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[...] I'm sick of waiting for love.

I know that you're not the one.


— Who, Lauv.

Park Jimin.

Era esse o nome capaz de acalmar a gritaria dentro do meu peito. Soube desde o primeiro
segundo que pousei meus olhos em você; seríamos metades. E realmente fomos. De forma
estranha e singular, nossos mundos colidiram em uma perfeita explosão. Eu finalmente
tinha um lugar para chamar de casa.

Sorrateiramente você tomou conta de tudo o que eu tinha. Nunca entendi o efeito que um
simples sorriso seu, daquele que fazia seus olhos se fecharem em dois risquinhos, tinha
sobre mim. Era você e isso bastava para explicar todo o resto.

O seu “oi, alien”, as suas mãos pequenas dentro dos bolsos da minha jaqueta, a voz doce
ao me chamar, a maneira como você se apertava contra o meu corpo quando subia na
garupa da minha moto, mesmo com medo. Cada detalhe seu me fez te amar lenta e
profundamente.

Lembro do seu espanto quando viu Botticelli e Renoir espalhados pelas paredes do meu
quarto. Era a primeira vez que alguém entrava ali. Deixei você entrar no meu cantinho
repleto de arte, na minha alma pincelada pelos meus demônios; mas mais que isso, deixei
você entrar em mim.

Promessas foram feitas diante daquelas obras que eu tanto admirava. Naquele quarto,
Michelangelo foi testemunha do nosso amor e, embora sempre estivéssemos rodeados dos
mais belos quadros, eu sempre soube; você era minha arte favorita.

Não sei ao certo quando os móveis perderam a cor, quando você se perdeu ou quando uma
parte de mim acordou sem vida. Aconteceu, como tudo sobre nós dois. Só me dei conta
quando, mesmo dividindo a cama, eu sentia frio. Estar perto de você era gelado.

Quando foi que deixamos de ser metades? Quando foi que você começou a mudar junto
com as estações? Eu só preciso de alguma justificativa para me convencer de que você
ainda vai estar aqui amanhã.

Você não vai estar, vai?

Diante de Monet, Caravaggio, Van Gogh, alguns discos arranhados e uma coleção inteira
de filosofia; diante de toda a arte que eu sempre amei, eu soube que perderia a única que
eu nunca pude ter.
Eu tento de todas as maneiras possíveis reconhecer você em algo; uma música, um livro,
um quadro. Falho miseravelmente em cada uma dessas tentativas. De repente é como se
você e eu fossemos estranhos. Estou cansado de aceitar suas migalhas.

Quem é você? Park Jimin costumava ser o nome do meu coração, agora é só um som sem
significado. Quem é você quando eu te olho pelas costas enquanto você sai pela porta?
Quem é você quando eu preciso de qualquer demonstração de afeto? Quem é você quando
não está sendo o meu Jimin-ssi?

Me deixe saber.

Caminho entre os cacos de vidros espalhados pelo chão. Não sei como e nem quando
nosso quadro escapou da minha mão. Mas ali estava ele; quebrado, sem vida, em pedaços.
Nós estávamos.

Passo as pontas dos meus dedos pelos quadros da parede, ásperos pelo tempo. Ainda
estou caminhando enquanto tento ignorar os cacos, a foto, você. Aquela maldita foto em
que você sorri e está feliz. Parece tão distante agora.

Não estou pronto para dar adeus. Eu nunca vou estar.

Sei que está me olhando. Posso sentir seu olhar queimando a minha nuca enquanto espera
uma resposta para a pergunta que sequer fez.

— Taehyung.

O som grave da sua voz faz meu corpo inteiro se arrepiar de frio. Costumava ser doce e
quente.

— Taehyung, estou falando com você.

Dessa vez sinto sua impaciência abraçando meu nome. Vejo você se mexer desconfortável
na cama e sei que não aguenta mais prolongar isso, só não termina porque está esperando
meu próximo passo. Covarde. Você sempre foge das decisões.

Puxo todo o ar que consigo antes de finalmente te encarar e me arrependo no segundo em


que meus olhos cruzam com os seus. Posso enxergar o fim estampado nas suas íris claras.

— Eu não te reconheço mais.

Isso é tudo que sai da minha boca e então seu silêncio me atinge como um soco no
estômago. Apesar de me rasgar por dentro, é o que eu preciso para terminar com isso de
uma vez.
— Poupe o seu tempo e o meu. Sabemos o fim dessa conversa e eu não vou começá-la,
não dessa vez. Estou cansado de tomar atitudes por você, Jimin. Se você um dia me amou
de verdade, seja corajoso o suficiente para ir embora.

Tenho consciência do peso das minhas palavras, você também. Mesmo assim, quando elas
saem da minha boca, sei que você está surpreso. É o bastante para fazê-lo acordar. O
silêncio preenche o quarto outra vez. Cessa apenas quando você levanta e sai pela porta.
Não olha para trás nem diz uma mísera palavra. Ouço o som da porta da sala quando a
bate; você foi mesmo embora.

Acabou.

Nenhum adeus, nenhum momento de hesitação, nenhum resquício de quem você


costumava ser. Só mais um terço das suas migalhas, dessa vez disfarçadas de fim.

Quero gritar, correr, chorar; não o faço, não sou capaz. A foto riscada permanece no chão.
Sinto meu peito arder em agonia enquanto olho para ela. Eu sei que perdi meu grande
amor, minha arte favorita, meu melhor amigo.

Quem eu sou sem você? Eu não me reconheço. Como pude deixar você me tomar inteiro
quando só me deixou pedaços de um desconhecido?

Quem eu sou sem você, Park Jimin?

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