Você está na página 1de 5

35.

Ritos e Fundamentos (parte 2)


35.1. Guias (fio-de-contas)
As guias de proteção são os colares multicoloridos que os adeptos da
religião usam. Colar no sentido físico, pois estes acessórios têm um
significado sagrado muito importante para os umbandistas.

Guias, fios de contas, proteção ou cordão de força são alguns dos


nomes dados a este fundamento.

Servem para proteção do médium ou para irradiação da energia do


Orixá ou entidade, entretanto, para que as guias de proteção surtam
os efeitos desejados deverão ser cruzadas ou consagradas. Só assim
deixam de ser simples colares para se tornar um grande instrumento
espiritual.

São confeccionadas com miçangas ou contas de diversos materiais


como cerâmica, cristal ou porcelana, podendo ainda ser feita de
elementos naturais como sementes, pedras, pequenos frutos,
conchas, búzios e até dentes ou unhas de animais. Em alguns casos
certas entidades poderão pedir apenas um lenço ou tira de couro e até
correntes para que seja usado como guia de proteção.

Ainda podem ser adicionados a uma guia símbolos dos Orixás como
espada (Ogum), raio (Iansã), machado de dois fumes (Xangô) e até
mesmo chupetas para erês. Enfim, elementos de representação de
ordem geral de acordo com o solicitado pela entidade, para
identificação do Orixá, ou ainda o gosto pessoal do filho de fé.

São dedicadas a uma entidade ou Orixá, o qual deverá receber seu fio
de contas com a cor ou o material característico, que mais se afinize
com sua energia. As guias dedicadas a Ogum poderão ser na cor
vermelha enquanto para Nanã poderão ser na cor lilás. Oxóssi poderá
receber uma guia feita com sementes silvestres enquanto os baianos
preferem as feitas com coquinhos.

As guias ainda poderão misturar elementos como contas de cristal


com sementes, por exemplo. Ainda quanto às cores, é muito comum
a confecção de guias sempre combinando a cor do Orixá ou entidade
com a cor branca ou mesmo a transparente.

363
Poderão ter uma ou diversas cores conforme o caso. Sendo a guia de
sete linhas o exemplo mais clássico desse uso das cores, pois contém
as cores das sete linhas de Umbanda.

O conceito principal é que, se algum mal se aproximar do usuário, o fio


de contas é usado como um pára-raios, puxando aquela energia
indesejável e rompendo-se no ato da quebra da demanda, os famosos
“estouros” de guias. Dessa forma, devemos encarar que uma guia
quando estoura é uma coisa boa, pois ela cumpriu sua função de
desarticular o mal que tentava se instalar.

Observando a guia que arrebentou, identificamos para quem foi


dedicada e assim sabemos qual Orixá ou entidade agiu em nosso favor.

Para o cruzamento da guia, o filho de fé poderá optar em entregar para


sua entidade ou outra de confiança para que a cruze, poderá entregar
para o dirigente da casa para que proceda ao cruzamento, ou poderá
consagrá-la por si só. O tópico “consagração” será abordado
posteriormente.

O uso das guias normalmente está atrelado ao trabalho no terreiro,


porém elas podem ser usadas no dia a dia para trazer o poder dos
Orixás ou a força das entidades para mais próximo de seus donos,
quando este julgar necessário ou assim for orientado.

Muitos terreiros padronizam as guias utilizadas por seus filhos. Isto é


bom, pois nesse caso, a guia passa a fazer parte da farda branca do
filho da casa, e, muitas vezes, podemos identificar o terreiro de origem
de um filho de fé pelas guias que porta. Em minha opinião, este
posicionamento auxilia a diminuir a diferença entre os filhos
financeiramente mais humildes dos mais abastados.

Também não é incomum casas diferenciarem guias de trabalho das


guias de proteção, assim como das guias de tratamento ou finalidade
específica.

A guia de trabalho, como o próprio nome diz, é utilizada apenas nos


trabalhos espirituais. A de proteção serve para o filho utilizar no dia a
dia e as de tratamento, ou finalidade específica, servem para atrair
mais intensamente a força de um Orixá ou entidade para a vida da
pessoa. Uma pessoa que precisa de caminhos abertos receberá uma
guia cruzada para Ogum com a finalidade de abrir caminhos, uma

364
pessoa que passa por injustiça poderá receber uma guia de Xangô
confeccionada e cruzada para atrair justiça, e assim por diante,
conforme o caso.

Com relação a usar uma guia de proteção no dia a dia, acredito que
outros objetos poderão ser cruzados para a mesma finalidade como
correntes, pingentes, pulseiras, broches, perfumes, entre tantos
outros que desempenharão o mesmo papel da guia, mas sem chamar
a atenção.

Isso nada tem a ver com sentimento de vergonha, mas sim com
respeito às pessoas de outras religiões. Se um católico ou evangélico
enxergarem a guia, poderão desprender energias contrárias a você,
atrapalhando dessa forma a finalidade de portar a guia, que é a de
atrair boas energias para o usuário. Digo usuário, pois uma guia poderá
ser usada por qualquer pessoa, independente de ser umbandista ou
não. Qualquer pessoa, desde que carregue em seu coração o respeito
e a fé, poderá se beneficiar da energia das guias.

Quanto ao tamanho de uma guia, ela deverá ultrapassar dois dedos do


umbigo de seu usuário quando colocada no pescoço. Isso é importante
para que se cubra o chakra umbilical, pois ele é uma das principais
portas de entrada da energia negativa.

Na sua forma básica, uma guia é uma série de contas sustentadas por
um único fio. Mas existem guias mais elaboradas, confeccionadas com
3 ou 7 fios, mudando-se o nome do acessório, nesse caso, para brajá.

A guia de 3 fios é popularmente chamada de mini brajá e a guia de 7


fios é conhecida como brajá. São muito mais encorpadas que as guias
de um único fio e normalmente estão ligadas à membros que possuem
postos em um terreiro como ogãs, ekedis, pais pequenos e mães
pequenas, zeladores e dirigentes.

O brajá de búzios abertos sempre será associado a um babalaô, ialorixá


ou babalorixá. Os búzios abertos na antiga África eram utilizados como
moeda corrente e o uso de um brajá de búzios representa riqueza,
autoridade e sabedoria.

365
Como confeccionar uma guia de proteção

A primeira coisa a se fazer é reunir todas as peças e utensílios


necessários para a confecção da guia. As contas e miçangas poderão
ser encontradas em casas de artigos religiosos.

Outra importante decisão é saber com que tipo de fio você montará
sua guia. Pode ser usado o fio de nylon, o cordonê e até fios finos de
cobre, sendo que o fio de nylon é o mais largamente utilizado.

Lembre-se de verificar a espessura do fio que irá utilizar. Certifique-se


que ele passará no buraco das contas ou elementos que escolheu. As
espessuras de fio de nylon mais utilizadas são aquelas que variam de
0,35 mm a 0,50 mm,

Tudo reunido, é hora de preparar os elementos e se preparar. Sim,


preparar-se para confeccionar a própria guia. O elemento mais
importante de uma guia é a energia de seu usuário.

Todas as contas de cristal deverão ser descarregas em uma salmoura


feita com sal fino. Digo sal fino, pois se feita com sal grosso, as pedras
de sal grosso poderão se misturar às contas. Deverão permanecer por
pelo menos 1 hora nessa solução.

Depois disso, as contas deverão ser lavadas em água corrente para a


retirada do sal, secadas com um pano branco e reservadas para o início
da confecção da guia.

Você deverá estar de preceito, poderá firmar uma vela para o seu anjo
da guarda e outra para o Orixá ao qual a guia será feita. Toma-se um
banho com as ervas daquele Orixá para melhorar a sua energia e
favorecer a imantação da guia durante a confecção.

Encontre um local tranquilo e tenha certeza de que não será


incomodado. Comece a produção da guia mentalizando o Orixá ou
entidade, cantando pontos ou ainda fazendo orações para aquele
Orixá ou entidade. Durante todo o tempo da confecção da guia você
deverá estar nesta postura vibratória.

Ao terminar de inserir as contas e elementos da guia, confira se o


tamanho está adequado. Também é recomendado que uma guia

366
possua quantidade ímpar de elementos. Feito isso, vamos ao
fechamento.

Para fechar a guia, você poderá usar uma firma ou não, entretanto é
sempre importante colocar uma conta maior ou uma de cor diferente.
Algumas correntes da Umbanda afirmam que isto marca uma porta de
entrada e de saída de energia, sendo que é por esta porta que o Orixá
introduzirá sua energia e retirará as energias negativas.

No momento do fechamento é importante deixar uma boa sobra de


fio para facilitar a amarra. Feche primeiramente com três nós bem
firmes e não se preocupe se a guia ficar um pouco engruvinhada
(enrugada), pois ela cederá um pouco depois de pronta (apenas para
aquelas feitas com fio de nylon).

Depois passe as duas pontas por dentro da firma ou por pelo menos
três contas, e ê mais três nós bem firmes. Confira estes últimos nós
duas vezes, estique a guia para laceá-la um pouco, até atingir a forma
original, quando o caso, e só então corte as pontas.

Nunca corte as pontas rentes aos nós pois eles poderão se soltar. Corte
com 5 centímetros e esconda essas sobras passando novamente por
dentro das contas.

Pronto! Seu colar está finalizado, precisando apenas ser cruzado ou


consagrado para se tornar uma guia de proteção.

367

Você também pode gostar