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Como se vive a Páscoa em Portugal?

Sendo um país onde a população é maioritariamente católica, a Páscoa é uma festa muito importante
para os portugueses. Tal como em outros países onde se celebra a ressurreição de Jesus Cristo,
as tradições da Páscoa em Portugal são marcadas por procissões, encenações teatrais, festividades e
muita comida. Mas há costumes curiosos e muito próprios do nosso país.
De norte a sul de Portugal decorrem diversos eventos religiosos ao longo da Semana Santa, que
começa no Domingo de Ramos e termina no Domingo de Páscoa. Conheça como é que os portugueses
vivem a Páscoa em diferentes lugares do país e que rituais não podem faltar todos os anos.

Compasso ou Visita Pascal

Um dos rituais mais antigos e mais conhecidos,


que se verifica principalmente nas aldeias
portuguesas, é o Compasso, também conhecido
como Visita Pascal, uma tradição que acredita-
se que surgiu ainda na Idade Média.
No Domingo de Páscoa, as ruas são tomadas
por pequenos grupos de paroquianos ou
mordomos que saem das igrejas com um
crucifixo e vão passando pelas casas para
abençoá-las.
As pessoas que desejam receber a bênção, deixam a porta de casa aberta, com pétalas de flores na
entrada e, se quiserem, com petiscos na mesa e um donativo para a paróquia. Um dos integrantes do
grupo toca um pequeno sino para avisar sobre a aproximação da procissão.

Em cada uma das casas, após uma pequena oração e a bênção com água benta, os habitantes da casa
beijam a cruz de Cristo como demonstração da sua adoração.
Procissão da Burrinha em Braga

A Semana Santa de Braga é uma das maiores festividades de


Páscoa do país e todos os anos recebe milhares de visitantes. A
cidade enche-se de motivos alusivos à quadra, incenso, altares,
flores, luzes e faixas roxas. Este período é celebrado
intensamente pelos bracarenses que mantêm vivas várias
tradições, como é o caso da Procissão da Burrinha, em que a
imagem de Nossa Senhora é transportada por uma burrinha.
Organizada desde 1998, o nome original é cortejo bíblico Vós
Sereis o Meu Povo, mas toda a gente a conhece como
Procissão da Burrinha. Este desfile noturno marca o arranque
da Semana Santa em Braga, na Quarta-Feira Santa, e conta
com a participação de mais de 700 figurantes.
Durante esta semana, além das celebrações religiosas, a cidade
de Braga oferece inúmeros eventos socioculturais, como
concertos e exposições.

Queima do Judas em Montalegre

Em Montalegre, a Semana Santa comemora-se aliando a


tradição religiosa a momentos de sátira e humor. As várias
celebrações religiosas, missas e cortejos são complementados
com tradições como a Queima de Judas, no sábado que antecede o dia de Páscoa.
Esta tradição, que também existe noutros pontos do país, representa o julgamento de Judas, por ter
traído Cristo. O povo, armado de tochas, varas e outros meios, aguarda os momentos da acusação e
defesa, a leitura da sentença e, por fim, participa no castigo fatal investindo sobre um boneco de palha
que se incendeia ou explode. Este castigo simboliza a expiação dos pecados do mundo e o fogo tem um
carácter simbólico de purificação.

Festa das Tochas Floridas em São Brás de Alportel

O Domingo de Páscoa em São Brás de


Alportel celebra-se com a Procissão das
Tochas Floridas. As tochas que antigamente
eram compridas velas são hoje paus
decorados com alecrim, rosmaninho,
alfazema e flores campestres. Os homens (e
meninos) fazem duas filas paralelas nas
laterais do tapete decorado no centro da rua e
carregam as tochas de flores coloridas nas
mãos.
Neste dia, o Largo de São Sebastião
amanhece vestido a rigor com os tapetes
floridos e uma mostra de sabores de Páscoa
com produtores locais. As tochas e as
colchas mais tradicionais e artísticas são premiadas durante um sarau cultural que inclui música e
poesia.

Durante o dia saboreiam-se as tradicionais amêndoas tenras e amêndoas de pinhão, confecionadas de


forma artesanal em São Brás de Alportel há mais de um século, pela mesma família.

Bênção dos cordeiros em Castelo de Vide


A Páscoa em Castelo de Vide é um dos maiores
eventos locais e é particularmente única pela
forma como as práticas católicas se associam a
elementos da cultura judaica, testemunhos do
passado histórico. Uma dessas tradições especiais
é a Bênção dos Cordeiros, que simboliza o
momento em que os judeus saíram do Egito e
mataram cordeiros de forma a conseguir untar as
portas com o seu sangue, para que não matassem
os primogénitos dos hebreus.
Nesta vila alentejana, ainda se comemora este
momento, juntamente com componentes cristãos
para realçar ambas as culturas. Na manhã do Sábado Santo, os pastores invadem o centro da vila com
os seus rebanhos, para serem benzidos e depois vendidos.
Outra das tradições que atraem muitos turistas às ruas íngremes de Castelo de Vide é as Chocalhadas.
Na noite de sábado, centenas de pessoas juntam-se nas ruas principais da vila com chocalhos de várias
formas e criam um ruído característico e envolvente que serve de “oração” durante o Cortejo de Aleluia.
Enterro do Bacalhau em Soutocico
O Enterro do Bacalhau é um teatro de rua de cariz marcadamente pagão, que percorre as ruas da aldeia
de Soutocico, na freguesia de Arrabal, no concelho de Leiria, na noite de Sábado Santo. Representado
pela primeira vez em 1938, constituiu tal êxito, que passou a ser um ex-libris histórico-cultural. Foi
proibido pelo regime de Salazar, mas foi reavivado após a Revolução dos Cravos, já em 1976.
Acredita-se que esta tradição remonta ao século XVI, durante o movimento da contra-reforma. A Igreja
proibia o consumo total da carne durante o período da Quaresma, abrindo um precedente a todos
aqueles que comprassem a bula. Este indulto religioso só servia para os mais abastados que o podiam
pagar, enquanto os desfavorecidos teriam de se socorrer do peixe na sua alimentação durante as semanas
da Quaresma. O peixe mais acessível era o bacalhau. O povo revoltou-se contra esta determinação, mas
teve de se resignar, não sem antes criar esta festividade pagã, como sentimento de revolta pela sua
impotência.

Os três principais sermões – “Vida e Morte do Bacalhau”, “Testamento do Bacalhau” e “Exéquias do


Bacalhau” – formam as quadras cantadas ao som da marcha fúnebre de Chopin. Para além dos três
sermões, é tradição a queima do Judas após o enterro. Logo que o bacalhau desce à cova, segue-se o
sermão ao Judas. Seguidamente é queimado e rebentado para êxtase da população.

Presentes de Páscoa

Em Portugal, há o hábito dos padrinhos e madrinhas presentearem os afilhados na Páscoa. É tradição


oferecer o folar, que simboliza a fartura depois do período de jejum na Quaresma, para quem segue a
tradição católica.
Atualmente, é comum os padrinhos oferecerem pão-de-ló, amêndoas, ovos de Páscoa, doces variados,
uma quantia em dinheiro, roupas e brinquedos, dependendo da idade do afilhado.

Por sua vez, os afilhados entregam um ramo de oliveira aos padrinhos no Domingo de Ramos.

O que se come na Páscoa em Portugal?

O folar é tradicionalmente o pão da Páscoa em


Portugal, confecionado com água, sal, ovos e
farinha de trigo. A forma, o conteúdo e a confeção
varia conforme as regiões e vai desde o doce ao salgado, nas mais diversas formas. Em algumas receitas
é colocado um ovo cozido com casca.
Particularmente na região de Trás-os-Montes, o folar é confecionado à base de massa de pão, lêveda e
fofa, sendo recheado com carne de porco, presunto, salpicão, linguiça, entre outros ingredientes.
Em Portugal, é comum finalizar o jejum da Quaresma com carne, por isso as mesas dos portugueses
enchem-se de pratos de borrego, cabrito, leitão, lombo, mas também o sempre presente bacalhau.

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