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Sócio-historiografia de lI/11a categoria
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estudos históricos e 2006 - 38
pobres, em geral, o que nos possibilita perceber corno a favela foi inventada,
construída e, hoje, está naturalizada.
O interesse sobre a história e a gênese das idéias e das representações so
bre as favelas liga-se, ainda, ao impacto da produção de saber sobre a formulação
e efetivação de políticas públicas. Valladares analisa as etapas da invenção da fa
vela: sua gênese; sua transformação em "problema social"; os projetos e as políti
cas administrativas voltados para o "problema"; a necessidade de produção de
dados oficiais e a realização dos primeiros recenseamentos, em 1948 e 1950; a sua
legitimação corno objeto privilegiado das ciências sociais, quando o assunto é,
principalmente, a pobreza e os pobres.
No primeiro capítulo, a autora faz urna reflexão sobre o surgimento da
favela, sua construção pelos seus primeiros observadores e sua transformação em
categoria. O livro de Euclides de Cunha, Os sertões, serviu de base para essas in
terpretações do fenômeno da ocupação dos morros cariocas pela população po
bre. Esses espaços passaram a ser chamados genericamente de favelas - apelido
dado, inicialmente, apenas ao Morro da Providência. As representaçôes sociais
de Canudos foram transpostas às favelas, que passaram a ser vistas corno locais
onde imperariam inúmeras "carências". "Carência" de bens materiais, devido a
habitações irregularmente construídas, sem arruamentos, sem esgoto, água ou
luz; e de civilidade, já que sua população era vista corno marginal, criminosa, pe
rigosa, "carente" de moralidade. As favelas eram interpretadas, ainda, corno lu
gares sem a presença do Estado e com uma organização social de comunidade.
Nesse contexto, após sua descoberta, a favela passa a ser vista como sím
bolo do atraso, um entrave ao desenvolvimento e à modernização do país. Rapi
damente foi transformada e incluída no rol dos "problemas sociais" - sanitário,
legal, urbanístico e estético -, em decorrência da representação que a ligava à
idéia de chaga, de mal contagioso no espaço da cidade, que devia ser combatido.
Orientados por esta representação, médicos, engenheiros e intelectuais se de
bruçaram sobre o tema, tanto a serviço do Estado quanto por iniciativas de seto
res da elite da carioca, e elaboraram diversos planos de intervenção, com objeti
vos reformistas, sanitários e de "embelezamento" da cidade.
Com a ditadura de cunho populista e clientelista de Getúlio Vargas, ins
taurada pela Revolução de 1930, emerge urna nova etapa nas representações so
ciais. Ao lado da perspectiva higienista, a favela passa a ser reconhecida no Códi
go de Obras de 1937, e a necessidade de melhoria nas condiçõ�s de vida dos
favelados é percebida. Em função disto, aparece, nos anos 1940, a preocupação
em conhecer esse território e seus habitantes. São produzidos dados estatísti
cos oficiais sobre a população favelada e um estudo de caso realizado por uma as
sistente social. Estes estudos serviram de base para a política de construção dos
Parques Proletários no período de 1941-1944.
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anos 1960, estavam em uma dezena de favelas do Rio, buscando fazer o desenvol
vimento comunitário. A missão desses voluntários fracassou, mas muitos se tor
naram observadores participantes da vida social nesses espaços, mediante o in-
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Nota
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R�ferências bibliográficas
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