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1ª Edição
São Paulo
2022
FICHA CATALOGRÁFICA
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O QUE É UMA ANTOLOGIA
Fonte: Google
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HOMENAGENS PÓSTUMAS
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INTRODUÇÃO
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"Faz tempo, muito tempo,
que senti felicidade
pois já não me lembro
qual era a minha idade"
8
"Menino calado
O que sabe você?
Da vida... do tempo
Do amanhecer?"
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Sumário
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CIDA RIGOTTI
Maria Aparecida Beraldo Rigotti de Faria é o nome completo de
Cida Rigotti. Natural de Pouso Alegre, MG, reside há 16 anos
em Caxambu, Minas. Possui Licenciatura Plena em Língua e
Literatura Italiana pela Universidade Federal de Juiz de Fora.
Dedica-se também ao estudo do Inglês e do Francês. Gosta de
poesia, literatura, teatro, cinema e dança. Cursa Teologia
Católica pela Uninter. É membro efetivo da Academia
Barbacenense de Letras (cadeira 36, patrono Dr. João Beraldo)
e da Academia Caxambuense de Letras (cadeira 19, patrono
Carlos Drummond de Andrade). Publicou: João Beraldo,
Político e Poeta; Você quer ser minha mãe; Papai Noel
(português e italiano); Glória, o Édipo em D. Casmurro; Átomos
de Poesia. Foi colaboradora do “Anuário da Academia
Barbacenense de Letras” de Barbacena, MG. Assinou a coluna
Viva a Vida dos jornais “O Marquês”, da Unimed Marquês de
Valença, RJ e “O Paquetal”, da Ilha de Paquetá, RJ. Fundou e
dirigiu a própria firma cultural “Viva a Vida” em Juiz de Fora,
MG, com Jornal mensal e Saraus temáticos semanais.
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A Dança
Cida Rigotti
A dança surge
do centro da Terra.
O Fogo serpenteia
a energia da criação.
O calor vibrante
do prazer, da emoção
ganha a força das Águas.
A dança vibra
na volúpia das ondas,
no canto das cachoeiras.
A dança agrada ao vento
e a música da alegria
se expande no Ar.
O bailado da vida
palpita nos sonhos
e a dança
nasce
em cada coração!
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Ah! Mar!
Cida Rigotti
E lá se vai o homem
o desbravador,
o navegador,
a se aventurar
em seu minúsculo barquinho
de ideal construído.
Pesado de dor.
Leve de sonhos.
Bate seu coração
Com as ondas do mar!
E lá se vai o homem!
Destemido,
luta com *Adamastor.
Por *Vênus é protegido.
Pelas *ninfas é conduzido
à *Ilha dos Amores!
E, lá repousa o guerreiro,
para novas rotas
poder singrar!
O homem e o mar!
O mar e o homem
escrevem a história,
constroem o futuro,
descortinam o mundo!
O mar e o homem
brindam conquistas.
Navegam esperanças.
Choram infortúnios.
Ampliam horizontes.
Desfraldam poentes
de paz e bonança!
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Ah, mar!
Na inquietude das ondas,
a força plena da vida!
Na inquietude da alma
O sonho da felicidade!
Amar!
Na arrebentação,
o mistério do mar, a magia,
o vigor, o poder, a tenacidade!
No coração do homem,
a inquietante paixão,
o querer, o lutar, o perseverar,
o navegar
em uma viagem
só de ida!
***
(* in Os Lusíadas de Camões)
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Álbum da Infância
Cida Rigotti
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Átomos de Poesia
Cida Rigotti
Na gangorra do tempo
me balanço
com as cordas do sonho!
***
A música em sua voz
me atrai, feito mariposa,
para a luz dos olhos seus!
***
Das asas das borboletas,
retirei as tintas
para escrever seu nome.
***
No cálice de seus beijos,
bebi o champanhe do desejo.
Me embriaguei de prazer!
***
O triste silêncio,
da casa vazia,
grita de saudade!
***
Nos perdemos
nas curvas da vida
rumo ao Infinito!
***
O vento, flautista desafinado,
soprava
pelas frestas de portas e janela!
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Doa-Ação
Cida Rigotti
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Dois Destinos
Cida Rigotti
Caminhávamos os dois
dentro da noite.
Eu chorando o amor perdido.
Ele buscando o amor querido.
Miseráveis os dois
dentro da solidão.
Eu embalando um amor sem fim
que explode no peito o coração.
Ele invejando um amor assim.
Sofremos os dois
dentro do inconsciente.
Eu relembrando o que vivi,
sem enxergar em outra direção.
Ele vivendo descontente,
sem poder me estender a mão.
Separamo-nos os dois
em triste despedida.
Eu parecendo Julieta
a suspirar por Romeu.
Ele, tal qual um Dirceu,
a esperar que a vida
lhe traga uma Marília!
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Essência
Cida Rigotti
A força da vida
pulsa
em cada segundo
no ritmo
da esperança.
E essência do existir
descortina
o mundo interior.
Na tela do coração,
aquarelas são pintadas.
Os sonhos,
vestidos de rosa,
flutuam
no azul infinito.
A felicidade
habita
em cada estrela!
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Maestros
Cida Rigotti
Sentir a vida,
cantando
nas partituras
dos acontecimentos,
nos faz maestros.
A música desprende-se
em solfejos de esperança.
As folhas do outono
bailam no compasso
do vento vespertino.
Na clave do Sol poente,
um mormaço de desejo
invade todo querer.
E,
A vida se renova
na sinfonia do amor!
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O Campeão
Cida Rigotti
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— Eu, quando era jovem...
— Cê joga bola em que time?
— Bem, esta é uma longa história... Eu já fui um jogador
de futebol de salão. Meu time era os “Rebeldes” e não perdia um
campeonato...
— Legal! Cê fazia muito gol?
— Sim, muitas vezes...
— Legal! O seu time num é o Flamengo?
— Bem, digamos que eu torça pelo Flamengo. Mas estes
troféus eu ganhei quando era jovem, em um time também jovem
que se acabou quando eu e meus companheiros ficamos velhos...
— Caramba! Cada troféu maior do que o outro. Cê dá
um pra mim?
— Dou no dia que você ganhar um campeonato.
— Mas a gente num tem time, a gente... a gente...
— Pois forme um time!
— A gente num tem camisa, num tem chuteira, num tem
meia, num tem técnico... A gente só tem a bola...
— Escute, garoto, quando as pessoas querem as coisas
de verdade tudo se torna possível, mesmo as mais difíceis, basta
você...
— Já sei, já sei... Cê é o nosso técnico, tá feito?
O ex-atleta, entre surpreso e feliz, se deixa levar pela
mãozinha firme do garoto que sai gritando porta afora:
— Ei turma, ei turma! Eu achei a bola e arranjei um
técnico, o Campeão!
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Poesia & Vida
Cida Rigotti
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Resiliência
Cida Rigotti
Há uma força
Indomável
que me faz
caminhar,
que me faz
continuar,
que me faz
perseverar!
Há uma força
Adorável
que sustenta
meu ser,
embala
meus sonhos,
carrega-me
nos braços
em cada amanhecer:
Deus !
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Roda Gigante
Cida Rigotti
A palavra
se fez ponte,
estabelecendo o diálogo.
O amor
se fez presente,
reatando os laços partidos.
A amizade
se fez paz,
apertando as mãos estendidas.
A lágrima
se fez luz
com o sorriso franco.
Deus
se fez presença
dentro dos belos olhos.
Alegres
brincam, suas meninas,
na roda gigante da vida!
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ESTHER LUCIO BITTENCOURT
Esther Lucio Bittencourt, nascida Esther Maria Duarte Lucio
Bittencourt, em 13 de fevereiro de 1942. Trabalhou: Jornal Praia
Grande em Revista, Jornal do Brasil, O Fluminense,
Universidade Federal Fluminense, Correio da Manhã, revistas
Senhor, Leitura, O Cruzeiro, Inédito. Na Ediouro, até 2009 como
editora de áudio livros, como Grande Sertão-Veredas. Durante
os anos de repressão criou a feira do autor, em Niterói. Lança o
livro de contos No País das Palavras onde Moram os Homens
Mudos, em 1975 o romance Vicença Taborda, em 1980, o livro
de poesia Imaginário Eixo. Participou do livro Entre ouvidos:
sobre rádio e arte, organizado pela professora Lilian Zaremba,
lançado na 7ª Bienal do Mercosul, em 2010, patrocinado pela Oi
Futura. Em 2018 lança o livro de poesia "Oi!" e, em anos
anteriores, o livro de poemas " Varal de Possíveis" pela Saraiva.
Participa da Academia Caxambuense de Letras onde ocupa a
cadeira que tem como patrona Cecília Meireles.
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SEM TÍTULO 1
Esther Lucio Bittencourt
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SEM TÍTULO 2
Esther Lucio Bittencourt
Ah patriazinha
que mata queima
esquarteja o amor
que tipo de coisa
é você sombria?
a lira assobia nos desvãos
da presidência irada
o que morreu em você
pátria do nojo hoje?
bananinas milicianos
fornecem a pauta do dia
ah! zinha. antes pátria amada
hoje por foices enxovalhada.
o que aquele lá manda
mata devora come
a xusma eufórica obedece
ah! patriazinha
tantos adjetivos só para dizer
teu chão eu repudio terra
de matadores canibais de almas
pátria valhacouto de soldados
vis de homens vis e mulheres vis
nada de pátria, nada de amada
um dia você foi Brasil.
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SEM TÍTULO 3
Esther Lucio Bittencourt
Há um som de sol
em dó maior no pó
nas volutas do vento
no açúcar em cada grão
há um pingo excessivo
no ventar as folhas
cor de varrer o chão
há em algum lugar rios
cachoeiras e o sal
do mar leva caravelas
que queimam peles
peles que descascam
o duro aspecto real
há em algum lugar um local
onde a realidade é inventada
use maravilha ao caminhar.
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SEM TÍTULO 4
Esther Lucio Bittencourt
O bouquet da tarde
fruto da confraria
do silêncio. mistério
da sombra em noite
fresca que carrega
a gota de chuva ascética
com aroma de solidão,
concerne a quem vive
o sabor de folha
esmagada ao tempo
na paz do barro
quase humus,
provável lama
possível brotação.
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SEM TÍTULO 5
Esther Lucio Bittencourt
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SEM TÍTULO 6
Esther Lucio Bittencourt
há os anos, as paredes
e um veleiro sem equipagem
carrega mortos à sotavento
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SEM TÍTULO 7
Esther Lucio Bittencourt
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SEM TÍTULO 8
Esther Lucio Bittencourt
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SEM TÍTULO 9
Esther Lucio Bittencourt
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SEM TÍTULO 10
Esther Lucio Bittencourt
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GUIOMAR PAIVA
Guiomar de Paiva Brandão é natural de Caxambu, reside
atualmente em São Lourenço.
Participou de vários concursos nacionais e locais, ganhando o
Concurso João de Barro de Belo Horizonte com o livro infantil
“Giramundo”, recebeu a premiação no Palácio das Artes em
Belo Horizonte - MG. E o Prêmio APCA (Associação Paulista
de Críticos de Arte) com o livro infantil “Liga pra mim”,
recebendo o troféu de melhor autora infantil no Memorial da
América Latina em São Paulo, capital. Possui poesias publicadas
em várias Antologias Poéticas. Livro Quintais - Prêmio
Nacional da Poesia Escrita e Falada de Varginha-MG.
Guiomar é membro fundador da Academia Caxambuense de
Letras, membro da Academia Poços-Caldense de Letras e
pertence também à Sociedade Mineira dos Poetas Vivos e afins
do Rio Grande do Norte, Natal, Grupo Literário Fonte das
Letras, de São Lourenço, Academia Feminina Sul-Mineira de
Letras - AFESMIL, e do Grupo Prosa e Verso.
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Restos
Guiomar Paiva
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Um resto de esperança,
na carência de quem não tem.
Um resto de verdade,
no vazio de quem não é.
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Morada das Palavras
Guiomar Paiva
A raiva, no fígado.
A mágoa, no estômago.
A vontade, nos músculos.
A música, nos ouvidos.
O deserto, nos ossos.
O oásis, nos rins.
O aplauso, nas mãos.
A inveja, nos cotovelos.
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A direção, nos pés
A calúnia, nos intestinos.
A perda, nas entranhas.
Deus, em cada célula!
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Velhos e Novos Amigos
Guiomar Paiva
O velho amigo
Viveu e guardou
Todos os seus segredos.
Ele sabe as histórias
De cada esquina,
As estradas percorridas,
As perdas e ganhos,
As mudanças.
O velho amigo
Ouve os seus casos
E se, a sua memória falhar,
Ele completa com detalhes
De cada personagem,
Costura o assunto
Com a linha do mesmo tom.
O velho amigo
Já chorou com você
E riu demais.
Ele está tatuado na memória
E atado às lembranças do coração,
Ele sabe, ele viu, ele se lembra,
Ele estava lá.
O velho amigo
Encenou as mesmas peças
Do teatro da sua vida.
O seu texto, ele sabe de cor
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E, se acaso você esquece a sua fala,
Ele assume, dá sentido
E o enredo se fecha!
O velho amigo
Conjuga com você
Todos os verbos em todos os tempos
Passado, presente e futuro.
O amigo novo
É um presente inesperado
Está assim com você,
Em construção.
O amigo novo
Traz de volta
O encantamento,
A novidade,
A escolha,
A admiração
E o desejo de se revelar.
O amigo novo
Desafia você
A querer mais tempo de vida
Para que se tornem
Velhos Amigos!
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Cadeira de Balanço (À minha avó)
Guiomar Paiva
Cadeira de balanço
ausente... vazia.
Num leve balanço
que é só nostalgia.
Cadeira que faz saudade
mais e mais, dia a dia...
Cadeira feita de silêncio
e de uma certa lembrança,
de uma criança grande...
de uma grande criança!
Cadeira de balanço
movendo-se num lamento
Ouço... e me calo,
foi balanço do vento.
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LEANDRO CAMPOS ALVES
47
Oração a família
Leandro Campos Alves
48
Ser Pai...
Leandro Campos Alves
49
Ladrão de Sonhos
Leandro Campos Alves
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um bola para brincar com os amigos de futebol ao cair da tarde
em nossa rua.
O dia vinte quatro de Dezembro chegou, e com ele
aumentavam a minha alegria e entusiasmos, tinha certeza que
ganharia do bom velhinho meu presente tão esperado.
Pus minha melhor meia pendurada à beira da janela, e
brigando com o sono eu esperava o Papai Noel entrar em meu
quarto, as horas passavam e nada de ver o bom velhinho.
Com o entrar da madrugada fui vencido pela noite e caí
no sono, afinal, eu ainda era uma criança cheia de grandes
sonhos e com o sono ainda maior.
Não consegui ver a chegada do meu querido Papai Noel.
Nos primeiros raios do sol acordei ansioso e louco para
ver meu presente, pois tinha posto minha melhor meia
pendurada na janela, havia deixado meu bilhete pedindo ao bom
velhinho meu presente, tudo conforme me falaram.
Além disso! Eu tinha certeza que durante aquele ano eu
não fui um filho ruim, então o presente certamente eu receberia.
Ofegante como nunca, pulei da cama correndo em
direção a janela para pegar minha bola de futebol, mas minha
euforia se transformou em silêncio, meu sorriso em choro,
minha felicidade em desilusão.
Parado, estático, sem respirar e pensativo ali fiquei por
horas, acho eu...
Com o passar das horas intacto no meu lugar, ouvi os
primeiros movimentos da casa. Meus pais e meus irmãos
acordaram, e com eles a minha vida começou perder o sentido,
os sonhos a virarem pesadelo.
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Logo senti o calor materno por atrás de mim com um
longo abraço, ouvi sua voz me perguntando o porquê do meu
silêncio?
Mãe é sensitiva, logo ela observou que meu silêncio era
de desilusão, meus olhos vermelhos lagrimejavam o sentimento
de minha alma.
Por algum instante eu não ouvia a indagação de minha
mãe, mesmo ela repedindo por várias vezes, ali eu fiquei em meu
mundinho de criança, quieto. Isolado. Solitário.
Foi quando ela me sacudiu e perguntou novamente.
“— Filho, por que você está em silêncio? Por que estas
lágrimas em seu rosto?”
Ao ouvir sua pergunta acordei de meu estado de
desilusão, o que era silêncio se transformou e choro profundo, a
dor da alma pura de uma criança se transformou em choro e
desilusão; e a desilusão? Em realidade.
Naquele momento comecei a contar minha história.
“— Mãe, meu choro é por que Papai Noel está bravo
comigo.
— Eu acho que sempre fui um bom menino e filho, rezo
todas as noites pro meu Anjo da Guarda, e por que Papai Noel
esqueceu de meu presente?
— Eu só queria um bola para jogar com meus amigos.”
Minha mãe com a alma partida, viu minha tristeza e
minha pequena meia pendurada na janela, com a voz meio
tremula parecendo segurar o choro ela falou:
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“— Não filho, você não é ruim, o Papai Noel gosta muito
de você, mas o que aconteceu foi por minha culpa.
— Veja...
— Eu esqueci de costurar sua meia, provavelmente o
Papai Noel pôs o seu presente na meia, mas o ladrão de presentes
passou aqui e roubou o seu presente através do furo.”
Naquela noite alguma coisa em minha vida de criança
aconteceu.
Pois perdi a inocência ao sentir a dor no coração de
minha mãe, ao ouvir ela tentando dar aquelas explicações, meu
mundo de ilusões foi se desfazendo.
Descobri então que Papai Noel não existia, e o real
motivo de não ganhar nenhum presente, era a dificuldade
financeira que passávamos naquela época.
Minha tristeza por achar que não merecia o presente do
Papai Noel, por ser um mal menino transformou-se, pois
descobri a crueldade de um mundo chamado necessidades.
O ladrão de presente, não roubou somente meu presente,
roubou minha inocência, minha felicidade, meus sonhos.
E o Natal?
Perdeu seu brilho, junto a minha inocência.
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“Minha Minas Gerais”
Leandro Campos Alves
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O ali do mineiro é uma légua Paulista.
O trem bão não é locomotiva.
A moça sô, não está sozinha.
Um cadinho pode ser um pouquinho.
Como também oceis não é um grupo de seis, mas quem
sabe uma multidão.
Quando cansa da caminhada, pede para perar um tiquim.
Adoro o mineiro, principalmente na hora do café, que
tem o docindileiti, cafezim com broinha de fubá ou com
biscoidipuvio. Não sei se conhecem, mas adoro o franguim com
quiabu, nem me fale do torresmi bem fritim, e no cair da noite,
nada melhor do que o mingau de mio com couve bem picadim.
Esse é o coração do mineiro, bem no centro da Gerais,
que olha o semáforo vermelho e péra um tiquim, quando abre o
amarelo logo o motorista prestenção sô, no verde então, o
mineiro cauteloso agora podii.
Não tem despedida mais amável, que o “tchau procê”, e
no encontro mineiro sai o primeiro verbete, “uai? Comé qui cê
dá?” Mas logo a hospitalidade mineira toma conta pelo seu
carinho, tanto amor que num dê conta de revelar, mas como bom
mineiro, peço que prestenção sô, pois falaremos igualzim ao
coração de Minas, que é muito sabido na sua fala, que come
pelas beiradas de mansim, e quando se encontra sem caminho,
descobre que cê tá lascado sô, sem saber oncotô, e nem
proncovô, o mineiro sai de fininho, talvez com fome vai cumê
um trem, para matar a quifomqueutô, num quidito nessa
conversa? Pois digo como mineiro, que você pode acreditar só
um cadim.
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Ah! Minha amada Minas Gerais, que pulsa o coração de
Belzonti, e não minto que falamos des jeitn mesmo, mas é bão
demias sô, ter a nossa personalidade própria.
Ah! Minas que amo, que está nu coração dagen, mas
engana quem pensa que mineiro é assim, somos o sonho da terra,
o fruto do amor, o abraço acolhedor, de um povo quieto, que
presta muita atenção, para não sair falando besteiras, sem ter
razão.
Se as frases curtas é a expressão do povo Mineiro, diga
João Guimarães Rosa, ou quiçá, Carlos Drummond de Andrade,
podendo também falarmos de Fernando Sabino, a felicidade de
ser mineiro e trazer contigo o sotaque apaixonado de uma terra
persona.
Ah! Minha Minas Gerias que amo demais, que originou
de uma miscigenação, de vários estados, povos e nação, se
baiano cansado é mineiro, minas é o berço dessa nação de
múltipla cultura em sua miscigenação.
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MARIA CRISTINA MALLET PORTO
Estudou Psicologia e Administração de Empresas na PUC-SP.
Autodidata em Estudos de Filosofias Orientais. Atuou no mundo
corporativo por 25 anos, no segmento de Publicações para TI e
Telecom. Gestora de Projetos Editoriais e Promotora de Eventos
Culturais e Literários. De 2002 a 2017 foi co-proprietária de uma
Livraria Casa de Estudos e Núcleo Terapêutico, em São Paulo.
Em 1978, iniciou seus estudos em Astrologia, e desde 2002
facilita Palestras, Cursos e atende como Astróloga Integrativa,
com foco em autoconsciência e autodesenvolvimento.
Atualmente estuda Antroposofia.
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Das estrelas eu vejo
Maria Cristina Mallet Porto
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Mas, além de si, tem o coletivo e o planetário, como um único
corpo, orgânico, em constante mutação! Por ora, poucos
compartilham entre si, e ainda parecem brigar! Não percebem
que o Planeta chora? Que as pessoas precisam uma das outras?
Que são muitos os talentos e que se forem unidos terão muito
mais força e resultado para todos? Impressiona-me este cenário
que clama por entendimento, compreensão, e união! Bastaria
abrirem os corações, estenderem as mãos, e dialogarem na
Verdade, sem competição, mas cooperação, trocarem o ganha-
perde, pelo ganha - ganha, para que o menos se tornasse mais.
Então, uma inspiração me toca! E se pudéssemos fazer
com que esta humanidade levantasse a cabeça do próprio
umbigo, olhasse para a frente, o outro, e depois para as estrelas?
Quem sabe descobririam que o Universo é muito maior, o
Propósito é muito maior, a Vida é muito maior? Vou voltar pelo
mesmo raio de luz por onde vim, voltar para minha estrela de
origem e contar o que vi. Quem sabe possamos, cada um de nós
das estrelas, colocar uma chispa viva, no coração de cada Ser
Humano, que acenda imediatamente a Centelha que lá repousa?
Sabemos que nestes corações já foi plantada a semente do Amor!
Então com Esperança, quem sabe esta chispa possa acender a
chama!
Vamos, vamos fazer isto JÁ! O tempo urge, antes que
não haja mais tempo! O tempo do não-tempo precisa agir! Assim
fizemos, e pedimos uma vez mais para Aquele que nos doou o
Amor, acionasse o impulso da Vontade e da Força em todos os
Seres!
Foi assim então, que por Amor, uma vez mais, a Luz se
fez, e aquele pontinho azul pequenininho e distante tornou-se
brilhante, imenso, dourado, um verdadeiro Sol irradiando Vida,
Gratidão e Paz! Mal sabiam os humanos que as estrelas de onde
vim, eram parte de seus próprios corações e que esta Luz, assim
como Eu, sempre estivemos lá!
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E pra onde estamos indo?
Um chamado Para a Vida!
Maria Cristina Mallet Porto
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Acreditamos que o impermanente é eterno e muitas vezes
que o eterno não existe.
Mas não tenho a intenção de escrever o caos. Apenas
trazer a grande questão: estamos despertos ou dormindo? O que
queremos enquanto Humanidade? Onde e como queremos ser e
estar? Um chamado para a Vida! Somos co-criadores, co-
responsáveis e co-regentes de nossas escolhas e caminhos.
Vamos nos re-integrar enquanto Ser Humanos, com a
humanidade em nós, com a natureza em nós, com o pensar, o
sentir e o agir que se expressam através de nós! Ser o que viemos
para SER! A Vida é uma dádiva, um presente! Ainda é possível
corrigir a rota, desfazer os equívocos, evitar o colapso. Podemos
ainda resgatar o respeito, a ética, a ação correta!
E que o Amor prevaleça em nós e entre nós, hoje, a cada
instante, com a consciência de que a linha da eternidade é um fio
que tecemos a cada passo que damos aqui e agora!
61
O tempo
Maria Cristina Mallet Porto
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tempo todo. Quanto tempo perdemos com coisas que não nos
levam a lugar algum. Quanto tempo escorre de nosso sentir, por
não vivermos inteiramente nossos momentos, relacionamentos e
o nosso estar no mundo! Andamos descalços na areia e muitas
vezes nem percebemos seu calor, sua textura, sua receptividade
aos nossos pés! Pouco estamos presentes naquilo que fazemos!
Se nos déssemos conta de que cada momento é realmente único,
nos apropriaríamos melhor do nosso tempo, o que acredito, nos
daria melhor qualidade de vida e mais plenitude! Hoje, para
muitas coisas talvez não haja mais tempo, mas quero tê-lo a meu
favor e fazer dele meu grande aliado, enquanto aqui estiver.
Quero me aprimorar, fazer o meu melhor, ser útil, servir no que
me for possível, mas ao mesmo tempo, já olho para este fio da
eternidade, continuação de minha morada, até o próximo
recorte!
63
A travessia dos anos 60 ao século XXI
Maria Cristina Mallet Porto
Queria tanto vir aqui para falar de coisas leves como beleza,
alegria, harmonia, paz! Queria tanto trazer encantamento com
minhas palavras, poética, inspiração. Sou de uma geração que
viveu Beatles, Woodstock, Pink Floyd, a Jovem Guarda, os
Festivais da Record, a Bossa Nova, como não dizer, Tom,
Vinícius, Chico, Elis, Milton, Caetano, Secos e Molhados, Rita
Lee. Geração que assistiu maio de 68 na França, as mães da
praça de maio na Argentina, a chegada do homem à lua, a
mobilização pelas diretas-já. Filmes como “2001, Uma Odisséia
no Espaço”. Vimos Gandhi, Martin Luther King, Mandela. Estes
são alguns exemplos de fatos que vivemos e que o tempo não
apagou de nossa memória. Quebramos inúmeros paradigmas
para que a mulher pudesse se expressar e ocupar seu espaço!
Derrubamos o muro de Berlim! Tudo isto pra dizer que faço
parte de uma geração que sonhava e atuava por um mundo
melhor. E o que seria um mundo melhor? Ah! Um mundo mais
justo, equânime, em equilíbrio. Um mundo onde a humanidade
fosse realmente Humana, fraterna, solidária. Um mundo, onde
cada um buscasse ser uma pessoa humana melhor, e despertasse
para o fato de que a Inteligência, a Força, a Sabedoria, atuam
através de nós, não apenas para nós, mas sim a serviço do bem
comum. São virtudes e condições que pertencem a esferas
superiores e nós, os humanos, deveríamos expressá-las para
elevar nossa condição de seres chamados inteligentes. Somos o
único reino portador de Consciência e ela é a possibilidade, que
nos faz diferentes dos demais. Não posso dizer que não
conseguimos. Conquistas foram feitas. Estamos numa longa
travessia. Demos um salto quântico em vários aspectos. Muitas
palavras se tornaram expressão de um novo tempo. Atualmente
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se fala em Cultura de Paz, onde o diálogo, a escuta ativa, a
empatia, a inclusão, a mediação são atitudes de linhas de frente.
Ecologia pessoal, social e ambiental são fundamentais para uma
sustentabilidade sistêmica. Em um mundo de dualidades, onde
fomos educados para escolher entre isto ou aquilo, crenças
rígidas, fomos estimulados a fazer escolhas radicais. Tudo o que
divide, parte, separa, precisa ser olhado com cuidado. A quem
interessa dividir, partir, separar? O Amor traz o ensinamento da
União, da Unicidade. Neste momento, muito importante sairmos
da visão dual, irmos a um andar acima, olhar de um outro lugar,
e perceber o quanto os valores ficaram invertidos. Um bom
exemplo desta inversão é uma sociedade que chama o natural de
alternativo, e assume o químico como natural. Muitos equívocos
e distorções nos afastaram da nossa essência! Gostaria que
minhas palavras soassem como um convite! Não é utopia,
ideologia, é esperança. É acreditar que é possível. É ter um
propósito que possa colaborar para a realização daquele mundo
que sonhávamos e que ainda pode existir. Um resgate, em uma
oitava superior, incluindo os novos aprendizados. Depende de
cada um e de todos nós. Que tal nos darmos as mãos? Como
disse Beto Guedes, “vamos precisar de todo mundo, um mais um
é sempre mais que dois!” Somos co-construtores, co-
responsáveis, co-atuantes de nossa realidade. Para onde
queremos ir? Estamos no século XXI . E não é ficção! Entrar
neste caminho seria como falar de alegria, vida poética, a
harmonia que expressa a verdadeira beleza! Como cantou Elis:
“Eu quero ver a Esperança de óculos”.
65
MARIA DO CARMO FIGUEIREDO
PAIVA
Maria do Carmo Figueiredo Paiva, nascida em Caxambu, Minas
Gerais. Formada em Letras com Francês pela Faculdade de
Filosofia Ciências e Letras da Fundação Universidade de
Itajubá. Especialista em Alfabetização pela UFRJ, em Produção
Textual e em Literatura Infanto-Juvenil pela UFF. Lecionou
Francês, Língua Portuguesa, Literaturas: Portuguesa e Brasileira
e Didática da Língua Portuguesa. Desenvolveu atividades
extracurriculares: Oficina da Palavra e jornal falado e escrito na
Escola Experimental Avenida dos Desfiles (CEMADE). Foi
membro da Equipe Técnico-pedagógica de Língua Portuguesas
da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, onde participou da
elaboração do Currículo de Língua Portuguesa. Ministrou cursos
e palestra sobre Metodologia da Língua Portuguesa em cidades
de diversos estados do Brasil. Co-fundadora da Academia
Caxambuense de Letras.Membro do grupo”Prosa e Verso” de
Itanhandu MG. Publicações: Estudo de texto: Estrutura,
mensagem, re-criação(2 vol), Descobrindo o Sabor do Texto (8
vol), Brincando com Passado- Presente- Futuro ( 2 vol).
66
Um Sonho quase Real
Maria do Carmo Figueiredo Paiva
67
Retalhos
Maria do Carmo Figueiredo Paiva
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Voo
Maria do Carmo Figueiredo Paiva
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Outubro
Maria do Carmo Figueiredo Paiva
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Manhã de sol
Maria do Carmo Figueiredo Paiva
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Mãos dadas
Maria do Carmo Figueiredo Paiva
72
Florescer
Maria do Carmo Figueiredo Paiva
Ah, Primavera...
Que bom que nos trouxeste
esse encantamento de cores:
o verde luminoso da grama, das folhas
que enfeitam as árvores,
o multicolorido das flores,
o canto dos pássaros
que comemoram tua chegada.
Tudo isso faz florescer, em nós,
a vontade de dançar, de
cantar a alegria de viver,
a gratidão pelo Criador que
nos presenteia, todos os anos,
com esse festival de beleza.
73
Ler
Maria do Carmo Figueiredo Paiva
ler é descobrir...
sonhar...
descortinar horizontes...
viajar sem sair do lugar,
interpretar, não só palavras,
mas outros textos, como:
situações,
rostos...
identificar alegrias
e tristezas,
só de olhar.
Ler é viver,
Vivemos lendo
74
Libertação
Maria do Carmo Figueiredo Paiva
75
Clamor de um Rio
Maria do Carmo Figueiredo Paiva
76
As crianças já não me alegram com seus gritos e risadas.
E eu choro e clamo por socorro.
Quando será que me ouvirão?
77
Magia do Amor
Maria do Carmo Figueiredo Paiva
78
Outono
Maria do Carmo Figueiredo Paiva
79
MARIA DO CARMO MAGALHÃES
Maria do Carmo Magalhães Lahmann nasceu em Caxambu,
Minas Gerais, em 16 de julho de 1944. É formada em Pedagogia
com pós-graduação "latu sensu" em Psicopedagogia pela
Universidade Estadual de Minas Gerais-Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Varginha MG, onde foi professora de
disciplinas pedagógicas. Em sua monografia pesquisou sobre o
tema: Deficiência Visual: impedimento para a autorrealização
ou falta de oportunidade. O que é verdade? O que é preconceito?
Dedica-se atualmente ao estudo e compreensão do Budismo e
Taoísmo. Du Carmo, para os amigos, sente o Tao em tudo que é
compreensível e não compreensível.
80
Sem Título
Maria do Carmo Magalhães
Quem traduz
a chama
que em mim
não se apaga?
Cada fagulha
freme
de dor,
de alegria.
A luz ébria
chora e canta.
Multiplos rumores
transcendendo
a própria vida!
Momento impreciso
errante como o vento
morrendo
no próprio nascedouro.
81
Paz para meditar!
Maria do Carmo Magalhães
82
Com as devidas correções:
Maria do Carmo Magalhães
83
Sem título
Maria do Carmo Magalhães
84
Tudo tem seu tempo
Maria do Carmo Magalhães
assovia o vento
vindo de longe, a e
de muito longe...
sopro a sopro
desamarrando os galhos.
Ninguém na rua deserta
ouvindo quando venho à tona,
um único rumor de vida,
salvo de todos os naufrágios.
Vento bordando, invisível
compassivo e calmo,
Iluminuras
nas breves tardes
de inverno.
Só o meu silêncio se estende
trazendo tudo
que me falta.
A tudo que nasce, a tudo que irradia, a tudo que se refaz, ainda
que sofregamente, o meu verdadeiro sentimento de admiração!
85
Sem título
Maria do Carmo Magalhães
Na casa antiga,
o vento ficou amarrado
no buraco da janela carcomida.
O ladrido do cão perdido,
rendido na solidão
longamente foi ouvido.
Esses sons da madrugada
desatam emoções contidas,
moto-contínuo cronometrado
cada vez mais solitário.
Resta o silêncio
da lua,
da rua,
da nuvem.
A compaixão
dormiu comigo
lado a lado.
86
Sem título
Maria do Carmo Magalhães
Pousa a manhã
no vão da telha
com luz e cântico
romântico.
A rua desperta
de seu breve cochilo.
Abrem-se janelas,
a lida recomeça.
Com que paciência
o tempo tange
o humano rebanho!
87
Sem título
Maria do Carmo Magalhães
88
Sem título
Maria do Carmo Magalhães
89
Sem título
Maria do Carmo Magalhães
A cada palavra
antecede um silêncio.
Em cada silêncio
preexiste a palavra
No coração da noite
ou no claro do dia
a palavra é errante,
misterioso frêmito,
intérprete da vida.
90
MARIA DO CARMO RODRIGUES
Maria Do Carmo Rodrigues, natural de Visconde do Rio
Branco-MG, nascida em 16 de Julho de 1959, filha de Vitalino
José Rodrigues e Nelsina de Almeida Rodrigues. É mãe de
Aline, Weber e Cinthya. Formada em Matemática pela UNIG-
RJ, em Biologia e Pedagogia pela UNINCOR - Três Corações-
MG. Fez Pós-graduação em Psicopedagogia Institucional com
Ênfase em Inclusão Social pela UNIPAC; em Educação
Empreendedora pela UFLA; Educação Ambiental pela UFSJ e
também fez Pós-graduação em Alfabetização e Letramento pela
UFOP. Membro da Academia Caxambuense de Letras em 2006
e ocupa a cadeira 12 - Patrono, o Professor Fabiano Viotti. É
membro da Sociedade Brasileira dos Poetas Vivos e Afins
(Pouso Alegre-MG). Tem trabalhos publicados em jornais da
região e revista Amigos da Natureza. Foi Secretária Municipal
de Educação em Caxambu na gestão 2009/2012. Foi Presidente
da Academia Caxambuense de Letras no biênio 2016/2018 e
vice-presidente no biênio 2019/2021.
91
Pensando...
Maria do Carmo Rodrigues
Um dia,
Quem sabe...
Te encontro
Te olho
Desejo.
Percebes
Se aproxima
Me abraça
Me afaga
Me beija
Te quero, feliz!
Te amo!
92
Venha!
Maria do Carmo Rodrigues
Chega aqui
Bem pertinho de mim!
Venha buscar qualquer coisa
Arranje um pretexto para chegar
Venha!
Venha sentir o meu calor
E aquele amor, que eu
Guardei para lhe dar!
Venha se permitir, dar-se por inteiro.
Tenho pra você um amor verdadeiro!
Venha! Venha amar!
Nem que seja por um segundo
O maior amor do mundo
Venha! Nesse momento tão especial
Para ser um amor sem igual
Venha!
93
Meu pensamento
Maria do Carmo Rodrigues
Meu pensamento,
Sempre acaba encontrando-o
Naquela imagem que
Guardei pra mim.
Ele é desobediente,
Vai aonde você estiver
Se ajeita... acomoda no seu peito,
Sente o aperto do seu abraço...
Apaixona-se, sempre
Leva-me até você.
Meu pensamento
Quando está em você... é seu.
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Cena de puro amor
Maria do Carmo Rodrigues
95
Quero você assim!
Maria do Carmo Rodrigues
Um amor sereno,
Um lugar pequeno,
Um segredo qualquer
Para sentir-me mulher.
Um palpitar no coração
Para aumentar a emoção
Um beijo eloquente
Que arde na pele da gente.
Um pedido, um sussurro
Para o lugar ficar mais seguro.
Um carinho bem de levinho
Que atiça por dentro, devagarinho
Você inteiro
Pode ser em janeiro
ou fevereiro.
Mas quando vier,
para ser sua mulher
tem que ser assim
bem pertinho de mim
Com um amor de querubim.
96
Silêncio da noite
Maria do Carmo Rodrigues
97
Toda manhã
Maria do Carmo Rodrigues
O dia se levanta...
Com cheiro de orvalho
Na folha da hortelã,
E com os primeiros raios de sol
Desabrocha a flor da manhã
98
Quando te vejo?
Maria do Carmo Rodrigues
Sempre!
Me vês no sol, na água, no vento, na terra, no firmamento.
Me vês no calor do teu corpo
Na força do teu abraço.
Me vês habitando a tua boca
No sabor do teu beijo
Me vês agora vibrando de contentamento...
Me vês no afago inesquecível das tuas mãos,
Me vês na poesia
Ao acordar, no amanhecer do dia.
Me vês no ontem, no hoje, no amanhã
Na tarde que prenuncia a noite ou na manhã da primavera.
Me vês naquela lua
Que circundava a torre da capela
No último degrau da escadaria...
No desejo, na fantasia.
Me vês assim
Cantando, versando a poesia que mora dentro de mim.
Me vês quando quiseres!
99
Eu e você
Maria do Carmo Rodrigues
Apago a luz
Estamos juntos
Eu e o silêncio!
Tão só,
Que permite meu pensamento circundar o espaço.
O mundo... a escuridão. Viajo no silêncio em busca de você,
Com sede do seu amor.
Vejo você...
Numa penumbra que me acalma,
Imagino todas as confidências,
Os sussurros, as carícias.
Imagino todas as peripécias de um amor arrebatador...
Não basta aquele pedaço de mundo...
Busco você em outras paisagens,
Busco você em outros momentos
Outro mundo da imaginação...
Envaidecida em tê-lo, só meu,
Adormeço
Embalada pela sua busca,
Nos braços do silêncio
Ouvindo a música longínqua
Que você cifrou pra mim,
Naquele silencioso momento...
Único
Do eu e você.
100
Há um segredo bem maior...
Maria do Carmo Rodrigues
101
Um dia quem sabe?
Maria do Carmo Rodrigues
102
PAULO PARANHOS
Cadeira no 7
Patrono: Diogo de Vasconcelos
Presidente da Academia Caxambuense de Letras: 2008-2010
Nascido na cidade do Rio de Janeiro, é cidadão caxambuense.
Bacharel em Direito e em Museologia. Licenciado em História
e em Letras. Mestre em História. Pós-graduado em Revisão de
Textos. Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de
Minas Gerais, da Academia Teresopolitana de Letras, da
Academia Luso-Brasileira de Letras, do Instituto Genealógico
do Sul de Minas Gerais. Autor de 35 obras, dentre as quais: Os
lindes das Gerais: formação do território sul das Minas Gerais;
História de Caxambu para jovens; Pelos caminhos de Caxambu:
história dos personagens que deram nome às ruas da cidade;
Terras Altas da Mantiqueira: caminho do ouro das Minas
Gerais; São Jerônimo: um historiador da Igreja na Antiguidade
Tardia; Hildegarda de Bingen, mística santa.
103
O Teatro em Caxambu
Paulo Paranhos
104
Presidente do CRAC, Walter Toledo Menezes, que acreditou e
incentivou essa significativa célula de cultura na cidade de
Caxambu. Da mesma forma, ao Governador eleito do Estado de
Minas Gerais, Dr. José Francisco Bias Fortes, que, estando em
Caxambu com a família, prestigiara o espetáculo “O divino
perfume”, de Renato Vianna, encenado em 24 de outubro
daquele ano.
A peça “Deus lhe pague”, de Joracy Camargo, foi por
diversas vezes interpretada, da mesma forma que “O último
Natal”, de Amaral Gurgel, um “verdadeiro cavalo de batalha”,
na expressão de Naif Rafael.
Dentre os atores mais constantes do grupo teatral
estavam o próprio Naif Rafael, Luiz Silveira, Genilda Peterle e
Americana Silveira, esta, segundo o próprio Naif, com talento e
beleza incomuns. Admirados pelo público da cidade, como
também, e principalmente, pelo público em trânsito nos hotéis
de Caxambu, o Grupo de Teatro do CRAC foi alvo de aplausos
e elogios os mais diversos, mesmo porque encenava peças,
inclusive, para eventos especiais ocorridos na cidade, assim
como Convenções do Rotary Clube e a 5ª Semana do Cinema
Brasileiro, aqui acontecida em abril de 1956. Isso mesmo!
Caxambu já sediou a Semana do Cinema Brasileiro, evento que
após alguns anos transferiu-se para a cidade de Gramado, no Rio
Grande do Sul.
Encenando grande número de peças entre os anos de
1954 e 1960, o grupo mereceu aplausos acalorados das mais
variadas plateias. Exemplo disso, quando da realização da 5ª
Semana do Cinema Brasileiro, em abril de 1956, aqui estiveram
personalidades marcantes do cinema e do teatro brasileiros.
105
Gilda de Abreu e Vicente Celestino naquela ocasião
foram enfáticos: Encontramos no Teatro do CRAC um grupo de
artistas que nos emocionaram profundamente pela disciplina e
entusiasmo que se sentia durante toda a bela peça ontem
representada. É por isso que deixamos aqui impresso o nosso
grande entusiasmo.
Outro expoente do cinema nacional, Anselmo Duarte, na
mesma ocasião e pela mesma peça encenada – “Os transviados
ou o Último Natal”, de Amaral Gurgel –, assim se manifestou:
Assisti à representação da peça “Os transviados” pelos artistas
do CRAC. Um espetáculo digno da plateia mais exigente, pois
os artistas que tive a imensa satisfação de ver representando são
melhores que muitos profissionais e dignos do aplauso do
público mais exigente do Brasil. A esses rapazes que dirigem o
CRAC e aos magníficos artistas os meus mais sinceros
parabéns. Nessa oportunidade, o grupo teatral se fez representar
por Luiz Silveira, Francisco Castilho, Diná Menezes, Manoel
Santos, Americana Silveira, Naif Rafael e Duarte Brochado.
Considerada um outro “cavalo de batalha” a peça
“Irene”, de Pedro Bloch, foi encenada por diversas vezes em
ambiente doméstico e em outros locais, assim como em Cruzília,
Baependi, Lambari e São Lourenço. No entanto, dignas de nota
foram as apresentações em Caxambu em duas oportunidades: a
primeira delas, no dia 28 de outubro de 1956, homenageando
Eliza Guedes e Alda Mello, ambas por terem conquistado o
título de “campeãs mineiras de tênis”, nas modalidades simples
e dupla feminina; a segunda, nos dias 29 e 30 de janeiro de 1957,
em benefício da construção do monumento ao Cristo Redentor
106
no alto do Morro do Caxambu. Em ambas as representações, a
equipe teatral era secundada no ponto por Salma Sarkis.
107
encenada, merecendo o aplauso acalorado de veranistas e
residentes de Caxambu. A foto a seguir mostra uma cena do 2º
ato, estando presentes na mesma Álvaro Clébicar, Genilda
Peterle e Naif Rafael.
108
Carmo, Marília Caldas, Nilza Menezes, Paulo Sacramento,
Rilma Viotti e Ubirajara Mosqueira, além da competente
participação de José Pereira Dantas como cenógrafo, garantindo
a todos os espetáculos uma qualidade digna das grandes casas
teatrais de outras praças.
Além das peças assinaladas anteriormente, dignas de
nota são: “Cala a boca, Etelvina”, uma comédia de Armando
Gonzaga; “Retalho”, um melodrama em 3 atos traduzido por
Dário Nicodemi; “O Isidoro”, comédia em 3 atos, de João
Garrucha; “Morre um gato na China”, comédia em 3 atos, de
Pedro Bloch; “Se Anacleto soubesse”, comédia em 3 atos, de
Paulo Orlando; “Aconteceu naquela noite”, em 3 atos, de autoria
de J. Wanderley e D. Rocha; “O diabo enlouqueceu”, comédia
de Paulo Magalhães, em 3 atos; “Apuros de um coronel”,
comédia em 2 atos, de autoria de Teixeira Pinto; o afamado
“Deus lhe pague”, do consagrado dramaturgo Joracy Camargo e
a internacionalmente conhecida “Casa de Bonecas”, do
dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, que mereceu, após a sua
apresentação, o seguinte comentário do então Presidente do
Conselho Deliberativo da Associação Paulista de Imprensa:
Nada mais fácil do que elogiar o grupo de teatro amador do
CRAC nesta apresentação. Seus intérpretes deram uma
demonstração de conhecimento de teatro que muitos
profissionais gostariam de possuir. Posso afirmar, dentro da
experiência que possuo, que os amadores do teatro de Caxambu
farão sucesso em qualquer cidade onde o teatro seja mais
difundido. Desejo felicitar o CRAC e, em particular, o diretor
artístico, Júlio Pereira, a quem se deve, como é óbvio, muito
desse sucesso, senão todo.
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Wilson Grey, um dos mais conceituados atores
nacionais, também esteve em Caxambu, por ocasião da 5ª
Semana Nacional do Cinema, e, na oportunidade, deixou
gravado o seu depoimento com relação ao teatro do CRAC:
Assisti à representação dos artistas amadores do grupo
C.R.A.C. em companhia dos meus companheiros do Rio e
confesso sem querer agradar que fiquei verdadeiramente
impressionado com a representação desses jovens que merecem
toda admiração não só do povo local como de toda cidade onde
a cultura penetrou. Termino pedindo a Deus sinceramente que
ajude estes jovens já que as nossas autoridades não o fazem.
Wilson Grey, cujo nome verdadeiro era Wilson Chaves, nasceu
no Rio de Janeiro em 1923 e ali faleceu em 1993; foi o ator
brasileiro com a maior filmografia, construída em mais de 40
anos de trabalho, e tem seu nome inscrito no Guiness Book.
Em 1956, também por conta da já mencionada Semana
Nacional do Cinema, um outro famoso casal daria suas
impressões sobre o teatro amador do CRAC: a consagrada
acordeonista Adelaide Chiozzo e seu marido, o musicista Carlos
Mattos, que assim se expressaram sobre o nosso grupo teatral:
Vivemos a grande satisfação de assistirmos à peça Irene.
Satisfação esta causada pelo desempenho dos artistas que dela
participaram. Fazendo votos de crescente êxito em suas
representações futuras, aqui deixamos nossas assinaturas,
assinaturas estas portadoras dos melhores votos de boa sorte.
Carlos Mattos nasceu no Rio de Janeiro em 1926 e ali faleceu
em 2006; era violonista e professor de violão; Adelaide Chiozzo
nasceu na cidade de São Paulo em 1931. Participou de grande
número de filmes da extinta Atlântida, quase sempre na
110
companhia de Oscarito, Grande Otelo, Ivon Curi e Eliana.
Adelaide participou de algumas novelas na televisão, sendo o
seu último trabalho em “Feijão Maravilha”. Recebeu da Revista
do Rádio o título de “Namoradinha do Brasil” (muito antes de
Regina Duarte, diga-se de passagem).
Também dignos de notas foram os depoimentos
consignados pela professora de teatro da Escola Celestino da
Silva, do Rio de Janeiro, Juranda das Dores Gomes; da
professora Yara Perdigão-Drapier, de São Paulo e do casal
Arthur Donato e Hermínia Faro Donato, que passaram as suas
bodas de 35 anos de casamento em Caxambu: É
verdadeiramente encantador encontrar-se n’um meio fraco de
recursos, o ânimo entusiasta de um grupo de estudiosos para a
realização de um templo de arte como o que nos foi dado
apreciar no espetáculo desta noite. Sobre este casal, ainda cabe
uma anotação: o grande escritor Pedro Nava, em sua obra Chão
de ferro, lembrou, através de um dos seus personagens, sua
intimidade com o general Silva Faro, pai de Arthur Donato,
traçando uma bela estampa da moça: Hermínia tinha olhos de
água-marinha.
Grandes nomes, grandes atrações, inegáveis e
inquestionáveis participações artísticas, tudo isto foi o reflexo de
uma Caxambu de tempos passados, passados...
111
ROBERTA RIHÖLÈ FULANI
112
A calçada
Roberta Rihölè Fulani
riscada
de amarelinha
as pedrinhas
pulando
em cada
quadro
de giz
(ampulheta
infância
a marcar) ...
E nossos pés
_ crianças
em
pleno
voo
até chegar
no CÉU.
113
Dessa vez...
Roberta Rihölè Fulani
114
Na chávena
Roberta Rihölè Fulani
O líquido.
No bule, mais cores.
A língua, o gosto,
o gesto...
Sabores tantos
por sentir.
É sede
é fome
desejo
é gosto
querer
um tanto
é gozo
enfim.
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Pari luxúrias
Roberta Rihölè Fulani
Pari luxúrias
quis ter você.
Abri meu ventre à prece
de tocar
minh’alma na sua
e os seus lábios
nos meus.
Lancei conjuros
e me joguei na reza
de amoramigo,
abrigo
em versos seus.
116
Sempre Alice
Roberta Rihölè Fulani
— Ela acordou?
— Sim... E nem se levantou.
— Será que ela já sabe...
— Não sei.
— ... que não é esse um país de maravilhas?
— Não há coelho para contar.
— Nem chapeleiro e nem xícara de chá.
— Há vozes que se calaram.
— E quantas outras por calar?!
— Talvez ela não saiba.
— Alice onde está?
— Ela não sabe.
— E não quer acordar.
— Não sabe.
— Deixe Alice.
— Será?
— É preciso deixá-la.
— Ela está só.
— Deixe Alice! Ela tem a chave.
E só ela tem
um caminho
de volta.
117
Tenho nove anos...
Roberta Rihölè Fulani
118
119
120