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camaleão
metapoesia
Edibrás
Gráfica e Editora
Uberlândia - MG - Brasil
2013
© 2013 - Mauro Sérgio Santos
CORPO EDITORIAL:
Graziela Giusti Pachane (Doutora em Educação pela UNICAMP)
Juraci Lourenço Teixeira (Mestre em Química pela UFU)
Kenia Maria de Almeida Pereira (Doutora em Literatura pela UNESP)
Mara Rúbia Alves Marques (Doutora em Educação pela UNIMEP)
Roberto Valdés Pruentes (Doutor em Educação pela UNIMEP)
Orlando Fernández Aquino (Doutor em Ciências Pedagógicas pela ISPVC - Cuba)
Luiz Bezerra Neto (Doutor em Educação pela UNICAMP)
Irley Machado (Doutora pela Université Paris III - Sorbonne Nouvelle)
Vitor Ribeiro Filho (Doutor em Geografia pela UFRJ)
Lidiane Aparecida Alves (Mestre em Geografia pela UFU)
Fernanda Arantes Moreira (Mestre em Educação pela UFU)
Bruno Arantes Moreira (Mestre em Engenharia Química pela UFU)
FICHA CATALOGRÁFICA
ELABORADA PELA EDITORA EDIBRÁS
ISBN: 978-85-99439-30-2
CDU B869.1
Contemplava o horizonte na
direção do contrário
Criava batalhas imaginárias
e entregava-se a elas
como um Quixote alucinado
Deixava-se ser!
Era guiado pela criança que o
acompanhava
Quando algo
aparece
do nada
é milagre
fazer alguma
coisa impossível
acontecer
é milagre
5
Então,
contar o que não existe
é milagre!
Portanto,
a mentira é um milagre.
A poesia é uma mentira
digo
um milagre.
e ponto.
7
8
Camaleão
Um homem que caminha com a morte a seu lado é mais
sereno.
Conhece o inferno,
recorda-se do céu,
mas prefere o chão.
10
Sempre-me
11
Tudo o que encontro
se
perde
me
esconde
me
prende
me.
12
Todo encontro
me
desfaz
me
desarma
me
deserda
me
desmente
me
desvela
me
desmonta-me
13
E vive-se sempre
muito!
depressa...
14
e sempre é tarde!
demais...
15
Autorretrato
Contrario-me na direção inversa ao oposto
Sempre que sigo, sem olhar pra trás
16
A criança que me acompanha
aponta a direção em que devo caminhar:
oposto o.
17
Ao “Homem de Barros”
Professorando-me a carrapato
de
longa
data
vivo
a
esmo
lá
18
O homem do cerrado
19
Desnudava-se em público
Fazia-se grávido de tudo que acariciava seus olhos
Tinha o tamanho do que via
Tornava maior aquilo que tocava
E biografava-se pequeno
Amava o próprio amor sem palavras e nomes
20
Contemplava o horizonte na direção do contrário
Criava batalhas imaginárias
e entregava-se a elas
como um Quixote alucinado
Deixava-se ser!
Era guiado pela criança que o acompanhava
21
Perseguia a grandeza do ínfimo
Apequenava a vida:
encantava-a!
22
Paisagem
não
sei
23
Nunca me encontro;
salvo
quando
disperso...
24
Há sempre
um horizonte
distante
que me acompanha...
25
O outro é o que me acusa de estar.
26
Tenho me exercitado bastante
na arte de chegar sem ser visto
e de partir sem me despedir.
27
Sempre que parto
levo comigo
um quarto
de mim.
Os outros ficam.
28
Quem parte
fica
com uma
parte
da saudade.
29
Quem parte
fica
com culpa
de saudade.
30
A par/te do TODO
também é o TODO
de suas partes.
31
A cada dia
de vida
morro!
sempre...
um pouco
mais!
32
No meio
No meio da vida
No meio da vida a morte
No meio da vida há morte
No meio da vida
a morte está
No meio da vida a morte está viva
No meio da vida a morte se faz
viva
33
No meio da vida a morte vívida
No meio da vida a morte está
No meio da vida há morte
No meio da vida a morte
No meio da vida
No meio
Na morte
Na vida
34
A morte leva a vida!
35
A Guimarães Rosa
Nonada
pensar
já é pensamento
de imenso.
36
Entre
Estou!
por lembranças:
as tristes
e as musicais.
Sou!
pelas correntes
de um passado
que aprisiona
e pelo desejo de amanhecer
que me manteria em pé
se não me tornasse tão claro.
37
Entre o ainda não
e o nunca mais
entre o inferno
e o que vem depois
39
no meio dos dias
no meio das pernas
no meio das pedras
no meio do trigo
no meio,
40
do sétimo ao décimo terceiro andar
do primeiro ao quarto mistério gozoso
de uma segunda a outra
da travessia mosaica do mar vermelho
à descoberta desbravada e descampada do interior do
homem
do ensurdecedor silêncio primordial à primeira palavra
de deus __ que já era palavra.
41
Entre um passo e
um passo e
um verso e
um trago e
um acorde e
um parto e
um olhar e
um amor
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depois da escuridão
depois da chuva
depois do coito
depois do choro
depois do tempo
depois da vida
43
O olho de Hipácia
Se fecho os olhos
olho o mundo
e vejo
todas as coisas que nunca conheci
e reparo
tudo o que não tenho diante de mim.
E amedronto-me com a naturalidade extraordinária do
cotidiano
inexpugnável!
Se fecho os olhos
canto
a grande música da vida
e ouço
as canções que nunca foram compostas,
e as sinfonias que jamais serão desempenhadas.
E sinto um medo da ordem daqueles que fogem à ordem
extraordinariamente eventual e contingente dos fatos.
De olhos fechados
apavoro-me dolorosamente
com o calor de todos os abraços
com o brilho de todas as estrelas
com a dor de todos os partos
com o medo de todos os fracos
e o perfume de todas as rosas
o amor de todos os homens
e o cansaço de todos os amores.
44
Viver é sempre
fechar os olhos.
45
Quando fecho os olhos
posso
ver o mundo
embora não sem medo.
Fechar os olhos
é
vi
ver
o
m
u
n
d
o...
46
Entre o que há em mim
e o que penso
ser
há
uma estrada indeterminada
e de curvas intermináveis
há
um rio de águas impenetráveis
e terrivelmente geladas
47
O que sou e não sei.
O que penso e não sei.
O que penso que sei.
O que penso que sou.
O que penso que penso.
48
Intervalo
49
Sábio é o homem que acumula fantásticas e
respeitosas ignorâncias,
Solidão é a ausência de antigas presenças
E saudade: a presença de uma ausência.
50
A música é o silêncio em movimento
como o ar é o caminho do vento,
como a eternidade é a carência de tempo.
51
O além-do-infinito também é infinito.
O caminho é o intervalo entre dois infinitos.
E a metáfora é a inversão do caminho.
52
Um grito de amor disperso
no vazio da mortalidade
é o durante da eternidade.
53
Tempo é o que acontece enquanto os espaços se
movimentam.
54
Eternidade é quando o tempo já acabou.
55
Amigo é quem nunca se importou.
56
A criação do mundo
By Judas
58
Dia sim, entregar-se às disputas teológicas em Notre
Dame (a castidade consentida). Dia não, apoderar-se
dos lábios e do corpo da mais sábia entre as belas (a
castração inevitável).
Dia sim, a oferenda do cordeiro nos altares. Dia não, o
sacrifício das bruxas nas fogueiras.
59
O infinito
é exatamente
o contrário!
do acaso
sempre!
necessário.
60
A insustentável leveza do Ser
A música,
que escuto ao longe,
terrivelmente suave,
como a sinfonia de um Beethoven febril
me toca
pois que desempenhada
como a única melodia possível:
62
O dia da derrota chegou,
Quando tragicamente
Do meio da multidão solitária
Emana um grito balbuciado
Em tom desfalecido:
“apaguem as velas!”
63
MetaPoesia
64
Os desejos de palavras me infinitam...
65
A poesia
e Deus
me calam.
E é nesse silêncio
que me desencontro.
É nesse desencontro
que me arranjo.
É nesse arranjo
que me desfaço.
66
Poesia é errar pelas palavras,
Apreço pelas curvas de rios e baixezas da vida...
67
O que me escondo
dizendo
é o recôndito.
68
Quando da poesia
toda a vida
cai sobre mim.
69
Quando seus olhos me versam
a palavra
reverencia
silencia.
é amor
isto é
poesia.
70
Quando algo
aparece
do nada
é milagre
fazer alguma
coisa impossível
acontecer
é milagre
Então,
contar o que não existe
é milagre!
Portanto,
a mentira é um milagre.
A poesia é uma mentira
digo
um milagre.
71
E é, pois, isso que põe no homem diferença
dos outros
animais:
O homem é o único animal capaz de milagres.
72
Poesia feita no meio da rua
73
Vez por outra a poesia me escapa
pois que acostumada a fugir sempre
não mais se habituou ao estabelecimento de moradas
itinerante e inconstante
não se reconhece mais em minha casa
aliás, não a toma como sua
embora tenha posse plena
de sua escritura.
74
Falo
Se falo
me digo.
Se calo
falo
mais
do que imagino.
75
Poesia
universo
inverso
osrevni
verso in
em verso.
76
Segredos
O chaveiro é um homem
que
guarda
abre
e distribui segredos.
O chaveiro é um homem de palavras!
O chaveiro é um homem de segredos!
77
O parto é o princípio da morte
O estilete é o principio do corte
A aposta é o princípio da sorte
78
A estrada passa pela sola do sapato
Como a paisagem se repleta de olhos
Como a água se corta de peixes
Como o relógio se corta de tempo
Como se cortam as folhas de vento
Como a vida se enfia de tempo
Como a ideia se invade de pensamento
Como a carne se entranha de lâmina
Como de lenha se queima a chama
79
Morte da poesia
Que a poesia sempre morra
como o sol
e o botão de rosa.
80
Silêncio
A semente do silêncio,
adormecida.
A beleza do mundo escondida.
Eis o segredo da vida!
81
Heresia
Chegará o dia
em que se gritará
bem forte
do alto de todos os púlpitos,
palcos, palanques e precipícios:
82
Quando me carrego de passado,
é saudade.
Se me porto de futuro
sonho.
Em todos os casos:
faz poesia.
83
Hoje teria sido o dia do particípio passado
se não fosse por ontem...
amanhã...
...estaria
nascendo
a era do gerúndio.
agora eu fui
um pretérito perfeito
84
Pequeno Vocabulário
Inverso
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Na inutilidade do mundo
repousará eternamente
a essência da vida.
86
Carta
Ilustre tentativa
de enganar a distância;
golpe da palavra.
87
Fotografia
Palavra revelada
Poema disposto
no eterno
instante
da estante.
Palavra
pregada
na parede.
88
Poema
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Saudade:
abraço grande
sorriso molhado
serenata de véspera.
É despedida debruçada na janela.
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Amizade
uma caixinha de música
colocada todas as manhãs sobre mesa.
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Céu
Cantoria que nasce todo dia no fundo dos olhos;
poema que diz bom dia nas esquinas de domingo;
cantiga de roda em festa de gente grande.
É o dia que nasce da serenata dos sorrisos;
é saudade das estrelas que têm nomes de amigos.
92
Santos, crianças e doidos:
são aqueles que se ocupam das coisas
que preocuparam Deus
antes da criação do mundo
no tempo em que Ele era palavra.
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Notas:
“Camaleão”
Poema vencedor do Concurso Internacional de Poesias
promovido pela Associação de Escritores de Bragança
Paulista – SP(2009).
Publicado em: - Antologia de Contos e Poesias.1 ed.
Bragança Paulista : ABR editora, 2009.
- Versos Soprados pelos Ventos de Outono. Big Time
Editora: São Paulo, 2012.
“Sempre-me”
Poema vencedor do Concurso Nacional de Poesias Carlos
Drummond de Andrade (SESC - DF) – 2009.
Publicado em: Antologia Carlos Drummond de
Andrade de Poesias: SESC - DF, 2009.
“O homem do cerrado”
Poema premiado no Concurso Calendário – 2012
promovido pela Secretaria de Cultura de Uberlândia – MG.
Publicado em: Concurso Calendário 2012, Secretaria
De Cultura: Uberlândia, 2012
“O olho de Hipácia”
Poema premiado no Concurso “Crônica e Literatura” –
Assis Editora, Uberlândia – MG – 2012
Publicado em: Emoção Repentina. Assis Editora:
Uberlândia, 2012.
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