rocco na cabeça. Era, palavras fodidas do

meu irmão, impossível desfazer meu noivado com Antonella.

— Bom dia...

Não respondi Lake, apenas continuei andando até parar na

porta de Rocco. Eu sabia que ele estava aqui.

— O que...
— Você me perguntou semanas atrás se eu queria desistir do

casamento — rosnei as palavras, tremendo e apertando minha


nuca. — Você me perguntou! O que mudou, porra?

Meu irmão ficou me olhando em silêncio, completamente


impassível.

— Não quero me casar com Antonella. E eu precisei vir a

Chicago para falar isso olhando no seu olho, porque eu sei que você
nunca vai me obrigar a fazer isso. Não quando você sabe o que

Blue significa para mim. Você não é ele e nós dois sabemos disso!

— berrei, inconformado.

— Então — ele se levantou —, por que você não respondeu

à pergunta, Matteo? — Sua voz fria, rígida e perigosa me deixou


inquieto.

— Que porra é essa, cara? — questionei, sem entender. —

Não precisamos do pai de Antonella. Nós somos a Outfit, não

aquele velho imbecil, então me fala, que porra é essa? — gritei


novamente e ouvi a porta abrir. Não olhei para trás, porque só

poderiam ser duas pessoas, e as duas ficariam do lado dele.

— Fechamos um acordo, Matteo. Um acordo dos infernos.

Dei minha palavra. O que você quer que eu faça? — Rocco gritou,
socando a mesa.

— Me escute. Fique do meu lado, pela primeira vez na vida!

— respondi de maneira ácida.

— Que merda? — Rocco teve a audácia de parecer confuso.

— Vocês sempre me fodem, me excluem. Lake só foi mais


uma das coisas. Então, por que diabos você não me escuta e me

apoia uma única vez, porra?

— O que houve? — A voz da sua esposa soou e ela tocou

meu ombro. — Ei, o que houve?

— Eu não quero me casar com Antonella — falei, apelando


para ela. Eu sabia que Sienna era a única pessoa no mundo capaz

de mudar a opinião de Rocco.

— Matteo, seu filho da puta... — Rocco começou, mas

Sienna o interrompeu.

— Então, não se case. — Ela foi sucinta ao falar e se virou


para seu marido. — O que houve?

— Sienna — Rocco falou entredentes.

Ela bateu o pé como uma criança, mas sua voz ecoou como

uma rainha.
— Nem pense nisso. Blue está esperando o filho dele,

ninguém além dela deveria se casar com ele. Você sabe disso.
Então, qual o problema? — Ela quis saber, irritada.

— Antonella quer Prince. — Arregalei os olhos ao ouvi-lo. —


Ela só vai desistir do casamento se casar com ele. Ela fez a cabeça

do Dario e ele concordou. Isso nem é o pior. — Rocco apertou o


punho. — Prince tirou a virgindade dela atrás de um carro, enquanto

estava chapado.

— Meu Deus... — Sienna levou as mãos aos lábios.

— Não acredito nisso — falei, completamente tenso.

— Acredite. Ele confirmou. — Rocco passou a mão pelo

cabelo rente à cabeça. — Não quero casar Prince. Ele é muito


jovem e está passando por merdas...

— Se Prince tirou a virgindade dela, ele deve ter


responsabilidade e se casar com ela, não Matteo — Sienna falou

depois de alguns segundos. — Vocês fazem cada coisa. — Ela


balançou a cabeça e se sentou. — Onde ele está?

— Em Oklahoma.

Porra fodida dos infernos.


Meu celular começou a tocar e o nome de Antonella me fez

respirar fundo.

— Matteo.

— Blue passou mal e eu a trouxe para o hospital. — Suas


palavras saíram apressadas e apavoradas. — Eu juro que não fiz
nada...

— Estou a caminho. — Desliguei e olhei para Rocco. — E

respondendo a sua pergunta, eu vou me casar com Blue porque a


amo. Agora, eu vou até a minha noiva, que está no hospital.

Saí da mansão rápido e, correndo como nunca, dirigi para


Oak Park.

Assim que entrei no hospital, fui encaminhado para uma sala


onde Antonella estava andando de um lado para o outro. Ela me

olhou quando cheguei e segurei seu braço, puxando-a para a


parede.

— Eu juro que vou matar você se tocou em um fio de cabelo

dela.
— Eu não fiz. Juro. A pressão dela subiu. — Ella negou com
firmeza. Suspirei, balançando a cabeça. — Falei sobre Rocco não
ter permitido cancelar o casamento e ela...

— Eu não vou me casar com você — falei pausadamente e a

soltei. — Volte para Chicago e encontre meu irmão. Foi ele que se
sujou com seu sangue, não eu.

Antonella arregalou os olhos e suas bochechas pegaram


fogo. Eu me afastei e andei diretamente para o quarto onde me

informaram que eu encontraria Blue.

— Ei — chamei quando a vi deitada na cama. — Você me


assustou. — Me aproximei e me sentei enquanto seus olhos bonitos
se ergueram. Toquei seu ventre e o movimento me aliviou.

— Estamos bem. — Ela colocou a mão sobre a minha.

— O que aconteceu? — perguntei, preocupado.

— Antonella disse que ainda se casará com ela. — Blue


desviou os olhos e eu levei minha mão até sua bochecha. — Eu

disse a ela que me pediu em casamento...

— Não vou me casar com outra mulher além de você. Porra,


Flame, eu disse a você. — falei, com firmeza.

— Mas ela disse que Rocco...


— Rocco vai lidar com isso — respondi, interrompendo-a.

Blue se jogou em meus braços e eu beijei seus cabelos,

suspirando.

— Tem algo que quero que faça. — Blue se afastou e eu


foquei em seus olhos. — Eu quero que a gente se case hoje.

— O quê? — perguntei, rindo, mas ela parecia tão séria.

— Eles não poderão te tirar de mim. — Blue tocou meu rosto.

— Da gente. — Ela colocou minha mão sobre seu ventre e eu

suspirei.

— Você tem certeza? E sua festa? Cerimônia?

— Não sou uma garota convencional.

Ela não era.

Achar um juiz de paz foi o mais difícil de fazer, mas depois de


algumas ligações, eu consegui. Blue estava com minha camisa e

segurando flores que Sienna havia mandado desejando melhoras.

Para mim, ela estava perfeita.

— Você tem certeza? — perguntei, respirando fundo.

— Absoluta. — Blue sorriu e eu perdi tudo ali.


— Prontos? — o juiz perguntou ao lado de duas enfermeiras

que estavam chorando. Eu achei que alguém tinha morrido, mas


quando ia perguntar, Blue me deu uma cotovelada.

— Sim! Não! — falamos juntos e eu sorri ao ver a cara de


frustração da minha Flame.

— Matteo! — ela grunhiu, irritada.

Eu a puxei para o banheiro, trancando a porta em seguida.

— Estamos fazendo isso pelos motivos certos? — questionei


devagar e ela me olhou confusa. — Você quer se casar hoje, em um

hospital, usando minha camisa? Sem seu pai?

Blue abriu a boca, mas voltou a fechá-la.

— E tudo porque tem medo de eu ser obrigado a casar com

Antonella — murmurei devagar. Blue desviou os olhos dos meus. —


Não. Não posso fazer isso com você, Flame. Você merece se casar

à sua maneira, com seu pai ao seu lado. Você merece um buquê de

verdade e um vestido. E eu vou dar tudo isso a você. Cada uma

delas. Eu não seria merecedor de você se eu não o fizesse.

— Matteo...

— Nós temos um laço maior que um papel. Temos nosso Vito

— falei em um fôlego. Ela sorriu, depois começou a gargalhar e, de


repente, havia lágrimas em suas bochechas. — O que foi?

— É uma menina.

— O quê? — Arregalei os olhos, surpresa e confusão

bombardeando minha mente.

— Fiz uma ultrassom de emergência. A médica não sabia

que eu não sabia do sexo. Ela falou “sua filha está bem”. É uma

menina. — Blue riu, limpando as bochechas, e eu comecei a rir

junto.

— Ela deve estar muito puta com a gente chamando-a de ele

e Vito o tempo todo. — falei, enquanto Flame gargalhava e batia em


meu peito.

— Nina, perdoe a mamãe e o papai — Blue pediu, se

acalmando.

— Sim, minha Nina — implorei, acariciando o ventre inchado

da minha Flame.

Algo me dizia que ela nunca nos perdoaria.

— Ainda vão se casar? — o juiz perguntou pela porta.

Blue me encarou.
— Não. Nos desculpe por fazê-lo perder tempo — Blue gritou

para a porta enquanto eu segurava seu rosto bonito.

Eu me casaria com ela, mas faria do jeito certo.

Quando voltamos para casa, Blue foi para a banheira e eu a

ajudei, massageando seus ombros e coluna. Em meio a toques,


minha mão encontrou sua boceta e brinquei com ela, fazendo Blue

descansar contra meu peito, arfando.

— Matteo. — Ela gemeu, gozando em meus dedos.

— Cansada? — questionei, beijando seu pescoço, e Flame

acenou.

Levei-a para a cama depois de enxugá-la e puxei a coberta

sobre nós.

— Matteo? — Blue chamou, sonolenta.

— O quê? — Bocejei.

— Nina amará você.

Sua voz suave me fez sorrir. Me curvei, beijando sua boca

bonita.
— Eu vou amá-la também, Flame.

— Eu amo esse apelido.

— Eu também.

Ela sorriu ao se aconchegar em mim. Suspirei, sabendo que


eu estava no melhor lugar do mundo. Com ela e nossa filha.

Nossa Nina.

Cheguei à mansão com Blue depois de alguns dias longe de


tudo. Eu estava finalizando a compra de uma casa mais segura que

o apartamento, e esperava que ela estivesse pronta antes que Nina

nascesse.

— Prince vai se casar mesmo? — Blue questionou, enquanto

descíamos do carro.

— Acho que não. Rocco não permitiria. Porém, ainda não

falei com ele.

Nós entramos em casa e eu suspirei ao ver todos reunidos na

sala. Menos Prince.


— Onde ele está? — A voz de Lake ecoou. Ela estava em

frente ao nosso irmão mais velho.

— Eu não sei! — Rocco gritou para ela, parecendo

preocupado. Ele levou o celular à orelha e apertou o punho contra a

boca.

Romeo estava ali com Lunna, ambos parados enquanto

Sienna e Lake pareciam desesperadas.

— O que houve? — perguntei, me aproximando.

— Prince sumiu. — Lake soluçou, levando as mãos ao rosto.


— Oh meu Deus...

— Como assim? — questionei, olhando ao redor. Todos me


encararam e respiraram fundo. — Que merda está havendo?

— Ele estava em Oklahoma com Zyon. Encontraram Zyon

em um hospital torturado. Prince não estava com ele.

Porra. Porra. Porra.

— Matteo. — Blue tocou meu peito enquanto eu caía no sofá

e lutava para respirar.

— Ele está bem. Prince é esperto. Vocês sabem disso! —


Romeo grunhiu, enquanto eu apertava meus punhos contra meus

olhos.
— Ele não deveria ter ido — Rocco murmurou e socou a
parede.

Não deveria... mas ele foi.

— Precisamos encontrá-lo. Eu o quero em casa! — Sienna

afirmou ao longe antes de soluçar.

— Ele está bem — Lunna murmurou, mas um soluço também

cortou sua respiração.

Onde ele estava? Pense, Matteo, pense.

— Peça ajuda a Enrico. Ele tem poder sobre Oklahoma —

falei, me erguendo.

Rocco se virou ao mesmo tempo que sua esposa.

— Mandamos Salvatore morto para casa. Enrico nunca nos

ajudará — Romeo falou ceticamente.

— Prometa Lake a Juliano. Uma nova oferta de paz. Ele fará


— murmurei com firmeza, fazendo Lake se virar com os olhos
arregalados.

— O que diabos há de errado com você? — ela gritou,


furiosa.
— Você quer Prince de volta? Bom, comece a preparar seu
casamento! — rugi de volta, sentindo meu coração bater
incontrolavelmente. — Prince pode estar sendo torturado. Meu

Deus, não quero pensar nisso. — Apertei meus punhos e me movi


pela sala.

— Devolva Giulio — Sienna falou baixo e todos nós nos

viramos. — Enrico vai aceitar. Ele quer Giulio.

— Você está de sacanagem? — Rocco gritou.

Sienna se ergueu e o encarou.

— Escolha, Rocco. Seu irmão ou o seu orgulho. — Ela saiu

da sala e subiu a escada rapidamente.

— Ela está certa — Romeo falou ao se aproximar.

— Eu sei e odeio isso. — Rocco apertou a mandíbula.

Eu não ligava se precisava orquestrar um casamento com a

Cosa Nostra ou enviar um rato miserável de volta para a Itália. Eu


queria meu irmão.

— Calma — Blue pediu, segurando meu braço. Eu a puxei


para mim, respirando em seu cabelo. — Estou aqui. Prince logo

estará também.

— Espero que sim, Flame.


Sienna levou Blue para o andar de cima enquanto eu segui
Rocco e Romeo para o escritório. Lake não me encarou mais, e eu
estava muito preocupado com Prince para pensar nisso.

— Não pensamos direito. — Romeo se serviu de uísque e

cheirou a borda do copo.

— Como assim? — perguntei, semicerrando os olhos.

Rocco encarou nosso irmão e levou o cigarro à boca.

— Estamos em guerra direta com os Zenduryc. Não com a

Cosa Nostra. — Romeo se aproximou e se sentou na poltrona. Fiz o

mesmo enquanto Rocco pensava. Merda.


— Eles o pegaram — Rocco confirmou, pegando o celular. —

Você estava com ele. Sabe dos passos dele. O que diabos houve?

Tentei me recordar quem andava ao redor de Prince, um

amigo novo ou companhia. Porém, nada ficou claro. Pelo menos até
me lembrar da loira que parecia se desintegrar quando ele beijou

sua amiga.

— Hope — falei, suspirando e apertando meus punhos,


socando a mesa em seguida.

— Quem? — Romeo se virou e eu olhei dele para Rocco.

— Ela era irmã de Cesar. Prince estava dormindo com ela...

— Ele estava dormindo com a irmã do cara que ele matou?


— Rocco perguntou entredentes.

— Sim. — Acenei, tentando respirar devagar para pensar. —

Eu disse que era uma loucura, mas vocês sabem como ele está.

Prince não ouvia ninguém — expliquei enquanto meus dedos batiam


freneticamente na madeira. — Você acha que já o mataram?

A ideia me deixou nauseado e eu quis vomitar em meus

próprios pés. Não podia sequer imaginar Prince morto. Não era

possível para mim.


— Não fale essa merda — Rocco grunhiu enquanto Romeo
apenas encarava seus próprios pés.

— Eu não sei. — Ele apertou o próprio pescoço e olhou para

Rocco. — Vamos atrás dessa garota. E eu vou matá-la caso tenha

participação nisso. E vocês não vão me impedir.

Romeo se ergueu e eu fiz o mesmo ao ver Rocco ainda


envolto em seus pensamentos.

— Ele sumiu nessa madrugada. Eles vão nos contatar...

— Vão? — questionei, cético. — Se eles querem vingança,

não vão falar nada. Apenas fazer Prince pagar.

— Matteo está certo, Rocco. — Romeo se aproximou. —

Vamos atrás dela. Matteo fica cuidando das meninas e nossos

filhos.

— Sim, tudo bem. — Rocco andou até mim e encarou meus

olhos. — Não diga nada a elas. Nada. Sienna está por um fio...

— Não direi.

Meus irmãos saíram e eu subi a escada procurando por Blue.

Encontrei-a segurando um dos gêmeos. Eu não conseguia distingui-

los.
— Amo — Sienna falou para mim enquanto estava sentada

com o outro.

— O.k. Blue, dê Amo para Lake — pedi, apoiado na porta.

Minha irmã me ignorou e eu respirei fundo. — Lake, eu espero que


você esteja compreendendo o motivo de eu ter proposto aquilo. O

desespero nos faz falar e agir como jamais pensamos.

— Me dar a um desconhecido é um pouco trágico, você não


acha? — ela rebateu mordazmente.

— Trágico é o que devem estar fazendo com seu irmão. —


Passei a mão no cabelo. — Mas, para que pensar nele, certo? É

melhor pensar em um casamento que não aconteceria até alguns


anos — respondi, irritado.

Lake desviou o rosto e eu mudei minha atenção para Blue.

Ela se ergueu, entregou Amo e me seguiu. Quando chegamos ao


meu quarto, eu me sentei e descansei meus cotovelos nos joelhos,
pondo as mãos em minha cabeça.

— Ele está bem. — Blue se aproximou e eu abracei sua

cintura.

— Ele deve estar tão chapado que nem está sentindo os


ferimentos — falei devagar, mas me arrependi. — Prince está com
problemas desde que Lake foi embora. Nunca pensei nisso, nunca

me passou que eu devesse exigir que ele se abrisse...

— Ele não o faria. — Blue se afastou e se sentou ao meu


lado. — Prince luta contra demônios, mas isso é dele. Não é seu.

Ele precisa querer inserir vocês na luta dele.

— Eu sei...

— Ele voltará para casa, em breve. Você sabe disso —

Flame afirmou, segurando meu rosto. Seus olhos azuis estavam


brilhando e eu percebi que não era apenas eu caindo.

Toda a família Trevisan estava desmoronando.

— Preciso visitar mamãe esse final de semana. Você quer ir


comigo? — Blue mudou de assunto.

— É claro. — Beijei sua testa e abracei seus ombros.

Blue me fez deitar, e enquanto ela adormecia, eu ficava em


alerta pensando em meu irmão e em como as pessoas do nosso

mundo poderiam ser cruéis. Nós éramos, quem dirá eles.

Rocco retornou quase cinco horas depois. E ele trazia Hope.


— Eu vou falar com ela — avisei assim que eles a enfiaram
em uma sala no Village.

— Boa sorte. — Romeo acenou e eu abri a porta.

Hope estava no meio da sala, encolhida numa cadeira. A


mesa a sua frente prendia suas mãos em uma algema. Quem

projetou a sala pensou em uma sala de interrogatório da polícia. Ela


servia para a mesma finalidade.

— Matteo. — Hope respirou fundo e seu lábio começou a


tremer.

— Onde ele está? — questionei, me sentando.

— Eu não sei. Nós dormimos juntos há alguns dias, mas ele


saiu sem me dizer nada, como sempre — Hope falou e, em

segundos, suas lágrimas começaram a deslizar. — Estou tão


preocupada quanto você...

— Nós estamos com a sua filha, Hope — avisei, soando


malditamente frio.

— Eu estou falando a verdade — ela gritou, então vi o

desespero refletir em seus olhos.

— Ele matou seu irmão — falei, entredentes. Hope desviou


os olhos dos meus. — Prince matou Cesar. Que porra você está
fazendo ao foder com o assassino do seu irmão?

Hope fechou os olhos e soluçou.

— Eu não sei! — Ela balançou a cabeça freneticamente. —

Um dia ele estava me encurralando numa festa, em outro eu já não


conseguia ficar longe dele. Você acha que eu queria me apaixonar

por ele? — Hope gritou, desesperada. — Eu me odeio por isso.

Fiquei em silêncio, tentando pensar em algo. Porém, a porta


foi aberta antes e Rocco entrou. Ele andou diretamente para trás de

Hope. Ela ficou rígida, o medo se espelhando por seu corpo.

— Eu não mexo com mulheres — Rocco sibilou perto do


ouvido dela. — Eu não mexo com crianças. Eu as envio para fora de

Illinois e escrevo sua sentença se ousarem entrar no meu território

mais uma vez.

Rocco se curvou e tirou o cabelo loiro de Hope de cima do

seu ombro.

— Mas eu vou matar você se sua boca não falar onde meu

irmão está. — Sua voz alcançou uma crueldade que eu nunca tinha

visto. — Eu vou pegar a sua filha e vou mandá-la para um lugar tão
longe, que ninguém nunca vai encontrá-la.

— Oh meu Deus...
— Eu sei que você armou isso. — Rocco jogou um celular

sobre a mesa.

Li as mensagens, sentindo meu peito bater com força.

“Ele está em Oklahoma.”

O endereço onde Prince estava seguia abaixo. Apertei o

celular e encarei Hope. Seus olhos estavam arregalados e a minha


paciência tinha ido para o espaço.

— Fale onde ele está — Rocco gritou e puxou o cabelo dela,


fazendo-a berrar.

— Eles o mataram.

Eles o mataram.

O ar sumiu do meu peito e eu arregalei os olhos, com tanto


medo como jamais o tive. Nunca na minha vida. Escutei meu

coração batendo em meus ouvidos e um som furioso ao fundo.

Tentei respirar, mas era uma luta injusta.

— Mentira. — Rocco empurrou o rosto dela contra a mesa e

apertou. — Ele não morreu. Onde ele está? — Sua voz parecia

diferente, ele estava apavorado e tentando não deixar aparente.

— Ele está morto, como meu Cesar. Eles o enterraram em

Oklahoma — Hope gritou enquanto o sangue escorria da sua testa e


pingava na mesa. — Eu não queria. Eles me obrigaram...

Rocco a soltou e deu passos para trás. Hope continuou

falando mentiras, enquanto eu queria sacar minha arma e matá-la.


Queria rasgar sua garganta e enforcá-la.

— Põe o endereço. — Tirei uma caneta do bolso e a coloquei


com um papel diante dela. Hope não se mexeu, então finquei a

caneta na palma da sua mão, tremendo e rezando. Implorando para

que essa puta estivesse errada.

Prince estava vivo.

Ele tinha que estar.

Hope gritou e a porta foi aberta. Romeo deslizou para dentro

e olhou para Rocco e depois para mim e Hope. Ele se aproximou e

empurrou a caneta ainda cravada na mão dela.

— Escreva o endereço antes que eu arranque seus olhos,

sua puta do caralho!

Hope gritou enquanto tentava tirar a caneta. Eu fiz isso

enquanto Romeo ia até Rocco. Hope escreveu o endereço e se


curvou, soluçando.

— Eu espero que você tenha se despedido da sua filha —

falei entredentes.
Travis entrou quando chamei e a tirou da minha frente.

— Eles o mataram. — Rocco socou a parede diversas vezes

e seus punhos se abriram. O sangue pingava no chão, eu podia

ouvir as gotas se chocarem contra o concreto. — Eles mataram o


Prince.

Rocco se curvou e olhou para o chão, completamente

derrotado. Nunca o vi assim.

— Não acredito... — Romeo disse, com firmeza.

— Ela disse que o fizeram. Ela mentiria por quê? — Rocco o

encarou.

Hope não mentiria. Ela seria morta por uma mentira? Nem
fodendo.

— Vamos até lá. Vou desenterrá-lo — falei, tentando


encontrar minha voz.

Meus irmãos acenaram e nós saímos da sala. Me surpreendi

ao ver Lake parada no corredor. Ela estava abraçando a si mesma,


de olhos fechados.

— Lake — chamei com cuidado.

Ela ergueu o rosto e piscou enquanto olhava entre nós.


— O que ela disse? — Ansiedade gotejava de sua voz.

— Ela não disse nada — Romeo resmungou rapidamente e

Lake me olhou. Algo em mim a fez se encolher.

— Você mente. E eu odeio a facilidade com que você as

pronuncia. — Ela encarou Romeo como se ele fosse insignificante.


— Agora, me diga. Onde ele está?

— Ele continua em Oklahoma — eu falei, engolindo em seco.

— Eles o mataram, Lake. — Rocco deixou a verdade flutuar

entre nós.

Lake ficou sem reação no primeiro momento. Suas pernas

amoleceram e ela caiu para frente, desabando sobre seus joelhos.

Sua boca se abriu, mas ela não pronunciou nada.

— Prince está morto, Lake — Romeo confirmou, apertando

os punhos.

— Não está, não. — Ela balançou a cabeça e ergueu o

queixo. — Ele está vivo e eu vou encontrá-lo. Eu!

— Lake.

— Calem a boca. — Ela se ergueu e respirou com

dificuldade. — Prince é meu elo e se ele estivesse morto, eu


saberia. Eu saberia, porque nós temos uma ligação que nenhum de
vocês experimentou na vida. Então, parem de falar merda. Ele está

vivo. — Lake respirou fundo e pegou a arma que estava no cós de


Travis.

— Lake! — Rocco gritou quando ela ergueu a arma.

— Onde ela está? — Sua pergunta soou rápida. Ela andou

enquanto saíamos do seu caminho. Ela parou na porta onde Travis

havia colocado Hope e chutou.

Nós a seguimos e eu me perguntei quem era essa garota e

onde estava minha irmã de dezesseis anos.

— Você brincou demais, Hope. Você sabe disso. — Lake se

aproximou da mulher sentada em uma cama e segurou o cabelo

dela. — Eu disse a você. Se afaste. Quem diabos você acha que é?


— Lake se curvou e ficou com o rosto rente ao de Hope. — Onde

ele está?

— Ele está morto.

O som da trava da arma deixou Rocco rígido e eu quase dei

um passo em sua direção, mas não o fiz.

— Nunca achei que mataria alguém na minha vida, mas para

tudo tem uma primeira vez. — As palavras de Lake antecederam o

tiro ensurdecedor.
Eu vi o corpo de Hope cair para trás, com um buraco em sua
testa e os olhos arregalados de medo.

O silêncio era excruciante. O corpo de Lake tremia


levemente, então me aproximei e coloquei minhas mãos em seus

ombros. Abracei seu corpo pequeno e a ouvi soluçar. A arma caiu

no chão e suas mãos foram para o seu rosto enquanto chorava.

— Ele não pode estar morto. — Ela choramingou e se virou

para me abraçar. — Traga-o para mim. Por favor, Matt. Por favor.

Eu queria. Eu daria minha vida para isso.


Matteo voltou para casa com Lake, Rocco e Romeo. Todos
pareciam doentes, mas Lake... ela parecia a um passo de sucumbir.
Eu me ergui do sofá e me aproximei de Matteo, tocando seu peito.

— Ei... — Beijei seu pescoço.

Ele respirou em meus cabelos enquanto me abraçava.

— Acharam? — Sienna se ergueu segurando Rhett,

enquanto Amo estava dormindo.

Rocco se aproximou e pegou Rhett. Enquanto segurava o

filho, ele tocou o rosto de Sienna. Ele parecia lutar contra ele

mesmo durante os próximos segundos. Suspirei quando ele


começou a falar.
— Enquanto conversávamos, acabamos por perceber que

talvez Prince não tenha sido levado pela Cosa Nostra, e sim pelos
Zenduryc.

— Então ele está bem? — perguntei, ansiosa.

— Prince estava saindo com a irmã do homem que matou há

meses. Ela se chama Hope...

— Ele o quê? — Lunna gritou, arregalando os olhos.

— Encontramos ela. — Rocco engoliu em seco. — Hope

disse que o mataram.

Suas palavras me acertaram. Meu peito se contraiu e eu senti

lágrimas encherem meus olhos. Matteo me segurou com firmeza


enquanto eu queria me curvar e chorar. Não vi o rosto de Sienna,

mas seu grito doloroso me fez fungar.

— Não, não. — Ela choramingou enquanto Lunna segurava

Remy nos braços e Romeo a abraçava. — Ele está bem. Ela


mentiu...

— Ela mentiu. Eles devem estar com ele...

Sienna acenou contra Rocco, tentando ficar forte. Matteo me

puxou para o sofá e eu me sentei, enquanto lágrimas embaçavam a

minha visão.
— Ele morreu? — perguntei, tremendo ainda mais.

— Eu espero que não, Flame. — Matteo limpou meu rosto e

eu parei, prestando atenção nele. Seu olhar era aflito, seu coração

estava despedaçado. Prince era seu irmão. Seu melhor amigo.

— Eu sinto muito — murmurei, abraçando-o com tanta força

que meus braços doeram.

Todos se espalharam pela mansão depois de alguns minutos,

envoltos no próprio sofrimento. Andei até a janela do quarto e vi

Matteo com seus irmãos próximos aos carros.

Peguei meu celular e olhei para as mensagens acumuladas.

A de Raina foi a que mais me chamou atenção. Em alguns dias,


Travis iria se casar.

“Você está bem?”

“Sim e você?”

Esperei por sua resposta e ela logo apareceu.

“Bem. Travis disse que Prince sumiu. Sinto muito,

querida.”

Eu também sentia. Se fosse apenas o sumiço não estaria

doendo tanto, mas a possibilidade de ele estar morto estava

acabando comigo.
“Vocês precisam de algo?”

“Não, Ray. Obrigada.”

Ela me enviou beijos e eu guardei o celular.

Me virei ao ouvir minha porta abrir e suspirei quando vi Lake


parada.

— Entre, querida — pedi, me aproximando.

— Não quero incomodar. — Lake empurrou uma mecha do

fio negro para trás da orelha e deu passo, deitando-se na cama e se


aconchegando nos travesseiros. Me sentei ao seu lado e tirei seu
cabelo do rosto. — Eu odeio o que estou sentindo.

— O que está sentindo? — perguntei, segurando sua mão.

— Solidão. — Lake engoliu em seco e suas lágrimas

brilharam.— Lunna tem Remy e Romeo. Sienna tem Rocco e os


gêmeos. Você, Matteo. — Ela mordeu o lábio e suspirou. — Eu tinha
Prince. E agora, não o tenho mais.

— Você não está sozinha. Sua família ama você e todos

estão sentindo muito a dor por Prince. Nós o queremos em casa...

— Ele está morto. — Lake soluçou e eu me curvei,


abraçando-a. — Tiraram o Prince de mim.
— Não sabemos, e se não vir o corpo dele... não vou afirmar

isso — respondi, com firmeza.

Ela me encarou, esperançosa.

— Estou com medo. — Sua voz falhou e eu limpei suas


bochechas. — Tenho medo de acreditar que ele está vivo e ele não
está.

— Mas precisamos — afirmei com o coração dolorido. —

Essa é a única maneira de nos agarrarmos a ele.

— Meus irmãos estão me olhando diferente... acho que os


perdi também. — Ela se sentou, abraçando as pernas. Inclinei a
cabeça, confusa. — Matei Hope, Blue.

Meus olhos se arregalaram e ela desviou os olhos dos meus,

vergonha refletindo em suas feições.

— Eu não tive medo. Eu apenas atirei. — Lake fungou, com


os olhos presos à janela. — Ela é mãe. Há uma garotinha que só
tinha ela na vida e eu a tirei dela.

— Lake...

— Eu sou tão má quanto meus irmãos. Sou a escuridão tanto

quanto eles. Está em nosso sangue... Ser um Trevisan é como


nascer dentro da escuridão, no lugar de sangue temos rastros
escuros e uma maldade impregnada em nossas almas.

— Eu sei que sua família é complexa, mas, querida, você foi


movida pelas emoções e pior, pela sua criação. — Segurei sua

bochecha e beijei sua testa. — Não direi para não se sentir culpada,
porque, Lake, a culpa nos torna humanos. Quando você não a sentir
é realmente um problema.

— O pior é que eu faria de novo, e se Prince estiver morto, eu

pediria para voltar no tempo e a torturar antes da morte. — Lake


arrumou a postura e me encarou. O mesmo vazio que havia nos

olhos dos irmãos Trevisan, agora estava refletido nas íris da irmã
mais nova.

Lake tinha vestígios da menina bondosa que eu sabia que ela


era, porém, cada vez mais a face da menina dava lugar a uma

mulher que seria impiedosa.

Encontrei Sienna e Lunna na cozinha. Ambas estavam com a

babá eletrônica dos meninos nas mãos. Eu me sentei e suspirei. O


rosto delas estava inchado e os olhos vermelhos.
— Lake está dormindo no quarto do Matteo — avisei,
suspirando.

— Eu estava tão envolvida com minha dor que esqueci da


dela. — Com o queixo tremendo, a esposa de Rocco fungou e

apertou a mesa entre os dedos. — Não acredito que estamos


passando por isso. Primeiro Rocco naquela bomba dos infernos e

agora Prince...

— Romeo disse que eles estão a caminho de Oklahoma.


Estou rezando para não encontrarem nada. Odeio dizer isso, mas

eu prefiro que ele esteja sendo mantido preso do que morto. Não

posso imaginar o Prince morto, não consigo — Lunna falou, com os

olhos presos nas mãos.

— Eu também, por mais que eu sabia que ele estaria

sofrendo. Prince é forte, ele aguentaria. É egoísta, mas, foda-se,


estou cansada de perder quem amo. — Sienna soluçou e eu segurei

sua mão.

— Queria ficar com Hope algumas horas para ensinar


algumas lições a ela. — Lunna suspirou.

Fiquei em silêncio ao perceber que ambas ainda não sabiam


que Lake havia matado Hope.
Um choro suave encheu o ambiente e Sienna se ergueu.

— Amo acordou. Vou lá.

Ela sumiu pela porta e Lunna me encarou, triste.

— Sienna é como uma mãe cuidando dos seus filhotes. No

caso, Matteo, Prince e Lake. — Lunna suspirou e passou a mão

pelo cabelo. — Espero que Prince esteja bem.

— Eu também.

Nós fomos para nossos quartos e eu parei no corredor ao

sentir meu celular começar a tocar. Sorri ao ver o nome de C.K.

— Ei — murmurei, andando em direção à sala de jogos que


havia no andar de Matteo.

— Nós conseguimos. — Seu grito entusiasmado me fez


arregalar os olhos. — Conseguimos um bebê. Eu nem acredito,

Blue. Parece um sonho. — Seu soluço me fez sorrir.

— Você e papai merecem. Quando vou poder conhecê-lo? —


questionei, andando pela sala. Me aproximei da janela e suspirei ao

ver um jardim que eu ainda não conhecia.

— Logo. A assistente me enviou fotos. Vou mandar para

você. — Ela suspirou na linha e eu acenei, porém, lembrei-me que


precisava falar. Abri a boca, mas a fechei quando vi cabelos pretos

voando no jardim.

— Estou ansiosa — falei, franzindo as sobrancelhas.

Lake andou até ficar parada, e quando entendi que ela estava

apenas passeando, Giulio apareceu. Ele ficou longe dela, mas eu


podia sentir o olhar dele sobre ela. E esse olhar...

— Você precisa vir no dia, o.k.? Traga Matteo. Quero

conhecê-lo direito — C.K. falou, então me recordei que ainda estava


em ligação.

— É claro.

Vi Lake se jogar nos braços de Giulio, então levei a mão à

boca, surpresa. Nunca imaginei que eles eram próximos. Inquieta,

me afastei da janela e me despedi da minha madrasta.

Matteo me ligou quando chegaram a Oklahoma. Porém,

ainda não estavam no lugar exato que Hope passou para eles. Eu

estava nervosa e ansiosa. Queria que ele dissesse que Prince não
estava lá.
— Você precisa ficar calmo, o.k.? — pedi, rolando na cama.

Já eram duas da madrugada, mas Nina não estava me deixando


dormir.

— Estou calmo, Flame. — Matteo respirou fundo e eu ouvi o


barulho do vento. — Duas horas de carro e nós chegaremos.

— Queria estar com você — falei, sem fôlego.

— Eu não. — Ele rebateu e eu ofeguei, insultada. — Não

quero que me veja assim. Perdido. Eu sou o seu noivo, pai da nossa

filha, vou proteger vocês para sempre. Não quero que me veja
quando estou fraco.

— Eu amo todas as suas partes, Matteo. A frágil, a perdida, a

insana... todas. E quero que ame as minhas também. Então, não


diga isso.

— Eu sei, Flame. Eu só... — Matteo parou de falar e respirou


fundo. — Estarei de volta em breve e levarei Prince comigo.

— Estarei esperando vocês.

— Eu sei, Flame.

Ele desligou e eu suspirei, apertando o celular contra meu


peito.
Tentei ficar acordada e esperar por seu chamado, mas acabei

adormecendo.

— Bom dia! — resmunguei, descendo a escada com o celular

na mão.

Parei na sala ao ouvir vozes. Procurei Matteo, sentindo meu

coração dar um salto, bailando como se ele fosse a pessoa mais


importante do mundo.

Era exatamente isso que ele era.

— Ei... — Dei um passo na direção da sala, mas antes vi

Romeo perto da janela, parecendo focado em algo. Rocco não

estava tão longe. — Hum, onde está Matteo? — questionei,


nervosa.

— No lago — Rocco respondeu sem me olhar, então me virei

e corri para fora.

Abri a porta e vi meu noivo no cais, sentado de frente para o

lago. Me aproximei e toquei seu ombro ao me sentar.

— Ele não estava lá. — Matteo respirou fundo e eu senti seu

corpo tremer. — Havia uma cova, mas ele não estava lá.
— Ele pode ter fugido... — Abracei-o.

— Mas ele deveria estar aqui. Se isso aconteceu, ele já

deveria estar aqui! — ele rebateu depressa e eu acenei,

compreendendo.

— Eu sinto muito, amor — falei, sem conseguir pensar em

mais nada.

Ele me abraçou e Nina empurrou sua mão, parecendo saber

que o pai dela precisava de carinho. Ela continuou e Matteo sorriu,

se curvando e beijando meu ventre coberto por uma camisa sua.

— Você o amaria, Nina. — Sua voz sussurrou para nossa

filha, senti lágrimas encherem meus olhos.

Queria Prince, precisava dele.

Porém, a cada hora e dia sem notícias, as pessoas já não

viam mais esperança. Nem mesmo a família Trevisan.

— Você está linda — mamãe murmurou para mim assim que

cheguei à clínica.

— Obrigada, mãe. — Sorri, segurando sua mão. — Você está

linda também — falei, orgulhosa.


— Estou tentando. Me arrumar virou uma das coisas mais
legais aqui. — Carolyn sorriu, com os lábios tingidos de vermelho.

— Você parece preocupada. É algo com Nina? — Ela franziu as

sobrancelhas, seu olhar indo para minha barriga.

— Não. Ela está ótima — murmurei, acariciando minha filha.

— Papai e C.K. conseguiram adotar. Eles conheceram o bebê


ontem — contei, tentando tirar o foco de mim.

— Seu pai é um bom homem. Estou feliz que C.K. o ame —

mamãe afirmou com felicidade em seu rosto.

— Logo você sairá daqui e encontrará alguém que a ame.

— Na verdade... — Carolyn suspirou e sorriu. Suas

bochechas ficaram coradas e eu arregalei os olhos. — Estou

conversando com outro paciente. Nada aconteceu... ainda. —


Carolyn engoliu em seco e mordeu o lábio, rindo.

— Eu quero que seja feliz. Esse sempre foi o meu desejo —


afirmei, sorrindo e pegando suas mãos. — Eu amo você, mãe.

— Eu também te amo, Boo.

Ela me abraçou e meu coração ficou leve. Eu sempre a

amaria. O amor vai além dos erros e defeitos, ele consome e não se
esvai. Podemos nos retirar, fazer escolhas diferentes, mas nunca,
jamais, esse sentimento acaba.
Encontrei Matteo encostado no carro fora da clínica e sorri ao
me aproximar dele. Suas mãos seguraram meus quadris e eu o
abracei. Fazia duas semanas desde o sumiço de Prince. Estávamos

tentando pensar positivo, mas o tempo não estava a favor de


nenhuma notícia boa.

— Ela está bem? — Sua voz me alcançou e eu acenei em


seu peito.

— Ótima. — Me afastei um pouco e encarei seus olhos. —


Podemos ir — falei.

Matteo sorriu e acenou para o carro.

— Vamos lá, Flame.


A gente entrou em seu carro pequeno e eu gemi.

— Você precisa trocar de carro — alertei, colocando o cinto.

— Esse carro não é seguro para Nina e é muito baixo. Não tem

espaço para uma cadeirinha...

— Tenho vários carros na nossa garagem. Você não os viu?

— Matteo pisou no acelerador, saindo do estacionamento da clínica.

— Presunçoso.

— Eu só respondi você.

Revirei os olhos e nós seguimos para casa. Quando

chegamos a Oak Park, Zyon ligou. Ele havia se recuperado há

alguns dias e hoje tinha voltado a trabalhar. Matteo disse que ele
não sabia muito sobre o que aconteceu. Ele e Prince haviam sido

pegos em Oklahoma e eles o levaram até um lugar deserto. Eles o

machucaram, mas o deixaram para morrer sozinho. Então, levaram

Prince.

Zyon disse que nunca mais viu o irmão Trevisan.

Os Zenduryc haviam feito isso. Zyon confirmou.

— Preciso passar no Date — Matteo avisou, virando à direita

na avenida principal.

— O.k.
Assim que chegamos, Matteo me pediu para ficar no carro.
Não entendi o porquê.

— Por quê? — perguntei, semicerrando os olhos.

Matteo suspirou e olhou para a fachada da boate. Eu segui

seus olhos e encontrei Charlie parada de braços cruzados. O que

ela estava fazendo aqui?

— Que merda...

Matteo grunhiu quando abri a porta do carro e andei em

direção a ela. Se ele achava que eu ficaria no carro enquanto

conversava com ela, ele estava errado.

— Oi, Charlie — murmurei, inclinando minha cabeça.

Os olhos dela focaram em minha mão e eu girei meu anel de

noivado.

— Uau. Você conseguiu, hum? Engravidar para prender

Matteo é baixo até para você — ela sibilou venenosa.

Nós nunca realmente conversamos, mas eu sabia do seu

envolvimento com Matteo, eu via seus olhares. Tudo isso era o

bastante. Charlie queria Matteo.

Dei um passo em sua direção.


— Você não vai me fazer perder a compostura. Preciso me

manter calma. Você tem sorte, Charlie — falei devagar, enquanto


Matteo me puxava contra seu peito.

— Charlie, baixa a bola. O que você quer? E fale rápido —


ele mandou, encarando-a. Charlie sorriu, mordendo a boca. Essa

puta realmente estava fazendo isso? — Flame. — Matteo me


apertou e eu percebi que estava me movendo.

— Preciso de um emprego. Você pode me arrumar um aqui?

— Ela respirou fundo, sem me encarar.

Só por cima do meu cadáver.

— Não. Ouviu? Ene. A. O. Til. Nem fodendo — respondi por

Matteo tão rápido, que Charlie ficou rígida.

— Flame.

— Agora você é mandado por uma mulher? — Charlie riu e


Matteo ficou rígido. — Isso é sério?

Eu sabia que Matteo era um mafioso. Que mulheres eram


submissas aos seus homens dentro da Outfit. Desejei ser menos

impulsiva, mas eu não aceitaria Charlie trabalhando no mesmo lugar


que Matteo.
— Somos um casal agora. Se a Blue não gosta de eu estar

tão perto da mulher que eu fodia antes, eu realmente não posso


culpá-la — Matteo respondeu firmemente. — Onde está Gideon?

Charlie ficou rígida com a menção do seu marido. Ela olhou

para longe e suspirou.

— Ele me deixou. Ele descobriu sobre nós e os outros. —

Sua voz era baixa, envergonhada. Meu Deus.

— Tenho certeza de que Andy precisa de novas garotas. —


Matteo indicou rápido.

— Não sou prostituta, Matteo. — Ela arregalou os olhos.

— Então, você veio pedir ajuda a pessoa errada. A Outfit lida


com prostituição, drogas e assassinatos. — Matteo passou por ela e

me puxou para dentro do Date.

Charlie ficou do lado de fora e, por um momento, me senti


mal por ela. Se ela queria um emprego, era porque precisava. Voltei
para fora e a vi no mesmo lugar.

— Eu posso ver com Andy para você só atender as mesas —

falei, engolindo em seco. Eu não gostava de Charlie perto de


Matteo, mas não odiava a menina.

— Sério? — Ela riu, revirando os olhos e cruzando os braços.


— Sim. Se quiser.

Charlie respirou fundo e acenou.

— Peço a ela para te ligar — falei, me virando e ouvindo sua

resposta baixa.

— O.k. Obrigada.

Encontrei Matteo parado. Seus braços me rodearam e ele

beijou minha testa. Me aconcheguei em seu peito e sufoquei com as


palavras. Queria dizer que o amava. Que amava o modo que ele me

protegeu momento atrás.

— Sua bondade cega é uma das coisas que mais amo em


você. — Suas palavras me fizeram erguer os olhos e ofegar. — O
quê? Você não sabia que eu a amava? — Matteo sorriu e a covinha

que eu amava apareceu em sua bochecha.

— É bom ouvir. — Respirei fundo e segurei seu rosto. — Eu


te amo. Amo que coloque Nina e eu em primeiro lugar em sua vida.
Eu sempre vou escolher você. Sempre.

Matteo encostou sua testa na minha e respirou. Eu me

inclinei e beijei seus lábios.

— Você é a coisa mais importante que tenho, Blue.

— Idem — respondi, sorrindo e beijando sua boca.


Uma tosse seca fez nos separarmos. Olhei para Zyon e me
encolhi. Seu rosto bonito havia sido marcado. Ele tinha um Z na
bochecha esquerda. Lágrimas encheram meus olhos.

— Ei, Blue. Não chore. Estou vivo.

Suas palavras me fizeram me mover. Toquei sua bochecha e

o abracei.

— Sinto muito — falei, tentando me recompor. Zyon não me


tocou em nenhum momento do abraço, por isso o soltei. —

Desculpe.

— Não se desculpe. Eu só quero continuar vivo. — Ele


piscou, acenando na direção de Matteo.

Eu me virei e vi meu noivo tenso. O.k., esqueci que meu


futuro marido é ciumento.

— Nunca mais faça isso — Matteo falou assim que parei em

sua frente e Zyon se afastou. — Nunca.

— Tudo bem — respondi para acalmá-lo.

Eu sabia quais batalhas lutar, e brigar com o ciúme de Matteo

era tempo perdido. Eu nunca ganharia isso.


Nós passamos a semana em Oak Park, mas no domingo

fomos a Chicago. Matteo me guiou para a sala de jantar onde

aconteceria o almoço, mas franzi as sobrancelhas ao não ouvir


nada.

— Aqui — ele chamou, saindo para o lago e eu o segui.

Meus olhos se arregalaram quando vi meu pai de pé. Meu

peito sacudiu ao ver C.K. com Nick, seu bebê, nos braços. Respirei

fundo e senti lágrimas encherem meus olhos ao ver mamãe. A


família Trevisan estava reunida, e o caminho até um altar me fez

ofegar.

— Matteo... — chamei, segurando seu braço a ponto de dor.

— Prince...

— Quando ele voltar, ele vai entender. Não posso mais


esperar para ser seu marido, Flame. Nem um segundo.

Balancei a cabeça, me sentindo doente e culpada.

— Mas ele... todos vão pensar... — falei, gaguejando, mas

Lake apareceu ao meu lado.

— Ele vai entender. Vamos. Eu preciso deixar você pronta.


Eu tentei negar mais uma vez, mas logo C.K., Sienna,

mamãe, Raina e Lunna se aproximaram também. Todas elas me

levaram para o quarto de Matteo, onde havia um vestido. Ergui-o da


cama e meus olhos já com lágrimas se encheram mais.

— Como ele sabia que eu queria me casar ao ar livre? —

questionei, passando a mão pelo tecido leve e caído. As alças eram


finas e o decote era exposto. Havia uma fenda por baixo da renda.

Sorri quando vi pequenas flores pregadas ao tecido.

— Você sempre dizia isso. — C.K. deu de ombros, como se

não fosse nada de mais.

Era verdade.

Elas se dividiram em me arrumar e eu suspirei enquanto

Sienna esfumava uma sombra clara em meus olhos. O batom era


em tom nude e ela passou gloss em cima. Quando parei em frente

ao espelho, mamãe tocou meus ombros.

— Nunca imaginei que a veria se casar. — Seus olhos se


encheram de lágrimas, então toquei suas mãos. — Você está linda,

Boo.

— Obrigada, mamãe. Eu amo você.


Ela me abraçou e puxou C.K. Sorri ao ser mimada pelas duas

mães que a vida havia me dado.

— O.k. O.k. Vamos lá! — Lunna pediu enquanto Raina me

ajudava a segurar a barra do vestido.

Quando cheguei à cozinha, papai segurou minhas bochechas

e sorriu.

— Você é a noiva mais linda que já vi.

— Não exagere. — Ri, tocando meus cabelos que estavam


ondulados. Sienna havia colocado uma tiara linda e delicada,

enquanto Lunna prendia alguns fios para deixar meu rosto livre.

— Eu amo você, Boo. Espero que aquele Patrick faça você


feliz.

Eu quase ri do sobrenome idiota que Matteo disse ao meu


pai, porém me contive.

— Ele me faz plenamente feliz. Eu juro.

Papai sorriu e beijou minha testa.

— Então, vamos lá.


Eu estava nervoso, não apenas porque estava me casando,

mas por compartilhar do sentimento confuso de Blue. Eu estava feliz

por estar me casando, mas triste por meu irmão não estar aqui.

— Relaxa. Sua mulher vai chegar aqui em um segundo. —

Romeo apertou meu ombro e eu suspirei, acenando. — Prince vai

entender, Matteo. Ele sabia que você não poderia manter as mãos
longe dela.

Ele sabia. Ele entenderia.

Mas isso não tirou o peso da culpa.

— Ela está vindo! — Raina gritou ao se colocar em seu lugar


de madrinha perto de Lunna, C.K., Lake e Sienna.

Travis sorriu para ela e eu me senti bem por ter feito pelo

menos uma coisa boa. O casamento dele e Kiara foi adiado por
Prince, porém, conversei com Rocco e solicitei que ele escolhesse

outro homem para Kiara Bonnucci.

Uma merda para Giulio. Ele foi o escolhido.

Meus pensamentos foram para longe de qualquer pessoa e

focaram apenas na minha Flame quando ela apareceu e a música


soou. Seus cabelos vermelhos estavam espalhados pelo seu colo e

sua barriga estava visível pelo vestido bonito que usava. Blue
estava incrível.

— Cuide da minha filha, Matteo — Benjamin pediu, apertando

minha mão, mas eu não conseguia parar de olhar para minha


Flame.

— Com a minha vida.

Flame sorriu parando ao meu lado e eu me inclinei para beijar

sua boca.

— Ei. — Ela riu ao se afastar.

— Pronta para se tornar uma Trevisan? — questionei,


ansioso.

— Mais que pronta.


OITO MESES DEPOIS...

Eu odiava funerais.

Quando mamãe morreu, eu fiquei na cama tanto tempo

quanto pude. Prince foi me chamar e eu ainda nem tinha vestido o


terno. Ele se aproximou da cama e riu, olhando para fora da janela.

— Vamos. Precisamos nos despedir dela. — Sua voz era tão


firme, ninguém poderia dizer o quanto ele estava sofrendo. Prince

sempre foi assim. Camadas e camadas para encontrar seu


verdadeiro sentimento.

Eu nunca pensei que um dia precisaria me despedir dele.


A mão suave de Blue descansou sobre a minha coluna e eu a

olhei. Seus olhos bonitos estavam cheios de lágrimas e raiados de


sangue, como de todas as mulheres Trevisan. Lunna estava ereta e

de óculos como a princesa da máfia que ela era. Sienna não estava

tão diferente. Seu cabelo estava preso e seu rosto era uma máscara
de frieza.

Lake, surpreendendo a todos nós, estava calma e olhando


para o caixão vazio como se isso fosse totalmente errado.

— Hoje estamos nos despedimos de uma pessoa cuja

passagem foi ligeira. Jovem e cheio de vida, Prince Trevisan está


saindo do plano terrestre e se elevando...

Deus, que merda.

— Respire fundo — Blue pediu e eu o fiz.

Quando a cerimônia acabou, desceram o caixão vazio.

Jogaram punhos de terra e logo foi minha vez. Parecia tão idiota

fazer isso quando eu sabia que ele não estava ali.

Não havíamos encontrado seu corpo. As buscas foram

infrutíferas, e depois de oito meses Rocco decretou luto na Outfit e

nós estávamos sepultando a imagem do nosso irmão.


— Eu sei que você está vivo — sussurrei, jogando a areia e
me afastando para ficar ao lado da minha esposa. Ela me deu um

sorriso triste e eu quis pegar ela e nossa Nina e sumir. Correr para

longe, porém, desisti no segundo seguinte. Jamais faria isso.

Nunca deixaria meus irmãos.

Estava ansioso, não me sentia vingado totalmente pela


suposta morte de Prince.

Os Zenduryc, hoje, eram história. Nós matamos todos, nem

mesmo poupando mulheres. Todos foram aniquilados e eu queria

matar mais pessoas. Queria vê-los sangrar aos meus pés enquanto

ainda me sentia vazio.

Quando as flores foram postas sobre a sepultura, eu me virei

e guiei Blue para o estacionamento do cemitério.

Eu não chorei. Não estremeci.

Porque eu sabia.

Prince estava vivo.

Blue cumprimentou as várias pessoas ao redor do salão que


tinham alugado para fazer uma recepção estúpida depois do funeral.
Todos os nossos soldados e associados estavam aqui. E isso queria

dizer Dario Bellini.

— Sua esposa é linda. — O pai de Ella parou a nossa frente.

Blue segurou meu braço com mais força.

— Sim, ela é — respondi, virando meu copo de uísque. Olhei

para sua filha ao lado e acenei. — Ella.

— Sentimos muito, Matteo. — Antonella fungou.

— Nós também. — Bonnucci se aproximou, trazendo Kiara


ao seu lado. O casamento dela e Giulio ainda não havia acontecido.
Seu pai estava tentando fazer Rocco mudar de ideia. Nem fodendo.

— Obrigado. — Me afastei, puxando Blue.

Assim que saímos para o jardim, Blue se afastou devagar e

cruzou os braços. Seu cabelo vermelho estava preso em um coque


baixo e seu vestido era longo e preto. Ela estava linda, como diabos
ela conseguia era a questão.

— Por que precisamos fazer sala para todos em funerais? Eu

não entendo. Estamos magoados, tristes e ainda precisamos sorrir e


agradecer aos outros? — Blue se virou e seu lábio tremeu. — Quero

ir para a casa, pegar nossa Nina e chorar até adormecer.

Eu também queria.
Nossa Nina chegou numa tarde de outono enquanto eu

estava em uma missão e Blue estava em Chicago, com Sienna,


Lake e Lunna. Levei meia hora para voltar, e foi esse o tempo que

levou para Nina vir ao mundo. Assim que entrei na sala, me


aproximei da minha Flame e segurei sua mão. Blue gritou e nossa

menina nasceu, chorando a plenos pulmões.

— Então, vamos para casa.

— O quê? Matteo! — Blue resmungou enquanto eu a levava

em direção ao nosso carro. Havíamos comprado uma casa enorme


em Oak Park, mas ficávamos mais em Chicago. Todos os dias eu ia

e voltava de uma cidade para a outra. — Matteo, seus irmãos...

— Vão entender — falei com firmeza e abri a porta do carro.

Blue olhou para o salão de festas e suspirou, dividida. — Nina deve


estar sentindo sua falta...

Isso foi o suficiente para ela se sentar no banco. Fechei a

porta e corri para o meu lado.

A viagem até a mansão foi rápida, e quando chegamos Raina

estava na sala com Nina, Remy, Amo e Rhett. Ela sorriu assim que
nos viu. Observei os meninos assistindo a algo na tevê enquanto

Nina dormia no colo da amiga de Blue.


— O que você usou? — perguntei a Ray, semicerrando os
olhos.

— O quê?

— No feitiço. Eles não ficam quietos — respondi rapidamente


enquanto Blue pegava nossa menina.

— Riri e Madeleine querem me matar por eu ter colocados os


meninos para assistirem tevê — Raina falou enquanto as duas

babás estavam de cara feia, sentadas mais afastadas.

Peguei Nina dos braços da Flame e andei até a escada.

— Oi, Principessa — murmurei devagar e cheirei seu cabelo


vermelho. Seus olhos azuis se abriram e eu me senti agarrado. Nina
tinha esse poder, ela me pegava apenas me olhando. Eu nunca

podia negar nada.

Entrei em nosso quarto e a coloquei na cama. Blue fechou a


porta segundos depois e se juntou a nós. Seu rosto estava tenso.

— Você acha que vamos ficar bem? Todos nós?

Levei um tempo pensando em sua pergunta.

— Não — respondi, tocando as bochechas de Nina. Ela


pegou meu dedo e o apertou — Mas vamos fingir que sim.
E foda-se, nós fingiríamos bem.

Flame tocou meu braço e eu olhei em seus olhos bonitos.

— Eu amo você e sempre estarei ao seu lado.

— Eu sei — falei com firmeza. — E eu nunca a deixaria ir.

Isso era a porra de uma promessa.

Nina choramingou e Blue se sentou, pegando-a. Ela tirou o


vestido e enfiou o mamilo rosa nos lábios da nossa filha, Nina sugou

imediatamente. Eu me ergui, tirando meu blazer e jogando na

poltrona. Tirei as armas do coldre e as enfiei na gaveta. Desde que


Nina nasceu, eu as mantinha longe e fora de vista. Não sabia o

motivo, apenas parecia o certo.

— Parece que foi ontem que ele sumiu — Blue murmurou.

Eu me virei e a vi segurando o dedo pequeno da nossa

menina.

— Eu sinto o mesmo. — Suspirei, passando a mão pela

cabeça.

Ainda podia vê-lo procurando minhas fotos dentro daquela

caixa para que Blue a visse. Mas fazia oito meses e alguns dias.
Onde ele estava? Eu não sabia, mas daria minha vida para

saber.

Voltei para a cama e Blue colocou nossa filha entre nós. No

dia que Nina nasceu foi a primeira vez na minha vida que eu me
senti inteiro. Blue me fez ser forte, mas Nina me fez ser invencível.

— Sua mãe está bem? — questionei, para conversarmos

sobre outra coisa.

— Santiago a levou para Nova York. Ela me enviou várias

fotos. Deixe-me te mostrar...

E ela mostrou. Cada foto onde sua mãe recuperada estava

sorrindo, com o namorado que havia conhecido na clínica de

reabilitação. Blue estava feliz por ela e, automaticamente, eu


também. Seu pai ainda não gostava muito de mim e isso não

mudaria, nunca, mas tínhamos um relacionamento onde

ignorávamos um ao outro.

— Ela está bem. — Blue sorriu e me olhou. — Obrigada por

levá-la de volta à clínica aquele dia. Nunca pedi, mas você me fez

amá-lo mais um pouco ao tomar essa decisão. — Sua mão tocou


minha bochecha.

Eu apenas encarei seu rosto, cada centímetro dele.


— Fiz por você, Flame. Não houve bondade, pena ou algo

benéfico. Foi por saber que ela fora de lá acabaria com você.

— Não importa, você fez. Isso sempre significará o mundo


para mim. — Blue empinou seu pequeno nariz e eu sorri. Porém,

meu sorriso sumiu quando me lembrei da outra vez em que ela

precisou de mim.

— Não me agradeça, Flame. Eu não a ajudei na primeira vez.

Magoei você. Deixei sua mãe nas mãos de Rocco, nem sequer
tentei ajudar — lembrei-a, sentindo um gosto amargo na boca.

Ainda me odiava por isso.

— Eu sei, mas ela está bem. — Blue me olhou e suspirou. —


Ainda dói me lembrar disso, Matteo, mas precisamos deixar ir.

Eu sabia que sim.

Nossa conversa pausou quando meu celular começou a

tocar. Me ergui e suspirei ao ver o nome de Zyon.

— Matteo.

— Cara, vem para o Village. — Sua voz pausada me deu um


nó no estômago. Caminhei até as roupas que eu havia descartado

minutos atrás.

— É ele?
Meu coração parou por meio segundo, esperando por sua

resposta. Imaginei Prince chegando ao Village machucado, corri


pegando minhas armas e enfiando-as no coldre. Flame se sentou,

preocupação moldando suas feições.

— Venha, Matteo. Rápido.

Zyon desligou e eu encarei Blue.

— Preciso sair. Volto em breve — falei, indo até o closet e

pegando uma camiseta preta. Tirei a calça do terno e vesti uma

jeans. Quando saí, Blue estava de pé e Nina na cama, dormindo.

— O que houve? — Seu rosto esperançoso foi como uma

luva envolvendo meu peito. Eu não podia sequer imaginar falar que

era Prince, porque se não fosse, eu estaria deixando-a pior.

— Não sei. Zyon me mandou ir.

Me aproximei e segurei seu rosto com ambas as mãos. Blue

piscou e me encarou, o medo visível em suas íris.

— Cuide da nossa Nina, não vou demorar. — Me inclinei e


beijei sua testa.

— Cuidarei dela, eu juro. Vou esperar por você.

Blue se ergueu nas pontas dos pés e beijou minha boca.

Segurei seus quadris e a puxei contra mim. Flame suspirou e apoiou


a cabeça em meu peito enquanto suas mãos seguravam meus

braços.

— Amo você. Volte para mim.

Rocco deslizou na minha frente pela entrada do Village e

Romeo parou atrás de mim quando vimos Zyon parado. As

prostitutas estavam nos seus apartamentos lá em cima e o lugar


estava deserto, menos ele.

— Eu não sei qual a lombra dele... — Zyon falou e deu um

passo para o lado, mostrando Prince.

Eu dei um passo em sua direção, mas o olhar de Zyon me

parou.

— Prince? — Rocco se aproximou rapidamente e segurou os

ombros dele enquanto eu e Romeo pensávamos.

— Eu não sou esse cara — Prince falou com firmeza. Franzi

minhas sobrancelhas, confuso. — Eu não sou esse cara. Onde

minha mãe está? — O cara era tão parecido com Prince, que me
assustou e me deixou enjoado.
— Podem ter dado alguma merda a ele — Rocco falou, se

afastando e passando a mão pelo cabelo. O que deram a ele?

— Ele perderia a memória? — questionei, fazendo meus

irmãos ficarem rígidos.

— Qual o nome da sua mãe? — Romeo passou por mim e

parou diante dele.

Ele tinha os olhos de Prince, o cabelo... tudo.

— Andy.

No mesmo instante, Andy apareceu correndo pelo corredor.

Seu rosto estava em pânico. A mulher de cabelo escuro e olhos

azuis deslizou até onde o homem estava enquanto eu sentia alguém


apertar minha garganta.

— Sr. Trevisan — ela balbuciou, se colocando na frente do

homem e o empurrando sutilmente para trás.

— Quem diabos é esse cara? — Rocco gritou, fúria nadando

em seu corpo. — E fale rápido. Por que ele é a cara do meu irmão?
— Seu berro saiu ao mesmo tempo que ele pegou a arma.

Andy gritou, levando as mãos à boca enquanto seu filho

arregalava os olhos.

— Ele é meu Roman. Meu filho.


— Por que ele é a cara do Prince? — Me aproximei,
tremendo.

Porra, não era o meu irmão. Não era o Prince. Quem diabos
era esse cara?

— Eles...

— Eles o quê, Santo Inferno? — Rocco ergueu a arma e

colou na testa dela. — Fale a porra da verdade antes que eu faça

um buraco em sua cabeça.

— Eles são irmãos.

O silêncio que se seguiu parecia catastrófico.

Uma agulha poderia cair e nós ouviríamos cada batida fina do

alumínio no chão.

Eu não me mexi e muito menos os meus irmãos. Todo mundo


estava chocado demais para entender o que diabos isso queria
dizer.

E o mais importante, se Roman não era Prince...

Onde meu irmão estava?

FIM!
LEALDADE DISTORCIDA

Seu rosto duro me fez engolir em seco e estremecer. Não


eram todos os homens que me faziam tremer. Na verdade, o único
deles era meu pai. Eu o amava muito, mas ele sabia ser um

carrasco quando queria. Agora, esse homem diante de mim... Deus,


parecia que ele havia saído do inferno e estava em chamas.

— Você gosta dela. — Consegui falar mesmo sentindo medo

em cada célula do meu corpo. Eu não o conhecia bem e não sabia

do que ele era capaz.


Eu nunca o havia visto nas festas da Outfit. E o motivo disso

era claro — ele não era bem-vindo.

Giulio Conti era um soldado letal, mas não confiável.

— O quê? — Ele virou a cabeça para mim enquanto apertava


o parapeito da janela, fazendo seus dedos ficarem brancos.

Seus olhos eram negros e eles me deixaram inquieta.

— Eu vi você conversando com ela no jardim. — Minha boca

parecia cheia de ácido quando falei. Odiei vê-los juntos, odiei mais

ainda perceber que isso me incomodou.

— Você está me seguindo? Me vigiando? — Suas perguntas

saíram raivosas.

Então me lembrei que ele havia ficado assim depois de brigar

com um dos seus amigos.

— Não. — Balancei a cabeça. — Eu saí para pegar um ar.

— Não nos casamos porque eu quis. Não me obrigue a

lembrá-la disso — ele falou entredentes.

Desviei meus olhos dos seus. Eu sabia que ele não queria se

casar comigo. Travis era meu noivo, meu futuro marido, mas ele se

apaixonou por outra mulher. Eu o compreendia, e quando ele me


disse isso eu quis cancelar o casamento. Como eu poderia? Uma
noiva dizer que não quer se casar é considerado uma bobagem
dentro da máfia.

— Você deveria ter pedido ela em casamento — afirmei,

apertando o lençol entre meus dedos.

— Você está de sacanagem? — Ele inclinou a cabeça, me

olhando profundamente. — Ela tem dezesseis anos.

— Então é pela idade dela? — questionei, sentindo meu

ventre revirar.

— Meu Deus, Kiara, você é enervante — Giulio grunhiu,

andando para mim. Ele parou a minha frente e segurou meu queixo

entre os dedos em um aperto. — Pare de fazer perguntas que


fazem você se sentir mal. A resposta pode ser pior.

Giulio me olhou nos olhos enquanto eu lutava com meus

pulmões. Eu toquei sua barriga e senti os músculos duros. Ele

engoliu em seco, tremendo, então abri o botão da sua calça e zíper.

Quando achei que Giulio cederia, suas mãos agarraram as minhas e

ele se afastou.

— Lembre-se, Kiara — meu marido rosnou. — Você não

deve ser minha.


Giulio virou de costas e andou em direção ao banheiro,

enquanto meu coração batia duas vezes mais e minhas mãos


suavam.

— Por quê? — perguntei, sem fôlego.

Giulio parou. Pensei que ele se negaria a falar, mas ele o fez.

— Porque quando eu voltar para a Itália, você vai se casar


com a pessoa a quem pertencerá para sempre.

Giulio bateu a porta do banheiro, me deixando em um mar de

dúvidas e com um medo horrível das suas palavras.


Blue me ensinou algumas coisas em Chama Distorcida que
eu sem perceber tirei de mim e coloquei nela. Eu não desisto de
quem eu amo. Se ela tem meu amor, ela o tem porque merece e,

certamente, esse sentimento não vai sumir de repente. Amo isso em


Blue e estou feliz com o resultado dela.

Matteo e ela lutaram muito contra os sentimentos deles.


Lutaram porque sabiam que eram melhores separados do que

juntos. E eu concordo, mas quem pode culpar uma autora que adora

finais felizes? E Nina? Ah, meu Deus, prevejo muita dor de cabeça,
hein kkk

Brincadeiras à parte, gostaria de agradecer a todos que tiram


um tempo do seu dia e leem meus livros, me apoiam e surtam
comigo.

Giulio está vindo! E Prince (olha o spoiler do bem para vocês

dormirem tranquilas) logo após ��

Com gratidão,

Evilane Oliveira
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obrigada!
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