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tales jaloretto
editora Urutau
primeira edição
2020
editora Urutau
www.editoraurutau.com.br
contato@editoraurutau.com.br
[editores]
tiago fabris rendelli & wladimir vaz
[revisão]
debora ribeiro rendelli
[capa & diagramação]
victor prado
© jaloretto, 2020.
jaloretto, tales
J26a aprendi a voar quando fui empurrado do precipício / tales jaloretto.—
bragança paulista, sp : editora urutau, 2020. 70 p. ; 14cm x 19,5cm
ISBN 978-65-87076-47-8
CDD 869.1
2020-1779 CDU 821.134.3(81)-1
[9] sinopse
sinapse
cerebelo
lobo temporal
lobo frontal
lobo occipal
hipocampo
lobo parietal
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7
*
* *
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sinopse
9
SINAPSE
poema protesto para brincar de ser fernando pessoa
entre, criatura
cria dura!
c(q)ue ardor te criar
se ri, criatura
só eu te curo: da ira do criador
do treme na cintura
não grato, crasso?
no, atura!
então cria a tua...
entre criador e criaturas
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iii. ode a vinícius
calor ènxame
se for, me chame
se nua, me ame
amor que ressoa, sua
que soa, assua, assoa
ressoa palavra:
juntada, rimada, molhada, mimada
me mima, te mimo, te amo
v. era...
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CEREBELO
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estrofes soltas
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LOBO TEMPORAL
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entre mim e tu, me-te(-se)(-)lhes o a
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LOBO FRONTAL
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tanto quanto tempos esses de explicar o óbvio;
tanto mais, ter palavras simples um aquariano!
tempo....óbvio
templo......vil
.... porra...........*.....*.....*......’’’...
foda-se
...
oblitero-me!
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metamorfose
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o que fez para preencher seus vazios
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sob a porta torta do ano que se viu
ou por entre qualquer batente
só se é quando se atravessa
antes dela
são somente sementes
teorias e academias!
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olhos sobre trela
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quiça quererá
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ilógico quadro imortal
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mas serei nada migalha pó cósmico
miserável insólito
não casei não pari sem bem algum
neguei tudo neguei todos
e me nego ter negado tanto
mas era imperdoável
mas era insuportável dizer sim
aceitar sim assim
nem que sonha travado travesso
pergunta por que por que por que por que
permites tu que exista alguém assim?
qual a função de um micróbio com cérebro lagosta?
que parte paradoxo lhe faz tanta graça?
a garça o cisne o óvulo
que raios me partam
ao centro mentecapto
ferrolho maldito viril
que carpa capta capataz
marujo singelo hemorrágico
letrado robusto escorbuto
na prenda num prêmio carnudo
ilógico carranca corcunda
sê fácil sê goste nem viu
palhaço sem graça sem grana imoral
maloqueiro! ouvi hoje
sou rota maloca
sou nobre falido
azul sem sentido
ferrugem gasosa nutrido
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te cale te cale não fale
pra que te serve tudinho?
eu quero o escuro
se fecham as portas
tortas bagaças fundilhos
que vai que vem que virá
que lata que vinga
dor epitáfio longínquo
assopre-me bem rápido
sem nem ver
sem nem fazer sentido
fudido!?
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rolo compressor comprimido
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maus d’espírito, recusados e excluídos
doentes do coração:
uni-vos!
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quando a jornada inábil (de herói) se preocupa
como o humano monótono(ia)!
faz-me imortal
eu quereria
além-sopro, que
em rosto jazia
da parte leste, que
sol me comia
faz-me imortal
eu quereria
sacar os ranços
amor implacável
poder ser deus, que
mente escondia
faz-me imortal
eu quereria
mas na inábil
jornada de herói
só me mato a noite
e acordo com o dia
faz me imortal
eu quereria
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anta-logia cibernética: sobre como eu não sei fazer poesia
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vem, enfim, em mim, finito
vem perder-se em labirinto
velhas loucas, tempos roucos
ouroboros: etéreo ou morro
mito circo. rito círculo:
que torna, estorna. retorna e revira
me vira, mentira, saliva
respira. respira. respira
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LOBO OCCIPTAL
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sobre versos de pedra
as aranhas se instalam
em entradas de gruta
nas entranhas de puta
sob sol, sua cuca
caem dentes das bocas
nas vaginas do parque da luz!
na têmpora, as franjas
tem pedras, tem penas, tem plantas
tempera esperanças
nas vaginas do parque da luz!
poesia de pedras
lasca vida modernas
pára(lisa) pernas
pára(brisa) olhos
paralisa olhos
para abrir as pernas
nas vaginas do parque da luz
tem da grossa, tem da fina
nem menino, nem menina
cai da copa, na cozinha
suas folhas a chorar
ou as pernas que te cubra
o teu chão a palmilhar
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abre a bolsa e tem formigas
fecha bolsa e tu
formigas a carregar
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hoje a lua míngua. hoje!
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ser brasileiro
é...
foda, é fardo, é fado
somos de fino trato
de grossos modos
de ricos pratos
com pobres rindo
que mentecaptos!
nós somos tantos
e somos tontos
os poucos porcos
são uns escrotos
dores esparsas
força espartana
respiros sôfregos
de traquitana
faixas de gaza
desmascaradas
por gazes velhas
das barricadas
pra ser brasileiro
tem que ser...
povo
tem que ser ...
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polvo
tem que ser...
foda!
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sobre urubus e hienas
mariana chora
marias, françois, joãos também
tem barro na minha casa
tem sangue no meu portão
tem grade na minha escola
do cume, urubus saltitam:
— nunca vi tanta comida
tem hienas a regozijar:
— oras, claro, já era de se esperar!
tem planta que colhe bem
tem raiz que fica a sugar
minha pena virou refém
segue sem tinta a rabiscar
mas eu, eu mesmo
tenho um menino dentro de mim
que insiste em versar e dançar
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qu’em mim
tenho um que
queime-me!
menos um pra conta história
tem gente dando de ombros
urubus dando rasante
hiena gargalhando
vendo rolos a chamuscar
o que tem sua nação
senão seus causos
pra se lembrar
vai perdendo vai
já nem sei quem és ou sou
para alguém saber por mim
de pequeno, se perdido
e era muito
foi arte que me rumava
pra lembrar-me de onde vim
tão me enfiando na lama
pra eu ficar sujo
e nem tem água pra eu limpa
vai mudando vai, darwin falô
e vai treinando apneia
que debaixo d’agua
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na terra e no ar
tem mais carbono
que em ti
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mlp: museu da língua presa
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quem se importa?
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terra que sol sorri
e garrafa a assobiar
s’eu ara, seara, ceará?
ser tão seu, sertão
entre estrelas de negro abismo
sonoras têmporas e temperos
dai-me coxas sob mim
cole colo suculento
nucas nuas a salutar
que meu céu vá sucumbir
quando cútis a flamejar
adoro gotas que prisma céu
adoro partes de cristal chão
terra que sol sorri
e garrafa a assobiar
s’eu ara, seara, ceará?
ser tão seu, sertão
prestes a tombar moinhos
levando roupas, lavando trouxas
andou tanto que se perdeu
sujeito errante, por terras frouxas
que somem pés, que vento leu
são tantos moinhos a girar sol
areias mornas a tirar colo
no artifício de evocar horas
enquanto palhas vejo correr
na palhoça do tempo passar
um lugarejo a esmorecer
sobraram olhos, olhos cisternos
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memórias póstumas de d. quixote
desamassando coração de papel
terra que sol sorri
e garrafa a assobiar
s’eu ara, seara, ceará?
ser tão seu, sertão
quem se importa?
eu, eu me importo!
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neverland ou as (in)existentes faixas de gaza
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fui assaltado com um três oitão: R$ 3,80
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são coloridas, me trazem sorte
mas que com bomba inseticida
insisto ainda com borboletas
mesmo que sejam de mutação
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HIPOCAMPO
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quando chuvava em mim
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LOBO PARIETAL
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pão & azia
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tela branca em olhos mar
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some ou soma ou morra
deixe o menino
de olhos cisternos
a esconder rugas
de tanto chorar
deixe o menino
a costurar fios
dos pulsos cortados
de um mundo viril
que sem piedade
fez-lhe soluçar
deixe o menino
a desamassar papel
que virou o seu peito
só pra poder respirar
deixe o menino
que já perdeu a voz
de tanto gritar
de gritar para tudo
que o que faz tá errado
pois viu o futuro
a se esmoronar
deixe, deixe, deixe!
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22h22
corações difusos
dissonantes
em fusos consonantes
corações
constantes corações
confusos
“se nada nos salva da morte
ao menos que o amor nos salve da vida”
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desempregado coração autônomo
de sonâmbulo homework
raiou sem dó
desperta em pranto
entupiu canos
soprou venoso
suspira em sol
café sem pó
soluçou aorta
drenando tempo
batendo ponto
driblando vento
lavrando em pé
soçobra em extra
cobrindo outros
dispensou férias
seguro tirou-me
aposentadoria
mísero reembolso
transfunda soro
bombeia oco
preciso desaguar amar
desamar o mar
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desarmar escudos!
insuportável estacando poro
incabível indelével
inodoro
irrigou peitos secos
insólitas almas insustentáveis
recolhedor de espantos
gerúndios princípios
impessoais artigos
findando pretéritos
presentear futuros
rio insustentável
pesado aquífero fogo
amores líquidos
sólidos ódios
fazer borbulhas
livro...bulas...magia
me salva cura
somebody
preciso desaguar amar
desamar o mar
desarmar escudos!
acirrado impuro
indissolúveis óleos
vazios perdidos
olhos
pedidos
mendigos
barqueiro de águas profundas
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duas moedas: uma pra ida
outra pro fundo
pesca icebergs
desabar a rua
costura cola
corações partidos
amores mortos
guarda vida bombeia
afoga piratas
apita perigos
farol em torno girando infinito
guiando barcos por rios extintos
ao lado morro alto verde
abaixo pedras diversos calibres
alegres coitados fogos de artifício
sentado bravio coronário calado
areia remota dorme deserta
sombra coco gritando alto
vendo cola vendo
para corações feridos
casa palha almas plásticas
casa vidro sois invisível
sombra calçada: velho casal
farsa máscara puta praça
congela romance enrustido
catador de latas
acendedor de brasas
recolhedor de cacos
vidros
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corre correm
corre escondido
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yo quería escribir los versos más tristes esta noche
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afectar a mi pulsación
o es porque ya la encontré
aunque yo no la tenga
o porque yo soy de músculo
que en mi pecho rozó tanto
que de tanto palpitar, él se fortaleció
yo quería escribir los versos más tristes esta noche
pues quería ser neruda, pero sé que no lo soy, no!
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primeira edição
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