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RODA DE CONVERSA: MÍDIAS DIGITAIS

Proposta da atividade: discutir o uso das redes sociais e os impactos no comportamento,


nas emoções e na saúde mental. benefícios, malefícios e possibilidades de uso saudável
das redes sociais.

Público: adolescentes do acolhimento

Momento inicial: transmissão do episódio “nosedive” da série Black Mirror

Roda de conversa:
Perguntas disparadoras:
O que acharam do episódio? vocês acham que tem alguma proximidade com a realidade?

Como é para vocês utilizar as redes sociais?

Vocês seguem influenciadores? vocês consideram que os posts deles tem impacto sobre
vocês? vocês percebem esses impactos são mais positivos ou mais negativos?

Confecção de cartaz: solicitar as participantes escreverem em um papel como as redes


sociais podem ser usadas de forma positiva e em outro papel quais são os riscos e como o
uso pode fazer mal.

ANOTAÇÕES SOBRE O EPISÓDIO NOSEDIVE:

O episódio Nosedive ou Queda Livre (em tradução livre) trata bem de uma realidade vivida
por muitos na era digital das redes sociais, uma forma alienada de viver um mundo perfeito,
onde essas redes sociais influenciam fortemente o comportamento humano, os fazendo
agir como verdadeiras marionetes de um sistema. As pessoas vivem realidades que não
existem, apenas para satisfazer os egos e poder conviver num mundo dito perfeito.
Nesse mundo, uns tem acesso a diversas informações sobre os outros, o que torna a
confidencialidade mínima diante de tamanha exposição.

As avaliações fazem com que os indivíduos se tornem obcecados por lhe serem atribuídas
notas e mais notas boas, sobre popularidade, avaliações que transformam essa busca
desenfreada numa compulsão doentia por aceitação.
Black Mirror é considerada uma das melhores séries da televisão que, em vez de nos
hipnotizar e nos fazer esquecer o mundo que nos rodeia, nos motiva para que sejamos
mais críticos com a nossa realidade cotidiana. Não é uma série usual, não há conexão entre
os episódios, ou seja, um episódio é diferente do outro, não tem continuação, não há razão
para vê-la em ordem, nem nos força a fazer uma maratona de horas. Às vezes, ela é difícil
de digerir. Hoje viemos aqui para trazer um episódio da terceira temporada, intitulado
Nosedive.

Este é um capítulo que, apesar de futurista, nos lembra enormemente do mundo em que
vivemos hoje. Isso não é algo diferente em Black Mirror, porque como o próprio criador,
Charlie Brooker, indicou em mais de uma ocasião, sua inspiração não vem da fantasia, mas
da nossa própria contemporaneidade (a realidade em que vivemos).
Nosedive lembra muito a invasão das redes sociais que vivemos hoje e faz com que
tomemos consciência de quão perigosas e irreais elas podem ser.
O episódio da série da Netflix é protagonizado por Bryce Dallas Howard no papel de Lacie,
Nosedive nos apresenta um mundo perfeito, onde não há um mundo cinza e tudo tem tons
pastel, das roupas até as casas e móveis. Tudo é maravilhoso e idílico (longe da realidade)
neste futuro não tão distante. No entanto, assim como nas redes sociais, esse mundo
esconde um rosto muito amargo.

Lacie, a protagonista desta história, desse ecossistema em que as pessoas são medidas
por sua popularidade em um aplicativo muito semelhante ao Instagram, onde 0 é a
pontuação mais baixa e 5 é a máxima. Por meio das classificações dos outros e a rede de
amigos, você pode conseguir um emprego melhor, comprar um apartamento e obter um
grande número de benefícios e em caso de notas baixas, ocorrem os prejuízos. O que
aconteceria se levássemos totalmente a sério o que vemos no Instagram? O que
aconteceria se começássemos a classificar as pessoas por sua popularidade em uma rede
social? Ficam essas perguntas no ar.

Essa série, mais uma vez, nos lembra da face mais oculta do nosso mundo atual. Coloca
diante dos nossos olhos uma verdade que conhecemos, mas que parecemos ignorar, por
outro lado, ao passo que se mostra uma realidade feliz, de um conto de fadas, vemos uma
realidade falsa, na qual não existem perfeições.

Sobre o episódio, o que há por trás da perfeição?


Todos os dias temos como ações consultar redes sociais como Facebook, Instagram,
Twitter, todos têm suas preferências, mas é indiscutível que as redes sociais se tornaram,
em pouco tempo, parte de nossas vidas. É praticamente impossível ficar mais de 30
minutos sem checar as redes e ver quais interações estão acontecendo. Elas são a imagem
que queremos dar ao mundo, o que gostaríamos de ser, mas não somos; a melhor face da
nossa vida diária, uma vida editada, pois mostramos apenas aquilo que desejamos que
vejam de nossas vidas.

O aplicativo estrela, mostrado na série, serve para qualificar pessoas, ou seja, suas ações
geram reações dos outros e, com base nessas reações se mede a popularidade, o nível de
benefícios que são proporcionados bem como o que pode ocorrer com uma baixa reputação,
o que é bem parecido com os likes do Instagram dentre outras redes sociais, com a
diferença de que esses pontos são pontos sociais, funcionam além das redes e determinam
sua vida na realidade.

Lacie é uma jovem popular, embora não seja da elite, tem um bom emprego, mas sua vida
poderia ser muito melhor. Ela está completamente viciada na rede social e constantemente
tenta capturar a atenção de uma velha amiga de infância, Naomi, uma bela jovem com uma
vida perfeita que está prestes a se casar. Essa busca incessante por se tornar uma garota
da elite torna sua vida em uma verdadeira compulsão por likes, o que faz com que cresça
a busca pela aprovação da sociedade.

As votações podem ser públicas ou anônimas e a repercussão de ter uma classificação


ruim pode ser devastadora. Por esse motivo, todos os habitantes deste mundo tentam se
comportar de acordo com as regras, são gentis e fingem ser “perfeitos”.

Pensemos por um momento no Instagram, nas contas que seguimos, nas contas mais
populares… todas elas estão cheias de uma falsa felicidade, de uma beleza dolorosamente
perfeita; o que aconteceria se transferíssemos isso para a vida real? Podemos testar uma
infinidade de filtros para sair bem em uma foto, podemos medir tudo que publicamos, mas
não podemos agradar a todos no nosso dia a dia.
Nosedive supõe mover os códigos de nossas redes sociais para o mundo real, onde não
apenas agiríamos falsamente tentando agradar e mostrando nossa melhor face, mas esses
likes que recebemos no Instagram ou no Facebook serviriam para determinar nossa
posição social.

Em Black Mirror, todos agem corretamente com os outros, com uma cordialidade que
incomoda porque, no fundo, sabemos que não é real, é puro egoísmo. Eles não tentam
agradar ou ajudar, mas tentam melhorar sua própria imagem.

Naomi propõe para Lacie ser sua dama de honra no casamento, Lacie aceita sem hesitação,
apesar da insistência de seu irmão, que lembra que Naomi lhe fez muito mal no passado.
Lacie precisa ir a esse casamento porque estará cheio de pessoas com pontuações muito
altas, e poderá conseguir o 4,5 necessário para poder financiar o apartamento em que está
interessada. Naomi, por sua vez, não convida Lacie por ser uma boa amiga ou para
compartilhar memórias de infância, mas faz isso porque acha que pode ser interessante
trazer uma amiga da escola com um 4.2. Ninguém age de verdade, ninguém pensa no outro,
só existe o “eu” e a imagem que projeto do meu “eu”.

Deixando de ser escravos


Esta extrema preocupação com a imagem, com a nossa projeção para o mundo, nos lembra
muito da nossa realidade. Nosedive não é improvável e certamente nos lembra de situações
vividas por nós mesmos.

Sempre queremos compartilhar imagens de uma deliciosa refeição, de uma noite


maravilhosa com amigos, de uma viagem inesquecível, de um simples café num terraço…
medimos absolutamente tudo o que publicamos, pensamos em quem verá e no que irão
pensar os demais.

Vivemos em um mundo que cada dia é um pouco menos humano e mais tecnológico, mas,
felizmente, ainda mantemos contato, o contato diário com os nossos colegas e amigos, e
temos um pequeno espaço onde podemos ser nós mesmos.

Todos sabemos o que queremos ser, alguns até têm alguém para imitar. Mas é realmente
o que queremos? Ao longo do episódio, observamos como a personalidade de Lacie é
extremamente condicionada, não escolhe sua comida, come o que é socialmente bom; ela
não gosta do biscoito que vem com o café, mas finge que sim. Este condicionamento, esta
nova forma de interagir e a falsidade extrema fazem com que os personagens não sejam
capazes de lidar com um conflito, de dizer o que pensam, por medo de reduzir sua
pontuação.
Black Mirror nos mergulha magistralmente em um baile de máscaras contemporâneo, de
filtros na vida real, onde tudo é cor pastel, tudo é aparentemente perfeito, mas ninguém é
feliz na realidade. Ninguém pode ser tão feliz, ninguém pode ser feliz sempre e ninguém
pode adorar todo mundo.

Este Instagram extremo, juntamente com o convite para o casamento, fará Lacie se tornar
obcecada com a popularidade, algo que será truncado por uma série de acontecimentos
imprevistos que levarão Lacie a ser ela mesma, a deixar de lado a máscara, se tornando
humana.
É humano ter sentimentos, não pensar igual ao próximo, é humano expressar a raiva. Mas
neste mundo tão perfeito, o humano não tem lugar. A queda de Lacie é nada mais que uma
libertação; ela acaba na prisão, mas está livre.

Não são as paredes que a oprimem, foi a sociedade e, uma vez fora, pode finalmente gritar,
pode ser ela mesma. A cena final em que Lacie “perdeu a cabeça” quando percebe que já
não tem mais seu celular e entra em um loop de gritos com seu companheiro de prisão é
uma cena libertadora, esperançosa. Não há prisão maior do que nós mesmos, não há maior
escravidão do que um mundo desumanizado.

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