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DANÇANDO NO EXTREMO

DA TERRA

Aventuras na Indonésia pelo espírito de


Elias

William Lau

The Elijah Challenge


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Todos os versículos bíblicos são da Nova Versão Internacional


(a menos que indicado o contrário)
Copyright © 1973, 1978, 1984 pela Sociedade Bíblica Internacional
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Capítulo Um

Seguindo os passos de Abraão

Os olhos de Chen Sookmay pareciam prestes a saltar das órbitas


quando minha esposa, Lucille, e eu os examinamos profundamente, esperando
encontrar algum traço de seus atormentadores. Grossas lentes aumentavam
suas pupilas, mas seus olhos arregalados eram um símbolo do terror que
chegaria quando ela fosse arremessada ao chão de sua choupana em Bornéu,
numa agitação enlouquecida. Chen Sook, seu ansioso esposo, sentou-se
conosco. “Minha esposa vem tendo estes ataques terríveis de epilepsia há mais
de dez anos”, disse ele. “Por favor, orem por ela”. Chen Sookmay significa Tia
Chen, e Chen Sook, Tio Chen.

Dei uma rápida olhadela para onde ela estava sentada, na outra
extremidade da mesa doméstica simples, e vi pouca reação. “Como tem
passado, Chen Sookmay?”, perguntou Lucille, esperando tranquilizá-la. Ela
sorriu fracamente por detrás de seus grossos óculos. Percebi que os ataques
diários de epilepsia a tinham deixado entorpecida, bem pouco consciente do
que estava à sua volta.

“Quando isso acontece”, prosseguiu o marido, “ela é lançada no chão


repentinamente; seu corpo se enrola com um camarão e convulsiona
violentamente. Então, qualquer um que esteja em casa corre até ela para
impedi-la de se ferir. Depois de meia hora mais ou menos, o ataque cessa. Ela
permanece inconsciente, totalmente esgotada. Nós a levantamos do chão e a
deitamos em sua cama. Dentro de algumas horas ela se levanta, exausta, sem
saber o que lhe aconteceu”.

Para mim e Lucille aquilo soava como o caso do menino epilético que
foi levado por seu pai aos discípulos de Jesus, conforme o relato de Marcos 9.
As pessoas atribuíam aquela aflição a um espírito imundo poderoso, que os
discípulos não puderam expulsar.

“O mais estranho”, acrescentou Chen Sook, “é que antes de cada


ataque sentimos uma inquietação se espalhar por toda a casa”.

Podíamos sentir o mal que prendia Chen Sookmay em suas garras,


mas nunca tínhamos lidado com esse tipo de força. A situação pareceria
desesperada se nós, inocentemente, não tivéssemos confiado no nome de
Jesus, diante do qual todo joelho deve se dobrar.

Juntamente com nosso novo cooperador, o irmão Elias, começamos a


ministrar a Chen Sookmay. Embora ela não estivesse em condições de

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compreender o Evangelho, seu marido já era crente naquela ocasião. Em 1
Coríntios 7.14 Paulo escreve que a esposa descrente é santificada por seu
marido crente – e vice-versa. Os benefícios imediatos da salvação do
companheiro crente estão disponíveis até mesmo para o cônjuge descrente –
embora isso não inclua o livramento total do juízo. Assim, devido à fé e ao
pedido feito pelo marido, passamos a ordenar que o espírito imundo a
deixasse, em nome de Jesus Cristo. Durante cinco minutos nada aconteceu.
Ela apenas permanecia ali sentada, nem um pouco afetada pelos nossos
esforços. Então perguntamos ao Senhor o que deveríamos fazer.

Uma vez que Chen Sook era um novo convertido, perguntei se


poderia haver alguma coisa em sua casa que fosse abominável ao Senhor.
Talvez, antes de se tornar crente, ele tivesse recebido algum talismã ou
amuleto destinado ao tratamento do mal que assolava sua esposa. Os
feiticeiros locais geralmente fazem tais prescrições para seus pacientes, os
quais acabam por acumular uma coleção desses objetos. Os talismãs podem
ser encontrados pendurados nas paredes em todas as partes, ou são
esquecidos nos quartos e gavetas das escrivaninhas.

Chen Sook desapareceu no interior da choupana, reaparecendo


momentos depois com alguns amuletos. Ele os entregou a nós, que os
queimamos. Então, continuamos a ministrar a Chen Sookmay. A porta da
frente, que geralmente permanecia aberta no calor abrasador do meio dia, na
miserável habitação, foi fechada.

Então ordenei: “Em nome de Jesus Cristo eu ordeno que você se manifeste,
demônio!” De repente, a cabeça de Chen Sookmay pendeu. Seus olhos, antes
abertos, se fecharam. “Isso geralmente acontece antes do ataque”, comentou
Chen Sook. Lucille colocou as mãos sobre a cabeça da mulher e, com os olhos
fechados, orava suavemente. Eu também fechei os olhos.

“Bill!” O grito de Lucille quebrou a quietude do momento. “Minhas mãos,


minhas mãos! Eu as tinha colocado em sua cabeça, mas olhe! Algo as
afastou!” Lucille tinha colocado suas mãos, uma de cada lado da cabeça de
Chen Sookmay. Porém, quando abriu os olhos, viu que elas já não estavam no
mesmo lugar, mas tinham sido afastadas para longe. Alguma força invisível se
irradiara para fora da cabeça de Chen Sookmay, e empurrara as mãos de
Lucille para longe. Tínhamos vindo em nome de Jesus Cristo, e os
atormentadores de Chen Sookmay estavam nos desafiando. Eu aceitei o
desafio.

“Eu amarro você, demônio! Saia dela agora mesmo, em nome de


Jesus Cristo! Saia, agora!”, ordenei.

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Olhando para aquela frágil mulher inocente, fiquei penalizado. “Você está
bem?”, perguntei, olhando-a no rosto com ternura, o que ouvi e vi então, não
pode ser descrito adequadamente.

Sua cabeça se levantou em minha direção. Seus olhos estavam então


totalmente abertos, quase saltando das órbitas, fixos em mim com uma
expressão de ódio e fúria. Um grunhido gutural escapava de sua garganta, não
mais desafiando, mas agora ameaçando. O medo surgiu dentro de mim; minha
confiança evaporou.Elias deu uma olhada para a face terrível do adversário e
quis correr porta afora rumo à segurança. O terror também tomou conta de
mim. Minha alma gritava: Corra! Esta coisa vai atacar você!

Contudo, algo em meu íntimo não permitiu que eu fugisse. Mesmo


tendo consciência do medo, senti fervilhar uma indignação para com aquele
demônio que ousara resistir ao nome de Jesus Cristo. Então me mantive firme,
fortalecido pelo Espírito Santo. Resistindo deliberadamente ao medo, aproximei
o meu rosto até ficarmos nos encarando olho no olho e aquela face horrível
cresceu diante de mim.

“Em nome de Jesus Cristo, saia!”, gritei, recusando-me a exibir o


meu medo e reunindo tudo o que me restara de coragem. “Saia!”

A expressão maligna se desfez. Chen Sookmay se encolheu, e depois


de um breve momento, ela abriu os olhos. Era ela mesma. Nunca mais ela
sofreu com aquelas convulsões violentas. O homem valente tinha sido
finalmente expulso de sua habitação de longa data, em nome do Salvador,
Jesus Cristo.

Eu contemplei a paz na mulher que era tão atribulada. Eu havia visto


a força da besta que a atormentava. Mas também havia visto quão
rapidamente o homem valente teve de se render na presença do Senhor.

De fato, a razão pela qual eu e Lucille estivemos naquela cabana


quente e úmida na selva no oeste de Bornéu naquele dia foi porque tínhamos
sido impulsionados pelo poderoso toque de Jesus, uma energia motivadora tão
forte, que nós estávamos dispostos a deixar de lado todos outros sonhos e
planos. Eu compreendi o porquê os demônios deveriam sair ao comando de
Jesus. Também ouvi Sua voz e não poderia permanecer onde estava.

Em minha educação formal estava há cerca de um ano de conquistar


o Ph. D em psicologia experimental, na Universidade da Califórnia. Porém,
quando o Espírito Santo me tocou, desisti dos meus sonhos acadêmicos para
seguir um chamado que me elevaria para o nobre reino de Deus. Estava
determinado a ver com meus próprios olhos os mesmos prodígios incríveis os
quais cativaram as testemunhas oculares da expansão do primeiro século.

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Transferi-me para uma escola teológica e, durante meu primeiro
semestre de seminário na Califórnia, uma urgência poderosa tomou conta de
mim.

Sempre que tínhamos uma oportunidade, geralmente nos finais de


semana, meu caro amigo e colega de classe, Steve Shepard e eu, juntamente
com outros seminaristas, engajamos em um “evangelismo radical”. Um
megafone e folhetos evangelísticos eram equipamentos padrões. Nós fazíamos
das calçadas e esquinas das ruas o nosso púlpito. Gritando através do
megafone, nós estimulávamos nossa congregação - isto é, aqueles que por ali
passavam naquele momento - a se arrependerem e crerem em Jesus como
Senhor e Salvador.

Algumas vezes, eu colocava meu megafone no teto ou no capô do


meu carro, com um microfone em uma mão e o volante na outra, e
evangelizava os meus companheiros motoristas. Pessoas desatentas dirigindo
por ali se viam abordadas por este guerreiro espiritual das estradas que
reduzia ou acelerava seu pequeno Fiat verde para alcançá-las no caminho,
impelindo-as a se arrependerem. Certa vez levei meu megafone para uma área
onde se falava espanhol em Santa Ana, próximo à Anaheim. Eu não falava o
idioma, mas estava armado com uma tradução em espanhol das Quatro Leis
Espirituais.Demarcando uma parte da calçada diretamente de frente a um
pequeno prédio de apartamentos, coloquei o megafone em alto volume,
direcionei para o prédio e comecei a ler o folheto, pronunciando cada palavra
em espanhol como pensava que deveria soar. O som da minha bazuca sonora
atingiu os apartamentos, portas foram abertas e cabeças se estendiam para
olhar. Muitos logo se recolheram assim que perceberam que era apenas um
fanático religioso chinês.

Contudo, um pequeno grupo de crianças mexicanas congregava na


minha frente, ouvindo atentamente. Encorajado, li o folheto até a última linha.
Então perguntei quem gostaria de crer em Jesus Cristo como Senhor e
Salvador. Para minha alegria todas as mãozinhas se ergueram. De fato, o
Reino de Deus pertence a estes. Infelizmente, como não falava espanhol, não
pude aconselhar aqueles novos convertidos sobre como crescer em Cristo.
Então finalizei o culto.

Tal evangelismo, embora intrigante, não foi satisfatório para mim.


Não fora tão frutífero como eu gostaria. Não que tal evangelismo não possa ser
frutífero, pois o Reino de Deus é claramente abençoado por meio daqueles que
são chamados para ministérios como o de pregação nas ruas. Contudo, no
meu caso, desejava algo mais amplo e real que o evangelismo de final de
semana que estava fazendo. Ansiava pregar o Evangelho em tempo integral e
ver a glória e as maravilhas de Deus, em confirmação a Sua Palavra.

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Então, quando me vi frustrado com relatórios, exames e livros
(embora agora fossem de teologia), pensei em abandonar o seminário. Ainda
faltavam mais de dois anos para uma formação em Mestre em Divindade. Eu
não podia esperar. Será que, pela fé, deveria me lançar em um ministério de
tempo integral?

Com o passar do tempo essa idéia ganhou força embora houvesse


muitos argumentos contra. Minha mente argumentava, “Você é um cristão há
menos de dois anos. Você ainda nem leu certas partes do Antigo Testamento!
E o que poderá fazer sem uma formação em um seminário? Você não tem
experiência em ministérios da igreja, nem como presbítero, diácono, professor
de Escola Bíblica Dominical, líder de estudos Bíblicos ou obreiro de jovens.
Certamente nenhuma igreja o levaria a sério como você se encontra hoje.”

Mas a voz em meu coração não se calava. “Largue tudo o que estiver
fazendo”, ela dizia, “e vá, proclame as riquezas de Cristo Jesus às nações.”
Louvei a Deus quando percebi que o Espírito Santo havia dissipado a multidão
de argumentos humanos que fervilhavam em minha mente. Seu conselho
finalmente me colocaria na iminência da aventura da minha vida. Eu tinha que
ir. Mas para onde?

Não ter referências formais fecharia as portas para nós. Talvez se


fossemos para um lugar onde as pessoas não conhecessem sobre formações,
eu poderia ministrar. Onde estaria tal lugar? Claro! O campo missionário no
exterior. Se fossemos a um país onde não houvesse crentes, somente gentios,
quem se importaria com ordenações ministeriais? A lógica foi inspirada.

O Senhor havia me dado uma linda esposa que nascera na Indonésia.


Lucille falava indonésio e chinês perfeitamente e seus pais, cristãos, viviam em
Jacarta, a capital da Indonésia. A escolha lógica para o nosso trabalho
missionário seria a Indonésia.

Os missionários, obviamente, precisam de igrejas para enviá-los e


apoiá-los financeiramente. Geralmente eles se juntam a uma organização
missionária a qual fornece treinamentos e portas abertas para o ministério no
país desejado. Mas isso é exatamente o que não tínhamos. Qual igreja ou
organização missionária recebe e envia alguém que não tenha as qualificações
requeridas? Estávamos em um beco sem saída! E não tínhamos nem sequer o
dinheiro para a passagem aérea. Mas eu não me preocupei. Já havia crido que
nada é impossível para Deus.

Em Lucas 6.38, a Bíblia diz, “Dêem, e lhes será dado: uma boa
medida, calcada, sacudida e transbordante será dada a vocês.”

Precisávamos dessa boa medida para executar a comissão que o


Senhor nos dera. Nossa necessidade mais urgente eram as passagens aéreas,
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cerca de dois mil dólares, para duas pessoas. Outras necessidades, tais como
sustento mensal no campo missionário, não nos preocupavam. Sentíamos que
o Senhor certamente proveria após termos iniciado Sua obra. Mas
primeiramente deveríamos chegar lá.

De acordo com o texto de Lucas, deveríamos dar primeiro e Deus


então proveria. Outra maneira seria se nós reduzíssemos os gastos e
guardássemos algum dinheiro até que houvesse o suficiente para comprar os
bilhetes aéreos. Mas optamos pelo contrário a isto, pois desejávamos a
emoção de nos lançarmos pela fé nas promessas do Senhor. Além disso,
poderíamos ter gastado anos para ajuntar a quantia necessária. Eu não
ganhava dinheiro algum como seminarista de tempo integral e Lucille nos
sustentava trabalhando, como vendedora, em uma loja de departamentos. No
final de cada mês, após o pagamento das contas, praticamente nada sobrava.
Um modo muito mais rápido e emocionante de levantar o recurso financeiro
seria entregar o pouco que tínhamos para receber muito de volta.

Se o nosso plano de irmos para a Indonésia fosse de Deus, Ele


certamente nos bancaria. Por esse motivo, não procuramos ativamente
levantar recursos. Se eles viessem, confirmariam para nós que estávamos na
vontade do Senhor.

Um dia, na primavera, recebemos o nosso reembolso do Imposto de


Renda, totalizando algumas poucas centenas de dólares. Era muito pouco
perto do que necessitávamos para as passagens para a Indonésia, mas já era
um começo. Muito alegremente depositamos o cheque em nossa conta
bancária. Mas certa noite, não muito tempo depois, um colega de classe ligou
para mim. Ele, sua esposa e filhos estavam a ponto de serem despejados do
apartamento onde moravam, pois não haviam quitado o aluguel. Esse querido
irmão suplicou por ajuda.

“De quanto você precisa?”, perguntei. Era pouco mais de cem


dólares, bem menos que a quantia que recebemos do reembolso do Imposto
de Renda.

“Podemos lhe dar o dinheiro, irmão”, eu respondi sem hesitar. Então


ele mencionou outras dificuldades financeiras pelas quais passava. Percebendo
que este fora mais um pedido de ajudar, mesmo sem tê-lo dito, tornei-me
impaciente. “Já não fui generoso o bastante, irmão?” Contudo, por mais
estranho que pareça, durante uma pausa em nossa conversa ouvi-me
perguntando, “De quanto mais você precisa, meu irmão?”

A quantia que ele precisava totalizava um pouco menos que o valor


do reembolso. Se eu lhe desse a quantia total, nossas economias para as

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passagens para a Indonésia teriam ido embora. Mas parecia que eu não estava
mais no controle da minha própria língua.

“Nós, sim, sim, nós podemos lhe ajudar.” As palavras pareciam saltar
da minha boca por si mesmas. Mais tarde, naquela noite, fiz um cheque para
cobrir suas despesas e enviei para ele. Nosso reembolso do Imposto de Renda
se fora. Mas um sentimento de alegria e alívio me confortou, pois naquela
noite o Senhor havia me libertado do egoísmo e me capacitado a dar
generosamente. Aleluia! Por meio da obediência à Palavra nesta e em outras
ocasiões, coloquei em ação os inabaláveis princípios de dar e receber pelos
quais Deus supriria para nós as passagens para a Indonésia.

Então, uma carta chegou da cidade de Nova Iorque. Era de minha


irmã mais velha, Amy. Ao abrir o envelope, um cheque de mil dólares caiu em
minhas mãos. Nunca alguém nos havia enviado tão grande quantia. De acordo
com o bilhete que estava junto o dinheiro era para as nossas necessidades.
Mas quais necessidades? Será que ela havia tomado conhecimento dos nossos
planos de irmos para a Indonésia e se sentira obrigada a nos ajudar? Eu liguei
para ela a fim de saber se os mil dólares eram dela ou de Deus.

“Não, Bill. Apenas fui conduzida pelo Senhor para lhes enviar a
oferta.”

Eu sabia que Deus estava confirmando para mim, por meio de um


sinal miraculoso, que Ele desejava que fôssemos. Ele nos deu esse sinal
porque estávamos dispostos a abrir mão de tudo e obedecer às Escrituras.
“Dêem, e lhes será dado: uma boa medida, calcada, sacudida e transbordante
será dada a vocês.”

Com esse presente de minha irmã ainda nos faltava mil dólares. Mas
não tínhamos dúvidas de que em breve o Senhor proveria. Com uma alegre
expectativa começamos a fazer planos de partirmos para a Indonésia no verão
após o término do semestre letivo, no qual estava participando. Pois “tudo é
possível ao que crê.” (Marcos 9.23) Quando alguém crê verdadeiramente, age
sem esperar circunstâncias favoráveis. Restavam apenas meses para terminar
o semestre, quando um dia o presidente do Conselho Estudantil do seminário
nos chamou. Ele mencionou uma certa reserva financeira que seria destinada
às missões de verão. A cada verão o dinheiro nessa reserva era dividido e
canalizado aos alunos que desejavam se envolver em missões internacionais.
Naquela primavera, enquanto o Conselho Estudantil avaliava os vários
candidatos para essa ajuda, eles decidiram oferecer o valor total da reserva
para nós. Não sabíamos da existência dessa reserva nem jamais havíamos
pedido alguma ajuda ao Conselho Estudantil. E a quantia? Exatamente mil
dólares. Deus estava trabalhando em nosso favor, que críamos e desejávamos
serví-lO!
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Assim, no dia 10 de julho de 1978, eu e Lucille deixamos os Estados Unidos
para seguir nosso sonho. Ansiávamos ver a glória do Senhor. Muito tempo
atrás Deus desafiou um homem chamado Abraão a deixar seu país em favor
da grandeza do Reino. Igualmente, sentimos Deus nos desafiando a deixarmos
as planícies de uma existência tímida e monótona e andarmos sobre as águas
da fé. Nós aceitamos o desafio e saltamos em uma aventura, de deixar os
cabelos em pé, no Espírito, a qual incluiu a maravilhosa libertação de
Sookmay.

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Capítulo Dois

Desistindo do Sonho Americano

Em 1970, Lucille subiu rápida e repentinamente ao céu nas asas de


um sonho – e agora estávamos viajando exatamente na direção oposta. Na
verdade ela cresceu na Indonésia. Aos 17 anos, inflamada por uma ambição
vigorosa de impactar o mundo, ela viajou aos Estados Unidos. Com seu
intelecto aguçado, ela foi aceita na Columbia University, em Nova Iorque, onde
nos conhecemos.

Agora Lucille havia colocado seu intenso sonho em um altar de


lágrimas, assim como, um dia, Abraão colocou Isaque. Sua mão trêmula
estava erguida sobre o corpo próspero da esperança que ela tinha nos Estados
Unidos, pronta para cravar o punhal que a mataria para sempre. Entre os seus
mais doces desejos estava viver nos Estados Unidos para sempre e tornar-se
uma cidadã americana. Contudo o chamado de Deus que ela compartilhava
comigo esmagou seus desejos humanos, agora ela estava voando de volta
sobre o Pacífico – um oceano que antes ela pensava não ser largo o suficiente
para separá-la de sua terra natal.

Apenas alguns minutos após a decolagem, do Aeroporto Internacional


de Los Angeles, enquanto os passageiros se acomodavam para o longo voo até
Hong Kong, o primeiro trecho de nossa viagem para Jacarta, a compreensão
do que havíamos feito começou a cair sobre mim. Estávamos deixando para
trás tudo aquilo que conhecíamos e amávamos. Em algum lugar lá embaixo
estava a nossa família e irmãos em Cristo, na região de Anaheim, que tal
amavelmente nos encorajaram em nossa visão. Abrimos mão de nossas posses
terrenas. O mais crítico para nós foi a sensação de deixar o país. Os Estados
Unidos para nós significavam conforto, segurança e familiaridade. Era o nosso
lar. E agora eu havia partido e me dirigia a uma terra estranha e
desconhecida. Nosso pai Abraão deixou seu país pela fé para ir a uma terra
que seria mostrada a ele somente após sua chegada. Semelhantemente,
deixamos tudo o que conhecíamos e estimávamos para irmos a um destino
conhecido apenas por Deus.

Um mar de emoções fluiu dentro do meu coração. Eu cobri meu rosto


para que os passageiros ao redor não o vissem. Lágrimas regavam minhas
mãos enquanto a percepção do que havíamos feito me atingiu em cheio. Eu
estava agora completa, incondicional e irrevogavelmente por conta da obra de
meu Pai, totalmente em Suas mãos, meu futuro completamente dependente
dEle. Ninguém na Indonésia, nem mesmo os pais de Lucille, esperavam que
fôssemos para lá. Em meu coração havia um sentimento de que, finalmente, o
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Senhor era meu Deus. Comecei então a chorar a ponto de soluçar
incontrolavelmente diante dEle.

De acordo com o pensamento natural, Lucille e eu éramos tolos. O


que possivelmente poderíamos fazer? Testemunhar nas ruas de Jacarta? Mas
isso já havíamos feito nas ruas do sul da Califórnia, sem muito impacto. Se
não fossemos testemunhar nas ruas, o que então? Na melhor das hipóteses
poderíamos dar uma palavra de encorajamento em uma igreja da Indonésia
quando convidados. A perspectiva de um ministério frutífero era difícil de ser
visualizada. Nossas mentes pensavam até na possibilidade de portas fechadas
e de um retorno aos Estados Unidos, em fracasso.

Todavia, escolhemos ser aventureiros de Deus. Não ganharíamos


coisa alguma se não arriscássemos algo. Em Deus há tanto para se ganhar e
nada de grande importância a se perder para aqueles que ousadamente O
seguem com a luz que eles têm.

O Senhor firma os passos de um homem, quando a conduta deste o


agrada; ainda que tropece, não cairá, pois o Senhor o toma pela mão.
(Salmo 37.23,24)

Mas o que esperávamos conquistar? Ansiávamos ganhar vidas para o


Reino de Deus. Talvez o Senhor nos levasse a algum lugar onde não houvesse
cristãos. Ali poderíamos ministrar sem os certificados ministeriais. Mas isto
teria que ser próximo aos pais de Lucille, em Jacarta. Caso eu fosse preso por
pregar o Evangelho às pessoas de outras religiões, meu sogro poderia pagar
minha fiança. Ou se ministrássemos em aldeias remotas, poderíamos retornar
à cidade nos finais de semana para sermos mimados. Resumindo, queríamos
um refúgio de conforto e segurança não distante do nosso local de ministério.
Caso surgisse uma necessidade, ele estaria por perto para ajudar.

Já havíamos mostrado nossa fé ao Senhor ao partirmos para a


Indonésia sem depender do homem. Certamente Ele não se importaria se, ao
chegarmos em uma terra estrangeira com seu idioma, costumes e deuses
estranhos, eu procurasse por segurança no homem.

Passamos a noite em Hong Kong e retomamos nossa viagem no dia


seguinte indo em direção ao sul da Indonésia, um arquipélago a 3000 milhas
de distância, habitado pela quarta maior população do planeta.

Ao pousarmos em Jacarta, o crepúsculo estava sendo tragado pela


noite. Enquanto a aeronave taxiava na pista rumo ao seu portão, os holofotes
amarelos do aeroporto reluziam para mim hostilmente em minha janela. Eram
um aviso de que havíamos chegado em uma terra de escuridão. Pegamos
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nossas malas e lentamente marchávamos rumo à saída. Assim que saí da
cabine refrigerada para descer as escadas rumo à pista, uma onda de calor
opressivo me envolveu. Esta era a Indonésia, um forno sufocante. Havíamos
chegado.

Assim que, inesperadamente, entramos na casa, vindos do outro lado


do mundo, o pai de Lucille nos olhou fixamente, como se não acreditasse que
estávamos ali em sua frente em sua sala de estar. “Algo terrível aconteceu”,
ele pensou. “E de onde eles conseguiram o dinheiro para virem para cá?”

Após recuperar-se do choque, ele perguntou, “O que é que vocês dois


estão fazendo aqui?!”

“Diga a seu pai que viemos pregar o Evangelho na Indonésia”, eu


disse, me virando para Lucille. Ela traduziu para o chinês minha resposta a ele.
A surpresa tornara-se em uma terrível preocupação. O pai de Lucille era um
cristão ativo. Ele conhecia bem a situação extremamente confusa de
obstáculos e frustrações pronta a engolir àqueles que proclamassem a Cristo
em seu país, uma terra de adoração a ídolos e feitiçaria. Este genro deveria ter
perdido o juízo. Afinal de contas, ele era americano, não acostumado ao
idioma, leis, cultura, clima, comida, estilo de vida e sem experiência
ministerial. O que ele poderia fazer aqui na Indonésia a não ser tornar-se um
fardo?

Naquele dia, contudo, meus sogros receberam em casa, como


hóspede, um pastor chinês bem conhecido, Dr. Philip Teng, de Hong Kong. Dr.
Teng acabara de completar um período de trabalho missionário de seis meses
em uma região chamada Kalimantan Ocidental, e viera a Jacarta para um
breve descanso. Ao ter uma oportunidade, aproximei-me dele e lhe contei o
porquê viera para a Indonésia.

“O que você acha que eu poderia fazer aqui na Indonésia? Onde


poderia ministrar?”

“Meu jovem”, respondeu ele, sem hesitação, “se você deseja servir o
Senhor aqui na Indonésia deve ir para Kalimantan.”

“Kalimantan?”, perguntei. Virando-me para Lucille, perguntei, “Onde


fica Kalimantan?”

“Bill”, ela respondeu, “Kalimantan é o nome Indonésio para a ilha de


Bornéu!”

Na mente da maioria dos orientais, o nome traz à lembrança imagens


de canibais cortadores de cabeças, serpentes que engolem humanos,
orangotangos, crocodilos e florestas enfumaçadas infestadas de mosquitos.

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Não, não conseguia imaginar-me brandindo um facão de corte, abrindo
caminho pelas matas à procura de nativos vestidos com tangas para
evangelizá-los. Eu definitivamente não era um homem do mato. Além disso,
Lucille era uma moça delicada, criada na cidade, quase nunca saía de casa
enquanto crescia em Jacarta. Simplesmente o fato de sair de caso, quanto
mais ir para Bornéu, a deixava ansiosa.

Bornéu? Uma ilha a várias centenas de quilômetros da civilização em


Jacarta... muito, muito distante. E além disso não conhecíamos ninguém lá.
Sem contatos, como poderíamos iniciar nosso ministério? Lucille nunca
estivera lá. A ideia de ir para lá a aterrorizava mais que a mim. Já havíamos
sido ousados o suficiente deixando tudo para trás no Estados Unidos e indo
para a Indonésia pela fé. Certamente Deus não iria testar nossa fé além de seu
limite e nos enviar para as remotas florestas de Bornéu!

Comecei a jejuar e buscar no Senhor acerca do ministério que Ele


tinha para nós. Esperançosamente, Ele nos abriria uma porta na adjacências
de Jacarta. Batemos em algumas portas, visitando igrejas e ministros na
cidade. Mas nenhuma porta parecia abrir-se para nós. Além do mais, fomos
informados que as autoridades em Jacarta não apoiariam nem um pouco o tipo
de “evangelismo radical” a céu aberto que praticávamos na sul da Califórnia.
Com o passar do tempo, Bornéu começou a parecer cada vez melhor.
Encontramo-nos com missionários e ministros experientes em Jacarta, pedindo
conselhos acerca de ministrarmos em Bornéu.

“Então vocês querem ir para Bornéu e pregar o Evangelho?” Tom e


sua esposa, que serviam juntamente a uma organização missionária americana
sediada em Jacarta, receberam a mim e Lucille muito cordialmente. Durante o
jantar na casa deles, nós lhes contamos sobre nossa direção de irmos para
Bornéu, porém fomos francos com relação a nossa falta de treinamento e
apoio das organizações. Todavia, demonstrávamos confiança no Senhor do
impossível.

Tom foi sincero conosco, desejando poupar-nos de incontestável


fracasso e desilusão.

“Já estive lá e não é fácil. As condições de moradia podem ser


precárias. O transporte é muito ruim. E vocês não sabem coisa alguma sobre
as pessoas e seus modos. Vocês não saberão como lidar com eles. Eu os
aconselharia a não ir.”

Mais uma vez ouvimos o mesmo conselho: “Não vão.” E caso fossemos, seria
apenas para observar e aprender. Alguém sem treinamento formal não poderia
esperar realizar nenhuma obra séria em Bornéu. Até mesmo missionários
experientes passavam por dificuldades. Deveríamos retornar aos Estados

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Unidos e ali sermos treinados e então, depois de alguns anos, tentarmos
novamente. Afinal de contas, como duas pessoas ingênuas, ainda que
transbordando fé e visão, poderiam ser bem sucedidas em Bornéu?
Impossível! Uma vez que eles experimentarem a severa austeridade de se
ministrar naquelas áreas primitivas, eles acordarão para a realidade. Desistirão
e correrão para casa.

O conselho parecia sábio. Porém quando Deus assim deseja, Ele pode
escolher “as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu
as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes.” (I Coríntios 1.27)

Após dois meses de espera, sentimos que hora de tomarmos uma


decisão. Uma vez que não tínhamos paz em ficar em Jacarta, restava-nos
apenas duas alternativas. Ou continuávamos pela fé ou retornávamos para os
Estados Unidos fracassados. Se escolhêssemos Bornéu teríamos de sacar
nossas últimas reservas de fé e ousadia. Para avançarmos a esta terra quase
mística e esquecida, cujas imagens pré-históricas estão gravadas no
imaginário de cada ocidental, teríamos de ranger os dentes, fechar os olhos e
nos lançar cegamente. Mas desistir e retornar para casa seria bem menos
agradável. Deus não nos chama para sermos molengas, isto é, aqueles que
desistem diante da menor dificuldade. E assim uma certa determinação
cresceu em nós até que não aceitássemos não como resposta. Se a porta para
Bornéu não se abrisse, continuaríamos a bater, esmurrar, forçar a porta até
que suas dobradiças se afrouxassem e caíssem aos nossos pés.

"Quem você pensa que é, ó montanha majestosa? Diante de


Zorobabel você se tornará uma planície!” Zacarias 4.7

Lucille e eu decidimos prosseguir para a terra de Bornéu. Tínhamos


de ver a glória de Deus não importando o que isso custasse.

Os preparativos foram feitos, as passagens aéreas compradas, os


suprimentos adquiridos: mochilas, cantis de água, uma boa faca, esteiras para
dormir, mosquiteiro, botas de cano alto, comprimidos anti-malária. Uma
pequena barraca foi colocada juntamente com os outros itens. Com todos os
preparativos sendo providenciados, os dias passaram rapidamente. Finalmente
chegou o tempo de partirmos.

Na véspera da nossa partida, tudo estava empacotado. Enquanto


ainda estávamos ocupados fazendo as malas, toda nossa atenção estava
voltada para os detalhes daquilo que teríamos de levar. Mas agora com nossas
malas prontas para partir, nossos pensamentos retornaram ao propósito por
detrás de todos os preparativos.

Dentro de algumas horas embarcaríamos rumo ao desconhecido.


Nosso destino era Pontianak, a capital de Bornéu Ocidental. Quem nos buscará
14
no aeroporto? De acordo com o que eu sabia, ninguém. Onde ficaremos? Não
fazíamos ideia. Quanto dinheiro temos conosco? Cerca de trezentos dólares.
Quando retornaremos à Jacarta? Somente o Senhor sabia. Tínhamos
passagens apenas de ida. A Grande Comissão ordena-nos apenas a “irmos”.
Não fala nada sobre retornar. O que faremos ao chegar lá? Não sabíamos.
Esses fatos subiram à superfície de nossas mentes. Uma nuvem escura de
preocupação formou-se em nossos corações. O que estamos prestes a fazer?
Será que perdemos o juízo?

Enquanto a última noite em Jacarta passava lentamente, paramos de


falar um com o outro. Falar sobre Bornéu apenas intensificaria a ansiedade que
compartilhávamos. Sentíamos como se uma sentença de morte estivesse
pendurada em nossas cabeças. A noite de sono fugiu de nós, completamente.

15
Capítulo Três

Saindo do Barco

O pequeno Fokker F-28 acelerou pista afora e decolou rapidamente.


Pela minha janela olhei fixamente para Jacarta. O avião subiu depressa,
atravessando as nuvens. Olhei para mim mesmo e a ansiedade crescia em
meu coração. Momentos mais tarde olhei de relance para fora da janela.
Contemplei por toda parte o brilhante esplendor dos céus. A impressionante
glória diante de mim tirou-me da minha escuridão e finalmente lembrei-me de
meu Deus.

“Senhor, realmente fizemos o que tínhamos de fazer. Estamos indo


rumo a Bornéu sem conhecer uma pessoa se quer lá. Pulamos de um penhasco
completamente íngreme sem algo visível lá embaixo para nos amparar. Ajude-
nos, Senhor! Se o Senhor não nos ajudar, será o fim para nós...”

Durante o voo, apeguei-me ao Senhor para renovar minha confiança


nEle. Minha imaginação estava sem rumo e desenfreada, cogitando a terrível
situação de não termos para onde ir ou onde ficar após a chegada em Bornéu.

O avião voava implacavelmente, colocando-nos cada vez mais


próximos de um encontro com hora e local marcado com o desconhecido. A
cada minuto que se passava, meu coração batia mais e mais fortemente.

De repente os alto-falantes ganharam vida.

“Senhoras e senhoras, dentro de alguns minutos pousaremos no


aeroporto Supadio, em Pontianak. Por favor, afivelem seus cintos de segurança
e retornem seu assento a sua posição vertical e travado.” O anúncio me
golpeou e fez meu coração disparar. Observei nervosamente o que via lá fora.
O oceano, que enfadonhamente passava por debaixo do avião, estava agora
regredindo conforme nos aproximávamos da terra firme. A terra parecia
diferente de qualquer outra que eu já tivesse visto. Enquanto a aeronave
rodeava o aeroporto, antes de aproximar-se para pousar, pude ver tudo ao
redor. Em todas as direções, até onde eu pudesse ver, via o que parecia um
grosso carpete verde.

“Oh, Deus!”, exclamei, “é tão ruim quanto pensei que seria. É tudo
selva!” Eu conformei-me com o meu destino e lancei-me na misericórdia de
Deus, Aquele que nos chamou para seguirmos os passos de Abraão.

Uma coisa é ler sobre a fé de Abraão, mas tentar fazer o que ele fez é
algo completamente diferente. Abraão, em sua época, foi o único homem
chamado por Deus a tornar-se um novo tipo de ser-humano. Um tipo que
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viveria pela fé. Primeiramente ele foi chamado para demonstrar essa fé
deixando seu país de origem e migrando para uma terra estrangeira, onde não
haveria outras pessoas que tivessem seu chamado especial ou mesmo que
conhecessem seu Deus. Verdadeiramente ele estaria sozinho naquela nova
terra, forçado a confiar em ninguém mais exceto seu Deus. Nos Estados
Unidos dos dias de hoje, com a comunicação e transporte da era espacial
juntamente com um cristianismo bastante difundido, pode ser difícil vivenciar
as circunstâncias de Abraão. Deus, obviamente, não exige que,
intencionalmente, nos coloquemos na situação física de Abraão. Contudo para
compreendermos melhor o caráter de sua fé, a qual Deus nos encoraja a ter,
podemos, em nossa mente, nos colocarmos no lugar dele. Lucille e eu tivemos
o privilégio de viver uma aventura de fé, a qual nos permitiu sentir o que
Abraão deve ter sentido.

O avião parou por completo após pousar sobre a única pista do


aeroporto. Aguardávamos em nossas poltronas, observando os trabalhadores,
do lado de fora, empurrarem uma escada em nossa direção até que ela se
apoiou contra a porta do avião. A porta foi aberta; os passageiros já faziam fila
no corredores com suas malas nas mãos apressando-se para saírem pela porta
e descerem até à pista. Lucille e eu, ainda em nossos assentos, assistíamos
com paciência o último passageiro desaparecer pela saída. Não havia nada a
fazer a não ser os seguir.

Uma vez no solo, arrastamo-nos impotentemente até o terminal, que


naquela ocasião era um lugar sem cor, típico de cidade pequena e compatível
com o lento ritmo de vida em Bornéu. Caminhamos pela entrada.

Um chinês alto, de meia idade, parou ao lado da porta como se fosse


dar as boas vindas a um convidado que estivesse chegando. Enquanto eu
passava, ele sorriu para mim, quase calorosamente. A chama da esperança
acendeu-se, momentaneamente, dentro de mim. E então apagou-se. Retribui o
sorriso, mas continuei caminhando. Não era possível que Deus tivesse enviado
esse homem para nos encontrar; teria sido bom demais para ser verdade.
Inesperadamente ele nos chamou por detrás de nós.

“Po Lan.” Ele não gritou, porem as palavras foram claras o suficiente
para serem compreendidas. Po Lan? Isso não parecia familiar? Po Lan? Oh,
não. Po Lan é o nome de Lucille em chinês! Aleluia! Louvado seja o Senhor que
jamais envergonhará aqueles que nEle confiam!

O Deus de Abraão fora fiel conosco. O homem que nos viera buscar
era um presbítero em uma igreja local de Pontianak. Ele ouviu de seus irmão,
um membro da igreja do meu sogro em Jacarta, que estávamos indo. Embora
não soubesse em qual voo embarcaríamos, ele foi ao aeroporto naquele dia e

17
nos encontrou. Fomos levados de carro para a cidade na qual sua igreja nos
hospedou por uma semana. O Senhor é fiel.

Durante aquela semana, o Senhor abriu a porta para nos


encontrarmos com o líder de uma denominação de uma igreja regional. Uma
de suas igrejas, no interior, recentemente perdera seu pastor. Quando ficou
sabendo que estávamos disponíveis para ministrar, nos convidou para visitar
aquela igreja. Se gostássemos de lá, poderíamos ficar como pastores da igreja.
Sabendo que Deus estava abrindo uma porta para nós, aceitamos sua
proposta alegremente. Um dia, no início da manhã, pegamos um ônibus em
Pontianak para uma viagem de oito horas rumo ao interior de Bornéu
Ocidental. A igreja estava localizada em uma cidade conhecida como Sanggau-
Kapuas.

Sanggau foi erguida às margens do Rio Kapuas, em Bornéu


Ocidental. A poderosa Kapuas era o único meio de contato para as incontáveis
pequenas cidades e aldeias que pontilhavam seu percurso por centenas de
quilômetros desde sua foz na costa de Pontianak até o profundo interior de
Bornéu Ocidental. O Kapuas, para aqueles que viviam às suas margens, era
tão importante como o Nilo para os antigos egípcios. O Nilo era tão importante
a ponto de os egípcios o adorarem como um de seus deuses. De igual modo,
para aqueles que viviam na extensão do Kapuas, tudo praticamente provinha
dele. Transporte, água para beber e para banho, fornecimento de comida e até
mesmo o descarte do esgoto, tudo dependia dele.

Após chegarmos na cidade, no meio da tarde, fomos à igreja onde


ministraríamos. Nós a encontramos. Um prédio de cimento branco localizado
no topo de uma alta colina. Dali via-se na parte mais alta da colina um
cemitério. Um irmão da congregação nos deu as boas vindas e preparou uma
refeição simples. Após comermos, nos instalamos em um pequeno cômodo
preparado para nós. A acomodação era bastante simples – um chão de
cimento de cor parda, paredes de cimento de um verde azulado desbotado,
uma única lâmpada fluorescente de 20 watts instalada acima da janela
solitária. A janela não possuía partes que escurecessem o ambiente, mas
apenas tiras de vidro horizontais paralelas que podiam ser abertas ou
fechadas.

O calor e a umidade da Bornéu equatorial, mesmo à noite, nos


forçava a manter a janela aberta após nos deitarmos. Isto dava livre acesso
aos incontáveis pernilongos que entravam em nosso quarto. Alguns deles
frequentemente conseguiam adentrar nosso mosquiteiro. Mesmo durante o dia
os pernilongos não nos davam descanso. Para evitar que eles nos picassem
nos pés, usávamos grossas meias de lã em nossas sandálias.

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A igreja também hospedava um exército incontável de pequenas
formigas vermelhas. Essas formigas rastejam quase desapercebidamente
sobre nossos corpos vindas do chão, mesa ou cadeira, e exploravam ali
silenciosamente. De repente, sem aviso algum, elas cravavam suas pinças
minúsculas, porém poderosas, em nossa carne. Parecia que estávamos sendo
espetados por uma agulha fina. Às vezes um grande comitiva delas invadia
nossa cama à noite.

Os banheiros não tinham privadas no padrão ocidental. Em vez disso


havia um modelo asiático levemente parecido com uma banheira em miniatura
com um grande buraco próximo a uma das extremidades usado para o
descarte. Cada parte comprida do “local de ficar de cócoras”, como era
conhecida, era vincado com um suporte no formato de pé no qual colocávamos
nossos pés enquanto agachávamos sobre o buraco. Não havia banheira ou
chuveiro, mas sim uma tina de água fria. Com o auxílio de uma caneca,
retirávamos a água da tina e despejávamos sobre o corpo.

Não tinha telefone e a eletricidade era fornecida pela companhia


elétrica apenas do crepúsculo até a hora de dormir.

Muito estranhamente, instalamo-nos em nossa nova casa com uma


alegre expectativa. Por quê? A urgência poderosa em nossos corações agora
era a de sermos liberados. Pela primeira vez, estávamos para iniciar o
ministério de tempo integral para o Reino de Deus. Ia tornar-me o pastor de
um rebanho de mais de cem almas!

Com muito prazer e alegria iniciamos o ministério em Sanggau. Pela


primeira vez o Senhor confiara-nos um rebanho para pastorear. Durante os
primeiros domingos preguei com insistência. Meu tema era fé, da qual
entendia mais que qualquer outro assunto. Afinal foi pela graça por meio da fé
que saímos dos Estados Unidos rumo ao interior de Bornéu Ocidental. No
segundo domingo preguei novamente sobre fé, mas dessa vez de uma
perspectiva diferente. Nos domingos seguintes o rebanho ouviu sobre fé para a
provisão divina, fé para dizimar, fé para receber as respostas às orações, fé
para mover as montanhas, fé para receber o toque de cura de Deus. Perto da
metade do segundo mês já não tinha mais nada para pregar. Conhecia acerca
da fé, mas não muita coisa além disso! Foi bastante embaraçoso para um
pregador não ter o que dizer, então comecei a orar desesperadamente a Deus
para que Ele me ensinasse Sua Palavra para que eu pudesse ensinar o
rebanho. O Senhor concedeu-me graça sobrenatural para buscá-lO.

Acordei repentinamente no meio da noite. Lucille estava deitada ao


meu lado em um sono profundo. À distância eu podia ouvir os sons da
escuridão: a batida ritmada de tambores daqueles que adoram na calada da
noite, invocando os nomes de espíritos “benéficos” ou talvez esperando
19
apaziguar espíritos vingativos. Cantigas sinistras, gargalhadas e gritos, como
uivos, como se fossem gemidos de espíritos desencarnados atormentados,
preencheram a atmosfera. Arrepiei-me. Mas em meu coração senti o empurrão
do Espírito Santo me impelindo a levantar e buscar a face de Deus. Levantei
silenciosamente e escorreguei pela abertura do mosquiteiro. Em meio à
escuridão – o gerador elétrico da cidade era desligado todas as noites antes da
meia-noite – vesti minhas grossas meias atléticas, calças e um casaco
esportivo por sobre uma camisa de mangas compridas. Cobri minha cabeça e
pescoço com uma toalha de mesa grande. Experiências com pernilongos
haviam me ensinado a me vestir adequadamente antes de sair. Por fim vesti
minhas mãos com um par de grossas meias brancas. Após me certificar de que
cada centímetro do meu corpo estava coberto, sai de nosso quarto que dava
no cômodo central da casa pastoral, cômodo este que servia de sala de jantar,
sala de estar e sala de qualquer outro motivo. Os outros quartos, cozinha,
closet e duas portas de saída todos radiavam desse cômodo central. Com a
lanterna em mãos caminhei por esse cômodo central em direção à porta de
saída. Antes de abri-la fiz uma pausa, olhando para a barra de madeira acima
da porta. A lanterna não mostrou nenhuma das aranhas gigantes conhecidas
por seus hábitos noturnos. O movimento brusco de abrir a porta poderia
confundir uma aranha que estivesse se rastejando próximo ao lintel, fazendo
com que ela saltasse sobre a cabeça de quem estivesse passando embaixo.
Segurando a respiração sai rapidamente noite adentro.

Do lado de fora eu pausei. Os estranhos barulhos e incidentes que


aconteceram em nossa igreja já haviam nos deixado inquietos. Quando passei
por aquela porta naquela noite aquela inquietação se intensificou tornando-se
praticamente pavor. Passei meus olhos cuidadosamente em todas as direções,
até mesmo olhando de volta para a porta atrás de mim. Fui tomado por
repulsa quando vi uma aranha quase do tamanho da minha mão subindo no
batente lentamente. Como se percebendo o meu olhar fixo, ela parou e se
virou em minha direção. Os olhos brilharam como brasas no clarão de minha
lanterna. Dei um passo para trás.

Seguindo pela lateral do prédio em direção à frente, cheguei à


entrada frontal da igreja. Lá, um pátio de cimento ao ar livre, quase que do
mesmo tamanho do prédio dava as boas vindas aos adoradores aos domingos
de manhã quando eles caminhavam até o alto da colina onde ficava a igreja.
Porém à noite, exposto a toda direção abaixo, parecia tão vulnerável a tudo
que viesse a emboscar lá embaixo na escuridão. Mas naquele momento eu
sabia que este era o lugar onde eu deveria buscar a Deus.

Cai de joelhos no cimento grosso e frio. Na escuridão pavorosa me


curvei com o rosto ao chão diante de Deus. Pedi a Ele que me livrasse da
presença maligna que parecia me envolver. Lembrando-O de que eu não tinha
20
nada mais para ensinar aos Seus filhos, supliquei que me desse um
entendimento mais profundo de Sua Palavra. A todo instante eu erguia a
cabeça para olhar ao redor, temendo o que poderia encontrar em pé à minha
frente.

Um enxame de pernilongos famintos e impiedosos me atacou.


Prostrei-me, lá fora na escuridão, por mais de uma hora clamando ao Senhor.
Em minha posição de joelhos, com meu rosto ao chão, olhos fechados e sem
levantar uma mão contra os pernilongos, me senti tão exposto e indefeso. Mas
nisto vi a sabedoria de Deus.

Senhor, muitos são os meus adversários! Muitos se rebelam contra


mim!São muitos os que dizem a meu respeito: “Deus nunca o
salvará!” Mas tu, Senhor, és o escudo que me protege; és a minha
glória e me fazes andar de cabeça erguida.Ao Senhor clamo em
alta voz, e do seu santo monte ele me responde... Não me
assustam os milhares que me cercam. (Salmo 3.1-4,6)

Quando é que o Senhor responde de Seu santo monte? Ele responde


quando os nossos adversários são muitos, quando dezenas de milhares se
posicionam contra nós, quando estamos indefesos e vulneráveis. Ele nos
responde quando confiamos nEle e somente nEle como nosso escudo e assim
clamamos a Ele.

Foi nesse lugar que Deus me colocou quando me conduziu àquela


posição exposta no topo da colina para clamar a Ele. E, de acordo com Sua
promessa, Ele me respondeu de seu Santo monte.

Manhã após manhã, às cinco horas, às quatro, algumas vezes até


mesmo às três e meia, o Espírito Santo continuava a me acordar.
Naturalmente sou uma pessoa que gosta de acordar mais tarde. Porem quatro
a cinco vezes por semana, por um período de alguns meses, Ele gentilmente
me cutucou para que eu despertasse de meu sono. Todas as vezes levantei
obedientemente e vesti minhas roupas grossas. Todas as vezes deixei a
segurança do meu quarto e marchei para fora para me ajoelhar no concreto
em plena escuridão. Por meio dessa disciplina cresci em ousadia até que o
Senhor pode me levar ao cemitério que ficava próximo à igreja. As pessoas da
congregação se espantavam com seu pastor que, durante as últimas horas da
madrugada, ousava ir em meio às sepulturas para orar.

Dia após dia o Senhor prosseguiu em me acordar horas antes do


amanhecer. Eu saía e clamava de todo o meu coração, suplicando para que Ele
me ensinasse Sua Palavra. Estava compreende o verdadeiro significado do
Salmo 119.145-147: “Eu clamo de todo o coração; responde-me, Senhor, e
obedecerei aos teus testemunhos! Clamo a ti; salva-me, e obedecerei aos teus

21
estatutos!Antes do amanhecer me levanto e suplico o teu socorro; na tua
palavra coloquei a minha esperança.”

Às seis horas, todas as manhãs, nos juntávamos a um pequeno grupo


de guerreiros da oração para mais uma hora de oração no santuário.

Ao longo do dia as horas eram gastas no estudo da Bíblia. No


seminário, nos Estados Unidos, minha concentração enquanto estudava a
Palavra era limitada. Mas agora, totalmente envolvido na obra de meu Pai,
meu coração descansou. Finalmente fui capaz de me alimentar
verdadeiramente na pura Palavra de Deus sem distrações. Era tão saboroso e
satisfatório que por horas podia me alimentar dela sem me sentir cansado.
Compreendi o pedido do Salmista:

“Abre os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua lei.Sou


peregrino na terra; não escondas de mim os teus mandamentos.”
(Salmo 119.18,19)

Através das muitas horas investidas em oração e imersas na Santa


Escritura, o Espírito Santo me revelou coisas lindas e profundas que nunca
antes vira. Tudo o que o Senhor me dava, eu passava para o rebanho. Assim
cresci no conhecimento das Escrituras como nunca antes.

22
Capítulo Quatro

Os Surdos Ouvem

Em uma noite específica, porém, não era a doce voz do Espírito


Santo me chamando, mas um som desagradável. O barulho me arrancou de
um sono tranquilo no berço profundo da noite. Lucille dormia, enquanto eu
tentava me concentrar no clamor perturbador. Meu ouvido sugeriu que as
patas e os arranhões vinham de uma criatura com quatro patas e garras,
talvez do tamanho de um cachorro.

Só então, eu podia ouvir as patas espinhosas correndo em cima da


mobília. Agora parecia rasgar nossos pertences, arranhando e rasgando. Em
meu torpor, me perguntei como um animal tão grande poderia ter entrado em
nosso quarto - o que eu tinha certeza de que estava trancado antes de me
recolher horas antes.

Eu me levantei, peguei minha lanterna e olhei ao redor da sala.


Não havia sinal do animal e nenhuma evidência de que alguma coisa na sala
tivesse sido afetada. Voltei para a cama, um pouco apreensivo. Não foi a
primeira vez que essas coisas aconteceram. Em instantes, o barulho
recomeçou. Eu pulei rapidamente e examinei todos os cantos da sala, em cima
e embaixo. Nada.

A essa altura, percebi que era outra manifestação de algum espírito


maligno, mas essa compreensão não aliviou meu medo crescente. Eu não
podia fazer nada a não ser voltar para a cama. O barulho voltou novamente.
Então ouvi uma batida forte na porta do nosso quarto. Quem poderia ser? As
batidas continuaram mais um pouco. Em seguida, ouvi a porta de saída na sala
central, a poucos metros da porta do nosso quarto, abrir com os costumeiros
ruídos e depois bater com força. Então seja quem for que estava tentando nos
assustar tinha fugido. A essa altura, Lucille havia despertado. Em poucos
segundos, corri para a sala central até a porta de saída. Eu a encontrei
trancada por dentro, exatamente como havíamos deixado antes de irmos para
a cama. Não foi um brincalhão humano.

Acredito que Deus permitiu que o maligno nos testasse dessa


maneira, preparando-nos para a guerra vindoura. Para combater o inimigo, é
preciso reconhecer as várias formas em que ele opera. Ao longo dos anos,
começando com o que acabei de descrever, vimos muitas formas usadas por
Satanás para nos atacar. Por causa dessa experiência, não ficamos mais
admirados nem com medo dele. Às vezes ele pode vir como um leão que ruge,

23
mas na realidade para nós ele já foi destruído pela morte de Jesus Cristo na
cruz. Não precisamos temê-lo, não importa quão assustadora a sua aparência.

“Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago. Eu lhes dei autoridade para
pisarem sobre cobras e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; nada
lhes fará dano.” (Lucas 10.18,19)

A longa história de feitiçaria e espiritismo inserida na cultura


indonésia deixou sua marca na igreja cristã naquele país. Embora as igrejas
evangélicas compreendam o mandamento do Senhor em relação a tais
práticas, algumas outras igrejas realmente toleram, se não incorporam,
crenças ocultistas dentro de suas práticas religiosas gerais. Diz-se que, dentro
de certas denominações, os ministros usam feitiços ou encantamentos na
esperança de aumentar sua eficácia por trás do púlpito.

Tal falta de compreensão da verdade para alguns deixou o


cristianismo pouco mais do que uma máscara de respeitabilidade sobre aquilo
em que eles realmente confiam: seus feiticeiros e deuses espirituais. Embora
seja certamente verdade que existem igrejas vibrantes e cheias do Espírito na
Indonésia, muitas estão mortas. Outras igrejas, embora evangélicas, foram
seriamente enfraquecidas pelo clima espiritualmente sombrio no qual elas
devem funcionar. Essa era a condição da igreja evangélica que nos foi dada
para pastorear em Sanggau-Kapuas quando chegamos lá em 1978.

A pastora anterior da igreja que Lucille e eu estávamos servindo


agora, uma moça solteira, havia saído sob grande estresse. As várias pressões
de ministrar como uma mulher solteira e lidar com as críticas que ela sofreu de
alguns no rebanho tornaram insuportável para ela. Aparentemente, essa
congregação específica desde a sua fundação no início dos anos 70 sofreu
muito com conflitos internos. Acusações, calúnias, ameaças e contra-
acusações relativas ao uso indevido das finanças, imoralidade e até mesmo
crenças políticas não eram incomuns. Os membros da igreja chegaram a
acusar uns aos outros como simpatizantes comunistas perante a polícia - um
crime grave na Indonésia pós-Sukarno. Dentro da tal igreja, não era
surpreendente descobrir a presença de espíritos malignos.

Batalhar contra o inimigo face a face nos leva da teoria para a


prática. Ouvir o ensino da Palavra pelos servos de Deus é essencial. Mas para
que se torne real em nós, não há substituto para viver a Palavra. Enquanto eu
me sentei em uma sala de aula ouvindo alguém expor o significado das
Escrituras, a Bíblia permaneceu teórica em minha mente. Mas quando fui a
Bornéu para viver as Escrituras, o Espírito Santo me deu compreensão
empírica em meu coração para completar aquilo que eu havia entendido na
teoria. Somente quando tive que confrontar os poderes das trevas de frente ou

24
transmitir a Palavra a outros, eu a busquei com todo o meu coração, e só
então ela se tornou parte de mim.

E ninguém ministrando em tal situação poderia se apegar à crença


de que as obras do tipo de Atos não eram para hoje. De fato, uma passagem
em particular havia se instalado em minha mente desde que eu aprendi que
Jesus é o mesmo "ontem, hoje e para sempre". 2 A persistente Escritura no
meu cérebro foi Atos 3.1-8:

Certo dia Pedro e João estavam subindo ao templo na hora da oração, às


três horas da tarde. Estava sendo levado para a porta do templo chamada
Formosa um aleijado de nascença, que ali era colocado todos os dias para
pedir esmolas aos que entravam no templo. Vendo que Pedro e João iam
entrar no pátio do templo, pediu-lhes esmola. Pedro e João olharam bem
para ele e, então, Pedro disse: "Olhe para nós!" O homem olhou para eles
com atenção, esperando receber deles alguma coisa. Disse Pedro: "Não
tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isto lhe dou. Em nome de Jesus
Cristo, o Nazareno, ande". Segurando-o pela mão direita, ajudou-o a
levantar-se, e imediatamente os pés e os tornozelos do homem ficaram
firmes. E de um salto pôs-se de pé e começou a andar. Depois entrou com
eles no pátio do templo, andando, saltando e louvando a Deus.

Fiquei energizado pela percepção de que, se Ele havia feito tal


coisa por meio de Pedro em Jerusalém há quase dois mil anos, Ele poderia
fazer o mesmo por meio de mim hoje em Sanggau-Kapuas. Eu esperei pela
oportunidade.

Um dia fomos informados de uma mulher que não ía à igreja há


muito tempo. Ela estava doente e era pobre e não tinha ninguém para levá-la
à igreja. Nós fomos visitá-la.

Naquele dia choveu o dia todo. Para chegar a sua casa, tivemos
que atravessar vários centímetros de profundidade de água suja. Um irmão da
igreja nos levou para sua casa em ruínas. Ela estava sentada quando entramos
e não conseguiu se levantar para nos cumprimentar. A história que ouvimos de
seus lábios era verdadeiramente lastimável. Olhando para ela, podíamos
acreditar em tudo que ela relatava. Sua pele, bronzeada pelos anos de
trabalho sob um sol equatorial, estava descascando, expondo manchas cor-de-
rosa de pele doente por todo o corpo. Parecia ser uma espécie de pelagra
causada por deficiência de vitaminas. A desnutrição havia feito seu trabalho
em sua mente, sua conversa às vezes ficava lenta e incerta. Ela tinha muito
pouca força em suas pernas e há muito tempo não era capaz de se levantar e
andar sozinha.

25
Nos sentamos para conhecê-la. Ficou claro que seus problemas
físicos eram apenas um espelho que refletia muito sofrimento e amargura em
seu coração. Sua vida tinha sido preenchida com dificuldades insuportáveis
pelas quais ela culpou seu marido e que ela desabafava com seus filhos com
linguagem suja na nossa frente. Sua casa, há muito negligenciada, não
conseguia nem manter a família seca. A chuva caiu sem impedimentos na casa
através de grandes partes que faltavam no teto de palha. O assoalho de
tábuas de madeira abaixo estava podre por causa do contínuo derramamento
de água. Tudo estava em desordem e negligência - sua casa, sua família, seu
corpo e sua alma. Quanta miséria uma pessoa pode suportar?

Nós a consolamos com a palavra do Senhor, esperando trazer luz


para sua alma. Fagulhas de esperança começaram a surgir em seu coração.
Mas e o corpo dela? O Senhor não tocaria seu corpo da maneira como Ele
tocou tantos como eu havia lido nos Evangelhos e no Livro de Atos? Lembrei-
me de Pedro e o mendigo coxo no terceiro capítulo de Atos. Poderia ser
possível que Deus o fizesse? Eu decidi tentar por mim mesmo.

"A senhora gostaria que orássemos pela cura da sua doença de


pele e por suas pernas, para que possa andar novamente? Para Deus nada é
impossível!"

Ela concordou.

"Pai, pedimos que o Senhor cure a sua filha desta doença de pele
maldita e dê força às suas pernas para que ela possa se levantar e andar. Por
meio de Jesus Tu a perdoaste de seus pecados. Agora, Pai através de Jesus
cure-a dessas enfermidades! Portanto, em nome de Jesus Cristo, eu ordeno
que suas pernas sejam fortalecidas agora mesmo. Em nome de Jesus Cristo,
levante-se e ande!

Com isso, segurei-a pela mão, exatamente como imaginei que


Pedro fizera com o mendigo coxo e a ajudei a ficar em pé. Eu a conduzi pelos
degraus até o jardim da frente. Então eu a soltei.

Ela andou. A princípio, com bastante cautela, como se confusa por


estar fazendo algo que ela não deveria ser capaz de fazer. Além disso, fazia
tanto tempo que ela não usava seu senso de equilíbrio para caminhar que
temia cair. Ela estendeu os braços para os lados para se equilibrar e continuou
andando. Depois de circular algumas vezes no quintal, ela subiu de volta para
a varanda da frente e sentou-se novamente. Nós olhamos para ela em
suspense, aguardando seu veredicto.

"Minhas pernas parecem mais fortes", ela finalmente disse.

26
Em nossos corações, estávamos gritando: "Louvado seja o
Senhor!"

Ministrar aos enfermos não se limita ao livro de Atos e aos


apóstolos. Pelo contrário, é para aqueles que ousam acreditar que a maneira
como Deus fez as coisas há quase 2.000 anos é a maneira como Ele as faz
hoje. Se examinarmos o incidente de Pedro e do mendigo coxo, vemos que
Pedro não orou a Deus para que o mendigo fosse curado. Em vez disso, Pedro
primeiro chamou sua atenção e então ordenou: "Em nome de Jesus Cristo, o
Nazareno, ande!" Pedro não orou e então esperou que o mendigo fosse
curado. Em vez disso, ele ordenou a cura com grande coragem e expectativa.
Ele certamente não teria dito ao mendigo para andar se ele não esperasse que
Deus estivesse curando suas pernas naquele momento. Se quisermos ministrar
aos enfermos, devemos aprender a falar com autoridade em nome de Jesus
Cristo.

Em outra ocasião, fomos levados para visitar um casal cristão idoso


que morava rio acima na margem de um afluente do Kapuas, o rio Sekayam.
Eles e seus filhos e suas famílias haviam cavado um pequeno enclave familiar
na selva do rio Bornéu. Quando chegamos, eles nos receberam calorosamente.
Todos nos sentamos para nos conhecermos.

"Quantos anos você tem, vovô?" Eu perguntei respeitosamente.

"Tenho oitenta e oito anos", ele respondeu.

"O Senhor certamente te abençoou com boa saúde e vida longa!"


nós exclamamos.

"Sim, ele tem", o avô concordou. "Mas eu tenho um problema com


a minha audição. Não consigo ouvir nada com o meu ouvido esquerdo. Às
vezes é difícil para mim entender o que meus filhos estão dizendo." Algo
começou a se mover em nossos corações. Nós sabíamos que Jesus havia feito
o surdo ouvir quando Ele estava na terra. Será que Ele ajudaria este homem
idoso agora?

"Vovô, Jesus curou os doentes há dois mil anos. Acreditamos que


Ele faça a mesma coisa hoje. Você gostaria que nós pedíssemos ao Senhor que
abrisse seu ouvido surdo?"

O avô concordou que orássemos por ele. No nome de Jesus,


pedimos ao Senhor para restaurar a audição do vovô em seu ouvido esquerdo.
Depois da oração, coloquei meu dedo no ouvido e, com toda a autoridade que
pude reunir, ordenei que o ouvido fosse aberto em nome de Jesus.

27
"Vovô, o senhor pode ouvir o que estou dizendo?" Eu perguntei,
cobrindo seu ouvido bom com a minha mão.

"O que você disse? Não consigo ouvir o que você está dizendo!" ele
respondeu. Sua audição não melhorou nada.

"Vovô, o Senhor vai curá-lo em seu próprio tempo", nós


encolhemos os ombros. Não havia mais nada que pudéssemos dizer.

Porém, tarde naquela noite, muito depois de termos ido para casa,
uma coisa estranha aconteceu com o vovô. Quando estava deitado na cama,
seu ouvido esquerdo sentiu uma sensação fria, como se alguém estivesse
soprando suavemente nele. Continuou a noite toda. Ao amanhecer, o vovô
alegremente descobriu que ele podia ouvir com o ouvido esquerdo. Podia até
mesmo distinguir as palavras de uma de suas noras sussurrando na sala ao
lado!

28
Capítulo Cinco

Os Enfermos são Curados

Eu havia chegado em Bornéu tão inexperiente quanto uma criança


de dois anos tentando pilotar um avião. Na verdade, eu tinha apenas dois anos
no "Novo Nascimento". Pastorear a igreja em Sanggau-Kapuas era um pouco
como tentar pilotar uma aeronave em um céu turbulento. Mas o Senhor é o
maior dos professores; Ele instrui enquanto alguém "pilota" a aeronave, e
aprendemos muito nesses quatro meses.

Ele nos ensinou Sua palavra e nos ungiu para pregar e ensinar o
rebanho. Ele nos ensinou como ministrar efetivamente aos enfermos em nome
de Jesus Cristo. Após quatro meses na Escola do Espírito Santo em Bornéu,
senti-me pronto para avançar para um desafio maior. Eu queria cumprir a
visão que nos havia levado à Bornéu no começo: pregar o nome de Jesus
Cristo e fazer discípulos onde o Evangelho nunca havia sido ouvido antes. Em
janeiro do ano seguinte, o Senhor nos liberou da igreja de Sanggau-Kapuas.
Buscamos Sua direção para o próximo passo, e o Senhor nos reuniu com um
irmão que nos contou sobre duas pequenas aldeias localizadas três horas rio
acima nas margens do rio Kapuas. Esse homem pastoreava outra igreja em
Sanggau-Kapuas e havia recentemente tentado começar um trabalho nessas
aldeias. Porém, apenas algumas crianças compareceram às reuniões e era
difícil encontrar um barco para a viagem de seis horas, de ida e volta, quando
ele precisava. Ele sugeriu que subíssemos nas aldeias e assumíssemos o
controle. Nós concordamos.

No final de janeiro de 1979, com nosso amigo, embarcamos em um


pequeno barco de madeira e seguimos correnteza acima no rio Kapuas. O
motor interno de dois cavalos mal conseguia nos manter avançando contra a
forte corrente. Depois de três longas e agonizantes horas, chegamos a uma
vila na margem do rio onde desembarcamos. Era chamada "Biang", que,
traduzido a grosso modo, significa "fonte".

As poucas centenas de habitantes de Biang, colonos chineses


misturados com muçulmanos indonésios, viviam em uma longa e estreita faixa
de terra correndo ao longo do rio. Atrás deles estava a vasta selva de Bornéu;
diante deles estendia-se o poderoso e sustentadores da vida Kapuas. Forçados
pelas amargas reviravoltas da vida que os haviam condenado a este lugar
remoto, muitos deles ganhavam a vida levantando-se muito antes do
amanhecer para coletar seiva das seringueiras que venderam a um dos poucos
comerciantes locais. Outros pescavam com rede e linha de pequenas canoas
29
como alimento, outros ainda transportavam os Kapuas com seus pequenos
barcos, trazendo suprimentos de Sanggau, a cidade principal mais próxima,
para revender na vila com lucro.

Naquela época, Biang era uma vila ainda não tocada pelo braço
benevolente do governo indonésio que procurava desenvolver milhares de
aldeias como Biang espalhadas por todo o país. Não havia eletricidade ou
serviço telefônico. Nenhum serviço postal ou correio. Não havia veículos
motorizados de nenhum tipo; até as pouquíssimas bicicletas encontradas não
eram adequadas para o caminho de terra que servia de avenida principal de
Biang.

Alugamos uma pequena casa vazia que o proprietário estava disposto


a alugar para nós por três meses. O aluguel dos três meses foi de oito dólares
em dinheiro americano. Era uma quantia razoável, mas não surpreendente
diante do que a casa tinha a oferecer. Descrevê-la é simples: tábuas de
madeira pregadas em uma moldura de madeira, sem frescuras. Sem
revestimentos interiores, era possível espionar as pessoas que passavam do
lado de fora ou pegar um raio de sol através das fendas entre as tábuas. A
mesma vantagem aplicada às placas de madeira que compõem o piso. A
varredura não exigia pá de lixo, pois a sujeira simplesmente caía através das
rachaduras no chão embaixo da casa. Mas isso acabou sendo uma via de mão
dupla. Os insetos, principalmente criaturas semelhantes a vermes,
ocasionalmente rastejavam para dentro da casa para nos visitar por meio das
fendas e buracos. Como a casa não tinha mobília, tivemos que dormir em
tapetes finos diretamente no chão. Minha maior preocupação era pensar em
um verme rastejando em nossa esteira de dormir no meio da noite e
descobrindo um local de boas-vindas em nossos corpos quentes.

As janelas eram simplesmente grandes buracos quadrados cortados


nas paredes e cobertos por persianas de madeira que se abriam e fechavam
nas dobradiças. Durante o dia, quando as janelas estavam abertas, todos os
tipos de criaturas, de mosquitos famintos a abelhas errantes e galos curiosos,
voavam para nos ver.

A casa tinha dois quartos: uma pequena área dividida em um canto


para servir como quarto e o espaço restante que servia como sala de estar e
sala de jantar. Não havia cozinha como a conhecemos. Para cozinhar,
compramos um pequeno fogão a querosene. Para lavar a louça, tivemos que
descer até o rio. Em vez de banheiros, o povo de Biang contava com banheiros
fornecidos para uso público nas margens do rio. Essas dependências foram
construídas em pequenas plataformas de madeira flutuando na margem do rio.
Em um banheiro típico, do tamanho de um box de chuveiro ou maior, havia
um buraco retangular no chão, através do qual se podia ver a água dos Kapuas

30
fluindo alguns centímetros abaixo. Esse buraco é o equivalente à privada do
ocidente. No entanto, como descobriríamos em breve, em Biang não havia
equivalente para papel higiênico. Como na maior parte do mundo, mãos
desnudas são usadas para se limpar depois de usar o banheiro.

Frequentemente, quem estava na casinha não ficava sozinho na


plataforma. Se fosse de manhã cedo ou depois das refeições, a plataforma era
um centro de atividades. As mulheres estariam lavando suas roupas no rio,
agachando-se sobre a beira da plataforma. Depois das refeições, eles estariam
lá lavando e lavando a louça, ou escovando os dentes e lavando a boca com a
água do rio. Elas geralmente pareciam inconscientes da pessoa a alguns
metros de distância dentro do banheiro que usaria a água do rio para um
propósito totalmente diferente.

O mais intrigante para mim era tomar banho. Isso também ocorria na
beira do rio. Para garantir a privacidade, a pessoa entrava no banheiro e
fechava a porta. Apenas um balde era necessário. Mas e a água para tomar
banho? Com o balde, pegava água no mesmo buraco que outras vezes servia
de vaso sanitário e despejava a água sobre si. Depois de se molhar, quem
estava tomando banho aplicava sabão em seu corpo. Um enxágue final seguia,
novamente usando a água retirada do buraco com o balde.

Não apenas um, mas vários banheiros flutuavam nas margens do


Biang, rio acima e rio abaixo. Era preciso prestar atenção especial ao banheiro
que estava rio acima, principalmente se ele estivesse ocupado quando alguém
tomava banho. Caso contrário, corria-se o risco de encontrar substâncias
estranhas vindas do rio para a água limpa do banho.

Sob tais condições de vida, Lucille e eu montamos nossa casa. Do


lado de fora, parecia deprimente. Encontrávamo-nos em uma remota vila
ribeirinha no meio de Bornéu Ocidental, que por sua vez era conhecida como
uma das áreas menos desenvolvidas da Indonésia. Não havia absolutamente
nada para se divertir na vila... não havia cinemas, restaurantes, parques, lojas
de departamento ou shopping centers. Sem televisão, apenas a Voz da
América no nosso rádio. Não havia revistas ou jornais. A única atividade
disponível parecia ser assistir o Rio Kapuas passar.

Além disso, aos olhos do mundo, Lucille e eu éramos pobres.


Tínhamos aberto mão de todas as nossas posses terrenas nos Estados Unidos
quando partimos. Sem carro, sem casa. Sem poupança no banco, sem ações,
sem carteira de investimentos. Nossa renda mensal era de 200 dólares por
mês, que o Senhor graciosamente proporcionava por meio de minha irmã mais
velha Irene, em Nova York. Aos olhos do mundo, estávamos sem esperança.

31
Estranhamente, a vida nunca havia tido tanto sentido como quando
vivíamos nas margens do Kapuas. Estávamos vivendo para o Senhor e
realizando Sua obra. O desafio e a comissão que Ele havia colocado diante de
nós - levar o Reino de Deus ao povo de Biang - geraram em mim uma alegria
e um entusiasmo que nada mais importava no mundo.

Depois que nos instalamos em nosso novo lar, o irmão que nos
trouxe a Biang voltou para Sanggau. Agora fomos deixados sozinhos para
proclamar o Evangelho de Jesus Cristo àqueles que nunca haviam ouvido
antes.

E um dia, quando uma senhora idosa se aproximou de nós, também


descobrimos a disposição dessas pessoas em acreditar. "Meu olho está doendo
há muito tempo. É insuportável. Parece como se alguém estivesse cutucando
meu globo ocular com uma agulha. O seu Senhor pode me ajudar?"

A idosa de cabelos brancos veio até nós durante a nossa reunião em


nossa casa. Várias pessoas apareceram interessadas em ouvir o novo
ensinamento que havíamos levado para a vila.

Decidimos começar o trabalho abrindo nossa casinha para reuniões.


Com um canto da casa ocupado por nosso quarto, o restante do espaço estava
disponível para as pessoas se sentarem para ouvir as boas novas.

Nos Evangelhos, lemos que Jesus proclamou as boas novas do Reino


com grande poder. Ele realizou muitos milagres e curou aqueles que o
procuravam acreditando e buscando Seu toque. Por causa dos milagres que fez
e das palavras que proferiu, os discípulos que Ele escolheu acreditavam que
Ele havia sido enviado por Deus.

E assim escolhemos proclamar o Cristo dos Evangelhos, Aquele que


fora enviado por Deus para salvar, curar e libertar. Anunciamos ousadamente
que quem confiasse em Jesus Cristo seria salvo do pecado, curado da doença e
libertado dos maus espíritos. Salvação do pecado que eles não podiam ver
facilmente, mas estavam muito familiarizados com doenças e espíritos
malignos. Em uma área onde a ignorância da higiene básica era a regra, a
doença era desenfreada. Em uma área onde o medo dos poderes das trevas
governava as pessoas, elas não saíam por nenhum motivo - nem mesmo para
trabalhar - se tivessem ouvido o grito sinistro de um certo pássaro. Ou, se
uma cobra cruzasse a caminho de algum destino, imediatamente se virariam e
voltariam para casa. No passado, aqueles que haviam tolamente seguido
levianamente esses sinais haviam pago com seu bem-estar. Não se podia
desprezar os espíritos locais e fugir impune. Eles conheciam bem o poder das
trevas. Nesse ambiente espiritual, começamos a proclamação do Evangelho.
Se eles cressem que Cristo poderia livrá-los do mal do pecado, primeiro teriam

32
que ver que Ele poderia livrá-los do mal palpável que saturava o próprio ar que
respiravam.

Foi na noite daquela reunião em nossa casa que a mulher idosa se


apresentou na frente de todos os outros ouvintes e, em desespero, pediu a
ajuda de Jesus Cristo.

"Jesus pode me ajudar?"

Impus minha mão no olho dela e pedi ao Senhor para curá-la. "Ainda
dói?" Perguntei a ela depois, removendo minha mão do olho dela. Ela piscou.
Então ela disse: "Quando você colocou a mão no meu olho e começou a orar,
senti uma sensação fria no topo da minha cabeça. Enquanto você continuava a
orar, ela lentamente se espalhou pela minha cabeça até meu coração. Quando
o frescor chegou ao meu coração, senti uma libertação maravilhosa e uma
sensação de paz. E a dor no meu olho? Desapareceu!"

Ela decidiu crer em Jesus Cristo.

As notícias divulgadas de boca em boca que o Senhor proclamava


pelos missionários eram reais. Mais e mais pessoas vieram ouvir o evangelho.
Entre os que vieram, havia dois irmãos cujos nomes eram Amin e Akong. Amin
era o mais velho dos dois, com seus quase quarenta anos, e tinha esposa e
filhos. Com apenas alguns anos de ensino fundamental, ele tinha uma
compreensão incrível de questões técnicas. Ele sabia consertar motores de
barcos, geradores a diesel e até relógios. Ele era um carpinteiro talentoso e
podia construir uma casa. Embora nunca tivesse estudado eletrônica, ele podia
trabalhar em um rádio e até entender a função dos transistores.

No entanto, Amin tinha problemas em sua vida. Ele era viciado em


cigarros, fumando dois ou três maços todos os dias. E ele gostava de se sentar
com seus vizinhos para uma noite de jogo. Ele nem sempre tinha trabalho,
tendo renda apenas quando algo na aldeia precisava de conserto ou quando
um barco que passava tinha problemas no motor. Qual era o propósito da vida,
afinal?

O irmão de Amin, Akong, era um jovem de dezenove anos. Ele era


um homem pequeno, medindo apenas um metro e meio de altura e quarenta
quilos na balança. Alguns anos antes, ele começou a se rebelar contra seu pai,
que o desprezara. O ódio por ele cresceu tanto que Akong o amaldiçoou. Por
fim, seu pai morreu e sua mãe ficou de coração partido. Mas o próprio Akong
colheu o fruto do seu ódio quando uma febre alta veio sobre ele. Depois que a
febre diminuiu, sua voz desapareceu. Quando finalmente sua voz voltou, não
era sua voz habitual, mas um falsete agudo que permaneceu
permanentemente. Tornou-se uma fonte de muito tumulto interno para Akong
sempre que ele viajava da vila para outra área onde as pessoas não o
33
conheciam nem o problema com sua voz. Quando ele falava, as pessoas se
viravam e olhavam para ele. Ocasionalmente, alguém que não o conhecia se
perguntava se Akong era homem ou mulher. Ficar face a face com novas
pessoas tornou-se uma experiência temida para ele. Sua vida foi reduzida a
colher seiva das seringueiras para o suprimento diário. Seu mundo foi reduzido
à pequena vila de Biang, onde as pessoas o conheciam e o aceitavam. Então,
um dia, o reino de Deus veio sobre ele. "Devemos morrer para nós mesmos,
morrer para o mundo, morrer para o pecado e viver por Jesus Cristo. Só então
saberemos o que é verdadeiramente a vida." Estávamos todos sentados no
chão em um grande círculo em nossa casa. Fervorosamente, desafiei-os a
seguir a Cristo. Akong estava sentado à minha esquerda. Ele estava ouvindo
atentamente. "Quem aqui está cansado de viver? Quem aqui quer morrer para
si mesmo e viver por Jesus Cristo? Aqueles dentre vocês que querem morrer,
levantem a mão!"

Algo no coração de Akong queimava. A mão dele subiu. Logo, ele foi
batizado no rio, significando que queria morrer para sua antiga vida sem valor,
a primeira pessoa a fazê-lo na vila de Biang. Akong havia se tornado uma nova
pessoa em Cristo.

Pouco depois, Amin também decidiu receber Jesus. Após o batismo


nas águas, ele veio até nós com um testemunho.

"Eu era extremamente viciado em cigarros", disse ele. "Todos os dias


eu tinha que fumar três ou quatro maços. Se não fumasse, eu tinha dores de
cabeça e de estômago. Mas depois que fui batizado na água, parei de fumar de
uma só vez. E me sinto bem."

À medida que o Senhor continuava a operar através de Sua palavra,


mais e mais pessoas passaram a crer em Jesus Cristo. Vários foram curados de
suas aflições. Todos eles, ao serem libertados do reino das trevas para o Reino
da Luz, encontravam-se livres do medo que uma vez os paralisara. Antes que
o Reino de Deus aparecesse no meio deles, suas vidas tinham sido controladas
ao capricho de espíritos malignos muito reais, que tinham prazer em oprimi-los
a obediência forçada. Muitas vezes, eles não saíam para trabalhar, passando o
dia calados em casa porque já haviam visto ou ouvido algum presságio do mal.
Os salários perdidos significavam dificuldades financeiras para eles. Mas agora,
eles acordavam todas as manhãs com gratidão em seus corações por seu
Senhor, cuja morte na cruz, havia finalmente destruído o inimigo deles. Com
alegria e confiança, deixavam suas casas ainda na escuridão do amanhecer
para os campos e florestas em que trabalhavam, sabendo que seu Senhor
estava com eles para evitar o mal. Trabalhando regularmente todos os dias,
eles eram abençoados com salários constantes.

34
Vimos o Senhor restaurar a ordem em outras vidas, como um certo
garoto cuja mãe se aproximou de nós um dia. "Por favor, venha ver meu
filho", ela implorou. "Ele está com muita dor."

Era de manhã cedo. Tínhamos uma visita, uma mulher da vila que
havíamos visto antes em nossa vila, mas com quem ainda não nos
relacionávamos.

"Por favor, entre, titia. O que aconteceu com seu filho?" Lucille disse,
dirigindo-se a ela da maneira habitual.

"Foi assim. Ontem à tarde, quando meu filho estava voltando da


escola, ele caiu de repente no chão. Ele não tropeçou em nada, ele apenas
desabou. Sua perna doía muito. Ele tentou levantar, mas não conseguia. Então
ele rastejou todo o caminho até sua casa. Eu chamei uma feiticeira para dar
uma olhada nele. Ela veio vê-lo. Ela abriu um ovo de galinha para ver o que o
afligia. Devido a posição da gema de ovo, ela disse que meu filho fora atacado
por um forte demônio. Ela disse que não podia fazer nada por ele e foi
embora."

Saímos com ela e a seguimos até sua casa. Ela nos levou a um
cômodo onde seu filho estava deitado no chão, vestido apenas com uma calça.
Ele tinha cerca de dezesseis anos de idade. Seu cabelo estava despenteado,
semi-círculos escuros pendurados sob os olhos.

"Eu não consegui dormir nada a noite toda", ele disse fracamente,
olhando para nós. "Minha perna doía tanto. Fiquei me contorcendo no chão a
noite toda. Não consigo me levantar ... não aguento mais." Dor e exaustão
estavam gravadas em seu rosto.

Eu olhei para ele e disse: "Se você acreditar em Jesus Cristo, você
será curado. Você quer acreditar nele?"

"Ah ... sim ... eu vou ... vou acreditar nele", ele respondeu com os
lábios contorcidos pela dor. Era difícil ver de que outra maneira ele poderia ter
respondido nessas circunstâncias.

"Em nome de Jesus Cristo", falei, "eu amarro este espírito que o tem
afligido. Levante-se e ande, em nome de Jesus!" Com isso, peguei-o pelo
braço e o arrastei a seus pés. "Ande!" Eu disse, puxando-o para frente e
liberando-o. Com um grande passo, ele avançou e seguiu em frente. Ele
alcançou a parede, parou e se virou, ainda de pé.

"Como você se sente?" Eu perguntei.

"Não ... não dói mais", ele respondeu incerto.

35
"A dor foi embora?"

"Sim ... foi."

"Você consegue andar agora?"

"Sim." Cor e vida estavam voltando ao seu rosto.

"Jesus curou você. Acredite nEle e siga-O pelo resto de sua vida."

O jovem, sua mãe e pai, seu irmão e irmã mais velhos, todos
passaram a crer em Jesus Cristo.

Deus, em Sua graça insondável, visitou a pequena vila de Biang com


manifestações de Seu Reino. Através disso, um pequeno rebanho começou a
se formar, chamando a si mesmos de crentes em Jesus Cristo. Pela primeira
vez nesta área remota desde que Satanás assumiu o domínio sobre a terra,
homens e mulheres viram e receberam a luz de seu Criador.

Rio acima de Biang, talvez a mais de um quilômetro de distância,


havia outra vila chamada Menjaya. Mesmo em comparação com Biang,
Menjaya era pequena e primitiva. Logo depois de nos estabelecermos em
Biang, também levamos a Palavra de Deus a Menjaya. Nosso primeiro
encontro aconteceu na casa de um homem chamado Su Fong, que tinha
esposa e vários filhos. Depois de ouvir o Evangelho, Su Fong comentou que já
havia ouvido falar dessa religião antes. De fato, ele disse que possuía um livro
sobre o homem Jesus Cristo. Curiosos, pedimos que ele nos mostrasse o livro.
Era um livro bastante grosso, encadernado com uma capa verde vagamente
familiar. Quando Su Fong me entregou, eu a abri na página do título. Era uma
Bíblia! Meus olhos baixaram à parte inferior da página onde li as palavras
"Publicado pela Sociedade Torre de Vigia". Era uma Bíblia das Testemunhas de
Jeová, conhecida com carinho pelos cristãos evangélicos como "o Fantasma
Verde!"

Enquanto proclamávamos a Palavra de Deus a Su Fong e aos outros


que vieram ouvir, o Senhor confirmava a mensagem curando os enfermos, do
mesmo modo que estava fazendo em Biang. Su Fong e sua família foram os
primeiros em Menjaya a receber Jesus Cristo como Senhor e Salvador,
seguidos por vários outros cujos nomes já haviam sido escritos no Livro da
Vida do Cordeiro. A alegria do Senhor do céu espalhou-se entre os crentes
quando o Espírito Santo veio sobre eles, enchendo-os de uma Vida que eles
nunca souberam existir na Terra. Mulheres idosas, que nunca conheceram um
momento de realização nas amargas dificuldades da vida na aldeia,
compareceram às reuniões na casa de Su Fong com rostos irradiando a alegria
do céu. Nossas reuniões noturnas três vezes por semana em Menjaya

36
alternavam dias com as reuniões em Biang, que também eram realizadas três
vezes por semana.

Para nos locomovermos para Menjaya, Su Fong nos oferecia o uso de


seu barco a remo. Compramos um motor externo de doze cavalos de potência
e o anexamos. Com esse arranjo, o Senhor nos providenciou transporte de ida
e vinda entre Biang e Menjaya.

Uma noite, depois de nossa reunião noturna em Menjaya, partimos


para retornar a Biang. Depois que Lucille subiu no barco, dei partida no motor
de popa com a corda, saí do píer e parti rio abaixo. A noite estava escura como
as nuvens pesadas que haviam aparecido no início daquela noite. Momentos
depois de deixarmos Menjaya, o vento aumentou ameaçadoramente. Então a
chuva veio. A visibilidade caiu para zero. Sob o céu claro da noite, não tinha
nenhum problema em dirigir o barco, pois eu conseguia distinguir a terra de
cada lado enquanto seguíamos rio abaixo em direção a Biang. Mesmo sob o
céu noturno escuro, conseguíamos navegar, sendo guiados pelas lâmpadas do
rio Biang, que podíamos ver à distância quando nos aproximávamos. Mas com
a chuva caindo naquela noite, eu não via absolutamente nada e não sabia
dizer se estávamos indo rio abaixo ou se dirigindo para a terra. O rio Kapuas
naquele momento tinha talvez quase 800 metros de largura. Reduzi a
velocidade do motor de popa para um pouco acima da velocidade de marcha
lenta e deixei o barco flutuar. Apertando os olhos para impedir a chuva forte,
olhei para frente, esforçando-me para vislumbrar qualquer ponto de luz à
distância que, esperançosamente, nos levaria a Biang.

"O que estamos fazendo aqui neste pequeno barco a remos, no meio
de uma tempestade em um rio na remota Bornéu Ocidental? Como nos
metemos em tal perigo?" Mesmo quando segurava com mais força a alavanca
de direção do motor de popa e meus olhos examinavam a escuridão à procura
de luz, meus pensamentos se voltaram para dentro.

"Eu não deveria estar aqui. Eu nunca dirigi um barco antes na minha
vida, sou um péssimo nadador. Estamos em perigo! O que estamos fazendo
aqui? Eu deveria estar na América civilizada, seguindo uma carreira de sucesso
como cientista ou empresário de respeito. Eu deveria estar crescendo no
mundo, ter uma casa grande e dirigir um carro esportivo caro." Mas, de
repente, ficou claro para mim enquanto eu tremia sob o vento e chuva forte.

"Sim, isso mesmo. Deus tirou-me de tudo isso. Sim. Por Sua graça,
eu me tornei um cidadão de outro mundo, um reino celestial onde não estou
mais enredado nos desejos desta vida. Deus me escolheu para receber a mais
elevada chamada de todas, para desistir de tudo e para me tornar Seu servo.
É por isso que estamos aqui neste pequeno barco, no meio do nada. Quão

37
diferentes e insondáveis são os caminhos de Deus. Louvado seja Seu
maravilhoso nome." Finalmente eu entendi.

"Bill! Bill! Tem uma luz ali!" Lucille gritou acima do barulho da chuva,
das ondas e do mar. Eu olhei, e ao longe à nossa esquerda uma luz cintilava
suavemente. Louvado seja Deus. Espero que não nos tenhamos afastado
muito, para além de Biang. Conduzi o barco em direção à luz, compensando a
corrente que nos empurrava firmemente para rio abaixo. À medida que nos
aproximávamos, mais luzes apareceram. Era Biang. Procuramos por luzes que
nos fossem indicadores conhecidos. A chuva tinha começado a diminuir, e
quando paramos ao lado de uma casa onde, temporariamente, poderíamos
amarrar o barco e levantar o motor, ela tinha parado. Eu estava molhado,
cansado e com frio. Eu queria ir para casa imediatamente e trocar de roupa,
vestindo algo quente e seco. Mas não podíamos deixar o motor de popa lá
fora à noite. Sem vigilância, tais coisas eram conhecidas por desaparecerem.
Com Lucille segurando a lanterna, eu soltei os parafusos que prendiam o motor
de popa ao barco e o puxei para fora da água para dentro do barco.

Agora, a parte complicada. De pé no pequeno barco a remos ergui o


motor de 25 ou 30 quilos sobre o meu ombro. Enquanto me preparava para
sair do barco para o píer tentando manter o equilíbrio, eu me perguntava,
como eu geralmente fazia, como seria se ao pular por cima eu escorregasse e
caísse no rio com um motor de popa nas costas. Com cuidado, saí do barco
para o cais e fui em direção à margem do rio que levava à vila. A chuva tinha
encharcado a margem do rio, transformando-a em lama muito escorregadia.
Se ao menos meus amigos em casa nos Estados Unidos pudessem me ver
agora, eu pensei, enquanto baixava o motor de popa no cais e tirava meus
sapatos e meias, entregando-os à Lucille. O motor de popa então voltou para
o meu ombro. Prossegui na lama, cavando os dedos dos pés a cada passo para
obter melhor tração. Já na margem eu me arrastava, dando cada passo com
doloroso cuidado até que as minhas pernas começaram a doer. Graças a
Deus, a nossa casa ficava bem próxima da margem do rio. Eu cheguei em
casa. O motor agora parecia ter 90 quilos. Subindo cuidadosamente os quatro
degraus da escada que levavam à nossa porta da frente, entrei e coloquei o
motor no seu suporte, no canto da nossa sala de estar. "Finalmente estamos
em casa", pensei para mim mesmo, respirando um suspiro de alívio. "Não
acredito que estamos aqui na selva do Bornéu, arriscando nossa vida e nossos
membros. Não acredito que estamos bem aqui fazendo todas essas coisas."
Mas Deus tinha nos levado de novo para casa em segurança.

38
Capítulo Seis

O Espírito de Elias

A Lucille estava chorando. Embora fosse uma manhã gloriosamente


linda em nossa casa, ela parecia rodeada por um pesado e escuro manto de
opressão.

O sol escaldante do meio-dia equatorial ainda não estava alto, e uma


refrescante brisa fresca dos Kapuas lá em baixo soprou pela porta da frente.
Sentei-me no chão da sala vazia com a minha Bíblia na mão, desfrutando da
presença do Senhor e me alegrando com todas as coisas gloriosas que Ele
estava fazendo através de nós em Biang e Menjaya.

Olhei para a Lucille que estava sentada à nossa mesa de jantar, com
o rosto enterrado em suas mãos. Eu me levantei e fui até ela.

"Lucy, o que foi? Por que você está chorando?"

"Bill, me sinto tão péssima. Tudo está tão sombrio."

"O que você quer dizer?" Eu perguntei novamente, curioso para saber
o que poderia estar errado.

"Sinto-me tão deprimida. Não há sentido na minha vida. Tudo está


tão sem sentido, sem esperança e sombrio. Estou tão infeliz! Já estou assim há
alguns dias. Todas as manhãs me sinto tão horrível. Tive medo de lhe contar,
tive medo que não entendesse."

Fiquei boquiaberto. Como ela poderia achar a vida sem sentido


quando Deus estava nos usando tão poderosamente para salvar e libertar
almas para o Reino de Deus?

"O que você quer dizer, 'tudo está sem sentido e sombrio'? Temos
tido o privilégio de sermos chamados pelo Senhor para O servir em tempo
integral. Ele nos abriu a porta para virmos aqui para a Indonésia. Temos
levado almas para o Reino, temos visto milagres quase todos os dias! É tão
glorioso, como você pode sentir que tudo isso não tem sentido? O que pode
ser mais significativo do que o que estamos a fazendo?" Eu estava ficando
impaciente com ela.

"Não sei, Bill, parece tão escuro. Não consigo evitar. Tente me
compreender e me consolar."

Mas eu não conseguia entender e não conseguia confortá-la. "Mas


você deveria saber melhor, Lucy, você é uma serva do Senhor e deveria saber
39
melhor. Você sabe de onde esses sentimentos estão vindo? De Satanás! Você
tem que parar de acreditar nas mentiras de Satanás e resistir a ele em nome
de Jesus. Vamos lá, Lucy, sai dessa! Sabe, você não tem fé suficiente!"

Ao olhar agora para trás, eu não podia tolerar qualquer sinal de


fraqueza na Lucille, porque ela era uma só carne comigo e eu me considerava
um homem de Deus de fé.

Portanto, eu não podia aceitar nenhuma fragilidade no ministério do


qual eu era o cabeça. Em vez de aceitar e lidar com isso em amor e verdade,
culpei a Lucille pela sua condição. Em vez de orar para que ela fosse libertada
do ataque, decidi, em vez disso, condená-la.

Dia após dia, todas as manhãs, a nuvem de escuridão vinha sobre


Lucille. À tarde, quando normalmente saíamos para ministrar, a nuvem se
levantava. À noite, depois de uma reunião em Biang ou Menjaya, voltávamos
para casa com os corações alegres, tendo realizado uma obra para o nosso Pai
celestial. Mas na manhã seguinte, sem falta, a escuridão voltava. Era
constrangedor para mim.

Lucille clamava ao Senhor para que a depressão fosse tirada. Mas foi
em vão. Nada parecia ajudar. Porque é que o Senhor não nos ajudava?
Logo descobrimos que não era o Senhor que não nos ajudava. Pelo contrário,
era algo que há muito tempo Cristo tinha ordenado aos Seus discípulos que
fizessem em Seu nome. Marcos 16:17 inclui precisamente as últimas palavras
que Ele pronunciou antes de deixar este mundo: "Estes sinais acompanharão
os que crerem: em meu nome expulsarão demônios...". Quem expulsaria os
demônios de acordo com esse versículo? Nós, os crentes, faríamos isto em
nome de Jesus Cristo. Já que Ele nos deu a autoridade e a ordem, não seria
melhor para nós fazermos isso em vez de Lhe pedirmos? Ele seria obrigado a
fazer algo por nós que Ele já nos tenha dado a autoridade para fazer?

Mas não entenderíamos a autoridade do crente até muito mais tarde.


Só então Lucille seria libertada da sua depressão.

Depois de três meses de ministério intensivo em Biang e Menjaya, a


nossa extraordinária aventura chegou ao fim. A parte do retorno aos Estados
Unidos das passagens aéreas de ida e volta que tínhamos comprado em Los
Angeles há quase um ano estava prestes a expirar. Sentíamos que era hora
de voltar para casa para refletir sobre os onze meses incríveis que tínhamos
acabado de viver e buscar o Senhor a respeito da Sua vontade para o nosso
futuro. Se Deus quisesse, nós voltaríamos a Bornéu!

Em cada aldeia Deus nos tinha dado um pequeno rebanho de crentes


em Jesus Cristo. Nomeando Amin e Su Fong para supervisionar as duas

40
igrejas recém-criadas, nós os entregamos todos nas mãos do Senhor que os
havia chamado. Depois voltamos para os Estados Unidos.

"Nada é impossível para Deus." Na verdade, Ele tinha feito o


impossível através de duas pessoas obscuras e sem formação. Várias pessoas
nos tinham dito que isso não podia ser feito, mas Lucille e eu somos duas
testemunhas do que o Espírito Santo pode fazer através de vasos rendidos e
cheios.

Os nove meses seguintes nos viram esperando no Senhor por uma


porta para voltar a Bornéu. Depois de uma breve estadia na Califórnia,
atravessamos para a costa leste e ficamos com minha irmã mais velha em
Nova Jersey. Amy nos levou para adorar com ela na Primeira Assembleia
Cristã de Plainfield. O pastor e os santos de lá abriram seus corações para nós
enquanto compartilhávamos nosso testemunho de Bornéu. Sem o nosso apelo
pelo apoio deles, esta única congregação graciosamente se comprometeu a dar
todo o suporte para que voltássemos e continuássemos nosso ministério nas
selvas de Bornéu.

A coluna de nuvem estava mais uma vez em movimento!

Em maio de 1980, voltamos para Bornéu Ocidental e ficamos em


Pontianak por cerca de uma semana como convidados em uma Igreja
Pentecostal pastoreada pelo Pastor A. A. Luwuk. Tínhamos ouvido de pessoas
diferentes em duas ocasiões diferentes sobre uma área chamada Batu Ampar.
Dizia-se que Batu Ampar era um lugar de grande escuridão onde a
mundanização e a imoralidade prevaleciam. O evangelho era desconhecido lá,
e seria difícil ganhar almas para Cristo. Isso nos intrigou. O Senhor usou Elias
para desafiar os servos do falso deus Baal para um célebre encontro de poder
no Monte Carmelo. Isto foi numa época em que a grande maioria dos israelitas
tinha sucumbido ao poder não insignificante de Baal. Estávamos à procura de
um desafio assim. Depois de Biang e Menjaya, sentimos que o Senhor nos
confiaria algo maior, e talvez Batu Ampar fosse esse desafio. E assim fizemos
os preparativos para explorar a área primeiro. Novamente, nós nos
encontramos na posição de não conhecermos ninguém e não termos nenhum
contato lá. Teríamos que depender completamente do Senhor novamente.

No final de uma manhã, descemos ao porto no rio Kapuas em


Pontianak e embarcamos num navio, conhecido como " ônibus aquático ", com
destino a Batu Ampar. A embarcação navegou para o sul no rio Kapuas e
várias horas mais tarde, no início da noite, encontrou o caminho para a costa
de Bornéu Ocidental, onde o rio se desaguou no Mar do Sul da China, perto de
uma cidade chamada Kubu. Depois de parar em Kubu por cerca de meia hora
para os passageiros descerem e se esticarem, pegamos outro rio que virou
para o interior na direção de Batu Ampar. Algumas horas depois, por volta das
41
dez horas, eu caminhei para o fundo do ônibus aquático onde, sozinho, olhei
para o céu noturno gloriosamente iluminado e falei com Deus.

"Pai, obrigado por nos trazer a Batu Ampar. Mostra-nos a tua glória
lá, Pai, manifesta o teu poder e glória para que muitos possam crer no Teu
Filho, Jesus Cristo". Pois Tu és o Deus vivo, Aquele que criou tudo o que eu
vejo acima da minha cabeça esta noite. Não há ninguém como Tu; somente
Tu és digno de receber glória, honra e louvor”. Eu continuei a adorá-Lo por
mais alguns minutos, meus olhos se fixaram nos céus lá em cima. De repente
notei uma névoa leitosa distante no horizonte, na direção em que estávamos
indo. Olhei para a escuridão diante de nós e pude ver ao longe muitas
manchas de luz. Era a cidade de Batu Ampar! Eu continuei a minha oração.
"Pai, dê-me esta área. Dê-me Batu Ampar. Deixa-me levar esta
área para o Teu Reino. Concede-me a tua unção para proclamar a tua palavra
no poder do Espírito Santo, seguido de sinais e maravilhas. Deixe-me
glorificar o seu nome aqui, Pai!" Em meia hora, chegamos à doca de Batu
Ampar.

Era 10:30 da noite quando desembarcamos na doca. Mas, apesar da


hora, o porto de Batu Ampar estava agitado com atividades. Havia pessoas por
todos os lados. Alguns estavam passeando à noite. Outros estavam ocupados
servindo os clientes nas diversas cafeterias e restaurantes ainda abertos.
Outros ainda se encontravam nas esquinas do calçadão com seus amigos.

Nós tínhamos chegado. Mas sem saber para onde ir, percorremos o
calçadão que levava à cidade. O calçadão terminou em um caminho de terra
que foi para nossa esquerda e direita. Correntes de pessoas percorriam o
caminho nas duas direções. Não sabíamos se deveríamos ir para a esquerda
ou para a direita, mas de alguma forma escolhemos virar à esquerda e fomos
varridos em uma onda de pedestres. Não havia carros ou estradas
pavimentadas, apenas aquele único caminho de terra forrado em ambos os
lados com casas, lojas e lanchonetes, alguns iluminados com lanternas de
pressão de querosene brilhante, outros com luzes elétricas. À nossa direita,
passamos por um cinema rodando um filme de artes marciais de baixo grau de
kung-fu. Multidões de pessoas, homens e mulheres jovens, pais com seus
filhos pequenos, esmagados fora do teatro, esperando o próximo longa-
metragem para começar. Grandes megafones fixados no exterior do prédio
amplificavam o barulho da luta no interior da tela para fora do pátio do teatro.
Além do cinema, descemos por uma suave encosta, passando por um galpão
de serralheria deteriorado do lado esquerdo e mais lojas e cafeterias do outro
lado do caminho. Encontramos um outro cinema semelhante ao primeiro. Em
todos os lugares, as pessoas absorvidas pelos prazeres da vida noturna de
Batu Ampar.

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Enquanto caminhávamos, não tínhamos a menor ideia para onde estávamos
indo, mas continuamos a orar silenciosamente ao Senhor por sua orientação.
De repente, ao nos aproximarmos do segundo cinema, senti um desejo por um
sorvete. Logo depois do cinema, havia uma cafeteria. Eu puxei Lucille para
fora do caminho e nos sentamos em uma mesa externa. Tiramos nossas
mochilas das costas e as colocamos no chão. Uma jovem mulher saiu para
anotar nosso pedido. Pedimos sorvete, e ela voltou para dentro para preparar
nosso pedido.

Em pouco tempo, ela voltou com nosso "sorvete", que na verdade foi picado
com gelo temperado com água de açúcar vermelho. Colocando os dois
pequenos pratos diante de nós, ela perguntou: "Vocês dois são do cargueiro
marítimo? Grandes cargueiros marítimos, muitos de países estrangeiros,
frequentaram. Enquanto os navios estavam sendo carregados, suas
tripulações saíam em terra em Batu Ampar. Como nossa garçonete sabia por
nossa aparência que não éramos nativos de Batu Ampar, ela assumiu que
tínhamos vindo de um dos cargueiros oceânicos ancorados no porto.

"Não, não somos", respondeu Lucille no dialeto Hakka da China.


"Viemos a Batu Ampar para proclamar o nome de Jesus Cristo". Ela olhou sem
reação para Lucille.

"Você já ouviu falar de Jesus Cristo?" Lucille continuou.

"Não, nunca ouvi falar disso", ela respondeu. Houve uma pausa.

"Há aqui algum hotel onde possamos passar a noite?" perguntou


Lucille.

"Não. O hotel foi queimado no grande incêndio que tivemos aqui há


alguns meses. Ele ainda não foi reconstruído". Isso é ótimo, pensei comigo
depois que Lucille traduziu sua resposta para mim. Senhor, onde vamos ficar?
Por favor, providencie um lugar para nós!

"Por que você não fica em minha casa?" ela ofereceu de repente.
"Meu marido e eu moramos aqui com seus pais", explicou ela. A cafeteria
ocupava a metade da frente do andar inferior da casa de dois andares. "Tenho
certeza de que podemos encontrar um lugar para você dormir". Talvez em
algum lugar lá em cima. E eu vou cozinhar para você".

"Louvado seja o Senhor", eu sussurrei em meu coração. Suas


maravilhas nunca cessam.

Naquela noite ficamos com nossa nova amiga, cujo nome era Akim, e
sua família. Eles foram extremamente graciosos conosco. Seus sogros não só
nos receberam em sua casa, mas até nos deram sua própria cama para

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dormirmos. Eles se mudaram para a sala de estar onde dormiam no chão.
Eles fizeram este ato incomum de bondade para nós que éramos
completamente estranhos. Era Deus.

Na manhã seguinte, acordamos para um satisfatório café da manhã


de ovos fritos preparados por Akim. Tínhamos mencionado ao sogro de Akim
que estávamos à procura de uma casa em Batu Ampar. Depois do café da
manhã, ele nos levou para darmos uma olhada em volta. A cem metros do
caminho, ao lado de uma mesquita, ele nos indicou uma casa que estava à
venda. Era uma pequena e simples casa de madeira com um quintal na
frente. Entramos, falamos com o proprietário, e a casa era nossa por cerca de
1.600 dólares.

No dia seguinte, deixamos Batu Ampar para retornar a Pontianak.


Durante a semana seguinte, em Pontianak, fizemos os preparativos para nossa
mudança para Batu Ampar para proclamar a vinda do Reino de Deus.

44
Capítulo Sete

Os demônios são expulsos

Nossa incursão no Reino foi bloqueada mesmo antes mesmo de


termos tido a oportunidade de atacar na batalha.

Nosso plano era iniciar o trabalho em Batu Ampar com uma grande
cruzada milagrosa ao ar livre. Trouxemos equipamento de som potente de
Pontianak, conseguimos permissão de uma serraria para usar seu campo de
futebol para a reunião e obtivemos aprovação das autoridades locais. Foram
impressos panfletos anunciando uma "noite de milagres" todos os dias durante
três dias. Até preparamos uma mensagem audiovisual para ser apresentada no
cinema convidando as pessoas a virem ao encontro de Jesus Cristo. Frescos
de nosso sucesso em Biang e Menjaya, estávamos prontos para o grande
momento: gloriosos milagres de cura e multidões de pagãos conquistados para
Jesus Cristo. Batu Ampar em breve seria nosso.

Mas algo interveio para frustrar nossos ambiciosos planos para o


Reino de Deus em Batu Ampar. Duas tribos rivais em Batu Ampar ameaçaram
lutar uma contra a outra. As autoridades locais, levando esta possibilidade
muito a sério, tomaram todas as medidas possíveis para desarmar a situação e
preservar a paz. Qualquer grande reunião pública, eles sabiam, poderia
proporcionar uma oportunidade para um surto de violência entre as duas
tribos. As reuniões que estávamos planejando eram especialmente arriscadas.
Elas deveriam ser realizadas ao ar livre e à noite, atraindo todos os tipos de
pessoas. O tema envolvia o cristianismo, sempre um assunto muito delicado
na Indonésia, onde a maioria da população subscreve outras crenças. Assim,
as autoridades locais revogaram nossa permissão para realizar a cruzada.
Fizemos tudo o que pudemos para que a revogação fosse reconsiderada.
Imploramos, suplicamos, até mesmo tirando um dia para viajar até nossa
capital local para apelar para as autoridades superiores. Mas tudo isso foi em
vão.

Foi um grande golpe para nós. Nossos sonhos de uma estreia


sensacional para o evangelho em Batu Ampar haviam sido frustrados. O que
tinha acontecido? Foi só muito mais tarde que recebemos a compreensão
sobre isso. Só vinte anos depois é que veríamos multidões chegar a Cristo e
multiplicar os sinais milagrosos nas reuniões de massa. E não seria na
Indonésia. O Senhor é soberano e teve seu tempo para nós.

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Após nossa recuperação desta grande decepção, começamos o
trabalho com o que o Senhor nos havia dado. Deus nos havia dado uma casa
onde havia uma pequena sala na frente medindo cerca de nove por dezoito
pés. Aqui começaríamos nossas reuniões. Certamente muito humilhante em
comparação a uma cruzada milagrosa em massa. Mas às vezes Deus pode
estar mais interessado no desenvolvimento de nosso caráter do que
simplesmente no número de almas que podemos levar até Ele.

A lei indonésia desencoraja os cristãos de ir de porta em porta para


pregar o evangelho, especialmente aos adeptos de outras religiões
oficialmente reconhecidas. E assim decidimos abrir nossa pequena sala de
reuniões noturnas, onde compartilhamos o evangelho. As pessoas vieram por
dois e três para ouvir que nova religião os americanos estavam trazendo.
Depois de ouvirem o evangelho, muitos não voltaram. Tínhamos ficado frente
a frente com o espírito de politeísmo que rege a Indonésia.

Há cinco religiões reconhecidas pelo governo na nação: Islamismo,


Catolicismo Romano, Protestantismo, Budismo e Hinduísmo. Todas as pessoas
que ainda não aderiram a uma destas cinco religiões, como os vários milhões
de pessoas de origem chinesa que em sua maioria adoram os espíritos dos
mortos, são oficialmente encorajadas a se converterem a uma religião
reconhecida. O governo reconhece sabiamente que a religião tradicional é
incompatível com o comunismo, que é anátema e proibida na Indonésia. A
religião, disse Lênin era o ópio das massas, é agora o salvador das massas do
comunismo.

A herança espiritual da Indonésia, entretanto, não é nenhuma das


religiões tradicionais, mas sim o culto aos espíritos, ou politeísmo, para todos
os fins práticos idênticos ao culto aos ídolos e ao animismo. Antes do
Islamismo, Budismo e Cristianismo chegarem à Indonésia, as pessoas
reconheciam a existência de espíritos invisíveis, tanto bons quanto maus, que
habitavam seu mundo.

Muitos desses espíritos eram considerados como espíritos de pessoas


que haviam morrido e se tornado deuses. Esses deuses tinham que ser
temidos, alimentados e adorados, caso contrário não abençoariam um com
saúde, prosperidade e vida longa. Não só não abençoariam, como também
amaldiçoariam e arruinariam aqueles que eram laxistas ao oferecer-lhes as
ofertas necessárias de incenso, chá, cigarros, carne de porco, frango, carne
bovina, frutas e vários outros alimentos. Àqueles que zelosamente buscavam
o poder sobrenatural através do jejum e da obediência firme às suas
exigências ritualísticas, eles concediam estranhas habilidades demoníacas.
Quando tal discípulo morreu, ele pôde se tornar uma divindade local
encarregada de sua própria relva na terra.

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Neste contexto, os missionários vieram da Europa e de outras regiões
distantes para as então Índias Orientais, trazendo suas religiões. O povo os
recebeu e os novos ensinamentos que trouxeram, mas apenas num sentido
formal, exterior. Pois os novos ensinamentos não substituíram
necessariamente as antigas crenças; na maioria dos casos, eles apenas as
suplementaram. O espírito politeísta embutido em sua herança lhes permitiu
receber a nova religião, mas não exclusivamente; o(s) deus(s) da nova
religião, para simplificar, foram anexados ao desfile do panteão das Índias
Orientais.

Assim, alguns adeptos da fé muçulmana na Indonésia, que adoram


apenas Alá e nada além dele, procurarão feiticeiros em busca de ajuda em
tempo de doença e necessidade ou mesmo para se vingar de seus inimigos.

Os budistas, a maioria dos quais são chineses, continuam suas


antigas crenças, adorando os espíritos de seus pais e ancestrais falecidos. Eles
consultam médicos bruxos para prever seus dias futuros, para prever os
números vencedores na loteria da próxima semana, para colocar feitiços
malignos sobre aqueles que sofreram seu desagrado, até mesmo para colocar
um feitiço de amor sobre a esposa de outro homem. Aqueles que professam o
hinduísmo não têm qualquer dificuldade com muitos deuses. Tem sido dito
que na Índia, a pedra angular da fé hindu, existem cerca de 30 milhões de
deuses. Por último, mas não menos importante, devemos considerar os
cristãos da Indonésia. Embora o número de crentes nascidos de novo esteja
aumentando constantemente, em 1980 talvez a maioria dos cristãos, tanto
católicos como protestantes, tinha pouca resistência em visitar um feiticeiro,
mesmo que o Senhor seu Deus demorasse em responder suas orações. Só nos
anos 90 é que isso mudou drasticamente à medida que o renascimento varreu
as principais cidades da Indonésia.

Os feiticeiros, é claro, invocam todo tipo de espíritos por cujo poder


estão habilitados a operar no reino sobrenatural. Um ex-feiticeiro que
conhecemos tinha à sua disposição novecentos e noventa e nove "deuses".
Sabemos que esses deuses são, na realidade, demônios. A feitiçaria, portanto,
tem como raiz o politeísmo.

Para aqueles em Batu Ampar que ouviram o evangelho que


pregamos, soou estranho e desconhecido. "Você deve crer em Deus Pai
através de Seu Filho Jesus Cristo e somente Nele". Além disso, você deve
confiar nEle e somente Nele para todas as suas necessidades, espirituais,
financeiras e físicas". Ele deve ser seu único e exclusivo Deus". Você não
deve mais adorar e confiar em outros deuses. Você não deve mais adorar
seus antepassados falecidos", declaramos.

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Mas essas pessoas tinham vivido toda a vida pelo provérbio, "quanto
mais deuses, mais felizes". Eles não conseguiam entender nosso ensinamento.
"Quem é este Jesus Cristo para que abandonemos os deuses de nossos pais e
O adoremos somente? Se este Jesus Cristo pode se dar bem com nossos
deuses, tudo bem; talvez possamos acolhê-Lo e adorá-Lo também. Mas se
traíssemos nossos deuses, eles ficariam muito insatisfeitos conosco e poderiam
buscar vingança contra nós. Não queremos incorrer na ira deles, pois eles são
poderosos. Além disso, nossos pais ficariam desagradados se nos
recusássemos a adorar e oferecer comida aos seus espíritos depois que
morressem. Eles passariam muita fome e raiva e voltariam para nos
assombrar. E se alguém lançasse um feitiço maligno sobre nós? Nossos
feiticeiros podem às vezes encontrar maneiras de apaziguar o espírito maligno
e ele pode partir. Mas será que este Jesus Cristo pode nos proteger e nos
livrar desses feitiços? Talvez Ele possa nos salvar de nossos pecados e nos
levar ao céu, mas o que Ele pode fazer por nós aqui na Terra?".

Batu Ampar, ao contrário de Biang e Menjaya, tinha um próspero


círculo de feiticeiros profissionais cujo poder foi comprovado. Com seus
espíritos, eles podiam negociar um acordo para seus clientes que estavam
sofrendo nas mãos de outros espíritos. Eles pareciam ser capazes de curar os
doentes. E eles também sabiam como lançar feitiços que podiam cair sobre
uma pessoa com efeito aterrorizante. Uma mecha de cabelo, uma fotografia
ou uma peça de roupa usada pela vítima pretendida era suficiente para lançar
o feitiço. Um residente se lembrou que "um vento forte soprou e os galhos das
árvores tremeram, e a roupa de baixo emaranhada nos galhos bateu
selvagemente". De repente, dentro da casa, houve gritos aterrorizados
seguidos de choro frenético. O feitiço a havia atingido. Ela enlouqueceu;
eventualmente seu cabelo caiu. Demorou muito tempo para ela se recuperar".

Assim, a fim de alcançar as pessoas para Jesus, precisávamos dar-


lhes um vislumbre de Seu poder temporal que serviria como sinal de Seu
poder de salvar do pecado. As trevas incrustadas em seus espíritos através de
séculos desconhecidos não seriam dissipadas por meras palavras. Eles tinham
que testemunhar algo que chamasse sua atenção para Jesus Cristo. Somente
então dariam atenção a Suas afirmações de serem o único Senhor e Salvador.
E somente quando prestassem atenção e ouvissem a palavra, o Espírito Santo
poderia condená-los do pecado e levá-los ao novo nascimento. Se eles
testemunhassem milagres feitos em nome de Jesus Cristo que seus próprios
deuses não poderiam fazer, nós raciocinamos, eles estariam mais dispostos a
ouvir. É claro que o evangelho é muito mais do que simplesmente apresentar
uma demonstração mais impressionante de poder exterior do que os pagãos
são capazes de fazer. Mas alguns pagãos precisam de um sinal para apontar
para Aquele cujas palavras fariam bem em escutar.

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Assim, começamos a procurar oportunidades para ministrar aos
doentes. O recente fiasco da cruzada milagrosa havia amortecido nosso
entusiasmo por ministrar aos enfermos. Mas quando vimos que nosso trabalho
em Batu Ampar estava progredindo tão lentamente, sentimos que tínhamos
que dar ao povo uma demonstração do poder de Deus. Isto foi confirmado em
uma conversa com nosso irmão Akwet, que estava entre os poucos que
receberam Jesus nos primeiros meses de nosso trabalho.

"Irmão Akwet, o que será necessário para trazer muitas pessoas a


acreditarem em Jesus Cristo aqui?". Naquela época, a pequena sala de nove
por dezoito pés que estávamos usando para as reuniões não estava nem
metade cheia. Batu Ampar, uma área com 10.000 pessoas, simplesmente não
estava nos levando a sério.

"Eu penso", disse Akwet sem hesitar, "que se os espíritos maus


pudessem ser expulsos e os doentes curados, muitas pessoas viriam a
acreditar no Senhor".

Começamos a ministrar aos que tinham aflições.

Estranhamente, no entanto, ninguém a quem ministramos foi curado.


Não conseguíamos entender isso. Uma e outra vez, nada aconteceu quando
ministramos aos doentes. O Senhor tinha trabalhado poderosamente em
Biang e Menjaya. Por que Ele não estava fazendo o mesmo aqui em Batu
Ampar?

Em frustração, nós buscamos ao Senhor.

Um dia, Lucille tirou um livro de bolso da minha estante. Ele tratava


dos aspectos práticos da expulsão de demônios das pessoas. Como eu
pensava já saber o suficiente sobre a libertação, tendo observado como Jesus
e os apóstolos expulsaram os espíritos malignos no Novo Testamento, não me
senti pressionado a ler o livro. Mas quando a frustração com a falta de frutos
em nosso trabalho se instalou, nós estávamos prontos para aprender. Eu li o
livro e o considerei cuidadosamente. No livro, descobri um ponto que não
havia considerado antes. Expulsar demônios, eu havia pensado, era
simplesmente uma questão de ordená-los a saírem de uma pessoa em nome
de Jesus Cristo. Uma vez feito isso, acreditávamos pela fé que a pessoa havia
sido libertada, mesmo que sua condição parecesse inalterada. Com o tempo,
haveria uma mudança. Este livro, por outro lado, ensinou que este caminho
pode ser inadequado para muitas pessoas que precisam ser libertadas de
espíritos malignos. De acordo com o livro, o ministro deveria continuar
ordenando que os espíritos maus saíssem até que eles realmente saíssem,
como evidenciado por algum sinal físico ou mudança real na condição da
pessoa. Por exemplo, em Lucas 11:24, depois que Jesus expulsou um demônio

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que era mudo, o homem que tinha sido mudo pôde falar. Eu sabia que alguns
aspectos deste ensino tinham se tornado um ponto de discórdia entre os
crentes. Estávamos cientes também que muitos não acreditam que um cristão
possa ter um demônio. Apesar de todos os argumentos teológicos a favor e
contra este ensinamento, considerávamos nosso pequeno rebanho de crentes.
Quase cada um deles tinha algum tipo de problema físico ou "psicológico".
Independentemente de como ministrávamos a eles, eles simplesmente não
conseguiam se curar. Mais importante ainda, eles exibiam uma monotonia
espiritual que os impedia de crescer em compreensão e zelo pelo Senhor. Por
mais poderosa ou apaixonada que fosse a palavra que lhes demos, eles
simplesmente não estavam sendo tocados pelo Espírito Santo. Alguma coisa
os estava impedindo de crescer. Fookso, uma irmã que foi uma das primeiras
crentes, era uma delas. (Fookso significa literalmente "esposa do irmão mais
velho chamado Fookso").

Fookso vivia sozinha com seus cinco filhos pequenos na periferia da


cidade, em uma casa degradada. Naquela época, seu marido estava fora
cumprindo pena na prisão por vender bilhetes de loteria não autorizados. A
história de sua família antes de receberem a boa notícia, uma história de
miséria e escuridão, é típica das inúmeras famílias na Indonésia que vivem na
Terra, à parte da luz de Jesus Cristo.

Quando ela era pequena, seu pai era um próspero comerciante que
trocava mercadorias pelos Dayaks, os povos indígenas de Bornéu, recebendo
de volta o ouro em troca. Seu sucesso, pensava ele, foi uma bênção do
grande ídolo montado em sua casa pelo tio de sua esposa, que era um hábil
praticante de feitiçaria. Ele estava tão determinado a permanecer nas boas
graças do poder por trás de seu ídolo que passaria horas de cada vez de
joelhos diante dele. A pele de seus joelhos se tornou macia e rachada. Com o
tempo, ele foi capaz de acumular uma riqueza considerável.

Um dia, no entanto, ele começou a sentir fortes dores no estômago.


Ele correu para ver o tio de sua esposa, que havia se tornado seu médico
feiticeiro de família. Após o tratamento, ele se sentiu melhor. Pagando a taxa
padrão, ele partiu para casa. Vários dias depois, a dor voltou, tão má como
sempre. Ele voltou para o tio de sua esposa, que o havia curado da primeira
vez. O homem o tratou novamente em consulta com os espíritos que ele havia
invocado, e a dor diminuiu. O pai de Fookso pagou uma generosa quantia em
troca dos serviços profissionais do homem e voltou para casa. Não muitos dias
depois, porém, a dor voltou com tanta severidade que o pai de Fookso pensou
que ele iria morrer.

Como antes, ele foi até o seu feiticeiro de confiança e foi tratado.
Desta forma, começou um longo e repetido ciclo de dor, tratamento,

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recuperação, pagamento e dor que acabou drenando a família dos recursos
financeiros que eles haviam trabalhado tanto para acumular. Eles perceberam
que o homem que o estava curando era também aquele que o estava afligindo.
Para aqueles do ofício, é simples enviar um espírito para afligir alguém com o
propósito de atrair a vítima a vir para receber tratamento. O tratamento
envolverá providenciar para que o espírito aflito desista até depois que o
paciente, agora "curado", tenha voltado para casa.

Em um momento oportuno, o espírito reinicia seu trabalho, a doença


retorna e a vítima se apressa de volta ao médico bruxo disposto a pagar
qualquer quantia para ser aliviada da dor insuportável. Não podemos dizer
que todos os feiticeiros na Indonésia se envolvam nesta prática enganosa.
Mas não é surpreendente que muitos o façam, dado o caráter de seu mestre,
Satanás.

Jesus disse uma vez que "Satanás não pode expulsar Satanás",
respondendo aos fariseus que afirmavam que ele estava expulsando demônios
por Belzebu, o príncipe dos demônios. De fato, os feiticeiros não podem
expulsar os espíritos malignos. Às vezes, no entanto, eles podem parecer.
Mas na realidade, não está ocorrendo uma verdadeira libertação. Cheguei à
conclusão de que cada vez que um doente visita um feiticeiro para alívio de um
ataque demoníaco (nem todas as enfermidades físicas são resultado de
atividade demoníaca), outro demônio é convocado. O novo demônio ou
apazigua ou persuade o espírito afligido do sofredor a se abster por um
período. Ele pode até mesmo se juntar calmamente ao primeiro demônio,
fixando residência no corpo da pessoa. O paciente pode então se sentir
aliviado de seu sofrimento, sua fé no médico feiticeiro reforçada.
Desconhecida por ele, infelizmente, a cura é apenas temporária. Agora ele
tem dois demônios em vez de um (ou pelo menos mais do que ele tinha antes)
que em algum momento no futuro induzirá sintomas ainda piores do que
antes. A vítima se apressa de volta para prestar homenagem e dinheiro ao
médico bruxo enquanto leva, sem querer, mais hóspedes não convidados para
dentro de seu corpo.

Mesmo no caso em que a enfermidade não pareça voltar após o


tratamento por métodos ocultistas, o dano já está feito. A fé do paciente na
feitiçaria foi construída; os demônios que residem em seu corpo, alma e
espírito não redimido certamente irão entorpecer sua sensibilidade espiritual
para as coisas do outro Reino. Quando ele ouvir o evangelho pela primeira vez,
o seu coração já terá se tornado como pedra.

A família de Fookso ficou desprovida. O dinheiro e o ouro com os


quais seu ídolo os havia abençoado, acabaram. A saúde de seu pai havia sido
permanentemente quebrada. Sua mãe tinha que fazer um trabalho doméstico

51
a fim de sustentar a família. Os poderes das trevas, no entanto, ainda não
estavam satisfeitos. Como eles não tinham mais dinheiro, não conseguiam
saldar as dívidas do feiticeiro pelos serviços prestados no passado. A mãe de
Fookso foi forçada a suportar uma vergonha insuportável e um tormento às
suas mãos. Então seu tio começou a ameaçar aniquilar a família inteira.

Certa noite, Fookso estava em casa. Ela estava sentada na sala de


estar, em frente ao grande ídolo. Sua família não estava mais feliz com o
ídolo, mas eles não podiam fazer nada. Se o ídolo fosse removido, eles
temiam que algo pior pudesse acontecer com eles. De repente, um
sentimento de terror veio sobre ela. Ela olhou para cima e viu a coisa mais
horripilante que já havia visto em sua vida. Um grande ser negro estava
diante dela, sua forma vagamente humanóide. Ela estava petrificada e
incapaz de se mover. A criatura se moveu em direção a ela. Os braços
estirados e estendidos. Uma poderosa garra travada em seu pescoço. Fookso
começou a sufocar. Lutando com todas as forças contra algo que não era de
carne e osso, ela começou a perder a consciência. Com o fôlego restante, ela
soltou um longo e desesperado grito.

Fookso não foi a mesmo depois daquela noite horrível. Não era
apenas o medo que parecia segui-la aonde quer que ela fosse. Mas apenas
sair ao ar livre tornou-se uma provação agonizante para ela. Ela descobriu
que não podia mais controlar suas próprias pernas. Como um bêbado, ela
teceu vertiginosamente para frente e para trás enquanto caminhava. Algo,
não a sua própria vontade, estava movendo suas pernas nesta direção e não
naquela direção. Ela temia que um dia a força a levasse para fora da estrada
em direção às valas onipresentes que forravam um ou ambos os lados das
ruas de Batu Ampar. Foi necessário tanto esforço para permanecer no
caminho que uma curta caminhada ao ar livre a deixaria exausta.

Quando ela tinha cerca de 18 anos, ela se casou. Sua mãe estava
tão descontente com ela e seu marido que ela jurou uma maldição sobre eles
diante do templo de ídolos local. Não foi sem efeito. Quando a conhecemos,
ela já tinha tido seis filhos. Um faleceu na infância. Outro nasceu pouco mais
do que um vegetal e não viveu para ver seu décimo aniversário. Seu marido,
embora tivesse alguma educação, não conseguia se agarrar a um emprego.
Eventualmente, ele foi forçado a lidar com o jogo ilegal, foi pego, condenado e
encarcerado por um ano.

Depois que Fookso e sua irmã mais nova Asiu passaram a acreditar
em Jesus, pela fé eles se tornaram filhos de Deus Todo-Poderoso e receberam
a vida eterna. Mas no que diz respeito à condição lamentável de Fookso na
carne, não houve nenhuma mudança discernível. O peso de sua enfermidade

52
física paralisante, de seu medo e constante ansiedade continuava a pesar
sobre ela.

Onde estava a vitória sobre Satanás que Cristo havia comprado para
ela na cruz? Onde estava a vida da ressurreição? Fookso não era a única
crente nesta condição. A maioria dos outros novos crentes também estava em
posições semelhantes, embora não necessariamente tão severas quanto a
dela.

Foi neste contexto que começamos a buscar a chave que libertaria


estes crentes de sua prisão. De acordo com o livro que tínhamos lido, os
cristãos podem ter demônios. A pergunta: "Pode um cristão ser possuído por
demônios?" não é significativa, pois, que eu saiba, o verbo grego que
geralmente é traduzido como "ser possuído por demônios" significa
literalmente "ter um demônio". Isto não é dividir os cabelos. Ter um demônio
é muito diferente de ter um demônio tendo você. Embora Satanás não possa
ter ou possuir um verdadeiro cristão, um crente pode possivelmente ter um
demônio em algum lugar em sua vida. Em muitos casos, as multidões de
pessoas aflitas vieram a Jesus porque tinham ouvido Suas palavras, visto Suas
obras e optaram por confiar nEle. E porque acreditavam nEle, Jesus ministrou
a eles. Ao Seu comando, os demônios que estavam nesses novos crentes
saíram deles. Os demônios haviam conseguido a entrada de suas vítimas
através de seu modo de vida passado. Note que mesmo depois de terem
escolhido seguir a Jesus, em muitos casos eles não foram libertados dos
espíritos malignos até que Jesus ministrou a eles especificamente.

Onde estava a vitória sobre Satanás que Cristo havia comprado


para ela na cruz? Onde estava a vida da ressurreição? Fookso não era a única
crente nesta condição. A maioria dos outros novos crentes também estava em
posições semelhantes, embora não necessariamente tão severas quanto a
dela.

Foi neste contexto que começamos a buscar a chave que libertaria


estes crentes de sua prisão. De acordo com o livro que tínhamos lido, os
cristãos podem ter demônios. A pergunta: "Pode um cristão ser possuído por
demônios?" não é significativa, pois, que eu saiba, o verbo grego que
geralmente é traduzido como "ser possuído por demônios" significa
literalmente "ter um demônio". Isto não é dividir os cabelos. Ter um demônio
é muito diferente de ter um demônio tendo você. Embora Satanás não possa
ter ou possuir um verdadeiro cristão, um crente pode possivelmente ter um
demônio em algum lugar em sua vida. Em muitos casos, as multidões de
pessoas aflitas vieram a Jesus porque tinham ouvido Suas palavras, visto Suas
obras e optaram por confiar nEle. E porque acreditavam nEle, Jesus ministrou
a eles. Ao Seu comando, os demônios que estavam nesses novos crentes

53
saíram deles. Os demônios haviam conseguido a entrada de suas vítimas
através de seu modo de vida passado. Note que mesmo depois de terem
escolhido seguir a Jesus, em muitos casos eles não foram libertados dos
espíritos malignos até que Jesus ministrou a eles especificamente.

Assim, vimos nossos irmãos Batu Ampar sob uma nova luz.
Praticamente todos eles tinham estado envolvidos no ocultismo até certo
ponto. Não só a feitiçaria e a bruxaria eram inerentes à herança de sua
cultura, mas também tinham sido implicados pessoalmente nela. Eles haviam
adorado seus pais falecidos. Eles haviam adorado em templos de ídolos.
Tinham consultado médicos feiticeiros. Alguns haviam até se envolvido
pessoalmente em práticas ocultistas. Mesmo que nunca tivessem feito estas
coisas, no mínimo quando estavam doentes, foram levados a feiticeiros por
seus pais para tratamento. O feiticeiro os faria ingerir várias preparações de
ocultismo e lhes daria um fetiche para se desgastarem para afastar os espíritos
que causavam a doença. Desnecessário dizer que estas atividades são um
convite direto para que os espíritos malignos entrem no participante.

A questão é, quando alguém que tem sido uma morada de longa data
para demônios se arrepende e se volta para Jesus Cristo, será que todos os
espíritos malignos saem automaticamente? Vamos fazer uma pergunta
paralela. Quando alguém que esteve profundamente envolvido em algum
pecado, por exemplo, olhando para revistas pornográficas, decide recorrer ao
Senhor para a salvação do pecado, ele automaticamente pára de olhar para as
revistas sem nenhum esforço de sua parte? A resposta é claramente não.
Embora seus atos pecaminosos tenham sido certamente perdoados, ele deve,
no entanto, tomar parte ativa na resistência a sua natureza pecaminosa que
Satanás tentará reavivar. Será de sua responsabilidade resistir, com a graça
de Deus, aos pensamentos e desejos impuros que muito provavelmente virão
a ele. Deus não o protegerá automaticamente. Se ele não resistir ativamente
às tentações, existe a possibilidade de que ele volte ao seu pecado.

Da mesma forma, um adorador de ídolos é certamente perdoado pela


abominação de adorar falsos deuses. Mas estes falsos deuses não deixarão
necessariamente por conta própria o templo em que residem há tantos anos.
Mesmo que o templo não seja mais deles - foi comprado por Deus com o
sangue de Cristo - eles gostariam de permanecer na casa o máximo de tempo
possível, ainda que como invasores. Os demônios não seguem as regras nem
obedecem à lei de Deus; eles só obedecem quando são forçados a fazê-lo por
um poder maior do que o seu. Em Lucas 11:24-26 as Escrituras implicam que
não é fácil para os espíritos malignos se deslocarem depois de terem sido
expulsos de uma pessoa. Eles preferem ir com alguém à igreja ou à sinagoga
todas as semanas do que procurar outra pessoa para morar. Uma vez Jesus
expulsou um demônio de um homem no meio de uma reunião da sinagoga.
54
Como então os espíritos malignos sairão? Eles partem quando alguém com
maior poder os força. Quem deve fazer isso? Jesus disse: "Estes sinais
seguirão aqueles que crêem". Em meu nome, eles expulsarão os demônios...."
(Marcos 16:17). Nós somos aqueles a quem foi dada a responsabilidade e a
autoridade do nome de Jesus Cristo para expulsar os demônios. O mesmo
princípio pode ser aplicado para ministrar cura àqueles com enfermidades
puramente físicas.

Armados deste entendimento, vimos por que durante os primeiros


dias de Biang e Menjaya Lucille não pôde ser curada de sua depressão, mesmo
depois de gritar ao Senhor. Sua condição era causada por demônios, embora
certamente nem toda depressão o seja. Ela foi libertada das forças negras
quando, em nome de Jesus, ordenei aos espíritos impuros que a deixassem.

Assim, começamos a ensinar aos irmãos sobre a libertação dos


espíritos que antes adoravam, encorajando-os a virem até nós para o
ministério. Fookso veio, pedindo-nos que orássemos por ela.

Depois que nos sentamos, pedimos que ela orasse ao Senhor, renunciando a
suas práticas e crenças anteriores. Então comecei a falar com os espíritos
malignos que eu acreditava que ainda estavam lá.

"Demônios de idolatria transmitidos a Fookso por seus pais e


antepassados, eu agora quebro sua ligação com ela e ordeno que vocês saiam
em nome de Jesus! Demônios da adoração dos antepassados, saiam em nome
de Jesus! Demônios de feiticeiros consultores, dos fetiches que você comeu e
usou para proteção, eu os amarro. Saiam em nome de Jesus! Demônios de
banhos de água abençoados pela feitiçaria, saiam em nome de Jesus Cristo!
Demônios da adivinhação e da leitura das palmas, saiam em nome de Jesus"!
A lista de demônios que eu havia elaborado continuava e continuava. Durante
vários minutos, continuei a falar com os espíritos malignos, ordenando
repetidamente que saíssem. Nada aconteceu. A dúvida surgiu em mim. Será
que eu estava fazendo figura de tolo, apenas falando para o ar? Havia
realmente algum demônio em Fookso? No entanto, continuei a comandar os
demônios em nome de Jesus, tentando combater a dúvida.

Fookso sentou-se diante de nós com os olhos fechados. Tínhamos


instruído ela a não fazer nada por conta própria. Ela não devia tossir
voluntariamente ou tentar cuspir algo. De repente, o rosto dela se levantou e
ela descarregou um bocejo cavernoso.

"Lucy, você viu isso? Ela bocejou!"

"Sim, eu vi, Bill. Ela viu!"

55
Encorajado, renovei com vigor meus comandos aos espíritos
malignos. "Saiam, seus demônios. Sei que estão se escondendo ali dentro.
Vocês não podem mais nos enganar. Não me importa há quanto tempo vocês
vivem nesta mulher. Ela foi comprada pelo sangue de Jesus. Você não tem
mais o direito de viver aqui. A casa não é mais sua; ela pertence a Deus.
Saiam em nome de Jesus, seus invasores"!

Fookso bocejou repetidas vezes. Durante vários minutos, enquanto


eu continuava a comandar os demônios, ela bocejou. Eu não entendia bem o
que o bocejo significava, mas o fato era que ela bocejava involuntariamente.
Eu olhei para minha lista de demônios para expulsar e vi, "espírito de medo
dos gatos". Antes da libertação, tínhamos perguntado a Fookso do que ela
estava com medo excessivo. Ela tinha um grande medo de gatos e patos.

"Seu demônio que a faz ter medo dos gatos, saia em nome de Jesus!"

Imediatamente houve um forte estrondo contra a porta da frente.


Estávamos na sala da frente, a poucos passos da porta. Eu me levantei e fui
até a porta, abrindo-a. Lá, na frente da porta, vimos um gato preto. Ele olhou
para nós, deu meia volta e fugiu. Ouvimos histórias de demônios saindo por
portas. Mas o que nós experimentamos pessoalmente naquela noite foi muito
estranho para que pudéssemos apreender. Coincidência? Ou será que por um
momento nos foi permitido ver um ser espiritual?

No dia seguinte, Fookso nos relatou que ela estava bem. A partir
daquele dia, ela pôde caminhar normalmente.

Os outros crentes também vieram para a libertação. A maioria deles,


mas não todos, manifestaram sinais durante a libertação. Alguns tossiu,
outros experimentaram o surgimento de catarro, outros ainda vomitaram com
força. Geralmente, quanto piores os sintomas da aflição ou quanto mais a
pessoa tinha se envolvido no oculto, mais dramáticas eram as manifestações.
Mas nem sempre havia sinais visíveis.

Muito mais significativas do que as manifestações foram as mudanças


na vida das pessoas. Em quase todos os casos, a pessoa apresentou melhoras
significativas ou se libertou de sua aflição. Até mesmo crianças estavam sendo
libertadas de espíritos malignos.

O irmão Akwet tinha sete filhos naquela época. Antes de conhecer


Jesus, ele havia trabalhado com seu sobrinho, que era um médico bruxo local.
Os feiticeiros podem operar em vários dons espirituais que são falsificações
dos dons espirituais dados por Deus através do Espírito Santo. Um dos dons
demoníacos nos quais o sobrinho de Akwet podia operar era falar em uma
língua demoníaca. Esta língua demoníaca desconhecida, como uma língua
desconhecida do Espírito Santo, precisa de uma interpretação para ser
56
compreendida pelos ouvintes. Foi o Akwet quem forneceu a interpretação da
língua desconhecida.

Como estava ativamente envolvido com o ocultismo, ele sofreu com a


opressão. Seus filhos, especialmente uma menina de dez anos chamada Ali,
pagaram caro pela ocupação de seu pai. Ali estava doente regularmente. A
cada vez, seu pai a levava para ver seu sobrinho, o bruxo médico. Cada vez, a
pequena Ali era submetida a todo tipo de tratamento estranho que a
assustava. Uma vez que a doença era especialmente grave, ela tinha que ser
"hospitalizada" durante a noite no "consultório" de seu tio, onde se encontrava
o grande altar de ídolos e a parafernália relacionada. Foi um pesadelo para o
pequeno Ali.

Akwet e seus filhos, incluindo Ali, vieram para ser orados. Os espíritos maus
que durante tanto tempo atormentaram Ali com a doença foram expulsos em
nome de Jesus, e Ali não mais sofreu com os ataques semanais.

Quando, em 1981, nosso segundo ano em Batu Ampar, aprendemos


como expulsar demônios, as comportas foram abertas para uma nova colheita.
A colheita inicial, quando chegamos em 1980, era escassa; o solo era duro.
Mas quando as pessoas ouviram que nosso Senhor tinha autoridade sobre
espíritos maus e doenças que os feiticeiros não podiam igualar, começaram a
vir para ouvir a palavra e para serem curados de suas doenças. Algumas de
suas doenças eram causadas por espíritos demoníacos, e quando o espírito era
expulso, muitas vezes a doença era curada. Mas o que dizer daquelas doenças
que são puramente físicas por natureza e não têm nada a ver com demônios?
Nesses casos, a libertação não é necessária. Mas a autoridade que é exercida
no comando e expulsão de demônios é a mesma autoridade que expulsa a
doença para trazer a cura física. À medida que crescemos em autoridade
sobre os demônios, crescemos também em autoridade sobre as doenças
físicas.

Ao ministrar a libertação a pessoas que nunca estiveram envolvidas


em feitiçaria, bruxaria, adoração de ídolos e afins - seja como praticantes ou
vítimas - podemos ver manifestações visíveis com muito menos freqüência do
que na Indonésia. Por exemplo, ministrar a libertação àqueles que foram
criados em uma cultura ocidental como a dos Estados Unidos pode ser
acompanhado por menos ou nenhuma manifestação exterior. Mas gostaria de
enfatizar que não nos concentramos em manifestações ou em sua ausência,
mas sim em vidas que por meio de Cristo foram libertadas do poder manifesto
de Satanás para servir e adorar a Deus.

57
Capítulo Oito

A Tempestade é Repreendida

As vezes parecia que as paredes da pequena sala da frente de nossa


casa explodiriam de tantas pessoas reunidas lá dentro. Na primavera de 1982,
nossa casinha, recheada com a nova colheita como um silo do Kansas na
época da coleta do trigo, foi desmontada e substituída por uma instalação
maior. Incluída no prédio estava uma nova sala de reuniões quase cinco vezes
maior do que a antiga. Esta nova sala ainda não havia sido concluída, mas
como não tínhamos outro lugar para usar, nos reuníamos lá. O ministério de
libertação tinha nos dado uma nova perspectiva sobre a proclamação do
evangelho em Batu Ampar. Conseguimos ver como Satanás resistiu a nossos
irmãos a cada passo de suas vidas como pessoas destinadas ao Reino de Deus.
Embora uma pessoa já tivesse aberto seu coração a Jesus Cristo, Satanás
tentaria impedi-lo de amadurecer através de seus demônios que haviam sido
implantados há muito tempo.

Através de enfermidades físicas e "psicológicas", através de um


entorpecimento espiritual cultivado ao longo de inúmeras gerações de
escuridão, ele os impediria de crescer na compreensão e na vida de
ressurreição que estava disponível para eles. Ele os impediria de serem cheios
do Espírito Santo, um pré-requisito para viverem uma vida digna de seu
chamado celestial e para se tornarem testemunhas de Jesus Cristo. Sentimos
que, para que nossos irmãos se tornassem seguidores de Cristo assim como
nós, eles primeiro tinham que ser libertados dos espíritos malignos que
teimavam em se apegar a eles.

Quase sem exceção, todos eles tinham saído do espiritismo de longo prazo, o
que significava que provavelmente todos eles precisavam ser libertos. Nos
Estados Unidos, somos sabiamente aconselhados a não procurar demônios por
trás de cada arbusto. Os americanos, em sua maioria, são criados em uma
cultura cristã e estão relativamente livres das consequências do envolvimento
com a bruxaria e o ocultismo. Entretanto, aqueles que são criados em uma
área onde o evangelho nunca foi pregado, onde os espíritos malignos são de
fato adorados, se encherão com esses espíritos. Da mesma forma, nós que
adoramos o verdadeiro Deus, nos tornamos cheios do Espírito de Deus.

Em uma manhã de domingo, planejamos expor as artimanhas de


Satanás em nossa mensagem dominical. No final da mensagem, íamos orar
por todos que estavam no culto. Durante a semana anterior àquele domingo,
eu havia jejuado e orado fervorosamente para que o poder do Espírito Santo
fosse manifestado em nosso meio. Oramos para que a unção de Deus fosse

58
sobre nós para expulsar os demônios de todo o povo na reunião de uma só
vez.

Em Batu Ampar, um fator que poderia causar estragos no domingo de


manhã era o clima. A chuva em uma manhã de domingo poderia reduzir o
comparecimento das pessoas à reunião pela metade ou mais. Chuvas e ventos
fortes, que poderiam atingir repentinamente especialmente durante a estação
dos temporais, eram conhecidos por dizimar os cultos a até um décimo de sua
participação normal. Em nossa área, alguns dos crentes viviam em serrarias
marítimas. Eles tinham que pegar "táxis aquáticos" inconvenientes para poder
vir à cidade. Estes navios eram lentos, relativamente caros e difíceis de entrar
e sair, em particular para os idosos e mulheres carregando bebês e crianças
pequenas.

Durante a chuva, subir e descer nestes barcos tornou-se não apenas


inconveniente, mas também arriscado. Tivemos que nos agarrar com guarda-
chuvas, assim como carregar crianças e tomar extremo cuidado para não
escorregar enquanto subíamos do barco até a doca. Depois de chegar ao
porto, era outra caminhada de meia milha em lama escorregadia até nossa
casa. A chuva em Batu Ampar seria uma desculpa válida para que qualquer
pessoa razoável não fosse à igreja.

Naquela manhã de domingo, uma espessa camada de nuvens escuras


fechou o sol do horizonte a horizonte. Um par de horas antes do culto, o vento
levantou. Os céus se tornaram mais ameaçadores e uma chuva leve varreu a
cidade com o vento, que por esta altura já havia aumentado e estava
extremamente forte. Satã não quer que eu mantenha este culto, eu disse a
mim mesmo. Ele não quer ser exposto diante do povo; ele não quer que o seu
restante seja quebrado. Satanás é o que está por trás deste clima, concluí.

Pedi ao Senhor que parasse a tempestade por causa de Seu povo que
precisava ouvir Sua palavra. Jesus uma vez repreendeu o vento, a chuva e as
ondas, e a tempestade se acalmou. Em Seu nome, eu tentaria fazer o mesmo.

Em nome de Jesus Cristo", falei alto, olhando para o céu através da


janela, "eu venho contra o governante de Batu Ampar". Eu te prendo em
nome de Jesus Cristo". Você não impedirá o povo de Deus de se reunir para
adorá-Lo hoje". Fixando meus olhos no céu, eu continuei: "Chuva, eu te
ordeno que pares de cair em Batu Ampar em nome de Jesus Cristo". Vento,
ordeno-te que afastes todas estas nuvens de tempestade, longe de Batu
Ampar".

Durante alguns minutos, continuei a falar ao vento e à chuva. Nada


aconteceu. A tempestade não deu nenhuma pista de subsidiar. Novamente
falei, e continuei por mais alguns minutos. Depois, de joelhos, procurei o

59
Senhor em relação ao encontro e à palavra que eu ia levar para o povo.
Quando olhei para cima vários minutos depois, o vento havia parado e a chuva
havia cessado de cair. Ainda faltava uma hora para o culto e eu sabia que os
irmãos iriam chegar. Durante a reunião naquela manhã, o Senhor derramou
Sua graça e manifestou Seu poder sobre os espíritos malignos. Enquanto eu
estava no púlpito e ordenava aos demônios ligados à adoração de ídolos, ao
espiritismo e à feitiçaria que deixassem o povo de Deus, os espíritos malignos
saíram.

"Irmã Amee, você já ouviu falar do homem e da mulher da América


que estão ensinando algum tipo de religião estrangeira aqui? Eles estão
dizendo que o Deus deles não está satisfeito com as injustiças e com a
adoração de nossos ídolos e deuses locais. Eles dizem que só o Deus deles é o
verdadeiro Deus e que só Ele pode nos levar ao céu".

"Bobagem", respondeu a Irmã Amee desdenhosamente. "Os únicos


deuses verdadeiros são aqueles que conhecemos". E nós os conhecemos
desde o tempo de nossos antepassados". As religiões são inúteis. De que elas
podem ser úteis? Mas nossos deuses são reais, eles podem nos abençoar, nos
proteger e nos curar quando estamos doentes. Ora, até já curei os doentes
com seu poder".

Gostaria que eles me curassem, ela reclamou depois que sua amiga
tinha ido embora. Gingerly, a irmã Amee deitou-se sobre as almofadas gastas
por cima do chão do quarto que servia de cama para ela e seu marido.
Olhando para cima, ela inspecionou o cubículo vazio onde, durante o ano
passado, ela havia passado a maior parte de suas horas de vigília. À noite, ela
dormia lá com seu marido e sua filha de onze anos. Depois de terem gasto
tudo o que tinham para tratar de sua doença, foram forçados a se mudar para
esta lamentável cabana. Não mais que três metros de largura, tinha uma
pequena "sala de estar" voltada para a frente, uma área dilapidada e
desmoronada na parte de trás para cozinhar e um pequeno quarto dividido ao
meio. Estava tão quente por dentro; a cobertura de chapa de alumínio sobre
sua cabeça absorvia os raios de sol e com grande eficiência conduzia o calor
para baixo, transformando a casa em uma fornalha. E seu corpo...... era
pouco mais do que o proverbial esqueleto coberto de pele. Sua doença, fosse
ela qual fosse, a tinha definhado. Ela mal conseguia se levantar para comprar
mantimentos para alimentar sua família. Tinha começado há alguns anos,
ficando progressivamente pior.

Seu marido havia tentado todos os tipos de feitiçaria que puderam


encontrar. Agora o dinheiro deles havia desaparecido. Seu marido havia
perdido a esperança de que ela melhorasse. Mas ao menos ele não a havia
deixado para morrer sozinha. Ele havia assumido todas as tarefas domésticas.

60
A irmã Amee começou a pensar nos três filhos que eles perderam por
causa de enfermidades. Onde quer que eles estivessem, ela refletia: estava
prestes a se juntar aos filhos. Não havia esperança. Uma onda de tristeza a
varreu e ela chorou. Como uma criança cujos gritos não são ouvidos por sua
mãe abandonada, ela chorou até adormecer.

"Irmã Amee, Irmã Amee, você está aí?"

Ela se agitou, ouvindo seu nome pela metade.

"Irmã Amee, Irmã Amee! Olá!"

Os olhos dela se abriram. "Sim?", ela respondeu com fraqueza.

"Sou eu, A Bakso". Posso entrar por um momento?"

"Sim, entre."

A Irmã Amee se ergueu aos seus cotovelos enquanto A Bakso entrava


na sala. A Bakso era um parente distante por casamento. Sua irmã tinha
casado com o irmão do marido da irmã Amee; seu nome significa literalmente
"esposa do irmão mais velho".

"Como você está indo, Irmã Amee?" perguntou A Bakso em sua voz
rouca. Uma Bakso tinha bócio e isso havia afetado a voz normal de mulher.

"Não muito bem, A Bakso". Sinto-me tão fraca hoje...." ela se


afastou desesperadamente.

"Irmã Amee, você já está doente há anos. Ninguém tem sido capaz
de ajudá-la. Mas há algumas pessoas novas em Batu Ampar que talvez
possam fazer algo. Você conhece aquele casal da América? Eles têm ensinado
sobre outro Senhor que se chama Jesus Cristo.......".

Uma noite, quando estávamos prestes a começar uma reunião na


casa de Chinso ("esposa do irmão mais velho Chin"), um novo crente,
caminhou com uma senhora que nunca havíamos conhecido. Ela era muito
magra e fraca. Ela se sentou e nós começamos a reunião, contando a eterna
esperança que Deus nos deu em Seu Filho amado. Ela estava ouvindo com
atenção. No final da reunião, ela nos agradeceu e foi para casa. Durante as
semanas seguintes, ela apareceu fielmente e escutou. Semana após semana,
surgiram mudanças pouco perceptíveis..... uma nova centelha em seus olhos,
um sorriso que encerava de esperança. Finalmente, um dia, ela veio até nós e
nos disse que queria seguir Jesus Cristo e ser batizada na água.

Os batismos em Batu Ampar foram muito pouco ortodoxos. Como


nos faltava o tipo de instalações encontradas nas igrejas ocidentais, prevalecia
a improvisação e o desrespeito sem tréguas pela tradição. Batu Ampar não
61
tinha nenhum rio próximo, apenas um porto muito sujo. Precisávamos de um
batistério. Naquela época, porém, não tínhamos nenhuma igreja, muito
menos um batistério. Procurávamos um grande recipiente que pudesse conter
água e no qual um adulto pudesse ser imerso convenientemente. As únicas
coisas que cabiam nesta descrição eram os tambores de óleo de 50 galões que
eram comuns em Batu Ampar. Eles eram usados para segurar gasolina, óleo,
diesel e querosene que eram embarcados de Pontianak. Posteriormente, as
pessoas os utilizavam principalmente para armazenar água. Tínhamos um par
deles para armazenar água para banho e limpeza. Um deles foi colocado em
serviço na noite do batismo da Irmã Amee para ser realizado em nossa casa.

Naquela noite, a irmã Amee chegou acompanhada de seu amigo A


Bakso. Após um tempo de instrução, ela estava pronta para ser batizada na
morte de Jesus Cristo, ansiosa pela vida de ressurreição que seria sua. Um
pequeno banquinho foi colocado ao lado do tambor. Nós a ajudamos a subir
no banquinho de onde ela subiu no tambor, que havia sido abastecido com
dois terços de água. A água estava fria, mas a irmã Amee ficou em silêncio
enquanto eu orava por ela. Finalmente chegou o momento. "Em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo.....". Eu coloquei minha mão sobre a cabeça dela
e pressionei levemente. A Irmã Amee caiu no tambor em uma posição de
cócoras debaixo d'água. Momentos depois, eu bati nela no ombro e ela subiu.
Estava feito.

Um Bakso ajudou a Irmã Amee a sair do tambor. Ela entrou na casa


para vestir a roupa seca que havia trazido com ela. Quando voltou, ela se
sentou, ansiosa para receber a libertação completa que o Senhor lhe havia
prometido. Nós tínhamos decidido não perder tempo em ministrar a ela. Ela
já havia se afastado dos deuses que serviu fielmente desde a infância;
decidindo seguir Cristo a partir de então, ela havia se submetido ao batismo na
água. Por mais vagamente que as pessoas de fora entendessem a fé cristã,
elas perceberam que uma vez que uma pessoa se submeteu ao batismo, ela
havia feito um pacto irrevogável com o verdadeiro Deus. Diante disso,
sentimos que não deveria haver demora na libertação de nossa irmã, a quem
Satanás havia amarrado durante anos.

"Em nome de Jesus Cristo, saiam, seus espíritos maus!" Normalmente, as


manifestações, se é que existiam, levavam minutos antes de aparecer. Mas
em um minuto, a Irmã Amee começou a cuspir grandes quantidades de
catarro. Um fluxo constante surgiu durante vários minutos enquanto
continuávamos a falar em nome do Senhor. Mas não parecia haver fim para
isso. Enquanto ordenávamos aos espíritos malignos que partissem, as
manifestações continuavam. Isto não foi surpreendente, já que a Irmã Amee
tinha estado bastante envolvida em sua devoção aos seus antigos deuses. No

62
entanto, estávamos ficando cansados. Por fim, acabamos por encerrar o dia e
dar boa noite a nossa irmã.

Aquela noite provou ser muito incomum para a Irmã Amee. O


catarro continuou a aparecer mesmo muito tempo depois que ela foi para a
cama. Mas o mais interessante é que ela sonhou com um objeto de papel
suspenso no céu, no qual ela podia ler as letras de seu nome. Poderia ter sido
um símbolo do Livro da Vida do Cordeiro no céu? Durante toda a noite, além
disso, ela ficou radiante com melodias incrivelmente belas de adoração ao seu
novo Senhor, que ela ouviu enquanto dormia. Poderia ter sido um coro
angelical regozijando-se com seu arrependimento até a vida, desde a morte?
Quando a irmã Amee acordou pela manhã, ela se sentiu maravilhosamente
refrescada em seu espírito. E seu corpo? Suas forças haviam voltado. Deus a
havia curado durante a noite.

Em Seu amor insondável, o Senhor redimiu a Irmã Amee de uma


escuridão espiritual incomensurável. Ele havia então procedido para resgatar o
corpo dela das trevas. Mas Ele ainda não havia terminado. Em cerca de um
ano, Irmã Amee engravidou e deu à luz a um menino saudável, a quem ela
deu o nome de John. Pouco tempo depois, o Senhor a abençoou novamente
com outro menino a quem ela deu o nome de José. Ele não só tinha redimido
sua alma e seu corpo, mas também tinha redimido o fruto de seu ventre!

Com mais experiência em lidar com demônios veio um maior


discernimento em saber quais aflições foram causadas por demônios e quais
foram simplesmente o resultado de uma condição física. Os problemas
causados por espíritos maus tendiam a ser de natureza "psicológica".
Pesadelos e alucinações freqüentes, ansiedade excessiva e confusão mental,
até mesmo tonturas e dores de cabeça freqüentemente pareciam demoníacos
em sua origem. Estes foram os casos mais leves. No extremo oposto do
espectro, descobrimos que a epilepsia, o comportamento psicótico e a
insanidade podiam ser rastreados até os espíritos malignos. Lidar com estes,
no entanto, não era uma questão simples. Eles eram poderosos e, para
expulsá-los, era preciso muita persistência e resistência. O quanto os servos
de Deus precisam de uma poderosa unção do Senhor para expulsar demônios
rápida e eficientemente como Jesus fez quando Ele estava na Terra! Seu
tempo e energia seriam liberados para outros ministérios.

Quando expulsamos os demônios pela primeira vez, foi emocionante.


Havia uma emoção em ver espíritos malignos se submeterem a nós tão
intensamente quanto pronunciamos o nome do Senhor Jesus Cristo. Havia
poder nesse nome, e francamente, nós gostamos de usar esse poder. Mas
talvez por isso, no décimo capítulo de Lucas, Jesus advertiu seus discípulos:
"Não vos alegreis por os espíritos se submeterem a vós, mas alegrai-vos por

63
vossos nomes estarem escritos no Livro da Vida". Mesmo a sabedoria terrena
reconhece os perigos de possuir um poder que pode corromper absolutamente.
Para nós, seres humanos, isto é verdade não apenas no domínio político ou
militar, mas também para o poder espiritual.

Após alguns anos, o ministério da libertação para nós se tornou uma


tarefa e não mais uma alegria. Não encorajamos mais entusiasticamente as
pessoas a virem para a libertação. Um ministério constante deste tipo teria
nos drenado tempo e energia. Somente quando nos era solicitado ou quando
havia uma necessidade óbvia de libertação é que procurávamos expulsar os
demônios. Preferimos muito mais que os irmãos fossem libertos através da
adoração ungida e da pregação da palavra.

Uma vez uma mulher que havia se envolvido com bruxaria começou a
participar de nossas reuniões. Em um domingo específico, os espíritos
malignos dentro dela não podiam mais suportar a presença do Espírito Santo,
pois Deus estava sendo exaltado. Ela se levantou e saiu pela porta lateral.
Colocando as mãos sobre o estômago, ela se dobrou sobre o chão e vomitou
várias vezes com grande força. Espíritos malignos saem à medida que as
pessoas crescem na fé através da adoração conjunta e do recebimento da
palavra de Deus. Mas com tanta frequência os demônios cruzaram nosso
caminho que, gostando ou não, tivemos que enfrentá-los diretamente e
pisoteá-los. Nisto o Senhor nos enviou ajuda. Ao exaltar Seu nome através
de milagres, Ele começou a atrair Seus discípulos para que nos ensinassem a
fazer as mesmas obras. O primeiro de Seus discípulos a se juntar a nós foi
nosso irmão Akong de Biang.

Akong chegou em Batu Ampar após uma viagem de dois dias de


ônibus e barco de Biang. Em seu coração, ele estava ansioso para servir ao
Senhor, e quando lhe escrevemos pedindo para vir se juntar a nós no
ministério em Batu Ampar, ele ficou muito contente. O Senhor estava para tê-
lo trabalhando ao lado de Asiu, que era a irmã mais nova de Fookso.

Asiu tinha dado seu coração a Jesus. Sua mãe, seu pai e seu irmão
mais velho também tinham vindo para confessar Jesus como Senhor. Para sua
mãe, era o início de uma nova vida onde ela finalmente se libertava dos
horrores infligidos a ela pelos espíritos que seu marido havia venerado tão
intensamente em anos passados. Para o pai de Asiu, era preciso que ele
encontrasse Cristo face a face.

Quando ele ouviu pela primeira vez o evangelho, seu corpo já havia
sido devastado pelos anos de doença devido às maldições colocadas pelo tio de
sua esposa. Finalmente ele teve um derrame que o deixou muito fraco e
parcialmente paralisado. Sua ardente devoção ao espiritismo o havia

64
quebrado física e financeiramente. Mas seu espírito ainda não havia sido
quebrado.

Ainda me lembro do dia em 1981, quando Lucille e eu fomos à sua


casa para compartilhar sobre Jesus.

"Tio, viemos para contar-lhe sobre Jesus Cristo, o Filho de Deus, a


quem Deus enviou ao mundo para nos salvar de nossos pecados, morrendo na
cruz", começou Lucille.

Ela passou a explicar quem era Satanás, o que ele havia feito à raça
humana e o que ele havia feito ao Tio pessoalmente. "Você tem venerado
Satanás durante toda a sua vida sem saber, tio, e por causa disso ele tem sido
capaz de fazer a você o que quer que ele queira. Você tem sido fiel a ele toda
a sua vida, mas veja o que ele tem feito a você e à sua família". Ele o
enganou e tentou destruí-lo de todas as maneiras possíveis. Mas Jesus pode
salvá-lo dele. E Jesus pode curar seu corpo quebrado".

Eu olhei para ele e vi lágrimas brotando em seus olhos.

"Você quer dizer que Jesus pode me salvar? Ele pode me salvar de
Satanás...", perguntou ele suplicando.

"Sim, tio, Jesus pode salvá-lo. Você deve acreditar nEle com todo o
seu coração e segui-lo para sempre". Ele se entregou para morrer na cruz
para receber o castigo que merecemos por nossos pecados".

"Wahhhhhhhh!" O rosto do tio se enrugou e ele começou a gemer


como uma criança. As lágrimas caíram. Fui pego de surpresa. Nunca antes
havia visto tal resposta ao evangelho. Talvez ele esteja um pouco sensível,
pensei, ou talvez tantos anos de adoração a espíritos malignos tenha
prejudicado sua mente.

"Não chore, tio", disse Lucille calmamente. "O que é isso? Por que
você está chorando?"

"Minha vida tem sido tão insuportável.....Eu passei por tanta dor e
perda....E não posso começar a contar tudo isso para você. E agora você me
diz que foi a pessoa a quem eu me entreguei que me fez passar por isso". Oh,
como eu o odeio. Como eu odeio Satanás! Se eu tivesse o pescoço dele em
minhas mãos, eu o sufocaria até a morte"! Raivosamente o tio juntou suas
mãos em um anel pronto para estrangular. Ele tentou se levantar como se
jogasse seu corpo inteiro em uma última represália contra Satanás.

"Tio, você não pode lutar contra Satanás dessa maneira", explicou
Lucille gentilmente. "Ele não é de carne e osso". Ele é espírito. A única
maneira de derrotá-lo é entregando-se a Jesus, que já o destruiu".
65
O tio se acalmou. "Jesus pode realmente me salvar?"

"Sim, tio, ele pode salvá-lo se você realmente acredita nele", Lucille o
tranquilizou.

Novamente o tio fechou os olhos com força, como se estivesse em


dor. Novamente do fundo de sua alma surgiu um lamento tão doloroso, tão
lisonjeiro que tive vontade de me afastar com vergonha. Então eu vim a
entender.

Ninguém pode compreender o tormento que o tio tinha sofrido na


terra. Agora ele estava percebendo que toda a agonia pela qual havia passado
era, de certa forma, desnecessária. Se ele tivesse adorado o Deus certo, se
ele tivesse seguido Jesus todos aqueles anos em vez de seguir o enganador,
ele poderia ter sido poupado da dor. Isso não tinha sido necessário. O
arrependimento amargo sobre sua vida desperdiçada o oprimiu. Finalmente
compreendi.

"Mas tio", lembrou Lucille, "Jesus pode salvá-lo". Não é tarde demais para
você. Acredite nEle agora. Você quer recebê-Lo como seu Senhor e
Salvador"?

"Sim, sim, eu quero acreditar Nele. Jesus, Jesus, me perdoe! Jesus,


Jesus, salva-me!"! O tio ainda chorava, mas o lamento de arrependimento
desesperado havia se transformado perceptivelmente em um grito de
esperança desesperada no Senhor Jesus Cristo.

Depois que o tio se tornou um crente, nós o visitamos em várias


ocasiões para orar para que o Senhor restabelecesse sua saúde. O Senhor
tocou seu corpo, e ele pôde se levantar e andar.

Para que ele continuasse melhorando, sugerimos que sua esposa e


seu filho o levassem para passear diariamente. Nós os encorajamos a levá-lo
à igreja todos os domingos. Mas sua família temia que ele não fosse capaz de
sentar-se durante todo um culto, ou que ele pudesse perturbar os outros no
culto. O tio não tinha mais controle sobre seus intestinos e sua bexiga. Isto
poderia ser embaraçoso na igreja. Sua esposa era mantida muito ocupada
trocando e lavando suas roupas íntimas sujas e roupa de cama. Talvez por
causa disso ela não tivesse mais forças para levá-lo a fazer exercício.
Entretanto, nas raras ocasiões em que o tio foi levado à igreja, ele não distraiu
ninguém, mas simplesmente se sentou em sua cadeira chorando enquanto
ouvia a palavra. Será que ele estava ansioso para estar com Jesus?

O estado do tio se deteriorou. Um dia, ficou claro que sua situação


era grave. Sua família não tinha nem os meios nem a inclinação para levá-lo
ao hospital um dia de viagem pela costa em Pontianak. Então, foi decidido que
66
tio seria trazido para ficar conosco em nossa casa. Ele foi colocado em uma
maca improvisada e transportado para nossa casa. Naquela época, não
tínhamos espaço adequado para ele. Os únicos quartos confortáveis para ele
eram nosso quarto e o quarto de nossa filha Esther, que tinha quase dois anos
de idade naquela época. Esther passou a dormir conosco e nós preparamos
seu quarto para receber o tio. Para cuidar de seu pai, nossa irmã Asiu também
se mudou para passar as noites com ele.

Durante os dias seguintes, preparamos comida para ele e orávamos


por ele com frequência.

A mãe de Asiu veio durante o dia para alimentá-lo, lavá-lo e trocá-lo,


enquanto Asiu fazia vigília à noite. Mas, apesar de todos os nossos esforços,
ele piorava de dia para dia. Ele não podia mais sentar-se ou falar, sua
comunicação com o mundo exterior reduzia-se a gemidos que traíam a dor que
o abalava o corpo. O cheiro sobre ele era o cheiro da morte.

A sala onde Uncle estava deitado foi separada da nossa por uma
porta e uma parede de madeira compensada com um oitavo de polegada de
espessura. Perto do teto, a "parede" consistia de uma peneira de arame para
circulação de ar entre o quarto de nossa filha Esther e o nosso.

À noite, então, podíamos ouvir cada som que ele fazia. De vez em
quando, um grito desamparado e excruciante abalava a quietude do nosso
sono. Não sabíamos que dor ele sentia, que medo o havia agarrado, que
solidão desoladora o havia aterrorizado na cela da prisão em que seu corpo
havia se tornado; sabíamos apenas que seu Deus jamais o abandonaria.
Durante as primeiras noites, Asiu havia dormido fielmente ao lado de seu pai.
Mas os gritos repentinos nas horas escuras da noite a abalaram tanto que ela
não pôde mais ficar com ele.

Uma noite, estávamos em uma reunião em uma serraria local. Na


metade da reunião, nosso pequeno ajudante Kit-Chiang entrou e
discretamente nos informou que o nosso hóspede estava em estado crítico.
Após a reunião, corremos para casa e fomos direto para o o quarto onde ele se
encontrava. A família tinha se reunido na sala.....Asiu, sua mãe, seu irmão
mais velho, sua irmã mais velha e seu marido. Eu me ajoelhei ao lado do
colchão do tio e olhei para ele. Ele olhou para mim com súplica. Eu lhe
estendi a mão e o segurei. De repente, seu aperto na minha mão se apertava,
seu olhar se transformava em medo e perplexidade, como se sentisse que a
morte acabava de ganhar uma base para o seu corpo. Ele tremeu como se
estivesse sofrendo e depois relaxou momentaneamente. Lucille pôde sentir a
presença do espírito da morte na sala.

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Novamente ele olhou para mim suplicantemente, como se eu pudesse
ajudá-lo ou confortá-lo sobre o que iria acontecer. Quase instintivamente, eu
disse: "Espírito de morte, eu te amarro em nome de Jesus Cristo". Eu não
permito que você leve o tio. Deixe esta sala em nome de Jesus Cristo. Vá! E
ordeno que a vida da ressurreição se manifeste no corpo de Tio, em nome de
Jesus". Mais uma vez eu a repeti. Mas ele continuou afundando. O olhar de
medo desconcertado reapareceu em seu rosto como se a morte tivesse
conseguido apertar mais uma garra sobre ele. Seus olhos me suplicaram
novamente. Era como se ele tivesse depositado sua confiança em mim. O
quê? Depositar sua confiança em mim? Quem sou eu? Ou quem eu me fiz
passar por mim?

Mesmo naquele momento, insensatamente em retrospectiva, não fiz nenhum


esforço para confortar e fortalecer-lo em sua fé para com Jesus, seu Salvador,
antes que ele passasse para a eternidade. Por alguma razão, senti que tal
conselho teria sido equivalente a uma admissão de derrota de minha parte.
De alguma forma eu senti que tinha que continuar repreendendo até o fim o
abutre da morte que pairava insistentemente sobre sua vida. Somente no céu
saberia o que deveria ter feito, ou qual era a perfeita vontade de Deus para o
tio naquele momento. Para seus próprios propósitos, Deus pode escolher não
curar na terra e levar seu povo de volta para casa para sua cura completa e
perfeita.

Ele ficou cada vez mais fraco e não podia mais focalizar seus olhos
em mim. Eu soltei suas mãos e coloquei meus braços ao redor dele, enquanto
continuava a resistir ao irresistível. Finalmente, percebi que tio ia morrer. Por
que eu continuava repreendendo a morte, mesmo naquela etapa, não entendo.
Talvez fosse para dar uma boa demonstração de fé para os parentes.

A esta altura, o tio parecia ter perdido a consciência. As convulsões


sacudiram seu corpo a cada poucos momentos. Em um paroxismo final, ele
sacudiu seu corpo em meus braços e partiu para os celestiais acima.

Havia silêncio na sala. A esposa e os filhos se amontoaram ao redor


dele durante todo esse tempo sabiam que ele tinha ido embora. Finalmente,
quebrando a quietude, Lucille pronunciou: "O tio foi para casa do Senhor".
Asiu e a família então se lançaram em fortes lamentos por seu pai. Mas tio
estava finalmente vivo e bem com Jesus.

Um inválido muito doente havia passado vários dias e noites em


nossa casa à medida que seu corpo se deteriorava lentamente. Finalmente,
ele morreu no quarto onde nossa filhinha brincava e dormia. Mas este homem
era nosso irmão em Jesus Cristo.

68
De boca em boca a notícia de sua morte foi espalhada para os outros crentes.
Alguns vieram logo para confortar a família, outros ficaram para ajudar a
preparar o corpo para o enterro. Fookko, genro do tio por casamento com
Fookso, assumiu o comando. (Fookko significa "irmão mais velho Fook") Ele e
Chensook, da serraria, ajudaram a levar o corpo para fora do quarto de Esther
para nosso santuário semi-acabado na frente. Lá eles colocaram dois bancos
da igreja face a face e deitaram o corpo, cobrindo-o com um grande pano.
Lucille mandou esfregar completamente o quarto de Esther com uma solução
anti-séptica e sua cama se moveu de volta para o local onde Uncle havia
dormido.

Em áreas como Batu Ampar, não havia casas funerárias ou funerárias. As


pessoas falecidas devem ser sepultadas rapidamente. Assim, o funeral foi
marcado para a manhã seguinte. O caixão, um mórbido caixão de madeira
que se assemelhava a um antigo sarcófago egípcio, foi trazido para a casa. A
esposa do tio e o filho mais velho haviam comprado o caixão vários meses
antes. Fookko encontrou um balde de plástico e o encheu com água.
Umedecendo algumas toalhas de mão que fornecemos para eles, ele e
Chensook limparam o corpo do tio da cabeça aos pés. Parecia ser mais um ato
de respeito do que de preparação para o enterro. A camisa, as calças e os
sapatos do tio foram trazidos e colocados em seu corpo. Quando tudo estava
pronto, já era meia-noite. Fookko e Chensook esticaram suas armações
cansadas sobre alguns bancos e prontamente adormeceram, mantendo
vigilância sobre o corpo do tio.

Na manhã seguinte, escoltados por uma pequena multidão de


habitantes da cidade, levantamos o caixão e levamos o corpo para o cemitério,
cerca de 1,5 km fora da cidade. Ali realizamos o sepultamento.

69
Capítulo Nove

O Chamado de Elias

A Bak chegou à conclusão sombria de que A Sia, seu filho, teria que
viver com sua doença física. A Bakso chegou à sua decisão ao ser informado
por sua esposa, A Bakso, quanto custaria para que o feiticeiro tratasse o
menino.

"Ele quer quanto"? Bakso perguntou à sua esposa, pensando que ele
deve tê-la ouvido mal da primeira vez.

"O feiticeiro quer 250 dólares para tratá-lo", respondeu A Bakso


suavemente. Sua voz foi desaparecendo lentamente por causa de seu bócio.

"Duzentos e cinqüenta dólares para tratar A Sia por seus desmaios".


Estes feiticeiros são todos uns bandidos gananciosos, disse A Bakso a si
mesmo. "Por que ele quer tanto?"

"Bem", explicou A Bakso pacientemente, "ele diz que precisará trazer


sacrifícios ao espírito no templo". Teremos que comprar carne de porco,
galinhas, frutas e incenso para ele oferecer". Depois, é claro, há uma pesada
taxa por seus serviços".

Um Bak perdeu a paciência, algo que ele teve dificuldade em manter.


"Se é assim", ele disse atestando, "então vamos esquecer isso! Não temos
dinheiro. Vamos ter que viver com o problema de A Sia".

O problema de seu filho mais velho não foi a única preocupação da


mente de A Bak nos últimos tempos.

Afinal, foi há apenas alguns meses que um grande incêndio havia


arrasado todo o mercado da Batu Ampar, incluindo a pequena fábrica de gelo
da A Bak, até a água. Tinha sido muito ruim. Um proprietário de uma loja de
ferragens perdeu cerca de 80.000 dólares de inventário. Algumas pessoas
perderam tudo: loja, cafeteria, economia de dinheiro, até mesmo sua casa.

Era estranho, refletia A Bak, como os tempos tinham sido tão bons
nos anos 70, quando o preço da madeira serrada no mercado mundial havia
disparado e o capital fluía como um rio para Batu Ampar para construir e
operar as dez serrarias locais. As serrarias obtiveram grandes lucros; os
trabalhadores convergiram para Batu Ampar de todo o Bornéu Ocidental e até
mesmo de outras províncias da Indonésia para trabalhar nas serrarias e gastar
seus salários em comida, bebida, roupas e diversão todas as noites na cidade.
70
As pessoas estavam ficando ricas, pensavam A Bak, e eu mesmo não estava
indo muito mal vendendo gelo para os pescadores e para as cafeterias que
haviam brotado como cogumelos para distribuir cerveja e jovens meninas aos
trabalhadores sedentos das serrarias. Todos estavam indo tão bem, até
mesmo os cafetões e as prostitutas e os operadores de jogo ilegal. A polícia
não olhava apenas para o outro lado, eles até montavam espingardas para
eles se fossem pagos generosamente.

Mas agora, não é mais como nos velhos tempos, ele lamentou. Um Bak teve
que gastar quase seu último centavo para reconstruir a fábrica de gelo que
havia sido destruída no incêndio. Além disso, os preços da madeira haviam
caído, forçando as serrarias a cortar e demitir trabalhadores. O dinheiro em
todos os lugares era extremamente escasso.

Mas A Bak tinha feito o seu melhor para ganhar o favor dos poderes
acima. Ele havia apoiado generosamente todas as religiões locais,
contribuindo para o templo Batu Ampar, fazendo doações para a causa dos
adoradores do ídolo chinês e até mesmo comprando uma lanterna de pressão
para o local de encontro dos cristãos. A religião cristã tinha chegado
recentemente a Batu Ampar através de um casal que as pessoas diziam ser da
América.

Eu tenho sido bom para todos, disse A Bak para si mesmo. Eu toquei
todas as bases que conheço. Mas veja o que aconteceu comigo. Ainda
estamos lutando para ganhar a vida. O que eu perdi? Existe um Deus
verdadeiro? Todas estas religiões me confundem!

Era o meio da noite.

"A Bak, acorde! Ajude-me, estou com medo!"

A Bak se sacudiu do sono profundo e se virou para olhar para sua


esposa. "Qual é o problema? Essas coisas estão incomodando você de novo"?

"Sim, são aquelas sombras escuras de novo. Eu as vi no teto. Elas


não me deixam em paz. Tenho medo de dormir. É tão assustador..... noite
após noite. A Bak, acho que não posso continuar assim por muito mais
tempo".

A Bak tentou raciocinar com ela. "Mas não há sombras. Elas não são reais;
elas estão apenas em sua mente. Por que ter medo?"

Por mais que ela tentasse, A Bakso não conseguia aplicar a razão
para dissipar o medo e a ansiedade muito reais que estavam gradualmente
invadindo sua sanidade. Ela não podia fechar os olhos até que o primeiro
vislumbre do amanhecer aparecesse no teto sobre ela.

71
Mais tarde naquela manhã, A Bakso teve alguns negócios que a
levaram para a periferia da cidade. A luz da manhã trouxe esperança para ela,
e ela se sentiu muito melhor enquanto percorria o caminho de terra na
frescura da madrugada. De repente, ela sentiu algo escovar o rosto, como se
tivesse entrado em uma teia de aranha. Instintivamente, sua mão subiu para
escovar a teia, mas não havia nenhuma teia de aranha. O medo familiar
começou a crescer em seu coração. Quase desesperadamente, ela olhou para
cima e ao redor. Não havia árvores ou fios diretamente acima dos quais uma
teia de aranha pudesse ser suspensa. Oh, não, de novo não!

A Bakso continuou caminhando, não querendo chamar a atenção. As


teias de aranha que não estavam lá continuavam a escovar contra seu rosto e
se agarravam a ela. A mão dela se aproximou automaticamente para remover
as teias pegajosas, mas não encontrou nada. Não adianta, decidiu A Bakso,
vou tentar ignorá-lo. Mas era impossível de ignorar. As teias inexistentes
estavam se tornando cada vez mais grossas e se acumulando em seu rosto.
Era uma sensação revoltante. O que é isto, ela se perguntava
desesperadamente. Será que estou ficando louca? Alguém colocou uma
maldição em mim?

Quando A Bakso voltou para casa tarde naquela manhã, seu marido
estava na fábrica fazendo a manutenção de uma das máquinas a diesel. Os
motores funcionavam vinte e quatro horas por dia e precisavam de supervisão
constante. Uma avaria significava menos produção de gelo e isso significava
menos renda. Para estar perto das máquinas, eles tinham instalado seus
alojamentos no mesmo prédio que as máquinas. O barulho em seus aposentos
a partir dos diesels era ensurdecedor. Quando seu marido chegou da casa de
máquinas, A Bakso gritou: "Amanhã eu vou voltar para Serukam". Serukam
era um hospital missionário a dois dias ao norte, dirigido por Batistas
Conservadores da América.

"O que você disse?" A Bak gritou de volta sobre o rugido dos motores diesel a
vários metros de distância.

"Eu disse: 'Amanhã eu vou ver os médicos em Serukam. Meu bócio


está crescendo cada vez mais, minha voz está me incomodando, e as sombras
da noite me assustam de morte. Esta manhã, senti novamente as teias de
aranha no meu rosto. Prefiro morrer a aturar isto por mais tempo'".

No início de uma tarde, a mãe de Asiu correu pela nossa porta da


frente, procurando por Lucille.

"Professora, minha nora está tendo problemas para dar à luz. O bebê
não quer sair. Por favor, venha depressa"!

72
"Quem está lá agora acompanhando ao parto, titia?" perguntou Lucille,
querendo mais informações.

"A bruxa". Não conseguimos falar com a parteira; ela está ocupada
assistindo a outro parto. Então não tivemos escolha a não ser chamar a
feiticeira".

Isso é ótimo, Lucille suspirou em seu coração. Muitas pessoas em


áreas como Batu Ampar costumam convocar bruxas para cuidar de
nascimentos, pensando que elas têm as habilidades especiais necessárias.
Mas Lucille tinha ouvido algumas histórias horríveis sobre bruxas dando à luz
bebês, e ela se perguntava enquanto seguia a tia pela porta o que ela
testemunharia naquela casa. Dez minutos depois, a tia conduziu Lucille até sua
casa perto do mercado. Eles entraram no quarto onde Lucille foi recebida por
uma visão incomum. A nora da tia, Asok, estava deitada em sua cama na
posição de nascimento. Uma senhora da casa ao lado, Chinso, estava
ajoelhada na cama à sua cabeça. Inclinada sobre a cabeça de Asok, ela tinha
suas mãos colocadas sobre o abdômen protuberante de Asok. Outra senhora
com uma tez muito escura ficou entre as pernas, dando instruções periódicas a
Chinso. Ela era a bruxa da senhora.

"Agora empurre. Empurra com força. Temos que tirar o bebê do


útero antes que ele se perca por dentro. Empurra!"

Lucille olhou com incredulidade quando Chinso começou a empurrar o


bebê ainda dentro do útero, tentando empurrá-lo em direção ao canal de
parto. Não! Não é assim que se deve fazer, ela gritou silenciosamente. Eles
vão matar tanto a mãe quanto o bebê dessa maneira. O bebê ainda não está
saindo porque ainda não chegou a hora!

Lucille tinha lido alguns livros em preparação para o nascimento de nossa


primeira criança, Esther.

Isso e a experiência do nascimento de Esther haviam lhe dado uma


compreensão limitada do que deveria acontecer durante um parto normal. O
que ela estava testemunhando não era definitivamente parte de um parto
normal!

Lucille viu uma longa tira de pano amarrada como uma faixa ao redor
do corpo da mãe. Ela estava amarrada com muita força bem acima de onde o
bebê estava.

"Tia, o que é isso?", exclamou ela.

73
"Isso é para evitar que o bebê volte mais para o útero, professora".
Os bebês podem subir e se perder lá dentro se não amarrar naquela faixa.
Isso os força a descer ao invés de subir.

Novamente Lucille assistiu impotente enquanto a senhora bruxa dava o


comando de empurrar no estômago de Asok. Novamente Chinso empurrou o
bebê relutante para dentro. Nada estava acontecendo. Lucille sabia que nada
iria acontecer até que a cérvix mãe tivesse dilatado completamente,
permitindo que o bebê passasse por ele. A pobre mãe! O pobre bebê!

Lucille não conseguia mais se conter. "Pare! Pare! Não vai funcionar
dessa maneira. Por favor, pare. O bebê não vai sair porque ainda não chegou
a hora"!

A tia respondeu: "Professora, por favor, fique quieta. Você não sabe
o que está fazendo. Deixe que a senhora bruxa se encarregue disso. Ela sabe
o que está fazendo"

Lucille engoliu qualquer outro protesto e recuou mansamente enquanto a


provação se prolongava. Mas quando todos os empurrões não conseguiram
expulsar a criança de seu ventre, a senhora bruxa finalmente desistiu e deixou
o quarto para sentar-se na cozinha para descansar um pouco. Lucille a seguiu.

"Eu dei à luz uns quinhentos bebês", ela balançou para Lucille, na
esperança de desviar a atenção da Asok ainda gemendo no momento do parto
no quarto ao lado. Mas ela não mencionou que talvez em metade dos
nascimentos ela lidava com os recém-nascidos não vivia por mais de alguns
dias. Após um parto, seu costume era cortar o cordão umbilical com uma
velha faca enferrujada. O tétano destruiria a vida jovem em poucos dias.

Durante mais de uma hora, as duas esperaram na cozinha, quando


foram chamados para o quarto. Finalmente chegou a hora do nascimento do
bebê. Sem nenhum empurrão, mas no tempo estabelecido por Deus, o bebê
saiu, um menino. O cordão umbilical foi amarrado e cortado, e o recém-
nascido foi colocado, desembrulhado, no chão de madeira nu, num canto.
Quando a placenta não saiu imediatamente, a senhora bruxa subiu em cima da
cama e ficou de pé sobre o Asok. Dobrando-se, ela agarrou o cordão com uma
mão, e, com a outra mão, se apoiou contra a barriga muito tenra de Asok,
começou a puxar o cordão com todas as forças. Asok começou a gritar com
uma dor indescritível.

"Titia, o que ela está fazendo?" gritou Lucille com medo e


preocupação.

"Eles têm que tirar a placenta rapidamente antes que ela se perca por
dentro, professora", respondeu a tia, de fato. "Algumas mulheres morreram
74
porque a placenta não saiu logo o suficiente". É por isso que você tem que
tirá-la pela força".

Mas os pedidos de Lucille e os gritos de Asok não foram ouvidos


enquanto a senhora bruxa trabalhava com firmeza, como um robô insensível.
A placenta finalmente soltou e saiu. Os gritos de Asok diminuíram. Lucille se
desculpou e saiu, seu coração agitando-se com angústia. "Nunca mais deixarei
tal coisa acontecer", ela jurou em seu coração no caminho de casa.

Asok, como Lucille esperava, começou a ter uma hemorragia


abundante. Sua pressão sanguínea caiu drasticamente. A senhora bruxa, é
claro, não pôde fazer nada. A parteira, que a esta altura havia retornado do
outro parto, foi convocada. Ela veio, e, achando a condição crítica de Asok,
chamou um assistente médico. Após várias infusões, a pressão arterial de
Asok estabilizou. Eventualmente, ela se recuperou. Graças ao Senhor.

Foi no final da tarde quando A Bakso retornou do hospital missionário


de Serukam para Batu Ampar. A viagem dela tinha sido cansativa. Um período
de quatro horas do hospital em uma van abarrotada em Pontianak, seguida
por outras quatro horas em um barco público. Quando uma grande balsa
parou ao lado do porto, ela decidiu não se apressar em descer. As balsas
eram longas, finas, instáveis e conhecidos por virar sem muita provocação.
Elas eram feitas de madeira e impulsionadas por motores fora de borda com
quarenta cavalos de potência. Às vezes até sessenta pessoas se amontoavam
a bordo, sentadas em duas dúzias de pranchas de madeira descalças colocadas
em toda a largura do barco, como passageiros em um ônibus. Mas não havia
corredor no meio, nenhum encosto para apoiar suas costas, nenhuma
almofada nas tábuas duras, e nenhum espaço para as pernas entre você e o
assento à sua frente para esticar as pernas. Se o barco estivesse cheio, a
viagem poderia ser agonizante. Como os bancos estavam dispostos cerca de
um pé acima do chão, era mais confortável sentar nos degraus do que em um
assento. Após algumas horas naquela posição, os joelhos, as coxas, as
nádegas e as costas estavam gritando por alívio. Além disso, uma pessoa não
conseguia se levantar para esticar por causa do toldo plástico alguns
centímetros acima de sua cabeça para manter o sol e a chuva fora.

A Bakso ficou aliviada por finalmente ter chegado, mas pôde esperar
mais alguns minutos enquanto os outros passageiros se movimentavam sobre
as filas de bancos até a frente para subir até o píer. Outros com menos
paciência e mais agilidade haviam subido no topo do trilho externo do barco e,
como os andarilhos de corda bamba, estavam se aproximando da frente.

Por fim, quando restaram apenas alguns passageiros, A Bakso


levantou-se com suas malas e, inclinando-se sob o toldo plástico,

75
cuidadosamente fez seu caminho para a frente, pisando sobre as filas de
bancos.

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