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Lara Adrian - Midnight Breed 13 - Bound To Darkness

RESUMO

Carys Chase está acostumada a fazer suas próprias regras e deixar que seu
coração lidere o caminho — não importa o que alguém tenha a dizer. Uma fêmea Raça
e Caminhante do Dia, teimosa e bonita, Carys é uma das mais potentes de seu tipo. Ela
vive com paixão e ama sem limites, especialmente quando se trata do letal guerreiro e
lutador Raça chamado Rune.
Imbatível no ringue, Rune vive num mundo brutal de sangue, ossos e morte.
Ele fez sua cota de inimigos, tanto dentro como fora da arena, e seus segredos são tão
turbulentos como seu passado. Um perigoso solitário que sobreviveu por seus punhos
e presas, Rune nunca permitiu que ninguém se aproximasse demais dele... até Carys.
Mas quando os corpos enterrados em seu passado se levantam para ameaçar seu
presente, Rune deve escolher entre trair a confiança de Carys ou colocá-la na mira de
uma batalha que nenhum deles pode ganhar sozinho.
CAPÍTULO UM

Pedaços de titânio cortaram o rosto do lutador, espirrando sangue pelo chão


da jaula de aço e animando a multidão de expectadores dentro da arena clandestina.
Música tecno golpeava o ar vindo do clube de dança no andar de cima, num tom
ensurdecedor como o da luta dos dois machos Raças em direção à sua meta.
Carys Chase estava na parte da frente, entre a multidão de expectadores
ávidos quando o punho de Rune conectou com o rosto de seu oponente novamente.
Mais gritos e aplausos explodiram para o campeão invicto da mais brutal arena de
Boston.
As lutas eram tecnicamente ilegais, mas muito lucrativas. E posto que os
Raças se deram a conhecer aos vizinhos humanos há vinte anos, havia poucos eventos
esportivos populares no estilo ilegal de gladiador onde se enfrentavam dois machos
vampiros de 1,84m e 136 Kg numa jaula de aço fechada.
O sangue era essencial para Carys e sua raça, mas às vezes parecia que os
humanos eram muito sedentos por ele. Sobretudo quando o derramamento estava
restringido aos membros Raça.
Ainda assim Carys tinha que admitir que ver um vampiro como Rune lutando
era uma beleza. Era gracioso, perigoso e selvagem totalmente.
E ele era dela.
Durante as últimas sete semanas — desde a noite que ela entrou em La Notte
com um pequeno grupo de amigos e viu pela primeira vez Rune dentro de uma jaula —
ficaram praticamente inseparáveis. Caiu rápido, forte e profundo e não voltaria atrás
por um segundo.
Para grande consternação de seus pais. Eles e seu irmão gêmeo, Aric, fizeram
de tudo — menos a proibir de ver Rune — tudo baseado no prejuízo sobre sua
profissão e sua reputação. Eles não o conheciam. Não queriam conhecê-lo bem e isto
doía. Isto a incomodava.
Razão pela qual, com a cabeça cheia de vapor e a obstinação que herdou de
ambos os pais, Carys recentemente se mudou da casa da família Chase no Darkhaven e
foi morar com sua melhor amiga, Jordana Gates.
Sair de casa para ir morar sozinha não caiu muito bem, principalmente para
seu pai, Sterling Chase. Como Comandante da Ordem em Boston, ele junto com o
fundador da Ordem, Lucan Thorne, e os outros comandantes de distrito, eram
encarregados de manter a paz entre os Raças e a humanidade. Não era uma tarefa
fácil nestes tempos e muito menos com a precariedade com que viviam agora.
Carys entendia a preocupação de seu pai por sua segurança e bem estar. Ela
apenas desejava que pudessem entender que era uma mulher adulta e que queria
dirigir sua própria vida.
Mesmo se esta vida incluísse um macho Raça que optou por ganhar a vida no
ringue. Todos ao seu redor agora gritavam o nome de seu campeão.
—Rune! Rune! Rune!
Carys se uniu, impressionada com seu domínio no ringue de luta ainda que a
mulher nela se encolhesse cada vez os punhos batiam em carne e ossos, independente
de quem era o receptor. E ela podia admitir, ao menos para si mesma, que seu amor
por ele lhe dava a esperança de que pudesse tirá-lo algum dia da jaula para sempre.
Ninguém golpeava Rune — e mais de um morreu na tentativa.
Ele rodeava a jaula com um movimento fluido, nu exceto pela calça de couro
marrom e as luvas sem dedos com puas de titânio. O corte do metal assegurava que
cada golpe fosse um espetáculo de trituração de carne e osso se rompendo para o
prazer da multidão.
Também elaborado principalmente para o entretenimento dos clientes do
esporte era o colar em forma de U ao redor dos pescoços dos combatentes. Cada um
tinha a opção de golpear o botão de misericórdia dentro da jaula, o que faria com que
liberasse uma descarga elétrica no pescoço do oponente, parando a luta para dar a
oportunidade ao lutador mais fraco se recuperar antes de voltar ao combate.
Ainda que Rune fosse o destinatário de incontáveis descargas quando subia
no ringue, nunca se rebaixou a usar o botão de misericórdia.
Também seu rival desta noite não o fez. Jagger era um dos favoritos da
multidão do La Notte, um macho Raça negro cujo próprio recorde de vitórias era quase
tão impressionante como o de Rune. Os dois combatentes eram amigos fora da arena,
mas ninguém o diria vendo-os agora.
Sendo Raça, Jagger curava suas feridas em segundos. Girou sobre Rune com
um rugido ensurdecedor, indo adiante como um touro enfurecido. O contato fez Rune
bater contra a jaula. As barras de aço gemeram, abrindo-se sob o impacto repentino
de tanto músculo e força. Os espectadores diretamente abaixo gritaram e se
encolheram, mas a luta voltou ao lugar.
Agora era Rune na ofensiva, lançando o enorme corpo de Jagger através da
jaula. Jogo ou não, o choque dos punhos e presas deixava selvagem praticamente
quase todos os machos Raça. Jagger ficou de pé, com os lábios abertos mostrando suas
afiadas presas numa careta furiosa. Seus dermaglifos pulsavam em cores violentas
contra sua pele escura. Ele se virou para Rune, fogo âmbar ardente em seus olhos
enquanto se agachava e se dispunha a deixar outros hematomas.
Frente a ele na jaula, Rune se mantinha em pé, seus enormes braços dos
lados, sua postura enganosamente relaxada enquanto ele e Jagger andavam em círculo
entre si.
As marcas na pele de Rune se agitavam com uma fúria de cores também. Seus
olhos azuis meia-noite crepitavam com chispas ardentes enquanto estudava seu
oponente. As presas de Rune eram enormes, afiadas sob a brilhante luz tênue da
arena. Mas mesmo com seu cabelo castanho molhado de suor, seu rosto duro como
granito, havia uma calma mortal e absoluta.
Este era Rune em seu momento mais perigoso.
O fôlego de Carys ficou preso quando Jagger saltou, catapultando e virando
no ar num movimento furioso. Um pé se aproximou do rosto de Rune como um
poderoso martelo, tão rápido que Carys mal pode seguir o movimento.
Mas Rune o fez. Agarrou o tornozelo de Jagger e o torceu, jogando o
combatente no chão. Jagger se recuperou em menos de um segundo, girando sobre o
cotovelo para passar as pernas debaixo de Rune em outro chute.
A decisão foi rápida e elegante, mas expôs Jagger a uma derrota repentina.
Rune caiu, mas levou Jagger com ele, prendendo-o no chão da jaula. Jagger
lutava para se soltar, mas os nós dos dedos de Rune mantinham o lutador subjugado.
Gritos e aplausos trovejaram pela arena quando o relógio bateu o final de
partida, com Rune a ponto de vencer.
Quando Carys aplaudiu sua vitória segura, sentiu uma pontada de consciência
na nuca. Ela olhou atrás para a parte traseira do clube. Dois guerreiros Raça de seu pai
acabavam de entrar.
Merda.
Vestidos com os uniformes negros da Ordem, Jax e Eli percorriam a multidão
massiva, ignorando o espetáculo dentro da jaula, já que tentavam localizá-la. Ela
estava se acostumando a ver as babás da Ordem a cada noite, mas isto não fazia com
que fosse menos irritante.
Talvez a paciência de seu pai por fim acabou. Ela sabia que ele com certeza
poderia ordenar aos seus guerreiros que fossem buscá-la e finalmente, levá-la para
casa. À força se fosse necessário.
Ah. Que tentassem.
Como uma das raras fêmeas Raça e Caminhante do Dia, Carys era tão forte
como qualquer homem da sua espécie. Mais forte que a maioria, já que sua mãe, Tavia
Chase, era um milagre criado num laboratório de genética — e uma antiga
companheira da Raça.
Mas ela não precisava recorrer a força física para evitar Jax e Eli. Carys tinha a
sua disposição outra arma — uma que herdou de seu pai.
Quando se colocou de pé entre a multidão perto da parte dianteira da arena,
Carys acalmou sua mente e se concentrou ao redor. Recopilou e dobrou as sombras ao
seu redor, escondendo a si mesma da vista. Ninguém a veria por tanto tempo quanto
quisesse se mantivesse as sombras perto.
Esperou, observando o par de guerreiros andando pelo clube e observando
centenas de humanos e Raças. Carys entrou mais na multidão, sem ser vista por
ninguém. Jax e Eli desistiram depois de um tempo de busca. Carys sorriu para si
mesma enquanto via que por fim eles iam embora.
Enquanto isto, a luta na jaula tinha terminado. Rune e Jagger tiraram os
colares de metal e as luvas. Eles se abraçaram pelos ombros, depois limparam o
sangue e o suor do rosto enquanto esperavam para anunciarem o ganhador.
Carys deixou as sombras caírem então. A escotilha da jaula se abriu para
deixar sair os combatentes. Correu para Rune, gritando seu nome e aplaudindo com o
resto da multidão quando seu homem conseguiu outra vitória.
O rosto de Rune se iluminou com promessa quando a viu. O brutal e terrível
lutador saiu da jaula e a agarrou pela cintura, aproximando-a dele.
Seus olhos escuros brilhavam com uma necessidade que sequer tentou
esconder. Ignorando as aclamações e aplausos que aumentavam ao seu redor, ele
tomou sua boca num beijo possessivo.
Então a levantou e levou para fora da arena.

CAPÍTULO DOIS

Sede da Ordem
Washington, DC.

Lucan Thorne apertou o botão de desligar sua chamada de vídeo com o


político humano que esteve mastigando seu traseiro pela última meia hora. Em
momentos como este, realmente se sentia perdido sem a simplicidade do século XX.
Naquele tempo, uma conversa chata como esta poderia ser pontuada com uma batida
de telefone e deixar que a pessoa do outro lado soubesse o que realmente pensava
sobre sua opinião não solicitada.
O que gostava ainda mais neste tempo era ser capaz de conduzir a marca da
Ordem rapidamente, justiça efetiva em privado, em vez de sob o escrutínio dos
recursos humanos e seu governo, cujas demandas sem fim para reuniões e revisões
apenas serviam para incapacitar seus esforços e fazê-lo perder seu precioso tempo.
—Isto está ruim, hein? — Sua companheira Raça, Grabrielle, estava na porta
aberta.
—O Conselho das Nações Globais pediu uma reunião para informar sobre os
assassinatos na Itália no inicio desta semana. Ao que parece mais de um membro da
GNC solicitou minha expulsão do Conselho. — Lucan cruzou a sala para se encontrar
com sua bonita companheira de cabelos castanhos avermelhados, incapaz de resistir a
beijar sua testa franzida. — Não posso dizer que a culpa do Conselho está fora de lugar
já que sou o que secretamente organizou a reunião entre o irmão do novo presidente
da Itália e um membro da GNC Byron Walsh.
—Apenas estava tentando ajudar a construir uma aliança importante entre
dois membros influentes dos humanos e Raças. Não percebe o Conselho que quer a
paz tanto como qualquer um? — Gabrielle inclinou a cabeça enquanto ele segurava
sua mão e a levava para fora do escritório pelo corredor. — Ninguém poderia
adivinhar que a reunião seria sabotada. Ainda mais pelo próprio filho de Walsh.
Lucan grunhiu. — Derek Walsh era apenas uma parte de um problema maior.
Um que está cada vez mais forte a cada dia que a Ordem permita que exista.
—Opus Nostrum. — Disse Gabrielle num murmúrio.
O nome da cabala mortal era desconhecido até umas semanas, quando o
grupo roubou uma tecnologia experimental UV, então tentou usá-la para um
assassinato em massa numa festa de gala para comemorar a paz entre a Raça e os
dignitários humanos. A Ordem frustrou por pouco esta catástrofe, matando o líder do
Opus, Reginald Crowe. Mas depois da introdução muito pública e dos rumores
posteriores de armas químicas e outras à sua disposição, o Opus Nostrum era
atualmente o grupo terrorista mais temido do mundo.
O assassinato de dois homens importantes no início desta semana por um
novo membro da Opus — membro que também era o filho de um respeitado oficial da
GNC — apenas colocou mais lenha na fogueira.
E como a Opus Nostrum era uma ameaça real, havia também outro inimigo se
escondendo nas sombras. Um que a Ordem apenas estava começando a entender.
Durante milênios, a Raça acreditou que eram os únicos seres sobrenaturais no
planeta. Agora tinham a prova irrefutável que haviam outros. E esta outra raça
alienígena imortal que era conhecia como Atlantes estava tramando uma guerra que
transformaria os esforços da Opus Nostrum em jogos de crianças.
Dizer que a Ordem tinha suas mãos cheias estava além do eufemismo.
Tinham que impedir a Opus Nostrum e eliminar a ameaça oculta que eram os
Atlantes e Lucan não tinha intenção de fazê-lo com um braço preso às costas pela GNC
ou qualquer outra entidade intrometida.
Afortunadamente, a Ordem conseguiu uns quantos votos potenciais e aliados
inesperados nos últimos dias. Para cada revés e o desastre que por pouco evitaram,
parecia haver um pouco de esperança. O que era uma maldita coisa boa. Lucan tinha a
sensação que iriam precisar de toda a sorte que pudessem conseguir.
Sem sorte, não iria se opor em esmagar qualquer um que se colocasse no
caminho da Ordem.
Enquanto ele e Gabrielle viravam a esquina para a sala de conferências da
sede, Lucan ouviu seu filho, Darion, conversar com Gideon e a companheira dele,
Savannah.
Dare não era oficialmente parte da Ordem ainda, mas Lucan tinha que admitir
que aos vinte e um anos de idade, demonstrava ser mais ativo e intelectual no meio de
qualquer batalha. Esta noite, ele e Gideon estavam perseguindo uma pista sobre um
homem Raça na Irlanda com vínculos aparentes com a Opus.
Lucan e Gabrielle pararam para encontrar Gideon sentado diante de um muro
de computadores, com Dare e Savannah estudando detalhadamente os relatórios e
esquemas sobre a mesa de conferências.
Era uma cena familiar que atraía lembranças anteriores, no entanto, a adição
de Darion à imagem fez o peito de Lucan se encher de orgulho. Gabrielle apertou sua
mão com amor, sem dúvida, sentindo a onda de emoção através do vínculo de sangue.
Lucan limpou a garganta e Savannah sorriu ao sinal de saudação. O rosto de
Dare estava intenso, toda sua atenção concentrada em seu trabalho quando seus pais
entraram na sala.
— Não pegamos Riordan ainda? —Perguntou Lucan.
Gideon soltou uma maldição e não tirou seus onipresentes olhos pratas da
estação de trabalho. Passou a mão pelos cabelos loiros espetados. —Além de horas
intermináveis de gravação inútil das câmeras de segurança do trafego dentro e fora do
lugar, não fui capaz de encontrar um caminho ao núcleo de sua rede ainda. O filho da
puta vive num maldito castelo do século XII, pelo amor de Deus. Tem algum tipo de
equipamento de comunicação neste país, mas o protocolo de conexão está fechado.
Não fui capaz de explodir qualquer tipo de conexão ascendente até agora.
Lucan o olhou. —O que isto significa?
Darion foi o primeiro a responder. — A menos que possamos encontrar uma
rachadura na rede de comunicação de Riordan, estamos num beco sem saída em
hackear sua localização.
Houve um tempo — tão recentemente como há algumas semanas — que
Lucan teria se surpreendido, muito, com a profundidade dos conhecimentos de Darion
e amplitude de seus interesses. Acrescentadas suas habilidades táticas e de combate,
aperfeiçoadas sob a tutela de Tegan e uma vez que Darion era um expert em campo,
não havia ninguém igual. Ainda que Lucan e seu filho se enfrentassem mais de uma vez
sobre o tema de sua disponibilidade como verdadeiro membro da Ordem, estas
preocupações estavam se convertendo numa coisa do passado.
—Suponho que estes são os desenhos de Nova sobre o esconderijo de
Riordan. — Lucan fez um gesto aos desenhos à mão, espalhados pela mesa de
conferências.
Darion assentiu. —O melhor que pode se lembrar. Nova disse que não esteve
perto do Darkhaven de sua família há mais de dez anos.
Os olhos castanhos escuros de Savannah estavam sombrios quando olhou
para Dare. — Chamar de Darkhaven é ser muito generoso. O mesmo vale para chamar
Riordan de sua família. Nova não precisou nos dizer tudo o que sofreu nas mãos de seu
pai adotivo, mas é obvio que seu tratamento não foi menos que brutal.
Nova era a companheira Raça, há algumas poucas semanas, de Mathias
Rowan. O casal se conheceu enquanto o comandante da sede da Ordem em Londres
estava investigando uma série de assassinatos em sua cidade e um carregamento de
armas russas.
A tatuada jovem mulher com seus cabelos azuis e negros — com o nome de
Catriona Riordan — foi fundamental para a Ordem ao usar sua inteligência e seus
conhecimentos sobre o macho Raça que a criou. Com a ajuda de Nova, descobriram
que as tatuagens de escaravelho negro dos homens mortos os marcavam como
capangas de Fineas Riordan.
Mas a Ordem não tinha provas para vincular Riordan ao Opus Nostrum até a
confissão de Derek Walsh sobre os assassinatos na Itália. A jactância de Derek sobre
seus planos para impressionar o círculo intimo da Opus através dos assassinatos
impactantes foi ainda mais significativa pelo fato de que ele também tinha uma
tatuagem de escaravelho negro.
Lucan olhou para os desenhos da fortaleza de Riordan e balançou a cabeça. —
Precisamos de algo sólido para nos dizer o que este bastardo fará agora ou o que
queria com aquele contêiner de armas que seus capangas tentaram receber para ele
em Londres. — Lucan olhou para Gideon. — Quanto tempo desde que enviamos nosso
pequeno drone para um passeio?
—Algumas horas.
— E dispararam com apenas alguns segundos de vigilância. — Darion
terminou com o rosto sombrio. — Não chegamos a receber nenhuma informação.
—Jesus cristo. — Lucan girou o cenho franzido para Gideon. — As imagens de
satélite?
—Estamos trabalhando nelas.
—Trabalhe mais rápido. Enquanto isso tenho que ir assegurar a GNC e todos
os outros oficiais chorões no Capitólio de que o ataque na Itália foi um incidente
isolado orquestrado pelo filho mentalmente instável de Walsh. A última coisa que
precisamos é que a palavra de que a Opus está conectado com estes assassinatos saia.
Tudo o que vai fazer é avivar as chamas da histeria pública e temos o suficiente desta
merda para enfrentar como já está.
Todos na sala assentiram com a cabeça, mas a expressão de Darion ainda
mantinha algo de preocupação. — Podemos manejar uma escória como Riordan.
Inclusive podemos manejar a Opus Nostrum quando chegar o momento. Mas isto
ainda deixa os Atlantes.
—Sim. — Disse Lucan. — E temos que estar preparados para esta luta
também. Uma coisa que Reginald Crowe nos mostrou foi que sua espécie pode estar
vivendo sob nossos narizes e ninguém notou. Como o dono, agora morto, do La Notte
em Boston. Ninguém suspeitou que Cassian Gray não fosse humano até que seus
irmãos Atlantes o encontraram.
A mão de Gabrielle desceu suavemente pelo braço de Lucan. — Sim, mas
onde Crowe estava mal, o único delito de Cass foi levar sua filha Atlante para longe de
seu povo para lhe dar uma vida melhor. Não há nada de errado com Jordana. Não
havia nada errado com seu pai então.
—Não é com nenhum deles que teremos que lidar. — Lucan lembrou sua
companheira. — É sua rainha que quer uma guerra. Cass perdeu a cabeça ao comando
de Selene e Jordana terá que ficar escondida de sua avó real pelo resto da vida a
menos que encontremos Selene primeiro.
Darion assentiu com seriedade. — Se o que disse Crowe for verdade, que sua
rainha está tramando uma guerra para acabar com todos os demais, então não temos
outra opção que procurar a cadela e destruí-la. O resto de sua legião também.
Lucan ficou olhando o homem no qual seu filho se converteu, um campeão
sem medo. Não queria imaginar Darion nas primeiras linhas de enfrentamento com
uma raça inimiga poderosa. Mas o comandante nele não podia pedir um melhor
guerreiro para levar esta carga.
—Deixe-me saber quando tiverem algo de Riordan. — Instruiu. — Cada
minuto que deixamos este filho da puta respirar, damos à Opus outra oportunidade
para atacar.

CAPÍTULO TRÊS

Com as pernas vestidas em jeans de Carys ao redor dele e a boca fortemente


na sua, Rune deixou a arena em direção ao seu quarto na parte de trás do clube.
A música alta pulsava ao seu redor, o ruído do clube e as centenas de vozes
iam sendo amortizadas a um zumbido quanto mais Rune se afastava com Carys e
chegava ao quarto dos combatentes, no nível subterrâneo do La Notte.
Não que ele pudesse ouvir muito sobre o martelar sangue em suas veias.
Ele abriu com um chute a porta e a levou para dentro. Não podia esperar para
ficar sozinho com ela. Para estar dentro dela. Assim que passaram pela porta,
pressionou as costas de Carys e tomou seus lábios e língua num beijo febril.
Vinte e cinco minutos de combate corpo a corpo numa jaula sempre o deixava
cheio de adrenalina e com a necessidade de foder e beber. Seu ritual posterior à uma
luta foi durante muito tempo saciar ambas as necessidades no clube de BDSM La
Notte, mas não colocou um pé dentro do clube nas últimas sete semanas.
Carys Chase era tudo o que ansiava agora.
Ela era a única mulher em sua cama todo este tempo, nas poucas ocasiões em
que realmente foram tão longe antes de arrancar a roupa um do outro. Sexo com
Carys o arruinou para qualquer outra mulher. Ela sacava o lado selvagem dele como
nenhuma outra e fazia suas veias esquentarem tanto que mal podia suportar,
especialmente quando seu forte e perfeito corpo se aferrava a ele como agora.
Selvagem e desinibida, a bonita fêmea Raça era uma força crua e poderosa da
natureza.
Quanto ao seu sangue...
Merda. Não podia pensar na tentação que era seu sangue. Sobretudo quando
seu pênis estava tão rígido como granito e doía para estar dentro dela.
Precisava de uma ducha para lavar o suor e a sujeira da jaula, mas Carys não
parecia se importar. Apesar dela merecer muito mais, dava boas-vindas à ele no
momento que se aproximava dela. E nossa, se isto não o deixava mais duro.
Com um braço ao redor de seu pescoço ela usou sua outra mão para soltar os
cordões de couro de sua calça. Caiu por suas coxas e ela agarrou seu eixo. Rune gemeu
enquanto ela acariciava sua longitude. Sua boca ainda estava esmagada contra a dele e
com cada golpe de sua mão a pequena língua entrava profundamente em sua boca.
Cristo, ela era realmente seu vício.
Ele empurrou seus quadris para cima para roçar a ponta de sua ereção contra
seu núcleo. A calça se esfregou contra sua pele, mas o calor de seu corpo chegou até
ele.
—Sinta o duro que me deixa. — Murmurou contra seus lábios, sua voz grossa
com a presença de suas presas. — Precisa ficar nua. Agora mesmo.
—Concordo. — Ela sorriu, deixando descobertas as afiadas pontas de suas
próprias presas enquanto colocava os pés no chão.
Ver Carys em sua forma verdadeira de Raça ainda o desconcertava. O desejo
fazia com que seus olhos azuis brilhassem com pontos âmbar e escurecia suas pupilas.
Como ele em sua necessidade, suas pupilas se estreitavam como os olhos de um gato.
Com as mãos ansiosas, fizeram um trabalho rápido com a blusa preta e a calça
jeans que abraçava seu corpo, depois Carys soltou o sutiã de seda e desceu a calcinha.
Ele a viu nua uma dezena de vezes, mas isto não o impedia de olhar com fascinação os
dermaglifos que ondulavam e se arqueavam sobre os ombros e o peito.
As marcas de pele Raça eram mais delicadas que as que cobriam seu corpo.
Mas sua leveza como plumas e os padrões quase transparentes estavam cobertos por
cores profundas, como os seus, indicando seu desejo profundo.
Tinha dermaglifos e presas, mas ela também carregava a marca de
nascimento de uma companheira Raça. O pequeno símbolo escarlate como uma
lágrima sobre uma meia lua estava do lado esquerdo do pescoço de Carys. Era esta
parte dela que a permitia caminhar à luz do dia, quando Rune e a maioria dos Raças
eram criaturas da noite.
Rune chegou a tocar a pequena marca, passando as pontas grossas dos dedos
por sua suave bochecha, logo até o emaranhado de dermaglifos que dançavam sobre
seu peito.
—É tão malditamente bonita. — Disse com voz rouca, acariciando os mamilos
rosa. Ele deslizou sua mão grande por seu ventre magro até os cachos castanhos entre
suas pernas. Estava úmida para ele, sedosa e quente. Tão condenadamente sexy.
Ele queria segurar as coisas, mas o pico de adrenalina da jaula ainda o estava
montando. Assim como sua necessidade por esta mulher.
Rune levantou seu peso leve nas mãos e a segurou no alto pela cintura. Ela
envolveu suas pernas ao redor de seu quadril, fazendo com que seu pau tocasse o
núcleo escorregadio de seu corpo. Rune entrou forte, a pulsação acelerada, até a
empunhadura.
Carys gemeu, movendo-se contra ele antes que pudesse recuperar o fôlego.
Fogo explodiu em seus olhos enquanto segurava seu olhar, suas presas se estendendo
ainda mais quando o desejo inundou seus glifos. Rune se preparou, com os pés bem
fixos no chão, um braço segurando o peso de Carys e o outro contra a parede em suas
costas enquanto ele lhe dava tudo o que seu corpo exigia.
Não havia necessidade de manter a si mesmo em xeque com ela. Juntos, sua
paixão era explosiva.
Imensa. Como classicamente bonita era, tão delicada como se sentia em seus
braços, Carys era tão poderosa como qualquer homem Raça.
—Sim. — Disse entre dentes em seu ouvido enquanto se estrelava contra ela.
— Rune, sim... foda-me mais forte.
Ele grunhiu feliz em obedecer. Enquanto se conduzia mais fundo, ela gritou.
Suas unhas arranharam suas costas, marcando sua pele, excitando-o mais. Seus
dermaglifos estavam vivos e pulsantes contra seu peito nu, seu corpo sendo
consumido por ondas de calor.
—Vamos, bebê. — Ele disse entre os dentes, as presas aparecendo. — Assim é
como quer?
—Oh sim. — Ofegou. — Dê-me mais Rune. Não me deixe.
Bombeava nela com um rugido forte, já que ambos estavam a toda velocidade
rumo à liberação. Não podia freá-la agora, inclusive se quisesse. Olhou entre eles para
ver o corpo de Carys tenso, seus bonitos glifos pulsando selvagens de uma cor índigo
profundo, vinho e ouro.
Ela estava perto.
Porra, ele também.
As unhas de Carys se cravaram em seus ombros quando a primeira onda
explodiu contra ela. Um grito de prazer saiu dela, a coisa mais quente que Rune jamais
ouviu. Enquanto ela estremecia e se rompia ao redor dele, aumentou a profundidade
de suas estocadas, seu próprio clímax crescendo dentro dele.
Inclinou a cabeça atrás em um grito irregular, martelando nas boas vindas de
seu corpo, sentindo suas paredes estreitas a cada estocada. Quando gozou, foi com
um rugido selvagem, a intensidade de sua liberação arruinando-o.
—Jesus, é tão gostosa em meu pau. — Disse com voz rouca, com a cabeça
inclinada abaixo, olhando-a. — Você continua me fodendo assim e não serei capaz de
lhe negar nada, mulher.
—Quer realmente dizer isto? — Não havia nada de azul em seus olhos agora,
apenas luz âmbar brilhante. Fixos em sua garganta. Lambeu os lábios, logo olhou para
ele, sem pedir desculpas por ser Raça.
Apesar de que ele podia dizer que estava brincando com ele, ficou sério no
mesmo instante. Acariciou o lado de seu bonito rosto. — Conhece nossa regra, amor.
Ela gemeu, arqueando uma sobrancelha fina. — Se eu seguisse todas as
regras, em primeiro lugar não estaríamos juntos, verdade?
Antes que ele soubesse o que estava fazendo, ela abaixou a cabeça e passou a
língua por sua carótida. Sem presas, unicamente suavidade, uma caricia rápida e
úmida, ainda mais potente que qualquer descarga elétrica que jamais recebeu na
jaula.
Santo. Inferno.
Rune grunhiu e a agarrou, içou sobre seu ombro como um saco de batatas. Ela
gritou, as mãos golpeando suas costas, seu cabelo castanho fazendo cócegas em seu
traseiro nu enquanto caminhava com ela através do quarto. Ele a deixou cair sobre o
colchão, logo foi para cima dela.
Estava rindo, desfrutando de sua brincadeira inofensiva, mas neste momento
Rune estava sério. — O vínculo de sangue é irrompível, Carys. Você sabe.
Seu sorriso diminuiu um pouco. — Eu sei.
—O que temos juntos é genial, mas olhe ao seu redor. Olhe para mim. — Ele
negou com a cabeça. — É onde realmente pertence? Ao clube? À multidão fora da
jaula todas as noites? Certeza como a merda que não é o tipo de vida que ninguém
quer para o resto de suas vidas. Nem sequer eu.
—Cuidado, está soando muito parecido com minha família.
—Eles têm o direito de não querer isto. A mim. Nós, juntos desta forma.
—Não importa o que pensam os demais.
Não, não importava. E esta é uma das coisas que respeitava muito nela. Era
uma das muitas coisas que amava nela.
—A primeira vez que a vi, soube que seria um problema para mim. — Ele
cravou os dedos em seu cabelo, sua palma se curvando suavemente na nuca. — Você e
sua pequena gangue de risadinhas, seus amigos desajustados. Percebi no momento
em que entrou, sabia?
Ela sorriu. —Tenho certeza que foi difícil passar despercebidos. Estávamos
muito iluminados pela noite. Já havia passado por muitos clubes antes de terminarmos
aqui embaixo.
Rune negou com a cabeça. — Vi seus amigos, mas a única pessoa em quem
me fixei foi você. Estava caminhando adiante do grupo, era a cabeça. — Seu pau se
agitou com a lembrança, mesmo agora. O mesmo aconteceu com seu sangue,
golpeando com a mesma necessidade forte que sentiu no momento em que Carys
invadiu seu mundo com uma explosão de luz irreparável. —Todo macho nesta noite
percebeu também, mas eu sabia que a teria.
Suas sobrancelhas se arquearam. — Um pouco arrogante.
—Sim. — Ele concordou. — E determinado.
—Uma combinação letal. — Ela sorriu enquanto se inclinava para ele, até
apenas um centímetro separar suas bocas. — Nunca tive uma oportunidade.
—Nem por um momento. — Disse. — E quando voltou na noite seguinte, nem
eu.
Enquanto a beijava e se empurrava novamente em seu calor, não pode deixar
de pensar que se fossem um casal normal, estariam já provavelmente no caminho de
se acoplarem.
Se ele fosse um homem diferente...
Rune afastou os pensamentos inúteis.
Sempre haveria algo que não poderia dar para Carys.
Demônios, nem sequer deu sua total honestidade. O vínculo de sangue abriria
seu feio e vergonhoso passado, seus segredos para ela. Seria atá-la a ele de forma
irrevogável e a escuridão que o acompanhava por quase toda sua vida.
Seria obrigar Carys a enfrentar o perigo que poderia aparecer a qualquer
momento. Como aconteceu antes.
E isto era algo a que nunca se arriscaria, mesmo se significasse um dia afastá-
la dele para sempre.

CAPÍTULO QUATRO

Sentado num sofá na sala, junto com sua companheira Tavia, Slerling Chase
tentava malditamente conversar com seus três convidados sem olhar o relógio na
parede de frente a ele a cada cinco minutos.
Tentou e fracassou, se o olhar de lado de Tavia fosse alguma indicação.
Tão logo ouviu o apito do sistema de segurança do Centro de comando, que
indicava que sua equipe de patrulha da noite voltou, Chase murmurou suas desculpas
e saiu pelo corredor da mansão.
O par de guerreiros que queria ver apareceu no final do corredor, recém-
chegados da varredura pela noite na cidade. —Alguma informação?
—Apenas a típica sexta-feira pela noite de Boston. — Disse Elijah com seu
sotaque suave do Texas. — O que é dizer muito, em função de como estão as coisas
por aqui ultimamente.
—E minha filha? — Chase pressionou.
Jax balançou a cabeça, com os olhos solenes. — Não vimos sinal dela no La
Notte, senhor.
—O lutador estava na jaula? — Ao assentir dos guerreiros, Chase deixou
escapar uma maldição aguda. — Então ela estava ali também. Carys provavelmente se
escondeu no instante que viu vocês entrarem.
E Chase sabia que sua filha tinha a habilidade de evadir qualquer pessoa. O
fato dela poder dobrar as sombras às suas ordens era um dom extra-sensorial que
herdou dele, depois de tudo. Maldição.
Enquanto ele considerava o fato de ter enviado seus homens ao clube de luta
ilegal, apenas para conseguir uma confirmação visual de que sua filha se encontrava
ainda na cidade e inteira, percebeu uma mudança no ar atrás dele.
Tavia estava no corredor agora.
Ela sorriu suavemente para os dois guerreiros que saudaram a companheira
de sangue do comandante com piscadas diferentes. —Está tudo bem por aqui?
—Sim, senhora. — Respondeu Elijah.
A cabeça de Jax balançou em acordo.
—Apenas estavam reportando sobre a patrulha da noite. — Disse Chase.
—Quer dizer, apresentando informações sobre a vigilância noturna à nossa
filha.
Não se incomodou em negar. Tavia sabia o quanto estava preocupado com
Carys vivendo por sua conta agora. Não simplesmente por que era sua única filha, mas
por causa dos perigos que espreitavam Boston e a todos nos últimos tempos. Havia
poucos perigos dos quais a Ordem não tinha consciência.
Tavia também estava preocupada, mas ela era feita de um material mais forte
que ele. Nas semanas posteriores que Carys saiu do Darkhaven da família, Tavia se
reconciliou com o fato de que sua filha era uma mulher adulta à qual deveria permitir
tomar suas próprias decisões.
Por muito que Chase odiasse, não havia nada que pudesse fazer. Ela era
adulta e ele tinha a esperança de que tudo que ensinou em sua vida não apenas
tivesse aprendido, mas arraigado.
Lançou um olhar para o par de guerreiros e amaldiçoou. — Talvez devesse
enviá-los de volta para trazê-la para casa, onde pertence.
Tavia cruzou os braços. — E então o que? Algemá-la na cama? Ela nunca iria
suportar que nós dois ditássemos sua vida desta forma e sabe disso. Iríamos perdê-la
para sempre.
—Ainda poderíamos se não pudermos protegê-la.
— Pelo que ouvi falar seu amigo Rune...
—Amigo? — Chase zombou. — Lutador e assassino a sangue frio de acordo
com sua reputação. Ela pode ficar com o inferno de alguns bastardos melhor que um
lutador em busca de outra conquista fora da arena.
—Carys parece ver algo mais nele que sua reputação. — Tavia lembrou
suavemente. — Nathan e Jordana passaram tempo com Carys e Rune. Ambos disseram
que ele parece se preocupar profundamente com ela. Que ele também é protetor. Isto
soa a mim como se ele a amasse, Sterling.
Chase quase se engasgou com a ideia. — Será melhor que não aconteça nada
com nossa menina — ou o farei pagar e a qualquer pessoa associada a ele. Quanto a
Carys, continuo dizendo que ela pertence aqui. Sobretudo agora. Tenho certeza que
não esqueceu o que aconteceu com Cassian Gray na semana passada ou o fato de que
Carys quase foi arrastada em todo este calvário de Jordana.
Não, claro que sua companheira não se esqueceu. Além do fato de que o dom
extra-sensorial de Tavia era uma memória fotográfica impecável, ninguém na Ordem
esqueceu as circunstancias do assassinato do proprietário do clube La Notte por
soldados atlantes ou o sequestro de Jordana pouco depois.
Tavia apoiou a mão no antebraço de Chase. — Temos duas crianças espertas e
teimosas, meu amor. Se nos perguntarmos de onde vem tudo isto, apenas precisamos
olhar no espelho. — Tavia se inclinou e o beijou no rosto. — Temos visitas na outra
sala. Vamos entrar e tentar ser sociáveis. Deixe o cenho franzido aqui no corredor e
vamos passar um tempo com nossos amigos. — Ela sorriu para os guerreiros. — Eli,
Jax.
—Senhora. — Responderam em uníssono.
Assim que Tavia caminhou para a sala de estar, Chase perguntou aos homens.
— Viram Nathan e Jordana esta noite?
Jax assentiu. — Estavam na sala de operações do Centro de comando com
Aric quando chegamos há alguns minutos.
Chase manteve deliberadamente o irmão gêmeo de Carys longe das patrulhas
que levaria ao clube onde Rune lutava. Aric compartilhava a opinião do pai de que
Carys apenas iria se machucar. Não fazia muito tempo que a tentou dissuadir de ver
Rune e como resultado, seus filhos mal falavam um com o outro.
Chase deixou escapar um suspiro. —Digam a Nathan e Jordana para me
encontrar em aproximadamente uma hora. Tenho que pedir um favor a eles.
Quando os guerreiros saíram, Chase voltou para a sala onde Tavia estava
conversando com Mathias Rowan e sua companheira de Raça, Nova, que chegaram há
pouco tempo de Londres.
Chase conheceu Mathias em seus dias juntos na Agência de Controle Raça de
Boston. Isto foi há mais de vinte anos, mas os dois homens permaneceram amigos
próximos e ambos serviam a Ordem como Comandantes de distrito de suas
respectivas regiões.
Chase nunca viu seu amigo mais seguro e feliz do que agora, junto à Nova. O
contraste entre o casal era surpreendente — o sério e formal Mathias e a tatuada com
cabelos azuis e pretos toda ardente ao seu lado. Os braços tatuados de Nova estavam
cobertos por uma blusa preta com mangas longas que a deixava com um aspecto
diferente e elegante, mas ainda rebelde. E Mathias estava claramente apaixonado por
ela. Esteve segurando a mão de Nova durante toda a noite, quase sem poder tirar os
olhos de sua companheira. A terceira pessoa em seu Darkhaven era de Londres
também e todos estavam visitando Tavia e Chase por alguns dias. A mulher de cabelos
castanhos, Brynne Kirkland, era uma investigadora da Agência de Segurança Urbana
Taskforce e iniciativa Squad. Enquanto a Ordem e os membros do grupo
humanos/Raças tinham uma relação esponjosa, no melhor dos casos, a viagem de
Brynne à Boston não tinha uma relação oficial.
Ela estava passando um tempo com sua meia irmã Tavia.
As mulheres se encontraram cerca de uma década atrás, ambas fêmeas Raças
nascidas num laboratório de um louco que experimentava misturas com os diversos
DNA das companheiras Raça e com o DNA do último sobrevivente Raça antigo. O
resultado produziu as primeiras fêmeas Raças da existência.
Várias Caminhantes do Dia como Tavia e Brynne saíram deste experimento e
sobreviveram à idade adulta, mas todas foram criadas separadas umas das outras e em
segredo, então a maioria permaneceu perdida. Tavia e Brynne estavam trabalhando
para localizar suas irmãs e no processo formaram um vínculo especial.
O encontro desta noite era para ser agradável e informal. A expressão de
Chase parecia uma nuvem de tempestade.
—Problemas na cidade? — Perguntou Mathias.
Tavia arqueou uma sobrancelha, um sorriso tocou o canto de suas bocas. —
Alguns de nós ainda estamos tentando nos adaptar à paternidade, inclusive depois de
vinte anos de prática.
Mathias e Nova compartilharam um olhar. Seu sorriso se ampliou. —Neste
caso, suponho que seja melhor começar a ouvir conselhos e sugestões.
Chase olhou-o com a boca aberta.
Tavia sorriu surpresa. — Refere-se...
As bochechas de Nova se inundaram de calor. Mathias sorriu como um filho
da puta e puxou sua companheira Raça para mais perto. — Apenas soubemos há uns
dias.
—Oh, meu Deus! — Exclamou Tavia. — Estamos eufóricos por vocês!
O rubor de Nova aumentou enquanto murmurava um agradecimento.
Mathias olhou para Chase. — Gostaríamos que você e Tavia fossem os
padrinhos. Por isto queríamos parar aqui antes de irmos para DC nos reunir com
Lucan.
—Será uma honra. — Disse Chase, humilhado pelo gesto de confiança e
amizade. Levantou-se para apertar a mão de Mathias, mas decidiu que a ocasião
merecia mais que gestos rígidos. Ele agarrou o outro macho para um breve abraço. —
É uma honra, meu amigo.
Tavia foi até Nova e a abraçou também com os olhos brilhando. —Felicidades
aos dois.
Quando todos voltaram a se sentar, Tavia perguntou. — Contou a alguém
mais?
—Apenas Eddie. — Disse Nova, em referência à um garoto humano de nove
anos de idade que trabalhava na loja de tatuagens quando ela e Mathias se viram pela
primeira vez. O casal adotou Eddie quando se acoplaram e o garoto agora vivia no
Centro de Comando de Londres com eles.
Houve um tempo que nenhum ser humano era permitido dentro de uma casa
Raça. Muito mudou em vinte anos desde que o Primeiro Amanhecer juntou humanos e
vampiros.
Chase encontrou o olhar de Mathias. — Como o garoto está se adaptando
entre os Raças?
—Muito bem, na verdade. Thane e os outros guerreiros praticamente o
adotaram, junto com Nova e eu. Se conseguirem, provavelmente irão convertê-lo em
um membro da Ordem honorário em poucos anos.
Mathias encolheu os ombros, rindo enquanto acariciava a mão direita de sua
companheira Raça.
Chase não pode evitar se fixar no símbolo Olho de Egito na parte posterior da
mão de Nova. Disseram que sob esta marca havia outra — um escaravelho negro —
feito quando ainda era criança, marcando-a como propriedade de Fineas Riordan, seu
pai adotivo.
A Ordem estava atualmente conspirando para pegar o bastardo por sua
suposta relação com a Opus Nostrum.
Mathias pareceu seguir a linha de pensamento de Chase. Seu rosto ficou sério
quando seu olhar se encontrou com o de Chase através da sala. Queria falar de
assuntos da Ordem, mas havia uma pergunta em seus olhos, uma que Chase percebeu
com um simples movimento sutil do olhar de Mathias para Brynne.
Ela captou o olhar também. — Deveria permitir a todos que conversassem
em privado. Tenho certeza que têm muitos assunto para colocar em dia.
Tavia franziu o cenho quando Brynne começou a se levantar. — Você não está
aqui em missão oficial JUSTIS, Brynne. É minha irmã. Confio em você da mesma forma
que confio nas pessoas nesta casa.
Chase assentiu com a cabeça, completamente cômodo com a integridade e
discrição de Brynne. De fato desde que começou a conhecer a irmã de Tavia, ele a
considerava uma aliada da Ordem. — Não há necessidade de que saia. Sua palavra de
que qualquer palavra que seja dita aqui será confidencial me basta.
Brynne assentiu. — Claro, tem minha palavra.
Mathias reconheceu sua promessa também. — Lucan me disse para preparar
minha equipe para ir atrás de Riordan a qualquer momento. — Disse para Chase. —
Tenho certeza que não tenho que dizer que derrubar este bastardo e todos leais a ele
será um prazer pessoal.
Chase grunhiu. — Todos nos sentimos da mesma forma. Mas temos que nos
assegurar que cada peça esteja em seu lugar. Não pode haver margem para erro. Se
nos movermos muito rápido, podemos perder as pistas de Riordan que conduzem aos
demais membros da Opus. A Ordem tem que desmascarar até o último deles em
primeiro lugar, se temos alguma esperança de acabar com a organização.
Brynne parecia nervosa ante a menção de outros membros da Opus. Ela
começou a dizer algo, mas parou.
—O que foi? — Chase exigiu.
Quando ela franziu o cenho e balançou a cabeça, Tavia a olhou pensativa.
—Conte-nos o que está pensando, Brynne. Estamos confiando em você, assim
tem que confiar em nós também.
—Não tenho nenhuma prova real, mas... — Ela suspirou e soltou uma
maldição. — Tive esta intuição há um tempo. Nada que possa provar. Nada mais que
uma suspeita... sobre Neville Fielding.
—O diretor da GNC em Londres. — Chase murmurou. — Que tipo de
suspeita?
Brynne inclinou a cabeça. — Tenho a sensação de que está envolvido. Tem
que ser alguém com muito dinheiro, porque há algumas semanas, Fielding se mudou
para uma casa que custa acima de suas possibilidades.
Sentado no sofá, Mathias se inclinou sobre os cotovelos. — Há algumas
semanas, este contêiner de armas russas desapareceu no cais no Tamisa.
—O contêiner supostamente iria para Riordan. — Acrescentou Chase.
Mathias inclinou a cabeça. — Teria ido para ele, se Gavin Sloane não houvesse
traído sua gangue de capangas com escaravelho tatuado.
O cenho de Brynne se franziu mais. — Espera um minuto. O Oficial Justis
Sloane morreu em serviço, de acordo com os informes oficiais.
—Foi assassinado no cumprimento do dever. — Disse Mathias. — Por mim.
Depois que filho da puta foi atrás de Nova e morreu muito rápido.
Chase encolheu os ombros. — A Ordem tem seus próprios canais, Brynne.
Asseguramos-nos que os informes oficiais não saiam à luz de forma inconveniente para
Riordan antes de termos oportunidade de terminar em nosso próprio terreno.
Ela amaldiçoou em voz baixa. — Não posso dizer que fico feliz ouvindo isto.
Mas apenas faz com que minha suspeita sobre Fielding aumente. Opus Nostrum é um
problema de todos, não apenas da Ordem. Depois do desastre que tentaram causar
com o acordo de paz da GNC há algumas semanas, devem ser detidos.
— Ao ver que é da família, talvez você e a Ordem possam começar a
compartilhar informação. — Chase sugeriu. — Inclusive as intuições podem ser úteis.
Brynne assentiu. — Posso fazer isto.
—Falando de família. — Disse Mathias. — Fomos capazes de conseguir
qualquer coisa das entrevistas da Ordem com as ex-esposas de Reginald Crowe?
Chase teve que rir ao ouvir sobre as entrevistas. Eles levaram a viúva de
Crowe e cinco ex-esposas, uma por uma das fêmeas humanas, tentaram tudo que foi
possível para tirar respostas do subconsciente deles. Apenas uma delas proporcionou
algo útil. — Nenhuma delas tinha conhecimento da participação de Crowe com a Opus,
mas uma ex-esposa mencionou uma amante de Crowe que parecia passar muito
tempo na Irlanda.
—Irlanda? — Perguntou Brynne. — Não acha que há uma conexão com
Riordan também?
—Não sabemos. — Disse Chase. — A informação da mulher não nos levou a
nenhuma parte. Nem sequer temos um nome ainda.
—Se houver algo que a Justis possa proporcionar — oficialmente — apenas
diga. Opus Nostrum é a maior ameaça terrorista que este mundo já conheceu.
Qualquer coisa que possa fazer para ajudar a derrotá-los, podem contar comigo.
Inclusive enquanto estreitava a mão de Brynne em agradecimento, Chase não
podia evitar pensar que estava errada sobre a Opus. Não eram a maior ameaça.
Não estava disposto a compartilhar a informação real com sua cunhada neste
momento, mas Chase e o resto da Ordem sabiam que viria um tempo difícil com a
ameaça dos atlantes e sua rainha vingativa que eclipsava o que a Opus pudesse sequer
sonhar.
Apenas esperava que a Ordem estivesse pronta para quando chegasse este
momento.
CAPÍTULO CINCO

O elevador desacelerou a uma parada na cobertura no edifico de


apartamentos de Back Bay.
Quando as portas polidas começaram a se abrir, Carys deu um passo adiante
para sair — apenas para ser puxada novamente para os braços de Rune para outro
beijo profundo.
—Porque não vem e passa a noite? — Murmurou contra sua boca. — Jordana
tem ficado no centro de comando com Nathan agora. Vamos ter o apartamento
somente para nós.
Rune gemeu, luz âmbar continuava brilhando em seus olhos azuis escuros
como antes quando fizeram amor em seu quarto no La Notte. — Vou entrar, mas não
posso ficar. Tenho algumas coisas para fazer no clube.
—Está se referindo a se alimentar. — Murmurou, sabendo que ele se
alimentava habitualmente de sangue humano, como a maioria dos outros machos
Raça sem companheira.
O metabolismo único de Carys lhe permitia comer e beber para seu sustento,
mas de vez em quando se alimentava de anfitriões também. No entanto, era difícil não
sentir ciúmes das mulheres humanas que conheciam a picada das presas de Rune e a
sucção de sua boca em suas veias enquanto bebia delas.
—Não preciso me alimentar esta noite, amor. — Seus dedos tocaram seu
rosto, acalmando seu estado de ânimo sombrio. — Jagger e alguns outros
combatentes me pediram para me reunir com eles sobre alguns assuntos do clube.
—Está bem, vou deixá-lo escapar. — Ela o olhou e lentamente negou com a
cabeça. — Não gosto que quase nunca acordamos juntos.
Ele grunhiu, um sobrancelha se levantando. — Acordar juntos implica que
deveríamos deixar o outro dormir.
Ela riu. — Bom, isto é verdade. Nem sequer podemos escolher os momentos
adequados, porque nunca o fazemos fora do clube. Ou melhor, dizendo, fora de sua
cama.
Sua boca se curvou, um arco sensual de seus lábios carnudos que mal
escondiam as pontas de suas presas. — Está se queixando?
A modo de resposta, ela agarrou a parte posterior de seu pescoço e o puxou
para baixo para um abrasador beijo. Rune grunhiu de prazer, seu forte braço ao redor
dela enquanto sua língua abria caminho entre seus lábios para tocar a dela. No mesmo
instante, seu sangue rugiu em suas veias, reavivando o desejo e a fome por ele. Ela
inclinou os quadris e apertou contra seu pau duro.
Rune retrocedeu com uma maldição baixa. — Cristo, você é um perigo,
mulher.
Ela sorriu. — Deveria ser de outra forma?
—Nunca. — Ele acariciou seu rosto, seus olhos crepitantes como brasas
ardentes. —Vamos levá-la para dentro antes de dar ao garoto das câmeras de
segurança um grande espetáculo.
Ela olhou o pequeno monitor no canto do elevador e começou a rir. — Tenho
a sensação de que não seria o primeiro de Seamus aqui. Jordana e Nathan já o fizeram.
—Tenho certeza de que poderíamos surpreendê-los mais. — Rune sorriu. —
Vamos. Antes que me dê muitas idéias más.
Entrelaçando seus dedos com os dela, apertou o botão OPEN nas portas do
elevador, agora fechadas. Saíram juntos e caminharam através da porta de ferro da
entrada da elegante cobertura. O salto das botas de Carys fazia eco no mármore polido
enquanto ela e Rune entravam na sala de estar do grande apartamento.
Seus passos pararam um instante depois, quando viu que Jordana e Nathan
esperavam dentro. Não pareciam planejar ficar muito tempo. Não, pelos olhares sérios
em seus rostos, pareciam estar ali numa missão.
—Deixe-me adivinhar. — Disse Carys. — Quando Eli e Jax informaram ao meu
pai que não me encontraram, ele enviou seu Capitão e minha melhor amiga para me
levar para casa.
A boca de Jordana se torceu em um sorriso irônico. — Nada tão ruim quanto
isto.
—Mas não acho que não virá com o tempo. — Acrescentou Nathan, sua voz
baixa e profunda com uma advertência. — Todos somente querem seu bem estar,
Carys.
Nathan olhou para Rune enquanto falava, dando ao outro homem um gesto
brusco que quase parecia como amizade para o guerreiro letal.
Rune mostrou suas presas um pouco, concedendo a Nathan uma saudação
igualmente reticente. Não era de estranhar, considerando a última vez que os dois
machos Raça se reuniram neste apartamento, Nathan levou Rune a um lado e
ameaçou matá-lo caso fizesse algum mau à Carys.
Jordana se colocou entre os dois grandes homens. — Seus pais se sentiriam
muito melhor sabendo que está em algum lugar seguro. As coisas estão muito
perigosas ultimamente, seria uma preocupação a menos para todos, enquanto a
Ordem se ocupa de tudo neste momento.
Carys cruzou os braços sobre o peito. —Se voltar para casa, meu pai espera
que me encontre menos com Rune.
Jordana lançou-lhe um olhar compreensivo. — Não vou negar que isto será
uma parte também. Você tem que saber que quanto mais se esquivar das tentativas
de seu pai para protegê-la, apenas irá fazê-lo apertar as rédeas.
Nathan grunhiu. — Não ficou feliz com seu desaparecimento no clube esta
noite.
Rune a olhou com as sobrancelhas franzidas. — O que aconteceu?
Carys encolheu os ombros. — Jax e Eli apareceram durante sua luta. Não
queria os cães guardiães de meu pai respirando em meu pescoço toda a noite...
—Assim que dobrou as sombras e os evitou. — Disse Rune balançando a
cabeça. — Jesus cristo, Carys. Apenas estão tentando cuidar de você.
Seu temperamento explodiu. — Sou uma mulher adulta, pelo amor de Deus.
Também sou Raça.
—Sim, é. — Rune concordou. — Mas este não é o momento de testar o
destino. Esqueceu que na semana passada houve uma situação para a qual ninguém
estava preparado?
Ele estava falando do sequestro de Jordana durante a recepção no Museu de
Belas Artes, onde ela e Carys trabalhavam. O homem que levou Jordana golpeou Carys
quando ela tentou intervir e ajudar sua amiga.
—Não sei o que teria feito se algo pior tivesse acontecido com você. — Disse
Rune. — Ou se estes três idiotas que mataram Cass e Syn no clube houvessem
colocado as mãos em você.
Carys o abraçou e acariciou até que ele afastasse a preocupação profunda que
se instalou em sua testa. — Não era a mim que queriam. O único que ficou ferido foi
meu orgulho. E estava com medo por Jordana também.
—Todos ficamos. — Murmurou Nathan.
Colocou as mãos sobre os ombros magros de Jordana, protetor e possessivo.
O guerreiro mortal era dedicado à sua companheira, uma mulher que resultou ser
ainda mais extraordinária do que ninguém jamais imaginou. Carys sorriu ao ver sua
melhor amiga e o guerreiro mais inalcançável da Ordem tão apaixonados.
—Que diabos eram estes homens? — Perguntou Rune nivelando um duro
olhar com Nathan. —Não eram humanos, isto tenho absoluta certeza. Nem Raça.
Nunca lutei com algo assim antes. Não importava o que fizesse, os idiotas continuavam
chegando. Dois deles escaparam, mas morreram? Tive que arrancar a cabeça para
impedir que fugissem. E quando o fiz... uma luz saiu do corpo quase me cegando. Que
merda estamos lidando, guerreiro?
Quando Nathan não disse nada, Carys falou. — Rune deve saber a verdade.
Confio nele.
—Isto o faz um de nós. — Nathan murmurou, com o rosto impassível e
ameaçador. Jordana levantou o queixo, seu longo cabelo loiro platinado caindo como
uma cascata as suas costas.
—Confio nele também, Nathan. E Cass confiava em Rune. Ele o considerava
um amigo.
Os olhos escuros de Rune se estreitaram em Jordana. — Os três que
chegaram ao La Notte depois de matarem Cass... eles disseram que estavam
procurando sua filha, mas pelo que sei e todo o clube também, era que Cassian Gray
não tinha família.
—Eu era um segredo que manteve durante quase vinte e cinco anos. — Disse
Jordana. — Queria me proteger do tipo de homens que foram atrás dele naquela
noite.
—Imortais. — Rune adivinhou.
—Atlantes. — Disse Jordana. —Como Cass. Como eu.
Rune negou com a cabeça. — De onde estes atlantes vieram? Onde vivem
agora?
—Não temos todas as respostas ainda. — Disse Nathan. — A Ordem tem
evidências que sugerem que os atlantes têm uma existência neste planeta tão longa
como a Raça. Mais ainda, de fato.
—Estão vinculados à nós. — Carys apontou. — A Ordem sabe há mais de vinte
anos que os homens de Atlântida tiveram filhos com mulheres humanas e as mulheres
descendentes nasceram com uma marca em forma de lágrima e uma lua crescente.
—Companheiras de Raça. — Disse Rune. Considerou por um longo momento,
logo deixou escapar uma maldição baixa. — Assim que, as filhas dos atlantes estão se
acoplando com membros da Raça. Porque tenho a sensação de que maioria destes
bastardos quer matar a todos?
Nathan grunhiu. — É uma discussão para outro momento. E um lugar mais
seguro.
Rune olhou novamente para Jordana. — Cass nunca disse uma palavra. Nunca
deixou mostrar em nenhum segundo que não era humano. Todos apenas assumiram...
—O mesmo que ela pensava. — Acrescentou Carys. — Jordana não sabia nada
disto, não até depois que foi assassinado pelos soldados atlantes naquele dia, fora do
clube.
Jordana assentiu. — Cass me contrabandeou para fora do reino quando era
um bebê, depois que minha mãe morreu. Ele arrumou para que vivesse entre os
humanos e Raças. —Fez um gesto à sua marca de companheira de Raça. — Ele me
escondeu da vista como filha adotiva de um líder Darkhaven Raça no qual confiava
aqui em Boston.
—Cass nunca se aproximou dela, nunca se arriscou a entrar em contato com
ela de alguma forma. — Disse Carys. — Não até o dia que estes homens o pegaram.
—Ele me visitou no museu naquele dia, mas ainda assim não se revelou como
meu pai. Deveria tê-lo feito. — Jordana murmurou com nostalgia. — Ao que parece,
quando percebeu que não podia deixar atrás seu passado por mais tempo e que seus
inimigos poderiam me encontrar, ele entrou em contato com alguém que poderia me
ajudar.
—Outro atlante. — Rune adivinhou.
—Zael. — Disse Carys, pela primeira vez pronunciando o nome do atlante que
a deixou inconsciente com um potente flash de luz, quando raptou Jordana para sua
própria segurança.
Desde que Zael ajudou Jordana a escapar dos assassinos de Cass e juntos eles
três derrotaram os atlantes que os perseguiam, ela e Nathan consideravam agora Zael
um amigo.
—Zael queria me levar à uma colônia escondida de outros atlantes que
desertaram do reino, onde os inimigos de Cass nunca poderiam me encontrar. Mas eu
disse que não. — Ela inclinou a cabeça para encontrar o terno olhar de Nathan. —
Escolhi ficar onde está meu coração.
Rune virou a cabeça. — Se outros desertaram à uma colônia segura como
disse, então porque os perseguidores de Cass estavam tão decididos a matá-lo e
encontrá-la?
Jordana fez a Carys um gesto de permissão. — Devido que a rainha dos
atlantes é a avó de Jordana.
As sobrancelhas de Rune se levantaram. — O que significa que é uma princesa
atlante?
Jordana assentiu. Carys também.
Nathan franziu o cenho e apontou com o dedo para Rune. — Ninguém pode
saber disso. Se escapar uma palavra, vou matá-lo eu mesmo.
—Vou levar o segredo para a tumba. — Rune prometeu. — Mas... está
dizendo que Cassian Gray não era apenas da Atlântida, mas tinha sangue real
também?
Jordana negou com a cabeça. — Seu verdadeiro nome era Cassiano e ele não
era da realeza. Ele era um soldado da legião da rainha Selene. Minha mãe, Soraya, era
a filha da rainha.
—Merda. — Rune ficou em silêncio por um minuto, segurando o olhar de
Carys de forma incrédula. — Está conversa não sairá daqui. Eu prometo.
Nathan e Jordana assentiram. Carys deslizou seu braço ao redor da cintura
musculosa de Rune e o abraçou.
Ninguém mencionou o outro segredo que foi revelado — o cristal de Atlântida
de Jordana — que Cass roubou do reino, ao mesmo tempo em que levou Jordana para
longe da corte real. Carys o viu, um cristal prateado do tamanho de um ovo, quando
Jordana e Nathan o mostraram a todos da Ordem numa reunião especial sobre sua
volta à Boston. Estava guardado na sede do DC agora, onde Lucan e os outros estavam
tentando determinar suas competências e como poderia ser usado na guerra iminente
contra Selene e sua legião.
O silêncio caiu sobre a sala, Rune levantou o queixo de Carys e a olhou nos
olhos. — Se soubesse de tudo isto antes, eu mesmo a teria levado para sua casa na
Ordem, para sua proteção. Demônios, teria ajudado seu pai a trancar a porta atrás de
você. — Sua profunda voz era um grunhido baixo. — A última coisa que quero em
minha vida é que algo ruim aconteça a você. Diga que entende isto, Carys.
Levantou a mão e tocou seu rosto severo, bonito. — Eu entendo...
—Bom. — Ele segurou sua mão. — Então, se não quiser fazer por seus pais ou
seus amigos, faça por mim.
Ela franziu o cenho e começou a protestar, mas ele não lhe deu tempo.
—Vá para a casa de sua família. Ao menos por agora. — Ele levou sua boca à
dela e lhe deu um beijo no centro. — Fique onde sei que está a salvo.
Ela sorriu, seu coração apertado de emoção. — É um bom homem, Rune.
Ele deixou escapar um suspiro profundo. — Não, amor. Não sou. Mas tenho
razão. Sua família precisa tê-la perto deles agora.
Ela assentiu com a cabeça e logo olhou para Jordana e Nathan. — Suponho
que devo arrumar minhas coisas antes de irmos.

CAPÍTULO SEIS

Carys esteve fora por uma semana, mas parecia como se um ano tivesse
passado desde a última vez que entrou no Darkhaven de Chase. Jordana e Nathan a
deixaram na entrada detrás da grande mansão enquanto se dirigiam ao Centro de
Comando da Ordem e depois para o quarto de Nathan, onde o casal agora ficava.
Carys sentiu a falta deles no mesmo instante, mas foram ao seu pedido, para
poder enfrentar seus pais sozinha. Ajustou a bolsa em seu ombro, logo respirou fundo
e se dirigiu através da parte posterior da casa até a zona residencial. Sua trajetória a
levou até a cozinha, onde ouviu sua mãe conversando com outras duas mulheres.
Carys reconheceu a voz de sua tia. O suave sotaque londrino de Brynne a fazia se
lembrar de festas de galas elegantes e convites para chás.
A outra voz feminina também era britânica, mas mais reservada, apesar de ter
algo de um tom agudo de uma canção de rock. Curiosa, Carys entrou na cozinha.
Sua mãe estava na grande ilha no centro, dividindo uma bandeja de canapés e
sanduíches com suas hóspedes. Ocupando um dos bancos altos do balcão estava
Brynne e em outro uma mulher pequena, jovem e bonita com o cabelo azul e negro,
assimétrico, com inumeráveis tatuagens de cores diversas e vários piercings.
Carys limpou a garganta. — Olá a todas.
Sua mãe se virou para ela com um grito abafado, seu belo rosto se iluminando
na hora.
—Carys! Venha se unir a nós.
Sem censura. Sem julgamento. Apenas ternura e afeto por parte de sua mãe.
Carys entrou e se lançou de braços abertos para sua mãe. Abraçaram-se por um
momento de tranqüilidade antes de Tavia a apresentar para as outras mulheres.
Brynne se levantou para abraçar Carys. — Como me alegro em vê-la.
—Eu também. — Carys respondeu. — Quanto tempo está em Boston?
—Apenas alguns dias. Umas férias muito necessárias do escritório.
Carys assentiu. — Desculpe não tê-la visto antes.
Brynne balançou a mão. — Você está aqui agora.
Tavia fez um gesto para a outra convidada. — E esta é Nova, Carys. Ela é a
companheira de Mathias.
As sobrancelhas de Carys subiram ante a informação. Ela conhecia Mathias
Rowan por toda a sua vida. Apesar de que ouviu que se acoplou recentemente, ela
sempre imaginou que o Comandante de Londres iria se estabelecer com uma mulher
mais como Brynne que Nova, mas tinha que admitir que gostava do casal incomum.
Carys estendeu a mão a modo de saudação. — Prazer em conhecê-la, Nova.
—O prazer é meu. — Nova respondeu, seus dedos delicados e tatuados
aparecendo. Seu sorriso era tímido.
Quando Carys voltou a olhar para sua mãe, Tavia apontou a grande bolsa em
seu ombro. — Istp significa o que imagino?
Carys assentiu. — É apenas temporário. A enorme cobertura estava solitária
sem Jordana ali comigo de qualquer forma.
Sua mãe tocou seu rosto. — Bom, não importa o que a trouxe para casa,
estou feliz que esteja aqui. Seu pai ficará encantado... e aliviado.
Carys deixou a bolsa no chão e logo se aproximou da bandeja de aperitivos.
—Posso? Estou faminta.
Ante o assentir de sua mãe, ela agarrou um sanduíche de pepino e berinjela.
Logo outro. Agora que estava em casa, percebeu quanto tempo se passou desde que
comeu pela última vez. Mais ainda, desde que tomou algo de sangue humano.
Como membro da Raça, precisava tomar glóbulos vermelhos frescos de uma
veia aberta ao menos semanalmente. Nunca pensou muito na necessidade até que
conheceu Rune. Agora a ideia de se alimentar de qualquer outra pessoa, mesmo que
apenas para se alimentar, apenas servia para lembrá-la da única coisa que faltava em
sua relação.
Em algum momento, sabia que teria que aceitar que Rune não estava
disposto a dar este passo com ela.
Carys empurrou o pensamento de lado enquanto pegava um terceiro
sanduíche da bandeja. Enquanto comia, ela olhou toda a arte complexa no corpo de
Nova.
—Quem fez a tatuagem tem um talento impressionante. É realmente um
bonito trabalho.
—Obrigada. — Nova passou uma mão sobre a outra, de braços cruzados
traçando a arte. — A maior parte dela foi feita por meu amigo Ozzy. Era dono da loja
onde eu trabalhava. Morreu há algumas semanas.
Carys lamentou entrar em um tema tão triste para a outra mulher. Ela não
sabia os detalhes, mas podia ver que Nova ainda sentia a perda de seu amigo. — Sinto
muito por sua perda.
—Eu também. Ele era a única família que tinha, além de Eddie, o garoto que
Ozzy adotou depois que ele me salvou das ruas. — Sua expressão de dor se apagou um
pouco. — Agora, tenho Mathias. Formamos uma nova família juntos. Com Eddie
também.
Tavia estendeu a mão para apertar a de Nova carinhosamente. — E seu novo
bebê a caminho.
—Um bebê! Parece que Mathias e sua companheira estão cheios de
surpresas. — Carys sorriu para Nova. — Parabéns!
Ela murmurou um agradecimento, parecendo incômoda e contente ao
mesmo tempo. —Nunca sonhei ter um filho um dia. Nunca imaginei que teria um
companheiro também , principalmente Raça.
A forma como disse, a forma como seus olhos azuis claros se nublaram com
uma escuridão silenciosa antes que ela olhasse para baixo novamente — fez Carys
adivinhar que havia uma grande feiúra e sofrimento no passado de Nova. Mas ela não
iria se intrometer, simplesmente deixaria passar com um comentário. — Tenho certeza
que será muito feliz com Mathias.
—Tenho certeza também. — Nova levantou a cabeça, as nuvens escuras em
seu olhara tinham sumido. — Agradeço todos os dias por Mathias ter entrado na loja
de Ozzy. Estarei agradecida o resto da minha vida por não ter desistido de mim, apesar
de fazer meu melhor esforço para afastá-lo.
—Talvez em algum momento você possa me dizer tudo sobre isto. — Disse
Carys.
Nova assentiu. — Claro. Eu gostaria.
Enquanto as quatro mulheres conversavam de forma leve ao redor dos
sanduíches, soaram passos no corredor fora da cozinha. Um momento depois, o pai de
Carys entrou com Mathias.
—Parece que ouvi a voz da minha filha aqui.
Carys lhe ofereceu um sorriso culpado. — Olá, papai.
Cruzou seus enormes braços sobre o peito, parecendo um formidável
guerreiro, inclusive com uma camisa branca e calça oxford sob medida. — Fico
contente de ver que não tentou se desfazer de Jordana e Nathan esta noite também.
Tavia estalou a língua. — Sterling, não seja duro.
Seu cenho se dirigiu para Carys. — Não sabia que era assim que estávamos
chamando a preocupação de um pai nestes dias.
Ela se endireitou, apesar de saber que tinha o direito de estar irritado. De
estar preocupado com ela. — Não queria aumentar seu estresse com os problemas da
Ordem.
—No entanto, o fez. — Informou. — Num momento em que tudo o que
temos são problemas.
Um temor deslizou por suas costas ante o tom forte. — O que aconteceu? Há
algo mais a respeito da Opus ou outras missões da Ordem?
—Não há nada a nosso favor. — Respondeu. — Ainda estamos reunindo
informações. Apenas temos Riordan na mira agora, quando temos que desmascarar
todos os membros da Opus se quisermos alguma possibilidade de derrubar a
organização.
Mathias assentiu. — Pena que Reginald Crowe não deixou atrás nada sólido
para nos conduzir ao resto de seus companheiros.
—Apenas um rastro frio para uma amante que pode ou não existir. — Disse
Chase.
—Gideon hackeou todas as suas contas comerciais e pessoais, mas Crowe
tomou precauções com seus interesses. Nada que implica qualquer pessoa como
membro da Opus. E se Crowe tinha uma amante, teve o cuidado de manter sua
relação com ela fora da vista. O que nos diz algo, pela falta de discrição em todas as
áreas de sua vida.
Carys sabia sobre Reginald Crowe, claro. Qualquer um que estivesse vivo nos
últimos vinte anos estava familiarizado com o magnata multimilionário que era tão
famoso por suas numerosas e cada vez mais jovens ex-esposas como seu ego sem
limites. Colocou seu nome em tudo o que pode, desde hotéis e cassinos, enormes
subvenções para instituições de arte e ciência. Inclusive o Museu de Belas Artes de
Boston, onde trabalhavam Carys e Jordana fez uma grande exposição de obras
emprestadas por Reginald Crowe de sua coleção pessoal.
Quando Carys ouviu com o que a Ordem e sua família estavam lidando em sua
ausência, sentiu-se culpada pela preocupação que causou em sua necessidade de
estender suas asas. Ela deveria estar ajudando sua família e a Ordem. Em troca, ela
estava preocupada com Rune e provocando involuntariamente mais problemas e
angústia.
—Sinto muito. — Disse Carys olhando para seu pai. — Não percebi tudo o que
estava acontecendo neste momento. Foi egoísta da minha parte sair da forma como
fiz.
—Tem razão nisto. — Ele ainda franzia o cenho, ainda terrivelmente irritado
com ela. — Alegro-me que Nathan e Jordana foram capazes de colocar um pouco de
bom senso onde ninguém mais conseguiu. Alegro-me que alguém foi capaz de
convencê-la de que deve estar em casa neste momento, não correndo com este
lutador pelo La Notte.
Carys caminhou até seu pai. Não parou até que ficou de pé diretamente
diante dele, o suficiente para ver a fúria brilhando em seus olhos azuis, que eram do
mesmo tom que os dela. Ele a olhou em silêncio, as fossas nasais dilatadas.
Rara vez mostrava este lado de si mesmo para sua família, um macho Raça
explosivo. O guerreiro letal. Protetor de toda a cidade de Boston durante os últimos
vintes anos turbulentos e algo mais.
Carys o olhou durante um longo tempo, observando a preocupação de um pai
devoto em sua expressão dura. Ela viu o medo profundo que estava causando em toda
sua família por se distanciar deles quando os perigos que rodeavam a Ordem exigiam
que mantivessem aqueles com se preocupavam mais perto que nunca.
—Eu também te amo, pai. — Ela se levantou nas pontas dos dedos e o beijou
no rosto. — E deve saber quem me convenceu a voltar para casa esta noite. Foi Rune.
Seu rosto ficou completamente surpreso.
Ele não disse nada, apenas olhou silencioso e surpreso para sua companheira.
O amplo sorriso de Tavia iluminou seu rosto, cheio de diversão. — Bom, não
se trata de uma noite cheia de surpresas?
Era verdade, Carys provavelmente sentiu muita satisfação pela rara expressão
de surpresa no rosto em choque de seu pai. Ele era um homem difícil de sacudir, mas
parecia totalmente sem palavras.
Sorrindo Carys pegou sua bolsa e disse que iria se instalar.

CAPÍTULO SETE

Rune sentou no longo bar da arena do La Notte, olhando os recibos desta


noite. O último dos clientes do clube saiu há mais de uma hora. Poucos Raças
permaneceram entre o público, pois costumavam sair para a cidade em busca de
alimentação e os seres humanos tendiam a ir para o andar de cima e tomar bebidas.
Do lado de fora, na parte detrás do clube onde trabalhava Rune agora, um
grupo de empregados do La Notte atravessou a arena, conversando enquanto se
dirigiam para a saída. Os homens e as mulheres eram seres humanos — anfitriões de
sangue e profissionais do sexo nas casas de BDSM.
Rune assentiu para eles e murmurou boa noite enquanto continuava
trabalhando nos livros. A mulher que o alimentou há pouco tempo lhe lançou um
acolhedor sorriso que mal percebeu. Ainda que sua genética Raça exigisse tomar de
uma veia aberta a cada dois dias pelo menos, sua fome parava ali. Durante as últimas
sete semanas, o restante ansiava com apenas uma mulher.
A única mulher da qual nunca seria capaz de tomar entre as presas.
Não quando a união com ela significava deixá-la ver a feiúra dentro dele, as
manchas em sua alma. A vergonha e o horror que deixou muito atrás.
E que tinha a intenção de manter enterrado ali para sempre.
Rune lançou as lembranças sombrias de lado. Estudou os recibos do La Notte,
conciliando os informes digitais para o efetivo e os créditos da noite. Com Cass e Syn
mortos, a gestão do dia a dia do clube ficou nas mãos dele.
Enquanto olhava as faturas das bebidas e a contabilidade de consumo, Jagger
e outros dois Raças — Vallen e Slade — entraram na área do bar no clube. Iam vestidos
com roupa comum, as roupas que usavam na arena estavam nos camarins atrás. —
Tem tempo para conversar agora, Rune?
Ele assentiu com a cabeça e fechou os livros de contabilidade para evitar
olhares curiosos sobre os negócios do La Notte, logo girou no banco para dar aos
homens toda sua atenção. — Diga o que está acontecendo.
Jagger tomou a dianteira. — É o clube, homem. Todos temos conversado
durante alguns dias. Alguma ideia do que vai acontecer agora que Cass está morto?
Antes que Rune pudesse dizer algo, Slade o fez. — Um das garotas que
trabalha nas guaridas disse que os capangas que vieram na outra noite e mataram Syn
perguntaram pela filha de Cass.
O terceiro combatente, Vallan, soltou uma maldição. — Se ele tinha uma filha,
duvido que Cass soubesse. Não era exatamente o tipo de pai carinhoso.
Rune permitiu que falassem, mais interessado no que sabiam ou acreditavam
saber — que em ajudar a esclarecer qualquer confusão. Nenhum dos combatentes do
clube viu os atlantes que mataram Syn. O clube foi fechado depois do assassinato de
Cass.
Syn e Rune eram os únicos ali, além de alguns empregados humanos, quando
os soldados atlantes entraram no clube e começaram a procurar pelos escritórios e
salas particulares de Cass, tanto no subterrâneo quanto no andar de cima.
Em busca de Jordana ou informação que os levasse até ela, Rune entendia
agora.
Uma vez que foi alertado da presença de intrusos, Rune enviou os
empregados para fora para mantê-los seguros. Apenas segundos mais tarde sentiu o
cheiro de Syn no andar de cima.
—Se Cass tem uma família — disse Slade — pergunto-me quanto tempo
levará antes que comecem a espreitar no clube. As lutas podem ser ilegais, mas trazem
dinheiro em efetivo. Muito dinheiro para simplesmente acabar.
Jagger encolheu os ombros. — E se decidirem fechar a arena em seu lugar?
Vallan grunhiu. — Ou converter todo o edifício num novo clube de dança
pseudo-gótico como era há vinte anos?
Slade amaldiçoou entre dentes. — Poderia ser pior. O que acontece se
decidem converter o lugar numa destas malditas lounges?
Jagger riu entre dentes. — O comércio de lutas reais por lutas virtuais é uma
merda, todos os turistas e aspirantes a lutador podem se sentar em suas salas de
simulação e fingir que duram mais de meio segundo em uma jaula.
Rune não gostava destas possibilidades também, ainda que duvidasse que
Jordana faria uma destas coisas com o La Notte. Tinha que admitir, o futuro do clube
era incerto. E dado o que sabia sobre Jordana agora, não podia imaginar que ficasse
com uma empresa que se beneficiava da violência e tinha a libertinagem como ponto
mais alto de sua lista de prioridades.
Os outros homens estavam certos. Precisavam saber onde o La Notte ficaria
agora que seu proprietário se foi.
O rosto de Vallan estava sério. — Passou-se quase uma semana e ninguém
deu um passo adiante para tomar o lugar ou apagá-lo. Todos têm falado de que talvez
devessem fazer outros planos antes que alguém os faça por nós.
—O que quer dizer? — Perguntou Rune.
—Seguir adiante. — Disse Jagger. — Buscar outro cenário ou iniciar um novo,
um nosso.
Rune negou com a cabeça enquanto se levantava do banco. — Ninguém vai
partir. Ninguém vai lutar em outro lugar, sempre e quando esteja aqui.
Vallan cruzou os braços sobre seu peito enorme. — Você está atuando como
gerente desde a morte de Cass, mas quanto tempo vai cuidar de uma empresa que
não lhe pertence?
Era verdade, o clube não lhe pertencia. Nunca foi seu. Rune nunca imaginou
que um dia seria.
Ele e Cass construíram juntos o lugar para proporcionar um espetáculo que
manteria as multidões querendo mais. Foi um arranjo rentável. Rune conseguiu
acumular cerca de um milhão de dólares de suas lutas e ações de jogos procedentes de
Cass a cada vez que Rune entrava na jaula.
O dinheiro era seu futuro. Seu plano de escape, para o caso de precisar, ganho
através de suor, sangue e ossos quebrados.
Nunca teve a intenção de fincar raízes no La Notte, mas tinha uma década no
clube e sentia a obrigação de cuidar dele agora que era o único que poderia fazê-lo.
Conhecia os olhares interrogantes de seus companheiros de luta e encolheu
os ombros. — Alguém tem que manter um olho nos recibos e se assegurar que tudo
seja abastecido. Alguém tem que pagar os empregados, incluindo os três idiotas.
Todos riram. Jagger sorriu. —Sim, e alguém tem controlar o gatinho para ele
também.
Jag apenas estava brincando, mas a risada de Slade era mais aguda. — Suas
mãos estão muito ocupadas com outro tipo de gatinho. Algo guloso, verdade Rune?
Mantendo a exótica gata Caminhante do Dia para você mesmo? Deixe um pouco para
nós antes de se aborrecer e...
Rune caiu sobre Slade. Ele o agarrou pelo pescoço, mostrando as presas, os
olhos brilhantes. — Diga algo estúpido assim outra vez e estas serão as últimas fodidas
palavras que sairão de sua boca.
Slade engasgou, lutando para respirar. Agarrou a mão de Rune, suas próprias
presas aparecendo.
Rune apertou com mais força.
Nem Jagger nem Vallan fizeram um movimento para intervir. Todos no clube
sabiam que Rune reivindicou o lugar do filho da puta mais letal que já entrou na jaula
ao não ter nenhuma piedade de quem ele vencia em uma luta.
Fúria o percorreu e antes de perceber que se movia, tinha Slade imobilizado
contra a parede, com os pés a três centímetros do chão. O lutador Raça lutava com
todas suas forças, o que não era muito, enquanto Rune estava esmagando seu
pescoço, uns poucos segundos antes de terminar com o bastardo.
O rosto de Slade ficou roxo. A saliva espumando nos cantos da boca enquanto
tentava puxar o precioso ar.
—Jesus. — Jagger finalmente murmurou. — Vai matá-lo, Rune.
—Sim. — Grunhiu. — Estou pensando nisso.
Mas no último momento, decidiu deixar Slade ir. O macho da Raça caiu, tossiu
e sufocou, respirando forte e ofegante.
Rune ficou olhando-o, o assassinato a fogo lento em suas veias. — Volte ao
vestiário e recolha suas coisas. Então vá embora daqui.
Slade com uma expressão sombria se virou mostrando as presas. — O... o
que?
—Acabou aqui. — Disse Rune. — Se eu vê-lo novamente dentro deste clube
por qualquer razão, está morto.
—Vá a merda. — Disse com voz rouca, esfregando a garganta dolorida. — Não
pode me mandar embora.
—Acabo de fazê-lo. Quer ir sobre seus pés ou quer arrastar seu cadáver todo
quebrado daqui para esperar que o sol de amanhã se levante em algumas horas?
Slade olhou para seus companheiros de luta por ajuda, mas não conseguiu
nenhuma. Evidentemente levantou-se e saiu, batendo sobre algumas mesas e cadeiras
a seu passo.
Depois que ele se foi, Rune se virou para seus dois colegas. — Alguém mais
tem algo estúpido que quer me dizer neste momento?
Vallan levantou as sobrancelhas. — Uh, ainda não temos respostas sobre o
clube. Porque deveríamos esperar que venha a nova administração e nos foda outra
vez?
—Não podemos ter certeza disto. — Disse Jagger parecendo menos
convencido.
—Tenho certeza. Porque vou comprar a maldita coisa eu mesmo.

CAPÍTULO OITO

Lucan Thorne carregava uma caixa pequena de titânio para a sala de arquivos
da sede da Ordem em DC. A caixa era levemente menor que sua palma, simplesmente
feito a mão, mas por dentro era um tesouro de proporções legendárias.
E desconhecida, potencialmente letal, poderosa.
Quando colocou a caixa sobre a mesa de trabalho da sala de arquivos,
Gabrielle o olhou de forma preocupada. — Tem certeza de que isto é uma boa ideia?
—Longe disso. — Ele girou o cenho franzido para os demais membros da
Ordem reunidos ali neste dia. — Ninguém ficou perto desta coisa desde que Jordana o
encontrou em Boston, na semana passada. Eu me sentiria muito melhor se
mantivermos assim até que saibamos com certeza o que pode fazer.
—Talvez Jenna possa nos dar esta resposta. —Darion disse do outro lado de
Lucan.
Dare, Gideon e Savannah pararam suas investigações sobre a rede de Riordan
quando ouviram que o guerreiro Brock chegou nesta madrugada de Atlanta com sua
extraordinária companheira.
As visitas do casal em DC eram frequentes devido ao trabalho de Jenna na
crescente coleção de arquivos Raça, no entanto, sua aparição na sede era sempre um
acontecimento. Era difícil inclusive para Lucan não se assombrar ante o milagre
genético perto da antiga Jenna Tucker-Darrow.
Nascida humana e completamente mortal, não foi até ser atacada por um
Antig Raça de outro mundo, que começou sua incrível metamorfose. Em vez de matá-
la a criatura alienígena lhe implantou um chip minúsculo com sua biotecnologia.
Este chip, até o dia de hoje estava sob a pele na nuca de Jenna e continha as
lembranças do Antigo e seu DNA. Quando lançou raízes dentro de seu corpo, o
material genético começou a transformar a mulher humana em outra... coisa.
Imune a lesões, doenças ou a idade, Jenna também era inumanamente rápida
e forte. Mas sua transformação não parava por aí.
Pouco depois que o chip foi implantado nela, um leve dermatóglifo apareceu
na parte posterior de seu pescoço. Agora, vinte anos depois, sua pálida pele estava
coberta com glifos intrincados. Inclusive a parte detrás de seu crânio, mal visível sob o
cabelo castanho.
Brock estava ao lado dela do outro lado da mesa, a mão escura do guerreiro
negro acariciando o ombro de sua companheira. — Você não é o único que tem
dúvidas fortes sobre isto, Lucan. — Os lábios de Brock se apertaram enquanto negava
com a cabeça. — Não quero que aconteça nada a você, amor.
Jenna inclinou a cabeça. — Acredite, eu também não, mas os sonhos — as
lembranças — são cada vez mais vivos, mais intensos, toda semana. —Fez um gesto
para a caixa de titânio fechada diante dela. —Não posso deixar de sentir que está é a
razão de tudo. Tenho que saber.
Lucan tinha que dar à antiga oficial da Tropa Estadual do Alaska o crédito.
Jenna nunca recusou um desafio e o medo não parecia ter lugar em seu vocabulário.
Isto não significava que não deixava cada pessoa na sala mais nervosa ao ouvir seu
nome.
—Posso? — Perguntou Lucan, estendendo a mão para tampa da caixa.
Em seu movimento de cabeça, levantou o fecho e abriu a tampa. Sua exalação
lenta se uniu aos outros quando o cristal da Atlântida foi revelado. Todos da Ordem e
suas companheiras viram o objeto do tamanho de um ovo no Centro de Comando de
Boston com Jordana. Mas vê-lo novamente não fazia nada para atenuar a reação, que
foi a mesma de antes.
Com apenas olhá-lo, ninguém confundiria o cristal com algo encontrado na
Terra. Era prateado, de um tom mais claro. Suavemente polido, no entanto, parecia
brilhar com milhares de facetas minúsculas sob a superfície. No centro da caixa de
titânio, o cristal parecia pulsar com uma vida misteriosa.
—Na realidade, há outros quatro cristais como este em alguma parte? —
Perguntou Gabrielle, aproximando-se junto aos demais.
—De acordo com o Atlante que sequestrou Jordana, sim. — Disse Lucan. —
Dois deles foram roubados de seu reino há séculos. Apenas um permanece com a
rainha agora. O outro está na colônia dos atlantes que desertaram do reino. E este.
Jenna olhou para Brock. — Tenho que fazer isto. Se o cristal pode nos dizer
algo mais sobre os Atlantes ou os Antigos, tenho que saber. Temos que saber.
Ele assentiu com a cabeça enquanto acariciava seu rosto com o dorso da mão
grande. — Não gosto desta merda, mas estarei aqui do seu lado.
Colocou a boca em sua palma e lhe deu um leve beijo. — Estou pronta para
fazê-lo. — Disse olhando para Lucan. — Quero fazê-lo.
Quando ele assentiu, Jenna colocou a mão na caixa para pegar o cristal. —
Está quente. — Levantou-o em suas mãos, segurando-o como se fosse um vidro frágil.
— Está ficando mais quente. Posso sentir algum tipo de vibração de seu núcleo. Sente-
se poderoso... vivo, de alguma forma.
Fechou os olhos, concentração enchendo seu bonito rosto. Apenas alguns
segundos se passaram antes que os glifos em suas mãos e braços começassem a pulsar
e se encher de cor.
—Não gosto do que estou vendo, Jen. — A advertência de Brock era séria,
cheia de temor por sua amada. — Será melhor deixá-lo agora, amor.
Ela deu uma balançada de leve com a cabeça, mas não disse nada. Lucan nem
sequer tinha certeza de que poderia falar neste momento.
Suas mãos se fecharam mais apertado ao redor do cristal enquanto se fundia
mais profundamente no que fosse que ela estava fazendo. Uma luz começou a emanar
através dos espaços entre seus dedos.
—Jesus cristo. — Brock grunhiu. — Nunca vi isto acontecer a ela antes.
Lucan concordou. Todos reunidos ali ficaram em um silêncio incômodo, mas
Jenna parecia alheia a tudo, menos ao cristal. Lucan murmurou uma maldição baixa. —
Tudo bem, terminamos aqui.
Brock já estava chegando a sua companheira. — Bebê, deixe-o ir.
No instante que a tocou, a energia se arqueou fora de seu corpo e envolveu o
guerreiro, lançando-o voando pela sala.
Santo. Inferno.
Brock se levantou com uma expressão de horror em seu rosto. — Jenna!
Correu até ela, mas parou a um metro de distância como se um muro
estivesse em seu caminho. Lucan tentou agarrá-la então e ele também foi bloqueado
por um campo impenetrável de energia.
Os dermatóglifos de Jenna começaram a brilhar. Seus olhos permaneceram
fechados, mas suas pálpebras se movimentavam rapidamente, presa em um estado de
sonho.
A luz dentro aumentou. Suas mãos brilhavam como se pegassem fogo.
Sem mais aviso, a energia explodiu fora dela. Raios de luz se dispararam em
todas as direções, tão brilhantes como o sol.
Cada macho Raça na sala cobriu seus olhos diante da explosão pura de
energia.
Lucan e Gideon agarraram suas companheiras, enquanto Brock rugia o nome
de Jenna.
E então, como saiu, a luz se foi.
Lucan levantou a cabeça para encontrar Jenna colocando com calma o cristal
dentro de sua caixa. Brock se virou para ela, puxando-a para um abraço desesperado,
protetor.
—Que demônios? — Disse com voz áspera e rouca. — O que aconteceu?
Estava sem fôlego, seus glifos pulsando vivos em sua pele.
Brock passou as mãos sobre ela. — Você não está sentindo dor.
Não era uma pergunta. O macho da Raça tinha a capacidade única de
absorver o sofrimento humano em si mesmo com um toque. Seu dom lhe diria se
Jenna sentia algum tipo de angústia. Lançou um olhar para Lucan e os demais e logo
balançou a cabeça. — Está sã e salva.
— Eu o vi novamente. — Murmurou. Virou-se para Brock com seus grandes
olhos cor avelã. — Vi a noite do ataque contra o reino de Atlântida, novamente.
Jenna tinha muitos vislumbres da história através de seu enlace de
biotecnologia — as lembranças dos Antigos. Há vinte anos, viu pela primeira vez a
destruição de Atlântida, que foi o primeiro que a Ordem descobriu sobre a guerra
violenta entre a Atlântida e a segunda raça alienígena que habitou a Terra em segredo
durante um período de tempo maior.
—Eles usaram os cristais contra Selene. — Disse Jenna agora. — Na noite do
ataque ao seu reino, os Antigos usaram o poder dos dois cristais de Atlântida, como
este, para destruí-los. Debilitaram as defesas dos reinos, então explodiu a guerra.
—Os Antigos tinham cristais assim também? — Savannah, a companheira de
Gideon perguntou.
Gabrielle se virou para Lucan. — Jordana nos disse que dois dos cinco cristais
foram roubados há muito tempo. Os Antigos os levaram, Jenna?
—Não sei. — Disse. — Minhas lembranças não me disseram ainda, mas
parece ser o provável agora.
As sobrancelhas loiras de Gideon se arquearam sob os óculos de sol. — Se os
Antigos foram capazes de derrotar Selene e sua legião usando dois cristais como este
que temos agora...
Brock se encolheu com o pensamento, com os braços ainda envoltos ao redor
de sua companheira. — E sabemos que há outro nas colônias.
—Diabos, sim. — Darion disse com um amplo sorriso. — E temos alguém com
um vínculo nestas colônias.
Lucan assentiu. A perseguição e a eliminação da Opus Nostrum era de suma
importância, mas se o que Jenna acabou de informar fosse preciso, conseguiram algo
muito importante — possivelmente era um jogo de troca de informações sobre um
adversário ainda mais insidioso. Mas em primeiro lugar, necessitavam determinar se
estavam sozinhos em sua luta contra Selene quando chegasse este dia.
—Tenho que falar com Jordana. — Disse Lucan. — Quero uma introdução cara
a cara com o amigo de Cassian Gray da Atlântida e quero para ontem.

CAPÍTULO NOVE

Carys rabiscou seu nome no tablet enquanto observava os trabalhadores do


museu, confirmando sua aprovação sobre a mudança da exposição e o tempo que as
peças foram retiradas sob sua supervisão. A hora de fechar o Museu de Bellas Artes já
havia passado, mas não tinha percebido. Esta exposição foi sua última tarefa no dia —
um trabalho que normalmente seria de Jordana, mas ela estava de licença temporária
depois de sua terrível experiência na semana anterior e seu acasalamento recente.
Carys foi treinada por sua amiga por meses — Jordana lhe conseguiu o
trabalho no museu e ainda que ela nunca esperasse ser chamada, Carys fez de sua
missão estudar todas as facetas da posição de Jordana. Ela nunca quis ser uma
decepção para sua amiga e sentia a necessidade de demonstrar sua valia.
Não nasceu apenas com a capacidade Raça de seu pai, mas com a memória
fotográfica infalível de sua mãe também. Se tivesse que fazê-lo, Carys podia completar
qualquer tarefa ou se lembrar de qualquer informação que já viu ou ouviu falar.
Quando o último dos quadros foi embalado e levado em um carrinho para um
lugar seguro no prédio, tomou um tempo para passear pelo lugar.
Algo incomodava seus sentidos desde sua volta para o Darkhaven de sua
família na noite anterior. Toda a conversa sobre Reginald Crowe e a incapacidade da
Ordem de penetrar nos segredos do homem e suas conexões sombrias não a deixou.
Estava incomodando-a agora também, enquanto caminhava pela galeria que
continha muitas obras mestras impressionantes que foram emprestadas ao museu por
Crowe nos últimos anos. Mais de uma dezena de pinturas de valor incalculável nesta
exposição pertencia a ele, Carys lembrou-se enquanto olhava para a coleção. Algumas
datavam de mais de cem anos. Outras eram ainda importantes obras de arte valiosas,
porém contemporâneas, ainda.
Ela exalou um breve suspiro, balançando a cabeça enquanto olhava as peças,
sempre pensou que Reginald Crowe fosse um simples humano com gosto pelas coisas
belas e com os bolsos cheios para tê-las. Mas era um Atlante — um imortal de outro
mundo — acumulou riquezas e tesouros por séculos. Se não mais.
Ele provavelmente pensava que era invencível. Durante um tempo, foi. Mas a
Ordem o frustrou antes que tivesse a oportunidade de dar rédea solta ao seu pior.
Agora a Ordem tinha que encontrar o rastro de seus sócios na Opus Nostrum.
A curiosidade de Carys despertou enquanto estudava a coleção de arte
particular de Crowe mais de perto. Algo era diferente ali. Os códigos dos inventários na
identificação de cada quadro mudaram desde que os viu há alguns meses. Isto era...
impar.
Carys abriu seu tablet e olhou a base de dados das doações do museu. Seu
nível de acesso de segurança a este tipo de dados era limitado, mas uma vez esteve
em uma reunião com Jordana e seu conservador chefe no MBA para revisarem uma
coleção particular. Foi preciso apenas se concentrar para se lembrar do padrão de
glifos de identificação de acesso e a senha.
Sem ninguém a olhando agora, Carys entrou com as credenciais e viu como a
base de dados se abria para ela. Percorreu o código de inventario de uma das pinturas
— um raro Renoir de Crowe. O registro do catálogo estava bloqueado, mas a data foi
atualizada recentemente.
Tentou outro código. Outro registro bloqueado, também atualizado
recentemente.
As datas destes dois registros e meia dezena de peças catalogadas foram
modificadas. A data era de duas semanas atrás.
Imediatamente depois que Crowe foi assassinado pela Ordem.
Passos ecoaram dentro do corredor da galeria. A cabeça de Carys virou-se
para o intruso. Seus instintos agitaram automaticamente as sombras ao seu redor, mas
ela conseguiu controlar sua habilidade. Ela lançou ao guarda de segurança um sorriso
agradável quando ele colocou a cabeça na galeria de exposições.
—Trabalhando até tarde, Srta. Chase?
—Não por muito tempo. — Ela segurou o tablet contra o peito. — Apenas
algumas mais para concluir, então irei embora.
O humano uniformizado assentiu, devolvendo o sorriso fácil. — Tenha uma
agradável noite. Se precisar de algo antes de sair, apenas diga.
—Está bem, tenho certeza que não irei precisar. Boa noite, Frank.
Depois que seus passos sumiram no outro extremo Fo piso do museu, Carys
casualmente deixou a coleção de Crowe e voltou para seu escritório. Fechou a porta
com chave atrás de si.
Sentando-se na mesa, voltou aos registros do catálogo em seu tablet. Tinha
que haver uma forma de averiguar porque estas datas foram modificadas. Tinha que
haver uma brecha em algum lugar.
Levou algumas horas, mas continuou procurando, completamente absorta em
sua busca por respostas. Ela percorreu os registros de cada pintura, escultura ou
artefato que pertencesse a Reginald Crowe.
Nada.
Não até perceber outro artigo, lembrou-se que foi cedido por um
multimilionário que não estava entre os expostos. Havia uma peça faltando. Por
intuição, Carys tocou o catálogo de restauração e encontrou a brecha que procurava.
Uma das pinturas de Crowe estava marcada para conservação há semanas.
Ainda estava fora de circulação e não fazia parte do catalogo de acesso bloqueado.
Carys procurou a pintura no tablet e de imediato tomou nota da mesma data
de atualização registrada na peça. Em troca o registro do catálogo fazia referência a
uma transferência de propriedade. Sem dúvida, ela encontraria a mesma atualização
em todos os demais registros que estavam bloqueados.
O novo proprietário de toda a coleção de Reginald Crowe era um fideicomisso
privado e não era sua viúva ou qualquer das cinco ex-esposas.
Que demônios estava acontecendo?
Ou alguém estava cuidando dos interesses de Crowe ou se moveu
sigilosamente para reclamar alguns de seus ativos mais valiosos por sua própria conta.
Emoção percorreu suas veias e Carys ligou para o numero particular de seu
pai no Centro de Comando. Atendeu imediatamente.
—Está tudo nem? Diga onde está.
Depois de voltar para casa na noite anterior, ouvir a preocupação em sua voz
agora não a incomodava. Pelo contrario, de fato. — Estou bem, papai. Estou no museu.
—Tão tarde? — Ainda assim havia uma nota de cautela em seu tom. — É meia
noite.
—É? Não percebi o tempo passar. — O tempo acelerou com a emoção pela
procura de informação. Merda. Iria ao La Notte para ver a luta de Rune. Se não saísse
logo, ela iria perder os primeiros rounds. — Encontrei algo interessante aqui esta
noite. O nome Hayden Ivers significa algo para você?
—Não. Porque deveria? O que é isto, Carys?
—Não tenho certeza, mas este é o nome do gestor do fideicossimo particular
que controla a coleção de arte de Reginald Crowe na qualidade de empréstimo ao
MBA. Um que assumiu ao dia seguinte a morte de Crowe. Acha que esta pessoa
poderia ser útil para a Ordem?
Seu pai deixou escapar uma maldição. —Acho que é um maldito bom começo.
Vendo como fomos e voltamos com as mãos vazias com relação a Crowe, isto poderia
ser nosso melhor atalho agora. Excelente trabalho, Carys.
Com o elogio não pode conter o sorriso. —Espero que sim. Vi algo estranho
em algumas referências de catálogo para a arte de Crowe e decidi entrar mais um
pouco.
—Excelente trabalho, Carys. Quero ouvir tudo. Lucan irá adorar ouvir isto.
Porque não vem para casa e podemos fazer uma vídeo-conferência com ele.
Mordeu o lábio, odiando ter que decepcioná-lo. — Estou eh... na verdade
estou em meu tempo livre...
Manteve a voz baixa, como se precisasse se esforçar para que ele não a
forçasse a voltar para o Darkhaven. Em seu lugar limpou a garganta. — Certo. Vou
informar a Lucan agora e posso esperar por mais amanhã.
—Bom. Boa noite papai.
Ele grunhiu. —Suponho que uma destas noites terei que conhecer este seu
lutador.
—Eu iria gostar disto. — Disse. — E seu nome é Rune.
Outro grunhido. — Que tipo de nome é este de qualquer forma?
Carys sorriu. — Eu o verei quando chegar em casa.
Ela desligou e logo fechou o equipamento e o escritório e saiu correndo pelo
museu para ir ao La Notte. Rune já estaria na jaula, mas apenas perderia o início da
luta.
Exceto que quando chegou ao ladrilho vermelho, uma antiga igreja com um
clube subterrâneo, em lugar de ouvir o pulsar da música, o lugar estava tranquilo. Em
lugar de ver multidões excitadas explodindo dentro do prédio até a rua, as pessoas
saiam. A maioria não parecia feliz por isso.
Carys fez seu caminho através do mar de clientes saindo para a rua, logo se
dirigiu para a arena abaixo. Apenas alguns se mantinham no espaço cavernoso e
inclusive eles se preparavam para sair.
A jaula estava vazia também. E através da escuridão da arena, viu Rune
agachado diante de uma mulher loira chorando sentada em um dos sofás da sala de
estar. Olhou para Carys quando ela entrou, um olhar breve, mas intenso que dizia que
ele sabia que ela estava ali e que seu assunto com a outra mulher era apenas isto que
via.
Carys reconheceu a mulher e um homem que trabalhava nas guaridas de
BDSM. Esta noite, Lexi usava um robe grosso sobre seu traje de couro, obviamente
rasgado. O rímel negro escorria por seu rosto com suas lágrimas. Um hematoma
desagradável estava se formando sob seu olho esquerdo e havia sangue seco em seus
lábios manchados de batom.
Carys caminhou até o bar e viu Jagger e Vallan ali de pé. — O que aconteceu?
Jagger apertou os lábios e negou com a cabeça. — Alguns punks humanos
pensaram que poderiam vir aqui e colocar-se com alguns empregados, agora que Cass
não está aqui para fazer cumprir as regras da casa. Rune impediu e fechou o lugar para
a noite, chutou todo mundo.
Carys se surpreendeu, mas então não era a primeira vez que Rune intervinha
como lei de fato desde o assassinato de Cass. Os outros combatentes Raça pareciam
olhar para ele como seu líder também e não apenas porque era o mais temido e letal
de todos eles.
Rune impunha respeito, porque apesar do perigoso que era, ele seria o
primeiro em defender alguém mais fraco e o último a retratar-se em uma luta, ainda
que não fosse sua batalha. Ele era um guerreiro de coração, um bom homem, ainda
que poucos tomassem um tempo para vê-lo... incluindo ele mesmo.
Carys o viu conversar com a mulher ferida, tentando não sentir o ciúme que
ondulava por ela ao vê-lo com a atenção concentrada na outra mulher. Em troca, ela
caminhou atrás do bar e pegou alguns panos limpos para ajudar a atender os
hematomas da mulher maltratada.
Enquanto ela molhava os panos na pia e colocava gelo neles, procurou o outro
lutador na arena. —Onde está Slade?
Os dois machos Raça trocaram um olhar. Vallan encolheu os ombros. —Ele e
Rune tiveram um desacordo na noite anterior. Slade foi procurar trabalho em outro
lugar.
—Rune o mandou embora? — Ela franziu o cenho. — Por quê? O que fez?
Nenhum dos dois parecia disposto a responder. Por último Jagger falou. —
Talvez seja melhor perguntar a Rune sobre isto.

CAPÍTULO DEZ

Rune assegurou num murmúrio brusco que a mulher nunca voltaria a se


machucar no clube novamente. Quando ficou de pé, sentiu Carys se aproximar.
Seu sangue continuava pulsando quente e agressivo por suas veias depois da
luta na arena antes dela chegar. Agora que estava ali, suas veias começaram a palpitar
por uma razão completamente diferente.
—Aqui, isto deve ajudar. — Levava alguns panos limpos e uma compressa fria,
coisas que não pensou em oferecer. Carys lançou um olhar de preocupação para a
mulher e sentou ao seu lado no sofá. — Está bem, Lexi?
—Acho que sim. O idiota me golpeou e eu o acertei, no entanto.
—Deixe-me ver seu olho. — Carys inspecionou com cautela a lesão. Ela
colocou a bolsa de gelo improvisada contra o hematoma roxo. — Sente-se um pouco
melhor?
A mulher assentiu e Carys sorriu. Pegou um dos panos e suavemente limpou o
sangue da fêmea, depois, limpou as manchas escuras de maquiagem e as lágrimas em
seu rosto.
Rune a observou trabalhar, aliviado por ela parecer saber exatamente o que
dizer e fazer para consolar alguém. Suas próprias habilidades estavam em algum lugar
entre lastimosa e inexistente. Deus sabia, teve pouca experiência com ternura em sua
vida.
Sobreviveu à sua juventude por ser duro. Mortal. Fez a vida desta forma.
Suavidade e afeto nunca tiveram lugar em sua vida, até que Carys entrou nela.
Quando terminou, Rune limpou a garganta. — Isto vai ser um inferno pela
manhã. Porque não tira o resto da semana livre, Lexi, tenha um tempo para se
recuperar. Diga a todos para irem para casa esta noite. Irei cuidar para que todos
recebam o salário completo.
Enquanto ela agradecia e levantava para fazer o que pedia, Rune olhou para
Jagger e Vallan no bar. — Vocês dois podem ir também. Vou para o Lock Up.
Nos momentos de tranqüilidade depois que todos deixaram a arena, Rune
encontrou o olhar de Carys. Sua expressão era de questionamento, preocupada. —Soa
como se tivesse um bom dia.
Ele fez um som irônico na parte posterior da garganta. — Já tive melhores. O
que acontece contigo? Trabalhando até tarde da noite?
—Sim, trocamos algumas exposições, assim queríamos nos assegurar que
tudo saísse perfeito na ausência de Jordana. Mas eu na realidade fiquei mais do que
tinha planejado, porque estava tentando localizar alguma informação protegida sobre
Reginald Crowe para meu pai.
— Está procurando informações para a Ordem? — Rune não pode esconder a
surpresa. Ele estendeu a mão para pegar os panos sujos dela e lançou-os no lixo perto.
— Não pensei que se interessasse pelos negócios da Ordem.
—Não me interessam. Minha família passou o bastão da Ordem para meu
irmão, não para mim. — Ela encolheu os ombros, mas Rune podia ver a emoção
brilhando em seu rosto. Seus brilhantes olhos azuis cheios de entusiasmo e orgulho
como nunca viu nela antes. Parecia exuberante, uma leoa que acabou de atacar sua
primeira presa.
Carys poderia ser uma rebelde de coração, por dentro ela também era uma
mulher inteligente, teimosa e decidida que podia conseguir qualquer coisa quando
colocava na cabeça.
Porque estava com ele, nunca poderia entender.
—Você seria um inferno de um ativo para a Ordem, sabe disso. —
Aproximando-se, ele levantou seu queixo com os dedos. — E seria um inferno de um
adversário para qualquer um que cruzasse seu caminho.
Ela sorriu. — Então é bom que fique do meu lado.
—Bebê, de onde estou parado, tudo o que vejo são partes boas. — Disse,
retrocedendo para lançar um longo olhar para ela.
Ela começou a rir e logo tirou os sapatos de salto e agachou para caminhar
para a jaula aberta, até o centro da arena. — Então, o que aconteceu com Slade na
outra noite?
Sem esperar que ele respondesse, ela lhe deu a visão de seu traseiro tentador
quando entrou na jaula em sua calça preta e blusa cor vinho. Inclinou-se para pegar as
luvas e o colar de aço do chão onde estava caído depois da interrupção da noite.
—Jagger e Vallan disseram que você e Slade tiveram um desacordo.
—Slade é um idiota. Cansei de ver sua cara por aqui, assim que lhe disse para
se perder ou iria conseguir que o matasse.
Voltou seu olhar para ele, abriu muito os olhos, as ondas caramelo de seu
cabelo caía sobre os ombros. — Isto deve ter sido um grande desacordo.
—Sim. —Rune ainda sentia as veias ferverem ao se lembrar das palavras do
combatente e a insinuação ofensiva de sequer pensar que poderia colocar suas mãos
sobre Carys.
Rune a seguiu até a jaula, agora perturbado pela visão de seu colar de aço. Ela
não pertencia ali e não apenas porque estava vestida para um dia de trabalho no
museu. Inferno, de verdade, ela não pertencia a ele também, mas isto não o impediu
de persegui-la por semanas. Seduzi-la direto para sua cama na primeira noite.
—Vai me dizer o que aconteceu, Rune? O que fez e sobre o que discutiram?
—Você.
—Eu? — Ela girou, chispas iluminando seus olhos quando o olhou através da
jaula. — O que tem eu?
—Slade disse algumas coisas que não gostei. — Rune quase grunhiu sua
resposta. — Ele estava sob a impressão ilusória de que alguma vez poderia se
aproximar de você enquanto eu ainda estiver respirando, assim tive que colocá-lo em
seu lugar.
—Oh. — Suas sobrancelhas se uniram enquanto caminhava lentamente para
ele. — Você o colocou diretamente em seu lugar, verdade? E o que quer dizer com
isto?
Rune viu seus quadris balançarem com cada passo. Quadris que suas mãos
coçavam para tocar, arrastá-los até ele. — Expliquei, não com tantas palavras, que
você estava fora dos limites. Assegurei-me que soubesse que era minha.
—Sou? — Um sorriso dançou em seus lábios.
Ela estava jogando com ele agora, desfrutando de sua posse. — Sabe que sim.
—Mmmm, mas sempre gosto de ouvi-lo dizer.
—Você é minha, Carys.
Enquanto estava ali, segurando os objetos de sua brutal profissão nas mãos,
por um instante se apoderou dele um medo que não podia justificar ou explicar.
Também não podia se mover. Com o cenho franzido, ele deixou escapar uma maldição
baixa. — Saía daí agora. Você não deve tocar estas coisas.
Quando ela não obedeceu, ele entrou e segurou sua mão. A necessidade de
romper as luvas e o colar contra a parede mais perto era quase assustadora.
A mão de Carys se aproximou de seu rosto, acariciando sua mandíbula rígida.
Fogo brilhava em seus olhos e seu sorriso ficou um pouco nervoso. — Você defendeu
minha honra.
Oh, ela estava desfrutando do fato. As chispas em seus olhos se
intensificaram, o desejo se acendeu com um calor que o corpo de Rune respondeu
como se estivesse sedento.
Colocando os braços ao redor de seu pescoço, ela inclinou a cabeça para roçar
sua boca contra a dele. — É meu cavaleiro de armadura brilhante.
Zombou. — Quase isto.
—Sim. Apenas não sabe. — Ela segurou seu olhar, estudando-o. — Gostaria
de defendê-lo também, Rune. Não importa de que. O que for. Da morte, se isto for
tudo a que se reduzir.
O pensamento congelou suas veias. — Cristo, não diga isto. Não volte a dizer
esta merda.
—Porque não? É verdade.
—É ruim. — Grunhiu.
Queria sentir ira quando ele olhou para dentro de seus olhos azuis como fogo,
mas foi necessidade que se disparou através em seu lugar. Necessidade tão profunda e
forte que retumbou nele com uma respiração irregular através das presas emergentes.
Não podia deixá-la cuidando dele. Inclusive poderia a matar se não tivesse o
bom senso de dar seu coração a alguém mais digno. Podia dizer que iria morrer por
ele? Cristo. Nenhum homem valia tanto e muito menos ele.
Ela merecia saber.
Merecia entender que estava comprometendo sua vida com um assassino
impiedoso. Não apenas na arena, mas em todos os aspectos de sua vida. Desde a
época quando começou de forma horrível, vivia pela metade agora. Ele não era digno
do amor que ela lhe dava com tanta liberdade.
Com o tempo, a menos que encontrasse força de vontade para se afastar
dela, Carys algum dia descobriria toda a vergonha que ele carregava, inclusive agora.
Se ele fosse um homem honrado, já teria contado tudo. Antes de se importar
com ela. Antes de se deixar apaixonar por ela.
As palavras estavam ali, o veneno na ponta de sua língua.
Tudo o que tinha que fazer era cuspi-lo.
Mas então Carys o beijou. Sua língua entrou em sua boca, passando pelos
dentes e suas presas, gulosa e exigente. A sensação erótica foi diretamente para suas
bolas. Suas presas palpitavam ao mesmo tempo que seu pau e a pouca honra que
tinha foi engolida pelo calor de sua boca.
Ele gemeu, surpreso entre o tormento e o êxtase quando ela apertou seus
braços ao redor de seu pescoço e seu beijo adquiriu uma urgência febril. Suas línguas
se tocavam, presas se chocavam quando Carys se apertou contra ele.
A calça de couro que usava na luta mal continha sua excitação furiosa. Seu
sexo estava duro como uma pedra e faminto para se soltar. A tentação se avivava e ela
o levava à loucura com a pequena boca quente e as curvas sem piedade.
Deslizou uma coxa entre as suas e se apertou contra ela, grunhindo com a
fricção prazerosa de seu eixo contra seu quadril e a língua empurrando dentro e fora
de sua boca.
Tomou tudo o que tinha para manter uma coleira em seus instintos Raça.
Seria tão fácil ceder ao impulso primitivo para tomar o lábio inferior entre os dentes e
morder, o suficiente para extrair sangue. Ao mesmo tempo queria soltar sua boca e
afundar suas presas na carne suave de sua garganta.
Tentador, assim como uma maldição...
Não tinha ideia da frequencia com a qual lutava contra estes impulsos quando
estava com ela.
Também não podia saber. Porque se o fizesse, sua bela rebelde teimosa se
asseguraria que ele cedesse.
Suas bocas ainda estavam unidas, ela deixou cair as mãos para os ombros nus
e seu peito. Os dedos patinavam sobre sua pele, traçando os glifos ondulantes como se
conhecesse os padrões de memória.
Sem dúvida conhecia. De seus dois dons Raça, era sua memória fotográfica o
mais poderoso. Ela sabia exatamente como o tocar, precisamente como levá-lo ao
limite do esquecimento.
Quando ela desceu até os laços soltos de sua calça para segurar seu sexo,
Rune conteve um gemido atormentado. Seu sangue corria por suas veias, a maior
parte indo para o sul para satisfazer a demanda de seu eixo inchado.
Carys segurou a ponta em forma de seta, passando os dedos pela umidade ali.
Sua caricia deslizou ao longo, um movimento seguro e estável que o levou
rapidamente a uma dor insuportável. Ela não demonstrou nenhuma piedade, seu
toque deixando-o tenso como uma corda de aço e ofegante de necessidade.
Rune ainda segurava as luvas e o colar de aço em uma mão. Cada golpe
seguro de seus dedos sobre seu pau duro fazia com que apertasse os punhos e as
pontas se cravassem em sua palma. Mal sentiu a dor com todo o prazer de seu tato.
Precisava tocá-la.
Mas não ali.
A arena era para a dor e a destruição, não algo que compartilhava com ela,
não importava o faminto que estava para tomá-la debaixo dele, independente de onde
se encontravam. Mas não na arena.
Nunca deixaria que esta parte brutal de sua vida se aproximasse do que tinha
com Carys.
Afastou-se de seu beijo com uma maldição dura.
Seu toque suavizou, a confusão brilhando em seus olhos. — O que está
errado?
Ele não respondeu. Não tinha palavras, não precisava.
Levou sua mão ao peito e entrelaçou seus dedos juntos e a levou para fora da
arena.

CAPÍTULO ONZE

Ele a levou pelos corredores vazios da arena até seu quarto, deixando de lado
suas luvas e o colar tão logo entrou com ela. Carys suspirou enquanto suas mãos
encontravam seu rosto e se mantinham ali.
Sem fôlego, leve, ela se derreteu com seu toque quando ele reivindicou sua
boca. Parou apenas tempo suficiente para levá-la com ele até o quarto, sem dizer nada
e depois a tomou em outro beijo abrasador.
Ele não respondeu nada enquanto estavam na arena. Ela sabia que parte de
seu silêncio melancólico podia ser atribuído à necessidade. Ela sentia demasiado o
calor que se acendia entre eles cada vez que estavam juntos.
Mas algo o incomodava. Sabia disto, mesmo antes de sua saída abrupta da
arena. Não podia fingir que não notava.
Quando o beijo finalmente se rompeu, ela apoiou a testa contra a dele e o
olhou nos olhos ardentes. —O que aconteceu, Rune? Porque se fiz algo ou disse algo
que o incomodou...
Franziu o cenho e estendeu a mão para acariciar seu rosto. — Está tudo bem.
Tudo o que tem que fazer é me olhar agora para ver isto.
Soava tranquilo, algo que nunca mostrou antes. Mas seus olhos estavam
ardendo de desejo. Suas presas eram enormes, enchiam sua boca quando falava. A
necessidade deixava sua voz rouca.
Fosse o que fossem as sombras que pensou ver em seus olhos na arena foram
embora, deixando apenas as brasas do desejo agora.
—Mas ali na arena...
Ele a puxou para si, suas grandes mãos segurando seu rosto. — Aqui é onde a
quero neste momento, Carys. Em meus braços. Em minha cama. — Inclinou a cabeça e
deixou os lábios roçaram contra seu ouvido. — Eu a quero em minha língua. Em meu
pau.
As palavras tocaram seus sentidos, evocando imagens dos dois nus, suando e
selvagens um com o outro. Se ele planejou isto para distraí-la, não sabia, mas era
condenadamente difícil aferrar-se às duvidas e receios quando Rune sussurrava
promessas malvadas em seu ouvido.
— O clube está vazio, somos apenas eu e você. — Murmurou com as mãos se
movimentando até os ombros, logo capturando seu traseiro. — Assim esta noite,
tenho a intenção de tomar meu tempo.
Como se para provar seu ponto, ele a arrastou a um beijo que fundiu seus
ossos. Seu pulso chutou a um ritmo mais rápido. Seu sangue corria como rios de fogo
em suas veias.
Inclinou-se para trás e seu olhar caiu em sua ereção que empurrava contra a
calça de couro. Ela sabia muito bem que o pau de Rune era tão impressionante como o
resto dele, mas o grosso contorno de seu eixo a deixava com água na boca e suas
presas explodiram de sua gengiva.
—Cristo, a forma como me olha. — Disse com voz rouca. — Estes olhos
podiam deixar em cinzas um homem, em segundos.
Ela sorriu, encontrando seu próprio olhar quente. Enquanto abria a calça, ela
passou os dedos através dos glifos marrons, ofegando quando sentiu o ar frio contra
suas pernas nuas. Tinha a pele muito sensível, ansiosa por seu toque.
Sua calcinha foi a seguinte. Enquanto deslizava por seu quadril, passou as
mãos ao longo de suas coxas e logo deslizou o dedo pela umidade escorregadia de seu
sexo. Ela segurou o fôlego quando brincou com sua carne sensível, então gemeu em
protesto um instante depois, quando ele afastou seu perverso toque.
—Vamos. — Ele pronunciou, sua voz cheia de desejo. Seus olhos crepitavam
com intenção carnal. — Sente-se na cama e te darei um pouco mais.
Oh, Deus. Ela não podia obedecer rápido o suficiente.
Quando sentou na cama, ele se aproximou e tirou sua blusa. Suas mãos eram
suaves, mas tremiam de desejo mal contido enquanto empurrava as alças do sutiã por
seus braços. Um beijo aqueceu cada ombro, a boca terna, o fôlego fazia florescer seu
núcleo.
Com dedos hábeis, abriu o sutiã, liberando seus seios e revelando os
dermaglifos que se escondiam sob as rendas.
Ele grunhiu, sua boca se curvou em um sorriso enquanto olhava para ela. —
Tão bonita. Não sei o que é mais perfeito, seus seios ou estes glifos sexy que os
decoram.
Seu elogio aqueceu seu sangue ainda mais. Mas logo agachou para beijar seus
seios e os tremores de excitação começaram a vibrar através dela.
Ela envolveu seus braços ao redor dele, com a cabeça caída para trás de
prazer enquanto ele chupava seus mamilos. A sucção de sua boca e a língua enviava
raios de fogo para suas veias. O roce fugaz de seus dentes e presas faziam o calor
dentro dela entrar em ebulição.
Fazia com se contorcesse e retorcesse por mais.
E como Rune prometeu, ela podia dizer que tinha a intenção de dar mais a
ela.
Inclinou-se para trás e colocou as mãos sobre suas coxas. Um baixo ronronar
retumbou profundo de sua garganta, mesmo antes de seus lábios a tocarem.
—Adoro seu cheiro, Carys. Doce, um néctar de mel e especiaria exótica
misturados. — Ele a olhou então, seus olhos quentes e as presas afiadas reluzindo. — E
sei que seu sabor é ainda melhor.
Sua cabeça escura caiu entre suas pernas abertas. A boca se fechou sobre ela,
sua língua foi direto para suas dobras. Quando encontrou o nó de nervos doloridos
situado entras elas, ela gritou de prazer.
Passou a língua e chupou sem piedade. Não passou muito tempo antes que
ela explodisse contra sua língua, ondas após onda a percorreu.
Rune manteve os olhos nos dela enquanto se aproximava, com a boca ainda
fazendo sua malvada magia, enviando uma espiral por seu corpo. Não podia suportar
mais. Precisava senti-lo enchendo-a. Queria sentir o que vinha depois.
—Rune. — Ofegou, suas mãos o agarrando. Seus dedos cavavam em seus
ombros, nos cabelos e ela não tinha certeza se queria que parasse ou lhe desse mais.
—Sou viciado em seu sabor. — Ele gemeu contra ela, lambendo seu creme. —
Mas meu pau também é viciado em você.
Ele se levantou e puxou os cordões de sua calça de couro. Ela caiu, revelando
a pesada lança que era sua ereção. Se ele a achava bonita, esta era a única palavra que
podia usar para ele também.
Não importava quantas vezes o visse nu e totalmente excitado, Carys se
maravilhava ante o tamanho e a potência de seu amante formidável. Como o próprio
homem, seu pênis era impressionante.
Seu eixo era cheio de veias e a ponta brilhante sobressaía longa e grossa de
um ninho de pelos escuros. Glifos se enrolavam ao redor da base e se fechavam como
dedos sobre sua circunferência. Estas marcas Raça na pele eram escuras e vibrantes
como as outras que cobriam o restante de seu corpo.
Ele a empurrou sobre a cama. Mas em vez de segui-la enquanto seu corpo
estava morrendo por ele, avançou lentamente, atrasando o tempo suficiente para
beijá-la nos ossos dos quadris e no ventre, as mãos a percorrendo, deixando-a louca.
Ele seguiu o padrão de seus glifos com os lábios e a língua, traçando cada arco e onda.
Carys se contorcia sob ele, tentando alcançá-lo e colocá-lo na piscina de calor
insuportável entre suas pernas. Ela se arqueou enquanto lhe acariciava a fenda. Sem
brincadeiras agora. Ele a tocava com maestria, sabendo exatamente o que ela gostava,
justo o que precisava.
Ela não era virgem quando foi para sua cama na primeira vez, mas depois de
ter estado com Rune todo este tempo fez com que suas outras experiências sexuais se
transformassem em pó.
Quando pensava que não podia aguentar outro segundo de agonia, ele
deitou-se ao seu lado e lhe tomou a boca em um beijo profundo, enquanto roçava o
dedo contra seu clitóris, fazendo-a tremer e grunhir com um prazer que a deixava
quase selvagem.
—Não posso mais. — Ofegou. — Preciso que acabe com esta dor. Preciso que
me preencha, Rune. E preciso agora.
Ele soltou um som baixo de aprovação da parte de trás da garganta. Suas
presas estavam nuas e enormes, os olhos ardentes com seu calor âmbar quando se
colocou entre suas coxas abertas.
Seu corpo estava molhado, morto de fome por ele. — Agora, Rune. Por favor.
Moveu-se em seu lugar e sentiu a deliciosa pressão de sua cabeça na entrada
de seu corpo. A fome e o desejo a percorreram, agarrou seus ombros e puxou-o para
baixo em um beijo duro enquanto movia os quadris para assentá-lo mais plenamente
em seu núcleo.
Empurrou dentro, estendendo-a com força e oh Deus, sim, entrando todo o
caminho até a empunhadura. Ela gritou de prazer e alívio ante a invasão. Seus dedos
arranharam seus ombros enquanto entrava profundamente, logo saia em uma
lentidão dolorosamente perfeita.
—Está tão quente e úmida. — Ele disse entre dentes, empurrando em um
ritmo mais urgente. — Porra, você é tão gostosa.
Ela apenas pode assentir com a cabeça, suas palavras fugindo enquanto seu
orgasmo se aproximava. Ela apertou suas pernas ao redor dele e se aferrou enquanto
conduzia mais forte, mais profundo.
Quando explodiu contra ela, seu nome foi um grito em seus lábios. Seguido
um momento depois de um grito feroz e agudo.
Levou muito tempo para que voltasse. Carys manteve Rune perto, seu corpo
grande acomodado entre o dela com as ondas finais do orgasmo ainda ondulando
entre eles.
Era tão íntimo como duas pessoas podiam conseguir ficar, mas não podia
deixar de sentir que esta noite, de alguma maneira, ele estava distante. Ele estava se
afastando dela.
Se ela fosse honesta consigo mesma, Rune estava escondendo algo de si
mesmo dela durante algumas semanas.
Talvez desde o início.
Quando ele saiu dela e a puxou para seu calor, Carys tentou dizer a si mesma
que estava imaginando coisas. Mas a leve frieza que se instalou em seu coração
parecia lhe advertir do contrário.

CAPÍTULO DOZE

Parecia estranho acordar em seu quarto, em sua cama, de volta na sua casa
no Darkhaven na manhã seguinte. Estranho, mas reconfortante também. Seu tempo
com Rune foi incrível, como de costume, um momento felizmente cansativo de prazer
e liberação que nunca deixava de doer em todos os lugares corretos e a ânsia da
próxima vez.
Mas enquanto ela tomava banho e se vestia, era outra dor persistente que
ficou com ela. Era algo além de uma boa transa para ele?
Ela inclusive o conhecia?
Sabia que ele se preocupava com ela. Mas de uma vez nas semanas que
estiveram juntos, ele disse que a amava. Ela acreditou. Inclusive agora, ela queria
acreditar que o que tinham juntos era real.
Mas havia peças que faltavam no quebra-cabeça que era Rune.
Havia segredos.
Na noite anterior, viu pela primeira vez a existência dos muros construídos ao
seu redor também. Muros altos que nem sequer percebeu que tinha que escalar.
Muro que, obviamente, não estava disposto a deixar que se aproximasse e muito
menos começasse a escalar.
Rune vinha de princípios duvidosos, ela sabia. Ele disse que se criou nas ruas,
um habitante dos baixos fundos de Boston. Passou a maior parte de sua vida
sobrevivendo dos punhos e outros meios perigosos.
Contou tudo na primeira vez que lhe perguntou sobre seu passado. Ele não
parecia orgulhoso de onde veio, mas não parecia incomodado por nada disto também.
Agora, no entanto, se perguntava...
Estes pensamentos pesados a seguiram quando saiu de seu quarto e foi para a
sala principal da mansão Darkhaven. O lugar estava tranquilo, ninguém por perto. Por
outro lado, às nove da manhã, seu pai provavelmente estaria profundamente
enraizado nos assuntos da Ordem com sua equipe de guerreiros no Centro de
Comando.
Carys caminhou para a cozinha, seguindo o cheiro de assados e café.
Encontrou Brynne sentada no balcão no centro da cozinha tomando café. Usava uma
calça jeans e uma camisa branca impecável, com seu cabelo longo preso em um coque
solto.
Carys sorriu enquanto a meia irmã de sua mãe levantava os olhos. — Bom dia.
—Bom dia. — A expressão da fêmea Raça ficou tímida enquanto mastigava
um grande pedaço de muffin de banana. — Eu sei, realmente deveria tomar algo de
sangue esta manhã, mas de verdade, como posso resistir a tentações deste tipo?
Carys riu. — Apenas um dos benefícios de ser o ganhador da loteria genética.
Não apenas podemos caminhar na luz do dia, mas podemos comer e beber tudo o que
gostamos.
Brynne levantou sua xícara de café a modo de saudação. — E não vai parar
em nossos quadris.
Carys se aproximou e pegou um pãozinho. Começou a morder as bordas
crocantes. — Todos foram para o Centro de comando?
—Há cerca de uma hora agora.
—Minha mãe também?
Brynne sorriu. — Ela me deixou aqui com tudo isto e café, assim não pude me
queixar.
Não era raro que Tavia fizesse parte das revisões das patrulhas e das reuniões
de estratégia. Ela estava muito envolvida com os assuntos da Ordem desde seu
acoplamento com o pai de Carys e era óbvio que Tavia ficava mais feliz quando
trabalhava ao lado de seu companheiro. Mas seus modos impecáveis resistiam em
abandonar um familiar convidado.
—A reunião de hoje deve ser importante. — Carys refletiu em voz alta.
—Deve ser. — Disse Brynne. — Lucan ligou pessoalmente esta manhã, assim
acredito. Algo sobre uma nova pista em uma das operações em curso.
Carys mordeu o pão, sua mente correndo a cem quilômetros por hora. Não
podia a que ela descobriu, verdade? Teria a informação da noite anterior demonstrado
ser útil? Será que havia a possibilidade de ter conduzido a Ordem até outro membro
da Opus Nostrum? A mesma ideia disparou suas veias com uma sacudida de
adrenalina, a emoção da caça.
—Porque não vai descobrir por si mesma?
—O que? — Ela piscou para Brynne.
—Se quer algo, querida, tem que estar disposta a chegar a ele.
Ela ficou com a boca aberta. — O que está dizendo? Que eu quero ser parte
da Ordem?
—Não disse isto. Mas você acaba de fazê-lo.
Carys negou com a cabeça, mas a negação não saiu de seus lábios. — Não
pediram minha ajuda.
—O fato de você nunca ter recebido um convite para a festa não significa que
não a querem ali.
Brynne pegou seu prato e a xícara de café vazia e levou-os para a pia.
Enquanto os lavava, seu telefone tocou no balcão. Murmurou suas desculpas, secou as
mãos e foi para a outra sala.
Mal ela saiu, Carys deixou o café da manhã meio correndo e se dirigiu para o
Centro de Comando.
Ela não precisava adivinhar onde todos estavam porque um ruído surdo de
vozes vinha da sala de guerra do outro extremo do corredor. Carys diminuiu o passo
enquanto se aproximava das janelas interiores e portas com painéis de vidro.
Seu pai a viu imediatamente. Ela esperou um olhar inquisitivo ou mesmo uma
careta, mas em troca, seu bonito rosto se moveu com surpresa. Seus brilhantes olhos
azuis sob o cabelo loiro curto fez sinais para ela entrar.
Ela abriu a porta e entrou na sala.
—Carys. — Disse. — Há algum problema?
—Não, não aconteceu nada. Eu apenas... — Sentiu-se incômoda de repente,
mas teria se sentido mais ainda se cedesse a tentação de dar a volta e sair agora que
todos olhavam para ela.
Sentados ao redor da mesa longa de conferência com ele estavam sua mãe e
a equipe de guerreiros de Boston: Nathan e Rafe, Elijah e Jax. Seu irmão Aric também
estava ali. Mathias e Nova se sentavam juntos do outro lado de seus pais. Jordana
também estava ali, do lado de Nathan.
E na tela na parede de frente à mesa estavam Lucan e Gideon.
Seu pai ficou de pé. — Adiante. Estávamos falando de você.
Na grande tela, a boca severa de Lucan se curvou em um sorriso. — Excelente
trabalho ao rastrear a informação sobre o sócio de Crowe, Carys.
Os chefes assentiram com a cabeça, tanto em DC como os que estavam ao
redor da mesa de conferências de frente a ela.
Inclusive Aric parecia satisfeito e impressionado. Apesar da guerra fria e
pessoal na última semana ou assim, seus olhos verdes se aqueceram ao olhar para ela.
Quando deu um passo mais dentro, puxou uma cadeira vazia ao seu lado.
Carys se sentou. Era a primeira vez que via a sala de guerra de tal ângulo, na
mesa como um deles. Parte do grupo. Sentia-se surpreendentemente cômoda.
Sentia-se muito bem.
—Gideon está colocando Hayden Ivers sob o microscópio, já que nos deu seu
nome na outra noite. — Seu pai lhe informou de seu assento na cabeceira da mesa de
conferências.
—Sim. — Disse Gideon da tela de vídeo. — Ivers é humano. Pratica direito
privado em Dublin, mas durante mais de algumas décadas, apenas lidou com clientes
confidenciais. Dois, para ser mais exato. Alguém se importa em adivinhar quem é o
segundo?
—Riordan? — O pai de Carys praticamente cuspiu o nome. — Tem que estar
fodidamente brincando.
Mathias Rowan acariciou a mão de Nova quando um murmúrio de indignação
percorreu a mesa. — Acha que Ivers poderia ser um membro da Opus também?
—Se ele é, cobriu bem suas pegadas. — Disse Lucan. — Gideon entrou em
seus computadores e encontrou um montão de nada.
—Percorri os computadores de Ivers e as contas de e-mails. — Acrescentou
Gideon. — Não pude encontrar nada que o implicasse com a Opus, nem nada
remotamente suspeito.
Carys franziu o cenho, era difícil esconder sua decepção. — O que acontece
com o fundo de Crowe?
— Apenas pude encontrar algumas referências do documento logo após a
morte de Crowe. Mas nem rastro do próprio documento. Não pude encontrar arquivos
digitais de qualquer tipo pertencente à Crowe ou a qualquer outro aspecto da relação
de Ivers com Crowe.
Chase grunhiu. — Considerando a verdadeira identidade de Crowe, é obvio
que advertiu todos os seus sócios de negócios para serem meticulosamente
cuidadosos com seus assuntos.
Aric sorriu. — É uma pena que ninguém tenha advertido Crowe para ser
cauteloso com a cabeça perto das hélices do helicóptero.
Jax, Eli e Rafe riram com ele à referência do aparecimento do Atlante na noite
de sua tentativa de ataque à celebração da paz com a GNC.
Carys olhou para o grupo de DC na tela. — Tem que haver algum registro de
posse no nome de Ivers. Documentos impressos.
Do outro lado da mesa Mathias assentiu. — Minha equipe em Londres estará
se reunindo ao cair da noite para fazer uma visita à residência de Ivers em Dublin. Se
ele não se mostrar cooperativo, vamos trazê-lo para um interrogatório.
Lucan mostrou a ponta das presas. — Se o homem não quiser falar, estarei ali
pessoalmente para convencê-lo.
—E se não fizer parte da organização? — Carys perguntou. — O que acontece
se o rastro dos sócios de Crowe esfriar novamente com Ivers?
—Continuaremos procurando. — Disse seu pai.
Lucan assentiu. — Neste momento, estamos mais longe do que ontem. Temos
que agradecê-la por isto, Carys.
—Apenas segui meu instinto. — Murmurou, mas o elogio tocou seu rosto
como um raio de sol.
—Mantenha-se seguindo seus instintos. — Disse Lucan. — Precisamos disso.
Precisamos de todos seguindo pistas e trabalhando juntos se queremos eliminar os
membros da Opus das árvores e derrubá-los. Isto vai em dobro para nosso maior
adversário.
O olhar de Lucan foi para Jordana agora. — Foi capaz de entrar em contato
com o Atlante?
O cabelo ouro branco de Jordana fluía sobre seus ombros enquanto negava
com a cabeça. — Queria que fosse fácil assim. Quando meu pai, Cass, convocou Zael
para me encontrar, ao que parece, foi capaz de chegar a ele através do poder de sua
marca. Esta marca.
Ela levantou a mão e o centro de sua palma começou a brilhar. Um símbolo
surgiu, iluminando-se e mostrando a forma de uma lagrima e a meia lua. Uma marca
de companheira de Raça, o símbolo que de fato, se originou dos Atlantes.
Sendo desta raça de imortais, Jordana mantinha a marca escondida no centro
de sua palma desde seu vigésimo quinto aniversário, há vários dias. Ela tinha os
mesmo poderes extraordinários de seu povo, que ela e o restante da Ordem estavam
tentando entender completamente.
Abaixou a mão com o brilho atenuado. — Não sei se Zael recebeu algumas de
minhas tentativas de encontrá-lo, mas continuarei tentando.
—Bom. — Lucan disse. — Tenho que encontrar este imortal o mais rápido
possível. Estarei pronto a qualquer momento que isto ocorra.
Aric franziu o cenho, pensativo e logo afastou seu olhar de Carys para sua
amiga. — Faça isto novamente com sua mão, Jordana. Quero provar algo.
Chase e Tavia trocaram um olhar vacilante. Inclusive o rosto de Nathan estava
serio com precaução. —Tenha cuidado, Aric. Ainda estamos tentando avaliar o alcance
dos novos poderes de Jordana.
Enquanto seu companheiro falava, Jordana levantou a mão. O símbolo no
centro da palma começou a aparecer novamente, iluminando-se com um fogo interno
de outro mundo. Aric se aproximou, estudando-o. — Assim, trata-se de algum tipo de
dispositivo de comunicação da Atlântida?
—Suponho que sim. — Disse Jordana. — Entre outras coisas.
Ele grunhiu e colocou o rosto perto da marca brilhante. Logo começou a rir. —
E.T chama sua casa.
Carys golpeou o grosso e musculoso ombro. — É um idiota.
Mas riu de qualquer forma. O mesmo fez Jordana. Deus, Carys pensou,
quanto tempo se passou desde que ela sorriu desta forma com seu irmão gêmeo?
Quanto tempo desde que ela riu com ele das brincadeiras estúpidas que apenas os
dois podiam apreciar?
Se foi ao Centro de Comando hoje por nada, pelo menos derreteu parte do
gelo que havia entre ela e Aric sobre sua relação com Rune. Ela sentia sua falta.
Lucan limpou a garganta e os olhos voltaram ao líder da Ordem. — Falando
em seguir instintos, estou interessado em saber mais sobre as suspeitas de Brynne
relativas à Neville Fielding. Se houver razões para acreditar que o representante da
GNC de Londres merece um olhar mais de perto, quero a Ordem adiante como for
possível. Precisarei que Brynne me conte tudo sobre suas suspeitas se ela estiver por
perto.
— Ela está acima. — Carys disse, olhando para seus pais. — Posso ir buscá-la?
Em um movimento de cabeça, levantou-se. Jordana também. — Irei com
você.
Carys e sua amiga entraram no corredor e começaram o caminho de volta à
mansão Darkhaven.
Jordana deixou escapar um suspiro suave. — Nunca pensei em procurar nos
registros de Crowe no Museu. Sua coleção aparece no catálogo geral do inventário?
—Ah, no catálogo geral não.
Os olhos de Jordana se abriram mais. — A senha do chefe? Como fez... não
importa, tenho certeza que não quero saber.
—Provavelmente seja melhor assim. — Carys sorriu. — Poderá negar quando
alguém perceber horas depois que a conta foi invadida. E de qualquer forma, eu
apenas comecei com os arquivos do curador. Encontrei o fundo de Crowe nos arquivos
do departamento de restauração.
Jordana balançou a cabeça lentamente. — Com sua capacidade de dedução,
com sua mente cheia de armadilhas, o que está fazendo comigo ajudando em
exposições e recepções? Você deve colocar seus talentos para serem usados de formas
mais importantes. Alguma vez pensou sobre...
Carys lhe lançou um olhar malicioso. — Trabalhar para a Ordem? Isto parece
ser algo que vem acontecendo muito ultimamente.
—Soa terrível para você?
Carys encolheu os ombros, desejando que soasse horrível. — Não estou no
mercado para um novo trabalho. Gosto do que faço no MBA com você. Além disso,
gosto das minhas noites fora. Tenho certeza que minha família adoraria mais que tudo,
para se assegurarem que não tivesse tempo para estar com Rune.
—Ninguém quer que se machuque, isto é tudo.
—Sou uma garota grande. Sei o que estou fazendo. — Exceto que inclusive
enquanto dizia, uma leve pontada de dúvida sobre Rune cobrava vida novamente.
Será que ele partiria seu coração? Não queria pensar que sim. Queria pensar
que era tão importante para ele como ele para ela. No tempo que passavam juntos,
ela quase convenceu a si mesma que tinham um futuro juntos e que algum dia sua
necessidade por ela, seu amor por ela, ignoraria sua determinação em evitar qualquer
relação a longo prazo.
Com muita frequência, seu coração se entretinha com a fantasia de que algum
dia Rune iria sair da arena e deixar a brutalidade do clube e das lutas para trás para
sempre. Logo teriam uma vida juntos, talvez inclusive formassem uma família própria,
estariam acoplados, um casal unido pelo sangue.
Nesta manhã, sentiu os fios da esperança se desintegrar entre seus dedos
como fumaça.
—Ouvi o que aconteceu à noite. —Jordana disse ao virar uma esquina no
longo corredor.
Confusa, Carys a olhou.
—Ontem à noite, no La Notte. Os clientes ruidosos e a mulher que ficou
ferida?
—Oh, sim. As coisas saíram do controle e Rune fechou tudo para passar a
noite e mandou todos para casa.
Jordana assentiu. — Fico feliz por ele ter feito isto. Rune tinha razão, o clube
não pode continuar por mais tempo sem uma gestão adequada.
—Ele te disse isto?
—Quando falei com ele nesta manhã. — Disse Jordana. — Quando me ligou
para fazer uma oferta para comprar o clube.
Carys não tinha certeza de que seus pés deixaram de se mover na realidade
ou se apenas parecia como se ficasse sem chão. Seu coração ficou pesado. — Ele... ele
disse que quer comprar o La Notte?
—Não sabia? —Jordana a olhou horrorizada. — Apenas assumi...
Carys agitou a mão com desdém. — Claro que sabia. Sim, me disse que estava
pensando nisto. Eu não sabia... não percebi que estava pronto para...
Ela estava divagando, esperando como o inferno que soasse convincente
quando suas veias estavam frias e todo seu ser se intumesceu pela surpresa e
decepção.
Com amarga angústia.
Enquanto ela tolamente sonhava que poderia livrá-lo de seu estilo de vida
brutal um dia, Rune estava ocupado lançando raízes.
E nem sequer se preocupou o suficiente para lhe contar.

CAPÍTULO TREZE

Rune sabia que Carys estava no prédio mesmo antes de vê-la. Ainda assim, se
surpreendeu ao encontrá-la sentada no bar por volta do meio dia enquanto levava
uma caixa de equipamentos da jaula para um quarto nos fundos. Um copo e uma
garrafa aberta de Jameson estavam de frente a ela. As fossas nasais de Rune se
dilataram com o cheiro do uísque irlandês.
Ele não precisava ver seu rosto ou se aproximar para sentir que ela estava
fumegante. Ira irradiava de sua forma longa e magra.
Cristo, estava lívida. Tremia de fúria e algo mais que chegou a ele fortemente.
Tristeza. Dor.
Sem olhá-lo, serviu mais uísque.
Sua voz rouca soou na quietude da arena. — O que foi, amor?
—Ouvi que há motivos para celebrar. — Levantou o copo, girou para ele com
um sorriso leve. — Parabéns pela compra do clube.
—Merda. — Claro. Ele não queria que soasse como um segredo entre eles.
Deus sabia que havia muitos sem este. — Jordana contou.
—Pelo menos alguém o fez. — Carys levantou o ombro em um movimento
que era qualquer coisa menos indiferente. — Em sua defesa, ela pensou que eu
soubesse. Acho que deveria ser uma suposição segura, já que você e eu estamos
fodendo quase todas as noites durante as últimas sete semanas.
Quando ela se inclinou atrás e tomou de uma vez o uísque, Rune soltou uma
maldição entre dentes. Deixou a caixa perto da jaula. Quando ela serviu outra dose ele
se aproximou. — O que está fazendo Carys?
—Tenho feito esta pergunta a mim mesma todos os dias.
—Eu ia contar sobre o clube.
—Quando? Depois que assinasse os papéis? — Seus lábios se apertaram. Seus
olhos azuis estavam lançando chispas quentes de ira e decepção. — Quando ligou para
Jordana esta manhã, sabia na noite anterior que iria fazer uma oferta pelo clube. Você
já havia pensado em tudo e tinha planos, mas não disse uma palavra.
—Não apareceu a oportunidade. — Disse. Uma desculpa pouco convincente,
mas era a verdade. — Não pensei que fosse importante.
As chispas de fogo ficaram mais brilhantes. — Está fazendo dele uma parte
permanente em sua vida, mas não achou que fosse importante me dizer?
—Sempre foi uma parte permanente da minha vida. Pensei que soubesse.
Ela afastou o olhar e ele percebeu que não sabia nada sobre isto.
—A luta é a única coisa que sei, Carys. É a única coisa em que sou bom.
—Não é a única coisa. — Murmurou em voz baixa. Sua voz estava seca, como
se a fogo lento com a dor estivesse causando agora.
Tentou ser suave. — Esta é a única maneira como sei viver. Não espero que
entenda isto. Não gostaria que você entendesse o que realmente significa.
—O que acontece se quiser entender? E se disser que preciso entender,
Rune? — Ela o olhou, segurando seu olhar em busca de algo. Apunhalando-o. — O que
acontece se quiser algo mais que isto para você... para nós?
Lentamente negou com a cabeça, sabendo que não havia nada que pudesse
dizer que ela quisesse ouvir. — Nunca serei parte do mundo que você vive. Não da
forma como importa, Carys. Não posso ser.
—Apenas porque se nega a ser. — Disse, vendo através dele como costumava
fazer.
—Ah, o amor. — As palavras eram difíceis de reunir. — Tentei lhe advertir.
Disse para não esperar nada de mim...
Ela riu. — Oh, não se preocupe. Lembro-me das regras. Sem sangue entre nós,
nunca. Vamos passar um bom tempo juntos até não ser um bom momento, então
vamos por caminhos separados. Não há dano, não há falta.
Jesus. Disse realmente algo tão estúpido e cruel? Sabia que sim e Carys com
sua memória impecável, não esqueceu uma sílaba das palavras estúpidas que fixou
para sua relação.
Estendeu a mão para afastar uma mecha de cabelo castanho caramelo para
trás de sua orelha. — Isto é o que queria evitar que acontecesse com você, Carys.
Machucá-la. Decepcioná-la.
—Porque se importa. — Disse como se as palavras estivessem grudadas em
sua língua.
—Sim, porque me importa. — Ele deslizou seus dedos sob o queixo para que
ela olhasse para ele. —Importa mais do que imagina.
Ela se afastou de seu toque. — Porque não quer um vínculo de sangue
comigo?
A pergunta acelerou seu pulso, ainda que a ideia de sua união com ele como
sua companheira enviou um frio por suas veias.
— Não tenho espaço para isto em minha vida.
—Não há lugar para mim.
—Não, não apenas você. — Ele negou com a cabeça. —Inferno,
especialmente você.
—Especialmente eu? — Uma risada irregular saiu dela. — Ao menos está
finalmente sendo honesto a respeito de algo.
Merda. Ele estava fodendo tudo. Dizendo as coisas erradas. Estava deixando
tudo pior.
Em um canto escuro de sua consciência, ele sabia que era o momento em que
poderia fazer o correto por ela, devido ao seu passado. Ali mesmo, neste momento,
poderia deixar Carys ir.
Estava irritada com ele por uma boa razão, já estava ferida. Um empurrão
mais e provavelmente iria odiá-lo.
Mas maldição... não podia fazê-lo.
Não queria deixá-la ir.
Uma maldição dura saiu dele enquanto olhava a miséria em seu bonito rosto.
—Não era para ser assim, Carys. Você seria um problema e eu sabia. Disse a mim
mesmo na primeira vez que a vi. Deveria como uma merda ter ouvido.
Inclinou-se para beijá-la, mas ela se afastou com um grito quebrado.
—Não me toque. — Ela estava fora do banco e de pé a quase um metro de
distancia dele num abrir e fechar de olhos. Seus olhos brilhavam com fúria agora. As
bonitas pontas das presas apareciam por trás de seus lábios enquanto o olhava. — O
sexo não vai solucionar isto, Rune. Estou pedindo que me deixe entrar. Quero saber o
que realmente é.
Na verdade, ela não queria saber.
Não mais do que queria ir ali com ela.
Não podia se abrir a isto. Enterrou esta parte dele no passado, onde
pertencia. E onde planejava mantê-la.
—Você sabe mais do que ninguém, Carys. — Ele passou uma mão pelos
tendões apertados que começavam a doer em sua mandíbula. — Cristo, mulher. Você
sabe mais do que deveria.
—Não é suficiente. Não posso fazer isto contigo. Dói demais.
—Carys... — Aproximou-se dela e ela se esquivou, usando sua genética Raça
para se afastar num brilho de movimento.
Passou pelo corredor através da arena até a entrada dos funcionários na parte
de trás do prédio. Rune foi atrás dela, mas já estava saindo.
—Carys, maldição. Espera um minuto...
Parou apenas tempo suficiente para lançar um olhar ardente sobre seu
ombro.
—Parabéns pelo clube, Rune.
Ela abriu a porta. O painel de metal a expôs sob a luz do sol do meio dia. Raios
quentes entraram no corredor, empurrando Rune novamente para as sombras.
Ele levantou o braço para proteger os olhos e viu ela entrar na luz do sol, onde
sabia que não poderia segui-la. Ela era inalcançável agora. Ela se foi.
Disse a si mesmo que deveria aceitar.
Continuou dizendo a si mesmo enquanto caminhava até o bar da arena e
jogava a garrafa de uísque na parede mais perto.

CAPÍTULO QUATORZE

Depois de um longo dia de conversas no Centro de Comando e a roda de


imprensa e sua própria equipe em Boston, Sterling Chase ainda tinha horas de trabalho
pela frente nesta noite. Mas enquanto caminhava de volta ao Darkhaven com Tavia,
não podia pensar em nada mais urgente que tomar um longo momento para apreciar
o perfeito traseiro de sua companheira enquanto caminhava diante dele no corredor
que conduzia à mansão.
Deu outro passo, depois dois, vendo seus quadris se moverem a cada passo
das longas pernas. Seu firme traseiro o mantinha cativo. Estava envolto em uma calça
sob medida cinza, gostava assim ou nu para seu perverso prazer. Preferia o último. Tão
logo como possível, se tivesse algo a dizer ao respeito.
— Olhe fixamente por mais tempo, vampiro e meu traseiro vai se queimar
com o calor de seus olhos.
Ele riu entre dentes, mas não afastou o olhar um segundo. — Eu conheço
outra forma de esquentar este bonito traseiro.
—Promessas, promessas.
O caminhar de Tavia se converteu em uma brincadeira que fazia seu pulso
acelerar e uma dor ir direto ao seu pau faminto. Ele a alcançou num rápido
movimento, girando-a sobre os calcanhares e tomando-a nos braços. Ela ficou sem
fôlego pela surpresa enquanto batia contra seu peito, mas seus olhos estavam
brilhantes de desejo enquanto ele a beijava.
Suas bocas se uniram num enredo de línguas, a respiração misturada e os
pulsos acelerados. Quando ele se afastou de seus lábios um longo momento depois,
cada célula palpitava com necessidade por mais. Necessidade por ela, sua fêmea. Sua
amada e eterna companheira. — Faz isto comigo cada vez, sabia?
A boca de Tavia se abriu num sorriso que revelava as pontas de suas presas.
—Faço o que?
— Me deixa atordoado cada vez que te vejo. Faz-me pensar no filho da puta
sortudo que sou por ter uma extraordinária mulher como você dona do meu coração.
Ela fez soltou um som gutural que enviou uma sacudida de luxuria
diretamente ao seu eixo. — Talvez devêssemos falar sobre isto com mais detalhe mais
tarde esta noite.
Ele negou com a cabeça. — Não tenho certeza se posso esperar tanto tempo,
querida.
—Terá que fazê-lo. Temos convidados, Sterling. Disse para Mathias e Brynne
que queria se reunir com eles em vinte minutos.
—Não importa. Não se importarão. Mathias certamente entenderá que
precisava de tempo a sós com minha companheira. — Ele acariciou seu rosto e logo
deslizou as mãos para o doce traseiro, o qual estava babando antes. Ele a puxou contra
ele, contra a dura forma de sua ereção. — Eu te quero agora. E não importa quem o
souber.
Ela riu e mordeu seu lábio. — Você é terrível.
—Você é deliciosa.
Ele tomou sua boca em um profundo beijo e logo a empurrou sob seu braço
enquanto se dirigiam para a intimidade do escritório no corredor.
Que resultou não ser tão intimo.
Mathias estava sentado em uma das cadeiras do outro lado da grande mesa.
Brynne estava na outra. Suas sobrancelhas se arquearam ao ver Chase e Tavia,
com os olhos âmbar e as presas aparecendo.
Mathias limpou a garganta e começou a se levantar da cadeira. — Desculpe.
Pensei que iríamos nos reunir e discutir a situação de Londres...
—Sim, iremos. — Tavia soltou-se de Chase, ignorando o grunhido possessivo
de protesto que fez. — Desculpe fazê-los esperar.
—Não, em absoluto. — Mathias parecia incômodo com a intromissão
inoportuna. — Se quiser podemos...
—Seria bom. — Chase respondeu.
Mas como Tavia já estava sentada no extremo mais afastado da mesa, o único
que poderia fazer era sentar-se na cadeira e esperar que não demorasse muito tempo
para sua furiosa ereção diminuir. Ele reuniu seus pensamentos e lutou para se
concentrar no assunto em questão.
—Alguma coisa de sua equipe sobre a casa em Dublin, Mathias?
Balançou a cabeça. — Não, desde algumas horas. Devem estar na cidade e se
dirigindo até a residência de Ivers enquanto conversamos. Meu capitão, Thane,
chamará quando houver notícias.
—Bom. — Chase olhou para a irmã de Tavia. — Aprecio sua discrição nisto,
Brynne. Todos da Ordem apreciamos ter sua confiança. Não apenas sobre a missão em
curso em Dublin esta noite, mas sobre Neville Fielding.
—Nada do que ouvi irá mais longe, eu lhe asseguro. — Disse ela, mas havia
algo coberto em sua resposta. Ela balançou a cabeça vagamente. — E espero que a
Ordem possa apreciar realmente minha discrição e confiança por não falar o que
minha cooperação ativa poderia me custar, se as coisas forem mal e a JUSTIS souber
que estava dentro.
—Ninguém quer que isto aconteça. — Tavia respondeu.
Chase concordou. — A Ordem terá cuidado com Neville Fielding, Brynne.
—Espero que sim. Tenho certeza que não preciso dizer que deliberadamente
esconder informação de meus superiores na JUSTIS sobre uma possível corrupção na
GNC poderia ter consequências desastrosas sobre minha carreira. Se a JUSTIS
averiguar que confiei na Ordem em vez da minha própria organização? Não quero nem
pensar no que poderia significar. Não será apenas minha carreira na linha.
Chase dificilmente podia discutir isto. — E se o diretor da GNC em Londres
estiver sujo e estiver a uma curta distância da Opus e do resto destes doentes, então
você terá a satisfação de saber que ajudou a derrubar um grupo terrorista temido em
todo o mundo. Uma vitória como esta poderia alavancar sua carreira na JUSTIS.
Ela deixou escapar um suspiro. — Não quero um cargo mais alto na
organização. Apenas quero fazer o correto. E isto significa libertar o mundo dos grupos
cancerígenos como a Opus e todos os que os servem.
—Somos conscientes disto, Brynne. E suas preocupações são as nossas
também.
Olhou entre Mathias e ele. — Quando acha que Lucan irá querer começar o
reconhecimento do diretor?
—Logo. — Disse Chase. — Dias no máximo. Neste momento, Fielding não tem
ideia de que vamos olhar. Queremos que seja assim. Queremos que se sinta cômodo
até o momento de se enforcar.
Brynne assentiu. — Não prestará muita atenção a nada esta semana. A filha
de Fielding ficou noiva. O diretor e sua esposa estão organizando uma festa para ela
este final de semana em sua nova casa.
Tavia arqueou uma sobrancelha. — Sua nova casa cara que não deveria ser
capaz de pagar?
—Sim. — Respondeu Brynne. — Convidaram metade de Londres, incluindo
muitos de nós da JUSTIS.
Mathias enviou um olhar irônico para Chase. — Não fui convidado. Sinto-me
desprezado.
Chase sorriu. — Deve ir se acostumando a isto. A Ordem não está na lista de
convidados para estas coisas.
—Que pena. — Mathias arrastou as palavras, rindo. Seu telefone tocou. — É
Thane.
Todos ficaram em silêncio quando Mathias aceitou a chamada de seu capitão
da equipe de operações. Apenas ouvia e pela expressão do rosto do comandante de
Londres, as notícias não eram boas.
—O que quer dizer com está morto? Caralho. Maldição. — Mathias ficou em
silêncio novamente, depois, uma maldição violenta explodiu dele. — Nenhum
registro? Maldição. Alguma ideia de onde poderia estar o cofre?
Chase não gostava do que estava ouvindo. Soava como se a simples missão de
recuperação de informação em Dublin saísse dos trilhos.
—Certo, pegue o que precisa e saía daí. — Mathias ordenou. — Deixe o corpo.
Deixe o maldito lugar queimar.
Mathias desligou e olhou sombriamente. — Hayden Ivers está morto. Parece
ter tomado algum tipo de pílula como meus tios e sua maldita casa está em chamas.

CAPÍTULO QUINZE
Uma mulher soltou um forte grito que soou por todo o lugar, vindo da sala de
conferências.
Carys saiu da cozinha e foi em direção ao grito, com uma enorme camiseta e
calça folgada de pijama, meias e cheia de mau humor segurando um pote de sorvete.
Ela entrou na sala e encontrou Jordana e Nova sentadas no enorme sofá.
Ambas as mulheres estavam com os olhos cravados na grande tela de cinema na
parede num festival de soluço.
Carys se deixou cair entre elas. — Quem morreu?
—Ninguém. — Jordana disse sem afastar os olhos da tela. — São lágrimas de
alegria. Ela acaba de descobrir que está grávida de gêmeos depois de anos tentando e
seu marido a surpreendeu com um berço que construiu com suas próprias mãos.
Carys rodou os olhos. — Em outras palavras, uma completa fantasia.
—Totalmente romântico. — Jordana respondeu. — Gosto de finais felizes.
Desde quando não gosta?
Carys deixou escapar um leve suspiro e afundou a colher no sorvete que
pegou no congelador.
Agora Jordana a olhou. — É de chocolate?
— Chocolate com creme. — Disse Carys com a boca cheia. — E muita
cobertura. Caramelo.
Sua amiga estendeu as mãos para o pote. Quando ela o pegou de Carys, olhou
dentro e franziu o cenho. — Quase acabou.
Carys encolheu os ombros. —Estou usando para fins medicinais.
Jordana o ofereceu para Nova, que se negou com um movimento de seu
cabelo negro e azul. — Geralmente comeria tudo. Mas neste momento, apenas o
cheiro já é suficiente, obrigada.
Depois que Jordana comeu uma colherada grande, ela devolveu para Carys. —
Não está com Rune esta noite.
—Não. Não estou. — Carys olhou para o pote. — Tivemos uma discussão
hoje. Acho que terminei com ele.
—O que? — Jordana a olhou, confusa e surpresa. —Não me estranha que
esteja se medicando com chocolate e caramelo. O que aconteceu?
—De qualquer forma ele me advertiu sobre isto — fui uma tola ao me deixar
envolver por ele. Sempre soube que iria me machucar.
Jordana franziu o cenho. — Esta manhã parecia diferente entre os dois. O que
aconteceu, Carys? Espere um minuto. Tem algo a ver com o clube? Não sabia que ele
queria comprá-lo, verdade?
Carys negou com a cabeça. — Não se trata propriamente do clube. O fato é
que ele não me deixa entrar em sua vida. Não nela toda, de qualquer forma. — Olhou
ao redor de Jordana para incluir Nova na conversa. — Estou vendo este homem há um
tempo. Um lutador Raça na arena na cidade. Claro, minha família não aprova.
—São lugares perigosos. — Nova comentou. — Há uma grande quantidade de
gente perigosa ali.
—Rune é um deles. — Disse Carys, sentindo a necessidade de defendê-lo. Um
pouco. — Quero dizer, ele é definitivamente perigoso, mas apenas na jaula. Fora dela,
comigo, ele é... assombroso. É terno, amável e excitante. Fomos praticamente
inseparáveis nestas ultimas semanas. Nunca me senti mais querida, mais viva, que
quando estou com ele.
Nova ouviu, com um sorriso nos lábios. — Não soa como um problema para
mim até agora.
Não, não soava para Carys também. Mas isto era parte do problema. — Tudo
está bem conosco, exceto quando ele está se contendo. Mantém um braço estendido
e nunca vi isto até hoje. Caí tão rápido e tão fundo por ele, talvez não quisesse ver.
—Soa como se preocupasse com você. — Nova apontou.
Carys assentiu, mas era um esforço fraco. — Quero acreditar que sim, mas há
um muro entre nós e não posso escalar. Não posso evitar sentir que se tentar
ultrapassá-lo, poderia me empurrar para fora uma vez que chegar acima.
Jordana se aproximou e apertou sua mão. Havia um entendimento suave nos
olhos de sua melhor amiga. — Todo mundo tem medo da queda, Carys. Uma vez
alguém me disse que o caminho mais seguro não era necessariamente o melhor. Que
às vezes precisamos estar dispostos a saltar ao desconhecido. Na tempestade.
Carys se lembrou da conversa que teve com Jordana. Foi apenas há algumas
semanas, quando Jordana estava tendo dúvidas sobre arriscar seu coração com
Nathan.
—Ama este macho? — Perguntou Nova.
—Sim. — A verdade saltou com facilidade de sua língua, apesar das dúvidas
sobre as coisas que cercavam Rune. Mas não podia negar o que sentia por ele. Não
para sua melhor amiga, nem sua nova amiga. — Eu o amo com todo meu coração.
—Então não tem outra opção senão tentar chegar a ele.
Carys assentiu, menos segura agora. Ela sabia que o conselho de Nova tinha
sentido, mas sua discussão com Rune ainda estava fresca na memória. Assim, isto era
medo. Se ela desse mais de seu coração e ele o partisse, seria capaz de juntá-lo
novamente?
Não tinha certeza de que estava disposta a correr o risco.
—É assim como foi com você e Mathias? — Perguntou para Nova.
O aspecto rude da companheira Raça se misturava com seu olhar vulnerável.
— Sim, foi assim para nós. Mas eu era a que estava rodeada por muros altos. Mathias
me mostrou que seu amor era forte o suficiente para derrubar estes muros. Agradeço
todos os dias por ele ser teimosos o suficiente para não se render.

CAPÍTULO DEZESSEIS

Pela terceira vez na última hora, Carys olhou o esquema de desenho da


exposição e reverteu as colocações de um par de pinturas de John Singer Sargent. Ela
inclinou-se atrás para o monitor virtual para ver como a mudança pareceria no andar
da sala de exposições.
Sim, isto iria funcionar melhor. Ou não.
Maldição, talvez se ficassem como da primeira vez...
Ela as mudou novamente com um suspiro. Normalmente não era tão indecisa,
mas muitas coisas estavam em sua mente e deixava mais difícil concentrar-se em seu
trabalho no museu.
A notícia de que a equipe noturna de Mathias Rowan em missão terminou
mal na noite em Dublin fez todos ficarem sombrios no Darkhaven. Quando ela saiu
para o trabalho, o Centro de Comando estava fervendo de atividades e comunicação
com DC de ida e volta e mais de uma vez durante o dia Carys teve que reprimir o
impulso de ligar para casa e averiguar o que estava acontecendo. Isto quando seu
pensamento não estava distraído com Rune.
Pensando no fato de que ele não tentou ligar ou enviou uma mensagem
desde que deixou o La Notte na noite anterior.
Deveria ser um alivio, pois ao que parece deixou-a ir. Se realmente não iria
dar certo entre eles, ela preferia que fosse agora, antes de se apaixonar mais por ele.
Ainda doía seu argumento, ainda tentava dizer a si mesma que fez o correto
ao se afastar.
O trabalho ajudou. Concentrou-se com renovada determinação, criando um
plano de exibição que finalizou para aprovação antes de terminar o dia. A metade do
departamento estava trabalhando na noite com ela no projeto especial. Eles estavam
acabando, mas Carys ainda tinha alguns artigos de sua lista para lidar.
Estava no telefone com um colega checando suas peças chaves, quando seu
assistente de departamento bateu na porta. Carys saudou a jovem.
—Alguém está abaixo para vê-la.
Cobriu o telefone e murmurou. — Genial. Provavelmente são os artefatos de
iluminação que pedi para a exposição. Pode assinar para mim, Andrea?
—Não é para iluminação. — Disse a assistente. — Não acho que tenha algo
para assinar...
—Então o que é?
—Não o que é. — Disse Andrea. — É quem é. Um muito grande pedaço
quente. Não posso dizer com certeza, mas acho que é um dos lutadores Raça daquele
clube, La Notte.
Rune? Ele estava ali? Nunca foi ao museu antes. Ele sempre foi tão cuidadoso
em manter seus mundos separados. Apenas uma forma mais de manter seus braços
estendidos.
O que estava fazendo ali agora?
A adrenalina subiu em suas veias, junto com uma injeção de esperança que
fez seu coração acelerar.
Carys colocou uma expressão neutra enquanto se desculpava com sua colega
no telefone e desligava. Sorriu educadamente para sua assistente. — Obrigada,
Andrea. Vou descer.
Depois que a mulher saiu, Carys agarrou um espelho de sua bolsa e
comprovou seu aspecto. Uff, não era bom. Ela não retocou a maquiagem ou o cabelo
desde que chegou ao trabalho esta manhã. Parecia descorada, exceto pelo rubor de
suas bochechas com a notícia da chegada de Rune.
Com um suspiro de resignação, ela fechou o espelho e o jogou novamente na
bolsa. Ele a viu mais despenteada que isto antes e não estava disposta a correr para o
banheiro para se refrescar, não antes de saber o que ele queria. Não importava o
tentador que era a ideia. Ao sair do escritório a um ritmo sem pressa, foi para a escada
principal que conduzia à entrada do museu.
A visão de Rune ali de pé a deixou sem fôlego.
Esperava no centro do vestíbulo, vestido com uma calça preta e uma camiseta
da mesma cor básica que se aferrava ao seu largo peito e os musculosos ombros. Seu
ondulado cabelo castanho caia ao redor do rosto bonito, expondo os cortes
chamativos em seu rosto e na mandíbula quadrada.
Potência irradiava dele, ainda mais quando ele estava usando roupa casual e
de pé no centro do vestíbulo tranquilo, mais que quando estava usando sua roupa de
luta no centro da jaula.
Carys parou no alto da escada. Ela disse a si mesma a noite toda e todo o dia
que estava bem sem Rune, que as horas desde que o viu pela última vez não passaram
mais lentas e foram as mais vazias de sua vida. Todas estas pequenas mentiras viraram
cinzas enquanto olhava para ele agora.
Virou-se e olhou para a escada. Seus olhos queimaram com um calor familiar,
mas seu rosto se manteve neutro.
Ela desceu devagar, apesar do estômago parecer como se centenas de
mariposas voassem em seu interior.
—O que está fazendo aqui? — As palavras saíram dela, soando mais como
uma acusação que uma saudação. —Não deveria estar no La Notte preparando-se para
abrir?
Balançou a cabeça. — Jagger supervisiona a casa esta noite. Eu disse que tinha
outros planos.
Carys desceu a escada até o final, mas ficou onde estava na parte inferior,
vacilante ao redor dele agora. Cruzou os braços, mais para evitar ceder à tentação de
tocá-lo. — Que tipo de planos?
—Um encontro adequado. — A sombra de um sorriso puxou a boca sensual.
— Ao menos acho que é aí onde me dirijo.
—Encontro adequado? — Ela soltou o ar suavemente. — Devido a que você
quer ou porque isto foi o que eu disse há algumas noites?
—Ambos. — Diminuiu a distância entre eles, fazendo cada terminação
nervosa de seu corpo reagir em consciência. Com nostalgia. — Estou tentando pedir
desculpas, Carys. Estou tentando fazer o correto entre nós.
Ela não podia invocar as palavras. Deus, ela mal podia respirar pelo caos
repentino de emoções que se agitavam em seu interior. Ela queria perdoá-lo. Queria
se lançar em seus braços, sem importar se estavam de pé no meio de seu lugar de
trabalho.
E não era sem público. Pelo canto do olho observou as pessoas que se
reuniam na sacada com vistas para o vestíbulo. Andrea e alguns outros colegas de
departamento estavam ali, olhando com ávida curiosidade.
Carys abaixou a voz. — Estou trabalhando, Rune. Deveria ter ligado primeiro.
Ele inclinou a cabeça em reconhecimento indiferente, mas seus olhos azuis
escuros ficaram fixos nela. — Não queria lhe dar uma saída fácil. Esperava que fosse
mais difícil dizer não na minha cara.
Era e o último que queria fazer era dizer não agora. Mas não podia facilitar
para ele. Ele a machucou e o gesto de galã não iria consertar as coisas entre eles, não
mais que uma transa o faria. Não que ela esperasse ter força de vontade para negar-
lhe isto.
—Não posso sair agora. — Murmurou. — Tenho que terminar o que estava
fazendo e poderia levar um tempo...
—Esperarei.
O olhar determinado em seu rosto não deixava margem para discussão.
Também roubou algo da indignação e da teimosia dela.
Encolheu os ombros. — Faça como quiser, então. Vou terminar e se continuar
por aqui quando terminar, talvez possa conversar.
—Estarei aqui, Carys. — Ele ternamente acariciou sua bochecha com o dorso
da mão na frente do pessoal do museu olhando-os de cima. — Vou esperar o tempo
que for necessário.
Que o céu a ajudasse, mas este simples toque quase a incinerou no ato. Teve
que se obrigar a dar um passo atrás, para se mover fora de seu alcance antes que ela
fizesse algo estúpido, como se jogar em seus braços.
—Bem. — Murmurou. — Estarei aqui... em um momento.
Ele piscou de forma sóbria.
Ela girou longe dele e voltou pela escada, tentando não sentir o peso de seus
olhos nela enquanto caminhava.
Impossível, claro.
Desde o início, Rune era uma presença que sentia no seu sangue, em todos
seus sentidos intensificados. Seu corpo não tinha reparos em reagir a todo o calor
masculino, inclusive se seu coração e a mente queriam aparentar o contrário.
Ainda estava olhando-a enquanto alcançava o degrau mais alto e quando ela
passou entre os funcionários, estes começando a se dispersar.
—Andrea, por favor, ligue para a empresa de iluminação, certo?
—Claro. — A assistente assentiu e se apressou a cuidar de tudo.
Carys se obrigou a caminhar tranquilamente de volta para seu escritório,
apesar da vontade de correr até ali e colocar todo seu trabalho de lado. Mas ela
realmente tinha coisas para fazer.
E ainda que não pudesse negar sua euforia por tê-la procurado para levá-la
para um encontro, maldição, ela iria fazê-lo esperar por isto.

CAPÍTULO DEZESETE

Ela o fez esperar por quase uma hora.


Rune não falou nada e não tinha espaço para se queixar, já que ele a fez
esperar muito mais tempo por este encontro. Ele conseguiu uma reserva com o dono
de um dos restaurantes mais populares de Boston, um dos habituais clientes do La
Notte na arena. O humano arrecadou muito dinheiro com o sangue e o suor de Rune
na jaula, assim estava mais do que disposto a fazer um favor e dar-lhes a melhor mesa
que tinha a oferecer.
Ao que parece, o proprietário não era o único fã de luta no lugar. Um trio de
jovens passou diante da mesa duas vezes desde que Rune e Carys chegaram. Olhavam
entre si e sussurravam em reconhecimento óbvio.
Rune as ignorou. Ignorou tudo, exceto a bonita mulher sentada de frente a
ele. Ela sorriu com assombro quando o garçom apareceu com um prato de ostras
acompanhadas com verduras colocadas de forma brilhante. Inclusive Rune teve que
admitir que o prato parecia e cheirava delicioso. Não que ele comeria. Diferente de
Carys, o restante dos Raças apenas podia consumir alimentos humanos em
quantidades mínimas.
—Porque me trazer para jantar se não pode aproveitar? — Ela tomou um gole
do frio vinho e o único que ele podia fazer era olhar o movimento de sua garganta.
—Você vai aproveitar, assim isto é suficiente para mim.
Ele a viu cortar uma concha, depois, abriu-a com a ponta da faca. Seus lábios
se fecharam ao redor dela e um lento sorriso apareceu em seu rosto. — É assombroso.
Ela gemeu de prazer enquanto mastigava e seu ventre se apertou sob a
cortina do forro branco. Merda. Realmente pensou que poderia ver esta mulher
sensual comer algo decadente sem fazê-lo pensar no faminto que estava para colocar
sua boca sobre ela?
—Sinto muito tê-lo feito esperar tanto tempo no museu. — Disse depois de
um momento. — Estou trabalhando numa exposição de pintores da América e
realmente precisava resolver tudo antes de sair.
Rune riu. — Eu que pensei que estivesse me castigando por causa de ontem.
—Talvez isto também. — Ela olhou para baixo e comeu algumas verduras
luxuosas. — Esta é sua ideia de ramo de oliva? Vinho e jantar em um dos restaurantes
mais difíceis de conseguir reservas na cidade?
—Tinha a esperança de que poderia ser um bom começo. — Ele se inclinou
sobre a mesa para segurar a mão dela. — Sinto muito por não contar sobre o clube.
Ela negou com a cabeça. — Isto não foi tudo, Rune.
—Estou dizendo que não quero perdê-la, Carys. — Amaldiçoou baixo. — Estou
dizendo que quero voltar a tentar. Podemos fazer isto?
Quando ela não respondeu de imediato, uma frieza começou a filtrar-se por
seu peito.
—Você precisa estar disposto a me deixar entrar.
—Você já entrou. Antes de saber o que me golpeou.
Ela sorriu, mas podia ver que ela também desconfiava dele agora. Maldição,
podia ver que sentia medo de que ele a machucasse novamente.
Uma parte dele desejava que não se importasse tão profundamente com ele.
Mas uma parte mais forte não podia negar como seu sangue rugia através de suas
veias, sabendo que esta extraordinária mulher queria estar com ele quando podia
escolher qualquer homem que quisesse.
—Estou disposta a começar de novo, mas tenho perguntas, Rune. — Ela
soltou uma risada seca. — Nem sequer tenho certeza se este é seu verdadeiro nome.
—É. — Disse.
—Seu primeiro nome ou sobrenome?
Um nervo pulsou na mandíbula. — Meu único nome.
—Mas não sempre. — Ela o olhou fixamente e soube que ela viu vacilação.
Obrigou-se a segurar seu agudo olhar, mesmo quando ela parecia ver através
dele. — Não, nem sempre. Mas é o único nome que usei durante muito tempo.
Ela não disse nada. Seu silêncio dizia que ela sabia que havia mais que isto.
—Deram-me um nome diferente ao nascer, mas quando saí do Darkhaven de
meu pai, deixei para trás tudo o que ele me deu. — E ele nunca pronunciou este nome
outra vez, a não ser para mandar o bastardo para o inferno enquanto tirava sua
horrível vida. — Meu nome é e sempre será Rune.
A ternura suavizou o olhar de Carys enquanto o ouvia. Ela estava muito
quieta, a compaixão tomava seu rosto. — Deve ter sido difícil, sair numa idade tão
jovem de casa.
Idade jovem? Era um homem adulto no momento que cortou por fim os laços
com o passado, não uma criança. Franziu o cenho, sem saber o que dizer. Não de todo
seguro de onde iria.
—Ouvi falar um pouco sobre seus antecedentes de outros combatentes,
coisas que peguei aqui e ali. Já sabe, como você cresceu nas ruas aqui em Boston,
completamente sozinho. Fazendo o que fosse preciso para sobreviver. Não deve ter
sido fácil para você.
Rune se viu assentindo com ar ausente. Contou muitas historias diferentes
sobre seu passado nos últimos anos, algumas mais ou menos certas. Mas contar algo
para uma mulher com memória fotográfica era outra coisa.
—Nunca esperei nada fácil da vida. — Murmurou e em grande parte era
verdade.
Enquanto falava, um grupo de garotos adiante começou a se aproximar da
mesa. O que estava na frente tolamente limpou a garganta. Rune normalmente podia
tê-los mandado embora com um olhar furioso, mas considerando a trajetória
incômoda de sua conversa com Carys, ele agradeceu a interrupção.
Quando olhou, os três jovens pareciam ansiosos. — Desculpe eh... apenas
queríamos dizer, uh, realmente foi uma luta genial entre você e Jagger na outra noite.
Outro assentiu com entusiasmo. — Você foi realmente impressionante,
homem.
Rune sorriu suavemente e murmurou um agradecimento, mas não falou mais
nada.
—Sabemos que está ocupado aqui, uh... mas talvez poderíamos tirar uma foto
com você rapidamente?
Carys sorriu por cima da borda de sua taça de vinho quando Rune assentiu e
esperou que os rapazes ficassem do lado dele e tirasse a foto. Assegurou-se de virar a
cabeça no último momento de forma sutil.
Ou não tão sutil.
O olhar de Carys se manteve sobre ele quando os rapazes se afastavam. —
Não gosta da atenção, verdade?
Ele grunhiu. De fato, odiava a atenção. — Não estou na luta pela fama. Não é
pelo dinheiro também.
—Então porque o faz?
Uma dezena de respostas diferentes passou pela ponta de sua língua, cada
uma delas uma mentira. Merda, com que frequência espalhava para desviar o
interesse ou desfazer de qualquer pessoa que começasse a vasculhar seu passado?
Mas Carys não era qualquer pessoa. Não queria enganá-la, não mais do que já
fazia.
— A primeira vez que levei um verdadeiro golpe, tinha oito anos de idade.
Minha mãe morreu nesta primavera. Eu não lidei com isto muito bem. Não muito
tempo depois, meu pai começou a me colocar na jaula. Para me endurecer, ele dizia.
Para me ensinar a ser um homem.
Simplesmente falar estas palavras trouxe as lembranças com total nitidez. A
fria pedra da antiga jaula circular de combates. O chão de terra sob seus pequenos pés
descalços.
A repentina queda inesperada, por um punho de um adulto Raça chocando
contra sua mandíbula infantil.
Ainda podia sentir o cheiro de seu próprio sangue e logo o forte cheiro, acre
de seu próprio vômito enquanto a dor disparava através deles e virava ao revés seu
estômago. Podia ouvir a risada de seu pai sobre ele, seguindo pelo comando de que se
levantasse e desse um golpe como um homem e não como uma menina chorona.
—Aprendi rapidamente sob o treinamento do velho. A dor não me assusta.
Meu dom me deixou imune a ela. No principio, eu resisti. Depois de um tempo, não
precisava confiar nesta habilidade. Uma lesão poderia me derrubar, mas não me
impedia. Fiquei audaz, implacável. Impiedoso. Quando tinha dez anos, me entregou
ao meu tio e primos Raça adultos. Isto foi quando meu pai resolveu deixar as coisas
interessantes. Começou com oponentes de fora. Alguns iam de boa vontade.
Estupidamente. Outros nem tão dispostos. A mensagem de meu pai para mim antes de
cada luta era simples o suficiente: Lute até a morte. Não importa como.
Carys deixou de comer. Ela deixou de se mover em absoluto, com o olhar fixo
nele flutuando em algum lugar entre o horror e a angustia. —Rune... meu Deus.
—Lutei para continuar com vida. — Disse empurrando a si mesmo, antes que
se retirasse para trás de suas mentiras que foram durante muito tempo seu escudo. —
Sou brutalmente bom. Letalmente bom. Sobrevivi. Logo, com o tempo, fui embora. E
nunca olhei para trás.
Suas sobrancelhas se levantaram quando seu olhar se encheu de dor. — Não
havia ninguém ali para você durante todo este tempo?
—Para que? Salvar-me?
—Sim. Ou melhor, não sei. — Murmurou. — Para mostrar algo de bondade.
Para dar-lhe algum tipo de esperança ou...
Encolheu os ombros, a ponto de negar. Mas a imagem espontânea de um
rosto bonito marcado pelo cabelo loiro claro surgiu em sua mente, negando-se a
deixar que a apagasse com uma mentira. Um rosto que ainda rondava suas lembranças
mais do que queria admitir. — Havia uma menina. Meu pai e seu segundo oficial a
adotaram muitos anos depois que minha mãe morreu. Ela era... doce. Era a única coisa
inocente naquele lugar.
—Qual seu nome?
—Kitty. — Ele negou com a cabeça em uma maldiçoa baixa. — Ela não sabia
nada da jaula. E teria matado quem quer que a tivesse levado ali para ver o monstro
no qual me converti.
—O que aconteceu a ela?
—Não sei. — Disse e era difícil manter o pesar afastado de sua voz. — Fui
embora no meio da noite. Não lhe contei que iria e que nunca mais voltaria.
Não queria ver-se obrigado a explicar a ela. Destruir sua inocência fazendo-a
ver o monstro no qual se converteu. Assim, simplesmente desapareceu.
—Lamento a forma como a abandonei. — Murmurou em voz baixa. — Ela
merecia algo melhor. Deve ter me odiado por abandoná-la da forma como o fiz.
Durante muito tempo depois, me perguntei se deveria voltar por ela ou tê-la levado
comigo. Não que poderia ter proporcionado uma vida melhor para uma criança.
Inferno, naqueles primeiros anos, quase não proporcionei uma para mim mesmo. Mas
talvez deveria ter tentado...
Carys estava observando-o agora em silencio. Estendeu a mão para segurar
seus longos dedos e logo puxou a mão e roçou os lábios suavemente contra os nós dos
dedos. Beijou cada um deles, fosse para curar ou absolvê-lo, não tinha certeza.
Ele não contou como os primeiros anos de luta para seu pai quase devoraram
cada pedaço de humanidade. Ele não contou como endureceu a si mesmo até a
violência, até que se converteu em mais que outra faceta de sua vida. Apenas outra
condição de sua existência.
Ele não contou como lutou, ainda hoje em dia, como algo que seu pai
condicionou tão impiedosamente para ser.
Ele não tinha que contar para Carys nada disto. Seu terno olhar dizia que
podia ver sem palavras.
Rune acariciou sua pele suave. Tinha a intenção de manter a voz baixa,
privada, no meio do restaurante cheio de gente. Mas quando falou as palavras saíram
recortadas, quase estranguladas. — Meu passado está atrás de mim, Carys. Não falo
sobre ele. Não a qualquer um. Não até agora. Não posso mudar o que fiz e o que sou.
Há sangue em minhas mãos que nem sempre poderei limpar.
Ela assentiu levemente, piscando com força. — Tudo bem, Rune. Entendo.
Não, não entendia. Não completamente. E por agora, assim era como
preferia. Ele já viu a simpatia em seus olhos esta noite. Não acreditava poder suportar
a piedade.
O garçom apareceu entre o pesado silêncio que se seguiu, perguntando se a
comida estava do agrado de Carys. Apenas comeu a metade e desde um breve olhar
ao passado de Rune, mal tocou no prato.
—Sobremesa talvez? — O garçom perguntou esperançoso. — Temos um
incrível flambado de morangos esta noite.
Carys negou com a cabeça. — Não, obrigada. Tudo estava delicioso, mas já
acabei.
—A conta, por favor. — Disse Rune. Depois que o humano saiu, apertou seu
agarre nos dedos de Carys e se inclinou para a frente. — Tenho algo mais doce e mais
quente em mente para a sobremesa. O que me diz se sairmos daqui?
Ela sorriu, a ternura e a compaixão sendo substituída pelo brilho do desejo. —
Sim. Leve-me daqui, Rune.

CAPÍTULO DEZOITO

Parou um taxi e Rune deu ao motorista o endereço da cobertura. Carys não


lhe disse que queria ir para lá, mas ele parecia entender muito bem que ela não queria
que o clube, e o que representava para Rune, invadisse mais do seu tempo com ele
esta noite.
Ela ainda estava tentando processar tudo o que contou. Seu passado, sua
infância, o trauma ao qual foi submetido por seu pai, aquele que deveria amá-lo. Seu
coração estava partido pela criança que suportou este tipo de infância infernal e pelo
homem forte, complicado que ainda carregava as feridas, mesmo com estoicismo,
independente de tudo o que fizeram com ele.
Sua distância tinha sentido agora. Seus muros eram altos por uma boa razão,
no entanto, ele lhe permitiu olhar por uma fresta esta noite. Viu a escuridão e a dor do
outro lado das muralhas de Rune e uma solidão que teria arruinado alguém mais fraco
que ele.
Sobreviveu, ele disse. E sim, era verdade. Mas, alguma vez seria capaz de
deixar seu passado atrás quando não podia deixar a jaula que ainda o limitava?
Carys sabia a resposta a isto e enquanto saia do elevador no andar superior
do edifício de apartamentos com ele, esperava que com o tempo, Rune percebesse
que poderia também. De qualquer forma, tinha a intenção de ficar ao seu lado. Mas
esta noite, não falariam mais sobre seu passado ou o clube.
Esta noite, precisava sentir seus braços ao redor dela tanto como ela
precisava envolver seus braços ao redor dele. Esta noite, ela apenas precisava... dele.
Não havia palavras enquanto caminhavam para a cobertura, com os dedos
juntos. Não havia palavras quando ela o levou para o quarto no final do corredor. Nada
além das respirações tranqüilas e os olhares em combustão lenta, já que tiravam a
roupa um do outro em silêncio e deslizavam entre os lençóis frescos.
Beijaram-se durante um longo momento, deitados de lado, um de frente ao
outro. Acariciando mutuamente. Uma deliciosa exploração, sem pressa dos lábios do
outro, a pele e os contornos que eram de alguma maneira mais sexy, mais eróticos e
intensos que qualquer frenesi, ferocidade que experimentou antes.
O toque amoroso de Rune a aquecia enquanto traçava seu ombro e braço,
logo rodava seus mamilos tensos e acariciava a curva dos seios. Cada deslizar lento de
seus dedos sobre sua pele sensível a derretia, fazia seu interior girar com deliciosa
demanda.
Sua boca vagou sobre a dela, sua reivindicação sem demanda, persuadindo-a
em um apertado anseio. Sua língua tocou a dela, provando, fazendo seu sangue entrar
em ebulição em suas veias.
Deus, ela o desejava. Precisava mais do que nunca antes...
Ela rompeu o beijo e se inclinou para a frente, apertando os lábios na base
forte de sua garganta. Ele gemeu enquanto deslizava a língua sobre sua pele, depois,
ao longo da coluna do pescoço.
Suas presas enchiam sua boca, mas ela as manteve afastadas enquanto
roçava sua carótida pulsando. O golpe forte a chamava fortemente.
Fez o seu sangue responder com a mesma demanda: Você é minha e sou seu.
Sentiu a declaração em seus ossos, em sua medula. Suas veias clamavam pela
confirmação de seu vínculo. Pela consumação do mesmo.
Mas ela conhecia suas regras e esta noite não o colocaria a prova.
Em um estremecimento, Rune exalou um suspiro irregular enquanto se
afastava de seu pescoço e do ombro. Ela beijou a curva da carne dura, logo desceu
mais, através do grande peito coberto por glifos. Ele gemeu quando brincou com o
disco plano de seu mamilo, chupando o pequeno botão entre os dentes e o raspando
com a língua. Seus braços se aproximaram ao seu redor enquanto o guiava para ficar
de costas para dar a mesma atenção ao outro mamilo.
Seu pênis estava duro e foi assim desde o momento que entraram no quarto.
A longitude de aço se apertava contra o quadril dela. Ela se abaixou para acariciá-lo,
beijando, lambendo e chupando seu caminho até o estômago definido.
Adorava a sensação de sua pele sob os dedos e sob sua boca. O contorno
escuro dos dermaglifos pareciam ter vida sob sua língua enquanto traçava os bonitos
desenhos.
Ela mordeu o osso do quadril e o pau grosso de Rune ficou ainda mais duro,
inclusive maior, ao seu alcance. —Ah, Cristo, Carys... está me matando.
Ela sabia o que queria. Sua boca estava cheia de água. Descendo pela mata de
pelos escuros em seu ventre, ela lambeu a base de glifos que aninhavam sua ereção.
Era tão grande e atraente, o poder do aço envolto na suavidade do veludo. Explorou a
longitude dele com a língua, brincando com a veia inchada que corria por baixo até a
ponta em forma de ameixa onde escorria liquido.
Com um gemido abafado, ele arqueou-se fora do colchão, os quadris
empurrando em súplica por mais.
Ela desejava dar mais.
Envolvendo os lábios ao redor da cabeça suave e sedosa de seu pau, ela
deslizou até a garganta. Mas o sabor dele, a poderosa sensação dele, apenas fez sua
fome aumentar. Queria tirar tudo dele.
—Ah, merda. — Ele disse entre dentes com força enquanto se retirava quase
todo o caminho e logo afundava. Seus braços a agarraram com mais força quando um
estremecimento rodou através do enorme corpo. — Oh sim, bebê. Porra, sim.
Ela manteve o ritmo lento, mas constante. Chupando profundo. Saboreando
seu gosto, seu calor, seu poder.
Suas palmas estavam em sua cabeça agora, os quadris movendo-se com cada
movimento de sua boca. Em sua língua, seu membro palpitava e endurecia mais. Sucos
salgados fluíam dele, aumentou o ritmo enquanto acariciava suas bolas e chupava
mais forte.
E a cada empurre e gemido que percorria o corpo dele, Carys ficava mais
quente e mais úmida. Seu sexo se apertava com a necessidade de tê-lo dentro dela,
mas não podia afastar a boca dele. Ele a consumia agora.
—Carys. — Ele disse forte entre dentes, seu pau ainda mais rígido.
A tensão o sacudindo. Seus dedos se fechando em punho em seu cabelo. Ela
aumentou o ritmo quando o sentiu ficar tenso a cada golpe. Estava perto, tão perto.
Queria empurrá-lo ao limite. Não queria deixar espaço para nada além do prazer, nada
além dos dois.
Levantou a cabeça para olhá-la, seus olhos escuros ardendo com fogo âmbar.
Suas presas brilhavam como punhais. Nunca viu nada tão magnífico. E ele era dela.
—Você é meu, Rune. — Murmurou contra sua carne pulsando. — Diga que
sabe. Preciso ouvi-lo dizer agora.
O gemido abafado que saiu dele estava em algum lugar entre o prazer e a dor.
— Porra, sim. — Disse com voz rouca. — Apenas seu.
Tomou-o profundo, levou-o até o ponto sem retorno. Um grunhido baixo
explodiu fora dele. Ele verteu com força contra a parte posterior de sua garganta, a
febre repentina quente e gloriosa de sua semente encheu a boca dela.

CAPÍTULO DEZENOVE

Santo inferno, esta mulher lhe pertencia.


Rune não pode conter seu grito primitivo de prazer quando sua liberação foi
arrancada dele. Onda atrás de onda, tremor atrás de tremor. Um inferno que não
poderia segurar se houvesse tentado.
Tampouco lhe seria permitido. Não, Carys estava em completo controle de
seu corpo neste momento e maldito se não sabia, se deleitava nisto.
A força de seu clímax foi assombrosa, mas foi a aspiração quente da boca de
Carys que o desfez ainda mais. Não perdeu muito de sua dureza nos últimos tremores
de sua liberação. Carys o ordenhou com os lábios e a língua, chupando-o
profundamente, logo lentamente, mostrando-se sem piedade. Ele segurou sua cabeça
entre as mãos, os dedos dentro de seu cabelo sedoso enquanto lambia e limpava até a
última gota.
—Cristo. — Disse entre dentes e as presas palpitantes. Abrindo os olhos viu o
âmbar iluminado pelo fogo levantando para se encontrar com o seu olhar e o sorriso
malicioso que lhe lançou enviou uma flecha de luxuria diretamente para suas bolas. —
Continue assim por mais tempo e vou gozar outra vez.
Ela gemeu em sinal de aprovação e o levou até a parte posterior da garganta.
O prazer era assombroso, quase impossível de resistir. Mas ele tinha fome também.
Em um grunhido, pegou-a pelos ombros e a fez rodar por suas costas. —
Minha vez.
Haviam experimentado entre si praticamente todas as posições possíveis nas
semanas que estiveram juntos, mas esta noite era diferente. Mais primitivo e carnal,
mas Rune nunca se sentiu mais íntimo de Carys do que neste momento. Mais nu. Ele
amava esta mulher, mas não queria passar por uma troca de sangue para consolidar
seus sentimentos por ela.
Mas não podia mentir a si mesmo fingindo que a necessidade de reclamá-la
desta forma irrevogável, de prendê-la a ele eternamente por laços de sangue não
estava pulsando em suas veias como um tambor de guerra.
Não.
Afastou a tentação com um grunhido enquanto se levantava sobre ela e bebia
de sua beleza. Suas mãos tremiam enquanto passava os dedos por seu rosto, através
da suavidade de seu lábio inferior carnudo.
O pulso em seu pescoço palpitava enquanto seguia as delicadas linhas de suas
veias. Esta linha sob seus dedos era um tormento, quase mais do que podia suportar.
Seu próprio coração batia no mesmo ritmo. Em seu peito. Em seu pau dolorosamente
ereto.
Seus olhos se transformaram em carvão ardente, a íris se abriu fixa em seu
prêmio delicioso, pronto para tomar.
Esmagou a boca na dela num beijo febril, colocando a língua em seus lábios
entreabertos que ainda tinha o gosto dele. Queria devorá-la, começando por esta boca
perversa que lhe deu tanto prazer. Segurou sua cabeça entre os braços dobrados,
entrou com a língua mais profundamente, empurrou com mais força, com uma gula
que mal podia conter.
Ela ofegava quando se afastou dela, mostrando as presas por trás dos lábios
inchados. Lambeu as pontas gemendo com o roce erótico de sua língua.
—É incrível. — Pronunciou com a voz adquirindo um timbre primitivo de uma
Raça pura. — Nunca posso ter o suficiente de você.
Ele segurou seus seios redondos, de forma possessiva, fazendo-a arquear
contra seu toque, retorcendo-se e gemendo em resposta ansiosa. Inclinou a cabeça e
tomou seu mamilo entre os lábios, chupando com força, beliscando com os dentes.
Soltou o botão apertado com um beijo, logo levantou o olhar faminto para o
dela.
—Você é minha, Carys.
—Sim. — Ela acariciou seu rosto, a respiração ofegante. — Apenas sua.
As mesmas palavras que ela arrancou dele nos momentos de prazer. Queria
ouvi-la gritar estas palavras antes que terminasse com ela.
Ele mudou de posição e tomou o monte quente de seu sexo. Umidade sedosa
se reuniu em seus dedos ao leve contato e deslizou dentro de suas dobras em uma
respiração ofegante. Acariciou sua fenda, deleitando-se com o calor.
As paredes de sua vagina queimaram seus dedos quando empurrou dentro
dela. Os músculos ondulavam sob seus golpes pouco profundos, mas que o puxavam.
Ele penetrou mais profundamente, sentindo suas paredes sedosas capturarem seus
dedos.
Seu clitóris era uma perola dura que tremia enquanto passava a ponta do
dedo sobre ele, cobrindo-o com seus sucos. Moveu o dedo, brincou e massageou
enquando continuava deslizando dentro e fora dela.
Levantou o olhar para encontrá-la observando-o. Seus olhos ambarinos
estavam quentes, tão quentes e selvagens, cheios de necessidade. Seus dermaglifos
dançavam com cores ricas pelos seios e sobre seu abdômen liso. Paixão inundava seu
rosto.
—Duro. — Ela disse com voz rouca, uma demanda em sua voz. — Vá mais
profundo.
Ele riu entre dentes e disse em voz baixa. — Oh, não tão rápido, amor. Nós
estamos apenas começando.
Sua cabeça caiu para trás com um gemido forte, esticando esta bonita coluna
de pele de porcelana e veias azuis delicadas. Rune teve que olhar para o outro lado e o
fez com uma maldição viciosa.
Bombeou os dedos nela, apertando o feixe de nervos com mais força para o
prazer dela, ele inclinou a cabeça para beijar e chupar seus seios. Estava faminto por
ela, mas ele a queria sem sentido com a necessidade antes que cedesse a seus
próprios anseios.
Uma parte primitiva, egoísta dele queria marcá-la em seus sentidos,
estampando-a profundamente em sua medula óssea. Assim ela nunca poderia
pertencer a outro.
Ele flutuou ao longo de seu corpo, beijando, mordiscando, lambendo cada
curva e vale. Moveu-se de modo que seu rosto ficasse sobre seu sexo, que brilhava sob
seu olhar, um rosa profundo e maduro para sua alimentação. O cheiro doce e
almiscarado dela era uma droga para sua sanidade, mas ele já estava viciado nesta
mulher.
Sua mulher.
—Mostre-me. — Grunhiu, soando mais selvagem que homem. Suas presas
doíam tão dolorosamente como seu pau, uma fome que exigia ser saciada. —Deixe-me
ouvi-la, bebê.
Ela respondeu com um gemido gutural que quase o desfez no ato. Seu suco
cremoso molhava seus dedos, fazendo um som escorregadio enquanto tomava seu
tempo. Seu clitóris parecia uma pedra quente enquanto o rodava e acariciava com o
polegar. Ela resistia ao seu toque agora, com as pernas bem abertas, movendo-se
inquieta quando ele tomou o último de seu controle.
Um grito se construiu no fundo de sua garganta, crua e selvagem. Continuou
conduzindo-a rumo à sua necessidade. Ela gemeu seu nome, um arrepio percorrendo
seu esbelto corpo.
—Oh, Deus. É muito bom. — Colocou os braços sobre o colchão, seus dedos
apertando o lençol enquanto se contorcia e estremecia sob o ritmo incessante de sua
mão. — Rune, vou gozar. Por favor... deixe-me gozar agora.
Ele grunhiu sua aprovação e levou o polegar ao clitóris apenas o suficiente
para cobrir com a boca aberta. Tomou o broto com profundidade, sua língua
trabalhando, seus lábios enterrados em seu doce néctar, seus dedos de forma rápida e
profunda. Acariciou, chupou e saboreou, segurando-a contra seu rosto quando o
orgasmo se construiu num frenesi. Ela gozou com um rugido que quase o desfez.
Vibrações a sacudiram forte, uma vez atrás de outra.
Tinha que prová-la mais. Queria dar-se um festim com ela. Passando a língua
pelas dobras de seu sexo, cravou-se profundamente no mel de seu centro. Ele lambeu,
tal como ela fez com ele, avidamente cada gota doce.
Seu pau não podia esperar para entrar em seu calor um segundo mais. Rune
grunhiu enquanto se separava dela, incapaz de falar agora. Ele segurou seu traseiro
sem ternura e se enterrou nela. Entrou de forma dura com um grunhido, logo caiu em
um tempo furioso. Chocando-se contra ela. Golpeando fundo. Movendo-se como um
pistão.
Carys começou a gozar novamente. Seus gemidos aumentando de forma
desigual. As paredes suaves de sua vagina ondularam ao redor dele enquanto se
perdia na intensa pressão de sua liberação.
Nunca sentiu nada tão viciante como a forma como seus corpos se
encaixavam. Assim primitivos, perfeitos, malditamente. Ele a colocou sob ele e cruzou
seu corpo sobre o dela, observando seu rosto, segurando seu olhar quente, quando
seu orgasmo a inundou. Suas unhas se cravaram em seus ombros com um grito.
— Porra, bebê. — Ele estava atrás dela, a liberação saindo dele rapidamente.
Não seria capaz de manter-se por mais de um segundo.
Seus músculos ficaram rígidos. Seu sangue ficou elétrico em suas veias,
rugindo em sua cabeça, palpitando em seu eixo a cada estocada no corpo dela.
Seu ritmo ficou furioso agora, além de seu controle. Suas presas doíam para
penetrá-la também. Instintos Raça de calor, as chispas aumentando enquanto seu
clímax rodava num nó mais apertado, pronto para voar. Os olhos foram diretos para a
frenética carótida de Carys.
Cristo, podia ouvir o ritmo rápido em seus ouvidos. Fazendo eco em suas
veias. Chamando seu sangue e toda o Raça nele.
Queria reclamá-la por completo.
Queria que ela se unisse a ele para sempre, merecendo este presente ou não.
Neste momento perigoso, seu autocontrole deslizava e nunca desejou nada
mais em sua vida.
Em vez dissp, reprimiu-se com tudo que tinha. Fechou os olhos e inclinou a
cabeça atrás num grito cru, logo se fundiu todo o caminho até a empunhadura
enquanto seus músculos o ordenhavam numa neblina cega de prazer e esquecimento.

CAPÍTULO VINTE

Fizeram amor novamente e com o tempo abriram caminho até a ducha no


grande banheiro. Depois de limpar um ao outro sob o jato de água, ficaram ali, se
beijando e acariciando, sem vontade de deixar passar o momento.
As relações sexuais entre eles sempre foram incríveis, mas havia uma crua
honestidade nesta noite: uma vulnerabilidade tácita que intensificava tudo. Todo o ser
de Carys ainda vibrava com a consciência elétrica dele, com um anseio que não se
saciava completamente.
A medida que suas grandes palmas patinavam sobre as costas e os ombros,
massageava em círculos lentos, ela passava as mãos úmidas sobre o peito musculoso e
o elegante emaranhado de glifos. Desde a primeira vez que ficaram juntos, cada
polegada dele ficou estampada em sua memória, todos os sentidos intensificados. Esta
noite, ela o explorou com novos olhos. Com uma compreensão mais profunda do
homem solitário, ilegível que amava.
Ela abaixou a cabeça para pressionar um beijo justo sobre o coração. O potente
pulso vibrou contra seus lábios levemente entreabertos e o sentiu com a ponta da
língua.
Ele gemeu profundamente, um som de satisfação.
Ela sorriu em resposta, deleitando-se com o fato de ter algo a ver com seu
estado satisfeito atual.
Claro, ela desfrutou de todos os seus estados vorazes, perversamente carnais
que precederam este. Ela desfrutou sobretudo das últimas horas e agora apenas podia
desfrutar da paz que sentia enquanto Rune a segurava sob o chuveiro.
—Obrigada por esta noite. — Murmurou levantando os olhos para se encontrar
com seu olhar pesado. — Por ir ao museu e me levar para um encontro. Por me deixar
entrar. Por tudo isto.
—Não tem que me agradecer...
—Tenho. — Disse. — Porque sei que provavelmente não é fácil para você voltar
ao seu passado. Quer deixá-lo para trás. Entendo isto. Apenas quero que saiba o que
significa ter confiado em mim o suficiente para me deixar vê-lo. De onde veio.
—Carys. —Pouco a pouco negou com a cabeça, parecendo incômodo. Sua mão
se aproximou de seu rosto, o polegar roçando os lábios. — Você merece mais do que
posso dar.
—É tudo que eu quero Rune. Assim, como esta noite. Isto é tudo o que sempre
precisarei.
Sua boca sensual se curvou com ironia. — Então, a pressão agora é para não ter
menos de quatro orgasmos por noite.
Ela riu. — Cuidado, posso me manter fiel a isto.
—Com muito gosto, amor. — Ele levantou seu queixo e tomou sua boca em um
beijo sem pressa.
Seus lábios eram ternos e carinhosos e era tudo o que precisava para avivar seu
desejo. A excitação se agitou para a vida e se aferrou a ele, seu corpo se fundindo
lentamente a cada roce de sua boca sobre a dela, cada golpe de sua língua.
Ela sempre iria ansiar este homem. Sabia em seus ossos, em seu sangue.
Falou a verdade quando disse que ele era seu. Apenas seu.
Quando o beijo se rompeu, Carys se esticou para manter seu bonito rosto em
suas mãos. — Deus, eu te amo, Rune. Tanto que dói.
Sua cabeça girou lentamente, mas não havia emoção em estado puro em seu
primitivo olhar azul meia noite. —Eu te amo. Mais do que poderia saber. Mais do que
deveria.
Ele a tomou nos braços e a beijou novamente, profundamente neste momento.
Com uma necessidade que intensificava seus sentidos e não deixava nenhuma dúvida
de que quis dizer cada palavra.
No entanto, um leve sussurro insidioso se filtrou em sua mente, lembrando-a
da fome que viu no rosto de Rune mais cedo esta noite quando estava em sua
liberação e seus febris olhos âmbar se fecharam em sua garganta.
Esta era uma verdade que não compartilhou com ela ainda. A rejeição de seu
sangue. Seu tormento e sua negação de ter este tipo de vínculo com ela. Com qualquer
uma.
Parecia ter tomado toda sua vontade para resistir, mas não tinha. E pela
primeira vez, ela vislumbrou o medo nos olhos de Rune.
Temia se arrepender de se vincular a ela? Ou tinha medo de que ela o fizesse
um dia?
Por mais desesperada que estivesse para ter esta resposta, não podia reunir a
coragem para perder o que tinham neste momento.
Ela tinha medo de conhecer a resposta. Ela, que nunca retrocedeu ante um
desafio em sua vida. Que nunca permitiu que nenhum obstáculo se interpusesse no
caminho de algo que ela queria.
Mas isto era muito importante. Havia muitas consequências. Porque sabia que
se sua resposta não fosse a que queria ouvir, ela nunca poderia se recuperar.
Assim, mantinha as dúvidas para si mesma, também fascinada pela sensação
das mãos de Rune se movendo por seu corpo, seus beijos fazendo-a delirar de desejo.
Guiou-os longe do chuveiro, a palma patinando pela parte inferior de sua coxa,
até o joelho. Ele levantou sua perna, colocando o pé no banco de mármore na parede
do grande banheiro.
—Coloque seus braços ao redor do meu pescoço, meu amor. Segure-se em
mim.
Ela obedeceu, agarrando-o enquanto continuava com o assalto sensual de sua
boca. Ela abriu a sua para sua língua um instante depois, quando seus dedos se
aprofundaram na fenda de seu sexo.
—Apenas para você agora. — Murmurou contra seus lábios enquanto seus
quadris começavam uma rotação leve com sua carícia. — Assim. Tudo para você, bebê.
Ela gemeu quando o prazer a percorreu e a fez tremer. A boca de Rune a tomou
possessivamente, beijando-a tão profundamente e apaixonadamente que poderia
gozar somente assim. Combinado com seu toque, o êxtase foi eletrizante, aterrador.
Ele a acariciava sem descanso, com maestria, até que a necessidade da liberação ficou
tão intensa que não pode se conter por um segundo.
Ela gozou com um grito, se rompendo em seus braços. Rune a segurava com
um braço, enquanto o outro lentamente a trazia de volta para a terra.
Então ele a ensaboou outra vez, tomando seu tempo, inclusive lavando seu
cabelo. Sentia-se venerada, adorada. Segura e protegida. E tão profundamente amada
por este perigoso homem de alcance tão letal.
Rune fechou a água e saíram do chuveiro juntos, beijando-a um pouco mais. Ele
a envolveu em uma toalha suave, esponjosa e ajudou-a a se secar, tirando o cabelo
molhado de seu rosto, seu olhar âmbar iluminado com ternura e desejo.
Ele gemeu como se estivesse tomando uma decisão difícil. — Quero levá-la de
volta para a cama, mas deveria voltar para casa. Sua família se preocupará.
—Eles ficariam. — Disse. — Mas eu liguei antes de sair do museu esta noite e
lhes disse que tinha um encontro e não deveriam me esperar.
Rune retrocedeu com um olhar irônico em seu rosto. — Eles sabem que está
comigo?
—Claro.
Ele sorriu e brincalhonamente ele golpeou seu traseiro nu. — Neste caso, será
melhor nos vestirmos antes que Nathan ou seu irmão venham bater na porta da
cobertura para resgatá-la.
Carys riu e negou com a cabeça. — As coisas estão diferentes em casa agora.
Melhores desde que voltei. Meu pai inclusive disse que deveria levá-lo lá em algum
momento para conhecê-lo.
Rune quase se sufocou. — Disse o que?
—Não com estas palavras exatas, mas o ponto é que está aberto a isto. —
Apoiando-se nele, ela arqueou uma sobrancelha. — Não tenho certeza de qual de
vocês é mais resistente a ideia de ficarem no mesmo lugar. Conhecer minha família soa
tão horrível assim para você?
—Um homem como eu, entrando no Centro de Comando da Ordem para
conhecer seus pais? Não é exatamente minha ideia neste momento. — Ele exalou
outra respiração. — Não seria para seu pai e seu irmão uma boa ideia no momento
também.
—Porque não os deixa serem juizes sobre isto? — Quando começou a descartar
a ideia com um sorriso e um movimento da cabeça, ela estendeu a mão para tocar o
lado de seu rosto cheio de sombras. Sem brincadeiras ou sorriso, mas completamente
sério. — E se eu pedisse? Faria isto por mim?
Não falou por um momento. Seus olhos negros a observavam. Pensativo, em
conflito.
—Isto é o que quer?
—É o que eu quero, Rune. E preciso que minha família entenda isto. Quero que
vejam o que vejo em você.
O silencio caiu sobre eles novamente e o olhar pensativo em seu olhar era
distante, quase inalcançável. Ela resistiu ao impulso de puxá-lo de volta para ela, mas a
duras penas. Estava tão preparada para ouvir sua negativa, que quando por fim falou,
levou um momento para registrar suas palavras.
—Quando?
—O que quer dizer?
—Diga quando. — Disse novamente, sua voz rouca. — Antes que mude de
ideia.
Seu coração saltou no peito. — Vamos agora.
Ele soltou uma gargalhada. — No meio da noite, com a boca ainda inchada de
beijos — por não falar de outras coisas e meu pau ainda faminto por você? — Ele
negou com a cabeça e puxou seu peito nu contra ele. — Posso ser invicto na jaula, meu
amor, mas não sou suicida. Todos os machos neste composto iriam querer um pedaço
do meu traseiro. Hum, falando nisso...
Suas mãos deslizaram para baixo para segurar seu traseiro. Calor lambeu suas
veias enquanto se segurava nos ombros musculosos e era arrastada para um beijo.
Carys se fez de difícil. — Amanhã pela noite, então. Você pode ir antes de abrir
o clube. Logo podemos ir ao La Notte juntos depois de conhecer todos.
—Amanhã à noite. — Ele gemeu como se já estivesse lamentando sua decisão.
— Eu o farei. Por você. Mas nunca vai me convencer de que esta é uma boa ideia.
Ela sorriu. — Oh, acho que provavelmente seja possível.
Agarrando forte sua nuca, ela puxou-o para um beijo abrasador. Seu grande
corpo ficou tenso contra ela, vibrando pelo desejo compartilhado. Estava duro e
pronto. E ela estava ansiosa para saboreá-lo.
—Vamos precisar de outro banho antes que tenha terminado com você esta
noite. — Murmurou contra seus lábios entreabertos.
Carys sorriu quando a ponta de seu pau deslizou entre suas dobras
escorregadias. — Oh sim. Talvez alguns banhos mais.

CAPÍTULO VINTE E UM

Deveria haver uma trilha gasta no tapete no escritório de Lucan na sede de DC,
dada a quantidade de milhas que o líder da Ordem andou em seu passeio pela sala
depois da noticia vinda há duas noites de Mathias Rowan. A informação da morte de
Ivers era uma dor de cabeça que a Ordem não precisava. Mas também abriu um novo
conjunto de perguntas sem respostas.
O que Hayden Ivers estava escondendo?
Sabia que a Ordem iria atrás dele? Foi avisado antes que a equipe de Mathias
iria para sua residência na outra noite? Ou a surpresa de sua chegada foi o detonador
que fez explodir a pílula letal?
Será que foi a lealdade servil que o fez escolher a morte ante seu
descobrimento e captura? Ou o medo que o motivou a tirar a vida antes que a Ordem
tivesse a oportunidade de fazer perguntas?
Uma centena de perguntas e até agora não havia respostas.
Lucan amaldiçoou, seus pensamentos voando enquanto começava outro
circuito ao redor de seu escritório. —Não tem nenhum maldito arquivo ou documento
no lugar. — Queixou-se. — Nada mais que discos rígidos limpos e gabinetes vazios.
Que segredos de Crowe e Riordan o bastardo estava escondendo?
—Esperamos ter esta resposta uma vez que os depósitos de segurança forem
desbloqueados. —Disse Gideon, apoiado na parede do lado oeste da sala.
Também de pé esperando estavam Brock e Darion. Gabrielle, Savannah e Jenna
ocupavam as poltronas e o sofá do escritório perto das estantes do chão ao teto. Lucan
grunhiu e olhou para a companheira de Raça de Gideon, Savannah. — Você acha que
sua habilidade pode nos ajudar a determinar onde está a caixa?
Os olhos castanhos escuros brilharam com confiança. — Saberei a história da
chave quando a tocar. Verei quem a segurou e onde estava quando a usou. — Ela
assentiu com a cabeça. — Sim, posso averiguar onde esta chave nos levará.
—Bem. Vou dizer para Mathias enviar um de sua equipe para trazer a maldita
coisa de Londres o mais rápido possível. — Lucan passou a mão pela mandíbula tensa.
— O que prefiro fazer em seu lugar é estrangular Riordan por respostas com minhas
próprias mãos. Quão rápido, antes que se sinta cômodo, podemos avançar até o filho
da puta, Gideon?
—Não muito. Estou tentando um novo foco com os protocolos de sua rede.
Devo saber se conseguirei em questão de horas. Talvez um dia.
—Muito fodidamente longo. — Lucan sentiu o calor da ira em seus olhos. —
Agora que Ivers está morto, perdemos parte de nossa vantagem surpresa. Riordan
bem poderia ficar nervoso ou se esconder. De qualquer forma, temos que estar
preparados. Temos que golpear o bastardo antes de decidir seu próximo movimento.
Sabemos que pertence à Opus, maldição. Nós o temos diretamente relacionado com
os assassinatos na Itália, na semana passada.
—Apenas a palavra de um homem morto. — Brock advertiu.
Gideon assentiu. — Vamos precisar de uma prova mais que esta se entrarmos e
pegarmos Riordan por nossa conta.
As presas de Lucan explodiram de sua gengiva. — Se tivermos que responder à
qualquer pergunta da GNC, vou apresentar seu cadáver em decomposição como
evidência.
Gabrielle limpou a garganta através da sala. — A GNC já está procurando razões
para retirar todos, Lucan. A Ordem precisa de você ali. A GNC precisa de você ali
também, mas são muito cegos para ver neste momento.
Ele grunhiu, mas sua companheira tinha um ponto válido. Por muito que
desprezasse a burocracia dos humanos governantes e seu braço executor inapto e sua
lei corrupta, era crucial preservar certa quantidade de confiança e cooperação entre
eles e a Ordem. Especialmente enquanto a Ordem secretamente lidava com outras
ameaças desconhecidas a qualquer um, além dos guerreiros sentados na sala agora,
assim como os diferentes Centros de Comando em todo o mundo.
—Nós conseguimos o que precisávamos para fazer nosso movimento com
Riordan. — Disse Lucan. — Não sei se minha paciência tem mais fio.
Quando terminou de falar, um timbre soou no vestíbulo da grande mansão.
As sobrancelhas de Gabrielle se levantaram. — Isto foi a campanhia?
Sim. Eram apenas seis da manhã. Na sede mundial fortemente protegida da
Ordem. Lucan tocou o monitor em seu escritório e uma visão da porta principal
encheu a tela.
—Que demônios?
Um homem alto e musculoso estava fora, vestido com uma camisa de linho
branca solta e jeans desgastado. Até os ombros caia seu cabelo loiro acobreado
marcando seu rosto que enchia a câmera. Apesar dos pômulos angulosos e a
mandíbula quadrada, as feições estavam bem. Elegante. Não de todo humano. Mas Já
que estava de pé do lado de fora a plena luz do dia, a probabilidade de ser um Raça —
inclusive um Caminhante do Dia — eram quase nulas.
Lucan lançou um olhar furioso na direção de Gideon. — Como diabos alguém
conseguiu passar dos portões?
—Sem ser assado por centenas de milhares de volts de eletricidade, ainda que
tentasse saltar os oitos metros perto da perimetral? — Gideon negou com a cabeça. —
Impossível.
—Então como o explica?
Fora da porta, o desconhecido levou as mãos atrás das costas, esperando
pacientemente. Educadamente, por assim dizer.
Lucan não tinha as mesmas habilidades, sobretudo quando as coisas iam de
mal a pior em seu domínio neste momento. Ele apertou o botão do interfone do
sistema de segurança. —Quer me dizer que merda sangrenta é e o que está fazendo
aqui?
A expressão do homem quase não mudou. — Fui convocado. Meu nome é Zael.
****

O humor de Carys era tão leve que mal podia sentir o chão sob seus pés
enquanto caminhava pelo Darkhaven nesta manhã. Agarrando uma maçã de um
recipiente no balcão da cozinha, ela mordeu a fruta vermelha e saborosa e seguiu os
sons abafados de Jordana e as vozes de Nova no pátio.
As duas mulheres se viraram para olhá-la quando se dirigiu até elas. Carys sabia
que seu sorriso era praticamente de orelha a orelha, mas não o escondeu quando se
deixou cair na poltrona mais perto com sua calça de pijama solta e camiseta sem
mangas.
As sobrancelhas pálidas de Jordana se levantaram. —Parece excepcionalmente
feliz esta manhã.
—Estou. — Carys deu outra mordida na maçã, saboreando o néctar doce. —
Tive uma noite incrível.
Jordana sorriu. — Nem precisava dizer.
—Tive um encontro.
—Com Rune?
—Não, com o Hector da contabilidade. — Carys rodou os olhos. — Sim, com
Rune. Ele foi ao museu para me levar para jantar.
—Ele o que? — Jordana ficou de boca aberta. — Rune foi vê-la no MBA? Para
levá-la a um encontro real?
—Uh huh. Na frente de Andrea e todos que trabalhavam até mais tarde para a
exposição da noite. — Iria provavelmente ser a fofoca do trabalho pela próxima
semana ou mais.
Carys deu outra mordida na maçã, mas Jordana a tirou de suas mãos de forma
exasperada.
—Deixe de comer e derrame os detalhes, mulher!
—Fomos ao Ciao Bella...
—Apenas o lugar mais popular da cidade. — Jordana informou Nova, que
também ouvia atenta. Os olhos azuis pálidos da companheira Raça tatuada se
acenderam com interesse sob a caída assimétrica de seu cabelo negro e azul, seus
lábios perfurados curvados em um sorriso. Jordana deu uma mordida na maçã de
Carys. — Não se pode inclusive chegar perto da porta deste restaurante sem reservas
com três meses de antecedência.
Carys encolheu os ombros de leve. — Rune disse que puxou algumas cordas e o
proprietário era um fã de luta, assim...
Nova arqueou uma sobrancelha. — Suponho que queria impressioná-la.
Jordana assentiu. — Acho que funcionou.
—Ele me impressionou. — Carys admitiu. — Mas não foi por causa do jantar ou
mesmo o tempo incrível que passamos juntos depois. E quero dizer que foi incrível.
—Não acho que vou deixar passar esta parte também. — Jordana advertiu
dando outra mordida na maçã.
Carys negou com a cabeça gargalhando. Não fazia muito tempo que ela insistiu
em saber todos os detalhes românticos de sua melhor amiga e Nathan. As partes
tórridas de Carys e Rune eram mais incríveis, mas esta manhã estava flutuando no ar
por outra razão também.
—Ontem a noite, Rune se abriu como nunca antes. Sobre seu passado, sua
vida, muitas coisas horríveis às quais sobreviveu. — Seu coração se apertou agora,
lembrando-se de tudo o que compartilhou com ela. — Eu precisava que me deixasse
entrar e o fez. Foi um passo grande para ele. Para nós.
Nova a observou. — Soa como se provavelmente precisasse falar tanto como
você queria ouvi-lo.
Carys assentiu. Rune não confiou todos seus segredos e demônios que ainda o
atormentavam, mas com o tempo, esperava que o fizesse. Depois desta noite, se
sentia confiante que havia pouco que pudesse se colocar entre eles agora.
—Alegro-me de que esteja funcionando. — Disse Jordana. — É bom ver que
está bem, Car.
—Nunca fui mais feliz. — Carys admitiu. — Agora, apenas espero que nada saia
mal esta noite.
Quando disse isto, sua mãe entrou acompanhada de Brynne. — O que vai
acontecer esta noite?
Não era exatamente a forma como queria anunciar a noticia, mas porque
demônios? — Convidei Rune para vir ao Darkhaven esta noite antes da abertura do
clube. É hora de todos os conhecerem.
—Esta noite? — Um olhar incerto invadiu o rosto de sua mãe. — Seu pai pode
não estar pronto para isto, com tantas coisas acontecendo no Centro de Comando e na
sede agora que Zael chegou para se reunir com Lucan.
A notícia de última hora sobre o amigo atlante de Jordana foi uma surpresa.
Carys se virou inquisitiva para sua amiga. — Você foi capaz de localizá-lo depois de
tudo?
—Sim. Acho que estou começando a conseguir lidar com esta coisa. — Jordana
levantou a mão e o centro de sua palma brilhou com um resplendor suave e logo
voltou a sumir. — Zael disse que meu controle sobre o poder continuará melhorando
com o tempo.
Carys queria ouvir mais, mas teria que esperar. Juntou as mãos de sua mãe nas
dela. — Isto é importante para mim. Rune é importante para mim. Eu quero que
minha família saiba. E quero que todos o conheçam. Quero que gostem dele.
Tavia apertou seus dedos de forma a tranquilizar, o amor brilhando em seus
olhos. — Como pode alguém discutir com isto?
—Obrigada. — Carys a envolveu em um abraço. — Disse a Rune para estar aqui
às nove esta noite.
—Irei me assegurar que seu pai saiba. E lhe direi que espero que mostre seu
melhor comportamento também.
—Isto vai também para Aric. — Acrescentou Carys. — Quero que os dois sejam
agradáveis com Rune. Precisam lhe dar uma oportunidade.
Tavia assentiu e a abraçou.
Carys respirou um pouco mais fácil, sabendo que sua mãe estava do seu lado.
Agora, ela apenas tinha que confiar que seu pai e seu irmão não saudassem Rune na
porta, assim como o restante dos guerreiros de Boston, armados até os dentes e as
presas.
Ela não queria que nada arruinasse o que tinha com Rune agora.
E apenas podia esperar que nada saísse mal.

CAPÍTULO VINTE E DOIS


Na sede de DC, Lucan se sentou de frente a Zael numa sala de conferências que
geralmente era reservada para estadistas e outros diplomatas.
Nas últimas décadas, o suntuoso e confortável lugar acolheu presidentes,
primeiros ministros, generais condecorados, líderes religiosos, cientistas de renome
mundial e um sem número de outros hóspedes importantes. Mas Lucan estava em
apuros para nomear uma reunião que tinha o mesmo peso e possíveis consequências,
boas ou más, duradouras ou não como a que tinha lugar com este imortal hoje.
Darion, Gideon e Brock apareceram minutos depois que Lucan e Zael decidiram
que a visita deveria ir além de introduções superficiais e desconfiança educadamente
retratada. Assim Lucan ligou para cada um de seus comandantes de distrito para
informar que a sede estava recebendo o Atlante em pessoa para estabelecer uma
aliança mútua e proveitosa entre Zael e a Ordem.
Até agora, estava sendo aberto, respondendo todas as perguntas de Lucan
sobre Jordana e seu pai atlante, Cassian Gray, assim como o outro imortal que morreu
— Reginald Crowe. Seu olhar azul era astuto e media tudo, mas não era desagradável
enquanto observava Lucan e os outros machos Raça ao redor da grande mesa.
—Tem certeza que Crowe não tinha vínculos com a colônia? — Lucan
perguntou depois que os outros homens se sentaram e voltaram à sua conversa. —
Ninguém poderia saber sobre suas atividades com a Opus Nostrum?
—Ninguém. — Zael balançou lentamente a cabeça. — Crowe estava morto para
nosso povo muito antes da Ordem o matar. Pertencia à velha guarda — uma legião
real, como Cass e eu, antes de decidir fazer fortuna no mundo humano. Foi
suficientemente leal à nossa rainha, mas seu verdadeiro interesse sempre esteve na
conquista, fossem negócios, prazer ou a guerra. Seus pontos de vista iam contra tudo
que o povo de Atlântida acreditava.
Lucan reconheceu com uma inclinação de cabeça. — Conhece Ivers ou Riordan?
Algum deles soa algo familiar para você?
—Sinto muito, não. —Zael se recostou no assento, ficando mais cômodo. Ele
inclinou a cabeça de lado. — Suponho que nossa reunião hoje não é apenas para
discutir sobre Crowe e seus associados desagradáveis.
—Não. — Lucan admitiu. — Eu preciso saber se nossos interesses estão
alinhados.
—Isto depende de quais são seus interesses, Comandante Thorne.
—A paz. A verdadeira e duradoura paz entre os seres humanos, Raças e
gêneros.
A boca de Zael se franziu levemente. — Um conceito simples, mas que pode
falhar de mil maneiras. Ou pior, terminar numa catástrofe irreparável.
—Vamos ter melhores possibilidades sem sua rainha tramando uma guerra nas
sombras.
—E a Ordem não se opõe a destruição dela para consegui-lo? — Estes olhos
azuis oceânicos se mantiveram estáveis, ilegíveis. — Como faz isto sua meta melhor?
Uma tensão palpável caiu sobre Brock, Gideon e Dare. Lucam se surpreendeu
muito, mas a franqueza de Zael apenas serviu para lembrá-lo que, ainda que o atlante
estivesse ali em paz, ele continuava sendo um ser poderoso que não se acovardava.
Nem sequer numa sala cheia de guerreiros Raça e seu Gen Um como líder.
—Não estou interessado num debate filosófico. — Disse Lucan, sem calor. —
Temos que saber de que lado a colônia está, caso uma guerra caía sobre nós.
—Nenhum dos lados. — Disse Zael. — Todos na colônia esperam a paz, vidas
demais já foram gastas. Por isto existe a colônia. Por isto que seus habitantes
desertaram do regime de Selene depois da queda do reino. Eles não querem tomar
parte da guerra de ninguém, nem em nenhuma vingança — sua ou dela.
Lucan amaldiçoou. — Assim, irão apenas esperar o pó se assentar ao redor do
vencedor, depois, determinar seu curso? Tenho certeza que não preciso dizer no que
isto te converte ante meus olhos, Zael.
—Não disse que eu não escolhi um lado. — A expressão de Zael era plácida,
mas havia um brilho perigoso em seu olhar. — A colônia é meu povo, mas é o de
Selene. E há outros como eu — ex-legião e um punhado de assessores — que sentem
que sua raiva a cegou para o que é correto. Cassiano era uma destas pessoas também.
Por isso levou sua filha, para protegê-la e dar-lhe uma vida melhor que não fosse no
reino de Selene.
—Por isso Cass roubou um dos cristais de Atlântida? —Perguntou Lucan. —
Para impedir que Selene usasse na guerra contra Raças e homens?
As sobrancelhas de Zael se arquearam. — Jordana contou sobre o cristal de seu
pai?
—Ela não contou. Ela nos mostrou.
—Jordana tem o cristal de Cass? — Zael nem sequer parecia tentar esconder o
assombro. Ou seu interesse.
Lucan negou com a cabeça. — A Ordem o tem agora. Ela o confiou a nós.
—Não acho que me deixaria vê-lo para justificar este feito?
Lucan grunhiu. — Hoje é uma questão de confiança. Espera-se que possamos
construir uma aliança. Com você, com a colônia. Com qualquer outra pessoa que não
queira ver o nosso mundo destruído por um inimigo que nem sequer temos certeza de
como lutar ainda.
Zael estreitou seu olhar nele. — Hoje é uma questão de confiança, concordo.
Assim, ajude-me a acreditar no que diz. Como posso ter certeza que tem o cristal se
não está disposto a me mostrá-lo?
—Porque disse que o tenho. Encontramos o cristal prateado do tamanho de um
ovo escondido numa caixa de titânio. A caixa estava escondida dentro de uma
escultura que estava no museu público de Boston, justo diante do nariz de todos,
durante mais de duas décadas.
Zael sorriu enquanto ouvia. — Escondido dentro de uma escultura. Somente
Cass para esconder um tesouro dentro de um objeto de arte. Que tipo de escultura
era?
—Uma peça italiana do século XVIII chamada Endymion adormecido. Ou
melhor, uma réplica da peça. Jordana disse que Cass tinha o original em sua vila na
costa de Amalfi.
Zael começou a rir. —Claro. A deusa da lua, Selene e seu amante pastor
humano condenado.
—Conhece o mito?
—A história é um mito, mas Endymion era um homem. — Disse Zael. — Ele era
o consorte de nossa rainha. Também foi seu traidor. Ele foi quem deu aos seus pais e a
seu inimigo Raça os dois cristais do reino.
Murmúrios de assombro viajaram entre os demais homens da mesa. Lucan
olhou para Zael. — Que pena sua escolha no casamento, mas que tipo de poder tem os
cristais? Precisamos entender como pode ser aproveitado. Como pode ser liberado.
—Os cristais são uma fonte de energia. Estão destinados a proteger, para
dinamizar e segurar a vida. Não destruí-la.
—E, no entanto, isto é exatamente o que os antigos fizeram com eles. — Lucan
respondeu. — De alguma forma usaram o poder dos cristais contra Selene. Contra a
Atlântida. Eles fizeram algo com eles para criar esta grande explosão e a onda que se
seguiu.
As sobrancelhas douradas de Zael se ergueram com surpresa. — Não era
consciente que os detalhes do ataque a Atlântida eram de conhecimento comum entre
a Raça.
—Não eram. Até pouco tempo.
Agora a expressão do atlante escureceu com suspeita cautelosa. — E como
você sabe disso?
Lucan olhou para Brock, cujo rosto sombrio parecia menos suscetível a trazer
sua companheira para a conversa.
— A reunião de hoje se trata de estabelecer a confiança e formar uma aliança
significativa. Este esforço tem que funcionar em ambos os sentidos, mas se prefere
não discutirmos...
—Tudo bem. — Respondeu o guerreiro. — Temos que estender nossa
confiança à Zael também. E se colocar Jenna em qualquer tipo de perigo, saberei a
quem procurar primeiro para explicações.
Lucan assentiu e olhou para seu convidado. — A companheira de Brock, Jenna,
viu o ataque à Atlântida. Em suas lembranças. Não as suas próprias, mas as lembranças
de um Antigo. Um que estava ali quando aconteceu.
Zael franziu o cenho. — Não entendo.
—Antes de morrer num enfrentamento com meus homens, este Antigo foi
ferido. Atacou uma mulher humana chamada Jenna. Por razões que ainda tenho que
entender, implantou um pedaço de si mesmo dentro dela. Agora, na base de seu
pescoço ela leva um chip de biotecnologia que contem seu DNA. É responsável por
algumas... mudanças interessantes nela. Também deu à Jenna recorrentes flashes das
lembranças deste Antigo.
—Viu como seus antepassados implacavelmente perseguiram meu povo antes
de destruir nossa comunidade e matar três quartos de nossa população?
—Sim.
Zael assentiu. — Éramos uma raça pacifica antes do ataque à Atlântida. Viemos
aqui para colonizar. Vivemos na clandestinidade, em harmonia com os outros e nossos
vizinhos humanos durante milhares de anos. Não tivemos nenhum interesse na guerra
ou no derramamento de sangue, nem na conquista.
Lucan grunhiu. — Enquanto os antepassados da Raça prosperavam entre todos.
Sabemos que os Antigos eram uma raça predadora e violenta. Caçavam os seres
humanos com a mesma crueldade que fizeram com seu povo, Zael. Alimentavam-se,
destruíam e conquistavam. Mas não somos assim. A Raça não deve ser julgada sobre a
base dos pecados dos nossos pais.
—Temo que tenha dificuldade para convencer Selene disto.
Darion deixou escapar uma maldição baixa do outro lado da mesa e encontrou
o olhar sombrio de seu pai. — Se a rainha atlante não puder ser convencida, então ela
não nos deixa outra opção a não ser ir à guerra contra ela.
Lucan concordava com esta lógica, mas viu o suficiente da guerra em sua longa
vida. Ele esperava que seu filho e seus companheiros guerreiros não tivessem que
andar entre rios de sangue e cidades reduzidas à cinzas da forma como ele e seus
companheiros da Ordem fizeram ao longo dos séculos.
Mas Dare tinha razão. Se Selene realmente estivesse cega pela vingança, então
ela não deixaria à Ordem outra opção senão destruí-la.
—Crowe disse que a rainha estava conspirando sua guerra há muito tempo.
Sabe como?
—Não. — Zael admitiu. — Mas se eu fosse ela, estaria procurando recuperar os
dois cristais antigos.
—Ainda existem?
—Tenho certeza que sim. Não é fácil destruir este tipo de fonte de alimentação.
E duvido que os Antigos estivessem dispostos a deixar ir uma arma tão valiosa.
Merda.
O olhar intrigado de Gideon parecia fazer eco aos pensamentos de Lucan. —
Onde procurar? — Perguntou para Zael.
O atlante balançou a cabeça lentamente. — Inclusive se soubesse, não estou
convencido de que seja um segredo para alguém saber.
—Talvez não. — Lucan concordou. — Mas se você soubesse ou fosse procurar,
poderíamos contar com você e a colônia para manter esta informação escondida de
sua rainha também?
—Como disse, a colônia quer paz. Eu quero paz. Enquanto as ações da Ordem
demonstrar o mesmo, terão minha aliança. Vai ter minha confiança.
—E você tem a minha. — Disse Lucan.
Estendeu a mão para o imortal. Zael agarrou firmemente e forte e os dois
homens poderosos selaram seu pacto.
Zael se virou para Brock então, seus olhos azuis tropicais iluminados pela
curiosidade. — Agora, gostaria muito de conhecer sua Jenna.

CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Rune olhou seu reflexo no espelho pela terceira vez nesta noite, enquanto se
preparava para sair de seu quarto no La Notte.
Tomado banho e vestido, ele finalmente se conformou com uma calça preta e
uma camisa cinza listrada. Sapatos pretos brilhavam sobre seus grandes pés. Enquanto
estava de pé de frente ao espelho, encolheu os ombros em sua jaqueta negra,
geralmente reservada para funerais ou casamentos, nas raras ocasiões que foi
convidado para qualquer um deles.
Sentia-se ridículo, mas esta noite não era dele. Tratava-se de Carys e não queria
decepcioná-la ou à sua família. Queria deixar Carys orgulhosa. E sim, havia uma parte
dele que queria a aceitação de sua família também.
Ele não era parte de seu mundo e não se enganava achando que poderia um
dia ser, mas ele estaria condenado se entrasse neste Darkhaven esta noite e se
sentisse indigno. Faria todo o possível para entrar inteiro, nada mais.
Penteando seu rebelde cabelo para trás, ele soltou uma maldição baixa. Menos
mal que os outros combatentes não estavam ali para vê-lo se arrumando e olhando no
espelho durante a última meia hora. Se o vissem iriam arrebentar seu traseiro a
respeito de agora até o próximo ano.
Ele olhou a hora. Vinte minutos pela cidade conseguiria que chegasse justo
antes das nove. Não queria aparecer muito cedo, mas com certeza não queria chegar
tarde e dar ao pai de Carys outra razão para desprezá-lo.
Merda. Talvez a jaqueta parecesse um pouco grosseira.
Rune a tirou... logo congelou quando o sistema de som do clube da arena de
repente passou de silêncio a ensurdecedor.
Que caralho?
Faltavam ainda algumas horas para o primeiro empregado aparecer para abrir
o lugar, porque estava ali? Ele saiu do quarto e foi para o andar principal da arena,
cortando o ruído com uma ordem mental aguda.
Um homem grande estava apoiado no bar, com um pé sobre outro banco.
Não, não era um simples homem.
Era um macho Raça.
Tinha a cabeça raspada, mostrando uma mistura de glifos e tatuagens que
serpenteavam até o pescoço grosso e o crânio. Vestia uma calça negra e uma camiseta
negra também, o tipo de roupa que caracterizava qualquer capanga das ruas. Uma
pistola negra nove milímetros estava em seu quadril.
Os pelos da nuca de Rune se arrepiaram em sinal de advertência. — O clube
não está aberto agora. Está perdido ou algo assim?
—Apenas procurando alguém. —Disse o homem, sem se incomodar em olhar
para Rune. — Pensei que teria que olhar um pouco ao redor.
A voz grave e sombria soou com diversão, um leve sotaque irlandês
inconfundível. O som deste sotaque fez a advertência percorrer as veias de Rune com
frieza.
—Acho que não me entendeu. — Grunhiu ao desconhecido. — O que quis dizer
foi: saia da minha casa.
Agora o vampiro sorria. Levantou-se em toda sua estatura e Rune percebeu que
usava uma das luvas da jaula na mão. Fechou o punho e encontrou o olhar de Rune
através da arena. —Sabe, tão eficiente como uma 9mm é, aposto que acertar um
imbecil com uma destas é muito mais satisfatório.
—Sim. — Disse Rune. — Volte esta noite depois que abrirmos e ficarei
encantado em demonstrar a você.
O homem riu entre dentes. — Não ficarei na cidade por muito tempo. Também
não ficará você... Rune, verdade?
Rune não respondeu. Apesar de não precisar de confirmação, agora via a
tatuagem de escaravelho negro na parte posterior da mão do macho. Seus dentes se
apertaram forte, e foi um milagre não se quebrar imediatamente quando começou a
calcular a forma mais rápida de matar o filho da puta.
—Tem que vir comigo. — Disse o vampiro. — Alguém quer falar com você.
Rune grunhiu. — Não vou a lugar nenhum.
—De verdade? Parece que sim. Todo polido e elegante. — O vampiro fez um
gesto para ele, o metal brilhando sob a luz baixa do bar. — Esta camisa é de seda?
Tenho certeza que detestaria que a arruinasse. — Ele colocou a outra mão na parte
superior da arma, disposto a usá-la.
—Vá adiante e faça. — Disse Rune. — O único lugar que verá esta noite será
sua tumba.
—Não tenha tanta certeza sobre isto.
Os dedos do homem tremeram. Foi toda a advertência que lhe deu.
Depois, a arma estava em sua mão e ouviu a explosão de um disparo. Rune se
esquivou da trajetória da bala, percebendo que apenas roçou em seu peito sem a
intenção de matar. Ainda não, de qualquer forma. Sem dúvida, este filho da puta
estava deixando esta honra para mais alguém.
O sangue fluiu quente e úmido de seu lado enquanto rodava pelo chão e logo
ficava de pé. Com um bramido, Rune se lançou ao ar contra o vampiro. A arma
disparou novamente, um tiro de pânico neste momento.
A bala o deixou louco, completamente.
O corpo de Rune bateu contra seu agressor levando-o através do balcão do bar
e para o grande espelho atrás dele. A arma deslizou fora dos dedos do homem e caiu
no chão. A cristaleira de licores explodiu abaixo. As prateleiras caíram ao seu redor.
O outro homem grunhiu e balançou as mãos para Rune mostrando as pontas
de metal da luva. Rune agarrou o punho quando chegou até ele. Dentes de titânio
cortaram seus dedos enquanto imobilizava a mão do rapaz e quase arrancava o pulso
do bastardo num puxão selvagem de músculos e fúria.
Os ossos apareceram quando se romperam, os tendões também. O macho
gritou de dor enquanto sua mão caia inutilmente na direção errada de seu braço.
E logo, a raiva de Rune chegou ao máximo.
Caiu a cavalo sobre o vampiro no chão de concreto, golpeando seus punhos
contra o rosto do homem. Sangue brotava. Dentes e presas se quebravam sob os
implacáveis golpes de Rune.
Não deixou de golpear o bastardo, não podia parar, mesmo depois do rosto do
homem morto virar um purê de ossos e cartilagem.
O fôlego de Rune ficou preso nos pulmões, soltando-o através das enormes
presas. Seus olhos ardiam vermelhos de raiva. Suas veias pulsavam com a adrenalina e
a ira... e com a consciência do que fez.
Virou o olhar da carnificina para sua camisa rasgada e sua calça suja de sangue.
Suas mãos estavam machucadas. A bala que roçou seu lado abriu uma ferida. Mesmo
com seu metabolismo Raça, levaria horas, provavelmente dias, para a evidência deste
momento se curar completamente.
Merda.
Carys...
Não podia ir ao Darkhaven de Chase. Não assim.
E a ideia de chamar Carys para contar o que aconteceu e todas as ramificações
que seguiria quando tivesse que explicar porque, com certeza seria o final do que
tinham juntos.
Deixou cair a cabeça atrás e soltou um rugido de raiva e frustração.
A medida que seu bramido ecoava na arena, soaram passos atrás dele.
Múltiplos pares de pés rangiam sobre o vidro e os escombros caídos enquanto se
aproximavam.
Rune lançou um olhar ardente sobre seu ombro e logo ficou de pé, preparando-
se para a batalha.
Meia dezena de homens Raça armados estavam ali, todos eles com tatuagens
de escaravelho.
O grande macho diante deles lançou um sorriso frio. — O que vai fazer agora,
garoto? Acha que pode matar a todos nós?

****
Ele estava atrasado.
Cinco minutos depois da hora marcada, Carys disse a si mesma que não deveria
se preocupar. Rune chegaria a qualquer momento. Cinco minutos mais tarde não era
próprio dele em absoluto, mas não era motivo para preocupação, ainda.
Ele estaria ali. Ele sabia o que significava esta noite para ela.
Ele não a deixaria.
Ao menos, isto era o que dizia a si mesma enquanto se sentava junto de sua
mãe no sofá da sala no Darkhaven, tentando não notar a expressão cada vez mais
impaciente no rosto de seu pai quando seus longos dedos bateram sem parar no braço
do sofá.
Agora, eram oito minutos depois das nove e ainda não havia sinais de Rune.
Também não atendia o telefone.
—Tem uns dois minutos para chegar aqui. — Disse seu pai, sua voz profunda
cheia de irritação. — Tenho ordens de Lucan para cumprir, além de centenas de outras
coisas que deixei de lado por esta reunião esta noite. Não posso me permitir perder
mais tempo esperando este macho aparecer.
—Ele vai aparecer. — Carys insistiu. Vamos, Rune. Por favor, não faça isto
comigo.
Sua mãe a olhou com simpatia e carinho, apertou a mão de Carys. —Talvez
fosse melhor fazermos isto em outro momento?
Carys viu escassas possibilidades nos olhos de seu pai. Sua desaprovação por
Rune aumentava a cada segundo que passava. Depois de um momento, soltou uma
maldição e se levantou.
—Acho que todos esperamos por tempo suficiente. — Disse. Aproximou-se de
Carys e apoiou a palma da mão em seu ombro. —Sei que está decepcionada, querida.
Não quero ter razão sobre ele. Mas não posso fingir que estou surpreso.
Vergonha inundou seu rosto. Lamento e dor entraram em seu peito. Rune e seu
pai significavam o mundo para ela e quase não podia suportar a ideia de que a brecha
que havia entre eles se ampliou esta noite. Apenas podia imaginar como seu irmão iria
reagir quando soubesse o que aconteceu. Aric provavelmente iria querer confrontar
Rune e defender sua honra.
—Rune não é assim. — Murmurou Carys, ouvindo o desespero em sua voz. —
Ele disse que viria e o fará. Sei que fará...
Mas mesmo enquanto dizia, dúvidas golpeavam como nuvens negras.
E sua preocupação aumentou também.
Algo não estava bem. Rune não se emocionou exatamente para conhecer seus
pais, mas nada o teria impedido de cumprir sua promessa.
Ela o sentia em seus ossos. Em seu sangue.
Algo estava errado, muito errado.
Quando seus pais saíram em silêncio da sala, Carys tentou ligar para Rune
novamente. Ele não atendia.
Seu número tocou e tocou e tocou...

CAPÍTULO VINTE E QUATRO


Medo arranhou o estômago de Carys quando chegou à entrada principal do La
Notte, de pé na rua e encontrou a fechadura pendurada. O fato da porta dupla estar
entreaberta fizeram os pelos de sua nuca se arrepiarem.
Ela não tinha certeza do que esperar quando saiu do Darkhaven para buscar
Rune no clube. Depois que ele não atendeu suas ligações ou suas mensagens, ela
apenas não podia ficar ali se perguntando o que aconteceu.
E sentiu-se muito humilhada e ferida, sentada ali na sala com sua família
esperando pacientemente e agora a preocupação a inundava. Agora, uma
preocupação fria percorria seus ossos.
Não havia sons na rua. O clube estava escuro. Tranquilo.
Inquietantemente assim.
Seu sentimento de apreensão aumentou e em vez de entrar pela porta
principal, deu a volta para a entrada de funcionários atrás do antigo edifício da igreja.
Antes de entrar, o cheiro de sangue derramado e morto atacou seus sentidos.
Suas gengivas tremeram em resposta e o alarme se converteu em gelo em suas veias.
—Rune? — Sua voz sumiu no silêncio do lugar ao entrar na arena e no bar. —
Rune, está aqui?
Ele não respondeu, mas estava ali. De pé dentro de um grupo de grandes
machos Raça ameaçadores, todos fortemente armados com pistolas semi-automáticos
apontadas para Rune. Havia sinais de luta por todas as partes. O espelho atrás do bar
estava quebrado. Cadeiras viradas. Vidro quebrado cobria o chão como fragmentos de
diamantes num mar de licor derramado.
E sangue.
Havia tanto sangue. Na parede e no chão. Em Rune.
—Oh Deus meu, Rune o que...
Quando ela deu um passo adiante, um cru olhar a impediu. Havia uma
advertência em seus olhos que a fez ficar em silêncio. Sufocou seus instintos Raça.
Um dos vampiros moveu-se ao seu lado agora, colocando a mão sobre o ombro
de Rune.
—Bem... bem... o que temos aqui?
O rosto anguloso do macho tinha um fio de perigo para ela. Sob o cabelo curto,
seus olhos penetrantes e cinzas brilhavam com interesse. E uma crueldade
inconfundível.
Rune limpou a garganta. — O clube não vai abrir esta noite. — Disse, jogando a
declaração para ela. — Você e as outras garotas podem ter o final de semana livre.
Carys não tinha certeza de como responder. O macho Raça de pé junto à Rune
não lhe deu a oportunidade.
—Não tão rápido agora, garoto. Não seja grosseiro. — Sua boca se abriu num
sorriso lascivo. — Porque não nos apresenta? Não esperava que este lixo empregasse
um traseiro tão bonito. — Seu olhar passou sobre ela como uma caricia não desejada,
estreitando-se ao ver a marca em seu pescoço. — Companheira de Raça, pelo que
vejo.
Rune não corrigiu o erro, nem Carys. Ainda que tudo fizesse com que sentisse
vontade atacar, ela se manteve sob controle. O olhar de Rune a mantinha afastada. Ele
reinava em sua própria fúria também.
—Vá para casa. Agora. — Disse com firmeza, seus olhos suplicando para que ela
obedecesse. E então viu a razão de sua gravidade. Sobre o dorso da mão do homem
em seu ombro viu uma tatuagem. Um escaravelho negro. Os outros homens tinham as
mesmas marcas.
Merda.
Estes eram homens de Riordan.
E Rune...?
Seus olhos adquiriram uma expressão ainda mais sombria quando percebeu
que descobriu a tatuagem. Sua boca se curvou nos cantos enquanto olhava para ela
em silêncio terrível. Quase imperceptível, lentamente balançou a cabeça ante ela em
uma advertência. O medo não era por si mesmo, mas por ela.
Não diga nada, seu olhar implorava. Não fale com eles.
Ao seu lado, seu companheiro perigoso continuava olhando para Carys. —
Vamos garota. Um passo adiante, quero olhar mais de perto. Vejamos o que Aedan
está escondendo de nós e mantendo para si mesmo. — O capanga de Riordan conteve
um suspiro exagerado e abriu um sorriso para Rune. — Oh. Desculpe garoto. Prefere
que o chame de Rune?
—O que está dizendo? — Carys franziu o cenho. — Quem é Aedan?
O líder dos capangas riu entredentes. — A melhor pergunta é: quem é Rune?
Todos riram da aparente piada. Todos menos Rune.
—Que vergonha, Aedan. É obvio que esta fodendo esta pobre garota, mas
mentir para ela também? — O macho Raça estalou a língua. — Esta não é maneira de
tratar uma dama.
Parecia como se um frio vazio se abrisse de repente em seu peito. Tudo que
Rune disse começou a ter sentido de uma forma diferente agora. Seu passado, sua
vergonha sobre o lugar de onde veio, quem era.
Todas as coisas que não disse.
Os muros que construiu ao seu redor.
Quanto continuava escondendo dela?
Os olhos de Rune disparavam chispas quentes agora. Carys podia ler o
assassinato em seu olhar. Mas ele se controlava. Recebendo as brincadeiras e ameaças
óbvias destes homens porque ela estava ali agora. Devido a que ele estava tentando
dar-lhe uma oportunidade de escapar.
—Não se trata dela. — Murmurou em voz baixa. Suas presas brilhavam com
cada silaba. — Veio por mim. Tem a mim. Deixe-a sair.
O macho de cabelo escuro pareceu considerar por um momento, logo levou a
palma da mão ao ombro de Rune e encolheu os ombros descuidado. — A cadela pode
ir.
—Fora. — Rune grunhiu para Carys.
Ela não podia se mover. Seus pés estavam cravados no chão. Apesar dele tê-la
enganado, apesar de ser golpeada pelo fato de que possivelmente tudo o que
acreditou saber sobre Rune era uma mentira, seu medo por ele era maior que sua
própria dor e confusão.
Suas veias martelavam com vontade de lutar, de voar até estes filhos da puta
com toda a fúria de sua genética Raça. Cada fibra de seu ser estava disparando com o
desejo de derramar sangue, de matar.
Ela sentiu suas presas começarem a entrar em erupção. Por baixo da blusa seus
glifos ondularam com a chegada de sua transformação.
Rune viu a leve mudança sobre ela. Balançou a cabeça e grunhiu uma maldição.
—Vá embora. — Ordenou. — Maldição, saía daqui agora!
Ela nunca o viu tão furioso. Nem com mais medo. Isto a sacudiu com tanta
segurança como um golpe físico. Ela retrocedeu tão rápido que quase tropeçou. Deu a
volta e começou a correr, seu palpitante coração em seu peito se enchendo de frio.
Suas lágrimas quentes corriam por seu rosto enquanto empurrava a porta e fugia para
a noite, procurando as cegas o telefone em seu bolso.
Ela discou o número particular de seu pai. Atendeu na primeira chamada.
—Papai! — Sua respiração se rompeu em um soluço quebrado. — Oh, meu
Deus...

****

Rune não deixou escapar o fôlego até que ouviu a porta de entrada para
funcionários se fechar atrás de Carys.
Ela se foi.
Disse que se alegrava. Sentiu alívio, segurança. Vê-la no mesmo lugar que os
homens leais à Fineas Riordan foi o pior tipo de terror que jamais sentiu.
Sua confusão e desconfiança quando o chamaram por seu nome a haviam
arruinado. Quando ela viu as tatuagens de escaravelho negro nos homens, viu o
conhecimento em seu agudo olhar. Ela conhecia a marca, sabia o que significava. A
quem pertencia.
O que significava que a Ordem também sabia.
Já era bastante ruim tê-la ferido por não ter ido ao Darkhaven de Chase. Esta
noite, com certeza a havia perdido. E se a Ordem o encontrasse primeiro, seu pai, sem
dúvida queria ser aquele que o mataria pessoalmente.
Rune nunca sentiu tanto medo como quando Carys se preparou para atacar
esta noite por ele. Ela nunca teria sobrevivido. Sua genética Raça era poderosa, mas
nem sequer o mais puro da espécie era a prova de balas.
Juntos, ele e Carys poderiam ter derrubado alguns dos homens de Riordan, mas
não sem colocar em risco suas próprias vidas. Rune dificilmente podia se preocupar
consigo mesmo, mas não havia nada que não fizesse para manter Carys segura.
Mandá-la embora foi sua única opção.
Se percebesse quem — e o que era...
Se fizessem um movimento para tocá-la esta noite...
Não pode terminar o pensamento. A mera ideia passou por suas veias como
garras geladas. Que fizessem o que foram fazer, mas não podia suportar a ideia de
como poderia tê-la nas mãos destes homens.
Ou nas mãos do monstro maior em Dublin.
—Quanto tempo faz que sabe onde estou?
—Há algumas semanas. — Ennis Riordan, o macho Raça, líder dos chacais sorriu
para Rune. — Desde que um dos exploradores que enviou a Boston para vigiar a
Ordem seguiu uma equipe de guerreiros até este inferno e os viu falar com você e a
companheira Raça que veio aqui esta noite.
Jesus Cristo.
O gelo no sangue de Rune ficou mais frio. Se sabiam disto há tanto tempo,
significava que poderiam ter feito seu movimento sobre ele a qualquer momento.
Qualquer das noites em que Carys esteve no clube com ele... ou em sua cama.
—Porque esperar tanto tempo para aparecer? Se me levar de volta à Dublin é
tão importante para ele, porque não fazê-lo logo?
—A Ordem nos manteve ocupados, tentando foder nossos planos. Nos obrigou
a sacrificar peões no caminho para manter-nos adiante deles enquanto nos
concentrávamos no trabalho importante. — Encolheu os ombros. — Encontrar você
em Boston, depois de todo este tempo foi uma surpresa, Aedan. Não posso dizer o que
significa para seu pai saber que voltará para a casa novamente e logo. De volta ao redil
familiar onde pertence. Ele tem grandes planos para você, garoto.
Rune se obrigou a manter os punhos de lado, lutando para manter as presas
escondidas enquanto ouvia seu tio falar. Tinha que manter a paciência. Tinha que
esperar a oportunidade para atacar.
Devido a que não percebeu até este momento que ele tinha seus próprios
planos também.
Iria voltar para Dublin de boa vontade. Com impaciência, de fato.
Ele voltaria ao domínio infernal de seu pai... e quando fosse o momento
correto, iria matar o filho da puta e queimar sua casa até a base.

CAPÍTULO VINTE E CINCO

Em seus milhares de anos de vida, Zael viu enormes e assombrosas bibliotecas


pertencentes aos faraós, imperadores e reis. No entanto, quando ficou de pé na
biblioteca de Washington, DC, na sede da Ordem, mal pode manter sua boca fechada
com o assombro.
As paredes iam do piso ao teto com livros encadernados além do
impressionante. O fato deles representarem duas décadas de trabalho laboriosamente
gravados e manuscritos das lembranças de uma mulher, fazia a coleção ainda mais
notável.
Por outra parte, Zael nunca viu nada parecia à própria mulher, também.
Disseram que era uma humana, mas os dermatóglifos que cobriam seu corpo
diziam outra história. As marcas de pele seguiam ao longo de seu pescoço e até o
couro cabeludo sob o cabelo castanho e curto. Mais glifos corriam pela parte posterior
de seu peito, desaparecendo sob a gola da camisa, apenas para ressurgir sob as
mangas curtas, o intrínseco padrão continuava pelos braços até o dorso das mãos.
Ela parecia mais antiga que o Homo Sapiens e os sentidos atlantes de Zael
despertaram em resposta à proximidade do DNA inimigo. Mas seu sorriso era
agradável e acolhedor, seus olhos avelã brilhantes com orgulho enquanto observava
Zael no alcance e na amplitude de sua obra.
—Sinta-se livre para olhar tudo o que quiser. — Disse ela, de pé junto ao seu
companheiro, Brock.
Enquanto Lucan foi saudar os comandantes guerreiros que convocou à sede
esta noite, Brock optou por permanecer de maneira protetora ao lado de sua
companheira depois da apresentação à Zael.
Não que Zael pudesse culpá-lo.
Jenna era uma mulher bonita, mais ainda devido à sua aparência incomum.
E era óbvio que o grande guerreiro a adorava, pela forma como respondeu às
perguntas sobre ela na sala de reuniões anteriormente, assim como a forma como a
olhava agora. A forma como seus dedos traçavam ocasionalmente seu ombro
enquanto a segurava sob seu braço forte.
Zael observou o casal e seu vínculo inequívoco. — Foi difícil passar por todas as
mudanças de humana a...
—Alienígena? — Jenna terminou por ele quando não teve certeza de como
descrevê-la.
Ela riu e compartilhou um olhar particular com seu companheiro. — Teria sido
muito mais difícil se não tivesse Brock comigo ali, a cada passo do caminho. Ele me
ajudou a passar o ataque inicial do Antigo, depois, ele segurou minha mão através de
todos os pesadelos que seguiram.
Brock acariciou seu braço. — Em nenhum outro lugar gostaria de estar, bebê.
Zael reconheceu a devoção do casal com um movimento de cabeça. — A Raça é
sem dívida uma espécie melhor, mais cuidadosa que seus antepassados. — Ele
caminhou ao longo da primeira prateleira de livros. — Não acho que muitos do meu
povo percebem isto.
—Os antigos foram criados para serem vencedores. — Disse Jenna. — Toda sua
carreira prosperou sobre a violência e a dominação. Há tantas coisas que comecei a
entender sobre eles nos últimos vinte anos, com suas histórias em meus sonhos e
lembranças.
Zael navegou pelos volumes na plataforma de frente à ele, com o tempo
selecionou um. — Importa-se se o vejo?
Jenna fez um gesto para indicar todo o lugar. — Claro que não.
Pegou um ao azar. Contava uma partida de caça em busca de guerreiros
atlantes a pé. A morte de um dos companheiros de Zael foi descrita com tantos
detalhes vividos que não havia dúvida que a fonte, na realidade, esteve ali. Foi quem
empunhou a arma e cortou a cabeça do atlante.
Zael fechou o livro e sombriamente o colocou na estante.
Ele escolheu outro diferente, a leitura do saque dos Antigos à um pequeno
povoado no leste da Europa. Nenhuma vida se salvou, nem sequer os animais em seus
currais.
Com uma maldição baixa, deslizou o volume encadernado de couro ao seu
lugar entre os outros. Aproximou-se adiante, havia mais estantes. Folheando as
paginas das notas escritas à mão, parou numa menção a Lucan Thorne.
Este registro documentado era de certo período no tempo, há centenas de
anos, quando os Antigos se tornaram os seres caçados. Liderados por Lucan, um
pequeno exército de guerreiros Raça iniciou a guerra contra seus antepassados
estrangeiros, fazendo o que nem homens e nem atlantes jamais conseguiram. Eles
neutralizaram a maior ameaça para toda a vida em todo o planeta, simplesmente
porque era o correto a ser feito.
—Este volume abarca a fundação da Ordem. — Jenna disse ao vê-lo ler o relato
completo em silêncio assombroso. — Lucan, Tegan e vários outros que se uniram à
Ordem perseguiram e destruíram os Antigos. Todos menos um, como se viu depois. O
que me fez isto antes da Ordem finalmente destruí-lo.
—A Ordem não permite que ninguém aterrorize ou machuque inocentes. —
Acrescentou Brock, sua voz profunda e sombria. — Mesmo se isto for a Opus Nostrum
ou a rainha da Atlântida.
Não, não toleravam. E Zael não pode encontrar nada além de respeito por
Lucan e a Ordem.
—Quando vim aqui hoje, estava cético sobre o que iria encontrar e de como
seria recebido. —Virou-se para Jenna e seu marido guerreiro. — Este foi um dia de
muitas surpresas. Este arquivo é outra surpresa, que será um tesouro para muitas
gerações Raça por vir.
Jenna sorriu com orgulho. Ela inclinou a cabeça e o olhou com curiosidade
aberta. — Está acasalado, Zael?
Balançou a cabeça. — Não. Passei minha juventude servindo Selena como um
de sua legião. Naquele momento, me dedicava ao meu posto somente. Depois da
queda do reino as coisas ficaram mais instáveis na corte por tempo, depois escapei
para viajar pelo mundo. Uma vez tive o gosto de ir para o exterior, o único a que me
dediquei foi ao prazer.
—E agora? — Perguntou Jenna. — Nunca quis encontrar uma companheira?
Encolheu os ombros. — A vida é uma festa que precisamos saborear. Porque
iria querer me limitar a apenas um curso para sempre?
Brock aproximou mais Jenna dele. — Ao que parece, você não conheceu a
mulher adequada ainda.
—Talvez não. — Ele concordou. Mas seus pensamentos voaram novamente a
um momento no tempo em que conheceu alguém especial. Alguém que o fez esquecer
o resto das mulheres durante os poucos dias que ficaram juntos. — Houve uma
mulher, há anos. Uma mortal, assim não importa o que sentia por ela, nosso tempo
juntos teria sido curto. Mas ela também estava casada com outro homem. Passamos
algumas semanas juntos num verão na Grécia, antes dela voltar para sua casa na
América. Com ele.
Jenna ficou completamente em silêncio. Ela o olhava fixamente, suas
sobrancelhas arqueadas em um gesto pensativo. — Você a conheceu na Grécia?
Zael assentiu. — Em um das ilhas Cyclades...
—Conheceram-se em Mykonos.
A voz feminina que disse a palavra veio da porta aberta atrás dele. Zael girou a
cabeça e encontrou uma bonita mulher, uma jovem companheira Raça de pé. Ao seu
lado um grande guerreiro Raça com o cabelo escuro e comprido e uma rede de
cicatrizes que arruinavam o lado esquerdo de seu rosto.
—Sim. — Zael murmurou. —Foi em Mykonos.
Algo no rosto da jovem tirou o fôlego de seus pulmões. Seus olhos eram de
alguma forma familiar. E a cor cobre de seu cabelo... era o mesmo tom de fogo das
mechas que disparavam através das ondas loiras.
Jenna correu para puxar a outra fêmea e seu grande companheiro para a sala.
—Dylan e Rio, este é Zael.
—Eu sei. — Disse a mulher chamada Dylan. —Soube no momento em que ouvi
seu nome hoje.
Ela tinha um pedaço de papel na mão. Enquanto ela estendia para Zael,
percebeu que era uma foto antiga.
Ele a pegou e olhou seu próprio rosto sorridente. Ainda podia recordar este dia
na praia. Ainda podia sentir o calor do sol sobre sua cabeça e ombros. Ainda podia
ouvir a a risada da jovem vibrante que tirou esta foto dele naquele tarde.
Zael levantou os olhos da foto para ver a companheira de Raça de pé diante
dele.
Ela viu seu atônito olhar e sorriu docemente de forma incerta. — Meu nome é
Dylan. A mulher que conheceu em Mykonos no verão era Sharon Alexander. Era minha
mãe.

CAPÍTULO VINTE E SEIS


—Deveria ter ficado com ele. Não deveria tê-lo deixado ali sozinho com aqueles
homens.
Carys estava sentada no sofá no Darkhaven de Chase, entre sua mãe e Brynne.
Também na sala estava Jordana e Nova. Inclusive Aric estava ali, sem dúvida para se
assegurar que ela ficasse onde estava.
—Você fez a única coisa que poderia ser feita. — Sua mãe a assegurou. — Você
mesma disse que Rune foi quem lhe disse para sair. Não queria que te machucassem.
—Eu não tentei de qualquer forma. — Murmurou, a miséria correndo por suas
veias como ácido. — Deveria ter ficado e ajudado a lutar contra estes bastardos. Disse
que sempre ficaria ao seu lado e falhei esta noite.
Ela se arrependeu de deixar o La Notte assim quando saiu. Deveria ter voltado
depois de ligar para seu pai em busca de ajuda, mas seu temor por seu bem estar era
tão palpável como o de Rune. Ele exigiu que voltasse para casa o mais rápido possível.
Prometeu que ele e sua equipe iriam para o clube imediatamente para lidar com a
situação.
Ela chegou em casa quase vinte minutos depois, sem nenhuma informação
sobre seu pai, Mathias ou qualquer dos guerreiros de Boston que foram com eles.
—Porque não ligou ainda? Devem estar lá agora. — Levantou-se do sofá com
um gemido. — Maldição, não posso ficar sentada aqui por mais tempo. Preciso saber o
que está acontecendo.
As mãos fortes de Aric eram firmes, mas suaves, sobre seus ombros enquanto a
guiava de volta ao assento. — Ouça-me irmã. Você é forte e uma Raça, mas teria sido
suicídio se houvesse enfrentado estes homens. Viu os escaravelhos neles. Sabe o que
significa.
O olhar de Nova era tão sombrio como o de Aric. — Teria sido pior que a morte
para você se os homens do meu pai colocassem as mãos em você, Carys. Não acho que
teriam misericórdia.
Aric soltou uma maldição. — Não importa o que sinto por você estar com Rune,
o melhor que fez foi se assegurar que saísse com segurança. Por isto eu devo a ele.
Todos devemos.
—Sei que o fez para me salvar. Deixou que acreditassem que era uma
companheira Raça, não uma Raça. Tentou fazer com que pensassem que trabalhava no
clube, em vez de revelar quem sou realmente.
Ao seu lado no sofá, sua mãe deixou escapar um suspiro trêmulo e abraçou
Carys. — Deus meu... sabendo o quão perto estamos de Fineas Riordan, percebe que
iria cair nas mãos da Opus Nostrum esta noite? Nem sequer quero considerar o que
fariam à um membro da família da Ordem.
Carys não queria pensar nisso também, mas e Rune?
—Nunca vi o medo em seus olhos até esta noite. Conhecia estes homens e o
que eram capazes de fazer. Eles o conheciam também, e pelo visto sabiam mais do que
eu.
—Está dizendo que ele é um deles. — Disse Aric, não uma pergunta. — Rune é
um dos homens de Riordan.
Ela fez um gesto fraco. — Acho que pode ter sido em algum momento, sim.
Ela não queria admitir, mas depois desta noite era difícil negar que era possível.
O conhecimento ainda estava frio em seu interior. Era difícil processar o fato de que
alguns dos segredos que Rune guardava se materializaram com alguns homens
terríveis que levavam a marca do grupo que a Ordem queria destruir.
—Eles se conheciam. — Murmurou novamente. — Disseram que seu nome é
Aedan. Ele não negou.
Nova ficou imediatamente imóvel, quase de pedra, onde se encontrava junto à
Jordana. Seu rosto perdeu a cor e sua boca se abriu. — Aedan?
—O que foi? — Jordana lhe perguntou. —Nova, o que foi?
—Aedan é o nome do meu irmão. Aedan Riordan.
O estômago de Carys se contorceu com a revelação e ficou sem ar. — Oh Deus
meu. Ele me disse que havia uma menina... que tinha uma irmã. Mas ele disse que seu
nome era...
—Kitty. — Disse Nova. — Assim é como ele me chamava. Não Catriona.
Gatinha.
Respirações presas viajaram pela sala. Aric soltou uma maldição entre dentes.
Quando à Carys, mal podia fechar os olhos enquanto a realidade a tocava.
Rune não era mais um dos homens de Riordan.
Ele era seu filho.

****

—Sem contar os escombros e o escaravelho morto atrás do bar, não há pegada


persistente de violência aqui. — Disse Mathias ao lado de Chase, na arena do La Notte.
— Minha opinião é que levaram Rune daqui sem luta.
—O que acontece com coação? — Chase sabia que a capacidade extra-sensorial
de seu amigo seria capaz de recolher ecos psíquicos da agressão de maneira que
outras pessoas poderiam notar como um hematoma na carne.
Mathias negou com a cabeça. — Foi voluntariamente pelo que posso dizer.
—Merda. — A única coisa pior que poderia acontecer era Carys se relacionar
com alguns dos homens de Fineas Riordan e havia uma possibilidade de seu amante
realmente estar familiarizado com o filho da puta também. Tão familiarizado que saiu
do clube com os homens de Riordan por sua própria vontade.
Chase sentiu suspeita no momento que Carys pediu ajuda. Uma parte dele
queria acreditar que Rune estava em perigo e temia por sua vida. Era a melhor
alternativa, pelo menos. Mas mesmo quando ela contou tudo, ainda tinha suas
dúvidas.
Rune ter dado à Carys uma oportunidade de escapar era o único que mantinha
a raiva de Chase em xeque e fez com que ele e sua equipe de guerreiros fossem ao La
Notte.
Agora, mesmo esta pequena consideração começava a escurecer sob o peso do
que encontraram ali esta noite.
Com frustração, Chase passou a mão pela mandíbula. Seu olhar conectou-se
com o sombrio olhar de Nathan onde o capitão estava de pé com sua equipe.
—Se ele tem vínculos ativos com Riordan, não podemos correr o risco. Não
pode haver nenhuma misericórdia para Rune quando o encontrarmos.
—Sim. — Chase concordou. Nathan não estava dizendo nada que já não
soubesse e sentisse em suas entranhas. Por muito que destruísse Carys, o lutador era
um homem morto se fosse leal à Riordan.
O que era pior, se esta lealdade se estendesse à Opus Nostrum.
E pensar que quase deu boas vindas ao filho da puta em sua casa esta noite.
E Carys...
Cristo, o que faria se algo tivesse acontecido com sua filha? Estava aterrorizada
e com o coração partido, mas se a noite houvesse terminado de outra maneira, ela
poderia ter sido levada junto com Rune. Poderia ter morrido ou algo pior se os homens
de Riordan soubessem quem era.
O pensamento ainda estava frio sob sua pele quando seu telefone tocou. Era do
Darkhaven, o número de Tavia. Atendeu com tensão.
—Sterling. — A voz tranquila de sua companheira chegou como um tiro. — Há
algo que precisa saber.
Vapor encheu seu cérebro enquanto a ouvia explicar a surpreendente
revelação que o levaria de volta para casa. Quando desligou, não pode reprimir sua ira.
Explodiu nele com uma maldição e a aparição de suas presas. — Ele é o filho de
Riordan.
—O que? — Nathan ficou com a boca aberta junto com os outros guerreiros.
—O lutador. Seu nome não é Rune. —Chase praticamente cuspiu as palavras.
—É Aedan Riordan.
—Aedan? — A boca de Mathias se apertou, o reconhecimento queimando em
seus olhos.
—Merda. Nova sabe isto?
—Ela quem confirmou, quando Carys mencionou que os homens de Riordan o
chamaram por este nome. O filho da puta estava mentindo o tempo todo. Usando-a.
O sangue de Chase ferveu com o conhecimento de que todas as últimas
semanas, sua amada filha estava nos braços do bastardo. Em sua cama.
Não gostou da ideia, mesmo antes do que aconteceu esta noite. Agora ele
fervia com vontade de matar o lutador.
Chase se dirigiu para a saída do clube, sua equipe atrás dele. — Tenho que
deixar Lucan consciente da situação. E quero que entendam que quando encontrarmos
Aedan Riordan ninguém toca no bastardo, apenas eu.

CAPÍTULO VINTE E SETE

Sozinha em seu quarto, Carys trocou de roupa para a iminente partida à sede
da Ordem em DC. O Darkhaven de Chase estava fervendo com os preparativos da
viagem desde que seu pai voltou do La Notte com sua equipe e Mathias. Lucan exigiu a
presença de todos no Centro de Comando em Boston, incluindo Carys.
Ela sabia que não era nada bom que seu pai a estivesse evitando. Não precisava
dizer as palavras para que entendesse que estava furioso e decepcionado com ela.
E não havia dúvida de sua animosidade por Rune — ou melhor, Aedan.
Carys estava irritada e decepcionada também. Estava confusa e magoada. Com
o coração partido e com medo. Não tinha certeza do que deveria sentir depois de tudo
o que aconteceu esta noite. O complicado emaranhado de emoções a corroía,
deixando-a insensível.
Carente.
Enquanto abotoava sua blusa cor marfim e colocava a barra dentro da calça
caramelo, um suave golpe soou na porta.
—Carys? Posso entrar? — A voz de Nova estava tranquila, mas incerta do outro
lado.
Apesar de querer ficar sozinha para processar tudo o que aconteceu, havia
apenas uma pessoa no Darkhaven que poderia entender como se sentia. Carys se
aproximou e abriu a porta.
Nova sorriu com tristeza, seus olhos azuis cheios de simpatia. — É quase hora
de ir. Estão abastecendo e todos estão prontos para sair.
Carys assentiu. — Diga que estarei ali em um minuto.
—Tudo bem, eu o farei. — Nova vacilou, observando-a agora. — Na verdade,
vim porque queria me assegurar que está bem.
—Estou. — Carys respondeu automaticamente. — De verdade estou bem.
—Não, não está. — As palavras de Nova eram suaves. Ela se adiantou e puxou
Carys para um quente e inesperado abraço.
A amabilidade capturou o fôlego de Carys. Não percebeu o muito que precisava
de apoio até que ela estava ali de pé, tremendo nos braços de outra mulher.
—Partiu meu coração quando meu irmão se foi de casa há alguns anos. —Nova
disse quando a soltou. — A melhor parte do meu mundo se foi de repente. Imagino
que isto é apenas uma fração do que deve estar sentindo agora.
Carys a levou para dentro do quarto e se sentou na beirada da cama. —Sinto-
me como uma tola, Nova. Ele mentiu. Ele me deixou e agora, para que tudo fique pior,
meu pai e o resto da Ordem estão falando de Rune — Aedan, como se ele fosse o
inimigo.
—Mas você não acha isto.
—Sei que ele não é. — Carys viu a mesma convicção nos olhos de Nova. — Você
não acha que seja, verdade?
O cabelo azul e negro da companheira Raça moveu-se contra seus ombros
enquanto negava com a cabeça. — Aedan pode ser um Riordan pelo sangue, mas não
tem nada deste clã. O irmão que conhecia era forte e nobre. De tudo o que me contou
sobre Rune, tenho que acreditar que meu irmão se converteu em um bom homem.
Mais que nada, Carys queria acreditar nisto também. E neste momento sentiu
uma gratidão imensa pela amizade de Nova. Isto significava que sabia que tinha
alguém no mundo em quem se apoiar se precisasse de compreensão e lealdade, da
mesma forma como Rune olhou para sua irmã mais nova como a luz em sua existência
escura por tantos anos.
Ela estendeu a mão para sua nova amiga e apertou. — Ele te amava muito,
sabe? Lamentou tê-la deixado e nunca ter voltado por você.
Nova levou um momento antes de falar. — Ele te disse isto?
Carys assentiu. — Quando me levou para jantar, Rune contou um pouco sobre
como foi sua infância. Ele disse que havia uma jaula de luta no Darkhaven de seu pai.
Rune lutava nela desde criança. Lutas de vida ou morte, tudo para a diversão de seu
pai. Durante anos, até que finalmente se armou de coragem para fugir da jaula que era
o inferno particular de Rune.
Nova fechou os olhos como se sentisse dor. Sua voz era tranquila. — Não tinha
ideia de nada disso. Mas sei de primeira mão o monstro que Fineas Riordan pode ser.
—Quando Rune me falou da jaula e o que fez para sobreviver, não podia
imaginar o foi capaz de suportar. Perguntei se havia alguém ali que se preocupava com
ele. — Disse Carys. — Ele me falou de você. Queria protegê-la do que estava
acontecendo. Não queria que fosse parte desta vida.
Um sopro suave e vacilante deslizou dos lábios de Nova. — Aedan me fez sentir
amada quando o resto de minha existência era medo e dor. Não sabia o que estava
acontecendo comigo também. Eu estava muito envergonhada para contar. Deus,
fomos dois tolos, tentando colocar boa cara um para o outro.
—Fez o que tinha que fazer para se proteger. — Disse Carys. — E por muito que
me doeu esta noite descobrir o segredo que Rune estava escondendo de mim, não
posso condená-lo por isso. Apenas queria que confiasse em mim o suficiente para
dizer. Poderia tê-lo ajudado.
O olhar de Nova era triste. — Dado o que sei de meu irmão agora, acho que ele
teria deixado Boston para sempre, em vez de pedir ajuda. Nenhum de nós aprendeu a
estender a mão para outra pessoa. Por isso mantive meus segredos escondidos de
Mathias por tanto tempo. Eu me fechei atrás de meus próprios muros de proteção,
pensando que meu passado iria me encontrar ali. Esperava ficar a salvo se começasse
outra vez, se fingisse que tudo o que aconteceu comigo era um sonho ruim. — Ela
deixou escapar uma risada sem humor. — Mas nunca pude deixar para trás meu
passado e os demônios que vivem ali. Nenhum muro que construímos é alto o
suficiente para manter todos afastados. Eles sempre aparecem um dia. Você tem que
olhar para seu rosto sem piscar antes de se deixar ir.
Nova tinha razão, claro. E Carys não duvidava nem por um segundo que se
Rune não tivesse compreendido a verdade, ele o fazia agora.
Seu medo por ele aumentou quando considerou esta possibilidade. Seu temor
a deixou mais fria, pesada como uma pedra.
Em seu coração, Carys sabia que era a razão por Rune ter saído
voluntariamente com os homens de seu pai. Foi com eles de boa vontade, muito
provavelmente de volta ao inferno, onde se criou.
Voltou para enfrentar os monstros de seu passado.
Carys apenas podia esperar que Rune sobrevivesse ao que pretendia fazer... e
rezar para que a Ordem já não o tivesse condenado.

CAPÍTULO VINTE E OITO

Lucan se sentou na cabeceira da mesa na sala de conferências da Ordem esta


noite. Sentados ao redor dele estavam nove dos Comandantes de distrito e suas
companheiras. Outros três lideres de Centros de Comando estavam em telas de vídeo
nos monitores grandes na parede da sala.
Quando concluiu seu relatório sobre o ocorrido em Boston no início da noite,
algumas maldições viajaram pelo grupo, mas a reação dos guerreiros mais experientes
foi de sombrio silêncio.
—Pobre Carys. — Disse Elise, companheira de Tegan, um dos membros
fundadores da Ordem. Também era a ex-cunhada de Chase e uma mulher que
suportou sua parte justa de dores de cabeça e perda no passado. — Como ela está
lidando com tudo isto?
—Eu a vi na sala com Brynne e Jordana quando chegamos. — Disse Alexandra.
Ela e seu companheiro Kade foram os últimos a chegar, depois de estarem no Lago
Tahoe. —Carys parecia esgotada e passeava pela sala como um animal enjaulado.
Tavia suspirou. — Ela mal falou no avião. Está ferida e confusa, claro. Está tão
surpresa como todos nós, mas acredita em Rune. Ela o ama.
Chase zombou. — Ela está cega por suas emoções quando se trata deste
macho. Esta cegueira poderia tê-la matado.
—Ou talvez foi o amor que salvou sua vida esta noite. — Isto foi dito por
Corinne, que estava sentada ao lado de Hunter, seu companheiro Gen Um.
Ele a olhou com ternura enquanto falava, o que era um feito em si mesmo, já
que o ex-assassino foi criado por brutais manipuladores que pensavam que a emoção
era uma fraqueza. Ele se superou neste treinamento, como o filho perdido de Corinne,
Nathan, superou o abuso similar através de seu amor por Jordana.
—Corinne está certa. — Disse Tess. — E é obvio que Rune ou Aedan deve amar
Carys também. Depois de tudo, tentou protegê-la dos homens de Riordan.
Chase grunhiu claramente impassível. — Se ele realmente queria protegê-la,
ele nunca teria ficado com minha filha em primeiro lugar. Gostaria de matar o
bastardo apenas por isto.
Dante olhou para sua companheira Tess. — Vamos, Harvard. — Disse usando o
apelido de Chase de anos atrás. — Poderia se dizer o mesmo de qualquer um de nós
nesta mesa quando encontramos nossas companheiras — incluindo a mim. Assim, não
o julgue com muita dureza neste momento, homem.
Uma grande quantidade de cabeças de guerreiros assentiu, tanto ao redor da
mesa como nos monitores. Mesmo Lucan tinha que admitir que Dante estava certo.
—E não vamos muito rápido tentando executá-lo. — Acrescentou Mathias. —
Vamos todos nos lembrar que Aedan Riordan não é apenas o filho daquele homem. Ele
também é irmão de Nova.
A companheira Raça tatuada entrelaçou seus dedos finos aos de Mathias e lhe
lançou um sorriso triste.
Por muito que Lucan simpatizasse com a situação emocional complicada frente
a eles, em primeiro lugar, a Ordem tinha um inimigo perigoso com o qual lidar.
—Temos que pegar Riordan e qualquer um que se interponha no caminho
desta missão teremos que tirá-lo. Qualquer pessoa. — Lançou um olhar sombrio para
Mathias e Nova, depois Chase e Tavia. — Precisamos de Fineas Riordan com vida, para
interrogá-lo. Entre Tegan e Hunter não tenho nenhuma dúvida de que seremos
capazes de tirar tudo o que o filho da puta sabe sobre a Opus Nostrum e seus
companheiros.
A dupla de Gen letais inclinou suas cabeças em acordo. O toque de Tegan podia
tirar a verdade do mais indisposto e nada podia se esconder da habilidade de Hunter
de ler as memórias de sangue.
Kade com seu olhar de lobo riu do outro lado da mesa e assentiu com a cabeça
em direção ao guerreiro com cicatrizes sentado perto dele. —Se Riordan não
responder nestas linhas de questionamento, Rio aqui poderia colocar suas mãos sobre
ele durante uns segundos. Uma vez que Riordan sentir que sua vida escapa, aposto
que todos seus segredos sobre a Opus Nostrum começarão a sair.
Num dos monitores, o Comandante de origem alemã da Ordem, Andreas
Reichen, limpou a garganta. — Se os rumores forem certos na Europa, parece que a
Opus está adquirindo uma nova tecnologia química.
Lucan não foi o único a murmurar uma maldição com esta notícia de última
hora. — Eles já tem acesso à armamento líquido de luz UV. Que outro tipo de
tecnologia química deveria procurar?
—Você não vai gostar. — Disse Andreas. — Fala-se de uma nova e potente
droga. Algo que deixa inclusive o Raça mais dócil como um selvagem sedento por
sangue.
—Ouvimos o mesmo em Roma nos últimos dias. — Disse Lázaro Archer de
outro monitor na sala de conferências.
—Jesus Cristo. — Dante silvou. — Soa demais como Crimson.
Há vinte anos, uma droga vermelha surgiu em Boston e outros lugares.
Estendeu-se como pólvora e deixou a comunidade Raça profundamente ferida,
deixando os bons filhos completamente viciados.
Sterling Chase foi um dos primeiros a ir atrás da droga e seu criador. Foi esta
busca que o levou à Ordem em primeiro lugar.
E se a Opus tinha uma droga parecida agora, não seria o primeiro a usá-la como
arma contra seus inimigos. Mais de uma pessoa sentada ao redor da mesa esta noite
poderia dar fé de primeira mão.
A expressão de Chase era austera e pensativa agora, mesmo depois que Tavia
pegou suavemente sua mão entre as dela numa demonstração de afeto e apoio.
—Esta notícia é uma razão a mais para não perdermos mais tempo. — Disse
Lucan.
—E nossa melhor pista sobre a Opus agora é Riordan. Podemos ter inclinado
nossa mão indo atrás daquele advogado em Dublin. Não podemos dar à Riordan mais
tempo para se preparar.
Olhou para Gideon. — Vamos precisar de todos os seus dados de
reconhecimento sobre a fortaleza de Riordan. Comece com quem entra e sai, quantos
homens tem. Precisamos avaliar a segurança, possíveis armas, tudo.
Gideon assentiu. — Posso preparar as informações para todos em uma hora.
—Bom. Quero nos mobilizar e deixar tudo pronto para explodir a merda em
suas portas amanhã a noite.
Mathias encontrou o olhar de Lucan. — Posso ter minha equipe em Dublin
conseguindo veículos e demais armas, se precisarmos. Apenas me diga o que quer e
estará ali esperando.
—Excelente. — Disse Lucan.
No terceiro monitor, Nikolai, Comandante da equipe de Montreal começou a rir
junto com sua companheira Raça muito grávida, Renata, uma guerreira formidável em
seu direito. — Passou-se muito tempo desde que fomos a uma missão juntos. Quero
dizer, sinto-me um pouco de lado aqui.
Renata olhou para ele. — Oh, não, não o fará. Se estou sendo castigada ao não
ir para esta missão devido ao seu filho, você ficará, vampiro. Colocou-nos nesta
posição, depois de tudo.
Niko sorriu. — E uma vez que finalmente está aqui, não posso esperar provar
que outras posições posso colocar.
Em meio as risadas, Chase voltou seu olhar sério para Lucan. — Colocar nossas
mãos em Riordan é a chave, mas também temos que considerar a suspeita de Brynne
sobre o membro da GNC em Londres, Neville Fielding. Se o humano estiver conectado
com a Opus, então tão logo veja Riordan comprometido, Fielding e o restante da
organização vão fugir pelas escotilhas. Poderíamos conduzir todos a uma fuga e perder
a vantagem.
Lucan concordou. —O ideal seria mandar homens ao mesmo tempo. Nossa
investigação sobre Fielding terá que ser totalmente encoberta. Ele não pode saber que
estamos atrás dele.
—Ele vai se preocupar com outras coisas nos próximos dias. — Disse Tavia. —
Brynne mencionou que sua filha se casa. Fielding dará uma recepção para ela em sua
casa amanhã à noite.
Lucan grunhiu. — Por muito que gostasse, não podemos entrar com uma
equipe de guerreiros armados até os dentes.
—Não. — Disse Chase. — Mas Brynne estará ali.
Tavia o olhou com cautela. Ela é JUSTIS, Sterling. Nós não podemos pedir que
faça algo pela Ordem, mesmo se ela estiver disposta a desafiar sua própria organização
para nos ajudar. Estaria arriscando sua carreira.
—Assim, vamos enviar alguém no lugar dela. Alguém que possa escapar
durante o evento e procurar por provas no lugar.
Lucan negou com a cabeça. — Todos os guerreiros são muito reconhecíveis,
mesmo em roupas civis. Assim como nossas companheiras. Além do mais, qualquer
macho Raça sem ser convidado será visível. Fielding e toda sua segurança irão
perceber assim que chegarem.
Tavia exalou uma respiração curta. —Tudo isto se minha irmã estiver aberta a
colocar alguém da Ordem ali.
—Pode ser que não sejamos capazes de dar-lhe outra opção. — Lucan
respondeu. — Ela nos deu sua palavra de que é nossa aliada em acabar com a Opus
Nostrum. Vamos precisar de sua plena cooperação se quisermos chegar à Fielding
antes da merda golpear o ventilador com Riordan.
—Falando em aliados. — Dante disse. — Sou o único um pouco assustado por
termos um atlante na sede conosco esta noite?
—Duvido que alguém esteja mais surpresa com Zael que minha Dylan. — Disse
Rio, enquanto envolvia um braço ao redor de sua companheira.
Dylan franziu o cenho. Uma maravilhosa tranquilidade estava agora em todo
seu rosto bonito, cheio de sardas. — Ainda não posso acreditar que meu pai biológico,
depois de todo tempo, esteja aqui. Durante os últimos vinte anos, não era mais que
uma foto guardada. Não era mais que um intrigante mistério que minha mãe levou ao
tumulo. Agora ele é real.
Do outro lado de Lucan, Gabrielle se inclinou adiante, sorrindo para a outra
mulher. — Parece que tiveram uma boa conversa hoje.
—Sim. — Disse Dylan. — Conversamos durante horas, sobre tudo. Acho que
poderia ter falado com ele durante uma semana e ainda teria milhares de perguntas.
—Todos temos mais perguntas para Zael. — Disse Lucan. — Precisamos saber
mais sobre tudo. A rainha, A colônia. Os cristais.
Jenna sorriu. — Bom, ele não parece com pressa de ir embora. Está acampado
na sala de arquivos na maior parte do dia. Acho que planeja ler toda a biblioteca antes
de ir.
Brock grunhiu. — Tenho certeza que não gosto de você ali com ele. Este imortal
tem bom olho para as mulheres. Mal podia manter a língua dentro da boca ao seu
redor.
As sobrancelhas de Jenna se arquearam. — Soa com ciúmes, amor. Gosto disso.
Brock resmungou algo em voz baixa, mas seu olhar ardia por sua companheira.
A reunião começou a se dissolver em conversas paralelas. Com o crescente
estrondo de vozes, o movimento suave da porta da sala de conferências quase não foi
ouvido. Apareceu novamente, mais decidido desta vez.
—Entre. — Lucan levantou a cabeça, esperando ver Darion ou um dos outros
membros da equipe de Boston que não estava na reunião da Ordem entre os mais
velhos.
Mas era Carys Chase.
Entrou na sala, com a cabeça alta e com um propósito. Com uma resolução
preocupante.
Sua mãe foi a primeira a falar. — Está tudo bem querida?
—Nada está bem. — Disse ela. — Não posso ficar mais um segundo esperando.
Não posso ficar sem saber. Tenho medo por Rune e não posso ficar sentada aqui sem
fazer nada.
Tavia franziu o cenho. — O que quer fazer?
—Quero ajudar. — Carys olhou além de seus pais, diretamente para Lucan. —
Não sou um guerreiro. Não tenho nenhum tipo de formação. Eu sei disso. Mas sou
Raça. Posso fazer algo útil, não posso?
—Não precisa perguntar. — Chase interveio. — Não vou permitir Carys.
Virou seu olhar com dor para ele e lentamente negou com a cabeça. — Não
estou aqui para pedir sua permissão. Estou pedindo para ser levada a sério. Para me
darem uma oportunidade.
O olhar de seu pai se estreitou. — Como o inferno que não precisa de minha
permissão.
—Diria isto para mim se fosse Aric?
Foi um golpe direto e todos na sala pensaram assim. Chase não disse nada,
ficou em um silêncio sombrio.
Durante muito tempo ninguém falou nada.
Então Tavia se aproximou e colocou a mão na de Chase. Seu brilhante olhar
viajou de Lucan para todos os demais membros da Ordem e companheiras na sala. —
Talvez haja algo que Carys possa fazer para nos ajudar.

CAPÍTULO VINTE E NOVE

A tarefa não era o que Carys esperava, mas depois de dormir com a ideia
proposta pela Ordem, acordou em seu quarto na sede de DC na manhã seguinte com
grande energia e pronta para demonstrar seu valor.
Sabendo que toda a informação que pudesse conseguir na casa de um oficial da
GNC de Londres esta noite poderia ser usada para levar a Ordem mais perto de
derrotar a Opus Nostrum, somente a deixava mais ansiosa para começar.
—Alguém acordou cedo. — Brynne navegou pela cozinha, já vestida para viajar
com uma camisa e calça escura. — Geralmente, sou a única acordada e caminhando
antes do amanhecer.
Carys girou a cabeça longe de seu café e torradas para sorrir a outra
Caminhante do Dia. — Não podia dormir.
—Preocupada com a festa desta noite ou com a missão da Ordem em Dublin?
—Ambas. — Carys admitiu, olhando Brynne caminhar e colocar água para
ferver e fazer um chá. — O que me preocupa mais que tudo é Rune.
E a preocupação era apenas parte do que sentia por ele. Doía por ele.
Sentiu um arrepio de medo e terror insuportável ao pensar que estava de volta
na companhia de seu pai, que o feriu e traiu. Abusou dele de forma horrível. Brynne se
apoiou no balcão e a olhou. — Você realmente se preocupa com este macho, não? —
Ela inclinou a cabeça, franzindo o cenho como se estivesse tentando dar sentido a
ideia. — Pode perdoá-lo por ter mentido a você?
Carys deixou escapar um suspiro. — Eu o perdoei tão logo aconteceu. Entendo
porque mentiu e não me importa. Nunca amou ninguém, Brynne?
—Não. Nunca. — Ela piscou, logo levantou seu ombro. — Como sua mãe, nos
primeiro vinte anos da minha vida, nem sequer sabia quem realmente era ou o que.
Meu comandante controlava tudo o que fazia, todos com quem entrava em contato.
Cresci pensando que estava mal, uma espécie de monstro. Depois que soube a
verdade, depois que descobri que minha vida foi fabricada, que estava vivendo uma
mentira — senti que precisava começar minha vida novamente. Depois de desperdiçar
todos estes anos eu queria fazer algo útil, algo real. Acima de tudo, nunca permitiria
que alguém me controlasse novamente. Não pediria permissão. Não deixaria ninguém
me dizer não.
Carys se lembrou de sua conversa outro dia em Boston. — Você me disse outro
dia que se realmente queria algo, deveria ir atrás.
—Sim. — Brynne sorriu em reconhecimento. — Ficarei encantada de contar
contigo esta noite na festa. Com sua capacidade de sombra e memória fotográfica, não
poderia ser mais perfeita para a tarefa.
Carys assentiu. — Ao menos terei algo para manter minha mente ocupada
enquanto espero algo de informação sobre a missão na casa de Riordan.
—Vamos manter-nos em contato constante uma vez que chegarem a Dublin.
Também estará conectada a Gideon aqui em DC enquanto estiver na casa de Fielding.
Tenho certeza que tudo correrá bem.
Carys esperava que ela tivesse razão nisso. Mas a simples verdade era que,
ninguém foi capaz de prometer que voltaria a ver Rune novamente. Não podiam fazer
esta promessa.
O destino de Rune estava em suas próprias mãos.
E por muito que Carys quisesse estar com seu pai e o resto da Ordem quando
entrassem na casa de Riordan esta noite, sabia que nunca permitiriam.
Seus pensamentos eram sombrios enquanto terminava sua torrada e bebia um
último gole de café. — Nosso vôo sairá logo. — Murmurou. — Devo me despedir e
arrumar minhas coisas.
Brynne assentiu com as palmas das mãos na xícara de chá. — Podemos ir assim
que estiver pronta.

****

O amanhecer se mostrava no exterior para Brynne. Tomando sua xícara de chá


no pátio de pedra do jardim de trás da mansão da Ordem, aspirou o ar fresco da
manhã enquanto olhava do terraço.
O perfume de rosas e petúnias enchiam o ar com a suave brisa, junto com o um
cheiro mais exótico que chamou sua atenção para o extremo esquerdo do extenso
pátio.
Um homem estava ali.
O atlante.
Sem camisa, descalço, vestido apenas com um jeans apertado que caía de seus
quadris. Tinha os olhos fechados e os braços abertos, com a cabeça inclinada para trás
meditando em silêncio sob o sol da manhã.
No meio do caos da noite na sede da Ordem, Brynne não viu o imortal que se
reuniu com Lucan Thorne esta semana. Mas não havia dúvidas de que o macho
dourado era ele.
Sua pele era suave, banhada pelo brilho e o calor do sol. Ondas de seu cabelo
caiam até seus ombros fazendo com que seus dedos coçassem com vontade sentir os
fios de cobre para ver se eram tão sedosos como pareciam. Ela franziu o cenho ante o
pensamento e agarrou a xícara um pouco mais forte.
No entanto, não podia afastar o olhar dele. Inclusive imóvel, potência irradiava
de seu corpo forte, magro e musculoso. Cada polegada dele parecia amorosamente
esculpida por um mestre que apreciava cada curva de tendões e o veludo de sua pele.
Deus, era lindo.
Não havia outra palavra para ele. A boca de Brynne se abriu enquanto o
observava sobre a borda da xícara. Uma agitação sem convite a fez morder o lábio
inferior. Um leve gemido começou a sair de sua garganta, mas ela mentalmente se
conteve.
Pelo menos pensou que sim.
Aparentemente não.
Porque neste momento o queixo quadrado do atlante caiu e sua cabeça girou
em sua direção. Olhos azuis tropicais chocaram com seu olhar horrorizado e
envergonhado.
Já era muito tarde para fingir que não estava abobada, mas os pés de Brynne
estavam em movimento de qualquer forma. Ela girou para fazer uma precipitada fuga
e para seu horror, deixou cair a xícara de chá.
—Merda!
A xícara deslizou fora de seu alcance, se rompendo nos ladrilhos do pátio. Chá
se espalhou como uma pequena fonte e fragmentos de porcelana delicada explodiram
em todas as direções.
—Merda, merda, merda! —Brynne se agachou e começou a recolher a
desordem.
—Aqui, deixe-me ajudar com isto.
Não queria olhar para cima e reconhecer a decadente voz profunda do homem
a quem pertencia. Ainda que quisesse ignorá-lo, não conseguiu quando estava de pé
no pátio com ela e certamente não quando agachou ao seu lado, meio nu e irradiando
calor sobrenatural e poder masculino.
Este seu cheiro terreno e picante lambeu todos seus sentidos. E todo seu ser
feminino respondeu, sem importar o quanto tentou impedir.
—Já o tenho. — Murmurou, sua voz saindo fina e ofegante. — É apenas uma
xícara quebrada. Não precisa me ajudar.
—Sei que não precisa. — Disse sem deixar de recolher os pedaços errantes.
Brynne deixou escapar um suspiro agudo. — Normalmente não sou tão torpe.
Não sei como o fiz.
—Dever ter se distraído com algo.
Ela ouviu corretamente? E isto era um sorriso em sua voz?
Por muito que quisesse se afastar dele sem sequer olhá-lo, sua cabeça se
levantou. Ele a olhava fixamente, com um sorriso puxando os cantos de seus lábios
sensuais. E o brilho arrogante em seus incríveis olhos azuis era inconfundível.
—Não estava distraída. — Ela informou com força. — Não me distraio.
—Não? Assim veio aqui deliberadamente para me ver? — Seu sorriso arrogante
aumentou. — Me envaidece.
Porque demônio seu estomago se contorcia com suas brincadeiras, ia além de
sua compreensão. E porque seu pulso acelerou repentinamente de forma muito
ansiosa para ser indignação, ela realmente não queria saber.
Brynne inclinou a cabeça para ele, franzindo o cenho. — Foi um engano. Sou
perfeitamente capaz de pegar os cacos eu mesma, assim se não se importa...
—Não me importa em absoluto.
Ignorando seus protestos, reuniu o último pedaço e os segurou na mão. Logo
ficou de pé e se estendeu sua mão livre.
Brynne olhou com ceticismo para sua grande palma e os dedos longos e
elegantes. — Não vai fazer nenhum truque atlante, verdade?
Encolheu os ombros. — Pode gostar.
—Ah, duvido.
Humor ainda dançava em seus olhos enquanto ficava de pé, sem pegar a mão
oferecida. —São todas as mulheres Raça assustadiças ao redor dos homens?
—São todos os homens atlantes tão seguros de seu próprio encanto?
Ele sorriu. — Sim.
Brynne bufou uma gargalhada enquanto jogava a xícara quebrada no lixo. Ele a
seguiu.
—Sou Ekizael, no caso de você ser muito tímida para perguntar. Os amigos me
chamam de Zael.
Ela girou para ele. — Neste caso, olá Ekizael. Sou Brynne.
Ele fez um som divertido. — Distraída, assustadiça e desdenhosa. Também
intrigante.
—Arrogante, presunçoso e insolente. Também previsível.
—Previsível? — Ele riu entre dentes. — Isto é algo de que rara vez me
acusaram.
Porque seu corpo tinha que reagir como se ele acabasse de dizer algo sexual?
Empurrou a sensação de lado. — Bom, dizem que sempre há uma primeira vez para
tudo.
—Hmmm. — Disse. — Claro, arrogante, presunçoso e insolente, todos
significam mais ou menos a mesma coisa.
Brynne sorriu docemente. — Desde que acabamos de nos conhecer, talvez
pensei que seria muito grosseiro dizer irritante.
Agora ele franziu o cenho. — Estou te irritando? Desculpo-me. Pelo rubor em
suas bochechas e o pulso acelerado, pensei que seria mais divertida. Trocar algumas
brincadeiras. Provavelmente até paquerar.
Que Deus a ajudasse, mas o calor de seu rosto ardia mais agora e toda sua pele
parecia muito quente, muito apertada sob sua roupa. Ela levantou o queixo. —Não
tenho tempo para brincadeiras e nunca paquero.
—De verdade? — Sua voz era algo entre um grunhido e um ronronar, um som
que enviou um tremor por seu sangue até sua cabeça e em vários pontos mais abaixo.
Seu olhar a bebeu sem pudor, antes de voltar aos seus olhos. — Isto é uma tragédia,
Brynne.
Antes que pudesse responder com uma réplica abrasadora, vários passos se
aproximaram. Carys entrou junto com Jordana e Nova.
As três mulheres pararam bruscamente, caindo em um silêncio estranho, como
se elas também pudessem sentir a eletricidade no ar.
Jordana sorriu. — Brynne, vejo que conheceu meu amigo, Zael. Não é
encantador?
Brynne levantou uma sobrancelha em direção ao atlante. — Encantador nem
sequer começa a descrevê-lo.
A risada de Zael estava destinada apenas para ela. — Até voltarmos a nos
encontrar, Brynne. O prazer é meu.
—Sim, foi. — Ele concordou, sorrindo deliberadamente. Voltou-se para Carys.
— Pronta para ir?
—Tudo pronto.
Graças a Deus. Brynne não podia escapar rápido o suficiente de Zael e seu
efeito perturbador sobre ela. Com sorte, se passaria um bom tempo antes dela
encontrar-se na presença do arrogante atlante novamente.

CAPÍTULO TRINTA

Pouco mudou nos anos que Rune partiu do Darkhaven de seu pai.
A umidade dos velhos muros de pedra e do chão de mármore desgastado se
infiltrou em seus ossos assim que foi levado para o interior por seu tio e os outros
guardas armados. Seus passos ecoavam surdamente à medida que avançava pelo
corredor principal no coração da antiga fortaleza.
—Fineas está esperando abaixo. — Ennis disse. — Calculo que se lembra do
caminho, né, garoto?
Rune não precisava perguntar onde o levavam. Apenas havia uma coisa sob a
planta principal da fortaleza. E, sim, ainda se lembrava do caminho, até a curva em
espiral da escada e logo através do corredor na parte subterrânea da torre.
Caminhou adiante dos canhões em suas costas, apoiando a si mesmo quando o
som da voz de seu pai chegou aos seus ouvidos. A risada gutural perseguiu seus sonhos
durante anos depois que fugiu deste lugar.
Agora tudo que Rune podia fazer era resistir à tentação de se lançar adiante e
atacar em fúria assassina, tão logo a cabeça escura de Fineas Riordan e seus ombros
largos apareceram à vista na galeria de frente ao fosso abaixo.
Por muito que Rune quisesse a garganta do bastardo entre os dentes, tinha
cinco pistolas semi-automáticas prontas para abrir fogo contra ele no instante em que
mostrasse algum indicio de agressão. Se tinha a intenção de voltar à Boston depois que
terminasse ali, novamente para Carys, se ela o aceitasse, não tinha outra opção além
de manter sua fúria de lado no momento.
Pensar em Carys o fez sentir uma dor fria no centro do peito.
Ela esteve em sua mente a cada minuto desde que se foi. A forma terrível como
se separaram. Seu bonito rosto, doente de preocupação e confusão quando o viu com
os homens de seu pai e ouviu o nome pouco familiar com que o chamaram. Viu as
tatuagens de escaravelhos e Rune poderia dizer que ela sabia também o que
significavam estas marcas. Ela sabia a quem pertencia e agora ela sabia que ele
também pertencia à Fineas Riordan.
Rune partiu seu coração neste momento. Apenas esperava que ela estivesse
disposta a perdoá-lo. Isto se ainda o pudesse amar o suficiente para considerar tê-lo de
volta.
Mas primeiro, teria que sobreviver ao próximo enfrentamento com o monstro
que o engendrou.
Seu tio lhe deu uma cotovelada e Rune foi adiante com o empurrão ao se
aproximar da passarela sobre a fossa. — Aqui está sua entrega especial, irmão. Todo o
caminho desde Boston.
Fineas Riordan girou a cabeça longe dos homens Raça armados que estavam
vendo o combate com ele. Quando seu escuro olhar encontrou os olhos de Rune, um
arrepio o percorreu de forma insondável.
—Faz muito tempo, filho. Tenho que dizer que fiquei decepcionado quando
fugiu.
Rune não pode conter o fôlego que saiu bruscamente. — Deve ter ficado
entediado sem minha presença aqui para oferecer entretenimento.
Um leve sorriso se estendeu por seus lábios. — Oh, arrumei outra forma de
encontrar outras diversões.
Os guardas de Rune o guiaram até a galeria de observação. No chão de pedra
abaixo, uma dupla de homens Raça estavam em uma tremenda luta.
Molhados de suor, ensanguentados, com a pele desgarrada em vários lugares,
os dois combatentes lutavam com punhos e presas. Seus olhos brilhavam âmbar e os
glifos estavam salientes, as linhas verticais visíveis.
Os dermaglifos dos machos ondulavam como uma tempestade em seus corpos
machucados e lacerados, já que explodiam um contra o outro num borrão de presas e
golpes.
A luta era brutal, bestial. Uma tela da selvagem força Raça.
Pior que qualquer coisa que Rune experimentou neste circulo infernal de
granito e areia.
Era... anormalmente violento.
Um pensamento que Rune deve ter mostrado em seus olhos, porque quando
seu pai o olhou, um amplo sorriso se desenhou em seu rosto.
—Emocionante, não? Tudo sobre melhora no rendimento. — Olhou para o
fosso. — A droga era apenas um protótipo, até umas semanas. Logo será distribuída
para cada cidade importante em toda Europa e EUA. Quanto tempo acha que levará
aos seres humanos antes que peçam para alguém impedir a loucura?
Rune olhou fixamente, o rosto em branco. — O tempo que lhes levará declarar
guerra à toda população Raça.
Seu pai encolheu os ombros, completamente imperturbável. — Ah, bom. De
qualquer forma.
Ele riu e foi acompanhado por Ennis e o resto dos guardas.
As veias de Rune pulsavam de desgosto. Sempre suspeitou que Fineas Riordan
era um louco, mas agora percebeu que era algo pior que isto. Era um psicopata. — De
verdade, não se importa, não é? Não quando gosta de ver os outros sentindo dor.
Riordan ficou olhando o combate. — Sempre teve um estômago fraco quando
se trata destas coisas. Culpo sua mãe por isto.
—Por isto a matou?
Olhou para cima, com as sobrancelhas levantadas com surpresa. — Não percebi
que sabia.
O ódio fervia em Rune. — Não sabia até você confirmar.
Riordan fez um gesto com a mão como se para despedir toda a ideia quando
voltou sua atenção ao fosso. — Ela foi uma escolha errada desde o inicio. Deveria
saber que não podia me acoplar. A cadela podia receber um bom golpe, vou conceder-
lhe isto. Mas levantar a mão para outra pessoa, isto a derrubava. Ela nunca aprovou
minhas... inclinações. Com o tempo, simplesmente me cansei de seu julgamento.
Rune ouvia e sua fúria fervia a fogo lento com a admissão de seu pai. Pensou na
mulher gentil que o suportou. O dom da companheira de raça de suportar uma intensa
dor, foi passado para ele. Quando era criança e foi lançado no fosso, Rune aperfeiçoou
esta capacidade para suportar a formação de seu pai. Com o tempo, aprendeu a lutar
sem usá-lo e não o usou nenhuma vez desde que deixou o domínio de seu pai.
Mas sua mãe...
Rune era muito jovem, muito cego. Não tinha ideia de que estava sofrendo
abusos, sendo torturada por Riordan, como ele. O conhecimento agora o fez grunhir.
—Bastardo doente. Deveria tê-lo matado antes.
Os glifos na coluna vertebral de Rune e na parte posterior da cabeça ondularam
mais forte com a ameaça, mas seu pai apenas riu. — Não seja um gatinho, filho. A vida
é dor. Eu pensei que tivesse ensinado isto, se não outra coisa.
—Você me ensinou muito destas coisas. — Rune murmurou.
Riordan o olhou. — Bem. Esta formação se verá recompensada, será ainda mais
lucrativo que em Boston todos estes anos, agora que está em casa. Construiu seu
pequeno império ali, mas estive ocupado também. Meus companheiros e eu
mantivemos as bases em segredo durante anos. Agora, estamos prontos para colocar
nossos planos em marcha.
—Companheiros? — Perguntou Rune. — Que merda de planos?
Seu pai o olhou durante um longo momento. — Realmente não sabe? — Um
brilho relampejou em seus olhos escuros. — Opus Nostrum, garoto. Sou o novo líder.
Jesus Cristo.
Seu fodido e doente pai era o chefe atual deste grupo terrorista?
A Ordem sabia? Se não, precisavam desta informação em suas mãos tão logo
como possível. E mais, tinha que obter a maior quantidade de informações de seu pai
como pudesse antes de assassinar o filho da puta com suas próprias mãos.
—Parabéns. — Rune disse entre dentes. — Deve estar muito orgulhoso.
—Oh, estou. Mas ficarei ainda mais orgulhoso uma vez que o mundo entender
que a Opus é o único poder verdadeiro. Se quiserem a paz, o mundo terá que chegar a
nós para assegurá-la. Se não, estaremos prontos para entrar numa guerra que
ninguém nunca viu.
—Como vai fazer isto?
Riordan moveu um dedo. — Paciência filho. Teremos tempo para conversar
sobre isto mais tarde. Neste momento quero desfrutar da luta. — Ele mostrou os
dentes e as presas num sorriso sádico. — Estamos chegando à melhor parte.
No fosso abaixo, o combate se intensificou. Um dos machos finalmente estava
esgotado. Seu ombro foi destroçado, estava com o braço pendurado de lado de forma
inútil. Seu oponente se lançou sobre ele num bramido que sacudiu as antigas vigas de
cima. Os dois corpos massivos se chocaram e o vampiro debilitado explodiu contra o
chão de terra.
Presas brilhavam como facas e batiam uma contra a outra, punhos poderosos
se conectavam numa mistura de velocidade e brutalidade O sangue das artérias que se
romperam salpicou os dois. Gritos de angústia e fúria se elevou a um nível
ensurdecedor no recinto abaixo.
O macho na parte inferior não podia conter o outro. Estava incapacitado,
fadigado e cometeu o erro de deixar a garganta livre para o ataque. Seu oponente se
apoderou dela, golpeando tão forte como uma víbora.
Presas se afundaram profundamente e trituraram o pescoço do outro vampiro
com um só golpe, arrancando a cabeça do corpo.
O vencedor levantou a cabeça num grito de triunfo, sangue pinçando de suas
enormes presas. Não havia humanidade neste rosto. Nada além de loucura e
selvageria.
Ao lado de Rune, seu pai e os outros homens gritaram e aplaudiram o
vencedor. Eram de um vertiginoso entusiasmo, ávidos, desfrutando do espetáculo
sádico.
O campeão pareceu percebeu o púbico pela primeira vez agora.
Os lábios entreabertos, a respiração presa, ele inclinou a cabeça e olhou
diretamente para Rune e os outros na passarela acima.
Não deu aviso sobre o que iria fazer.
Num momento estava agachado sobre seu oponente morto, no seguinte estava
no ar, saltando do chão do fosso com um grunhido selvagem.
—Merda!
Rune saltou para trás quando o grande macho pulou até eles. Seu pai e os
outros homens não fizeram mais que estremecer.
Rune entendeu porque menos de um segundo depois.
A fuga do lutador foi detida por uma barreira invisível. No mesmo instante seu
corpo bateu nela, chispas brilhantes explodiram. Fumaça acre e uma luz cega fizeram
Rune evitar olhar, ainda não antes de perceber que o vampiro estava morto.
Ou melhor, torrado no ato. Uma vez que o fedor do queimado se dissipou, o
enorme corpo do macho não era nada além de uma nuvem de pó flutuando.
Rune ficou com a boca aberta. — Que demônios?
—Correntes UV. — Seu pai sorriu. — Fiz algumas melhorias no fosso desde que
esteve aqui no passado.
Apontou Ennis com a cabeça, então começou a caminhar. Atrás de Rune, armas
de fogo o animaram a seguir.
—Venha, Aedan. Gostaria de conversar sobre seus amigos da Ordem.

CAPÍTULO TRINTA E UM

Mais de uma centena de pessoas, Raças e humanos, enchiam o salão da


mansão do Conselheiro Fielding em Londres às nove da noite. Uma pequena orquestra
tocava no fundo enquanto os convidados chegavam pela recepção até o casal de
noivos e seus pais.
Brynne fez as apresentações de Carys aos seus colegas da JUSTIS e outros
convidados, explicando que ela era filha de um amigo dos EUA, que estava em Londres
para as férias de verão. Carys, num elegante terninho preto e sapatos de salto, sorriu e
estreitou as mãos enquanto ela e Brynne avançavam pelo corredor. Ao mesmo tempo,
observava a distribuição da casa e seus numerosos arcos e corredores para o vestíbulo
e outras salas além da sala de estar movimentada.
Depois que um dignitário da África e seus companheiros se aproximaram para
saudar seus anfitriões, Brynne inclinou-se para Carys e falou com um agradável sorriso.
— Deixe de tocar seu ouvido, querida. Não queremos chamar uma atenção não
desejada.
Maldição. Não estava acostumada a espionagem e era muito difícil ignorar o
diminuto transmissor e GPS que levava na orelha esquerda. — Desculpe. — Sussurrou.
A voz de Gideon respondeu igualmente encoberta. — Sem problemas. Apenas
finja que não estou aqui. Sabe o que tem que fazer, verdade? Localizar o escritório de
Fielding e procurar qualquer tipo de informação que puder encontrar, login, ID’s,
senhas, datas no calendário, qualquer coisa. Logo espalhar estes bichinhos que lhe dei
e sair rapidinho daí.
—Mm-hmm. — Carys conhecia suas instruções Também sabia dar seu melhor
sorriso enquanto Brynne estreitava as mãos da mulher de Fielding.
—Uma noite linda para este feliz acontecimento. — Brynne estava dizendo. Ela
puxou Carys adiante para cumprimentar o conselheiro da GNC e sua esposa. — Sr. e
Sra. Fielding gostaria de apresentar Carys Farchild, filha de um amigo querido de
Boston.
Carys não fez nada além de abrir e fechar os olhos ao ouvir o nome de solteira
de sua mãe. Ela seguiu o jogo, estendendo a mão para o conselheiro de mediana idade
e sua esposa.
—Que bom conhecê-la. — A Sra. Fielding disse. Deu a volta e apresentou sua
filha e seu noivo e seu filho, Simon.
O introvertido humano com cerca de vinte anos tinha o corpo de seu pai, em
forma de pêra e o cabelo castanho ondulado, mas os olhos azuis suaves de sua mãe.
Ele olhou para Carys por trás de suas lentes grossas e com uma sacudida incômoda de
cabeça, segurou sua mão, a dele estava úmida.
—Carys é de Boston. — Sua mãe informou alegremente. — Simon poderia dar
um seminário sobre a economia do próximo mês. Talvez ele te conte tudo. O que acha,
Carys?
—Claro. — Respondeu já imaginando. — Soa fascinante.
A risada tranquila de Gideon fez cócegas em seu ouvido. — Suavemente
introduzida. Bem vinda ao glamour das operações encobertas.
—Hmm. Agora que me diz. — Sussurrou ela, virando o rosto de lado para
mascarar o movimento sutil dos lábios.
Brynne começou a falar sobre a casa dos Fielding, já que foi comprada somente
há umas semanas atrás. — Uma linda casa. E grande também. Há oito quartos acima?
—Dez. — A Sra. Fielding respondeu sorrindo. — E sem contar os escritórios e as
salas de reuniões de Neville, que ocupam a maior parte da ala leste.
Carys escondeu sua reação, como Brynne, que cobriu o golpe com uma
brincadeira sobre ter muito espaço para futuros netos. Com a linha de recepção
chegando ao fim, as mulheres riram e começaram a conversar sobre o casamento
próximo e preparativos para a lua de mel.
Carys, por sua parte, aproveitou a oportunidade para desaparecer entre a
multidão.
Ela desviou casualmente através das dezenas de pessoas elegantemente
vestidas. Um garçom lhe ofereceu uma taça de champanhe, que ela aceitou com um
sorriso antes de continuar seu caminho gradual, mas deliberado até o outro extremo
do salão.
Ela moveu-se de forma mais profunda entre a multidão, parando para ver
alguns casais se movendo na pista de dança quando a orquestra começou a tocar uma
valsa. Ela continuou, rindo com alguns convidados e parando aqui e ali para fingir
interesse pela arte da mansão.
Levando a taça aos lábios Carys murmurou sua posição para Gideon. — Estou
indo para a saída ao extremo leste da casa. Tão logo tenha uma oportunidade...
—Um... Srta. Farchild?
A voz fina masculina chamou sua atenção bruscamente. Ela colocou no rosto
um educado sorriso. — Oh, olá novamente Simon.
—Olá. — Ele voltou a cair em um silêncio incomodo. Ali de pé, brincando com a
gola de sua camisa sob a gravata borboleta. Logo estendeu a mão para ela, com a
palma para cima. Ela franziu o cenho, sem saber o que queria.
—Vamos dançar?
Dentro de seu ouvido, a risada de Gideon soou abafada e muito divertida.
Oh merda. De verdade? — Eu... um...
Ela olhou ao redor, procurando uma desculpa. Mas não tinha nenhuma razão
plausível para dizer não e o rosto de Simon era tão lastimosamente esperançoso, que
não teve coragem de fazê-lo. Se tivesse sorte, talvez pudesse tirar alguma informação
útil do filho de Fielding.
—Certo. Adoraria dançar com você.
Deixando a taça de champanhe meio vazia em uma bandeja perto, ela colocou
os dedos na palma úmida de Simon e lhe permitiu levá-la até a pista de dança.

****

—Ouvi que ganhou uma grande reputação por si mesmo no ringue em Boston.
— Disse seu pai, caminhando atrás de Rune com seus homens armados pelo frio
corredor. —Ouvi que é invencível. Um assassino.
Rune grunhiu. — Você me ensinou tudo o que sei.
—Sim, o fiz. — Havia um sorriso em sua voz. — Alegro-me em saber que você
admite.
Continuaram por uma ampla curva que conduzia aos velhos armazéns da
fortaleza. Riordan deu um passo ao redor deles e puxou uma chave. Deu um giro e
disparou um sorriso sobre o ombro para Rune.
—Talvez deveria exigir minha parte de sua ganância, hein, garoto?
Rune manteve seu tom de voz, sua raiva a fogo lento. — Não merece uma
maldita coisa.
Exceto uma morte atroz, que não podia esperar para entregar.
O rosto de Riordan endureceu, mas logo encolheu os ombros. — Não preciso
de dinheiro. Não estou buscando algo tão mundano como isto. Tenho um comércio de
algo muito mais valioso agora.
Rune riu. —Carne e sangue?
—Quando me agrada, sim. Mas minha moeda preferida é o poder.
Quando a porta se abriu, Riordan puxou a maçaneta e empurrou a porta velha
de madeira para abri-la. Em seu movimento de cabeça, os guardas empurraram Rune
adiante deles para o lugar.
Dezenas de barris fechados, caixas de envio e grandes caixas de aço estavam
armazenadas no interior. Riordan fez sinais para seus homens abrirem alguns.
Forçaram cuidadosamente a tampa de um barril, logo puxaram a parte superior de
uma caixa de madeira fechada e tiraram caixas pequenas de dentro.
Quando Rune foi guiado para o barril, viu pacotes de um pó vermelho fino
enchendo o barril. Dentro da grande caixa estavam outras caixas que levavam cilindros
de vidro finos, todos brilhando com uma luz azul leitosa em seu centro. Havia dezenas
de recipientes com este tipo de liquido. Tantos, que enchiam o enorme armazém.
—Como disse, comercializo com o poder. — Sorrindo, Riordan fez um gesto ao
seu redor. — Meu tesouro de guerra, cortesia da Opus Nostrum. Tenho o suficiente de
drogas para criar um exercito de selvagens sedentos de sangue e o suficiente
armamento liquido UV à minha disposição para erradicar a metade da população Raça
do mundo todo.
—Você está doente. —Rune disse. — Nunca terá a oportunidade de usar
qualquer desta merda. Não assim e não com a Opus.
—Quem vai me impedir, garoto? Você? Seus amigos da Ordem? — Ele riu entre
dentes enquanto lentamente negava com cabeça. —Imagine minha surpresa quando
os rastreadores que enviei para Boston me informaram não apenas que o
encontraram nesta cidade, mas que andava com os guerreiros da Ordem de Lucan
Thorne. Tenho que dizer, me deixou curioso.
Rune encolheu os ombros. — A arena atrai uma multidão diversa. Todo mundo
adora uma boa luta, como você bem sabe.
A expressão de Riordan era mais sombria que cética. — Que interesse tem a
Ordem em você e no clube? Estão fazendo perguntas sobre mim, talvez? Eles sabem
que sou parte da Opus Nostrum?
Quando Rune ficou em silêncio, com o rosto impassível, as perguntas de
Riordan tomaram um tom mais impaciente.
—Estão planejando vir atrás de mim? Se aproximaram muito na outra maldita
noite, quase tiveram suas mãos neste meu advogado idiota, Ivers. Encontraram a
informação que estava protegendo? Quanto sabem sobre mim e meus irmãos Opus?
Rune não pode deixar de sentir satisfação ao ouvir o tom de pânico na voz de
seu pai. Apesar do poder que estava ansioso para alardear, Fineas Riordan falava agora
como se pudesse sentir um nó se fechando ao redor de seu pescoço. No fundo, sob
toda esta sua valentia, Riordan estava preocupado que seu pequeno império retorcido
poderia desmoronar ao seu redor.
E Rune planejava fazer o que pudesse para que isto acontecesse.
Rune riu entre dentes, realmente divertido. — Guarde sua paranóia com a
Ordem. Inclusive se soubesse, nunca diria nada.
Seu pai o observou um pouco. — Não... você não sabe, verdade? Eles não lhe
disseram nada. Eles sabem que é meu filho?
Rune zombou. — Ninguém sabe. — Não até Carys descobrir duramente esta
noite. — Enterrei seu nome quando saí daqui. Planejei guardar a vergonha e levá-la
para a tumba.
Os olhos frios se endureceram com o insulto. — Cuidado, Aedan. Você saber
que posso consertar isto facilmente. Inclusive poderia desfrutar.
—Desfrutou matando minha mãe também? — A voz de Rune era frágil, cheia
de toda animosidade que estava lutando para manter dentro. — Ela era sua
companheira de sangue, pelo amor de Deus. Quando a dor infringida a ela corria em
suas próprias veias.
Seu pai sorriu. — Como disse, sua mãe podia aguentar uma grande quantidade
de castigo. Levou muito tempo para rompê-la. E sim, senti cada golpe, cada chicotada
— rasgando sua pele. Eu os saboreava, se quer saber a verdade.
O grunhido de Rune soou letal, inclusive aos seus próprios ouvidos. Seus
músculos se contraíram com a necessidade de romper o sádico sorriso no rosto de
Riordan. Sua tensão deve ter sido notada, porque dois dos guardas armados em suas
costas agora se moveram para frente, os outros ficando de lado.
—Minha segunda oficial era menos que um desafio. — Seu pai comentou, com
tanta indiferença que parecia falar sobre o tempo. — Eu terminei quando deixou de
manter o meu interesse.
Esta era uma nova informação e um medo intenso se apoderou de Rune. Ele
evitou perguntar sobre a substituta de sua mãe ou a menina que ficou ali. Agora, ele
tinha que saber. — O que houve com Kitty? Onde ela está?
Uma chispa de interesse iluminou o olhar de Riordan. — Ah, lembra-se deste
pedaço de traseiro, hein? Meus homens e eu tivemos bons momentos com ela
também. Mas então a pequena cadela astuta fugiu e nunca voltou. Ela pode estar
morta pelo que me interessa. Tudo se consome de qualquer forma.
Rune ferveu por dentro quando considerou os horrores que a resposta
repulsiva implicava. — Ela era uma criança inocente, porco sádico.
Não podia conter sua fúria agora. Explodiu fora dele com um rugido.
À merda guardar Riordan para a Ordem. À merda a necessidade de informações
sobre a Opus Nostrum. Tinha que destruir este monstro agora e se morresse no
processo, que fosse assim.
Rune avançou. Inclusive antes de se movimentar, ouviu o disparo. Algo afiado
se cravou na parte posterior de seu pescoço. Vários outros.
Não balas. Dardos?
Fogo se filtrou em suas veias, imediatamente minando seus sentidos. Caiu
rapidamente. A medida que seu corpo golpeava o chão duro, percebeu que foi
atingido com um sedativo forte. Seus músculos deixaram de funcionar. Ficou ali,
paralisado, sua visão começando a se nublar.
Ele viu as botas de Riordan passar diante de seu rosto, seu rosto cínico.
O último que ouviu antes da escuridão se fechar sobre ele, foi a voz monótona
de seu pai.
—Tire-o daqui. Prenda-o até que decida o que fazer com ele.

CAPÍTULO TRINTA E DOIS

A única informação que Carys conseguiu de Simon Fielding foi que ele não sabia
absolutamente nada das atividades de seu pai ou colegas. O conhecimento do Fielding
mais novo sobre os multiplicadores fiscais, no entanto, era interminável.
Levou três valsas antes de Carys conseguir finalmente se afastar dele.
Desculpando-se que o champanhe foi diretamente para sua cabeça e que precisava de
um pouco de ar fresco, esquivou-se da oferta de Simon de escoltá-la até o lado de fora
e em troca, saiu por conta própria.
—Pensei que nunca pararia de falar. — Sussurrou Gideon do outro lado de seu
transmissor. — E também não sei onde estamos agora.
—Acabo de ver Simon voltar ao salão de baile, assim vou entrar. — Voltou a
entrar na casa por um par de diferentes portas francesas, que davam à uma área
tranquila, com pouca luz no corredor e distante do rebuliço da recepção. — Tudo bem,
vou entrar agora.
Movendo as sombras ao seu redor, Carys retrocedeu desde o restante do grupo
e se dirigiu para a escada do pessoal na parte posterior do corredor.
—Vou subir ao segundo andar, onde é o escritório de Fielding. — Sussurrou
para Gideon.
—Consigo ver seu sinal agora. — Confirmou.
Sem ninguém ao redor para ver ou ouvir, ela não pode resistir a necessidade de
atualização sobre a missão da Ordem. — Quanto tempo antes dos guerreiros
entrarem?
—Estão ainda a caminho, mas devem ter as botas sobre a propriedade em
Dublin e as rodas em movimento ao redor de quatro horas a partir de agora.
Não sabia se a noticia a fazia se sentir melhor ou pior. A ansiedade estava
cobrando seu preço desde que ela e Brynne deixaram DC esta manhã. A Ordem estava
se preparando e planejando sair em algumas horas depois dela e a espera de notícias
era insuportável. — Gostaria de poder estar com eles esta noite, em vez de aqui.
Tenho que vê-lo. Deveria estar ali por Rune.
—Ouça, ninguém quer que isto termine mal para ele. — Disse Gideon. — Nem
sequer seu pai.
—Espero que ele esteja bem. — Ela conteve o fôlego enquanto o som de vozes
femininas tênues e passos se aproximavam dos tapetes suaves no canto do corredor à
frente. — Merda. Alguém está vindo.
Ela ficou imóvel e em silêncio, mantendo-se perto da parede quando duas
governantas passaram levando nos braços algumas roupas para a lavanderia, assim
caminhou junto a elas, sem que percebessem. Tão logo sumiram, Carys foi em direção
à ala leste.
Parou nas portas duplas que iam para os escritórios e o restante do segundo
andar. Ela tentou entrar e viu que estava trancada. Uma ordem mental concentrada foi
tudo o que precisou para abri-la.
Deslizando dentro da sala vazia, com pouca luz, Carys fechou a porta atrás de si
e logo deixou de se esconder nas sombras.
—Estou nisso. — Disse Gideon.
A luz ambiente de alguns lustres na parede banhou o enorme espaço num
cálido resplendor. O grande escritório tinha uma mesa com cadeiras e uma área de
estar ao lado. Carys flutuou para o interior, além das suntuosas poltronas de couro e
um sofá que estava diante da enorme lareira.
Outros cômodos separavam a suíte principal. Uma sala de conferência com
cadeiras para doze pessoas. Uma enorme e elegante biblioteca com estantes elevadas
e um canto para leitura. Inclusive havia uma academia cheia de reluzentes
equipamentos e espelhos do chão ao teto nas paredes.
Carys se dirigiu diretamente para a área de trabalho do conselheiro. — Há um
tablet sobre a mesa. — Informou à Gideon num sussurro enquanto abria o
computador. — Maldição. É protegido por senha.
—Sem problema. — Respondeu Gideon. — Posso entrar mais tarde. Por isto
você tem os bichinhos.
Colocou a mão no bolso de sua calça para recuperar um dos finíssimos
equipamentos de tecnologia que Gideon lhe deu. Removendo a parte traseira, colocou
no tablet de Fielding. Uma vez colocado, o dispositivo encoberto desapareceu contra o
metal.
—Feito. — Disse ela. — Comprovando os arquivos agora.
Mentalmente abriu a gaveta e começou a procurar. —Vejo alguns contratos da
GNC aqui, com três meses de reuniões, listas de membros do comitê...
Sua voz se apagou enquanto examinava o documento com os nomes,
referências, qualquer coisa que pudessem ser úteis para a Ordem, as atividades e
interesses do conselheiro. Por não falar de todas as associações que poderiam insinuar
corrupção.
A voz de Gideon soou em seu ouvido enquanto ela olhava página por página e
armazenava na memória. — É melhor que seja rápida, Carys. Temos que colocar o
restante dos bichinhos nos outros equipamentos e salas. Por segurança, não podemos
nos dar ao luxo de sumir por mais que alguns minutos.
—Certo. — Fechou a gaveta e se apressou em completar o resto da tarefa. Com
a maioria deles colocados nas salas de reuniões e outras, ela entrou na academia. —
Falta apenas esta. Quer a esteira ou o simulador de esquis? Duvido que Fielding faça
qualquer exercício.
Gideon riu. — Escolha você.
Buscou algo do qual pudesse tirar o máximo de proveito. — Que tal o controle
remoto da televisão?
—Perfeito. — Disse Gideon. — Coloque e saia rapidinho daí.
Passou pela sala quando algo chamou sua atenção. Fez uma pausa, olhando a
leve luz vermelha do controle refletir sobre um dos painéis do espelho na parede do
fundo.
Exceto que não refletia...
Não, parecia atingir à direita do vidro.
—Ei. Isto é estranho.
—Fale comigo, Carys. O que está acontecendo?
—Não tenho certeza. — Murmurou, deixando o controle para baixo e
aproximando-se para olhar de perto. — Acho que há algo atrás do espelho.
Levantou a mão e sentiu ao redor das bordas do painel. Seus dedos roçaram
um pequeno botão a direita. Ela apertou e o espelho se abriu.
—Oh Deus meu. Há outra sala escondida aqui.
Não era bem uma sala. Não havia nada como a suíte do lado de fora. Isto era
mais como um esconderijo.
Olhando para a escuridão, viu um escritório simples e uma estação de trabalho
com um computador de tela enorme. Se Neville Fielding tinha segredos, este era o
lugar onde obviamente os encontraria.
—Vou entrar. — Ela cruzou a porta.
—Carys, pelo amor de Deus, acabe a taref...
—Gideon? — Sussurrou enquanto entrava mais. — Gideon, está aí?
Merda. Apenas um silêncio respondeu. O sinal deve ter cortado, supunha,
devido as paredes isonorizadas e o teto que a rodeava.
Caminhou para a mesa. O equipamento estava desligado, mas ainda quente. Ao
lado havia uma espécie de sistema de comunicação.
Para que demônios estava Fielding usando isto? Com quem queria falar em
segredo, escondido atrás de uma porta numa casa que apenas um homem com dez
vezes sua riqueza poderia pagar?
Apenas havia uma resposta, claro. Uma explicação.
Opus Nostrum.
Maldição. Tinha que voltar a sair e tentar recuperar um dos bichinhos que
colocou em outro lugar. Esta era uma sala que a Ordem precisava monitorar.
Deu a volta e começou a caminhar para a porta oculta.
—Gideon? — Sussurrou. — Pode me ouvir?
O transmissor em seu ouvido estava ainda em completo silêncio.
E quando o silêncio a envolveu sentiu uma cócega em seus sentidos.
Não estava sozinha.
Alguém estava ali com ela agora.
Começou a mover as sombras ao seu redor, mas já era muito tarde. Tão logo
percebeu o perigo, se encontrou cara a cara com um grande corpo e uma atitude
ameaçadora de um macho Raça que agora bloqueava a porta da academia.
Oh Deus. Era ele.
O líder dos homens de Riordan que estava no La Notte.
Agora, usava um terno e uma gravata de seda brilhante, parecendo pouco
amigável... exceto pela curva ameaçadora de sua boca e a frieza em seu olhar.
—Bom, não é isto uma surpresa? — Murmurou. — A cadela companheira Raça
de Boston.
Carys engoliu saliva, quando o sangue drenou de seu rosto. Ela precisava usar
seus instintos Raça, mas parecia congelada da cintura para baixo.
—O que está fazendo aqui? — Perguntou ela, o único que lhe ocorreu dizer.
—Acho que a melhor pergunta é: o que você está fazendo aqui? Olhando em
lugares aos quais não deveria. — Ele estendeu a mão e arrebatou o transmissor em
seu ouvido, movendo-se tão rapidamente que mesmo seus instintos Raça dificilmente
poderiam seguir. O pequeno dispositivo desapareceu em seu punho fechado. — Você
está envolvida num negócio perigoso, querida. Uma garota descuidada pode morrer se
cruzar com as pessoas erradas.
Carys era inteligente o suficiente para não ter medo, mas não podia não se
preocupar neste momento. Não quando este filho da puta levou o homem que amava.
Ela levantou o queixo. — Onde esta Rune? O que você e Fineas Riordan fizeram com
ele?
Ele sorriu, as presas brilhando na escuridão. — Se quiser vê-lo com vida
novamente, se quiser sair desta casa com sua garganta intacta — terá que vir comigo
agora.

CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

Brynne sorriu e assentiu com a cabeça, sem sequer ouvir a metade de como um
de seus colegas humanos JUSTIS e alguns assistentes do partido contavam sobre as
recentes férias e as partidas de golfe na Escócia que ganharam. Segurando sua taça de
champanhe, Brynne olhou pelo lugar procurando algum sinal de Carys.
Passou-se mais de uma hora desde que a viu pela última vez.
Brynne a viu escapar de Simon Fielding para o lado de fora. Quando Carys não
voltou ao salão de baile, Brynne assumiu que começou sua missão de reconhecimento
no escritório do conselheiro no andar de cima.
Mas inclusive se houvesse desaparecido nas sombras neste momento, Carys
estava levando muito tempo para terminar. A ausência deixou Brynne um pouco
nervosa.
E a cada minuto que passava, não podia evitar a sensação de que algo estava
errado.
—Me desculpem, por favor? —Murmurou ao grupo de colegas. —Acabo de me
lembrar que tenho que fazer uma rápida ligação.
Abandonou sua taça na bandeja do garçom que passava e já tinha seu telefone
na mão para entrar em contato com a sede da Ordem quando o telefone tocou. A voz
profunda de Gideon chegou tão logo ela atendeu.
—Brynne, Carys está com você?
—Não. — E o fato dele ter que perguntar fez seu pulso acelerar. Foi para um
canto tranquilo e falou em quase um sussurro. — Não a vejo há um tempo. Não está
em contato com ela pelo transmissor?
—Perdi a conexão uma hora atrás, quando ela estava dentro do escritório de
Fielding. O sinal de GPS continua dentro da casa, mas não consegui restabelecer o
áudio ainda.
—Tem certeza que ela está aqui? Estou olhando todo o tempo e ela não voltou
ao salão de baile ou qualquer das outras áreas da recepção.
—Por isso liguei. — Disse Gideon. —Não tenho uma boa sensação também.
Tinha a esperança de fazer uma busca rápida por ela, apenas para confirmar que
temos contato visual.
—Claro. — Brynne já estava caminhando.
—Tenho o sinal de GPS de seu transmissor na minha frente agora. — Disse. —
O sinal de Carys está ao sul, movendo-se a um bom ritmo.
Brynne apertou o passo, tentando caminhar casualmente, mas com rapidez.
Passou entre a multidão de convidados da festa, na direção que Gideon lhe disse.
—Acho que a cozinha está por aqui. — Ela disse quase nas portas abertas, na
parte de trás da recepção. Viu dezenas de empregados com smoking passarem pela
porta com bandejas de comida e bebidas.
Quando se apressou, alguém chamou seu nome e a saudou com a mão desde a
multidão. A companheira Raça de seu supervisor estava sorrindo e tentando chamar
sua atenção. Brynne lançou à mulher um olhar de desculpa e apontou seu telefone
como se estivesse numa ligação que não podia ser interrompida. O qual era sem
dúvida verdade.
—Carys acaba de virar uma esquina agora. — Gideon disse. — Ela está se
afastando de você, Brynne.
—Merda. — Ela passou pelas altas portas atrás de um dos empregados que
saia. Continuou pelo corredor ouvindo o ruído da cozinha. Estava cheia de garçons e
cozinheiros, aqui e ali com suas bandejas.
—Estou me aproximando?
—Sim, está praticamente em cima dela agora. Deve estar justo na sua frente,
nem sequer metros de distância. Deixou de se mover agora.
Brynne franziu o cenho, girando onde estava. Não havia ninguém ali perto dela,
exceto os cozinheiros e ajudantes.
—Gideon, deve estar enganado. Ela não pode estar aqui. Eu não...
As palavras secaram na língua de Brynne enquanto seu olhar caía sobre uma
bandeja que parecia chegar neste momento na cozinha. Taças usadas e forros sujos
estavam amontoados numa bandeja. E havia algo mais ali também...
—Oh Deus meu. — O estômago de Brynne se contorceu.
Olhou entre as dobras de um dos guardanapos brancos e viu um pequeno fio e
o transmissor.
—Gideon, ela foi descoberta. Carys se foi. Alguém a levou.

****

O Darkhaven de Fineas Riordan era um antigo castelo de pedra escarpada,


exatamente o tipo de lugar que daria cobertura à um monstro.
Carys não sabia o que esperar depois que seu captor — o irmão de Riordan — a
tirou de Londres num jato particular, logo a deixou no assento de um carro com um
motorista que os levou vários quilômetros fora de Dublin. Mas à medida que se
aproximavam da fortaleza, seu coração sangrou pelo garoto que cresceu neste lugar,
com as condições violentas que Rune descreveu.
Doía ainda mais drasticamente pelo homem que amava e ela apenas podia
rezar para que o irmão de Riordan não houvesse mentido sobre Rune estar vivo. Ainda
havia esperança de que ele poderia sair deste lugar ileso e voltar para a casa em
Boston, onde pertencia.
Foi esta leve esperança que convenceu Carys a aceitar o jogo de seu captor,
fingindo não ser, de fato, mais que uma companheira Raça. Todo seu instinto Raça
vibrava com violência e ódio. Foi quase impossível caminhar docilmente pela parte
traseira da casa de Fielding e resistir ao poderoso impulso de saltar sobre o irmão de
Riordan e arrancar sua garganta.
Tinha que admitir que a semi-automática que levava no quadril ajudou a
manter-se contida.
Segurou a arma enquanto saía do carro e a pegava pelo braço. O cano da arma
estava cravado em suas costelas numa lembrança constante para manter a
compostura enquanto caminhava para a entrada principal do castelo.
Carys foi levada por uma escada de pedra até o coração da fortaleza, ao menos
parecia ter uma história completa sob o solo. Longe o suficiente para os fortes sons de
um combate mortal e arrepiante, rugidos animais que vinham de algum lugar das
entranhas da fortaleza não fossem audíveis até que se aproximou do último degrau.
Agora, os sons horríveis enchiam seus ouvidos. O pavor deixava cada passo
interminável enquanto caminhava pelo corredor com seu captor. Mais adiante, outros
machos Raças esperavam numa passarela suspensa sobre uma câmara aberta. Um
deles, um guarda musculoso segurava um rifle de aspecto desagradável, e olhava fixo.
O outro se inclinava para a frente, como se não tivesse nenhuma preocupação no
mundo, com os cotovelos casualmente apoiados na borda da passarela.
Não precisava adivinhar quem era o segundo macho.
Fineas Riordan compartilhava os mesmos traços afiados e o cabelo escuro de
seu irmão. Os mesmos olhos frios e a boca cruel. Ele olhou de lado enquanto ela se
aproximava, sua língua deslizando lentamente, deliberadamente para molhar os
lábios.
—Venha. — Fez um sinal. — Ennis, a traga antes que ela não veja a melhor
parte.
Uma sensação de mal estar corroia suas entranhas enquanto entrava na grande
passarela. Do mesmo modo que ela não precisou adivinhar quem era Fineas Riordan
quando o viu, não precisava adivinhar o que havia abaixo, onde o som da brutal luta
corpo a corpo ecoava.
Carys olhou por cima da borda... justo a tempo de ver Rune lançar-se sobre seu
oponente no fosso abaixo. O fosse onde seu pai o obrigava a lutar quando era criança.
Luta até a morte, como a que acontecia ante seus olhos neste momento. Os corpos
quebrados e ensaguentados de dois outros machos estavam no chão enquanto Rune
lidava com a ameaça atual.
Oh Deus, Rune.
—Tem uma notável resistência. — Disse Riordan casualmente. — Perdi a conta
de quantas horas está ali abaixo. Sempre foi um bastardo incansável.
Rune estava totalmente transformado, as presas intermitentes e os olhos
ardendo com fogo âmbar. Usava apenas a calça da noite anterior em Boston, mas
agora estava suja e rasgada. Seus dermaglifos estavam furiosos com cores escuras pela
ira e a violência, em plena ebulição na carne molhada de suor e cheia de hematomas
pelas costas e o peito.
No entanto, tão perigoso como Rune parecia, seu oponente parecia ainda mais.
O grande macho tinha um olhar selvagem. Insano, cheio de violência. Suas presas
pingavam saliva e seus glifos estavam saturados de cores furiosas, pareciam ter tons
oliva e negros.
Rune agora soltava um grunhido, o oponente enlouquecido num bloqueio de
cabeça. Uma grande palma agarrou o crânio do vampiro, enquanto Rune apertava o
pescoço do macho num V do braço musculoso dobrado. Seus enormes bíceps
flexionados arrancaram a cabeça do macho.
Ossos e tendões rangeram, cortando-se no mesmo instante. Rune deixou o
corpo cair e girou sobre os pés descalços.
Oh Deus... parecia mal-tratado e cansado. Seu fôlego saiu, a fadiga alcançando
todos os músculos
Ele levantou a cabeça para olhar a passarela e seu olhar âmbar ardente se
iluminou ao vê-la. O rugido que soltou quando a viu sacudiu as paredes de pedra e as
vigas do teto acima. A mão de Carys voou para sua boca, as lágrimas saindo de seus
olhos. — Rune.
—Carys? Não! — Seus olhos indignados foram para seu pai. — Como chegou
aqui? Maldição, deixe-a ir!
Ennis Riordan riu quando olhou de lado para o pai de Rune. — Disse que a
cadela que vimos em Boston era algo mais que uma merda de nosso garoto Aedan.
—Obviamente, algo mais do que queria acreditar. Mas o que estava fazendo na
casa de Fielding esta noite?
—Ela não disse nada até agora. Disse que queria vê-lo primeiro. — Ele sorriu. —
Acho que podemos convencê-la a falar agora.
—Deixe-a ir. — Rune grunhiu do fosso. Soltou uma maldição baixa. — Não a
machuque. Você, sua merda doente!
As sobrancelhas de seu pai se levantaram. —Você não me viu doente ainda.
Quando terminarmos com você garoto? Oh, será divertido tê-la.
E então, tudo aconteceu muito rápido.
Riordan olhou para seu guarda. Em resposta, o homem puxou uma alavanca na
parede de pedra no final da passarela. Abaixo, um dos portões de ferro integrado na
parede do fosso, começou a se abrir.
Outro macho Raça selvagem saltou como um leão gladiador na arena. Maior
que o anterior, seu enorme corpo tinha marcas e estava pronto para o combate. E
como o outro, parecia muito selvagem. Sanguinário e cruel, rodeava Rune,
preparando-se para saltar.
—Agora, vamos fazer com que fique mais interessante. — Riordan assentiu a
seu irmão.
Num flash de movimento, o outro homem sacou sua arma e disparou no ombro
de Rune.
Carys gritou.
O som começou agudo e angustiado, mas mudou rapidamente para algo
poderoso e de outro mundo. Sua transformação à fêmea Raça foi repentina e sem
parar.
Suas presas perfuraram sua gengiva num instante. Sua visão queimou vermelha
quando sua natureza Raça a dominou e suas pupilas se reduziram a linhas verticais
dentro de sua íris de cor âmbar. Saltou sobre o irmão de Riordan, apoderando-se dele.
Seu corpo explodiu contra ele, levantando-o de seus pés.
Com um imenso impulso para frente, lançou-o pelo ar.
—Merda! — O pai de Rune saltou atrás contra seu guarda com uma maldição.
Seu irmão gritou de terror nas garras de Carys, os olhos muito abertos.
Em menos de um segundo para Carys entender o porque. Enquanto navegavam
pela passarela, ao ar livre, chispas explodiram como se houvessem se chocado contra
algo.
A explosão da luz a cegou, enchendo sua visão com a explosão de mil sóis.
Logo seu nariz se encheu de cheiro de queimado de pele e cabelos em chamas.
Que demônios?
O macho Raça que mantinha firme nos punhos se foi. Desintegrou-se em seus
dedos.
De repente, ela não o carregava mais. As cinzas do corpo de Ennis Riordan
choveram ao seu redor como copos de neve quando ela caiu no chão do fosso de luta.

CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

Os desenhos de Nova do castelo de Riordan se estendiam sobre uma mesa de


trabalho na parte traseira do avião particular da Ordem. Chase e os outros guerreiros
se reuniram ao redor dos diagramas na última hora ou assim, revisando os pontos de
entrada e correndo através dos possíveis planos de infiltração.
Ele tamborilou os dedos sobre a mesa enquanto considerava as câmaras de
confinamento e saídas limitadas sobre os desenhos. — Quantos guardas
encontraremos uma vez que entrarmos?
—Poderia ser uma dezena. — Disse Lucan. — Apenas podemos adivinhar,
baseado nas imagens da câmera de segurança que Gideon conseguiu acessar.
Dante sorriu. — Bom, merda. Entramos em ninhos de víboras piores que este.
Chase e os outros membros da Ordem, que se conheciam de toda uma vida,
riram ante a lembrança. Há duas décadas, as missões como esta eram comuns, quando
todos trabalhavam juntos no Centro de comando original, em Boston. Não era com
frequência que se reuniam numa patrulha como agora, mas sempre era fácil
estabelecer-se novamente no velho ritmo da irmandade que ainda compartilhavam.
Rio olhou para Mathias, um sorriso esticando as cicatrizes que cobriam sua
bochecha esquerda.
—Que tipo de favores estamos trazendo a estes bastardos esta noite?
—Minha equipe terá braços extras e munições esperando-nos em Dublin.
Também estão levando explosivos, se precisarmos para abrir nosso caminho.
Kade sorriu. —Vamos votar. Quem mais além de mim quer brincar com fogos
de artifícios?
Com exceção de Nathan, a equipe de Boston toda levantou as mãos, junto com
Aric. Então Dante e Brock se uniram.
Enquanto as piadas e as risadas se espalhavam pela mesa, o telefone de Lucan
tocou. Deixou de brincar enquanto atendia.
—Vai estar perto da saída do sol quando aterrissarmos. — Disse Hunter. —
Mesmo se Riordan antecipar que estamos chegando, duvido que estará preparado
para um ataque em grande escala em plena luz do dia.
Chase assentiu. — E vamos cobrir esta frente. Os carros de Mathias estão
equipados com janelas que bloqueiam a luz e vamos arrombar as portas de Riordan
vestindo um equipamento tático completo anti-UV.
—O que acontece se houver mulheres e crianças? — Perguntou Tegan. Uma
vez que o membro mais frio da Ordem tinha uma companheira e um filho adulto,
transformou-se em um letal macho protetor. — Iremos ter que fazer uma varredura
em busca de civis quando entrarmos?
Mathias negou com a cabeça. — Não é uma preocupação. Riordan não se
acasalou durante anos. Por desgraça, suas companheiras Raça parecem ter um hábito
pouco saudável de morrer em circunstâncias perigosas. Ele tem um irmão, Ennis, cuja
reputação é quase tão repulsiva. — Mathias limpou a garganta. — Logo, claro, está a
questão do filho de Riordan.
Chase grunhiu ante a lembrança. Não estava disposto a esquecer a delicada
questão de potencialmente entrar em combate contra o macho que Carys amava.
Tavia apontou que tanto ela como sua filha esperavam que conservasse o bom senso e
fizesse o que pudesse para salvar o filho de Riordan, apenas se fosse possível.
Deu sua palavra. Mas não podia garantir que o macho não seria pego em fogo
cruzado se as coisas saíssem de controle dentro da fortaleza.
Com estes pensamentos sombrios sobre ele, quase não percebeu que Lucan
saiu da mesa e ainda estava em sua ligação do outro lado da cabine do avião. Mas
todos deixaram de falar agora também.
A expressão e o silêncio sombrio de Lucan atraíram mais atenção do que se
estivesse rugindo maldições a pleno pulmão.
Desligou e se aproximou, seus olhos sérios em Chase.
—O que está acontecendo, Lucan?
—É Carys. — Duas palavras, pronunciadas tão sérias, que pareceu absorver
todo o ar do avião. — Ela desapareceu na festa de Londres.
—Como?
Chase sentiu suas veias congelarem. Na mesa com ele, Aric explodiu com um
grito de incredulidade e preocupação.
—O que quer dizer com desapareceu? — Chase murmurou. — Por quanto
tempo? Onde iria? Pelo amor de Deus, diga que estão revirando aquela casa de pernas
para cima enquanto a buscam neste momento.
—Brynne registrou a casa. Gideon tinha o sinal de seu GPS ativado, mas quando
encontrou o equipamento... — Lucan negou com a cabeça. — Parece que está
desaparecida há uma hora.
—Alguém a levou? — Chase sabia a resposta sem ouvir. Sabia quem também e
o gelo se instalou em suas veias. — Riordan.
O olhar primitivo de Lucan confirmou. — Gideon viu nas câmeras de segurança
sua chegada com Ennis Riordan. Ela não está ali há muito tempo.
—Um segundo neste lugar é muito maldito tempo. — Chase murmurou. — E a
que distância estamos de aterrissar em Dublin?
—Algumas horas. Já disse ao piloto para empurrar este pássaro o tanto que
puder.
Chase pensou em sua companheira, que ficou na sede com as outras mulheres.
—Contaram para Tavia?
—Gideon achou que você gostaria de dar a notícia para ela.
—Sim. Tem razão. —E Chase deveria saber que Tavia ainda não sabia. Teria
sentido a angústia através do vínculo de sangue. Da forma que sem dúvida ela sentia
agora. — Será melhor que ela ouça de mim.
Quando levantou da mesa para fazer a ligação tão temida, colocou a mão no
ombro forte de seu filho. Não podia imaginar o que o gêmeo de Carys deveria estar
sentindo. Os irmãos eram próximos desde crianças. Houve tensão em seu vínculo
recentemente, mas estavam em vias de recuperação e o amor nunca diminuiu.
Aric o olhou com os olhos do mesmo tom verde de Tavia. Seu olhar era
primitivo, sem piscar. Quando falou, sua voz estava firme. — Vamos trazê-la de volta.
Ela vai ficar bem. E estes bastardos que a levaram vão pagar com sangue.
Os outros guerreiros murmuraram seu apoio, mas as palavras de segurança
fizeram pouco para adormecer o temor de Chase. Nunca se sentiu tão impotente, ao
perceber que estava a centenas de milhas e malditas horas de chegar à ela.
Sabia que Carys era forte. Deus sabia o quanto ela era teimosa. Sua filha nunca
retrocedeu diante de qualquer luta, mas nunca passou por algo como isto.
Ela nunca enfrentou o tipo de mal que Fineas Riordan tinha fama de ser e
nunca foi tocada pela imundice como a dele — era quase demais para ele suportar o
pensamento de sua menina naquele lugar.
Quando os motores do avião rugiram e começou a angustiosa aterrissagem,
Chase se encontrou apoiando suas esperanças num aliado pouco provável.
Com ele e a Ordem muito longe para ajudar, sua melhor oportunidade de
sobrevivência poderia ser o próprio filho de Riordan. O mesmo macho que Chase
estava resistente em aceitar e foi muito rápido em condenar.
Agora, nunca rezou tanto para estar errado.

****
—Carys!
O pânico inundou Rune como eletricidade em suas veias.
Apesar de sua mente saber que não podia ser machucada pela luz UV, seu
coração se encheu de horror quando a sobrecarga da rede invisível explodiu como
uma supernova.
Seu alívio veio com a mesma rapidez ao ver Carys cair no chão do fosso atrás
dele, totalmente intacta. Ela aterrissou sobre seus pés com toda a graça de um gato e
ferocidade e poder de uma fêmea Raça.
Suas presas brilhavam atrás de seus lábios entreabertos. Suas brilhantes íris
azuis eram devoradas por fogo âmbar. Ela olhou por cima do ombro com alarme.
—Rune, cuidado!
Seu segundo de descuido custou caro. O vampiro drogado que Riordan lançou
no fosso viu sua oportunidade de atacar. Caiu sobre Rune, levando-o ao chão sobre
suas costas.
Carys rugiu. Agarrou o oponente de Rune e arrancou o grande macho de cima
dele como se não pesasse nada. Logo, grunhindo, enviou o selvagem contra o muro de
pedra e puxou Rune para ficar de pé.
Por cima deles na passarela, Riordan estava em estado de choque. — Que
caralho? Ela é uma maldita Caminhante do Dia! — Apontou o fosso e voltou seu olhar
furioso para o guarda. — Atire na cadela! Mate-a!
As balas começaram num bombardeio rápido.
Rune sentiu uma atingir seu lado quando se lançou ao redor de Carys. A
adrenalina aumentou e ele se apoiou em sua capacidade de absorver a dor e
continuou movendo-se. Agarrou sua mão, arrastando-a atrás dele para que pudesse
ser seu escudo.
—Sob a passarela. —Gritou, correndo para a cobertura escassa com ela.
Os disparos não podiam chegar diretamente a eles sob Riordan e seu guarda,
mas não podia ficar naquele abrigo para sempre.
Riordan gritou com indignação. — Pegue-a idiota!
As balas diminuíram quando o guarda correu de um lado a outro da passarela,
tentando colocar Carys em sua mira.
Rune a manteve perto, ajustando sua posição quando o homem armado
disparou alguns tiros, desperdiçando-os. Maldição, desejava muito abraçá-la e beijá-la.
Queria abraçá-la e nunca deixá-la ir. Ela precisava saber o quanto sentia por não poder
evitar que o mal de seu pai a tocasse. Mais que nada, precisava saber o quanto a
amava.
Mas não havia tempo para nada disso agora. Os tiros continuavam chegando e
a sobrevivência de Carys era seu único objetivo.
Rune soube o momento em que ela sentiu sua lesão. Seu rosto se levantou,
alarme em seus olhos transformados. — Oh, merda, Rune, recebeu um tiro?
—Vou viver. Não se preocupe comigo.
E tinha a intenção de que ela vivesse também, o que significava que teria que
encontrar uma maneira de tirá-la dali.
Mas agora, através da passarela, Rune viu o vampiro se sacudir aturdido. O
grande macho se levantou de onde Carys o lançou. Seus olhos pareciam selvagens e
procuravam sua presa.
Rune se colocou diante de Carys, protegendo-a. O macho Raça grunhia
enquanto dava um passo adiante, sem medo das balas, suas presas pingando saliva
vermelha com o poderoso narcótico que Riordan injetou.
Não podia permitir que a fera se aproximasse dela. Com um grunhido, Rune foi
para frente. Explodiu contra o peito do vampiro, levando-o ao chão. Rodaram e Rune
tentou evitar a mandíbula e as presas afiadas.
—Por aqui! — O grito de Riordan para seu guarda alertou Rune que Carys
estava novamente em movimento. — Não a deixe escapar desta vez!
Enquanto Rune lutava contra sua atacante fora de controle, captou um brilho
de movimento em sua visão periférica.
Um borrão de sombras quando Carys cruzou o chão do fosso a uma velocidade
Raça completa, então se lançou novamente sob a passarela antes do guarda de seu pai
atingi-la.
Rune e seu oponente rodavam pelo chão se golpeando. Um dos golpes de Rune
acertou o queixo do vampiro. O macho cambaleou atrás alguns passos.
Então, de repente, convulsionou violentamente quando uma chuva letal de
balas caiu sobre seu amplo peito.
Rune girou a cabeça a cabeça na direção dos disparos.
Santo inferno.
Ali estava Carys sob a passarela, com a pistola fumegante de Ennis Riordan em
suas mãos.

CAPÍTULO TRINTA E CINCO

Carys não soltou a respiração até Rune estar de pé com ela sob a escassa
passarela.
Uma vez ali, ela se apoiou em seu calor e força, com os braços pendurados de
lado, sem força. A emoção a abrumava. Por cima de tudo, ela sentiu o profundo alívio
ao sentir seus braços envolvê-la e sua voz murmurando palavras ternas contra seu
ouvido.
Levantou o queixo com a ponta dos dedos manchados de sangue, maltratados.
—Carys. — Sussurrou, sua voz profunda e urgente. Emoção apareceu em seus
olhos ardentes. — Você é a última pessoa que queria ver aqui, neste lugar. Eu queria
lidar com isto por mim mesmo... por nós.
—Eu sei. — Ela o olhou, vendo o tormento em cada linha e ângulo duro de seu
rosto. — Sei que por isso foi com eles. Nunca duvidei de você. Nem por um segundo.
Um gemido abafado escapou dele. Então a beijou, profundamente e com força,
como se eles não estivessem de pé no meio da morte e carnificina, com a ameaça
ainda sobre suas cabeças na passarela.
Mas a ameaça era real.
E Riordan não terminou com eles ainda.
—A merda com este reencontro sentimental. — Grunhiu acima deles. — Solte o
último combatente.
A pesada porta de um dos portais de acesso ao perímetro do fosso se levantou,
liberando outro macho selvagem.
—Oh, diabos não. — Murmurou Carys. Ela saiu do abraço de Rune. — Não
desta vez.
Ela apontou a arma para o vampiro grunhindo que avançava pela arena.
Apertou o gatilho várias vezes e... não aconteceu nada. Apenas o eco clic-clic-clic.
Não havia mais balas.
—Fique atrás. — Disse Rune, quando ela abaixou a arma. Ele a arrastou atrás
dele e se preparou para enfrentar seu novo oponente. — Preciso que fique segura,
Carys. Prometa.
Não, ela não podia prometer isto. Toda Raça nela queria lutar esta batalha com
ele. Toda a mulher nela estava decidida a estar com seu homem até o último fôlego, se
tudo se reduzisse a isto.
Na passarela Riordan riu sarcasticamente. — Tão logo um deles caia, mate-os.
— Disse ao guarda. — Ambos!
Carys grunhiu ao comando. Assustada como estava, sua raiva era mais forte.
Sabia que Rune enfrentaria esta nova ameaça da mesma forma como confrontou
todas as que vieram antes, mas maldição, já era o suficiente.
Ouviram disparos no instante que Rune e o outro macho se chocaram no início
de seu combate. Caindo e rodando sobre seu oponente, Rune conseguiu evadir ao
ouvir os repentinos disparos. Mas Carys sabia que era apenas uma questão de tempo
antes da guarda de seu pai golpear a porta.
Ela não iria deixar escapar esta oportunidade.
O corpo de Carys estava em movimento, mesmo antes de decidir o que iria
fazer. Tirou seus sapatos e avançou para trás sobre os pés descalços, sob a passarela.
Com Riordan e seu guarda preocupados em tentar atingir Rune pela frente da
plataforma de expectadores, nenhum dos dois percebeu que saltou do fosso e estava
na parte de cima com eles.
Carys não perdeu um segundo. Empurrou o guarda sobre a passarela com arma
e tudo. Mal teve tempo de gritar antes da barreira UV o consumir.
Ela girou sobre Riordan, os lábios abertos sobre os dentes e presas. Seus olhos
arredondados em surpresa. Então, covarde como era, o bastardo se afastou dela.
Num instante desapareceu pela passarela, na escuridão do corredor do castelo.
Maldição!
Carys ansiava ir atrás dele, mas no fosso, Rune continuava enfrentando uma
luta perigosa. E para seu horror, viu que estava ferido, pior que antes. Feridas de balas
estavam em suas costas. No entanto, ele continuava lutando. Nada menos que a morte
poderia impedi-lo.
Não havia maneira no inferno dela o deixar. Nem sequer com a esperança de
matar o filho da puta que o criou.
Carys subiu na borda e esperou sua oportunidade. Quando colocou Rune e seu
oponente dentro de seu alcance, ela saltou. Deixou-se cair direto nas costas do outro
macho, justo quando estava a ponto de se lançar sobre Rune.
O impacto o levou de joelhos sob ela, mas ele era imenso. Por muito que o
golpeasse, seu peso mais leve não o derrubava. Ele inclinou-se para trás, tentando tirá-
la dele. Seus braços grandes lutavam por ela enquanto ela agarrava o cabelo e puxava
sua cabeça para trás.
Rune estava ali, nem sequer um segundo depois que caiu. Com o vampiro
apanhando de forma selvagem, silvando e grunhindo de raiva, Rune enviou o punho
para trás e o dirigiu ao peito do macho.
O vampiro ficou rígido, seu grito interrompido quando convulsionou num
estremecimento violento. Então o corpo caiu em um monte no chão do fosso, o
sangue saindo do enorme buraco no peito do vampiro.
Carys saltou longe da carnificina e lançou-se nos braços de Rune. —Graças a
Deus tudo terminou.
Rune a abraçou, mas a tensão vibrou em cada músculo duro de seu corpo. Sua
voz era grave, primitiva e mortal. — Onde está meu pai?
Olhou para a passarela vazia. — Correu pelo corredor quando empurrei o
guarda para baixo.
Rune a afastou dele, uma desolação nos olhos. — Isto não vai parar até que o
filho da puta esteja morto. Vamos. Temos que sair daqui antes que ele envie reforços
para nos encontrar.

CAPÍTULO TRINTA E SEIS


Rompeu o beijo num suspiro agudo. — Não posso perdoar a mim mesmo até
que esteja morto e este lugar destruído para sempre. Fez coisas horríveis. Não me
refiro a tudo o que ele me fez. Nada disso importa agora. É outra pessoa que ele feriu.
Minha mãe. A companheira Raça que veio depois dela. E a menina, Kitty. O que fez
com elas foi indescritível.
Carys assentiu sombriamente com a cabeça. — Eu sei. Mas ela é forte, Rune. E
está enfrentando tudo muito bem... — Seus olhos se abriram quando viu seu cenho
confuso. — Oh Deus meu... você não sabe. Claro que não sabe. Sua irmã Catriona —
Kitty. Ela mora em Londres agora. Está acoplada a um guerreiro da Ordem, Mathias
Rowan. Nestes últimos dias estão em Boston, no Darkhaven da minha família.
Não podia acreditar no que ouvia. — Ela está viva? Está bem?
—Sim. E está feliz, Rune. Está apaixonada. E há mais. Está esperando um bebê
com Mathias.
—Merda. — O impacto da notícia, junto com suas feridas, o fez oscilar sobre os
calcanhares. Apoiou o traseiro contra a parede do corredor enquanto seu cérebro
trabalhava para processar tudo. — Com frequência me perguntei o que aconteceu com
ela. Imaginei que estivesse morta.
Carys assentiu suavemente. — Ela também se preocupou com você.
—Conversou com ela sobre mim?
—Nós nos tornamos amigas. Mesmo antes de sabermos que tínhamos um
amor em comum.
Rune engoliu. Temia perguntar, mas tinha que saber. — Ela me culpa por deixá-
la aqui? Pensa que sabia o que acontecia com ela?
—Não, ela não o culpa. — Carys inclinou seu ombro contra a parede ao lado
dele, de pé, acariciando a preocupação em seu rosto. — Ela não permitiu que soubesse
sobre sua dor. Assim como você escondeu dela a sua.
Abaixou a cabeça. — Jesus Cristo. Minha irmã pequena está viva. Nunca pensei
que a veria novamente.
—Então vamos sair daqui para ter esta oportunidade. Nós dois queremos ir
para casa, onde pertencemos.
Casa. Não conhecia mais o significado desta palavra. Se alguma vez realmente
conheceu. Mas agora queimava frente a ele como um farol na escuridão, iluminando o
caminho. E enquanto olhava para Carys, sabia que seu caminho sempre levaria a ela.
Era a única casa que precisava.
Deu-lhe um beijo na testa, então segurou os dedos dela entre os seus. —
Vamos, amor.
Afastou-se da parede de pedra e inalou bruscamente, parando. Ela estava
olhando para seus pés. A piscina escura de sangue debaixo deles.
—Oh Deus meu, Rune...
—Estou bem. — Disse. Mas ela viu através da mentira. Sabia que se o resto de
seu tempo juntos se medisse em minutos ou séculos, Carys sempre iria ver a verdade
através dele. E não queria mais se esconder. — Vou ficar bem uma vez que sairmos
daqui. Posso me curar quando estiver em casa.
—Não, Rune. Não pode. Não vai se curar, não com feridas deste tipo. Não a
menos que obtenha sangue neste momento. — Seus instintos Raça já estavam
respondendo às células no chão. Luz âmbar brilhou nos olhos azuis. As pontas de suas
presas agora brilhavam atrás de seus lábios entreabertos. — Precisa se alimentar
Rune. A única coisa que pode te ajudar é meu sangue.
Apesar do grunhido de negação, todo o Raça nele sofria pelo que ela oferecia.
Em seu coração, em sua alma, Carys já era sua companheira. Em todos os
sentidos, exceto este. E o que queria com ela mais que nada. Mas não agora. Assim
não.
Balançou a cabeça, franzindo o cenho com ira. — Nunca quis me vincular a
ninguém. Não até você, Carys. Asseguro que nunca quis que acontecesse neste
inferno. Oferecer sua veia a mim por preocupação, merda... por piedade.
—Isso é o que acha que estou fazendo? — Sua ira tinha uma borda afiada. —
Eu te amo, Rune. E se tomar de mim agora, neste lugar, nestas fodidas circunstâncias,
salvar sua vida, então não posso pensar em momento e lugar melhor para fazê-lo.
Ele deixou escapar uma risada baixa apesar da dor e as dúvidas. — Você é uma
fêmea teimosa.
—Com maldita certeza sou. Disse que me amava.
—Cristo, sim. Mais que tudo no mundo.
—Então, vamos, Rune. — Ela não lhe nenhum segundo para rejeitar.
Levou seu pulso à própria boca, afundou as presas na carne. O sangue saiu dos
furos gêmeos, vermelho, doce e poderoso.
O cheiro golpeou seus sentidos intensamente, mais que qualquer droga que
seu pai ou a Opus Nostrum poderia inventar.
Segurou seu braço e abaixou a cabeça sobre seu pulso. No instante que seu
sangue golpeou sua língua, a onda de poder foi tão veloz e intensa, que cambaleou
atrás como se recebesse um soco.
Santo inferno.
Não tinha ideia do que esperar. Nada poderia tê-lo preparado para a
assombrosa energia líquida que corria por sua garganta a cada sucção. A força de Carys
verteu-se nele, alimentou suas células e tecidos lesionados. Nutriu-o como o sangue de
nenhum humano podia fazê-lo.
Suas veias se iluminaram com seu vínculo, criando raízes.
Ela era sua desde o momento em que se conheceram.
Agora, ela era sua para sempre.
Apenas teria que se provar para ela — que poderia ser digno do presente.

CAPÍTULO TRINTA E SETE

Carys conteve o fôlego com assombro quando a boca de Rune caiu sobre seu
pulso e tomou os primeiros goles de suas veias. Vê-lo se alimentar dela foi mais íntimo
do que poderia imaginar, mais profundamente sensual que qualquer coisa que
experimentou.
Sentia-se muito bem, seu sangue o alimentando, aderindo-se a ela.
E, oh Deus, era erótico também.
A sucção de sua boca, cada puxão dos lábios e língua enviava um calor
poderoso em seu centro. Floresceu em suas veias e artérias, em cada terminação
nervosa crepitante.
Seus olhos ardiam de desejo, a alegria se verteu através dela enquanto
acariciava a cabeça escura de Rune e o via beber até se fartar.
Ela gemeu quando finalmente deixou de sugar e selou as feridas com um golpe
de sua língua.
Estava ofegante enquanto se afastava e encontrava seu olhar, seus olhos
ardendo como brasas também.
—Jesus Cristo. — Disse entre dentes com voz rouca. Suas presas eram
mortalmente afiadas, brilhavam como diamantes na tênue luz do túnel. — Carys,
merda santa. Isso foi...
Não parecia capaz de descrever. Também parecia não ter a paciência para
provar. Com um grunhido possessivo, envolveu sua mão ao redor de seu pescoço e a
puxou para um beijo feroz e duro.
Amor e desejo a percorreu como um caminho de pólvora e era tudo o que
podia fazer para não enterrar as presas em seu pescoço e completar o vínculo.
—Quero que me morda também. — Murmurou contra sua boca. Levantou a
cabeça e a olhou fixamente, seu olhar quente e cheio de assombro. — Posso senti-la
dentro de mim, amor. Posso senti-la em minhas veias e em todos meus sentidos. Deus
Carys... é uma presença em mim agora e brilha tão forte como um raio.
Lambeu os lábios, seus olhos âmbar indo para a garganta. Seu sorriso era tão
puramente masculino e primitivo que fez seu sexo se contrair em anseio. — Não posso
esperar para fazê-lo outra vez quando a tiver em minha cama.
—Nem eu. — Disse. — Assim vamos sair rápido daqui.
Ele assentiu com a cabeça. — Sim. Quanto antes melhor.
Ele ainda estava sangrando pelas muitas feridas de bala. Precisava de
atendimento o mais rápido possível, mas sua cor estava melhor graças ao seu sangue.
A medida que caminhavam pelo túnel, não pode evitar sentir-se aliviada ao vê-lo se
mover com renovada força e resistência.
Estava vivo e seu sangue o manteria assim. Pelo menos, tempo suficiente para
conseguirem ajuda uma vez que saíssem daquele lugar. Tinha todo seu futuro pela
frente deles agora e esperavam escapar juntos deste inferno.
Sairiam juntos dali.
Tinham que fazê-lo.
Era seu mantra enquanto corria com ele, mais profundamente na escuridão.
—Há uma antiga escada na torre que nos levará ao andar principal. — Rune
disse, olhando por cima do ombro enquanto se apressavam pelo corredor. — Com um
pouco de sorte, podemos subir antes que os guardas pensem em bloqueá-la. Prometa
que não me acompanhará se ficar mais devagar.
—Não. — Respondeu ela, negando-se mesmo a considerar a ideia. — Faremos
isto juntos. Não importa como.
Ela sabia o que estava dizendo. Normalmente, com sua genética Raça, levaria
uns poucos segundos para acelerar de um lugar a outro, mas as lesões de Rune não
permitiriam isto agora. Estava muito esgotado e ela não estava disposta a fazê-lo sem
ele.
Chegaram à entrada da escada na torre. — Vamos Carys.
Rune entrou diante dela, segurando sua arma na estreita escada. Os degraus de
pedra em espiral para cima davam voltas e voltas cegas, uma atrás da outra.
Vozes soavam de algum lugar acima, assim como gritos agora urgentes junto
com botas.
—Prepare-se. — Rune advertiu. — Estamos chegando ao andar principal agora.
—Bem. Vamos fazer.
Tão logo chegaram ao arco que se abria do oco da escada viram alguns guardas.
—Ali estão! — Gritaram os homens, abrindo fogo no instante que viram Rune e
Carys.
—Volte! — Rune a arrastou atrás dele quando os disparos atingiram a pedra ao
lado de suas cabeças.
Uma bala raspou o rosto de Carys. Sentia o sangue escorrendo num rastro
quente, justo debaixo do olho esquerdo.
Rune também viu. Agora, através do vínculo de sangue com ela, ele também
sentia sua dor. Fúria ardeu em seus olhos. Com um rugido alto devolveu a chuva de
disparos.
—Precisa correr. — Grunhiu ele. — Vá pelos guardas. Eu te cubro daqui. Use as
sombras, Carys. Tem que fazê-lo através da grande sala para chegar à cozinha e à
garagem.
Ela tocou o fio de sangue em seu rosto, olhando ao seu redor enquanto os tiros
e os guardas continuavam avançando. — Não irei sem você.
—Apenas temos uma arma, Carys. Não podemos passar por estes homens.
Chegarão aqui a qualquer momento. Tem que tentar escapar, maldição!
Ela não respondeu. Ele não gostaria de ouvir de qualquer forma. Não importava
como suas probabilidades fossem ruins, não tinha a intenção de deixá-lo atrás para
salvar sua própria vida.
Mas talvez houvesse algo que pudesse fazer para ajudar aos dois.
Enquanto Rune e os guardas trocavam tiros, Carys olhou para as sombras ao
seu redor e a penumbra na torre. Aproximou-se, escondendo-se.
Logo saiu detrás de Rune e mirou seus agressores.

CAPÍTULO TRINTA E OITO

Ela se foi mesmo antes dele perceber o que estava fazendo.


—Carys! — Rune sentiu-a passar junto dele como um rastro de ar fresco. Viu as
formas das sombras se moverem com rapidez, sigilosamente, evitando os disparos. Era
difícil rastrear, mas Rune manteve os guardas ocupados esquivando as balas em
direção a ele em lugar dela.
Nem sequer um instante mais tarde, um dos guardas foi lançado pela sala por
mãos invisíveis. Seu companheiro surpreso se virou ao redor com seu rifle para
encontrar o atacante.
Rune aproveitou a oportunidade. Sua bala voou, cravando-se na parte de trás
do crânio do guarda.
O guarda caiu sem vida.
Rune mudou seu objetivo e atingiu o outro também.
Carys se materializou neste mesmo momento. Rapidamente recuperou as
armas caídas, dando à Rune um sorriso enquanto corria ao seu encontro.
Não podia decidir se a beijava ou surrava por este novo truque.
Quando a viu ilesa, seu coração golpeou em seu peito como uma maldito
martelo.
—Agora temos mais armas. — Disse ela, entregando uma à ele.
Colocou a correia do rifle sobre o ombro. — Vamos conversar sobre isto mais
tarde. — Grunhiu, mas mal podia se aferrar à sua ira quando o fato era que formavam
uma maldita boa equipe.
Mas ainda não estava contente.
Nem sequer perto.
A comoção chamou muita atenção não desejada. Agora mais guardas
começaram a chegar de outras partes da fortaleza. Entre o estrondo de botas por terra
e o barulho das armas, ouviu a voz furiosa de seu pai, gritando ordens para matar os
guardas.
—Por aqui. Depressa! — Rune agarrou a mão de Carys e a conduziu através da
antecâmara que rodeava o corredor principal e para o grande salão. Mal chegaram ao
salão e metade dos guardas de Riordan estavam em seus calcanhares.
Rune colocou Carys atrás de uma parede de pedra. Agacharam-se como
puderam no pequeno espaço e sob a chuva de balas que atravessava o ar ao seu redor.
Rune devolveu, mas apenas disparou um punhado de balas antes de sua arma
esvaziar. Pegou o rifle e soltou a trava de segurança para continuar disparando aos
doze homens que agora avançavam pelo salão com seu pai.
—Vamos garoto. É um rato em uma ratoeira. — A voz de Riordan ecoou alto
entre os disparos. — Como será? Quer que o jogue para os escorpiões ou quer ficar
com vida e logo ver como tomamos sua mulher?
Rune olhou para Carys, nenhum deles considerando a ameaça. Seus olhares se
encontraram com determinação. Tinham um plano de fuga. Tinham um ao outro. Todo
o resto era simplesmente ruídos e obstáculos a superar.
—Tire-os dali. — Riordan ordenou aos seus homens. —Podemos ter uma
diversão se os cortarmos em pedaços.
Os guardas abriram fogo novamente, entrando em novas posições ao redor da
grande sala.
—Eles vão nos encurralar. — Sussurrou Rune. — Temos que cruzar a sala. A
saída pela cozinha é pela esquerda da lareira.
Carys olhou para o lugar e logo piscou. Rune sabia que não iria sem ele, ainda
que sua velocidade pudesse levá-la ali duas vezes mais rápido que se esperasse por
ele. Assim, não tinha outra opção além de ficar sob um intenso tiroteio e tentar
derrubar a maior quantidade de guardas possível para os dois atravessarem a sala.
Carys levantou sua arma também. Sem medo em seus olhos, apenas uma
determinação férrea igualada à dele.
Houve um momento de calma entre o bombardeio. Rune fez um sinal para ela.
—Vá.
Agacharam-se atrás da parede. Ambos atirando tão rápido como podiam. Um
número de guardas gritou quando foram atingidos, vários caíram.
O fogo em resposta se produziu fortemente. Rune sentiu uma bala atingir sua
coxa. Cambaleou, quase caindo com o impacto.
Negou-se a deixar que isto diminuísse sua velocidade, menos ainda quando a
vida de Carys estava em foco.
Com balas ainda sobre eles, conseguiram chegar ao centro da sala. A antiga
lareira, com suas grossas e enormes paredes, era alta o suficiente para ficarem de pé e
profunda o suficiente para cobri-los de vários guardas. Mas ainda estavam a alguns
metros de distância de onde deveriam estar.
Carys olhou a ferida com horror. — Oh, merda, Rune.
O buraco em sua coxa sangrava muito. Não era bom. Sobre todas suas lesões,
era catastrófico. Seu sangue ainda era uma forte vibração dentro dele, mas não o
impedia de sangrar.
E quando sua perna adormeceu, ele soube que não seria capaz de correr mais.
Inferno, neste ritmo, teria sorte se conseguisse andar devagar.
Maldição, não!
—Posso sentir seu sangue, Aedan. — A voz alegre de seu pai ecoou sobre os
tiros. — É possível que não saiba ainda, mas está morto, filho. Vai ser uma pena que
não viva o suficiente para ver a mim e meus homens tomarem sua cadela Raça até que
ela peça para morrer também.
Rune levantou suavemente o queixo e segurou seu olhar. — Isto não vai
acontecer. — Disse com firmeza. — Não deixarei que a toquem. Nunca. Vamos sair
disso.
—Eu sei. — Ela assentiu com a cabeça, mas podia ver o brilho do medo em seus
olhos.
Sua dúvida quase o matou. Muito mais do que qualquer bala poderia.
Mesmo ele tinha que reconhecer que as coisas não iam bem para eles. Mais
guardas entraram no grande salão agora. O exército pessoal de seu pai se aproximava,
diminuindo a possibilidade de escapar a cada segundo que passava.
—Temos que dar crédito a ele. — Disse.
Ela negou com a cabeça. — Você nunca o fez.
—Mas você deveria. — Quando ela abriu a boca para protestar, ele a
interrompeu com um beijo. — Por favor, Carys. Faça isto por mim.
Seu olhar ficou triste. — Não. Não o farei! Rune vamos ficar aqui jun...
Suas palavras se cortaram quando uma repentina explosão sacudiu a fortaleza.
Pó caiu das pesadas vigas do teto. Fora da sala, de repente, uma comoção
frenética se levantou.
Fineas Riordan gritou aos seus homens. — Que demônios foi isto?
Uma voz de pânico respondeu. — A porta principal, senhor. Merda, a
derrubaram!
Carys girou o olhar para Rune. — A Ordem. Rune, estão aqui!
No meio da grande sala, Riordan estava gritando ordens aos guardas. — Saiam
e empurrem de volta! Todos vocês obedeçam! Derrubem todo o lixo em nossa porta. E
matem estes dois merdas agora mesmo!
Caos e disparos explodiram.
Mas, ao que parecia, seu pai não tinha intenção de ficar ali para dar seu próprio
sangue e suor na batalha. Rune o viu agarrar uma arma de um dos homens, logo
cruzou a sala em direção ao arco que conduzia à torre leste do castelo.
Carys também o viu. — Está fugindo!
Quando seu corpo se tensionou com um propósito, Rune sentiu sua fúria
emanar através de seu vínculo com ela. Estava irritada como o inferno e pronta para
matar.
—Nem sequer se preocupe, amor. —Rune agarrou seus braços e soltou uma
maldição. — Esqueça-o.
Mas sua mulher era uma Raça e seu poder corria por ela de forma tão feroz
como nele. Como seria com qualquer outro de seu tipo. Seus olhos azuis arderam
âmbar brilhante num instante. Ela sacudiu a cabeça em desafio, mostrando as presas.
— Não posso me esquecer dele até que esteja morto.
Soltou-se. Logo sumiu entre as sombras e se foi.
Rune gritou seu nome enquanto ficava de pé atrás da parede e abria fogo
contra os guardas de seu pai.
CAPÍTULO TRINTA E NOVE

Carys passou pela escada da torre apenas alguns segundos atrás de Riordan.
Havia uma câmara na parte superior e uma porta que parecia se abrir para o
telhado. Riordan tinha a mão na maçaneta quando Carys o alcançou. Ele a abriu de
golpe, então se encolheu com um grito quando os raios do sol da manhã chegaram a
ele.
Fechou o painel de madeira pesada com uma maldição e deu a volta.
Carys ficou ali, seu rifle apontado para ele. — Como um rato em uma ratoeira.
— Disse lançando de volta suas próprias palavras.
Mas Riordan tinha uma arma também. Levantou-a. — Acha que é homem o
suficiente para lidar comigo?
Disparou.
Ela esquivou o tiro com facilidade. Sua velocidade Raça a levou à esquerda do
pequeno lugar. Riordan girou e disparou outra vez. Outro erro e desta vez em lugar de
deixá-lo ver onde estava ela reuniu as sombras e se escondeu. Sentia uma imensa
satisfação ao ver sua ineficácia.
Os tiros de pânico acertavam as paredes de pedra.
Logo acabaram as balas.
Carys sentiu um sorriso se estender sobre seu rosto enquanto ela deixava as
sombras desaparecerem. Ficou de pé diante dele agora. —Não homem o suficiente
para te matar. Mas sou muito mulher.
Disparou uma bala em cada ombro. Ele inclinou-se para trás com o impacto,
com os braços pendurados sem força dos lados. Deixou cair sua arma inútil, gritando
de dor.
A visão de Carys se queimou em vermelho com desprezo por ele e todo o mal
que fez. — Isto é pela mãe de Rune e a outra companheira Raça que matou.
Enquanto dizia isto entre dentes, ela mirou outra vez e atingiu seus dois
joelhos. Ele caiu no chão em absoluta miséria, contorcendo-se e convulsionando aos
seus pés. — Isto foi por Rune e sua irmã. Kitty.
Carys ficou sobre ele, o cano da arma apontando o lugar entre os furiosos olhos
âmbar. Riordan grunhiu, a saliva saindo de sua boca aberta e presas. Ele a olhava com
indignação furiosa. Mas Carys viu o medo em seu olhar também. Foi golpeado e sabia
que não havia volta.
—Vamos cadela! Mate-me, maldito monstro Caminhante do Dia!
—Não. — Ela negou com a cabeça. — Uma bala seria muito misericordiosa. E
não tenho muita, caso esteja preocupado.
—Hein? — Sua confusão foi de curta duração.
Carys colocou a arma sobre o ombro e se agachou para agarrar Riordan pelo
pescoço. Tão logo começou a arrastá-lo sobre o chão, ele começou a gritar. Gemeu, se
contorceu, implorando que o deixasse ir. Tudo em vão.
Abriu a porta do telhado.
Ela lançou o torturador de Rune para fora, no calor do sol da manhã. Ela não se
moveu, não piscou, simplesmente observou em silêncio impiedoso enquanto os raios
letais o devoravam.

****
Chase estava à frente dos guerreiros da Ordem quando entraram pela porta
principal, cobertos por um uniforme que protegia contra raios UV. Os escombros e
fumaça subiram diante deles. Balas cruzavam em sua frente enquanto ele e seus
companheiros entravam no pátio, voltando-se contra os guardas de Riordan que
disparavam contra eles das janelas.
A voz de Lucan chegou através do equipamento de áudio que compartilhava
com os guerreiros. — Unidades, espalhem-se. Primeira equipe assegure todos os
pontos de entrada e saída. Segunda equipe percorra todos os cantos deste maldito
lugar até encontrar Carys. Matamos todos que se colocarem em nosso caminho,
exceto Riordan. Quero este bastardo vivo.
O mesmo queria Chase, porque queria ser ele a matá-lo.
Com as unidades indo para suas missões, Chase, Lucan e Dante avançaram para
a entrada principal do castelo, junto com Nathan, Aric e a equipe de Boston.
Meia dezena dos guardas de Riordan os enfrentou assim que explodiram a
porta. Uma troca intensa de tiros iluminou o corredor central antes dos guerreiros
abaterem seus agressores.
Ouviram mais disparos dentro da fortaleza. Lucan indicou a Chase e os outros a
segui-lo até o lugar. Derrubaram alguns homens armados no corredor enquanto
caminhavam para o grande salão. Aproximando-se da entrada arqueada, Chase não
tinha muita certeza do que estava vendo.
Os corpos de vários homens armados estavam dispersos e ensaguentados
através do amplo lugar. Três guardas mais estavam agachados em várias posições na
sala, trocando fogo com outro macho Raça que estava agachado atrás da enorme
lareira de pedra.
Os guerreiros atingiram os homens de Riordan, um a um.
Na repentina calma, o outro atirador levantou sua arma em sinal de rendição e
lentamente saiu mancando detrás da parede de pedra. O imenso macho de cabelo
escuro estava gravemente ferido, sangrando. Tinha um torniquete improvisado em sua
coxa encharcada de sangue e estava sangrando por muito outros lugares para contar.
Tinha o rosto machucado e lacerado, os olhos sombrios, mas âmbar ardendo no olhar.
—Jesus cristo. — Aric ficou sem fôlego. — É ele. O lutador de Carys.
E pelo que podia olhar se ocupou dos guardas de seu pai até a Ordem chegar.
Chase levantou o capacete. —Onde está Carys?
—Ela foi atrás dele. — Apontou uma entrada na escada no canto da grande
sala. — Não me deixou impedi-la.
Fúria e incredulidade inundou Chase. — Foi atrás de Riordan? Sozinha? Por
favor, não... maldição, não.
—A escada sobe para o telhado da torre. — Disse o lutador, movendo-se nesta
direção apesar da gravidade de suas lesões.
Chase não esperou nenhum segundo mais. Reuniu todas as forças que a
genética Raça lhe deu e se dirigiu para a escada com o coração na garganta.
Uma luz intensa saía da pequena câmara na parte superior da escada. Entrou e
de imediato fechou seu visor, com o braço levantado cobriu os olhos, apesar de estar
protegido contra os raios UV por seu equipamento. Levou um momento para sua visão
se ajustar.
Levou mais tempo para sua mente processar o que via.
A porta de acesso ao telhado estava aberta.
Carys estava em pleno sol.
Segurava algo com ela, na mão uma camisa em pedaços. Movendo-se ao redor
dela com a brisa da manhã uma nuvem de cinzas escuras. Dispersavam-se no nada
enquanto Chase olhava estupefato.
Carys virou-se então. Ela olhou por cima do ombro, mostrando as presas, os
olhos ardentes com âmbar fundido.
Chase quase não pode respirar enquanto olhava para ela agora. Ficou com
medo de chegar ali e encontrar sua menina amada destruída pela mal que vivia ali. Em
seu lugar encontrou uma Valquíria vingativa, com o vento agitando seu cabelo como
uma tempestade e os restos destroçados de seu inimigo aferrados em seu agarre
implacável.
Seus olhos se suavizaram nele. Ela soltou a camisa vazia de Riordan e deixou-a
ir para longe, ao esquecimento.
—Papai! — Gritou e correu para seus braços.
Chase fechou a porta contra o sol e levantou o visor quando ele a abraçou. —
Estou tão feliz por você estar bem. — Murmurou em seu cabelo. — Sua mãe e eu
ficamos loucos nas últimas horas. Quando soubemos que você foi levada, pensamos...
Deixou a frase sem terminar. Ela estava a salvo. Estava de volta nos braços de
sua família. Logo, ela estaria de volta em casa com Tavia, Aric e ele.
Mas a menina se foi, percebeu enquanto abraçava Carys agora.
Ela se foi há muito tempo, mas era muito teimoso para ver.
Ela era magnífica. Formidável.
E seu pai nunca ficou mais impressionado por ela, nem mais orgulhoso.

CAPÍTULO QUARENTA

—Merda. — Murmurou alguém atrás de Carys e seu pai.


Percebeu então que não estavam sozinhos. Aric, Nathan e sua equipe de
Boston, inclusive Lucan e Dante, pararam justo dentro da câmara.
Com uma maldição, seu irmão se separou do grupo e moveu-se para abraçá-la
também. Carys abraçou a ele e seu pai, muito agradecida por se reunir com eles.
O perigo passou. Riordan já não existia.
Alivio e alegria a inundaram, mas não podia descansar ainda. Seu coração ainda
tinha outro lugar para ir.
Levantou a cabeça, olhando além do grupo forte de guerreiros na parte de cima
da escada na torre.
E ali estava ele.
—Rune. — As lágrimas a sufocaram quando o viu.
Estava vivo.
Ele a olhava com tanto amor que roubou-lhe o fôlego.
Ela voou para ele com um grito abafado. Beijaram-se com desespero,
abraçando-se e murmurando palavras privadas. Não importava ter uma audiência. Não
importava nada, exceto o fato de Rune estar ali com ela, dizendo que a amava.
Beijando-a como se nunca quisesse deixá-la ir.
Mas o cheiro de sangue era uma poderosa lembrança de que ainda não estava
fora de perigo.
Ela se afastou dele e olhou para os guerreiros.
—Rune precisa de ajuda com suas lesões. Dei um pouco de sangue há muito
tempo, mas não foi suficiente.
Viu o queixo de seu pai se apertar com a compreensão. Não havia
desaprovação em seus olhos com o reconhecimento de que estava vinculada à Rune
agora. A única preocupação enquanto seu olhar o avaliava era com as feridas de Rune.
—Rafe. —Disse apontando ao filho de Dante e um membro da equipe de
Boston. O guerreiro loiro herdou o dom de sua mãe para curar com um toque.
Reparou lesões piores que as de Rune antes. Inclusive ele e Tess trabalharam juntos
para trazer outro membro da família de Ordem da morte não há muito tempo.
—Acho que não fomos apresentados. — Disse Chase, dando um passo adiante
para estender a mão para Rune. — Esta não é maneira como teria imaginado reunir-
me com você, mas honestamente posso dizer que é uma honra.
Carys aferrou-se à Rune, apoiando a cabeça contra seu peito nu e sorrindo
enquanto ele segurava a mão de seu pai e estreitava com firmeza. — É uma honra para
mim também, senhor.
—Pode me chamar de Chase. Ou Sterling.
—Simplesmente pode chamá-lo de Harvard. — Dante arrastou as palavras,
sorrindo.
Chase riu. — Não duvide em ignorá-lo. Sempre funcionou comigo.
A risada de Rune vibrou contra o ouvido de Carys. — Certo. Farei isto. — Olhou
para Carys então, seu olhar intenso e significativo. — Meu nome é Rune.
Chase assentiu solenemente. — Obrigado por proteger minha filha, Rune.
Obrigado por mantê-la a salvo e viva.
—Não, em absoluto senhor. — Disse Rune. — Ela é a razão de estar vivo. Ela é a
razão de tudo.
Ele acariciou seu rosto e seu coração se encheu, e não pode resistir a beijá-lo
novamente.
Quando seus lábios se separam, Aric se colocou diante deles. Estreitou a mão
de Rune também. — Acho que isto nos converte em irmãos agora.
—Sim. — Disse Rune. — Talvez com o tempo possamos até mesmo ser amigos.
Aric sorriu. — Tenho a sensação de que minha irmã não fará de outra forma.
Agora Lucan se aproximou e se apresentou. — Não sei se agradeço ou dou os
pêsames pelas coisas terem ido por este caminho.
Rune negou com a cabeça. — Esta era a única forma que poderia ser com meu
pai. Não me arrependo, exceto o fato de que não acabei com ele há muito tempo.
Antes dele ter a oportunidade de machucar outras pessoas.
Lucan grunhiu, seus frios olhos cinza observando. —Você e eu temos mais em
comum do que acredita, Rune. — Voltou o olhar sobre Carys. — E você merece mais
crédito que ninguém esteve disposto a dar, incluindo eu mesmo.
—Obrigada. —Murmurou, tanto humilde como orgulhosa.
Rafe se aproximou e começou a trabalhar na pior das lesões de Rune enquanto
os outros membros da equipe de Boston se aproximavam. Todos saudaram Rune e
Carys com elogios e interesse genuíno.
Sentia-se bem ser aceito por todos. Estranhamente, sentia-se bem. Ela não
sabia exatamente o que seu futuro seria depois que voltasse para casa em Boston, mas
não podia deixar de pensar que tudo incluía Rune e iria incluir a Ordem também.
Ela não estaria mais sozinha e não iria dizer não novamente.

CAPÍTULO QUARENTA E UM
Algumas horas depois de Rafe trabalhar sua magia, Rune estava limpo e
sentado numa grande sala com Carys, parecendo como se suas múltiplas feridas de
bala e ossos quebrados fossem nada além de picadas de abelhas.
Seu corpo foi curado e respirava um inferno de muito mais fácil sabendo que
Carys estava sã e salva. Ela se aconchegava contra ele agora, falando por telefone com
sua mãe, que estava esperando pacientemente que sua família voltasse para a sede da
Ordem em DC.
Enquanto Carys terminava a ligação, ela olhou para Rune. — Sim, claro. Direi.
Nós nos vemos logo. Eu te amo. — Ela murmurou uma despedida terna, depois,
desligou o telefone.
—Vai me contar?
—Nova quer que saiba que irá nos esperar para dar as boas vindas tão logo
chegarmos, não importa a hora. Está muito animada para vê-lo.
—Nova. — Disse, aprovando o nome que sua irmã estava usando desde que
fugiu deste lugar para começar sua nova vida em Londres há anos.
Carys explicou o que sabia da viagem de Nova de Dublin a Londres e as
circunstâncias que a levaram até Mathias Rowan.
Parecia que tanto Rune como sua irmã quiseram negar de onde vieram — até
mesmo se esconderam do monstro que os aterrorizou no passado. Ambos aprenderam
do pior modo que alguns monstros viviam. Tiveram que enfrentá-lo e destruí-lo para
se verem livres de seu controle.
—Está nervoso porque vai vê-la? — Perguntou Carys, suavemente acariciando
seu peito nu.
Rune assentiu. —Não tenho certeza de como irá reagir ao ver-me depois de
tanto tempo. Sou diferente agora. Não sou o irmão que ela se lembra.
Carys sorriu. — Acho que Nova será uma surpresa também. Uma boa, no
entanto. Do mesmo modo que você será uma grata surpresa para ela.
Mathias Rowan foi uma surpresa agradável também. Rune e o Comandante de
Londres pela Ordem se apresentaram quando o grupo desceu da torre. Parecia ser um
bom homem. Um macho Raça que amava a irmã de Rune com a mesma profundidade
de sentimentos que Rune sentia por Carys.
Queria isto para Nova. Ela merecia amor e decência depois do inferno que
sofreu naquele lugar.
Lançou um olhar para o chão e as paredes manchadas de sangue e salpicadas
pelas balas. A batalha terminou por fim. O monstro estava morto. Os corpos dos
guardas foram lançados no pátio onde o sol iria reclamá-los. Agora só faltava fazer um
balanço das informações que Fineas Riordan poderia ter deixado para trás.
Rune contou à Ordem onde encontrar a câmara de armamento UV e as drogas
que seu pai lhe mostrou. Os guerreiros estavam ocupados registrando todos os
cômodos em busca de provas de vínculos com a Opus Nostrum.
—Está bem com tudo isto, Rune?
Ele a olhou, sem fazer nada além de acariciar seu braço enquanto a abraçava.
— Sim. Sinto-me mais livre do que nunca antes, sabendo que meu pai se foi. Sua
maldade não pode me tocar ou a qualquer pessoa que me importa. Agora, teremos
que garantir que o mesmo aconteça com a Opus Nostrum.
Deveriam destruí-la por todo terror que a organização causou. Toda a miséria
que ainda poderia oferecer se tivessem as armas e os produtos químicos como os que
seu pai armazenava. Queriam começar a guerra da qual seu pai se vangloriou e
ansiavam que acontecesse.
—Estou pronto para esta batalha. — Rune murmurou. — Seja como parte da
Ordem ou de qualquer outra forma que puderem me usar. Toda minha vida estive
lutando dentro de uma jaula. Luta por sobrevivência, depois, lutando por nada porque
era a única coisa que sabia fazer. Ainda posso lutar. Mas agora quero que signifique
algo.
O olhar de Carys era suave com ele, mas se iluminou com um fogo
compartilhado. Sentiu sua concordância através do vínculo que compartilhavam. Era
brilhante, logo ardente e inquebrantável. — Quero isto também, Rune. Não posso me
afastar desta luta tampouco.
Deus, ele a amava. Estava orgulhoso de tê-la ao seu lado e em seus braços. E
ela, sem medo e pronta para estar com ele contra tudo e todos.
Inclinou a cabeça para ela e reclamou sua boca num beijo faminto. Seu corpo se
agitou com o contato, sua excitação impossível de esconder. Sentou-se com a agitação
repentina em seus dermaglifos e o calor crepitante em sua íris.
Quando ela olhou para baixo e viu sua óbvia ereção, suas sobrancelhas se
elevaram e seu rosto adquiriu um tom sexy de rosa.
Ele riu sem vergonha. — Sinto-me mais forte agora.
—Percebi. — Ela negou com a cabeça e apoiou-se nele, seus lábios se roçando;
— Devo agradecer à Rafe por sua pronta recuperação. É incrível o que é capaz de
fazer.
—Sim, mas não posso dar ao guerreiro todo o crédito. — Rune agarrou a parte
de trás de seu pescoço e terminou com suas brincadeiras. Beijou-a novamente, logo
apoiou sua testa contra a dela e a olhou nos olhos. — Seu sangue me manteve vivo.
Seu amor lutou por mim, Carys. Agora que estou curado, não posso esperar para que
estejamos sozinhos novamente e possamos completar nosso vínculo. Quero marcá-la
para sempre, antes que mude de opinião.
—Nunca. Sou sua. Fui desde o início.
Suas bocas se encontraram numa profunda união, ambos desfrutando da
proximidade, a paixão acendendo rapidamente e queimando forte entre eles.
As coisas poderiam ficar rapidamente vergonhosas se não fosse pelo som de
passos se aproximando da grande sala.
Aric limpou a garganta. — Vou levar um tempo para me acostumar a ver isto
sem sentir que tenho que intervir e defender a honra da minha irmã.
Sorrindo, Carys olhou de forma maliciosa. —Minha honra não é assunto seu. E
prefiro que não fique nos olhando, então terá que lidar com isso.
Seu irmão riu. —É justo. Devemos estar prontos para ir embora logo. Os outros
guerreiros estão terminando a varredura agora. —Com o cenho franzido Aric olhou
para Rune. — Vi o fosso de luta. Também encontramos uma câmara de tortura
medieval que parece ter sido usada recentemente. Tem muita coisa fodida aqui,
homem. Se Carys não houvesse incinerado Riordan, eu o faria com muito gosto.
Enquanto falava, Chase, Lucan e Mathias entraram no salão.
—Demos uma olhada nas caixas de armamento UV e as drogas. — Disse Chase.
—Pegamos algumas amostras de tudo para analisar e tentaremos rastrear os
fabricantes.
Lucan olhou para Carys. —Não podemos interrogar Riordan sobre as atividades
da Opus, mas a recuperação desta droga foi algo importante. Muitas vidas Raça se
manterão com esta merda longe das ruas.
Mathias assentiu. — Infelizmente, há muito delas para podermos levar.
—E não podemos deixar nada para trás também. — Acrescentou Chase. — O
risco de que qualquer desta merda escape ao público é muito grande para nos
arriscarmos.
—O que vai fazer? — Perguntou Carys.
—Destruir. — Disse Lucan. — Vamos pegar nossas amostras, mas quero que o
resto dela seja neutralizado antes de sairmos daqui. Os cilindros de UV, as drogas,
tudo.
—Também encontramos um cômodo escondido na parte de trás da câmara de
armazenamento. — Disse Chase. — Riordan tem um sistema de comunicação muito
bom ali. Gideon foi incapaz de entrar nele, assim vamos empacotar tudo e levar ao DC
conosco.
Carys se sentou completamente atenta. —Fielding tem uma sala desta
também. Encontrei justo antes de Ennis Riordan me agarrar.
—Gideon não sabe disso? — Lucan perguntou.
Ela negou com a cabeça. — Minha comunicação com ele se cortou assim que
entrei nesta sala. Tinha o mesmo tipo de equipamento e estava escondida, como a de
Riordan.
Os três comandantes trocaram um profundo olhar.
—O que foi? — Perguntou Carys. —Tem algo errado?
Chase exalou um suspiro. —Fielding está morto. Tivemos a informação de
Brynne quando chegamos m Dublin. Suicidou-se, como Hayden Ivers, este advogado
humano ao qual nos levou.
Nathan e Rafe entraram no salão neste momento.
—Estamos carregando os veículos agora. — Anunciou Nathan. — Tegan e
Hunter querem que saibam que podemos sair em uma hora.
—Bom. — Disse Lucan. Seu olhar se voltou para Rune. — Como disse, tudo que
está no armazém é muito perigoso para ficar para trás. Temos que destruí-lo antes de
irmos embora. Esta foi sua casa em algum momento, assim se há algo que quer tirar
daqui...
Rune balançou a cabeça. — Aqui nunca foi minha casa, de ninguém. E o único
que quero levar comigo está aqui. — Disse, segurando Carys mais apertado. — Quando
saí de Boston há duas noites, prometi que não voltaria até meu pai estar morto e este
lugar destruído.
Lucan segurou seu olhar e logo assentiu. — Bom. Isto é tudo o que precisava
saber.

****

Menos de uma hora mais tarde, Rune se sentou na parte traseira de um veiculo
blindado contra UV com Carys. Chase ocupou o assento na frente deles. Na dianteira
Aric estava ao volante com Nathan segurando uma escopeta.
O seu era o último carro da fila de veículos estacionado no pátio iluminado pelo
sol. Os outros guerreiros em seus equipamentos de proteção UV acabavam de
terminar de carregar o que precisavam para levar para a Sede e se preparar para partir
ao aeroporto de Dublin.
Chase tocou seu auricular e ouviu por um momento. — Certo, Lucan. —
Murmurou. — Estamos nisto.
Rune puxou Carys mais perto quando começaram a se mover. Olhou para trás,
olhando pela janela traseira enquanto saiam do pátio e do castelo. Sentiu um leve
estremecimento. Através do vinculo de sangue com ela, sentiu seu alivio enquanto o
lugar em que sobreviveu caia mais e mais ao seu passo.
Passaram juntos pelo fogo neste lugar.
Saíam fortalecidos, inseparáveis. Invencíveis, sempre e quando tivessem um ao
outro.
Rune não precisava olhar mais para trás. Não havia nada ali para ver.
Sua vida estava diante dele agora. Com Carys ao seu lado.
Como sua companheira.
Uma formalidade que tinha a intenção de completar logo que chegassem aos
EUA.
Ela girou de volta e se acomodou contra ele com um suspiro. Rune acariciou
seu rosto e logo não pode resistir a abaixar a cabeça e beijá-la. Nem sequer se
importou com seu pai sentado na frente deles.
Quando levantou os olhos, os olhos azuis de Chase estavam fixos nele.
Segurava algo em sua mão. — Quando estiver pronto, filho.
Rune pegou o pequeno detonador remoto. Quando olhou, Carys o olhou, seu
olhar cheio de amor e ternura.
Tinha o futuro em suas mãos.
Seu passado nunca o tocaria novamente.
Assim, inferno sim. Ele estava mais do que pronto.
Rune apertou o botão e logo devolveu o controle remoto. À medida que a
explosão soava à distância, atrás deles, ele segurou o bonito rosto de Carys em suas
mãos e a beijou com todo o amor e esperança que sentia em seu coração.

CAPÍTULO QUARENTA E DOIS

Quando chegaram à sede em DC mais tarde nesta noite, todo mundo estava
esperando para vê-los.
—Oh, minha menina! — Tavia se apressou para pegar Carys em um apertado
abraço assim que entrou na mansão.
Quando Carys se voltou para apresentar Rune à sua mãe, Tavia ignorou sua
mão estendida e o envolveu num quente abraço também. Carys sorriu enquanto
olhava seu grande e duro lutador ser inundado pelo afeto sem limites de sua mãe.
Ficou rígido e torpe à principio, mas relaxou finalmente, seus fortes braços a
envolvendo e um sorriso curvou sua boca.
Havia muito alivio ali, lágrimas de felicidade da maioria das mulheres da
Ordem. Uma grande quantidade de preocupação com tudo que Carys suportou. E
muitas perguntas sobre como ela e Rune conseguiram sobreviver à terrível experiência
nas mãos de Riordan, além de triunfar sobre ele e seus homens praticamente sozinhos.
Todas as perguntas e zumbidos de conversa desaceleraram até uma pausa no
momento que Nova chegou em silêncio à reunião ruidosa. Seus olhos azuis estavam
tímidos em seu rosto angular, escondido pelo cabelo azul e negro. Seu sorriso era
incerto enquanto suas mãos tatuadas brincavam com a barra de sua camisa negra.
Rune a olhou. Ela o olhou e assentiu em silêncio. Isto foi tudo o que fez.
Deu um passo adiante e pegou Nova em seus braços com um grito de alegria.
Quando ele a deixou novamente, manteve seu rosto entre suas mãos.
—Você cresceu. Está incrível. — Disse, sua voz rouca cheia de emoção. —
Parece... feliz.
—Estou. — Respondeu ela. — Sou mais feliz agora que você está de volta em
minha vida também. Aed...
—Rune. —Disse. — Se estiver bem para você.
Ela assentiu. — Nova.
Os irmãos se abraçaram novamente. Rune se aproximou para puxar Carys ao
seu abraço, assim era uma família feliz. Então Mathias se reuniu com sua companheira
Raça. Com um braço ao redor de Nova, estendeu a mão e agarrou o ombro de Rune.
Logo toda a sala da mansão estava cheia de todos da Ordem e suas
companheiras. Rune foi apresentado para todas as mulheres e Carys desfrutou dos
numerosos olhares de aprovação que recebeu das companheiras dos outros
guerreiros, quando saudaram seu homem.
Ela levantou a mão, sentindo-se muito orgulhosa por pertencer à ele. Não
podia esperar para começar seu futuro, longe de toda a comoção e a realidade de
todas as missões perigosas que a Ordem ainda tinha pela frente. Talvez até mesmo
para ela e Rune também.
Por muito acolhedora que fossem as boas vindas — agradecia o amor que
recebia de todos os presentes esta noite, agora que estava em casa com Rune, mas
Carys não podia esperar para ficar sozinha com ele.
Gabrielle pareceu entender como se sentia. A companheira de Lucan se
aproximou de Carys e se inclinou para falar em seu ouvido. — Há um quarto vazio no
terceiro andar no final do corredor. Se você e Rune quiserem usar para se refrescar um
pouco ou descansar, consideraremos que seja seu.
Carys murmurou um agradecimento e suavemente apertou a mão de Rune.
Eles fugiram na primeira oportunidade, dirigindo-se diretamente para a escada.
Entraram no quarto de hóspedes e Rune chutou a porta para se fechar atrás
deles. Carys tinha os braços e as pernas ao redor dele, sendo segura pelos braços
fortes. Beijavam-se como loucos, os olhos ardendo de desejo, presas se tocando em
um frenesi.
Rune a levou para a cama king-size e a deitou. Suas grandes mãos tremiam
enquanto tirava as roupas em ruínas.
—Devemos nos limpar primeiro. — Carys murmurou.
Balançou a cabeça. — Logo. Neste momento, eu apenas preciso de você.
Ela também precisava dele. Sempre foi assim com eles, mas agora o desejo era
ainda mais intenso. Carys o observava, fascinada, sabendo que a paixão que
compartilhavam sempre seria assim feroz e inegável.
Rune agora também estava nu. Arrastou-se na cama sobre ela, seu imenso
corpo irradiava calor e eletricidade, roubando seu fôlego. Suas feridas se curaram. As
marcas vermelhas e fracas que estavam em sua pele iriam sumir pela manhã.
Parecia forte e formidável. Tão incrivelmente sexy.
E ele era dela.
Hoje mais do que nunca, pertenciam um ao outro.
Precisavam um do outro. Em um grunhido gutural, apertou suas mãos contra
seu peito e se virou sobre suas costas. Ela se sentou sobre seu quadril, sua fenda
molhada deslizando ao longo de seu eixo quando se inclinou para baixo e encontrou
sua boca num beijo profundo e exigente.
Um movimento dos quadris e o colocou em seu centro. Queria prolongar a
deliciosa sensação dos corpos se movendo juntos, ainda sem se unirem. Mas sua fome
por ele era muito intensa.
Ela levantou o quadril, sentando-se sobre seu saliente pau. Ele silvou enquanto
se afundava profundamente. Quando ela começou a montá-lo, aferrou-se a ela e
gemeu de prazer, os tendões de seu pescoço tensos como cabos.
—Maldição, como você é gostosa. — Disse com voz áspera. Conteve o fôlego.
— Ah, caralho. Devagar, bebê. Vamos fazer com que dure um tempo.
Ela balançou a cabeça e sorriu para ele. — Temos toda a noite para reduzir a
velocidade. Você mesmo disse que se sente curado e forte outra vez.
—Oh, sim. — Ele riu entre dentes, duro sob ela para demonstrar que realmente
estava.
—Isto é bom. — Ronronou. — Assim não preciso me conter com você.
Seus olhos se acenderam com fogo âmbar. — Inferno santo, tem uma força a
ser levada em consideração. E Cristo... é muito impiedosa também.
Agarrou seus quadris enquanto balançava sobre ele e ondulava em círculos
profundos. Deslizou sem pressa, mas com um ritmo proposital acima e abaixo de sua
longitude, deleitando-se com o prazer.
Ela sentiu os músculos ficarem tensos. Seus quadris empurravam febrilmente,
olhando-a com vontade de mais. Ela não lhe mostrou nenhuma misericórdia quando
seu clímax rapidamente aumentou seu frenesi. Seu grande corpo estremeceu e um
grito irregular se desprendeu dele quando explodiu dentro dela.
Carys continuou movendo-se sobre ele, desfrutando da forma como seu corpo
respondia à ela.
Olhou para ela. —Posso ver que terei que colocar algumas regras básicas sobre
quem está no comando.
Ela sorriu. — Sabe como me sinto sobre as regras.
Levantou a mão para acariciar seu rosto. — Como se sente sobre ficar comigo
para sempre, amor?
O coração dela acelerou. Lambeu os lábios. — Pensei que nunca perguntaria.
Com os olhos fixos em sua carótida pulsando, ela se inclinou e afundou suas
presas em seu pescoço.
Rune deixou escapar um gemido agudo ao sentir sua mordida. Logo seus braços
se envolveram ao redor dela, protetores, possessivos, enquanto ela tomava dele.
E quando seu sangue rugiu em sua garganta e em suas células — em seu corpo
e sua alma — Rune a fez rodar para ficar embaixo dele e começou a fazer amor com
ela lentamente, mostrando quão apaixonado e perfeito poderia ser.

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