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JORNAL de PSICANÁLISE 50 (93), 223-237.

2017

Quando o analista é um mal


para seu paciente
Um retorno à “psicanálise selvagem”

Vera Lucia Costa de Paula Antunes,1 Niterói

Resumo: A autora deseja neste artigo fazer uma reflexão acerca do papel
creditado à psicanálise nos dias atuais e, com isso, utilizando-se do artigo “Sobre
psicanálise selvagem” (Freud, 1910/2013), procurar compreender quando um
psicanalista pode ser um mal para seu paciente.
Palavras-chave: formação, precaução, psicanálise, psicanalista, selvagem,
superego

Introdução

Ao introduzir o conceito de “psicanálise selvagem” (Freud, 1910/2013,


pp. 326-333), em que o analista sente-se o indivíduo do saber e deixa de ouvir
seu paciente de maneira cautelosa, paciente e investigativa, para lançar-se de
forma “selvagem” a fazer interpretações de cunho teórico e dogmático, Freud
nos alerta para um processo perigoso e destrutivo que consiste em enfiar mate-
rial postiço e atrapalhador na mente do paciente, trazendo mais confusão a seu
(do paciente) aparelho mental, do que o alívio esperado, fruto de compreensão.
Isso demonstra que a mente do analista também está confusa, e ele inter-
preta teoricamente, fora do timing, colaborando para, entre outras sensações, a
desintegração do pensamento de um paciente que já chegou “em pedaços”. No
mínimo, isso pode ser bastante desastroso.
Em muitos trabalhos que leio, e no contato com alguns colegas, fico com
a impressão de que muitos analistas só veem o paciente como alguém que nos
procura para nos atacar. Ao contrário, verifico que ele vem para buscar ajuda
e o alívio de suas aflições, e confia em que esse profissional cumpra esse papel.
Nas palavras de Bion (1967/1990), é função do analista estar e sentir-se
disponível, “sem memória e sem desejo”. E, observando o que fez Freud, poder
aproximar-se dos pacientes com espírito investigativo, sem preconceitos e muita
paciência. Caso não tivéssemos esse exemplo, da postura de acolhimento que
teve para com suas pacientes histéricas, talvez estivéssemos nomeando e catalo-
gando pessoas, como faz, ainda, a psiquiatria.

1 Psicóloga, membro efetivo, docente e analista didata da Sociedade Psicanalítica do Rio de


Janeiro (sprj). Graduada em Letras: Português e Literaturas de Língua Portuguesa.
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Em alguns casos, nota-se que a inveja mal elaborada de analistas, em sua


análise pessoal, os induz a impedir o crescimento e o desenvolvimento criativo
de seus pacientes. Ainda existem profissionais desavisados, que supõem serem
eles os portadores do saber, dentro da dupla, e para os quais os pacientes são
indivíduos a analisar segundo suas ideias teóricas, seus preconceitos e seu radi-
calismo, sentindo-se atingidos em seu narcisismo quando os pacientes começam
a demonstrar crescimento e contestam suas interpretações. Isso, em vez de ser
visto como resultado de uma boa análise e um bom fruto do trabalho de ambos,
é percebido como uma intromissão do paciente em seu trabalho, despertada
pela inveja deste, que, na maioria das vezes, é interpretada como ataque do
analisando. O analista projeta no paciente suas angústias, relacionadas ao medo
da perda do controle sobre a relação. Alguns analisandos que têm o analista
como sua “tábua de salvação” acomodam-se às interpretações e enfiam mais
um elemento denegridor e intruso em sua mente.
Ao longo dos anos de exercício da clínica, divididos entre o trabalho de
psicoterapeuta, em várias vertentes, e o de psicanalista, tenho visto e ouvido
dizer, sobre muitos pacientes, que trazem, em sua bagagem, um ou mais pro-
fissionais anteriores, “enfiados”, por assim dizer, de forma confusa em suas
mentes. Cito o caso de Maria, que, após muito tempo de tratamento com um
psicanalista, teve seu fluxo emocional impactado por um impasse, em função
do qual ambos acharam por bem encerrar o atendimento, e foi nesse momento
que ocorreu o nosso encontro, encaminhada que ela foi pelo próprio analista.
Chegou muito desconfiada e aflita, e foi necessário um longo período de
escuta para investigar todo aquele emaranhado de mal-entendidos e ir encon-
trando as pontas do novelo de emoções. Apesar de o nosso trabalho ter sido
inicialmente muito carregado de impressões de sua análise anterior, procurei
me despir de meus conhecimentos teóricos, de minhas ideias preconcebidas a
respeito do trabalho precedente. Cuidado, ouvidos a postos, delicadeza e espera
foram meus instrumentos. Henrique Honigsztejn (1990), em seu livro A psico-
logia da criação, muito me ajudou a auxiliar essa paciente a deixar desabrochar
a sua personalidade, separar-se da forma mental idealizada, de toda uma rela-
ção que ficou infiltrada dentro de si, e reencontrar o seu próprio Eu, separado.
Parece ter havido aqui o que Mário Pacheco de A. Prado (1988) denominou e
descreveu como “estado de entranhamento”: essa paciente entranhou-se com a
figura projetada e identificada de quem a estava atendendo.
A ideia que se foi formando em mim a respeito desse tratamento anterior
foi que, durante um período, construiu-se uma cobertura teórica paciente-ana-
lista (nas sessões, conversavam muito sobre antropologia, filosofia, psicanálise,
entre outros assuntos, porque eram muito intelectualizados), que serviu como
uma capa imaginária e artificial de integração do Eu. Mas, com o decorrer da
relação analítica, a capa de resistência não se sustentou, graças ao dinamismo
do inconsciente, e ruiu. Analista e paciente foram tomados por um estado de

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Quando o analista é um mal para seu paciente | Vera Lucia Costa de Paula Antunes

aflição e angústia que os levou a atitudes pouco comuns nesse tipo de traba-
lho, tais como o analista, preocupado, ligar fora do horário das sessões para
certificar-se de que a paciente estava bem.
Há um outro exemplo: uma moça, Adriana, de quem tomei conheci-
mento por intermédio de familiares, que se tratou durante cinco anos com um
analista e que voltava de suas sessões muito confusa, por não entender as in-
terpretações do analista. A descrição que me davam dessas sessões me levava
a pensar que seu analista fornecia-lhe interpretações carregadas de linguagem
teórica, que mais confundiam que ajudavam. Essa análise acabou se rompen-
do, e a paciente vivenciou um surto psicótico caracterizado por desagregação
e despersonalização. Só agora, após três anos com uma analista de linguagem,
mais acessível, e uma análise não selvagem, ela está podendo compreender-se
melhor e integrar dentro de si os pedaços desconectados das interpretações de
seu antigo analista.
Graças a esses fatos e alguns outros que não é preciso citar aqui, consi-
dero muito importantes a maneira pela qual o analista traduz a interpretação
para seu paciente e a adequação da linguagem verbal e não verbal que ele utiliza
para comunicar-se. Dentro de suas possibilidades emocionais (Antunes, 2015).

Ponderações

Antes de prosseguir, é importante dizer que nessa escrita trata-se da des-


crição de minha experiência pessoal e profissional por quase 40 anos, e aqui se
pretende, apenas, trocar ideias, e não fornecer embasamento teórico ou clínico
para os caros colegas de profissão. Quando me refiro a aspectos não terapêuti-
cos dos analistas, não deixo em momento algum de me considerar entre esses
analistas que fazem movimentos antiterapêuticos. Pelo contrário, foi observan-
do meus tropeços, ora para um lado, ora para outro, que fui construindo, com
material do meu mundo interno e a observação de meu entorno, um arcabouço
que gerou este trabalho. É verdade que nele, também, saí em defesa de nossos
pacientes, que muitas vezes são vítimas de nossa atuação, além, também, de
muitos pacientes que sofrem com nossos enganos.
Observei e passei a tomar para mim a ideia de que o radicalismo, que se
assemelha a um “absolutismo carismático”, próprio dos “castelos” das escolas
ou linhas psicanalíticas, não faz bem para o desempenho de nossa profissão,
não só de nossa especialidade como psicanalistas, mas de todos os que lidam
com a saúde mental. É verdade que vivemos numa linha divisória muito tênue
entre acertos, erros e reparação, e precisamos do pensamento de todos, para
tentarmos encontrar o caminho do meio; mas, ao mesmo tempo, cercados por
uma série de informações, umas excludentes e outras complementares entre si,
ficamos confusos. Talvez, muito mais do que alguns outros profissionais e por

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todo o tempo, estejamos lidando com emoções e comportamentos difíceis de


digerir e administrar.
Muitas vezes recebo notícias de um antigo paciente que caiu num estado
de penúria emocional, e me pergunto: o que faltou?
Saber fazer autocrítica também pertence ao jogo analítico (isso daria um
outro artigo). Aqui, porém, produzo um recorte e sigo por um viés no qual
não se vê apenas o paciente que precisa de análise, mas também o analista que
precisa de “mais análise”. Um pouco na contramão dos artigos que residem pu-
ramente no campo terapêutico, lanço-me ao questionamento e à reflexão sobre
nosso próprio desempenho. Caminho este, muitas vezes, desagradável, porque
nos empurra de encontro a camadas gradativamente mais profundas e obscuras
de nosso inconsciente. Cada paciente requer de nós, dia após dia, essa pesquisa
interna. Por que na literatura psicanalítica ainda se fala pouco da contratransfe-
rência? Também, não é preciso ignorar que muitos avanços já foram feitos nesse
sentido. Mas por que não falarmos mais?
Por sorte, não estamos sozinhos nessas observações. Rosenfeld
(1987/1989) traz, em seu livro Impasse e interpretação, umas linhas que vou
repetir aqui:

Para ser cuidadoso e sensível, e, portanto, terapêutico, o analista depende fun-


damentalmente do funcionamento de sua personalidade como um importante
instrumento. Por essa razão, recebemos formação não só clínica e teórica através
de palestras e supervisão, mas também nos submetemos a análise …
A análise da estrutura de defesa do analista tem que abranger suas defesas contra
as ansiedades arraigadas da primeira infância, que muitas vezes ocultam proble-
mas ou ansiedades psicóticas inconscientes. (pp. 65-66)

Felizmente, tem-se notado um pouco mais de interesse dos psicanalistas


em publicar esse “avesso da medalha”. Para citar um deles, temos o caso da
Revista Brasileira de Psicanálise, que dedica o número ao tema “O analista
desconcertado” (Rea, 2016). Ali, muitos artigos e exemplos são apresentados
por analistas que fazem autocrítica. Também Winnicott, já em 1947, lança o
seu artigo “O ódio na contratransferência” (1947/1978), que vale a pena citar:

Gostaria de examinar neste trabalho um aspecto do tema ambivalência, a saber,


o ódio na contratransferência ... Sugiro que, se um analista quer analisar psicóti-
cos ou antissociais, ele deve ter uma consciência tão completa da contratransfe-
rência, que seja capaz de isolar e estudar suas reações objetivas ao paciente. Estas
incluirão ódio. Os fenômenos da contratransferência, às vezes, serão as coisas
mais importantes da análise. (pp. 341-342)

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Nos dias de hoje, a contratransferência deixa de ser um “fantasma”, para


ser um “auxiliar” na compreensão do inconsciente, tanto do paciente quanto
do analista no encontro terapêutico. Penetrando em camadas da mente cada
vez mais profundas, passamos a nelas tomar contato com aspectos psicóticos,
assim como com um estado psicótico agudo. Com tristeza, observa-se, ainda,
que a comunicação feita por alguns profissionais da área de saúde, pela mídia
e pelos próprios pacientes, acerca dos desequilíbrios mentais, é muitas vezes
tratada como “banalidades”, comunicadas até com certa vaidade, como nestes
exemplos: “sou bipolar”, “tenho toc”. Ou tratada de uma forma rígida e pre-
conceituosa, como, por exemplo, nas declarações “sou esquizofrênico”, “ele
toma tarja preta”. O que também sugere a imodéstia de ser diferente e merecer
tratamento diferenciado da sociedade. Essas são avaliações selvagens. E isso
preocupa. Parece faltarem ponderação e atenção respeitosa, em cada caso, para
perceber o sofrimento e encontrar o seu devido valor.
Recebemos pacientes que chegam com seu diagnóstico pronto: “eu sou
esquizofrênico”. Quando lhes perguntamos o que querem dizer com isso, res-
pondem que foi isso que disseram para eles. Observo que ainda existem muito
medo e preconceito para com os distúrbios mentais, e isso atrapalha nossas
pesquisas.
Esclareço que, quando citar exemplos, isso não pressupõe que trabalho
sempre da mesma maneira em toda situação. Como disse, este trabalho visa
refletir sobre nossa função, diariamente sozinhos em nosso silêncio, entre nós,
psicanalistas, e no consultório com o paciente. Estou emitindo opiniões, e não
implantando uma verdade. Neste artigo pretendo expressar o que aprendi no
“balanceio” das interpretações, as quais pretendi que fossem terapêuticas, mas
com que nem sempre consegui o sucesso desejado.
Após esse entremeio, dou seguimento, então, às minhas observações.

Quando o paciente cresce e a análise tem sucesso

Nesse ponto, surge o perigo ocasionado pela inveja, proveniente do


analista, não bem elaborada em sua análise pessoal. Então, começa a atacar o
seu próprio trabalho, e, com isso, atrapalha e ataca o desenvolvimento de seu
paciente. De forma inconsciente, nos tais pontos cegos (Freud, 1912/1969b),
ambos não enxergam o problema, até verificarem que algo ficou paralisado.
A análise não está mais evoluindo. Caso o analista não se dê conta de suas
dificuldades e vá cuidar de entender, em sua mente, o que está acontecendo, a
análise prossegue sem melhoras, por longos anos. Talvez possam ser incluídas
aqui muitas das análises intermináveis, ou as situações em que o trabalho é in-
terrompido pelo paciente ou por paciente e analista. Também podemos falar da
inveja que o analista guarda em relação a seu próprio analista. Pois, ao atacar o

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seu trabalho, está atacando o que recebeu de seu analista, evitando o sentimento
de gratidão e o devido reconhecimento do mérito.
Se esse tratamento prossegue, o que se nota é um roubo: analista e pa-
ciente omitem material de forma consciente ou inconsciente.
Sabe-se que o sucesso é algo muito desejado, porém temido. Se não fosse
assim, se veria uma sociedade em que a destrutividade não seria tão grande e o
sucesso não causaria tanta angústia. Viver é difícil e trabalhoso, e o aspecto per-
turbador que a vida mobiliza em nós é uma luta a ser enfrentada todos os dias.
No uso popular existe a expressão “matar um leão por dia”. Ter sucesso exige
uma enorme capacidade de lidar com a inveja de si próprio, o que, por sua vez,
impõe imensos obstáculos para esse sucesso ser mantido. Podemos citar inúme-
ros casos de fenômenos da música, do cinema e das artes em geral, pessoas que
sobressaem de alguma forma e que acabam por suicidar-se.
No caso do encontro analítico, quando a verdade e a espontaneidade
ficam suprimidas, o que poderia ser construtivo passa a ser cada vez mais
destrutivo. Vencer o narcisismo e poder deixar que o paciente se vá, com os
talentos que tem e que desenvolveu, com aquilo que lhe é mais genuíno, não
é tarefa fácil para um analista. Assemelha-se à situação dos pais quando da
separação, a seu tempo, dos filhos. É uma dor necessária, e qualifica nos-
so bom desempenho como “pais analíticos”. Como não há guia que ensine
isso aos pais, também não há teoria que nos vá ajudar nisso. Apenas a nossa
experiência de análise pessoal.

Quanto ao roubo, trapaças e sentimento de culpa

Tanto Freud (1923/2011, p. 65) quanto Klein (1927/1970b; 1933/1970a;


1934/1970c) classificam o roubo, a criminalidade, e também atos antissociais,
como uma enorme severidade do superego (ao contrário do que se pensa), cuja
exigência e perseguição interna levam a um tormento tão grande, que o indiví-
duo, para se livrar da agonia, acaba por praticar o roubo ou a ação antissocial,
com a intenção inconsciente de que o mundo externo providencie a contenção
dessa intensa perseguição interna, por sentir-se, em sua mente, incapaz de fazê-
-lo. Klein demonstra essas tendências criminosas nas análises de crianças pe-
quenas normais (1927/1970b; 1933/1970a; 1934/1970c) e Freud o faz quando
traz o assunto da criminalidade, ao tratar do tema do sentimento de culpa, em
“O eu e o id”.

Foi uma surpresa descobrir que um acréscimo desse sentimento de culpa pode
converter um homem num criminoso. Mas não há dúvida de que é mesmo assim.
Em muitos criminosos, principalmente juvenis, pode-se demonstrar que havia um

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Quando o analista é um mal para seu paciente | Vera Lucia Costa de Paula Antunes

poderoso sentimento de culpa antes do crime, e que, portanto, é motivo deste.


(1923/2011, p. 65)

Mas, como todos esses fatores têm várias graduações dentro de todos os
indivíduos e eles podem vir puros ou amalgamados, também podemos referir-
-nos a eles de forma direta ou indireta. Muito se pode falar de roubo porque este
nome inclui inúmeros e variados sentidos específicos, em cada individualidade
que se apresenta. Existe o roubo de material em análise, o roubo de potenciais,
de criatividade, de oportunidades. O roubo de nós mesmos. O roubo de uma
vida. Enfim, algo não mensurável. E, pior, isso surge muitas vezes, transvestido
de ganhos, e não de perdas. O roubo indica um esvaziamento, uma subtração de
conteúdos internos de grande monta, amealhado por um narcisismo destrutivo,
na linguagem de Rosenfeld. (1987/1989, p. 139)
É comum serem interpretados os atrasos do paciente como roubos ao ma-
terial analítico, mas aqui ocorreu o contrário: mais uma vez, vou citar Adriana,
que, após sair do analista que “falava difícil” (palavras de Adriana), já em sur-
to, foi procurar alguém, indicado como muito experiente em psicóticos. Sabe-se
que esses pacientes carecem de um setting que seja o mais estável possível, bas-
tante seguro e regular, para lhes servir de continente. Dessa feita, Adriana viu-se
nas mãos de um analista sem compromisso com horários, e, quando a paciente
entrava em estado de ódio, o analista mostrava em tom agressivo – segundo
a paciente, que se dizia confusa ao não saber distinguir o que era dela do que
era dele – o quanto de ódio ela possuía, dentro de si. Felizmente, Adriana foi
suficientemente forte para deixar essa análise. Um outro tipo de exteriorização
desse roubo é o preconceito.

Preconceito

Todos temos preconceitos, que, por sinal, muito empobrecem nossa vida.
Um analista que não trabalhou bem seus preconceitos em sua própria análise
pode atacar seus pacientes com interpretações também preconceituosas, e dei-
xar de ver as reais angústias deles.
Para isso, tenho o exemplo de Gertrudes, uma bem-sucedida profissional
que teve suas raízes plantadas na vida rural e, à custa de muitos esforços e sofri-
mentos (como, por exemplo, ter passado a parte final de sua infância afastada
dos pais, para estudar), vai para a análise exatamente com esta problemática:
por um lado, sente-se bem, criando e trabalhando na metrópole, por outro,
como sempre foi a tônica de sua vida, sente-se desajustada aos costumes e o
meio social, tão diferentes da vida do campo, em que passou os primeiros anos
de sua infância e fincou raízes que a sustentam e sustentaram por toda sua vida.
Lá estavam seus pais e toda a história de sua primeira infância.

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Em determinada sessão, ao se conflitar entre a fama e a menina cam-


pesina que sempre foi, ouve de seu analista: “você quer voltar a ser caipi-
ra?” Esta fala do analista atingiu, como uma punhalada, a sua ferida. Como
poderia continuar sua análise com alguém que via como algo desvalorizado
sua condição primeira, de ser uma caipira? Afinal, seu mundo mental fora
construído por seus pais, irmãos, amigos, todo um mundo caipira. Acredito
que, como essa moça, inúmeras pessoas, que saem do interior e vêm para
a cidade grande, sentem e sofrem esse tipo de preconceito, além de muitas
dificuldades para poder amalgamar essas duas experiências numa só mente.
Felizmente, desta feita, o analista pôde refletir, verificar que não havia sido
suficientemente continente para as angústias de Gertrudes, esclarecer melhor
alguns mal-entendidos e prosseguir, com segurança, na condução desta análi-
se. Isso nos dá esperança de poder verificar que há possibilidade de conserto
para nossos desacertos.
Ficamos, por ora, apenas com mais um exemplo a ser citado, mas pode-
ríamos mencionar inúmeros outros e, até, perceber a existência de muitos que
residem no âmago de cada um, não sendo observados a olho nu. Mas, se encon-
trar um profissional que tenha recursos para estar aberto a qualquer fenômeno,
não para ser analisado ou catalogado, mas simplesmente ser observado, é pos-
sível que esse analista esteja apto a desempenhar bem seu trabalho. Trata-se de
trabalho terapêutico e, ao mesmo tempo, investigativo, e, para isso, é necessário
manter nossa mente o mais desinfectada possível, pois, sem pretender atingir a
limpeza total, qualquer sujeira, se não eliminada, pode comprometer o campo
analítico e criar com isso ou um paciente submisso, ou um paciente que aban-
dona o tratamento e torna-se resistente a procurar outro analista. O resultado
é que, diante dele, a psicanálise fica desacreditada. Para o analista, abrir sua
mente com o máximo de disponibilidade, despida se possível de qualquer teoria
dogmática, é fundamental para o sucesso de uma análise.
Sei que não sou a primeira a dizer isso, muitos já disseram antes de mim.
Freud chamou essa atitude do analista de “atenção flutuante” (1912/1969b),
Bion de “sem memória e sem desejo” (1967/1990), mas gostaria de deixar claro
que, em meu modo de pensar, é mais que isso: é estar disponível com todo o cor-
po, é estar presente com toda uma bagagem própria de vida, que, certamente,
foi o que fez o paciente escolher esse analista e não um outro. Identificou, nesse
profissional e interlocutor, um bom cabide para ir pendurando suas capas, por
meio de projeções e transferências. Pode ser que este não consiga corresponder
a toda essa expectativa, mas, se o analista for capaz de observar o que lhe é
pendurado, em estilo e qualidade, a análise poderá progredir. Caso contrário,
esse cabide não serviu para esse paciente. Nessa hora, o narcisismo do analista
será testado, e o momento é de reflexão e de uma abertura ainda maior. Pode
ser que o processo possa crescer, junto com ambos, e que o cabide venha a se
adequar à função de pendurar essas capas.

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Quando o analista é um mal para seu paciente | Vera Lucia Costa de Paula Antunes

Após tirar essas capas, que estavam gerando resistências ao encontro,


digeri-las e reapresentá-las, é possível, então, num nível verdadeiro e profundo,
surgirem uma compreensão e um auxílio genuíno e duradouro. Dia após dia, é
necessário testar se estamos com os “pés no chão”, descalços e à vontade, em
cada sessão. Faz bem pautar-se pelas ideologias e filosofias dos sábios antigos.

A ideologia do Carpe Diem

Os clássicos gregos e latinos exploraram em suas obras a ideologia do


Carpe Diem, diante da brevidade da vida e da necessidade de aproveitar o mo-
mento.
Baseando-me neles, imagino uma boa análise. Atentos, precisamos en-
tregar-nos ao momento, “de corpo e alma”, para que o inconsciente de nosso
paciente possa penetrar em nós e, lá em nossa mente inconsciente, encontrar a
reverberação que faça vibrar uma linguagem apropriada ao momento. E, como
na afinação de uma lira, poder transformar o que é som, cheiro, gosto e pele
(tato) em palavras. Essa é a poesia da psicanálise: fazermos de uma cacofonia
um concerto.
Poder-se-ia argumentar: mas isso não existe. Essa análise é idealizada,
fruto de um sonho! Mas não é dos sonhos que nasce a realidade?

A realidade do setting

Qual é a realidade do setting, com todos os seus atributos concretos e


abstratos, se não um sonho? Um sonho construído a dois. Que contém uma
semântica, totalmente individualizada com suspiros, lágrimas, risos e graças.
Quem sabe contar, após uma sessão profunda de análise, o que aconteceu ali?
Por isso, duvido da possível descrição de sessões. Ela é o sonho do analista
sonhado junto com seu analisando. Não há palavras que descrevam esse mo-
mento. Como no Carpe Diem, só a experiência basta. Mas às vezes, ou quase
sempre, faz-se necessária a descrição de casos para a troca de experiência, só
que as palavras são limitadoras demais. Não é bom confundir o que é uma
mesa com a palavra “mesa”, por exemplo, com todo o significado que ela pode
ter. Para uma criança ou um psicótico, pode representar até concretamente um
outro objeto. Imaginem quanta recordação, fantasia, confraternização e briga,
uma mesa representa. Isso para falar do mínimo.
Acho que, quando é preciso falar da simplicidade, que importa para se ser
um bom analista, é preciso recorrer à arte e à filosofia; e é na poesia de Alberto
Caeiro e na filosofia de Ricardo Reis, heterônimos de Fernando Pessoa, que
encontro as palavras que descrevem o que sinto passar-se no processo analítico.


JORNAL de PSICANÁLISE 50 (93), 223-237. 2017

No “Guardador de rebanhos”, de Caeiro busco inspiração para a simpli-


cidade que requer o estar psicanalista.

Penso com os olhos e com os ouvidos


Sou um guardador de rebanhos.
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade
Sei a verdade e sou feliz.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto
E me deito no comprido da erva
e fecho os olhos quentes

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,


Sei a verdade e sou feliz.
(Caeiro, 1911-1912/1996, p. 92)

A filosofia de Ricardo Reis, também, é para mim um outro elemento


inspirador:

Para ser grande,


sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha porque alta vive.
(Reis, 1933/1996, p. 117)

Penso que ser analista é muito mais estar do que interpretar. A interpre-
tação só tem valor na medida em que “primeiro” se está presente, e o presente
muitas vezes parece, mas não é uma repetição.


Quando o analista é um mal para seu paciente | Vera Lucia Costa de Paula Antunes

Compulsão à repetição e repetir para elaborar: faces de uma mesma moeda?

Vejo a compulsão à repetição não apenas como um sintoma da pulsão


de morte, mas como uma tentativa de integração, promovida pelo instinto de
vida, que não obteve êxito e por isso é repetida muitas vezes. Infelizmente ma-
lograda, porque falta uma ou várias peças nesse puzzle. Mas, ao ter a paciência
necessária de ouvir e ouvir muitas e muitas vezes a mesma repetição, logo se
verá que não é uma repetição, e, com algumas pontuações oportunas, a vida,
e não a morte, se faz prevalecer. Não existe o dizer popular “quem conta um
conto aumenta um ponto”? Pois é, parece que é assim também em psicanálise. É
necessário achar a fenda no desenvolvimento desse ser humano que ele próprio
busca, incessantemente, elaborar e costurar. Não é sempre que consigo exem-
plos que possam demonstrar isso com clareza, mas vou citar quatro que, como
variantes, poderão servir a este contexto.
Inicio com Marina, que enchia, em suas sessões, um diário, ou, às vezes,
uma agenda, com o que fez no dia e ainda o que tem para fazer no dia seguinte,
nos outros dias seguintes, no outro mês, e assim por diante. E se desesperava
com essa repetição, sem fim, de afazeres. Mas fui percebendo que o que ela
vinha fazer ali era poder repetir sua lista de afazeres para que sua mente fosse
se organizando, como de fato se deu, e cabia a mim ouvir e não me desesperar.
Neste caso o meu trabalho era ouvir repetidamente.
No caso de Antônio, a repetição se fazia pelas faltas, e a analista desco-
briu que ela precisava repetidamente esperar e guardar o seu horário. Antônio
repetia: eu falto muito, mas eu melhoro. Com isso, pedia à analista que conti-
nuasse guardando o seu horário. Foi percebido que o fato de a analista ficar a
sua espera, até porque nunca lhe avisou que não viria, garantia, em sua fantasia,
um bem-estar: a sensação de nunca estar só.
Em Matilde, a repetição era do silêncio. Muitas vezes dormiu nas sessões,
mas precisava ter o analista a seu lado. Em silêncio. Como uma criança que
brinca em silêncio ao lado da mãe, em busca de um lugar seguro e tranquilo.
Ou dorme placidamente.
Interpretar verbalmente, nesse momento, parece ser uma interrupção da
elaboração. Um corte num processo que está se fazendo de uma maneira um
pouco diferente, mas que está acontecendo no inconsciente. Para completar,
Gertrudes, de quem já falei, cujo exemplo também se presta ao nosso objetivo
aqui. Repetia que não se sentia tendo um corpo, porque não se sentia inteira.
Comparava-se a uma árvore em que só o que era genuíno eram suas raízes, en-
quanto em seu dia a dia o que aparecia eram suas folhas, flores e frutos. Havia
não um caule, mas uma fenda. Todos viam Gertrudes, mas, para ela, tudo o que
viam era falso. O genuíno estava enterrado. Com o analista, após os acertos
que foram possíveis com relação aos desentendimentos que haviam tido, e que
tinham culminado numa intervenção desastrosa deste último, passou a viver o

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genuíno, até conseguir costurar a fenda e juntar raízes com caule, flores, folhas
e frutos.
Então, acredito não ser bom para o paciente quando o analista julga
que seu trabalho é formular interpretações verbais, sempre. Há interpretações
e compreensões mudas. Muitas vezes, essa confusão é ocasionada por um su-
perego muito rígido do analista, que lhe cobra cumprir um suposto dever de
analista. E, caso consiga abrir mão de seu narcisismo, como fez o analista de
Gertrudes, poderá consertar mal-entendidos e seguir em frente com uma quali-
dade de trabalho até melhor.

A prevalência do superego arcaico do analista

O analista pode ser “rude” para com seu paciente por vários motivos.
Um deles pode ser sua insensibilidade diante das ansiedades primitivas de seus
pacientes. Até mesmo, desviando sua atenção de conteúdos inconscientes e la-
tentes para conteúdos manifestos de crítica ao paciente, sem qualquer relação
com o inconsciente deste último. Como, por exemplo, uma analista que, em vez
de analisar o que o paciente dizia, criticou um erro de pronúncia que ele, pacien-
te, havia cometido em sua fala, acrescentando que um escritor não poderia falar
errado assim. Além de sair completamente de seu papel de analista para um pa-
pel de educadora, é provável que tenha sido movida pela inveja, já que também
era uma escritora amadora e não fazia tanto sucesso como seu paciente.
O superego, quando não tratado, lapidado ou amadurecido, transforma
a fala do analista em mandamentos, corretivos e medidas educativas. O perigo
reside no fato de que há um aspecto destrutivo do paciente que procura isso.
Procura “aprender” coisas com seu analista. Espera do analista que seja um
educador e lhe dê sugestões. E, se o analista compactua com isso, está compli-
cada a análise.
Rudeza também se dá quando o paciente é tachado de intratável, difícil e
sem possibilidades de recuperação. O analista humilde pode reconhecer que ele
não se sente preparado para atender ou compreender esse paciente. O que não
quer dizer que o paciente seja irrecuperável. Pode ser que o paciente nunca consi-
ga, realmente, encontrar alguém que o entenda, mas o contrário, ou seja, que esse
analista particular não consegue compreendê-lo, também pode ser verdadeiro.

A sinceridade acima de tudo

A sinceridade é um dom precioso que precisa estar na bagagem de todo


analista que deseja fazer face a essa profissão. Sinceridade consigo em primei-
ro lugar, para poder ser sincero com o seu paciente. Mas é bom duvidar da
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Quando o analista é um mal para seu paciente | Vera Lucia Costa de Paula Antunes

sinceridade, porque muitas vezes ela “prega peças”. A sinceridade só pode ser
acreditada quando vem acompanhada da ação que a comprove. É o tradicional
“falar é fácil, fazer é que é difícil”. Isso posto, torna-se melhor medir a sinceri-
dade pela observação dos fatos.
Nesse momento, o profissional sincero pode perceber que é hora de vol-
tar para a análise. Aprimorar o contato consigo mesmo. Perceber e destrinchar
seus “pontos cegos”. Procurar ajuda. Desinfectar sua mente para manter-se
mais capaz de enxergar os fenômenos como eles são e de maneira clara. E isto
só é possível se, para ele, a credibilidade da psicanálise se mantiver intacta. Caso
contrário, fica impossibilitado “internamente” de continuar sendo psicanalista.

Considerações finais

Considero que, quando o analista se sente amedrontado perante o pa-


ciente, assim como também ameaçado em seu equilíbrio mental, de forma
consciente ou inconsciente, sua tendência será defender-se, muitas vezes inti-
midando o paciente com interpretações de competição e ataque.Vale atentar,
também, já que nos estamos referindo a esse artigo de 1910, para o fato de
que na Edição standard brasileira das obras psicológicas de Sigmund Freud, da
Editora Imago, a expressão “psicanálise selvagem” é traduzida por “psicanálise
silvestre”. Como há grande diferença entre os significados dos termos: “silves-
tre” e “selvagem”, em nossa língua, este fato deixa os leitores dessa edição fora
do contexto de entendimento pretendido por Freud. Pode-se, também, obser-
var que wild (termo empregado na edição inglesa, que deu origem à tradução
da Imago) tem três significados em português: “selvagem”, quando se trata de
animal, “silvestre”, quando se refere a plantas, e “insensato”, para adjetivar o
humano (Collins, 2004). Logo, “insensato” ou “selvagem” (em sentido figu-
rado) seriam as traduções adequadas. Dessa forma, traduções também trazem
fatores de confusão no entendimento da teoria. Por isso a tradução do alemão
(tal como oferecida nas Obras completas de Sigmund Freud publicadas pela
editora Companhia das Letras) torna-se mais fidedigna, pelo menos quanto ao
que estamos abordando. Importante frisar, também, que, nesse artigo de 1910,
Freud mostra-se preocupado com o possível uso dos conceitos da psicanálise de
maneira selvagem, sem escrúpulo e agressiva. Talvez seja por isso que Freud,
mais tarde, em 1937, tenha recomendado a todos os analistas uma reciclagem
de suas próprias análises a cada cinco anos (1937/1969a, pp 239-247).
Também é válido mencionar essa questão, já que basta observar a mídia,
pessoas de nossas relações e o próprio público que nos procura, para sermos in-
formados do descrédito que sofre a psicanálise. Tratada muitas vezes com chis-
tes e risadas, quiçá provocadas por desilusões vividas conosco. Podemos dizer
que, ao carecermos de mais análise, acabamos por projetar nossos conteúdos

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mentais não digeridos nos pacientes. Para essa afirmação, valemo-nos, até mes-
mo, de uma autoridade que supomos ter, após concluirmos nossas formações e
estarmos credenciados pela ipa. Por outro lado, também estamos convictos de
que a formação psicanalítica não termina com a passagem a membros associa-
dos, titulares, didatas etc. De nada adiantam os títulos, quando é a angústia do
paciente que nos angustia. Completamos essas reflexões carinhosamente acre-
ditando que ser psicanalista é muito mais do que o já mencionado acima. É
desenvolvermos em nós mesmos, cada vez com mais propriedade, uma mente
que pensa, cria e, acima de tudo, ama o que faz.
Faz-se necessário o cuidado permanente com nosso instrumento de tra-
balho, que é nossa mente. Termos o compromisso de “afinarmos” nossa mente,
assim como um pianista afina seu piano periodicamente, para não desafinar
com quem nos procura, com nós mesmos e, sobretudo, com a boa reputação
da psicanálise.
Nas palavras de Freud, “Na primavera de 1910 fundamos uma Sociedade
Psicanalítica Internacional em que a lista de membros encontra-se à disposição
do público”.
Faço questão de que isso siga em destaque, pois ele confiou em nós para
continuarmos seu trabalho de maneira genuína.

Cuando el analista es un mal para el paciente: un retorno al


“psicoanálisis salvaje”
Resumen: En este trabajo, la autora se propone hacer una reflexión acerca del
papel atribuido al psicoanálisis en la actualidad y, utilizando el artículo de Freud
“Sobre psicoanálisis salvaje” (Freud, 1910/2013), procura comprender cuando
un psicoanalista puede ser un mal para su paciente.
Palabras clave: formación, precaución, psicoanálisis, psicoanalista, salvaje,
super-yo

When psychoanalysts harm their patients. A return to the “Wild Psychoanalysis”


Abstract: The author’s purpose is to examine the role of Psychoanalysis in society
nowadays. And, by using ideas from Freud’s paper “Wild Psychoanalysis”
(1910/2013), the author attempts to discern situations in which psychoanalysts
may harm their patients.
Keywords: training, precaution, psychoanalysis, psychoanalyst, wild, superego

Quand l’analyste est un mal pour son patient. Un retour à la


“psychanalyse sauvage”
Résumé: L’auteur de cet article veut réfléchir sur le rôle crédité à la Psychanalyse
présentement et, par conséquent, en utilisant l’article “À propos de la Psychanalyse

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Quando o analista é um mal para seu paciente | Vera Lucia Costa de Paula Antunes

sauvage” (Freud, 1910/2013), il cherche à comprendre quand un psychanalyste


peut-il être un mal pour son patient.
Mots-clés: formation, précaution, psychanalyse, psychanalyste, sauvage, surmoi

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Vera Lucia Costa de Paula Antunes


vlcantunes@uol.com.br

Recebido em: 14/4/2017


Aceito em: 1/6/2017

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