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19° ÍTEM — ECONOMIA NO CAMPO.

BALANÇO PERIÓDICO

Todo sitiante, fazendeiro, chacareiro e arrendatário de terras, deve ter noções de economia o suficiente para controlar o
andamento dos negócios e da sua lavoura para poder avaliar a conveniência ou rejeição de determinadas plantações e do seu
tamanho acertado no decorrer do tempo, ainda que se trate de cultura ou criação de duração limitada.
Saber fazer um balanço ou inventário de fim de ano é de grande utilidade e deve ser feito até de memória, nos seus valores
globais, no caso de pessoa muito inteligente, porém, que não teve a oportunidade de se instruir o suficiente para poder ler e escrever
fluentemente; recomendo a todos se exercitarem na elaboração de um balanço econômico, o que dá uma boa oportunidade também
de se relembrar às vezes o pouco de saber que sobrou do tempo da escola. E ninguém deve se julgar medíocre ou de menor valor, do
que os demais, só pelo fato de não saber bem, ler e escrever. Mas, vale a pena fazer sempre um esforço, no sentido de querer
aprender e quando possível até de freqüentar as classes para adultos sem limite de idades, nem sexo, porque ninguém deve ser
desprezado por ninguém. Não podemos esquecer que muitas vezes uma brazinha de nada, já com um mínimo de correnteza de ar
chegou a se reanimar e ter inflamado um monte de lenha seca, convertendo-se esta em energia na forma de luz e calor, irradiando e
aquecendo às vezes ambientes dos mais escuros. Quando isto ocorre no sentido figurativo é grande a alegria contagiante e o ânimo
ao trabalho, que se espalha em redor de pessoas muitas vezes sem nenhum destaque. Em geral, o pessoal de certa idade na roça, não
sabe ler, porém, em calcular, eles dificilmente erram; ainda pode demorar muito tempo, mas no fim o troco do armazém fica
conferido até a última moedinha tilintar.
A quem atribuir-se a função de guarda-livros em sítios? Não se podem fazer previsões. Razoável é de se deixar este ofício de
honradez à pessoa mais capacitada da família, sem obrigação nenhuma, porque a família em especial em sítios, deve ser na base da
república, onde a opinião de todos deve ser considerada de certo, dentro das tolerâncias limitadas pelas suas possibilidades e fixadas
de comum acordo entre os interessados.
Não vamos, todavia, pensar de se exigir de determinado membro da família de se tornar exímio guarda-livros e conhecer os
diversos sistemas de fiscalização dupla ou múltipla, como se fosse no caso da administração de urna grande empresa, não; mas
recomenda-se a todos, fazer as anotações das despesas efetuadas, da entrada de dinheiro na venda de produtos e animais, as
transações e outras aplicações de dinheiro disponível, em um ou vários cadernos do tipo escolar, de custo módico, que se divide em
colunas bem definidas para visualizar melhor as anotações e em especial a somatória dos valores das respectivas colunas. É de se
recomendar guardar sempre estes cadernos em um armário ou em uma gaveta, porem sempre repondo-os no mesmo lugar, após uso.

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Pessoalmente, recomendo proceder do modo que descrevo a seguir.


— em um caderno, podem-se anotar as despesas e entradas de dinheiro de pouco montante, razão pela qual, chama-se este de
“caderno da caixa-pequena”.
As anotações são feitas na ordem cronológica, com data certa e sem erros de coluna. Para facilitar a compreensão do uso deste
caderno, dou um exemplo nas folhas aqui juntas.
Todo mês ou se necessário a cada semana faz-se a soma dos valores da coluna das despesas e dos valores do dinheiro recebido
nas pequenas vendas contínuas de produtos do sitio, por exemplo, de ovos, manteiga, queijo, verduras, etc.
Em seguida, colocam-se nesta página, estes valores na devida posição para se deduzir a diferença destes, o que resulta em saldo
positivo ou negativo.
— em outro caderno, vai se anotando o histórico da gerência do dinheiro e os lugares da sua permanência.
O mais adequado para tais anotações é a divisão de duas páginas em colunas, seja no sentido vertical ou horizontal. Tal
procedimento permite visualizar todas as transações de despesas de grande vulto, como a entrada de dinheiro em valores
importantes. Por este fato, podemos chamar este caderno de “caixa geral”.
Quando for necessário dar um reforço para a caixa pequena, com dinheiro retirado da caixa-geral, anota-se nos dois cadernos
este montante, de certo como saída no caderno da caixa-geral e como entrada no caderno da caixa pequena.
Também, quando o montante do dinheiro da caixa-pequena alcançar valores de vulto importante, pode-se transferir parte destes
da caixa-pequena, para a caixa geral, anotando-se o respectivo montante como saída da caixa pequena no respectivo caderno e
cuidando-se bem da anotação acertada no caderno da caixa-geral, para lembrar-se aonde foi parar este dinheiro, se na poupança, ou
no pé-de-meia caseiro (para curta duração), previsto para a compra de animais ou componentes de utilidade no sitio.
No caso de dívidas com bancos ou particulares recomendo efetuar as respectivas anotações em separado, para cada credor, no
caderno da caixa-geral, cuidando-se bem da anotação do pagamento mensal da determinada prestação, tanto nas anotações
cronológicas da caixa-geral, de modo em especial, bem visível nas respectivas folhas atribuídas ao controle deste compromisso. A
primeira vista, a gente tem a impressão que esta anotação dupla vai complicar a fiscalização, porém, isto não é o caso, porque
qualquer verificação é assim bem simplificada, resultando em economia de tempo para a mesma. E. mais, ao seguir as anotações
cronológicas das despesas, ocorre muitas vezes erros nas anotações dos valores, quando tratar-se de vários credores, fato que se
elimina com as anotações em duplo, como aqui recomendado.

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CADERNO DA “CAIXA PEQUENA”


1981- setembro – Saldo agosto + Cr$ 4.946,00
DATA ANOTAÇÕES ENTRADA SAÍDA
3 (5ª) Compra semanal Superm. Bandeira --- Cr$ 2.400,00
Venda de três frangos limpos a 120, 160 e170; Venda de verduras Cr$450,00;
diversificadas (Hotel Minuano). Cr$620,00
6 Venda de 6 caixas de limão a 120 a caixa Cr$720,00
(Do.)
7 (4ª)’ Venda de 6 kg de queijo velho a 4.000,00 /kg Rest. Lê Manoir (especialidade) Cr$2.000,00
8 (3ª) Padaria “Nosso Pão” recebida a conta do leite (225 lit. a 32 o litro) Cr$7.200,00
Pago em dia o pão – 6 filões a 30,00 Cr$180,00
10 (5ª) Compra da semana Superm. Bandeira Cr$2.150,00
Venda de duas galinhas p/ canja (particular), Cr$640,00
Venda de verdura (Hotel Minuano) Cr$835,00
15 (3ª) Venda de 4 cx. Frutas diversas (80,00 a cx). Cr$320,00
Venda de lenha, 6 m3 a 350,00 o m3. Cr$2.100,00
16 (4ª) Venda de 4 coelhos p/ H. Valdinha a 650,00 cada Cr$2.600,00
Pago dois almoços no H. Valdi (aniversário – Neusa) Cr$1.350,00
17 (5ª) Compra semanal Superm. Bandeira Cr$1.850,00
Venda verdura p/ H. Minuano. Cr$746,00
Venda de 10 frangos limpos a 150,00 cada Cr$1.500,00
Venda de 50 kg. De feijão a 80,00/kg. Cr$4.000,00
Venda de 2 sacos de repolho a 300,00 /saco Cr$600,00
22 (3ª) Padaria N.P. recebida a conta do leite 260 lit. a 32/lit. Cr$8.320,00
Pago o pão: 8 filões a 30,00 Cr$240,00
24 (5ª) Compra semanal Superm. Bandeira Cr$2.650,00
Pago uma lata de Bibi-tox Cr$850,00
Pago uma lata de Creolina Cr$620,00
Venda 4 frangos limpos a 250,00 cada Cr$1.000,00
Venda 2 coelhos limpos (H. Vald) a 670,00 cada Cr$1.340,00
Venda verdura H. Minuano. Cr$820,00
28 (2ª) Venda de alcachofras (partic. Excepcional). Cr$1.500,00
Compra de tecido p/ roupas, 6 m. a 450,00/m. Cr$2.700,00
30 (4ª) Venda 6 caixas de frutas diversas a 150,00 cada Cr$900,00
SOMATÓRIA + Cr$61.157,00 Cr$14.990,00
(-) Cr$14.990,00
DIFERENÇA =+ Cr$46.167,00
REMESSA PARA CAIXA GERAL: (-) (Cr$32.000,00) (Cr$32.000,00)
SALDO PARA OUTUBRO + Cr$14.167,00

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CADERNO DE CAIXA-GERAL
1981 – CONTA GERAL – PÉ DE MEIA
DATA ANOTAÇÕES ENTADA SAÍDA ENTRADA SAÍDA
Transp. saldo anterior - setembro Cr$25.000,0 Cr$7.000,00
0
Out. – Remessa da Caixa Pequena (32.000,00) Cr$20.000,0 Cr$12.000,0
1 0 0

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Todas as notas fiscais de compras e mais ainda, as notas fiscais de produtor (quando existir), como os canhotos de notas
diversas e em especial as promissórias saldadas, sejam de credores ou devedores, devem ser guardados por tempo variável,
separadamente em uma ou várias pastas-arquivo, ou para pequenas fichas em uma caixinha de papelão, tendo, todavia o cuidado de
remarcar com caneta a data, muitas vezes meia apagada pelas caixas registradoras automáticas, etc., de Bancos. Uma boa prática é
remarcar a data bem visível, no verso do documento, sempre em um canto bem destacado quando o documento está fixado em
ordem cronológica na respectiva pasta-arquivo.
Na anotação de compromissos de vulto no caderno da caixa-geral, é bom reservar diversas páginas seguidas para poder
providenciar as observações do valor real, as correções monetárias etc., que podem influenciar nas prestações. Tais anotações são
muito importantes na avaliação do equilíbrio monetário real e também da correlação percentual entre o compromisso inicial e o
montante das prestações no decorrer dos anos, porque assim se pode constatar que o lucro real em um negócio, na maioria das vezes
é determinado pela habilidade comercial do interessado, na hora da compra, muito mais do que na hora da venda, quando o objeto
transacionado permanecer bastante tempo em seu poder.
Este é em especial, o caso de componentes com exigência de manutenção contínua, implicando muitas vezes em prejuízos a
venda de um objeto de pouco uso, o que aparece com nitidez com a verificação contínua da caixa-geral, na qual este componente
pode figurar em página própria, sendo considerado como compromisso à parte, ainda que seja totalmente pago. Também este
método permite providenciar as anotações contínuas da depreciação ou valorização de maquinário importante, por exemplo, das
anotações das despesas de consertos e reformas de um trator, de ceifadeira-atadeira e demais implementos da lavoura, possibilitando
a avaliação acertada da viabilidade de determinados implementos. Não posso deixar de fazer duas observações aqui relativas ao
incentivo de querer progredir, que é sem nenhuma dúvida, muito louvável, desde que ele fique dentro dos limites das suas
possibilidades tanto físicas, como econômicas. Quero detalhar um pouco este assunto:
- querer lidar com maquinário pesado na lavoura é realizável, só quando se possui uma saúde de ferro e um físico avantajado o
suficiente para manobrar os comandos do maquinário, em geral construído para pessoas de tipo padrão acima de 60%;
— a compra de maquinário importante, que em geral se efetua pelos empréstimos bancários, porque são sempre caríssimos,
exige um tempo mínimo no seu uso por safra de determinado produto. E a sua conservação muitas vezes requer a construção ou a
ocupação de determinada área em um galpão existente, originando despesas adicionais que oneram o custo do produto em pauta e a
maioria das vezes esquecidas ou desconsideradas. Um exemplo típico é o fato de uma ceifadeira-batedeira, comprada com crédito
bancário, que quando bem utilizada por tempo integral na safra chega, mesmo nestas condições, a onerar cada saco de trigo em mais
de trezentos cruzeiros, só para os juros bancários. Deduz-se daqui, que o uso de maquinário pesado não vai diminuir em geral as
despesas respectivamente o custo do produto como prezado pelos vendedores.

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EXEMPLO DE CONTROLE DE CONTA EM BANCO, CONSIDERANDO-SE UM FINANCIAMENTO OBTIDO


DESTE – BANCO ITAÚ.
DATA ANOTAÇÕES PROMIS. DEPÓSITO SAQUE
Cr$ Cr$
1980 – Depósito inicial 60.000,00 ---
27-3
24-4 Sacado cheque nº. 137026 --- 5.000,00
22-5 Recebido financiamento p/ reforma da casa 250.000,00 a devolver RC 250.000,00 ---
em 24 prestações de 17.200,00
22-5 Sacado cheque nº. 137027 12.000,00
26-5 Pago dep. Mat. Const. Takeshi N.F. nº878 180.000,00
12-6 Sacado cheque nº. 137028 15.000,00
12-6 Pago empreiteiro – 1ª parcela 30.000,00
12-6 Depósito da caixa-geral 20.000,00
26-6 Pago promissória RC 1
Balanço 1º semestre 1980 – somatória 330.000,00 242.000,00
242.000,00
Saldo 88.000,00
Saldo anterior 88.000,00
37 Sacado cheque nº. 137029 7.000,00
24-7 Depósito cheque – BRADESCO nº. 342026 20.000,00
31-7 Pago promissória RC 2 --- ---
14-8 Pago com cheque 137029 empreiteiro. 2ª parcela 40.000,00
28-8 Pago 3ª promissória RC 3 --- ---
11-9 Pago suplemento. Material de construção, Cheque nº. 137030. 50.000,00
25-9 Pago promissória RC 4 --- ---
25-9 Depósito da caixa-geral 30.000,00 ---
16-10 Pago compra de móveis --- 15.000,00
30-10 Pago promissória RC 5 --- ---
6-11 Depósito da caixa-geral --- 20.000,00 ---
27-11 Pago promissória RC 6 --- ---
11-12 Sacado cheque 137201 compras de Natal --- 25.000,00
30-12 Pago promissória RC 7 --- ---
Balanço 2º semestre 1980 – SOMATÓRIA 158.000,00 137.000,00
- 137.000,00
Saldo 21.000,00 ---
1981 Saldo anterior 21.000,00
14-1 Depósito da caixa-geral 42.000,00 ---
29-1 Pago promissória RC 8 --- ---
12-2 Pago diversas. Ferramentas cheque 137203 --- 7.500,00
26-2 Pago promissória RC 9 --- ---
63.000,00 7.500,00

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CONTROLE DAS DESPESAS DE DETERMINADOS COMPONENTES UTILIZADOS NA LAVOURA, POR EXEMPLO,


DE UM PEQUENO TRATOR.

DATA ANOTAÇÕES DESPO. CORRENTE DESP. EXCEP.


3-1-81 Compra de óleo diesel 42/1. - 200 lit. 8.400,00 ---
Compra de óleo lubrificante - 20 lit, 4.000,00 ---
Compra de graxa - 5 kg. 1.500,00 ---
8-4-81 Compra de óleo diesel 42,00/1 - 200 lit. 8.400,00 ---
6-5-81 Regulada a bomba injetora e substituídas as velas aquecedoras --- 4.200,00
12-5-81 Deixado soldar reforço no braço do levantador dos implementos --- 1.500,00
18-7-81 Compra de óleo diesel - 200 lit. 10.000,00 ---
20-8-81 Substituídos os casquilhos do conjunto de direção (incluído o --- 2.500,00
serviço)
28-8-81 Material para dar nova pintura: Thinner (300,00/1.) - 3 lit. --- 900,00
Tinta (400,00/1.1 - 2 latas --- 800,00
Pincéis - 2 peças --- 460,00
30-8-81 Deixado lavar com jato quente --- 360,00
15-10-81 Compra de óleo diesel - 200 lit. 10.000,00 ---
18-11-81 Substituída a bateria — 54 Ah. --- 5.400,00
02-12-81 Compra de graxa — 5 Kg. 1.500,00 ---
Somatória 43.800,00 16.120,00
Total das despesas do trator para o ano de 1981: Cr$ 59.980,00 = Cr$ 60.000,00

Observação: ao anotar-se o tempo de uso aproximativo deste componente, pode-se avaliar o custo das despesas, o que é muito
indicado ao se prestar pequenos serviços para os vizinhos (despesas-horas). Não se esquecer do custo de amortização dos
implementos e em especial do custo homem-hora e da pequena margem do lucro que se quer obter (ninguém tem de trabalhar de
graça).

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Cada um pode fazer as contas até nos dedos e constatar que a agricultura moderna requer a atribuição de determinada área
mínima de cultivo. Para os demais produtores com propriedades menores deve-se prever a formação de cooperativas que podem
muito bem funcionar a contento de todos, desde que honestamente administradas tanto na parte econômica financeira, como em
especial na programação do uso do maquinário em relação, por exemplo, ao estado de maturação dos cereais a serem colhidos.
Resta o pequeno sitiante que vai ter até dificuldade de entrar em uma cooperativa porque o vulto das suas safras não chega a
interessar esta, sendo as despesas de locomoção deste maquinário em relação ao tempo do seu uso, fora da relação econômica
viável. Para ele só resta o ferro de corte, a enxada ou, se em escala um tanto maior, a ceifadeira de capim, com adaptador para
enfeixar o respectivo cereal. Fiz aqui, estas anotações para demonstrar a cada um a necessidade de se avaliar muito bem as compras
de maquinário, senão a caixa-geral vai ter furos dificilmente emendáveis com os demais lucros Nem com sobras excepcionais da
caixa pequena vai ser possível de se manter a dívida equilibrada, porque em geral, os juros para dinheiro não devolvido no tempo
contratado, pesam demais na balança econômica do sitiante, sendo bom lembrar do que o francês diz “Le mieux est parfois l’ennemi
du bien”, quer dizer, “Querer melhorar, torna-se as vezes o inimigo do bem estar”.
Além do caderno da “caixa-pequena” e do caderno da “caixa geral”, recomendo manter mais dois cadernos nos quais são feitas
as anotações referentes à programação das plantações em um deles, enquanto que no outro, serão anotados todos os dados referentes
à criação dos animais.
Neste último, coloca-se a cada ano, a respectiva folhinha que será de utilidade para marcar na mesma a data do cio das vacas,
cabras, etc. Quando tratar-se de poucos animais, a divisão das folhas pode ser feita de modo a abranger um ciclo produtivo de vários
anos. Junto aqui um exemplo das anotações justificadas. Visualiza-se melhor ainda a situação real do gado, mediante siglas para os
nomes dos animais e a respectiva mareação (C = cio), (R.C. = repetição do cio), (P = parição), etc. Quem quiser caprichar, pode até
fazer um organograma para a alimentação, marcando nele, em diversas cores os respectivos períodos de repouso, amamentação do
bezerro, desmama, produção, etc., para cada vaca. Parece que é perda de tempo, porém, é o melhor método de controle da produção
do leite, da avaliação das quantidades de sais minerais e de ração reforçada, no caso de produção puxada. Também a avaliação para
a classificação de animais conforme produção pode ser baseada neste método.
Em outras páginas do caderno, podem ser anotadas as ocorrências com os animais, por exemplo, de produção excepcional de
leite, o método e a quantidade da alimentação a eles administrados, em especial no caso de estabulagem a admitir 50% do tempo.

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No caso de se criar porcos, constará o número dos leitões por parição e o estado destes na hora de nascer, não se esquecendo
dos chamados “ratinhos”, que são os mais fracos, às vezes a serem criados com mamadeira, porque os coitados terão de se contentar
com as tetas traseiras da porca, nas quais o leite é sempre mais fraco, do que nas tetas da frente. Às vezes nascem mais leitões do
que tetas existentes na barriga da porca, sendo assim necessário a introdução da mamadeira, porque leitão dificilmente aceita teta
atribuída a um irmão. Pode-se avaliar a providência da natureza para dificultar a transmissão de doenças nos animais, porque com a
convivência, em geral, os animais chegam a criar anticorpos contra doenças, cuja expansão seria, todavia quase explosiva se os
leitões se infestassem diretamente pela boca, tendo todas as tetas da mãe porca, em comum, indistintamente.
A anotação do destino dado aos leitões, depois da desmama e o sucesso alcançado com estes, permite escolher no futuro, as
leitoas da melhor porca, para a procriação no sitio. Também, na compra de um leitão de um vizinho para substituir o cachaço em
tempo determinado, para se evitar demais consangüinidade, este controle permite a escolha acertada dos reprodutores para diminuir
a taxa de surpresas por degeneração da raça criada e que se deseja manter ou alterar para melhor.
Neste caderno, anota-se também, a data e o signo de lua, na hora de se proceder à castração dos machos, que é bom de se prever
sempre que possível, em lua minguante.
Pode-se indicar em poucas linhas, o comportamento dos bichos, a sua recuperação da operação, o tempo necessário à total
cicatrização. Todas estas indicações podem ser de grande importância em conjunto com outras ocorrências dignas de anotação: por
ex., a ocorrência de vermes nos intestinos que se constata, na hora do abate de animais, alertando da melhor programação da
administração, dizemos dos produtos vermífugos.
No caderno das culturas cm andamento ou previstas, pode-se fazer as devidas anotações referentes ao preparo do solo, a
quantidade de adubo orgânico e químico, juntados neste, à semeadura, ao crescimento e a safra obtida.
Não é nada desagradável, ler-se de vez em quando, as velhas anotações feitas durante anos seguidos e de se comparar estas
entre si e com as anotações mais recentes, o que permite muitas vezes, de se decidir a arriscar sem grandes problemas uma nova
variedade de cultura, com novo método de tratamento etc.
Também, quando o sitiante tem a praxe de anotar, mais ou menos, o tempo e a temperatura na respectiva época do ano, pode se
constatar que ocorrem grandes influências na cultura e safra de determinada variedade de plantas, decorrentes destes fatores. Uma
anotação muito útil é referente à ocorrência de chuvas ou de estiagem prolongada, sendo possível nesta última época, de se fazer
anotações das forragens verdes e secas dadas neste período aos animais. Para salientar melhor a utilidade destas observações, quero
anotar o ocorrido no Maciço Central na França, no início da terceira década deste século: se não me falha a memória, foi em 1932.

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Houve um verão muito seco, só com dois chuviscos leves, desde maio até setembro. Foi necessário juntar palha de trigo, do ano
anterior ao pouco de feno que se conseguiu colher, para preparar as reservas de forragens para o inverno. Para melhorar o gosto
desta mistura, juntava-se sal em cada camada de feno, antes de se colocar nova camada de palha no monte. Como era de se esperar,
tal forragem, mais ou menos aceita pelos animais, não podia alimentá-los ao ponto de se obter deles, uma produção satisfatória de
leite.
Em compensação à falta de capim, houve superprodução de batatinhas, porém de tamanho pouco negociável, o que motivou o
uso destas, após cozinhá-las em caldeirões de 150 litros, para a alimentação do gado. A quantidade do leite não aumentou muito, em
contrapartida, porém, o seu teor em caseína e gordura, ampliaram, chegando-se a uma produção bem satisfatória de manteiga e
queijinhos. O que ajudou muito na alimentação das cabras e das ovelhas, cujo rebanho era bastante grande, foi a folhagem de
diversas árvores (até de carvalho), que se enfeixava e deixava secar ao sol, antes do seu recolhe em galpão adequado. Fiz esta anota-
ção propositalmente, neste capitulo, para demonstrar de modo bem marcante, o quanto um sitiante deve ser atento para tomar todas
as providências possíveis e aproveitar ao máximo dos produtos existentes, em conseqüência das circunstâncias climáticas e locais,
que pedem variar muito de um ano ao outro. Nunca é demais rever velhas anotações nos cadernos que podem se tornar em
informações bem instrutivas e que permitem às vezes com as devidas adaptações regionais de se melhorar em muito a ração dos
animais. Não se pode excluir também, a possibilidade de melhorar em muito, as condições de pastos de “meia-caatinga” ao reduzir-
se o tempo de pastagem nelas, especialmente por carneiros, que chegam a roer até as raízes das plantas, que assim não têm mais
nenhuma chance de captar a umidade das poucas ocorrências de orvalho em regiões de grande seca. E as cabras que chegam até a
trepar em árvores com galhos frondosos muito perto do solo, acabam assim com os brotos novos destes, diminuindo-se a formação
de massa verde nelas.
Após um bom passeio pelos campos e pela lavoura, na época do fim do ano, volta-se em casa e após o jantar, à tarde, vai-se
fazendo o inventário anual da propriedade de seu domínio, tanto em imóveis, móveis, implementos, animais, o melhor em folhas
soltas a serem agrupadas, corrigidas e revistas à vontade, antes dos seus resultados serem anotados nos respectivos cadernos de
“Cultura e Criação”. Também um resumo do inventário pode ser anotado no caderno da caixa-geral, em páginas bem definidas para
esta finalidade, o melhor no fim do caderno. Quero salientar o fato de uma contabilidade bem guiada e anotada tanto no caderno da
“caixa pequena”, como no caderno da “caixa geral”, poder facilitar pela sua apresentação a obtenção de créditos bancários, quando
os balanços destas caixas são durante anos bem equilibrados, reais e conscienciosos.

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Para facilitar a compreensão da elaboração de um inventário, junto aqui, algumas páginas com anotações do inventário de
animais e de maquinários e também da avaliação da produção da lavoura e dos animais. Em si, o inventário é nada mais do que a
anotação escrita das coisas que o sitiante e até o simples caboclo deixam passar pelas suas cabeças, em relação aos bens das suas
propriedades ou a eles confiados por determinado tempo.

CONCLUSÕES GERAIS RELATIVAS À SITUAÇÃO ECONÔMICA DO SITIANTE

Deve-se deixar a cada um a avaliação das suas possibilidades de adaptação, do seu poder de trabalho e dos seus familiares, para
decidir se a vida do campo é da sua conveniência, porque para quem quer todo ano, o último modelo de máquina de lavar roupa, o
novíssimo aparelho televisor, etc., devo dizer que só uma boa fazenda vai lhe permitir isto. Porém, para pessoas acostumadas a uma
vida discreta, é lógico que não se vai passar fome em sitio, desde que o pessoal trabalhe e tenha conhecimento de como se organizar,
para não jogar de antemão dinheiro fora, antes mesmo de se tê-lo a disposição, por exemplo, com a aplicação de grande quantidade
de adubos em tempo demais chuvoso, que só o leva embora, o que ocorre muito em pronunciadas encostas de morro.
Do inventário e da avaliação da produção, tanto dos animais como das plantações, pode-se fazer uma série de combinações para
ter um balanço econômico equilibrado e para o qual é necessário considerar as principais despesas. Sem entrar em muitos detalhes, é
possível avaliar que para um casal de aposentados, por exemplo, um sítio de menos de um alqueire permite obter-se até um lucrinho
extra com a venda dos produtos em demasia. Por ex., tendo duas vaquinhas, o sitiante sempre vai ter alguns litros de leite para
vender.
O mesmo ocorre com os ovos, de uma dúzia de galinhas e a carne de coelho, é a mais saudável para pessoas de já certa idade.
Com o esterco destes animais, o sitiante vai adubando uma boa horta não muito extensa, da qual ele tira verdura, para dar e
vender. O dinheiro da aposentadoria que o casal recebe, pode ser colocado na poupança, se ele não tem outros compromissos.
Quando chega o momento de não poder mais tomar conta sozinhos do sítio, às vezes, um jovem do lugar ficará contente de
encontrar um lar, junto aos velhinhos, muito compreensivos e ele dará tudo de si para lhes agradar com o seu trabalho, para manter
as vaquinhas e os outros poucos animais, cuja criação ele vai aprendendo.
Um pequeno sítio perto de uma cidade do interior pode chegar a dar muita satisfação a um casal de aposentados e mais ainda
para um jovem que se decide a viver com eles, recebendo além da comida, cama e roupa limpa, um pequeno ordenado proporcional
aos seus esforços.

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Quando se trata de uma família que quer viver unicamente da roça, admitimos um sitio de uns cinco a dez alqueires. É bom se
proceder de um modo que parece um tanto esquisito, mas que permite uma avaliação exata da situação econômica no decorrer dos
anos. No caso de um casal com filhos, que podem já ajudar na roça, ocorre muitas vezes um atrito entre país e filhos, quando estes
percebem que o camarada do pai encontra-se em situação vantajosa em relação à deles.
Para analisar melhor este fato, faço aqui, sim exemplo de orçamento comparativo para o qual pode se atribuir um ordenado
fictício para as pessoas, tanto da família própria, como para os camaradas.

ITEM DESCRIÇÃO VALOR


1 Camarada:: Ordenado mensal pago em dinheiro 14.000,00
Pagamento do INPS 2.000,00
Compensação do aluguel a não pagar 8.000,00
Compensação para diversos produtos e lenha 4.000,00
Ajuda para o filho do camarada de 10 anos 3.000.00 3.000,00
Somatória 31.000,00
2 Para o sitiante e sua família: Ordenado fictício do patrão 15.000,00
Ordenado para o filho de 15 anos 8.000,00
Ajuda para o filho de 9 anos 2.000,00
Ordenado fictício para a patroa 8.000,00
Ajuda para a filha de 12 anos 4.000,00
Compensação do aluguel a não pagar 15.000,00
Pagamento do 1NPS e seguros 4.000,00
Somatória 56.000,00

Com este orçamento, pode-se constatar que uma tal família na roça, deveria alcançar um lucro mensal médio acima de mais ou
menos Cr$ 56.000.00, sendo na realidade gasto muitas vezes menos da metade, enquanto que o camarada está na base de Cr$
31.000,00, recebendo, todavia só Cr$ 15.000,00 em dinheiro, o que dá, mais ou menos Cr$ 3.750.00 para as compras semanais.
Mas na realidade, o camarada pode aumentar em muito o seu ordenado com o aproveitamento ao máximo dos produtos
plantados; também com a licença do patrão de vir a criar algumas galinhas, coelhos e até um porco no chiqueiro.
Qual é o patrão que negaria isto a um bom camarada? De certo, não se poderia tolerar o fato do camarada receber ordenado e ir
vender escondido os produtos da lavoura ou de presentear estes, em quantidades absurdas e provocantes ao pessoal que visita o sitio,
o que infelizmente ocorre muitas vezes.

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Também acontece que a família do camarada que recebe salário um tanto elevado, em vez de guardar uma parte para a
poupança, muitas vezes vai gastá-lo no botequim vizinho para bugigangas desnecessárias e especialmente para pagar as dividas das
bebidas.
E as anotações acima feitas para o camarada, são também válidas ara o patrão e os seus familiares, tanto as referentes à
economia como às do botequim.
A atribuição de um salário para todos os membros da família que ajudam no sítio, ainda que seja fictício, tem a finalidade de
incentivar o controle mútuo do pessoal, sem necessidade de se introduzir regras rígidas, nem a aplicação de medidas extremas de
emergência no caso de dilapidação do bem comum, por um irresponsável, fato que ocorre infelizmente ainda nos dias de hoje, sendo
o motivo principal disto a admissão de um reinado absoluto na família em vez de uma boa república, da qual todos têm de participar
pelos seus trabalhos e muito mais pela ajuda discreta na avaliação acertada do andamento dos negócios, todavia, sempre com esta
união de pensamento para o bem comum, que deve dar e dará para todos dele desfrutar, de modo justo e eqüitativo. A este sistema
de atribuição de salários fictícios cabe também, o mérito de ao menos se almejar uma determinada produção de bens reais que
permita se alcançar o equilíbrio monetário suficiente dentro de um prazo bem programado, porque no início em geral, é um tanto
difícil superar todos os contratempos e também com tal atribuição se desfaz o sentimento egoísta que poderia surgir quando um
membro da família recebe uma ajuda financeira, por ex., uma aposentadoria e considera este dinheiro como sendo só dele,
esquecendo-se de que os familiares estão dando no duro na roça, labutando, nem pensando em receber salário.
Assim, também aparecem melhor as discrepâncias entre as despesas e o rendimento, porque o lado afetivo humano só pode
existir na sua plenitude, se as finanças se encontram dentro dos limites de tolerância e de justiça.
E as economias no campo, são feitas em geral sempre com a finalidade de se melhorar na vida, em especial o ambiente imediato
de convivência mais íntima, que é a casa, mas também as benfeitorias que abrangem, estábulo, pocilga, granja etc., sem esquecer-se
de que o jardim não é para ser desprezado, nem com o tempo, uma lagoazinha com peixes, que para um sítio, é muito mais de
utilidade do que a piscina, sendo as despesas desta última bem acima do avaliado por muitos inicialmente. Também a quantidade de
água para enchê-la é tal, a exigir o seu tratamento contínuo se não tiver uma nascente ou mina de água potente à disposição para
substituir a água suja retirada da mesma. Recomendo considerar coisas assim, como piscina, boliche, etc., como sendo supérfluo
para sítios de produção porque; só quem tem já a galinha que bota ovos de ouro, pode pensar em grandes despesas para tais
distrações.
E da experiência de um amigo, a piscina do seu sítio era mais conhecida e de uso da gente da cidade vizinha do que dele
próprio, sendo feita certa vez, por uma mocinha a seguinte observação para as suas amigas:

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Deveria ser proibido a um coroa, como este, de vir sujar a água dos jovens!
Bom, o coroa era bastante bom para limpar a piscina para o fim de semana seguinte.
Então, cuidado na aplicação acertada das suas economias!

DESCRIÇÃO PARA O CROQUI DA CRIAÇÃO

Como exemplo foi indicado o caso de um sitio, com seis vacas, uma novilha e um touro reprodutor.
À esquerda, constam os nomes dados aos animais e a sua idade.
As faixas coloridas permitem visualizar os períodos de produção de leite mediante ração reforçada (1: vermelho), ração normal
(2: verde) e o período de descanso (3: amarelo), antes da parição (nascença) de um bezerro. Nestas faixas pode-se indicar no lado
superior o dia do cio do animal (C) e se ele o repete após cobertura pelo touro ou depois da inseminação artificial.
Marca-se com um ponto de interrogação a data provável do nascimento seguinte de um bezerro. A data certa será marcada com
N após a nascença deste, do lado inferior da faixa e se é bezerro (Bo) ou bezerra (Ba). Quem quiser, pode marcar também o peso
que eles têm ao nascer.

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Planilha de programação da criação e da alimentação dos animais.

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Nesta mesma folha, pode-se indicar por flecha preta, a data aproximativa da administração de vermífugo e quando foi feita a
vacina contra a aftosa, excluindo-se nesta, os animais em adiantado estado de gestação, animais com tratamentos especiais, etc., o
que aparece muito bem nesta programação, feita, todavia, mais com a finalidade de se avaliar por uma só olhada a quantidade de
ração a ser prevista e distribuída aos animais em determinado período. Por exemplo, no mês de dezembro/81, foi necessário calcular
ração reforçada para quatro vacas, enquanto duas estavam de descanso. No inicio do mês de setembro/81 a quantidade de ração
reforçada, foi só prevista para duas vacas, estando três com ração normal e uma em descanso, Para novilhas e o touro reprodutor, dá-
se uma ração toda definida, também conforme as necessidades do animal em pauta e a raça deste.
De certo, um Peão receberá alimentação mais rica do que uma novilha mestiça, que assimila melhor os alimentos mais brutos.
Em baixo, da faixa do calendário, pode-se indicar a quantidade mensal do leite obtido no total.
Quem quer caprichar, pode indicar a quantidade mensal de leite de cada animal, na respectiva faixa colorida.
Pessoalmente julgo o controle total o suficiente porque a vida do sitiante é tão atrativa de modo que ele conhece todos os seus
animais, considerando-os quase como membros da sua família e não gostando muito de se introduzir um sistema de competição
demais humano, para as suas queridinhas vaquinhas, o que o levaria facilmente à avareza infundada e não justificável para algumas,
enquanto que o bom desempenho de outras inculcaria nele um orgulho quase doentio, podendo levá-lo a gastar em demasia ração só
por vaidade, querendo alcançar uma produção de leite, bem acima do comum, mas muitas vezes de curta duração, quer dizer,
economicamente indesejável.
A marcação diária de quantidade de leite produzido pode ser feita em um caderno, a lápis. O bom é ter uma pequena caixinha
console com tampa, um pouco inclinada que se fixa em uma parede do estábulo a uma altura conveniente e de acordo com o físico
do ou dos retireiros, se possível no lugar da colocação dos latões com a peneira de pano, para coar o leite, após a ordenha de cada
vaca. Usa-se em geral para a ordenha baldes com marcação em repouso da sua graduação, o que permite avaliar a quantidade de
leite sem ser necessário o seu transvazamento por recipiente unitário chamado em geral de litro, o qual é equipado de um cabo
vertical recurvado para facilitar o seu manuseio.
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Como para as vacas, pode ser feito o controle de uma criação, de cabras, mas em geral de um modo um pouco simplificado. O
bom para a criação das cabras é de se regular pela cobertura do bode, o período mais ou menos unificado das parições em uma
época do ano favorável à produção em grande abundância de massa verde, o que facilita muito a alimentação das cabras que tem de
ser mantida muito variada para lhes guardar o apetite contínuo, porque cabra presa sofre muito e só o sitiante com conhecimento da
psique animal chega a reconhecer muitas vezes a razão da perda de produção do rebanho. Tanto como para as vaquinhas, é bom de
se dar às cabras um bom punhado de capim seco (feno) de manhã, para elas terem um fundo seco no estômago antes de enchê-lo
com as diferentes variedades de capim durante o dia todo.
Também a cabra é um animal que gosta de ter as suas horas de descanso para ruminar com toda tranqüilidade a alimentação
ingerida. Não é aconselhável dar comida fora de tempo, porque as horas para o pastoreio, a ingestão da ração e as horas de descanso
devem ser se possível bem mantidas por programação mais ou menos definidas.

DESCRIÇÃO EXPLICATIVA DO CROQUI DAS CULTURAS

A apresentação feita aqui é para se entender no sentido de vetores e não só no sentido planimétrico, quer dizer que ela abrange
tanto o tempo das plantações como a superfície, cujo valor é dado pela reta dividida em quatro parcelas. Deste modo, pode-se ver
com nitidez que o aproveitamento do solo é quase que total e contínuo o tempo todo durante anos seguidos.
A divisão em quatro partes das terras destinadas para as plantações, como apresentada no croqui seria o caso bem típico de se
ter estas em um conjunto todo unido. Todavia, em sítios com partes de terras que se encontram em lugares às vezes afastados uns
dos outros, o croqui pode abranger estas parcelas, sendo suficiente a sua localização esquemática na planta-croqui. Do lado
esquerdo, marca-se a escala do tempo em meses para os quatro anos seguidos, reiniciando-se depois praticamente o mesmo esquema
para o 5º ano e os seguintes, como para o primeiro ao quarto ano. Pode-se também incluir e/ou deixar descansar determinadas parce-
las, por ex., parte de um pasto cuja terra é boa de se arar de vez em quando. Os tipos de culturas apresentados no croqui, são mais ou
menos os correspondentes aos encontrados nas terras em redor de São Paulo, por ex., na Serra do Mar, tendo sido escolhida a
mandioca para a cultura base, porque é bom deixar parte desta para um segundo período de brotação, podendo-se obter no segundo
ano, safras com rendimento bem melhorado em relação ao do primeiro ano. Como a safra da mandioca é feita em geral nos meses
sem “r”, quer dizer, em maio, junho, julho e agosto, é aconselhável não deixar desocupadas as parcelas liberadas para não permitir o
ressecamento da terra, na qual pode ser juntado o adubo orgânico em etapas sucessivas, enterrando bem o esterco em estado de
fermentação fumegante, com o arado (que vai desenterrando as raízes profundas por ventura, não encontradas na safra).

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Quando se dispõe de um, dois ou mais meses até o plantio do milho, feijão, nestas parcelas, é bom prever uma cultura
intercalada de nabo, nelas, porque nabo nunca se tem demais em sitio, podendo-se utilizá-lo até para fazer adubo orgânico artificial,
juntos com os demais resíduos das colheitas, por ex. de milho, etc. Tais culturas intercaladas são marcadas no croqui com flecha
preta na linha correspondente ao mês da safra da mandioca na respectiva parcela.
A apresentação das demais culturas demonstra bem as parcelas plantadas em feijão das águas e em feijão da seca, conforme os
respectivos períodos do ano considerado. Todavia, para os cereais de inverno, ocorre que uma ou outra cultura requer um tempo
maior para o seu período vegetativo, deixando-se a respectiva área ocupada durante o tempo necessário até a sua maturação (ou
corte no caso da aveia em verde, por ex.), o que é também bem visível no croqui.
Tal apresentação permite não só o controle contínuo das culturas e demais plantações dos seus lugares e áreas, mas também a
sua programação contínua bem acertada em especial para a adjunção dos adubos, tanto orgânicos, como químicos. É possível
também visualizar neste croqui, o método mais fácil a se escolher para o acesso a todas as parcelas por ruas, ruelas, o que permite os
transportes tanto dos adubos, como para o recolhe das safras, sobras e demais resíduos aproveitáveis. É bom não deixar imutáveis as
ruelas dentro das parcelas para evitar-se a invasão maciça de ervas daninhas e outras pragas que facilmente ali se alojam. O bom é
de se tombar, de vez em quando, com o arado, estas ruelas na medida em que se vai aproveitando da terra. No caso destas ruelas
serem muito compactadas, aguarda-se a época da chuva, para a elaboração deste serviço, porque o terreno bem úmido parte-se
melhor e não há formação seguida de torrões de terra, tão difíceis de se desfazerem com a grade, em especial, quando a terra é um
tanto argilosa. A apresentação é de se entender como sendo só esquemática e ilustrativa, para dar-se um exemplo da programação
possível de se conseguir com as culturas figurativas, considerando-se a época do plantio, ciclo vegetativo, época da safra e também
no caso de escala acertada no croqui, o tamanho aproximativo da parcela ocupada pelas plantações, às vezes bem diversificadas, que
se pode escolher de acordo com as condições climáticas, etc., regionais.

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Figura 39 – Croqui.
(Vide também a figura 40). Divisão das terras de culturas em mais ou menos 4 partes.

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Observação: - Uma cultura não pode ser considerada rendosa só pelas toneladas por hectares dela obtidas, porém é necessário
se considerar o tempo durante o qual ela ocupa a terra, Também o preço do produto é de grande importância, não se esquecendo,
todavia dos custos, despesas de trato etc., chegando-se à conclusão de que às vezes uma pequena área de alho bem tratada, dá mais
lucro do que um a dois hectares de mandioca com falta de adubação orgânica.

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INVENTÁRIO DOS ANIMAIS - (avaliado)


Item N.º Descrição e Observação Valor
1 1 Vaca “Pintada” 9 anos bom rendimento, muito mansa. 25.000,00
2 1 Vaca “Princesa” 7 anos regular (trabalha) bom peso 40.000,00
3 1 Vaca “Belota” 6 anos ótima (trabalha) peso médio 70.000,00
4 1 Vaca “Waitu”, 5 anos, com bezerro, boa de leite. 65.000,00
5 1 Vaca “Morena” 4 1/2 anos (trabalha) bom peso e rendimento 60.000,00
6 1 Vaca “Bambi” 4 anos regular 45.000,00
7 1 Novilha “Mimi” 2 1/2 anos (p, trabalhar) prenhe – 2 meses. 50.000,00
8 1 “Barão” 2 1/2 anos (trabalha) bom reprodutor 40.000,00
SOMATÓRIA 405.000,00
9 1 Cavalo “Lazão” 8 anos. Montaria e qualquer serviço 35.000,00
10 1 Porco, cachaço capado, p/ matança = 180 kg; 12.000,00
11 1 Porco, cachaço 8 meses para produtor. 8.000,00
12 1 Porca c/ 10 leitões 3 semanas (2ª cria) 16.000,00
13 1 Porca cai descanso 3 anos (5 crias) 8.000,00
14 1 Porca com 11 leitões, 5 semanas (4ª cria). 14.000,00
15 3 Porcos de engorda + ou - de 50 kg de média 15.000,00
16 6 Leitões desmamados de + ou - 12 a 15 kg. Cada (calculado 80 kg a 14.400,00
180,00/kg).
SOMATÓRIA 87.400,00
17 6 Cabras entre 1 a 3 anos regulares a 10.000,00 cada 72.000,00
18 10 Cabras entre 3 e 5 anos boas de leite a 14.000,00 cada 140.000,00
19 7 Cabras a mais de 5 anos regulares a 10.000,00 70.000,00
20 1 Bode bom reprodutor 4 anos, bonito. 8.000,00
21 1 Bodinho futuro reprodutor 10 meses, bom porte. 9.000,00
Somatória 299.000,00
22 6 Ovelhas diversas idades e porte + ou - 7.000,00 cada 42.000,00
23 1 Carneiro reprodutor 2 anos 9.000,00
24 8 Carneirinhos de idade variada, média de 3.000,00 cada. 24.000,00
SOMATÓRIA 75.000,00

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INVENTÁRIO DOS ANIMAIS (avaliado)


Item N.º Descrição e observação Valor
25 4 Coelhos de cria média 800,00 cada 3.200,00
26 1 Macho de 1 ano 1.200,00
27 18 Coelhinhos de 4, 6 e 9 meses, 200.00 média cada 3.600,00
3.600,00.
28 8 Coelhos meio crescidos (p. abate), 800,00 cada. 6.400,00
SOMATÓRIA 14.400,00
29 27 Galinhas de mais ou menos 2 anos, a 350,00 cada. 9.450,00
30 14 Galinhas de mais ou menos 1 ano, 450,00 cada·. 6.300,00
31 2 Galos de boa origem, 600,00 cada. 1.200,00
32 5 Patas de várias idades, 320,00 cada 1.600,00. 1.600,00
33 1 Pato (4,8 kg), 500,00 500,00
SOMATÓRIA 19.050,00
34 7 Casais de pombos, 800,00 o casal, mais ou menos. 5.600,00
35 20 Pombos de meio crescimento p/ abate, 200,00 cada. 4.000,00
SOMATÓRIA 9.600,00
36 4 Gansos 3 e 4 anos, 1.400,00 cada. 5.600,00
37 1 Macho 2 anos 2.200,00 2.200,00
38 10 Gansinhos diversas idades, 400,00 cada. 4.000,00
SOMATÓRIA 11.800,00

39 Somatória itens 1 a 38 405.000,00


35.000,00
87.400,00
299.000,00
75.000,00
14.400,00
19.050,00
11.800,00
Inventário dos animais – Valor total Cr$ 946.650,00

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INVENTÁRIO DO MAQUINÁRIO E IMPLEMFNTOS - (avaliado)


Item N.º Descrição e anotações Valor
1 1 Trator MeF. a ser reformado, pneus em bom estado. 110.000,00
2 1 Jipe-59 reposto tudo a 0 km, pneus bons, estado geral de conservação = regular. 150.000,00
3 1 Caçamba basculante para o trator, bastante usada. 10.000,00
4 1 Caçamba não basculante, p/ o jipe — bom estado. 12.000,00
5 1 Carroça p/ cavalo, usada, rodas de pneus. 7.000,00
6 1 Charrete usada, eixo bom e rodas ótimas. 40.000,00
7 1 Lítra para terreno inclinado 4.000,00
8 1 Rastador com rodas de aro de ferro 6.000,00
9 1 Arado tombador duplo c/ rodas de ferro, usado, mas com pontas de aço de mola (p. 2 12.000,00
animais).
10 1 Arado leve tombador duplo (p. 1 animal) 5.000,00
11 1 Grade de disco (10 discos) estado regular 10.000,00
12 1 Grade de dentes, estrutura losangular de ferro. 2.000,00
13 1 Riscador tipo francês, usado. 2.500,00
14 1 Carpideira, um tanto fraca, usada. 1.500,00
SOMATÓRIA 372.000,00
15 1 Motor Diesel estacionário 6 a 8 CV 150.000,00
16 1 Picadeira e moinho combinados, usada. 30.000,00
17 1 Debulhadeira de milho, bem usada. 12.000,00
18 1 Serra circular com folha de 60 cm, usada. 8.000,00
19 1 Moto-Serra Mc. Culloch (compra ocasional) usada 20.000,00
20 1 Ralador de mandioca, usado 2.000,00
2.1 1 Prensa de mandioca. Const. Própria 3.000,00
22 1 Chapa-tacho especial aço-inox 8.000,00
SOMATÓRIA 233.000,00

Inventário Maq. e implementos - Valor Total 605.000,00

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INVENTÁRIO DAS FERRAMENTAS


Item N.º Descrição e anotações Valor
1 4 Enxadas cm bom estado 600,00 cada 2.400,00
2 2 Enxadas no fim de uso 100,00 cada 200,00
3 3 Enxadas, estado regular 400,00 cada. 1.200,00
4 2 Alfanjes com cabo especial (nacional) 1.200,00 2.400,00
5 2 Gancho limpa-roça mais ou menos conservados, 350,00. 700,00
6 2 Gancho arranca batatinha 600,00 cada 1.200,00
7 1 Gancho tipo p/ vinhedos 700,00 700,00
8 1 Forca três dentes p/ capim seco (feno). 1.200,00
9 2 Forcas quatro dentes p/ esterco 450,00 cada 900,00
10 1 Cavadeira pesada 1.600,00
11 1 Cavadeira leve 1.200,00
12 2 Machados, ótimo estado 1.200,00 cada. 2.400,00
13 1 Serra de Arco 3.000,00
14 2 Foices em estado regular 850,00 cada 1.700,00
15 1 Foice alfanje especial 600,00
16 2 Ferros de arroz 800.00 cada 1.600,00
17 1 Podão p/ recolhe de folhagem 700,00
18 2 Picaretas usadas 500,00 cada 1.000,00
19 1 Enxadão — machado cruzado 1.400,00
20 2 Pá-vanga cota cabo comprido 700,00 cada 1.400,00
21 1 Pá-vanga para horta 500,00
22 1 Forca-vanga para horta 700,00
23 1 Pá usada de folha larga 400,00
24 2 Rastelo de aço p/ horta 250,00 cada 500,00
Inventário de ferramentas. Valor total 29.600,00

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AVALIAÇÃO DOS IMÓVEIS E DAS TERRAS - (avaliado).


Item N.º Descrição e anotações Valor
1 1 Casa regular — copa-coz. -sala e/ peq. lareira, banheiro completo, 3 quartos, varanda fechada. 1.400.000,00
Const. de 25 anos. Instalação elétrica a qualquer prova = 2 anos. Água quente por aquecimento
tubular no fogão e na lareira.
2 1 Casa p/ camarada, estado regular const. 30 anos, c/ copa-sala-cozinha conjugada e 2 quartos; 520.000,00
banheiro c/ ducha quente, desde o fogão de lenha (era antiga moradia do dono).
3 1 Galpão-garagem encostado no morro, no qual foi cavado um porão com subdivisões conforme 250.000,00
finalidade, com água de mina encanada.
4 1 Estábulo tipo-francês p/ 12 animais, com andar superior de acesso em meia encosta de morro 480.000,00
(depósito de capim seco, palha, etc.).
5 1 Alçapão lateral ao estábulo p/ o maquinário e a picadeira, sendo o motor colocado num cubículo 150.000,00
fechado e servindo tanto para a picadeira como para a serra circular.
6 1 Pocilga com oito divisões 220.000,00
7 1 Galinheiro antigo, transformado p/ animais de meio-porte (cabras, ovelhas, etc. contem também 180.000,00
coelheira).
8 1 Casa de ração e paiol conjugado com o porão p/ guardar batatinhas, etc. 150.000,00
SOMATÓRIA 3.350.000,00
Avaliação das terras
9 3 Alqueires em piquetes p/ pastos e p/ capim de corte, topografia variada = 350.000,00/alq. 1.050.000,00
10 2,5 Alqueires em terras de culturas diversificadas, topografia em parte plana = 400.000,00/alq. 1.000.000,00
11 0,5 Alqueire de reflorestamento, eucaliptos e pinhos, tenra com fundo de piçarra = 200.000,00/alq. 100.000,00
12 4 Alqueires de capoeira variada, em parte servindo para pastoreio dos animais, topografia acidentada 1.000.000,00
= 250.000,00/alq.
SOMATÓRIA 3.150.000,00
Avaliação de imóveis e terras – Valor total 6.500.000,00

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AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO ANUAL EM PLANTAÇÕES, POR EXEMPLO, PARA O 5º ANO (IGUAL AO 1º),
CONFORME CROQUI.
1 - Mandioca. Safra avaliada em 30 ton/ha para o 2º ano e em 15 ton /ha para o 1º ano.
Superfície aproveitada para a safra de 2º ano = 5/8 de 1,7 ha = 1,06 há.
De 1º ano = 3/8 de 1,7 ha = 0,64 ha..
Colher-se-á:
— 1,06 x 30 = 30 ton.
— 0,64 x 15 _ 9,6 ton.
Total = 40 toneladas.
Destino da safra: 20 ton. p/ raspas utilizadas na alimentação do gado.
Valor real a calcular = 10,00/kg __ 200.00,00
20 ton. p/ farinha com rendimento de mais ou menos 30% (6.000 kg).
Valor real a calcular -35,00/kg __ 210.000,00
2 - Feijão. Superfície de plantação anual (água e seca) 1,5 + 1,7 + (3/8 de 1,7) = 3,8 há; se colher mais ou menos 3,200 kg/há a
safra renderá = 4.560 kg ao preço unitário de mais ou menos 70,00/kg = 320.000,00; ou seja, 76 sacos de 60 kg a 4,
200,00/saco (320.000,00).
3 - Milho. Mesma superfície como a do feijão 3,8 ha a 2.500 kg/ha = 9.500kg; 10O toneladas 60 sacos de 60 kg a 1.040,00/saco
=166, 400,00.
4 - Batatinha. 0,4 ha = 4.000 m2; colheita de só 8.000 kg/ha = 3.200 kg = 50 sacas a 3.000,00/saco = 50.000,00.
5 - Centeio. (1.4 ha — a só 1,000 kg/ha 400 kg (previsto para panificação).
6 - Adlay. 0,2 = 2.000 m2 a só 1.500 kg/há - 300 kg — para as galinhas.
7 - Alho. 0.1 ha = 3.000 m2 a mais ou menos 3.000 kg/há = 300 kg = 30 cxs. de 10 kg; 5.000,00/cx = 150.000,00.
8 - Nabo. Venda de um caminhão de nabo: 5,000 kg a 20.00/kg = 100.000,00.
9 – Aveia, colza, etc. — só para uso no sítio.
Somatória = Cr$ 1, 196, 000, 00, arredondado = Cr$ 1.200.000,00

175

AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO ANIMAL


1 - Carne:
a) da venda de bezerros em um ano = 100 arrobas a 3.000,00/arroba = 300.000,00;
b) dos cabritos: calcular com a venda de mais ou menos 30 cabritos/ao ano na base de mais ou menos 5 kg cada a 300, OO/kg =
45.000,00;
c) Venda de mais ou menos 50 leitões durante o ano, cada um com mais ou menos 10 ½ a 180,00/kg = 90.000,00;
d) Venda de mais ou menos 50 coelhos/ano de 2,5 kg limpos o que dá 125 kg de carne a 350,00/kg = 43.750,00;
e) Liquidação de mais ou menos 20 galinhas/ano p/ canja de 2,5 kg cada — 50 kg a 350,00/kg = 17.500,00;
f) Venda de mais ou menos 40 frangos de 1,5 kg cada = 60 kg a 450,00/kg = 27.000,00
Somatória = 523.250,00.
2 - Leite e os seus produtos:
a) Vacas. Calcular com mais ou menos 10 litros/dia vaca durante 200 dias ao ano = 2.000 lit./vaca ano 6 vacas x 2.000 = 12.000
lis/ano. Deixar 1/3 parte p/ criação de bezerros e para a mistura de leite de vaca com o leite de cabra na fabricação dos queijinhos.
Venda de 8.000 litros de leite a 40,00/lit. = 320.000,00;
a.1) Alternativa: se em vez de vender o leite, produzir-se-á manteiga, na base de 28 lit. de leite por kg de manga, teremos mais
ou menos 300 kg de manteiga ao ano, ou seja, mais ou menos 6 kg por semana, ao preço de só 1.200,00/kg (revendedor) obter-se-á
360.000,00/ano ou 7.200,00/semana.
E o baixo leite ficará para a alimentação dos porcos, junto com as águas de lavagem na base de mais ou menos 30 lit/dia (200
litros semanais).
b) Cabras — calculando-se por baixo, pode-se admitir 1,5 lit/dia/cabra de leite durante 180 dias = 270- lit/ano cabra.
No caso seria 23 x 270 = 6.200 lit/ano.
Calculando-se a adjunção de 1 lit. de leite de vaca para cada 5 litros de leite de cabra, obteremos: 6.200 + 1.240 = 7.440 lit. de
mistura que com 7 lit/kg dá p/ fazer 1.000 kg de queijo.

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Admitindo-se a elaboração de especialidade em queijo velho, temos de calcular com mais ou menos 15% de perda na cura do
queijo. (O tratamento cuidadoso para o envelhecimento dos queijinhos não pondera muito na sua perda de peso, porém, influencia
em muito a sua qualidade e afeta assim a sua classificação, sendo os queijinhos pagos por classe de qualidade).
Pode-se admitir a obtenção de 850 kg de queijo velho, sendo:
- 20% = 170 kg pago a 5.000.00/kg = 850.000,00
- 30% = 255 kg pago a 4.000,00/kg = 1.020.000,00
- 50% = 425 kg pago a 3.000,00/kg = 1.275.000,00

Preço médio obtido = 3.817,60/kg. E o soro de leite vai para a criação dos porcos, sendo uma guloseima para os leitões, quando
misturado com rapas de mandioca, nele amolecidas. Pode-se calcular em cheia produção com quantidades de soro acima de 20
lit/dia.
Recomendo regular o tempo das parições, para o início da primavera, o que permite a obtenção de uma quantidade anual de
leite e queijo bem acima da anotada para estes cálculos (cabras em cheia lactação com quatro e cinco litros/dia, não são raras na
Europa). O importante é a alimentação bem equilibrada e bem variada para estes bichinhos, um tanto caprichosos, não sem razão,
chamados de rainhas e princesas.
Somatória: A —B
Devemos considerar as variedades de produção, escolhidas:
A — Venda do leite de vaca e fabricação de queijinhos com o leite de cabra. 320.000,00 + 3.145.000,00 = 3.465.000,00.
B — Venda da manteiga feita com leite de vaca e dos queijinhos do leite de cabra. 360.000,00 + 3.145.000,00 = 3.505.000,00.
Obs.: 1 - Não resta dúvida de que uma especialidade bem determinada e típica, elaborada em sítios, pode chegar a se tornar em
uma fonte de renda interessante e bem acima das usuais, o que permite se obter um bom lucro, ainda que descontado dela, todas as
despesas para a melhoria das instalações que de certo, devem ser bem adequadas (a maioria das vezes melhoradas no decorrer dos
anos).
2 - Os preços de venda admitidos neste exemplo não são nada exagerados, porque se chega a ofertas incríveis para um produto
todo especial e de ótima qualidade por parte de revendedores com boas ligações nos centros comerciais e hoteleiros.

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20º ÍTEM — LIDAR COM DINHEIRO E OUTROS VALORES

Por força da natureza, em geral, o pessoal que trabalha na roça e que nela progride, é do calibre técnico e não gosta nem de
pensar em muitas transações de valores. Uma conversa relativa às plantações, colheitas, etc., é muito mais agradável para a maioria
dos sitiantes do que sobre valores monetários e vantagens fiscais.
Porém, também existem as outras pessoas, que dizem que trabalhar muito é besteira, porque assim, não se tem tempo de ganhar
dinheiro, nem de gastá-lo; grande parte dos homens já o sabe e desfruta da vida, com o mínimo de esforço possível.
Como a posse do dinheiro, hoje em dia, não é sempre fruto de trabalho árduo, mas muito mais da transação do fruto de trabalho
árduo dos outros, convém lembrar que existem neste mundo, muitas pessoas que têm por princípio de que enrolar o próximo não é
proibido, porém, de que é estritamente proibido é de se deixar apanhar neste negócio de enrolar o outro.
Não é sem razão também que um amigo respondeu ao outro que se queixava a ele, depois de cair em umas destas frias, que dão
até para partir os ossos: — Não sabia que bom e besta, começa pela mesma letra! De fato, nunca é demais ficar alerta e de se cuidar
bem das suas decisões porque em matéria de dinheiro até quando a esmola for grande, dá para o santo desconfiar.
Agora, considerar o dinheiro como sendo obra do diabo, como muito pregado por pessoas muito zelosas, é estúpido, porque o
dinheiro é muito útil ia sua forma que facilita o intercâmbio de valores tanto entre sitiantes vizinhos e menos vizinhos. O dinheiro é
de se considerar no seu valor real, sem abuso e também sem desejo de posse excessiva dele, porque o dinheiro aplicado na base de
juros e juro de juros, vai se desgastando.
Vale relembrar aqui, o que ocorreu na Idade Média, quando o grande centro comercial e das finanças era Florença, na Itália.
Neste tempo, para não desgastar o dinheiro, no seu valor nominal por operações inflacionistas, foi estritamente proibido aplicá-lo
em negócios na base de juros, seja por bancos ou por particulares. Era, todavia, permitido cobrar uma multa no caso da não
devolução do dinheiro no tempo combinado para o empréstimo. Então o único jeito era de se diminuir o prazo do empréstimo, por
exemplo, em vez de um ano, só para um mês, cobrando-se multa desde o segundo mês. Que a aplicação do dinheiro a juros o
desgastava também era conhecido dos franceses, sendo o nome dos corretores de bancos “usurier”, quer dizer “desgastador”, o que é
bem contrário ao “percepteur” de hoje.

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Também em países com inflação muitas vezes galopante, não se pode ignorar que dificilmente o valor real do dinheiro
acompanhará a alta dos preços dos produtos e que a taxa dos juros cobrados chega às vezes a limites de ficção.
E quando um país chegar à beira do colapso bancário em conseqüência das repercussões do pouco valor das suas reservas
monetárias baseadas nos valores materiais, só lhe resta basear o seu potencial monetário na sua força de trabalho conjunto, que é
também um valor às vezes muito maior do que aquele das reservas de determinados metais, um tanto duráveis na sua forma
material, porém, de fácil eliminação, como valor monetário.
Até o sitiante mais humilde, sabe o quanto são inseguras as reservas na forma de moedinhas e que guardar dinheiro vivo em
casa, não faz sentido, porque ladrão não respeita nem aliança deixada pelo sitiante na gaveta, em casa, para não desgastá-la, no cabo
da enxada na lavoura.
É de se recomendar a todos os sitiantes de ter a sua conta em um ou vários bancos da cidade mais próxima para depositar as
suas economias e os valores importantes recebidos em dinheiro, na venda dos produtos ou de animais. Para quem não conhece como
preencher tanto a ficha de depósito de dinheiro, como o cheque com as respectivas anotações no talão, é bom fazer amizades com
um funcionário honesto e muito sério do banco, o qual o atenderá e o encaminhará a um colega de confiança, no caso de tratar-se de
assunto fora das suas competências.
Em regra geral, é bom lembrar de que um cheque tem o valor que lhe damos, desde que a sua cobertura seja segura, o que
implica em um controle contínuo do montante depositado em dinheiro no banco.
Para quem viaja muito ou para quem vai fazer uma viagem no exterior, é bom se informar, visto que existem cheques de
viagem, que dão grande garantia ao usuário, pela necessária assinatura em duplo na presença de um funcionário, a primeira no
banco emitente, e depois no banco que admite o cheque. Os cheques de viagem são aceitos na maioria das agências dos bancos
internacionais. Todavia é bom saber que em vários países, só se pode receber dinheiro, em troca de um cheque, quando se tem conta
bancária aberta neste país. Pessoalmente já consegui receber o dinheiro, sem ter conta bancária aberta, deixando o cheque em nome
de um gerente do banco de toda confiança, porém, com nome, número etc., tudo bem indicado.
Em especial, nunca se deve esquecer de que um cheque barrado não pode ser cobrado em dinheiro, mas o seu valor será
depositado em uma conta bancária a indicar pelo depositante.

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Este método permite localizar facilmente vigaristas ou os receptadores, que assim não tem grande chance de aproveitar de
cheques roubados ou falsificados.
Saber lidar com cheques, é muito recomendável e usar este método de pagamento é muito mais seguro do que ter dinheiro vivo
no bolso. Mas o uso de cheque tem também limites. Conheço pessoas que pagam até importância irrisória em cheque só por
esnobismo de poder mostrar a posse de talão de cheque especial. Quem viaja para grandes cidades, todavia, é bom ter uma
determinada importância em dinheiro vivo, como para o pedágio; para os nossos irmãos com o espírito perturbado e não ainda
afastados do convívio geral, porque bandido que mata por vingança de não receber dinheiro da vítima é um doente mental
qualificado e nem respeitado pelos seus semelhantes. Mas não são estes os maiores vigaristas. Da experiência do meu camarada no
sitio e de sitiantes vizinhos, posso desvendar um truque usado pelos vigaristas à cata de dinheiro fácil, ao se visitar as pessoas na
roça, dizendo-se gerente e funcionários de conceituado banco de cidades, em geral um pouco afastadas, mas que vai abrir
aproximadamente uma agência no lugar. Então eles oferecem tantas vantagens ao abrir-se uma conta no mesmo dia, desde que o
sitiante pague uma pequena importância que varia conforme o tipo de gente encontrado, que pode ser de só dois a cinco mil
cruzeiros, o que corresponde ao dinheiro economizado e guardado para uma emergência. Quem cai na conversa, não deve mais
esperar rever o dinheiro, é inútil. Pode-se fazer a pergunta se estes malandros, bem vestidos e de boa fala, conseguem mesmo obter
tanto dinheiro assim, para ter vida mansa à altura da apresentação? Vale anotar, que não foram raros os sitiantes que perderam Cr$
25.000,00 ou mais. (Bem, porque não ter confiança em uma pessoa que conhece bem o prefeito e é até amigo do padre ou do pastor,
conforme o caso da conversa em pauta. Boa fala nunca faltou, a este tipo de gente!).
Houve até o caso de um sitiante que vendeu boa parte do seu gado, porque chegou um interessado, quase que na hora da visita
do pessoal do “banco postiço” e ao aplicar o dinheiro recebido em notas, contra ações preferenciais com lucros formidáveis, foi
assim perder Cr$ 42.000,00, isto em uma época (oito anos atrás), quando o dinheiro não sofria ainda tanto da doença chamada
“inflacionitis”. E parecia tudo tão bem em ordem, que no fim o sitiante aceitou tudo não desconfiando de nada, muito contente por
esta oportunidade de venda excepcional, de parte do gado, que foi embarcado em um caminhão com placa de Santa Catarina, placa
esta que foi perdida na BR-116, pelo dono de uma jamanta. Foi um golpe muito bem montado pelos vigaristas. Anotei estes casos
aqui, para demonstrar aos moradores de sítios, fazendinhas, o quanto se deve ficar alerta e de desconfiar de pessoas desconhecidas
em especial, quando as propostas são excepcionais.
Em todo caso, sempre é bom de se manter os seguintes princípios:

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- tratar de assuntos financeiros importantes só com pessoas conhecidas e de comprovada confiança;


- aceitar o pagamento de produtos ou componentes de vulto só em dinheiro ou com cheque visado no banco, o melhor é
acompanhar o comprador ao banco no qual ele vai deixar visar o cheque;
- no caso de pagamento de produtos ou animais com cheque comum, só deixar sair a mercadoria após comprovação do fato des-
te ter cobertura suficiente, ou melhor, após sacá-lo no banco. Não custa muito combinar com o comprador de vir buscar a
mercadoria só amanhã;
- em qualquer caso duvidoso, só aceitar pagamento a vista e em dinheiro, em especial para pequenas importâncias;
- no caso do comprador oferecer nota de grande importância para pagar um objeto de valor, relativamente pequeno, quando não
tiver troco suficiente, é melhor oferecer-lhe um cheque no valor da diferença, porque a promessa de pagar amanhã é arriscada. Mui-
ta gente sabe que, quem se esquece, não paga mais; enquanto o certo é de se lembrar de que quem já pagou, não o esquecerá.
- controlar sempre e continuamente o andamento tanto dos pagamentos, como em especial do saque e depósito de cheques
recebidos;
- como em tudo que o sitiante empreende, vale também para todas ou qualquer operação com dinheiro o velho lema que diz:
"confiando desconfiando”, que quando aplicado a tempo, já salvou muita gente de erros e até da ruína total. Isto não quer dizer de se
desconfiar dos melhores e comprovados amigos, mas até saber se um amigo merece toda a sua confiança, não é nada mal de se
aplicar este lema também até para ele!
Do controle das caixas, contas bancárias e demais valores, o sitiante pode determinar o valor dos bens da sua propriedade e dos
seus familiares. Mas o melhor é continuar modesto e não demonstrar muito as suas coisas, porque tal procedimento, só atrai inveja e
leva ao orgulho.
- Assim, muitas rondas vai se pagando para os amigos bajuladores que muitas vezes são falsos, implicantes e até temerários ao
ponto de dizer coisas que a gente não poderia imaginar, nem sonhando.
Em determinados casos, é bom ter uma explicação concreta com tais amigos, quando eles pretendem conhecer melhor as
anotações feitas nos cadernos da gente;
- E nunca esquecer que as moedinhas são redondas para rodar, quer dizer que o dinheiro é feito para a gente dele aproveitar, na
medida justa e certa, porque também nem de mão demais fechada vai-se poder segurar todas as moedinhas apertadas.

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Boa praxe é pagar certa importância, iniciando-se com os trocadinhos e dar só depois, as notas grandes no balcão ou no caixa.
Este método já evitou muitos dissabores, em especial, quando a gente se encontra em ambiente um tanto animado e com pessoas
desconhecidas. Não posso terminar um capítulo tão importante como este aqui, que trata de dinheiro, sem deixar de avivar o
ambiente com duas anedotas:
— Pedro, ao encontrar o seu amigo Mário, que estava bem de vida, vendendo amendoim na esquina, graças ao seu jeito de vida
econômica, lhe pediu de empréstimo, cem cruzeiros.
— Não posso, respondeu Mário.
— Pedro - Dá cinqüenta.
— Mário - não posso.
— Dá vinte, Mário, se tem tão pouco assim!
— Não posso, respondeu ainda Mário.
Pedro, então, perdendo a paciência, diz:
— Mário, não fomos sempre bons amigos, se você não pode me emprestar 20 cruzeiros, me explique ao menos o porquê. Então
Mário respondeu:
— Sabe, Pedro, eu tenho contrato com o banco aqui da esquina. O banco não tem direito de vender amendoim e eu não tenho
direito de emprestar dinheiro.
— Na reunião das classes dos antigos alunos, de certa escola conhecidíssima, encontraram-se os amigos dos velhos tempos da
juventude, entre eles também um “podre de rico”, e o interessante era o fato dele não ter sido uma grande luz de inteligência, ao
contrário, ele brilhava de lanterninha nas aulas de aritmética.
Durante a festa, ele chegou a sentar-se perto do velho professor, que lhe fez observar o fato curioso dele, que nunca entendeu
nada de cálculos, chegar ao ponto de ser o mais rico de todos.
Averiguando um pouco mais o caso, o professor lhe pediu como ele conseguiu isto. — Bom, professor, foi muito fácil sabe; eu
comprava coisas por um dólar e as revendia por três dólares, chegando assim, a ganhar três por cento, não é?
Então, que todos se cuidem na avaliação dos valores reais, não se esquecendo de que a caixa econômica paga só seis por cento
de juro ao ano e que o resto é correção monetária, que pode e vai variar ainda muito no correr dos anos.

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Devo deixar a cada um, fazer os cálculos das suas possibilidades financeiras, das especulações e porque não dizer também das
ilusões, não sendo excluído de que até estas últimas se tornam ação motora de um empreendimento.
E como Juan, o marujo catalão, que contava sempre aos companheiros de quarto o quanto era bonita a sua casa ao lado da
melhor praça da cidade. E a sua mulher tão queridinha e as suas duas crianças tão lindas e ligadas ao pai. Era o seu paraíso
longínquo!
O dia que o navio atracou em Barcelona, um seu amigo ao vê-lo descer em terra, perguntou-lhe se ele poderia ir também para
sua casa. Ao sim, balbuciado ele estranhou do Juan não o ter convidado antes para ir com ele. Não podendo recusar, foram-se lá
então os dois juntos, de bonde até o centro da cidade, indo depois de ônibus até os fins-fins desta cidade. Após muito andar, próximo
a um muro comprido de uma ruela, o Juan se enfiou por um buraco chamado “porta de acesso ao cortiço”. E o amigo a espera dos
acontecimentos escuta uma criança chamar, sem mesmo, deixar de brincar com o cachorrinho: Mãe, o pai chegou! E de um reduto
do cortiço saiu não só voz grossa, mas também os dois calçados, bem na direção do Juan: — Vagabundo, ao menos trouxe dinheiro?
O amigo ao aproximar-se do Juan, lhe pediu: — Juan é aqui que você mora? — Sim! — E esta é sua mulher e suas crianças? Sim!
Mas então que é esta estória que você nos conta nas noitadas em alto mar? Então o Juan deu a explicação: — Amigo, deixe-me ao
menos a ilusão de como poderia ser!

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21º ITEM — AGRUPAMENTO DAS CONSTRUÇÕES RURAIS, SIMPLES E FUNCIONAIS EM UNIDADE FECHADA.

Em sítios e fazendinhas, é muito importante saber projetar e construir imóveis funcionais desde o início, acrescentando-lhes
dependências no decorrer do tempo. Baseado nas experiências centenárias dos franceses e de outras nações convém observar que se
pode lucrar muito em cercados, áreas de serviço e em especial em tempo necessário às tarefas diárias, com a disposição adequada
das construções rurais, considerando-se o necessário afastamento entre estas para evitar incêndios generalizados, pragas excessivas
de insetos (moscas, etc.) na casa, formando-se assim, todavia um cortil fechado à noite pelos portões principais, podendo-se soltar
nele um cachorro, bom guarda, se não, bem bravo, o que afasta os ladrões e vagabundos indesejáveis.
Junto, aqui, uma planta de um projeto viável em terreno plano ou com pouco aclive, o que evita o empoçamento de água de
chuva. Pode-se salientar que a casa de moradia que se pretenderia aumentar no futuro, deverá ser projetada um pouco mais do lado
do galpão da lenha, podendo-se acrescentar dois quartos a mais com deslocamento do banheiro.
A junção do estábulo das vacas com a pocilga, permite o recolhe geral da urina e águas de lavagem em uma fossa apropriada
em baixo da esterqueira, mediante canais ou tubos por baixo da passagem entre a esterqueira e o estábulo, respectivamente a
pocilga. Aproveitando-se desta disposição, pode-se prever mangueirões para os porcos nos quais se plantará árvores para sombreá-
los, durante os dias quentes de verão. Posso recomendar a uvaia ou outra com folhas caducas, de modo que o chão será bem
ressecado durante a época do inverno, nos mangueirões. Observa-se que no projeto foi considerado um ambiente meio fechado,
destinado ao caldeirão, no qual se cozinha para os porcos, junto ao galpão, onde se guarda a lenha seca e os implementos agrícolas,
do lado da pocilga, o que facilita a distribuição da comida para os fornecedores de pernil, toucinho e assados de dias de festa. No
lado da horta, pode se prever a construção de uma coelheira com dois ou três andares, encostada na parede que serve de parte
própria desta. Sobras da horta são facilmente levadas no carrinho e um punhado de feno, para cada gaiola pode ser aprontado na
granja, acima do estábulo e levado em uma grande cesta bem leve, para a coelheira. Na frente da casa, foi previsto, um jardim com
arvoredo e a horta.

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Figura 40 — Projeto da disposição dos edifícios rurais em um sitio ou fazendinha de modo a obter-se um “cortile” fechado.
(ver para casa o projeto M: 1:100).

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Figura 41 — Projeto de casa para sítio e fazendinha, bem funcional e com possível aumento lateral para família numerosa. A
= Armários embutidos.

As paredes da casa podem ser revestidas com parreiras esticadas em cordões (a pereira Williams é muito adequada para esta
finalidade em regiões não excessivamente quentes).
Também um parreiral de uva de mesa, não é desprezível, especialmente em forma de caramanchão na passagem pelo jardim.
Perto do portão principal de acesso a uma estrada importante, pode ser construída a casa de moradia de um camarada, que assim
vigia as chegadas sem incomodar o proprietário. Em continuação a esta casa, pode ser construído o galpão para garagem dos
veículos automotores, caminhão, trator, etc., e depois o galinheiro e os estábulos para ovelhas, cabras, etc., o que permite de se
prever cercados adequados para estes animais de pequeno porte na frente dos respectivos recintos.
No caso de ter bons pastos de capim recomendo, prever um pequeno lugar para alguns gansos que são vigias noturnos, tão bons
como cachorros. Só que os gansos ao contrário dos cachorros não diferenciam tão bem o pessoal estranho do pessoal de serviço,
com a conseqüente barulheira, à noite, se porventura o pessoal voltar tarde ao sítio. Como já descrito em outro capitulo, o melhor é
ter um bom cachorro bem alimentado e tratado, que se solta no cortil à noite, que ele vigiará muito bem todo o ambiente.

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Quero mais uma vez, salientar aqui que esta planta, é referente a um projeto realizável no decorrer dos anos, não sendo
necessário querer fazer tudo em pouco tempo. O italiano diz: “Mia Roma non fu fatta in un giorno - Por ex., o sitiante pode fazer a
casa do camarada inicialmente e morar nela, até construir o estábulo, benfeitorias e depois de lucrar o suficiente, ele fará a casa
mestre com todo o bom gosto, requinte e o capricho pessoal, na disposição de sua preferência, porque fica bem lógico que todas as
indicações da planta em anexo, devem ser consideradas só como sugestão. Mas nunca se pode esquecer do fato de que uma casa
super dimensionada só origina aumento de serviço e despesas adicionais, o que é em geral indesejável em especial para um casal de
aposentados. A expressão acertada é “Un petit chez-soi vaut mieux qu’un grand chez les autres”, quer dizer: “Um pequeno lar
próprio, vale mais de que um grande lar a se dividir com os outros”.

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22º ÍTEM — BIODIGESTOR PARA A PRODUÇÃO DE GÁS EM SÍTIOS E FAZENDINHAS

O custo elevado do petróleo incentiva a procurar aproveitar dos dejetos animais e dos resíduos da lavoura para a produção de
gás em sítios e fazendinhas, mediante a construção de biodigestores que são recipientes fechados à prova de ar, nos quais parte dos
dejetos e resíduos é transformada em gás metano, pelas bactérias anaeróbias, desde que a mistura seja correta e que as condições
térmicas sejam favoráveis.
A construção destes biodigestores é muito variável, destacando-se atualmente o tipo indiano e em especial o tipo chinês.
Também um tipo francês antigo foi transformado e modernizado nos Estados Unidos.
Não quero entrar aqui, em detalhes da construção ou da composição destes biodigestores, porque tanto as plantas como a
descrição do uso podem ser providenciadas em determinadas repartições das Secretarias de Agricultura e pelos próprios fabricantes
de componentes para os biodigestores.
Muitas revistas técnicas, sejam de agricultura ou de setores industriais ligados à agricultura, já publicaram bons artigos
referentes aos biodigestores.
Agora devo avisar a todos, de não empreender a construção de um biodigestor sem a pré-análise do custo, do seu real
aproveitamento e da existência ou da possível providência dos meios e materiais necessários ao seu funcionamento satisfatório. Em
todo caso, recomendo tratar todos os assuntos técnicos e em especial o lado financeiro só com técnicos idôneos e experientes, para
não cair em uma fria com dinheiro adiantado até para componentes de preço absurdo em relação à sua durabilidade, porque “vai ter
muito malandro por aí, para querer aproveitar do pessoal pouco experiente”.
A colocação acertada do biodigestor é fundamental para o seu funcionamento com rendimento satisfatório.
Lembrar-se da isolação térmica, que, deve ser muito boa, especialmente para os tipos menores, sendo a construção de tijolos
preferível à construção com blocos de cimento ou de concreto armado. Um problema é a água do lençol freático, a se evitar, quando
se coloca o biodigestor enterrado para facilitar o carregamento dos influentes desde o estábulo e a pocilga.

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Quero anotar, à título orientativo, que por exemplo, o pequeno tipo caseiro chinês, só funciona com rendimento satisfatório
quando ele se encontra em ambiente aquecido. O chinês, muito prático, resolve este problema mediante a colocação parcial ou total
do biodigestor na sala da moradia, aproveitando-se assim também deste, para o aquecimento da casa, servindo-se do gás produzido
para a iluminação e para o fogão. Tal procedimento é conseqüente do fato que em região montanhosa, muitas casas foram talhadas
no próprio arenito do morro, sendo a superfície acima delas aproveitada para o cultivo de hortaliças. Não se deve pensar que o
chinês é sujo, não; o biodigestor de chapa de cobre com abraçadeiras de latão é de um brilho que daria inveja até para os
colecionadores de “locomotivas e alambiques”. E nos banquinhos em redor do biodigestor, as pessoas podem sentar-se e encostar-se
nele, para melhor se aquecer em dias frios do inverno.
Devo deixar a critério de cada um se quiser copiar o tipo caseiro ou se preferir seguir a técnica mais avançada das comunas
chinesas, nas quais os dejetos e resíduos são coletados e aproveitados em grandes instalações com rendimento muito bom e de
manutenção acertada. Aqui vai a grande pergunta: Individualismo ou Coletivismo na verdadeira aplicação prática?
Para sítios e fazendinhas aqui no Brasil, devo recomendar de não se desprezar a linha elétrica e, sempre que possível, de se
fazer uma ligação economicamente tolerável, tanto para iluminação como para a força motriz. Quando a tensão da rede é boa e não
muito variável, o fogão elétrico dá muito bom resultado e substitui o fogão a gás.
Muitas vezes o primeiro ímpeto de ser individualista resfria depressa ao tomar conhecimento do serviço de manutenção de um
biodigestor, tanto para a carga dos influentes como para o devido aproveitamento dos efluentes, cujas quantidades não são tão
poucas, como muita gente poderia imaginar. O biodigestor é recomendado em especial para lugares afastados e sem grandes
possibilidades de outra fonte de energia.
Em fazendas européias foi constatado que a contenção de mais ou menos cinqüenta vacas leiteiras permite o recolhe dos dejetos
necessários para ter uma produção de gás rentável com um biodigestor de tamanho bem acertado, que depende muito do tempo de
retenção do material nele.
Tanto no tipo indiano, como no tipo chinês, forma-se na superfície do fluido, uma crosta de sólidos flutuantes em decorrência
da sua fermentação no biodigestor.
É bom de se prever nestes tipos, um pequeno agitador com acionamento manual para desfazer-se desta camada, o que aumenta
bastante a produção de gás.

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A passagem do eixo-acionador pode ser feita através da parede superior (ou lateral desde que se dê a inclinação suficiente),
mediante um tubo que mergulha uns vinte centímetros no fluido com o biodigestor sob pressão de uso.
No tipo antigo francês, usa-se o esterco no estado sólido e não diluído, aproveitando-se em especial da camada de palha,
serragem que se utiliza em baixo do gado no estábulo e que absorve grande parte da urina. O seu funcionamento é intermitente,
sendo necessário prever duas câmaras: uma fica em serviço, enquanto apronta-se a outra com novo material. O gás sai bastante
úmido, o que obriga usar um lavador composto de um labirinto de chapa de cobre, dc forma determinada e colocada em sentido
invertido dentro de uma bacia de água, na qual o gás borbulha várias vezes. O tipo francês é característico pelo fato da alta
temperatura que se alcança nele (70 a 80º C) o que produz bastante gás carbônico, cuja utilidade é bastante almejada pelas razões
descritas mais adiante.
Este biodigestor pode permanecer em serviço durante vários meses, sem necessidade de adjunção de material fresco.
A desvantagem dele é o serviço bastante pesado para a remoção do esterco, o que o americano resolveu com o uso de duas
câmaras de fermentação sucessiva, que permitem o uso do esterco diluído, tratado em dois patamares bem distintos de temperatura
nas duas câmaras do biodigestor.
Das últimas noticias referentes ao rendimento de biodigestores, convém salientar que não é o tipo maior, que é o melhor, ao
contrário, muitos tipos médios, com agitador e isolação adequados, permitem uma fermentação rápida e bem eficiente. Com um
metro cúbico de esterco, chega-se a produzir cem metros cúbicos de gás no tipo francês (as câmaras devem ser de vários m3 de
conteúdo).
Vamos agora considerar alguns valores determinantes na avaliação da viabilidade de construção de um biodigestor:
Quant. Dejetos kg/dia (matéria Produção específica de gás Quantidade de gás resultante
seca) * (lit/kg) (lit/unid./dia)
Boi ou vaca De 8 a 12 * 32 a 36 340
(adultos)
Porco adulto De 2 a 2,5 * 75 160
Aves em geral De 0,1 a 0,2 * 60 8
Uma pessoa adulta Mais ou menos 0,4 líquido e 70 28
sólido.

Devem-se considerar os valores acima indicados como reais, quando recolhidos regularmente, o melhor por contenção se não
total, ao menos parcial dos animais e mediante pessoal disciplinado, porque não adianta calcular com um projeto na base de 6 a 10
vacas de pastoreio e cuja contenção é de só uma hora no retiro de leite, deixando assim pouco esterco para aproveitar no biodigestor.

190

Quando é necessário recolher o esterco ocasional no pasto, surge um custo adicional da produção de gás e prejuízo na adubação
natural do próprio pasto.
Vamos também analisar a quantidade de gás consumido em diversos componentes eletrodomésticos:
— iluminação: de 0,08 a 0,12 m3/camisa de 100 W a hora;
— fogão: calcular mais ou menos 0,3 a 0,35 m3/pessoa ao dia;
— geladeira: mais ou menos 3 a 3,2 m3/dia;
— forno de assar: 0,4 m3/hora;
— estufa (pequena): de 0,2 a 0,24 m3/hora;
— chuveiro a gás: 0,15 m3/pessoa;
— moto-bomba de poço: 0,35 a 0,4 m3/CV. à hora.

Deduz-se destes valores, que para uma família de cinco pessoas, será necessário prever diariamente as seguintes quantidades de
gás na época de inverno:
— iluminação = 5 h., admitindo 4 lampiões: 5x4, 1 = 2 m3 = 2.000 lit.
— fogão: 5 x 0,32 = 1,6 m3 = 1.600 lit.
— geladeira: 1 x 3,l = 3,1 m3 = 3.100 lit.
— chuveiro: 5x0,15 = 0,75 m3 = 750 lit.
— bomba do poço = 4 CV. (1 hora de serviço/dia) = 4x0,38 = 1.52 m3 = 1.520 lit.
Total sem estufa e forno = 8,97 m3 ou 8.970 lit.
Calcular para dias de inverno 10 m3 de gás aproximadamente, como sendo necessário para as comodidades de uma família de
cinco pessoas.
A produção de gás, desde os dejetos humanos de cinco pessoas, é de só 0,140 m3.
Ressalta-se assim que a produção de 10 m3/dia de gás, requer o recolhe dos dejetos de mais ou menos 50 porcos e dos resíduos
do retiro de no mínimo sete vacas.

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Sendo a retenção do material no biodigestor de 20 a 40 dias será necessário calcular então o volume útil deste para: 10 kg de
esterco de 7 vacas = 70 kg + 2 kg de esterco de 50 porcos = 70 kg, admite-se o total de 170 kg.
O esterco deve ser diluído em igual quantidade de água, do qual resulta uma quantidade diária de influente de 340 litros.
Calculando-se o tempo médio de retenção do material no biodigestor de 30 dias, teremos: 30x340 1it = 10.200 litros ou 10,2 m3.
Calcular a capacidade do biodigestor para 12 m3.
Anoto a seguir as dimensões resultantes para altura e diâmetro de um biodigestor de forma cilíndrica (indiano ou chinês) para
determinado conteúdo e com relação definida de altura e diâmetro = (A/d).
Conteúdo m3 9 12 15 18
Altura/diâmetro A D A D A D A D
Relação A/d= 1 2,3 2,3 2,5 2,5 2,7 2,7 2,85 2,85
= 1,5 3 1,91 3,3 3,2 3,5 2,35 3,75 2,48
=2 3,6 1,8 4 2 4,26 2,13 4,52 2,26

Destas considerações, pode-se deduzir a viabilidade e a conveniência da instalação de um biodigestor, cujo custo atual é de mais
ou menos Cr$ 40.000,00 a Cr$ 60.000,00, para o tamanho em apreço de mais ou menos 12 m3.
Se o botijão de gás é previsto só para uso do fogão, calculando-se o seu custo de mais ou menos Cr$ 500,00 e a sua duração de
um mês, teremos com o custo de um biodigestor o equivalente de 100 botijões, o que daria gás de cozinha, para uns oito anos.

192

Quero salientar assim, de não se apressar à construção de um biodigestor no início da formação de um sítio até conhecer e poder
avaliar melhor os valores reais, tanto dos animais que se vai criar e o regime da criação adotado, em especial porque com um fogão
a lenha, no qual se utiliza muitas sobras de lenha e raízes da destoca etc. é possível fazer durar ao triplo do indicado, o uso do
botijão de gás na cozinha. E não pode ser esquecido o fato da cinza de madeira ser um bom adubo rico em potássio.
Não quero desaconselhar a construção de um biodigestor de fácil manejo e de bom rendimento o ano todo, quando o pessoal
pode contar com uma a duas dúzias de vacas estabuladas e com duas a três dúzias de porcos adultos.
Mas surge um porém muito interessante c do qual todos os sitiantes e fazendeiros devem ter bom conhecimento:
— como prezado por quase todos os atuais fabricantes de biodigestores, o líquido efluente do biodigestor não contém bactérias
ou micróbios e como o biodigestor não sabe diferenciar entre as bactérias úteis e as nocivas, ele mata por igual todas, de modo que o
seu efluente não contém as bactérias melhoradoras da terra das quais o esterco contém 10 a 20 bilhões por grama de excremento.
Mil quilogramas de esterco podem conter 10 kg de massa microbiana, de modo que o poder fertilizante do esterco de curral não
reside unicamente no seu conteúdo em nitrogênio, potássio e fósforo. Imagine-se o poder fertilizante de 30 a 40 toneladas de
esterco, que se aplica por hectare na lavoura, mais ou menos a cada 3 anos.
— o biodigestor funcionando com 35 a 55º C de temperatura, nunca vai produzir tanto gás carbônico como a esterqueira que
alcança 70 a 80º C, o que resulta em maior produção de carbonato de amônio, quer dizer de nitrogênio no esterco fresco do que no
efluente do biodigestor. O aproveitamento deste nitrogênio é possível com o devido trato dado ao esterco a ser expandido e enter-
rado não em estado fresco, porém, fermentado e nunca ressecado.
Nunca se deve deixar também por tempo prolongado o esterco em montes na lavoura porque até em tempo chuvoso a água o
deslava, sendo o carbonato de amônio muito solúvel nela. Comparativamente com o chorume, o esterco contém em peso de 8 a 10
vezes mais nitrogênio, mas infelizmente este é muito instável, requerendo um tratamento cuidadoso do esterco e a sua rápida
utilização na terra, o que é muito mais fácil de se providenciar na pequena lavoura do que na grande plantação. Pode-se melhorar
muito a qualidade do esterco com regação regular com chorume, para reter mais nitrogênio, tanto no esterco como no próprio
chorume assim enriquecido, e que não perde mais este componente, nem quando agitado vigorosamente. O chorume tem uma forte
reação alcalina devido à presença do carbonato de potássio e em especial devido ao carbonato de amônio. Quando se quer utilizá-lo
para adubar pastagens em descanso, deve-se diluir o chorume com água na quantidade de quatro a cinco vezes o seu volume, senão
queima-se facilmente até as raízes do capim.

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Devido a sua ação benéfica na fabricação do esterco, é mais conveniente utilizar o chorume para esta finalidade e sem dúvida,
nenhuma também isto vale para o efluente do biodigestor (que pode se expandir em uma esterqueira com capim, folhagem, palha ou
turfa seca).
Para terminar, quero relembrar a todos os interessados em biodigestor que o gás metano é um gás muito explosível requerendo
toda a atenção possível para não se riscar fósforo, nem acionar isqueiros perto da instalação, nem em lugar da passagem das
tubulações sempre com possível fuga de gás.
Recomendo também a verificação periódica das torneirinhas de gás no fogão, lâmpadas, etc., para não ter surpresas
desagradáveis e até casos fatais para o pessoal e os animais em conseqüência de possíveis explosões.

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23º ÍTEM — PRODUÇÃO DE ÁLCOOL EM SITIOS E FAZENDINHAS

Como é muito comum atualmente, sonhar com produção própria do combustível motor em sítios, quero também aqui anotar
algumas informações de utilidade para os interessados nesta possibilidade de se montar uma micro-destilaria para a produção de
álcool hidratado.
Em geral, um sitiante avalia as suas possibilidades na base de um alambique caseiro de produção de pinga.
Vamos agora considerar as necessidades do combustível de um sitiante, com veículo próprio, admitimos um jipe com um
consumo de um litro de álcool para rodar 5 a 6 km.
Calculando-se uma rodagem anual de só 25.000 km, será necessário prever então uns 5.000 litros de álcool (melhor calcular
com 6.000 litros, porque as perdas por evaporação alcançam e até superam 20%). Em pequena produção, o rendimento do álcool de
cana, não chega a 60% do rendimento da grande fábrica, na qual se deve alcançar uma média de 65 litros de álcool por tonelada de
cana. Calculando-se 40 litros por tonelada, em pequena instalação, são necessários então para 6.000 litros anuais, 150 toneladas de
cana. Admitindo-se uma produção de 40 toneladas de cana por hectare, teremos de plantar uns quatro hectares de cana, no sítio.
O custo de uma micro-destilaria, requer o seu uso o ano inteiro, senão teremos uma carga financeira excessiva que vai onerar
fora de medida o produto.
A plantação de sorgo sacarino é então recomendável para utilizá-lo na fábrica na época do ano sem colheita de cana. Para uma
micro-destilaria com produção de 40.000 litros de álcool por ano, é recomendável calcular a plantação de seis alqueires de cana e de
quatro alqueires de sorgo sacarino, para manter a produção com cana durante sete meses e com sorgo sacarino os cinco meses
restantes do ano. A produção diária desta unidade seria de 128 litros, o que exige a trituração aproximada de 3 toneladas de cana por
dia.
Dependendo do preço do álcool, possível de se cobrar em relação às despesas da colheita, transporte etc., deixo a cada um
avaliar as possibilidades.

195

Devo, todavia, alertar o fato do álcool originar muita corrosão, em especial na presença do alumínio, visto o fato deste tornar-se
ácido em contato com o álcool, ainda que este último seja da maior pureza possível.
O custo de uma micro-usina é muito elevado e o seu rendimento relativamente baixo, dando assim um produto de custo
excessivo, ainda que seja para uso próprio. A mais, a plantação de cana e de sorgo sacarino, ocupa muito o pessoal, com prejuízo
para outras plantações mais rendosas nos sítios pequenos, nos quais sempre é bom prever a rotatividade das plantações para
melhorar a terra, mediante a adubação orgânica. A adubação da cana, para ser rendosa nas grandes plantações chega a exigir até 40%
do valor da safra, fato muitas vezes esquecido, pelos plantadores. Assim, a safra, não sendo rendosa, incita a relaxar os cuidados
culturais e ao seu abandono por desinteresse na parte econômica.
Vale aqui também a recomendação de empreender uma fabricação de álcool só com material adequado, o melhor, adquirindo a
instalação de fabricante idôneo e só depois de se avaliar os custos, riscos e em especial a durabilidade provável da empresa, senão a
lição sai muito cara. Não recomendo se esquecer das amarguras conseqüentes da aventura vivida, mediante próprio mergulho no
produto do alambique.
Não quero dizer, de se desdenhar de vez em quando, um pequeno gole de uma boa pinga caseira, bem purificada, envelhecida e
descansada, quer dizer, desta que pode reanimar gente na beira do trespasse. Mas, cuidado com a água, que passarinho não bebe!
O mal geral é que a pinga caseira é usada logo após a sua fabricação, sem consideração da recomendação de só se usar a
produção do coração, a qual deve ser também filtrada no labirinto de cobre, com superfície bem ativada e mantida devidamente
limpa no decorrer do seu uso. Outro problema que afeta tanto a qualidade como a quantidade de pinga é o procedimento para a
fermentação do mosto, considerando-se o conteúdo de açúcar no mesmo a ser fermentado por pé de cuba, bem preparado e usado no
momento da sua maior atividade ateriam. Recomendo aos interessados de se providenciar a devida literatura e de visitar engenhos
em mãos de fabricantes da nova geração, com os conhecimentos adquiridos pela experiência e com interesse não só no aumento do
rendimento, porém também na qualidade do produto, sendo esta última a mais ponderável no interesse dos compradores. A
tendência atual é de ser revivido o interesse por pinga caseira de boa qualidade, o que pode ser uma fonte de renda em sítios
devidamente organizados e desde que o pessoal do sitio não seja o maior consumidor do produto.
Um alambique caseiro de conteúdo modesto é de grande utilidade em sítios, com pomar razoável, porque as frutas de menor
qualidade podem ser colocadas para macerar em tonéis e barricas ou até em dornas, com a finalidade de se fabricar aguardente de
determinado gosto bem característico.

196

E no caso de ter vinho de qualidade inferior, o seu aproveitamento mais acertado é o alambique porque lenha em geral não falta.
É serviço para dias chuvosos.
Cada um, sendo indivíduo responsável, deve saber avaliar quando é conveniente de se indicar no vidro retrovisor do veículo
“Movido a álcool, só o motorista”. Cuidado de não se chegar ao ponto de indicação mais determinante: “Motorista com radiador
superaquecido”, porque quando afogado no álcool o radiador e o carro inteiro permanecem fora de uso.
Bom, brincadeira à parte! Voltamos ao assunto sério para recomendar toda prudência não só no uso do álcool, mas também do
comportamento do pessoal que lida com instalações para a fermentação de qualquer produto, Nunca se pode desprezar a ventilação
suficiente em adegas de fermentação para se evitar o acúmulo de gás carbônico que em si não é venenoso, mas sendo mais pesado
do que o ar ambiental, permanece em camadas estriadas perto do solo, expelindo daqui o oxigênio que é necessário para a
respiração. Uma vela acesa na adega deve ser colocada em um banquinho de pouca altura, o melhor, em um console, na própria
parede, o melhor naquele do santinho, servindo-lhe de luz votiva. Assim, no caso de se apagar a vela do santo, o pessoal sabe que o
oxigênio é pouco no ambiente e que o melhor é de se fugir, o mais depressa possível da adega, até as condições nela melhorarem.
Deduz-se assim que o modesto santinho a pouca altura pode ser mais eficiente do que o santinho de fama, colocado em lugar
elevado em demasia. Será que santo da casa não faz milagre mesmo? Depende das condições circunstanciais, né!
Mas é melhor fazer o impossível na hora, porque em geral milagres demoram um pouco mais. É bom de se prever em adegas e
lugares de fermentação a colocação de chaminés de exaustão de gases, algumas com entrada perto do solo para exaurir o CO2 do
ambiente, impedindo a este de alcançar a altura da cabeça do pessoal.
Outra providência em tempos passados era o passarinho cantador na gaiola, mas o coitado em geral não tinha salvação e
dificilmente se recuperava da falta de oxigênio na adega.
Nos tempos atuais de eletrônica, não resta dúvida que a luz votiva do santinho pode ser elétrica, desde que se utilize um
fiscalizador de conteúdo de oxigênio nas adegas modernas. Para a instalação modesta, o melhor é de se montar esta em um galpão
bastante aberto para o acesso do ar e a fuga dos gases, de modo que o passarinho pode até vir nele fazer o seu ninho
voluntariamente, sem gaiola e sem fugir do homem que se torna, o seu protetor e amigo, alegrando com o seu canto bem mais
efusivo, e mais espontâneo assim do que na gaiola, porque na maioria das vezes, o passarinho na gaiola não canta de alegria, mas de
raiva!

197

Para os sitiantes com um bom parreiral de uva, que lhes permita fabricar uma quantidade razoável de vinho próprio, é bom
lembrar o fato da qualidade deste não depender só das variedades de uvas plantadas, mas também do tempo da sua fermentação.
Em geral, aqui no Brasil, pelo fato da safra da uva ser feita em dias muito quentes do verão, a fermentação é muito tumultuosa,
não sendo possível aos sais de éster de serem absorvidos no fluido em quantidades razoáveis, o que implica na construção de
galpões climatizados, para as grandes adegas, sendo esta exigência economicamente inviável, para o pequeno produtor ou o sitiante
de vida modesta. Mas como acima já anotado, lhes resta o uso do alambique para aproveitar dos vinhos de baixa qualidade,
resultando estes em uma bagaceira das melhores, quando devidamente elaborada.

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24º ÍTENI — GASOGÊNIO PARA GRUPOS GERADORES, AUTOMÓVEIS, CAMINHÕES E TRATORES.

Em vista da possível falta de combustível em especial em lugares distantes do interior, não posso deixar de anotar aqui o uso do
gasogênio como fonte de energia de emergência, com as suas vantagens e inconveniências, como para a maioria dos produtos de
substituição.
O gasogênio é uma instalação de determinados componentes que permite a produção de gás pobre pela queima de lenha ou
carvão de lenha e que é destinado à alimentação de motores em substituição da gasolina ou de uma parte do óleo diesel.
A instalação é composta de um gerador de gás ou fornalha de um epurador, refrigerador e filtros, simples no caso do uso, de
carvão. Quando o gás é produzido desde a lenha, é necessário prever-se um lavador do gás com boa eficiência, antes dos filtros.
O gás de gasogênio é produzido pela passagem do ar na brasa da fornalha, na qual se forma em sua maioria, gás carbônico, o
qual na passagem da zona quente, em parte se transforma em monóxido de carbono. Pela umidade existente forma-se também uma
parte de hidrogênio que é altamente eficiente, o que explica a umidificação adicional do ar na sua entrada por aspiração na fornalha
com uso de carvão de lenha, chegando-se assim a triplicar a produção do hidrogênio na fornalha. Porém o gás permanecerá sempre
pobre, porque o nitrogênio que não participa das reações, ocorre na proporção de uns 50% para lenha e carvão de lenha umedecido e
até mais de 60% para os aglomerados e para o antracito (carvão mineral).
O uso de carvão de lenha, em vez de lenha seca na maioria dos gasogênios é justificado pela menor ocorrência de ácido
pirolignoso e ácido acético, já em grande parte eliminados pela queima da lenha na caieira ou no forno do carvoeiro.
De própria experiência do tempo da guerra na França, posso dizer que é necessário bem diferenciar a finalidade que se quer
para o gás gasogênio:
— para motores estacionários de média e grande potência, é necessário ter um lavador de gás de grande e comprovada
eficiência.

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Para motores de regime contínuo, posso recomendar uma instalação produtora de gás dupla, que permite a manutenção de uma
parte sem necessidade de parar o motor:
— para motores de caminhões e ônibus, o lavador com cacos de porcelana dentro de caixas substituíveis, é muito indicado no
caso da queima de lenha.
A movimentação do caminhão dá a ondulação à água suficiente para lavar os cacos, respectivamente para mantê-los bem
úmidos e assim eficientes:
— para veículos de passeio, usam-se filtros sem lavadores, sendo os filtros compostos de todos os panos velhos, por ex., de
camisetas, calças, vestidos velhos etc., recortados em pedaços e devidamente colocados nos recipientes filtrantes do gás, de peso
muito reduzido em relação ao lavador, mas exige o uso de carvão vegetal.
Seja qual for o filtro ou lavador usado, sempre é necessário cuidar da sua manutenção contínua para não ter aborrecimentos nas
estradas. Devido ao fato do gás entrar quente nos cilindros do motor, ocorre neles uma temperatura bem maior em relação ao motor
com combustível líquido.
O alto dos cilindros fica assim mais ressecado no motor a gasogênio, o que requer uma lubrificação adicional por gotejamento
na entrada da mistura ar/gás. Porém, esta lubrificação adicional pode ser ativa só quando o motor funciona com carga e não em
marcha lenta para não sujar as velas.
O sistema de lubrificação adicional em função da posição da borboleta de admissão da mistura ar/gás dá resultados satisfatórios
desde que seja bem regulada a pressão da mola, cuja força é oposta à sucção da respectiva capa obturadora, a qual é ativada pela
depressão resultante da posição da borboleta.
Comparativamente com o motor à gasolina, o motor idêntico a gasogênio sem modificações tem a sua potencia diminuída
teoricamente em 30%, mas devido ao fato da presença de vapores de água, da regulagem difícil da mistura, etc, a diminuição da
potencia chega a ser de 45% no motor a gasogênio. Todavia, devido à inflamabilidade do gás, que é mais elevada, (600ºC) que para
a gasolina (470ºC) é possível se aumentar a taxa de compressão do motor de 7,5 a 8 para 10 a 12 (o limite é dado pelo conteúdo de
hidrogênio da mistura), o que resulta em uma diminuição da diferença de potência de 45%, como acima indicado, para 20% em
detrimento do motor a gás. Em motores de grande potência, com o uso de turbo-compressores, a diferença de potência pode ser
mantida em redor de só 10%.
De todas as explanações técnicas aqui mencionadas, pode-se deduzir que uma instalação para gás de gasogênio é bastante
complexa e requer bons conhecimentos para seu uso e a sua manutenção.

200

Para quem se interessar, recomendo comuniear-se com vendedores de produtos comprovados e equipados com os devidos
componentes de segurança.
Anoto a seguir, algumas recomendações para o uso de gasogênio:
— tomar todo cuidado, de não operar o gasogênio perto de produtos inflamáveis ou de fácil combustão;
— não recolher tratores, caminhões ou veículos com gasogênio em recinto fechado ou com pouca movimentação de ar, para
evitar o acúmulo de gás, que é muito tóxico e em dose relativamente ainda modesta, até mortal;
— evitar que o operador de gasogênio permaneça em área de escape dos gases do mesmo, em especial, durante a sua formação
antes da partida do motor;
— cuidar sempre do bom estado e do funcionamento correto da válvula de segurança que se encontra na maioria das instalações
na saída dos filtros;
— não desmontar os componentes da instalação de gasogênio com uma chama perto, porque sempre existe o perigo de
inflamarem-se bolsões de gases residuais;
— nunca abrir a fornalha sem a devida proteção para evitarem-se queimaduras por gás inflamado, na presença do ar. Tais
queimaduras são freqüentes nos braços, não devidamente protegidos;
— evitar respirar gás, ao abrir-se ou ao reativar-se a fornalha do gasogênio. Afastar-se da instalação o mais depressa possível e
manter-se em ambiente de ar puro, se porventura o pessoal perceber tonturas em grau variável:
— nunca deixar resíduos do gasogênio na beira da estrada ou em campo aberto, sem ter certeza absoluta da sua extinção
completa. Usa-se boa quantidade de água, se necessário, para eliminar qualquer dúvida de possível reativação da brasa.

O gás de gasogênio é um combustível muito viável, mas o seu uso exige muito cuidado e proteção, para se evitar incêndios,
envenenamentos de pessoas e animais. O maior defeito das instalações atualmente comerciáveis é o fato de não ter a quantidade de
gás à disposição quando é requerida uma potência adicional passageira no motor, o que seria possível de se contornar com o
acúmulo sob pressão em um recipiente adequado de determinada quantidade de gás.
A mencionada inconveniência é de fato muito sensível em motores com carga elevada e variável; então o motor não consegue
mais manter a velocidade de rotação, quer dizer, no caso de um grupo gerador de eletricidade, a sua freqüência. Quando tal grupo é
destinado a alimentar a rede caseira de eletricidade no sítio, com o televisor, as oscilações são muito prejudiciais.

201

Posso recomendar então o uso de um retificador para a obtenção de corrente contínua de por ex., 12 V. e de se comprar o
aparelho com ligação nesta tensão, sendo assim o próprio televisor equipado com o devido gerador de freqüência e tensão
estabilizados (é o caso comum do televisor para automóveis com bateria de 12 Volts).

Como acima anotado, o gás quente de gasogênio exige a lubrificação adicional do alto dos cilindros. Em geral, a durabilidade
de um motor de gasogênio é menor do que a metade da durabilidade de um motor idêntico movido a óleo diesel ou a gasolina, de
modo que para o custo operacional real do motor, é necessário incluir-se também estas despesas adicionais.
Não resta dúvida, que as pesquisas atuais, relativas ao uso do gasogênio conjuntamente com óleo combustível em motor diesel,
com poucas modificações pode resultar em soluções muito viáveis tanto para baratear a produção agrícola, como para alcançar a tão
almejada independência do petróleo, mediante combustíveis de fontes de energia renováveis. Todavia, sempre haverá de se vigiar
tanto o destino da terra para determinadas culturas e reflorestamento para não temer a sua exploração indevida, como o custo da
produção de gêneros alimentícios, porque o agricultor ganancioso, sempre quer o lucro imediato, sem pensar muito nas respectivas
conseqüências das culturas sem possível rotatividade. E até a floresta não devidamente cuidada, se cansa e produz pouco após
alguns cortes.

202

25º ÍTEM — ALGUNS COMPONENTES DE UTILIDADE NOS SÍTIOS.

A) Dinamite. Quando é necessário eliminar-se um grande toco de árvore ou uma grande pedra, cujo peso é tal a não poder
pensar em transportá-los por meios economicamente ainda viáveis, recorrer-se-á ao uso de dinamite para parti-los em pedaços
menores, carregáveis.
Devo recomendar muito cuidado no uso deste meio tão prático, mas que requer bons conhecimentos em relação ao modo de
usar e em especial a quantidade do produto a ser colocado nas aberturas feitas com brocas na madeira e com talhadeira ou com
martelo pneumático na pedra.
Em lugares povoados, pode-se confiar este serviço a um mineiro experiente que avaliará todas as circunstâncias ambientais para
a colocação dos pavios, os quais serão acesos em seqüência bem determinada, o que possibilita ao mineiro alcançar o abrigo a
tempo, não se expondo assim teimosamente em campo aberto. Recomendo também a todos, se informarem devidamente a respeito
da regulamentação local no uso da dinamite para fins particulares.
E para se evitar que fragmentos e estilhaços sejam projetados muito longe, o que aumenta o perigo, é bom cobrir o toco ou o
matacão com sacos de juta bem molhados.
Recomendo também experimentar o poder condutor da chama dos pavios, usando-se pedaços curtos destes, longe dos cartuchos
de dinamite. Tal procedimento permite ao mineiro, avaliar o tempo entre o tocar fogo e a explosão própria, porque houve já muitos
casos nos quais, o mineiro admitiu ter ocorrido explosão dupla simultânea e foi se expor ao perigo de modo estúpido.
O serviço de mineiro requer bons nervos, paciência, astúcia, e muita responsabilidade. Nunca permitir a presença de crianças na
área de perigo, nem levar crianças aos abrigos na hora séria. A mais, não inspecionar o lugar em seguida à explosão de pedras, para
evitar inalar poeira de silicato, que petrifica os pulmões, chegando-se com o tempo a produzir a silicose, doença muito desagradável
e sem esperança de cura. O paciente pode vegetar alguns anos ainda, com dificuldades muito grandes para respirar e sem condições
de efetuar esforços físicos, tornando-se penoso até o andar.

203

A silicose é doença bastante freqüente nos trabalhadores de fundições sem a devida proteção para abafar a poeira mediante
umidade e temperatura controlada, reações automáticas nas passagens e sem renovação adequada do ar.
Para os sitiantes retirados bem longe de casas vizinhas, posso recomendar partir tocos ou pedras até com o uso de pólvora de
caça, mas em quantidade limitada, que se coloca em um cartucho de papel, no fundo do furo feito com broca de no mínimo 1/2
polegada de diâmetro. Juntando-se no furo a ponta do pavio, fecha-se este com uma cunha de madeira devidamente entalhada
lateralmente, para não amassar o pavio. Alguns mineiros perfuram um furo de ¼ de polegada em posição inclinada, em relação ao
furo de colocação do cartucho, alcançando este após 10 a 12 cm abaixo da superfície.
Para quem tem tempo, paciência e bastante energia anotam aqui o método de se partir pedras em linha bem determinada
usando-se estas como mourões de cercar pastos, hortas, etc.
— com a talhadeira ou ponteiro, abrem-se furos em linha bem escolhida no bloco de pedra a partir. A profundidade será de
acordo com a espessura do bloco. Em geral furos de 10 a 12 cm de profundidade e afastados entre si de 12 a 15 cm dão bons re-
sultados.
Providencia-se madeira bem dura e seca, da qual se faz tarugos de tamanho um pouco maior do diâmetro e comprimento dos
furos, nos quais se colocam estes por marretadas bem acertadas. Se necessário, usa-se um pedaço de tábua entre o tarugo e a marreta
para impedir de se partirem os tarugos no lado da aplicação das batidas.
Quando todos os tarugos são devidamente colocados, molha-se com água, mantendo-os úmidos com sacos de juta, etc.
Agora é só esperar o inchar da lenha até perceber a tensão originada na pedra pelos tarugos.
Alguns talhadores de pedra ajudam então o partir da pedra com golpes de marretada bem aplicados em determinada direção, o
que origina linhas bem retas ao partir da pedra.
Os pedaços falhados podem ser aproveitados para se fazer paralelepípedos, para calçar ruas e até o estábulo e, com blocos
pesados, até a pocilga.
A colocação destas pedras não é complicada e o seu nivelamento regulado pela espessura da camada de saibro ou areia utilizado
para calçar as pedras. Para quem gosta de coisas bonitas, posso até recomendar talhar um matacão de modo a formar urna fonte, mas
ainda uma vez, usando-se um pano molhado para impedir de se respirar pó em demasia, para não ser sujeito à silicose, o que seria
um paradoxo ao viver-se no ar puro do campo.

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B) Utilidade do rami fora de forragem.

Como mencionado em capítulo anterior para forragem, o rami é muito indicado e de grande utilidade na alimentação de
animais, em especial para cabras, ovelhas, coelhos, etc.
O plantio de boas quadras de rami em sulcos bem fofos dá ótimo rendimento. Também em dias chuvosos ou quando o pessoal
do sítio tem tempo, é recomendável extrair certa quantidade de fibras quebrando-se os talos de rami, em seguida à sua colheita.
A fibra de rami pode ser beneficiada por métodos muito rudimentares em sítios, deixando-se de molho por um a dois dias, em
um córrego a fibra com a casca, que nela ainda adere. Estica-se a fibra em pequenos maços, em seguida com um pente feito de
portas de aço (pregos invertidos) em uma tábua mantida firme em um ou dois mourões fincados no solo. Um tambor ou caixa de
água corrente ajudará na lavagem final da fibra, após tratada desde as duas pontas dos maços.
Depois de secar-se bem a fibra, em lugar arejado, pode-se guardá-la por muito tempo até usá-la para muitas finalidades das
quais anoto as seguintes:
- fabricação de linha em roquete de fiação do tipo usado para a fiação do linho:
— fabricação de cordas, mediante um implemento fácil de se elaborar;
— fabricação de rede para pesca caseira;
— fabricação de tapetes de piso e de paredes mediante a fibra residual do pente, em conjunto com fibras de embira (sisal).

Vamos detalhar um pouco:


— a fiação da fibra do rami pode ser feita cm roquete de fiação de linho, sendo prevista uma roda acionadora um tanto potente.
O acionamento do roquete pode ser efetuado também por um motor de máquina de costura, com a mesma resistência de partida
suave para o conjunto da bobina e roquete, sendo possível prever um acionamento em eixo comum ou separado. Pessoalmente
prefiro dois eixos, com a possibilidade de calcular três ou mais relações de atraso da bobina para enrolar o fio.
É necessário fiar fino os fios iniciais para juntarem-se em seguida dois ou três destes para a formação de fio grosso ou até de
barbante. A torção dos fios finos iniciais deve ser bastante cuidadosa e sempre mais fechada em relação à torção na junção dos fios a
ser feita com inversão da rotação.

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Se o motor não tiver inversão de rotação, pode se fazer o acionamento inverso por cruzamento da correia do motor, ao eixo do
roquete. Visto que a construção de um roquete é bastante apaixonante e o seu uso de grande utilidade, especialmente, quando se
pode dispor de matéria prima por produção própria, a sua descrição será objeto de um fascículo especial.
— Tendo fios à disposição em quantidade que dependerá da iniciativa própria e da paciência das pessoas, é lógico que um tear
caseiro, ainda que seja rudimentar, poderá ser de grande utilidade. O trabalho de tecelão não é bicho de sete cabeças, não. Com um
pouco de boa vontade, o pessoal do sítio aprende com muito prazer este ofício.
Pretendo também, juntar em um fascículo os meus conhecimentos desta matéria. Porém, para os mais impacientes, quero já
recomendar de se providenciar uma moldura retangular nas medidas: 1,5 m por 0,70 cm, com pés nos quatro cantos de um lado.
Do outro lado, colocam-se ganchos, ou melhor, morsas de madeira com parafusos-borboletas de aperto para segurar uma vareta
de madeira de 0,80 cm de comprimento e mais ou menos dois centímetros de diâmetro, que pode ser feita com um cabo de vassoura,
isto em uma extremidade do quadro, enquanto uma outra vareta idêntica será fixada com fita elástica do outro lado do quadro.
Estiquem-se entre estas varetas os fios de rami, ou outros em eqüidistâncias entre si. Depois de ter a base do tecido assim
esticado, é só passar o fio de trama mediante uma naveta ou com agulha, escolhendo-se um modelo determinado que dará o desenho
ao tecido. Para juntarem-se bem os fios em retilinha, usa-se um pente grosso ou vários, que se pode montar em uma ranhura talhada
no lado fino de um pedaço de ripa de telhado. Com um pouco de imaginação, muita paciência e espírito criativo, chega-se a
confeccionar peças de fazendas que tem muita utilidade e servem também para decorações, quando devidamente elaboradas.
Para fabricar cordas com fibras de rami ou outras, é necessário elaborar uma máquina adequada, representada no croqui, da qual
descrevo a seguir a composição e o modo do seu uso:
- a máquina é composta de duas partes bem distintas, sendo que vamos designar a parte com os quatro ganchos equipados com
manivelas giratórias, como parte fixa que se amarra em uma arvore, mourão ou barra de ferro fincada no solo. Chamamos de litra, a
outra parte da máquina que vai correr no solo, durante o torcer da corda.
Esta é equipada de só um bom gancho giratório, sem manivela e composta de uma caixa para poder colocar-se nela pedras ou
sucata de ferro para fazer peso, respectivamente para regular o seu atrito no solo conforme o tamanho da corda.

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Figura 41 – Croqui da máquina para fabricar cordas.

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Com uma tábua transversal na caixa e uma cadeira, pode-se sentar uma pessoa adulta. E para as crianças, um pedaço de tora de
madeira dá para brincar de cow-boy no cavalo.
Aqui as crianças podem ficar por perto, porque esta máquina de fazer cordas não é nada perigosa.
Torcendo-se à mão, a fibra de rami, em pequena quantidade (mais ou menos do tipo barbante médio), faz-se no lugar mesmo a
base da corda indo fixar este fio de rami em um gancho da parte fixa até o gancho da litra para voltar ao gancho-manivela, oposto ao
primeiro, continuando o vai c vem dos fios ou barbantes até ter quatro cabos iguais nos ganchos-manivela. Agora vem o trabalho de
um ajudante que vai girar o conjunto das quatro manivelas; durante o trabalho do mestre cordoeiro em cuidar para que os quatro
cabos permaneçam bem afastados, uns dos outros, em toda a sua extensão, usando-se para este fim, dois tarugos de ferro ou de
madeira bem resistentes de uns 30 cm. de comprimento e meia polegada de diâmetro.
A litra, cujo gancho deve permanecer bloqueado, vai avançando devagar durante a torção dos cabos da corda que devem
permanecer bem esticados, por igual. Quando a torção é bem firme e bem igual no comprimento total da corda, é chegado o
momento do mestre cordoeiro entrar em ação final: enquanto o seu ajudante continua a acionar o conjunto das manivelas da parte
fixa, o mestre libera o gancho da litra, segurando a ponta da corda com os tarugos. Depois avançando devagar, mantendo com uma
das mãos um tarugo em posição vertical entre os cabos, ele movimenta num vai e vem o tarugo de posição horizontal com a outra
mão, deixando-se girar a ponta da corda em sentido oposto ao movimento de torção, o que permite a formação final da corda.
Chegando-se a uma distância de alguns centímetros dos ganhos-manivela, amarra-se firme a corda assim formada antes de
desengatar os seus cabos dos ganchos. O processo final é manual, passando-se os cabos nas aberturas da corda, para formar-se uma
argola, sem necessidade de ocorrência de nó grosso.
Bate-se um pouco esta junção com um pedaço de madeira para equilibrar as tensões das fibras e pronta está a corda de própria
fabricação e que tem tantas aplicações. O tamanho ideal para fácil fiscalização da corda é de 10 a 12 metros. Porém, durante o
tempo de guerra na França. Já fizemos cordas de 20 ou mais metros de comprimento em uma destas máquinas muito rústicas.
O sistema acima descrito é bastante original, com a torção inicial feita manualmente, e é adequado para pequena produção de
fibras de rami ou outras.

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Para quantidade maior de fibras, todavia, não ainda em escala industrial para compensar os custos de um maquinário moderno,
é possível se fazer a torção da fibra em fio-barbante mediante um roquete do tipo comum, porém, superdimensionado (e com boa
reserva de bobinas), que será acionado por força motriz ou manual (roda de carroça com aro de ferro, serve muito bem para isto).
A fabricação de tapetes com fibra de rami ou outras é idêntica à de fazendas, podendo-se utilizar a mesma moldura,
restringindo-se, todavia, a largura e o comprimento. No caso de querer caprichar na elaboração, é preferível não apertar a tecelagem
de modelo muito simples e de passar pedaços de fibra com o gancho-agulha especial usado para a elaboração de tapetes de lã grossa.

C) O “cavalinho-morsa”.

À pedido de amigos, devo incluir aqui, um componente de grande utilidade em especial, para sitiantes, muito dados à
elaboração de objetos de madeira, por ex., de caçambas, rastadores rústicos, etc. e que não possuem uma serra de fita ou circular
acionada por motor-diesel ou motor elétrico potente.
A indicação de potente aqui é bem determinante, porque para quem lida com madeira de capoeira grossa etc., é bom de ter em
mente de que não é um pequeno motor que vai poder acionar uma serra de fita, menos ainda uma serra circular, quando a madeira
prender esta ao deformar-se de acordo com o correr das suas fibras.
De própria experiência posso dizer de que madeira partida e aplainada com a faca-plaina é bem menos sujeita à penetração de
água e umidade, quer dizer à podridão, do que madeira serrada e assim fibrosa. Boa prática é de aplainar também os pedaços de
madeira serrada. Mas, plaina mecânica custa muito e a força a ela necessária é de motor bastante potente, o que torna
economicamente inviável este componente cujo uso não tem relação com o seu custo em sítios; só em marcenaria com uso contínuo
pode-se justificar tal despesa.
Mas uma ferramenta de grande expansão na Europa pode ser de utilidade ainda mais generalizada com o uso do “cavalinho-
morsa” que cada sitiante que sabe lidar com serra manual, formão e martelo, poderá ele mesmo elaborar com madeira de forma um
pouco especial, mas fácil de se encontrar em qualquer capoeira ou floresta. Ilustro nas fotos n.º 42 e 43, o uso tanto da faca-
aplainadora, como do cavalinho-morsa, o qual não é nada mais do que uma morsa rudimentar que aproveita a famosa lei da natureza
= ação-reação. Sim, mais a gente faz esforço nos braços com a faca-aplainadora, mais as pernas atuam no braço da morsa, que assim
segura a peça nela mantida.

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Figura 42 - Descascando cabos de ferramentas, com a faca-plaina no cavalinho-morsa.

Figura 43 — Com dois anos e meio, já viu como funciona para prender firme a madeira.

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O cavalinho-morsa é composto de uma peça base de determinada curvatura para facilitar o acesso à peça a ser trabalhada e
mantida erguida com duas pernas que podem ser unidas ou separadas.
Faz-se nesta peça base uma abertura para a passagem da própria morsa e outra para a colocação do assento, tudo feito de
madeira em forma rudimentar.
Para a confecção da morsa, usa-se madeira bifurcada, devidamente recortada de modo a se obter resistência suficiente à quebra.
Para apoiar os pés, uma travessa redonda seria o suficiente, porém, esta tem muita tendência a criar folga, com os grandes esforços,
de modo que recomendo fazer esta peça de uma forquilha devidamente elaborada. Também os pés não escorregam tão facilmente
desta peça assim elaborada, como ocorre com o uso de um tarugo.
O assento regulável permite colocar-se em devida posição, tanto para a elaboração de peças pequenas (cunhas de enxadas,
alfanje, etc.), como para alcançar maior comprimento no efeito da faca-aplainadora por ex. ao se descascar ou afinar cabos de
enxadas.
A morsa também é ajustável na sua abertura, para melhorar a sua presa nos objetos, todavia, ao custo da diminuição de força
para componentes mais grossos.
Junto aqui, esta ilustração, para demonstrar a utilidade desta peça tão simples de se elaborar, não sendo necessário manter
rigorosamente as dimensões, nem formas da mesma aqui apresentada, a qual permite fabricar em sítios uma série de componentes
tais como: cadeiras, camas, carrinhos de uma ou mais rodas, escadas, manjedouras, etc.
Para peças um tanto compridas, gosto de usar um cavalete adicional que a rigor pode ser na forma de uma caixa de ovos ou
outra. Melhor é quando uma criança segura a ponta um tanto comprida.

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26º ÍTEM — CONSIDERAÇÕES RELATIVAS À V1DA DO SIT1ANTE, EM GERAL.

Em geral o sitiante que convive com a sua família, durante o dia todo, é feliz e mostra este estado bem visível, porque ele se
sente útil dentro deste pequeno reino, que é dele próprio e dos seus familiares, com todos estes animais e plantas, estes seres vivos
do reino animal e vegetal, que ele deve saber dirigir para o bem comum e dos quais ele tem de cuidar com toda a atenção possível.
Do amanhecer ao anoitecer, o sitiante sempre é ativo e não tem hora para se perguntar o que fazer, porque com o tempo, todos na
roça conhecem a programação automática, regulada pelo tempo no decorrer das estações do ano. Não há necessidade de se fazer
reunião plenária, das oito às duas da tarde, para saber se o melhor é plantar feijão ou milho em determinado trecho desocupado após
a safra da mandioca. Algumas trocas de idéias, durante o almoço ou o jantar, são suficientes para tais decisões.
A vida na roça é bem mais segura do que a vida agitada da cidade e, do comportamento recíproco dos familiares e vizinhos
nasce uma confiança mútua que é uma das coisas mais bonitas neste mundo. O mesmo se pode dizer da dignidade humana, que nos
sítios é, às vezes, avaliada de forma um tanto deturpada, cabendo a consideração recíproca de se encontrar os limites toleráveis para
o comprimento da saia ou das bermudas das moças e mocinhas. Em geral, pelo convívio mútuo na roça, o pessoal dos sítios não é
tão dado às provocações, nem a sofrer escândalos por coisas das mais naturais deste mundo. Não é raro encontrar crianças bem
esclarecidas sobre os assuntos a se saber em uma idade, muito mais jovem e do que pensam os adultos, porque o efeito psíquico
pode abalar uma pessoa pelo resto da vida, se não devidamente esclarecida no seu tempo de criança. E a chamada formação escolar,
às vezes, é só deformação psíquica dirigida por idéias ambíguas de adultos dominadores.
Não quero aqui, fazer críticas relativas à determinada formação dos jovens, mas de certo, não se encontrou ainda a
denominação comum para o tolerável entre o humanamente considerado permitido e a imposição da natureza que marca em grau
variado cada individuo.
Posso fazer esta afirmação com toda sinceridade, tendo eu mesmo dois colegas de escola, da cidade, que pagaram um tributo
excessivo ao serem internados e morrerem depois, com o espírito perturbado em conseqüência da ideologia contrária à natureza,
fato que dificilmente se encontra em jovens da roça.

212

Não resta dúvida, de que, mais o homem consegue se identificar como ser desta natureza tão bonita e tão pura, mais perto se
encontrará também da realização dos seus sonhos e aspirações superiores, sem se sujeitar a este orgulho e esta cobiça que podem
chegar a corroê-lo e cujas conseqüências são na sua maioria muito pesadas para um ser chamado humano. O sitiante em geral é
muito prático na aplicação das leis escritas na natureza, bem visíveis e compreensíveis, neste mundo muito sofisticado até em
demasia pela obra do homem que muitas vezes quer impor leis até esquisitas, lembrando-se sempre do velho ditado, ainda demais
incrustado nele: “porque considerar o simples, quando o complicado é também aplicável”?
E isto vale em uma escala bem maior do que a gente poderia imaginar. Detalhamos um pouco: Por ex., o desequilíbrio
monetário dentro de um sítio trás o desequilíbrio da respectiva família, como o desequilíbrio monetário de uma nação trás o
desequilibre das relações dos membros da sua sociedade, até determinados indivíduos tornarem-se associais. Surgem então, as
oportunidades que incentivam qualquer tipo de pessoa a se avaliar em grau variável as suas chances de progredir no bom ou no mau
caminho da vida.
Quando o mendigo da esquina ganha mais em uma hora do que o trabalhador ou até um bom profissional ou funcionário, que dá
no duro o dia inteiro, decerto que vamos ter muitos mendigos nas ruas e se a lei não o permite, bem, então se vai dar o famoso
jeitinho, organizando-se a classe e pagando pelos pontos de interesse a determinados guardiões das leis, dos quais infelizmente
alguns são em muitos países de uma corrupção tão grande a chegar ao ponto de ser não só mundialmente conhecida, mas também ao
ponto de aceitar participação direta no produto dos crimes que eles deveriam, se não combater, ao menos evitar. Para dificultar as
amizades dos componentes desta classe entre si e com a classe oposta, organizando-se em geral em panelinhas fechadas, seria bom
de se introduzir de modo generalizado, como já existe em vários países, o sistema de rodízio contínuo de serviço, não sendo
permitido a um guarda de prestar serviço no mesmo lugar por mais de três anos seguidos. E não será no município vizinho que vai
ocorrer a sua transferência, não, porém, em lugar bem afastado do anterior. Também ele deve morar com a sua família no município
do qual ele deve proteger os cidadãos e no qual ele vai verificar a observância das leis.
Em contrapartida ele tem a transferência assegurada em um período do ano correspondente ao período de férias das respectivas
escolas, nas quais as suas crianças terão vagas automaticamente asseguradas pelas autoridades municipais que podem aceitar ou
rejeitar determinado guarda na base da análise das anotações da sua ficha de serviços e na base de averiguações que são realizadas
discretamente bem antes de se cogitar a sua transferência.

213

Assim realiza-se um serviço bem democrático que favorece a ascensão dos bons guardas aos postos elevados e que devem
cuidar da não intromissão nos seus escalões por elementos perversos e corruptos, sendo possível eliminar estes na base dos valores
morais bem definidos para toda e qualquer sociedade e agrupamento de pessoas com opiniões às vezes totalmente opostas, todavia
permanecendo fundamental o fato deles poderem confiar no valor moral e na eficiência da sua polícia.
Muitas coisas podem e devem ser melhoradas neste mundo, que se torna um tanto esquisito, com as suas florestas de leis
generalizadas e as respectivas conseqüências.
Quero anotar aqui só dois exemplos típicos, para sitiantes, com a melhor intenção de chamar a atenção das autoridades
responsáveis para se lhes derem melhor definição:
A — É proibido por lei de se cortar qualquer árvore sem a autorização dos guardas florestais, sendo um cabo de enxada
considerado como árvore. Imagine-se quantos guardas vão ser necessários para verificar no Brasil inteiro à aplicação desta lei.
As respectivas conseqüências são de conhecimento generalizado:
É o famoso jeitinho para a igreja permanecer no município de maior renda, o que favorece as oferendas dos fiéis.
B — É proibido por lei qualquer caça de qualquer animal, com a finalidade toda especial de se proteger os pássaros tão úteis na
lavoura. Ora, qualquer pessoa da roça pode constatar de que houve um efeito positivo nos primeiros anos, porém, que atualmente, os
gaviões que se desenvolveram muito, não só eliminam os passarinhos com os seus ninhos e proles, mas também raptam os pintinhos
até nos terreiros dos sítios e mais, chegam a machucar os animais nos pastos ao pousar nos mesmos, para catar carrapatos, em
especial nas orelhas das vacas que depois embicham. O preço a pagar pelo sitiante em decorrência da observância das leis não
devidamente definidas em geral, é alto. Seria tão fácil de se definir que quando tratar-se de capoeira ou até dentro de floresta, o cone
de limpeza deveria ser não só tolerado, porém, muito mais difundido, porque em regiões subtropicais e tropicais, a floresta e em
especial as capoeiras sofrem demais os efeitos dos cipós que carregam as árvores adultas com o peso das suas massas verdes até
quebrá-las, em geral em dias de chuvas de verão.
Seria de se almejar a exemplo de paises com velha prática, de se generalizar o concurso do melhor caçador de animais nocivos.
Posso citar aqui que, por exemplo, na França o melhor caçador do ano recebia uma espingarda de dois canos, de marca famosa
(Manufactures Françaises d’Armes e Cycles de St. Etienne), como prêmio. A comprovação do abate de corvos e gaviões, era feita
pela remessa às autoridades (Gendarmeries) da pata esquerda ou direita, às vezes das duas, dependendo do ano.

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A observação feita acima a respeito dos gaviões, é valida também para as raposas, gambás e cachorros do mato, que destroem
não só a prole dos pássaros que fazem o ninho no solo, mas que eliminam muitas crias de veados e outros animais, sem falar dos
carneirinhos e cabritinhos, galinhas, patos e até bezerros recém-nascidos.
Imagine-se o guará, se desenvolver em demasia e nem cachorro bem bravo, quer saber mais de defender o sitio do seu dono.
Bem, estes exemplos são típicos para o caso dos sitiantes que sofrem da suas conseqüências. Mas o sitiante é ainda feliz
comparativamente com o morador da cidade grande, onde os crimes e roubos são tão numerosos que até conceituadas autoridades se
preocupam com a questão da pouca segurança. O caso faz lembrar o que o arcebispo Macários, pediu aos ingleses nos anos da
grande briga entre Turcos e Gregos, na ilha de Chipre:
Peço aos Senhores de aplicarem para nós, ao menos as leis estabelecidas para a proteção dos seus animais e nós humildes,
submissos, vos agradecemos, antecipadamente! E olha lá, que a guerrinha deles matava muito menos gente, do que morre em um
ano, em várias grandes cidades.
Será mesmo que o meu amigo de sempre, estava certo quando ele dizia que não adianta querer progredir muito para não chamar
demais a atenção, nem dos bandidos, nem das autoridades, porque até pagar menos imposto em si, já é lucrar! Bom, na base dos
51% de IP1 (Imposto sobre Produtos Industrializados), como para determinado tipo de automóveis, é de se deixar aos responsáveis e
aos implicados o dever de se encontrar um denominador comum e de se avaliar as respectivas conseqüências para a sociedade em
geral. De certo que as conseqüências são bem diferentes comparativamente com as resultantes dos 55% do ÍPI, para o fumo e ci-
garro. E não resta dúvida alguma de que mil fábricas de carroças de cavalos e burros, espalhadas por todo o país, não chamariam
tanta a atenção como uma vistosa montadora de automóveis. Seria difícil de se exigir 51% de IPI no caso das carroças e de tentar
pensar em considerá-las como produto supérfluo. Aqui reside o problema fundamental da avaliação de um componente que pode ser
de necessidade para muitos, de utilidade sem dúvida nenhuma para determinados casos de uso e supérfluo provavelmente só para
quem tem sem uso, um componente igual ou similar.
Nem para ir à igreja afastada, que o sitiante vai poder considerar o seu veículo, seja automóvel, ou seja, charrete de cavalo,
como sendo supérfluo, porque ir rezar na igreja é muito louvável e útil, desde que esta seja aberta sem distinção marcante a todos,
para meditar da inutilidade do homem que vai ficar supérfluo até dentro das montadoras do seu veículo de utilidade, pela introdução
de robôs nestas, que vão deixar de empregar uma grande porção não só de trabalhadores comuns. mas até mão de obra bem
qualificada.

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Surge a grande pergunta, se o robô a exemplo dos funcionários e trabalhadores, vão poder comprar uma pequena parte dos
veículos produzidos, dentro das normas de prazo e desconto estabelecidos pela firma? Talvez se vai conseguir isto com um desconto
um pouco mais especial e os robôs chegam lá também, senão lhes restam outras possibilidades entre as quais, não é nada desprezível
o efeito moral, podendo ouvir-se dizer nas ruas: Coitados dos robôs, nem salários recebem! A greve deles é justificada! Eles estão
cavando a própria cova, pelas suas exigências ilusionistas em relação à situação econômica da nação! Será que eles vão pagar 8% ou
10,8% ou 18% de INPS? De fato, se o robô substituir até 200 trabalhadores, é de se prever então mais de 200 x 8% de INPS!
É mesmo, o sitiante sabe muito bem de que a vaca dá leite só até o úbere secar e quando faltar capim, isto ocorre logo. E
depois? Bem, depois a gente vai constatar o que pode ocorrer! Determinadas pessoas até vão rezar para dias melhores, esquecendo-
se do fato de que Deus, Alá ou Orixalá não tem obrigação de fazer milagres para salvar o homem dos seus erros! E se o homem
chegou a considerar o Homem-Deus, como o seu Irmão, seria tempo de se falar com todos os irmãos a mesma linguagem para se
sair deste marasmo que pesa novamente como nuvens grossas ameaçadoras sobre o mundo inteiro. É imprescindível se encontrar o
modo de todos poderem ceifar capim o suficiente para alimentar as vaquinhas que darão farto leite, para todos poderem dividir
equitativamente, não só o leite da criação, mas até o mel colhido do mato por trabalho em conjunto para terem todos a alimentação
suficiente para a sobrevivência, em especial, para as crianças que são o futuro das nações, dentro de um espírito de união entre todos
os povos, sem favoritismo, sem preconceitos ou desprezo, porque não adianta querer salvar só determinada casta ou classe desta
humanidade tão disparata; e deixar a tarefa de sua gerência à determinada nação, seria estúpido.
A felicidade e o bem estar só podem ser coexistentes quando obtidos por ação recíproca generalizada por todos e para todos,
escolhendo-se democraticamente entre os melhores administradores, os mais competentes e de moral elevada, que não faltam em
nenhuma nação, excluindo-se totalmente as jogatinas políticas, muitas vezes mesquinhas e porque não dizer, demais egoístas, sem
futuro promissor durável. O amigo de sempre, me dizia quando era jovem: que peru come milho grosso até na frente dos pintinhos,
sem se incomodar com o piar destes e sem querer amiudar alguns grãos para eles poderem comer e crescer. Ora, sem quirera, os
pintinhos morrem, eliminando-se assim qualquer possibilidade de se encontrar uma galinha que bote ovos de ouro, no futuro, nem
galo despertador para o sítio.

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Depois destas divagações mentais e espirituais, por um mundo infelizmente muito realista nos seus propósitos puramente
materiais, voltamos à vida rural, não se esquecendo de que tais exemplos demonstram o quanto é difícil o equilíbrio dos contrários
com disparidades das mais bárbaras e tão contrariantes para o bom senso e o quanto uma nação ou um povo deve se cuidar em todos
os assuntos referentes ao bem comum, senão ocorre a famosa escravidão moderna de fama toda especial neste fim do século vinte,
em tantos países, dominados pelos extremistas tanto esquerdistas como direitistas. E como todo mundo sabe, uma nação é como
uma equação da qual o produto dos extremos não pode em nenhum caso superar o produto dos médios, senão a balança bascula e
muitas vezes chega até a cair, porque neste caso, nem equação existe mais.
Também até para o vovô sitiante, é bom lembrar-se de que velhice não protege de tolice (e às vezes não protege até de burrice).
Sim, as vezes o pessoal quer ficar com as rédeas nas mãos para dirigir a carrocinha em estradinhas esquisitas, nas quais
dificilmente o vovô vai se sair bem, nem pensando em sua (ir) responsabilidade, em vista do talento, do juízo, da segurança e do
modo de pensar dos jovens das novas gerações.
Quando a arteriosclerose se faz sentir em grau variável, da qual só escapa quem morrer jovem, o vovô sitiante faz bem de
passar o comando a um filho ou até netinho, porque vão chegando os dias nos quais as suas decisões ficariam um tanto estranhas e
com resultados discutíveis. É a lei da natureza, que rege este mundo e contra a qual não adianta se opor, se não quiser sofrer demais
das conseqüências a serem consideradas moderadamente, porém só toleráveis ainda em grau a se avaliar sofrível. Todavia é bom ter
uma compreensão recíproca para todos, porque não é fácil para uma pessoa de certa idade em admitir o seu enfraquecimento mental,
mas ocorreu já muitas vezes que para decisões de dirigentes de idade avançada, não se encontrou mais explicações justificáveis, se
não fosse a vista da possível morte não muito longínqua, o que o permitiu já a muitos egoístas de escapar das conseqüências nefastas
das suas decisões ilógicas que são às vezes tão palpáveis que até cegos chegariam a enxergá-las. Nunca se deve brincar com coisas
muito sérias e de responsabilidade geral. Ao contrário, é bom tentar de interessar o vovô idoso, ainda no andamento dos negócios e
muitas vezes ele dará palpites de grande aproveitamento, não raras vezes ao rever as anotações feitas no decorrer dos anos, nos seus
cadernos, o que lhe facilita o reaviva mento da memória que assim ele vai manter bem ativa ainda durante muitos anos.
Ocorre, as vezes que o vovô, vai contando destas estórias um tanto demais definidas para os seus netos, cujas gargalhadas
estalantes são a melhor prova da herança de um bem comum inegável dentro da família. Então o vovô se sente em idade bem menos
avançada, porque cada um tem a idade real do seu espírito que, se devidamente treinado no decorrer dos anos, pode ser bem menor,
comparativamente com a idade da carcaça de um espírito jovial e sempre alegre, até em situações às vezes difíceis.

217

É nestes dias que muitos vovôs se preocupam com o futuro e com a possível continuidade dos sítios por eles formados em todos
estes anos de trabalho, de alegrias e também às vezes marcados por dias de imensa tristeza dos quais infelizmente só poucos
escapam, por exemplo, quando da morte de entes queridos. Então, deve ser redobrada a união dos membros destas famílias para
salvar se possível também o bem comum material, porque é fora de cogitação de se perder a união espiritual entre eles, e também
porque os filhos e até os netos e bisnetos devem se lembrar de que também para eles chegará o dia de serem vovôs, isto dentro de
um prazo que não é tão grande assim como a gente pode imaginar na beira dos vinte anos. É de conhecimento geral de que querer
transplantar árvores velhas é sinônimo de sua eliminação por morte não muito afastada, quer dizer de que é de se recomendar deixar
viver o pessoal de idade dentro do seu ambiente, ainda que seja este considerado até primitivo, porque o verdadeiro valor da vida,
não pode ser avaliado na base de medidas generalizadas, não; bem ao contrário, trata-se de uma avaliação individual pela qual cada
um vai encontrar a possibilidade de entrosar a sua filosofia com as suas condições de existência, deixando-o no respectivo estado de
espírito muito difícil às vezes de se entender para quem não está acostumado a este convívio com a natureza e para quem acredita de
não ter mais ligações com ela. Estas forças são tão desconhecidas hoje de determinadas pessoas cegas de espírito, ao ponto de serem
não só ignoradas, mas até negadas por elas, o que as tornam pobres, ainda que às vezes repletas de riquezas materiais incalculáveis.
É na partilha de grandes bens, após a morte do avô, que em geral surgem as dificuldades. Das diversas possibilidades que se
apresentam, deveria sempre ser escolhida a solução de não se dividirem mais sítios de amanho já limitado em relação à produção
razoável para o sustento de uma grande família. A divisão de sítios maiores e até de fazendinhas e fazendas em unidades menores a
serem atribuídas aos herdeiros é viável desde que uma certa harmonia seja possível tanto nas atribuições como na divisão das terras
e benfeitorias, porque às vezes ocorre o fato de um lote não ter acesso à água fácil, nem para estradas de saída dos produtos. Ocorre
também que em uma partilha de terras, certos herdeiros ficam bastante prejudicados pelo fato de não receberem uma atribuição
adicional para todos os anos que eles viveram no sítio, cuidando muitas vezes dos pais doentes enquanto que outros irmãos e irmãs
foram para a cidade ganhar cada um o suficiente para poder formar o lar próprio, voltando, todavia no sitio, de vez em quando para
desfrutar de férias e outros tempos de descanso. Também quando um irmão ou uma irmã, com faculdades diminuídas, vive com os
pais no sitio, surge muitas vezes o caso deste encontrar-se em situação difícil na hora da partilha das terras após a morte dos pais.

218
É de se almejar que nestes casos, sejam conservadas as terras em unidades relativamente produtivas para tais pessoas
encontrarem o sustento próprio sem depender de grande ajuda da irmandade, nem caindo a cargo dos cofres públicos, ou
simplesmente abandonadas à própria sorte.
Quando um sítio encontrar-se muito perto de uma cidade na qual todos os herdeiros podem encontrar serviço adequado para o
sustento das suas famílias, não se pode objetar na sua divisão, por exemplo, em chácaras de tamanho variado das quais, os herdeiros
podem parcialmente tirar o sustento completando-se o restante com o dinheiro ganho pelo trabalho no emprego, seja em fábrica ou
em casa particular.
Todavia, em caso de partilha, é sempre bom proceder ao devido inventário, não deixando dúvida a respeito da situação legal de
cada um dos implicados, regularizando-se muito bem as determinações de possível exigência de uso fruto tanto de área, como de
tempo, no caso da aplicação desta consideração, por exemplo, para o cônjuge ou para um irmão ou irmã que sempre morou com os
pais no sitio, não se casando às vezes só por comodismo, depois de ter deixado passar o tempo e as oportunidades de se encontrar
uma alma irmã para formar um lar próprio. Conheço sitiante, cujo avô, morto há mais de cinqüenta anos, paga ainda o imposto da
propriedade, porque nunca foi feito o respectivo inventário, quer dizer que, sendo a propriedade ainda em seu nome, o imposto pago
vai também ainda anotado nesta rubrica.
Dificilmente os herdeiros de segunda e terceira geração, vão encontrar uma solução amigável fora da venda desta propriedade
para terceiro, o que em si é lamentável, porque as raízes destes vão se perdendo.
Mas de fato, entre dois males, é sempre melhor escolher o menor, deixando-se a ocasião a outra família para também recriar ou
para fortalecer as suas raízes nesta roça, nada desprezível.
Chega-se agora, ao ponto de se discutir muitas intromissões, tanto do tio e da tia já longe da convivência, com o pessoal do sítio
há dezenas de anos, mas que nestas ocasiões gostam de dar palpites. E não é de se esquecer de que até o “Papai Estado”, quer saber
não tanto do estado das coisas, mas muito mais do montante da venda do sítio, para se obter os respectivos impostos muito variáveis
de um país ao outro, mas que em geral em nenhum lugar do mundo são modestos, comparativamente com o custo de vida, porque
em geral é muito conhecido o fato de que vivo abastado pode pagar, enquanto que não é muito lucrativo querer espremer um
defunto. Mas sem dúvida nenhuma, o homem em geral tem que admitir que, pertencendo a uma sociedade, tribo ou nação, ele tem
de arquear também para as respectivas despesas comunitárias. Se a comunidade exige imposto, os seus responsáveis devem cuidar
da aplicação justa e sensata destes valores a eles confiados, para poder melhorar as condições desta comunidade. Exigindo-se o
pagamento de imposto só a determinados cidadãos, considerados abastados, ou só das indústrias e de outras sociedades lucrativas,
surgem muitos efeitos colaterais, cujas conseqüências não podem ser consideradas como desprezíveis ou inevitáveis.

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De fato, dentro de uma nação, até mendigo que dorme em baixo da ponte, deveria pagar um imposto pessoal, só pelo fato dele
ser cidadão, que pode originar despesas de limpeza pública ou despesas conseqüentes da ação do guarda que deve zelar pela ordem
pública. Também acabaria em grande parte, com este espírito de classificação dos cidadãos em ricos e pobres, sendo que muitos atos
impensados e às vezes propositais dos últimos, aumentam muito a carga tributária dos primeiros (por ex., descarga de caminhão de
entulho, em vias públicas ou na beira dos rios a serem limpos, depois ao custo chamado de público, mas que em si, não é muito
público). O sistema tributário generalizado para todos, teria ao menos a vantagem de tornar todos os cidadãos mais conscienciosos
não se podendo mais desculpar com a alegação de que é o estado que paga, porque devendo pagar imposto, o cidadão culposo vai se
prejudicando por si próprio com os seus atos impensados.
E no caso de infração às leis, em vez de multa, poderia se exigir o aumento do imposto do infringente por cinco ou dez anos, de
acordo com seu registro, em rosa ou vermelho. Tal ação seria muito mais educativa, do que punitiva, chamando toda a atenção de
muitos antes de cometer atos de vandalismo contra o bem público. Eu mesmo vi, com que desprezo à natureza uma jovem forte,
quebrava as árvores recém-plantada em uma pracinha bem ajardinada, só para demonstrar a força dos seus músculos braçais. Dever-
se-ia obrigar tal pessoa a participar durante um ano da limpeza desta praça, o sábado à tarde ou o domingo de manhã isto sob
fiscalização de um mestre de quarteirão de comprovada moral e enérgico com os jovens infratores.
E o motorista de um caminhão apanhado em flagrante ao descarregar lixo, seja na via pública da cidade ou na estradinha de um
sítio, se não quiser pagar imposto ao dobro, durante cinco anos, deveria como alternativa ficar à disposição da limpeza pública, com
o seu caminhão ou de seu patrão, para levar embora os detritos deixados em lugares indevidos pelos seus congêneres tão
irresponsáveis quanto ele o era. A lição seria para valer. A fiscalização seria de se prever não só pelos guardas (que são sempre em
número insuficiente, conforme os dizeres da maioria das autoridades), mas por todo e qualquer cidadão responsável e consciencioso
de que a infração que está se cometendo vai onerando o cofre público, quer dizer que, no caso do imposto generalizado, ele também
está papando para as conseqüentes despesas que ele poderia evitar ao denunciar irresponsáveis.

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Surge assim, o grande problema de possível vingança, o que exige a proteção redobrada da polícia que deveria reagir à qualquer
queixa de todo e qualquer cidadão, com nome respeitado pelos seus concidadãos. Se isto não for possível, restará não só a
possibilidade, mas o dever dos cidadãos, mesmo se agruparem por bairros e até por quarteirões, sejam das cidades ou dos sítios, para
zelar não só pela ordem geral, mas muito mais ainda pelo bem comum, no qual é de se incluir em todo primeiro lugar a vida de cada
um. Tais agrupamentos por bairros, podem zelar para a educação mútua dos seus habitantes, de um modo muito discreto, porém se
necessário, até enérgico no entender dos métodos já usados com muita eficiência pelos nossos ancestrais, afastando-se assim do
convívio, os sujeitos desordeiros ou infratores incorrigíveis, que assim vão viver em lugares mais afastados e não ainda organizados.
Para as autoridades, o serviço fica muito reduzido, limitando-se ao controle geral mantendo-se determinado número de policiais
responsáveis e conscienciosos à disposição, no caso de ser necessário fazer uma descida-surpresa ou para proteger um bairro
ameaçado por recalcitrantes.
Não seria de se impedir o pagamento de um guarda noturno por diversas famílias, como já ocorreu, com a alegação de ser uma
coisa irregular, incitando em desconfiar das autoridades! E não é de se recomendar a nomeação de só um ou vários guardas de
quarteirões, porém, até de um mestre de quarteirões, bem enérgico e capaz de zelar pela a ordem com toda discrição e com todo o
respeito para todos os seus vizinhos e amigos.
Imagine-se o sistema de impostos aumentados, aplicado também de forma rigorosa para cidadãos que se julgam fortes e
poderosos, unicamente pelo fato de possuir e saber fazer uso de determinados componentes que lançam objetos, chamados de
caroços de oliva, a certa distância, variando muito, a sua quantidade no tempo e a sua distância, mas todos com possível efeito
mortal até para vítimas inocentes casuais, totalmente alheias às brigas ou assaltos e cuja única culpa é o fato da sua presença em de-
terminado lugar, em determinada hora. Fatalidade!
Para os verdadeiros arrependidos dos seus atos impensados, o sistema de tributo até decuplado, poderia dar uma ajuda direta e
até imediata aos cofres públicos no sentido de se diminuir o número de hóspedes destas instituições de vida parasitária, nas quais os
menos espertos vão aperfeiçoando os seus conhecimentos profissionais, que mestres e professores não faltam por ali, nestas
faculdades do crime, mansamente chamadas também de casas de descanso, pagas generosamente pelas próprias vítimas, desses
coitados de jovens, que não tiveram educação e instrução, se a gente quiser acreditar na opinião de determinadas pessoas com a ten-
dência de achar até bonito o parasita do pomar do sitiante, esquecendo-se de que bandido é parasita da sociedade ordeira, e que se
tolerado, ele vai chegar a dar muito prejuízo, não sendo raro de ele matar, como o parasita do pomar, que já matou muitas árvores
valiosas, muito mais do que as mãezinhas destes filhos com espírito deformado podem imaginar. Demais, bandidos se recrutam
dentro de famílias até abastadas e não é raro o fato deles se vangloriarem de pertencer à classe, não temendo declarar em público na
televisão, de que bandido é para morrer mesmo e não para trabalhar!

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Não seria mal, ver a reação destes moços e moças, homens e mulheres de espírito muito deformado, ao submeter os mais
recalcitrantes e os mais teimosos ao tratamento usado ainda no início do século em determinada região de um país muito humano e
super democrático: colocava-se o sujeito, recalcitrante ao trabalho, em uma caixa de água com grades bem fortes a meia altura, no
interior desta caixa, no fundo da qual era montada uma grande roda do tipo gaiola de serelepe, pela qual o sujeito podia acionar uma
bomba para recalcar a água que se deixava jorrar dentro da caixa ao abrir-se a respectiva não pequena torneira de fora da caixa, é
claro.
Para quem quisesse sobreviver, duas a cinco horas de trabalho em regime razoável na roda da bomba, dava para implantar o
espírito de respeito à coletividade, em muitos. E para os outros? Bem, era suicídio de própria vontade e não homicídio em nome de
uma lei formulada pelo homem. Não restava dúvida de se tratar de um suicídio de própria vontade, que tempo para pensar não
faltava ao rapaz.
Tal método seria também nada desprezível para educar estes jovens que chegam a bagunçar a noite inteira, até em pequenas
cidades pacatas (só ainda de dia, quando eles dormem), desrespeitando por completo o repouso noturno dos outros. Obrigando-se
estes irresponsáveis a bombear água, uma vez por outra durante umas dez horas, daria para mudar neles até o biorritmo, após o
passeio forçado da rodinha.
O pagamento de imposto decuplado daria também para acabar até com as estórias esquisitas que ocorrem em cadeias, como por
ex., a estória do ronco do guarda, que dizem ser muito maior do que o ruído da serra em ação nas grades da prisão. Não sobraria
tanto dinheiro para pagar a entrega das limas ou das lâminas da serra.
De fato, tudo aqui é só uma interpretação dos fatos.
Vale anotar o que um réu respondeu ao juiz ao ser interrogado sobre o fato dele ter quebrado um porrete na cabeça do queixoso:
— Sim, Excelência, mas foi sem querer!
Como que foi sem querer, indagou o juiz. Ao qual o réu respondeu: Sim, foi sem querer mesmo, porque minha intenção era de
quebrar-lhe a cabeça sem quebrar o porrete! É mesmo, neste mundo é tudo só uma questão de interpretação da formulação das
opiniões e estas não faltam e nunca vão faltar. Pode-se lembrar a fábula do poeta francês La Fontaine, que soube retratar as
características de determinadas pessoas da sua época na apresentação dos animais doentes da peste, onde o leão, o lobo e a raposa,
sempre encontravam uma desculpa para os seus atos criminosos, enquanto o coitado do burro foi condenado por ter comido um
punhado de capim, na beira do caminho! E hoje, será que daria em outra coisa? Talvez em um grau um pouco mais variado, mas de
certo não sempre em marcha retrocessiva neste fim de século vinte, tão violento, porque depois de entrar em cena a chamada
opinião pública, tão bem dirigida, como a ação dada ao “Polichinelo”, chamado também de “Palhaço”; é só aguardar um pouco que
os seus braços e as suas pernas vão se movimentando ainda um bocado de tempo em conseqüência da energia acumulada nas
pequenas massas dos pedaços de madeira ou de plástico das subdivisões dos seus membros.

222

Imagine-se a movimentação possível de se alcançar com as massas humanas dirigidas por determinados grupos de pessoas com
intenções não sempre das melhores para o bem comunitário, porque em muitos países não importam os meios, mas o resultado final.
E não se vai acreditar de tratar-se de um lema de aplicação ocasional porque já muitos particulares o introduzem nos seus métodos.
Ocorre, todavia, às vezes, quando se movimenta em demasia os barbantes do Polichinelo, que ele reage de forma imprevista,
chegando até a cair na cabeça da criança ao desprender-se da parede o prego que mantinha erguida a cabeça de cara de pau deste
palhaço. Às vezes, tal ocorrência se dá ao rasgar-se a fitinha de suspensão, acabando-se tanto a alegria da criança como a energia
dos membros do palhaço.
E depois de deixá-la brincar, manda-se a criança na escola para receber determinada formação e para ser inculcada nela uma
série de opiniões até chegar à idade de ser encaminhada na escolha de uma profissão, salientando-se todas as vantagens de algumas
destas chamadas profissões preferenciais, por ex., de “serralheiro em ossos humanos”, “matador profissional” emendador espiritual,
também chamado de espremedor das almas, etc. só de plantador de capim e de recolhedor de batatinhas se fala muito pouco nas
aulas de exame pré-vocacional, porque parece que a terra, é muito baixa, o que exige de se dobrar muito a coluna vertebral! Então
ocorre em países, com nível cultural elevadíssimo, que moças com doutorado em filosofia ou em direito, são obrigadas a aceitar um
emprego de balconista em loja de calçados. E doutores em direito vão de biscateiro para ver se conseguem convencer a gente a
pagar o prêmio para um seguro de vida, como se a vida fosse segura (pagando-se no caso de morte, uma soma de ajuda para vestir-
se o defunto com um paletó de madeira). E tem muitos seguros até de uso puramente espiritual. Pessoalmente recebi a visita de um
senhor, pouco tempo depois de casar. O desfecho foi, todavia o meu convite a este senhor de querer se retirar como “bom amigo” da
minha casa, porque eu não podia concordar em pagar por um seguro para um padre rezar para o bem da minha alma, até cinqüenta
anos após a minha morte. Não quero criticar ninguém, mas sinceramente, a estória da venda das indulgências não está ainda
totalmente esquecida. Parece que, existem ainda, muitas pessoas que se julgam salvas por um punhadinho de dinheiro que se dá em
extra para determinada finalidade. Isto mesmo é só possível, para quem não entende ainda o verdadeiro sentido de honestidade,
bondade e sinceridade na vida.

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E depois de entrar na sua vida profissional, o jovem vê que o mundo não é sempre cor de rosa como ele (ela) imaginava. A
maioria do pessoal cai na rotina, contentando-se com os fatos existentes; outros (as) chegam até a se rebelar no fundo do espírito
contra a existência, e outros (as) aceitam tudo e dão no duro para progredir o mais depressa possível. Surge assim a famosa
classificação humana em alfas e os demais.
É um fato reconhecido oficialmente de que em vários países da Europa, mais de 40% dos jovens são obrigados a mudar de
profissão no decorrer do tempo, não tendo nenhuma chance de progredir na profissão por eles escolhida (e o aprendizado
profissionalizante é de três a quatro anos em geral).
Não seria tempo de se estudar a reformulação das escolas em vista deste fato, dando muita margem à instrução generalizada, em
especial no grau profissionalizante? E porque não chamar a atenção dos pais de estudantes com dificuldade em acompanhar os
cursos sobre o possível entrosamento destes para a vida modesta do campo, considerada infelizmente por muitos, como sendo
humilde, mas que pode permitir as estes jovens de se encontrar o verdadeiro sentido da vida, no ar livre, em espaços ainda pouco
reduzidos, o que para muitos vai ser de fato mais interessante e de qualquer modo muito mais saudável para o corpo e o espírito, em
vez de vegetar em um emprego, com a sua rotina diária e com o peso da grande dúvida da sua possível substituição por um
concorrente ou por um robô.
Cada um deve ter em mente de que a presente anotação é referente em boa parte já para os jovens de hoje, mas o será em grau
bem maior para a juventude no futuro, quer dizer, quando a população desta terra vai ser várias vezes aumentada em relação ao seu
valor atual. Então, até para jovens doutoras-balconistas vai ser duro de se encontrar um serviço nas lojas ou em escritórios
automatizados.
Pode-se recomendar a todos os jovens com menor faculdade de assimilação de se avaliar, se não vale mais ficar com cada pé no
seu respectivo calçado ao andar pelo campo, do que querer por os dois pés em um só calçado maior que dificulta o andar do rapaz
nestas ruas da vida. Dá para entender mesmo!
Não adianta se fazer ilusões, que as decepções são assim bem menores!
Seria desagradável dever constatar-se desvios na mente, como ocorrida em determinado camarada que foi levado ao “retificador
espiritual”, chamado comumente de “psiquiatra”, por ter a mania de se julgar transformado em rato, coisa que pode ocorrer;
conheço pessoalmente um que puxa a carroça o dia inteiro, por acreditar firmemente de ser um cavalo!

224

O psiquiatra iniciou com as seções de correção, obrigando este rapaz a repetir com firmeza total: — não sou um rato!
De fato, após algumas seções, o rapaz dizia com toda a convicção:
- Não, eu sou um homem. Não sou um rato. o que alegrou muito o psiquiatra e o motivou a dar-lhe alta, após o devido
pagamento final, é claro!
O paciente muito alegre foi se despedindo, agradecendo ao doutor efusivamente.
Dirigindo-se para a escadaria, nem fechou a porta, mas voltou ao consultório, indo se refugiar em cima da mesa do psiquiatra,
assustado.
— Doutor, tem um gato na escadaria. E!
— Mas, João, você é um homem, você não é um rato, então não tem medo do gato!
— Sim, doutor, eu sei que não sou um rato, mas como vou saber se o gato o sabe também!
Aqui que está o problema; saber se a gente sabe dos fatos reais e não se faz ilusões que poderiam levar até ao desespero muitos
jovens, cansados de lutar para conseguir uma posição razoável na luz do sol destas sociedades, com as suas críticas parecidas, às
vezes, a pílulas amargas, que se lhes apresenta até em bandeja dourada, com a recomendação toda especial: “Tem de engolir, se
quiser... Hum”! E quando um não vai engolir!
Porque antes do desespero, não pensar na vida simples que ele poderia levar na roça? Esquecendo-se totalmente do
comportamento chamado de “status”, que chegou a magoar já muitos jovens sensíveis e com espírito de grande liberdade.
Na escolha da profissão, muitas vezes ocorre o fato do (da) jovem. ser encaminhado (a) nesta para agradar o desejo dos pais, às
vezes, em pleno desacordo com as suas disposições e as suas aptidões declaradas. Às vezes um jovem se rebela contra o seu destino,
por não ter, nem tamanho, nem disposição etc., para se entrosar na sociedade com um título todo especial. Mas não precisa de se
desesperar, meu (minha) jovem, não! porque em primeira consideração, nem tamanho, menos ainda boniteza é referência nenhuma e
não são os colossos que vão resolver tudo com força, o que vale ressaltar aqui, pela seguinte anedota:
Certo pugilista se orgulhava no bar da esquina da força dos seus punhos e tomando um limão, no balcão, o espremeu e desafiou
todos os presentes:
— Cinco mil cruzeiros, para quem tirar deste limão, ainda uma gota de suco:

225

Olharam-se todos os fortões presentes; pegaram no limão, mas nenhum conseguiu tirar a tão almejada gota!
Então um jovem magrinho, magrinho mesmo, sentado em uma mesinha do bar diz:
- Dá para eu experimentar!
Não dá para descrever as gargalhadas originadas pelo pedido de tal sujeito, mas para se divertir o pugilista lhe entregou o limão,
no qual já secavam por completo as suas fibras tão machucadas pelos fortões.
O magrinho, porém, abriu o limão e com os dedos espremeu fibras após fibras, de cima, para baixo no seu lado interno, com o
resultado quase incrível de conseguir tirar dele: uma, duas e, e, três gotas!
Novas gargalhadas dos presentes, porém, exceto do pugilista que se dirigindo ao magrinho, reconheceu a sua vitória.
— Parabéns, porém, dou o dinheiro da aposta só se você me revelar a sua profissão.
— Fiscal do Imposto, foi a tão misteriosa profissão!
Sabendo fazer as coisas, dá até três gotas!
E até sitiante fraquinho, levando aos poucos a lenha seca do mato para casa, chega a manter o fogão aceso o suficiente para
cozinhar não só o arroz, mas até o feijão, não só para o almoço do dia, mas também para os dias seguintes, porque é pensando no
futuro que muitos jovens perdem o sentido da vida e vão adoecendo do espírito aos poucos, caindo em situações mais embaraçosas
até querer fugir dos seus problemas pela grande fuga para o silêncio eterno. Mas eles vão se esquecendo do fato desta vida
apresentar-se com muitas facetas, como um olho dos insetos. Nos dias encobertos, nos quais ocorrem desgraças é bom tentar virar
os centros nervosos para as facetas visuais mais claras e então até uma tela bem grande deste cinema ambulante, que é a vida, vai se
clareando, porque após a chuva, volta a brilhar o sol e após a amargura da “fossa”, torna a aparecer um grande sorriso. De certo que
ninguém vai poder fugir dos seus problemas, que nos são dados para solucioná-los todos, uns após os outros, bem na fila; o bom é
manter uma boa ordem nesta fila para não se deixar disturbar nas lutas para alcançar as vitórias sucessivas, não se esquecendo nunca
de que é melhor de se dar um fim a cada problema, ainda que seja com um susto passageiro, em vez de conviver com um susto sem
fim.
Ocorre muitas vezes que as pessoas vão criando atritos e problemas que em si, não o são tanto como eles imaginam.
E tudo neste mundo é bem relativo pensando nos problemas que outros irmãos e irmãs têm de resolver. Aqui vale o lema de
nunca perder o bom humor, até em condições e situações das piores. Porque ele ajuda a não se deixar turvar a vista, nem por óculos
dos mais escuros, encontrando-se assim, mais facilmente soluções para os probleminhas e problemões da vida, até dentro de água
barrenta.

226

Quantas pessoas, com cara das mais fechadas, já explodiram em uma grande gargalhada, após ter tentado engoli-la, ao ouvir
contar umas destas piadas que podem chegar a dar vida ao corpo astral até de trespassados de velha data.
Não, meus jovens irmãos, a vida não é tão ruim assim. Encontra-se muitas vezes uma portinhola de emergência neste submarino
humano, sem necessidade de se tentar forçar as escotilhas; mas às vezes é necessário se molhar por inteiro, ao passar pela água,
porém deixando de se equilibrar antes o jogo das pressões. Para quem tentar antes seria a sua perdição lamentável. Então em
situações críticas, sempre se lembrar que o melhor conselheiro do homem é o tempo. Em casos de grande bruaá, às vezes, é bom se
mudar de ambiente e ir passar alguns dias no campo, até em um sítio bem modesto, com uma família cabocla, ajudando esta nos
seus afazeres e contemplando esta natureza tão bonita, com tantos seres a se alegrar da luz do sol, que de manhã torna a brilhar de
novo para todos, isto em grau ainda maior, após as noites de chuvas pesadas de verão e até com tormentas, que às vezes parecem até
necessárias para lavar os caminhos desta grande roça na qual vivemos.
Quantas pessoas podem assim, reencontrar o equilíbrio muitas vezes disturbado com pensamentos obscuros conseqüentes da
dependência generalizada destas sociedades, nas quais parece que só vale dinheiro e status, status e dinheiro!
Jogue fora estas bobagens, irmão, porque a riqueza verdadeira de cada um é esta liberdade de espírito sem dependência, que
permite a todos fazer as suas opiniões próprias, e viver sem se incomodar com as opiniões dos seus semelhantes. Assim é possível
encontrar um novo sentido da existência e se entrosar em uma vida comunitária ainda que ela seja simples ao ver dos outros, que
sempre encontrarão material a criticar, se não dotados deste espírito de respeito e consideração mútua, que é de se difundir
discretamente entre todos os povos e raças que vivem na terra, porque gritarias e intimações espirituais só assustam os sensíveis,
enquanto muitos dos outros que pensam, ter já superado a fase crítica da muda espiritual, podem chegar a se refugiar em roças
alheias, nas quais crescem os psicotrópicos e demais drogas tão nocivas ao bom senso do pessoal.

227

Não adianta querer eliminar por força o mato do campo, o que é necessário, é saber providenciar a escolha certa das boas ervas.
Quem iria comer urtiga branca, só pelo fato dela crescer no mesmo canteiro da salada na horta? É conhecido o fato das crianças
mantidas muito limpas pelas mães, adoecerem com maior facilidade em relação às crianças que se deixam brincar na terra para
poder entrar em contato com as bactérias e virus, o que chega a incentivar os seus corpos a criarem os devidos anticorpos, dando
como resultado, o menor perigo de reação violenta às doenças, respectivamente a sua eliminação na fase inicial, sendo atribuída à
gripe a ocorrência de febre passageira. E no campo emotivo. será que é muito diferente? A comparação analógica dos resultados
obtidos prova o fato de ter ainda muito trabalho pela frente, para encontrar-se o denominador comum das diversas equações
estabelecidas. E porque não tentar também reduzir as equações aos seus menores termos possíveis?

228

27º ÍTEM — PROPOSTAS PARA POSSIBILITAR A VOLTA AO CAMPO DE PESSOAS MODESTAS, SEM CONDIÇÕES
DE COMPRAR TERRAS.

Em primeiro lugar, deve-se diferenciar o pessoal em pauta, considerando-se as suas aptidões e a sua vontade de adaptação e de
progresso, porque ocorre muitas vezes que um e outro camarada pode tornar-se independente, conseguindo safras bem razoáveis,
sem necessidade de outros sustentarem a sua família, enquanto que muitos sitiantes com ponderável ajuda financeira vão
fracassando irremediavelmente e provocam prejuízos importantes não só para a comunidade, mas até para particulares que pen-
savam poder salvá-los daquela situação critica.
Querer distribuir terras e dinheiro, para a volta ao campo, seria errado. É bom lembrar que esta generosidade oficial já foi
tentada em determinada situação; mas os implicados voltaram para a cidade com a bonita afirmação de que as terras não prestavam,
porque não se encontrava gente para trabalhar nelas. Nesta base, cada um pode avaliar o quanto um paternalismo pode ser
prejudicial para a sociedade.
Analisando-se as diversas formas de possível ajuda para a volta ao campo de famílias trabalhadoras, honestas e com as
melhores intenções de progresso, seria de se avaliar determinadas propostas a seguir anotadas:
— a) caso de terras devolutas ao governo: Seria possível de se dividir estas terras em parcelas adequadas para a formação de
sítios, porém, não as atribuir a determinados interessados, porém, arrendando-se estas terras por um prazo de vários anos a eles,
renovando-se o contrato em pauta de comum acordo, se a manutenção destas terras foi satisfatória e a contento das duas partes. Para
o montante do aluguel a ser pago anualmente, poderia aplicar-se o sistema percentual muito usado na França, no arrendamento de
terras, que se baseia nos preços dos produtos delas obtidos, sendo o valor do aluguel flutuante. Por ex., em um sítio na França,
pagava-se:
— 20% na base do preço dos bezerros gordos;
— 30% na base do preço da manteiga;
— 30% na base do preço das batatinhas;
— 20% na base do preço do trigo.

229

Deste modo, o aluguel flutuava com a flutuação anual dos preços dos produtos, sendo tomado o valor médio anual por base, o
que dava a possibilidade ao sitiante e ao patrão das terras a entrar em acordo para a renovação de contrato afastando-se os
intrigantes e implicantes, que não faltam em nenhum povo e que visavam a arrenda de terras melhoradas pelos antecessores,
querendo oferecer jóias e outras vantagens passageiras. Estes últimos arrendatários deixavam as terras no fim do contrato em estado
deplorável, com prejuízo para o dono das terras, várias vezes maiores do que o dinheiro aceito deles.
Tais arrendatários foram mau quistos e vistos de modo que nem a municipalidade com vários sítios de pouco valor, quis
arrendar-lhes estes, enquanto bons arrendatários chegavam a permanecer nas terras por decênios seguidos, podendo adubar estas
terras com todo o esterco produzido até no fim do período do contrato, cientes da sua renovação.
— b) para terras particulares, o mesmo método como acima sob a) descrito, seria também aplicável, elaborando-se o contrato
devidamente para a segurança tanto do proprietário das terras, como para o arrendatário, especificando-se perfeitamente de que este
contrato não poderia ser passado para terceiros, nem sendo tolerada a convivência de desconhecidos com o arrendatário para se
evitar a grilagem de partes das terras. No caso da existência de benfeitorias, seria de se especificar detalhadamente estas no contrato,
também com a observação de que benfeitorias adicionais importantes construídas pelo arrendatário, não poderiam ser eliminadas no
fim do contrato, a não ser de comum acordo entre o proprietário e o arrendatário.
Este comum acordo era e é ainda mais louvável quando feito com participação financeira definida para as duas partes.
A cessação da arrenda seria automática ao vencer-se o contrato, sendo a sua renovação feita de comum acordo com um ano e
meio de antecedência para contratos de arrenda de terras de um período de nove anos. Desistências seriam de se tolerar depois de
três ou seis anos, com aviso de antecedência de um ano e meio. Em casos extremos, como o da morte ou doença grave comprovada
com internação do arrendatário seria previsto um acordo mútuo entre o proprietário e o arrendatário ou os seus herdeiros para o
aproveitamento das terras, até por um vizinho para impedir a sua desvalorização cultural, todavia tudo na base de escritura adicional
ao contrato que continua válido e assinado pelas partes implicadas, mencionando muito bem de se tratar de situação excepcional.
Parte do aluguel cobrado tanto por instâncias governamentais como por particulares poderia ser aplicado para melhoramentos
ou para a construção de benfeitorias, podendo ser previsto até incentivo fiscal no imposto pago pelo dono das terras arrendadas.
Tal procedimento poderia também diminuir em muito os erros de estatísticas conseqüentes da indicação de culturas fictícias
pelos proprietários, só para tirar vantagem na avaliação do imposto a ser pago, ou na obtenção de créditos a seguir desviados para
outras finalidades.

230

No caso de núcleos de arrendatários, em terras devolutas, se poderia prever a formação de cooperativas agrícolas dirigidas na
base de repúblicas e com a assistência por agrônomos capacitados e conhecedores das condições regionais, escolhidos pelos
próprios interessados.
A ajuda financeira teria assim melhor controle já pelo próprio agrupamento e os riscos seriam bem menores para as instâncias
financistas, tratando-se de culturas e criações bem controladas.
No caso de sitiantes autônomos capacitados de se reger a caixa-pequena e a caixa-geral, não resta dúvida de que isto seria um
grande avanço muito louvável na base da confiança recíproca, podendo o banco excluir para eles a parte de custos adicionais para
cobertura de riscos e possíveis necessárias perícias.
Não resta dúvida de que um sistema de credito bancário na base particular ou na base estatal ou federal, só pode funcionar de
modo razoável na base do cálculo das probabilidades, mais ou menos, ao exemplo dos seguros de vida. De fato, se o banco deve
incluir juros adicionais generalizados para cobrir as possíveis perdas de dinheiro do crédito ou se as companhias de seguros não
lucrarem mais o suficiente em conseqüência de se dever pagar para perdas excessivas dos bancos, então elas vão aumentar o prêmio
do seguro que também recai no custo dos usuários do crédito e assim sem dúvida nenhuma no custo de vida geral dos povos.
É sempre a velha história da cobra, que se morde no rabo e no fim é sempre o povo que vai pagando o pato, porque hoje em dia,
ocorrem barbaridades tão grandes que dariam para classificar de desprezíveis casos de créditos mal aplicados ou de (não) uso
indevido.
Um pequeno exemplo: anos atrás, um meu vizinho, bem safado ecebeu um bom crédito bancário, para poder plantar batatinhas.
Houve provável desvio de dinheiro, porque com uns seis sacos de adubo, não dá para se possibilitar uma safra razoável em
quase dois hectares de plantação. Também a distância entre os pés da plantação deixava dúvidas das boas intenções do agricultor.
Ocorreu como era de se esperar que na hora da safra, este abandonou a plantação fraudulenta aos cuidados do banco que mandou
uma família cabocla arrancar batatinhas que não chegaram a pagar, nem as despesas desta família. Nem metade da plantação foi
aproveitada, sendo o resto abandonado porque o mato resultando dos poucos tratos a ela dispensados era já tão alto, a não poder
nem pensar em encontrarem-se pés de batatinhas nele. A sulfatarão foi relaxada com a alegação de não ter água à disposição, etc.
Como seria fácil de se evitar a atribuição de créditos a pessoas tão mal intencionadas. De certo que os bancos vão sempre se
prevenir de tais perdas mediante juro adicional generalizado, para pagar o prêmio dos seguros.

231

Mas o que é isto, comparativamente com os fatos de corrupção que qualquer sitiante pode ouvir pelo rádio, chegando-se a
mencionar de que em determinado hospital houve um gasto fictício de mais ou menos quatro quilômetros de esparadrapo, no
tratamento de um paciente, morto quatro anos antes do referido gasto de esparadrapo. Bom, aqui a cobertura foi garantida não pelo
seguro do banco, mas pelo INPS!
Para contornar as possíveis divergências relativas ao uso de lenha, como ao plantio de árvores frutíferas, poder-se-ia adotar
também um sistema similar ao de praxe em muitos sítios europeus arrendados por determinado tempo aos interessados que anoto a
seguir:
— O dono das terras permanece dono das árvores adultas da floresta na qual o arrendatário pode proceder a tão almejada
limpeza, tendo, todavia a obrigação de respeitar algumas novas plantas bem crescidas para substituir árvores maduras a serem
eliminadas, A escolha das novas árvores de substituição se faz na maioria das vezes em um passeio dominical, quando de uma visita
do dono no sítio, tudo no melhor entendimento, para considerar os interesses, tanto do dono como do arrendatário.
— As árvores frutíferas, devem ser tratadas todo ano e o seu rendimento satisfatório, requer uma fiscalização contínua, não
possível de se fazer por pessoas que não moram no lugar, quer dizer que o melhor é deixar esta tarefa ao arrendatário. Para lhe
incentivar todo o interesse possível, a safra pode ser feita na base da partilha desta em determinadas proporções, por exemplo, por
metade, terça ou quarta partes das frutas para o dono ou para o arrendatário. Conforme acordo combinado, dependendo muito do
tamanho do pomar considerado.
Para a melhoria tão almejada do pomar, pode-se prever a plantação de mudas novas pelo arrendatário, que pode se encarregar
da parte do trabalho e o cuidado com as novas plantas, enquanto que o dono poderia arcar com a parte financeira da compra das
mudas. Na santa amizade tão almejada, em geral por todos os implicados, formar-se-iam muitos pomares bonitos e rendosos que
dariam muito mais frutas do que se poderia desejar. Com bom entendimento, entre vizinhos, em geral, aproveitar-se-iam muitos
conselhos úteis no tratamento das plantas e se conseguiriam também mudas de variedades muito rendosas ou até de variedades de
frutas ainda desconhecidas no lugar.
Em vista do fato de que todo ano, um grande número de jovens deve ser encaminhado para a vida profissional e que
infelizmente as cidades de vida agitada não vão ter mais condições de satisfazer a todos nas suas aspirações de vida regular definida,
nem de emprego mais ou menos seguro, seria interessante estudar a conveniência da criação de campos de trabalho voluntário para
eles, nos quais eles teriam a possibilidade de aprender bases para progredir na vida do campo. Não precisaria ser a formação de um
agrônomo, não, mas na base profissionalizante o suficiente para saber se virar na vida.

232
É lógico que tais institutos de ensinamentos agrícolas deveriam ser sustentados por todos os meios possíveis, porque eles vão
permitir a grande número de jovens, dos dois sexos de se reencontrar com a natureza, dando-lhes uma segurança para a vida futura,
porque como anotado em um capítulo mais adiante o crescimento da humanidade é tal que qualquer jovem pode chegar a se
assustar, considerando-se o pouco de segurança que vai poder envolver os nossos descendentes. Não resta dúvida de que muitos dos
nossos irmãos de espírito labelo poderiam encontrar o caminho certo como sujeitos independentes e responsáveis, porque ao não
aceitar a vida de quase “semi-escravos” dos valores dos tempos modernos eles vão escolhendo os caminhos marginais da sociedade,
com o seu comportamento em conflito com as leis estabelecidas.
Outro ponto crítico resultante da fuga às leis sociais, tanto pelos proprietários de terras, como pelos camaradas é a existência
dos “bóias-frias”. Seria de se encontrar um denominador comum para regularizar a situação exata do trabalhador rural em fazendas
nas quais muitos trabalhavam na base da empreita, o que facilitaria novamente muito a volta ao campo de famílias de vida modesta.
Não resta dúvida de que um acerto bem definido seria de grande vantagem, tanto para o dono como para o empregado, tendo de se
conscientizar os dois da necessidade de convivência social definida e respeitada, porque não são raros os intermediários, demais
exploradores que se aproveitam em demasia da situação dos bóias-frias, com grande prejuízo para a nação, porque não é justo haver
determinadas categorias de gente a não pagar o tributo para as leis sociais das quais todos devem ter direito de receber uma ajuda na
velhice.
E chega-se ao ponto crítico de todo sistema de administração e gerência de bens comuns, sejam particulares ou governamentais:
a fiscalização. E por que não propor a aceitação pelo governo de fiscais nomeados por organizações particulares de comprovada
honestidade. Em cooperativas até de grande vulto, o sistema funciona muito bem; como não poderia o mesmo funcionar em escala
maior? Infelizmente, os fatos comprovam que muitos fiscais não resistiriam à máquina de mentiras se fosse aplicada, nem ao exame
de consciência com toda sinceridade que é a base para um povo poder progredir, senão que podemos esperar: grandes desgraças e
estas nunca vão faltar. De fato, só uma ação conjunta do povo todo unido pode fazer a si próprio a sua devolução, para evolução,
sem revolução, fiscalizando-se mutuamente, conscientizando-se dos valores reais para o futuro que, de certo, não vão poder incluir
um punhadinho de dinheirinho recebido por alguns em extras.
Não adianta querer contradizer estes fatos que existem lastimavelmente em todas as nações, mas por sorte, ainda em grau
bastante variável. E hão foi ainda cogitado e nunca vai ser possível de se cogitar um seguro de honestidade absoluta.

233

E como disse para mim, um dia o amigo de sempre, de que quando se lança um porrete em uma matilha de cães, a maioria das
vezes grita aos brados, aquele que foi o mais machucado. Bom, mas lobo de pele dura, não vai gritar muitas vezes não!
Tentando afastar-se do povo por considerarem-se melhores e manterem-se puros, como é de praxe de diversas sociedades, não
vai resolver o caso: só em ação conjunta vai poder-se melhorar as bases para os sitiantes serem felizes e seguros, aceitando-se os
seus juízes e fiscais, só de escolha nas próprias fileiras, generalizando-se uma praxe que deu certo, para diversos povos bem
heterogêneos da Europa.
Porém, não se deve chegar a louvar fora de medida um sistema de administração até demais democrático, de determinadas
nações porque até o sistema do segredo bancário com os seus números, sem nome e outros dados de pessoa física ou jurídica é uma
lastimável reminiscência dos antigos tempos inseguros, não ainda posto no museu e que infelizmente permite também hoje ainda até
aos “bandidos de gravata e paletós” do mundo inteiro de se esconder um dinheirinho extra, para o caso de uma necessária fuga do
ambiente de ação principal, ou quando o lugar da pousada alegre chegar ao ponto de tornar-se quente demais. Então vai se
refrescando nas neves dos Alpes, com o seu turismo ultra moderno, que facilita em demasia o rodízio dos irmãos tão dados ao
nomadismo que nem “juro negativo direito”, poderia chegar a assustá-los.
Ah! Quanto é boa a vida em um sítio, ainda que seja pequenino, porque um pequeno lar próprio, vale muito mais de que a
moradia até em palácio dos outros.
Parece exagero quando se fala em disparidades deste mundo, que podem chegar a englobar até barbaridades inimagináveis:
submete-se o soldado ao juramento a bandeira, enquanto o seu oficial vai vendendo as armas ao inimigo, como ocorreu na briguinha
dos nossos irmãos amarelos continentais; para os quais a ajuda do Papai Noel só chegou a engrossar o bolso dos corruptos, mas por
tempo relativamente curto na vida continental.
Exige-se do soldado, defender a sua pátria e os seus bancos, nos quais os bandidos do mundo inteiro, podem sem qualquer
denominação esconder um dinheirinho guardado para situações excepcionais ou para fazer férias recuperadoras até no tempo em
que os soldados estavam na ativa e não em manobras!
Jogam-se bolos inteiros no lixo, enquanto para muitos um pão ainda que seja duro, daria uma alegria de se fazer até uma festa
em casa. Isto mesmo, é como uma mãe nos tempos da grande crise mundial disse aos filhos que achavam duro o pão amanhecido do
dia anterior: “Pão velho não e assim tão duro, meus filhos,, mas não ter pão chega a ser duro”!
Considerando-se a existência de disparidades tão alarmantes, não adianta querer aguardar a ajuda maciça de outras nações
generosas, ás vezes muito ricas, mas de tamanho diminuto, nem é bem recomendável dever a uma grande nação rica valores
elevados.

234

Melhor é se virar na vida simples, com este espírito de independência econômica, tendo a certeza de ter já dito antecipadamente
“obrigado pela a ajuda desnecessária”. O equilíbrio econômico de uma nação traz o equilíbrio da sua independência, como para os
sitiantes em geral, até para aqueles do morro agreste bem retirado.
Não podemos esquecer de que sistemas socialistas de comprovada honestidade e de respeitável duração encontraram-se de
repente em dificuldades. Sim, ocorre o desequilíbrio monetário hoje em dia até em países ricos super democráticos e muito ordeiros,
socialistas ao ponto de se incluir o próprio rei; e no qual os jovens solteiros de formação universitária pagam mais de 50% do seu
salário na fonte para o imposto e devem aguardar até anos para poder alugar uma casa e poder casar. E pergunta-se ainda o porque
da causa do elevado número de desesperados que fogem para o silêncio eterno?
Até a tendência bastante generalizada para o alcoolismo tem a sua explicação neste país onde vivem vinte e duas pessoas na
cidade para uma pessoa na roça. Surge sempre a grande pergunta das conseqüências de possíveis desequilíbrios resultantes desta
situação. Para o pessoal da roça poder fornecer a alimentação ao grande número de pessoas da cidade, é imprescindível de se
industrializar a lavoura com maquinário nada barato, porque na fabricação destes componentes deve-se calcular com salários
maiores do que aqueles do ferreiro, marceneiro, etc., sendo necessário prever no custo do maquinário, praticamente o montante dos
salários das vinte e duas pessoas da cidade, incluindo-se nestas de fato, os salários dos engenheiros, dos diretores de vendas, etc., se
quiser deixar rodar o dinheiro. A lógica decorrente é o fato da máquina não poder ser barata e para poder pagá-la, o cidadão da roça
precisará aumentar o preço dos produtos que ele vende aos negociantes e aos consumidores, os quais devendo pagar mais caro pelos
gêneros alimentícios, vão dever exigir salários maiores encarecendo novamente o custo do maquinário.
É a cobra que se morde no rabo, e que envenenou a vida de muita gente pacata da roça ao acreditar poder se virar melhor na
cidade, em vez de se contentar com a vida até humilde do interior. Eles só ajudam a cavoucar mais depressa a cova comum do
trabalhador da cidade, porque todas as nações em qualquer continente do mundo devem cuidar das equações formadas pelas suas
forças — de produção e pelas possíveis saídas dos produtos se não, até a produção chega a ser ilusória e não tem, não só governo,
mas até a união dos bancos mundiais que poderiam dar garantias, eles que já na reunião geral de 1972, gritaram “SOS” (Salve-se
quem puder)! Então não é melhor de se conscientizar dos fatos tão sérios e fazer todo o possível na base simples e honesta para ter a
certeza da salvação ao menos da sobrevivência das famílias, se necessário até em um pedacinho de roça, seja em qualquer
continente ou país, porque muitos destes últimos não têm nem condições superficiais de possibilitar tais garantias.

235

Se fosse verdade, como me fez observar um amigo meu um tanto ilógico, de que o mendigo na rua tem a existência justificada
pelo fato do transeunte poder lhe dar uma esmola, se poderia tolerar ainda hoje e por muito tempo, um bom número de mendigos,
mas também eles são gente e na sua maioria com um conceito mais elevado do que muitos poderiam imaginar.
E quando ocorre em uma nação o fato de muitas pessoas que se achavam independentes, chegar ao ponto de constatar que de
fato não existe mais muita diferença entre eles e o mendigo da esquina da rua, nem se fala em muitos trabalhadores e até
funcionários com salários ridículos cm relação ao respectivo custo de vida, não adianta querer dar a eles calmantes ou de querer
deturpar os fatos, porque podem ocorrer demais imprevistos muito desagradáveis. Em tais momentos, até o transeunte esquece do
fato da sua nobre oferenda tornar-se um ato provocador. Dando-se aos mendigos frutas com casca dura sem a devida instrução, eles
vão querer abrir estas na base da pancada do martelo que arruinou já muitas vezes a carne tão deliciosa contida nestas frutas, um
tanto duras e que se deve manejar com bastante cuidado para possibilitar e saborear do seu conteúdo. Ao pensar no culi chinês, que
não quis ser mais mendigo, nem correr o dia inteiro para poder comprar uma tigela de arroz cozido por dia, é de se compreender
muita coisa, que não é de se atribuir ao vizinho ganancioso, o seu irmão nórdico de opinião similar, mas visivelmente deturpada.
Deve-se reconhecer que não é o nome com determinante final em ismo ou até em a, que importa, mas muito mais as boas intenções
e a honestidade dos respectivos dirigentes. Se agora ocorrer uma precipitação impensada na vontade de se apoderar das frutas do
pomar do sítio, colhem-se muitas frutas inaproveitáveis e deixa-se estragar mais ainda, pelo fato de faltar os meios de transporte
adequados. Também ao deixar-se passar o tempo da safra em conseqüência da falta de camaradas com boa vontade, ou quando eles
não vencem no trabalho por ser muito grande o pomar e até quando não se tem condições financeiras para pagar os camaradas, vão
se estragando muitas frutas boas nesta terra em condições desfavoráveis pela falta de coordenação dos meios necessários para poder
cumprir com o planejamento do trabalho do próprio homem neste Éden perdido!
E porque não tentar replantar o pomar geral do Éden, aumentando-se a sua superfície aos poucos, de acordo com a ajuda
possível dos camaradas e dos bons vizinhos na hora da safra e também para garantir a eliminação dos parasitas, sem querer saber da
atribuição de parcelas, o que daria para todos sem distinção, poder aproveitar de todos os frutos do pomar comunitário, tanto o
arrendatário, tanto como para aquele que se denomina dono da terra, na qual ele também é só arrendatário pelo seu tempo de vida,
mas sabendo este último o macete de se abrir os frutos, até de casca dura sem danificar o seu conteúdo, que na maioria das vezes é o
mais adequado para a elaboração não só de pratos suculentos, mas até de sobremesas deliciosas.

236

Porque não também convidar os irmãos com o espírito, um tanto fechado, pensar melhor no futuro das suas descendências,
convidando todos sem distinção de examinar todas as soluções possíveis para poder progredir neste mundo no sentido de se
reformar nele o grande pomar tão almejado pela maioria dos homens de boa vontade, conscientes do fato de que não é só boa
vontade que resolve, mas as ações honestas de uma boa vontade bem sincera. O resto é palavra jogada ao vento e de se ilustrar pelo
proceder de um sitiante europeu um tanto fraco da bola, que foi plantar as árvores de raízes no ar e os galhos na terra, ao não saber
diferenciar o lado certo a ser plantado no solo, nestas mudas, nas quais o viveirista recorta tanto os galhos, como as raízes, o que é
possível de se fazer em conseqüência do descanso prolongado do inverno europeu.
Não poderia ocorrer tal fato, em países quentes, nos quais as mudas são alojadas em jacás com terra para não deixar secar as
suas raízes, fato que pode ilustrar o quanto o entendimento e a compreensão da necessária ajuda mútua é de se almejar na plantação
das mudas, não só das árvores do grande Éden, mas muito mais ainda na implantação voluntária destas mudas espirituais necessárias
para incentivar a compreensão e o entendimento mútuo, o que permitirá a ajuda mútua na plantação e implantação de todas estas
mudas.
E não se pode desprezar o fato de diversas plantas poder enraizar no solo, sem consideração do sentido da sua colocação, sendo
possível elas produzirem grande quantidade de frutas e sementes para a sua proliferação, desde que o solo da respectiva parte do
pomar seja de fertilidade suficiente e providenciando-se as devidas regras iniciais em tempo de estiagem prolongada.
O sitiante, no mundo inteiro, sabe em geral dar valor aos produtos das safras, porque muitas vezes, ele pode observar o quanto é
duro quando parte desta se perde, como ocorre no caso de invasão de rebanhos completos dos vizinhos irresponsáveis, sendo
necessário se virar como puder até fazer o replantio e ter em vista a próxima safra! O caso piora mais, quando uma matilha de lobos
famintos impede até o acesso às lavouras aos sitiantes sitiados nas suas próprias terras.
Dá para pensar na fábula dos lobos e das ovelhas, que ao fazer as pazes, assinando um Tratado Eterno, davam em garantia os
lobos as suas crias e as ovelhas os seus cães de guarda.
O resultado era o esperado que ao serem grandes e fortes, os lobinhos atacavam as ovelhas totalmente desprotegidas, porque até
os seus cães de guarda, foram mortos no campo dos lobos, isto em toda primeira medida. Faz muito tempo, que esta estória foi
escrita, mas parece ainda válida hoje. De fato, só a união dos sitiantes de boa vontade e convencidos da necessidade de proteção e
ajuda mútua, pode permitir a não deixar invadir as suas terrinhas, nem pelo gado vizinho, menos ainda por lobos famintos e nem por
ursos assustadores.

237

Vai ter muito ainda a se pensar, para resolver os problemas que se criam neste mundo, com as leis que muitos dirigentes
governamentais propõem e que são aceitas pelas nações sem pensar nas suas verdadeiras conseqüências e sendo só equações locais
tão disparatas que dificilmente vai ser possível de se encontrar o denominador comum para satisfazer a todos, porque a lei da
natureza é ação-reação. Pode-se imaginar o que vai ocorrer à ação limitadora do chinês que agora vive na base de só um filho por
casal, dois só com licença especial do estado, em um país no qual nem cinqüenta anos atrás, a carrocinha passava de manhã cedo
pelas ruas da cidade para recolher os cadáveres das crianças mortas durante a noite e que se colocava na calçada como o saco de
lixo. E pensar no fato de ter o oposto disto com a declaração dos direitos humanos, não muito longe do outro lado da lagoazinha
chamada de “Pacifico”. É de se esperar que a mocinha chinesa tenha juízo para não dever responder ao seu “Papai Estado”, o que a
outra moça ciente dos seus direitos humanos respondeu a sua mãe ao ser reprimida por causa do seu estado, três meses, dizemos
após o carnaval: — Mãe, o amor foi tão violento, que nem em preservativo tivemos tempo de pensar! Conseqüência da ação-reação!
E porque não, por fim, pensar neste mundo em ações suaves e não violentas, para não ter nem equações desequilibradas, nem
resultados absurdos e menos ainda o “aborto das leis”!
Quantos sitiantes que foram boiadeiros sabem das dores de cabeça, que pode originar o estouro de uma boiada! E quando
estourar uma “humanada”, sem condições de progresso?
Parece grotesco ao pensar no fato do velho Mao Tsé Tung ter quase implorado por meios para se desfazer de no mínimo da
metade da população do país, ciente de que com o resto ele teria ainda muita gente. Bom, eram nestes tempos, não tão longínquos,
nos quais a taxa de crescimento anual chegava a ser várias vezes o valor da atual, o que excluiria em qualquer país a possibilidade
de atribuição de terras para os cidadãos e suas famílias, seja na base de própria vontade com todos os direitos humanos, ou seja, na
base comunitária, com menos direitos humanos.
E quem vai poder negar o fato da necessária procura para se encontrar o denominador comum? Quem vai poder se desinteressar
das conseqüências dos seus atos, pertencendo a esta humanidade tão disparata?
Mas, de fato, procurando-se soluções até provisórias e transitórias, devemos chegar a nos entender neste mundo, para ter cada
família de sitiante, umas terrinhas para tirar delas o necessário sustento, não se incomodando se elas forem atribuídas pelo “Papai-
Estado” (por muitas nações já consideradas dono destas) ou se elas fossem alugadas dele por determinado tempo, que no máximo
pode chegar a ser correspondente ao tempo de vida do pessoal e com o aluguel pago na forma de imposto para o “Papai-Estado”.
Com o fracasso das leis sociais em conseqüência da inutilidade do homem, nas fábricas sempre mais automatizadas, os Papais-
Estados vão dever exigir sempre mais impostos, quer dizer aluguel dos chamados donos das terras.

238

Para poder atender a tão almejada harmonia entre todos, não só entre os povos, mas até entre as subdivisões destes, chamadas
de classes, será necessário se reestudar as suas leis para se evitar dissonâncias excessivas neste concerto filarmônico das nações
todas que ainda se encontram na faixa dos ensaios sem qualquer condição de se apresentar ao público com um prelúdio satisfatório.
Todavia, devemos chegar lá, porque se cada músico quer só tocar o seu instrumento o tempo todo em casa própria, de certo que
ele vai até aborrecer o seu pessoal podendo ocorrer o fato de alguns filhos não só do sitiante, mas até dos seus vizinhos quererem
fugir deste ambiente tão monótono e demais vezes dissonante, não querendo mais nem ouvir falar deles também ensaiar um ou outro
instrumento, para engrossar as fileiras dos músicos da Filarmônica, mas menos ainda em participar do coral, seja da igreja, ou seja,
da comuna, deixando se perder assim até muitas vozes bonitas neste mundo todo, no qual o homem não sabe mais cantar nem em
coreto, dando-se demais valor aos instrumentos potentes com sons profundos terminados em buuum!
Como é bonito quando o lavrador todo contente inicia a cantar incentivado para isso pelo canto dos pássaros tão livres na roça.
Bom, na cidade, não dá mais com todos estes ruídos das indústrias, nas quais o homem foi introduzir até a música enlatada para
possibilitar até a exploração desta, até na forma do canto dos passarinhos.
A grande esperança dos sitiantes é de se reencontrar em grupos a tarde e acompanhados de modesto violão, cantar em grupinhos
para ao menos não se esquecerem dos velhos ritmos da gente da roça nos tempos passados, para incentivar devagarzinho os filhos a
voltar ao lar e cantar juntos em família, unindo-se depois estas em grupos maiores para se formar o grande Coral que vai cantar para
a alegria de todos, como os passarinhos da roça.

239

28º ÍTEM — SUGESTÕES DE POSSIVEIS ATIVIDADES PARALELAS ÀS USUAIS EM SÍTIOS

Ocorre às vezes o fato de uma família no sítio ficar mais numerosa do que inicialmente prevista, requerendo a procura de
serviço, para alguns filhos ou filhas, tios, etc., porque às vezes não é fácil de determinados membros da família poder desenvolver as
suas atividades à satisfação, especialmente em área reduzida.
Quando o sitio localiza-se perto de uma cidade de certa importância, vai surgindo o que na Europa, na primeira metade deste
século, foi chamado de turma de mochila, porque os trabalhadores que moravam em sítios, levavam o almoço na base dos produtos
do sítio. Com a ação dos sindicatos, tais operários foram mal vistos, porque eles foram inculpados de aceitar salários menores, em
razão do seu possível custo de vida, bem menor em relação ao salário dos operários que residiam na cidade. Mas será que foi
perguntado uma vez a um sindicato até onde ele poderia dar garantias de proteção aos desocupados?
Não é de se excluir de que houve às vezes abusos, porque nos fins de semanas, quem não ajudaria na roça? Comprovadamente
para os jovens do campo, uma atividade remuneradora na cidade lhes permitia fazer um pé de meia, muito útil na hora deles se
instalarem por conta própria em sítios.
Aqui no Brasil, de certo, que isto ocorre, mas cm grau bem menor, em conseqüência das distâncias existentes, o que leva os
jovens a procurarem a moradia na casa de parentes ou amigos, na cidade, mesmo pagando-se o aluguel para um quarto.
Em regiões dos estados do Sul do país, especialmente o pessoal ocioso em sítios procura serviço de empreita, para melhorar as
suas condições de existência, seja em grupo, ou seja, na base individual.
De fato, é sempre bom avaliar todas as suas possibilidades. Como em geral, precisa sempre plantar o produto que cresce e rende
o mais em determinados terrenos e que em terras barrentas não há grande alternativa, o melhor é fabricar até tijolos na base de uma
pequena olaria de produção familiar caprichada, sendo nada desprezível a receita alcançada nela.

240

As instalações devem ser regulares, porém, não há necessidade de grande mecanização, ao contrário, pode-se constatar o fato
do tijolo de fabricação manual e com material bem escolhido ter bem melhor aceitação do que o tijolo produzido pela máquina,
muitas vezes com defeitos.

Figura 44 – Uma olaria em uma baixada com muito barro.

Quem possuir uma boa baixada com bastante barro, em região com possibilidade de aproveitamento de lenha, sem grande valor
comercial, não deve excluir a formação de uma pequena olaria na base dos 50.000 a 100.000 tijolos mensais. E se não tiver o
pessoal próprio do sítio, sempre se encontra um oleiro interessado na sua arrenda.
O importante é a especificação bem enunciada do respectivo contrato e o respeito e a ajuda mútua para se tomar as decisões do
aproveitamento do barro sem danificar as terras, nem as respectivas benfeitorias.
Não é de se pensar em ficar rico, mas uma pequena olaria, na qual vivem e trabalham pessoas sérias e conscientes, dá para
todos viverem muito bem a sua vida discreta e até de se permitir alguns extras (vide fotos).

241

Figura 45 – Vista da olaria com o forno, ao lado córrego, em atividade.


Figura 46 – A fumaça branca comprova a boa atividade do forno.

242

Figura 47 – Vê-se nesta foto o misturador pipa acionado por força animal.
Figura 48 – Leva-se o barro tratado no misturador-pipa ao terreiro.

243

Recomendo aos interessados de não se iniciarem neste empreendimento na base aventureira, porque só quem tem
conhecimentos sólidos na base da razoável convivência com o pessoal de olaria, tem chances de êxito. Não é desprezível, todavia,
nos sítios, com bastante pessoal disponível, em especial cm época morta do ano, de se providenciar a fabricação de uns 20.000 a
40.000 tijolos, no caso de se prever novas construções, podendo-se cozinhar estes tijolos em uma caieira a céu aberto, cobrindo-se
estes com uma lona de plástico no caso de ameaçar chuva (durante a formação da caieira). Os tijolos das beiradas que permanecem
crus são em seguida repostos em uma caieira menor, com as paredes formadas com tijolos já queimados, recobertos com reboque de
barro.
No caso de se prever uma produção de curta duração, não é necessário armar uma pipa, sendo este serviço executado na base da
enxada, todavia com qualidade do produto bem menor comparativamente com aquela obtida com um bom misturador-pipa, que
recorta o barro com as suas nove facas e o esmaga com os espremedores que se encontram no fundo da pipa, da qual o barro sai pela
respectiva boqueta.
Não posso aqui entrar em detalhes de todos os serviços necessários com os diversos componentes, nem da queima de uma
fornada, porque daria para outro volume, mas faço aqui estas anotações, visto que esta possibilidade de atividade adicional em
alguns sítios e fazendinhas não pode ser desprezada.

Figura 49 — Uma pequena remessa de objetos de artesanato elaborado em sítio, sem uso de maquinário, (destinados para
presentes).

244

Outra ocupação de base artesanal é a cerâmica de arte, desde que os interessados sejam devidamente dotados e com esta garra
de empreender sempre novas oportunidades de sujeitos, porque a arte em geral é muito parecida com a moda feminina; quando fica
conhecida, já passou de moda, porque a vizinha comprou a saia igual à do pessoal.
Pelo custo das instalações necessárias, as cerâmicas de arte não podem se expandir muito depressa, o que permite colher um
lucrinho extra, durante um bom tempo, desde que os produtos sejam de boa aceitação e a sua saída não onerada em demasia, pelos
custos de transporte. Em sítio com pouco pessoal disponível, não é recomendável considerar esta possibilidade, porque a instalação
necessária ao ceramista de arte é de custo relativamente elevado, o que exige o seu uso em regime contínuo e não intermitente, para
possibilitar não só a amortização do capital aplicado, mas também um lucro deste, ainda que seja modesto.

Figura 50 — O motivo de entalhe pode ser de escolha do possível comprador.

245

Existem outras fontes de renda e de extras, para o pessoal do sítio, em especial nos meses de pouco trabalho na roça, não sendo
nada desprezível a elaboração de peças artesanais de materiais dos mais diversificados, escolhendo-se, todavia aquele que originaria
um custo relativamente equilibrado em relação ao custo das ferramentas necessárias e de uso assim só intermitente.
A título de exemplo, quero salientar aqui a possível produção em escala reduzida de componentes de madeira com uma
característica bem determinada, como por exemplo, de colheres, cruzes e figas, com a respectiva argola solta talhada em uma peça
só de madeira, (vide foto).
Nas cruzes maiores vai se entalhando motivos dos mais diversificados que podem ser escolhidos pelo próprio possível
comprador (vide foto).
Estas anotações foram feitas aqui, para mostrar o quanto é diversificado o modo de possível ocupação para o pessoal do
pequeno sítio que, se devidamente instruído e ajudado, se necessário, pode chegar a ter uma renda bem marcante com estes objetos
produzidos, às vezes, só na época morta do ano.
Todavia, devo alertar do fato de que não adianta considerar a produção maciça de objetos de arte com maquinário mecânico de
custo elevado, porque o preço de venda pode chegar a cair em um patamar tão baixo a dever se excluir qualquer possibilidade de
lucro. Seria levar água abaixo no riacho da economia familiar. E não se pode esquecer do fato de arte ser a primeira atingida nos
tempos de crise econômica, quando o dinheiro fica raro para a maioria, sendo necessário reservá-lo unicamente para poder comprar
produtos para a sobrevivência.
De fato, a produção artesanal em sítios é de se considerar, só como meio de possível lucro extra, e nunca de fonte de renda
principal, porque a produção de alimentos, tanto para uso próprio, como para a venda dá muito mais segurança, do que a produção
de peças de arte, porque em geral em um século, só chega ao sucesso um Picasso, ainda que existissem centenas de artistas com
idéias se não iguais, ao menos não muito inferiores às dele; mas de nomes desconhecidos nos centros artísticos. É como no mercado
dos relógios, onde se paga muito mais para o tal de nome famoso do que pelo objeto, porque em qualquer série ocorrem as casua-
lidades de agrupamento das peças de tolerâncias extremas que chegam a formar sempre uma determinada percentagem de
imprevistos.
Para as esposas e filhas de certa idade dos sitiantes, surgem muitas oportunidades de ocupação adicional, para se conseguir um
lucrinho extra, por exemplo, costurando roupas para uma loja da cidade, se não o ano todo, ao menos em determinados períodos
deste. Também para uma boa costureira de calças masculinas e femininas, dificilmente que vai faltar serviço seja de encomenda de
sitiantes vizinhos, ou seja, de lojas das cidades em especial daquelas do interior. E o título de “artista em colocação de botões” não e
nada desprezível. Não!
246

Nunca deve ser esquecido o fato do homem ser um individuo e como tal ele deve procurar ele mesmo, todas as fontes possíveis,
desde que honestas, para prover o seu sustento e da sua família, o que vai ser ainda muito mais válido com o aumento da população,
no Grande Sítio chamado “Terra” com as suas administrações às vezes muito estranhas e com as suas riquezas não ainda
devidamente administradas em conseqüência da desunião dos membros desta família chamada “Humanidade”.
Para quem é dotado de espírito de empreendimento bem vivo, e que sabe reconhecer o valor real de uma atividade paralela a de
sitiante, em especial nas pequenas propriedades, com as crianças ou com jovens já em idade de prestar auxilio manual valioso aos
pais, nunca faltam as oportunidades de se encontrar alguma destas atividades paralelas. Todavia é bom se lembrar de que esta
atividade deve ser auxiliar e não chegar a prejudicar a atividade principal do sitiante que é a lavoura, para a produção de gêneros
alimentícios, no mínimo suficientes ao sustento da família. Também se deve sempre avaliar se uma atividade paralela vai ser
lucrativa por um tempo razoável, em especial quando é necessário se aplicar certo capital para iniciá-la. E não se pode esquecer do
cálculo do custo final do produto, tanto o juro não só do capital empatado, como também o juro de parte do valor da propriedade ou
das instalações desta, usadas no exercício desta atividade paralela, calculando-se uma percentagem anual razoável, quer dizer, sem
exagero.
Na escolha de uma destas atividades paralelas, é sempre bom se informar das possibilidades regionais já existentes, não sendo
raro o fato de se juntar com outros sitiantes em um esforço comum, unidos a uma indústria se possível local, que se comprometa a
comercializar os produtos a um preço justo. Posso citar aqui o caso da sericultura, que é a criação do bicho-da-seda, em regiões de
São Paulo e do norte do Paraná, na qual se dá a assistência técnica e o material (sementes para o criador, cuja função se reduz a
alimentar as larvas dos bichinhos nascidos das sementes, até ao ponto destas larvas se crisálida dentro dos casulos de seda fina, que
o fornecedor da semente se compromete a comprar. Nos sítios de terras férteis e clima ameno, favoráveis ao plantio de amoreiras
não é nada desprezível se escolher esta atividade, porque o preço da seda sempre foi bastante elevado para possibilitar uma renda
justa para todo o pessoal envolvido nos diversos processamentos do produto. Se ocorreu falha e até fracasso em organizações no
passado nesta atividade, é porque houve muita intromissão de intermediários irresponsáveis, que só procuravam lucros exorbitantes
passageiros, sem pensar no processamento industrial da seda, que é fundamental para a comercialização dos casulos, com
programação bem definida.

247

Para quem se interessar por tal atividade, posso recomendar a programação com boa antecedência tanto da plantação das amo-
reiras, como a construção dos galões com as respectivas esteiras nas quais se colocarão as larvas vorazes destes produtores de fios
muito resistentes e quase indestrutíveis. A plantação das amoreiras, pode ser feita em combinação com outra plantação, por exemplo
com capim de corte para o gado e até com um parreiral de uvas para o qual os troncos das amoreiras servem de tutores vivos, se
devidamente protegidos, esticando-se entre eles, fios de arame galvanizado liso. Tal associação de culturas permite o melhor
aproveitamento, tanto do espaço disponível, como do esterco de curral, usado na adubação orgânica do capim de corte e também do
parreiral. Deixando as amoreiras crescerem em forma de árvores, com aproximadamente dois metros de altura no tronco, a ceifa da
folhagem é feita com uso de uma escada com travessas bem resistentes entre os dois montantes laterais que impedem de escorregar
com os pés nas travessas.
E quem poderia pensar em não lucrar, tendo bom e abundante capim para a criação de algumas vaquinhas, tendo uva de mesa
de qualidade e de bom valor comercial e até alguma importância em dinheiro nada desprezível pela criação do bicho-da-seda?
O importante nesta criação é informar-se muito bem com pessoa competente de uma firma idônea, interessada nesta atividade
por um tempo bastante longo e dentro de uma região bem favorável para a plantação das amoreiras, o que pode incentivar muitos
vizinhos para esta atividade o que tornará bem viável as freqüentes visitas do técnico, se possível de uma firma nacional, com fiação
e tecelagem próprias da seda, tanto para beneficiar os fios dos casulos perfeitos, como também para a fiação da seda recortada dos
casulos residuais ou dos casulos com defeitos. A associação com uma firma de exportação pode ser de resultado um tanto
imprevisível, porque em geral o exportador não tem a ligação tão estreita com as firmas interessadas, como o técnico regional pago
por uma firma com matriz nacional que se interessa em geral também na compra dos casulos residuais, dificilmente aceitos pelas
firmas exportadoras. E quando a fiação e a tecelagem encontram-se em uma cidade interiorana, não raras vezes ocorre que uma
turminha de jovens dos sítios vai ter serviço garantido e razoavelmente remunerado nestas fábricas, para as quais os pais fornecem
parte da matéria prima.
Quero anotar aqui, um fato bastante interessante: — desde tempos muito remotos, houve sempre sitiantes na parte sudeste da
França ocupados pela tecelagem da seda produzida na parte baixa do vale do rio Ródano. Era a elaboração de tecidos especiais, só
possível de se fabricar a uns vinte anos atrás, em teares de acionamento manual, requerendo astúcia e muita dedicação para se
alcançar a qualidade almejada (tecidos usados para as peneiras de farinha nos moinhos de trigo).
O peso do batente do pente de junção dos fios de trama, após a passagem da lançadeira, pesava cento e vinte quilogramas. A sua
movimentação era dada por um pedal, no qual o tecelão pisava com toda a força do seu corpo concentrada na perna esquerda para
conseguir o seguido recuo do pente, durante o qual ele mandava a lançadeira no sentido oposto, após mudança da posição dos liços
de comando dos fios mediante pedais atuados com o pé direito.

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Era um serviço, bastante cansativo, não podendo o tecelão agüentar o dia inteiro. Em teares complicados, a maioria dos tecelões
trabalhava durante três a quatro horas somente. O resto do tempo era dedicado aos trabalhos próprios do sítio. Com algumas
vaquinhas, cabras e ovelhas, uma boa horta, lavoura de centeio, trigo, aveia, beterraba e batatinha. O dinheiro ganho no tear era de
fato pura sobremesa, indo na maioria das vezes engrossar o pé de meia ou o colchão da cama.
Conheci pessoalmente, uma família com três teares em casa, nos quais trabalhavam o pai e dois filhos. E quando a mãe, de
físico avantajado, pegava às vezes no batente, ela não ficava devendo a ninguém.
Sim, nestes tempos passados, era serviço pesado, mas a vida valia bem mais nesta atmosfera familiar, bem diferente do ar de
uma fábrica. Não era raro cozinhar-se no inverno, a sopa na cremalheira da lareira, de fogo aberto ou no fogão de aquecimento da
casa do sítio, colocado em ambiente entre os cômodos da moradia e os porões no mesmo andar da casa, se possível encostada em
um morro, o que permitia escavar os porões em grande parte na própria rocha, tendo num cantinho dos fundos, um bom barrilete
com o seu precioso conteúdo chamado de “sangue da nação”, feito muitas vezes com uvas do próprio parreiral.
Hoje ainda existe na França, o tecelão-sitiante. com o seu modo de vida bem pensado, porém, em vez do tear manual antigo, é
na base de dois a quatro teares mecânicos modernos que são montados em um edifício próprio ou encostado à casa de moradia. Mas
a base do trabalho e a sua remuneração são as mesmas de sempre: por metro de tecido de qualidade combinada, sendo a matéria
prima beneficiada na forma de fios, fornecida por um industrial ao sitiante.
Existem ainda, porém, em número muito reduzido, os tecelões-paramenteiros com os seus teares manuais de até vinte c duas
lançadeiras, nos quais se fabricam tapetes, murais de tamanho impressionante e nos quais trabalham tecelões que se pode chamar
mais de artistas, do que de artesões, cujo ofício é possível de se conseguir só após anos de treinamento, o que o torna quase que
hereditário dentro das respectivas famílias, cujas crianças já em baixa idade são atentas e sabem lidar muito bem com as lançadeiras.
Também as peças esplêndidas conseguidas nestes teares não são diárias, mas a remuneração é muito compensadora. É um destes
trabalhos que não se consegue em ritmo puxado; só a calma de um sitiante ciente da sua sobrevivência segurada pela produção
própria dos gêneros alimentícios é que permite alcançar esta perfeição na elaboração de peças muito valiosas, entremeadas com
desenhos realçados em fios de ouro e de prata.
A grande vantagem do Sitiante-artesão-tecelão, é de ter serviço auxiliar seguro quase o ano todo, desde que produza artigos
bonitos, de boa qualidade e porque não “excepcionais”, alcançando até fama na sua comercialização.

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Se eu fiz aqui estas descrições um tanto mais detalhadas, foi para demonstrar o quanto se deve pensar em tudo antes de se
decidir para uma atividade paralela em sítios, mas também para incentivar os jovens para atividades que lhes possam proporcionar
grandes satisfações. Como reiteradamente anotado, em várias ocasiões, é necessário ter muita paciência, já consigo mesmo e andar,
às vezes, um pouco mais devagar para deixar o nosso pé se acostumar com a “ferradura escolhida”.
Ah! Se o pessoal quiser jogar fora um par de calçados novos, só porque um deles aperta, às vezes, em determinado lugar, é, não
daria mesmo! Melhor seria molhar um pouco o couro neste lugar com um pano encharcado durante a noite e no dia seguinte o
calçado vai ter a sua forma um tanto dilatada, bem adaptada ao respectivo pé!
E nunca se deixar abater por frustrações, dificuldades ou menos ainda mágoas; é nestes momentos que se deve ficar com
resolução bem firme para não chegar a jogar o ferro de ceifar no próprio campo com trigo maduro bem ao ponto de ser colhido.
Com a paciência se pode aprender muita coisa, mas é bom ficar com os pés firmes no chão do sítio e não querer ou dever
responder à pergunta: Profissão? — “dez profissões e vinte misérias”, melhor é se contentar com uma a uma e meia só.
Podem se citar outras atividades paralelas para sitiantes, conforme as possibilidades regionais, por exemplo:
— Perto de uma cidade, com Laboratórios de produtos farmacêuticos, pode-se estudar a possível criação de coelhos de um dia,
ou de outros pequenos animais utilizados em determinados produtos, e/ou de pequenos animais necessários para os respectivos
testes que se faz com os produtos. É bom nestes casos, se adquirir antecipadamente, os necessários conhecimentos para a criação
destes bichinhos antes de se comprometer em fornecer determinadas quantidades de animais a um laboratório. Não recomendo ligar-
se já, desde o inicio, a uma firma, a não ser por contrato bem enunciado e com assistência técnica e veterinária. No caso de custos
iniciais de certa importância, é bom se informar se o produto do laboratório tem futuro mesmo, sendo neste caso, muito valiosa a
informação na base de amizades sinceras com um conceituado membro da diretoria da firma. No caso da criação de coelhos de um
dia, é necessário se prever uma programação contínua bem igualada e ter ligação telefônica segura com a firma que em geral se
encarrega do transporte feito com invólucros próprios para esta finalidade. Em geral todas as informações, exigências etc., são
obtidas das firmas interessadas no produto.

250

Ligado aos laboratórios de produtos farmacêuticos é também a produção de “cravagem do centeio”, uma especialidade que dá
bom lucro para muitos sitiantes, em especial na parte noroeste da Suíça. Porém, exige certos cuidados para não sofrer as
conseqüências do produto de eficiência mais do que comprovada; a ergotina, um alcalóide de grande utilidade com aplicação
controlada, mas muito perigoso, porque chega a provocar a gangrena dos membros, se ingerido em quantidade excessiva acidental,
por exemplo, ao utilizar farinha de centeio contendo a cravagem ou só ao respirar o pó, que se desprende ao colher-se a cravagem
nas espigas.
O sitiante se compromete semear determinada área de centeio e cuidar deste até a floração das espigas, avisando o Laboratório
deste estado com determinada antecedência. Os técnicos chegam e inoculam por pulverização a cravagem nas espigas. Em vez dos
grãos, forma-se no lugar destes uma substância fungicida parecendo-se a grãos aumentados de quatro a seis vezes ou mais o
tamanho de um grão normal. Então o sitiante devidamente vestido e protegido por máscara, luvas e com apetrechos específicos vai
colhendo a cravagem nas espigas a medida desta alcançar o seu tamanho final. A colheita se prolonga por três semanas a um mês e
meio aproximadamente.
É um trabalho simples, não cansativo, mas que exige muita paciência para colher suavemente cada cravagem madura se
possível sem danificar as espigas nem as cravagens não ainda ao ponto de se colher. É necessário se conscientizar dos perigos da
substância, sendo possível confiar-se tais tarefas só às pessoas de responsabilidade comprovada, porque o produto chega a ser
nefasto até para animais que porventura poderiam ingerir a palha; quer dizer que a colheita tem de ser feita com o maior cuidado
possível, para não se deixar restos de cravagem nela. A remuneração é feita na base da quantidade e qualidade do produto entregue
aos Laboratórios, em seguida à colheita, pelo sitiante. Tratando-se de um serviço altamente perigoso para a saúde, não são muitos os
sitiantes interessados na produção de cravagem, o que torna bastante compensadora esta atividade paralela, que infelizmente é de
curta duração.
Uma atividade paralela que ocupa muito o pessoal, quase que o ano todo, porém, especialmente na primavera e no verão, é a
plantação de ervas medicinais e aromáticas. Para esta atividade é bom aparelhar-se o suficiente para possibilitar a secagem
satisfatória das ervas, sem depender só do tempo bom. Em vista de ser a estufa elétrica com ventilador a mais adequada, para
garantir todo o cuidado neste serviço, julgo razoável prever-se tal plantação, só quando existe a ligação à rede elétrica adequada para
a respectiva potência, que depende da quantidade e da composição do produto a ser tratado. Em regiões de pouca umidade, uma pré-
secagem pode ser feita em galpões bem arejados, quer dizer, na sombra, não deixando o material exposto ao sol, nem ao ar, por
tempo prolongado, o que o deprecia muito.

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Para saber quais são as ervas de comercialização segura, é bom de se comunicar com uma casa de ervas que dará todas as
informações aos interessados.
O mesmo vale para as indústrias de bebidas e outras, sendo possível de se encontrar boa saída até para as folhas de alcachofra,
as folhas dos galhos de louro, de capim-limão, etc..
Quando se trata de grande quantidade de plantas, as indústrias interessadas dão até assistência ao produtor por agrônomos, para
se evitar prejuízos por desclassificação do produto em conseqüência do fungo ou do ataque por pragas, por exemplo, de pulgões,
besouros, etc..
Para a pequena produção, na base um pouco maior do que a caseira, sempre se encontra uma comercialização local razoável,
desde que o produto seja bem tratado e devidamente conservado. Em geral é na base do amigo e do amigo do amigo, que um
produto alcança a sua fama em virtude da divulgação da sua comprovada eficiência e qualidade.
E o sitiante com terras de pouca fertilidade pode prever a plantação de árvores com flores melíferas abundantes e aumentar
assim o seu apiário rústico, transformando-se este no decorrer do tempo, em apiário moderno de produção satisfatória, porque é de
se admitir que o preço do mel puro mesmo, vai ser bastante compensador ainda por muitos anos. Isto é uma ocupação paralela em
vista para muitos sitiantes com coração resistente e não alérgicos a algumas picadas de abelhas (se não quiser lidar com as
variedades sem ferrão menos aptas a defender a colméia).
Quem tiver um brejo ou brejão, em uma baixada, pode aproveitá-lo para a criação de rãs, que a sua comercialização não está
ainda restrita por concorrência excessiva. Literatura sobre o assunto não falta e até um pequeno ranário rústico pode permitir ao
sitiante se iniciar em uma atividade paralela em especial nos arredores de estâncias termais ou climáticas com bons hotéis.
E nas beiras de um brejo crescem tão bem os salgueiros, o que pode incentivar até a drenar um tanto estes brejos, abrindo-se
neles alguns valos para escoar um tanto a água, o que permite plantar-se fileiras destas arvores cujas raízes vão afirmando o chão
lodoso ao redor. Pode-se produzir grande quantidade de vime, por poda regular dos salgueiros, que é comerciável com as respectivas
indústrias.
Também é possível iniciar-se uma produção caseira de cestas e muitos outros artigos em vime, o que dará uma ocupação para o
pessoal, do sítio, em especial na época do inverno, com os seus dias curtos, nos quais o tempo de trabalho da lavoura é bastante
reduzido. Em geral, a produção de cestas, bolsas, chapéus, baús, etc., de vime, na base artesanal de sitiante encontra boa aceitação,
desde que se possa levar o produto aos possíveis compradores, em pequenas, médias ou até grandes cidades do interior.

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Seria possível de se escrever um grande volume, se a gente quisesse anotar todas as plantas tão diversificadas da natureza, das
quais se poderia tirar um ou outro produto interessante e de utilidade. Não é tão raro o caso de uma plantinha esquecida tornar-se
elemento de certa importância, sabendo aproveitar dos seus componentes principais, dando-se a finalidade acertada a estes e
destinando-se os seus resíduos para a composição de adubo orgânico.
Também existem tantos objetos de elaboração manual, que se pode fabricar nos sítios, na época do inverno especialmente, por
exemplo, de cadeiras empalhadas etc.. Tratando-se de componentes de elaboração cuidadosa e com bom acabamento, também feitos
de matéria prima de boa qualidade, encontra-se boa saída para estes. O que é lastimável é de se encontrar nas lojas das cidades,
tantos destes produtos feitos com matéria prima errada e de péssima qualidade, com nenhum acabamento, elaborados com
maquinário moderno em grande quantidade e que são oferecidos a preços irrisórios, o que chega a prejudicar muito os bons artesões,
que não tendo mais renda satisfatória pela venda dos seus produtos, chegam, não raras vezes à beira da miséria. Tal situação não
pode ocorrer para o sitiante-artesão que sempre deve cuidar da produção dos alimentos para o sustento da sua família, antes de se
pensar em atividades paralelas a esta.

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29º ÍTEM - CONSIDERAÇÕES DE UM SITIANTE RELATIVAS AOS OUTROS SITIANTES ATÉ DE OUTROS PAÍSES
ECONTINENTES

Figura 51 - A apresentação deste desenho é só figurativa. (Círculo com a inscrição “roda do tempo” e uma estrela de cinco
pontas dentro dele). Qualquer coordenação com a situação real seria mera casualidade. Apresentação da riqueza mundial, da qual
cada nação ou grupo de nações possui um segmento. O circulo pontilhado é o valor real total. As parcelas dos segmentos fora deste
círculo são inflacionárias, resultantes da contagem do dinheiro na base de juros e juro de juros. Parece, simbolicamente, que só a
massa pentagrâmica dos cinco continentes produtivos mantém ainda a finança mundial no seu eixo, porém só com muita sorte, na
qual a humanidade sempre confia.

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Uma família será verdadeiramente feliz em um sítio, só se o vizinho sitiante ou outro vizinho, também é feliz e assim por
diante, sendo esta imagem a se expandir ao tamanho das relações recíprocas até das nações e povos entre si.
De fato, o dinheiro da riqueza mundial verdadeira, é como um bolo do qual cada nação ou grupo de nações possui uma fatia que
pode ser valorizada e negociada entre si, como são feitos negócios entre sitiantes conscientes da necessidade do intercâmbio mútuo
dos produtos para progredir. Da consideração destes fatos surge a apresentação figurativa do croqui, aqui junto do qual, o bolo seria
dado pelo círculo pontilhado central, que fica dividido em segmentos que representam as fatias atribuídas às nações. A riqueza
mundial só pode crescer no seu total pela expansão do círculo pontilhado, porque a parte dos segmentos fora deste círculo é
inflacionária e resultante dos empréstimos bancários na base de juros e juro de juros, quer dizer, sem mais nenhum valor real na base
das finanças mundiais. A situação ainda piora mais, quando o valor nominal básico da finança internacional se estreita jogando
assim ainda mais na inflação as nações com poder econômico crítico. Quando ocorre o desequilíbrio monetário ao ponto de algumas
nações apresentarem-se com a sua fatia até fora da roda do tempo, parece que esta fatia vai se transformar em sapata de freio para
todos os valores das outras nações. Ainda bem que o pentagrama da massa dos continentes produtivos dá o necessário equilíbrio e
que os povos em geral confiam na sorte simbolizada no croqui, pela estrela de cinco pontas, que cintila, em cima de todos estes
povos, senão a roda do tempo financeiro, que só se mantém em pé ao rodar, vai caindo, mesmo que o poder de trabalho das nações
seja enorme.
E não dá, em outra coisa, em escala reduzida para os membros de uma mesma família no sítio, que devem participar ativamente
na avaliação real dos bens comuns. Não é nada mal de se constatar o crescimento do bolo do patrimônio familiar para o uso
generalizado de todos, tendo cada membro da família a sua fatia. Quando ocorre, porém, o caso lastimável de se dividir este bolo
feito com tanto trabalho e amor, para cada um poder engolir o seu pedaço, seja grande, ou seja, pequeno, não sobra mais bolo na
rodinha do tempo financeiro familiar, que assim não fica mais erguida.
Ocorre também o caso do bolo se achatar por causa de um espertalhão abrir o forno antes do tempo certo para assá-lo, jogando
assim, fora todas as esperanças dos outros membros da família.

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Não quero aqui entrar em detalhes das manobras das finanças internacionais que dizem funcionar na base de dois e dois são
cinco, é melhor permanecer na base do sitiante que sabe que ao receber um empréstimo bancário, ele se compromete devolvê-lo no
tempo determinado, isto na base dos juros e correção monetária. Dizemos que um milhão de cruzeiros, seja o capital inicial
emprestado ao juro e correção, de admitimos só 30% ao ano. O devedor deve assim devolver um milhão e trezentos mil cruzeiros.
Pergunta-se então com justa razão, de onde saiu o dinheiro dos juros, etc., quer dizer os trezentos mil cruzeirinhos? Também do
banco, é claro! Será que é fruto do trabalho, ou da transação no seu valor real ou será que é um outro empréstimo para tapar um
buraco financeiro? E a constatação verdadeira é o fato do povo assim ficar em geral, mais pobre, tratando-se de valores de fatias
bem fora do valor real. Desta constatação se pode concluir de que é muito arriscado para um sitiante contratar uma dívida bancária
importante, sem ter fundos de segurança suficientes e ao brincar com uma bolinha de neve em morros financeiros muito inclinados,
pode ocorrer a formação de uma avalancha que leva até a casa e os outros bens do insensato, quando não é também a casa do seu
fiador desprevenido e com muita boa fé no seu parente ou no seu vizinho! Bem, não se pode exigir de que todo o mundo seja igual e
infelizmente Honestidade e Verdade não se escreve mais em letras maiúsculas, como era praxe antigamente entre bons vizinhos
sitiantes.
Bom, a relatividade no plano moral foi conhecida e aplicada em vários países, muito tempo antes da sua formulação por
Einstein e da sua aceitação mais generalizada no plano da física. De certo que não se deve desconfiar de tudo, mas um homem
avisado vale bem para dois.
Assim, na avaliação dos valores reais, é melhor de nunca exagerar, em especial para importâncias comparativas, porque isto
leva também a querer rodar em estradas demais planas ou até em decidas, nas quais um veículo pode alcançar muita velocidade; não
sendo mais possível de se brecar antes da curva, na frente do precipício pouco visível na cerração deste mundo financeiro, um tanto
complicada, não só para a gente simples da roça.
Já muitos sitiantes perderam tudo ao querer aplicar o montante do seu patrimônio, seja no banco a juros, seja na bolsa de
valores, que é como uma loteria na qual muitos jogam e poucos ganham. Para a maioria, não sobra mais do que a ilusão e a
decepção. Outro amigo meu, me confidenciou que no ano passado ele ganhou muito dinheiro na loteria: não jogando!
De certo, que tem limites no jogo, como em qualquer coisa.
Pequenas apostas sem grandes conseqüências, não podem arruinar uma família, mas não se pode tolerar que um membro da
família vai jogar em empréstimos ou no Jóquei Clube, todo o montante do dinheiro recebido na venda da safra de feijão, cebola,
etc., como já ocorreu várias vezes. E a fiscalização? Como vai ser feita esta? Unicamente com meios impedindo um irresponsável de
ter dinheiro do patrimônio comum à disposição.

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E isto é válido em escala maior, para qualquer nação ou povo em qualquer parte do mundo, porque pelo termo “homem”,
entende-se um ser que na sua expressão de pluralidade singular, abrange toda esta gente boa, humilde, que não pede mais do que
precisa para viver descentemente e cuidar bem da sua família, mas dentro de limites de liberdades pessoais bem definidas. Os
anseios de paz e liberdade pessoal são características de todos os homens não dependendo de determinada nação. Até o sitiante
siberiano ao dirigir a sua troica sabe o quanto vale a sua ação e reação ao cruzar por uma matilha de lobos famintos.

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30º ÍTEM — REFLEXÕES DE UM SITIANTE SOBRE O FUTURO DA HUMANIDADE NESTE GRANDE SÍTIO
CHAMADO TERRA DOS HOMENS

Parece estranha esta comparação, mas o mundo não é nada mais senão do que um grande sítio, no qual uma parte do pessoal foi
se afastando da vida do campo, encontrando a sua oportunidade na vida dos negócios, no aproveitamento das muitas riquezas desta
terra tão generosa e nos muitos métodos de transporte.
O desagradável é que houve várias divisões parceladas deste sítio o que levou as nações a brigarem entre si, muitas vezes por
motivos não bem definidos. Bom, ao analisar-se bem o assunto, não resta dúvida de que a ganância de dinheiro fácil é o maior
incentivador para a desconsideração dos vizinhos. Também a procura de trabalho para ocupar todo este pessoal que não quer mais
ficar na roça, é um motivo muito ponderável. E quando a ação financista cheira lucro certo, então é só manobrar os barbantes do
teatro “Guignol”, que o resto sempre vai se repetindo neste mundo. E até quando?
Mata-se o seu próximo, por honra do país, em nome das muitas “únicas verdadeiras religiões”, em nome da proteção da
humanidade e até para erigir um reino de mil anos, nesta terra a ser povoada só por uma raça pura, conforme idéias de um bastardo,
cujo ministro das finanças era com sangue desta raça que ele quis exterminar primeiro. Parece que o pessoal do sítio quer classificar
estes fatos como sendo da história do passado; seria bom, mas ocorreu no 20º século! E que reserva o futuro? Não somos novamente
no fracasso do sistema monetário e os poderosos à procura dos seus aliados, sendo o financiamento das indústrias bélicas puxadas
ao extremo. Será ainda possível de se dizer um chega, bem enérgico, antes de se deflagrar conflitos maiores? O homem, este ser tão
inteligente, chegou ao ponto de quase acabar em um século com a maior fonte de energia fóssil na forma do petróleo, brigando-se
agora para os restinhos, nações inteiras, quando se pensa que o dinheiro gasto em armamento daria para construir muitos reatores de
produção de gasolina sintética com um custo relativamente modesto, o que daria energia rotante para um bom período transitório até
encontrarem-se outras formas novas de energia, porque em geral as energias alternativas renováveis são exigentes, quanto às
superfícies necessárias ao plantio da matéria prima e ao equipamento necessário na sua elaboração, influindo no rendimento,
respectivamente no custo do produto final.

258

Também as despesas do transporte de combustível com menor conteúdo de calorias (o metanol tem mais ou menos só 1/3 do
conteúdo de calorias da gasolina) não são tão desprezíveis como muitos pensam, para os cálculos gerais do custo final do produto.
Mas deixamos estes cálculos aos nossos irmãos economistas que, se sinceros vão dever alertar os demais da roça da situação exata
dos fatos, porque não é de se pensar aqui na base de uma nação; não, a base aqui é este sítio, no qual por causa da manutenção dos
preços elevados, vai se queimando bilhões de toneladas de petróleo, alegando-se a briguinha armada entre dois povos muito irmãos
e cujos camelos e ovelhas pastoreavam quase que juntos nas mesmas planícies semi-áridas. E seria bom se o velho Abrão da Bíblia
pudesse voltar, ainda que seja só em espírito, para mostrar até onde ele mesmo mandava pastorear os seus rebanhos, porque ele
também foi só um invasor nesta “terra prometida”, fato bem comprovado pelas muitas estórias escritas relatando em geral, fatos
nada pacifistas. Como a história se repete e como até nomes permanecem com as suas raízes nestes lugares, sendo o nome de
“Filisteu”, uma aproximação de “Filistino” ao seu oposto o “judeu”. E não é de se pensar muito na correlação de Filistino dos
tempos bíblicos com o “Palestino” de hoje, o que dá mesmo para entender muita coisa, não é, quando se sabe que os sitiantes
palestinos não pediam outra coisa a não ser poder pastorear com os seus rebanhos de cabras, ovelhas e alguns camelos, enquanto
eles foram jogados na sua maioria em campos de concentração, nos quais, nasceu já a terceira e vai nascendo a quarta geração em
cativeiro. Será que todo aquele pessoal com o seu coração e espírito tão ligados ao Oriente Médio, não pode ter um pouco de
compreensão para os irmãos menos favorecidos, ou será mesmo que alguns lugares desta “Terra Universal” são sujeitas a
determinadas radiações ainda muito desconhecidas, atingindo, todavia os seus habitantes em grau variável, mas com as respectivas
conseqüências na maioria das vezes nefastas, não só para eles mesmos, mas muito mais para os demais vizinhos sitiantes, que não
pedem outra coisa que a possível convivência pacífica. Agora se cada nação ou país quis ter de volta os territórios de ocupação, (às
vezes de tão curta duração a ser considerada só de passageira), pelos seus antepassados, seria necessário se engrossar com calda bem
espessa este planeta para conseguir um aumento da sua superfície ao mais do quádruplo da atual, para satisfazer aos desejos de
todos, e seria de se apostar que ficariam descontentes e insatisfeitos. Sim, porque, por exemplo, os descendentes de Gengis-Cã
poderiam alegar que ele mesmo contou certa vez que, nas suas andanças pelo mundo, ele foi bem além do que a história registrou.

259

Bom, deste tempo, não tendo ainda computadores, era difícil de se anotar de modo certo, tais fatos. E acreditar em fitas
gravadas ou em anotações históricas escritas, dá quase na mesma coisa, ou será puro acaso mesmo o fato do capitão da nau Santa
Maria, do descobridor das “Índias Ocidentais”, mais tarde chamadas de “América”, ter sido um Breton, quando se sabe que
Colombo fez três viagens para a Bretanha, até conseguir convencer um destes capitães a trabalhar para ele, em vez de trabalhar de
madeireiro, ou será também puro acaso o uso de tanta púrpura nas vestimentas, seja na corte ou para os prelados? É de se duvidar da
quantidade de cochinilha, que dizem ter fornecido o corante, quando se sabe que o pau Brasil era já conhecido dos índios em tempos
bem remotos.
Melhor é de se acreditar nos fatos que a própria natureza registrou dentro deste grande museu que temos para estudar e que é o
mundo todo e até o universo inteiro, evitando-se qualquer provocação entre irmãos e apaziguando-se as briguinhas entre vizinhos
demais parentes, para poder chegar ao ponto de matar o seu próximo em nome do mesmo Deus, Alá ou Orixalá.
Como é triste de pensar o que ocorre em uma guerra no plano psíquico do combatente, sendo típico o que um jovem soldado
escreveu para a sua mãe, no sítio: — Fui na trincheira com os meus companheiros, para reforçar a turma anterior que sofreu demais
baixas. Observando os movimentos na trincheira inimiga oposta à nossa, de repente aparece a cabeça de um soldado na minha mira.
Pensei, se ele atirar primeiro, minha mãe vai chorar e se eu atirar antes, é a sua mãe que vai chorar! Mãe, atirei para você não chorar.
E pensando nas muitas mães que choraram nos dois lados, dá para entender que a situação real é bem diferente do que o cinema e a
televisão podem mostrar com a finalidade de provocar emoções fortes nos seus fregueses, ávidos deste tipo de distração, nem
pensando no efeito nefasto de muitos brinquedos para a formação psíquica das crianças em qualquer nação. Seria de se rever muita
coisa, neste mundo para melhorar as relações amigáveis das ligações, em todo primeiro lugar, a repressão da ganância pela venda
não só de armas de verdade, mas também pela venda de brinquedos na forma de armas muito sofisticadas nas suas elaborações
chamadas de inofensivas, mas que não o são tanto no plano psíquico.
Como me fez observar certa vez, uma senhora da nova geração de que teríamos de concordar, se outros seres irmãos de outros
sítios vizinhos galácticos pudessem vir ao nosso socorro para se entender melhor entre irmãos mais próximos neste sítio, demais
parcelado e tão conflitante. Porém, não seria melhor se recomendar a todos, sejam atualistas, futuristas ou ilusionistas de se fazer
todo o possível para se sair deste marasmo com a cabeça erguida e não humilhada na presença de possíveis libertadores que
poderiam ser também ilusionistas classificados, realistas dominadores, destruidores disfarçados e porque não também até inimigos
na forma de amigos. Também, é de se avaliar de que não é a tripulação de uma ou outra nave que vai poder resolver os problemas
criados pelos homens no decorrer dos tempos. E mais, as conseqüências de tais intromissões, só serão de se avaliar na base amigável
de sitiantes vizinhos, que poderiam se ajudar mutuamente, em caso de doenças ou de desastre, só após eles ou nós respirarmos de
modo contínuo na mesma atmosfera, durante determinado período.

260

É um fato de que nas alturas, ocorrem mais mutações do que a gente pode imaginar? Até os incas já o sabiam, fato muito bem
comprovado e registrado pelas muitas variedades de milho obtidas em plantações nestas plataformas elevadíssimas nas encostas
andinas.
É de se desejar que pudéssemos construir ainda muitas plataformas em morros ate muito íngremes para testar as possíveis
mutações em especial do modo de pensar do nosso espírito e de poder desfrutar novamente da capacidade telepática comunicativa
entre todos os povos, como ocorre ainda em escala bem reduzida, para os membros dos povos que vivem em planícies imensas sem
demarcações exatas de nações, países e domínios, como é ainda hoje o caso dos lapões ao pastorear com as suas renas.
O problema da compreensão mútua dos povos desta terra é muito mais sério do que a gente poderia imaginar, em especial no
futuro, quando o crescimento mundial da humanidade vai alcançar valores dificilmente aceitáveis na base dos atuais conceitos
humanos.
Será necessário se mudar muitos destes conceitos, das bases da convivência, do modo de aproveitamento da energia, dos modos
de alimentação e por que não dizer até de muitos tabus milenares. Pareceria exagero tal afirmação se não fossem os fatos
comprovados no decorrer de todos estes séculos, durante os quais o crescimento da humanidade foi refreado um pouco pelas pestes
e outras doenças e pelos próprios conflitos armados entre as diversas nações e povos. Todavia, em geral, após os conflitos, houve
uma recrudescência ainda maior, em geral dos vencidos, o que não favoreceu o equilíbrio das forças, quer dizer, o que se tornou
desfavorável para a harmonia entre os povos, nos quais ocorrem às vezes fatos imprevistos, não sendo tão raro o caso do criminoso
de ontem tornar-se político muito apoiado hoje em dia e até em herói nacional de amanhã.
Sem querer assustar o pessoal do sítio, nem o vovô, nem a tia, a mãe, os irmãos e irmãs, deve-se todavia considerar os valores
reais do crescimento mundial, avaliando-se as possibilidades verdadeiras do futuro desta humanidade, porque todos pertencemos a
ela. Não se pode aceitar a desculpa típica de desinteresse para as ocorrências futuras porque neste sítio do vovô, já de idade, são os
filhos e filhas e depois os netos e netas, que têm de fazer todo o possível para se conseguir dias melhores para a descendência, à qual
até hoje não se perguntou e nunca vai se perguntar se ela quer viver neste mundo na forma humana, com todo este aprendizado de
anos, para ser produtiva durante um período relativamente curto e depois vegetar até ir vibrar em outra faixa de ondas.
Esta consideração parece até grotesca, sob este ponto de vista, mas o fato é que este raciocínio vai se acentuando na opinião dos
jovens sempre mais na medida do aumento do número de pessoas nesta terra.

261

Figura 52 – Crescimento populacional em 100 anos em relação a um crescimento anual de 0,5; 1,5; 2; 2,5 e 3% (Gráfico).
No diagrama A, são apresentados os valores do crescimento mundial baseados em determinados valores percentuais anuais,
dentro de um período de um século, o que permite avaliar este crescimento para qualquer valor inicial da população.
Sabendo-se de que a atual taxa anual do crescimento mundial se situa em redor de 2,2% (Almanaque Mundial de 1980), pode-
se deduzir que a população mundial será o dobro da atual dentro de um prazo de só 34 anos. Querendo se tolerar o crescimento da
população mundial ao dobro em cem anos, seria necessário se manter o valor anual de só 0,7% (valor de extrapolação). Baseado no
fato de que vai se admitindo em geral os métodos limitadores de povos mais desenvolvidos, pode-se prever que a taxa anual do
crescimento populacional vai se estabilizar em redor de 0,9 a 1%.
Mas também com uma taxa de crescimento anual de só 0,85% a população mundial ficaria ao dobro da anterior em um espaço
de tempo de só 80 anos. Todos estes valores podem ser obtidos mediante o diagrama A.
Pode-se ver no diagrama B, no qual é indicado o crescimento mundial para o próximo milênio, os valores da duplicação da
humanidade a cada 80 anos.
Para facilitar a visibilidade do diagrama e a sua leitura, sem uso de valores logarítmicos, a característica deste diagrama foi
desdobrada para a parte inicial e os seus valores só indicados em números para a sua parte final.
O valor da comutação das ordenadas é de 70.109, quer dizer setenta bilhões de pessoas, o que corresponde a mais ou menos dez
vezes o valor atual de sete bilhões de pessoas.
Deixando-se fora de consideração possíveis cataclismos ou guerras atômicas de grande vulto, dever-se-á calcular em redor do
ano 2.220, com uma população mundial de 56 bilhões de pessoas que até o ano 2.540 poderão multiplicar-se para 896 bilhões de
pessoas. Se a população mundial crescer até limites ainda toleráveis, dentro do padrão das noções do homem de hoje, será
necessário determinar no futuro as superfícies habitacionais e de cultivo a se atribuir a cada grupo étnico, o que será uma tarefa
muito árdua, discutível e sem dúvida de aceitação só de comum acordo, para se evitar conflitos armados e devastações entre os
povos.

263

Figura 53 – População mundial com crescimento de 100% em 80 anos (gráfico).

264

Por que não tentar já, fazer o balanço relativo a estas atribuições das terrinhas do sítio a serem plantadas para se obter a
alimentação de tantos descendentes do vovô sitiante terráqueo?
Admitindo-se que neste mundo a metade do solo firme, poderia ser aproveitada para o cultivo de gêneros alimentícios,
deixando-se a outra metade para a construção de cidades, estradas (também parte dela é inóspita e imprópria para culturas),
atribuindo-se só 100 m2 de terra a cada pessoa, seria possível de se nutrir uma população de 637 bilhões de pessoas:
— superfície firme deste mundo = 12 3710,2 m2
— superfície de possível cultivo = 63.68.1012 m2 (admitido);
— população resultante (100 m2) = 637.109 pessoas.
Este número de habitantes seria alcançado, conforme o diagrama B, dentro de 500 anos aproximadamente, com duplicação da
população a cada oitenta anos.
Não só a tia vai ficar assustada ao pensar em tão grande número de bilhões de pessoas, mas daria até para assustar os
economistas desprevenidos, que em geral calculam tudo em bases pré-estabelecidas para a humanidade. Porém, não vamos nos
assustar ou gritar para o alarme geral, porque com programação bem definida vai dar para todo mundo ter alimentação suficiente
desde que não se desperdice os dejetos de todo este mundo, usando-os para a adubação orgânica necessária para não só manter-se a
fertilidade do solo, mas para melhorá-la em muito e até para recuperar as beirinhas das parcelas plantadas e as parcelas desérticas
ainda hoje consideradas perdidas.
Como já indicado no capítulo que trata da esterqueira, os dejetos de trinta pessoas durante um ano, são o equivalente a mais de
30 toneladas de esterco de curral, que dão para adubar muito copiosamente um hectare de terra, quer dizer, 10.000 metros
quadrados, o que equivale a uma atribuição de 333 m2 de terra para cada pessoa. Essa atribuição será possível até a população
mundial alcançar 212 bilhões de pessoas, o que poderá ocorrer daqui a 370 anos, conforme as bases do diagrama B (duplicação da
população a cada oitenta anos).
Em outras palavras, um terço da humanidade é o suficiente para se manter a fertilidade do solo e produzir muitos alimentos para
todos, desde que os respectivos dejetos sejam devidamente recolhidos e tratados. Este fato pode ser visto como a esperança da
sobrevivência do homem, não só, no sítio pequeno, mas ainda mais no sítio comunitário. As grandes cidades, infelizmente não
apresentam hoje ainda condições favoráveis para um recolhe adequado econômico e organizado.

265

É muito conhecido o fato do fracasso das grandes cidades no mundo inteiro em conseqüência dos custos da sua manutenção e
administração, o que torna mais viáveis unidades menores divididas de modo a baratear bastante o custo de transporte, tanto dos
alimentos como dos dejetos que devem ser devolvidos ao solo, justificando-se plenamente o fato aqui pleiteado de se recomendar a
todos aqueles que têm condições para tal empreendimento, de voltar à roça, ainda que seja em condições julgadas bem inferiores,
comparativamente com as atuais. Tal recomendação é válida em especial para aposentados, para os quais o governo poderia dar
incentivos visando esta finalidade. No meio dos anos da década de trinta, houve tal incentivo na França: o aposentado que voltava a
viver no campo (incluindo-se as aldeias), recebia uma aposentadoria maior do que aquele que quis ficar na grande cidade. A
finalidade era a desocupação de apartamentos relativamente grandes alugados ao preço antigo a só duas pessoas na maioria dos
casos, enquanto que casais novos com dois e três filhos, se estreitavam dentro de apartamentos novos pequenos de só um ou dois
quartos. O resultado desta medida foi muito salutar não só pelo espaço maior na cidade para os jovens, mas muito mais ainda para
os casais já bem de idade, que no campo encontravam não só uma vida mais saudável, porém, também um ambiente mais seguro e
de todo respeito e compreensão, ocorrendo assim também menor número de óbitos, por atropelamentos de pessoas distraídas, às
vezes um tanto surdas e com boa dose de arteriosclerose.
Deve-se deixar aos jovens da nova geração, se quiserem levar a sério a sua responsabilidade, quanto a sua participação na
continuidade regulada da humanidade. Para as devidas medidas possíveis nos dias de hoje, para um planejamento familiar razoável,
todo jovem deveria poder recorrer às instâncias de ensinamento que devem ser a altura de dar as respostas acertadas e com todo bom
senso para não ofender ninguém, nem provocar medo, nem orgulho, não se esquecendo do fato de que qualidade deve ser bem
acima de quantidade, chegando-se a esta finalidade muito bem por seleção natural, na base da ação-reação e simpatia-antipatia,
cujos resultados são sem dúvida ainda melhores do que aqueles de um computador-selecionador, porque também os cartões a se
preencher não dão garantia de maior sinceridade do que aquela existente no espírito dos candidatos à seleção.
Um velho médico dos tempos passados, respondeu aos jovens noivos que foram consultá-lo, porque a noiva fez questão de não
comprar gato no saco fechado:
Sim, podem casar, porque os seus corações estão batendo em sintonia, mas cuidem-se de manter este ritmo tão bem ajustado
também no futuro e até na velhice.
E, será que iodos vão poder guardar este rítimo tão bem ajustado como quando dois seres jovens se conhecem na primavera da
vida? Como vai ser, quando mais ou menos doze pessoas precisarem usufruir da claridade da mesma lâmpada de 60 watts, porque a
produção de energia nas atuais bases não vai mais permitir uma atribuição extra, se não se encontrar outras fontes economicamente
viáveis.

266

Como último recurso, seria possível de se introduzir o gerador domiciliar, no qual um vai pedalando, enquanto o outro vai
lendo, não é? Isto geraria também novo trabalho até para advogados divorcistas, que poderiam pleitear desfazer a união porque um
dos cônjuges não quis pedalar.
Anotei de brincadeira este exemplo, para refletir melhor sobre a evolução humana, porque o aumento do número de habitantes
nesta terra é assustador mesmo, não tanto em relação às possibilidades de se prover o seu sustento, mas muito mais pela procura de
meios e métodos para distribuir o trabalho de forma justa a fim de cada um poder ganhar o suficiente para o seu sustento e o da sua
família.
Vai ser difícil de se encontrar idealistas que vão trabalhar para sustentar menos idealistas que vão querer aproveitar da boa vida,
quando neste mundo vai ser necessário contar com cem bilhões de habitantes. Parece que vai ser ainda muito longínquo este tempo,
mas na realidade ao andar das coisas atuais com 2,2% ao ano de taxa de crescimento mundial, isto ocorreria já em redor do ano
2.120.
Considerando-se o fracasso de muitas instituições sociais, nos dias atuais, com só sete bilhões de pessoas nesta terra, vale a
pena refletir bastante sobre coletivismo e individualismo e todas as outras formas de ismo, que se quiser; resta ao menos certo o fato
de que muitos vão precisar da enxada e do ferro de ceifar arroz ou trigo para poder sobreviver. Se grande parte do mundo de hoje já
passa fome, imagine-se o futuro na base de cem bilhões de pessoas? Porém, é um fato indiscutível de que o maior amigo do homem,
não é aquele que distribui peixes, mas muito mais aquele que lhe ensina a pescar. Todavia, é necessário saber avaliar as condições
ambientais existentes, porque não daria grande proveito ao beduíno do deserto, o fato dele saber pescar.
E se fosse só pescar, não seria nada mal, mas o equilíbrio seria logo alterado, se todo este pessoal fosse pescar sem pensar em
ao menos deixar crescer um pouco os peixinhos. Formar fazendas e sítios marítimos bem controlados, é de fato muito louvável, mas
tem o grande porém dos enormes investimentos financeiros que sem dúvida vão encarecer o preço dos produtos. Se hoje em dia, o
peixe já custa caro, relativamente ao seu custo de produção atual, que será dele quando vendido como raridade de sítio submarino,
cujo dono de antemão não será o pequeno sitiante da planície fértil com a sua terra generosa, muito menos ainda, o sitiante do morro
agreste bem retirado. O melhor amigo do sitiante será aquele vizinho que lhe ajudará, ensinando-lhe os macetes para guardar as
terras férteis e a produção equilibrada, o que é ainda possível de se manter durante séculos, desde que se aplique uma proteção
inteligente e um controle eficiente desta natureza com a qual todos temos de permanecer unidos para poder desfrutar das verdadeiras
riquezas, tanto materiais como espirituais.

267

Às vezes, pode-se perguntar o porquê dos fatos, um tanto estranhos para a vida moderna, sendo um exemplo dado pelos
mórmons que na nação mais industrializada do mundo não podem fazer uso do veículo automotor (só lhes é permitido o cavalo
atrelado à charrete como meio de locomoção, praxe mantida ainda hoje, pelos autênticos).
Será que um dia esta gente vai ter os seus modos de pensar atualizados, não sendo mais considerados como peça de museu?
De fato, é bom às vezes que determinados grupos de pessoas guardem velhas praxes, porém, sem abuso, nem fanatismo, porque
é lastimável quando por exemplo jovens vidas vão se perdendo só por causa de idéias esquisitas guardadas como relíquias mentais
de tempos passados, introduzidas nas crenças em conseqüência da pouca confiança que se podia dar ao uso e até abuso de
determinados métodos, dizemos da alimentação ou da medicina.
Mas hoje em dia, é bom de se lembrar de que existem comprovadamente noventa e dois elementos principais, fora os
transurânicos e que o resto é só composição e nada mais do que composição, seja sangue ou suco de tomate, carne animal ou vegetal
etc.
E como ninguém pode fugir das suas responsabilidades, é bom de cada um se lembrar de que estas são muito grandes em
especial para aqueles que se encaminham para cargos políticos e religiosos.
É de se recomendar a todos um bom exame de consciência muito honesto tanto consigo, como mais ainda em relação às
responsabilidades conseqüentes das suas decisões para os outros.
Também é de se recomendar para os chamados “chefes espirituais” de se rever as recomendações feitas e que se faz em nome
de determinada religião, porque a vida de uma mãe salva por transfusão de sangue, vale sem dúvida, muito mais para uma família de
sitiantes do que uma opinião obstinada de alguns fanáticos em suas crenças. E não se pode esquecer de que os limites da obstinação
por fanatismo são inacreditáveis e que a tendência de se chegar a ela é de fato bem maior do que muitas pessoas poderiam imaginar.
Também é muito longo o caminho da reabilitação para uma pessoa atingida pelas decisões de por exemplo uma Inquisição.
Para quem duvidar deste fato, que o pergunte a um tal de Senhor Galileu que foi obrigado a dizer que a terra não era redonda,
para se salvar da fogueira, isto no início do 17º século e que foi reabilitado só agora. Será mesmo que o cientista ilustre que era o
Senhor Galileu precisava aguardar todo este tempo, no purgatório até que São Pedro recebesse ordens da terra para libertá-lo, seja
do seu pecado de mentira grossa, seja do pecado de ter falado coisas não de acordo com o parecer dos demais famosos Senhores
Inquisidores, tão seguros nas suas decisões?

268

E de se almejar que se reabilitassem também todas estas inocentes vítimas desta famosa Organização.
A responsabilidade dos “chefes religiosos” é muito pesada mas também até o último dos homens não escapa desta
responsabilidade por atos cometidos em nome da humanidade contra os irmãos e não pode ser alegado falha humana ou obra do
diabo, que para muitos não significa nada mais do que uma possibilidade de desculpa para erros graves, criado em contra partida
deste Deus Alá ou Orixalá, demais divino e demais humano, de acordo a considerar-se determinados livros, seja um velho ou um
novo testamento, nos quais os homens foram se marginalizando em grupos de opiniões às vezes até opostas e mesquinhas e che-
gando a ser até ridículas para a filosofia do homem simples que vive na natureza, porque também a determinação de espaços e
distâncias é muito relativa, considerando-se a eternidade. Tais constatações vão parecer chumbo grosso, até para muita gente
importante talvez, mas não o é, comparativamente com os tiros de canhões, com as bombas e com os pelotões de fuzilamento que
mataram no passado, matam ainda hoje e vão matar ainda muitos filhos, pais, parentes e até crianças de famílias de sitiantes no
mundo todo, no caso de não se chegar ao tão desejado acordo fraternal universal, com o respeito mútuo das opiniões e com a ajuda
tão necessária, tanto no plano material corno mais ainda no plano espiritual, deixando-se para tema de conversação mútua no pé de
uma lareira de sítio bem agradável, em uma tarde de domingo de inverno, as pequenas possíveis divergências de interpretação, que
em si são necessárias para incentivar todos a progredir no caminho certo que pode conduzir a humanidade toda a se reencontrar no
“Éden da Natureza”, que para muitos foi perdido em conseqüência do modo de vida demais complicado a eles imposto pelos seus
semelhantes ou por si próprios. É bem típica a resposta de uma sitiante tibetana à pergunta de um soldado, fugitivo da Índia, que
estranhava deles comerem carne de iaque no sítio, sendo isto proibido pela religião: Lassa fica longe daqui, foi a resposta dada com
um grande sorriso, que demonstrava o quanto pode ser distante o imposto e a realidade para a gente ligada a terra, tanto nas
planícies, como até em montanhas íngremes.
Por que não iniciar a fazer todos os esforços possíveis para se chegar ao denominador comum, tão desejável para a
compreensão mútua entre todos os membros desta grande família, chamada humana, neste grande Sítio que poderia ser o Éden,
porém que se os homens continuarem nas suas idéias obstinadas e nas suas ações destruidoras, poderá chegar a ser chamado “Sítio
da Desolação”, se sobrar gente com apelido de civilizada para ainda lhe dar um nome.
De fato, o Grande Patrão, não precisa tanto destes camaradas destruidores de tanta coisa boa, no seu sítio terráqueo.

269

Mas, temos todavia, de concordar de que o trabalho honesto de muitos camaradas construtores enalteceu e vai enaltecendo
sempre mais o pensamento geral da humanidade, comunicando-se uns com os outros para tomar as decisões cabíveis para atender ao
bem de todos sem distinção.
Interessante é o fato, de se constatar até que ponto de avaliação pessimista da humanidade, alguns grupos de pessoas
negativistas podem chegar, sem querer perguntar a si próprios ao menos o porquê, tanto das ocorrências originárias, como muito
mais ainda do seu comportamento, esquecendo-se de que um ato de extrema submissão é na maioria das vezes nada mais do que a
conseqüência de orgulho desgovernado e de egoísmo personificado, querendo fugir de toda e qualquer responsabilidade. Não é tão
raro o fato de se encontrar pessoas que imploram a autodestruição desta humanidade tão ruim na vista deles; mas elas também,
quando acuadas na morsa mental, vão se refugiar no cantinho da pequena esperança de poder escapar ilesas aos cataclismos
implorados e provocados às vezes de modo semi-consciente, como aqueles heróis de cinema de ficção — Será mesmo? Sim, o
egoísmo pode alcançar dimensões de limites imprevisíveis por alguns fanáticos que não pensam nas conseqüências dos seus atos e
cujo desprezo, não só dos seus vizinhos, mas também dos seus amigos e até parentes é tal a querer a destruição generalizada até das
próprias crianças e dos seus descendentes. Barbaridades!
Mas deixamos tais pessoas com as suas visões obscuras e tentamos reavivar e alegrar o ambiente com uma boa anedota. É a
conversa de um tal de John, sitiante de cor, original sulista americano, com o padre da sua igreja na ocasião da visita deste último ao
sítio do John, para conhecer melhor toda a sua família, tão unida e laboriosa.
Bom dia, padre: olha que sítio maravilhoso eu consegui formar aqui!
— Bom dia, John! Sim John, Deus quis o bem de você!
- Olha aqui, padre, o meu gado, com muito boa produção!
— Sim, John. Deus quis o bem de você!
— Olha, ali padre, as minhas plantações que dão fartura!
— Sim, John, Deus quis o bem de você.
Então John ficou de repente um tanto acanhado com as poucas variações das respostas do padre. Não podendo todavia, reter-se
de comunicar o seu modo de pensar, tão espontâneo, neste pais dos grandes direitos de opiniões humanas, ele diz ao padre:
— Sabe padre, quero ser sincero com o Senhor, mas o Senhor precisava ter visto estas terras quando Deus era ainda sozinho a
trabalhar nelas!

270

- Sim, John, Deus te chamou para ajudá-lo a melhorá-las, foi a resposta do padre que também não se deixava encurralar por
opiniões fora do seu padrão de avaliação.
Ainda bem, quando padre, pastor ou pai de santo etc., encontra as palavras certas para enaltecer os pensamentos em toda
discrição e com todo o respeito que também ele deve ao seu próximo, não querendo impor-se a ele na base da potência das suas
ondas sonoras, chegando-se alguns a ter no mínimo vinte vezes por minuto o nome de Deus na boca, o que é mais do que suficiente
para desconfiar se sobra um pouco dele no coração destes zelosos artistas exaltados, chegando-se até a predicar o fim do mundo, a
cada seis meses, provavelmente para não perder esta praxe já introduzida de velha data. Seria bom deste pessoal, ao menos querer
(se não puder) se instruir um pouco das forças e distâncias dos componentes deste carrossel planetário do nosso sistema solar, ou ao
menos se informar direitinho antes de querer convencer os seus irmãos de fatos dos quais eles mesmos duvidam. Bom, o mundo não
vai acabar hoje e amanhã, porque se acabar hoje, não existe mais mundo amanhã! E que importa, quando ele acabar para o pessoal
da roça, tão ligado a esta natureza tão pura, que sabe ainda o que é honestidade, tanto para os outros como para si próprio, sabendo
muito bem que a sua salvação é na grande confiança em todas estas forças tão visíveis na grande igreja com a sua cúpula do infinito
que não contém esta divindade, mas que é contida até nas suas partículas mais ínfimas nesta divindade tão procurada, que abrange o
universo todo pelas suas ondas e radiações, não sendo tão necessário de se correr tantas vezes nestas construções às vezes tão
esquisitas a parecer redutos relegados da magia antiga.
O estado exige do jovem médico, uma formação acadêmica que ele pode adquirir em oito ou nove anos de estudos puxados.
O estado exige do jovem advogado, a formulação acertada no pleitear baseado em leis bem definidas.
Não seria bom de se exigir não só um certificado dos conhecimentos psíquicos destes predicadores, mas um exame psíquico
próprio de cada sujeito para julgar se ele está ciente das conseqüências possíveis dos seus ensinamentos, sendo as suas palavras
jogadas no ar, às vezes, com tanta força pulmonar a se classificar só pela ginástica respiratória.
E porque não exigir pelo estado a filiação destas igrejinhas a determinado agrupamento maior para se responsabilizar dos
prejuízos materiais e espirituais que determinados predicadores originam pelo seu ensinamento, às vezes, demais esquisitos e que
causou já muita dor de cabeça e muita desunião entre os membros das famílias dos sitiantes, não sendo raro o caso de uma mãe ou
um pai de família com muita sensibilidade espiritual de perder o juízo ao não ter mais razão suficiente para se avaliar o limite a se
definir na base individual entre o exigido de determinada religião e as exigências da natureza.
271

Não me refiro aqui, a todos estes irmãos e irmãs convencidos da sua religião, dos quais muitos se sacrificam em um ato de amor
admirável para ajudar com toda humildade o seu próximo, na forma do doente, do indigente etc., e que é em si o verdadeiro sentido
de qualquer religião, bem diverso do comportamento destes intrigantes que são às vezes tão teimosos a deixar perceber as suas
intenções que não se pode classificar de idealistas.
Pessoalmente, eu conhecia uma sociedade beneficente para os sitiantes de um país, no teto do mundo, cuja organização era tal a
ter durante anos as suas finanças equilibradas ao zero absoluto, sendo a grande parte do dinheiro recebido, gasto em despesas
próprias para os membros da diretoria etc.
A responsabilidade de cada sitiante o obriga a saber da finalidade exata que se dá até para esmolas de certo vulto, se ele não
quiser ouvir falar depois da famosa partilha na base do um para Jeová, uni para ele e um para o Yussef, sendo o ele o próprio Yussef
e Jeová deixa generosamente também a sua parcela ao Yussef.

272

31º ÍTEM — CONSONÂNCIA DOS ESFORÇOS DA HUMANIDADE COM AS FORÇAS DA NATUREZA.

Não raras vezes, ouve-se dizer de que o sitiante tem uma vida pobre, labutando muito e colhendo pouco. Será que é mesmo tão
ruim assim? Para quem sabe abrir o olho do espírito, dá para enxergar as coisas de um jeito diferente e dá para ver muito mais coisas
do que nos é possível de ver com os dois olhos materiais, porque esta ligação do sitiante com a natureza lhe faz entrever tantas
forças desconhecidas da maioria dos homens de hoje.
Muitas vezes o pessoal simples da roça chega a definições para expressar-se sobre assuntos e fenômenos naturais e menos
naturais que dá para se maravilhar da simplicidade do raciocínio. É isto que torna a vida interessante. E não é de se admirar mais
ainda com que astúcia uma formiguinha consegue escolher algumas hastes de capim curvadas, pelo próprio peso, para poder
atravessar um regato de água cristalina no qual, o passarinho vem se desalterar cantando tão bonito, alegrando assim todos os seres
sem distinção de formas ou estado de apresentação do qual só o homem se aproveitou para as muitas classificações botânicas,
zoológicas e outras “icas”, esquecendo-se de que os seus antepassados tinham ligações e denominações muito mais acertadas do que
hoje em dia.
Quem duvidar deste fato, pode refletir sobre algumas considerações da filosofia de orientais relativa aos elementos da natureza,
por eles considerados como os mais importantes. A titulo de curiosidade, vale a pena anotar aqui, um dos mais interessantes porque
o seu raciocínio envolve os seus cinco elementos principais, em um círculo perfeito (vide ilustração “Pensamento” e a respectiva
descrição), com a sua idéia de continuidade sempre renovada, como todos os elementos desta natureza, tão sublime e generosa que
nutre bilhões de bilhões de seres de vida, às vezes quase efêmera, mas sempre ressurgida, dando às vezes mutações das mais
interessantes, guardando-se as formas antigas registradas até dentro das petrificações, como se fosse em um museu de ciência bem
justificado.
Como poderia se duvidar do fato desta natureza não querer nutrir também o homem de boa vontade para com ela trabalhar e
progredir junto a ela, nesta harmonia de esforços com as forças presentes em profusão tão grande e em suas formas infinitas e
ínfimas, tanto nas suas mais diversas faixas de oscilações, que chegam a produzir a matéria, nas suas tantas variadas diversificações,
como mais ainda nas suas muitas formas de radiações das quais o homem de hoje conhece na realidade, pouca coisa ainda, para
poder opinar o suficiente sobre elas.

273

Um pequeno exemplo: do domínio da ciência pura e simples é a designação do fóton para determinada quantidade luminosa que
alguns consideram como sendo matéria, enquanto outros dizem que é só uma onda eletromagnética.
Não resta dúvida de que a luz produz sombras, pela presença de corpos materiais, seja de uma nuvem, seja de um mourão de
cerca de pasto. Mas alguns corpos bem materiais deixam passar a luz, por exemplo, o vidro. Isto quer dizer de que as oscilações das
energias em pauta, encontram-se em sincronismo, nas suas movimentações. Parece um raciocínio complicado, mas não o é tanto
assim, para fazer disto quase que um mistério.
Mediante as ilustrações das figuras, que se seguem, pode-se ver analogicamente o estado das coisas, sendo o vidro representado
por um cilindro fictício, enquanto uma bola leve do tipo pingue-pongue representa o fóton. — Juntando-se adequadamente três
agulhas de fazer malha, com duas rolhas de cortiça e acoplando-se a agulha central a um sistema acionador obtém-se o conjunto da
Figura nº. 1. — Ao imprimir-se a este conjunto uma rotação bastante elevada, vai aparecendo um cilindro puramente fictício (ver
Fig.nº. 2), mas é sem dúvida nenhuma um cilindro. —P Pode-se colocar devagarzinho, uma bola do tipo pingue-pongue, neste
cilindro fictício, porque ela vai a cada instante encontrar as agulhas que a impedem de escapar (ver fig.nº. 3). — Se agora imprimir-
se determinada velocidade à bola, ao colocá-la no cilindro, ela tem chance de passar em um espaço entre duas presenças das
agulhas. Tal velocidade deve ser igual ou maior à freqüência de rotação do cilindro fictício (ver fig.n.º 4, 5 e 6).
Tais apresentações permitem imaginar um pouco o que ocorre nas forças da natureza, das ações das oscilações e das radiações
que englobam ainda muitas desconhecidas a serem desvendadas. Bom, precisa-se também de material de trabalho para as gerações
futuras que devem também ter oportunidade de serem úteis para o progresso.
Mas, considerando-se a matéria como uma simples forma estática de forças dinâmicas, chega-se a compreender o porquê de
muitos fenômenos tão interessantes. Também, com espírito sempre mais aberto, será possível ao homem do futuro, com a sua
inteligência sempre mais desenvolvida de se familiarizar com forças e energias hoje ainda totalmente desconhecidas e porque não
dizer, se não já classificadas de absurdas por desconhecermos não só a sua presença, mas também os meios de se chegar à respectiva
percepção destas energias.

274

Talvez os bisnetos do vovô sitiante, vão poder lhe demonstrar um dia de que até a invenção da roda dos seus antepassados é só
um meio de transporte a ser posto o mais depressa possível no museu, porque dela surgiu um método de transporte tremendamente
nefasto à sobrevivência do homem pela ação poluidora resultante destes objetos tão pesados comparativamente com a carga útil que
neles se pode transportar.

Figura 54 – Montagem do sistema desenhado em posição de parada (croqui descrito anteriormente).

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276

Todavia, é de se duvidar do barateamento do custo de transporte no futuro a não ser, pela talvez possível decomposição e
recomposição desta matéria que em si é um nada, apresentando-se nesta forma que o homem classificou e classifica ainda de
matéria, porque a inércia dela resultante, deve ser vencida para poder movimentá-la.
Imagine-se no futuro, o bisneto ao ser vovô sitiante ele também, poder transportar o adubo orgânico morro acima sem uso da
caçamba ou rastador e isto em uma forma, não só elegante, mas também não cansativa, nem para os animais e poder dizer que não
houve perda de elementos fertilizantes, nem durante o transporte nem pela decomposição e recomposição. Mas sejamos discretos e
contentes com os nossos meios razoavelmente econômicos, para a época atual, deixando-se para as gerações futuras a avaliação
acertada das suas possibilidades.

Figura 56 — Pensamento — Entalhe de madeira. (ver descrição na página ao verso desta).

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É de se almejar, deles poderem aproveitar de muitas novas formas de energia sem arruinar o ambiente e a natureza cuja
conservação inteligente, deve ser a tarefa número um de todos em geral e de cada povo em particular, recuperando-se o quanto
puder ainda recuperar-se dela, que foi tão danificada pela ação dos grandes destruidores com as suas máquinas pesadas e potentes.
Estes construtores de cidades imensas, parecem não se conscientizar do fato de provocar nelas o desequilíbrio climático ambiental,
ocorrendo nelas só estiagem de seca prolongada, ou chuvas torrenciais destruidoras, isto em lugares onde no tempo passado, podia-
se contar com as chuvas veraneias, muito mansas, tão favoráveis ao crescimento das plantas.

DESCRIÇÃO EXPLICATIVA DO QUADRO “PENSAMENTO”

O homem encontra-se dentro das forças da natureza, formando um todo com elas, considerando-se a matéria, como uma forma
estática de forças dinâmicas, fato resultante dos quantas.
Porém, não se pode ver todas as coisas, com os olhos físicos e senti-Ias, em princípio só pelas percepções corporais, é
necessário de se abrir o olho do espírito que enxerga muito mais e muito além das coisas que podem vibrar, não só em nossa faixa
de ondas, mas em muitas outras também.
De uma filosofia oriental, temos cinco elementos principais que levam a um círculo fechado, no qual podemos incluir uma
estrela pentagrâmica, chegando-se ao seguinte raciocínio:
— a madeira alimenta o fogo, mas come a terra;
— o fogo produz terra, porém, destrói o metal;
- a terra produz metal e absorve água;
- o metal produz água, mas destrói a madeira;
— a água produz madeira, mas apaga o fogo.

Demonstra-se assim com nitidez, as ações e reações, benéficas e maléficas em um conjunto todo, cujos elementos têm de
coexistir, como o bem e o mal, até pela ajuda mútua, voluntária ou involuntária.
E mesmo, neste mundo, o homem mexe com as forças da natureza, querendo salientar algumas e reprimir outras, mediante os
seus conhecimentos, que ele classificou em religião e filosofia, desde fábulas até raciocínios dos mais temerários, esquecendo-se às
vezes, de que a harmonia resulta do equilíbrio dos contrários. Ora, a sua fé, parece em oposição com a ciência, deixando assim cada
indivíduo com a sua consciência que tem do apelar para a razão. Pode-se dizer de que o limite entre o normal e o extravagante é
indefinido, mas no processo de avaliação individual, ele se torna possível, visto que tudo é só radiações e ondas desde o pensamento
e até a matéria, seja como componente, ou seja como forma, em vida ou depois da morte.

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Quem o entender, admirar-se-á das suas possibilidades e de todas estas coisas boas e bonitas, porém, não encontrando palavras
certas para comunicá-las aos outros, muitos preferem o silêncio do êxtase e vão se calando para sempre, em admiração e respeito,
não se incomodando em que faixa de ondas eles vibram no presente e vibrarão no futuro.
E para os mais intrigados em conhecer o porque dos efeitos climáticos ambientais, anoto a seguir como surge ao nascer do sol, a
geada branca nas baixadas em dias de inverno.
O sol nascente aquece as camadas superiores do ar que se eleva, originando assim uma depressão na baixada. Não foi
considerado nesta explicação a influência da unidade relativa do ar, nem os efeitos secundários de radiação, admitindo-se também
sem efeito a convecção por ser esta, neste caso quase desprezível.

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Por ser do mesmo domínio de raciocínio, anoto a seguir também um cálculo aproximado apaixonante para se ter uma idéia da
ordem de grandeza de algumas forças da natureza, que nos circunda, quando da formação de um temporal. Para se compreender o
fenômeno da formação da chuva, é suficiente saber que no ar, temos sempre umidade em grau variável, que se exprime em
porcentos de umidade relativa e que é possível de se determinar mediante vários instrumentos, sendo o mais preciso o psicrômetro
composto de dois termômetros, um com o bulbo seco e o outro com o bulbo molhado mediante um pavio que emerge em um
recipiente de água. A diferença dos valores de temperatura indicados pelos dois termômetros é função da umidade relativa do ar,
sendo os respectivos porcentos indicados em uma tabela adequada.
Quando a umidade relativa do ar, alcança 100%, temos a formação de gotas, quer dizer condensação do vapor de água no ar
(este efeito é chamado de ponto tau (T)).
Não faço aqui esta descrição para atrapalhar a vida do sitiante com reflexões pesadas, não; é mais para incentivar o pessoal a
compreender os fenômenos naturais, porque no campo, todo mundo percebe pouco tempo antes de cair uma chuva pesada, que o ar
fica com teor de umidade elevadíssimo, chegando logo à saturação, momento no qual se pode admitir a formação de um grama de
água (forma líquida), para cada metro cúbico de ar e para cada grau centígrado de diminuição da temperatura (entre os valores
limites de mais ou menos 10 a 35º C).
Um exemplo vai permitir de melhor assimilar o raciocínio deste fenômeno: Admitindo-se uma destas nuvens, das boas, de 15
km por 10 km e com 2 km de altura no ar, temos um volume de (15.000 X 10.000 x 2.000) m3 (metros cúbicos), o que expressado
em potência de dez, equivale a =
15 x 108 x 2 x 108 x 108 x 108 = 300 x 109 m3 de ar, quase saturado de umidade a 100%.
Se a temperatura desta nuvem baixar de 30ºC para 20ºC, teremos então a liberação de:
300 x 109 x 10 gramas de água = 3 x l012 gramas.
Como o litro de água é igual a um decímetro cúbico (dm3), que vale 1 quilograma ou sejam 1.000 gramas, libera-se de fato
nesta nuvem a quantidade de (3 x 1012) / l08 = 3.109 litros, ou sejam três bilhões de litros de água que vão cair sobre a terra em uma
determinada área, cujo comprimento é dado pela velocidade do vento e com a largura mais ou menos igual à largura da nuvem.

280

Com um vento de só 30 quilômetros horários, para a faixa envolvida pela tal chuva de uma hora de duração, mais ou menos,
seria de se considerar a área de 15 km iniciais, aumentada de 1 X 30 km ou sejam 45 km de comprimento, vezes os 10 km de
largura, dando assim 450 km2.
Como um quilômetro quadrado é igual a mil vezes mil metros ou seja, um milhão de metros quadrados (1 x 106 m2), a
quantidade de chuva que cai por m2 é de 3.000 x 10/450 x 106 = 6,67 lit/m2.
Parece muita água, porém a altura desta quantidade de água, em cima do solo, seria pequena, ainda que se admitisse que não
houvesse absorção de água no solo.
Como 1 m2 é igual a cem vezes cem centímetros ou sejam, 10.000 cm2 e que 6,67dm3 são iguais a 6.670 cm3, teremos
6.670/10.00 = 0,667 cm de altura de água, o que corresponde a um índice pluviométrico de 6.67 mm. E com o resfriamento do ar de
30 para 10ºC, em vez de 20ºC, teríamos o dobro deste valor ou o triplo ao baixar a temperatura de 30 para zero grau Celsius.
Não quero incentivar todos a se tornarem peritos em assuntos climáticos, nem de querer aproveitar-se da energia elétrica dos
relâmpagos, porque é melhor desviá-la antes da formação do raio mediante uso de pára-raios eficientes em edifícios elevados.
Também parece que o cedro tem uma boa ação para descarregar a atmosfera, o que torna recomendável o seu plantio perto das
moradias e demais construções rurais. Até mourões verdes de cedro enraízam com facilidade em época chuvosa, o que favorece a
sua tão almejada multiplicação.
Uma curiosidade toda especial: o relâmpago não é tanto caro como parece, comparativamente com a energia elétrica a pagar,
conforme a indicação do medidor.
Um bom relâmpago de mil amperes com 60 K Volts de tensão, não tem durabilidade maior do que um décimo de milésimo de
segundo, o que dá em energia 1.000 x 60.000/10.000 = 6.000 Watt segundos.
Como um KW hora é igual a 3.600 Watts segundos, teremos 6.000/3.600 = 1,66 kWh.
Ao custo atual de mais ou menos Cr$ 8,00 o kWh, isto daria o custo do relâmpago de 8 X 1,66 = Cr$ 13,28. Se fosse rojão de
São João ao seu preço de venda, São Pedro iniciaria a fazer economias na previsão dos temporais!
Mas, nós sitiantes, não devemos opor-nos aos relâmpagos porque eles liberam uma grande quantidade de ozônio e de nitrogênio
no ar que assim fertiliza a terra e justifica o provérbio francês: Trovão de abril, enche o barril (de vinho pela fartura de uva), que no
Brasil deve ser reportado aos meses de agosto e setembro, quando floresce a uva. Podemos então dizer: Trovão de agosto dará muito
mosto e Trovão de setembro dará grande cacho.

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E não esquecer-se de que quando ocorre a floração da uva, é melhor ter alguns temporais em vez de dias de chuva contínua,
durante os quais se perdem muitas flores não fecundadas pela polinização em decorrência da chuva excessiva que as deslava.
Como não pretendo incentivar a maioria do pessoal a tentar aventuras científicas no campo, voltaremos à chuva cuja previsão é
possível pelo controle de alguns instrumentos: barômetro, termômetro e psicrômetro (medidor de umidade relativa do ar), ainda que
sejam de elaboração simples, porém, de precisão suficiente e de fácil leitura. Estes instrumentos devem ser montados em um
ambiente com ar externo e nunca expostos diretamente à radiação solar. A previsão do tempo em sítios é de grande utilidade em
especial em épocas de plantio e de colheita.
Não é sem razão que na Europa, ocorre entre bons vizinhos até pequenas apostas, aos custos de São Pedro.
De certo, são destas brincadeiras inocentes baseadas não só no grau de observação do barômetro, porém, muito mais, no
colorido do céu ao amanhecer e ao anoitecer do dia, como também no comportamento dos animais e das plantas que são muito
sensíveis às circunstâncias climáticas.
Vale lembrar que em caso de dúvida, os menos espertos contestam: quando o galo canta no esterco, muda-se ou vai como anda
o tempo!
Sim, do colorido do céu de manhã e à noite, é possível se prever se nos próximos dias, o tempo vai mudar:
- Ao anoitecer, o colorido rosa e vermelho é sinal de bom tempo, enquanto o amarelo-alaranjado é sinal de chuva.
— De manhã, o efeito é invertido, quer dizer, o colorido vermelho é sinal de chuva.
Agora, quando na época seca ocorre um colorido bem vermelho com fundo azul pálido, pode apostar que é a onda de frio que
vem aí e vai ter chuvisco, cerração e até chuva fria.
Do comportamento dos animais, o sitiante pode também aprender muitas coisas. Só dois exemplos: quando as galinhas não
querem se recolher ao escurecer à tarde, recolhendo-se as mais teimosas só quando a noite abre já o grandioso firmamento, é sinal
comprovado de mau tempo, em vista para os próximos dias.
Boiada disparada no campo e cavalos assustados durante horas, é previsão de temporal.

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Como já anotado, em outros capítulos, os animais são nossos companheiros, que muitas vezes sofrem mais do que nós, dos
caprichos do tempo e que, quando bem protegidos do frio, do calor e das tempestades, agradecem à maneira deles, com boa
produção, mansidão e docilidade impressionantes, de modo que o homem não pode se considerar sempre como rei sobre eles, não;
melhor é ser bom companheiro, porque em conseqüência do seu desenvolvimento e das suas faculdades, colocando-se em um plano
superior na natureza, ele não pode fugir das suas obrigações, para os outros seres da criação, fato de fácil esquecimento, devido ao
orgulho doentio que origina a destruição de muitas coisas boas deste mundo, com a famosa desculpa do desenvolvimento chamado
progresso, que muitas vezes e só regresso nos mais diversos setores considerados.
Filosofando mais um pouco, anotarei sobre a consideração realista desta natureza tão sublime e composta por elementos
infindos tão pequenos e tão grandes, que em si, não são outras coisas do que feixes de ondas, que vibram com determinadas
freqüências, que regem o universo todo, chega-se após dias de trabalhos rotineiros na roça, a se fazer de vez em quando um balanço
da sua posição real no meio de todos estes seres, procurando unir-se então a esta força mestre incontestável e incondicional que
abrange e engloba todos os seres vivos ou mortos, neste universo inteiro, não se importando com o nome que se lhe dá ou quer dar.
É como a abelha que hoje vibra com as suas asas, para refrigerar a colméia na qual é aplicada uma ordem régia, bem definida,
porém, sem leis escritas e sem editais de conveniência de determinada casta ao custo da maioria, indo depois vibrar em outra faixa
de onda, quando o seu tempo aqui, estiver no fim.
Também a reza da flor do campo, que de manhã, abre a sua corola ao levantar do sol, é muito mais sincera do que milhões de
rezas de ganância doentia e murmuradas com finalidade invejosa, porque a flor do campo é uma partícula toda especial desta
maravilha de natureza iluminada, acalentada, fortificada e sempre renascendo mais bonita pela luz e pelo calor do sol, que é em si
também só um componente material insignificante, comparativamente com este sol de verdade que rege o universo e ilumina a
inteligência, e que parece ser nada mais do que uma sombra emprestada ao domínio do esplendor infinito que abrange todos os
mundos visíveis e invisíveis, com as suas faixas de ondas quase que desconhecidas. Precisamos nos informar muito para sabermos
que não conhecemos ainda grande coisa deste domínio.
Mas, não seria de se negar a existência do sol, ainda que todos os homens permanecessem de repente cegos!
E até em terra de cegos, estes não têm obrigação de deixar ser rei aquele que tem um só olho, porque nesta natureza, até cego
sabe pela percepção do calor, se o sol brilha, durante o dia e o frio da noite não chega a ser para ele tão estranho, como para muitos
videntes, que várias vezes se esquecem de que para o verdadeiro universo, muitas das nossas expressões são supérfluas, não
existindo nem dia, nem noites, nem estações para os anos, mas uma só primavera, toda ensolarada em uma mistura de luz, calor e
umidade em grau favorável ao surgimento e ao crescimento de seres vivos, conforme as nossas sensações e as nossas classificações
em reinos, pelas aparências, de acordo com a avaliação humana. Mas mesmo assim, não seria de se negar a existência de outras
formas de vida e de natureza que vibrassem em outras faixas de ondas, até conjuntamente com aquelas faixas, que formam a
matéria, as forças e todos os efeitos que o homem considera como sendo do seu universo.

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Em vista de possíveis contatos mais generalizados com seres desconhecidos, no futuro no verdadeiro universo tão grandioso,
seria desejável para o progresso geral, de se considerar os conceitos e as expressões do homem atual, como formas passageiras na
sua evolução, porque a verdadeira relatividade é muito mais generalizada do que muitas pessoas poderiam pensar. É como uma neta
do vovô sitiante que lhe respondeu à sua pergunta sobre a tal de relatividade: Olha vovô, a relatividade é assim, como dizer que vou
viajar amanhã e voltarei ontem!
É tudo só um conceito de espaço e tempo, deixando cada um com a sua filosofia se quiser dizer espaço no tempo ou tempo nos
espaços, porque para quem tem sede, a medida certa do copo no qual ele vai beber água para se desalterar, pode ser pequena, média
e até grande, sendo, todavia, importante para a maioria de poder dizer de ter recebido um copo bem cheio, sendo isto relativo, assim
até na própria escolha do copo, porque não adiantaria querer presentear com um copo grande aquele que tem pouca sede, nem dar
copo fino para criança, sendo para ela, a canequinha mais adequada, por não ser quebrável.

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Não resta outra alternativa que a de se desejar a todos, de poder escolher e receber sempre o copo mais adequado e bem cheio
deste fluído composto de ondas para avivar a inteligência a ser posta a trabalhar para o bem comum universal, porque até o espírito
do homem é composto como o seu corpo, só de uma pequena porção de feixes de ondas, como as gotas desta água, não só dos
recipientes de tamanho tanto variado, mas também de todos os rios do mundo universal que deverão chegar a desalterar todos da
sede de união conjunta de todos os membros de todos os sitiantes, formando-se assim uma só grande família. Será como ir todos
juntos, até banhar-se tanto de corpo e alma, como em espírito e verdade em um rio de água cristalina que atravessará as “terrinhas
do “Vovô-Sitiante-Eterno”, não para dividir, mas para unir todos os seus descendentes, sem distinção de formas, raças e cor (vide
ilustração “Coral”).

Figura 57 — Entalhe em madeira. Título: “Coral”. Todos são convidados a participar, sem distinção de credo, raça ou cor, O
que importa é a boa vontade bem sincera de ajudar na reconstrução deste Éden tanto terrestre como celeste, nestas terrinhas do
“Vovô-Sitiante-Eterno”.

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ÍINDICE
Descrição Explicativa da Capa do Livro - VIII
1º Item — Prefácio – 1
2º Item — Anotação Importante – 4
Escolha do Lugar e das Terras para a Formação de um Sítio – 4
3º Item — Formação das Parcelas Escolhidas – 7
4º Item — Escolha dos Animais a se Criar em Sítio – 13
5º Item — Adestramento de Animais – 20
6º Item — A Esterqueira e o Adubo Orgânico Artificial – 22
7º Item — Pequenos Animais Domésticos – 27
8º Item — A Horta e o Pomar com Apiário Rústico – 33
a) A Horta – 33
b) O Pomar – 40
c) Apiário Rústico – 44

9º Item — Cultivo de Gêneros de Primeira Necessidade – 50


9.1 — Arroz – 50
9.2 — Feijão – 52
9.3 — Batata – 53
9.4 — A Mandioca - 56
9.5 — Milho – 59
10º Item — Cultivo de outros Cereais úteis em Sítios – 63
10.1 - Adlay ou Trigo Sarraceno – 63
10.2 — O Centeio – 65
10.3 — Aveia – 69
10.4 — Amendoim – 70
105 — Colza – 71
10.6 — Trigo – 74
10.7 — Outros Cereais -75
11º Item — Algumas Observações Gerais Relativas à Adubação das Culturas – 76
12º Item — A Bananeira – 78
13º Item — Aproveitamento do Leite Produzido em Sítios – 81
14º Item — As Principais Ferramentas de Uso no Sítio – 93
1. — Enxada – 94
2. — Enxadão – 95
3. — Foice – 95

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4. — Machado – 96
5. — Serra de Arco, Trançadeira; Serra Motorizada – 100
6 — Podão – 109
7. — O Alfanje – 109
8. — A Cavadeira – 109
9. — A Pá-Vanga – 109
10. — A Forca-Vanga -109
11. — A Forca de Quatro e de Três Bicos -109
12. — O Gancho – 110
13. — O Gancho de Arrancar Batata – 110
15º Item — Mecanização em Escala Reduzida em Sítios – 112
16º Item — Disciplina no Trabalho do Campo – 127
17º Item — Cozinha, Pratos Simples e Saudáveis – 131
18º Item — Alguns Remédios Caseiros de Grande Utilidade e Fácil Aplicação – 138
19º Item — Economia no Campo. Balanço Periódico – 150
20º Item — Lidar com Dinheiro e outros Valores -178
21º Item — Agrupamento das Construções Rurais, Simples e Funcionais em Unidade Fechada – 184
22º Item — Biodigestor para a produção de Gás em Sítios e Fazendinhas – 188
23º Item — Produção de Álcool em Sítios e Fazendinhas – 195
24º Item — Gasogênio para Grupos Geradores, Automóveis, Caminhões e Tratores – 199
25º Item — Alguns Componentes de Utilidade nos Sítios – 203
A) Dinamite – 203
B) Utilidade do Rami, fora de Forragem – 205
C) O “cavalinho-morsa” – 209
26º Item —Considerações Relativas à Vida “Do Sitiante” em Geral – 212
27º Item — Propostas para Possibilitar a Volta ao Campo de Pessoas Modestas, sem Condições de Comprar Terras – 229
28º Item — Sugestões de Possíveis Atividades Paralelas às Usuais em Sítios – 240
29º Item —Considerações de um Sitiante, Relativas aos outros Sitiantes, até de Outros Países e Continentes – 254
30º Item — Reflexões de um Sitiante sobre o Futuro da Humanidade neste Grande Sítio chamado Terra dos Homens – 258
31º Item — Consonância dos Esforços da Humanidade com as Forças da Natureza – 273

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