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divisao-no-fundamental-1
Publicado em NOVA ESCOLA 30 de Agosto | 2021

Matemática

Como trabalhar a divisão


nos Anos Iniciais
Conheça estratégias para introduzir e avançar na
compreensão da operação
Selene Coletti

Crédito: Getty Images


Tom Jobim cantou “pra que dividir sem raciocinar”. É isso que precisamos ter
em mente quando estudamos a divisão com nossas turmas. Devemos entender
operação para não a realizar de forma mecânica. Pessoalmente, posso dizer
que percorri um longo caminho até saber fazer esse trabalho.
Dividir é algo que as crianças vivenciam desde sempre, seja nas brincadeiras ao
organizar os times para poder brincar, na distribuição das peças de um
determinado jogo ou mesmo de uma quantidade de brinquedos, folhas, doces,
frutas, massinhas, etc. São diferentes exemplos de situações cotidianas de
dentro ou fora da escola.
Aproveitar estes momentos – e estes conhecimentos - é de extrema
importância para que a turma possa construir a ideia de dividir desde a
Educação Infantil. Dessa forma, quando o algoritmo for introduzido, o aluno
compreender o que está fazendo, o que está por trás.
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Mas quais as ideias da divisão?


Na divisão temos duas ideias a da distribuição e a de medida. A primeira
envolve a repartição equitativa. Por exemplo, quando tenho 16 figurinhas para
separar entre 2 crianças e quero saber quantas figurinhas cada uma irá
receber. O todo (no caso 16 figurinhas) é dividido em um número de grupos
pré-estabelecido (2 crianças) e é preciso descobrir quantos elementos ficarão
em cada um (quantas figurinhas cada criança irá receber, nesta situação são 8
figurinhas).
A segunda ideia – de medição – está relacionada com a noção de “quantos
cabem”. Por exemplo: tenho um pedaço de papel de 30 centímetros e quero
fazer marcadores de 5 centímetros. Quantos marcadores consigo fazer? Nesta
situação, quantos marcadores de 5 centímetros cabem no papel de 30
centímetros? Ao fazer a divisão, descobrimos que caberão 6 marcadores. O uso
da reta numérica irá ajudar bastante na compreensão desta ideia. Confira aqui
um plano de aula para trabalhar essa noção com o 3º ano do Fundamental.
O professor precisa saber qual ideia quer trabalhar para planejar boas
situações-problemas e intervenções que permitam aos alunos a construção dos
conceitos.
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Como introduzir o algoritmo


Os algoritmos na divisão são introduzidos, de acordo com a Base Nacional
Comum Curricular, somente a partir do 4º ano como pode ser visto na
habilidade: (EF04MA07) Resolver e elaborar problemas de divisão cujo divisor
tenha no máximo dois algarismos, envolvendo os significados de repartição
equitativa e de medida, utilizando estratégias diversas, como cálculo por
estimativa, cálculo mental e algoritmos.
Antes, devem ser propostas situações-problemas variadas nas quais os alunos
podem resolver utilizando estratégias e registros pessoais. Por exemplo, a
habilidade prevê que a criança seja capaz de (EF03MA08) Resolver e elaborar
problemas de divisão de um número natural por outro (até 10), com resto zero
e com resto diferente de zero, com os significados de repartição equitativa e de
medida, por meio de estratégias e registros pessoais.
Por isso, é de extrema importância, antes de trabalhar com o algoritmo, levar
situações-problemas envolvendo as ideias da divisão que possam ser resolvidas
de forma concreta utilizando materiais de contagem ou solicitando o registro
por meio do desenho, por exemplo.
Um exemplo de uma situação-problema: Vilma foi visitar seus 5 sobrinhos e
levou 15 pirulitos para dividir igualmente entre eles. Quantos pirulitos cada
criança recebeu?
Veja que o aluno fez o desenho dos pirulitos, das crianças e depois a
quantidade que cada um recebeu.

Crédito: Reprodução/Acervo pessoal


Proponha outras situações com quantidades que sejam possíveis de serem
resolvidas utilizando o desenho. Depois traga uma situação na qual a
representação por meio do desenho torne a resolução mais trabalhosa. Por
exemplo: como dividir igualmente um pacote com 120 bolinhas de gude entre 5
pessoas.
Veja o trabalho que deu quando um aluno desenhou as bolinhas distribuídas
nos 5 pacotes.

Crédito: Reprodução/Acervo pessoal


Já este outro encontrou um jeito mais prático para representar: utilizou o
número 20 em cada saquinho e faz as 4 marcas completando as 24 bolinhas.
Em relação a representação anterior, este está um pouco mais evoluído.
Questionar como ele chegou no 20 irá ajudar a entender como ele está
pensando e fazer novas intervenções.

Crédito: Reprodução/Acervo pessoal


Na sequência, você poderá propor que utilizem o material dourado para
realizar outras situações-problemas envolvendo a divisão, pois assim reforçará
a compreensão do que estão fazendo.
Outro ponto importante, como já conversamos outras vezes aqui, é garantir o
espaço para os alunos compartilharem as estratégias que usaram para
resolver. Além de permitir circular diferentes informações ou jeitos de pensar,
irá te mostrar o que já dominam e o que ainda precisam saber. Neste
momento, sua observação fará toda a diferença, pois lhe dará informações
importantes para planejar as próximas propostas.
Como avançar
Ao longo do meu percurso usei diferentes estratégias. Posso dizer que a
divisão por estimativa é a que torna a divisão mais fácil, que melhor permite
ao aluno compreender o processo e o próprio algoritmo.
A estratégia utiliza o cálculo mental e tem por base a ideia de que dividir é
efetuar subtrações sucessivas. Por exemplo, vamos pegar a proposta de dividir
as 120 bolinhas de gude entre as 5 crianças. Inicialmente, quantas bolinhas
posso começar distribuindo para cada uma das 5 crianças? O aluno terá que
estimar a quantidade. Ele poderá dizer que apenas 1, 4 ou 5. Se utilizar o
conhecimento de tabuada – no caso do exemplo, a tabuada do 5 – poderá
estimar quantidades maiores como 10 ou 20 bolinhas.
Confira uma sequência didática com a ideia de divisão por estimativa

Conforme o aluno for se apropriando do algoritmo, você poderá delimitar o


espaço no caderno para a realização da divisão o que fará com que a turma
estime quantidades maiores.
A prática me mostrou que trabalhar a divisão por estimativa requer estabelecer
parcerias com toda a equipe escolar e com as famílias. Antes de introduzir para
os alunos, na reunião com os responsáveis, realizava uma oficina de divisão de
como iria trabalhar com as crianças com o objetivo de compreenderem o que
seria feito evitando ruídos na comunicação e garantindo uma linguagem
comum. Os frutos colhidos eram sempre os melhores, sem contar que a turma
sempre conseguia fazer qualquer divisão.
E você, utiliza a divisão por estimativa? Conte para mim aqui nos comentários.

Um abraço e até a próxima,


Selene
Selene Coletti é professora há 40 anos na rede pública. Atuou na Educação
Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016,
foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor
Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de
Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o
Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como
coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora
da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da
EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.

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