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13 - Bound To Darkness - Lara Adrian-1
13 - Bound To Darkness - Lara Adrian-1
RESUMO
Carys Chase está acostumada a fazer suas próprias regras e deixar que seu
coração lidere o caminho — não importa o que alguém tenha a dizer. Uma fêmea Raça
e Caminhante do Dia, teimosa e bonita, Carys é uma das mais potentes de seu tipo. Ela
vive com paixão e ama sem limites, especialmente quando se trata do letal guerreiro e
lutador Raça chamado Rune.
Imbatível no ringue, Rune vive num mundo brutal de sangue, ossos e morte.
Ele fez sua cota de inimigos, tanto dentro como fora da arena, e seus segredos são tão
turbulentos como seu passado. Um perigoso solitário que sobreviveu por seus punhos
e presas, Rune nunca permitiu que ninguém se aproximasse demais dele... até Carys.
Mas quando os corpos enterrados em seu passado se levantam para ameaçar seu
presente, Rune deve escolher entre trair a confiança de Carys ou colocá-la na mira de
uma batalha que nenhum deles pode ganhar sozinho.
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
Sede da Ordem
Washington, DC.
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
Sentado num sofá na sala, junto com sua companheira Tavia, Slerling Chase
tentava malditamente conversar com seus três convidados sem olhar o relógio na
parede de frente a ele a cada cinco minutos.
Tentou e fracassou, se o olhar de lado de Tavia fosse alguma indicação.
Tão logo ouviu o apito do sistema de segurança do Centro de comando, que
indicava que sua equipe de patrulha da noite voltou, Chase murmurou suas desculpas
e saiu pelo corredor da mansão.
O par de guerreiros que queria ver apareceu no final do corredor, recém-
chegados da varredura pela noite na cidade. —Alguma informação?
—Apenas a típica sexta-feira pela noite de Boston. — Disse Elijah com seu
sotaque suave do Texas. — O que é dizer muito, em função de como estão as coisas
por aqui ultimamente.
—E minha filha? — Chase pressionou.
Jax balançou a cabeça, com os olhos solenes. — Não vimos sinal dela no La
Notte, senhor.
—O lutador estava na jaula? — Ao assentir dos guerreiros, Chase deixou
escapar uma maldição aguda. — Então ela estava ali também. Carys provavelmente se
escondeu no instante que viu vocês entrarem.
E Chase sabia que sua filha tinha a habilidade de evadir qualquer pessoa. O
fato dela poder dobrar as sombras às suas ordens era um dom extra-sensorial que
herdou dele, depois de tudo. Maldição.
Enquanto ele considerava o fato de ter enviado seus homens ao clube de luta
ilegal, apenas para conseguir uma confirmação visual de que sua filha se encontrava
ainda na cidade e inteira, percebeu uma mudança no ar atrás dele.
Tavia estava no corredor agora.
Ela sorriu suavemente para os dois guerreiros que saudaram a companheira
de sangue do comandante com piscadas diferentes. —Está tudo bem por aqui?
—Sim, senhora. — Respondeu Elijah.
A cabeça de Jax balançou em acordo.
—Apenas estavam reportando sobre a patrulha da noite. — Disse Chase.
—Quer dizer, apresentando informações sobre a vigilância noturna à nossa
filha.
Não se incomodou em negar. Tavia sabia o quanto estava preocupado com
Carys vivendo por sua conta agora. Não simplesmente por que era sua única filha, mas
por causa dos perigos que espreitavam Boston e a todos nos últimos tempos. Havia
poucos perigos dos quais a Ordem não tinha consciência.
Tavia também estava preocupada, mas ela era feita de um material mais forte
que ele. Nas semanas posteriores que Carys saiu do Darkhaven da família, Tavia se
reconciliou com o fato de que sua filha era uma mulher adulta à qual deveria permitir
tomar suas próprias decisões.
Por muito que Chase odiasse, não havia nada que pudesse fazer. Ela era
adulta e ele tinha a esperança de que tudo que ensinou em sua vida não apenas
tivesse aprendido, mas arraigado.
Lançou um olhar para o par de guerreiros e amaldiçoou. — Talvez devesse
enviá-los de volta para trazê-la para casa, onde pertence.
Tavia cruzou os braços. — E então o que? Algemá-la na cama? Ela nunca iria
suportar que nós dois ditássemos sua vida desta forma e sabe disso. Iríamos perdê-la
para sempre.
—Ainda poderíamos se não pudermos protegê-la.
— Pelo que ouvi falar seu amigo Rune...
—Amigo? — Chase zombou. — Lutador e assassino a sangue frio de acordo
com sua reputação. Ela pode ficar com o inferno de alguns bastardos melhor que um
lutador em busca de outra conquista fora da arena.
—Carys parece ver algo mais nele que sua reputação. — Tavia lembrou
suavemente. — Nathan e Jordana passaram tempo com Carys e Rune. Ambos disseram
que ele parece se preocupar profundamente com ela. Que ele também é protetor. Isto
soa a mim como se ele a amasse, Sterling.
Chase quase se engasgou com a ideia. — Será melhor que não aconteça nada
com nossa menina — ou o farei pagar e a qualquer pessoa associada a ele. Quanto a
Carys, continuo dizendo que ela pertence aqui. Sobretudo agora. Tenho certeza que
não esqueceu o que aconteceu com Cassian Gray na semana passada ou o fato de que
Carys quase foi arrastada em todo este calvário de Jordana.
Não, claro que sua companheira não se esqueceu. Além do fato de que o dom
extra-sensorial de Tavia era uma memória fotográfica impecável, ninguém na Ordem
esqueceu as circunstancias do assassinato do proprietário do clube La Notte por
soldados atlantes ou o sequestro de Jordana pouco depois.
Tavia apoiou a mão no antebraço de Chase. — Temos duas crianças espertas e
teimosas, meu amor. Se nos perguntarmos de onde vem tudo isto, apenas precisamos
olhar no espelho. — Tavia se inclinou e o beijou no rosto. — Temos visitas na outra
sala. Vamos entrar e tentar ser sociáveis. Deixe o cenho franzido aqui no corredor e
vamos passar um tempo com nossos amigos. — Ela sorriu para os guerreiros. — Eli,
Jax.
—Senhora. — Responderam em uníssono.
Assim que Tavia caminhou para a sala de estar, Chase perguntou aos homens.
— Viram Nathan e Jordana esta noite?
Jax assentiu. — Estavam na sala de operações do Centro de comando com
Aric quando chegamos há alguns minutos.
Chase manteve deliberadamente o irmão gêmeo de Carys longe das patrulhas
que levaria ao clube onde Rune lutava. Aric compartilhava a opinião do pai de que
Carys apenas iria se machucar. Não fazia muito tempo que a tentou dissuadir de ver
Rune e como resultado, seus filhos mal falavam um com o outro.
Chase deixou escapar um suspiro. —Digam a Nathan e Jordana para me
encontrar em aproximadamente uma hora. Tenho que pedir um favor a eles.
Quando os guerreiros saíram, Chase voltou para a sala onde Tavia estava
conversando com Mathias Rowan e sua companheira de Raça, Nova, que chegaram há
pouco tempo de Londres.
Chase conheceu Mathias em seus dias juntos na Agência de Controle Raça de
Boston. Isto foi há mais de vinte anos, mas os dois homens permaneceram amigos
próximos e ambos serviam a Ordem como Comandantes de distrito de suas
respectivas regiões.
Chase nunca viu seu amigo mais seguro e feliz do que agora, junto à Nova. O
contraste entre o casal era surpreendente — o sério e formal Mathias e a tatuada com
cabelos azuis e pretos toda ardente ao seu lado. Os braços tatuados de Nova estavam
cobertos por uma blusa preta com mangas longas que a deixava com um aspecto
diferente e elegante, mas ainda rebelde. E Mathias estava claramente apaixonado por
ela. Esteve segurando a mão de Nova durante toda a noite, quase sem poder tirar os
olhos de sua companheira. A terceira pessoa em seu Darkhaven era de Londres
também e todos estavam visitando Tavia e Chase por alguns dias. A mulher de cabelos
castanhos, Brynne Kirkland, era uma investigadora da Agência de Segurança Urbana
Taskforce e iniciativa Squad. Enquanto a Ordem e os membros do grupo
humanos/Raças tinham uma relação esponjosa, no melhor dos casos, a viagem de
Brynne à Boston não tinha uma relação oficial.
Ela estava passando um tempo com sua meia irmã Tavia.
As mulheres se encontraram cerca de uma década atrás, ambas fêmeas Raças
nascidas num laboratório de um louco que experimentava misturas com os diversos
DNA das companheiras Raça e com o DNA do último sobrevivente Raça antigo. O
resultado produziu as primeiras fêmeas Raças da existência.
Várias Caminhantes do Dia como Tavia e Brynne saíram deste experimento e
sobreviveram à idade adulta, mas todas foram criadas separadas umas das outras e em
segredo, então a maioria permaneceu perdida. Tavia e Brynne estavam trabalhando
para localizar suas irmãs e no processo formaram um vínculo especial.
O encontro desta noite era para ser agradável e informal. A expressão de
Chase parecia uma nuvem de tempestade.
—Problemas na cidade? — Perguntou Mathias.
Tavia arqueou uma sobrancelha, um sorriso tocou o canto de suas bocas. —
Alguns de nós ainda estamos tentando nos adaptar à paternidade, inclusive depois de
vinte anos de prática.
Mathias e Nova compartilharam um olhar. Seu sorriso se ampliou. —Neste
caso, suponho que seja melhor começar a ouvir conselhos e sugestões.
Chase olhou-o com a boca aberta.
Tavia sorriu surpresa. — Refere-se...
As bochechas de Nova se inundaram de calor. Mathias sorriu como um filho
da puta e puxou sua companheira Raça para mais perto. — Apenas soubemos há uns
dias.
—Oh, meu Deus! — Exclamou Tavia. — Estamos eufóricos por vocês!
O rubor de Nova aumentou enquanto murmurava um agradecimento.
Mathias olhou para Chase. — Gostaríamos que você e Tavia fossem os
padrinhos. Por isto queríamos parar aqui antes de irmos para DC nos reunir com
Lucan.
—Será uma honra. — Disse Chase, humilhado pelo gesto de confiança e
amizade. Levantou-se para apertar a mão de Mathias, mas decidiu que a ocasião
merecia mais que gestos rígidos. Ele agarrou o outro macho para um breve abraço. —
É uma honra, meu amigo.
Tavia foi até Nova e a abraçou também com os olhos brilhando. —Felicidades
aos dois.
Quando todos voltaram a se sentar, Tavia perguntou. — Contou a alguém
mais?
—Apenas Eddie. — Disse Nova, em referência à um garoto humano de nove
anos de idade que trabalhava na loja de tatuagens quando ela e Mathias se viram pela
primeira vez. O casal adotou Eddie quando se acoplaram e o garoto agora vivia no
Centro de Comando de Londres com eles.
Houve um tempo que nenhum ser humano era permitido dentro de uma casa
Raça. Muito mudou em vinte anos desde que o Primeiro Amanhecer juntou humanos e
vampiros.
Chase encontrou o olhar de Mathias. — Como o garoto está se adaptando
entre os Raças?
—Muito bem, na verdade. Thane e os outros guerreiros praticamente o
adotaram, junto com Nova e eu. Se conseguirem, provavelmente irão convertê-lo em
um membro da Ordem honorário em poucos anos.
Mathias encolheu os ombros, rindo enquanto acariciava a mão direita de sua
companheira Raça.
Chase não pode evitar se fixar no símbolo Olho de Egito na parte posterior da
mão de Nova. Disseram que sob esta marca havia outra — um escaravelho negro —
feito quando ainda era criança, marcando-a como propriedade de Fineas Riordan, seu
pai adotivo.
A Ordem estava atualmente conspirando para pegar o bastardo por sua
suposta relação com a Opus Nostrum.
Mathias pareceu seguir a linha de pensamento de Chase. Seu rosto ficou sério
quando seu olhar se encontrou com o de Chase através da sala. Queria falar de
assuntos da Ordem, mas havia uma pergunta em seus olhos, uma que Chase percebeu
com um simples movimento sutil do olhar de Mathias para Brynne.
Ela captou o olhar também. — Deveria permitir a todos que conversassem
em privado. Tenho certeza que têm muitos assunto para colocar em dia.
Tavia franziu o cenho quando Brynne começou a se levantar. — Você não está
aqui em missão oficial JUSTIS, Brynne. É minha irmã. Confio em você da mesma forma
que confio nas pessoas nesta casa.
Chase assentiu com a cabeça, completamente cômodo com a integridade e
discrição de Brynne. De fato desde que começou a conhecer a irmã de Tavia, ele a
considerava uma aliada da Ordem. — Não há necessidade de que saia. Sua palavra de
que qualquer palavra que seja dita aqui será confidencial me basta.
Brynne assentiu. — Claro, tem minha palavra.
Mathias reconheceu sua promessa também. — Lucan me disse para preparar
minha equipe para ir atrás de Riordan a qualquer momento. — Disse para Chase. —
Tenho certeza que não tenho que dizer que derrubar este bastardo e todos leais a ele
será um prazer pessoal.
Chase grunhiu. — Todos nos sentimos da mesma forma. Mas temos que nos
assegurar que cada peça esteja em seu lugar. Não pode haver margem para erro. Se
nos movermos muito rápido, podemos perder as pistas de Riordan que conduzem aos
demais membros da Opus. A Ordem tem que desmascarar até o último deles em
primeiro lugar, se temos alguma esperança de acabar com a organização.
Brynne parecia nervosa ante a menção de outros membros da Opus. Ela
começou a dizer algo, mas parou.
—O que foi? — Chase exigiu.
Quando ela franziu o cenho e balançou a cabeça, Tavia a olhou pensativa.
—Conte-nos o que está pensando, Brynne. Estamos confiando em você, assim
tem que confiar em nós também.
—Não tenho nenhuma prova real, mas... — Ela suspirou e soltou uma
maldição. — Tive esta intuição há um tempo. Nada que possa provar. Nada mais que
uma suspeita... sobre Neville Fielding.
—O diretor da GNC em Londres. — Chase murmurou. — Que tipo de
suspeita?
Brynne inclinou a cabeça. — Tenho a sensação de que está envolvido. Tem
que ser alguém com muito dinheiro, porque há algumas semanas, Fielding se mudou
para uma casa que custa acima de suas possibilidades.
Sentado no sofá, Mathias se inclinou sobre os cotovelos. — Há algumas
semanas, este contêiner de armas russas desapareceu no cais no Tamisa.
—O contêiner supostamente iria para Riordan. — Acrescentou Chase.
Mathias inclinou a cabeça. — Teria ido para ele, se Gavin Sloane não houvesse
traído sua gangue de capangas com escaravelho tatuado.
O cenho de Brynne se franziu mais. — Espera um minuto. O Oficial Justis
Sloane morreu em serviço, de acordo com os informes oficiais.
—Foi assassinado no cumprimento do dever. — Disse Mathias. — Por mim.
Depois que filho da puta foi atrás de Nova e morreu muito rápido.
Chase encolheu os ombros. — A Ordem tem seus próprios canais, Brynne.
Asseguramos-nos que os informes oficiais não saiam à luz de forma inconveniente para
Riordan antes de termos oportunidade de terminar em nosso próprio terreno.
Ela amaldiçoou em voz baixa. — Não posso dizer que fico feliz ouvindo isto.
Mas apenas faz com que minha suspeita sobre Fielding aumente. Opus Nostrum é um
problema de todos, não apenas da Ordem. Depois do desastre que tentaram causar
com o acordo de paz da GNC há algumas semanas, devem ser detidos.
— Ao ver que é da família, talvez você e a Ordem possam começar a
compartilhar informação. — Chase sugeriu. — Inclusive as intuições podem ser úteis.
Brynne assentiu. — Posso fazer isto.
—Falando de família. — Disse Mathias. — Fomos capazes de conseguir
qualquer coisa das entrevistas da Ordem com as ex-esposas de Reginald Crowe?
Chase teve que rir ao ouvir sobre as entrevistas. Eles levaram a viúva de
Crowe e cinco ex-esposas, uma por uma das fêmeas humanas, tentaram tudo que foi
possível para tirar respostas do subconsciente deles. Apenas uma delas proporcionou
algo útil. — Nenhuma delas tinha conhecimento da participação de Crowe com a Opus,
mas uma ex-esposa mencionou uma amante de Crowe que parecia passar muito
tempo na Irlanda.
—Irlanda? — Perguntou Brynne. — Não acha que há uma conexão com
Riordan também?
—Não sabemos. — Disse Chase. — A informação da mulher não nos levou a
nenhuma parte. Nem sequer temos um nome ainda.
—Se houver algo que a Justis possa proporcionar — oficialmente — apenas
diga. Opus Nostrum é a maior ameaça terrorista que este mundo já conheceu.
Qualquer coisa que possa fazer para ajudar a derrotá-los, podem contar comigo.
Inclusive enquanto estreitava a mão de Brynne em agradecimento, Chase não
podia evitar pensar que estava errada sobre a Opus. Não eram a maior ameaça.
Não estava disposto a compartilhar a informação real com sua cunhada neste
momento, mas Chase e o resto da Ordem sabiam que viria um tempo difícil com a
ameaça dos atlantes e sua rainha vingativa que eclipsava o que a Opus pudesse sequer
sonhar.
Apenas esperava que a Ordem estivesse pronta para quando chegasse este
momento.
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
Carys esteve fora por uma semana, mas parecia como se um ano tivesse
passado desde a última vez que entrou no Darkhaven de Chase. Jordana e Nathan a
deixaram na entrada detrás da grande mansão enquanto se dirigiam ao Centro de
Comando da Ordem e depois para o quarto de Nathan, onde o casal agora ficava.
Carys sentiu a falta deles no mesmo instante, mas foram ao seu pedido, para
poder enfrentar seus pais sozinha. Ajustou a bolsa em seu ombro, logo respirou fundo
e se dirigiu através da parte posterior da casa até a zona residencial. Sua trajetória a
levou até a cozinha, onde ouviu sua mãe conversando com outras duas mulheres.
Carys reconheceu a voz de sua tia. O suave sotaque londrino de Brynne a fazia se
lembrar de festas de galas elegantes e convites para chás.
A outra voz feminina também era britânica, mas mais reservada, apesar de ter
algo de um tom agudo de uma canção de rock. Curiosa, Carys entrou na cozinha.
Sua mãe estava na grande ilha no centro, dividindo uma bandeja de canapés e
sanduíches com suas hóspedes. Ocupando um dos bancos altos do balcão estava
Brynne e em outro uma mulher pequena, jovem e bonita com o cabelo azul e negro,
assimétrico, com inumeráveis tatuagens de cores diversas e vários piercings.
Carys limpou a garganta. — Olá a todas.
Sua mãe se virou para ela com um grito abafado, seu belo rosto se iluminando
na hora.
—Carys! Venha se unir a nós.
Sem censura. Sem julgamento. Apenas ternura e afeto por parte de sua mãe.
Carys entrou e se lançou de braços abertos para sua mãe. Abraçaram-se por um
momento de tranqüilidade antes de Tavia a apresentar para as outras mulheres.
Brynne se levantou para abraçar Carys. — Como me alegro em vê-la.
—Eu também. — Carys respondeu. — Quanto tempo está em Boston?
—Apenas alguns dias. Umas férias muito necessárias do escritório.
Carys assentiu. — Desculpe não tê-la visto antes.
Brynne balançou a mão. — Você está aqui agora.
Tavia fez um gesto para a outra convidada. — E esta é Nova, Carys. Ela é a
companheira de Mathias.
As sobrancelhas de Carys subiram ante a informação. Ela conhecia Mathias
Rowan por toda a sua vida. Apesar de que ouviu que se acoplou recentemente, ela
sempre imaginou que o Comandante de Londres iria se estabelecer com uma mulher
mais como Brynne que Nova, mas tinha que admitir que gostava do casal incomum.
Carys estendeu a mão a modo de saudação. — Prazer em conhecê-la, Nova.
—O prazer é meu. — Nova respondeu, seus dedos delicados e tatuados
aparecendo. Seu sorriso era tímido.
Quando Carys voltou a olhar para sua mãe, Tavia apontou a grande bolsa em
seu ombro. — Istp significa o que imagino?
Carys assentiu. — É apenas temporário. A enorme cobertura estava solitária
sem Jordana ali comigo de qualquer forma.
Sua mãe tocou seu rosto. — Bom, não importa o que a trouxe para casa,
estou feliz que esteja aqui. Seu pai ficará encantado... e aliviado.
Carys deixou a bolsa no chão e logo se aproximou da bandeja de aperitivos.
—Posso? Estou faminta.
Ante o assentir de sua mãe, ela agarrou um sanduíche de pepino e berinjela.
Logo outro. Agora que estava em casa, percebeu quanto tempo se passou desde que
comeu pela última vez. Mais ainda, desde que tomou algo de sangue humano.
Como membro da Raça, precisava tomar glóbulos vermelhos frescos de uma
veia aberta ao menos semanalmente. Nunca pensou muito na necessidade até que
conheceu Rune. Agora a ideia de se alimentar de qualquer outra pessoa, mesmo que
apenas para se alimentar, apenas servia para lembrá-la da única coisa que faltava em
sua relação.
Em algum momento, sabia que teria que aceitar que Rune não estava
disposto a dar este passo com ela.
Carys empurrou o pensamento de lado enquanto pegava um terceiro
sanduíche da bandeja. Enquanto comia, ela olhou toda a arte complexa no corpo de
Nova.
—Quem fez a tatuagem tem um talento impressionante. É realmente um
bonito trabalho.
—Obrigada. — Nova passou uma mão sobre a outra, de braços cruzados
traçando a arte. — A maior parte dela foi feita por meu amigo Ozzy. Era dono da loja
onde eu trabalhava. Morreu há algumas semanas.
Carys lamentou entrar em um tema tão triste para a outra mulher. Ela não
sabia os detalhes, mas podia ver que Nova ainda sentia a perda de seu amigo. — Sinto
muito por sua perda.
—Eu também. Ele era a única família que tinha, além de Eddie, o garoto que
Ozzy adotou depois que ele me salvou das ruas. — Sua expressão de dor se apagou um
pouco. — Agora, tenho Mathias. Formamos uma nova família juntos. Com Eddie
também.
Tavia estendeu a mão para apertar a de Nova carinhosamente. — E seu novo
bebê a caminho.
—Um bebê! Parece que Mathias e sua companheira estão cheios de
surpresas. — Carys sorriu para Nova. — Parabéns!
Ela murmurou um agradecimento, parecendo incômoda e contente ao
mesmo tempo. —Nunca sonhei ter um filho um dia. Nunca imaginei que teria um
companheiro também , principalmente Raça.
A forma como disse, a forma como seus olhos azuis claros se nublaram com
uma escuridão silenciosa antes que ela olhasse para baixo novamente — fez Carys
adivinhar que havia uma grande feiúra e sofrimento no passado de Nova. Mas ela não
iria se intrometer, simplesmente deixaria passar com um comentário. — Tenho certeza
que será muito feliz com Mathias.
—Tenho certeza também. — Nova levantou a cabeça, as nuvens escuras em
seu olhara tinham sumido. — Agradeço todos os dias por Mathias ter entrado na loja
de Ozzy. Estarei agradecida o resto da minha vida por não ter desistido de mim, apesar
de fazer meu melhor esforço para afastá-lo.
—Talvez em algum momento você possa me dizer tudo sobre isto. — Disse
Carys.
Nova assentiu. — Claro. Eu gostaria.
Enquanto as quatro mulheres conversavam de forma leve ao redor dos
sanduíches, soaram passos no corredor fora da cozinha. Um momento depois, o pai de
Carys entrou com Mathias.
—Parece que ouvi a voz da minha filha aqui.
Carys lhe ofereceu um sorriso culpado. — Olá, papai.
Cruzou seus enormes braços sobre o peito, parecendo um formidável
guerreiro, inclusive com uma camisa branca e calça oxford sob medida. — Fico
contente de ver que não tentou se desfazer de Jordana e Nathan esta noite também.
Tavia estalou a língua. — Sterling, não seja duro.
Seu cenho se dirigiu para Carys. — Não sabia que era assim que estávamos
chamando a preocupação de um pai nestes dias.
Ela se endireitou, apesar de saber que tinha o direito de estar irritado. De
estar preocupado com ela. — Não queria aumentar seu estresse com os problemas da
Ordem.
—No entanto, o fez. — Informou. — Num momento em que tudo o que
temos são problemas.
Um temor deslizou por suas costas ante o tom forte. — O que aconteceu? Há
algo mais a respeito da Opus ou outras missões da Ordem?
—Não há nada a nosso favor. — Respondeu. — Ainda estamos reunindo
informações. Apenas temos Riordan na mira agora, quando temos que desmascarar
todos os membros da Opus se quisermos alguma possibilidade de derrubar a
organização.
Mathias assentiu. — Pena que Reginald Crowe não deixou atrás nada sólido
para nos conduzir ao resto de seus companheiros.
—Apenas um rastro frio para uma amante que pode ou não existir. — Disse
Chase.
—Gideon hackeou todas as suas contas comerciais e pessoais, mas Crowe
tomou precauções com seus interesses. Nada que implica qualquer pessoa como
membro da Opus. E se Crowe tinha uma amante, teve o cuidado de manter sua
relação com ela fora da vista. O que nos diz algo, pela falta de discrição em todas as
áreas de sua vida.
Carys sabia sobre Reginald Crowe, claro. Qualquer um que estivesse vivo nos
últimos vinte anos estava familiarizado com o magnata multimilionário que era tão
famoso por suas numerosas e cada vez mais jovens ex-esposas como seu ego sem
limites. Colocou seu nome em tudo o que pode, desde hotéis e cassinos, enormes
subvenções para instituições de arte e ciência. Inclusive o Museu de Belas Artes de
Boston, onde trabalhavam Carys e Jordana fez uma grande exposição de obras
emprestadas por Reginald Crowe de sua coleção pessoal.
Quando Carys ouviu com o que a Ordem e sua família estavam lidando em sua
ausência, sentiu-se culpada pela preocupação que causou em sua necessidade de
estender suas asas. Ela deveria estar ajudando sua família e a Ordem. Em troca, ela
estava preocupada com Rune e provocando involuntariamente mais problemas e
angústia.
—Sinto muito. — Disse Carys olhando para seu pai. — Não percebi tudo o que
estava acontecendo neste momento. Foi egoísta da minha parte sair da forma como
fiz.
—Tem razão nisto. — Ele ainda franzia o cenho, ainda terrivelmente irritado
com ela. — Alegro-me que Nathan e Jordana foram capazes de colocar um pouco de
bom senso onde ninguém mais conseguiu. Alegro-me que alguém foi capaz de
convencê-la de que deve estar em casa neste momento, não correndo com este
lutador pelo La Notte.
Carys caminhou até seu pai. Não parou até que ficou de pé diretamente
diante dele, o suficiente para ver a fúria brilhando em seus olhos azuis, que eram do
mesmo tom que os dela. Ele a olhou em silêncio, as fossas nasais dilatadas.
Rara vez mostrava este lado de si mesmo para sua família, um macho Raça
explosivo. O guerreiro letal. Protetor de toda a cidade de Boston durante os últimos
vintes anos turbulentos e algo mais.
Carys o olhou durante um longo tempo, observando a preocupação de um pai
devoto em sua expressão dura. Ela viu o medo profundo que estava causando em toda
sua família por se distanciar deles quando os perigos que rodeavam a Ordem exigiam
que mantivessem aqueles com se preocupavam mais perto que nunca.
—Eu também te amo, pai. — Ela se levantou nas pontas dos dedos e o beijou
no rosto. — E deve saber quem me convenceu a voltar para casa esta noite. Foi Rune.
Seu rosto ficou completamente surpreso.
Ele não disse nada, apenas olhou silencioso e surpreso para sua companheira.
O amplo sorriso de Tavia iluminou seu rosto, cheio de diversão. — Bom, não
se trata de uma noite cheia de surpresas?
Era verdade, Carys provavelmente sentiu muita satisfação pela rara expressão
de surpresa no rosto em choque de seu pai. Ele era um homem difícil de sacudir, mas
parecia totalmente sem palavras.
Sorrindo Carys pegou sua bolsa e disse que iria se instalar.
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
Lucan Thorne carregava uma caixa pequena de titânio para a sala de arquivos
da sede da Ordem em DC. A caixa era levemente menor que sua palma, simplesmente
feito a mão, mas por dentro era um tesouro de proporções legendárias.
E desconhecida, potencialmente letal, poderosa.
Quando colocou a caixa sobre a mesa de trabalho da sala de arquivos,
Gabrielle o olhou de forma preocupada. — Tem certeza de que isto é uma boa ideia?
—Longe disso. — Ele girou o cenho franzido para os demais membros da
Ordem reunidos ali neste dia. — Ninguém ficou perto desta coisa desde que Jordana o
encontrou em Boston, na semana passada. Eu me sentiria muito melhor se
mantivermos assim até que saibamos com certeza o que pode fazer.
—Talvez Jenna possa nos dar esta resposta. —Darion disse do outro lado de
Lucan.
Dare, Gideon e Savannah pararam suas investigações sobre a rede de Riordan
quando ouviram que o guerreiro Brock chegou nesta madrugada de Atlanta com sua
extraordinária companheira.
As visitas do casal em DC eram frequentes devido ao trabalho de Jenna na
crescente coleção de arquivos Raça, no entanto, sua aparição na sede era sempre um
acontecimento. Era difícil inclusive para Lucan não se assombrar ante o milagre
genético perto da antiga Jenna Tucker-Darrow.
Nascida humana e completamente mortal, não foi até ser atacada por um
Antig Raça de outro mundo, que começou sua incrível metamorfose. Em vez de matá-
la a criatura alienígena lhe implantou um chip minúsculo com sua biotecnologia.
Este chip, até o dia de hoje estava sob a pele na nuca de Jenna e continha as
lembranças do Antigo e seu DNA. Quando lançou raízes dentro de seu corpo, o
material genético começou a transformar a mulher humana em outra... coisa.
Imune a lesões, doenças ou a idade, Jenna também era inumanamente rápida
e forte. Mas sua transformação não parava por aí.
Pouco depois que o chip foi implantado nela, um leve dermatóglifo apareceu
na parte posterior de seu pescoço. Agora, vinte anos depois, sua pálida pele estava
coberta com glifos intrincados. Inclusive a parte detrás de seu crânio, mal visível sob o
cabelo castanho.
Brock estava ao lado dela do outro lado da mesa, a mão escura do guerreiro
negro acariciando o ombro de sua companheira. — Você não é o único que tem
dúvidas fortes sobre isto, Lucan. — Os lábios de Brock se apertaram enquanto negava
com a cabeça. — Não quero que aconteça nada a você, amor.
Jenna inclinou a cabeça. — Acredite, eu também não, mas os sonhos — as
lembranças — são cada vez mais vivos, mais intensos, toda semana. —Fez um gesto
para a caixa de titânio fechada diante dela. —Não posso deixar de sentir que está é a
razão de tudo. Tenho que saber.
Lucan tinha que dar à antiga oficial da Tropa Estadual do Alaska o crédito.
Jenna nunca recusou um desafio e o medo não parecia ter lugar em seu vocabulário.
Isto não significava que não deixava cada pessoa na sala mais nervosa ao ouvir seu
nome.
—Posso? — Perguntou Lucan, estendendo a mão para tampa da caixa.
Em seu movimento de cabeça, levantou o fecho e abriu a tampa. Sua exalação
lenta se uniu aos outros quando o cristal da Atlântida foi revelado. Todos da Ordem e
suas companheiras viram o objeto do tamanho de um ovo no Centro de Comando de
Boston com Jordana. Mas vê-lo novamente não fazia nada para atenuar a reação, que
foi a mesma de antes.
Com apenas olhá-lo, ninguém confundiria o cristal com algo encontrado na
Terra. Era prateado, de um tom mais claro. Suavemente polido, no entanto, parecia
brilhar com milhares de facetas minúsculas sob a superfície. No centro da caixa de
titânio, o cristal parecia pulsar com uma vida misteriosa.
—Na realidade, há outros quatro cristais como este em alguma parte? —
Perguntou Gabrielle, aproximando-se junto aos demais.
—De acordo com o Atlante que sequestrou Jordana, sim. — Disse Lucan. —
Dois deles foram roubados de seu reino há séculos. Apenas um permanece com a
rainha agora. O outro está na colônia dos atlantes que desertaram do reino. E este.
Jenna olhou para Brock. — Tenho que fazer isto. Se o cristal pode nos dizer
algo mais sobre os Atlantes ou os Antigos, tenho que saber. Temos que saber.
Ele assentiu com a cabeça enquanto acariciava seu rosto com o dorso da mão
grande. — Não gosto desta merda, mas estarei aqui do seu lado.
Colocou a boca em sua palma e lhe deu um leve beijo. — Estou pronta para
fazê-lo. — Disse olhando para Lucan. — Quero fazê-lo.
Quando ele assentiu, Jenna colocou a mão na caixa para pegar o cristal. —
Está quente. — Levantou-o em suas mãos, segurando-o como se fosse um vidro frágil.
— Está ficando mais quente. Posso sentir algum tipo de vibração de seu núcleo. Sente-
se poderoso... vivo, de alguma forma.
Fechou os olhos, concentração enchendo seu bonito rosto. Apenas alguns
segundos se passaram antes que os glifos em suas mãos e braços começassem a pulsar
e se encher de cor.
—Não gosto do que estou vendo, Jen. — A advertência de Brock era séria,
cheia de temor por sua amada. — Será melhor deixá-lo agora, amor.
Ela deu uma balançada de leve com a cabeça, mas não disse nada. Lucan nem
sequer tinha certeza de que poderia falar neste momento.
Suas mãos se fecharam mais apertado ao redor do cristal enquanto se fundia
mais profundamente no que fosse que ela estava fazendo. Uma luz começou a emanar
através dos espaços entre seus dedos.
—Jesus cristo. — Brock grunhiu. — Nunca vi isto acontecer a ela antes.
Lucan concordou. Todos reunidos ali ficaram em um silêncio incômodo, mas
Jenna parecia alheia a tudo, menos ao cristal. Lucan murmurou uma maldição baixa. —
Tudo bem, terminamos aqui.
Brock já estava chegando a sua companheira. — Bebê, deixe-o ir.
No instante que a tocou, a energia se arqueou fora de seu corpo e envolveu o
guerreiro, lançando-o voando pela sala.
Santo. Inferno.
Brock se levantou com uma expressão de horror em seu rosto. — Jenna!
Correu até ela, mas parou a um metro de distância como se um muro
estivesse em seu caminho. Lucan tentou agarrá-la então e ele também foi bloqueado
por um campo impenetrável de energia.
Os dermatóglifos de Jenna começaram a brilhar. Seus olhos permaneceram
fechados, mas suas pálpebras se movimentavam rapidamente, presa em um estado de
sonho.
A luz dentro aumentou. Suas mãos brilhavam como se pegassem fogo.
Sem mais aviso, a energia explodiu fora dela. Raios de luz se dispararam em
todas as direções, tão brilhantes como o sol.
Cada macho Raça na sala cobriu seus olhos diante da explosão pura de
energia.
Lucan e Gideon agarraram suas companheiras, enquanto Brock rugia o nome
de Jenna.
E então, como saiu, a luz se foi.
Lucan levantou a cabeça para encontrar Jenna colocando com calma o cristal
dentro de sua caixa. Brock se virou para ela, puxando-a para um abraço desesperado,
protetor.
—Que demônios? — Disse com voz áspera e rouca. — O que aconteceu?
Estava sem fôlego, seus glifos pulsando vivos em sua pele.
Brock passou as mãos sobre ela. — Você não está sentindo dor.
Não era uma pergunta. O macho da Raça tinha a capacidade única de
absorver o sofrimento humano em si mesmo com um toque. Seu dom lhe diria se
Jenna sentia algum tipo de angústia. Lançou um olhar para Lucan e os demais e logo
balançou a cabeça. — Está sã e salva.
— Eu o vi novamente. — Murmurou. Virou-se para Brock com seus grandes
olhos cor avelã. — Vi a noite do ataque contra o reino de Atlântida, novamente.
Jenna tinha muitos vislumbres da história através de seu enlace de
biotecnologia — as lembranças dos Antigos. Há vinte anos, viu pela primeira vez a
destruição de Atlântida, que foi o primeiro que a Ordem descobriu sobre a guerra
violenta entre a Atlântida e a segunda raça alienígena que habitou a Terra em segredo
durante um período de tempo maior.
—Eles usaram os cristais contra Selene. — Disse Jenna agora. — Na noite do
ataque ao seu reino, os Antigos usaram o poder dos dois cristais de Atlântida, como
este, para destruí-los. Debilitaram as defesas dos reinos, então explodiu a guerra.
—Os Antigos tinham cristais assim também? — Savannah, a companheira de
Gideon perguntou.
Gabrielle se virou para Lucan. — Jordana nos disse que dois dos cinco cristais
foram roubados há muito tempo. Os Antigos os levaram, Jenna?
—Não sei. — Disse. — Minhas lembranças não me disseram ainda, mas
parece ser o provável agora.
As sobrancelhas loiras de Gideon se arquearam sob os óculos de sol. — Se os
Antigos foram capazes de derrotar Selene e sua legião usando dois cristais como este
que temos agora...
Brock se encolheu com o pensamento, com os braços ainda envoltos ao redor
de sua companheira. — E sabemos que há outro nas colônias.
—Diabos, sim. — Darion disse com um amplo sorriso. — E temos alguém com
um vínculo nestas colônias.
Lucan assentiu. A perseguição e a eliminação da Opus Nostrum era de suma
importância, mas se o que Jenna acabou de informar fosse preciso, conseguiram algo
muito importante — possivelmente era um jogo de troca de informações sobre um
adversário ainda mais insidioso. Mas em primeiro lugar, necessitavam determinar se
estavam sozinhos em sua luta contra Selene quando chegasse este dia.
—Tenho que falar com Jordana. — Disse Lucan. — Quero uma introdução cara
a cara com o amigo de Cassian Gray da Atlântida e quero para ontem.
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
Ele a levou pelos corredores vazios da arena até seu quarto, deixando de lado
suas luvas e o colar tão logo entrou com ela. Carys suspirou enquanto suas mãos
encontravam seu rosto e se mantinham ali.
Sem fôlego, leve, ela se derreteu com seu toque quando ele reivindicou sua
boca. Parou apenas tempo suficiente para levá-la com ele até o quarto, sem dizer nada
e depois a tomou em outro beijo abrasador.
Ele não respondeu nada enquanto estavam na arena. Ela sabia que parte de
seu silêncio melancólico podia ser atribuído à necessidade. Ela sentia demasiado o
calor que se acendia entre eles cada vez que estavam juntos.
Mas algo o incomodava. Sabia disto, mesmo antes de sua saída abrupta da
arena. Não podia fingir que não notava.
Quando o beijo finalmente se rompeu, ela apoiou a testa contra a dele e o
olhou nos olhos ardentes. —O que aconteceu, Rune? Porque se fiz algo ou disse algo
que o incomodou...
Franziu o cenho e estendeu a mão para acariciar seu rosto. — Está tudo bem.
Tudo o que tem que fazer é me olhar agora para ver isto.
Soava tranquilo, algo que nunca mostrou antes. Mas seus olhos estavam
ardendo de desejo. Suas presas eram enormes, enchiam sua boca quando falava. A
necessidade deixava sua voz rouca.
Fosse o que fossem as sombras que pensou ver em seus olhos na arena foram
embora, deixando apenas as brasas do desejo agora.
—Mas ali na arena...
Ele a puxou para si, suas grandes mãos segurando seu rosto. — Aqui é onde a
quero neste momento, Carys. Em meus braços. Em minha cama. — Inclinou a cabeça e
deixou os lábios roçaram contra seu ouvido. — Eu a quero em minha língua. Em meu
pau.
As palavras tocaram seus sentidos, evocando imagens dos dois nus, suando e
selvagens um com o outro. Se ele planejou isto para distraí-la, não sabia, mas era
condenadamente difícil aferrar-se às duvidas e receios quando Rune sussurrava
promessas malvadas em seu ouvido.
— O clube está vazio, somos apenas eu e você. — Murmurou com as mãos se
movimentando até os ombros, logo capturando seu traseiro. — Assim esta noite,
tenho a intenção de tomar meu tempo.
Como se para provar seu ponto, ele a arrastou a um beijo que fundiu seus
ossos. Seu pulso chutou a um ritmo mais rápido. Seu sangue corria como rios de fogo
em suas veias.
Inclinou-se para trás e seu olhar caiu em sua ereção que empurrava contra a
calça de couro. Ela sabia muito bem que o pau de Rune era tão impressionante como o
resto dele, mas o grosso contorno de seu eixo a deixava com água na boca e suas
presas explodiram de sua gengiva.
—Cristo, a forma como me olha. — Disse com voz rouca. — Estes olhos
podiam deixar em cinzas um homem, em segundos.
Ela sorriu, encontrando seu próprio olhar quente. Enquanto abria a calça, ela
passou os dedos através dos glifos marrons, ofegando quando sentiu o ar frio contra
suas pernas nuas. Tinha a pele muito sensível, ansiosa por seu toque.
Sua calcinha foi a seguinte. Enquanto deslizava por seu quadril, passou as
mãos ao longo de suas coxas e logo deslizou o dedo pela umidade escorregadia de seu
sexo. Ela segurou o fôlego quando brincou com sua carne sensível, então gemeu em
protesto um instante depois, quando ele afastou seu perverso toque.
—Vamos. — Ele pronunciou, sua voz cheia de desejo. Seus olhos crepitavam
com intenção carnal. — Sente-se na cama e te darei um pouco mais.
Oh, Deus. Ela não podia obedecer rápido o suficiente.
Quando sentou na cama, ele se aproximou e tirou sua blusa. Suas mãos eram
suaves, mas tremiam de desejo mal contido enquanto empurrava as alças do sutiã por
seus braços. Um beijo aqueceu cada ombro, a boca terna, o fôlego fazia florescer seu
núcleo.
Com dedos hábeis, abriu o sutiã, liberando seus seios e revelando os
dermaglifos que se escondiam sob as rendas.
Ele grunhiu, sua boca se curvou em um sorriso enquanto olhava para ela. —
Tão bonita. Não sei o que é mais perfeito, seus seios ou estes glifos sexy que os
decoram.
Seu elogio aqueceu seu sangue ainda mais. Mas logo agachou para beijar seus
seios e os tremores de excitação começaram a vibrar através dela.
Ela envolveu seus braços ao redor dele, com a cabeça caída para trás de
prazer enquanto ele chupava seus mamilos. A sucção de sua boca e a língua enviava
raios de fogo para suas veias. O roce fugaz de seus dentes e presas faziam o calor
dentro dela entrar em ebulição.
Fazia com se contorcesse e retorcesse por mais.
E como Rune prometeu, ela podia dizer que tinha a intenção de dar mais a
ela.
Inclinou-se para trás e colocou as mãos sobre suas coxas. Um baixo ronronar
retumbou profundo de sua garganta, mesmo antes de seus lábios a tocarem.
—Adoro seu cheiro, Carys. Doce, um néctar de mel e especiaria exótica
misturados. — Ele a olhou então, seus olhos quentes e as presas afiadas reluzindo. — E
sei que seu sabor é ainda melhor.
Sua cabeça escura caiu entre suas pernas abertas. A boca se fechou sobre ela,
sua língua foi direto para suas dobras. Quando encontrou o nó de nervos doloridos
situado entras elas, ela gritou de prazer.
Passou a língua e chupou sem piedade. Não passou muito tempo antes que
ela explodisse contra sua língua, ondas após onda a percorreu.
Rune manteve os olhos nos dela enquanto se aproximava, com a boca ainda
fazendo sua malvada magia, enviando uma espiral por seu corpo. Não podia suportar
mais. Precisava senti-lo enchendo-a. Queria sentir o que vinha depois.
—Rune. — Ofegou, suas mãos o agarrando. Seus dedos cavavam em seus
ombros, nos cabelos e ela não tinha certeza se queria que parasse ou lhe desse mais.
—Sou viciado em seu sabor. — Ele gemeu contra ela, lambendo seu creme. —
Mas meu pau também é viciado em você.
Ele se levantou e puxou os cordões de sua calça de couro. Ela caiu, revelando
a pesada lança que era sua ereção. Se ele a achava bonita, esta era a única palavra que
podia usar para ele também.
Não importava quantas vezes o visse nu e totalmente excitado, Carys se
maravilhava ante o tamanho e a potência de seu amante formidável. Como o próprio
homem, seu pênis era impressionante.
Seu eixo era cheio de veias e a ponta brilhante sobressaía longa e grossa de
um ninho de pelos escuros. Glifos se enrolavam ao redor da base e se fechavam como
dedos sobre sua circunferência. Estas marcas Raça na pele eram escuras e vibrantes
como as outras que cobriam o restante de seu corpo.
Ele a empurrou sobre a cama. Mas em vez de segui-la enquanto seu corpo
estava morrendo por ele, avançou lentamente, atrasando o tempo suficiente para
beijá-la nos ossos dos quadris e no ventre, as mãos a percorrendo, deixando-a louca.
Ele seguiu o padrão de seus glifos com os lábios e a língua, traçando cada arco e onda.
Carys se contorcia sob ele, tentando alcançá-lo e colocá-lo na piscina de calor
insuportável entre suas pernas. Ela se arqueou enquanto lhe acariciava a fenda. Sem
brincadeiras agora. Ele a tocava com maestria, sabendo exatamente o que ela gostava,
justo o que precisava.
Ela não era virgem quando foi para sua cama na primeira vez, mas depois de
ter estado com Rune todo este tempo fez com que suas outras experiências sexuais se
transformassem em pó.
Quando pensava que não podia aguentar outro segundo de agonia, ele
deitou-se ao seu lado e lhe tomou a boca em um beijo profundo, enquanto roçava o
dedo contra seu clitóris, fazendo-a tremer e grunhir com um prazer que a deixava
quase selvagem.
—Não posso mais. — Ofegou. — Preciso que acabe com esta dor. Preciso que
me preencha, Rune. E preciso agora.
Ele soltou um som baixo de aprovação da parte de trás da garganta. Suas
presas estavam nuas e enormes, os olhos ardentes com seu calor âmbar quando se
colocou entre suas coxas abertas.
Seu corpo estava molhado, morto de fome por ele. — Agora, Rune. Por favor.
Moveu-se em seu lugar e sentiu a deliciosa pressão de sua cabeça na entrada
de seu corpo. A fome e o desejo a percorreram, agarrou seus ombros e puxou-o para
baixo em um beijo duro enquanto movia os quadris para assentá-lo mais plenamente
em seu núcleo.
Empurrou dentro, estendendo-a com força e oh Deus, sim, entrando todo o
caminho até a empunhadura. Ela gritou de prazer e alívio ante a invasão. Seus dedos
arranharam seus ombros enquanto entrava profundamente, logo saia em uma
lentidão dolorosamente perfeita.
—Está tão quente e úmida. — Ele disse entre dentes, empurrando em um
ritmo mais urgente. — Porra, você é tão gostosa.
Ela apenas pode assentir com a cabeça, suas palavras fugindo enquanto seu
orgasmo se aproximava. Ela apertou suas pernas ao redor dele e se aferrou enquanto
conduzia mais forte, mais profundo.
Quando explodiu contra ela, seu nome foi um grito em seus lábios. Seguido
um momento depois de um grito feroz e agudo.
Levou muito tempo para que voltasse. Carys manteve Rune perto, seu corpo
grande acomodado entre o dela com as ondas finais do orgasmo ainda ondulando
entre eles.
Era tão íntimo como duas pessoas podiam conseguir ficar, mas não podia
deixar de sentir que esta noite, de alguma maneira, ele estava distante. Ele estava se
afastando dela.
Se ela fosse honesta consigo mesma, Rune estava escondendo algo de si
mesmo dela durante algumas semanas.
Talvez desde o início.
Quando ele saiu dela e a puxou para seu calor, Carys tentou dizer a si mesma
que estava imaginando coisas. Mas a leve frieza que se instalou em seu coração
parecia lhe advertir do contrário.
CAPÍTULO DOZE
Parecia estranho acordar em seu quarto, em sua cama, de volta na sua casa
no Darkhaven na manhã seguinte. Estranho, mas reconfortante também. Seu tempo
com Rune foi incrível, como de costume, um momento felizmente cansativo de prazer
e liberação que nunca deixava de doer em todos os lugares corretos e a ânsia da
próxima vez.
Mas enquanto ela tomava banho e se vestia, era outra dor persistente que
ficou com ela. Era algo além de uma boa transa para ele?
Ela inclusive o conhecia?
Sabia que ele se preocupava com ela. Mas de uma vez nas semanas que
estiveram juntos, ele disse que a amava. Ela acreditou. Inclusive agora, ela queria
acreditar que o que tinham juntos era real.
Mas havia peças que faltavam no quebra-cabeça que era Rune.
Havia segredos.
Na noite anterior, viu pela primeira vez a existência dos muros construídos ao
seu redor também. Muros altos que nem sequer percebeu que tinha que escalar.
Muro que, obviamente, não estava disposto a deixar que se aproximasse e muito
menos começasse a escalar.
Rune vinha de princípios duvidosos, ela sabia. Ele disse que se criou nas ruas,
um habitante dos baixos fundos de Boston. Passou a maior parte de sua vida
sobrevivendo dos punhos e outros meios perigosos.
Contou tudo na primeira vez que lhe perguntou sobre seu passado. Ele não
parecia orgulhoso de onde veio, mas não parecia incomodado por nada disto também.
Agora, no entanto, se perguntava...
Estes pensamentos pesados a seguiram quando saiu de seu quarto e foi para a
sala principal da mansão Darkhaven. O lugar estava tranquilo, ninguém por perto. Por
outro lado, às nove da manhã, seu pai provavelmente estaria profundamente
enraizado nos assuntos da Ordem com sua equipe de guerreiros no Centro de
Comando.
Carys caminhou para a cozinha, seguindo o cheiro de assados e café.
Encontrou Brynne sentada no balcão no centro da cozinha tomando café. Usava uma
calça jeans e uma camisa branca impecável, com seu cabelo longo preso em um coque
solto.
Carys sorriu enquanto a meia irmã de sua mãe levantava os olhos. — Bom dia.
—Bom dia. — A expressão da fêmea Raça ficou tímida enquanto mastigava
um grande pedaço de muffin de banana. — Eu sei, realmente deveria tomar algo de
sangue esta manhã, mas de verdade, como posso resistir a tentações deste tipo?
Carys riu. — Apenas um dos benefícios de ser o ganhador da loteria genética.
Não apenas podemos caminhar na luz do dia, mas podemos comer e beber tudo o que
gostamos.
Brynne levantou sua xícara de café a modo de saudação. — E não vai parar
em nossos quadris.
Carys se aproximou e pegou um pãozinho. Começou a morder as bordas
crocantes. — Todos foram para o Centro de comando?
—Há cerca de uma hora agora.
—Minha mãe também?
Brynne sorriu. — Ela me deixou aqui com tudo isto e café, assim não pude me
queixar.
Não era raro que Tavia fizesse parte das revisões das patrulhas e das reuniões
de estratégia. Ela estava muito envolvida com os assuntos da Ordem desde seu
acoplamento com o pai de Carys e era óbvio que Tavia ficava mais feliz quando
trabalhava ao lado de seu companheiro. Mas seus modos impecáveis resistiam em
abandonar um familiar convidado.
—A reunião de hoje deve ser importante. — Carys refletiu em voz alta.
—Deve ser. — Disse Brynne. — Lucan ligou pessoalmente esta manhã, assim
acredito. Algo sobre uma nova pista em uma das operações em curso.
Carys mordeu o pão, sua mente correndo a cem quilômetros por hora. Não
podia a que ela descobriu, verdade? Teria a informação da noite anterior demonstrado
ser útil? Será que havia a possibilidade de ter conduzido a Ordem até outro membro
da Opus Nostrum? A mesma ideia disparou suas veias com uma sacudida de
adrenalina, a emoção da caça.
—Porque não vai descobrir por si mesma?
—O que? — Ela piscou para Brynne.
—Se quer algo, querida, tem que estar disposta a chegar a ele.
Ela ficou com a boca aberta. — O que está dizendo? Que eu quero ser parte
da Ordem?
—Não disse isto. Mas você acaba de fazê-lo.
Carys negou com a cabeça, mas a negação não saiu de seus lábios. — Não
pediram minha ajuda.
—O fato de você nunca ter recebido um convite para a festa não significa que
não a querem ali.
Brynne pegou seu prato e a xícara de café vazia e levou-os para a pia.
Enquanto os lavava, seu telefone tocou no balcão. Murmurou suas desculpas, secou as
mãos e foi para a outra sala.
Mal ela saiu, Carys deixou o café da manhã meio correndo e se dirigiu para o
Centro de Comando.
Ela não precisava adivinhar onde todos estavam porque um ruído surdo de
vozes vinha da sala de guerra do outro extremo do corredor. Carys diminuiu o passo
enquanto se aproximava das janelas interiores e portas com painéis de vidro.
Seu pai a viu imediatamente. Ela esperou um olhar inquisitivo ou mesmo uma
careta, mas em troca, seu bonito rosto se moveu com surpresa. Seus brilhantes olhos
azuis sob o cabelo loiro curto fez sinais para ela entrar.
Ela abriu a porta e entrou na sala.
—Carys. — Disse. — Há algum problema?
—Não, não aconteceu nada. Eu apenas... — Sentiu-se incômoda de repente,
mas teria se sentido mais ainda se cedesse a tentação de dar a volta e sair agora que
todos olhavam para ela.
Sentados ao redor da mesa longa de conferência com ele estavam sua mãe e
a equipe de guerreiros de Boston: Nathan e Rafe, Elijah e Jax. Seu irmão Aric também
estava ali. Mathias e Nova se sentavam juntos do outro lado de seus pais. Jordana
também estava ali, do lado de Nathan.
E na tela na parede de frente à mesa estavam Lucan e Gideon.
Seu pai ficou de pé. — Adiante. Estávamos falando de você.
Na grande tela, a boca severa de Lucan se curvou em um sorriso. — Excelente
trabalho ao rastrear a informação sobre o sócio de Crowe, Carys.
Os chefes assentiram com a cabeça, tanto em DC como os que estavam ao
redor da mesa de conferências de frente a ela.
Inclusive Aric parecia satisfeito e impressionado. Apesar da guerra fria e
pessoal na última semana ou assim, seus olhos verdes se aqueceram ao olhar para ela.
Quando deu um passo mais dentro, puxou uma cadeira vazia ao seu lado.
Carys se sentou. Era a primeira vez que via a sala de guerra de tal ângulo, na
mesa como um deles. Parte do grupo. Sentia-se surpreendentemente cômoda.
Sentia-se muito bem.
—Gideon está colocando Hayden Ivers sob o microscópio, já que nos deu seu
nome na outra noite. — Seu pai lhe informou de seu assento na cabeceira da mesa de
conferências.
—Sim. — Disse Gideon da tela de vídeo. — Ivers é humano. Pratica direito
privado em Dublin, mas durante mais de algumas décadas, apenas lidou com clientes
confidenciais. Dois, para ser mais exato. Alguém se importa em adivinhar quem é o
segundo?
—Riordan? — O pai de Carys praticamente cuspiu o nome. — Tem que estar
fodidamente brincando.
Mathias Rowan acariciou a mão de Nova quando um murmúrio de indignação
percorreu a mesa. — Acha que Ivers poderia ser um membro da Opus também?
—Se ele é, cobriu bem suas pegadas. — Disse Lucan. — Gideon entrou em
seus computadores e encontrou um montão de nada.
—Percorri os computadores de Ivers e as contas de e-mails. — Acrescentou
Gideon. — Não pude encontrar nada que o implicasse com a Opus, nem nada
remotamente suspeito.
Carys franziu o cenho, era difícil esconder sua decepção. — O que acontece
com o fundo de Crowe?
— Apenas pude encontrar algumas referências do documento logo após a
morte de Crowe. Mas nem rastro do próprio documento. Não pude encontrar arquivos
digitais de qualquer tipo pertencente à Crowe ou a qualquer outro aspecto da relação
de Ivers com Crowe.
Chase grunhiu. — Considerando a verdadeira identidade de Crowe, é obvio
que advertiu todos os seus sócios de negócios para serem meticulosamente
cuidadosos com seus assuntos.
Aric sorriu. — É uma pena que ninguém tenha advertido Crowe para ser
cauteloso com a cabeça perto das hélices do helicóptero.
Jax, Eli e Rafe riram com ele à referência do aparecimento do Atlante na noite
de sua tentativa de ataque à celebração da paz com a GNC.
Carys olhou para o grupo de DC na tela. — Tem que haver algum registro de
posse no nome de Ivers. Documentos impressos.
Do outro lado da mesa Mathias assentiu. — Minha equipe em Londres estará
se reunindo ao cair da noite para fazer uma visita à residência de Ivers em Dublin. Se
ele não se mostrar cooperativo, vamos trazê-lo para um interrogatório.
Lucan mostrou a ponta das presas. — Se o homem não quiser falar, estarei ali
pessoalmente para convencê-lo.
—E se não fizer parte da organização? — Carys perguntou. — O que acontece
se o rastro dos sócios de Crowe esfriar novamente com Ivers?
—Continuaremos procurando. — Disse seu pai.
Lucan assentiu. — Neste momento, estamos mais longe do que ontem. Temos
que agradecê-la por isto, Carys.
—Apenas segui meu instinto. — Murmurou, mas o elogio tocou seu rosto
como um raio de sol.
—Mantenha-se seguindo seus instintos. — Disse Lucan. — Precisamos disso.
Precisamos de todos seguindo pistas e trabalhando juntos se queremos eliminar os
membros da Opus das árvores e derrubá-los. Isto vai em dobro para nosso maior
adversário.
O olhar de Lucan foi para Jordana agora. — Foi capaz de entrar em contato
com o Atlante?
O cabelo ouro branco de Jordana fluía sobre seus ombros enquanto negava
com a cabeça. — Queria que fosse fácil assim. Quando meu pai, Cass, convocou Zael
para me encontrar, ao que parece, foi capaz de chegar a ele através do poder de sua
marca. Esta marca.
Ela levantou a mão e o centro de sua palma começou a brilhar. Um símbolo
surgiu, iluminando-se e mostrando a forma de uma lagrima e a meia lua. Uma marca
de companheira de Raça, o símbolo que de fato, se originou dos Atlantes.
Sendo desta raça de imortais, Jordana mantinha a marca escondida no centro
de sua palma desde seu vigésimo quinto aniversário, há vários dias. Ela tinha os
mesmo poderes extraordinários de seu povo, que ela e o restante da Ordem estavam
tentando entender completamente.
Abaixou a mão com o brilho atenuado. — Não sei se Zael recebeu algumas de
minhas tentativas de encontrá-lo, mas continuarei tentando.
—Bom. — Lucan disse. — Tenho que encontrar este imortal o mais rápido
possível. Estarei pronto a qualquer momento que isto ocorra.
Aric franziu o cenho, pensativo e logo afastou seu olhar de Carys para sua
amiga. — Faça isto novamente com sua mão, Jordana. Quero provar algo.
Chase e Tavia trocaram um olhar vacilante. Inclusive o rosto de Nathan estava
serio com precaução. —Tenha cuidado, Aric. Ainda estamos tentando avaliar o alcance
dos novos poderes de Jordana.
Enquanto seu companheiro falava, Jordana levantou a mão. O símbolo no
centro da palma começou a aparecer novamente, iluminando-se com um fogo interno
de outro mundo. Aric se aproximou, estudando-o. — Assim, trata-se de algum tipo de
dispositivo de comunicação da Atlântida?
—Suponho que sim. — Disse Jordana. — Entre outras coisas.
Ele grunhiu e colocou o rosto perto da marca brilhante. Logo começou a rir. —
E.T chama sua casa.
Carys golpeou o grosso e musculoso ombro. — É um idiota.
Mas riu de qualquer forma. O mesmo fez Jordana. Deus, Carys pensou,
quanto tempo se passou desde que ela sorriu desta forma com seu irmão gêmeo?
Quanto tempo desde que ela riu com ele das brincadeiras estúpidas que apenas os
dois podiam apreciar?
Se foi ao Centro de Comando hoje por nada, pelo menos derreteu parte do
gelo que havia entre ela e Aric sobre sua relação com Rune. Ela sentia sua falta.
Lucan limpou a garganta e os olhos voltaram ao líder da Ordem. — Falando
em seguir instintos, estou interessado em saber mais sobre as suspeitas de Brynne
relativas à Neville Fielding. Se houver razões para acreditar que o representante da
GNC de Londres merece um olhar mais de perto, quero a Ordem adiante como for
possível. Precisarei que Brynne me conte tudo sobre suas suspeitas se ela estiver por
perto.
— Ela está acima. — Carys disse, olhando para seus pais. — Posso ir buscá-la?
Em um movimento de cabeça, levantou-se. Jordana também. — Irei com
você.
Carys e sua amiga entraram no corredor e começaram o caminho de volta à
mansão Darkhaven.
Jordana deixou escapar um suspiro suave. — Nunca pensei em procurar nos
registros de Crowe no Museu. Sua coleção aparece no catálogo geral do inventário?
—Ah, no catálogo geral não.
Os olhos de Jordana se abriram mais. — A senha do chefe? Como fez... não
importa, tenho certeza que não quero saber.
—Provavelmente seja melhor assim. — Carys sorriu. — Poderá negar quando
alguém perceber horas depois que a conta foi invadida. E de qualquer forma, eu
apenas comecei com os arquivos do curador. Encontrei o fundo de Crowe nos arquivos
do departamento de restauração.
Jordana balançou a cabeça lentamente. — Com sua capacidade de dedução,
com sua mente cheia de armadilhas, o que está fazendo comigo ajudando em
exposições e recepções? Você deve colocar seus talentos para serem usados de formas
mais importantes. Alguma vez pensou sobre...
Carys lhe lançou um olhar malicioso. — Trabalhar para a Ordem? Isto parece
ser algo que vem acontecendo muito ultimamente.
—Soa terrível para você?
Carys encolheu os ombros, desejando que soasse horrível. — Não estou no
mercado para um novo trabalho. Gosto do que faço no MBA com você. Além disso,
gosto das minhas noites fora. Tenho certeza que minha família adoraria mais que tudo,
para se assegurarem que não tivesse tempo para estar com Rune.
—Ninguém quer que se machuque, isto é tudo.
—Sou uma garota grande. Sei o que estou fazendo. — Exceto que inclusive
enquanto dizia, uma leve pontada de dúvida sobre Rune cobrava vida novamente.
Será que ele partiria seu coração? Não queria pensar que sim. Queria pensar
que era tão importante para ele como ele para ela. No tempo que passavam juntos,
ela quase convenceu a si mesma que tinham um futuro juntos e que algum dia sua
necessidade por ela, seu amor por ela, ignoraria sua determinação em evitar qualquer
relação a longo prazo.
Com muita frequência, seu coração se entretinha com a fantasia de que algum
dia Rune iria sair da arena e deixar a brutalidade do clube e das lutas para trás para
sempre. Logo teriam uma vida juntos, talvez inclusive formassem uma família própria,
estariam acoplados, um casal unido pelo sangue.
Nesta manhã, sentiu os fios da esperança se desintegrar entre seus dedos
como fumaça.
—Ouvi o que aconteceu à noite. —Jordana disse ao virar uma esquina no
longo corredor.
Confusa, Carys a olhou.
—Ontem à noite, no La Notte. Os clientes ruidosos e a mulher que ficou
ferida?
—Oh, sim. As coisas saíram do controle e Rune fechou tudo para passar a
noite e mandou todos para casa.
Jordana assentiu. — Fico feliz por ele ter feito isto. Rune tinha razão, o clube
não pode continuar por mais tempo sem uma gestão adequada.
—Ele te disse isto?
—Quando falei com ele nesta manhã. — Disse Jordana. — Quando me ligou
para fazer uma oferta para comprar o clube.
Carys não tinha certeza de que seus pés deixaram de se mover na realidade
ou se apenas parecia como se ficasse sem chão. Seu coração ficou pesado. — Ele... ele
disse que quer comprar o La Notte?
—Não sabia? —Jordana a olhou horrorizada. — Apenas assumi...
Carys agitou a mão com desdém. — Claro que sabia. Sim, me disse que estava
pensando nisto. Eu não sabia... não percebi que estava pronto para...
Ela estava divagando, esperando como o inferno que soasse convincente
quando suas veias estavam frias e todo seu ser se intumesceu pela surpresa e
decepção.
Com amarga angústia.
Enquanto ela tolamente sonhava que poderia livrá-lo de seu estilo de vida
brutal um dia, Rune estava ocupado lançando raízes.
E nem sequer se preocupou o suficiente para lhe contar.
CAPÍTULO TREZE
Rune sabia que Carys estava no prédio mesmo antes de vê-la. Ainda assim, se
surpreendeu ao encontrá-la sentada no bar por volta do meio dia enquanto levava
uma caixa de equipamentos da jaula para um quarto nos fundos. Um copo e uma
garrafa aberta de Jameson estavam de frente a ela. As fossas nasais de Rune se
dilataram com o cheiro do uísque irlandês.
Ele não precisava ver seu rosto ou se aproximar para sentir que ela estava
fumegante. Ira irradiava de sua forma longa e magra.
Cristo, estava lívida. Tremia de fúria e algo mais que chegou a ele fortemente.
Tristeza. Dor.
Sem olhá-lo, serviu mais uísque.
Sua voz rouca soou na quietude da arena. — O que foi, amor?
—Ouvi que há motivos para celebrar. — Levantou o copo, girou para ele com
um sorriso leve. — Parabéns pela compra do clube.
—Merda. — Claro. Ele não queria que soasse como um segredo entre eles.
Deus sabia que havia muitos sem este. — Jordana contou.
—Pelo menos alguém o fez. — Carys levantou o ombro em um movimento
que era qualquer coisa menos indiferente. — Em sua defesa, ela pensou que eu
soubesse. Acho que deveria ser uma suposição segura, já que você e eu estamos
fodendo quase todas as noites durante as últimas sete semanas.
Quando ela se inclinou atrás e tomou de uma vez o uísque, Rune soltou uma
maldição entre dentes. Deixou a caixa perto da jaula. Quando ela serviu outra dose ele
se aproximou. — O que está fazendo Carys?
—Tenho feito esta pergunta a mim mesma todos os dias.
—Eu ia contar sobre o clube.
—Quando? Depois que assinasse os papéis? — Seus lábios se apertaram. Seus
olhos azuis estavam lançando chispas quentes de ira e decepção. — Quando ligou para
Jordana esta manhã, sabia na noite anterior que iria fazer uma oferta pelo clube. Você
já havia pensado em tudo e tinha planos, mas não disse uma palavra.
—Não apareceu a oportunidade. — Disse. Uma desculpa pouco convincente,
mas era a verdade. — Não pensei que fosse importante.
As chispas de fogo ficaram mais brilhantes. — Está fazendo dele uma parte
permanente em sua vida, mas não achou que fosse importante me dizer?
—Sempre foi uma parte permanente da minha vida. Pensei que soubesse.
Ela afastou o olhar e ele percebeu que não sabia nada sobre isto.
—A luta é a única coisa que sei, Carys. É a única coisa em que sou bom.
—Não é a única coisa. — Murmurou em voz baixa. Sua voz estava seca, como
se a fogo lento com a dor estivesse causando agora.
Tentou ser suave. — Esta é a única maneira como sei viver. Não espero que
entenda isto. Não gostaria que você entendesse o que realmente significa.
—O que acontece se quiser entender? E se disser que preciso entender,
Rune? — Ela o olhou, segurando seu olhar em busca de algo. Apunhalando-o. — O que
acontece se quiser algo mais que isto para você... para nós?
Lentamente negou com a cabeça, sabendo que não havia nada que pudesse
dizer que ela quisesse ouvir. — Nunca serei parte do mundo que você vive. Não da
forma como importa, Carys. Não posso ser.
—Apenas porque se nega a ser. — Disse, vendo através dele como costumava
fazer.
—Ah, o amor. — As palavras eram difíceis de reunir. — Tentei lhe advertir.
Disse para não esperar nada de mim...
Ela riu. — Oh, não se preocupe. Lembro-me das regras. Sem sangue entre nós,
nunca. Vamos passar um bom tempo juntos até não ser um bom momento, então
vamos por caminhos separados. Não há dano, não há falta.
Jesus. Disse realmente algo tão estúpido e cruel? Sabia que sim e Carys com
sua memória impecável, não esqueceu uma sílaba das palavras estúpidas que fixou
para sua relação.
Estendeu a mão para afastar uma mecha de cabelo castanho caramelo para
trás de sua orelha. — Isto é o que queria evitar que acontecesse com você, Carys.
Machucá-la. Decepcioná-la.
—Porque se importa. — Disse como se as palavras estivessem grudadas em
sua língua.
—Sim, porque me importa. — Ele deslizou seus dedos sob o queixo para que
ela olhasse para ele. —Importa mais do que imagina.
Ela se afastou de seu toque. — Porque não quer um vínculo de sangue
comigo?
A pergunta acelerou seu pulso, ainda que a ideia de sua união com ele como
sua companheira enviou um frio por suas veias.
— Não tenho espaço para isto em minha vida.
—Não há lugar para mim.
—Não, não apenas você. — Ele negou com a cabeça. —Inferno,
especialmente você.
—Especialmente eu? — Uma risada irregular saiu dela. — Ao menos está
finalmente sendo honesto a respeito de algo.
Merda. Ele estava fodendo tudo. Dizendo as coisas erradas. Estava deixando
tudo pior.
Em um canto escuro de sua consciência, ele sabia que era o momento em que
poderia fazer o correto por ela, devido ao seu passado. Ali mesmo, neste momento,
poderia deixar Carys ir.
Estava irritada com ele por uma boa razão, já estava ferida. Um empurrão
mais e provavelmente iria odiá-lo.
Mas maldição... não podia fazê-lo.
Não queria deixá-la ir.
Uma maldição dura saiu dele enquanto olhava a miséria em seu bonito rosto.
—Não era para ser assim, Carys. Você seria um problema e eu sabia. Disse a mim
mesmo na primeira vez que a vi. Deveria como uma merda ter ouvido.
Inclinou-se para beijá-la, mas ela se afastou com um grito quebrado.
—Não me toque. — Ela estava fora do banco e de pé a quase um metro de
distancia dele num abrir e fechar de olhos. Seus olhos brilhavam com fúria agora. As
bonitas pontas das presas apareciam por trás de seus lábios enquanto o olhava. — O
sexo não vai solucionar isto, Rune. Estou pedindo que me deixe entrar. Quero saber o
que realmente é.
Na verdade, ela não queria saber.
Não mais do que queria ir ali com ela.
Não podia se abrir a isto. Enterrou esta parte dele no passado, onde
pertencia. E onde planejava mantê-la.
—Você sabe mais do que ninguém, Carys. — Ele passou uma mão pelos
tendões apertados que começavam a doer em sua mandíbula. — Cristo, mulher. Você
sabe mais do que deveria.
—Não é suficiente. Não posso fazer isto contigo. Dói demais.
—Carys... — Aproximou-se dela e ela se esquivou, usando sua genética Raça
para se afastar num brilho de movimento.
Passou pelo corredor através da arena até a entrada dos funcionários na parte
de trás do prédio. Rune foi atrás dela, mas já estava saindo.
—Carys, maldição. Espera um minuto...
Parou apenas tempo suficiente para lançar um olhar ardente sobre seu
ombro.
—Parabéns pelo clube, Rune.
Ela abriu a porta. O painel de metal a expôs sob a luz do sol do meio dia. Raios
quentes entraram no corredor, empurrando Rune novamente para as sombras.
Ele levantou o braço para proteger os olhos e viu ela entrar na luz do sol, onde
sabia que não poderia segui-la. Ela era inalcançável agora. Ela se foi.
Disse a si mesmo que deveria aceitar.
Continuou dizendo a si mesmo enquanto caminhava até o bar da arena e
jogava a garrafa de uísque na parede mais perto.
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
Uma mulher soltou um forte grito que soou por todo o lugar, vindo da sala de
conferências.
Carys saiu da cozinha e foi em direção ao grito, com uma enorme camiseta e
calça folgada de pijama, meias e cheia de mau humor segurando um pote de sorvete.
Ela entrou na sala e encontrou Jordana e Nova sentadas no enorme sofá.
Ambas as mulheres estavam com os olhos cravados na grande tela de cinema na
parede num festival de soluço.
Carys se deixou cair entre elas. — Quem morreu?
—Ninguém. — Jordana disse sem afastar os olhos da tela. — São lágrimas de
alegria. Ela acaba de descobrir que está grávida de gêmeos depois de anos tentando e
seu marido a surpreendeu com um berço que construiu com suas próprias mãos.
Carys rodou os olhos. — Em outras palavras, uma completa fantasia.
—Totalmente romântico. — Jordana respondeu. — Gosto de finais felizes.
Desde quando não gosta?
Carys deixou escapar um leve suspiro e afundou a colher no sorvete que
pegou no congelador.
Agora Jordana a olhou. — É de chocolate?
— Chocolate com creme. — Disse Carys com a boca cheia. — E muita
cobertura. Caramelo.
Sua amiga estendeu as mãos para o pote. Quando ela o pegou de Carys, olhou
dentro e franziu o cenho. — Quase acabou.
Carys encolheu os ombros. —Estou usando para fins medicinais.
Jordana o ofereceu para Nova, que se negou com um movimento de seu
cabelo negro e azul. — Geralmente comeria tudo. Mas neste momento, apenas o
cheiro já é suficiente, obrigada.
Depois que Jordana comeu uma colherada grande, ela devolveu para Carys. —
Não está com Rune esta noite.
—Não. Não estou. — Carys olhou para o pote. — Tivemos uma discussão
hoje. Acho que terminei com ele.
—O que? — Jordana a olhou, confusa e surpresa. —Não me estranha que
esteja se medicando com chocolate e caramelo. O que aconteceu?
—De qualquer forma ele me advertiu sobre isto — fui uma tola ao me deixar
envolver por ele. Sempre soube que iria me machucar.
Jordana franziu o cenho. — Esta manhã parecia diferente entre os dois. O que
aconteceu, Carys? Espere um minuto. Tem algo a ver com o clube? Não sabia que ele
queria comprá-lo, verdade?
Carys negou com a cabeça. — Não se trata propriamente do clube. O fato é
que ele não me deixa entrar em sua vida. Não nela toda, de qualquer forma. — Olhou
ao redor de Jordana para incluir Nova na conversa. — Estou vendo este homem há um
tempo. Um lutador Raça na arena na cidade. Claro, minha família não aprova.
—São lugares perigosos. — Nova comentou. — Há uma grande quantidade de
gente perigosa ali.
—Rune é um deles. — Disse Carys, sentindo a necessidade de defendê-lo. Um
pouco. — Quero dizer, ele é definitivamente perigoso, mas apenas na jaula. Fora dela,
comigo, ele é... assombroso. É terno, amável e excitante. Fomos praticamente
inseparáveis nestas ultimas semanas. Nunca me senti mais querida, mais viva, que
quando estou com ele.
Nova ouviu, com um sorriso nos lábios. — Não soa como um problema para
mim até agora.
Não, não soava para Carys também. Mas isto era parte do problema. — Tudo
está bem conosco, exceto quando ele está se contendo. Mantém um braço estendido
e nunca vi isto até hoje. Caí tão rápido e tão fundo por ele, talvez não quisesse ver.
—Soa como se preocupasse com você. — Nova apontou.
Carys assentiu, mas era um esforço fraco. — Quero acreditar que sim, mas há
um muro entre nós e não posso escalar. Não posso evitar sentir que se tentar
ultrapassá-lo, poderia me empurrar para fora uma vez que chegar acima.
Jordana se aproximou e apertou sua mão. Havia um entendimento suave nos
olhos de sua melhor amiga. — Todo mundo tem medo da queda, Carys. Uma vez
alguém me disse que o caminho mais seguro não era necessariamente o melhor. Que
às vezes precisamos estar dispostos a saltar ao desconhecido. Na tempestade.
Carys se lembrou da conversa que teve com Jordana. Foi apenas há algumas
semanas, quando Jordana estava tendo dúvidas sobre arriscar seu coração com
Nathan.
—Ama este macho? — Perguntou Nova.
—Sim. — A verdade saltou com facilidade de sua língua, apesar das dúvidas
sobre as coisas que cercavam Rune. Mas não podia negar o que sentia por ele. Não
para sua melhor amiga, nem sua nova amiga. — Eu o amo com todo meu coração.
—Então não tem outra opção senão tentar chegar a ele.
Carys assentiu, menos segura agora. Ela sabia que o conselho de Nova tinha
sentido, mas sua discussão com Rune ainda estava fresca na memória. Assim, isto era
medo. Se ela desse mais de seu coração e ele o partisse, seria capaz de juntá-lo
novamente?
Não tinha certeza de que estava disposta a correr o risco.
—É assim como foi com você e Mathias? — Perguntou para Nova.
O aspecto rude da companheira Raça se misturava com seu olhar vulnerável.
— Sim, foi assim para nós. Mas eu era a que estava rodeada por muros altos. Mathias
me mostrou que seu amor era forte o suficiente para derrubar estes muros. Agradeço
todos os dias por ele ser teimosos o suficiente para não se render.
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
Deveria haver uma trilha gasta no tapete no escritório de Lucan na sede de DC,
dada a quantidade de milhas que o líder da Ordem andou em seu passeio pela sala
depois da noticia vinda há duas noites de Mathias Rowan. A informação da morte de
Ivers era uma dor de cabeça que a Ordem não precisava. Mas também abriu um novo
conjunto de perguntas sem respostas.
O que Hayden Ivers estava escondendo?
Sabia que a Ordem iria atrás dele? Foi avisado antes que a equipe de Mathias
iria para sua residência na outra noite? Ou a surpresa de sua chegada foi o detonador
que fez explodir a pílula letal?
Será que foi a lealdade servil que o fez escolher a morte ante seu
descobrimento e captura? Ou o medo que o motivou a tirar a vida antes que a Ordem
tivesse a oportunidade de fazer perguntas?
Uma centena de perguntas e até agora não havia respostas.
Lucan amaldiçoou, seus pensamentos voando enquanto começava outro
circuito ao redor de seu escritório. —Não tem nenhum maldito arquivo ou documento
no lugar. — Queixou-se. — Nada mais que discos rígidos limpos e gabinetes vazios.
Que segredos de Crowe e Riordan o bastardo estava escondendo?
—Esperamos ter esta resposta uma vez que os depósitos de segurança forem
desbloqueados. —Disse Gideon, apoiado na parede do lado oeste da sala.
Também de pé esperando estavam Brock e Darion. Gabrielle, Savannah e Jenna
ocupavam as poltronas e o sofá do escritório perto das estantes do chão ao teto. Lucan
grunhiu e olhou para a companheira de Raça de Gideon, Savannah. — Você acha que
sua habilidade pode nos ajudar a determinar onde está a caixa?
Os olhos castanhos escuros brilharam com confiança. — Saberei a história da
chave quando a tocar. Verei quem a segurou e onde estava quando a usou. — Ela
assentiu com a cabeça. — Sim, posso averiguar onde esta chave nos levará.
—Bem. Vou dizer para Mathias enviar um de sua equipe para trazer a maldita
coisa de Londres o mais rápido possível. — Lucan passou a mão pela mandíbula tensa.
— O que prefiro fazer em seu lugar é estrangular Riordan por respostas com minhas
próprias mãos. Quão rápido, antes que se sinta cômodo, podemos avançar até o filho
da puta, Gideon?
—Não muito. Estou tentando um novo foco com os protocolos de sua rede.
Devo saber se conseguirei em questão de horas. Talvez um dia.
—Muito fodidamente longo. — Lucan sentiu o calor da ira em seus olhos. —
Agora que Ivers está morto, perdemos parte de nossa vantagem surpresa. Riordan
bem poderia ficar nervoso ou se esconder. De qualquer forma, temos que estar
preparados. Temos que golpear o bastardo antes de decidir seu próximo movimento.
Sabemos que pertence à Opus, maldição. Nós o temos diretamente relacionado com
os assassinatos na Itália, na semana passada.
—Apenas a palavra de um homem morto. — Brock advertiu.
Gideon assentiu. — Vamos precisar de uma prova mais que esta se entrarmos e
pegarmos Riordan por nossa conta.
As presas de Lucan explodiram de sua gengiva. — Se tivermos que responder à
qualquer pergunta da GNC, vou apresentar seu cadáver em decomposição como
evidência.
Gabrielle limpou a garganta através da sala. — A GNC já está procurando razões
para retirar todos, Lucan. A Ordem precisa de você ali. A GNC precisa de você ali
também, mas são muito cegos para ver neste momento.
Ele grunhiu, mas sua companheira tinha um ponto válido. Por muito que
desprezasse a burocracia dos humanos governantes e seu braço executor inapto e sua
lei corrupta, era crucial preservar certa quantidade de confiança e cooperação entre
eles e a Ordem. Especialmente enquanto a Ordem secretamente lidava com outras
ameaças desconhecidas a qualquer um, além dos guerreiros sentados na sala agora,
assim como os diferentes Centros de Comando em todo o mundo.
—Nós conseguimos o que precisávamos para fazer nosso movimento com
Riordan. — Disse Lucan. — Não sei se minha paciência tem mais fio.
Quando terminou de falar, um timbre soou no vestíbulo da grande mansão.
As sobrancelhas de Gabrielle se levantaram. — Isto foi a campanhia?
Sim. Eram apenas seis da manhã. Na sede mundial fortemente protegida da
Ordem. Lucan tocou o monitor em seu escritório e uma visão da porta principal
encheu a tela.
—Que demônios?
Um homem alto e musculoso estava fora, vestido com uma camisa de linho
branca solta e jeans desgastado. Até os ombros caia seu cabelo loiro acobreado
marcando seu rosto que enchia a câmera. Apesar dos pômulos angulosos e a
mandíbula quadrada, as feições estavam bem. Elegante. Não de todo humano. Mas Já
que estava de pé do lado de fora a plena luz do dia, a probabilidade de ser um Raça —
inclusive um Caminhante do Dia — eram quase nulas.
Lucan lançou um olhar furioso na direção de Gideon. — Como diabos alguém
conseguiu passar dos portões?
—Sem ser assado por centenas de milhares de volts de eletricidade, ainda que
tentasse saltar os oitos metros perto da perimetral? — Gideon negou com a cabeça. —
Impossível.
—Então como o explica?
Fora da porta, o desconhecido levou as mãos atrás das costas, esperando
pacientemente. Educadamente, por assim dizer.
Lucan não tinha as mesmas habilidades, sobretudo quando as coisas iam de
mal a pior em seu domínio neste momento. Ele apertou o botão do interfone do
sistema de segurança. —Quer me dizer que merda sangrenta é e o que está fazendo
aqui?
A expressão do homem quase não mudou. — Fui convocado. Meu nome é Zael.
****
O humor de Carys era tão leve que mal podia sentir o chão sob seus pés
enquanto caminhava pelo Darkhaven nesta manhã. Agarrando uma maçã de um
recipiente no balcão da cozinha, ela mordeu a fruta vermelha e saborosa e seguiu os
sons abafados de Jordana e as vozes de Nova no pátio.
As duas mulheres se viraram para olhá-la quando se dirigiu até elas. Carys sabia
que seu sorriso era praticamente de orelha a orelha, mas não o escondeu quando se
deixou cair na poltrona mais perto com sua calça de pijama solta e camiseta sem
mangas.
As sobrancelhas pálidas de Jordana se levantaram. —Parece excepcionalmente
feliz esta manhã.
—Estou. — Carys deu outra mordida na maçã, saboreando o néctar doce. —
Tive uma noite incrível.
Jordana sorriu. — Nem precisava dizer.
—Tive um encontro.
—Com Rune?
—Não, com o Hector da contabilidade. — Carys rodou os olhos. — Sim, com
Rune. Ele foi ao museu para me levar para jantar.
—Ele o que? — Jordana ficou de boca aberta. — Rune foi vê-la no MBA? Para
levá-la a um encontro real?
—Uh huh. Na frente de Andrea e todos que trabalhavam até mais tarde para a
exposição da noite. — Iria provavelmente ser a fofoca do trabalho pela próxima
semana ou mais.
Carys deu outra mordida na maçã, mas Jordana a tirou de suas mãos de forma
exasperada.
—Deixe de comer e derrame os detalhes, mulher!
—Fomos ao Ciao Bella...
—Apenas o lugar mais popular da cidade. — Jordana informou Nova, que
também ouvia atenta. Os olhos azuis pálidos da companheira Raça tatuada se
acenderam com interesse sob a caída assimétrica de seu cabelo negro e azul, seus
lábios perfurados curvados em um sorriso. Jordana deu uma mordida na maçã de
Carys. — Não se pode inclusive chegar perto da porta deste restaurante sem reservas
com três meses de antecedência.
Carys encolheu os ombros de leve. — Rune disse que puxou algumas cordas e o
proprietário era um fã de luta, assim...
Nova arqueou uma sobrancelha. — Suponho que queria impressioná-la.
Jordana assentiu. — Acho que funcionou.
—Ele me impressionou. — Carys admitiu. — Mas não foi por causa do jantar ou
mesmo o tempo incrível que passamos juntos depois. E quero dizer que foi incrível.
—Não acho que vou deixar passar esta parte também. — Jordana advertiu
dando outra mordida na maçã.
Carys negou com a cabeça gargalhando. Não fazia muito tempo que ela insistiu
em saber todos os detalhes românticos de sua melhor amiga e Nathan. As partes
tórridas de Carys e Rune eram mais incríveis, mas esta manhã estava flutuando no ar
por outra razão também.
—Ontem a noite, Rune se abriu como nunca antes. Sobre seu passado, sua
vida, muitas coisas horríveis às quais sobreviveu. — Seu coração se apertou agora,
lembrando-se de tudo o que compartilhou com ela. — Eu precisava que me deixasse
entrar e o fez. Foi um passo grande para ele. Para nós.
Nova a observou. — Soa como se provavelmente precisasse falar tanto como
você queria ouvi-lo.
Carys assentiu. Rune não confiou todos seus segredos e demônios que ainda o
atormentavam, mas com o tempo, esperava que o fizesse. Depois desta noite, se
sentia confiante que havia pouco que pudesse se colocar entre eles agora.
—Alegro-me de que esteja funcionando. — Disse Jordana. — É bom ver que
está bem, Car.
—Nunca fui mais feliz. — Carys admitiu. — Agora, apenas espero que nada saia
mal esta noite.
Quando disse isto, sua mãe entrou acompanhada de Brynne. — O que vai
acontecer esta noite?
Não era exatamente a forma como queria anunciar a noticia, mas porque
demônios? — Convidei Rune para vir ao Darkhaven esta noite antes da abertura do
clube. É hora de todos os conhecerem.
—Esta noite? — Um olhar incerto invadiu o rosto de sua mãe. — Seu pai pode
não estar pronto para isto, com tantas coisas acontecendo no Centro de Comando e na
sede agora que Zael chegou para se reunir com Lucan.
A notícia de última hora sobre o amigo atlante de Jordana foi uma surpresa.
Carys se virou inquisitiva para sua amiga. — Você foi capaz de localizá-lo depois de
tudo?
—Sim. Acho que estou começando a conseguir lidar com esta coisa. — Jordana
levantou a mão e o centro de sua palma brilhou com um resplendor suave e logo
voltou a sumir. — Zael disse que meu controle sobre o poder continuará melhorando
com o tempo.
Carys queria ouvir mais, mas teria que esperar. Juntou as mãos de sua mãe nas
dela. — Isto é importante para mim. Rune é importante para mim. Eu quero que
minha família saiba. E quero que todos o conheçam. Quero que gostem dele.
Tavia apertou seus dedos de forma a tranquilizar, o amor brilhando em seus
olhos. — Como pode alguém discutir com isto?
—Obrigada. — Carys a envolveu em um abraço. — Disse a Rune para estar aqui
às nove esta noite.
—Irei me assegurar que seu pai saiba. E lhe direi que espero que mostre seu
melhor comportamento também.
—Isto vai também para Aric. — Acrescentou Carys. — Quero que os dois sejam
agradáveis com Rune. Precisam lhe dar uma oportunidade.
Tavia assentiu e a abraçou.
Carys respirou um pouco mais fácil, sabendo que sua mãe estava do seu lado.
Agora, ela apenas tinha que confiar que seu pai e seu irmão não saudassem Rune na
porta, assim como o restante dos guerreiros de Boston, armados até os dentes e as
presas.
Ela não queria que nada arruinasse o que tinha com Rune agora.
E apenas podia esperar que nada saísse mal.
Rune olhou seu reflexo no espelho pela terceira vez nesta noite, enquanto se
preparava para sair de seu quarto no La Notte.
Tomado banho e vestido, ele finalmente se conformou com uma calça preta e
uma camisa cinza listrada. Sapatos pretos brilhavam sobre seus grandes pés. Enquanto
estava de pé de frente ao espelho, encolheu os ombros em sua jaqueta negra,
geralmente reservada para funerais ou casamentos, nas raras ocasiões que foi
convidado para qualquer um deles.
Sentia-se ridículo, mas esta noite não era dele. Tratava-se de Carys e não queria
decepcioná-la ou à sua família. Queria deixar Carys orgulhosa. E sim, havia uma parte
dele que queria a aceitação de sua família também.
Ele não era parte de seu mundo e não se enganava achando que poderia um
dia ser, mas ele estaria condenado se entrasse neste Darkhaven esta noite e se
sentisse indigno. Faria todo o possível para entrar inteiro, nada mais.
Penteando seu rebelde cabelo para trás, ele soltou uma maldição baixa. Menos
mal que os outros combatentes não estavam ali para vê-lo se arrumando e olhando no
espelho durante a última meia hora. Se o vissem iriam arrebentar seu traseiro a
respeito de agora até o próximo ano.
Ele olhou a hora. Vinte minutos pela cidade conseguiria que chegasse justo
antes das nove. Não queria aparecer muito cedo, mas com certeza não queria chegar
tarde e dar ao pai de Carys outra razão para desprezá-lo.
Merda. Talvez a jaqueta parecesse um pouco grosseira.
Rune a tirou... logo congelou quando o sistema de som do clube da arena de
repente passou de silêncio a ensurdecedor.
Que caralho?
Faltavam ainda algumas horas para o primeiro empregado aparecer para abrir
o lugar, porque estava ali? Ele saiu do quarto e foi para o andar principal da arena,
cortando o ruído com uma ordem mental aguda.
Um homem grande estava apoiado no bar, com um pé sobre outro banco.
Não, não era um simples homem.
Era um macho Raça.
Tinha a cabeça raspada, mostrando uma mistura de glifos e tatuagens que
serpenteavam até o pescoço grosso e o crânio. Vestia uma calça negra e uma camiseta
negra também, o tipo de roupa que caracterizava qualquer capanga das ruas. Uma
pistola negra nove milímetros estava em seu quadril.
Os pelos da nuca de Rune se arrepiaram em sinal de advertência. — O clube
não está aberto agora. Está perdido ou algo assim?
—Apenas procurando alguém. —Disse o homem, sem se incomodar em olhar
para Rune. — Pensei que teria que olhar um pouco ao redor.
A voz grave e sombria soou com diversão, um leve sotaque irlandês
inconfundível. O som deste sotaque fez a advertência percorrer as veias de Rune com
frieza.
—Acho que não me entendeu. — Grunhiu ao desconhecido. — O que quis dizer
foi: saia da minha casa.
Agora o vampiro sorria. Levantou-se em toda sua estatura e Rune percebeu que
usava uma das luvas da jaula na mão. Fechou o punho e encontrou o olhar de Rune
através da arena. —Sabe, tão eficiente como uma 9mm é, aposto que acertar um
imbecil com uma destas é muito mais satisfatório.
—Sim. — Disse Rune. — Volte esta noite depois que abrirmos e ficarei
encantado em demonstrar a você.
O homem riu entre dentes. — Não ficarei na cidade por muito tempo. Também
não ficará você... Rune, verdade?
Rune não respondeu. Apesar de não precisar de confirmação, agora via a
tatuagem de escaravelho negro na parte posterior da mão do macho. Seus dentes se
apertaram forte, e foi um milagre não se quebrar imediatamente quando começou a
calcular a forma mais rápida de matar o filho da puta.
—Tem que vir comigo. — Disse o vampiro. — Alguém quer falar com você.
Rune grunhiu. — Não vou a lugar nenhum.
—De verdade? Parece que sim. Todo polido e elegante. — O vampiro fez um
gesto para ele, o metal brilhando sob a luz baixa do bar. — Esta camisa é de seda?
Tenho certeza que detestaria que a arruinasse. — Ele colocou a outra mão na parte
superior da arma, disposto a usá-la.
—Vá adiante e faça. — Disse Rune. — O único lugar que verá esta noite será
sua tumba.
—Não tenha tanta certeza sobre isto.
Os dedos do homem tremeram. Foi toda a advertência que lhe deu.
Depois, a arma estava em sua mão e ouviu a explosão de um disparo. Rune se
esquivou da trajetória da bala, percebendo que apenas roçou em seu peito sem a
intenção de matar. Ainda não, de qualquer forma. Sem dúvida, este filho da puta
estava deixando esta honra para mais alguém.
O sangue fluiu quente e úmido de seu lado enquanto rodava pelo chão e logo
ficava de pé. Com um bramido, Rune se lançou ao ar contra o vampiro. A arma
disparou novamente, um tiro de pânico neste momento.
A bala o deixou louco, completamente.
O corpo de Rune bateu contra seu agressor levando-o através do balcão do bar
e para o grande espelho atrás dele. A arma deslizou fora dos dedos do homem e caiu
no chão. A cristaleira de licores explodiu abaixo. As prateleiras caíram ao seu redor.
O outro homem grunhiu e balançou as mãos para Rune mostrando as pontas
de metal da luva. Rune agarrou o punho quando chegou até ele. Dentes de titânio
cortaram seus dedos enquanto imobilizava a mão do rapaz e quase arrancava o pulso
do bastardo num puxão selvagem de músculos e fúria.
Os ossos apareceram quando se romperam, os tendões também. O macho
gritou de dor enquanto sua mão caia inutilmente na direção errada de seu braço.
E logo, a raiva de Rune chegou ao máximo.
Caiu a cavalo sobre o vampiro no chão de concreto, golpeando seus punhos
contra o rosto do homem. Sangue brotava. Dentes e presas se quebravam sob os
implacáveis golpes de Rune.
Não deixou de golpear o bastardo, não podia parar, mesmo depois do rosto do
homem morto virar um purê de ossos e cartilagem.
O fôlego de Rune ficou preso nos pulmões, soltando-o através das enormes
presas. Seus olhos ardiam vermelhos de raiva. Suas veias pulsavam com a adrenalina e
a ira... e com a consciência do que fez.
Virou o olhar da carnificina para sua camisa rasgada e sua calça suja de sangue.
Suas mãos estavam machucadas. A bala que roçou seu lado abriu uma ferida. Mesmo
com seu metabolismo Raça, levaria horas, provavelmente dias, para a evidência deste
momento se curar completamente.
Merda.
Carys...
Não podia ir ao Darkhaven de Chase. Não assim.
E a ideia de chamar Carys para contar o que aconteceu e todas as ramificações
que seguiria quando tivesse que explicar porque, com certeza seria o final do que
tinham juntos.
Deixou cair a cabeça atrás e soltou um rugido de raiva e frustração.
A medida que seu bramido ecoava na arena, soaram passos atrás dele.
Múltiplos pares de pés rangiam sobre o vidro e os escombros caídos enquanto se
aproximavam.
Rune lançou um olhar ardente sobre seu ombro e logo ficou de pé, preparando-
se para a batalha.
Meia dezena de homens Raça armados estavam ali, todos eles com tatuagens
de escaravelho.
O grande macho diante deles lançou um sorriso frio. — O que vai fazer agora,
garoto? Acha que pode matar a todos nós?
****
Ele estava atrasado.
Cinco minutos depois da hora marcada, Carys disse a si mesma que não deveria
se preocupar. Rune chegaria a qualquer momento. Cinco minutos mais tarde não era
próprio dele em absoluto, mas não era motivo para preocupação, ainda.
Ele estaria ali. Ele sabia o que significava esta noite para ela.
Ele não a deixaria.
Ao menos, isto era o que dizia a si mesma enquanto se sentava junto de sua
mãe no sofá da sala no Darkhaven, tentando não notar a expressão cada vez mais
impaciente no rosto de seu pai quando seus longos dedos bateram sem parar no braço
do sofá.
Agora, eram oito minutos depois das nove e ainda não havia sinais de Rune.
Também não atendia o telefone.
—Tem uns dois minutos para chegar aqui. — Disse seu pai, sua voz profunda
cheia de irritação. — Tenho ordens de Lucan para cumprir, além de centenas de outras
coisas que deixei de lado por esta reunião esta noite. Não posso me permitir perder
mais tempo esperando este macho aparecer.
—Ele vai aparecer. — Carys insistiu. Vamos, Rune. Por favor, não faça isto
comigo.
Sua mãe a olhou com simpatia e carinho, apertou a mão de Carys. —Talvez
fosse melhor fazermos isto em outro momento?
Carys viu escassas possibilidades nos olhos de seu pai. Sua desaprovação por
Rune aumentava a cada segundo que passava. Depois de um momento, soltou uma
maldição e se levantou.
—Acho que todos esperamos por tempo suficiente. — Disse. Aproximou-se de
Carys e apoiou a palma da mão em seu ombro. —Sei que está decepcionada, querida.
Não quero ter razão sobre ele. Mas não posso fingir que estou surpreso.
Vergonha inundou seu rosto. Lamento e dor entraram em seu peito. Rune e seu
pai significavam o mundo para ela e quase não podia suportar a ideia de que a brecha
que havia entre eles se ampliou esta noite. Apenas podia imaginar como seu irmão iria
reagir quando soubesse o que aconteceu. Aric provavelmente iria querer confrontar
Rune e defender sua honra.
—Rune não é assim. — Murmurou Carys, ouvindo o desespero em sua voz. —
Ele disse que viria e o fará. Sei que fará...
Mas mesmo enquanto dizia, dúvidas golpeavam como nuvens negras.
E sua preocupação aumentou também.
Algo não estava bem. Rune não se emocionou exatamente para conhecer seus
pais, mas nada o teria impedido de cumprir sua promessa.
Ela o sentia em seus ossos. Em seu sangue.
Algo estava errado, muito errado.
Quando seus pais saíram em silêncio da sala, Carys tentou ligar para Rune
novamente. Ele não atendia.
Seu número tocou e tocou e tocou...
****
Rune não deixou escapar o fôlego até que ouviu a porta de entrada para
funcionários se fechar atrás de Carys.
Ela se foi.
Disse que se alegrava. Sentiu alívio, segurança. Vê-la no mesmo lugar que os
homens leais à Fineas Riordan foi o pior tipo de terror que jamais sentiu.
Sua confusão e desconfiança quando o chamaram por seu nome a haviam
arruinado. Quando ela viu as tatuagens de escaravelho negro nos homens, viu o
conhecimento em seu agudo olhar. Ela conhecia a marca, sabia o que significava. A
quem pertencia.
O que significava que a Ordem também sabia.
Já era bastante ruim tê-la ferido por não ter ido ao Darkhaven de Chase. Esta
noite, com certeza a havia perdido. E se a Ordem o encontrasse primeiro, seu pai, sem
dúvida queria ser aquele que o mataria pessoalmente.
Rune nunca sentiu tanto medo como quando Carys se preparou para atacar
esta noite por ele. Ela nunca teria sobrevivido. Sua genética Raça era poderosa, mas
nem sequer o mais puro da espécie era a prova de balas.
Juntos, ele e Carys poderiam ter derrubado alguns dos homens de Riordan, mas
não sem colocar em risco suas próprias vidas. Rune dificilmente podia se preocupar
consigo mesmo, mas não havia nada que não fizesse para manter Carys segura.
Mandá-la embora foi sua única opção.
Se percebesse quem — e o que era...
Se fizessem um movimento para tocá-la esta noite...
Não pode terminar o pensamento. A mera ideia passou por suas veias como
garras geladas. Que fizessem o que foram fazer, mas não podia suportar a ideia de
como poderia tê-la nas mãos destes homens.
Ou nas mãos do monstro maior em Dublin.
—Quanto tempo faz que sabe onde estou?
—Há algumas semanas. — Ennis Riordan, o macho Raça, líder dos chacais sorriu
para Rune. — Desde que um dos exploradores que enviou a Boston para vigiar a
Ordem seguiu uma equipe de guerreiros até este inferno e os viu falar com você e a
companheira Raça que veio aqui esta noite.
Jesus Cristo.
O gelo no sangue de Rune ficou mais frio. Se sabiam disto há tanto tempo,
significava que poderiam ter feito seu movimento sobre ele a qualquer momento.
Qualquer das noites em que Carys esteve no clube com ele... ou em sua cama.
—Porque esperar tanto tempo para aparecer? Se me levar de volta à Dublin é
tão importante para ele, porque não fazê-lo logo?
—A Ordem nos manteve ocupados, tentando foder nossos planos. Nos obrigou
a sacrificar peões no caminho para manter-nos adiante deles enquanto nos
concentrávamos no trabalho importante. — Encolheu os ombros. — Encontrar você
em Boston, depois de todo este tempo foi uma surpresa, Aedan. Não posso dizer o que
significa para seu pai saber que voltará para a casa novamente e logo. De volta ao redil
familiar onde pertence. Ele tem grandes planos para você, garoto.
Rune se obrigou a manter os punhos de lado, lutando para manter as presas
escondidas enquanto ouvia seu tio falar. Tinha que manter a paciência. Tinha que
esperar a oportunidade para atacar.
Devido a que não percebeu até este momento que ele tinha seus próprios
planos também.
Iria voltar para Dublin de boa vontade. Com impaciência, de fato.
Ele voltaria ao domínio infernal de seu pai... e quando fosse o momento
correto, iria matar o filho da puta e queimar sua casa até a base.
****
Sozinha em seu quarto, Carys trocou de roupa para a iminente partida à sede
da Ordem em DC. O Darkhaven de Chase estava fervendo com os preparativos da
viagem desde que seu pai voltou do La Notte com sua equipe e Mathias. Lucan exigiu a
presença de todos no Centro de Comando em Boston, incluindo Carys.
Ela sabia que não era nada bom que seu pai a estivesse evitando. Não precisava
dizer as palavras para que entendesse que estava furioso e decepcionado com ela.
E não havia dúvida de sua animosidade por Rune — ou melhor, Aedan.
Carys estava irritada e decepcionada também. Estava confusa e magoada. Com
o coração partido e com medo. Não tinha certeza do que deveria sentir depois de tudo
o que aconteceu esta noite. O complicado emaranhado de emoções a corroía,
deixando-a insensível.
Carente.
Enquanto abotoava sua blusa cor marfim e colocava a barra dentro da calça
caramelo, um suave golpe soou na porta.
—Carys? Posso entrar? — A voz de Nova estava tranquila, mas incerta do outro
lado.
Apesar de querer ficar sozinha para processar tudo o que aconteceu, havia
apenas uma pessoa no Darkhaven que poderia entender como se sentia. Carys se
aproximou e abriu a porta.
Nova sorriu com tristeza, seus olhos azuis cheios de simpatia. — É quase hora
de ir. Estão abastecendo e todos estão prontos para sair.
Carys assentiu. — Diga que estarei ali em um minuto.
—Tudo bem, eu o farei. — Nova vacilou, observando-a agora. — Na verdade,
vim porque queria me assegurar que está bem.
—Estou. — Carys respondeu automaticamente. — De verdade estou bem.
—Não, não está. — As palavras de Nova eram suaves. Ela se adiantou e puxou
Carys para um quente e inesperado abraço.
A amabilidade capturou o fôlego de Carys. Não percebeu o muito que precisava
de apoio até que ela estava ali de pé, tremendo nos braços de outra mulher.
—Partiu meu coração quando meu irmão se foi de casa há alguns anos. —Nova
disse quando a soltou. — A melhor parte do meu mundo se foi de repente. Imagino
que isto é apenas uma fração do que deve estar sentindo agora.
Carys a levou para dentro do quarto e se sentou na beirada da cama. —Sinto-
me como uma tola, Nova. Ele mentiu. Ele me deixou e agora, para que tudo fique pior,
meu pai e o resto da Ordem estão falando de Rune — Aedan, como se ele fosse o
inimigo.
—Mas você não acha isto.
—Sei que ele não é. — Carys viu a mesma convicção nos olhos de Nova. — Você
não acha que seja, verdade?
O cabelo azul e negro da companheira Raça moveu-se contra seus ombros
enquanto negava com a cabeça. — Aedan pode ser um Riordan pelo sangue, mas não
tem nada deste clã. O irmão que conhecia era forte e nobre. De tudo o que me contou
sobre Rune, tenho que acreditar que meu irmão se converteu em um bom homem.
Mais que nada, Carys queria acreditar nisto também. E neste momento sentiu
uma gratidão imensa pela amizade de Nova. Isto significava que sabia que tinha
alguém no mundo em quem se apoiar se precisasse de compreensão e lealdade, da
mesma forma como Rune olhou para sua irmã mais nova como a luz em sua existência
escura por tantos anos.
Ela estendeu a mão para sua nova amiga e apertou. — Ele te amava muito,
sabe? Lamentou tê-la deixado e nunca ter voltado por você.
Nova levou um momento antes de falar. — Ele te disse isto?
Carys assentiu. — Quando me levou para jantar, Rune contou um pouco sobre
como foi sua infância. Ele disse que havia uma jaula de luta no Darkhaven de seu pai.
Rune lutava nela desde criança. Lutas de vida ou morte, tudo para a diversão de seu
pai. Durante anos, até que finalmente se armou de coragem para fugir da jaula que era
o inferno particular de Rune.
Nova fechou os olhos como se sentisse dor. Sua voz era tranquila. — Não tinha
ideia de nada disso. Mas sei de primeira mão o monstro que Fineas Riordan pode ser.
—Quando Rune me falou da jaula e o que fez para sobreviver, não podia
imaginar o foi capaz de suportar. Perguntei se havia alguém ali que se preocupava com
ele. — Disse Carys. — Ele me falou de você. Queria protegê-la do que estava
acontecendo. Não queria que fosse parte desta vida.
Um sopro suave e vacilante deslizou dos lábios de Nova. — Aedan me fez sentir
amada quando o resto de minha existência era medo e dor. Não sabia o que estava
acontecendo comigo também. Eu estava muito envergonhada para contar. Deus,
fomos dois tolos, tentando colocar boa cara um para o outro.
—Fez o que tinha que fazer para se proteger. — Disse Carys. — E por muito que
me doeu esta noite descobrir o segredo que Rune estava escondendo de mim, não
posso condená-lo por isso. Apenas queria que confiasse em mim o suficiente para
dizer. Poderia tê-lo ajudado.
O olhar de Nova era triste. — Dado o que sei de meu irmão agora, acho que ele
teria deixado Boston para sempre, em vez de pedir ajuda. Nenhum de nós aprendeu a
estender a mão para outra pessoa. Por isso mantive meus segredos escondidos de
Mathias por tanto tempo. Eu me fechei atrás de meus próprios muros de proteção,
pensando que meu passado iria me encontrar ali. Esperava ficar a salvo se começasse
outra vez, se fingisse que tudo o que aconteceu comigo era um sonho ruim. — Ela
deixou escapar uma risada sem humor. — Mas nunca pude deixar para trás meu
passado e os demônios que vivem ali. Nenhum muro que construímos é alto o
suficiente para manter todos afastados. Eles sempre aparecem um dia. Você tem que
olhar para seu rosto sem piscar antes de se deixar ir.
Nova tinha razão, claro. E Carys não duvidava nem por um segundo que se
Rune não tivesse compreendido a verdade, ele o fazia agora.
Seu medo por ele aumentou quando considerou esta possibilidade. Seu temor
a deixou mais fria, pesada como uma pedra.
Em seu coração, Carys sabia que era a razão por Rune ter saído
voluntariamente com os homens de seu pai. Foi com eles de boa vontade, muito
provavelmente de volta ao inferno, onde se criou.
Voltou para enfrentar os monstros de seu passado.
Carys apenas podia esperar que Rune sobrevivesse ao que pretendia fazer... e
rezar para que a Ordem já não o tivesse condenado.
A tarefa não era o que Carys esperava, mas depois de dormir com a ideia
proposta pela Ordem, acordou em seu quarto na sede de DC na manhã seguinte com
grande energia e pronta para demonstrar seu valor.
Sabendo que toda a informação que pudesse conseguir na casa de um oficial da
GNC de Londres esta noite poderia ser usada para levar a Ordem mais perto de
derrotar a Opus Nostrum, somente a deixava mais ansiosa para começar.
—Alguém acordou cedo. — Brynne navegou pela cozinha, já vestida para viajar
com uma camisa e calça escura. — Geralmente, sou a única acordada e caminhando
antes do amanhecer.
Carys girou a cabeça longe de seu café e torradas para sorrir a outra
Caminhante do Dia. — Não podia dormir.
—Preocupada com a festa desta noite ou com a missão da Ordem em Dublin?
—Ambas. — Carys admitiu, olhando Brynne caminhar e colocar água para
ferver e fazer um chá. — O que me preocupa mais que tudo é Rune.
E a preocupação era apenas parte do que sentia por ele. Doía por ele.
Sentiu um arrepio de medo e terror insuportável ao pensar que estava de volta
na companhia de seu pai, que o feriu e traiu. Abusou dele de forma horrível. Brynne se
apoiou no balcão e a olhou. — Você realmente se preocupa com este macho, não? —
Ela inclinou a cabeça, franzindo o cenho como se estivesse tentando dar sentido a
ideia. — Pode perdoá-lo por ter mentido a você?
Carys deixou escapar um suspiro. — Eu o perdoei tão logo aconteceu. Entendo
porque mentiu e não me importa. Nunca amou ninguém, Brynne?
—Não. Nunca. — Ela piscou, logo levantou seu ombro. — Como sua mãe, nos
primeiro vinte anos da minha vida, nem sequer sabia quem realmente era ou o que.
Meu comandante controlava tudo o que fazia, todos com quem entrava em contato.
Cresci pensando que estava mal, uma espécie de monstro. Depois que soube a
verdade, depois que descobri que minha vida foi fabricada, que estava vivendo uma
mentira — senti que precisava começar minha vida novamente. Depois de desperdiçar
todos estes anos eu queria fazer algo útil, algo real. Acima de tudo, nunca permitiria
que alguém me controlasse novamente. Não pediria permissão. Não deixaria ninguém
me dizer não.
Carys se lembrou de sua conversa outro dia em Boston. — Você me disse outro
dia que se realmente queria algo, deveria ir atrás.
—Sim. — Brynne sorriu em reconhecimento. — Ficarei encantada de contar
contigo esta noite na festa. Com sua capacidade de sombra e memória fotográfica, não
poderia ser mais perfeita para a tarefa.
Carys assentiu. — Ao menos terei algo para manter minha mente ocupada
enquanto espero algo de informação sobre a missão na casa de Riordan.
—Vamos manter-nos em contato constante uma vez que chegarem a Dublin.
Também estará conectada a Gideon aqui em DC enquanto estiver na casa de Fielding.
Tenho certeza que tudo correrá bem.
Carys esperava que ela tivesse razão nisso. Mas a simples verdade era que,
ninguém foi capaz de prometer que voltaria a ver Rune novamente. Não podiam fazer
esta promessa.
O destino de Rune estava em suas próprias mãos.
E por muito que Carys quisesse estar com seu pai e o resto da Ordem quando
entrassem na casa de Riordan esta noite, sabia que nunca permitiriam.
Seus pensamentos eram sombrios enquanto terminava sua torrada e bebia um
último gole de café. — Nosso vôo sairá logo. — Murmurou. — Devo me despedir e
arrumar minhas coisas.
Brynne assentiu com as palmas das mãos na xícara de chá. — Podemos ir assim
que estiver pronta.
****
CAPÍTULO TRINTA
Pouco mudou nos anos que Rune partiu do Darkhaven de seu pai.
A umidade dos velhos muros de pedra e do chão de mármore desgastado se
infiltrou em seus ossos assim que foi levado para o interior por seu tio e os outros
guardas armados. Seus passos ecoavam surdamente à medida que avançava pelo
corredor principal no coração da antiga fortaleza.
—Fineas está esperando abaixo. — Ennis disse. — Calculo que se lembra do
caminho, né, garoto?
Rune não precisava perguntar onde o levavam. Apenas havia uma coisa sob a
planta principal da fortaleza. E, sim, ainda se lembrava do caminho, até a curva em
espiral da escada e logo através do corredor na parte subterrânea da torre.
Caminhou adiante dos canhões em suas costas, apoiando a si mesmo quando o
som da voz de seu pai chegou aos seus ouvidos. A risada gutural perseguiu seus sonhos
durante anos depois que fugiu deste lugar.
Agora tudo que Rune podia fazer era resistir à tentação de se lançar adiante e
atacar em fúria assassina, tão logo a cabeça escura de Fineas Riordan e seus ombros
largos apareceram à vista na galeria de frente ao fosso abaixo.
Por muito que Rune quisesse a garganta do bastardo entre os dentes, tinha
cinco pistolas semi-automáticas prontas para abrir fogo contra ele no instante em que
mostrasse algum indicio de agressão. Se tinha a intenção de voltar à Boston depois que
terminasse ali, novamente para Carys, se ela o aceitasse, não tinha outra opção além
de manter sua fúria de lado no momento.
Pensar em Carys o fez sentir uma dor fria no centro do peito.
Ela esteve em sua mente a cada minuto desde que se foi. A forma terrível como
se separaram. Seu bonito rosto, doente de preocupação e confusão quando o viu com
os homens de seu pai e ouviu o nome pouco familiar com que o chamaram. Viu as
tatuagens de escaravelhos e Rune poderia dizer que ela sabia também o que
significavam estas marcas. Ela sabia a quem pertencia e agora ela sabia que ele
também pertencia à Fineas Riordan.
Rune partiu seu coração neste momento. Apenas esperava que ela estivesse
disposta a perdoá-lo. Isto se ainda o pudesse amar o suficiente para considerar tê-lo de
volta.
Mas primeiro, teria que sobreviver ao próximo enfrentamento com o monstro
que o engendrou.
Seu tio lhe deu uma cotovelada e Rune foi adiante com o empurrão ao se
aproximar da passarela sobre a fossa. — Aqui está sua entrega especial, irmão. Todo o
caminho desde Boston.
Fineas Riordan girou a cabeça longe dos homens Raça armados que estavam
vendo o combate com ele. Quando seu escuro olhar encontrou os olhos de Rune, um
arrepio o percorreu de forma insondável.
—Faz muito tempo, filho. Tenho que dizer que fiquei decepcionado quando
fugiu.
Rune não pode conter o fôlego que saiu bruscamente. — Deve ter ficado
entediado sem minha presença aqui para oferecer entretenimento.
Um leve sorriso se estendeu por seus lábios. — Oh, arrumei outra forma de
encontrar outras diversões.
Os guardas de Rune o guiaram até a galeria de observação. No chão de pedra
abaixo, uma dupla de homens Raça estavam em uma tremenda luta.
Molhados de suor, ensanguentados, com a pele desgarrada em vários lugares,
os dois combatentes lutavam com punhos e presas. Seus olhos brilhavam âmbar e os
glifos estavam salientes, as linhas verticais visíveis.
Os dermaglifos dos machos ondulavam como uma tempestade em seus corpos
machucados e lacerados, já que explodiam um contra o outro num borrão de presas e
golpes.
A luta era brutal, bestial. Uma tela da selvagem força Raça.
Pior que qualquer coisa que Rune experimentou neste circulo infernal de
granito e areia.
Era... anormalmente violento.
Um pensamento que Rune deve ter mostrado em seus olhos, porque quando
seu pai o olhou, um amplo sorriso se desenhou em seu rosto.
—Emocionante, não? Tudo sobre melhora no rendimento. — Olhou para o
fosso. — A droga era apenas um protótipo, até umas semanas. Logo será distribuída
para cada cidade importante em toda Europa e EUA. Quanto tempo acha que levará
aos seres humanos antes que peçam para alguém impedir a loucura?
Rune olhou fixamente, o rosto em branco. — O tempo que lhes levará declarar
guerra à toda população Raça.
Seu pai encolheu os ombros, completamente imperturbável. — Ah, bom. De
qualquer forma.
Ele riu e foi acompanhado por Ennis e o resto dos guardas.
As veias de Rune pulsavam de desgosto. Sempre suspeitou que Fineas Riordan
era um louco, mas agora percebeu que era algo pior que isto. Era um psicopata. — De
verdade, não se importa, não é? Não quando gosta de ver os outros sentindo dor.
Riordan ficou olhando o combate. — Sempre teve um estômago fraco quando
se trata destas coisas. Culpo sua mãe por isto.
—Por isto a matou?
Olhou para cima, com as sobrancelhas levantadas com surpresa. — Não percebi
que sabia.
O ódio fervia em Rune. — Não sabia até você confirmar.
Riordan fez um gesto com a mão como se para despedir toda a ideia quando
voltou sua atenção ao fosso. — Ela foi uma escolha errada desde o inicio. Deveria
saber que não podia me acoplar. A cadela podia receber um bom golpe, vou conceder-
lhe isto. Mas levantar a mão para outra pessoa, isto a derrubava. Ela nunca aprovou
minhas... inclinações. Com o tempo, simplesmente me cansei de seu julgamento.
Rune ouvia e sua fúria fervia a fogo lento com a admissão de seu pai. Pensou na
mulher gentil que o suportou. O dom da companheira de raça de suportar uma intensa
dor, foi passado para ele. Quando era criança e foi lançado no fosso, Rune aperfeiçoou
esta capacidade para suportar a formação de seu pai. Com o tempo, aprendeu a lutar
sem usá-lo e não o usou nenhuma vez desde que deixou o domínio de seu pai.
Mas sua mãe...
Rune era muito jovem, muito cego. Não tinha ideia de que estava sofrendo
abusos, sendo torturada por Riordan, como ele. O conhecimento agora o fez grunhir.
—Bastardo doente. Deveria tê-lo matado antes.
Os glifos na coluna vertebral de Rune e na parte posterior da cabeça ondularam
mais forte com a ameaça, mas seu pai apenas riu. — Não seja um gatinho, filho. A vida
é dor. Eu pensei que tivesse ensinado isto, se não outra coisa.
—Você me ensinou muito destas coisas. — Rune murmurou.
Riordan o olhou. — Bem. Esta formação se verá recompensada, será ainda mais
lucrativo que em Boston todos estes anos, agora que está em casa. Construiu seu
pequeno império ali, mas estive ocupado também. Meus companheiros e eu
mantivemos as bases em segredo durante anos. Agora, estamos prontos para colocar
nossos planos em marcha.
—Companheiros? — Perguntou Rune. — Que merda de planos?
Seu pai o olhou durante um longo momento. — Realmente não sabe? — Um
brilho relampejou em seus olhos escuros. — Opus Nostrum, garoto. Sou o novo líder.
Jesus Cristo.
Seu fodido e doente pai era o chefe atual deste grupo terrorista?
A Ordem sabia? Se não, precisavam desta informação em suas mãos tão logo
como possível. E mais, tinha que obter a maior quantidade de informações de seu pai
como pudesse antes de assassinar o filho da puta com suas próprias mãos.
—Parabéns. — Rune disse entre dentes. — Deve estar muito orgulhoso.
—Oh, estou. Mas ficarei ainda mais orgulhoso uma vez que o mundo entender
que a Opus é o único poder verdadeiro. Se quiserem a paz, o mundo terá que chegar a
nós para assegurá-la. Se não, estaremos prontos para entrar numa guerra que
ninguém nunca viu.
—Como vai fazer isto?
Riordan moveu um dedo. — Paciência filho. Teremos tempo para conversar
sobre isto mais tarde. Neste momento quero desfrutar da luta. — Ele mostrou os
dentes e as presas num sorriso sádico. — Estamos chegando à melhor parte.
No fosso abaixo, o combate se intensificou. Um dos machos finalmente estava
esgotado. Seu ombro foi destroçado, estava com o braço pendurado de lado de forma
inútil. Seu oponente se lançou sobre ele num bramido que sacudiu as antigas vigas de
cima. Os dois corpos massivos se chocaram e o vampiro debilitado explodiu contra o
chão de terra.
Presas brilhavam como facas e batiam uma contra a outra, punhos poderosos
se conectavam numa mistura de velocidade e brutalidade O sangue das artérias que se
romperam salpicou os dois. Gritos de angústia e fúria se elevou a um nível
ensurdecedor no recinto abaixo.
O macho na parte inferior não podia conter o outro. Estava incapacitado,
fadigado e cometeu o erro de deixar a garganta livre para o ataque. Seu oponente se
apoderou dela, golpeando tão forte como uma víbora.
Presas se afundaram profundamente e trituraram o pescoço do outro vampiro
com um só golpe, arrancando a cabeça do corpo.
O vencedor levantou a cabeça num grito de triunfo, sangue pinçando de suas
enormes presas. Não havia humanidade neste rosto. Nada além de loucura e
selvageria.
Ao lado de Rune, seu pai e os outros homens gritaram e aplaudiram o
vencedor. Eram de um vertiginoso entusiasmo, ávidos, desfrutando do espetáculo
sádico.
O campeão pareceu percebeu o púbico pela primeira vez agora.
Os lábios entreabertos, a respiração presa, ele inclinou a cabeça e olhou
diretamente para Rune e os outros na passarela acima.
Não deu aviso sobre o que iria fazer.
Num momento estava agachado sobre seu oponente morto, no seguinte estava
no ar, saltando do chão do fosso com um grunhido selvagem.
—Merda!
Rune saltou para trás quando o grande macho pulou até eles. Seu pai e os
outros homens não fizeram mais que estremecer.
Rune entendeu porque menos de um segundo depois.
A fuga do lutador foi detida por uma barreira invisível. No mesmo instante seu
corpo bateu nela, chispas brilhantes explodiram. Fumaça acre e uma luz cega fizeram
Rune evitar olhar, ainda não antes de perceber que o vampiro estava morto.
Ou melhor, torrado no ato. Uma vez que o fedor do queimado se dissipou, o
enorme corpo do macho não era nada além de uma nuvem de pó flutuando.
Rune ficou com a boca aberta. — Que demônios?
—Correntes UV. — Seu pai sorriu. — Fiz algumas melhorias no fosso desde que
esteve aqui no passado.
Apontou Ennis com a cabeça, então começou a caminhar. Atrás de Rune, armas
de fogo o animaram a seguir.
—Venha, Aedan. Gostaria de conversar sobre seus amigos da Ordem.
CAPÍTULO TRINTA E UM
****
—Ouvi que ganhou uma grande reputação por si mesmo no ringue em Boston.
— Disse seu pai, caminhando atrás de Rune com seus homens armados pelo frio
corredor. —Ouvi que é invencível. Um assassino.
Rune grunhiu. — Você me ensinou tudo o que sei.
—Sim, o fiz. — Havia um sorriso em sua voz. — Alegro-me em saber que você
admite.
Continuaram por uma ampla curva que conduzia aos velhos armazéns da
fortaleza. Riordan deu um passo ao redor deles e puxou uma chave. Deu um giro e
disparou um sorriso sobre o ombro para Rune.
—Talvez deveria exigir minha parte de sua ganância, hein, garoto?
Rune manteve seu tom de voz, sua raiva a fogo lento. — Não merece uma
maldita coisa.
Exceto uma morte atroz, que não podia esperar para entregar.
O rosto de Riordan endureceu, mas logo encolheu os ombros. — Não preciso
de dinheiro. Não estou buscando algo tão mundano como isto. Tenho um comércio de
algo muito mais valioso agora.
Rune riu. —Carne e sangue?
—Quando me agrada, sim. Mas minha moeda preferida é o poder.
Quando a porta se abriu, Riordan puxou a maçaneta e empurrou a porta velha
de madeira para abri-la. Em seu movimento de cabeça, os guardas empurraram Rune
adiante deles para o lugar.
Dezenas de barris fechados, caixas de envio e grandes caixas de aço estavam
armazenadas no interior. Riordan fez sinais para seus homens abrirem alguns.
Forçaram cuidadosamente a tampa de um barril, logo puxaram a parte superior de
uma caixa de madeira fechada e tiraram caixas pequenas de dentro.
Quando Rune foi guiado para o barril, viu pacotes de um pó vermelho fino
enchendo o barril. Dentro da grande caixa estavam outras caixas que levavam cilindros
de vidro finos, todos brilhando com uma luz azul leitosa em seu centro. Havia dezenas
de recipientes com este tipo de liquido. Tantos, que enchiam o enorme armazém.
—Como disse, comercializo com o poder. — Sorrindo, Riordan fez um gesto ao
seu redor. — Meu tesouro de guerra, cortesia da Opus Nostrum. Tenho o suficiente de
drogas para criar um exercito de selvagens sedentos de sangue e o suficiente
armamento liquido UV à minha disposição para erradicar a metade da população Raça
do mundo todo.
—Você está doente. —Rune disse. — Nunca terá a oportunidade de usar
qualquer desta merda. Não assim e não com a Opus.
—Quem vai me impedir, garoto? Você? Seus amigos da Ordem? — Ele riu entre
dentes enquanto lentamente negava com cabeça. —Imagine minha surpresa quando
os rastreadores que enviei para Boston me informaram não apenas que o
encontraram nesta cidade, mas que andava com os guerreiros da Ordem de Lucan
Thorne. Tenho que dizer, me deixou curioso.
Rune encolheu os ombros. — A arena atrai uma multidão diversa. Todo mundo
adora uma boa luta, como você bem sabe.
A expressão de Riordan era mais sombria que cética. — Que interesse tem a
Ordem em você e no clube? Estão fazendo perguntas sobre mim, talvez? Eles sabem
que sou parte da Opus Nostrum?
Quando Rune ficou em silêncio, com o rosto impassível, as perguntas de
Riordan tomaram um tom mais impaciente.
—Estão planejando vir atrás de mim? Se aproximaram muito na outra maldita
noite, quase tiveram suas mãos neste meu advogado idiota, Ivers. Encontraram a
informação que estava protegendo? Quanto sabem sobre mim e meus irmãos Opus?
Rune não pode deixar de sentir satisfação ao ouvir o tom de pânico na voz de
seu pai. Apesar do poder que estava ansioso para alardear, Fineas Riordan falava agora
como se pudesse sentir um nó se fechando ao redor de seu pescoço. No fundo, sob
toda esta sua valentia, Riordan estava preocupado que seu pequeno império retorcido
poderia desmoronar ao seu redor.
E Rune planejava fazer o que pudesse para que isto acontecesse.
Rune riu entre dentes, realmente divertido. — Guarde sua paranóia com a
Ordem. Inclusive se soubesse, nunca diria nada.
Seu pai o observou um pouco. — Não... você não sabe, verdade? Eles não lhe
disseram nada. Eles sabem que é meu filho?
Rune zombou. — Ninguém sabe. — Não até Carys descobrir duramente esta
noite. — Enterrei seu nome quando saí daqui. Planejei guardar a vergonha e levá-la
para a tumba.
Os olhos frios se endureceram com o insulto. — Cuidado, Aedan. Você saber
que posso consertar isto facilmente. Inclusive poderia desfrutar.
—Desfrutou matando minha mãe também? — A voz de Rune era frágil, cheia
de toda animosidade que estava lutando para manter dentro. — Ela era sua
companheira de sangue, pelo amor de Deus. Quando a dor infringida a ela corria em
suas próprias veias.
Seu pai sorriu. — Como disse, sua mãe podia aguentar uma grande quantidade
de castigo. Levou muito tempo para rompê-la. E sim, senti cada golpe, cada chicotada
— rasgando sua pele. Eu os saboreava, se quer saber a verdade.
O grunhido de Rune soou letal, inclusive aos seus próprios ouvidos. Seus
músculos se contraíram com a necessidade de romper o sádico sorriso no rosto de
Riordan. Sua tensão deve ter sido notada, porque dois dos guardas armados em suas
costas agora se moveram para frente, os outros ficando de lado.
—Minha segunda oficial era menos que um desafio. — Seu pai comentou, com
tanta indiferença que parecia falar sobre o tempo. — Eu terminei quando deixou de
manter o meu interesse.
Esta era uma nova informação e um medo intenso se apoderou de Rune. Ele
evitou perguntar sobre a substituta de sua mãe ou a menina que ficou ali. Agora, ele
tinha que saber. — O que houve com Kitty? Onde ela está?
Uma chispa de interesse iluminou o olhar de Riordan. — Ah, lembra-se deste
pedaço de traseiro, hein? Meus homens e eu tivemos bons momentos com ela
também. Mas então a pequena cadela astuta fugiu e nunca voltou. Ela pode estar
morta pelo que me interessa. Tudo se consome de qualquer forma.
Rune ferveu por dentro quando considerou os horrores que a resposta
repulsiva implicava. — Ela era uma criança inocente, porco sádico.
Não podia conter sua fúria agora. Explodiu fora dele com um rugido.
À merda guardar Riordan para a Ordem. À merda a necessidade de informações
sobre a Opus Nostrum. Tinha que destruir este monstro agora e se morresse no
processo, que fosse assim.
Rune avançou. Inclusive antes de se movimentar, ouviu o disparo. Algo afiado
se cravou na parte posterior de seu pescoço. Vários outros.
Não balas. Dardos?
Fogo se filtrou em suas veias, imediatamente minando seus sentidos. Caiu
rapidamente. A medida que seu corpo golpeava o chão duro, percebeu que foi
atingido com um sedativo forte. Seus músculos deixaram de funcionar. Ficou ali,
paralisado, sua visão começando a se nublar.
Ele viu as botas de Riordan passar diante de seu rosto, seu rosto cínico.
O último que ouviu antes da escuridão se fechar sobre ele, foi a voz monótona
de seu pai.
—Tire-o daqui. Prenda-o até que decida o que fazer com ele.
A única informação que Carys conseguiu de Simon Fielding foi que ele não sabia
absolutamente nada das atividades de seu pai ou colegas. O conhecimento do Fielding
mais novo sobre os multiplicadores fiscais, no entanto, era interminável.
Levou três valsas antes de Carys conseguir finalmente se afastar dele.
Desculpando-se que o champanhe foi diretamente para sua cabeça e que precisava de
um pouco de ar fresco, esquivou-se da oferta de Simon de escoltá-la até o lado de fora
e em troca, saiu por conta própria.
—Pensei que nunca pararia de falar. — Sussurrou Gideon do outro lado de seu
transmissor. — E também não sei onde estamos agora.
—Acabo de ver Simon voltar ao salão de baile, assim vou entrar. — Voltou a
entrar na casa por um par de diferentes portas francesas, que davam à uma área
tranquila, com pouca luz no corredor e distante do rebuliço da recepção. — Tudo bem,
vou entrar agora.
Movendo as sombras ao seu redor, Carys retrocedeu desde o restante do grupo
e se dirigiu para a escada do pessoal na parte posterior do corredor.
—Vou subir ao segundo andar, onde é o escritório de Fielding. — Sussurrou
para Gideon.
—Consigo ver seu sinal agora. — Confirmou.
Sem ninguém ao redor para ver ou ouvir, ela não pode resistir a necessidade de
atualização sobre a missão da Ordem. — Quanto tempo antes dos guerreiros
entrarem?
—Estão ainda a caminho, mas devem ter as botas sobre a propriedade em
Dublin e as rodas em movimento ao redor de quatro horas a partir de agora.
Não sabia se a noticia a fazia se sentir melhor ou pior. A ansiedade estava
cobrando seu preço desde que ela e Brynne deixaram DC esta manhã. A Ordem estava
se preparando e planejando sair em algumas horas depois dela e a espera de notícias
era insuportável. — Gostaria de poder estar com eles esta noite, em vez de aqui.
Tenho que vê-lo. Deveria estar ali por Rune.
—Ouça, ninguém quer que isto termine mal para ele. — Disse Gideon. — Nem
sequer seu pai.
—Espero que ele esteja bem. — Ela conteve o fôlego enquanto o som de vozes
femininas tênues e passos se aproximavam dos tapetes suaves no canto do corredor à
frente. — Merda. Alguém está vindo.
Ela ficou imóvel e em silêncio, mantendo-se perto da parede quando duas
governantas passaram levando nos braços algumas roupas para a lavanderia, assim
caminhou junto a elas, sem que percebessem. Tão logo sumiram, Carys foi em direção
à ala leste.
Parou nas portas duplas que iam para os escritórios e o restante do segundo
andar. Ela tentou entrar e viu que estava trancada. Uma ordem mental concentrada foi
tudo o que precisou para abri-la.
Deslizando dentro da sala vazia, com pouca luz, Carys fechou a porta atrás de si
e logo deixou de se esconder nas sombras.
—Estou nisso. — Disse Gideon.
A luz ambiente de alguns lustres na parede banhou o enorme espaço num
cálido resplendor. O grande escritório tinha uma mesa com cadeiras e uma área de
estar ao lado. Carys flutuou para o interior, além das suntuosas poltronas de couro e
um sofá que estava diante da enorme lareira.
Outros cômodos separavam a suíte principal. Uma sala de conferência com
cadeiras para doze pessoas. Uma enorme e elegante biblioteca com estantes elevadas
e um canto para leitura. Inclusive havia uma academia cheia de reluzentes
equipamentos e espelhos do chão ao teto nas paredes.
Carys se dirigiu diretamente para a área de trabalho do conselheiro. — Há um
tablet sobre a mesa. — Informou à Gideon num sussurro enquanto abria o
computador. — Maldição. É protegido por senha.
—Sem problema. — Respondeu Gideon. — Posso entrar mais tarde. Por isto
você tem os bichinhos.
Colocou a mão no bolso de sua calça para recuperar um dos finíssimos
equipamentos de tecnologia que Gideon lhe deu. Removendo a parte traseira, colocou
no tablet de Fielding. Uma vez colocado, o dispositivo encoberto desapareceu contra o
metal.
—Feito. — Disse ela. — Comprovando os arquivos agora.
Mentalmente abriu a gaveta e começou a procurar. —Vejo alguns contratos da
GNC aqui, com três meses de reuniões, listas de membros do comitê...
Sua voz se apagou enquanto examinava o documento com os nomes,
referências, qualquer coisa que pudessem ser úteis para a Ordem, as atividades e
interesses do conselheiro. Por não falar de todas as associações que poderiam insinuar
corrupção.
A voz de Gideon soou em seu ouvido enquanto ela olhava página por página e
armazenava na memória. — É melhor que seja rápida, Carys. Temos que colocar o
restante dos bichinhos nos outros equipamentos e salas. Por segurança, não podemos
nos dar ao luxo de sumir por mais que alguns minutos.
—Certo. — Fechou a gaveta e se apressou em completar o resto da tarefa. Com
a maioria deles colocados nas salas de reuniões e outras, ela entrou na academia. —
Falta apenas esta. Quer a esteira ou o simulador de esquis? Duvido que Fielding faça
qualquer exercício.
Gideon riu. — Escolha você.
Buscou algo do qual pudesse tirar o máximo de proveito. — Que tal o controle
remoto da televisão?
—Perfeito. — Disse Gideon. — Coloque e saia rapidinho daí.
Passou pela sala quando algo chamou sua atenção. Fez uma pausa, olhando a
leve luz vermelha do controle refletir sobre um dos painéis do espelho na parede do
fundo.
Exceto que não refletia...
Não, parecia atingir à direita do vidro.
—Ei. Isto é estranho.
—Fale comigo, Carys. O que está acontecendo?
—Não tenho certeza. — Murmurou, deixando o controle para baixo e
aproximando-se para olhar de perto. — Acho que há algo atrás do espelho.
Levantou a mão e sentiu ao redor das bordas do painel. Seus dedos roçaram
um pequeno botão a direita. Ela apertou e o espelho se abriu.
—Oh Deus meu. Há outra sala escondida aqui.
Não era bem uma sala. Não havia nada como a suíte do lado de fora. Isto era
mais como um esconderijo.
Olhando para a escuridão, viu um escritório simples e uma estação de trabalho
com um computador de tela enorme. Se Neville Fielding tinha segredos, este era o
lugar onde obviamente os encontraria.
—Vou entrar. — Ela cruzou a porta.
—Carys, pelo amor de Deus, acabe a taref...
—Gideon? — Sussurrou enquanto entrava mais. — Gideon, está aí?
Merda. Apenas um silêncio respondeu. O sinal deve ter cortado, supunha,
devido as paredes isonorizadas e o teto que a rodeava.
Caminhou para a mesa. O equipamento estava desligado, mas ainda quente. Ao
lado havia uma espécie de sistema de comunicação.
Para que demônios estava Fielding usando isto? Com quem queria falar em
segredo, escondido atrás de uma porta numa casa que apenas um homem com dez
vezes sua riqueza poderia pagar?
Apenas havia uma resposta, claro. Uma explicação.
Opus Nostrum.
Maldição. Tinha que voltar a sair e tentar recuperar um dos bichinhos que
colocou em outro lugar. Esta era uma sala que a Ordem precisava monitorar.
Deu a volta e começou a caminhar para a porta oculta.
—Gideon? — Sussurrou. — Pode me ouvir?
O transmissor em seu ouvido estava ainda em completo silêncio.
E quando o silêncio a envolveu sentiu uma cócega em seus sentidos.
Não estava sozinha.
Alguém estava ali com ela agora.
Começou a mover as sombras ao seu redor, mas já era muito tarde. Tão logo
percebeu o perigo, se encontrou cara a cara com um grande corpo e uma atitude
ameaçadora de um macho Raça que agora bloqueava a porta da academia.
Oh Deus. Era ele.
O líder dos homens de Riordan que estava no La Notte.
Agora, usava um terno e uma gravata de seda brilhante, parecendo pouco
amigável... exceto pela curva ameaçadora de sua boca e a frieza em seu olhar.
—Bom, não é isto uma surpresa? — Murmurou. — A cadela companheira Raça
de Boston.
Carys engoliu saliva, quando o sangue drenou de seu rosto. Ela precisava usar
seus instintos Raça, mas parecia congelada da cintura para baixo.
—O que está fazendo aqui? — Perguntou ela, o único que lhe ocorreu dizer.
—Acho que a melhor pergunta é: o que você está fazendo aqui? Olhando em
lugares aos quais não deveria. — Ele estendeu a mão e arrebatou o transmissor em
seu ouvido, movendo-se tão rapidamente que mesmo seus instintos Raça dificilmente
poderiam seguir. O pequeno dispositivo desapareceu em seu punho fechado. — Você
está envolvida num negócio perigoso, querida. Uma garota descuidada pode morrer se
cruzar com as pessoas erradas.
Carys era inteligente o suficiente para não ter medo, mas não podia não se
preocupar neste momento. Não quando este filho da puta levou o homem que amava.
Ela levantou o queixo. — Onde esta Rune? O que você e Fineas Riordan fizeram com
ele?
Ele sorriu, as presas brilhando na escuridão. — Se quiser vê-lo com vida
novamente, se quiser sair desta casa com sua garganta intacta — terá que vir comigo
agora.
Brynne sorriu e assentiu com a cabeça, sem sequer ouvir a metade de como um
de seus colegas humanos JUSTIS e alguns assistentes do partido contavam sobre as
recentes férias e as partidas de golfe na Escócia que ganharam. Segurando sua taça de
champanhe, Brynne olhou pelo lugar procurando algum sinal de Carys.
Passou-se mais de uma hora desde que a viu pela última vez.
Brynne a viu escapar de Simon Fielding para o lado de fora. Quando Carys não
voltou ao salão de baile, Brynne assumiu que começou sua missão de reconhecimento
no escritório do conselheiro no andar de cima.
Mas inclusive se houvesse desaparecido nas sombras neste momento, Carys
estava levando muito tempo para terminar. A ausência deixou Brynne um pouco
nervosa.
E a cada minuto que passava, não podia evitar a sensação de que algo estava
errado.
—Me desculpem, por favor? —Murmurou ao grupo de colegas. —Acabo de me
lembrar que tenho que fazer uma rápida ligação.
Abandonou sua taça na bandeja do garçom que passava e já tinha seu telefone
na mão para entrar em contato com a sede da Ordem quando o telefone tocou. A voz
profunda de Gideon chegou tão logo ela atendeu.
—Brynne, Carys está com você?
—Não. — E o fato dele ter que perguntar fez seu pulso acelerar. Foi para um
canto tranquilo e falou em quase um sussurro. — Não a vejo há um tempo. Não está
em contato com ela pelo transmissor?
—Perdi a conexão uma hora atrás, quando ela estava dentro do escritório de
Fielding. O sinal de GPS continua dentro da casa, mas não consegui restabelecer o
áudio ainda.
—Tem certeza que ela está aqui? Estou olhando todo o tempo e ela não voltou
ao salão de baile ou qualquer das outras áreas da recepção.
—Por isso liguei. — Disse Gideon. —Não tenho uma boa sensação também.
Tinha a esperança de fazer uma busca rápida por ela, apenas para confirmar que
temos contato visual.
—Claro. — Brynne já estava caminhando.
—Tenho o sinal de GPS de seu transmissor na minha frente agora. — Disse. —
O sinal de Carys está ao sul, movendo-se a um bom ritmo.
Brynne apertou o passo, tentando caminhar casualmente, mas com rapidez.
Passou entre a multidão de convidados da festa, na direção que Gideon lhe disse.
—Acho que a cozinha está por aqui. — Ela disse quase nas portas abertas, na
parte de trás da recepção. Viu dezenas de empregados com smoking passarem pela
porta com bandejas de comida e bebidas.
Quando se apressou, alguém chamou seu nome e a saudou com a mão desde a
multidão. A companheira Raça de seu supervisor estava sorrindo e tentando chamar
sua atenção. Brynne lançou à mulher um olhar de desculpa e apontou seu telefone
como se estivesse numa ligação que não podia ser interrompida. O qual era sem
dúvida verdade.
—Carys acaba de virar uma esquina agora. — Gideon disse. — Ela está se
afastando de você, Brynne.
—Merda. — Ela passou pelas altas portas atrás de um dos empregados que
saia. Continuou pelo corredor ouvindo o ruído da cozinha. Estava cheia de garçons e
cozinheiros, aqui e ali com suas bandejas.
—Estou me aproximando?
—Sim, está praticamente em cima dela agora. Deve estar justo na sua frente,
nem sequer metros de distância. Deixou de se mover agora.
Brynne franziu o cenho, girando onde estava. Não havia ninguém ali perto dela,
exceto os cozinheiros e ajudantes.
—Gideon, deve estar enganado. Ela não pode estar aqui. Eu não...
As palavras secaram na língua de Brynne enquanto seu olhar caía sobre uma
bandeja que parecia chegar neste momento na cozinha. Taças usadas e forros sujos
estavam amontoados numa bandeja. E havia algo mais ali também...
—Oh Deus meu. — O estômago de Brynne se contorceu.
Olhou entre as dobras de um dos guardanapos brancos e viu um pequeno fio e
o transmissor.
—Gideon, ela foi descoberta. Carys se foi. Alguém a levou.
****
****
—Carys!
O pânico inundou Rune como eletricidade em suas veias.
Apesar de sua mente saber que não podia ser machucada pela luz UV, seu
coração se encheu de horror quando a sobrecarga da rede invisível explodiu como
uma supernova.
Seu alívio veio com a mesma rapidez ao ver Carys cair no chão do fosso atrás
dele, totalmente intacta. Ela aterrissou sobre seus pés com toda a graça de um gato e
ferocidade e poder de uma fêmea Raça.
Suas presas brilhavam atrás de seus lábios entreabertos. Suas brilhantes íris
azuis eram devoradas por fogo âmbar. Ela olhou por cima do ombro com alarme.
—Rune, cuidado!
Seu segundo de descuido custou caro. O vampiro drogado que Riordan lançou
no fosso viu sua oportunidade de atacar. Caiu sobre Rune, levando-o ao chão sobre
suas costas.
Carys rugiu. Agarrou o oponente de Rune e arrancou o grande macho de cima
dele como se não pesasse nada. Logo, grunhindo, enviou o selvagem contra o muro de
pedra e puxou Rune para ficar de pé.
Por cima deles na passarela, Riordan estava em estado de choque. — Que
caralho? Ela é uma maldita Caminhante do Dia! — Apontou o fosso e voltou seu olhar
furioso para o guarda. — Atire na cadela! Mate-a!
As balas começaram num bombardeio rápido.
Rune sentiu uma atingir seu lado quando se lançou ao redor de Carys. A
adrenalina aumentou e ele se apoiou em sua capacidade de absorver a dor e
continuou movendo-se. Agarrou sua mão, arrastando-a atrás dele para que pudesse
ser seu escudo.
—Sob a passarela. —Gritou, correndo para a cobertura escassa com ela.
Os disparos não podiam chegar diretamente a eles sob Riordan e seu guarda,
mas não podia ficar naquele abrigo para sempre.
Riordan gritou com indignação. — Pegue-a idiota!
As balas diminuíram quando o guarda correu de um lado a outro da passarela,
tentando colocar Carys em sua mira.
Rune a manteve perto, ajustando sua posição quando o homem armado
disparou alguns tiros, desperdiçando-os. Maldição, desejava muito abraçá-la e beijá-la.
Queria abraçá-la e nunca deixá-la ir. Ela precisava saber o quanto sentia por não poder
evitar que o mal de seu pai a tocasse. Mais que nada, precisava saber o quanto a
amava.
Mas não havia tempo para nada disso agora. Os tiros continuavam chegando e
a sobrevivência de Carys era seu único objetivo.
Rune soube o momento em que ela sentiu sua lesão. Seu rosto se levantou,
alarme em seus olhos transformados. — Oh, merda, Rune, recebeu um tiro?
—Vou viver. Não se preocupe comigo.
E tinha a intenção de que ela vivesse também, o que significava que teria que
encontrar uma maneira de tirá-la dali.
Mas agora, através da passarela, Rune viu o vampiro se sacudir aturdido. O
grande macho se levantou de onde Carys o lançou. Seus olhos pareciam selvagens e
procuravam sua presa.
Rune se colocou diante de Carys, protegendo-a. O macho Raça grunhia
enquanto dava um passo adiante, sem medo das balas, suas presas pingando saliva
vermelha com o poderoso narcótico que Riordan injetou.
Não podia permitir que a fera se aproximasse dela. Com um grunhido, Rune foi
para frente. Explodiu contra o peito do vampiro, levando-o ao chão. Rodaram e Rune
tentou evitar a mandíbula e as presas afiadas.
—Por aqui! — O grito de Riordan para seu guarda alertou Rune que Carys
estava novamente em movimento. — Não a deixe escapar desta vez!
Enquanto Rune lutava contra sua atacante fora de controle, captou um brilho
de movimento em sua visão periférica.
Um borrão de sombras quando Carys cruzou o chão do fosso a uma velocidade
Raça completa, então se lançou novamente sob a passarela antes do guarda de seu pai
atingi-la.
Rune e seu oponente rodavam pelo chão se golpeando. Um dos golpes de Rune
acertou o queixo do vampiro. O macho cambaleou atrás alguns passos.
Então, de repente, convulsionou violentamente quando uma chuva letal de
balas caiu sobre seu amplo peito.
Rune girou a cabeça a cabeça na direção dos disparos.
Santo inferno.
Ali estava Carys sob a passarela, com a pistola fumegante de Ennis Riordan em
suas mãos.
Carys não soltou a respiração até Rune estar de pé com ela sob a escassa
passarela.
Uma vez ali, ela se apoiou em seu calor e força, com os braços pendurados de
lado, sem força. A emoção a abrumava. Por cima de tudo, ela sentiu o profundo alívio
ao sentir seus braços envolvê-la e sua voz murmurando palavras ternas contra seu
ouvido.
Levantou o queixo com a ponta dos dedos manchados de sangue, maltratados.
—Carys. — Sussurrou, sua voz profunda e urgente. Emoção apareceu em seus
olhos ardentes. — Você é a última pessoa que queria ver aqui, neste lugar. Eu queria
lidar com isto por mim mesmo... por nós.
—Eu sei. — Ela o olhou, vendo o tormento em cada linha e ângulo duro de seu
rosto. — Sei que por isso foi com eles. Nunca duvidei de você. Nem por um segundo.
Um gemido abafado escapou dele. Então a beijou, profundamente e com força,
como se eles não estivessem de pé no meio da morte e carnificina, com a ameaça
ainda sobre suas cabeças na passarela.
Mas a ameaça era real.
E Riordan não terminou com eles ainda.
—A merda com este reencontro sentimental. — Grunhiu acima deles. — Solte o
último combatente.
A pesada porta de um dos portais de acesso ao perímetro do fosso se levantou,
liberando outro macho selvagem.
—Oh, diabos não. — Murmurou Carys. Ela saiu do abraço de Rune. — Não
desta vez.
Ela apontou a arma para o vampiro grunhindo que avançava pela arena.
Apertou o gatilho várias vezes e... não aconteceu nada. Apenas o eco clic-clic-clic.
Não havia mais balas.
—Fique atrás. — Disse Rune, quando ela abaixou a arma. Ele a arrastou atrás
dele e se preparou para enfrentar seu novo oponente. — Preciso que fique segura,
Carys. Prometa.
Não, ela não podia prometer isto. Toda Raça nela queria lutar esta batalha com
ele. Toda a mulher nela estava decidida a estar com seu homem até o último fôlego, se
tudo se reduzisse a isto.
Na passarela Riordan riu sarcasticamente. — Tão logo um deles caia, mate-os.
— Disse ao guarda. — Ambos!
Carys grunhiu ao comando. Assustada como estava, sua raiva era mais forte.
Sabia que Rune enfrentaria esta nova ameaça da mesma forma como confrontou
todas as que vieram antes, mas maldição, já era o suficiente.
Ouviram disparos no instante que Rune e o outro macho se chocaram no início
de seu combate. Caindo e rodando sobre seu oponente, Rune conseguiu evadir ao
ouvir os repentinos disparos. Mas Carys sabia que era apenas uma questão de tempo
antes da guarda de seu pai golpear a porta.
Ela não iria deixar escapar esta oportunidade.
O corpo de Carys estava em movimento, mesmo antes de decidir o que iria
fazer. Tirou seus sapatos e avançou para trás sobre os pés descalços, sob a passarela.
Com Riordan e seu guarda preocupados em tentar atingir Rune pela frente da
plataforma de expectadores, nenhum dos dois percebeu que saltou do fosso e estava
na parte de cima com eles.
Carys não perdeu um segundo. Empurrou o guarda sobre a passarela com arma
e tudo. Mal teve tempo de gritar antes da barreira UV o consumir.
Ela girou sobre Riordan, os lábios abertos sobre os dentes e presas. Seus olhos
arredondados em surpresa. Então, covarde como era, o bastardo se afastou dela.
Num instante desapareceu pela passarela, na escuridão do corredor do castelo.
Maldição!
Carys ansiava ir atrás dele, mas no fosso, Rune continuava enfrentando uma
luta perigosa. E para seu horror, viu que estava ferido, pior que antes. Feridas de balas
estavam em suas costas. No entanto, ele continuava lutando. Nada menos que a morte
poderia impedi-lo.
Não havia maneira no inferno dela o deixar. Nem sequer com a esperança de
matar o filho da puta que o criou.
Carys subiu na borda e esperou sua oportunidade. Quando colocou Rune e seu
oponente dentro de seu alcance, ela saltou. Deixou-se cair direto nas costas do outro
macho, justo quando estava a ponto de se lançar sobre Rune.
O impacto o levou de joelhos sob ela, mas ele era imenso. Por muito que o
golpeasse, seu peso mais leve não o derrubava. Ele inclinou-se para trás, tentando tirá-
la dele. Seus braços grandes lutavam por ela enquanto ela agarrava o cabelo e puxava
sua cabeça para trás.
Rune estava ali, nem sequer um segundo depois que caiu. Com o vampiro
apanhando de forma selvagem, silvando e grunhindo de raiva, Rune enviou o punho
para trás e o dirigiu ao peito do macho.
O vampiro ficou rígido, seu grito interrompido quando convulsionou num
estremecimento violento. Então o corpo caiu em um monte no chão do fosso, o
sangue saindo do enorme buraco no peito do vampiro.
Carys saltou longe da carnificina e lançou-se nos braços de Rune. —Graças a
Deus tudo terminou.
Rune a abraçou, mas a tensão vibrou em cada músculo duro de seu corpo. Sua
voz era grave, primitiva e mortal. — Onde está meu pai?
Olhou para a passarela vazia. — Correu pelo corredor quando empurrei o
guarda para baixo.
Rune a afastou dele, uma desolação nos olhos. — Isto não vai parar até que o
filho da puta esteja morto. Vamos. Temos que sair daqui antes que ele envie reforços
para nos encontrar.
Carys conteve o fôlego com assombro quando a boca de Rune caiu sobre seu
pulso e tomou os primeiros goles de suas veias. Vê-lo se alimentar dela foi mais íntimo
do que poderia imaginar, mais profundamente sensual que qualquer coisa que
experimentou.
Sentia-se muito bem, seu sangue o alimentando, aderindo-se a ela.
E, oh Deus, era erótico também.
A sucção de sua boca, cada puxão dos lábios e língua enviava um calor
poderoso em seu centro. Floresceu em suas veias e artérias, em cada terminação
nervosa crepitante.
Seus olhos ardiam de desejo, a alegria se verteu através dela enquanto
acariciava a cabeça escura de Rune e o via beber até se fartar.
Ela gemeu quando finalmente deixou de sugar e selou as feridas com um golpe
de sua língua.
Estava ofegante enquanto se afastava e encontrava seu olhar, seus olhos
ardendo como brasas também.
—Jesus Cristo. — Disse entre dentes com voz rouca. Suas presas eram
mortalmente afiadas, brilhavam como diamantes na tênue luz do túnel. — Carys,
merda santa. Isso foi...
Não parecia capaz de descrever. Também parecia não ter a paciência para
provar. Com um grunhido possessivo, envolveu sua mão ao redor de seu pescoço e a
puxou para um beijo feroz e duro.
Amor e desejo a percorreu como um caminho de pólvora e era tudo o que
podia fazer para não enterrar as presas em seu pescoço e completar o vínculo.
—Quero que me morda também. — Murmurou contra sua boca. Levantou a
cabeça e a olhou fixamente, seu olhar quente e cheio de assombro. — Posso senti-la
dentro de mim, amor. Posso senti-la em minhas veias e em todos meus sentidos. Deus
Carys... é uma presença em mim agora e brilha tão forte como um raio.
Lambeu os lábios, seus olhos âmbar indo para a garganta. Seu sorriso era tão
puramente masculino e primitivo que fez seu sexo se contrair em anseio. — Não posso
esperar para fazê-lo outra vez quando a tiver em minha cama.
—Nem eu. — Disse. — Assim vamos sair rápido daqui.
Ele assentiu com a cabeça. — Sim. Quanto antes melhor.
Ele ainda estava sangrando pelas muitas feridas de bala. Precisava de
atendimento o mais rápido possível, mas sua cor estava melhor graças ao seu sangue.
A medida que caminhavam pelo túnel, não pode evitar sentir-se aliviada ao vê-lo se
mover com renovada força e resistência.
Estava vivo e seu sangue o manteria assim. Pelo menos, tempo suficiente para
conseguirem ajuda uma vez que saíssem daquele lugar. Tinha todo seu futuro pela
frente deles agora e esperavam escapar juntos deste inferno.
Sairiam juntos dali.
Tinham que fazê-lo.
Era seu mantra enquanto corria com ele, mais profundamente na escuridão.
—Há uma antiga escada na torre que nos levará ao andar principal. — Rune
disse, olhando por cima do ombro enquanto se apressavam pelo corredor. — Com um
pouco de sorte, podemos subir antes que os guardas pensem em bloqueá-la. Prometa
que não me acompanhará se ficar mais devagar.
—Não. — Respondeu ela, negando-se mesmo a considerar a ideia. — Faremos
isto juntos. Não importa como.
Ela sabia o que estava dizendo. Normalmente, com sua genética Raça, levaria
uns poucos segundos para acelerar de um lugar a outro, mas as lesões de Rune não
permitiriam isto agora. Estava muito esgotado e ela não estava disposta a fazê-lo sem
ele.
Chegaram à entrada da escada na torre. — Vamos Carys.
Rune entrou diante dela, segurando sua arma na estreita escada. Os degraus de
pedra em espiral para cima davam voltas e voltas cegas, uma atrás da outra.
Vozes soavam de algum lugar acima, assim como gritos agora urgentes junto
com botas.
—Prepare-se. — Rune advertiu. — Estamos chegando ao andar principal agora.
—Bem. Vamos fazer.
Tão logo chegaram ao arco que se abria do oco da escada viram alguns guardas.
—Ali estão! — Gritaram os homens, abrindo fogo no instante que viram Rune e
Carys.
—Volte! — Rune a arrastou atrás dele quando os disparos atingiram a pedra ao
lado de suas cabeças.
Uma bala raspou o rosto de Carys. Sentia o sangue escorrendo num rastro
quente, justo debaixo do olho esquerdo.
Rune também viu. Agora, através do vínculo de sangue com ela, ele também
sentia sua dor. Fúria ardeu em seus olhos. Com um rugido alto devolveu a chuva de
disparos.
—Precisa correr. — Grunhiu ele. — Vá pelos guardas. Eu te cubro daqui. Use as
sombras, Carys. Tem que fazê-lo através da grande sala para chegar à cozinha e à
garagem.
Ela tocou o fio de sangue em seu rosto, olhando ao seu redor enquanto os tiros
e os guardas continuavam avançando. — Não irei sem você.
—Apenas temos uma arma, Carys. Não podemos passar por estes homens.
Chegarão aqui a qualquer momento. Tem que tentar escapar, maldição!
Ela não respondeu. Ele não gostaria de ouvir de qualquer forma. Não importava
como suas probabilidades fossem ruins, não tinha a intenção de deixá-lo atrás para
salvar sua própria vida.
Mas talvez houvesse algo que pudesse fazer para ajudar aos dois.
Enquanto Rune e os guardas trocavam tiros, Carys olhou para as sombras ao
seu redor e a penumbra na torre. Aproximou-se, escondendo-se.
Logo saiu detrás de Rune e mirou seus agressores.
Carys passou pela escada da torre apenas alguns segundos atrás de Riordan.
Havia uma câmara na parte superior e uma porta que parecia se abrir para o
telhado. Riordan tinha a mão na maçaneta quando Carys o alcançou. Ele a abriu de
golpe, então se encolheu com um grito quando os raios do sol da manhã chegaram a
ele.
Fechou o painel de madeira pesada com uma maldição e deu a volta.
Carys ficou ali, seu rifle apontado para ele. — Como um rato em uma ratoeira.
— Disse lançando de volta suas próprias palavras.
Mas Riordan tinha uma arma também. Levantou-a. — Acha que é homem o
suficiente para lidar comigo?
Disparou.
Ela esquivou o tiro com facilidade. Sua velocidade Raça a levou à esquerda do
pequeno lugar. Riordan girou e disparou outra vez. Outro erro e desta vez em lugar de
deixá-lo ver onde estava ela reuniu as sombras e se escondeu. Sentia uma imensa
satisfação ao ver sua ineficácia.
Os tiros de pânico acertavam as paredes de pedra.
Logo acabaram as balas.
Carys sentiu um sorriso se estender sobre seu rosto enquanto ela deixava as
sombras desaparecerem. Ficou de pé diante dele agora. —Não homem o suficiente
para te matar. Mas sou muito mulher.
Disparou uma bala em cada ombro. Ele inclinou-se para trás com o impacto,
com os braços pendurados sem força dos lados. Deixou cair sua arma inútil, gritando
de dor.
A visão de Carys se queimou em vermelho com desprezo por ele e todo o mal
que fez. — Isto é pela mãe de Rune e a outra companheira Raça que matou.
Enquanto dizia isto entre dentes, ela mirou outra vez e atingiu seus dois
joelhos. Ele caiu no chão em absoluta miséria, contorcendo-se e convulsionando aos
seus pés. — Isto foi por Rune e sua irmã. Kitty.
Carys ficou sobre ele, o cano da arma apontando o lugar entre os furiosos olhos
âmbar. Riordan grunhiu, a saliva saindo de sua boca aberta e presas. Ele a olhava com
indignação furiosa. Mas Carys viu o medo em seu olhar também. Foi golpeado e sabia
que não havia volta.
—Vamos cadela! Mate-me, maldito monstro Caminhante do Dia!
—Não. — Ela negou com a cabeça. — Uma bala seria muito misericordiosa. E
não tenho muita, caso esteja preocupado.
—Hein? — Sua confusão foi de curta duração.
Carys colocou a arma sobre o ombro e se agachou para agarrar Riordan pelo
pescoço. Tão logo começou a arrastá-lo sobre o chão, ele começou a gritar. Gemeu, se
contorceu, implorando que o deixasse ir. Tudo em vão.
Abriu a porta do telhado.
Ela lançou o torturador de Rune para fora, no calor do sol da manhã. Ela não se
moveu, não piscou, simplesmente observou em silêncio impiedoso enquanto os raios
letais o devoravam.
****
Chase estava à frente dos guerreiros da Ordem quando entraram pela porta
principal, cobertos por um uniforme que protegia contra raios UV. Os escombros e
fumaça subiram diante deles. Balas cruzavam em sua frente enquanto ele e seus
companheiros entravam no pátio, voltando-se contra os guardas de Riordan que
disparavam contra eles das janelas.
A voz de Lucan chegou através do equipamento de áudio que compartilhava
com os guerreiros. — Unidades, espalhem-se. Primeira equipe assegure todos os
pontos de entrada e saída. Segunda equipe percorra todos os cantos deste maldito
lugar até encontrar Carys. Matamos todos que se colocarem em nosso caminho,
exceto Riordan. Quero este bastardo vivo.
O mesmo queria Chase, porque queria ser ele a matá-lo.
Com as unidades indo para suas missões, Chase, Lucan e Dante avançaram para
a entrada principal do castelo, junto com Nathan, Aric e a equipe de Boston.
Meia dezena dos guardas de Riordan os enfrentou assim que explodiram a
porta. Uma troca intensa de tiros iluminou o corredor central antes dos guerreiros
abaterem seus agressores.
Ouviram mais disparos dentro da fortaleza. Lucan indicou a Chase e os outros a
segui-lo até o lugar. Derrubaram alguns homens armados no corredor enquanto
caminhavam para o grande salão. Aproximando-se da entrada arqueada, Chase não
tinha muita certeza do que estava vendo.
Os corpos de vários homens armados estavam dispersos e ensaguentados
através do amplo lugar. Três guardas mais estavam agachados em várias posições na
sala, trocando fogo com outro macho Raça que estava agachado atrás da enorme
lareira de pedra.
Os guerreiros atingiram os homens de Riordan, um a um.
Na repentina calma, o outro atirador levantou sua arma em sinal de rendição e
lentamente saiu mancando detrás da parede de pedra. O imenso macho de cabelo
escuro estava gravemente ferido, sangrando. Tinha um torniquete improvisado em sua
coxa encharcada de sangue e estava sangrando por muito outros lugares para contar.
Tinha o rosto machucado e lacerado, os olhos sombrios, mas âmbar ardendo no olhar.
—Jesus cristo. — Aric ficou sem fôlego. — É ele. O lutador de Carys.
E pelo que podia olhar se ocupou dos guardas de seu pai até a Ordem chegar.
Chase levantou o capacete. —Onde está Carys?
—Ela foi atrás dele. — Apontou uma entrada na escada no canto da grande
sala. — Não me deixou impedi-la.
Fúria e incredulidade inundou Chase. — Foi atrás de Riordan? Sozinha? Por
favor, não... maldição, não.
—A escada sobe para o telhado da torre. — Disse o lutador, movendo-se nesta
direção apesar da gravidade de suas lesões.
Chase não esperou nenhum segundo mais. Reuniu todas as forças que a
genética Raça lhe deu e se dirigiu para a escada com o coração na garganta.
Uma luz intensa saía da pequena câmara na parte superior da escada. Entrou e
de imediato fechou seu visor, com o braço levantado cobriu os olhos, apesar de estar
protegido contra os raios UV por seu equipamento. Levou um momento para sua visão
se ajustar.
Levou mais tempo para sua mente processar o que via.
A porta de acesso ao telhado estava aberta.
Carys estava em pleno sol.
Segurava algo com ela, na mão uma camisa em pedaços. Movendo-se ao redor
dela com a brisa da manhã uma nuvem de cinzas escuras. Dispersavam-se no nada
enquanto Chase olhava estupefato.
Carys virou-se então. Ela olhou por cima do ombro, mostrando as presas, os
olhos ardentes com âmbar fundido.
Chase quase não pode respirar enquanto olhava para ela agora. Ficou com
medo de chegar ali e encontrar sua menina amada destruída pela mal que vivia ali. Em
seu lugar encontrou uma Valquíria vingativa, com o vento agitando seu cabelo como
uma tempestade e os restos destroçados de seu inimigo aferrados em seu agarre
implacável.
Seus olhos se suavizaram nele. Ela soltou a camisa vazia de Riordan e deixou-a
ir para longe, ao esquecimento.
—Papai! — Gritou e correu para seus braços.
Chase fechou a porta contra o sol e levantou o visor quando ele a abraçou. —
Estou tão feliz por você estar bem. — Murmurou em seu cabelo. — Sua mãe e eu
ficamos loucos nas últimas horas. Quando soubemos que você foi levada, pensamos...
Deixou a frase sem terminar. Ela estava a salvo. Estava de volta nos braços de
sua família. Logo, ela estaria de volta em casa com Tavia, Aric e ele.
Mas a menina se foi, percebeu enquanto abraçava Carys agora.
Ela se foi há muito tempo, mas era muito teimoso para ver.
Ela era magnífica. Formidável.
E seu pai nunca ficou mais impressionado por ela, nem mais orgulhoso.
CAPÍTULO QUARENTA
CAPÍTULO QUARENTA E UM
Algumas horas depois de Rafe trabalhar sua magia, Rune estava limpo e
sentado numa grande sala com Carys, parecendo como se suas múltiplas feridas de
bala e ossos quebrados fossem nada além de picadas de abelhas.
Seu corpo foi curado e respirava um inferno de muito mais fácil sabendo que
Carys estava sã e salva. Ela se aconchegava contra ele agora, falando por telefone com
sua mãe, que estava esperando pacientemente que sua família voltasse para a sede da
Ordem em DC.
Enquanto Carys terminava a ligação, ela olhou para Rune. — Sim, claro. Direi.
Nós nos vemos logo. Eu te amo. — Ela murmurou uma despedida terna, depois,
desligou o telefone.
—Vai me contar?
—Nova quer que saiba que irá nos esperar para dar as boas vindas tão logo
chegarmos, não importa a hora. Está muito animada para vê-lo.
—Nova. — Disse, aprovando o nome que sua irmã estava usando desde que
fugiu deste lugar para começar sua nova vida em Londres há anos.
Carys explicou o que sabia da viagem de Nova de Dublin a Londres e as
circunstâncias que a levaram até Mathias Rowan.
Parecia que tanto Rune como sua irmã quiseram negar de onde vieram — até
mesmo se esconderam do monstro que os aterrorizou no passado. Ambos aprenderam
do pior modo que alguns monstros viviam. Tiveram que enfrentá-lo e destruí-lo para
se verem livres de seu controle.
—Está nervoso porque vai vê-la? — Perguntou Carys, suavemente acariciando
seu peito nu.
Rune assentiu. —Não tenho certeza de como irá reagir ao ver-me depois de
tanto tempo. Sou diferente agora. Não sou o irmão que ela se lembra.
Carys sorriu. — Acho que Nova será uma surpresa também. Uma boa, no
entanto. Do mesmo modo que você será uma grata surpresa para ela.
Mathias Rowan foi uma surpresa agradável também. Rune e o Comandante de
Londres pela Ordem se apresentaram quando o grupo desceu da torre. Parecia ser um
bom homem. Um macho Raça que amava a irmã de Rune com a mesma profundidade
de sentimentos que Rune sentia por Carys.
Queria isto para Nova. Ela merecia amor e decência depois do inferno que
sofreu naquele lugar.
Lançou um olhar para o chão e as paredes manchadas de sangue e salpicadas
pelas balas. A batalha terminou por fim. O monstro estava morto. Os corpos dos
guardas foram lançados no pátio onde o sol iria reclamá-los. Agora só faltava fazer um
balanço das informações que Fineas Riordan poderia ter deixado para trás.
Rune contou à Ordem onde encontrar a câmara de armamento UV e as drogas
que seu pai lhe mostrou. Os guerreiros estavam ocupados registrando todos os
cômodos em busca de provas de vínculos com a Opus Nostrum.
—Está bem com tudo isto, Rune?
Ele a olhou, sem fazer nada além de acariciar seu braço enquanto a abraçava.
— Sim. Sinto-me mais livre do que nunca antes, sabendo que meu pai se foi. Sua
maldade não pode me tocar ou a qualquer pessoa que me importa. Agora, teremos
que garantir que o mesmo aconteça com a Opus Nostrum.
Deveriam destruí-la por todo terror que a organização causou. Toda a miséria
que ainda poderia oferecer se tivessem as armas e os produtos químicos como os que
seu pai armazenava. Queriam começar a guerra da qual seu pai se vangloriou e
ansiavam que acontecesse.
—Estou pronto para esta batalha. — Rune murmurou. — Seja como parte da
Ordem ou de qualquer outra forma que puderem me usar. Toda minha vida estive
lutando dentro de uma jaula. Luta por sobrevivência, depois, lutando por nada porque
era a única coisa que sabia fazer. Ainda posso lutar. Mas agora quero que signifique
algo.
O olhar de Carys era suave com ele, mas se iluminou com um fogo
compartilhado. Sentiu sua concordância através do vínculo que compartilhavam. Era
brilhante, logo ardente e inquebrantável. — Quero isto também, Rune. Não posso me
afastar desta luta tampouco.
Deus, ele a amava. Estava orgulhoso de tê-la ao seu lado e em seus braços. E
ela, sem medo e pronta para estar com ele contra tudo e todos.
Inclinou a cabeça para ela e reclamou sua boca num beijo faminto. Seu corpo se
agitou com o contato, sua excitação impossível de esconder. Sentou-se com a agitação
repentina em seus dermaglifos e o calor crepitante em sua íris.
Quando ela olhou para baixo e viu sua óbvia ereção, suas sobrancelhas se
elevaram e seu rosto adquiriu um tom sexy de rosa.
Ele riu sem vergonha. — Sinto-me mais forte agora.
—Percebi. — Ela negou com a cabeça e apoiou-se nele, seus lábios se roçando;
— Devo agradecer à Rafe por sua pronta recuperação. É incrível o que é capaz de
fazer.
—Sim, mas não posso dar ao guerreiro todo o crédito. — Rune agarrou a parte
de trás de seu pescoço e terminou com suas brincadeiras. Beijou-a novamente, logo
apoiou sua testa contra a dela e a olhou nos olhos. — Seu sangue me manteve vivo.
Seu amor lutou por mim, Carys. Agora que estou curado, não posso esperar para que
estejamos sozinhos novamente e possamos completar nosso vínculo. Quero marcá-la
para sempre, antes que mude de opinião.
—Nunca. Sou sua. Fui desde o início.
Suas bocas se encontraram numa profunda união, ambos desfrutando da
proximidade, a paixão acendendo rapidamente e queimando forte entre eles.
As coisas poderiam ficar rapidamente vergonhosas se não fosse pelo som de
passos se aproximando da grande sala.
Aric limpou a garganta. — Vou levar um tempo para me acostumar a ver isto
sem sentir que tenho que intervir e defender a honra da minha irmã.
Sorrindo, Carys olhou de forma maliciosa. —Minha honra não é assunto seu. E
prefiro que não fique nos olhando, então terá que lidar com isso.
Seu irmão riu. —É justo. Devemos estar prontos para ir embora logo. Os outros
guerreiros estão terminando a varredura agora. —Com o cenho franzido Aric olhou
para Rune. — Vi o fosso de luta. Também encontramos uma câmara de tortura
medieval que parece ter sido usada recentemente. Tem muita coisa fodida aqui,
homem. Se Carys não houvesse incinerado Riordan, eu o faria com muito gosto.
Enquanto falava, Chase, Lucan e Mathias entraram no salão.
—Demos uma olhada nas caixas de armamento UV e as drogas. — Disse Chase.
—Pegamos algumas amostras de tudo para analisar e tentaremos rastrear os
fabricantes.
Lucan olhou para Carys. —Não podemos interrogar Riordan sobre as atividades
da Opus, mas a recuperação desta droga foi algo importante. Muitas vidas Raça se
manterão com esta merda longe das ruas.
Mathias assentiu. — Infelizmente, há muito delas para podermos levar.
—E não podemos deixar nada para trás também. — Acrescentou Chase. — O
risco de que qualquer desta merda escape ao público é muito grande para nos
arriscarmos.
—O que vai fazer? — Perguntou Carys.
—Destruir. — Disse Lucan. — Vamos pegar nossas amostras, mas quero que o
resto dela seja neutralizado antes de sairmos daqui. Os cilindros de UV, as drogas,
tudo.
—Também encontramos um cômodo escondido na parte de trás da câmara de
armazenamento. — Disse Chase. — Riordan tem um sistema de comunicação muito
bom ali. Gideon foi incapaz de entrar nele, assim vamos empacotar tudo e levar ao DC
conosco.
Carys se sentou completamente atenta. —Fielding tem uma sala desta
também. Encontrei justo antes de Ennis Riordan me agarrar.
—Gideon não sabe disso? — Lucan perguntou.
Ela negou com a cabeça. — Minha comunicação com ele se cortou assim que
entrei nesta sala. Tinha o mesmo tipo de equipamento e estava escondida, como a de
Riordan.
Os três comandantes trocaram um profundo olhar.
—O que foi? — Perguntou Carys. —Tem algo errado?
Chase exalou um suspiro. —Fielding está morto. Tivemos a informação de
Brynne quando chegamos m Dublin. Suicidou-se, como Hayden Ivers, este advogado
humano ao qual nos levou.
Nathan e Rafe entraram no salão neste momento.
—Estamos carregando os veículos agora. — Anunciou Nathan. — Tegan e
Hunter querem que saibam que podemos sair em uma hora.
—Bom. — Disse Lucan. Seu olhar se voltou para Rune. — Como disse, tudo que
está no armazém é muito perigoso para ficar para trás. Temos que destruí-lo antes de
irmos embora. Esta foi sua casa em algum momento, assim se há algo que quer tirar
daqui...
Rune balançou a cabeça. — Aqui nunca foi minha casa, de ninguém. E o único
que quero levar comigo está aqui. — Disse, segurando Carys mais apertado. — Quando
saí de Boston há duas noites, prometi que não voltaria até meu pai estar morto e este
lugar destruído.
Lucan segurou seu olhar e logo assentiu. — Bom. Isto é tudo o que precisava
saber.
****
Menos de uma hora mais tarde, Rune se sentou na parte traseira de um veiculo
blindado contra UV com Carys. Chase ocupou o assento na frente deles. Na dianteira
Aric estava ao volante com Nathan segurando uma escopeta.
O seu era o último carro da fila de veículos estacionado no pátio iluminado pelo
sol. Os outros guerreiros em seus equipamentos de proteção UV acabavam de
terminar de carregar o que precisavam para levar para a Sede e se preparar para partir
ao aeroporto de Dublin.
Chase tocou seu auricular e ouviu por um momento. — Certo, Lucan. —
Murmurou. — Estamos nisto.
Rune puxou Carys mais perto quando começaram a se mover. Olhou para trás,
olhando pela janela traseira enquanto saiam do pátio e do castelo. Sentiu um leve
estremecimento. Através do vinculo de sangue com ela, sentiu seu alivio enquanto o
lugar em que sobreviveu caia mais e mais ao seu passo.
Passaram juntos pelo fogo neste lugar.
Saíam fortalecidos, inseparáveis. Invencíveis, sempre e quando tivessem um ao
outro.
Rune não precisava olhar mais para trás. Não havia nada ali para ver.
Sua vida estava diante dele agora. Com Carys ao seu lado.
Como sua companheira.
Uma formalidade que tinha a intenção de completar logo que chegassem aos
EUA.
Ela girou de volta e se acomodou contra ele com um suspiro. Rune acariciou
seu rosto e logo não pode resistir a abaixar a cabeça e beijá-la. Nem sequer se
importou com seu pai sentado na frente deles.
Quando levantou os olhos, os olhos azuis de Chase estavam fixos nele.
Segurava algo em sua mão. — Quando estiver pronto, filho.
Rune pegou o pequeno detonador remoto. Quando olhou, Carys o olhou, seu
olhar cheio de amor e ternura.
Tinha o futuro em suas mãos.
Seu passado nunca o tocaria novamente.
Assim, inferno sim. Ele estava mais do que pronto.
Rune apertou o botão e logo devolveu o controle remoto. À medida que a
explosão soava à distância, atrás deles, ele segurou o bonito rosto de Carys em suas
mãos e a beijou com todo o amor e esperança que sentia em seu coração.
Quando chegaram à sede em DC mais tarde nesta noite, todo mundo estava
esperando para vê-los.
—Oh, minha menina! — Tavia se apressou para pegar Carys em um apertado
abraço assim que entrou na mansão.
Quando Carys se voltou para apresentar Rune à sua mãe, Tavia ignorou sua
mão estendida e o envolveu num quente abraço também. Carys sorriu enquanto
olhava seu grande e duro lutador ser inundado pelo afeto sem limites de sua mãe.
Ficou rígido e torpe à principio, mas relaxou finalmente, seus fortes braços a
envolvendo e um sorriso curvou sua boca.
Havia muito alivio ali, lágrimas de felicidade da maioria das mulheres da
Ordem. Uma grande quantidade de preocupação com tudo que Carys suportou. E
muitas perguntas sobre como ela e Rune conseguiram sobreviver à terrível experiência
nas mãos de Riordan, além de triunfar sobre ele e seus homens praticamente sozinhos.
Todas as perguntas e zumbidos de conversa desaceleraram até uma pausa no
momento que Nova chegou em silêncio à reunião ruidosa. Seus olhos azuis estavam
tímidos em seu rosto angular, escondido pelo cabelo azul e negro. Seu sorriso era
incerto enquanto suas mãos tatuadas brincavam com a barra de sua camisa negra.
Rune a olhou. Ela o olhou e assentiu em silêncio. Isto foi tudo o que fez.
Deu um passo adiante e pegou Nova em seus braços com um grito de alegria.
Quando ele a deixou novamente, manteve seu rosto entre suas mãos.
—Você cresceu. Está incrível. — Disse, sua voz rouca cheia de emoção. —
Parece... feliz.
—Estou. — Respondeu ela. — Sou mais feliz agora que você está de volta em
minha vida também. Aed...
—Rune. —Disse. — Se estiver bem para você.
Ela assentiu. — Nova.
Os irmãos se abraçaram novamente. Rune se aproximou para puxar Carys ao
seu abraço, assim era uma família feliz. Então Mathias se reuniu com sua companheira
Raça. Com um braço ao redor de Nova, estendeu a mão e agarrou o ombro de Rune.
Logo toda a sala da mansão estava cheia de todos da Ordem e suas
companheiras. Rune foi apresentado para todas as mulheres e Carys desfrutou dos
numerosos olhares de aprovação que recebeu das companheiras dos outros
guerreiros, quando saudaram seu homem.
Ela levantou a mão, sentindo-se muito orgulhosa por pertencer à ele. Não
podia esperar para começar seu futuro, longe de toda a comoção e a realidade de
todas as missões perigosas que a Ordem ainda tinha pela frente. Talvez até mesmo
para ela e Rune também.
Por muito acolhedora que fossem as boas vindas — agradecia o amor que
recebia de todos os presentes esta noite, agora que estava em casa com Rune, mas
Carys não podia esperar para ficar sozinha com ele.
Gabrielle pareceu entender como se sentia. A companheira de Lucan se
aproximou de Carys e se inclinou para falar em seu ouvido. — Há um quarto vazio no
terceiro andar no final do corredor. Se você e Rune quiserem usar para se refrescar um
pouco ou descansar, consideraremos que seja seu.
Carys murmurou um agradecimento e suavemente apertou a mão de Rune.
Eles fugiram na primeira oportunidade, dirigindo-se diretamente para a escada.
Entraram no quarto de hóspedes e Rune chutou a porta para se fechar atrás
deles. Carys tinha os braços e as pernas ao redor dele, sendo segura pelos braços
fortes. Beijavam-se como loucos, os olhos ardendo de desejo, presas se tocando em
um frenesi.
Rune a levou para a cama king-size e a deitou. Suas grandes mãos tremiam
enquanto tirava as roupas em ruínas.
—Devemos nos limpar primeiro. — Carys murmurou.
Balançou a cabeça. — Logo. Neste momento, eu apenas preciso de você.
Ela também precisava dele. Sempre foi assim com eles, mas agora o desejo era
ainda mais intenso. Carys o observava, fascinada, sabendo que a paixão que
compartilhavam sempre seria assim feroz e inegável.
Rune agora também estava nu. Arrastou-se na cama sobre ela, seu imenso
corpo irradiava calor e eletricidade, roubando seu fôlego. Suas feridas se curaram. As
marcas vermelhas e fracas que estavam em sua pele iriam sumir pela manhã.
Parecia forte e formidável. Tão incrivelmente sexy.
E ele era dela.
Hoje mais do que nunca, pertenciam um ao outro.
Precisavam um do outro. Em um grunhido gutural, apertou suas mãos contra
seu peito e se virou sobre suas costas. Ela se sentou sobre seu quadril, sua fenda
molhada deslizando ao longo de seu eixo quando se inclinou para baixo e encontrou
sua boca num beijo profundo e exigente.
Um movimento dos quadris e o colocou em seu centro. Queria prolongar a
deliciosa sensação dos corpos se movendo juntos, ainda sem se unirem. Mas sua fome
por ele era muito intensa.
Ela levantou o quadril, sentando-se sobre seu saliente pau. Ele silvou enquanto
se afundava profundamente. Quando ela começou a montá-lo, aferrou-se a ela e
gemeu de prazer, os tendões de seu pescoço tensos como cabos.
—Maldição, como você é gostosa. — Disse com voz áspera. Conteve o fôlego.
— Ah, caralho. Devagar, bebê. Vamos fazer com que dure um tempo.
Ela balançou a cabeça e sorriu para ele. — Temos toda a noite para reduzir a
velocidade. Você mesmo disse que se sente curado e forte outra vez.
—Oh, sim. — Ele riu entre dentes, duro sob ela para demonstrar que realmente
estava.
—Isto é bom. — Ronronou. — Assim não preciso me conter com você.
Seus olhos se acenderam com fogo âmbar. — Inferno santo, tem uma força a
ser levada em consideração. E Cristo... é muito impiedosa também.
Agarrou seus quadris enquanto balançava sobre ele e ondulava em círculos
profundos. Deslizou sem pressa, mas com um ritmo proposital acima e abaixo de sua
longitude, deleitando-se com o prazer.
Ela sentiu os músculos ficarem tensos. Seus quadris empurravam febrilmente,
olhando-a com vontade de mais. Ela não lhe mostrou nenhuma misericórdia quando
seu clímax rapidamente aumentou seu frenesi. Seu grande corpo estremeceu e um
grito irregular se desprendeu dele quando explodiu dentro dela.
Carys continuou movendo-se sobre ele, desfrutando da forma como seu corpo
respondia à ela.
Olhou para ela. —Posso ver que terei que colocar algumas regras básicas sobre
quem está no comando.
Ela sorriu. — Sabe como me sinto sobre as regras.
Levantou a mão para acariciar seu rosto. — Como se sente sobre ficar comigo
para sempre, amor?
O coração dela acelerou. Lambeu os lábios. — Pensei que nunca perguntaria.
Com os olhos fixos em sua carótida pulsando, ela se inclinou e afundou suas
presas em seu pescoço.
Rune deixou escapar um gemido agudo ao sentir sua mordida. Logo seus braços
se envolveram ao redor dela, protetores, possessivos, enquanto ela tomava dele.
E quando seu sangue rugiu em sua garganta e em suas células — em seu corpo
e sua alma — Rune a fez rodar para ficar embaixo dele e começou a fazer amor com
ela lentamente, mostrando quão apaixonado e perfeito poderia ser.