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7853 Article 13114 1 10 20200418
7853 Article 13114 1 10 20200418
Metadados
Data de Publicação 2014-06-11
Resumo Na presente dissertação abordamos a questão da materialidade na
arquitectura usando o caso especifico da pedra. Pretendemos refletir
sobre a importância de projetar com a consciência de que o material
é o que transforma o projeto desenhado em obra construída e todas as
questões que isso levanta. Sendo o material a expressão física do projeto
assume uma grande importância no modo como pode servir de elemento
integrador entre um objeto artificial e a paisagem natural. A pedra é um
material natura...
Palavras Chave Construção em pedra, Materiais de construção
Tipo masterThesis
Revisão de Pares Não
Coleções [ULL-FAA] Dissertações
http://repositorio.ulusiada.pt
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado integrado em Arquitectura
Realizado por:
Steve Estêvão Candeias
Orientado por:
Prof. Doutor Arqt. Rui Manuel Reis Alves
Constituição do Júri:
Lisboa
2014
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A
Arquitectura em pedra:
construção, revestimento e relação com a paisagem
Lisboa
Abril 2014
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A
Arquitectura em pedra:
construção, revestimento e relação com a paisagem
Lisboa
Abril 2014
Steve Estêvão Candeias
Arquitectura em pedra:
construção, revestimento e relação com a paisagem
Lisboa
Abril 2014
Ficha Técnica
Autor(a) Steve Estêvão Candeias
Orientador(a) Prof. Doutor Arqt. Rui Manuel Reis Alves
Título Arquitectura em pedra: construção, revestimento e relação com a paisagem
Local Lisboa
Ano 2014
LCSH
1. Construção em pedra
2. Materiais de construção
3. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses
4. Teses – Portugal - Lisboa
1. Building, Stone
2. Building materials
3. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations
4. Dissertations, Academic – Portugal - Lisbon
LCC
1. TH1201.C36 2014
AGRADECIMENTOS
Aos meus Pais, Avós e Madrinha, que sempre me apoiaram em tudo e valorizaram o
meu empenho.
Em particular, ao Professor Doutor Arquitecto Rui Manuel Reis Alves, orientador desta
dissertação, por todo o seu conhecimento transmitido, pelo seu apoio, motivação,
interesse e grande disponibilidade.
“ O verdadeiro núcleo de qualquer tarefa
arquitectónica encontra-se, no meu
entender, no ato de construir. É aqui onde
os materiais concretos são reunidos e
erigidos, que a arquitectura imaginada se
torna parte do mundo real.”
Arquitectura em pedra:
construção, revestimento e relação com a paisagem
Stone Architecture:
construction, coating and landscape relation.
Stone is a natural material, and one of the first being used on architecture. Its
importance on this art is revealed by the fact that is part of history sill being used to the
present day. We show on this work the way as stone has been used trough many
stages in history as construction material for architecture and their respective
construction systems. We also want to show the impact of the new technologies on this
material and the results of its usefulness on contemporary architecture.
1. Introdução .................................................................................................... 23
2. Pedra, Arquitectura e Envolvente ................................................................. 25
2.1. Pedra, Paisagem e Lugar Arquitectónico............................................... 25
2.1.1. A Materialidade na Arquitectura ...................................................... 26
2.1.2. A Materialidade no Espaço .............................................................. 31
2.1.3. Materialidade e Paisagem ............................................................... 36
2.2. Pedra, Construção e Marcos Históricos................................................. 39
2.2.1. O Trílito como Sistema Construtivo ................................................. 42
2.2.2. A Arquitectura Romana – o arco, a abóbada e o Opus
Caementicium ........................................................................................... 56
2.2.3. A Pedra na Arquitectura Medieval – Catedral de Palma de
Maiorca ..................................................................................................... 67
2.3. Pedra e Inovação ................................................................................... 78
2.3.1. A Pedra na Arquitectura Contemporânea ........................................ 79
3. Referências Contemporâneas...................................................................... 91
3.1. Can Lis................................................................................................... 94
3.2. Museu da luz ....................................................................................... 120
3.3. Centro de Monitorização e Investigação das Furnas + Residências ... 136
4. Projeto e Pedra .......................................................................................... 149
4.1. Pousada na Quinta de Ribafria ............................................................ 150
Considerações finais ...................................................................................... 169
Referências .................................................................................................... 173
Bibliografia...................................................................................................... 181
Arquitectura em pedra: construção, revestimento e relação com a paisagem
1. INTRODUÇÃO
A materialidade é uma das componentes de projeto que deve ser abordada e pensada
de um modo muito cuidadoso face ao programa que nos é proposto, ao sítio onde
vamos intervir e aos espaços que pretendemos que adquiram determinados ambientes
e qualidades preceptivas pelos utilizadores. A materialidade é a expressão física do
projeto desenhado.
A pedra foi o material escolhido, não só por ser um dos materiais mais antigos
utilizados na arquitectura, mas também, por ter tido um papel importante no processo
evolutivo ao nível dos sistemas construtivos na história da arquitectura. Por outro lado
sendo um material natural, enquadra-se nas questões defendidas na presente
dissertação e é um material intemporal que continua a adaptar-se aos novos
processos construtivos e às novas tecnologias, sendo hoje utilizado principalmente
como material de revestimento.
A escolha de utilizar um determinado material num projeto de arquitetura deve ser feita
com o conhecimento desse material. Estudar o modo como a pedra foi sendo utilizada
na arquitetura ao longo do tempo é fundamental para poder ter um conhecimento que
permita falar sobre o tema e tomar decisões relacionadas com a materialização de um
projeto. A pedra é um material que existe no meio natural com uma grande variedade
de características. Inicialmente foi utilizada como material construtivo de eleição para
obras que se pretendia que fossem monumentais e eternas. Na arquitetura
contemporânea passou a ser utilizada como material de revestimento interior e
exterior, trabalhado segundo as novas possibilidades que a evolução tecnológica veio
oferecer. A noção do modo como esta é utilizada, o tipo de acabamento escolhido, a
própria pedra escolhida são fatores, entre outros, que configuram e atribuem
determinadas características e ambientes a um espaço, que posteriormente geram
sensações nos utilizadores, levantando a questão da necessidade de conhecer o
material que estamos a utilizar.
Por fim, no último capítulo – Pedra e Projeto – apresentamos a nossa proposta como
resposta a um enunciado, o qual abordamos seguindo os princípios defendidos na
presente dissertação e justificados através dos projetos referência.
Para fundamentar esta questão, será feita referência a alguns arquitectos e críticos de
arquitectura, entre os quais, Peter Zumthor e Juhani Pallasmaa. Estes são arquitectos
que utilizam a materialidade para promover a integração do objeto arquitectónico no
lugar e consideram a materialidade uma das componentes essenciais do ato de
projetar.
“Cada corpo tem uma identidade própria. Escolher um material para revestir ou dar
forma a um elemento é caracterizar um corpo, é eleger uma expressão que o define e
o demarca como algo específico.” (Rodrigues, 2009, p. 59)
Existe uma proximidade crítica entre os materiais que depende dos próprios materiais e
do seu peso. Ao conciliar materiais numa obra existe um ponto em que estão
demasiado afastados, e outro em que estão demasiado próximos, e outro ainda em
que estão mortos (Zumthor, 2006, p. 27)
O material é o fator que permite tornar real a ideia do arquitecto. É a expressão física
do projeto. Zumthor1 compara a arquitectura à música. Segundo ele, a música tem de
ser tocada e a arquitectura construída, caso contrário, a ideia de projeto não chega a
ser arquitectura por ser demasiado subjetiva à interpretação de cada um. “A
arquitectura é sempre matéria concreta. Uma planta, um projeto desenhado em papel
não é arquitectura mas apenas uma representação mais ou menos adequada de
arquitectura, comparável à música em partitura.” (Zumthor, 2001, p. 11)
1
Peter Zumthor (1943-). Arquitecto Suíço, nasceu em Basileia. Trabalhou durante vários anos como
O arquitecto tem de ter consciência de que, por muito que imagine um material no ato
de projeto, ele será diferente quando se tornar real e for utilizado em obra. Tal como
acontece com o material, também acontece com o próprio objeto arquitectónico
quando se materializa. Zumthor utiliza o seguinte exemplo para abordar esta questão:
Durante anos trabalhamos no conceito, na forma, nos desenhos para a nossa estância
termal de pedra. Agora está a ser construída. Deparo-me com os primeiros blocos que
os pedreiros levantaram da pedreira aqui perto. Estou surpreendido e irritado. Com
efeito, tudo corresponde exatamente aos nossos desenhos. Mas não estava à espera
desta presença ao mesmo tempo dura e macia, plana e como uma rocha, reluzente
nos seus tons cinzentos e verdes das cantarias constituídas por placas. Por um
momento tenho a sensação que o nosso projeto me escapa e se emancipa, porque se
torna agora matéria e segue as suas próprias leis. (Zumthor, 2009, p. 62)
Este exemplo referente às Termas de Vals, aborda a questão da pedra não apresentar
as características que Zumthor previa. Quando o material se tornou real, o projeto
desenhado começou logo a sofrer alterações. Isto acontece com todos os materiais.
Dai que, a materialidade seja uma questão à qual o arquitecto deva atribuir uma
grande importância.
2
Sérgio A. Fazenda Rodrigues (1973-) – Arquitecto nascido em Lisboa. Frequentou a Universidade
Lusíada, a AR.CO, a Écolle d’Architecture de Paris-LaVillette, a Faculdade de Arquitectura da
Universidade Técnica de Lisboa, onde em 1999 se licenciou, e o Instituto Superior Técnico, onde em 2005
concluiu mestrado. É docente do curso de Arquitectura da Universidade dos Açores e faz programação
cultural, crítica e divulgação de arquitectura desde 2005.
Ilustração 1 – (à esquerda) Termas de Vals, Suíça, Michael Butler. (Zumthor, 1997, p. 58) ; (à direita) Integração na paisagem, Termas
de Vals, Suiça. Michael Butler. (Zumthor, 1997, p. 58)
Renato Luiz Sobral Anelli3, (2009, p. 1) professor da Universidade de São Paulo, refere
sobre a estratégia de Zumthor, que este “para evitar a composição de elementos
arquitetónicos (janelas, portas, etc.)”, opta pela “repetição intensa de pequenos
componentes”, tais como, “as lascas de madeira na Capela de São Bento, as placas
de pedra nas Termas de Vals, os caibros no Pavilhão da Suíça na Exposição de
Hamburgo, matérias e materiais que parecem simplesmente empilhados”. A sua ideia
passa por criar um conjunto de “vibrações em diferentes intensidades que conferem
maior ou menor opacidade à forma, permitindo assim a iluminação e a transparência
do volume.” Nestes caso, a materialidade não funciona apenas como “meras texturas
de superfícies de vedação”, mas como a “própria estrutura portante do edifício”.
3
Renato Luiz Sobral Anelli – Arquitecto. Frequentou a Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1982). Doutorado pela Faculdade de Arquitectura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo (1995). Actualmente é professor titular e coordenador do
Programa de Pós-Graduações em Arquitectura e Urbanismo da EESC-USP.
Ilustração 2 – (à esquerda) Capela de São Bento, Sumvitg, Suíça. Shigeo Ogawa (Zumthor, 1997, p. 53) ; (à direita) Pavilhão da Suíça
na Exposição de Hannover, Suíça. Roland Halbe (Zumthor, 2000, p. 66)
Hoje em dia, os materiais surgem nas mais variadas formas e são trabalhados e
tratados para apresentarem melhores características, Existem materiais naturais,
materiais artificiais, materiais compostos, etc. Por vezes até se torna difícil distingui-
los. Tal como refere Sérgio Rodrigues, neste momento tudo se transforma, não se
pode falar na “autenticidade de uma placa de pedra, ou na artificialidade de um
pavimento de borracha. Nem a pedra surge da montanha, já polida e recortada, nem a
borracha aparece em laboratório surgido do nada.” (2009, p. 60)
Cabe ao arquitecto saber aproveitar os recursos que hoje em dia estão à sua
disposição. “(…) não há materiais feios ou bonitos, nobres ou medíocres, há é sim
maneiras feias ou bonitas, nobres ou medíocres, de os conseguir utilizar.” (Rodrigues,
2009, p. 60)
Um espaço surge a partir da relação entre proporção, matéria e luz. Segundo Zumthor,
o maior segredo da arquitectura é que consegue juntar as coisas do mundo, os
materiais do mundo e criar espaço. (Zumthor, 2006, p. 27)
4
Juhani Pallasmaa (1936-). Arquitecto finlandês, foi professor de arquitectura na Universidade de
Tecnologia de Helsínquia, diretor do Museu de Arquitectura da Filandia e professor convidado em várias
outras escolas de arquitectura em todo o mundo. É também autor de numerosos artigos sobre filosofia,
psicologia e teoria da arquitectura e da arte.
É esta questão da atmosfera que faz com que quando estamos na presença de um
determinado espaço pela primeira vez, este fique guardado na nossa memória como
sendo positivo ou negativo. Haverá sempre algum detalhe que servira para
caracterizar aquele espaço na nossa imaginação. Zumthor refere que todos nós
conhecemos a designação de atmosfera e todos sabemos em que consiste a ideia de
uma primeira impressão. É como quando vemos uma pessoa pela primeira vez.
Podemos sempre dar-lhe uma segunda oportunidade, mas ficará sempre retida a
primeira impressão. Segundo ele, acontece o mesmo em relação à arquitectura,
quando entramos num edifício e presenciamos um espaço. “Entro num edifício, vejo
um espaço e transmite-se logo uma atmosfera e numa fração de segundos sinto o que
é.” (Zumthor, 2006, p. 23)
Esta atmosfera é criada não só pelo modo como o espaço foi pensado e construído,
pela materialidade que o caracteriza, mas também pelo modo como é vivenciado. As
sensações que uma atmosfera transmite podem ser abordadas ao nível individual.
Quando falamos no som de um espaço, referimo-nos à questão da audição. “Cada
espaço funciona como um instrumento grande, coleciona, amplia e transmite os sons.
Isso tem a ver com a sua forma, com a superfície dos materiais e com a maneira como
estes estão fixos” (Zumthor, 2006, p. 29) Para Juhani Pallasmaa, (2011, p. 48) “Cada
prédio ou espaço tem seu som característico de intimidade ou monumentalidade,
convite ou rejeição, hospitalidade ou hostilidade.”
No caso da visão, para além da luz que caracteriza o espaço, é mais uma vez a
materialidade que transmite uma sensação positiva ou negativa. É diferente ver um
espaço através de imagens, ou estar na sua presença, em contacto com espaço físico.
“Uma obra de arquitectura não é experimentada como uma colectânea de imagens
visuais isoladas, e sim em sua presença material e espiritual totalmente corporificada.”
(Pallasmaa, 2011, p. 42)
Juanhi Pallasmaa (2011, p. 44) refere que “a imaginação e a fantasia são estimuladas
pela luz fraca e pelas sombras. (…) A luz forte e homogênea paralisa a imaginação do
mesmo modo que a homogeneização do espaço enfraquece a experiencia da vida
humana e arrasa o senso do lugar.”
Muitas vezes recordamos um espaço na nossa memória pelo seu cheiro. Este cheiro é
transmitido pelos materiais que caraterizam esse espaço. Uma sala com um
pavimento em madeira transmite um cheiro característico, diferente de uma sala com
um pavimento em pedra.
De certo modo podemos agora referir que, é a materialidade do espaço que lhe atribui
uma identidade própria.
5
Le Corbusier , no quarto principal da Ville Savoy, desenhou uma confortável Chaise
longue, moldada em betão, anexa à zona de banhos. Forrada por pequenos mosaicos
de um azul brilhante, a sua cor e o seu reflexo prolongam a frescura da água para o
repouso do corpo. A escolha do material é consentânea com o desenho da sua forma e
com a natureza da sua utilização. Ou seja, há uma coesão que lhe dá uma identidade
própria. (Rodrigues, 2009, p. 61)
É ainda importante não esquecer que, tal como defende Zumthor (2009, p. 31) para
que surjam espaços que nos surpreendem e que contêm um potencial e uma força
que vai para além de formas preconcebidas é primeiro necessário responder a
questões relativas ao lugar, ao material e à tarefa. No subcapítulo seguinte abordamos
precisamente a questão da materialidade na relação entre o objeto arquitetónico e a
paisagem envolvente.
O arquitecto ao projetar um edifício deve estar consciente de que este se vai integrar
numa paisagem pré-existente, com a qual vai estabelecer uma relação. Um objeto
arquitetónico não deve ser visto como um objeto isolado. “Uma edificação não é um
fim por si só; ela emoldura, articula, estrutura, dá importância, relaciona, separa e une,
facilita e proíbe.” (Pallasmaa, 2011, p. 60)
6
Jorn Utzon (1918 – 2008). Arquitecto dinamarquês, trabalhou com Alvar Aalto. Um dos seus projectos
mais famosos é a Opera de Sydney. Viveu os últimos anos da sua vida com a sua mulher Lis nas suas
casas, nas ilhas Baleares, Can Lis e Can Feliz. Em 2003 vence o Premio Pritzker.
Ilustração 4 – Vista de Can Lis a partir do mar mediterrâneo, Maiorca, Bent Ryberg. (Parday, 2004, p. 40)
Outro arquitecto que aborda esta questão é Juhani Pallasmaa. Este aborda a questão
de um modo mais sensacional. A memória tátil é a sabedoria que fundamenta a
habilidade de construir uma moradia nas culturas tradicionais. (Pallasmaa, 2011, p. 60)
Este refere ainda que, “As obras de arquitectura autóctones em argila ou barro, de
várias partes do mundo, parecem nascer dos sentidos musculares e tácteis, mais do
que dos olhos.” (2011, p. 25)
Por fim, o tempo é outro dos fatores que em conjunto com a materialidade, ancoram
objeto arquitectónico ao lugar. Os edifícios quando bem projetados acabam por no
decorrer do tempo, unirem-se de modo natural com o lugar e a sua história. (Zumthor,
2009, p. 17)
Os materiais naturais, tal como a pedra, são materiais que “expressam sua idade e
história, além de nos contar suas origens e seu histórico de uso pelos humanos. Toda
a matéria existe em um continuum temporal; a pátina do desgaste leva a experiencia
enriquecedora do tempo aos materiais de construção.” (Pallasmaa, 2011, p. 30)
A Pedra foi o primeiro material a ser utilizado pelo Homem para fazer arquitectura.
Inicialmente para se proteger utilizaram cavernas, nas quais deixaram marcas que
perduram até aos dias de hoje.
Também o Homem, fez de pedra a sua casa (…) As grutas ofereceram-lhe o abrigo
necessário contra os seus inimigos e predadores. As suas paredes ofereceram-lhe o
seu primeiro suporte de comunicação gráfica, foram a tela da sua expressão plástica. A
primeira roda foi feita de pedra. A pedra ditou idades, e da lasca à polida passaram
milhares e milhares de anos. (Vieira, 2001, p. 45)
(Benevolo, 2005, p.80) A par do arco e da abóbada, aquilo que permitiu aos romanos
construírem edifícios com abobadas e cúpulas a vencerem grandes vãos foi a
invenção do chamado Opus Caementicium. Este cimento leve permitia encher paredes
de pedra, tornando-as mais espessas de modo a suportarem as abobadas. O Panteão
de Roma que é talvez um dos exemplos mais importantes da arquitectura romana, é
abordado na presente dissertação com o objetivo de exemplificar e explicar esta
técnica construtiva que perdurou durante muitos anos, até à arquitetura do ferro no
sec. XIX. Com os romanos surgiram ainda as pontes e aquedutos em pedra que
ajudaram nos objetivos expansionistas e que testemunham a importância dada pelos
romanos aos edifícios de utilidade pública. (Tarella, 1985, p. 17)
Mais tarde, como evolução do arco romano surgiu o arcobotante utilizado nas
catedrais góticas. A arquitectura medieval gótica assume características próprias.
Apesar de ter surgido vários seculos após a invenção do Opus Caementicium por
parte dos romanos, no gótico volta-se a construir totalmente em pedra. Um dos
exemplos mais interessantes é a catedral de Palma de Maiorca. Este edifício visitado
aquando da viagem de estudo a Can Lis do arquitecto Jorn Utzon caracteriza-se por
ser totalmente construído com a pedra local. Integrado na estrutura urbana do centro
histórico de Palma, funciona como um marco daquela cidade e serviu de influência ao
arquitecto Jorn Utzon.
O Neolítico corresponde ao período entre os milénios III e II a.C. É nesta época que a
arquitectura propriamente dita teve a sua origem. O Homem deixou de ser sedentário
e começaram a surgir as primeiras manifestações de arquitectura permanente.
Baseado em ideias religiosas de fé numa vida eterna, o Homem conseguiu mover
enormes blocos de pedra criando espaços de sepulcro dos mortos, a apelidada
arquitectura megalítica. Dois dos exemplos mais conhecidos deste tipo de arquitectura
são o cromeleque de Stonehenge7 e o alinhamento de Carnac8. (Iniguez, 1960, p. 22)
Alguns astrónomos defendem ainda que existe nestas edificações uma relação com os
ciclos do Sol.
7
Stonehenge é uma construção megalítica situada em Wiltshire na Inglaterra. É um monumento circular,
constituído por 30 monólitos. Os resultados das escavações arqueológicas apontam para que a sua
construção se tenha processado em três fases. A primeira terá sido em 3100 a.C., a segunda em 2100
a.C. e a terceira em 2000 a.C. O sentido e a função do monumento não são totalmente claros, mas a
explicação mais divulgada defende que terá sido um local de culto solar ao ar livre.
8
Situado na região de Carnac, na zona da comuna de Morbihan, na Bretanha francesa, o núcleo
megalítico pré-histórico comporta três grupos de alinhamentos. O de Kermario, composto de 10 linhas
representando um total de 982 menires, é o mais belo e conhecido dos grupos. O de Menec compreende
11 linhas de 1100 menires alinhados ao longo de 1,2 km. Por fim o alinhamento de Kerlescan, totalizando
540 menires repartidos por 13 linhas; na sua extremidade enconta-se um cromeleque de 39 menires, bem
como um grande menir, apelidado “Gigante do Manio”, com 6.5 m de altura. Se os arqueólogos
concordam no facto de este espaço representar um esforço coletivo e de organização notáveis, hesitam
em propor uma interpretação, que normalmente repousa na vertente astronómica. A cronologia da sua
edificação parece situar-se algures no III/II milénios a.C.
mais uma vez numa arquitetura de sepulcro e surge ao ar livre ou enterrado sob um
monte de terra. Por vezes é precedido de um corredor de ingresso.
Ilustração 7 – (à esquerda) Poulnabrone Dolmen de Poulnabrone, Irlanda, Matteo Foiadelli. (adaptação a partir de Foiadelli, 2008) ; (à
direita) Dolmen de Menga, Antequera, Espanha”, R.C.W. (adaptação a partir de R.C.W, 2013)
A arquitectura egípcia, por sua vez, é caracterizada por ser a primeira na qual se
constroem obras monumentais em pedra. O objetivo do povo egípcio era criar obras
de grande volume e massa que pelas suas características aparentassem e fossem
eternas. Para tal o material que utilizaram foi a pedra. (Iniguez, 1960, p. 32)
Após ter sido utilizado pela primeira vez na arquitectura neolítica, foi na arquitectura
egípcia e grega que o sistema construtivo do trílito foi explorado ao máximo e utilizado
na realização de obras monumentais.
Para o povo egípcio dominado pela ideia de vida eterna, os monumentos mais
importantes eram o templo e o sepulcro. A casa, por ser de caracter transitório,
assumia um valor secundário e era construída em adobe. Os templos, tal como está
expresso nas inscrições que os decoram, são considerados “a casa de pedra eterna”.
Foram mandados construir pelos faraós para os seus deuses. O sepulcro por sua vez
era tão importante como o templo uma vez que os egípcios estavam convencidos que
a vida eterna dependia da conservação dos seus corpos. (Iniguez, 1960, p. 40)
9
Hathor era a deusa do amor, da alegria, do erotismo, da dança e da musica. O seu culto estava
associado a regiões longínquas, como Biblos e Sinai, sendo por isso chamada a “Senhora das
Turquesas”. Adorada em vários locais, o principal templo dedicado a Hathor localizava-se em Dendera,
eguido no período ptolomaico (305 a.C.- 30 a.C.), onde é possível encontrar, nas chamadas colunas
Hathóricas, a cabeça da deusa representada nos capitéis. Hathor surge representada como uma vaca,
como alusão à maternidade, ou como uma mulher com orelhas de vaca, ou ainda como uma mulher
exibindo na cabeça o disco solar ornamentado por cornos liriformes.
10
Djoser reinou no Egipto presumivelmente entre os anos de 2630 e 2611 a.C., pertencendo à IIIª
Dinastia do Império Antigo. Passou à posteridade juntamente com o arquitecto Imhotep por ter mandado
construir a chamada “pirâmide de degraus (ou escalonada) de Saqqara”, a primeira de que há notícia. A
estrutura desta pirâmide representou uma grande inovação em relação às mastabas, túmulos de forma
usualmente quadrada ou retangular. A forma piramidal, resultante da sobreposição das mastabas,
partindo de uma base quadrada até um vértice é de facto inovadora na arquitectura do mundo antigo.
Esta pirâmide consta de uma sobreposição de seis degraus similares a mastabas, pelo que possui planta
de tendência quadrangular. O complexo funerário, inserido num recinto muralhado, conta ainda com
outros túmulos, altares, pátios, armazéns, um palácio e um templo.
Implantado segundo o eixo cardeal Norte/Sul, o complexo situa-se numa zona deserta
a cerca de 14 km ao sul do Cairo, ao lado de Memphis. O complexo é rodeado por um
muro de dimensões também elas monumentais. Imhotep11 foi o arquitecto que
desenhou e dirigiu a sua construção. (Pirâmide de Saqqara, 2012)
11
Imhotep foi um aquitecto que viveu no Egipto durante a IIIª Dinastia. Foi igualmente um alto dignitário e
vizir do faraó Djoser. Notabilizou-se pela sua ciência, uma vez que, para além de ter escrito obras de
arquitectura, instaurou a base do que seriam as pirâmides, marco da magnificência egípcia. De facto, foi
ele quem construiu a primeira pirâmide em Saqqara, que inovou igualmente por ser escalonada e utilizar
pedra em aparelho.
O muro original que rodeava o complexo tinha dez metros de altura, apresentando um
perímetro de 1662 metros (554 metros no sentido norte-sul e 277 metros no sentido
este-oeste) e englobando uma superfície total de quinze hectares. O muro de calcário
tinha catorze portas falsas repartidas pelas quatro faces, portas petrificadas distribuídas
de forma irregular ao longo do perímetro. A única porta de acesso ao complexo, a porta
verdadeira, situa-se no lado este, abrindo para uma colunata no interior. (Araújo, 1987,
p. 193 – 194)
Ilustração 11 – (à esquerda) Entrada do Complexo, Saqqara, Egipto. Stierlin (Stierlin, 1992, p. 18); (à direita) Muro do Complexo,
Saqqara, Egipto. (Mateus, 2013)
Na construção desta muralha foram utilizadas cerca de 130 mil toneladas de pedra.
Esta caracteriza-se pelos sofisticados baixos-relevos e umbrais. No seu interior
encontra-se entre outros, a monumental pirâmide escalonada de 66 metros de altura,
várias capelas falsas e vários pátios de transição. O complexo surpreende pela sua
refinada arquitectura, esculturas em pedra, colunas trabalhadas, baixos-relevos e
detalhes arquitectónicos que nunca foram superados em todo o desenvolvimento
posterior àquela civilização. (Pirâmide de Saqqara, 2012)
O muro envolvente do complexo era composto por 15 pórticos iguais que escondiam o
único que possuía uma porta verdadeira, localizada na esquina sudeste. Aliás, tudo o
que ali foi construído apresenta um caracter fictício onde o que é valorizado é a
qualidade e o detalhe da própria arquitectura. Como refere Henri Stierlin 12 num dos
seus textos. (Pirâmide de Saqqara, 2012)
12
Henri Stierlin nasceu em 1928 em Alexandria no Egipto e possui nacionalidade Suíça. Historiador de
Arte e de Arquitectura é especialista no período islâmico. Publicou vários livros sobre os grandes
monumentos das culturas muçulmanas. Dedicou a maior parte da sua vida ao estudo das mesquitas
persas escrevendo um tese inédita relacionada com esse tema. Na companhia da sua esposa Anne, fez
muitas viagens em busca de tesouros da arte islâmica em países como a Espanha, Tunísia, Egipto, Síria,
Jordânia, Turquia, Iraque, Irão, Uzbequistão, Paquistão e India. As fotografias recolhidas nessas ocasiões
ilustram os livros que escreveu.
[…] l’architecture qui est née ici, en bordure de désert, est totalement factice: elle ne fait
que figurer la cité et l’habitat des vivants. Fausses portes et fausses crapaudines,
espaces internes inexistants, colonnes engagés qui ne sont qu’un décor plaqué sur un
mur ou disposé en extrémité de paróis. (Stierlin, 1992, p. 34)
A entrada agora reconstruida é constituída por uma galeria estreita com 20 pares de
colunas totalmente modulares, com 7 metros de altura e dispostas segundo princípios
arquitectónicos que se repetiriam milhares de anos depois no Pártenon. Henri Stierlin
também refere nos seus textos que em Saqqara é possível encontrar muitas das
características que séculos depois foram repetidas na arquitectura helénica. (Stierlin,
1992, p. 34)
Ilustração 13 – “World’s oldest known stone columns at Djoser’s step pyramid complez, Saqqara, Egypt”, Michael Stephens, (adaptação
a partir de Stephens, 2011)
Por fim, a arquitectura grega caracteriza-se por ser o exemplo maior da utilização do
sistema construtivo do trílito nos edifícios de maior importância tais como templo. O
arco, à semelhança da arquitectura egípcia é apenas utilizado em edifícios
secundários. O templo apresenta-se com proporções mais controladas comparando
com os edifícios monumentais egípcios. Aqui a relação de respeito e integração com
paisagem é um elemento importante. É também na arquitectura grega, mais
precisamente nos templos que surgem as ordens arquitetónicas, a dórica, jónica e
coríntia.
Hoje em dia sabe-se que o templo grego não era um edifício monocromo. Os tríglifos
eram azuis, as estrias das colunas pretas e o tímpano do frontão vermelho ou preto,
com o objetivo de destacar melhor a decoração escultórica.
13
Apelida-se um edifício de isódomo quando todas as pedras foram cortadas em esquadria, e com a
mesma altura, formando fiadas regulares e iguais.
Ilustração 14 – Sistema Construtivo de um templo Dórico grego do séc. V a.C., Grécia. (Benevolo, 2005, p. 79)
A ideia dos arquitectos gregos era criar o efeito ótico de leveza. Para isso inclinaram-
nas para o interior da estrutura. Para além disso todas elas se elevam sobre o
embasamento que por sua vez apresenta uma ligeira curvatura em relação às
extremidades. As correções óticas eram uma das características da arquitectura
grega, tal como refere Juhani Pallasmaa (2011, p. 25) quando diz que “A arquitectura
grega, com seus recursos requintados de correções óticas, já era extremamente
refinada para o prazer dos olhos”
A ordem dórica é a mais simples das três. Apresenta proporções robustas e uma
decoração austera. Caracteriza-se por formas rígidas e por isso, é apelidada de ordem
masculina. (Iniguez, 1960, p. 78)
A ordem jónica distingue-se da dórica pela esbeltez das suas proporções e pela
riqueza da sua decoração. Pretendia-se atribuir à coluna a delicadeza de um corpo
feminino. Ao contrário da coluna dórica, esta assenta sobre uma base, o que transmite
desde logo a existência de uma maior riqueza. Apresenta proporções mais finas e o
fuste é percorrido por vinte e quatro estrias unidas em aresta viva. (Iniguez, 1960, p.
80)
Por fim a ordem coríntia, que consiste apenas num capitel diferente uma vez que o
edifício que a utiliza segue as mesmas normas da ordem jónica. Por ter sido criada
tardiamente, já só foi utilizada nos últimos tempos da arte grega. Quem acabou por
utilizar mais esta ordem foram os romanos. (Iniguez, 1960, p. 82)
Para além destas três ordens, existe ainda uma que apenas foi utilizada pontualmente
e na qual o fuste da coluna foi substituído por uma figura humana. No caso de a figura
ser feminina, chamam-se cariátides, se forem masculinas, chamam-se de atlantes ou
télamones. (Iniguez, 1960, p. 83)
Ilustração 17 – Fuste em forma de figura feminina, (Erecteion), Atenas, Grécia. (Degrassi, 1982, p. 66)
Entre os vários templos que a compõem, o Pártenon (447-438 a.C.) é o que assume
maior importância do ponto de vista arquitetónico e cultural.
14
Ictinos foi o arquitecto que em conjunto com Calícrates projetou o Pártenon. Conhece-se pouco sobre a
sua vida mas sabe-se que viveu na segunda metade do séc. V a.C. Desenhou também o Templo de
Hefesto em Atenas, um dos mais bem preservados até hoje. Supõe-se que o primeiro templo conhecido
que utilizou a ordem coríntia nas suas colunas, o Templo de Apolo Epicuro em Bassae, tenha sido da sua
autoria.
15
Calícrates foi o arquitecto que em conjunto com Ictinos projetou o Pártenon. Mais tarde foi encarregado
por Péricles de levantar as muralhas que ligavam a cidade de Atenas ao porto de Pireu. Existem poucas
informações sobre ele.
16
Fídias foi um escultor ateniense da segunda metade do século V a.C.. Foi encarregado por Péricles de
dirigir as obras de escultura da Acrópole e do Parténon, templo onde executou a estátua de Atena. Outra
das suas monumentais obras foi a escultura de Zeus no Templo de Olímpia, considerada uma das sete
maravilhas do mundo, entretanto desaparecida.
17
O Monte Pentélico é um monte situado a nordeste de Atenas. É famoso pelo seu mármore e foi
utilizado na construção dos edifícios da Acrópole de Atenas assim como em inúmeras esculturas antigas.
O mármore é famoso pela sua cor branca uniforme, com um leve amarelado que o faz brilhar num tom
dourado à luz do sol. A antiga pedreira encontra-se protegida pelo governo grego e é usada
exclusivamente para o projeto de restauro da Acrópole.
A acrópole situa-se no ponto mais alto das cidades e é rodeada por muros tendo um
caracter defensivo e de refúgio em caso de ataques inimigos. No entanto os gregos
viam a cidade como um todo único. Esta podia ser circundada por muros mas não
subdividida em recintos secundários. As casas assumiam uma certa homogeneidade
ao nível da estrutura arquitetónica e apenas variavam em tamanhos. Encontravam-se
livremente distribuídas pela cidade e não formavam bairros reservados a determinadas
classes sociais. (Benevolo, 2005, p. 78)
Por outro lado, a arquitectura grega caracteriza-se por uma relação de integração e
respeito para com a paisagem.
Ilustração 21 – (à esquerda) “Elementos do arco radiante” (Colin, 2012) ; (à direita) “tipos de arcos”. (Colin, 2012)
Outra das principais inovações dos arquitectos romanos foi a utilização do arco em
conjunto com o sistema construtivo do trílito. O arco encaixa entre as colunas e o
entablamento. Com isto utiliza dois sistemas construtivos que podem funcionar de
modo isolado, mas que por serem esteticamente contraditórios criam um efeito
estético único e inovador. A horizontalidade e o repouso face à curva e ao dinamismo.
(Iniguez, 1960, p. 138)
Por sua vez, as abóbadas surgem a partir do arco e assumem uma grande variedade.
São utilizadas com grandes dimensões e a vencer vãos com proporções gigantescas,
tal como acontece no Panteão. O enorme peso que ganharam obrigou a construir
obras com paredes muito espessas daí que tenha surgido a necessidade de criar um
material de enchimento. Surgiu então o Opus Caementicium. (Iniguez, 1960, p. 140)
Outra das inovações introduzidas pelos romanos através da sua arquitectura foi uma
nova ordem arquitetónica mais rica do que as dos gregos. A ordem compósita que
surgiu a partir da junção do jónico com o coríntio. (Iniguez, 1960, p. 136)
O entablamento era tratado com uma maior liberdade criando-se pontos de realce
para produzir contrastes de claro/escuro mais intensos. As métopas da ordem dórica
eram decoradas com discos, rosas, etc. (Iniguez, 1960, p. 137)
Ilustração 25 – (à esquerda) Ordem Compósita. (Iniguez, 1960, p. 145) ; (à direita) Métopas da Ordem Dórica. (Iniguez, 1960, p. 139)
Também os elementos que refletem mais de perto os gostos gregos sofreram, todavia,
transformações. Um capitel coríntio nascido em Roma reconhece-se imediatamente
pela sua execução mais desembaraçada e pela sua exuberância ornamental. As
próprias dimensões são reveladoras: por vezes, a necessidade da adaptação à altura
de uma fachada pode conferir ao capitel, medidas gigantescas, desproporcionadas em
relação ao conjunto. (Tarella, 1985, p. 7)
O arco tornou-se tão importante para os romanos que acabou por tornar-se num
monumento independente. O arco de triunfo surge com o objetivo de festejar o
regresso de uma guerra vitoriosa, em que o general e as suas tropas desfilam através
de um arco, ou porta simbólica. (Tarella, 1985, p. 17)
No caso das termas, tornaram-se importantes não só ao nível construtivo mas também
pelo facto de introduzirem a ideia de banhos públicos. Nelas existiam ainda,
bibliotecas, salas de reunião e alojamento para atletas. (Iniguez, 1960, p. 150)
O arco – nascido devido às exigências práticas, aperfeiçoado e tornado cada vez mais
acessível ao apuramento da técnica – torna-se num elemento decorativo, que se pode
inserir com extrema coerência na articulação essencialmente curva da arquitectura
romana. (Tarella, 1985, p. 14)
A questão da frontalidade surgiu também porque nos templos romanos a cella deixou
de estar aberta para ser totalmente fechada por paredes. As colunas passaram a estar
adossadas a essas paredes cegas. Na fachada principal existia ainda um pórtico no
cimo da escadaria que fazia a transição para a cella. Um dos exemplos bem
conservados até hoje é o templo da Fortuna Virilis em Roma. (Tarella, 1985, p. 8)
Ilustração 29 – (à esquerda) Vista posterior e Planta do Templo Fortuna Virilis. Rizzoli. (adaptação a partir de Tarella, 1985, p. 6); (à
direita) Vista Frontal do Templo Fortuna Virilis, (Iniguez, 1960, p. 145)
Uma das grandes obras da arquitectura romana foi o Panteão de Roma. Não sendo
totalmente construído em pedra, é abordado na presente dissertação pela inovação
que introduziu naquela época ao nível dos sistemas construtivos, assim como, a
importância que teve para outras obras nos tempos que se seguiram.
O Panteão de Roma datado de 120-24 d.C. foi mandado erguer pelo imperador
Adriano18. Construído no local onde inicialmente tinha sido erguido um templo de
menores dimensões, e planta retangular, da autoria de Marcus Agrippa19, este
caracteriza-se por apresentar planta circular. (Stevenson, 1997, p. 14)
18
Públio Élio Trajano Adriano, conhecido por imperador Adriano, nasceu a em 76 e faleceu em 138 d.C.
Em Roma ordenou a construção do Panteão e do Templo de Vénus. Além de imperador era um
humanista. Viajou por quase todas as províncias do Império sendo um grande admirado da Grécia.
Tentou fazer de Atenas a capital cultural do Império e ordenou a construção de vários templos opulentos
na cidade.
19
Marco Vipsânio Agripa, em latim Marcus Vispanius Agrippa, nasceu em 63 a.C e faleceu em 12 a.C.
Foi um general e estadista do Império Romano. Foi também cônsul, governador da Síria e o general
máximo do exército romano. Destacou-se pela sua capacidade militar e política e pelas construções que
embelezaram a cidade de Roma. Foi também o autor do mapa do mundo antigo que elaborou com os
dados obtidos durante as suas viagens.
A enorme cúpula com 43m de vão que só foi igualada no sec. XIX demonstra o
poderio construtivo deste sistema. A construção romana com o Opus Caementicium
era económica, rápida e eficiente. A estrutura de madeira era construída por
carpinteiros especializados e o betão era fornecido e moldado por operários vulgares.
(Stevenson, 1997, p. 14)
A cella caracteriza-se ainda pelo facto de a espessura das paredes não ser maciça,
mas sim articulada por oito nichos profundos que alternam com outros semicirculares,
gerando assim a ideia de uma estrutura solida, calculada segundo proporções
geométricas. (Tarella, 1985, p. 10)
No centro da cúpula foi criada uma janela ocular que através dos seus 8m de diâmetro
serve, não só para iluminar o interior do espaço mas também para reduzir o peso na
parte central da construção. Cria-se assim uma sensação de simplicidade e unidade.
(Stevenson, 1997, p. 15)
Ilustração 34 – Vista do interior do Panteão Roma, Itália, Giovanni Piranesi. (Norberg-Schulz, 1983, p. 53)
A Catedral de Palma de Maiorca surge na presente dissertação por ser, não só, um
edifício monumental do período gótico mas também por ser um edifício por nós
visitado e que está relacionado com a obra do arquitecto Jorn Utzon, Can Lis.
Ilustração 36 – Catedral de Chartres, Chartres, França, Steve Cadman. (adaptação a partir de Cadman 2007) ; Catedral de Noyon,
Noyon, França, James Mitcheil. (adaptação a partir de Mitcheil, 2005) ; Catedral de Sant-Denis, Sant-Denis, França, François de
Nodrest. (adaptação a partir de Nodrest, 2011) ; Catedral de Amiens, Amiens, França, Denis Koch. (adaptação a partir de Koch, 2010)
20
A arte românica consiste no estilo artístico vigente na Europa entre os séculos XI e XIII. Este estilo
impôs-se principalmente nas igrejas católicas construídas após a expansão do cristianismo pela Europa e
foi o primeiro, depois da queda do Império Romano, a apresentar características comuns em várias
regiões.
Enquanto os romanos optavam, por vezes, por lançar arcos diagonais e enchiam o
espaço intermedio com argamassa, no gótico, os arcos torais e diagonais são soltos, e
sobre eles descansam os pedaços de abobada, também eles em pedra. (Capella
Navarro, 2006a, p. 10)
Ilustração 38 – Corte da Catedral de Notre-Dame de Paris, Paris, França. (Capella Navarro, 2006a, p. 8)
Tal como refere Christian Norberg-Schulz21 (1983, p. 99) “El exterior de la catedral há
perdido todo vestigio de recinto macizo”
Nas catedrais de três naves, a abóbada central é muito mais alta do que as laterais.
Isto é possível porque a sua pressão não necessita de ser compensada pelas laterais
uma vez que se utilizam os contrafortes exteriores. Com isto é possível criar muitas
aberturas sobre os arcos que separam as naves laterais da central. (Capella Navarro,
2006a, p. 12)
21
Christian Norberg-Schulz (1926-2000) formou-se em arquitectura em 1949 pelo Instituto Politécnico de
Zurich. Em 1950 voltou para o seu país, a Noruega e formou com Arne Korsmo, Sverre Fehn, Peter
Andreas Munch Mellbye, Geir Grung, Odd Østbye, Håkon Mjelva, Robert Esdaile e Jorn Utzon o grupo
PAGON (Grupo de arquitectos projetistas de Oslo, Noruega). Durante a década de 1950 desenharam
inúmeros projetos para Oslo e Bergen, que nunca chegaram a ser concretizados. Tornou-se famoso a
nível internacional através dos seus famosos livros sobre a história da arquitectura, mais precisamente a
arquitectura clássica italiana, o barroco e obras teóricas.
22
Leonardo Benevolo (1923-) é um historiador italiano, de arquitectura e urbanismo. Estudou arquitectura
em Roma, onde se gradou em 1946. Mais tarde foi docente de história da arquitectura em Roma,
Florença, Veneza e Palermo. O seu livro Storia dell’archittetura moderna (História da Arquitectura
Moderna) publicado pela primeira vez em 1960 foi reimpresso 18 vezes sendo uma das suas obras mais
importantes.
Ilustração 39 – Corte longitudinal da Catedral de Notre-Dame de Paris, Paris, França (adaptação a partir de Benevolo, 1991, p. 116)
Ilustração 40 – Porta da Catedral de Notre-Dame de Paris, Paris, França. (Navarro, 2006a, p. 16)
Tal como refere Benevolo (1991, p. 94) “la iglesia medieval no es ya un refugio sino que
se comunica com una totalidade más vasta y funciona como centro de un organismo
especial significativo.”
A cidade medieval caracterizava-se por possuir uma muralha que envolvia o denso
organismo urbano no qual a catedral funcionava como o núcleo central. (Benevolo,
1991, p. 96)
Ilustração 41 – Vista aérea da Catedral de Palma de Maiorca, Palma, Maiorca. (Catedral de Mallorca, 2013)
O carácter monumental da catedral reflete-se nos 6.600 m2 de área que ocupa. Possui
121m de comprimento e 40m de altura aproximadamente. No seu interior existe
espaço suficiente para acolher cerca de 18.000 pessoas. A sua construção foi iniciada
23
A pedra Marés é um arenito extraído das pedreiras de Palma de Maiorca e foi utilizada durante muitos
anos como o material construtivo de eleição. (Parday, 2004, p. 30)
no princípio do sec. XIV passando por várias fazes de construção. Ao longo do tempo
foi alvo de um processo de transformações motivadas pelos diferentes gostos de
várias épocas mas também, pelo facto de ter sofrido incêndios e danos físicos
causados pelo terramoto de 1851. É possível encontrar representados os estilos
gótico, renascentista, barroco e neoclássico, para além do modernismo através de
uma intervenção de restauro por parte do arquitecto Gaudí24 e mais recentemente,
uma intervenção contemporânea do artista maiorquino Miquel Barceló25 (Catedral de
Mallorca, 2013)
Ilustração 42 – Intervenção de Gaudí na Catedral de Palma de Maiorca, Palma, Maiorca (Bestourism, 2014)
24
Antoni Gaudí i Cornet (1852-1926) foi um famoso arquitecto catalão e uma figura do Modernismo
catalão. As suas obras revelam um estilo único e individual e estão na maioria concentradas na cidade de
Barcelona. Após vários anos sob a influência do neogótico e de técnicas orientais, Gaudi tornou-se parte
do movimento modernista catalão do final do século XIX e início do século XX. O conjunto da sua obra
transcende o próprio movimento, culminando num estilo orgânico único inspirado na natureza. Gaudi
raramente desenhava projetos detalhados, preferindo a criação de maquetes e moldar os detalhes à
medida que os concebia. A sua obra-prima é a inacabada Sagrada Familia em Barcelona.
25
Miquel Barceló (1957-) é um pintor espanhol nascido em Felantix, Maiorca. Estudou no Instituto de
Felantix e depois iniciou os estudos de arte na Escola de Artes e Ofícios de Palma de Maiorca. Em 1975
inscreveu-se na Escola de Belas Artes de Sant Jordi em Barcelona, onde continuou os seus estudos. Em
1976 integra um grupo maiorquino de arte conceptual chamado Taller Lunatic. Uma das suas principais
características é o tratamento da matéria pictórica nas suas pinturas para conseguir efeitos de relevo.
Miquel Barceló pretende incorporar o ritmo da vida e do tempo nas suas pinturas. É obcecado com o
significado da arte e como a pintura pode gerar significado. Em 1998 apresenta uma grande parte da sua
obra realizada entre 1987 e 1997, numa exposição no MACBA, Barcelona. No ano seguinte, numa outra
grande exposição no Museu Nacional Rainha Sofia, Madrid, a sua obra sobre papel realizada
entre 1979 e 1999. Ainda em 1999 recebe o Prémio Nacional da Catalunha de Artes Plásticas. Por fim,
em Junho de 2003 foi laureado com o Prémio Príncipe das Astúrias para as Artes.
Ao nível técnico é uma das catedrais góticas mais complexas e mais altas. Possui três
naves e a sua cabeceira é formada por três absides26. Cada nave possui 8 tramos, dos
quais todos medem 9,15m à exceção do quinto que corresponde aos portais laterais e
por isso é mais largo medindo 12,40m. Cada um dos tramos corresponde em ordem
decrescente a: nave central, naves laterais e capelas entre os contrafortes. Como era
tradição, a nave central é bastante mais alta do que as laterais. Junto a cada nave
lateral encontram-se oito capelas, perfazendo um total de dezasseis, sendo duas delas
o Portal del Mirador e o Portal del Almoina. Tanto as naves como as capelas são
cobertas por abobadas de cruzaria ogival exceto a capela correspondente ao portal de
Almoina que está coberta com uma abóbada de aresta. (Catedral de Mallorca, 2013)
26
Abside é a ala de um edifício que se projeta para fora de forma semicilíndrica ou poliédrica e em que o
remate superior é geralmente uma semicúpula.
A nave central mede 43,30m de altura por 19,30 de largura enquanto as laterais
medem 29m de altura por 10m de largura. Estas dimensões em conjunto com os 121m
de comprimento fazem com que quando entramos neste espaço nos sintamos
extremamente pequenos. A sensação de espaciosidade é reforçada pela esbeltez
estrutural. Existem apenas 14 pilares a separar as naves laterais da nave central, 7 em
cada uma, distanciados de 7,74m e com 21,47m de altura, cada um. (Catedral de
Mallorca, 2013)
Ilustração 44 – Vista interior da Catedral de Palma de Maiorca, Palma, Maiorca, Joana. (Catedral de Mallorca, 2013)
Ilustração 45 – (à esquerda) Rosácea e arcos em ogiva, Palma, Maiorca” (Lostonsite, 2009) ; (à direita) Rosácea da Fachada Principal,
Palma, Maiorca (Ilustração nossa, 2013)
O modo como os arquitectos começaram a olhar para este material está diretamente
relacionado com o processo de evolução tecnológica, que por sua vez, permitiu o
surgimento de novos materiais de construção, substituindo assim os tradicionais como
a pedra. Esta deixou de ser o principal material de construção para passar a ser um
material de revestimento. As questões culturais, o sítio, a tradição são postas de parte
em muitos casos para dar lugar a uma arquitectura que pretende mostrar, cada vez
mais, o poder da tecnologia. Ainda associado a este facto, encontra-se o modo como
os arquitectos do Movimento Moderno passaram a olhar para a aquitectura. Le
Corbusier foi o protagonista da célebre frase que ajuda a justificar o novo modo de
pensar, “a casa é uma máquina de habitar”. (Le Corbusier apud Tostões, p. 3)
Sendo um material natural, era uma matéria-prima fácil de encontrar. Inicialmente era
utilizada na sua forma natural. Posteriormente passou a ser tralhada com processos
manuais. Por fim, aquilo que fez com que este material ganhasse outra expressão e
fosse utilizado com novos princípios e novos objetivos foi a possibilidade de o
trabalhar mecanicamente. A evolução tecnológica e os princípios inovadores da
arquitectura moderna estiveram na origem da alteração do modo como este material
passou a ser utilizado na arquitectura.
27
Ana Tostões formou-se em arquitectura pela Escola de Belas-Artes de Lisboa, tirou o mestrado em
História da Arte Contemporânea pela Universidade Nova de Lisboa e é doutorada pelo Instituto Superior
Técnico onde é professora associada responsável pelo grupo de disciplinas de História e Teoria da
Arquitectura. Publicou diversos livros e tem mantido actividade como crítica de arquitectura no Jornal
Público.
Por outro lado, o que fez com que materiais tradicionais como a pedra fossem
praticamente excluídos dos processos de construção modernos foi o facto de terem
surgido materiais estruturais como o ferro, o aço e o betão armado. Estes materiais
artificiais permitiram o surgimento de novas formas de edificação, ajustadas às ideias
do movimento moderno. (Tostões, 2004, p. 2)
O objeto arquitetónico passou a ser visto muitas vezes como um objeto de duas faces.
A face construtiva e estrutural e a face material e de revestimento da estrutura.
Por todos estes motivos, pode afirmar-se que “as transformações na construção do
século XX decorrem fundamentalmente da influência dos progressos técnicos quer
sobre o universo dos materiais de construção, quer sobre o desenvolvimento e
aperfeiçoamento dos sistemas.” (Tostões, 2004, p. 1)
A pedra que deixou de ser utilizada como material de construção perdeu também o
seu caracter maciço. No séc. XX este material passou a ser utilizado pelos arquitectos
como um material que expressa qualidade e riqueza. Associada aos novos processos
construtivos, a utilização da pedra como material de revestimento interior e exterior
passa a ser uma expressão de modernismo, inovação e poder tecnológico. A pedra
passou a ser laminada e viu a sua estereotomia interior ser exposta em paredes,
fachadas e pavimentos. Os arquitectos fizeram dela um objeto de decoração e
exposição, gerando espaços únicos e irrepetíveis tendo em conta as características
físicas deste material. Surgiram ainda uma grande variedade de possibilidades de
acabamentos e texturas que por sua vez permitiram aos arquitectos gerar espaços
com ambiências únicas e distintas. A pedra passou a ser trabalhada de um modo
distinto do que acontecia no passado, deixando de ser ornamentada para surgir com
formas simples e lisas, mais ou menos polidas consoante as intensões projetuais.
28
Adolf Loos (1870-1933) nasceu em Brno na República Checa. Formou-se em arquitectura na
Technische Hochschule de Dresdeb. Trabalhou como desenhador durante três anos nos Estados Unidos
da América, onde tomou contacto com as mais recentes manifestações de arquitectura modernista, como
os edifícios da Escola de Chicago e da civilização moderna, representada na Feira Mundial de Chicago.
Em 1896 voltou para a Europa e iniciou a sua carreira de arquitecto. Em 1907 realizou um dos seus
primeiros projetos conhecidos, o American Bar. Entre 1909 e 1911 construiu o edifício de habitação e
comércio da Michaelerplatz localizado no centro de Viena. Projetou entre outros a casa Muller (1930), em
Praga, que ficou famosa pelo seu elaborado interior no qual os espaços se interpenetram e se expandem
livremente em pés-direitos duplos e diferenças de cota dos pavimentos. Loos apelida esta qualidade
espacial de raumplan.
Ilustração 47 – Vista frontal do edifício, Viena, Áustria. Roberto Schezen. (Schezen e Rosa, 1996, p. 57)
Este foi um edifício extremamente criticado na época. Foi o primeiro edifício moderno
de Viena e sendo Loos o pioneiro do famoso texto “Ornamento e Crime” o projeto
caracteriza-se por seguir os princípios do movimento moderno e evita ao máximo a
utilização de ornamentação. A título de curiosidade, o facto de Loos não ter proposto
molduras para os vãos e a descontextualização face aquilo que vinha sendo a tradição
da aquitectura em Viena, fez com que a obra parasse e obrigou-o a tomar decisões,
apoiado por Otto Wagner29, tais como propor vasos para os mesmos, tal era a
contestação por parte da população. (Schezen e Rosa, 1996, p. 56)
Loos de modo a fugir ao máximo da ornamentação optou por fazer uma utilização
moderna da pedra. Utilizou um mármore grego chamado Cipollino de Euboea, o qual
funciona como revestimento da estrutura de betão armado na fachada do piso de
29
Otto Wagner (1841-1918) nasceu em Penzing na Áustria. Estudou na Escola Politécnica de Viena,
frequentou a Academia Real de Construções de Berlim e concluiu a sua formação em arquitectura na
Academia de Belas-Artes de Viena. Em 1980 desempenhou o cargo de urbanista do município de Viena.
Enquanto arquitecto foi autor de inúmeros edifícios de habitação em Viena, sendo o mais conhecido a
Casa de Majolika. Durante o último período da sua carreira profissional, a sua gramática formal torna-se
mais simples e menos decorativa e ornamentada. Foi professor na Academia de Belas-Artes de Viena a
partir de 1984 e publicou alguns ensaios, de entre os quais sobressai o livro Modern Architektur em 1895.
Ilustração 48 – (à esquerda) Superfícies de pedra, Viena, Áustria, Schezen. (Schezen e Rosa, 1996, p. 59) ; (à direita) Superfícies de
pedra, Viena, Áustria, Schezen. (Schezen e Rosa, 1996, p. 61)
O edifício caracteriza-se pela fluidez espacial oferecida pela planta livre, assume uma
geometria simples e funciona com planos perpendiculares que formam o espaço
tridimensional e a divisão do mesmo. Para além dos espaços tratados com um
caracter minimalista31, apresenta pilares metálicos em forma de cruz grega que
servem de suporte da cobertura.
30
Mies Van der Rohe (1886-1969) nasceu em Aachen na Alemanha. Estudou dois anos na escola do
comércio e trabalhou posteriormente como desenhador de estuques. Esteve ligado ao movimento
expressionista alemão “Novembergruppe” e tornou-se vice presidente do Werkbund em 1926. No ano
seguinte organiza a exposição do Weissenhof, em Estugarda. Foi o autor do desenho do pavilhão alemão
na Exposição Internacional de Barcelona, em 1929. Em 1930 constrói a casa Tungendhat em Brno, na
qual concretiza os conceitos arquitetónicos contidos no pavilhão de Barcelona mas desta vez aplicados a
uma habitação unifamiliar. Nesse mesmo ano assume o cargo de diretor da escola Bauhaus fruto do
grande prestígio profissional que acumulou. A casa Farnsworth em Ilinóis construída na década de 40
constitui um dos seus projetos residenciais mais radicais.
31
O minimalismo desenvolveu-se no final dos anos 60 e prolongou-se até a década de 70. Apresenta a
tendência para uma arte despojada e simples, objetiva e anónima. Recorrendo a poucos elementos
plásticos e compositivos reduzidos a geometrias básicas, procura a essência expressiva das formas, do
espaço, da cor e dos materiais enquanto elementos fundadores da obra de arte. Para caracterizar este
movimento artístico pode empregar-se o célebre aforismo do arquitecto Mies Van de Rohe “menos é
mais”. Uma das principais influências desta corrente foi o pintor suprematista Kasimir Malevitch e as suas
criações artísticas abstratas que levavam ao limite a simplificação geométrica.
Ilustração 50 – “Planta do pavilhão original, Barcelona, Espanha” Mies van der Rohe. (Vegesack, 1998, p. 160)
Ilustração 51 – (à esquerda) Detalhe construtivo, Barcelona, Espanha. (Vegesack, 1998, p. 161) ; (à direita) Detalhe construtivo pilar
metálico em cruz grega, Barcelona, Espanha. (Vegesack, 1998, p. 162)
Mies utilizou quatro tipos de mármores neste edifício. O travertino romano, o mármore
verde Alpine, outro mármore verde proveniente da Grécia e o Onyx dourado
proveniente das montanhas de Atlas também na Grécia. Mais uma vez a pedra é
utilizada de modo laminar, neste caso como revestimento de paredes e pavimentos,
apresenta vários tipos de acabamento e vê exposta a sua estereotomia interna como
elemento de nobreza decorativa. O modo como são cortadas e trabalhadas expressa o
ideal moderno de rigor geométrico, precisão e unidade do conjunto. (Fundació Mies
Van der Rohe, 2014)
Uma das características específicas deste projeto mas que está diretamente
relacionada com a sua geometria e materialidade é o facto de ser um objeto de
reflexões de luz. A luz assume uma importância especial em conjunto com a
materialidade na procura por uma decoração simples, rigorosa e moderna. Associado
a esta ideia de reflexão surge ainda um espelho de água.
“Sunlight, in the German Pavilion, is one of the foremost decorative motifs. Indeed, it
may be the most important, in this labyrinth of larges planes, straight lines and bare,
plain walls” (Marsà et al. apud Quetglas, 2001, p. 15)
É interessante constatar que apesar de ser considerada uma possibilidade que surgiu
com a inovação tecnológica e o séc. XX, em arquitectura dificilmente se inventa algo
de novo. Já na época dos romanos a pedra foi utilizada como elemento de
revestimento. O coliseu de Roma32 é um dos edifícios mais emblemáticos da
arquitectura romana e é caracterizado por ser construído através do inovador sistema
construtivo baseado no Opus Caementicium e por fim, de modo a lhe atribuir um maior
valor estético, este foi revestido a pedra. (Ilustração 53)
Quando abordamos esta ideia de comparação entre o que foi feito no passado e o que
o séc. XX e a inovação tecnológica veio permitir, torna-se interessante comparar
situações de proximidade como é o caso do Centro Cultural de Belém (CCB) e do
Mosteiro dos Jerónimos.
32
O Coliseu de Roma é um anfiteatro romano em forma oval. Foi mandado construir por Vespasiano por
volta do ano 70, e foi concluído, com três andares, em 82 por Domiciano. No século III foi-lhe
acrescentado mais um andar. Possui uma altura de 48m, e bancadas em mármore (entretanto
desaparecido) e a capacidade era de 50.000 espectadores. O recinto destinava-se ao combate de
gladiadores e à representação de tragédias e comédias. Também foi o palco onde muitos cristãos
perderam a vida, lançados às feras.
O Mosteiro dos Jerónimos é uma obra do séc XVI, iniciada em 1501 a pedido do Rei
D.Manuel I33. Possui uma fachada com mais de trezentos metros, o que, entre outros
aspetos lhe atribui um caracter monumental. A robustez do edifício é conferida pelos
sistemas construtivos utilizados baseados na construção em pedra. No caso foi
utilizada a pedra lioz que é um tipo de rocha calcária característica da zona. (Portugal,
2014)
33
D. Manuel I (1469-1521) foi o décimo quarto rei de Portugal (1495-1521). Conhecido pelo cognome de
“o Venturoso”, foi na sua época que surgiu o estilo manuelino, caracterizado por motivos inspirados no
mar e nas grandes viagens, representados em monumentos tais como o Mosteiro dos Jerónimos e a
Torre de Belém.
34
Vittorio Gregotti (1927-) é um arquitecto italiano formado pelo Instituto Politécnico de Milão em 1952.
Iniciou a atividade profissional associado aos arquitectos Ludovico Menegheti e Giotto Stoppino. Em 1974
fundou o atelier Gregotti Addociatti. Além da atividade de projetista, dedica-se à crítica de arquitectura e
ao ensino. Na primeira fase da sua carreira procurou encontrar vias em alguns modelos do Movimento
Moderno mas, desde os finais da década de sessenta, radicaliza a sua posição dando importância à
composição formal do edifício e à relação com o sítio sem, no entanto, deixar de procurar a simplicidade
nos resultados finais. É também professor de composição arquitetónica no Instituto Universitário de
Arquitectura de Veneza.
35
Manuel Salgado (1941-) é um arquitecto português formado pela Escola Superior de Belas-Artes de
Lisboa em 1966. Coautor com Vittorio Gregotti da proposta vencedora do concurso para o Centro Cultural
de Belém, em 1989. Foi ainda responsável pelo projeto de ordenamento do recinto da Feira Mundial de
lisboa – Expo’98, entre outros.
Ilustração 54 – (à esquerda) Vista aérea da Praça do Império, Lisboa, Portugal. (Gomes, 1993, p. 63) ; (à direita) Centro Cultural de
Belém, Lisboa, Portugal. (Gomes, 1993, p. 76)
É precisamente a questão do modo como a pedra é utilizada hoje em dia que leva a
uma conclusão. No passado a pedra era o material preferencial ao nível geral das
construções em arquitectura, não só pelas suas características mas também por ser o
material adaptável aos sistemas construtivos possíveis e conhecidos na época. Com a
evolução tecnológica e associada ao surgimento de novos materiais e, por
conseguinte, novos sistemas construtivos, a pedra assumiu uma outra importância
para os arquitectos. Deixou de ser um material construtivo de eleição para passar a
ser um material utilizado no revestimento da estrutura, seja revestimento interior ou
exterior. No caso do interior, a utilização da pedra confere aos espaços um brio
particular e um caracter de nobreza e riqueza. Por outro lado o revestimento exterior é
em muitos casos utilizado como estratégia para criar relações de integração e relação
com a paisagem e o lugar, ou até mesmo, apenas para responder a questões
relacionadas com estratégias projetuais.
36
A fachada ventilada é um sistema de revestimento dos paramentos do edifício que deixa uma câmara
ventilada entre o revestimento e o isolamento. Nos círculos académicos europeus, é considerado como o
sistema mais eficaz para solucionar o isolamento do edifício, eliminando as indesejáveis pontes térmicas
assim como os problemas de condensação e obtendo deste modo um excelente comportamento térmico-
higrométrico do edifício.
3. REFERÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS
Estes são apenas três exemplos entre muitos outros. São três casos de estudo
diferentes com objetivos e programas distintos, mas que se relacionam pelo facto de
se inserirem numa paisagem natural e dos arquitectos terem utilizado um material
local, no caso a pedra, para conseguirem uma sintonia entre o objeto arquitectónico e
a paisagem. Os projetos estudados refletem preocupações e princípios diferentes por
parte dos arquitectos, o que os torna ainda mais interessantes numa perspetiva de
interpretação e relação com o tema da dissertação.
Os Casos de estudo são Can Lis em Palma de Maiorca, do Arquitecto Jorn Utzon, o
Museu da Luz na Nova Aldeia da Luz, dos arquitectos Pedro Pacheco e Marie
Clément e por fim, o Centro de Monitorização e Investigação das Furnas +
Residências (CMIF), nos Açores, dos arquitectos Manuel Aires Mateus e Francisco
Aires Mateus.
37
A ideia de Regionalismo Critico foi abordada primeiramente por Alex Tzonis e Liane Lefaivre e
posteriormente por Kenneth Frampton. Consiste em assumir uma perspetiva crítica em relação à
arquitectura universal e racional introduzida pelo Movimento Moderno. A estratégia seria um progresso
aliado às origens. Reconhecer a importância dos valores regionais e interagi-los com os valores
internacionais. A cultura regional, a questão da topografia, do clima, da luz, os sistemas construtivos, tudo
isto, associado às técnicas modernas.
Can Lis, da autoria do arquitecto Jorn Utzon, foi escolhido como caso de estudo por
ser um exemplo que para além de estar muito bem integrado na paisagem e ser
construído com a pedra local, é um projeto que oferece muito mais a quem o estuda. A
estratégia do arquitecto, as relações que estabelece com a arquitectura tradicional
maiorquina e o modo como ele torna esta casa num vasto conjunto de detalhes e
experiências sensoriais, tornaram-no num estudo muito enriquecedor para um
estudante de arquitectura. Tudo parece ter sido pensado ao pormenor e sempre numa
relação de simbiose entre o objeto, o espaço, a luz e o meio envolvente.
Ilustração 55 – Vista de Can Lis a partir do mar mediterrâneo, Maiorca, Flemming Bo Andersen. (Pardey, 2004, p. 40)
Utzon usa a pedra e os sistemas construtivos locais, de modo a conseguir com maior
facilidade, integrar um edifício contemporâneo numa paisagem natural delicada e
consolidada, e fazer com que este aparente sempre ter lá estado e ser pertença do
local e da paisagem.
“These stones and beams were all sourced locally from builders' merchants and
Utzon's inventiveness in using these everyday materials is part of the magic of Can Lis”
(Pardey, 2004, p. 26)
O arquitecto demonstra com este projeto o modo como aborda o sítio, o estudo que
faz da arquitectura tradicional maiorquina, a influência que outros projetos tiveram nele
e a estratégia que usou para “amarrar” o edifício ao sítio.
“Here, nature provides the stone and the architect uses it to frame nature, establishing
a reciprocal relationship between man and the elements” (Pardey, 2004, p. 9)
Can Lis é uma proposta que surge no desenrolar de uma investigação que o arquitecto
vinha fazendo já há alguns anos. Na casa, para além dos seus princípios de projeto, é
possível verificar que Utzon sofreu a influência de vários arquitectos.
Utzon utilizou este projeto como expressão dos seus princípios, que passavam por
defender uma ideia de arquitectura contemporânea e inovadora ligada às questões
culturais e ao sítio. Construiu uma casa contemporânea seguindo sistemas
construtivos e materiais tradicionais. Can Lis é um exemplo de arquitectura que
Um dos primeiros projetos no qual Utzon começou a sua investigação foi uma
proposta de uma colónia de férias para crianças que sofriam de poliomielite no pós-
guerra. Este projeto não passou do papel, no entanto, foi uma primeira abordagem à
chamada “topographic architecture”. (Pardey, 2004, p. 11) Consistia num conjunto de
blocos ligados entre si, dispostos sobre um afloramento rochoso tangente ao mar.
Segundo Pardey38 (2004, p. 11)” The plan, like Frank Lloyd Wright’s39 “Fallingwater”, is
organized around a series of rocks, anticipating Utzon’s later fascination with the stone
and rugged terrain of Majorca.”
Ilustração 56 – Colonia de férias para crianças com poliomielite (1957), Maiorca. Jorn Utzon. (Pardey, 2004, p. 11)
38
John Pardey é um arquitecto xx. Fundou em 1987 o atelier “John Pardey architects”, sediado em
Londres. Venceu cerca de vinte prémios nacionais e internacionais. É atualmente professor convidado da
Universidade de Arquitectura de Cardiff.
39
Frank Lloyd Wright (1867-1959) foi um arquitecto norte-americano. Tornou-se conhecido por ser o
criador da “arquitectura orgânica”, conceito que teorizou por diversas vezes e que preside a construções
onde se pretende criar uma harmonia entre os seus habitantes e o ambiente que as rodeia.
Desde este momento, Utzon inicia a sua pesquisa relativamente a uma estratégia de
projeto que passa por criar um conjunto articulado de volumes ligados entre si,
dispostos no terreno, adaptados à topografia do sítio e relacionados com pátios.
Ilustração 57 – (à esquerda) Casa de Hellebaek, Dinamarca, John Pardey. (Pardey, 2004, p. 13) ; (à direita) Casa Zui-Ki-Tei,
Estocolmo, Suécia, Byggmasterren (Pardey, 2004, p. 10)
Com a vitória no concurso para a casa de baixo custo em Skane na Suécia, Utzon
começou a “cristalizar” o vocabulário para a chamada “domestic architecture”. O mote
da sua proposta era a “vida privada”. Esta proposta foi importante não só porque
marcou um longo percurso no estudo da casa pátio mas também porque aumentou o
seu fascínio pela parede cega e encerrada como proteção do espaço privado. (Pardey,
2004, p. 12)
A proposta de Skane (1954) venceu o concurso mas nunca chegou a ser construída.
No entanto a ideia base foi reaproveitada e utilizada no projeto das Kingo Houses
apoiado pelo presidente de Helsingor. A casa pátio em Núbia, no Egipto, foi a grande
influência de Utzon neste projeto. Os espaços envolvem um pátio central, sendo todo
este conjunto envolvido por uma parede exterior. (Pardey, 2004, p. 12)
Ilustração 59 – (à esquerda) “Casas Kingo (1957), Helsingor, Dinamarca, Jorn Utzon. (Pardey, 2004, p. 14) ; (à direita) Casa em Núbia,
Egipto, John Pardey. (Pardey, 2004, p. 13)
Ilustração 60 – Casa Fredensborg, (1965), Noruega, Jorn Utzon. (Pardey, 2004, p. 14)
Entretanto teve outros projetos não construídos, nos quais aprofundou e estudou a
estratégia de volumes interligados, como por exemplo, num projeto de residências
para a cidade de Birkehoj, em 1960. (Pardey, 2004, p. 14)
Ilustração 61 – Projeto de residências para Birkehoj (1960), Jorn Utzon. (Pardey, 2004, p. 14)
The standardized building elements will be combined in such a way... in the flats and in
the single houses themselves to get a combination without the awful stiffness well-
known from many modern housing schemes. There are many ways to arrange the
same books on a book shelf. (Utzon apud Parday, 2004, p. 14)
Todas as experiências arquitetónicas e tudo o que Utzon estudou até à proposta das
casas Maiorquinas fizeram com que estas estejam perfeitamente integradas no sítio e
na paisagem.
Utzon used to come the cliff-top site before Can Lis was built and climb down to site in a
cave almost directly below the site. The unity of place and view, of shelter and exposure
that he experienced there became, he explains, the feeling he wanted to recreate in his
new home”. (Pardey, 2004, p. 17)
40
Can Feliz (1994) foi a segunda que Utzon construiu em Maiorca. Localizada numa serra perto de
S’Horta, Utzon procurou recolher-se num ambiente de calma e manter o contacto intenso com a natureza.
(Pardey, 2004, p.42)
A primeira proposta que Utzon fez para aquele sítio no topo da falésia, que ele
apelidou de Casa Olicia, data de 1970, e baseia-se nos princípios do projeto para
Bayview. Esta proposta consistia em três volumes distribuídos ao longo de um pátio,
unidos por um muro contínuo, apenas quebrado no ponto do acesso ao interior. Os
elementos fulcrais da proposta final já estavam presentes nesta primeira proposta. A
muralha defensiva envolvendo toda a proposta, o pátio envolvido por uma colunata,
orientado e abrindo-se para o mar Mediterrâneo, a sala de estar com os vãos em
forma de cone, os quartos que surgem como cavernas em que as camas estão no
fundo e os vãos funcionam também eles em forma de cone, criando profundidade.
(Pardey, 2004, p. 17)
Ilustração 63 – Casa Olicia (1970), Porto Petro, Maiorca, Jan Utzon. (Pardey, 2004, p. 17)
Estas duas propostas conduziram até ao desenho final, construído em 1972. Segundo
Parday (2004, p. 37) “is has the appearance of a beautifully crafted work of geometry,
something classical that fell from the skies and crashed onto the stone platform on the
cliff top, adjusting itself to the situation”
A aproximação à casa é feita a partir de uma rua secundária, com o nome do próprio
arquitecto, pouco movimentada, na qual temos, de um lado, uma vegetação
abundante, e do outro, as casas que se localizam no cume do penhasco. Can Lis é
facilmente reconhecível, não só porque é construída com a pedra local, mas também
porque se anuncia através um banco forrado a azulejo branco e preto junto à entrada.
Esta característica permite identificar logo que estamos na presença da casa do
arquitecto Jorn Utzon.
Ilustração 65 – (à esquerda) Placa indicativa da rua com o nome do arquitecto Jorn Utzon, (Ilustração nossa, 2013) ; (à direita) Vista da
fachada principal da casa. (Ilustração nossa, 2013)
Quando passamos pela porta de entrada, que separa o espaço exterior público do
espaço exterior privado, somos confrontados com um painel de azulejos no qual está
recortada uma “meia-lua” e através da qual temos um primeiro contacto com o
“horizonte emoldurado”.
41
Louis Kahn (1901-1974) foi um arquitecto norte-americano. Formou-se em arquitectura pela
Universidade da Pennsylvania em 1924. Posteriormente partiu para a Europa para prolongar os seus
estudos. A sua obra caracteriza-se por combinações de formas geométricas puras, por vezes inspirando-
se na arquitectura clássica ou medieval.
O interior da casa é rude tal como afirma Pardey (2004, p. 24) quando refere que,
“Each space is modest and possesses a raw domestic quality, suggesting a earthy
natural life.” Não existem sinais de modernidade nem aparelhos de cozinha. As
prateleiras da dispensa são em pedra forrada com azulejos brancos. A única peça
relativamente sofisticada é o tubo de alumínio que atravessa a sala de jantar e que
serve de suporte às lâmpadas. (Pardey, 2004, p. 24)
42
As bovedillas são um sistema tradicional que consiste em utilizar telhas de barro em forma de arco, no
intervalo entre vigas. (Parday, 2004, p. 60)
Ilustração 68 – (à esquerda) Vista interior da cozinha, Bent Ryberg. (Pardey, 2004, p. 25) ; (à direita) Suporte para a iluminação. John
Pardey. (Pardey, 2004, p. 25)
Enquanto o pátio principal de Can Lis se abre para o horizonte, a sala de estar, um
dos espaços mais importantes e característicos desta casa, parece criar uma unidade
entre o lugar e o horizonte. O espaço apresenta-se como um cenário dramático mas
convidativo. Distingue-se dos restantes espaços da casa por possuir um pé-direito
mais alto. No interior deste espaço somos confrontados com uma luz coada e um
silêncio absoluto. A ausência de molduras nos vãos deixa-nos em dúvida sobre a
existência ou não do vidro. No entanto apercebemo-nos que ele está lá, não só pelo
silêncio, mas também, pelo conforto térmico que existe no interior deste espaço
construído em pedra. Sentimo-nos como se estivéssemos no interior de uma caverna,
à semelhança do que referiu Parday (2004, p. 7) “It was like walking into a cave
looking out across the sea”
“Here this is linked to an explosive view out toward the horizon, balanced by a quality
of glare-free light and reinforced by the earthy smell of stone and by a sudden silence
that momentarily disorientates: time seemed to stop.” (Pardey, 2004, p. 7)
“The tension between deep enclosure and projected view combines in the sensation of
being sucked out of the five large, deep apertures into the ocean; yet at the same time,
the horizon seems to be pulled right into the room – an enthralling ebb and flow, like
that of the ocean” (Pardey, 2004, p. 7)
Em planta, os cinco vãos em forma de cone, apresentam uma semelhança com o que
acontece no Teatro Olimpico de Palladio43 em Vicenza. Outra das relações que é
possível encontrar é com a casa Errazuriz e a Capela de Ronchamp de Le
Corbusier44. (Pardey, 2004, p. 31)
43
Andrea Palladio (1508-1580) foi um dos principais arquitectos do renascimento italiano. Nas suas villas
usou os motivos da arquitectura clássica – pilastras, colunas, frontões – sem contudo lhes atribuir a
monumentalidade inerente aos modelos da antiguidade mas sim conferindo-lhes uma escala humana. A
sua última grande obra foi o Teatro Olímpico em Vicenza, inspirado nos teatros romanos e possuidor de
um cenário permanente representando ruas com fachadas de estilo clássico.
Ilustração 73 – Teatro Olimpico (1580), Vicenza, Itália, John Pardey. (Pardey, 2004, p. 32) ; Ronchamp Chapel (1950), França
Fondation Le Corbusier. (Pardey, 2004, p. 32) ; Errazuris (1930), Chile, John Pardey. (Pardey, 2004, p. 32)
No entanto, e como refere Parday (2004, p. 31) “Utzon’s stone eyes onto the ocean
are the original invention of an architect at the height of his powers”.
“(…) a small window placed high on the west wall of the room, begins to burn bright.
This fire spreads slowly across the stone surface, becoming a fierce glow. Within five
minutes, a gash of sun cuts across the suddenly living texture of the honey-coloured
stone. This slice of sun, a daily cosmic revelation, becomes a kind of timepiece, marking
out the progress of the earth in its orbit around the sun.” (2004, p. 7)
A solução para resolver os vãos derivou da interpretação que Utzon fez do projeto da
igreja de St Mark do arquitecto Lewerentz45. Este foi a sua grande influência para
resolver o problema que ele tinha no remate dos vãos uma vez que as pedras
assumiam ângulos diversos. Nesta igreja, a solução consistia simplesmente em colar o
vidro à face externa da parede. Com isto Utzon conseguia também criar a união que
ele pretendia, entre o interior do espaço e o horizonte, emoldurado e focado através
dos cones de pedra. (Pardey, 2004, p. 62)
Ilustração 76 – Vão da Igreja de St Mark, Klippan, Suécia, Richard Weston. (Pardey, 2004, p. 62)
45
Sigurd Lewerentz (1885-1975) foi um arquitecto sueco. Estudou na Alemanha, fundou atelier em 1911
e trabalhou em associação com o arquitecto Gunnar Asplund.
Ilustração 77 – (à esquerda) Pátio por detrás da fachada principal. Acesso aos quartos. (Ilustração nossa, 2013) ; (à direita) Quarto.
(Ilustração nossa, 2013)
Por fim, no último volume encontramos um pátio exterior, coberto, onde o mobiliário
forrado a azulejo de vidro está mais uma vez presente. O espaço do lobby divide uma
pequena instalação sanitária do quarto que apresenta características muito
semelhantes aos outros dois. Este volume funciona como um anexo. (Parday, 2004, p.
37)
Este tipo de pedra foi utilizado, por exemplo na construção da Catedral de Palma de
Maiorca. A pedra Marés apresenta uma cor dourada e um acabamento com textura
arenosa. Esta textura deriva do facto de a pedra ser cortada com uma serra circular.
(Pardey, 2004, p. 30)
Ilustração 81 – (à esquerda) Pedra Marés. Richard Weston. (Pardey, 2004, p. 27) ; (à direita) Catedral Palma Maiorca, Palma, Maiorca.
(Ilustração nossa, 2013)
Utzon pediu para que estas marcas concêntricas fossem mantidas, de forma a evocar
abstratamente as “conchas” da Opera de Sydney. O material ganha assim uma
expressão de movimento e de vida. (Pardey, 2004, p. 30)
No pavimento Utzon optou por uma pedra ligeiramente diferente. Esta, também de
pedreiras da zona, apresenta uma textura mais densa e uma cor cinza, absorvendo
assim o brilho refletido do sol. (Pardey, 2004, p. 30)
Utzon says, with characteristic understatement, that it is all so simple, no more than the
way birds know instinctively where to nest on a cliff-top. Almost a small village in stone,
the house seems as if it has been there for centuries, yet it also feels unique and new.
(Pardey, 2004, p. 37)
Utzon sempre se interessou muito pelas formas naturais e isso influenciou-o muito ao
longo da vida e nos seus projetos. A unidade da proposta baseia-se muito no facto de
ele utilizar um conjunto de peças bem definidas e em número reduzido no que diz
respeito à variedade: os blocos de pedra, as vigas de betão em forma de “I” e as
bovedillas. (Pardey, 2004, p. 58)
O facto de Utzon utilizar apenas estes materiais e serem todos adquiridos nos
comerciantes da zona, para alem de usar um sistema construtivo tradicional
maiorquino, contribuem muito para que aquela casa surja bem integrada no local e
como se sempre lá estivesse estado, pertence ao lugar.
“In Maijorca the construction is based on the appropriate materials for the location”
(Pardey, 2004, p. 58)
Os blocos iam sendo colocados uns sobre os outros e nivelados com a ajuda de
pequenas cunhas de madeira. A argamassa ligante era à base de cal. A pedra podia
ser facilmente cortada através de uma serra de mão, (Pardey, 2004, p. 58)
Can Lis foi um projeto pensado em várias fases. Inicialmente pensada por Utzon como
se fossem cubos de açúcar, posteriormente desenhada com o rigor necessário para
que pudesse ser aprovada a sua construção, pelo seu filho Jan e por fim construída
com as devidas correções e alterações, pelos pedreiros e pelo próprio Utzon que se
envolveu na parte pratica. (Pardey, 2004, p. 37)
Utzon pensou esta casa ao pormenor. Não só na sua relação com o sítio e com a
tradição da ilha, mas também ao nível dos espaços e das sensações que estes
transmitem. Existe um grande número de pormenores interessantes. O já referido
pequeno vão da sala da estar transmite àquele espaço uma ambiência totalmente
diferente do que se não lá estivesse. Este vão tem a capacidade de provocar a quem
utiliza pela primeira vez aquele espaço, uma sensação de surpresa e de espanto. Para
além disso permite controlar o tempo. Outro detalhe interessante e que comprova que
Utzon estudou bem a arquitectura tradicional maiorquina, é a reinterpretação das
chaminés triangulares.
Ilustração 83 – (à esquerda) Chaminé tradicional maiorquina, John Parday. (Pardey, 2004, p. 36) ; (à direita) Chaminé desenhada por
Utzon. Bent Ryberg. (Pardey, 2004, p. 36)
Utzon utilizou ainda os materiais locais para outra função, o aproveitamento das águas
da chuva. Ele cria um sistema de tubos em barro.
Ilustração 84 – Detalhe do tubo de queda. (Ilustração nossa, 2013) ; Aproveitamento das águas da chuva para regar plantas. (Ilustração
nossa, 2013)
Por fim, um dos detalhes mais interessantes e que só com uma observação muito
atenta é possível percecionar, é o facto de que Utzon desenhou a estereotomia do
pavimento como sendo um reflexo da estrutura do teto.
Como refere Pardey (2004, p. 46) “the floor is a tapestry of stone that marks out the
plan, a mirror of the constructional logic above; here, like Gothic masons scratching out
the lines of the vaults overhead, Utzon has etched his plan at full scale into the floor”
A titulo de curiosidade, existiram vários motivos pelos quais Utzon decidiu deixar Can
Lis à beira mar onde ele e a sua mulher sempre gostavam de estar, e construir uma
nova casa no meio de uma serra, a qual apelidou de Can Feliz. O brilho do sol tornou-
se demasiado intenso para os olhos de Utzon. Para além disso, o facto de ter de
passar pelo espaço exterior para alternar de volume em volume tornou-se menos
atraente ao fim de alguns anos e principalmente nos meses frios de inverno. Por fim, o
facto de a casa ter-se tornado um marco importante da arquitectura fez com que
começassem a vir cada vez mais turistas para ver de perto a “casa do arquitecto que
desenhou a Opera de Sydney.”46 (Pardey, 2004, p. 11)
46
“(…) whose guides still announce that ‘THIS IS THE HOUSE OF THE ARCHITECT WHO DESIGNED
THE SYDNEY OPERA HOUSE’” (Parday, 2004, p. 11)
O Museu da luz, da autoria dos arquitectos Pedro Pacheco47 e Marie Clément48, foi
escolhido como caso de estudo, não só pelo objeto arquitectónico e pela sua
integração e relação com a paisagem ao nível material e topográfico, mas também,
por todo o processo que está por trás da sua construção assim como toda a história
que envolve a Aldeia da Luz. O museu possui uma grande carga simbólica e reflete
muitas das memórias que envolvem a povoação da Luz.
47
Pedro Pacheco nasceu em Braga em 1965. Diplomado em Arquitectura pela FAUP, em 1991, estagiou
no atelier do arquitecto Josep Llínás em Barcelona, sob a orientação de Eduardo Souto de Moura.
Colaborou com o arquitecto Fernando Távora no Porto entre 1992 e 1996. Em 1997 formou atelier com o
arquitecto José Adrião. Na sequência do concurso internacional para a elaboração do plano de pormenor
na Nova Aldeia da Luz (3º Prémio,1996), desenvolve, em co-autoria com Marie Clément, os seguintes
projectos: reconstrução da Igreja Nª Sª da Luz, cemitérios das aldeias da Luz e Estrela e o Museu da
aldeia da Luz, 1999 – 2003 (construído). Forma atelier próprio em 2004. É docente da cadeira de
arquitectura na FAUTL, desde 2004.
48
Marie Clément nasceu em Saint-Étienne, França, em 1966. Diplomada em arquitectura pela EAPB –
École de Architecture de Paris – Belleville, em 1992, sob a orientação de Eduardo Souto de Moura e
Jaques Lucan. Colabora com o arquitecto Eduardo Souto de Moura no Porto entre 1990 e 1992. É
docente da cadeira de projecto na Faculdade de Arquitectura de Clairmont-Ferrand, em França, desde
1998. Na sequência do concurso internacional para a elaboração do plano de pormenor na Nova Aldeia
da Luz (3º Prémio,1996), desenvolve, em co-autoria com Marie Clément, os seguintes projectos:
reconstrução da Igreja Nª Sª da Luz, cemitérios das aldeias da Luz e Estrela e o Museu da aldeia da Luz,
1999 – 2003 (construído). Tem atelier próprio em França desde 1999.
Aos arquitectos Pedro Pacheco e Marie Clément coube a tarefa de projetar a “Igreja
de Nª Sª da Luz, o cemitério transladado e o museu dedicado aos territórios da Luz
[…] a Igreja e o cemitério como fortes elementos identitários, pré-existências únicas e
o museu como elemento estruturante do novo lugar, dotado de carga representativa
de substituição”. (Pacheco e Clément, 2006, p. 1)
Aberto ao público desde 2003, o museu localiza-se no enfiamento de uma longa rua,
“no limite do eixo nascente-poente da aldeia (…)” (Pacheco e Clément, 2006, p. 1),
cerca de 100 metros após terminarem as habitações. Numa aproximação gradual ao
museu, a única coisa que se vê do edifício é um conjunto de muros e chaminés de luz
zenital. Ao longe parecem apenas muros de xisto que se relacionam com os muitos
outros existentes no local, cuja função poderia ser a de limitar o largo da Igreja de
Nossa Senhora da Luz.
Tal como referiu Clara Saraiva49 “a igreja, orientada este/oeste, o muro poente do
cemitério e a parte visível do museu definem um espaço de intervalo enquadrado em
todas as direções” (Saraiva, 2007, p. 445)
O museu funciona, por um lado, como memória do lugar desaparecido e, por outro,
como a identidade do novo lugar. Integra-se e assume uma relação com a topografia
encontrando-se semienterrado, abrindo-se apenas para a albufeira do Rio Guadiana.
49
Maria Clara Ferreira de Almeida Saraiva, nasceu a 7/11/59 em Lisboa, atualmente ocupa o cargo de
Investigadora Auxiliar no Departamento de Ciências Humanas do Instituto de Investigação Científica
Tropical (IICT). É Docente convidada (desde 1997) no Departamento de Antropologia da Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (onde leciona, entre outras, a cadeira de
Antropologia da Religião e do Ritual, Antropologia das Emoções, História de África, e História da
Antropologia Portuguesa), entre outras funções.
O xisto utilizado foi extraído das pedreiras locais e caracteriza-se por possuir uma
paleta de tonalidades de verde seco, castanho claro, cinzento, amarelo e rosa.
(Saraiva, 2007, p.446) Segundo os arquitectos, a escolha do xisto para revestir o
edifício, “aproxima-o mais da terra, do solo xistoso e da ideia de fundação”. (Pacheco
e Clément, 2006, p. 1)
Uma das principais referências desta dupla de arquitectos neste projeto foi, muito
provavelmente, as Termas de Vals do arquitecto Peter Zumthor. O Museu da Luz
segue os mesmos princípios e as mesmas estratégias de projeto. O objeto
arquitectónico encontra-se perfeitamente enquadrado na paisagem e a estratégia de
revestir o edifício com a pedra local encontra-se presente em ambos os casos.
Peter Zumthor, tal como já foi referido no capitulo anterior, é um arquitecto que se
preocupa muito com as questões relacionadas com a integração do edifício na
paisagem.
Estas poderiam ser palavras dos arquitectos Pedro Pacheco e Marie Clément relativas
ao Museu da Luz.
Ilustração 93 – (à esquerda) Termas de Vals, Suíça. (Lucchese, 2009) ; (à direita) Museu da Luz, Mourão, Portugal, FG + SG. (Guerra,
2014a)
Voltando ao Museu, o acesso faz-se a partir de uma rampa que circula em redor de
um pátio, no sentido descendente e a partir do qual vamos tendo um campo de visão
totalmente aberto sobre a paisagem e a albufeira do Rio Guadiana.
Tanto o museu como o seu interior foram projetados quando ainda não havia
conhecimento nem do programa, nem do espólio construído. Os espaços foram
pensados com o objetivo de serem adaptáveis a várias situações e permitirem uma
grande flexibilidade. Estes podem estar totalmente abertos ou serem fechados através
de planos móveis. (Saraiva, 2007, p. 447)
O museu é constituído por um Átrio / Receção / Sala Polivalente, uma área de estar
com mesas associada a um volume que funciona como copa e que em conjunto
formam o espaço bar. Existe ainda uma área administrativa, instalações sanitárias e
três salas de exposição. A Sala da Água, a Sala da Memória e a Sala da Luz. Existem
também dois pátios. O pátio de chegada e um pequeno pátio interior que contacta com
a Sala da Memória e a Sala da Luz.
Ilustração 98 – (à esquerda) Pátio principal. (Ilustração nossa, 2013) ; (à direita) Pátio interior. (Ilustração nossa, 2013)
A receção / átrio funciona também como sala polivalente. Junto à receção encontra-se
o espaço bar. Este caracteriza-se por estar enquadrado com uma das aberturas
pontuais deste monólito. Estrategicamente colocada, enquadra o Monte dos Pássaros,
o rio Guadiana e a restante paisagem. Curiosamente, esta zona de estar onde as
pessoas permanecem sentadas apresenta um pé direito mais alto do que o do átrio /
receção.
No átrio / receção existe ainda uma parede totalmente revestida a madeira, que serve
de separador em relação à área administrativa e às instalações sanitárias.
No caso das salas de exposição, estas possuem uma luminosidade muito controlada.
A Sala da Memória foi pensada “como um local de pesquisa e diálogo, que integrasse
acervos documentais e de memória.” (Saraiva, 2007, p. 448) É um espaço frio
“cavernoso”, onde a iluminação artificial é pontual e orientada. Nas extremidades deste
espaço de proporções retangulares encontra-se o acesso ao mesmo e o acesso ao
pátio interior do museu. Este pátio caracteriza-se por oferecer uma luz pouco intensa
durante grande parte do dia.
Por fim, a Sala da Luz surge “como figura central do museu”. (Saraiva, 2007, p. 447) É
um espaço que contrasta com os restantes por ser totalmente pintado de branco. A
ideia seria um espaço de “aspeto luminoso e etéreo, onde, através da claraboia da
cobertura invisível, se ilumina o perímetro do teto suspenso”. (Saraiva, 2007, p. 447)
Apesar do grande vão, orientado para o pátio interior, a luz deste espaço é de certo
modo coada e pouco intensa, mesmo com a ajuda da iluminação artificial.
Ilustração 104 – Confronto entre os três acessos às salas de exposição. (Ilustração nossa, 2013)
Ainda na Sala das Luz, é possível ter uma “relação com a paisagem através de uma
pequena janela da qual se avista o antigo espaço da velha aldeia, sintetizado no único
elemento não submergido, o Monte dos Pinheiros”. (Saraiva, 2007, p. 448) Esta
pequena abertura é muito propositada e foi feita estrategicamente para cumprir os
objetivos dos arquitectos, daí que seja oblíqua em relação ao plano da parede.
Ilustração 106 – Vista aérea do conjunto, Furnas, Açores, FG + SG. (Mateus, 2011)
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Manuel Aires Mateus (1963 -). Arquitecto português, estudou na Universidade Técnica de Lisboa onde
se licenciou em arquitectura. A partir de 1983, começou a trabalhar com Gonçalo Byrne e cinco anos mais
tarde, com o irmão, Francisco Aires Mateus. Manuel Aires Mateus lecionou, sucessivamente, na
Universidade Técnica de Lisboa, na Universidade Lusíada de Lisboa, na Academia de Arquitectura de
Mendrizio e na Faculdade de Arquitectura de Harvard, nos Estados Unidos da América.
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Francisco Aires Mateus (1964 -). Arquitecto português, estudou na Universidade Técnica de Lisboa
onde se licenciou em arquitectura em 1987. Colaborou com o arquitecto Gonçalo Byrne desde 1983 e
posteriormente com o seu irmão Manuel Aires Mateus, a partir de 1988. Foi professor convidado da
Faculdade de arquitectura de Oslo em 2009, lecionou na Faculdade de arquitectura de Harvard em 2005.
Actualmente é professor da Academia de Arquitectura de Mendrizio e da Universidade Autónoma de
Lisboa.
Situados na margem sul da Lagoa das Furnas, numa das zonas mais emblemáticas e
turísticas da ilha de São Miguel, o Centro de Monitorização e Investigação +
Residências veio, numa vertente arquitectónica dar visibilidade à Lagoa. (Palha, 2013,
p. 1)
O projeto tem como objetivo evocar a paisagem arquitetónica dos Açores. Para isso
são utilizadas “as formas e os materiais que moldam a memória coletiva da ilha e do
arquipélago, e do qual são já pela força do tempo, uma espécie de segunda natureza.”
(Mateus, 2012, p. 70)
Ilustração 108 – Centro Monitorização e Investigação das Furnas, Açores, FG + SG. (Mateus, 2011)
Ilustração 110 – Vista dos dois volumes, Furnas, Açores, FG + SG. (Mateus, 2011)
Ilustração 111 – Planta CMIF, Aires Mateus. (adaptação a partir de Mateus, 2011)
Ilustração 112 – Corte a passar pela sala de trabalho e pelo auditório, Aires Mateus. (Mateus, 2011)
Ilustração 113 – Corte a passar pela receção e pelo pátio, Aires Mateus. (Mateus, 2011)
Este espaço caracteriza-se por ser totalmente revestimento em madeira e pelo facto
de o teto possuir a forma de uma abóbada de berço.
Este espaço caracteriza-se por apresentar um ambiente escuro. Funciona como uma
caixa na qual se destacam os aquários e as projeções de vídeos.
Por fim, o espaço de trabalho que é uma zona de secretárias onde se procede à
gestão do Plano de Ordenamento da Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas. (Palha,
2013, p. 2)
A iluminação dos espaços é muito simples e embutida no teto, o que torna os espaços
mais limpos e serenos.
Nas palavras do arquitecto Manuel Aires Mateus, o projeto “foi concebido como uma
escultura de pedra colocado na paisagem, tendo por base o enquadramento da
A relação entre a materialidade que reveste estes edifícios e a natureza foi distinguida
na atribuição do “Premio Internazionale Architetture di Pietra 2011 – XII edixione”, na
cidade italiana de Verona, que premiou a qualidade espacial e arquitectónica do
projeto assim como a sua execução utilizando a pedra local.
Para além destes dois edifícios, o projeto inclui ainda o desenvolvimento de alguns
espaços exteriores como complemento e integração com a paisagem “A zona
envolvente engloba um conjunto de áreas, nomeadamente, zona de merendas e
estadia, instalações sanitárias, parque de estacionamento, e um amplo espaço verde
onde os visitantes podem contemplar a paisagem e desenvolver atividades de lazer.”
(Palha, 2013, p. 2)
4. PROJETO E PEDRA
Ilustração 128 – Planta de Implantação, Lourel, Sintra. (adaptação a partir de Sociedade Técnica de Planeamento e Organização de
Projectos Lda, s.d.)
Ilustração 130 – Entrada nascente no pátio principal do núcleo (A,B). (Ilustração nossa, 2012)
Para além da percetível diferença entre a aquitectura de várias épocas, outra das
características interessantes é a existência de dois substratos diferentes ao nível da
componente vegetal e natural. Existe um contraste bem evidente no local que
corresponde às linhas bem definidas e à regularidade do Jardim Francês,
originalmente constituído por árvores de fruto, face ao denso bosque composto por
percursos de descoberta característicos de um Jardim Romântico, pontuado por
momentos especiais de paragem e descoberta. Estas duas situações, totalmente
opostas e de grande contraste foram apenas mais um dos fatores a ter em conta na
proposta de intervenção neste lugar.
Ilustração 133 – (à esquerda) Jardim Françês. (Ilustração nossa, 2012) ; (à direita) Jardim Romântico. (Ilustração nossa, 2012)
Na vasta área da Quinta da Ribafria existem ainda vários pontos de interesse, muitos
deles relacionados com a água tais como, a mina, os vários fontanários, a nora de
água, o tanque associado ao edifício do palácio e o próprio rio das maçãs que passa
no interior do lote da quinta. Estes elementos associados à existência de vários
percursos no interior das duas vertentes da paisagem natural permitiram à partida
definir que era possível criar várias situações de interesse em relação à apropriação
do espaço.
Ilustração 134 – (à esquerda) Nora de água. (Ilustração nossa, 2012) ; (à direita) Tanque junto ao edifício principal. (Ilustração nossa,
2012)
Ilustração 135 – Vista do edifício principal, Quinta de Ribafria (Desenho nosso, 2012)
O edifício B, sendo um edifício mais recente, mas que pela sua localização e
interligação com o edifício A, formam em conjunto um núcleo dinâmico que interage
com vários pátios, foi um edifício a manter. No entanto, o seu interior foi totalmente
modificado, não só para receber espaços diferentes e com outras dimensões mas
também para que quem percorre o espaço tenha a perceção de uma transição gradual
entre o edifício principal e característico da Quinta (edifício A) e os edifícios que
resultam da adição proposta. No edifício B encontram-se áreas técnicas, áreas
privadas correspondentes à administração e áreas semipúblicas, como salas de estar.
Em relação ao edifício C, este foi destruído por não apresentar características que lhe
conferissem uma importância e unidade face ao núcleo A e B.
Ilustração 136 – "Esquema de apropriação do terreno e da relação entre edifícios e pátios" (Desenho nosso, 2012)
No quadrante Oeste surge o núcleo dos quartos e o núcleo do spa, ambos numa
relação de interior / exterior entre volume e natureza envolvente. A piscina e o campo
de ténis permaneceram no mesmo local, tendo apenas sido proposto um novo volume
de apoio.
Ilustração 142 – Planta de implantação dos volumes e percursos. (Desenho nosso, 2012)
O conceito baseou-se numa interpretação do sítio, no caso a Serra de Sintra. Uma das
imagens características desta são os penedos que surgem no meio da massa arbórea,
atualmente abundante na Serra. A ideia foi fazer com que os edifícios propostos
surgissem, eles também, como se fossem grandes penedos distribuídos pela
paisagem da Quinta da Ribafria. (Ilustração 138) A materialidade assumiu desde o
início do projeto uma grande importância. Neste caso, a ideia passou por revestir os
novos edifícios com a pedra mais característica da Serra, o granito. Com o passar do
tempo, as condições climatéricas do sítio irão fazer com que a pedra ganhe
características próprias como o musgo e o desgaste natural resultante do processo de
erosão causado pelos fatores naturais, aumentando ainda mais a relação de
integração e harmonia entre o edificado e a paisagem natural. A passagem do tempo
irá refletir-se no material, fazendo com que este revestimento adquira cada vez mais
uma identidade que o liga ao lugar. O projeto do CMIF dos arquitectos Aires Mateus foi
uma das grandes referências para a realização deste projeto. Tal como no CMIF, a
ideia foi introduzir na paisagem natural um edifício construído com um sistema
construtivo moderno em betão armado e posteriormente revesti-lo com um material
que o relacionasse com o sítio, no caso, a pedra. Uma segunda ideia conceptual,
também ela baseada no projeto do CMIF foi prolongar o plano das paredes pelos
planos das coberturas inclinadas. No nosso projeto a opção pelas coberturas
inclinadas deveu-se, não no só à ideia de penedo irregular como também ao objetivo
de criar uma continuidade com o que acontece no núcleo dos corpos A e B em que as
coberturas configuram espaços e volumes. (Ilustração 139) Com isto cria-se uma
unidade de projeto. Por outro lado a opção por coberturas inclinadas reflete-se ao nível
do espaço interior que ganha uma dinâmica espacial.
Ilustração 145 – Vista das coberturas do núcleo (A,B). (Ilustração nossa, 2012)
Ilustração 146 – Esquema da ideia de revestir o edifício interiormente e exteriormente com a materialidade característica do sítio.
(Desenho nosso, 2013)
Ilustração 147 – Esquema conceptual da interpretação das características do sítio. (Desenho nosso, 2013)
A ideia de penedo leva ainda a outra ideia conceptual interessante relacionada com a
questão da materialidade, que consiste no facto de os edifícios apresentarem
exteriormente um carácter robusto e defensivo e, em contraste, o interior ser
trabalhado de modo a tornar-se um espaço quente e acolhedor. A escolha dos
materiais teve de ser pensada de modo a que fosse possível criar estas condições e
estes espaços que se pretende que criem estas sensações nos utilizadores da Quinta
e da Pousada, um pouco à semelhança do que acontece no CMIF.
Ilustração 152 – Planta núcleo dos quartos + Spa. (Ilustração nossa, 2012)
O spa surge como sendo um núcleo isolado no meio do bosque, ao qual se acede
através dos percursos exteriores ou diretamente a partir do núcleo dos quartos. A ideia
de relaxamento associada ao conceito de spa é reforçada através da estratégia de
projeto que passa por criar uma relação continua entre espaço e natureza, interior e
exterior. Este núcleo caracteriza-se por apresentar as diversas funções distribuídas
por vários volumes que por sua vez, mantêm uma relação constante com os pátios e,
por conseguinte, cria-se uma dinâmica interior / exterior com vários momentos e
ambientes diferentes, um pouco à semelhança do que acontece em Can Lis.
Numa perspetiva crítica à proposta, poderia ter sido feita uma abordagem ainda mais
atenta às condições naturais, na medida em que poderia ter havido uma melhor
interpretação e adaptação às características topográficas do sítio, tal como faz Jorn
Utzon em Can Lis. No nosso caso a estratégia demasiado geométrica e regular na
relação entre edifício e pátio fez com que a proposta criasse algumas alterações
significativas ao nível da topografia. Os volumes propostos poderiam ter-se distribuído
segundo as características topográficas mantendo sempre a relação com os pátios e a
natureza, sem perder a ideia de unidade. Este é apenas um dos aspetos que poderiam
ter sido abordados de outro modo caso houvesse um conhecimento do projeto de Jorn
Utzon, Can Lis, anterior à realização da nossa proposta. Isto poderia ter acontecido
principalmente no quadrante Oeste da Quinta referente ao bosque no qual uma
adaptação natural dos volumes ao sítio poderia ter criado uma relação mais
característica com as condições naturais do que é um bosque, onde tudo surge de um
modo mais natural face às regras e regularidade do Jardim Francês. Por outro lado
poderia ainda ter havido uma maior integração dos muros de pedra seca que limitam e
criam socalcos na topografia do terreno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pedra é um material natural, uma matéria-prima fácil de encontrar, que pelas suas
características, resistência e expressão maciça, assumiu um caracter preferencial em
todo o tipo de construções, desde as mais simples às mais monumentais que se
pretendia que fossem eternas. Muitas destas construções resistiram até aos dias de
hoje e continuaram a demonstrar a importância deste material na História da
Arquitectura.
beleza da pedra. Mas há muito mais para além deste aspeto. No passado recente, a
pedra deixou de ser o material preferencial ao nível construtivo porque a evolução
tecnológica permitiu o surgimento de novos sistemas construtivos baseados noutros
materiais, que por vários motivos, incluindo, por exemplo, a questão do limite na
arquitectura, fizeram com que assumissem um caracter preferencial face ao que era
tradicional em pedra. A evolução tecnológica não só possibilitou o surgimento de
sistemas construtivos com novos materiais, como permitiu que a pedra fosse
trabalhada de modo a assumir uma importância diferente daquela que tinha para os
arquitectos antigos. Os arquitectos passaram a olhar para este material e para as
possibilidades que as novas tecnologias permitiram, como um material que assumia
uma expressão de inovação e modernidade. Assumiu um caracter de revestimento
caracterizado pela beleza e expressão que atribuía aos objetos arquitetónicos
revestidos. Passou a surgir nas mais variadas formas, com múltiplos acabamentos e
em grande variedade. É utilizado em espaços interiores e exteriores. A tradicional
função construtiva foi perdendo expressão face à função de revestimento.
Hoje em dia, este material permite aos arquitectos resolver múltiplas soluções
conceptuais e questões espaciais associadas. O material, no caso a pedra, deixou de
ser apenas um material que constrói a ideia para passar a ser o material que reveste
diversos tipos de espaços, que por sua vez, geram sensações diversas nos seus
utilizadores. Por outro lado, por ser um material natural, pode ser usado como material
integrador do objeto arquitetónico na paisagem onde se insere. Pode ser associado a
diversos sistemas construtivos que permitam resolver as ideias conceptuais que um
sistema construtivo tradicional em pedra não poderia. Consegue-se ainda fazer com
que um edifício construído a partir de um sistema construtivo contemporâneo assuma
a expressão de um edifício construído em pedra. Com isto, o arquitecto ganha uma
maior liberdade projetual e mantem presentes questões como a relação com o sítio, as
características espaciais e conceptuais.
O estudo realizado sobre estas matérias permitiu completar e “concluir” uma proposta
prática desenvolvida no âmbito da disciplina de Projeto III, assim como, refletir sobre a
mesma, conforme apresentado na presente dissertação. Para além disso, o estudo
aprofundado de três obras de arquitectura contemporânea com características
distintas permitiram uma experiência sensível das questões aqui defendidas, que
constituiu um ponto de partida para um maior aprofundamento das mesmas.
Qualquer que seja a estratégia de projeto, uma questão essencial para o arquitecto é
ter a noção que tudo o que pensa pode vir a materializar-se. A materialidade tem de
ser abordada com uma atenção especial na medida em que influência diretamente o
espaço construído e as sensações que este transmite aos utilizadores. Podemos
pensar um espaço de um determinado modo e quando este for materializado assumir
um caracter totalmente diferente. Para além disso, quando construímos, não
construímos no indefinido. Construímos num sitio, o qual é importante respeitar e com
o qual se estabelecem relações de maior ou menor proximidade.
Construir em pedra e revestir em pedra são dois princípios distintos, mas em ambos
os casos podemos conseguir uma arquitectura contemporânea. Utilizar um sistema
construtivo tradicional em pedra não significa que não é possível obter um projeto
totalmente contemporâneo, tal como foi possível concluir após o estudo dos projetos
referência da presente dissertação.
Concluindo, uma lição importante é que por vezes é possível projetar e construir obras
totalmente intemporais. Can Lis, obra do arquitecto Jorn Utzon foi sem dúvida uma
experiência memorável, tanto ao nível da questão sensível da visita in situ como no
estudo reflexivo posterior. É um edifício que surge perfeitamente integrado no sítio,
criando relações com a cultura arquitetónica local. A construção segundo processos
tradicionais consegue reunir questões espaciais contemporâneas, espaços geradores
de sensações distintas e complexas, difíceis de explicar por palavras, mas
intensamente presentes na memória.
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