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Jogar xadrez exige preparo físico

Xadrez já faz parte do currículo de escolas públicas dos estados de Minas Gerais, Pernambuco, Brasília, Mato
Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Paraná
Por Nuno Cobra

Aplaudo muito a idéia de ver o jogo de xadrez inserido no currículo escolar em vários estados brasileiros.

O xadrez é realmente um excelente exercício para o cérebro e exige muito das emoções. A pessoa adquire um
senso muito prático de organização, concentração e desenvolve de forma muito especial a memória. O xadrez
trabalha a imaginação, memorização, planejamento e paciência.

Nas escolas do primeiro mundo, o xadrez já é praticado há décadas, onde os alunos além de todo esse
desenvolvimento citado, melhoram muito sua disciplina, relacionamento com as pessoas respeito às leis, às
regras...

À primeira vista o xadrez parece ser apenas um esporte que atua sobre o cérebro, mas desempenha uma função
muito importante no desenvolvimento do corpo emocional. O que aliás é básico para o desempenho competitivo
de um jovem enxadrista.

Esse esporte possui a vantagem de trazer a pessoa para um contato mais próximo consigo mesma, porque mede
suas capacidades de maneira muito concreta. Mais do que em qualquer outra modalidade, ela se dará conta da
necessidade de alta concentração. Ela perceberá que quando se distrai, acaba fazendo um lance absolutamente
errado, que não faria nunca, se estivesse mais concentrada.

O xadrez é um esporte muito amplo, pois o cérebro 'maquina' o tempo todo e assim abre outras áreas de
programação mental de raciocínio, ampliando as conexões inter-neurais.

O que pouca gente sabe, é a relação entre o grau de desempenho cardiovascular e a performance competitiva
neste esporte, porque todos imaginam que ele exige apenas do cérebro.

É justamente por exigir tanto da mente, das emoções e dos sentidos é que se torna necessária uma grande
eficiência cardiovascular para se ter uma boa performance.

Quanto mais alto o nível da competição, mais clara se torna essa relação. Uma bomba ejetora mais plena (o
coração) colocará nas células do cérebro uma quantidade maior de oxigênio. Esse cérebro mais oxigenado
possibilitará maior eficiência, maior lucidez e, principalmente, maior velocidade do pensamento, de
interpretação e reação aos movimentos complexos presentes no xadrez.

Assim quem está pensando em melhorar sua performance neste magnífico esporte, busque de maneira
sistemática realizar atividades cardiovasculares (caminhar, correr...) que possam ampliar as possibilidades de
oxigenação cerebral.

Na minha juventude eu era bastante apaixonado por esse esporte. Pude assistir embates históricos,
principalmente durante a guerra fria onde politicamente o Leste e o Oeste se debatiam pela supremacia
intelectual. Na época, ficou muito claro e dito pelos próprios campeões o quanto a sua forma física implicava
diretamente na sua performance. Em alguns combates históricos esses campeões declararam enfaticamente a
dificuldade que eles encontravam de resistir, dia após dia, ao violento embate e, ao final, acabava superando o
adversário aquele com maior capacidade e resistência cardiovascular, que fornecia ao atleta um desempenho na
última disputa, parecido com o da primeira. Além do lastro de oxigênio fundamental ao pensamento e aos
hormônios estimulantes, havia uma atitude mental positiva que nesse altíssimo nível fazia a diferença.

Hoje o famoso campeão de xadrez russo Garry Kasparov tem que se envolver num expressivo treinamento
cardiovascular e muscular localizado para manter a sua forma e continuar tornando-se altamente competitivo.

Em demonstrações com enxadristas brasileiros Kasparov conseguiu performance assustadora, mas sabe que terá
poucos anos pela frente, uma vez que o trabalho físico é cada vez mais exigente para manter o nível de
competição.

Esta é uma demonstração concreta de quanto o desempenho do corpo físico favorece essa concentração máxima,
de não cometer nenhum erro, e o quanto o corpo é dilacerado e agredido nesse nível de competição.
Nuno Cobra é formado pela Escola de Educação Física de São
Carlos e pós-graduado pela Universidade de São Paulo. Foi
preparador físico de Ayrton Senna, Mika Hakkinen, Rubens
Barrichello, Abílio Diniz entre outros. É autor do best-seller A
Semente da Vitória

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