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WLADIMIR NOVAES MARTINEZ

C urso de
D ireito
P revidenciário
Obras do Autor
• O empresário e a previdência social. LTr, 1978.
• Rubricas integrantes e não integrantes do
salário-de-contribulçõo. LTr, 1978.
• Benefícios previdenciários do trabalhador
rural, LTr, 1984.
• O contribuinte em dobro e a previdência
social. LTr, 1984.
• O trabalhador rural e a previdencia social.
2,ed. LTr, 1985.
• Legislação da previdência social rural. 2. ed.
LTr, 1986.
• O saiário-base na previdência social. LTr, 1986.
• Legislação do previdência social. 5. ed. LTr, 1988.
• seguridade social na Constituição Federal.
2. ed. LTr, 1992.
• O salário de contribuição na Lei Básica da
Previdência Social. LTr, 1993.
• Legislação da seguridade social. 7. ed. LTr, 1996.
•Obrigações previdenciárias na construção
C M LTr, 1996.
• P rim e ir a s liç ões de p r e v id ê n c ia
complementar LTr, 1996,
•Propostas de mudanças na seguridade
social. LTr, 1996.
• P rim e ir a s lições de p r e v id ê n c ia
complementar. ABRAPR 1996.
• Direito dos idosos. LTr, 1997.
• Novas contribuições na seguridade social,
LTr, 1997.
• O salário-bose dos contribuintes individuais.
LTr, 1999.
• Reforma da previdência social. LTr, 1999.
• Estatuto dos Servidores Públicos Civis da
União. 2. ed, LTr, 2000.
• Fator Previdenciário em 420 perguntas e
respostas. 2. ed. LTr, 2001.
• Pareceres selecionados de previdência
complementar. LTr, 2001.
• Prova de tempo de serviço. 3. ed. LTr, 2002,
• Seguro-desemprego em 620 perguntas e
respostas. 3. ed. LTr, 2002.
• Comentários à Lei Básica da Previdência
Complementar. LTr, 2003.
• Parecer jurídico; como solicitá-lo e elaborá­
-lo. LTr, 2003.
» PPP na aposentadoria especial. 2. ed. LTr, 2003.
, Refgnção previdenciária do contribuinte
individual. LTr, 2003.
• Reforma da previdência dos servidores.
LTr, 2004. çnrjai. 7. ed.
WLADIMIR NOVAES MARTINEZ
Advogado especialista em Direito Previdenciário

C urso de
D ir e it o P r e v id e n c iá r io

5 - E d iç ã o

Tom o I N o çõ e s de D ire ito P re v id e n c iá rio


Tom o II P re v id ê n c ia S o c ia l
Tom o III D ire ito P re v id e n c iá rio P ro ce d im e n ta l
Tom o IV P re v id ê n c ia C o m p le m e n ta r

1T b
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A
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LTr 4786.6
Fevereiro, 20! 3

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (C1P)


(C âm ara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

M artinez, W ladim ir Novaes


C urso de direito previdenciário / W ladim ir Novaes M artinez, —
5. ed. — São Pauto : LTr, 2013.

C onteúdo: Tomo 1, N oções de direito previdenciário — Tomo 11,


Previdência social — Tomo II), D ireito previdenciário procedim ental —
Tomo ÍV; Previdência com plem entar.

Bibliografia.
ISBN 978-85-361-2468-1

1. D ireito previdenciário 2. D ireito previdenciário — Brasil 1. Título.

13-00870 C D U -34:368.4(81)

Índice para catálogo sistem ático:


1, Brasil : D ireito previdenciário 34:368.4(81)
S u m á r io G er a l

A presentação........................................................................................................................... 29

Tomo I
N o ç õ e s d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Capítulo 1. Conceito S in tético............................................................................................ 33


Capítulo II. Escorço H istórico............................................................................................ 36
Capítulo 111. Terminologia U sual...................................... 38
Capítulo IV. Natureza Jurídica............................................................................................ 43
Capítulo V. Enquadramento C ientífico............................................................................. 44
Capítulo VI. Objeto e O bjetivo........................................................................................... 45
Capítulo VIL Fontes Form ais............................................................................................. 46
71. P ro p o siç õ e s in te rn ac io n ais. 72. P o stu la d o s c o n stitu c io n a is. 73. Leis o rdinárias.
74. D ecreto s re g u la m e n tare s. 75. P o rta ria s m in iste ria is. 76. N o rm a s a d m in istrativ as.
77. P areceres n o rm ativ o s. 78. M edidas P rovisórias. 79. D ireito c o m p a rad o . 80. P e n sa ­
m e n to d o u trin á rio .
Capítulo VIII. Características Básicas.............................................................................. 56
81. C a rá te r p u b licista. 82. D ireito p ro tetiv o . 83. U n id a d e científica. 84. D isciplina
em erg en te. 85. A lcance in d efin id o . 86. E xcessiva ju rid ic id a d e . 87. C o m p le x id ad e in s­
titu c io n a l 88. In d istin ç ã o do objeto. 89. Iniciativa e s ta ta l 90. In te rp re ta ç ã o típica.

Capítulo IX. Conteúdo e A lcance....................................................................................... 61


91. A ssistên cia social. 92. A te n d im e n to à saúde. 93. S eguro p riv ad o . 94. P revidência
p riv ad a ab erta. 95. P revidência priv ad a fechada. 96. B enefícios trab a lh ista s. 97. P res­
tações estatais n ã o se c u ritária s. 98. R elações fiscais. 99. M atéria penal. 100. D ireito
P ro c e d im en ta l e In tern a cio n a l.

Capítulo X. Autonomia Jurídica......................................................................................... 66


101. In d e p e n d ê n c ia científica. 102. In d iv id u a lid a d e legislativa. 103. L ib erd ad e d id á ­
tica. 104. P rin c íp io s típicos. 105. Ju s tiç a c o m p e ten te. 106. O b je to p ró p rio . 107. S u­
je ito s d istin to s. 108. O rganização e stru tu ra l. 109. D ireito adjetivo. 110. A ssociações
p rivadas.
Capítulo XI. Relações com Ramos Jurídicos e C iên cias............................................. 71
111. D ireito C o n stitu c io n a l. 112. D ireito do T rabalho. 113. D ireito T ributário. 114.
D ireito C om ercial. 115. D ireito Civil. 116. D ireito A d m in istra tiv o . 117. D ireito Penal.
118. D ireito P rocessual. 119. D ireito In te rn a c io n a l P úblico. 120. C iên c ias ex atas e
sociais.

Capítulo XII. Justiça Com petente...................................................................................... 77


121. P restaçõ es c o m u n s. 122. B enefícios acid en tá rio s. 123. Falências e c o n co rd atas.
124. Q u e stõ e s a v iz in h ad a s às pre v id e n ciá ria s, 125. R elações in te rn ac io n ais. 126.

C urso de

S u m á r io
D ir e it o P r e v id e n c iá r io

m
P revidência privada. 127, E stados e M u n ic íp io s. 128. D ivergências e n tre trib u n a is.
129. Q u e stõ e s não p rev id en ciárias. 130. A ssistência social e ações d e saúde.

Capítulo XIII. Integração e Interpretação....................................................................... 81


131. In te rp re ta ç ã o gram atical. 132. C o n c ep ç ão sistem ática. 133. E xegese a u tê n tic a.
134. Visão extensiva. 135. Ó tica restritiv a. 136. S en tid o social d a lei. 137. U so da
analogia. 138. Valor d a e q u id a d e. 139. In dubia pro mísero. 140. R eco m en d açõ es finais.

Capitulo XIV. Aplicação da Norma no Espaço............................................................... 98


141. P rin c íp io da territo ria lid a d e. 142. A cordo in te rn a c io n a l. 143. Ó rgão de re p re se n ­
tação estran g e ira . 144. Sede do d o m ic ílio e d o c o n tra to . 145. E m p reg ad o de em p resa
nacional. 146. S erv id o r da U nião. 147. T urista sem visto de p e rm a n ên c ia. 148. M arí­
tim o e aero n a u ta . 149. S egurado facultativo. 150. Percepção de b en efício no exterior.
Capítulo XV. Direito Intertemporal................................................................................... 101
151. V igência e eficácia. 152. R evogação e derro g ação . 153. R etroeficácia benéfica.
154. P rincípio d a n o rm a vigente à época. 155. A u to a p líc ab ilid a d e das leis. 156. Irre-
tro ativ id a d e d o c o m an d o . 157. E feitos ex tunc e ex nunc. 158. E xpectativ a de direito .
159. D ireito sim ples. 160. D ireito a d q u irid o .

Capítulo XVI. Princípios Jurídicos.................................................................................... 116


161. P rin c íp io da so lid arie d ad e social. 162. P rin c íp io s básicos. 163. P rin c íp io s téc n i­
cos. 164. P rin c íp io s c o n stitu c io n a is. 165. P rin c íp io s assisten ciário s. 166. P rin c íp io s
sa n itá rio s. 167. P rin c íp io s a d m in istrativ o s. 168. P rin c íp io s p ro c ed im e n tais. 169. P rin ­
c íp io s de D ireito T ributário. 170. P rin c íp io s de D ireito do T rabalho.

Capítulo XVII. Bibliografia Nacional................................................................................. 133


171. P rin c ip a is d o u trin a d o re s . 172. C o m e n ta rista s e a n o ta d o re s. 173. E lab o rad o res
d e cursos. 174. M an u ais e cartilh as. 175. Á rea ru ral. 176. A c id en tes do trabalho.
177. T em as diversificados. 178. R ep ertó rio d a legislação. 179. C a d ern o s e o p ú sc u lo s.
180. A rticu listas p e rm a n en te s.

Capítulo XVIII. Codificação e C onsolidação.................................................................. 148


181. Im a tu rid a d e da d iscip lin a. 182. D in a m ic id a d e legislativa. 183. A usência de
e stru tu ra ju ríd ic a . 184. S isiem atização d o s p rin cíp io s. 185. Ind efin ição d a técnica.
186. E x istência de base. 187. E xcesso de n o rm as. 188. N a cio n a liz aç ão d o s regim es.
189. F acilid ad es de u tilização. 190. C odificação p ro c ed im e n tal.

Capítulo XIX. Relação Jurídica de Seguridade Social................................................... 152


191. Polos re la cio n a d o s. 192. N atu reza d o v ín cu lo . 193. O b jeto da técnica. 194. Al­
cance in stru m e n ta l. 195. F in a n c ia m e n to d o cu steio . 196. P restaçõ es disp o n ív eis.
197. C aracterísticas p ró p rias. 198. E stru tu ra básica. 199. In teg ração e in te rp reta çã o .
200. Papel d o E stado.

Capítulo XX. Relação Jurídica de Previdência S o c ia l................................................... 157


201. Relação ju ríd ic a d e filiação. 202. Relação ju ríd ic a de inscrição. 203. Relação jurídica
de custeio. 204. S ujeitos da relação ju ríd ic a de custeio. 205. F in alid ad e da relação ju rí­
dica de custeio. 206. Relação jurídica de prestações. 207, Sujeitos da relação ju ríd ic a de
prestações. 208. O bjetivo da relação ju ríd ic a de prestações. 209. V ínculo entre co n trib u i­
ção e prestação. 210. P resunções pertinentes.

Capítulo XXI. Relação Jurídica de Assistência Social................................................... 182


211. O rig em h istó ric a . 212. Breve conceito. 213. R elação ju ríd ic a de ingresso. 214. Su­
je ito s d a relação. 215. F in s da técnica. 216. A lcance in stitu c io n a l. 217. F o n te s de c u s­
teio. 218. Rol de prestações. 219. P rin c íp io s aplicáveis. 220. Regras de in terp retação .

Capitulo XXII. Relação Jurídica de Ações de Saúde..................................................... 187


221. C o n c eito su c in to . 222. R elação ju ríd ic a de ingresso. 223. P essoas envolvidas.
224. N atu reza da relação. 225. O rganização d o a te n d im e n to . 226. F o n te s d e custeio.
227. P rin cip ais objetivos. 228. P rin c íp io s aplicáveis. 229. R egras de in te rp reta çã o .
230. Papel d o E stado.

C urso d e D ir e it o P r e v íd e n c iiAr io

6 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo XXIII. Acordos Internacionais...........................................................................
231. S olid aried ad e in te rn a c io n a l. 232. R eciprocidade de tra ta m e n to . 233. Ig u a ld a ­
de d e d ireito s. 234. C o n serv ação da e x p ec ta tiv a d e d ireito . 235. P resen ça do d irei­
to a d q u irid o . 236. P restaçõ es n o ex terio r. 237. A daptação d a s legislações nacio n ais.
238. C ircu la çã o fro n teiriça. 239. E q u iv alên cia d o s gestores, 240. D ivisão d o s encargos.

Capítulo XXIV. Natureza jurídica da C ontribuição......................................................


241. In tro d u ç ã o d o tem a. 242. E xação p re v id e n ciã ria ou se c u ritária . 243. F o n te s de
c u steio e c o n trib u içõ e s. 244. Sistem a E x ac io n a l N acional. 243, A trib u to d a s re m is­
sões. 246. D istin çõ e s c o n stitu c io n a is. 247. D estin açào dos re cu rso s. 248. N a tu rez a
eco n ò m ico -fin an c eira . 249. E specificidade prev id en ciãria. 250. C o n c lu sõ e s finais.

Capítulo XXV, Teoria Jurídica do Risco............................................................................


251. C o n c eito de risco. 252. D istin ção e n tre risco e sin istro . 253. D iferença e n tre risco
e c o n tin g ê n cia. 254. E stado d e n ece ssid a d e. 255. D an o e rep aração . 256. C lassificação
d o s riscos. 257. T ipos de riscos. 258. T écn icas d e p ro teç ão d esenvolvidas. 259. Res­
p o n sa b ilid a d e ju ríd ic a . 260. P resen ça d o E stado.

Capítulo XXVI. Direito ao Lazer.........................................................................................


261. C o n c eito su c in to . 262. F o n te s form ais. 263. L azer n o D ireito L aborai. 264. M oda­
lidades m ais c o m u n s. 265. A p o sen ta d o ria c o m o expressão. 266. P re p a ra ç ão para apo-
sen tação . 267. B ibliografia nacional. 268. O laz er p a ra a m ed icin a. 269. In te rp re ta ç ã o
da m atéria. 270. D ireito ao lazer.

Capítulo XXVII. Normas de Superdireito........................................................................


271. S erv id o r sem regim e p ró p rio . 272. C o n tag e m recip ro ca de te m p o d e serviço.
273. E ncargos p re v id e n ciã rio s d a U n ião . 274. P refeituras. 275. F u n d o s d e P a rtic ip a ­
ção. 276. A dm issão d e d eficientes. 277. P rim eiro s q u in z e dias. 278. C o m p le m en taç ã o
do a u x ilio -d o en ç a. 279. E stab ilid ad e do a cid en ta d o . 280, D istrib u iç ã o de d iv id e n d o s.

Capítulo XXVIII. Crimes Previdenciãrios.......................................................................


281. In tro d u ç ã o do tem a. 282. N a tu rez a da lei. 283. R e sp o n sab ilid ad e pessoal.
284. D e n ú n cia d o agente p o lítico . 285. C o n d içã o de p ro c ed ib ilid ad e . 286. Inexigibili-
d a d e d e c o n d u ta diversa. 287. T ipo de dolo. 288. E xam e d a exigibilidade. 289. Prisão
d o devedor. 290. C o n tin u id a d e delitiva.

Capítulo XXIX. Legitimidade Previdenciãria..................................................................


291. D ireito a d q u irid o , 292. Irre d u tib ilid a d e das re trib u içõ e s. 293. Teto pro v isó rio .
294. A c u m u la çã o d e cargos. 295. E xclusão d o RGPS. 296. V e n cim en to s e pro v en to s.
297. D ois o u m ais e n te s políticos. 298. C lientela d o s b eneficiários. 299. R e n ú n cia ao
e x ce d en te . 3 00. T rabalho g ratu ito .

Capítulo XXX. Filosofia do Direito Previdenciário.......................................................


301. Prolegôm enos, 302. D ireito subjetivo. 303. Papel d a técnica protetiva. 304. F o n tes
de custeio. 305. Prestações em geral. 306. Benefícios p o r incapacidade. 307. D ireito
dos d e p en d e n te s. 308. C aracterísticas da im p o rtân cia. 309. Papel e objetivos do E stado.
310. P rincípios jurídicos,

Tomo II
P r e v id ê n c ia S o c ia l

P arte I — A b e rtu ra

P la n o d a O b r a ......................................................................................................................................................
a) M eios de p ro teção , b ) P revidência social, c) A rcab o u ço a d m in istra tiv o , d) D esti­
n a tá rio s finais, e) R elação c o m o gestor. D F in a n c ia m e n to d o s b en s. g) V alores em
d in h eiro , h ) D ireitos em espécie, i) Serviços sociais, e j ) T ratad o s in te rn ac io n ais.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

S u m á r iíi
Capítulo XXXI. Tipos de Cobertura.................................................................................. 281
311. D efesa pessoal. 312. S u sten tação fam iliar. 313. C u id a d o religioso. 314. A ten ­
d im e n to p ú b lic o . 315. Seguro privado. 316. G a ran tia c o rp o ra tiv a . 317. A ssistência
social. 318. P revidência social. 319. S e g u rid ad e social. 320. A m paro total.
Capítulo XXXII. Proteção Social......................................................................................... 288
321. N oção m ín im a. 322. Sistem a N acional, 323, Regim e G eral. 324. P ro teção d o ser­
vidor, 325. V antagens do p a rlam en tar. 326. T écnicas im p le m e n tare s. 327, D ireito do
T rabalho. 328. Benefícios de terceiros. 329. A c o m p an h a m e n to ju ríd ic o . 3 30. P ensões
nã o securitárias.
Capítulo XXX1I1. Escorço H istórico.................................................................................. 293
331. P reâm b u lo siste m á tic o . 332. P rim ó rd io s g ru p a is. 333. C ódigos antigos. 334. Li­
vros sagrados. 335. Fase greco -ro m an a. 336. P erío d o m edieval. 337. V iagens m a ríti­
m as. 338. S ociedades m u tu a lista s. 339. O ito v o n Bism arck. 3 40. D eclarações in te r n a ­
c io n a is .

Capítulo XXXIV. Experiência Brasileira........................................................................... 302


341. Pré-história. 342. Lei Etoy Chaves. 343. Práticas anteriores. 344. Início da filiação.
345. P rin cip ais e n tid a d es. 3 46. D o m ín io ru ral. 347. A c id en tes d o trab alh o . 348. D is­
po siçõ es n o rm ativ as. 349. In stitu iç õ e s correlatas. 350. im p la n ta ç ã o d o s benefícios.
Capítulo XXXV. Conceito Elementar................................................................................. 320
351. Seguro co m u n itário . 352. M odalidade d e reservas. 353. A plicação de capitais.
354. G eração d e rendas. 355. Salário d iferido. 356. M onopólio estatal. 357. Política c o n ­
tinua. 358. In d en ização de d an o s. 359. O b jeto do D ireito. 360. D efinição d o u trin á ria.
Capítulo XXXVI. Caracteríslicas B ásicas........................................................................ 326
361. S o lidariedade forçada. 362. C o b e rtu ra de riscos. 363. O b rig a to rie d a d e form al.
364. L egalidade positivada. 365. U n iv ersalid ad e d a clientela. 366. S u b stitu id o ra de
re n d im e n to s. 3 67. D istrib u id o ra de re n d as. 368, P o u p a n ç a coletiva. 369. Interesse
p e rm a n e n te . 370. C a rá te r p ú b lic o . 1
Capítulo XXXVII. Organização Adm inistrativa............................................................. 331
371. M inistério d a P revidência Social. 372. In stitu to N acional do Seguro Socia!.
373. S ecretaria d e P olíticas da P revidência Social, 3 74. C o n se lh o d e G estão da Pre­
vidência C o m p le m en tar. 375. Secretaria de P revidência C o m p le m en tar. 376. C o n se ­
lh o N acional de S eguridade Social. 377. C o n se lh o N acional de P revidência Social.
378. C o n se lh o N acio n al de A ssistência Social. 379. C o n se lh o de R ecursos da Previ­
d ência Social. 380. DATAPREV
Capítulo XXXVIII. Capacidade Previdenciãria.............................................................. 335
381, C ap ac id a d e c o n trib u tiv a . 382. C o n d içã o d e beneficiário. 383. T itu larid ad e co ­
m ercial. 384. Posição d o p re sid iá rio . 3 85. Situação do in d íg e n a . 386. In a p tid ão laborai.
387. R epresen tação do titular. 388. Tutela d e m enor. 389. C u ra te la de incapaz. 390.
S u b stitu iç ã o d o au sen te.
Capítulo XXXIX. Beneficiários Alcançados..................................................................... 340
391. R elação prev id en ciãria. 392. Pessoas envolvidas. 393. T ipos de beneficiário.
394. S egurados pro teg id o s. .395. C u m u la ç áo de cen ário s. 396. D e p en d e n tes do titular.
397. E x tin ção do v inculo. 398. C id ad ã o s d e stin a tário s. 399. In d iv íd u o s assistidos,
400. P acientes ate n d id o s.
Capítulo XL. Segurados Obrigatórios............................................................................... 342
401. E m pregado e tem p o rário . 402. Serviçal d o m éstico . 403. E m p resário u rb a n o e
ru ral. 404. O breiro eventual. 405. A u tô n o m o in d e p e n d e n te . 406. E q u ip a rad o s ao
a u tô n o m o . 407. T rab a lh a d o r avulso. 408. S egurado especial. 4 09. S ervidor público.
410. F u n c io n á rio c arto rário .

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo XL1. Segurados Facultativos.............................................................................. 367
411. Q u a lq u e r pessoa. 412. T rab a lh a d o r inativo. 413. S erv id o r se m reg im e p ró p rio .
414. P re sta d o r de serv iço s n o exterior. 415. E xcluído pela legislação p re té rita . 416.
D ona de casa. 417. In d iv íd u o e stu d a n te . 418. S índico d e c o n d o m ín io . 419. Incapaz
re p re se n tad o . 420. P e rc ip ien te d e benefícios.
Capítulo XL11. Não Segurados............................................................................................ 371
421. In o c o rrê n c ia d e características. 422. D estinação d o s serviços. 4 23. E x clu sã o legal.
424. Im p o ssib ilid a d e jurídica. 425. A u sên cia de c ap acid ad e. 426. R e p resen taç ã o de
pessoas. 4 27. V inculação ã Ju stiç a. 428. V ontade p ró p ria. 4 29. P ro p rie tá rio de ed ifí­
cios. 430. B rasileiro n o exterior.
Capítulo XLLII. Dependentes do T itular.......................................................................... 383
43 1 . Q u a lid a d e d e d e p e n d e n te . 4 3 2 . N ú c le o fam iliar. 4 3 3 . P re s u n ç ã o d e d e p e n ­
dên cia. 434. O rd e m d e sucessão. 435. F ilh o s do casal. 436, S u b o rd in ação econôm ica.
437. C o m p a n h e iro s estáveis. 4 38. Pais d o titular. 439. Irm ão s do se g u rad o . 440. U n ião
h o m o sse x u a l.

P arte II — F o n te s de F in an ciam en to
Capítulo XLIV. Pessoa F ísic a .............................................................................................. 386
44 1 . E m p re g a d o u rb a n o o u ru ra l, 442, T ra b a lh a d o r te m p o rá rio . 4 43. A vulso s in ­
d ic a liz a d o . 4 4 4 . S e rv id o r se m re g im e p ró p rio . 4 4 5 . E m p re g a d o d o m é s tic o . 4 46.
E m p re sá rio c ita d in o e ru ríc o la . 447. A u tô n o m o e e v e n tu a l. 448. E q u ip a ra d o s ao
a u tô n o m o . 4 4 9 . S e g u ra d o e sp e cial. 4 5 0 . C o n trib u in te fa cu lta tiv o .
Capítulo XLV. Pessoa Jurídica............................................................................................. 392
451. E m p resa u rb a n a . 4 52. E m p re e n d im e n to ru ral. 4 53. E m p re g ad o r d o m éstic o .
454. C o n d o m ín io h o rizo n tal. 455. T itu la r d e casa p ró p ria. 456. In d iv íd u o com tra b a ­
lh ad o r. 457. Ó rgão estran g eiro . 458. C aixa E co n ô m ica Federal. 4 59. D ireito P rivado
c o m p a rad o . 4 60. O u tro s c o n trib u in te s.
Capitulo XLVI. Direito Público........................................................................................... 399
461. A d m in istra ç ão cen tral. 462. E nte a u tá rq u ic o . 463. E m p re sa pú b lica. 4 64. Socie­
d a d e d e e co n o m ia m ista. 465. C âm ara M un icip al. 466. T rib u n a l de C o n tas. 467. F u n ­
dação de d ire ito pú b lico . 468. Ó rgão p a raestatal. 469. E stab elecim en to sob afetação.
470. E n tid a d e s provisórias.

Capítulo XLVI1. Vinculação da Em presa.......................................................................... 404


471. N oção elem en tar. 4 72. T ipos de ex p lo ra çã o . 473. E m p resa de fato e de direito.
474. E m p re g ad o r d o m éstic o . 475. P ro p rie tá rio de casa p ró p ria. 476. Ó rgão de re p re ­
sentação. 477. O rg an ism o in te rn a c io n a l. 4 78. A u tô n o m o com auxiliar. 479. P essoa
física com em p reg ad o . 4 80. D in âm ica das em presas.
Capítulo XLVI11, Matrícula do Obrigado.......................................................................... 407
481. C ausa d e te rm in a n te . 482. N atu reza d a im p o siç ã o . 483. P razo p a ra p rom oção.
484. P ro v id ên cia de ofício. 485. R azão social. 4 86. N ú m e ro in d icativ o . 487. A lgaris­
m o da d e p e n d ê n c ia . 488. C o n stru ç ã o civil. 4 89. R esidência fam iliar. 490. M ulta pelo
d e sc u m p rim e n to .
Capítulo XLIX. Filiação do Segurado................................................................................ 410
491. Tipos existentes. 492, C asos particulares. 493. A utom aticidade da caracteri­
zação. 494. Início e térm in o . 495. R ecusa d o órgão gestor, 496. E scopo do in stitu to .
497. P resunções ju ríd ic as. 498. P ressu p o sto m aterial. 499. N u an ças atípicas. 500. A spec­
tos form ais.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

S u m á r io
Capílulo L. Inscrição de Beneficiário............................................................................... 415
501. A dm issão lógica. 502. Im p o sitiv id ad e legal. 503. F in a lid a d e da pro v id ên cia.
504. P essoalidade da in stitu içã o . 505. Prova do estad o . 506. N u c lea rid a d e técnica.
507. C u rso da relação. 508. M u ltip licid a d e d e tipos. 509. D istin ção da filiação. 510.
In te rp re ta ç ã o e p re su n çõ e s.
Capítulo LI. Fontes de C usteio........................................................................................... 420
511. P receitos c o n stitu c io n a is. 512. Bases legais. 513. C a rac te rístic as gerais. 514. D e­
cantação da h ip ó te se d e in cid ên cia. 515. Im u n id a d e d a s filan tró p icas. 516. Isenção na
c o n stru ç ã o civil. 517. D ecadência do c réd ito . 518. P rescrição d a c o b ran ç a. 519. A nistia
de débitos. 520. R em issão de vaiores.
Capítulo LII. Outros Recursos............................................................................................ 437
521. O b rig açõ es d a U nião. 522. C o n c u rso d e p ro g n ó stico s. 523. F a tu ra m e n to a n u al.
524. L ucro líq u id o . 525. Lei C o m p le m e n ta r n. 8 4 /1996. 526. A créscim o s legais. 527.
Leilões e apreen sõ es. 528. S eguro obrig ató rio . 529. R eceitas extras. 530. A preensão
de drogas.
Capítulo LIII. Estágios da Empresa................................................................................... 446
531. In icio das o p e raç õ es. 532. F u s ã o d e firm as. 533- In c o rp o ra ç ã o d e p a trim ô n io .
534. In te rd iç ã o de e sta b e le c im e n to . 5 3 5 . In te rv e n ç ã o e sta ta l. 536. L iq u id a çã o e x ­
tra ju d ic ia l. 537. D e sa p ro p ria ç ã o g o v e rn a m e n ta l. 538. E sta tiz a ç â o e p riv a tiz a ç ã o .
539. R e q u isiç ã o d e b e n s. 540. E n c e rra m e n to de a tiv id ad e s.
Capítulo LIV. Dinâmica da E xigibilidade......................................................................... 449
541. R esponsabilidade original. 542. S o lid aried ad e fiscal. 543. C o n stitu iç ã o do c ré d i­
to. 544. O brigações p rin cip ais. 545. D everes acessórios. 546. C o b ra n ça a d m in istrativ a
e ju d ic ial. 547. M edida c a u te la r fiscal. 548. M o d alid ad es ex tin tiv as. 549. R estituição e
co m p en sação . 550. In e x istê n cia d e débito.
Capítulo LV. Salário de Contribuição................................................................................ 469
551. F o n te s form ais. 552. Fato gerador. 553. C o n c eito su c in to . 554. C a rac te rístic as
básicas. 555. Parcelas in te g ran te s. 556. R ubricas n ã o in te g ran te s. 557. G a n h o s h a ­
bituais. 558. A cordo na Ju stiç a do T rabalho. 559. L im ites m ín im o e m áx im o . 560.
C o n su lta fiscal.
Capítulo LVI. Quitação de D ébitos.................................................................................... 508
561. E volução h istó ric a . 562. F o n te s form ais. 563. N o rm a s ad m in istrativ as. 564. A lí­
q u o ta s p retéritas. 565. Q u e stõ e s su scitad as. 566. P ro fissio n ais liberais. 567. P e río d o
de d e cad ên cia. 568. D ireito vigente. 569. A to ju ríd ic o perfeito . 570. D efinição das
obrigações.
Capítulo LVII. Indenização ao IN SS.................................................................................. 514
571. P eríodo a n te rio r à filiação. 572. C o n tag e m recíproca. 573. T em po d e c o n trib u i­
ção. 574. A rt. 27, II, d o PBPS. 575. A tividade re m u n e ra d a . 576. D ecadência d e cinco
anos. 577. N atu reza d o p ag am en to . 578. V alor da c o n trib u iç ã o . 579. Base de cálculo.
580. R e m u n eração do serviço.
Capítulo LVIII. Salário-Base................................................................................................. 517
5 8 L E scala de sa lário s-b a se . 582. C u m p rim e n to d o s in te rs tíc io s . 583. E n q u a d ra ­
m e n to in ic ial. 584. C lasses d o fa cu lta tiv o . 585. M ú ltip la a tiv id ad e . 586. T rab alh o s
sim u ltâ n e o s . 587. R evisão do p o s ic io n a m e n to . 588. P o ssib ilid a d e d e p e rm a n ê n c ia .
589. R egras d a regressão. 590. C o n trib u iç ã o d o a p o se n ta d o .
Capítulo LIX. Contribuinte Individual............................................................................. 537
591. C lientela abran g id a. 592. A líq u o ta d e c o n trib u içã o . 593. O b rig açõ es d a c o o p e ra ­
tiva. 594. Base de cálculo. 595. V alor d e clara d o d o facultativo. 596. D everes form ais
d a s em presas. 597. A p o rtes do a p o se n ta d o . 598. E xercente de d u p la atividade. 599.
D isposições tran sitó rias. 600. P rogressão e regressão n a tran sição .

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

10 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
Capítulo LX. Exação Rural................................................................................................... 550
601. O b rig a d o s a pagar. 602. F ato gerador. 603. Base d e c álculo. 6 04. Ise n çã o da c o n ­
trib u iç ão . 605. A líq u o ta s vigentes. 606. R esponsável fiscal. 607. D ever em relação ao
seg u rad o . 608. P ro d u to ru ral. 609. In d ú stria ru ríco la. 610. A g ro in d ú stria.
Capítulo LXI. Construção C iv il.......................................................................................... 576
611. Regras a p ro p ria d as. 612. C o n c eito d o u trin á rio . 613. P rofissionais envolvidos.
614. R e sp o n sa b ilid a d e orig in al. 615. C o rre sp o n sa b ilid ad e exacional. 6 16. A ferição in ­
direta. 617. R eco lh im e n to das c o n trib u içõ e s. 618. F iscalização da re g u la rid a d e . 619.
Ô n u s form ais. 620. Isen ção c m u tirã o .
Capítulo LXII. Entidades B en eficen tes............................................................................ 585
621. C o m a n d o s válidos. 622. C o n c eito de filantrópica. 623. N oção de isenção. 624.
Inex ig ib ilid ad e na c o n stru çã o . 625. D ispensa d a p a rte patro n al. 626. E x ten são ao s esta­
b e lecim en to s. 627. D everes em presariais. 628. C o n trata çã o de a u tô n o m o . 629. F iscali­
zação da im u n id a d e. 630. D em o n stração d a gratu id ad e.
Capítulo LXI1I. Gratuidade nas Filantrópicas............................................................... 592
631. N o rm a s d isc ip lin a d o ra s. 632. T rata m e n to legislativo. 6 33. C o n c e p ç ã o g en érica.
634. S istem as de a p u ra ç ã o . 6 35. E sc ritu raç ã o e c o n ta b iliza ç ão . 636. P e rc e n tu a is m ín i­
m o e m áx im o . 637. Im p o rtâ n c ia a q u é m da p a rte p atro n al. 638. H o n o rá rio s tab elad o s.
639. P reço de c o m p ra . 6 40. C o m p en saç ão de valores,
Capítulo LXIV. Ônus da Igreja............................................................................................ 597
641. E n tid a d e m a n te n e d o ra . 642. P arte p a tro n a l. 643. Posição a d m in istrativ a. 644.
N oção de eclesiástico. 645. P arecer d a C o n su lto ria J u ríd ic a . 646. A nálise da lei c o m ­
p lem e n ta r. 647. R elação e n tre Igreja e religioso. 648. E q u ip a rad o ao a u tô n o m o . 649.
O rie n ta ç ã o N o rm a tiv a n. 8 /1997. 650. O b serv a çõ e s finais.
Capítulo LXV. Sociedades C ooperativas.......................................................................... 603
651. P ro b le m a s v e rn ac u la res. 6 52. Ato c o o p erad o . 653. F o n te s p e rtin e n te s. 654. P a rti­
c u la rid a d e s d istin tiv as. 655. O b je tiv o e função. 656. C lassificação e tipos. 657. O b rig a­
ções p a tro n a is. 658. C o o p erativ a de trab a lh o . 6 59. E n q u a d ra m e n to d o associado. 660.
LC n. 8 4 /1 9 9 6 , Leis ns. 9 .7 1 1 /1 9 9 8 e 9 .8 7 6 /1 9 9 9 .
Capítulo LXVI. LC n. 84/1996 ............................................................................................ 618
661. In tro d u ç ã o d o a ssu n to . 662. S ujeito passivo. 663. F ato gerador. 664. S egurados
arro la d o s. 665. S ituação d o eclesiástico. 666, C o o p e rativ a de trab a lh o . 667. A líquota
d a s financeiras, 668. S u b stitu ição d o s 15% p o r 20% . 669. O b rig açõ es acessórias. 670.
E ficácia da exigência.
Capítulo LXVII. Remuneração na LC n. 8 4/1996 .......................................................... 629
671. L egislação regente. 672. D ú v id as e m e rg en te s. 673. D e se n v o lv im en to da ex ig ib ili­
dade. 674. C a rá te r da “re m u n e ra ç ã o ” . 675. N a tu rez a d a re trib u içã o . 676. Inteligência
da “p a rtic ip a ç ã o ”. 677. A bran g ên cia da rem issão. 678. C o m an d o d o PCSS. 6 79. N a tu ­
reza ju ríd ic a . 680. S edim entação d a s ideias.
Capítulo LXVIII. Simples NACIONAL............................................................................. 635
681. P receito s legais. 682. D escrição su c in ta . 683. O p ç ão pelo SIMPLES. 684. A líq u o ­
tas aplicáveis. 6 85. F ato g e ra d o r e base de c álculo. 686. O b rig açõ es su b stitu íd a s. 687.
F ração d o s terceiros. 688. S olid aried ad e fiscal. 689. A rrecadação e fiscalização. 690.
N a tu rez a da exigibilidade,
Capítulo LXIX. Exame da C ontabilidade......................................................................... 641
691. C ódigo C om ercial. 692. C ódigo Civil. 693. Fiscalização exacional. 694. V erifi­
cação p re v id e n ciã ria . 695, L ivros com erciais. 696. A lcance da a u d ito ria . 697. Infor­
m aç õ es p ro teg id as. 698. P resen ça de terceiros. 699. S e g u ra d o s e d e p e n d e n te s. 700.
Ingresso no e stab e le c im e n to .

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

S u m á rio 11
Capítulo LXX. Pagamentos do Facultativo...................................................................... 644
701. N orm as in cid e n te s. 702. O rigem h istó ric a . 703. A spectos gerais. 704. F ato g e ra ­
dor. 705. Base d e cálculo. 706. A líq u o ta vig en te. 707. M o d alid ad e c o n trib u tiv a . 708.
E n q u a d ra m e n to n a escala. 709. C aso de in ad im p lê n cia . 710. R estituição e c o m p e n ­
sação.
Capítulo LXXL Profissionais Liberais.............................................................................. 649
711. P roblem as su scitad o s. 712. O b rig a çõ e s d a em presa. 713. R elação d e em prego.
714. C a rac te rístic as c o m u n s. 715. N u a n ça s in c o m u n s. 716. Modus operandi. 717. Des-
tin ação d o trabalho. 718. P ercepção d e b enefícios sociais. 719. M odalidade d a re trib u i­
ção. 720. A spectos n ã o relevantes.
Capítulo LXXII. Alíquotas de Contribuição.................................................................... 658
721. S ujeitos a d e sc o n to s. 722. E m p reg ad o d o m é stic o . 723. Parte p atro n a!. 724.
C o n trib u in te ind iv id u al. 725. Segurado facultativo. 726. E ntidades beneficentes.
727. C lu b e sd e íu te b o l. 728. E m p re e n d im e n to s ru rais. 729. Regim e E special. 730. Sim ples
NA CIONA L.
Capitulo LXXIIl. Bolsa de Estudos.................................................................................... 661
731. T reinam ento interno. 732. D úvidas sobre a natureza. 733. H ipótese de incidência.
734. C o n c eito legal. 735. V isão d o u trin á ria . 736. O u tra s o piniões. 737. S ubsídios e s­
colares. 738. Posição do CRPS. 739. F e rra m e n ta s de trabalho. 740. N ível de valor.
Capítulo LXXIV. Aporte para EFPC................................................................................... 670
741. N orm as vigentes. 742. H ip ó tese de in cid ê n cia. 743. C a ráter da rem u n eração .
744. C onceito legal. 745. Ó tica d o u trin á ria . 746. G a n h o s h a b itu a is. 747. Salário de
c o n trib u içã o . 748. E ssência d o valor. 749. V erba d e re p re se n taç ão . 750. Id e n tid ad e
com a pa rte p a tro n a l.
Capítulo LXXV Clubes de Futebol.................................................................................... 678
751. N otas in tro d u tó ria s . 752. S u b stitu iç ã o da parte p atro n al. 753. A lterações n a le ­
gislação. 754. S up erv en iên cia da Lei n. 5.9 3 9 /1 9 7 3 . 755. V alidade da lei. 756. A dvento
da Lei n. 8 .6 4 1 /1 9 9 3 . 757. R eg u lam en to do C u steio . 758. R evogação pelo PCSS. 759.
A u to m o b ilism o e p a raq u e d ism o . 760. H ip ó tese de incidência.
Capítulo LXXVI. Décimo Terceiro..................................................................................... 683
761. O rigem do problem a. 762. P rescrições in cid e n te s. 763. Posição do re g u la m e n ­
to. 764. A u sên cia d e lim ite. 765. Lei n. 7.7 8 7 /1 9 8 9 . 766. A b o n o a n u al. 767. D ecreto
n. 356/1991. 768. S eparação d o s valores. 769. D esde ja n e iro de 1992. 770. D elegação
da lei.
Capítulo LXXVII. Participação nos L ucros....................................................................... 691
771. D istin ção da re m u n e raç ão . 772. P revisão c o n stitu c io n a l. 773. R egulam entação
legal. 774. O bjetivo em presarial. 775. N atu reza ju ríd ic a . 776. S alário de c o n trib u içã o .
777. C u n h o sa la ria l 778. C o n d içã o de sócio. 779. R equisitos legais. 780. N egociação
trab alh ista.
Capítulo LXXVIII. Salário-Habitação............................................................................... 696
781. L egislação incid en te, 782. F o rm ação d o salãrio -h ab ítação . 783. C álculo p o r d e n ­
tro e p o r fora. 784. Salário c o n tra tu a l. 785. V igência da exigibilidade. 786. L im ites e
razoabilidade. 787. Im óveis de terceiros. 788. P lu ralid ad e de re sid en tes. 789. R esidên­
cias ru rais. 790. R esum o da p en d ên cia.
Capítulo LXX1X. Seguro de V ida........................................................................................ 704
791. O rigem laborai. 792. C a rac te rístic as relev an tes. 793. S u b stitu tiv id ad e d o b e n efí­
cio. 794. In c o rp o ra ç ão p a trim o n ia l. 795. P rev id ên cia co m p le m e n ta r. 796. D o u trin a e
ju ris p ru d ê n c ia . 797. D estinação d o ap o rte. 798. C o n d içã o resolutiva. 799. Seguro para
terceiros. 8 00. A lterações n o R egulam ento.

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W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo LXXX. Acidentes do Trabalho...........................................................................
801. Leis consultáveis. 802. C o n trib u in te s sujeitos. 803. T axas sub sisten tes. 804. C ri­
tério d e estabelecim ento. 805. R esponsável pelo e n q u ad ra m e n to . 806. Possibilidade de
revisão. 807. T rabalhador tem p o rário . 808. E scritório de c o n stru to ra . 809. C o n trib u ição
do presidiário. 810. Taxa da m icroem presa.
Capítulo LXXXI. Flexibilização do SAT...........................................................................
811. T axa de c o n trib u iç ã o . 812. A u lo e n q u a d ra m e n to . 813. E m presa e e sta b e le c im e n ­
to. 814. CN A E e CN PJ. 815. A tividade p re p o n d e ra n te . 816. E n q u a d ra m e n to d e não
e m p reg ad o s. 817. C rité rio de e n q u a d ra m e n to . 818. F a to r A c id en tário d e P revenção.
819. C o n c lu sõ e s p re lim in a res. 8 20. C o n testa ç ão em presarial.

Capítulo LXXXI1. Cessão de Mão de Obra......................................................................


821. C o n c eito d e solidariedade. 822. C essão d e m ão d e obra. 823. P restação de serviços.
824. C o n tra to d e em preitada. 825. Local dos serviços. 826. S olidariedade sem retenção.
827. M icroem presa cedente. 828. Im p ro p rie d ad e d o e n q u a d ra m e n to . 829. Rol d o R egu­
lam e n to . 8 30. C o m p en sação de c o n trib u içõ es.

Capítulo LXXXIII. Equilíbrio A tuarial.............................................................................


8 31. In tro d u ç ã o da m até ria . 832. C o n c eito m ín im o . 833. S ignificado lógico. 834.
C ausa e n a sc im en to . 8 35. C lassificação d id ática. 836. N a tu rez a e c o n su b sta n ciaç ã o .
837. A lcance e ab ran g ê n cia . 8 38. O b jetiv o téc n ico . 839. C o n se q ü ê n cias ju ríd ic a s. 840.
A plicação prática.
Capítulo LXXX1V. Regime E special...................................................................................
841. F o n te s form ais. 8 42. C o n c eito de regim e, 843. R egim e especial. 8 44. R egras de
c o m u n ic aç ão . 845. A líq u o ta d e c o n trib u iç ã o . 846. Base d e c álculo. 8 47. A créscim os
legais. 848. M icro em p resãrio . 849. B enefícios previstos. 850. A p o se n ta d o ria p o r tem p o
de c o n trib u içã o .
Capítulo LXXXV. M icroem presário...................................................................................
851. C o n c ep ç ão bãsica. 8 52. E x clu íd o s do regim e. 8 53. D istin çõ e s n ecessárias. 854.
V igência da inclusão. 855. A líq u o ta s e base d e cálculos. 856. R etenção dos 11%. 857.
M EI com em p reg ad o . 8 58. B enefícios p re v id e n ciá rio s. 859. F iscalização d o c o n tri­
b u in te . 8 60. S ituação d o em pregado.
Capítulo LXXXVI. Aferição Indireta..................................................................................
861. A p u ra çã o usual. 862. A valiação m ínim a. 863. O b jetiv o da a p u raç ão . 864. E x em ­
plo p rá tic o . 865. L ev a n ta m en to fiscal. 866. F u n d a m e n to legal. 867. N u lid a d e d o la n ç a ­
m en to . 868. M érito de aferição. 869. P osição CRPS. 870. C o n testa ç ão do c o n trib u in te .

Capítulo LXXXVII. Decadência e Prescrição..................................................................


871. D istin çõ es im p rescin d ív eis. 872. Art. 45 do PCSS. 8 73. A rt. 4 6 d o PCSS. 874.
P osição d o C T N . 875. P e n sa m e n to d o u trin á rio . 8 76. C ô m p u to d o q u in q u íd io . 877.
N a tu rez a d a c o n trib u içã o . 878. J u stiç a do T rabalho. 879. C o n trib u iç õ e s decaídas. 880.
P rev id ên cia C o m p lem en tar.

Capítulo LXXXVII1. Execução Judicial.............................................................................


881. S ujeitos ativos. 882. Ju stiç a d o T rabalho. 883. N a tu rez a d a c o b ran ç a. 884. S e n te n ­
ça e a cordo. 885. D iscrim in ação das parcelas. 886. M ês d e c o m p e tên c ia . 887. A crés­
cim o s legais. 888. A p o sen ta d o ria especial. 889. C o n ciliação e a n u ên c ia . 890. C o n te s­
tação em p resarial.

P arte III — P restaçõ es

Capítulo LXXX1X. Prestações em Dinheiro.....................................................................


8 91. Ó b ic es n a lin g u a g e m . 892, T ítu lo s d o s b e n efício s. 8 9 3 . P re c e ito s ú te is. 894.
C lassificação d a s e sp écies. 8 95. R e q u isito s legais. 8 96. E stad o d e filiad o . 897. Pe­
río d o de c arê n cia . 8 98. C o n tin g ê n c ia p ro te g id a . 899. A fa sta m e n to d o tra b a lh o . 900.
N o rm a s p ro te tiv a s .

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

S u m á rio
Capítulo XC. Principais Características........................................................................... 776
9 01. D ireito sub jetiv o . 902. In d iv id u a lid a d e n a tu ra l. 903. N atu reza alim entar. 904.
S u b stitu tiv id ad e dos ingressos. 905. T itu larid ad e d o d ireito . 9 06, D efini ti v idade da
concessão. 907. Irre d u tib ilid a d e d o vator. 908. Irren u n c ia b ilid a d e da faculdade. 909.
In d e p e n d ê n c ia d e co n d ição . 910. Im p rescritib ilid a d e d o beneficio.
Capítulo XC1. Pressupostos L egais................................................................................... 780
91 L. Tipos de estados. 912. Q u a lid a d e de se g u rad o . 913. In ex ig ên cia d o síotus. 914.
P erío d o de carência. 9 15. D isp en sa d e carência. 916. E vento d e te rm in a n te . 917. Afas­
tam e n to do trab alh o . 9 18. C o n c o m itân c ia d e re q u isito s. 919. A p e rfeiç o am en to d o d i­
reito. 920. C o n cessão a u to m á tica .
Capítulo XCI1. Renda In icia l.............................................................................................. 787
921. P erío d o b ásico de c álculo. 922. Salário d e c o n trib u iç ã o . 923. A tu alização m o n e ­
tária. 924. P e rc en tu ais aplicáveis. 9 25. Salário d e benefício. 926. M ín im o s e m áx im o s.
927. P rim eira m en salid ad e. 928. L im ites da im p o rtâ n cia inicial. 929. F a to r p re v id e n ­
ciário. 930. R enda inicial.

Capítulo XC11I. Salário de B enefício................................................................................. 797


931. P rim eiro co n ce ito . 9 32. Lei n. 9 ,8 7 6 /1 9 9 9 . 933. P erío d o b ásico d e cálculo. 934.
Seleção dos salários de c o n trib u iç ã o . 935. O bjetivo d o legislador. 9 36. F ilia d o até
28 .11,1999. 937. B enefícios atin g id o s.. 938. C o rreção d o s salários, 939, M édia da
som a. 940. M o m e n to do fator.

Capítulo XC1V. Fator Previdenciário................................................................................. 801


941. D efinição fu n d a m e n ta l. 942. F ó rm u la m atem ática. 9 4 3. T em po de c o n trib u içã o .
944. E xpectativ a de sobrevida. 9 45. B enefícios a b ran g id o s. 946. C o n se q ü ê n cias m e-
diatas, 947. P erdas e ganhos. 948. C álcu lo s d o fator. 949. Im p la n taç ão gradual. 950.
C o n stitu c io n a lid a d e da Lei n. 9.8 7 6 /1 9 9 9 .

Capítulo XCV. Aspectos N egativos.................................................................................... 808


951. O rig em espúria. 952. P re ssu p o sto s in su ste n tá v e is, 9 53, C o n trib u iç ã o e m e n s a ­
lidade. 954. U n issex u alid ad e d o seg u rad o , 955. D istinções regionais. 956. C o n sta n te
0,31. 9 57. L im ite de valor. 958. T áb u a d e m o rtalid ad e. 959. Regra de tran sição . 960.
S eguro-desem prego.

Capítulo XCVI. Curso das Prestações.............................................................................. 814


961. Regras de m a n u te n ç ã o . 962. Revisão de cálculo. 963. P razo para reconsideração.
964. T ransform ação de b enefício. 9 6 5 D e d u çõ e s p e rm itid a s. 966. T ransferência de
dom icílio. 967. R esíduos d e ix a d o s. 9 68. D ivisão d a pensão. 969. D e sc o n to n a s m e n sa ­
lidades. 970. R e aju sta m e n to do valor.

Capítulo XCVII. Concessão e M anutenção..................................................................... 826


971. R e q u e rim e n to do b enefício. 972. In stru ç ã o d o p e d id o . 973. D e ferim en to da p re s ­
tação. 974. D ata d o início.. 975. C o n tin u id a d e d o s p a g am en to s. 976. R e aju sta m e n to
p e rió d ic o s. 9 77. C essação das m en salid ad e s. 978. R ejeição da c o n ce ssã o . 979. S us­
p e n sã o e re stab e le c im en to , 980. C a n c e la m e n to d e finitivo.
Capítulo XCVII1. Nexo Epidem iológico........................................................................... 831
981. C lien tela p ro teg id a. 982. N exo C ausai. 983. N ex o técnico. 984. P re su n ç ão re la ­
tiva. 9 85. C o n c eito reg u lam en tar. 986. P o d e r da a d m in istraç ão . 987. C o n testa ç ão e m ­
presarial. 9 88. C o n se q ü ê n cias d e co rre n te s. 989. R esp o n sab ilid ad e civil. 9 90. Vigência
do critério.

Capítulo XCIX. Comunicação de A cidente..................................................................... 836


991. N atureza ju ríd ic a. 992. O brigação da em issão. 993. In c id e n te s laborais. 994. In ­
teresse n o acidente. 995. CAT p o r terceiros. 996. F ato r acid en tário . 997, N exo e p id e ­
m iológico, 998. D uração d o afastam ento. 999. A usência d e m ulta. 1000. M apeam ento
de sinistro.

C urão de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

14 W ííjd í tm r N o v tí e s M a r t i n e z
Capítulo C. A uxílio-D oença.................................................................................................
1001. N a tu rez a ju ríd ic a . 1002. E vento d e te rm in a n te . 1003. Q u a n d o com eça. 1004.
M o m e n to d a cessação. 1005. Im p o rtâ n c ia inicial. 1006. P rim eiro s 15 dias. 1007. E xam e
m éd ico . 1008. S im u lta n eid a d e d e a tividades. 1009. Volta ao trab alh o . 1010. E xigências
d o c u m e n tais.
Capítulo Cl. Aposentadoria por Invalidez......................................................................
1011. N o ta s in tro d u tó ria s. 1012. E ssência técnica. 1013. F ato d e flagrador. 1014. Va­
lor inicial. 1015. A créscim o de 25% . 1016. D ata d o inicio. 1017. M e n sa lid a d es de
re cu p eração . 1018. P erícia m édica. 1019. V edação ao trab a lh o . 1020. D o c u m en to s
n ecessário s.
Capítulo CII. Aposentadoria por Idade............................................................................
1021. R egras legais. 1021. N a tu rez a ju ríd ic a. 1023. C ausa d e te rm in a n te . 1024. Início
d o d ireito . 1025. P rim eiro m o n ta n te . 1026. O rig e m da co n cessão . 1027. Solicitação
co m p u lsó ria. 1028. L ab o r do a p o se n la d o . 1029. N o rm a s sobre acu m u lação , 1030. Pa­
péis reclam ados.
Capítulo CIII. Aposentadoria Especial.............................................................................
1031. D isposições p e rtin en te s. 1032. C lien tela de d e stin a tá rio s. 1033. N a tu rez a j u r í ­
dica. 1034. A tividades especiais. 1035. V alor inicial. 1036. P rim eiro p a g am en to . 1037.
Ô n u s d a prova. 1038. Prova in d ire ta das c o n d iç õ es. 1039. D e m o n straç ão d o cenário.
1040. L au d o técnico.
Capítulo CIV. Aposentadoria por Tempo de Contribuição.........................................
1041. D escrição d o in stitu to . 1042. C o m a n d o s c onsultáveis. 1043, N a tu re z a p ro tetiv a.
1044, M o d alid ad es su b siste n tes. 1045. E v en to d e te rm in a n te . 1046. D ata d o início.
1047. Valor inicial. 1048. L im ite d e idade. 1049. R eto rn o á ativ id ad e. 1050, P rovas
exigidas,
Capítulo CV. Tempo de Contribuição................................................................................
1051. C o n c eito su m a ria d o . 1052. D istin çõ es necessárias. 1053. F u n ç ã o d eca n ta d o ra .
1054. Q u a n tifica ç ão de coeficientes. 1055. T erm os inicial e final. 1056. C álculo d o s
dias. 1057. P e río d o s c o m p u ta d o s. 1058. T em po reg u lam en tar, 1059. In te rre g n o s não
v álidos, 1060. C o n v e rsã o c o m u m /esp ec ia l.
Capítulo CVI. Jubilação do Professor...............................................................................
1061. M agistério ed u ca cio n a l. 1062. P rofessor a u tô n o m o . 1063. A p o sen ta d o ria e sp e ­
cial. 1064. P restação c o n stitu c io n a l. 1065. EC n. 2 0/1998. 1066. A gente nocivo, 1067.
T em po de c o n trib u iç ã o . 1068. C o n v e rsã o d e tem p o de serviço. 1069. A créscim o do
ed u cad o r. 1070. C o n ta g e m recíproca.
Capítulo CV1I. Fórmula 9 5 ..................................................................................................
1071. A lcance técnico. 1072. P re ssu p o sto s científicos. 1073. E x p licitação da a p re se n ­
tação. 1074. Variáveis básicas. 1075. Variáveis se c u n d árias. 1076. R azão d o total de
a n o s. 1077. N ú m e ro s m ín im o e m áx im o . 1078. In d ic a d o re s so c io ec o n ô m ic o s. 1079.
Regim e financeiro. 1080. C o m p ara çã o com o vigente.
Capítulo CVIII. Abono A nual.............................................................................................
1081. Bases legais. 1082. Â m ago científico. 1083. C o n c eito d o u trin á rio . 1084. Nível
a n u al. 1085. E vento d e te rm in a n te . 1086. R eq u isito s legais. 1087. D ata do início. 1088.
É poca d o p ag am en to . 1089. P o ssib ilid ad e d e a cu m u laç ão . 1090. A u to m a tic id a d e da
concessão.
Capitulo C1X. Pecúlios..........................................................................................................
1091. F u n d a m e n to s ju ríd ic o s. 1092. D efinição técnica. 1093. T ipos p e rsiste n te s. 1094.
P erío d o d e carência. 1095. P razo prescricio n al. 1096. Total a receber. 1097. Regras de
a cu m u laç ão . 1098. P re su n ç ão do d e sc o n to . 1099. S ucessão h e red itá ria. 1100. P rovas
solicitadas.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

S u m á rio
Capítulo CX. Abono de Permanência............................................................................... 882
1101. P revisão legal. 1102. T ipos de ab o n o . 1103. Início e fim. 1104. C o rreção m o n e ­
tária. 1105. Regra de a cu m u lação . 1106. Salário de c o n trib u iç ã o . 1107. In c o rp o ra ç ão
à a p o se n ta d o ria . 1108- Fim d o s 20%. 1109. F im dos 25%. 1110. D ireito ad q u irid o .

Capítulo CXI. Salário-Malernidade................................................................................... 884


1111. N o rm a s re sp eitan te s. 1112. E vento d e ie rm in a n te . 1113. D e stin atário s da p ro ­
teção. 1114. N atu reza ju ríd ic a. 1115. D evedor d a obrigação. 1116. A lcance m ensal.
1117. P erío d o de d u ra ç ã o . 1118. A cu m u la çã o de benefícios. 1119. P razo prescricional,
1120. F o rm a lid a d e d o c u m e n tal,

Capítulo CXI1. Mãe Genética.............................................................................................. 887


1121. C o n c eito m ínim o. 1122. Q u e stõ e s v e rn ac u la res. 1123. A doção e g uarda. 1124.
C o n tin g ê n c ia pro teg id a. 1125. F ertilização in vitro. 1126. D ireito d a gestante. 1127.
D ireito da m ãe g enética. 1 1 28. R e m u n eração da g estação. 1129. A b o rto não c rim in o so .
1130. A lgum as conclu sõ es.

Capítulo CX1II. Salário-Família.......................................................................................... 892


1131. P rescrições válidas. 1132. C lientela d e b eneficiários. 1133. N u c lea rid a d e c ie n ­
tífica. 1134. E vento d e te rm in a n te . 11.35, Valor m ensal. 1136. In ício e cessação. 1137.
H ipóteses de acu m u laç ão . 1138. D ireito do a p o se n ta d o . 1139. D evedor d a obrigação.
1140. C o m p ro v an te s form ais.

Capítulo CXIV. Pensão por M orte..................................................................................... 895


1141. P rin cip ais d e stin a tário s. 1142. N atu reza ju ríd ic a . 1143. M a n u ten ç ão d a s m e n sa ­
lidades. 1144. A cu m u lação de d ireito s. 1145. Valor inicial. 1146, D ata do inicio. 1147.
R ateio do total. 1148. D ivisão das m ensalidades. 1149. E v en to d e te rm in a n te . 1150.
In stru ç ã o do pedido.

Capítulo CXV. Auxílio-Reclusão......................................................................................... 899


1151. S im ilaridade com a p en são . 1152. C o m eço d o d esem b o lso . 1153. M o m e n to da
cessação. 1154. N a tu rez a ju ríd ic a . 1155. Im p o rtâ n c ia inicial. 1156. E v en to d e te rm i­
n ante. 1.157, M a n u ten ç ão do benefício. 1158. R e q u erim en to a p o sterio ri. 1159. C o m ­
provação trim e stral. 1160. D e m o n straç ão form al.

Capítulo CXV1. Direitos dos P resos.................................................................................. 901


1161. D ire ito C o n s titu c io n a l. 1162. P apel d o labor. 1163. N a tu re z a ju ríd ic a . 1164.
C o n d içõ es legais. 1165. A d m in istração d a s atividades, 1166. A m biente de realização.
1167. Tarefas e x ecu tad as. 1168. D u ra çã o da jo rn a d a . 1169. M edicina do trab alh o .
1170. P rin cip ais d ireitos.

Capítulo CXV11. Crimes Previdenciãrios........................................................................ 905


1171. A p ro p riação in d éb ita. 1172. A p ro p riação do d e sc o n ta d o . 1173. A p o rtes de d e s ­
pesas. 1174. B enefícios re em b o lsad o s. 1175. F alsid ad e n a info rm ática. 1176. M o d ifi­
cação de in fo rm açõ es. 1177. Sonegação pre v id e n ciá ria . 1178. D ivulgação das in fo rm a ­
ções. 1179. F alsilicação nas d eclarações. 1180. O m issão em d o c u m e n to s.
Capítulo CXV1LI. A uxílio-A cidente................................................................................... 923
1181. F o n te s c o n su ltá v eis. 1182. N atu reza ju ríd ic a . 1183, E v en to d e te rm in a n te .
1184. D ata d o início. 1185. V alor m ensal, 1186. Percepção c o n ju n ta . 1187. A gregação
aos benefícios, 1188, Posição ju ris p ru d ê n c ia !. 1189. A c u m u lação com salário. 1190.
D o c u m en to s exigidos.

Capitulo CX1X. Aposentadoria Proporcional.................................................................. 928


1191. D escrição m ín im a. 1192. D ata do início. 1193. P erío d o s so p esad o s. 1194. De-
finitividade d a concessão. 1 195. E ssência científica. 1196. R o m p im e n to do c o n tra to .
1197. C ritério d a p ro p o rcio n a lid a d e. 1198. M o d alid ad es ex isten tes. 1199. Regras de
a cu m u lação . 1200. V alidade técnica.

C u r so df. D ib e it o P r e v i d e n c í A blo

16 W l a d i m i r N o v a e s M a r tir te z
Capítulo CXX. Reabilitação Profissional.......................................................................... 932
1201. C o n c eito b ásico. 1202. P rocesso d e re cu p e raç ão . 1203. D ev ed o r da obrigação.
1204. D e stin a tá rio s da a te n çã o . 1205. N a tu rez a d a prestação . 1206. A ie n d im e n to for­
necido. 1207. A dm issão o b rig ató ria. 1208. A uxílio para tra ta m e n to . 1209. E xam e fora
do d om icílio. 1210. C ertificad o oficiai.
Capítulo CXXI. Contagem Recíproca................................................................................ 935
1211. N o ç õ es fu n d a m e n ta is. 1212, C o n c eito elem entar. 1213. T ipos d e co n tag em .
1214. A certo d e c o n ta s. 1215. C arên cia da op eração . 1216. A tividade especial. 1217.
E xigência d a recip ro cid a d e. 1218. C rité rio s in ere n te s. 1219. In d e n iz aç ã o d o tem p o de
serviço. 1220. D evedor da obrigação.
Capítulo CXXII. Efeitos da A posentação......................................................................... 944
1221. E volução d a qu estão . 1222. M edida P rovisória n. 1.523/1996. 1223. Possíveis
indagações. 1224. C arta de co m u n ic aç ão . 1225. C iência da em presa. 1226. R atificação
do ato. 1227. Factum principis. 1228. D a ta d a concessão, 1229. P o n to d e v ista ju d ic ial.
1230. In o v açõ es d a Lei n. 9 .5 2 8 /1 9 9 7 .
Capítulo CXX1II. Possibilidade de D esaposentaçâo..................................................... 951
1231. P re ssu p o sto da re n ú n c ia . 1232. M anifestações d o u trin á ria s. 1233. E x te rio riz a ­
çõ es ju ris p ru d e n c ia ís. 1234. N o rm a su b o rd in a n te . 1235. A to ju ríd ic o perfeito . 1236.
E n te n d im e n to a d m in istrativ o . 1237, In tere sse coletivo. 1238. N u a n ç a m o ral. 1239.
In e x istê n cia de vedação. 1240, D ireito de trabalhar.
Capítulo CXXIV. Transformação de Benefícios.............................................................. 959
1241. C aracterísticas e d istinções. 1242. C onversão do tipo. 1243. O pção pelo m elhor.
1244. D oença e invalidez. 1245. Prestações acidentárias. 1246. D e sd o b ra m e n to s da in ca­
pacidade. 1247. LOAS e a p o sentadoria. 1248. Tem po de contribuição. 1249. Benefícios
dos d ep en d en tes. 1250. Variação dos percentuais.
Capítulo CXXV. Acumulação das P restações.................................................................. 964
1251. N o rm a s d e su p e rd ireito . 1252. E n tre regim es. 1253. B enefícios d e segurados.
1254. B enefícios d e d e p en d e n te s. 1255. S u b stitu id o re s d o s salários. 1256. N ão su b s-
titu id o res d o s salários. 1257. C u m u la ç õ es possíveis. 1258. P ensões n ã o securitárias.
] 259. D ireitos n ã o p revidenciãrios. 1260. U niverso rural.
Capítulo CXXVI. Componentes do Cálculo.................................................................... 970
1261. Passos vestibulares. 1262. Significado prático. 1263. C ondições para re co n h e ci­
m ento. 1264. Rubens Limongi França. 1265. A proxim ação do bem . 1266. P reten são e
expectativa. 1267. Pretensão aos co m p o n e n tes. 1268. A quisição do direito. 1269. M o­
m en to da ap osentação. 1270. Período básico de cálculo.
Capítulo CXXVII. Direito Adquirido................................................................................. 975
1271. P restações enfocadas, 1272, Tempus regit actum . 1273. E x igência d o exercício.
1274. R equisitos necessários. 1275. A usência e p e rec im e n to . 1276. E xpectativ a e d ire i­
to. 1277. A tu alização dos valores. 1278. F actum principis. 1279. P osição d o u trin á ria .
1280. R esu m o das conclusões.
Capítulo CXXVIII. Justificação Adm inistrativa............................................................. 982
1281. E volução h istó ric a . 1282. C o n c e itu a ç à o e d efinição. 1283. A m ago d o p ro c e ­
d im e n to . 1284. In stru ç ã o do p e d id o . 1285. P o ssib ilid ad e de re cu rso . 1286. F u n ç ã o
e objetivo. 1287. Rol de teste m u n h a s. 1288. Eficácia e alcance. 1289. M o m e n to da
p ro d u ç ão . 1290. In ício d e prova.
Capítulo CXX1X. Serviços S ocia is..................................................................................... 987
1291. A proxim ação d o a ssu n to . 1292. H abilitação ao trabalho. 1293. R eabilitação p ro ­
fissional. 1294. F o rn e c im en to de a parelhos. 1295. Prevenção acid en taria. 1296. A d m is­
são de deficientes. 1297. C o n v ên io de serviços. 1298. A te n d im e n to aos necessitados.
1299. A ssistência ju ríd ic a . 1300. O rie n ta çã o geral.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

5 u m d rio
Capítulo CXXX. Múltipla Atividade.................................................................................. 990
1301. In tro d u ç ã o histórica. 1302. M ens legislatoris e meus /egis. 1303. D e stin atário da
n o rm a. 1304. C o m u n ic a çã o das características. 1305. C rité rio s da sim u lta n eid ad e .
1306. A tividades p rin cip al e se c u n d ária. 1307. O m issão legislativa. 1308. C o n c o m i­
tância total. 1309. C o n c o m itân c ia parcial. 1310. E x plicações finais.
Capítulo CXXXI. Menor Aprendiz..................................................................................... 999
1311. Visão d o u trin á ria . 1312. T ipos de designações. 1313. Id a d e m ín im a. 1314. Des-
tin ação d o s serviços. 1315. V ínculo em p reg atício . 1316. T em po de serviço. 1317. Re­
m u n era çã o escolar. 1318. Filiação ao RGPS. 1319. A p ren d iz ferroviário. 1320. C u rso
pro fissio n alizan te.

Capítulo CXXXII. Ex-Com batentes................................................................................... 1002


1321. P roteção inicial. 1322. C arta M agna de 1967. 1323. E m e n d a C o n stitu c io ­
nal n. 1/1969. 1324. Lei re g u la d o ra. 1325. Lei n. 5.6 9 8 /1 9 7 1 . 1326. P arecer MPAS
n. 3.052/2003. 1327, In terp re ta ç ão d o INSS. 1328. P osição do INSS. 1329. LN IN S S n .
20/2007. 1330. P e n sã o p o r m orte.

Capítulo CXXX1I1. Acordos Internacionais.................................................................... 1008


1331. E v o lu ç ã o h is tó ric a . 1332. N o rm a s re g e n te s . 1333. C o n c e ito m ín im o . 1334.
N a tu rez a ju ríd ic a . 1335. P rin c íp io s aplicáveis. 1336. N u a n ça s gerais. 1337. F o n te s
de custeio. 1338. P restaçõ es d isp o n ív eis. 1339. T ratados vigentes. 1340. T endências
atuais.

Capítulo CXXX1V. Direito dos D eficientes...................................................................... 1012


1341. In stru m e n to s d e c o n v en c im e n to , 1342. Pessoas a u to riza d a s, 1343. L au d o s téc­
nicos. 1344. Provas se c u rilária s. 1345. E xam e ad m issio n a l. 1346. P rev id ên cia fecha­
da. 1347. S eguro p riv ad o . 1348. D em o n straç õ es e m p restad as. 1349. P erícias ju d ic ia is.
1350. D eclarações oficiais.
Capitulo CXXXV. Estatuto do Id oso.................................................................................. 1016
1351. A preciações m ín im as. 1352. S ignificado do E statu to . 1353. D ireitos c o n te m p la ­
dos. 1354. A te n d im e n to á saúde. 1355. B enefício d a LOAS. 1356. P revidência social.
1357. R espeito pessoal. 1358. F a c ilid ad e s u rb a n as. 1359. P rofissionalização d o tra b a ­
lho. 1360. D elitos p u n ív eis.

Capítulo CXXXVI. União E stável...................................................................................... 1019


1361. In stitu iç õ e s em co n fro n to . 1362. D istin çõ es n ecessárias. 1363. D ecan tação le ­
gal. 1364. C aracLerísticas e lem en tares. 1365. A m o ralid ad e d a legislação. 1366. A nálise
prev id en ciãria. 1367. In terp re ta ç ão d a m atéria. 1368. Lei n, 9 .2 7 8 /1 9 9 6 . 1369. U n iõ es
instáveis. 1370. P rovas possíveis.

Capítulo CXXXVII. União Homoafetiva........................................................................... 1027


1371. C o n c eito d o u trin á rio . 1372. Polos da relação. 1373. P rin c ip a is cara cte rística s.
1374. P restaçõ es a lcan çad as. 1375. D efinição legal. 1376. D e sd o b ra m e n to s ju ríd ic o s.
1377. D essem elh a n ça s técnicas. 1378, Posição ju ris p ru d e n c ia l. 1379. A doção e g u a r­
da. 1380. Vida em co m u m .

Capítulo CXXXVIII. Estágio Profissional........................................................................ 1030


1381. F o n te s form ais. 1382. C o n c eito d o u trin á rio . 1383. Sujeitos envo lv id o s. 1384.
A tos c o n stitu tiv o s. 1385. R e m u n eração m ensal. 1386. D u ra çã o do c o n tra to . 1387.
Jo rn a d a de trab a lh o . 1388. R ecesso anual. 1389. S eguro pessoal. 1390. C lassificação
p revidenciãria.

Capítulo CXXX1X. Dano M oral.......................................................................................... 1033


1391. F o n te s form ais. 1392. C o n c eito m ínim o, 1393. Falso d ano. 1394. E scopo do
in stitu to . 1395. M aterial e m oral. 1396. E xclusão da re sp o n sab ilid ad e. 1397. S ujeitos
da relação. 1398. P re ssu p o sto s lógicos. 1399. Provas d o alegado. 1400. Q u a n tificação
do valor.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

18 W la d im ir N o v a e s M a r lin e z
Tom o III
D ir e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n t a l

Capítulo CXL. Introdução.................................................................................................... 1041


1401. Regras p re té rita s. 1402. D isciplina trib u tá ria . 1403. Q u e stiú n c u la s v e rn ac u la res.
1404. C o n c eito e defin ição . 1405. P rocesso e p ro c e d im e n to . 1406. E sg o tam e n to da via
in te rn a. 1407. D o u trin a específica. 1408. J u ris p ru d ê n c ia a d m in istrativ a. 1409. D u p li­
cidade d o exam e. 1410. Im parcialid ad e d o s ju lg a d o res.

Capítulo CXLI. Aspectos C ien tíficos................................................................................ 1047


1411. N a tu rez a ju ríd ic a . 1412. E n q u a d ra m e n to científico. 1413. A u to n o m ia técnica.
1414. R elação c o m o u tro s ram o s. 1415. Regras in te rp re ta tiv a s. 1416. C a m p o de in ­
cidência. 1417. O b jeto e objetivos, 1418. F o n te s form ais, 1419, P re su n ç õ es válidas.
1420. T endências h o d iern a s.

Capítulo CXLII. Princípios aplicáveis.............................................................................. 1054


1421. E co n o m ia pro cessu al. 1422. In iciativ a da parte. 1423. S im plicidade o p e rac io n a l.
1424. G ra tu id a d e carto rial. 1425. C e le rid ad e d o a n d a m e n to . 1426. S u b sid ia rid a d e do
C PC . 1427. Refonnatio in pejus. 1428. R ecu rso do titular. 1429. A m p la defesa e c o n ­
trad itó rio . 1430. D ireito A dm in istrativ o .

Capítulo CXLII1. Características Elem entares............................................................... 1064


1431. C a rá te r exógeno. 1432. Polo im p u lsio n a d o r. 1433, G ra tu id a d e d o s serviços,
1434. R epresen tação do titular. 1435. Subm issão à a u to rid ad e . 1436. D e p en d ê n c ia do
ju d ic iá rio . 1437. Singeleza d o s a u to s. 1438. Im p o ssib ilid a d e de recorrer. 1439. C o m ­
posição d o s colegiados. 1440. In flu ên c ia do d ireito su b sta n tiv o .

Capítulo CXLIV. Organismos D ecisórios......................................................................... 1068


1441. E n tes e x ec u ta n tes. 1442. J u n ta de R ecursos. 1443. C âm ara de Ju lg a m e n to . 1444.
C o n selh o Pleno. 1445. C om posição da JR e CAj. 1446. M in istro d a Previdência. 1447.
Delegacia d e ju lg a m e n to . 1448.C onselho A dm inistrativo de R ecu rso s Fiscais. 1449. C â­
m ara s u p e rio r de R ecursos Fiscais. 1450. M in istro d a F azenda.

Capítulo CXLV. Sujeitos da Relação.................................................................................. 1073


1451. Ó rgão gestor. 1452. Pessoas fisicas e ju ríd ic a s. 1453. E m p re g ad o r d o m éstic o .
1454. S u cesso r d o titular. 1455. D e p en d e n te do se g u rad o . 1456. Terceiro in teressad o .
1457. L itisco n só rcio de au to res. 1458. P ro p rie tá rio de casa p ró p ria . 1459. R e p resen ­
ta n te de m en o re s. 1460. S u b stitu to p ro c e d im e n ta l.

Capítulo CXLVI. Instrução Procedimental...................................................................... 1076


1461. Im p u lso inicial. 1462. F o rm a lid a d e do ato. 1463. R equisitos d o p e d id o . 1464.
M o v im en tação do e x p e d ie n te . 1465. D e sp a ch o in te rlo c u tó rio . 1466. A pensação aos
a utos. 1467. D o c u m e n to s a n ex a d o s. 1468. C on ex ão e c o n tin ê n cia. 1469. D esanexação
e d esap en sa ç âo . 1470. C o m u n ic a çã o oficial.

Capítulo CXLVII. Questões Prejudiciais.......................................................................... 1079


1471. A p u ra çã o de in co m p e tê n cia . 1472. V erificação d a (em p estiv id ad e. 1473. Ilegiti­
m id a d e d a p arte. 1474. S u sp eição e im p e d im e n to . 1475. C o n sta ta ç ão d a litisp e n d ê n -
cia, 1476. C oisa ju lg a d a . 1477, Preclusão e perem p ção . 1478. D e cad ên cia e prescrição,
1479. P resen ça da ação ju d ic ial. 1480. C o n stra n g im e n to à defesa.

Capítulo CXLV1I1. Nuanças das D ecisõ es........................................................................ 1087


1481. T ipos d e co m p o siç ão . 1482. Jutzo de a d m issib ilid a d e . 1483. A valiação d o m é ­
rito. 1484. Voto c o n trá rio . 1485. C o m p o n e n te s d a so lu ç ão . 1486. R elatório inicial,
1487. F u n d a m e n to s ju ríd ic o s. 1488. D erisum da qu estão . 1489. D ecisão citra, extra e
u lira pelita. 1490. E feitos d e v o lu tiv o e su sp en siv o .

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

S u m á rio 19
Capítulo CXL1X. Provas do A legad o................................................................................ 1092
1491. Onus probandi. 1492. C a m p o d e aplicação. 1493. M eios a d m itid o s. 1494. C las­
sificação didática. 1495. M o m e n to da p ro d u ç ão . 1496. F ato s n ã o probandos. 1497.
D esnecessidade ou independência. 1498. C onfissão do autor. 1499. P rova em p restad a.
1500. D e p o im e n to teste m u n h ai.

Capítulo CL. Prazos R ecursais........................................................................................... 1096


1501. Regras da c o n tag em . 1502. C o n se q ü ê n cias ju ríd ic a s. 1503. R ecursos
de A pelação. 1504. R ecursos especiais. 1505. C o n trarra zõ e s. 1506. Revisão de O ficio.
1507. Revisão de benefícios. 1508. V istas d o s a u to s. 1509. P razos do MPS. 1510. Prazos
do MF

Capítulo CLI. Sessão de Julgam ento................................................................................. 1100


1511. D istrib u ição dos feitos. 1512. P a u ta do dia. 1513. Sessão p ro p ria m e n te dita.
1514. Voto de M inerva. 1515. D efesa oral. 1516. Ju n ta d a de m em o rial. 1517. R etirada
de processo. 1518. Pedido de vista. 1519. A usência de co n selh eiro . 1 520. R esultado da
votação.

Capítulo CLII, Procedimentos em Espécie...................................................................... 1103


1521. M atricu la d e c o n trib u in te s. 1522. C e rtid ã o N egativa d e D ébito. 1523. R econhe­
c im e n to de filantrópica. 1524. P a rc elam e n to de d é b ito . 1525. D esignação de d e p e n ­
den tes. 1526. A verbação de tem p o de filiação. 1527. C e rtid ã o de tem p o de serviço.
1528. V erificação de salário-base. 1529. In d e n iz aç ã o d e déb ito . 1530. A p reen são de
d o c u m e n to s.

Capítulo CLI1I. Justificação A dm inistrativa................................................................... 1107


1531. D e sen v o lv im en to n o rm ativ o . 1532. D escrição d o in stitu to . 1533. N ú c leo do
p ro c ed im e n to . 1534. M odus operandi. 1535. F u n ç ã o e d e sid e ra to . 1536. Lista de teste­
m u n h as. 1537. E ficácia e alcance. 1538. T em po d a realização. 1539. In ício razoável de
prova m aterial. 1540. P o ssib ilid ad e d e recurso.

Capítulo CL1V. Pedido de B enefício.................................................................................. 1113


1541. Início do e x p ed ien te . 1542. N u m e raç ão e p ro to co lo . 1543. E xam e pream bular.
1544. D iligência ou p esq u isa. 1545. Síntese da análise, 1546. Q u a n tifica ç ão do valor.
1547. E m issão da co m u n ic aç ão . 1548. C o n fe rên c ia d a concessão. 1549. P rim eiro p a ­
gam ento. 1550, Siglas u tilizad as.

Capítulo CLV. Revisão de C álcu lo..................................................................................... 1 118


1551. R eceb im en to da ciência. 1552. E stru tu ra da in te rp o siç ão . 1553. C ausa peten­
di. 1554. Provas m ateriais. 1555. R ecalculo da renda. 1556. R azões e com provações.
1557. D ecisão favorável. 1558, E x ecu ção d e atra sa d o s. 1559. D e sp a ch o in d efe ritó rio .
1560. Revisão de revisão.

Capítulo CLV1. Expedientes Voluntários......................................................................... 1121


1561. C o n c ep ç ão m ínim a. 1562. E ssência d o e n c a m in h a m e n to . 1563. In stru ç ã o d o
p ed id o . 1564. D e se n v o lv im en to in te rn o . 1565. T ipos de re q u e rim e n to s. 1566. D istin ­
ção da c o n su lta . 1567. In c id e n te s in te rlo c u tó rio s. 1568. R esolução d efinitiva. 1569.
N o tificação d a resposta. 1570. C a b im e n to do recurso.

Capítulo CLVII. Modalidades de Im pugnações............................................................. 1123


1571. D efesa de c o n trib u in te . 1572. A pelação à J R o u á CAj. 1573. C ontrarrazões.
1574. E m bargos declaratórios. 1575. Recurso adesivo. 1576. In terp o siç ão v o lu n tá ria e
o b rig ató ria. 1577. Solicitação d e revisão. 1578. A gravo d e in stru m e n to . 1579. E m bar­
gos in frin g e n tes. 1580. C o n te ú d o da inco n fo rm id ad e.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

20 W l a d im i r N o v a e s M a r t in e z
Capítulo CLVI1I. Mandado de Procedimento F iscal..................................................... 1129
1581. C o n ceito básico. 1582. E scopo d o p ro c ed im e n to . 158.3. F o n te s form ais. 1584.
P e río d o de validade. 1585. N atu reza ju ríd ic a . 1586. D ata d a ex tin ç ão . 1587. V erifi­
cação da a u te n tic id a d e . 1588. T ipos de m an d a d o s. 1589. C o n te ú d o m ín im o . 1590.
V alidade do d o c u m e n to ,

Capítulo CLIX. Procedimento F iscal................................................................................ 1133


1591. P receito s c onsultáveis. 1592. S ujeitos ativo e passivo. 1593. P rin c ip a is m o d a li­
dades. 1594. Início, c u rso e extinção. 1595. Ô n u s da prova. 1596. D ep ó sito recursal.
1597. Q u e stõ e s p re ju d icia is. 1598. G a ran tia c o n stitu c io n a l, 1599. P rin c íp io s c o n s titu ­
c io n ais. 1600. E xam e d e c o n stitu c io n a lid a d e .

Capítulo CLX. Cobrança Adm inistrativa........................................................................ 1145


1601. S olicitação de e le m en to s. 1602. N o tificação Fiscal. 1603. A uto d e Infração.
1604. D ébito C onfessado em G F IP 1605, Im p u g n aç ão inicial. 1606. A preciação fiscal.
1607. R evisão d e d é b ito . 1608. D ecisão da D elegacia d e Ju lg a m e n to . 1609. R ecurso ao
CARE 1610. In fo rm ação fiscal.

Capítulo CLXI, Restituição de Contribuições................................................................ 1155


1611. N orm as verificáveis. 1612. Term o para solicitação. 1613. P ressu p o sto s lógicos.
1614. P artes d o req u erim en to . 1615. In stru ç ão d a decisão. 1616. S ituação dos terceiros.
1617. Salário-fam ília e salário-m alernidade. 1618. A tualização do restitu íd o . 1619. De~
volução sum ária. 1620. T ransferência d o encargo.

Capítulo CLXII. Consulta Adm inistrativa...................................................................... 1163


1621. Significado técnico. 1622. Q u e m pode co n su ltar. 1623. D e stin atário do p e d i­
do. 1624. E lem en to s da indagação. 1625. L im ites da resposta. 1626. P ossibilidade de
reexam e. 1627. E feitos fiscais. 1628. R ecurso d e c o n su lta. 1629. O p o rtu n id a d e das
p erg u n ta s. 1630. C o n su ltas públicas.

Capítulo CLXIII. Revisão de O fício................................................................................... 1170


1631. P rim eiras ideias. 1632. C o m an d o s n o rm ativ o s. 1633. E n q u a d ra m e n to c ie n tífi­
co. 1634, P razo de elaboração. 1635. D istin ção da U n ifo rm ização . 1636. C aracterísticas
básicas. 1637. Sujeitos envolvidos. 1638. R equisitos técnicos. 1639. A bran g ên cia do
in stitu to . 1640. C o n c lu sõ es finais.

Capítulo CLXIV. Uniformização dos Julgad os............................................................... 1179


1641. S ignificado do p e d id o . 1642. C o m p e tê n c ia ad m in istrativ a. 1643. D e m o n straç ão
da divergência. 1644. P ro p u g n a d o r da m edida. 1645. R e co n h e cim en to d o alegado,
1646. A preciação do C o n se lh o Pleno. 1647. E m issão d o E n u n c ia d o . 1648. P a rtic ip a ­
ção dos c o n se lh e iro s. 1649. P razo para o p e dido. 1650. U nifo rm ização em Tese.

Capítulo CLXV. Conteúdo dos Recursos.......................................................................... 1182


1651. D e stin atário da im p u g n ação . 1652. Q ualificação d o re co rre n te . 1653. Identifíca-
ção do processo. 1654. R elato dos fatos. 1655. A rguíção de p re lim in a res. 1656. A nálise
d a decisão, 1657. S u p ed án eo legal. 1658. D edução lógica. 1659. P e d id o c o n clu siv o .
1660. E n c e rra m e n to da peça,

Capítulo CLXVI. Inquérito Adm inistrativo.................................................................... 1185


1661. Â m ago p ro c ed im e n tal. 1662. D e n ú n cia form al. 1663. In sta u ra ç ã o de sin d ic â n ­
cia. 1664. C o n v o cação do sin d ica d o . 1665. A preensão de provas. 1666. T om ada de d e­
p o im e n to s. 1667. D iligências e x te rn as. 1668. J u n ta d a de d o c u m e n to s. 1669. R elatório
su c in to . 1670. D ecisão d e rra d e ira .

C urso r> r D ir e it o P r e v id e n c iá r io

S u m á r io
Capítulo CLXVII. Decadência do Crédito.......................................................... 1189
1671. N alureza da exação. 1672, D istin ção d a prescrição . 1673, F o n te s antigas. 1674.
O in s titu to n a LOPS. 1675. R eceber e cobrar, 1676. P razo trin te n á rio . 1677. P arecer
MPAS n. 85/88. 1678. Art. 45 do PCSS. 1679. C ontagem do p e río d o . 1680. Im p o rtân cia.

Capítulo CLXV1II. Prescrição das C ontribuições............................................. 1200


1681. N o rm a d ispositiva. 1682. D istin ção da decadência. 1683. O m issão d o u trin á ria .
1684. A plicação do C T N . 1685. D e sd o b ra m e n to h istó ric o . 1686. S ú m u las do TFR,
1687. Prazo d o PCSS. 1688. C o n tag em d o term o. 1689. M anifestação d o STF 1690,
R esum o do cenário.

Capítulo CLXIX. Recolhimento da C ontribuição.......................................................... 1204


1691. Prazos para o re co lh im e n to . 1692. A créscim os legais. 1693. C o m p le m en taç â o
de diferenças. 1694. C o m p en saç ão d e valores. 1695. R eem bolso de benefícios. 1696.
D écim o terceiro salário. 1697. P ro d u to r rural. 1698. C o n stru ç ã o civil. 1699. A ssocia­
ç õ es d e sp o rtiv a s. 1700. C o n trib u in te in d iv id u a l.

Capítulo CLXX. Benefício A ssisten cial............................................................................ 1208


1701. D em onstração d a idade. 1702. C o m provação d a deficiência. 1703. R enda fam i­
liar. 1704. Solicitação d o benefício. 1705. C o m p etên cia da concessão. 1706. D ata do
início. 1707. H ipótese de in d efe rim e n to . 1708. M an u ten ção dos pag am en to s. 1709.
S uspensão das m ensalidades. 1710. E xtinção d o direito.

Capítulo CLXX1. Devido Processo Legal.......................................................................... 1211


1711. A m pla defesa. 1712. C iência d o s fatos. 1713. P rocessual idade ad m in istrativ a.
1714. P rin c íp io s aplicáveis. 1715. Prazos legais. 1716. G a ran tias exigidas. 1717. M eios
de prova, 1718. U n ic id a d e d a decisão. 1719. O brigação de decidir. 1720. P o d e r J u d i­
ciário.

Capítulo CLXXII. Suspensão de B enefícios.................................................................... 1215


1721. D istin çõ es n ecessárias. 1722. F o n te s n o rm ativ as. 1723. P razo p a ra revisão.
1724. P o stu la d o s aplicáveis. 1725. S u sp en são e c an c ela m e n to . 1726. Defesa prévia.
1727. P razos a respeitar. 1728. M an d ad o de Segurança. 1729. N ovo beneficio. 1730.
R estituição do in d ev id o .

Capítulo CLXXIIL Ação Regressiva................................................................................... 1218


1731. Prazo da decadência. 1732. C o n stitu c io n a lid a d e d o PBPS. 1733, D ano e in d e n i­
zação. 1734. P o stu la çã o c iv ilstia l. 1,735. S ujeitos da relação. 1736. R esponsabilidade
fiscal. 1737. C u lp a em se n tid o estrito . 1738. C o n stitu iç ã o de capitais. 1739. D escons-
titu içã o d a ação regressiva. 1740. J u stiç a c o m p e ten te.

Capítulo CLXXIV. Nalureza A lim entar............................................................................ 1232


1741. C o m p o n e n te s m ín im o s. 1742. P e n sã o a lim en tícia. 1743. P restaçõ es
s e c u rilá ria s. 1744. P a rtic u la rid a d e d o p e rc ip ie n te . 1745. T utela a n te c ip a d a . 1746.
C o n c o rrê n c ia n a p e n sã o p o r m o rte . 1747. In flu ê n c ia da m o ra lid a d e . 1748. F ix ação
de um p ad rão . 1749. F u n d a m e n to s d a irre p e tib ilid a d e . 1750. C o n d iç õ e s p a ra n ã o
re stitu iç ã o .

Tom o IV
P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n t a r

Capítulo CLXXV. Apresentação.......................................................................................... 1243


1751. A lcance do cam po. 1752. Visão básica. 1753. C o n ceito d e im p le m e n tar. 1754.
N oção de su p le m e n tar. 1755. Ideia de c o m p lem en tar, 1756. N ível d o patam ar. 1757.
P ecúlios em d in h eiro . 1758. A ssistência à saú d e. 1759. DisLinção das e n tid a d es. 1760.
Prevalência d o se g m en to fechado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

22 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo CLXXV1. Breve História...................................................................................... 1246
1761. M o n te p io geral. 1762. A to m ais antigo. 1763. P rim eiro d ip lo m a legal. 1764.
C o n stitu iç ã o F ederai. 1765. D ireito C om ercial. 1766. C o m p a n h ia s de seguro. 1767.
S ervidores p ú b lic o s, 1768. R eg u lam en to M u rtin h o . 1769. P rim eira s E PC s. 1770. Tem ­
p o s m o d ern o s.

Capítulo CLXXV11. Q uestões T erm inológicas............................................................... 1250


1771. T ítu lo d a téc n ica p rotetiva. 1772. N o m e das e n tid a d es. 1773. T ipos de p lano.
1774. R e q u isito s re g u la m e n tare s. 1775. P o rta b ilid ad e d e capitais. 1776. In s titu to s p ró ­
prio s. 1777. In flu ên c ia do cálcu lo a tu a ria l. 1778. C lien tela p ro teg id a. 1779. V ínculo
dos in te g ra n te s. 1780. D ireito p re v id e n cia l e assistencial.

Capítulo CLXXVIII. Conceito S ucinto............................................................................. 1253


1781. In tro d u ç ã o d o a ssu n to . 1782. M o d a lid a d e d e ingresso. 1783. Serviços d isp o ­
níveis. 1784. P o u p a n ç a in d iv id u a l. 1785. D elegação estatal. 1786. C o n c e n tra ç ã o de
riq u ezas. 1787. P olítica d e re cu rso s h u m a n o s . 1788. Seguro social. 1789. T écn ica p ri­
vada. 1790. C o n c eito final.

Capítulo CLXXIX. Características N u cleares................................................................ 1255


1791. F a c u lta tiv id ad e de ingresso. 1792. In d e p e n d ê n c ia d a básica. 1793. C o m p le m en ­
taridade do valor. 1794. Solidariedade e n tre as pessoas. 1795. S ubm issão ao direito p ri­
vado. 1796. O bservância do cálculo atuarial. 1797. R egim es financeiros o b rig ató rio s.
1798. G estão colegiada tra n sp a re n te . 1799. In d e p e n d ê n c ia das p e sso a s jurídicas.
1800. S upervisão g o v e rn am en ta l.

Capítulo CLXXX. Nalureza Jurídica.................................................................................. 1263


1801. P aralelism o d a c o b ertu ra. 1802. F eição prev id en ciária. 1803. T écnica pro tetiv a.
1804. P rin cip al in stru m e n to . 1805. O bjetivo c o n stitu c io n a l. 1806. D ireito subjetiv o .
1807. N u c lea rid a d e se c u ritãria . 1808. M otivação e m p resarial. 1809. D u p licid a d e de
c o b e rtu ra . 1810. Im p o rtâ n c ia d o status ju ríd ic o .

Capítulo CLXXXI. Enquadramento C ientífico............................................................... 1267


1811. S im ilitude com a básica. 1812. P o stu lad o s inerentes. 1813. F u n ç ã o das p re s­
tações. 1814. P resença d a v o n tad e. 1815. L egalidade da c o m p le m e n ta rid ad e . 1816.
A cesso ried ad e das no rm as. 1817. S em elhança de p ro p ó sito s. 1818. A fetação da n o rm a
p ú b lic a . 1819. C u id ad o d o estu d io so . 1820. C lassificação d e rra d e ira .

Capítulo CLXXXII. Objetivo e Papel dos Fundos de P ensão..................................... 1269


1821. C o m p le m e n ta d o r d o E stado. 1822. I n d u to r acessório d a a ssistê n cia social.
1823. P re p a ra d o r da ap o se n ta çã o . 1824. A ssu n ç ão d e re sp o n sa b ilid ad e s. 1825. P olítica
d e re c u rso s h u m an o s. 1826. R e n o v ad o r do q u a d ro d e em pregados. 1827. F in a n c ia d o r
d e p ro je to s nacio n ais. 1828. P o p u la riz ad o r de capitais. 1829. P o u p a n ç a in d iv id u a l e
coletiva. 1830. In v e stid o r in stitu c io n a l.

Capítulo CLXXXI11. Princípios A plicáveis...................................................................... 1275


1831. A u to n o m ia d a v o n tad e. 1832. Im p rescritib ilid a d e d a s p re staç õ es. 1833. C o n h e ­
c im e n to d a s n o rm a s pactuadas. 1834. R em issão à legislação. 1835. A cesso ried ad e da
in stituição. 1836. C o m p lem en tarid ad e do benefício. 1837. D ireito a d q u irid o . 1838. Re­
serva legal, 1839, A lo ju ríd ic o perfeito . 1840. S olid aried ad e d o sistem a.

Capílulo CLXXXIV. Aplicação e Interpretação.............................................................. 1278


1841. In dubio pro mísero. 1842. N o rm a m ais favorável. 1843. Ó tica extensiva. 1844.
V isão restritiva. 1845. R etroeficãcia benéfica. 1846. U so d a analogia. 1847. R espeito
à v o n tad e, 1848. P o ssib ilid ad e de rem issão. 1849. N o rm a do te m p o d o fato. 1850.
R e co m en d a ç õ es finais.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

S u m á r io 23
Capítulo CLXXXV. Presunções V álidas............................................................................ 1.288
1851. V alidade da c o n cessão oficial. 1852. In scrição d o p a rticip a n te . 1853. Pagam ento
d o d esco n tad o . 1854. H igidez d o segurado. 1855. M orte d o titular. 1856. D e p e n d ê n ­
cia econôm ica. 1857. P e n sã o alim en tícia. 1858. In c ap a cid a d e laborai. 1859. Regim e
financeiro. 1860. R egistros con táb eis.

Capítulo CLXXXVI. Tendências H odicrnas.................................................................... 1293


1861. F u n d o m u ltip a tro c in a d o . 1862. Serviços assisten ciário s. 1863. L iberdade de in ­
vestim en to s. 1864. D ivisão d e encargos. 1865. In d e p e n d ê n c ia da básica. 1866. Perso­
nalização da entidade, 1867. Plano de contribuição definida. 1868. R egim e fin an ceiro de
capitalização. 1869. Setortzação pro fissio n al. 1870. T erceirização d o s serviços.

Capítulo CLXXXVII. Justiça C om petente....................................................................... 1299


1871. V ín cu lo e n tre se g u ra d o ra e se g u rad o . 1872. Elo e n tre p a tro c in a d o ra e p a tro c i­
nada. 1873. Liam e e n tre paL rocinadora e p a rtic ip a n te . 1874. R elação e n tre e n tid a d e
e p a rtic ip a n te . 1875. E n v o lv im e n to da p ro v e d o ra com o e m p re g ad o . 1876. P essoas
físicas e ju ríd ic a s e e n te s su p e rv iso res. 1877. R elação e n tre e n tid a d e e INSS. 1878.
R elação en tre E FPC e e n te s po lítico s. 1879. P restaçõ es a c id en tá ria s. 1880. A ssocia­
ções e o u tro s.

Capítulo CLXXXVIII. Fontes Form ais............................................................................. 1305


1881. C o n stitu iç ã o F ederal. 1882. C ódigo C om ercial. 1883. C ódigo C ivil. 1884. Lei
básica privada. 1885. R e g u lam en to s d a lei. 1886. A tos n o rm a tiv o s ad m in istrativ o s.
1887. R esoluções d o C G PC . 1888. E sta tu to Social e R egulam ento Básico. 1889. J u ris ­
p ru d ê n c ia ju d ic iá ria e ad m in istrativ a. 1890. P rin cíp io s gerais.

Capítulo CLXXX1X. Doutrina N acion al........................................................................... 1310


1891. S egm ento aberto. 1892. S egm ento fechado. 1893. C álculo a tu a ria l. 1894. M er­
cado d e capitais e c o n tab ilid ad e. 1895. A postilas de cu rso s. 1896. P areceres técnicos.
1897. Seguro p rivado. 1898. M atem ática financeira. 1899. Teses em congressos. 1900.
P erió d ico s especializados,

Capítulo CXC. Sistema Nacional Supletivo.................................................................... 1316


1901. D o m ín io aberto. 1902. D o m ínio fechado. 1903. Seguro de vida, p e c ú lio e in v a ­
lidez. 1904. P rotegidos na área ju ríd ic a . 1905. Seguro a u to m o tiv o o b rig ató rio . 1906.
B enefício em p resarial. 1907. In stitu to s d e a ssistê n cia social. 1908. C o b e rtu ra d o s g rê ­
m ios. 1909. S eguro de tran sp o rta d o ra s. 1910. A ssistência à saúde.

Capítulo CXCI. Relação Jurídica de Previdência C om plem entar........................... 1319


1911. S ecurização da relação. 1912. P essoas envolvidas. 1913. P revid en cializaçáo da
c o b ertu ra, 1914. P ro x im id a d e d o c o n tra to laborai. 1915. Papel da en tid a d e. 1916.
N atu reza do vin cu lo . 1917. A desào à in stitu içã o . 1918. D in âm ica da relação. 1919.
F u n ç ã o d a rem issão. 1920. O b jetiv o da relação.

Capítulo CXC11. Sujeitos da Relação Jurídica................................................................ 1330


1921. P a rtic ip an te e d e p e n d e n te . 1922. P a tro c in a d o r p a rticu la r. 1923. P a tro c in a d o r
estatal. 1924. P ro v e d o r particular. 1925. E n tid a d e m u ltip atro cin a d a. 1926. C o m p a ­
n h ia seg u rad o ra . 1927. Sociedade de capitalização. 1928. M o n te p io associativo. 1929.
E n tid a d e de p revidência fechada. 1930. P lano de p e q u e n o s benefícios.

Capítulo CXC111. Relação Jurídica de Inscrição............................................................ 1335


1931. F o n te s form ais. 1932. N atu reza ju ríd ic a . 1933. P ro c e d im en to in te rn o . 1934. T i­
pos de designação. 1935. D o c u m e n to s exigidos. 1936. D e m o n straç ão d a p rovidência.
1937. D e sc o n stitu iç ão d a d esignação. 1938. A perfeiço am en to do ato. 1939. P re su n ­
ções ú teis. 1940. C o n d içã o ju ríd ic a .

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

24 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capílulo CXCIV. Órgãos Supervisores............................................................................. 1340
1941. E m p resa in stitu id o ra . 1942. M inistério d a P rev id ên cia e Social. 1943. M inistério
da F azen d a, 1944, C o n se lh o d e G estão da P revidência C o m p le m en tar. 1945. Secre­
taria d e P re v id ên c ia C o m p le m en tar. 1946. C o n se lh o N acio n al de Seguros P rivados.
1947. S u p e rin te n d ê n c ia d e Seguros Privados. 1948. C o n se lh o M o n e tário N acional.
1949. C o m issão de V alores M obiliários. 1950. T rib u n a l d e C o n tas d a U nião.

Capítulo CXCV. Dinâmica das Entidades F echadas..................................................... 1344


1951, A provação estatal, 1952. G estão das e n tid a d es. 1953. P o ssib ilid ad e d e fusão.
1954. In terv e n çã o pela SPC, 1955. R e cuperação da EFPC, 1956. R etirad a de p a tro c i­
n ad o ra. 1957. D esistência d e p ro v ed o ra. 1958. D iretoria Fiscal. 1959. F iscalização do
INSS. 1960. L iquidação ex traju d icial.

Capitulo CXCVI. Atos Constitutivos das EFPC ............................................................ 1356


1961. E dital de Privatização. 1962. C o n v ê n io de A desão. 1963. E statu to Social. 1964.
R egulam ento Básico. 1965. C o n selh o de C u rad o res. 1966. D iretoria E xecutiva. 1967.
F u n ç ã o d o P re sid e n te do C o n se lh o de C u rad o res. 1968. A tribuição d o s d iretores. 1969.
C o n se lh o Fiscal. 1970. S ub stitu ição de gestores.

Capítulo CXCVII. Composição das Entidades F echadas............................................ 1362


1971. E stru tu ra das e n tid a d es. 1972, R e p resen tan te d o s p a rticip a n te s. 1973. M o n ta ­
gem d o s c o n se lh o s. 1974. R eq u isito s dos c o n se lh e iro s, 1975, E x p eriên cia a d m in is­
trativa. 1976. id o n e id a d e p rofissional. 1977. N ível su p erio r. 1978. R esponsável pelas
a plicações. 1979. S o lid aried ad e d o s gestores. 1980. R e m u n eração d o s d irig e n tes.

Capítulo CXCVIII. Administração dos Benefícios........................................................ 1380


1981. R e q u erim en to e concessão. 1982. R e aju sta m e n to s p e rió d ico s e episódicos.
1983. R esgate em caso d e afastam en to . 1984. Vesting na dem issão. 1985. R ateio na
e x tin ç ão d a E FPC , 1986. A lterações c o n tra tu a is. 1987. P a g a m e n to s in d ev id o s. 1988.
In te rv e n iê n c ia n o INSS. 1989. C láu su la exp u lsó ria. 1990. C a n ce la m en to do benefício.

Capítulo CXC1X. Fontes de C u ste io ................................................................................. 1396


1991. C o n trib u iç õ e s p a tro n a is. 1992. C o tizaçõ es in d iv id u a is, 1993. R e n tab ilid ad e fi­
n a n ce ira . 1994. R e n d im e n to s p a trim o n ia is e o u tra s fontes. 1995. M odus operandi da
receita. 1996. C o b ra n ça na in ad im p lê n cia . 1997. R e sp o n sab ilid ad e d o a d m in istrad o r.
1998. A líq u o ta s e bases d e c álculo. 1999. D ébito na re tira d a d e p a tro c in a d o ra . 2000.
F ato g e ra d o r d a o brigação civil.

Capítulo CC. Prestações Previdenciárias......................................................................... 1401


2 001. N a tu rez a e papel. 2002. C lassificação d o s b enefícios. 2003. R eq u isito s regula-
n ien ta re s. 2004. P erío d o básico de cálculo. 2005. Salário real d e p a rticip a çã o . 2006.
A tu alização m o n etá ria . 2007. Salário real de benefício. 2008. C oeficientes d o salário
real de ben efício . 2009. R enda m en sal inicial. 2010. L íq u id o a receber.

Capítulo CC1. Benefícios em Espécie................................................................................ 1409


2011. A u x ílio -d o e n ça . 2012. A p o sen ta d o ria p o r in validez. 2013. A p o sen ta d o ria espe­
cial. 2014. A p o sen ta d o ria p o r idade. 2015. A p o sen ta d o ria p o r tem p o de contribuição.
2016. A bono anual. 2017. Benefícios em razão d a m atern id ad e. 2018. Benefícios d o s
d e p en d e n te s. 2019. P ecúlios do p a rticip a n te . 2020. Valor d o s benefícios.

Capítulo CCII. Serviços A ssistenciários.......................................................................... 1417


2021. M éd ico -h o sp italar. 2022. A te n d im e n to o d o n to ló g ic o . 2023. R em édios in natura.
2024. S alário -alim en tação . 2025. E m p ré stim o s su b sid ia d o s. 2026. A qu isição d e bens
du ráv eis. 2027. Bolsas de e stu d o . 2028. F in a n c ia m e n to para a h ab itação . 2029. P rep a­
ração p a ra a ap o se n ta çã o . 2030, N alu reza ju ríd ic a d o s pag am en to s.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

S u m á r io 25
Capítulo CCII1. Regimes Financeiros............................................................................... 1421
2031. D efinições prelim in ares. 2032. C apitalização clássica. 2033. R epartição sim ples.
2034. C ap itais d e c o b ertu ra. 2035. D espesas c o rren tes. 2036. O rç a m e n tá rio o u caixa.
2037. R epartição versus capitalização. 2038. T ran sferên cias líquidas. 2039. Regim e da
Lei n. 3.8 0 7 /1 9 6 0 . 2040. O pção d a Lei n, 6 .4 3 5 /1 9 7 7 .

Capítulo CC1V. Tipos de Plano........................................................................................... 1428


2041. B enefício d efin id o . 2042. C o n trib u iç ã o d efinida. 2043. A b o rd ag em híbrida.
2044. P o rcen tag em n o s salários. 2045. P o u p a n ç a (sflvingpíans). 2046. P o u p an ça-ap o -
se n tad o ria. 2047. C o m p ra de ações. 2048. P articip ação n o s lucros. 2049. P lano ã vista
o u diferido. 2050. P ro g ram a sim p lificad o de a p o se n la d o ria s.

Capítulo CCV. Cálculo Atuarial.......................................................................................... 1433


2051. N oções h istó ricas. 2052. E le m en to s m ín im o s de a tu a ria . 2053. R eserva m ate­
m ática. 2054. Reserva n ã o m atem ática. 2055. Reserva de po u p an ça e d e co ntingência.
2056. Reserva técnica, c o m p ro m etid a e não c o m p ro m etid a. 2057. E quilíbrio, su p e ráv it
e déficit técnicos. 2058. F u n d o s de solvência. 2059. C arreg a m e n to no prêm io. 2060.
N oções e lem en tares de m atem ática financeira.

Capítulo CCV1. Aplicações Econômicas e Financeiras.............................................. 1442


2061. T ítu lo s d e c réd ito . 2062. F u n d o s de re n d a fixa e variável. 2063. L etras m o b i­
liárias. 2064. M ercado d e câm bio. 2065. O u ro físico. 2066. M ercado d e ações. 2067.
A quisição de im óveis e em p resas. 2068. C a d e rn e ta de p o u p a n ça . 2069. O p e raç õ e s sob
in te rm ed iaç ã o . 2070. M ercado d e fu tu ro e d e opções.

Capítulo CCVI1. Práticas Contábeis.................................................................................. 1452


2071. N o rm a s regulares. 2072. C rité rio s gerais d e c o n ta b ilid ad e . 2073. P lan o d e C on-
tas-P adrão. 2074. E xercício social. 2075. D espesas assistenciárias. 2076. R eservas m a ­
tem áticas. 2077. A plicação em ações. 2078. A tualização financeira. 2079. A valiações
de b en s. 2080. Im u n id a d e trib u tá ria .

Capítulo CCVII1. Direito Complementar Procedim ental............................................ 1457


2081. N atureza jurídica. 2082. O bjetiv o s do elo adjetivo. 2083. C a racterísticas form ais.
2084. N o rm a s re g u la d o ras. 2085. Ó rgão d e cisó rio e ap reciador. 2086. S ujeitos d a re la ­
ção. 2087. R ecurso de apelação. 2088. E feitos ju ríd ic o s. 2089. Prazos para in te rp o si­
ção. 2090. P rin c íp io s com patíveis.

Capítulo CCIX. Penalidades Administrativas................................................................ 1462


2091. Q u estõ es in tro d u tó ria s . 2092. C a rac te rístic as da infração. 2093. A dvertência
ad m in istrativ a. 2094. S u sp en são do exercício. 2095. ln ab ilita çã o profissional. 2096.
M ulta p e cu n iária . 2097. R esp o n sab ilid ad e pessoal. 2098. N o rm a s pro ced im en tais.
2099. G a ran tia de in stân c ia. 2100. R eincidência delitiva.

Capítulo CCX. Direito Penal Com plem entar.................................................................. 1477


2101. N orm as aplicáveis. 2102. N a tu rez a do p ro c ed im e n to . 2103. T ipificação d o ilí­
cito a d m in istrativ o . 2104. C lassificação d a s infrações. 2105. N otitia crim inis. 2106.
Ó rgão n o tifie ad o r e ju lg a d o r. 2107. S anções a d m in istrativ as. 2108. R ecursos in te rp o -
níveis, 2109. In scrição d a dívida. 2110. P rescrição da p unição.

Capítulo CCXI. Embaraços Conjunturais....................................................................... 1482


2111. C o n c en traç ã o financeira. 2112, G aran tia de viabilização. 2113. S olidariedade
n o s fu n d o s m u ltip atro cin a d o s, 2114, In c h aç o e n e p o tism o . 21 15. D e se q u ilíb rio na
p a rticip a çã o in d iv íd u o /so c ie d ad e . 2116. P rofissionalização da gestão. 2117. D esco­
n h e cim en to do sistem a. 2118. A plicação de reservas técnicas. 2119. C re d ib ilid a d e da
in stitu iç ã o . 2120. E litism o acidental.

C urso df D ir f . i t o P R r v iD C N c u A R i o

26 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capitulo CCXII. Previdência Pública C om plem entar.................................................. 1488
2121. R egras co n su ltáv eis. 2122. O rigem histórica. 2123. F iliação d o p a rticip a n te .
2124. In sc riçã o d o s ben eficiário s. 2125. F o n te s d e c u steio . 2126. R eco lh im e n to da
c o n trib u iç ã o . 2127. P restaçõ es á disp o sição . 2128. R egim e fin an ceiro . 2129. N a tu rez a
ju ríd ic a . 2130. P rin c íp io s a p ro p riáv eis.

Capítulo CCXII1. Equilibrio Financeiro e Atuarial....................................................... 1493


2131. in tro d u ç ã o d a m até ria . 2132. C o n c eito m ín im o . 2133. Significado lógico. 2134.
C ausa e su rg im en to . 2135. C lassificação didática. 2136. N atureza e c o n su b sta n ciaç ã o .
2137. A lcance e a b ran g ên cia. 2138. O bjetivo técnico. 2139. C o n se q ü ê n c ia s ju ríd ic a s.
2140. A plicação prática.

Capítulo CCXIV. D estino do Superávit............................................................................ 1499


2141. In tro d u ç ã o d o tem a. 2142. F o n te form al. 2143. R eserva especial. 2144. T ipo
de p lan o . 2145. E q u ilíb rio a tu a ria l. 2146. D ecisão do C o n se lh o D eliberativo. 2147.
V oliçào d o legislador. 2148. O rigem do su p e ráv it. 2149. A spectos in fracio n ais. 2150.
D e stin atário s d o valor.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

S u m a rio
A presen ta çã o

Em m arço de 2010, de com um acordo com a LTr E ditora, resolvem os agrupar


os q u atro tom os d o Curso de Direito Previdenciário, antes editados, n u m único
volum e.
Assim , os 30 cap ítulos do Tomo I — D ireito Previdenciário, os 109 capítulos
do Tomo II — Previdência Social, os 33 capítulos do Tomo III — Direito Previden­
ciário Procedim ental e os 40 capítulos do Tomo IV — Previdência C om plem entar,
que en tão co n stitu íram os 212 capítulos daquela 3ã edição, que praticam ente se
esg otou nesse m esm o an o de 2010.
Com isso, os leitores tiveram toda a exposição da previdência social nu m
total de 2150 tópicos reunidos, o que perm ite um a co n su lta m ais ordenada desses
m ilhares de in stitu to s técnicos.
Agora, n esta 5® edição, am pliados com as inovações da legislação, ju ris p ru ­
dência e d o u trin a.
C om o sem pre, salientam os que nesta e em o u tras obras alguns tópicos ou
ideias com parecem m ais de u m a vez. Às vezes são reeditados tem as inteiros para
to m a r m ais fácil a pesquisa (p o r exem plo, a decadência e a prescrição com pare­
cem n o s tom os II e III). Até p o rq u e os po stu lad o s ju ríd ico s ora apreciados dizem
respeito à in tro d u ção (I), à m atéria substantiva (Tomo II), aos tem as adjetivos da
previdência básica (Tomo III) e ao co m p lem en tar (Tomo IV).
D iante das m u d anças operadas pela Lei n. 11.941/09, e o advento da P ortaria
MPS n. 548/11, revim os o Tomo III — D ireito Previdenciário P rocedim ental por
inteiro, in clu in d o um capítulo sobre M andado de P rocedim ento Fiscal. No ensejo,
discorrem os sobre ação regressiva do INSS e a natureza alim entar das prestações
previdenciárias.
P erm anece a m esm a preocupação de oferecer aos estu d an tes, profissionais
de D ireito, professores e m agistrados um guia sim ples, prático e exposilivo dessa
m atéria tão enciclopédica que é o D ireito Previdenciário.

W lad im ir N ovaes M artinez

C u r s o d l- D i r e i t o P r e v i d e n c í á r i o
Apresentação
I
T omo I
I

N oções de D ireito P r e v id e n c iá r io
Capítulo I

C o n c e it o S in t é t ic o

À anacrô n ica distinção entre D ireito Previdencial e D ireito P revidenciário —


esta últim a, um a expressão consagrada pela d o u trin a e ju risp ru d ên c ia e pelo uso
com um — , relativam ente ao títu lo do ram o ju ríd ico discip lin ad o r da proteção
social, acresce-se a reservada à seguridade social e ao seu conteúdo.
Uma fórm ula adotada pela Carta Magna de 1988, segundo a qual a seguridade
social é “co n ju n to in teg ra d o de ações de iniciativa dos P oderes P úblicos e da socie­
dade, destin ad as a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência
social” (art. 194), propicia novos elem entos ao novel cam po ju ríd ico .
P ressu p o n d o diferença entre seguridade e previdência, pelo m enos em term os
co n stitu cio n ais, esta ú ltim a espécie daquela, acolhe-se tam bém a versão consoante
a qual a p rim eira é técnica derivada, p o r via de evolução, da segunda. Nesse caso,
poder-se-ia a d o tar n o m en clatu ra co rresp o n d en te, p. ex., a D ireito Securitário.
N ada im pede, po rém , perm aneça D ireito Previdenciário, largam ente consagrado,
ab rangendo, então, não só as relações ju ríd icas de previdência em si e as de assis­
tência, com o as p ertin e n te s às ações de saúde.
E m bora na seguridade social seja m enos visível o cálculo atuarial, o nom e Di­
reito Previdenciário é singelo e não olvida de todo sua origem e objetivo, pois sob
esse aspecto certas características do seguro social lam bém assinalam os serviços
da assistência e da saúde.
Q uestão igualm ente im p o rtan te é o universo de aplicação. M antém -se
circ u n scrito à p rev id ência e aos p o u c o s benefícios assisten ciário s o u abrange
a problem ática da saúde? Na prim eira hipótese, com o fica esta últim a? Assevera
lap id arm en te a Lei M aior ser a saúde um direito de todos e dever do Estado. Diante
da im possibilidade m aterial de o governo m inistrá-la satisfatoriam ente, estão entre
os seus p rin cip ais q u estio n am en to s saber se hã potestade ou direito subjetivo ao
aten d im en to dessas d uas últim as políticas evidenciadas.
C om o sem pre sucede, defin ir é o u tro em baraço. Para João Antônio Guilhern-
Bemard Pereira Leite, D ireito P revidenciário é “co n ju n to de n o rm as e prin cíp io s
d estinados a d iscip lin ar a prevenção e a reparação dos riscos sociais, através de
atividade do E stad o ” (C urso Elementar de Direito Previdenciário, p, 43).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e \ i d e n c i â r i o


Em sua posição, deixa clara a distinção: princípio não é n o rm a e, talvez,
tam bém não seja fonte formal. Inclui a prevenção com o propósito, m as, h isto rica­
m ente, esse esforço ad m inistrativo está reduzido a pouco ou nada e são raríssim os
os dispositivos legais nesse sentido. Lim itou os riscos apenas aos sociais, porém , na
realidade, o âm bito é m aior. F ixou-se tão som ente no papel do EsLado, restringindo
o alcance, esquecendo-se do em penho particu lar nesse sentido.
Fides Angélica Omm ati (Manual Elementar de Direito Previdenciário, p. 23)
tem -no com o u m “co n ju n to de norm as e princípios que regem as relações ju ríd icas
deco rren tes da proteção da pessoa contra os riscos sociais, ou seja, contra os riscos
que dizem respeito à m an u ten ção da pessoa que exerce atividade re m u n e rad a e
dos q u e delas dep en d em eco n o m icam en te”.
A definição é abrangente, pena tam bém se ter centrado nos riscos sociais, ex­
cluindo a aposentadoria por tem po de contribuição e se esquecido do não exercente
de atividade (facultativo). Mas não confundiu o ram o jurídico com a técnica protetiva.
Am bos p retendem defesa dos riscos, m as estes n ão têm m aterialidade, pois
não passam de relação m atem ática. A ludiam aos sinistros ou contingências, os
deflagradores da proteção.
Para M oacyr Velloso Cardoso de Oliveira, é: “C o n ju n to de princípios e norm as
ju ríd icas destinadas a p ro teg er os q u e exercem atividade rem u n erad a e seus d e p e n ­
den tes e, em certos casos, toda a população, nos eventos previsíveis de suas vidas,
geradores de necessidades vitais, m ediante um a organização criada pelo Estado,
tendo com o base econôm ica um sistem a de seguro obrigatório, visando à realiza­
ção da ju stiç a Social” (Previdência Social, p. 52).
O conceito corrige o esquecim ento de Fides Angélica, m as insiste nos “eventos
previsíveis”, possivelm ente qu eren d o dizer contem plados em hipótese n a lei, al­
cançando os não previsíveis. C ircunscreve-se ao Estado, olvidando, da m esm a for­
m a, a previdência com plem entar, conflitando “toda população” (inclui não exer-
centes de atividades), com “seguro obrigatório" e, com o fim, idealiza um a ju stiça
social, am pliando em dem asia o alcance.
Inicia-se falando do ram o ju ríd ico , m as acaba descrevendo o seu principal
objeto. Q uem oferece a proteção social é a previdência social; o Direito P reviden­
ciário não passa de um in stru m en to dela.
M o^arí Victor Russomano, ao visualizar o D ireito Previdenciário, divide-o em
três partes: a) visa a proteger os beneficiários q u an d o da deilagração de riscos; b)
enu m era as prestações e estabelece os m étodos de cálculo; c) dispõe sobre o custeio
(Curso de Previdência Social, p. 49).
Além de não d istin g u ir a técnica com o ram o ju ríd ico , p o r vezes, este é co n ­
fundido com a sim ples legislação.
Jefferson Daibert concebe-o com o “o co n ju n to de leis que têm por finalidade
específica assegurar aos q u e trabalham e aos seus d ep en d en tes um a estabilidade
econôm ica e biológica, através da proteção que lhes garante o E stado” (Direito
Previdenciário e Acidentário do Trabalho Urbano, p. 4).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

34 W lt4 íiin iir N o v a e s M a r íi n e z


C o n ju n to dc leis (o u iodas as d em ais n o rm as, com o ele g aran te a seguir)
representa a legislação e nada mais; “estabilidade econôm ica e biológica” é expres­
são p o r dem ais larga para ter utilidade e, tam bém , quem não trabalha está protegido
por essa legislação.
Destes conceitos d o u trin ário s, resulta certa contiguidade entre D ireito Pre­
videnciário e previdência social, com o ressaltado repetitivam ente. Na descrição,
pressente-se fortíssim a tendência de se evidenciar a técnica p rotetiva em d etrim en ­
to do ram o ju ríd ico , m as, possivelm ente, não existe outro co n h ecim en to hum ano
em que a fusão seja tão grande. Por isso, alguns estudiosos, am antes de sua ciência,
às vezes, se deixam levar pela prevalência do prim eiro sobre a segunda.
D ireito P revidenciário é um ram o de direito público discip lin ad o r de relações
jurídicas su b stan tiv as e adjetivas presentes no bojo da previdência social pública
o u privada, em m atéria de custeio e prestações, que objetiva a realização dessa
técnica de proteção social.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 1 — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 35
Capítulo II

E s c o r ç o H is t ó r ic o

As técnicas protetivas sociais devem ter pelo m enos 4.000 anos, mas orga­
nizada m etodicam ente, a previdência social é de 1883 (A lem anha, de O tto von
Bism arck). A brasileira, de 1923 (Lei Eloy C haves).
O D ireito Previdenciário tem praticam en te a m esm a idade, u m pouco m enos.
Teve início q u an d o a legislação, tan to na E uropa qu an to no Brasil, se destacou das
dem ais disposições (p rin cip alm en te na esfera do D ireito A dm inistrativo) e teve de
ser aplicada, integrada e interpretada, consoante princípios típicos. Na década de
20, q u an d o os benefícios com eçaram a ser concedidos em larga escala, surgiram as
prim eiras dúvidas. C om elas, a ciência jurídica.
O im p u lsio n ad o r das praxes adotadas foi o D ireito A dm inistrativo. Afinal,
pelo m enos desde 1888, deferiram -se prestações para os servidores civis e m ilita­
res e, rem otam ente, desde 10.1.1835, im peravam os seguros m ú tu o s previstos na
C onstituição F ederal de 1824 (v. g., M ONGERAL). Mas, com o se verá na biblio­
grafia, só no final do século XIX, passou-se a estu d ar a m atéria.
O prim eiro livro seria de Carios Victor Boisson ( “E studos das fórm ulas e tarifas
do M ontepio G eral”, Rio, Tip. Eleuzinger, 1881), n a esfera da previdência privada.
C ritério válido para o m arco da criação do ram o ju ríd ic o po d e ser o da p rim ei­
ra lei im portante; ela provocou análises e deflagrou perplexidades. N esse caso, será
o D ecreto Legislativo n. 3.724/1919 (seguro de acidentes do trabalho).
A m ais antiga m enção da designação da cadeira deve-se a Celso Barroso Leite e
Luiz Assumpção Paranhos Veloso (“Previdência Social”, p. 246). A utilização em um tí­
tulo de livro é prioridade de Sully Alves de Souza (“C urso de Direito Previdenciário”).
G rande im p u lso sobreveio com o D ecreto Legislativo n. 4.682/1923, co n h eci­
do com o Lei Eloy M arcondes de M iranda Chaves. Vários opúsculos iniciais foram
editados na m esm a época.
Pelo D ecreto n. 19.433/1930, foi criado o M inistério do Trabalho, Indústria
e Com ércio.
Igualm ente im portantes são as leis criadoras dos ex-IAP C onvém não esque­
cer a Lei Orgânica do Seguro Social do Brasil (Decreto-lei n. 7.526/1945 e Decreto
n. 35.448/1954). O Decreto-lei n. 7.036/1944 deu grande im pulso à proteção aci­
dentaria. O prim eiro critério vinculando o salário m ínim o é estabelecido pelo
Decreto-lei n. 7.835/1945. Surge o D epartam ento N acional de Previdência Social

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z

m
(Decreto-lei n. 8.742/1946). Em 1947, iniciam -se os estudos prelim inares com vistas
ã LOPS. Em 1952, o auxílio-m aternidade, no ex-IAPI. Em 1953, todas as CAP’s são
fundidas na CAPFESP (Decreto n. 32.667/1953). Em 1957, foi criado o SASSE (Lei
n. 3.149/1957).
Na área rural, o principal veículo norm ativo foi a Lei n. 1.824/1953 (trato-
rista ru ral). O D ecreto-lei n. 5.452/1943 (CLT) tem dispositivo a contrario sensu,
referente à in d ú stria rural, depois conhecida com o agroindústria. O E statuto do
T rabalhador R ural (Lei n. 4.214/1963) po n tu a a disciplina, desenvolvendo-se
ex trao rd in ariam en te com a Lei C o m p lem en tar n. 11/1971 (PRORURAL). H istori­
cam ente, n ão se pode olvidar a Lei n. 1.150/1904.
C om a Lei O rgânica da P revidência Social — LOPS (Lei n. 3.807/1960) é dado
grande passo. Foi m uito significativa e até hoje são co n su ltad o s os seus regula­
m entos: D ecretos ns. 48.959-A /1960 (RGPS), 60.501/1967 (RGPS) e 72.771/1973
(RRPS). Sobrevêm , p o r ordem de relevância, o D ecreto-lei n. 66/1966, a Lei
n. 5.890/1973 e as d uas C onsolidações das Leis da Previdência Social — CLPS
(D ecretos ns. 77.077/1976 e 89.312/1984). Por via de conseqüência, os D ecretos
n. 83.080/1979 (RBPS) e n. 83.081/1979 (RCPS).
Em 1962, surge o décim o terceiro salário; e, em 1963, o salário-fam ília. Em
31.12.1966, desaparecem os lAPs e, em I a.1.1967, é fundado o INPS (D ecreto-lei
n. 72/1966). Em 1974, é criado o M inistério da Previdência e A ssistência Social.
O salário -m atern id ade é in stitu íd o com o prestação previdenciãria (Lei n.
6.136/1974). O SASSE é absorvido pelo INPS e, em 1977, desaparece o FUNRURAL
(Lei n. 6.4 3 9 /1 9 7 7 ), criando-se o SINPAS.
F inalm ente, o Plano de C usteio e O rganização da Seguridade Social — PCSS
(Lei n. 8.212/1991) e seu decreto regulam enlador, o RCPS (Decreto n. 356/1991),
bem com o o Plano de Benefícios da Previdência Social — PBPS (Lei n. 8.213/1991)
e seu decreto regulam entador, o RBPS (Decreto n. 357/1991). Depois da substituição
pelos Decretos ns. 611/91 e 612/91, e, depois, ns. 2.172 e 2.173, am bos de 1997,
estes dois regulam entos foram substituídos pelo R egulam ento da Previdência Social
— RPS (Decreto n. 3.048/1999).
A p artir da Lei n. 9.032/1995, com as Leis ns. 9.528/1997, 9.711/1998,
9 .7 3 2/1998 e 10.666/2003, foi b astante m odificada a ap o sen tad o ria especial.
A E m enda C o n stitucional n. 20/1998 reform ulou os fun d am en to s básicos da
previdência social, a par da Em enda C o nstitucional n. 19/1998 (reform a ad m in is­
trativa), sobrevindo, em seqüência, a Lei n. 9.876/1999 (fator previdenciário) e a
Lei n. 9.983/2000 (crim es previdenciários).
A E m enda C o n stitucional n. 41/2003 prom oveu profundas alterações na p re­
vidência social do servidor (regulam entada pela M edida Provisória n. 167/2004,
Lei n. 10.887/2004 e O rientação N orm ativa SPS n. 3/2004).
Em m atéria de previdência com plem entar, a Lei n. 6.435/1977 e, no tocante
ao segm ento fechado, o D ecreto n. 81.240/1978. Mais recen tem en te, o Decreto
n. 3.721/2001. R elativam ente ao aberto, o D ecreto n. 81.402/1978. P ertinente
ao seguro privado, o D ecreto-lei n. 73/1966. Por últim o, a Lei C om plem entar n.
109/2001 (Lei Básica da Previdência C om plem entar).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
Capítulo III

T e r m in o l o g ia U s u a l

O D ireito P revidenciário enfrenta sérios problem as sem ânticos. No passado,


foi pior. Às vezes, as in stituições de seguro socia! ou proteção social não são bem
com p reendidas exatam ente p o r causa da linguagem utilizada, geralm ente em pres­
tada de o u tro s ram os jurídicos. Em 1994, ju lg an d o a exigibilidade da contribuição
relativa ao em presário, autô n o m o e avulso (sic), prevista no art. 195, I, da C ons­
tituição F ederal e no art. 3e, I, da Lei n. 7.787/1989, o Suprem o Tribunal Federal
teve dificuldades para in terp re tar gram aticalm ente a expressão “folha de salários”
(aLé 1988, raram en te em pregada na legislação), fazendo-o n u m sen tid o estrito,
obrigando a elaboração da Lei C om plem entar n. 84/1996.
Um tem a que tem im portância e inicia-se com o título do ram o jurídico e da
técnica protetiva.
Os vocábulos, não obstante sua im propriedade, às vezes, parecem p re d estin a­
dos. Antonio Ferreira Cesarino Júnior e Marly A. Cardone nunca conseguiram subs­
titu ir D ireito do Trabalho p o r D ireito Social. D efendiam D ireito Previdencial, m as
prevaleceu Direito Previdenciário. Em Lodo o caso, na previdência com plem entar
é co m u m aquela últim a designação.
A questão, especialm ente n o surgim ento da previdência social e do Direito
Previdenciário, foi decisiva. Geraldo Bezerra de Menezes assinala autores europeus
e nacionais o cupados com isso (Hugo Swicker-Scannevin: “Term inologie der sozia-
tensickerheit"; Manoel de Víado: “In tro d u c ció n a u n a Term inologia de la Seguridad
Social”; Eugênio Perez Botija: “T erm inologia E spanola de Seguridad Social”; no
Brasil, Jacinto A b erA th a r e Paulino Jacques: “E sboço de V ocabulário da Seguridade
Social”, Rio, 1954, apud “O D ireito do Trabalho e a Segurança Social na C o n stitu i­
ção”, p. 422).
Sônia Kasov Sandoval Peixoto fez objetiva incursão no assunto, centrando-se
nas palavras “seg u rid ad e”, “seg u ran ça”, “seguro”, “direito social”, “direito previ­
d en ciário ” ( “Q u estionário sobre o D ireito Social no Brasil”, in RPS n. 8/15). Irany
Ferrari ten to u esgotar o assu n to ( “Segurança Social, seguridade social, proteção
social ou Previdência e A ssistência Social?”, in RPS n. 9/15). Liolúzia de Souza
Costa ex am in o u a term inologia na Itália, m o stran d o ser problem a universal (“F u n ­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

38 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
dam en to s da Previdência Social italiana”, in RPS n. 19/57). Fernando Camargo Dias
deteve-se na m atéria, d istin g u in d o serviço de trabalho [“Relação de serviço e de
trab alh o ”, in RPS n. 59/611).
Com o advento da seguridade social, form alm ente em 1988, as coisas com ­
plicaram -se; para d ar exem plo, qual o destinatário da n o rm a ju ríd ica: segurado
(ligado ao seguro o u previdência) ou beneficiário e, ainda, securitário (ligado à
seg uridade)? Provavelm ente, m anter-se-á a expressão consagrada ( “segurado”),
utilizando-se “a te n d id o ”, para as ações de saúde e “assistid o ”, para a assistência
social. Mas não h á certeza.
Tom ando o seu principal objeto com o indicação, alguns au to res preferem
D ireito da P revidência Social, u n s poucos, fixando-se no étim o da palavra, tam ­
b ém adotam Direito Previdencial. F alando-se em D ireito In fo rlu n ístico , em relação
ao acidente de trabalho. D ireito da S eguridade Social é possível, e pouco usado,
D ireito S ecuritário, reportando-se, então, à seguridade social. A lgum as vezes, se
en co n tra Direito da Segurança Social, especialm ente em P ortugal e nas declarações
in ternacionais. Mas se confirm a D ireito Previdenciário.
M ozart Victor Russo/nano usa D ireito da Previdência Social (“C urso de Previ­
d ência Social”, p. 48). Giorgio Canella, em 1959, preferiu “C orso di D iritto delia
Previdenza Sociale” e Luigi de Litala publica o “D iritto delle A ssicurazione Socia-
le”, dizendo ter escolhido “D iritto delia Previdenza Sociale”.
C onform e relata a m esm a Sônia Kasov Sandoval Peixoto, o In stitu to de D ireito
Social, em reu n ião de 22.2.1978, co n clu iu dever a ciência denom inar-se D ireito
Previdencial ( “D ireito P revidencial”, in RPS n. 6/35).
Octavio Bueno Magano deu a livro de sua lavra o título “L ineam entos de Infor-
tu n ística”, d iferin d o do “D ireito P revidenciário e A cidentário”, d e Jefferson Daibert,
aliás, à época, acrescido da distintiva “Do Trabalho U rb an o ”, to m ad a desnecessária
com a equivalência u rb an o -ru ral da C arta M agna de 1988. Sergio Pinto Martins
p referiu Direito da Seguridade Social.
Na m esm a lin h a de D ireito Previdenciário, com o dito, poder-se-á alvitrar Di­
reito S ecuritário, a despeito deste adjetivo tradicionalm ente infortunístico dizer
respeito exclusivam ente a esta últim a parte, a designação D ireito Securitário pode
ser generalizada p o r ser su p erio r a D ireito da Seguridade Social. Abarca as três in i­
ciativas estatais e privadas co ntem pladas na Lei M aior e ainda encam pa parte do
seguro privado referente à pessoa física, e isso não é pouco.
A técnica p ro tetiva varia de previdência social a seguro social e de segurança
social a seguridade social, quatro concepções distin tas p o r natureza.
C om o dito, no exterior, a dificuldade n ão é m enor. N os E stados U nidos, exis­
te o social security, na A lem anha, o sozial versicherung e n a F rança, a securiíé socia­
le. N a E spanha e M éxico, vale seguridad social, m as na A rgentina pode ser previsión
social. Na Itália, conhece-se previdenza (previdência), assicurazione (segurança) e
sicurezza (seguridade).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o l — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 39
Provindo do latim sccunías, segundo tu d o leva a crer, a m ais antiga referência
ao vocábulo são palavras de Simon Bolívar, ditas em 1819: “O sistem a de governo
m ais perfeito é aquele que produz m aior som a de felicidade possível, m aior som a
de seguridade social e m aior som a de estabilidade política” (“S eguridade Social —
Resum o H istórico — C onceituação C on d en sad a”, Wolmar Gottschall Assumpção,
in RPS n. 6/36).
Largam ente em pregada a partir de 1935, social securíty, em leis am ericanas.
Gildásio Lopes Pereira p ro p u g n a um a assistência social plena, por nós denom inada
de assistência total.
Não im porta a expressão “prev id en ciário ” designar o servidor do órgão ges­
to r (este acabou sendo previdenciarista), pois tam bém não existe direito tributai,
m as, sim , D ireito Tributário. Da m esm a form a, não parece im p o rtan te, o riu n d o de
previdência, abarcar a seguridade social e, em particular, os ram os aberto e fechado
da previdência com plem entar.
C orrelatam ente ao D ireito da Previdência Social, aplaudido p o r alguns au to ­
res, ter-se-ia tam bém u m Direito da Seguridade Social, Lítulos claram ente indicativos,
tanto u m q u an to o outro, da ciência ju ríd ic a cuidada.
Em razão da co n tiguidade com o Direito do Trabalho, o ram o ju ríd ic o ora e n ­
focado serviu-se de designações laborais na m aior parte das situações im próprias,
caso do salário de co n tribuição, salãrio-base e salário de benefício.
De q u alq u er form a, usa term os dito s p ró p rio s qu an d o indica in stitu to s par­
ticulares, caso de filiação, inscrição, d ep endência econôm ica, dependentes, m a­
trícula, vinculação e, especialm ente, segurados. Dá-se exem plo das dificuldades:
qual o significado da palavra “inscrição” no arl. 142 do PBPS? Provavelm ente, quer
dizer filiação e, assim , a carência gradualizada ah im plantada vale para quem estava
filiado em 24.7.1991.
A lguns autores co nfundem inscrição com filiação, assim com o usam “pres­
crição ” referindo-se à decadência, com receio de em pregar os verbos decair ou
caducar. Isso aconteceu no P arecer SR n. 12/1986, exatam ente em que o parecerista
pretendia a distinção entre as duas form as extinlivas do crédito previdenciário.
O bviam ente, o desLinalário não é exatam ente o “segurado” do seguro privado,
mas ele é su p erio r a “associado”, praticam en te em desuso após a LOPS. O p ro te ­
gido é segurado (ou d ep en d en te), m as não apenas isso. Em relação à seguridade
social, é provável prevalecer “beneficiário”, em bora receba prestações.
Tentar su b stitu ir salário de contribuição p o r rem uneração-base de cálculo da
con trib u ição , trocar salãrio-base p o r base de contribuição dos co n trib u in tes in d i­
viduais, m u d ar salário de benefício para base de cálculo do benefício são soluções
inviáveis.
Os estudiosos devem ter o cuidado de perceber as diferenças; as palavras são
im p ortantes. R enda m ensal inicial, tirante o renda, é bastante indicativa da p rim ei­
ra m ensalidade do benefício. N esse sentido, o p ró p rio vocábulo “b enefício” é alvo
de censura p o r se trata r de direito subjetivo.

C urso d e P ik e it o P iih v t d h n c ia k io

40 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
De q u alq u er form a, algum as classificações estão estratificadas pelo uso e, por
isso o “beneficiário s” corresponde a gênero, com p reen d en d o segurados e d ep en ­
dentes; prestações q u er dizer benefícios em d in h eiro e serviços; as em presas se
vinculam e se m atriculam , e os segurados são filiados e inscritos.
O nom e dos benefícios não deixa p o r m enos. Existe u m auxílio-doença e esse
benefício não é auxílio nem se refere ã doença; trata-se de prestação relativa à inca­
pacidade. Q uem está recebendo aposentadoria p o r invalidez, em vez de percipiente
desse benefício, é designado (m esm o q u an d o a aposentadoria não é definitiva) de
aposentado, e este não é concedido apenas nos casos de invalidez, m as tam bém
para o insuscetível de recuperação. Em 1991, o PBPS su b stitu iu aposentadoria por
velhice pela ap o sen tadoria p o r idade, ten tan d o com isso ser previdenciariam en-
te correto e libertando os idosos do estigm a de velhos, com o p ro p u g n a a Lei n.
10.741/2003.
P oucos alcançam o descom passo entre ap o sen tad o ria especial (concedida
para exercenles de atividades insalubres) e aposentadoria de legislação específica
(professor, aero n au ta, ju iz tem porário, ferroviário, jo rn alista, ex-com batente, joga­
d o r de futebol, exilado, anistiado etc.).
C om a E m enda C onstitucional n. 20/1998, em su b stitu ição à aposentadoria
p o r tem po de serviço, consagrou-se a ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição.
Até 4 .4.1991, existiu o m en o r e o m aior valor-teto (sic), p o r sinal, legalm ente
ex tin to nessa ocasião sem terem sido utilizadas essas locuções na lei. Pensão, p ra­
ticam ente em todo o m u n d o , refere-se a rendas de pagam ento co n tin u ad o , m as, no
Brasil, é prestação de dep en d en te de segurado falecido. Na CLPS (arts. 47/53), era
p ensão, m ais adequada. A p artir do PBPS, incluindo a ausência e o desaparecim en­
to, o benefício cham a-se pensão p o r m orte.
Afinal: seguro social ou previdência social será segurança social ou seguridade
social? Nos idos de 1945, em pregava-se seguro social, m as, logo a seguir, se passou
a usar previdência social. Em su bstituição ao INPS, criou-se o In stitu to N acional
do (sic) Seguro Social. A parentem ente, previdência social é instituição ligeiram en­
te avançada em com paração com o seguro social. Elcir Castelo Branco consagrou
“Segurança Social e Seguro Social”, para título de sua obra. Aguinaldo M. Simões,
em 1967, escreveu “P rincípios de Segurança Social”, qualificadora m uito em prega­
da em Portugal, com o p o r Anacleto Viegas ( “M anual de Segurança Social”, Lisboa:
M ultinova, U nião Livreira e C ultural, 1981).
A fração aberta da previdência com plem entar, com origem bem m ais rem ota,
m anteve algum as expressões próprias do seguro privado e do m utualism o, falando
em risco, prêm io, indenização e sinistro. O segm ento fechado pretende a criação
de linguagem particular, referindo-se aos fundos de pensão, copiado do pension
funds am ericano; su b stitu iu segurado p o r particip an te e usa salário de participação,
m ajo ran te e m in o ran te e o u tro s vocábulos m ais, buscando identidade.
Aliás, reporta-se ao seu cam po de atuação com o segm ento fechado; a designa­
ção do órgão gestor tem vários nom es: fundo de pensão, fundação, entidade de pre­

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o í — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io 41
vidência privada, en tidade m antida, fundo de previdência, chegando ao extrem o
de entidade de seguridade social. Tornando necessário distinguir: im plem entar,
su p lem en tar e co m p lem entar ( “P rincípios de D ireito P revidenciário”, p. 477).
N esta divisão, a agudização do fenôm eno foi ainda m aior. Preferem -se beneficiá­
rios (que são os p articipantes e seus fam iliares) para designar os dependentes.
D esnecessariam ente, foram criadas expressões “p ró p ria s” com o carências (requi­
sitos legais), salário real de partição, salário real de benefício, condições de elegi­
bilidades (req u isito s), risco im inente (expectativa de direito ou direito adquirido)
e assim p o r diante.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

42 W la d im ir N o v a e s M a r ü n e z
Capítulo IV
N a t u r e z a J u r íd ic a

A n atureza de q u alq u er en tid ad e é sua característica m ais profunda, seu ser


p ro p riam en te dito e, norm alm ente, axiom ática, indem onstrável, frequentem ente
não carece de explicações. Nessa linha de raciocínio, ninguém duvida ser o Direito
P revidenciário u m ram o jurídico, podendo-se apenas discordar ou não de sua a u ­
to n o m ia ou am adurecim ento.
A essência ju ríd ic a é a n u clearid ad e do ram o jurídico.
Seu prin cip al aspecto é ser especialidade disciplinadora das relações securitá-
rias, co n tid as no cam po do Direito Social ou, se se preferir, no dom ínio m ais am plo
da proteção social.
É tam bém in stru m en to de realização da técnica protetiva, to rn an d o -a possí­
vel p o r m eio de seus in stitu to s. Q u an d o ap u ra se ocorreu ou não a decadência da
co n trib u ição , opera procedim ento com vistas à fixação de obrigação do devedor
ou definição de direito do credor. Tal esforço é técnica previdenciária, não sendo
relevante ter sido transladada do D ireito Civil e aproveitar, q u an d o cabível, d esen ­
volvim ento praticad o p o r o u tras ciências jurídicas.
Não se pode, repete-se, com o é co m u m acontecer, co n fu n d ir previdência so ­
cial com D ireito Previdenciário. U m a, é técnica sociológica; o u tro , um ram o jurí­
dico. A principal natureza da prim eira (pois, tem várias) é ser instituição pública
voltada à p ro teção coletiva de certas pessoas, em determ inadas circunstâncias, im ­
posta ex vi legis, desd obrando-se pelos m eios e finalidades (v. g., prom ove so lidarie­
dade forçada, d istrib u i rendas geográficas e, subjetivam ente, propicia subsistência
etc.). C ostum a ser considerada em função das obrigações criadas. E, assim , seria
institu cio n al (básica) ou co n tra tu al (com plem entar). Em face da filiação au to m á­
tica, da co n trib u ição com pulsiva e de se sujeitarem as prestações às n o rm as de
caráter público, a Previdência Social é instituição obrigatória (até para o segurado
facultativo). Este ú ltim o tem apenas liberdade de nela ingressar.
M esmo na previdência com plem entar fechada, poder-se-ia p ô r em dúvida tratar­
-se de contrato de adesão, pois am bos os polos da relação jurídica e fática deparam -se
com norm as constituídas (por meio do Estatuto Social e Regulam ento Básico da enti­
dade) a serem cum pridas, e pouca negociação com portam . Nem pode haver liberdade
de opção, a com plem entação é o único instrum ento disponível para o segurado.
O D ireito P revidenciário é form al, co rresp o n d en d o ao seu enq u ad ram en to
científico: ram o ju ríd ic o de direito público regulador da previdência social. Seu
p rin cip al escopo, exala e precisam ente, aduz-se, é regulam entar; em term os
form ais, essa técnica é protetiva.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o l — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 43
Capítulo V

E n q u a d r a m e n t o C ie n t íf ic o

E n tendido o D ireito Previdenciário com o ram o jurídico, é preciso postãTo na


árvore do Direito. Principalm ente, tê-lo pertencente ao direito público ou ao direito
privado. N esta últim a análise, não se deve olvidar o fato de tam bém abrigar divisões
relativas a co n trato s de adesão, nitidam ente civis e com características próprias.
Giovanni Tamburi e Picrre Mouton já ten taram ex tern ar a diferenciação d e­
m o n stran d o as d iliculdades inerentes ( “A precária distinção entre regim es priva­
dos e regim es p ú blicos de aposentadorias e p ensões”, in RPS n. 80/392).
Tal classificação pressupõe o exam e dos seus institutos jurídicos, sua finalís-
tica e a natureza da técnica protetiva por ele disciplinada. Não se trata de avaliar
tão som ente q u an to s itens ou lem as se vinculam a cada um a das suas partes para
se definir a prevalência da dependência. N os dois dom ínios, público e privado, p o r
sua natureza, subsistem questões subm etidas ou não à norm a pública.
Dá-se exem plo com a renúncia a direito subjetivo. Há de ser considerada à luz
tia individualidade do titu lar e de sua realização com o ser hum ano. Em am bos os
casos, deve ser expressão da liberdade ínsita à cidadania e, afinal, perm itida (se o
pressuposto é a m elhora de condição do interessado).
Concebido com a com posição ora defendida, de ramo jurídico com segm entos
diferenciados, mas não autônom os, o enquadram ento resta dificultado, problem a igual
ao do Direito Social (quando encam pava o Direito do Trabalho e previdência social).
Mas, m esm o em se tra ta n d o de previdência p riv ad a — com evidenle in­
fluência civilista — fechada ou aberta, e, nesta, a possibilidade de in clu ir o seguro
privado, to d o s os program as cam inham na direção do interesse do Estado de pro-
Leger o indivíduo. Assim, respeitadas as naturais particularidades de cada questão,
grosso modo, o D ireito P revidenciário perlence ao direito público.
Porém , não se trata de ingresso total de u m a área n o u tra sem distinções; alguns
de seus aspectos sofreram a influência do direito privado, sendo necessário, quando
da perquirição, em cada caso, determ inar-se a natureza do tem a objeto da atenção.
N estas considerações, convém sem pre lem brar a natureza alim entar e substi-
tuid o ra da prestação de pagam ento continuado. Pode parecer ótica excessivam ente
científica (ju ríd ica), distinção cerebrina e de interesse apenas dos iniciados, mas,
na verdade, são aspectos essenciais de sua natureza e, p o r isso, indicam o en q u a­
dram en to científico do ram o jurídico.

C u r s o l ie D ir e it o P r e v id e n c iá r io

44 W la d im ir N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo VI

O b jeto e O b jet iv o

A previdência social é a principal, senão a única fonte m aterial do Direito


Previdenciário. O objetivo deste últim o, inconfundível com o da técnica protetiva
(física), é d iscip lin ar as relações ju ríd icas com preendidas em seu bojo (form al).
Vale dizer, fixar, estudar, p erscru tar a relação ju ríd ica previdenciária, nela abarca­
das as de filiação, inscrição, co n tribuições e prestações.
Traduz para o universo ju ríd ico as situações fáticas, descrevendo-as p o r m eio
da legislação e ord en ando-as consoante a construção ju ríd ic a da ordem protetiva.
N ão tem (ou não deveria ter) p o r objetivo m odificar a h ierarquia social, as
condições de trabalho nem a e stru tu ra econôm ica e social do País, m as sim quedar­
-se a reboque das transform ações operadas nas diferentes áreas do conhecim ento
h u m an o , regulando os vínculos decorrentes.
Todavia, p artic u la rm en te na previdência social, diante do fenôm eno da ju ri-
dicidade da técnica protetiva e d o excessivo controle estatal, a n o rm a ju ríd ica afeta
o co m p o rtam en to d o s indivíduos e acaba p o r transform á-los. Até a ju risp ru d ên c ia
e a legislação ad m itirem o novo casam ento d a pensionista sem im p ed ir o direito à
pensão p o r m orte, m uitas uniões livres foram co n stitu íd as co n tra rian d o a intenção
das pessoas (se casarem ). Nesse sentido, am plia-se o objetivo do D ireito P reviden­
ciário qu an d o , p o r m eio da legislação, o E stado altera a e stru tu ra social.
A d istribuição de renda, resíduo da previdência social, d eterm in an te da co n ­
dição de vida de m u itas pessoas, resulta da m odalidade com a qual a n o rm a ju ríd ica
regula as relações h u m anas. O D ireito P revidenciário transform a-se em in stru m en ­
to de operação e, d estarte, to rn a reais as providências necessárias.
F u n d am en talm en te, seu objetivo é estu d ar as instituições ju ríd ic a s relacio­
nadas com a aplicação, integração e in terpretação da norm a ju ríd ica. Não se c o n ­
fu n d in d o com a técnica p rotetiva, n ão lhe dizem respeito q uestões envolvendo de~
m ografia ou sociologia, estatística o u psicologia, em bora essas divisões científicas
tenham participação no desenvolvim ento securitário. Mas, ao im p o rtar técnicas de
o u tras ciências, ju ríd icas ou não, deve-se proceder à devida adaptação, transfor­
m ando-as em in stru m e n to p ró p rio da proteção social.

C u r s o p r. PiRriTO PRF.vipr.NaÁRio
T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
Capítulo VII

F o n t e s F o r m a is

71. Proposições internacionais. 72. Postulados constitucionais. 73. Leis


S u m á r io :
ordinárias. 74. Decretos regulamentares. 75. Portarias ministeriais. 76. Normas
administrativas. 77. Pareceres normativos. 78. Medidas Provisórias. 79. Direito
comparado. 80. Pensamento doutrinário.

As fontes de Direito Previdenciário são maLeriais (previdência social, básica


e com plem entar, e certas instituições e in stitu to s trabalhistas) e form ais. Fstas
últim as representadas essencialm ente por: a) norm as legislativas; b) ju risp ru d ên ­
cia; e c) dou trin a. A lguns desses títulos, nesta o p o rtu n id ad e, são exam inados em
particular.
As norm ativas são: a) internacionais; b) constitucionais; c) legais; e d) regu­
lam entares. A ju risp ru d ên cia é adm inistrativa e judiciária. A d o u trin a, nacional e
estrangeira.
Francisco Costa Neto ad o to u a seguinte ordem : a) Lei F undam ental; b) as
leis em geral; c) a CLPS; d) decretos legislativos; e) decretos regulam entares; 0
portarias e circulares; g) costum es; h) ju risp ru d ên c ia adm inistrativa e prejulgados;
i) ju risp ru d ên c ia ju d icial; j) relação ju ríd ica de trabalho; k) princípios gerais de
D ireito, equidade e analogia; 1) fontes subsidiárias; e m ) d o u trin a (“F ontes form ais
do Direito P revidenciário B rasileiro”, in RPS n. 17/7).
Algum as fontes sociológicas podem ser colhidas na d o u trin a social da Igreja,
contidas nas encíclicas papais. Nesse sentido, convém consultar: Rerum N ovarum
(1891), Quadragésimo Anno (1931), Divini Redemptoris (1937), Mater et Magistra
(1961), Pacem inTerris (1963), Gaudium etSpes (1965), Laborem Excercens (1981),
desenvolvidas p o r M aria Ignez Amadei ( “As contingências sociais n a D outrina So­
cial da Igreja”, in RPS n. 55/348). Sem olvidar “João Paulo II, Profeta do Ano 2 0 0 0 ”,
organizado p o r Frei Luís Maria A. Sartori (SP, LTr Edit., 1996).
71. P ro p o sições in te rn a c io n a is — F ontes internacionais, de aplicação lim i­
tada, têm significado no estudo de casos e na análise de diferentes situações. São
inú m eras no pós-guerra, q u an d o o D ireito Previdenciário ex p erim en to u desen ­
volvim ento e foram criados centros de estudos, instituições m ultilaterais e e n ti­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

46 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
dades in ternacionais. Refletem em m uitos exem plos o estágio da ciência protetiva
ao tem po de sua elaboração e, em sua m aioria, quedam -se, n o rm ativam ente, na
dep endência de ratificação pela regra nacional.
As prin cip ais são as seguintes: a) D eclaração U niversal do C idadão — 1789;
b) Tratado de V ersalhes — 1919; c) C onvenções e R esoluções da O rganização In ­
tern acio n al do Trabalho — OIT; d) D eclaração de Filadélfia — 1944; e) R eunião de
Paris — 1945; 0 D eclaração dos P rincípios Sociais da A m érica, de C hapultepec —
1945; g) D eclaração dos D ireitos do H om em , da O rganização das N ações U nidas
— ONU — 1948; h) C arta Internacional A m ericana de G arantias Sociais, de Bogo­
tá — 1948; i) D eclaração A m ericana dos D ireitos e Deveres do H om em — 1948; j)
C arta Social E uropéia, de Torino — 1961; k) Ato de Lima — 1967; I ) Declaração
de O axtepec — 1969; m ) D eclaração dos P rincípios F u n d am en tais do D ireito do
Trabalho e da Seguridade Social, Q uerétaro — 1974; n) Tratados Internacionais
{Luxem burgo — D ecreto n. 60.968/1971, P ortugal, E spanha, Itália, Ilha de Cabo
Verde, U ruguai, A rgentina, Paraguai e C hile).
E nfaticam ente, diz a D eclaração dos D ireitos do H om em , de 1948: “1. Todo
ho m em tem direito a u m padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família
saúde e bem -estar, inclusive alim entação, vestuário, habitação, cuidados m édicos
e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desem prego,
doença, invalidez, viuvez, velhice, ou outros casos de perda dos m eios de subsis­
tência em circu n stân cias fora de seu controle. 2. A m aternidade e a infância têm
direito a cu id ad o s e assistências especiais. Todas as crianças, nascidas d en tro ou
fora do m atrim ô n io , gozarão da m esm a proteção social.”
72. P o stu la d o s c o n stitu c io n a is — P articularm ente, a p artir de 1946, quando
o Texto M aior dispôs organicam ente sobre a m atéria, os dispositivos constitucionais
foram significativos para a com preensão do fenôm eno proteção social. A p artir de
1988, invocados assiduam ente para o reconhecim ento de direitos e validade de d is­
positivos legais (e até regulam entares, caso do lim ite m ínim o de idade para a com-
plem entação de aposentadoria), tornou-se cuidado a ser praticado com frequência.
Caso clássico e lição sobre o tem a é a discussão dos 147,06% ( “A posentadorias e
p ensões do INSS — O reajuste de 147% ”, coletânea organizada p o r G ilmar Ferreira
M endes, SP, 1992) e a contribuição de 20,0% dos em presários, autônom os e avulsos.
M oacyr Veíloso Cardoso de Oliveira relatou a presença da Previdência Social
nas co n stitu içõ es anteriores (“A P revidência Social na fu tu ra C o n stitu ição ”, in RPS
n. 57/466). João Casimiro Costa Neto estu d o u -a nas cartas m agnas ( “Previdência
Social”, in RPS n. 11/47).
a) Constituição Federal de 1824: A C arta M agna m o nárquica de 1824 foi o u to r
gada p o r D om Pedro I, â altu ra das necessidades do m om ento histórico. C onform e
seu art. 102, XI, Sua M ajestade podia conceder “recom pensa de serviços feitos ao
E stado, d ep en d en d o as m ercês pecuniárias da aprovação da A ssem bleia G eral”.
Sua única disposição securitária é o art. 179, XXXI: “A constituição tam bém
garante os socorros p ú b lico s”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 47
O Ato A dicional de 1834, em seu art. 10, dispõe sobre a com petência das
A ssem bleias Legislativas. Entre o u tras coisas, podiam legislar sobre “casas de so­
corros públicos, con v en tos e qu aisq u er associações políticas ou religiosas” (Lei n.
16, de 12.8.1834).
b) Constituição Federal de 1891: A Lei M aior de 1891 é avara em relação à p re­
vidência social, nâo rep roduzindo seq u e r a norm a de proteção ao m utualism o. É,
no en tan to , a p rim eira a co n ter a expressão “ap o sen tad o ria”, q u an d o determ ina: “A
apo sen tad o ria só poderá ser dada aos funcionários públicos em caso de invalidez
no serviço da N ação” (art. 75).
O C ódigo C om ercial, de 1850, dispôs sobre m atéria trabalhista e regulou o
seguro p rivado m arítim o, esboçando a indenização e form a ru d im e n ta r de seguro
de acidentes do trabalho. O R egulam ento n. 737, de 25.11.1850, de m odo geral,
assegurou aos em pregados, vítim as de acidentes do trabalho, a percepção de salá­
rios não ex ced en te a três meses.
Com a E m enda C onstitucional de 3.9.1926, o art. 54, § 28, dita: “Legislar
sobre licença, ap o sen tad oria e reform as, n ão se p o d en d o conceder, nem alterar, por
leis especiais”. P or ap o sentadoria, à época, se en ten d ia a previdência social, quase
inteiram ente afastada dos textos constitucionais.
c) Constituição Federal de 1934: A C arta M agna de 16.7.1934 apresenta in ú ­
m eras disposições sobre a proteção social. No art. 5Q, XIX, c, estabelece com pe­
tência da U nião para fixar regras de assistência social, en q u a n to no art. 10 divide
a responsabilidade com os Estados para “c uidar da saúde e assistência públicas”
(inciso II) e “fiscalização à aplicação das leis sociais” (inciso V).
M antém a atribuição do Poder Legislativo para disciplinar as aposentadorias
(art. 39, inciso 8, d), fixa a proteção ao trabalhador (art. 121) e, finalm ente, abre es­
paço para o Direito Social, em seu art. 121, § 1Q, ?i, falando em “assistência m édica e
sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta descanso, antes e depois do
parto, e sem prejuízo do salário e do em prego; instituição de previdência, medianLe
contribuição igual da U nião, do em pregador e do em pregado, a favor da velhice, da
invalidez, da m atern id ade e nos casos de acidentes do trabalho ou de m o rte”.
d) Constituição Federal de 1937: O E statuto F u n d am en tal de 10.11.1937 é
sum aríssim o em m atéria de D ireito Social. R epresenta retrocesso com parado com
os anteriores. D epois de aludir bom basticam ente ao direito dos pais m iseráveis de
invocar o auxílio e a proteção do Estado (art. 127), declara perem ptoriam ente: “o
trabalho é u m dever social” (art. 136).
Regra a previdência social em apenas dois parágrafos do art. 137. No pri­
m eiro, m enciona a “instituição d e seguros de velhice, de invalidez, de vida e para
os casos de acidente do trab alh o ”. De acordo com o segundo, “as associações de
trabalhadores têm o dever cie prestar aos seus associados auxílio assistencial, no
referente a práticas ad m inistrativas ou ju d iciais relativas aos seguros de acidentes
do trabalho e aos seguros sociais”. C onsagra o em prego, m u ito em voga na época,
da d en om inação “seguro social” (em vez de previdência social), usada até 1945,
qu an d o perde prestígio.

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48 W l a d i t n i r N o v a e s M a r li n e z
e) Constituição Federal de 1946: A C arta Política de 1946 abre espaço, no art.
157, para a previdência social, pela prim eira vez com essa designação. No inciso
XVI, consagra a fórm ula po sterio rm en te adotada nas C onstituições de 1967/1969,
referindo-se à “previdência, m ed ian te contribuição da U nião, do em pregador e
do em pregado, em favor da m aternidade e contra as conseqüências da doença, da
velhice, da invalidez e da m o rte ”. No inciso XVIII, alude, em particular, à proteção
acidentaria. C urio sam ente, não obstante a Lei Eloy M arcondes de M iranda C haves
tê-lo discip lin ad o (em 1923), n en h u m a palavra sobre o tem po de serviço.
C om a E m enda C onstitucional n. 11, de 31.3.1965, dispositivo lógico e téc­
nico legal, ascende à posição de principio constitucional. A cresce-se parágrafo ao
art. 157, d eterm inando-se: “N enhum a prestação de serviço de caráter assistencial
o u de benefício com p reendido na previdência social pode ser criada, m ajorada ou
esten d id a sem a co rresp o n d en te fonte de custeio to tal”, norm a jam ais cu m prida
pelo E xecutivo, Legislativo e Judiciário, p o r incapacidade d e alcançar-lhe o signi­
ficado técnico.
f ) Constituição Federal de 1967: A C arta de 1967 é im posição do M ovim ento
R evolucionário de 1964. Seus ideólogos não tin h am a intenção de m odificar p ro ­
fu n d am en te a previdência social, calcando-se, em relação à m atéria, nos dispositi­
vos de 1946. O art. 158 é p raticam ente o m esm o art. 157 anterior. D estaca-se o p a­
rágrafo único, no qual é fixada a precedência do custeio em relação às prestações.
C om parece, pela p rim eira vez, o seguro-desem prego. É assegurada aposentadoria
à m u lh e r “aos trin ta anos de trabalho, com salário in teg ral” (inciso XX).
g) Emenda Constitucional de 1969: A E m enda C o n stitu cio n al de 17.10.1969
não apresenta alterações substanciais em relação às de 1946 e 1967.
h) Constituição Federal de 1988: A seguridade social está desenvolvida em três
distin to s m om entos: a) nos arts. 40 e 194/204; b) em diversos artigos esparsos,
n o tad am en te no T ítulo II — Dos Direitos e Garantias Fundamentais, C apítulo II —
Dos Direitos Sociais; e c) nas D isposições Transitórias.
Saúde, previdência e assistência social po d em ser vistas d en tro do T ítu lo VIII,
C ap ítu lo 11, Seções II/1V. A ssuntos correlatos, com o os do D ireito do Trabalho,
en co n tram -se n o s arts. 6° e 8Q. Nos arts. 194 e 204, cen trad am en le cuida de segu­
ridade social.
O C apítulo II — Da Seguridade Social divide-se em três seções, e nos arts.
194/195, anteced en d o -as, são estaqueadas as diretrizes básicas, as fontes de custeio
e as prestações p ro gram adas nas divisões respectivas. No art. 195, trata enfatica­
m en te da receita, revelando sua in ten ção de assentar a im plantação da técnica
protetiva em bases financeiras. Em cada um a das seções, inicia a disciplina após
con cen tração de objetivos e, logo a seguir, são fixados p rin cíp io s p o r espécies,
quase en u m erativ am ente, restan d o esquecido, dos benefícios im p o rtan tes, tão so­
m ente o auxílio-doença.
i) Emenda Constitucional n. 20/1998: A C arta M agna de 1988 sofreu significati­
va alteração no tocante à previdência social, restan d o fu n d am entalm ente alterados

C u rso h e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
os arts. 40 (servidor p úblico), 201 (trab alh ad o r da iniciativa privada) e 202 (p re­
vidência co m p lem en tar), com cerca de 100 dispositivos m odificados ( “Reform a da
Previdência Social”, São Paulo: LTr, 1999).
j ) Emenda Constitucional n. 41/2003: F inalm ente, com a E m enda C o n stitu cio ­
nal n. 41/2003, deu-se a preten d id a reform a da previdência do servidor, ag u ard an ­
do-se o en cam in h am en to da PFC n. 227/2005 (p roposta da em enda constitucional
paralela), que a m odifica.
k) Emenda Constitucional n. 45/2004: dispôs sobre com petência da Ju stiça do
Trabalho em relação à cobrança de contribuições previdenciárias.
I) Emenda Constitucional n. 47/2005: A lterou disposições da EC n. 41/03 rela­
tivam ente aos servidores.
m) Emenda Constitucional n. 70/2012: R egulou o valor da aposentadoria por
invalidez dos servidores.
73. L eis o rd in á ria s — A au to n o m ia do D ireito Previdenciário nasceu em ra­
zão de suas leis. Desde o seu dealbar, conheceu construções especificas e norm as
reguladoras típicas. N unca, ou raram ente, seus in stitu to s ju ríd ico s foram discipli­
nados em n orm as do D ireito do Trabalho o u em o utra ciência ju ríd ica.
a) Lei Eloy Chaves: Eloy Marcondes de Miranda Chaves, engenheiro e deputado
paulista do PRP, após visitar o arcabouço ferroviário argentino, apresentou projeto
de lei, resu ltan d o no Decreto Legislativo n. 4.682, de 24.1.1923. A utorizou a criar,
em cada ferrovia nacional — um a das poucas atividades produtivas organizadas no
País — , caixas de ap o sentadoria e pensões, para os respectivos em pregados, cus­
teadas com con trib u içõ es da em presa, dos em pregados e dos usuários, lnspirou-o
a proteção inglesa àqueles profissionais do tran sp o rte, sob forte influência das p ri­
m eiras ideias de Otto von Eismarck ( “Eloy C haves, p recursor da Previdência Social
no B rasil”, Rio: Ed. Civilização Brasileira, 1978).
Lei orgânica, ela previa os principais institutos técnicos previdenciários, entre
os quais a aposentadoria ordinária, por invalidez, a pensão por m orte, a contribuição
facultativa (já concebida no fundo m útuo privado MONGERAL, de 1835), estabilidade
laborai, quota de previdência, e fazia referência ao Decreto Legislativo n. 3.724, de
15.1.1919, este, sim, a prim eira norm a protetiva (inaugurou a legislação acidentaria).
A Lei Eloy Chaves, com o conhecida, perdeu aplicabilidade; todos os seus dis­
positivos foram su b stitu íd o s e só têm interesse histórico e precognitivo. Efeito
rem anescente é ter sugerido 24 de jan eiro com o o Dia da P revidência Social.
E stendida aos servidores públicos e regulam entada p o r m eio do D ecreto Le­
gislativo n. 5.109, de 20.12.1926. M ais am plo e de grande significado operacional,
pois regia toda a legislação previdenciãria de então, é o D ecreto-lei n, 627/1938.
Na década de 1930, d u ra n te o G overno Vargas, foram criados in stitu to s de
Previdência: IAPM (D ecreto n. 22.872/1933); IAPB (D ecreto n. 24.615/1934);
IAPC (D ecreto-lei n. 591/1936); IAPI (Lei n. 367/1936); IAPETC (D ecreto-lei n.
651/1938); e IPASE (D ecreto-lei n. 288/1938).

G urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

50 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
P osterio rm en te, para os econom iários e trabalhadores rurais, respectivam ente
o SASSE (Lei n. 3 .149/1957) e o FUNRURAL (Lei n. 4.214/1963). Estes três ú lti­
m os, absorvidos pelo INPS, em 1977 (Leis n. 6.430/1977 e n. 6.439/1977).
Por m eio da Lei n. 7.526/1945, Lei O rgânica dos Serviços Sociais do Brasil
— LOSSB, ten to u -se um p ro tó tip o de C ódigo de D ireito P revidenciário, regula­
m en tad o pelo D ecreto n. 35.448/1954 (R egulam ento Geral dos lA Ps), am bos sem
alcançarem eficácia ju ríd ica.
b) Lei Orgânica da Previdência Social: A Lei O rgânica da Previdência Social —
LOPS (Lei n. 3.807/1960) é m arco no D ireito Previdenciário. C om caráter de lei
co m p lem en tar da C arta M agna, natureza orgânica e geral, h isto ricam en te dividiu o
m odelo n o rm ativo brasileiro, até então dom inado pelas leis particulares das caixas
de ap o sen tad o ria das diferentes categorias profissionais. C onsolidou a legislação,
unificou-a, p ad ro n izo u procedim entos adm inistrativos, não ob stan te os IAPs c o n ­
tinuarem o p eran d o até 31.12.1966.
V erdadeiro código, com fixação de alguns princípios, n o rm as gerais e espe­
ciais, m agnífico trabalho de sistem atização n ão superado até 24.7.1991, q uando
p raticam en te revogada, im p u lsio n o u o estudo do Direito P revidenciário e p ro p i­
ciou os p rim eiro s com entários sobre previdência social.
R efletindo o País no pós-guerra, plasm ou a influência do R elatório W illian
H enry Beveridge. C riou novas obrigações e benefícios sob concepção dem ográ­
fica estatística revelada irreal em 1966 (D ecreto-lei n. 66/1966), em 1973 (Lei n.
5.890/1973) e em 1980 (Lei n. 6.887/1980), q uando sofreu as prim eiras grandes
aherações.
P ro tó tip o de todas as leis orgânicas su p erv en ien tes (CLPS e leis básicas), ain ­
da influencia a in terp retação do m odelo por sua consistência organizacional. Deu
n ascim en to a várias instituições (v. g., aposentadoria especial, salário de benefício
e praxes adjetivas). Ú ltim a norm a estável.
c) Consolidação das Leis da Previdência Social: Em seu art. 6 9, a Lei n. 6.243/1975
inovou no direito brasileiro e au to rizo u o P oder Executivo, p o r m eio de decreto,
a co n so lid ar a legislação, isto é, re u n ir norm as extravagantes ao corpo da LOPS e,
com isso, nasceu a C onsolidação das Leis da Previdência Social — CLPS. D everia
ser atualizada a cada ano, m as isso se to rn o u im possível, e vigeram apenas os De­
cretos ns. 7 7 .077/1976 ( l â CLPS) e 89.312/1984 (2à CLPS).
A CLPS p ro d u ziu talvez o único debate rom ântico na histó ria do Direito Pre­
videnciário. De u m lado, Sully Alves de Souza e, do o u tro , Celso Barroso Leite ( uO
gran d e alcance p rático e o n e n h u m valor legal da CLPS”, in LTr n. 41/1.534) e a
resposta dada p o r Inocéncio Mártires Coelho.
Em 1995, a Lei n. 9.032/1995 auLorizou o Poder Executivo a consolidar a le­
gislação p o sterio r a 1991, m as o d o cu m en to publicado em 11.4.1996, p o r sinal na
parte d o s atos do P oder Legislativo, não tem núm ero n e m assinatura, tornando-se
difícil m encioná-lo, apesar de sua grande utilidade.

C urso de D ir e it o P k e v i d e n c .i Ar u i

T om o í — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 51
d) Plano de Custeio e Plano de Benefícios: Com a C onstituição F ederal de 1988,
a legislação básica teve de ser revista. As novas regras estabelecidas im puseram m o ­
dificação na disciplina. Em razão do art. 59 do ADCT — vencendo-se o prazo em
4.4.1991 — , o C ongresso N acional elaborou a Lei n. 8.212 (Plano de C usteio) e a
de 8.213 (Plano de Benefícios), am bas de 24.7.1991, com vigência em 25.7.1991,
retroeficácia em 5.4.1991 e eficácia a p artir de 22.9.1991, com com andos legitim a­
m ente retroagindo e o u tros diferindo até o an o 2011 (art. 142).
O Plano de C usteio e de Benefícios não resistiu ao tem po e foi b astante alte­
rado por sucessivas leis ordinárias.
e) Leis delegadas: Prevista no art. 59, IV, da C arta M agna e definida em seu
art. 68, a lei delegada não tem sido utilizada em m atéria de previdência social. No
entan to , talvez seja a solução para o problem a de propostas técnicas q u e sofrem en ­
cam in h am en to político. A utorizado pela m esa do C ongresso N acional, após exam e
dos p arâm etros principais, o P oder E xecutivo elaboraria as regras (Jornal do 9°
C ongresso Brasileiro de Previdência Social, de 1996, p. 14).
J) Acordos internacionais: Os acordos internacionais celebrados com diferen­
tes países eu ro p eu s e latino-am ericanos constituem fontes form ais aplicáveis às
situações p articulares ali contidas. C om a proliferação dos tratados regionais, c o n ­
tinentais e m undiais, seguram ente, os convênios entre países têm grande futuro na
regulação da m atéria.
74. D ecreto s re g u la m en tare s — D iante d a iniciativa do P oder Executivo e,
p o r vezes, em razão da inércia do Legislativo, os decretos regulam entadores têm
tido papel ex trao rd in ário na norm atização da previdência. São infindáveis, p ad e­
cendo, em m uitas o p o rtu n id ad es, do vício de rep ro d u zir o texto legal.
N ossos decretos previdenciários ou são isolados ou regulam entares da lei; às
vezes até, d iretam ente, da própria C onstituição.
O 1Q RGPS (D ecreto n. 48.959-A /1960) iniciou a sistem atização, su b stitu íd o
pelo 2e RGPS (D ecreto n. 60.501/1967). A seguir, em virtude da Lei n. 5.890/1973,
sobreveio o RRPS (D ecreto n. 72.771/1973). C om a im plantação do SINPAS (Lei n.
6.439/1977), su b stitu íd o pelo D ecreto n. 83.080/1979 e D ecreto n. 83.081/1979,
esm iuçando a Lei n. 8.212/1991, o R egulam ento do C usteio (D ecreto n. 612/1992)
e a Lei n. 8.213/1991, o R egulam ento dos Benefícios (D ecreto n. 611/1992).
Tais decretos, de boa consistência e ordenam ento, com autorização im própria
da lei ou não, p o r vezes, extrapolam sua função e regram além dela, contra o seu
texto ou espírito, e interpretam -na. Q uando o fazem, obviam ente não têm validade
juríd ica, m as, im postos à adm inistração, geram conflitos entre esta e o adm inistrado.
Dá-se exem plo com o D ecreto n. 611/1992, q u an d o m andou acrescer o valor
do décim o terceiro salário no cálculo do salário de benefício, extravasando suas
atribuições e, p io r ainda, co n tra rian d o a lógica (a contribuição incidente sobre
esse falo gerad o r e base de cálculo destina-se ao abono anual, não se justificando
a inclusão n o cálculo do benefício m ensal). A lertado o legislador ( “C om entários
à Lei Básica da Previdência Social”), p o r m eio da Lei n. 8.620/1993, o equívoco se

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
desfez e, não deix an do m argem à dúvida, d e d a ro u -se claram ente a não inclusão
(Lei n. 8.870/1994).
Em cada caso, tarefa nada fácil, o aplicador deve d istin g u ir sua com petência
e saber se exageram suas funções ou não. P or inércia, ausência e anim us, m uitas
vezes, vão co n so lid an do o en ten d im en to e são, frequentem ente, m en cio n ad o s p e ­
los ju lg ad o s federais.
Em sua versão original, co n stitu em fontes form ais básicas e cum prem papei
relevante. Lam entável, às vezes, con su ltad o s com o fonte única, com o dito, repeti­
rem ípsis littcris o texto legal.
Os D ecretos ns. 611 e 612, am bos de 1992, foram su b stitu íd o s pelos D ecretos
ns. 2.172 e 2.173, de 1997, e, finalm ente, agrupados no R egulam ento da P revidên­
cia Social — RPS (D ecreto n. 3.048/1999).
75. P o rtarias m in iste ria is — Portarias são atos norm ativos da adm inistração
em anados do G abinete do M inistro de Estado. F ocalizam q uestões relevantes,
espécie de reg u lam en to dos decretos, da lei e até da C onstituição Federal, q uando
essas n orm as h ierarq uicam ente superiores silenciam sobre o assunto.
A P ortaria MPAS n. 1.984/1980 regulam entou a Lei n. 6.696/1979, relativa
à filiação obrigatória do eclesiástico. A P ortaria MTPS n. 1.002/1967 é clássica
sobre o estagiário. Em certas ocasiões, retratam coletânea, caso da P ortaria MTPS
n. 3.286/1973 — Prejulgados; noutras, form atam verdadeiros códigos, com o a P or­
taria MPAS n. 3.318/1984 — N orm as sobre DireiLo Previdenciário P rocedim ental,
atualizada com a P ortaria MPS n. 88/2004 e, depois, a P ortaria MPS n. 548/11.
Sem em bargo de, em algum as o p o rtu n id a d e s, restarem desprezadas pelos
estu d io so s, g u ard am im p o rtân cia científica e d id ática q u an d o regrarem m atéria
o m itid a pelo legislador e, o b v iam en te, n ão co n tra riare m fontes form ais su p e rio ­
res. E x em p lificativ am en te são lem bradas as P ortarias SPS ns. 29/1975, 9/1978
e 2/1979, bem com o a In stru ção N orm ativa SPS n. 2/1994, todas tra ta n d o de
filiação e co n trib u içõ es.
76. N o rm as a d m in istra tiv a s — O rdens ou O rientações de Serviço são atos
norm ativos p ro v en ien tes de dep artam en to s do órgão gestor, secretarias e divisões.
T anto q u an to as p ortarias, elas devem ser publicadas n o Diário Oficial da U nião
para terem eficácia. U m a das m ais im p o rtan tes é a C onsolidação dos Atos N orm a­
tivos Sobre Benefícios — CANSB.
E n ten d im en to s o u Form ulações são inteligências da adm inistração em m atéria
om issa n a legislação superior. C ostum am ser num eradas, caso dos en ten d im en to s
sobre salãrio-base (In stru ção de Serviço IAPAS/SAF n. 299.30/1973).
77. P areceres n o rm ativ o s — Pareceres são opiniões em itidas em processo.
Pareceres norm ativos, p o n to s de vista aprovados pela au to rid ad e su p erio r e de
respeitável significado em razão do estudo contido. Têm a m esm a eficácia da p o r­
taria e, tal q u al as n orm as por eles interpretadas, conhecem efeito ex tunc e exnunc,
vigência, eficácia, retroeficácia, são su b stitu íd o s ou restabelecidos.

C urso d e D ir e it o P r e v íp e n o Ar k )
T o m o l — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 53
N orm alm ente, co n stitu em aulas de D ireito P revidenciário, em bora, às vezes,
apenas atendam a interesse im ediato da adm inistração. Não se confundem com os
da d o u trin a, por faltar a estes a obrigatoriedade. G eralm ente, provêm da C onsul­
toria Jurídica ou da P rocuradoria-G eral. N orm alm ente, p o r sua vez, citam outros
estu d o s relativos à m atéria sob enfoque.
Pareceres d o u trin á rio s respondem a co n su ltas form uladas p o r interessados,
enfocando problem a d eterm in ad o . R evestem -se de grande im portância, pois se
originam de especialistas ou estudiosos no ápice da carreira. G eralm ente bem
fundados, diante da responsabilidade do nom e do em issor. São acatados p o r juizes
e trib u n ais com o co n trib u ição ao D ireito. No m ínim o, co n stitu em sistem atizaçâo
da área da co n tro v érsia, análise ap ro fu n d ad a, com citação de au to res e da ju ris ­
p ru d ên cia, in d ican d o ao m agistrado os ca m in h o s possíveis para a solução da
pendência.
Pontos de vista de au to rid ad es renom adas são opiniões trazidas aos autos,
não vinculadoras, co n tribuição científica ao esclarecim ento da questão. R eunidos
em coletânea, são freq u entem ente invocados sobre vários assu n to s ( “Pareceres de
D ireito do Trabalho e Previdência Social”, de Arnaldo Süssekind e Délio M aranhão,
São Paulo: LTr).
Laudos periciais, exam es grafotécnicos o u docum entoscópicos, verificações
in loco, avaliações, m edições, book, listas, enfim , estudos feitos por peritos tam bém
co n stitu em opiniões de especialistas.
78. M edidas P ro v isórias — Inovando a C onstituição F ederal de 1988, no seu
art. 59, V, criou nova fonte formal: a M edida Provisória. N os prim eiros 9 anos de
existência, foram em itidas cerca de 1.500 delas.
Antes da EC n. 32/2001, dizia o art. 62: “Em caso de relevância e urgência, o
P residente da R epública p o d erá adotar M edidas Provisórias, com força de lei, d e­
vendo subm etê-las de im ediato ao C ongresso N acional, que, estando em recesso,
será convocado ex trao rd in ariam en te para se re u n ir no prazo de cinco dias. Pará­
grafo único. As M edidas Provisórias perderão eticácia, desde a edição, se não forem
convertidas em lei no prazo de trin ta dias, a p artir de sua publicação, devendo o
Congresso N acional d isciplinar as relações ju ríd icas delas d eco rren tes”.
Brasilino Pereira dos Santos, citando opinião de Marco Aurélio Greco ( “ato
ad m inistrativo com força provisória de lei por determ inação co n stitu cio n al”), en ­
tende ser a M edida Provisória ato do P oder Executivo, sem natureza legislativa,
assem elhado ao decreto ( “As M edidas Provisórias no D ireito C om parado e n o Bra­
sil”, p. 304).
79. D ireito co m p arad o — D ireito com parado não se confunde com fontes
internacionais; estas, conform e a situação, atendida a exigência constitucional, se
tran sfo rm am em n o rm as nacionais e são com andos válidos.
As fontes form ais do D ireito P revidenciário observam hierarquia. A bandona­
das as próprias p o r im prestáveis ao caso concreto, perm anecendo o problem a e não
se visualizando solução no ordenam ento (o resultado não satisfaz a inquietação

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

54 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
do estu d io so ), isto é, incapazes de p ô r fim à questão suscitada, vale considerar o
direito positivo alienígena. Tem a m esm a eficácia das fontes opinativas, m as com
a p articu larid ad e de referir positividade do País consultado, e, se as condições são
id ênticas ou assem elhadas, não se p o d e desprezar a dita inform ação.
N orm alm en te, prestam -se com o elem ento pré-jurídico, isto é, são c o n trib u i­
ções científicas, doutrinárias, úteis na elaboração e en cam in h am en to do Projeto
de Lei. Sua m aior o p eracionalidade reside exaLamente n o D ireito P revidenciário
In tern acio n al. Se algum a N ação age assim , se não há obstáculo na lei nacional e
as fo n tes form ais válidas revelam -se in ó cu as, a m enção com o razão de d ecid ir
é legítim a, obviam ente, se a dedução não atenta co n tra o o rd e n am en to nacional.
G eralm ente, são oportunas, q u an d o resultam de grandes discussões, e dá-se
exem plo com a correlatividade entre contribuição e benefício; os especialistas
socorrem -se do conflito de opiniões entre alem ães e iLalianos a esse respeito, fixando­
-se na inexistência da dita correlação.
80. P en sam en to d o u trin á rio — A opinião de estudiosos ou especialistas, m a­
nifestada em livros, teses, ensaios, artigos ou pareceres encom endados, pertence à
d o u trin a. Valiosa pelo en cam in h am en to de ideias e prestígio em prestado ao traba­
lho pela rep u tação do autor. Não co stu m a ser tida com o fonte form al vinculante,
m as é cada vez m ais aceita diante da im possibilidade de cada ju iz estudar p ro fu n ­
d am en te a p en d ên cia sob ju lg am en to . De m odo geral, é perquirição, verdadeira
m onografia sobre a m atéria e, então, presta-se com o auxiliar na com preensão do
fenôm eno ju ríd ico .
Às vezes (caso da natureza ju ríd ic a da exação previdenciária, de sua deca­
dência e prescrição, do rom pim ento do co n trato de trabalho pela aposentação,
da inclusão das horas extras na hipótese de incidência do FGTS e outros m ais), a
d o u trin a fende-se em correntes m ajoritárias e m inoritárias, e o consulente dispõe
de m aio r arsenal de consulta.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 55
Capítulo VIII

C a r a c t e r ís t ic a s B á sic a s

Sumário: 81 . C a r á t e r p u b l ic i s t a . 82. 83. U n i d a d e c ie n tíf ic a . 84.


D ir e ito p r o t e t i v o .
D i s c i p li n a e m e r g e n t e . 85. A lc a n c e in d e f in id o . 86. E x c e s s iv a j u r i d i c i d a d e .
87. C o m p le x i d a d e i n s t i t u c i o n a l , 88. L n d is tin ç ã o d o o b je to . 89. in ic i a t i v a e s t a ­
ta l. 90. i n t e r p r e t a ç ã o típ ic a .

Os elem entos n ucleares do D ireito P revidenciário são: a) ter caráter n itid a­


m ente publicista; b) d isciplinar técnica protetiva social; c) d eter in dependência
(in stitu to s e prin cíp io s tópicos); d) ser ram o em ergente não consolidado (direito
novo); e) ter alcance indefinido; j ) ap resentar excessiva ju ridicidade; g) revelar
com plexidade substantiva; h) confundir-se com o principal objeto; i) subm eter-se à
iniciativa estatal (inexistirem serviços cartoriais nos procedim entos); e j) propiciar
regras de interpretação ínsitas.
81. C a rá te r p u b lic is ta — Ju n ta m e n te com o D ireito do Trabalho, o DireiLo Pre-
videnciãrio com põe o D ireito Social. Situa-se entre as ciências ju ríd icas de direito
público e, em m u itas op o rtu n id ad es, suas disposições constituem -se de norm as
com caráter geral não privado. A natureza alim entar e sub stitu tiv a das prestações,
in d ep en d en tem en te da gestão estatal, fornece a técnica de sua publicização.
Sua parte reservada às relações contidas no segm ento privado constitui exceção,
mas, m esm o ah, norm as públicas não podem ser descartadas. Exatam ente p o r isso
alguns autores põem em dúvida estarem tais questões alcançadas pelo ram o jurídico.
Tal aspecto deflui da própria técnica protetiva; ela sujeita-se, assinaladam ente,
às n orm as públicas (vontade do legislador) e onde pouco expressivas são as regras
cie caráter privado (v ontade da pessoa).
O caráter publicista da previdência social foi desenvolvido p o r Jorge Luiz Souto
Maior ( “Previdência Social: pública ou priv ad a”, in RPS n. 140/565) e p o r Aloísio
Teixeira ( “O Público e o Privado nos Serviços P revidenciãrios”, in RPS n. 135/115).
Exem plifica-se com a outorga da pensão p o r m orte. E m bora, no D ireito Civil,
o titu lar do p atrim ô n io possa d estin ar parte de seus bens para certa pessoa, no
Direito Previdenciário, o pai não tem o p o d er de desconstituir, p o r ingratidão, p o r
exem plo, o filho depen dente.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

56 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
82. D ireito p ro tetiv o — A norm a sob enfoque tem por escopo regrar institutos
propiciadores das condições de vida à pessoa hum ana, em determ inadas circunstân­
cias, em nível definido pela filosofia dom inante. Não obstante a previdência social
estar ab an d o n an d o sua concepção original de apenas su b stitu ir os m eios de m a­
nuten ção da pessoa sem condições de obtê-los p o r meio do trabalho, perm itindo a
não trabalhadores, ou a indivíduos sem necessidade de proteção, dela fazerem parte,
ainda se posiciona com o in stru m en to tutelar, pois visa à co bertura de riscos p re­
viam ente definidos (seu caráter securitário) e oferece subsistência ao necessitado.
D estarte, inclui tam bém quem , desejando benefícios diferidos, faça seguro ou
depósitos em co n ta de capitalização, sem qu alq u er vínculo com o trabalho ou a
necessidade, apenas p reten d en d o p o u p ar ou aplicar em investim entos tidos com o
garantidos.
Daí a necessidade de a norm a ajustar-se à liberdade co n tratu al, preservando o
interesse das partes, e de evoluir no estudo dessa relação atípica.
83. U n id ad e científica — O D ireito Previdenciário é autônom o; relaciona-se,
m as não d ep en d e de n en h u m ram o ju ríd ico para sua definição, e co n stitu i equívo­
co su p ô -lo d erivado do D ireito do Trabalho. O bviam ente, sua in d ep en d ên cia é se­
m elh an te à dos dem ais estam entos, relativa, e não absoluta, dado o entrelaçam ento
de interesses envolvidos na técnica protetiva.
N ão se d estacou do direito laborai ou do adm inistrativo. Na verdade, criou
in stitu to s (v. g., indenização trabalhista) antes do laborism o e, sem dúvida, dada
sua n atureza envolvente e em razão do caráter sub stitu tiv o da prestação, m anteve
e m antém relações estreitas com aquelas disciplinas.
O D ireito Previdenciário tem configuração própria, identificando-se a partir
dos seus determ in an tes. O u seja, é possível visualizá-lo em m eio a o u tro s ram os
ju ríd ico s sem co nfundi-lo com q u alq u er um deles, m esm o os situ ad o s n o âm bito
do D ireito Social.
N asceu com n u an ças individuais, em face da natureza inovadora da previ­
dência social e, desde o seu surgim ento, ap resen to u nítida personalidade, pouco
restan d o aos form adores de opinião acrescentar-lhe.
Tom ou em prestados alguns itens do seguro privado e do m utualism o e d esen ­
volveu a su b stitu tiv id ad e da prestação com o instituição com elem entos d istin to s
de o u tras m odalidades de proteção.
Em v irtu d e de seu principal objeto, essa essência do ram o ju ríd ic o é a m esm a
da técnica protetiva. A largando-se o u desgarçando-se esta, enfim , m esclando-se
com o u tras, perde tam bém o Direito P revidenciário a personalidade original. Se,
am anhã, as condições socioeconôm icas do m u n d o obrigarem ao estabelecim ento
de cob ertu ra básica elem entarizada sob prestação m ínim a e universal, o ram o ju r í­
dico perderá form atação em favor do D ireito A ssistenciário, com o u tro s elem entos,
in stitu tos ju ríd ico s, papel e funções.
84. D iscip lin a e m erg en te — Pode-se situar, pré-historicam ente, em term os
m undiais, com o ten d o surgido em 1883, na A lem anha de Ofto von Bismarck e,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 57
no Brasil, em 1919, com o Decreto Legislativo n. 3.724/1919, coincidindo com o
dealbar da previdência social. A técnica protetiva organizou-se, substanciou-se e
sistem atizou-se a p artir do início do século XX, e som ente após a G uerra de 1914,
n o tadam ente com a instituição da OIT, em 1919, destacou-se o estudo da legisla­
ção previdenciária form uladora do futuro D ireito Previdenciário.
E ntão, p rin cip alm en te na Itália e A lem anha, apareceram os prim eiros estu ­
diosos. Esse direito com eçou a se desenvolver com a configuração de p rocedim en­
tos tópicos, ferram entas próprias, praxes e en cam inham entos adequados à técnica
protetiva.
Todavia, m esm o em 1997, a despeito do ex traordinário crescim ento d u ran te
todo o século, em d ecorrência da m obilidade dos vínculos e da dinâm ica da le­
gislação, deve ser co n siderado com o técnica h u m an a em ergente, em busca de seu
desenho e, ainda, reforçando sua identidade.
O s prim eiros a ajuizarem sobre o tem a foram professores de D ireito do Tra­
balho e, d u ran te m uito tem po, apenas servidores graduados (IAP! e IAPC), com o
p rocuradores e fiscais, desenvolveram o ram o jurídico.
Boa parte desse não am adurecim ento deve-se a legiferação norm ativa, p o ­
líticas governam entais de adaptação a circunstâncias episódicas, rápido enve­
lhecim ento do m odelo científico, necessidade prem ente de conform ação com as
realidades internacionais, carência de recursos, enfim , m udança p erm a n en te dos
objetivos a serem alcançados, u ltim am en te cedendo espaço à assistência social. A
crise da técnica proLetiva reflete-se no ram o ju ríd ico .
M uitíssim as questões estão abertas à discussão, com o renúncia ao direito,
transform ação de benefícios, desaposentação, direito da m ariticida, expectativa de
direito, direito ad q uirido, alterações contratuais (na previdência privada), legiti­
m id ad e etc.
85. A lcance in d efin id o — O objeto original do D ireito Previdenciário é disci­
plinar as relações nascidas da existência da seguridade social, de m odo geral e, da
previdência social, em particular, am bas previam ente definidas, seja a pública ou a
privada, su b stantivas e adjetivas. Em relação à previdência privada, im p o rtan d o o
fato de, no caso dos fu n d o s de pensão, a patrocinadora ser em pregadora do p arti­
cipante e, p o r isso, ap roxim ando-se da órbita laborai.
A busca individual de proteção e a delegação do Estado, com etendo a iniciati­
va tam bém ao particular, alargou a abrangência da técnica e, exem plificativam ente,
o FGTS, P1S-PASEP, o seguro-desem prego e o seguro privado, entre o u tro s in s tru ­
m entos, tornaram -se m odalidades a ser consideradas. A am plitude do alcance, en ­
cam pando m edidas o riginariam ente não previdenciãrias stricto sensu, as distorções
operadas nesses m ecanism os de proteção, até m esm o alguns benefícios laborais
recentem ente criados, a tentativa de su b stitu ir os salários p o r form as indiretas de
retribuição, com o dito, esfarela os co n to rn o s do D ireito Previdenciário.
No seg u ro p riv ad o , a facu ltativ id ad e de adm issão ao sistem a, isto é, as
características civis do c o n tra to e seu objeto p rin c ip a l (p a trim ô n io ), d u ra n te

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

58 W la d im ír N o v a es M a r lin e z
m u ito tem p o afastara m -n o do d o m ín io p re v id e n ciário , m as q u a n d o trata da
c o b e rtu ra da in validez e d a m o rte, e m ais, ain d a, h o d ie rn a m e n te , com vistas
à o b ten çã o de re n d a m ensal, são atividades su jeitas às regras d o D ireito P revi­
d en ciário .
A p artir da concepção constitucional de seguridade, abrangendo tam bém as­
sistência e saúde, os p erím etro s da ciência ju ríd ica restaram esgarçados. M uitas das
p ráticas, com o o seguro-saúde, são n itidam ente securitárias, aproveitando as lições
da ciência sob enfoque. Especialm ente ao estu d ar a natureza do vínculo entre o
assistido e o órgão gestor, na assistência social, ele é im portante, o m esm o valendo
para o direito à saúde.
Saber se é papel da previdência financiar o aten d im en to das entidades filan­
trópicas, co m p en sar ex-com batentes ou Seringueiros da A m azônia, prem iar exi­
lados, rep o r os baixos salários dos servidores, in d en izar vítim as da talidom ida,
exem plificativam ente, é questão p o r resolver no dom ín io da esfera jurídica. Possi­
velm ente, sob o capítulo da filosofia da previdência social.
D eterm in ar se o p rincípio cia irredutibilidade dos benefícios deve se subm eter
à política g overnam ental de preservação da m oeda e estabilidade econôm ica não é
problem a tran sc en d en te ao ram o jurídico, pois estão em jogo políticas nacionais
econôm icas e a preservação dos valores.
D ecidir se a C arla M agna pode estabelecer teto, atingindo direito adquirido
p o r ela m esm a regulado, é enfoque p ertin e n te à discussão da função da previdência
social com o in stitu ição e sua subm issão à técnica protetiva. Q uestões abertas ao
debate, a m erecer pro funda m editação dos estudiosos.
86. E xcessiva ju rid ic id a d e — Sem excetu ar o segm ento privado, na fração
pública, o D ireito Previdenciário assinala-se pela (excessiva, no caso brasileiro)
legiferação, co rren d o o risco de prevalecer o jurídico sobre o cientifico. Aliás, nesse
particular, é im p o rtan te ressaltar o destaque dado pela d o u trin a à pesquisa ju ríd ica
em d etrim en to de trabalhos práticos. P oucos livros, com o o de Therezinha Lorena
Pohlmann Saad, dizem respeito ao desenvolvim ento da técnica. Os estudiosos p re­
ferem dedicar-se à legislação, ab an d o n an d o a realidade.
87. C o m p le x id a d e in s titu c io n a l — As relações jurídicas presentes no
en v o lv im en to en tre os beneficiários ou co n trib u in te s e os órgãos gestores são
m aterialm en te com plexas, bem caracterizados os sujeitos protegidos, m as nem
sem pre claro o objeto — não suficientem ente precisa a p ró p ria natureza do vínculo.
Q u estõ es com o o FGTS, PIS-PASEP, renda m ínim a e o u tras m ais, são vizinhas do
cam po da prev id ên cia social. Da m esm a form a, certas p o u p an ças-ap o sen tad o rias,
seguro de vida e de acidentes, benefícios laborais alargando a área de incidência
do estudo.
F req u en tem en te, o interesse do estudioso e do aplicador tem de descer à
in tim id ad e de ciências sociais e exatas com as quais o ram o ju ríd ic o se relaciona,
obrigando-os à definição de porm enores em in en tem en te específicos, com o saber
se incubação é atividade in d u strial (p o rta n to , urbana) ou n atu ral (p o rtan to , rural);

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 1 — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 59
se alguém pode, ao m esm o tem po, incapacitar-se para um a atividade, e não para
outra; qual a natureza ju ríd ica da contribuição previdenciãria; se o direito provém
da co ntribuição e assim p o r diante.
As inquietações m ais sérias ainda adorm ecem no seio da Filosofia da previ­
dência social, p o r incipiência de estudo e decisão política e, assim , não se co n h e­
cem os lim ites da capacidade contributiva da sociedade, se o esforço do trabalha­
d o r rural pode ser co nsiderado contribuição, q u an d o o político se subm ete ao
científico, se o jurídico predom ina sobre o técnico e até on d e a previdência social
depende da econom ia.
Enfim , grandes q uestões não são resolvidas e, receia-se, não o serão, pois
tendem a m odificar-se no curso do tem po, reclam ando novas investigações dos
interessados.
88. In d istin ç ã o d o o b jeto — A iniciativa do E stado em m atéria de proteção,
diante da im p o rtân cia do tem a, sem pre foi efetiva e m agnífica, isto é, esm iuçou e
trato u de quase to d o s os quesitos, interferindo significativam ente na sua operacio-
nalidade.
De um lado, no m u n d o real, a previdência social; de outro, na esfera form al,
o D ireito Previdenciário. Assim deveriam ser as coisas. C rim inalística não é Direito
Penal. Mas, no d o m ín io tutelar, a norm a confunde-se com o norm atizado, to rn a n ­
do quase im possível a distinção.
Q uan d o se aprofunda a decadência do crédito previdenciário, exam inam -se
aspectos p ró p rio s do Direito; ao se considerar a incapacidade p ara o trabalho, está-
-se tratando de m atéria fática significativa (subm etida à n o rm a ju ríd ica).
A prevalência do ju ríd ico sobre o técnico e a excessiva ju rid icid ad e tam bém
respondem pela in distinção avultada; já não se sabe m ais pensar, a não ser ju rid i­
cam ente, ou p o r m eio da lei.
89. Iniciativ a e sta ta l — C ausa de inquietações no ram o ju ríd ico é a iniciaú-
va do órgão gestor. Ele é im pulsionador, gestor e parte interessada. N ão é fácil ao
aplicador da n o rm a — quase sem pre um servidor público — desvestir-se de suas
nobres funções e posicionar-se com o ad m in istrad o r de bens de terceiros.
Indefere, p o r vezes, julgando estar defendendo o ente público, q u an d o este
é m ero in term ediário. C oncede, algum as vezes, pensando estar ajudando a quem
não tem direito subjetivo. Tem dificuldade para d istin g u ir entre previdência e as­
sistência, prin cip alm en te q uando as condições socioeconôm icas são difíceis.
A gestão é governam ental q uando deveria ser estatal, isto é, postar-se acim a
dos interesses do governo.
90. In te rp re ta ç ã o típ ica — C om o se verá, em razão de seus objetivos, o Di­
reito Previdenciário conhece princípios e regras interpretativas próprios. P or ele
con stru íd o s e desenvolvidos no curso do tem po, reclam am com preensão de seu
verdadeiro papel.

C urso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

60 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo IX

C o n t e ú d o e A lca n ce

91. Assistência social. 92. Atendimento à saúde. 93. Seguro privado.


S u m á rio :
94. Previdência privada aberta. 95. Previdência privada fechada. 96. Benefícios
trabalhistas. 97. Prestações estatais não securitãrias. 98. Relações fiscais. 99.
Matéria penal. 100. Direito Procedimental e Internacional.

Q u a n d o cuidava exclusivam ente da previdência social, já não era fácil definir


o alcance do D ireito Previdenciário — boa parte das dificuldades, en tre o u tras, es­
tava em in clu ir ou não relações o riu n d as do segm ento privado. Agora, os ô n u s res­
tam assoberbados com a extensão da seguridade social, devendo-se ou não ab ran ­
ger as ações de saú d e e as da assistência social. Além de trad icio n alm en te cobrir o
seguro de vida e acidentes, atualm ente, com as com panhias seguradoras in stitu in ­
do carteiras de previdência aberta, e o surgim ento d e poupan ças-ap o sen tad o rias,
as coisas se com plicaram e restou m ais tênue a lin h a sep arad o ra d o D ireito Civil.
O co n teú d o do D ireito Previdenciário é a relação previdenciária, co n tid a na
iniciativa privada ou na gestão pública, básica ou com plem entar, esta ú ltim a aberta
ou fechada. R espeitados os vínculos particulares do seguro privado e, tam bém , a
n atu reza p o testativ a do direito à A ssistência Social e à assistência à saúde.
A p artir da Lei n. 9.032/1995, p erd eu expressão a distinção en tre prestação
acidentaria e co m u m , m as de q u alq u er form a a infortunística c o n tin u a integrada
em seu d om ínio. Veja-se a dificuldade da Ju stiça F ederal de saber se com petente
para d irim ir conflitos entre acidentado e INSS, q u an d o de ações não cifradas ao
sinistro e, sim , p ertin entes ao critério de atualização do valor. S eguram ente, esse
aspecto d o ram o ju ríd ic o estará tangenciando, invadindo e sendo invadido pelas
q u estõ es da indenização civil.
Tarefa o n erosa é separar o co n teú d o do D ireito Previdenciário — disciplina da
técnica p ro tetiva — , seja previdência ou seguridade, de o u tro s interesses com uns,
com o os políticos, sociológicos ou — p rin cip a lm en te — os filosóficos. Ele não se
o cu p a de aspectos ad m inistrativos, m u ito m enos da subm issão da legislação o u de
decisões, das providências governam entais em m atéria de Política. T anto qu an to
ocorre com os fu n d am en to s econôm icos, em itida a norm a, só então se deflagra a
vocação do ram o ju ríd ic o para o problem a.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
m
T am bém n ão trata dos ân g u lo s sociológicos (com o a p rep aração para a
ap o se n ta ção ). Porém , inLeressa-se pelo direito ao lazer e ocupa-se da filosofia p ro ­
priam ente dita com o elem ento form ador da n o rm a jurídica.
As relações da técnica são as voltadas diretam ente p ara a proteção em si,
in cu rslo n an d o , às vezes, em q u estiú n cu las adm inistrativas, tributárias e laborais,
quan d o a necessidade da perquirição o obrigar. Envolve-se, exem plificativam ente,
com a área rural e persegue a distinção entre p ro d u to m ineral, anim al e vegetal,
sendo im po rtan tes todos os trabalhos em preendidos nessa linha.
Utiliza a m atem ática com o aparato, u sando-a com o atividade-m eio, e não
com o atividade-fim em si m esm a. M uitos n ú m eros estão envolvidos e, em razão
disso, relaciona-se direLamenle com o cálculo atuarial e a ciência financeira. Não
pertencem ao seu cam po as aplicações econôm icas consideradas nem as c o n stru ­
ções contábeis, m as as regras estabelecidas a esse respeito subm etem -se, com a
devida rem issão às áreas específicas, à análise ju ríd ica.
Assim, não convém ao D ireito P revidenciário desenvolver a m elh o r aplicação
m obiliária ou o m étodo contábil m ais eficiente, m as, sim , saber se foi atendida a lei
d ireto ra em itida a respeito. D escabe-lhe apreciar o em prego dos recursos p o r parte
do governo, pois isso é m atéria da C iência das Finanças. Tem relevância apenas
verificar a co n stitu cio n alidade da elaboração encetada.
Por isso, alguns sugerem a divisão do espaço didático. E m esíoJosé Pereira Reis
propõe a seguinte divisão: a) D ireito da Previdência Social; b) D ireito da P revidên­
cia Privada; c) D ireito da A ssistência Social; e d) D ireito da Infortunística.
Poderia ter in clu ído as relações relativas às ações de saúde, possivelm ente
com p reendidas na assistência social. Deu ênfase aos acidentes do trabalho, quando
há ten dência de sua assim ilação pela legislação com um .
Pedro Vidal Neto sugere, para ensino nas universidades, a seguinte partilha da
m atéria: a) C onceito; b) A utonom ia; c) Taxionom ia; d) P rincípios universais; e)
C aracteres; f) Fontes; g) Aplicação, integração e interpretação; h) Eficácia n o tem ­
po e no espaço; i) Evolução histórica e tendências ( “Seguridade Social — Program a
Básico e M etodologia”, in R P S n. 97/741).
Dois lim ites n atu ra lm e n te im postos ao Direito Previdenciário, am bos decor­
rentes dos p ró p rio s co n to rn o s da técnica protetiva, são: o vertical, isto é, o nível de
valor coberto pela proteção básica e co m p lem en tar (patam ar da base de cálculo da
con trib u ição e do benefício), e o horizontal, o u seja, definição da clientela protegi­
da. P arâm etros fixados en u m erativam ente na lei, não podendo ser d im in u íd o s ou
am pliados por n o rm a inferior, m as sujeitos a aplicação, integração e interpretação
e, co n sequ en tem en te, subm etidos à ciência jurídica.
91. A ssistên cia social — As relações desenvolvidas n a assistência social estão
co m p reendidas no D ireito Previdenciário, q uando ele é aceito com o o discipli-
n ad o r da seguridade social. Não tem sentido im aginar u m D ireito da A ssistência
Social com o ram o ju ríd ico.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
E m bora as pessoas não sejam exatam ente as m esm as e nem sem pre igual o
objetivo, carece esse envolvim ento entre os assistidos e o órgão gestor de com ple­
xidade suficiente para a edificação de ram o autônom o.
Sua prin cip al n u a n ç a é a natureza da relação, em si diferente da previdenciá-
ria, e isso não justifica distinções. M uitos dos in stitu to s técnicos e ju ríd ico s previ-
denciãrios aproveitam -se da assistência social.
92. A te n d im e n to à s a ú d e — A assistência à saúde é destacada pela im p o r­
tância da M edicina e da O dontologia n a vida das pessoas, m as não deixa de ser
espécie da assistência social. C om aspectos ju ríd ico s envolvidos, não específicos
e, excetuada na proteção particu lar (na qual presente co n trib u ição ), não reclam a
destaques ou distinções.
A assistência p ú blica à saúde pertence ao D ireito P revidenciário.
N o respeitante às relações privadas, será necessário acostar-se às ideias d e­
senvolvidas na previdência com plem entar, dada a sem elhança de pessoas, objeto
e n atureza da proteção.
93. Seguro p riv ad o — De m odo geral, o seguro privado é área integrada no
D ireito Civil, desenvolvido no Livro III — Direito das Obrigações. U m co n trato de
seguro de vida, sem em bargo de visar à proteção do ser h u m an o e objetivar o paga­
m ento de in denização, valor m uito sem elhante ao pecúlio previdenciário, co n tin u a
sendo de alçada civilista.
N este particular, os dois ram os ju ríd ic o s se su p erp õ em , invadindo-se m u tu ­
am ente, e exercendo influência recíproca. O D ireito Previdenciário, q uando e n ­
co ntra dúvidas, busca soluções no D ireito Civil e este, em face das convenções
n itid am en te protetivas, deve abeberar-se nas razões previdenciárias.
Trabalho esp in h o so espera o aplicador da regra ao se d ep arar com incertezas
n este espaço em que os dois dom ínios exercem influência, reclam ando acendrada
con cen tração para não co n fu n d ir os direitos e as obrigações. Isso é especialm ente
verdadeiro na previdência com plem entar aberta e fechada.
94. P rev id ên cia p riv ad a ab e rta — Em m uitas hipóteses, as entidades abertas
e as co m p an h ias seguradoras operam com objetivos nitid am en te previdenciários, a
d espeito de lhes darem tratam ento, até p o r inércia, de seguro privado. Q u an to m ais
o E stado se revela incapaz de cuidar dos cidadãos nas contingências, m ais essas
organizações vão su b stitu in d o os seus planos p o r co n tra to s cujo fito é benefício de
pagam ento co n tin u ad o su b stitu id o r dos salários, bastante assem elhado à prestação
securitária.
A liberdade de escolha, a possibilidade de entrada e saída e certa (em bora
p equena) possibilidade de negociação assinalam , na m aioria dos casos, a natureza
da relação, a p o n tan d o a subm issão a um ou o u tro ram o ju ríd ico .
O ap licad o r e o ju lg ad o r devem levar em conta tal situação e sopesar q u an d o
se pode ou não aplicar este ou aquele p rincípio protetor, e se é o caso de utilizar-se
das regras do seguro privado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ire i ío P r e v id e n c iá r io 63
95. P revidência p riv ad a fechada — Na seqüência: seguro privado, previdên­
cia privada aberta e previdência estatal, situa-se a previdência fechada, pois, sem
em bargo da origem e form ulação particular, os objetivos são perfeitam ente carac­
terizados com o com plem entares do benefício básico. Com dependência, em sua
definição, da prestação pública b astante acentuada, atraindo os preceitos securitá-
rios desenvolvidos no Direito Previdenciário.
96. B enefícios tra b a lh ista s — A legislação e a prática trabalhista externam
inú m eras vantagens com elem entos de benefício previdenciário. O exem plo m ais
antigo é o p agam ento dos prim eiros 15 dias anteriores ao despacho do auxílio-
-doença (em m uitas em presas assim designado).
São concessões contidas nas relações laborais, tendo com o sujeitos o em pre­
gado e o em pregador, com atribuições da previdência social com etida ao em prega­
d o r p o r variados m otivos.
O u tro exem plo é a com plem entação do auxílio-doença ou da aposentadoria
por invalidez (sem o caráter de prestação privada), prevista no regulam ento inter­
no, de iniciativa do patrocinador.
Tais in stitu to s, não obstante o seu âm ago p rotetivo, não cobertos pelo alcance
do D ireito Previdenciário, podem no m áxim o ter algum as de suas razões invocadas
pela área laborai.
97. Prestações estatais não securitárias — Em certas circunstâncias, o Es­
tado é con d en ad o a pagar indenização m ensal a quem tenha causado dano. Em
algum as hipóteses, a lei com pensa patriotas, sertanistas, seringueiros com renda
m ensal vitalícia. Há casos de indivíduos prem iados com algum a vantagem p o r
defenderem causas nobres ou a Nação, com valor desem bolsado pelo Tesouro Na­
cional. A Síndrom e da Talidom ida é benefício para não beneficiário da previdência,
vítim a do m edicam ento alem ão.
M uitos desses direitos objetivos aproxim am -se das prestações ou serviços as-
sistenciários, deles d istin g u in d o -se pela não universalidade o u subjetividade; em
resum o, são p ró p rio s de pessoas eleitas pelo legislador ou adm inistrador.
Se sua definição se en q u ad ra nas características de benefício assistenciário, es­
tão co m p reendidos no D ireito Previdenciário, caso contrário, no D ireito A dm inis­
trativo. De qu alq u er form a, a proxim idade é grande e presente a m ú tu a influência.
98. Relações fiscais — Indagação de grande interesse diz respeito à natureza
da co n trib u ição previdenciária. Se lida com o m odalidade tributária, o D ireito Tri­
b u tário será o ram o ju ríd ic o a ser consultado, valendo as regras tributárias cons­
titu cio n ais — exem plíficativam ente, a decadência e a prescrição quinquenãrias.
Porém , se concebida com o exação não tributária, a configuração é o utra, e a su b ­
m issão se dá ao D ireito Previdenciário.
R ecentem ente, encorpa-se a ideia de um sistem a exacional nacional, com pre­
en d en d o regras trib u tárias e não tributárias, entre estas últim as, as contribuições
sociais.

■ C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W ia á im ir N o v a es M a r tin e z
99. Matéria penal — N ão possui o D ireito P revidenciário Penal au to n o m ia e
form atação suficientes para fixar regras p ró p rias da perseguição ao crim e previden­
ciário. Na constatação do fato delituoso, a im p o rtân cia da legislação securitária está
em ten tar defini-lo, m as os principais conceitos estão co n tid o s no D ireito Penal.
A m atéria foi b astante atualizada com a Lei n. 9.983/2000 que tran sp o rto u os
ilícitos do art. 95 do PCSS para o C ódigo Penal.
100. Direito Procedimental e Internacional — As relações adjetivas surgidas
no d o m ín io da proteção social encontram -se em desenvolvim ento, co n stitu in d o -se
em especialização d o D ireito Previdenciário, p o rtan to , área de sua atuação.
É ofuscado o seto r ju ríd ico incum bido do relacionam ento entre o órgão gestor
previdenciário e os entes estrangeiros ou internacionais. P recariam ente, a legisla­
ção define obrigações dos órgãos de representação diplom ática ou dos organism os
in tern acio n ais e reco nhece tratados in tern acio n ais com alguns países.
A exem plo do sucedido com o segm ento privado, o D ireito P revidenciário
d ivide su a in cum bência conform e a área de controvérsia. Q u an d o consentâneo
com o D ireito In tern acio n al Público, em respeito à auto d eterm in ação dos povos e o
p o d er de representação dos Países, hã regra suficiente para a solução dos diferentes
problem as. N o u tra s questões, ainda é m atéria su bm etida à (algum a) reflexão dos
interessados.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o l — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
65
Capítulo X

A u t o n o m ia J u r íd ic a

101. Independência científica. 102. Individualidade legislativa.


S um A rio:
103. Liberdade didática. 104. Princípios típicos. 105. Justiça competente.
106. Objeto próprio. 107. Sujeitos distintos. 108. Organização estrutural.
109. Direito adjetivo. 110. Associações privadas.

D eterm inar se o ram o sopesado é au tô n o m o é obrigação form al do exposi­


tor. E m penho tradicional, às vezes, o p ro p o sito r esquece-se da razão de ser de tal
pro cu ra q u an d o não busca prestigiar a cadeira escolhida. Todavia, razões ju ríd ico -
-científicas exigem essa perquirição; várias conclusões derivam exata e precisa­
m ente da avaliação da liberdade da disciplina. Isso pode d eterm in a r a solução a ser
indicada ao caso.
D ando-as com o atendidas, Raym undo Cerqueira A tty , reproduz as exigências
consagradas de Alfredo Rocco, para a fixação da autonom ia: a) am plitude, ju s ti­
ficando estudo ad equado e particular; b) d o u trin a hom ogênea, conceitos gerais,
com u n s e distin to s dos p rin cíp io s inform adores de o u tras cadeiras; c) m étodos
pró p rio s, p or meio de processos especiais.
Sergio Pinto Martins, ad o tan d o o título “D ireito da Seguridade Social” (cam ­
po m ais am plo), para seu livro, e focalizando a proxim idade com o ram o laborai,
adm ite a indep en d ên cia ( “D ireito da Seguridade Social”, p. 30). Perpétua Wander-
ley tam bém o tem com o au tô n o m o ( “A utonom ia do D ireito P revidenciário”, in
RPS n. 15/56). Sully Alves de Souza posicionou-se claram ente q u an to à autonom ia
( “D ireito P revidenciário”, p. 30/ 35). José Reis Feijó Coimbra, preferindo relatar os
opositores, sem se m anifestar claram ente, dá indicações de opor-se aos detensores
da au to n o m ia (“D ireito P revidenciário”, p. 42/43 e “Mil P erguntas de D ireito Previ­
d en ciário ”, p. 28/31). Fides Angélica O m m ati opta incisivam ente por ela (“M anual
Elem entar de Direito Previdenciário”, p. 24/27). Moacyr Velíoso Cardoso de Oliveira,
en ten d en d o -o próxim o do Direito A dm inistrativo, o classifica com o autô n o m o
em razão da existência de princípios p ró p rio s ( “P revidência Social”, p. 50/55).
Para M íriam Costa Rebollo Câmera, “o Direito Previdenciário, quando encarado
abstratam ente, apresenta-se com o sub-ram o integrante do D ireito do Trabalho,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

66 W lc td im ir N o v a e s M a r t i n e z
p o rq u e seu objeto se origina, basicam ente, do exercício de atividades produtivas;
m as q u an d o exam inada a legislação pátria, inform ada por prin cíp io s próprios e
pro p iciad o ra do su rg im ento de instituições peculiares, deve-se concluir que tal
ram o é d o tad o de au to n o m ia, justificando-se a sua desvinculação do D ireito do
T rabalho” ( “A Previdência Social e o D ireito do T rabalho”, in RPS n. 77/201).
Antonio Carlos E. de Oliveira engrossa a corrente au to n o m ista reportando-se
ao “D ireito P revidenciário”, d eJoséJaym e de Sauza Santoro ( ‘A u to n o m ia do Direito
P rev id en ciário ”, in RPS n. 72/645).
José M artins Catharino considerava-o integrado no D ireito do Trabalho e p re­
via a in d ep en d ên cia q uando do advento da seguridade social. A parentem ente, sem
razão de ser.
Sônia M aria dos Santos Lopes, Marli Campos dos Santos, Ricardo Bertrand
Rangel, Vânia Lucia Belmoni, M aria de Fátima Lameiras, Sérgio Luiz da Silva Abreu,
reco n h ecen d o a origem com um ao D ireito do Trabalho, adm item a au to n o m ia ( “Da
In co m p atib ilid ad e Lógica e Axiológica dos D ireitos dos S egurados E m pregados”,
in RPS n. 85/734).
A discussão em to rn o da autonom ia do D ireito P revidenciário é anacrônica e
su p erad a, havendo nisso u m pouco de convenção. U tilizados os m esm os critérios
para ram os consagrados, poder-se-ia d u v id ar de sua liberdade e eles, sabe-se de
antem ão, são cu ltu ra lm en te livres.
R am o ju ríd ico é in d ep en d en te, sustenta-se alhures, q u an d o reúne: a) a u to n o ­
m ia científica (in stitu to s, técnicas, praxes e procedim entos particulares); b) liber­
dade legislativa; c) separação didática (d o u trin a, bibliografia, cursos, periódicos
especializados); d) p rin cíp io s consagrados; e) ju stiç a especializada; f) objeto p ró ­
prio; e g) sujeitos distintos.
A fo r tio r i, poder-se-ia exigir: h) organização (MPS/1NSS); i) direito adjetivo
individualizado; j) associações nacionais e estrangeiras, entidades e eventos (co n ­
gressos, fó ru n s e sem inários).
O fato de a Lei n. 9.732/1998 ter subm etido a norm a previdenciária à trabalhista
na área, aquela que cuida das doenças ocupacionais, não afetou essa independência.
101. Independência científica — Alguns ram os ju ríd ico s surgem in dividua­
lizados e o u tro s o btêm configuração n o curso do tem po. O D ireito Previdenciário
assum iu in d ep en d ên cia desde o seu nascim ento pelo fato de ap resen tar in stitu to s
técnicos, regras, praxes e procedim entos singulares.
O bviam ente, na form ulação do encam in h am en to dos seus quesitos serviu-se,
na o p o rtu n id ad e , da experiência de o u tras posições do co n h ecim en to hu m an o . Em
cada um a dessas soluções é possível en c o n trar a origem , isto é, onde o o p erad o r foi
bu scar o en q u a d ram en to do seu problem a. Exem plificati vãm ente, na com posição
do quadro dos d ep en dentes, socorreu-se do D ireito de Fam ília; havia sim ilaridade
de intenções, até então o Direito Civil era a única n o rm a p rotetiva das pessoas.
O nível p ecuniário dos benefícios de pagam ento con tin u ad o é cifrado a cálculo
m a te m á tic o , c o n s titu i in s titu to técn ic o ím par, o p e ra n d o com o salário de bene­

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T bm o I — N o ç õ e s d e D i r e it o P r e v id e n c iá r io 67
fício, m édia da base de cálculo de contribuições vertidas n u m certo lapso de tem po.
O salário do trab alh ad o r depende do co nvencionado com o em pregador; flutuando
con so an te certas regras de m ercado (pelo m enos até o E stado não intervir na sua
form ulação); já o valor d o benefício conhece parâm etros p ró p rio s, norm as p ú b li­
cas, im postas im p erativam ente pela legislação previdenciária, au sen te q u alq u er
negociação.
Várias técnicas foram introduzidas, valendo lem brar a definitividade do b e­
nefício de pagam ento sucessivo, co n tin u id ad e tem poral e irrenunciabilidade ou
indisponibilidade. C onform e o caso, visam aos objetivos. A definitividade diz res­
peito à im possibilidade o u dificuldade do segurado em buscar outros m eios de
subsistência. A co n tin u id ad e refere-se à natureza alim entar, sem trabalhar, o titu lar
deve sobreviver com o benefício todos os m eses. A irrenunciabilidade e a in d isp o ­
nibilidade refletem a proteção ao benefício: ten tar evitar o seu m au uso.
Praxes preexistentes foram aproveitadas; dom inadas, outras desenvolvidas ou
aperfeiçoadas, e algum as tiveram de ser criadas. Estim ar o direito à pensão por m orte
em razão das circunstâncias da data do falecim ento do segurado foi posição assum i­
da, posteriorm ente transform ada em técnica, vindo a integrar a filosofia do Direito
Previdenciário. Q uer dizer, n o tocante à prova da dependência econôm ica, interessa a
situação do dependente quando do óbito, e não antes ou depois, podendo a situação
financeira alterar-se no curso da m anutenção do benefício, sem prejuízo do direito.
P rocedim entos, n o rm alm en te com caráter adm inistrativo, tiveram de ser in ­
ventados. Envolvem , p o r exem plo, os dados fornecidos pela em presa p o r m eio da
CTPS e o u tro s d o cu m entos, o p reen ch im en to de form ulários, o protocolo do p ed i­
do, a espera da concessão, o afastam ento do trabalho q u an d o exigido, a notícia do
deferim ento, a ab ertu ra de prazo para recurso e assim p o r diante.
Só no D ireito Previdenciário P rocedim ental, o órgão julgador su p erio r (C o n ­
selho Pleno do CRPS) avocava processo não apreciado em seu m érito, sucum bido
n o exam e de adm issibilidade no órgão ju lg ad o r inferior (JR o u CAj), se inequívoco
o direito do postulante.
A m aior p arte desses in stitu to s científicos ex p erim en to u desenvolvim ento no
seio do Direito Previdenciário, n ão conhecendo sim ilar em o u tro s ram os ju ríd ico s
o u práticas. M esm o diante da proxim idade física do D ireito d o Trabalho, acabaram
form atando-se diferenciadam ente. A CTPS, d o cu m en to laboral-previdenciário,
criação nacional, su b stitui u m sem -núm ero de cópias de co ntratos de em prego,
solução b rilh an te a ser im itada p o r outros países.
102. In d iv id u a lid a d e legislativa — No respeitante à norm alização, o Direito
Previdenciário não deixa a m en o r dúvida. Desde seu aparecim ento, a previdência
social foi disciplinada em lei própria, essencialm ente securitária. Às vezes, abrigan­
do ou tras relações; é com um encontrar-se preceito laborai na legislação prev id en ­
ciária, m as rara n o rm a previdenciária na legislação trabalhista (em bora existente).
Subsiste notável tradição de in d ep en d ên cia sob esse aspecto, m esm o antes da
criação de M inistério específico da previdência social, dispensando dem onstração,

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

68 W l a d im i r N o v a e s M a r tí n e z
A legislação previdenciária adm ite n o rm as co nstitucionais e infraconstitucio-
nais isoladas. N estas últim as, leis orgânicas, gerais e especiais. À sua convivência
aplicam -se dispositivos p ró p rio s da Lei de In tro d u ção ao C ódigo Civil. Serve-se de
regras universais, m u itas de superdireito, particulares e específicas.
O im p o rtan te nessa au to n o m ia legislativa é ressaltar o fato de os com andos
não se su b o rd in arem sistem aticam ente a o u tras legislações. Q u ando de rem issão,
há invocação necessária ao relacionam ento sistem ático entre os ram os jurídicos.
O u seja, su a co n sistência perm ite aplicação, integração e interpretação, e raram en ­
te reclam a a necessidade de buscar in stitu to s ju ríd ic o s avizinhados. Tratando de
questões p ró p rias, dispensa co n su lta a terceiros.
103. Liberdade didática — A liberdade didática do D ireito Previdenciário
evidenciada a p artir de d o u trin a própria, bibliografia expressiva, cursos superiores
regulares, profissionalizantes e de reciclagem técnica, periódicos especializados,
eventos freqüentes (congressos anuais p erm an en tes, m u itíssim os sem inários, sim ­
pósios, jo rn ad as, en contros, fóruns etc.).
O p en sam en to científico rende com entários, ensaios, m anuais, teses, dicioná­
rios, apostilas, cartilhas, trabalhos de divulgação e infinidade de artigos. A biblio­
grafia é vasta, em b o ra carente de tratados.
As faculdades apresentam cursos de m estrado, d o u to rad o e, com um ente,
de b acharelado em D ireito P revidenciário. A lgum as em presas se especializaram
em cu rso s rápidos regulares, iniciados pela LTr em 1975, desenvolvidos pela
MANAGER, PRODEP, DIALÉTICA, ESA, IAPE, EPD, EPDS, SENAC e, especial­
m ente em previdência com plem entar, pela ABRAPP.
P eriódicos são com uns. H istoricam ente, a Revista Industriários, Inapiários e
A rquivos do 1DS abrigaram extraordinária contribuição ao estudo. Há algum tem ­
po, a da P rocuradoria-G eral da autarquia. Em 1977, surgiu a Revista de Previdência
Social, pub licad a m ensalm ente. A com panham -na nesse m ister a Revista C o n ju n ­
tu ra Social e a Previdência em D ados, am bas do MPAS, o BIT-Revista, e m agazines
de m en o r expressão. A ABRAPP publica vários deles, com o o Jo rn al dos F u n d o s de
Pensão. Tam bém se vai firm ando a Revista ANFIP Em m atéria exacional, não
pode ser esquecida a Revista Dialética de D ireito Tributário. M ais recentem ente a
Revista de D ireito Social, da E ditora N otadez.
E ventos an u ais e in term iten tes são com uns. O 1BDP co o rd en o u vários co n ­
gressos, no Rio de Janeiro. Em 1987, a LTr iniciou o C ongresso Brasileiro de Pre­
vidência Social, reed itando-o an u alm en te em São Paulo há 26 anos. Seu “Jo rn a l
do C on g resso ” é verdadeiro livro, re u n in d o trabalhos doutrinários. A ANFIP faz
convenção bian u alm ente, além de p rom over en co n tro s regionais esporádicos. A
ABRAPP em p reen d e congresso todos os anos, reuniões de grande envergadura, nas
capitais dos diversos estados. O MPS tem reu n id o especialistas nacionais e estra n ­
geiros em m u itas o p o rtu n id ad es. A O IT -C oprint realiza an u alm en te sem inários
para em presários em duas capitais estaduais. Em 2005, realizou-se o 5S C ongresso
Brasileiro de Previdência C om plem entar, tam bém da E ditora LTr.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D i r e i t o Prev id e n c iá r io 69
104. Princípios típicos — Os p rin cíp io s de D ireito Previdenciário cham aram
a atenção de vários especialistas. Não só desenvolvidos pela d o u trin a ( “Princípios
de Direito P revidenciário”, 5. ed., São Paulo:, LTr, 2011), com o aplicados d iutur-
nam ente, são citados na ju risp ru d ên cia e em pareceres.
Alguns deles ascenderam em âm bito constitucional, caso da precedência do
custeio e da irred u tib ilidade do valor dos benefícios. C om parecem aqui desenvol­
vidos em espaço próprio.
105. J u s tiç a c o m p e te n te — Em bora, p o r força de tradição, m atéria de aci­
dentes do trabalho seja da alçada da ju stiç a com um e alguns ju izes do trabalho
enten d am ter atribuição para com por conflitos sobre previdência fechada, a Justiça
Federal é co m p eten te para dirim ir dissídios entre segurados e o órgão gestor. C om ­
petente (aí abrigando todas as dem ais questões) e especializando-se.
A exem plo do su cedido com a legislação trib u tária federal (C onselho de C o n ­
trib u in tes, do M inistério da Fazenda), o MPS abriga órgãos adm inistrativos de
com posição in tern a dos interesses entre INSS e contribuintes/beneficiários.
106. O b jeto p ró p rio — Em bora não inteiram ente d istin to , o D ireito Previ­
denciário tem objeto p róprio e exclusivo: disciplinar a previdência social. Trata-se
de interesse perm an en te do E stado m oderno, atividade de grande expressão social.
Política de alcance significaLivo, técnica d istributiva de rendas, m eio de solidarie­
dade, enfim , in stru m en to protetivo com in stitu to s práticos e jurídicos.
107. S u jeito s d is tin to s — As pessoas envolvidas na relação ju ríd ica previden-
ciãria não se co n fu n d em com outras. De um lado, os co n trib u in tes e beneficiários
(segurados e d ep en d en tes) e, de outro, o órgão gestor (não, necessariam ente, em ­
pregado e em pregador, mas d ad o r e prestad o r de serviços).
108. O rganização e stru tu ra l — A previdência social básica é atribuição do Es­
tado, desenvolvida pelo MPS e adm inistrada por autarquia federal, o INSS. Também
pelo ex-lnstituto de Previdência dos Congressistas e Tesouro Nacional, estadual ou
m unicipal. De longa data detém organização estruturada, com vários organism os
prestadores de serviços.
109. D ireito ad jetiv o — Em razão de sua especificidade, subsiste um D ireito
Previdenciário P rocedim ental. Trata-se de divisão bastante desenvolvida, com ca­
racterísticas p ró prias, n o rm as particulares, ordenam ento com posto de níveis, entes
decisórios singulares e colegiados, enfim , instituição b astante assem elhada, nos
seus lim ites, ao P oder Judiciário.
110. A ssociações p riv ad as — Várias associações e entidades cuidam do D irei­
to Previdenciário, convindo lem brar o InstiLuto Brasileiro de D ireito Social — IBDS,
Institu to Brasileiro de Direito Previdenciário — IBDP, C entro de E studos Previden-
ciários — CEP, C entro de E studos de Seguridade Social — CESS, In stitu to C ultural
de Seguridade Social — ICSS, Associação N acional dos Fiscais de C ontribuições
Previdenciárias — ANFIP, Associação N acional dos P rocuradores — ANPREV,
In stitu to dos A dvogados Previdenciários de São P aulo — IAPE, Associação Brasi­
leira das Entidades Fechadas de Previdência Privada — ABRAPP, Associação Nacional
das E ntidades Abertas de Previdência Privada — ANAPP e outras mais.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

70 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo XI

R e l a ç õ e s c o m R a m o s J u r íd ic o s e C iê n c ia s

Sum á r i o : 111. Direito Constitucional. 112. Direito do Trabalho. 113. Direito Tri­

butário. 114. Direito Comercial. 115. Direito Civil. 116. Direito Administrativo.
117. Direito Penal. 118. Direito Processual. 119. Direito Internacional Público.
120. Ciências exatas e sociais.

Igual aos seus coirm ãos, o D ireito Previdenciário envolve-se seguidam ente
com ram os ju ríd ico s, substantivos ou adjetivos, e com ciências, exatas ou sociais.
N esse relacionam ento, ele coordena e é coordenado, apresenta-se com o principal
ou acessório e, em alguns casos, subsiste sob convivência ordenada o u integrada.
Assim , exem plificativam ente, a ocorrência de certos eventos laborais no seio
da em presa d ep en d e de providência do INSS (v. g., alta m édica para voltar ao tra­
balho). P o r o u tro lado, fato trabalhista condiciona o benefício previdenciário (v. g.,
afastam ento do serviço d u ra n te 15 dias, para a concessão do auxílio-doença).
Em vínculo p raticam ente in tram u ro s, o deferim ento da prestação com ple­
m en tar só é possível após o despacho da básica; nessa o p o rtu n id ad e, o público e o
p rivado estão in tim am en te ligados, m u tu am en te se influenciando.
O D ireito Previdenciário subm ete-se às regras exacionais universais com uns
ao D ireito T ributário, Penal e Processual. E assim p o r diante. P articularm ente, às
do D ireito A dm inistrativo.
M uitas vezes, para co n su b stan ciar o estado previdenciário, im põem -se p ro ­
vidências distan tes do ordenam ento securitário: descaracterizado pen alm en te um
dos crim es d a Lei n. 9.983/2000 e absolvido o réu, não se operam as sanções ad ­
m inistrativas. Q uem decanta o delito, no caso, é o D ireito P revidenciário P enal ou
o Processual.
Os ram os ju ríd ico s com os quais o D ireito Previdenciário m ais se relaciona
su b stan tiv am en te são o D ireito C onstitucional, do Trabalho e T ributário, C om er­
cial e Civil. A djetivam ente, com o D ireito Processual Civil e A dm inistrativo.
As principais ciências não ju ríd icas correlatas são a m edicina e a m atem ática,
a dem ografia e a estatística. E ntre as sociais, a econom ia, a sociologia e a política.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o l — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 71
Em m atéria de preparação para a aposentação, em m en o r intensidade, estão a psi­
cologia, a gerontologia e a geriatria, em razão da aposentadoria especial, m edicina,
higiene e segurança do trabalho.
111. D ireito C o n stitu c io n a l — C om o acontece com os dem ais ram os, o Di­
reito P revidenciário d ep en d e dos preceitos constitucionais. A subordinação, de
natureza organizacional e institucional, acen tu o u -se com a E m enda C onstitucional
n. 1/1965 (principio da precedência do custeio) e com a Em enda C onstitucional n.
8/1977 (natureza da co n trib u ição ), agudizando-se com a C arta M agna de 1988
(trim estralidade da exigibilidade e irredutibilidade dos benefícios), bem com o na
Em enda C o n stitu cio n al n. 20/1998. N esta ultim a Lei Maior, estabelecidos p rin cí­
pios constitu cio n ais previdenciários (“P rincípios de D ireito P revidenciário”, 5. ed.,
São Paulo: LTr, 2011), norm as dispositivas (décim o terceiro salário e benefício
m ín im o ), regras e técnicas (salário de benefício).
O estu d o da natu reza ju ríd ic a da exação, a p ar da ju stap o sição do D ireito
Tributário, não pode ser encetado sem as distinções constitucionais. Da m esm a
form a, a exigibilidade da contribuição sujeita-se p erm an en tem en te ao crivo da
con stitucionalidade, ab rindo-se cam po para o exam e do D ireito Previdenciário e
pouca atenção à Previdência Social.
Todo o C apítulo 11, do T ítulo V lll — Da Ordem Social, cuida da seguridade so­
cial, e nos arts. 201 e 202, da previdência social, nos arts. 203 e 204, da assistência
social, e nos arts. 196 a 200, ações da saúde. Estão presentes norm as p erm anentes
e transitórias, sistem atizadas (arts. 193 e 204) e esparsas (arts. 40 e 93 etc.). Em
m atéria de custeio, regradas em particular (art. 149) e de m odo geral (art. 195).
A partir de 1988, as relações com o Direito C onstitucional, com o dito, estiveram
em evidência, e de certa forma em panaram a independência do ram o jurídico, despre­
zando a especificidade da técnica. O princípio da precedência do custeio foi ignorado
pelo P oderjudiciário, a natureza não tributária da contribuição, esquecida, e as razões
políticas e econôm icas sobrepuseram -se às securitárias. Q uando da busca de questões
infraconstitucionais — significado da locução “folha de salários” — , descurou-se do
Direito Previdenciário, recorrendo-se inadvertidam ente ao Direito do Trabalho.
C u riosam ente, o vetusto direito adq u irid o não foi invocado até então em re­
lação à m an u ten ção do valor dos benefícios, servindo-se os interessados da irre­
dutibilidade. Poucos se deram conta da im portância do prim eiro: se o nível da
prestação é reduzido, sobrevêm afronta àquele p o stu lad o fundam ental.
112. D ireito do T rabalho — O D ireito Previdenciário é, sim ultaneam ente,
subo rd in an te, su b o rd in ado e convive com o D ireito do Trabalho. Em razão da
n atureza sub stitu tiv a da prestação (seu principal in stru m en to de realização), dos
benefícios concedidos d u ran te o curso da relação laborai, da co ntiguidade (quase
todas as contingências são originariam ente laborais) e sede com um , é o ram o com
o qual m ais se relaciona.
Isso pode ser evidenciado na dedicação de estudiosos que escreveram sobre os
dois tem as (Arnaldo Lopes Süssekind, Eduardo Gabriel Saad, Cíovis Canellas Salgado,

C urso de D ir e ít o P r e v id e n c iá r io

72 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
M ozart Victor Russomano, Pedro Vidal N etto), com obras intituladas Direito do
Trabalho e Previdência Social, obrigando, com o desenvolvim ento, ã especialização.
M oacyr Velloso Cardoso de O liveira, e stu d a n d o os co n ceito s de em presa,
v ínculo em pregatício, co n tra to de trabalho, salário-fam ília, salário-m aternidade,
acidentes do trabalho, doença, ap o sen tad o ria p o r invalidez e reserva obrigatória
de em prego para reabilitação profissional, exam inou as relações com o D ireito P re­
videnciário (“Influência do D ireito Previdenciário (ou da S eguridade Social) sobre
o D ireito do T rabalho”, in RPS n. 102/275).
Marly A. Cardone entende estarem unidos, e não fundidos, o Direito do Traba­
lho e o Previdenciário: “Parece razoável afirm ar que a conjunção do Direito Previ­
dencial ao Direito do Trabalho se dá sob diversos aspectos, a despeito da autonom ia
de am bos os ram os do D ireito”, explicando a natureza da relação entre os dois (“Di­
reito do Trabalho e Direito Previdencial: conjunção ou separatism o”, in RPS n. 86/3).
Exem plo típico dessa intim idade, na qual não se sabe qual disciplina prevalece,
diz respeito a d eterm in ar se a aposentadoria espontânea rom pe ou não contrato de
em prego. Lagos de tintas foram gastos para escrever sobre a linha separadora das
duas técnicas, avolum ando-se, hodiernam ente, na d o u trin a e n a jurisp ru d ên cia,
enten d en d o -se existirem aí duas relações distintas, e não ocorrer a resilição do elo
laborai sem a v ontade expressa do trabalhador, pelo m enos até a Lei n. 9.528/1997.
Para Antonio Carlos Araújo de Oliveira, “A ap o sen tad o ria não é causa de
extinção do C o n trato de Trabalho”, in RPS n. 167/779. Valdir de Oliveira Rocha
pensa o co n trário (“in co n stitu cio n alid ad e da M anutenção C om pulsória do C o n ­
trato de E m pregado A cidentado”, in Rep. IOB d e ju ris p ., 1® quinz., de jan./1993,
n. 2/7.092).
113. D ireito T rib u tário — O financiam ento da previdência social realiza-s
p o r m eio das fontes de custeio. S ubstanciadas com contribuições, isto é, exações,
m odalidade de ap ropriação estatal ou não, im postas às pessoas física ou ju ríd ica,
de direito p rivado ou público.
O D ireito T ributário enfoca e disciplina a atuação ex p ro p rialó ria do Estado,
p articu larm en te os trib u to s (v. g., im postos, taxas, co n trib u içõ es de m elhoria e
em p réstim o s co m p u lsó rio s). Sua lei orgânica e básica, o CTN, possui, em bora não
sistem atizadam ente, norm as exacionais universais e p ró p rias apenas dos tributos.
M uitos dos in stitu to s ju ríd ico s trib u tário s são com uns à exação previdenciária,
com o decadência, prescrição, solidariedade, restituição, com pensação, repetição
do in d éb ito , sujeito passivo, sujeito ativo, fato gerador etc. N em p o r isso, iguais.
Isso explica o vínculo entre am bos os ram os jurídicos. Dada a natu reza do
direito e do código trib u tário , essa influência p raticam ente se dá nu m ún ico sen­
tido, do geral para o particular. P or sua vez, são poucas as regras tributárias na
legislação previdenciária não contidas no C ódigo T ributário N acional, m as a recí­
proca não é verdadeira. O legislador ordinário, às vezes, tom a em prestado in stitu to
jurídico fiscal (p rin cíp io da anualidade) e o adapta às necessidades da proteção
social (p rin cíp io da trim estralidade).

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 73
A rem issão ao C IN ou à norm a trib u tária nele abrigada deve observar alguns
pressupostos: a) ser universal, com um à contribuição social e aos tributos; b) ine-
x istir dispositivo pró p rio exaustivo na legislação previdenciária; c) o resultado ser
lógico e adaptável à realidade científica da previdência social, isto é, respeitar-lhe
a especificidade; e d) in o co rrer vedação norm ativa.
f 14. D ireito C om ercial — Sob vários aspectos, o D ireito Previdenciário rela­
ciona-se com o D ireito Com ercial. P articularm ente na perquirição de alguns co n ­
ceitos com o: em presa, estabelecim ento, filial, em presário, sociedade, alienação,
lucro, faturam ento, con tabilidade etc.
Ao se exam inar, p o r exem plo, a essência do ato cooperado, especialm ente
com vistas às obrigações fiscais previdenciãrias, é preciso socorrer-se da concepção
ju ríd ica sobre o ato de com ércio. D irim ir se o valor d istrib u íd o pela cooperativa
ao cooperado é retrib u ição, rem uneração, h o norários, lucros ou dividendos, isto
é, rendim ento do trabalho ou do capital. D istinguir entre lucro e reto rn o o u sobra.
115. D ireito Civil — O Direito Civil regra relações entre pessoas. Por isso,
natu ralm en te é invocado pelo Direito Previdenciário, especialm ente em m atéria de
certos benefícios (v. g., pensão por m orte, auxílio-reclusão), capacidade jurídica,
ato ju ríd ico , filiação, dependência, laços de parentesco, em ancipação e o u tro s mais.
Q uando a lei previdenciária exclui o em ancipado do rol dos dep en d en tes, a
definição dessa figura ju ríd ica há de ser buscada no D ireito de Fam ília.
A previdência com plem entar, com seu ex trao rd in ário desenvolvim ento desde
1978, obrigou os especialistas a reestu d ar o D ireito das O brigações, no qual en co n ­
tram m uitas soluções para as suas dúvidas.
116. D ireito A d m in istrativ o — O D ireito A dm inistrativo tem p o r objeto,
pelo m enos, discip lin ar as relações laborais e previdenciárias dos servidores e, de
m odo geral, cu id ar dos expedientes in tern o s dos órgãos públicos, além de outros
aspectos, aqui não considerados. N este últim o sentido, é inform ador do D ireito
P revidenciário P rocedim ental.
D iam e da iniciativa do órgão gestor, a p roxim idade com o D ireito P reviden­
ciário é das m ais significativas, pois os en cam in h am en to s adjetivos são responsá­
veis pelos p rin cip ais serviços postos à disposição dos interessados.
117. D ireito P enal — O D ireito P revidenciário é su b o rd in ad o ao D ireito Pe­
nal, suas relações são de d ep endência qu an to aos in stitu to s ju ríd ic o s relativos à
crim inalística.
José L u iz D ias Campos estu d o u as “C onseqüências penais do acidente do tra­
balho”, in RPS n. 109/736 e “A cidente do Trabalho e responsabilidade p en a l”, in
RPS n. 112/133.
118. D ireito P ro cessual — O D ireito Previdenciário P rocedim ental envolve­
-se diretam en te com o Direito A dm inistrativo, m as sua m aior subm issão se dá em
relação ao processo civil. M uitos dos seus expedientes e praxes são copiados, até a
linguagem arrem eda o D ireito Processual, daí a natu ralid ad e da rem issão.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

74 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
119. Direito Internacional Público — Q uando cuida das relações havidas e n ­
tre os en tes p o lítico s e organism os de representação dos países o u internacionais,
são as regras do D ireito In tern acio n al as prevalecentes.
120. Ciências ex a ta s e sociais — A p rim eira ciência social com a qual o Di­
reito Previdenciário se relaciona, um bilicalm ente, é a previdência social. Razão de
ser de sua existência, o fato explica-se p o r si só.
a) relações com a medicina: G rande parte dos eventos d eterm in a n te s dos b e n e ­
fícios é falo psicológico ou fisiológico, d ep en d en d o , co n seq u en tem en te, dos co n ­
ceitos da m ed icin a (v. g., gravidez, parto, incapacidade, invalidez, idade avançada,
m o rte etc.). U ns p o u cos são sociais.
O vín cu lo é de subm issão, pois a ciência m édica determ ina ao aplicador quais
os pro ced im en to s a serem observados. Em relação ao p arecer m édico, descabe in­
terpretação ju ríd ica, se ele observa os princípios da lógica.
Cabe à perícia d eterm in ar aptidão para o trabalho, existência de seqüela, e,
por isso, são im p o rtan tes os liam es estabelecidos com essa ciência exata;
b) relações com a matemática: C ertos conceitos m atem áticos são universais
e todo o co n h ecim en to hu m an o deles se serve, não se co n siderando tal operação
rem issão ou relacionam ento, m as alguns deles, m ais sofisticados, são invocações
necessárias, em d eterm in ad o s casos sofrendo adaptação no D ireito Previdenciário.
É o caso da proporcionalidade (na contribuição e n a aposentadoria), m édia
aritm ética sim ples (do salário de benefício), determ inação da m ão de obra (na
co n stru ção civil pela área co n stru íd a), percentuais, índices acu m u lad o s de infla­
ção, fixação do p eríodo de trabalho (som a dos tem pos de serviço), conversão do
tem po de serviço especial, e m u itíssim os outros.
Dã-se exem plo prático com o conceito m atem ático e jurídico-previdenciário
típico. P roporção, originaria m ente, é instituição aritm ética, relação quantitativa
entre entidades, com paração entre duas o u m ais grandezas. Na m atem ática, é ex­
pressão abstrata; trazida para a técnica protetiva, precisa ter expressão form al, sig­
nificado, tecnicism o. Q u ando transform ada em n o rm a ju ríd ica, carece de ju ízo
p ró p rio , ad eq u ad o à realidade m aterial. Q u ando o assu n to é contribuições, em face
do lim ite e do cálculo de benefícios, não gera pendências, m as d esp erta discussões
conceituais q u an to ao significado da palavra “p ro p o rcio n al” no texto c o n stitu cio ­
nal de 1988.
A posentadoria proporcional deve ter relação pecuniária entre dois valores
previam ente co n v encionados, vin cu lad o s e indicadores da ciência securitária. Não
é verdade em si; d ep en d e dos ditos indicadores. Por isso, 70% ou 80% do salário
de benefício po d em ser tidos, conform e a convenção legal, com o proporcional à
relação en tre os então 30 e 35 anos de serviço. P rincipalm ente, se se levar em conta
o vínculo estabelecido pelo legislador: pren d eu tais percentuais à aposentadoria
proporcional. N ão tem de ser necessariam ente 30 35 = 85,71% , pois se condicio­
na à sua vontade, circunscrita à ideia de relação com patível.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 75
Assim, conform e o bom -senso, não é proporcional, se aos 35 anos o percen­
tual é de 100%, pagar 50% aos 30 anos, pois, m uíatis m utandis, 30 não é m etade de
35. O legislador ord in ário não tem de estar ad strito, nesse caso, à relação m atem áti­
ca sim ples, pois tam bém atende a determ inações atuariais. Mas não pode se perder
na incom patibilidade de ídeias. C om o no abono de perm anência em serviço, em
que 20% co rresp o n d am aos 30 anos e 25%, aos 35 anos, sem correspondência m a­
tem ática absoluta, existindo certo arbítrio de convenção com vistas ao desestím ulo
à aposentação. Ainda, sobre o assunto, veja-se o disposto no art. 40, II, da C ons­
tituição Federal, q u an d o disciplina a aposentadoria p o r idade e do servidor com
valores proporcionais ao tem po de serviço. P revidenciariam ente, para não deixar
de proteger a proporcionalidade, inicia-se a p artir de certo patam ar.
A ap o sentadoria p roporcional não surgiu na C onstituição Federal; nasceu na
legislação ord in ária com parâm etros próprios, m atem aticam ente com o previden-
ciários, ascendendo à C arta M agna;
c) relações com a estatística: Na elaboração da n o rm a ju ríd ica, é im portante
o legislador to m ar con hecim ento de fatos dem ográficos e estatísticos. Eles são
elem entos in form adores da realidade a cooperar na elaboração das regras. Na apli­
cação da lei, porém , é d im in u to o relacionam ento;
d) relações com a economia: A econom ia sub o rd in a a previdência social e, c o n ­
sequ en tem en te, o D ireito Previdenciário. Q uem tem de inform ar qual o índice de
inflação preservador do p o d er aquisitivo da renda m ensal é o econom ista, e não o
jurista;
e) relações com a sociologia: Alfredo J. Ruprecht estu d o u as relações com a
sociologia ( “Sociologia da Seguridade Social”, in RPS n. 143/877). Ali ficaram evi­
dentes essas relações. Trata-se de fonte m agnífica, pois os dados sociológicos são
os elem entos pré-ju ríd icos alim entadores do legislador;
f) relações com a jilosofia: A filosofia da previdência social ou do D ireito P re­
videnciário é ciência p o uco desenvolvida entre nós, em bora devesse ser sede ins-
piradora do elab órador da norm a. Porém , um a de suas divisões, a lógica, p o r sua
aplicação no D ireito, é m uito solicitada na interpretação do texto.

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W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
Capítulo XII

J u s t iç a C o m p e t e n t e

Sum a r i o : 121. Prestações comuns, 122. Benefícios acidentários. 123. Falências e

concordatas. 124. Questões avizinhadas às previdenciárias. 125. Relações inter­


nacionais. 126. Previdência privada. 127. Estados e Municípios. 128. Divergên­
cias entre tribunais. 129. Questões não previdenciárias. 130. Assistência social
e ações de saúde.

Para fins de determ inação da partilha do Judiciário com p o d er para apreciar


questões envolvendo a previdência social, os dissídios podem ser divididos em vários
grupos: a) relações ju rídicas com uns, norm alm ente contidas no RGPS; b) prestações
acidentãrias; c) falências e concordatas; d) relações ju rídicas laborais, substantivas e
adjetivas, envolvendo m atéria previdenciária; e) relações internacionais; f) relações
ju ríd icas de previdência privada; g) entre Estados e M unicípios; h) divergências en ­
tre tribunais; i) questões não previdenciárias; e j) assistência social e saúde.
121. P restaçõ es co m u n s — Em seu art. 109, 1, diz a C onstituição Federa
serem os ju iz e s federais capazes para processar e ju lg a r (com petência funcional e
pessoal) “causas em que a U nião, en tid ad e autárquica ou em presa pública federal
forem interessadas n a condição de autoras, rés, assistentes o u o ponentes, exceto
as de falência, as de acidentes do trabalho e as sujeitas à Ju stiça E leitoral e à Justiça
do T rabalho”.
D estarte, em p rincípio, os dissídios nos quais interessados o INSS e os co n tri­
b u in tes ou beneficiários (excetuados os de falência e os acid en tário s), em todo o
seu espectro, são d irim id o s pela Ju stiça Federal.
Por o u tro lado, serão “processadas e julgadas na ju stiç a estadual, no foro do
dom icílio dos seg urados ou beneficiários, as causas em q u e forem parte instituição
de p revidência social e segurado, sem pre que a com arca não seja sede de vara do
ju ízo federal e, se verificada essa condição, a lei p o d erá p erm itir q u e o u tras causas
sejam tam bém processadas e ju lg ad as pela ju stiç a estad u al” (art. 109, § 3 a).
O interesse alu dido é o direto e, assim , as em presas estatais patrocinadoras
de fu n d o s de p en são (per se, p erte n cen te s ao D ireito P rivado), in d iretam en te não
interessadas, n ão atraem a com petência em m atéria de previdência com plem entar.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v i d e n c i d r i o 77
122. Benefícios acidentários — Causas acidentãrias, entendidas exclusivam en­
te as voltadas à concessão das prestações, com petem àJu stiça Estadual. Desta forma,
pedidos de benefícios decorrentes de acidentes do trabalho, doença profissional ou
do trabalho, sejam de pagam ento continuado (auxílio-doença, aposentadoria por
invalidez, auxílio-acidente ou pensão p o r m orte), ou de pagam ento único (pecúlios).
A ju stiça estadual não tem força para apreciar questões relativas à co n trib u i­
ção do seguro de acidentes do trabalho, em tem a de custeio.
Q uestiona-se sobre a possibilidade de a com petência, em razão da m atéria,
co n tin u ar p erten cen d o a essa ju stiç a com um , se o benefício foi concedido e d is­
cutiu-se problem as paralelos, com o, p. ex., o reajustam ento da renda m ensal. O
determ in an te seria o acidente do trabalho e suas conseqüências e, p o r isso, em
quaisq u er hipóteses, não se m odificaria a jurisdição.
Laerte José de Castro crê ser a ju stiç a com um com petente, em razão “do in te­
resse (relação ju ríd ica controvertida), objeto (bem ) e sujeitos (p a rte )” ( “C om pe­
tência Ju risdicional sobre acidentes do trab alh o ”, in RPS n. 168/838).
Os critérios de concessão são distintos, m as os reajuslam entos são iguais para
todos os beneficiários. Só tem sen tid o a com petência da ju stiç a com um se a discus­
são envolver o acidente propriam ente dito. D irim ido esse conflito, principalm ente
em m atéria de m an u ten ção , questões individuais ou coletivas, a ju stiç a Federal
deve ser ouvida.
Alberto Helzel Júnior, sugerindo a Ju stiça do Trabalho com o com petente —
citando autores favoráveis, entre os quais Am auri Mascaro Nascimento, Antonio
Lamarca, Wagner Giglio, Antonio Ferreira Cesarino Júnior, tsis de Alm eida — , propõe
alterações no texto co n stitu cio n al (“A com petência para as ações de acidentes do
trab alh o ”, in RPS n. 83/595).
A estabilidade do acidentado é m atéria trabalhista (conflito entre em pregado
e em pregador), e não acidentaria; nessas condições, a Ju stiça do Trabalho deve se
p ro n u n ciar sobre a su a ocorrência.
123. F alên cias e co n c o rd atas — Nos term os do m encionado art. 109, I, da
Lei Maior, a Ju stiça Federal não tem com petência para apreciar falências (e concor­
datas), restando à ju s tiç a Estadual essa função. P or conseguinte, os conflitos sobre
débitos previdenciários incluídos no processo de falência devem ser apreciados
pelos ju izes e trib u n ais estaduais.
124. Q u estõ es av izin h ad as às p re v id e n ciária s — Devido ao modus operandi
da quitação da obrigação, o salârio-fam ília e o salário-m aternidade (prestações p re­
videnciárias) e o auxílio-natalidade, m aterial e form alm ente, são deveres do em ­
pregador, em b o ra ju ríd ic a e efetivam ente sejam prestações devidas pelo INSS. A
em presa paga ao segurado o valor e o deduz na guia de recolhim ento, transferindo
o ônus à previdência social. Se há p endência relativa ao pagam ento em si, diver­
gindo em pregado e em pregador, a Ju stiça do Trabalho é autorizada a se m anifestar,
pois o dissídio se instala entre os dois polos da relação laborai. A com petência dá-se
em razão da m atéria.

C urso de D ir e t t o P r e v id e n c iá r io

78 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Porém , se o d iscutido é a im portância deduzida na GRPS, entre a em presa e a
au tarq u ia federal, a Ju stiça F ederal é que resolve a questão.
Q u an d o do reco lhim ento de contribuições referentes ao acordo trabalhista ou
p o r ocasião da execução da sentença, problem as relativos ao crédito previdenciário
p o d em surgir entre o em pregado e o em pregador. Do po n to de vista prático, a so lu ­
ção far-se-á co nform e o ditado pelo m agistrado, m as, su b sistin d o inconform idade,
a Ju stiça F ederal terá de se m anifestar, em virtude da pessoa (U nião).
125. R elações in te rn a c io n a is — Os conflitos ocorridos en tre nações defla­
gram en cam in h am en to s prevalecentes no Direito Internacional Público: m eios
d ip lom áticos (v. g., negociações diretas, congressos e conferências, b ons ofícios,
m ediação e sistem a consultivo), ju ríd ic o s (v. g., arbitragem , solução judiciária,
com issões in tern acio n ais de in q u érito e conciliação, com issões m istas) e m eios
coercitivos (v. g., retorsão, represália, em bargo, bloqueio pacífico, boicotagem e
ru p tu ra de relações diplom áticas) (apud Hildebrando Accioly, in “M anual de Direito
In tern acio n al P ú b lico”, p. 241/262).
C on so an te o art. 102, 1, e, o “litígio entre E stado estrangeiro ou organism o
in tern acio n al e a U nião, o E stado, o D istrito F ederal ou o T erritório” é solucionado
pelo Suprem o T ribunal Federal.
A trib u in d o com petência aos ju izes federais, diz a Lei M aior: “As causas entre
Estado estrangeiro o u organism o in tern acio n al e M unicípio o u pessoa dom iciliada
o u residente no P aís” (art. 109, II).
Da m esm a form a, as “causas fundadas em tratado ou co n trato da U nião com
E stado estrangeiro ou organism o in tern a cio n al” (art. 109, III).
126. P rev id ên cia priv ad a — Na previdência com plem entar, as relações são
com plexas, co n v in d o ah initio deixar claro serem civis as m an tid as entre segurado­
ras e co n tratan tes, e com petentes à ju stiç a com um . Pactos firm ados entre pessoas
físicas e ju ríd icas, p o uco o u nada diferem do seguro privado.
Ela p o d e ser pública (não organizada até 2004) ou privada, e esta aberta ou
fechada. N os dois ú ltim os casos, o ingresso do participante no sistem a é expressão
do co n traio de seguro e, p o r conseguinte, em p rin cípio, a Ju stiça C om um é convo­
cada para so lu cio n ar o eventual conflito.
Na p revidência fechada, as situações variam m ais e é preciso distingui-las
an tes da avaliação da com petência.
P roblem as entre p atrocinadora o u patrocinada e a Secretaria de Previdência
C om plem entar, em razão da pessoa (U nião), são apreciados pela Ju stiça Federal.
Q uestões entre p atro cinadora e patrocinada, objeto do D ireito Civil, são julgadas
pela ju stiça com um , e da m esm a form a entre a entidade e o participante. Todavia,
d ep en d en d o de com o se efetiva a im plem entação, su plem entação ou com plem en-
tação, a Ju stiça do Trabalho pode ser requerida. Se do co n trato individual de tra­
balho faz p arte cláusula assecuratória da integralidade do salário, o em pregador
assu m in d o este ô n u s em favor do em pregado (m esm o com a criação da entidade),
a Ju stiça do Trabalho é a com petente.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 79
Irany Ferrari considera com petente a Ju stiça do Trabalho se a com plem entação
é feita p o r “caixas” p articulares da em presa ( “C om plem entação de aposentadoria
p o r caixas p articu lares”, in RPS n. 1/13).
Zcno Simm pensa ao contrário ( “C om plem entação de aposentadoria e (in)
com petência d a Justiça do Trabalho”, in RPS n. 98/16).
127. E stad o s e M u nicípios — Os conflitos em ergentes entre servidores e os
Estados ou M unicípios ou com os entes autárquicos p o r estes criados para gerirem a
própria Previdência Social são de com petência d a ju s tiç a C om um (CF, arts. 125/26).
C aso o M unicípio não ten h a instituído regim e próprio, divergências entre os
seus servidores e o INSS, porém , são resolvidas pela Ju stiça Federal.
Sobre a com p etên cia do STF, diz o art. 102, I ,/, da C onstituição Federal: “As
causas e os conflitos entre a U nião e os Estados, a U nião e o D istrito Federal, ou
entre u n s e outros, inclusive as respectivas entidades da adm inistração indireta”.
A contagem recíproca obriga à m ultiplicidade de relações, perm itindo análise
com binatória com plexa. No m ínim o, pode-se dar entre o INSS e os Estados ou os
M unicípios, entre dois E stados, dois M unicípios e entre E stados e M unicípios.
Presente a União, a com petência é definida a favor d a ju s tiç a Federal, o m es­
m o valendo para conflitos entre dois Estados ou entre um E stado e u m M unicípio,
pod en d o ser a estadual, no caso de dois M unicípios.
128. D ivergências entre tribunais — D esentendim entos entre tribunais, par­
ticularm ente no resp eilante à p ró p ria com petência, são m uito com uns e a solução
para saber q uem irá apreciá-los varia conform e o nível da corte.
Conform e o art. 1 0 2 ,1, o, da C onstituição Federal, “os conflitos de com petência
entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superio­
res, ou entre estes e qu alquer outro trib u n al”, tam bém são de com petência do STF
D efinindo o p o d er ju risd icio n an te do STJ, diz o art. 105, d: “Os conflitos
de com petência entre q u aisq u er tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, 1, o,
bem com o entre trib u n al e ju izes a ele não vinculados e entre juizes vinculados a
tribunais d iversos”.
129. Q u estõ es n ão p re v id e n c iá ria s — Q uando o INSS (ou ente estadual,
d istrital ou m u n icip al) entra em conflito com pessoa física ou ju ríd ica p o r m otivo
não previdenciário, em razão da pessoa de direito publico presente, a com petência
é d a ju s tiç a Federa! (e da estadual, nos dem ais casos).
Se o segurado ou d ep en d en te m ove ação contra o órgão gestor, com vistas a
um a indenização civil, p o rtan to , m atéria não previdenciária, perm anece vinculada
à Justiça Federal.
130. A ssistên cia social e ações de saúde — As ações de saúde estão centradas
em organism os da U nião (M inistério da Saúde) e descentralizadas em secretarias
estaduais e m unicipais. Da m esm a form a, a assistência social. A presença do ente
político atrai a com petência em razão da pessoa, devendo ser, na prim eira hipótese,
a Justiça Federal, e a estadual, nos dem ais casos.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r t j

80 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo XIII

In teg r a ç ã o e In ter pr eta ç ã o

S u m á r i o : 131. Interpretação gramatical. 132. Concepção sistemática. 133. Exe­


gese autêntica. 134. Visão extensiva. 135. Ótica restritiva. 136. Sentido social da
lei. 137. Uso da analogia. 138. Valor da equidade. 139. In dubio pro mísera. 140.
Recomendações finais.

Para to rn á-lo ú til, a d o u trin a co n stró i diferentes visualizações do texto da lei.


São m éto d o s universais, em pregados nos diversos ram os. H viscerando o seu âm a­
go, co n v en cio n ad am ente, a p ar da aplicação no espaço e no tem po, dividem -se sob
du p lo aspecto: integração e interpretação. Na verdade, são de efetivação, m as esses
dois enfoques ressaltados ensejam versões típicas.
Igual ao pro ced id o na aplicação, convém co n sid erar tão so m en te as m utações
desses p ro ced im en to s q uando translacionados para o D ireito Previdenciário e aí
adquirem feições típicas e, em especial, os concebidos p o r ele, p o r sua m elhor
adequação à realidade disciplinada.
Dá-se ex em p lo inicial com a posição d ian te do c o n h e c im e n to d a lei. Regra
de ouro em quase todo o D ireito, no previdenciário assum e singularidade; d iscu te­
-se p o d er se exigir do h ip o ssu ficien te a m esm a acu id ad e d o cidadão autossufi-
ciente. O ferram en tal p rin cip a l será a im p rescin d ív el p rev alên cia da técnica em
si m esm a sobre o ram o form al, em bora isso não passe de racio cín io ju ríd ic o .
C aberá ao u su á rio d istin g u ir, com os cu id ad o s n ecessários in d icad o s pela ciên ­
cia social, q u ais os iten s cuja ciência será m in im am e n te exigida (v. g., re q u isito s
legais d efin id o res das prestações) e aqueles cujo direito n ão será in flu en ciad o
pelo tecn icism o legal.
Integrar e in terp re tar são esforços intelectuais em in en tem en te ju ríd ico s, tal­
vez, os m ais perigosos e atraentes deles. P ressupõem p ro fundo dom ínio da m atéria,
bom -senso e algum a sabedoria. Exegese é tarefa árdua e espinhosa e, em razão dis­
so, os especialistas desenvolveram recom endações úteis. E, algum as, nem tanto ou
suficientes. O clássico livro de Carlos M axim iliano é recom endado ( “H erm enêutica
e Aplicação do D ireito”), necessitando ser atualizado, enriq u ecid o de exem plos e
trazido m ais p ró x im o do D ireito Social e seus sub-ram os.

C U R 5 Q D E D lR E I T O P R E V ID E N C IÁ R IO
Tomo I — Noções de Direito Previdenciário „
N este desenvolvim ento, tentar-se-á propiciar alguns exercícios práticos do
alegado, pois conselhos, bem recebidos e co m preendidos q u an d o assim ilados, às
vezes se revelam de n en h u m a utilidade na prática do dia a dia. Especialm ente, se o
objeto de consideração não é a redação, m as o in stitu to retratado, a posição assu­
m ida, a in tenção a ser apreendida. Por exem plo, avaliar a contribuição dos aposen-
Lados, a p artir de 15.4.1994, sem direito ao pecúlio, reclam a análise da previdência
social com o um todo, sua natureza e papel, constitucionalidade da m edida, sua
op o rtu n id ad e histórica em relação às necessidades do custeio, enfim , um co njunto
com plexo de aspectos envolvendo am plo dom ínio do assunto.
Agora, dúvida m enos difusa. A Lei n. 9.032/1995 ah ero u a redação do
art. 57 do Plano de Benefícios, no tocante à aposentadoria especial, benefício n iti­
dam ente excepcional, per se m erecendo in terpretação restritiva. A redação an terio r
a 29.4.1995 não im pedia a volta ao trabalho de apo sentado e, com o dito, recente­
m ente a Lei n. 8.870/1994 havia posto fim ao pecúlio.
A p rim eira n o rm a m encionada acresceu um § 69: “H vedado ao segurado ap o ­
sentado nos term os deste artigo continuar no exercício de atividade ou operações
que o sujeitem aos agentes nocivos constantes da relação referida no art. 58 desta
Lei” (grifo nosso).
Parágrafo su b o rd in ad o ao caput do art. 57 está se referindo apenas à apo­
sen tad o ria especial; ipsofacto, não im pede a volta ao trabalho do aposentado por
idade ou tem po de serviço (interpretação lógica), desprezando-se a cogitação de
incluir-se nessa perm issão, p ro d u to do raciocínio, o percipiente da aposentadoria
p o r invalidez (in terp retação sistem ática, a im por noção da contingência deflagra-
dora deste últim o benefício).
A alusão à ap o sen tadoria especial (“deste artigo ”) não deve in d u zir o in térp rete
a pen sar apenas em quem a obteve utilizando-se tão so m en te do tem po de serviço
especial. O referido preceito, em outro parágrafo do m esm o com ando, regula
tam bém a ap o sentadoria p o r tem po de serviço, deferida com conversão de tem po
de serviço perigoso, penoso ou insalubre para o com um .
Eis afetada a co n clusão inicial: q uem co n to u tem po especial convertido e se
apo sen to u p o r tem po de serviço não pode voltar a exercer a atividade especial.
O alcance do “c o n tin u a r” igualm ente há de ser atingido. A mcns legislatoris
era inclu ir não só quem estivesse m an ten d o o vínculo em pregatício, m as tam bém
quem o tivesse ro m p id o e p reten d id o voltar ao trabalho na m esm a atividade. No
en tan to , a mens legís não disse o pensado.
Seu objetivo é só p erm itir a aposentadoria especial com volta ao trabalho em
atividade com um ou ap o sen tad o ria por tem po de serviço e retorno ao labor em
condições desgastantes, colim ando a proteção do organism o do segurado. C once­
bendo-se restritivam ente a ausência da mens íegis, o “c o n tin u a r” q u er dizer tam ­
bém , após a rescisão co n tratu al, reiniciar o trabalho. E, conform e recom endação
final, an tes de tudo, é preciso verificar se o dispositivo é constitucional.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

82 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Pelo m enos, três escolas acadêm icas desenvolveram -se a respeito da in terp re­
tação, com o in stitu to ju ríd ico : a) exegética: segundo a qual o in térp re te é escravo
da lei e certo p red o m ín io da mens legislatoris; b) histórica: na qual é relevante o
estudo da consciência do povo; finalm ente, c) direito livre: as n o rm as são p o r n a­
tureza falhas e precisam ser aperfeiçoadas pelo usuário.
A diferença entre mens legis e mens legislatoris é de grande im portância neste
tem a. U m a, a vontade exteriorizada no corpo legal, a ser apreendida; outra, a v o n ­
tade do legislador, o seu p en sam ento inicial, esboçado ou n ão na norm a.
P o r ocasião da edição da M edida Provisória n. 1.415/1996, o P oder E xecutivo
não se apercebeu da distinção entre essas duas entidades. O re d ato r pretendia dar
12% de reaju ste aos benefícios, a p artir de m aio de 1996, e 15% em agosto do m es­
m o ano, q u an d o en traria em vigor a m ajoração da alíquota dos c o n trib u in tes in d i­
viduais situ ad o s nas Classes I/Ill da escala de salários-base — até, de certo m odo,
m as não necessariam ente, aten d en d o ao princípio da precedência do custeio — ,
mas (eis aí a v o n tad e da lei), ao alu d ir à vigência e não à eficácia ou exigibilidade
das contrib u içõ es, acabou atrib u in d o a revisão dos valores a c o n tar de l g.5 .l9 9 6 .
Tal conclusão é possível em face da redação dos textos, pois a diferença (3%) aca­
bo u sen d o atrib u íd a a ganho real... .
Levando-se em conta a entidade estudada e a realidade a ser atingida, é pos­
sível aproxim ar-se do animus do elaborador da norm a. Som ada a algum as observa­
ções ínsitas à exegese, pode-se co m p reen d er o significado do texto, especialm ente
se n ão se esquecer do resultado atingido com tal encam inham ento.
Isso pode ser evidenciado, na prática, com o disposto no caput d o art. 58 do
ADCT. Ele reza: “Os benefícios de prestação co n tin u ad a, m antidos pela p revidên­
cia social na data da prom ulgação da C onstituição, terão seus valores revistos, a
fim de q ue seja restabelecido o poder aquisitivo, expresso em n ú m ero de salários
m ínim os, que tin h am na data de sua concessão, obedecendo-se a esse critério de
atualização até a im p lantação do plano de custeio e benefícios referidos no artigo
seg u in te” (grifos nossos).
Uma prim eira leitura, a oficial, m andou tom ar a im portância da renda m ensal
inicial, dividi-la pelo valor do salário m ínim o da data do início do benefício (in ­
terp retan d o co rretam en te a locução “data de sua concessão”) e m ultiplicando-se
o q u o cien te pelo salário m ínim o do m ês de abril de 1989 (P ortaria MPAS n.
4.426/1989).
E xam inem os o u tra versão, convindo, ao final, com parar os resultados sob a
ótica da igualdade e isonom ia.
O caput do art. 58 é com plexo; ele condensa várias ideias a serem decom pos­
tas pelo intérprete: a) m an d o u rever o nível pecuniário dos benefícios em m an u ­
tenção — a p artir de certa data em dian te (abril de Í9 8 9 ); b) nessa operação, o
resultado deveria observar equivalência entre o p o d er aquisitivo da data do início
do benefício e de abril de 1989; c) o m e n su ra d o r deveria ser o salário m ínim o.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o i — N o ç õ e s d e D i re ifo P r e v id e n c iá r io 83
O texto tem núcleo (restabelecim ento do poder aquisitivo perdido no curso do
tem po), prazo operacional e unidade m onetária. Como o salário m ínim o de abril de
1989 era um só (Cr$ 46,80), com capacidade econôm ica de com pra definida nesse
mês, e o da data do início dos benefícios variava e tinha seu poder de aquisição, de­
pendendo de cada caso, subordinado ao m ês de começo, a prim eira leitura tinha de ser
rejeitada; o produto final da operação m atem ática não satisfazia a alm a do com ando.
Vejamos n ú m ero s exem plificativos. Supondo-se dois irm ãos univitelinos tra­
balhando 35 anos para a m esm a em presa e recebendo o m esm o salário, u m deles
tendo se apo sen tad o em 30 de abril de 1985 (salário m ínim o: Cr$ 166.560,00) e
o ou tro , em I a de m aio de 1985 (salário m ínim o: Cr$ 333.120,00). A diferença
entre os dois, em term os de custeio — e poderia não existir se o segundo segurado
tivesse en trad o na em presa n o m ês seguinte à adm issão do irm ão — , é da ordem
de 1/420 avos. Isto é, para efeitos ju ríd ico s, eles são os iguais, objeto do postulado
co n stitu cio n al fu n d am ental da igualdade.
A tribuindo-se ao prim eiro segurado um a renda m ensal inicial de Cr$
1.665.600,00 ou dez salários m ínim os; ao irm ão, aposentado no m ês seguinte, com
renda m ensal inicial igual (ou, atendendo aos preciosistas, 1/420 m aior), ou cinco
salários m ínim os. Os dois, aposentados com benefícios iguais (ou p raticam ente
iguais, a diferença de 1/420 é insignificante), tiveram a recom posição em abril de
1989, aten d en d o à p rim eira leitura, da seguinte forma: f 0 x 46,80 = Cr$ 468,00 e
5 x Cr$ 46,80 = Cr$ 234,00!
João Antônio Guilhem-Bernard Pereira Leite discorreu sobre a m atéria ( “Da
interp retação das Leis da Previdência Social”, in RPS n. 19/ 35). R econhecendo
ser única, apenas destacou dificuldades próprias de algum as delas, caso do D ireito
Previdenciário. R ecom endou vários processos, partin d o do sen tid o gram atical da
lei. Ressaltou o elem ento teleológico, ad o tan d o a exegese extensiva e a restritiva
q u an d o a redação assim o indicar (sic). Teve com o im portante não descurar da
totalidade do texto. R epassou a grande questão da dúvida e com o analisá-la, p rin ­
cipalm ente em face do in dubio pro misero.
M oacyr Veüoso Cardoso de Oliveira revelou sua preocupação com a in terp re­
tação, m o stran d o a influência do D ireito Civil e do D ireito T ributário, destacando
a inépcia de q uem não sabe a diferença ou não q u er bu scar as regras próprias do
D ireito Previdenciário ( “P revidência social”, p. 474).
A costou-se, acolheu e ac o m p an h o u qu em p rim eiro se deteve no problem a
e o equacionou: Arm ando de Oliveira Assis ( “C om pêndio de Seguro Social”), re­
p ro d u zin d o -lh e páginas inteiras: “Da m esm a form a que se im põe observar regras
pró p rias para legislar fru tu o sam en te sobre o seguro social, um a prem issa de ordem
geral se to rn a m anifesta na hora da aplicação e interpretação dos textos legais es­
pecializados, prem issa que deverá aco m p an h ar e vivificar todas as m odalidades da
prática do seguro social: e a de que os conceitos teóricos precedem os preceitos
ju ríd ico s, isto é, as n orm as ju ríd ic a s nada m ais fazem que in terp re tar e acionar, no
m u n d o das inter-relações hum anas, os princípios constitutivos sobre os quais se
esteia o sistem a, e que são, a bem dizer, o sistem a em si m esm o.”

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Jefferson Daibert reclam a a distinção: “O direito com um poderá, sim , ser fonte
supletiva naq u eles casos em que ficar positivada a total inexistência de qualquer
ou tro m eio ou m esm o fonte in tern a im ediata, porque não poderá, sob n en h u m pre­
texto, d eix ar que os problem as de previdência social saiam do âm bito de suas leis
especiais; n ão se poderá, assim , p erm itir q u e os recursos ju ríd ic o s de ou tro ram o
ou d ep artam en to ju ríd ico sejam cham ados a so lu cio n ar as situações que deverão
ficar, exclusivam ente, na área da previdência social, co n seq u en tem en te, d en tro da
esfera de ab rangência do direito p revidenciário” ( “Direito P revidenciário e A ciden-
tário do Trabalho U rb an o ”, p. 11).
A cresceu o m esm o Armando de Oliveira Assis lição para o herm eneuta: “Há
m ais, porém . Sob a alegação de que se trata de m atéria de d o m ín io do D ireito
Social, os seus in terp retadores são levados a invocar o ‘sentido social’, o ‘objetivo
social’ de tais leis, e à som bra de um a interpretação su p o stam en te ‘social’ m uitos
disparates po d erão ser com etidos em d etrim en to da coletividade. O ra, ju stam en te
p o r se tratar de um a legislação ‘social’ é que se im põe d a r prim azia ao ‘interesse
social’ na aplicação a essas leis. Tem-se que levar m ais em conta a coletividade do
que os in d iv íd u o s, p o r m uito que, aparentem ente, possa um a reivindicação pessoal
m atizar-se de interesse, ou, q uando m uito, de conveniência social”.
Em su m a, para ele, não é repartição sim ples nem solidariedade su b tra ir um
p o u q u in h o de to d o s para b eneficiar alguém necessitado sem direito subjetivo
definido.
N ão perceber a diferença entre previdência e assistência leva alguns m agistra­
dos e cortes sup erio res à concepção excessivam ente protetiva, descurando-se da
natureza da técnica. Tal fato foi assinalado p o r Elcir Castello Branco: “A tendência
benévola dos nossos Tribunais em o n erar as seguradoras e a previdência social
vai de en co n tro com a recom endação da d o u trin a de q u e não se po d e decidir p o r
eq uidade na apreciação destas questões. Pois este critério seria elástico, traindo os
p ressu p o sto s atuariais em que foi assum ido o risco ”.
R epete co nclusões de Arm ando de Oliveira Assis: “A Previdência em si já é
um in stru m en to social, p o r isso, não vinga o pretexto de aplicar a lei com vista
no interesse social. Este raciocínio é falso. O interesse social m aior é que o seguro
fu ncione bem , co n ferindo as prestações a que se obrigou. Se lhe é transm itida um a
carga acim a da prevista, com prom ete-se a sua liquidez financeira: p o n to nevrálgico
da eficiência de q u alq u er seguro. O prius que se outorgar sairá do p ró p rio co n ju n to
de segurados, em virtude da pulverização do risco entre eles” ( “Segurança Social
e Seguro Social”, p. 127).
131. In te rp re ta ç ã o gram atical — A prim eira tarefa do interessado é ler e reler,
com calm a, o texto da lei. Q uem sabe a en ten d a m elh o r com leitu ra aten ta e co n ­
centrada. C onform e a interpretação gram atical, ater-se à letra da lei é significativo.
O estudo inicia-se p o r aí, pois sem ler não será possível alcançar o seu sentido.
Mas receia-se não ser suficiente, tal processo é pobre p o r natureza e não tem
fôlego para d irim ir a m aior p arte das dúvidas suscitadas.

C urso de D ih e it o P r e v id e n c iá r io

T om o l — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v i d e n c i á r i o 85
D epois disso, convém prosseguir, perfilhando as regras da sistem atização e,
ao final, o sentido teleológico.
Exem plifica-se de form a clara. Em seu art. 142, a Lei n. 8.213/1991 inicia
o caput falando em “segurado inscrito na Previdência Social urb an a na data da
publicação desLa Lei”, m as a inscrição não determ ina o direito e, sim , a filiação.
Q uando, n o corpo perm anente, a C onstituição Federal, no seu art. 40, 111, a , reza
expressam ente “aos 35 an o s” referindo-se ao m o m en to da aquisição do direito à
aposentadoria, na realidade está querendo dizer “ap ó s” tal lapso de tem po, à vista
do estabelecido no art. 202,11, O herm en eu ta tem de buscar a in terpretação siste­
m ática para auxiliá-lo, pois, após o p reen ch im en to dos requisitos, e sem pre, e não
apenas nos 12 m eses subsequentes, o benefício pode ser requerido. N o art. 58 do
ADCT, colhe-se hipótese igual: m enção de “data de sua concessão” (das p re sta­
ções), q u an d o é a data do início.
Dá-se o u tro exem plo, exigindo certa experiência dos procedim entos e co n h e­
cim ento da realidade. Ao fixar o prazo de m anutenção da qualidade de segurado,
o art. f5 , II, da Lei n. 8.213/1991, fala em “até 12 (doze) m eses após a cessação
das co n trib u içõ es...”. Não p o d en d o ser o prazo da ultim ação das contribuições o
term o inicial, sob pena de este d ep en d er apenas da vontade do segurado, certa­
m ente estará alu d in d o à extinção da atividade (últim o dia do su pedâneo m aterial
da filiação). Se fosse da data do últim o recolhim ento (cessação dos recolhim entos),
o inad im p len te seria beneficiado, q u an d o a in ten ção é o contrário.
Se a gram ática não é b astante para o exam e da lei ordinária, m enos ainda
na apreciação do Texto Maior. O STF equivocou-se ao sopesar o significado da
expressão “folha de salários”, co n sid eran d o literal e restritivam ente o vocábulo
“salários”, pela p ró p ria Carta M agna tido, in úm eras vezes, com o retribuição do tra ­
balho e, então, grosso modo, em razão da finalística da previdência social, incluindo
a retribuição do em presário e do autônom o. Na verdade, se aquela palavra quer
d izer apenas salários, q u e é o pagam ento dos em pregados, então (ainda m ais com
vistas ao art. 7a, XXXIV), não poderia in clu ir o avulso.
132. C o n cepção siste m átic a — Sistem ática (ou logicam ente) o observador
precisa avaliar toda a legislação em apreço (não o sistem a, incum bência atribuída
à técnica teleoLógica) e, na própria lei apreciada, seus inúm eros dispositivos, para
atingir o sentido buscado. O bviam ente, se se trata de n o rm a especial, necessitará
bu scar tam bém a lei geral disciplinadora do assunto.
Q uan d o tran sp o rto u o garim peiro do contexto de segurado especial (para
evitar a custosa co n tribuição dos então 3,0% sobre o valor do ouro), a Lei n.
8.398/1992 alterou a redação do art. 12, VII, da Lei n. 8.212/1991 (Plano de C us­
teio), na qual o riginariam ente descrito aquele peq u en o p ro d u to r rural, rem etendo
o ex p lo rad o r do garim po para o inciso V, a, e posicionando-o com o equiparado
a au tô n o m o , esquecendo-se, na o p o rtu n id ad e, de estar seu enq u ad ram en to , na
categoria de segurado especial, tam bém consagrado n o art. 11, VII, da Lei n.
8.213/1991 (Plano de Benefícios).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

86 W líiíiim if N o v a e s M a r t i n e z
O C ongresso N acional não deveria ter elaborado duas leis básicas repetindo con­
ceitos e regras, alguns dos quais conflitantes entre si. Sistem icam enle, não obstante a
ausência de m enção expressa (salvo o “revogam -se as disposições em contrário”), há
de ter-se a Lei n. 8.213/1991 tam bém revogada pela Lei n. 8.398/1992, com o, aliás,
em exegese autêntica, o Diário Oficial da U nião do dia 11.4.1996, atendendo à Lei n.
9.032/1995, assim classificou aquele profissional ocupado com m inérios.
O rd en ad am en te, não é possível ignorar a existência de leis orgânicas e gerais
e leis particu lares e especiais e, então, só após a classificação da n o rm a sob exam e,
cabe in iciar o m éto d o in terp retativ o da m esm a.
N osso legislador o rd in ário equivoca-se com relativa frequência, fato não
difícil de exem plificar. Em 22.9.1991 (ou 1° 11.1991, com o quis aleatoriam ente
o d ecreto re g u la m en tad o r), q u an d o a Lei n. 8.212/1991 ad q u iriu eficácia em m a­
téria de co n trib u içõ es, ela teria revogado a exigibilidade das co n trib u içõ es p ara as
em presas “ru ra is” — então, ex vi do art. 194, parágrafo ún ico , II, da C onstituição
F ederal, eq u ip arad as às “u rb a n a s” — previstas an te rio rm e n te p o r Lei C om ple­
m e n ta r (sic).
A bstraindo essa anom alia (lei ordinária revogar lei co m p lem en tar), o “revo­
gam -se as disposições em co n trá rio ”, do art. 105 da Lei n. 8.212/1991, não se auto-
aplicaria, devendo prosseguir vigendo até 31.10.1991, q uando, então, finalm ente,
ad q u iriu eficácia fiscal o Plano de C usteio. Tudo isso, sistem aticam ente, para não
qu eb rar o fluxo de caixa da Previdência Social.
133. E xegese autêntica — A interpretação autêntica tem sido considerada
aquela operad a pela p ró p ria norm a ju ríd ica. Na dúvida, se a Lei n. 9.032/1995
(in tro d u ziu a com pensação das contribuições previdenciárias ao d ar nova redação
ao art. 89 da Lei n. 8.212/1991) teria sido revogada pela lei d o Plano Real, a Lei
n. 9.129/1995 transcreveu-a novam ente (no ensejo, au m en tan d o o percentual de
25% para 30%).
134. V isão ex ten siv a — De m odo geral, alguns co m partim entos das n o r­
m as p erm item concepção extensiva, en q u a n to outros só adm item a idealização
restritiva. Razões co n d u cen tes a tal en ten d im en to são, basicam ente, postulados
no rtead o res do ram o ju ríd ico . Interpretação abrangente beneficia um dos sujei­
tos envolvidos na relação (quando lógica e cientificam ente possível), o m esm o se
passando com a interp retação restritiva, conform e o caso (o beneficiado é o outro
polo da relação).
Existem in stitu to s do D ireito Previdenciário ensejando com preensão alargada
da disciplina, en q u an to , em outros, é afunilada. Toda m atéria previdenciária penal
deve ser in terp retad a literal e gram aticalm ente, valendo o adágio in dubio pro reo.
De form a sim ples, a in terpretação extensiva chega a resultados m ais am plos
q u an d o com p arad o s com o p reten d id o pelo legislador. E videntem ente, essa análise
não é isolada nem arreda as dem ais.
No caso de dúvidas, dos princípios básicos da universalidade e proteção
resulta, em m atéria de filiação, ser dirim ida a favor da ocorrência do vínculo, pouco
im p o rtan d o , caracterizada com o tal, se a incerteza se relaciona a fato ou direito.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 87
Suponha-se pessoa prestando serviços identificadores do autô n o m o o u em ­
pregado, às portas de benefício p o r incapacidade, sem ter prom ovido os aportes
com o co n trib u in te individual e litigando com a em presa, na Ju stiça do Trabalho,
preten d en d o a existência do vínculo em pregatício. Se a decisão lhe for favorável,
beneficiar-se-á da presunção do desconto, e seu período de carência contar-se-á
no rm alm ente; na hipótese contrária, é inadim plente, e o período de carência será
m en su rad o a p a r t i r do prim eiro pagam ento. E n q u an to não L r a n s i t a r em julgado a
decisão f i n a l , o órgão gestor deve en ten d er presentes a filiação e a inscrição com o
em pregado, m in istran d o -lh e o benefício.
Filiação, repete-se, deve ser in terp retad a extensivam ente. E videntem ente, tal
po stu ra não se presta à criação de direito (aplicação), papel exclusivo do legislador.
A perquirição cinge-se aos lim ites da lei. E xem plificativam ente, se a norm a cuida
de trabalhadores “que exercem atividade re m u n e rad a”, exclui os sem -rem uneração
ou pagos sem trabalho.
A extensibilidade referida é im posta q u an d o os in stru m en to s básicos são obs­
curos ou om issos. E é im p o rtan te não esquecer a função dos princípios nesta m o ­
dalidade interpretativa.
Por isso, sem razão Fides Angélica Ommati (“M anual E lem entar de D ireito
P revidenciário”, p. 32), qu an d o leciona: “P or se tratar de um ram o do Direito que
regula situações que dizem respeito à proteção social da pessoa, no cu m p rim en to
de urna política social do Estado, o D ireito P revidenciário sempre deve ser interpre­
tado no sentido de favorecer o beneficiário, seja segurado, seja d ependente, com base
no p rin cíp io da solidariedade social” (grifos nossos).
N em m esm o na assistência social, n a qual está presente o assistido hipossufi-
ciente, vale esse “sem p re”, pois esta vertente da seguridade social observa precei­
tos legais, é regulam entada e prevista, e são raras as lacunas (em bora existentes),
hipótese deflagradõra do in dubio pro mísero.
A inda sem razão q uando assevera: “Assim, todas as normas devem ser anali­
sadas de m odo a beneficiar a pessoa e garantir a co bertura dos riscos sociais...”,
culm in an d o com “o D ireito Previdenciário com porta m uita elasticidade e essa p re o ­
cupação de proteger a pessoa” (grifos nossos).
A lgum as áreas (com o filiação e prestações) ou norm as podem sediar a in ter­
pretação extensiva e ainda assim q u an d o cabível a interpretação jurídica. Porém ,
n em todas. C ertam en te a au to ra se dirigia ao elaborador da norm a, propiciando
elem entos pré-ju ríd icos ao legislador, e então cabe essa visão n itidam ente protetiva
e social da lei previdenciária. E n tretan to , se a norm a ju ríd ica deixa sem m argem de
dúvida a questão, q u an do afirm aperem ploriam ente, descabe a própria interpretação,
e, nas hipóteses de sua validade, convém verificar a propriedade.
O p rin cíp io da solidariedade social foi eleito o fundam ento científico e
ju ríd ico da previdência social, seu norte, alm a e razão de ser d a técnica protetiva,
m as a solidariedade social é m ecanism o técnico de m ú tu o auxílio e postulado
p in acu larm en te postado n o D ireito Previdenciário, a in sp irar e im pregnar a norm a.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

88 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
C o n tu d o , dificilm ente — salvo nas hipóteses legalm ente determ inadas, com o na
solidariedade fiscal — ele terá o alcance desejado pela d o u trin a, carecendo de u ti­
lidade na in terpretação.
O preceito aplica-se em algum as p artes das prestações, em bora se deva ad ­
m itir serem poucos os espaços deixados vazios pelo legislador ou adm inistrador.
Se se apresentarem , porém , será o caso de fazer ju s o p ostulante. N ão são direitos
substanciais os assim interpretáveis (todos eles foram exaustivam ente lem brados
pelo legislador), m as inovações, po rm en o res ou facetas form alistas. Q uando não
discip lin ad o s claram ente, devem se su b m eter às regras de aplicação.
Repete-se, raram en te se poderá p ro d u z ir prestação p o r via de interpretação
extensiva, m ajorá-la ou estendê-la a não beneficiário, m as serão sem pre possíveis
fissuras n a n o rm a, q u ando o princípio se im põe. E den tro do n icho dos benefícios
im peram divisões específicas, não com portando extensividade às excepcionalidades.
Todo o direito excepcional (v. g,, aposentadoria especial, isenção etc.) deve ser
en ten d id o restritivam ente.
C onsiderações sobre a regra m ais favorável estão inseridas na interpretação
extensiva.
Os ju slaboristas costum am contem plá-la entre os princípios básicos do Direito
do Trabalho. C om m uita razão. D iante de duas ou m ais situações um beneficiário
tem o direito de o p tar pela m elhor.
O D ireito Previdenciário apresenta noções e características distintas do
Direito do Trabalho. C ircunstancial e insitam ente, é disciplina sistêm ica, dificil­
m ente dois preceitos concorrem . Todavia, isso às vezes sucede, com a diferença de
a p ró p ria legislação, frequentem ente, prever a solução e, de regra, ter com ando de
su p erd ireito prescrevendo sobre a situação.
No co n fro n to de disposições de hierarquias diferenciadas, a priori, deve p re­
valecer a de posição superior. Em seguro social, en tretan to , se a m en o r é m ais
benéfica, su p lan ta a de cim a, q uando não contraria indicação expressa desta.
Exem plo disso era o tratam ento dispensado ao co n trib u in te em dobro quanto
ao auxílio-doença. D isciplinando os requisitos inerentes ao direito, dizia a conso­
lidação adm inistrativa (em face de a lei falar em ser faculdade do não exercente de
atividades e ele nào em preendê-las): “Para o segurado facultativo, o trabalhador
au tô n o m o , o em pregado domésLico e o co n trib u in te em dobro não será exigível o
prazo de espera referido no item 1.3” (CANSB, 1.32). No item 2.11, da m esm a norm a
interna, ainda se referindo ao auxílio-doença, há m enção expressa ao facultativo,
en ten d en d o -se, pois, ela assegurar a esse segurado a percepção daquela prestação.
T ranquilam ente, se o segurado se ap o sen to u p o r tem po de serviço, na m o d a­
lidade pro p o rcio n al, o b ten d o 70%, e prova ter exercido atividade perigosa, penosa
ou insalubre, d u ra n te esse lapso de tem po, faz ju s aos 100% da aposentadoria
especial. Se inválido, com 30 anos de filiação, optará pelos 100% da aposentadoria por
invalidez ou os 70% da aposentadoria p o r tem po de serviço. R estando tarefa filo­
sófica ao parecerisla: ap resen tar o princípio su ste n ta d o r da opção pelo m elhor, de
co n stru ção insidiosa, m as atraente.

C urso d e D ir e it o P r it it o e n c ia r io

T om o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 89
135. Ó tica re stritiv a — A com plexidade da previdência social obriga a u ti­
lização de regras in terpretativas ím pares. A inteligência da parte penal do D ireito
P revidenciário, por exem plo, com o antecipado, não pode ser a m esm a utilizada
em term os de filiação. A legislação tem , am iúde, situações gerais e particulares,
distinções, privilégios, exceções e isenções.
O m ais abrangente é a regra (v. g., a prestação dos segurados de m odo geral)
e o m enos, a exceção (v. g., benefício dos ex-com batentes).
Sem em bargo de não fazer parte da Lei de Introdução ao C ódigo Civil, havia
disposição na norm a anterior, ainda d o u trin ariam en te válida, segundo a qual as
exceções são consideradas restritivam ente. Esse en ten d im en to p red o m in a no
seguro social.
Em razão da diversidade de regim es, inúm eras frações da legislação são sope­
sadas restritivam ente, valendo m encionar, entre o u tras, as das disposições penais,
isenções, ap o sen tad o rias especiais ou específicas, contagem recíproca de tem po de
serviço e p raticam en te todo o custeio.
Dá-se exem plo singelo, sem pre envolvendo outras questões para m elh o r com ­
preensão do desejado. P erm anente a infração com etida pela em presa à lei básica,
qual o prazo a m ediar entre duas autuações? Não há regra na legislação, e neces­
sariam ente será preciso alcançar o sen tid o da m ulta. Só excepcionalm ente, é fonte
de custeio; seu objetivo é penalizar o ato ilícito, ten tar im pedi-lo, pois representa
dan o à coletividade.
Com o as obrigações acessórias previdenciárias, em sua m aioria, são de trato
sucessivo, cifradas ao mês, parece razoável ser de 30 dias o prazo p rocurado, e
não haver lim ite para essa seqüência de autuações, im pondo-se, ao final do p ro ­
cedim ento, solução a ser arbitrada segundo a conveniência da relação jurídica aí
presente.
136. S en tid o social d a lei — O processo interpretativo culm ina com a exege­
se teleológica, isto é, levar em conta o sen tid o social da lei. D entro do direito tu te ­
lar, observã-lo é aLividade d u p lam en te significativa. O social deve prevalecer sobre
o particular, o interesse público supera o individual, m as a lei de cu n h o social não
pode ignorar o fund am ento econôm ico e atuarial em que tem sua base, m orm ente,
o in d ivíduo não pode perecer em favor de coletividade anônim a.
Ao se elaborar lei social, avalia-se sua finalística, em in en tem en te protetora,
razão pela qual é despiciendo falar em sentido social de lei social. Q u er se dizer
com isso ser a previdência insitam ente protetiva, devendo os raciocínios co n d u zir
à cobertura social, q u an d o se im puserem . Isto é, a interpretação e a integração não
são ferram entas universais de aplicação do D ireito, cabendo nos casos especiais.
N ossa Lei de In trodução ao C ódigo Civil determ ina a observância do sentido
social, referindo-se, em particular, à lei ou nortna não social p o r natureza: “Na
aplicação da lei, o juiz aten d erá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências
do bem co m u m ” (L1CC, art. 5Q).

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90 W la d im ir N o v a e s M a r li n e z
Em seu art. 8° a CLT fixa regra válida em m atéria de D ireito Previdenciário:
“As au to rid ad es adm in istrativas e a ju stiç a do Trabalho, na falta de disposições le­
gais ou co n tratu ais, decidirão, conform e o caso, pela ju risp ru d ê n c ia , p o r analogia,
p o r eq u id ad e e o u tro s p rin cíp io s e norm as gerais de D ireito, prin cip alm en te do
direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costum es, o direito com parado,
m as sem pre de m aneira que n en h u m interesse de classe ou p articu lar prevaleça
sobre o interesse p ú b lico ”.
Esse ditam e laborai reproduzido, m ais atualizado e claro, estabelece pressupos­
tos inexistentes na generalidade da norm a civil. Por natureza, a lei previdenciária é
social, to rn ando-se desnecessário o aplicador atribuir-lhe esse caráter. Q uando de
fissuras, im põe-se a interpretação e, então, fazê-la segundo essa convicção tutelar.
O sen tid o social da lei previdenciária é a proteção securitária, garantida pela
participação dos protegidos, e não a tutela genérica oferecida pelo E stado a todos
os cidadãos. É p ressu p o sto desse princípio interpretativo a necessidade do pos­
tulante, as circu n stân cias fáticas circundantes e, basicam ente, o direito positivo
invocável.
Tal exegese reclam a, no m ínim o, a distinção da A ssistência Social, e m esm o
assim com as cautelas im prescindíveis, pois as prestações assistenciárias costum am
ser co n tem pladas na legislação com precisão sem ântica e fixação clara de todos os
requisitos.
137. Uso da analogia — Dada a sem elhança de objetivos p o stad o s em
do m ín io s tão v izinhos, são co m u n s m enções à analogia, q u an d o da visualização
das disposições. A lh u res susten ta-se hav er direito, direito ad q u irid o ou analogi-
cam enle, expressões m al u tilizad as com frequência (até m esm o p o r qu em deveria
conhecê-las).
A nalogia rep resenta sim ilitude de cenários. Se insofism avelm ente regrados,
ela p erd e interesse, m as se os com andos ju ríd ic o s são afins, têm a m esm a estru tu ra,
pressu p o sto s, objetivos, e se u m deles é reconhecidam ente m al co n stru íd o , vale
rem issão ao sem elhante.
Praxes e p ráticas, os procedim entos e os m ecanism os, enfim , os in stitu to s
ju ríd ico s, invariavelm ente, são esm iuçados e, sistem aticam ente, ex au rid o s em sua
co n tex tu ra, pouco ad ian tan d o reco rrer a u m ou a outro, em face da regulação de
am bos, co n v in d o q u estio n ar a analogia diante de algum a situação especial.
S uponha-se lacuna relativa à c o n ju n tu ra prescrita em o u tro ordenam ento.
P rim eiro, é necessário certificar-se sobre a natureza do silêncio norm ativo, se ele
é do tipo integrãvel, pois pode ter havido esquecim ento do elab o rad o r da norm a
ou v o n tad e de não disciplinar, isto é, não con tem p lar preceito para a hipótese.
Tratando-se de om issão, é preciso cotejar as frações dos do m ín io s para localizar
p o n to s sim ilares. A seguir, exam inar a pro p ried ad e da translação. P osteriorm ente,
pro ced er aos aju stes necessários (processo de adaptação).
A analogia não dispensa os cuidados m ínim os específicos solicitados pela in ­
terpretação, com o inteligência arguta dos fatos, discern im en to sensível da norm a

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
im portada, sendo válida n o direito com um , arredada no excepcional ou em privi­
légios. Rol en um erativo não pode ser transform ado em exem plificativo. H avendo
dispensa de carência para 13 enferm idades, n a lei básica (art. 151 do PBPS), e igual
rol form ulado na n o rm a com plem entar, se lei su p erv en ien te acrescenta duas na
prim eira, é descabido, por analogia, adotar a extensão na segunda.
138. Valor d a e q u id ad e — Invocar a equidade é procedim ento jurídico uni-
versai. Tão m en cio n ad a e reclam ada q u an to o direito ad q u irid o e a analogia. Nos
três casos, en tretan to , às vezes, com pouca ou n en h u m a pro p ried ad e científica.
Não fosse p o stu lad o técnico, situar-se-ia com o preceito básico do seguro
social. Sua posição com o in d icad o r h erm en êu tico do D ireito P revidenciário, e não
com o princípio geral de Direito, se deve à íntim a relação guardada com a d istrib u i­
ção d a ju s tiç a e o direito social. A equidade sobreleva-se na previdência social e p o r
isso deve fazer p arte das suas regras, não p o d en d o ser ignorada pelo elaborador ou
pelo aplicador da norm a.
Situações iguais devem co n d u z ir a soluções idênticas. O fato de a natureza
reparad o ra-su b stitu tiv a da prestação observar a co n tin u id ad e, isto é, p ro cu rar
m anter o m esm o nível salarial do trabalhador, q uando em gozo de benefício (não
alterando o equilíbrio social), não m odifica as diferenças de rem uneração entre as
diversas cam adas da população, nem vai contra essa postura.
Com o p rin cíp io geral de D ireito, invocar a equidade é m atéria substantiva
essencial em previdência social. C om o preceito interpretativo, é técnico, m esm o a
ela não co rresp o n d en d o determ inação legal, fato, aliãs, devido apenas à om issão
do legislador. Cabe ao in térp rete previdenciário recorrer à subsidiariedade da
legislação social.
Tanto q u an to a analogia, a equidade é in stru m en to invocado excepcional­
m ente, im pondo-se cuidados ainda m aiores. Ela dificilm ente se caracteriza no
D ireito P revidenciário diante da norm atividade.
Exem plifica-se com a pretensão das m ulheres, antes de 1991, de obter aposen­
tadoria proporcional. A lei a previa para os hom ens, 5 anos antes da aposentadoria
integral (obtida aos 35 anos) e, destarte, p o r equidade, seria direito das m ulheres.
Todavia, faltava consistência à afirm ação. Se a m u lh er era igual ao hom em — a
igualdade é p ressuposto da equidade — , ela deveria tam bém se apo sen tar aos 35
anos e, então, sem dúvida, teria direito à proporcional. C om o não é m uscularm ente
igual (e talvez esteja sobrecarregada com m ais atividades fam iliares), im pôs-se a
distinção, razão de ser de sua aposentação 5 anos antes, cessando aí a diferença. Só
a lei, tal fato aconteceu em 1991, poderia criar a aposentadoria proporcional, le­
vado o legislador p o r razões agora sem sen tid o na análise jurídica. Indeferim entos
anterio res a 1991 n ão poderão ser revistos, se a norm a não previu a retroatividade,
prevalecendo a regra vigente ao tem po do fato.
O utro exem plo diz respeito à alíquota m aior para os estabelecim entos finan­
ceiros (art. 22, § l s , do Plano de C usteio) e presente na Lei C om plem entar
n. 84/1996, com vistas à “equidade na form a de participação no cu steio ” (art. 194,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

92 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
parágrafo único, V, da C onstituição Federal). Três preceitos constitucionais inform am
essa discussão: a) o da isonom ia (art. 59, caput)-, b) o da capacidade contributiva
(art. 150, II); e c) o da equidade de custeio securitário.
Exigir dos co n trib u in tes, arrolados n o m encionado § l e, taxas superiores às
dos dem ais sujeitos passivos, é aplicação prática e ju ríd ic a daqueles m andam entos,
em face da realidade econôm ica pressuposta pelo legislador. P resunção técnica
absoluta, não ju ríd ica, não se p o d en d o d em o n strar o contrário diante da im perati-
vidade da lei, cabendo fazê-lo na o p o rtu n id ad e do debate da m atéria n o C ongresso
N acional ou de lei revogadora.
As d istin tas taxas, restabelecendo o equilíbrio, cum prem os dispositivos co n s­
titucionais proclam ados. Sem essa distinção não há isonom ia, desaparece a obser­
vância da capacidade co n trib u tiv a e perde-se a equidade na fixação das fontes de
custeio. Todavia, se, m aterialm ente, os atingidos d em onstrarem não caracterizar os
pressu p o sto s do legislador, descabe a desigualdade fiscal.
Às vezes, a sem elhança é proporcional e ilude as pessoas. Calculado o abono
de p erm an ên cia em serviço n a ordem de 25% do valor da ap o se n ta d o ria por
tem po de serviço, raciocínio sim plista levava à conclusão de o valor desta ú ltim a
ser, n ecessariam ente, quatro vezes su p erio r ao abono req u erid o e m an tid o (che­
gando-se ao p o n to surrealista, q u an d o afundado o segurado no cham ado “buraco
neg ro ”, de este benefício su p erar a renda m ensal inicial da aposentadoria, por
definição, q u atro vezes m aior!). Todavia, sim ples leitura da lei m ostrava a im pro-
pried ad e da equidade; não era essa a v o ntade do legislador, pondo-se p o n to final
à discussão...
139. in dubio pro m isero — De todos os m ecanism os envolvendo a in te rp re ­
tação, o capaz d e suscitar m aiores indagações e dissensões é o referente à dúvida.
N em sem pre realm ente aplicado, m as m uitas vezes referido, p ro d u z estupefação
en tre os estudiosos; m u ito s deles, a rigor, não têm opinião firm ada sobre o tem a,
preferindo acostar-se nesta ou naquela posição, não resistindo à tentação de acolher
o p o n to d e vista dos juslaboristas.
Respeitável óbice resulta na equiparação da previdência social à assistência
social, m as o m aior obstáculo reside em fixar as condições da dúvida e qual o cam po
de aplicação do p o stu lado. De natureza genérica, ao se cogitar de sua utilização,
reclam a ap arato especial de p arte do exegeta.
Mal se sab en d o , de antem ão, qual o destinatário do adágio — devendo-se
d eterm in ar o significado da palavra hipossuficiente (misero) — , é preciso vislum brar
o co nceito de dú v id a e a qual divisão ela se refere: ao fato o u ao direito incidente.
Parece ser disposição de não aceitar fato, elem ento subjetivo. Em relação à
incapacidade p ara o trabalho, o m édico perito pode form ular as seguintes posições:
a) certeza — acolher ou não a inaptidão; b) ignorância — desconhecer as co n d i­
ções físicas do exam inando; e c) dúvida — não saber se h á o u não incapacidade do
segurado.
D úvida não é desconhecim ento; tam bém não corresponde exatam ente à in ­
certeza. D esconhecim ento é desconform idade en tre o su b strato da realidade e a

C urso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io «*
ideia concebível sobre ela. E se a incerteza prosseguir ad injinitum 1 Q u ando abso­
luta eqüivale, do p o n to de vista lógico e jurídico, à dúvida, cabendo ou nâo aplicar
o princípio.
Igualm ente não se co n fu n d e com ignorância do fato, se im possível a verifi­
cação.
Se um d eterm in ado m édico considera incapaz o segurado e o u tro profissio­
nal pensa o co n trário , h á incerteza qu an to à incapacidade, devendo ser desfeita
p o r terceiro facultativo, eleito desempataclor. Falecendo o exam inando, p o r outro
m otivo, antes de periciado p o r esse terceiro especialista, a incerteza chega à dúvida
e im põe-se a aplicação da regra sob com ento.
D úvida é diferente da ausência de evidências. Se a dem onstração não é plena,
não há prova, lnexiste o direito, se ele dependia de com provação.
Abriga, no m ínim o, duas indicações. Inocorre, se o problem a com porta
apenas um a solução. Possível é aquela em que se apresentam duas ou m ais opções,
e todas satisfazem segundo determ in ad o prism a. Se não se sabe da ex-esposa, a
dúvida ou o d esco n h ecim ento hão de ser solucionados a favor da com panheira.
H avendo ignorância de falo q u an to ao seu paradeiro, feitas razoáveis, em bora in­
frutíferas tentativas de localização p o r q uem de direito, deve-se dar a ex-esposa
p o r desaparecida.
O correndo dúvida realm ente, e se ela se refere ã proteção, afirm a-se, com o
conclusão, que deve ser resolvida a favor do beneficiário. Assim, pender-se-á pela
filiação, presença de incapacidade, realização da necessidade, direito à prestação.
A legando-se, a tem po, certa d o ença ou enferm idade, e esta vem a ser a causa m ortis,
sem ser periciado em vida o segurado, além da pensão p o r m orte cabe o auxílio-
-doença o u a ap o sen tadoria p o r invalidez.
A efetivação dessa regra interpretativa exige precauções do aplicador. Precisa
estar seguro de se trata r de dúvida e inexistirem outros m eios norm ais de dirim ir a
pendência. São raros os casos em q u e ela se instala, devendo-se o rien tar pelo senso
co m u m e não u sar o especial, conform e o esperado de todos; e nem o inusitado,
m as de acordo com o m ais lógico e evidente.
140. Recomendações finais — A h e rm e n ê u tic a desenvolve-se a c en tu ad a-
m en te com a ab so rção do se n tid o das leis. As regras de in te rp re ta ç ã o co n h e cid as
valem n o estu d o da legislação. A firm a-se ad nauseam, sem b o m -sen so , e x p e­
riên cia e c o n h e c im e n to da m atéria n ão se pode in te rp re ta r. C onsiste em erro
lap id ar ap oiar-se à ideia desejad a com o co n c lu sã o e, após, b u sca r en v ered ar por
m eio do e n c a m in h a m e n to so lu cio n ad o r. O re su lta d o deve fluir n a tu ra lm e n te ,
não d ev en d o h av er receio de ter de adiã-lo, ab a n d o n á-lo e até re to m á-lo , se ele
n ão é ra c io n a lm e n te possível. Às vezes, é p reciso d eixar a ideia a m ad u rece r na
m en te, pois o cu rso do tem p o c o n trib u i p ara m e lh o r in telig ê n cia das coisas.
Talvez não haja trab a lh o tão criativ o q u a n to o da exegese, m as n e n h u m o u tro
é tão perig o so , p o is convicções en raizad a s n o n o sso e sp írito , p re d isp o siçõ e s
fo rm u lad as, te n d ê n c ia s assu m id as, estão sem p re a te n ta r sim p lificar tarefa ge­
ra lm e n te com plexa.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tín e z
Q u an d o da análise de com andos positivados, o trabalho pode ser m itigado
com algum as recom endações:
a) leitura do texto estudado: Em certas circunstâncias, a dificuldade desaparece
após detida leitu ra do dispositivo. Ele pode indicar co rretam en te a ideia do elabo-
rad o r da norm a. E m bora nào claro com o desejável, quase sem pre representa ponto
de vista co n sen tân eo com a natureza do disciplinado. C onvém verificar tam bém o
texto anterior, se revogado, e até a história da instituição; esse esforço será com ­
pensador. E b om ex am inar onde postado, se subm etido à alínea, ao parágrafo ou
ao caput, em q u al seção ou título, se em lei especial ou geral e assim p o r diante,
classificando-o previam ente;
b) norma contrária à Constituição Federal: Se possível, reco n h ecer de im ediato
as afrontas à C arta M agna, m as, às vezes, essa conclusão só sobrevêm ao final da
operação. Em rigor, o trabalho de apreciação prelim in ar consiste em processo su b ­
m etido ao D ireito C o n stitucional. Exam e pream bular, q uando possível, elim inará
desgaste posterior. O s preceitos da Lei M aior devem funcionar com o faróis ilu m i­
n an d o o cam in h o d o in térprete; a estrada, porém , pertence-lhe e ele deve an d a r por
onde su a consciência ju ríd ica indicar;
c) significado da proposição no ordenamento: Toda regra tem u m objetivo a ser
alcançado e trad u z algum ente perceptível no m u n d o ju ríd ico , caso contrário não
seria elaborada. Seu p ro m o to r não é ocioso n em cria ditam es inúteis. É bo m p ro ­
cu rar atin g ir esse fim antes de avançar na com preensão do todo.
R aram ente en co n trará regra inútil, m as, se isso acontecer, terá de ter a cora­
gem de declará-la com o tal no bojo da norm a sob exame;
d) sentido da palavra no contexto: S upondo-se in icialm ente técnica a sua u ti­
lização, en cam inhar-se para en c o n trar o alcance da palavra em pregada, sem se
apegar literalm en te ao vocábulo. Repete-se. O STF considerou a palavra “folha de
salários” rep resen tan d o o docu m en to no qual contida apenas a rem uneração dos
trabalhadores subo rd inados. A leitura co n trario u esta solicitação; aquela locução
tem , n a Lei Maior, o u tra intenção.
É preciso ju stific ar esse posicionam ento. Não basta afirm ar, de preferência, é
bom fu n d am en tar com o p ró p rio regulam ento. Ele pode fornecer a distinção d ese­
jada em o u tro m o m en to ou ela ainda pode estar contida em o u tra norm a;
e) intenção do elaborador da norma: Sem em bargo de o im p o rtan te ser a mens
legis e não a mens legislatoris, sensibilizar-se com o anim us do elaborador da norm a
é de b om alvitre. P erscrutar a sua intenção ao redigi-la pode aclarar dúvidas (ou
suscitar o utras).
N ão custa nada, a não ser trabalho gratificante, buscar os anais da discussão
do P rojeto de Lei e, em m atéria de previdência social, isso n ão falta ao estudioso.
D iante do en cam in h am en to da reform a co n stitu cio n al de 1996/1997 (PEC n. 33-
-A /1995), n in g u ém teve dúvidas sobre a intenção do legislador em relação à ap o ­
sen tad o ria proporcional;
f ) validade da disposição defeituosa: A interpretação deve au sc u lta r o espírito
da norm a. Se mal escrita, não deve ser p u ra e sim plesm ente abandonada, convindo
ten tar salvã-la no contexto.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 95
Esse trabalho de recuperação é criativo e reclama o m esm o conhecim ento do
legislador. À evidência, existem fraturas insanáveis, com o vício da inconstitucionali-
dade ou da ilegalidade. A Instrução N orm ativa INSS/DAF n. 6/1996 revogou a de n.
5/1996, publicada dias depois, e, com isso, a entidade beneficente de assistência social
viu-se isenta da contribuição relativa à Lei C om plem entar n. 84/1996 (item 13). Ob­
viam ente, um dos dois textos com eteu equívoco e precisa ser salvo, m áxim e quando
o m esm o raciocínio, aplicado aos clubes de futebol profissional (item 9), foi m antido;
g) conclusão clara diante da confusa: Esta proverbial lem brança de Carlos
Maximiliano é útil e significativa, exigente e difícil. Mas vale o esforço nesse enca­
m inham ento. D iante de caso concreto, o exegeta será su rp re en d id o com a beleza
do resultado. C onvém recusar hipóteses inusitadas. O p tar p o r aquela em harm onia
com o sistem a, em d etrim en to da contrária.
E ntretanto, tal recom endação só é válida em área transparente, pois o Direito
Previdenciário apresenta divisões nas quais isso n ão é possível, e então a solução
com plexa, se correta, é a verdadeira. Basta ler o art. 29 da Lei n. 8.212/1991 ou o art,
32 da Lei n. 8.213/1991 para certificar-se do alegado; nada aí é claro ou sim ples...;
h) confronto da norma geral com a especial: A prescrição específica rom pe a
ordem geral. Ao escrevê-la, o elaborador tinha em m ente particu lar circunstância,
e isso deve ser respeitado. A C onstituição Federal pode, perfeitam ente, garantir o
direito ad q u irid o em seu preâm bulo e, m ais adiante, restringi-lo. O m esm o vale
para ou tras fontes formais.
Tal n o rm a típica de situação p articu lar precisa estar expressa, não p o d endo
ser im plícita ou resu ltar de a contrario sensu.
i) conflito da norma subsidiária com a principal: O acessório segue o principal.
Q uando co n trário , prevalece o fundam ental. O caput su b m ete o parágrafo; o p a­
rágrafo subm ete a alínea. N ão há dúvida, en q u an to co m p lem en tar a previdência
privada, exceto n o rm a em contrário: sem a concessão do benefício oficial não há
o particular;
j ) consideração pela disposição clara: A parêm ia latina é altam ente válida: in
claris cessat interpretatio. N o exam e do texto, verificar sua com preensão, alcançada
esta, desistir do processo de con h ecim en to e aceitá-la com o tal. A im aginação, em
D ireito, precisa an d ar de m ãos dadas com a inteligência e o bom -senso.
S om ente co n tra ideia absurda é possível co n tra d ita r essa afirm ação, e tal p roce­
dim en to precisa ser ju stificado à exaustão. Isso aconteceu com a Lei n. 8.383/1991.
D eclarou inexistente a inflação no País em 1991, e, por isso, inocorreu correção
m onetária. O absurdo, todavia, resu lto u dos ju ro s utilizados;
k) entendimento de terceiros: H erm enêutica é arte coletiva. É o p o rtu n o saber
com o os o u tro s pensam . D iante de lacuna, co n su ltar norm as e autores diferentes
sobre o m esm o assu n to produzirá ótim os resultados.
Q u a n d o to d o s pensam de u m a form a e n ão fazem p arte de um m esm o g rupo
d e in teresses, suas co n clu sõ es têm de ser exam inadas com m ais cu id ad o ainda.
Para e n fren tar to rre n te ju risp ru d e n c ia l ou escola d o u trin á ria , é preciso m aior
co n h e cim en to , aten ção à m atéria e esforço intelectual.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá k io

96 W la tíim i/ N o v a e s M a r t i n e 7
F.m tem pos passados, esm agadora m aioria dos ju slab o ristas en ten d eu as horas
exiras com o não in tegrantes da base de cálculo dos depósitos do FGTS, e estava
enganada ou mal posicionada;
l) indicação correspondente quando de omissão: A rem issão é atividade com pen-
sadora, em bora im p o n h a cuidados especiais, pois o tran sp o rte é sem pre perigoso.
Mas trata-se de esforço propiciador de resultados positivos.
Q u an d o o legislador silencia, a prim eira providência é analisar o sen tid o de
sua m udez. Se é lacuna integrável, cabe a ida a outros sítios para e n c o n trar a so­
lução. De q u alq u er form a ela não pode co n tra d ita r o espírito da lei n o qual está
sediada a om issão;
m) preferência dada na dúvida ou no silêncio: Q uando se tem con h ecim en to dos
anais ou atas da discussão da elaboração da norm a, não desprezar essas anotações.
Às vezes, o g ru p o p re p ara d o r esboçou certo encam in h am en to , m as não desejou
prosseguir. N ão era essa a intenção; e o silêncio e a incerteza não podem chegar a
esse desid erato ab andonado.
n) interpretação extensiva em prestações: Todo o em p en h o do h erm eneuta,
q u an d o em dificuldades, deve ser no sentido de ad eq u ar a norm a sob enfoque ao
d om ínio em q ue situada. O cam po das prestações com preende visão extensiva,
apen as cuid an d o -se de não se esquecer a p ropriedade da interpretação: ela só cabe
q u an d o o ap licad o r estiver em dificuldades; só aí se torna intérprete;
o) interpretação restritiva em custeio: Se se trata de ex p ro p riar o indivíduo
ou a em presa, é preciso atenção n a análise das palavras, no sen tid o das orações, e
verificar com precisão o seu alcance.
O significado do vocábulo “ad eq u ad o ”, q u an d o a C arta M agna, em seu
art. 146, III, c, protege o ato cooperativo, é exem plo das dificuldades enfrentadas
pelo exegeta. Precisará co n stru ir sistem a de m edidas da capacidade contributiva
do s em p reen d im en to s econôm icos, e ali classificar as cooperativas, evitando, ao
m áxim o, a subjetividade para não in u tilizar o seu esforço;
p) sentido social da regra: O Direito Previdenciário, na sua jurisdição, tem por
objetivo m elhorar e estabilizar a situação das pessoas, prom over distribuição iguali­
tária de rendas, su b stitu ir os ingressos obtidos durante o labor ou q uando ele não é
mais possível, enfim, é direito ínsitam ente protetivo, convindo cautelosam ente tentar
otim izar a posição do interessado se nen h u m outro parâm etro resolver a questão.
Essa é tarefa das m ais difíceis e reclam a, com o salientado an terio rm en te, per­
feito co n h ecim en to da natureza e da e stru tu ra , papel e objetivos da previdência
social e, p rin cip alm en te, não confundi-la com a A ssistência Social;
q) resultado atingido: R ecom posto o texto conform e as diferentes técnicas, de
certa form a su b stitu in d o o legislador, na m edida do possível, vislum brar o resultado
e verificar se não é ab surdo ou contrário ao sistem a.

C urso d e D ir f it o P r e v íd e n c íA r io

T om o I — N o ç õ e s d e D i r e iío P r e v id e n c iá r ia
97
Capítulo XIV

A p l ic a ç ã o d a N o r m a n o E s p a ç o

141. Princípio da territorialidade. 142. Acordo internacional. 143. Órgão


S u m a rio :

de representação estrangeira. 144. Sede do domicílio e do contrato. 145. Em­


pregado de empresa nacional. 146. Servidor da União. 147. Turista sem visto
de permanência. 148. Marítimo e aeronauta. 149. Segurado facultativo. 150.
Percepção de benefício no exterior.

N este capítulo, são abordados enfoques p ertin en tes à área geográfica de a tu a­


ção da norm a, o espaço físico onde é atu an te. M atéria pouco abordada no Direito,
de m odo geral, co m p letam ente esquecida no Direito Previdenciário e, n o entanto,
im portante.
141. P rin cípio d a te rrito ria lid a d e — C om o é bem com ezinho, a norm a ju rí­
dica tem cogência no territó rio nacional. A regra, porém , não é absoluta, e conhece
exceções. Por ter sentido em relação às pessoas, considera-se a hipótese de vigência
extraterrito rialm en te. A questão da eficácia geográfica não tem despertado o in te­
resse dos estudiosos, sendo raríssim as as m onografias a respeito. A lei previdenciá­
ria aplica-se em todo o espaço físico do País, e são poucas as exceções. As relativas
à im u n id ad e diplom ática foram p raticam ente elim inadas pela Lei n. 6.887/1980.
E screvendo em 1976, an tes da Lei n. 6.887/1980, João Antônio Guilhern-
-Bemard Pereira Leite (“C urso E lem entar de D ireito P revidenciário”, p. 55/57) deu
ênfase à territorialidade; “O princípio da territorialidade, assinalado no início deste
item , não só significa a rígida lim itação espacial das norm as de D ireito P reviden­
ciário ao territó rio nacional, m as antes sua incidência necessária relativam ente a
toda atividade prestada em território nacio n al”.
Lem bra o d isposto n o art. 2Q, V, c, da Lei n. 6.367/1976, aplicar-se ao em p re­
gado em viagem pelo exterior a serviço da em presa.
Em razão da m obilidade da m ão de obra, im igração e o u tro s deslocam entos
de segurados, a lei previdenciária pode, em algum as hipóteses, valer para essas
pessoas, p articu larm en te se dom iciliadas e contratadas no território nacional.
P or o u tro lado, em virtude de tratados internacionais celebrados e do p rin c í­
pio da au to d eterm in ação dos povos, em certas circunstâncias, m esm o no território
nacional, a lei previdenciária n ão se realiza.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

98 W lt í d i m i r N o v íie s M a r t i n e z
142. Acordo internacional — Por força de ajustes previdenciários celebrados
com vários países, in ú m ero s efeitos ju ríd ico s são prod u zid o s no Brasil, relativos às
relações ju ríd icas acontecidas em o u tro s Estados. O tem po de serviço prestado na
A rgentina é co n tad o , no Brasil, para fins da aposentadoria p o r tem po de serviço.
143. Órgão de representação estrangeira — Q u em p re sta serviços para
em baixadas e co n su lados ou a órgãos a elas su b o rd in ad o s está sujeito à regula­
m entação própria. São segurados obrigatórios na condição de em pregados; m as o
não brasileiro, sem residência p erm an en te n o Brasil, o u o brasileiro, protegido pela
legislação do País representado, está excluído do RGPS.
O p rim eiro deles é o em baixador. Seguem -se os cônsules e os titulares dos
órgãos su b o rd in ad o s às representações, n o rm alm en te estrangeiros sem residência
fixada no Brasil.
144. Sede do domicílio e do contrato — O brasileiro ou não, aqui contratado e
dom iciliado para trab alhar no exterior a favor de em presa nacional, é segurado obri­
gatório. Isso ocorre in d ep en d en tem en te de, em virtude de operar fora do território
brasileiro, even tu alm ente estar subm etido a outro regim e de previdência social.
As em presas brasileiras (ou estrangeiras), aqui sediadas, co stum am enviar tra­
balhadores p ara p restar serviços fora do Brasil, em duas condições básicas: a) com
ro m p im en to do co n trato de trabalho an terio rm en te celebrado; e b) m antendo-se
o vín cu lo em pregatício.
Na prim eira h ipótese, a qualidade de segurado e os d ireitos inerentes podem
ser preservados p o r m eio da contribuição facultativa, praticam en te sem prejuízos
p ara o segurado, n o tocante ao tem po de serviço. Na ou tra, assegura-se a filiação e
a obrigação do d esco n to e da contribuição, com a preservação de todos os direitos.
145. Empregado de empresa nacional — O brasileiro ou estrangeiro d o m i­
ciliado e co n tratad o no Brasil para trabalhar com o em pregado de firm a sediada no
exterior, cuja m aioria do capital votante pertença à em presa brasileira de capital
nacional, é tam bém tido com o em pregado.
146. Servidor da U nião — O brasileiro civil trab alh an d o p ara a U nião, no
exterior, em organism os oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja
m em bro efetivo, m esm o se lá dom iciliado e contratado, salvo se segurado na form a
da legislação vigente do país do dom icílio, é segurado obrigatório do nosso regime.
147. Turista sem visto de permanência — A assistência à saúde é direito de
to d o s os residentes n o País e de qu em estiver no territó rio nacional, alcançando
turistas. Estes, sem visto de perm anência, se preencherem os requisitos legais rela­
tivos ã definição de segurado obrigatório ou facultativo, são filiados ao RGPS (su ­
jeitan d o -se às sanções p ró p rias da legislação relativa ao estrangeiro inadim plente).
148. M arítim o e a e ro n a u ta — A situação das pessoas subm etidas, p o r força
do serviço, a deslo cam entos em veículos m arítim os ou aéreos (m arítim os ou ae-
ro n au tas) observa os dispositivos legais norm ais se a ban d eira da em barcação ou
aeronave é nacional. Tratando-se de tran sp o rtad o ras estrangeiras, os obreiros não
são p rotegidos pela nossa legislação.

C urso de D ir e it o P r e v íd e n c ia r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e if o P r e v id e n c iá r ia 99
149. S egurado facu ltativ o — Não é clara nem sim ples a possibilidade de pes­
soa residindo no ex terior p o d er se filiar com o facultativo, co n trib u ir e vir a obter
os benefícios, isto é, m an ter u m a relação ju ríd ica regular com a previdência social
sem pisar no territó rio nacional. E xcetuadas as h ipóteses configuradas na legisla­
ção, o RGPS destina-se a brasileiros e estrangeiros aqui residentes e dom iciliados.
A legislação é silente; ela não obsta claram ente a filiação o u a inscrição, mas
a não vedação não é garantia de, ao contrário, ser possível. Trata-se, em verdade,
de lacuna, a ser integrada.
Do p o n to de vista econôm ico-pecuniário, se o regim e financeiro do RGPS
fosse de capitalização, não haveria obstáculo, em bora os ren d im en to s do capital
aplicado in teiram en te envolvessem a econom ia nacional. A dotado o regim e de
repartição, as coisas não se alteram m u ito , pois esse co n trib u in te em nada difere
do nacional, salvo o fato de ele não criar riquezas em nosso País. Resta a questão
filosófica a ser definida.
Ju rid icam en te, p o rém , o encam in h am en to é diferente. P artindo-se do fato es­
sencial de a lei Ce no caso, o seu objeto, a proteção social) destinar-se, em princípio,
aos residentes no território nacional, o silêncio da no rm a reclam a determ inação
expressa e atu alm en te inexiste perm issão. N essas condições, quem não tem v ín cu ­
lo com o País não pode se filiar com o segurado, salvo nas condições an terio rm en te
exam inadas.
150. P ercepção de benefício n o e x te rio r — A legislação previdenciária não é
xenófoba e está integrada nu m a com unidade m undial de trabalhadores e pessoas.
Por isso, aceita pagar benefícios para estrangeiros o u nacionais residindo no exte­
rior, considera filiações, contribuições e tem pos de serviço, enfim , direitos ad q u i­
ridos ou em fase de aquisição provenientes de outros países.
Os acordos in tern acionais inserem -se na sua ordem in stitu cio n al, devendo a
lei co n ter as restrições im postas a qu em não crie riquezas no territó rio nacional.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

100 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo X V

D ir e it o I n t e r t e m p o r a l

Sumário: 151. Vigência e eficácia. 152. Revogação e derrogação. 153. Retroeficá-


cia benéfica. 154. Princípio da norma vigente à época. 155. Autoaplicabilidade
das leis. 156. Irretroatividade do comando. 157. Efeitos ex tunc e ex nunc. 158.
Expectativa de direito. 159. Direito simples. 160. Direito adquirido.

D ireito in tertem poral é área na qual são consideradas as norm as e os efeitos


ju ríd ico s relativos ao curso do tem po. Seu tope principal é a retroatividade e suas
raras h ip ó teses de efetivação.
As regras su b o rd in ad o ras são praticam en te universais, isto é, preceitos de
sup erd ireito aplicáveis a todos os ram os, pouco variando em cada especialidade,
caso, p. ex., da vigência da lei, definida na Lei de Introdução ao C ódigo Civil.
Sob esse aspecto, o D ireito Previdenciário não difere m u ito dos dem ais. To­
davia, com o o Penal e o Tributário, suas razões exigem disciplina particu lar em
situações típicas e, p o r isso, estabelecidos procedim entos próprios.
Dá-se exem plo in tro d u tó rio com o princípio da trim estralidade do custeio
(derivado do p rin cíp io trib u tário da anualidade). Trata-se de singularidade, ju s ti­
ficada pela necessidade de obtenção célere dos recursos im prescindíveis ao aten d i­
m ento das prestações (em face de sua natu reza alim entar). Da m esm a form a e com
acen tu ad a ênfase, o da precedência do custeio.
Por outro lado, a técnica protetiva prioriza o tem po de serviço com o um ele­
m ento de definição dos benefícios, aplicada essa concepção com diversas finalidades,
sem pre se referindo ao passado. Q uando se altera o conceito de tem po de filiação,
naturalm ente se está m odificando coisa pretérita, m as ainda sem se poder falar em
retroeficácia.
151. V igência e eficácia — No âm bito federal, as n o rm as previdenciárias
ad q u irem vigência ao serem publicadas n o D iário Oficial da União. Atos internos
m enores não divulgados ou não afixados no saguão da sede social da autarquia não
sujeitam os adm inistrados.
As de realce devem ser am plam ente divulgadas e, preferivelm ente, en trar em
vigor no p rim eiro dia do mês. Em alguns casos, não prescin d in d o de vaccitio legis
para to rn ar possível a sua efetiva realização.

*
C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io
O su rg im en to da eficácia é m ais delicado, pois variam as diferentes situações.
Podem : 1) ser d iferidas para certo prazo; 2) d e p e n d e r de condição resolutiva; 3)
retro ag ir b eneficam ente; 4) servir-se, d iferen tem en te, do passado; 5) su b o rd in ar-
se a d ecreto reg u la m en tad o r; 6) preced ên cia do custeio; e 7) p rin cíp io da trim es-
tralidade.
a) diferimento do prazo: Com algum a frequência a eficácia é dilatada para certo
term o, fixado pela pró p ria norm a.
Às vezes, a prorrogação é gradualizada (caso do art. 142 da Lei n. 8.213/1991,
em relação à im plantação de novo período de carência; ele passou, em 1991, de 60
para 180 co n trib u içõ es no ano 2011).
A Lei n. 8.742/1993 (Lei O rgânica da A ssistência Social), no seu art. 37,
estabeleceu d u as vaetiíio legís: a) 12 m eses para os deficientes; e b) 18 m eses para
os idosos;
b) dependência de condição resolutiva: P or vezes, iinanente a disposição, só
pro d u z efeitos práticos e ju ríd ico s q u an d o suceder fato p o r ela eleito com o defla­
grador da dita conseqüência;
c) retroação benéfica: E xcepcionalm ente, a norm a retroage, arrostando o p rin ­
cípio da validade da lei ao tem po dos fatos. Tal conclusão não pode defluir de racio­
cínios indiretos, carecendo o com ando dispor expressa e claram ente sobre o tema.
F ornecem -se exem plos. Na Lei n. 6.683/1979 (Lei da A nistia), o período de
exílio (n o rm alm en te no exterior, onde nem sem pre foi possível m an ter situação
regular), q u an d o de sua ocorrência, não tinha n en h u m a im portância, m as a p artir
da cilada lei passo u a ser contado com o tem po de serviço. As duas leis relativas
aos ex-com batentes, p osteriores ao período 1939/1945, definiram e redefiniram a
participação dos p racinhas da FEB;
d) regulação do passado: C om características distin tas, às vezes, o legislador
afeta o passado, para p ro d u z ir efeitos no futuro. A concepção h o d iern a é m odifi­
cada, su bstitu íd a, de certa form a alterando-se o significado do tem po pretérito.
D uas hipóteses ilustram -na. Até 24.7,1991, a aposentadoria p o r tem po de ser­
viço p roporcional era calculada com 80% do salário de benefício, m ais 3% p o r ano
de serviço além de 30 anos. C om a Lei n. 8.213/1991, o p ercentual básico desceu a
70%, acrescendo-se o índice anual de 6% (a u m e n tan d o e d im in u in d o , conform e o
caso). Isto é, perío d o s de serviço válidos para o acréscim o de 3% vieram a pro d u zir
adições de 6% e 30 anos capazes de gerar 80% consubstanciaram 70%. R espeitada
expectativa de direito (e não foi), o p rocedim ento da lei seria correto.
Na o u tra situação, até 24.7.1991, m u lheres com 25 até 29 anos de serviço não
tinham direito à ap o sentadoria proporcional. No dia seguinte, e utilizando-se do
m esm o tem po passado, a lei g arantiu-lhes esse direito.
Retroagir, no caso, seria p erm itir a essas m esm as seguradas, com m ais de 25
e m enos de 30 anos, afastadas do trabalho, obterem o benefício se ele tivesse sido
negado;

C urso de D ir e it o P r íiv id e n c iá r io

102 W \a d im ir N o v a e s M a r tin e z
e) dependência de decreto regulamentador: F requentem ente, a lei afirm a e n tra r
em vigor q u an d o da regulam entação o u em certo m om ento (n o rm alm en te 60 ou
90 dias). N o seu silêncio ou não sobrevindo ato regulam entador, seguem -se as
regras tradicionais, en tra n d o em vigor d en tro de 45 dias.
f) precedência do custeio: P recedência do custeio é disposição científica lógica,
técnica e ju ríd ica. Por isso, classificada com o diretriz básica da seguridade social.
Lógica p o rq u e sem am ealh ar m acrocósm ica e an tec ip ad am en te os recursos,
é im possível a te n d e r às necessidades. A tuarialm ente, in ex istem p ro b lem as para
um sistem a, desde sua im plantação, pag ar os benefícios de risco im previsível,
u tilizan d o -se de em p réstim o s restituíveis o p o rtu n am e n te . Na prática, co n tu d o ,
isto não é recom endável, sob pena de d e se stru tu ra r a sua organicidade. N esse
caso, p o r força dessa contin g ên cia, a conclusão lógica tra n sm u to u -se n u m a regra
técnica.
C om o dito, sua origem é p ro d u to da razão. Evoluiu para um a técnica, a im-
p rescindibilidade prévia do financiam ento. D iante da possibilidade de a U nião so­
correr os cofres da au tarq u ia em suas insuficiências, essa providência excepcional
foi d istorcida e su cederam várias tentativas de co n fu n d ir os dois orçam entos, des-
n atu ra n d o a previdência social. C ircunstancialm ente, d u ra n te a fase de capitaliza­
ção dos m eios, o P o d er Legislativo não resistiu à tentação de criar d ireitos sem os
ô n u s corresp o n d en tes.
A esse respeito, diz o art. 195, § 5®, da C onstituição Federal: “N e n h u m b en e­
fício o u serviço da seguridade social poderá ser criado, m ajorado ou esten d id o sem
a co rresp o n d en te fonte de custeio to ta l”.
Para o Plano de Benefícios, a prestação é a da previdência social.
Tal redação, não m u ito feliz, censurável p o r se utilizar, n o art. 165, parágrafo
ú n ico , da Lei M aior de 1967, da expressão “p restação” no sentido m ais inadequado
do vocábulo, ascendeu à condição de preceito constitucional, por força da Em enda
C o n stitu cio n al n. 11/1965. Presente, agora, com o postulado aplicável não só à
previdência, com o à assistência e tam bém à saúde, isto é, para todos os direitos da
seguridade.
N orm a autofágica na LOPS, insculpida na Carta Política, é certam ente reco­
m endação d estin ad a ao legislador ord in ário (e ao in térp rete e aplicador da Carta
M agna): este não pode in stitu ir prestação nova, m elh o rar as existentes o u esten d ê­
-las sem , em d eterm in ado instante, não aclarado pelo dispositivo, criar as fontes de
custeio necessárias. Trata-se de técnica securitãria, de fundo atuarial, tão necessá­
ria q u an to nào explicitada.
Em conseqüência, aten d en d o aos atuários, evidenciou-se a necessidade de
coibir o legislador o rdinário de criar novos benefícios, afetando a e stru tu ra do
o rd en am en to m atem ático-financeiro.
D urante o en cam in h am en to legislativo da citada E m enda C onstitucional,
d iscu tiu-se sobre a form a negativa da oração. Tanto na indireta q u an to na direta, a

C urso de D ir e ít o P r e v id e n c iá r io

T o m o 1 — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 103
disposição apresentava fragilidades term inológicas e científicas, alterando a in te n ­
ção do em en d ad o r co n stitu in te, ou seja, im pedir a criação desordenada de direitos
ou am pliação dos existentes.
Não é difícil avaliar sua im praticabilidade. Sem recorrer ao P oder Executivo,
d eten to r dos dados estatísticos, o C ongresso N acional não dispõe de condições
técnicas para, apreciando a proposição, posicionar previam ente a necessária
corresp o n d ên cia atuarial e financeira. Por isso, e aten d en d o a interesses políticos
m enores, ela não só foi violada in úm eras vezes, no passado, com o vem sendo pre­
sentem ente.
É im p o rtan te salientar, a despeito da incapacidade de aparelhar o Poder Le­
gislativo para avaliação dos déficits financeiros, q u e sem pre será possível a im plan­
tação de fonte de custeio sem a corolária previsão de benefícios ao m esm o tem po,
pois é p róprio da seguridade social a obtenção antecipada dos recursos para, so­
m ente após, serem estim ados os benefícios;
g.) princípio da trimestralidade: Inovando em relação a todas as C onstituições
anteriores, evidenciando a distinção entre contribuição social e tributo, distancian­
do-se do C ódigo T ributário N acional (no qual é vigente o p rincípio da anualídade),
o art. 195, § 6a, da Lei M aior de 1988 dita: “As contribuições sociais de que trata
este artigo só po d erão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publica­
ção da lei que as h o u v er in stitu íd o ou m odificado, não se lhes aplicando o disposto
no art. 1 5 0 ,111, b”.
O preceito sob enfoque reclam a da dou trin a, entre outros, os seguintes esclare­
cim entos: a) a p artir de quando se contam os 90 dias? b) a qual lei a N orm a Suprem a
se está referindo? c) qual a razão de ser de 90 dias, e não outro, o prazo? d) inclui
dim inuição ou apenas se refere à m ajoração de contribuições? e) se a lei depende de
regulam entação, o prazo pode ser m en su rad o pelo decreto regulam entador?
O p rin cíp io da trim estralidade, com o dito, a par de estar d em o n stran d o evi­
d en te especificidade da im posição securitãria, tem praticam en te o m esm o sentido
do p rin cíp io exacional e trib u tário da anualidade. Lapso de tem po para os sujei­
tos passivos da obrigação fiscal se prepararem organizacional e p ecuniariam ente
para enfren tar a nova exigência. Se assim for, aceitando-se, ad argumentandum, a
validade da M edida Provisória para in stitu ir ou m odificar obrigação fiscal, os 90
dias devem ser aferidos da data do início da vigência da referida norm a ju ríd ica,
aplicando-se o dies a quo non computatur. N esse sentido, os novos aportes reclam a­
dos pela Lei n. 7.787/1989 deveriam com eçar 90 dias após a M edida Provisória n.
63/1989 (m as assim não en ten d eram os tribunais federais). Q u ando da publicida­
de desta últim a disposição, os co n trib u in tes tom aram co n h ecim en to das im posi­
ções p rincipais e acessórias. A C arta M agna está se referindo à Lei C om plem entar,
Lei Delegada e Lei O rdinária. Em bora pudesse a M edida Provisória in stitu ir tributo
ou alterá-lo, o princípio da trim estralidade cria em baraços quase insuperáveis, se a
referida proposta do P oder E xecutivo não for apreciada pelo C ongresso Nacional.
A ntes de d ecorridos os 90 dias, a M edida Provisória perde eficácia.

C urso dl D ir e it o P r u v íd e n c l ã r io

104 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
F oram estabelecidos 90 dias p ara q u eb rar a regra da an u alid ad e tributária.
Esse é o lapso de tem po m inim o para as em presas se adequarem . N a verdade, não
tem m u ita p ro p ried ad e a exigência ser su b itam en te criada, com o aconteceu com o
D ecreto-lei n. 2.318/1986, do p en ú ltim o dia do ano e to rn an d o a anterioridade e
a an u alid ad e u m a farsa.
A C o n stitu ição F ederal fala em instituição ou m odificação. Em rigor, se há
m ajoração ou redução de cotizações, o p rincípio deve ser observado.
Se a lei fiscal carece de decreto reg u lam en tad o r e não é clara o suficiente para
os su jeito s passivos saberem da obrigação criada, sendo im prescindível o decreto
reg u lam en tad o r aclará-la, é dele o início do prazo.
E m bora a lei an terio r seja revogada na data da publicação da lei posterior, al-
teradora das contrib u ições, a prim eira tem validade até a véspera da data de início
da eficácia fiscal da segunda.
152. Revogação e derrogação — U m a vez vigentes e eficazes, e m antendo-se
válidas sob o aspecto m aterial e social, as norm as persistem até serem revogadas
ou der rogadas.
Revogação é m atéria difícil em D ireito e, p articularm ente, no previdenciário.
O legislador co stu m a se servir de m odalidades im precisas, bastando a lei ser pos­
terior, ou, então, e isso é pior, ad o tan d o a fórm ula consagrada “Revogam -se as dis­
posições em co n trá rio ”. Até boje (2005), não se sabe exatam ente quais dispositivos
da LOPS não estão su b stitu íd o s pelas Leis ns. 8.212 e 8.213, de 1991.
Em seu art. I 2, diz o D ecreto-lei n. 4.657/1942: “Salvo disposição contrária, a
lei com eça a vigorar, em todo o País, 45 (q u aren ta e cinco) dias depois de oficial­
m en te p u b licada.” No dizer do art. 101 da Lei n. 5.172/1966, “a vigência, no espaço
e no tem po, da legislação trib u tária rege-se pelas disposições legais aplicáveis às
norm as ju ríd icas em geral, ressalvado o previsto neste ca p ítu lo ”.
O art. 155 da Lei n. 8.213/1991 acosta-se ao início da oração do art. l Bdo D ecreto­
-lei n. 4.657/1942 e, assim , vale a vigência a p artir de sua publicação (25.7.1991),
deslocando-se o problem a da eficácia para o prazo de 60 dias aludido no art. 154.
E m bora d esp iciendo, determ ina o art. 156 da m esm a lei a revogação das nor­
m as em co n trário . Trata-se de uso e costum e legal desnecessário e até inútil, p rin ­
cipalm ente se levando em conta o legislador não indicar, expressa e precisam ente,
as n o rm as co n trad itadas.
O exam e da co ntrariedade é objetivo, m as em inúm eras ocasiões é possível
haver co n fro n to de ideias, posições diferentes, obliquidades e quedarem -se os
estu d io so s longo tem po na busca da diferenciação.
R econhecendo a existência de diretrizes da CLPS em vigor, p o r não terem
sido tratadas e, co n seq u en tem en te, dos dois decretos regulam entadores desta
(ns. 83.0 8 0 /1 9 7 9 e 8 3 .081/1979), o art. 165 do R egulam ento do C usteio, re p o rtan d o ­
-se a um a C onsolidação dos R egulam entos da O rganização e do C usteio da Seguri­
d ade Social, e u m a C onsolidação dos R egulam entos dos Benefícios da Previdência
Social, m an tém -n as em vigor subsidiariam ente.

C ur 5ü de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o l — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 105
A C o n stitu ição F ederal de 1988 p reten d eu u n ir a Previdência ru ral à urb an a, e
p o r isso, interessa apreciar a vigência e eficácia das regras referentes à contribuição
“ru ra l”, isto é, as p ertin en tes à nova obrigação da em presa rural (ou do adquirente
de pro d u to s rurais). N um ord en am en to em que: I) as leis não cum prem os prazos
da C onstituição Federal, retroagindo a 5.4.1991 e a 5.10.1988; 2) leis ordinárias
preten d em su b stitu ir leis com plem entares; 3) decretos interpretam , extrapolam a
lei e retroagem em m atéria fiscal; e 4) portarias m inisteriais disciplinam a retroati-
vidade, não ab rin d o prazo razoável para os co n trib u in tes cum prirem -nas.
Nos term os da Lei C om plem entar n. 11/1971, a em presa ru ral estava obriga­
da à co n tribuição de 2% do valor com ercial dos p ro d u to s rurais com ercializados,
colocados em consignação, entregues às cooperativas, industrializados, ex p o rta­
dos ou vendidos de p orta em p o rta (art. 15, I). Essa cotização rural financiava as
prestações do rurícola. Em particular, alguns obreiros do cam po deflagravam ô nus
idênticos aos da em presa urbana, com plicando um pouco as coisas ( “O T rabalha­
d o r Rural e a Previdência Social”, p. 193/288).
Com a equivalência urbano-rural contem plada com o princípio no art. 194, II, da
Lei Maior, desapareceu a previdência social rural com o regim e apartado, e foi absor­
vida pelo RGPS. Ficaram sem validade os arts. 274/348, do Decreto n. 83.080/1979.
O sujeito passivo da obrigação fiscal rural igualou-se ao urb an o e observa
com o p rincipal h ipótese de incidência os salários de contribuição contidos nas
folhas de p agam ento dos em pregados. Pelo m enos, até o advento das Leis n.
8.861/1994 e n. 8.870/1994.
A q u estão, em face do o rd enam ento exacional nacional, da natureza ju ríd ica
da co n trib u ição previdenciária e da possível revogação da Lei C om plem entar n.
11/1971 pelo Plano de C usteio, era d eterm in a r q u an d o cessou o dever de reter e
pagar os 2% e q u an d o surgiu a im posição de recolher a contribuição em função
dos salários.
Isso tudo com vistas ao p rincípio co n stitu cio n al da trim estralidade e ao dis­
posto no art. 161 do D ecreto n, 356/1991.
A nova co n trib u içã o não p o d eria ser reclam ada antes de 90 dias, co n tad o s
de 25.7.1991. N esse p articu lar, não há dificuldade, p o rq u e o D ecreto n. 356/1991
en tro u em vigor so m en te em 9 .1 2 .1 9 9 1 , fixando o início da exigibilidade em
I a. 11.1991 (art. 161).
Publicada em 25.7.1991, nessa data, se inicia a vigência da Lei n. 8.212/1991.
Sua eficácia genérica conta-se de 22.9.1991. Sem dúvida, em 9.12.1991.
A parentem ente, no dia de sua publicação, estariam revogadas as disposições em
contrário. Isto é, o art. 15, I/Il, da Lei C om plem entar n. 11/1971. A revogação seria
autoaplicável por dispensar explicações prom ovidas pelo decreto regulam entador.
S u b stitu ir Lei C o m plem entar é questão torm entosa. A lei ordinária situa-se
hierarq u icam en te abaixo dela. Todavia, abstraindo o aspecto form al, im plem en­
tando a Lei M aior e tratan d o de contribuições nela previstas, a derrogação teria
acontecido.

C urso d l D ir e it o P R E V ip r iN c i A M O
106 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Versão su sten tad a p o r A ntenor Pelegrino acolhe a revogação da Lei C om ple­
m en tar em 25.7.1991. M antido esse en ten d im en to , dessa data até 8.12.1991 (ou
31 .1 0 .1 9 9 1 ), ter-se-ia u m a vacatio legis fiscal, d u ra n te a qual a em presa ru ral esta­
ria desobrigada de arrecadar e de contribuir.
O q u ad ro su rrealista criado pela legislação reclam a solução técnico-jurídica
com patível com a natureza e finalística da previdência social. D esde já, é bom
recordar, sob a filiação insitam ente obrigatória e técnica d eliberadam ente co n tri­
b utiva, não fazendo sentido su star a instituição ou quebrar o fluxo da arrecadação.
O art. 105 do Plano de C usteio, revogador das disposições em contrário, vige
desde 25.7.1991 — devendo-se, se possível, ap u rar a co n traried ad e de ideias — ,
m as só tem eficácia em I a. 11.1991, q u an d o prod u zid o s os seus efeitos jurídicos.
Um deles, arred ar o m ecanism o anterior, as alíquotas e bases de cálculo da exação.
Até então, vigeram e conviveram duas norm as ju ríd icas válidas (Lei C om ple­
m en tar n. 11/1971 e Lei n. 8.212/1991), m as apenas a prim eira teve eficácia. Não
se trata de recepção pela nova, e, sim , de convivência de diplom as co nsentâneos e
observância da continuidade.
Este ú ltim o preceito d o u trin ário , aplicado à m atéria fiscal, reclam a, pelo m e­
nos, um a condição de exequibilidade: os ingressos terem a m esm a destinação dos
an teriores, valen d o lem brar ser a contribuição previdenciária m eio, e não fim em
si m esm o.
A obrigação fiscal, ao tom ar p o r base de cálculo a folha de pagam ento, tem o
m esm o escopo da m en su rad a a p a rtir do valor com ercial dos p ro d u to s rurais: ap o ­
sentadorias e pensões. A an terio r referia-se aos rurícolas strícto sensu; a posterior,
a todos os obreiros, u rb a n o s e rurais, in stitu cio n alizan d o a solidariedade urbano-
-rural, condição para a in strum entalização da equivalência cidade-cam po.
A antiga cotização observava, na alíquota e no m o n tan te, n ú m ero s distintos
(valor com ercial), e difere, em suas dim ensões, da nova (folha de salários).
Não se alegue ter agido m elhor a Lei C om plem entar n. 70/1991 (C O FIN S),
q u an d o , no seu art. 13, deixou prevalecer a norm a an terio r até a véspera de sua
eficácia. C uidavam , ali, o G overno Federa! e o C ongresso N acional de ten tar inter­
p retar a im positividade da lei anterior.
Para ser co n trária, era absolutam ente im prescindível p o ssu ir eficácia, e isso só
aconteceu, na p io r das hipóteses, em 1°. 11.1991 ou 90 dias após 25.7.1991. É de
m erid ian a clareza a su bstituição das fontes de custeio o co rrer p o rq u e as pretéritas
não eram suficientes para aten d e r à dem anda. N ão tem sen tid o lógico, além de não
m ajorar a receita, ab rir vazio fiscal. Não era essa a in ten ção do legislador ("Início
da exigibilidade da nova contribuição previdenciária”, in Rep, IOB d e ju ris p ., 2a
quinz., de m ar./1992, p. 112/113).
153. R etroeficácia benéfica — O problem a da retroeficácia acresce-se em
D ireito Previdenciário, p o r ser com um à legislação tratar do passado, q u an d o se
refere a tem po de serviço, carência, período básico de cálculo, aos determ inantes
dos percen tu ais u tilizad o s no cálculo da renda m ensal inicial.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D i r e it o P r e v i d e n c i á r i o 107
O p rin cíp io ju ríd ico universal co n tin u a válido, a n o rm a não tem eficácia para
trás, destina-se ao futuro, podendo, no entanto, envolver q uestões pretéritas.
Repete-se o exem plo, com a im plantação da aposentadoria proporcional por
tem po de serviço para a m ulher. Até 24 de ju lh o de 1991, não existia e a segurada
do sexo fem in in o só se ap o sen tav a, in teg ra lm en te , com 95% d o salário d e b e ­
nefício. A p artir da eficácia da Lei n. 8.213/1991 (nesse particular, coincidiu com
a data da vigência), q u em antes possuía de 25 a 29 anos de serviço, e não tinha
direito a se aposentar, passou, então, a tê-lo. Isto é, a norm a pro d u ziu efeitos, para
o futuro, em relação a fatos passados (tem po de serviço). P edidos de m ulheres
com 25 anos de serviços — baseados em equidade com a situação dos hom ens — ,
negados até 24.7.1991, não puderam ser revistos. O adm inistrador, ao indeferir,
pratico u ato jurídico perfeito.
154. P rin cíp io da n o rm a v ig en te à época — U m dos m ais caros preceitos
jurídicos diz respeito à validade futura da no rm a passada en q u a n to vigente. O u
seja, quan d o do exam e hodierno de situações pretéritas, o aplicador ou intérprete
deve estar ad strito à sua eficácia, excetuadas as hipóteses de retroação benéfica ou
regulação do passado.
Tal en ten d im en to é o a L o ju ríd ico perfeito aplicado a o contrário. Salvo no
D ireito Penal, em que reconhecida a sub stitu ição da pena pela contem porânea ou
vigente e a rejomiatio in pejus, não é possível, p o r via de in terpretação, isto é, sem
com ando legal co n stitu cional, ten tar fazer valer n o rm a vigente para situações não
alcançadas p or e l a em tem pos passados.
Assim, se a lei nova não quis fazer exceção (e deveria), não pode a m u lh er do
trab alh ad o r rural, o p eran d o no m eio rural e com pletando 60 anos antes da Lei n.
8.213/1991, não obstante copiosas decisões favoráveis, fazer ju s à aposentadoria
por idade. O coeficiente da pensão p o r m orte de 60% do salário de benefício mais
10% p o r d ep en d en te até um m áxim o de 100% passou, a p artir de 5.4.1991 (exem ­
plo de retroação benéfica, expressa legalm ente), para 80% m ais 10% até o m áxim o
de 100%. Se o segurado faleceu em 4.4.1991 ou antes disso, a viúva fazia ju s a
70%, e não 90%, direito da viúva do segurado falecido no dia seguinte. Q uestão
discutida am p lam en te nos anos 2004/2005 na Ju stiça Federal.
Em l s. 11.1991, q uando, para todos os efeitos, en tro u em vigor o Plano de
C usteio da Seguridade Social (Lei n. 8.212/1991), fez n ascer problem a de direito
intertem poral. Subsistia questão, até então não solucionada, relativa ao prazo de
decadência do crédito previdenciário, variando as opiniões entre: a) inexistência
até então, persistindo apenas o da prescrição; b) ser de 5 anos, caso a exação previ­
denciária fosse tributo; c) prazo de 10 anos, contem plado na referida nova norm a.
Para todos os efeitos, en tretan to , q uando da discussão e x v i de parecer ad m in istra­
tivo vigente, acostava-se à norm a trib u tária e valiam os 5 anos.
Em 1992, a dúvida consistia em com o co n tar os novos 10 anos: eles deveriam
retroagir a 1982 (120 m eses) ou iniciar-se em 1986 (60 m eses), nesta últim a h i­
pótese vindo a realizar-se os 10 anos apenas a p artir de 1995? A solução m ais con-

C u r s o de: D ir e it o P r e v id e n c iá r io

108 W la d ím ir N o v a e s M a r tin e z
sen tân ea prevaleceu: a lei destina-se ao futuro, observando-se a regra ao tem po dos
fatos. Caso co n trário , as em presas seriam obrigadas a exibir d o cu m en to s vencidos
pela decadência q u an d o de sua edição.
155. A u to ap lica b ilid ad e d as leis — A autoaplicabilidade das n o rm as, isto é,
a p o ssibilidade de p roduzirem efeitos im ediatos em relação a co m an d o su p erio r ou
p ertin e n te a si m esm as, subm ete-se ã situação de cada caso.
De m odo geral, elas são autoaplicãveis em relação à data de sua vigência, co in ­
cid in d o, in casu, o vigor com a eficácia. As alterações prom ovidas pela Lei n. 9.032,
de 28.4.1995, em m atéria de benefícios acidentários, p ro d u ziram efeito a p artir da
data de su a publicação no DOU (29.4.1995).
Q u estão su til é a a u to a p lic a b ilid a d e em relação ã C o n stitu iç ã o F ederal. Sua
regra de o u ro é v ig ência e eficácia im ed iatas. S enão, co m o lem b ra José Afonso da
Silva, em ju íz o perfeito, n ão teria se n tid o a sua elab o ração . A p ró p ria Lei M aior,
c o n tu d o , p o d e q u e b ra r essa co n c lu sã o im p era tiv a e p ro te la r os se u s efeitos, nas
seg u in tes h ip ó teses: a) ela m esm a fix an d o o prazo; b) m a n d a n d o o legislador
re g u la m en tá-la ( “n a form a da lei” , “co n fo rm e d efin id o em lei”, “fixado em lei”
etc.); c) p o r ex igência do d isp o sitiv o , carecen d o ser ex p licitad o in fra co n stitu -
cio n alm en te.
Tais concepções são genéricas, utilizáveis em toda a m atéria disciplinada na
Lei F u n d am en tal, sem distinções. U m a, en tre tan to , fratura essa co n stru ção cientí­
fica e particu lariza, excepcionando, u m a q uarta possibilidade, específica da seguri­
dade social. Trata-se do com ezinho princípio da precedência do custeio, insculpido
na C arta M agna em 1965.
Ali co n tem p lad a, bem com o na lei com um , é ju ríd ico . A ntes de tudo, lógico.
Além disso, técnico, atuarial e financeiro. A esse respeito, dizia a Lei M aior de 1946,
a de 1957, e reza a de 1988: “N en h u m benefício o u serviço da seguridade social
poderá ser criado, m ajorado ou estendido sem a co rresp o n d en te fonte de custeio
to tal” (art. 195, § 5°). D ito princípio, concepção d o u trin ária, presta-se à in terp re­
tação p o rq u e é, tam bém , preceito positivado e per se não po d e ser superado por
regras não positivadas, m esm o se co nstitucionais.
Nos anos de 1991/1996, m uitas questões deste tipo foram levadas às barras
dos trib u n ais e em praticam ente todas elas as cortes superiores en ten d eram serem
au toaplicãveis os d ispositivos co n stitu cio n ais p resentes em 1988, não obstante,
em seu corpo provisório, a Lei M aior ler estabelecido dep en d erem do Plano de
C usteio e de Benefícios (surgidos em 1991).
156. Irre tro a tiv id a d e d o co m an d o — D esde o seu dealbar, a legislação pre­
videnciária assinala-se pela copiosidade. Em todo o D ireito brasileiro, certam ente,
não ocorre ram o ju ríd ic o com m aior p o d e r de legiferação. C o ntando-se a partir
de 1923, o n ú m ero de leis ascende a m ais de seis centenas e, no m ínim o, q u a d ru ­
plicado o de decretos, sem falar entre cinco a seis m ilhares de atos norm ativos de
hierarquia m enor.

C u r s o de ! D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 109
Essa sucessão infindável de com andos definindo, redefinindo, am pliando e às
vezes reduzindo conquistas sociais, propicia inúm eros problem as de direito inter­
tem poral, a p ar da problem ática de expectativa, direito e direito adquirido.
C o n stitu in d o -se o tem po o direito à m aioria das prestações, n o trato da in ­
terpretação da legislação, os estudiosos têm em m ira en ten d im en to qu an to à apli­
cação da norm a. A ad m inistração consagra a eficácia da norm a vigente à época
dos fatos geradores da faculdade, e não a do exercício deste (salvo se esta for m ais
benéfica e se a lei m ais antiga for om issa).
Não só a n o rm a relativa à época dos fatos, com o tam bém os eventos ocorridos
ao tem po do aperfeiçoam ento do direito, têm de ser sopesados.
Na aplicação do D ireito Previdenciário, raram ente a lei retroage, com o aco n ­
tece em ouLros ram os ju ríd ico s, m as é com um ditam e novo alterar a avaliação dos
elem entos p erten cen tes ao passado, para m elhor. Na in terpretação e integração,
isto é, n o s casos de obscuridade e fissura da no rm a ju ríd ica vigente à época dos
acontecim entos, é cabível a argum entação relativa à posterior m ais benéfica.
Mas a regra é a irretroatividacle da norm a, cabendo co n sid erar o valor dos
fatos e da lei vigente à época.
João Antônio G uilhem -B em ard Pereira Leite (“E studos de D ireito do Trabalho e
D ireito P revidenciário”, p. 259/69) expende p o n to de vista: “Prevalece, em p rin cí­
pio, a irretroatividade da lei nova, que incide im ediatam ente, alcançando os efeitos
ju ríd ico s que se devem p ro d u z ir a contar de sua vigência. A tinge, pois, em regra o
presente e o futuro, m as não tem retroeficácia".
Prossegue ele: “A regra co n stitu cio n al proíbe ao legislador voltar-se contra
o direito ad q u irid o m as não o proíbe de invadir o passado para dele colher os
elem entos necessários à com posição dos pressupostos de u m direito subjetivo”.
Assim, a Lei n. 7.175/1983 m an d ar co n tar o tem po de serviço an terio r à LOPS,
em relação aos segurados facultativos, encontra respaldo na norm a constitucional.
Realçando o papel do tem po passado, diz o m esm o autor: “A lei nova pode
considerar, na hipótese de incidência de norm as, atrib u to s de direito, fatos de
qualq u er natureza verificados no passado, m esm o fatos que, à luz da lei vigente à
época, tenham su rtid o todos os efeitos jurídicos. Se a tei diz, p o r exem plo, q u e o
segurado contará, para fins de aposentadoria, todo o tem po de serviço em atividade
hoje vinculada ao regim e geral de previdência, não retroage, em bora valorize um
fato que, à época, n en h u m a conseqüência tin h a no cam po ju ríd ic o .”
R elativam ente à retroeficácia benéfica, ele destaca a distinção: “U m a coisa é
retroeficácia benéfica, prevista em lei e válida, porque não proibida p o r n en h u m a
fonte superior. O utra, a aplicação im ediata da lei que vem em favor do beneficiá­
rio. Esta segunda hipótese é a m ais com um e decorre da n atu ra l evolução da pre­
vidência social. Diversa destas duas situações, porém , é a aplicação, em favor do
beneficiário, de lei nova, sem que na m esm a se preveja o efeito retroativo e quando
outra lei, no passado, já in cid iu .”

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

110 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A plicar lei nova, m ais favorável, em relação a fatos p assad o s (q u a n d o
vigente lei m enos benéfica), sem ela o determ in ar, co n tra ria o p rin cíp io , m as,
às vezes, acontece. Epaminondas Nogueira ( “A R etroatividade das Leis Sociais”,
p. 43) refere-se a d u as decisões nesse sen tid o e delas ex trai estas conclusões:
“A aplicação da lei in fo rtu n ística, com tal alcance, é im periosa necessidade, ante
os fins sociais da lei. Não se en ten d e que operários, em condições de incapacidade
p ra tic am en te iguais, recebam benefícios diversos, p o rq u e lei m ais antiga esta­
belecia p arâm etro s an g u stian tes, cujos requisitos n em sem p re o o p erário tinha
co n d içõ es de satisfazer”.
E m bora os fins sejam elevados, é preciso não esquecer: os parâm etros novos
foram estabelecidos em função dos m eios instituídos pela lei nova, inerentes à época
dos fatos. Em conseq üência da sim ilitude da relação custeio/prestações, em qual
serão buscados os recursos — a não ser, u m absurdo, retroagindo exacionalm ente
— para aten d e r à decisão?
157. E feitos ex tunc e ex nunc — O parecer n orm ativo, não confundível com
o co m u m (em itido p o r profundos conhecedores de assu n to técnico), com o as leis
e os decretos, é ou não em itido em seqüência, u n s sobrevindo após outros, tratando
da m esm a m atéria, p ropondo-se, então, o problem a de saber quais as regras de
eficácia ou validade.
P or vezes, ele é a prim eira m anifestação sobre o tem a, e ainda assim será p re­
ciso d eterm in ar o início de sua validade: a) a p artir da publicação; b) em data por
ele fixada; c) a c o n tar da eficácia o u vigência da no rm a interpretada.
N esse sen tid o , o parecer é inteligência do texto legal e, p o r isso, não institui
n em co n stitu i direito ou obrigação, apenas declara sua existência, convindo deixar
claro a p artir de q u al m om ento. Q u ando a opinião da au to rid ad e constituída é
im prescindível à com preensão de questão jurídica, significa ter subsistido dúvida
referente à aplicação da lei e isso, obviam ente, desde a edição do com ando provo-
cador da incerteza.
O certo é o d o cu m en to regente d isp o r sobre sua eficácia, d izendo quando
en tra em vigor e p roduz efeitos. Se não acontece, está-se diante de dois efeitos: ex
tunc e ex nunc. Isto é, salvo na hipótese de estipular a data da validade, poderá ser
desde a sua publicação (su b stitu in d o ou não parecer an terio r) ou desde início da
vigência da n o rm a então in terp retad a. O efeito ex tunc conta-se desde o advento
da n o rm a cogitada e o efeito ex nunc, a p artir da publicação do parecer.
158. E x p ectativ a d e d ire ito — A relação ju ríd ica estabelecida entre u m b e n e ­
ficiário e o órgão gestor da seguridade social, qu an to à titularidade das prestações,
alonga-se n o tem po, passando pela inexistência até o perecim ento do direito. Dois
m om en to s desse largo espectro interessam à distinção. São duas situações vizinhas,
um a preced en te à outra: pretensão (anspruch) e expectativa de direito.
P retensão é um passo adiante do nada ju ríd ic o em relação ao bem cogitado.
C orresp o n d e ao recém -filiado, sem carência com pletada ou sem o evento d eterm i­
n an te realizado, restando ao benefício apenas ser um a possibilidade jurídica.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / — N o ç õ e s d e D i r e ito P r e v id e n c iá r io 111
E xpectativa de direito (raram ente regrada n a lei, m as dela sendo exem plo o
art. 142 da Lei n. 8 .213/1991) é estágio p ream b u lar d istin to do direito pleno. Dá-se
exem plo com a pessoa filiada, inscrita, co n trib u in d o , com qualidade de segurado e,
às vezes, carência integralizada, m as ausente, conco m itan tem en te, o evento d eter­
m inante. N um a palavra, não p reenche todos os requisitos legais. Se a lei, em par­
ticular, não co n tem p lar n en h u m a o u tra vantagem para a hipótese, não há direito,
e o p reten d en te queda-se na m era esperança.
159. D ireito sim p le s — B uscando-se distinção do direito adq u irid o , por o u ­
tro lado, direito é a situação de quem integraliza os dito s requisitos legais, em cada
caso a ser exam inado. Dele, avulta-se, não faz p arte o exercício (req u erer o b en e­
fício), podendo-se q u estio n ar — diante da m etodologia do cálculo da prestação —
se a faculdade do segurado cifra-se n o m om ento da realização dos requisitos ou se,
necessariam ente, acontece m ais tarde, q u an d o exercitada (e, aí, podendo dar-se de
o p retendente d esfru tar de condição p io r ou m elhor). Técnica protetiva a prev id ên ­
cia social, deve prevalecer, nesta ú ltim a hipótese, a m elhor das duas circunstâncias,
em razão do p rin cíp io da regra m ais favorável.
Presente a situação an terio r (o u tra diferenciação a ser feita, entre o direito
pro p riam en te dito e o direito ad q u irid o ), isto é, reunidas as exigências da lei num
dado instante, pode o titu lar deter um a delas, sem prejuízo da faculdade. C onven­
cionou-se designar esse estágio de direito adquirido.
160. D ireito a d q u irid o — Já assinalam os: dos princípios gerais de D ireito o
de m anuseio m ais difícil em seguro social é o relativo ao direito adquirido. Preceito
constitu cio n al, disposição legal (LÍCC, art. 6Q) e norm a universal, acolhido sem
restrições p o r toda a d o u trin a e ju risp ru d ên c ia nacional, em bora n em sem pre com ­
preen d id o e aplicado corretam ente. M atéria de acesso oneroso p o r sua natureza,
em face das sutilezas da apreensão, em cada caso, não é sistem aticam ente com en­
tado pelos estudiosos com a profundidade desejável.
P rincípio longevo, se tem com o adequado ao ordenam ento jurídico-social.
A presenta a p articu larid ade de revitalizar-se q u an d o ofendido. Em previdência so­
cial, m uitas vezes proclam ado im propriam ente, não é en ten d id o em seu cam po de
atuação. Dá-se exem plo com o seu alcance em relação à prestação (aplicar-se-ia
exclusivam ente a ela com o u m todo ou aos seus elem entos com ponentes?).
O exam e histó rico da legislação previdenciária revela ter sido razoavelm en­
te respeitado. Em in ú m era s o p o rtu n id ad e s, o legislador ord in ário consagrou-o,
c u m p rin d o a C arta M agna e a Lei de In tro d u ção ao C ódigo Civil. P ostulado ju rí­
dico e, ao m esm o tem po, político, na prática, resgu arda a tran q ü ilid ad e ju ríd ica
e social.
Em linhas gerais, significa direito in co rp o rad o ao p atrim ô n io do titular, bem
seu. D ireito com o tal, regular e legitim am ente obtido. A aquisição, referida na
qualificadora, q u er dizer p o d er arro star q u alq u er ataque exterior p o r via de inter­
pretação ou aplicação da lei. D istinto do interesse ou da faculdade, não po d e ser
alterado por aquela.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

112 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
De Plácido e Silva ( “V ocabulário Ju ríd ic o ”, vol. I, p. 530) elenca as condições
para ser reconhecido:
a) su cedido o fato ju ríd ico do qual se originou o direito nos term os da lei,
ten h a sido in teg rad o ao patrim ônio de quem o adquiriu. R elativam ente às p resta­
ções p revidenciárias, é necessário o segurado ter reu n id o os pressu p o sto s ou tê-las
req uerido, recebido ou estar recebendo (benefícios de trato sucessivo);
b) resu ltad o de fato idôneo, p ro d u zid o em face de lei vigente, não se tenha
ap resen tad o ensejo p ara fazê-lo valer, antes da atuação de lei nova sobre o m esm o
fato ju ríd ico , já sucedido.
Se a apo sen tad o ria tem o requisito tem poral am pliado de 35 para 40 anos,
q uem não co m p leto u os 35 anos antes da vigência da lei am pliadora do evento
d eterm in an te n ão tem direito adquirido; situa-se na sim ples expectativa de direito.
Porém , se havia co m pletado e não requereu a prestação, o direito perm anece in te ­
gral e assegurado, disponível a q u alq u er tem po.
Prossegue aquele professor: “O direito adquirido tira a sua existência dos fatos
ju ríd ico s passados e definitivos, q uando o seu titu lar os pode exercer. No en tan to ,
não deixa de ser a d q u irid o o direito, m esm o q u an d o o seu exercício dep en d e de um
term o prefixado ou de condição preestabelecida, inalterável a arb ítrio de o u tre m ”.
G aran tia sem a qual seria im possível a ordem ju ríd ica, tam bém conquista
política, em n e n h u m a hipótese sujeita à ofensa. “P or isso, sob o p o n to de vista da
retroatividade das leis, não som ente se consideram ad q u irid o s os direitos aper­
feiçoados ao tem po em q u e se prom ulga a lei nova, com o os que estejam su b o r­
dinados a condições ainda não verificadas, desde que não in d iq u em alteráveis ao
arb ítrio de o u tre m ”.
Rubens Limongi França ( “D ireito In tertem p o ral B rasileiro”, p. 432), acostando­
-se às clássicas palavras de Cario Francesco Gabba, define-o com o “conseqüência
de um a lei, p o r via direta ou p o r in term éd io de fato idôneo; conseqüência que,
tendo passado a in teg rar o p atrim ô n io m aterial ou m oral do sujeito, não se fez valer
antes da vigência da lei nova sobre o m esm o o b jeto ”.
Lei en ten d id a com o n o rm a ju ríd ica. O direito pode ser in stitu íd o p o r outro
in stru m en to não co n trário à lei, com o a decisão ju d iciária transitada em ju lg ad o e
o ato ju ríd ico perfeito.
A in teg ração no p atrim ô n io n em sem p re é bem explicitada. R eclam a o exer­
cício — especialm ente q u an d o de créditos de aten d im en to co n tin u ad o — ou bas­
taria a sua consolidação em tese (reunião dos requisitos legais)? N ão se pode exigir
o exercício, no nosso ord en am en to ju ríd ic o co n stitu cio n al, caso contrário, arro s­
taria a liberdade de atuar. Assim, deve ser considerado integrado no patrim ônio do
segurado o benefício não req u erid o (sobrevindo perdas p o r essa inércia).
A Lei de In tro d u ç ão ao C ódigo C ivil tem descrição m eio enigm ática: “C o n ­
sid eram -se a d q u irid o s assim os d ireito s que o seu titular, o u alguém p o r ele,
p o ssa exercer, com o aqueles cujo com eço de exercício te n h a term o prefixo, ou

C urso p i: D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o l — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io
co n d ição p reestab elecida inalterável, a arb ítrio de outrem " (art. 6 e, § 29). “Possa
ex ercer”, são ex atam en te os existentes, isto é, de acordo com a lei (c u m p rid o s
os req u isito s).
O exam e do direito adquirido em concretitude pressupõe a perquirição do elo
jurídico estabelecido entre o órgão gestor e os beneficiários, desde o surgim ento até
sua extinção. C om vistas ao direito pro p riam en te dito — o vínculo fundam ental
entre a pessoa e o benefício (as prestações consubstanciam , em ú ltim a análise, a
razão de ser da previdência social) — ; o liam e ascende p o r diferentes patam ares até
a consolidação, desde estágio inicial (inexistência de qu alq u er relação dom inial)
até fase final (p erecim ento total), p o r meio de várias etapas: pretensão, expectativa,
direito e direito adquirido.
O direito ad q u irid o é expressão do direito p ro p riam en te dito, porém cogitado
em face do não exercício a tem po ou dian te do advento de lei m odificadora. Q u an ­
do n o rm a legal d im in u i o direito em si ou de suas partes integrantes, respeita-se o
direito adquirido.
Assim, exem plificativam ente, quem possuía 30 anos de serviço até o dia
24.7.1991, d u ra n te a vigência da CLPS, fazia ju s a 80% do salário de benefício. Se
requeresse o benefício sob o im pério da Lei n. 8.213/1991, ao contrário do disposto
em seu art. 53, l/ll (aplicado a situações íuturas, a p a rtir da data do início de sua
eficácia), teria a prestação calculada com aquele percentual básico e, saliente-se,
co n tan d o , tam bém , com as vantagens então introduzidas, com o a correção dos
últim o s 12 salários de contribuição.
Q u alq u er form a de direito, esgotada a relação, p o r via ju d icial ou natural,
desaparece. Q uem u su fru iu o auxílio-doença e leve alta m édica regular não m ais
faz jus a esse benefício.
A lgum as conclusões podem ser condensadas:
a) titularidade — o direito ad q u irid o é relação intuitu personae, podendo ser
praticado pelo titu lar ou terceiros indicados na lei.
b) id o n eid ad e — ele assenta-se na reunião regular e legítim a das exigências
legais vigentes co n tid as no sistem a.
c) m o m en to — não faz parte da instituição o exercício do direito, em bora a
lei possa prever prejuízos para o inerte.
d) alcance — só se considera o direito adq u irid o em face do não exercício
usual ou do advento de lei nova d im in u id o ra de vantagens.
e) ofensa — in d ep en d e do in stru m en to ofensor, p o dendo ser ato ju ríd ico
aplicado, integrado ou interpretado, decisão ju d icial o u norm a legal.
f) distinção — in d ependente, não se confunde com pretensão ou expectativa.
g) incorporação — significa a possibilidade de gozo e não necessariam ente a
posse do bem.
h) condição resolutiva — só tem existência q u ando realizada a condição im ­
posta pela convenção.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

114 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
i) integralidade — diz respeito ao todo o u às partes do bem ju ríd ic o co n si­
d erado e, assim , pode ser fracionado à parle proporcional realizada, e alcançar o
m enos sem atin g ir o mais.
j) sim u ltan eid ad e — q u an d o de faculdades com plexas, pode a situação ju ríd i­
ca registrar p retensão, expectativa e direito em relação a diferentes bens.
k) subjetividade — caracteriza-se q u an d o presente a faculdade subjetiva, não
p o d en d o efetivar-se em sim ples potestade.
1) existência — tem constituição em m om ento certo, perdura e desaparece
com o q u alq u er o u tra instituição jurídica.
m ) o p o rtu n id ad e — pode ser dem o n strad o a destem po, m esm o se a lei m odi-
ficadora não o afetar q u an d o antes dela não d isp u n h a da m esm a prova.
n) situação m ais benéfica — acosta-se à situação legal m ais vantajosa sem
n ecessidade de justificativa.
o) nível — diz respeito ao valor, em term os reais, e n ão à expressão pecuniária
relativa.
p ) co n stitu cio n alid ad e — co n stan te de norm a geral da Lei Maior, não pode
ser arguido co n tra ela, p o dendo ser afetado por norm a especial desta.
q) co n tratu alid ad e — prestigia o co n trato celebrado entre as partes.
r) pressu p o sto — a qualificadora “a d q u irid o ” pressupõe o direito.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o í — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 115
Capítulo XVI

P rincípios J u r í d i c o s

161. Princípio da solidariedade social. 162. Princípios básicos. 163.


S u m a r io :
Princípios técnicos. 164. Princípios constitucionais. 165. Princípios assistenciá-
rios. 166. Princípios sanitários. 167. Princípios administrativos. 168. Princípios
procedimentais. 169. Princípios de Direito Tributário. 170. Princípios de Direito
do Trabalho.

A inda um a vez é preciso d istin g u ir entre a p revidência social e o D ireito Pre-


videncíário. Preceitos técnicos não se confundem com ju ríd ico s. N orm alm ente,
a cada co m p o rta m e n to prático co rresp o n d e u m trata m e n to n o rm ativo adequado
ou não.
Dois exem plos: a) não devolver contribuições devidas (fato considerado ap e­
nas porque, até f 960, subsistia essa possibilidade) é construção filosófica da fonte
m aterial, m as, a partir da regulam entação da m atéria, p o r via legal, co n stitu i d isp o ­
sição ju ríd ica; b) a precedência do custeio é constatação lógica, tran sp o rtad a para
o Texto Maior, ali co n su b stan cian d o princípio.
Algum a confusão se faz entre princípios e fu ndam entos ou diretrizes m ais
gerais. Daí cada au to r escolhê-los seg u n d o concepção própria.
Paulo Emílio Ribeiro de Vilhena distingue entre regra, norm a e princípio de
direito. Para ele, este ú ltim o resulta em ditam e filosófico; norm a, o com ando
disciplinador, e regra, a direção nela contida ( “D ireito do Trabalho & F un d o de
G aran tia”, p. 175).
AJ/onso Alm iro ( “D ireito P rev id en ciário ”, in RPS n. 78/259) elege os seg u in ­
tes: 1) p rin cíp io do b em -estar dos o p erário s (Bism arck); 2) princípio da necessida­
de de p ro v er os riscos sociais (Leão XIII); 3) p rincípio do p atrim ô n io com um (Pio
XI); 4) p rin cíp io da d istrib u ição da renda nacional (João XXIII); e 5) p rin cíp io do
caráter das prestações pagas (O IT ), posicio n an d o -se com relação à solidariedade
social.
N ão sendo fontes form ais, referi-los ou arguí-los tem sentido q uando c o n tri­
b u em para o aperfeiçoam ento do tem a ou com vistas à aplicação, integração ou in ­
terpretação da lei. Isto é, ressaltada sua função de ferram enta operacional. E studo

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
com pleto foi feito ( “P rincípios de D ireito P revidenciário”, 5. ed., São Paulo: LTr,
2011), co n v in d o relem brar os m ais significativos. P odem ser sopesados rap id a­
m ente, reco m en d an d o-se sua análise, em cada caso, antes d o seu aproveitam ento.
161. P rin cíp io d a so lid a rie d a d e social — Na previdência social, a solidarie­
dade é essencial, e, ex atam ente p o r sua posição nuclear, esse preceito su sten tácu lo
d istin g u iu -se dos básicos e técnicos, so b repairando com o diretriz elevada. A usen­
te, será im possível organizar a proteção social.
a) significado: S olidariedade q u er dizer cooperação da m aioria em favor da m i­
n o ria, em certos casos, da totalidade em direção à individualidade. D inâm ica a so­
ciedade, subsiste co n stante alteração dessas parcelas e, assim , n u m dado m om ento,
todos co n trib u em e, n o u tro , m uitos se beneficiam da participação da coletividade.
N essa ideia sim ples, cada u m tam bém se apropria de seu aporte. F inanceiram ente,
o valor não utilizado p o r u n s é canalizado para outros.
Significa a cotização de certas pessoas, com capacidade contributiva, em
favor d os despossuídos. Socialm ente considerada, é ajuda m arcadam ente anônim a,
trad u z in d o m ú tu o auxílio, m esm o obrigatório, dos indivíduos.
b) origem: A solidariedade provém da assistência social, berço com um de q u a­
se todas as técnicas de proteção. O m u tu alism o encam pou a ideia e ela adq u iriu
funcionalidade. C o n trib u iu para isso a form a facultativa. A obrigatoriedade foi o
passo seguinte na sua consolidação. Na previdência social, é exigência lógica e
técnica m atem ático-financeira.
P rojeção d o am o r in d iv id u a l exercitado entre p aren tes e esten d id o ao g rupo
social, o in stin to an im al de preservação da espécie, so fisticado e desenvolvido
n o seio d a fam ília, en c o n tro u na organização social am plas p o ssib ilid ad es de
m anifestação.
c) limites: Seu p erím etro é a sociedade, num p rim eiro m o m en to , e a
c o m u n id ad e in tern a cio n al, n u m p asso m ais avançado. Seu alcance co rresp o n d e
à u n iv ersalid ad e do in stru m e n ta l co n sid erad o . F n o rm e no seguro social, total na
seg u rid ad e social.
d) tipos: F en ô m eno com plexo, a solidariedade social ap resenta inúm eros
aspectos, co m p o rtan d o variados prism as. C ostum a ser p esso al, profissional, urbano-
-rural, regional e entre gerações. E, com o antecipado, até planetária. Classifica-se
q u an to ao tipo de interação, sujeitos da relação, m otivação ou fonte, extensão
m aterial e âm bito.
e) aplicação: Solidariedade não é in stru m en to de aplicação prática; diz respeito
ao legislador. F erram enta form al, extravasada para o D ireito Previdenciário, no
qual en c o n tra acolhida, em providência técnica, a solidariedade fiscal.
Im pregna todo o edifício securitário e, de certa form a — no caso m ais com um
— , passa despercebida da clientela protegida, co n stitu íd a de m ilhões de pessoas,
sem n en h u m a consciência da participação delas. A solidariedade é apoio sociológico
e econôm ico do sistem a, sem os partícipes sentirem d iretam en te os seus efeitos,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 117
em virtude do d istanciam ento entre si, q u an d o da efetivação dos serviços. In sp ira­
ção para o legislador e diretriz do adm inistrador, aproxim a as pessoas e coopera na
integração do trab alh ador à em presa.
162. P rin cíp io s básicos — H ierarquizados os princípios, os básicos fixar-se-
-iam no ápice da pirâm ide; abaixo, deles derivados, situar-se-iam os técnicos, quase
sem pre expressos ou indicados na norm a ju ríd ica, form ulados em m eios práticos
de efetivação do seguro social.
C lassificados, verifica-se a existência de inform adores e veiculadores das
no rm as p úblicas, alg u ns invocados na aplicação, o u tro s na integração e parte
deles na in terp retação da lei. R aram ente, notabilizam -se com o estados ju ríd ic o s
ou situações.
a) princípio da proteção: P roteção lem bra p o d er e necessidade. Ela enlaça dois
sujeitos: p ro teto r e protegido. Ressalta a capacidade de dar e a contingência de
precisar. D istintam ente, proteção social não tem sentido pejorativo; a relação é
acen tu ad am en te ju ríd ica.
H od iern am en te, n u m a sociedade organizada, desenvolvida a previdência so­
cial com o técnica sociológica e ciência ju ríd ica, proteção significa faculdade, di­
reito à participação do bem geral, de todo trab alh ad o r c o n stru to r da sociedade. E
dever do Estado.
A proteção é absolutam ente coerente, porque, concretizada a contingência
protegida, presente o risco social, o trabalhador tem de ser m antido, sob pena
de perecim ento. A previdência social é técnica criada p o r hom ens reunidos em
sociedade para su b stitu ir os m eios habituais de subsistência, q uando da o c o rrê n ­
cia de eventos obstaculizadores da aquisição desses recursos. Fala-se de proteção
securitária; ela pode ser vislum brada n o u tras técnicas vigentes, caso da assistência
pública.
b) princípio da obrigatoriedade: A solidariedade não é espontânea. A adesão a
sistem as facultalivos, caso do m utualism o e do seguro privado e, p articularm ente,
da assistência privada ou pública, não lhe retira a com pulsoriedade, u m a vez ad ­
m itido o segurado no sistem a.
O seguro social é im posto. Para Raggi, “o seguro social é obrigatório, porque,
se não for, não será seguro social” (apud Augusto Venturi, in “1 F ondam enti Scien-
tificie delia Sicurezza Sociale”, p. 109).
A sujeição legal é condição para a solidariedade efetivar-se. A sustentação de
sistem a financeiro dessa natureza nela calcado im põe logicam ente a obrigatoriedade.
Esta não é só da contribuição ou, eventualm ente, da filiação, em si, m as de
todo o sistem a do seguro social em relação às pessoas protegidas. N orm a pública,
ju s cogens, à qual n en h u m dos tutelados pode se subtrair, não im portando o m otivo.
A obrigatoriedade contraria a natureza im previdente do hom em não acostu­
m ado à poupança. Esse estado de coisas, porém , é aculturação defluente da des­
confiança em relação à gestão do seguro social e ao Estado, gerada em piricam ente,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

118 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
não derivada do h o m em , in stintivam ente cuidadoso. Ela arrosta o princípio cons­
titu cio n al da liberdade, da au to n o m ia da vontade e a propriedade privada. Requer
pesados ô n u s aos participantes, en q u a n to n ão p u d erem auferir os benefícios cor­
resp o n d en tes aos encargos.
c) princípio da facultatividade: A facultatividade, de certa form a, opõe-se à
obrigatoriedade. Subsiste, não devendo ser com preendida com o fissura do sistem a,
diga-se de passagem , não atingido p o r essa possibilidade legal.
Ela, em p rim eiro lugar, relaciona-se ao ingresso e à p erm an ên cia no regim e
de pessoa em d eterm in ad a circunstância (atualm ente, q uem não exerce atividade
enq u ad ráv el com o segurado obrigatório ou segurado especial). Em segundo lugar,
visa a com p letar a co n tin u id ad e, p erm itin d o ao interessado sem condição m ínim a
g aran tid o ra do estado de beneficiário (trab alh o ) c o n tin u ar p erten cen d o à clientela
protegida, caso do facultativo.
d) princípio da universalidade: Tanto na seguridade social qu an to na previdên­
cia social, presencia-se a ideia de clientela protegida, reunião de d estinatários da
proteção social co rrespondente. O co n ju n to dessa clientela, definida em lei, d istin ­
gue-se de o u tro s segm entos securitários, com o é exem plo o dos co n trib u in tes; em
co n fro n to , é m aior e tem com o integrantes pessoas físicas e jurídicas.
N u m dado m om ento, esse dom ín io é perfeitam ente definido; a q u alq u er ins­
tan te ele p o d e ser definível. D esconhece exceções ou falhas. N este particular, o
p rin cíp io da universalidade é absoluto. Todos os elem entos estão abrangidos e,
para isso, a legislação fixa condições, tais com o capacidade co n trib u tiv a, filiação,
inscrição e carência.
e) principio da continuidade: A ideia da contribuição com o m eio e da prestação
com o fim é n u clear na previdência. E m bora o benefício seja o objetivo atraen te e
fu n d am en to de participação financeira de cada um , esta ú ltim a é condição m aterial
é realizadora daquele.
D iferentem ente da individual, a poupança coletiva indisponível jace n te no
seguro social realiza-se p o r m eio de contribuições, aportes co n tín u o s e sucessivos.
O cálculo atu arial o rien ta d o r do arcabouço securitário baseia-se na relação das
pessoas pagantes e daquelas sob a proteção, n a qual o núm ero das prim eiras tem
de ser su p e rio r ao das segundas. Fechado o sistem a, para as pessoas necessitadas
serem aten d id as, im põe-se aos segurados não deixarem de recolher. Em todas as
técnicas, é im p o sta a condição de os segurados recolherem co n tin u am en te.
j ) princípio da essencialidade: A origem do seguro social é histórica. Ele se
explica casu isticam en te pelo tem po. F ora da H istória, as políticas p o d em ser in sti­
tu íd as e ju stificad as, en q u a n to presentes razões capazes de levar os seres h u m an o s
a se u n irem p ara en fren tar os in fo rtú n io s da vida e, en tre eles, os d eco rren tes do
trabalho. Revela-se im praticável as pessoas utilizarem esforços in d iv id u ais asse-
cu rató rio s da au to p ro teção pelo tem po necessário. Factível de certa form a é ofe­
recer razoável co b ertu ra a alguns, su sten tan d o o am paro pela privação genérica
dos dem ais.

C u rso dh D ir e it o P R C v iD r .N C ] Á R io
T om o l — N o ç õ e s d e D ir e ilo P r e v id e n c iá r io 119
A adm issão do estado de necessidade não significa só os carentes terem direito.
Tam bém aos não necessitados, n a m edida de participação solidária, se cum prem os
requisitos lógicos co n stitu id o res do direito. C abe à técnica deten to ra do p o d e r de
efetivação da solidariedade d eterm in a r em qual m edida se fará a substituição dos
m eios de subsistência. Por exem plo, d ar igual, m ais ou m enos.
g) princípio da unidade: Basicam ente, com o dito, o seguro social consiste num a
po u p an ça coletiva obrigatória indisponível, ten d o sua adm inistração operada por
ente capaz de pro ced er à redistribuição das reservas e rendas dessa poupança às
pessoas previam ente definidas. A propriedade dos recursos carreados da clientela
protegida, globalm ente considerados, a ela pertence. Por m andato social, esses
m eios são ad m in istrad o s p o r en tid ad e cuja principal função consiste em am ealhá­
-los e canalizã-los na direção de quem faz ju s à proteção.
Em sua origem , o em p reen d im en to da previdência social esteve a cargo de
entidades classistas. Q u ando do seu surgim ento, no âm bito do direito público, a
gerência foi entregue a autarquias federais, sendo p raticam en te universal essa so­
lução. R esponsabilizando-se o Estado pela proteção dos indivíduos, cham a a si o
encargo de gerir esses bens — e aí surge o princípio básico da un id ad e — , excluin­
do a participação dos adm inistradores. O m onopólio do Estado na área é abordado
p o r vários autores, divergindo entre si apenas q u an to à classificação.
h) princípio da supletividade: Na atualidade, convive pluralidade de técnicas
e elas com pletam -se, integram -se, cada u m a aten d e n d o a exigências específicas,
em bora constatadas co ncorrências e superposições.
A previdência social não tem p o r fim su p rir todas as necessidades do trabalha­
dor nem su b stitu ir p o r inteiro os seus m eios de subsistência. O fato de se quedar
aquém dessa aparente pretensão, reservando parte da cobertura à iniciativa p articu ­
lar e dando apenas o essencial, constitui o princípio da essencialidade, já enfocado.
Ela se apresenta m arcada pela supletividade, isLo é, om breia-se com outras
técnicas desenvolvidas pelo hom em para realizar-se individual e socialm ente. Não
pode ser objetivo buscado, com o o m ais im p o rtan te ou o últim o a ser atingido. A
previdência social deve ser ideal, ficando u m quid da perfeição.
A aplicação do princípio é visível na previdência com plem entar; divide a p ro ­
teção com a básica, de direito público, e com iniciativas particulares bem -sucedidas.
i) princípio das desigualdades sociais: E ntre os co m andos constitucionais, co n ­
tem pla-se o po stu lad o su p erio r da igualdade. A duz-se, ali, o significado desse p rin ­
cípio geral de D ireito e com o se efetiva, p articu larm en te, o p o rq u ê de sua presença
entre os preceitos previdenciários.
U m su b p ro d u to dessa diretriz su p erio r tem sua aplicação específica, resulta
de u m a sociedade co n stitu íd a de individualidades, m atizada pelas diferenças.
Os descom passos sociais preexistem à previdência social e esta, em seu d ese n ­
volvim ento, a rigor, não deve alterá-los. C o n tu d o , ela não efetiva a ju stiça social,
lim itando-se a m an ter as diferenças. Não é possível conciliar a desigualdade com o

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

120 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
p rin cíp io da solidariedade. Diante das distorções do regim e econôm ico e político
preced en te, a previdência veio a ser a m ais form idável m odificação da situação do
trab alh ad o r desde a R evolução Industrial,
As diferenças pessoais espelham -se no status social dos in d iv íd u o s e este é
basicam ente d eterm in ad o pelos seus ingressos ou os da renda familiar. É dogm a
do seguro social a prestação não alterar esse nível, m esm o se diversas pequenas
técnicas de p ro teção social, de feição securitária, são im plantadas exatam ente com
o objetivo de am p liar a renda do trabalhador, oferecendo-lhe serviços e facilidades
para m elh o rar sua situação, p o r m eio da educação, aquisição da casa própria, assis­
tência m édica etc. Porém , no seguro social, por ocasião da fruição dos benefícios,
não se cuida de alterar o status, e sim m antê-lo.
163. P rin cíp io s técn ico s — A baixo do princípio fundam ental da so lid aried a­
de e dos prin cíp io s básicos, postam -se os técnicos. Situam -se p róxim os das regras
e das técnicas, to rn an d o-se, em alguns casos, difícil distingui-los destas. L im itados
à esfera m en o r de atuação em que, sem em bargo, im peram com plena eficácia. Não
co n h ecem capitio diminutio, só adm itindo a presença, e, às vezes, suprem acia, de
o u tro s preceitos.
F req u en tem en te, dizem respeito à filiação (autom aticidade, unicidade, cadu­
cidade dos d ireito s inerentes à qualidade de segurado, sua extinção etc.). O utros
se referem à inscrição. A lguns, à contribuição.
Nas du as prin cip ais atividades, m eio e fim , têm -se os de custeio (capacidade
co n trib u tiv a, obrigatoriedade da contribuição, solidariedade fiscal, responsabilida­
de pessoal, au to n o m ia da vontade na escala de salários-base, equidade, diversidade
de fin an ciam en to etc.).
Os relativos a benefício são: proteção, au to n o m ia da vontade, correlatividade
em relação à co n trib u ição, in d ep en d ên cia d a situação do beneficiário, im prescri-
tibilidade do d ireito, unicidade, irredutibilidade do valor, seletividade, distributi-
vidade etc.
164. P rin cíp io s co n stitu c io n a is — A existência em grupo obriga o hom em a
se organizar societariam ente. Vivendo ju n to com outros indivíduos, ele não deve
d esco n h ecer o p róxim o; h o d iern am en te, não po d e esquecer sequer o distante.
A bsurdo todos liderarem ou cada u m liderar a si pró p rio ; então, o cidadão
transfere a liderança para alguns, cuja atividade se restringe a isso. N ão existem
para o u tro objetivo, m as, com o pessoas, subm etem -se à ordem instituída.
Essa configuração em favor do g ru p am en to representa privação de m ovim en­
tos do in d iv íd u o . A agilização m áxim a significa desordem ; p o d er infinito é caos. A
dim ensão ideal da atuação é m edida da liberdade do ser h u m an o .
O p tan d o pela liberdade — e sua corresp o n d en te co n trap artid a, a responsabi­
lid a d e — , acodem -se as diferenças pessoais. A dota-se uniform idade, ou seja, igual­
dade dos iguais e desigualdade dos desiguais. Meio de d eterm in a r os lim ites da
liberdade, em face da individualidade diferenciada das pessoas, é a norm a jurídica.
Daí a legalidade.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D i r e it o P r e v id e n c iá r io 121
Na C arta M agna, estão encastoados os postulados superiores da liberdade,
igualdade e legalidade; ali en tro n izad o s com o diretrizes m áxim as do D ireito, eter­
nizando-se com o verdades suprem as. O respeito à C onstituição é farol ilu m in ad o r
da trilha do jurista; perdida essa inexplicável crença, essa fé inabalável, o D ireito
transform a-se em sim ples in stru m en to de força.
Os prin cíp io s securitários contidos na Lei M aior são pinaculares, linhas m es­
tras gerais, garantias estratificadas de direitos individuais e específicos, preceitos
representativos da tipicidade ju ríd ica e aplicação prática.
a) princípio da liberdade: Liberdade é bem suprem o. P oliticam ente conside­
rada, vale tanto q u an to a p ró p ria vida. O hom em n u n c a se cansará de lutar pela
liberdade e, desgraçadam ente, não tem com o assegurá-la.
Do p o n to de vista jurídico, significa opção de estilo, escolha de ocupação,
exercício de vontade consciente. Em tese, à liberdade se opõe toda obrigação, res­
trição ou proibição; ela não é, con tu d o , absoluta nem infinita.
O seguro social priva o indivíduo de certa in dependência, a econôm ica,
dim in u in d o -lh e os ingressos, m as lhe oferece m ultiplicada a possibilidade de não
perecer, de não depender, de ser relativam ente livre, q u an d o isso já não for possível
por suas p róprias forças. A contribuição é o preço pago para obtê-la, p o r ocasião da
velhice ou da incapacidade para o trabalho. A sensação de liberdade — se se quiser,
de felicidade — só pode ser en ten d id a p o r quem já viu um idoso, razoavelm ente
vestido, n u m a praça pública, cu id an d o de p o m bos e, vez ou o utra, decidindo-se
p o r co m p rar u m jo rn al, sem ter de d ar satisfações a ninguém .
b) princípio da igualdade: A liberdade é postulado su p erio r do Direito. A
legalidade é efetivação do Direito. A igualdade, a m aior concessão da sociedade ao
Direito.
Se a liberdade é inslinLiva, a igualdade é criação do espírito hum ano. N ada na
natureza é igual, e tam bém não são idênticos os hom ens; no en tan to , esse é m an­
dam en to su p erio r a ser preservado.
Todos são iguais peran te a lei e, sem em bargo, não existem dois seres h u m a ­
nos igualados. No dizer de Barker, citado p o r Themistocles Cavalcanti (“P rincípios
G erais de D ireito P ú b lico”, p. 198), “todos têm o m esm o direito, mas não o direito
às m esm as coisas”.
O p rin cíp io deve ser e n ten d id o com o direito em p o tencial à utilização das
coisas criadas pelos hom ens; não pretende ter todos iguais, m as, se quiserem ,
haverá direitos idênticos à sua disposição.
c) princípio da legalidade: Em face das diversas responsabilidades do Estado,
na co n dução da política adm inistrativa e das pesadas obrigações assum idas, em
m atéria de Direito Público, a prim azia da lei é inquestionável.
S ubtraída do p articu lar a iniciativa da proteção, a lei to rn o u -se a principal
fonte form al, q u an d o não a única. Sopesadas a program aticidade e a generalidade
da Lei Maior, resulta a lei ordinária ser a norm a suprem a. Sobreleva-se o dever do

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

122 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
legislador, e au m en ta a im p o rtân cia do papel do adm inistrador. À falta de sistem a-
tização do D ireito Previdenciário, tem suprido deficiências da norm a, p o r m eio de
preceitos regentes nem sem pre adequados à sua função regulam entadora.
Em D ireito Previdenciário, ram o n ascente e em substanciação, a legalidade
assum e relevância ex traordinária. Q uase sem pre o P oder Legislativo deixa a cri­
tério da ad m in istração a sua atribuição; daí decretos com uns e regulam entadores
ex trapolarem a lei.
d) princípio da competência da União: A C arta M agna é fonte form al do D ireito
P revidenciário. N os term o s do art. 22, XXIII, a U nião é co m p eten te para legislar
a respeito de n orm as gerais sobre seguridade. Seguro é o particular e previdência, a
de direito pú b lico e privado.
C om o po d e ser visto no art. 24, XII, essa com petência não é exclusiva, e os
E stados p o d em legislar sobre o tem a, respeitada a lei federal. A com petência esta­
dual é supletiva; refere-se exclusivam ente aos serviços estaduais.
e) princípio da divisão do financiamento: A C onstituição F ederal dita, em seu
art. 194: “A seg u rid ade social com preende u m co n ju n to integrado de ações de
iniciativa dos Poderes P úblicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saú d e, à previdência e à assistência social”. Isso será atingido, conform e
o parágrafo único, p o r m eio de sete diretrizes, princípios ou, com o se prefere dizer,
objetivos.
As três pessoas referidas na Lei M aior são a U nião (caput), em presas (designa­
das, im propriam ente, com o em pregadores) e trabalhadores (incisos I/II do art. 195).
j ) princípio do equilíbrio e financeiro: Diz o caput do art. 201, com a redação
dada pela E m enda C o nstitucional n. 20/1998: “A previdência será organizada sob a
form a de regim e geral, de caráter co ntributivo e de filiação obrigatória, observados
critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e aten d erá, nos term os
da lei”.
Trata-se, à evidência, de princípio de grande alcance, a ser co n stru íd o pela
d o u trin a n o s pró x im o s anos e que afetou significativam ente o D ireito P revidenciá­
rio. Bem co m p reen d id o , perm itirá ao legislador ordinário p ro m o v er as alterações
necessárias no m odelo, aju stan d o a técnica p rotetiva aos seus reais objetivos.
165. P rin cíp io s assiste n c iá rio s — A p ar d o m utualism o e do seguro privado,
a A ssistência Social é técnica de proteção social cam inhando ao lado do seguro so­
cial, paralela e com p lem entarm ente. N os seus pródrom os, sub sid io u a previdência
social com in stitu to s próprios.
Seus p rin cíp io s não são desprezíveis para a proteção social. E m bora sua in ­
fluência seja m enor, fazem parle do ordenam ento científico da seguridade social e
colaboram na com preensão do fenôm eno jurídico. Pouco, m u ito p o u co ou nada se
tem escrito sobre preceitos com esse cunho, razão pela qual não é fácil m anuseá-los.
A Lei n. 8 .7 4 2 /1 9 9 3 ex p ressam en te lem b ra cinco p rin c íp io s e três d iretriz es
básicas, p o d e n d o se r co n sid erad o s p o stu la d o s fu n d a m e n ta is desse segm ento:

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I — N o ç õ e s d e D i r e ito P r e v id e n c iá r io * 3
a) su p rem acia d o a te n d im e n to às n ecessid ad es sociais sobre as exigências de
re n ta b ilid ad e eco n ô m ica; b) un iv ersalização dos d ireito s sociais, a fim de to rn a r
o d estin atário da ação assisten ciária alcançável p elas d em ais práticas p úblicas;
c) re sp eito à d ig n id a d e do cid ad ã o , a su a a u to n o m ia e ao seu d ire ito a b e n e ­
fícios e serviços de q u alid ad e , bem com o à convivência fam iliar e c o m u n itária,
v ed an d o -se q u a lq u e r co m p ro v ação v ex ató ria da im p rescin d ib ilid a d e; d) ig u a l­
dade de d ireito s no acesso ao a te n d im e n to , sem d iscrim in açã o de q u a lq u e r n a ­
tureza, g aran tin d o -se eq u iv alên cia às p o p u laçõ e s u rb a n as e rurais; e) divulgação
am p la d o s benefícios, serviços, p ro g ram as e p ro jeto s assisten ciais, bem com o
dos recu rso s o ferecidos pelo P o d er P úblico e dos c rité rio s p a ra su a concessão;
D d escen tralização p o lític o -a d m in istra tiv a p ara os E stados, o D istrito F ederal
e os M u n icíp io s, e co m an d o ú n ic o das ações em cada esfera de G overno; g)
p articip ação da p o p u laçã o , p o r m eio d e o rg anizações rep resen tativ as, n a for­
m u lação das m ed id as e no c o n tro le das ações em to d o s os níveis; h) prim azia
da re sp o n sa b ilid a d e do E stado na co n d u ç ão da p o lítica de assistên cia social em
cada esfera d e G overno.
a) princípio da necessidade: N ecessidade é dado fundam ental na vida hum ana
e, con seq u en tem en te, para o D ireito Social. Deflagra a proteção assistenciária. A
incapacidade co n trib u tiva é corolária da indigência.
Ela é condição, estado, situação da clientela assistida. Para os ju ristas, é im -
prescindibilidade, carência de recursos para um ou o u tro fim. Na seguridade so ­
cial, provoca a obtenção de m eios m ínim os de subsistência, pressuposto de várias
técnicas de proteção social, não sendo desconhecida na previdência social.
b) princípio da incapacidade contributiva: O destinatário da assistência social
não dispõe de m eios para colaborar na m anutenção do sistem a g arantidor de sua
atenção. Não pode, assim , arcar com o plus de contribuir. Sua contribuição, m edi­
da do seu co n su m o , q u an d o existe, é inexpressiva, reduzindo-se a um m ínim o de
participação na sociedade; sua técnica de proteção é pessoal.
Em ou tras circunstâncias, a capacidade em erge, m as é incipiente. N outras ve­
zes, o titu lar enseja re u n ir aptidão, porém , n o m om ento da necessidade, não reúne
condições para ser protegido p o r técnica de proteção superior.
c) princípio da disponibilidade de recursos: D istintam ente da seguridade social
— n a qual não im p o rtam as fontes de custeio — e do seguro social, o direito assis-
tenciãrio não é exigível no sentido de ser responsabilidade do Estado, lim itando-se
à d isp onibilidade financeira convencionada n a norm a.
A fortaleza orçam entária não é, en tretan to , o ún ico lim ite da assistência so­
cial. N inguém p ro p u g n a E stado protecionista, à som bra do qual m edre a m iserabi-
lidade. A prestação assistenciária tem p o r lim ite a dignidade hum ana.
d) principio da desproporcionalidade entre necessidade e proteção: A necessidade
hu m an a não conhece lim ites, en tretan to , a disposição do E stado e do particu lar de
prover os assistidos, sim , esgota-se.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

124 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
N u m país desenvolvido econôm ica e socialm ente, com previdência social efi­
ciente, é red u zid a a clientela de carentes de ajuda. Aliás, é ten d ên cia h o d iern a da
Previdência trazer para a sua co bertura o m áxim o possível de pessoas — co n tri­
b u in d o — e d im in u ir, ao m ínim o, a clientela dos assistidos.
Q uase sem pre a necessidade supera a proteção oferecida pelo gestor, confi­
gu ran d o -se certa d esproporção entre elas. O utras vezes, a desigualdade é m edida
pela p ró p ria necessidade. U m a família carente de recursos terá m ais benefícios se
co m parada com o u tra m enos necessitada.
e) princípio do custeio indireto: Em m atéria de seguro social, vige o p rin cíp io
co n stitu cio n al da p artilh a do custeio. O m esm o não se passa com a assistên ­
cia social. In ex isten te co n trib u ição direta p o r parte do assistido ou de entidade
vin cu lad a ao sistem a, a tutela é p ropiciada pelo E stado, sem ô n u s d ireto para o
beneficiário.
N este caso, os recursos provêm indiretam ente de toda a população (inclusive,
em m en o r escala, do p róprio d estin atário ), p o r m eio de variados trib u to s e c o n tri­
buições sociais.
f ) princípio da facultatividade: A previdência social m atiza-se pela obrigato­
riedade. D istanciando-se dela, em relação ao assistido, caracteriza-se a assistência
social pela facultatividade. N ão se cuida aqui da opção do Estado de oferecer a
assistência; até certo p o n to , ele tem a obrigação de m inistrá-la. A facultatividade
alu d id a é de ingresso no sistem a e não apenas em relação à contribuição.
Em co n seq ü ên cia dos lim ites im p o sto s, não se p o d e falar em exigibilidade
da assistência p o r p arte dos assistidos; quedam -se n a expectativa d a possibilidade.
g) informalismo procedimental: Em seguridade social, defende-se todo o tem po
a ideia da sim plicidade. A necessidade assinala-se pela prem ência. N ão po d e re­
clam ar form alism os burocráticos, não im p o rtan d o quais. O aten d im en to deve ser
o m ais sum ário possível e restringir-se apenas ao controle das pessoas assistidas e
das reservas para isso destinadas.
h) princípio da desigualdade dos beneficiários: O s beneficiários do seguro social
são co n trib u in tes (segurados) e não co n trib u in tes (d ependentes); os da assistência
social, assistidos, sem distinção. C o n trib u em indiretam ente, e n a p roporção de
q u an to consom em . D iferentem ente, os assistidos estão na m esm a condição, va­
rian d o apenas a in ten sidade da carência.
i) princípio do direito às prestações: Existe direito subjetivo à prestação assis­
tenciária. A faculdade é potestativa, isto é, depende da capacidade instalada do
Estado, m as, p reen ch idos os requisitos legais, ela se im põe, com o a previdenciária.
166. P rin c íp io s sa n itá rio s — C om as diretrizes dos arts. 196/200 da C o n sti­
tuição F ederal e do art. 6 9,1/XI, da Lei n. 8.080/1990, iniciou-se a sistem atização da
disciplina das ações de saúde. A ntes disso, apenas norm as dispersas cuidaram do
tem a e, com isso, os seus in stitu to s técnicos e ju ríd ic o s perm aneceram nebulosos,

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 1 — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
não sed im entados, à espera de configuração científica. V ulgarm ente, sem pre se
d iscu tiu o aten d im en to à saúde ser direito das pessoas, potestade o u o utra relação
jurídica.
A m á organização da assistência à saúde, os péssim os exem plos da iniciativa
privada e a precariedade do serviço público co n trib u íram para o assunto situar-se
no cam po das indefinições e irresponsabilidades.
C o ntem plada especialm ente na Lei Maior, com o u m dos segm entos da seguri­
dade social, in stituição assem elhada à assistência social, se transform ou no centro
de aLenção dos estu d io sos e do legislador, am bos im potentes diante da m agnitude
do problem a de conceder serviços m édicos à população hipossuficiente.
Os prin cíp io s são im p o rtan tes q u an d o , p o r falta de sistem atização integrada,
se reduz o o rd en am en to a u n s poucos com andos co nstitucionais e legais, expres­
sando, na m aioria dos casos, apenas volições bem -intencionadas. Veja-se, com o
exem plo, o belíssim o início do art. 196 da C arta M agna de 1988: “A saúde é direito
de todos e dever do E stado.” Afirmação lapidar, nascida das incertezas históricas e
circunstanciais, reflete a evolução e preocupação geral. Tem todas as características
de prim eiro passo, espécie de bandeira a ser em p u n h ad a, sem en c o n trar resso n ân ­
cia em n o rm a dispositiva real. N ão diz qual lipo de direito, p rin cip a lm en te diante
da triste realidade da falência do sistem a, nem oferece ao p articu lar com o exercitar
essa possível e declarada prerrogativa.
a) princípio do acesso aos serviços de saúde: O disposto no art. 7a, I, da Lei
n. 8.080/1990, é d esd o b ram en to do princípio constitucional da universalidade,
presente, ig u alm ente com o postulado da assistência. A generalização, própria da
seguridade social, é p ressuposto (h o rizo n talm en te), dizendo respeito, pois, apenas
ao nível de aten d im en to.
O p receito q u er dizer todas as pessoas (prim eira parte) terem possibilidade
de o b ter a m aioria dos serviços disponíveis (segunda parte). C oncebido assim ,
sem lim itações, a d iretriz conflita com a realidade do País. E n q u an to restrita a
capacidade do Estado e do particular, de oferecer as atenções da m edicina. C onse­
q u en tem en te, nem sem pre pode o ap licad o r ou ju lg a d o r do caso concreto aten d e r
à p retensão total sob p en a de, u m a vez esgotados os recursos, não p o d er satisfazer
os pedidos seguintes.
b) princípio da integralidade da prestação: O s serviços de saúde, contidos no
alcance do órgão concessor, são integralizados, isto é, não sofrem solução de co n ­
tin u id ad e, vão da prevenção ã cura, passando pelo tratam ento intensivo.
Seu oferecim ento é ún ico e pessoal, cobrindo in teiram en te o processo de re­
cuperação da higidez. Não pode ser in terro m p id o , salvo n o caso de o paciente não
q u erer subm eter-se a d eterm inado procedim ento.
c) princípio da autonom ia da pessoa: Em seu inciso III, o m en cio n ad o art. 7-
da Lei n. 8 .0 8 0 /1 9 9 0 fala n a “p reservação da au to n o m ia das pessoas na defesa de
sua in teg rid ad e física e m o ra l”. Q u e r dizer, o in d iv íd u o é o ju iz da iniciativa dos
aten d im e n to s san itário s e cu rativ o s, salvo na h ip ó tese do m en talm en te incapaz

C urso dt D ir e it o P r e v id e n c íAr ío

126 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
p ara essa prov id ên cia. É qu em decide pela assistên cia à saú d e e, na m edida do
possível e co n fo rm e cada caso escolhe o tipo de aten ção a ser m in istrad a.
A volição do assistido é respeitada, cabendo a ele a últim a palavra sobre a
n atureza do aten d im en to m édico.
d) princípio da igualdade no atendimento: Igualdade é precioso m andam ento
co n stitu cio n al, preceito ju ríd ico universal a ser observado e objetivo a ser alcan­
çado. T antas vezes en unciado, e, p o r não ser cu m p rid o no dia a dia, gera boa parte
do esforço do ho m em em prol do igualitarism o dos idênticos. O ditam e legal é
afirm ação b astan te incisiva: “Igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos
ou privilégios de q u alq u er espécie”.
e) princípio do direito à informação: A performance do aten d im en to à saúde
é localizada. C ada profissional, posto, clínica ou hospital propicia diversificada
gam a de recursos. N ão são iguais m esm o em órgãos sim ilares, pois im plantados
em diferentes m o m en to s e em instalações diferenciadas. A oferta de tecnologia
h u m an a e m aterial é com plexa, descom passada e desnivelada.
Por o u tro lado, as necessidades dos pacientes variam significativam ente, exi­
gindo adequação q u an to à clientela, tipo de aten d im en to e in stru m en tal d isp o ­
nível. N em todos os hospitais públicos estão aptos a fornecer o d esem penho de
tom ógrafo com p u tad o rizado...
O u su ário tem direito de saber quais são as instalações, suficiência técnica,
nú m ero de leitos, eq u ip am en to s postos ã disposição, especialidades contem pladas
e capacidade do órgão local para o serviço. De preferência, co n stan te de painel
p ú b lico indicativo em área de fácil acesso.
f ) princípio do uso da epidemiologia: P arte im p o rtan te das ações de saúde, sem ­
pre lem brada, m as p recariam ente praticada, diz respeito à prevenção. Este p rin cí­
pio a privilegia em larga escala com vistas a su rto s epidêm icos ou endem ias, para
não falar em p an dem ias, reclam ando prevalência nesse dom ín io , visando a d im i­
n u ir o em prego das p osteriores técnicas curativas.
g) princípio da participação da comunidade: A presença da sociedade nas téc­
nicas de proteção social tem lugar co m u m na C arta M agna e nas leis ordinárias,
referindo-se, n o caso, à atuação do indivíduo com o agente de solução dos proble­
m as e n ão com o p aciente das ações.
Tal p rin cíp io legal é p rogram ático, e não dispositivo. A c o m u n id ad e só p o ­
derá ser levada a co laborar com tais em p reen d im en to s, se dev id am en te p ro m o v i­
dos p o r m eio de conscientização nacional, cam p an h as in stitu cio n a is e estím ulo
com pensador.
h) princípio da descentralização administrativa: A descentralização da segu­
ridade social é n o rte inform ativo da técnica protetiva. R ecom endada em todas as
vertentes e, p articu larm en te, na assistência à saúde. A in ten ção é o p erar a delega­
ção de poderes, perfilhada, evidentem ente, a u nicidade de co m an d o das m edidas
governam entais, a fim de os program as se efetivarem de form a rápida e extensa,
atingindo os aten d id o s e os beneficiários.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v i d e n c i á r i o 127
i) princípio da interação de outras políticas: Diz o inciso X do art. 7° da lei m en ­
cionada haver necessidade de “integração em nível executivo das ações de saúde,
m eio am biente e san eam ento básico”. P retende o p ostulado a integração e a in te­
ração de o u tras políticas estatais e particulares, com o as ligadas ao m eio am biente
e ao san eam ento básico, am bas determ in an tes de m elhores condições de higidez.
j ) princípio da conjugação dos entes políticos: Este p rin cíp io respeita à coesão
da organização estatal, abarcando todos os entes políticos, na oferta de serviços.
F u ndem -se as m edidas dos M unicípios, Estados, D istrito F ederal com as da U nião,
para to rn a r possível a realização do program a. E m bora o postulado não faça m en­
ção expressa da iniciativa privada, ela está com preendida nesse esforço nacional,
sem em bargo de não p ertencer ao SUS.
167. Princípios administrativos — Já se afirm ou: a relação ju ríd ica de p re­
vidência social co m p reende dois polos: co n trib u in tes (pessoas físicas e jurídicas)
e órgão gestor (o Estado, pessoa ju ríd ica de direito público in tern o ). E m bora fu n ­
cio n alm en te p erten cen te à organização pública, devendo subm issão a preceitos
elem entares de D ireito A dm inistrativo, em razão de suas peculiaridades — gerên­
cia da in stituição securitária — , e p o r ap resen tar características típicas exigindo
pro ced im en to s p ró p rio s, surgem daí com andos inerentes a essa gestão. Em sua
m aioria, básicos, d evendo ser p erq u irid o s naquele ram o jurídico.
a) princípio da legalidade: No vértice da pirâm ide da e stru tu ra técnica e ju ríd i-
co-adm inistrativa, incrusta-se o p rincípio fundam ental da legalidade. Isso se deve ã
natureza do regim e dem ocrático, n o qual a adm inistração age com o representante
do povo e em estrita observância à sua vontade.
O p rin cíp io significa o ad m in istrad o r e a entidade estarem ad strito s à lei, e n ­
q u an to ela visar ao bem com um . N ão q u e r dizer atrelar-se qual escravo ao texto da
norm a, m as ser fiel observador de seus m andam entos. O indivíduo age conform e
a lei; o ad m in istrad o r só faz o autorizado por ela.
Q uando não concorda, não deve descum pri-la, e sim representar a quem de
direito. Se decreto ou portaria m inisterial parece extrapolá-la, tem de fundam entar
sua decisão contrária a esses atos norm ativos e em conform idade com o bem com um .
b) princípio da moralidade: A m oralidade adm inistrativa assum e caráter parti­
cular no Direito P revidenciário; igual a qu alq u er o utra esfera da adm inistração ou
mais, pois cuida-se do bem de coletividade determ inada, de interesse prim ordial
de terceiros sem possibilidade de controlá-lo. Apenas gestor, e não proprietário dos
recursos, o ad m in istrad o r assum e du p lo papel e responsabilidade n o trato da coisa
coletiva. Além da ética, com um a toda adm inistração, vale ressaltar a preservação
do p atrim ô n io dos beneficiários, nu m a palavra, a tran q ü ilid ad e econôm ica e social,
abarcada nessa m oralidade.
c) princípio da finalidade: No D ireito A dm inistrativo, há norm a suprem a ou, se
se preferir, p rin cíp io fu ndam ental, resum ível n o interesse público. A im portância
desse po stu lad o assem elha-se à relevância da solidariedade no seguro social, com
diferença de o interesse público não ser abstração; aplica-se concretam ente em
infinitas op o rtu n id ad es.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Sustenta-se a existência da finalidade, em razão da qual o gestor não pode
co n trariar o interesse público, seja em benefício p ró p rio ou d e terceiros. O favori­
tism o co n stitu i em abuso de poder, eventualm ente crim e, tal a preocupação em se
arred ar p ro ced im en to s co n trário s ao interesse geral.
d) princípio da imediatidade: D iferentes postulados previdenciãrios indicam a
eficácia da ação adm inistrativa, no tocante à rapidez de operação. A concessão de
benefício secu ritário deve ser rápida e eficaz. O deferim ento de aposentadorias e
pen sõ es precisa seguir-se im ediatam ente à ocorrência da contingência protegida.
D iante do escopo deste princípio, cabe a ação p o r parte do gestor de p ro cu rar
o beneficiário e oferecer-lhe a prestação, não só p o r m eio dos convênios firm ados
com as em presas, com o m ediante a utilização do serviço social, incluindo-se p ro ­
vidências relativas à obtenção dos d o cu m en to s necessários.
e) princípio da capacidade: É im prescindível à adm inistração planejar a d istri­
buição dos recursos disponíveis. Essa operação exige não só a seleção de p rio ri­
dades, em m atéria de prestações atendidas, com o o nível de seus patam ares. Fato
histórico m u n d ial, am plam ente conhecido: q uando a gestão secu ritária se descuida
desses aspectos, co m p rom ete o sistem a financeiro e avizinha-se o terrível su rto da
insolvência. Assim com o o co n trib u in te, a instituição tem capacidade finita, a ser
sopesada q u an d o do p lanejam ento da d istribuição dos recursos.
J) princípio da publicidade: A adm inistração não tem segredos, seus atos devem
ser p ú blicos ou p u b licados o p o rtu n am e n te , reservando-se ao trato íntim o apenas
aqueles cuja observância sigilosa co n su lte ao interesse da coletividade, adstritos,
acidentalm ente, à conveniência da adm inistração pública.
U m p rin cíp io universal ele traslada-se para o D ireito P revidenciário sem
quaisq u er m odificações em sua essência.
g) princípio da racionalidade: N ão é desnecessário referir-se à ideia elem entar,
com o a da racionalização dos serviços, pois ela se im põe a títu lo de lem brança aos
ad m inistradores. O co n d u to r do seguro social redistribui rendas seg u n d o critérios
variados, su b m etid o a axiom a superior: fazê-lo célere e racionalm ente sob pena
de não atin g ir suas finalidades essenciais. Racionalização é m atéria com plexa e
ad m ite vários níveis. Deflui da sim plicidade e da segurança a serem im prim idas à
coisa pública.
h) princípio da gestão democrática: O co n stitu in te de 1988 reconhece a co n d i­
ção dos trabalhadores-contribuintes de titulares da previdência social, seus legítim os
proprietários, n ão im p ortando, historicam ente, a gestão ter sido entregue ao Estado.
Daí im p o r a divisão da adm inistração p o r m eio d e colegiados representativos dos
diferentes segm entos.
168. P rin cíp io s p ro c e d im e n ta is — Em bora nem todos adm itam a existên­
cia de um D ireito Previdenciário au tô n o m o , a quase m aioria dos d o u trin ad o res
brasileiros reconhece essa disciplina extravasando os lim ites de sim ples legislação
e p o sicionando-se com o ram o específico d o D ireito. A bstraindo saber se é ou não
indep en d en te, é o p o rtu n o salientar os princípios regentes de seu in stru m en to adje­

C u r so dk D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o J — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
129
tivo, pois, em últim a análise, estes im pelem as relações dinâm icas entre os sujeitos
da relação e, com o objetivo maior, propiciam o exercício do direito.
P or m eio de m étodos específicos, m arcadam ente in tram u ro s, ligeiram ente
d istin to s do processo trabalhista ou civil, é dirim ida a m aior parte dos conflitos de
interesses estabelecidos en tre a adm inistração e os beneficiários e contribuintes.
E, tam bém , atendidas p retensões incontestáveis, aliás, em nú m ero bem superior
às divergências.
a) princípio da iniciativa adm inistrativa: O p rocedim ento previdenciário é en ­
cetado pelo órgão gestor (v. g., concessão espontânea de auxílio-doença e cobrança
adm inistrativa de débitos, m atrícula ex officio etc.) ou pelos outros sujeitos da
relação ju ríd ica: a em presa (v. g., restituição de contribuições, parcelam ento de
débitos, certificados de quitação etc.) ou co n trib u in tes (v. g., aposentadorias, reem ­
bolso de despesas m édicas, contagem de tem po de serviço etc.).
O gestor abre o processo e o m an tém em and am en to até solução final. In i­
ciado pelo beneficiário ou co n trib u in te, aquele deve d ar prosseguim ento ao feito,
m esm o se registrar algum desinteresse da parte envolvida. E videntem ente, insere­
-se no p rin cíp io e a ele não se opõe, a ideia de, se a adm inistração fixar prazo para o
beneficiário ou co n trib u in te cu m p rir algum a providência e se eles não a atendem ,
extinguir-se o processo.
b) princípio da simplicidade: A s técnicas de proteção social existentes im peram
porque aten d em às necessidades. O seguro social supre carências; se inexistentes,
o to rn ariam inú til. A busca de proteção deriva da im possibilidade de o trab alh ad o r
subsistir, q u ando presentes as contingências protegidas e, ainda, de desenvolver
técnicas individuais de proteção, a po n to de dispensar as sociais. Essa desvanta­
gem é ínsita ao sistem a capitalista vigente, razão pela qual a em presa é solicitada a
p articipar do seguro social, é tam bém cham ada de hipossuficiência do obreiro, ou
seja, ausência de condições de autoproteção contra os infortúnios da vida.
Dada a n atureza alim entar, o procedim ento adm inistrativo deve ser o m ais
singelo possível, a fim de p erm itir aos beneficiários se servirem a tem po da previ­
dência social.
c) princípio da gratuidade: O procedim ento adm inistrativo é inteiram ente gra­
tuito. Além de disp en sar in term ediários, não hã cobrança de preço público. O
ô n u s do interessado é processual, isto é, ter de provar o alegado em seu favor. Não
significa ele ser não oneroso, pois observa os cânones adjetivos, atrib u in d o -se às
partes certas obrigações, às vezes, pesadas, até insuportáveis, m as não há custas,
em olum entos, despesas de expediente ou de peritos (q u an d o determ inadas pela
adm inistração).
d) princípio da celeridade: U m a das feições nucleares do seguro social é sua
natureza m arcadam ente tutelar. Sustenta-se ser a prestação salário diferido. Subs­
titu in d o os m eios h ab ituais de subsistência do trabalhador, a prestação previden­
ciária destina-se a p ro p iciar a sua m an u ten ção , razão pela qual sua percepção deve
seguir-se, o m ais co n lin u ad am en te possível, ao pagam ento dos salários ou ren d i­
m entos do segurado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

130 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
C om o as necessidades básicas de sobrevivência são urgentes, co n tin u as e per­
m anentes, a concessão das prestações deve ser im ediata; seu pagam ento, con tín u o
e perm an en te, en q u a n to p e rd u ra r a contingência protegida deílagradora. Im põe-se
presteza nesse deferim ento, regularidade no desem bolso e determ inação na iterati-
vidade sob pena de não se realizar o p rin cip al objetivo da previdência social.
e) princípio da supletoriedade do CPC: O encam in h am en to adm inistrativo não
conhece sistem atização. Basicam ente, segue princípios do processo adm inistrativo,
quase todos eles ten d o origem no direito co n su etu d in ário . Salvo q u an to à cobrança
de d ébito e alguns o utros procedim entos, as norm as processuais adm inistrativas
não estão o rdenadas n u m a lei orgânica o u nu m código específico.
O C ódigo de Processo Civil é n o rm a subsidiária do D ireito Previdenciário nos
pro ced im en to s ad m inistrativos, e básica, nas ações ju d iciárias.
J) princípio da reform atio in pejus: No D ireito Penal, em m atéria de recurso,
vige p rin cíp io seg u n d o o qual o exam e de sen ten ç a co n d en ató ria n ão pode re su l­
tar decisão capaz de p io rar a situação do réu. Em v irtu d e do p rin cíp io su p erio r
da verdade, in sp ira d o r do exercício do D ireito, sua prova pode o co rrer d u ran te
a tram itação do processo ad m in istrativ o . Pode acontecer, em d eco rrên cia de re­
curso, serem co n statad o s erros de falo ou de direito, im p o rta n d o n a revisão da
decisão recorrida.
R eexam inada a concessão p o r solicitação do interessado, se se convencer a
ad m inistração sobre erro de fato ou de direito, deve reform ar a decisão concessora
n o seu m érito ou em seus valores.
g) princípio da supremacia da ação judiciária: Entre as garantias co n stitu cio ­
nais, co n signa a Lei M aior de 1988: “A lei não excluirá da apreciação do Poder
ju d ic iá rio lesão ou am eaça a d ireito ” (art. 5e, XXXV).
P erm an en tem en te aberto o cam inho ju d iciário , quem está litigando com a
adm inistração, antes, d u ra n te o u depois de in ten tad o o pro ced im en to ad m in istra­
tivo, po d e p ro c u rar o P oder Judiciário. Diz o P rejulgado n. 80-b, da P ortaria MTPS
n. 3.286/1973: “N ão cabe apreciar-se na via adm inistrativa m atéria p en d en te de
decisão ju d ic ia l” (Parecer M T P S n. 208/1973, in Proc. MTPS n. 108.985/1970).
h) princípio do recurso obrigatório: R ecorrer de decisão causadora de prejuízo
subjetivo p ertence à discrição do titu lar do direito afetado (c o n trib u in te ou b en e­
ficiário). Ele não é forçado a solicitar o du p lo grau de exam e adm inistrativo ou
jurisd icio n al.
Porém , especialm ente em m atéria fiscal, às vezes, a adm inistração im põe aos
servidores o dever de recorrer de ofício. Trata-se de recurso im positivo, previsto,
em cada caso, na legislação.
169. P rin cíp io s de D ireito T rib u tário — Boa parte do D ireito P revidenciário
cuida do financiam ento. Q uase lodo o custeio está in tim am en te relacionado com
o D ireito F inanceiro.
D iante da altern atividade de ser a contribuição previdenciária tributo ou não,
q uestão de interesse in d u z o u obriga a em pregar os prin cíp io s tributários consa­

C u R S O D E P i R E I T O P R E V ID E N C IÁ R IO
T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 131
grados ou tom á-los o riginariam ente, caso a cotização seja espécie tributária. A
d o u trin a os tem bastante exem plificados, valendo consignar os principais.
Aliom ar Baleeiro ( “D ireito T ributário B rasileiro”, p. 286) refere-se aos seguin­
tes: a) da capacidade econôm ica dos co n trib u in tes; b) da proibição do confisco
e bitributação; c) da im u n id ad e expressa com o lim itação do p o d er de trib u tar; e
d) da vedação de discrim inação no com ércio e no tráfego interno.
Fábio Fanucchi ( “C urso de D ireito T ributário B rasileiro”, p. 121/28) alude a
cinco princípios: a) da igualdade; b) da legalidade; c) da anualidade; d) da unifor­
m idade de tributação; e e) da liberdade de trânsito.
A respeito do em prego de princípios, dispõe o CTN: “N a ausência de disposi­
ção expressa, a au to rid ad e com petente para aplicar a legislação tributária utilizará
sucessivam ente, na ord em indicada: I — analogia; 11 — os princípios gerais de Di­
reito Tributário; III — os princípios gerais de direito público; e IV — a eq u id ad e”
(C TN , art. 108).
170. P rin cíp io s d e D ireito do T rabalho — Américo Piá Rodriguez ( “Princípios
de D ireito do Trabalho”) enuncia o rol dos princípios trabalhistas, praticam ente
esgotando o seu universo. Os seis prepostos têm cu n h o nitid am en te tu telar e, por
isso, estreita relação com a previdência social.
a) proteção trabalhista: Este principio com preende três regras: a) in dubio pro
operário; b) aplicação da norm a m ais favorável; e c) condição m ais benéfica. As
duas prim eiras regras adotam -se com o princípios de interpretação.
b) irrenunciabilidade dos direitos: Irrenunciabilidade é dogm a laborai. O m esm o
se passa no Direito Previdenciário, n o qual é aceito p o r inteiro. Sendo im possível
não se acolher a filiação, a renunciabilidade cogitada diz respeito às prestações.
Estas, p or natureza, irrecusáveis. Exceto, é claro, para m elhorar a situação do
segurado, q u an d o a ren ú n cia é acolhida.
c) continuidade da relação laborai: P rincípio particular do D ireito do Trabalho,
alça-se com o básico no D ireito Previdenciário, pois, até m esm o q u an d o quebrada a
co n tinuidade laborai, não deve ser afetada a constância da filiação e da contribuição.
d) princípio da prim azia da realidade: A prim azia da realidade significa que os
fatos p ertin en tes ao co n trato de trabalho e, de m odo geral, à relação de trabalho
devem prevalecer no referente à aparência form al ou do cu m en tal oferecida. As
diferenças podem re su h a r de intenção deliberada de sim u lar um a situação, provir
de erro, de falta de atualização de dados o u de cu m p rim en to de requisito form al.
N ão im porta quais sejam . Em q u alq u er dos casos, os fatos devem prevalecer sobre
o co n teú d o dos d o cum entos.
e) princípio da razoabilidade: Todos os esforços e raciocínios lógicos e jurídicos
devem ser con d u zid o s à mens legís. C om o a lei n u n ca leva a absurdo, o resultado
da elaboração m en tal deve ser sem pre n o sen tid o do razoável.
f ) principio da boa-fé: Este é outro postulado geral de D ireito, conhecendo
sim ilar no D ireito Previdenciário. Até prova em contrário, a boa-fé deve ser e n te n ­
dida presente n as relações entre o beneficiário e o órgão gestor do seguro social.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

132 W la d im if N o v a e s M c ir tin e z
Capítulo XVII

B ib l io g r a f ia N a c io n a l

S u m á r i o : 171. Principais doutrinadores. 172. Comentaristas e anotadores. 173.


Elaboradores de cursos. 174. Manuais e cartilhas. 175. Área rural. 176. Aciden­
tes do trabalho. 177. Temas diversificados. 178. Repertório da legislação. 179.
Cadernos e opúsculos. 180. Articulistas permanentes.

A bibliografia brasileira é expressiva em volum e, p o d en d o ser destacados


alguns ensaios, cen tenas de m onografias e b ons com entários aprofundados. Com o
sói acontecer, em bora o título indique tratar-se do ram o ju ríd ico e o enfoque p ri­
m ordial dado a esse aspecto, geralm ente eles relatam o seu principal objeto, a
previdência social. A p artir de Pereira Leite, Alves de Souza, Feijó Coimbra e M ozart
Russomano, su rgiram trabalhos ju ríd ico s pro p riam en te ditos.
C aracteriza-se p o r oferecer considerações específicas sobre determ inado
assu n to , p o u co s cursos ou tradutores, bons pareceristas, po u q u íssim o s h isto riad o ­
res, dicio n ário s singelos, n ú m ero elevado de divulgações, várias cartilhas, h o m e­
nagens m erecidas, m uitíssim os m an u ais p ráticos e um a infinidade de articulistas.
Desce à especialização cuidando, em particular, de certos benefícios, infortunís-
tica, rurícola, m edicina do trabalho, salário-fam ília, direito procedim ental, atuaria,
assistência social e à saúde, idoso, aposentação e lazer, e até do seguro-desem prego.
“A cidente do Trabalho”, de Antônio Vicente Andrade Bezerra (1919), possivel­
m ente inicia a série, dividindo a prim azia com Evaristo de Moraes ( “Os acidentes
de trabalho e sua rep aração”), do m esm o ano. Sully Alves de Souza, em 1976, foi
o p rim eiro a p u b licar com pêndio sob o título “D ireito P revidenciário”. De Moacyr
Velloso Cardoso de Oliveira, na tese “Planos G erais de E nsino de Seguridade Social”,
a m ais rem ota m enção à expressão em trabalho individual publicado (1944).
Em área específica — m utualism o — , convém registrar Carlos Victor Boisson
(“E stu do s das fórm ulas e tarifas do M ontepio G eral”, Tip. Eleuzinger, 1881).
A Geraldo Montedônio Bezerra de M enezes atribui-se o privilégio de ter escrito
o p rim eiro livro “d o u trin ário , de caráter geral, dedicado ao tem a, em 1961” (in L‘A
Segurança Social n o Brasil”, G uilherm e H addad, 1961, apud “O D ireito do Trabalho
e a Segurança Social na C o n stitu ição ”, Pallas, 1976, p. 422).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
E xcluída a área acidentaria (1919-1923), ele elenca, n a pré-h istó ria do Direi­
to P revidenciário, os seguintes autores: L. Nogueira de Paula (“Seguro O p erário ”,
1932); Irineu Malagueta ( “Invalidez e Seguro Social”, 1937); Bezerra de Freitas
(“Legislação do Trabalho e P revidência”, 1937); Augusto Schmidt Júnior (“Seguros
Sociais”, 1938); Adolfo Nardy Filho ( “N otas sobre o Seguro Social no Brasil” , 1938);
Evandro Balthazar da Silveira (“G ênese e Evolução do Seguro O perário”, 1939); Ota-
cílio Alechrim ( “F u n d am en to s do Seguro do E stado”, 1940); Machado Vieira ( “Pre­
vidência Social”, 1942); A. B. Ruys de Barros ( “O Seguro Social no D ireito Brasi­
leiro”, 1944); Rudolf Aladar Metall ( “P roblem as A tuais de Seguro Social”, 1944);
Durval S. Rosa Borges ( “Seguro Social no Brasil”, 1948) e Feliciano Tomás de Rezen­
de ( “Legislação da Previdência Social”, 1953).
Affonso Almiro relata boa parte da d o u trin a nacional ( “Teoria do D ireito Previ­
denciário Brasileiro e bibliografia previdenciária b rasileira”, IBDP, 1984).
Teodora M arly Gama das Neves levantou bibliom etricam ente a d o u trin a nacio­
nal (“Pequena Bibliografia Brasileira”, in RPS n, 85/707; “Os dez anos da Revista de
Previdência Social”, in RPS n. 83/605 e, em colaboração com Orlando de Almeida,
“Aspectos bibliom étricos do D ireito P revidenciário”, in RPS n. 77/226), c o n c lu in ­
do pela fertilidade de obras científicas, p articu larm en te após o aparecim ento da
Revista de Previdência Social (1976), época a partir da qual São Paulo su p lan ta a
iniciativa do Rio de jan eiro .
O MPS prom oveu substancial levantam ento sobre os previdenciaristas ( “A
Previdência Social e a Revisão C o n stitu cio n al”, MPS, CEPAL, Brasília, 1993), e n u ­
m eran d o livros, artigos, relatórios, opúsculos, teses, conclusões de eventos, discur­
sos, p ro n u n c ia m en to s e relatórios oficiais.
Realm ente, o p o rtu n o s aportes têm sido propiciados p o r m eio de aproxim a­
dam ente seis centenas de artigos publicados em jo rn ais, periódicos, revistas es­
pecializadas com o Inapiários, Industriários, A rquivos do IDS, Previdência Social,
do 1API, de 1948/1949, Revista do Trabalho e Seguro Social, de 1948, Revista da
P rocuradoria do INPS, Revista da P rocuradoria-G eral do INSS, Revista do CRPS,
de 1987/1988, Previdência, do INPS, Revista de D ireito do INSS, de 1993, Revista
da Legislação do Trabalho e Revista de Previdência Social, da LTr, A Previdência em
Dados e C o n ju n tu ra Social, do MPAS, Revista ANFIP, Revista de Seguridade Social
(da AN FIP), Revista de D ireito Social, R epertório de Ju risp ru d ê n cia IOB, Revista
Dialética de D ireito Tributário, BIT-Revista, Revista de D ireito Social, Revista de
Previdência, jo rn a l dos F u n d o s de Pensão da ABRAPP etc.
A F u n d ação ANFIP especializou-se na publicação de várias obras im pessoais
com o: “A nálise da Seguridade Social em 2003”; “Reform a da P revidência”; “SAT
— Seguro de A cidentes do Trabalho n o Brasil”; “P revidência do Serviço Público
Brasileiro: F u n d am en to s e lim ites das Propostas de R eform a”; “A uditoria Fiscal e
os C ontroles In tern o s”; “Previdência Social e Salário M ínim o”; “A substituição da
folha de salários e a garantia de financiam ento da Previdência Social”; “Reforma
Tributária e S eguridade Social” e “Previdência Social”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

134 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
N en h u m critério de m enção de autores satisfaz a todos, e q u alq u er classifica­
ção dos trab alh o s sem pre desagrada a alguns deles, m as, sob o risco de equívoco e
injustiça, é possível arro lar as co ntribuições pessoais m ais conhecidas.
A listagem seguinte observa a q u an tid ad e de escritos e a p erm an ên cia do
au to r no cenário científico, sem en tra r no m érito do p roduzido. E nq u ad ram en to
m uitas vezes feito a p artir do títu lo da publicação e não, n ecessariam ente, em razão
do co n teú d o . Uns p o ucos estudiosos, em v irtude do largo espectro do interesse,
são articulistas, com entaristas, cursistas, tu d o ao m esm o tem po, sendo referidos
conform e a especialização.
A m aioria dos ju slab o ristas incluiu em seus livros capítulos relativos à p re­
vidência social. M uitos deles escreveram artigos ou em itiram pareceres sobre a
m atéria, sem serem especialistas. A criação é esparsa, m as significativa, devendo
a p erquirição levar em conta o centro de atenção ser o Direito do Trabalho. Nesse
sen tid o , Antonio C arlos Araújo de Oliveira levantou os trabalhos de M artins Catha-
rino ( “Temas de P revidência Social na obra de José M artins C ath arin o ”, in RPS n.
54/282).
171. P rin cip ais d o u trin a d o re s — A significativa am ostra das publicações
obriga a certa divisão, separando-se as p ropriam ente d o u trin árias das análises de
o u tra n atu reza, d en ú n cias e até desabafos, em livros básicos, históricos, políticos,
referentes à assistência social e à saúde. A filosofia previdenciária e o direito ao
lazer p erm anecem cam pos praticam ente virgens.
a) livros básicos: Pelo publicado, é im possível ignorar o esforço de vários
autores, entre os quais: Alexsandro C. C ruz ( “D ireito e Legislação P revidenciária”);
André Luiz M enezes Azevedo Sette ( “D ireito P revidenciário A vançado”); André
Studart Leitão ( “Nova Previdência C om plem entar do Servidor P úblico”); Anníbal
Fernandes (“O T rabalhador A u tô n o m o ” e “C om entários à CLPS”); Arisíeu de Oli­
veira ( “R eform a P revidenciária C o m en tad a”); Armando de Oliveira Assis ( “C om ­
pêndio de Seguro Social”; “N oções de Seguro Social”; “Benefícios e Problem as do
Seguro Social” e “T écnica lnterpretativa das Leis da Seguridade Social”); Arnaldo
Lopes Süssekind (“Previdência Brasileira”; “Aspectos Jurídicos da Nova Previdência
Social” e “Legislação d a Previdência Social”); Carlos Alberto Pereira de Castro —
João Baíisía L azzari ( “M anual de Direito P revidenciário”); Célia Ópice Carbone
( “Seguridade Social no Brasil”); Celso Barroso Leite (“Previdência Social”, em
eo au to ria com LuizAssum pçãoParanhos Veloso; “A Crise da Previdência Social”; “Um
Século de Previdência Social”; “O Século da A posentadoria”; “O Século do Lazer”;
“A tualidades e T endências”; “A Previdência Social no Brasil”; “U m século de Previ­
dência Social: b alanço e perspectivas no Brasil e no M un d o ” e “A Proteção Social no
Brasil”); Cláudia Salles Vilela Vianna — Eduardo Vilela (“R etenção P revidenciária”);
Daniel Pulino ( “A posentadoria p o r Invalidez no D ireito Positivo B rasileiro”); Fábio
Zam bitte Ibrahim ( “A R etenção de 11% sobre a Mão de O b ra” e “C urso de Direito
P revidenciário”); Farid Salomão José (“A Previdência e A ssistência Social U rbana em
Q u adros S inólicos” e “C om entários à CLPS”); Fernando F. de Abranches ( “A Crise

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io 135
Institucional da Previdência Social”); João Antônio Guilhem-Bernard Pereira Leite
(“C urso E lem entar de D ireito P revidenciário” e “E studos de Direito do Trabalho
e D ireito P revidenciário”); José Reis Feijõ Coimbra ( “D ireito P revidenciário Brasi­
leiro” e “Mil P erguntas de D ireito P revidenciário”); Ju lian a Presotto Pereira Netto
( “A Previdência Social em R eform a”); Júlio Cesar Garcia Ribeiro (“A Previdência
Social do Regime G eral na C onstituição B rasileira”); José Leandro Macedo ( “Pre­
vidência C o m p lem en tar do Servidor P úblico” e “C urso de D ireito Previdencia-
rio ”); Leny Xavier de Brito e Souza (“Previdência Social — N orm as e C álculos
de Benefícios” e “O Servidor Público e as suas M últiplas Previdências Sociais”);
Li dia Maejima — Neide A kiko Fugivala Ped roso (“M anual Prático do Em pregador
D om éstico'’); Marcelo Leonardo Tavares e vários autores ( “Reforma da P revidên­
cia Social”); Marco Aurclio Greco ( “C ontribuições um a figura sui generís”); Marco
Aurélio Serau Júnior (“C urso de Processo Judicial P revidenciário”); Marcos André
Ramos Vieira (“M anual de D ireito P revidenciário”) ; Marcos Aurélio Câmara Portilho
Castellanos (“D ireito Previdenciário para Provas e C oncursos”); M arais Orione
Gonçalves Correia — Érica Paula Barcha Correia ( “C urso de D ireito da Seguridade
Social”); e vários autores ( “D ireito Previdenciário e C o n stitu ição ”); Maria Garcia
( “A E m enda Previdenciária e os D ireitos A dquiridos”); Marly A. Cardone (“O
Seguro Social e o C on trato de Trabalho”, “Previdência-A ssistêncía-Saúde”; “D ireito
Previdencial, Legislação, D outrina, Ju risp ru d ê n c ia ” e “R egulam ento dos Benefícios
e C usteio da Previdência Social”); Maurílio Neris de Andrade Arruda (“Previdência
Social d en tro da A utonom ia M unicipal”); Meire Lúcia Gomes Monteiro e vários a u ­
tores ( “In tro d u ção ao Direito P revidenciário”); Miguel H orvathJúnior (“D ireito Pre­
videnciário”; “S alário-M aternidade”; “D icionário A nálitico de Previdência Social”
e “Lei Previdenciária C o m entada”); M oacyr Veiloso Cardoso de Oliveira (“A Previ­
dência Brasileira e a sua Nova Lei O rgânica”; “Previdência Social”; “N oções de Le­
gislação de P revidência Social e do T rabalho”; “P revidência Social do A dvogado”
e “O Salãrio-Fam ília do T rabalhador”); M ozart Victor Russomano ( “C om entários à
LOPS” e “C om entários à CLPS”); Niííon Oliveira Gonçalves ( “As Novas Regras para
A p osentadoria”); Odonel Urbano Gonçales ( “Seguridade Social an o tad a”); Reinhold
Stephanes (“Previdência Social — U m a solução gerencial e estru tu ra l” e “Reforma
da Previdência sem Segredos”); Rodolfo Pamplona Filho — Andre L uiz Batista Neves
( “D ireito P revidenciário nos F nunciados do TST”); Rosni Ferreira (“Prática de Pre­
vidência Social”); Rosni Ferreira — Deyse F erreira (“G uia Prático de Previdência
Social”); Sergio Pinto M artins ( “D ireito da Seguridade Social”); Sulfy Alves de Souza
( “D ireito P revidenciário”); Tupinambã Miguel de Castro Nascimento ( “C om entários
do Seguro de A cidentes do Trabalho”; “Previdência Social Rural e SINPAS” e “Se­
guro A cidentário do T rabalhador R ural”); Uendel Domingues Ugatti (“O Princípio
C onstitucional da C o n trapartida na Seguridade Social”); Valdir de Oliveira Rocha e
vários autores ( “C ontribuição Previdenciária" e “Processo A dm inistrativo Fiscal”);
Vladimir Passos de Freitas e vários autores (“D ireito P revidenciário”); Wagner
Balera (“N oções Prelim inares de D ireito P revidenciário”; “A Seguridade Social na
C onstituição de 1988” e “D ireito dos P obres”) e W ladim ir Novaes M artinez (“P rin ­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

136 W la d im ir N o va es M a r tin e z
cípios de D ireito P revidenciário”; “C om entários à Lei Básica da P revidência”; “A
S eguridade Social na C onstituição F ederal”; “O em presário e a Previdência Social”;
“O C o n trib u in te em D obro e a Previdência Social”; “O Salário-Base na P revidên­
cia Social”; “O Salário de C ontribuição na Previdência Social”; “Subsídios para
um M odelo de Previdência Social”; “O brigações P revidenciárias n a C onstrução
Civil”, “C urso de D ireito P revidenciário”; “Prim eiras Lições de Previdência C om ­
p lem en tar”; “O brigações Previdenciárias do C o n trib u in te In dividual”; “Os C rim es
P revidenciários n o C ódigo P enal”; “A posentadoria Especial”; “A posentadoria Es­
pecial em 720 P erguntas e R espostas”; “F ator P revidenciário em 420 P erguntas e
R espostas”; “Prova de Tempo de Serviço”; “Pareceres Selecionados de Previdência
C o m p lem en tar”; “PPP n a A posentadoria Especial”; “R etenção Previdenciária do
C o n trib u in te In d iv id u al”; “C om entários à Lei Básica da Previdência C om plem en­
ta r”; “P arecer Ju ríd ic o ”; “C om entários ao E statuto do Idoso”; “P ortabilidade na
Previdência C o m p lem en tar”; “R eform a da Previdência do S ervidor”; “Reform a da
Previdência Social” e “D ireito A dquirido na Previdência Social”).
b) livros históricos: C onsiderados até a substituição da expressão “seguro so­
cial” p o r “Previdência Social”, tidos com o trabalhos históricos, o u tras obras e seus
autores: A. E Copertino do Amaral ( “M ontepio Geral dos Servidores do E stado”,
Tip. Leuzinger, 1904); Francisco de Oliveira e Silva ( “O Seguro Social no Brasil:
d o u trin a, ju risp ru d ê n c ia dicionarizada e legislação”, Epasa, 1944); H. Eboli ( “Re­
soluções do CNT sobre a Legislação das CAP”, Ff R ibeiro, 1932) e Wenceslau A. P,
Oliveira ( “A Previdência Social e o C rédito A grícola”, J. C om ercial, 1908).
c) políticos e desabafos: D em onstrando estar quase sem pre p resen te o vocábulo
“c rise”, os prin cip ais são os seguintes: Anníbal Fernandes ( “G uia dos A flitos da Pre­
v id ên cia”); Amélia Cohn (“Previdência Social e Processo Político no Brasil”); Aor
Ribeiro ( “Previdência: Terror e M orte no Reino das F rau d e s”); B. Calheiros Bomfim
(“A C rise P revidenciária”); Carlos Simões ( “A Lei do A rrocho: trabalho, previdên­
cia e sin d icato s no regim e m ilita r”); Charles I. Schottland ( “Previdência Social e
D em ocracia”); E stanisiau Fischolowitz ( “P roblem as C ruciais da Previdência Brasi­
leira” e “P roblem as C ruciais da Previdência Social em 1964”); Fernando Figueire­
do de Abranches ( “A Crise Institucional da Previdência Social”); J. Varella ( “D ona
P revidência”); Jaim e A. de Araújo Oliveira — Sônia M. Fleury Teixeira ( “(Im )pre-
vidência Social” e “60 anos da H istória da P revidência Social”); João Camilo de
Oliveira Torres ( “A Crise da Previdência no Brasil”); José Augusto Cabral de Barros
( “A M edicalização da C lientela P revidenciária no B rasil”); Henrique Santillo (“O
R om bo da Previdência: m ais um escândalo do regim e"); Jam es M. Malloy ( “A Polí­
tica da Previdência no Brasil”); Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque (“A Q uestão
da Previdência e os A posentados”); Nelson Wedekim (“A Luta dos A posentados e
P en sio n istas”); Sérgio Henrique Hudson Abranches (“A Política da Previdência e
D epois”) e Vicente de Paula Faleiros ( “A Política social do Estado: as lunções da
Previdência e A ssistência Social”).
d) assistência social e saúde: O tem a assistência social e ações de saúde m ere­
ceu a atenção de estudiosos, com o Antônio Sérgio da Silva Arouca ( “O C om plexo

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io 137
Previdenciário da A ssistência M édica”); Carlos Gentile de Mello (“Saúde e A ssistên­
cia no Brasil”); Cristina Possas ( “Saúde e Trabalho. A C rise da Previdência Social”);
Fernando A. R. Silva — Dennis M ahar ( “A Saúde e Previdência Social — U m a A ná­
lise E conôm ica”); Madel T. Luz (“As In stitu içõ es M édicas no Brasil”); Nildo Aguiar
( “E nsino M édico e Previdência Social”); Paulo 5 a (“U m a Legislação P rotetora da
F am ília”); Ruy de Azevedo Sodré ( “A m paro à Fam ília pela Legislação Social”) e
Valéria de Sousa ( “As Instituições M édico-H ospitalares do Sistem a Previdenciário
através dos Serviços C o n tratad o s”).
e) análise jurisprudência}: A im p o rtân cia da ten d ên cia dos trib u n ais sem pre
interessou aos advogados, é o direito vivo e, p o r isso, a reunião de acórdãos c o n ­
f o r m e o c a p í t u l o da legislação é i m p o r t a n L e , convindo ver Afonso César ( “A Lei O r­
gânica da Previdência Social vista pelos T ribunais” e “Ind icad o r da legislação e ju ­
risp ru d ên cia da Previdência"); Annibal Fernandes ( “Previdência Social vista pelos
T ribunais”); Jorge Franklin Alves Felipe ( “Previdência Social na P rática F orense” e
“Previdência Social das Escolas aos T ribunais”); Noemi D utra ( “Previdência Social
pelos Tribunais: ju risp ru d ê n c ia do TFR e do STF”); Roberto Lemos dos Santos Filho
(“A Previdência Social pelos Tribunais F ederais”); Ozéias J. Santos ( “Previdência
Social — Julg ad o s S elecionados”); além dos “A córdãos do CRPS”, d a F undação
ANFIP. O MTPS p u b lico u, em dois v o l u m e s , útil coletânea sob o título “C onsoli­
dação da Ju risp ru d ê n cia M inisterial a que se refere a P ortaria MTPS n. 3 .286/73”.
f ) aposentadoria especial: Os principais são: Alexandre Barreto ( “A posentadoria
Especial e Exposição a Agentes N ocivos”); Antonio Carlos Vendrame ( “A posenta­
doria E special” e “Perfil Profissiográfico P revidenciário”); M aria Helena Carreira
Alvim Ribeiro ( “A posentadoria E special”); Paulo Gonzaga ( “Perícia M édica da Pre­
vidência Social” e “PPP — Perfil Profissiográfico P revidenciário”); Sérgio Pardal
Freudenthal ( “A posentadoria Especial”) e W ladim ir Novaes M artinez ( “A posenta­
doria Especial em 720 P erguntas e R espostas”, “A posentadoria E special” e “PPP
na A posentadoria E special”).
g) serviço social: No passado, o serviço social despertou o interesse dos p ro ­
fissionais e sobre ele escreveram A. E Pacheco e Silva ( “Serviços Sociais”); Amaral
Fontoura (“In tro d u ção ao Serviço Social”); Carlos Magalhães Lebeis (“O Sentido do
Serviço Social”); Durval S. Rosa Borges ( “O seguro social no Brasil”) e M ariaIsolina
Pinheiro ( “Técnica do Serviço Social”).
h) modo geral: Igualm ente significativos, os esforços de: Aben A thar Neto
(“Previdência Social A plicada”); Abílio Minucci Teixeira (“O A dvogado A utônom o
perante a Previdência Social”); Adelino Brandão (“A P revidência Social e o D ireito
do T rabalho”); Adroaldo Moura da Silva e Carlos Antônio Luque ( “A lternativas para
o F inanciam ento do Sistem a P revidenciário”); Afonso César (“P revidência”; “A
Previdência Social e seu Regime F inanceiro”; “C onsolidação das Leis da P revidên­
cia” e “E m presários e Segurados do IN PS”); Aguinaldo M. Simões ( “P rincípios de
Segurança Social”); Albino Pereira da Rosa ( “A Lei O rgânica da P revidência”); A l­
fredo Leal de Scí Pereira ( “M ontepio Geral de E conom ia dos Servidores do E stado”);
Aloísio Teixeira, Beatriz Azeredo e Maurício M atsum i (“O F inanciam ento da Segu­
ridade Social em 1989: N ovos C am inhos, Velhos P roblem as”); André C. Mediei,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

138 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
Francisco Eduardo Barreto Oliveira e Kaizô Beltrão ( “S eguridade Social: Análises e
P ro p o stas”); Antonio Carlos Oliveira (“D ireito do Trabalho e Previdência Social”);
Antonio Ferreira Cesarino Júnior ( “C om entários à CLPS — Ju risp ru d ê n cia”; “Segu-
ro -m atern id ad e n o D ireito C o m p arad o ” e “D ireito P revidencial”); Antonio Mendes
Belo Rodrigues (“R egim e Ju ríd ico do Trabalho e Previdência Social”); Arion Sayão
Romita ( “Problem as de Trabalho e Previdência Social”); Caio Torres (“P revidên­
cia Social”); Carlos Luque — Aldroaldo Silva ( “A lternativas para F inanciam ento
do Sistem a P rev id en ciário”); Célio Goyatã ( “A Situação do T rabalhador em Caso
de D oença”); Ronaldo Décio Ribeiro Costa (“D ireitos e O brigações na Previdência
B rasileira”); Délio M aranhão — A rnaldo Lopes Süssekind ( “Regim es Especiais de Se­
gurid ad e Social p ara Profissionais Liberais U niversitários”); Dennis J. M ahar e Fer­
nando Antônio Rezende da M. Silva ( “Saúde e P revidência Social”); Edilberto Quin-
tela Vieira Lins ( “A posentadoria do T rabalhador com P erm anência no E m prego” e
“Incapacidade E xecutiva de Trabalho e C o n trato de Em prego: D ireito do Trabalho
e P revidência”); Elcir Castelo Branco ( “Segurança Social e Seguro Social”); Emílio
Gonçalves ( “A uxílio-inatividade: ren d a m ensal vitalícia criada pela Lei n. 6.179, de
11 de setem bro de 1974”); Evaristo de Moraes Filho ( “Temas A tuais de Trabalho
e P revidência Social”); Farid Salomão José ( “A P revidência Social e a A ssistência
Social U rbana em Q uadros S inópticos”); Fernando Figueiredo de Abranches ( “Do
Seguro M ercantilista de A cidentes de Trabalho ao Seguro Social: renovação consti­
tu cio n al”); Floriceno Paixão ( “Direitos Trabalhistas e Previdenciários — em pregado
d o m éstico ” e “A P revidência Social em P erguntas e R espostas”); Francisco Antonio
Zem Peralta “(A L iquidação da S entença depois da Lei n. 8 .8 9 8 /9 4 ”); Francisco
Costa Neto ( “O A dvogado P erante a Previdência e a A ssistência Social no Brasil”);
Gabriel R. Soares Filho ( “A Nova Lei de Benefícios da P revidência Social”); Geraldo
A lckm in Filho ( “A N ova Previdência Social”); Geraldo Ataliba ( “Regim e ju ríd ic o
C o n stitu cio n al das Relações entre M unicípios e A utarquia F ed eral”); Geraldo Be­
zerra de Menezes (“A Segurança Social no Brasil”; “O In stitu to ju ríd ic o da Previ­
dência Social” e “O D ireito do Trabalho e a Seguridade Social n a C o n stitu ição ”);
Gilda M. C. M. Mariano R. Tissembaum ( “Integração Econôm ica e D ireito Social e
Integração E conôm ica e P revidência”); H. Calvet Alqueres (“A spectos Peculiares
à P revidência Social”); Paulo Sd (“A bonos F am iliares”); Harry Conrado Schnler
( “P revidência Social B rasileira”); Henrique Dodsworth ( “P revidência Social e C ai­
xas E co n ô m icas”); Ilka de Alm eida Santos ( “O B inôm io D esem prego/D oença E nfo­
cado em P rogram a P revidenciário”); írany Ferrari (“Os T rabalhadores A utônom os
p eran te a Legislação B rasileira” e “O T rabalhador Avulso e o Profissional A u tô n o ­
m o”) ; ^ Campos do Amaral (“P revidência”); Jefferson Daibert (“D ireito P reviden­
ciário e A cidentãrio do Trabalho U rb a n o ”); João Alves de Alm eida ( “A Previdência
Social através d o s Tem pos”; João Anthero de Carvalho ( “T rabalho e Previdência
Socia!” e “Trabalho e Previdência: com entários à ju risp ru d ê n c ia trabalhista e lei
orgânica da p rev id ên cia”); João Batista Albuquerque (“C on trib u içõ es de Em presas
à Previdência Social: conceito, prazo de prescrição”); João Batista M arinho (“ABC
da Previdência Social: os novos Benefícios do INPS”); João Deschamps de Andrade

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 139
( “Trabalho e Previdência Social”); José Delli-ísola ( “Q uestões sobre Previdência
Social”); José Ernaní de Carvalho Pacheco ( “Previdência Social”); José Jaym e de
Souza Santoro ( “D ireito P revidenciário”); Leonardo Cusato (“Previdência Social,
Síntese e P rática”); Júlio Campos do Am aral ( “P revidência Social”); Leo Simões (“A
C ontagem Recíproca para Efeito de A p o sentadoria”); Luís Augusto Irineu Flórido
( “Lições de Legislação Social”); Luiz Tagliolatto (“Previdência U rbana e R ural”); M,
Cavalcanti de Caiyalho (“Temas de D ireito da Previdência Social” e “R epertório de
Direito do Trabalho e Previdência Social: a d o u trin a dos autores, a Ju risp ru d ê n cia
dos Tribunais, a legislação do trabalho co m u m ”); Manfred Scw arz (“O Déficit da
Previdência no Brasil”); Marcelo Pimentel, Hélio C. Ribeiro e M oacyr D, Pessoa ( “A
Previdência Social Brasileira in te rp re ta d a ”); Maria Célia Guerra (“A A posentado­
ria p o r Invalidez n o Brasil”); Maria Cristina Irigoyen Paixão Cortês (“Tempo de
Serviço no D ireito do T rabalho”); M aria de Fátima de Souza Santos (“Identidade e
A po sen tad o ria”); Maria Emília Rocha Mello de Azevedo e Francisco Eduardo Barreto
Oliveira (“P revidência Social”); Maria Lúcia Freire Roboredo ( “D ireitos Sociais, Pre-
videnciãrios e a C onstituição de 1988”); N a ir Lemos Gonçalves (“N ovo Benefício
da Previdência Social: auxílio-inatividade”); Orlando Gomes ( “A spectos Jurídicos
da Nova P revidência Social”); Osiris A. Borges de Medeiros (“A posentadoria ao Al­
cance de Todos”); Oswaldo Iório ( “Problem as de P revidência Social e o Projeto da
Lei O rgânica”); Paulino de Vargas ( “Problem as P revidenciários e Inconstituciona-
lidades na Legislação P revidenciária”); Paulino de Vargas Vares (“C om pêndio de
Previdência Social”); Pauío Bonilha ( “C om entários Fiscais — Q uestões de Previ­
dência Social”); Pedro Alvim (“Política Brasileira de Seguros”); Ramiro Heise (“In-
constitucionalidade da C ontribuição de Previdência sobre H onorários”); Raymundo
Cerqueira A lly ( “N orm as Previdenciárias no D ireito do Trabalho”); Reinaldo Simões
(“Previdência Social. Legislação V igente”); Reinhold Meias ( “A spectos Psicológicos
da Seguridade Social”); Roberto B. M. Macedo, Carlos Luque e Marco A. S. Vascon­
celos ( “A Previdência Social no B rasil”); Rubens César Maragliano (“A Previdência
Social e sua Lei O rgânica”); Rubens da Rocha Paranhos ( “C onceito M oderno de
A posentadoria”); Ruy Carlos Machado Alvim ( “U m a H istória C rítica da Legislação
P revidenciária”); Ruy de Azevedo Sodré ( “O A cidente do Trabalho, a Prevenção e
a Seguridade Social”); Sandra Cristina F. de Almeida ( “As C ontribuições Sociais de
E m pregadores e Trabalhadores: R epercussões sobre o M ercado de Trabalho e G rau
de Evasão”); Sergio Luiz Monteiro Salles (“D ireito do Trabalho, Previdência Social
e A cidentes do T rabalho”); Sergio Pinto M artins ( “D ireito de Seguridade Social”);
Osiris A. Borges de Medeiros (“A posentadorias e pensões”); Tarso de Vasconcelos A l­
varenga (“O Trabalho na Previdência Social”); Thely Carvalho Lopes ( “A rrecadação
e Fiscalização”); Vicente de Paulo Seixas Pereira ( “Previdência G lobal”); Waldemir
Groehs ( “A Lei O rgânica da Previdência Social”); Wanderley T. Viana — Olavo P
Pinto (“H istória das Pensões Civis”); W illian Lloyd Mitchel ( “E m presa, Trabalho e
Previdência Social”) e Zeno Simm ( “Você conhece a P revidência Social?”).
172. C o m en taristas e a n o tad o res — Poucos com entaram a legislação básica,
convindo destacar Albino Pereira da Rosa ( “A Lei O rgânica da Previdência Social”);
Aíuysio Sampaio (“A Nova CLPS C om entada”); Anníbal Fernandes (“Previdência

C urso d f D ir e it o P r e v id e n c iá r io

140 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Social A notada”); Celso Barroso Leite e L uiz Assumpção Paranhos Veíoso (“C om entá­
rios à C onstituição F ederai”); Eduardo Gabriel Saad (“Lei O rgânica da Previdência
Social an o tad a”) prom overam anotações: Farid Salomão José (“C om entários Práticos
à CLPS”); Fernando Camargo Dias e César Dias Neto (“Previdência Social C om enta­
d a”); Gabriel R. Soares Filho (“A Nova Lei de Benefícios da Previdência Social: Lei n.
8.213, de 24.7.1991 C om entada”); Marcelo Pimentel (“A Previdência Social C om en­
tada”); M ozart Victor Russomano (“C om entários à LOPS” e “C om entários à CLPS”)
e W ladim ir Novaes M artinez ( “C om entários à Lei Básica da Previdência Social”).
173. E lab o ra d o res de cu rso s — C ursos básicos (práticos) ou aprofundados
(teóricos) e reu n ião de trabalhos são poucos, m as alguns foram sistem atizados.
E ntre os p rim eiros destacam -se o de Eduardo Gabriel Saad ( “C urso Básico de Pre­
vidência Social”) e de Ruth Aguilar Flajuel ( “C urso de P revidência Social”).
D os segundos, convém m en cio n ar João Antônio Guilhern-Beniard Pereira Leite
(“C urso E lem entar de D ireito P revidenciário” e “C urso de P revidência Social”) e
Tupinambá Miguel de Castro Nascimento ( “C urso de D ireito In fo rtu n ístico ”).
Dos terceiros, h om enagem a M oacyr Velloso Cardoso de Oliveira (“C urso de
D ireito P rev id en ciário”).
Sem indicar o autor, a CONSULEX, do Rio de Janeiro, p u b lico u seis volum es
do “C urso de Especialização em P revidência Social”. A C âm ara dos D eputados, em
1978, ed ito u u m “C urso de D ireito P revidenciário”.
Aben A thar Neto e Jacynlo Teixeira ( “C urso de P revidência Social: program a
da cátedra de D ireito do Trabalho n a U niversidade do B rasil”) e Aben Athar Neto
(“C urso de P revidência Social: program a de direito do trabalho na U niversidade
do B rasil”) po ssu em obras de valor histórico. Marcus Orione Gonçalves Correia —
Erica Paula Barcha Correia ( “C urso de D ireito da Seguridade Social”). Em quatro
volum es, de W ladim ir Novaes M artinez ( “C urso de D ireito P revidenciário”).
174. M an u ais e ca rtilh a s — Pequenos m anuais foram elaborados p o r Aristeu
de Oliveira ( “M anual Prático da Seguridade Social” e “M anual de Prática Trabalhis­
ta: alteração da legislação trabalhista qu an to aos direitos sociais, seguridade e pre­
vidência, d en tro da C onstituição de 1988”); A m o Tisolli (“M anual de Previdência
Social”); Carlos Coelho dos Santos e Christovão Piragibe Tostes Malta (“G uia da Pre­
vidência Social na Em presa M oderna: em quadros sinópticos”); Fides Angélica Om-
mati (“M anual E lem entar de Direito P revidenciário”); Hélio Carvalho ( “Previdência
Social”); G. W G. Moraes (“INPS ao seu A lcance”); José de Segadas Vianna ( “M anual
Prático de Previdência Social”); José Serra (“M anual dos Direitos do T rabalhador” e
“M anual dos D ireitos do Idoso”); Leny Xavier de Brito e Souza (“Previdência — N or­
m as e cálculos de benefícios”); Luís Flórido (“M anual de D ireito P revidenciário”);
Maria Thereza Pero Ferraz de Arruda ( “M anual Prático de Previdência Social” e
“M anual do M édico — Perito da Previdência Social”); Philadelpho Almeida ( “M a­
nual dos C om erciários”); Reinaldo Simões ( “Previdência Social, Legislação Vigen­
te, R esum o Prático da Lei O rgânica para Em pregados e Em presas; A posentadoria
especial”); Rosni Ferreira (“G uia prático de Previdência Social”) e Walter de Sousa
Colurna (“M anual dos C ontribuintes: tabelas-quadros sin ó p tico s”).

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 141
A lgum as cartilhas, com o a de André Franco Montoro Filho ( “ABC dos Direitos
do T rabalhador R ural”); A rthur da Tavola ( “C artilha da Nova Lei da Previdência
Social”); José Serra e Geraldo Alckm in (“C artilha da N ova Previdência Social”); da
ANFIP (“C artilha do E m pregado D om éstico”; “Legislação P revidenciária” e “M a­
nual da Fiscalização da Previdência Social R ural”); do Bradesco ( “C artilha da A po­
sen tad o ria”); Celso Barroso Leite (“O que Todo Trabalhador Deve Saber sobre Pre­
vidência Social”; “A Previdência Social ao A lcance de Todos” e “Benefícios da
Previdência Social”); do MPAS (“Tudo o que Você Q ueria Saber e N inguém ainda
E xplicou”, “C artilha dos A posentados e dos Trabalhadores R urais” e “Carta dos
Deveres dos C o n trib u in tes”, “S alário-M aternidade”, da Secretaria de Relações do
Trabalho de São Paulo); W ladim ir Novaes M artinez ( “Benefícios P revidenciários do
T rabalhador R ural”; “Prova de Tem po de Serviço”; “Fator Previdenciário em 420
P erguntas e R espostas”; “O brigações Previdenciárias do C o n trib u in te In d iv id u al”;
“A posentadoria Especial em 720 P erguntas e R espostas” e “Os C rim es Previden-
ciários n o D ireito P enal”) e do MPS ( “O Servidor Público e a N ova Lei da Previ­
d ên cia” e “P rincípios Básicos de P revidência Privada”).
175. Á rea ru ra l — Na área rural, destacam -se Aluysio Sampaio (“E statuto do
Trabalhador Rural C o m en tad o ”); A ntenor Pelegrino ( “O rientações Trabalhistas e
Previdenciárias U rbanas e R urais”); C arlos Alberto Gomes Chiareüi ( “Teoria e Prá­
tica do P ro ru ra l”); Câssio Mesquita Barros Jr. ( “Previdência Social U rbana e R ural”);
Elcir Castelo Branco ( “Previdência Social R ural”); João Cândido de Oliveira N eto
(“Previdência Rural — Guia P rático”); José L uiz Ferreira Prunes (“C om entários
ao E statuto do T rabalhador R ural”); José Reis Feijó Coimbra ( “O Trabalhador Ru­
ral e a Previdência Social”); M ozart Victor Russomano (“C om entários ao E statuto
do T rabalhador R ural”); N ilza Perez Rezende ( “O brigações Trabalhistas do E m pre­
gador R ural”); Rubens B. M inguzzi ( “PRORURAL”); Tupinambã Miguel Castro do
Nascimento ( “Previdência Rural e SINPAS”); Valmir Falcão ( “Previdência Social do
Trabalhador R ural”); Yara M uller ( “O T rabalhador Rural, seus D ireitos e Deveres:
legislação explicada”) e W ladim ir Novaes M artinez ( “O T rabalhador Rural na P re­
vidência Social” e “Legislação da P revidência Social R ural”).
176. A cid en tes d o tra b a lh o — A área de acidentes do trabalho tem tradição
e — salvo em titu lar os trabalhos — criatividade. C om o assinalado, h istorica­
m ente, o prim eiro livro deve-se a Antonio Vicente Andrade Bezerra (“A cidentes do
T rabalho”).
Seguem -se outros, com o: Adem ar Sato ( “A cidentes do Trabalho no Brasil”);
Afonso Dionisio da Gama (“Os A cidentes do Trabalho na D outrina e na P rática”);
Afrânio Peixoto ( “A cidentes do T rabalho”); Afrãnio Peixoto, Barros Barreto, Fia-
mínio Fávero e Leonídio Ribeiro ( “A cidentes do Trabalho”); Álvaro Zocchio (“V íti­
m as, C ausas e C úm plices de A cidentes do Trabalho”); Am élia Cohn (“A cidentes
do Trabalho — um a form a de violência”); Américo Ferreira Lopes e Cícero Ferreira
Lopes ( “A cidentes do T rabalho”); Enéias de Farias Melo ( “A cidentes do T rabalho”);
Anníbal Fernandes ( “A cidentes do Trabalho”); Castro Araújo (“A cidentes do Tra­
b alh o ”); Bento de Faria ( “D os A cidentes de Trabalho e D oenças P rofissionais”);

C ürso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

142 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
BeresJord Martins Moreira (“D esnaturação da Teoria do Risco P rofissional”); Celso
Affonso Garreta Pratts ( “M anual de P revidência e A cidentes do T rabalho”), Clodo-
veu de Oliveira e Cláudio Túlio ( “A cidentes do Trabalho”); Eduardo Gabriel Saad
(“O A cidente do Trabalho, o Benefício Previdenciário e a Indenização do Direito
C o m u m ”); Evaristo de Moraes (“Os A cidentes do Trabalho e sua R eparação”); Hel­
vécio Xavier Lopes e Gilberto Flores ( ‘A c id e n te s do T rabalho”); Hilário Veiga de
Carvalho (“A cidentes do T rabalho”); Humberto Piragibe Boccia (“A cidentes do Tra­
b alh o ”); írineu Antonio Pedrotti (“D oenças Profissionais ou do T rabalho”); Jaym e
Aparecido Tortorello ( “A cidentes do Trabalho”); Joel Rutinio de Paiva (“A cidentes
do T rabalho”); José Cairo Júnior (“O A cidente do Trabalho e a R esponsabilidade
Civil do E m p reg ad o r”); José de Oliveira ( “A cidentes do T rabalho”); José Finocchiaro
(“C ausas e Prevenção dos A cidentes e das D oenças do T rabalho”); José Luiz Dias
Campos (“A cidentes do Trabalho: prevenção e reparação”); José Luiz Dias Cam­
pos e Adelina Bitelli Dias Campos ( “A cidentes do T rabalho”); José Martins Catha-
rino ( “In fo rtú n io do Trabalho”); José Reis Feijó Coimbra ( “A cidentes do Trabalho
e M oléstias Profissionais”); Lais Barbosa Ferreira ( “O rganização, F un cio n am en to
e Política de Ação da Reabilitação Profissional do INPS do B rasil”); L uiz Albino
( “R eabilitação P rofissional”); Marigildo de Camargo Braga ( “A cidentes do Traba­
lh o ”); Miguel Augusto Gonçalves de Souza ( “A cidentes do Trabalho”); M ozart Victor
Russomano (“C o m en tários à Lei de A cidentes do Trabalho”); N airL em os Gonçalves
(“A cidente in itinere”); Nise Hamburg ( “A cidentes do T rabalho”); Octavio Bueno
Magano ( “L ineam enlos de In fo rtu n ística”); Oswaldo O ptiz ( “E statização do Seguro
de A cidentes do T rabalho”); Péricles Madureira de Pinho ( “Risco P rofissional”); Ri­
beiro Pontes (“A cidentes do Trabalho”); Rosni Ferreira ( “P revidência Social — Aci­
d en tes do T rabalho”); Teresinha Lorena Pohlmann Saad ( “A cidentes do Trabalho”);
Tiago Ribeiro Pontes ( “A cidentes do Trabalho — C o m en tário s”); Tupinambá Miguel
Castro do N ascimento (“Seguro A cidentário do Trabalhador R ural”); Vera Almeida
( “A cidentes do T rabalho”); Waldemar Silveira — J. J. Gama e Silva ( “A cidentes
do T rabalho e M oléstias Profissionais”) e Walter de Souza Columa (“A cidentes do
T rabalho”).
177. Tem as d iv ersificad o s — A variedade de tem as obriga a decom pô-los em
várias especialidades.
a) seguro-desemprego: Sobre o seguro-desem prego, Celso Barroso Leite (“O Sé­
culo do D esem prego”); Wagner Balera (“O Seguro-D esem prego no D ireito Brasilei­
ro ”); José Paulo Zeetano Chadad (“Seguro-D esem prego: Lições da H istó ria”); Milton
Cabral ( “S eguro-D esem prego” e “Avaliações dos P rojetos de Lei que R egulam en­
taram o Program a S eguro-D esem prego”); W. Galenson ( “Subem prego — Problem a
E stru tu ra l”) e W ladim ir Novaes M artinez (“Seguro-D esem prego — 506 P erguntas
e R espostas”).
b) Ministros de Estado: Entre os m inistros, destacaram -se Reinhold Stephanes
(“Previdência Social — Um Problem a G erencial e E stru tu ral”) e, com o articulistas,
Antonio Britto Filho, Sérgio Cutolodos Santos e Waldir Pires, L. G. do Nascimento e Silva
(“Política de Previdência Social e A ssistência”) e Raphael de Alm eida Magalhães.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 143
c) dicionários e glossários: E ntre os dicionaristas encontram -se: Afonso
Cesar (“Dicionário da Legislação da Previdência Social”); Antonio Carlos Araújo de
Oliveira ( “D icionário de Previdência Social”); Celso Barroso Leite (“D icionário
E nciclopédico de Previdência Social”); Evam ar de Brito ( “P equeno Vocabulário
da Previdência Social”); Gerson Valle (“V ocabulário Trabalhista: D ireito do Traba­
lho, Processo do Trabalho e Previdência Social”); Jacynto Aben-Athar (“Esboço de
Vocabulário da Seguridade Social”, o Prim eiro a U sar a Expressão Seguridade Social);
M arly A. Cardone ( “P equeno D icionário de D ireito Previdencial”); Miguel Orvath
Junior ( “D icionário A nalítico de Previdência Social”); Ney Cordeiro de Meto (“G los­
sário da Previdência Social”) e Rodrigo Garcia Scharz et alii ( “D icionário”).
d) pareceristas: Pareceristas são infindáveis, mas p o ucos publicaram os seus
pensam entos, valendo ressaltar: Adauto Correa M artins e Anníbal Fernandes ( “Re-
quisitório x P recató rio ”); Am auri Mascaro Nascimento ( “Pareceres de D ireito do
Trabalho e Previdência”); Arnaldo Lopes Süssekind e Délio Maranhão (“Direito do Tra­
balho e Previdência Social”); Arnaldo Lopes Süssekind e Luiz Ignácio B. Carvalho
(“Pareceres de D ireito do Trabalho e P revidência Social”); Pedrylvio F. Guimarães
Ferreira (“A ssistência Social e Previdência Social — D istinção”) e Salomão Pinheiro
Mais ( “No C am po da Previdência Social — Pareceres”).
e) teses universitárias: E ntre m uitíssim as, porém pouco divulgadas, as de
Auíhos Pagano ( “N atureza ju ríd ica do Salário-Fam ília”); Cdssio Mesquita Barros Jr.
( “Previdência Social R ural”); Henrique Wilnês ( “Im passes do Sistem a Previdenciã-
rio ”) e Maria Ignez Amadei ( “A uxílio-D oença”).
f) traduções: A lm ir de Andrade (“O Plano Beveridge”) e Bolivar Ferreira Costa
( “E m presa, Trabalho e P revidência") prom overam in úm eras traduções do francês,
espanhol e inglês.
g) aspectos tributários: Aspectos tributários: de vários autores, o “C ontribuições
Sociais — Q uestões Polêm icas” e “C ontribuições Sociais”; Heron Arzua ( “C ontri­
buição ao E studo dos Tributos Parafiscais” e “C ontribuição ao Estudo dos Tributos
Parafiscais: o tributo previdenciário ru ra l”); Geraldo Ataliba ( “Cota de Previdência
Social e A utonom ia M unicipal”); José Eduardo Soares de Melo ( “C ontribuições So­
ciais no Sistem a T ributário”) e Sylvio Santos F aria ( “Aspectos da Parafiscalidade”).
h) direito processual: São raríssim os os trabalhos, convindo, p o r isso, destacar
o “Prática Processual P revidenciária”, de Emerson Odilon Sandin.
i) apostilas para cursos: Dejair Vieira ( “D ireito P revidenciário”) e M. Magalhães
Martins ( “Seguro Social para C oncursos") elaboraram apostilas, geralm ente, para
cursos preparatórios.
j ) publicações diversas: D iversas entidades divulgaram publicações genéricas,
a saber: do MPAS ( “A Previdência Social é Viável”; “A Previdência Social e a Revi­
são C onstitucional — d eb ates”; “A P revidência Social e a Revisão C onstitucional
— Sem inário In tern acio nal” e “A Previdência Social e a Revisão C onstitucional —
P esquisas”); da CAA/RJ ( “P rincípios da Seguridade Social do A dvogado”; “Previ­
dên cia”); do C ongresso N acional ( “H istórico da Lei n. 5 .890/73” e “Legislação”);
da FGV ( “A Previdência Social no Brasil e n o E strangeiro”) e da LTr E ditora (“As­
pectos ju ríd ic o s da N ova P revidência”).

C urso d f D ir e it o P r e v id e n c iá r io

144 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
k) medicina do trabalho: Airton Kwitko (“A udiologia Forense, CAT por Perda
Auditiva, Q uantificação da PAIR, A udiom etria O cupacional, PPP e Ética Médica,
PPP e A udiom etria”); Antonio Bueno Neto — Elaine Arbex Bueno ( “G uia Prático para
Elaboração de L audos e Perícias em M edicina do Trabalho”); C. R. S o u za — J. G. M.
Bento (“N orm as R egulam entadoras C om entadas: legislação de segurança e m edicina
do trabalho”); Edwar Abreu Gonçalves (“M anual de Segurança e Saúde do Trabalho”);
Jacques Sherique (“A prenda com o Fazer”); João Salvador Reis Menezes — N aray Esi-
mar Aparecida Paulino (“NRs em Perguntas e Respostas”) ; M. C. Correa — T.M. Saliba
( “Insalubridade e Periculosidade: aspectos técnicos e práticos”); Raimundo Simão de
Melo (“D ireito Am biental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador”); Sebastião Geraldo
de Oliveira ( “Proteção Jurídica do Trabalhador”); Sebastião Ivone Vieira (“M edicina
Básica do Trabalho”); Tuffi Messias Saliba (“M anual Prático de Avaliação e C ontrole
do R uído”) e W ladim ir Novaes Filho (“Avaliação de Incapacidade Laborativa”).
I) previdência complementar: Adacyr Reis e vários autores ( “F u n d o s de Pensão
em D ebate”); Alm iro Afjonso ( “A Previdência Supletiva no B rasil”); André Franco
Montoro — Cornélia Nogueira Porto ( “P revidência Social e Previdência C om ple­
m en tar”); A rthur Bragança de Vtísconceüos Weintraub (“M anual de D ireito Previ­
denciário P rivado” e “Previdência P rivada”); Augusto Tadeu Ferrari — L uiz Gushi-
ken — W anderley José de Freitas ( “P revidência C o m p lem en tar”); Eliane Romeiro
Costa ( “Previdência C om plem entar na S eguridade Social”); Emilio Recamonde Ca­
pelo (“Benefício P roporcional Diferido na P revidência C o m p le m e n tar”); Everett T.
Allen Jr. — Joseph J. Melone — Jerrry S. Rosenbloom — Jack L. Vanderhei ( “Planos
de A p o sen tad o rias”); Fídvio Martins Rodrigues ( “F undos de Pensão dos Servidores
F ed erais”); João Paulo Rodrigues da Cunha (“(ln)aplicabilidade do C ódigo de Defe­
sa do C o n su m id o r às E ntidades Fechadas de Previdência P rivada”); Manuel Soares
Póvoas ( “P revidência Privada” e “Seguro e P revidência”); M aria da Glória Chagas
Arrucia (“A Previdência Privada A berta com o Relação de C o n su m o ”); M aria Lúcia
Américo dos Reis — José Cassiano Borges ( “F u n d o s de P ensão”); MPS ( “Previdência
C o m p lem en tar — C oletânea das P rincipais N o rm as”); Remígio Todeschini ( “G es­
tão da P revidência P ública e F u n d o s de P ensão”); Rio Nogueira ( “A C rise M oral
F inanceira da P revidência Social”); Voltaire Giavarina Marensi ( “A Nova Lei da
P revidência C o m p lem entar C o m en tad a” e “O Seguro n o D ireito B rasileiro”) e W la­
dim ir Novaes M artinez ( “A P ortabilidade na Previdência C o m p lem en tar”; “P arece­
res Selecionados de Previdência C o m p lem en tar”; “Prim eiras Lições de Previdência
C o m p le m e n tar” e “C om entários à Lei Básica da Previdência C o m p lem en tar”).
178. R ep ertó rio da legislação — R epertórios, sem pre úteis, são devidos a
vários autores, convindo destacar: Adriano Campanhole (“C onsolidação das Leis da
Previdência Social"); Adriano Campanhole e Flilton Lobo Campanhole (“Legislação
da Previdência Social”); Adriano Oliveira Assis (“Legislação da Previdência Social”);
Affonso Caldas Brandão (“R epositório de Previdência Social”); Affonso C ésar ( “Re­
gulam ento da Previdência Social: Dec. n. 60.501, com as A lterações P osteriores”
e “Previdência Social”); Antônio Vicente de Oliveira ( “Tudo sobre Pensões M ilita­
res: co letân ea”); Aristeu de Oliveira ( “C onsolidação da Legislação P revidenciária”);
Arnaldo Lopes Süssekind ( “Legislação da Previdência Social”); B. Calheiros Bomfim

C urso de D ír e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o / — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io

m
( “Nova Lei da Previdência — Lei n. 5.890, de 8/6/73”); Calvino Filho (“SASSE”;
“Lei, R egulam ento e Legislação P osterior Relativa ao IAPI”; “RPS”; “Legislação e
Regim ento In tern o das Caixas de Assistência dos A dvogados” e “CLPS”); Cretella
Júnior (“Lei O rgânica da Previdência Social”); Dario Ricciardelli Neto (“N orm as
C onsolidadas da Previdência Social”); Dccio Ribeiro Costa ( “R epositório do Instituto
dos C om erciãrios”; “M anual Prático dos Segurados do In stitu to dos C om erciãrios”;
“Guia dos Segurados do IAPC” e “M anual dos C ontribuintes do IAPC”); Emílio 5a-
batovski — Iara P Fontoura ( “Legislação Previdenciária”); Fernando Camargo Dias
( “Subsídios Previdenciários à Assem bleia C onstituinte de 1987”); Fernando Camar­
go D ias e César Dias Neto ( “R epertório Previdenciário 1977/ 8 0 ”); Francisco Ignácio
Quartim Barbosa (“N ovo R egulam ento da LOPS”); Gustavo Adolpho Bailly (“Legis­
lação Social Brasileira”); Mário M outinho ( “N ovíssim o R egulam ento da Lei O rgânica
da Previdência Social” e “ Seguro Social dos Estivadores”); Nelson de Azevedo Branco
e Eugênio Luiz Caruso ( “C om erciãrios — R egulam ento do IAP”); Sebastião Valença
(“Novo R egulam ento do Institu to dos C om erciãrios”); Sofia Kaczurowski — Hum ­
berto Superchi (“CLPS — C onsolidação das Leis P revidenciárias”); Victor Valerius
(“Legislação Brasileira da Previdência Social”); W ladimir Novaes Filho ( “Lei Básica
da Previdência C o m p lem entar”) e W ladim ir Novaes M artinez ( “Legislação da Previ­
dência Social R ural”; “Legislação da Seguridade Social”; “Lei Básica da Previdência
Social” e “E statuto dos Servidores Públicos Civis da U nião”).
179. C ad ern o s e o p ú scu lo s — M uitíssim os cadernos e opúsculos: “U m F órum
para a Seguridade Social”; “Previdência Social: R um os de um a T ransform ação”; “A
quem Interessa o D esm onte da Previdência Social”; “P or que D esm antelar a A d­
m inistração P ública”; Hugo M àllm ann Miranda ( “A Previdência Social que Q uere­
m o s”); Euler Ribeiro ( “Em Defesa da S eguridade Social e da S aúde”; “Reform a da
Previdência Social; “C arta dos D ireitos dos Segurados” e “Ciclo de E studos sobre
Seguridade Social”); Epaminondas Nogueira ( “Execução de Benefícios A cidentais e
P revidenciários”); A ntenor Pelegrino ( “T rabalhador Rural E ventual — O rientações
P ráticas”); Antenor Pelegrino e Suely Matheus F. Pelegrino ( “Trabalho D om éstico
— O rientações Práticas à E m pregadora”; “Previdência Social no Brasil — Gestão
ou Reform a”; “Efeitos da Inflação sobre os Benefícios”; “Q uem C ontribui para a
Previdência Social R ural”; “A Seguridade Social nos Anos 9 0 ”; “C om prom isso com
a Sociedade”; “O piniões e Propostas C onstrutivas sobre a Reform a da Previdência
Social”; “U m F ó ru m para a Seguridade Social”; “Projeto de Revisão da P revidên­
cia Social e A ssistência Social”; “Anais do II Sim pósio de D ireito P revidenciário”
e “Sistem a de Benefícios R urais”); Jurema S. Martins Silva ( “O V endedor de Sor­
vetes”); Anníbal Fernandes ( “A Lei de A cidentes do Trabalho” e “Eloy C haves —
P recursor da Previdência Social no Brasil) e W ladim ir Novaes M artinez (“Salário-
-Base — C o m entários ao art. 29 do Plano de C u steio ”; “R ubricas Integrantes e Não
In tegrantes do Salário de C o n trib u iç ão ”; “Prim eiros C om entários ao S ubstitutivo e
Proposta de Em enda à C onstituição n. 33-A, de 1995” e “Propostas de M udanças
na Seguridade Social”).
O In stitu to Brasileiro de D ireito Previdenciário, nos anos 1.985/89, publicou
inúm eros o p ú sculos, valendo destacar os de Antonio de Oliveira Santos ( “Assistência

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

146 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
na Terceira Id ad e”); Arm ando de Oliveira Assis ( “A Problem ática do C ontencioso
A dm inistrativo da P revidência”); Aro Ido Moreira (“Inter-relação d a Previdência Pri­
vada e a Previdência Social” e “O desenvolvim ento do Previdencialism o no Brasil”);
Celso Barroso Leite — Evaristo de Moraes Filho — Sylvio Pinto Lopes ( “Seguro-
-D esem prego”), e do p rim eiro (“Integração do SAT na P revidência Social”); A fonso
Almiro ( ‘‘Raízes Seculares de um D ireito N ovo”; “P rincípios de D ireito P revidenciá­
rio ”; “O Sentido e o A lcance da C onsciência P revidenciária” e “Teoria do Direito
P rev id en ciário ”); Francisco Costa Neto ( “Fontes Form ais do D ireito P revidenciá­
rio B rasileiro”); Enélio Lima Petrovich ( “S urgim ento e D inâm ica do D ireito Previ­
den ciário ”); Jejferson Daiberth ( “A dvocacia na Previdência Social”); José M artins
Catharino ( “Da Relação P revidencial”);José A rthur Rios (“A ssistência e Previdência
Social”); José Ernesto Pereira dos Reis (“A Previdência Privada e o D ireito Previ­
d en ciário ”); José dos Reis Feijó Coimbra (“N atureza Jurídica da O brigação Previden­
ciária"), M oacír Collita (“P ersonalidades em D estaque no P revidencialism o Brasi­
leiro ”); Perpétua Wanderley ( “D ireito Previdenciário B rasileiro”); M oacyr Velloso
Cardoso de Oliveira ( “A Previdência Social na F u tu ra C o n stitu ição ” e “A ap o sen ­
tadoria após o D esligam ento do E m prego”); Wagner Balera ( “C aracterísticas do
Regime P enal P revidenciário”) e o nosso “D ireito P rocedim ental P revidenciário”.
180. Articulistas permanentes — O núm ero de articulistas é infindável. É
lem brado q u em p u b licou pelo m enos três artigos, ou tenba sido citado, não arro ­
lados os in dicados an terio rm en te, classificados em o u tra categoria.
Os principais são: Adelino Monteiro de Barros, Adilson Abreu Dallari, Adriane
Bramante de Castro Ladentihn, Alberto Navarro, Alcides Thom az Lauria, Anacleto
de Oliveira Faria, André C ezar Médici, Antônio Bizerra Machado, Antônio Penteado
de Mendonça, Antônio Kandii; Agostinho Tóffoli Tavolaro, Aluisio Barata, Antonio Carlos
Polini, Américo Miotti de Castro, Clóvis Canellas Salgado, Clovis de Faro, Carlos A.
Clemente, Carlos de Oliveira, Carlos Centile de Mello, Dirce N am ie Kosugi, Eduardo
J. Amadeo, Eugênio Doin Vieira, Erich Willv Olm, Elizabeth Pricoli Viella, Francisco
Adalberto Nobre, Fábio Zambitte Ibrhaim, Faukecefres Savi, Gemy Ribinik, Geraldo
de Castilho Freire, Geraldo Alvarenga, Gilda Maciel Corrêa M eyer Russomano,
Hamilton Nogueira de Freitas, Helena Emiko M izushima Wendhausen, Helga Klug
Doin Vieira, Hélio de Almeida Brun, lvo Duarte Cruz, Inocêncio Mártires Coelfio, Ivan
Rigohn, Isnar dos Reis, Jackson Pereira, Júlio Assumpção Malhadas, José Neves, João
Casimiro Costa Neto, José Dias Corrêa Sobrinho, Ludmila Deute Ribeiro, Luiz Viegas
da Motta Lima, Luiz Fernando Gama Pelegrini, Maria Marta R. Penteado Gueller,
Mário Alves, Maria Garcia, Miriam Costa Rebollo Câmara, Marilene Abreu Couto,
Marilinda da Conceição M. Fernandes, Marcelo Viana Estevão de Morais, Meire Lucia
Gomes Monteiro Fernandes, Nei Cordeiro de Melo, N ey de Fontoura Boccanera, Nilm a
Aparecida Pimenta, Odairde Brito Franco, Pedro Vidal Neto, Rui Caríos Machado Alvim,
Rosa Maria Marques, Rubens de Camargo Mello, Roberto Campos, Rosana Marques
Paulon, Raul Portanova, Rinalva Rodrigues de Figueiredo, Ruy Barbosa Nogueira,
Severino Montenegro, Sônia Kasov Sandoval Peixoto, Vittório Cassone, Vilson Antonio
Romero, Valdir de Oliveira Rocha, Walter Barbosa, Walter Bello Galvão, Wolmar Gottschall
Assumpção, Yoshiaki Ichihara, Wagner Nanneti Dias e W ladim ir Novaes Filho.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 1 — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 147
Capítulo XVIII

C o d if ic a ç ã o e C o n s o l id a ç ã o

Sum ário: 181. Imaturidade da disciplina. 182. Dinamicidade legislativa. 183.


Ausência de estrutura jurídica. 184. Sistematízação dos princípios. 185. In­
definição da técnica. 186. Existência de base. 187. Excesso de normas. 188.
Nacionalização dos regimes. 189. Facilidades de utilização. 190. Codificação
procedimental.

Q uando do exam e de ram o ju ríd ico dinâm ico, discute-se a o p o rtu n id ad e da


codificação (ou preferir-se deixar a legislação esparsa). Parece não haver dúvida
q u an to à necessidade de as leis serem , ao m enos, reunidas ou consolidadas e, em
m atéria de pro ced im en tos, sistem atizarem -se as suas regras.
Às vezes, o elab o rad o r da norm a reú n e os com andos num só docum ento
legislativo. Trata-se de processo incipiente de codificação, m uito útil, especial­
m ente se a disciplina é norm ativa com o a social. Em m atéria previdenciária, o
D ecreto-lei n. 627/1938 foi a prim eira experiência, agrupando incipientes leis das
CAPs (C aixas de A posentadoria e P ensões).
Em ou tras circunstâncias, esse concerto de leis é operado ordenadam ente, e
observados certos preceitos de organização, resultando em norm a geral com carac­
terísticas próprias. E m bora p raticam ente não tendo p roduzido eficácia, é o caso do
D e c re to le i n. 7.526/1945 (Lei O rgânica dos Seguros Sociais do Brasil) e do D ecreto
n. 35.448/1954 (R egulam ento dos lAPs).
E ntende-se p o r lei orgânica o co n ju n to de regras desenvolvido estru tu ralm en te,
disp o n d o sobre m atéria específica e co n stitu íd o de tessitura e feitura norm ativa,
com índice, seqüência, conceitos, norm as gerais e especiais, e autossuficiência.
Por o u tro lado, lei geral é organism o regente dispondo am plam ente sobre o
tem a, regulando to d o s o u os seus principais aspectos.
Lei especial trata sin g u larm en te de certo assunto, particu larizan d o os aspec­
tos da lei geral.
U m a lei extravagante, cu id an d o de d eterm in ad o conteúdo, aborda, tam bém ,
de passagem , o u tro objetivo.

M
C urso de D ir e ít o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir H o v a es M a r iin c z
Estabelecer a n atureza das leis é im p o rtan te q u an d o da análise de sua validade
no tem po.
A p rim eira lei a se u tilizar da qualificadora “orgânica” foi a Lei n. 3.807/1960
(LOPS), p ro tó tip o de todas as seguintes. A presentava n u an ças de lei geral, pouco
faltando para ser u m C ódigo de D ireito Previdenciário. F orm alm ente, vigeu até
24.7.1991, com o advento do Plano de C usteio e Plano de Benefícios (Leis ns.
8.212 e 8.213).
Por m eio da Lei n. 6.243/1975, o P oder Executivo foi autorizado a expedir,
an u alm en te, com pilação classificada de leis (LOPS e m uitas n o rm as su p erv en ien ­
tes), experiência reeditada apenas u m a vez, conhecida com o C onsolidação das Leis
da Previdência Socia! — CLPS (D ecretos ns. 77.077/1976 e 89.312/1984).
Em seu art. 6e, a Lei n. 9.032/1995 m andou atualizar as Leis ns. 8.212 e 8.213,
de 1991 (DOU de 29.4.1995). A publicação carece de título, dificultando a referência.
A adm inistração gestora, desde o IAP1, sem pre teve preocupação de encader­
nar n orm as internas, expedindo atos com esse caráter, convindo lem brar a C onsoli­
dação dos Atos N orm ativos sobre Benefícios — CANSB, os Atos N orm ativos sobre
Benefícios — ANSB (O rdem de Serviço 1NSS/DISES n. 78/1992), a Portaria SPS n.
2/1979, a In stru ção N orm ativa n. 2/1994 etc. Em m atéria de D ireito Previdenciário
Procedim ental, as o p o rtuníssim as Portarias M inisteriais ns. 3.318/1984, 712/1993,
713/1993 e 88/2004.
Sopesada a o p o rtu n id ad e da codificação do ram o ju ríd ico Previdenciário ( “C o­
dificação do D ireito P revidenciário”, in RPS n. 22/20), na ocasião, foram lem bradas
as dificuldades in eren tes a essa tarefa: a) im atu rid ad e da cadeira; b) dinam icidade
legislativa; c) ausência de e stru tu ra jurídica; d) sistem atízação dos princípios; e e)
indefinição da técnica protetiva. Tam bém foram avultadas as razões favoráveis: f)
existência de base; g) excesso de leis; h) nacionalização dos regim es; i) facilidade
de aplicação, integração e interpretação.
181. Imaturidade da d isc ip lin a — O D ireito Previdenciário é ram o novo e
ainda busca id en tid ad e e espaço. A utônom o, porém , nem sem pre invocado q u an d o
da exegese; m u itas vezes, q uando a questão envolve os d ep en d en tes do segurado, o
in térprete prefere socorrer-se do D ireito Civil, ignorando relações típicas relativas
à pensão p o r m orte. Som ente boa d o u trin a e profundos estu d o s sobre a técnica
po d em assegurar am ad u recim en to à cadeira jurídica.
P ouco ou nada se estudou sobre a filosofia e em parte se deve às freqüentes
m odificações dos in stitu to s, desanim ando o pesquisador.
182. Dinamicidade legislativa — Inexiste área do con h ecim en to h u m an o tão
n o rm atizan te q u an to a das relações securitárias, p articu larm en te, a previdenciária.
A in stitu ição é alterada, frequentem ente, na busca do legislador para en c o n trar a
m elh o r solução d ian te da dinâm ica da técnica protetiva, com reflexos no ram o j u ­
rídico. D epois de longa gestação e cuidadosa preparação, editadas as Leis ns. 8.212
e 8.213, em m enos de u m lustro estavam bastan te m odificadas. Todo o m ecanism o
da Lei C o m p lem en tar n. 11/1971, relativa à contribuição ru ral, ab an d o n ad o em
1B. 11.1991, foi restabelecido em 1994.

C urso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 149
183. A usência de e s tru tu ra ju ríd ic a — Não obstante o esforço de Affonso
Atmiro, a teoria do D ireito Previdenciário está por ser desenvolvida a contento
( “Teoria do D ireito Previdenciário B rasileiro”, 1BDP, 1984). Falta consolidar sua
estru tu ra ju ríd ica. Sem tratadistas ou ju rista s de realce, inexistem obras finais
conclusivas sobre a m atéria; com isso, o P oder Ju d iciário tem dificuldades para
co m p reen d er as situações trazidas à discussão. G randes questões estão abertas ao
debate, provocando perplexidades.
U sualm ente, a decadência do crédito previdenciário é tratada com o se a exa­
ção fosse trib u to , p o r falta de dem onstração d o u trin ária da tipicidade da obrigação
fiscal securitária.
184. S istem atízação d o s p rin c íp io s — A d o u trin a não teve a preocupação de
cu idar dos p rin cípios, estu d an d o -o s para desenvolvê-los com o ferram entas úteis.
Inexiste u n iform idade de en ten d im en to qu an to à sua natureza e papel e, frequen­
tem ente, eles são co n fu n d id o s com políticas, providências, m edidas, in stitu to s ju­
rídicos, desprezando-se sua função de po stu lad o fundam ental.
O sim ples exam e do rol elaborado p o r Pedro Vida! Neto, M arly A. Cardone e
ou tro s d em o n stra o descom passo da d o u trin a; à exceção do p rin cíp io da solidarie­
dade, os dem ais não coincidem .
185. In d efin ição d a técnica — S ubitam ente, em 1988 — em bora reclam ada
p o r Moacyr Velloso Cardoso de Oliveira, desde 1944 — , a C arta M agna m u d o u a
designação da técnica protetiva e, de previdência, ela passou à seguridade.
Lagos de tin ta foram gastos diante da dificuldade term inológica para com ­
p reen d er o fenôm eno da proteção social nacional. O p roblem a tran sc en d e à se­
m ântica, pois as obrigações e os d ireitos são d istin to s, conform e o in stru m en tal
referido.
A parentem ente, no Brasil dom ina o seguro social ten d en te à seguridade
social, en ten d id a esta ú ltim a com o form a avançada de proteção, abrangendo for­
m alm ente os serviços de assistência social e de saúde. Para a Lei Maior, ausentes
os princípios da seguridade social, ela não passa de reunião conjugada das três
políticas precedentes. Um código pressupõe técnica perfeitam ente caracterizada
ou ele se desfigura em generalidades. Todavia, sua elaboração pode assinalar a dita
distinção.
186. E x istên cia de base — D esde a LOPS (1960), especialm ente com o ad ­
vento da CLPS (19 7 6 /1984), do Plano de C usteio e do Plano de Benefícios, am bos
de 1991, dispõe-se de base bastante sólida para a codificação da legislação. Basta
acrescer essas leis de postulados gerais, com uns e de superdireito, princípios,
regras de aplicação, integração e interpretação e sistem atizã-los nu m corpo orgânico
e coeso, e ter-se-ã um C ódigo de D ireito Previdenciário.
187. Excesso de n o rm as — O nú m ero elevado de norm as, de diferentes
níveis hierárquicos, am plia o trabalho de consolidação, m as é a principal razão de
ser do código. A m udança nas alíquotas de contribuição ou no cálculo dos benefícios,

C u r s o d f. D í r f .i t o P r e v id e n c iá r io

150 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
alteráveis p o r lei ou decreto, n ão interfere em sua elaboração, pois, p o r definição, o
código é a fixação de p o stu lad o s fundam entais do ord en am en to jurídico.
188. N acio n alização d o s regim es — U m código nacionaliza e federaliza a
c o b e rtu ra se c u ritá ria . P ressupõe u m a só lei p ara todas as pessoas, e é aplicável
a todos os en tes políLicos. N ão só desconstitucionaliza a previdência social, com o
dá grande passo para a sua universalização.
189. F acilid ad es de u tilização — A sistem atízação da legislação, subm etida a
u m c o n ju n to o rd en ad o de regras, torna m ais fácil a aplicação d a lei ordinária, sua
integração n o caso de lacuna e a in terpretação diante da dúvida, bastan d o , para
isso, a fixação de d itam es próprios.
190. Codificação procedimental — Em diversas o p o rtu n id ad es, o MPS sin ­
tetizou as n orm as aplicáveis em m atéria de Direito Previdenciário P rocedim ental,
com b o n s resultados. N em poderia ser diferente, pois, nesse dom ín io , a u n ifo rm i­
dade no an d am en to dos processos é im prescindível à sua regularidade e observân­
cia dos prin cíp io s da defesa e do contraditório.
Esse processo avançou com a Lei n. 9.784/1999 e a P ortaria MPS n. 88/2004.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o l — N o ç õ e s d e D i r e ito P r e v id e n c iá r io 151
Capítulo XIX

R e l a ç ã o J u r íd ic a d e S e g u r id a d e S o c ia l

S u m a r i o : 191. Polos relacionados. 192. Natureza do vínculo. 193. Objeto da


técnica. 194. Alcance instrumental. 195. Financiamento do custeio. 196. Pres­
tações disponíveis. 197. Características próprias. 198. Estrutura básica. 199.
Integração e interpretação. 200. Papel do Estado.

A p artir da C o n stituição Federal de 1988, co nvencionou-se designar de se­


guridade social ao co n ju n to integrado de três técnicas protetivas precedentes: p re­
vidência, assistência e saúde. Para alguns, os serviços sanitários com preendidos
did aticam ente na assistência social.
Os referidos in stru m en to s efetivam -se m ediante m inistérios gestores e entes
governam entais ad m in istradores, isto é, com azienda singular. Todavia, dessa som a
de políticas nacionais específicas, a seguridade social, entendida com o sistem a,
apenas etnerge no C onselho N acional da Seguridade Social, organism o colegiado
paritário co n tid o no MPS, desaparecido com a M edida Provisória n. 1.799-5/1999.
Fora da concepção d o u trin ária e do texto legal, ela nào tem corpo.
C o m p reendendo-se a relação jurídica com o elo entre pessoas, não exisLe a
de seguridade social, pois esta últim a não é en tid ad e m aterializada, m as plano
program ático dividido, com o antecipado, em três ord en am en to s reais. C om o carta
de intenções, d ecom posta conform e situação enfocada, subsiste vínculo form al,
tom adas as características e diferentes aspectos genericam ente, p o dendo m elhor
visualizar-se em cada um a das diferentes técnicas.
Por isso, o exam e da relação jurídica de previdência, assistência ou saúde,
em p reendido no cap ítulo seguinte, representa continuação e esm iuçam ento da
relação ju ríd ica de seguridade social e, pela proxim idade com o interesse m aior, ah
é desenvolvida sistem aticam ente.
José Reis Feijó Coimbra prefere a expressão “regra ju ríd ic a ”, em vez de “relação
ju ríd ic a ”. Para ele, acostando-se a C unha Gonçalves (“Tratado de Direito C ivil”,
p. 332), relação jurídica é “um a relação inter-hum ana, tornada de social em jurídica
pela incidência da norm a, relação suscitada pela ocorrência de contato que a regra

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

152 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
ju ríd ic a in teg ro u no m u n d o do D ireito e por força do qual certo sujeito poderá
exigir de o u trem um a alitu d e ou um a p restação” (“N atureza ju ríd ica da obrigação
previdenciária”, in RPS n. 50/3).
191. P olos re la cio n ad o s — A relação ju ríd ica de seguridade social dá-se e n ­
tre dois sujeitos distintos: a) o órgão gestor, representado p o r pessoa ju ríd ica de
direito pú b lico ou p rivado (fundação ou associação civil), organism o central do
governo, au tarq u ia e, p o r delegação, até entes descentralizados; e b) os d estin atá­
rios da proteção social, isto é, co n trib u in tes ou beneficiários, conform e cada o rd e­
n am en to, seg u rad o s e dependentes, em m atéria de previdência social, assistidos,
no tocante à assistência social, atendidos, q u an to às ações de saúde.
E x cepcionalm ente, envolve outros interessados não c o n trib u in tes n em b en e­
ficiários. In d iv íd u o s especificados o p o rtu n am e n te , q u an d o do estu d o dos sujeitos
co rresp o n d en tes aos três in stru m en to s.
192. N a tu reza d o v ínculo — O vínculo entre essas partes é ju ríd ico . O briga
a am bos, ad m in istrad o r e adm inistrado, entidade e particip an te o u co n tratan te e
co ntratado.
R elativam ente ao órgão gestor, ele se apresenta com o credor de obrigações
fiscais ou civis p rin cip ais e acessórias e devedor de prestações. Sujeita-se, da m es­
m a form a, à determ in ação legal ou co n tratu al, forçado a exigir a contribuição e
on erad o com o dever de propiciar os benefícios (q u an d o do direito subjetivo). Não
pode rejeitar a relação, se legítim a, m esm o em se tratan d o de m au risco.
Do p o n to de vista do destinatário da n o rm a ju ríd ica, o elo pode ser de dois
tipos: a) direito subjetivo; e b) potestade.
No p rim eiro cenário, especialm ente na previdência social, p reen ch id o s os re­
qu isitos legais, os segurados e d ep en d en tes têm direito ou direito adq u irid o , e a
prestação tem de ser atendida. Som ente as condições econôm icas do País, d em o n s­
tradas à exaustão, podem elidir esse ônus. isso tam bém vale na assistência social.
Na segunda situação, p articu larm en te nas ações de saúde, subsiste potestade,
isto é, o ente p olítico está sujeito a m in istra r o aten d im en to na m edida de sua ca­
pacidade in stalada ou local.
193. O b jeto da técnica — O objeto da segurid ade social, de m odo geral, é en ­
sejar os m eios de subsistência à pessoa h u m an a nas hipóteses e níveis definidos na
lei. Em alg u n s casos, oferecer garantia de sobrevivência e, em outros, o m ínim o de
aten d im en to à saúde. No prim eiro, p ropiciar a su bstitutividade da base d e cálculo
da co n trib u ição e, no segundo, valor tarifado (u su alm en te, m ínim o).
G eralm ente, o p era p o r m eio de prestações em dinheiro, benefícios de paga­
m ento ú n ico ou co n tin u ad o e de serviços, oferecidos d iretam en te ou m ediante
delegação a terceiros.
Am plia-se para as diárias, despesas de viagem , reem bolso de despesas m é­
dicas e in tern ação em hospitais, circunscritos estes últim o s cuidados à previsão
orçam entária. Alargada ainda m ais em seu conceito, pode abrigar em préstim os
im obiliários e fin an ciam entos de casa própria, concessão de bolsas de estudo etc.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io
194. A lcance in stru m e n ta l — A seguridade social com preende os universos
da previdência, assistência e saúde. Seus co ntornos, n atu ralm en te em ebulição,
são de difícil precisão. O s in stiíu to s técnicos laborais, m u ito s deles caracteristica-
m ente protetivos, provocam dissenção sobre estarem ou não sob seu abrigo. Dã-se
exem plo com o FGTS, su b stitu id o r da indenização trabalhista, verdadeiro salário
diferido. O utro caso é o papel, tido com o institucional, dos fundos de pensão,
com o aplicadores de capitais.
O destino da seguridade social, atingida pelas transform ações econôm icas e
sociais e a dinâm ica da globalização do intercâm bio in ternacional afeta, da m esm a
form a, o seu papel e, co n seq u en tem en te, a natureza da relação jurídica. As duas
últim as décadas foram de revisão do m odelo e de subm issão à prevalência d o eco­
nôm ico sobre o social. Em lodo o m undo, a técnica está sendo rem odelada e ad e­
quada às novas circunstâncias e, tu d o isso, refletindo-se no D ireito Previdenciário.
195. F in a n ciam en to do cu steio — O custeio da seguridade social dá-se m e­
diante recursos p rovenientes do indivíduo, ditos dele p ró p rio , e da sociedade da
qual tam bém é p articip an te e do governo (o u tra vez, da sociedade). Mas sem pre
riquezas criadas pelo hom em . F orm al e co ntabilm ente, o riu n d o s de várias fontes,
conform e desem bolso direto (cotizaçâo pessoal) e indireto (colização com o c o n ­
sum idor).
Valores capitalizados e algum rendim ento da aplicação dessas im portâncias,
ju ro s, m ulta, acréscim os de toda ordem , recebidos in natura (dação em pagam ento)
ou em espécie, m ediante pagam entos ou depósitos, obtidos adm inistrativa ou ju d i­
cialm ente, nos prazos da lei ou após, m ensalm ente ou p o r m eio de parcelam ento.
196. P restaçõ es d isp o n ív eis — As prestações da seguridade social variam
conform e a técnica enfocada. Lim itadas na assistência social (Lei n. 1 0 .7 4 Í/2 0 0 3 ),
reduzem -se a pequenos benefícios em dinheiro, geralm ente de valor m ínim o, e
alguns serviços. Da m esm a form a, reduzidos nas ações de saúde, consistentes em
aten d im en to sanitário, rem édios, atenções am bulatoriais, exam es etc.
Na previdência social, têm nú m ero e alcance m aiores. São previstos benefícios
de pagam ento co n tin u ad o ou de pagam ento único, em din h eiro , e alguns serviços.
Tais prestações, co n ceitualm ente, diferem das concedidas aos assistidos e aten d i­
dos, so b retu d o p o r sua natureza jurídica.
197. C a ra cterísticas p ró p ria s — P ropriam ente não existem características da
seguridade social, se analisadas objetivam ente; são todas as de seus in stru m en to s
básicos. C oncebida com o espécie avançada em relação à previdência e não com o
gênero (corrente prevalecente), ela se apresenta com postulados ínsitos. Um deles,
o direito d ep e n d er da necessidade e a obrigação su b sistir graças à capacidade.
Todavia, conform e o ordenam ento constitucional, o estudo passa pelas téc­
nicas e, então, as nu an ças são as m esm as dos entes com ponentes, convindo des­
tacar, à guisa de exem plo, ser intuitu personae (com o é a própria proteção). Isto
é, realiza-se em função da pessoa h um ana; desaparecida esta (titu la r ou terceiros
in teressados), não tem objetivo o seu desenvolvim ento.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

154 W líiíiim ir N o v a e s M a r t i n e z
Q u an d o se d iscu te o aspecto filosófico do direito da m ariticida com vistas à
pensão p or m orte, na discussão interessa não a in trig an te questão aí p resen te —
isso é reservado aos debates acadêm icos operados em eventos científicos — , m as a
situação da p retensa titu lar ao benefício.
O estu d o da relação ju ríd ica deve vincular-se à finalística das diferentes téc­
nicas, o u seja, à ideia de proteção. Q uando do exam e dos polos (quais pessoas
com p reen d id as na relação substantiva ou adjetiva), é im p o rtan te levar em conta
a n atureza do in stru m en tal. Se previdenciário, os en cam in h am en to s serão uns;
ou tros, se assistenciários. No cuidado m édico, a prem ência da utilização é fu n d a­
m ental: atende-se p rim eiro e verifica-se o direito depois.
198. E s tru tu ra b ásica — P ertin en tem en te a cada pessoa, a relação ju ríd ica
de seguridade social inexiste, nasce, prolonga-se, extingue-se e até renasce, co n ­
form e diferentes circunstâncias fáticas. F req u en tem en te, essa transição é associada
a ideias de filiação, inscrição, qualidade de segurado etc., expectativa de direito e
direito ad q u irido. P resum ida adjetivam ente q uando da petição inicial, a ser decla­
rada ou co n stitu íd a em alguns casos, subm ete-se todo o tem po ao crivo do aplica-
dor, in teg rad o r e intérprete.
Inocorre q u an d o ausentes os pressu p o sto s legais definidores sob a vigência da
no rm a ao tem po dos latos. N ascida, isto é, iniciada exata e precisam ente segundo
a volição do legislador, ao se realizar o fato determ in an te, variável em cada in s tru ­
m ental securitário, p o rém , perfeitam ente apurável m aterialm ente e apta a pro d u zir
efeitos. M antida, en q u an to p ersisten te a causa deflagradora, às vezes, é su sten tad a
p o r algum tem po sem a base, p o r força da ideia protetiva. E xtingue-se, n a tu ra l­
m ente, com a m orte do sujeito, perda da razão de ser da prestação, substituição
p o r o u tra form a de cobertura, extinção natural do m otivo provocador. P odendo
renascer se, o u tra vez, reunidas a exigências legais.
Em v irtu d e de d ep en d er de fatos ou conceitos científicos, é tarefa onerosa ao
ap licad o r sab er se p resen te a relação ju ríd ica, válida ou sustentável. Daí p o r que,
em quase todas as petições iniciais, arguições prelim inares de toda ordem , a serem
enfrentadas p o r q uem de direito.
199. In teg ração e in te rp re ta ç ã o — A integração e a in terpretação da relação
ju ríd ica de seguridade social são feita considerando-se tratar-se de fenôm eno adje­
tivo. N ão se co n fu n d e com a p ró p ria seguridade social, nem com suas três v erten ­
tes, m as está evidente, praticam ente, sem q u alq u er distinção no tocante às relações
ju ríd icas de cada um a delas.
E xem plificativam ente, q uando se fala em contribuição para a seguridade
social, não se está alu d in d o em cotização à previdência social. M as, de qualquer
m odo, ab strain d o a entidade destinatária dos recursos, a relação obrigatória é a
m esm a da previdência social. A exegese deverá se ad eq u ar a cada área, e, no m esm o
dom ínio, caso dos benefícios, conform e divisões próprias, co m p o rtan d o u m a ou
o u tra versão.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 155
200. Papel do Estado — O Estado, às vezes, com o parte (q u an d o propiciador
de relações econôm icas), form ula a relação jurídica. M anifesta-se p o r m eio dos
três poderes co n stitucionais, n orm atizando, aplicando e in terp retan d o as norm as
ju ríd icas incidentes.
Fá-lo sob o escopo elevado de co o rdenador das ações, em bora p o r m eio do
P oder Executivo, historicam ente, desfrute de enorm e ím peto na elaboração dos
projetos de lei.
Deve proteger a existência da relação, assegurá-la com o conveniente à técnica
protetiva, p reo cu p an d o-se em fixar-lhe o verdadeiro papel, im pedindo sua subm is­
são às políticas econôm icas ou fazendo-a prevalecer sobre interesses m aiores da
nacionalidade.
Dã-se exem plo da questão do respeito ao direito adquirido em relação à Carta
M agna. Não é fácil a posição do E stado diante da possibilidade de serem perfi­
lhados raciocínios ou en cam in h am en to s apenas ju ríd ico s (m antendo-se o direito
adquirido) ou unicam ente econôm icos (acabando com eles).

C urso p r D ir e it o P r e v id e n c iá r io

156 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo XX

R e l a ç ã o J u r íd ic a d e P r e v id ê n c ia S o c ia l

201. R e l a ç ã o j u r í d i c a d e f i l i a ç ã o . 202. R e l a ç ã o j u r í d i c a d e i n s c r i ç ã o .
S u m a r io :
203. Relação jurídica de custeio. 204. Sujeitos da relação jurídica de custeio. 205.
Finalidade da relação jurídica de custeio. 206. Relação jurídica de prestações.
207. Sujeitos da relação jurídica de prestações. 208. Objetivo da relação jurídica
de prestações. 209. Vínculo entre contribuição e prestação. 210. Presunções
pertinentes.

Direito Previdenciário é a ciência ju ríd ica correspondente à previdência social;


esta, u m a in stitu ição de iniciativa e dinâm ica governam ental (h o d iern am en te, ce­
leb ran d o parceria com o particu lar), revestida de características próprias. N ecessa­
riam en te envolve-se com o financiam ento (acostando-se, n atu ra lm e n te , às ideias
econôm icas e exacionais) e com os beneficiários, pessoas físicas, os destinatários
finais de todo o esforço en tre as gerações sociais do País.
O órgão gestor da previdência básica, o o u tro polo, nas ú ltim as sete décadas,
tem sido au tarq u ia federal, isto é, pessoa ju ríd ic a de direito público. P or força da
o b rigatoriedade da participação, com pulsoriedade da proteção, observância de re ­
gras ex p ro p riató rias e aten d im en to dos pressupostos legais, isto é, em v irtude da
severa subm issão ao o rd en am en to norm ativo, estabelece-se n ítid o vínculo en tre as
pessoas envolvidas.
Caso p articu lar da relação jurídica de seguridade social, a de previdência so­
cial dá-se en tre sujeitos definidos na lei. São pessoas físicas e ju ríd icas, nom inadas
d iferentem ente, conform e cada dom ínio científico (v. g., filiação, inscrição, c o n tri­
buição e benefícios), desdobrando-se seg u n d o inúm eros in stitu to s.
A lguns in stitu to s agora desenvolvidos e outros, em face da proxim idade, com
a técnica p ro p riam en te dita.
201. R elação ju ríd ic a d e filiação — Filiação, elo estabelecido entre pessoa
física — o beneficiário — e pessoa ju ríd ic a gestora, é im posta p o r lei, u m liam e
com a pro teção sujeita à norm a.
ti) noção mínima: Filiação é estado ju ríd ico p ró p rio do segurado. Este se diz
filiado ou não. V ínculo ligando o trab alh ad o r protegido ao sistem a é, sobretudo,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io

a condição assecuratória do direito subjetivo às prestações. A expressão “filiação”
reflete aproxim ação do sistem a previdenciário e perm anência neste; encerra ideia
estática, de início, e dinâm ica, de m anutenção.
Podem -se filiar as pessoas físicas — n u n ca as ju ríd icas — , que exercem ati­
vidade rem u n erad a e, excepcionalm ente, o não praLicante de esforço o u atividade
laborai.
b) tipos; Q u an to à sua natureza, a filiação pode ser obrigatória — regra de
ou ro do seguro social — ou facultativa, esta co n stitu in d o exceção. O s regim es
previdenciários são in sitam ente im positivos, abrigando em seu seio, apenas para
m elhor propiciar a proteção, a filiação segundo a vontade pessoal.
A filiação obrigatória reflete a im positividade do sistem a, seu sustentáculo
m aior. A filiação facultativa d em o n stra sua liberalidade, in stitu íd a para viabili­
zar in d iv id u alm en te a proteção do cidadão em circunstância atípica. Exigidas a
subm issão do in d ivíduo à instituição, ao com ando legal, e a incidência de norm a
pública, da filiação defluem inúm eras obrigações e direitos, conseqüências, efeitos
m ateriais e jurídicos,
A facultativa é a m esm a filiação, perm itida a certas pessoas. Elas resolvem se
se filiam e, q u an d o o fazem, poderão se afastar, sem pre p o r sua expressa vontade.
N o caso, co rresp o n d en d o a ingresso alternativo, p erm anência tem porária no re­
gime: do p o n to de vista prático, a facultatividade é só de adm issão; para fruir os
direitos, é preciso continuar,
O seu traço m arcante é a volição. É fundam ental o arbítrio do filiado. O m esm o
não sucede com a obrigatória, na qual o desejo da pessoa não influi; se ela cum pre
o pressuposto, está filiada.
Ser ad m itid o no sistem a e ficar praticam enLe subm etido a ele, sujeito a diver­
sas im posições, é p ró p rio da técnica protetiva.
Além da co m p u lsoriedade e da facultatividade, elem entos respectivos, aliás,
essenciais dessas filiações, no cam po do direito obrigacional, a relação não apre­
senta características de contrato, en q u an to a jacente entre o facultativo e o órgão
gestor assum e certa fração desse aspecto.
De qu alq u er form a, em am bas as hipóteses, não se pode propriamenLe falar
em acordo de vontades, pois o ente ad m in istrad o r não tem liberdade para recusar
n en h u m a das duas filiações.
c) filiações especiais: Não existem filiações especiais. Ela é única, sim ples,
em bora reeditável sucessiva e até sim ultaneam ente. Vigem, isto sim , vários regi­
m es co n trib u tiv o s e de prestações, nu m a palavra, inúm eros planos de previdência
social.
N um regim e geral, convivem os ditos especiais, específicos de algum as ca­
tegorias, m as a filiação é igual para todos. N acionalm ente, co m pondo o sistem a
protetivo, en contram -se regim es m unicipais, estaduais, do servidor público civil e
m ilitar e do parlam entar, adm itindo-se ingresso em cada um deles.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

158 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
d) automaticídade: A utom aticidade é ju íz o de u m evento em relação a outro.
Dois acon tecim en to s, em função do tem po, são sim ultâneos o u sucessivos. Q uanto
à deflagração, po d em ser co n co m itan tes ou não.
R eportando-se ao exercício profissional, a filiação o brigatória é dita au to m á­
tica. Ela sc su p erp õ e à atividade; q uando a segunda se dá, sobrevêm igualm ente a
prim eira. T em poralm ente falando, iniciando-se o trabalho, com eça a filiação. P rati­
cado o ato p ressu p o sto , ou seja, a condição geradora da filiação, autom aticam ente,
sem q u alq u er o u tra providência, apenas p o r vontade da lei, a pessoa está agregada.
Sua eventual liberdade cinge-se ao ato de provocar a circunstância configurante.
Presente esta, em razão dela m esm a e da incidência da norm a, nasce no m esm o
m o m en to esse estado jurídico.
e) início, duração e termo: A filiação surge n o exalo instante do início da ati­
vidade abrangida pelo regime; para o em presário e para o em pregado, tem porário,
avulso e dom éstico, respectivam ente com a ab ertu ra da em presa o u o trabalho
g aran tido r da percepção da rem uneração; para o autô n o m o , na data do início do
labor registrado em d o cu m en to de inscrição nos entes m unicipais; para o eclesiás­
tico, a p artir da ordenação (não in clu in d o o período de to n su ra).
Basicam ente, a filiação perd u ra en q u a n to p ersistir o su pedâneo legalm ente
d eterm in an te e tam bém nos períodos de m anutenção da qualidade de segurado,
pro lo ngando-se, n atu ralm en te, d u ra n te o recebim ento dos benefícios.
A extinção dá-se p o r várias causas: a) a m orte, o fim de tu d o na Terra (e o co­
m eço de m u itas coisas, in clu in d o prestações); b) a perda da qualidade de segurado;
c) não reco lh im en to de certo núm ero de co n tribuições m ensais p o r parte do fa­
cultativo; d) a cessação da atividade abrangida pelo regim e. Ela pode ser reeditada
indefin id am en te, tantas vezes se repitam as condições determ inantes.
J) recusa de acolhimento: A filiação obrigatória dep en d e apenas da vontade do
legislador; não observa a opinião do segurado nem a do órgão gestor. Este não pode
recu sá-la, q u an d o regular, n em m esm o com base em razões atu ariais (n ão so p e­
sadas pelo elab o rad o r da n o rm a). M esm o n a facultativa, q u an d o prevalece a v o n ­
tade da pessoa, não pode o órgão gestor furtar-se à sua concretização.
N a hipótese de não proteção (não concessão de benefício p o r incapacidade a
q uem ingressa in capaz), d esn aturando-se, em princípio, sua razão de ser, tam bém
se im põe a filiação.
g) finalidade do instituto: São inúm eros os fins colim ados, m as o principal
deles é envolver a pessoa no seguro social. Os hab itan tes de u m País são filiados
ou não filiados. O vín culo determ ina o direito: os filiáveis não filiados não o têm
(salvo na h ipótese de ser d ep endente). Q uem está vinculado, m esm o não inscrito,
faz ju s; para exercer o direito, é necessário se inscrever, providência tom ada até
tardiam ente.
h) presunções inerentes: Poucas presunções jurídicas favorecem a filiação, m as
beneficiam -na algum as adm issões lógicas. De regra, todo trabalho h u m an o deve
ser protegido (devendo, então, buscar-se a solução legal).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 1 — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 159
G lobalm ente co nsiderada, a filiação não se presum e, tem de ser dem onstrada.
Existe ou não existe, se faltar su sten tácu lo m aterial — labor rem unerado ou v o n ­
tade pessoal — , não p ro d u z efeitos, não gera obrigações nem direitos; porém , se
p resente, não pode ser anulada p o r ato algum , en q u an to vigente lei definidora das
exigências m ateriais e as condições de m anutenção.
i) pressuposto material: É o trabalho, o exercício de atividade laborai. Sem o
trabalho co n tem plado na lei, não h á filiação, pela sim ples razão de, na sua falta
ou im possibilidade, acionar a proteção, sobrevindo, co n sequentem ente, recursos
(prestações) capazes de su b stitu ir os m eios de subsistência.
O trabalho é o p rin cip al responsável pela criação de riquezas, do bem -estar
da sociedade, do progresso, do avanço da civilização e do engrandecim ento do
ser hu m an o . A previdência social, além de o u tras funções, retrib u i socialm ente ao
ho m em o seu esforço.
Não é q u alq u er trabalho, o prestigiado é o labor profissional e até, em alguns
casos, o arlesanal, m as o rem unerado. O em p en h o sub o rd in ad o ou independente,
m as profissionalizado. Isto é, p o r conta de terceiros ou para estes, sendo im pres­
cindível ser retribuído.
Uma dedicação abnegada, filantrópica, am orosa, esportiva, religiosa, estudantil,
em m u tirão etc. n em sem pre é tutelada pelas leis trabalhistas ou previdenciárias.
Dessas entregas h u m anas, algum as autogratificantes, não cuida a previdência so ­
cial, salvo q u an d o as excetua, caso do eclesiástico e do estudante. Estes, no sentido
estrito, não trabalham ; as atividades hu m an as protegidas e retribuídas são o m inis­
tério religioso e o estudo.
A base da filiação é o trabalho rem u n erad o , m elh o r dizendo, o rem unerável.
M esm o na h ipótese de — p o r qu alq u er m otivo — a pessoa não conseguir receber
a retribuição, se esta, em princípio lhe é devida, está em estado de filiado.
j ) situações especiais: De regra, a filiação perd u ra d u ra n te o exercício da ativi­
dade laborai; ex cepcionalm ente, porém , ela prossegue em o u tras circunstâncias.
D urante a percepção d os benefícios, m antém -se a filiação.
Exprim e a relação ju ríd ic a previdenciária, não se p o d en d o aludir a ela em
relação à renda m ensal vitalícia ou pensão ligada à Síndrom e da Talidom ida, b en e­
fícios assistenciários.
O direito ad q u irid o é responsável p o r situação particular. Após a perda da
qualidade de segurado, m esm o passados m uitos anos, quem preencha os requisi­
tos legais tem as prestações asseguradas, iniciando-se o benefício q u an d o de sua
solicitação e restabelecendo-se então aquela filiação.
Q u an d o o aposen tado volta a trabalhar, não m antém duplo vínculo de filia­
ção. Ele é o m esm o, intuitus personae, e o beneficiário é u m só. A volta ao trabalho,
com ou sem pecúlio, não im plica acum ulação da filiação.
k) vínculo do dependente: D ependente é pessoa econom icam ente subordinada
a segurado. C om relação a ele, é m ais próprio falar em estar ou não inscrito ou
situação de q uem m antém a relação de dependência ao segurado, ad q u irin d o -a ou

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«o W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
perdendo-a, nao sendo exatam ente u m filiado, pois este é o estado de quem exerce
atividade rem u n erad a, em bora não passe de convenção sem ântica.
I) aspectos jurídicos: Q uase toda a legislação previdenciária contém norm a
pública. A filiação, berço da relação ju ríd ica, sem dúvida algum a, é objeto desta.
Uma im posição do legislador, sem pre prevalece o interesse d a coletividade sobre
o do particular.
E stado ju ríd ic o identificador da ligação entre o beneficiário e a instituição, a
filiação é ad m in istrad a pelo órgão gestor. ínsita e tão óbvia, dispensa fund am en to
norm ativo.
Pode ser evidenciada por todos os m eios de prova ad m itid o s em D ireito, espe­
cialm ente o m aterial, acolhido o testem unhai, se presentes indícios do prim eiro. A
q u alq u er tem po, a dem onstração p o d e ser feita, m as os direitos d eco rren tes podem
prescrever.
202. R elação ju ríd ic a de in scriçã o — Inscrição é ato n itid am en te adm inis­
trativo e form al, providência d e iniciativa do interessado, hom ologada pelo ente
cadastrador. In stru m en to pessoal de qualificação, ela autoriza a utilização dos ser­
viços ou a percepção de benefícios em d in h eiro postos à sua disposição.
Na seqüência tem poral da relação ju ríd ica de previdência social, é o terceiro
m om ento, p o stan d o -se após o trabalho e a conseqüente filiação.
S o b retu d o , prova fácil e g aran tid a da filiação, te ste m u n h o p re su n tiv o do
vínculo ju ríd ic o , ju n to à Previdência Social.
Por m eio do d o cu m en to com probatório, o beneficiário identifica-se perante
os órgãos ad m in istrativos e nele é registrado.
E m bora o direito às prestações esteja calcado fu n d a m e n talm e n te n a filia­
ção, a in scrição to rn a possível o seu exercício. Para os co n trib u in te s individuais,
a carência — u m d o s req u isito s básicos exigidos — conta-se a p artir desse ato
form al. Para estes seg urados, o registro é im p o rtan te p o rq u e , excepcionalm ente,
em certo s casos, fu n d am en ta o direito, e n q u a n to para os d em ais não passa de
con d ição reclam ada apenas para o exercício. O s co n trib u in te s in d iv id u a is devem
inscrever-se — m ed ian te o p agam ento de co n trib u içã o — logo n o início da ativi­
dade, pois, com o d ito , o n ú m ero m ínim o d e co n trib u içõ es exigidas com puta-se
a p a rtir de então.
A inscrição é in stru m en to do exercício do direito às prestações, en tretan to ,
esse p o d er não se assenta sobre ela. Todavia, repete-se, a ela o to rn a exeqüível.
Além de exigência, n atu ral e lógica, facilita o relacionam ento do beneficiário com
o órgão gestor; identifica-o e qualifica-o com o pessoa com pretensão a benefício ou
serviço, sem necessidade de o u tras providências.
a) pressuposto: O p ressuposto da inscrição é a filiação. N orm alm ente, aquela
se efetiva p o r m eio da vontade do obreiro, m as, nem p o r isso, a volição é o seu
p ressuposto m ais próxim o. Sem a base m aterial não há validade na form al. A usente
esse requisito básico, não deflagra efeitos.

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T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
Q uando indevida, não produz resultados jurídicos. Se não hã filiação ou se a
inscrição padece de vício insanável, ela não é regular, e obsla a fruição das prestações.
D esacom panhada de au tên tica filiação, é nula. Se não é capaz a pessoa inscrita
ou se não está elencada na lei, é considerada igualm ente sem valor.
É possível anulá-la. Se o ato não se reveste dos requisitos legais, se viciado,
não refletindo situações descriLas na norm a, pode ser desfeito.
Por o u tro lado, en q u a n to não feita, ela inexiste, não tem eficácia, não garante
os direitos inerentes àquela prom ovida regularm ente.
b) diferença entre inscrição e filiação: E m bora a filiação, em geral, represente
fato p erten cen te ao m u n d o m aterial — o trabalho rem u n erad o — , sucede in d ep en ­
den tem en te da vontade do filiado (“Relação ju ríd ic a de filiação”, in RPS n. 54/175).
A inscrição, m esm o m aterializada na docum entação, é ato form al, prom ovido pelo
beneficiário. Filiar-se acontece no universo físico, en q u a n to a inscrição se opera
form alm ente. A filiação é estado ju ríd ico do trabalhador, decorrente do exercício
de certas atividades e de disposições legais.
A filiação é autom ática: configura-se, nasce ao m esm o tem po do trabalho, sem
necessidade de ser declarada; a inscrição é providência de iniciativa do obreiro (ou
de ofício, do órgão gestor), perpetrada ou não no início do labor.
Exigência da titularidade (sem a filiação não há direitos ou obrigações previden-
ciários), inscrever-se é pressuposto da prática desses direitos e obrigações. A filiação
é logicam ente anterior à inscrição (e, cronologicam ente, n u n ca pode ser p osterior a
ela). A segunda só é válida quando existente a prim eira. Da filiação, nunca se pode
dizer ilegítima (pois só os atos se sujeitam a serem considerados legítim os ou ilegí­
tim os); a inscrição pode ser julgada ilegítim a e ser, consequentem ente, invalidada.
c) anterioridade: A filiação u sualm ente precede a inscrição. O inverso desna-
lura e desqualifica esta ultim a. No m áxim o, caso do facultativo, elas poderão ser
sim ultâneas. Inscrever-se é ato-fato adm inistrativo e ju ríd ico im pelidor da filiação,
devendo cifrar-se a sua autom aticidade, a contar da inscrição. Inverte-se um pouco
a ordem tem poral da relação ju ríd ica: vontade, inscrição-filiação ao m esm o tem po,
depois a co ntribuição e, em seguida, as prestações.
A inscrição sem a an terio rid ad e da filiação não p ro d u z efeitos. D urante o p e­
ríodo de inexistência da filiação, se prom ovida a inscrição, esta é indevida. Se o ato
ou efeito de filiar-se sobrevêm , a inscrição regulariza-se a p artir daí, devendo ser
revistos todos os pro cedim entos praticados no lapso de tem po de irregularidade
ou prosperados com base nela.
d) obrigatoriedade formal: A inscrição é obrigatória, m as a com pulsoriedade
ou a facultatividade associa-se a algum referencial. Q uando a lei im põe, porém ,
não sanciona, do p o n to de vista prático, a exigência perde expressão. N inguém está
sujeito a inscrever-se, não p o dendo ser p u n id o com m ulta se não o fizer. A sanção
consiste na dificuldade em exercitar o direito ou vir a perdê-lo, em alguns casos.
E m bora sua falta não seja pu n id a de pronto ou im ediatam ente, a inscrição é
preceiLuada com o condição para o exercício dos diversos direitos.

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162 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
A rigor, n ão exisle inscrição facultativa, ela só acontece q u an d o aco m panha­
da dessa m o dalidade de filiação. Am bas são sim ultâneas e d ependem da vontade
pessoal.
e) pessoalida.de: A inscrição, tal qual a filiação, é dita pessoal. Refere-se a um a
e única pessoa, n ão p o d en d o ser transferida ou substituída.
O p ro m o to r d ep en d e do tipo de beneficiário. Se co n trib u in te coletivo (servi­
dor, em pregado, tem p orário ou avulso), cabe à em presa, ou àquele para quem ele
presta serviços, p ro m o ver a pessoalidade, m ediante registro, anotação na CTPS etc.
Se co n trib u in te individual (em presário, au tô n o m o , eclesiástico, facultativo
ou dom éstico), é feita pelo interessado, p o r m eio do p re en ch im en to de alguns
form ulários.
J) finalidade: São m ú ltip lo s os fins, m as o principal deles é identificar p ro n ta ­
m ente e qualificar com precisão a pessoa perante a previdência social. D evidam en­
te cad astrado o in d ivíduo, perm ite ao órgão executor d eterm in ar as necessidades
dos co n trib u in tes.
g) pluralidade: Pode haver, e frequentem ente ocorre, a m últipla inscrição (em ­
b o ra ela perm aneça pessoal).
Subsiste m ultip licidade de inscrições dentro de u m m esm o regim e contribu-
tivo (p. ex., o registro de em pregado em diversas em presas), com o pode haver em
relação a o u tro s (p. ex., alguém ser em pregado e autônom o).
h) automaticidade: Em bora relacionada com a filiação, a inscrição depende da
vontade hum ana e, p o r isso, não tem a autom aticidade daquela em relação ao trabalho.
Repete-se. No caso do facultativo, h á sim ultaneidade de nascim ento da re­
lação jurídica; a filiação e a inscrição ocorrem ao m esm o tem po. A filiação desse
seg u rad o surge da vo n tade de filiar-se.
Sendo a inscrição ato form al adm inistrativo, decorrente da vontade do b enefi­
ciário, p o r ele há de ser providenciada. No caso do em pregado, em bora de interesse
deste, a inscrição deve ser prom ovida pelo em pregador.
A (o) esp osa(o), a(o) co m p an h eira(o ) e os filhos são dep en d en tes do segura­
do, m as com o é necessária sua identificação, eles têm de ser inscritos.
i) prova: Por m eio de d o cu m en to configurador, pode ser provada a inscrição.
Poucos, aliás, se co m parados com os com provantes da filiação.
D em onstra-se com a CTPS anotada ou C om provante de Inscrição de C o n ­
trib u in te In dividual — CIC1. Essa confirm ação p o d e tam bém ser feita m ediante
registros in tern o s do INSS.
j ) curso: Inscrição é ato. O corre no m o m en to do registro cabível. Sim plificada
para o em presário, au tô n o m o , dom éstico e eclesiástico, acontece q u an d o do forne­
cim ento do C1C1 e, para o facultativo, q u an d o este recolhe a p rim eira contribuição
por m eio de carnê apropriado.
E x cepcionalm ente, é processo — q u an d o , por exem plo, subsiste dúvida sobre
a filiação do interessado. P rocedim ento iniciado com ped id o formal.

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T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 163
E n ten d id a com o condição de in scrito, perdura indefinidam ente, enq u an to
não su b stitu íd a ou m an tid o o su pedâneo m aterial. No caso do(a) com p an h eiro (a),
pode ser desfeita p o r vontade do designante.
Sua validade cessa com óbito do trab alh ad o r ou do seu beneficiário. Tam bém
desaparece com a perda da qualidade de segurado ou de dependente. A designação
não m ais p roduz efeitos com o cancelam ento operado pelo designante. C onform e
referenciado, é ato ou registro acabado. N ão tem p ro p riam en te co n tin u id ad e, não
cabendo referência a térm ino ou extinção. Pode-se falar em revê-la ou cancelá-la.
Início e fim podem ter os seus efeitos, é a eficácia da inscrição. P erdura sem o tra­
balho se se m an tém a qualidade de segurado; isso acontece em diversas hipóteses,
enum eradas na lei.
A exem plo do sucedido com a filiação, a inscrição prevalece n a si tu ação-regra
da pessoa trab alh an d o e co n trib u in d o ou d u ra n te o “período de graça” ou ainda
qu an d o o segurado está em gozo de benefício.
k) presunções: O inscrito regularm ente se presum e filiado, m as trata-se de
presu n ção relativa. Alguns segurados se beneficiam da presunção de estarem co n ­
tribuindo. O utros, não: têm de d em o n strar as cotizações.
O não inscrito está com sua situação previdenciária irregular. No caso particular
do au tô no m o , terá p rejudicada p arte de seus direitos. O au tô n o m o não inscrito
sofre tratam en to diferenciado q u an d o ele p resta serviços às em presas.
1) prescrição: Não se cogita de prescrição em relação a esse in stitu to jurídico.
Não há prazo decadencial na legislação. Não sendo pro p riam en te direito, mas,
sim , u m dever-direito, a caducidade é m atéria para ser exam inada em particular.
Inscrições feitas tardiam ente, co n tu d o , se assem elham aos poderes exercidos ex-
tem p oraneam ente, isto é, causam prejuízos ao titular.
m) natureza: Sem em bargo de o elaborador transferir a atribuição da discipli­
na aos regulam entos, p o r sua natureza im positiva a inscrição é p ro d u to de norm a
pública. Im prescindível à identificação e à qualificação do beneficiário, não pode
o legislador deixá-la ao arbítrio do particu lar o u do órgão gestor. Im põe-se, então,
ao interessado e ao ente público ad m in istrad o r dos negócios previdenciários não
suprim i-la, salvo se para acautelar os interesses do beneficiário (p. ex., não identi­
ficação dos necessitados de aten d im en to de urgência).
n) interpretação: A inscrição é prom ovida com vistas à identificação, qualifi­
cação e cad astram en to d o b eneficiário ju n to ao gestor. Tal com o o co rre com a
filiação, interpreta-se favoravelm ente ao trabalhador, se houver dúvidas. Ato form al,
daí se exigir prova do cum ental de ter ocorrido.
Da m esm a form a, com o não po d e recusar a filiação, o órgão gestor está im pe­
dido de rejeitar inscrição se ela deriva regularm ente de filiação e se cum pridas as
exigências legais.
o) generalidades: No tocante ao regim e contributivo do salário-base, p o r exem ­
plo, ela era única e pessoal; dela derivava apenas u m núm ero. Isso não queria dizer,
lodavia, unicid ad e de carnês de recolhim ento. U m trabalhador, inscrito um a só
vez, podia recolher as contribuições p o r m eio de m ais de u m carnê de pagam ento.

■ C u rso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
N ão há d eterm in ação no co n cern en te à inscrição pó stu m a de segurado, m as,
com provada a filiação, ela pode ser feita após o óbito do trabalhador, sendo isso,
aliás, fato corriqueiro.
T am bém ocorre, e com frequência, a inscrição p ó stu m a de d ependente. Pro­
vidência da alçada do segurado, os beneficiários podem envidá-la, se ele faleceu
sem tê-la executado.
Existem dois tipos de inscrição: a do segurado e a do d ep en d en te. À do p ri­
m eiro pren d e-se o estado de filiação e à do segundo associa-se a ideia de estar este
sob a tu tela econôm ica daquele. O d ep e n d en te não é filiado, salvo se, sim u ltan ea­
m ente a essa condição, exerce atividade abrangida pelo regim e considerado.
A da pessoa indicada, tam bém cham ada designada, é providência pessoal do
segurado; este detém o p o d er de fazê-lo (ou de cancelá-la, n o caso de já tê-la feito),
m as o m esm o n ão se aplica em relação à inscrição do segurado, prom ovida p o r ele
ou pela em presa.
C onform e seja co n trib u in te individual ou não, a inscrição do segurado opera­
-se na em presa (c o n trib u in te coletivo) e nos correios ou INSS.
A dos d ep en d en tes observa alguns procedim entos: a) declaração verbal do
segurado, efetivada p erante servidor d a P revidência Social e p o r este registrada; b)
anotação na CTPS; e c) averbação em Livro ou Ficha de R egistro de Em pregado.
São todas iguais. N ão existem inscrições especiais. Poder-se-ia designar com o
tal a relativa ao servidor sem regim e p ró p rio , m as isso não passaria, co n tu d o , de
m era sem ântica.
Q uem presta serviços rem unerados abrangidos pelo RGPS, será inscrito com o
segurado; vivendo às expensas deste, esse m esm o trabalhador tam bém poderá ser
in scrito com o d ep endente.
Dá-se exem plo com a esposa trab alh an d o em atividade com preendida no
RGPS. As du as inscrições são isoladas e ind ep en d en tes, devendo ser providencia­
das em ap artad o , g erando benefícios distintos.
203. R elação ju ríd ic a d e custeio — C om preendida no bojo da relação jurídica
sob exam e, p o sicio n ada ontologicam ente após a p ertin e n te à filiação e à inscrição,
e an terio rm en te às prestações, situa-se a relação ju ríd ica de custeio. A tividade-
-m eio, centra-se on d e o D ireito Previdenciário tangencia o tributário e o trabalhista,
precisam ente no sítio em que esses três ram os ju ríd ic o s m ais se entrelaçam e se
influenciam .
S em elhantes em vários aspectos, alguns dos seus elem entos não se co n fu n ­
dem com os definidores da relação de prestações, sua razão de ser (fu tu ra obriga­
ção de d ar ou de fazer). T êm papéis distintos.
O d o m ín io é assinaladam ente fiscal, abeberando-se nas n o rm as universais
exacionais e até em algum as tributárias. Abriga as ideias de sujeito ativo e passivo,
crédito previdenciário, hipótese de incidência, dívida, exigibilidade, facultatividade,
decadência, prescrição, cobrança executiva etc. e, ao m esm o tem po, acolhendo
p ro ced im en to s ad m inistrativos e ju ríd ico s substantivos e adjetivos, gerais ou
específicos da técnica protetiva.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o í — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io
Nele sobreleva a pessoa ju ríd ica de direito público incum bida de realizar a
receiLa (e gerir a despesa), historicam ente descentralizada em autarquia.
204. S u jeito s da relação ju ríd ic a de cu steio — N orm alm ente, são apenas dois
os polos da relação jurídica enfocada. O ativo, assim classificado p o r sua iniciativa,
e o passivo, desd o b ran d o-se em titulares (beneficiários ou co n trib u in tes) e tercei­
ros interessados. E sm iuçada, sob a ética dos deveres, em relação aos benefícios, as
posições invertem -se: os beneficiários são credores e o órgão gestor, devedor.
A relação é substantiva e adjetiva, entregue esta últim a à disciplina proce­
dim ental. D esequilibrada a polarização, o sujeito ativo tem o p o d er de cobrar as
contribuições e, solicitado, de resliluí-las, se indevidas ou a maior.
Os dois sujeitos são novam ente enfocados q u an d o do exam e da previdência
social p ro p riam en te dita.
a) sujeito ativo: Na previdência social básica, o credor no polo ativo da relação
jurídica de custeio é o órgão gestor (até 1976, o INPS, de 1977 a 1990, o IAPAS, e,
p osterio rm en te, o INSS, autarquia do MPS).
Tam bém pessoas ju ríd icas de direito público, estadual ou m unicipal, o u des­
sas duas esferas, m esm o descentralizadas, beneficiando-se da condição de ente
político e assum indo, têm , sim ultaneam ente, o dever de ad m in istrar e responsabi­
lizar-se pelo patrim ônio da coletividade protegida.
b) sujeito passivo: O sujeito passivo das obrigações fiscais é direto ou indireto,
isto é, o rig in ariam en te ou solidariam ente responsável. No prim eiro caso, a pessoa
sub m etid a à co n tribuição, em razão da proxim idade da hipótese de incidência, está
particip an d o de sua ocorrência, cen trad a no fato gerador. No segundo, por eleição
legal, alguém interessado n o fato econôm ico (v. g., grupo econôm ico, sucessor,
herdeiro etc.).
De regra, pessoas jurídicas (entre as quais o p ró p rio Estado, q uando em p re­
gador ou d ad o r de serviços), ou seja, em presas u rbanas e rurais e pessoas lísicas,
sub o rd in ad as ou in d ep en d en tes — designadas genericam ente com o contribuintes.
E xcepcionalm ente, os gestores do co ncurso de prognósticos (envolvidos com o u ­
tras fontes de custeio no art. 26 da Lei n. 8.212/1991). C o n trib u in tes de fato, isto é,
sofrendo d escontos diretos no salário, o em pregado urb an o ou rural, o tem porário,
o avulso e o dom éstico (e certos p rodutores rurais). Na condição de co n trib u in ­
te de fato e de direito, o em presário urb an o ou rural, o au tô n o m o , o eventual, o
eclesiástico, o facultativo e o segurado especial. C om o c o n trib u in tes de direito,
responsáveis pela obrigação fiscal, estão as em presas adquirentes, as cooperativas,
os consignatários, organizações arregim entadoras de tem porários, sindicatos de
avulsos e em pregadores dom ésticos. E ventualm ente, pessoas físicas ou ju ríd icas
não necessariam ente co n trib u in tes, na condição de solidários (v. g., p ro p rietário de
obra de co n stru ção civil). Segurados obrigatórios e facultaLivos.
Em caráter inu sitado, a Caixa Econôm ica F ederal, as com panhias segurado­
ras, as federações ou a C onfederação Brasileira de F utebol, o D epartam ento da
Receita F ederal e o u tros entes incluídos na conta ‘‘o u tras receitas” (art. 2 7 , 1/VI1I,

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

166 W ítícíim ir N o v a e s M a r t i n e z
e parágrafo único, da Lei n. 8.212/1991). De m odo geral e inform al, a sociedade
co n su m id o ra. Em to dos os casos, entidades e in d iv íd u o s in d icad o s claram ente na
lei, em bora, em m u itas circunstâncias, aco m p a n h an d o a n o rm a legal, arrolados
em decretos e p o rtaria s (P o rtarias SPS n. 29/1975, n. 9/1978 e n. 2/1979 e In stru ­
ção N orm ativa SPS n. 2/1994) e o u tras fontes form ais.
c) União: A U nião tem o dever de co n trib u ir para a previdência social em co n
dição atípica. N ão é fiscalizada nem citada ju rid icam en te; apenas sofre as (poucas)
sanções políticas inerentes a essa responsabilidade.
São recu rso s adicionais do O rçam ento Fiscal, a fim de co b rir eventuais in su ­
ficiências financeiras (art. 16).
205. F in a lid a d e d a relação ju ríd ic a de cu steio — O principal objetivo do
custeio é realizar p lenam ente a receita, operada p o r m eio do recolhim ento da c o n ­
tribuição (e o u tro s ô nus). Esta, é definida m atem ática e financeiram ente com o o
resultado da aplicação da alíquota à m edida do fato gerador. E n q u an to na relação
jurídica de prestações é significativa a base de cálculo do aporte, na de custeio,
centra-se p recisam ente na p ró p ria co n trib u ição e, p rincipalm ente, na incidência,
não incidência, im u n id ad e, anistia e isenção. Bem com o na determ inação do valor
original e, conform e o caso, dos acréscim os legais.
A prestação previdenciária tem natu reza reparadora, sub stitu tiv a e alim entar,
e para atin g ir seus fins im põe os reco lh im en to s pecuniários obrigatórios, a ponto
de se p o d er classificar a técnica de proteção social em função de exigência ou não
da co n tribuição. O fato deve-se à natureza não solidária do hom em . A distância
entre o início da filiação e a contingência protegida, o longo perío d o de não reali­
zação de sinistro, o b rigou a cu ltu ra a criar no cidadão a consciência da prevenção,
da p o u pança, so b revindo a disposição fiscal. Daí a necessidade de se d eterm in ar
co rretam en te o valor dos recursos global e individualm ente considerados.
C o n trib u ição é dado financeiro, u sualm ente tem dim ensão pecu n iária, ex ­
pressa em m o ed a co rren te nacional. Q u a n d o exigida, é dever de valor, isto é,
n ecessariam en te não está vinculada à grandeza m o n etária original, devendo, co n ­
seq u en tem en te, se erodida pela inflação, ser atualizada. Às vezes, su b stitu íd a por
o u tras m o d alid ad es de qu itação , com o a dação em p agam ento ou a prestação de
serviços.
Individual a titularidade, so m en te p o r m eio da solidariedade fiscal pode ser
com etida a o u tra pessoa, dita corresponsável. D ébilo de em presa ou de segurado
obriga o su cessor ou herdeiro, não desaparecendo com a m orte do responsável.
a) obrigatoriedade da contribuição: A contribuição securitária é exigida. Essa
im positividade é básica para o sistem a. Pessoas físicas são seguradas obrigatórias
e, casuisticam ente, facultativas.
A existência da facultatividade não d esn atu ra a obrigatoriedade, em face da
excepcionalidade, sua tem porariedade e, no caso do facultativo, às vezes, lhe faltar
o trabalho.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o J — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
É difícil su sten tar a contribuição facultativa do não exercente de atividades,
exatam ente q u an d o ele necessita su b stitu ir os m eios de subsistência. Sistem atica­
m ente, o obreiro sem esses in stru m en to s não só carece da prestação previdenciária
do tipo seguro-desem prego, com o não deveria efetuar contribuições. Aliás, por
largo espaço de tem po é-lhe assegurada a m aioria dos direitos.
A co m pulsoriedade do aporte é preceito técnico e deflui da obrigatoriedade
do sistem a, in clu in d o ô n u s de variada natureza. Tal concepção é tranquilam ente
aceita e, p o r isso, dificilm ente invocada nu m a técnica de proteção social calcada
na im positividade. Q uando da m odificação do regim e de contribuição, com a im ­
plan tação da escala de salários-base (1973, q u e vigeu até 3 1 .3 .2 0 0 3 ), propôs-se
a questão de saber se era im posta ou não. A obrigatoriedade serviu de fulcro para a
interpretação e para chegar-se à conclusão positiva.
ConLraria a natureza h u m ana, daí ser exigência legal. G lobalm ente considera­
da, sem a co ntribuição é im possível a prestação, falo axiom álico inerente à técnica
aludida. Um sistem a proletivo baseado na espontânea participação das pessoas
foge da concepção clássica de previdência social.
b) direito de contribuir: Corno dito, a co n trib u tiv id ad e alcança o cidadão, for­
çado pela lei, a realizar um a das fontes de cusLeio. Poderia ser diferente, o aporte
acontecer esp o n tan eam ente, m as em face de sua natural im previdência, o hom em
é im pelido ao ô n u s exacional.
O dever de c o n trib u ir é concepção jurídica. E m bora pudesse aflorar da cons­
ciência das pessoas (caso do dízim o religioso), ele nasce da norm a positivada. O
indivíduo, deseje o u não ingressar na previdência social (e, m uitas vezes, q u er),
utilize-se ou não dos seus serviços, é in duzido à contribuição.
Essa obrigação, co n tu d o , não é: 1) infinita; 2) destitu íd a de base m aterial; 3)
absoluta ou excludenle.
Seus lim ites horizontais coincidem com a duração do supedâneo m aterial da fi­
liação, isto é, en q u an to perdurar a atividade profissional ou a vontade da pessoa. A u­
sente o su porte físico ou psicológico, ela desaparece. Vale dizer, conhece hipótese de
incidência, m edida do fato gerador, alíquota e sujeito passivo. Não é absoluta: adm ite
anistia, isenção, decadência e prescrição e outras m odalidades extintivas do crédito,
não excluindo o direito nem a faculdade de se filiar. Abriga até u m segurado especial,
verdadeiro herm afrodita jurídico: obrigatório, pode contribuir com o facultativo.
Sustenta-se a im posição na inércia do sujeito passivo. Se ele age com o espe­
rado, a obrigaLoricdade queda-se em potencial. N inguém é conduzido, cam inha-se
voluntariam ente.
Q u an d o a previdência social foi in stitu íd a, m uitos quiseram nela se integrar
e, histo ricam en te, sobreveio grande esforço governam ental para expandi-la, abar­
cando novas atividades, alguns op tan d o p o r pagar (até a instituição não p erd er a
sua individualidade, legkim idade e credibilidade, é claro).
Não obstante ser atentado à propriedade, assédio à cidadania e dim inuição do
patrim ô n io pessoal, a previdência social, seguram ente, é direito e co n q u ista dos
trabalhadores.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

168 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
C o nfundem -se — e, p o r isso, o p rim eiro não tem expressão — o desejo e a
obrigação de participar. O art. 201, § I a, da C onstituição F ederal de 1988, antes
da E m enda C o n stitu cional n. 20/1998, sin to m aticam en te dizia: “Q u alq u er pessoa
pod erá p articip ar dos benefícios da previdência social, m ediante contribuição na
form a dos planos p revidenciários”. E videntem ente, q u an d o a vontade coincide
com o dever, este não avulta nem m erece destaque ou regulam entação. Regra a
im posição, nela co n tid o o direito.
O segurado é obrigado a verter, m as ele tam bém pode contribuir. N ão chega
a exercitar a volição, porque subm etido.
A lei, p ara não d eixar de proteger, desde 1835 (!), jam ais ignorou essa possibi­
lidade e sem pre fixou lim ites iniciais e finais para a subm issão e, ao m esm o tem po,
estabeleceu o d ireito de, cessada a obrigação fiscal, haver a co n trib u ição defluente
da vo n tad e individual. Caso contrário, não haveria proteção, e a previdência frus­
traria o seu papel.
M atizes significativos da im posição são os seus consectários, os acréscim os,
em caso de inadim plência. A lei, com a fixação de ju ro s, m u lta e correção m o n e­
tária, adm ite a m ora, consciente de sua tem poralidade, aceitando o pagam ento
tardio, extem p o rân eo , não o cond icio n an d o para o deferim ento dos benefícios. No
caso dos descontados, até o pressupõe.
Se a pessoa não q u er ou não po d e pagar, a obrigação deixa de se c u m p rir por­
que lim itada é a capacidade co n trib u tiv a do sujeito passivo. A intenção de, du ran te
30 ou 40 anos, m en salm ente, v erter valores, o espírito cívico presente, o elem ento
m oral, o m edo de p erd er o direito, a pressão social e o receio da ação fiscal são
elem entos da contrib uição. A lguns deles, dados subjetivos a serem sopesados. A
obrigação de co n trib u ir não ilide o objetivo de fazê-lo. A m bos convivem , in te ra ­
gindo, um com o outro.
A obrigação, na prática, porém , não pode olvidar elem entos subjetivos do
co n trib u in te. E m bora su b m etid o à fiscalização, é m elh o r a norm a c o n tar com sua
aprovação.
O direito de c o n trib u ir não é exercido com a m esm a p len itu d e da obrigação.
M esm o esta ú ltim a é circunscrita à n o rm a regulam entar. A lei estabelece os dois
lim ites, aliás, coincidentes. Seus parâm etros são, no caso de trabalhadores subor­
dinados, fixados ex atam ente conform e a base de cálculo determ inável pelo próprio
trabalhador. Se ganha mais, co n trib u i com base em alíquotas m aiores.
Um lim ite da co ntribuição (e, co n seq u en tem en te, do benefício) significa duas
coisas: 1) o alcance da técnica protetiva; e 2) necessidade de cálculo atuarial.
A previdência social n ão pode ser concebida sem esse patam ar p ara ser p ro ­
gram ada e sistem atizada. O cálculo atuarial seria im preciso ou im possível, sem
lim itação. A tendidos esses dois pressupostos, isto é, em preendida a adm inistração
e inform ado o atuário, o teto poderia ser desfeito (aliás, não existe para o servidor
e p ara a previdência co m p lem en tar aberta).

C urso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 169
206. R elação ju ríd ic a de p re sta çõ es — Repete-se, ad nauseam: os benefícios
con stitu em a razão de ser da previdência social. Daí o Plano de Benefícios conter
156 artigos, en q u a n to o Plano de C usteio totaliza apenas 105.
O legislador dá atenção especial à prestação e cerca-a de m u ito s cuidados
(v. g., definitividade, co n tin u id ad e, irrenunciabilidad e, indisponibilidade, intrans-
feribilidade, inalienabilidade e im penhorabilidade), co n stitu in d o -se no principal
in stitu to ju ríd ico previdenciário. D evendo-se acrescer a su b stitu tiv id ad e e a ali-
m entaridade, dados essenciais à relação.
A d o u trin a, p o r seu tu rn o , tem -na com o objeto de interpretação extensiva,
conclusão defluente da protetividade da técnica.
a) definitividade: D efinitividade é ideia aplicável à prestação concebida no lu ­
gar dos ingressos do obreiro em condições de lhe p erm itir o su sten to sem recorrer
ao trabalho. Trabalho, no sentido de m eio de subsistência, e não outras form as
laborais (v. g., terapêutico, ocupacional, esportivo, educativo, de lazer etc.).
Prestação essa, definitiva e irreversível, com o a coisa julgada. G arantia do tra­
balh ad o r e nào do órgão gestor. N enhum a lei ordinária pode m odificar este estado
de coisas, en q u an to prevalecente o princípio constitucional do direito adquirido.
R egularm ente concedida (o trab alh ad o r possui direito a ela), é im possível
sua suspensão, in terru p ção ou extinção. A possibilidade de reexam e da concessão
é lim itada no tem po, garantia de tranqüilidade dos beneficiários. A objeto do ra­
ciocínio é a ideal, co rresp o n d en te à natu reza alim entar e substitutivo-reparadora.
Pode-se aplicar tam bém a definida na atual legislação, m esm o não ideal, m as real,
bastando para isso o beneficiário ter prévio e inteiro con h ecim en to das condições
(v. g., data do início, form a de cálculo, valor etc.). Se não perfeita e a priori, o in ­
teressado dela não tem plena ciência qu an to à sua essência, não há com o falar em
concessão regular, cabendo revisão do ato concessório.
Em d ecorrência da proteção, a prestação previdenciária não pode p reju d icar o
segurado. Por sua im portância, a aplicação desse princípio não se lim ita apenas ao
Direito Previdenciário, cabendo sua apreciação q u an d o da rescisão contratual de
trabalho. É benefício social, e será im propriedade vir a causar dano ao em pregado
dem issionário.
b) continuidade: C o nquista social reparadora dos riscos sociais, a relação ju r í­
dica de prestação é co n tínua e sucessiva. C on tín u a, não sofre suspensões; sucessi­
va, p o r se rep etir no tem po, m ensalm ente, com periodicidade.
C ertos eventos quebram a hegem onia dos ingressos do trabalhador, im p o n ­
do despesas excepcionais. Para reparação desses riscos eventuais, existem ajudas
igualm ente ocasionais, com o o auxílio-natalidade e o auxílio-funeral, sem desLoar
da regra (referem -se às prestações de pagam ento co n tin u ad o ).
O m esm o se passa com as de pagam ento único, caso do pecúlio ou do segu­
rado incapaz para o trabalho sem carência integralizada.
Salvo na hipótese de deferim ento irregular ou de descu m p rim en to de req u i­
sito essencial inerente à percepção (v. g., perda tem porária de invalidez; volta ao

C urso de D ir e it o P r e v id i: n c [A r i o
170 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
trabalho; fuga de detido; in existência de viúva etc.), ela deve ser percebida p erm a­
n en tem en te, não se ad m itin d o solução de con tin u id ad e, m esm o q u an d o conver­
tida em o u tra espécie ou na m u dança do titular. Se o segurado aposentado falece,
a ap o sen tad o ria percebida “transform a-se” em pensão p o r m orte, sem falta de um
dia. O pagam ento da aposentadoria p o r invalidez resu ltan te de auxílio-doença pre­
cedente nào sofre in terru p ção .
A prestação é contínua, expressando-se com o p erm an en te no tem po e in d e­
p en d en te de q u aisq u er outros fatores estran h o s ao recebim ento. Essa co n tin u id ad e
tran sp arece nas prestações definitivas, caso da pensão p o r m orte, aposentadoria
por tem po de serviço ou p o r idade, m as tam bém presente no auxílio-doença e
na ap o sen tad o ria p o r invalidez, en q u an to p erd u rarem as contingências protegidas
deflagradoras. Se o beneficiário se ausenta do País, no U ruguai e no M éxico, p o r
m ais de três m eses, d u ra n te o afastam ento, deixa de receber a m ensalidade. Isso
não acontece no nosso Direito.
c) irrenunciabilidade: A irrenunciabilidade dos direitos sociais estende-se ao
D ireito Previdenciário, aplicando-se às prestações.
C om o os salários, as prestações são im postergáveis, m esm o se isso se op u ser
à au to n o m ia da vontade.
O p o stu lad o é tu telar e insere-se n a ideia de proteção.
A irren u n ciab ilidade deve ser com preendid a em seus exatos term os, com o
garantia do segurado, não se co n fu n d in d o com a possibilidade de abstenção de
prestação em favor de ou tra, se m ais vantajosa (figura da desaposentação).
Q u an d o o trabalhador, tendo adq u irid o o direito a u m a prestação, não a re ­
quer, está-se diante da renúncia tácita, p o d en d o ser provisória ou definitiva.
d) índisponibilidade: Os critérios do D ireito Previdenciário são distin to s dos
do D ireito Civil. Em bora em m atéria de família e direito de sucessão haja intim a
relação en tre as d u as disciplinas, em face da peculiaridade do ram o ju ríd ic o — ga-
ra n tid o ra de sua au to n o m ia — , o seguro social não observa as m esm as regras ou
p rin cíp io s do D ireito Civil. A disponibilidade no direito de sucessão, ou a divisão
do q u in h ão deixado pelo de cujus, é d istin ta na previdência social.
Além de o asp ecto ec o n ô m ico p re v alece n te c o n d ic io n a r o d ireito à p re sta ­
ção (à p en sã o por m o rte ), é d istin to do d ireito à herança. Os c o n te m p la d o s com
a p restação p re v id e n ciária são re la cio n ad o s na lei. Trata-se de n o rm a p ú b lica
im p o sta ao seg u rad o ; este, salvo no c a p ítu lo das d esig n açõ es, p o u c a opção tem .
E stá im p ed id o de, em vida, o b star a p rerro g ativ a d a esposa o u filhos, p re su m i-
d a m e n te d e p e n d e n te s, de receber benefício in s titu íd o , p o r ocasião de seu fale­
cim en to . É -lhe ved ado d ese rd ar d e p e n d e n te s ou c o n d ic io n a r o receb im en to da
p re sta ção a q u a lq u e r fato su p e rv e n ie n te . A facu ld ad e é in d isp o n ív e l p o r parte
do in stitu id o r.
e) intransferibilidade: C om o decorrência da individualidade da relação jurídica,
o benefício é pessoal e intransferível. A transform ação de prestação pessoal, do tipo
auxílio-doença, ap o sen tad o ria p o r invalidez, p o r idade ou p o r tem po de serviço,

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 171
em pensão p o r m o rte do segurado n ão significa transferência; são benefícios dis­
tintos entre si, com d estinatários diferenciados.
N en h u m direito securitário pode ser transferido para terceira pessoa. Em bora
se trate de bem patrim onial, dispõe norm a pública sobre sua inviolabilidade, visan­
do à proteção do segurado. Este não desfruta o p o d er de aliená-lo.
A intransferibilidade (ou seu fracionam ento em favor de outrem ) do direito
não se co n fu n d e com a do benefício. A pensão por m orte pode ser repartida entre
vários dependentes. Q uota exLinta p o r óbito ou m aioridade do titu lar é com etida
a ou tro beneficiário. Pela m orte de pensionista (esposa ou co m panheira), o valor
da pensão, p o r inteiro, pode passar a o u tro d ep en d en te (filho o u filha, m enores
de 21 anos ou inválidos). C om tais exem plos, ressalte-se, o direito à fração o u à
totalidade da prestação já existia na data da m orte do segurado em relação a cada
favorecido.
f ) inalienabilidade: A legislação previdenciária sem pre proclam ou a im possibi­
lidade de alienação da prestação. Trata-se de convenção legal com vistas à proteção
do indivíduo, de caráter ju ríd ico , em bora, do p o n to de vista prático, a pessoa, após
a percepção do valor, possa d ar a ele o destin o desejado. Em todo o caso, a d isp o ­
sição legal veda negócio ju ríd ico com esse direito.
g) impenhorabilidade: Im p enhorabilidade é m odalidade de alienação, da m es­
ma torm a im pedida pela norm a legal.
h) natureza jurídica: A essência íntim a da prestação previdenciária vem sendo
buscada há algum tem po. Tudo leva a crer não ter sido en co n trad a em razão de sua
com plexidade e de fugir ao acrisolam ento n u m a ideia singela o u elegante. Possi­
velm ente tem u m p o u co dos aspectos a seguir assinalados p o r u m e ou tro autor,
mas, certam ente, aguarda ainda definição sintética aclaradora.
C orrentes form aram -se, todas elas derivadas de algum ponto ou influência, e
sujeitas a criticas válidas. As principais são: a) reparação de danos; b) assistência
geral; c) prestação pública; d) substituição dos salários; e) po u p an ça coletiva in ­
disponível; e f) retribuição social.
Talvez sob a influência rem ota do seguro privado (século XIX) e do surgim en­
to da proteção acidentária (com eço do século passado), concebeu-se o benefício
com o indenização, socialm ente considerada, pelos serviços prestados ao em prega­
d o r ou não.
Bela teoria para os casos de incapacidade e bastante válida para as prestações
acidentárias, porém , não explica o m om ento do deferim ento da prestação nos dem ais
eventos, nem m esm o a cotização individual do em pregado e a totalidade dos contri­
buintes individuais. Tam pouco o trabalho, em todos os casos, é causador desses d a­
nos, vindo a representar, em m uitas circunstâncias, fator de realização do ser hum ano.
A concepção assistencial atribui ao Estado o papel de aten d e r às necessidades
das pessoas. Após a concentração, nas m ãos do órgão gestor, os recursos perderiam
a caracterização original e transform ar-se-iam em prestações estatais.
É afetada esta conclusão pela existência de sistem as previdenciários e assis-
lenciários, po d en d o -se aceitá-la, portanto, para os benefícios e serviços com este

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

172 W lc iíiim ir N o v a e s M a r t i n e z
ú ltim o caráter, em que in existente a participação do indivíduo. C onfundem -se as
duas áreas e são m uito difusas.
A terceira m a n eira de e n te n d ê -la é co m o p re sta ção estata l o u p ú b lica. Tem
a seu favor o fato de o direito ser reclam ado de ente político, regida p o r ele e, afinal,
ser o últim o responsável. N ão justifica o Estado assu m ir essa obrigação, conclusão
válida, é bem verdade, para algum as delas, com o a ap o sen tad o ria dos exilados, ex ­
-co m b aten tes, p o rtad o res da Síndrom e da Talidom ida etc.
O u tra visão diz ser substituição dos salários. V erdadeiram ente, o benefício
tem esse caráter de o cu p ar o lugar da retribuição laborai. Trata-se de papel e não
vai a fun d o em su a essência, resu ltan d o provavelm ente da sem elhança entre os
dois valores. D eixa de ju stificar a razão de ser da substituição, pois os patrões p o ­
deriam c o n tin u ar pagando os salários até a m orte dos segurados, sem envolver a
coletividade o u o Estado.
U m a q uinta acepção é considerá-la m odalidade de p oupança coletiva indisponí­
vel. Deixa de abarcar a m aior parte das situações, pois m uitas pessoas sacam sem ter
depositado e não se caracteriza pelo regim e de capitalização, próprio da poupança.
F inalm ente, a idealização retributiva do em p en h o pessoal, operacionalizada
socialm ente, isto é, estar h o d iern am en te re co m p o n d o a rem uneração não desem ­
bolsada o p o rtu n am en te. N este caso, seria salário socialm ente diferido, optando-se
p o r recebê-lo q u an d o desejável. Salário com o sentido de ingresso, pois abarca tam ­
b ém os trab alh ad o res não su b o rd in ad o s (eles não receberiam , q u an d o da prestação
de serviços, o v alo r devido).
Tem esta pro p o sta a felicidade de explicar tam bém a natureza ju ríd ic a da
co n tribuição. Salário não recebido pelo trabalhador, in co rp o rad o à fração patronal
(sua p ro p ried ad e), en cam in h ad o aos cofres da adm inistração e socialm ente d istri­
bu íd o sob o u tro nom e.
É im p o rtan te assinalar o papel substituidor da prestação e seu caráter alim entar.
O ferecida com o expectativa de direito d u ra n te o curso da filiação e deflagrada
pela necessidade — contingência protegível realizada— , a prestação em erge quando
o m eio u su al de aten d im en to das carências do hom em (percepção de salários ou
o u tro s re n d im en to s) é qu eb rad o ou deve ser socialm ente abandonado.
Ela fica no lugar dos ingressos e de form a contínua.
S u b stitu ição co m p re en d id a n o sen tid o de os re n d im e n to s p rovirem de o u ­
tra fo n te, m as n ão sim ples troca. Focada em term o s c o n te m p o râ n e o s, a p re sta ­
ção n ão tem n a tu re z a salarial; ela n ão exige sinalagm a ao tem p o d o d iferim en to
— fato p e rtin e n te à re m u n e raç ão trab alh ista. C oncedida re g u la rm en te, não tem
p re ssu p o sto s para p ercepção, co n d içõ e s o u im posições. N em m esm o a im pres-
cin d ib ilid a d e é exigida, situ ação h a b itu a lm e n te ju stific a d o ra e a u to riz ad o ra do
seu início.
U m a prestação su b stitu i os ingressos do trabalho; daí a natureza substitutiva
do benefício.
A volta ao trabalho do aposentado tem explicação histórico-acidenlal e não
arro sta essa n atu reza em seu todo. Se não está su b stitu in d o os ingressos do tra­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o i — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 173
balh ad o r e sim co m p lem entando esses ou outros recursos — caso do abono de
perm anência em serviço ou da aposentadoria p o r tem po de serviço precoce — ,
não é prestação.
Em face da correlatividade e da relação entre custeio e benefícios, a natureza
su b stitu id o ra não pode ser olvidada. Ela explica, p o r exem plo, o abono anual,
prestação sim ilar à gratificação de Natal.
Se é acidental o fato de o valor dos salários não ter lim ites, ou seja, nâo estar
dim ensionado à necessidade do Lrabalhador, a prestação previdenciária conhece
piso inferior e superior, cingindo-se à subsistência.
A prestação não pode ser suprim ida p o r qu alq u er m otivo; as hipóteses de
suspensão vigem em razão da coexistência de o u tras técnicas de proteção social.
Ela destina-se à m anutenção do trabalhador ou de seus dependentes. Esse
lastro de essencialídade e destinação básica da prestação dá-lhe o caráter alim en­
tar. M antém os m eios habituais. Tarifada pelo m ínim o dessa subsistência com a
garantia de sobrevivência.
Não pode ser encarada com o direito alienável ou transferível. Recebida corre­
tam ente, não pode ser restituída ao órgão gestor. Em bora poupança, depósito obri­
gatório, vai além do seu eventual valor e persiste en q u a n to a necessidade perdura,
só acabando com a m orte. Alim enta cum vita finiri.
207. S ujeitos d a relação ju ríd ic a de p re sta çõ es — D iferentem ente da relação
ju ríd ica de custeio, os sujeitos do vínculo nascente da obrigação de o órgão gestor
m in istrar as prestações, em bora igual um dos polos (gestor), os destinatários da
proteção social são apenas pessoas físicas: os beneficiários. M esm o na hipótese de
entidade abrigar m enores de 14 anos ou inválidos geradores do salário-fam ília, o
direito é pessoal.
C om o desenvolvido no Tomo 11 — Previdência Social, individualm ente são
os segurados ou os d ep endentes; co n trib u in tes e não co n trib u in tes, estes últim os
relacionados em v irtu d e de sua d ependência econôm ica dos prim eiros.
N orm alm ente, o descrito precisam ente na lei coincide com o co n trib u in te,
participante da relação ju ríd ica de custeio.
N acionais ou estrangeiros, no gozo dos direitos civis ou políticos, não im ­
p orta, se seg u rad o s e d e p e n d e n te s leg itim a m e n te ca rac te rizad o s, d ire ta m e n te
(titu lar) ou representado (p ro cu rad o r), gerando o crédito (salário-fam ília) ou
con stitu in d o -o (segurados e d ep en d en tes), vivos ou falecidos (em relação a valo­
res não percebidos).
a) segurados e dependentes: Segurados e d ep en d en tes são pessoas físicas des­
critas na lei básica.
b) nacionais ou estrangeiros: Não há distinção ou discrim inação: abarca os
brasileiros ou não, e após concedida a prestação, não im porta se aqui residentes ou
dom iciliados ou no exterior.
c) pessoalmente ou representado: Ao titu lar do direito ou por m eio de represen­
tação (o d ep en d en te m enor, pelo pai ou m ãe; o incapaz, p o r tu to r o u curador; com
dificuldade de locom oção, p o r p rocurador).

C u r so dh D ir e it o P r e v id e n c iá r io

174 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
d) vivos ou falecidos: N orm alm ente, ao vivo, m as pagando-se tam bém aos d e­
p en d en tes ou herdeiros.
e) livres ou presos: Sem preocupação qu an to ao estado ju ríd ico ou político, no
gozo da liberdade ou sem ela.
J) necessitados ou não: Salvo na definição da pensão p o r m orte e do auxílio-
-reclusão dos d ep en d en tes não preferenciais, independe de condições econôm icas
e financeiras do beneficiário.
g) oportuna ou tardiamente: Benefício solicitado a tem po ou fora dele.
208. O bjetivo da relação ju ríd ic a de p re sta çõ es — A razão de ser da relação
ju ríd ica de prestações são os benefícios e serviços, isto é, alividade-fim da p re­
vidência social: p ro p iciar os m eios de subsistência da pessoa h u m an a conform e
estip u lad o na n o rm a ju ríd ica.
Benefícios em serviços ou em din h eiro , estes últim os p o d en d o classificar-se
com o de pag am en to único e co n tin u ad o . C om uns ou acidentários, sim ples ou es­
peciais, calculados ou não, provisórios ou definitivos, integrais ou proporcionais,
p erm itin d o a volta ao trabalho ou não, reeditáveis ou únicos, m ensais ou anuais,
o b tidos ad m in istrativ a ou ju d icialm en te e sob o u tras distinções.
a) em dinheiro e em serviço: As prestações em dinheiro são os benefícios e diá­
rias para viagens, para fins de tratam ento. Serviços, os pro ced im en to s m édicos, a
habilitação e a reabilitação profissional.
b) pagamento único e continuado: A restituição de co n tribuições vertidas pelo
segurado incapaz para o trabalho sem a carência com pletada é benefício de paga­
m ento único. Os dem ais, desem bolsados periodicam ente.
c) mensalidade ou anualidade: Som ente o abono é anual e pago em razão das
festas de N atal. O s dem ais são m ensalidades de trato sucessivo.
d) comum e acidentário: O benefício com um , se p o r incapacidade, decorre de
enferm idade; os dem ais, p o r tem po de serviço ou idade. O acidentário provém do
acidente do trabalho ou doença profissional ou do trabalho.
e) por incapacidade ou não: Os dois principais benefícios p o r incapacidade são
o auxílio -d o en ça e a aposentadoria p o r invalidez, acrescendo-se o salãrio-m alerni-
dade. M orte e reclusão não são consideradas incapacidades. Os dem ais benefícios
decorrem do tem po de serviço, da idade ou de o u tra contingência.
f ) risco imprevisível e previsível: Benefícios não p ro gram ados são o auxílio-
-doença e a apo sen tadoria p o r invalidez, o satário-m alernidade e o salário-fam ília,
a p ensão p o r m orte e o auxílio-reclusão. Os restantes, program áveis.
g) simples e específico: São tidos com o sim ples os co m u n s o u acidentários,
reservando-se a designativa de específico aos co n tem p lad o s em legislação distinta
até 14.10.1996 (ex -com batente, jo g ad o r profissional de futebol, aeronauta, jo r­
nalista, ferroviário e exilado). A ap o sen tad o ria especial não passa de variação da
apo sen tad o ria por tem po de serviço.
h) calculado e tarifado: São sujeitos a cálculo, aferidos em razão dos salários de
contribuição: o auxílio-doença, a aposentadoria p o r invalidez, a especial, por idade

C l jr s o d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
ou tem po de serviço, a pensão p o r m orte e o auxílio-reclusao. O salário-m aternida-
de e o abono anual não são propriam ente calculados. O salário-fam ília é tarifado.
i) provisório e definitivo: O auxílio-doença, o auxílio-reclusão e a ap o sen tad o ­
ria p o r invalidez são provisórios, esta ú ltim a p o d en d o se transform ar em definitiva.
A ap osentadoria especial e por tem po de contribuição o u idade e o abono anual
são definitivos. O salário-m alernidade é provisório, com duração predeterm inada.
A pensão p o r m orte é definitiva para o viúvo(a) ou d ep en d en tes inválidos, e pro­
visória, para certos beneficiários.
j) integral ou proporcional: A ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição co stu ­
m a ser dita p roporcional ou integral, conform e o percentual de cálculo. O m esm o
critério poderia ser adotado em relação à aposentadoria por idade ou benefícios
que possam igualar-se a 100% do salário de benefício.
k) com volta ao trabalho ou não: O auxílio-doença e a ap o sen tad o ria p o r invali­
dez, benefícios p o r incapacidade, não adm item a volta ao trabalho; os dem ais, sim.
I) único e reeditável: Som ente o auxílio-doença e o salário-m aternidade são re-
editáveis, em bora a aposentadoria p o r invalidez tam bém o seja, em casos especiais.
m) acumulável e inacumulável: Os benefícios su b stitu id o res dos salários não se
acum ulam entre si, ad m itindo-se a percepção co n ju n tam en te com os não substitui-
dores. O abono anual som a-se com q u alq u er o u tro benefício. Pensões p o r m orte
não têm nú m ero fixado.
n) do segurado e do dependente: O auxílio-reclusão e a pensão p o r m orte são os
dois benefícios dos dep endentes; os dem ais, dos segurados.
o) administrativo ou judicíflí: O com um é o beneficiário obter o benefício adm i­
nistrativam ente. Q uando decorrente de sentença do P o d erju d iciário , é dito judicial.
p) antecipado pelo empregador ou não: O salário-m aternidade e o salário-fa-
m ília são d iretam ente pagos pelo em pregador, em bora a responsabilidade seja da
Previdência Social (INSS).
q) laborai e previdenciário: E m pregar deficientes é benefício social im posto às
em presas; pagar os prim eiros 15 dias antecedentes ao auxílio-doença é prestação
previdenciária com etida ao em pregador.
r) com ou sem carência: O auxílio-doença e a aposentadoria p o r invalidez
observam n úm ero m ínim o de contribuições, o m esm o valendo para aposentadoria
especial, p or tem po de contribuição ou por idade. Os dem ais dispensam carência.
209. V ínculo e n tre contribuição e p restação — Entre os vários liam es jacen-
tes na relação global ora enfocada, um deles enlaça as duas áreas principais antes
exam inadas, estabelecendo certa correlação a ser verificada em tríplice aspecto.
M ais pro p riam en te científica, tem tam bém sua expressão ju ríd ica, dizendo
respeito à possibilidade de situ ar a obrigação e o direito, não abstratam ente consi­
derados, m as sob o enfoque da precedência e da conseqüência.
Em co n fro n to , os dois dom ínios suscitam ponderações em três seções do
conhecim ento: a) na lógica; b) na m atem ática; e c) n o direito.

C urso d e D ir e it o P r e v id k n c iá r ío

176 W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
Há relação de p recedência entre a contribuição e a prestação; é preciso p o u p ar
para se ter (co n clu são não absoluta). Subsiste vínculo m atem ático en tre o valor da
c o n trib u iç ã o e o nível da m en salid ad e d o b en efício , p ro d u to de co n v en ção ou
da n o rm a legal. F in alm ente, existe ou não (p o u co divergem os d o u trin ad o res)
correlatividade en tre a obrigação de c o n trib u ir e o direito de receber benefícios.
a) relação lógica: A contribuição, individual ou coletiva, d o p o n to d e vista
econôm ico, é fom ento im prescindível ao custeio das prestações. N um regim e de
capitalização, é axiom ática, aproxim ando-se bastan te do seguro privado; sem os
aportes m ensais não se realiza o contrato. C om a sua reunião, são pagas as despesas
ad m in istrativas, o b tido o lucro e desem bolsada a indenização.
A possibilidade de, n a ausência pessoal o u co m u n itária de recursos, poder-se
b u scar m eios em o u tras fontes não em palidece a eficácia do raciocínio; trata-se de
m era su b stitu ição de condições.
E ste p ressu p o sto financeiro ap o n ta na direção de outro: o m atem ático, p ro ­
po n d o -se, a seguir, o jurídico.
b) relação matemática: P or convenção entre os atores do co n trato ou p o r d e­
term inação legal, de q u alq u er form a, su bm etida a in stitu ição à norm a, subsiste
relação entre a base de cálculo da contribuição e o su p o rte do benefício. A razão
é sim ples: n atureza su b stitu id o ra da prestação previdenciária. F ato histórico, as­
su m iu aspecto psicológico: as pessoas co n trib u em tom ando p o r m o n tan te deter­
m in ad o valor, e desejam receber benefícios estim ados com a m esm a im portância.
Q u an d o da análise da correlação en tre contribuição e prestação, com o en ti­
dades isoladas, n ão é im p o rtan te o exam e esm iuçado de cada um a delas. Agora,
o relevante é a dim ensão do nível da prestação e sua origem in tim am e n te ligada à
co n tribuição.
O cálculo do benefício é sem pre feito a p a rtir da realidade (salários de alguns
segurados) ou ficção (salário-base de o u tro s). De m odo geral, a im p o rtân cia básica
p ara a aferição da co ntribuição, m esm o in d iretam en te, leva em conta o patam ar
da rem u n eração d o obreiro, em observância à natu reza su b stitu tiv a d a prestação.
M antida a devida proporção, a rem uneração do trab alh ad o r é p arâm etro as-
sin alad o r de sua p articipação na sociedade. E videntem ente, o processo não é per­
feito, m as, à falta de ou tro , em m elhores condições, a retribuição é u tilizada para
situ ar o ho m em na com unidade on d e vive. Essa distinção social há d e ser observa­
da q u an d o do p ercebim ento das prestações, sob pena de o seguro social prestar-se
a m odificações sociais eventualm ente indesejadas.
O valor da prestação é aferido a p artir do valor do salário de contribuição, so­
frendo am pliações ou reduções, sem pre vinculadas aos au m en to s ou dim inuições
do dado inicial, as contribuições.
c) relação jurídica: P resentes várias categorias de beneficiários e co n trib u in tes,
m ú ltip lo s regim es co n trib u tiv o s e in ú m ero s planos de prestações, resulta n ão tão
sim ples a relação ju ríd ica q u an to à contribuição-prestação.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
A concepção do financiam ento (custeio) liga-se à ideia de reparação (pres­
tação). Ainbas, logicam ente interligadas, um a antecedente e outra, conseqüente.
Jurid icam en te, a situação é m ais com plexa e exige detida reflexão. Vai desde a
problem ática da unicidade-pluralidade das relações, repassa pela correlalividade
c o n trib u içã o -p re sta ção , o ra referida, e abarca a c o rre sp o n d ê n c ia en tre o valor
da contribuição e o da renda m ensal inicial.
A correlação entre prestação e contribuição, ordem de ideias preferível à in ­
versa (co n trib u ição e prestação), de algum a form a se im põe ao co n stitu in te, e, por
isso, disposição com parece na Lei M agna, afirm ando não ser possível a criação,
m ajoração ou extensão dos benefícios sem a fonte de custeio total. O elem ento pré-
-jurídico aí p resente é o econôm ico-financeiro apenas, m as sinaliza para o jurídico.
Em bora o registro sum ário do preceito com porte concepção superficial, a n o ­
te-se não se tratar de relação biunívoca; isso, a despeito de o texto constitucional
causar a im pressão de, a cada espécie de prestação, dever co rresp o n d er um a espé­
cie de co n tribuição (sem a recíproca ser necessariam ente verdadeira).
A generalidade da relação e a sua falta de praticabilidade vedam o estabeleci­
m ento de regra sobre o assunto e, assim , não há norm a ou convenção a respeito: a
co n trib u ição per se não gera o direito à prestação. Em cada caso, pessoa e benefício
considerados, é preciso co n su ltar a n o rm a legal.
210. P resu n ç õ es p e rtin e n te s — P resunção é co n stru ção integrante da ciência
ju ríd ica, com respeitável acolhim ento entre os aplicadores e estudiosos. In s tru ­
m ento utilizável na operação da norm a, na integração do texto legal sob estudo e
na interpretação dos diversos com andos reguladores.
Relativas à área de custeio, as principais são as seguintes: a) do trabalho; b)
da atividade do sócio-gerente; c) do desconto e do recolhim ento; d) da escala de
salãrios-base. O u tras dizem respeito à m atéria de prestações: e) da m orte; f) da
dep en d ên cia econôm ica; g) da pensão alim entícia; h) da incapacidade.
a) presunção do trabalho: Em razão da au tom aticidade da filiação, exercendo
atividades, o trab alh ad or é segurado obrigatório. No regim e geral básico, a cada
tipo de segurado corresponde um a m odalidade de inscrição. No caso do em pre­
gado, o registro reduz-se às anotações form ais feitas pelo em pregador, na CTPS.
E n ten d im en to consagrado na lei: “A anotação na C arteira de Trabalho e P revidên­
cia Social ou na de trabalhador autô n o m o dispensa q u alq u er registro in tern o de
inscrição, valendo para todos os efeitos com o com provação de filiação ao INPS,
relação de em prego, tem po de serviço e salário de contribuição, p o dendo, em caso
de dúvida, ser exigida a apresentação dos do cu m en to s que serviram de base às
an o taçõ es”.
Trata-se de p resu n ção ju ris tantum , podendo ser arrostada p o r dem onstração
em contrário, m esm o sendo difícil provar afirm ação negativa.
Assim, se o obreiro está regularm ente registrado com o em pregado, tem -se
avuhada, para fins de benefícios, a existência de relação em pregatícia e, da m esm a
form a, para efeito de verificação da hipótese de incidência da contribuição.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la c J i/n ir N o v a e s M a r ti n e z
b) presunção de atividade do sócio-gerente: E ntre os segurados obrigatórios,
en co n tra-se o em presário. Esta categoria de trabalh ador in clu i os titulares de firm a
individual, os sócios, os diretores e m em bros do conselho de adm inistração de
sociedades an ô n im as e, enfatiza-se, os sócios cotistas não gerentes com retirada
pro labore (e o u tro s m ais). A condição dessa retribuição não constava da lei, m as, a
p artir da vigência da Lei n. 6.887/1980, fez parte da redação da LOPS.
Há du as presunções. De regra, os prim eiros ad m in istrad o res m encionados
laboram para as suas em presas; os sócios cotistas nào gerentes não trabalham , lim i­
tando-se a in tegralizar a parte do capital e a auferir os lucros, ao final do exercício.
O co rren d o retirada pro labore, os sócios cotistas nào gerentes prestam serviços e,
nessas condições, são segurados obrigatórios — essa a p resunção legal.
O fato de ter havido labor, ideia contida na retirada, é adm issão relativa calca­
da 110 trabalho com o fato gerador mais rem oto do direito. Presunção de fato. C ons­
tatada retirada sem trabalho, o sócio não é segurado; ao contrário, com provado o
esforço, não se co n signando retribuição e não im p o rtan d o o m otivo, o obreiro é
segurado obrigatório.
C o m p arec e o p rin c íp io tra b a lh ista d a p rim a z ia da re a lid a d e co m o susten-
táculo básico do direito. Nem m esm o o contrato de trabalho pode afetar a realidade.
c) presunção do desconto: U m a das m ais antigas práticas d o custeio consiste em
o em p reg ad o r d esco n tar a contribuição do em pregado e, m ensalm ente, recolhê-la,
ju n tam en te com a sua parte. A p resunção ju ríd ica presente reside em a lei estim ar
ter havido o d esconto e os valores sido aportados pela em presa. Assim dispõe o art.
33, § 5H, do PCSS: “O d esconto de contribuição e de consignação legalm ente a u to ­
rizadas sem pre se p resum e feito o p o rtu n a e regularm ente pela em presa a isso obri­
gada, não lhe sendo lícito alegar om issão para se exim ir d o recolhim ento, ficando
diretam en te responsável pela im portância que deixou de receber o u arrecadou em
desacordo com o disp osto nesta Lei”.
Tal p resu n ção tem d u p lo alcance. A tinge não so m en te a o p o rtu n id ad e da
d edução (m en salid ad e), com o tam bém sua regularidade. Se o em pregador não
verteu na época certa ou não ap ro p rio u a im portância correta, p o r erro de cálculo,
ignorância o u interp retação indevida da lei, fica obrigado a fazê-lo acertadam ente,
p o r sua co n ta e risco.
E m bora absoluta, a presunção conhece exceção. No caso de litígio entre em ­
p reg ad o r e em pregado em questão duvidosa, desco n h ecen d o aquele, ao tem po, a
m edida ou essência do fato gerador da obrigação de contribuir, poderá proceder
ao desconto, p o r ocasião do pagam ento, d em o n strad a a boa-fé. Isso vale tam bém
para a figura d a con su lta ao órgão gestor e até, sem pre presente a legítim a intenção,
em se tratan d o de assu n to de difícil solução, o recolhim ento p o sterio r desonerado.
V isan d o b e n e fic ia r o e m p re g a d o , a p re s u n ç ã o é c o m p le ta d a com o côm -
p u to do valor da co n trib u içã o no cálculo dos benefícios, m esm o não recolhida,
conform e o art. 34 do PBPS: “No cálculo do valor da renda m ensal do benefício
do seg u rad o em pregado e trab a lh ad o r avulso serão co n tad o s os salários de c o n ­
trib u ição referen tes aos m eses de co n trib u içõ es devidas, ainda que não recolhidas

C u rso dh D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m a l — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 179
pela em presa, sem prejuízo da respectiva cobrança e da aplicação das penalidades
cabíveis. Parágrafo único. Para os dem ais segurados, so m en te serão considerados
os salários de co n trib u içã o referentes aos m eses de co n trib u içõ es efetivam ente
recolhidas".
Esta disposição seria desnecessária em face do disposto no art. 33, § 59, do
PCSS, m as confirm a a ideia de o em pregado não ser responsável pelo vertim ento
de suas cotizações e p o r presunção legal absoluta estar sem pre regular.
d) presunção na escala de salários-base: Exem plo de presunção inform adora da
lei é a co n so lid ad a n a construção d a escala de salários-base (da Lei n. 5.890/1973
e que vigeu até 3 1.3.2003). O salário de contribuição de certos segurados era
representado p o r u m salário-base, ficção fiscal substituidora da rem uneração desses
filiados com o m edida do fato gerador da obrigação.
A escala era in icialm ente com posta de dez classes. A prim eira correspondia ao
salário m ínim o e as dem ais, a su b m ú ltip lo s inteiros do lim ite do salário de c o n tri­
buição. Cada um a dessas classes refletia certo tem po de contribuição, in d o desde
um m ês até m ais de 25 anos de filiação. A partir da Lei n. 8.212/1991, passou a ser a
m édia das ú ltim as seis bases de cálculo da contribuição do segurado em atividade.
O en q u a d ram en to inicial e a progressão na referida escala efetuavam -se com
fulcro no po sicio n am ento e no cu m p rim en to de interstícios (tem po m ínim o de
aportes na classe).
Em am bos os casos, su p u n h a-se a ascensão dos níveis de valores co rresp o n ­
den d o ã n atu ra l evolução retributiva do obreiro. A curva ascendente, iniciada com
o salário m ínim o e con cluída com o lim ite d o salário de contribuição, representava
a progressão da rem u neração do indivíduo em sua vida profissional. Para tanto, o
legislador estim o u prazo de m ais de 25 anos. Tratava-se, com o evidente, de p re su n ­
ção absoluta, a base da co n stru ção desse regim e contributivo.
A p artir da Lei n. 9.876/1999, m áxim e em dezem bro de 2003, q u an d o a base
de cálculo era a rem uneração do co n trib u in te individual, a presunção deixou de
ex istir e o regim e co n trib u tiv o acabou em 31.3.2003 (Lei n. 10.666/2003).
e) presunção da morte: Um dos pressu p o sto s m ateriais exigidos dos d ep e n ­
dentes, para au ferir p ensão p o r m orte, é o falecim ento do segurado. Em certas
circunstâncias, há dúvidas se ele m orreu, o correndo ausência ou desaparecim ento.
Em am bos os casos, diz a lei, os d ep en d en tes têm direito ao benefício e o re­
ceberão en q u an to o in stitu id o r se m antiver ausente ou desaparecido.
Trata-se de p resunção relativa. Subsiste, aqui, tam bém , jacente, técnica previ-
denciãria; o p ro ced im ento é diferente do D ireito Civil e do D ireito Penal.
A p resunção da m orte é estabelecida em função da natu reza alim entar assum i­
da pela prestação previdenciária, em particu lar a pensão p o r m orte, en ten d im en to
fu n d am en tad o na n o rm a legal.
f ) presunção da dependência econômica: São beneficiários os segurados e seus
d ependentes. Assim com o o dos prim eiros, o rol dos dep en d en tes consta expressa,
exaustiva e enu m erativ am enle da lei. O critério de definição destes é técnica pre-
videnciãria; ela fornece conceito p ró p rio , restritivo, específico e am plo de família.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W f a d i m ir N o v a e s M a r t i n e z
Em face da n atureza sub stitu tiv a da prestação, a pensão p o r m orte destina-se
a su p rir ingressos do de cujus. Por isso, qu em dep en d e econom icam ente dele tem
direito ao benefício. O legislador elencou dois grupos: os p resu m id am en te d ep e n ­
d en tes e quem tem de d em o n strar a dependência.
O p rim eiro g rupo reflete restritivam ente a família: esposo(a), co m p an h eiro (a)
e, se não em ancipados, os filhos até 21 anos ou inválidos. O segundo é com posto
de pai e m ãe, irm ãos m enores de 21 anos ou inválidos. Até a Lei n. 9.032/1995,
incluía-se a pessoa designada.
O s co m p o n en tes do p rim eiro g ru p o são tidos com o d ep en d en tes do falecido.
Presunção absoluta; não h á necessidade de d em onstrá-la e, m esm o em sua sim ples
ausência, a pensão p o r m orte é concedida.
Q u an d o subsistia a possibilidade de designação, em relação aos filhos, cu rio ­
sam ente, essa p resu n ção ju ris et de jure podia se transform ar em p resunção relativa
(q u an d o u ltrap assam o lim ite de idade). N esse caso, devia-se evidenciar a dep en ­
dência econôm ica ( “D esignação da F ilha M aior não Inválida”, in Boletim D inâm i­
co IO B n . 1.226).
g) presunção da pensão alimentícia: Em favor dos m em bros do núcleo fam iliar
vige p resu n ção de d ep endência econôm ica. Se h á separação dos cônjuges e a espo­
sa se afasta do lar p o r m ais de 5 anos ou ocorre desquite ou divórcio, a adm issão
dessa subo rd in ação financeira, com o é natu ral, deixa de ser ab so lu ta e passa a
relativa. Se houve d istanciam ento, a esposa não m ais careceria do provedor.
Vislum bra-se presunção. A m ulher, não recebendo pensão alim entícia, determ i­
nada por sentença judicial ou prestada por iniciativa do segurado, não depende do
hom em . A percepção desse direito civil fixa presunção de dependência econôm ica.
h) presunção da incapacidade: U m a das condições para o recebim ento de várias
prestações, entre as co m u n s e as acidentárias, é a existência de incapacidade para
o trabalho. Em tal situação, im põe-se a obrigatoriedade de exam e m édico, com o
visto em regra previdenciária.
Até a Lei n. 9.032/1995, a perícia era exigida en q u a n to necessária, to rn an d o -
se dispensável após 55 anos de idade. Em razão do disposto na lei, havia presunção
absoluta de o trab alh ad o r não recu p erar a capacidade para o trabalho após essa
idade. Ela aplicava-se exclusivam ente para fins de m anutenção do benefício. Caso
o trab alh ad o r viesse a read q u irir aptidão para o trabalho, isso não significava perda
do direito ã prestação assegurada anteriorm ente.
Tratava-se, igualm ente, de presunção, beneficiando e prejudicando, porque,
se voltasse ao trabalho e contribuísse, não m ais teria nova ap o sen tad o ria ou m odi­
ficaria os valores daquela em m anutenção.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o J — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 181
Capítulo XXI

R e l a ç ã o Ju r í d i c a de A ssistência S o ci al

211. Origem histórica. 212. Breve conceito. 213. Relação jurídica de


S u m á r io :
ingresso. 214. Sujeitos da relação. 215. Fins da técnica. 216. Alcance institucio­
nal. 217. Fontes de custeio. 218. Rol de prestações. 219. Princípios aplicáveis.
220. Regras de interpretação.

O vínculo da relação ju ríd ic a de assistência social não é exatam ente igual ao


presente na de previdência social. Isso ocorre em v irtude de inexisLir custeio direto,
e tam bém em si m esm o (polos, alcance, potestividade do direito, natu reza da pres­
tação, tem p o raried ad e da proteção etc.) e, ainda, pela estruLura adm inistrativa.
Elo sim plificado, onde vis-à-vis dois sujeitos, órgão p ro m o to r dos serviços
e assistido, sem o alicerce da ideia de filiação. A usente a base m aterial do liatne
deflagrador da proteção, subsum e-se na capacidade do concessor e na necessidade
do carente.
Inicia-se em determ inadas circunstâncias pertin en tes à pessoa, q u an d o soli­
cita algum aten d im en to , e pode desaparecer; cessada a deflagração, ela não m ais
acontece. Prestações não su b stitu id o ras nem necessariam ente perm anentes, mas
claram ente alim entares. Com efeitos ju ríd ic o s distintos.
211. O rigem h istó ric a — D ireito à assistência social é tem a recente na his­
tória da h u m an id ad e, m as a técnica, propriam ente dita, precedeu a previdência
social. Seu dealbar institucional é antigo, veio antes do Estado e sua proteção,
m inistrada p o r pessoas ou fam ílias, em buídas de alto espírito de solidariedade,
encam pada pelos ord enam entos religiosos, m áxim e o cristão, espalhou-se pelo
m undo. P o steriorm ente, p o r m eio da assistência pública, desenvolveu-se em cará­
ter sistem atizado, p articu larm en te em decorrência do avanço da M edicina. Assim
sendo, raram en te foi direito subjetivo das pessoas ou norm atizada, convindo m en­
cionar experiências históricas, com o a Lei dos Pobres espanhola, em 1531, e a Lei
dos Pobres londrina (1601), com o em briões da concepção jurídica.
212. Breve co n ceito — A relação ju ríd ica assistenciária, com o sói ac o n te­
cer, d epende da instituição p ropriam ente dita. Ela pode ser visualizada com o o
co n ju n to de atividades particulares e estatais vocacionadas para o aten d im en to

C u rso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

182 W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
de h ip o ssuficientes, consistindo os bens oferecidos em prestações m ínim as em
dinheiro, serviços de saúde, fornecim ento de alim entos e o u tras atenções conform e
a capacidade do gestor.
A C o n stitu ição F ederal de 1988, em vez de defini-la, preferiu descrevê-la,
ind ican d o os d estin atários e os seus objetivos: “1 — a proteção à família, à m ater­
nidade, à infância, à adolescência e à velhice; II — o am paro às crianças e adoles­
centes carentes; 111 — a prom oção da integração ao m ercado de trabalho; IV — a
habilitação e reabilitação das pessoas po rtad o ras de deficiência e a prom oção de
sua integração à vida co m u n itária” (caput do art. 203).
A Lei n. 8.212/1991, assem elhadam ente, fala em “política social que provê o
aten d im en to das necessidades básicas, traduzidas em proteção à fam ília, à m ater­
nidade, à infância, à adolescência, à velhice e à pessoa p o rtad o ra de deficiência,
in d ep en d en tem en te de contribuição à Seguridade Social” (art. 4 S).
Sua lei básica a posiciona com o “direito do cidadão e dever do E stado, é Polí­
tica de Seguridade Social não contributiva, que provê os m ínim os sociais, realizada
através de um co n ju n to integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade,
para g aran tir o aten d im en to às necessidades básicas” (art. l e), ideia aduzida com o
parágrafo ú n ico do art. 22: “Realiza-se de form a integrada às políticas setoriais, vi­
sando ao en fren tam en to da pobreza, à garantia dos m ínim os sociais, ao provim ento
de co n dições p ara aten d e r contingências sociais e à universalização dos direitos
sociais” (Lei n. 8.742/1993).
R aram ente, um texto en fren to u tem a tão árido e se saiu tão m al qu an to este.
Revela preocupação com os proclam as da C arta M agna, os quais copia, m esm o
q u an d o a Lei M aior afirm a categoricam ente ser direito do cidadão e dever do Es­
tado (sic). P ensando su ste n ta r não d ep en d er o direito individual da contribuição,
aclam ou a assistência social indevidam ente com o não contributiva, assinalando
um m ín im o social in ex istente e forçando a d o u trin a a inventá-lo, m elh o r se iden­
tificando com as “n ecessidades básicas”. Expressa política am biciosa ao direcionar
o en fren tar a pobreza (política estranha à seguridade social), com pletando-se com
a universalização dos direitos sociais.
N estas condições, a relação é n itidam ente securitária, e não previdenciária,
em bora, da m esm a form a, envolva pessoa ju ríd ic a e física, com vistas à proteção
social. A diferença m aior reside na descrição legal do assistido, indivíduo com ca­
racterísticas d istin tas do segurado ou co n trib u in te, n o vínculo ju ríd ico subjacente
e nas prestações.
A ten d id o s os preceitos norm ativos, subsiste direito subjetivo co n stitu cio n al à
proteção. D iferentem ente, n a assistência social privada, m uitas vezes, dep en d e da
vontade do prom otor.
E m bora a C arta M agna fale em “q u em dela n ec essita r”, esse d esiderato não
faz p arte da definição, pois se refere à pessoa carente da proteção oferecida. As
necessidades da pessoa h u m an a são m u ito m aiores e per se não d eterm in am o
assistido.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 183
213. R elação ju ríd ic a d e in g resso — lnexiste prévia adm issão do interessa­
do em algum ente p ro teto r para a outorga de prestações. Relação im in en tem en te
intuitus personae; a qualificação é necessária tão so m en te para identificação do
destinatário.
Com o exercício do bem propiciado, nasce a participação e, com eía, a relação
jurídica. A utom aticam ente, en q u a n to não deferido o p retendido, inexisle a ligação
substantiva. O corre ficção autorizadora da pretensão, a ser exam inada em processo
de instru ção adm inistrativa.
Deflagrada a concessão, o requerente torna-se assistido e obtém a prestação
en q u an to aten d er aos requisitos fixados na lei para o deferim ento e a m anutenção.
N ão b ã, p o r conseguinte, a ideia de filiação.
214. S u jeito s da relação — Dois são os envolvidos na relação enfocada: pes­
soa ju ríd ica e física. N orm alm ente, órgão gestor de direito público ou privado e
ser h u m ano, co rresp o n d en te o relato legal ao hipossuficiente não destinatário da
previdência social. No caso do benefício de pagam ento co n tinuado, a pessoa des­
crita na Lei n. 8.742/1993, com as alterações prom ovidas pelo E statuto do Idoso
(Lei n. 10.741/2003).
215. F in s da técn ica — O objetivo da assistência social é prestar serviços b á­
sicos, vitais ou essenciais, benefícios m ínim os em d in h eiro ou aten d im en to s postos
à disposição, conform e a fortaleza econôm ico-financeira do ente coordenador.
Tem sua razão de ser na n ecessid ad e da pessoa, tanto quanto a previdência
social em preende distribuição de renda.
D iferentem ente do alegado na Lei n. 8.742/1993, não tem p o r escopo erra­
dicar ou lu tar co n tra a m iséria — não é tarefa da seguridade social — , e sim am e­
nizar as condições de subsistência dos protegidos. Não enfrenta nem acaba com a
hipossuficiência, apenas a dim inui, ten tan d o servir de tram p o lim para m elhorar a
situação do ser h u m ano.
B om basticam ente, aquela no rm a básica alude à proposta com esse m atiz: “Os
projetos de enfren tam ento da pobreza com preendem a instituição de investim ento
econôm ico-social nos gru p o s populares, buscando subsidiar, financeira e tecnica­
m ente, iniciativas q u e lhes garantam m eios, capacidade produtiva e de gestão para
m elhoria das condições gerais de subsistência, elevação do padrão de qualidade de
vida, a preservação do m eio am biente e sua organização social" (art. 25).
216. A lcance in stitu c io n a l — Seu alcance confunde-se u m p o u co com o da
previdência social, em razão dos gestores desses in stru m en to s de seguridade so­
cial. A clientela flutua em relação às m esm as pessoas. D eficientes podem habililar-
-se ou reabilitar-se, assum indo, em algum m om ento, a condição de segurados ou
não e, todo o tem po, serem d ep en d en tes destes.
O s lim ites são incognoscíveis n u m dado instante, devendo ser convenciona­
dos a cada intervalo. E m bora de operacionalidade onerosa, não devem estim ular a
m arginalização, ociosidade ou inabilitação para o trabalho.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

184 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
Q uem ad m in istra a assistência social tem o direito de exigir dos assistidos,
q u an d o cabível, o d ever de se su b m eter à habilitação ou reabilitação.
217. Fontes de custeio — P rovirem os m eios da sociedade com o um todo
é co n sen so en tre os p en sadores, d e stin an d o -se a c o n trib u iç ã o pessoal à Previ­
d ên cia Social. M as o rig in arem -se de fo n tes sec u ritá rias e n ão trib u tá ria s é p u ra
convenção.
N os term os da Lei M aior de 1988, as verbas estão incluídas prin cip alm en te
no o rçam en to da seguridade social.
C o n tabilm ente, tem -se recom endadas fontes exacionais pré-alocadas, indi­
vidualizadas, orçam en lariam ente para to rn a r possível a fixação dos seus lim ites.
Q u a n d o a en tid ad e beneficente de assistência social é im u n e à contribuição,
recursos u su alm en te canalizados para a Previdência Social são dessa form a indire­
tam en te consum idos.
De acordo com a Lei n. 8.742/1993, as disponibilidades financeiras originam -
se dos en tes políticos, vertendo as contribuições previstas na C arta Magna.
218. Rol de prestações — A ex em p lo das p rev id en ciárias, são de dois ti­
pos: a) b en efício s em d in h eiro ; e b) serviços. A penas se in v e rte n d o a ordem de
im p o rtân cia.
Os benefícios apresentam características ím pares: a) regras p ró p rias de a c u ­
m ulação; b) intransferibilidade; c) tarifaçâo prévia (não têm cálculo); d) ausência
de prescrição (iniciam -se q u an d o solicitadas); e) p ressupõem dem onstração de
necessidade.
a) regras de acumulação: Os serviços são acum uláveis, m as não os benefícios
em d in h eiro . Regra de superdireito obsta a percepção c o n ju n ta com prestações
previdenciárias.
b) intransferibilidade: Prestações pessoais. N ão sendo segurado o percipiente,
falecendo, inexiste direito dos dep en d en tes ou sucessores a novo benefício.
c) tarifaçâo: G eralm ente o benefício é tarifado, isto é, n ào tem cálculo. O de
pag am en to co n tin u ad o é de um salário m ínim o.
d) imprescritibilidade: A regra básica da prestação assistenciária é ser devida a
p artir do re q u erim en to e não da instalação do estado justificador. Todavia, benefi­
ciado pelo direito ad q u irid o , são im prescritíveis os direitos, m as prescrevendo as
m ensalidades até a data de início do pedido.
e) natureza alimentar: São necessariam ente alim entares.
f ) condicionados: Os benefícios são condicionados ao estado de necessidade do
titular. D esaparecido este, extingue-se o direito.
g) duração: A prestação assistenciária, benefícios ou serviços, p o r n atureza, é
tem porária.
219. P rin cíp io s aplicáveis — Os m ais com uns são: a) necessidade; b) in­
capacidade co n trib u tiv a; c) d isponibilidade de recursos; d) desproporção entre

C urso he D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v i d e n c i á r i o 185
necessidade e proteção; e) custeio indireto; 0 facultatividade de ingresso;
g) inform alidade do procedim ento; h) igualdade de situação entre os beneficiários;
e i) direito subjetivo às prestações.
220. Regras de interpretação — Os princípios aplicáveis à relação ju ríd ica
de assistência social não são exatam ente os m esm os da previdência social. Assum e
ex traordinária im p o rtância o pressuposto da necessidade, m as ela não é presum ida.
Devem ser lem brados o in dubio pro misero, o da no rm a m ais favorável, da
interpretação extensiva da lei e, p rincipalm ente, o sentido social da lei.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

186 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo XXII

R e l a ç ã o J u r íd ic a p e A ç õ e s d e S a ú d e

221. Conceito sucinto. 222. Relação jurídica de ingresso. 223. Pessoas


S u m á r io :
envolvidas. 224. Natureza da relação. 225. Organização do atendimento. 226.
Fontes de custeio. 227. Principais objetivos. 228. Princípios aplicáveis. 229.
Regras de interpretação. 230. Papel do Estado.

A p rim eira técnica de proteção desenvolvida pelo hom em , m ovida pelo in d i­


vidualism o in stin tiv o , foi defender seu organism o, co n to rn a r ataques de anim ais
selvagens, inim igos eventuais e intem péries. Cedo se deu conta da relação entre
essas agressões e o seu estado físico. A lgum as coisas lhe podiam fazer m al e outras
lhe d im in u ir a liberdade.
C u id ar de si p ró p rio , pro teg er o corpo de injúrias externas é preocupação
natural, vigente até entre os anim ais e, p o r isso, rem otam ente o h o m em encetou
in stru m en to s nesse sentido, descobrindo a validade de algum as plantas n a cura de
agravos, indisposições e doenças.
Os cuidados m aternos inspiraram -no a proteger os m ais velhos, crianças ainda,
para p ro lo n g ar a sua vida ú til, baixíssim a (18 anos) no tem po das cavernas.
A fam ília foi a p rim eira en tid ad e a tratar do enferm o ou do incapaz de deixar
o abrigo e sair em busca de alim entos.
U m d o s m ais antigos vestígios de ações m édicas é a im pressão na G ruta de
Gargas, nos Altos P irineus (E spanha), o n d e en co n trad a m ão am putada. A esse
tem po, trepanações cerebrais eram feitas com finalidades m ísticas e religiosas.
A m edicina desenvolveu-se inicialm ente na ortopedia. Dez m il anos antes de
C risto , já se faziam cirurgias. A m ed icin a v e te rin á ria foi e n c o n tra d a em 1900
a. C., n o Egito. O C ódigo de H am urabi tem vários registros relativos à arte da cura
(1950 a. C.). M icenas, na Grécia, desenvolveu a farm acologia. H ipócrates, o pai
da m edicina, nasceu em 460 a. C., n a ilhota de Cos. Era filho do m édico Eródio
de Selim bria. Na G récia, tem plos eram consagrados a Asclépio, cham ados de
A sclepions, verdadeiras clínicas em que eram atendidas m u ltid õ es de pacientes. A
profissão de m édico foi regulam entada em Roma, onde proliferavam charlatães. Os
co n su ltório s-resid ên cia eram co n stru çõ es com plexas.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 1 — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
Na Idade M édia, m o n astério s e m osteiros prestaram assistência religiosa e
à saú d e. As u n iv ersid ades to rn aram -se cen tro s de desen v o lv im en to da m edici­
na e aten d im en to dos enferm os. M édicos a u tô n o m o s e am b u lan tes eram m uito
com uns.
Mais Larde, ainda in existente o Estado, mas já presentes organizações religio­
sas, estas se disp u seram a encetar cuidados, m ovidas pela solidariedade e caridade
próprias dos voltados para o espírito.
C urandeiros, barbeiros, cirurgiões, praticantes d a m edicina incipiente p resta­
ram relevantes serviços até o aparecim ento do m édico e o crescim ento das técnicas
curativas.
O papel da iniciativa p articu lar nas ações de saúde é destacado. M uito m ais
larde, o Estado interessou-se p o r esses cuidados e, após o final do século XIV, fo­
ram im plantados os prim eiros hospitais.
A seguridade social, se assim se quiser cham ar, surgiu no Brasil exata e preci­
sam ente n u m hospital, o da Santa Casa de M isericórdia de Santos (1543).
221. C o n ceito su c in to — C onsideram -se ações de saúde, no sen tid o de insti­
tuição securitária, um co n ju n to de norm as, m edidas governam entais, ações p ú b li­
cas e privadas direcionadas para a prevenção e o tratam ento de doenças.
De todos os três in stru m en to s co nstitucionais da seguridade social, o da saúde
su rp reen d e pela extensão da disciplina. São cinco artigos, program ãticos, bem ­
-intencionados, verdadeira carta de propósitos elevados, raram ente dispositivos,
nem todos autoaplicãveis e aceitáveis, em sum a, deixando livre o legislador ordi­
nário para fixar ao E stado e ã iniciativa privada as m edidas co n d u cen tes à futura
sistem atização do sistem a nacional de saúde.
Não fornece a Carta M agna definição dessas providências, com o prestação
social. A ponta os objetivos perm an en tes nessa esfera, consistentes em redução do
risco de doença e de o u tro s agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua prom oção, proteção e recuperação (art. 196).
A Lei n. 8.080/1990, norm a básica, tam bém não as define, preferindo acolher
o ditam e lapidar da Lei F undam ental: “A saúde é u m direito fundam ental do ser
hu m an o , devendo o E stado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exer­
cício” (art. 2Q).
222. R elação ju ríd ic a de in g resso — O direito à saúde, repete-se perem pto-
riam ente, é Ônus do Estado. Nào p o d en d o g aran tir a p ró p ria saúde, a N orm a M aior
assegura a possibilidade de se buscá-la p o r meio de serviços postos à disposição
do atendido. A afirm ação declaratória — “direito de todos e dever do E stado” — é
destitu íd a de significado ju ríd ico , pois ele não tem capacidade instalada para, em
observância ao p rin cíp io de igualdade, dar atenção a todos.
M inistrar os cuidados na m edida de suas possibilidades (e estas, historica­
m ente, têm ficado a desejar). A concepção, esse vínculo entre direito e dever, p re­
cisaria ser repensada; trata-se de atribuição com etida ao ente político qu an d o , pela

C U R -S O DL: P r B I i lT O P R n V ID P N C lA R IO

188 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
p rópria n atu reza da prestação, terceiros n em sem pre podem realizá-la. N o extrem o
do raciocínio, ad argumentandum, o governo seria responsável pela higidez p erm a­
n en te d as pessoas (e quiçá sua im ortalidade).
A relação ju ríd ic a iniciada entre os aten d id o s e os órgãos gestores das ações de
saú d e causa p erplexidades. A questão m ereceu do co n stitu in te tratam en to n e b u lo ­
so, preco n ceitu o so e idealista. É visível a preocupação em circunscrever o universo
d o d ireito-dever de form a difusa, de m aneira q u e não revele a incapacidade de o
E stado p ro p o rcio n ar não só a universalidade d e assistência, m as tam bém o m esm o
nível de qualid ad e aos habitantes de todos os q u ad ran tes. N esse texto, cabe m ais
de um a exegese, e ela sem pre será difícil.
O co m ando co n stitu cio n al é program ático e perm ite a realização de m uitos
planos g o v ernam entais com vistas à assistência à saúde, co n tan d o com a im pres­
cindível coo p eração da iniciativa privada. N ão é n o rm a dispositiva, não efetiva
a in tenção sublim inar, ficando sem resposta à indagação: o direito à assistência à
saúde é para todos?
A n atu reza ju ríd ic a das ações de saúde deve ser buscada em sua organização
estatal/privada, seu objetivo e fontes de custeio. N esse sen tid o , o co n stitu in te e o
legislador in fraco n stitucional, bem com o o do u trin ad o r, querem tais ações com o
prestações sociais à disposição das pessoas, trabalhadores ou não, m ed ian te m e­
didas estatais e particulares. Seu objetivo é garantir, q u an d o possível, higidez ao
cidadão. N ão deseja o elaborador da norm a, em princípio, sejam tais providências
cu steadas d iretam en te pelo atendido, m as essa é a ideia original. D iante de circuns­
tâncias h istóricas e socioeconôm icas, preferiu-se enquadrá-las na seguridade so ­
cial, isto é, toda a pop ulação, individual e coletivam ente, participa do seu custeio.
C onform e o o rd en am en to , a contribuição para a seguridade social é sua fonte de
custeio e, d estarte, n ão tem sentido co n sid erar a prestação m in istra d a pela em presa
(obrigação do E stado para isso custeado) com o integrante do conceito de salário
de contribuição.
223, Pessoas envolvidas — A partir da C onstituição F ederal de 1988, quais­
q u er pessoas p o d em o b ter assistência à saúde, em âm bito m unicipal, estadual ou
federal. N ão h á distinção, em bora, natu ralm en te, quem po d e d esfru tar de m e lh o ­
res serviços estatais ou privados não recorre ao SUS.
N acionais o u estrangeiros qualificam -se para o aten d im en to p rim ário e, q u a n ­
do a assistência reclam a pro ced im en to s m ais sofisticados, acentua-se a potestade
estatal.
Não há vín cu lo entre a previdência social e o trabalho, p o d en d o ser atendidos,
seg u n d o as necessidades, m esm o os não segurados ou não filiados.
22 4 . N a tu re z a d a re la ção — A relação e n tre o órgão g esto r e o a te n d id o
é m u ito se m e lh a n te , do p o n to d e vista ju ríd ic o , a d o assistid o . P rese n te s os
re q u isito s legais, p o u co ex p ressiv o s em c o m p araçã o com os d o s b en efício s da
p rev id ên cia so cial, o titu la r tem d ireito su b jetiv o à p ro te ç ã o , isto é, aos serviços
de saúde.

C u rso de D ir e it o P r h v id e n c iá r ío

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
m
C om o o espectro da potencialidade dos serviços é am plo, dinâm ico e variável
segundo a localidade, apresenta-se m ais nítida a hipótese da p otestade, o u seja,
a faculdade d ep e n d er da capacidade de o Estado oferecer a referida assistência à
saúde.
225. O rg a n izaç ão d o a te n d im e n to — De acordo com o art. 198 da C o n sti­
tuição F ederal, as ações e serviços p ú b lico s de saú d e in teg ram rede regionaliza­
da e h ierarq u izad a, n a form a de um sistem a ú n ico , organizado sob as seguintes
diretrizes:
a) descentralização — direção única em cada esfera de governo.
b) aten d im en to integral — prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciários; e
c) participação da com unidade.
226. F o n tes de cu steio — O Sistem a Único de Saúde é financiado com recur­
sos do orçam en to da seguridade social e a cooperação da U nião, Estados, D istrito
Federal, M unicípios e de o u tras fontes. O u seja, m eios securitãrios e o rçam en tá­
rios, servindo-se de trib u to s ou contribuições sociais.
A Lei n. 8.080/1990 prevê m ais seis outras fontes (art. 32).
227. P rin cip ais o b jetivos — Os objetivos das ações de saúde estão previstos
na lei, em bora esta não esgote essas funções. C om parecem nos arts. 5e e 6° da lei
básica.
São os seguintes:
a) identificação e divulgação dos fatores cond icionantes e determ in an tes da
saúde.
b) form ulação de política de saúde destinada a prom over, nos cam pos econô­
m ico e social, a observância do dever do Estado de garantir a saúde.
c) execução de ações de vigilância sanitária, epidem iológica e de saúde do
trab alh ad o r e de assistência terapêutica integral, inclusive a farm acêutica.
d) participação na form ulação da política e na execução de ações de sanea­
m ento básico.
e) ordenação da form ação dos recursos hum anos.
f) vigilância nu tricional e orientação alim entar.
g) colaboração na proteção do m eio am biente.
h) política de m edicam entos, equipam entos im unobiológicos e o u tro s insu-
m os de interesse para a saúde e participação n a sua produção.
i) controle e fiscalização de serviços, p ro d u to s e substâncias de interesse para
a saúde.
j) fiscalização e inspeção de alim entos, águas e bebidas para consum o hum ano.
k) participação no controle e na fiscalização da produção, transporte, guarda
e utilização de su b stâncias e p ro d u to s psicoativos, tóxicos e radioativos.

C u r s o t? b D ir e it o P r e v id e n c iá r io

190 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
1) in crem en to , em sua área de atuação, do desenvolvim ento científico e tec­
nológico; e
m ) form ulação de política de sangue e seus derivados.
228. P rin cíp io s aplicáveis — O art. 79 da Lei n. 8.080/1990 estabelece os
p rincípios (e as d iretrizes) palm ilhados pelas ações de saúde.
São os seguintes:
a) un iv ersalid ad e horizontal e vertical — todas as pessoas devem Ler acesso
aos serviços de saúde e em todos os níveis de assistência.
b) in teg ralid ad e do sistem a — a assistência à saúde é co n ju n to articulado,
integrado e co n tín u o de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e
coletivos, exigidos para cada caso, em todos os patam ares de com plexidade.
c) in d ep en d ên cia das pessoas — os indivíduos são au tô n o m o s na defesa de
sua in teg rid ad e física e m oral.
d) igualdade no aten d im en to — os serviços são iguais para todos, sem p re­
conceitos ou privilégios de q u alq u er espécie.
e) direito à inform ação — os destinatários têm direito à inform ação sobre sua
saúde.
f) potencial d a capacidade instalada — o Estado é obrigado a divulgar o p o ­
tencial do s serviços de saúde e a possibilidade de utilização pelos usuários.
g) uso da epidem iologia — ela é recom endada para o estabelecim ento de
p rio rid ad es, a alocação de recursos e a orientação program ática.
h) participação da com unidade — todos são convocados a u m grande esforço
nacional em favor da higidez.
i) descentralização polílico-adm inistrativa — co m etim ento a níveis inferiores
de ad m in istração com direção única em cada esfera de governo.
j) ênfase na descentralização dos serviços — os M unicípios são enfaticam ente
os ex ecutores dos program as.
k) program ação adm inistrativa — regionalização e hierarquização da rede de
serviços de saúde.
1) integração em nível executivo — as ações de saúde são integradas com
p rogram as relativos ao m eio am biente e ao saneam ento básico.
m ) conjugação dos recursos — os m eios financeiros, tecnológicos, m ateriais e
h um anos dos entes políticos são canalizados na prestação de serviços à com unidade;
n) in d ep en d ên cia de decisão — capacidade de resolução dos serviços em to ­
dos os níveis de assistência; e
o) coordenação da azienda — organização dos serviços públicos de m odo a
evitar d u p licid ad e de m eios para fins idênticos.
229. R egras d e in te rp re ta ç ã o — Os dissídios relativos às ações de saúde são
in tegrados e in terp retad o s conform e a sua natureza. Em algum as hipóteses, co n s­
tituem -se em direito das pessoas e, em outras, a relação é de potestade.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 1 — N o ç õ e s d e D i r e ito P r e v id e n c iá r io 191
230. Papel do Estado — O direito a ações de saúde consagrado n a C arta
M agna atrib u i ao Estado função nobre e da m aior im portância: co o rd en ar as ações
públicas e p articulares com vistas ao aten d im en to das pessoas.
São duas funções igualm ente significativas: a) norm atizar as relações jurídicas
e m ateriais; e b) p o r m eio do SUS, prestar efetivamenLe os serviços.

C u r s o l~>l D ir e it o P R E V io r N c iA R io

- W l a d im i r N o v a e s M a rtin e z
Capítulo XXIII

A c o r d o s I n t e r n a c io n a is

S um ário:231. Solidariedade internacional. 232. Reciprocidade de tratamento.


233. Igualdade de direitos. 234. Conservação da expectativa de direito. 235.
Presença do direito adquirido. 236. Prestações no exterior. 237. Adaptação das
legislações nacionais. 238. Circulação fronteiriça. 239. Equivalência dos gesto­
res. 240. Divisão dos encargos.

Desde o século XIX, o Brasil tem sido receptáculo de en o rm e con tin g en te de


im igrantes. D epois da chegada dos portugueses, os prim eiros a aportar, desem ­
barcaram o p erário s italianos, espanhóis, jap o n eses e, em m en o r escala, de quase
todos os rincões da E uropa e, m ais recentem ente, do sul do c o n tin en te am ericano.
Após p restarem serviços no seu país de origem , filiados à previdência social local,
m udam -se para o nosso território, e aqui se radicam .
P or o u tro lado, brasileiros têm deixado o País, em grande núm ero, tran sferin ­
do-se para os E stados U nidos, P ortugal, Itália, F rança e Inglaterra. U ltim am ente,
tam bém para os países do M ercosul.
D esde a criação da O IT (1919), diante do crescente m ovim ento de translação
geográfica de obreiros, tratados binacionais e in tern acio n ais vêm sendo estim u la­
dos p o r todos os governos e organizações especializadas, do tipo ONU , OIT, OISS,
AISS e CIESS.
F en ô m en o ac en tu ad o no pós-guerra com a globalização da econom ia e a in­
ternacionalização da seguridade social dos anos 90, é m otivo de preocupação dos
organism os internacionais.
Por isso, José Dalmo Fairbanks Matos chega a falar nu m D ireito Social In ter­
nacional: “A regulam entação dos aspectos in tern acio n ais do D ireito Social, em
sen tid o estrito e n u m Direito In tern acio n al Social, q u e consistiria no co n ju n to de
preceitos e n o rm as reg ulando relações entre E stados hipossuficientes e os Estados
auto ssu ficien tes” ( “C o m entários às C onclusões do Sem inário de Intern acio n aliza­
ção da Previdência Social”, in RPS n. 170/1.5).
A exem plo do segurado da iniciativa privada, passando à atividade no serviço
público ou deste, d eixando o Estado e filiando-se ao RGPS, m u d an d o sucessiva­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o I — N oções d e D ire ito P revidenciá rio 193


m en te de regim e de cobertura (in casu, solucionado legalm ente pela contagem
recíproca de tem po de serviço), propõe-se o côm puto do tem po de serviço, das
contribuições, do p eríodo de carência com pletado ou não e de outros requisitos,
em am bas as nações, de origem e destino, com vistas às prestações e à definição das
responsabilidades q u an to ã concessão e m anutenção de direitos.
C anh estram en te, vários acordos internacionais foram celebrados entre países
lim ítrofes ou não, e, até 1996, o Brasil havia firm ado tratados bilaterais com Grão-
D ucado de L uxem burgo (1966), P ortugal (D ecreto n. 67.695/1970), E spanha (D e­
cretos n. 68.503/1971, n. 86.828/1982 e A juste A dm inistrativo de 5.11.1981), Itália
(A juste A dm inistrativo de Im igração de 2.4.1973), Paraguai (D ecreto Legislativo
n. 40/1974, reg u lam entado pelo D ecreto n. 75.242/1975), U ruguai (1978), Ilha de
Cabo Verde (A cordo A dm inistrativo de 7.2.1979), C hile (D ecreto Legislativo n.
27/1982) e, finalm ente, em 1982, com a A rgentina (D ecreto Legislativo n. 95/1982
e D ecreto n. 8 7 .918/1982), Japão (D ecreto n. 7.702/2012) inco rp o ran d o -se esses
docu m en to s ao o rd en am en to ju ríd ic o nacional.
P o r força do art. 49, 1, da C onstituição F ederal de 1988, os tratados in ter­
nacionais têm de ser ratificados pelo P oder Legislativo, in stru m en talizad o s por
decretos legislativos, ad q u irin d o força de lei, e regulam entados por decretos do
P oder Executivo, co n stitu in d o -se, destarte, em consideráveis fontes form ais do
Direito Previdenciário.
N orm as securitárias relativas à im igração são incipientes, não sistem atizadas,
m al geridas adm in istrativam ente e carentes de com entários. A d o u trin a nacional
silencia a respeito, p raticam ente n ão com parecendo na bibliografia. José Reis Feijó
Coimbra é exceção, dedicando-lhe 25 linhas ( “D ireito Previdenciário B rasileiro”,
p. 55/56).
C uidam os do assunto, de passagem , assinalando, em particular, aspectos per-
à solidariedade, um conceito de reciprocidade e , p o r via de conseqüência,
tin e n L e s

a igualdade de tratam ento, a questão da uniform idade e a divisão de responsabili­


dades ( “Subsídios para u m M odelo de Previdência Social”, p. 79/81). D esenvolve­
m os, ainda, os prin cípios relativos à m atéria internacional, com vistas ao o rd en a­
m ento de um f u t u r o D ireito P revidenciário Internacional (“P rincípios de D ireito
P revidenciário”, p. 242/251).
De m odo geral, conform e as diferentes cláusulas dos acordos, quem trabalhou
no Brasil, particu larm ente se filiado ao RGPS, pode tran slad ar o tem po de serviço
para fins de fruição dos benefícios nos países contratantes; os originários dos m es­
m os países, reciprocam ente, e até com vantagens (deles, só a Itália tem ap o sen ta­
doria p o r tem po de serviço), com putam o trabalho ali prestado.
Os ajustes não são xenófobos e, p o r isso, valem para brasileiros ou não, m igra­
dos para o exterior e, da m esm a form a, nacionais ou não, filiados n o estrangeiro,
poclem aqui se beneficiar dessa contagem , n em sem pre recíproca.
A ideia é essa, m as, com o adiantado, os textos, geralm ente elaborados
p o r diplom atas, são precários, obscuros, genéricos, confusos e não sistem atizados.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

194 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
P or o u tro lado, os órgãos gestores, m al inform ados, despreparados, lentos, estão
pouco interessados no cum prim ento das regras ajustadas. Há m uito a avançar nessa
área e isso em parte se deve às diferenças nacionais (v. g., território, cultura, costum es,
política, idiom a, m oeda e padrão de vida) e aos planos de custeio e benefícios.
Na obra “La S eguridad Social”, publicada pela O rganização Internacional do
Trabalho, s ã o arro lad o s cinco p rin cíp io s relativos a o s m igrantes: a) igualdade de
tratam en to ; b) d e L e r m i n a ç ã o da legislação aplicável; c) conservação d o s direitos
adquiridos; d ) conservação dos direitos em vias de aquisição; e e) pagam ento de
prestações n o estrangeiro.
Juan Raso Dalgue ( “C ooperación de los E stados para la P roteción Social dei
Trabajador M ig ran te”) ap o n ta conclusões relativas aos m igrantes. D entre elas des­
taca: u n iv ersalid ad e — todo trab alh ad o r de um país, diante da m esm a c o n tin ­
gência protegida, terá direito a igual cobertura; territorialidade — o trabalhador
deve subm eter-se à legislação do país de im igração e receberá benefícios, m esm o
vivendo no país de origem ; personalidade — os organism os de seguro social de um
país co n tin u arão pagando as prestações, m esm o que o trab alh ad o r se transfira para
o u tro país; e, finalm ente, a igualdade de tratam ento.
231. Solidariedade internacional — O advento de acordos secu ritário s entre
nações deve-se à m ovim entação geográfica das pessoas. Estas, deix an d o seu solo
de nascim en to , se deslocam para o u tro s recantos, onde se firm am provisória o u d e­
finitivam ente. F en ô m en o geopolítico relevante iniciado no século XIX, ex p a n d iu ­
-se so brem aneira após a 2- G uerra M undial.
A situação trabalhista e previdenciária desses obreiros cham a a atenção dos
governos; ao se retirarem de seus países, perdem direitos quase adquiridos, co n ­
su b stan ciad o s em contribuições vertidas, tem po de serviço realizado e, em alguns
casos, carência integralizada. A correção desse estado de coisas dá-se p o r m eio da
com unicação entre os regim es distintos, em nível internacional, realizada m ediante
tratados bilaterais de cooperação m útua.
N ão é difícil avaliar os obstáculos a serem transpostos neste cam po de a tu a­
ção. Em âm bito in tern o , se a previdência social ten ta red istrib u ir a renda nacional,
tais ajustes bu scam a u nião e a solidariedade entre os diferentes estados.
N o aco rd o in tern a cio n al, há contagem recíproca de co n trib u içõ e s entre
d u as ou várias regiões; elas se cotizam para asseg u rar a p ro teção ao segurado
m ig ran te.
C o n trib u içõ es vertidas nu m solo beneficiam o indivíduo q u an d o dom iciliado
no u tro rincão, n u m a form a concreta de cooperação m undial raram en te atingi­
da n o u tras áreas de interesse h u m an o e a ser desenvolvida em grande escala, até
atingir-se a m ú tu a ajuda ou a solidariedade universais.
A base m aterial e sociológica deste fenôm eno socioeconôm ico é a m esm a do
p rin cíp io n o rtea d o r do seguro social, o solidarism o, com a diferença de, em relação
aos trab alh ad o res m igrantes, u ltrap assar os territó rio s dos países e atingir um a ou
m ais nações em cooperação.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I — N a ç õ e s d e D i r e it o P r e v id e n c iá r io 195
A solidariedade in tern acio n al tem seu alcance lim itado à aplicação dos tra­
tados, devendo tais fontes form ais ser observadas em co n ju n to com as nacionais.
P rincípio inform ador, e n ào de aplicação direta, destina-se a governos, q uando do
ajuste diplom ático de regras de ajuda internacional.
232. R ecip ro cid ade d e tra ta m e n to — Os tratados in tern acio n ais têm por
base p rin cíp io ju ríd ico fundam ental, o da reciprocidade. Em m atéria de seguro
social, as disposições co m u n s a países co n tratan tes devem -se co m u n icar a um e a
ou tro , reciprocam ente. Pessoas originárias do país A, situadas no país B, devem ter
iguais obrigações e d ireitos dos trabalhadores do país B, q uando no país A. Dá-se
exem plo: em bora inexistente aposentadoria p o r tem po de serviço na A rgentina,
o argentino pode c o m p u tar tem po de seu país e aqui se ap o sen tar aos 30 ou 35
anos. O brasileiro, na A rgentina, terá direito a algum benefício ali previsto e não
co n tem plado no Brasil.
D iante da diversidade de regim es, a reciprocidade nem sem pre é possível e,
p o r isso, deve ser estabelecida pelo m enos em relação às obrigações e direitos co ­
m u n s aos regim es d o s contratantes.
Q u an d o não há in stitu to ju ríd ico com um aos dois países, fórm ula solucio-
nadora tem de ser estu dada para não desproteger os segurados, visando a algum a
form a de com pensação. Por exem plo, com pletarem os requisitos no país acolhedor
(se este possui prestação desconhecida no país de origem ).
N ão im p o rta se um a econom ia recebe m ais m igrantes em com paração a outra;
e não tem significado, tam bém , se, eventualm ente, depois de m igrados e tendo
assegurado o direito às prestações n a nação recepcionante, os obreiros retornarem
ao p o n to de partida. As correntes m igratórias vão de u m espaço geográfico para
outro. O equilíbrio financeiro deve ser objeto de tratado, a fim de evitar que os
segurados sejam prejudicados.
N u m a referência expressa, Celso Affonso Garreta P ratts ( “M anual de P revi­
d ên cia Social e A cid entes do T rab alh o ”, p. 128) ad m ite a ex istên c ia do p rin cíp io
da recip ro cid ad e, c o n sid eran d o n a sua ap licação p rática o seg u in te fato: um
trab a lh a d o r com 20 an o s n o B rasil “q u a n d o , em te rritó rio esp a n h o l, co m p letar
35 an o s de serv iço , receberá o benefício to tal da a p o se n ta d o ria , p o is c o n ta rá o
tem po de trab a lh o em n o sso país. Para isso, o INSS d o B rasil pagará o co rres­
p o n d e n te a seu s 20 an o s, e n q u a n to o INPS da E sp an h a p ag ará o p ro p o rcio n al
aos 15 a n o s ”. R acio cinou com o se os ibéricos p o ssu íssem ap o se n ta d o ria por
tem p o de serviço.
233. Igualdade de direitos — Segundo o dogm a da igualdade de tratam ento,
derivado do p rin cíp io anterior, q u an d o se trata de países com acordo firm ado e n ­
tre si, os direitos de u m trabalhador m igrante, no país acolhedor, são exatam ente
iguais aos direitos do trab alh ad o r desse país.
Essa ausência de discrim inação em relação ao estrangeiro é característica do
seguro social. N ão deve ter preocupação q u an to à nacionalidade da pessoa, e sim
qu an to à condição de trabalhador.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
De m o d o geral, as legislações nacionais não são xenófobas e poucas discri­
m inações fazem aos estrangeiros. N a legislação brasileira, p o r exem plo, não há
n en h u m a restrição q u an to ao estrangeiro o u m igrante, em m atéria de previdência
social.
Subsistem su b stanciais dificuldades na aplicação da igualdade de tratam ento,
no tad am en te no p ertin e n te ao custeio: de m odo geral, os tratados versam especial­
m ente sobre as prestações.
234. C o n serv a ção d a ex p e ctativ a de d ire ito — C om vistas à proteção, os
trab alh ad o res não p erdem os direitos em consubstanciação no seu país origina!
q u an d o da m igração para o u tro s países. Se tal conclusão não for atendida, o utra
vez não se terá atingido o objetivo m aior, a solidariedade internacional.
Diversos problem as se apresentam em razão dos in ú m ero s e d istin to s prazos
de carência o u de m an u ten ção da qualidade d e segurado, de um país para outro,
devendo ser resolvidos pelos textos acordados.
No acordo B rasil-Portugal, colhe-se: “O trabalhador brasileiro ou português,
que haja cu m p rid o p erío d o s de seguro sob a égide das legislações de am bos os Es­
tados co n tratan tes, terá esses p eríodos totalizados para a concessão das prestações
d eco rren tes de invalidez, velhice e m o rte ” (art. 7°).
Isto é, oito contribuições lusitanas, adicionadas a quatro co n trib u içõ es brasi­
leiras, som am as doze necessárias para com pletar o período de carência do auxílio-
-doença ou da ap o sen tad o ria p o r invalidez.
235. P resen ça d o d ire ito a d q u irid o — A exem plo do sucedido com rela­
ção aos d ireito s em fase de aquisição (tam bém os ad q u irid o s n u m país devem
ser m an tid o s no país acolhedor, sem qu aisq u er prejuízos e sem levar em conta a
nacionalidade do seg u rado), o m esm o deve acontecer com os direitos adquiridos
p ro p riam en te ditos. A solução será co n ced er a prestação naquele país ou transla­
d ar os elem entos para a nova Pátria, ah se m an ten d o a nova relação ju ríd ica, até a
concessão do direito.
João Antônio G uilhem -B em ard Pereira Leite ( “O E strangeiro e a Legislação de
Previdência Social”) im põe com o condição para a preservação do direito a positi-
vação no acordo internacional: “A aplicação da lei brasileira aos estrangeiros não
im plica o resguardo de direitos ad q u irid o s no exterior, o q u e só é possível através
de acordos in ternacionais, cuja prática se reco m en d a”.
Deve valer para o direito com o um todo e para as duas partes integrantes.
Alguém poderá co m p letar a idade no U ruguai e a carência no Brasil.
236. P restaçõ es n o e x te rio r — C oncedida a prestação, alguns países fixam
prazo de 90 dias para p erm an ên cia no exterior, caso contrário, extinguem ou re d u ­
zem so brem aneira o pagam ento. O utros, porém , co n tin u am m antendo-o, m esm o
se o trab alh ad o r jam ais voltar ao país, caso do D ireito P revidenciário brasileiro.
D ispõe o art. 9 e do acordo adm inistrativo referente à aplicação dos arts. 37 a
43, do acordo de m igração entre Brasil e Itália: “O pagam ento das prestações em di-

C urso p r. D ir e it o P r h v id e n c iAr io

T o m o I — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io
m
nh eiro não será susp en so na hipótese de o m igrante ou seus d ep en d en tes deixarem
o país de aco lh im en to após terem sido concedidas as prestações, observando-se o
que consta do parágrafo 2-, no caso de o pagam ento ser sub o rd in ad o a exam e m é­
dico para verificar a persistência da enferm idade que d eterm in o u a incapacidade
para o trab alh o ”.
D iferente se passa no México: “En caso de que el pensionado traslade su d o ­
m icilio al extranjero, se suspenderá su p en sió n m ientras su ausência, salvo lo dis-
puesto p o r convênio internacional. Si el pensionado com proba q u e su residencia
en el extranjero será de carater p erm an en te, a su solicitud el in stitu to le entregará
el im porte de dos an u alidades de su pensión, extinguindose p o r ese pago todos los
derechos p rovenientes dei seguro. Esta disposición rige tam bién para el p en sio n a­
do p o r riesgos de trab ajo” (art. 126 da Lei de Seguro Social, de 12.3.1973).
Esta disposição nitidam ente xenófoba, diferente em si m esm a, inova ao criar
u m pecúlio su b stitu id o r das m ensalidades do benefício. Toda ela, de m odo geral,
não estim ula o afastam ento do beneficiário m exicano. S egundo a norm a, ele deve
c o n su m ir o valor em seu p ró p rio território.
237. Adaptação das legislações nacionais — O seguro social evoluiu diferen­
tem ente nos diversos recantos do planeta. N ão existe um código-padrão em todo
o m undo. As condições de cada lugar ditam as regras; circunstâncias históricas,
econôm icas e sociais regem os in stitu to s ju ríd ico s, as obrigações e direitos dos
co n trib u in tes e beneficiários.
A m aior parte dos sistem as adota regim e básico, estatal e público, im ple­
m en tad o p o r segm ento com plem entar, particular, de direito privado. R aram ente,
som ente o Estado gera a proteção social (Rússia) e, da m esm a form a, em n e n h u m
lug ar exclusivam ente, o p articu lar cuida das prestações previdenciárias. A parente­
m ente, in medio virtus est.
Na A m érica do Sul, alguns países com o o Chile e o Peru, e de m odo ligei­
ram ente diferente a A rgentina e a C olôm bia, adotaram experiências parciais, de
m aior ou m en o r relevo o afastam ento do Estado, p artin d o para a privatização,
onde o regim e financeiro prevalecente é o de capitalização de recursos individuais
(AFP, no C hile), to rn an d o difícil a form ulação de regras de adaptação dos acordos
internacionais com países em que consagrada a repartição sim ples (Brasil).
E im prescindível esforço m ú tu o in ternacional no sentido de flexibilizar essas
regras para to rn ar viável e factível o aproveitam ento da filiação e da contribuição
gerada em am bos os países, n o u tro , q uando diferentes as m odalidades in stitu cio ­
nais securitárias.
238. Circulação fronteiriça — Problem a crucial diz respeito aos residentes
nas pro x im id ad es das divisas entre dois territórios.
Gilda Maciel Corrêa M eyer Russomano ("Integração Econôm ica e D ireito So­
cial”, p. 109/11) reporta-se à livre circulação dos trabalhadores fronteiriços ou
oriu n d o s de regiões d istintas da fronteira. M enciona diversos trabalhos publicados
na Europa, versando a m atéria, onde o problem a do obreiro de divisa é m ais com um .

C urso p r D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
C om o m edidas facilitadoras do livre trânsito , ela a p o n ta as seguintes provi­
dências: a) dem arcação geográfica do conceito de zona fronteiriça; b) redução das
exigências h ab itu alm en te feitas ao obreiro m igrante; c) reestudo da carteira p ro ­
fissional, em itida pelas au to rid ad es do país de origem , com efeitos extranacionais;
e d) atribuição, ao referido d o cu m en to , de eficácia m ultinacional, com o prova de
id en tid ad e da pessoa.
Tais conclusões, m arcadam ente trabalhistas, estendem suas conseqüências à
P revidência Social e dizem respeito à antiga am bição dos m igrantes de todo o
m undo.
239. Equivalência d o s g esto re s — A fim de rem over dificuldades antepostas
às relações entre beneficiários e gestor do seguro social, q u alq u er ato praticado
pelo titu lar p erante o ad m in istrad o r do país acolhedor será tido com o se realizado
ju n to ao do país de origem ou vice-versa.
Isso é válido em m atéria de prazo, com o tam bém em assunto de represen­
tação. A esse respeito diz o art. 19 do acordo internacional B rasil-Espanha: “Os
recursos a in te rp o r p eran te u m a in stitu ição com petente de um dos dois Estados
C o n tratan tes serão tidos com o in terp o sto s em tem po hábil m esm o q u an d o forem
ap resentados p eran te a instituição corresp o n d en te do outro E stado, sem pre que
sua apresentação for efetuada d en tro do prazo estabelecido pela legislação do Es­
tado a q uem co m p etir apreciar os recursos".
N em m esm o a parte procedim ental pode ser esquecida; às vezes, se instalam
dissídios en tre m igrantes e órgãos gestores do seguro social. N ão fora a norm a re­
p ro d u zid a, n ão se atingiriam os objetivos do D ireito P revidenciário Internacional.
240. Divisão d o s encargos — C oncebido o benefício, é preciso, agora, definir
as responsabilidades. A lgum as opções são oferecidas ao legislador.
A fórm ula m ais com um é o estabelecim ento de um a relação proporcional (ci­
frada a p ro p o rcio n alidade a um fator com o tem po de serviço, volum e de recursos
apo rtad o s etc.) de encargos, p o r m eio da qual cada país assum e um a parte do total,
fazendo ju s o segurado a dois benefícios nacionais.
Variante dessa solução consiste no pagam ento p o r um a ú nica entidade, geral­
m en te a do p aís con cessor do benefício, creditando-se, na fração correspondente,
ju n to ao país celebrante do tratado internacional.
O acerto de contas, nesta últim a hipótese, pode ser individualizado, p o r b e­
neficiário, ou globalizado, operado m ensal ou anualm ente.
Trata-se de m atéria da m ais alta im portância, convindo ficar estrem e de dúvi­
das o ajuste de v o n tades entre os dois órgãos adm inistradores.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 199
Capítulo XXIV

N a t u r e z a J u r íd ic a d a C o n t r ib u iç ã o

S um ário:241. Introdução do tema. 242. Exação previdenciária ou securitãria.


243. Fontes de custeio e contribuições. 244. Sistema Exacional Nacional. 245.
Atributo das remissões. 246. Distinções constitucionais. 247. Destinação dos
recursos. 248. Natureza econômico-financeira. 249. Especificidade previden­
ciária. 250. Conclusões finais.

A natureza juríd ica da exação previdenciária é a área na qual o Direito Previden­


ciário mais se relaciona com o Direito Tributário. Sede de form idáveis divergências
entre publicistas e u n s poucos previdenciaristas, tem estim ulado enorm em ente os
estudiosos e propiciado respeitável contribuição doutrinária.
241. In tro d u ç ão do tem a — É m ais ou m enos assente ser tarefa com etida
à d o u trin a p erq u irir in siste n te m e n te até, afinai, definir a essência das coisas em
Direito. Com frequência e p o r im posição do dever de d istrib u ir a ju stiç a, o m a­
gistrado vê-se obrigado a te n ta r apreendê-la, sendo bem -sucedido em alguns jul­
gados. R aram ente, a n orm a declara a nuclearidade do fenôm eno ju ríd ico regido;
o legislador tem ojeriza p o r definições e escapa dos conceitos (o art. 3Q do CTN é
exceção), m as insinua ou fornece suficientes sugestões.
No en cam in h am en to do estudioso, indagar o âm ago dos in stitu to s sem se
abeberar na regra legal é oneroso; em m uitos casos, ela é expressão com um , planta
baixa, de fácil leitu ra e passo inicial. Daí tantos com entários às leis e tão poucos
cursos.
Vale dizer, sob pena de perder-se o eixo da investigação, não se pode ignorar
o texto da n o rm a q u an d o ela circunscreve o objeto analisado. P rincipalm ente, re­
ferente à m atéria co n tem plada na C arta Magna, q uando representa a condensação
do fato, refletindo a in tim idade do ente buscado, na hipótese de o co n stitu in te ter
sido feliz na redação.
Raciocínio m u ito utilizado, sub censura, consiste em atrib u ir valoração num
artigo, se, n o u tro sem elhante, qualificação foi procedida, não confirm ada pelos
dem ais elem entos da norm a. Dá-se exem plo com o art. 194, parágrafo único, VII,
no qual a C onstituição Federal, cu id an d o da gestão, fala em ‘‘trabalhadores, em ­

C u r s o do D ir e it o P r e v id e n c iá r io

200 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
presários e ap o se n ta d o s”. C orolariam ente, no art. 195, II, m en cio n an d o trab alh a­
dores, não teria in cluído os inativos. Será verdadeira a assertiva? Se sim , haveria
conflito com o art. 201, § l g, da C arta M agna de 1988 ( “Q u alq u er pessoa poderá
particip ar dos benefícios da previdência social”) e o desem pregado não poderia ser
facultativo e, da m esm a form a, excluiria os em presários do rol dos trabalhadores
e assim p o r diante...
Não se deve esperar en co n trar explicitam ente essa condensação na Lei Maior,
mas apenas indicações úteis. N em ser encarada com o Bíblia Sagrada, livro perfeito
o n d e d escrito o Santo Graal da sabedoria. C arece de m u ito s reparos e esse talvez
seja o m aior desafio do estudioso, sep arar o válido do equivocado, e sopesar os
cochilos.
Para Geraldo Ataliba, o conceito de trib u to é constitucional ( “H ipótese de
Incidência T rib u tária”, pág. 29). M esm a recom endação faz Augusto Becker: “Q uem
preferir cam in h o diferente, defrontar-se-á com m últiplos problem as ju ríd ic o s e não
os poderá resolver; apenas conseguirá apaziguar as suas dúvidas, em briagando-se
com ilogism os eruditos, dissolvidos n o rem oinho da retórica e utilizan d o o estu-
dipificante, aliãs m u ito côm odo, dos fun d am en to s óbvios” (apud Geraldo Ataliba,
ob. cit., p. 30).
Para tanto, existem m éto d o s e recom endações da ciência herm en êu tica (e
não são p o u co s ou fáceis), m as, em com pensação, é do ser h u m an o subestim ar
e su p erestim ar enfoques, ângulos, vieses, enfim , valorizar o u n ão singularidades,
segundo processo m eram en te subjetivo.
Não é desprezível indagar: se a decadência e a prescrição previdenciárias ti­
vessem sido estabelecidas com prazos iguais aos dos arts. 173/174 do CTN, q u a n ­
tos trib u taristas teriam estudado este aspecto e, da m esm a form a, até on d e a busca
da au to n o m ia do D ireito Previdenciário não levaria os previdenciaristas a privile­
giar sua área de atuação?
A lude-se à decantação da natureza cientifica, com p reen d en d o a econôm ica
e a ju ríd ica, da exação previdenciária. Sobre sua indispensabilidade, não obstante
a Resolução n. 6 do XV Sim pósio N acional de D ireito T ributário, de 1990 ( “À luz
da C o n stitu ição de 1988, todas as contribuições sociais inseridas nos artigos 149 e
195 o sten tam n atureza trib u tá ria ”), parece desnecessário alongam ento.
P ostado na co rrente trib u tária da contribuição previdenciária, q u an d o todos
co n tin u am b u scan d o sua natureza (haja vista o C aderno de Pesquisas Tributárias,
vols. 1, 8, 17 etc.), estran h a a afirm ação de Hugo de Brito Machado: “Em face da
C o n stitu ição F ederal de 1988, restou desprovida de interesse no D ireito Positivo
B rasileiro a polêm ica em to rn o da questão de saber se as contribuições sociais são,
ou não, trib u to ( “C o n trib u içõ es”...)”. A costa-se à Geraldo Ataliba: “Na m edida
em que a p erquirição da natureza ju ríd ic a dos in stitu to s tem a finalidade única de
d esvendar qual é o regim e ju ríd ico que o sistem a lhes dispensa (Celso Antônio), fica
superada (ou inutilizada) a p erquirição da natureza das contribuições, de vez que
a p ró p ria C o n stitu ição F ederal foi taxativa a respeito, m an d an d o aplicar-se-lhe o

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 201
regram ento ju ríd ico trib u tá rio ” (“C ontribuição Social na C onstituição Federal de
1988”, Rev. D ireito Tributário, p. 48/49, apud “C ontribuições Sociais no Sistem a
T ributário”, p. 74).
R ecentem ente, essa inteligência se im pôs com o pressuposto ao Suprem o
Fribunal Federal, q u an d o do exam e da contribuição previdenciária patronal em
relação à rem uneração dos em presários, au tô n o m o s e avulsos (ADI n. 1.202-2/
DF).
No curso da história, o elab o rad o r da N orm a M áxim a ofereceu ilustrações ao
ceder espaço à técnica protetiva, avocando m ecanism os colhidos na lei o rdinária e
alçando-os para o seu patam ar.
A apuração da quinta-essência da exigibilidade previdenciária não elide um a
prim eira dicotom ia: a) idealização constitucional, com função acentuadam enle
institucional e formal; e b) concepção econôm ica e n u an ça n a tu ra lm e n te m aterial,
perscru tan d o a especificidade do in stru m en tal protetor. Se possível, privilegiando
os cenários em que o p esq u isad o r se verá obrigado a m ergulhar nos ditam es infra-
constitucionais.
A com binação do fruto dessas duas pesquisas seguram ente ensejará ap ro ­
xim ação da definição procurada. Sem pre lem brando ser pape! do legislador da
norm a extrair suas verdades na realidade, e nào im pô-las ao m u n d o social p o r si
m esm as. Isto é, in teg rar as duas deduções nu m a con clusão lógica e finalística.
A Lei M aior é n o rm a suprem a e, ao d isp o r sobre o assunto, não pode fazê-lo
em conflito com o su b strato pré-jurídico ou consigo, nem in d u zir o aplicador ou
interessado a engano. Daí se adm itir, q u an d o sistem atizada ou im plem entada por
lei, a conclusão. Julga-se pouco faltar para isso, ou seja, tem -se com o suficiente
farol ilu m in ad o r da inteligência da natu reza da exação previdenciária. Mas, ap a­
rentem en te, p av im en tar o cam inho é espinhoso encargo da d outrina.
Nessa linha de raciocínio, convém registrar arguta lição de Pontes de M iranda:
“Q u an d o a Lei fixa o quantum da contribuição de em pregador o u de em pregado,
para que se aplique o art. 165, XVI, da C onstituição de 1967, não tributa nem há
im posto, n em taxa (no sentido de espécie de trib u to ); não h á determ inação legal
qu an to a, p o r força de regra ju ríd ica co n stitu cio n al cogente, porém não autossu-
ficiente, estarem v inculados o em pregador e o em pregado. C ham ar-se de ‘taxa’ a
tais contribuições, prestáveis por dever, seria o m esm o que cham ar-se de ‘taxa’ ao
que a lei fixa com o q u an to do alim ento por parentesco, ou p o r vínculo co n ju g al”
( “C o m entários à C o n stituição de 1967”, p. 226).
A visão do E statuto Fundam enLal é form al, e não poderia ser diferente, ca­
ben d o recorrer à m etodologia do ram o ju ríd ico , o D ireito Previdenciário e seus
princípios, sem ênfase ou exclusividade do D ireito Tributário. Q u ando enfocada
a realidade social, possivelm ente solicitar a inspiração da técnica protetiva, a p re­
vidência social. Nesse sentido, não an d o u bem o STF p o r ocasião da m encionada
AD ln, q u an d o desprezou inform ações do D ireito Previdenciário, indo buscar o
conceito de “folha de salários” apenas no D ireito do Trabalho.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

202 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
242. Exação previdenciária ou securitária — A p artir da C onstituição Federa
de 1988 e seu T ítu lo VIII — Da Ordem Social, p artic u la rm en te do caput do art. 194,
a m atéria sub examinem teve acrescido u m com plicador. A m pliou-se o nicho onde
abrigada a dita exigibilidade. Até então, investigava-se a cotização previdenciária
e, agora, está-se dian te do aporte securitário. Q uer dizer, será preciso explicitar, em
particular, igualm ente as verbas destinadas às ações de saúde e à assistência social.
R ealm ente, t a i s despesas eram acudidas com a r e c e i L a do FPAS, m a s a C arta
M agna in d iv id u alizo u os diferentes program as estatais, sem prejuízo de tê-los in ­
tegrados n u m esforço com um do E stado e da iniciativa particular.
D everem os p o d er resp o n d er à indagação: im porta, nesta pesquisa, saber se os
recursos são canalizados para pagam ento de prestações previdenciárias, serviços
assistenciários ou sanitários? A resposta é positiva, pois essas apropriações estatais
são diversificadas e adquirem form atação conform e, entre outros aspectos, sua
u tilização co n stitucional.
Rui Barbosa Nogueira preo cu p o u -se com isso: “As co n tribuições são tributos,
salvo as destin ad as ao custeio da assistência social que, p o r estarem reguladas no
art. 195, in serto no capítulo II do T ítulo VIII, p ertinente à O rdem Social, têm outra
n atu reza” (“C urso de D ireito T ributário”, p. 128). Além de não ter desprezado o
sítio em que assentada a im positividade, qual o m otivo de ter selecionado a assis­
tência social e ignorado a previdência social? Se a posição geográfica é im portante,
as três v erten tes da seguridade social estão coligadas (arts. 193 e 204).
O destin o da receita é condição necessária, m as não suficiente; ap aren tem en ­
te, não é capaz de solver a dúvida em tela. A natureza da exação deve ser sugerida
pela finalidade co n ceituai, e não pelo seu uso prático. N ão é relevante se o valor
apo rtado pelo facultativo (dificilm ente enquadrável n a ideia de im posição), afinal,
presto u -se para pagar benefício de segurado obrigatório. Da m esm a form a, se a
m ulta nào é trib u to (m era e cara convenção à qual tan to se apegam os publicis­
tas), é desp icien d o saber se atinge o m esm o resultado. F inalm ente, pouco im porta
so p esar o fato de a contribuição pessoal voltar-se para despesas adm inistrativas.
R econhece-se a validade, com o co n trib u ição d o u trin ária, do espírito do art. 4 S, II,
do CTN.
E stu d an d o a obrigação da em presa, de c o n trib u ir em relação ao autô n o m o (ex
vi da Lei n. 7 .787/1989), afinal tida com o inco n stitu cio n al pelo STF, Ives Gandra da
SiJva Martins su sten ta ser im possível contribuição social sem vantagem decorrente
da atividade estatal. O co n trib u in te, pessoa física ou ju ríd ica, precisaria ser b en e­
ficiado direta ou in d iretam ente (“C aderno de Pesquisas T ributárias”, p. 16/17).
P o n to de vista d o u trin ário , não deflui da Lei Maior, distante da realidade científica,
atual e h istó rica da previdência social, na qual vigente o p rincípio fundam ental da
solidariedade social e ad o tad o o regim e financeiro da repartição sim ples — com o
m agnífica m anifestação da especificidade da técnica protetiva — , in úm eras as hi­
póteses de co n trib u ições pessoais sem co n trap artid a e, ao contrário, prestações
sem ap o rte do indivíduo.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 1 — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 203
Gilberto de Ulhôa Canto, Antônio C arlos Garcia de Souza e Marcello Beltrão
da Fonseca endossam ; “Parece, p o rtan to , que m esm o em face da nova form ulação
co n stitu cio n al de 1988, quem não tenha vínculo em pregatício com os beneficiários
diretos da seguridade social não se qualifica com o sujeito passivo das contribuições
descritas no inciso I do art. 195, jã que o seu en u nciado alude a ‘em pregadores’,
‘folha de salários’, ‘fatu ram ento’ e ‘lucro’, conceitos que necessariam ente integram
a configuração de em p resários” ( “C aderno de Pesquisas T ributárias”, p. 63).
Beneficiários n u n ca têm vínculo com em presas, só segurados. Se dependentes
firm am co n trato de trabalho, deixam essa designação e situação ju ríd ic a e assu­
mem as dos segurados. O co n tratan te de em pregado é a em presa e não o “em ­
pregador” (art. 2a da CLT). As expressões “fa tu ram en to ” e “lu cro ” configuram
em p reendim ento econôm ico; em presário designa segurado pessoalm ente conside­
rado e ad m in istrad o r de firma. Por referir-se a faturam ento ou lucro, em presas sem
em pregados (p o rtan to , não em pregadoras), ao contrário do afirm ado, são obri­
gadas à exação. Tom ando-se o vocábulo “em pregadores” no seu sentido correto,
ou seja, dc “e m p re sá rio s”, m e lh o r d iz e n d o , de e m p re e n d e d o re s, os esforços
in d u s tria is e com erciais estão n atu ralm en te alcançados. Os sócios, nas sociedades
lim itadas, e o titu lar de firm a individual, pelo m enos desde 1940, no ex-IAPC e,
sem exceção, a p artir de setem bro de 1960, são segurados obrigatórios ex vi da Lei
n. 3.807/1960. Segundo a Súm ula STF n. 466: “N ão é inconstitucional a inclusão
de sócios e ad m in istradores de sociedade e titulares de firm a individual com o se­
gurados obrigatórios da Previdência Social”.
Mas, saliente-se, q u an d o o com entarista perseguir a natureza da contribuição
previdenciária, m elhor seria explicar de qual delas estará falando. Isso se aplica ãs
m enções constitucionais; só para as ali aludidas valerá a conclusão. N este ensejo,
p o r am o r à brevidade, cuida-se tão som ente da referida nos arts. 20 e 22 do PCSS,
isto é, a descontada e a patronal. C inge-se às contribuições geridas pelo INSS com
vistas às prestações, benefícios e serviços dos segurados e dependentes, deixando
de lado obrigações e direitos de assistidos e atendidos. E, com o se verá, outras
im p o rtan tes fontes,
243. F o n tes d e cu steio e co n trib u içõ e s — De m odo geral, os ingressos p e­
cuniários da Previdência Social provêm de diferentes fontes, cada u m a delas pos­
sivelm ente com caráter p ró p rio . Q uem opera a u n idade, qu an to às espécies, é a lei
ordinária e nela encontrar-se-á o esm iuçam ento referido.
Particulariza-se, centrando-se na deflagrada pelo trabalho ou vontade de fi­
liar-se (do facultativo), as do segurado e do d ad o r de serviços. Não se olvidando
das im postas e das facultadas o u das devidas e, ainda assim , restituídas, sob a form a
de pecúlio ou não.
Com a generalidade própria de seu pináculo elevado, a C onstituição Federal
elenca q u atro fontes básicas: a) dos entes políticos; b) das em presas, sobre a retri­
buição dos prestadores de serviços, o faturam ento e o lucro; c) dos trabalhadores
pessoalm ente considerados; e d) dos concursos de prognósticos. Igual discrim ina­
ção se vê no art. 11 do PCSS.

C u rso dc D ir e it o P r e v id iín c iá r io

204 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
No rol, perceptíveis obrigações com características ím pares e inconfundíveis
em substância. A bstraindo o ente político, com o em pregador ou d ad o r de servi­
ços, a U nião é responsável p o r insuficiências e, axiom aticam ente, obrigação ex
lege co n stitu cio n al, esse reforço orçam entário de caixa da P revidência Social não
apresenta elem en to s exacionais.
Até o ad v en to da Lei n. 10.666/2003, o ô n u s patronal p e rtin e n te aos p res­
tadores de serviços, historicam ente, desdobra-se em duas partes: a) referente aos
d esco n tad o s (servidor, em pregado, tem porário, avulso e dom éstico); e b) não des­
co n tad o s (em presário, autô n o m o , eclesiástico, segurado especial e eventual).
Recai sobre o faturam ento e o lucro a fração em presarial não relativa à folha
de pagam ento. A dos trabalhadores é sim ples, deduzida dos salários ou dúpli-
ce (c o n trib u in tes individuais) — as Únicas a m edirem o nível sinalagm ático das
prestações. O brigação do grupo dos apostadores, sem n e n h u m a referibilidade aos
c o n trib u in tes, a d o s concursos de prognósticos.
Mas subsistem outras: a) acessórias das referidas, com o os acréscim os legais
(m ulta, correção e juros); b) negociais (prestação de serviços); c) receitas p atrim o ­
niais; d) de ações unilaterais; e) 50% das apreensões policiais (parágrafo único do
art. 243 da Lei M aior); 0 40% dos leilões de bens apreendidos; g) 50% do prêm io do
seguro obrigatório dos veículos autom otores de vias terrestres (Lei n. 6.194/1974).
Q u an d o o segu rado não com pletava o período de carência para as prestações
p o r incapacidade, a lin h a restituída (CLPS, art. 19).
N esta altu ra, convindo lem brar, a classificação d o u trin ária da expropriação
estatal, de ser vin cu lada ou não (é universal e não apenas trib u tária). A dm itido um
sistem a nacional de contribuições sociais, decom postas as previdenciárias, m esm o
sem serem trib u tárias, à falta de nom enclatura, elas tam bém podem ser designadas
com o im positivas (não vinculadas d iretam en te), taxativas (vinculadas), negociais,
p atrim o n iais, suí generis etc. Pois, exem plificativam enle, m esm o considerada não
trib u tária, a parte p atro n al é im positiva, e a do trabalhador, taxativa.
244. S istem a Exacional N acional — Em razão das espécies expropriatórias es­
tatais contem pladas no C apítulo I do T ítulo VI — Da Tributação e do Orçamento e do
C apítulo 11 do T ítulo VIII — Da Ordem Social, com característica e escopo a priori
individualizados, pode-se constatar a presença de um Sistem a Exacional Nacional.
G ênero, co m p reen d en do duas grandes divisões: tributos e contribuições sociais.
Grosso m odo, a Lei M aior não tem conceito nem definição de trib u to ou de
co n trib uição social. R estringe-se, q u an d o da partilha da com petência, a indicar
três espécies tributárias: im postos, taxas e co n trib u içõ es de m elhoria (art. 145);
du as co n trib u içõ es sociais: de intervenção no dom ínio econôm ico e interesse das
categorias profissionais (art. 149); um a previdenciária não federal (parágrafo único
do art. 149) e u m a federal (arts. 40 e 195).
A p o n tan d o expressam ente as tributárias, ressalte-se, diz quais são, e entre
elas não co n tem p la as co n tribuições sociais. O m esm o m ecanism o é adotado pelo
art. 5Qdo CTN. Poderia fazê-lo, m as, claro está, se as quatro ú ltim as exigibilidades
sociais ap resentassem elem entos iguais, inserir-se-iam naquela classificação.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o í — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io 205
A razão de o co n stitu in te o p erar essa partilha está no interesse público típico
em cada caso. Q uer fontes próprias e fins específicos, mas nada prejudicaria se
tivesse co n tin u ad o o art. 145 e, nu m inciso i y aludisse à contribuição social. Os
trib u to s atendem a necessidades difusas e, em certos casos, excepcionalm ente,
cobrindo carências e privações específicas. O financiam ento da U nião, para acudir
a seguridade social, provém de recursos adicionais do O rçam ento Fiscal (art. 16
do PCSS). Diz respeito a aten d im en to s vinculados ou não, a toda a população; a
contribuição social tem clientela m enor, a dos protegidos pela previdência social.
A separação deriva da natureza econôm ico-financeira e institucional-socioló-
gica p ró p ria da técnica protetiva. H istoricam ente, os valores am ealhados objetivam
a m an u ten ção de certos indivíduos, cifrados ju rid icam en te conform e devidos ou
recolhidos os aportes (relação en tre a contribuição e o benefício). Isto é, a p rin ­
cípio, socialm ente, só tem direito o filiado, e não todas as pessoas (destinatárias,
estas sim , dos trib u to s). Repete-se: fração dos tributos po d e ser canalizada para a
seguridade social, em caráter excepcional, em rigor a título de em préstim o, mas
o contrário não acontece. O G overno F ederal desvia receita da previdência social
para custear o EPU (art. 17 do PCSS).
Isso se dá em v irtude de a pro p ried ad e de tais b en s ser dos segurados, certos
trabalhadores, e não dos conLribuintes de m odo geral. Sem pre em face do desen­
volvim ento histórico (seguro privado e m u tu alism o ), o Estado chegou (em 1883,
na A lem anha e, em 1923, no Brasil) e apropriou-se desses recursos, passando a
gerir a previdência social. Em troca, o direito subjetivo das pessoas.
O não reco n h ecim ento de u m Sistem a Exacional N acional criará dificuldades
para os estudiosos. E ntre outros, Hamilton Dias de Souza assevera: “(...) no direito
positivo brasileiro não têm as contribuições caráter trib u tário , em bora participem
elas, em parte, do regim e peculiar dos trib u to s”. Bastaria aceitar a atu al classifi­
cação p ro p o sta e a existência, nu m a C arta M agna não sistem ática, de regras uni­
versais no T ítulo VI, com uns aos trib u to s e contribuições, e o u tras ínsitas a um a
destas exações.
M esm o não aceitando a tese de a co n trib u ição sob exam e ser espécie não
trib u tária, Hugo de Brito Machado sensibilizou-se com a presença de regras exacio-
nais universais: “N o caso de que se cuida, a C o nstituição afastou as divergências
d o u trin ária s afirm ando serem aplicáveis às co n trib u içõ es em tela as n o rm as gerais
de D ireito T ributário e os p rin cíp io s da legalidade e da an terio rid ad e trib u tária,
com a ressalva q u an to a estes, das co n trib u içõ es de seguridade, às quais se aplica
regra p ró p ria co nform e verem os m ais a d ia n te ” ( “C ad ern o de Pesquisas T ributá­
rias”, p. 421).
O u tro a en trev er tal sistem a é Brandão Machado: “Se o tributo pode ser gênero
em relação ao im posto, à taxa e às contribuições, tam bém é espécie em relação às
exações do Estado, que podem ser tributárias o u não. Q uem decide sua natureza
não é o legislador, n em o d o u trin a d o r ou intérprete. E o con stitu in te. A ele é que
cabe distinguir, se assim prevê, o seu projeto político, entre trib u to s e exações não

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

206 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
tributárias, não im p o rtan d o se a opinião do m in an te na d o u trin a defende fórm ulas
que não convêm ao seu projeto. A decisão é de ordem política, transcende o âm ­
bito do jurídico. As form ulações d o u trin árias dos ju rista s ou financistas se tom am
com o sim ples recom endações, não vinculam o p o d er co n stitu in te , com o é óbvio.
Se preexiste definição legal de tributo que abranja n o conceito um a nova categoria,
é óbvio tam bém que a n o rm a constitucional se sobrepõe à definição da lei co m ­
plem entar, im p ed in d o que se lhe aplique o regim e previsto pelas figuras definidas”
(“São Tributos as C o n tribuições Sociais”, in “D ireito T ributário A tu al”, p. 1833,
apud Valdir de Oliveira Rocha, in “D eterm inação do M ontante do T rib u to ”, p. 90).
245. A trib u to d as re m issõ es — A existência do m encionado Sistem a Exacio­
nal N acional é evidenciada, não só pela escolha do m om ento em que disciplinada
a m atéria securitãria, com o pela reconstituição do ord en am en to fiscal, inform ando
no vam ente (sic): a) q uem genericam ente co n trib u i — caput do art. 195; b) p artici­
pação específica da U nião (caput do art. 195) e de o u tro s entes políticos (§ I a); c)
regras de equidade (arl. 194, V) e diversidade (art. 194, VI); d) veículo norm ativo
(caput e § 4 Qdo art. 195); e) contribuição d a em presa (art. 195, I); f) cotização do
trab alh ad o r (art. 195, II); g) integração o rçam en tária (art. 195, § 2Q); h) q uando
paga (arl. 195, § 6 S); e i) quem im une (arl. 195, § 7fi).
Basicam ente, espelho do disposlo nos arts. 145 e seguintes, e para não repeti-
-ios p o r inteiro, a C arta M agna faz duas referências consideradas pela d o u trin a e
alvo de divergências.
Nelson Jobim ( “Im u n id ad e T ributária das E ntidades F echadas de Previdência
Privada”, p. 21) salientou a validade das rem issões, referindo-se a R. C am app:
“la definizione è la form ulazione, per m ezzo di alti term ini, delle condicioni di
applicazione di u m term in e” (cilado por Uberto Scarpelli). A duz: “Fica, desta for­
m a, n ítid a a necessidade de ser respeitada a cham ada ‘rem issão ao co n tex to ’ com o
técnica para estabelecer o sen tid o de enunciados utilizados em u m Unico e m esm o
co n tex to ”, e aí repete palavras de R.J. Vernego ( “La in terp re tació n ju ríd ic a ”, p. 43):
“la rem isión al co n tex to im porta la tenlaLiva de ver cóm o el en u n ciad o cuyo senti­
do há de d esen tran arse se articula con otros enunciados. De su erte q u e el sentido
ya aceptado de los otros enunciados nos perm ite excluir algunos de los sentidos
que el en u n ciad o investigado adm ite. S uponem os ahora alguna suerte de cohe-
rencia (...) entre los enu n ciad o s contextuales que form an u n discurso; el sistem a
coh eren te excluye ciertos posibles sentidos, com o in co h eren tes con el sistem a así
articu lad o .”
a) exigência de lei complementar: O art. 195, § 4e, reclam a lei (ordinária ou
co m p lem en tar — a q u estão m antém -se aberta à discussão), “obedecido o disposto
no art. 1 5 4 ,1 ”.
N este ullim o artigo, q uando cuida da Seção III — Dos Impostos da União, o
E statuto Suprem o au to riza a in stitu ir im postos não cum ulativos e sem fato gera­
dor o u base de cálculo próprios dos nela enunciados, nos arts. 153 (U nião), 155
(E stados e D istrito Federal) e 156 (M unicípios).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 207
A rem issão nào equipara a contribuição social a im posto, e sim , não pode
repelir a base de cálculo ou fato gerador previsto no E statuto F u n d am en tal ou ser
cum ulativa com o art. 195, I/II1. Para não ter de reproduzir, aproveita a regra da
bitrib u tação ali contida.
b) principio da trimestralidade: O co n stitu in te não deseja a aplicação do art.
150, III, b, ou seja, a co ntribuição social respeitar a anualidade. O pta pela an terio ­
ridade, m as elegendo a trim estralidade.
O u seja, ele foi buscar no T ítulo VI — Da Tributação e do Orçamento (no qual
estão an in h ad o s com an dos trib u tário s e não tributários) n o rm as úteis para as c o n ­
tribuições sociais.
José Eduardo Soares de Melo reproduz a seguinte alegação de Ives Gandra da
Silva M artins: “Não procede, p o r outro lado, o argum ento dos q u e en ten d em que
as con trib u içõ es do artigo 195 nào sào tributárias. Se não o fossem , não haveria
necessidade de referências aos artigos 154, I e 150, III, b, em seu corpo. A refe­
rida m enção conform a definitivam ente sua natureza trib u tária” ( “C ontribuições
Sociais no Sistem a T rib utário”, p. 71).
Parece ser ao co n trário do vislum brado: se não fossem (tributárias) e, com o de
falo são não tributárias, im põe-se a rem issão, para não haver no sistem a nacional
de co ntribuições sociais a bitributação (art. 154, I) ou desrespeito à anterioridade
(art. 150, III, b), in stitu to s universais tão caros ao D ireito T ributário. Tributárias
tais exigências fossem , qual seria o sentido da rem issão?
246. D istin çõ es co n stitu c io n a is — Em diversos m om entos, a C onstituição
Federal de 1988 faz alusão a trib u to s e contribuições previdenciárias, quase sem pre
contiguam ente, em cada caso convindo concluir pela o p o rtu n id ad e ou acidenta-
lidade, isto é, q u an d o a distinção é significativa ou não tem im portância. Se tem
pertinência esse rastream ento, em raros dispositivos, p o dendo, nào diferenciou. A
eficácia própria de algum as dessas posturas e as favoráveis, ao apontarem na m esm a
direção, hão de co n d u z ir o intérprete.
Um prim eiro trib u tarista deu ênfase às distinções, Valdir de Oliveira Rocha
assim se posicionou: “Se h á trib u to o u contribuição, contribuição é, portanto, coisa
diversa de tributo. Fosse trib u tária q u alq u er contribuição, e não seria caso de
distingui-la. Poder-se-ia dizer que a E m enda incidiu em equívoco, alegando falta
de sentido aos term os ‘ou co n trib u ição ’, com desprezo do que está co n stitu cio ­
nalm en te posto, m as, de m inha parte, co n tin u o a preferir a inteligência do que
faz sentido à que não o faz” ( “N atureza ju ríd ic a das contribuições do art. 149 da
C o n stitu ição ”, in 39 Sim pósio N acional IOB de D ireito Tributário, p. 15/18).
Ele não estã sozinho. A proxim ando-se da tese ora esposada, Marçal Justen
Filho diz: “Ao d eterm in ar a subm issão das contribuições ao regim e tributário
(com determ inadas restrições), a C onstituição confirm ou que inexiste identidade
total e rigorosa en tre as duas figuras. Se as contribuições apresentassem configu­
ração precisam ente idêntica aos dem ais tributos, não teriam sentido as regras dos
arts. 149 e 154. Seriam suficientes as regras sobre tributos, sem necessidade de

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

208 W ia d im i r N o v a e s M a r tin e z
‘extensão’ expressa às ‘contribuições especiais’, do regram ento trib u tário . Logo, as
con trib u içõ es especiais sujeitam -se ao regim e trib u tário , m as com d eterm inados
tem p eram en to s derivados de suas características" (“C aderno de Pesquisas Tribu­
tárias”, p. 151).
Provavelm ente, esses co n d im en to s são a independência, antevista, m as não
reconhecida. Daí afirm ar Misabel Abreu Machado Derzi: “As co n trib u içõ es estão
su b m etid as a u m regim e constitucional p ró p rio , pecu liar e diferenciado das dem ais
co n trib u içõ es sociais, ou de intervenção n o dom ín io econôm ico, ou, ainda, co rp o ­
rativas" ( “C o n trib u içõ es Sociais no Sistem a T ributário”, p. 69).
O utro a abrigar essas aproxim ações foi Luiz Mélega. José Eduardo Soares de
Melo rep ro d u z-lh e palavras: “E m bora fazendo parte do capítulo reservado ao Sis­
tem a T ributário N acional, não figura entre as espécies trib u tárias definidas no
art. 145 da C o n stitu ição F ederal (ou C F), no q ual os trib u to s, no nosso en ten d i­
m ento, são apenas os im postos, as taxas e as co ntribuições de m elh o ria”; e que
“não são elas espécies tributárias, em bora não possam ser elas criadas ou m ajo-
radas sem a observância de d eterm in ad o s princípios q u e regem a instituição e
m ajoração d o s trib u to s”.
E conclui: “N ão n o s parece, p o r tu d o q u an to foi exposto, que se possa dar
com o certa a n atu reza trib u tária das co n trib u içõ es na C arta P olítica de 5.10.1988.
O legislador co n stitu in te tê-las su b o rd in ad o a certos p rin cíp io s tradicionais, que
devem ser rig orosam ente observados na in stitu ição e cobrança dos tributos, não é
suficiente para transform á-las em tributos. Esse fato é até um a indicação de q u e se
quis negar-lhe a n atureza tributária. Tam bém não parece decisiva a circunstância
de algum as delas situarem -se no capítulo reservado ao Sistem a T ributário N acio­
nal. N ão haveria m esm o cam po m ais ap ro p riad o para inseri-las, já que se assem e­
lh am aos trib u to s no que respeita a certas exigências” (“A lgum as reflexões sobre o
regim e ju ríd ico das contribuições na C arta Política de 1988”, in D ireito T ributário
A tual, p. 3.291).
Igualm ente co n clu iu Marco Aurélio Greco, atrib u in d o notabilidade ao art. 149.
Se ele “m an d a aplicar norm as típicas de D ireito T ributário, se ele m an d a aplicar as
n o rm as gerais de D ireito T ributário, se ele m anda aplicar a legalidade, se m anda
aplicar a an terio rid ad e e retroatividade, p ara as contribuições, é p o rq u e elas nào
estão d en tro do âm bito tributário. Se existissem , não precisaria m an d ar aplicar,
bastaria, para tu d o ficar definido, q u e houvesse u m eventual item IV n o art. 145 e
toda a sistem ática su b seq u en te estaria auto m aticam en te aplicada” (“Exposição no
Sem inário da A cadem ia de D ireito T ributário”, apud José Eduardo Soares de Melo,
ob. c it., p . 72/73).
a) sítio disciplinador: Tem-se afirm ado alhures, com algum a razão, não ser im
porLante o espaço n o rm ativo em que regulado determ inado in stitu to ju ríd ico , m as,
de q u alq u er form a, tam bém n ão se p o d e desprezar a ordem estabelecida. A siste-
m atização das leis, a posição dos parágrafos e as alíneas, têm peso na interpretação.
A exação previdenciária estar regrada em lugar d istin to , em respeito à instituição

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o l — N o ç ò e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
inconfundível com ou tras políticas governam entais, não afasta a possibilidade de
ser in d ep en d en te. Trabalha a seu favor, e não contra. Aliás, o ilham ento não é aci­
dental, pois o legislador constitucional obrigou-se a sucessivas rem issões.
C o n tem p lo u o texto n o art. 195, q uando poderia fazê-lo n o caput do parágrafo
unico do art. 149 o u em suas im ediações, m as em todo o caso, sob o C apítulo I do
T ítulo VI. A p artir da realidade institucional, define a individualidade da seg u rid a­
de social, não a p reten d e m esclada com o u tras políticas estatais. S intom aticam en­
te, a ú nica h ipótese de distinção na C arta M agna.
Da m esm a form a dispôs sobre o financiam ento do servidor público estadual e
m un icip al ali, e não, ao contrário, pró x im o do art. 39 e seguintes.
Gilberto Ulhôa Canto, Antônio Carlos Garcia de Souza e Marcello Beltrão da
Fonseca u rd iram explicações para a in existência de um inciso IV no art. 145. Os
três trib u to s ali elencados são de com petência de todos os entes políticos, e as exi­
gências do art. 149 são atribuições exclusivas da U nião (e, com particularidades,
dos Estados, D istrito F ederal e dos M unicípios). Daí a separação ter o u tro signi­
ficado. Tal raciocínio, bem in tu íd o , pressupõe estar a contribuição previdenciária
contida no m en cio n ad o art. 149. Se não posta no art. 195, poderia perfeitam ente,
se trib u tária fosse, constituir-se n u m inciso IV reclam ado, ficando as contribuições
sociais in terv en cio n istas e corporativas em separado (n o art. 149).
N os idos de 1987/1988, íves Gandra da Silva Martins preconizou u m inciso
IV, d estinado a en q u a d rar a contribuição sob os auspícios dos tributos, defendendo
pessoalm ente a sua p o stu ra ju n to à Assem bleia N acional C onstituinte, e encam i­
n h o u proposta escrita nessa direção, m as n ào logrou êxito ( “Sistem a Tributário na
C on stitu ição de 1988”, p. 298/312).
b) não inclusão no art. 149: Por sua im portância neste escopo, o caput do art.
149 justifica reprodução:
“C om pete exclusivam ente à U nião in stitu ir contribuições sociais, de inter­
venção no d om ínio econôm ico e de interesse das categorias profissionais ou eco­
nôm icas, com o in stru m en to de sua atuação nas respectivas áreas, observado o
disposto nos arts. 146, III, e 150, í e 111, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6Q,
relativam ente às con trib uições a que alude o dispositivo”.
M uitos veem a co n tribuição previdenciária estam pada no caput do art. 149
(até p or ela, em relação ao servidor público, estar alu d id a no parágrafo único). O
início da oração, no p lural, e sua seqüência, enum erada n o singular, evidenciam
não estar referindo-se a três entidades e, sim , a gênero (co ntribuições sociais) e
duas espécies (de interv eniência n o dom ín io econôm ico e de interesse profissional
e patronal). Se estivesse, o encam in h am en to seguinte não seria in teiram en te pre­
ju d icad o em razão das rem issões operadas.
Além da in terp retação literal, é im p o rtan te co n sid erar a referência ao art. 195,
§ 6g. Se as previdenciárias lã estivessem contem pladas, dispensaria referência (a
regra assenta-se no T ítulo VIII); elas só valem para as outras duas.

C urso de D ir h io P r e v id e n c iá r io

210 W /íid im i r N o v a e s M a r l i n e z
P or força da m enção feita pelo dispositivo ao art. 146, III, Gilberto Ulhôa
Canto, Antônio Carlos Garcia de Souza e Marcello Beltrão da Fonseca convergem :
“A C o n stitu ição F ed eral de 5 .1 0 .8 8 tro u x e de n o v o para o âm b ito do Sistem a Tri­
b u tário N acio n al to d os os tipos e espécies de co n trib u iç õ e s co n h ecid as, ao dizer:
e re p ro d u ze m o caput do art. 149 ( “C aderno de P esquisas T rib u tária s”, p. 3 6 )”.
A p ar da desnecessidade de alusão a dispositivo tão próxim o na C arta M agna,
válido para to d o s os trib u to s, o art. 149 não hospeda a co n trib u ição previdenciária
(conclusão d eflu en te de in terpretação gram atical e sistem ática, e p o r estar regu­
lada in stitu cio n alm en te, e não de passagem , no art. 195). N a verdade, ele reclam a
n orm as gerais exacionais, não necessariam ente tributárias, para as contribuições
interv en cio n istas e corporativas. C onfirm ando-se as regras particulares da c o n tri­
b u ição previdenciária, conform e o art. 240 (“Ficam ressalvadas do disposto no art.
195 as atu ais co n trib uições com pulsórias dos em pregadores sobre a folha de salá­
rios, d estinadas às entidades privadas de serviço social e de form ação profissional
vinculadas ao sistem a sindical’’).
Eduardo Bottallo pressente assim: “N a m edida em q u e as su b m eteu ao im p é­
rio das n o rm as gerais” (“C ontribuições Sociais — Q uestões P olêm icas”, p. 12).
C on sag ran d o a expressão e, aliás, cu id an d o da m atéria, era a hora de tê-la citado.
Mas, se o fizesse, n em por isso seria trib u tária (a topografia n ão é im p o rtan te etc.).
Não m en cio n ando o art. 195 e, p o r isso, não deix an d o m u ito claro o seu
p en sam en to , Hugo de Brito Machado ( “C aderno de Pesquisas T ributárias”, n. 15,
p. 44/45) p o n tu a: “E stabeleceu, ainda, o art. 149 da C o nstituição F ederal que na
in stitu ição das co n tribuições sociais devem ser observadas as n o rm as gerais de
D ireito T ributário e os princípios da legalidade e da anterioridade, ressalvando,
q u an to a este últim o , a regra especial p ertin en te às co n tribuições de seguridade
social. D iante da vigente C onstituição, p o rtan to , podem os co n ceitu ar a c o n trib u i­
ção social com o espécie de tributo com finalidade co n stitu cio n alm en te definida,
a saber, in terv en ção no dom ínio econôm ico, interesses de categorias profissionais
o u econôm icas e seguridade social” (grifos nossos).
O legislador ali não quis fixar a com petência da U nião para disciplinar a p re ­
vidência social; p referiu fazê-lo no art. 22, XXIII e no art. 24, XII. N a verdade, essa
regra deveria estar no T ítulo III, C apítulo II — Da União (arts. 20 e 24), e a do
parágrafo ú n ico , no C apitulo III — Dos Estados Federados (arts. 25 e 28), C apítulo
IV — Dos Municípios (arts. 29 e 31) e no C apítulo V — Do Distrito Federal (art. 32).
Além de p ro p iciar o núcleo da disciplina, é im p o rtan te aclarar cada um a das
rem issões feitas, pois, para as dem ais exações, não houve necessidade dessa trans-
lação vinculada.
A p artir do art. 147, a C arta M agna co n d u z a com petência e, de passagem ,
indica o pap el da exação atribuída à U nião: ser in stru m en to de sua atuação nas
respectivas áreas. O u seja, dessa form a, o E stado intervém no dom ín io econôm ico
(m eios financeiros para os “terceiros”) e desenvolve o interesse de categorias p ro ­
fissionais e econôm icas (disponibilidades para os órgãos classistas). N ote-se: atri­

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o í — N o ç õ e s d e D i r e it o P r e v i d e n c i á r i o 211
buições particulares, d istin tas dos tributos, um a vez geridas pela iniciativa privada
(in terv en cio n istas e corporativas).
Eventual dúvida sobre essa interpretação desfaz-se com a leitura de texto
com igual ditam e da C onstituição F ederal de 1969, no art. 21, § 2e: “A U nião pode
instituir: I — co ntribuições, nos term os do item I deste artigo, tendo em vista in­
tervenção no dom ínio econôm ico e interesse da previdência social ou de categorias
profissionais” (grifos nossos).
Não se olvidando serem duas exigências sociais não previdenciárias, sope­
sem -se as diferentes rem issões.
A firm ar não estar a contribuição previdenciária albergada no art. 149 signi­
fica, corolariam ente, desabrigá-la do m anto p ro teto r das norm as gerais exacionais
(art. 146, III), do p rin cípio da legalidade (art. 150, I) e dos princípios da an terio ­
ridade e anualidade?
A parentem ente, não. As norm as gerais, ditas tributárias no texto co n stitu cio ­
nal, para as quais é reclam ada lei com plem entar, são preceitos exacionais e, q u a n ­
do elaboradas, disso deverá lem brar-se o legislador com plem entar, referir-se-ão às
con trib u içõ es não dispostas no art. 195. O m esm o vale para a legalidade (art. 5e,
11). R eferentem ente à anualidade e anterioridade, o tem a está cuidado particu lar­
m ente (art. 195, § 6°).
I) art. 146, III — O texto m encionado reclam a lei com plem entar para a fixação
de n o rm as gerais sobre os assuntos indicados. Exige para os trib u to s e, saliente-se,
tam bém para esses não trib u to s (sociais, porém não previdenciários).
Para a p re v id ê n cia social, o p receito eq u iv ale n te está g en e ricam e n te no
caput do art. 195 (disp ensando lei com plem entar) e no § 4 Q, exigindo (ou não) lei
com plem entar. O u não, p o rq u e a lei com plem entar é prevista p ara n o rm as gerais
exacionais e não especificam ente para co n trib u içõ es novas (ex vi do art. 195, § 4 Q).
Mas, claro, tais p o stu lad o s gerais exacionais, ainda não elaborados, poderão assim
preceituar.
A du p licid ad e de regras, a p rim eira p o r rem issão e a segunda p o r instituição,
só tem sen tid o lógico se pretende regulam entar diferentem ente. T ributária fosse
suficiente, não haveria necessidade de as previdenciárias e não previdenciárias (in ­
tervencionistas e corporativas) serem tratadas em particular.
II) art. 150, I e III, a/b — No prim eiro inciso do art. 150, firm a-se o princípio
da legalidade. O briga à repetição: o legislador co n stitu in te im pede decretos ou p o r­
tarias in stitu in d o co n tribuições sindicais ou para os terceiros (SESC, SES1, SENAC,
SENAI, SEN AR, SENAT, SEST etc.). N ão os deseja para trib u to s e, faz distinção,
para essas duas con trib u ições sociais.
No inciso III, a, reclam a a anterioridade. No inciso III, b, exige a anualidade.
Para a previdência social, a regra está no art. 195, § 69, no qual ajuíza sobre
a trim estralidade.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

212 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
N ão despreza a legalidade para a previdência social. Isso está claríssim o no
parágrafo único do art. 194, no caput do art. 195, no § 4 Q, § 6e e § 79.
III) art. 195, § 6 a — O in fin e do caput do art. 149 conduz à certa dúvida ( “e
sem prejuízo do previsto no art. f9 5 , § 65, relativam ente às co n trib u içõ es a que
alude o d isp o sitiv o ”). N um a prim eira leitura, p reten d e o aproveitam ento do p rin ­
cípio da trim estralid ade para as duas exações consideradas e o “p ró p rio preceito
m en cio n ad o ” n u n ca seria para as previdenciárias, pois, para estas, precisam ente o
§ ó 5 dispõe.
A incerteza diz respeito ao preceito referido, ele fala das duas espécies ou da
previdenciária? C om o dito, esta últim a não pode ser porque regrado o assunto no
p ró p rio art. 195, § 6 e. P ortanto, só restam as in terv en cio n istas e corporativas. O
dispositivo seria esta prescrição e, nesse sentido a redação, reconheça-se, não é boa.
C o n tin u a n d o e, agora, sem rem issões, diz o parágrafo único: “Os E stados, o
D istrito F ederal e os M unicípios poderão in stitu ir contribuição, cobrada de seus
servidores, para o custeio, em benefício destes, de sistem as de previdência e assis­
tência social”.
O co m an d o abre exceção à com petência da U nião e au to riza os dem ais entes
políticos, em razão do pacto federativo, a criar contribuição p ara a previdência
e assistência social próprias. Em bora tenha estipulado benefícios para todos os
servidores p ú blicos no art. 40, esqueceu-se de au to rizar a U nião a m o n tar a sua
p ró p ria p ro teção social, em relação aos servidores federais, obrigando a E m enda
C on stitu cio n al n. 3/1993 a sediá-la no art. 40, § 6 e.
Em razão da ausência de rem issões, com o faz o caput, dispensar lei com ple­
m entar, arro star o p rincípio da legalidade, anterio ridade e anu alid ad e seria inter­
pretação co n d u cen te a absurdo, pelo m enos em relação à legalidade, princípio
m aior estatuído no seu art. 5°, II. Exegese m elh o r reclam a tam bém esses ditam es
q u an to aos Estados, D istrito F ederal e M unicípios, em decorrência da su b o rd in a­
ção do parágrafo ú n ico ao caput. Se isso não for suficiente, seguram ente as norm as
gerais exacionais, previstas no art. 146, III, cuidarão dessas instituições.
A C o n stitu ição F ederal versa aqui apenas a contribuição, e não a entidade
securitária, pois esta ú ltim a com parece estaqueada no art. 23, II (U nião, Estados,
D istrito Federal e M unicípios), arl. 24, Xll (U nião, Estados e D istrito Federal) e
art. 30, VII (M unicípios),
D epois de re p ro d u zir o § 6e do art. 195 e o caput do art. 149, Tves Gandra da
Silva Martins afirma: “Dessa m aneira, ambos reiteram que a natu reza jurídica das
co n trib u içõ es sociais é de trib u to , estando, em face do sistem a, o legislador, apenas
obrigado em seguir o princípio da an terio rid ad e expresso, no art. 150, inciso III,
letra b, com o seguinte discurso:” ( “C ontribuições D estinadas ao C usteio da Segu­
ridade Social”, in Revista de D ireito Tributário n. 49, p. 110), e repete o art. 150,111
(grifos no original).
Q ual a causa da reiteração? O § 6e é com ando específico m odificador da
regra geral do caput do art. 195 (princípio da trim estralidade) e nada mais; m as, se

C urso s e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 213
se quiser, diferenciando-se dos tributos, fixa regra própria. No art. 149, inexiste
co n trib u ição previdenciária. Teria incidido no equívoco de outros, de antever três
lipos de co n trib u içõ es sociais ali ( “Im posto sobre a renda e proventos de qualquer
n atu re za”, in C aderno de Pesquisas Tributárias, vol. 11, p. 269).
A distintiva trib u tária o u previdenciária aparecer em u m sem -nüm ero de leis
federais aparen tem en te não tem a m en o r im portância. C ontudo, para o Suprem o
Tribunal Federal, isso foi significativo: “Estão sujeitos à fiscalização trib u tária ou
previdenciária q u aisq u er livros com erciais, lim itado o exam e aos p ontos objeto da
investigação” (Súm ula STF n. 439).
c) vantagem: A acidentalidade ou a o p o rtu n id ad e antecipadas encontram ha­
bitat no art. 150, § 6Q, e têm agora a ocasião de serem verificadas. Diz esse texto:
“Q ualq u er subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédi­
to presum ido, anistia ou rem issão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só
poderá ser concedido m ediante lei específica, federal, estadual ou m unicipal, que
regule exclusivam ente as m atérias acim a enum eradas ou o co rresp o n d en te tributo
ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2a, XII, g” (grifos nossos).
À vista do rol do arl. 145, I/lll, as expressões “im postos, taxas ou co n trib u i­
ções” têm de ser en tendidas com o referentes a tributos. Ressalta não co n fu n d ir
co n trib u ição de m elb o ria com contribuição social; aliás, em sofrível técnica legis­
lativa, não qualificou n en h u m a das duas.
N a lu ralm en te, o p receitu ad o im põe o alcance da legalidade. B enefícios fis­
cais em exações só p o d em ser em p re en d id o s m ed ian te lei. N os dois casos, há
dim in u ição do erário p ú b lico e d istinção q u a n to aos co n trib u in te s, m otivo pelo
qual o assu n to deve ser c u id ad o em lei co m p le m e n ta r (referência ao art. 155,
§ 2°, XII, g). N esse sen tid o , d o u trin a ria m e n te , é n o rm a ex acio n al un iv ersal, co ­
m u m a to d as as exigências, d isp en san d o claram en te a discrim in ação operada,
pois, n o s dois d o m ín io s, existem situações análogas: sem em bargo de não c o in ­
cid entes, os c o n trib u in te s da P revidência Social são p ra tic am en te os m esm os dos
trib u to s federais.
Q u an d o da su b stituição, p o r via de E m enda C onstitucional, da versão o ri­
ginal de 1988 p o r esta, o co n stitu in te m anteve as palavras designativas das duas
exações.
M otivado pela divisão sistem icam ente procedida, tendo em outras o p o rtu n i­
dades separado as duas exações, se o co n stitu in te não distinguisse, perm itiria ao
órgão gestor p ro m o v er vantagens a seu talante, e ele não deseja isso, em razão do
bem tutelado. Logo, a m enção não é acidental, m as absolutam ente necessária e
distintiva.
d) responsabilidade fiscal: Diz o art. 150, § 7Q: “A lei p o d erá atrib u ir ao sujeito
passivo de obrigação trib u tária a condição de responsável pelo pagam ento de im­
posto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriorm ente, assegurada a
im ediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gera­
d o r p resu m id o ” (grifo nosso).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

214 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
N esta redação, tão precária qu an to o u tras, não qualificando os vocábulos,
tu d o leva a crer estar pen san d o , à exceção das taxas, apenas nos trib u to s e, assim ,
não elegeu a m odalidade para a contribuição securitária. Tendo u sado a palavra
“im p o sto ” todo o tem po com seu co n teú d o real, aqui ela não significa tributo, e,
nesse caso, a co n trib u ição seria a social.
e) imunidade fiscal: Na Seção II — Das Limitações do Poder de Tributar, o art.
150, VI, restrin g e a ação exproprialória e procedim entos dos entes políticos, ve­
d an d o a in stitu ição de im postos sobre: “c) patrim ônio, renda o u serviços dos par­
tidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores,
das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, aten d id o s os
req u isito s da lei" (grifos nossos).
Salta à vista significar, p o r exem plo, os sujeitos m encionados não estarem
su b m etid o s ao Im posto de Renda. Se a contribuição previdenciária fosse im posto
sob esse títu lo , estariam obrigadas as entidades beneficentes de assistência social,
desde a Lei n. 3.577/1959, im unes da parte patronal.
No art. 195, § 7e, m al u san d o a palavra “isen tas”, diz a C onstituição Federal:
“São isentas de co n trib uição para a seguridade social as entidades beneficentes de
assistência social q u e atendam às exigências estabelecidas em lei”.
Q u e r dizer, se não foi repetitivo (e n ão foi), obrigou-se a esclarecer a regra a n ­
terio r e aplicá-la n a ó rbita securitária. Poderia fazê-lo, com o o fez, frequentem ente,
p o r rem issão, aqui provavelm ente su b m etid o a lobby, o co n stitu in te, não dando azo
à dúvida, rep etiu a dose.
f ) proteção à microempresa: C uidando da atenção às m icroem presas, p o r parte
dos entes políticos, im põe o art. 179 “tratam en to ju ríd ic o diferenciado, visando
a incentivá-las pela sim plificação de suas obrigações ad m inistrativas, tributárias,
previdenciárias e creditícias, ou pela elim inação ou redução destas p o r m eio de lei”
(grifos nossos).
A redação é in teiram en te sem elhante à anterior, apenas cuida de o u tras pes­
soas. Lá exigia lei para beneficiar, aqui pede norm a legal p ara sim plificar, reduzir
ou elim in ar obrigações form ais, valendo as m esm as observações e conclusões. O
“creditícias” não p o d e ser dispensado; nada tem a ver com as exacionais, m as a
presença d as d u as é im portante.
g) aparentes indistinções: Em dois m om entos, parece não se perceber a d istin ­
ção: nos arts. 6 f , § 1Q, II, b, e 173, § f g, da Lei Maior.
I) art. 61, § 1° II, b — Ao fixar a iniciativa privativa do P residente da R epú­
blica, o art. 61, § l fi, II, b, dita: “organização adm inistrativa e ju d iciária, m atéria
tributária e o rçam en tária, serviços públicos e pessoal da adm inistração dos Terri­
tó rio s” (grifo nosso).
N ão alude especificam ente à m atéria previdenciária, retiran d o a exclusividade
do P residente da República. Assim , ele p o d e en c am in h ar Projeto e Lei e tam bém
o C ongresso N acional.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 215
II) art. 173, § 1 ° — Diz o art. 173, § 1°: ‘‘A lei estabelecerá o eslatuto ju r í­
dico da em presa pública, da sociedade de econom ia m ista e de suas subsidiárias
que explorem atividade econôm ica de p rodução ou com ercialização de bens ou de
prestação de serviços, d isp o n d o sobre:
O d isposto no art. 227, § 3°, II, no qual a C arta M agna alude à “garantia de
direitos prev id en ciário s e trab a lh istas”, torna difícil in clu ir as obrigações previ-
denciárías nas trabalhistas. De m odo geral, as em presas privadas (elem ento pré-
-ju ríd ico in stitu cio n al e o riginário da h istó ria) — p o r exceção do universo do
serviço publico, ex clu ído do Regim e Geral de P revidência Social — estão su b m e­
tidas ao T ítulo VIII. Ip sofacto, axíom aticam ente, regim e ju ríd ic o previdenciário é
este. Não d eix an d o m argem à dúvida, o legislador co n stitu in te resolveu estipular
claram ente serem da iniciativa privada tam bém as obrigações trabalhistas (CLT)
e trib u tárias (C T N ).
h) precedência do custeio: O § 59 do art. 195 co n stitu i exem plo de regra típica
da previdência social. F ornece característica essencial da técnica protetiva.
Ele reza; “N e n h u m benefício ou serviço da seguridade social poderá ser cria­
do, m ajorado ou estendido sem a co rresp o n d en te fonte de custeio to ta l”.
E m bora o título do p rincípio seja precedência do custeio, o art. 195, § 5e, diz
respeito às prestações: custeio é atividade-m eio, e benefício, atividade-fim .
A elevação da n o rm a legal ao patam ar co n stitu cio n al historicam ente consti­
tuiu vedação econôm ico-financeira de o legislador ordinário afoito criar direitos
sem provisão de recursos. Porém , contem plada no ord en am en to constitucional,
significa ju rid icam en te mais. Terá de ser dito com as m esm as palavras, m as o
e n ten d im en to é diferente: obsta novas prestações sem fontes próprias, porque
o governo federal não deseja co n statar déficit e ter de su p rir insuficiências or­
çam entárias. Isto é, não q u er financiar essa política estatal, preferindo atrib u ir o
encargo à sociedade e aos interessados, particularm ente considerados. Em nenhum
m om ento, co ndiciona os serviços difusos oferecidos à realização da receita trib u ­
tária. Pode até fazê-lo, e frequentem ente o faz, oprim ido pela realidade orçam en-
tário-fiscal (d im in u in d o o desenvolvim ento da econom ia e o financiam ento do
fu tu ro ), m as não ju rid icam ente.
i) principio da trimestralidade: Dita o art. 195, § 6Q: “As contribuições sociais
de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da
data da publicação da lei que as houver instituído ou m odificado, não se lhes apli­
cando o disposto no art. 150, III, b”.
C ircunstancialm ente, a anualidade e a anterioridade podem im por ô n u s em
brevíssim o prazo (v. g., D ecreto-lei n. 2.318, de 30.12.1986). C on trarian d o a von­
tade do co n stitu in te ou legislador, são in stitu to s consagrados em Direito T ributá­
rio com o defesas do co n trib u in te. A costando-se à especificidade e necessidade da
previdência social, o prazo é m enor ainda, de 90 dias.

C urso p f D ir e it o P r f v i d f n c i Ar io

216 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
j) divisão orçamentária: I) art. 165, § 5 ° III — C riando u m Estado previden­
ciário d en tro d o E stado político, o legislador co n stitu in te não co n fu n d e as fontes
orçam entárias e deseja as gerais, ditas fiscais (inciso I), separadas das securitárias
(inciso III).
II) art. 165, § 6 g — Por outro lado, dita: “O projeto de lei orçam entária será
aco m p an h ad o de d em onstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despe­
sas, d eco rren te de isenções, anistias, rem issões, subsídios e benefícios de natureza
financeira, tributária e creditícia” (grifo nosso).
A essência do texto revela estar se referindo exclusivam ente ao orçam ento
fiscal, assim ilando-se a ausência da distintiva. Isso é dito nào ob stan te o § 6 S, no
qual, q u eren d o , ex cluiu o o rçam ento securitário, e o § 8Q tam bém n ão faz d istin ­
ção, pois, p o r seu texto, é possível co n clu ir estar se referindo apenas ao orçam ento
fiscal.
k) o Título VIII: C onform e o alegado, o T ítulo VIII — Da Ordem Social deveria
descrever um sistem a próprio. E assim é.
Seu fronlispício (“A ordem social tem com o base o p rim ad o do trabalho, e
com o objetivo o bem -estar e a ju stiça sociais”) adota a proteção social com o escopo
da organização dos h om ens, su p lan tan d o outras políticas estatais. Pela seqüência
do s in stitu to s jurídicos desenvolvidos, os objetivos serão atingidos pela seguridade
social (arts. 194 e 204).
A divisão do Sistem a Exacional N acional referente à co n trib u ição social pode
ser facilm ente antevista em várias determ inações: a) equidade na participação; b)
diversidade do financiam ento (diversas fontes); c) contribuição p o r parte da so­
ciedade, de form a direta (entes políticos) e indireta (certos indivíduos e a coleti­
vidade); d) sob o p rim ado da legalidade (referência à lei no caput do art. 195); e)
recursos das em presas, dos trabalhadores e dos concursos de prognósticos.
C om regras típicas da técnica protetiva: 0 divisão orçam entária dos entes
p olíticos (§§ 1Q e 2e); g) preservação da regularidade de situação dos c o n trib u in ­
tes (§ 3°); h) possibilidade de am pliação dos recursos (§ 4 Q); i) novos benefícios
m ediante fontes p ró p rias (§ 5e); j) antecipação da exigibilidade em relação à a n u ­
alidade (§ 6g); e k) isenção para atividades particulares parceiras com o esforço do
Estado (§ 7a).
Q uase todas são regras próprias do in stru m en tal protetivo, perfeitam ente dis-
tín g u id o de o u tras ações estatais.
247. D estinação d o s re cu rso s — Poder-se-á tom ar o art. 4g do CTN com o
n o rm a de superdireito: “A natureza ju ríd ic a específica do trib u to é determ inada
pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: 1 —
a den o m in ação e dem ais características form ais adotadas pela lei; II — a destinação
legal do p ro d u to da sua arrecadação”.
Luciano da Silva Amaro lem bra essa particularidade: “A C onstituição Fe­
deral caracteriza as co ntribuições sociais pela sua destinação, vale dizer, são in-

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v i d e n c i á r i o
gressos necessariam ente direcionados a in stru m en tar (ou financiar) a atuação da
U nião (ou de entes políticos, na específica situação prevista no parágrafo ú nico do
art. 42), no setor da ordem social” (“Im posto sobre a renda e proventos de q u alq u er
naLureza”, in C aderno de Pesquisas Tributárias, vol. 11, p. 269).
A ntes da EC n. 42/2003, dizia o art. 167, IV, vedar “a vinculação de receita de
impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do p ro d u to da arre­
cadação dos Ímposíos a que se referem os arts, 158 e 159, a destinação de recursos
para m an u ten ção e desenvolvim ento do ensino, com o determ inado pelo art. 212,
e a prestação de garantias às operações de crédito p o r antecipação de receita, pre­
vistas no art. 165, § 8 a, bem assim o disposto no § 4 S deste artigo” (grifos nossos).
Segundo Augusto Becker, o sucedido antes (pré-jurídico) e depois (da arreca­
dação) não interessa à definição do tributo.
A inexistência de proibição igual para a contribuição social sinaliza para a
diferença.
José Eduardo Soares de Melo pôs em dúvida a validade desse ditam e ( “C o n tri­
buições Sociais no Sistem a T ributário”, p. 30/36).
Para Marco Aurélio Greco, reproduzido p o r José Eduardo Soares de Melo (ob.
cit., p. 3 5 ), “o critério do art. 4 a do CTN pode ser adequado para os trib u to s m as
para as con trib u içõ es é o contrário. Para as contribuições o destino da arrecadação
é um elem ento essencial à definição da figura. Se a razão de ser da contribuição é
perten cer a um d eterm inado grupo, e pagar em solidariedade ao g rupo, o destino
da arrecadação é elem ento essencial. Se não há arrecadação vinculada ao grupo,
aqui não é contribuição. É outra coisa”.
C onclui José Eduardo Soares de Melo: “Essas considerações d em o n stram que
as ‘co n trib u içõ es’ destinadas ao custeio da seguridade social só podem revestir a
natureza de au tênticas contribuições se a respectiva lei in stitu id o ra contiver ex­
pressam ente o destino dos respectivos valores” (ob. cit., p. 35).
248. N a tu reza econôm ico-financeira — A natureza da contribuição previ-
denciãria ato rm en ta os estudiosos hã longos anos. No exterior, essa preocupação
não foi m en o r e, em razão do sistem a positivo p raticam ente un ifo rm e nos países
europeus, acabou prevalecendo a teoria publicista, trib u tária ou parafiscal, esta
ú ltim a palavra m eio démodé u ltim am ente.
No Brasil, a n u clearidade econôm ico-financeira e o significado social de seu
âm ago ju ríd ico despertaram interesse, prin cip alm en te a p artir do advento do C ó­
digo Tributário N acional (Lei n. 5.172/1966) e a definição genérica do art. 3 e:
“Tributo é toda prestação pecuniária com pulsória, em m oeda ou cujo valor nela se
possa exprim ir, que não constitua sanção de ato ilícito, in stitu íd a em lei e cobrada
m ediante atividade adm inistrativa plen am en te vin cu lad a.”
Os em baraços técnicos na busca da intim idade do aporte securitário espraia­
ram -se a partir do d esd o b ram en to do texto co n stitu cio n al — sinaliza a dessem e­
lhança e não a id en tidade com os trib u to s, desde a E m enda C onstitucional n.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

218 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
8/1977 — , m as os m onografistas po u co se detiveram na previdência social p ro p ria­
m ente dita, em que jacen tes o fato gerador (eleito, p o r m uitos, o p rim eiro in d ica­
dor) e o destin o p reviam ente vinculado, seu papel de técnica de proteção social,
sua p ersonalidade diferente e propriedade, bem com o suas relações com o Estado
e, p rin cip alm en te, sua especialidade.
Há m u ito tem po tal natu reza é indagada p o r constitucionalistas, tributaristas,
econom istas, financistas, contabilistas e previdenciaristas, no cam po especulativo
das ideias. No curso de décadas, ter o m odelo securitário evoluído significativa­
m ente co n trib u iu para agravar os percalços. Surgiram , em conseqüência, vários
pen sam en to s, classificáveis em teorias, teses, pontos de vista e até sim ples o p in i­
ões, agrupáveis em du as linhas básicas: a) publicistas ou tributárias; b) privatistas
ou previdenciárias. Inexiste in medio virtus est.
M uitos, referindo-se ao tem a, en passant, diante da m o n u m en talid ad e da tarefa,
p referiram acostar-se à reflexão de renom ados m estres, às vezes, lim itando-se a
m en cio n ar o nom e da au to rid ad e com o argum ento.
José Afonso da Silva ( “N atureza Ju ríd ica das C ontribuições de P revidência So­
cial”, in Rev. LTr n. 43/304), Antônio Carlos Araújo de Oliveira (“N atureza Jurídica
das C o n trib u içõ es de Previdência Social”, in Rev. LTr n. 43/304), Ocíavio Bueno
Magano ( “L in eam entos de In fo rtu n ística”, p. 98/106), Am auri Mascaro Nascimento
( “C om pêndio de D ireito do Trabalho”, p. 709/13), Agosíinho Tóffoli Tavolaro ( “N a­
tureza Ju ríd ica das C ontribuições Sociais”, in Rev. LTr n. 45-1/44) resum iram as
variadas idealizações e agruparam os conflitos nelas jacentes.
E ntre n ó s é m ajoritária a corrente trib u tarista ou publicista, em bora tenha
d im in u íd o acen tu ad am en te esse realce, a p artir de 5.10.1988. E ntre outros, Hugo
de Brito Machado (“C urso de D ireito do T rabalho”, p. 18/ 20), Geraldo Ataliba (“A
situação atual da parafiscalidade no D ireito T ributário”), Ilves J. de M iranda (“C ur­
so E xposilivo de D ireito T ributário”, p. 175), Fábio Leopoldo de Oliveira (“D ireito
T ributário B rasileiro”, p. 67/78), Rubens Gomes de Souza ( “A Previdência Social e
os M u n icíp io s”, in Revista de D ireito A dm inistrativo, vol. 115, p. 84), Carlos M á­
rio da Silva Velloso ( “A decadência e a prescrição do crédito trib u tá rio ”, in Revista
de D ireito A dm inistrativo, vols. 9/10, p. 181), Marco Aurélio Greco ( “A cham ada
co n trib u ição p rev id en ciária”, in Revista de D ireito P úblico, vol. 19, p. 385), C lau­
dete Aparecida Cardoso ( “D ireito do T rabalho — E studos sobre parafiscalidade”,
p. 114), Bernardo Ribeiro de Moraes ( “Sistem a T ributário da C o n stitu ição d e 1969”,
p. 231), Miguel Reale (“Aplicação da C onstituição de 1988”, p. 97), Yoshiaki Ichihara
( “D ireito T ributário na N ova C o n stitu ição ”, p. 167/69), Sergio Pinto M artins ( “Di­
reito da Seguridade Social”, p. 60), Ives Gandra da Silva Martins ( “Sistem a tri­
b u tário n a C o n stitu ição de 1988”), Paulo José Leite Farias (“Regim e Ju ríd ico das
C o n trib u içõ es P revidenciárias”, in RPS n. 180/93), Aliom ar Baleeiro ( “D ireito Tri­
b u tá rio ”, p. 64) e Fábio Fanucchi (“C urso de D ireito T ributário B rasileiro”, p. 176).
No exterior, a lista é igualm ente extensa, iniciada, nos anos 30, q u an d o Lui-
gi de Litala (“D iritto delle A ssicurazione Sociali”, p. 51) op to u pela prestação de

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o í — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io
direito público. São citados Efrén Borrajo Dacruz ( “E stúdios Ju ríd ico s de Previsión
Social”, p. 75), Jesus Clarke Perez (“La N oción Jurídico-L aboral dei Salario y su
R epercusión en el D erecho de la Seguridad Social”), Sérgio Francisco de La Garza
(“La N aturaleza Ju ríd ica de las C uotas de S eguridad Social en el D erecho M exica­
n o ”, p. 101), Luiz A. Mijares Ulloa (“N ociones de la Seguridad Social”), Patrício
Novoa Fuenzalida ( “D erecho de la Seguridad Social”, p. 170/80) e JuanJosé Etala
(“D erecho dc la S eguridad Social”, p. 377/93).
Ludovico Barassi e M attia Persiani veem na contribuição previdenciária exi­
gência trib u tária e nada mais. Provavelm ente, raciocinaram em função da organi­
zação ju ríd ic a de suas pátrias.
José Manuel Alm ansa Pastor salienta essas posições clássicas (“D erecho de la
Seguridad Social”, p. 421/424). Para ele, os obstáculos reduzem -se a d eterm in ar a
espécie tributária: ingresso público especial, para Ludovico Barassi, e im posto co ­
m um , no ver de M attia Persiani e Efrén Borrajo D acruz■Taxa, para Antigno D onatti,
Bruno Gorini e Henrique Serrado Guirardo.
Segundo Levi Sandri, Cataldi e A zza riti, citados p o r Alm ansa Pastor, é co n tri­
buição especial. Para Carlos Lega, Paul Durand, Ucellay e Fernando Vicente Arché
Domingo, exação parafiscal.
O g rupo dos o p o n en tes à taxa é considerável: Sérgio Francisco de Larza (“La
N aturaleza Ju ríd ica de las C uotas de Seguridad Social en el D erecho M exicano”,
p. 10), Jorge I. A guillar ( “Las C uotas dei Seguro Social”), Javier Moreno Padilla
(“En to rn o de la N aturaleza Jurídico-T ributaria de las cuotas dei Seguro Social”, in
Revista de D erecho F inanciero y de H acienda Pública, p. 1 235/54), Emílio Marfain
Manautou ( “C apital co n stitutivo com o C rédito Fiscal”) e Adolfo Carreteiro (“D ere­
cho F in an ciero ”).
Jorge I. Aguillar, Javier Moreno Padilla, Rubens Aguirre Pagbum, Ramón Valdes
Costa, Carmos M. Giuliani Fonrouge e o u tro s concordam em ser im posto.
Escola em particular, p o r nós acolhida, deve ser ressaltada, a da noção de
salário: inicia-se com Thunen e Sismortíii. C oncebem a contribuição previdenciária
com o m odalidade salarial: G onzalez Posada, G ranizo Y. Gonzalez, J. Perez Lenero,
Jordana de Pozas, Severino A znar, Francesco Santoro-Passarelli, além de Troclet e
Viatte.
Félix Pippi é o m aior p ro p u g n a d o r da teoria do salário social ( “La n o tio n de
salaire social”, p. 236). Sua im aginação é singela: além da direta e ho d iern am en te
retributiva, histo ricam ente a rem uneração dos trabalhadores evoluiu e adq u iriu
um com p o n en te social, diferindo-se no tem po. Nesse elem ento coletivo, a p ro te­
ção social.
Jesus C larke Peres esm iuçou o conceito de salário social. C onsiderou-o, no
D ireito do Trabalho, um desvio da teoria ju ríd ic a do salário, e, no D ireito Previ­
denciário, resultado da influência do D ireito Econôm ico. C itou Santoro-Passarelli,
para quem a cotização é salário previdenciário.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

220 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Jíenaío Corrado e Carlos Lega acom panham Santoro-Passarelli. Paul Durand vê
no salário, a p ar da correspondência sinalagm ática com o co n trato de trabalho, um
elem ento social. E. Schueller, Simone David, Ricardo Del Giudice, Antônio Perpina
Rodrigues opõem -se ao tran sp o rte do D ireito E conôm ico para o D ireito do Traba­
lho, prom ovido p or Félix Pippi.
A nosso ver, n a lin h a de pen sam en to deste últim o, q u an d o a pessoa ju ríd ic a ou
física retrib u i os serviços prestados pelo trab alh ad o r e lhe desconta parte do valor
(co n trib u ição p rev idenciária), essa im p o rtân cia não é auferida co n co m itan tem en te
com o labor, d evendo ser socialm ente auferida qu an d o a lei ju lg ar conveniente à
su a proteção. Em rigor, tam bém a parte patronal pode assim ser considerada; por
ocasião da in stitu ição da previdência social, a em presa repassou a obrigação ao
consum idor. Q u em arca com ela é a sociedade.
São duas rubricas destacadas: um a, destinada à subsistência hodierna, e outra,
à m anutenção futura, quando presente a contingência protegível. A prim eira, repas­
sada diretam ente ao trabalhador (origem da instituição salário com o contraprestação
por serviços prestados); a segunda, a ele socialm ente canalizada m ediante procedi­
m entos típicos, e conform e os seus critérios de cobertura (m utualism o). Em bora não
sejam essas exatam ente as instituições com evidente caráter de seguro e poupança.
Isso tan to vale para o sub o rd in ad o q u an to para os co n trib u in tes individuais,
pois a colização destes é dim inuição dos rend im en to s auferidos de pessoas físicas
ou ju rídicas. Q uem vive de ingressos e não do trabalho, está igualm ente e n q u a ­
drado, pois só o esforço do hom em justifica o p atrim ônio. N esse sentido, não é
im p o rtan te a o b rigatoriedade e, p o r conseguinte, incluído o facultativo.
Em sum a, a co n tribuição previdenciária é fração rem u n erató ria devida ao tra­
balhador, socialm ente diferida para m o m en to ideal, escolhido pela lei, com vistas à
proteção. O m ecanism o de desconto ou cotização individualizada, o recolhim ento
aos cofres do órgão gestor e seu retorno, na form a de benefícios em potencial (as­
pecto do seguro) ou efetivados (aspecto da po u p an ça), sem correiatividade com o
valor ap o rtad o , não lhe su b trai essa nuclearidade. Todo o tem po pertence ao segu­
rado e, com o tal, não pode ser tributo. O E stado não p o d e dispor dele livrem ente
da m esm a form a com o opera com as exações tributárias.
L em brando os serviços, não só os postos à disposição do público, com o os
p rev idenciários oferecidos im an en tem en te à clientela, nem p o r isso a parte d e d u ­
zida do salário d estinada ao Im posto de Renda, p. ex., se co n fu n d e com a previ­
d enciária. Os d estin atários não são os m esm os (em bora m u ito próxim os os dois
círculos co n cên trico s).
E m bora cientificam ente desprezada, há nisso tu d o u m pouco de convenção
d esenvolvida no cu rso dos tem pos... . Q uando com eçou a discussão, as entidades
financeiro-jurídicas estavam sedim entadas no espírito das pessoas. Agora, busca-se
sistem atização do já assente.
Q uan d o o CTN diz ser possível definir o tribu to a p artir do fato gerador (caput
do art. 4 B), não sen d o im p o rtan te a destinação final do p ro d u to arrecadado, e ao

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iAr jo

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
U
eleger o objetivo co n stitucional com o p ressuposto im portante, percebe-se não ter­
m os atingido, ainda, o conceito ideal de trib u to , pois em cada caso prevalece um a
ou o u tra faceta. O fato gerador do Im posto de R enda e da contribuição social são
praticam en te iguais, mas é diferente o destino dos recursos.
249. E specificidade p rev id en ciária — O conceito de tributo, tão caro a Geral­
do Ataliba — “obrigação ju ríd ica pecuniária, ex lege, que não se constitui em sanção
de ato ilícito, cujo sujeito ativo é um a pessoa pública (ou delegação p o r lei desta) e
cujo sujeito passivo é alguém nessa situação posto pela vontade da lei, obedecidos
os desígnios co n stitucionais (explícitos ou im plícitos)” — p o r sua am plitude, mã-
xim e fazendo referência ao sujeito passivo, propõe o exam e da expropriação em pre­
endida pela Previdência Social, convindo lisLar alguns de seus aspectos particulares,
com as lim itações de espaço ora im postas, a m erecer análise inteligente e profunda.
Sob relação ju ríd ica nascida da vontade pessoal, o segurado facultativo —
figura im prescindível à proteção do trabalhador — deflagra regras excepcionais.
Por exem plo, prazo para exercício do direito de restituição, podendo-se o p tar pelas
civis ou previdenciárias.
A quitação pode não ser exclusivam ente a do art. 32 do CTN. O peram -se o u ­
tras form as de pagam ento, pois a Previdência Social conform a-se com a dação em
p agam ento, p r e s L a ç ã o de serviços e dedução no valor do benefício.
Até a Lei n. 10.666/2003, no regim e da escala de salários-base do art. 29 do
PCSS, o segurado escolhia a base de cálculo. P erante o dever de contribuir, su b sis­
tia o direito de fazê-lo.
Referibilidade in erente ao co n trib u in te, com generalidade própria, em todos
os casos, na previdência, adm item -se situações em que o segurado, em face da so ­
lidariedade e do m atiz securitário, é beneficiado.
O Estado é obrigado a socorrer a Previdência Social, em suas insuficiências
financeiras.
Visto o Estado ter-se assenhoreado da iniciativa e expropriado o indivíduo,
im p ed in d o -o de gerir a p ró p ria proteção, subsiste direito subjetivo às prestações
previdenciárias.
Não se cogita de perecim enlo de direito nascente dos serviços genericam ente
ofertados pelo Estado. E m bora igualm ente im prescritíveis os benefícios p reviden­
ciários, prescrevem m ensalidades não usufruídas a tem po.
A previdência social pertence socialm ente aos co n trib u in tes e não à sociedade
com o um todo; esta não pode dela d isp o r para outras finalidades.
Com vistas ao p reen ch im en to dos requisitos legais, a p ar do dever de co n ­
tribuir, su b siste o d ireito de fazê-lo na previdência social, e isso não acontece na
órbita tributária.
De regra (salvo q u ando na prática não seja conveniente), para fazer ju s às
prestações, o segurado tem de contribuir. Da m esm a form a, p o r força da solida­
riedade, alguém pode ter direito sem ter cotizado (v. g., prestações acidentárias).

C urso de D ir e it o P r e v i d e n c í A klo

222 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
250. C o n clu sõ es fin ais — N ão estão m u ito acordes os estudiosos sobre a
busca da n atureza ju ríd ica dos in stitu to s de Direito. P ublicistas alegam não haver
interesse em se d eterm in a r o âm ago da contribuição previdenciária, u m a vez defi­
nidas regras co n stitu cio n ais subm etedoras. E n tretan to , o argucioso desafio p erm a­
nece. A C arta M agna fatalm ente não prevê tudo, e indagar (e en co n trar) a essência
m ais profunda do fenôm eno é torná-lo ú til com o in stru m en tal ju ríd ic o e prático.
Com razão Orlando Gomes: “Todo in stitu to ju ríd ico tem no sistem a seu lugar
p ró prio. E n co n trá-lo é determ inar-lhe a natureza. A localização (sedes materiae)
ajuda a com p reen são das regras ag ru p ad as”. E, tam bém , José de Oliveira Ascensão:
“A d eterm inação da natu reza jurídica passa então a ser a identificação de um a
grande categoria ju ríd ica em que se enquadre o in stitu to em análise.”
C rê-se não serem suficientes as soluções. No referente à m atéria, quem aceita
ser a co n trib u ição previdenciária espécie exacional nào trib u tária não resolveu
todos os problem as, pois precisará evicerã-la e classificã-la.
C onform e cada dom ínio sob o qual se focalize determ in ad o ente (econôm ico,
social, ju rídico etc.), vislum brar-se-ã im portância ou irrelevância. Ju rid icam e n te , a
finalística é realçada, po u co valendo cerebrizações bizantinas ou acadêm icas, fm-
pen d e co n clu ir ser um a coisa e não ser outra. Isso se fará p o r com paração ou nào,
verificando a existência de elem entos definidores. M as vicejam entes com plexos
nào classificáveis sistem icam ente. É im prescindível titu lar a qualidade buscada, e
o nom e é im p o rtan te para a identificação.
N atu reza ju ríd ic a é a essência jurídica do ser estudado, seu aspecto m ais im ­
p o rtante. Se se apresenta m atizado p o r vários dados, será preciso eleger o m ais
significativo deles.
Previdência social é poupança coletiva indisponível, seguro social, distribuição
de rendas, institu ição estatal, política governam ental, m eio de subsistência, garan­
tia do futuro, investim ento institucional, objeto do D ireito Previdenciário, direito
subjetivo e m ais algum a coisa, m as enfatiza-se ser técnica protetiva dos indivíduos
q u an d o convencionadam ente não dispõem de m eios para se autossustentar.
C o n tab ilm en te, contribuição é lançam ento; para a econom ia, u m valor; finan­
ceiram ente, pressu p osto do atendim ento; laboralm ente, fração da rem uneração;
n a seqüência tem poral, posta-se com o atividade-m eio; para orçam en to público,
ru b rica e fonte de receita; socialm ente, salário diferido; atu arialm en te, reserva
pecuniária; para o trabalhador, im portância deduzida; logicam ente, pressuposto
do benefício; sob o aspecto m atem ático, valor finito; p raticam en te, determ ina o
nível da m ensalidade; para o Estado, expropriação do particular; co n stitu cio n al­
m ente, é exação do tipo contribuição social.
A brigando-se a existência de um Sistem a Exacional N acional, persistentes
regras universais co m u n s às espécies trib u tárias e securitárias e in ex isten te m enção
à co n trib u ição social previdenciária no art. 149 da Lei M aior — em face da especifi­
cidade da P revidência Social — , o aporte ora cogitado econôm ico-financeiram ente
é salário socialm ente diferido, e, ju rid icam en te , exação não tributária.

C urso d e D ir e it o F r e v il ie n c ia r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D i r e it o P r e v i d e n c i á r i o 223
Capítulo XXV

T e o r ia J u r íd ic a d o R is c o

251. Conceito de risco. 252. Distinção entre risco e sinistro. 253. Dife­
S um ário:
rença entre risco e contingência. 254. Estado de necessidade. 255. Dano e repa­
ração. 256. Classificação dos riscos. 257. Tipos de riscos. 258. Técnicas de pro­
teção desenvolvidas. 259. Responsabilidade jurídica. 260. Presença do Estado.

Em razão da forte influência sofrida em seu nascedouro, pelas práticas e in s­


tru m e n to s do seguro privado, a previdência social, com o ciência p ro tetiv a, e
o D ireito P revidenciário, com o ram o ju ríd ico , interessam -se pela ideia do risco.
Estim á-lo é um a das m ais form idáveis e atraentes operações do cálculo atuarial.
251. C onceito de risco — De m odo am plo, além de aspectos particulares, as
técnicas de proteção social objetivam a cobertura dos possíveis riscos e o atendim ento
da contingência, am bos eventos individuais e sociais previam ente convencionados.
A previdência social voltou-se especificam ente para o risco (historicam ente, em
seqüência ao seguro privado), acentuado na infortunística laborai, posteriorm ente
incluindo nos seus planos de prestações tam bém as necessidades; em certo m om en­
to, cuidou de carências assistenciárias e, por força das circunstâncias e da proxim idade
de interesses, prom oveu os serviços de saúde no âm bito do direito constitucional.
A in tenção da assistência social difere: ocupa-se da necessidade propriam ente
dita, ausen te a co b ertu ra de fatos pessoais ou coletivos, d esconhecendo benefícios
com nuan ça previdenciária. Deficiência física congênita ou ad q u irid a e idade avan­
çada são as p rincipais contingências assistidas.
As ações de saúde têm escopo equacionado: prevenção, tratam en to e recu ­
peração das pessoas, visando a torná-las aptas ao trabalho e até sem esse objetivo.
Desse espectro securitário, deflui a im portância de se ter em m en te o risco
e a contingência, necessidade e sinistro, dano e reparação, expressões, às vezes,
tecnicam ente co n fu n d id as ou adotadas com o sinônim as.
Risco é p robabilidade de ocorrência de determ inado fato, previsível (eclipse
da Lua) ou não (erupção do E tna), relativo a acontecim ento usualm ente incerto,
futuro (à frente do observador), traum ático (p ro d u zin d o efeitos sopesados pela
técnica considerada), in d ep en d e n tem en te da vontade do agente.

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
Tal visualização genérica (ainda não se referindo ao in stitu to científico ou
ju ríd ico ) p o d e ser p articularizada para situações de interesse do ser h u m an o e da
sociedade, com vistas à sua proteção.
C o n seq u en tem en te, para fins técnicos, n ão é risco: a im probabilidade absolu­
ta (o ho m em ir à estrela Vega); o evento passado (salvo com a finalidade específica
de p roteger); o fato incapaz de expressar-se no m u n d o físico; o p ro d u to da volição
h u m an a consciente.
Para a técnica de proteção social, en tretan to , p o r convenção, com preende
certos aco n tecim en to s previsíveis (velhice, tem po de serviço, casam ento, N atal
etc.), desejados pelo segurado e, se se quiser, até os não traum áticos. A previdência
social não co nsidera o risco proveniente dessa classificação am pla ou original, m as
versão sofisticada, h isto ricam en te relacionada com o trabalho e, po sterio rm en te,
com a adm issão de ingressos, e, m ais recentem ente, com a p o u p an ça individual
indisponível. C om o se verá, envolve-se tam bém com certas indispensabilidades,
nas quais não cobre risco, m as sim plesm ente atende as pessoas.
Ele causa preocupação, no Direito Social, q u an d o afeta os indivíduos e, por
conseguinte, a sociedade. Esm iuçado, decantado (sinistro), o risco revela-se cau­
sad o r de efeitos práticos (e ju ríd ic o s ), interessando à técnica protetiva individual
ou social (e ao ram o ju ríd ico ). Se provoca dano, atrai a ideia de reparação; presente
esta, é preciso p en sa r qu em deve assum i-la (responsabilidade).
Benefícios não p rogram ados o u im previsíveis são exem plos pu ro s da ideia
associada ao risco (ao d an o e à reparação): auxílio-doença, ap o sen tad o ria p o r in ­
validez, auxílio-reclusão e pensão p o r m orte. Riscos previsíveis, com o a velhice,
alargam o conceito, e quase se co n fu n d in d o com a necessidade, a aposentadoria
p o r tem po de serviço e a especial. Social ou econom icam ente falando, o desem prego
é risco do trab alh ad o r (e u m po u co da sociedade).
252. D istin ção e n tre risco e sin istro — Risco não é entid ad e contida no
m u n d o m aterial; concepção abstrata, sim ples chance de o fato acontecer, liga-se,
n atu ralm en te, com aprobabilística. É perigo, no sentido de ocorrência possível,
para a sua conceituação, não sendo relevante venha ou não a efetivar-se. M ensura-se
pela im inência, ou seja, q u an d o pode inteirar-se.
Por o u tro lado, sinistro é aco ntecim ento iniciado, em curso ou acabado, al­
teran d o o m u n d o real, im p o rtan d o em algum dano ou, se convencionado, sem
n en h u m p reju ízo econôm ico para o ser hu m an o . Não sopesado an teriorm ente,
reduz-se a sim ples fato e, qu an d o sujeito à avaliação ju ríd ica, extingue o risco,
pois é m udança.
Sinistro n ão é risco consum ado, pois este últim o in d ep en d e da configuração
do fato considerado; sinistro é o possível acontecim ento, dado com o objeto de
algum interesse, p o r exem plo, quem indeniza a perda dele derivada etc. Risco é
an teced en te e sinistro, su bsequente, o prim eiro não d eterm in a o segundo. Com o
sinistro, ele desaparece. Q uem o deflagra são as causas. Do po n to de vista ju ríd ico ,
só convém ex am in ar o sinistro coberto (constante do c o n tra to e expresso na

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D i r e it o P r e v id e n c iá r io 225
apólice), pois, p. ex., quem ingressa incapaz para o trabalho (não há risco, mas si­
nistro) não tem direito a benefício previdenciário p o r incapacidade, em bora possa
c o m p u tar o tem po de serviço para o utros fins.
A expressão sinistro não é de sentido idêntico ao da locução “contingência
realizada” (v. g., deficiência física congênita), guardada aquela para a órbita do
seguro ou da previdência.
Benefícios que d istinguem bem essas noções são a aposentadoria especial
(que traía do risco) e aposentadoria p o r invalidez (que repara o sinistro).
253. Diferença entre risco e contingência — C ontingência é fato previsível,
realizável ou realizado, isto é, acontecim ento individual ou social concebido an te­
cipadam ente. Exem plo: indigência. C ham ada pelos hispânicos de necessidade, a
situação tam bém decorre da contingência e do sinistro. N ão é probabilidade, pois
senão seria sinistro.
Previsível, com o a idade avançada e tem po de serviço. Per se, obsta o trabalho
ou o dificulta, p o r variados m otivos. G eralm ente, definida na lei; alguns aco n te­
cim entos, por ajuste, nào a constituem . Aferida, nu m certo m om ento histórico,
com o dispensabilidade m ínim a (v. g., as prestações previdenciárias, excetuadas
para o profissional do ram o, não visam à beleza física o u à higidez sexual).
254. Estado de n ecessidade — O principal objeto da assistência social é a ca­
rência das pessoas adrede configuradas. Não são todas as indispensabilidades do ser
hum ano, m as as eleitas pelo legislador, consoante a capacidade do gestor. Exemplo:
inaptidão do m aior de 65 anos de obter a subsistência m ínim a (Lei n. 10.741/2003). A
princípio, com o organizada a seguridade social são os excluídos da previdência social.
Não há nesse status econôm ico e ju ríd ic o a ideia de risco (p. ex., de alguém
em pobrecer), nem de co bertura ou dano, a ser reparado. Daí não se atrib u ir caráter
sub stitu tiv o ou in d en izatório à prestação.
Por sua am plitude, o vocábulo “n ecessidade” pode abarcar a condição do
segurado sem con seg u ir o b ter os m eios de m anutenção. U m a de suas principais
características, a tem p orariedade, opondo-se à definitividade do protegido pela
prestação previdenciária. Cessado o requisito legal, o assistido é afastado do regim e
de proteção.
255. Dano e reparação — S ecuritariam ente, dano é prejuízo m aterial ou m o ­
ral sofrido pelo bem sujeito a risco e sinistrado. O m otivo da realização é im p o rtan ­
te na definição, pois, ausente a vontade hum ana, frequentem ente, não determ ina,
em conseqüência, a reparação. D ano não convencionado não interessa ao D ireito,
exceto sua análise prelim inar (para ingressar ou nào na órbita ju ríd ica). Só tem sig­
nificado científico o dano segurado. Valores abaixo da franquia, no seguro privado,
são assum idos pelo titular, deslocando-se a responsabilidade.
D ano é fato m aterial, concepção física, acontecim ento deflagrador ou não cie
efeitos. Reparação é ideia jurídica, constante do Direito. Por m eio dela, alguém
tenta repor o bem perdido, am enizar o prejuízo den tro dos lim ites do possível. A
reparação pressupõe o dano e a ele se vincula pela responsabilidade.

C l ir s o d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

226 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
256. Classificação dos riscos — O s riscos classificam -se com o individuais
e sociais. Individuais, p ara o em pregado, são o acidente, a doença, a invalidez, a
m orte. Para o au tô n o m o , os ligados à profissão. Para o em presário, os em presariais.
Sociais, a greve, o desem prego, a inflação, a guerra, e, p rincipalm ente, os
econôm icos.
T am bém p o d em ser sistem atizados com o previsíveis e im previsíveis. Os previ­
síveis, p o r sua vez, dividem -se em d eterm inados e ind eterm in ad o s. D eterm inados,
a velhice, aliás, convencionada segundo a vontade do legislador. Indeterm inados, a
m orte, ela é previsível, só não se sabendo q uando acontecerá.
Im previsíveis são os não program áveis, sucedem inesperadam ente. Ignora-se
se vão suceder.
N os dois casos, considerados apenas individualm ente, p orque am bos podem
ser atu arialm en te estim ados em term os sociais. Para fins de cálculo m atem ático, é
possível p ro g n o sticar q u an tas pessoas vão m o rrer n u m certo círculo de indivíduos.
25 7 . T ip o s de risco s — São viáveis vários en q u ad ram en to s científicos do ris­
co, fo rm u lan d o -se d iferentes grupos, segundo a volição do observador. Por conse­
guinte, é possível classificá-los em cinco grandes dom ínios: a) n atural; b) político;
c) fam iliar; d) profissional; e e) pessoal.
a) naturais: São d ebitados à n atureza, diante da p o u ca o u n e n h u m a p articip a­
ção do ser hu m an o : o terrem oto, o incêndio, a inundação, o furacão e o naufrágio.
b) políticos: O exílio, a prisão, a perda de bens ou do em prego, a guerra, a
greve co stu m am ser ro tu lad o s com o inerentes à atividade política.
c) familiares: Incidentes envolvendo os m em bros da fam ília podem p ro d u zir
risco de separação de fato, o divórcio o u o abandono, e com ele sobrevirem difi­
culdades de subsistência.
d) profissionais: À atividade laborai relacionam -se possibilidade de desem pre­
go, red u ção dos salários, transferência de local. Para o au tô n o m o e em presário, o
cenário econôm ico e a falência.
e) pessoais: D izem respeito m ais p articu larm en te ao organism o da pessoa. São
m uitos, m as os prin cipais são: gravidez, doença, invalidez, reclusão, idade avan­
çada e m orte.
258. Técnicas de p ro teção desenvolvidas — Para en fren tar os riscos (e as
co n tin g ên cias), o h o m em idealizou várias técnicas, prim itivam ente individuais e,
depois, ag ru p ad am en te, sociais.
a) defesa pessoal: Em tem pos im em oriais, o hom em teve de se defender da
n atu reza, d o s anim ais e dos inim igos. N u m a vida sim ples, o risco e a necessidade
se co n fundiam , m as o dan o e a reparação não existiam .
Sua reação lim itava-se a pro ced im en to s individuais, atenções p ara com o cor­
po, instintivos alguns e elaborados outros, cuidad os com a prim itiva vestim enta,
m eios pessoais de sobrevivência, aten d im en to à saúde e utilização de arm as defen­
sivas, e provisão de alim entos (ideia prim itiva de p o u p an ç a) e utensílios.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 227
A hipótese de, n o porvir, não d isp o r dos m eios de subsistência, in sp iro u ao
ho m em o g uardar o excesso de hoje. N esse m om ento ilum inado, surgiu a previ­
dência social. Nos tem pos m odernos, a econom ia individual persiste com o form a
de cobrir necessidades futuras nos vários níveis da existência.
Riscos im in en tes explicam a baixa expectativa de vida da época.
b) união fam iliar: Com o surgim ento da família, pequeno agrupam ento h u m a­
no, m antiveram -se os diferentes tipos de perigos, m as criaram -se m ecanism os m ais
elaborados de proteção. As necessidades passaram a ser su p rid as com o m útuo
auxílio e a ajuda de parentes.
A organização fam iliar propiciou m ais conforto e tranqüilidade ao hom em e
ele pôde desenvolver-se, deslocar-se para m ais longe, co n q u istar espaços e enfren­
tar novos perigos.
O m ais velho ad q u iriu valor e foi respeitado pela experiência. C om isso, so­
breveio a ideia de cu id ar dele na doença e na velhice.
c) assistência religiosa: As form as assistenciárias foram im pelidas pela carida­
de e tendência n atu ral do ser h u m an o de ajudar o próxim o. As m ais incipientes
diziam respeito a alim entos e ações de saúde, chegando n u m estágio su p erio r a
oferecer abrigo provisório aos indigentes. Até hoje, a cidade grande oferece alber­
gues aos despossuídos.
d) assistência pública: Assistência pública é cópia da assistência religiosa, ado­
tada pelo Estado, regulam entada e sistem atizada. Aparece qu an d o o Estado se orga­
niza, com a particularidade de, já em seu nascedouro, m uitas vezes estim ular a ocio­
sidade, obrigando-o, p ortan to , a freqüentes reform as dos planos de atendim ento.
e) m utualismo profissional: Alguns riscos profissionais, com o ficar incapaz
para o trabalho ou m orrer, despertaram os trabalhadores para o significado do
provérbio: “A u n ião faz a força”, e surgiu o m utualism o do século XIX. C om binava
a po u p an ça com as práticas do seguro privado provenientes do seguro m arítim o.
A família foi su b stitu íd a pela instituição, com certa solidariedade profissional
nascente e indispensável à subsistência do grupo.
f ) seguro privado: O seguro privado, base m atem ático-financeira da previdên­
cia social, apareceu p rim eiram en te no universo m arítim o, garantia da tran q ü ili­
dade das viagens ou m eio de repor as perdas decorrentes de assaltos, naufrágios e
perecim entos. Trouxe consigo a ideia de prêm io, sinistro e indenização.
C onciliava alguns interesses: a) peq u en a privação (prêm io); b) lucro para a
seg uradora (diferença entre a som a dos prêm ios e as reparações possíveis); c) di­
m in u ição da perda no caso de sinistro.
O u tro respeitável in stan te de glória se apresentou q u an d o o h o m em percebeu
poder, p o r m eio da privação m o m en tân ea de parcela d o seu p atrim ônio, social­
m ente reu n id a n as m ãos de pessoas visando ao lucro (e, posteriorm ente, transferi­
da ao E stado), gozar de algum a paz de espírito q u an to ao seu patrim ônio. Levou-o
a isso a sensação desagradável de ver u m bem perecido.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
g) assistência social: A ssistência social é com binação h o d iern a dos m ecanis­
m os da assistência religiosa e da assistência pública. Baseia-se na solidariedade das
pessoas e no estím ulo governam ental.
h) previdência social: Os riscos cobertos pela previdência social provieram do
seguro privado e do m utualism o, com certa dose de assistencialism o. A proveitou
a praxe do seguro e das corporações de ofício.
Dois eventos sim ultâneos explicam o seu sucesso: a presença do Estado e o
caráter jurídico atrib u íd o à técnica.
i) seguridade social ou wellfare State: A verdadeira seguridade social assinala­
-se p o r m atizes assistenciários globais. Seu lem a principal (exigir conform e a ca­
pacidade e d ar seg u n d o a necessidade) indica o abandono total da ideia de risco,
em bora m uitas de suas prestações co n tin u em sofrendo sua influência histórica.
Prevalece n itid am ente o escopo de cuidar das necessidades, restando o risco
da co b ertu ra do p atrim ônio.
j) assistência total: C onsidera-se assistência total ou final a técnica de proteção
do risco e da necessidade elevada à anulação do in divíduo com o ser autônom o. O
h om em tem atendidas as suas indispensabilidades totais, m as, em contrapartida,
não m ais planeja a sua vida. M escla de C ristianism o e C om unism o ideológicos, na
qual o E stado leviatânico é p ro teto r m áxim o.
259. R esp o n sab ilid ad e ju ríd ic a — Jacenle o dano, n atu ralm en te surgiu a
ideia da reparação. Se o risco é assum ido pela vítim a, a ela cabe a reposição do
síütus quo ante. P odendo-se atrib u ir o sinistro a terceiros, certam ente estes restarão
envolvidos com a reposição do nível anterior.
R esponsabilizar o causador de prejuízo to rnou-se elaborada disposição in e ­
rente ao espírito h u m an o , sensação quase instintiva corresp o n d en te à vontade de
as coisas não se m odificarem .
O p rim eiro ato do indivíduo é reagir fisicam ente co n tra am eaças ao seu ser
(ou p atrim ô n io ). A responsabilidade ju ríd ica nasceu no bojo da vingança e um a
das p rim eiras n o rm as ju ríd icas foi a Pena de Talião (“o lho p o r olho e dente por
d e n te ”). S ubstituída p o r reparação em din h eiro ou in natura, ao constatar-se es­
tarem vítim a e agressor cegos ou desdentados, sem com isso m in o rar a perda de
am bos.
Em Rom a, a responsabilidade foi ligada à ideia da culpa e o patrim ônio do
agressor devia resp o n der pelo dano. As coisas com eçam a se com plicar, pois o dano
pode sobrevir sem a culpa.
De Rom a, espraiou-se pela Idade M édia, vindo a se co n stitu ir na responsabi­
lidade civil, abrigando-se no C ódigo de N apoleão.
Para acolher o prejuízo proveniente da culpa ou falta dela, foi preciso u ltra ­
passar a ideia de risco. Isso se deu prin cip alm en te a p artir da R evolução Industrial.
O passo seguinte foi o da responsabilidade objetiva ou teoria do risco profis­
sional e da teoria do risco social.

C urso de D ir e it o P rf . v i d e n c i A r i o

T o m o l — N o ç õ e s d e D i r e ito P r e v id e n c iá r io
260. Presença do Estado — A presença (norm atizante) do E stado é elem ento
decisivo n a teoria ju ríd ica do risco. Em bora pouco cuide da prevenção dos sin is­
tros e, de certa form a, eles sejam m eios inevitáveis — interferiu regulam entando
m ediante a lei, m ediu o dano su p erv en ien te e, p rincipalm ente, regrou as m odali­
dades de indenização.
No D ireito m o d erno, são civis, penais e previdenciárias.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

230 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
Capítulo XXVI

D ireito a o Lazer

S u m á r i o : 261. Conceito sucinto. 262. Fontes formais. 263. Lazer no Direito La­
borai. 264. Modalidades mais comuns. 265. Aposentadoria como expressão.
266. Preparação para aposentação. 267. Bibliografia nacional. 268. O lazer para
a medicina. 269. Interpretação da matéria. 270. Direito ao lazer.

Coisa b astan te n atu ral, relaxar ou folgar, ou seja, d esfru tar o lazer, com eçou
a suscitar q u estio n am en to s no âm bito do D ireito Previdenciário, h á b em pouco
tem po. Esse fen ôm eno individual e social despertou o interesse de sociólogos,
m édicos e especialistas em terceira idade, acabando p o r se aproxim ar, em razão da
inatividade presente, da previdência social.
261. Conceito sucinto — O s d icionaristas costum am ter o lazer com o p e­
ríodo de inatividade, isto é, desocupação, lapso de tem po dedicado ao descanso,
folguedo ou ócio. Mas tam bém é encarado, com issivam enle, o exercício de ativida­
des lúdicas, apreciação artística (m úsica, teatro, cinem a, televisão e o u tras m ais),
viagens, enfim , ideias oblíquas e não opostas ao labor. Se o trabalho é fazer, o lazer
não é, n ecessariam en te, não fazer, in clu in d o esforços físicos capazes de d ar satis­
fação com o o esporte sem anal, ginásticas e m esm o práticas radicais.
E preciso d istin g u ir o lazer do não ler de trabalhar, especialm ente a concepção
jurídica aí presente. Sim ples inatividade pode não se consistir em recuperação de
energias, e o lazer não ser apenas período de reposição da aptidão para o serviço,
mas ação positiva de fruição gratificante de algum m ovim ento.
d) necessidade da criança de brincar: D urante a infância e aproxim ando-se da
adolescência, além do estudo obrigatório, coaduna-se com a criança não ter o cu p a­
ção fixa, fora as obrigações dom ésticas, restando as horas para se divertir. Período
desco m prom issado com deveres, d u ra n te o qual o vazio é desfrutado com afazeres
leves, agradáveis e im prescindíveis à form ação da personalidade.
b) descanso do trabalhador: Em razão d o desgaste de energias, o Lrabalhador
tem carên cia p erió d ica d e u s u fru ir de lapsos de tem po sem desgaste pro fissio ­
nal, id ealizado pelo legislador com o o d escanso sem anal, os feriados e as férias
anuais.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io
c) lazer do idoso: 0 lazer do idoso nada tem a ver com o repouso do obreiro.
Situação assem elhada à da criança, d u ra n te a qual não pode ser exigida dedicação
co n tin u a, convindo desfrutar os Últimos anos de vida sem o ônus de trabalhar e,
de preferência, co n su m indo os m o m en to s disponíveis com o devaneio da leitura,
a convivência com am igos, os passeios e excursões e esforços com patíveis com a
idade.
d) lazer economicamente considerado: Além da ociosidade no âm bito da família
ou nas proxim idades do lar, a in d ü stria do lazer oferece um sem -núm ero de opções
para quem q u er vivenciar a desocupação. O turism o preenche espaço extraordi­
nário, oferecendo m uitíssim as opções, não só para trabalhadores em férias, com o
para aposentados e pensionistas.
e) definição de lazer: O lazer, m arcado pela inatividade, não significa, necessa­
riam ente, oposição ao trabalho; pode im plicar m ovim ento físico d u rad o u ro , com
a p articularidade de p ropiciar satisfação ao execulante.
I.azer é período da vida do hom em , p o r im posição da idade, ou seja, infância
ou velhice ou em razão da perda de energias laborais, d u ra n te o qual a sua su b ­
sistência deve ser m antida por terceiros, geralm ente parentes, ou pela seguridade
social, sem a necessidade do trabalho, p erm itin d o -lh e gozar a liberdade do ócio
com dignidade.
262. F o n tes fo rm ais — No art. 6e, q u an d o com eça a m encionar os direitos
sociais, a C onstituição Federal assegura ser o lazer um direito social. Logo a se­
guir, no art. 7°, ao definir o salário m ínim o, o inclui com o necessidade vital bási­
ca (inciso IV). Regula tam bém a jo rn ad a norm al de trabalho (X III), revezam ento
(XIV), repouso sem anal rem u n erad o (XV), férias anuais (XVII), licença à gestante
(XVIII), licença à p atern id ad e (XIX) e a aposentadoria (XXIV).
263. L azer no D ireito Laborai — Do ponto de vista jurídico, o Direito do Tra­
balho tem capítulo inteiro sobre os descansos do trabalhador, espaços de tem po n e­
cessários à recuperação do obreiro. Para isso, é im portante gastar os dias com o lazer.
Em vários dispositivos, a CLT dispõe sobre esses lapsos de tem po. No Título
II, C apítulo II — Da Duração do Trabalho, e na Seção III — Dos Períodos de Descanso
(arts. 66 e 72), cuida do descanso sem anal rem unerado. Sob o Título III, C apítulo
III — Da Proteção do Trabalho da M ulher, volta a tratar da questão (arts. 382 e 386).
Todo o C apítulo IV — Das Férias (arts. 129 e 133) é dedicado às férias anuais.
Eduardo Gabriel Saad conta a história das férias, desde a Roma A ntiga, m o s­
trando ler su rg id o em 1872, na Inglaterra ( “CLT C o m e n ta d a ”, LTr E dit., 1996,
29® ed., p. 121), lixando-se na existência do direito subjelivo a ela.
264. M o d alid ad es m ais co m u n s — As princip ais form as de lazer são: a) es­
portivas — co m p reendendo a prática no fim de sem ana e em outras oportunidades;
b) recreativas — jo g o s de salão, pescaria, fotografia, m úsica e dança; c) desloca­
m entos — viagens, passeios e excursões; d) leitura — de jo rn ais, revistas e livros;
e) espetáculos — cinem a, TV e teatro; f) trabalho dom éstico ■— jardinagem , afaze­
res do lar, arru m ar coisas, m arcenaria, num ism ática, filatelia e o u tras coleções; g)

C urso nr D ir e it o P r e v id e n c iá r io
232 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
espiritual — freq ü en tar igrejas, fazer filantropia, praticar o m utirão; h) descanso
p ro p riam en te dito — com recuperação do desgaste; i) fam iliares — ocupar-se dos
netos, p agar co n tas etc.
265. A p o sen ta d o ria com o e x p ressão — C oncebido o lazer com o período da
vida d u ra n te o qual não se deve estar socialm ente obrigado a trabalhar, subordina-
dam en te ou não (pois o trabalho pode ser form a prazerosa), e p o d er d ispor do seu
tem po p ara fru ir a liberdade de fazer o apetecível, ficando a critério do indivíduo
com o co n su m ir os in tervalos livres — m esm o sem a necessária atividade física ou
in telectu al — , a ap o sen tad o ria é m odalidade de lazer. É de interesse do Estado
m o d ern o oferecer as m elhores condições e in fraestru tu ra para isso.
N esse sen tid o , é preciso co m p reen d er a ociosidade do ju b ila d o , não só com o
pagam ento do salário socialm ente diferido, m as situação alcançada graças ao tra­
balho p re térito , pois o lazer não é gratuito, prêm io, jú b ilo ou m érito p ró p rio da
idade avançada.
A par da desobrigação de trabalhar, q u an d o a prestação previdenciária assim
o perm itir, a ap o sen tadoria deve ser suficiente para a inatividade tanto q u an to o
salário no p erío d o de atividade, com pensando-se a dim inuição de despesas com
tran sp o rte e representação, com eventuais gastos m édicos, restan d o à pessoa a
liberdade p ró p ria do ocioso.
Socialm ente, a aposentadoria é direito nessa condição, descabendo considera­
ções injuriosas sobre a inatividade do aposentado. No bojo da faculdade ao lazer,
co m p reende-se o direito ã inatividade do ju b ilad o . Ele está gastando a pou p an ça
obrigatória am ealhada, até então indisponível, n a época ju sta p ara fazê-lo, isto é,
q u an d o não detém forças para c o n tin u a r trabalhando.
266. P rep aração p ara a p o se n ta ção — D entro do direito ao lazer, com pre­
endem -se estu d o s e técnicas relativos à passagem da condição de ativo para a de
inativo ou de fazer algum a coisa útil. N os últim os 25 anos, os plan o s de preparação
para a aposentação — PPA desenvolveram -se extraordinariam ente. N enhum a ex ­
periência psicossocial cresceu tan to q u an to essa, p artin d o de trabalhos originários
da CPFL e, m ais recentem ente, im pulsionados pelo SESC, em relação às pessoas da
terceira idade.
São práticas m édicas, psicológicas, laborais e de lazer, voltadas para a pessoa
após d eixar o em prego ou, m ais tardiam ente, no caso do em presário/autônom o,
o exercício de atividade, visando à adaptação, em razão de certas desobrigações,
com o tran sp o rtar-se diariam ente para o local do serviço, vestir-se adequadam ente
à representação, de ter de trabalhar, subordinar-se, c u m p rir rotinas e obrigações
acessórias, para p o d er assum ir sem traum as a condição de hom em livre e desin-
cum bir-se de o u tras tarefas, m uitas das quais dom ésticas.
A prep aração visa não só à inatividade pu ra, caso de pessoas m ais idosas,
com o à atividade p ó s-aposentação em d eterm in ad as circunstâncias, com inform a­
ções relativas à utilização válida do tem po disponível, de centros de recreações
esportivas, clubes de dança, associações de terceira idade, colônia de férias, viagens
pelo in terio r do País.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 233
267. Bibliografia nacional — Aos poucos, vai-se ilu stran d o a bibliografia
nacional sobre o lazer, a aposentação, e a respeito da terceira idade e velhice.
A obra clássica no gênero é “Velhice, um a nova questão social”, de Marcelo
Antônio Salgado, de 1982. Tam bém é b astante citada a “C om o viver feliz os seus
100 an o s”, de C. A lzira Lopes, de 1993.
Carlos Ernani Palheta Nunes escreveu o “Vamos que já en tard ece”, Ana Perwin
Fraimann é au to ra dos “N ós e nossos velhos: forças que falam e forças que se
calam ” e “Coisas da id ade”. Maria Cristina Nobre Teixeira e M aria Evangelina de
Oliveira co n trib u íra m com o “P rogram a de R ecém -A posentado”. M arina Batista
dc La Veja escreveu: “Reflexão sobre a Vida e a A p osentadoria”, Ed. Papa-lLvro, Flo­
rianópolis, 1997. De Celso Barroso Leite, o referido “O Século do Lazer”, convindo
ver, tam bém , o trabalho apresentado ao XIV C ongresso Brasileiro de F u n d o s de
Pensão, de 1993: “C om o serão os aposentados no ano 2 0 1 0 ”.
268. O laze r p ara a m ed icin a — O lazer interessa à m edicina sob duplo aspec­
to: a) com o fonte restauradora da higidez da pessoa ou de suas energias, fatos asso­
ciados à m udança de hábitos ou quebra da rotina existencial; b) com o modus viven-
di, isto é, com issivam ente, m eio de ocupação do indivíduo com tem po disponível.
Para o trabalhador, m assacrado pela rotina do dia a dia, o descanso e a alter­
nância de ares são ab so lutam ente im prescindíveis ao seu restabelecim ento perió­
dico. As vezes, o sim ples distanciam ento do loca! de trabalho, m ediante viagens, é
suficiente para o reequilíbrio da força perdida.
Q uan d o da aposentação, especialm ente se p o r m eio da aposentadoria por
idade, devem ser desenvolvidas técnicas geriátricas e gerontológicas a respeito.
269. In te rp re ta ç ã o da m atéria — Para o Direito Previdenciário, à vista das
fontes form ais, o lazer interessa com o in stitu to ju ríd ico , isto é, conquista co n sti­
tucional ou legal dos indivíduos. É im p o rtan te saber em quais circunstâncias pode
ser invocado. O bviam ente, lim itado ao seu dom ínio, pois o tem a está dividido com
o D ireito Laborai (o n d e presente o direito subjetivo às férias, ao descanso sem anal
rem u n erad o e o u tro s períodos sem trabalho).
Dá-se exem plo com o direito a auxílio-doença o u aposentadoria p o r invalidez
de quem ficou incapaz para o trabalho, p o r m ais de 15 dias, d u ra n te o período de
fruição das férias anuais. Estas e o u tras m odalidades de descanso devem ser u su ­
fruídas com saúde, caso contrário, não cum prem a sua finalística. C ontam -se os
15 dias do aco m etim en to da incapacidade, sustando-se as lérias a p artir de então,
devendo o p eríodo restante ser u su fru íd o po sterio rm en te (segundo a conveniência
do em pregador).
270. D ireito ao laze r — O direito ao lazer não é ju rid icam en te sistem atizado
na legislação. C om parece com o m anifestação do p en sam ento h u m an o , m as a ele
não co rresp o n d e ainda área específica do Direito.
D esenvolveu-se no âm bito da previdência social pela sim ilitude de situações
entre o inativo e o ocioso. Deve fazer parte da preocupação dos sociólogos em m a­
téria de seguridade social, ob ten d o consagração ju ríd ica.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

234 W la ííim i r N o v a e s M a r t i n e z
Afirm á-lo parece red u n d ân cia e é preciso e n c o n trar utilidade para a conclu­
são. Saber se se trata de direito subjetivo ou de sim ples potestade.
O lem a não tem ocu p ad o espaço entre os estudiosos sob o enfoque jurídico,
d ando-se n ítid a preferência à sua vertente socia! e psicológica, seu exercício e m o­
dalidades. Ju rid icam e n te , é faculdade n atu ra l do ser h u m an o , a ser reconhecida
am p lam en te pelo direito positivo, não se ocu p ar em d eterm in ad as circunstâncias
de sua vida. D u ran te a infância, p o r inaptidào para o trabalho, e ser n atu ralm en te
tem po reservado para as distrações e os folguedos, com o papel de re sta u rad o r das
energias q u an d o dos p eríodos de trabalho (férias e descanso re m u n e rad o ). C om o
legítim o d ireito de quem co n trib u iu para a criação das riquezas na aposentação ou
ao final da vida de q u em dispõe de o u tras técnicas.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o í ■— N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 235
Capítulo XXVII

N o r m a s de S uperdi reito

Sum ario: 271. Servidor sem regime próprio. 272. Contagem recíproca de tempo
de serviço. 273. Encargos previdenciários da União. 274. Prefeituras. 275.
Fundos de Participação. 276. Admissão de deficientes. 277. Primeiros quinze
dias. 278. Complementação do auxílio-doença. 279. Estabilidade do acidentado.
280. Distribuição de dividendos.

N orm as de su p erd ireito são regras am plas p o r natureza, aplicáveis a diversos


dom ínios do m esm o ram o jurídico ou a segm entos distintos. Segundo a filosofia
dom in an te na C arta M agna de 1988, elas preferivelm ente devem ser elaboradas em
lei com plem entar, m as nem sem pre isso acontece.
Não se co n fu n d em com as norm as extravagantes. Isto é, preceitos de certa
área co ntidos em o u tra, fato relativam ente co m u m no D ireito Social. Leis previden-
ciárias co n têm várias disposições trabalhistas, e a CLT, algum as prescrições pre­
videnciárias. G eralm ente, tais com andos atrib u em caráter de lei especial (m esm o
contidos em norm a geral, caso da CLT), em relação à lei básica.
O Regim e Geral de Previdência Social não diz respeito apenas aos trabalha­
dores da iniciativa privada. D iferentem ente dos dem ais (dos servidores públicos e
do IPC ), particulariza abarcando todas ou as principais atividades não cobertas por
estes. Abriga a figura universal do facultativo e contem pla co n d u tas não necessa­
riam ente securitárias. A proxim a o D ireito P revidenciário do D ireito do Trabalho,
do Com ercial e do A dm inistrativo.
Repercute e influencia, principalm ente, o D ireito do Trabalho. D esde sua o ri­
gem , na Lei Eloy de M iranda Chaves, d isp u n h a sobre a estabilidade do trabalhador,
m atéria labora! consagrada até o aparecim ento da CLT (1943) e do FGTS (1967).
Os principais p o stu lad o s de su p erd ireito podem ser classificados com o: a)
previdenciários — de custeio e prestações; b) laborais; e c) adm inistrativos.
271. S erv id o r sem regim e p ró p rio — O sistem a nacional de previdência
social com põe-se de três grandes regim es: a) RGPS; b) IPC (em extinção); e c) dos
entes políticos federativos.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W f a d i m ir N o v a e s M a r t i n e z
Se o serv id o r federal, civil ou m ilitar, estadual, m unicipal ou do D istrito
Federal, está su jeito a regim e próprio, fica afastado do RGPS. Porém , na hipótese
de excluído ou arredado dos seus principais benefícios o u se esse regim e oficial
não se en q u a d rar n o conceito de regim e p ró p rio , au to m aticam en te o trabalhador é
filiado ao RGPS. O d ispositivo u ltrapassa os lim ites n o rm ais da iniciativa privada
e abarca o serv id o r público.
O ingresso do segurado é feito em condições atípicas. A ssegurada a percepção
da ú ltim a rem u n eração, ex vi do art. 40 da C onstituição F ederal ou em condições
diferenciadas, obriga a dois cálculos: um , n a condição de servidor e o u tro , com o
sujeito ao RGPS. O ente público assum e o ônus da diferença.
272. Contagem recíproca de tempo de serviço — C ontagem recíproca de
tem p o de serviço co n siste na som a d e p erío d o s de trab a lh o não c o n c o m ita n ­
tes, de duas classes de segurados: a) qu em trabalhou para a iniciativa privada,
filiando-se ao RGPS, e tornou-se servidor público; e b) qu em foi servidor público
e v inculou-se ao RGPS.
A tran sp o sição não tem de ser n ecessariam ente após a cessação do vínculo
an terio r (em bora o p eríodo sim ultâneo não se preste para a adição dos tem pos de
serviços).
Q u an d o d isciplina a dita contagem , a lei básica do RGPS regula tam bém a
situação de servidores públicos, invadindo a sua legislação e nela interferindo (aliás,
para m elh o r proteger).
N orm a de su p erdireito p o r excelência, regra dois regim es distintos.
2 7 3 . E n carg o s p re v id e n c iá rio s d a U n ião — A legislação básica vigente,
d esd e 1991, previa a co b e rtu ra de despesas com o fu n c io n a lism o federal, p o r
m eio de re cu rso s o b tid o s ju n to ao RGPS. O s encargos p re v id e n ciário s da U nião
eram su p rid o s com co n trib u içõ e s v ertidas pelos filiados ao regim e da iniciativa
privada.
274. Prefeituras — As P refeituras devem exigir o certificado de m atrícula do
INSS p a ra a liberação d o alvará d e c o n stru ç ã o , e a C N D , q u a n d o d a expedição
do alvará de h abitabilidade (“h ab ite-se”).
275. Fundos de Participação — Os M unicípios e tam bém os E stados e o
D istrito F ederal só p o derão receber o respectivo F u n d o de Participação se dem ons­
trarem ao INSS estar em dia com os recolhim entos nos três m eses im ediatam ente
an terio res ao previsto para a efetivação daquele procedim ento.
276. Admissão de deficientes — C onform e a lei vigente, as em presas com
m ais de 100 em pregados precisam reservar de 2% a 5% dos seus cargos para pes­
soas reabilitadas ou po rtad o ras de deficiência habilitadas.
A d isp en sa de trab alh ad o r reabilitado ou de deficiente habilitado, ao final de
co n trato p o r prazo d eterm in ad o de m ais de 90 dias, e a im otivada, no contrato
p o r prazo in d eterm in ad o , só poderá ocorrer após a contratação de su b stitu to de
condição sem elhante.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 1 — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 237
277. Primeiros quinze dias — D urante os prim eiros 15 dias antecedentes do
auxílio-doença, o em pregador tem o dever de pagar os salários do em pregado; em
se tratan d o de em presário, a sua rem uneração (pro labore).
D urante o p erío d o de gozo desse benefício p o r incapacidade, o em pregado
será considerado licenciado pela em presa.
278. Complementação do auxílio-doença — Se a em presa garantir Licença
rem unerada vê-se forçada a pagar a diferença entre o valor da rem uneração laborai
e o do benefício. Trata-se de norm a trabalhista com caráter previdenciário.
279. Estabilidade do acidentado — Na hipótese de o em pregado acidentar-se
e receber auxílio-doença, tem assegurada a estabilidade no em prego p o r 12 meses.
Essa estabilidade provisória é discutida na d o u trin a laborai, pois alguns a u ­
tores ju lg am necessária lei com plem entar, e foi im posta pela Lei n. 8.213/1991.
280. Distribuição de dividendos — A em presa em débito para com a segu­
ridade social não pode d istrib u ir bonificação ou dividendos a acionista nem dar
ou atrib u ir cota ou participação nos lucros a cotisla, d ireto r ou outro m em bro de
órgão dirigente, fiscal ou consultivo, m esm o a título de adiantam ento.
Em seu art. 195, § 3 g, diz a C onstituição Federal: “A pessoa ju ríd ica em d é­
bito com o sistem a da seguridade social, com o estabelecido em lei, não poderá
co n tratar com o P oder Público nem dele receber benefícios o u incentivos fiscais
ou creditícios”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

238 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo XXVIII

C rimes P r e vi d en ci á ri o s

Sum a r i o : 281. Introdução do tema. 282. Natureza da lei. 283. Responsabilidade

pessoal. 284. Denúncia do agente político. 285. Condição de procedibilidade.


286. Inexigibilidade de conduta diversa. 287. Tipo de dolo. 288. Exame da exi­
gibilidade. 289, Prisão do devedor. 290. Continuidade delitiva.

281. In tro d u ç ã o do tem a — T entando m elh o ra r a arrecadação e realizar


p o r in teiro a receita do INSS, o C ongresso N acional aprovou lei red efin id o ra dos
crim es p rev id en ciários, d esta feita com a fixação de pen as (au sen tes n o art. 95
da Lei n. 8 .2 1 2 /1 9 9 1 ) e delitos de inform ática praticad o s co n tra a A d m in istra­
ção Pública. P rovavelm ente não alcançará seu desiderato: o d iscu rso n o rm ativ o é
precário; o esforço inicial de co m b ater a sonegação é arrefecido com a tipificação
ad o tada, que não altera significativam ente o co m an d o a n te rio r e, agora, esvazia
a ação penal.
Razões para isso não são poucas. P retender-se a prisão de devedores esbarrará
em p rin cíp io s da Carta M agna (art. 5 Q, LXVI1) e p ro d u zirá oposição doutrinária.
Deflagrar-se a ação p u n itiv a antes da cristalização do crédito previdenciário no
seio da A dm inistração Pública ou na esfera civil enfrentará opiniões discordantes.
Possibilidade de parcelam ento e p o d er o in ad im p len te sim plesm ente declarar o
débito fará cessar a persecutio criminis (sic).
D ificuldades o peracionais para definir os pen alm en te responsáveis no crim e
societário e caracterizar o dolo são óbices à realização do animus legislatoris. E
assim p o r diante.
Diz o art. l e da Lei n. 9.983, de 14.7.2000, que alterou o D ecreto-lei n. 2.848,
de 7.12.1940 (C ódigo P enal), e deu o u tras providências: “São acrescidos à Parte
Especial do D ecreto-lei n. 2.848, de 7 de dezem bro de 1940 — C ódigo Penal, os
seg uintes disp o sitiv o s:”
D erivada do Projeto de Lei n. 933/1999 (m ensagem do P residente da R epúbli­
ca n. 0624/1999, recebida na C âm ara dos D eputados em 13.5.1999), publicada no
D iário Oficial da U nião de 17.7.2000, a lei m odificou vários dispositivos do Código
Penal (lei geral, com caráter orgânico). Tratou exclusivam ente de infrações pre-

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 1 — N o ç õ e s d e D i r e it o P r e v id e n c iá r io 239
videnciárias e de inform ática, definiu delitos novos, estabelecendo equiparações,
reviu textos e revogou o caput, suas alíneas a/j e quatro dos cinco parágrafos do
art. 95 do PCSS, em que, até 14.10.2000, contem plava os ilícitos previdenciários.
Desde 1940, o C ódigo Penal divide-se em Parte Geral, com oito títulos p rin ­
cipais, e Parte G eral, co m inando especificam ente os delitos, em m ais onze títulos.
As m odificações dão-se, nesse úlLimo espectro, nos: T ítulo l — Dos crim es contra a
pessoa (art. 153); T ítulo II — Dos crim es co n tra o patrim ônio (art. 168-A); T ítulo
X — C rim es co n tra a fé pública (arts. 296/97) e T ítulo XI — Dos crim es contra a
adm inistração pública (arts. 313-B, 325, 327 e 337-B).
A uxiliar in stru m en tal da arrecadação do INSS, a lei revitaliza conceitualm en-
te os delitos p o n tu ad o s. Revendo-os, in tro d u ziu infrações ligadas à área de infor­
m ações com etidas co n tra a A dm inistração Pública em geral.
Delitos co n su m ad os a p artir de 15.10.2000, conform e os casos, obrigarão à
representação por parte do INSS ou da Receita F ederal, o que im plicará a reedição
dos atos norm ativos in tern o s da autarquia federal ou deflagrará a iniciativa do Mi­
nistério P úblico com vistas ao oferecim ento e recebim ento da denúncia.
D iante da am p litu d e do texto, e da penalização severa, certam ente p ro d u ­
zirá d o u trin ária p ró p ria que esm iuçará a validade desse ou daquele dispositivo.
Exam inar-se, agora, ainda que superficialm ente, a douLrina e certa ju risp ru d ên c ia
bem atual, não será despiciendo.
282. N a tu reza da lei — A bstraindo eventual discussão sobre repousar a Lei
n. 9.983/2000 no D ireito P revidenciário Penal ou no D ireito Penal Previdenciário,
a n o rm a en fo cad a, com o co n ceb id a, esp e cialm en te q u a n d o d ita os term o s dos
§§ 2a/3° do art. 168-A e §§ l Q/2 e do art. 337-A, reduz-se à condição de in stru m en to
auxiliar da Fiscalização e A rrecadação da autarquia previdenciária. Em bora a u to ­
ridades federais tenham declarado, q uando de sua divulgação pela m ídia, que os
sonegadores iriam para a cadeia, isso dificilm ente acontecerá, pois são inúm eras as
o p o rtu n id ad es de ab o rtar a persecutio criminis.
Q uestões gerais, p ró p rias do D ireito Previdenciário Penal, devem agora ser
reconduzidas, p o is os tipos ap resentados suscitam definições, convenções, in stitu ­
tos e q u estiú n cu las ínsitas ã m atéria crim inalística substantiva e adjetiva, a serem
repassadas pela d o u trin a especializada nos p róxim os anos.
283. Responsabilidade pessoal — O art. 3 Qda Lei n. 9.983/2000 revogou o
§ 3e do art. 95 do PCSS e, com isso, obriga estudar novam ente a individualidade da
responsabilidade, isto é, saber q uem poderá ser den u n ciad o p o r um ou o u tro dos
diversos delitos. E m bora prescrição legalm ente ultrapassada, a exem plo do art. 86,
parágrafo único, da Lei n. 3.807/1960 (LOPS), seu co n teú d o co n tin u ará valendo
com o indicação para a determ inação do autor; m esm o sem positivação, é aporte
do u trin ário considerável.
A ntes da revogação, dizia o aludido § 3S: “C onsideram -se pessoalm ente re s­
p o n sáv eis pelo s crim e s acim a ca ra c te riz a d o s o titu la r da firm a in d iv id u a l, os

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

240 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
sócios solidários, gerentes, diretores ou adm inistradores q u e p articip em ou tenham
participação da gestão de em presa beneficiada assim com o o segurado que tenha
obtido van tag en s.”
A inda q u e fora da esfera penal, n ão será dem ais co n su ltar o art. f 35 do CTN:
“São pessoalm ente responsáveis pelos créditos co rresp o n d en tes a obrigações tri­
butárias resu ltan tes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei,
c o n tra to social ou estatutos: 1 — as pessoas referidas n o artigo anterior; II — os
m and atário s, p rep o sto s e em pregados; III — os diretores, gerentes ou rep resen tan ­
tes de pessoas ju ríd ic a s de direito priv ad o .” Tam bém será o p o rtu n o lem brar o art.
10 da Lei das Sociedades Lim itadas (D ecreto-lei n. 3.708/1919): “O s sócios-geren-
tes ou que d erem nom e à firm a não resp o n d em pessoalm ente pelas obrigações co n ­
traídas em nom e da sociedade, m as resp o n d em para com esta e para com terceiros
solidária e ilim itad am ente pelo excesso de m andato e pelos atos p raticados com
violação do co n tra to ou da lei”.
A esse respeito, Hugo de Brito Machado Segundo concluiu: “1. O s artigos 135,
III, do CTN , e 10, da Lei das Sociedades Lim itadas, referem -se apenas aos diretores,
gerentes e ad m in istrad o res de pessoas jurídicas. N ão se aplicam ao sócio m eram en ­
te q u o tista, que não adm inistra a sociedade; II — o não pagam ento de u m tributo
pela sociedade não consiste em infração à lei praticada pelo sócio-gerente, capaz de
fazer surgir a sua responsabilidade pessoal e ilim itada, com o equivocadam ente al­
g u n s têm afirm ado; III — é irrelevante, para a responsabilização do sócio-gerente,
ter havido ou não a repercussão do trib u to ; IV — o sócio-gerente so m en te terá
resp o n sab ilid ad e trib u tária pessoal e ilim itadam ente quando: a) o fato gerador da
obrigação trib u tária for praticado pela pessoa natural do sócio-gerente fora dos
p o d eres que lh e conferem a legislação societária e o co n trato social (v. g., realização
de operação estran h a ao objeto social); e tam bém q u an d o b) a obrigação valida­
m en te co n traíd a pela pessoa ju ríd ic a n ão for adim piida em v irtu d e de ato da pessoa
n atural do sócio, p raticado com abuso dos poderes q u e lhe conferem a legislação
societária e o co n trato social (v. g., liquidação irregular da sociedade, apropriação
do p atrim ô n io d a pessoa jurídica pela pessoa natu ral do gerente e tc.)” ( “R espon­
sabilidade T ributária dos Sócios-G erentes nas Sociedades L im itadas”, in R epertório
de Ju risp ru d ê n c ia IOB, I a quinz., nov./2000, p. 545/549).
A apuração da responsabilidade penal no crim e societário c o n tin u a enfren­
tan d o en o rm es óbices p o r falta de definição legal. N um a grande organização com o
as sociedades an ô nim as, com C onselho de A dm inistração, D iretoria Executiva,
C onselho Fiscal, diretores setoriais, gerências locais e chefes de áreas laborais, é
onero so sab er q u em deixou de cu m p rir a prescrição legal.
N um a firm a individual ou sociedade lim itada, o problem a não é m enor, pois,
às vezes, m aterialm en te, a incum bência de o p erar o reco lh im en to fica nas m ãos
de co n tad o r ou escritório de contabilidade (o n d e a questão da identificação se re­
nova). Se o em presário faz prova de q u e entregou o n u m erário para alguém e essa
pessoa se ap ro p rio u do valor sem repassá-lo à P revidência Social, este últim o será
o denu n ciad o .

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io

"I
Na sociedade de q uotas p o r responsabilidade lim itada, presentes o sócio-quo-
tista (apenas integralizou o capital) e o sócio-gerente, quem adm inistra a em presa,
a princípio, deve ser responsabilizado. Por vezes, o co n traio social de com posição
da sociedade é letra m orta e, de fato, o qu o tista gerencia ou tam bém trabalha e,
nesse caso, tam bém poderá ser responsabilizado.
A responsabilidade penal é pessoal e intransferível. Se os p articipantes de um a
em presa, p o r in stru m en to legal, outorgam a gestão a determ inado sócio, este será o
culpado (Proc. n. 96.03.006121-2, de 26.8.1997, relatado pelo Ju iz Sinval A ntunes,
TRF, 3a R., I a T., in RDDT n. 26/213).
Som ente o sócio que adm inistra a em presa pode ser p enalm ente responsabili­
zado pelo não reco lh im ento das contribuições sociais descontadas dos em pregados
(HC n. 94.03.58295-2, de 7.3.1995, rei. Juíza Salete N ascim ento, TRF 3a R., I a T„
in RDDT n. 4/165). Na dúvida q u an to à participação de cada u m dos sócios, a pes­
quisa deve centrar-se no sócio-gerente.
N u m a so ciedade com ercial, é q u estio n áv e l p recisar qual o sócio a quem
im p u ta r a culpa. P o r isso, o gerente deve re sp o n d e r (H C n. 9 6 .0 1 .14320-3/T O ,
de 20 .5 .1 9 9 6 , relatad o p e lo ju iz E u stáq u io Silveira, TRF, I a R., 4 a T., in RDDT n.
13/173). A sócia, ainda q u e esposa de sócio m ajo ritário , m in o ritária e sem poderes
de gerência de fato, n ão é in crim in áv el (A pelação C rim inal n. 9 5 .0 3.062939-0,
datada de 5 .8 .1 9 9 7 , relatada pelo Juiz Sinval A n tu n es, TRF, 3a R., I a T., in RDDT
n. 26/213).
D irigentes de em presa devedora do INSS que figuram na direção da sociedade,
sem d eter funções executivas, não são partes legítim as para responder à ação penal
(HC n. 95.03.062783-4, de 31.10.1995, rei. Ju iz Pedro Rotta, in DJU de 28.11.1995).
Resta evidente o sobre-esforço do investigador n u m a organização societária.
A im putação a um ou m ais dos sócios precisa cercar-se de todos os cuidados,
facultando-se am pla defesa a cada u m deles, na tenlaLiva de e n c o n trar o verdadei­
ro autor. Isso pode ser im possível em alguns casos, im pondo-se a absolvição dos
suspeitos.
Para o Min. Celso de Mello, há necessidade de identificação da atuação de
cada acusado (D espacho no H C n. 73.324-7, de I a.12.1995, in RDDT n. 5/145). Ele
repete m anifestação do Min. Barros M onteiro: “T ratando-se de d enúncia referente a
crim e de au to ria coletiva, é indispensável que descreva ela, circunstanciadam ente,
sob pena de inépcia, os fatos típicos atrib u íd o s a cada paciente (RTJ n. 4 9 /3 8 8 )”.
Mas, para o M in. Soares M unoz, citado pela Juíza Eva Regina (HC n.
96.03.027918, de 9.4.1996, TRF, 3 a R., in RDDT n. 9/130): “N ão é sem pre que o
M inistério Público dispõe, no lim iar da ação penal, de elem entos probatórios que
lhe perm itam d iscrim inar a participação que cada sócio teve no delito societário.
N em p o r isso está im pedido de oferecer d enúncia contra todos os responsáveis
pela firm a. C o n stitu i condição im possível de ser exigida o pleno conhecim ento das
deliberações tom adas na privacidade do órgão de adm inistração” (HC n. 58.544/
SP, in RTJ n. 101/563).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

242 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Segundo o M in. A dhem ar Maciel: “N ão é inepta a d en ú n c ia que, nos d en o m i­
nados ‘crim es de au to ria coletiva’, descreve, ainda que sem porm enores, a atividade
dos infratores. A nova ordem constitucional, preocupada com a ‘grande crim in a­
lidade’, oferece ao juiz elem entos exegéticos para um a m elhor inteligência do art.
41 do CPP. P recedentes do STJ e do STF” (H C n. 3.295-0, Proc. n. 95.009390-1, de
18.4.95, TRF, 4 a R., I a T„ in RDDT n. 1/143).
O Min. Ilm ar Galvão tam bém não vê necessidade da individualização da res­
po n sabilidade n u m a sociedade com ercial: “A alegação de que n o s delitos socie­
tários é necessário que a d en ú n c ia individualize a participação de cada um dos
acusados n ão en c o n tra apoio na orientação da ju risp ru d ê n c ia desta C orte, que não
considera condição ao oferecim ento da denúncia a descrição m ais porm enorizada
da co n d u ta de cada sócio ou gerente, m as apenas q u e se estabeleça o vínculo de
cada um com o ilícito ” (H C n. 73.419-7/RJ, in DJU de 26.4.1996). Igual posição
po d e ser co lhida n o relato do Ju iz O lindo M enezes (HC n. 9 6 .0 1 .08265-A /M G , de
15.4.1996, TRF, I a R., 3a T„ in DJU de 17.5.1996).
C onsulte-se este relato do Ju iz C astro Vieira: “O sim ples in ad im p lem en to de
obrigação p rev idenciária pela em presa não é suficiente para a caracterização do ilí­
cito penal. H ipótese em que a denúncia, em n en h u m m om ento, cogitou de d em ons­
trar com o po d e a trib u ir a preten d id a ação com o crim inosa à paciente, sendo certo
que a m era condição de presidente do C onselho de A dm inistração da em presa
so m en te represen taria nexo a v in cu lar a den ú n cia n a absurda aceitação do p rin ­
cípio da responsabilidade objetiva” (H C n. 538/C F, no Proc. n. 95.05.267762, de
21.9.1995, TRF, 5 a R., I a T„ in RDDT n. 3/149).
P o n d eran d o , Hugo de Brito Machado não acolhe a generalidade da culpa: “Na
verdade, adm itir-se a d enúncia na qual alguém é acusado pelo sim ples fato de ser
gerente, ou diretor, ou até sim plesm ente sócio o u acionista de um a sociedade,
com o se tem visto, é ad m itir não apenas a responsabilidade objetiva, m as a res­
po n sabilidade p o r fato de o utrem , o que indiscutivelm ente co n traria os princípios
do D ireito Penal de todo m u n d o civilizado” ( “C rim es co n tra a ordem tributária
— A spectos p rático s e aplicação da lei”, in R epertório de Ju risp ru d ê n cia IOB, I a
q u in z., o u t./1 9 9 9 , p. 454/55).
Em o u tro p ro n u n c ia m e n to válido, ele garante: “N ão m erece p ro sp e rar o ar­
g u m en to seg u n d o o q ual a d e n ú n c ia genérica se ju stifica pela im possibilidade de
determ in ação desde logo da participação individual de cada u m dos d en u n ciad o s
no co m etim en to crim inoso. Na verdade, a in stru ção crim ina! existe p ara q u e se
faça, no cu rso , a prova das im putações. Não para ensejar novas im putações. A d­
m itir-se a d e n ú n c ia c o n tra alguém ap en as com a referência de que o d en u n ciad o
é sócio, o u diretor, ou acionista de d eterm in ad a em presa, para que no curso da
in stru ção se esclareça em que co n stitu iu a sua particip ação pessoal no com etido
ilícito, é a d m itir o início da ação penal sem im p u ta ção d e ato ilícito, para que
so m en te depois, n o curso da in stru ção , se faça a im p u ta ção , o q u e é um verd ad ei­
ro d esp au tério em face das garantais co n stitu cio n ais albergadas n ão apenas pelo

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io 243
nosso, m as p o r to d o s os países civilizados” ( “R esponsabilidade penal pelo fato de
o u trem nos crim es c o n tra a o rd em trib u tá ria ”, in R epertório de Ju risp ru d ê n cia
IOB, l ã q u in z., set./1 9 98, p. 357/359).
Provavelm ente, nào conseguindo despegar a apropriação in d éb ita do art. 168
com a do PCSS, ele m esm o en ten d eu que o dirigente de associação sem fins lu ­
crativos, sem q u alq u er participação no p atrim ô n io desta, não pratica a ap ro p ria­
ção ind éb ita previdenciária (R ecurso C rim inal n. 0087/C E, de 23.5.1995, citado
pelo Juiz M agnus A ugusto C osta Delgado, na Apelação C rim inal n. 1.500/RN, n.
96.05.04731-4, de 25.6.1998, TRF da 5ã R., 3ã T„ in RPS n. 225/562).
F azendo a distin ção entre im putação objetiva e responsabilidade penal ob­
jetiva, Damásio E. de Jesus assinala: “De acordo com a teoria do dom ín io do fato,
que passam os a adotar, a u to r é qu em tem o controle final do fato, dom ina finalis-
ticam ente o decurso do crim e e decide sobre sua prática, in terrupção e circu n s­
tância. É u m a teoria que se assenta em princípios relacionados à co n d u ta criadora
de relevante risco ju rid icam en te proibido e não ao resultado m aterial. A gindo no
exercício desse controle, distingue-se do partícipe, que não tem o dom ínio do fato,
apenas co o perando, in d u zin d o , incitando etc.” (“Im putação O bjetiva e C rim es Tri­
b u tário s”, in R epertório de Ju risp ru d ê n cia IOB, I a quinz., ju l./2 0 0 0 , p. 282/283).
284. Denúncia do agente político — Caso se ajuíze sobre a detenção m ate­
rial do b em ju ríd ico tutelado, a caracterização de agente político com o culpado é
tortuosa, p rin cip alm en te em razão do destino dado ao bem apropriado, q u an d o do
exam e da apropriação indébita.
M esm o in ex isten te elem ento subjetivo, o Prefeito pode ser incrim inado por
apropriação in débita (H C n. 72.271-7, de 14.10.1995, relatado pelo Min. M oreira
Alves, TRF 3ã R., in RDDT n. 5/173).
E m en to u o Ju iz F ern an d o G onçalves: “O crim e de apropriação indébita, para
su a configuração, exige a inversão da posse, de m odo que o agente que recebe a
coisa passe a condição de d o n o em seu benefício ou de outrem . A hipótese, evi­
den tem en te, não ocorre em relação ao d ireto r de em presa estatal que, p o r razões
co n ju n tu rais, d eix ar de recolher as contribuições previdenciárias descontadas dos
em pregados e p o r ele (diretor) não em bolsadas, sob pena de consagração da res­
ponsabilidade objetiva em m atéria penal (HC no Proc. n. 1995.01.19246-6/M G , de
13.9.1995, TRF, I 3 R., 3â L, in DJU de 9.10.1995).
D eixando de reco lher à Previdência Social (INSS) o que, a títu lo de c o n trib u i­
ção previdenciária, foi deduzido do salário de servidores, na opinião do ju iz Gilson
D ipp, só pratica o crim e o Prefeito, se desviar o respectivo din h eiro para proveito
pessoal (Ação C rim inal n. 1995.04.138012/PR, de 8.11.1995).
Para a Ju íza T ânia Escobar: “A legislação previdenciária nào arrola o chefe do
executivo m unicipal com o sujeito ativo do delito previsto no art. 95, letra d, da Lei n.
8.212/91” (Ação Penal n. 1995.04.13.805-5/PR, de 11.10.1995, in RDDT n. 4/165).
Com m ais razão a Ju íza Suzana Cam argo: “1. Não há falar tenha a Lei n.
8.212/91 deixado de co ntem plar a pessoa do Prefeito M unicipal com o sujeito ativo

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244 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
do delito de n ão reco lh im en to de contribuições previdenciárias e de im portâncias
descontadas de segurado ou do público, posto que seu arl. 15, inciso I, é expresso
em en globar no co nceito de em presas as entidades da adm inistração pública direta
e indireta, pelo que seu adm inistrador, inegavelm ente, está a deter responsabilida­
de crim in al” (In q u érito Policial n. 1995.03.026058-2/SP, de 7.12.1995, do Órgão
Especial do TRF, 3 a R., in RDDT n. 27/222).
Kiyoshi Harada crê ser im possível responsabilizar o agente político: “Sendo
assim , o d in h eiro co rresp o n d en te às contribuições sociais retidas ou recebidas pelo
P oder Público, ainda que não venha a ser recolhido aos cofres do In stitu to N acional
do Seguro Social, só poderia ter destinação prevista n a lei orçam entária anual ou
nas leis especiais de abertura de crédito especiais.” Ele ressalta: “N ’u m a e n ’o u tra
hipótese o d in h eiro seria em pregado em benefício da sociedade em geral”. Não se
trata, en tre tan to , de desvio de receita pública, e sim , de retenção indevida se não há
repasse das contrib u ições descontadas, o que são o u tras coisas (“A propriação In ­
débita de contribuições: A nistia D ecretada pela Lei n. 9.639/98. Sua republicação.
E feitos”, in R epertório de Ju risp ru d ê n cia IOB, 2â quinz., ago./1998, p. 336/338).
285. Condição de procedibilidade — D iscute-se sobre a possibilidade de o
M inistério Público d ar início ou an d am en to à ação penal antes de o crédito previ­
denciário estar definido, seja adm inistrativa ou judicialm ente.
N ada obstan te iterativas decisões do P oder Judiciário federal, acolhida a su ­
prem acia da ju stiça, no tocante ao m érito, no m ínim o, os dois processos cam in h a­
rão p aralelam ente, não se sabendo, de antem ão, o resultado de am bos. Pode dar-se
de, adm in istrativ am ente, a final, concluir-se pela inexistência m aterial do débito
e, p o r co n seguinte, nào su b sistir crim e. D iscutido no ju d iciário civil ou penal, da
m esm a form a, todo o trabalho procedim ental in tern o perderá sentido. O correto
parece ser o expediente prosseguir, en q u a n to o penal não chegar à fase de exam e
de m érito da inadim plência; nesse m om ento, este ú ltim o terá de ser sobrestado.
Reina Ido Pizolio discorre a respeito: “E tal constatação decorre da m ais sim ples
lógica, po sto que, em não se reconhecendo a co ndicionante acim a ap o n tad a (a da
sub o rd in ação lógica do processo penal ao trib u tário — adm inistrativo ou ju d icial),
facilm ente se pod eria alcançar situação de fato em que o co n trib u in te se veria pro­
cessado — e até m esm o con d en ad o — na esfera penal, p o r crim e co n tra a ordem
trib u tária, cujo trib u to objeto do suposto delito restasse, a final, tido com o inde­
vido na esfera civil específica, q u er no processo adm inistrativo, q u er no judicial
(em sede de ação an u lató ria de débito fiscal ou de declaratória de in existência de
relação ju ríd ico -trib u tária , p o r exem plo” (“O s crim es co n tra a O rdem T ributária e
a Q uestão da C ondição de P rocedibilidade”, in RDDT n. 25/88).
Guilherme Calmon Nogueira da Gama discorreu sobre o assunto, lecionando:
“C o n tu d o , não há que se esperar o en cerram en to da in stru ção adm inistrativa para
que se dê início a investigação crim inal, seguida da p ro p o situ ra da ação penal
através da d en ú n cia, sequenciada pela sentença (co n d en ató ria ou absolutória) e
por ev entual acórdão, form a-se a coisa julgada. Inexiste condição de procedibili-

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 245
dade ou q uestão prejudicial ou, ainda, q u alq u er elem entar do tipo penal, quanto
ao en cerram ento do processo adm inistrativo para efeito no Processo P enal” ( “O
Prévio E sgotam ento do P rocedim ento A dm inistrativo nos C rim es Fiscais e contra
o Sistem a F inanceiro”, in Revista da P rocuradoria-G eral do INPS, n. 1, vol. 5, abr,/
m aio de 1998, p. 102/115).
Acresce: “N âo há pro p riam en te um a prevalência da instância crim inal sobre
as outras, m as sim o reconhecim ento de que com o no processo penal vigoram
princípios m ais extrem ados na proteção do síafus libertatis do cidadão, d entre eles
o da verdade real, a sentença crim inal, aquele que detém p resunção absoluta de
haver so lucionado o conflito com base no que realm ente ocorreu, e não p o r ilações
ou ficções jurídico-processuais. Daí, outrossim , a justificativa para as n o rm as dos
artigos 63 a 65, am bos do C ódigo de Processo P enal” (ob. cit.).
Ressalta-se a distinção. O s au to res parecem de acordo que a iniciativa do Mi­
nistério Público não d epende do p ro ced im en to adm inistrativo; este, en tretan to , no
desd o bram ento da ação penal, terá algum a im portância, m áxim e se resolver pela
inexistência de eventual infração.
Nelson Bemardes dc S o uza, em texto p o r ele grifado, opõe-se à independência:
“N inguém há de du v id ar que as auLuações fiscais não passam de u m lançam ento
provisório e que, en tretan to , estão a au to rizar o início de ação penal. C om o então
ter-se com o com provado o delito co n tra a ordem trib u tária tão so m en te com base
na autuação fiscal, q ue não passa em últim a análise de um lançamento provisório?
Na esteira dessas lições pode-se co n clu ir facilm ente que só o lançamento definitivo
trará a d em onstração da materialidade delitiva; se co n stitu irá no corpo de delito, jã
que é ele que corporifica o resultado supressão ou redução de trib u to ou c o n tri­
buição social. Pode-se afirmar, sem receio de engano, que o lançam ento definitivo
pod erá com provar a não ocorrência da organização trib u tária ou do c o rresp o n ­
den te crédito trib u tário , inexislindo, então, supressão ou redução de trib u to s ou de
contribuições sociais; em sum a, a não ocorrência de crim e contra a ordem trib u tá­
ria” (“C rim es co n tra a O rdem T ributária e Processo A dm inistrativo”, in Revista da
P rocuradoria-G eral do INSS, n. 4, vol. 3, jan./m ar. de 1997, p. 7/19).
Ele aduz: “De tu d o qu an to exposto resulta claro e evidente que aguardar o
térm ino do p ro ced im ento adm inistrativo, possibilitando o início do procedim ento
crim inal, tão só ã vista da representação da A utoridade Fiscal, seria ferir de m orte o
princípio co n stitu cio n al da am pla defesa insculpido no art. 5e, LV, da C onstituição
F ederal” (ob. cit.).
De certa forma, com ele anui Lui< Fldvío Gomes. Lem bra o § 4 e do art. 1Q da
PEC n. 175/1995, em que se ditava: “N inguém será processado por crim e contra a
ordem tributária antes de encerrado, na via adm inistrativa, o processo respectivo”
( “Reforma Tributária e Prévio E xaurim ento da Via A dm inistrativa nos C rim es Tri­
b u tário s”, in R epertório de Ju risp ru d ên cia IOB, I a quinz., jan./2000, p. 22/23). O
Min. N elson Jo b im não exige o exaurim ento da via adm inistrativa diante da inde­
pendência da ju risdição penal (HC n. 75.847-1, de 12.12.1997, in RDDT n. 31/210).

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O art. 83 da Lei n. 9.430/1996 disciplina: “A representação fiscal para fins
penais relativa aos crim es co n tra a ordem trib u tária, definidos nos arts. l e e 2S da
Lei n. 8.137, de 27 de dezem bro de 1990, será en cam in h ad a ao M inistério Público
após proferida a decisão final, na esfera adm inistrativa, sobre a exigência fiscal do
crédito trib u tário co rresp o n d en te .”
Zelm o Denari, sem em bargo da Súm ula STF n. 609, é incisivo a esse respeito:
“A ação penal não pod erá ser deflagrada sem que esteja d efinitivam ente co n stitu í­
do o créd ito trib u tá rio ” ( “C rim es contra a O rdem Tributária. E xtinção da Punibi-
lidade. A spectos T em porais”, in RDDT n. 20/86).
S egundo a Ju íza Sylvia Steiner: “A certeza da existência de trib u to devido e
não pago é p ressuposto para a instauração da ação penal, pois diz com a provada
m aterialidade delitiva, que é a condição da ação p en a l” (H C n. 6.130/SP, no Proc.
n. 1997.03.00571-9, de 6.5.1992, in RDDT n. 26/147).
A in d ep en d ên cia das ações parece ser opinião d o m in an te nos julgados, haja
vista a A pelação C rim ina! n. 1994.01.021855-2/D F e o H C n. 1995.03.066186-2
(in RDDT ns. 7/165 e 7/166).
A d en ú n c ia não pode proceder ao A uto de Infração ou à N otificação Fiscal
de L ançam ento de Débito. E m bora a contribuição pudesse ser paga antes, pois o
co n trib u in te tem co n h ecim ento do fator gerador, sem o AI ou NFLD não é possível
a d e n ú n c ia (A pelação C rim inal n. 1996.0I.24995-8/D F , de 22.4.1 9 9 8 , TRF, l ã R.,
3§ T., in RDDT n. 26/211).
M encionando o art. 93 do CP, José Carlos Dias posiciona-se no sentido da
dep en d ên cia do processo penal ao civil. Ele reproduz conclusão do parecerista
Francisco de Assis Toledo: “Se o crim e, com o se viu, pressupõe a existência de cré­
dito trib u tário , não hã dúvida de que o novo preceito legal vem reforçar a tese su s­
ten tad a n este p arecer de que o desaparecim ento do tributo, p o r força de decisão da
au to rid ad e fiscal co m petente, torna inviável ação penal pelo d elito co n tra a ordem
trib u tária do art. 1Q, i y da Lei n. 8 .1 3 7 /9 0 ” (“O brigação T ributária — Ilícito ad m i­
nistrativo e Ilícito penal. A questão da au to n o m ia das instâncias adm inistrativa e
penal nos crim es co n tra a ordem trib u tá ria ”, in R epertório de Ju risp ru d ê n cia IOB,
l 3 quinz., jan ./1 9 9 8 , p. 18/21).
O p o n d o -se frontalm ente à P ortaria CAT da Secretaria da Fazenda do E sta­
do de São Paulo, p o r e n te n d e r que ela caracteriza intim idação do co n trib u in te, e
lem b ran d o o art. 83 da Lei n. 9.430/1996, Kiyoshi Harada estu d o u a representação
fiscal (“R epresentação fiscal para fins p en ais”, in R epertório de Ju risp ru d ê n cia IOB,
I a q u in z., fev./2000, p. 68/71).
O M in. do STF Néri d a Silveira, citado pelo ju iz T ourinho N eto (HC n.
1997.01.005238-2/M G , de 15.4.1997, TRF 1§ R., 3 ã T„ in DJU de 15.4.1997), diz:
“Não define o art. 83, da Lei n. 9.430/1996, desse m odo, condição de procedibili­
dade para in stauração da ação penal pública, pelo M inistério Público, que poderá,
na form a de d ireito, m esm o antes de encerrada a in stru ção adm inistrativa, que é
au tô n o m a, in iciar a in stru ção penal, com a p ro p o situ ra da ação co rresp o n d en te .”

C urso de D ir e it o P r e v íd e n c iá r io

T om o / — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 247
Se a NFLD ou a T1AF foram enviadas pelo correio, “não colhida a assinatura
do im putado, antes da denúncia é preciso que o ju iz o cientifique dos atos”, conclu­
são do ju iz Rei. Teori Albino Zavascki, na Correição Parcial n. 1996.04.60025-7/RS,
de 14.11.1996, in DJU de 4.12.1996, 4 a R., 2a T., in RDDT n. 17/137. Para o Juiz
V ladim ir Freitas, en tre tan to , é m era liberalidade do ju ízo (R ecurso C rim inal n.
1997.04.49674-5/SC , de 10.2.1998, TFR, 4 ã R., I 5 T„ in DJU de 8.4.1998).
286. In ex ig ib ilid ad e de co n d u ta d iv ersa — InstituLo dos m ais sutis e a m e­
recer atenção do P oder Legislativo, caso contrário entrega ao m agistrado grande
nível de subjetividade, consiste em saber se a condição do em presário tem algo a
ver com a não punição. M atéria nào positivada, restará difícil distinguir en tre o
co n trib u in te em dificuldades e o sonegador renitente.
A dificuldade financeira excludente da antijuridicidade, ante a concepção de
um estado de necessidade, não pode ser confundida com a inexigibilidade de co n ­
d u ta diversa, ex clu d en te da culpabilidade.
Os obstáculos financeiros têm de ser provados (Apelação C rim inal n.
1994.04.29501-9/RS, de 5.10.1995, Rei. Ju iz Jardim de C am argo, TRF 4 § R., 2Ê T.,
in RDDT 4/163). A p en ú ria do em presário é causa extintiva da pu n ição (Apelação
C rim inal n. 1996.03.006121-2, de 26.9.1997, Ju iz Rei. Sinval A ntunes, TRF, 3® R.,
1- T., in RDDT n. 26/212).
Para o Juiz Vladimir Freitas: “C om provada a falência da em presa, surge a
inexigibilidade de co n d u ta diversa, em que o réu d em o n stro u não p o ssu ir n u m e­
rário para pagam ento de dívidas, com o as contribuições previdenciárias, p o r ter
dado preferência ao pagam ento dos salários dos em pregados” (Apelação C rim inal
n. 1997.04.08827-2, de 9.12.1997, TRF, 4 § R., 1- T., in RDTT n. 31/211). Igual se
colhe com o Ju iz G ilson D ipp (ac. u n ., TRF, 4â R., I a T., n a Apelação C rim inal n.
1997.04.60991-4/PR, de 23.6.1998, in DJU de 2.9.1998).
A prova testem u n h ai corroborada pela do cu m en tal é b astante para com provar
a existência de dificuldades financeiras da em presa, sendo desnecessária a perícia
contábil (Apelação C rim inal n. 1996.01.07591-7/M G , de 11.3.1997, TRF, 1® R.,
3a T., in RDDT n. 23/201).
Segundo o Ju iz Vi/son Darós, a legação da boa-fé, a p artir de dificuldades
financeiras, não socorre o agente, p o r se tratar de crim e om issivo (Apelação C ri­
m inal n. 1995.04.07016/R S, de 28.9.1995, TRF, 4 3 R., 2a T„ in RDDT n. 4/160).
Subsistindo am pla confissão, “se a sim ples versão ju d icial dos apelantes de
que os reco lh im en to s não foram efetuados devido às dificuldades financeiras en ­
frentadas pela em presa sem o confronto com um m ínim o de prova docum ental,
jam ais poderá serv ir de base para um a tese ab so lu tó ria” (acórdão un. do TRF, 3 a R.,
5- T., na Apelação C rim inal n. 1997.03.045860-2/SP, de 30.11.1999, em que relator
o Juiz Federal F austo de Sanctis, in DJU de 22.8.2000).
R eproduzem -se as palavras de Francisco de Assis Toledo: “Q uando aflora em
preceitos legislativos, é um a causa legal de exclusão. Se não, deve ser rep u tad a
causa supralegal, erigindo-se p rincípio fundam ental que está intim am ente ligado

C urso d e D ir e it o P r e v id f n c iAr ío

248 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
com o p roblem a da responsabilidade pessoal e que, p o rtan to , d ispensa a exis­
tência de n orm as expressas a respeito” (Apelação C rim inal n. 1.371-R, no Proc.
n. 1995.05.23373-6, de 7.12.1995, TRF, 5® R., I a T„ in RDDT n. 9/1993). O Pro­
c u rad o r Regional da R epública, em parecer rep ro d u zid o pelo Ju iz C astro M eira,
su sten ta ser a diversidade de co n d u ta u m princípio penal, ju lg an d o desnecessário
q u e ele co n ste da lei.
C o n so an te o Ju iz Osmar Tognolo, se a em presa dep en d ia d o repasse de re­
cursos do G overno do Estado para pagam ento de seus com prom issos, inexiste
responsabilidade dos diretores (Apelação C rim inal n. 1997.01.00.0 4 5 4 4 6 -0 /R 0 ,
de 30.6.1998, TRF, I a R., 3 ã T., in DJU de 27.11.1998).
287. T ip o de dolo — O Des. Fed. Castro Aguiar reclam a o animus rem sibi
habendi. C itando Roque Antônio C arrazza (in Revista Trim estral de Ju risp ru d ên cia
dos Estados, de ago./1996), diz ele haver necessidade tam bém do dolo específico,
“a exigir q u e o agente tenha o objetivo de o b ter proveito, com tal apropriação. O
delito só se co n su m a q u an d o o agente q u er to m ar para si, vale dizer, para seu p ro ­
veito, os valores q ue d etém ” (acórdão do TRF, 2- R., 2- T., na Apelação C rim inal n.
1 9 9 9.02.11835-6/RJ, de 2.8.2000, in DJU de 22.8.2000).
O crim e de apropriação indébita previdenciária n ão reclam a a intenção de
ficar com o d in h eiro descontado dos trabalhadores, m as se co nsubstancia com o
não repasse à P revidência Social, en tre tan to , no HC n. 551/C E, a em enta diz: “O
crim e definido pelo art. 95, da Lei n. 8.212/91, não se configura sem a v o ntade de
apropriar-se d o s valores não recolhidos, in terp re tar ta! n o rm a com o definidora
de crim e, de m era co n d u ta, é colocá-la em conflito com a norm a da C onstituição
F ederal, q ue veda a prisão p o r dívida” (Proc. n. 1995.05.30032-8, de 30.11.1995,
relatada pelo Juiz H ugo M achado, in RDDT n. 7/166).
A esse respeito, Lenice Silveira Moreira apreciou a natureza ju ríd ica do crim e.
Para ela, é crim e om issivo próprio. Lem bra palavras de Damásio E. de Jesus (“D irei­
to P enal”, Parte G eral, vol. I, 16. ed., São Paulo: Saraiva, 1992, p. 209): “São os que
se perfazem com a sim ples co n d u ta do sujeito, in d ep en d en tem en te de produção
de q u alq u er co n seqüência p o sterio r.” Para ela, “o não repasse de contribuições
já desco n tad as é crim e om issivo, m as, tam bém , é crim e de m era co nduta, já que
o crim e de m era co n d u ta é aquele cuja n o rm a in stitu id o ra não prevê qualquer
resultado n aturalístico. Isto q u er dizer que nos crim es de m era co n d u ta que para,
crim e esteja co n su m ado, a só co n d u ta do agente já consum a o crim e” ( “Do crim e
de não reco lh im en to de contribuições previdenciárias: aspectos co n tro v ertid o s”, in
R epertório de Ju risp ru d ê n cia IOB, I a quinz. de nov./1998, p. 439/447).
Na caracterização do dolo, p o r vezes, o m agistrado é liberal em dem asia.
Na opinião do Ju iz Ari P argendler (A pelação C rim inal n. 1 9 9 5 .0 4 .188346/RS, de
13.6.1995, TRF, 4 a R., I a T.): “O crim e contra a ordem trib u tária supõe a intenção
de m an ter a atividade em presarial sem o pagam ento de trib u to s, aí sim , caracteri­
zando-se, len h a o u não a em presa, condições de su p o rtá-lo .”
“O dolo, na hipótese, está na vontade consciente de não proceder o recolhim ento da
contribuição, descontada do em pregado” (Apelação Crim inal n. 1995.01.14422-4/BA,
de 28.8.1995, relatada pelo Juiz Tourinho Neto, TRE I a R., 3® T., in RDDT n. 3/152).

C u rso df. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T bm o í — N o ç õ e s d e D i r e it o P r e v i d e n c i á r i o 249
A apropriação indébita prevista no art. 168 do CP está co n tam in an d o a ap ro ­
priação indébita previdenciária. N aquela, exige-se a posse do bem para que o crim e
seja caracterizado, en q u an to nesta, basta a retenção do valor. Assim não en tendeu
o ju iz R elator Valmir Peçanha: “Para que haja a infração legal, é preciso estar
evidenciado o desvio das im portâncias em proveito p ró p rio ou alheio, não sendo
suficiente um a sim ples suposição de do lo ” (Apelação C rim inal n. 1994.02.22796-0/
RJ, de 18.6.1997, TRF, 23 R., 3ã T., in DJU de 22.7.1997).
Heloísa E stdíta Salomão focou o dolo: “Com o já foi dito, falta à conduta assim
descrita, justam ente o elem ento subjetivo do tipo, a vontade de não entregar à insti­
tuição previdenciária a quantia arrecadada. Não se pode configurar o delito já que o
co n tribuinte jam ais teve a vontade dirigida ao fim de nào recolher. Isto é, o contri­
buinte paga os salários líquidos, em tais pagam entos, em prega todos os seus recursos
financeiros; lança o registro dos valores devidos a título de contribuição previdenciá­
ria do em pregado e não recolhe o valor escriturado por jam ais tê-lo possuído. Não
se pode entrever, em tal hipótese, a vontade dirigida ao fim de não recolher, de levar
a Seguridade Social. A conduta é de um a total honestidade para com a instituição”
( “O crim e de não recolhim ento de contribuições previdenciárias”, in RDDT n. 6/36).
Por vezes, subsiste o dolo específico, a vontade livre e consciente de não re­
colher a contribuição.
T ratando do erro de interpretação, diz o art. 20 do CP: “O erro sobre elem ento
co n stitutivo do tipo legal de crim e exclui o dolo, m as perm ite a pu n ição p o r crim e
culposo, se previsto em lei”. Por seu tu rn o , o art. 21 pontua: “O desconhecim ento
da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do falo, se inevitável, isenta de pena;
se evitável, poderá dim inuí-la de u m sexto a um terço ”.
288. Exam e da ex ig ib ilid ad e — No âm bito da especulação científica, as c o n ­
tribuições exigíveis p o d em ser divididas em dois grandes grupos: a) indiscutíveis;
e b) discutíveis. À evidência, inexiste critério objetivo para separá-las p o r segm en-
L o s. C o n tribuições indiscutíveis são aquelas sobre as quais não pairam dúvidas e

não têm sido objeto de questio n am en to ju risp ru d en c ial ou d o u trin ário . N o rm al­
m ente, não cham a a atenção e, em rigor, todos sabem quais são. C ontribuições
discutíveis são aquelas que vêm sendo contestadas, um as m ais e outras m enos, na
adm inistração e no ju d iciário.
A discutibilidade, p o r vezes, tem a ver com o m o m en to histórico. As horas ex­
tras no passado foram m uito discutidas, mas hoje é assente q u e com põem o salário
de contribuição. P articipação nos lucros, gratificações e pagam ento in natura vêm
sen d o debatidos há m u ito tem po. Na verdade, as duas ou três centenas de parcelas
questionáveis existentes podem ser hierarquizadas quanto ao grau de com plexidade
e, p o rta n to , de d iscu tib ilid ad e. A tu alm en te, ru b ric as relativas ao fo rn ecim en to
de p rev id ên cia privada são sede de m u ita discussão.
A divisão do universo carece de sistem atízação. No passado, já tentam os isso
com o “R ubricas integrantes e não integrantes do salário de co n trib u ição ” (1978),
“O salário de co n tribuição na Lei Básica da Previdência Social” (1993) e “N ovas
C ontribuições na Seguridade Social” (1997).

C urso d e D ir e it o P k e v ip l n c iá r io

250 W la d im ir N o v a e s M a r lin e z
O princípio do co n h ecim en to da lei é de inegável significação p ara a realização
do D ireito, em p articu lar q u an d o de sua exercitação. Em no rm a de superdireito,
dispõe a LICC: “N in g uém se escusa de cu m p rir a lei, alegando que não a co nhece”
(art. 3a). A redação de 1916 dizia: “N inguém se escusa alegando ignorar a lei; nem
com o silêncio, a obscuridade, ou a indecisão dela se exim e o Ju iz a sentenciar, ou
d esp ach ar” (art. 5g). É o error juris nocet.
O p rin cíp io p resum e nào só co n h ecim en to da lei, m as seu en ten d im en to e,
neste caso, nivela os cidadãos a u m m esm o p lano, d esconhecendo as inúm eras
dificuldades d o s técnicos para em p reen d er o sentido da lei. Em D ireito Social, o
p roblem a é d u p lam en te agravado, prim eiro, o beneficiário da legislação social não
tem co n dições de co m preendê-la ou acom panhá-la; em segundo lugar, a legislação
é d esn ecessariam en te herm ética, copiosa e, em m u ito s casos, obscura, ininteligível
e incom pleta, j á sustentam os: “Não pode prevalecer p o r inteiro n o D ireito Previ­
d enciário, reservando-se apenas para n o rm a d e im portância e sem pre leva em con­
ta a hipossuficiência cu ltu ral do beneficiário” ( “P rincípios de D ireito P revidenciá­
rio ”, 5. ed., São Paulo: LTr, 2000, p. 185).
289. P risão d o d ev e d o r — O arl. 5a, LXVII, da C onstituição F ederal de 1988,
diz: “N ão h av erá prisão civil p o r divida, salvo a do responsável pelo inadim ple-
m en to v o lu n tário e inescusável de obrigação alim entícia e a do depositário infiel”.
L em brando o Pacto In tern acio n al de D ireitos Civis e P olíticos (Pacto de São
José da C osta Rica, de 22.11.1969), L uiz Fernando Cirillo estu d o u a prisão do
devedor ( “A prisão civil do depositário ju d ic ia l”, in R epertório de Ju risp ru d ên cia
IOB, l ã q u in z., abr./2000, p. 155/159). R eportou-se ao art. 7a, item 7 do Decreto
n. 678/1992: “N in g u ém deve ser detido p o r dívida. Este princípio não lim ita os
m an d ado s de au to rid ad e ju d iciária e co m p eten te expedidos em virtude de inadim -
p lem en to de obrigação alim entar.”
Hugo de Brito Machado opôs-se à prisão do trib u tariam en te devedor, enfren­
tando o H C n. 7 7 .6 3 1/SC do STF, en ten d e n d o descaber essa m odalidade de p u ­
nição: “Se a liberdade individual não deve ser sacrificada com a prisão civil, com
m uito m ais razão ela n ão deve ser sacrificada com a aplicação da pena crim inal. E
nin g u ém p o d e negar q u e a pena crim inal, no caso de não pagam ento de tributo,
tem o exclusivo objetivo de com pelir o co n trib u in te a fazer o recolhim ento a que
está o b rig ad o ” ( “P risão p o r Dívida T ributária”, in R epertório de Ju risp ru d ê n cia
IOB, I a q u in z., dez./1998, p. 495/1997).
D espacho do M in. Celso de M ello no HC n. 77.631-5, de 3.8.1998 (in DJU de
19.8.1998): “O bservo, n o en tan to , que a prisão de que trata o art. 2e, II, da Lei n.
8.137/1990, longe de reduzir-se ao perfil ju ríd ico e à noção conceituai de prisão
m eram en te civil, qualifica-se com o sanção de caráter penal, resultante, qu an to a
sua im p o nibilidade, da prática de co m p o rtam en to ju rid ic a m e n te definido com o
ato delituoso. A n o rm a geral em questão encerra, na realidade, u m a típica hipótese
de prisão penal, cujos elem entos essenciais perm item distingui-la, especialm ente
em função de su a finalidade e de sua natureza m esm a, do in stitu to de prisão civil,
circu n stân cia esta que, ao m enos em caráter deliberatório, parece to rn ar im perti­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o í — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
nente a alegação de que o E stado, ao editar o art. 2a, II, da Lei n. 8.137/90 (que d e­
fine pena crim inal, em decorrência da prática de delito contra a ordem tributária),
teria transgredido, segundo sustentam os im petrantes, a cláusula vedatória inscrita
no art. 5°, LXVII, da C arta Política, que proíbe — ressalvadas as hipóteses previs­
tas no preceito co n stitucional em referência — a prisão civil p o r dívida” (grifos do
original).
“O fato do crim e de retenção de contribuição previdenciária ter seus efeitos
prolongados no tem po, não justifica a im posição da custódia cautelar do agente
com o m eio para fazer cessar a apropriação dos valores descontados, sem que este­
jam presentes os p ressupostos da prisão preventiva” (H C n. 4.557/SP, n.
1995.03.052.015-0, de 22.8.1995, Juiz R elator T heotonio Costa, TRF, 3â R., 1- T.,
in RRDT n. 3/153). Na m esm a linha de raciocínio, o HC n. 1994.03.048350-4, de
5.9.1995, em que relator o Juiz R oberto H addad, TRF, 3ã R., 1® T., in RDDT n. 3/153.
290. Continuidade delitiva — Q uestão que provoca certa perplexidade diz
respeito a qual n o rm a deva ser aplicada se n o curso da co n tin u id ad e da ap ro p ria­
ção indébita previdenciária sobrevêm lei nova co m in an d o pena m ais grave. Em
relação ao art. 95 do PCSS, é o que aconteceu com a Lei n. 9.983/2000.
Francisco de Assis Toledo, citado p o r Hugo de Brito Machado ( “C rim e C o n ti­
nu ad o e Lei Nova m ais Severa na Sonegação Fiscal”, in RDDT n. 11/67), com seus
grifos, ensina: “N os crim es co n tin u ad o s, se nova lei intervém no curso da série d e­
litiva, só se pode aplicar a lei nova — se m ais grave — ao segm ento da série co n ti­
nuad a ocorrido d u ra n te a sua vigência, com o os fatos anteriores sejam im puníveis
pela lei da época. Se os fatos anteriores já eram p unidos, ten d o ocorrido som ente
a agravação da pena, aplica-se, a princípio, salvo hipótese adiante exam inada, o
critério da lei nova a toda a série delitiva, pois no crim e co n tin u ad o , tan to se c o n ­
sidera o m o m en to de ação o do prim eiro fato parcial, qu an to o do últim o. O agente
que prosseguir na continuidade delitiva após o advento da lei nova tinha possibilidade
de m otivar-se pelos im perativos desta, em vez de persistir na prática de seus crimes.
Subm ete-se, p o rtan to , ao novo regim e, ainda que m ais grave, sem surpresas e sem
violação do p rin cíp io da legalidade” ( “P rincípios Básicos de D ireito P enal”, SP,
Saraiva, 1991, p. 32/33). Assim raciocinou o Ju iz G ilson Dipp: “Em se tratando de
co n tin u id ad e delitiva, aplica-se a lei nova vigente no curso da série delitiva, ainda
que m ais grave, pois se considera com o m om ento da ação tanto o do prim eiro fato
qu an d o o do ú ltim o ” (A pelação C rim inal n. 1996.04.32601-5/PR, de 2.4.1997,
TRF da I a R., I a T., in RDDT n. 23/199).

C urso d e D ir e ít o P r f v id e n c ía r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo XXIX

L e g it im id a d e P r e v id e n c iá r ia

Su má r i o : 291. Direito adquirido. 292. Irredutibilidade das retribuições. 293.

Teto provisório. 294. Acumulação de cargos. 295. Exclusão do RGPS. 296. Ven­
cimentos e proventos. 297. Dois ou mais entes políticos. 298. Clientela dos
beneficiários. 299. Renúncia ao excedente. 300. Trabalho gratuito.

C om a redação dada ao art. 37, XI, da C on stituição F ederal pela E m enda


C o n stitu cio n al n. 41/2003, m agnífica questão diz respeito à eficácia do lim ite ali
estabelecido, em relação às rem unerações e benefícios m an tid o s até 30.12.2003. O
p ressu p o sto p ré-ju ríd ico da prescrição co n stitu cio n al diz respeito à existência de
su p ersalário s e su p eraposentadorias, vigentes em 2003, em todo o País, assim e n ­
ten d id o s os n u m erá rio s m ensais que ultrapassarem o m o n tan te então fixado. Em
razão da m ensalidade p ró p ria das prestações, julga-se que a percepção de atrasados
acim a desse referencial não ofenderia o preceito maior.
Revela desconfiança p ertin e n te à institucionalização dos direitos ou encam i­
n h am en to do pedido, da m á regularidade ou ilegalidade da concessão. Isto é, que
alguns servidores estariam ob ten d o vantagens legais im orais ou, p o r o u tro lado,
que as leis regentes, form alm ente perfeitas, foram m al encam inhadas. Q u ando o
cálculo p recariam en te elaborado o u a leitu ra equivocada co n d u zirem a posições
que u ltrap assem o alu dido texto, o excedente não seria em bolsado.
P orém , na m aioria dos casos, a instrução adm inistrativa da solicitação do
quantum terá sido regular e a lei form alm ente boa, se convindo co n sid erar aspectos
relativos à legitim idade.
Acaso legais, ju rid ic a m e n te não se p o d e n d o cassar alg u m as parcelas, a im ­
pressão q u e fica é q u e o g overno q ueria alin h a r a o p in ião p ú b lica p ara n ecessi­
d ade da revisão da lei e, na verdade, p o u co ou n ad a d isc u tiu sobre a validade téc­
nica do d eferim en to e m an u ten ç ão desses valores. De m o d o geral, ficou assim : o
P arlam en to N acio n al reco n h ece as im p ro p ried a d es g rita n te s d e u m sem -n ú m ero
de v en c im e n to s e ap o se n ta d o rias e não quis d isc ip lin a r o seu esm iu çam en to ,
reex am in á-lo s seria cu sto síssim o (e, p rovavelm ente, em n ad a re su ltaria, dian te
da p o ssib ilid ad e de re cu rso s in findáveis), p re ferin d o circu n screv ê-lo s d ali para

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io

frente. E n co n tra ria g randes resistências d o u trin ária s, arro stan d o dois p o stu la ­
do s trad icio n ais ex trao rd in ário s: a) direito ad q u irid o ; e b) irre d u tib ilid ad e dos
ven cim en to s.
291. D ireito a d q u irid o — A bstraindo o escândalo público, na hipótese de o
governo pen sar em aplicar o dispositivo para as vantagens em m an u ten ção , respei­
tável controvérsia po d erá instalar-se.
Preservar os pagam entos superiores ao patam ar até que faleça o últim o be­
neficiário seria perfeito (a sociedade errou, ela que pague p o r isso, raciocina o
advogado A dauto C orrea M artins), se fosse possível esquecer que a pretensão fun-
dam entadora da faculdade ju ríd ica previdenciária é o bom direito. Vale dizer, a
im p ro p ried ad e técnica, ainda que legal, não pode coonestã-la. O u seja, além da re­
gularidade e da legalidade im postas m o ralm ente (mininum m inim orum ), no âm bito
do segm ento protetivo de direito público, haveria a legitim idade previdenciária a
ser observada.
E squecendo-se dos trabalhadores da ativa, suponha-se aposentado ou p en sio ­
nista recebendo m ais do que o fixado no seto r público ou privado, benefício pre-
sum id am en te ob tid o regular e legalm ente. A dotado o m encionado m áxim o, ap a­
ren tem en te eles estariam protegidos pelo direito adq u irid o (CE, art. 5a, XXXVI),
que não poderia ser ofendido, valendo esse lim ite apenas e tão som ente para dali
para frente.
Não é suficiente ser legal para ser in stitu cio n alm en te válido o direito co n q u is­
tado porque existem interpretações açodadas de norm as e leis form alm ente m al
urdidas, resu ltan tes de m iopia parlam entar, corporativism o exacerbado e lobbies
descabíveis. Sem falar em direitos assegurados m ediante pareceres tecn icam en ­
te precários, ju rid icam ente equivocados ou eticam ente m aliciosos. F orm alm ente
co n stitucionais, porém , im p ró p rio s do p o n to de vista do equilíbrio atuarial e fi­
nanceiro da proteção social. Nessas questões, não sendo a lei a suprem a norm a.
Para que alguém faça ju s ã prestação securitária, teria de filiar-se e recolher
m ensalm ente, evid en tem ente observados os po stu lad o s da lei, ap o rtar a co n trib u i­
ção tida com o necessária, isto é, pagar atuarial e equilibradam ente pelo benefício.
À evidência, cotização individual e social (patronal), conceito não claro na d o u ­
trin a até hoje.
Para que isso suceda, n u m regim e de governo sadio, é im p o rtan te que se ouça
o político, o ju rista e o atuário. Vale dizer, a n o rm a tem de ser securitariam ente
dem ocrática (d istrib u tivam ente igual para todos os posicionados no m esm o grupo
da base de cálculo, isto é, exigir m u ito m ais para q uem ganha m ais); incorporar-se
sistem atizadam ente ao edifício ju ríd ico do ordenam ento e, p o r últim o, ser capaz de
convalidar o equilíbrio atuarial e financeiro (CF, art. 201), sem p rejudicar o sistem a
ou a coletividade. Q uem estiver fora disso não tem direito n em direito adquirido,
restando sem p o d er invocar a Carla M agna,
Só é politicam ente correto, ju rid icam en te ju s to e financeiram ente co n sisten ­
te, se o segurado verteu as contribuições aferidas com alíquota e base de cálculo

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

254 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
idênticas para todos os postados na m esm a faixa salarial, ad o tan d o igual tem po
de co n trib u ição , período básico de cálculo e coeficientes aplicáveis ao salário de
benefício, aco m p an h ad o da p arte patronal dobrada, do em pregador ou E stado, sem
qualq u er distinção, isenção ou privilégio fiscal.
Tal concepção enfrentará insatisfações subjetivas, correntes d o u trin ária s e in­
disposições ferrenhas, ju stific an d o em cada caso ser exam inado em particular. E
até m esm o dos q ue se p o stam abaixo do nível. Por ser nova e nào ter sido pensada
antes, essa ideia granjeará opositores; que dizer dos beneficiários su sten tad o s na
co rren te de dicionaristas desavisados, segundo os quais legitim idade é sinônim o
de legalidade?
A ilegitim idade precede a E m enda C onstitucional n. 41/2003, m as, ju rid ic a ­
m ente, ela in stitu cio n aliza-a nessa data, q u an d o a Lei M aior a proclam a; pessoas
que recebem abaixo desse quantum tam bém podem n ão aten d e r à legitim idade,
m as, sem a vo n tad e política de fazer a correção, perm anecerão incólum es.
M uitos pensadores do direito opor-se-ão a essa exegese, ju lg an d o que ela
afronta as institu içõ es, am eaça a regularidade das relações ju ríd ic a s e haverá até
quem su sten te ofender a governabilidade. Pode ser que assim seja. Avalie-se o que
assevera Sergio Pinto Martins: “A lei nova n ão pode retroagir para p reju d icar direi­
tos já ad q u irid o s pela pessoa, sob o im pério da lei anterior, tendo im plem entado
todos os req u isito s para a concessão da vantagem . Vale a lei nova para frente, não
p o d en d o retroagir para inclusive prejudicar as pessoas” (...). “E n tretan to , se tra­
tando de E m enda C on stitucional, esta não pode querer abolir direitos e garantias
individuais, com o se verifica no inciso IV, do § 4 S do art. 60 da C onstituição. Logo,
após pagar os valores superiores ao teto estabelecido pela E m enda C onstitucional
não poderão ser p o r esta m odificados, pois deve ser assegurado o direito adquirido
dessas pessoas, m esm o que o valor do benefício possa parecer absurdo ou irreal,
com o de ap o sen tad o s acim a de RS 10.000,00 ou até R$ 30.000,00, com o se teve
notícia pela im p ren sa n a cidade do Rio de Jan e iro ” ( “D ireito A dquirido e Reforma
da Previdência Social”, in RPS n. 222/453).
O que a lei ordinária, com plem entar, em enda co n stitu cio n al ou regra consti­
tucional originária deve respeitar são os direitos legitim am ente adquiridos, in casu,
legitim idade aferida sob o aspecto previdenciário. O q u e o art. 60, § 4 C, IV, assegura
é a intocabilidade desses e não de o u tro s cenários. N ão im poria o nível dos valores,
mas apenas e tão so m ente sua validade institucional. O critério da caderneta de
po u p an ça é: quem d ep o sito u m ais terá m ais; na previdência com plem entar: quem
ap o rto u o exigido, faz ju s ao benefício, não im porta se de pequeno o u grande vulto.
Tal raciocínio não é m oralista nem deve prestar-se para caça às bruxas, afas­
tando-se a satanização do exercente do direito subjetivo constitucional.
M uito m enos servir para justificar a reform a. Ela deriva da lógica irrefutável
de q uem ten tar co m p reen d er o fenôm eno científico da previdência social e saber
da im p o rtân cia da preservação da instituição, para que outros, os verdadeiros b e­
neficiários, p o ssam exercitar o legítim o direito.

C u rso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

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L egitim idade, m u itas vezes associada com a m oralidade do Direito A dm inis­
trativo, com o destaca Marcílio Toscaro França Filho (“As aposentadorias p arlam en ­
tares e a C onstituição— Um exercício de h erm en êu tica co n stitu cio n al”, in Revista
de Pesquisas e E studos da F aculdade de D ireito de Bauru, E ditora da ITE, Bauru,
n. 37, 2003, p. 303/340).
292. Irredutibilidade das retribuições — A parentem ente, a hipótese não é
de red u ção dos v en c im e n to s coberta p elo P rin cíp io de D ireito A d m in istrativ o
(e previdenciário co n stitu cio n al), e, sim , regra de m oral pública. E tais valores não
são legítim os, eles ficam à m ercê de supressão n o tocante ao quantum.
Para su b sistir m elh o r controle, o art. 3 9 da M edida Provisória n. 167/2004
exige “sistem a integrado de dados relativos às rem unerações, proventos e pensões
pagos aos respectivos servidores e m ilitares, ativos e inativos e pensionistas, na
form a do reg u lam en to ”.
293. Teto p ro v isó rio — Afinal, em 5.2.2004, o STF fixou o p atam ar salarial
em R$ 19.115,19. No dizer da jo rn a lis ta ju lia n a Sofia, da FSP, segundo o Secretário
de R ecursos H u m an o s do M inistério do Planejam ento, 41.956 servidores ativos,
apo sen tad o s e pen sio n istas do P oder Executivo terão au m en to com o teto (sic).
294. A cum ulação d e cargos — Em seu art. 37, XVI, a Lei M aior adm ite a
acum ulação de cargo. Significa que o servidor p o d erá exercer duas ou m ais ativi­
dades na A dm inistração P ública (além das próprias da iniciativa privada).
A adição dos valores correspondentes, as aposentadorias ou pensões delas
derivadas, subm eter-se-ão ao lim ite do M unicípio, do D istrito Federal, do Estado
ou da União.
295. E x clu são do RGPS — Os salários, as ap osentadorias a q u e o servidor
legalm ente faça ju s e as pensões que o u torgou, derivadas de atividade na iniciativa
privada, não fazem p arte do teto que, assim , não será o nível m áxim o que alguém
possa receber.
Mas as rem unerações providas do seto r oficial, em relação ao cham ado em ­
pregado público (ainda que filiado o trab alh ad o r ao RGPS), qu an d o legais, estão
incluídas.
296. V encim entos e p ro v e n to s — Para efeito de determ inação do nível m áxi­
m o, som ar-se-ão os vencim entos (cada atividade) e os proventos (da inatividade)
que o servidor aufira em razão da acum ulação de direitos.
Igual raciocínio vale para proventos e pensões; u m servidor ou servidora ap o ­
sen tad o pode, tam bém , ser pensionista.
297. D ois ou m ais e n tes políticos — Cada ente político conhecerá teto p ró ­
prio. Na hipótese de o servidor prestar serviços para dois ou m ais deles, caso dos
m édicos e professor, o m áxim o a ser observado é o federal de R$ 19.115,19, p ro ­
pondo-se o problem a de saber quem reduzir os vencim entos, proventos ou pensões.
Ideia a ser aproveitada pelo regulam ento é o da proporcionalidade, firm ando­
-se regra de três en tre o teto e o m o n tan te recebido em cada u m deles. Nessas

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condições, exem plificativam ente (e para sim plificar os cálculos), adotando-se um
m áxim o de R$ 21.000,00, se o servidor recebe R$ 20.000,00, no ente “A” e R$
10.000,00, n o ente “B”, fará jus a R$ 14.000,00, n o p rim eiro deles e R$ 7.000,00,
no segundo, de sorte q u e a som a atinja os R$ 21.000,00.
298. Clientela dos beneficiários — C onstitui clientela da norm a enfocada, o
servidor civil ou m ilitar, tom ada a expressão em lato sensu, in clu in d o o em pregado
pú b lico , regido pela CLT, na atividade ou aposentado e até m esm o o pensionista
cuja pensão p o r m o rte tenha sido a outorgada pelo servidor e paga pelos cofres p ú ­
blicos. N ão arrolado trabalhador da iniciativa privada em relação à rem uneração, à
ap o sen tad o ria ou p en são que receba do INSS.
299. Renúncia ao excedente — Sem pre que o servidor legalm ente fizer ju s à
som a de v en cim en to s ou de proventos q u e ultrapasse o p atam ar fixado na C ons­
tituição F ederal, terá de ren u n ciar ao excedente. Na verdade, do p o n to de vista
prático, esse quantum n ão lhe será pago, m as não poderá ser d esconsiderado para
qu aisq u er fins.
O legislador infraconstitucional regulam entará o pro ced im en to de exclusão
das parcelas co m p o n en tes para ficar claro qual delas será atingida pela supressão.
300. Trabalho gratuito — De m odo geral, a d o u trin a ad m in istrativ a não reco­
nhece a existência do trabalho não re m u n erad o n o serviço público, p o stu ra filosó­
fica que, mal in terp retad a, pode im p ed ir a dedicação de filantropos. Tal p o n to de
vista (da g ratu id ad e) não é suficiente p ara ju stific ar ren d im en to s que ultrapassem
o teto escolhido, especialm ente em relação ã segunda atividade co n stitu cio n alm en ­
te perm itid a (v. g., professor, m édico, técnico etc.), já que a ideia da gratuidade é
garantia do in d iv íd u o em relação à sua subsistência e o lim ite fixado, aliás elevado
para um País pobre, observa o interesse público. No Brasil, qu em ganha acim a de
R$ 19.115,19 (algo em torno de 80 salários m ínim os) não pode falar em insufi­
ciência do m ín im o existencial.
A resistência a essa ideia d o u trin aria m e n te tem sido exacerbada. Valter Shuen-
quener de Araújo é enfático ao afirm ar que: “O teto não pode, p o r m otivos n atu rais
(sic), ser consid erad o cum ulativam ente. A penas ser considerado em cada função
exercida. A prevalecer interpretação contrária, a C onstituição estaria estim ulando
o ócio (sic), a paralisia profissional” (“A Reform a da P revidência Social”, Rio, Lu-
m em Ju ris, 2004, p. 238/239).
N ão se enxerga fu n d am en to n atu ral nem se vê q u alq u er estím ulo negativo aí.
Servidor p ú b lico , com as tarefas que tem , em especial o ju iz que leciona, d ian te da
m ínim a rem u n eração do m agistério, o faz em busca de satisfação pessoal, p razer
in telectu al, am o r à arte, na p io r das hipóteses, em busca de curriculum vitae; n u n ca
pela baixa rem uneração.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o l -— N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
j*
Capítulo XXX

F il o s o f ia d o D ir eit o P r e v id e n c i A rio

Sum ário: 301. Prolegômenos. 302. Direito subjetivo. 303. Papel da técnica pro-
tetiva. 304. Fontes de custeio. 305. Prestações em geral. 306. Benefícios por in­
capacidade. 307. Direito dos dependentes. 308. Características da importância.
309. Papel e objetivos do Estado. 310. Princípios jurídicos.

O p o n to mais alto da perquirição científica de q u alq u er conhecim ento h u ­


m ano, o objetivo a ser alcançado pelo m elh o r do esforço intelectual — planta
baixa de toda a ciência — são os fundam entos filosóficos referentes à m atéria. Eles
condensam a m ais íntim a das razões e se co n stitu em em norte do p ensador sábio.
Em n en h u m o u tro sítio, a previdência social m ais se aproxim a do D ireito
Previdenciário e, com m ais razão, se im põe a distintiva entre am bos, m as, segura­
m ente, n este d om ínio, o com prom isso em alcançar a verdade é positivo in dicador
dos cam inhos a serem trilhados.
301. P rolegôm enos — Sistem atizada e d o u lrin ariam en te, pouco foi escrito
sobre a filosofia da previdência social (habitat m agnífico para a discussão de ideias)
e, con seq u en tem en te, sobre a do D ireito Previdenciário. No entanto, ela im pregna
a concepção de ideólogos, influencia a análise de estudiosos, fundam enta o parecer
de especialistas, inspira o projeto de autoridades e ilustra os com entários e juízos de
técnicos.
Em m u ito s casos, sem o titu lar se d ar conta disso, calca o seu raciocínio em
deduções com a in tenção de ap ro fu n d ar o p en sam en to sobre a razão de ser das
coisas. A lgum as vezes, em questiünculas, envolvendo interesses difusos ou co n ­
cretos de pouca expressão, os exercentes da norm a ju ríd ica servem -se de reflexões
profundas, descuidados da natureza filosófica do in stru m en tal utilizado.
Sem ser fonte formal de Direito, com um ente confundida com a Política ou a
Sociologia, tem participação na idealização científica. Dá-se exem plo com o servir-se
da previdência social para resolver problem as do Direito do Trabalho, concretam en-
te fazer o auxilio-doença su b stitu ir o seguro-desem prego inexistente ou ineficiente,
m isturando dois benefícios insitam ente previdenciários, detentores de papéis d is­
tintos. No caso, só a visão filosófica (o m elhor para todos) indica a solução ideal.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

258 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Tem im p o rtân cia refletir sobre os p o n to s fundam entais da técnica estudada:
eles form ulam o o rd en am en to científico-jurídico e ensejam ao elab o rad o r da n o r­
m a, e, nas hip ó teses válidas ao aplicador, aten d en d o à finalística da instituição, a
possibilidade de so lu cio n ar problem as.
C om isso, p o r exem plo, ten tar im pedir a suprem acia do econôm ico sobre o
social, o u seja, no exam e do fato pré-jurídico operado pelo legislador da norm a e,
da lei, ou feito pelo in térp rete, o interesse social deve posicionar-se acim a do eco­
nôm ico (a d espeito do papel das forças de produção) e evitar a ênfase do político
sobre o científico, isto é, a p o stu ra pragm ática, os ditam es sociológicos su p lan ta­
rem os fatos sociais.
A ciência protetiva deflagra pro ced im en to s a serem perseguidos, prestan d o ­
-se estes ú ltim o s à consecução dos resultados colim ados. Se possível, co n to rn a r a
m anifesta preferência do jurídico pelo técnico, vale dizer, ela alm eja a liberdade
da pessoa h u m an a in dividualm ente avaliada. Não q u er a desagregação da família
nem da sociedade. C onfrontadas as instituições, enfatiza a previdência social em
d etrim en to do D ireito Previdenciário. A penas in stru m en to , o ram o ju ríd ico não é
razão suficiente.
a) noções de Filosofia: Não é fácil fornecer, em curto espaço, u m conceito de
Filosofia. Seu alcance fenom enológico é de am p litude significativa no conheci­
m en to h u m an o . Uma de suas instigantes tarefas consiste exatam ente em tentar
explicar-se.
M arilena Chaui ( “C onvite à F ilosofia”, p. 17) faz esforço nesse sentido. Sus­
ten ta não ser religião, arte, sociologia, política, história, “m as reflexão crítica sobre
os p ro ced im en to s e conceitos científicos”. Aduz: “C onhecim ento do co n h ecim en ­
to e da ação h u m an o s, conhecim ento da transform ação tem poral dos princípios
do saber e do agir, co n h ecim en to da m u d an ça das n o rm as do real ou dos seres, a
Filosofia não sabe que está na H istória e que possui um a H istória”.
Sua utilid ad e é destacada: “Se ab a n d o n ar a ingenuidade e os preconceitos do
senso co m u m for útil; se não se d eixar guiar pela subm issão às ideias dom inantes
e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar co m p reen d er a significação do m u n ­
do, da cu ltu ra, da h istória for útil; se co nhecer o sen tid o das criações h u m an as nas
artes, n as ciências e na política for útil; se d ar a cada um de nós e à nossa sociedade
os m eios para serem conscientes de si e de suas ações n u m a prática q u e deseja a
liberdade e a felicidade para todos for útil, então, podem os dizer que a Filosofia é o
m ais ú til de todos os saberes de que os seres h u m an o s são capazes” (ob. cit., p. 18).
Em sum a, para ela, parece ser a “decisão de não aceitar com o óbvias e evi­
d en tes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os com portam entos
de nossa existência cotidiana, jam ais aceitá-los sem antes havê-los investigado e
c o m p re e n d id o ” ( ibidem , p. 12). Em relação ao ser da técnica e da form alidade,
o dever-ser.
b) a Filosofia no Direito: A lógica é m agnífico in stru m en to da Filosofia a ser­
viço do D ireito. C oopera não só na preparação da norm a, sua feitura final, m as,

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p rin cip alm en te, na aplicação e (em especial) na interpretaçao, q u an d o a inteligên­
cia e exata com preensão das coisas sobressaem com o esforço intelectual relevante.
F ornece ao ju rista os tijolos do edifício do pensam ento norm ativo, conform e
os p rincípios estabelecidos. O s conceitos de raciocínio, entre outros, de p ro p o si­
ção, silogism o e conclusão, são elaboradores da lógica e da Filosofia. Dá-se exem ­
plo com o co m uníssim o a contrario sensu: quando, n u m co n ju n to de possibilida­
des estão com p reen d id as apenas duas situações possíveis (a m u lh er estar ou não
grávida), se a lei define o direito da gestante ao salário-m aternidade, seguram ente
a m u lh er não gestante não faz ju s ao benefício.
c) conceito filosófico de seguridade social: C onceituar filosoficam ente a segu­
ridade social consiste em perquiri-la com o experiência h u m an a protetiva, esta­
belecer-lhe a função social, vale dizer, fixar-lhe o papel e alcance — tudo isso
n u m d eterm in an te espectro técnico e histórico e, então, sem os grilhões do direito
positivo ou de políLicas diretivas m om entâneas. N esse sen tid o , põe-se com o farol,
ilum in an d o os cam inhos.
Não é atribuição da previdência social, seu principal m eio de realização, q u a n ­
do define as prestações de pagam ento co n tin u ad o su b stitu id o ra s da rem uneração,
anarquízar a ordem social estabelecida pelos salários. Q uem , na atividade, ganha
pouco, não pode aposentar-se com m uito; quem subsiste com m uito não deve fazê­
-lo com pouco na inatividade.
Faz parte da discussão, neste dom ínio, saber se a aposentadoria, em m elhores
con d içõ es, se in teg ra n a decisão de adesão à in stitu iç ã o q u a n d o da posse e exer­
cício do servidor civil e m ilitar. Da m esm a forma, ap u rar a extensão do seu em pe­
nho em prom over a d istribuição de rendas. São exem plos claros da necessidade de
se d eterm in ar o seu objetivo, e isso é esforço filosófico.
A falta dessa reflexão traz consigo dificuldades de toda ordem , com eçando
pela elaboração dos projetos de lei, q uando do en cam in h am en to legislativo, sua
aplicação no dia a dia e interpretação pelo P oder Judiciário. Dá-se exem plo: se a
prestação tem pap el s u b stitu id o r (e tem ), não po d em ser co n ced id o s dois b e n e ­
fícios em razão do m esm o em prego ou salário.
Os fins da seguridade social indicam sua natureza íntim a: proteção ao indi­
víduo em circunstâncias adequadas à realidade social, o potencial econôm ico do
país, a capacidade de p o u p an ça do seu povo e a disposição do em presário de privar­
-se m o m en tan eam en te de recursos necessários aos investim entos.
ldeias n ão co in cid en tes com as d iretrizes da previdência social e, de cer­
ta form a, p ró x im as da assistência social. N ão desprezam sua o rigem h istórica
(a p re v id ê n cia so cial, so lu ção p re c e d e n te ), isto é, e n se ja r a m a n u te n ç ã o dos
incap azes de an g ariar os m eios pelo trab alh o o u em o u tra s situações en tão d e­
finidas, e ter o direito su bjetivo não co n d icio n ad o às co n cep çõ es de filiação ou
de inscrição.
d) objetivos da seguridade social: Salvo na hipótese de se p reten d er tê-la repre­
sen tad a p o r suas três diferentes vertentes co nstitucionais (previdência, assistência

C urso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

260 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
e saúde) — posição de alguns previdenciaristas — , a seguridade social não tem o b ­
jetivos, pois, per se, n ão é m eio protetivo, desm aterializada na form a de program a
e propósito g o v ern am ental e carta co n stitu cio n al de intenções.
Além dos p ró p rio s instrum entais, o seu fito reduz-se a in teg ra r esses três
co m p o n en tes e nada mais.
C oncebida em seu verdadeiro significado d o u trin ário , o de técnica securitária
avançada em relação à previdência social e, então, com razões p ró p rias clarificadas,
será preciso estru tu rá-la conform e essa natureza; claro, utilizando-se de pratica­
m ente todos os in stitu to s conhecidos, su b o rd in ad o s a ju ízo s distintos, ainda inal-
cançados. Dá-se exem plo com sua m áxim a filosófica e escopo principal: c o n trib u i­
ção, conform e a capacidade do ind iv íd u o e benefício, segundo suas necessidades.
Sob o p o n to de vista da participação do segurado, se inexistente, tem -se com o
assistenciária; o custeio pessoal não prevalece, a despeito de a relação ju ríd ica ser
plena e oferecer direito subjetivo constitucional às prestações. Todos cooperam na
m edida de sua potencialidade de consum idores. A clientela é ilim itada, abarcando
a população p o r inteiro, sem distinção, desfeitas as elucubrações tradicionais de fi­
liação ou inscrição, arredadas a observância de técnicas atuariais, com o carência ou
regim es financeiros tradicionais. O plano de prestações depende exclusivam ente da
econom ia do País e m ede-se pelas im prescindibilidades habituais da pessoa hum ana.
e) conceito filosófico de Direito Previdenciário: A concepção filosófica do D ireito
Previdenciário n ão é m u ito diferente da técnica p o r ele regulada e u sualm ente tida
com o: ram o ju ríd ico idealizador e discip lin ad o r da previdência social. Mas, m esm o
assim , é preciso ressaltar sua incum bência estrita, aliás, nessa linha de raciocínio,
b astan te distorcida. Tem prevalecido sobre ela, q uando deveria ser ao contrário.
N ão é sua atribuição program ar as tendências (m as, apenas, apreendê-las),
fixar as linhas gerais dos rum os da previdência social, nem discuti-las com o téc­
nica. Q uem tem de fazê-lo é o p ró p rio in stru m en tal institucional. Exem plifica-se.
Em rigor, a transferência da obrigação de pagar o salário-m aternidade ao órgão
g estor se d eu para d im in u ir a discrim inação contra a m u lh er (solução ju ríd ic a de
problem a social), q u an d o deveria ser tratada com o proteção a risco im previsível
(gravidez). O m esm o aconteceu com o saiãrio -fam ília .... E, ainda, então com vistas
à assistência social, os antigos auxílio-natalidade e o auxílio-funeral. D esem prego
é problem a so cioeconôm ico-laboral a ser resolvido, q u an d o previdenciariam ente,
pelo seguro-desem prego, e não pelo auxílio-doença.
A previdência e a legislação previdenciária não devem prestar-se para regular
problem as não previdenciários. Se os ex-com batentes m erecem ser prem iados pelo
seu esforço, em p en h o e coragem em defesa da D em ocracia nos cam pos da Itália,
não cabe a am bos (técnica e ram o) com pensá-los. Da m esm a form a, financiar a
assistência social (isenção das entidades beneficentes), in d en izar os efeitos do m e­
dicam ento talidom ida (renda m ensal co rresp o n d en te) etc. A previdência social
não é prestad o ra de serviços; não ob stan te rem unerada, não deveria incum bir-se
da realização da receita de “terceiros”, F u n d acen tro etc.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io
302. Direito subjetivo — D ireito a benefício é construção ju ríd ic a e, na
m aioria dos casos, o ordenam ento norm ativo é erigido sobre pilares consentâneos
com a área disciplinada. Sua existência configura a prestação não com o prêm io ou
q uedando-se à discrição do órgão gestor, e im porta na com preensão e desenvolvi­
m ento do ram o ju ríd ico .
a) definição da natureza do direito: Na previdência social, reconhece-se a su b ­
sistência do direito subjetivo. L egitim am ente filiado, qu em preenche os requisitos
legais faz ju s ao bem , p o d en d o exercê-lo q u an d o o desejar, sem prejuízo da facul­
dade. A filiação, a co n tribuição e os benefícios in d ependem da vontade do órgão
gestor e este, q u an d o sem recursos, deve buscá-los em o u tras fontes para, em vir­
tude da n atureza su b stitu tiv a e alim entar da prestação, prom over o atendim ento
im prescindível.
Tal p o stu ra, em in en tem en te ju ríd ica, nada tem a ver com a situação econô­
m ica ou financeira do titular, e isso conflita com as ideias filosóficas de o direito
dever nascer da necessidade.
b) correlativida.de entre contribuição e benefício: A relação entre contribuição e
benefício é tem a enfocado sob, pelo m enos, três aspectos: a) ju ríd ico ; b) atuarial;
e c) filosófico.
Haver ou não a dita correlação, em term os científicos, é resolvido perquirin-
do-se a norm a. O u seja, é fácil à lei d eterm in ar o direito ao benefício e a obrigação
de contribuir. No caso brasileiro, vige apenas o vínculo direto entre os valores da
base de cálculo da co n tribuição e da m ensalidade, m as inexiste entre a obrigação
de contribuir e o direito de auferir. Isto é, em algum a circunstância, pode ocorrer de
alguém pagar e não receber e vice-versa.
A questão é p o n tu al, p o d en d o ser convencionada, conform e o regim e finan­
ceiro e o tipo de plano adotados, convindo, então, a regra legal ser claram ente
redigida. A dotado o regim e de capitalização, a correlatividade subsiste — n a ver­
dade, trata-se de p o u p an ça coletiva obrigatória, caso do sistem a chileno — , m as,
consagrada a repartição, não pode m anter-se. Para o legislador o rd in ário (princípio
co n stitu cio n al), deve p red o m in ar a precedência do custeio q uando da concepção
do benefício, m as não o contrário.
F ilo so ficam en te, não é co n v e n ie n te a con so lid ação do liam e e n q u a n to c o n ­
ceb id a a seg u rid ad e social com o co n ju n çã o in teg ra d a dos três in stru m e n ta is
e não com o m o d alid ad e avançada em relação à prev id ên cia social. O E stado
tem n ecessid ad e de am ea lh ar os re cu rso s, de form a global, p o is a técnica não é
p o u p a n ç a pessoal. A ceitar a dita co rrelativ id ad e re p resen ta acostar-se ao seguro
p rivado.
A Lei n. 9.876/1999 iniciou a correlatividade entre a contribuição e o benefício
qu an d o criou um novo período básico de cálculo e o fator previdenciário.
c) legitimidade do direito adquirido: Direito adquirido (assim com o o ato jurídico
perfeito e a coisa ju lg ada) é plataform a do m u n d o ju ríd ico . Preserva a tran q ü ili­
dade das relações hum anas. Q uando legalm ente p resen te e legitim am ente assegu­

C urso d e D ir e it o P r e v id e n o Ar io

262 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
rado, nào pode ser afetado p o r n o rm a su p erv en ien te n em p o r atitu d e de qualquer
pessoa ou ato. E n tretan to , a lei am oral, a decisão irregular ou a reunião antiética
dos p ressu p o sto s não o sustenta.
N estas condições, en q u a n to vigentes alíquota pessoal padronizada (unifor­
m e), plano de benefício definido e regim e financeiro de repartição, é descabido al­
guém receber acim a de lim ite estabelecido pelo atuário. Sem desrespeito ao direito
ad q u irid o , pode a C o nstituição F ederal restringir, em todas as hipóteses, o valor
m áxim o devido.
E m bora a previdência tida com o estatal, básica e pública, não apresente carac­
teres de vín cu lo civil, é co n trato celebrado com a sociedade e, nestas condições, o
legislador deve to m ar cuidado q u an d o de m odificações. De preferência, respeitar a
expectativa de direito, p o r ele definida, estabelecendo regras de transição e quadros
em extinção. O in d ivíduo, in casu, não pode socorrer-se do direito adquirido, pois
o p ro ced im en to afeta a n orm alidade ju ríd ica.
d) possibilidade de renúncia: O exercício do direito subordina-se à vontade
h u m an a m anifesta, daí o trabalhador se aposentar ou não seg u n d o sua co n veniên­
cia. Esta am p litu d e da volição decorre da liberdade ínsita do segm ento. Significa
au to rizar o h o m em a o ptar p o r trabalhar ou recorrer à inatividade, segundo suas
expectativas e assegurando, assim , sua realização pessoal.
Se a atitu d e é regular e livre, sem q u aisq u er con stran g im en to s (difíceis de ca­
racterizar), e o ato ju ríd ico é legítim o, abster-se do benefício é providência cabível.
A colhendo, porém , subm issão da norm a pública, só é possível q uando representar
m elh o ra de situação. O titu lar pode privar-se em favor de condição su p erio r (cifra­
da não n ecessariam ente ao valor); n u n ca ao contrário.
D efluindo da liberdade das pessoas e in stru m en talizad o pela possibilidade de,
ren u n cian d o , atin g ir patam ar desejável, incorporãvel ao anLerior, a desaposentação
há de ser ad m itid a com o exteriorização do desejo das pessoas. M as pressupõe a
reinstalação do status quo ante e n ão prejudica a coletividade.
Se a lei p erm ite im portâncias diferentes conform e o m om ento, sem a obser­
vância do cálculo atuarial (ela precisa ser urgentem ente atualizada sob esse as­
pecto), o segurado cancelar o benefício de nível inferior, para, depois, obtê-lo em
p atam ar superior, é legal, m as ilegítim o.
e) natureza alimentar: A tribui-se natureza alim entar às prestações previden­
ciárias; elas são a continuação dos ingressos obtidos antes do deferim ento dos
benefícios (os salários tam bém têm essa natureza). Esse caráter protege a prestação
previdenciária su b stitu id o ra das rem unerações, e não o u tras m odalidades de ren ­
das, obtidas por m eio de seguro ou da previdência privada de pagam ento único e
nível significativo (pecúlio).
C onceito difuso, nebuloso e im preciso na d o u trin a previdenciária, não fixa­
do claram ente n a legislação, m uitas vezes alegada nos procedim entos e proces­
sos e sem qualidade técnica necessária. C onsiste em atrib u to p ró p rio dos salários
tran sp o rtad o para os benefícios, já q u e am bos seriam responsáveis pela habitação,

C urso de D ir e ít o F r e v ip e n c ia r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 263
alim entação, v estuário e tran sp o rte do titu lar do direito. Assim , alguns direitos
pecu n iário s possuiriam ou não essa característica fundam ental, ou seja, ser resp o n ­
sável pela subsistência, sobrevivência ou m an u ten ção da pessoa hum ana.
Há q uem su sten te que todas as prestações previdenciãrias deteriam essa nu-
ança e, se assim for, ela perderá sua capacidade de im pressionar o aplicador da
norm a, já que trad icio n alm ente é invocada com o causa para abreviar p ro ced im en ­
tos, ju stificar pretensões e ad q u irir im portância decisiva nas questões, elegendo-se
com o norm a em si m esm a.
P artindo-se da ideia de que os salários e prestações destinam -se ã m anutenção
da pessoa, que é p ressu posto e um a convenção, a questão cinge-se à determ inação
do quantum. Para alguns, seria o salário m ínim o e, n o u tro extrem o, R$ 19.115,19,
da Em enda C o n stitu cio nal n. 41/2003, já que o conceito é subjetivo; p ara outros,
os R$ 360,00 escolhidos para definir salário-fam ília e auxílio-reclusão, do art. 13
da E m enda C o n stitu cio nal n. 20/1998. À evidência, o m o n tan te dep en d e das co n ­
dições socioeconôm icas históricas do País, convindo defini-lo periodicam ente e
para d eterm in ad o fim m aterial e adjetivo.
j ) in tu itu s personae: D iferentem ente do seguro privado, é ínsito à técnica pro-
tetiva enfocada, co b ertura dizer respeito a contingências pessoais e os benefícios
cifrarem -se exclusivam ente ao indivíduo. A relação é nitid am en te intuitus personae.
g) natureza antiética: E m bora, nas relações com o órgão gestor, o co n trib u in te
ou beneficiário deva pautar-se pela ordem , ho n estid ad e de propósitos e tran sp a­
rência, vale dizer, lisura de procedim entos, o seu com p o rtam en to pessoal ou social
não interessa à definição do direito.
A tendidos os p ressu p o sto s legais (qualidade de segurado, período de carên­
cia, idade m ín im a e 35 anos de co n trib u ição ), o hom icida tem direito à ap o sen ta­
doria p o r tem po de contribuição. Claro, não faz ju s se praticou fraude, conluio ou
má-fé ou não reú n e a prova daquelas condições.
Da m esm a lorm a, não provado a m ariticida ter assassinado o segurado com
vistas à pensão p or m o rte — dem onstração quase im possível dada a subjetividade
— , ela tem direito ao benefício.
E devida a prestação p o r incapacidade, se im possibilitado de trabalhar, ao
segurado au to m u tilad o p ensando no benefício previdenciário. Se a legislação não
prevê sanção específica para o ato praticado (em tese, delituoso), são inadm issíveis
ou tras providências. S ecuritariam ente, são exigidos apenas os requisitos co n tem ­
plados na lei. D iferentem ente do passado, o co m p o rtam en to m oral do viúvo(a) não
im plica o direito à p ensão p o r m orte ou sua m anutenção.
h) direito do inadimplente: Previdência social é necessariam ente contributiva;
só pode o b ter as prestações quem cum pre as obrigações. Q u ando separa o co n tri­
b u in te descontado do nâo descontado, o legislador distingue as pessoas. Tradicio­
nalm ente, os prim eiros beneficiam -se da presunção do pagam ento. Todos deveriam
gozar desse privilégio fiscal ou ninguém , criando-se, obviam ente, os m ecanism os
necessários para defesa do não responsável pelos recolhim entos.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

264 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Em rigor, en q u a n to contributiva a previdência social (e diferentem ente da
assistência social), o in ad im p len te não tem direito, podendo-se, dian te da proteti-
vidade do sistem a, assegurar-lhe o benefício d esco n tan d o -lh e o devido em parcelas
não o nerosas à sua subsistência.
A exigibilidade da dívida deveria condicionar-se ao tipo do benefício: se de
risco im previsível, o acerlo ocorrerá após a concessão; se de risco program ado,
an tes do deferim ento.
i) respeito ao papel dos benefícios: C om o o benefício tem papel definido (o abo­
no de p erm an ên cia em serviço visava a desestim ular a aposentadoria por tem po de
serviço), não se po d e acu m u lar dois deles (v. g., segurado receber auxílio-acidente
ju n tam en te com q u alq u er outra prestação de valor m áxim o). A quela m ensalidade
acidentária som ada a esta não deve ultrapassar o lim ite, visto ser concebida para
su p rir a diferença entre os dois valores.
303, Papel da técnica protetiva — D efinir o papel da previdência social ini­
cia-se em concebê-la com o técnica protetiva. Estabelecer-lhe os parâm etros a p artir
dos quais são aplicados os preceitos de D ireito P revidenciário. Tal atividade cabe
ao legislador em face da realidade socioeconôm ica e do m o m en to histórico atra­
vessado pelo País.
a) distribuição de rendas: C o m p artilh ar as rendas o u riquezas não é, h isto ri­
cam ente, sua atribuição. E stru tu ral e circunstancialm ente — em razão do tipo de
plano e regim e financeiro — , esta nobre função com etida desenvolveu-se com o um
de seus prin cip ais objetivos.
Idealizada com o salário socialm ente diferido, deve im plem entar as diferentes
políticas nacionais e dividir as rendas criadas pelos trabalhadores e não auferidas
o p o rtu n am en te.
O m ecanism o financeiro de repartição, expressão prática da solidariedade, faz
da técnica divisora de recursos função tornada n atu ral no curso do tem po e própria
do sistem a, não carecendo de dem onstração.
b) adm itir presunções: A organização do D ireito Previdenciário, a exem plo do
su ced id o com o u tro s ram os ju ríd ico s, operacionalm ente, obriga-o a acolher certas
p resu n çõ es, algum as p ro d u to da lógica e da experiência do dia a dia, o u tras deter­
m inadas n a n o rm a legal e tam bém as d eco rren tes de sua filosofia.
C o n seq u en tem en te, a previdência social aceita essas presunções, pois sim pli­
ficam a com plexa existência do ser h u m an o , e, p o r isso, são acolhidas.
c) não xenofobia: A legislação previdenciária não é xenófoba, m as integrada
n u m a co m u n id ad e m u n d ial de trabalhadores e pessoas. Aceita pagar benefícios
para estrangeiros ou nacionais residindo n o exterior; considera filiações, co n tri­
b u ições e tem pos de serviço, enfim , direitos adquiridos o u em fase de aquisição,
p rovenientes de o u tro s países, com os quais n atu ra lm e n te celebra tratados.
Os acordos in tern acio n ais inserem -se na ordem institu cio n al, devendo a lei
co n ter as restrições im postas a qu em não crie riquezas n o territó rio nacional.

C u r s o d f. D ir e ít o P r e v id e n c iá r io

T o m o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 265
D iante do silêncio da norm a, o não contem plado nas exceções previstas não
p o d e filiar-se ao regim e nacional e, assim , o naciona! o u estrangeiro sem pre resi­
dente e dom iciliado no exterior não pode ser facultativo no Brasil.
d) submissão à norma pública: Regra im perativa faz parte do o rd enam ento do
Estado m oderno. Evila a prevalência do ju ríd ico sobre o técnico, pois aquele é in s­
tru m en to deste e não ao contrário, n a aplicação im põe-se a dependência da ciência
protetiva ao ram o ju ríd ico.
A vo n tad e do legislador, ap rim orada nas im ediações da sabedoria, é o lim ite
factível para o exercício da intenção hum ana. N os seus term os, e atendendo-os,
ela deve ser total e livre.
Cabe ao elab orador da norm a configurar, com todo o cuidado, onde e quando
essa subm issão deva operar-se, valendo o raciocínio nu m regim e publico e com
as n atu rais adaptações ao privado. Essa talvez seja a incum bência m ais onerosa
atrib u íd a ao legislador, pois fazer o interesse social su p lan tar o individual sem pre
significa restrição á n atu ral liberdade das pessoas.
e) distorções laborais: N ào é atribuição securitária a correção dos desvios do
Direito do Trabalho. D escabe-lhe so lu cio n ar os seus desencontros. N ão obstante
a pro x im id ad e e a sem elhança de propósitos, relação íntim a e m ú tu a influência,
am bos os ram os jurídicos têm objetivos próprios.
f ) indenização civil: A relação ju ríd ica entre o co n trib u in te o u beneficiário e o
órgão gestor é previdenciária, n ad a ten d o a ver com as civis, possivelm ente estabe­
lecidas entre os dois sujeitos. P or conseguinte, eventuais danos causados p o r um
ou o u tro desses polos têm de ser ressarcidos naquela órbita e não securitariam ente.
Tal relacionam ento é desequilibrado entre as p artes (o órgão gestor tem a
iniciativa) e conduz à situação ím par, obrigando a rever as conclusões anteriores.
Assim, com o previsto na lei, ele pode d esco n tar das m ensalidades valores previ-
d en ciariam en te pagos a mais (respeitada sua natureza alim entar) e ser ressarcido e,
da m esm a form a, in d en izar o trab alh ad o r p o r prejuízos a ele causados pela ad m i­
nistração e, pela facilidade representada, pode ser feito com benefícios.
g) alcance limitado da técnica: É tarefa intransferível do legislador form ular
o perím etro do alcance da técnica protetiva, seja horizontal (clientela protegida)
ou verticalm ente (nível do salário de benefício), e tê-la com o fonte de cobertura
circunscrita às ideias solidárias do seguro social.
É abso lu tam en te necessário co n star da legislação esses co ntornos, caso co n ­
trário o in stru m e n to se d esn atu ra e resta vítim a de toda sorte de distorções.
h) expressão de solidariedade: C om o previdência social, a técnica protetiva
calca-se no p rin cíp io da solidariedade. Significa prestigiar o regim e financeiro de
repartição sim ples, d isp ensar carência para benefícios im previsíveis, transferir re­
cursos da área u rb an a para a rural, de Estados m ais ricos para os m ais pobres,
enfim , estabelecer alíquotas progressivas segundo a capacidade contributiva e be­
nefícios d istributivos e selecionados.

C u r so dh D ir e it o P r e v id e n c iá r io

266 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
H papel relevante da lei estim ar a dim ensão desses parâm etros, segundo as
condições socioeconôm icas do m om ento histórico. D estacar áreas em que possí­
vel o u tra m etodologia, com o o regim e de capitalização e form as de poupança, não
d isp en san d o ap ro fu n dado estudo do cenário nacional, p o d en d o ser aproveitados
superávits destas seções para su p rir déficits de outras.
Um regim e de quase capitalização, com o o da Lei n. 9.876/1999, descum pre
esse preceito.
304. Fontes de custeio — C usteio é atividade-m eio da proteção social. D o­
m ínio financiador d as prestações, sem o qual elas não são possíveis. A ser in te rp re ­
tado com o expropriação do indivíduo e da sociedade, sub m eten d o -se aos cânones
exacionais e fiscais, em que reconhecida a iniciativa do Estado.
D eduções lógicas defluem do sistem a previdenciário, em m atéria de finan­
ciam ento. N a base de su sten tação das fontes de custeio, situa-se a escolha do tipo
de p lan o e do regim e financeiro com o p ressu p o sto s científicos. Por conseguinte,
na p revidência social, ab ran g en d o p o pulação de baixa ren d a ou sem p o d e r con-
trib u tiv o , o ideal é o plan o de benefício definido. Da m esm a form a, regim e de
repartição.
Para clientela su p erio rm en te posicionada, cabe distinção: benefício definido
e repartição, para prestações previsíveis, e contribuição definida e capitalização,
para as im previsíveis.
a) contributividade pessoal e social: C o n trib u ir forçadam ente não é nuança da
origem h istó rica da previdência social, m as p ró p ria de sua evolução. C alcada no
regim e financeiro de repartição e su sten tan d o -se na solidariedade, im põe a todos
com capacidade a obrigação de recolher contribuições. A exação patro n al é m an i­
festação do d ever da sociedade de cooperar.
b) participação do indivíduo e da sociedade: É inerente à previdência social, m as
não necessariam ente à assistência social, a conjugação de esforços da pessoa e da
co m u n id ad e n a obtenção dos recursos necessários.
Resta ao técnico d eterm in ar o percentual dessa participação e em quais cir­
cun stân cias um a será su p erio r à outra. D iante da d istributividade do sistem a, a
taxa de co n trib u içã o d e todos os segurados co n tid o s no m esm o segm ento so­
cial, a determ inar-se, p o r exem plo, peto nível dos salários, ser igual (33% e 67% ),
m odificando-se n o p atam ar m édio e, praticam ente, invertendo-se nas cam adas de
m aio r p o d e r aquisitivo.
c) limite dos investimentos: É tarefa periódica dos econom istas, sociólogos e
dem ógrafos, d ian te do quadro econôm ico e social do País, ap u rar os lim ites da alo­
cação de recursos financeiros para o custeio da previdência social, isto é, dizer até
onde eles não obstam o desenvolvim ento da N ação e im pedem os investim entos.
d) não restituição: Se a contribuição é obrigatória (salvo nos casos de recolhi­
m ento indevido ou a m aior), não tem sentido a sua restituição; para qu em se utiliza
das prestações e, p articularm ente, se não lhe é dado auferi-las.

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o í — N o ç õ e s d e D ir e ilo P r e v id e n c iá r io 267
e) antecipação de contribuições: O bservados os cânones atuariais e contornado
o perigo da acum ulação de capitais (duas tarefas difíceis), nada im pede o prévio
recolhim ento, se m antida a regra de não p erm itir o exercício anlecipado dos direi­
tos inerentes.
f ) contribuição do hipossuficiente: D iante da particularidade histórica e realida­
de do m eio rural, é im prescindível co n sid erar a participação individual do traba­
lh ad o r agropecuário n a criação de riquezas e no não auferim ento das rendas cor­
resp o n d en tes. Sua falta de capacidade co n trib u tiv a, p o r força das circunstâncias
da exploração da m ão de obra rurícola, deve ser sopesada pelo legislador quando da
elaboração das n orm as atinentes a esses obreiros. O m esm o se aplica ao dom éstico.
g) alíquotas diferenciadas: A equidade no custeio exige distributividade no
financiam ento. P erfeitam ente co n seq ü en te obter recursos d istin to s em fontes d i­
ferenciadas q u an d o elas apresentam risco maior. Tem cabim ento exigir alíquotas
diversificadas do trab alhador e, m áxim e, da em presa, q u an d o o serviço prestado
com provadam ente g erar probabilidade de núm ero elevado de benefícios.
h) facultatividade de ingresso: N um sistem a obrigatório, às vezes, para m elhor
proteger, recom enda-se à legislação co n tem p lar a hipótese da filiação facultativa.
A tran sitoriedade, porém , é seu traço m arcante. Não tem sentido quem sem pre foi
facultativo — e, p o rtan to , n u n ca trabalhou — aposentar-se p o r tem po de serviço.
305. P restaçõ es em g eral — As prestações são estru tu ra d as com o atividade-
-fim da proteção social. A traem a contribuição, reduzindo-se esta últim a a in s­
tru m en to im prescindível. Na interpretação filosófica ou ju ríd ica, é o principal.
Descabe eleger a co n tribuição com o deflagradora do benefício e, sim , ao contrário.
Sobre ele recai o interesse do estudioso, razão pela qual é objeto de vasta legislação,
ju risp ru d ên c ia e literatura. C onform e form atado, rep ro d u z a técnica protetiva.
a) acumulação de benefícios: D iante do núm ero crescente de espécies de presta­
ções contem pladas e do fato de, individualm ente, possuírem ou não caráter subsli-
tu id o r dos salários, com atribuições distintas e, tam bém , possivelm ente, em algum
m o m en to histórico, existirem m últiplos regim es co m p o n d o o sistem a nacional, a
lei deve estabelecer as regras de acum ulação.
N um m esm o regim e, os benefícios de igual natureza não podem ser recebidos
sim u ltan eam en te, in ad m ilin d o -se sua concessão, para pessoa idêntica, com dife­
rentes eventos d eterm inantes. Assim, a proibição de percepção de aposentadoria
p o r invalidez e p or idade.
Do p o n to de vista atuarial, nada im pede a fruição de m ensalidades iguais
o riu n d as de diferentes regim es, se o segurado está obrigatoriam ente sujeito à filia­
ção e às con trib u içõ es e se atendida, em todas as hipóteses, a natu reza substiluido-
ra da prestação de p agam ento continuado.
Se anestesiologista trabalha de m an h ã p ara o Estado e, à tarde, para o M unicí­
pio, é correto deferir-lhe benefícios co rresp o n d en tes aos dois salários;
b) im prescritibilidade do direito: Sob a ó tica filosófica, re u n id o s os re q u isi­
tos legais, ou seja, ju rid ic a m e n te asseg u rad o o d ireito , é para ele se r exercido.

C urso de D ir e it o P k e v id e n c iAr io

268 W la d im ir N o v a es M a r tín e z
Isto é o n o rm al e o esp erad o no co m u m dos casos. G ozo p o sterg a d o precisa ser
co n sid erad o co m cau tela, d ev en d o a n o rm a ju ríd ic a c o n te m p la r as d iferen tes
h ip ó teses, re sp e ita d a a v o n tad e h u m a n a e o in tere sse do siste m a, p re v alece n d o
este ú ltim o .
Por vários m otivos legítim os, o benefício pode ser co n cedido fora da época
usual (v. g., co n veniência subjetiva ou objetiva do titular, im possibilidade m aterial,
d esco n h ecim en to do direito etc.). O direito é im prescritível, e a qu alq u er tem po
pode ser praticado, p o d en d o a lei d eterm in a r os encargos in eren tes ao exercício
tardio e sem pre com ponderação.
Q u an d o da u tilização extem porânea, é preciso, respeitados os cânones a tu ­
ariais, perm itir-se o re q u erim en to conform e a norm a ao tem po da solicitação (se
m ais vantajosa a prestação). Ao co n trário , ter assegurado o cálculo do valor co n ­
form e a época da caracterização do direito;
c) continuidade da manutenção: Sendo as necessidades p erm an en tes, o b en e­
fício deve ser co n tín uo. A lei deve configurar a natureza alim en tar q u an d o da
sustação da m an u ten ção e o reto rn o dos pagam entos. Sustação de m ensalidades e
sua reposição precisam levar em conta o fato de a perda havida não ser indenizável;
d) irredutibilidade do valor: Da definição científica do benefício, faz parte n u ­
clear sua d im ensão m onetária, a ser preservada diante da ofensa ao p o d er aquisi­
tivo (p o r exem plo, pela inflação) o u p o r reduções de nível de q u alq u er natureza;
A noção de renda m ensal cifra-se à data da concessão. Seu p o d er aquisitivo
está v inculado à realidade social e econôm ica do m o m en to histórico. Se as co n d i­
ções se alteram (au m en tam o u dim inuem os itens aten d id o s pela som a auferida),
só na hip ó tese de a econom ia perm itir, aquele patam ar pode ser revisto.
Daí descaber a contribuição dos inativos, fixada pelo STF em relação ao ser­
vidor, em 2004;
e) inalienabilidade das mensalidades: A im possibilidade de co m p ro m eter os b e­
nefícios p revidenciários não faz parte da e stru tu ra da previdência social, re su ltan ­
do tão so m en te da n atu reza im previdente do hom em . F ilosoficam ente, contraria
a liberdade h u m an a não p o d er dispor dos seus recursos. C om essa norm a, busca
o legislador p ro teg er o cidadão e, en q u a n to não suficientem ente politizado, ela se
ju stifica no o rd en am en to ju ríd ico ;
f ) melhor benefício ou momento: D iante da alternativa legal de solicitar um
de dois benefícios, insere-se na ordem filosófica a obtenção do m elhor, avaliada a
qualid ad e em razão do valor, a chance de voltar ao trabalho ou o u tra vantagem por
ele oferecida. O pção su p erio r é ínsita ao ser h u m an o e nas relações na sociedade,
não h av en d o com o justificá-la.
Significa decidir-se p o r esta ou aquela prestação e fazê-lo n o m om ento deter­
m inante de situação privilegiada p o r m eio de com paração. E xem plificativam ente,
q u an d o n ão há prejuízo para o sistem a, o segurado pode escolher o período básico
de cálculo após o p reen ch im en to dos requisitos legais.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o í — N o ç õ e s d e D i r e i t o P r e v id e n c iá r io 269
g) conteúdo do direito: A lei garante o todo e suas partes. De nada serve oferecer
o direito ao beneficio (e, com o expressão, sua im prescritibilidade) se, p o r exem plo,
sua principal dim ensão, o nível de valor, resultar afetada. A lém de ofender a irre-
dutibilidade, aiinge o direito adquirido;
h) unicidade: E xcetuando-se o auxílio-acidente, descabem dois benefícios em
razão da m esm a filiação, seja um co m u m e outro acidentário ou, ainda, os dois de
igual natureza, caso da antiga dupla aposentadoria dos ferroviários;
i) distributividade e seletividade: O plano de benefícios deve conceber p resta­
ções de acordo com as necessidades dos segurados, distribuídas conform e a ca­
m ada social na qual estão posicionadas e tam bém serem selecionadas segundo as
contingências a serem protegidas.
306. B enefícios p o r in cap a cid ad e — Os benefícios p o r incapacidade do segu­
rado, do tipo im previsível, atendem à histórica form ulação da previdência social:
p ro p iciar co bertura para pessoas m om entânea ou definitivam ente incapazes para o
trabalho, im p lican d o proteção im ediata e com as nuanças do seguro social. Hodier-
nam ente, abriga, tam bém , o facultativo, isto é, quem nunca trabalhou, ad q u irin d o ,
então, para este, caráter de pou p an ça individual aleatória.
a) ingresso do incapaz: E xcetuada a hipótese de agravam ento, a filiação do
incapaz para a atividade suscita posição no âm bito da proteção da higidez.
Não é lógica a concessão de benefício p o r incapacidade (auxílio-doença ou
apo sentadoria p o r invalidez), devendo-se exam inar a possibilidade de prestação
assistenciária.
E n q u an to a previdência social destinar-se a su b stitu ir os m eios de su b sistên ­
cia da pessoa, o btidos p o r m eio do trabalho do apto, repete-se, ausente agravam en­
to, não tem sen tid o o deferim ento daqueles benefícios. O sobre-esforço do traba­
lh ad o r de, estando não inteiram ente preparado para o serviço, ter de trabalhar e,
ainda, contribuir, deve ser considerado para outros fins, com vistas à aposentadoria
p o r tem po de serviço ou fixação de percentuais ou ainda para o cu m p rim en to de
carência para o utros benefícios;
b) período de carência: Período de carência é exigência m atem ático-financeira
do sistem a securitário. Trata-se de im posição do cálculo atuarial su bm etida à co n ­
figuração da técnica protetiva. Na assistência social, ele é dispensado em p ra ti­
cam ente todos os casos, lim itando-se, às vezes, em certas circunstâncias, a ser
su b stitu íd o p o r exigências de alguns requisitos tem porais.
Na previdência social, en tretan to , é parte integrante do ord en am en to cientí­
fico, em bora possa ser obstáculo à ideia de proteção contida na seguridade social.
O rganizada esta com o seguro social, o período de carência é exigência válida; sem
sua observância, o sistem a perece.
Desde sua origem , as prestações acidentárias (1 919), diante da contingência
protegida, dispensaram o núm ero m ínim o de contrib uições, ficando claro ser exa­
tam en te o tipo de evento d eterm in a n te a razão de ser dessa posição. N um sistem a
tu telar com o o previdenciário, o utra não pode ser a conclusão.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

270 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
No to can te às prestações por incapacidade (in clu in d o -se a pensão p o r m orte
e o auxílio-reclusão), o correto é precisam ente ser pequeno ou in ex isten te esse
nú m ero m ínim o de contribuições, sobrecarregando-se a alíquota pessoal e a parte
da sociedade p ara to rn ar possível a cobertura. O custo dessa inexigibilidade deve
ser repassado ao in d iv íd u o e à com unidade;
c) privilégio na concessão: Além da gratuidade e da celeridade, os pedidos de
benefícios p o r incapacidade e pensão p o r m orte devem ter tratam en to especial no
âm bito adm inistrativo.
307. D ireito d o s d e p e n d e n te s — Pensão por m orte, diferentem ente das d e
m ais prestações, é d ireito de não segurado, concedido aos d ep en d en tes deste após
o seu falecim ento. Tem co n stru ção técnica e jurídica distintas, influenciadas por
concepções adequadas à sua realidade.
No caso, é da m aior im portância a discussão do vínculo entre os dependentes
e o segurado, validade do casam ento e un ião estável, e proteção aos filhos. P rin­
cipalm ente, os aspectos m orais envolvidos e o papel da fam ília n a organização da
sociedade.
a) caracterização do direito: Trata-se de benefício de pagam ento continuado,
su b stitu id o r dos ingressos obtidos em vida pelo outorgante da prestação, destinado à
m anutenção da família (ou em sua versão m ais hodierna, a p oupança feita pelo facul­
tativo). P o r ocasião de sua idealização, nos prim órdios da previdência social, poucas
m ulheres trabalhavam fora do lar e a m aioria dependia econom icam ente do hom em ;
falecendo este, decorria a concessão da prestação, e tinha caráter de seguro de vida.
A tualm ente, em bora a m u lh e r ainda não tenha conseguido, em term os gerais
e m édios, o b ter retribuição igual à do hom em (q u an d o exerce a m esm a atividade),
co n stitui-se em esteio de m uitas fam ílias e co n trib u i decisivam ente para o custeio
das despesas dom ésticas (pouco im portando, nesse raciocínio, estar cotizando).
R econhecendo esse estado de coisas, a partir da Lei n. 8.213/1991, o legisla­
d o r brasileiro e n ten d e u de concedér pensão por m orte ao ex-m arido. Ignora-se,
po rém , qual o leitmotiv de sua decisão, provavelm ente, ju stificar a contribuição da
m ulher, igual à do hom em , 8%, 9% ou 11% e m an ter o nível de ingressos fam iliares
e, com isso, o status quo.
A tendidas as determ inações legais, filosoficam ente, o direito condiciona-se à
ausência de condições m ateriais (financeiras) para a subsistência dos dependentes
e, ju rid icam en te, essas pessoas atenderem aos requisitos legais (qualidade de d epen­
dente e falecim ento do segurado). Em razão do sistem a, não é possível raciocinar,
filosófica ou ju rid icam en te, concluindo a faculdade dep en d er do fato de o segurado
ter co n trib u íd o , isto é, p reten d er escorar o direito apenas na filiação do outorgante;
b) pensão mínima: A ideia de valor m ínim o dos benefícios não tem natureza
p revidenciária (é assistenciãria), pois as m ensalidades devem ser fixadas em fun­
ção do nível das co n trib u içõ es vertidas. C onstitui exceção e violação dessa regra
a concessão de prestação m ínim a para quem não co n trib u iu p o r m eio do aporte
m ínim o (caso do m en o r aprendiz).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 271
A spectos assistenciários, q uando a assistência social não estava sistem atizada,
nem é in teressante sejam desenvolvidos em separado, d eterm in aram a concepção
de piso inferior ao benefício. Com a criação do salário m ínim o, na década de 1940,
o conceito foi inco rp o rado à legislação social e, p osteriorm ente, ascendeu à co n d i­
ção de p rin cíp io constitucional.
A nte a eleição do salário m ínim o com o a m en o r renda p ara a subsistência do
indivíduo, p o r facilidade de opção, o legislador escolheu essa m esm a m edida, sem
n en h u m estu d o atuarial ou sociológico (no qual solucionado, antes, a dúvida de
saber se o aposentado ou pensionista precisa do m esm o valor auferido pelo ativo)
e, assim , o benefício m ínim o su b stitu id o r dos salários é o salário m ínim o.
Ao prescrever esta solução, a C onstituição F ederal elegeu o salário m ínim o
com o a im p o rtân cia m en o r possível capaz de su sten tar um a pessoa e, no caso da
pensão p o r m orte, a fam ília do segurado(a) falecido(a). Ind ep en d en tem en te do
exam e de m érito do nível de valor (era insignificante em 1997), não tem sen tid o
a concessão da m etade dessa im portância q uando dividida entre a ex-esposa(o) e a
ex-co m p an h eira(o ), resultando em m eio salário m ínim o para cada um a. Não aten­
de às necessidades vitais das duas famílias. N ão se alegue, ju ríd ic a ou atu arialm en ­
te, não haver fonte de custeio em um sistem a em que vigente a repartição sim ples.
c) divisão com fam ílias desiguais: O critério de divisão da renda m ensal deve
ser por família e pessoas, não apenas p o r pessoas (com o faz a Lei n. 8.213/1991).
O n úm ero de indivíduos não espelha as necessidades de cada grupo hum ano. Se o
segurado(a) deixa oito d ep en d en tes num a família (digam os, da ex-esposa) e dois
dep en d en tes em o u tra (da ex-com panheira), não é correio dividir o valor em 80%
e 20%, pois os ô n u s financeiros dos gru p o s não são d iretam en te proporcionais ao
núm ero de m em bros.
As despesas co n stan tes são com uns, e as variáveis d ep endem do rol de par­
ticipantes. Televisão ligada para oito ou duas pessoas consom e a m esm a energia
elétrica, m as não é igual à despesa com o chuveiro nas duas residências desses
dependentes;
d) indisponibilidade da designação: Sob a im peratividade da norm a pública,
não tem o segurado a possibilidade de dispor do benefício, p articu larm en te indicar
os seus dependentes. Q uem o faz é o legislador; este su b trai do titu lar a faculdade
de escolher as pessoas com direito à pensão p o r m orte.
D iferentem ente do Direito Civil, não pode fazer legados ou indicar herdeiros,
falta-lhe com petência para isso, ju lg an d o o elaborador da n o rm a estar m ais bem
preparado para regrar a sucessão previdenciária. Perm ite-lhe decidir se se aposenta
ou não, mas é obstado de escolher os seus sucessores;
e) momento da avaliação: É da tradição do Direito Previdenciário sopesar a
situação dos sujeitos envolvidos na relação ju ríd ica, em face do direito à prestação,
q u an d o do óbito. D estarte, p o r m era convenção, se u m dia antes do falecim ento,
o pai do segurado g an h o u na loteria e enriqueceu, não é m ais d ependente, m as se
vem a fazê-lo no dia seguinte, isso não tem o m en o r significado.

C urso de P ir e i i o P r e v id e n c iá r io

272 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
308. Características da importância — A expressão p ec u n iá ria da p re sta­
ção de pag am en to c o n tin u a d o é relevante, fazendo parte in teg ra n te e n u clea r do
direito. P o r isso, vários in stitu to s técnicos e ju ríd ic o s cuidam desse aspecto. A
técnica p ro tetiv a indica filosoficam ente os cam in h o s a serem percorridos. C om o
a lim en tar e su b stitu id o ra dos ingressos do trabalhador, deve m a n te r algum a rela­
ção com os ren d im e n to s anteriores a su a o b tenção (q u a n d o inferiores a d e te rm i­
n ad o p atam ar).
a) nível de valor. O caráter su b stitu id o r da prestação indica o seu nível de va­
lor: não pode ser su p erio r aos ingressos nem inferior, cifrando-se as im portâncias
ao líq u id o recebido pelo trabalhador q uando em serviço. A posentando-se em co n ­
dições ideais, deve auferir benefício estim ado a p a rtir do an terio rm en te percebido,
refletindo o p atam ar de ingresso n a atividade.
Se as condições laborais são m odificadas, elas não po d em refletir-se na p resta­
ção. C rescim ento o u decréscim o profissional da categoria não pode afetar a situ a­
ção do ap o sen tad o , se ele se ju b ilo u antes de ocorrer o fato;
b) mudanças na economia: Previdência social é in stitu ição d u ra d o u ra; suas
obrigações estendem -se no curso do tem po. As fontes de custeio são obtidas junto
à sociedade e viabilizadas segundo as condições econôm icas do País.
H isto ricam en te, é preciso refletir sobre quais parcelas de investim entos p o ­
dem ser direcio n ad as para o pagam ento dos benefícios, isto é, p ropiciar os m eios
de m an u ten ção dos beneficiários.
P o r ocasião de dificuldades econôm icas, o gestor n ão consegue aten d e r às
obrigações e, freq u en tem ente, co n tra rian d o a norm a ju ríd ica, red u z o valor das
prestações, aco m odando-se aos recursos disponíveis. Tal fato é m uito com um e
vários países da A m érica Latina foram vítim as de tais circunstâncias. Por outro
lado, m o m en to s de euforia desenvolvim entista perm item aos governos ab ran d ar
as condições, cogitando-se, então, da possibilidade de co m p en sar a situação dos
ap o sen tad o s e pensionistas.
A razão econôm ica é su p erio r à ju ríd ic a e à técnica, e m uitas vezes d eterm ina
o program a governam ental. Sacrificar os trabalhadores e os aposentados com políti­
ca legal, p en san d o na salvação da econom ia da N ação, é p o n to de vista indiscutível,
se confirm ado pelos fatos, pois a destruição econôm ica do País é acon tecim en to a
ser evitado a to d o custo;
c) receber menos, igual ou mais: Q uestão interessante é saber o nível de valor
da prestação com parado com os salários do protegido. D efensáveis as ideias de p e­
río d o básico de cálculo e salário de benefício, com coeficientes atuariais aplicados
a esta ú ltim a base de cálculo, o problem a reduz-se à fixação do patam ar.
N ão p o d e ser in ferio r ao au ferid o pelo trab a lh ad o r; re p resen ta ria em p o b re­
cim en to ju ríd ic o e este não é o objetivo da proteção. T am bém não p o d e ser s u p e ­
rio r co n d u z in d o ao e n riq u e c im e n to ju ríd ic o . Os sistem as, n o s diferen tes países,
variam , p en sa n d o o legislador nas razões atu ariais, m as p o u co nas filosóficas.
M anter-se o m esm o nível parece ser o co rreto para não o c o rrer d im in u içã o na

C urso d e D ir e it o P r e v i d e n c .i á k i o

T om o J — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io
situação; não é difícil s u s te n ta r a co n tin u id ad e, ela é responsável pelas p rin c i­
pais in stitu içõ e s h u m an as. N estas condições, p o d eria ser o líq u id o recebido pelo
trab alh ad o r;
d) período básico de cdículo: Período básico de cálculo é técnica m atem ático-
-financeira ligada ã n atureza sub stitu tiv a da prestação previdenciária. Sua co n stru ­
ção não ignora os p o stu lad o s filosóficos co n tid o s na ideia de a base de cálculo do
benefício (designada com o salário de benefício) dever representar, p o r um lado, as
co n trib u içõ es vertidas e, p o r outro, o padrão de vida do segurado.
Ele não pode ser apenas o últim o m ês; raram en te reflete o nível de p artici­
pação financeira do segurado n o sistem a. O ideal é a m édia de todos os salários
de co n tribuição (q u an to m ais alta, m aior o reflexo), pois esta técnica atende a
quem se m an tém co n stante em determ inado patam ar (então coincidindo com o
últim o m ês) e pode, conform e atuarialm ente configurado, considerar as variações
salariais (e con trib u tiv as do trabalhador) d en tro de lapso de tem po capaz de não
afetar o sistem a.
Na prestação acidentaria, q uando se baseava n o salário do dia do acidente
(até 28.4.1995), buscava-se m aior proteção ao acidentado, mas ela provinha da
ausência da carência e não do valor su p erio r à m édia e, destarte, era distorção
lógica do sistem a.
O p erío d o básico de cálculo é atribuição do legislador, ouvido o atuário, obs-
tada a possibilidade de co m p ro m eter o sistem a;
e) desconto no benefício: A filiação obrigatória tem p o r objetivo forçar a pessoa
à proteção, por meio de contribuição com pulsória contrária à natureza hum ana.
O ap o rte visa à reu n ião de recursos im prescindíveis ao custeio dos benefícios,
nada mais. O cálculo do valor da prestação depende de razões atuariais; a natureza
sub stitu tiv a ap o n ta para o vínculo com a m édia das rem unerações recebidas. Daí
a existência de patam ar m ínim o do percentual aplicado ao salário de benefício e
acréscim os p o r anos de filiação; são razões m atem ático-financeiras.
U m a vez fixado o valor final do benefício, isto é, a renda m ensal, descabe
q u alq u er tipo de d esconto de caráter previdenciário. Salvo se o sistem a adm itir a
hipótese de, d u ran te a vida ativa do segurado, ele co n trib u ir para si e (sob alíquota
m enor) para as prestações dos dependentes e, aposentando-se, cotizar exclusiva­
m ente para a pensão. F ora dessa circunstância, não pode haver desconto previden­
ciário no valor do benefício.
Ele d esn atu ra o sentido da contribuição, pois ela tem direção, o benefício, e
este já se realizou;
f ) transporte de acréscimo: O cálculo do valor dos benefícios e o das m ensali­
dades m antidas (salvo o extraordinário crescim ento da econom ia e do en riq u eci­
m ento do País) in d iv id ualm ente se condicionam ã base de cálculo da contribuição.
Uma vez d ecantado na aposentação, ele não m ais depende do lim ite im posto para
os ativos nem do crescim ento profissional destes. Assim, não podem ser estendidas
ao aposentado eventuais conquistas particulares dos trabalhadores ativos.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

274 W la d im ir N o v a e s M a r tín e z
g) promoção na aposentação: N ão é papel da técnica protetiva ou do D ireito
Previdenciário resolver problem as laborais, salvo q u an d o convencionado institu-
cio n alm en te (caso do servidor público). N esse sentido, é im p ró p rio o benefício
servir para m elh o ra r a situação das pessoas, seja ap o sen tan d o -se com base no ú lti­
m o salário ou sen d o prom ovido nesta ocasião.
309. Papel e objetivos do Estado — O E stado em preende a previdência social
em estreita colaboração com os interessados, concebida com o in stru m en to de b u s­
ca da ju stiç a social. C ede espaço ao p articu lar q u an d o reconhecida a capacidade
da iniciativa privada de aten d e r às necessidades dos beneficiários. Ú ltim o avalista,
preten d e garan tir as in stituições e os m eios de realização.
A C o n stitu ição F ederal dita a m odalidade de proteção social a alcançar, no-
m in an d o -a e circunscrevendo-a m ediante parâm etros delim itadores, assinalando
os in stru m en to s operacionais balizadores e distinguidores de atividades estatais
assem elhadas.
A tualm ente, opta por em preendim ento estatal e tam bém particular, in tim a­
m ente associados, oferecendo-os com o em p en h o do hom em e da sociedade.
Sua finalidade é su b stitu ir a rem uneração do obreiro; e nada m ais. Práticas
co n co rren tes de am paro convivem paralelam ente, ad m in istrad as ou su p ervisiona­
das pelo G overno Federal, g arantidor de sua efetivação, em apartado.
A caracterização da técnica protetiva não deixa dúvidas q u an to à função das
ou tras v erten tes da seguridade social, as linhas separadoras e os canais aproxim a-
dores em relação à assistência social e às ações de saúde. N o caso, o seguro social
ou p revidência social.
M anifestação cooptativa da solidariedade h u m ana, calca-se n o regim e atuário
da apreensão co m p artilhada de recursos. In stru m en to econôm ico de redistribuição
de rendas criadas pelo hom em . Técnica reparadora de d anos causados ao obreiro
em v irtu d e do trabalho. M odalidade securitária para en fren tar os in fo rtú n io s labo­
rais. F orm a de p o u p an ça coletiva obrigatória. D ireito subjetivo e garantia consti­
tucional. O brigação e interesse p erm an en te do Estado.
Por m eio de prestações de trato sucessivo, põe-se n o lu g ar dos ingressos do
trab alh ad o r o u das fontes de subsistência q u an d o p resentes as contingências de-
flagradoras dos benefícios, determ inadas na lei. P or co n seguinte, n ão é prêm io,
estím ulo ao co n su m o , n em ju sto jú b ilo com pensador do defensor da pátria o u do
altru ísm o social bem -intencionado.
C oopera, m as não arreda outras vocações do E stado o u do p articu lar (com o
fiscalizar o exercício profissional dos trabalhadores, só exigindo os com provantes
com o prova de tem po de serviço), e não invade as atribuições de outros m inistérios
ou d ep artam en to s governam entais.
C ircu n stan cialm ente, otim iza as relações laborais. C ria m elhores condições
de convivência n o trabalho e supre as fissuras do sistem a econôm ico, prom ovendo
a su b stitu ição da m ão de obra e pagando prestações para o desem pregado.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o l — N o ç õ e s d e D ir e ito P r e v id e n c iá r io 275
Tem p o r objetivo alcançar o m áxim o de pessoas, exigir o m esm o de todas elas,
im por-lhes solidariedade, atendê-las rapidam ente, distinguindo-se dos afazeres da
assistência social e ações de saúde, n um a cogestão dem ocrática. É da organiza­
ção da seguridade social um regim e nacional de cobertura, podendo, nu m dado
m o m en to h istórico, ser gerido m ediante regim es e organism os distintos. Nessa
concepção u n iform e de procedim entos, com exigências iguais para todos. S usten­
tado o edifício m atem ático-financeiro na solidariedade das gerações. D istinguindo
previdência de assistência e de aten d im en to à saúde, sob gestão paritãria, repre­
sentativa e colegiada.
310. P rin cíp io s ju ríd ic o s — O s p rin cíp io s representam a consciência jurídica
do Direito. Podem ser concebidos pela m ente do cientista social ou m edrar no trato
diário da aplicação da norm a. C riados artificialm ente, não descuram , de sua parte,
razões pinaculares, diretrizes postadas no ápice, os valores etern o s da civilização,
entre os quais avullam os po stu lad o s fundam entais da liberdade, o prim ado dos
direitos h u m an o s, o dogm a da responsabilidade social e os preceitos da igualdade,
legalidade e da equidade.
Em su a m aioria, os princípios previdenciários reduzem -se aos fundam entos
do seguro social, ou seja, à obrigatória solidariedade existente entre a coletividade
apta em favor dos carentes de recursos para subsistir tem porária ou definitivam ente.
O exam e dos fu n d am entos do núcleo da técnica revela as bases da previdência
social.
Se a n o rm a fosse perfeita, eles seriam dispensáveis, m as a im pecável é a basea­
da em preceitos. C om o as leis ficam aquém da idealização, e possivelm ente nem
poderia ser diferente, sua aplicação reclam a a presença de prescrições superiores,
os princípios.
N ão se confundem com votos de intenções, co n d u tas com uns às declarações.
N ão são program as volitivos, os quais são ainda linhas m ais gerais e dificilm ente se
con su b stan ciam em fontes form ais de Direito. O s desideratos, p o r sua generalidade
e altitu d e, devem p erm anecer no cam po elevado das proposições. Tam bém não são
com an d o s positivados d eterm inados com vigência fixada, revogabilidade, anulabi-
lidade etc. N ão se su b m etem ao ord en am en to científico com o as norm as jurídicas.
O bservam elaboração m ais com plexa, desenvolvim ento e extinção segundo praxes
típicas e apenas assem elhadas às dos ditam es regulam enlares.
P or isso, os prin cípios, entidades do D ireito Previdenciário, são construções
vizinhas das form ulações filosóficas, delas provindo. E xteriorizam -nas e são suas
m anifestações m ais concretas, u m passo antes de se transform arem em in stitu to s
ju ríd ico s ou técnicas científicas.
Nesse sentido, os princípios fundam entais da liberdade, igualdade e legalida­
de, derivam de concepções filosóficas de m odo geral. Os do co n h ecim en to da lei,
da precedência do custeio e da irredutibilidade do valor, são su b p ro d u to s com a
m esm a origem . Mas o princípio (e, aliás, regra de interpretação) m ais significativo
do D ireito previdenciário, espelho de sua filosofia protetiva, é o in dubio pro misero.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

276 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
T omo II
Parte I. A b e r t u r a

P lano deste Es t u d o

D epois do Tomo 1 — Noções de Direito Previdenciário — , este C urso de D ireito


P revidenciário enfrenta desafio m aior: expor, não tanto ju rid icam en te , m as técnica
e p raticam en te, as p rincipais q uestões relativas à instituição protetiva.
C om o an tecip ad o naquele referido Tomo 1, para o leitor não p erd er a p ers­
pectiva e ter de recorrer a o u tro s volum es, algum as ideias e assuntos, até m esm o
tópicos, co m parecem ligeiram ente repetidos.
D esdobra-se este Tomo II — Previdência Social — em 109 capítulos, a seguir
explicitados. Basicam ente, a m atéria estã dividida em três grandes partes: 1 —
A bertura; II — F ontes de financiam ento; e III — Prestações.
C en trad o o interesse n u m item desses, deve o leitor para sua facilidade iniciar
a pesquisa lendo o índice, p ropositalm ente analítico, no q ual en co n trará o assunto
p rin cip al designado em um dos capítulos e o desdobram ento n o s 1080 tópicos.
a) Meios de proteção: Nos capítulos iniciais, são apresentadas visões p e rtin e n ­
tes às diferentes técnicas, ao sistem a nacional de proteção social, breve incursão
histórica e a experiência brasileira. Os dois prim eiros são teóricos e conceituais,
en q u a n to os restantes constituem levantam entos históricos, visando a ensejar a
seguridade social e a previdência social no contexto da realidade científica.
b) Previdência social: A previdência social é concebida com o veículo protetivo,
abord an d o -se seu co nceito legal e d o u trin ário , com breve perquirição da natureza
nu clear e, com o su p lem ento, suas características básicas. A ideia é p o star o in s tru ­
m ento entre os m eios de proteção concebidos pelo hom em sem p erd er a persp ec­
tiva do cenário brasileiro. E ncerra explanação preparatória para as considerações
p ráticas e de m aior interesse profissional.
c) Arcabouço administrativo: N um único capítulo, são descritos os vários or­
ganism os gestores da previdência social, exam inados nos seus diferentes níveis na
h ierarquia da A dm inistração Pública. Enfocados os entes públicos, as em presas
estatais e as divisões departam entais, cada u m deles com funções específicas na
su p erio r gestão d a organização. P articularm ente, quem é o cred o r de obrigações
fiscais (RFB) e dev ed o r das prestações (INSS).
d) Destinatários finais: Estão presentes e são considerados os beneficiários e
co n trib u in tes. Q uais os segurados obrigatórios e facultativos e até m esm o aqueles
não protegidos. O s d ep en d en tes, os sujeitos passivos — pessoas física e ju ríd ica,
de direito pú b lico e privado.

C u r s o d i ;. D ik e it o P r e v id e n c iá r io

T om o í í — P r e v i d ê n c i a S o c ia l
e) Relação com o gestor: A filiação e a inscrição das pessoas e a vinculação e
m atrícula dos co n trib u in tes são repassadas em quatro capítulos. N uanças form ais
e m ateriais, p róprias da inter-relação entre os organism os adm inistrativos e os di­
ferentes in divíduos ou firm as envolvidas em razão da previdência social.
J) Financiamento dos bens: Em bom n ú m ero de capítulos, são entrevistas as
diferentes fontes de custeio, global e individualizadam ente tidas (principais e aces­
sórias, dinâm ica das em presas e da co n trib u ição ), a seguir p orm enorizadas par­
ticularidades (profissionais liberais, contribuição rural, sociedades cooperativas,
co n stru ção civil, entidades beneficentes, g ratuidad e nas filantrópicas, m icroem -
presas, obrigações da Igreja etc.).
P articu larm en te, o aporte do facultativo e dos c o n trib u in tes individuais. N esta
divisão, capítulos im p ortantes: salário de contribuição, salário-base e as form idá­
veis inovações das Leis ns. 9.876/1999, 10.666/2003, 11.718/2008, 11.941/2009, e
LC ns. 123/2006 e 128/2008.
g) Valores em dinheiro: Ingressando na atividade-fim da previdência social, os
pagam entos co n tin u ad os, inicialm ente p o rm en o riz an d o sua essência teórica (pres­
tações em d inheiro, principais características, curso dos benefícios, apuração do
valor, concessão e m an utenção).
h) Direitos em espécie: São estudados 12 benefícios e abordados vários aspec­
tos relativos aos seus requisitos legais.
i) Serviços sociais: N um único capítulo, são desenvolvidos os m eandros rela­
tivos aos serviços sociais.
j) Tratados internacionais: F inalm ente, em apartado, com o faz a legislação, u m
capítulo sobre os acordos in tern acio n ais de previdência social.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

280 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
Capítulo XXXI

T ipo s de C obertura

S u m á r i o : 311. Defesa pessoal. 312. Sustentação familiar, 313. Cuidado religio­


so. 314. Atendimento público. 315. Seguro privado. 316. Garantia corporativa.
317. Assistência social. 318. Previdência social. 319. Seguridade social. 320.
Amparo total.

A concretização da verdadeira seguridade social — ainda distante — e o seu


futuro, rem o tam en te destinado à assistência total, pode ser sopesada visualizando-
se as diversas m anifestações da proteção, pessoais ou coletivas, organizadas e in ­
tentadas pelo hom em , das quais se vem servindo ao longo dos séculos, nos últim os
an o s e nos dias de hoje. Sua com preensão é facilitada q u an d o vista com o técnica
diferenciada e individualizada, cuja origem e algum as características provêm não
só de o u tro s m étodos, m as tam bém da evolução experim entada no curso do tem po.
C lassificada a previdência social com o o principal exem plo desses in stru m e n ­
tais, é de b o m alvitre situ ar h isto ricam en te o m odo pelo qual ela acabou prevale­
cendo. C o n trib u irá para personalizá-la e distingui-la de o u tras m odalidades.
Celso Affonso Garreta Prats sugere divisão particular, in clu in d o ferram entas
do m in an tes até 1800: a) família; b) vizinhos e instituições religiosas locais; c) com ­
panheiros de trabalho, p o r interm édio de associações profissionais; d) em pregador
ou p ro p rietário de terras, p rin cip alm en te em se tratan d o de servidores públicos, de
m arítim os e de vassalos (M anual de Previdência Social e Acidentes do Trabalho, São
Paulo: Atlas, 1971, p. 20).
Mais ou m enos na ordem d o seu desenvolvim ento histórico, os principais
m eios, com seus elem entos fundam entais, são expostos a seguir.
O p rim eiro estu d o foi feito p o r Celso Barroso Leite, para q uem é “o co n ju n to
das m edidas que, ten d o à frente a previdência social, p erm item à sociedade atender
a certas necessidades essenciais dos indivíduos que a com põem , isto é, de cada um
de n ó s” (A Proteção Social no Brasil, São Paulo: LTr, 1978, p. 21).
311. D efesa p esso a l — As form as pessoais de cuidado constituem -se de com ­
p o rtam en to s individuais, atenções para com o organism o, instintivas algum as e

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 1/ — P r e v i d ê n c i a S o c iti/
elaboradas outras, in clu in d o o uso de vestim enta e de habitação, preocupações
com a saúde, utilização de arm as de defesa corporal, provisão de alim entos e u te n ­
sílios dom ésticos, quase todos os procedim entos com caráter físico. Para co n to rn a r
a fúria dos elem entos, a caverna foi abrigo natural, o chapéu para sol e chuva, a
ro u p a para o frio, o tacape ou bordão para afugentar o inim igo ou anim ais.
N unca in teiram en te abandonadas, praticadas no dia a dia, pequenas lem bran­
ças com o so bretudo, boné, capa, luva, guarda-chuva e galocha, dinam icam ente,
são form as de segurança física.
A ntropológica e historicam ente, a possibilidade de se aproveitar a carne co n ­
gelada na neve, ou de o u tro produto, não consum ido an terio rm en te p o r exceder
a necessidade de então, deve ter ilustrado o hom em a arm azenar a sobra e dela
se u tilizar q u an d o carente do alim ento. N asciam os fundam entos elem entares da
po u pança, ideia p resente em toda a previdência social.
P rincipal recurso dos h om ens prim itivos no planeta, m ais tarde, se estendeu
aos m em bros da fam ília e a certos bens m ateriais. A p artir daí, sofisticaram -se os
m étodos, p rin cip alm en te no respeitante ao incipiente p atrim ônio. M uito m ais lar­
de, expressou-se com o en tesouram ento de m oedas, joias, bens de grande valor e,
envolvendo terceiros, as aplicações e os investim entos de capitais.
Os elem entos definidores são prim ários, lim itados, enq u an to individualiza­
dos, praticam ente restritos ao organism o, autogeridos e sem regulam entação. Pri­
m eira providência acionada pelo interessado. Não exige contribuição nem propicia
prestação (no sen tid o m o d ern o ), confunde segurado com seg u rad o r e identifica
essas ideias na m esm a pessoa.
Poupar, isto é, preservar o excesso de hoje, em bora inserida a m edida na
sociedade, é cautela individual desenvolvida qu an d o as condições econôm icas do
País o perm item . A dquirir bens rentáveis, co n tan d o com terceiros, é m eio de au-
toproteção de gran d e aceitação. Daí o crescim ento das caixas econôm icas, espécie
de bancos populares.
312. S u sten tação fam iliar — Técnica sofisticada em com paração com a an ­
terio r ela envolve p equeno agrupam ento hu m an o . C onjunção da iniciativa de
pessoas, prin cip alm en te entre p aren tes ou agregados, traduz-se num singelo, m as
eficaz plano de prestações, in clu in d o auxílios m útuos em din h eiro (em préstim os),
serviços m édicos pessoais, cessão de habitação, alim entação, vestuário, abrangen­
do o u tro s cuidados p ró p rio s da affectio societatis e da vida em família.
O elem ento n u clear previdenciário, se eleita a solidariedade e não a poupança,
tem seu berço no seio da família. C oncepção não m enos correia, situando-se com o
co m p o rtam en to in d iv idual — reter o excedente de hoje para a im prescindibilidade
de am an h ã — ou coletivo: quem p o d e m ais coopera com quem não pode. Am bas,
com suas particu larid ades, são veículos de am paro.
A obrigação dos pais de criar os filhos e o dever destes de cuidar dos genitores,
qu an d o idosos, é m anifestação de lealdade consanguínea, a base m ais recôndita do
prin cíp io da solidariedade social.

C urso df D ir e it o P r e v id e n c iá r io

282 W l a d im i r N o v a e s M a rtin e z
Um a vida em família é prática elem entar, circunscrita em com paração com a
sociedade, m as com o dito, am pla, qu an d o cotejada com a proteção pessoal, ab ran ­
gendo o ser h u m an o in serid o no grupo o u na com unidade, estribada na possibili­
dade de m ú tu a colaboração. G erida a técnica pelo chefe de família, observa algum as
n orm as civilistas, p ro p iciando diversos serviços, entre os quais a assistência m édica,
aten d im en to pessoal e pequena ajuda financeira tem porária.
O não filiado à previdência social ou sem reservas p ró p rias, em caso de preci­
são, apela, em p rim eiro lugar, para a família.
313. Cuidado religioso — Vetusto e útil auxílio não estatal, ju n ta m e n te com
a pública, a assistência religiosa é a base histórica da assistência social. C rescente a
p artir do C ristianism o e do seu dogm a de caridade, to rn o u -se co n d u ta de grande
im p o rtân cia p ara a civilização ocidental, não só n o cam po sanitário com o no reli­
gioso, ed u cacio n al e cultural.
Com a propagação das congregações, ordens e com panhias de serviço, d ifu n ­
diu-se a fé cristã aos cinco continentes, onde apoiou carentes ou enferm os, por
m eio de co nventos, hospitais, santas casas, leprosários, asilos, orfanatos, albergues
e escolas.
O bviam ente assistenciária, de gestão centralizada e privada, com pequena
co n trib u ição do interessado ou não, e circunscrita às disponibilidades da entidade
beneficente, de algum a form a regulam entada, atende às pessoas sem vínculo com
o trabalho, em m agnífico exem plo de solidariedade. Ela p ropicia alguns benefícios
m édicos, serviços sociais para crianças ou adolescentes e fornece alim entos a ido­
sos e m endigos, sem ajuda de órgãos públicos, gozando de im u n id ad e tributária
sem se co n stitu ir, necessariam ente, em direito subjetivo.
314. A ten d im en to público — Passo inicial da intervenção estatal — plena, com
a previdência social — , e com caráter ainda assistenciário, restrito plano de serviços
de saúde e oferta de alim entos, excluída a ajuda pecuniária, surgiu após a religiosa
(criação m ais antiga), a prim eira técnica social propriam ente dita de proteção.
A presenta o d ad o relevante de ser m o d alid ad e avançada, não d iretam en te
co n trib u tiv a, cifrada à discrição do p o d er público, efetivando-se m ed ian te in ú ­
m eras ações p erm a n en tes e tem porárias, de prevenção e aten d im en to s p osteriores
à inscrição. A d m in istrada in tegralm ente pelo Estado, sem vínculo com o trab a­
lho, positiv ad a co n stitu cio n alm en te, tem -se en ten d id o globalm ente não abrigar
o direito su b jetiv o d os indivíduos. O brigação patern alista, ela oferece atenção
m édica, serviços p essoais para crianças e idosos não d ep e n d en tes e, raram en te,
aju d a financeira.
315. Seguro privado — A ideia fundam ental do seguro consiste em certa
pessoa, p o r sua vo n tad e livre na esfera privada e forçada n o cam po p úblico, privar-se
m o m en tan eam en te de im portância em d in h eiro (form a de aporte, cham ado de
prêm io ), socialm ente reunida e responsável pela reparação de dano, previam en­
te descrito (na apólice), sofrido (sinistrado) pelo co n trib u in te o u pessoa p o r ele
designada.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o II — P revidência S ocial $


Os interessados agem assim , em grupo designado clientela, co n ju n to genérico
cujos requisitos são clarificados e exigidos aprioristicam ente, com a po n tu ação de
bem a ser reparado ou su b stitu íd o , deten d o capacidade de privação, e havendo
quem se in cu m b a de ad m in istrar os recursos financeiros e de os disLribuir, recom ­
p o n d o os prejuízos.
Um bem patrim o n ial é a coisa segurada; a im portância subtraída, o prêm io. A
su b stitu ição desse bem segurado e perecido cham a-se reparação. O ato de privação
é a prevenção, e quem reúne os prêm ios, o segurador.
O segurador é um e os segurados, com pondo o grupo protegido, m uitos. Para
ser possível o seguro privado, é preciso, em determ inado m om ento, a som a do valor
dos prêm ios ser capaz de reparar, nu m processo contínuo, bens segurados perdidos,
e ainda ser suficiente para estim ular a atividade do em preendedor com lucro.
Ele teve início q u ando com eçaram as grandes viagens m arítim as, cobrindo
em barcações e m ercadorias transportadas, co n tra os naufrágios e ataques de pira­
tas, ex p erim en tan d o grande desenvolvim ento na Idade M édia, na Itália dos Doges
e na Inglaterra. Em bora existam referências no m u n d o egípcio antes disso entre
os cameleiros.
T écnica m o d ern a, ainda em evolução, não obrigatória, entregue ã iniciativa
particular, baseada em cálculos biom étricos e dem ográficos. C oncebe a ideia atua­
rial de risco, clientela definida, cotização ú nica o u parcelada em m eses, prestação
de valor constante, regulada na lei, com concepções de segurado, carência, in d e n i­
zação, risco, sinistro, contingência etc. O bjetiva a co bertura de pessoas e os bens
destas. Prevaleceu historicam ente e ocupa extraordinário papel na vida co n tem ­
porânea, prin cip alm en te em relação a bens m ateriais, sendo auxiliar na realização
dos objetivos da previdência dita privada (C hile e Peru).
316. G a ran tia co rp o rativ a — O m u tu alism o profissional é sem elhante ao
seguro privado, com algum as diferenças. A clientela é definida a priori. H istorica­
m ente, protegeu p rin cip alm en te os obreiros e os artesãos. Há repetição m ensal de
prêm ios, aco n tecen d o o m esm o com as reparações, que são co n tin u as no tem po
(contribuições/benefícios). A sucessividade se explica pelo fato de o bem tutelado
ser o m eio de su b sistência do protegido.
D iferentem ente do seguro privado, exaurido o prêm io ou a indenização num
só pagam ento, nas sociedades corporativas sucedem -se os prêm ios — c o n trib u i­
ções — e as reparações, as últim as designadas com o prestações. O bem coberto
tam bém não é o m esm o. O bjetiva os m eios de subsistência do grupo, com posto
de m utualislas, expressão corresp o n d en te a segurados. Não há lucro; o escopo é
coletivo, pod en d o , assim , a m aior parte dos recursos se d estin ar socialm ente à
proteção dos participantes.
As características principais são: m odalidade atual, não obrigatória, dirigida
p o r particulares, baseada em cálculo atuarial, com ideias de evento d eterm in an ­
te das prestações (risco), filiação, inscrição, clientela previam ente definida, c o n ­
tribuição m ensal, período de carência, plano de benefícios e serviços co n tín u o s
(prestações), regulação estatal, destinada aos p articipantes e seus dependentes.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c íá r io

284 W lu d itn ir N o v a e s M a rtin e z


C erta verten te, desde sua criação, em 1702, em M adri, do M onte de Piedad,
é o m o n tep io , com a p articularidade de ser técnica aberta a indivíduos não com ­
p o n en tes de corporações ou gru p o s profissionais, geralm ente ad m in istrad as p o r
fundações e sem finalidade lucrativa.
317. A ssistên cia social — Da m esm a form a com o o seguro social (h isto ri­
cam ente, co n seq ü ên cia da ju n ç ã o do seguro privado com o m u tu alism o profis­
sional), a assistência social tem suas origens no aten d im en to público e religioso,
trad u zin d o -se n u m em preendim ento no qual a presença do p artic u la r é acentuada.
Os seus in teg ran tes são ou não protegidos pela previdência social. G eralm ente
co n stitu íd o s de in d ig entes ou hipossuficientes, desem pregados ou subem prega-
dos, carentes, idosos, deficientes, inscritos ou não nos órgãos p rom otores. Tam bém
dirige parte da atenção à saúde.
P raticam -na en tid ades estatais e privadas e, neste ú ltim o caso, p o r exem plo,
as de fins filantrópicos, recebendo subsídios do Estado. Im unes estas últim as à p ar­
te p atro nal da co n trib uição, a previdência social custeia p arte dos seus encargos.
A assistência social depende da capacidade econôm ico-financeira do prom o­
tor, re d u zin d o o rol dos serviços, geralm ente direcionados p ara necessidades m ín i­
m as, aten d im en to a idosos ou m enores carentes e a enferm iços.
O custeio é in direto; o das entidades privadas provém de terceiros, c o n tri­
b u in tes facultativos, g eralm ente m ovidos pela caridade religiosa. A dota sistem a
orçam en tário , e a relação ju ríd ica entre o p ro m o to r e o assistido, geralm ente, é
potestativa.
As prestações, co n stitu íd as de serviços e bens in natura, são básicas, ab ran ­
gendo principalm ente cuidados m édicos e alim entação; o fornecim ento de habitação,
salvo a tem p o rária, ou vestuário, é figura rara.
318. P rev id ên cia social — C om o antecipado, com binação do seguro privado
com o m u tu alism o profissional, técnica d o m in an te em todo o m u n d o m o d ern o e,
entre nós, ain d a com pinceladas de seguridade social, é expressão m arcante dos
m étodos pro tetiv o s do século XX.
Assinala-se a previdência social pela presença interveniente e gestora do Estado,
por interm édio de autarquias ou entes integrados na A dm inistração Pública (caso
dos servidores civil e m ilitar), conferindo-lhe com pulsoriedade, garantia e caráter
publicista.
O u tros m atizes im portantes são : significativa vinculação com o trab a lh o , sistem a
pluralista de fontes de custeio, contribuição incidente sobre vários fatos geradores
e planos de benefícios (m uitas vezes) am biciosos, geralm ente abarcando prestações
nitidam ente assistenciárias (v. g., LOAS, Síndrom e da Talidom ida etc.) ou outra
classificação (v. g., aposentadorias de ex-com batentes, seringueiros d a A m azônia,
anistiados, exilados, vítim as da hem odiálise de C aruaru, Césio 137 etc.).
A dota clientela definida, enfatizando o exercente de atividade rem unerada,
sem ating ir a to talidade da população obreira, absorvendo a filiação, e subm issão
às diretrizes atuariais.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r ío

Tom o II — P revidência S ocial


m
Em cim a de alto nível de solidariedade, adota plano de benefício definido e
regim e financeiro de repartição sim ples.
Propicia relação jurídica e atrib u i ao titu lar direiLo subjetivo às prestações.
C obre exclusivam ente a pessoa socialm ente considerada, sem visar ao patrim ônio.
O nível da técnica é científico e vital o valor. C om plem entada pela previdência p ri­
vada aberta e fechada, e co n stitu íd a de retribuição habitual para o servidor público.
In stru m en to do seguro social, com o qual tem bastante identidade, sendo
geralm ente co n fu n d id o s en tre si, é ferram enta da seguridade social.
Técnica sob cism a no alvorecer do terceiro m ilênio, encontra-se em e n c ru ­
zilhada diante de fenôm enos históricos, estru tu ra is e co n ju n tu ra is avassaladores.
São desafios an g u stian tes com o o desem prego institucionalizado, a inform alidade
das relações laborais, o crescim ento da expectativa de vida e a baixa natalidade,
experiências de privatização, dúvidas qu an to ao tipo de plano (contribuição ou
benefício definido) e regim e financeiro (capitalização ou repartição), obrigando a
nova discussão sobre o seu conceito e papel na sociedade m oderna.
319. S eg u rid ad e social — Técnica de proteção social sub seq u en te ao seguro
social, e dele form a evoluída, im plantada em raros países (onde geralm ente resulta
da reunião da previdência com a assistência social o u as ações de saúde). C om pre­
ende u m com pleto p lano de benefícios, seletivo e distributivo, arrolando p resta­
ções assistenciárias e serviços sociais custeados globalm ente por toda a sociedade
de co n sum idores, m ed iante exações tributárias ou não.
Sob o p o n to de vista da participação do beneficiário, q u an d o diretam ente a u ­
sente, é assistenciária, pois o custeio pessoal não sobrepaira, a despeito de a relação
ju ríd ic a ser plena e oferecer direito subjetivo às prestações. Todos contribuem na
m edida de sua capacidade de adquirentes. A clientela é ilim itada, abarcando toda
a população, sem distinção, desfeitas as concepções tradicionais de filiação ou
inscrição e inobservadas técnicas atuariais, com o carência ou regim e financeiro
de repartição ou capitalização. O plano de prestações dep en d e exclusivam ente da
econom ia do País e se m ede pelas necessidades h abituais do ser hum ano.
F inanciam ento in direto e unificado, realizado m ediante trib u to s e co n trib u i­
ções sociais recolhidos ao governo, entregue a gestão ao Estado, autarquizada ou
nâo e cogerida com os destinatários.
O objetivo principal continua sendo o indivíduo socialm ente tido, não se
esten d en d o ao seu patrim ônio.
Sistem a n acional universal e uniform e, m antém a hierarquia social dos salá­
rios e oferece prestações capazes de su b stitu ir inteiram ente a rem uneração, absor­
vendo em seu bojo a previdência com plem entar, privada ou pública.
320. A m paro to tal — A ssistência total ou bem -estar social final representa
institu ição inexistente; configura a plen itu d e da proteção social, o lim ite das ações
do Estado ten d en tes a acu d ir o cidadão. Nesse regim e providenciário, o indivíduo
tem aLendtdas todas as necessidades (ainda sem o esm agam ento da personalidade).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

28õ W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
É p raticam en te “em p reg ad o ”, sob governo capaz de prover a felicidade pessoal e
social, in clu in d o em prego, educação, transporte, cu ltu ra, esporte, habitação, as­
sistência m édica e lazer. G arantias oferecidas, a p a r de p erm itir às pessoas serem
p ro p rietárias de ben s im óveis ou objetos de valor, isto é, existência a um passo do
ideário co m unista e cristão.
São suas características: últim a técnica com preendida no regim e político e
econôm ico da livre-iniciativa, obrigatória para todos, in teiram en te em preendida
p o r E stado leviatânico e todo-poderoso, sem em basam ento atu arial e observando
sistem a orçam en tário de recursos, segundo a capacidade da econom ia, n e n h u m a
concepção de filiação ou inscrição, vínculo com o trabalho ou de prestações as­
sociadas aos ganhos do trabalhador, clientela total e indefinida, d estru id o ra da
hierarquia social, com prestações n o nível do ideal.

C u rso de D i r f .i t o P r e v id e n c iá r io

T o m o í í — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 287
Capítulo XXXII

P r o t e ç ã o S oc ial

321. Noção mínima. 322. Sistema Nacional. 323. Regime Geral. 324.
S u m Ar io :
Proleção do servidor, 325. Vantagens do parlamentar. 326. Técnicas implemen-
tares. 327. Direito do Trabalho. 328. Benefícios de terceiros. 329. Acompanha­
mento jurídico. 330. Pensões não securitárias.

O Sistem a N acional de P roleção Social é u m conglom erado de políticas gerais


e program as específicos, co nsum ado m ediante m edidas adm inistrativas e p artic u ­
lares de notável alcance e com plexidade.
D idaticam ente é reunião do Sistem a N acional de Previdência, de A ssistência
e de Saúde, co m p o n d o o da seguridade social, com m odalidades protetivas não
securitárias, laborais ou não, de variada e com plexa ordem .
321. N oção m ín im a — A diante, enquadra-se a previdência social com o técni­
ca de proteção social. De algum a form a, esta ú ltim a locução é considerada gênero,
a ela co rresp o n d en d o vários instrum entos.
Expressão consagrada na d o u trin a, designa propósito governam ental, im ple­
m en tad o pela iniciativa privada, de respeitável abrangência, logo, vítim a de im pre­
cisão term inológica. C onfundida com o bem -estar social, fórm ula adiantada, e com
a p rópria previdência social, um a de suas espécies.
Defini-la reclam a decan tar o seu alcance, e aí reside sério problem a. Cada
au to r pode circunscrevê-la a este ou àquele âm bito, sob distin to prism a, e, então,
diferirá a narrativa. M uitos a configuram com o u m enfeixado de ações estatais e
particu lares q u e visam a aten d e r às necessidades básicas das pessoas qu an d o estas
têm de enfrentar certas contingências da vida.
A proteção q u er dizer prevenção, cuidado, defesa, atuação co nducente a evi­
tar danos à pessoa, mas tam bém o aten d im en to de necessidades de variada gama.
Os m étodos realizadores assum em infinidade de soluções.
P roteção social é som a co m u n itariam en te conjugada de ações pessoais, a n ô ­
nim as ou identilicadas, solidárias e sistem atizadas. E xtrem am ente atraídas e defla­
gradas p o r sua finalística.

C urso d l D ir e ít o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o va es M a rtin e z
Ela p re ssu p õ e a necessidade in d iv id u a l ou social, isto é, a existência de
indivíduos (segurados, aten d id o s ou assistidos, enfim , os beneficiários) e de co n ­
dições p rev iam en te especificadas (risco, contingência e sin istro ), dep en d en tes da
cooperação. N u m país o n d e todos são autossuficientes, sem hipossuficientes, ela
é inexpressiva, m as tal nação inexiste, e as pessoas, em algum m o m en to da vida,
carecem b u sca r apoio externo.
M ediante os seus procedim entos, a proteção social é rede de program as co ­
locados à disposição de determ in ad o s m em bros e, em inúm eras circunstâncias,
executada conform e certas prestações.
D idaticam ente, p o d e ser decom posta em pelo m enos três níveis de am plitude:
a) sfricfo sensu; b) lato sensu; e c) senso am plíssim o.
R estritivam ente, é configurada nas m odalidades securitárias, abarcando a se­
guridade social e suas vertentes previdenciárias, assistenciárias e sanitárias.
A m plam ente, alarga-se com a adição de in stru m e n to s laborais, in clu in d o a
legislação trab alh ista e o u tro s direitos, com o o PIS-PASEP, EGTS, vale-transporte,
tíquete-refeição, tran sp o rte gratuito para m aiores de 65 anos e d esconto em m e­
dicam entos.
No sen tid o am plíssim o, avultam prom oções capazes de ensejar o bem -estar
do in d ivíduo, in clu in d o prom oção habitacional, m eios de locom oção, pleno em ­
prego, lazer, renda m ínim a etc.
À exceção do tran sp o rte, a cada u m a dessas atividades tem correspondido
algum a iniciativa do Estado ou do particular.
322. S istem a N acional — Em bora não o rdenado cientificam ente, o Sistema
N acional de P revidência Social com põe-se de regim es de direito público e de pla­
nos privados, estes ú ltim os divididos em abertos e fechados. O estatal, com a carac­
terística notável da publicização é o Regim e G eral de P revidência Social — RGPS,
filiando o b rig ato riam ente prestadores de serviços na iniciativa privada. C om pleta­
-se com o Plano de Seguridade Social dos C ongressistas — PSSC, e integra-se com
o regim e d o s servidores públicos civis e m ilitares da União, de cada um dos 26
Estados, com o tam bém do D istrito Federal, e aproxim adam ente 1.000 in stitu to s
previdenciários nos 5.564 M unicípios.
A previdência co m p lem en tar fechada abarca cerca de 360 fundos de pensão,
patro cin ad o s p o r 1.200 m antenedoras, cobrindo três m ilhões de participantes;
existem m ais ou m enos 140 co m panhias seguradoras ou entidades de previdência
privada aberta, com igual núm ero de associados.
Os dois p rin cip ais co n ju n to s de obreiros, dos celetistas e dos servidores (esta­
tu tário s ou n ão ), em p rincípio, são fechados, m as o RGPS adm ite q u alq u er pessoa
com m ais de 16 anos, na condição de facultativo, e o servidor sem regim e próprio.
O dos servidores, exclusivam ente para eles.
Esse un iv erso da iniciativa privada é dito geral, em b u tin d o regim e especial,
funcionando p aralelam ente ao regim e p ró p rio dos Estados e M unicípios.

C urso de D ik h it o P r e v id e n c iá r io

Tomo 11 — P revidência S o c ia l 289


0 sistem a é co n stitu íd o de regras p ró p rias aplicáveis à clientela definida,
com p reen d en d o m ultiplicidade de pessoas e situações com características com uns
(v. g., pertencerem à iniciativa privada ou serviço público, serem parlam entares
etc.). Em princípio, destinado apenas a esses segurados e aos seus dependentes.
Regime p ró p rio é convenção designativa do regim e relativo aos entes p o lí­
ticos, específico dos servidores estadual, m unicipal ou distrital, m as, claro, o da
iniciativa privada tam bém é p ró p rio (dela).
O regim e especial é o co nstituído de regras particulares aplicáveis a certas
pessoas (geralm ente servidores), incluídos no geral em razão de a exclusão do
regim e p ró p rio ou por este não existir (principalm ente em pequenos m unicípios).
Assim, regim e previdenciário é o co n ju n to sistem atizado de n o rm as legais
e praxes p ro ced im en tais, envolvendo clientela definida de pessoas, n o rm alm en te
su b m etid o à lei orgânica, na q ual são estabelecidas regras gerais e especiais, com o
tam bém , às vezes, com andos p ertin e n te s à com unicação entre si e, esparsam ente,
preceitos de su p erd ireito. Prevê fontes de custeio e diferentes benefícios, o regi­
m e financeiro, o tipo do plan o , além de algum as disposições de in terpretação e
princípios.
C ontagem recíproca de tem po de serviço é exem plo de norm a de superdireito,
m eio de interligação entre alguns dos regim es, m ediante o qual é possível som ar o
tem po de serviço de u m em outro.
De m odo geral, n o rm alm en te estanques, experim entaram desenvolvim ento
histórico separado, são referidos n o m in ad am en te o u não n a legislação. O principal
deles, o RGPS, já foi conhecido com o dos IAPs, urbano, da CLPS, do INPS, do INSS
e tam bém , sim plesm ente, da previdência social, ou, ainda, da iniciativa privada ou
dos trabalhadores. O dos servidores, frequentem ente em butido no seu E statuto,
co n ju n to de regras laborais e securitárias do trabalhador público.
Os regim es da previdência com plem entar fechada são designados “planos”.
C ada fundo de pensão, en tid ad e de previdência fechada ou fundação de seguri­
dade, com o conhecidos, estriba-se n u m Plano de C usteio e de Benefícios, a ele
co rresp o n d en d o o E statuto Social da entidade e seu R egulam ento Básico. Todos
su bm etidos à lei geral, decreto regulam entador e a norm as m enores do M inistério
supervisor (CNPC/PREV1C e CNSP/SUSEP).
Os abertos são em preendidos por sociedades anônim as ou com panhias se­
guradoras, em que são oferecidos planos individualizados o u em grupo, m uito
próxim o à ideia do seguro.
323. Regim e G eral — O RGPS é reunião de disposições aplicáveis às áreas
de filiação, inscrição, contribuição e benefícios. Foi estru tu ra d o praticam ente em
1960, com a LOPS e o D ecreto n. 48.959-A /1960, então designado com o R egula­
m ento Geral da Previdência Social — RGPS.
C om preende descrição da relação ju ríd ica de filiação e de inscrição, além de
estabelecer o regim e contributivo dos diferentes segurados obrigatórios ou facul­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

290 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
tativos e o das em presas sujeitas à exação securitária, urbanas ou rurais. Abarca,
com o atividade-fim , o plano de prestações, ou seja, benefícios e serviços postos à
disposição dos d estinatários.
Identifica-se com o sendo a su p erestru tu ra da previdência básica dos trab a­
lhadores da iniciativa privada, em que são preceituadas suas obrigações e os seus
direitos. C om o an tecipado, conhece regras gerais e especiais.
Trata-se de c o n tin en te fechado, autossuficiente, apenas co m u n ican d o -se com
ilhas p o r m eio de regras de superdireito, en tre as quais, a principal delas, a c o n ta­
gem recíproca de tem po de serviço. E ventualm ente, estabelece preceitos aplicáveis
fora de sua área de atuação, invadindo até m esm o o D ireito do Trabalho.
324. Proteção do servidor — O Sistem a N acional do Servidor P úblico é
com posto p o r u m regim e federal, um distrital, 26 estaduais e um a infinidade de
m unicipais. G eralm ente disciplinado em n o rm a laboral-securitária, caso do E sta­
tu to dos Servidores P úblicos Civis da U nião (Lei n. 8.112/1990).
N ão desfruta da generalidade do RGPS, d isp ondo exclusivam ente sobre os
servidores e d ep en d en tes, em suas relações com o Estado. Sofre a n ítid a influência
do Direito A dm inistrativo, em m atéria substantiva e, p rincipalm ente, adjetiva.
325. Vantagens do parlamentar — As Leis ns. 4.284/1963, 4.937/1966 e
7.087/1982 haviam criado, para os dep u tad o s federais e senadores, regim e fechado
de previdência social, ad m inistrado pelo In stitu to de P revidência dos C ongressis­
tas — IPC, em que são estabelecidas norm as próprias relativas à contribuição e aos
benefícios dos parlam entares.
A Lei n. 9.506/1997, extinguiu o IPC, a p artir de 1Q.2.1999, atrib u in d o as
obrigações su b seq u en tes ao Tesouro N acional, p o r interm édio da C âm ara dos D e­
p u tad o s e do Senado F ederal (art. l s). A p artir dessa data, eles p u d eram inscrever­
-se facultativam ente n o Plano de Seguridade Social dos C ongressistas — PSSC.
O PSSC prevê benefícios específicos, m uito assem elhados aos dos servidores
públicos da U nião (art. 2e).
326. Técnicas implementares — O seguro de vida e o contra acidentes é
técnica paralela, m ed iante a qual a pessoa im plem enta sua proteção. Insere-se na
ideia do seguro p rivado e é desenvolvido pela iniciativa privada p o r interm édio de
bancos e co m p an h ias seguradoras.
A adoção de cad erneta de poupança, aplicação em fundos de investim entos,
participação em ap o sentadoria-poupança etc. são outras m odalidades com plem en-
tares em franco crescim ento.
327. D ireito d o T rabalho — N o bojo e nas im ediações do D ireito do Traba­
lho, p o d em ser colhidas inúm eras técnicas protetivas paralelas às próprias norm as
trabalhistas. São exem plos o FGTS, o PIS-PASEP e o seguro-desem prego.
328. B enefícios d e terc eiro s — O em presariado organizou, p o r meio de e n ti­
dades p articulares, p o r ele geridas, destinadas ao trab alh ad o r e seus dependentes,
in ú m ero s serviços na linha da educação, treinam ento, profissionalização, lazer,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P revidência S o c ia l 291
recreação, colônias de férias, atividades culturais, shows de m úsica, program as para
a terceira idade, propiciados p o r organizações do tipo SESI, SESC, SENAI, SENAC,
SENAR, SEST e SENAT.
D epois de experiências particulares em em presas de distribuição de energia
elétrica, com o a CPFL, os diferentes planos de preparação para a aposentação fo­
ram encetados pelo SESC, onde, tam bém , o lazer e o aco m p an h am en to do pessoal
da terceira idade en co n traram o cadinho ideal.
329. A c o m p an h am en to ju ríd ic o — É com um o Estado m in istrar assistência
judiciária gratuita, sen do tam bém o caso do PRO CO N e do aten d im en to da OAB,
p o r estagiários de D ireito. Os órgãos de representação classista ensejam esse tipo
de serviço, o m esm o valendo para as associações.
330. P en sõ es não s e c u ritá ria s — Por pensões não securitárias designa-se a
prestação em din h eiro , o riu n d a do Estado ou (raram ente) do particular, destinada
não sistem ática e casu isticam ente a pessoas tidas com o m erecedoras de obter os
meios de subsistência em d eterm in ad as circunstâncias.
N orm alm ente, não têm natureza sub stitu tiv a, m as caráter retribulivo, p o r ve­
zes apresentando essência de indenização por danos causados à pessoa. Geralm ente,
com pensam esforços filantrópicos, benem erentes, dedicação à Nação, aos indíge­
nas (irm ãos Villas Boas), estoícos (ex-com batentes e seringueiros da A m azônia)
ou, em razão da hipossuficiência total da pessoa (S índrom e da Talidom ida), com o
prêm io ou ju sto jú b ilo . A ú ltim a a ser criada foi a pensão H em odiálise de C aruaru
(Lei n. 9 .422/1994), atribuída ao INSS, não se co n fu n d in d o com a Pensão Césio
137, a cargo do Tesouro N acional.
Os p articulares têm longa tradição na civilização, iniciando-se principalm ente
no m eio artístico, q u an d o m ecenas distinguiam certas pessoas com bolsas de es­
tudo ou m eios de m an utenção (v. g., Tchaikovsky, Baruch Spinoza e m uitíssim os
outros).

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W l a d i m i r N o v a e s M a rtin e z
Capítulo XXXIII

Es c q r ç o H ist ó r ic o

331. Preâmbulo sistemático. 332. Primórdios grupais. 333. Códigos an­


S u m á r io :
tigos. 334. Livros sagrados. 335. Fase greco-romana. 336. Período medieval. 337.
Viagens marítimas. 338. Sociedades m utualistas. 339. Otto von Bismarck.
340. Declarações internacionais.

É quase im possível resenhar a evolução da previdência social. Prim eiro, em


razão da infinidade de m edidas e instituições com variada gam a, quase todas as-
sistenciárias e precárias. Segundo, p orque nem sem pre aten d em esses eventos a
q u alq u er classificação m oderna das técnicas de proteção social, resu ltan d o em ten­
tativas frágeis e efêm eras, sem organização o u sistem atização. Pode-se, isso sim ,
ser colhidos, aq u i e ali, exem plos de tentativas particulares ou governam entais, as
quais, afinal, acabaram por derivar na técnica protetiva.
331. Preâmbulo sistemático — O desenvolvim ento das diferentes técnicas
de proteção, especialm ente as sociais, com vistas à consolidação da previdência
social, pode ser dividido em dois grandes períodos: a) pré-história, dos livros sa­
grados (Bíblia, Talm ud, C orão e o utros) e códigos (M anu, Doze Tábuas, H am urabi
e o u tro s), indo até 1883, em term os m undiais, e, brasileiros, até 1923; e b) história
p ro p riam en te dita, respectivam ente após O tto von Bism arck (A lem anha) e Eloy
M arcondes de M iranda C haves (Brasil).
A prim eira fase, com preendendo m odalidades securitárias assinaladam ente
assistenciárias ou m utualistas, tem algum as etapas configuradas: I) prim órdios gru­
pais; II) fase greco-rom ana até o C ristianism o; III) período m edieval; IV) viagens
m arítim as; e V) m utualism o profissional. N ão são interregnos estanques, m as tem -
poralm ente assinalados, às vezes, se sobrepondo, prevalecendo um as sobre outras.
N ão é a h istó ria da previdência social, pois esta, com o concebida m o d ern a­
m ente, conta-se da segunda m etade do século XIX, e a p artir daí é p o r dem ais co ­
nhecida. São m anifestações incipientes de atenção estatal ou particular, as últim as
m arcadam ente religiosas ou profissionais. P raticadas p o r associações, corporações,
grêm ios, p rim ó rd io s de sindicatos, irm andades, ho m ens reu n id o s em m ú tu a coo­
peração, geralm ente envolvendo certas ocupações organizadas.

C u r s o p h D i r e i t o P rf.v ipen c ii Ario


Tomo II — Previdência Social M3
C o n stitu em em briões da assistência pública e religiosa, precedentes da atual
assistência social, m uitas delas de curta duração, esfaceladas p o r m odificações im ­
postas pela econom ia ou política. Todas de ingresso facultativo e aten d im en to s m í­
nim os. A poiadas pelo Estado nu m e n o u tro m o m en to , perseguidas às vezes (com o
as corporações de ofício e as católicas, q u an d o de Lutero) desaguaram ou não em
outras in stituições protetivas, aperfeiçoando-se constantem ente.
C onheceram extraordinário im pulso a p artir da Revolução In d u strial, surgi­
m en to do proletariado e da m etropolização das cidades, qu an d o adquiriram feição
própria de proteger os pobres.
T ecnicam ente, a previdência social nasceu da conjugação da presença do Es­
tado (obrigatoriedade) com as ideias atuariais do seguro privado e dos m ecanism os
do m utualism o profissional.
332. P rim ó rd io s g ru p a is — A ntropologicam ente, especula-se sobre o p rim ei­
ro gesto protetivo p raticado pelo hom em , possivelm ente nas im ediações da caver­
na, h á 40 ou 50 mil anos, m ais ou m enos ao tem po da adoção da ag ricu ltu ra e do
sedentarism o: se de p o u p an ça (a carne excedente congelada pôde ser aproveitada
q u an d o não se dispôs, p o r força das circunstâncias, de o utros m eios de se alim en­
tar) ou de se abaixar para ajudar com panheiro ferido. Não será fácil classificá-la
com o técnica de proteção, m esm o a m ais prim itiva, para populações com expecta­
tiva de vida m édia de 18 anos...
333. C ódigos antigos — Segundo L uiz Felizardo Barros: “Nas três m ais rem o­
tas codificações de que a hum anidade tem notícia: C ódigo de H am urabi, 23 séculos
a. C., C ódigo de M anu, do século X III a. C. e, p o r assim dizer, m ais recentem ente,
na Lei das XII Tábuas, 330 a. C., vam os en co n trar eflúvios, os m ais antigos, das p re­
ocupações do hom em com as incertezas do porvir, com a possibilidade de faltarem
bens m ateriais que garantissem sua subsistência, até o final de seus dias; com a tran ­
qüilidade de sua vida terrena; da de seus descendentes, após o seu passam ento, e, in ­
clusive, q u an to à liberdade de legarem a estes m esm os descendentes ou a quem lhes
aprouvessem , os bens m ateriais que p orventura houvessem dos seus ancestrais”
(“D ireito aos Benefícios P revidenciários”, apud Affonso Alm iro, in “Teoria do Direito
Previdenciário Brasileiro”, Carta M ensal, de setem bro de 1984, n. 354, p. 9/18).
Em bora consignadas referências esparsas não verificáveis, subsistentes m an i­
festações em todas as civilizações iniciais, o registro escrito m ais antigo é o C ódigo
de H am urabi (1728-1686 a. C.), seguindo-se o C ódigo de M anu e a Bíblia Sagrada.
U m dos dogm as da religião de C onfúcio (C hina) e de B uda (ín d ia) era o am paro
aos pobres.
O C ódigo de H am urabi foi descoberto em 1902, p o r J. de Morgan, na acrópole
da capital elam ila de Susa, q u an d o se en co n tro u um a esteia de diorito negro cunei-
form e com 2,25 m de altura, atu alm en te localizada no M useu do Louvre.
O C ódigo tem vários artigos sobre ferram entas protetivas. Seu art. 24 diz: “Se
foi u m a vida (o que se perdeu), a cidade e o governador pesarão um a m ina de prata
para a sua fam ília”. U m a m ina de prata representava cerca de 500 gram as.

gjtgtfrap C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

294 W f a d i m ir N o v a e s M a rtin e z
No seu art. 148, colhe-se: “Se u m aw ilum tom ou um a esposa e esta foi acom e­
tida da doença labum e se ele decidiu esposar um a outra, ele p o d erá esposar, m as
não poderá re p u d ia r a sua esposa, que a doença labum acom eteu. Ela m orará na
casa que co n stru íram e ele a su sten tará en q u a n to ela viver.” Segundo E. Bouzon,
aw ilum era o hom em livre e labum um a espécie de febre contagiosa (O Código de
Hamurabi, P etrópolis: Vozes, 1976, p. 68). O art. 198 reza: “se alguém arranca o
olho de um liberto, m esm o acidentalm ente, deve pagar in d en ização ”.
O C ódigo de M anu, em conform idade com a lição de Wili Durant ( “H istória
da C ivilização”), d eterm ina a obrigação dos ju izes de exam inarem ex ofjicio os
acidentes o co rrid o s em suas jurisdições.
C onform e Albino Lima, o Faraó Q uéops estabeleceu punição para os c o n stru ­
tores de sua pirâm ide tu m u la r se ocorresse qu alq u er acidente com os trabalhadores
( “A Lei de A cidentes, H istórico, Preceitos N orm ativos e A lterações”, in Revista LTr
n. 36/451). Então, já existiam associações para auxílio recíproco.
334. Livros sagrados — A Bíblia Sagrada tem registro notável (verbete “A po­
sen tad o ria” no Estudo Perspicaz das Escrituras, São Paulo: Ed. Sociedade Torre
de Vigia de Bíblias e Tratados, 1990, p. 157). Ao designar os levitas (não eram da
fam ília sacerdotal d e A rão) para servir na lenda de reunião, sob a direção dos sa­
cerdotes, Jeová proveu o seu bem -estar. O rd en o u a Moisés: “Isto é o que se aplica
aos levitas. Da idade de 25 anos para cim a ele ingressaria na com panhia do serviço
da ten d a da reunião. Mas, depois da idade de 50 anos, retirar-se-á da com panhia
de serviço e não m ais fará n en h u m serviço. E ele terá de m in istrar aos seus irm ãos,
na tenda de reu n ião , cu id an d o da obrigação, m as não deve fazer n en h u m serviço”
(N úm eros 8:23; I C r 23:3).
Em N úm eros, C apítulo 4, é descrita a organização do serviço dos levitas. Ali
se declara deverem ser registrados, dos 30 aos 50 anos de idade. O u tra finalidade
da ap o sen tad o ria era d ar a todos os levitas a o p o rtu n id ad e de terem serviço no
san tu ário , p o rq u e apenas nú m ero lim itado era necessário (N úm eros 8:26).
N ão havia previsão de ap o sen tad o ria para os sacerdotes, os levitas da família
de Arão. Os ap o sen tad o s aos 50 anos não se retiravam de to d o o serviço. Podiam
servir volu n tariam en te.
A legislação m osaica, segundo M artin Buber ( “M oisés”, B uenos Aires: Ed.
Im án, 1949), citado p o r Albino Lima (ob. cit.), determ inava “que os ju izes exam i­
nassem as causas e os responsáveis pelos acidentes profissionais”.
Para Jefferson Daibert, o Talm ud teria disposições sobre p erd a de navios e obri­
gação d o s dem ais tran sp o rta d o res de se cotizarem para indenizar o p roprietário.
Para Elcir Castelo Branco ( “Segurança Social e Seguro Social”, São Paulo: Edição
U niversitária de D ireito, 1975, p. 53), na Lei de Rhodes havia regras de provisão
profissional. Fenícios e h in d u s difundiram técnicas relativas a em préstim os su b ­
m etidos a riscos. D istribuição de trigo a populares era co m u m na G récia antiga.
Segundo o livro “C hineses”, a m ais antiga pensão concedida pelo Estado é a de­
vida aos herdeiros de C onfúcio, paga sucessivam ente desde antiquíssim as dinastias.

C urso de D ir e ít o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P revidência S o c ia l 295
335. F ase greco-rom ana — Todos os autores m encionam os collegia gregos
e rom anos, bem com o as heterias, criadas p o r Teseu, em A tenas, agrupam entos
profissionais com fins m utualistas. Sào referidas, ainda, as ghíldcs e as eremitas he-
lênicas. As leis de Sólon previam subsídios aos inválidos, incapazes para o trabalho
e órfãos de soldados perecidos em guerra.
Russomano vê n o s collegia rom anos un ião de pequenos p ro d u to res e artesãos
livres (v. g., padeiros, açougueiros, pescadores etc.). A lude tam bém a instituições
orientais, de difícil com provação hodierna, associações laborais na índia, entre os
hebreus e os árias, todas com finalidades assistenciais. No Egito, possivelm ente, as
reuniões de pastores, agricultores, barqueiros e soldados podem ter tido algum tipo
de cuidado aos desvalidos ( “C urso de Previdência Social”, Rio de Janeiro: Forense,
1979, p. 1/28).
Feijó Coimbra, citan d o Oscar Saraiva ( “C oncepção A tual de S eg u rid ad e”, in
Revista In d u striário s, vol. 72, p. 3 ), rep o rta-se a Teofrasto (228 a. C .), n o qual
há referência às helades, “cujos m em bros co n trib u ía m para um fundo, à conta
do qual era p restad o so co rro aos c o n trib u in te s q u e viessem a ser atingidos pela
ad v ersid ad e” (“C u rso de D ireito P rev id en c iário ”, 2a ed., Rio de Janeiro: Ed. Tra­
balh istas, 1990, p. 18). Ela previa in stitu içõ e s de caridade (De Sacres Eccles —
1.15.17.19 e 22).
Raimundo Cerqueira A lly registra os soda/ifates rom anos, bem com o as fesse-
rarefrum etariae (u tilid ades), tesserare numerariae (dinheiro). A lei de Caio Graco,
em 123 a. C., d isp u n h a sobre a lexfrum etariae.
Os collegia e heterias entraram em declínio por volta do século 111 d. C., sendo
sub stitu íd o s pelas confradias e, p o steriorm ente, as diaconias, sob a influência do
C ristianism o. As confradias eram associações de assistência m útua, p ensando na
enferm idade e m orte, geralm ente levando o nom e de santo cristão. Podiam ser
grem iais, entidades fechadas para trabalhadores de um m esm o ofício, e gerais, ad ­
m itindo profissionais de variados ram os. F oram sucedidas, com o observa Patricio
N ovoaF uenzalida, pelas confradias-grêm io, com caráter duplo, associações organi­
zadas de representação de profissionais e program as de assistência.
As guildas, originárias de Flandres, proliferadas pela A lem anha e Inglaterra,
são referidas nas C apitulares C arolíngeas, de 779/89.
O C oncilio de A quisgrán, nos anos 816 e 836, m an d o u os conventos criarem
hospícios para p eregrinos e asilos para anciãos.
336. P erío d o m edieval — A um entam os sinais securitãrios n a Idade Média.
Na Lei Lom barda, o Édito de Rotário previa responsabilidade patronal pelo acidente
do trabalho, assinala De Litala (Longobardorum Legum — Livro I, Tomo IX, Lei IX,
in “D iritto delia A ssicurazione Sociale”, p. 26).
Feijó Coimbra cita, nas corporações de ofício, a dos peleteros de M arta, em
Paris. Segundo E. M artin Saint-I.eón, havia contribuições sem anais e benefícios
para os d o entes ( “H istoria de las C orporaciones de O fficio”, p. 172).

C d r s o d f- D ir e it o P r e v id e n c iá r io

296 W la d im ir N o va es M a r ti n e z
José Manuel Alm ansa Pastore refere-se às confradias religíoso-benéficas e às
confradías gremiais, com caráter m isto: m u tu alista e assistencial. D esenvolveram ­
-se e vieram a ser su cedidas p o r irm an d ad es de socorro e m ontepios. Javíer Juniken
tam bém as m enciona.
Eduardo M atarazzo Suplicy ( “S obrevivência”, in O Estado de S. Paulo, de
17.10.1995, p. A-2), rep ortando-se à renda m ínim a, faz referência a Thomas More,
au to r da “U to p ia”, seg u n d o o qual foi proposta e aplicada em 1526, n a cidade fla­
m enga de Bruges, m o dalidade assem elhada.
M arco significativo em m atéria de assistência pública dá-se na Inglaterra. Em
1531 e 1536, ed itaram -se leis cu id an d o dos m iseráveis e m endigos, consolidadas
em 1601, com a Poor Reliej Act (Lei de A m paro aos P obres), vigente até 1834. A
poor tax era co n trib u ição obrigatória dos lo n d rin o s para custear a assistência aos
pobres. T écnicas assistenciárias (w orkhouse, poorhouse, dépôts de mendicité) eram
m oda no século XV1I1, iniciando influência inglesa exercida até a Segunda G uerra
M undial (W illiam Beveridge).
P o rtugal con h eceu hospitais, hospícios, gafarias e albergarias do século XII ao
século XV, por iniciativa da nobreza p ró sp era ou de clérigos, de ordens religiosas
ou m ilitares, de confrarias e de corporações de m estres. U m as dessas instituições,
as m ercearias, cuidava de m ulheres idosas, designadas com o viúvas m esm o sem o
ser, se não tivessem recursos. M onarcas, conselhos m unicipais e particulares ricos
faziam doações para custeio dessas instituições. D iante dos abusos, D. Diniz insti­
tu iu o P rovedor das Ceplas, H ospitais, C onfrarias e A lbergarias, para fiscalizá-las,
o m esm o se v en d o na O rdenação A lfonsina de 1446.
Não há certeza sobre qual teria sido a prim eira Santa Casa. Alega-se a criação, em
Portugal, em 1484, pela Rainha Leonor, m ulher de Dom João II, do prim eiro hospital
term al do m undo, nas Caldas da Rainha. A ela tam bém se devem as Irm andades da
M isericórdia, em 1484, em Lisboa. Para se ter um a ideia da assistência médica, Dom
João II reuniu todos os 43 hospitais de Lisboa no H ospital Real de Todos os Santos.
As Irm an d ad es de M isericórdia, m ais tarde Santas Casas de M isericórdia,
ab sorveram as confrarias, m ercearias, albergarias e hospitais gerais. C om o seu
crescim en to , acabaram in cu m b in d o -se de to d o s os h o sp itais de P ortugal. Dom
M anuel I in stitu iu novas entidades em Porto, Évora, C oim bra, Setúbal, Santarém
e m uitas o u tras cidades e vilas lusitanas, estendendo-se ao Brasil, Argentina, índia e
M acau ( “S egurança Social em Portugal, Evolução e Tendências”, de Fernando M.
Maia, Lisboa, 1984).
Os italianos atrib uem -na à cidade de F lorença, em 1350 ou 1244 ( “Séculos de
F ila n tro p ia”, in Revista ANF1P n. 49, p. 17). Os historiadores da A m érica contam
ter Flernán C ortez m an d ad o construir, no M éxico, em 1521, o p rim eiro h ospital da
Am érica. Há referência a o u tro nosocôm io, no C anadá, nessa m esm a época e, com
certeza, a Santa Casa de M isericórdia de Santos foi fu n d ad a em 1543.
Patrício Novoa Fuenzalida anota sistem a de proteção inca, possivelm ente origem
das Cajas de Comunidad.

C u rso de D i r p it o P b e v id ü n c iá r io
Tomo II — Previdência Social 297
O C ódigo das M inas, de C olônia (1669), segundo Jefferson Daibcrt, previa
a criação de caixa financiada em parte pelos trabalhadores, cuja finalidade era
am pará-los na invalidez, velhice e m orte (Direito Previdenciário e Acidentário do
Trabalho Urbano, Rio de Janeiro: F orense, 1978, p. 67).
Nào podem ser ignoradas as cajas de ahorros populares. U m a delas, a M onte
de Piedade, foi criada em 1702, em M adri. D esenvolveram -se com o bancos no
M éxico e no Brasil, com nom e de Caixa E conôm ica. Nossa CF de 1824 m enciona
os seguros m iituos (art. 124).
É preciso não esquecer o M ongeral (10.1.1835), instituição privada existente
até os dias de hoje, com legislação m oderna para a época, classificável com o m o n ­
tepio pelos critérios atuais.
No século XVIII, com eçam a ser d ifundidos os M ontes de Piedade ou M on­
tepios, p articu larm en te para os servidores públicos, civis e m ilitares, organizados
pelo E stado ou por particulares. Joseph Adam (Elementos da Teoria Matemática de
Seguros, Edições Mafre do Brasil, Rio de Janeiro, 1987, p. 13), co n tan d o a história
do conceito clássico de probabilidade, diz terem surgido no século XVIII, na F ran ­
ça, com a in tenção de as pessoas ganharem nos jogos de azar.
Jefferson Daibcrt alude a caixas de socorro m útuo, entre as quais a Corpus
Juris saxonici, de 1493, d ispondo sobre “a obrigação patronal de prestar assistência
m édica e garantia aos trabalhadores de um salário equivalente a quatro sem anas,
desde que fossem vítim as de acidentes, do m esm o que se socorriam tam bém , os
inválidos” (ob. cit., p. 66).
As corporações de ofício, p ro tó tip o s dos sindicatos atuais, surgiram a partir
do século XII, na Itália (compagnia), F rança (confréries), A lem anha ( innungen),
Espanha (grêmio) e Inglaterra (friendly society). Sofreram grande abalo com Turgot,
na F rança, em 1776, às vésperas da R evolução Francesa.
Receberam o golpe final com a Lei C hapelier (14.7.1791). O C ódigo Penal de
1810 consid ero u crim e a organização sindical e a greve.
Dizia aquela ú ltim a norm a: “As assem bleias ap resentarão à M unicipalidade,
para o bter autorização, m otivos especiais; elas se dizem destinadas a buscar socor­
ros para os obreiros de m esm a profissão, enferm os ou desem pregados; estas caixas
de socorro parecem úteis, porém não se há de equivocar com esta afirm ativa; é a
N ação e são os fu n cionários públicos, em seu nom e, a quem corresponde propor­
cionar trabalho a quem dele necessita para sua existência e socorros aos enferm os.”
Almansa Pastore registra as ideias assistenciais de L uiz Vives y de Ward, na
Espanha, de 1778, a favor de obreiros pobres, desocupados, enferm os e convales­
centes ( “D erecho de la SeguridacI Social”, p. 109).
O “Libro Blanco da la Ju b ilació n ” ( “C olección Seguridad Social”, Ed. M inis­
tério dei Trabajo y de la Seguridad Social, M adri: 1994, p. 28/29) assinala alguns
m om en to s im p o rtan tes na França: em 1681, criação de plano de aposentadorias
para m arítim os, p o r iniciativa de C olbert. Em 1790, regim e para funcionários do

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

298 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Estado e m ilitares. Em 1806, sistem a de aposentad oria no Banco da F rança. Exis­
tem registros a favor de trabalhadores de La Comédie Française et YOpéra (1812).
Em 1824, para os em pregados da Im prensa N acional.
Manoel Sebastião Soares Póvoas ( “Previdência P rivada”, Rio de Janeiro: Ed.
F un d ação Escola N acional de Seguros, 1985, p. 6) registra, em 1712, na Inglaterra,
sistem a de ap o sen tad o ria para os servidores públicos “em que eram cobradas dos
fu n cionários contrib u ições, de onde saíam os benefícios pagos, isto é, ob serv an d o ­
-se o regim e financeiro que hoje cham am os de repartição”.
Ele ainda assinala, nos Estados U nidos, em 1857, em New York, program a
de ap o sen tad o ria para polícia, o p rim eiro a cobrir funcionário n aquela cidade. Em
1875, a Am erican Express Co. estabelece o prim eiro plan o de aposentadoria não
co n trib u iária. Em 1880, a Baltimore & Ohio Rail-Road Co., o p rim eiro com divisão
de encargo. Em 1892, a U niversidade de C olúm bia cria aposentadoria para os pro­
fessores priv ad o s e em 1893, para professores públicos (ob. cit., p. 11).
Na Inglaterra, em 1870, a Cas Líght and Coke Co. im p lan ta aposentadoria para
os seus em pregados.
Lei de 27.9.1895, n a França, estatuiu as regras para a caixa de socorro m útuo.
Em 1908, na Inglaterra, Lei dc Pensão p o r Velhice, para os septuagenários (Old Age
Pensión Ací), resu ltan d o em 25 pences.
S egundo Albino Lima (ob. cit.), no ano de 1825, José Bonifácio de A ndrada e
Silva ap resen to u p ro jeto de lei p o r meio “do qual se vedava trabalhos insalubres e
dem asiados a escravos m enores de 12 anos, velava pela saúde de escrava grávida
ou depois do p a rto ”.
Na Bahia, em Salvador, no século XVI, os jesu ítas m ontaram a Água dos M e­
ninos, destin ad a a ed u car e recolher crianças órfãs, com co n trib u içõ es particulares
e legados.
337. V iagens m arítim as — Os prim eiros povos a se preocupar com o risco do
patrim ônio, principalm ente no caso de longas viagens p o r terra ou mar, foram os he-
breus e fenícios, q u an do tinham de atravessar planícies da Palestina, Egito e Arábia.
Na G récia Clássica, n o século IV a. C., conform e inform a Alexandre L u zzi Las
Casas (“M arketing de Seguros”, Iglu E ditora, SP, 1988), havia entre os m ercadores
os bottomry bones, ad ian tam en to em din h eiro para o p ro p rietário do navio d u ran te
a viagem . Na R om a antiga, praticava-se o seguro de vida anual com propósitos
legais, baseado em estim ativas.
Portugal foi u m dos prim eiros países a legislar sobre o seguro. Ronaldo Bel­
monte vê o seu n asced ouro em 1344 ( “O brigações das E m presas ju n to à P revidên­
cia Social”, São Paulo: LTr, 1996, p. 27). A prim eira co m p an h ia de seguros contra
riscos m arítim os in stalou-se no reinado de Dom F ern an d o (1367-1383). U m a Casa
de Seguros, de Lisboa, surgida p o r alvará de 11.8.1791. A Caixa de Incêndio da
C idade de H am burgo, na A lem anha, co n stitu íd a em 1676. Em 1651, cem fábricas
de cerveja un iram -se para proteger-se coletivam ente co n tra o fogo.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I I — P r e v id ê n c ia S o c ia l 299
A proteção co n tra incêndio surgiu n a Inglaterra, com a Fire Office, em 1680.
Em 1683, foi criada a Firendly Society. Em 1696, a Amtcable Contributors fo r Insu­
rance from Loss by Fire.
Edward Lloyd, p ro p rietário de café na Tower Street, em Londres, em 1691, lo­
cal de enco n tro entre seguradores e corretores, d eu início à técnica do seguro. Em
1870, foi feito o registro de navegação para a Society o f Underwriters at Lloyd’s Coffe
Flouse, origem do g ru p o Lloyds.
No Brasil, a p rim eira com panhia autorizada a fu n cio n ar foi a C om panhia de
Seguros Boa-Fé, com sede n a Bahia, criada em 24.2.1808. Em 29.4.1828, Dom
P edro I perm itiu o fu ncionam ento da Sociedade de Seguros M útuos Brasileiros,
destinada ao seguro m arítim o.
338. S o cied ad es m u tu a lis ta s — No Chile, V ictor Laynez funda a Sociedade
Tipográfica, decaindo som ente em 1924.
R udolf Aladar Métall reclam a prim azia para a Á ustria, em 1854, criadora de
seguro co n tra doença, invalidez e velhice para os trabalhadores em m inas ( “P ro­
blem as A tuais do Seguro Social”, Rio de Janeiro: Ed. C oelho Branco, 1944, p. 158).
Mas, na França, desde 1790, havia aposentadoria destinada aos servidores do Es­
tado; em 1806, foi criada espécie de pensão para o Banco F rancês e, com certeza,
em 1831, para os m ilitares.
339. O tto v on B ism arck — Em 13 de ju n h o de 1883, na A lem anha, é im p la n ­
tado o seguro-doença ( krankenversicherung); em 6.7.1884, a proteção acidentária
(unfallversicherung); e, em 22.6.1889, o seguro contra invalidez e velhice (invali-
ditàt und alterversicherung).
A p a rtir daí, a previdência social expandiu-se rapidam ente. Em bora sejam
discutíveis os critérios de definição, teriam sido criados planos previdenciários na
Á ustria, em 1888. França, em 1890. Itália, em 1898. Á ustria e H ungria, em 1891.
N oruega, em 1909. L uxem burgo, em 1901. E spanha, em 1908. Irlanda e Suíça,
em 1911. Com W illiam Lewery e Lloyd George, na Inglaterra, em 1911 (National
Insurance A c t). Rom ênia, em 1912. Suécia e H olanda, em 1913. E stônia, em 1917,
Tcheco-Eslováquia, em 1919. U nião Soviética, lu g o s lá v ia ja p ã o e Grécia, em 1922,
Bélgica, Itália e L ituânia, em 1925. D inam arca, em 1933. Estados U nidos, em 1935.
Nova Zelândia, em 1938.
Com a prim azia m exicana em term os constitucionais (1910), desenvolveu­
-se na Am érica Latina: A rgentina, 1922; Brasil, 1923; Equador, 1935; Peru, 1936;
Panam á, 1941; Paraguai, em 1943; R epública D om inicana, 1947.
E m bora quase sem pre precedida de leis sobre acidentes do trabalho (caso do
Brasil, em 1919), não é fácil afirm ar qual o m om ento de instituição da prev id ên ­
cia social latino-am ericana. Em todo o caso, engana-se Patrício Novoa Fuenzalida
q u an d o assevera ter sido o Chile o prim eiro país a criã-!a, em 1924.
340. D eclarações in te rn a c io n a is — A C onstituição da F rança de 1848 previa
proteção a necessitados (art. 13).

C urso de D ir f it o P r e v id e n c iá r io

300 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Art. 21 da D eclaração dos D ireitos do H om em , de 1789: “Os socorros p ú b li­
cos são um a dívida sagrada. A sociedade deve a subsistência aos cidadãos infelizes,
seja lhes forn ecen d o trabalho, seja assegurando os m eios de existência àqueles que
não estão em condições de trab alh o ”.
A p a rtir de 1941, com a C arta do A tlântico d ispondo sobre a seguridade
social, m u itas declarações internacionais passam a discorrer sobre a m atéria.
A D eclaração de Santiago do C hile, de 16.12.1942, resu lto u da P rim eira
C onferência Interam ericana de Seguridade Social.

C urso d e P ir f . i t o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 301
Capítulo XXXIV

E x p e r iê n c ia B r a s ile ir a

S u m á r i o : 341. Pré-história. 342. Lei Eloy Chaves. 343. Práticas anteriores. 344.

Início da filiação. 345. Principais entidades. 346. Domínio rural. 347. Aciden­
tes do trabalho. 348. Disposições normativas. 349. Instituições correlatas. 350.
implantação dos benefícios.

A história da previdência social, q u an d o seu conceito estiver estratifícado e


decantado, é tarefa reclam ando paciente h isto riad o r e pesquisador, além de m e­
lódico cientista e observador, pois terá de o p tar p o r esta o u aquela data ou in sti­
tuição. D ecidir se foi o D ecreto Legislativo de 1919 ou o de 1923 que a batizou,
posicionar o n ascim en to da previdência particu lar (1835) com o antecedente da
estatal e assim p o r diante.
341. P ré-h istó ria — Divergem os historiadores q u an to à data da im plantação
da previdência social brasileira. Em term os legais, o M ontepio de Beneficência dos
Órfãos e Viúvas dos Oficiais da M arinha (2.9.1795) é o registro m ais antigo. Amauri
Mascaro Nascimento co nsidera o Decreto Legislativo n. 3.724, de 15.1.1919, a p ri­
m eira lei protetiva com caráter previdenciário. Para M ozart Victor Russomano é
24.11.1888 (C aixa de Socorros para F erroviários), com a Lei n. 3.397. Os critérios
variam co n so an te concepções subjetivas.
C om o se verá adiante, q uando Eloy Marcondes de M iranda Chaves propôs o
Projeto de Lei resu ltan te no D ecreto Legislativo n. 4.682/1923, o País já conhecia
experiências reais e algum as até abrangentes. U m a delas, de im portância histórica
e precognitiva, é o tantas vezes m encionado M ongeral (10.1.1835).
À vista do d esenvolvim ento p o sterio r e da estru tu ra ju ríd ica da lei, realm ente,
24 de janeiro de 1923 pode ser escolhida a data de sua instituição ou, pelo m enos,
ser considerada a da p rim eira lei a regrar sistem aticam ente o assunto.
342. Lei Eloy C haves — No com eço do século XX, o eixo Rio-São Paulo a n ­
dava agitado p o r greves e m ovim entos populares. Lem brava as dificuldades de
B ism arck, na bacia do Rhur, A lem anha, quarenta anos antes. Evaristo de Moraes
( “A p o n tam en to s de D ireito O p e rá rio ”, São Paulo: LTr, 1971, p. 11) e Warren
Dean (“A Industrialização de São Paulo (1 8 8 0 /1 9 4 5 )”, 2a ed., São Paulo: Ed. Edifel,
p. 163/92) retratam essa passagem m eio anarquista da nossa história.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W lü í / i m i r N o v a e s M a r t i n e z
W illiam John Shddon, engenheiro da São Paulo Railway — SPR, depois Estrada
de F erro S antos-Jundiaí, hoje FEPASA, em 1919, q u an d o foi ao Chile, e passou
pela A rgentina, p ara o bservar o sistem a de crem alheira, a ser ad o tad o n a Serra do
Mar, em Santos, tro u x e a lei p o rten h a (caja de jubilaciones), recentem ente aprova­
da, e con seg u iu publicá-la no jo rn a l “O E stado de S. P aulo”.
F o rm o u -se um a C om issão pró-Lei d e A posentadoria e Pensões de E m pre­
gados e O p erários Ferroviários. A prim eira reunião aconteceu em 7.9.1920, em
Ju n d iaí, sendo eleito presidente C harles T. C hapm ann, co n tad o r da SPR. P artici­
param desses esforços iniciais Francisco Pais Leme M onlevade, Inspetor-G eral da
C o m p an h ia Paulista de E strada de Ferro; P V. C avalheiro, Secretário da m esm a
ferrovia; N. A layon, ajudante chefe de tráfego da SPR; P. C olbertt, alm oxarife da
SPR; A. Lessa, C hefe da Seção C om ercial da SPR; E. E C am pos, chefe de tráfego
da SPR; e, Adolfo Pinto, l e Inspetor-G eral da C om panhia Paulista.
Em 6.10.1921, o D eputado F ederal perrepista de São P aulo, Eloy M arcondes
de M iranda C haves apresentou o Projeto de Lei n. 446/1921, em 1922 sob o n.
362/1922, aprovado na C om issão de Legislação Social em 26.12.1922 e, finalm en­
te, na C âm ara dos D eputados, em 30.12.1922, sancionada pelo P residente A rthur
da Silva B ernardes em 24.1.1923, seguindo-se as assinaturas dos M ins. M iguel
C alm on d u Pin e A lm eida e Francisco Sá. A publicação saiu no DOU de 28.1.1923,
com alterações em 14.4.1923.
Em 1921, na C âm ara M unicipal de Ju n d iaí, Eloy Chaves disse: “À áspera luta
de classes, figurada e aconselhada pelos espíritos extrem ados ou desvairados por
estran h as e com plicadas paixões, eu a n tep o n h o , confio no seu êxito total, a co­
laboração ín tim a e pacífica de todos, em benefício da p átria co m u m e dentro da
o rd em !”.
N asceu em P in d am onhangaba, a 27.12.1875, filho do Cel. José G uilherm e de
M iranda C haves e de D. C ândida M arcondes de M iranda C haves, m as desenvolveu
sua vida p ú blica em Ju n d iaí, onde foi erguida herm a em sua hom enagem e recebeu
o títu lo de cidadão, em 14.12.1960. Veio a falecer em 19.4.1964.
H avia-se form ado em C iências Jurídicas, em 2.1,1896, na F aculdade de Di­
reito do Largo São Francisco, e, em 1902, com apenas 27 anos, foi eleito d ep u ta­
do federal. Em 18.1.1897, assum iu a P rom otoria em Ju n d iaí, o n d e se casou em
30.7.1889, com do n a A lm erinda M endes Pereira. Sua vida e trajetória política são
con tad as p or Hermes Pio Vieira ( “Eloy C haves, P recursor da P revidência Social no
Brasil”, Rio de jan eiro : Ed. C ivilização Brasileira, 1978).
A Lei Eloy C haves, im plem entada pelo D ecreto Legislativo n. 5.109/1926, é
resultado de esforço iniciado no século an terio r com a Encíclica Rerum N ovarum
(15.5.1891). Infelizm ente, nossa Lei M aior de 1891 não p ô d e aproveitar os ensi­
n am en to s e a influência benéfica contidos nesse m agnífico d o cum ento. A C onsti­
tuição m exicana de 1910 e a alem ã, de W eim ar (1919), en tre tan to , inspiraram os
nossos co n stitu in tes, e, em 1926, transform am os a nossa C arta M agna, de política-
-in stitu cio n al em social-dem ocrática.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o H — P r e v id ê n c ia S o c ia l 303
Hm seu ari. l s , o D ecreto Legislativo n. 4.682/1923 au to rizo u a criação, em
todo o País, de Caixas de A posentadoria e Pensões, em cada u m a das ferrovias, para
os seus em pregados (definidos com o operários p restando serviços nu m a m esm a
em presa p o r m ais de seis m eses). Im p lem en tan d o as experiências anteriores, a
proteção social era estendida a praticam ente todos os ferroviários.
Exigia co n trib u ição m ensal de 3% sobre os vencim entos, p o r parte dos em pre­
gados, e p atro n al, anual, de 1% sobre a renda b ru ta da em presa. O utras fontes eram
adm itidas, com o au m en to nas tarifas de 1,5%, origem da Q uota de Previdência. In ­
troduziu a joia, espécie de entrada, co rresp o n d en te a um mês de salário e paga em
dois anos, além de co n tribuição adicional, igual à diferença de salário da prim eira
prom oção, igualm ente am ortizável em vinte e quatro m eses. E, curiosam ente, o
valor da venda de papel velho e varreduras.
O plano de benefícios previa: a) aposentadoria ord in ária e p o r invalidez; b)
pensão p o r m orte; c) assistência m édica para os beneficiários; e d) m edicam entos
a preço reduzido. A posentadoria ordinária era concedida ao em pregado com m ais
de 30 anos de serviço e m ínim o de 50 anos de idade.
De acordo com Paulo Queiroz Andreoli, o p rim eiro aposentado foi B ernardo
G onçalves, já em 1923 ( “50 Anos das Antigas C aixas ao INPS", in O Estado de S.
Paulo, de 28.1.1973).
343. P rática s a n te rio re s — Os principais m o m en to s anteriores podem ser
lem brados.
Um Alvará Régio português, datado de 22.11.1684, regulam entou o seguro
privado aplicável ao Brasil.
As regulações da Casa de Seguros de Lisboa, de 11.8.1791, regraram o seguro
privado.
O M ontepio dos Ó rfãos e Viúvas dos Oficiais da M arinha, de 2.9.1795, leva
a assinatura do P ríncipe Dom João, no Palácio Q ueluz, em Lisboa, vindo a ser
prim eiro diplom a legal.
Lei sem nú m ero , de 24.2.1808, au to riz o u a C o m p an h ia de Seguros Boa-Fé,
na Bahia, a funcionar. C arta Régia de 24.10.1808 aprovou resolução do G overna­
d o r e C apitão-G eneral da ex-C apilania H ereditária da Bahia, sobre a C om panhia
de Seguros C onceito Público, a fu n cio n ar no Rio de Jan eiro , a p artir de 5.2.1810.
Em 24.1.1828, deu-se perm issão de fun cio n am en to para a Sociedade de Socor­
ros M ú tu o s Brasileiros. Registros v etu sto s dão conta de Dom Pedro I, P ríncipe
Regente, ter in stitu íd o , em 1Q.10.1821, ap o sen tad o ria para m estres e professores
aos 30 ano s de serviço, e abono de 25% da rem u n eração para quem continuasse
trab alh an d o (sic).
N ossa C onstituição Federal de 1824, em seu art. 179, XXXVI, dita: “A C ons­
tituição tam bém garante os socorros pú b lico s”.
A Lei O rgânica dos M unicípios de São Paulo, de l e. 10.1832, cuidava de casas
de caridade para aju d ar expostos (abandonados) e doentes.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

304 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
Em 1834, foi criada a Sociedade M usical de Beneficência.
O dia 10.1.1835 é m arco extraordinário: criação do M ontepio G eral de
E conom ia dos Servidores do E stado — M ongeral.
Em 1838, su rgiu a Sociedade A nim adora da C orporação de O urives.
O C ódigo C om ercial (Lei n. 556/1850) disciplinou o seguro m arítim o (arts.
6 66/684). Seu art. 79 trata do acidente do trabalho, prevendo salários p o r três m e­
ses. O R egulam ento n. 737/1850 regrou o assunto.
U m a fiscalização das com panhias de seguro foi au to rizad a pelo D ecreto n.
2.679/1860. O D ecreto n. 2.711/1860 trato u de m ontepios e sociedades de socor­
ros m ú tu o s. C oncebia auxílio p erm an en te para velhice e auxílio tem p o rário , para
os casos de incapacidade total ou parcial, decorrentes de acidentes ou enferm idades.
A Lei n. 2.556/1874 tratou da jubilação no Exército.
A ap o sen tad o ria aos em pregados dos correios e telégrafos foi assegurada pelo
D ecreto n. 9.912-A /1888. A Lei n. 3.397/1888 criou a Caixa d e S ocorros para as
E stradas de F erro do Im pério. O D ecreto n. 10.269/1889 organizou a Caixa de P en ­
sões dos O perário s das Oficinas da Im prensa N acional — CAPOIN, em 17.10.1917,
transform ada em CAPIN (D ecreto n. 12.681/1917). Teve início a aposentadoria
para os em pregados da E strada de F erro C entral do Brasil (D ecreto n. 221/1890).
O D ecreto n. 942-A /1890 disciplinou o M ontepio O brigatório dos E m pregados do
M inistério da Fazenda. O D ecreto n. 1.318-E/1891 estendeu-o p ara o pessoal civil
do M inistério da G uerra. A Lei n. 217/1892 program ou ap o sen tad o ria p o r invali­
dez e p en são p o r m orte para os operários do A rsenal da M arinha do Rio de jan eiro .
Ditava a C o n stituição F ederal de 1891: “A aposentadoria só p o d erá ser dada
aos fu n cio n ário s p ú blicos em caso de invalidez no serviço da N ação” (art. 75).
O D ecreto n. 1.541-C /1893 previu previdência social dos servidores da Casa
da M oeda, seguido pelo D ecreto n. 9.284/1911, im p la n ta d o r da C aixa de Pensões
dos O perários da Casa da M oeda. O D ecreto n. 9.517/1912 d iscip lin o u a C aixa de
Pensões e E m p réstim os para o pessoal da capatazia da A lfândega do Rio de Janeiro.
F atos m ais rem otos, anteriores à Lei Eloy C haves, desde a fundação da Santa
Casa de M isericórdia de Santos (1543), já foram su m ariados ( “Subsídios a Prê-
-H istória da Previdência Social”). R eproduzindo a legislação de 1923 a 1959, Victor
Valerius descreveu, legalm ente, o desenvolvim ento das caixas e in stitu to s (“Le­
gislação Brasileira de P revidência Social”, 4. ed., Rio de Janeiro: G ráfica E ditora
A urora, 1959).
Várias regulações sucederam -se até o final da Segunda G uerra M undial, repre­
sen tan d o a consolidação das C aixas de A posentadoria e Pensões — CAP e In stitu ­
tos de A p o sen tad o ria e Pensões — 1AP
Até então, prevalecia a expressão “seguro social”, ab an d o n ad a em favor de
previdência social. Tam bém o protegido deixou de ser associado, tornando-se
segurado. Só em 5.9.1960, a ap o sen tad o ria o rdinária to rn o u -se ap o sen tad o ria por
tem po de serviço.

C u r s o df. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
U m sem -n ú m ero de leis e atos norm ativos dispuseram sobre várias organiza­
ções securitárias, criando entidades e program as, prin cip alm en te ju n to a rep arti­
ções públicas civis e m ilitares, referindo-se, pela prim eira vez, a certos segurados,
especializando-se nas áreas urbana, rural, acidentária, do servidor público etc.
Até antes de sua unificação, as 183 CAPs e os seis IAPs abrigavam todos os
em pregados da m esm a em presa vinculada. A p artir do D ecreto-lei n. 1.142/1939,
con so lid o u -se o p rin cíp io da filiação p o r atividade da em presa, ã exceção do
1APETC. Em 1Q. 1.1967, todas as categorias de trabalhadores da iniciativa privada
quedaram -se sob o INPS.
344. In ício da filiação — É possível ap o n tar o aparecim ento dos diferentes
segurados o b rigatórios e facultativos. Em alguns casos, a definição é genérica; n o u ­
tros, são tentativas iniciais ou se referem a cenários particulares.
a) servidor público: O s servidores públicos foram os prim eiros a ser p ro te­
gidos. Para os m ilitares, a notícia m ais antiga é de 1795, conform e anotado. Em
1827, vislum bra-se o m eio-soldo (M ontepio do Exército). A tualm ente, dispõe a
Lei n. 3.765/1960 e, principalm ente, o E statuto dos M ilitares (Leis ns. 5.774/1971
e 5.787/1972). E ou tras mais.
E fetivam ente, em 1926, registra-se o In stitu to de Previdência dos F u n cio n á­
rios P úblicos Civis da União, transform ado no IPASE (D ecreto-lei n. 288/1938).
Na esfera federal, suas leis básicas vieram a ser o E statuto do F uncionário
Público Civil da U nião (Lei n. 1.711/1952) e o E statuto dos Servidores Públicos
Civis da U nião (Lei n. 8.112/1990).
U m serv id o r sem regim e próprio de previdência social, m al explicado na le­
gislação, foi referido no prim eiro RGPS, em setem bro de 1960, e está atualm ente
preceiluado no art. 13 do PCSS.
O serv id o r federal o cu p an te de cargo em com issão to rn o u -se segurado o b ri­
gatório a p artir da Lei n. 8.647/1993, regulam entada pelo D ecreto n. 935/1993.
b) empregado: F ora do serviço público, em caráter geral, o em pregado to rn o u ­
-se segurado obrigatório em 1923. Logo a seguir, estendida a filiação ao ferroviário
servidor pú b lico (D ecreto Legislativo n. 5.109/1926) e, na década de 30, aos d e­
m ais trab alh ad o res da iniciativa privada.
c) avulso: O p róxim o trabalhador a ser abrangido foi o avulso, ainda em 1926
(D ecreto Legislativo n. 5.109/1926), figura só bem explicitada com a Portaria
MTPS n. 3.107/1971.
d) empresário: Com o IAPC, algum as categorias de au tô n o m o s e em presários
com erciantes disp u seram da possibilidade de se filiar facultativam ente, com capital
su p erio r a 30 contos de réis e, abaixo desse valor, sujeitando-se à obrigatoriedade
(D ecreto-lei n. 2.122/1940). C om a Lei n. 9.876/1999, passou a ser designado
com o co n trib u in te individual.
e) autônomo: O D ecreto n. 32.667/1953 au to rizo u o profissional liberal a se
inscrever com o au tô n o m o , m as a figura já existia antes, m as com a LOPS operou-se
a generalização da filiação obrigatória (setem bro de 1960).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

306 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
A p a rtir de 1° 1.1949 (Proc. MT1C n. 4 74.364/1946), o Feirante-com erciante
foi tido com o em presário, e, conform e a Resolução CD/DNPS n. 1/1965, n a co n ­
dição de au tô n o m o . D isciplinado na Portaria SPS n. 112/1973, a Lei n. 6.586/1978
regeu em definitivo a sua situação.
Ju n ta m e n te com o eventual, to rnou-se co n trib u in te individual a p a rtir de
29.11.1999.
J) facultativo: A p artir do PCSS e iniciando co n tribuições a c o n tar de l e. 11.1991,
in tro d u ziu -se o facultativo.
O riginando-se rem o tam en te no M ongeral (1835), com o D ecreto-lei n.
8 19/1938 (logo alterado pelo D ecreto-lei n. 2.004/1940), apareceu o co n trib u in te
em dobro, desaparecido em 31.10.1991.
A Lei n. 5.610/1970 m andou com putar o tem po de filiação para fins da aposenta­
doria por tem po de serviço. O PBPS equivocou-se a respeito, m as isso logo foi corrigido.
g) trabalhador rural O rurícola foi adm itido em 1963, pelo E statuto do Tra­
b alh ad o r R ural — ETR (Lei n. 4.214/1963), ressurgindo m ais bem clarificado com
a Lei C o m p lem en tar n. 11/1971 (PRORURAL).
Em 1953, o m otorista e trato rista rural ingressaram no regim e urb an o , no
âm bito do IAPETC (Lei n. 1.824/1953).
h) eventual: Em 1960, em bora incipiente e n ão b em definido, com pareceu o
eventual, m ais bem explicitado so m en te em 1973 (P ortaria MTPS n. 3.217/1973),
hoje p raticam en te inexistente.
i) doméstico: Em 1973, facultativo desde 1960 (LOPS), to rn o u -se segurado
obrigatório, pela Lei n. 5.859/1973, regulam entada pelo D ecreto n. 71.885/1973.
Havia referência histórica no D ecreto n. 3.078/1941.
j ) aeroviário: C om a aviação nacional expandindo-se, com a Caixa de A po­
sen tad o ria e P ensões dos A eroviários (P ortaria CNT n. 32/1934), p erm itiu-se ao
aeroviário co n trib u ir a p artir de 1934.
k) temporário: A Lei n. 6.019/1974 descreveu o tem porário, então in d ep en ­
d en te, reg u lam en tad a pelo D ecreto n. 73.842/1974. D esde 1960 e até 10.6.1973,
foi eq u ip arad o a avulso (sic). Na Lei n. 5.890/1973, e até 4.3.1974, tido com o
au tô n o m o . A p artir da Lei n. 6.019/1974, com o tem porário pro p riam en te dito, e
desde 25.7.1971 previdenciariam ente em pregado.
I) eclesiástico: O eclesiástico deixou a condição de facultativo e passou a segu
rado obrigatório com a Lei n. 6.696, de 8.10.1979. Sua definição é colhida nas Por­
tarias MPAS ns. 1.984/1980 e 2.009/1980. Antes, alguns m inistros de confissão reli­
giosa filiaram -se ao In stituto de Previdência do Clero, po sterio rm en te desaparecido.
Im p licitam en te m encionado no art. 4 Q, V, a, do D ecreto-lei n. 627/1938 e
no D ecreto n. 5.493/1940, som ente com o D ecreto n. 2.122/1940, no IAPC, ele
ingressou, e com o facultativo, posição confirm ada pelo art. 3a, III, do D ecreto n.
32.667/53 e pelo art. 4 S, II, do D ecreto n. 60.601/1967 (2B RGPS) e P ortaria SPS
n. 46/1970. A p a rtir da Lei n. 9.876/1999, é considerado co n trib u in te individual.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I — P r e v id ê n c ia S o c ia l 307
m) economiário: O Serviço de A ssistência e Seguro dos E conom iários — SAS-
SE foi criado pela Lei n. 3.149/1957. Seu regulam ento é o D ecreto n. 43.931/1958.
O D ecreto-lei n. 266/1967 passou o econom iário da condição de estatutário para a
de celetista. A Lei n. 6.430/1977 ex tin g u iu o SASSE, regulam entada a situação dos
segurados pelo D ecreto n. 80.012/1977.
n) empregador rural: A situação do em pregador rural tam bém variou no tem ­
po. Até o ETR, nào esteve obrigado. No ETR, há m enção a peq u en o proprietário
com o segurado obrigatório ou facultativo. A partir do D ecreto-lei n. 276/1967 e
até a LC n. 11/1971, m anteve-se o pequeno proprietário, m ais bem explicado no
art. 39 do D ecreto n. 61.554/1967. Na LC n. 11/1971 com pareceu com o o futuro
segurado especial, na condição de trab alh ad o r rural (art. 39, § 1Q, b).
Finalm ente, foi definido na Lei n. 6.260/1975, regulam entada pelo Decreto n.
77.514/1976. Em 1991, o PCSS aludiu ao p ro d u to r rural pessoa física, e a Lei n.
8.870/1994, ao pro d u to r rural pessoa jurídica, equiparando-os ao em presário urbano.
o) médico-residente: O m édico-residente foi adm itido em 1981, com as Leis ns.
6.932/1981, 7.217/1984 e 8.138/1990.
Desde a P ortaria MTPS n. 1.002/1967 e com a Lei n. 6.494/1977, o estagiário
não foi considerado em pregado nem segurado obrigatório.
p) estrangeiro: A filiação do estrangeiro e, em particular, do em pregado de
representação estrangeira iniciou-se com a Lei n. 7.064/1972, prosseguiu com o
D ecreto-lei n. 2.253/1985, a Lei n. 6.887/1980 e o D ecreto n. 87.374/1982.
q) garimpeiro: O garim peiro, definido com o segurado especial em 1991, pas­
sou a eq u ip arad o a au tô n o m o , ex vi da Lei n. 8.398/1992, m as desde o Decreto n.
75.208/1975 era segurado obrigatório.
r) pescador: C erto pescador po d e ser localizado no D ecreto-lei n. 3.832/1941,
no D ecreto n. 71.398/1972 e na Lei n. 7.356/1985. No âm bito do IAPM, diversas
norm as disp u seram sobre esse trabalhador.
s) seringueiro, marisqueiro efaiscador: O seringueiro, o m arisqueiro e o faisca-
d o r são en co n trad o s na R esolução CD/DNPS n. 442/1968.
t) segurado especial: P equeno p ro d u to r rural, o segurado especial com pareceu
na reform a de 1991, no art. 12, VII, do PCSS, com individualidade. Tam bém pode
ser facultativo.
u) estudante: Um tipo estu d an te surgiu com a Lei n. 7.004/1982 e desapareceu
com o PBPS, em 24.7.1991.
v) cartorário: N otário e o cartorário foram incluídos n o RGPS, p o r m eio da
Lei n. 8.935/1994.
w) parlamentar: O p arlam en tar (d ep u tad o federal e senador) to rn o u -se segu­
rado obrigatório do IPC a partir de 1963 (Lei n. 4.284/1963). Sua situação evoluiu
conform e as Leis ns. 5 .8 9 6 /1 9 7 3 ,6 .0 1 7 /1 9 7 3 ,6 .3 1 1 /1 9 7 5 , 6.497/1977, 7.087/1982
e 7.266/1984. A Lei n. 9.506/1997 ex tin g u iu o IPC e o p arlam en tar foi abrigado no
RGPS (PCSS, art. 12, I, h).

C u rso de D ire ito P rev id en c iá r io

308 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
x) auxiliar local: A Lei n. 9.528/1997 regulam entou a situação do auxiliar
local, trab alh ad o r brasileiro prestando serviços n o exterior.
y ) edis: Todos os vereadores tornaram -se segurados obrigatórios com a Lei n.
9.506/1997.
z) ocupantes de cargos em comissão: Servidores públicos n o m eados para exer­
cerem cargo em com issão, passaram a segurados obrigatórios do RGPS a p artir do
art. 40, § 13, da CF (EC n. 20/1998).
O R egulam ento da Previdência Social — RPS (D ecreto n. 3.048/1999) e n u n ­
cia m ais alguns segurados obrigatórios: pessoa física que edifica obra de c o n stru ­
ção civil, in co rp o rad o r (Lei n. 4.591/1964), bolsista da F undação H abitacional do
Exército (Lei n. 6 .855/1980), árbitro e auxiliares (Lei n. 9.615/1998), m em bro de
conselho tu telar (Lei n. 8.069/1990), interventor, liquidante e ad m in istrad o espe­
cial e o d ireto r fiscal de instituição financeira (D ecreto n. 4.032/2001).
345. P rin cip ais e n tid a d e s — O órgão gestor da previdência social é o M i­
nistério da Previdência Social, p o r meio da Secretaria de Políticas da Previdência
Social — SPPS e da S uperintendência N acional de P revidência C om plem entar —
PREV1C (art. 74 da LC n. 109/2001). E, à evidência, o INSS.
São en tid ad es supervisoras da previdência privada, fechada e aberta, o C on­
selho N acional de Previdência C o m p lem en tar — CGPC (Lei n. 8.444/1992), do
MPS, e a S u p erin ten d ência de Seguros P rivados — SUSEP (D ecreto-lei n. 73/1966),
do M inistério da F azenda, bem com o o C onselho N acional de Seguros Privados
— CNSP (D ecreto-lei n. 73/1966) e o C onselho M onetário N acional — CMN (Lei
n. 4 .595/1964) e a C om issão de Valores M o b iliá rio s— CVM (Lei n. 6.385/1976).
C ooperam nessa coordenação o C onselho N acional de S eguridade Social —
CNSS (depois, ex tin to ), o C onselho N acional de Previdência Social — CNPS e o
C onselho N acional de A ssistência Social — CNAS.
Em m atéria de D ireito Previdenciário P rocedim ental, o C onselho de Recur­
sos da P revidência Social — CRPS, as C âm aras de Ju lg am en to — CAJ e Ju n ta s de
R ecursos — JR. No tocante ao financiam ento os órgãos ju lg ad o res adm inistrativos
do M inistério da F azenda (CARF e CSRF).
Na atividade-fim , o INSS e a Em presa de Processam ento de Dados da Previdência
Social — DATAPREV (Lei n. 6.125/1974 e Decretos ns. 75.463/1975 e 2.515/1997).
A evolução histórica das instituições com eça no início do século.
No com eço do século XX, a Lei n. 1.140/2004 cuidou d o D ireito do Trabalho
na área rural.
Em 1923, foi criado o C onselho N acional do Trabalho (D ecreto n. 16.027/1923),
prim eiro en te d iscip linador da m atéria e futuro MPS.
No an o de 1930, surgiu o M inistério do Trabalho, In d ú stria e C om ércio —
M TIC, p o sterio rm e n te transform ado em M inistério do Trabalho e Previdência So­
cial — MTPS (1 961), MPAS (1974), M inistério da Previdência Social — MPS e,
finalm ente, reto rn ad o ao nom e MPAS. O D ecreto n. 69.014/1971 regulam entou o

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o U — P r e v id ê n c ia S o c ia l 309
M inistério do Trabalho e Previdência Social — MTPS, transform ado, em 1974, no
MPS e no MPAS, conform e o D ecreto n. 76.719/1975. Em 1990, ressurgiu o MTPS
(Lei n. 8.029/1990), e, com o D ecreto n. 99.350/1990, fundou-se o In stitu to N acio­
nal do Seguro Social — INSS, p o r fusão com o antigo IAPAS e INAMPS.
A Legião Brasileira de A ssistência — LBA (D ecreto-lei n. 4.830/1942) passou
a Fundação Legião Brasileira de A ssistência — LBA (D ecreto-lei n. 593/1969).
Tivem os, ainda, a C entral de M edicam entos — CEME e a F u n ab em — F u n ­
dação do Bem -Estar do M enor (Lei n. 4.513/1964). Já existiu u m Serviço de As­
sistência ao M enor — SAM e a F undação Abrigo do C risto R edentor — FACR
(D ecreto-lei n. 5.760/1949 e D ecreto n. 74.000/1974).
Desse co n ju n to tam bém faz parte a F u n d acen tro (Lei n. 5.161/1966 e Decreto
n. 62.172/1968).
Uma Caixa de Pensões dos Jo rn aleiro s da E strada de Ferro C entral do Brasil
(D ecreto n. 15.674/1922) transform ou-se em CAP m ais tarde.
C onform e Cassiano Tavares Bastos, o D eputado F ederal A gam enon de M aga­
lhães ap resen to u o Projeto de Lei n. 159/1927 p reten d en d o criar a Caixa de Assis­
tência e Seguro Social (“Seguro Social”, in Revista do CNT, p. 20).
O Tratado de Versalhes, de 1919, em seu art. 427, § 3e, dispunha: “C ada Esta­
do deverá organizar u m serviço de inspeção, do qual fará parte m ulheres, para as­
segurar a aplicação das leis e regulam entos relativos à proteção dos trab alh ad o res”.
Em São Paulo, a Lei n. 3.400/1921 im plantou um F u n d o de Pecúlio e Pensões.
O prim eiro grande 1AP foi o In stitu to de A posentadoria e Pensões dos M arí­
tim os — IAPM (D ecreto n. 22.872/1933).
Logo em seguida, o In stitu to de A posentadoria e P ensões dos B ancários —
1APB (D ecreto n. 24.615/1934), regulam entado pelo D ecreto n. 54/1934.
Em 1934, surgem a Caixa de A posentadoria e Pensões dos A eroviários —
CAPA, a Caixa de A posentadoria e Pensões dos Trabalhadores em Trapiches e Ar­
m azéns — CAPTTA e a Caixa de A posentadoria e Pensões dos O perários e Estiva­
dores — CAPOE (D ecreto n. 24.615/1934). O D ecreto-lei n. 1.555/1939 criou o
Institu to de A posentadoria e Pensões dos O perários da Estiva — IAPOE, absorvido
em 1945 pelo IAPETC.
E xistiam 98 CAPs em 1931, e o núm ero ascendeu para 183 qu an d o da unifi­
cação, em 1953 (D ecreto n. 34.586/1953).
No ano de 1934, é criado o In stitu to de A posentadoria e Pensões dos Com er-
ciãrios — IAPC (D ecreto n. 24.272/1934).
Em 1937, instalou-se o In stitu to de A posentadoria e Pensões dos Industriá-
rios — IAPI. A Lei n. 367/1936 foi regulam entada pelo D ecreto n. 1.918/1937.
C onform e o D ecreto n. 5.128/1926 criou-se o In stitu to de Previdência dos
F uncionários P úblicos da U nião — IPFPU. Em 1938, é fundado o In stitu to de
Previdência e Assistência dos Servidores do Estado — 1PASE (D ecreto-lei n.
288/1938), desaparecido em 1977.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

310 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
M ediante o D ecreto-lei n. 651/1938, o In stitu to de A posentadoria e P ensões
dos E m pregados em T ransportes e Cargas — 1APETC (ex-CAPTTAC). A p artir do
D ecreto-lei n. 7.720/1945, absorveu a CAPOE.
Um Serviço C entral de A lim entação — SCA, do IAP1, surgiu em 1939, incor­
p orado ao Serviço de A lim entação da P revidência Social — SAPS (D ecretos-leis ns.
2.478/1940 e 3.70 9 /1 941), desaparecido nos anos 1967/1978. É criado o Serviço de
A ssistência M édica D om iciliar de U rgência — SAMDU (D ecreto n. 27.664/1949),
ex tin to pelo D ecreto-lei n. 72/1966. Por m eio da Lei n. 1.532/1951, o Serviço de
A ssistência M édica da Previdência Social — SAMPS, regulam entado pelo D ecreto
n. 37.271/1955, um a espécie de INAMPS da época. O D ecreto-lei n. 7.380/1945
dispôs sobre a assistência m édica.
O D ecreto-lei n. 7.526/1945 (Lei O rgânica d os Serviços Sociais do Brasil —
LOSSB) é m arco significativo. Ele in stitu iu o pretenso Instituto de Serviços Sociais
do Brasil — ISSB, regulam entado som ente em 1954, pelo D ecreto n. 35.448/1954,
sem chegar à efetividade. O texto desses dispositivos tornou-se o protótipo da LOPS.
N esse ano, são organizados a C âm ara de P revidência Social — CPS e o D epar­
tam ento de P revidência Social — DPS. O D ecreto-lei n. 8.738/1946 transform ou a
C âm ara de Previdência Social — CPS em C onselho S uperior da Previdência Social
— CSPS, em 1967, re su ltan d o no C onselho de R ecursos da P revidência Social —
CRPS. O D ecreto-lei n. 8.742/1946 reform ulou o D epartam ento de Previdência
Social — DPS em D epartam ento N acional de Previdência Social — DNPS. Eram
en tid ad es su b o rd in ad as ao então C onselho N acional do Trabalho — CNT.
O D ecreto n. 34.586/1953 u n ifico u as CAPs dos ferroviários na Caixa de
A p osentadoria e Pensões dos F erroviários e E m pregados do Serviço Público —
CAPFESP, re su ltan d o n o IAPFESP (art. 170 da LOPS).
Em 1957, é im p lantado o Serviço de A ssistência e Seguro dos Econom iários,
o SASSE, pela Lei n. 3.149/1957, afinal ex tin to em 1977.
O F u n d o de A ssistência ao T rabalhador Rural — FUNRURAL data de 1963
(ETR), vindo a se efetivar realm ente com o Program a de P revidência d o T rabalha­
d o r R ural — PRORURAL (25.5.1971).
Em l e. 1.1967, m ediante o Decreto-lei n. 72/1966, os seis IAPs fundiram -se no
INPS. São criadas as Ju ntas de Recursos da Previdência Social — JRPS e o CRPS. A Lei
n. 6.439/1977 regra o Sistema N acional de Previdência e Assistência Social — SINPAS.
O In stitu to de Previdência dos C ongressistas — IPC é objeto da Lei n. 4.284/
1963 (Leis ns. 6.677/1979 e 6.017/1973) e ex tin to em 1997 (Lei n. 9.506/1997).
A Lei n. 8.869/1993 acabou com o INAMPS.
346. D om ínio r u r a l — A prim eira norm a sobre a área rural é a Lei n. 6.437/2007.
N ossa CLT e a legislação da in d ú stria canavieira previam proteção social aos
trabalhadores n a ag ro indústria, em bora essa proteção não se efetivasse.
A Lei n. 1.824/1953 vinculou os m otoristas e trato ristas rurais ao IAPETC,
tiran d o -o s do an o n im ato da área rural.

C u r s o de: D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c k íl 311
Em 1963, com a Lei n. 4.214/1963 (ETR), regulam entada pelo D ecreto n.
53.154/1963, inicia-se a previdência social rural, reorganizada com a LC n. 11/1971,
regulam entada pelo Decreto n. 69.919/1972 e, logo em seguida, alterada pela LC n.
16/1973, regulam entada pelo D ecreto n. 73.617/1974.
O D ecreto-lei n. 564/1969 criou u m Plano Básico de Previdência Social —
PBPS, n a lavoura canavieira, am pliado pelo D ecreto n. 704/1969.
A Lei n. 6.260/1975 disciplina as contribuições e benefícios do em pregador
rural, regulam entada pelo D ecreto n. 77.514/1976.
Em 1977, é extinto o FUNRURAL pela Lei n. 6.439/1977.
As Leis ns. 8.398/1992 (garim peiro), 8.540/1992 (em pregador ru ral), 8.861/
1994 (variados assuntos) e 8.870/1994 (agroindústria) reviram contribuições e
benefícios na área rural.
Várias categorias p articulares podem ser especialm ente assinaladas: I) agroin-
d u striá rio (R esolução CD/DNPS n. 1.5 8 6 /1 9 6 2 ); II) carro ceiro (P o rtaria MTPS
n. 214/1966); III) carvoejador (P arecer ÇJ/MPAS n. 52/1981); IV) catad o r (R eso­
lução CD/DNPS n. 442/1968); V) catador de café (R esolução CD/DNPS n. 1.721/
1962); VI) dirigente sindical ru ral (D espacho da SPS no Processo MPAS n.
501.781/1975); VII) em pregado de reflorestadora (P arecer CJ/MTPS n. 393/1979);
VIII) em pregado de sindicato (R esolução CD/DNPS n. 263/1965); IX) faiscador
(R esolução CD/DNPS n, 442/1968); X) granjeiro (R esolução CD/DNPS n. 204/
1967); XI) m arisqueiro (D ecreto n. 81.563/1968); XII) oleiro (D espacho da SPS de
1-.9.1972); XIII) pescador (D ecretos-leis ns. 3.832/1942 e 71.498/1971); XIV) se­
ringueiro (R esolução CD/DNPS n. 442/1968).
347. A cid en tes d o tra b a lh o — C opiando o C hile (que copiara o P eru — sic),
a Lei n. 2.919/1914 preconizou contribuição de 2% d estinada à fiscalização das
com panhias de seguro. O D ecreto n. 13.498/1919 au to rizo u o funcionam ento de
em presas de seguro de acidentes do trabalho. O D ecreto Legislativo n. 3.724, de
15.1.1919, deu início à legislação acidentaria urbana.
O Decreto n. 24.637/1934 dispôs sobre a matéria, revitalizando a norm a anterior.
A legislação foi atualizada com O D ecreto-lei n. 2.063/1940.
O D ecreto-lei n. 7.036/1944 renovou os preceitos sobre o assunto. R egulam en­
tado peto Decreto n. 18.809/1945, sofreu m odificações com a Lei n. 599-A/1948.
Esse tem a tam bém foi tratado no D ecreto-lei n, 298/1967.
R egulam entada pelo D ecreto n. 61.784/1967, a Lei n, 5.316/1967 inovou so­
bre o seguro de acidentes do trabalho urbano.
É in au g u rad a a proteção acidentaria rural com a Lei n. 6.195/1974 e regula­
m entada pelo D ecreto n. 76.022/1975.
A Lei n. 6.367/1976 in tro d u ziu o m onopólio estatal do SAT, regulam entada
pelo D ecreto n. 79.037/1976.
U m a unificação das prestações com uns e acidentãrias foi prom ovida pela Lei
n. 9.032/1995.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

312 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
WÊÊÊ
A Lei n. 10.666/2003 criou o F ato r A cidentário de Prevenção — FAP (D ecreto
n. 6.042/2007) que en tro u em vigor em 1° 1.2010.
348. D isp o siçõ es n o rm a tiv a s — H istoricam ente, pela sua e stru tu ra e ordem ,
é preciso sem pre lem brar o M ongeral (10.1.1835), u m a das m ais antigas e precog-
nitivas leis previdenciárias brasileiras.
Com o D ecreto Legislativo n. 4.682/1923 inicia-se a fase legal de im plantação
p ro p riam en te dita da Previdência Social. C om ela, p raticam ente desperta o interes­
se pelo D ireito Previdenciário.
O D ecreto n. 20.465/1931 reviu a legislação das CAPs. Na m esm a linha, o
D ecreto-lei n. 6 27/1938 fixou regras gerais para as CAPs e IAPs. No dizer de Luiz
Assumpção Paranhos Velloso esse decreto é o segundo grande m arco da previdência
social ( “Q uinze A nos de Legislação da PS”, in LTr n. 38/1101).
A C onsolidação das Leis do Trabalho — CLT (D ecreto-lei n. 5,452/1943) é
m o m en to significativo, pois o D ireito P revidenciário relaciona-se todo o tem po
com o D ireito do Trabalho.
Com as N orm as de Proteção ao Trabalho Rural — NPTR (Lei n. 5.889/1973),
cria-se a CLT do cam po.
O p o n to m ais alto da legislação previdenciária foi atingido com a Lei Orgânica
da Previdência Social — LOPS (Lei n. 3.807/1960). Até hoje, sua estru tu ra é copiada
p o r leis superv en ien tes. Inicialm ente regulam entada pelo D ecreto n. 48.959-A/
1960 (1B RGPS). Os estu d o s iniciais com eçaram em 1947, m as so m en te com o
D ecreto n. 39.2 0 6 /1 9 56 foi constituída com issão para prepará-la.
G rande m udança sofrida pela LOPS deu-se com o D ecreto-lei n. 66/1966,
un ifo rm izan d o a co n tribuição e os benefícios com vistas à unificação dos IAPs
( l s . 1.1967). Ele foi regulam entado pelo D ecreto n. 60.501/1967 (2Q RGPS).
O D ecreto-lei n. 959/1969 criou a contribuição patronal relativa aos a u tô ­
nom os, esten d id a aos em presários em 1989 (Lei n. 7.787/1989), considerada in ­
co n stitu cio n al pelo STF, em 12.5.1994 (ADI n. 1.202-2/D F), e recriada a p artir de
1Q.5.1996 (LC n. 84/1996) e m odificada com a Lei n. 9.876/1999.
A LOPS sofreu alteração substancial com a Lei n. 5.890/1973, sobrevindo o
R egulam ento do Regim e da P revidência Social — RRPS (D ecreto n. 72.771/1973).
R elem brando a Lei n. 3.841/1960, a Lei n. 6.226/1975 regulam entou a c o n ta­
gem recíproca de tem po de serviço.
A utorizado pela Lei n. 6.243/1975, o P oder Executivo baixou a C onsolidação
das Leis da Previdência Social — p rim eira CLPS (D ecreto n. 77.077/1976). C o n ­
forme o D ecreto n. 89.312/1984, a segunda CLPS.
Em 1996, conform e disposição da Lei n. 9.032/1995, o G overno F ederal p u ­
blicou no DOU de 11.4.1996, consolidação do PCSS/PBPS. A Lei n. 9.528/1997
au to rizo u nova consolidação.
Essa CLPS nasceu em 1973 com técnicos do MT1C Celso B arroso Leite, Gem y
R ibinik, M aria da Luz Laclette Dias, João Lourenço R eginaldo e Poincaré Rebello

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v i d ê n c i a S a c i a i 313
Braga, da Secretaria de Previdência Social. Eles retom aram a ideia em 1975. C on­
taram com a colaboração de Luiz A ssum pção P aranhos Velloso, Inocêncio M ártires
C oelho e José Dias Correa Sobrinho, além da inexcedível ajuda de D. Á urea Barroso
Leite, que cu id o u da datilografia dos originais.
A Lei n. 6.435/1977 tornou-se a lei básica da previdência com plem entar, sen ­
do regulam entada pelo Decreto n. 81.240/1978 (segm ento fechado) e pelo Decreto
n. 81.402/1978 (segm ento aberto). Nessa divisão, o D ecreto-lei n. 73/1966 é a lei
fundamenLal.
Ju n to com a LC n. 108/2001 (patrocinadoras estatais), a LC n. 109/2001 tor­
nou-se a nova Lei Básica da Previdência C om plem entar — LBPC, em p arte regula­
m entada pelo D ecreto n. 4.943/2003.
Em razão das Leis ns. 6.430/1977 e 6.439/1977 e da criação do IAPAS e INAMPS,
os regulam entos da LOPS passaram a ser o Decreto n. 83.080/1979 (benefícios) e
o Decreto n. 83.081/1979 (custeio). O Decreto n. 83.266/1979 in troduziu o Regu­
lam ento da Gestão A dm inistrativa, E inanceira e P atrim onial da Previdência Social.
A Lei n. 6.687/1980 e a Lei n. 6.950/1981, bem com o o D ecreto-lei n.
1.910/1981, p ro d u ziram novas alterações na LOPS.
Praticam ente, a Lei n. 7.787/1989 foi a p en ú ltim a a alterar o m odelo de 1960.
Finalm ente, em 24.7.1991, a LOPS restou praticam ente revogada pela Lei n.
8.212/1991, regulam entada pelo D ecreto n. 356/1991 e, depois, pelo D ecreto n. 611/
1992 e pela Lei n. 8.213/1991, regulam entada pelo D ecreto n. 357/1991 e, após,
pelo D ecreto n. 611/1992.
A Lei n. 8.870/1994 prom oveu m odificações na legislação, acabando com o
pecúlio e o abono de p erm anência em serviço.
Novas m u d an ças sobrevieram . A Lei n. 9.032/1995 fez m uitíssim as alterações
na legislação, su p rim in d o benefícios (pecúlios de m odo geral) e nivelando valores
dos coeficientes aplicáveis ao salário de benefício. Deu nova redação ao art. 57 do
PBPS, relativam ente à aposentadoria especial.
A Lei n. 9.129/1995 com pletou a tarefa da Lei n. 9.032/1995.
C onvertida depois na Lei n. 9.528/1997, a M edida Provisória n. 1.523/1996
alterou diversos dispositivos da lei básica e, p rincipalm ente, passou a exigir laudo
técnico para a ap o sen tadoria especial.
A Lei n. 9.317/1996 (Sim ples) su b stitu iu a parte patronal da m icroem presa e
da em presa de p eq u en o porte em taxa única. Agora, a LC n. 123/2006 disciplina o
SIMPLES Nacional.
Em 1997, os dois regulam entos foram su b stitu íd o s pelo D ecreto n. 2.172/1997
(benefícios) e n. 2.173/1997 (custeio) e, posteriorm ente, pelo R egulam ento da Pre­
vidência Social — RPS (D ecreto n. 3.048/1999).
U m a retenção de 11% da nota fiscal das em presas fornecedoras de m ão de
obra foi im plantada pela Lei n. 9.711/1998.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

314 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A Lei n. 9 .7 3 2/1998 in tro d u ziu contribuição de 6%, 9% e 12%, para a a p o ­
sen tad o ria especial.
M odificações no salário de benefício e novo período básico de cálculo vieram
com a Lei n. 9.876/1999, criando o fator previdenciário. A Lei n. 9.983/2000 tran s­
p o rto u os crim es do art. 95 do PCSS para o C ódigo Penal. Inovações sugiram com
a M edida Provisória n. 83/2002, que resultaram na Lei n. 10.666/2003.
3 49. In stitu iç õ e s c o rre la ta s — C om preendidas o u não n o bojo da seguridade
social, m as quase todas de caráter protetivo, algum as instituições foram em pre­
en d id as ao largo do tem po, ensejando outras m odalidades de proteção à pessoa
hu m an a.
a) fu n d o de garantia: O F un d o de G arantia do Tempo de Serviço — FGTS é
em razão da Lei n. 5.107/1966, alterada pelo D ecreto-lei n. 20/1966 e m odificada
pela Lei n. 8.036/1990; ele su b stitu iu a indenização trabalhista prevista na CLT.
P oucas pessoas sabem a origem do FGTS, m as o jo rn alista Itam araty M artins
a con to u . A ideia deve-se ao então Fiscal do 1APFESP E udóxio F erraz de C am pos
S obrinho e a Rom ão Ruiz, contida n o trabalho “Plano de Reform a da Legislação
sobre E stabilidade e Indenização” (“E lem entos para G ênese do FG TS”, in Folha
da Tarde de 20.9.1972, p. 7). O u tro s elem entos da história podem ser colhidos em
“Lei do FG TS”, de Eduardo Gabriel Saad, São Paulo: LTr, 1969, p. 9/19.
b) seguro-desemprego: S ubstituindo o antigo auxílio-desem prego (Lei n.
4 .9 2 3 /1 9 6 5 ), o D ecreto-lei n. 2.283/1986 im p lan to u o seguro-desem prego, refor­
m ado pela Lei n. 7.998/1990 e m odificado pela Lei n. 8.900/1994. Registre-se o
F u n d o de A ssistência ao D esem pregado — FAD (D ecreto n. 58.155/1966).
c) P1S-PASEP: A LC n. 7/1970 criou o Program a de Integração Social — PIS. A
LC n. 8/1970 pen so u no Program a de F orm ação do P atrim ônio do Servidor P úbli­
co — PASEP P o r m eio da LC n. 26/1975 fundiram -se o PIS e o PASEP, resultando
no PIS-PASEP
d) assistência social: A Lei n. 8.742/1993 é a Lei O rgânica da A ssistência Social
— LOAS. A Política N acional do Idoso encontra-se definida na Lei n. 8.842/1994.
O s d ireito s do idoso com parecem na Lei n. 10.741/2003.
e) assistência à saúde: A Lei n. 8.080/1990 é a lei básica da Saúde.
J) vale-transporte: A Lei n. 7.428/1985 in stitu iu o vale-transporte, sendo in i­
cialm ente reg u lam en tada pelo D ecreto n. 92.180/1985 e, p o sterio rm en te, pelo De­
creto n. 95.257/1987.
g) PRONAM: O Program a N acional de A lim entação — PRONAM foi in stitu í­
do pela Lei n. 6.321/1976.
h) concurso de prognósticos: O co ncurso de prognósticos é criação da Lei n.
8.436/1992.
i) seguro automotivo: O seguro obrigatório autom otivo deve-se à Lei n. 8.442/
1992 e ao D ecreto n. 1.017/1993.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 315
j) COFINS: O FINSOCIAL foi criado pelo D ecreto-lei n. 1.940/1982, regula­
m en tad o pelo D ecreto n. 92.698/1986, a p artir de 1Q.6.1982. Foi sucessivam ente
alterado pelos D ecretos-leis ns. 2.049/1983, 2.397/1987 e 2.463/1988 e pelas Leis
ns. 7.611/1987, 7.689/1989, 7.738/1989, 7.787/1989, 7.894/1989, 8.147/1990 e
8.398/1992.
A LC n. 70/1991 criou a COFINS, alterada pela LC n. 85/1996.
k) terceiros: O Serviço N acional de A prendizagem Industrial — SENAI deve-
se ao D ecreto-lei n. 4.048/1942. O Serviço N acional de A prendizagem C om ercial
— SENAC, ao D ecreto-lei n. 8.821/1946. O Serviço Social da Indústria — SESI, im ­
plantado pelo D ecreto-lei n. 9.403/1946 e o Serviço Social do C om ércio — SESC,
pelo D ecreto-lei n. 9.853/1946. Serviço N acional de A prendizagem R ural — SE-
NAR apareceu com a Lei n. 7.315/1991, m as já existiu um Serviço N acional de
Form ação Profissional Rural — SENAR, órgão do M inistério do Trabalho (Decreto
n. 77.354/1976). A Lei n. 8.706/1993 criou o Serviço Social do T ransporte — SEST
e o Serviço N acional de A prendizagem do T ransporte — SENAT.
Com o D ecreto-lei n. 1.110/1970 o INCRA su b stitu iu o In stitu to Brasileiro
de Reform a Agrária — IBRA, o In stitu to N acional de D esenvolvim ento Agrário
— ÍNDA e a S up erin tendência da Política A grária — SUPRA e o G rupo E xecuti­
vo da Reform a Agrária — GERA. A D iretoria de Portos e C ostas — DPC surgiu
com o D ecreto-lei n. 6.246/1944. O F u n d o A eroviário, a p artir do D ecreto-lei n.
1.305/1974, iniciou-se em 9.1.1974. O F un d o N acional de D esenvolvim ento Eco­
nôm ico — FN D E /Salário-Educação com o D ecreto-lei n. 1.422/1995. O salário-
educação surgiu com a Lei n. 4.440/1964.
j á existiu um Serviço Social Rural — SSR (Lei n. 2.613/1955).
350. Im p lan tação d o s b enefícios — C ada um a das prestações do atual Plano
de Benefícios e dos ex tintos têm sua história. O rol dos benefícios am pliou-se a
p artir da LOPS com o tem po e o desenvolvim ento da previdência social. Porém , a
p artir da Lei n. 8.213/1991, ele com eçou a dim inuir.
a) abono anual: O abono anual, espécie de décim o terceiro salário dos ap o ­
sen tad o s e pensionistas, foi criado pela Lei n. 4.181/1963. C om pareceu no Texto
C onstitucional de 1988.
b) abono de permanência em serviço: C erto abono de p erm anência em servi­
ço surgiu com a LOPS, desaparecendo com a Lei n. 8.213/1991 (20% ) e a Lei n.
8.870/1994 (25% ).
c) aposentadoria especial: A aposentadoria especial teve início em 1960, com o
art. 31 da LOPS. Foi m odificada pelas Leis ns. 5.527/1968 (A nexo III), 6.887/1980
(conversão), 9.032/1995 (prova das condições especiais), 9.528/1997 (laudo téc­
nico), 9.711/1998 (conversão de tem po de serviço) e 9.732/1998 (contribuição e
utilização de EPI/EPC) e 10.666/2003.
d) aposentadoria por idade: A aposentadoria p o r velhice surgiu em 1923 e, em
1991, toi transform ada em aposentadoria p o r idade. A dos trabalhadores rurais
apareceu com a Lei n. 4.213/1963.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

316 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
e) aposentadoria por invalidez•' A ap o sen tad o ria p o r invalidez foi criada ao
tem po da Lei Eloy M arcondes de M iranda C haves, sofrendo po u cas alterações em
sua história. Teve o valor uniform izado em 100% pela Lei n. 9.032/1995.
f ) aposentadorias específicas: A lgum as profissões ou pessoas, ao longo d o tem ­
po, obtiveram benefícios de legislação particularizada.
I) ex-co m b aten te — Logo em 1948, surgiu a prim eira lei para os ex-com ba­
ten tes (Lei n. 288/1948), m odificada pela Lei n. 616/1949.
C oncebida inicialm ente pela Lei n. 1.756/1952 (D ecreto n. 36.911/1955) e
efetivam ente criada pela Lei n. 4.297/1963, alterada pelas Leis ns. 5.317/1967 (De­
creto n. 6 1 .7 05/1967) e 5.698/1971.
Sobre o serv id o r público federal já d isp u n h am a Lei n. 3.906/1961 e o D ecre­
to-lei n. 628/1969.
II) jo rn alista — A aposentadoria específica do jo rn alista profissional desapa­
receu com a M edida Provisória n. 1.523/1996.
III) ju iz tem p o rário — A Lei n. 6.903/1981 regulou a situação dos ju iz e s clas-
sistas tem p o rário s d a ju s tiç a do Trabalho, e o direito extinguiu-se com a M edida
Provisória n. 1.523/1996.
IV) jo g a d o r de futebol — As vantagens n o cálculo dos benefícios dos futebolis­
tas surgiram com a Lei n. 5.939/1973, regulam entada pelo D ecreto n. 77.210/1976,
e a Lei n. 6.269/1975 e o D ecreto n. 77.774/1976. A MP n. 1.523/1996 pôs fim a
esses direitos.
V) aero n au ta — A aposentadoria do aero n au ta surgiu com o D ecreto-lei n.
158/1967, regulada no D ecreto n. 3.501/1958, e as Leis ns. 4.262 e 4.263, de 1993.
g) aposentadoria por tempo de serviço: O Decreto n. 9.912-A/1888 previu aposen­
tadoria aos 30 anos de serviço (e 60 anos de idade) para os em pregados dos correios
e telégrafos. Com o nom e de aposentadoria ordinária, foi criada pela Lei Eloy C ha­
ves (1923). O Decreto n. 26.778/1949 regulou a Lei n. 593/1949, sobre o benefício.
C onsoante o Decreto n. 44.171/1958, a aposentadoria ordinária do IAPB, criada pela
Lei n. 3.385-A /1958 e regulam entada pelo Decreto n. 44.172/1958, foi estendida aos
dem ais lAPs. O Decreto-lei n. 2.474/1940 proibiu a concessão, à exceção da por inva­
lidez, de todas as aposentadorias, salvo se o segurado tivesse sessenta anos de idade.
Em 5.9.1960, foi in titu lad a com o aposentadoria p o r tem po d e serviço. A ap o ­
sen tad o ria co n stitu cio n al do professor surgiu com a EC n. 18/1981. C om a EC n.
20/1998 passou a cham ar-se aposentadoria p o r tem po de contribuição.
h) awcílio-acidente: O auxílio-acidente é criação da Lei n. 6.367/1976. A p artir
da Lei n. 8.213/1991, su b stitu iu o auxílio-suplem entar. A p artir da Lei n. 9.032/1995,
teve o seu valor uniform izado em 50% e m odificado pela Lei n. 9.528/1997.
i) auxílio-doença: O auxílio-doença, prestação em blem ática, rem o n ta a O tto
von Bism arck (1883). O D ecreto n. 367/1936 previu auxílio pecuniário, m antido
pelo D ecreto-lei n. 6 .905/1944 e ainda preservado no D ecreto-lei n. 8.769/1946 e
no D ecreto n. 32.668/1953, sob esse título. Os D ecretos ns. 54/1934 e 27.307/1949
falavam n u m a assistência pecuniária.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l
m
O D ecreto-lei n. 651/1938 e a Lei n. 2.130/1953 cham aram -no de auxílio-en-
ferm idade, expressão encontradiça n o art. 476 da CLT. C om o D ecreto n. 22.367/
1946, assum iu o atual nom e de auxílio-doença. Não constava da Lei Eloy Chaves.
Para o art. 476 da CLT, o nom e é auxílio-enferm idade. G eneralizou-se com
a LOPS.
j ) auxílio-natalidade e auxílio-funeral: Vigente até 31.12.1995, o auxílio-na-
talidade foi extinto pelo D ecreto n. 1.744/1995. H avia sido criado pelo art. 33 da
LOPS, com eçou a ser pago em 29.9.1960.
O auxílio-funeral com pareceu na LOPS e no art. 106 do D ecreto n. 48.949-A /
1960, sendo pago a p artir de 29.9.1960. O D ecreto n. 88.353/1983 au to rizo u a
dedução nas GRPS, a partir de 1Q.8.1983.
k) auxílio-reclusão: A parecendo n o art. 43 da LOPS, o auxílio-reclusão foi
disciplinado pelo art. 100 do 1° RGPS e pelo art. 91 do 2- RGPS.
I) pecúlio: O PBPS previa quatro pecúlios: a) de quem se incapacitar sem o
p eríodo de carência; b) do aposentado após a volta ao trabalho; c) p o r invalidez; e
d) p o r m orte acidentária. O p rim eiro se m anteve, mas o segundo desapareceu com
a Lei n. 8.870/1994 e o terceiro e quarto com a Lei n. 9.032/1995.
m) pensão por morte: O período de carência da pensão p o r m orte de 12 co n ­
tribuições unificadas pela Lei n. 3.257/1957 desapareceu com o PBPS. A ideia da
m orte p resu m id a apareceu com o D ecreto-lei n. 3.577/1942, no âm bito do IAPM.
A exem plo da ap o sentadoria p o r invalidez surgiu ju n ta m e n te com a Lei Eloy
C haves e só sofreu alterações q u an to aos dep en d en tes e ao valor.
n) pensões políticas: I) aposentadoria do exilado — Foi regulam entada pela
Lei n. 6.683/1979.
II) pensão H em odiãlise de C aruaru — Deve-se à Lei n. 9.422/1997.
III) pensão do Seringueiro da A m azônia — Prevista no ADCT, o seringueiro
da A m azônia teve sua situação previdenciária disciplinada na Lei n. 7.986/1989;
o) Síndrome da Talidomida: O bra da Lei n. 7.070/1982, alterada pela Lei n.
8.868/1993.
p) renda mensal vitalícia: U m a renda m ensal vitalícia ou am paro previden­
ciário foi criada pela Lei n. 6.179/1974 e integrada na Lei O rgânica da Assistência
Social — LOAS pelos Decretos ns. 1.330/1994 e 1.744/1995.
A Lei n. 8.842/1994 e o D ecreto n. 1.948/1996 dispõem sobre a Política N a­
cional do Idoso.
O am paro assistencial deve-se à Lei n. 8.742/1993 e está regulam entado no
E statuto do Idoso (Lei n. 10.741/2003).
q) salârio-familia: O salário-fam ília foi criado pela Lei n. 4.266/1963, ligeira­
m ente alterada pela Lei n. 5.559/1968. Seu regulam ento é o D ecreto n. 53.153/1963.
A Lei n. 6.259/1975 e o D ecreto n. 78.231/1976 passam a exigir a apresentação
anu al do atestado de vacina.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

318 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
r) salário-maternidade: G eneralizadam ente, o salãrio-m aternidade apareceu
com a Lei n. 6.036/1974, regulam entada pelo D ecreto n. 75.207/1975. Foi esten ­
dido à segurada especial pela Lei n. 8.861/1994. Foi estendida às co n trib u in tes
individuais.
Em 1952, no IAPI, haviam sido criados um au x ílio -m atern id ad e (D ecreto n.
31 .547/1952) e u m auxílio-velhice. O D ecreto n. 40.858/1957 disciplinou o m es­
mo benefício n o 1APB.
A Lei n. 9.876/1999 estendeu-a às co n trib u in tes individuais.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia 5 « c i ü i 319
Capítulo XXXV

C o n c e it o E lem en ta r

351. S e g u r o comunitário. 352. Modalidade d e reservas. 353. Aplicação


S u m à r ío :
de capitais. 354. Geração de rendas. 355. Salário diferido. 356. Monopólio esta­
tal. 357. Política contínua. 358. Indenização de danos. 359. Objeto do Direito.
360. Definição doutrinária.

Um conceito de previdência social vem sendo perq u irid o desde o chanceler


alem ão O tto von BLsmarck (1883). Por sua im portância para o indivíduo e para
a sociedade, essa técnica de proteção social despertou o interesse dos estudiosos.
C onquista irreversível do século XX, corrigidas as distorções hodiernas, aperfei­
çoados os m ecanism os operacionais, adequada à realidade econôm ica e social dos
países em seus diferentes estágios, destina-se a program a de grande envergadura
e responsabilidade do Estado. Pode, além de cam inho para distribuição de rendas
ser um avançado m eio de propiciar bem -estar aos cidadãos (m esm o no bojo de
regim e político e econôm ico em que são privados da iniciativa de proteger-se e,
seguidam ente, de sobressair o ativo em d etrim en to do inativo).
Nosso legislador sem pre fugiu de defini-la, e, realm ente, não é seu papel fazê­
-lo. Prefere indicar-lhe os princípios ou m eios de realização, com o os ditados no
art. 2Ç, I/VIII, da Lei n. 8.212/1991.
Às vezes, aproxim a-se do conceito, in d ican d o os objetivos: “assegurar aos
seus beneficiários m eios indispensáveis de m anutenção, p o r m otivo de incapaci­
dade, desem prego in v o luntário, idade avançada, tem po de serviço, encargos fam i­
liares e prisão ou m orte daqueles de quem dependiam eco n o m icam en te” (art. I9
da Lei n. 8.213/1991).
C om os ajustes das décadas 80/90, sofre a m ais significativa m u d an ça em sua
iniciativa, estru tu ra , alcance, finalidade e in stru m en tal, convindo sem pre levar em
conta de qual delas se está falando (histórica, a vigente, a sob transform ação ou a
futura).
A p ro p o silu ra vem deixando de ser exclusivam ente estatal, divididos os em-
pen h o s com o particular. E nfatizada a gestão privada (C hile e P eru), partilhados os
encargos (A rgentina e C olôm bia) o u su p erp o sto s (U ruguai e Brasil).

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
E strutura adm inistrativa concentrada nu m único órgão gestor ou m ultifacetada
em p luralidade de en tidades (v. g., sistem a fechado de fundos de pensão). A lcance
universal ainda não atingido ou com regras estanques para servidores públicos,
p arlam en tares e trabalhadores. B uscando oferecer rendas p erm an en tes, o riundas
dos regim es financeiros de capitalização ou de repartição sim ples.
A solução secu ritãria das dificuldades h u m an as de m an u ten ç ão na inativida­
de é fenôm eno largo e com plexo, desdobrando-se em variadas facetas. C onsegue,
co n co m ilan tem en te, com ênfase para um a ou o u tra destas características, ser: a)
seguro co m u n itário ; b) poupança coletiva; c) aplicação de capitais; d) geração de
rendas; e) salário diferido; f) m o n o p ó lio estatal; g) política p erm an en te; h) in d e ­
nização de danos; i) objeto do D ireito P revidenciário e, o m ais im p o rtan te, direito
subjetivo; e j) subm eter-se a u m conceito d o u trin ário .
351. Seguro co m u n itá rio — Seguro social, p o rq u e obrigatória e fruto da adi­
ção de m éto d o s derivados do seguro privado, ad o tan d o práticas do m utualism o
profissional, ap ro p rian d o ideias de p rêm io (co n trib u ição ), perío d o s de carência
(n ú m ero m ínim o de co n trib u içõ es), contingência coberta ou sinistro (evento d e­
term in an te), indenização (prestação), b ons e m aus riscos e, finalm ente, algum a
observância do cálculo atuarial.
352. Modalidade de reservas — P oupança, em v irtu d e do encargo de exigir
depósitos auferíveis p o steriorm ente, n a form a de pecúlios, resgates, vesíing e, p rin ­
cipalm ente, de rendas m ensais su b stitu tiv as e alim entares.
C oletiva, em razão do regim e de repartição sim ples e da não individualização
de cifras (à exceção do pecúlio).
O brigatória, p o r sujeitar-se à im posição legal. Indisponível, pois som ente
após o p reen ch im en to de certos requisitos convencionados ou legais, pode sobre­
vir o lev an tam en to dos valores.
Deveres prospectivos im põem a form ação de reservas m atem áticas, m ãxim e
se o regim e financeiro consagra a capitalização.
353. A plicação d e ca p ita is — P articu larm en te em seu segm ento privado, e,
com o concepção científica, necessariam ente, investidora institucional. Deve fazê­
-lo n o s estrito s lim ites de sua atribuição, sob retu d o organizada em razão das neces­
sidades atu ariais, co n siderando lal esforço atividade-m eio e não fim.
354. Geração de rendas — Por causa da solidariedade (im pregnando-a todo
o tem p o ), do regim e de repartição financeiro consagrado, da dispensa de nú m ero
m ín im o de c o n trib u iç õ e s — q u an d o a p ro teção é im p rescin d ív el — e da não
restituição de co n trib uições regularm ente vertidas (m esm o na hipótese de não rea­
lização de co n tin g ên cias) e, casu isü cam en te, das distorções sociais, ocupacionais
e pessoais, é in stru m en to de distribuição de rendas entre indivíduos, profissões,
regiões e gerações.
355. S alário d iferid o — Ao ap reen d er parcelas in teg ran tes da re m u n e ra­
ção do trab alh ad o r (co n stan tes de sua retribuição o u co n tid as v irtualm ente na

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 321
parte p atronal da obrigação fiscal), expropriá-las tem porariam ente, adm inistrá-las,
aplicando-as, e restituí-las n a form a de benefícios ou serviços, seg u n d o a força
cogente de norm a dc caráter público (quando o legislador julga o portuno o retorno),
a previdência social serve-se de m ecanism o do salário socialm ente diferido.
356. M onopólio e sta ta l — Por m eio da obrigatoriedade, o Estado apropria
recursos pessoais, d im in u in d o patrim ônios, com vistas à proteção individual, su b ­
traindo do ser h u m an o a possibilidade de gerir o u em p reen d er a cobertura de seus
riscos.
In ibindo a iniciativa do cidadão, obriga-se a m in istrar a técnica protetiva e,
corolariam ente, no bojo do ord en am en to ju ríd ico , in stitu ir direito subjetivo cons­
titucional.
E n q u an to com pulsória, m esm o nas m odalidades de gestão privada e com fi­
nalidade lucrativa, é em preendim ento de caráter público.
357. P olítica c o n tín u a — A paz social, a prom oção da justiça, a igualdade
jurídica das pessoas, enfim , a busca do bem -estar da coletividade, são objetivos
co n tín u o s da política g overnam ental do Estado m oderno. D estarte, não interessam
ao equilíbrio social os descom passos econôm icos e, p o r via de conseqüência, a in ­
tranqüilidade dos cidadãos. A previdência social, n a m edida do possível, p resu m i­
velm ente sobrepõe os interesses da coletividade aos do indivíduo, com a deliberada
vocação de cu id ar da pessoa hum ana.
358. In d en ização de d an o s — H istoricam ente, p o r variados m otivos, m u i­
tos deveres pró p rio s da em presa foram transferidos à previdência social. A lgum as
prestações, laboralm ente ínsitas ao em pregador, foram socialm ente transferidas
ou restaram diferidas, prin cip alm en te q uando caracterizados o dolo e a culpa do
patrão.
D iante do sinistro, in d en iza ou repara danos causados a qu em trabalha, fato
ainda m ais verdadeiro se sobrevêm inaptidão decorrente de acidente do trabalho.
359. O b jeto do D ireito — Razão de ser do D ireito P revidenciário e seu p rin ­
cipal objeto, é elem ento p ré-jurídico e fonte m aterial da legislação. E nquadrado
este com o ram o do direito público, concebido com o um a garantia co n stitu cio n al e
direito subjetivo dos protegidos, os quais, q u an d o do p reenchim ento dos requisi­
tos legais, podem suscitá-lo ju n to ao P oder Judiciário.
360. D efinição d o u trin á ria — E xuberante instigação do século XX, co n su b s­
tancia a m ais efetiva apreensão de recursos pecuniários praticados pelo Estado —
e sede da preocupação dos estadistas m odernos. E conom icam ente, inigualável e
quase irrealizável p o u p an ça coletiva obrigatória indisponível, verdadeiro m ilagre
co m u n itário , em que enorm e parcela de inativos, pessoas não m ais produtivas,
subsistem graças a reservas técnicas com pulsórias pretéritas do indivíduo e da
co m unidade, em experiência ím par na história m oderna.
Exterioriza-se com o a principal vertente da seguridade social (arts. 201
e 202). D isciplinada em apenas dois artigos, constantes do T ítulo VIII da C arta

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

322 W la d im irN o v a e s M a r tin e z


M agna, não o b stan te perm eia o Texto C onstitucional em várias oportunidades.
Este, repete-se, não contem pla o seu conceito ou definição, assim com o inexistem
os de seguridade social, saúde e assistência social. N em se deve esperá-los.
Os co n to rn o s da previdência social, em virtude da pouca densidade d o u tri­
nária, são m ais b em desen h ad o s em com paração com os das outras duas ações
estatais e particulares. A ênfase dada às prestações in d u z desavisados à crença de
ser so m en te vantagens, avultando seu principal objetivo e o papel de su b stitu id o ra
da rem u n eração do segurado.
A feiçoadam ente essencial — im plem entada pela particular, fechada ou aberta
(e até técnicas pessoais) — , não p ro p u g n a su bstituição total da rem uneração do
trab alh ad o r ou enseja m elhoria social após a cessação do trabalho. Prevalecente,
m as não exclusiva, acosta-se a o u tro s m étodos subsidiários, individuais e coleti­
vos, laborais ou securitários. Sem chegar ao Estado providenciãrio, cujo escopo é
o m áxim o de b em -estar social, referido p o r Keynes.
Persiste, até p o rq u e seguro social, estreitam ente envolvida com o trabalho
rem u n erad o , desenvolvendo as ideias de inscrição e contribuição personalizadas,
ad m itin d o a filiação de pessoas não vinculadas à em presa e in clu in d o quem não
labora su b o rd in ad am en te, ap o n tan d o para a seguridade social.
E ficiente m eio utilizado pelo E stado atual para a divisão da riqueza nacional
tem em m ira o co n fo rto do in d iv íd u o e se p resta, m e d ia n te benefícios, com o
veículo de reciclagem da m ão de obra e oferta de novos em pregos. No seio do
sistem a liberal, aperfeiçoa o so nho dos uto p istas do século passado n o tocante à
solidariedade das pessoas e das gerações.
No dizer de Celso Barroso Leite: “consiste basicam ente nu m sistem a de seguro
social co m p lem en tad o p o r program as assistenciários. De form a m ais objetiva, ela
pode ser definida com o co n ju n to de m edidas destinadas a am p arar as classes assa­
lariadas e o u tro s g ru p o s em em ergências decorrentes da cessação do trabalho ou de
necessidades especiais” ( “A Proteção Social no Brasil”, São Paulo: LTr, 1978, p. 18).
Fábio Leopoldo de Oliveira acolhe a definição de G. Petrilli: “o sistem a estatal,
norm ativo, orgânico e institucional, que perm ite a todos os cidadãos m anterem -se
com estabilidade e livres de todas as necessidades” ( “Intro d u ção E lem entar ao Es­
tu d o do Salário Social no Brasil”, São Paulo: LTr, 1974, p. 32). A p ar de co n fu n d ir
a técnica p ro tetiv a com o ram o ju ríd ic o ( “n o rm ativ o ”) e de atrib u ir am plitude em
dem asia ( “a todos os cidadãos”), propõe plan o de benefícios inalcançável ( “livre
de todas as necessidades”).
DiazLom bardo (“D erecho Social y la Seguridad Social Integral”, M éxico, 1973,
p. 129), citado p o r Alfredo Ruprecht, fornece a seguinte definição: “E a instituição ou
o in stru m en to m ed ian te o qual se visa assegurar a solidariedade, organizando os es­
forços do E stado e da população econom icam ente ativa, para g aran tir prim eiro os
riscos, e contingências sociais e de vida, as necessidades a que está exposta e aqueles
que dela dependem , a fim de conseguir para todos o m aior bem -estar socioeconôm i-
co possível” ( “D ireito da Seguridade Social”, São Paulo: LTr, 1996, p. 54/55).

C u r s o d i- D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 323
Sergio Pinto M artins acresce variações às concepções m ais genéricas: “Em ver­
dade, a previdência social é eficiente m eio de que se serve o E stado m o d ern o na
redistribuição da riq u eza nacional, tendo em m ira o bem -estar do indivíduo e da
coletividade, p restado por interm édio das aposentadorias, com o form a de recicla­
gem da m ão de obra e oferta de novos em pregos” ( “D ireito da Seguridade Social”,
2- ed. São Paulo: Atlas, 1993, p. 120).
Am auri Mascaro Nascimento diz: “p o rtan to , ao sistem a que visa m an ter os
m eios de su bsistência do h o m em que trabalha d u ra n te as inatividades forçadas
e dar-lhe um a certa segurança, em face dos riscos inerentes ao trabalho, dá-se o
nom e de previdência social (Brasil), ou securité sociale (F rança) ou previdenza so-
cialc (Itália)” ( “C om pêndio de D ireito do T rabalho”, São Paulo: LTr, 1969, p. 705).
Moacyr Veíloso Cardoso de Oliveira a considera “a organização criada pelo Es­
tado, destinada a prover as necessidades vitais de todos os que exercem atividade
rem u n erad a e de seus dep en d en tes e, em alguns casos, de toda a população, nos
eventos previsíveis de suas vidas, p o r m eio de um sistem a de seguro obrigatório,
de cuja adm inistração e custeio participam , em m aior ou m en o r escala, o próprio
Estado, os segurados e as em presas” ( “Previdência Social”, Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1987, p. 10).
D estacam -se nesta elegante descrição: a) ente criador — o Estado; b) objetivo
— a co b ertu ra de necessidades vitais; c) clientela — os exercentes de atividades
rem uneradas e seus dependentes; d) contingência — os eventos previsíveis; e)
m éto d o — o seguro obrigatório; e f) gestão — o governo e os beneficiários.
Ligeiros reparos induzem à com preensão do fenôm eno. R eferindo-se à b á­
sica, preferiu ign o rar a particular. F incou pé na essencialidade, m as, em razão da
com pulsoriedade, a técnica protege tam bém quem dela não necessita. De longa
data (1883), o alcance é m aior, abrigando ociosos, não im p o rtan d o a abrangência
da expressão. São cobertos quase todos os eventos; provavelm ente, a adm issibili­
dade referida significa estar prevista na lei. Além de não ser apenas in stru m en to
securilãrio, nem sem pre é obrigatório. F inalm ente, nos últim os tem pos, na gestão
paritária, ad m ite os em presários e os aposentados.
M ozart Victor Russomano diz: “com o todas as form as de previdência consiste
na captação de m eios e na adoção de m étodos para enfrentar certos riscos (inva­
lidez, velhice, acidente etc.) que am eaçam a segurança da vida hu m an a e que são
inevitáveis, p o r sua p ró p ria natureza, em toda sociedade, p o r m elh o r organizada
que ela seja” ( “C urso de Previdência Social”, Rio de Janeiro: F orense, 1974, p. 43).
Sully Alves de Souza, acostando-se a M attia Versiani, diz: “A Previdência So­
cial, considerada em seu sentido m ais am plo, é a organização através da qual o
Estado garante aos trab alhadores os m eios necessários para enfrentar as situações
de necessidades q u e p o d em d eco rrer de determ in ad o s eventos” ( “D ireito P reviden­
ciário ”, São Paulo: LTr, 1976, p. 14).
Segundo Armando de Oliveira Assis: “Por seguro social ou previdência social,
deve se en ten d e r um sistem a de proteção m ediante o qual as pessoas am paradas

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

324 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
adquirem certos direitos (prestações ou serviços) em troca de certos deveres (paga­
m ento de c o n trib u içã o )” ( Compêndio de Seguro Social, Rio de Janeiro: FGV 1963,
p. 71).
Para a C onvenção OIT n. 102 ê “a proteção que a sociedade proporciona a
seus m em bros, m ediante um a série de m edidas públicas co n tra as privações econô­
m icas e sociais que, de o u tra form a, deriva do desaparecim ento ou em forte re d u ­
ção de su a subsistên cia com o conseqüência de enferm idade, m atern id ad e, acidente
de trabalho ou enferm idade profissional, desem prego, invalidez, velhice e tam bém
a proteção em form a de assistência m édica e ajuda às fam ílias com filhos”.
Sob o prism a p articu lar de sua finalística, pode ser resenhada com o a técnica
de p ro teção social estatal ou particular, especialm ente se conjugadas, ensejadora
de pecúlios ou rendas m ensais, com vistas à m an u ten ção da pessoa h u m ana —
q u an d o esta não pode obtê-la ou não é socialm ente desejável auferi-la pessoal­
m ente pelo trabalho o u de o utra fonte, p o r m otivo de m aternidade, nascim ento,
incapacidade, invalidez, desem prego, prisão, idade avançada, tem po de serviço ou
m o rte — , m ed ian te cotização m ínim a com pulsória pretérita d istin ta, sob regim e
financeiro de repartição ou capitalização, plano de contribuição ou benefício d e­
finido, excep cio n alm ente facultativa, proveniente da sociedade e dos segurados,
gerida p o r estes e pelo governo ( “C om entários à Lei Básica da Previdência Social”,
8. ed., São Paulo: LTr, 1993, p. 14).

C urso cr: D i r e it o P r e v id e n c i á r i o

T o m o U — P r e v id ê n c ia S o c ia l 325
Capítulo XXXVI

C aracterísticas B ásicas

361. Solidariedade forçada. 362. Cobertura de riscos. 363. Obrigatorie­


S u m ário:
dade formal. 364. Legalidade positivada. 365. Universalidade da clientela. 366.
Substituidora de rendimentos. 367. Distribuidora de rendas. 368. Poupança co­
letiva. 369. Interesse permanente. 370. Caráter público.

A previdência social, técnica de proteção social prevalecente em todo o m undo,


distingue-se da assistência social e das form as incipientes de onde se originou
(m u tu alism o profissional e seguro privado). Suas principais nu an ças identificam -
-na, e a p a rtir delas é possível concebê-la o u classificá-la e, consoante a ótica p re s­
suposta, avaliá-la para fins científicos. Dai propiciar conclusões úteis na aplicação,
integração e interpretação da legislação.
D esfruta de variadas p articularidades, m uitas delas p ró p rias de sua natureza.
In stru m en to estatal de largo espectro, apresenta-se com elem entos essenciais dife-
renciadores, revelando sua verdadeira essência de in stru m en to protetivo.
361. Solidariedade forçada — Tecnicam ente, a previdência social é resultado
da so lidariedade forçada das pessoas ou gerações. Significa a participação de m aio­
ria con tem p o rân ea (c o n trib u in d o ), a favor de m inoria hodierna (inativos) e da
fu tu ra (ap o sen tan d o s). P artilha de recursos, atuarialm ente, em dado m om ento,
pressu p õ e o crescim ento n um érico dos contribuintes; ausente esse registro d e­
m ográfico, ser o período dos aportes e seu nível suficientes para cobrir despesas
corren tes e acu m u lar algum as reservas.
C ooperação m ú tu a im posta pelo Estado, pela cogência da lei, co n trarian d o a
natureza individualista do hom em de não se despojar em favor de terceiros. C or­
roborada, instin tiv am en te, em virtude da possibilidade de o indiv íd u o precisar dos
o u tro s e reco n h ecer não p o d er viver isoladam ente.
Q u er dizer, p rin cipalm ente, a colizaçâo de certas pessoas com capacidade de
vertê-la a bem dos econôm ica ou financeiram ente incapazes de fazê-lo. Q uando
da realização da receita, toda a sociedade contribui; no instante da percepção da
prestação, o cidadão dela usufrui. Inexistente, seria im possível a proteção dos

C u r s o .d e D ir e it o P r e v ip e n g Ar io

326 W /íiíiim ir N o v a e s M a r t i n e z
beneficiários sem capacidade contributiva. N esse sen tid o , não é previdência social
a poupança, individual ou coletiva, subm etida ao regim e financeiro de capitalização,
m esm o na h ipótese de a rentabilidade provir do trabalho social.
É tam bém expressão m atem ática d eterm in ad a pelo cálculo atuarial, em que
são decan tad o s os conceitos de risco, m assa protegida, tábua de m o rtalidade, p ro ­
babilidade, expectativa de vida etc., tendo em vista a diferença das pessoas (v. g.,
idade, tem po de serviço, salário e condições de trabalho).
L im itada à coletividade considerada (clientela de beneficiários), à base de
cálculo fixada pela n o rm a jurídica (alcance vertical da técnica) e com vários tipos:
nacional, profissional, geracional, regional, u rb an o -ru ral, fiscal etc. José Manuel
Almansa Pastore classifica-a segundo a interação, os sujeitos da relação, m otivação,
extensão m aterial e âm bito (“D erecho de la Seguridad Social”, vol. I, p. 161).
P rincípio de D ireito P revidenciário, a solidariedade pode ser conceituada
com o a transferência de m eios de u m a fração para o u tra, d en tro de co n ju n to de
pessoas situ ad as com recursos desnivelados ou não. R econhecim ento das desigual­
dades no estrato da sociedade, é deslocam ento físico, esp o n tân eo o u coagido pela
n o rm a ju ríd ica, de rendas ou riquezas, criadas pela com unidade, para parcela de
in d iv íd u o s previam ente definidos (segurados e d ep en d en tes), com cidadãos apor-
tadores e receptores, a uns se su b train d o o seu p atrim ô n io e a o u tro s se acrescendo,
até a consecução de certo equilíbrio previdenciário.
3 62. C o b e rtu ra d e risco s — Previdência social é m odalidade securitária,
socialm ente considerada, com prêm io (contribuição) e indenização (prestações),
p erío d o de carência, contingência protegida (evento d eterm in a n te ), segurado e se­
g u rad o ra (L stado ou delegado deste). C obre necessidades o u riscos fixados na lei,
conform e o caso, im p ondo com o condição a presença de requisitos (v. g., qualidade
de seg u rad o , carência e evento determ in an te).
Tal classificação é histórica; trata-se de política do estágio da técnica, ante­
cessora da seguridade social, proveniente do m utualism o profissional e do seguro
privado, am bos os esforços com aspectos igualm ente securitários. Traindo essa
origem , o principal beneficiário é dito segurado.
S ubstancialm ente, difere do seguro privado pela ausência de vontade de
contratar, o b rigatoriedade de adesão do particip an te e do órgão gestor, e gerência
estatal, não visando ao lucro nem b u scando superávits.
C om o derivação prática, a legislação abriga a hipótese de o p o rtad o r de
enferm idade ou doença, em bora segurado obrigatório (com vistas em outras pres­
tações), não fazer jus a benefícios por incapacidade. Da m esm a form a, subsiste
exigência de núm ero m ínim o de contribuições (carência) e ideias de vínculo (filiação)
e identificação (in scrição), desnecessárias na seguridade social.
P erdendo essa característica, deixa de ser previdenciária, p o dendo transfor­
m ar-se em seguridade, assistência social ou p o u p an ça individual obrigatória in d is­
ponível (m odalidade chilena, p eruana, argentina e colom biana).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo 11 — P revidência S ocial 327


363. Obrigatoriedade formal — C om a Lei Eloy C haves, a previdência social
deixou de ser prêm io a servidores, seguro privado para certas categorias e m utua-
lidade para outras, transform ando-se em instituição pública genérica e im posta
para Lodos os m em bros da clientela definida na lei, alcançando, sucessivam ente:
em pregado, servidor, avulso, autô n o m o , em presário, dom éstico, trabalhador rural,
tem porário, eventual, eclesiástico, segurado especial etc.
Como visto, a solidariedade não é espontânea. A adesão a sistem as optativos ou
facultativos não afasta do segurado a com pulsoriedade, um a vez ingressado no sistema.
Para Raggí, “o seguro social é obrigatório, porque, se não for, não será seguro social”
(apucl Augusto Venturi, in “I Fondam enti Scientifici delia Sicurezza Sociale”, p. 109).
A obrigatoriedade é condição para a solidariedade se efetivar. Im positividade
aludida não apenas da contribuição, m as de perten cer ao sistem a. Ela é exigida,
norm a pública — ju s cogens — , ao qual n e n h u m dos m em bros da sociedade pode
subtrair-se, não im p o rtan d o o m otivo.
N itidam ente co n trária à natureza livre do hom em não acostum ado á p o u ­
pança. C ondição h u m an a acu ltu ran te, d ecorrente da desconfiança em relação ao
seguro social e ao Estado, nascida em piricam ente e não derivada do hom em pre­
vidente por instinto.
Sua im p o rtân cia pode ser ressaltada pelo fato de ter d eterm in ad o o nascim en­
to do seguro social. Para Aguinaldo Simões, “ela representou a prim eira pedra na
edificação da segurança social" (“P rincípios de Segurança Social”, p. 75/76).
364. L egalidade p o sitiv a d a — A im positividade foi reclam ada pelo E stado, o
ún ico ente político com forças suficientes para isso. O rganizada a nação, a exigên­
cia dá-se por lei. Em face das diversas responsabilidades do governo na condução
da política adm inistrativa e das pesadas obrigações assum idas, em m atéria de Di­
reito Público, a prim azia da lei é inquestionável.
Subtraída do p articular a iniciativa da proteção, a norm a jurídica tornou-se a
principal fonte form al, q u an d o não a única. Em D ireito Previdenciário, ram o n as­
cente e em substanciação, a legalidade assum e relevância. Mas, frequentem ente, o
P oder Legislativo deixa a critério da A dm inistração a sua atribuição; daí decretos
com uns e reg u lam entadores extrapolarem a lei ou conlraditarem -na.
Na condição de fenôm eno científico, m atem ático e financeiro, a lei sobre o
seguro social deve ser m enos genérica e d isp o r especificam ente sobre seus aspec­
tos. Do co n trário , o ad m in istrad o r fica aquém da mens legis ou, bem pior, vai além
dela. Isso é relativam ente com um e propicia divergências, altam ente indesejáveis
na esfera do D ireito Social.
365. U n iv ersalid ad e da clien tela — Tanto n o seguro qu an to na seguridade
social é presente a ideia de clientela protegida, isto é, configura com nitidez a
reunião dos destin atários da técnica correspondente. O co n ju n to dessas pessoas,
definido em lei, distingue-se de o u tro s segm entos securitários, com o é exem plo o
dos co n trib u in tes. O ag rupam ento coberto, dos beneficiários no seguro social, não
coincide ex atam ente com o dos financiadores.

C urso de D i r e it o P r e v id e n c i á r i o
328 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
N u m dado m o m ento esse círculo é perfeitam ente sedim entado: a qu alq u er
in stan te, ele pode ser apurado. N ão conhece exceções ou fissuras. Nesse particular,
a universalidade é absoluta. Todos os com ponentes estão abrangidos, e, para isso, a
legislação fixa co n d içõ e s, e n tre as qu ais a cap acid ad e p re v id e n ciária , a filiação,
a inscrição e a carência, além de o u tras mais.
L im itada no seguro social a certas categorias de in d iv íd u o s e ilim itada na
seguridade social.
366. S u b s titu id o ra de re n d im e n to s — Em v irtude de sua razão de ser (pres­
tações), a previdência social se posta no lugar dos ingressos da pessoa, principal­
m ente de q uem vivia à custa do trabalho su b o rd in ad o ou in dependente.
Fonte estatal perm anente, característica extraordinária desconhecida antes de sua
instituição, a ideia básica choca-se com a liberdade constitucional de trabalhar, pois
seu objetivo é substituir tais meios quando o segurado não pode obtê-los pelo labor.
Nessa lin h a de raciocínio, não é previdência social a obtenção de renda per­
m an en te, p ara ficar no lugar, p o r exem plo, do aluguel de casas ou de o u tras fontes
de su bsistência não laborais.
Da su b stitu ição decorre a co n tin u id ad e — ângulo im p o rtan te e, p o r se tratar,
no rm alm en te, do ú n ico m eio de renda da pessoa sem condições de obtê-la noutro
sítio — , e n ão é interrom pível, com o o é o salário. Assim , o legislador não pres­
supõe (com o o faz o elaborador da n o rm a trabalhista) fraturas na seqüência das
m ensalidades; exige-as inexoravelm ente até a cessão da necessidade.
367. D is trib u id o ra de re n d a s — A previdência social, em razão de am ealhar
recursos em certa parcela da população e entregá-los a ou tra, não necessariam ente
coincidentes, acaba co m p artilh an d o rendas. N ão é seu papel, histórico nem cien­
tífico, m as em razão da m á divisão jacen te acaba to rn an d o -se efetivo in stru m en to
de justiça social.
Por isso, se alega ser a contribuição previdenciária u m salário socialm ente
diferido. D iferido p o r seu aspecto de p o u p an ça obrigatória, cujo levantam ento
ocorre no futuro, q u an d o presente a contingência protegida. Socialm ente, porque
recursos de toda a sociedade canalizados para o indivíduo e não apenas os seus (se
assim fosse, seria p o u p an ça individual obrigatória indisponível).
Aqui no Brasil, com as graves distorções regionais e sociais, a prestação previ­
denciária prom ove repartição de rendas e, com o su b p ro d u to , estim ula o consum o
de algum as pessoas em algum as regiões. Q uem n u n ca recebeu o salário m ínim o,
em d eco rrên cia do trabalho, pode auferir esse valor do INSS.
Nas h ip ó teses de prestações p o r incapacidade, prin cip alm en te as decorrentes
de acidentes do trabalho, p o r influência decisiva da solidariedade, é visível a par­
tilha encetada.
368. P o u p an ça coletiva — Não só nos casos de pecúlio, m as em benefícios de
pagam ento co n tin u ad o , a previdência social não deixa de ser poupança coletiva in­
disponível e, d ian te do insucesso de o u tras aplicações, de co n sistir em verdadeiro
in v estim en to a longo prazo.

C u rso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P revidência S ocial 329


G uardar o excesso de hoje para necessidade de am anhã é-lhe inerente. M esm o
ad o tan d o o regim e de repartição sim ples, o segurado capitaliza valores capazes de
perm itir-lhe prestação previam ente definida.
Não se confunde com a p o u p an ça p u ra e sim ples em razão da o brigatorie­
dade e da indisponibilidade. Só excepcionalm ente são restituídas contribuições
devidas. Também não há registro pessoal dos valores, contabilizados englobada e
coletivam ente.
369. Interesse permanente — Com a urbanização e a proletarização, g ra n ­
des m assas de pessoas d ep en d em dos salários para sobreviver. Tendo assum ido a
obrigação de ad m in istrar os recursos capazes de atendê-las q u an d o de im prescin-
dibilidades, os governos concentram sua atenção na área da proteção social, p a rti­
cularm ente nas obrigações previdenciárias.
Em term os m édios, m ais de 60% da população, de m odo geral, dependem
diretam ente da previdência social, e, em razão disso, quase todas as organizações
sociais preveem instituição para cuidar dessa área, geralm ente p o r interm édio de
m inistérios, secretarias ou autarquias.
Os aportes canalizados para esse fim são vultosos, geralm ente postados ap e­
nas abaixo do o rçam ento geral da N ação, obrigando a A dm inistração central a
cu id ar deles com bastante antecedência.
370. C a rá te r p ú b lico — Em v irtude da presença coordenadora do Estado,
necessidade de organização social e regulam entação legislativa, foi preciso en q u a­
d rar o D ireito P revidenciário, situando-se este no Direito Público. Daí derivando,
em boa parte, a publicização de m uitas de suas instituições, isto é, subm issão à
norm a pública.
Não desfruta o segurado nem o dep en d en te da liberdade contratual do
seguro privado. Subm ete-se à cogência da vontade do legislador. Pouca vontade
ele exercita.
A feiçoando-se às circunstâncias ju ríd icas, tanto q u an to à publicização, não
obstante enfocado no Tomo I — Noções de Direito Previdenciário, ressalta-se ser a
Previdência Social, no tocante às prestações, um direito subjetivo constitucional,
isto é, preen ch id o s os requisitos legais, a pessoa tem crédito junto ao órgão gestor.
Fato assegurado em inúm eras declarações universais com o a C arta da O rga­
nização dos E stados A m ericanos data de 2.5.1948 (1 C onferência Internacional
A m ericana, assinada em Bogotá).
O p róxim o d o cu m en to é a D eclaração A m ericana dos D ireitos e Deveres do
H om em , de 2.5.1948 (Bogotá). No m esm o dia, firm ada a C arta Internacional A m e­
ricana de G arantias Sociais.
A Declaração U niversal dos D ireitos H um anos é de 10.2.1948, no bojo da
A ssem bleia Geral da ONU.

C u r s o d iz D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r ti n e z
Capítulo XXXVII

O rganização A dmi ni strati va

S u m Ar í o : 371. Ministério da Previdência Social. 372. Instituto Nacional do Se­


guro Social. 373. Secretaria de Políticas da Previdência Social. 374. Conselho
Nacional da Previdência Complementar. 375. Superintendência Nacional da
Previdência Complementar. 376. Conselho Nacional de Seguridade Social. 377.
Conselho Nacional de Previdência Social. 378. Conselho Nacional de Assistên­
cia Social. 379. Conselho de Recursos da Previdência Social. 380. DATAPREV

O D ecreto-lei n. 72/1966 determ in o u a criação do In stitu to N acional da Pre­


vidência Social — INPS, reu n in d o os seis IAPs então existentes e unificando o
órgão gestor previdenciário. Em 1960, a LOPS já havia prom ovido a reunião da
legislação.
Em 1977, p o r in term éd io da Lei n. 6.439/1977, foi criado o Sistem a N acional
de P revidência e A ssistência Social — SINPAS, com posto do MPAS, das três au tar­
quias federais (INPS, 1APAS, INAM PS), DATAPREV, CEME e três entidades assis-
tenciárias (LBA, FUNABEM e FACR). O FUNRURAL e o IPASE foram absorvidos
em I a.9.1977. O SASSE em 1977 (Lei n. 6.430/1977). A gestão adm inistrativa,
financeira e patrim o nial do sistem a foi objeto do D ecreto n. 83.266/1979.
A p artir da Lei n. 8.029/1990, criou-se o M inistério do Trabalho e Previdência
Social — MTPS, M inistério da Saúde — MS, e M inistério da Ação Social — MAS. O
INPS e o IAPAS fu n diram -se no INSS e o INAMPS desapareceu. As ações de saúde
ficaram p o r co n ta do MS.
A Lei n. 8.422/1992 extinguiu o MTPS, in stitu iu o MPS e o M inistério do Tra­
b alh o e da A dm inistração — MTA. Este ú ltim o to rnou-se o M inistério do Trabalho
e do Em prego — MTE.
C om a Lei n. 8.490/1992, o MPS abrangia: CNSS, CNPS, CRPS e CGPC, C on­
selho G estor do C adastro N acional de Inform ações Sociais — CGCNIS, SPC, SPS
e In sp eto ria G eral da Previdência Social — IGPS.
C o n stitu íd a de ações do Estado e do particular, a previdência social básica é
gerida p o r entes políticos, m ediante a adm inistração central, autarquias ou insti­
tu to s ind ep en d en tes.

C urso nn D ir e it o P k e v id f .n c i A r io
Tom o II — P revidência S ocial 331
A previdência co m plem entar fechada é supervisionada pelo CNPC e pela
PREVIC. Em todos esses órgãos coletivos têm assento os representantes dos em ­
presários, trabalhadores e do governo federal, O segm ento aberto (seguradoras e
bancos) é su p ervisionado pelo M inistério da Fazenda, p o r interm édio da SUSEP
ed o C N S P .
O s ú ltim o s órgãos a integrar a Previdência Social vieram a ser os C onselhos
E staduais de Previdência Social — CEPS e os C onselhos M unicipais de Previdência
Social — CMPS. O O uvidor-G eral não chegou a ser criado.
O C onselho G esto r do C adastram ento N acional de Inform ações Sociais —
CG/CNIS (D ecreto n. 9 7.936/1989) foi criado com a finalidade de verificar os
valores dos salários de co n trib u ição dos segurados e estabelecer registro geral dos
trabalhadores.
371. M in istério d a P revidência Social — A previdência social é gerida su ­
perio rm en te pelo MPS. Desde 1992, p o r m otivo desconhecido, o M inistério d im i­
nuiu a im p o rtân cia do INSS. Essa gestão se faz m ediante o G abinete do M inistro,
da Secretaria de Políticas da Previdência Social — SPPS e C onselho N acional de
Previdência Social — CNPS e da D iretoria do INSS de benefícios.
Com a Lei n. 8.490/1992, a abrangência do MPS restringia-se à previdência
básica e com plem entar. Para a MP n. 1.549-3/1997, suas áreas de com petência
eram: a) previdência social; b) previdência com plem entar; e c) assistência social.
Seu art. 15 fixa os órgãos com uns a todos os m inistérios: 1 — Secretaria Executiva;
II — G abinete do M inistro; e 111 — C onsultoria Jurídica. O R egim ento In tern o da
C o n su lto ria Ju ríd ica está disciplinado na Portaria MPAS n. 3.070/1996.
372. In stitu to N acional do Seguro Social — O INSS (D ecreto n. 99.350/1990}
era a autarquia incum bida da execução da técnica protetiva, verdadeiram ente o órgão
gestor, credora de obrigações fiscais de toda ordem e devedora das prestações (bene­
fícios e serviços). Com a Lei n. 11.457/2007 o credor das obrigações fiscais passou a
ser a Receita Federal do Brasil — RFB.
Ele organiza-se n acionalm ente, conform e a Presidência sediada em Brasília,
e S u p erintendências Regionais, nos Estados. C om põe-se, ainda, de cerca de 1000
Agências de Previdência Social — APS.
Pòr meio da Resolução INSS n. 321/1995, a autarquia faz parte do Sistema Inte­
grado de A dm inistração Financeira — SIAFI, para fins de arrecadação e contribuições.
C onform e o D ecreto n. 569/1992, o INSS tinha p o r atribuições: a) en cetar a
arrecadação, a fiscalização e exigibilidade das exações fiscais; b) gerir os recursos
financeiros do FPAS; e c) exam inar pedidos, conceder e m an ter benefícios e servi­
ços previdenciários (e alguns assistenciários). B asicam ente, organiza-se com um a
Presidência, A uditoria, P rocuradoria-G eral, D iretoria de A dm inistração P atrim o­
nial — DAP D iretoria de A dm inistração F inanceira — DAF e D iretoria do Seguro
Social — DSS. Mais recentem ente, pela D iretoria C olegiada — DC.
373. S ecretaria de P olíticas d a P revidência Social — A SPPS é o órgão su p e­
rior, sup erv iso r da gestão previdenciária, in cum bido de aco m p an h ar os program as
e diretrizes básicas do sistem a. Tem ainda a função de disciplinar, com instruções,
m atéria não disposta na lei ou no regulam ento.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

332 W / íid im ír N o v a e s JW tíríin ez


H isto ricam en te, em m uitas op o rtu n id ad es, co n so lid o u a legislação adm inis­
trativa. Serve de elo en tre a autarquia executante, o INSS, e o MPS. P raticam ente
é q u em form ula a filosofia do D ireito P revidenciário no âm bito da A dm inistração.
374. Conselho Nacional de P rev id ên cia C o m p le m e n ta r — O C onselho N a­
cional de P revidência C o m p lem en tar é o organism o colegiado regulador da previ­
dência co m p lem en tar fechada. C om põe-se de rep resentantes do G overno Federal,
das p atro cin ad o ras e dos participantes, além de o u tras diferentes entidades.
Suas prin cip ais funções são: a) estabelecer as diretrizes e norm as da política
co m p lem en tar de previdência; b) regular a constituição, organização, funciona­
m en to e fiscalização das EFPC; c) estip u lar as condições técnicas sobre custeio,
inv estim en to s e o u tras relações patrim oniais; e d) estabelecer as n o rm as gerais de
contabilidade, atu aria e estatística.
375. S u p erin te n d ê n c ia N acional de P rev id ên cia C o m p le m e n ta r — A Se­
cretaria de P revidência C om plem entar, criada pelo D ecreto n. 81.240/1978, era o
órgão de execução e fiscalização da previdência com plem entar. Ela foi su b stitu íd a
pela S u p erin ten d ên cia N acional da Previdência C om plem entar (PREVIC), criada
pela Lei n. 12.154/2009.
As prin cip ais atribuições da SPC eram : I) processar os p edidos de autorização
para co n stitu ição , fu n cionam ento, fusão, incorporação, g ru p am en to , transferência
de controle e reform a dos estatutos das entidades fechadas, o p in ar sobre eles e en-
cam inhã-las ao MPS; II) baixar instruções e expedir circulares para im plem entação
das n o rm as estabelecidas; III) fiscalizar a execução das n o rm as gerais de co n tab i­
lidade, atu aria e estatística fixadas pelo CG PC, bem com o da política de investi­
m ento traçada pelo C onselho M onetário N acional; IV) fiscalizar as atividades das
en tid ad es fechadas, inclusive qu an to ao exato cu m p rim en to da legislação e norm as
em vigor, e aplicar as penalidades cabíveis; V) p ro ced er à liquidação das entidades
fechadas cuja autorização de fu n cionam ento foi cassada ou das sem condições para
funcionar; e VI) prover os serviços da Secretaria do CG PC, sob o controle deste.
376. Conselho Nacional de Seguridade Social — O C onselho N acional de
Seguridade Social — CNSS era um órgão su p erio r colegiado da seguridade social.
Suas p rin cip ais atrib uições eram : a) fixar as diretrizes gerais e as políticas de in ­
tegração n a área de atribuição do MPS; b) ac o m p an h ar e avaliar a gestão econô­
mica, financeira e social dos recursos financeiros e verificar o d esem penho dos
program as realizados; c) aprovar e su b m eter ao órgão governam ental com petente
os pro g ram as an u ais e plurianuais, bem com o a proposta o rçam en tária anual e
d) apreciar e aprovar os convênios celebrados entre a seguridade social e a rede
bancária; e e) estabelecer a recom posição periódica dos valores dos benefícios em
m an utenção. Ele foi desativado pela M edida Provisória n. 1.799-5/1999.
377. Conselho Nacional de Previdência Social — O C onselho N acional de
Previdência Social — CNPS tem p o r atribuições: a) estabelecer diretrizes gerais e
apreciar as decisões políticas previdenciárias; b) participar, ac o m p an h ar e avaliar
sistem aticam ente a gestão previdenciária; c) apreciar e aprovar os planos e progra­
m as; d) apreciar e aprovar as pro p o stas orçam entárias previdenciárias, antes de sua
consolidação; e) ac o m p an h ar e apreciar os relatórios gerais da previdência social;

C urso de D ir e it o P re v id e n c iá rio
T om o 11 — P revidência S o c iíil 333
D aco m p an h ar a aplicação da legislação p ertin e n te à previdência social; g) apreciar
a prestação de contas a ser rem etida ao TCU; e h) estabelecer valores m ínim os em
litígio, acim a dos quais é exigida a anuência prévia do Procurador-G eral o u do
Presidente do INSS para a desistência ou transigência judiciais.
A Resolução CNPS n. 3/1983 regra a organização dos CEPS e CMPS. A Reso­
lução INSS n. 142/1993 disciplina a escolha dos representantes do G overno F ede­
ral e da sociedade civil ju n to ao CEPS e CMPS.
378. C o n selh o N acional d e A ssistência Social — O C onselho N acional de
A ssistência Social — CNSA é órgão su p erio r de deliberação colegiada, vinculado
ao MPS. C om posto de 18 m em bros, sendo nove deles representantes governam en-
Lais e nove da sociedade civil, presidido p o r um de seus integrantes (art. 17 da Lei
n. 8.742/1993).
Suas principais funções são: l — aprovar a Política N acional de Assistência
Social; II — n o rm alizar as ações e regular a prestação de serviços de natureza públi­
ca e privada no cam po da assistência social; III — baixar norm as para a concessão
de registro e certificado de fins filantrópicos às entidades privadas prestadoras de
serviços e assessoram ento de assistência social; IV — conceder atestado de registro
e certificado de entidades de fins filantrópicos; V — zelar pela descentralização e
participação da assistência social; VI — convocar ordinariam ente, a cada dois anos,
ou extraordinariam ente, por m aioria absoluta de seus m em bros, a C onferência Na­
cional de Assistência Social, com a atribuição de avaliar a situação da assistência
social e p ro p o r diretrizes para o aperfeiçoam ento do sistem a; VII — apreciar e apro­
var a proposta o rçam entária da Assistência Social a ser encam inhada pelo MPS;
VIII — aprovar critérios de transferência de recursos para entes políticos; IX —
aco m p an h ar e avaliar a gestão dos recursos, bem com o os ganhos sociais e o desem ­
penho dos program as e projetos; X — estabelecer diretrizes, apreciar e aprovar os
program as anuais e plu rianuais do F undo N acional de Assistência Social — FNAS;
XI — elaborar e aprovar seu regim ento interno; e XII — divulgar todas as suas d e­
cisões no DOU, bem com o as contas do FNAS e os respectivos pareceres em itidos.
379. C o n selh o de R ecursos da P revidência Social — O C onselho de Recur­
sos da Previdência Social (D ecreto n. 568/1992) é órgão adm inistrativo de controle
das decisões do INSS em m atéria de benefícios, com posto p o r Ju n ta s de Recursos
— JR e C âm aras de Ju lg am en to — CAj, além do C onselho Pleno.
Ju n tas de Recursos são organism os paritários regionais incu m b id o s de dirim ir
conflitos entre os beneficiários e o INSS, em prim eiro nível o u grau. As C âm aras
de Ju lg am en to do CRPS são órgãos de segundo nível ou grau de apreciação de
recursos de decisões das JR.
Tanto as JRs com o as CAJs são com postas p o r dois rep resen tan tes do G overno
Federal, u m rep resen tan te dos trabalhadores e u m dos em pregadores.
380. DATAPREV — A DATAPREV é a Em presa de P rocessam ento de D ados
da Previdência Social, em presa pública incum bida do processam ento de dados e do
sistem a de inform ações da previdência social. C riada pela Lei n. 6.125/1974, conta
com 22 su p erin ten d ên cias regionais.

C urso d e D i r e it o P r e v id e n c i á r i o
334 Wfadímir Novaes Martinez
Capítulo XXXVIII

C a p a c i d a d e P revi denci ári a

S u m Ar io : 381. Capacidade contributiva. 382. Condição de beneficiário. 383. Ti­


tularidade comercial. 384. Posição do presidiário. 385. Situação do indígena.
386. Inaptidão laborai. 387. Representação do titular. 388. Tutela de menor.
389. Curatela de incapaz. 390. Substituição do ausente.

Da capacidade ju ríd ic a civil, provém a previdenciária, isto é, o atrib u to ju rí­


dico suficiente para su jeitar as diferentes pessoas, físicas ou ju ríd icas (à exação) e
p erm itir o exercício do direito (às prestações).
Som ente certos indivíduos ou entidades têm a obrigação de se filiar ou v in ­
cular, se inscrever ou m atricular e, exclusivam ente, alguns podem u su fru ir das
faculdades in eren tes a essa situação. São os capacitados ou capazes.
A capacidade previdenciária distingue-se um pouco da civil e da trabalhista
em razão da tutela objetivada. Exem plificativam ente, o inapto para o trabalho acaba
trabalhando, e a relação jurídica, não obstante o esforço físico im posto é regular, mas
o segurado não tem direito a benefícios por incapacidade se alegar a m esm a causa.
381. C ap acid ad e c o n trib u tiv a — A lei previdenciária vigente n ão disciplina
idade m ín im a nem a m áxim a para ser filiado. De m odo geral, qu em define a m eno-
ridade, para fins civis, é o C ódigo Civil, e, para os fins trabalhistas, a CLT, na qual
se abebera o D ireito Previdenciário.
Diz o art. 7Q, XXXIII, da CF/1988: “proibição de trabalho n o tu rn o , perigoso
ou insalubre aos m enores de 18 anos e de q u alq u er trabalho a m enores de 16 anos,
salvo n a condição de ap ren d iz” (redação da EC n. 20/1998).
A C arta M agna veda o exercício de atividade p o r p arte dos m enores de idade,
m as isso n ão é m otivo para eles se quedarem sem proteção.
N ossa d o u trin a e a rara ju risp ru d ên c ia en ten d em no sen tid o de descaber p ro ­
teção previdenciária, sendo devida a civil, no caso de m enores de 14 anos, p rin ci­
p alm ente q u an d o sofrem acidentes do trabalho.
Tratando-se de segurado não obrigatório, o PBPS observa: “É segurado facultati­
vo o m aior de 14 (quatorze) anos que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social,
m ediante contribuição, desde que não incluído nas disposições do artigo” (art. 13).

C u rs o d e D ire ito P r e v id e n c i á r i o
T o m o fI — P revidência S o c i a l
Assim , a p rin cíp io , 14 anos seria o lim ite da m enoridade previdenciária, para
ser em pregado ou facultativo. Para os dem ais segurados valem as norm as civis (16
anos) e com erciais (18 anos).
Q u an d o a pessoa não tem capacidade civil e herda um a em presa é preciso
d eterm in ar a p artir de q u an d o se to rn a um em presário. É representada p o r tutores
ou p or curadores se a incapacidade decorre de enferm idade.
De acordo com o art. 111 do PBPS, o segurado m en o r de 21 anos de idade é
autorizado a “firm ar recibo de benefício, in d ep en d en te da presença dos pais ou do
tu to r”. Pressupõe-se que a idade de 14 anos até a lei básica da previdência social
era adequada à C arta M agna.
Im pedido de assinar, p o r ser analfabeto o u o utra im possibilidade, poderá dar
quitação com a aposição da im pressão digital na presença de servidor ou de repre­
sen tan te do órgão gestor.
O segurado de fato tem capacidade ju ríd ica previdenciária. O direito decorre
da filiação e não da inscrição. D em onstrado o exercício da atividade caracterizado-
ra da filiação, é su jeito de direito previdenciário.
Para lins da utilização dos principais benefícios de pagam ento co n tin u ad o , a
CLPS havia fixado lim ite m áxim o para ser segurado: 60 anos. Porém , a co n tar de
25.7.1991, a referida faixa etária deixou de existir. N essas condições, se vinham
apo rtan d o con trib u içõ es e preen ch en d o os requisitos legais, faz ju s aos benefícios,
especialm ente à ap o sen tadoria p o r idade.
A filiação, a co n tribuição e o aproveitam ento do tem po de serviço do m aior
de 12 e m en o r de 14 anos é questão torm entosa. O Parecer PGC n. 83/1973 (in
Processo INPS n. 2 .3 3 2 .511/1972), exam inando a situação de artista de TV e ci­
nem a, co n clu iu não p o d er ser segurado, m as a Resolução CD/DNPS n. 168/1969
auto rizo u o cô m p u to do tem po de serviço de 12 a 14 anos. O DNPS acolheu o
tem po de serviço perigoso, penoso ou insalubre prestado p o r m enor de 18 anos,
enq u an to realidade, fato confirm ado pelo Parecer PGC n. 364/1971. O Decreto
n. 66.820/1970 definiu serviços de natureza leve para trabalhador dos 12 aos 18
anos. O TRF da 1® Região en ten d eu de validar o período de trabalho dos dez aos
14 anos (A córdão n. 1992.01.28.972-3/M G , de 4.5.1994, in RPS n. 174/331). Logo,
a problem ática estender-se-á aos m enores de 16 anos.
382. C o n d ição de b en eficiário — A titularidade dos direitos dos beneficiá­
rios tam bém reclam a capacidade civil e previdenciária. O direito dos pensionistas
m enores de idade é exercitado pelos seus representantes legais, em cada caso, pai
e m ãe, tu to r ou curador.
Da m esm a form a a pessoa, em razão da insanidade ou idade avançada, m e­
diante tu to r ou procuradores. N esse sen tid o , na pensão p o r m orte, subsistem o
titu lar do benefício (m ãe ou pai) e os percipientes (filhos). Às vezes, o benefício é
concedido apenas aos filhos, únicos com direito, m as a percepção dos valores se faz
p o r in term éd io de q uem tem o pátrio p o d er (norm alm ente, a m ãe), e essa pessoa
pode não re u n ir as características do dependente.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

336 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
383. Titularidade comercial — A capacidade para ser em presário é a com er­
cial. Provém , em ultim a instância, da civil.
Em diversas situações, o em presário é substituído: intervenção, sucessão, li­
quidação judicial, concordata, falência...
384. Posição do presidiário — Q uem está preso não pode exercitar todos os
seus direitos, p rin cip alm ente q u an d o o exercício reclam a a presença física (Lei n.
7.210/1984). O bserva certa capitio diminutio, em bora as faculdades patrim oniais
sejam in teiram en te preservadas. Se percipiente de benefício, com o a ap o sen tad o ­
ria, esta lhe será paga p o r in term éd io de m andatário. A Lei n. 10.666/2003 definiu
alguns do s seus d ireitos ( “D ireito dos P resos”, São Paulo: LTr, 2010).
385. Situação do indígena — A legislação específica sobre o assu n to consi­
dera índio ou silvícola todo indivíduo de origem e ascendência pré-colom biana
identificado com o p ertencente a grupo étnico cujas características cu ltu ra is o d is­
tin g u em da sociedade nacional. De acordo com o C ódigo Civil, ao silvícola falta
a plena capacidade para os atos da vida civil. Falta-lhe, pois, capacidade ju ríd ica
para m anifestar a v ontade, e ele não pode praticar certos atos relacionados com o
trabalho.
Esse indígena observa tutela especial. Sua incapacidade não está relacionada
com a idade n em com a higidez corporal. Ele é relativam ente incapaz em decor­
rência de sua in ad ap tação à nossa cu ltu ra e civilização.
O regim e de previdência social pode ser estendido ao índio, aten d id as as c o n ­
dições sociais, econôm icas e cu ltu rais das com unidades indígenas.
Do p o n to de vista da m aioridade, para prática de atos ju ríd ico s, eles são divi­
didos em três categorias: a) isolados — vivendo em grupos desconhecidos ou dos
quais há po u cas ou vagas inform ações, m ediante contatos eventuais com indiví­
d u o s da co m u n h ão nacional; b) em vias de integração — em co n tato in term iten te
o u p erm an en te com grupos estranhos, conservam m en o r ou m aior parte das co n ­
dições de sua vida natural, aceitam algum as práticas e m odos de existência co m u n s
aos dem ais setores da co m u n h ão nacional, da qual vão necessitando cada vez m ais
para o p ró p rio susten to; e c) integrados — in co rp o rad o s à co m u n h ão nacional e
en co n trad o s no pleno exercício dos direitos civis, m esm o q u an d o conservam usos,
costum es e tradições p ró p rio s de sua cultura. D ependendo do exercitado e não
dessas condições, estes últim os podem ser segurados. Os co m p o n en tes das duas
p rim eiras categorias n ão podem sê-lo.
386. Inaptidâo laborai — A previdência social, em bora contida na seguridade
social, com o exposta n a legislação ordinária, ressente-se de ser seguro social, isto é,
ainda possui características do seguro. N essas condições, com vistas às prestações
relativas da ap tidão física para o trabalho, obsta o direito para quem se filia p o rta ­
d o r de enferm idade, em tese, d eterm in an te de benefício.
Sua finalidade da previdência social é su b stitu ir os ingressos d o trabalhador
q u an d o , o co rren d o um a contingência protegível elencada na lei, ele não m ais c o n ­
segue obtê-los pelo labor.

C urso de D i r e it o P r e v id e n c i á r i o
Tomo I I — Previdência Social
C aso antes da adm issão ao regim e (q u an d o não filiado ou inscrito) já ap resen ­
tava o risco coberto pela proteção social, ela nào tem sentido securitário, p o d e n d o ­
-se pen sar em o u tro s m eios de am pará-lo, com o a restituição das contribuições
vertidas, algum tipo de pecúlio ou m esm o prestação assistenciária, m as não a
previdenciária.
F iliando-se incapaz, o segurado não tem direito ao auxílio-doença (PBPS, art.
59, parágrafo ú n ico ) ou à aposentadoria p o r invalidez (PBPS, art. 42, § 2Q), mas
o tem po de co n trib u ição é considerado para o u tro s fins (v. g., com pletar carência,
som ar coeficiente aplicável, ao salário de benefício e aposentadoria p o r tem po de
contribuição).
D iscute-se, n a o p o rtu n id ad e, se o segurado, p o rtad o r de incapacidade, tendo
prestado serviços e co n trib u íd o tem direito ao benefício (fora das hipóteses legais
de progressão ou agravam ento). Subsiste silogism o: se trabalhou não estava in ca­
paz, descabendo, p o rtan to , alegar m esm a incapacidade para obLer o benefício. Na
verdade, m u ito s p o rtad ores de deficiências físicas, doenças ou enferm idades co n ­
seguem desenvolver atividades profissionais com redução da aptidão. O dissídio
situa-se no cam po da prova das condições e a isso se reduz.
Q uestão de relevância são doenças m anifestadas p o sterio rm en te ao ingresso,
em bora o segurado já fosse delas p o rtad o r antes da data do início da filiação, ca­
bendo, destarte, no caso, a concessão do benefício,
Assim com o doença não se confunde com lesão, progressão não se identifica
com agravam ento. Um resfriado pode transform ar-se nu m a gripe, esta em p n eu ­
m onia e, finalm ente, avançar para a tuberculose. Em princípio, com plica-se, e,
ainda, en q u an to enferm idades individualizadas, um a gripe, p n eu m o n ia ou tu b er­
culose podem ser fatais.
N ão havendo prova do início da incapacidade antes da adm issão, o benefício
deve ser concedido (A córdão n. 94.118/SP, Proc. n. 6125204, de 9.10.1984, da I-
Turm a do TFR, in RPS n. 50/33), e, se ocorre progressão ou agravam ento de mal
congênito após o cu m p rim en to da carência, ele é devido (A córdão n. 98.713/SP,
Proc. n. 6184404, da I a Turm a do TFR, de 16.4.85, in RPS n. 62/54).
387. R ep resen tação d o titu la r — P or m otivo de viagem , dificuldade de loco­
m oção ou para assinar, enferm idade ou o u tra causa, o beneficiário pode tornar-se
incapaz para p raticar atos form ais ju n to ao órgão gestor.
N esse caso, im põe-se o m andato, autorização escrita para o exercício dos d i­
reitos previdenciários. Em seus arts. 653 e seguintes, o C ódigo Civil de 2002 regula
o m an d ato e dispõe sobre procurações.
A busos e fraudes obrigaram o legislador a regrar a utilização das procurações
ju n to ao órgão gestor.
388. T utela de m en o r — Tutela é m atéria disciplinada nos arts. 1.728 a 1.766
do CCb. A lei especifica quem pode ser tu to r e q u an d o ela se im põe (perda do
pátrio poder).

C u rso de D i r e it o P r e v id e n c i á r i o

338 W lflífim /r N o v a e s M a r t i n e z
São várias as pessoas autorizadas. Se o dep en d en te é civilm ente incapaz, o
tu to r o rep resenta p eran te o órgão gestor. Recebe o benefício em seu nom e.
389. Curatela de incapaz — Em seu art. 1.767, o C ódigo Civil adm ite as h i­
póteses de in capacidade civil: a) loucos; b) surdos-m udos; e c) pródigos.
Caso o segurado ou o d ep en d en te caracterizem algum a dessas contingências
in cap acitan tes do exercício dos direitos, fica obstado de p raticar atos da vida civil
e previdenciários. N esse caso, é representado pelo curador.
Devem p ro m o v er a designação o pai, a m ãe, o tutor, o cônjuge ou parente
m ais próxim o.
390. Substituição d o ausente — Q uem desaparece do dom icílio (abstraindo
eventual direito dos d ep en d en tes de req u erer a pensão p o r m orte) e não deixou
rep resen tan te ou procurador, diz-se ausente. O Ju iz nom eará, n o rm alm en te o c ô n ­
juge, um a pessoa para adm inistrar-lhe os bens, receber benefícios previdenciários
de segurado ou d ep endente. Essa pessoa é dita c u rad o r do ausente. Na falta do
cônjuge, o Ju iz indicará o pai, a m ãe o u um descendente.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo II •— Previdênc ia Social 339


Capítulo XXXIX

B eneficiários A lcançados

Su m a r i o : 391. Relação previdenciária. 392. Pessoas envolvidas. 393. Tipos d e

beneficiário. 394. Segurados protegidos. 395. Cumulação de cenários. 396. De­


pendentes do titular. 397. Extinção do vínculo. 398. Cidadãos destinatários.
399. Indivíduos assistidos. 400. Pacientes atendidos.

Os beneficiários da seguridade social ou da previdência social são sem pre


pessoas físicas. Não se considera a em presa, por exem plo, p o r o bter CND ou a
en tidade assistenciária receber salárío-fam ília em favor de m en o r p o r ela m antido
com o tal, até m esm o q u an d o da transferência de obrigações trabalhistas (v. g.,
salário-m aternidade e, o u tra vez, o salãrio-fam ília).
Pessoas físicas filiadas e inscritas, isto é, perfeitam ente identificadas e qualifi­
cadas junLo ao INSS, autorizadas pela lei a exercitar o direito previdenciário.
391. Relação previdenciária — A relação previdenciária (e tam bém a securitá-
ria) é intuitu personae; as contingências não dizem respeito ao patrim ônio. Tudo em
razão de ser do beneficiário. A prestação objetiva su b stitu ir os ingressos habituais
do trabalhador ou d ep endente e nen h u m outro ganho eventual, pessoal ou coletivo.
392. Pessoas envolvidas — São sujeitos capazes de direitos e obrigações, d i­
retam en te (p o r si m esm os) ou representados (m and atários, tutores ou curadores),
sem q u alq u er discrim inação. R esidentes ou não no País, livres ou condenados,
obreiros e ociosos, pobres e ricos, enfim sem distinção qu an to à condição social,
nacionalidade, natu ralidade, religião, cor ou orientação sexual.
393. Tipos de beneficiário — Só existem dois tipos de d estinatários, e d is­
tintos: a) os segurados obrigatórios e facultativos; e b) os dep en d en tes destes. O
segundo deles guarda certa relação de dependência econôm ica com o prim eiro.
R esum ida entre os cônjuges e com panheiros e filhos e a ser d em o n strad a em rela­
ção a pais e irm ãos.
394. Segurados protegidos — Segurado é principal e dep en d en te é acessório.
Não existe 0 últim o sem o prim eiro; concedido benefício outorgado pelo
segurado, o beneficiário é designado pensionista e subsiste com o tal. Perdido o

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W / a d ím í r N o v a e s M a rtin e z
atrib u to ju ríd ico previdenciário do segurado desaparece, ipso jacto, o do d ep e n ­
dente. Só o segurado tem dependente. Este últim o não existe p o r si só, m as pode
relacionar-se com vários segurados.
395. Cumulação de cenários — N ada im pede o segurado tam bém ser d e­
p en d en te, e o d ep en d en te, igualm ente, de tornar-se segurado, ac u m u lan d o os dois
estados, situação objeto de regras p ró p rias para essa conjunção protetiva.
396. Dependentes do titular — D ireitos do segurado não se confundem com
os do d ep en d en te. G eralm ente, a lei os separa didaticam ente, en u m eran d o os b e­
nefícios e serviços de u m e de outro.
397. E x tin ção do v ínculo — C om o falecim ento do ú ltim o pensionista, em
relação a dado segurado, finda-se a relação jurídica previdenciária e desaparece o
direito à pensão p or m orte ou auxílio-reclusão. Claro, sim ples convenção, e n q u a n ­
to a lei assim o desejar.
398. Cidadãos destinatários — Beneficiários é um a designação genérica que
indica os d estin atário s da previdência social. Em particular, consagrando-se assis­
tidos, na assistência social, e aten d id o s, nas ações de saúde.
399. Indivíduos assistidos — Os assistidos, da assistência social, podem ser
designados com o beneficiários ou d estinatários da sua legislação.
400. Pacientes atendidos — Na assistência à saúde prevalece a figura do
aten d id o , o objeto da lei básica sanitária.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 341
Capítulo XL

S e g u r a d o s O b r ig a t ó r io s

401. Empregado e temporário. 402. Serviçal doméstico. 403. Empresá­


S u m a r io :
rio urbano e rural. 404. Obreiro eventual. 405. Autônomo independente. 406.
Equiparados ao autônomo. 407. Trabalhador avulso. 408. Segurado especial.
409. Servidor público. 410. Funcionário cartorário.

Os segurados são pessoas indicadas na lei, co m pulsoriam ente filiadas à pre­


vidência social, co n trib u in d o diretam ente para o custeio social das prestações.
D escritos, às vezes co nceituados e até definidos na legislação, têm seu desenho
com pletado pela dou trina. Os trabalhadores ou exercentes de atividades não la­
borais (eclesiásticos) subsistem graças ã rem uneração percebida ou o u tro m eio
de su sten to (verba de representação), prestam serviços in d ep en d en te o u subordi-
nad am en te às em presas. Restaram sujeitos à previdência social, historicam ente, a
p artir de 1888 (servidor m ilitar), 1923 (em pregado), 1926 (avulso), 1960 (even­
tual, au tô n o m o e em presário), 1963 (trab alh ad o r ru ral), 1973 (dom éstico), 1974
(tem p o rário ), 1993 (servidor ocu p an te de cargo em com issão), 1997 (vereador e
au xiliar local no exterior).
401. Empregado e temporário — A lei descreve vários tipos previdenciários
de em pregado.
a) empregado propriamente dito: A descrição do em pregado, indicada na letra
a do inciso 1 do art. 12 da Lei n. 8.212/1991, é praticam ente a do art. 3S da CLT,
com os seus defeitos e virtudes, com vistas ao assalariado subordinado urbano-
rural da iniciativa privada (e, em parte, no serviço púb lico ). Se a clientela do PCSS
é, de regra, co n tid a na cidade (D ecreto-lei n. 5.452/1943) e no cam po (Lei n.
5.889/1973), conclusão d ecorrente da m enção à em presa em seu sentido am plo,
não havia necessidade da referência à “natureza u rb a n a ou ru ra l”, de dem orada e
difícil explicação. F ora o servidor e o dom éstico, aludidos expressam ente, inexis-
tem o utros trab alh ad o res su b o rd in ad o s circunscríveis.
O “em caráter n ão ev e n tu a l” co n tin u a com plicando as coisas e to rn an d o n e ­
cessário aclará-las: se esporádica a tarefa, e não o prestad o r de serviços, o exercente
passa a ser o eventual, precariam ente descrito no inciso V, a, do m esm o artigo e lei.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

342 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Com a definição de em pregado, para os fins da legislação previdenciária, o art. 3Q
da CLT só tem sen tid o q u an d o com aquela confinar.
Põe em realce a atividade da em presa, seja a principal o u a p erm a n en te, com o
elem ento de caracterização do trabalhador, m as não se refere à diferença entre
atividade-fim e atividade-m eio. A prim eira pode p o n tu a r o tipo de em presa e para
qual ram o é voltada, d istinguindo-se das dem ais, m as a segunda é co m u m a to ­
dos os em p reen d im en to s e não se presta à descrição desejada. Assim , exem plifi-
cativam ente, q u em trabalha su b o rd in ad am en te em lim peza (atividade-m eio), em
q u alq u er atividade em presarial, é em pregado e, a fo rtio ri, na em presa de lim peza
(atividade-fim ). C om as exceções previstas no art. 31 do PCSS, com a redação da
Lei n. 9 .0 3 2/1995 e da Lei n. 9.711/1998.
Tem o indiscutível m érito de ler m elhorado a com preensão da situação do tra­
balhador eleito d ireto r de sociedade an ô n im a, em bora tivesse se esquecido do
co n d u zid o ao C onselho de A dm inistração. P reocupado, o R egulam ento dos B ene­
fícios circunscreve d ireto r em pregado com o qu em “p articipando o u não do risco
econôm ico do em p re en d im en to ”, isto é, acionista ou não, “seja co n tratad o ou p ro ­
m ovido para cargo de direção, m antendo as características inerentes à relação de
em p reg o ” (RBPS, art. 6e, § l e).
As m enções a diretor, no conceito de em pregado, e a este, no de diretor, cons­
tantes do art. 1 2 ,1, a, e III, deveram -se à dificuldade no enquadram ento do segurado
g u in d ad o à ad m in istraçã o de sociedade an ô n im a, à p o ssib ilid ad e d e su spensão
do co ntrato de trabalho, sua m anutenção ou restabelecim ento q u an d o do térm ino do
m andato o utorgado pela Assem bleia Geral.
Todavia, dian te da redação dada aos dois dispositivos, poucas dúvidas rem a­
nescem . N ão aclara a Lei n. 8.212/1991 se o d ireto r (em pregado) é o d ireto r de
sociedade an ô n im a ou se está se referindo à figura do d ireto r em pregado, chefe de
d ep artam en to ou de divisão do estabelecim ento, m as ao m en cio n ar o d ireto r não
em pregado (q u eren d o dizer não originário do seu quadro de pessoal), evidencia
duas conclusões: a) o trabalhador elevado ao nível de d ireto r é sem pre em pregado
(art. 1 2 ,1, a); b) o p restad o r de serviços não p erten cen te ao referido quadro, eleito
diretor, é em presário.
A lei previdenciária tenta fornecer conceito p ró p rio de em pregado. O do art.
1 2 ,1, a, praticam en te, é reprodução do art. 3Qda CLT. Por isso, a rem issão ao D irei­
to do T rabalho é válida e necessária. O Decreto-lei n. 5.452/1943 define em pregado
com o q u em presta serviços de natureza não eventual a em pregador, su b o rd in ad a­
m ente, m ed ian te salário.
Suas características m ais im p o rtan tes são quatro: pessoalidade, onerosidade,
ineventualidade e su b ordinação. N ão pode, tam bém , ser desprezada a natureza da
atividade da em presa nem a destinação ju ríd ica dos serviços executados.
E xclusivam ente a pessoa física, o ser h u m an o , pode ser tida com o em pregado;
excluem -se as pessoas ju ríd icas, p articu larm en te o titu lar de firm a individual ou o
au tô n o m o . U m dos co m p o n en tes da pessoalidade é a capacidade, tan to a ju ríd ica

C ijr s o d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia . S o c i a l 343
q u an to a física. Incapaz não é em pregado. O m en o r de 16 anos, em bora tutelado
pelo D ireito, não pode ser considerado em pregado. Por essa razão, não é protegido
previdenciariam ente. Q uem ingressa no RGPS incapaz para o trabalho sofre restri­
ções em m atéria de prestações.
Segundo a lei, é em pregado o rem u n erad o p o r prestação de serviços. O p rin ­
cipal ô n u s do obreiro é trab alh ar sub o rd in ad am en te; o principal dever da em presa
é pagar-lhe os salários. P ercipientes de im portâncias sem expressão pecuniária não
m an têm co ntrato de trabalho.
A inda co n so an te a definição legal, para ser em pregado é im prescindível a
pessoa prestar serviços perm anentes, os hab itu alm en te desenvolvidos na ativida-
de-fim da em presa, sem exclusão, é claro, dos relativos à atividade-m eio. Serviços
eventuais são os não p erm an en tes, m esm o previsíveis ou necessários,
Há certa d ep en d ência entre o trab alh ad o r e a em presa, subordinação caracte­
rizada p o r vários aspectos, devendo ser ressaltado o hierárquico. Q uem conduz o
trabalho do em pregado é o em pregador.
Para o in d ivíduo ser em pregado, é preciso sopesar a natureza do em preendi­
m ento em presarial. Nem sem pre quem presta serviços à em presa (tom ada a palavra
no seu senLido m ais am plo) é em pregado. Pessoas ou famílias são previdenciaria-
m ente tidas com o em presas, co n tu d o , sua atividade é não econôm ica, razão pela
qual q uem lhes presta serviços não é em pregado, e sim dom éstico.
N orm alm ente, nos co ntratos de em prego, as tarefas são executadas m aterial
e jurid icam en te para o co n tratan te (d ad o r) dos serviços. Existem , todavia, form al­
m ente, situações, com o a do estagiário e do guarda-m irim , em que os trabalhos
são d estinados à p ró p ria pessoa do trabalhador. Hste aprende, adestra-se, está em
form ação profissional. A em presa o am para e lhe oferece condições para estudar,
aproveitando-se, u m p ouco, desses afazeres.
A In stru ç ão N o rm ativ a SPS n. 2/1 9 9 4 c u id o u do em p resário ; desse co n ceito
ex c lu iu o em p reg ad o eleito diretor, m an ten d o -o com o em p reg ad o , in d e p e n d e n ­
tem en te da m u d an ça jurídica o p erad a no âm b ito do D ireito C om ercial e do
Trabalho.
Não trata da situação do trabalhador indicado para o C onselho de A dm inis­
tração e, aí, na esteira da lei; esta não faz alusão ao conceito de em pregado em tal
operação. De q u alq u er form a, tam bém é im p o rtan te salientar: não é em presário o
obreiro, provenha d o s quadros da em presa ou não, se ele, observando o contrato-
-realidade de Mário de La Cueva, preenche os requisitos legais dispostos no art. 3 e
da CLT, isto é, se ele é efetivam ente em pregado.
A O rien tação N orm ativa SPS n, 2/1994 assinala o u tra s pessoas tidas com o
em pregado:
1) Bolsista ou estagiário em desacordo com a Lei n. 11.788/2008 — Se esses
estu d an tes não observam as regras próprias da legislação p ertin en te, caso do esta­
giário desviado do adestram ento ou treinam ento, ocupado em função estran h a ao

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

344 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
seu curso, enfim , fora das n o rm as exigidas para tê-lo com o estu d an te, trabalhando
e ap ren d en d o , trata-se de em pregado (obviam ente, se presentes os elem entos defi­
nidores do art. 3Q da CLT e do art. 12, I, a)-
2) E m pregado de C onselho, O rdem ou A utarquia de fiscalização do exercí­
cio profissional — Com a Lei n. 5.410/1968, não im p o rtan d o o regim e ju ríd ico
laborai, esse trab alh ad o r é classificado com o em pregado para fins do RGPS. Tais
entidades, dada sua in stituição e modus operandi, são de difícil classificação q u an to
à n atu re za ju ríd ica, situando-se na zona cinzenta entre órgãos p ú b lico s e privados,
em bora p o ssam ser dadas com o delegações do p o d er estatal, com etim ento à inicia­
tiva privada, e com esta últim a essência devem ser entendidas.
3) E m pregado de cônjuge, de co m p an h eiro ou co m panheira — Tido com o
em pregado, especialm ente q u an d o trabalha para em presa coletiva, m as o órgão
gestor reclam a dem o n stração robusta da prestação de serviços.
Para o D ireito do Trabalho não há im p ed im en to q u an to à prestação de servi­
ços para p arentes, em bora a característica nuclear da definição d e em pregado seja
a subordinação. E, p o r esta não estar im plícita entre m arido e m u lh er ou co m p a­
n h eiro e com p an h eira, precisa ser dem onstrada.
D istintos os direitos do trabalhador subo rd in ad o em relação ao co n trib u in te
individual, a questão diz respeito às conseqüências da existência da relação de
em prego, co m u m ou dom éstica, pois, efetuadas as contribuições o p o rtu n a e re­
gu larm en te, se não é possível aceitar a m u lh er com o em pregada do m arido ou o
co m p an h eiro com o em pregado da com panheira, feitas as retificações nas c o n tri­
buições, sem pre se p o d erá considerar a situação com o sendo de facultativo.
4) M otorista de táxi — De acordo com o P arecer CJ/MPS n. 18/1993, o co n tra­
to entre o pro p rietário do veiculo e o c o n d u to r não é de locação, e sim de em prego.
A co n clusão peca pela generalidade, pois subsistem relações em q u e é p re sen ­
te a in d ep en d ên cia do profissional e é in o co rren te a subordinação, apesar de não
ser d o n o do veículo. As características desses dois trabalhadores — em pregado e
au tô n o m o — devem ser verificadas à exaustão, o m esm o su cedendo q uando se
exam ina a p restação de serviços p o r parte de profissionais liberais (v. g., en g en h ei­
ros, m édicos, advogados etc.).
5) T rabalhador rural volante — O ruricola, conhecido com o “boia-fria”, é
em pregado, convindo verificar, em cada caso, para quem são p restados os seus
serviços: se para o agenciador ou p ara o em p reen d ed o r rural. Em p rin cíp io , presu-
m idam en te, é para em presa rural e só na circunstância de o interm ediário possuir
id o n eid ad e com ercial — hipótese rara — o vínculo se estabelece com ele.
Caso o in term ed iário não d etenha personalidade ju ríd ica, en ten d e a O rie n ­
tação N orm ativa SPS n. 2/1994 que: ele e os trabalhadores são em pregados do
to m ad o r de serviços. Tal inteligência é sim plificação de problem a com plexo. O
agenciador nem sem pre se sub o rd in a ao proprietário da fazenda. Ele pode, per­
feitam ente, ser tido com o em presário (titu la r de firm a individual) ou autônom o.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I — P r e v id ê n c ia S o c ia l 345
A Lei n. 7.644/1987 criou a figura ju ríd ica laborai da m ãe-social, ad m in istra­
do ra de casas-lares, o n d e m antidos m enores abandonados, prevista com o em p re­
gada de entidades sem fins lucrativos ou de utilidade pública, sendo os m enores
previdenciariam ente tidos com o seus dep en d en tes (sic).
A Lei n. 6.251/1975 referiu-se a atletas am adores adotados pelas em presas. O
D ecreto n. 79.228/1977 e a P ortaria MF n. 88/1976 efetuaram a regulam entação.
Se não fazem p u blicidade n ão são seus em pregados. E ntendem -se percipientes
de verba de representação. Tais atletas exercem atividades retribuíveis, m as não
rem uneradas.
Os fiscais do M inistério da A gricultura, prestando serviços e sendo re trib u í­
dos pelos ab atedouros, em razão da im possibilidade de subordinação aos frigorífi­
cos, m antêm -se v inculados ao Estado, não estabelecendo relação de em prego com
a iniciativa privada. O ficialm ente responsável pela contribuição incidente sobre as
horas extras é o M inistério da A gricultura.
b) temporário: Na letra b do m esm o inciso e artigo, a lei básica descreve o
tem porário, obreiro su b o rd in ad o assem elhado ao em pregado, com ele confundido.
A equiparação transform a-o n u m segurado com pleto, com todos os direitos do
em pregado.
A presenta características fundam entais. Para alguém ser tem porário é neces­
sário originar-se de em presa de trabalho tem porário, onde cadastrado o registrado
com o tal. Im põe-se, pois, co n trato de natureza civil entre a fornecedora e a tom a-
dora da m ão de obra. Aquela funciona com o interm ediadora do profissional e se
responsabiliza pelos salários e obrigações sociais daí decorrentes.
Tam bém é significativa a transitoriedade. Q uer dizer, o contraio, além de es­
pecial, é p o r prazo d eterm inado, descabendo u ltrap assar os 90 dias. A prorrogação,
prevista na Portaria DNM C n, 66/1974, é exceção à regra.
Deve influenciar a destinação dos serviços. Além de provir de em presa de
trabalho tem p o rário e de trabalhar para d eterm in ad o em p reen d ed o r por prazo li­
m itado, é im prescindível o obreiro com parecer na tom adora da m ão de obra para
su b stitu ir pessoal regular e perm anente, isto é, ficar no lugar de em pregado. A
sub stitu ição se dá em virtude de férias, norm ais ou coletivas, ou o u tro s eventos
afastadores do em pregado. Por via de conseqüência, não é tem porário quem su b s­
titui o em presário, au tô n o m o ou avulso.
P o r ocasião do acréscim o de produção, previsto ou não, em caráter excep­
cional qu an to ao vulto, com o acontece em determ inadas condições específicas,
opera-se o au m en to ex traordinário. Não se confunde com a m ajoração program ada
de produção, a qual requer crescim ento do núm ero de em pregados ou de outros
trabalhadores.
O ajuste laborai entre esse prestad o r de serviços e quem lhe propicia trabalho
é especial, definido em lei própria, com n u an ças específicas. O co n trato é de trab a­
lho e não de em prego; estabelece-se com a em presa de trabalho tem porário. Suscita

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

346 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
du as fases distintas: p rim eira, de cadastram ento do obreiro, q u an d o a fornecedora
de m ão de obra opera com o agenciadora; segunda, n o m o m en to do registro na
CTPS e da prestação de serviços para a to m adora d e m ão de obra.
Essa equiparação procedida pelo PCSS transform a-o n u m segurado com pleto,
com todos os direitos do em pregado. A tendência d o u trin ária é co n sid erar este
últim o su b o rd in ad o , e ele ser referido com o “espécie" de em pregado. Porém , o b ­
viam ente, até em razão de a lei previdenciária ter feito a distinção, não são iguais
nem m an têm relação hierárquica de gênero e espécie.
A CLPS tin h a o tem porário topicam ente m ais distante do em pregado (art. 5g,
II e VI), e o PCSS, d iferentem ente, os aproxim a, fazendo do tem porário u m tipo de
em pregado. C ausa algum a confusão, pois, sob a óLica laborai, eles se indiv id u ali­
zam com o espécies do gênero prestadores su b o rd in ad o s de serviços. Tal equipara­
ção vale apenas para os fins previdenciários.
M esm o a Lei n. 6.019/1974, prim eira disciplinadora desse trabalhador, a ela
preexistente, não o define. Tanto qu an to o Decreto n. 73.841/1974, seu regulam ento,
prefere co n ceitu ar o trabalho tem porário: o prestado p o r pessoa física ã em presa,
para aten d e r à necessidade transitória de substituição de seu pessoal regular e per­
m anente, ou para aten d e r ao aum ento extraordinário de serviços.
A CLPS, conso lid ando algum a n o rm a não identificada, declara ser tem porário
“quem presta serviços p o r interm édio de em presa de trabalho tem p o rário ” (art. 5°,
VI).
O D ecreto n. 8 3 .080/1979 possuía conceito regulam enlar: “qu em presta ser­
viços a u m a em presa para aten d e r à necessidade transitória de su bstituição do
seu pessoal reg u lar e p erm an en te ou ao acréscim o extraordinário de serviço, por
período não su p erio r a 90 (noventa) dias, por interm édio de em presa de trabalho
tem p o rá rio ” (art. 4 a, V). P raticam ente a m esm a redação do art. 7Q, VI, do D ecreto
n. 83.081/1979.
Esse tem p o rário não é em pregado da em presa de trabalho tem porário; aliás,
esta ú ltim a é proibida de co n tratá-lo para si própria. No seu escritório, ela m antém
em pregados p ara ocupações adm inistrativas, além de au tô n o m o s ou eventuais.
Um trabalhador, u ltrapassando 90 dias, deixará de ser tem porário, passando
à con d ição de em pregado da to m adora de serviços. A condição de tem porário
esgota-se no n o nagésim o dia. Até então, reunia os requisitos dessa figura jurídica.
Não o b stan te os salários co n tin u arem sendo pagos pela fornecedora de m ão de
obra, ele se to rn a em pregado da tom adora dos serviços. M as, se desde o início não
estava su b stitu in d o pessoal regular e p erm an en te, é em pregado da tom adora.
O m esm o vale para quem não está prestando serviços na atividade em que se
deu o au m en to extraordinário de trabalho. Caso ocorra rotatividade na em presa de
trabalho tem porário, isto é, o obreiro continua prestando serviços para o m esm o
tom ador, provindo de diferentes fornecedores, alternada a cada 90 dias, form alm en­
te ele se m an tém com o tem porário, m as é óbvia a agressão à legislação trabalhista.

C urso de D ir e it o P r e v i d e n c :i a r i o

T o m o 11 — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 347
Não h á prazo entre dois co ntratos de trabalho, entre tem porário e tom adora
de m ão de obra, capaz de descaracterizar a relação de em prego. C ritério aceitável
é separar esses ajustes p o r 90 dias.
P revidenciariam ente, a p artir da Lei n. 8.212/1991 as coisas se passam com o
se ele fosse em pregado, gerando as obrigações paLronais de descontar e recolher as
contribuições. Com essa delinição, resolvem -se algum as pendências, inclusive a da
taxa de seguro de acidentes do trabalho aplicável a esse obreiro. Se do em pregado,
será a da atividade exercida na tom adora.
Desde 1960, a situação previdenciária do tem porário alterou-se n o curso do
tem po. Até 10.6.1973, ele foi tido com o equiparado ao avulso (sic). A partir de
11.6.1973, data do início da Lei n. 5.890/1973 e até 4.3.1974, véspera da eficácia da
Lei n. 6.019/1974, igualou-se ao autônom o. A co n tar de 5.3.1974, com o tem porá­
rio pro p riam en te dito, vigente esse en ten d im en to até 31.10.1991, q uando passou
a ser concebido previdenciariam ente com o em pregado.
Para conceituá-lo com o segurado obrigatório, considera-se em presa de tra­
balho tem p o rário a pessoa ju ríd ica de direito privado, in stitu íd a para cadastrar e
in term ed iar m ão de obra tem porária, fornecendo a terceiros, através de contratos
de natureza civil, e responsabilizando-se pela sua rem uneração e obrigações so ­
ciais. À exceção da ru ral, em presa tom adora de m ão de obra, em determ inadas
circunstâncias, observadas as condições legais, é q u alq u er firm a adm issora, su-
b o rd in ad am en te com o se fosse em pregado, de trabalhador o riu n d o de em presa de
trabalho tem porário.
Agência de colocação de m ão de obra não se co n fu n d e com a cedente; sua
função é localizar profissionais no m ercado de trabalho, cadastrar pessoas e enca­
m inhá-las, sem q u aisq uer com prom issos (salvo em relação ao dom éstico), para to ­
m adores de m ão de obra, conform e o caso, onde serão em pregados ou autônom os.
C onhecida com o agência de em prego, in term ed iad o ra de serviços.
c) brasileiro no exterior: O em pregado, brasileiro ou estrangeiro, aqui d o m i­
ciliado e co n tratad o para trabalhar n o exterior em favor de em presas nacionais é
segurado obrigatório do RGPS. Isso ocorre in d ep en d en tem en te de ele, em razão
de trabalhar fora do País, even tu alm en te estar subm etido a o u tro regim e de previ­
dência social.
As em presas brasileiras (ou estrangeiras) costum am en c am in h ar trab alh ad o ­
res para op erar fora do Brasil, em duas condições básicas; a) com rom pim ento do
co n trato de trabalho; e b) m antendo-se o vinculo em pregatício.
Na prim eira hipótese, a qualidade de segurado e os d ireitos inerentes podem
ser m an tid o s m ediante a contribuição com o facultaLivo, previsto no art. 14 do
PCSS, praticam en te sem prejuízos para o segurado, no tocante ao tem po de ser­
viço. Na o u tra, m antêm -se a filiação e a obrigação do d esconto e da contribuição.
d) empregado de representações estrangeiras: É tam bém tido com o em pregado e,
portan to , segurado obrigatório qu em presta serviço no País à m issão diplom ática,
repartição co n su lar ou a órgão a elas subordinado, e até m esm o p ara os m em bros

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

348 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
dessas en tid ad es de representação estrangeira. E xcluídos o estrangeiro sem resi­
dência fixa no Brasil e o brasileiro am parado pela legislação da nação representada.
Incluir o co n su lado dirim iu velha p endência a respeito da natu reza de tais
instituições.
A exigência de contribuição desses trabalhadores vem p en d en d o de regula­
m entação h ã algum tem po. Em f9 6 6 , o MTPS disciplinou o seu salãrio-base (Por­
taria MTPS n. 787, de 2 6 .f0 .1 9 6 6 , in DOU de 10.11.1966) e, posteriorm ente, o
INPS fixou a base de cálculo, de setem bro de 1960 até dezem bro dc 1964, n o salário
m ínim o regional; de janeiro de 1965 em diante, no salário realm ente percebido (Ins­
trução de Serviço 1NPS/SAE n. 201.8, de 6.7.1970, in BS/1NPS n. 131, de 14.7.1970).
O D ecreto-lei n. 691/1969 regrou a não aplicação da CLT a estrangeiros no
País. A Lei n. 7.180/1983 regrou o visto provisório de p erm an ên cia de estrangeiros
no Brasil, sendo o seu trabalho regulado na Lei n. 6.815/1980. A Lei n. 8.745/1993
fez referência ao aux iliar local de nacionalidade brasileira q uando, em razão de
proibição legal, não possa filiar-se ao sistem a previdenciário do país de dom icílio.
Até o advento da Lei n. 6.887/1980, eram equiparados a au tô n o m o s (D ecreto
n. 77.077/1976, art. 5a, § 1Q). A referida Lei n. 6.887/1980 considerou-os em pre­
gados. O D ecreto n. 87.374/1982, seu regulam ento, estabeleceu grande confusão
textual, d eterm in an d o , conflitantem ente, serem em pregados os prestadores de
serviços às m issões diplom áticas e, ao m esm o tem po, eq u ip aro u ao au tô n o m o os
em pregados de representações estrangeiras e dos organism os oficiais estrangeiros
ou in tern acio n ais (D ecreto n. 83.081/1979, art. 7S, § 1Q, b).
F inalm ente, com o D ecreto-lei n. 2.253/1985, toda a situação de tais segura­
dos o b rigatórios do regim e u rb a n o ficou norm alizada, desfazendo-se as incertezas
q u an to à classificação previdenciária.
e) empregado da União em organismos internacionais: O utro tipo de em pregado
é o brasileiro civil trabalhando para a U nião, isto é, p o r ela rem u n erad o , adm itido
em organism os oficiais brasileiros ou internacionais, salvo se protegido pelo sis­
tem a p ró p rio de previdência social do país onde sediado. N ão se co n fu n d e com
o eq u ip arad o ao au tô n o m o , a serviço de organism os in tern acio n ais, diretam ente,
sem a presença da União.
T rabalhadores co n tratad o s conform e a Lei n. 3.917/1961 o u a Lei n. 7.501/
1986, para serviços precários (sic), n o exterior, às m issões diplom áticas ou repre­
sentações consulares brasileiras, sem estarem sujeitos a regim e p ró p rio , são segu­
rados o b rig ató rio s do INSS. O tem po an terio r podia ser indenizado, n o s term os
da Lei n. 7.175/1983 (sic), conclusão da Portaria SPS n. 12/1987 (P ortaria SPS n.
2/1979, item 2, e). C om a Lei n. 7.064 /1 9 8 2 , a Lei n. 6 .8 8 7 /1 9 8 0 , o D ecreto-lei
n. 2.253/1985 e o D ecreto n. 87.374/1982, a situação de tais obreiros ficou u m
pouco m ais clara. Segundo a P ortaria M Tb n. 3.213/1983, o salário de contribuição
do servidor civil de representações brasileiras “co rresp o n d e aos valores atribuídos
a cargo id êntico o u eqüivale ao de exercício no Brasil, n ão sendo co m putadas as
im p ortâncias recebidas a q u alq u er título, pelo serviço n o ex terio r” (item 1).

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T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia i
f) empregado de empresa nacional no exterior: Este últim o é o co n tratad o no
Brasil para trab alh ar em em presa dom iciliada no exterior “cuja m aioria do capital
vo tante p ertença à em presa brasileira de capital nacional”.
N esta hipótese, d iferentem ente do regrado na situação anterior, são duas em ­
presas consideradas. U m a, nacional, clelendo a m aioria do capital votante, e outra,
estrangeira, siLuada no exterior, on d e o brasileiro ou estrangeiro, aqui dom iciliados
e contratados, prestam serviços.
Tanto nesse quadro com o no anterior, em que se cuida de sucursal ou filia!
de em presa nacional, sediada no exterior, não se cogita de estar filiado ou não a
regim e p ró p rio de previdência social do país onde fixado o estabelecim ento.
Do conceito estão excluídos dois cenários: 1) o capital votante (ações) p erte n ­
cer à pessoa física; 2) a em presa nacional não d eter o dom ínio do capital. Nesses
dois casos, não se trata de segurado obrigatório do RGPS.
A exigência de haver a em presa nacional é para to rn ar possível a realização do
desconto e o reco lh im ento das contribuições de trabalhador residente no exterior.
g) servidor ocupante de cargo cm comissão: Com vigência e eficácia a partir
de 14.4.1993, a Lei n. 8.647/1993 criou o sétim o tipo de em pregado: o servidor
federal o cu p an te de cargo em com issão. M andou incluir a letra g ao item 1 do art.
1 2: “o servidor público o cu p a n te de cargo em com issão, sem vínculo efetivo com a
U nião, A utarquias, inclusive em regim e especial, e F undações Públicas F ederais”.
Em seu art. 5Q, a Lei n. 8.647/1993 com eteu ao decreto regulam entador disci­
plinar da co n trib u ição desse servidor. E, curiosam en te, criando dificuldades o p era­
cionais, no parágrafo ú nico, ditou: “O disposto neste artigo aplíca-se às co n trib u i­
ções recolhidas desde o início d o vínculo do servidor com a adm inistração direta,
autárq u ica ou fundacional, sendo assegurado o côm puto do respectivo tem po de
con trib u ição para efeito de percepção dos benefícios previdenciários”.
O servidor o cu p ante de cargo em com issão não pode ser co n fundido com o
serv id o r da U nião, do D istrito Federal, dos Estados e, principalm ente, dos M uni­
cípios sem regim e p ró p rio de previdência social, aludidos no art. 13 do PCSS. Este
últim o é celetista o u estatutário, vinculado à A dm inistração Pública, beneficiando­
-se do disposto no art. 40 da CF Inexistente regim e próprio, a contrario sensu do
art. 13, tornam -se segurados obrigatórios do RGPS, inco rp o ran d o -se a um regim e
especial, co n tid o no Regim e Geral de Previdência Social.
O servidor o cu p an te de cargo em com issão sem vínculo efetivo, co n trib u in d o
para o RGPS, dele faz parte nas m esm as condições dos dem ais segurados, equi-
parando-se ao em pregado regido pelo art. 3 e da CLT, para fins de contribuição e
benefícios.
A m esm a Lei n. 8.647/1993 excluiu esse servidor do Plano de Seguridade So­
cial, referido no art. 183 do E statuto dos Servidores Públicos Civis da U nião (Lei
n. 8.112/1990). O D ecreto n. 935/1993 regulam entou a Lei n. 8.647/1993.
Com a EC n. 20/1998 e a definição do art. 40, § 13: “Ao servidor ocupante,
exclusivam ente, de cargo em com issão declarado em lei de livre nom eação e exo­

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

350 W l a d i t n ír N o v a e s M a r t i n e z
neração, bem com o de o u tro cargo tem porário ou de em prego público, aplica-se
o regim e geral de previdência social”, alargando-se para todo o serviço público.
h) auxiliar local no exterior: No seu art. 9Q, a Lei n. 9.528/1997 regulam entou
a co n tribu ição de certos brasileiros prestando serviços no exterior.
402. Serviçal d o m éstico — O conceito de dom éstico, colhido no inciso II do
art. 12 da Lei n. 8.212/1991, é praticam ente o m esm o da Lei n. 5.859/1972 e do
D ecreto n. 71.885/1973. R em anescem dúvidas q u an to à situação dos prestadores
de serviços a várias pessoas o u famílias (caso da diarista o u do vigilante de resid ên ­
cias, in sita m e n te dom ésticos, m as inscritos com o au tô n o m o s em face da pulveriza­
ção do vínculo labora!) e no tocante a parentes. A classificação do vigilante restou
definida n o RCPS, na condição de autônom o.
Desde o Decreto-lei n. 3.078/1941, regente da locação de serviços dom ésti­
cos, a m atéria interessa ao legislador. De facultativo, na LOPS, transform ado em
segurado obrigatório pela Lei n. 5.859/1972, o dom éstico teve a sua base de cálculo
passando de u m salário m ínim o para três, até igualar-se com o PCSS, ao lim ite do sa­
lário de contribuição de todos os segurados. O m esm o aconteceu com sua alíquota.
A rem u neração e a subm issão são fundam entais nessa relação ju ríd ica; por
isso, o agregado ou p arente não é dom éstico.
No lar, existem ocupações perm an en tes e ocasionais: qu em prestar serviços
eventuais é titu lar de firm a individual (em presário), au tô n o m o ou eventual, ou
em pregado de em presa, m as n ão é dom éstico.
As tarefas têm de ser destinadas à pessoa ou fam ília, pouco im p o rtan d o ser
executadas fora do âm bito residencial destas.
Sua atividade é necessariam ente não econôm ica (qualificação su p erio r à não
lucrativa).
A “rep ú b lica” de estu d an tes é família, previdenciariam ente. C ada um dos
m em b ro s-co n d ô m in o s responde pelas obrigações assum idas em relação ao d o ­
m éstico. A CTPS deve ser assinada p o r um dos estu d an tes ou p o r todos eles; a
responsabilidade é do grupo.
R eunião de pessoas, co n stitu íd a de dois h om ens o u duas m ulheres, vivendo
sob o m esm o dom icílio, tendo em m ira a proteção ao trab alh ad o r em apreço, é
família.
Se alguém trabalha co n tin u am en te para dom éstico, cu m p rid o s os requisitos
definidos na Lei n. 5.859/1972, é igualm ente dom éstico.
Tam bém o é o caseiro de chácara de lazer. E nquanto a produção agropecuária
da propriedade não tiver expressão pecuniária e se d estin ar ao lazer, ao consum o da
fam ília ou ao c o n ju n to de p ro p rie tá rio s, n ão ca rac te rizad o o regim e de ec o n o ­
m ia familiar, ele co n tin u ará dom éstico. Se passar disso, tornar-se-á em pregado, re­
gido pela Lei n. 5.889/1973.
O p ilo to de aeronave ou em barcação d estinada a uso fam iliar é dom éstico.
Tais veículos são extensões da residência do proprietário.

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T om o / / — P r e v id ê n c ia S o c ia l 351
403. Empresário urbano e rural — D iferentem ente da CLPS, atrib u in d o título
ao antigo em pregador, é ap o n tad o o em presário, designação su p erio r à anterior. A
p artir de 29.11.1999, designado com o co n trib u in te individual (Lei n. 9.876/1999).
Existem em preendedores sem em pregado classificáveis com o segurados obriga­
tórios. O rol é grande: 1) titular de firm a individual, urb an a o u rural; 2) d ireto r
não em pregado; 3) m em bro de C onselho de A dm inistração das sociedades a n ô ­
nim as; 4) sócio solidário; 5) sócio de indústria; 6) sócios na sociedade em nom e
coletivo, com gestão e rem uneração; 7) cooperado eleito para cargo de direção
em cooperativa; 8) titular de serventia de ju stiç a, an terio rm en te a 25.7.1991; 9)
feirante-com erciante, no período de 15.1.1971 a 24.7.1992 (R esolução CD/DNPS
n. 118/1971); 9) sócio-cotista com participação na gestão ou com percepção de
rem uneração; e 10) d irigente estatal.
Por sócio-cotista trabalhando ou rem unerado, há de se en te n d e r o antigo
sócio-gerente e o sócio-cotista com retirada pro labore.
A situação do em presário é bastante com plexa e raram ente desenvolvida na
legislação o u d o u trin a, convindo repassar alguns conceitos relativos a esses em pre­
endedores, p essoalm ente considerados, em sua m aioria to rn ad o s segurados o b ri­
gatórios a p artir da LOPS.
Q uestão em aberto diz respeito à pessoa física não d eten to ra de cotas, c o n tra­
tada p o r sociedade p o r cota de responsabilidade lim itada (conhecido com o gerente
delegado), co n stitu íd a por duas ou m ais pessoas ju ríd ic a s (e até algum a física),
para a su p erio r e exclusiva adm inistração. N ão sendo sócio, não pode ser c o n ­
siderado em presário e, a despeito de só estar su b o rd in ad o às d eterm inações das
pessoas físicas ou ju ríd ic a s co n stitu in te s da em presa, é em pregado.
a) titular de firm a individual: Firm a individual é em presa, geralm ente de p e­
queno porte, de p ro p riedade de um a só pessoa. A firm a assum e o nom e do p ro p rie­
tário. O Litular é o único responsável, seg u n d o o D ireito C om ercial.
C u riosam ente, às vezes, cham ada de “sociedade de um sócio só”, é geralm en­
te d estinada à prestação de serviços. Nela, de certa form a, confunde-se a pessoa
física com a jurídica.
Em relação ao titu lar de firm a individual, subsiste a presunção jurídica de
p restar serviços à em presa titulada. Por isso, dispensável a retirada pro labore na
contabilidade, para configurá-lo com o segurado obrigatório.
F acilm ente confundível com o au tô n o m o , a distinção só é possível se operada
na legislação trib u tária (m unicipal).
b) sócio-gerente: Os sócios são pessoas unidas para a constituição de em pre­
en d im en to , visando a d eterm inado fim rural, in d u strial, com ercial ou de prestação
de serviços. São os p ro p rietário s da em presa, particularm ente se in stitu íd a sob a
form a de sociedade p o r colas de responsabilidade lim itada.
Existem várias tipos de sócios, entre os quais são com uns o gerente e o cotista,
bem com o o em conta de participação, o solidário, o oculto e o capitalista etc.

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W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Sócio-gerente, previdenciariam ente, é o principal sócio na sociedade p o r cotas
de responsabilidade lim itada; quem , ju n ta m e n te com o cotista, com põe o capital
social, presta serviços de gerência, tal qual o titu lar de firm a individual.
N ão é necessária a percepção de retirada pro labore para ele ser tido com o em ­
presário, pois seu trabalho é presum ido. Se não gerencia (trabalha), participando
apenas da co n stitu ição do capital, in d ep en d e n tem en te do co n stan te no contrato
social, não é sócio-gerente, e sim sócio-cotista.
c) sócio-cotista: Na m esm a sociedade p o r cotas de responsabilidade lim itada, o
sócio-cotista en tra com o capital, participando, n o final, do exercício, do lucro do
em p reen d im en to . Em princípio, não trabalha, m as, p o u co im p o rtan d o o disposto
no co n traio social, se o fizer, dividirá a gerência com o sócio-gerente.
Desse sócio-cotista, para ser segurado obrigatório, exige-se retirada pro labore,
a qual presum e o seu trabalho na em presa. N ão é a rem uneração a base de fazê-lo
em presário, e sim o trabalho e a filiação. H avendo labor provado, o sócio-cotista,
m esm o sem retirada consignada na contabilidade, é segurado obrigatório. Ao c o n ­
trário, se o sócio-gerente não opera, m esm o efetivada tal retirada, n ão está filiado
nem deve ser inscrito. Tais fatos, evidentem ente, p o r co n trariarem a regra, devem
ser d em o n strad o s à saciedade.
d) sócio solidário: É qu em faz parte da sociedade em no m e coletivo, onde
to d o s os sócios resp o n dem pelas obrigações sociais, de form a solidária e ilim itada
(art. 315 do C ódigo C om ercial).
e) sócio de indústria: Na sociedade de capital e in d ú stria, disciplinada nos
arts. 317 a 324 do C ódigo C om ercial um dos sócios entra com o capital e, o outro,
com o trabalho, h isto ricam en te, designado p o r “in d ú stria ”. Há grande sem elhança
entre essa sociedade e a lim itada. O sócio de in d ú stria é o sócio-gerente, en q u an to
o sócio capitalista é o sócio-cotista.
O sócio de in d ú stria é segurado obrigatório, presu m in d o -se prestar serviços
para a sociedade. E m pregado, às vezes, assum e, em d eterm in ad as circunstâncias, a
função de sócio de in d ú stria de fato.
f ) diretor de sociedade anônima: As sociedades anônim as são integradas por
sócios, cada um deles en tra n d o com nú m ero variável de cotas de igual valor, res­
po n d en d o ap en as pela im portância p o r essas frações representadas. C ham ados de
acionistas. As partes, as ações. Tais em p reen d im en to s, ad m in istrad o s p o r diretoria
(ou presidência). De acordo com a Lei n. 6.404/1976, a direção e o C onselho Fiscal
são os seus órgãos sociais. Na adm inistração, atu am os diretores.
D iretor de sociedade an ô n im a é pessoa eleita em A ssem bleia G eral para co m ­
p o r a diretoria, na qual exerce o cargo de com ando geral da em presa.
g) membro do Conselho de Administração: A m esm a Lei n. 6.404/1976 prevê a
h ipótese de a ad m in istração su p erio r das sociedades an ô n im as conLar com C onse­
lho de A dm inistração, órgão colegiado de deliberação, com posto de, no m ínim o,
três m em bros.

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T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 353
Tais pessoas, eleitas pela A ssem bleia Geral (e p o r ela destituíveis) para com ­
po r esse conselho, exercem funções ligadas à adm inistração.
h) dirigente estatal: D irigente estatal é o ocupante de cargo de direção nas
fundações, em presas públicas e sociedades de econom ia m ista, en q u a n to em presas
esLalais.
A d o u trin a faz d istinção entre a iniciativa privada e o P oder Público. Daí a
figura do dirigente estatal, pessoa o cu p an d o cargo de direção nas fundações, em ­
presas públicas e sociedades de econom ia m ista, en q u a n to em presas estatais. A
obrigatoriedade de filiação dos adm inistradores de sociedades anônim as, inclusive
as de econom ia m ista, com o em presário, foi desenvolvida pela C onsultoria Jurídica
do enLão MPAS.
i) diretor de cooperativa, associação ou fundação: C ooperativa é m odalidade de
sociedade, co n stitu íd a de cooperados. Possui órgão dirigente igual aos das socie­
dades anônim as, n o rm alm en te integrada p o r cooperados.
D iretores au ferindo retribuição pela gerência, não presu m id o o seu trabalho,
tornam -se segurados o brigatórios na condição de em presários.
A ssociações são em p reendim entos coletivos onde nú m ero elevado de cida­
dãos se reúne para fim geralm ente nào com ercial, in d u strial ou rural, caso das
entidades recreativas, políticas, sociais, beneficentes etc., sem fins lucrativos.
Tais co rporações são dirigidas p o r diretoria, sem p resunção de retribuição,
tanto q u an to os d irigentes de cooperativas. O correndo rem uneração em favor de
tais diretores, são em presários.
No D ireito A dm inistrativo brasileiro, subsistem dois tipos de fundação: a) de
direito privado; e b) de direito público. As fundações de direito público são fede­
rais, estaduais e m unicipais. Não im p o rtan d o a m odalidade, são em presas, e seus
diretores ou dirigentes, em presários.
j ) membro de órgão colegiado representativo, jurisdicional e de controle do exer­
cício profissional: São m últiplos os órgãos dirigentes. Podem ser u rbanos ou rurais,
subdividindo-se cada um , ainda, em categorias profissionais ou patronais. Os ní­
veis tam bém diferenciados, p o d en d o ser regionais (sindicatos), estaduais (federa­
ções) ou nacionais (confederações).
Os seus m em bros são segurados obrigatórios, devendo c o n trib u ir d u ra n te o
exercício de tais atividades e, se for o caso, percebendo rem uneração da em presa de
origem , tam bém ali co n trib u em (item 39.1, e, da Portaria SPS n. 2/1979, na redação
dada pela P ortaria SPS n, 3/1982).
N a área trabalhista e previdenciária, operam órgãos colegiados ju d iciais e
adm inistrativos, organizados p aritariam ente, de representantes classistas. Dá-se
exem plo com as varas da Ju stiça do Trabalho e com asJR PSs do MPS.
Togado, o Ju iz P residente das antigas JCJs é serv id o r público. Os vogais c o n ­
trib u íam em dobro (R esolução CD/DNPS n. 556/1965) até o advento da Lei n.
6.903/1981.

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As JRPSs são órgãos colegiaclos regionais de controle ju risd icio n al ad m in istra­
tivo da P revidência Social. Além do presidente e m ais u m rep resen tan te do governo
federal, co n stitu em -se em dois representantes classistas, u m das em presas e outro
dos segurados.
Os m em bros classistas obrigados a recolher contribuição sobre a gratifica­
ção p o r sessão ( “co n siderando-se, para os fins de lim ites legais, a rem uneração
ev en tu alm en te m antida na em presa, ou u m a o u tra atividade” — in Resolução CD/
D N P S n 139/1970).
C ertas categorias de profissionais, m o rm en te a dos liberais (v. g., m édico, ad ­
vogado, engenheiro etc.), pela im portância da atividade, são co n tro lad as p o r orga­
nism os superiores, in stitu íd o s p o r lei, com o exem plo a O rdem dos A dvogados do
Brasil — OAB, o C onselho F ederal de M edicina — CFM e o C onselho F ederal de
E ngenharia e A rq u itetura — CONFEA, tidos com o au tarquias p o r Sebastião Batista
Affonso ( “Temas C o n stitu cio n ais”, Brasília: Ed. ANFIP, 1994, p. 21).
Se a ad m in istração é rem unerada, seus m em bros são segurados obrigatórios,
na condição de em presários.
k) empresário rural: Não há distinção entre em presário urb an o ou ru ral nem
m esm o em relação às em presas, m as um a lei previdenciária estabeleceu algum as
diferenças q u an to às obrigações fiscais, e, assim , existiria em presário p ro d u to r r u ­
ral pessoa física e em presário p ro d u to r ru ra l pessoa ju ríd ica, com as m esm as ca­
racterísticas ap o n tad as em todos os casos, sujeitos à escala de salários-base do art.
29 do PCSS até 31.3.03 (Lei n. 10.666/2003).
I) empresário de fa to e de direito: E m presário de fato é o p ro p rietário de fato de
em presa de direito o u sócio de falo em sociedade de direito, pessoas com todas as
características de em presário, m as a situação cível não regularizada.
Segurado obrigatório, está filiado, m as não inscrito, e, assim , tem dificuldades
para exercer seus d ireitos em razão da falta da inscrição.
O D ireito C om ercial prevê sociedades irregulares e de fato; reporta-se, tam ­
bém , a em presas de direito e de fato. Em cada tipo, com parece o em presário de
direito e o de fato. A em presa regularm ente organizada co rresponde, o em presário
de direito, m as nesta últim a firm a pode estar prestando serviços u m em presário de
fato.
40 4 . O b re iro ev en tu al — Em seu art. 12, IV, f l e b ,o PCSS apresenta dois tipos
de co n trib u in tes individuais: a) prim eiro, o antigo eventual, previdenciariam ente
tido com o au tô n o m o , e b) o au tô n o m o p ro p riam en te dito, o tradicional trabalha­
d o r p o r conta própria.
Para os fins d a previdência social, os dois são autônom os, gerando as m esm as
obrigações, em bora do p o n to de vista civil e laborai possam ser distinguidos de
algum a forma.
O prim eiro, um indivíduo d ependente, n ão tem profissão definida ou se está
ad estran d o an tes de dom inã-la e presta serviços su b o rd in ad am en te às em presas,

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T o m o II — P r e v id ê n c ia S o d a f 355
sem chegar a ser em pregado. Este se distingue p o r trabalhar em ocupação ocasio­
nal, serviço não p erm anente, tarefa esporádica. O segundo, profissional, possui
independência, isto é, opera p o r conta própria.
Definir ev entual é tarefa árdua e, a p artir da Lei n. 5.890/1973 — a prim eira
no rm a a equipará-lo ao au tô n o m o , to rn an d o -o p raticam ente autô n o m o não inscri­
to — , quase um a in u tilidade. O legislador de 1991 desceu a níveis insuspeitáveis
de insuficiência técnica e o considera u m p restad o r de serviços, “em caráter even­
tual, a um a ou m ais em presas, sem relação de em prego”.
A rigor, a oração é precária e pouco esclarecedora: 1) “quem presta serviço” é
designação co m u m a to d o s os obreiros; 2) a referência aos sem icírculos u rb an o
e rural é despicienda; com ou sem ela nada se caracteriza; 3) o “em caráter even­
tu al” é im p ropriedade, m esm o à vista do conceito de não eventual do art. 10, § 2S,
do RCPS. É tautologia p reten d er definir o eventual com a palavra “even tu al”. Pior
ainda, não deixando claro se essa ocasionalidade diz respeito ao trabalhador (sic)
ou à tarefa (sic); 4) a m ultiplicidade de em presas não é p ró p ria desse obreiro; se
ele se m ultiplica é praticam ente um profissional, um au tônom o; e 5) “sem relação
de em prego” é tru ísm o desnecessário.
N inguém co n fu n d e o eventual com o em pregado. Um , é trab alh ad o r fortuito,
e o outro, p restad o r p erm an en te de serviços, cifrada a frequência de am bos em
relação à tarefa executada. A locução legal reduz-se à essência da atividade em ­
preendida: tem de ser acidental (podendo ser exercitada, conform e a necessidade,
tam bém , pelo em pregado).
Suas características básicas são: a pessoalidade, a eventualidade e, co n seq u en ­
tem ente, a não hab itu alidade do labor e, assinale-se, a dependência hierárquica.
E xatam ente com o o em pregado, é su b o rd in ad o ao p o d e r de com ando da em presa.
Tem seu trabalho co n d uzido pelo co n tratan te e não é autossuficiente com o o a u tô ­
nom o. Isso se deve a inúm eros fatores e o principal deles é não possuir profissão;
ou tro , a p ró p ria singeleza da tarefa executada, sem falar do realizador, alguém se
iniciando n um a carreira, m arginalizado no m ercado de trabalho ou na sociedade.
E xcepcionalm ente, é segunda atividade da pessoa, co rresp o n d en d o ao subem pre-
go, q u ando não ao desem prego.
405. A u tô n o m o in d e p e n d e n te — O au tô n o m o trabalha p o r conta própria.
P restador in d ep en d en te de serviços, geralm ente profissional, exercita h ab itu al­
m ente atividade rem u n erad a para terceiros, pessoas físicas ou ju ríd icas, assum indo
os riscos in eren tes à sua execução.
O co n trato estabelecido com pessoas o u em presas é nitid am en te civil. Não é
trabalhista. O im p o rtan te nessa relação é a tarefa ajustada em si ou a obra, enfim ,
o resultado do trabalho.
A ssem elha-se ao lilular de firm a individual de pequeno porte. Tem reduzido
estabelecim ento (p o d en d o ser m óvel), ad m in istra em preendim ento de pequeno
vulto e arca com os riscos do trabalhador.

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356 W l a d im i í N o v a e s M a r t i n e z
É dito profissional, isto é, detém a profissão, dom ina certa técnica, conhece
um a arte ou efetiva prática, por m eio da qual obtém os m eios de subsistência e se
realiza com o ser h u m an o e m em bro da sociedade.
A u tônom o, repete-se, porque frequentem ente e p o r sua conta, exerce ativida­
de profissional. Tal co n stru ção guarda as suas principais características, avulta a
dinâm ica do esforço individual e não olvida a condição não am adorística, sem falar
no essencial, a assunção de riscos específicos e trabalho não subordinado.
Na CLPS, a definição é sem elhante à doutrinária: “Q uem exerce h ab itu alm en ­
te e p o r conta pró p ria atividade profissional re m u n e ra d a ” (art. 5-, IV, a).
O texto do PCSS m odificou a descrição, alargando o seu alcance. Do p ro ­
fissional, estende-se ao econôm ico, e m esm o esse term o, tom ado no seu sentido
m ais am plo: o de atividade lucrativa ou não. Lim ita-se à órbita urb an a, preferindo
classificar o trab alh ad o r rural in d ep en d e n te com o equiparado a autônom o.
Para a Lei n. 8.212/1991, a “pessoa física que exerce, p o r conta própria, ativi­
dade econôm ica de natureza urbana, com fins lucrativos ou n ão ” (art. 12, IV b), que
vem descrito depois do eventual (art. 12, IV, a), esta últim a figura sem expressão e
em extinção.
O R egulam ento do C usteio, no art. 10, IV, c, fornece in ú m ero s exem plos de
au tônom o: a) c o n d u to r autô n o m o de veículos rodoviários; b) auxiliar de co n d u to r
au tô n o m o de veículos rodoviários (Lei n. 6.094/1974); c) com erciante am bulante
(Lei n. 6.5 8 6 /1978); d) trabalhador associado à cooperativa de trabalho prestando
serviços a terceiros; e) m em bro do C onselho Fiscal de sociedade anônim a; 0 quem
presta serviços não co n tín u o s à família (possivelm ente, a faxineira e o vigilante de
ruas); g) feirante-com erciante; e h) in co rp o rad o r de im óveis (Lei n. 4.591/1964).
A O rientação Norm ativa SPS n. 2/1994 tam bém considera autônom o: i) quem
exerce atividade de corretor ou leiloeiro; j) vendedor de bilhetes de loteria; k) cabelei­
reiro, m anicuro, esteticista, maquilador, podólogo e os profissionais congêneres, quan­
do exercem suas atividades em salão de beleza, por conta própria; 1) o prestador de
serviço de natureza eventual em órgão público, inclusive o integrante de grupo-tarefa,
não sujeito a regime próprio de previdência social; m) vendedores de livros religiosos,
tais com o os ocasionais, os aspirantes, os licenciados e os credenciados (colportores-
-estudantes); n) presidiário exercente de atividade por conta própria; o) no período de
11.6.1973 a 12.3.1974, o tem porário; e p) o avulso, de J 1.6.1973 a 19.10.1976.
O m édico -resid ente (Lei n. 6.932/1981) foi equiparado a au tô n o m o (RCPS,
art. 10, V, e). O RCPS considerava o titu lar de serventia de ju stiç a não rem unerado
pelos cofres p ú b licos, en q u an to não filiado a regim e próprio de previdência social,
au tô n o m o , an terio rm en te a 25.7.1991, e a O rientação N orm ativa SPS n. 2/1994
classificou-o com o em presário, a partir dessa data.
j á o au tô n o m o p ro p riam en te dito apresenta características distin tas do em ­
pregado e, de certa form a, assem elhadas às do em presário: a) pessoalidade; b)
profissionalidade; c) assunção de riscos; e d) independência. O PCSS acresceu-lhe
duas nuanças: e) atividade urbana; e 0 ser lucrativa ou não.

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T om o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l 357
Pessoa física não se confunde com ju ríd ica, em bora não seja fácil distingui-la,
com o asseverado, do titular de firm a individual de pequeno porte. Tem capaci­
dade física e ju ríd ic a para o exercício de sua profissão. D entro dessa capacidade,
com preende-se a idade m ínim a de 16 anos para a habilitação profissional, especial­
m ente no tocante às ocupações regulam entadas.
Com o dito, o au tô n o m o detém profissão, desde a m ais sim ples até a m ais
cientificam ente sofisticada. D om ina técnica. C onhece habilidade ou arte, e, graças
a sua aptidão, exerce o labor assegurador dos m eios de subsistência ou de realiza­
ção pessoal. D entro da profissionalidade, entende-se a locação de serviços rem u n e­
rados. E xcepcionalm ente, pessoas abnegadas trabalham sem pagam ento, devendo
os casos da espécie serem exam inados per se e à vista de seu co n teú d o social.
C aracterística significativa do profissional é a habitualidade n o desem penho
do esforço pessoal. Para isso, é necessário exercer a profissão frequentem ente.
O utra, o ad estram en to. Para algum as ocupações, é exigida habilitação form al.
Todavia, com provado o exercício, para fins de previdência social, não im poria se o
au tô n o m o detém ou não diplom a, ou certificado capaz de qualificá-lo. E xcetuam ­
-se, evidentem ente, algum as atividades, com o a dos liberais.
O au tô n o m o opera p o r conta própria. Em decorrência, assum e determ inados
riscos. B aseado em p eq u e n o estab e lecim en to o u em p re e n d im e n to eco n ô m ico
(v. g., escritório, fábrica de artefatos, m óveis, ferram entas etc.), firm a co ntratos de
fornecim ento de m ão de obra, em que im porta o resultado. Sobrevêm responsabi­
lidades relativam ente a esse fim. Enfrenta contingências profissionais com o a não
execução dos serviços no prazo estipulado, ou sua conclusão sem as p articu larid a­
des avençadas; gastar m ais com m ateriais; ter de su b em p reitar parte da obra; ter o
ganho d im in u íd o p o r erro de cálculo; ter de refazer parte, ou todo o trabalho. Tais
eventualidades correm p o r conta do trabalhador.
Em seu art. 2Q, ao definir em pregador, diz a CLT assum ir ele os riscos da
atividade econôm ica. Ali, Lais possibilidades são as de não produzir, de pro d u zir
e não vender, de ter de com ercializar p o r valor inferior ao do custo, de e n tra r em
concordata ou falir, entre outras. O em pregado (e, tam bém , o tem porário, o avulso
e o dom éstico) não se subm etem às contingências econôm icas nem profissionais,
pouco im p o rtan d o , para a sua definição, o sucedido com quem lhe propicia os
serviços.
Para a Ju stiça Federal, só se pode alegar ter sido fraudulenta a sua inscrição no
INSS, se lhe oferece am plo direito de defesa. O convênio do FUNRURAL com os
sindicatos rurais para a prestação de assistência m édica, per se, não faz do m édico
au tô n o m o u m em pregado do Sindicato.
406. E q u ip ara d o s ao au tô n o m o — A Lei n. 8.212/1991, em seu art. 12, c o n ­
siderava au tô n o m o (o propriam ente dito e tam bém o eventual) e o equiparado a
autônom o: 1) o p ro d u to r rural pessoa física; 2) o garim peiro; 3) o eclesiástico; 4)
o em pregado de organism o oficial internacional; e 5) o brasileiro civil trabalhando
no ex terio r para organism o oficial internacional.

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358 W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
No inciso V, designando-os com o c o n trib u in tes individuais, descreve esses
cinco desses eq u iparados. Pessoas, p o r sua n atureza, não autônom as, po d em se
filiar, inscrever-se e c o n trib u ir com o autônom os, p o r m eio da escala de salários-
-base do art. 29 do PCSS, até 31 de m arço de 2003, sem o ser. Se fossem , não
haveria necessidade de equipará-los.
A ideia é estabelecer distinção fiscal, com vistas às obrigações p ertinentes ao
em pregado e ao au tô nom o. Os dois últim os elencados (inciso V, letras d/e) eram
em pregados, tidos com o autônom os, desobrigando-se o organism o oficial in te rn a ­
cional, n o Brasil ou no exterior, dos ô n u s fiscais dos trabalhadores subordinados.
E videntem ente, com isso, algum as diferenças ocorrem com relação às prestações,
pois, nessas condições, não fazem ju s aos benefícios dos em pregados, tem porários,
servidores, avulsos e dom ésticos.
a) produtor rural pessoa física: O p ro d u to r ru ral pessoa física é em p reen d ed o r
eq u iparado a co n trib u in te individual, p eq u en o p ro d u to r ru ral, p raticam en te o se­
gurado especial referido no inciso VII, com a particu larid ad e de co n tra tar terceiros
para ajudá-lo.
A p artir de 23.12.1992, p o r força da Lei n. 8.540/1992, a redação passou a
ser: “a pessoa física, proprietária o u não, que explora atividade agropecuária ou
pesqueira, em caráter p erm an en te ou tem porário, d iretam en te ou p o r interm édio
de p repostos e com auxílio de em pregados, utilizados a q u alq u er título, ainda que
de form a não c o n tín u a ”.
b) garimpeiro: A Lei n. 8.398/1992 alterou a redação original do inciso V,
acrescen tan d o -lh e a alínea a, ao art. 12 do PCSS, para abrigar o garim peiro. A Lei
n. 9.876/1999 atualizou a redação.
G arim peiro é outro pequeno em preendedor, excluído do âm bito rural por não
estar ocupado na exploração agropecuária e com nova redação: “a pessoa física, pro­
prietária ou não, que explora atividade de extração m ineral — garim peiro — em cará­
ter perm anente ou tem porário, diretam ente ou por interm édio de prepostos e com au ­
xílio de em pregados, utilizados a qualquer título, ainda que de form a não contínua”.
c) eclesiástico: Não ob stan te a referência expressa no art. 143, § 2S, da CE é
segurado sem definição n a LOPS, CLPS ou no PBPS. Q uiçá n a Lei n. 6.696/1979,
a p rim eira a considerá-lo segurado obrigatório.
De m o d o geral, a descrição pode ser en contrada na P ortaria MPAS n. 1.984/
1980: “aqueles q u e consagram sua vida ao serviço de D eus e do pró x im o , com ou
sem ordenação, dedicando-se ao an ú n cio de suas respectivas d o u trin as e crenças,
à celebração dos cu ltos próprios, à organização das co m u n id ad es e à prom oção de
observância das n orm as estabelecidas, desde que devidam ente aprovados para o
exercício de suas funções pela au to rid ad e religiosa co m p ete n te”.
Do p o n to de vista previdenciário, eclesiástico é pessoa titulada, consagrada
pela au to rid ad e com petente. P ossuindo a perenidade in eren te ã sua condição de
voltado para o ofício da fé, à catequese e aos en sin am en to s práticos dos preceitos
divinos, m an tém -se a serviço dos h om ens e de Deus.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 359
Para a legislação é o m inistro de confissão religiosa e o m em bro de ordens,
co n g reg açõ es ou in s titu to s de vida co n sa g ra d a , in c lu íd a s as co m p a n h ia s. N ão
se confunde tal eleito com os acólitos, presbíteros, diãconos, fiéis, seguidores ou
quem se esteja adestrando para o m inistério religioso, caso dos sem inaristas, postu-
lan tese noviciantes (Parecer CJ/MPASn. 33/1981, in Processo MPASn. 15.042/1980).
d) empregado de organismo oficial internacional: E m pregado de organism o ofi­
cial in tern acio n al ou estrangeiro em fu ncionam ento no Brasil é o prestad o r de
serviços para entidades do tipo ONU , não filiado a outro regim e de previdência
social, geralm ente do órgão ou país de origem , assim classificado até 28.11.1999
(Lei n. 9.876/1999).
e) prestador de serviços no exterior para organismo oficial internacional: Pres­
tador de serviços no exterior para organism o oficial in ternacional é o civil traba­
lhando para órgãos in ternacionais, salvo se protegido pela previdência social do
país do dom icílio.
407. T ra b alh ad o r avulso — Avulso é trabalhador, vinculado ou não a sin­
dicato in term ed iad o r dc m ão de obra, prestador de serviços a diversas em presas.
U sualm ente tarefas portuárias, prin cip alm en te de carga e descarga de m ercadorias
tran sp o rtad as p o r navios nacionais ou estrangeiros.
O con ceito da lei é b astan te singelo: “q u em presta, a diversas em presas,
sem v ín cu lo em pregatício, serviços de n atu reza u rb a n a ou ru ral d efin id o s no
reg u la m en to .”
Todos os obreiros prestam serviços. M uitos deles, para inúm eras em presas.
D iversos profissionais trabalham sem vínculo em pregatício. N atureza urb an a ou
rural com preende todo o universo laborai, e, assim , tudo isso não diz m u ita coisa.
Da definição legal, restam , pois, a ausência de indep endência (caso contrário seria
au tô n o m o ) e a rem issão ao regulam ento. N en h u m a m enção aos sindicatos, em bora
a definição do obreiro nunca fosse condicionada à filiação a esses órgãos ciassistas.
O un iv erso p o rtu ário e m esm o o dos entrepostos ou arm azéns é com plexo e
abarca m uitas profissões, ocupações e funções. É realidade, elem ento pré-jurídico
a p a rtir do q u al o leg islador e o estu d io so ten tam co m preendê-lo. M uitos, efeti­
vam ente, sào eventuais, alguns autônom os e hã até em pregados, m as a lei, precaria­
m ente, considera a todos com o avulsos.
Um avulso é espécie de em pregado-autônom o, quase sub o rd in ad o e quase
indep en d en te, regido p o r legislação específica e com os direitos trabalhistas e pre­
videnciários condicionados à disciplina própria da atividade.
São suas p rincipais características: a) liberdade laborai — inexiste vínculo
em pregatício entre eles e o sindicato, ou com o arm ador (proprietário do veículo
tran sp o rtad o r); b) prestação de serviços para m ais de um a em presa, bastante co ­
m um no caso do po rtu ário, e dada a natureza do m eio de transporte; c) execução
de serviços não eventuais às em presas tom adoras de m ão de obra, sem su b o rd in a­
ção a elas; d) trabalho para terceiros com m ediação de entidades representativas ou
não; e e) exclusividade na execução de atividades portuárias.

C urso df D ir e it o P r e v id e n c iá r io

360 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Ele presta serviços para terceiros sem fazê-lo d iretam ente, a exem plo do tem ­
p orário. Age p o r in term éd io de órgãos classistas, p rin cip alm en te sindicatos. Não
sendo em pregado d o s dadores de serviços, goza de relativa liberdade de trabalhar
neste ou naquele dia (m esm o sujeito a rígidos con troles e regulam entos profissio­
nais e p o rtu ário s).
O s sin d icato s in term ed iam a m ão de obra ju n ta m e n te com a C apitania dos
Portos. E n ten d em -se com os tom adores dos serviços, cobram para si parte da m ão
de obra, ad m in istram o fornecim ento do avulso, co n tratam a execução das tarefas,
sup erv isio n am -n as, rem uneram o obreiro, descontam e recolhem as obrigações
sociais.
Inexiste relação ju ríd ica entre o avulso e o to m ad o r dos seus serviços; apenas
fática. O avulso é ou n ão associado aos sindicatos. Mas não só associado, pois aq u e­
les em p reen d em com o cooperativas de trabalho, su b sistin d o certa subordinação
ad m in istrativ a a esses órgãos representativos.
O RPS, p o r rem issão e autorização legal, então m en cio n an d o a in term ed ia­
ção sindical, tam bém não define esse segurado, preferindo listá-lo: a) estivador,
inclusive o trab alh ad o r de estiva em carvão e m inério; b) alvarengueiro; c) confe-
rente de carga e descarga; d) co n sertad o r de carga e descarga; e) vigia p ortuário; f)
am arrad o r de em barcação; g) trab alh ad o r em serviço de bloco; h) trab alh ad o r de
capatazia; i) arru m ad o r; j) ensacador de café, cacau, sal e sim ilares; k) trabalhador
na in d ú stria de extração de sal; 1) carregador de bagagem em porto; m ) prático de
b arra em p ortos; n ) g u indasteiro; o) classificador, m o v im en tad o r e em pacotador
de m ercadorias; e p) outros, assim classificados pelo MPS o u MTE.
A O rien tação N orm ativa SPS n. 2/1994 fornecia conceito: “É considerado
avulso aquele que, sindicalizado ou não, presta serviços de natureza urb an a o u ru ­
ral, sem vín cu lo em pregatício, a diversas em presas, com in term ediação obrigatória
do sindicato da categoria ou do órgão gestor de m ão de o b ra ” (Lei 11. 8.630/1993).
Tem com o avulso o “trab alh ad o r que até 10 de ju n h o de 1973 (Lei n. 5.890/
1973) p re sto u serviço tem porário a diversas em presas, sem vínculo em pregatício,
com in term ediação de em presa locadora de m ão de obra tem porária, relativam ente
a esse p e río d o ”.
As d u as tentativas são precárias. Q uando a definição descreve o dom ínio in ­
teiro (u rb an o ou rural, sim ou não, p rin cip al ou acessório etc.) nada acrescenta à
conceituação. A locução “sem vínculo em pregatício” é absolutam ente despicienda
e n ada coopera.
Ela propicia relato do trabalho p o rtu ário , de grande utilidade:
a) C apatazia é a m ovim entação de m ercadorias nas instalações de uso p ú b li
co, co m p reen d en d o o recebim ento, conferência, tran sp o rte in tern o , ab ertu ra de
volum es para verificação aduaneira, m anipulação, arrum ação, entrega, bem com o
o carregam ento e a descarga de em barcações q u an d o efetuados p o r aparelham ento
p o rtu ário ;

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / / — P r e v id ê n c ia 5 o d a ! 361
b) Estiva é a m ovim entação de m ercadorias nos conveses ou nos porões dos
navios prin cip ais ou auxiliares, inclusive o transbordo, arrum ação, peação e des-
peação, bem com o o seu carregam ento e descarga, q u an d o realizados com equipa­
m ento de bordo.
c) C onferência de carga, a contagem de volum es, anotação de suas caracterís­
ticas, procedência ou d estino, verificação do estado das m ercadorias, assistência à
pesagem , com paração do m anifesto e dem ais serviços correlatos, nas operações de
carregam ento e descarga de em barcações.
d) C o n serto de carga, o reparo e a restauração das em balagens de m erca­
dorias, nas operações de carregam ento e descarga de em barcações, reem balagem ,
m arcação, rem arcação, conserto, etiquelagem , abertura de volum es para vistoria e
p o sterio r recom posição,
e) Vigilância de em barcações, a fiscalização da enLrada e saída de pessoas a
bordo dos barcos atracados ou fu n deados ao largo, bem com o da m ovim entação
de m ercad o rias nas portalós, ram pas, conveses, p lataform as e outros locais de
em barcação.
f) Bloco, a lim peza e a conservação de veículos m ercantes e de seus tanques,
inclusive batim en to de ferrugem , p in tu ra, reparo de pequena m onta e serviços
correlatos.
No art. 7B, XXXIV, m encio n an d o -o pela prim eira vez, diz a C arla Magna:
“igualdade de direitos entre o trab alh ad o r com vínculo em pregatício p erm an en te
e o trab alh ad o r avulso”, n um a alusão em que tal profissional deve ser tido com o
igual ao em pregado (descabendo, pois, a decisão do Suprem o Tribunal Federal,
q uando o considerou não gerador da contribuição de 20% das em presas).
408. S egurado especial — Em razão do art. 195, § 8° da CF/1988, em distinção
inexplicável num a C arta M agna, é conceituado, em particular, o segurado especial.
É p equeno p ro prietário ou não, au tô n o m o e prestad o r de serviços ru rais e
na pesca, trab alh an d o ind iv id u alm en te ou em regim e de econom ia familiar, sem
o co n cu rso de em pregados, conform e a Lei Maior, ou sem a ajuda de terceiros, de
acordo com o artigo citado. A m aioria envolvida com o D ireito Agrário.
U m conceito que restou bastante am pliado pela Lei n. 11.718/2008.
a) produtor: É em p reen d ed o r de atividade econôm ica em pro p ried ad e rural.
Para o art. 48, 3S, do D ecreto n. 53.154/1963, “toda pessoa física ou ju ríd ica, p ro ­
prietária o u não, que explora atividades agrícolas, p astoris ou na indústria rural,
em caráter tem p o rário ou perm an en te ou através de p re p o sto s”. Um dos poucos
conceitos legais, aliás, inteiram ente su perado pelo da Lei n. 8.213/1991.
Para a O rientação N orm ativa SPS n. 2/1994, “aquele que, proprietário ou não,
desenvolve atividade agrícola, pastoril ou hortifrutigranjeira, p o r conta própria,
indiv id u alm en te o u em regim e de econom ia fam iliar” (subitem 5.7, a).
As definições dão conta de peq u en o p ro d u to r rural, o cupando área pouco
expressiva de terra, com cultivo lim itado às plantaçõ es de subsistência e, n orm al­
m ente, na agricultura.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io
362 W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
São tam bém seg urados especiais a esposa ou a com panheira e filhos m aiores
de 14 anos.
O Plano de C usteio prevê regim e co n trib u tiv o específico para esse segurado,
com im plicações em relação à sua filiação, sen d o o brigatória, e p o d en d o c o n tri­
b u ir com o facultativo, repercutindo no tipo de valor dos seus benefícios.
b) parceiro: O parceiro celebra co n trato de parceria com o pro p rietário da terra
e desenvolve exploração agropecuária, dividindo os lucros conform e o ajuste.
Tal aju ste não se co n fu n d e com o de em prego, em bora, m uitas vezes, após
reclam ação trabalhista, este últim o em erja após exam e de m atéria fática.
N esse tipo de co n trato , certa fração da produção, fato gerador de contribuição
previdenciária, p erten ce ao p ro d u to r pro p riam en te dito e a o u tra parte ao p ro p rie­
tário d a terra.
c) medro: A ssina contraio de m eação com o proprietário da terra e, da m esm a
form a, em p reen d e atividade agropecuária, p artilh an d o os ren d im en to s auferidos.
A m eação é variação do co n traio de parceria; cada um dos m eeiros tem direito
ã m eação.
d) arrendatário: O arrendatário obtém o uso da propriedade pelo aluguel pago
ao p ro p rietário do im óvel rural. O valor da locação p o d e ser in natura, distinguin-
do-se da parceria ou m eação em razão da inexistência de riscos para o d o n o da
área rural.
Em v irtu d e dessa atividade, o arren d ad o r não é segurado especial nem m esm o
p ro d u to r rural.
e) assemelhado: A ssem elhado é o faiscador, catador, seringueiro e m arisqueiro.
j ) pescador artesanal: É qu em se dedica à pesca, utilizando-se de recursos p re­
cários e pró p rio s da econom ia de subsistência. A em barcação não pode u ltrapassar
du as toneladas bru tas. A O rientação N orm ativa SPS n. 2/1994 im põe a m atrícula
na C apitania dos P ortos ou no In stitu to B rasileiro do Meio A m biente — IBAMA.
São assem elhados ao pescador artesanal o m ariscador ou m arisqueiro, o ca-
ranguejeiro, o eviscerador de pescado, o observador de cardum e, o pescador de
tartaru g as e o catad o r de algas.
A Lei n. 8.39 8 /1992 excluiu o garim peiro do rol do inciso VIII, p o sicio n an ­
do-o no inciso V do Plano de C usteio, alterando a redação do art. 12 da Lei n.
8.212/1991, sem fazer referência a esse dispositivo no Plano de Benefícios.
No § l e do art. 11, a Lei n. 8.213/1991 fornece conceito de regim e de econo­
m ia familiar: “a atividade em que o trabalho dos m em bros da família é in d isp en ­
sável ã p ró p ria su b sistência e é exercido em condições de m ú tu a dependência e
colaboração, sem a utilização de em pregados”.
O bviam ente, co m p reendido com o relativo à definição legal de segurado espe­
cial, trab alh ad o r em in en tem en te rurícola, arrendado, a possibilidade de aproveita­
m en to da descrição p ara atividades urbanas.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l 363
A prim eira referência ao regim e de econom ia fam iliar colhe-se no art. 160
do ETR (Lei n, 4.214/1963). O D ecreto n 61.554/1967, seu regulam ento após o
advento do D ecreto-lei n. 276/1967, apresentava definição incipiente (arl. 39, I).
Tanto a Lei n. 4 .5 0 4 /f9 6 4 (E statuto da Terra) qu an to o D ecreto n. 55.891/1965,
seu regulam ento, possuíam conceitos de regim e de econom ia familiar.
N ossa legislação sindical tam bém tem desenho especial (art. 19, I, b).
A Lei C om p lem entar n. 11/1971 o arrola com o “o trabalho dos m em bros da
família, indispensável à própria subsistência, e exercido em condições de m ú tu a
dep en d ên cia e co laboração” (arl. 3Q, § I a, b), do qual o legislador de 1991 buscou
inspiração.
O R egulam ento da Lei C om plem entar n. 11/1971 definiu pescador em regim e
de econom ia familiar. Tam bém o fez a Lei n. 6 .1 9 5 /f9 7 4 (Seguro de A cidentes do
Trabalho Rural). Seu D ecreto R egulam entador n. 76.022/1975, com a redação do
n. 77.911/1976, propicia o conceito, no art. 3S, c. O m esm o se verifica na Lei n.
6.260/1975 e no D ecreto n. 79.575/1977. O D ecreto n. 83.081/1979 dava pratica­
m ente a m esm a definição da Lei C om plem entar n. 11/1971 (art, 16, III, a/c).
g) autônomo rural: Segundo o art. 12, IV, a e b , do PCSS, não há, n a legislação,
autô n o m o ru ral, pois as duas alíneas só adm item a atividade urbana, Pessoa física
(e com em pregados) é equiparada a au tô n o m o (inciso V a). Ignora a figura do
boiadeiro, trab alh ad o r independente.
Por o u tro lado, o inciso VIII concebe segurado especial trabalhando indivi­
dualm en te (sem ser em regim e de econom ia fam iliar).
N essas condições, não há m uita diferença entre os dois em preendedores, su ­
jeito s am bos à filiação obrigatória, e, na dúvida, sendo preferível ser en quadrado
com o segurado especial.
409. S erv id o r p ú b lico — De regra, o servidor é filiado a regim e (dito p ró ­
prio). Por algum m otivo, existência dele ou nele não estar incluído, o servidor
público resta protegido pelo regim e geral.
Nesse sentido, subsiste regra de grande alcance não positivada suprarregi-
mes: se o trab alh ad o r não está coberto p o r um regim e p ró p rio , autom aticam ente
subm ete-se ao RGPS. Isto é, não pode ficar desprotegido.
D eslarte, se o serv idor m unicipal ou estadual (e algum raro p restad o r de ser­
viços para a U nião, com o o au tô n o m o ), se não filiado ao regim e organizado pelo
ente político, ingressa no regim e geral ex vi do art. f 2 do PBPS. Se há regim e pró­
prio e ele exerce atividade na iniciativa privada, sujeita-se às duas proteções.
A inclusão do servidor na previdência social é m atéria m al disciplinada em
custeio e benefícios, co ncluindo-se pela aplicação das regras do PCSS e PBPS e, por
conseguinte, estabelecendo-se conflitos com a C arta Magna.
410. F u n c io n á rio c a rto rá rio — A situação previdenciária dos cartorários,
expressão am pla e designativa de prestadores de serviços a vários organism os
p araestatais auxiliares da ju stiç a, é relativam ente confusa, variando de E stado

C urso de D ír r it o P r u v id e n c ia k io

364 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
para Estado. Sua filiação ao RGPS d ependia, conform e a R esolução CD/DNPS n.
325/1969 (in Processo MTPS n. 178.756/1964), de estarem ou não abrangidos p o r
regim e p ró p rio de previdência social (R esolução CD/DNPS n. 3 3 6 /1 9 6 8 ), tudo
isso em razão do d isp o sto no art. 3° da LOPS, especialm ente após a redação dada
pela Lei n. 6.887/1980.
De m odo geral, os cartórios, tabelionatos, serventias e escrivanias (m as não
os cartórios ju d iciário s ou secretarias da Ju stiça do Trabalho, em in en tem en te esta­
tais), foram tidos com o equiparados aos órgãos públicos, m esm o não rem u n eran d o
os servidores pelos cofres estaduais.
C om a P ortaria SPS n. 29/1975 (e, p o steriorm ente, com as SPS ns. 9/1978 e
2/1979), m an tiv eram -se excluídos do RGPS, se vinculados a tais regim es próprios.
C aso con trário , co n trib u íam para o então INPS.
Logo depois, a O rientação N orm ativa SPS n. 2/1994 estabeleceu distinção:
an terio rm en te a 25.7.1991, é em presário (item 5.3, íi), e, a p a rtir da m esm a data,
se não rem u n erad o pelos cofres públicos, tido com o au tô n o m o (5.4.1, g). A nosso
ver, em presário tam bém , pois em pregadores e titulares de em presa.
A Lei n. 8.935/1994, sem m encioná-los, alterou a com posição do art. 12 do
PCSS, com a inclusão desses dois novos segurados obrigatórios: o em presário e o
em pregado cartorários. R egulam entou o art. 236 da CF (“Os serviços notariais e
de registro são exercidos em caráter privado, p o r delegação do P oder P úblico”),
desestatizan d o -o s e tendo-os com o “de organização técnica e adm inistrativa des­
tin ad o s a garan tir p u blicidade, au ten ticid ad e, segurança e eficácia dos atos ju ríd i­
co s” (art. I 9).
P revidenciariam ente, o em presário é o n o tário ou o tabelião, oficial de registro
ou registrador, pessoalm ente considerados os “profissionais do direito, dotados de
fé p ú b lica, a q u em é delegado o exercício da atividade n otarial e de registro” (art.
3Q). N o art. 5Q, I a VII, com parecem elencados: tabelião de notas; tabelião e oficial
de registro de co n tra to s m arítim os; tabelião de pro testos de títulos; oficial de regis­
tro de im óveis; oficial de registro de títulos e d o cu m en to s civis e de pessoas ju ríd i­
cas; oficial de registro civil das pessoas n atu ra is e de interdição e tutela e oficial de
registro de distribuição. T itular de firm a individual, co n tin u a com o órgão auxiliar
da ju stiç a, com as obrigações da em presa descrita no art. 15 do PCSS.
Em seu C apítulo XI — Da Seguridade Social, a Lei n. 8.935/1994 define a si­
tuação, en q u ad ráv el, p o r sem elhança, n o inciso III do art. 12, e relativam ente “aos
escreventes e au x iliares”, no inciso 1 (art. 40). Em disposição ab u n d a n te , “assegu­
rados os d ireito s previdenciãrios ad q u irid o s até 2 0.11.1994” (provavelm ente ju n to
aos In stitu to s de P revidência de cada E stado).
Regra futura, p ois são os cartorários a observar o regim e laborai e protetivo
da iniciativa privada, deix an d o ao d ad o r de serviços a condição de entidade sui
generis, inserindo-se p o r m an d am en to co n stitu cio n al nos D ireitos Civil e C om er­
cial (em presário) e do T rabalho (em pregado), aplicando-se a eles as norm as civis
e trabalhistas.

C urso de D ir e it o P r e v i p f .n c i á r i o

Torno II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 365
No T ítulo IV — Das Disposições Transitórias, n o art. 47, eram abertas signifi­
cativas exceções à regra estatuída, autorizada a contratação dos atuais escreventes e
auxiliares, até então estatutários o u n o u tro regim e especial, pela CLT, providência
a ser tom ada até 20.12.1994.
R epetindo a referência à contagem recíproca do art. 40, o § I a do art. 48, as­
segura o tem po anterior, para fins de previdência social (PBPS, arts. 94 a 99). Caso
o p restad o r de serviços não opte, m antém -se n o regim e anterior, conform e cada
caso. Prazo m u ito cu rto , provavelm ente a m aioria perm aneceu no regime público.
Se a lei não q u eria a privatização, deve ter conseguido.
Diz o art. 51: “Aos atuais n o tário s e oficiais de registro, q u an d o de ap o sen ta­
doria, fica assegurado o direito de percepção de pro ventos de acordo com a legis­
lação que an terio rm en te os regia, desde que tenham m antido as contribuições nela
estipuladas até a data do deferim ento do pedido o u de sua concessão”.
Levando-se em conta o fato de a filiação u sualm ente dar-se em regim es esta­
duais, a lei federal conllila com a estadual; nen h u m a valia tem o dispositivo se a
legislação estadual não o confirm ar. Se houve pretensão da lei federal a garantir o
direito, há invasão da au to n o m ia do Estado, e, se não houve, ela se esvazia, pois é
letra m orta.
Um a referência à “aposentadoria facultativa ou p o r invalidez nos term os da
legislação previdenciária federal” (art. 39, § 2a) só vale p ara os abrangidos pelo
RGPS.
A norm a não deixa clara a adm issão do em presário cartorário no inciso III do
art. 12, m as essa é a conclusão, à vista de todo o seu corpo.
Caso ele deseje m anter-se filiado ao regim e protetivo desfrutado até 20.11.1994,
poderá fazê-lo. Basta c o n tin u ar co n trib u in d o até a véspera da aposentação. M e­
lhor se form alizar essa vontade p o r escrito, para evitar futuras dúvidas no caso de
inadim plência: está em atraso ou aban d o n o u o regim e?
A regra vale para a pensão p o r m orte e para os auxiliares (§ l s). C artórios e
tabelionatos criados a p artir de 21.11.1994, porém , som ente no RGPS. Se o profis­
sional deixa o cartório o n d e observava o regim e an terio r e rom pe o vínculo ju ríd i­
co, sendo ad m itid o n o u tro após a lei, deve perfilhar o regim e agora instituído. Ele
não p o rta consigo a condição especial assegurada pela Lei n. 8.935/1994.

C urso dl D ir e it o PRnviDPNCiÁRio
366 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo XU

S e g u r a d o s F a c u l t a t iv o s

411. Qualquer pessoa. 412. Trabalhador inativo. 413. Servidor sem


S u m Ar s o :
regime próprio. 414. Prestador de serviços no exterior. 415. Excluído pela
legislação pretérita. 416. Dona de casa. 417. Indivíduo estudante. 418. Síndico
de condomínio. 419. Incapaz representado. 420. Percipiente de benefícios.

S egurado facultativo é pessoa autorizada, em d eterm in ad as circunstâncias,


a ingressar e situar-se no regim e previdenciário p o r vo n tad e própria. A referida
facultatividade é de adm issão e de perm anência.
Dizia o art. 201, § 1Q, da C F/1988: “Q u alq u er pessoa poderá p articip ar dos
benefícios da previdência social, m ediante contribuição na form a dos planos previ­
den ciário s.” A p artir da EC n. 20/1998, reza o § 5S do m esm o art. 201: “É vedada a
filiação a regim e geral da previdência social, na qualidade de segurado facultativo,
de pessoa p articip an te de regim e p ró p rio de previdência”.
O dispositivo visualiza a clientela protegida e estende-se à previdência co m ­
plem en tar (na qual a faculdade é ínsita ao sistem a). A n o rm a re p ro d u zid a dá c u m ­
p rim en to ao p rin cíp io da universalidade de co bertura (h o riz o n ta l), previsto no art.
194,1, característica da seguridade social. Todos p o d em participar: alguns forçados
(art. 195,11); o u tros, não.
L egalm ente, o “qu alq u er pessoa” refere-se aos não obrigatoriam ente segura­
dos. Salvo para o segurado especial, excrescência do arl. 12, VII, da Lei n. 8.212/
1991, as d u as situações se excluem .
A base m aterial dessa filiação é a volição de entronizar-se na previdência so­
cial. Seu in ício dá-se com a exteriorização do desejo de se filiar e, co n se q u en te­
m ente, de con trib u ir, valendo com o dem onstração da intenção o pagam ento. Este
últim o tem com o p ressu p o sto a inscrição prom ovida ju n to ao órgão gestor. Pode
aco n tecer no dia seguinte ao fim do co n trato de em prego ou do exercício de ativi­
dade (ou, após, a q u alq u er tem po).
O atual segurado facultativo su b stitu iu o antigo co n trib u in te em dobro,
surgido em 1940, no ex-IAPC, com an teced en tes m u tu alistas desde 10.1.1835
(M ongeral).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P re v id ê n c ia S o c ia l 367
Frata-se de co n trib u in te atípico, m as com qualidade (com o q u alq u er o u tro ),
m antida p o r seis m eses após a cessação das contribuições, com todos os direitos
ínsitos ao não exercente de atividade, co m p u tan d o tem po de filiação/contribuição.
O legislador o tem com o exceção, p ensando ser provisória a situação, mas resta ó b ­
via a im propriedade atuarial: co n trib u in d o dos 16 aos 46 anos, e pagando 20% do
salário m ínim o, a m u lh er pode aposentar-se por tem po de contribuição e receber,
para o resto da vida, o salário m ínim o.
D iferen tem en te do p assado, desd e 2 5 .7 .1 9 9 1 , o facultativo po d e d eix ar de
c o n trib u ir, a fa sta n d o -se do RGPS a q u a lq u e r m o m e n to , e a ele re to rn a r sem
a im p erio sa n ec essid ad e de re c o lh e r as c o n trib u iç õ e s p re té rita s. M as se o p e­
río d o de m o ra for su p e rio r ao da m a n u te n ç ã o da q u alid ad e , n ão p o d erá pagar
os atrasados.
Esm iuçada, form alm ente a clientela de tais pessoas é vasta: a) q u alq u er m aior
de 14 anos não exercente de atividades definidoras do segurado obrigatório; b)
quem deixou de exercer atividade subm etida à filiação obrigatória; c) servidor
federal, estadual, m un icipal ou do D istrito Federal; d) brasileiro residente no ex­
terio r ou estrangeiro; e) categorias an terio rm en te excluídas da previdência social;
f) dona de casa; g) q u em estuda; e h) síndico de condom ínio. E, especialm ente, o
segurado especial, sem prejuízo da condição de segurado obrigatório.
411. Qualquer pessoa — H om em ou m ulher, com m ais de 16 anos pode fi­
liar-se, b astan d o para isso prom over a inscrição e recolher contribuições com base
n u m valor declarado (D ecreto n. 3.265/1999). À exceção da prova de atividade,
desnecessária in casu, a partir de 25.7,1991, tal situação segue as regras dos dem ais
co n trib u in tes individuais,
412. T ra b alh ad o r in ativ o — Q uem deixou de ser segurado obrigatório, em
q u a lq u e r das categorias, logo após a cessação da atividade (no dia seg u in te) e
sem prazo, m esm o d u ra n te o período de m an u ten ção da qualidade, pode inscrever­
-se com o facultativo.
Se o ro m p im en to do co n trato de trabalho (servidor, em pregado, tem porário,
dom éstico e avulso), de prestação de serviços (autônom o e eventual) ou de socie­
dade (em presário) está sendo discutido na ju stiça, o P oder Ju d iciário en tende m a n ­
tida a qualidade de segurado. Q u eren d o o segurado c o m p u tar o tem po de serviço
co rresp o nd en te, precisa c o n trib u ir com o facultativo.
As vezes, em certas circunstâncias incom uns, o segurado trabalhou (filiou­
-se) e recolheu con trib u ições norm alm ente, m as não consegue provar o labor. As
cotizações, operados os reparos form ais e pecuniários necessários, podem ser tidas
com o de facultativo,
413. Servidor sem regim e próprio — P ertencente a oulro regim e de previ­
dência social, não o b stan te o contido n o E nunciado do CRPS de 2.12.1993, tinha
direito de se filiar com o facultativo.
R eportando-se ao Prejulgado n. 3-c, aprovado q u an d o vigentes as regras da
LOPS, e aos arts. 7e e 8 S, do R egulam ento dos Benefícios (D ecreto n. 611/1992),

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

368 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
aquele ú ltim o nível ju d ic a n te adm inistrativo e n ten d e u o seguinte: “O ingresso do
segurado em regim e próprio de previdência pelo m esm o em prego, im porta na sua
exclusão au to m ática da Previdência Social para o qual não p o d e c o n trib u ir com o
facultativo”.
O referido E n u n ciado do CRPS faz rem issão à P ortaria MTPS n. 3.286/1973,
baixada em o u tras circunstâncias e época, trata n d o do co n trib u in te em dobro, fi­
gu ra não co in cid en te com a do facultativo. Carece de fundam ento.
Além de abarcar os obrigatórios, em seu art. 201, § l s, a CF de 1988 p erm i­
tia a adm issão d o s facultativos ao RGPS. M esm o não su bm etida à exação p o r não
exercer atividade, a pessoa podia recolher.
Referência ao “m esm o em prego”, objeto do prejulgado an terio rm en te cita­
do in d u ziu o CRPS ao equívoco; a p a rtir de I a. 11.1991, q u alq u er pessoa, m esm o
n u n ca ten d o sid o segurada, pode iniciar-se com o co n trib u in te. Lá, cuidava-se de
o u tra situação, ou seja, de quem , em razão do m esm o em prego, antes su b m etid o
ao RGPS, tran sfo rm o u-se em estatutário, obrigando-se a regim e próprio.
Assim , diferen tem ente do referido en unciado, in d ep en d e n tem en te de sua fi­
liação o b rigatória a regim e próprio, até 15.12.1998, não h ã im p ed im en to legal de
o serv ido r pú b lico filiar-se facultativam ente ao RGPS.
C om a EC n. 20/1998 e a redação atrib u íd a ao art. 201, § 5Q, da C arta M agna,
tal e n ten d im en to restou equivocado.
414. Prestador de serviços no e x te rio r — R om pida a filiação n o território
nacional, o brasileiro ou não, deslocado para prestar serviços no exterior, sem
residência fixa n o Brasil, pode c o n trib u ir com o facultativo. Q u ando do restabele­
cim ento da relação ju ríd ica no País retom ará o vínculo nacional, som ando, para
fins de benefícios, o tem po de facultativo.
A P ortaria MPAS n. 2.795/1995, im p o n d o d u as condições discutíveis (ser bra­
sileiro e não estar filiado a regim e p ró p rio ), afirm a p o d er o residente no exterior
c o n trib u ir com o facultativo.
4 1 5 . Excluído pela legislação pretérita — A condição d e co n trib u in te em
d obro exigia a p reexistência da classificação com o segurado obrigatório. A partir
de 25.7.1991, esse requisito não m ais com parece.
Pessoas an terio rm en te excluídas podem filiar-se, isto é, a m aioria de n ão se­
gurados.
416. Dona de casa — D ona de casa é expressão reservada à pessoa não exer-
cente de atividade laborai, norm alm ente m ulher casada ou vivendo em união estável.
N ada im pede de ser h om em , nas m esm as condições. Sem em bargo d e d ep e n d er de
segurado, tem o direito de se inscrever com o facultativo.
A partir da Lei n. 12.470/11, em determ inadas circunstâncias ali estabelecidas,
pode filiar-se a u m regim e especial p o r nós designado com o Regime de Previdência
da D ona de Casa — RPDC.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo II — Prev idência S ocial


417. In d iv íd u o e s tu d a n te — A Lei n. 7.004/1982, revogada em 25.7.1991,
adm itia a inscrição facultativa do estudante, com vistas a certos benefícios. A p artir
dessa data, p erm ite-se a inscrição com o q u alq u er pessoa não exercente de ativida­
de sujeita à filiação obrigaLória. Abarca quem está estudando ou nào.
O estagiário, en q u a n to legitim am ente nessa condição, enquadra-se na situ a­
ção descrita, e, sem prejuízo de outros direitos trabalhistas e civis assegurados
pela legislação, pode iniciar o u m an ter direitos ju n to à previdência social (Estágio
Profissional em 1420 Perguntas e Respostas, São Paulo: LTr, 2009).
4 f 8. S índico de co n d o m ín io — O síndico de co n dom ínio, se rem unerado, é
segurado obrigatório; não o sendo, pode inscrever-se com o facultativo. A referên­
cia deve-se ao in u sitad o da situação. Ele se en q u ad ra perfeitam ente no “q u alq u er
pessoa”.
41 9 . In cap az re p re s e n ta d o — O incapaz civilmenLe, nas hipóteses de me-
norid ad e civil (acim a dos q uatorze anos), su rdo-m udez ou prodigalidade, devida­
m ente representado, e o inapto para o trabalho, tam bém podem inscrever-se com o
facultativo com as lim itações próprias desse estado ju ríd ico .
420. P ercip ien te de b enefícios — Q uem está recebendo benefícios da p re­
vidência social é filiado e não pode c o n trib u ir (m esm o se a prestação foi obtida
graças à co n trib u ição facultativa an terio r). A conclusão não inclui o percipiente
do auxílio-acidente o u o u tro benefício nào su b stitu id o r dos salários. Q u ando da
discussão da PEC n. 33-A /1995 (M ensagem do P oder E xecutivo n. 306/1995), que
resultou na EC n. 20/1998, o relatório d a C om issão Especial da C âm ara dos De­
putados previa co n trib uição para percipiente de benefícios, m as não foi aprovada
(CF, art. 195, II).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

370 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Capítulo XLII

N ã o S eg u rad o s

S u m á r io : 4 2 1 . Inocorrência de características. 422. Destinação dos serviços.


423. Exclusão legal. 424. Impossibilidade jurídica. 425. Ausência de capaci­
dade. 426. Representação de pessoas. 427. Vinculação à justiça. 428. Vontade
própria. 429. Proprietário de edifícios. 430. Brasileiro no exterior.

E m b o ra ex e rce n d o ativ id ad es laborais, alg u m as d elas re m u n e ra d a s, p o r


vários m otivos certos grupos de pessoas não são alcançados pelo RGPS. Na m aioria
dos casos, a existência de retribuição do trabalho é condição sine qua non para fixar
a filiação obrigatória, m as existem exceções.
As exclusões ocorrem em razão da atipicidade do esforço pessoal, p o r d iferen­
tes causas: a) in o co rrência de características definidoras de segurado; b) destinação
dos serviços prestados; c) expressa determ inação legal; d) im possibilidade ju ríd ica;
e) falta de capacidade; 0 representativídade; g) vinculação a órgãos auxiliares da
Justiça; e h ) v o n tad e própria.
421. Inocorrência de características — Em virtude de lhes faltar um a ou o u ­
tra das características, alguns obreiros (ou sim plesm ente pessoas, em d eterm in a­
das circunstâncias) restam arredados da proteção oferecida pela previdência social
básica, p o d en d o socorrer-se de outras técnicas securitárias. F requentem ente, em
v irtu d e de diferente situação ju ríd ica, abrigam -se de m odo diverso.
a) exercente de cargos políticos: Salvo determ inações em particular, inerentes
ao cargo, o P residente da R epública, os G overnadores e os Prefeitos, em v irtude do
m unus público, não se filiavam ao RGPS, sem prejuízo de poderem ser facultativos.
Para o Suprem o M agistrado, vigem disposições protetoras n a C arta M agna e em
leis especiais, o m esm o acontecendo com governadores e prefeitos, em relação às
C o n stitu içõ es estaduais e leis orgânicas dos m unicípios de cada Estado. R ecente­
m ente, os edis foram in cluídos (Lei n. 9.506/1997).
b) percipiente de rendas: Q uem subsiste graças à percepção de rendas (deriva­
das de lucros, ju ro s, aluguéis, cessão de bens, dividendos de ações ou o u tras apli­
cações de capital) não tem à sua disposição a proteção, salvo se organizar em presa
para gerir os negócios.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o II — P revidência S o cial


N este rol, in clu íd o quem arrenda em presa, estabelecim ento ou propriedade.
O responsável é o arrendatário.
c) recebedores de valores simbólicos: Q uem , p o r q u alq u er m otivo, percebe im ­
po rtân cia sem significado jurídico não está tutelado pela legislação protetiva. Ine-
xiste prestação su b stitu tiv a para a hipótese ou risco a cobrir.
d) proprietário de casa própria: E n q u an to não configurado com o pequeno
co n stru to r o u com erciante de im óveis, de fato o u de direito, o proprietário de obra
de co n stru ção civil d estinada a si m esm o o u à sua família não é em presa nem em ­
pregador, em bora sujeito a determ inadas obrigações trabalhistas e previdenciárias,
m ateriais e formais.
C u riosam ente o D ecreto n. 3.048/1999 (RPS), em seu art. 99, § f5, define
com o co n trib u in te individual: “a pessoa física que edifica obra de construção civil”
(inciso IX).
e) empregador doméstico: A pessoa (ou a fam ília), q u an d o tem dom éstico ao
seu serviço, é equ ip arada à em presa. Q uem contrata dom éstico torna-se em prega­
d o r dom éstico, m as nem p o r isso, em razão dessa convenção, torna-se co n trib u in te
ou beneficiário, pesso alm ente considerado.
f ) farmacêutico: P articipando de sociedade p o r cotas de responsabilidade li­
m itada, apenas com o nom e, não exercendo atividades e sem receber pro labore, o
farm acêutico nào é segurado. N em em presário nem em pregado.
Dada a natureza de sua função, sendo im possível a cessão p u ra e sim ples do
seu n o m e, se há rem uneração, será sócio e, com o tal, em presário. Logo, co n tri­
buinte in d iv id u al da Lei n. 9.876/1999.
g) filantropo: Um núm ero elevado de pessoas volta-se à filantropia ou à be-
nem erência. São abnegados, p raticando assistência social beneficente, sem auferir
vantagens pecuniárias, dedicando-se de bom grado ao idoso, à criança, ao enferm o
ou deficiente. Estão excluídos do seguro social.
h) sócio-cotista sem retirada pro labore: O sócio-cotista sem retirada pro labore,
com o salientado tantas vezes, não é em presário nem segurado obrigatório. A reti­
rada pressupõe trabalho.
A lude-se à situ ação real e não à descrita no c o n tra to social, em que, por
vezes, o em presário com parece n u m a condição e verd ad eiram en te pratica o u ­
tra. Vale a realidade com provada. N esse sen tid o , o sócio-cotista q u e com provar o
exercício de atividade, m esm o sem retirad a consignada n a co n tab ilid ad e, é segu­
rado obrigatório.
i) jornalista colaborador: O quadro de prestadores de serviço dos jornais e
periódicos com põe-se de jo rn alistas estagiários, colaboradores e profissionais (em ­
pregados ou autô n o m o s). O colaborador, não vivendo p rofissionalm ente da ativi­
dade, envia escritos (artigos ou reportagens) para publicação sem rem uneração
o u com retrib u ição sim bólica. A ju risp ru d ê n c ia en ten d e n ão haver co n trato de
trabalho nem relação civil.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

372 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Desde a Lei n. 5.988/1973, regente do assunto, a cessão não graciosa de direi­
tos au to rais p ressu p õ e labor, e, nessa circunstância, o titu lar é autônom o; em si, o
valor da transação não co n stitu i hipótese de incidência (P arecer PGC n. 526/1975,
in Processo INPS n. 2.424.307/1974).
No passado, a questão esteve confusa. A Resolução CD/DNPS n. 876/1967
equiparava a cessão a rendim entos do trabalho. Ao contrário, d isp u n h a a R esolu­
ção CD/DNPS n. 89/1971 e a F orm ulação IAPAS/SAF n. 15, de 9.12.1980 (Parecer
CJ/MPAS n. 74/80, in Processo MPAS n. 017.719/1980). Segundo a R esolução CD/
DNPS n. 348/1971, o recebim ento co nstante de direitos autorais faz do trabalha­
dor, um au tônom o.
j ) menor aprendiz: T rabalhando sem rem uneração, em troca de estudo, o in d i­
víduo n ão é segurado. O período de aprendizagem é considerado, se o trabalhador
auferir algum a rem u neração ou p resen te relação em pregatícia. As norm as ad m in is­
trativas casuisticam ente abrem exceções a essa regra, devendo cada caso ser exam i­
nado em particular. M odesto prêm io não caracteriza retribuição, prin cip alm en te
em relação ao trein am en to de escolas ferroviárias. A situação do p ratican te gratuito
é sem elh an te à do m en o r aprendiz.
O conceito de m en o r aprendiz é apreensível em várias n o rm as, convindo c o n ­
su ltar o D ecreto-lei n. 4.073/1942 e o D ecreto n. 31.546/1952, bem com o o art.
80 da CLT, não sen d o desprezíveis o C ódigo de M enores, a Lei n. 6.494/1977 e a
P ortaria MTPS n. 1.002/1967 (sobre estagiário). São significativos o P arecer CJ/
MPAS n. 24/1982, o Parecer DASP n. 550/1980, n. 272/1981, o P arecer ÇJ/MTPS
n. 145/1971 (Processo MTPS n. 305.994/1965) e CJ/MTPS n. 84/1972 (Processo
MTPS n. 142.772/1970). F im portante consultar, ainda, a R esolução CD/DNPS n.
168/1969 (Processo MTPS n. 101.104/1965).
A figura ju ríd ic a desse m en o r aprendiz, sob o p o n to de vista laboral-previden-
ciário, ap o n ta para trabalhador p restando serviços à em presa e, ao m esm o tem po,
ap ren d en d o o serviço, ofício ou arte. Tanto q u an to na condição de estagiário, em
que a aprendizagem é fu n d am en tal e pressuposto da relação ju ríd ica, resta a p ro ­
d ução e, p o r via de conseqüência, a relação em pregatícia, com o decorrentes. O o b ­
jetiv o da co n tratação não é a prestação de serviços (o em prego), senão pro teg er o
estudante; só corolariam ente, em certas circunstâncias, vislum bra-se o em pregado.
O dispositivo legal vigente sobre a m atéria é o art. 58, XXI, a e b, do RCPS. O
referido regulam ento não exaure o assunto, falando em situações específicas. As
decisões ju d iciais, conform e se po d e ver no P arecer CJ/MPAS n. 013/1976, hesitam
em co n sid erar válido o tem po de serviço do m enor aprendiz.
A respeito do assunto, algum as conclusões são possíveis: 1) a relação de em ­
prego é o su b strato m aterial da condição, e, se presente, o tem po é considerado.
Per se, ser m en o r aprendiz não determ ina filiação ao RGPS; 2) não form alizado o
vínculo laborai, o p agam ento de rem uneração define a filiação obrigatória, pois
pressupõe a relação laboral-previdenciária; 3) a retribuição do m en o r aprendiz
(dada a particu larid ad e de sua situação, o aprendizado ser m ais im p o rtan te em
com paração com a criação de riquezas para a em presa ou escola) apresenta-se com

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo II — P revidência S o c ia l 373


n u an ças próprias, p o d en d o revestir-se de desem bolsos indiretos, tais com o bolsas
de estu d o em d inheiro, diárias e outros valores acrescidos ao patrim ônio do traba-
lhador-estudante; 4) a renda proveniente de p ro d u to s confeccionados pelos alunos
d u ra n te a frequência às aulas técnicas, d istrib u íd a ao g ru p o de participantes, n ão é
tida com o rem uneração; 5) p articularm ente, no p ertin e n te às escolas ferroviárias,
devidam ente caracterizado o m en o r aprendiz, o INSS não pode exigir, para o tem ­
po ser considerado, a obrigatoriedade de prestar serviços às ferrovias, após a co n ­
clusão do curso, em razão do investim ento; 6) o sim ples fornecim ento de h ab ita­
ção, vestuário, alim entação ou tran sp o rte não é suficiente para estabelecer a
existência de relação ju ríd ic a capaz de su sten tar a filiação; a m atéria não está siste­
m atizada. O INSS não tem opinião form ada p ara todos os casos, cabendo cada um
deles ser ex am in ad o em p artic u la r; 7) o p re te n d en te ao reco n h ec im e n to do tem ­
po de serviço, depois de o b ter a certidão expedida pelo estabelecim ento de ensino,
deve subm etê-la ao crivo da autarquia; 8) as instituições de ensino p erten cen tes ao
p atro n ato , caso do SENAC ou SENAI, são prestigiadas pela legislação, d o u trin a e
ju risp ru d ên c ia no tocante à validade do tem po de aprendizagem ali praticada; e 9)
nos term os do art. 33, § 5S, do Plano de C usteio, se preenchidos os requisitos le­
gais, aliás, de difícil caracterização, o m en o r aprendiz não precisa provar ter havido
o d esconto ou o reco lh im ento das contribuições, presum idam ente pagas em tem po
usual e regular.
k) diretor de APM: As A ssociações de Pais e M estres — APM são em pregado-
ras q u ando, ao seu serviço estiverem pessoas trabalhando rem uneradam ente, p o r
exem plo, na cantina, cooperativa ou fornecim ento de m aterial escolar. Seu diretor,
porém , m ovido pela dedicação, n ão é em presário.
I) diretor de cooperativas, fundações ou associações: O d ireto r de cooperativas,
situando-se com o d irigente de associação, se rem u n erad o , é previdenciariam ente
(su b stitu to do) em presário. A Lei n. 5.764/1971, regente do cooperativism o, em
seu art. 44, prevê rem u neração para a diretoria da entidade, m atéria a ficar assente
no s estatu to s aprovados pela Assem bleia Geral. A usente rem uneração, m esm o ele
sendo cooperado, está excluído da previdência social. Tal raciocínio vale para os
órgãos gestores das fundações e associações de m odo geral.
m) membro de órgão colegiado representativo ou jurisdicional: Inúm eras ins­
tituições são dirigidas p o r entes coletivos, entre as quais os C onselhos, O rdens,
Academ ias e Ju n ta s C om erciais, Federações, C onfederações, Bolsas de Valores,
C om issões Especiais etc. O co n d u to r dessas entidades, em razão da atividade, fica
na dependência do d isposto nos estatu to s n o tocante à rem uneração. N ão sendo
retrib u íd o , não é segurado.
n) Juiz de Paz: ju iz de Paz é trab alh ad o r singular. O cupante de cargo honorífi­
co, presta serviços relevantes à com unidade e à organização da Ju stiça e do Estado,
m as seu labor é p o r n atureza n ão rem unerável. O eventualm ente obtido em função
do cargo não pode ser considerado contraprestação por serviços prestados. É verba
de representação.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

374 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
De certa form a, é órgão auxiliar do P oder Público, e, em bora nom eado para
esse fim, não há relação jurídica de servidor ou em pregado com o ente político
ou com os cartórios. Trata-se de munus público, com o a convocação para o jú ri,
eleição etc., requisição de caráter p erm an en te, sem estabelecer relação de trabalho.
A nom eação p ressu p õ e o u tro m eio de subsistência obtido pelo obreiro. Nessas
condições, não é segurado.
o) não religioso: Em v irtude do surgim ento de seitas e práticas quase religiosas,
co rren tes filosóficas o u existenciais, clubes de serviços etc. e do sincretism o reli­
gioso (legalizados geralm ente sob a form a de sociedades civis), in stitu içõ es re u n in ­
do líderes, m entores, guias de um lado e, do outro, aficionados, fiéis e seguidores,
sem se poder, na m aioria dos casos, considerar tais ag ru p am en to s um a religião.
Seus chefes não são considerados eclesiásticos p o r faltar à prática p o r eles de­
senvolvida as nu an ças universalm ente reconhecidas da religião (ex.: um bandism o,
espiritism o, m o vim ento Seicho-no-iê etc.). P ortanto, não são segurados, m esm o
su b sistin d o graças a ingressos auferidos em razão do seu ofício.
p) não exercente de atividades: A previdência social d estina-se precipuam ente
a q u em trabalha, co n stru to res da riqueza do País, e propiciadores d o crescim ento
da N ação. Q uem não tem participação na sociedade h ab itu alm en te não é p rotegi­
do, p o d en d o , não o bstante, em razão de suas eventuais necessidades, ser acudidos
assistenciariam ente.
De regra, q u em exerce atividade ilícita, m arginalizado p o r opção o u circuns­
tância — m endigos, abandonados, desocupados, enferm os o u inválidos — , n ão é
segurado.
422. Destinação dos serviços — A razão afastadora de alguns prestadores de
serviços da classificação de segurado, às vezes, é porque seu trabalho não se des­
tina ju rid icam en te a q uem m aterialm ente trabalha. N esses casos, os trabalhadores
não são segurados; ap esar disso, não são de todo desprotegidos. Têm a co bertura
relativa a o u tra situação, à própria situação o u seu trabalho é ocasional, n ão ju s ti­
ficando tu tela especial.
a) estagiário: A n ão ser na condição de facultativo, o estagiário é tutelado por
legislação específica, e esta o arreda das n o rm as trabalhistas e previdenciárias co ­
m u n s (P ortaria MTPS n. 1.002/1967, Leis ns. 6.494/1977 e 11.788/2008).
Ele se co m p o rta com o se fosse em pregado, m as não é assim considerado e n ­
q u an to observa os requisitos legais de sua condição de estudante-trabalhador. Os
serviços prestad o s — m esm o criando riquezas para o em presário — destinam -se
ao seu aprendizado, form ação profissional, enfim , a si próprio, e não a quem lhe
oferece a possibilidade de trabalho.
O m éd ico-residente e o estagiário de D ireito, q u an d o retribuídos, estão fora
dessas n o rm as d isciplinadoras, devendo inscrever-se com o autônom os;
b) presidiário: O trabalho pen iten ciário é adm itido em lei. Aliás, recom endado
taxativam ente (Lei n. 6 .4 Í6 /1 9 7 7 ). O sentenciado está sujeito ao trabalho e este
deve ser rem u n erad o . A usente o anim us contrahendi, não h á co n trato de em prego.

C urso de D ir e it o P r l v [ d i í n c :i A r i o

T o m a 11 — P r e v i d ê n c i a S o c ia l
De regra, o presidiário não pode ser em pregado nem do Estado nem do par­
ticular, m as q u an d o presta serviços co n tin u am en te para em presas ou q uando a u ­
fere m eios de subsistência e exerce profissão, não h á p o r que não defini-lo com o
espécie de trabalhador, com direitos ad equados à condição de pessoa tolhida em
su a liberdade física e ju ríd ica, entre os quais, o m ínim o, o de filiar-se à previdência
social.
Cada um a das situações, a m enor ou m aior liberdade de contratar, as variadas
condições de trabalho (dentro ou fora da prisão), os inúm eros contratos existentes,
devem ser apreciadas per se antes de se afirm ar ser ou não em pregado ou autônom o.
O RPS o prevê com o facultativo no art. 11, IX ( “D ireito dos Presos”, São Paulo:
LTr, 2010).
c) guarda-mirim: E ntende-se p o r guarda-m irim o m enor de idade conhecido
com o guardinha, p atru lheiro, legionário ou vigilante m irim , peq u en o trabalhador
congregado etn en tidade de fins assistenciais, prestan d o serviços à sociedade, em ­
presas, ou à própria en tidade, geralm ente com o m ensageiro, g uardador de au to m ó ­
veis, o rien ta d o r de trân sito ou ex ecu tan te de outros serviços leves.
O objetivo su p erio r da entidade m antenedora, além da congregação do m e­
nor, é assisti-lo, educá-lo, adestrá-lo e encam inhá-lo na vida profissional. A par
disso, o seu trabalho beneficia a sociedade em geral e as em presas em particular.
N o rm alm en te, o guarda-m irim é pago, sendo de difícil apreensão a natureza
do pagam ento, se rem u n erató rio , ou se se destina apenas à representação, desvin­
culado da prestação de serviços. Trata-se, geralm ente, do m ínim o para a subsis­
tência.
A specto de relevância é verificar se os serviços convergem a quem o rem unera
(a en tidade assistencial), a si m esm o ou, na prim eira hipótese, às pessoas de m odo
geral e às em presas. N aquela circunstância, pode ser considerado em pregado.
M ediante o Parecer CJ/MPAS n. 58/1984, a adm inistração gestora não o e n ­
ten d eu com o em pregado de quem o congrega.
423. E xclusão legal — E m bora co n tratad o s e rem unerados, certos prestado­
res de serviços não são segurados do RGPS, p orque assim dispõe expressam ente a
legislação.
a) técnico estrangeiro: O co n trato form ulado com técnico estrangeiro, para
prestar serviços no Brasil, está disciplinado no Decreto-lei n. 691/1969. Tal ajuste
refere-se a serviços especializados, de duração predeterm inada, subm etendo-se a
norm as trabalhistas especiais. Q uando recebe em m oeda estrangeira, o contratado
não é segurado, m as está protegido caso a rem uneração seja feita em m oeda nacio­
nal. Há determ inação expressa com relação ao professor e p esq u isad o r franceses,
no s term os do A cordo de C ooperação Técnica entre Brasil e F rança e, p o r isso, não
são filiados.
Inexiste disciplina específica para o técnico do exterior, originário de em ­
presas estrangeiras prestando serviços para em presas nacionais e aqui recebendo
com plem entação de salário, em m oeda nacional.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

376 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
b) diretor de cooperativas habitacionais: E n q u an to vigente a Resolução BNH n.
94/1966, do Banco N acional da H abitação, o d ireto r de cooperativas habitacionais
era filiado com o segu rado obrigatório do então regim e urb an o se, nessa condição,
recebesse rem u n eração su p erio r a seis salários m ínim os.
À vista da atividade exercida na cooperativa habitacional ele era securita-
riam ente en q u ad rad o com o em presário. C om o tal co n trib u ía pela escala de
salários-base, n o rm a o riu n d a do M inistério do Interior, em m atéria de filiação
p revidenciária, a resolução m en cio n ad a sem pre pareceu e stra n h a ao estudioso,
p rin cip a lm en te p o rq u e determ inava ao largo da legislação, fonte form al com
n atu reza de lei com p lem entar, a qual considerava segurados “os q u e exercem
ativ id ad e re m u n e rad a , efetiva ou eventual, com ou sem vínculo em pregatício, a
títu lo precário ou não, ressalvadas as exceções expressam ente co n sig n ad a s” (CLPS,
art. 2fi), e, em p articular, arro lan d o com o segurados o brigatórios, “o titu la r de
firm a individual e o diretor, sócio-gerente, sócio solidário, sócio-cotista e sócio
de in d ú stria, de q u alq u er em presa”.
Claro, em relação às obrigações fiscais previdenciárias, que tal cooperativa
habitacional, a despeito de ser relevante prestadora de serviços à com unidade,
é em presa. A en tidade de fins filantrópicos, im p o rtan te p ara sociedade, só está
desobrigada de algum a contribuição por força da Lei n. 3.577/1959 e legislação
su b seq u en te (LC n. 84/1996 e Lei n. 9.876/1999).
c) diretor de entidades filantrópicas: As entidades beneficentes de assistência
social são sociedades, associações ou fundações ad m in istrad as geralm ente p o r ór­
gãos colegiados.
Para serem reconhecidas com o tais e isentadas da parte patronal, além de
o u tro s req u isito s m ateriais previstos na legislação, é necessário não re m u n e rar o
seu diretor. O legislador presum e a subsistência do ad m in istrad o r graças a outras
fontes, em d iferentes atividades em virtude das quais é segurado. A dm ite com o
m otivação prin cip al do labor b en em eren te a abnegação.
A im posição legal de ausência de retribuição não tem a ver com as caracte­
rísticas desse trabalhador, m as acaba por interferir nelas. A usente a retribuição,
m as não a prestação de serviços, conclui-se não ser em presário o d ireto r dessas
instituições.
d) m onitor do MOBRAL: Professor, alfabetizador e m o n ito r do MOBRAL estão
ex cluídos da previdência social em razão do D ecreto n. 74.562/1962.
e) empregado de representações estrangeiras sujeito a regime próprio: O p resta­
d o r de serviços su b o rd in ad o s para m issão diplom ática, repartição co n su lar ou o r­
g an ism o a ela s u b o rd in a d o é c o n sid e ra d o e m p re g ad o , e q u em tra b a lh a v a para
organism o oficial estrangeiro ou internacional, nas m esm as condições, autônom o.
Porém , se sujeito ao regim e p ró p rio do país representado, não é segurado.
f) requisitado: “R equisitado” é expressão designativa do trabalhador, geral­
m ente serv id o r público, transferido do seu local de trabalho original sob a form a
de cessão provisória, n o rm alm en te em razão de convênio. R aram ente direcionada

C u rso de D i k e it o P r e v id e n c i á r i o
Tom o II — - P revidência S ocial 377
no sen tid o iniciativa privada-serviço público, acontece com m uita frequência do
serviço público para as estatais. N orm alm ente, o ato de concessão fixa as regras de
convivência: quem paga a retribuição, duração do em préstim o, finalidade e situ a­
ção do vínculo protetivo.
Dã-se exem plo com a Resolução CD/DNPS n. 416/1968 (in Processo MTPS
n. 1 3 5 .1 f7 /f9 6 8 ): q u an d o o servidor federal, estadual ou m unicipal é requisitado
p o r sociedade de econom ia m ista, em presa pública ou fundação de direito público,
m antém o vínculo com o órgão de origem .
As coisas se com plicam assim que o requisitante pague algum a parte cia re­
tribuição do servidor, m as, no silêncio da regra, m antém -se a obrigação por parte
do cedente.
424. Im p o ssib ilid a d e ju ríd ic a — C aracterizar pessoas trabalhando com o se­
guradas é tarefa com percalços no m eio do cam inho. Às vezes, os óbices são ju r í­
dicos, pro v en ien tes de fatores m orais encam pados pelo Direito.
a) parentes consanguíncos: As relações trabalhistas ou com erciais en tre pessoas
ligadas por laços de parentesco é assunto n ão esgotado no D ireito do Trabalho e
Previdenciário. A neb u losidade dissolver-se-ã graças a estudos sistem áticos ou se
o legislador d isp u ser claram ente.
Inexistem disposições expressas na lei vigente im pedindo alguém de traba­
lhar para parente. Nem poderia haver, seria contrassenso. No direito agrário, o
regim e de econom ia familiar, além de reconhecido, é estim ulado.
No cam po securitário, subsistem em baraços no plano ju ríd ico -d o u trin ário ,
prin cip alm en te pela dificuldade de, p o r exem plo, aceitar-se a subm issão do m arido
à esposa ou vice-versa; o pai ser su b o rd in ad o ao filho e assim p o r diante.
F u n d am en talm en te, porém , a oposição dos en ten d im en to s adm inistrativos à
relação em pregatícia entre consanguíneos cinge-se à m atéria de prova do trabalho,
e nada mais. Existe certa suspeita de fraude.
A aceitação de tal relação torna-se m ais difícil no trabalho dom éstico, no qual é
natu ral a resistência do órgão gestor, em face da possibilidade de burla à legislação.
Flabitualm ente, a não hom ologação do vínculo em pregatício entre cônjuges
deriva de razões de ordem m oral e do equilíbrio de direitos e deveres destes. Tais
aspectos não são pertin entes apenas aos casados, mas tam bém para qu em vive em
u n ião estável heterossexual ou hom oafetiva (CF, art. 226, § 3 a). O m ú tu o respeito
não é apanágio do casam ento.
Inexistem problem as para a filiação do cônjuge em pregado de firm a coletiva
onde participe, com o sócio, o o u tro cônjuge. No p ertin e n te à firm a individual,
além de m antidas inscrições anteriores a 11.11.1969, só seriam im pugnáveis aq u e­
las efetuadas sem cabal dem onstração da prestação de serviços.
Eventuais entraves devem ser apreciados sob o ângulo da ocorrência de so­
ciedade de falo entre o m arido — titu lar de firm a individual — e a esposa o u vice­
-versa, p rin cip alm en te se casados em regim e de co m u n h ão de bens.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

378 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
O órgão gestor dificulta o reconhecim ento da existência de relação de em p re­
go en tre m ãe e filha, no co n tra to dom éstico. Igualm ente, não aceita com facilidade,
cônjuges serem em pregados entre si. Só adm ite essas situações q u an d o farta e c o n ­
clu d en te a prova do trabalho rem unerado e se for legítim a a inscrição.
b) titular de representações estrangeiras: O em baixador e o cônsul são pes­
soas a serviço do país representado (e dos com patriotas dom iciliados n o território
nacional). Exercem atividades rem uneradas pela nação representada. O prim eiro
geralm ente é serv id o r d e carreira, e o cônsul, titu lar de cargo sem vínculo com os
co n terrân eo s.
A m bos exercentes de atividades laborais, estão excluídos, em bora a m issão
diplom ática possa ser em pregadora de trab alh ad o r sujeito ao regim e geral.
c) estrangeiro com visío de turista: O estrangeiro de passagem pelo País, ressal­
vadas as disposições contidas na Lei dos Estrangeiros, não é segurado obrigatório.
d) exercente de atividades ilícitas: Q u em pratica atividades delituosas não é
protegido pela lei previdenciária. A ilicitude conhece vários níveis, desde a sim ples
infração até o crim e, e as pessoas p ratican tes de atos caracterizados com o c o n tra ­
venção, m esm o fazendo deles seus m eios habituais de subsistência, não encontram
gu arid a na previdência social. A liceidade é presu n ção ju ríd ic a presente nos atos
p raticados pelo segurado.
42 5 . Ausência de capacidade — Q uem não tem capacidade ju ríd ic a não pode
ser segurad o obrigatório. A incapacidade pode ocorrer p o r vários m otivos: in ad ap ­
tação do ser h u m an o à sociedade, m enoridade, higidez, ausência etc.
a) indígena: A legislação específica sobre o assunto considera índio ou silvíco-
la todo in d iv íd u o de origem e ascendência pré-colom biana, identificado com o per­
ten cen te a g ru p o étnico cujas características culturais o distinguem da sociedade
nacional. De acordo com o C ódigo Civil, o silvícola não tem plena capacidade para
os atos da vida civil. F alta-lhe, pois, capacidade ju ríd ica para m anifestar a vontade,
não p o d en d o p raticar certos atos relacionados com o trabalho.
N osso indígena tem tutela especial. Sua inadequação não tem a ver com a
idade nem com a higidez corporal. Ele é relativam ente incapaz em decorrência de
sua in ad ap tação à nossa c u ltu ra e civilização.
O regim e de previdência social pode ser estendido ao índio, atendidas as co n ­
dições sociais, econôm icas e cu ltu rais das com unidades indígenas.
Do p o n to de vista da capacidade, para prática de atos ju ríd ico s, eles são divi­
didos em três categorias: 1) isolados — q u an d o vivem em gru p o s desconhecidos
o u dos quais há poucas ou vagas inform ações m ediante co n tato s eventuais com
elem entos da co m u n h ão nacional; 2) em vias de integração — se, em co n tato inter­
m iten te o u p erm a n en te com gru p o s estranhos, conservam m en o r o u m aior parte
das condições de su a vida natural, aceitam algum as práticas e m odos de existência
co m u n s aos dem ais setores da co m u n id ad e organizada, da qual vão necessitando
cada vez m ais para o p ró p rio sustento. O s co m p o n en tes dessas d u as categorias não

C u rso de D ir f . u o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l
po d em ser segurados; 3) integrados — acaso incorporados à civilização e en c o n ­
trados no pleno exercício dos direitos civis, m esm o conservando usos, costum es e
tradições p ró p rio s de sua cultura. D ependendo do exercitado e não dessas co n d i­
ções, estes ú ltim o s po d em ser segurados.
b) menoridade previdenciária; Em bora possa ser beneficiário na qualidade de
d ep en d en te, o m en o r de 16 anos de idade não pode ser segurado do regim e geral,
p o r lhe faltar capacidade jurídica. Q u ando presta serviços perm itidos pela a u to ri­
dade (v. g., artista de T y cinem a ou de circo), ele o faz p o r interm édio do pai ou
tutor, seu responsável, com o qual se estabelece co n trato de representação.
A p rincípio, não pode trabalhar. Só com autorização especial o faz. Se o faz,
não é tutelado pelo D ireito do Trabalho e sim pelo Direito Civil e, em particular,
pelo C ódigo de M enores. Seus “direitos trabalhistas” podem ser invocados e rei­
vindicados no P oder Ju d iciário , m as não os previdenciãrios.
c) incapacidade: A capacidade para os atos da vida civil é disciplinada no
C ódigo Civil. São ap to s para os atos da vida com ercial e, em especial, para os em ­
preen d im en to s os capazes para a vida civil. A bsolutam ente incapazes: a) o louco
de todo gênero; b) o su rd o -m u d o sem poder ex p rim ir sua vontade; e c) o ausente,
declarado tal p o r ato de Juiz.
O m en o r de 12 anos é ab so lu tam en te incapaz, m as, excepcionalm ente au ­
torizado (v. g., com o artista), pode trab alh ar com o em pregado, sendo proibido
“qu alq u er trabalho a m enores de 14 anos, salvo na condição de ap ren d iz” (CF, art.
7°, XXXIII). O pródigo e o silvícola são relativam ente incapazes.
42 6 . R e p re se n ta ç ã o d e p e sso a s — Os re p re se n ta n te s n ão são em pregados
ou co n tra ta d o s com o L r a b a l h a d o r e s , no se n tid o trab a lh ista. P or isso, n ão s ã o
seg u rados.
a) mandatário: O m andatário, h abitualm ente, não é prestad o r de serviços re ­
m u nerados. R epresenta o m andante. O m andato ou procuração tem função ju ríd i­
ca específica, de regra a realização de negócio jurídico; m esm o sendo rem unerado
p o r esse serviço, não há aí relação de em prego entre o m andatário e o m andante. A
procuração é in stru m en to de am plitude variável, p o dendo levar a pessoa a su b sti­
tuir o titu lar de firm a individual, o sócio ou até m esm o o em pregado, dependendo
da sua extensão.
b) síndico: Síndico de condom ínio im obiliário é pessoa, geralm ente co n d ô m i­
no, no rm alm en te não rem unerada, prestan d o serviços ao condom ínio. Indicado
nas convenções ou assem bleias de condôm inos, não se confunde com os em pre­
gados o cupados na conservação do edifício (ex.: zelador, ascensorista, vigilante,
porteiro etc.).
Por força de antiga disposição do INPS, o síndico de prédio residencial, c o n ­
siderado rep resen tan te dos condôm inos, e não seu co n tratad o , não é em pregado
nem au tô n o m o , não sendo, destarte, segurado obrigatório. Claro, poderá filiar-se
com o facultativo (RPS, art. 11,11).

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

380 W l a íi i m ir N o v a e s M a r t i n e z
427. Vinculação à Justiça — Pessoas denom inadas órgãos auxiliares d a ju s ti­
ça são aquelas d esignadas p ara p restar serviços para o P oder Judiciário, várias delas
referidas ex p ressam ente n o C ódigo de Processo Civil, na sua m aioria autônom os.
Em função d o exercício dessa atividade, rem unerável e n o rm alm en te re m u ­
nerada, são seg u rad o s sujeitos ao regim e geral, m as q u an d o designados para o
munus público, m esm o retrib u id am en te p o r terceiros, não estabelecem relação de
trabalho com estes p o r faltar a vontade de contratar.
Tais trab alh ad o res prestam serviços so cialm ente relevantes e são o u podem
ser rem u n erad o s. A atividade p o r eles desenvolvida é eventual o u eventual de lo n ­
ga duração. A su b o rd in ação , não im p o rtan d o qual a n atu reza, é sem pre à Ju stiça
e não ao pagador. Se algum vínculo existe, é eventual, não trabalhista ou não civil, e
se estabelece entre o trab alh ad o r e o P oder Judiciário, e não com os destinatários
diretos de sua atividade. Na hipótese contrária, se a relação é fixada diretam ente
com a em presa, p arte na lide, a situação cai na regra geral, relação civil ou trab a­
lhista, conform e o caso.
a) perito judicial: O perito ju d icial, indicado pelo Ju iz (não o ap o n tad o pelas
partes, g eralm ente a u tô n o m o ), é re m u n e rad o em face dos laudos técnicos elabora­
dos. Esse d esem p en h o e o honorário corresp o n d en te não geram obrigações previ­
denciárias para quem efetivam ente os paga (parte na ação), pois é órgão auxiliar da
Ju stiça e com ela estabelece algum vínculo. Trata-se de dever público irrecusável e,
em tese, au sen te a volição do exercente de atividades. D iante de sua in d e p e n d ê n ­
cia, deverá ser tido com o au tô n o m o p restando serviços à Justiça.
b) inventariante: O in v en tarian te de pessoa física, salvo se pago p o r essa ati­
vidade, tran sitó ria p o r natureza, não chega a c o n stitu ir situação protegível pela
previdência social. Se é a esposa do titu la r d e firm a individual e o está su b stitu in d o
d u ra n te o espólio, é em presário.
c) sindico de falências: O síndico de falências é criação da Lei de Falências
(D ecreto-lei n. 7 .661/1945), na qual prevista rem uneração, m as n en h u m a relação
de em prego com a m assa falida. O m esm o acontece com o com issário de concor­
datas, cujo pag am en to é d eterm in ad o na m esm a lei. O ad m in istrad o r de m assa
in solvente está na m esm a situação.
E m razão da n atu reza dessa incum bência e p o r serem órgãos auxiliares da
ju stiç a , m esm o retrib u íd o s não são segurados. A exem plo dos p erito s obriga-se o
ap licad o r a en ten d ê-lo s com o au tô n o m o s, em bora não assum am q u aisq u er riscos.
d) interventor e liquidante: O in terv e n to r e o liquidante são incu m b id o s de
ad m in istrar em presas e proceder a liquidações ju d iciais ou extrajudiciais (Lei n.
6.024/1974). N em sem pre rem unerados p o r essas em presas, provindo os seus h o ­
no rário s do órgão in terveniente, on d e m antêm situação própria. Se o in terv e n to r
ou liq u id an te provém de repartição, é órgão auxiliar da A dm inistração Pública,
m an ten d o a filiação de origem . Se se trata r de estran h o à A dm inistração Pública, é
em presário. J u n to com o ad m in istrad o r especial e diretor-fiscal da LC n. 109/2001,
para o D ecreto n. 3.048/1999 é au tô n o m o (RPS, art. 9 e, XVI).

C urso d e D ir e it o

Tom o If — P revidência S ocial


P r e v id e n c iá r io

m
e) tutor e curador: Tutor é pessoa designada pela Ju stiça para ad m in istrar bens
de m enores (Lei n. 10.406/2002). O c u rad o r cuida do patrim ônio dos incapazes.
E xcepcionalm ente, são rem unerados. O m esm o se passa com o tu to r de herança
jacen te e o cu rad o r de ausentes.
428. V ontade p ró p ria — Q u ando a lei faculta, geralm ente p o r om issão n o r­
m ativa, algum as pessoas, p o r vontade pró p ria, não são seguradas.
N ão são co m u n s as hipóteses na história da legislação previdenciária.
Até o advento da LOPS, a lei previdenciária, excepcionalm ente, perm itia aos
segurados obrigatórios tam bém sujeitos ao regim e próprio de previdência social —
em p articu lar, o serv id o r — afastar-se dos ex -in stitu to s de previdência social
(p articu larm en te, do 1APC).
D esde 26.8.1960, tais opções desapareceram , mas foram m antidas as até en ­
tão concedidas, e q uem escolheu essa exclusão não é segurado obrigatório em
respeito ao direito adq uirido, p o d en d o , deso p tar em caráter excepcional.
429. P ro p rie tá rio d e ed ifício s — O p ro p rietário de im óveis d estin ad o s a
uso residencial ou com ercial, su b sistin d o graças à percepção de aluguéis e sem
ter co n stitu íd o em presa de adm inistração de bens, é em presário de fato para fins
previdenciários, m esm o ten d o em pregados a seu serviço (zelador, ascensorista,
vigilante etc.).
4.30. B rasileiro n o e x te rio r — Nossa legislação não é xenófoba. Mas por va­
riados m otivos e até por respeito à política de boa vizinhança e autodeterm inação
dos povos, trabalhadores estrangeiros prestam serviços no nosso território, m a n ­
ten do-se excluídos expressam ente do RGPS, sem prejuízo de, individualm ente,
poderem p articip ar de fundos de pensão fechados (se organizados) ou aderirem
a seguros privados. Claro, tam bém com o facultativos. São titulares de m issões di­
plom áticas (em baixador) e repartições consulares (cônsul) ou m em bros dessas
en ú d ad es, n o rm alm en te tutelados pela legislação alienígena. A regra vale tam bém
para estrangeiros sem residência p erm an en te no Brasil.
Mas aLé m esm o brasileiros são excluídos, se cobertos pela previdência social
do País ou organização dadora de serviços. São os seguintes: a) brasileiro traba­
lhan d o para representações estrangeiras; b) brasileiros trabalhando para a U nião
no exterior; c) em pregado de organização oficial internacional ou estrangeira; e d)
brasileiro civil trab alh an d o no exterior para organism o oficial.
C u riosam ente, pelo m enos em relação aos nacionais, a legislação não prevê
cô m p u to do tem po de filiação a esses sistem as estrangeiros, p ressu p o n d o a ob­
tenção de todos os benefícios apenas ju n to a eles. A dificuldade, provavelm ente,
prende-se a efetivar a contagem recíproca (difícil até d en tro do País).

C urso de D ir e it o P R n v iD rN c iA R io

382 W J f ld im ir N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo XLIII

D e p e n d e n t e s d o T it u l a r

431. Qualidade de dependente. 4.32. Núcleo familiar. 433. Presunção


S u m á r io :
de dependência. 434. Ordem de sucessão. 435. Filhos do casal. 436. Subordina­
ção econômica. 437. Companheiros estáveis. 438. Pais do titular. 439. irmãos
do segurado. 440. União homossexual.

Os d ep en d en tes não co n trib u em diretam en te p ara o custeio da previdência


social. São assim d esignados p o r subordinarem -se econom icam ente ao segurado,
de form a m ú tu a, parcial ou total. A legislação os enum era, vedado o acréscim o de
pessoas ali não contem pladas. A d ependência é nitid am en te econôm ico-financeira
e sem n atu reza m oral.
T anto q u an to os segurados po d em ser dependentes, estes últim os têm possi­
bilidade de, sim u ltan eam ente, am bos serem segurados, conform e o caso, fazendo
ju s à d u p licid ad e de prestações, sem in cid ir n a proibição de acum ulação.
A lei vigente co n sidera d ep en d en tes três categorias de pessoas, a saber: 1 — o
cônjuge, a co m p an h eira, o com panheiro e o filho não em ancipado, de q u alq u er
condição, m en o r de 21 anos ou inválido; II — os pais; 111 — o irm ão não em anci­
pado, de q u alq u er condição, m en o r de 21 anos ou inválido.
A p artir de 29.4.1995, a Lei n. 9.032/1995 elim inou a pessoa designada do rol
de dep en d en tes. C o n trarian d o a proteção assegurada pelo ato ju ríd ic o perfeito, o
INSS co nsidera perd id a a condição para quem foi designado antes dessa data. Com
a Lei n. 9.52 8 /1 9 9 7 (e desde 14.10.1996, com a MP n. 1.523/1996), dando nova
redação ao § 2e do art. 16 do PBPS, desapareceu a figura do m en o r sob a guarda,
restando apenas o tutelado sem bens suficientes para sustento e educação e o enteado.
Agregado ou “filho de criação”, só após a form alização da tutela.
431. Qualidade de dependente — A qualidade de d ep en d en te adquire-se
conform e cada tipo. P rincipalm ente, com o nascim ento (filho, irm ão, tutela, aco-
m etim ento de invalidez etc.) — inexistência de dep en d en te preferencial para os
pais — , mas tam bém com o casam ento e o início da união estável.
Tal atrib u to desaparece em in úm eras situações. Salvo n a hipótese de paga­
m ento de pensão alim entícia, para os cônjuges, pelo desquite, separação judicial,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a Socicií 383
divórcio ou anulação do casam ento. Tam bém para quem vo lu n tariam en te aban­
d o n o u o lar por m ais de cinco anos ou p o r tem po inferior, se o tiver ab andonado
sem m otivo ju sto e a ele se recuse a voltar, conform e sentença ju dicial. Os com pa­
nheiros a têm perdida com o desfazim ento da união estável. Para os designados até
28.4.1995, pelo cancelam ento da inscrição. Para os filhos, a m aioridade, a em anci­
pação (Lei n. 9 .032/1995) ou a recuperação da higidez. O s pais e irm ãos a perdem
com a presença de cônjuge, com panheiro ou filho do segurado.
432. N úcleo fam iliar — O n úcleo familiar, com posto dos cônjuges, com pa­
n h eiros e filhos, tem prioridade na legislação. Presente u m de seus m em bros, os
dem ais (pais e irm ãos), co n stan tes da lin h a seguinte do rol legal, não fazem jus às
prestações de d ependentes.
A não ser o atuarial, não há n en h u m m otivo para a exclusão; o legislador
sim plesm ente deseja d im in u ir a possibilidade de concessão da pensão p o r m orte.
São cônjuges o m arido e a m ulher, casados civilm enle, vivendo ju n to s sob a
constância do casam ento. Se o m atrim ô n io aconteceu apenas sob o rito religioso
subsiste u n ião estável. Em relação a essa ligação é freqüente a utilização da expres­
são “co m p an h eiro s”. Q u ando a un ião é hom oafetiva, de conviventes.
433. Presunção de dependência — O s m em bros da família stricto sensu são
beneficiados p o r p resunção absoluta: d ep endem do titular. Para u su fru ir dos be­
nefícios não precisam fazer a dem onstração, têm direito m esm o q u an d o dele não
carecem para subsistir, anacronism o por causa da h istória da previdência social,
surg id o q u a n d o a m u lh er não trab alh av a ou os filhos m aiores de 14 anos não
colaboravam na co n stituição da renda familiar.
434. Ordem de sucessão — A lista dos dep en d en tes observa hierarquia: a
existência de pessoas do prim eiro g ru p o elim ina as do segundo e assim sucessi­
vam ente. A lei, en tretan to , adm ite algum as form as de concorrência entre ex-com ­
pan h eira e filhos do segurado, m as não a aceita entre pessoas de nível diferente.
435. Filhos do casal — São considerados filhos, para os fins de dependência
em relação ao segurado, o legítim o e o legitim ado, o n atu ral o u ad u lterin o , o e n ­
teado e o trazido pela com p an h eira ou com panheiro à u nião estável, e o tutelado.
436. S u b o rd in ação econôm ica — As pessoas indicadas abaixo do núcleo
fam iliar são obrigadas a fazer prova de d ependência econôm ica perante o órgão
gestor. O INSS facilita essa exibição de provas para os pais ou irm ãos, bastando
declaração firm ada pelo interessado, justificação ad m inistrativa ou parecer de as­
sistente social. Além disso, precisam evidenciar a in existência (sic) de dependentes
preferenciais (ainda m ediante declaração).
437. C o m p an h eiro s estáv e is — São com panheiros o hom em e a m ulher, não
casados, vivendo sob os auspícios da un ião estável. Inexiste conceito desse vínculo
na legislação; a m enção ao art. 226, § 3e, da CF de nada adianta. Pode-se considerar
com o tal q u an d o a in tenção do h o m em e da m ulher, p o r m eio de atos inequívocos,
in d u z a u n ião d u ra d o u ra, com vistas à criação de fam ília, filhos, patrim ô n io , m ú ­
tua d ep endência e respeito.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

384 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
E ntre o u tro s d o cu m en to s, a persuasão d a d ep en d ên cia econôm ica faz-se m e­
dian te prova do m esm o dom icílio, conta bancária co n ju n ta, procuração ou fiança
reciprocam ente o u torgada, encargos dom ésticos, registro em associação, declara­
ção de Im posto de R enda do segurado.
438. P ais d o titu la r — Na ausência de m em bros do nú cleo familiar, os pais do
segurado são pessoas com possível direito à pensão p o r m orte (e auxílio-funeral ou
auxílio-reclusão, até 3 1.12.1996), carecendo d em o n strar a dependência.
439. Irmãos do segurado — Se o segurado não deixou particip an tes do n ú ­
cleo fam iliar prin cip al, nem pais, os irm ãos m enores de 21 anos o u inválidos e não
em ancipados fazem ju s aos benefícios do dependente.
44 0 . União homossexual — O Brasil não adm ite, ainda, o casam ento civil
de in d iv íd u o s do m esm o sexo. A un ião estável, m encionada n o art. 226, § 3 S, da
C F /f 988, indica, claram ente, ser de pessoas de sexo oposto.
H om em co ab itando com hom em e m u lh er convivendo com m ulher, m u ­
tu am en te se au x ilian do e m antida afjectio societatis, co n stitu i m odalidade de
u n ião reco n h ecid a pelo D ireito P revidenciário desde a Ação Civil P ública n,
2000.71.00.009347-0.
Até 28.4.1995, com lim itações de idade (21 a 60 anos), a lei básica dos b e­
nefícios ad m itia a designação de q u alq u er pessoa. Na falta de outros dependentes,
abstraíd a a restrição etária, talvez tivesse sido a solução para disciplinar a união
estável de pessoas de m esm o sexo. A Lei n. 9 .0 3 2 /f9 9 5 , sob esse aspecto, repre­
sen to u regressão do u trinária.
N ão está im p ed id o o m agistrado, e n tre ta n to , d ia n te de situ ação de fato
caracterizadora de p erda dos m eios de subsistência de um dos parceiros, h om em
ou m ulher, de co n sid erar a pensão p o r m orte. Aliás, é o que vem acontecendo com
certa frequência, d im in u in d o a resistência do INSS.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
Parte I I . F o n t e s d e F in a n c ia m e n t o

Capítulo XLIV

P esso a F ísica

S u m ã d i o : 4 4 1 . Empregado urbano ou rural. 442. Trabalhador temporário. 443.


Avulso sindicalizado. 4 4 4 . Servidor sem regime próprio. 4 4 5 . Empregado domés­
tico. 446. Empresário citadino e rurícola. 447. Autônomo e eventual. 448. Equi­
parados ao autônomo. 449. Segurado especial. 450. Contribuinte facultativo.

Os co n trib u in tes pessoas físicas q uando são designados com o segurados, em


classificação didática com algum interesse básico, pertencem a dois grupos: a) não
descontáveis; e b) descontáveis.
D ependentes, en q u an to exclusivam ente nessa condição, não cotizam , p o d e n ­
do vir a ser fiscalm ente responsabilizados so m en te na qualidade de sucessores do
segurado.
Os do prim eiro g ru po (ti) são conhecidos com o co n trib u in tes individuais (Lei
n. 9 .876/1999), e para eles inexiste participação financeira ou form al do eventual
pro p iciador de serviços (en te político, em presa, em pregador dom éstico, em presa
dc trabalho tem porário, sindicato de avulso, cooperativa ou cliente). O recolhi­
m ento é operado p o r m eio de guia individualizada.
À exceção do d o m éstico, os do segundo grupo (b) p o d eriam ser designados
co n trib u in tes coletivos, pois o aporte é feito englobadam ente, em d o cu m en to
coletivo.
E xcetuado o facultativo, os não sujeitos ao desconto são todos segurados
obrigatórios: em presário, autô n o m o , eventual, eclesiástico, garim peiro, p ro d u to r
rural pessoa física e m u ito s outros. Tanto qu an to o dom éstico, a pessoa não des­
contada é tida com o co n trib u in te individual, co n stitu in d o exceção à regra, o se­
gurado especial quebra essa classificação. Paga na condição de em presa, quando
sofre dedução na com ercialização do p ro d u to ru ral e contribui, com o indivíduo,
se assim o desejar, igual ao facultativo (RPS, art. 200, § 2Q).
Já os não descontados devem fazer prova do pagam ento e, tam bém , p o r p rá ­
tica adm inistrativa, não costum am ser fiscalizados. Os dem ais (descontados) são
beneficiados pela presunção do desconto (PCSS, art. 33, § 5e).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

386 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
O ô n u s fiscal dos co n trib u in tes individuais é de responsabilidade do segurado
(v. g., em presário, eventual, autô n o m o e equiparados a au tô n o m o ); são sujeitos
passivos da obrigação e se subm etem ao p rin cip al m ensal (tam bém conhecido
com o valor original), juros (com correção m onetária em butida) e m ulta. Podem
firm ar acordo de parcelam ento, requerer restituição ou prom over com pensação.
Nos term os da Súm ula V inculante STF n. 8, sujeitos à regra p ró p ria de decadência.
A co n trib u ição dos descontados opera-se p o r in term éd io da em presa, e eles
não têm resp o n sab ilid ade fiscal algum a q u an to à quitação, em bora, em m atéria de
arrecadação (en ten d id a com o a dedução na rem uneração), restituição ou co m p en ­
sação, devem ser ouvidos, pois o excesso ou o indevido, d escontado ou recolhido,
lhes pertence. N ão são sujeitos passivos da obrigação; en tretan to , em certos casos,
devem prestar inform ações à Fiscalização do órgão gestor.
C ada u m desses gru p o s, além de processos de arrecadação d istin to s e até
prazo s p articu lares p ara o pagam ento, cria hipóteses de incidência e salários de
co n trib u ição diferenciados. Para os c o n trib u in tes individuais, não passa de ficção
fiscal (salário-base até 31.3 .2 0 0 3 ), pouco ou n ad a ten d o a ver com a retribuição
do trab alh o e, no caso do facultativo, até se o labor existe, m as, no seg u n d o caso,
o fato g erad o r é realidade fiscal palpável (rem uneração e g an h o s habiLuais).
R igorosam ente, o ap o stad o r n o co ncurso de prognósticos tam bém é c o n tri­
b u in te pessoa física. Parte do jogado, p o r ele desem bolsado, retido pela Caixa Eco­
nôm ica Federal, é recolhido em favor do FPAS.
E n q u an to in d iv íd u o , o m em bro da sociedade cotiza in d iretam en te em razão
do repasse da p arte p atro n al ao p ro d u to consum ido, m as esse plus com ercial não
é individualizado n em contabilizado para q u alq u er fim ou raciocínio. O estudo da
n atu reza desses pagam entos, objeto do D ireito P revidenciário, deve levar em conta
essa possibilidade.
A partir de l s .4.2003 os contribuintes individuais que prestam serviços à em pre­
sa passaram a sofrer desconto de 11% do salário de contribuição (Lei n. 10.666/2003).
441. E m p reg ad o u rb a n o o u ru ra l — O em pregado co n trib u i pessoalm ente
e, sim ultaneam ente, deflagra a contribuição de seu em pregador. Individualm ente, é
desco n tad o em 8%, 9% ou 11%, conform e a faixa do salário de contribuição.
A base de cálculo é distinta: ele, su b m etid o ao lim ite do salário de c o n trib u i­
ção, m as a parte p atro n al sem teto (D ecreto-lei n. 2.318/1986). De igual m aneira,
as alíquotas. A p atro n al é de 20% m ais a do seguro de acidentes do trabalho. Acres­
cida em face da ap o sen tad o ria especial (Lei n. 9 .7 3 2 /f 998). E m aior, nas entidades
financeiras (22,5% ) e não existe nas entidades beneficentes (PCSS, art. 55).
D iferentes os pisos superiores, a natureza é igual. Se d eterm in ad a rubrica
integra a base de cálculo de um a obrigação, faz parte da outra.
Q uando o trab alh ad o r presta serviços em m ais de u m a atividade sujeita-se a
regras especiais.

387
C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P re v id ê n c ia S o c ia l
O pagam ento é coletivo, prom ovido p o r m eio da G uia de R ecolhim ento da
Previdência Social — GRPS, em que a pessoa não é individualizada, e, se desejar a
sua personalização, com o querem alguns tribunais, terá de ser feita nas íolhas de
pagam ento.
D esde que observados os lim ites inferior e superior, historicam ente estabe­
lecidos, o em pregado aporta p o r in term éd io do em pregador, m elh o r dizendo, da
em presa, sofrendo descontos na rem uneração recebida, conform e alíquotas esca­
lonadas estabelecidas na lei básica.
a) limite mínimo: Para quem tem a jo rn a d a de trabalho norm al, a base de
cálculo m ínim a da exação é o salário m ínim o, considerado em caráter m ensal,
diário o u horário. Assim, se o trabalhador não prestou serviços todo o m ês, poderá
receber salário inferio r ao m ínim o, e a contribuição incidirá sobre esse m ontante.
b) limite máximo: O lim ite do salário de contribuição é p erio d icam en te esta­
belecido na legislação. U ltim am ente tem sido:

1° 10.1960 a 30.11.1966 — 5 m aior salário m ínim o (C r$ 48,00)


1° 12.1966 a 10.6.1973 — 10 m aior salário m ínim o (C r$ 840,00)
11.6.1973 a 30.4.1975 — 20 m aior salário m ínim o (C r$ 6.240,00)
I a.5.1975 a 3 1 .5.1976 — 20 m aior valor de referência (C r$ 10.020,00)
I a.6.1976 a 31.12.1979 — Cr$ 14.872 e atualizações subsequentes
1®. 1.1980 a 30.11.1981 — Cr$ 51.930,00
I a.12.1981 a 3 0 .4.1984 — 20 m aior salário m ínim o (C r$ 238.560,00)
I a.5.1984 a 31.7.1987 — 20 salário m ínim o (C r$ 1.943.520,00)
8.1987 a 6.1989 — 20 salário m ínim o de referência (C r$ 39.398,40)
7.1989 a 7.1991 — N C z$ 1.500,00 e atualizações subsequentes
8.1991 a 2.1994 — C r$ 170.000,00 e atualizações subsequentes
1°.3.1994 a 30.4.1995 — R$ 582,86
1°.5.1995 a 33.5.1996 — R$ 832,66
1Ê 6.1996 a 31.5.1997 — R$ 957,56
l s.6.1997 a 31.5.1998 — R$ 1.031,87
l e 6.1998 a 30.11.1998 — R$ 1.081,50
l e.12.1998 a 31.5.1999 — R$ 1.200,00
I a.6.1999 a 31.5.2000 — R$ 1.255,32
l e.6.2000 a 31.5.2001 — R$ 1.328,25
l e.6.2001 a 31.5.2002 — R$ 1.430,00
I a.6.2002 a 31.5.2003 — R$ 1.561,56
I a.6.2003 a 31.12.2003 — R$ 1.869,34
I a.1.2004 a 30.4.2004 — R$ 2.400,00
I a.5.2004 a 30.4.2005 — R$ 2.508,72
l a 5.2005 a 31.3.2006 — R$ 2.668,15
l a.4.2006 a 31.7.2007 — R$ 2.801,56

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
I a.8.2006 a 3 1 .3.2007 — R $ 2 .8 0 1 ,8 2
l e.4.2007 a 3 1 .7.2008 — R$ 2.894,28
I a.8.2008 a 3 1 .1.2009 — R$ 3.038,99
l a.2.2009 a 31.1 2.2009 — R $ 3 .2 1 8 ,9 0
1°.1.2010 a 31.12.2010 — R $ 3 .4 1 6 ,5 4
l a. l . 2011 a 31.12.2011 — R $ 3 .6 9 1 ,7 4
I a.1.2012 a 31.12.2012 — R$ 3.916,20
1Q.1.2013 a — R $ 4 .1 5 9 ,2 0
c) alíquotas: As alíquotas têm sido:
10.1960 a 1 2 .1 9 8 1 .................................. 8%
1Q. 1982 a 8.1989 .......................................8,5%, 8,75% , 9%, 9,5% e 10%
9.1989 a 7 .1 9 9 5 ....................................... 8%, 9% e 10%
8 .1 9 9 5 ............................................................ 8%, 9 % e 11%
d) fa ixa s salariais:
até 3/10 do li m i t e ...................................... 8%
de 3/10 até 5/10 do lim ite........................9%
de 5/10 até o lim ite ....................................11%
442. Trabalhador temporário — P revidenciariam ente, o tem porário é eq u ip a­
rado ao em pregado. Assim sendo, fica sujeito à m esm a base de cálculo e alíquotas.
A ú n ica p articu larid ad e registrável é transladar o débito no caso de aplicação
da solidariedade e serem diferentes as taxas de seguro de acidente, conform e o
to m ad o r da m ão de obra (Lei n. 9.711/1998).
443. A vulso sin d icalizad o — Avulso é espécie de quase em pregado e quase
au tô n o m o , ten d o o sindicato com o d ad o r de seus serviços. S ubm etido ao regim e
p ró p rio em razão do pagam ento da rem uneração, m uitas vezes feita diariam ente.
444. Servidor sem regime p ró p rio — O servidor é equiparado ao em pregado
para fins de co n trib u ição, sujeitando-se às m esm as obrigações, com a p articu la­
ridade de, se au ferir rem uneração su p erio r ao lim ite, eventualm ente p o d er obter
o u tro s benefícios ju n to ao ente político d ad o r de serviços (art. 40 da CF).
Sua sem elhança com o em pregado é grande, devendo recolher com o tal, isto
é, su jeito aos 8%, 9% ou 11%, p o r m eio de GRPS.
Da m esm a form a, gera a parle patronal e a relativa ao seguro de acidentes do
trabalho.
445. E m p reg ad o d o m éstico — O dom éstico previdenciariam ente tam bém se
assem elha ao em pregado. O bserva as m esm as alíquotas, em bora a base de cálculo
do em p reg ad o r lim ite-se ao teto universal de todos os trabalhadores.
E m bora tido com o co n trib u in te individual, assim classificado por recolher
con trib u içõ es p o r m eio da GPS, o dom éstico é segurado sujeito a desconto. Nesse
caso, observa as m esm as alíquotas de 8%, 9% ou 11% do em pregado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o í í — P r e v id ê n c ia S o c i a l
Para a dom éstica grávida, d u ra n te os cento e vim e dias do salário-m aternidade,
em caráter excepcional, a contribuição é descontada do benefício q u an d o do paga­
m ento pelo INSS. Nesse caso, o em pregador dom éstico deverá recolher tão som ente
os 12% de sua responsabilidade m ed ian te o carnê de pagam ento.
Suas alíquotas variaram historicam ente:

Período Empregado Empregador


4.1973 a 12.1981 8 8

1.1982 a 6.1989 8,5 10


7.1989 a 8.1989 8 10

9.1989 a 10.1991 8 12

11.1991 a 7.1993 8 9 10 12

8.1993 7,77 8,77 9,77 12

9.1993 a 11.1993 8 9 10 12

12.1993 a 12,1994 7,77 8,77 9,77 12

1.1995 a 7.1995 8 9 11 12

8.1995 em diante 8 9 11 12

446. E m p resá rio citad in o e ru ríc o la — D esde 1Q.8.1996, na condição de


co n trib u in te in d iv id u al, o em presário está sujeito à alíquota de 20% sobre a sua
classe de salário-base.
Suas ú ltim as taxas foram:
10.1960 a 1 2 .1 9 8 1 ................8%
1.1982 a 6 .1 9 8 9 .....................8,5%, 8,75%, 9%, 9,5% e 10%
7.1989 a 8 .1 9 8 9 ....................... 8%, 8,75% , 9%, 9,5% e 10%
9.1989 a 7 .1 9 9 6 ....................... 10% classe 1 a 3
20% classe 4 a 10
8 .1 9 9 6 ......................................... 20%
Para o em p reg ad o r rural:
1975 a 1 9 8 1 ...............................12,0%
1982 a 1 9 8 4 ...............................14,4%
1985 a 1 9 9 0 ...............................1,44%
até 3 1 .1 0 .1 9 9 1 ..........................1,2%
I a. 1 1 .1 9 9 1 .................................igual aos em presários acim a
Com a LC n. 84/1996 a em presa subm eteu-se à alíquota de 15% e 20%, u n i­
ficada em 20% a partir da Lei n. 9.876/1999, q uando passou a ser designado com o
c o n trib u in te individual.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

390 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
C om a Lei n. 10.666/2003, a partir de 1B.4.2003, passou a sofrer desconto de
11% do salário de contribuição.
44 7 . Autônomo e eventual — A contribuição do au tô n o m o é inteiram ente
igua! à do em presário, inclusive gerando a contribuição patro n al prevista na LC n.
84/1996, tratan d o -se de obrigação pessoal.
Essa exação n ão se d e sn a tu ra se ele, tal qual o titu la r de firm a in d iv id u a l,
adm ite em pregado ou autô n o m o a seu serviço. C o n tin u a ap o rta n d o m ediante
escala de salários-base até 31.3.2003 (Lei n. 9.876/1999). As co n trib u içõ e s dos
prestad o res de serviço, in casu, feitas m ediante GPS.
E xceto a p arte p atronal, distinta, não tem a m en o r im portância prestar servi­
ços apen as p ara pessoas físicas o u a diferentes pessoas jurídicas.
0 ev entual, u m a figura em extinção, é tido pela lei com o au tô n o m o , a partir
de 29.11.1999 com o co n trib u in te individual, em bora pudesse ser um dos eq u ip a­
rados. Assim sendo, contribui exatam ente da m esm a form a que os dem ais c o n tri­
b u in tes individuais.
As alíq u o tas têm sido:
12.10.1960 a 3 0 .6 .1 9 7 3 ........8,0%
11.6.1973 a 3 1 .1 2 .1 9 8 1 ....... 16,0%
l 2.1.1982 a 3 1 .8 .1 9 8 9 .......... 19,2%
1Q.9 .1989 a 3 1 .7 .1 9 9 6 ............ 10% nas classes 1 a 3
20% nas classes 4 a 10
l g.8 .1 9 9 6 ................................... 20%
C om a MP n. 83/2002, a p artir de I a.4.2003, passou a sofrer d esconto de 11%
do salário de contribuição.
4 4 8 . E q u ip a ra d o s ao a u tô n o m o — O eclesiástico e o garim peiro tam bém
estão sujeito s à escala de salário-base. R ecolhem com o o em presário e o autô n o m o
até 31.3.2003, q u an d o seguem a Lei n. 9.876/1999.
449. S eg u rad o esp ecial — Segurado especial é segurado obrigatório em re­
lação à com ercialização de p ro d u to s rurais, sujeitando-se à alíquota de 2,1% do
valor com ercial d o s p ro d u to s. E xcepcionalm ente, a lei o autoriza a recolher com o
facultativo.
450. Contribuinte facu ltativ o — Na condição de co n trib u in te individual,
o facultativo recolhe a base de 20% da escala de salários-base até 31 d e m arço de
2003 e, p o sterio rm en te, sobre um valor de sua escolha.
10.1960 a 1 2 .1 9 8 1 ................ 16,0%
I.1 9 8 2 a 8 .1 9 8 9 ....................... 19,2%
9.1989 a 1 0 .1 9 9 1 ...................10% na faixa de 1/10 a 3/10 do lim ite
20% na faixa de 3/10 até o lim ite
II.1 9 9 1 a 7 .1 9 9 6 .....................igual
8 .1 9 9 6 ..........................................20%

G u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 391
Capítulo XLV

P essoa J u r í d i c a

451. Empresa urbana. 452. Empreendimento rural. 453. Empregador


S u m á r io ;
doméstico. 454. Condomínio horizontal. 455. Titular de casa própria. 456. Indi­
víduo com trabalhador. 457. Órgão estrangeiro. 458. Caixa Econômica Federal.
459. Direito Privado comparado. 460. Outros contribuintes.

O s fiscalm en te o b rigados, tam b ém d esig n ad o s com o c o n trib u in te s, de fato


ou de d ireito , são pessoas ju ríd ic a s (e, ex c ep cio n alm en te, físicas, caso de certo
p ro d u to r ru ral, a u tô n o m o ou eq u ip arad o , m em b ro de órgãos de re p resen tação
estran g eira, em p re g ad o r d o m éstico e p ro p rie tá rio de o b ra de c o n stru ç ã o civil
etc.), elen cad as ex p ressam en te n a lei. A lgum as delas ju s tific a n d o m en çõ es p a r­
ticulares.
Só a lei inclui ou excluí pessoas da exação, não p o dendo fazê-lo o decreto ou
a po rtaria m inisterial. Se esses atos norm ativos m enores disciplinam a obrigatorie­
dade valem apenas p erante a adm inistração, exceto se a interpretação neles contida
observar rig orosam ente o espírito o u o teor da n o rm a ordinária.
451. E m p resa u rb a n a — O conceito de em presa é am plo, tan to no Direito
C om ercial q u an to no Previdenciário. A descrição legal é larga, abrangendo a in i­
ciativa privada e os órgãos públicos, com vistas ao p restad o r de serviços. Tam bém
envolve pessoas ju ríd icas de D ireito In tern acio n al Público.
E m pregador é quem tem em pregado sob seu com ando. Tem porário, avulso,
autô n o m o ou eventual são co n tratad o s pela em presa. O órgão público é em prega­
dor, em relação ao serv idor celetista, e d ad o r de serviço no q u e tange ao estatutário.
Tam bém as m issões diplom áticas, as repartições consulares, os m em bros destas e
os organism os a elas su bordinados.
A rigor, desde 5.10.1988, não im porta se o em p reen d im en to é urb an o ou ru ­
ral, e desde sem pre, em relação a cada um a delas, se a aúvidade é lucrativa o u não.
P osteriorm ente, porém , a lei ordinária excepcionou esse entendim ento.
Inclui a pessoa (ou fam ília), ao adm itir dom éstico. Mas nem p o r isso o oferta-
d o r de serviços é segurado obrigatório (com o em presário). Q u ando diz “ad m itir a

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iAr ío

W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
seu serv iço ”, é sem finalidade lucrativa. Se a atividade chega a assum ir esse caráter,
m elh o r dizendo, n atureza econôm ica, o co n tratan te passa a ser em presa, deixando
de ser em p reg ad o r d o m éstico e to rnando-se pessoalm ente em presário.
Dá-se exem plo singelo elucidativo da distinção. C hácara de lazer com pessoa
su b o rd in ad a caracteriza o dom éstico e não trab alh ad o r rural; se avolum a a p ro d u ­
ção com expressão econôm ica, a propriedade tran sm u ta-se em exploração rural
(p ro d u to r ru ral pessoa física) e o em pregado queda-se sujeito à Lei n. 5.889/1973
(N orm as de Proteção ao T rabalho R ural).
Na definição legal, deve-se en te n d e r abrangido o segurado especial, à vista da
possibilidade de co n tra tar autônom o. Se aju star não esporadicam ente este últim o
ou em pregado, ad q u irirá a condição de em presa (p ro d u to r ru ral pessoa física).
Em razão disso — proteção do trab alh ad o r — o conceito legal não precisava
destacar o em p reg ad or dom éstico. Talvez tenha sido difícil ao legislador incluí-lo
n a definição geral. Solução sintética seria equipará-lo à em presa-tipo, com o faz no
parágrafo ú n ico do art. 15, com diversas pessoas jurídicas. E ncontram -se ah em ­
p reen d im en to s in d iv iduais e universais não lucrativos ou sem caráter econôm ico,
onde a pessoa ou a família estariam bem en q u ad rad o s à espécie, em seu gênero.
Diz o art. 15 do PCSS: “C onsideram -se: I — em presa — a firm a individual ou
sociedade que assum e o risco de atividade econôm ica u rb a n a ou ru ral, com fins
lucrativos ou não, bem com o os órgãos e entidades da adm inistração pública, d ire­
ta, ind ireta e fundacional; IT — em pregador dom éstico — a pessoa ou família que
adm ite a seu serviço, sem finalidade lucrativa, em pregado dom éstico. Parágrafo
único. C onsidera-se em presa, para os efeitos desta Lei, o au tô n o m o e equiparado
em relação a seg u rad o que lhe presta serviço, bem com o a cooperativa, a associação
ou en tid ad e de q u alq u er natureza ou finalidade, a m issão diplom ática e a rep arti­
ção co n su lar de carreira estrangeiras”.
O co nceito básico de em presa, en q u a n to sujeito passivo de obrigação fiscal,
com o dito, é genérico, e o legislador de 1991, diferentem ente da CLPS, fugiu da
ideia de p artir do em pregador. No início da oração do artigo reproduzido, su b sti­
tu iu a expressão “em p reg ad o r” (restritiva, de qu em tem em pregado) p o r vocábulo
em prestado do D ireito C om ercial, a “firm a”, deslocando o problem a da definição.
D iante do óbice, então, o m elh o r seria “em p re en d im en to ”.
U m esforço organizacional produtivo pode ser individual ou coletivo, d isp en ­
sando-se a distinção. Aí in cluídos o titu lar de firm a individual, os diversos tipos
de sociedades civis ou com erciais, inclusive a sociedade an ô n im a referida na Lei
n. 6.404/1976. Irrelevante o núm ero de sócios, se un ião de capital ou de trabalho,
ou com o se reveste a azienda em presarial, nem com o co n stitu íd o o capital inicial.
P ouco im porta, tam bém , seu nível de produção ou a classificação na ordem
econôm ica, se agropecuária, in d u strial, com ercial ou de prestação de serviços. Não
é significativo ex ercitar exploração tida com o urb an a o u rural, em face do p rin cí­
pio co n stitu cio n al da equivalência u rb an o -ru ral, d ispensando-se, pois, igualm en­
te, o esclarecim ento prestado no texto legal.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 393
Relevante é arcar com os riscos da atividade econôm ica. E n tretan to , se alguém
se estabelece no m u n d o dos negócios sem assunção de contingências, nem p o r isso
deixará de ser em presa. Basta ter pessoas a seu serviço, rem u n erad am en te, entre
in d ep en d en tes (em presário, au tô n o m o , eventual etc.) e su b o rd in ad o s (servidor,
em pregado, tem porário, avulso etc.), para onerar-se fiscalm ente.
A note-se a m enção do risco em presarial tradicional no com ercialism o, no
qual o elab orador da n orm a inspirou-se. De q u alq u er form a, ele deve ser tom ado
no seu sentido m ais lato (restando ao au tô n o m o os perigos profissionais e, ao em ­
pregado, os laborais).
O escopo da corporação pode ser lucrativo ou não, com isso se abrigando
as pessoas objeto do parágrafo único. A lém do Estado, da Igreja e dos p artid o s
políticos, não é fácil exem plificar en tid ad es não abarcadas pelo referido parágrafo
único.
F inalm ente, d eixando o tem a fora de dúvidas, in fin e arrola os órgãos da Ad­
m inistração Pública direta, indireta e fundacional. N o caso, m unicipais, estaduais,
do D istrito F ederal e da União.
Em presa é em p reen d im en to h u m an o visualizável sob vários prism as. Do
po n to de vista previdenciário interessam apenas os econôm icos e ju ríd ico s, em
particu lar o co n d u to r da exploração m ercantil, o em presário. É instituição vasta
no m u n d o m o d ern o , com m u ito s ângulos apreciáveis, cujo com pleto estudo é o
principal interesse do D ireito Com ercial. Seu conceito previdenciário ultrapassa os
lim ites desLe, e, alargando-se, incorpora instituições não com erciais.
Hoje, sin ô n im o de organização, associação, em p en h o voltado para a p ro d u ­
ção de b en s e serviços. E n tid ad e im prescindível d ian te do crescim en to da p o p u ­
lação e desenvolvim ento da tecnologia e, co n sequen tem ente, do consum o.
Para J. X. Carvalho de M endonça, sob a óptica com ercialista, é “a organização
técnico-econôm ica que se p ro p õ e a p ro d u z ir a com binação dos diversos elem en­
tos, natureza, trabalho e capital, bens ou serviços destinados a troca (venda), com
a esperança de realização de lucros, correndo riscos p o r conta do em presário, isto
é, daquele que reúne, coordena e dirige elem entos sob sua responsabilidade”. Os
dem ais esforços hu m an os, n ão circunscritos na definição, form as equiparáveis de
pessoas físicas ou ju ríd icas, representam concepções não lucrativas de direito p ú ­
blico ou privado, e até m esm o a pessoa ou a família.
Q uase todos os com ercialistas acordam q u an to à não existência de conceito
básico u n iv ersalm en te aceito. Dada a com plexidade da organização social, a em ­
presa co n tin u a recebendo a contribuição dos estudiosos e desafiando a argúcia de
quem quiser reduzi-la à expressão sim ples.
Rubens Requião (“C urso de D ireito C om ercial”, p. 41/52) fornece os dois
prin cip ais aspectos da em presa: a) n o ção econôm ica — base da ideia da em presa
m o d ern a; e b) noção ju ríd ic a — sede de m uitas dificuldades exegéticas. S egun­
do ele, prevalece a prim eira noção e em vão os ju ris ta s ten tam c o n stru ir m odelo
ju ríd ico . C itando Ferri, lem bra os ângulos m ais expressivos dos quais a em presa

C um o de D ir e it o P k e v id l n c iAr io

394 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
pode ser vista: a) com o expressão da atividade do em presário; b) com o co n ju n to
de bens; e c) em suas relações com os seus d ep e n d en tes (p restad o res de serviços).
Faz tam bém distinção en tre sociedade e em presa. A segunda seria objeto e
a prim eira, su jeito da relação jurídica. A sociedade com ercial tem personalidade
ju ríd ica, pode ser em presária, não a em presa. Para ele, pode haver em presa sem
sociedade e sociedade com ercial sem em presa. P revidenciariam ente, porém , toda
união com ercial é em presa.
D ividem -se em com erciais e civis. As com erciais dedicam -se à produção (in ­
d ú stria u rb a n a ou ru ral), circulação (tra n sp o rte), interm ediação (com ércio), servi­
ços b an cário s e seguros. As civis ocupam -se da prestação de serviços e da produção
agrária.
Pode ser co n ceituada sin teticam en te com o o em p reen d im en to com os riscos
da atividade econôm ica. Mas, para in clu ir as não econôm icas, é o esforço orga­
nizado licitam en te com vistas à produção de bens ou serviços, com pessoas c o n ­
tratadas. Por isso, tam bém são em presas: C artório, J u n ta C om ercial, Bolsa de Va­
lores, C âm ara de E xportação, P artido P olítico, In stitu to de Pesquisas C ientíficas,
S indicato, O bservatório, C entro E spírita, Tenda de U m banda, C lube de Serviço,
in stitu içõ es filosóficas, enfim , toda atividade h u m an a com intenção p erm anente
ou in tenção provisória.
452. E m p ree n d im e n to ru ra l — No particular, a legislação faz referência
à em presa rural. N ão lhe dá definição, rem etend o o in térp rete ao D ecreto-lei n.
5.452/1943 (CLT) e à Lei n. 5.889/1973 (NPTR). Não lhe fixa o conceito. Ao
d eterm in a r suas obrigações refere-se a p ro d u to r rural, pessoa física ou ju ríd ica, e
estas definidas na lei básica.
F u n d am en talm en te, com o abstração, a rurícola não difere da urb an a, mas,
com o nível de organização, é em baraçoso falar em em presa rural, de m odo geral
concebida, no dizer de José Pinto Antunes: “u m dos regim es de produzir, onde al­
guém (em p resário ), p o r via co n tratu al, utilizan d o os fatores da p rodução sob sua
responsabilidade (riscos), a fim de o b ter um a utilidade, vendê-la no m ercado e
tirar da diferença, entre o custo da p rodução e o preço de venda, o m aior proveito
m o n etário p o ssível” (“A P rodução sob o Regime de E m presa”, p. 62). P or sinal,
dada a u n iversalidade, aplicável com o luva à urbana...
Esse au to r considera a exploração agrícola, em grande parte, exceção, e m ais
resistente à extensão da produção sob o regim e de em presa. “A produção na agri­
cu ltu ra é sem pre irregular e variada”, escreve. “O p ró p rio rotativism o das culturas
significa variações de produção no tem po e p o r isso, variedade no em prego de ins­
tru m en to de trabalho. Assim , se à cultura de arroz sucede a plantação de batatinhas,
o cultivo co n tin u ad o do solo, pelo ano todo, exige, porém , variação na técnica
produtiva, segundo as especialidades cultivadas. Na m esm a cultura, a sucessão do
tem po (preparação do solo), sem eadura, capina, colheita, reclam a sucessão de in s­
tru m en to s agrícolas, que são, afinal, capitais que ficam, periodicam ente, sem rendi­
m ento, pesando, assim , im produtivam ente, no custo da p ro d u ç ão ” (ob. cit., p. 103).

C u rso d e D iu e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o i í — P r e v id ê n c ia S o c ia l 395
A dm inistrativam ente, a em presa rural tem sido definida com o “a pessoa ju rí­
dica que explora a atividade ru ra l” (O rdem de Serviço ODS/SAF n. 299.63/1973).
A tividade rural, a “in erente a estabelecim ento rural ou prédio rústico, exigindo
necessária ou basicam ente condições próprias ao m eio rural (terras para cultivo
ou extração de p ro d u to s de origem vegetal, ou para a criação, recriação, engorda
ou invernagem de an im ais)”.
O antigo D ecreto n. 55.891/1965, regulam ento da Lei n. 4.504/1964, a de­
finia: “q u ando for um em preendim ento de pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, que o explore econôm ica e racionalm ente, d en tro das condições de ren­
dim en to econôm ico da região em que se situe, e em porcentagem m ínim a da sua
área agricultável fixada neste D ecreto e, ainda, não incida n a alínea ‘a’ do inciso IV
ad ian te”. Na referida letra, descreve-se um a das h ipóteses de latifúndio.
C om o dito, a em presa rural não difere sobrem aneira da urbana, distinguindo-
-se apenas q u an to aos objetivos: em p reen d im en to rural, exploração do reino an i­
mal ou vegetal com vistas à com ercialização de p ro d u to rural. N esse sentido, quem
se dedica à pesquisa agropecuária, sem finalidade lucrativa, em bora em presa, não
é ru ral nem urb an a, m as atividade universal, isto é, co m u m aos dois sem icírculos.
M esm o isenta de co n tribuição, exem plificativam ente, q uem produz pintos de um
dia ou sem entes ou insum os para com ercialização é em presa rural.
453. E m p reg ad o r do m éstico — O em pregador dom éstico, per se sem ser
segurado, seja pessoa física, família ou reunião de in d iv íd u o s (v. g., “república”
de estu d an tes), não é em presa, m as co n trib u in te, e tem obrigações em relação ao
dom éstico.
Em bora vinculado ao RGPS, não se sujeita a m atricular-se, sem prejuízo da
condição de su jeito passivo de contribuições pessoais e das descontadas ou não do
trab alh ad o r a seu serviço.
Trata-se de em pregador não celetista, definido apenas para propiciar proteção
ao dom éstico (Lei n. 5.859/1972), O chefe de fam ília é fiscalm ente responsável,
devendo assinar a CTPS. No caso do “co n d o m ín io ” ou reunião de pessoas, todas
solidariam ente responsáveis, q u alq u er um pode firm ar o contrato.
Na definição de tal obrigado, pressupõe-se atividade não econôm ica, isto é,
ele não realizar atividade profissional, caso contrário passa à condição de a u tô n o ­
mo com em pregado.
4 54. C o n d o m ín io h o rizo n ta l — Sem conceituá-lo, o C ódigo Civil disciplina
o con d o m ín io (C C b, arts. 623/48), um a figura ju ríd ica na qual várias pessoas, os
coproprietários, têm a propriedade em com um .
F ora desse âm bito, é fácil vislum brar o con d o m ín io q uando, falecendo o pai,
fica aos herdeiros a p ro p riedade não dividida.
Há certa sem elhança entre condom ínio e sociedade de fato; no caso de carac­
terizar-se esta últim a, os coproprietários passam à condição de sócios.
R eunião de pessoas naturais, o condom ínio ho rizo n tal é pessoa física, d even­
do intitular-se utilizan d o essa expressão no início da razão social e respondendo
pela em presa, todos os condôm inos.

C li R S O D r P iR I - lT O P k E V lD E N C IÁ R iO
396 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
A Lei n. 10.256/2001 criou a figura do consórcio sim plificado de produtores
rurais, que n ão passa de u m tipo de condom ínio (PCSS, art. 25-A).
45 5 . T itu la r d e casa p ró p ria — O p ro p rietário ou d o n o de obra de construção
civil, stricto sensu, quem pessoalm ente adm inistra a edificação de im óvel para uso
pessoal (in clu in d o q u em se utiliza do regim e de m u tirão ), é vinculado ao RGPS.
N ão se trata de em presa nem de em pregador porque não em preende atividade
econôm ica. P o r co n seguinte, os profissionais do ram o de co n stru ção civil não são
seus em pregados.
R esponde p o r im posições fiscais, exclusivam ente p o r via de solidariedade.
Por isso, está obrigado à m atrícula e aos recolhim entos.
Para o art. 9 a, § 15, IX, do D ecreto n. 3.048/1999 é considerado autônom o
(s ic ).
456. In d iv íd u o com tra b a lh a d o r — A lgum as pessoas físicas, n ad a obstante
elas ten h am co n tra tad o em pregado ou au tô n o m o ao seu serviço, não perdem a
condição p rev idenciária de ind ep en d en tes. São elas o au tô n o m o , os equiparados
a au tô n o m o e o m em bro de órgãos de representações estrangeiras, de m odo geral,
os c o n trib u in tes individuais.
De longa data, o autô n o m o (P ortaria SPS n. 120/1972) e os equiparados a
au tô n o m o (p ro d u to r ru ral pessoa física, garim peiro e eclesiástico), bem com o o
m em bro de m issões diplom áticas ou repartições consulares, desde o D ecreto-lei
n. 2.253/1985, são pessoas físicas consideradas em presas, em pregadores e c o n tri­
b u in tes, pois q uem lhes presta serviços é em pregado (PCSS, art. 12, I, d),
O au tô n o m o , ao adm itir em pregado o u co n tra tar com o u tro obreiro in d ep en ­
d en te (a u tô n o m o ), não perde essa condição p o r tê-los a sua disposição; m antém -se
com o au tô n o m o pessoalm ente considerado e em presa para fins de determ inação
da co n trib u ição do p restad o r de serviços.
Um m em bro de m issões diplom áticas o u de repartições consulares não é eq u i­
parado à em presa, m as considerado em pregador. À vista da extensão do conceito
de em presa, operada pelo PCSS, qu em lhe presta serviços não é dom éstico, m as
em pregado celetista.
457. Ó rgão e stra n g e iro — Q uem trabalha para m issão diplom ática ou re­
partição co n su lar o u a órgão a elas sub o rd in ad o , excluído o n ão brasileiro sem
residência p erm an en te no Brasil e o am parado pela previdência social do país re ­
p resen tad o , é consid erado em pregado para fins previdenciários e trabalhistas, m as
ter tais en tid ad es com o em presas ou em pregadores ainda é discutível.
Para os efeitos da legislação brasileira, a m issão diplom ática (sediada p rin ci­
p alm ente em Brasília) e a repartição consular (geralm ente nos Estados) e o orga­
nism o oficial são c o n trib u in tes pessoas ju ríd ic a s de direito externo, vinculados,
sujeitos à m atrícula, ao desconto e ao recolhim en to de contribuições.
As relações entre esses entes políticos in tern acio n ais são especiais, observam
regras d iplom áticas e m erecem tratam en to reverenciai.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I I — P r e v id ê n c ia S o c ia l 397
458. C aixa E conôm ica F ed eral — A Caixa E conôm ica F ederal é gestora do
C oncurso de Prognósticos. N essa condição, está obrigada a recolher p arte do valor
apostado ao FPAS e, assim , apresenta-se com o co n trib u in te do RGPS.
459. D ireito P rivado co m p arad o — Pessoas físicas, geralm ente artistas, e pes­
soas ju ríd icas, n o rm alm ente voltadas para a arte (cinem a, TV, m úsica, circo etc.),
esporte, pesquisa cientifica o u o u tras atividades, ingressam n o território nacional
e tran sito riam en te em p reendem atividades econôm icas, em m uitos casos c o n tra ­
tando au tô n o m o s, e n o u tro s até em pregados de curta perm anência.
Na hipótese de em presa estrangeira, trata-se de filial aqui provisoriam ente
sediada com as responsabilidades inerentes. Caso seja trab alh ad o r independente,
as regras são as m esm as.
460. O u tro s c o n trib u in te s — Além das com uns, já exam inadas, a legislação
prevê outras fontes de receita, obrigando pessoas ju ríd icas a procedim entos for­
mais. São situações atípicas e subm etidas à regulam entação específica, convindo
verificar em cada caso a aplicação das regras gerais de arrecadação e recolhim ento.
São as seguintes: a) valor econôm ico de mercadorias apreendidas pela União; b)
bens apreendidos pelo D epartam ento da Receita Federal; e c) com panhias seguradoras.
Em decorrência, o Tesouro N acional, o D epartam ento da Receita Federal e as
com panhias seguradoras, além de outros ô nus possíveis, estão sujeitos à c o n trib u i­
ção conform e a lei ordinária.
a) valor das apreensões da União: Em seu art. 243, parágrafo único, a CF de
1988 prevê: “Todo e q u alq u er bem de valor econôm ico apreendido em decorrência
do tráfico ilícito de en to rp ecen tes e drogas afins será confiscado e reverterá em
benefício de in stituições e pessoal especializados n o tratam ento e recuperação de
viciados e no ap arelh am ento e custeio de atividades de fiscalização, controle, p re­
venção e repressão do crim e de tráfico dessas su bstâncias”. Por seu tu rn o , 50% do
valor obtido deve ser aplicado ju n to à seguridade social (PCSS, arl. 27, VI).
b) bens apreendidos pela DRF: 40% da im portância ap u rad a nos leilões dos bens
apreendidos pelo D epartam ento da Receita F ederal deve ser recolhida ao FPAS.
c) companhias seguradoras: Por força da Lei n. 6.194/1974, todos os p ro p rie­
tários de veículos au to m o to res terrestres são obrigados a celebrar seguro de danos
pessoais. F req u en tem en te, em decorrência de acidentes de trânsito, o Sistem a Ú ni­
co de Saúde — SUS atende as vítim as. O parágrafo ún ico do art. 27 do PCSS prevê
50% do valor do prêm io em favor do FPAS, com determ inação prévia para o SUS.
d) auxiliares locais no exterior: A Lei n. 9.528/1997 disciplinou a situação
de brasileiros prestan d o serviços no exterior, q u an d o am parados pela Lei n.
8 .7 4 5 /Í9 9 3 . A dm itiu “in d en ização ” das contribuições, p o r parte do em pregador,
observadas as alíq u o tas dos arts. 20 e 22 do PCSS e com o salário de contribuição
no m ês da regularização, aplicando-se ju ro s de m ora de 1% ao m ês, silenciando
q uan d o à m u lta autom ática. A p artir de 1 -.1.1994, seguem a regra geral. Tais faci­
lidades valem para quem teve o contrato de trabalho já rescindido, à exceção dos
auxiliados para ingressar no sistem a de previdência social local.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

398 W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
Capítulo XLVI

D ir eit o P ú b l ic o

S u m á r io : 461. Administração central. 462. Ente autárquico. 463. Empresa pública.


464. Sociedade de economia mista. 465. Câmara Municipal. 466. Tribunal de
Contas. 467. Fundação de direito público. 468. Órgão paraestatal. 469. Estabe­
lecimento sob afetação. 470. Entidades provisórias.

O s q u atro en tes da Federação, en ten d id o s com o a U nião, o D istrito Federal,


os 26 E stados e os aproxim adam ente 5.564 M unicípios, para os fins previdenciá­
rios, são em presas (PCSS, art. 15,1).
A A dm inistração Pública, e stru tu ra d a nessas quatro divisões, é m ultifacetada
e, basicam ente, co m preende dois círculos concêntricos: direta e indireta. Pode-se,
ainda, su b d iv id ir a ú ltim a fração, de conform idade com a p roxim idade do poder
centrai em: a) su b m etidas às norm as de direito público; e b) às de direito privado.
Em razão da com plexidade do o rd en am en to público, n o s m ú ltip lo s esta­
m en to s da organização estatal, prevalecem perquirições q u an to à sua natureza,
classificação, reg im es p re v id e n ciário s, filiação dos p re sta d o res de serviços e,
co n seq u en tem en te, no tocante às obrigações form ais e fiscais.
No sistem a o rçam entário nacional, em relação ao RGPS, além do interesse
particular, a U nião é fonte im p lem en tar d e recursos para o financiam ento da segu­
ridade social. Insuficientes, a U nião deve socorrer o MPS.
As em presas privadas são afetadas em sua independência institucional. Ambas
sofrem fiscalização, q u ed ando-se sob interdição ou intervenção, sendo encam p a­
dos, privatizados, estatizados ou desapropriados, sem se olvidarem da possibilidade
de en tra r em co ncordata o u falência, e até de ser liquidados ju d icial ou extrajudi-
cialm ente.
Os órgãos pú b licos beneficiam -se de certas presunções relativas e p ressu p o s­
tos. U m deles, não infringir a lei, c u m p rir as determ inações legais e, assim , do
p o n to de vista prático, não ficar sujeitos às sanções previstas no art. 92 do PCSS,
n o qual são estabelecidas sanções variáveis para infrações a dispositivos da Lei
n. 8.212/1991. N essas condições, a p rincipio, não se subm etem a m ultas fiscais,
em bora passíveis da m ulta autom ática, dos ju ro s de m ora e da correção m onetária.

C urso de D ir e ít o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 399
Possibilidade de autuação é questão aberta à discussão no D ireito A dm inis­
trativo, particu larm en te na A dm inistração indireta, p o r incluir, conform e o caso,
entes políticos com o autarquias, in confundíveis com as em presas públicas ou so­
ciedades de econom ia m ista, estas últim as, em tese, obrigadas às regras de direito
privado e, portan to , sujeitas ao gravam e fiscal.
Nas várias m anifestações sobre a m atéria, pouco consenso. C onform e o Pare­
cer CJ/MPAS n. 59/1986, as fundações de direito público não gozam da isenção de
terceiros. Para a C o n su ltoria Ju ríd ica da R epública, os órgãos públicos não podem
ser m ultados (P arecer n. 717-H , de 12.7.1986).
Segundo a Súm ula TFR n. 259: “N ão se aplica às pessoas de direito público,
p o r m otivo de reco lh im en to fora do prazo de contribuições ou o u tras quantias,
a m ulta prevista n o art. 239” (autom ática). P or m eio do Parecer PRI n. 38, de
18.11.1994, a C o n su lto ria Ju ríd ica da Presidência da República confirm ou a Reso­
lução CD/DNPS n. 439/1968, segundo a qual não pode haver m u lta de m ora entre
entes políticos (sic).
461. A d m in istração c e n tra l — O PCSS fornece am plo conceito de em presa.
Depois de elencar a n atu ralm en te postada na iniciativa privada, arrola a pública
com o os “órgãos e en tid ades da adm inistração pública direta, indireta e fundacio-
n a l” (art. 15, I).
E m bora não in teiram ente acordado na d o u trin a, com o dito, é com um separar­
-se o o rd en am en to g overnam ental em dois grupos: a) adm inistração direta; e b)
A dm inistração indireta (art. 4 e do D ecreto-lei n. 200/1967). O art. 37 da C F/1988
fala em A dm inistração Pública direta, indireta e fundacional.
O prim eiro d o m ín io não abriga dissensões: com põe-se do P oder Executivo e
de órgãos auxiliares. Na órbita federal, a Presidência da República e os M inistérios.
Na estadual, a G overnadoria e as Secretarias. Na esfera m unicipal, a Prefeitura
M unicipal.
Já o segundo un iv erso é variado e as divergências têm assento. Tem sido acata­
do considerar as au tarquias, as fundações de direito público, as em presas públicas
e as sociedades de econom ia m ista (nessa ordem de aproxim ação do poder central)
integ ran tes da A dm inistração Pública.
Na qualidade de d a d o r de serviços, a U nião, o D istrito Federal, os E stados e os
M unicípios são fiscalm ente responsáveis p o r obrigações exacionais. Devem co n ­
tribuições e se su b m etem aos ô nus form ais. P articularm ente, q uando inexistente
regim e próprio.
O D istrito F ederal é criação do federalism o, funciona com o se fosse Estado,
possu in d o G overnador e C âm ara D istrital, da m esm a form a sujeito às obrigações
fiscais.
462. E nte a u tá rq u ic o — A au tarq u ia dos entes políticos é, de igual m aneira,
sujeita à exação previdenciária. D iante da subm issão ao direito público, há quem a
veja fazendo p arte da ad m inistração direta, restando a fundação de direito privado,
em presa pública e sociedade de econom ia m ista à adm inistração indireta.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

400 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O INSS, órgao responsável pela previdência social, é au tarq u ia federal e se
relaciona especialm ente com os dem ais entes políticos.
4 6 3 . E m p resa p ú b lica — Em seu art. 37, a CF de 1988 alude à A dm inistração
Pública direta e in direta, à sociedade de econom ia m ista e às fundações.
C o n sag ran d o v etusta expressão, o D ecreto-lei n. 200/1967, em seu art. 173,
§ 1Q, define o em p reen d im en to estatal — no qual o E stado su b stitu i o particu lar
— , fazendo m enção expressa à em presa pública.
Esta últim a, “a en tid ad e dotada de personalidade ju ríd ica de direito privado,
com p atrim ô n io p ró p rio e capital exclusivo da U nião o u de suas en tid ad es de
A dm inistração Indireta, criada p o r lei para d esem p en h ar atividades de natureza
em presarial que o G overno seja levado a exercer, p o r m otivos de conveniência
ou co n tin g ên cia adm inistrativa, p o d en d o tal entidade revestir-se de qu alq u er das
form as ad m itid a em d ireito ” (art. 5Q, II).
S egundo o Parecer CD/FUNRURAL n. 36/1973 (in Processo INPS n.
2 .2 7 4 .0 3 0 /1 9 7 1 ), ela se rege pelas norm as aplicáveis às em presas privadas.
46 4 . S o cied ad e de eco n o m ia m ista — Para o D ecreto-lei n. 200/1967, socie­
dade de econom ia m ista é “a entidade de personalidade ju ríd ica d e direito privado,
criada p o r lei p ara o exercício de atividade de natureza m ercantil, sob a form a de
sociedade an ô n im a, cujas ações com direito a voto pertençam , em sua m aioria, à
U nião ou à en tid ad e da A dm inistração In d ire ta” (arl. 5e, III).
Às vezes, a m atéria é aclarada, e, assim , o D ecreto n. 76.427/1973 estabeleceu
ser o regim e u rb a n o aplicável aos em pregados do Banco N acional de C réd ito
C ooperativo S/A. — BNCC.
465. C âm ara M unicipal — N um estado federativo, o C ongresso Nacional
(Câm ara dos D eputados e Senado Federal), as Assembleias Legislativas e as Câm aras
M unicipais exercitam o Poder Legislativo. O Parlam ento N acional e as assembleias
têm individualidade jurídica assegurada historicam ente. O poder m unicipal é
garantido pela autonom ia e exercido pelos órgãos da Prefeitura M unicipal e Câm ara
M unicipal.
A C âm ara M unicipal é pessoa ju ríd ica de direito público e, com o tal, em presa
em relação aos seus servidores. Tem personalidade pró p ria, d istin ta da Prefeitura
M unicipal, e in d ep en d ên cia organizacional.
466. T rib u n al d e C o n tas — Sob o T ítulo IV — Da Organização dos Poderes,
no C apítulo 1 — Do Poder Legislativo, n a Seção IX — Da Fiscalização Contábil,
Financeira e Orçamentária, em seu art. 71, a CF de 1988 prevê órgão de controle
extern o a cargo do C ongresso N acional, o Tribunal de C ontas da União. No art. 75,
a C arta M agna d ispõe sobre Tribunais de C ontas p ara os E stados, D istrito Federal
e T ribunais e C onselhos de C ontas para os M unicípios. A cidade de São Paulo é a
única a ter Tribunal de C ontas.
467. F u n d ação de d ireito p ú b lico — O ord en am en to estatal conhece, ainda,
fundações de direito público o u privadas, criadas por lei, a prim eira delas fazendo
parte da ad m in istração indireta e com natureza pública. São entidades organizadas

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
no s Lermos do C ódigo Civil, com b astante autonom ia orçam entária.
4 6 8 . Ó rgão p a ra e sta ta l — O controle do exercício profissional de certas cate­
gorias de trabalhadores, assinaladam ente os liberais ou profissões regulam entadas,
é efetuado p o r in term éd io de entidades paraestatais, verdadeiras O N G s, criadas
por lei, geridas pela iniciativa privada, fu ncionando com o órgãos auxiliares da
A dm inistração Pública.
Para alguns estudiosos, são au tarquias e para outros, órgãos singulares ou sui
generis. Postam -se no m eio-term o enLre autarquia (lei criadora, recursos pró p rio s
e independência) e em presa privada. In d ep en d en tes, desfrutam de certo p o d er de
polícia. O rganizadas sob a form a de ordens, conselhos ou institutos.
A m pliando-se a ideia, po d em ser en co n trad o s os “terceiros”, prevista a sua
fonte de custeio no art. 249 da CF e a m an u ten ção n o art. 240, entidades prestad o ­
ras de serviço social de toda ordem com o o SESI, SENA1, SESC, SENAC, SENAR,
SEST, SEN AT, SEBRAE etc.
469. E stab ele cim e n to sob afetação — U m a das características do Estado m o­
d ern o é in tervir nas relações en tre os indivíduos. M uitas são as form as m ediante as
quais essa introm issão se opera, algum as até definitivam ente, su b stitu in d o a d ese­
jável livre-iniciativa. Ao fazê-lo, justificado, o ente político descum pre sua função
prim ordial e d esn atu ra sua verdadeira atribuição de m ero adm inistrador.
A in tervenção é in stitu to ju ríd ico adm inistrativo, fenôm eno político, fato eco­
nôm ico e ato de A dm inistração Pública, capaz de gerar situações novas, efeitos
ju ríd ico s e conseqüências p ara os envolvidos (Lei n. 6.024/1974).
N os C ódigos, faltam disposições expressas referentes à intervenção. A C arta
M agna é severíssim a no trato do assunto. M esm o no D ireito A dm inistrativo, no
qu al ela en co n tra o seu habitat natu ral, pouquíssim as as regras de caráter geral.
À exceção da Lei n. 6.435/1977 e da LC n. 109/2001 (previdência com ple­
m en tar), a in tervenção na em presa privada não conhece disciplina sistem atizada.
É rara a legislação geral aplicável, a d o u trin a é escassa e rara a ju risp ru d ên c ia. Na
regulam entação, tem prevalecido o casuísm o.
H o d iern am en te, a em presa privada é a princip al fonte de recursos do seguro
social. Se ela fica sob intervenção, os efeitos espraiam -se para o D ireito P reviden­
ciário. A inda assim , a lei previdenciária é je ju n a relativam ente ao assunto, deven­
do, p o r isso, abeberar-se em outras ciências ju ríd icas e apoiar suas m etodologias.
Em bora os dissídios resultantes da aplicação das disposições exacionais não sejam
poucos, inexiste q u alq u er referência expressa ou tácita q u an to à figura jurídica sob
enfoque, salvo o art. 149, parágrafo único, da CLPS.
ProcessualmenLe, conform e De Plácido e Síivci (“Vocabulário Ju ríd ico ”, vol. II,
p. 856), a intervenção “é o ato pelo qual um terceiro, não sendo, originariam ente,
parte na causa, em q u alquer situação da instância vem introm eter-se nela, para fazer
valer os seus direitos ou para proteger os de um a parte principal”. Hely Lopes Meirelles
considera a intervenção “dom ínio econôm ico todo ato de autoridade, fundado em

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

402 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
lei, que restringe a iniciativa privada ou condiciona a atividade da em presa a deter­
m inada co n d u ta de interesse público” ( “Direito A dm inistrativo Brasileiro”, p. 590).
Do p o n to de vista fiscal, ocorre intervenção q u an d o o Estado, d iretam en te ou
p o r in term éd io de órgãos da adm inistração, interfere na gerência do sujeito passi­
vo, su b stitu in d o tem p orariam ente seus órgãos adm inistrativos. N esse caso, não se
altera su b stan cialm en te o sujeito passivo, nem sua responsabilidade; in d ep en d e n ­
tem en te da m u d an ça da direção, a responsabilidade fiscal nasce da prática de atos
definidos em lei com o sujeitos a co n stitu írem a obrigação fiscal. N ão im porta quem
os pratica se operados regularm ente, pois até m esm o a pessoa jurídica irregular­
m ente co n stitu íd a tem capacidade trib u tária (C TN , art. 126, III).
470. E n tid a d e s p ro v isó rias — Às vezes, suscitado p o r razões m om entâne­
as, com o cam p an h a de vacinação, vestibular nacional, erradicação de doenças, o
governo se vê obrigado a m obilizar recursos e pessoas, geralm ente sob o título de
C om issão ou C am panha.
Tais en tid ad es têm duração determ inada, geralm ente cifrado m otivo de im ­
p lantação, o b ten d o recursos próprios, certa indep endência adm inistrativa e com
algum a liberdade de ação.
C o n tra ta m trab a lh ad o res su b o rd in a d o s o u in d e p e n d e n te s e, em v irtu d e
d isso, sobrevêm resp o n sab ilid ad es trab a lh istas e fiscais p re v id e n ciária s a serem
d eterm in ad as.
N orm alm en te, elas se exaurem em pouco tem po, restando o ente político
p ro m o to r com o o responsável.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I — P r e v i d ê n c i a S o c ial 403
Capítulo XLVII

V lN C U LA Ç Â O DA EMPRESA

S u m á r i o : 471. Noção elementar. 472. Tipos de exploração. 473. Empresa de fato


e de direito. 474. Empregador doméstico. 475. Proprietário de casa própria.
476. Órgão de representação. 477. Organismo internacional. 478. Autônomo
com auxiliar. 479. Pessoa física com empregado. 480. Dinâmica das empresas.

Em D ireito Previdenciário, os segurados são filiados e inscritos e os c o n tri­


b u in tes vinculados e m atriculados. D uas situações aproxim adam ente iguais, com
efeitos distintos. Tais condições guardam algum interesse para o estudioso, pois
a legislação nem sem pre é clara em alguns aspectos. C om vistas às obrigações
form ais e m ateriais, são raras as m anifestações sobre a data do início e do en cerra­
m ento de atividades.
4 71. N oção e le m e n ta r — A exem plo da filiação dos segurados, as em presas
restam vinculadas á previdência social. Esse estado ju ríd ico é autom ático; basta
constituir-se com o pessoa física ou jurídica, u rb a n a ou rural, com finalidade lu ­
crativa ou não, nacional ou estrangeira, de direito privado ou público (in tern o e
ex tern o ) e co m p reen d endo esforço econôm ico no sentido estrito e no sen tid o lato,
e estará sujeita, desde então, a obrigações acessórias form ais, ou seja, identificar­
-se p eran te o INSS, m atricular-se, e, q uando presente fato gerador, onerada com a
contribuição.
Para isso, será im p o rtan te caracterizar-se sua essencialidade e existência for­
m al, a n atu reza do em p reendim ento, data do início das operações, sua m anutenção
ou en cerram ento.
Q uem se estabelece, de fato ou de direito, em determ inadas circunstâncias,
diz-se vinculado ao RGPS.
472. T ip o s d e ex p lo ração — As em presas podem ser classificadas de d iferen­
tes m aneiras.
Q u an to à finalidade da exploração são lucrativas ou sem fito econôm ico de
resu ltad o , entre estas últim as, particu larm en te, as filantrópicas ou assistenciais. No
tocante ao modus opcrandi, são diretas o u interm ediadoras (cooperativas, sindica­
tos, em presas de trabalho tem porário, cedentes de m ão de obra etc.). Em face do

C urso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

404 W /flíiim ir N o v a e s M a r t i n e z
ram o ju ríd ico , de direito privado ou de direito público (órgãos de representação
estrangeira e organism os internacionais). Q u an to ao n ú m ero de com ponentes, in ­
dividuais ou coletivas e assim p o r diante.
473. E m p resa de fato e d e d ireito — O elo da em presa de direito não guarda
segredos; acontece com naturalidade em razão do form alism o. Já as de fato ou ir­
regulares têm a vinculação definida em virtude de estar o p eran d o , devendo-se, em
cada caso, ap u rar a sua existência jurídica. Em p rim eiro lugar, se é em presa, qual
o tipo, se in d iv id u al ou coletiva, física ou ju ríd ica, com ercial o u civil e assim por
diante, cabendo, a seguir, d eterm in a r a data do início das atividades.
474. E m p reg ad o r d o m éstico — O em pregador dom éstico não é em presa. A
lei o distingue, e, p o r isso, se a pessoa ou a família têm o u não dom éstico a seu ser­
viço, ficam obrigadas à m atrícula. Aliás, o em pregador dom éstico n ão é segurado
obrigatório (em razão do p restad o r de serviços).
Até a adm issão do trabalhador não tem qu alq u er obrigação form al, e, na ver­
dade, q u an d o do registro, elas são p o u co expressivas (v. g., an o tar CTPS, preencher
GPS, recibos de p agam ento, p reen ch er AA5, RSC etc.).
N ão é usual ad o tar a expressão vinculação em relação ao em pregador dom és­
tico, pois a pessoa ou fam ília não é entidade econôm ica.
475. P ro p rie tá rio d e casa p ró p ria — A relação do pro p rietário de casa p ró ­
pria e o INSS é assem elhada à do em pregador dom éstico. N ão im p o rtan d o a sua
classificação com o segurado, com a obra se to rn a espécie de em presa e assum e
ôn u s form ais (de se m atricu lar e, eventualm ente, de recolher contribuições).
Essa relação p e rd u ra enq u an to persiste a edificação e se esgota com o térm ino
das obras. Tido com o autô n o m o pelo RPS (art. 9e, § 15, IX).
476. Ó rgão d e re p resen ta ção — As em baixadas e os consulados são dadores
de serviço para seg u rados obrigatórios de vários tipos. Nessas condições, v in cu la­
dos ao RGPS, em caráter especial dado seu papel de sujeitos do D ireito In tern acio ­
nal Público. Assim , obrigados à m atrícula com o as dem ais em presas.
4 7 7 . O rg a n ism o in te rn a c io n a l — Os diferentes organism os in tern acio n ais
(v. g., ONU , UNESCO, OIT, FIA, FIFA etc.), q u an d o sediados n o territó rio n a­
cional com rep resen tantes, agências, filiais, sucursais ou o u tras m odalidades, são
em presas p ara os fins das obrigações ju n to à previdência social.
478. A u tô n o m o com a u x ilia r — O au tô n o m o é um a pessoa física e só p o r ex­
tensão da lei é tido com o em presa, q u an d o co n trata o u tro au tô n o m o ou em pregado
para prestar-lhe serviços, p o r isso, não perde a condição de autônom o.
Na condição de co n trib u in te individual, é filiado e com o em pregador ou co n ­
tratan te de au tô n o m o é vinculado.
479. P esso a física com em p regado — Em caráter excepcional, a lei considera
a íiliação da pessoa física de em pregado de órgãos de representação estrangeira.
Em bora devesse ser tido com o dom éstico é classificado com o em pregado e, p o r­
tanto, su jeito ao RGPS. Seu patrão (o em pregado de representação estrangeira) é,
possivelm ente, o ú n ico em pregado em pregador.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I — P r e v id ê n c ia S o c ia l 405
480. D inâm ica das em p re sas — A vinculação, além dos elem entos acim a
indicados, depende de em ergir a em presa no m u n d o dos negócios. C om isso, se
terá d eterm inado o su rgim ento da vinculação, q u an d o ela deve ser considerada e
nascendo obrigações acessórias form ais.
Q uando os aspectos form ais foram atendidos, a data de início será obtida ou
no s docum en to s co n stitu tiv o s ou na data do registro desses atos, se próxim os do
início das operações. Caso isso não aconteça, se está diante de em presa de fato ou
irregular, carecendo verificar o início das operações econôm icas.
No curso de sua existência, ela será todo o tem po vinculada e o liam e só de­
saparecerá com o en cerram ento form al, decretado em alguns casos e a d eterm in ar
em outros.

C urso de D ik k it o P r e v id e n c iá r io

406 W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
Capítulo XLVIII

M a t r íc u l a d o O b r ig a d o

S u m á r i o : 481. Causa determinante. 482. Natureza da imposição. 483. Prazo para


promoção. 484. Providência de ofício. 485. Razão social. 486. Número indica­
tivo. 487. Algarismo da dependência. 488. Construção civil. 489. Residência
familiar. 490. Multa pelo descumprimento.

M atricular-se é a prim eira obrigação previdenciária form al suscitada pela le­


gislação. A utom ática, caso dos sujeitos ao CNPJ do M inistério da F azenda, ou feita
pelo INSS, p o r in term édio do CEI.
481. C au sa d e te rm in a n te — Tanto qu an to as pessoas físicas, de m odo ge­
ral, os co n trib u in tes qualificam -se peran te a autarquia federal. Essa identificação
é im prescindível para o órgão gestor arm azenar inform ações de variada ordem ,
registrar reco lh im en to s individualizadam ente e perm itir, periodicam ente, a veri­
ficação de sua regularidade exacional. O m ais elem entar dos dados fornecidos é o
dom icílio fiscal. C om a m atrícula, o sujeito passivo das obrigações form ais e
pecuniárias é cadastrado. Presta-se tam bém para expedição da CND e apuração dos
responsáveis p o r débitos.
48 2 . N a tu reza d a im posição — A m atrícula é exigência form al do co n trib u in te.
Prevista claram en te na lei, im põe-se ao sujeito passivo até d eterm in ad o term o
legal. Trata-se, claram ente, de obrigação acessória, exigida de todos, conhecendo
po u cas exceções.
483. P razo p a ra prom oção — Para a em presa sujeita a registro de com ércio,
a m atrícula deve ser efetivada sim ultaneam ente com a inscrição no C adastro
N acional da Pessoa Ju ríd ica — CNPJ (PCSS, art. 49, I).
Caso co n trário , no prazo de 30 dias, contados da data de início das atividades,
no INSS (PCSS art. 49, II). Por início de atividades, com preendem -se as prim eiras
providências co n d u cen tes à realização do objetivo social em preendido.
484. P ro v id ên cia de ofício — O INSS poderá u ltim ar a m atrícula em duas
hipóteses (PCSS, art. 49, § l 9): a) q u an d o o co n trib u in te n ão a fizer; e b) para a
obra de co n stru ção civil.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l 407
485. Razão so cial — De regra, a m atrícula é consignada em nom e do co n tri­
bu inte. No caso de em presa individual o u coletiva, é preciso d eterm in ar a sua razão
social, co nstante dos atos constitutivos, com ou sem algum a qualificadora, do tipo
espólio, sucessor, S/C, ME ou MEI.
Se titu lar de firm a individual, a designação é do p ro p rietário da em presa.
Para o co n d o m ín io horizonlaL, o n om e de u m dos m em bros, seguido da
expressão “e o u tro s” ou a m enção a todos eles. A “re p ú b lic a” de estu d an te s (a u ­
sen te a obrigação de m atricular-se), se ad m itid o dom éstico, segue a orientação do
condom ínio.
Na consLruçâo civil, o nom e do p roprietário, incorporador, dono da obra,
con d ô m in o etc., presente na planta baixa o u alvará de construção.
Caso em presa agropecuária, coletiva ou individual, a razão social. Q uando
con d o m ín io vertical (v. g., prédio de apartam ento ou de escritórios), seu título.
S obrevindo falecim ento do titu lar de firm a individual e en q u an to não sol-
vido o in v en tário , p recedido da designação “esp ó lio ”. Para a m icroem presa, a
sigla ME. No caso de em presa sob intervenção ou liquidação extrajudicial, essas
qualificadoras.
486. N ú m ero in d icativ o — Em relação a co n trib u in te sujeito ao CNPJ, o n ú ­
m ero de m atrícula é o deste, atribuído pelo M inistério da Fazenda. Caso contrário,
o INSS fornece o CEI.
487. A lgarism o d a d e p e n d ê n c ia — As diferentes dependências da em presa,
isto é, os seus estabelecim entos, reclam am algarism o p ró p rio , conform e cada d o ­
m icílio fiscal.
488. C o n stru ç ã o civil — O PCSS fixa a necessidade de a em presa envidar a
m atrícula. ín existe dispositivo explícito para a obra de construção, em bora obriga­
da, im p licitam ente, n o s term os do § 1°, b, do art. 49. O legislador prefere presum ir
a inadim plência do proprietário, e regra a m atrícula de ofício ou solicitada pelo
interessado. O certo é haver, para quem providencia ou p o r conta da autarquia, em
co rresp o n d ên cia à obra, C ertilicado de M atrícula — CM.
A m atrícula do m utirão ou da cooperação co m u n itária é feita n o CEI (RPS,
art. 256, II). A m edida é, nesses casos, fundam ental para p erm itir a verificação da
ausência de m ão de obra ou incidência de contribuição.
Cada um a das unidades das co n stru to ra s deve ser m atriculada no CEI, com
o C ódigo 7, não se co n fu n d in d o esse núm ero com o CNPJ da pessoa ju ríd ica p ro ­
priam en te dita, en q u an to em presa.
O perados reg u larm ente os recolhim entos, individualizados p o r obra, sob o
CNPJ da em presa, esta se sujeita apenas à m ulta do art. 92 do PCSS.
489. R esidência fam iliar — Em razão da existência do dom éstico, o em pre­
gad o r dom éstico não se obriga a prom over a m atrícula ou fazer inscrição pessoal.
O reco lh im en to das co ntribuições, m ediante a GPS, é operado coníorm e o núm ero
de inscrição do obreiro.

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

408 W ltiífim i r N o v a e s M a r t i n e z
490. Multa pelo descumprimento — Se o co n trib u in te dispensado do CNPJ
não efetua a m atrícula, no caso de co n stru ção civil, onera-se com a m ulta fiscal
variável de R$ 1.410,79 a R$ 141.077,93 (RPS, art. 2 8 3 ,1, d).
Inexisie previsão de m ulta para a em presa com CNPJ.

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T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 409
Capítulo XLIX

F i liação do S egurado

S u m á r io : 491. Tipos existentes. 492. Casos particulares. 493. Automaticidade da


caracterização. 494. Início e término. 495. Recusa do órgão gestor. 496, Escopo
do instituto. 497. Presunções jurídicas. 498. Pressuposto material. 499. Nuan-
ças atípicas. 500. Aspectos formais.

Filiação, elo estabelecido entre a pessoa física e o órgão gestor, im posta pela
lei, vinculo sob a proteção da norm a e a ela sujeito, subm etido à apreciação do
P oder Judiciário , é desenvolvida pelos ju sp revidenciaristas. D estarte, é relação for­
mal. Estado ju ríd ic o co rresp o n d en te ao segurado. Este, u m a pessoa h u m ana, se
diz filiado ou não. L igando a pessoa ao sistem a, é, sobretudo, a condição m aterial
assecuratória do d ireito subjetivo às prestações. A expressão “filiação” reflete ap ro ­
xim ação do sistem a e perm anência n o seu bojo; encerra ideia estática (início) e
dinâm ica (m an u ten ção ).
Podem -se filiar as pessoas físicas. N unca as jurídicas. Filia-se ao RGPS quem
exerce certas atividades ou externa vontade de a ele pertencer.
491. Tipos existentes — Q u an to à natureza, ela pode ser obrigatória — regra
de ouro do seguro social — ou excepcionalm ente facultativa. Os regim es previ-
denciários in sitam ente im positivos, excepcionam em seu seio, apenas para m elhor
propiciar a proteção, a facultatividade.
A obrigatoriedade espelha a com pulsoriedade do sistem a, seu sustentáculo
m aior. Im posta, é subm issão do trabalhador à previdência social. C om ando legal,
incidência de n o rm a pública, dela defluem in úm eras obrigações e direitos, conse­
q üências e efeitos m ateriais e jurídicos.
Já a facultatividade d em o n stra sua liberalidade, in stitu íd a para viabilizar in ­
d iv idualm ente a proteção do cidadão em circunstância atípica. É a m esm a filiação,
p erm itid a a certas pessoas, as quais decidem pelo ingresso ou não no regim e pre­
videnciário. Os co n trib u in tes facultativos resolvem se se filiam e, em certos casos,
q u an d o o fazem, pod endo, n o u tras circunstâncias, arredar a filiação, sem pre por
su a vontade. No caso, ela corresponde ao ingresso alternativo, perm anência tem ­
porária no regim e; do p o n to de vista prático, a facultatividade é só de adm issão.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

410 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O traço m arcante da filiação facultativa é a volição. É fu n d am en tal o arbítrio
do interessado. O m esm o não sucede com a filiação obrigatória, na qual a vontade
da pessoa não influi. Caso cum pra o pressuposto da filiação (trab alh o ), está filiada.
Q u an d o ingressa no sistem a fica p raticam ente su b m etid o a ele, sujeito a diversas
im posições.
Além da com pulsoriedacle e da facultatividade, elem entos, aliás, essenciais
dessas relações, no cam po do direito obrigacional, a filiação obrigatória não apre­
sen ta características de co n trato , en q u a n to a relação entre o facultativo e o órgão
gestor n ão ignora esse aspecto.
De q u alq u er form a, em am bas as hipóteses, não se po d e p ro p riam en te falar
em co n trato ; o órgão gestor não tem liberdade para recusar n e n h u m a das duas.
49 2 . C a so s p a rtic u la re s — In ex istem filiações especiais. A filiação é única,
em b o ra possa ser reed itad a sucessivam ente. O correm , isso sim , vários plan o s
c o n trib u tiv o s e de p restaçõ es, n u m a palavra, m ú ltip lo s regim es d e previdência
social.
O RGPS não é in teiram ente geral no referente à form a de custeio nem quanto
às prestações. São vários tipos de segurados e diversos benefícios.
493. A u to m aticid ad e da ca rac te rizaç ão — A utom aticidade é ju ízo de um
evento em relação a outro. Dois acontecim entos, em função do tem po, são sim u l­
tâneos ou sucessivos (conform e a posição do observador, segundo A lbert Eins-
tein). Em relação ao exercício da atividade profissional, a filiação obrigatória é dita
au tom ática. A atividade se su perpõe à filiação; q u an d o a prim eira se dá, ocorre
igualm ente a segunda. No tocante ao aspecto tem poral, ao se iniciar o ajuste do
trabalho ocorre a filiação.
Se a pessoa realiza o fato pressuposto, o u seja, sua condição m aterial geradora,
sim u ltan eam en te, sem q u alq u er providência sua, apenas p o r vontade da lei, está
filiada. Sua ev en tu al liberdade cinge-se ao ato de provocar a circunstância defla-
gradora. P resente esta, em razão dela m esm a e ex vi legis, nasce no m esm o instante
a filiação.
494. Início e té rm in o — A filiação inicia-se no exato m o m en to do com eço da
atividade ab rangida pelo regim e geral. E xem plificativam ente, para o em pregado,
com o nascer do co n trato de trabalho; para o em presário, a ab ertu ra da firm a, e,
para o eclesiástico, a data da ordenação.
Basicam ente, ela persiste enq u an to perdura o evento legalm ente determ inante
e tam bém no s p erío d o s de m an u ten ção da qualidade de segurado, prolongando-se
d u ra n te o receb im en to dos benefícios.
Várias causas extinguem -na: a m orte, o térm ino de tu d o na Terra (e o com eço
de m uitas coisas, inclusive algum as prestações), põem fim à filiação. A perda da
qualidade de seg u rad o faz desaparecer o estado de filiado; o não recolhim ento de
contrib uiçõ es d u ra n te o período de m an u ten ção da qualidade de facultativo finda
essa relação juríd ica.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
Q uando o trab alh ador cessa a atividade e deixa o tem po escoar, p erd en d o a
qualidade (conservável p o r m eio de contribuição facultativa), aquela filiação d e­
saparece, m as será restabelecida se ele cum prir, de novo, o p ressuposto exigido,
isto é, se voltar ao trabalho ou c o n trib u ir com o facultativo, Ela po d e ser renovada
indefinidam ente, tantas vezes se repitam as condições originadoras.
Filiação não é abstração ju ríd ica; ela d eterm in a efeitos m ateriais e jurídicos,
obrigações e direitos. Tem início e fim; tam bém tem curso e duração, com o visto.
U m a vez com eçada, prossegue, e, d u ra n te sua perm anência, o trabalhador estã em
estado de filiado.
495. Recusa do órgão gestor — A filiação obrigatória só depende da vontade
do legislador, Não observa a opinião do segurado n em a do órgão gestor. N enhum
dos dois pode recusá-la q u an d o regular, nem m esm o com base em razões atuariais
(não sopesadas peío elaborador da n o rm a), e até na filiação facultativa, quando
co n sultada a in tenção da pessoa, descabe à adm inistração furtar-se à sua concre­
tização. Assim , q u an d o o período de carência para a aposentadoria por idade era
de 60 contribuições, o INSS teve de aceitar o ingresso de m ulheres com 55 anos e
hom ens com 60 an o s de idade, sabendo estarem a cinco anos da aposentação. Se
eles eram m au risco, cabia ao legislador, com o coube p osteriorm ente, am pliar a
carência para 15 anos (Lei n. 8.213/1991).
496. Escopo do in s titu to — São in ú m ero s os fins colim ados, m as o principal
deles é ligar a pessoa ao seguro social. Os habitantes do País dividem -se, sob esse
ângulo, em filiados e não filiados. Os últim os não têm obrigações nem direitos na
previdência social com o segurados (sem prejuízo de obtê-los na assistência social).
A filiação d eterm in a a faculdade; os filiãveis não filiados não a têm .
O seguro social abrange parcela da população, geralm ente a obreira. A pro­
teção de todos os in d ivíduos só se dá na seguridade social. Esta é o u tra técnica de
cobertura, m ais avançada. N ela, todos são assistidos, caracterizando-se, ainda, por
outros aspectos, lnexiste a distinção entre filiação e não filiação, pois a totalidade
é am parada, perd en d o sen tid o o conceito de filiação.
Sem dúvida, a filiação é im p o rtan te para a coletividade, a base m ais sólida do
direito à previdência social. N um regim e estatal, de repartição sim ples e benefícios
definidos, su p era a im portância da contribuição. Q uem está filiado, m esm o não
inscrito, tem direitos; para exercê-los basta inscrever-se e p reen ch er os requisitos.
A inscrição pode ser feita tardiam ente, m as pressup õe sem pre a filiação.
497. P resu n çõ es ju ríd ic a s — Poucas presunções ju ríd icas favorecem a filia­
ção, m as beneficiam -na algum as presunções lógicas: todo trabalho h u m an o deve
ser protegido.
As presunções têm algum a utilidade na exegese do D ireito Previdenciário, na
m edida de sua pralicidade. Exem plifica-se: um profissional geralm ente não aban­
dona a profissão; no caso de dúvida, q u an d o alguém sem pre foi tipógrafo e não
se sabe a atividade exercida em certo período, a conclusão deve ser relativa à sua
especialização.

C u r s o diz D ir e it o P r e v id e n c iá r io

412 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
G lobalm ente co n siderada, ela não se presum e, tem de ser provada. Existe ou
não existe. No caso de faltar su sten tácu lo m aterial não p ro d u z efeitos, não gera
obrigações n em direitos, inexiste; se presente, não pode ser anulada p o r ato algum
en q u a n to vigente a lei definidora das exigências m ateriais e as condições de su b ­
sistência.
49 8 . P re ssu p o sto m a te ria l — Seu p ressuposto é o trabalho (e a vontade). O
exercício da atividade laborai é sua prin cip al base m aterial. Sem o esforço co n tem ­
p lado na lei — re m u n erad o — n ão h á filiação.
É o labor, pela sim ples razão de, na sua falta o u im possibilidade, deverem
sobrevir recursos (prestações) capazes de su b stitu ir os m eios de subsistência para
o obreiro. O trabalho é o principal responsável pela criação de riquezas, do b em ­
-estar da sociedade, do progresso, do avanço da civilização e do engrandecim ento
do ser hu m an o . A previdência social, além de o u tras funções, re trib u i ao hom em o
esforço do seu trabalho. Isso é feito socialm ente.
A previdência social não é d eterm in an te do trabalho; ela é conseqüência dele.
Isso com o questão de fato. No Brasil, com o em o u tro s países, o seguro social visa,
an tes de tu d o , à proteção do trabalhador. P oderia, con tu d o , ser diferente.
N ão é q u alq u er trabalho o prestigiado, só o labor profissional e até, em alguns
casos, o artesanal, m as rem unerado. O trabalho sub o rd in ad o ou in d ep en d e n te p ro ­
fissionalizado, isto é, p o r conta de terceiros o u para o u trem e p o r eles retribuído.
O esforço abnegado, filantrópico, beneficente, am oroso, esportivo, religioso,
estu d an til, em m u tirão etc., nem sem pre é tutelado pelas leis trabalhistas e previ-
denciárias. Desses esforços hu m an o s, alguns per se autogratificantes, n ão cuida a
previdência social, salvo q u an d o os excetua, caso do eclesiástico. Este, n ão trab a­
lha no sen tid o estrito. A atividade h u m an a então protegida é o m inistério religioso.
A base da filiação é o trabalho rem unerado. M esm o se o trabalhador, p o r
q u alq u er m otivo, não consiga receber o devido. Há círculos d en tro dos quais esse
labor é avaliado; se pessoas operam rem u n erad am en te fora destes, não são filiadas.
Subsistem vários u n iversos e a eles co rrespondem os diversos regim es.
C om o dito, existem exceções. Há indivíduos exercitando-se fora do sentido
ju ríd ico do labor. E xem plifica-se com o eclesiástico, e há pessoas sem trabalhar,
com o o facultativo, excepcionalm ente tutelado.
Q u an d o falta ou d im in u i a rem uneração o u n ão convém ao trab alh ad o r rece­
bê-la, im põe-se a sua substituição p o r o utros m eios de subsistência. A previdência
social, p o r m eio de seus insLrum entos — as prestações — , é dita su b stitu tiv a por­
que o benefício su b stitu i o salário do obreiro.
O trabalho não rem unerado u sualm ente não co n d u z à filiação. As situ a ­
ções devem ser exam inadas em particular, existindo casos em que o pagam ento é
p resum ido, não necessitando ser d em o n strad o , com o acontece com o sócio gerente.
Ao co n trário , h á pessoas rem uneradas não filiadas, com o o estagiário (Lei n.
11.788/2008).

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l
m
A filiação inevitavelm ente iiga-se à condição m aterial definida em lei, nor­
m alm ente o trabalho rem unerado. É estado ju ríd ico inseparável c!a situação fática.
A usente a base física, não há filiação; esta é criação da lei, e não decorrência natural
do trabalho.
499. Nuanças atípicas — No com um dos casos, a filiação perdura d u ran te o
exercício da atividade laborai; excepcionalm ente, porém , ela prossegue em outras
hipóteses.
D urante a percepção dos benefícios p o r incapacidade, m antém -se; qu em está
auferindo benefício está filiado. A do credor da renda m ensal vitalícia sucede em
circunstâncias diferenciadas. Filiado u m dia, a filiação é restabelecida d u ra n te o
recebim ento desse am paro previdenciário. Na filiação do percipiente da pensão
Síndrom e da Talidom ida, o beneficiário n u n ca esteve filiado. O m esm o se passa
com quem , ten d o preenchido os requisitos legais, afasta-se do RGPS e só após
algum tem po vem a ex ercitar o direito adquirido; o vínculo securitário im anente
ressurge em toda a sua plenitude.
Não há d u pla filiação em relação ao aposentado após a volta ao trabalho; ela
é a m esm a, porque relação ju ríd ic a intuitu personae.
500. A spectos fo rm ais — Q uase toda a legislação previdenciária contém
no rm a pública. A filiação, berço da relação ju ríd ica do seguro social, sem dúvida
algum a é objeto de ju s cogens. U m a im posição do legislador, prevalece o interesse
da coletividade sobre o do particular.
A filiação é u m estado ju ríd ico corresp o n d en te à ligação entre o segurado e o
sistem a. Na verdade, o v ínculo é com a P revidência Social, en q u a n to instituição;
o órgão gestor é m ero executante.
Insita ao seguro social é m arcadam ente obrigatória; a com pulsoriedade é tão
evidente a p o n to de não existir n en h u m a norm a incisiva e clara, nem necessária,
para fundam entá-la. Todavia, dizia o art. 39 da CLPS; “o ingresso em atividade
abrangida pela previdência social urb an a d eterm in a a filiação autom ática a esse
regim e”.
A colhem -se todos os m eios de prova adm itidos em D ireito, especialm ente
a m aterial, aceita a testem unhai, caso presente a prim eira. Em q u alq u er tem po,
pode-se evidenciar sua existência. Todavia, subsistem efeitos decorrentes da filia­
ção passada prescritos, assim com o obrigações não m ais exigíveis, devendo cada
um deles ser apreciado em particular. O direito de prová-la com o fato m aterial não
prescreve.
Na legislação previdenciária, não há disposição expressa qu an to ã sua in ter­
pretação. O cam po ju ríd ico da filiação com preende a exegese extensiva, a sistem á­
tica e a aplicação do p rin cíp io in dubio pro mísero Cem caso de dúvida, decida-se a
favor do necessitado de proteção).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

414 W la d im ir N o v a e s M ar tin e z
Capítulo L

INSCRiçÁQ de B eneficiário

501. Admissão lógica. 502. lmpositividade le g a l . 503. Finalidade da


S u m á r io :
providência. 504. Pessoalidade da instituição. 505. Prova do estado. 506. Nu-
clearidade técnica. 507. Curso da relação. 508. Multiplicidade de tipos. 509.
Distinção da Filiação. 510. Interpretação e presunções.

A inscrição é ato n itidam ente adm inistrativo e form al, docum entãvel, hom o-
logável e de iniciativa da pessoa interessada. In stru m en to de qualificação autoriza
a utilização d o s serviços ou a percepção de prestações em d in h eiro postos à d isp o ­
sição dos beneficiários.
Na seqüência tem poral da relação ju ríd ica de seguro social, a inscrição se
posiciona no terceiro m om ento, seguindo-se ao trabalho e à co n seq ü en te filiação.
É, so b retu d o , prova fácil e garantia de filiação para gozo dos benefícios, teste­
m u n h o p resuntivo do vínculo ju ríd ic o com a previdência social.
M ediante o d o cu m ento de inscrição, o beneficiário apresenta-se p eran te os
en tes adm in istrativ o s e neles é cadastrado.
E m bora o direito às prestações esteja calcado nuclearm ente na filiação, a in s­
crição to rn a possível o seu exercício. Para os co n trib u in tes individuais, a carência
— requisito básico assecuratõrio das prestações — m ede-se a p artir da inscrição.
Para esses segurados, a inscrição é im p o rtan te porque, excepcionalm ente, em cer­
tos casos, é fu n d am en to b asilar do direito, en q u an to para os dem ais se reduz à
condição form al exigida para a sua prática.
Os co n trib u in tes individuais devem inscrever-se, m ed ian te o pagam ento de
co n tribuição, logo no início da atividade, porque, com o dito, seus direitos conso­
lidam -se a p a rtir de então.
C om o asseverado, a inscrição é in stru m en to do exercício do direito às p res­
tações. M as este não se assenta sobre ela, apenas torna exeqüível o direito. Além
de ser im posição n atu ra l e lógica, facilita o relacionam ento do beneficiário com o
órgão gestor; identifica-o e qualifica-o com o pessoa com p reten são ao benefício ou
serviço, sem necessidade de o u tras providências cadastrais.

C urso de D ir e ít o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c i a I
501. A d m issão lógica — O p ressuposto lógico da inscrição é a filiação. Aquela,
no rm alm en te, se efetiva p o r m eio da vontade do titular, m as nem p o r isso a volição
é sua p resunção m ais próxim a. Sem filiação não há validade na inscrição. A usente
esse requisito básico, ela não deflagra efeitos.
Inscrição indevida não p ro d u z consectários jurídicos. Se não há filiação ou
padece de vício insanável, ela não é regular e obsta a fruição das prestações.
D esacom panhada de au tên tica filiação, é n ula a inscrição. Se não é capaz a
pessoa ou se não está elencada na lei, é considerada igualm ente sem valor.
Ela pode ser anulada. Se o ato nào se reveste dos requisitos legais ou se está
defeituoso, não refletindo situações descritas na lei, ele será desfeito.
Por o u tro lado, en q u an to não concluída, ela inexiste, n ão tem eficiência e não
garante os direitos inerentes àquela realizada.
A filiação n o rm alm en te precede a inscrição. O inverso d esn atu ra e d esqua­
lifica a inscrição. No m áxim o, caso do facultativo, elas poderão ser sim ultâneas.
A inscrição sem a an terioridade da filiação não gera efeitos. D urante o período de
inexistência desta, se prom ovida aquela, é indevida. Se o ato ou efeito de filiar-se
sobrevem , a inscrição regulariza-se a p artir de então, devendo ser revistos todos os
pro cedim entos praticados o u prosperados no período da irregularidade.
Essa inscrição pode coincidir com a filiação. Isso acontece com o facultativo,
cuja filiação se inicia no m om ento da inscrição.
Inscrever-se, no caso, é ato-fato adm inistrativo e ju ríd ico im pelidor da filia­
ção, d evendo situar-se a sua au tom aticidade a co n tar da inscrição. Inverte-se um
po u co a ord em tem poral da relação ju ríd ica do seguro social: vontade, inscrição-
-filiação ao m esm o tem po, e depois a contribuição e as prestações.
502. Im p o sitiv id ad e legal — A inscrição é obrigatória, m as a com pulsorie-
dade ou a facultatividade devem ser associadas a algum referencial. Q u ando a lei
im põe e não sanciona, do po n to de vista prático, a exigência perde expressão. N in ­
guém está su jeito a inscrever-se, m as, se n ão o fizer, autom aticam ente, só p o r isso,
será p u n id o com m ulta. A sanção consiste n a dificuldade em exercitar o direito ou
em vir a perdê-lo, em alguns casos.
503. F in a lid a d e d a pro v id ên cia — São m últiplos os fins, m as o principal
escopo da inscrição é identificar p ro n tam e n te e qualificar com precisão o inscrito.
D evidam ente providenciada, p erm ite ao órgão ex ecu to r d eterm in ar as necessida­
des d o s co n trib u in tes.
504. Pessoalidade da instituição — A inscrição, tal qual a filiação, é dita p es­
soal. Refere-se a u m a e Unica pessoa, não p o d en d o ser transferida ou substituída.
O prom otor da inscrição depende do tipo de segurado. Se contribuinte coletivo
(servidor, em pregado, tem porário ou avulso), cabe à em presa ou àquele para quem
ele presta serviços operá-la, m ediante registro, anotação na CTPS. Se contribuinte in­
dividual (em presário, autônom o, eventual, eclesiástico, dom éstico, facultativo), deve
ser feita pelo interessado, m ediante o preenchim ento de form ulários (CICI/DICI).

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
505. P rova do e sta d o — Pelos d o cu m en io s configuradores pode ser provada
a inscrição. Poucos, aliás, se com parados com os exigidos na filiação.
D em onstra-se a inscrição p o r m eio da CTPS anotada e do C om provante de
Inscrição de C o n trib u in te Individual — CICI. Essa confirm ação pode tam bém ser
feita m ediante registros in tern o s da adm inistração.
Prova-se a inscrição de dep en d en te m ediante anotações na CTPS ou em Livro
ou Ficha de Registro de Em pregados, bem com o p o r m eio da designação no órgão
gestor.
N ão se cogita de prescrição em relação à inscrição. Inexiste prazo decaden-
cial na legislação. N ão sendo ela p ropriam ente direito e sim dever-direito, a ca­
d ucidade é m atéria para ser avaliada em particular. Mas as operadas tardiam ente
assem elham -se aos poderes exercidos ex tem poraneam ente, isto é, causam prejuízo
ao titular.
506. N u c le arid ad e técnica — A despeito de o legislador tran sferir a atrib u i­
ção de discipliná-la para o regulam ento, p o r sua natureza im positiva, a inscrição
é p ro d u to de n o rm a pública. Exigida com o im prescindível à identificação e à q u a ­
lificação do beneficiário, não podia o elaborador da norm a deixá-la ao arbítrio
do p articu lar ou do órgão gestor. Im põe-se, então, ao titu lar e ao órgão público
ad m in istrad o r dos negócios da previdência social não su prim i-la, exceto para acau­
telar os interesses do beneficiário (exem plo: não identificação dos necessitados de
aten d im en to de urgência).
507. C u rso d a relação — Inscrição é ato. O corre n o m o m en to do registro ca­
bível. Sim plificada para o em presário, au tô n o m o e eclesiástico, ela acontece quando
do forn ecim en to do CICI e, para o facultativo, q uando este recolhe a prim eira
co n tribuição.
E xcepcionalm ente, é processo — q u an d o há dúvida sobre a filiação do in te­
ressado, p o r exem plo. P rocedim ento iniciado com ped id o formal.
A inscrição, en ten d id a com o condição de in scrito, perdura indefinidam ente,
en q u a n to não su b stitu íd a ou m antiver o su p ed ân eo m aterial (filiação). No caso da
c o m p an h eira(o ), pode ser desfeita p o r vo n tad e do designante.
Sua validade cessa com o óbito do trab alh ad o r ou do seu d ependente. Tam ­
bém desaparece com a perda da qualidade de segurado ou de d ep endente. A desig­
nação não m ais p ro d u z efeitos com seu cancelam ento pelo designante. C onform e
referenciado, a inscrição é ato ou registro acabado. N ão tem p ro p riam en te co n ti­
nu id ad e, d escabendo referência a térm ino ou extinção. Pode-se falar em revisão ou
cancelam ento. Os co n sectários têm início e podem ter fim; é a eficácia da inscrição.
Vige a inscrição sem o trabalho se m an tid a a qualidade de segurado; isso
acontece em diversas hipóteses, com o as enum eradas no art. 15 do PBPS. A exem ­
plo do su ced id o com a filiação, a inscrição p erd u ra na situação-regra da pessoa
trab alh an d o e co n trib u in d o , d u ra n te o “período de graça” ou q u an d o o segurado
está em gozo de benefício.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o / / — P r e v id ê n c ia S o c ia l 417
508. Multiplicidade de tipos — Não há determ inação no con cern en te à in s­
crição póstum a de segurado, mas, com provada a filiação, ela pode ser atendida
após o óbito do trabalhador, sendo isso, aliás, falo corriqueiro.
Tam bém ocorre, e com m en o r frequência, a inscrição póstum a de d ep en ­
dente. Ela deve ser providenciada pelo segurado, m as os seus sucessores podem
prom ovê-!a, se ele faleceu sem lê-la consum ado.
Existem dois tipos de inscrição: a do segurado e a do d ependente. A do segu­
rado prende-se ao estado de filiado e a do d ep en d en te associa-se à ideia de estar ele
sob a lutela econôm ica do segurado. O d ep endente não é filiado, salvo se, sim u lta­
neam ente a essa condição, exercer atividade abrangida pelo RGPS.
Tam bém cham ada de designação a inscrição da pessoa indicada é providência
pessoal do segurado. Ele detém o p o d er de operá-la (ou de cancelá-la, no caso de
já tê-la feilo); isso não acontece com a inscrição do segurado, efetuada por ele ou
pela em presa.
A do segurado é realizada na em presa q uando co n trib u in te coletivo e, nos
correios ou INSS, se co n trib u in te individual. No prim eiro caso, pelas anotações e
d o cu m ento s (CTPS, LRE etc.), e, n o segundo, m ediante o p reenchim ento de for­
m ulários p ró p rio s fornecidos pelo INSS.
São vários os processos de inscrição do dependente: a) declaração verbal do
segurado, feita p eran te servidor da previdência social, e p o r este registrada; b) an o ­
tações na CTPS; e c) consignação em Livro ou Ficha de Registro de Em pregados.
Elas são todas iguais. Não existem especiais. Poder-se-ia designar com o es­
pecial a relativa ao servidor sem regim e próprio, referido no art. 12 do PBPS. Não
passaria, co ntudo, de sem ântica.
P restando serviços rem unerados abrangidos pelo RGPS, será inscrito o traba­
lhad o r com o segurado; vivendo às expensas de u m segurado, esse m esm o obreiro
será inscrito tam bém com o dependente. Dá-se exem plo com a esposa trabalhando
em atividade co m p reendida n o RGPS. As duas inscrições são isoladas e in d ep en ­
dentes, devendo ser u ltim adas em apartado e gerando benefícios distintos.
Algum as observações podem ser feitas aos diversos tipos de segurados, serão
particularidades da inscrição, sem torná-la por isso especial.
509. Distinção da filiação — E m bora abstração ju ríd ica, a filiação representa
fato p erten cen te ao in u n d o m aterial — o trabalho rem u n erad o — e acontece in d e ­
pen d en tem en te da vontade do titular. A inscrição, m aterializada pela d o cu m en ta­
ção, é ato form al, em p reendido pelo beneficiário. O ato de filiar-se sucede no u n i­
verso físico, en q u an to a inscrição é sua exteriorização jurídica. C om o concepção,
a filiação é condição do trabalhador decorrente do exercício de certas atividades e
de disposições legais, e a inscrição é ato, p rocedim ento m aterial ou real.
A filiação é aulom álica: configura-se, nasce ao m esm o tem po do trabalho, sem
necessidade de ser declarada; a inscrição é providência de iniciativa do obreiro (ou
de ofício, do órgão gestor), perp etrad a ou não no início do labor.

C urso de D ik e it o P r e v id e n c iá r io

418 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Ela é condição de titularidade (sem ela não h á direitos ou obrigações); inscre­
ver-se é pressu p o sto do exercício desses direitos e obrigações. A filiação é logica­
m ente an terio r à inscrição (e, cronologicam ente, jam ais p o sterio r a ela); a segunda
só é válida q u an d o existe a prim eira. A filiação n u n c a se pode d izer ilegítim a
(pois só os atos se su jeitam a ser considerados legítim os ou ilegítim os); a inscrição
tem a p o ssibilidade de ser julgada ilegítim a e, co n seq u en tem en te, invalidada.
510. In te rp re ta ç ã o e p re su n ç õ e s — A inscrição é ato adm inistrativo de iden­
tificação, qualificação e cadastram ento do beneficiário ju n to ao órgão gestor. Tal
com o ocorre com a filiação, interpreta-se favoravelm ente ao trabalhador, se h ouver
dúvidas. Lem bra-se: a inscrição é ato form al, daí exigir-se prova docu m en tal dela
ter ocorrido. Da m esm a form a com o não se pode recusar a filiação, o órgão gestor
está im p ed id o de rejeitar inscrição, se efetivada regularm ente e cu m p rid as as exi­
gências legais.
O in scrito presum e-se filiado, m as se trata de presunção relativa. A lguns se
beneficiam da p resu n ção da contribuição (PCSS, art. 33, § 5Q). O utros, não; têm
de d em o n strar o recolhim ento.
Q uem não está inscrito vive u m a situação irregular. No caso p artic u la r dos
co n trib u in tes individuais, terão prejudicada parte dos seus direitos.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o í í — P r e v id ê n c ia S o c ia l 419
Capítulo LI

Fo n t e s de C u st ei o

S u m á r i o : 511. Preceitos constitucionais. 512. Bases legais. 513. Características


gerais. 514. Decantação da hipótese de incidência. 515. Imunidade das filan­
trópicas. 516. Isenção na construção civil. 517. Decadência do crédito. 518.
Prescrição da cobrança. 519. Anistia de débitos. 520. Remissão de valores.

O financiam ento das prestações da previdência social é acudido p o r m eio de


du as fontes básicas: a) contribuições sociais; e b) o u tras receitas. Os aportes, m ate­
rial e econom icam ente, provêm de pessoas físicas e ju ríd icas, ou seja, a partir de in­
divíduos e pro p iciad o res de serviço (em presa lato sensu e em pregador dom éstico).
As dem ais, do E stado (no caso do RGPS, da U nião) e, genericam ente, do particular.
C om o concebidas pela C arta M agna e, em parte, com o eram an terio rm en te a
5.10.1988, essas origens são com plexas e m últiplas. N atu ralm en te retributivas e
direcionadas, isto é, afetadas à sua finalidade protetiva.
511. Preceitos constitucionais — C onsoante o art. 195 da CF, a seguridade
social é financiada p o r toda a sociedade, de form a direta e indireta, m ediante re­
cursos p rovenientes da U nião, dos Estados, do D istrito Federal, dos M unicípios e
de co n trib u içõ es sociais.
Tentando m oldá-la, a lei escolhe a sociedade com o realizadora. C onstituindo a
com unidade um a abstração, as pessoas residentes no País e as de passagem de algum a
forma ensejam os recursos financeiros, e até serviços, para fom entar as prestações.
C aracterística fundam ental da técnica protetiva, todos contribuem em favor de n e­
cessitados. O custeio social, a partir do particular, assinala a essência da socialidade.
Form a direta significa a contribuição pessoal, descontada do trab alh ad o r ou
p o r ele recolhida en q u an to co n trib u in te individual, sem a participação da em presa
ou da sociedade. F orm a indireta, a parte patrona! da em presa, a COFINS, a taxa do
Im posto de R enda (Lei n. 9.249/1995) e o resultado operacional do concurso de
prognósticos e do Estado.
Em bora o in stitu to descrito na C arta M agna não seja exatam ente a segurida­
de social, a m odalidade de sustentação financeira agora evidenciada, p o r parte da
sociedade, é sua característica, assinaladora da responsabilidade da com unidade na

C urso de D ík b it o P r e v id e n c iá r io

420 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
proteção de m inoria. Todavia, resta desfigurado o aludido in stru m en tal por não ter
sido im p lem en tad a sua nuclearidade; é som atória da previdência social, anterior­
m en te conhecida, com ações de saúde e serviços assistenciários.
Se a co n trib u ição provém apenas da sociedade, com posta a coletividade n e ­
cessariam ente de in divíduos, a relação ju ríd ica difere da jacen te do seguro social;
neste, o ap orte pessoal dos segurados é decisivo para a definição do direito e da
técnica. O Brasil p o ssui proteção social na qual a sociedade, com o a pessoa, entra
com recursos (q u an d o consom e p ro d u to s o u aposta nos co n cu rso s) — m ecanism o
m esclado, p ró p rio do seguro social ten d en te à seguridade social.
Levando-se em conta a expropriação da em presa, e m esm o a da sociedade,
n u n ca p o d er ser dissociada dos pagam entos dos cidadãos, a distinção é inócua,
e tecnicidade sem grande sen tid o ju ríd ico . C essada a participação da pessoa e a
em presarial, criando-se financiam ento desvinculado dos benefícios do segurado,
ter-se-ia verdadeira seguridade social. A distinção vale para a distância entre um a
e o u tra m o dalidade de custeio, se próxim a ou distante do ú nico ente criador de
rendas, o trabalhador.
Sob o p o n to de vista ju ríd ico , a contribuição pessoal do segurado é a p o r ele
desem bolsada e arrecadada pela em presa, não im portando, em am bos os casos, es­
sas du as pessoas, física e jurídica, estarem repassando custo à m assa de clientes para
quem prestam serviços ou vendem produtos. As hipóteses de incidência vinculam -
-na aos beneficiários. Isso vale para as exações das em presas e a dos contribuintes
individuais, m esm o sem o elo referido. Já a do concurso de prognóstico, sem in-
dividualização, é m arcadam ente da sociedade, mas não tem significado financeiro.
512. Bases legais — De acordo com o PCSS, no âm bito federal, as fontes de
custeio são as receitas da U nião, de contribuições sociais e outros m eios. C o n tri­
buições sociais, as das em presas, relativas aos segurados p restadores de serviço,
dos em pregadores dom ésticos, incidentes sobre o faturam ento e o lucro e p ertin e n ­
tes ao co n cu rso de prognósticos.
E x plicitando os vários m eios, presum e-se a existência de dotações m unici­
pais, d istritais e estaduais. Estas, porém , som ente as relativas aos seus servidores, e
q u an d o p erten cen tes a regim e próprio. Inexistem obrigações em relação a esses e n ­
tes políticos estran h as aos seus prestadores de serviço, p o dendo, todavia, enq u an to
equip arad o s às em presas, sujeitar-se à contribuição prevista n a LC n. 84/1996, Lei
n. 9.876/1999 e Lei n. 10.666/2003.
São preceitu ad as três origens distin tas para o financiam ento: a) supletivas,
da U nião; b) não p ertencentes à U nião: contribuições sociais; e c) o u tras receitas.
A participação da União é co n stitu íd a de recursos adicionais do O rçam ento
Eiscal, fixado o b rig ato riam ente na Lei O rçam entária Anual. No dizer do parágrafo
ú n ico do arl. 16 do PCSS: “A U nião é responsável pela co b ertu ra de eventuais in ­
suficiências financeiras da Seguridade Social, q u an d o decorrentes do pagam ento
de benefícios de prestação co n tin u ad a da Previdência Social, na form a da Lei O r­
çam entária A nual”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l 421
513. C ara cterísticas g erais — Os fundos da previdência social são obtidos
pela atividade estatal e particu lar de grande envergadura, aproxim ando o D ireito
Previdenciário do D ireito Tributário. Ao lado dos benefícios, é a área de m aior im ­
portância na técnica protetiva. Tanto q u an to o u tras apropriações estatais a exação
apresenta variadas nu anças e m odalidades. A lgum as co m u n s a todas elas e outras,
particulares das espécies.
a) obrigatoriedade legal: S ubm etida ao ju s cogens, a contribuição é im posta,
recolhida espontaneam ente ou exigida pelo órgão gestor nos term os da lei. A regra
com porta renúncias excepcionais (v. g., a im unidade, isenção, anistia, rem issão, de­
cadência e prescrição) e facultatividade. Em especial, a lei define o fato gerador, base
de cálculo e a alíquota, descabendo atrib u ir essa tarefa a outro veículo norm ativo.
D iante de sua especificidade, porém , q u an d o co n sen tân eas com a mens legis e
as regras de interpretação da área exacional, norm as inferiores contem plam h ip ó ­
teses não especificadas na lei, am pliando o universo da obrigação.
b) periodicidade mensal: Sob o regim e financeiro de repartição e diante das n e­
cessidades do fluxo de caixa (e, em especial, do fato de as prestações de pagam ento
co n tin u ad o serem m ensalizadas e su b stitu tiv as), a exem plo de in úm eras outras
obrigações, o dever de ap o rtar colizações é periódico, geralm ente se renovando a
cada trin ta dias, em bora no passado tivesse co n hecido m odalidades anualizadas,
na área rural.
Ta! periodicidade, em bora corolária da repetição do fato gerador é própria do
sistem a, válida até m esm o para o segurado facultativo, em que inexiste a tem po-
ralidade da h ipótese de incidência, p o r contam inação. A renovação da obrigação
fiscal, de origem acidental, traz im plicações de variada natu reza e acaba definindo
efeitos práticos e ju ríd ico s (v. g., os ju ro s são de 1% ao m ês), com o a ideia de m ês
de com petência (m o m ento histórico da consum ação do fato gerador).
A periodicidade da obrigação fiscal é im portante, em bora não pareça, sob
vários aspectos. Em in ú m eras op o rtu n id ad es, tal n u an ça é ú til indicação para so lu ­
ções, com o saber qual o prazo a m ediar entre duas autuações fiscais ou o do acerto
de contas entre o valor da gratuidade e o da contribuição im une das entidades
benem erentes (PCSS, art. 55, V).
c) noção de valor: A contribuição tem expressão pecuniária, isto é, quantum
indicado em m oeda co rrente nacional, m antido n o caso de perda do p o d er aqui­
sitivo desta. Não a afeta a atualização m onetária, aum en tan d o -a ou d im inuindo-a,
p o d en d o ser aduzida apenas com os acréscim os em razão da m ora. Porém , não se
c o n fu n d in d o com essas sanções e apenas consolidadas e reu n id as as im portâncias
em pro rata, q u an d o de parcelam ento.
D erivando da norm a vigente ao tem po dos fatos e perfilhado o ato ju ríd ico
perfeito, não pode ser m odificada p o r lei nova, salvo para beneficiar.
O usu al é a co n tribuição ser indicada em m oeda corrente nacional, em certas
circunstâncias, su b stituída por dação em pagam ento, prestação de serviços e até
valores in natura.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

422 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
d) continuidade: Além da o b rig ato rie d ad e, en q u a n to sistem a, as fontes de
custeio devem jo rra r p erm an en tem en te porque são co n tín u as as obrigações a se­
rem atendidas. N esse sentido, deve cuidar o legislador para a hipótese de, fazendo
cessar um a, logo a seguir viger o u tra e, n o s casos de dúvida, entender-se tal seqü­
ência com o princípio.
e) obrigação de dar: A contribuição é obrigação de dar, aproxim ando-se de
regras do D ireito Civil.
f ) direcionalidade: Ela tem direção e sen tid o , isto é, função. D estin a-se a
cu stear benefícios e estes são aten d id o s destarte, caso contrário não tem cabim en­
to. A posentado não pode contribuir. Se a em presa outorga d iretam en te prestações,
an tecip an d o -se ao E stado, o valor co rresp o n d en te a essa in stitu ição não define fato
gerador. É im p ró p rio exigir co n trib u ição sobre previdência privada ou assistência
à saúde (Lei n. 9.528/1997).
g) afetação: Essa contribuição nasce predestinada às prestações securitárias.
Age m al o legislador q uando desvia recursos da seguridade social para outros fins.
A sinalagm aticidade da afetação é, porém , global e não pessoal, com o é o caso
do FGTS. N ão h á v ín cu lo en tre a c o n trib u iç ã o de certa pessoa e o seu benefício,
e, em razão disso, a exigibilidade prescinde da identificação dos beneficiários. A
exigência dos 6%, 9% e 12% da Lei n. 9.732/1998 é exceção à regra.
514. Decantação da hipótese de incidência — Tecnicam ente, a lei não ap re­
senta descrição m in u ciosa e exaustiva da hipótese de incidência. C laram ente, ela
apenas define a sua base de cálculo e nem sem pre faz isso, considerando-a, p rin ­
cipalm ente, o salário de contribuição, sem , con tu d o , m en cio n ar expressam ente o
elem ento d eterm in an te da exação. Este, um a parte in teg ran te do conceito, é p ro ­
d u to da elucubração doutrinária.
Em p rin cíp io , aquela m edida é a rem uneração, m as n ão se tem estabelecido
a q u itação do valor ser o ato aperfeiçoador da obrigação fiscal. O pagam ento, per
se, não é g eratriz do dever de contribuir. É, todavia, a situação m ais com um , p rin ­
cipalm ente q u an d o o co n trato de trabalho flui n aturalm ente. C oincidem , então, o
trabalho, o direito à rem uneração e o seu pagam ento.
A histórica abstenção norm ativa deve-se à periodicidade in stitu cio n al exa-
cional enfocada, cuidar-se de Ônus de trato sucessivo in stitu cio n alizad o há oito
décadas e ser m ensal, no m ais com um dos casos.
Parte da co n trib uição, a do segurado, é descontada da rem uneração auferida,
e isso, u su alm en te, acontece q u an d o do seu pagam ento, sem , en tre tan to , isola­
d am ente, o ato do desem bolso da em presa definir a nuclearidade da hip ó tese de
incidência.
Pode su ced er de o obreiro, p o r variados m otivos, jam ais receber a re m u n e ra­
ção devida (v. g., d eixar esp o n tan eam en te de fazê-lo, a em presa falir, ren u n ciar em
acordo trabalhista ou o u tra im possibilidade m aterial o u form al). Exem plifica-se
o raciocínio: se o em pregador paga valor abaixo do salário m ínim o, para quem

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 423
trabalha 220 horas por m ês (a diferença, evidentem ente, é seu direito inalienável),
a incidência recairá sobre o salário m ínim o, im portância não necessariam ente a u ­
ferida ou co n tab ilm en te creditada, talvez nunca paga. A hipótese de incidência —
direito à rem u neração relativa ao esforço desenvolvido no m ês de com petência —
realiza-se fu n d am en talm ente, dispensando-se a quitação da retribuição. Basta-lhe
o crédito, m esm o nào contabilizado, m elh o r dizendo, o direito, prescindindo-se da
efetiva integração do m o n tan te no patrim ônio do obreiro ao tem po da prestação
dos serviços. Mas, claro está, in stau rad o o dissídio qu an to à sua validade, só após
sua definição enunciativa, situ an d o -se na época do trabalho.
a) dos descontados: Fato gerador im ediato é o propriam ente dito, isto é, situação
im positiva da contribuição. De acordo com a lei vigente, é a constituição do direito,
crédito ou o pagam ento da rem uneração, se este últim o evento acontece sim ulta­
neam ente àquele. Ou apenas a constituição do crédito, quando não se tem ainda a
quitação formalizada e, principalm ente, o desem bolso, contabilizado o u não.
Pagam ento en ten d id o com o quitação, pois a partir da Lei n. 8.620/1993 tam ­
bém o ad ian tam en to precedente ao pagam ento. Ser o fato gerador o crédito do
direito, e não n ecessariam ente o seu exercício (pagam ento), é conclusão lógica. Ra­
ciocínio d istin to con d u ziria ao absurdo ju ríd ico de atribuir-se ao sujeito passivo a
possibilidade de, resolvendo a obrigação ou não, caracterizar o fato gerador. Toda­
via, além do crédito, o pagam ento da rem uneração a ele co rresp o n d en te confirm a
a situação definidora do fato gerador, em bora não absolutam ente im prescindível.
E, da m esm a form a, não é sim plesm ente o crédito. Existem situações, ino-
corrente a incorporação ao p atrim ônio, em que a ausência da rem uneração des­
caracteriza a obrigação. Dá-se exem plo com a renúncia do obreiro. O btido ganho
de causa na Justiça do Trabalho, o valor declarado seu, o crédito estã constituído
e, em acordo trabalhista váiido, após a sentença, q uando da execução, ele anui em
receber m enos (claro, falando-se de im portâncias renunciáveis, com o as acim a do
m ínim o salarial e as não alim entares).
Na verdade, o falo gerador da obrigação previdenciária acontece com o crédi­
to agregado aos bens do trabalhador, confirm ado pelo pagam ento da rem uneração,
devendo-se exam inar, em particular, os casos em que a quitação não se sucede por
vontade do em pregador ou do em pregado.
A certeza de ser o crédito e não apenas o pagam ento, co n stitu íd o em favor do
segurado, a ele p ertin en te, m esm o não em bolsado o n um erário, au m en to u com o
art. 3S, I, da Lei n. 7.787/1989, a prim eira a fornecer expressam ente os elem entos
definidores do fato gerador.
É crédito ju ríd ico , não o contábil, o u seja, co n stitu íd o o direito, ele d eterm ina
o m om ento do aperfeiçoam ento, não sendo relevante a declaração form al de sua
existência. Basta ao trabalhador fazer jus.
b) contribuintes individuais: Q u ando p ertin en te a co n trib u in tes individuais, o
fato gerador difere sobrem aneira. Perde os aspectos contábeis costum eiros, vola-
tiza-se um pouco na generalidade, aproxim a-se m ais da pessoa e distancia-se da

C urso de D ir e ít o P r e v i d e n c í A rso

424 W l a d ir m r N o v a e s M a r l i n e z
em presa. A do em presário e au tô n o m o de algum a form a ainda diz respeito à pessoa
ju ríd ica, se eles trabalham para ela. Mas, no q u e se refere aos in d ep en d e n tes (v. g.,
au tô n o m o , eclesiástico, garim peiro etc.), apresenta certa fluidade. F req u en tem en te
a lei não os explicita, cabendo à d o u trin a opinar.
C om o se verá adiante, a base de cálculo, diferente da dos descontados, é ficção
fiscal sem n e n h u m vínculo com os ingressos do segurado.
c) empresário: A lei descreve o em presário e o tem com o ad m in istrad o r de
em p reen d im en to , reclam ando-lhe retribuição pelo serviço prestado (em bora sem
afetar a base de cálculo). O pagam ento é sem pre laborai sem ser trabalhista; o lucro
ou o div id en d o não se presta para esse fim, em bora, q u an d o ausente pro labore e
co n tab ilm en te exagerado aquele, não po ssu in d o o u tra fonte de subsistência, possa
a base de cálculo ser atrib u íd a à guisa de ficção fiscal. Se o titu lar de firm a indivi­
dual, sócio-gerente o u direto r de sociedade an ô n im a trabalha para um a em presa
e não tem o u tro m eio de vida, sem rem uneração presente, p o r analogia, esta pode
ser tida com o o salário m ínim o.
Essa h ip ó tese de incidência, n o caso, é prestar serviços retrib u íd o s. Em razão
disso, o só cio -co tista não é sequer segurado obrigatório. N ão se co n fu n d e com o
receber a retrib u ição co rresp o n d en te à prestação dos serviços. É suficiente o di­
reito ou o créd ito do valor (pro labore o u h o n o rá rio s). Tam bém não é fazer parte
da em presa, m as trab a lh ar para ela em atividade rem unerável. O d ire to r de certas
associações civis o u fundações ab n eg ad am en te opera nessas organizações, m as
não sen d o rem u n erad o não é tido em presário e n ão se vislum bra o fato gerador.
Proibida a rem u n eração aos dirig en tes de entidade b en em eren te, inexiste o fato
gerador.
O m esm o vale para o segurado especial, p ro d u to r rural pessoa física ou ju rí­
dica.
d) autônomo: A situação do au tô n o m o é assem elhada à do em presário, com a
p articu larid ad e de ele ter p o r clientes pessoas físicas o u jurídicas. Pelo m enos até
a Lei n. 9.876/1999, m ais ainda com a Lei n. 10.666/2003, n ad a lin h a a ver com a
retrib u ição auferida.
O fato gerad o r é a dita prestação de serviços rem uneráveis a diversas pessoas,
não estip u lan d o a lei o nível dessa retribuição, p o d en d o n u m m ês e n o u tro am pliar
ou dim inuir.
e) eclesiástico: C o n trib u in te individual, o eclesiástico afasta-se das espécies
em p resário /au tô n o m o e aproxim a-se do facultativo.
Trata-se de pessoa sem operar n o sen tid o econôm ico ou laborai, m as tão so­
m ente espiritual, p o u co im p o rtan d o receba o u não retrib u ição pelo m inistério reli­
gioso, m as esse desem bolso dos fiéis, conform e as circunstâncias, pode ser indício
de o u tra relação juríd ica.
O eclesiástico oferta o seu labor à co m u n id ad e e às pessoas, e o eventual re­
cebido dos fiéis n ão tem caráter retributivo.

C urso de P ir e it ü P r e v id e n c iá r io

T om o I I — P re v id ê n c ia S o c ia l 425
f) facultativo: Na extrem idade das espécies de co n trib u in tes individuais, o
facultativo é lab o ralm ente ocioso, descabendo considerações sobre trabalho ou
salário. Trata-se de inativo no sentido laborai, profissional ou econôm ico, em bora
possa estar o p eran d o em outro sentido (estudante, d o n a de casa, síndico de prédio
de apartam en to s e m aior de 16 anos).
O fato g erador é de constituição subjetiva, a vo ntade de inscrever-se e co n tri­
buir. C uriosam ente, a única hipótese determ inada pelo co n trib u in te, q uando já foi
segurado obrigatório, é a vo n tad e de p erm anecer n a previdência social.
515. Im u n id ad e d as filan tró p ica s — Igual a o u tras exações, a possível co n ­
tribuição previdenciária pode ser elidida pela im unidade e isenção. E ntre as dife­
rentes m odalidades de não nascim ento do crédito previdenciário apresenta-se a
im unidade das en tid ad es beneficentes de assistência social (e a isenção na cons­
trução civil).
Am bas postadas n o bojo da incidência, universo no qual, de m odo geral, são
presentes, com o deflagradores, o direito ao pagam ento p o r serviços prestados, o
fatu ram en to e o lucro, a arrecadação do co ncurso de prognóstico ou a vontade de
contribuir,
Se ausen te a incidência, em tese inexiste im u n id ad e ou isenção e qu alq u er
exigência estatal. Na não incidência o fato econôm ico sucede, m as o legislador não
deseja com o geratriz ou d eterm in an te de im posições exacionais. G enericam ente
falando, valores in d en izató rio s pagos ao trabalhador não integram o salário de
con trib u ição (in casu, exem plificativam ente, p o r não in co rp o rar a co ntinuidade
dos ingressos do trab alhador).
Na im u n id ad e e isenção, o fato gerador está caracterizado; todavia, em rela­
ção a certa pessoa, a Carta M agna e a lei ord in ária não as querem com o hipótese
de incidência e de contribuição. Vale dizer, a n o rm a não im pede a ocorrência do
evento, apenas susta a exação.
A im u n id ad e das entidades beneficentes de assistência social não é total em
relação ao ô n u s fiscal globalm ente considerado. Diz respeito apenas à parte p a­
tronal da im posição. E star dispensada de contribuição é subsídio ao aten d im en to
de pessoas v erdadeiram ente necessitadas, p articu larm en te m enores abandonados
pelos pais, pessoas carentes, idosos e deficientes físicos. Não exigindo a fração
principal do aporte, a previdência social financia a assistência social (e esse não é
seu papel). Trata-se de direito excepcional, a ser in terp retad o restritivam ente.
O privilégio dessas entidades, desde 1959, sem pre foi polêm ico e gerou dis-
senções entre os estudiosos e prevalência do form al sobre o fático. U sualm ente, o
legislador elege a form alidade com o essencial à subvenção, provocando, com isso,
am plas discussões. M uitas entidades filantrópicas, sem preencherem form alm ente
os requisitos, isto é, sem com provarem docu m en talm en te essa condição, acabam
não sujeitas ã co n trib u ição patronal.
Tais em presas são im u n es ã contribuição prevista nos arts. 22 e 23 do PCSS.
Isto é, dispensadas de recolher 20% da retribuição dos trabalhadores e a taxa de

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

426 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
seguro de acidentes do trabalho, bem com o os 2% da receita b ru ta e os 8% do lucro
líquido, este ú ltim o, hipótese im possível em face da não m ercantilização de sua
atividade.
In o co rre m enção à aquisição de p ro d u to s ru rais do segurado especial ou do
p ro d u to r ru ral pessoa física ou ju ríd ica, aliás, m uito freqüentes. Q uando com pra
tais b en s deverá d esco n tar a contribuição, conform e o caso, e recolhê-los da m es­
ma form a com o está sujeita aos 8%, 9% ou 11% dos seus em pregados.
Do p o n to de vista prático, após a Lei n. 8.212/1991, isto é, a p artir de
I - .ll.1 9 9 1 , só está obrigada a recolher a contribuição descontável dos trabalha­
dores, cessando o ô n u s relativo ao seguro de acidentes do trabalho em 31.10.1991
(PCSS, art. 55, I/Y §§ l e/6 Q). O bviam ente, subm etida à p resunção ju ríd ica do des­
co n to , prevista n o art. 33, § 5°.
Um dos elem en tos caracterizadores da beneficência, ju stifican d o a não c o n tri­
buição à seguridade social, exatam ente p o r se c o n stitu ir na assistência social p ro ­
clam ada pela Lei M aior com o sendo um a de suas vertentes, é a entid ad e prom over
a referida assistência social aos m enores de idade, pessoas idosas, portadores de
deficiências físicas ou sociais. Q u er dizer, praticar caridade social e religiosa. Em se
trata n d o de escolas ou hospitais, m in istrar a educação ou a saúde sem a exigência
de pag am en to ou su b sidiaridade, de m o d o a to rn ar possível a esses assistidos um
m ín im o de serviço a sua disposição.
A O rd em de Serviço INSS/DAF n. 72/1993 desce a po rm en o res im portantes
na definição das obrigações form ais. Seu item 2, e, reza: “aplicar integralm ente o
ev entual resultado o p eracional na m an u ten ção e desenvolvim ento de seus o bjeti­
vos in stitu cio n a is”.
O item 2, j, consigna: “aplicar em gratuidade, a p a rtir da com petência m arço
de 1993, pelo m enos, o equivalente à isenção das co n tribuições prevídenciárias
p or ela usu fru íd as, exceto no caso das Santas Casas e dos H ospitais F ilantrópicos
filiados à C onfederação das M isericórdias do Brasil — FMB, p o r interm édio de
suas federadas estaduais, bem com o das APAEs e dem ais entidades que prestem
aten d im en to a p esso as...”.
No item 2.3 colhe-se: “Para os fins previstos na letra j, a entidade beneficente
de assistência social terá que d em o n strar m ensalm ente a origem e aplicação dos
recursos, ev id enciando o m o n tan te do valor dos serviços p restados g ra tu itam en te”.
E no item 2.4: “N ão será considerado serviço gratuito aquele prestado em
virtu d e de convênio com o SUS.” Em norm a de discutível liceidade acrescenta o
subitem 2.51: “A prestação de serviços g ratu ito s pela entid ad e a seus funcionários
e/o u seus d ep e n d en tes, ev e n tu a lm e n te ou de form a co n tín u a , não p o d erá ser
co m p u tad a para p reen ch er os requisitos da letra j ” e “os serviços gratu ito s pres­
tados n ão ev en tu alm en te a seus funcionários e/ou dep en d en tes serão lidos com o
rem u neração in d ireta”.
A m atéria está inteiram ente disciplinada nos arts. 206/210 do RPS.

C urso üe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 427
516. Isenção na construção civil — De longa data, a legislação conhece isen ­
ção na área da co n stru ção civil, m ais propriam ente respeitante à casa própria. A
origem rem ota é o art. 176 do D ecreto n. 72.771/1973, no qual se fixaram os se­
guintes requisitos: a) cuidar-se de um a só unidade; b) destinar-se a uso p ró p rio , a u ­
sente finalidade econôm ica; c) possuir certa área co n stru íd a m ãxim a; d) em pregar
m ateriais de qualidade com patível; e e) subm eter-se às po stu ras m unicipais. Vale
dizer, erigida em regim e de m utirão.
O m utirão é um a das m ais antigas m anifestações h u m an as ligadas ao serviço.
Precede à divisão do trabalho. É, tam bém , a m ais tradicional das form as de labor
coletivo. Os séculos e as transform ações socioeconôm icas nào lhe su b traíram a
principal característica, a solidariedade. C om a divisão do trabalho, à qual tanto
deve a civilização, d efinhou essa form a extrao rd in ariam en te bela de trabalho em
grupo. O m u tirão , arredando os aspecLos m ais onerosos do esforço físico — a o b ri­
gação — , é alegre, festivo m esm o, chegando ao extrem o de se c o n stitu ir nu m raro
m om ento de felicidade.
Os pressu p o sto s para essa não contribuição, elencados no inciso VIII do
art. 30 do PCSS, são a construção para uso da fam ília do proprietário, a classificação
no tipo econôm ico e a ausência de m ão de obra assalariada.
Por construção, hã de se en tender o erguim ento propriam ente dito, pequena
reform a, reparação ou ligeira am pliação e, excepcionalm ente, a dem olição. O objeto
da norm a referida é favorecer o dono de terreno, geralm ente operário capaz de, a
duras penas, co n stru ir a casa própria para nela residir com num erosa prole. Restam,
pois, descartadas outras edificações, divergentes quanto à destinação (v. g., m ercantil)
ou qu an to ao uso (v. g., quadra de esporte). Só a casa própria e única é beneficiada.
A expressão “do tipo econôm ico” não é recom endável. M elhor seria se a lei
dissesse “do tipo m o d esto ”. E conôm ico não q u er dizer sim ples, e sim de custo
racional. Não é o im óvel econôm ico alcançado, m as o proletário, o singelo, de
área pequena. T eoricam ente, as casas pré-fabricadas são do tipo econôm ico mulatis
mutandis e nem p o r isso são isentadas de contribuição.
Não pode haver pagam ento de m ão de obra; com o visto, a gratuidade é ínsita
ao m utirão. Daí não se cogitar de em preitada; ela é rem u n erad a e pressupõe certa
capacidade contributiva.
A co n stru ção deve ser executada sob a adm inistração direta do proprietário.
Mas não fica elidida a h ipótese de parte da obra, ou alguns dos serviços especiali­
zados (v. g., hidráulica, eletricidade), serem entregues a profissionais e o restante
objeto do m u tirão. É n otó rio tais serviços serem executados p o r pessoas habili­
tadas ju n to a rep artições ou cessionários de serviços públicos. Fala-se, então, de
m u tirão parcial.
O art. 278 do RPS — sob alguns aspectos sujeitos ao exam e de legalidade
(afinal fixa a incidência de contribuição e a isenção, questões a serem regradas
pela lei) — arrola as condições m ínim as: a) área m áxim a de 70 m etros quadrados;
b) destino: uso p róprio; c) tipo econôm ico; e d) sem utilização de m ão de obra
assalariada.

C urso r> r D ir e it o P r e v i d f .n c i á r i o

428 W l a d i m i r N o va es M a rtin e z
O in stitu to é m altratad o na lei e no regulam ento. M esm o sem a declaração
legal, n en h u m a co n tribuição é devida, se in ex isten te m ão de obra. Essa é a regra
de ouro da co n stru ção civil e do m utirão, o restante é conseqüência. A princípio, de
n ad a vale a destinação. Se alguém conseguir erigir com provadam ente sem o em ­
prego de m ão de obra assalariada, não im p o rtan d o a área, fica isento da c o n trib u i­
ção, p o r ausência de um fato gerador.
M elhor seria dizer q u e não há contribuição; isentar é expressão incorreta, re­
lativa à co n stru ção de determ inada área de im óvel destin ad o ao uso familiar, nada
m ais exigindo do p ro prietário.
517. D ecadência d o créd ito — E n q u an to vigente, no art. 45 d o PCSS o le
gislador discip lin o u a m om entosa questão da decadência, fixando-a em dez anos.
Provavelm ente, terá sido a prim eira vez a fazê-lo, pelo m enos com clareza. Sábio,
separou-a da prescrição, cuidada no artigo seguinte.
A histórica controvérsia estabelecida não prescinde do estudo sobre a natureza ju ­
rídica da contribuição e seguram ente não se esgota c o m a Lei n. 8.212/1991, tida pelos
publicistas com o inaplicável à espécie, valendo, no seu entender, o art. 173 do CTN.
E m bora utilíssim a, apenas a análise da CF e da LOPS e legislação subse­
q u en te n ão é suficiente para o deslinde da exação previdenciária. Porém , a Lei n.
3.807/1960 retrata em boa parte a in stitu ição e se co n stitu i em inform ação cien­
tífica não desprezível para descrever a tipicidade da técnica p rotetiva, os seus ins­
titu to s científicos, in stru m en to s operacionais, pro ced im en to s adm inistrativos e o
modus operandi. T ributária ou não, a contribuição perm ite, depois de algum em ­
pen h o intelectu al, p o r exem plo, a definição de sua decadência e prescrição, seus
prazos, sob o p o n to de vista prático e ju ríd ico .
Aliás, não foram as conseqüências práticas e tal questão deveria ser cuidada
no âm bito do Tomo 1 — Direito Previdenciário.
Inexiste p o n to m ais m al con d u zid o na legislação, ju risp ru d ê n c ia e d o u trin a
previdenciária, e o n d e m ais dissenções se ten h am in stau rad o . Os p ublicistas p re­
ten d em configurá-la em condições didáticas de refutar as objetivas sustentações
opostas, su scitan d o argum entos im precisos e nem sem pre técnicos. S entindo não
ser sim ples, m as sem conseguir dem onstrá-lo convenientem ente.
Razões p ara isso acontecer sobram e, entre elas, o desco n h ecim en to do in s­
tru m en to secu ritário , sua especificidade, natureza e p ro p ried ad e, o seu verdadeiro
papel e com o se situa paralelam ente ao Estado.
N ota-se req u in tad o desprezo pela parte descontada do trabalhador, cuja n a tu ­
reza e destin o são olim picam ente ignorados q uando não exigível, se derrogada pela
decadência ou prescrição. O m esm o vale para a p resunção do desconto, in stitu to
ju ríd ico raram en te com entado ou exam inado com a atenção cabível.
A in d istin ção entre decadência e prescrição, a p o u ca im portância atribuída à
segunda e a excessiva atenção devotada à prim eira, além de seu desconhecim ento,
podem ser explicados pela falta de cuidado e m inim ização de gestão de elevada
indagação científica.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o ÍI — P r e v id ê n c ia S o c i a l 429
O d espreparo técnico do legislador na elaboração das norm as co ntribuiu
para esse estado de coisas (veja-se o parágrafo ún ico do art. 45, antes da Lei n.
9.032/1995). Pensava fazer um a coisa, dizia o u tra (mens legis) e acabava p ro d u ­
zindo um a terceira. P roduto do desproporcional interesse da iniciativa privada
com parado ao pouco em p en h o da adm inistração gestora.
A esse respeito citam -se as m alsinadas redações dadas à LOPS, Decreto-lei n.
27/1966, as das Leis ns. 6.830/1980, 6.332/1976 e 6.136/1974, sem falar nas das
ECs ns. 1/1965 e 8/1977.
Sim plificação de p roblem a envolvente, o exam e globalizado de todo com pos­
to de parte heterogênea, isto é, p reten d er ver a contribuição previdenciária com o
ente com um , uniform e, reunião de frações iguais, q uando ela detém parcelas dis­
tintas, cada um a delas, eventualm ente, com natureza própria.
A par de tudo isso, a sem elhança com os trib u to s (d ecorrente da superposição
do Estado com um ao p revidenciário) torna m ais áspero o cam inho do estabeleci­
m ento de sua sutil identidade, atraindo os estudiosos para a adesão.
Essa decadência (e a prescrição) n a LOPS é exem plo m arcante de com o a
previdência social é m al estudada nas universidades, pouco aprofundada pela d o u ­
trina e p essim am ente n o rm alizada n a legislação. D esconsideradas pelo P oder Ju d i­
ciário, este co n fu n d e previdência social com Direito Previdenciário, concebe b en e­
fícios p aternalisticam ente, sem am paro técnico ou ju ríd ico , ju lg an d o tratar-se de
prestação estatal, dever do Estado e co n fu n d in d o , no m ais das vezes, previdência
com assistência. Para, felizm ente, poucos juizes, num a sim plificação alarm ante,
pagou, tem direito. Sem falar no inexpressivo esforço da A dm inistração Pública,
cujo dano m aior reside em p ro p o r norm as com o a Lei n. 6.830/1980, ou prazos
sem n en h u m sen tid o com o o da anacrônica redação original do parágrafo único
do art. 45 do PCSS.
C om a característica da generalidade e da precariedade da época, u m dos re­
gistros m ais antigos a respeito da m atéria é o art. 450 da Lei n. 556/1850 (C ódigo
C om ercial), no qual se determ inava não ser beneficiário da prescrição o reposi­
tório de valores e bens. O utro im p o rtan te aporte do século passado é o Decreto
n. 857/1851: fixava a prescrição em 40 anos. O C ódigo Civil consagrava 30 anos
(art. 179).
Tal distorção de se cuidar preferencialm ente da prescrição, p ensando na d e­
cadência com o nela em butida, co n tin u a até os nossos dias, pois, na p io r das h ip ó ­
teses, a prim eira absorveria a segunda.
As norm as im p lan tad o ras dos IAPs não tin h am regra a respeito, justificadas
pelo fato de a exigibilidade datar de pouco tem po. Mas o D ecreto n. 20.465/1931,
disciplinador das CAPs existentes desde a Lei Eloy C haves, sustentava a in ex istên ­
cia de prazo para a cobrança de contribuição (art. 9e).
D idaticam ente, a LOPS ofereceu aporte científico à distinção entre tributo
e co n trib uição social. Não tinha essa preocupação, surgida som ente após a Lei
n. 5.172/1966 (C T N ). D epois de consolidar a im prescritibilidade dos benefícios

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

430 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
(art. 57), dizia: “O direito de receber ou cobrar as im p o rtân cias que lbes sejam
devidas, p rescreverá, para as in stitu içõ e s de previdência social, em 30 a n o s ’
(art. 144).
Esse texto, a preciosa deliberação de diferenciar entre receber ou cobrar, tudo
faz pensar n u m elaborador da norm a não desejando m ensurar a decadência e a pres­
crição e sem coragem de acolher a im prescritibilidade, positivando regra a respeito.
N inguém , a esse tem po, proferiu um a palavra sobre a decadência. Ela é im ­
portan te; p o u co significativa é a prescrição. Todavia, descurou-se da prim eira, p er­
m itin d o -se o exagero trin ten ário para a segunda, m uitas vezes, levado o legislador
pela ideia de assim estar defendendo a previdência social. Ora, adianta prazo infin­
dável de trin ta anos para cobrar se, no lançam ento fiscal, o tem po exigível é curto?
Seu teor reclam ava esclarecim entos raram ente prestados: o significado do “re­
ceber ou co b rar” é u m deles.
T eoricam ente, os c o n trib u in te s teriam 30 anos para, p o r v o n tad e pró p ria,
reco lh er as co n trib u içõ e s devidas, e igual lapso de tem p o d esfru taria a adm inis­
tração para, depois de lançado o débito, em notificação fiscal, cobrá-los m ediante
execução (sic). A p arentem ente, porque, em face da im prescritibilidade dos b en e­
fícios, n ão tem n en h u m sentido lim itar o recolhim ento esp o n tân eo , e porque o
p razo para a cobrança executiva, ju rid icam en te prorrogável, era m u ito largo.
A dm itindo-se o órgão gestor não exigir contribuições atrasadas m ais de 30
anos (decadência) o u os autos de cobrança ficarem em processam ento, em suas
repartições, p o r m ais de 30 anos, isso não deveria im pedir o c o n trib u in te de re­
co lh er a q u alq u er tem po. Q uer dizer, constrangim ento conflitante com o direito
aos benefícios, nesse particular, absoluta. C om o pode ser im prescritível a aposen­
tad o ria p o r tem po de serviço se, p ara a reunião d os seus pressupostos, im pede-se
a contribuição?
C om o CTN, a decadência despertou o interesse dos estudiosos pela natureza
da exação. O m esm o se passou com a autarquia. V ários aportes científicos foram
dados à m atéria, co n vindo referir alguns deles.
Sem esgotar o assu n to , o P arecer ÇJ/MPAS n. 85/1988, norm ativo e vincula-
dor, cedendo à pregação dos trib u tarislas p o r decadência qu in q u en ária, m o m en ta­
neam ente pôs fim à querela, exatam ente q uando a C arta M agna avultava tal co n ­
tribuição social com o espécie exacional não tributária.
N ão ignorava o Parecer SR n. 012/1986 da C onsultoria-G eral da República,
ao qual se subm etia em m atéria de prescrição, e do qual rep ro d u zia as conclusões
(item 2), in d o além no p e rtin e n te à decadência. Reeditava as afirm ações do C on-
sultor-G eral e perfilhava opiniões da d o u trin a e da ju risp ru d ên cia: até 13.4.1977,
ou pelo m en o s no p eríodo de 25.10.1966 até essa data, a contribuição previdenciã-
ria revestiu-se de perfil trib u tário , su b o rd in an d o -se ao CTN, e não à LOPS.
C om o corolário dessas reflexões n itid am en te term inativas, em 14.4.1977,
desapareceria o possível perfil trib u tário e assum iria a exação securitária a natureza
de contribuição social, refletindo-se a isso, quer-se crer, tan to na decadência quanto
n a prescrição.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 431
No d izer do C onsultor-G eral, “Após essa data, cessou o prevalecim ento do
lapso q ü in q ü en al” (item b).
O parecer destaca ainda a análise da P rocuradoria-G eral do 1APAS, segundo a
qual: “A m atéria, na realidade, não m erece m aiores esclarecim entos, u m a vez que
foi sobejam ente dim en sionada pelo Parecer SR n. 12/86 e p o r inúm eros julgados
do STF e TFR” (item 3).
As conclusões não coincidem precisam ente com a da C onsultoria-G eral da
República, órgão norm ativo superior. E tam bém o Suprem o Tribunal Federal não
estava aco m p an h an d o o enlão Tribunal Federal de Recursos.
E m bora sem m encioná-la expressam ente, o caput do art. 45 do PCSS regrava
a decadência (d eixando a prescrição a cargo do art. 46). Fixava os prazos nos dois
incisos e, no parágrafo ú nico, inovava substancialm ente, d eterm in an d o a não exis­
tência de lapso decadencial para valores descontáveis dos contribuintes.
O prazo foi fixado em dez anos, a ser confrontado com o an terio r en ten d im en ­
to da A dm inistração Pública, de cinco anos (Parecer CJ/MTPS n. 85/1988) e com o
incognoscível prazo da LOPS ou com a total ausência de regra sobre a m atéria. Se
o lapso de tem po não existia ou era inapreensível no art. 144 da LOPS, p o r ocasião
da edição do PCSS, em 1991, podiam ser exigidas contribuições desde 1981, m as
prevalecendo o en ten d im en to adm inistrativo pretérito, é preciso fixar a data-base
a p artir da qual são co n tados esses dez anos, isto é, se o PCSS, ao estabelecer prazo
dobrado, retroage ou não.
Em 1991, p o r força da com preensão in tern a os co n trib u in tes não estavam
sujeitos a cobranças de débitos anteriores a jan eiro de 1986. Os cinco exercícios,
de 1986 a 1990, definiam a decadência, não significando, en tretan to , n ão poderem
tais co n trib u in tes ap o rtar esp ontaneam ente em relação aos anteriores, com vistas
a ou tras finalidades (obtenção de certidão negativa de débito, para em presas, e
benefícios, para os co n trib u in tes individuais). P osteriorm ente, não acolhendo a
validade do P arecer CJ/MTPS n. 85/1988, a A dm inistração, em 1993, acolheu os
dez anos e passou a disp ensar contribuições anteriores a 198.3.
Assim fazendo, agiam os sujeitos passivos conform e o im pério da lei vigente
(ou, pelo m enos, da in terpretação oficial dada ao art. 144 da LOPS). D estarte, so­
m ente em 1996, p uderam ser exigidos dez anos de contribuições não recolhidas,
crescendo o lapso de tem po decadencial de um ano, a c o n tar de 1991.
O caput do art. 45 falava em “a p u ra r” e “c o n stitu ir” o crédito da contribuição,
im pondo-se a definição dessas duas fases da cobrança.
A apuração significava o levantam ento da hipótese de incidência, isto é, a
apreensão da base de cálculo (expressão m onetária do fato gerador). C o n stitu i­
ção do crédito é a form alização do levantam ento do débito, em docu m en to hábil,
NFLD, convalidada pela G erência Executiva de A rrecadação e Fiscalização, por
m eio de D ecisão-N otificação. N este últim o m om ento, tem -se in stau rad o o proce­
d im ento ad m inistrativo de cobrança, iniciando-se inclusive o prazo de prescrição.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io
432 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Em v irtu d e de o ano do lançam ento fiscal ser excluído (com preensão tom ada
p o r em p réstim o do CTN e universalm ente aceita pela d o u trin a e ju risp ru d ên c ia),
o p razo sem pre será de anos inteiros, sem ser afetado pelo da prescrição.
As regras de contagem do prazo são copiadas do art. 173, I/1I, do CTN. O
prim eiro dilata o prazo até 11 m eses m ais, pois em dezem bro de um exercício é
co n tad o de d ezem bro do ano an terio r p ara trás. O segundo provavelm ente visa a
d efender o su jeito passivo da possibilidade de o lançam ento fiscal ser an u lad o por
vício insanável, e na sua restauração o débito não estar vencido pela decadência. O
p razo recom eça a ser contado, m edindo-se da decisão anulatória.
O parágrafo único do art. 45, revogado pela Lei n. 9.032/1995 (“A Seguridade
Social n u n ca p erd e o direito de ap u rar e c o n stitu ir créditos pro v en ien tes de im ­
p o rtân cias d esco n tad as dos segurados ou de terceiros ou d eco rren tes da prática de
crim es previstos na alínea j do art. 95 desta Lei”), inovava em relação ao Direito
Previdenciário e co n substanciava teses de sem inários. A contribuição descontável
(e não a d escontada, com o dizia a lei) não deveria subm eter-se às form as extintivas
da exigibilidade. É possível ser verdadeira a conclusão, m as o ditam e conflitava
com o caput. E stabelecido prazo para a decadência, o legislador desejava a tra n ­
qüilidade ju ríd ic a oferecida p o r esse in stitu to fiscal. T ranqüilidade arredada pelo
en tão parágrafo único, provocando dissídios processuais, p rin cip alm en te em face
do disp o sto n o art. 32, § 11, do PCSS (guarda de d o cu m en to s p o r dez anos).
Assim , em b o ra até pudesse ser co n stitu cio n al aquela determ inação, não tinha
m u ito sen tid o lógico ou prático. O dispositivo, inspirado na v o ntade férrea de d is­
cip lin ar m atéria atraente, pretendia o bter as parcelas descontáveis do trabalhador,
as quais, p o r força da decadência ou da prescrição, quedavam -se indevidam ente
n o s cofres da em presa.
P raticam ente ao m esm o tem po, n u m a curiosa coincidência, a Súm ula Vincu-
lante STF n. 8, de 20.6.2008, determ in o u que o prazo da decadência e da prescri­
ção deveria ser de cinco anos, p o rtan to acostando-se ao CTN. A LC n. 128/2008
revogou os arts. 45 e 46 do PCSS que assim , ficou sem regra legal.
518. Prescrição da cobrança — A lei preceitua sobre a prescrição do crédito
previdenciário. H istoricam ente, o seu ab surdo prazo anterior, de 30 anos, p ro rro ­
gável em várias hipóteses, confirm ado duas décadas depois, pela Lei n. 6.830/1980
(de iniciativa do ente gestor, p reten d en d o derrogar o art. 174 do C T N ), era exces­
sivam ente longo.
C om base no então art. 57 da LOPS, prevalecia conclusão co in cid en te com
a im prescritibilidade dos benefícios, em bora de difícil sen tid o prático: o crédito
desconheceria a decadência, casuísm o rejeitado pelo espírito crítico, antes de exa­
m in ar o o rd en am en to ju ríd ic o e, até m esm o, a legislação da técnica protetiva.
A om issão do legislador e a confusão estabelecida entre os dois in stitu to s
ju ríd ic o s — decadência e prescrição — levou, à época, o órgão g esto r a conceber
prazo de decadência trintenário! Na prática, respeitando reverentem ente a in co m ­
preen d id a prescrição, esta lhe parecia, no m ínim o, gênero do qual a decadência

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o H -— P revidência S o c ia l 433


era espécie. A plicou-se com o se a som a dos dois períodos fosse de 30 anos. Caso
contrário, ver-se-ia a braços com lapso de tem po de 60 anos! M ensurado o prazo
de prescrição da p rim eira m ensalidade incluída no lançam ento fiscal e nào da data
deste.
É curioso o en trech o q u e entre o bom -senso do dia a dia (a exigir prazo ra ­
zoável na m ente do aplicador da norm a) e a incom preensão do fenôm eno ju ríd ico
contido nessas form as extintivas da obrigação. Não qu eren d o u tilizar o verbo “d e­
cair" ou com receio do anacrônico “c ad u car”, preferiu-se “prescrever”, e, a partir
daí, prosperou a in d istinção entre os dois institutos.
Se o prazo de prescrição era de 30 anos, não tin h a sentido a adm inistração
contá-lo do m ais antigo m ês de com petência Lançado, com o fazia u sualm ente (pelo
m enos, d u ran te três décadas e até o PCSS) e considerava sensato fazê-lo. Com isso
em butia a decadência. D iante da precariedade do art. 144 da LOPS, sentia-se ali a
disciplina dos dois p razos, e não de n en h u m deles em especial.
Em verdade, a leitura correta era a inexistência de decadência (sic) e, um a vez
ap u rad o o débito, d isp o r a autarquia de tantos anos qu an to a diferença entre 30 e
o p eríodo objeto do lançam ento.
Na ocasião ou pelo m enos até o advento do CTN, isso nào cham ou a atenção
dos estu diosos e pouca ou n en h u m a contribuição d o u trin ária ofereceu-se à ques­
tão. Os dois prazos perm aneceram indistintos, confundidos, sem qu alq u er esforço
p articu lar da A dm inistração em ver resolvido o problem a. Logo após a fusão dos
institu to s, ocorrida efetivam ente em jan eiro de 1967, a ação fiscal intensificou-se e
m uitas notificações in cluíram períodos m aiores, d espertando o interesse pela m a­
téria. As em presas recorreram aos trib u taristas e estes, com o CTN à m ão, passaram
a estu d ar a legislação previdenciária.
P artindo de p ressuposto não axiom ático, ser a contribuição previdenciária,
na m elh o r das hipóteses, m odalidade atípica de trib u to , desenvolveram encam i­
n h am en to s lógicos e ju ríd ico s no sen tid o de aplicar os arts. 173 e 174 do CTN à
exação previdenciária. Assim , para eles, a decadência e a prescrição devem ser de
cinco anos. Sem co n dições de enfrentá-los (o Direito Previdenciário não possuía
m onografias no nível das dos trib u taristas), os pareceristas do órgão gestor, em bora
sen tin d o as diferenças existentes, lim itaram -se à teoria da exigibilidade dos do cu ­
m entos (cinco anos). Com isso, tanto a decadência q u an to a prescrição ficaram
credoras de avanços científicos significativos.
D esde o art. 178, § 10, do C ódigo Civil, passando pelo D ecreto n. 20.910/1932
e D ecreto-lei n, 4.597/1942, o prazo de prescrição co n tra a U nião e a favor do insti­
tuto previdenciário provocou perplexidade dos estudiosos. C om o a conclusão d e­
p en d ia da n atureza ju ríd ic a da contribuição previdenciária, ela desp erto u correntes
pró e co n tra a subm issão ao CTN. A costado à im prescritibilidade dos benefícios,
o órgão gestor p erseg u iu a prescrição de trin ta anos d u ra n te m u ito tem po, não só
com relação à co n trib u ição incidente sobre a folha de pagam ento com o a p e rtin e n ­
te à quota de previdência.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

434 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O silêncio do T ribunal F ederal de R ecursos, ao ed itar a Súm ula TFR n. 108,
cu id an d o da decadência, qu an to à prescrição, ao tem po de reg rar am bos os in s­
titu to s em relação aos entes políticos, provocou in ú m era s m anifestações da A d­
m inistração Pública, especialm ente a p artir da E m enda C o n stitu cio n al n. 8/1977.
F inalm ente, aportou-se á com preensão da C onsultoria-G eral da R epública, aco m ­
p anhada pelo in stitu to.
De certa form a, o PCSS pôs fim à discussão e, ab strain d o a opinião dos tribu-
taristas, o p razo é de dez anos, convindo exam iná-lo.
Bem diferente do art. 70, § l e, do RCPS (“O disposto n este artigo só se aplica
aos fatos geradores de contribuições ocorridos a p artir da com petência jan eiro de
1986”), a Lei n. 8.212/1991 não tem regra sobre a data do início d a contagem do
prazo prescricional, Nem em relação a quais processos, novos ou em andam ento,
ele incide.
O R egulam ento do C usteio preferia repelir a redação do art. 174 do CTN,
em m edida de discutível liceidade, fixando a in terru p ção do prazo. Dar-se-ia em:
“a) d istrib u ição da execução em ju ízo ; b) protesto judicial; c) o u tro ato judicial
que co n stitu a em m o ra o devedor; d) ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que
im p o rte o reco n h ecim en to do débito pelo devedor; e) citaçào pessoal do d ev ed o r”.
R aciocinando em 1993, sendo certo iniciar-se o prazo de dez anos da deca­
dência, de jan eiro de 1983 para frente, restando d efinitivam ente incobráveis as
com petências dezem bro de 1982 para trás, diferente é a aplicação do início da pres­
crição, en cu rtad o de 30 para dez anos. E n q u an to vigente a norm a anterior, a Lei
n. 3.807/1960, convalidada pela Lei n. 6.830/1980, agiu co rretam en te a instituição
pro m o v en d o a cobrança nesse lapso de tem po. Porém , a p a rtir de 25.7.1991, não
po d e m ais fazê-lo e para os créditos co n stitu íd o s an terio rm en te se não vencida a
trin ten arid ad e, só dispõe de m ais dez anos para obtê-lo. N otificações lavradas, por
exem plo, em 25.7.1989, só podem ser cobradas até 2001.
C om o an tecip ad o no tópico anterior, a Súm ula V inculante STF n. 8 d eterm i­
nou que a prescrição é de cinco anos, sep u ltan d o essa discussão.
519. A nistia de d é b ito s — Anistia é form a excepcional de extinção da ob ri­
gação nascida, p o r m eio da qual a contribuição deixa de existir. A fonte form al é o
art. 150, § 6Q, da CF, no qual fica claro que ela deve provir de lei ordinária.
C aracterizada fu nd am en talm en te pela provisoriedade e direcionabilidade,
geralm ente se refere aos acréscim os, com o a m ulta autom ática. De fato, sobrevem
de tem pos em tem pos ocasionalidade com a finalidade de estim u lar a realização
da receita, quase no bojo de cam panha, nova m odalidade de parcelam ento e com
prazo fatal para sua realização.
Segundo o PCSS, norm a frequentem ente tida com o ordinária (e, p ortanto,
facilm ente revogãvel), a correção m onetária (q u an d o existente), os ju ro s de m ora
e a m u lta au to m ática são irreleváveis, m as, an terio rm en te a 1991, m uitas leis dis­
pensaram essas obrigações e até m esm o fração do principal.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I I — P r e v id ê n c ia S o c ia l
Q uando de sua idealização o legislador opta p o r sujeitos passivos d eterm in a­
dos, situações particulares, raram ente aten d en d o toda a clientela.
Dão-se in ú m ero s exem plos históricos. A Lei n. 6.854/1980 excluiu a m ulta
au to m ática das federações estaduais e clubes de futebol profissional. A ntes disso,
os clubes esportivos am adores tam bém tin h am sido beneficiados (P ortaria MTPS
n. 2.378/1972).
A Lei n. 6.944/1981 dispensou acréscim os em relação a certas em presas do
N ordeste. As entidades de fins filantrópicos foram desobrigadas pelo Decreto-lei
n. 1.966/1982 do pagam ento dos ju ro s e da m ulta autom ática.
M ais tarde, a Lei n. 7.186/1984 relevou a m ulta e os ju ro s p ara todas as em ­
presas. O m esm o já fizera o D ecreto-lei n. 2.088/1983. M issões diplom áticas não
tiveram de p agar ju ro s (O rientação de Serviço 1APAS/SAF n. 75/1985). As autar­
quias educacionais de ensino superior, os ju ro s e m ulta (O rientação de Serviço
IAPAS/SAF n. 71/1984). P refeituras M unicipais, da m esm a form a (P ortaria MPAS
n. 3.382/1984).
Os M unicípios do E spírito Santo, M inas G erais e Rio de ja n e iro , afetados por
inundações e declarados em estado de calam idade pública, p u d eram parcelar em
12 vezes as com petências janeiro a m arço de 1979, sem ju ro s, m u lta e correção
m onetária.
E m presas co ncordatárias não tiveram os débitos acrescidos com a m u lta au ­
tom ática (R esolução IAPAS/SAF n. 395/1990).
Às vezes, o benefício fiscal é gradualizado. O D ecreto-lei n. 1.683/1979 d is­
p en so u 100% da m ulta até 30.6.1979, 80% do seu valor até 31.7.1979 e 60% até
31.8.1979.
Problem a de ordem ju ríd ic a diz respeito a quem , ignorando o favor, n o seu
perío d o de validade, esp o n tan eam en te aten d e u à exigência então arredada. Pagou,
p o r exem plo, a m ulta autom ática q u an d o ela não era reclam ada. A anistia é re n ú n ­
cia fiscal, ato do Estado, justificado p o r m otivo relevante; p o r m eio dela não pode
cobrar o dispensado, m as pode receber, e, se o co n trib u in te ap o rto u , não pode ter
de volta. No m en cio n ado D ecreto-lei n. 1.683/1979 colhe-se: “não será perm itida
a devolução de m ultas pagas, nem a relevação de ju ro s m oratórios e da correção
m o n etária”.
520. R em issão d e valores — Às vezes, o legislador dispensa o co n trib u in te
da obrigação. Fã-lo q u ando isso é conveniente à A dm inistração, prin cip alm en te se
a relação custo/benefício da cobrança torna-a im praticável. M as pode fazé-lo em
o u tras circunstâncias, sem pre consoante os interesses do adm inistrador.

C urso d e D ir e it o P r e v i d e n c i á r i o
436 W f c id im ir N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo Lll

O u tro s R ecu rso s

Sumá r i o : 521. Obrigações da União. 522. Concurso de prognósticos. 523. Fa­

turamento anual. 524. Lucro líquido. 525. Lei Complementar n. 84/1996. 526.
Acréscimos legais. 527. Leilões e apreensões. 528. Seguro obrigatório. 529. Re­
ceitas extras. 530. Apreensão de drogas.

O s recursos u suais e tradicionais, originários da folha de pagam ento e dos


co n trib u in tes individuais, associam -se a variados m odos de financiam ento da p re­
vidência social (e da seguridade social).
À exceção do concurso de prognósticos, depois de fixar os principais m eios,
costum eiros e h istó ricos (sediados na em presa e tendo com o fato gerador p rin ­
cipalm ente a retrib u ição p o r serviços prestados, o faturam ento anual, o lucro li­
q u id o ), objeto dos incisos I a 111 do art. 195, quase u n an im em en te aceitos pela
d o u trin a com o disciplinãveis p o r lei ord in ária — em seu § 4 S, a C arta M agna de
1988 dita: “a lei poderá in stitu ir o u tras fontes destinadas a garantir a m anutenção
ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, 1”. Este ú lti­
m o reza: “A U nião poderá instituir: I — m ediante lei com plem entar, im postos não
previstos no artigo anterior, desde que sejam não cum ulativos e não ten h am fato
g erad o r ou base de cálculo p ró p rio s dos discrim inados nesta C o n stitu ição ”.
O Texto M aior p ressupõe não serem as fontes de 1988 capazes de aten d e r às
n ecessidades e o sistem a precisar am pliá-las.
U ltim am en te, a n atureza dessas fontes inéditas ficou em evidência e foi q u es­
tionada. P rin cip alm en te após a ADI n. 1.202.2/D F e a edição da Lei C om plem entar
n, 84/1996.
A usente nas con stituições anteriores (inexistia preocupação com o futuro),
o dispositivo reproduzido pode ser decom posto em vários itens: a) veículo nor­
m ativo; b) n atu reza das novas fontes; c) finalidade protetiva; e d) rem issão ao art.
154, I.
a) veículo normativo: lnexiste consenso na d o u trin a sobre ser lei ordinária ou
necessariam ente ser lei co m p lem en tar a regra in stru m en talizad o ra do propósito. A
C arta M agna u tiliza a expressão “lei” com o sentido de n o rm a infraconstitucional,

C urso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P revidência S ocial 437


qu an d o m anda regular certo tem a, e, então, nem sem pre prom ovendo distinção.
P o r exem plo: “na form a da lei”, “n os term os da lei” (art. 194, parágrafo ún ico ) e
“exigência estabelecida em lei” (art. 195, § 7e).
Ela o faz alu d in d o ora à lei ordinária, exceto qu an d o as distingue (caput do
art. 61), sem u sar ex p licitam ente a qualificadora, ora à lei com plem entar (então,
enun cian d o claram ente), e, diferentem ente de ouLros m om entos, no T ítulo VIII —
Da Ordem Social, não se referiu à m encionada lei com plem entar.
Por o u tro lado, em m atéria laborai, no inciso 1 do art. 7e, abrindo a regula­
m entação trabalhista, im põe-na. No dom ín io tributário, o vocábulo “lei com ple­
m en tar” am iúda em diversas o p o rtu n id ad es (caput do art. 116, arts. 148, 161, 163
e 154,1, 155, XXI, e 165, § 9Q).
Por sua excepcionalidade, abstraindo a rem issão, a deseja qu an d o o laz ex­
pressam ente.
Em sum a, a CF adota o vocábulo “lei”, pelo m enos com os seguintes significa­
dos: 1) de lei ord in ária propriam ente dita; 2) qualificando explicitam ente (aí in clu í­
das as norm as dos incisos II a VI do art. 59) e, então, dizendo “lei co m p lem en tar”;
3) em caráter genérico, com o sinônim o de norm a legal; 4) sem deixar claro qual
deles, obrigando à exegese sistem atizada. Nos dois ú ltim o s casos, com etendo a
difícil tarefa à in terp retação doutrinária.
A usente qualificadora no início do aludido § 4°, a princípio essa a vontade
legislativa, pende para a ordinária, precisando ser justificada a afirmaLiva de ser a
com plem entar. O ô nus da dem onstração é de q uem alegar ser esta últim a; assim ,
ainda sem prosseguir n a análise, pode ser acolhida com o a ordinária.
O texto controverso idealiza-se com a quarta adm issão anterior, vale dizer,
não estar tran sp aren te a mens legislatoris. Por isso, alguns intérpretes socorrem -se
in fin e (“obedecido o d isposto no art. 1 5 4 ,1”), abreviando a sua tarefa de perquirir.
Mas as fontes principais, n o sen tid o de tradicionais e pecuniaríam ente vultosas
(art. 1 9 5 ,1/III), serem ditadas p o r leis ordinárias, despertam ipsofacto a indagação:
qual a causa das secu n d árias terem de ser diferentes? Estaria o co n stitu in te satisfei­
to com aquelas e p retender em baraçar a novidade? Proclam ando a expansão, aliás,
abrigando a ideia da m anutenção (su p o rte), qual a causa de dificultá-la?
O co n stitu in te, ao conceber o § 4 ?, em vez de facultar m ajoração das alíquotas
das fontes p rincipais (com resultado final duvidoso), preteriu adm itir a criação de
novas, d istin tas daquelas, com outros fatos geradores e, então, haver possibilidade
de sucesso fiscal.
Tais ponderações, en tretan to , não são suficientes para pôr lim ã dúvida quanto
ã norm a, em face do infine. A parentem ente, o deslinde da questão parece sediar-se
naquele final do texto.
O art. 1 5 4 ,1, tem regra ju ríd ic a exacional universal e fornece veículo n o rm ati­
vo para a espécie trib u tária ali contem plada, m as não a certeza de im pô-lo q u an d o
de rem issão.

C urso de D ir e it o P k e v id e n c iá r io

438 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
b) natureza das “novas fo n te s’’: C onvém alcançar o significado do “o u tra s”,
especialm ente se fala em “fo n tes”, q u an d o no caput se usa “contribuições sociais”.
íves Gandra da Silva Martins, in d ep en d e n tem en te de en tendê-las tributárias,
não as têm com o co n trib u içõ es sociais. Já as viu assim , m as m u d o u de ideia e vê
d isp arid ad e en tre as duas. Alega: “Se pretendesse o co n stitu in te falar em ‘c o n tri­
buição social’, não teria se utilizado da expressão ‘outras fontes’, m as de ‘outras
co n trib u içõ es sociais’”. E aí conclui serem im postos.
Para n ão perdê-lo de vista, reproduz-se ainda um a vez o texto sob enfoque: “A
lei p o d erá in stitu ir ou tras fontes destinadas a garantir a m an u ten ção o u expansão
da seg u rid ad e social, obedecido o disposto no art. 154, I.”
“O u tra s” pressupõem algum as, existentes, e são in stitu cio n alm en te as p rin ­
cipais, p o d en d o as novas p o ssu ir as características fu ndam entais das antigas. Até
aqui n ada im pede serem as contribuições sociais. Se outras não são as m esm as e,
p o rtan to , n ão podem ser iguais às dos incisos I a III, isto é, en tre outros aspectos,
tom ar-lhe o m esm o fato gerador; m as, se a finalidade define a espécie, com vistas
aos objetivos, não tem sen tid o lá serem co n trib u içõ es sociais e aqui deterem outra
essência. Seriam acréscim os ou adicionais delas. C om igual fito (pois o co n stitu in ­
te o p to u p o r m anuLenção ou expansão) e não o u tro papel da seguridade social,
aco m p an h aram a n atureza daquela.
A referência a “fo n tes” em vez de “co n trib u içõ e s” pode ser explicada sem
aletar a conclusão. O legislador co n stitu in te usa sinônim os para não ter de repetir.
Fala em “participação n o custeio” (art. 194, V) e, logo em seguida, em “base de
fin an ciam en to ” (art. 194, VI). Ora diz “financiada”, ora em “recu rso s” e, é claro,
em “con trib u içõ es sociais”. Por vezes, prefere receitas. N en h u m a prestação pode
ser m odificada “sem a correspondente fonte de custeio total” (§ 59). N esse caso, se
tom ada a expressão “fo n te” com o não sendo contribuição social não poderia m e­
lh o rar os benefícios sem receita nova.
E n ten d en d o -se cada um a dessas palavras com significado p ró p rio , poder-se-ia
criar prestação nova sem contribuição social (§ 5e), sem trim estralidade (§ 69), e
elas não p o d eriam aten d e r às contingências do art. 2 0 1 ,1 a V, e q u alq u er pessoa não
poderia p articip ar (§ l e) e assim p o r diante, e isso é resultado absurdo.
c) finalidade protetiva: Diz o § 49 destinarem -se as novas fontes ã m anutenção
ou expansão da seguridade social. M anutenção é o prosseguim ento das atividades
(prestação de serviços e pagam ento de benefícios); destarte, seriam os m esm os e os
recursos aco m p an h ariam a finalística dos co n tid o s nos incisos I a III. E xpansão sig­
nifica am pliação ou da clientela ou dos benefícios e, ainda assim , nos seus lim ites.
S u ponha-se criação d e exação com vistas ao seguro-desem prego. Tratar-se-ia
de d ireito secu ritário a ser en q u ad rad o nu m a de suas vertentes, obviam ente a da
previdência social.
Tais prestações são securitárias e co n tin u am sendo as m esm as dos referidos
incisos. Vale dizer, se n ão securitárias não interessa co n sid erar o § 4-, e se forem
necessariam ente serão as m esm as dos referidos incisos.

439
C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o f l — P r e v id ê n c ia S o c ia l
d) remissão ao art. 1 5 4 ,1: C om o antecipado, a rem issão é o nó górdío da q u es­
tão. A opção p o r alguns pressupostos lógicos encam inhará as diferentes soluções.
P artindo da ideia de a contribuição previdenciária ser m odalidade tributária,
a translação encaixa-se perfeitam ente n a alusão a im postos no art. 154, 1 (quase
indicando ser tal exação u m im posto vinculado). N esse caso, fica claro dever ser
lei co m p lem en tar e sobrevirá seguram ente a hipótese de bitributação. É p o n to de
vista enraizado na m aioria dos tributaristas.
A colhendo-se, en tretan to , a ainda m inúscula, m as crescente, corrente previ­
denciária ( “N atureza jurídica da contribuição previdenciária na Carta M agna de
1988”, São Paulo: Ed. Dialética, 1996, p. 235/269) de ser a exigibilidade exação
não tributária e ad m itindo-se a existência de um sistem a exacional nacional, a
conclusão cam inhará no sentido oposto: a n o rm a referida pode ser ordinária, a re­
m issão dirá respeito ao m ecanism o do art. 1 5 4 ,1, p o r sua universalidade, e as novas
fontes serão co n trib u ições sociais com fatos geradores d istin to s dos previstos nos
art. 195, I a 111. N essas condições, a obrigação prevista na Lei C om plem entar n.
84/1996 em relação ao em presário e au tô n o m o é perfeitam ente sustentável.
Jam ais prospera tam bém a im possibilidade de a rem issão ser à parte do texto,
devendo ser de sua totalidade. À evidência não é de boa técnica esse fatiam ento da
regra, m as, para não repetir, de o u tra solução não d isp u n h a o legislador.
N aquele m om ento, o elaborador da norm a poderia repelir as ideias contidas
no art. 154,1 (não referir à cum ulatividade, ao fato gerador e à base de cálculo), ou
rem eter a ele. Preferiu a últim a hipótese.
521. O b rigações d a U nião — De acordo com o caput do art. 194 da CE a
seguridade social “co m preende um co n ju n to integrado de ações de iniciativa dos
Poderes P úblicos e da sociedade, destinadas a segurar os direitos relativos à saúde,
à previdência e à assistência social”.
Im plem entando diz o caput do art. 195, ser ela financiada por toda a sociedade,
de form a direta e indireta, nos term os da lei, “m ediante recursos provenientes dos
O rçam entos da U n ião...”.
A parte da União é específica, co n stitu íd a de recursos fiscais fixados na m en ­
cionada lei o rçam en tária anual. O quantum da U nião é estabelecido no parágrafo
único do art. 16 do PCSS, co rrespondendo a eventuais insuficiências financeiras da
seguridade social, e tudo isso na form a da lei orçam entária anual.
Na condição de co n tratan te de serviços (d ad o r), a U nião tam bém é resp o n sá­
vel pela parte patronal.
522. C o n cu rso d e p ro g n ó stico s — R ecordando um pouco a Lei Eloy C haves
(tinha respeitável diversidade de fontes), o PCSS criou recurso atípico, ou seja,
a “renda líquida d o s concursos de prognósticos” (caput do art. 26 do PCSS). Na
op o rtu n id ad e, definiu-o com o sendo “todos e q uaisquer concursos de sorteios de
núm eros, loterias, apostas, inclusive as realizadas em reuniões hípicas, nos âm bitos
federal, estadual, do D istrito F ederal e m u n icip al”, excetuando-se “os valores des­

•j fjtó -i
C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

440 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
tinados ao Program a de C rédito E ducativo” (Lei n. 8.436/1992) e 3% do m ontante
arrecadado para o F u n d o P enitenciário N acional — FUNPEN (Lei C om plem entar
n. 79/1994). Com exceção das corridas de cavalo (única form a de jo g o então per­
m itida), a exploração de todos os sorteios, loterias, apostas, organizadas pelo Poder
Público. Não estão in cluídos os co n cu rso s ou q u alq u er nom e atrib u íd o , se organi­
zados pela iniciativa privada. A “tele sen a” e o “p a p a tu d o ” foram au to rizad o s pela
Receita F ederal sob a presunção de serem títulos de capitalização. D em onstrado
o co n trário , co n stitu em sim ples sorteios de núm eros e, nesse caso, caracterizados
com o jog o s de azar, configurariam a contravenção penal, restando difícil tê-los
com o receita previdenciária.
E xtintas as antigas quotas de previdência, essa é hip ó tese de incidência d is­
tan te da em presa e do trabalhador, isto é, do labor p ro p riam en te dito. É em pe­
n h o desm edido do legislador de en c o n trar fundos para ten tar co b rir as crescentes
despesas da previdência social, en ten d en d o -se dever essa fonte de recursos estar
canalizada p articu larm en te para a assistência social.
Os “in cid en tes sobre a receita”, com o alude o art. 11, parágrafo único, e a p ró ­
pria receita líquida do concurso são fontes de custeio. N um a palavra, a verdadeira
co n trib u ição da sociedade à seguridade social, exação inteiram ente desvinculada,
em sua origem , do beneficiário. Não há base de cálculo. O valor da receita deve ser
vertido em favor do FPAS.
Sem ser fonte de recurso tão im p o rtan te, co n sto u do art. 195, II, da CF, a d e­
m onstração da preocupação do co n stitu in te em d eixar clara a exigibilidade.
A redação do § 29 do art. 26 do PCSS gerou incertezas e polêm icas. Diz ser
renda líquida o total da arrecadação, d eduzidos os valores d estin ad o s ao pagam en­
to dos prêm ios, dos im postos e de despesas com adm inistração, “conform e fixado
em lei”. E n q u an to essa lei não vier, o conceito de arrecadação p o d erá ser ab ran ­
gente, in clu in d o toda a receita da en tid ad e turfística, abarcando renda financeira
e patrim onial. A m enção a im postos é precária, renascendo o dissídio relativo à
n atureza ju ríd ica da contribuição previdenciária.
Im p o sto s são espécies tributárias e contribuição social não é nem im posto
n em tributo. A in ten ção do legislador, à vista do caput, e o total arrecadado em
razão das corridas de cavalos, aí presente o aspecto lúdico, é desco n tar as despesas
operacionais, nelas in cluindo a folha de pagam ento dos seus trabalhadores e todos
os encargos sociais. O final do dispositivo acresce o valor co rresp o n d en te ao uso
de deno m in açõ es e sím bolos.
523. F a tu ra m e n to an u al — C om o n o m e de FINSOCIAL, alterad o para
C O FIN S a p artir de I a.1.1992, o D ecreto-lei n. 1.940/1982 criou contribuição de
0,5% in cidente sobre a receita b ru ta das em presas públicas e privadas, vendedoras
de m ercadorias, b em com o instituições financeiras e co m panhias seguradoras. Si­
m u ltan eam en te, o u tro aporte de 5% do im posto de renda das em presas públicas e
privadas p restadoras de serviços.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 441
No en tan to , am bas destinadas “a custear investim entos de caráter assisten-
cial em alim entação, habitação popular, saúde, educação e am paro ao peq u en o
p ro d u to r” (fim secu ritário), são exações distintas, denom inadas, pelo D ecreto-lei
instituidor, de co n tribuição social possivelm ente, com vistas ao destino final dos
recursos am ealhados.
A arrecadação seria prom ovida pelo Banco do Brasil S/A. e Caixa Econôm ica
Federal, e os m eios ad m inistrados pelo BNDES. Para alguns, não participando do
sistem a de arrecadação e fiscalização do INSS, não seria contribuição social. M áxi-
m e com p o n d o o O rçam ento da União.
O D ecreto-lei p reten d eu ter eficácia a p artir de 1Q.6.1982, sendo sua edição de
25.5.1982, mas, concebida a exigência pelos tribunais com o tributo, vigeu a partir
de I a.1.1983.
Sucessivam ente várias norm as d ispuseram sobre a m atéria. A Lei n. 7.787/1989
am pliou a alíquota para 1%, foi aum entada pela Lei n. 7.894/1989 para 1,2% e,
finalm ente, com a Lei n. 8.147/1990, alçou-se a 2%. C om a Lei C om plem entar
n. 70/1991, passou a cham ar-se COFINS.
Valdir de Oliveira Rocha sum ariou a evolução da obrigação: a) as em presas
exclusivam ente prestadoras de serviço não ficaram sujeitas à exação, no período de
1988 e de l fi. 1.1989 a 31.8.1989; b) as em presas ficaram subm etidas à contribuição
pela alíquota de 1% sobre a receita bruta, a partir de 1Q,9.1989 e até 22.1.1990; c) a
co n tar de 23.1.1990 e até 13.3.1991, a contribuição foi de 1,2% da receita bruta; d)
a p artir de 14.3.1991, a contribuição passou a ser de 2%; e e) a partir de 2.2.1992,
a co n trib u ição para o F1NSOC1AL só é devida p o r em pregadores, ou seja, quem
m antém co n tratados sob relação de em prego (“A com petência trib u tária residual
da União e a co n trib u ição do FINSOCIAL”, in R epertório IOB de Ju risp ru d ê n cia
da I a q uinzena de novem bro de 1991, n. 21/1991).
524. Lucro líq u id o — O art. 23, II, do PCSS fixou exigibilidade previden­
ciária fiscal de 10% “sobre o lucro líquido do período-base, antes da provisão do
Im posto de Renda, ajustado na form a do art. 2g da Lei n. 8.034, de abril de 1990”,
d estinada à polêm ica.
A origem da exação foi a Lei n. 7.689/1988, ten d o sido considerada inconsti­
tucional a sua cobrança no ano de 1988, considerando-a im posto. N ão escapou à
discussão sobre dever ser lei com plem entar.
Um a lei original tin h a com o sujeito passivo as pessoas ju ríd icas e a base de
cálculo, o valor do resultado do exercício, antes da provisão para o Im posto de Renda.
A líquota de 8%, e as in stituições referidas no art. I 9 do D ecreto-lei n. 2.462/1988,
sob taxa de 12%.
Desde sua concepção, a arrecadação e a fiscalização, de m odo geral, co u b e­
ram à Secretaria da Receita Federal do Brasil. O prazo para o reco lh im en to era o
“ú ltim o dia útil do m ês de janeiro do exercício financeiro, ressalvado o direito
ã opção prevista no art. 17”. N este ú ltim o artigo, m encionava a possibilidade de o
pagam ento ser feito n os prazos dos D ecretos-leis ns. 2.054/1987 e 2.462/1988,
e Leis ns. 7.689/1988 e 7.713/1988.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

442 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
A LC n. 70/1991 m ajo ro u a alíquota das in stitu içõ es financeiras para 2%, mas
as disp en so u do pagam ento da contribuição sobre o faturam ento. C om a Lei n.
9 .718/1998, passo u a ser de 3%.
525. Lei C o m p le m e n ta r n. 8 4 /1 9 9 6 — A LC n. 84/1996 restabeleceu antiga
exigibilidade fiscal p atronal, com essa feição criada pela Lei n. 7.787/1989 (co n si­
derada in co n stitu cio n al, pelo STF, na ADI n. 1.202.2/D F), rep resen tan d o 15% do
v alor pago ao em presário, au tô n o m o (p o d en d o ser de 20% do seu salãrio-base) e
do avulso (sic).
C om vigência a p artir de m arço de 2000, a Lei n. 9.876/1999 m odificou a LC
n. 84/1996 e fixou a alíquota em 20% em relação à rem uneração paga a todos os
co n trib u in tes in d ividuais que prestarem serviços à em presa (PCSS, art. 22, III e art.
201, II, do RPS, com a redação do D ecreto n. 3.265/1999).
526. A créscim os legais — A créscim os legais são consectãrios pecu n iário s da
co n trib u ição devidos à m ora do co n trib u in te. Previstos inicialm ente no C apítulo
VII — Das Outras Receiteis (PCSS, art. 27, I), eram três: a) m u lta au to m ática (art.
35); b) ju ro s m o rató rio s (art. 34); e c) atualização m onetária (art. 36, revogado
pela Lei n. 8.218/1991).
Os dois prim eiro s são aduções reais ao valor principal atualizado e funcionam
com o sanção ao sujeito passivo inadim plente. O terceiro não acresce o m o n tan te,
apenas o restaura diante do processo inflacionário.
Todas essas im p ortâncias são aferíveis a p artir do quantum original, depois
de atualizado. A correção m onetária resulta da aplicação do coeficiente m ensal
representativo da perda do p o d e r aquisitivo da m oeda. Se n ão h á inflação, o índice
tem de ser 1. Com a Lei n. 8.218/1991 tecnicam ente deixou de existir a correção
m o n etária, m as com os ju ro s SELIC ela é efetivam ente restabelecida.
a) juros moratórios: Os ju ro s de m ora são de 1% ao m ês do vencim ento e equi­
valentes à taxa referencial do Sistem a Especial de Liquidação e de C ustódia — SE-
LIC, n o s dem ais m eses, conform e o art. 13 da Lei n. 9.065/1995 (Lei n. 9.528/1997).
b) m ulta automática: Até a m ensalidade de m arço de 1997, a m u lta conhecia
cinco m odalidades: a) 10% — se recolhidas as contribuições até a data do venci­
m ento e se não co nstarem de NFLD; b) 20% — se pagas d en tro de quinze dias,
co n tad o s da NFLD; c) 30% — se pagas m ediante parcelam ento; d) 60% — nos
dem ais casos e até m esm o q u an d o d o d escu m p rim en to d o acordo p ara o parcela­
m en to ou reparcelam ento; e e) contribuições não notificadas incluídas em acordo
de parcelam ento estão sujeitas a 30% de m ulta.
D esde a co m p etência abril de f9 9 7 , nos term os da Lei n. 9.528/1997, passou
a ser: “1 — para p agam ento, após o vencim ento de obrigação não incluída em
notificação de lançam ento: a) q u atro p o r cento, d en tro do m ês do vencim ento da
obrigação; b) sete p o r cento, no m ês seguinte; c) dez p o r cento, a p artir do segundo
m ês segu in te ao do vencim ento da obrigação”.
No caso de p agam ento de créditos incluídos em notificação fiscal d e lança­
m ento: “a) doze p o r cento, em até 15 dias do recebim ento da notificação; b) quinze

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / / — P r e v id ê n c ia S o c ia l
p o r cento, após o 15e dia do recebim ento da notificação; c) vinte p o r cento, após
apresentação de recurso desde que antecedido de defesa, sendo am bos tem pestivos,
até 15 dias da decisão do C onselho de R ecursos da Previdência Social — CRPS;
d) vinte e cinco p o r cento, após o 15g dia da ciência da decisão do C onselho de
R ecursos da Previdência Social — CRPS, en q u an to não inscrito em Dívida Ativa”.
Se o débito foi in scrito em dívida ativa: “a) trin ta p o r cento, q uando não tenha
sido objeto de parcelam ento; b) trin ta e cinco p o r cento, se h o u v er parcelam ento;
c) quaren ta p o r cento, após o ajuizam ento da execução fiscal, m esm o que o deve­
d o r ainda não ten h a sido citado, se o crédito não foi objeto de parcelam ento; d)
cin q ü en ta por cento, após o ajuizam ento da execução fiscal, m esm o que o devedor
não tenha sido citado, se o crédito foi objeto de p arcelam en to ”.
Nas hipóteses de parcelam ento ou reparcelam ento, diz o § l e: “incidirá um
acréscim o de vinte p o r cento sobre a m ulta de m ora a que se refere o caput e seus
incisos”.
Se h o u v er pagam ento antecipado à vista, no todo ou em parte, do saldo deve­
dor, “o acréscim o previsto no parágrafo an terio r não incidirá sobre a m ulta corres­
po n d en te à parte do pagam ento que se efetu ar” (§ 2e).
Reza o § 39 do art. 35 do PCSS: “O valor do pagam ento parcial, antecipado do
saldo devedor de p arcelam ento ou de reparcelam ento so m en te poderá ser utilizado
para quitação de parcelas n a ordem inversa do vencim ento, sem prejuízo da que for
devida no m ês de com petência em curso e sobre a qual incidirá sem pre o acréscim o
a que se refere o § 1Qdeste artigo” (redação da Lei n. 9.528/1997).
Com a Lei n. 9.876/1999, esses percentuais foram novam ente m odificados e
ex vi do art. 35 do PCSS, vigem com os seguintes núm eros:
I — para pagam ento, após o vencim ento da de obrigação não incluída em
NFLD: a) oito p o r cento, d en tro do m ês de vencim ento da obrigação; b) quatorze
p o r cento, no m ês seguinte; e c) vinte p o r cento, a p artir do segundo m ês seguinte
ao do v encim ento da obrigação;
II — para pagam ento de créditos incluídos em NFLD: a) vinte e quatro p o r
cento, em até 15 dias do recebim ento da notificação; b) trinta p o r cento, após o
décim o q u in to dia do recebim ento da notificação; c) q uarenta p o r cento, após apre­
sentação de recurso desde que antecedido de defesa, sendo am bos tem pestivos, até
15 dias da ciência da decisão do CRPS; e d) cinqüenta p o r cento, após o décim o
q uin to dia da ciência da decisão do CRPS, enq u an to não inscrito em Dívida Ativa;
III — para pagam ento do crédito inscrito em Dívida Ativa: a) sessenta por
cento, q uando não lenha sido objeto de parcelam ento; b) setenta p o r cento, se
houver parcelam ento; c) oitenta p o r cento, após o ajuizam ento da execução fiscal,
m esm o que o devedor ainda não tenha sido citado, se o crédito não foi objeto de
parcelam ento; d) cem p o r cento, após o ajuizam ento da execução fiscal, m esm o
que o devedor ainda não tenha sido citado, se 0 crédito foi objeto de parcelam ento.
527. L eilões e a p reen sõ e s — Q uarenta por cento do valor dos leilões realiza­
dos peío D epartam ento da Receita Federal destinam -se à seguridade social.

C u n s o d í; D i r e i t o P r e v i d e n c i á r i o
444 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
528. Seguro obrigatório — Q uando o beneficiário do RGPS sofre acidente de
trân sito , se acio n ad o ente da seguridade social, a despesa é geralm ente paga pelo
MPS, in d ep en d e n tem en te de o u tras considerações sobre a indenização civil. N esse
sen tid o , a Previdência Social custeia gastos cuja causa ou origem estariam cobertas
p o r seguro priv ad o obrigatório.
O PCSS prevê obrigação com alíquota (50% ) e base de cálculo (valor do p rê ­
m io atípico, de n atureza ím par, destinada especificam ente ao SUS “para custeio da
assistência m éd ico -h o spitalar dos segurados vitim ados em acidentes de trân sito ”).
O sujeito passivo da obrigação, não confundível com eventual indenização
civil devida pela causa do acidente, é a co m panhia seguradora. A hipótese de in ­
cidência é o pagam ento do prêm io. O fato deflagrador, o acidente causado “p or
veículos au to m o to res de vias terrestres” (Lei n. 6.194/1974). C onform e o D ecreto
n. 1.017/1993, os 50% devem ser recolhidos diretam ente ao F u n d o N acional de
Saüde.
529. Receitas extras — O art. 27 do PCSS, além de genérico ( “outras receitas
previstas em legislação especial”), prevê, ainda, recursos p rov en ien tes de prestação
de o u tro s serviços e de fornecim ento ou arren d am en to de bens; receitas p a trim o ­
niais, in d u striais e financeiras, doações, legados e subvenções.
Com a aplicação do disposto no art. 10 do PBPS, o INSS vem acionando as
em presas causadoras de acidentes do trabalho p o r negligência m ed ian te a ação
regressiva.
530. Apreensão de drogas — Diz o parágrafo ú nico do art. 243 da C o n sti­
tuição Federal: “Todo e q u alq u er bem de valor econôm ico ap reen d id o em decor­
rência do tráfico ilícito de en to rp ecen tes e drogas afins será confiscado e reverterá
em benefício de in stituições e pessoal especializado no tratam en to e recuperação
de viciados e no ap arelham ento e custeio de atividades de fiscalização, controle,
prevenção e repressão do crim e de tráfico dessas su b stân cias.”

C urso de D ir e it o P rf -VIDF. n c i a r í o

T om » I I — P r e v id ê n c ia 5 o c i a l
Capítulo Llll

Es t á g i o s da Empresa

S u m á r i o : 531. Início das operações. 532. Fusão de firmas. 533. Incorporação d e

patrimônio. 534. interdição d e estabelecimento. 535. Intervenção estatal. 536.


Liquidação extrajudicial. 537. Desapropriação governamental. 538. Estatização
e privatização. 539. Requisição d e bens. 540. Encerramento de atividades.

C om o nascem , as em presas fenecem ; assim com o surgem , elas desaparecem .


No curso de seu desenvolvim ento, podem passar p o r diferentes fases, cada um a
delas com significado p rático e ju ríd ico e alguns reflexos n a responsabilidade ju n to
à previdência social.
531. Início das operações — Devem ser sopesados dois m o m en to s em rela­
ção ao n ascim ento da em presa: a) ato de constituição do em preendim ento; e b)
início das atividades.
C onsiderar-se-ão duas op o rtu n id ad es, a prim eira com vistas aos deveres for-
tnais, entre os qu ais o de m atricular-se, e, n a segunda, pensando-se na exigibilidade
fiscal de contribuição.
A prim eira fase é assinalada p o r providências típicas de instalação, com a
celebração de co n trato s p ró p rio s do estágio, caso da locação de im óveis, aquisição
de insum os, m óveis, m ercadorias etc. São igualm ente im p o rtan tes os registros nos
órgãos públicos, em que se p o d erá obter a data do início das atividades.
C aracteriza-se a segunda fase pela prática de atos conclucentes à hipótese de
incidência. Presente o prim eiro fato gerador de q u alq u er obrigação fiscal, principal
ou acessória, tem -se su bstanciado o início das atividades para os diferentes fins.
532. F u são de firm as — Na fusão, duas ou m ais em presas são ju rid icam en te
reu nidas, m an ten d o -se a razão social de um a delas ou criando-se nova. Pode su ­
ceder, então, de as sucedidas terem desaparecido e em ergir terceira, com d en o m i­
nação própria.
533. Incorporação de patrimônio — Na incorporação, a em presa adquire
o u tra parcial ou integralm ente. As obrigações e os direitos são praticam ente iguais
aos da fusão. A ad q u irente, em relação à adquirida, ser sucessora.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

446 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Já na fusão e na in corporação sobrevêm a sucessão, o correndo transferência
da p ro p ried ad e de em presa privada por ato de vontade dos proprietários. Altera-se
a razão socia! da in co rp o rad a, m odifica-se a em presa, m as os d ireitos e obrigações
trabalhistas e previdenciários co n tin u am os m esm os.
534. In te rd iç ã o d e estab e lecim en to — Interdição é figura ju ríd ic a branda
da presença do Estado. A em presa não sofre intervenção nem liquidação, apenas
tem p o rariam en te fica im pedida de operar. C aracterística da interdição é referir-se
à parte do estabelecim ento da em presa e p o r prazo b astan te reduzido. Basta ao
in terd itad o aten d e r às p o stu ras m unicipais e re to rn ar ao pleno funcionam ento.
535. In tervenção estatal — As em presas, m esm o as de direito privado, podem
sofrer ação do Estado, sob diferentes intensidades, sendo m ultadas, interditadas, im ­
pedidas de funcionar, confiscadas, estatizadas, enfim, sofrer intervenção lato sensu.
A in terv en ção é m edida excepcional, invasão de área vedada h abitualm ente
ao Estado e, p o r isso, d ep en d e de lei. O in terv e n to r sucede o intervindo. G eralm en­
te, a razão social vem com a indicação “sob in terv en ção ”.
Dá-se exem plo atípico com as entidades de previdência privada (fundos de
p en são), cuja in tervenção p o r parte da Secretaria de Previdência C om plem entar é
prevista n a LC n. 109/2001.
536. L iq u id ação e x tra ju d ic ia l — A lgum as em presas, p o r determ inação legal,
são extintas m ed ian te liquidação extrajudicial. Trata-se de processo com plexo, ge­
ralm en te su b seq u en te à intervenção.
L iquidação é form a de desaparecim ento das sociedades de pessoas. Pode ser
c o n tratu al, p o r d istrato, ou ju dicial, esta ú ltim a com a interferência do P oder J u ­
diciário. E m bora a razão social opere com a expressão “em liquidação”, d u ran te
essa agonia da sociedade, ela age n o rm alm en te sem a responsabilidade ser afetada
(L e in . 6.024/1974).
537. D esap ro p riação governam ental — Na desapropriação, com o ato do Esta­
do, o em preendim ento desaparece. Ele é adquirido por preço fixado pela autoridade,
com vistas ao bem da coletividade. É m uito com um por parte das m unicipalidades.
D esapropriação significa transferir co m pulsoriam ente bem do patrim ô n io
p articu lar para o d om ínio do Estado, nas palavras de Nelson Schiesari (“Direito
A d m in istrativ o ”, 2S ed., São Paulo: H em erson Ed., 1977, p. 238). Trata-se de ato
de im pério da A dm inistração, não cabendo ser apreciado pelo P oder Ju d iciário , em
sua o p o rtu n id ad e e discrição.
538. E statização e p riv atização — E statização e privatização são processos
assem elhados, invertidos. No p rim eiro deles, a em presa de direito privado é to rn a ­
da p ro p ried ad e do E stado, m ediante algum a form a de aquisição.
A encam pação é in stitu to ju ríd ic o de D ireito A dm inistrativo. Tem proxim i­
dade com a d esapropriação, no sentido de com o se opera a apropriação do bem
privado. Trata-se de com pra p o r vontade do Estado, à q ual corresponde, n atu ra l­
m ente, o pagam ento.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o fJ — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 447
P or o u tro lado, confisco é m edida extrem a. Tem sem elhança com a d esapro­
priação. Atinge frontalm ente o direito de propriedade. N ele, o E stado assum e a
pro p ried ad e, responsabíliza-se pelo ativo e passivo e se torna, p ara todos os efeitos,
o sucessor da en tidade confiscada.
Na privatização, a em presa estatal transform a-se em particular, m ediante lei­
lão dos bens, controle acionário ou sim plesm ente aquisição de seu patrim ônio.
Tanto q u an to n a estalização as responsabilidades são da sucessora.
539. R equisição de b e n s — A requisição consiste na apropriação de deter­
m inado bem p o r parte do Estado. A urgência da providência é pressuposto lógico
e fato d eterm in an te da m odalidade; a m edida em si constitui constrangim ento in ­
vulgar ao direito de pro priedade, m as se im põe porque, caso contrário, certam ente,
bem m aior da coletividade perecerá.
540. E n ce rra m e n to de a tiv id a d e s — A extinção, porém , pela p ró p ria n a ­
tureza da m orte do em preendim ento, na prática, não é sem elhante à abertura.
M uitas vezes, se segue à cessação de atividades, q uando tom adas as providências
regulares, m as freq u en tem ente isso não acontece; sim plesm ente são abandonados
os registros e os d o cum entos.
Os órgãos estad u ais e m unicipais fiscais exigem a com unicação form al, provi­
dência nem sem pre tom ada, dificultando a fixação da data do encerram ento.
Tanto q u an to o início, existem dois m o m en to s distintos: a) cessação das ati­
vidades econôm icas (v. g., p rodução, industrialização, com ercialização, prestação
de serviços etc.), caracterizada pelos registros contábeis dos fatos inerentes; e b)
cessação ju ríd ica da em presa m ediante com unicação aos órgãos próprios.
Até o fim da p rim eira fase p o d e estar presente o fato gerador de obrigação
fiscal, e, na segunda fase, obrigações acessórias. A contece a prim eira q uando ca­
racterizado o últim o fato gerador de obrigação fiscal. Já a segunda, com a últim a
com unicação oficial.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

448 W la d tm ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo LIV

D inâmica da Exigibilidade

541. Responsabilidade original. 542. Solidariedade fiscal. 543. Cons­


S u m á r ío :
tituição do crédito. 544. Obrigações principais. 545. Deveres acessórios. 546.
Cobrança administrativa e judicial. 547. Medida cautelar fiscal. 548. Modali­
dades extintivas. 549. Reslituição e compensação. 550. Inexistência de débito.

A exigibilidade das contribuições, em relação à em presa (o principal c o n tri­


b u in te), conhece sucessivos passos, com o a definição da responsabilidade p rin ci­
pal e acessória. Tam bém é im p o rtan te discorrer sobre a co n stitu ição do crédito e
as m edidas jurídicas cabíveis, até, e prin cip alm en te, as referentes às m odalidades
extintivas da obrigação.
541. R esp o n sab ilid ad e o rig in al — D iversas pessoas físicas e ju ríd icas, de di­
reito privado e público in tern o ou externo, têm o dever de c o n trib u ir o u repassar
valores ao FPAS. E xcepcionalm ente, no caso de doações ou legados, sem a onero-
sidade. Poder-se-ia co n clu ir o m esm o em relação ao facultativo, mas seria m eia-
-verdade. Se esse segu rado deseja filiar-se ou se m an ter filiado e p o d er u sufruir as
prestações, carece de c o n trib u ir e então é tolhido em sua liberdade.
A responsabilidade exacional cifra-se pelo m o n tan te principal, corrigido, se
presente inflação, acréscim os em razão da m ora (juros e m u lta au tom ática) e até
m ulta fiscal p o r infrações.
O brigação, n o co m u m dos casos, dita principal ou originária, p o d en d o ser
derivada ou secundária. O sujeito passivo é diretam ente responsável (q u an d o e n ­
volvido pro x im am en te com o fato gerador) e corresponsável ou solidariam ente
(ao se in teressar eco n om icam ente pelo fato gerador, q uando expressam ente eleito
pela lei com o tal).
A lguns d o s ingressos não se com põem de con trib u ição p ro p riam en te dita;
incluem o u tro s itens, hipóteses em que a definição do sujeito ou devedor é m enos
clara na legislação.
R esponsabilidade é in stitu ição su bm etida ao p rim ad o da legalidade; sem lei
inexiste dever exacional. Se esta transfere a definição ao decreto ou a ato m enor,
ela inocorre.

*
C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l
O co n lrib u in te individual é pessoalm ente onerado, e o encargo só se transla-
ciona para terceiros por solidariedade (v. g., na construção civil) ou sucessão (para
os d ep en d en tes do segurado). Nas duas circunstâncias, até para não contribuintes.
Não se considera contribuição, m as crédito do INSS a realizar, im portância
recebida a m ais ou in d evidam ente p o r beneficiário. N esse sen tid o , o art. 115, I,
auto riza o INSS a d escontar débitos, m as não contribuição da dom éstica, quando
da percepção do salário-m aternidade.
O em pregador dom éstico é pessoa física individual ou condom inial. R espon­
de quem assina a CTPS do trab alh ad o r a seu serviço ou todos os condôm inos, sem
em bargo de citado apenas p o r u m deles.
No co n d o m ín io vertical (u rb an o ) ou horizontal (ru ral), todos arcam princi­
palm ente e em seus nom es. A razão social costum a ser C ondom ínio Teófilo O toni
(cidade), ou José Novaes M artins e O u tro s (cam po).
R esponde a C aixa Econôm ica F ederal ou o gestor desses jogos no concurso
de prognósticos.
No caso da “rem u neração recebida p o r serviços de arrecadação, fiscalização
e cobrança prestados a terceiros”, o SESI, SESC, SENAI, SENAC, SEST, SENAT,
SEBRAE e o u tras entidades. Se receita p roveniente de prestação de outros traba­
lho s ou do fornecim ento ou arren d am en to de bens, os d estinatários dos serviços
ou locatários. De m odo geral, qu em arcou com o pagam ento de valores relativos às
“receitas p atrim o n iais, in d u striais e financeiras”. Até m esm o concursandos.
Para a doação ou legado, o d o ad o r ou legatário e, em se tratan d o de su b v en ­
ção, o subvencionante.
Q uan d o do confisco de en torpecentes e drogas afins, o confíscante, geral­
m ente a Polícia Federal ou estadual (art. 243 da CF e art. 27, VI, do PCSS). Na
apreensão de bens pelo D epartam ento da Receita Federal, a própria.
Em se tratan d o dos 50% do prêm io do seguro obrigatório de d anos pessoais
causados p o r veículos au to m o to res de vias terrestres, as com panhias seguradoras.
Ao co m p rar o p ro d u to rural, o adquirente. C on su m in d o a p ró p ria produção,
exp o rtan d o -a ou ven d endo-a de porta em porta a consum idor, o p ro d u to r rural. ín
casu, presente nessa figura o co n trib u in te de direito e de fato.
Diante da insuficiência de recursos o rçam entários, a U nião. Na falência, a
m assa falida. T ratando-se de obra de co n stru ção civil adm inistrada diretam ente,
sem em preitada, o p ro p rietário, o dono da obra, o condôm ino, in co rp o rad o r etc.
Na sucessão da em presa individual ou sociedade, o sucessor. No caso de falecim en­
to do titular, o espólio. Para fins de determ inação da dispensa de contribuição, a
entidade é im une e a pessoa é isenta.
Q u an d o se tratar do servidor sem regim e próprio, o ente político (E stado ou
M unicípio).
Relativam ente ao cooperado, a cooperativa. Em face da parte patronal, n o fute­
bol, a C onfederação e a Federação. Nos órgãos de representação diplom ática, as m is­
sões e o em pregado. Na intervenção, a intervinda. Na consignação, o consignatãrio.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

450 W l a d im i r N o v £ í« M a r t i n e z
A em presa, a principal responsável pelo m aior vulto do reco lh im en to das
co n trib u içõ es nascidas da relação laborai (servidor, em pregado, tem porário, avul­
so, em presário, au tô n o m o e eventual), da pro d u ção (faturam ento) e do resultado
econôm ico (lucro).
Por ú ltim o, alg uns n ão responsáveis: o acionista na sociedade anônim a; o
associado, na associação civil; na co n stru ção civil, o engenheiro o u arquiteto; em
relação à parte patro nal dos clubes de futebol, a associação desportiva; e, quanto
ao valor com ercial dos pro d u to s d estinados à reprodução, o produtor.
542. Solidariedade fiscal — S olidariedade é técnica ju ríd ic a o riu n d a do Di­
reito Civil. Pode ser ativa ou passiva. A solidariedade fiscal cogitada é a passiva.
Define-se com o co rresponsabilidade de terceira pessoa em relação à obrigação o ri­
ginária do devedor.
O C ódigo Civil pontua: “H á solidariedade, q u an d o na m esm a obrigação c o n ­
correm m ais de u m credor, ou m ais de um devedor, cada u m com direito, ou o b ri­
gado à dívida toda" (art. 896, parágrafo único).
In stitu to ju ríd ico praticam ente universal, constatado no D ireito T ributário
(C TN , arts. 124 a 265), n o Direito do Trabalho (CLT, art. 455) e, em m atéria de
co n stru ção civil, de longa data, no D ireito P revidenciário. Ali não se trata de
corolário da solidariedade social, m as de responsabilidade de pessoas cham adas à
obrigação ex vi íegís.
Diz a CLT: “Nos co n tra to s de subem preitada responderá o subem preiteiro
pelas obrigações derivadas dos co n tra to s que celebrar, cabendo, todavia, aos em ­
pregados, o direito de reclam ação co n tra o em preiteiro principal pelo inadim ple-
m en to daquelas obrigações p o r parte do p rim eiro ” (art. 455). E nvolvidas duas
pessoas, em preiteiro e subem preiteiro, acontece ter o em preiteiro de assum ir ô nus
do su b em p reiteiro , d evedor originário. F iguras assem elhadas a essas po d em ser
vislum bradas no g ru p o econôm ico (CLT, art. 2-) e na sucessão de em presas (CLT,
art. 448).
Reflexo n atu ral desse in stitu to trabalhista, transposição reclam ada pela reali­
dade, a ele corresp o n d ia o art. 142, § 2S, da p rim eira CLPS (D ecreto n. 77.077/1976).
O u tro exem plo de utilização do p rincípio era visível na lei do trabalho tem porário
(CLPS, art. 142, § 5e).
A solidariedade é legal e não pode ser presum ida. Em face de suas co n seq ü ên ­
cias, as h ip ó teses de sua aplicação estão previstas na lei; fora dela, especialm ente
em decreto ou p o rtaria m inisterial, tal em prego é im possível. Tam bém n ão se adota
o in stitu to p o r integração o u in terpretação. N esta últim a, só se ficar definido o
animus do legislador de corresponsabilizar pessoas originariam ente n ão sujeitas.
A Lei n. 9.528/1997 ad u ziu esclarecim ento inovador, alterando a redação do
art. 31 do PCSS, acrescentando-lhe, n o final, a locução “não se aplicando, em q ual­
q u er h ipótese, o benefício de o rd e m ”. Q u er dizer, p reten d e cobrar de quem estiver
em m elhores condições de satisfazer a obrigação fiscal.

C urso P t: D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 451
Até a Lei n. 9.711/1998, a norm a previdenciária previa as seguintes solidarie-
dades: 1) cessão de m ão de obra; 2) construção civil; e 3) grupo econôm ico.
a) cessão de mão de obra: Cessão de m ão de obra é caso p articu lar na solida­
riedade fiscal previdenciária, aplicando-se as m esm as diretrizes, com as especifici-
dades distin g u id as na lei. A redação definidora dessa cessão (PCSS, art. 31, § 2Q)
pecava pela obscuridade. Iniciava-se com autorização para os trabalhadores da
fornecedora ingressarem nas dependências da tom adora de m ão de obra ou n a de
terceiros, faculdade essa im plícita n a celebração de co ntratos dessa natureza.
Referia-se a “serviços co n tín u o s”, com o se os serviços eventuais, nas m esm as
condições, não estivessem subm etidos ao dispositivo. As tarefas arroladas na lei (e
no regulam ento) são, p o r natureza, p erm anentes, pouco im p o rtan d o sejam reali­
zadas em curto espaço de tem po.
P rosseguindo, ad u z serem estes serviços “cujas características im possibilitem
a plena identificação dos fatos geradores das co n trib u içõ es”. O ra, não é essa a ge-
ratriz da solidariedade, e sim a inidoneidade fiscal, a inadim plência e a dificuldade
de cobrança do principal devedor. A incapacidade de apuração do fato gerador
leva à inexigibilidade. Traindo o artigo sua h istória vinculada à co n stru ção civil, o
legislador n ão teve coragem de fixar percentual relativo à nota fiscal ou fatura nem
de facultar ao regulam ento fazê-lo. C om isso, m anteve as b izantinas discussões em
torn o da presença de m ão de obra em tais docum entos.
A redação dada pela Lei n. 9.528/1997 é superior: “E xclusivam ente para os
fins desta Lei, en tende-se com o cessão de m ão de obra a colocação à disposição
do co n tratan te, em suas dependências ou nas de terceiros, de segurados que reali­
zem serviços co n tín u o s, relacionados ou não com atividades norm ais da em presa,
quaisq u er que sejam a natureza e a form a da co n tratação ”.
O dispositivo legal m enciona cinco atividades: a) construção civil; b) lim peza;
c) conservação; d) m anutenção; e) vigilância; e f) o utros assem elhados, especifi­
cados no regulam ento.
C o nstrução civil abarca erguim ento, am pliação e reform a de im óveis, aí in ­
cluídos residências térreas, sobrados e assobradados, edifícios, garagens, edículas,
escritórios, arm azéns, torres, caixas cfágua, quadras esportivas, salões, enfim , obras
de alvenaria d estinadas à m oradia, guarda de bens, estacionam ento de veículos, d e­
pósitos de m ateriais, reservatórios etc. Envolve tam bém serviços de arruam ento,
calçadas, m uros, vias públicas, estradas, rodovias, pontes, viadutos, obras de arte
em concreto e o u tras m ais abrangidas pela engenharia e arq u itetu ra. Não a feitura
de barcos ou navios, mas construções, m esm o in teiram en te de aço ou m adeira,
com o casas pré-fabricadas e prédios industriais.
Lim peza são cuidados diários com o varredura, enceram ento, passagem de
p anos de pó, aspirador, espanador etc.
C onservação diz respeito a pequenos consertos feitos nas instalações ou m á­
quinas, e até troca de lâm padas, fusíveis, vidros etc.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W i a d tm i r N o v a e s M a r t i n e z
M anutenção significa providências perm an en tes relativas às m áquinas, com o
azeitam ento, lubrificação, lim peza.
V igilância consiste no em prego de guardas ou vigias, segurança, p orteiro cui­
d an d o da proteção do p atrim ô n io físico de im óveis resguardados.
O texto, em su a versão original (1991), incorria em in co nstitucionalidade,
ao com eter ao reg u lam ento atribuição p ró p ria apenas da lei. A solidariedade tem
existência q u an d o prevista expressam ente n a norm a legal, de nada valendo o
legislador ordinário atribuí-la ao P oder Executivo. As duas atividades, de segurança
e tran sp o rte de valores ou m obilização de cargas e passageiros (contidas no regula­
m en to ), não co n stam da lei, e esta não po d e transferir ao decreto regulam entador
com petência para arro lar as atividades exercidas m ediante cessão de m ão de obra.
b) construção civil: A respeito da solidariedade na co n stru ção civil, o PCSS
dita: “o pro p rietário , o in co rp o rad o r definido na Lei n. 4.591, de 16 de dezem bro
de 1964, o dono da obra o u o condôm ino da u n id ad e im obiliária, q u alq u er que
seja a form a de co n tratação da co n stru ção , reform a ou acréscim o, são solidários
com o co n stru to r pelo cu m p rim en to das obrigações p ara com a Seguridade Social,
ressalvado o seu direito regressivo co n tra o executor ou co n tra tan te da obra e
adm itida a retenção de im portância a este devida para garantia do cu m p rim en to
dessas obrigações”.
Além do acréscim o ( “n ão se aplicando, em qu alq u er hipótese, o benefício da
o rd em ”), a Lei n. 9 .5 28/1997 deu nova redação ao dispositivo anterior, fazendo
m enção à so lidariedade entre o c o n stru to r e o subem preiteiro.
O PCSS m antém antiquíssim a disposição sobre a construção civil, discipli­
nando-a precariam ente, enfrentando a aridez de sua execução na prática, e p ro p i­
ciando dúvidas, com o a da real eficácia da Súm ula TFR n. 126. A lgum as desfeitas
pelo P o d er Judiciário: em construção civil, a solidariedade é adm inistrativa e não
econôm ica; p rim eiro é preciso cobrar do o riginariam ente devedor. Se o c o n stru to r
m antém a con tab ilid ade em dia não pode haver arb itram en to fiscal. O d o n o da
obra é solid ariam en te responsável pelo recolhim ento das co n trib u içõ es p rev id en ­
ciárias, em face da Súm ula TFR n. 126. O co n trato entre o p roprietário e os trab a­
lh adores é de em preitada (“C om entários à Lei Básica da Previdência Social”, 8. ed.,
São Paulo: LTr, Tomo 1, p. 350).
O co m an d o legal obriga à rem issão e pede esclarecim entos. N ão atribui im ­
po rtân cia ao tipo de contrato: verbal ou escrito, registrado ou não, total ou parcial,
com o em presa legalizada ou não. Por outro lado, distingue o ex ecu to r (c o n stru to r
p ro p riam en te dito) do co n tratan te, interm ediário entre o p ro p rietário e o executor.
Se o co n trato é celebrado com em preiteiro e este, por sua vez, su bem preita com ter­
ceiros, o p ro p rietário solidariza-se com o em preiteiro, e este com o subem preiteiro.
Não h á n a lei, nem n u n ca houve, um a norm a expressa fixando o proprietário
da casa p ró p ria com o responsável p o r obrigação fiscal. Ele não é em pregador nem
contrata em pregado, a não ser n a hipótese de co n stru ir para vender, assem elhando­
-se, en tão, a u m a p eq u en a im obiliária ou a um co n stru to r de fato. Não sendo

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 11 — P r e v id ê n c ia 5 o c m l ■453
em pregados nem eventuais os prestadores de serviço ou dom ésticos, caracterizam ­
-se eles com o au tô n o m o s ou firm as individuais, co n stru to res de m odo geral,
surgindo a ocasional obrigação da solidariedade, e não da responsabilidade.
H istórica e in stitu cionalm ente, o contexto é com plexo, e, p o r isso, m erecem
exam e particularizado os seus vários in stitu to s ju ríd ico s, os procedim entos da au ­
tarquia e as obrigações jacentes na legislação, sabendo-se, de antem ão, não existir
outra área da previdência social em que m ais subsistem usos e costum es, co n v en ­
ções e o p o d er discricionário do INSS.
A solidariedade da pessoa física (p ro p rietário ) em relação ao co n stru to r (pes­
soa ju ríd ica, o rig inariam ente devedora) iniciou-se com o art. 20 do D ecreto-lei
n. 66/1966, ao acrescentar o inciso VI ao art. 79 da Lei n. 3.807/1960. A p artir de
21.11.1966, os responsáveis solidários passaram a ser o p ro p rietário p ropriam ente
dito, de fato (prom iten te-com prador, posseiro, cessionário, arrendatário ou locatá­
rio), e o co n d ô m in o (m em bro do cond o m ín io ). C om o D ecreto-lei n. 1.958/1982,
o in co rp o rad o r im obiliário foi incluído entre os solidariam ente responsáveis.
Trata-se, igualm ente, de solidariedade passiva. Se o principal sujeito não recolher
a co n tribuição, o u tra pessoa, diretam ente envolvida com a relação econôm ico-jurí-
dica, sub-roga-se na obrigação fiscal. Toda a dívida, com o inicialm ente concebida,
transfere-se para o devedor acessório. Com isso, em presa com erciai poderá ter de
recolher para o SESI e o SENAI, e firm a in d u strial, para o SESC e SENAC.
Às vezes, a lei estabelece ordem de preferência. Por m eio dela, som ente se
o devedor principal não h o n ra r o com prom isso, o devedor secu n d ário pode ser
cobrado. O u tras vezes, caso da legislação previdenciária, silenciava a respeito (o
benefício de ordem só existe se constante da lei), abria a possibilidade de o credor
exigi-lo de um dos devedores, do proprietário do im óvel, econom icam ente m ais
idôneo e capaz de assu m ir a obrigação. A lei previdenciária não fixa essa seqüência,
reclam ando ser o c o n stru to r cobrado antes para, após, diante de sua in ad im p lên ­
cia, a responsabilidade ser com etida ao proprietário. C laram ente, não q u er seguir
o benefício da ordem , a p artir da Lei n. 9.528/1997.
A aplicação da solidariedade, transferência de responsabilidade de um a pes­
soa para o u tra, na prática, cria situações de infringência do direito de defesa. A
notificação fiscal deve fornecer ao coobrigado todos os elem entos obtidos ju n to da
contabilidade do o rig in ariam ente sujeito, para não lhe cercear a contestação. O re­
co lh im en to referente ao período do débito, efetuado p o r u m ou outro, beneficiará
am bas as partes e arredará a cobrança ou a solidariedade.
N ão só existe a possibilidade de o solidário evitar a solidariedade (exigindo
do originariam ente obrigado o prévio recolhim ento, podendo, assim , fiscalizá-lo
nesse p articu lar), com o tam bém é assegurado o direito de ação regressiva, até m es­
m o de d esco n tar parte do avençado para cobrir as despesas com a solidariedade.
O Tribunal F ederal de Recursos tin h a e n ten d im en to p ró p rio a respeito, agora
conflitante com a Lei n. 9.528/1997: “N a cobrança de crédito previdenciário prove­
niente da execução de co ntratos de co n stru ção de obra, o proprietário, o dono da

C urso de D ir e it o P k iív id e n c ia b io

454 W i a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
obra ou co n d ô m in o de un id ad e im obiliária so m en te será acionado q u an d o não for
possível lograr do co n stru to r, através da execução contra ele in ten tad a, a respectiva
liq uidação” (Súm ula TFR n. 126).
c) grupo econômico: Inovando em relação à legislação revogada, diz o art. 30,
IX, do PCSS: “as em presas que integram o grupo econôm ico de q u alq u er natureza
resp o n d em en tre si so lidariam ente, pelas obrigações d eco rren tes desta Lei”.
Trata-se de d ispositivo de grande alcance e justifica descrição m ais p o rm e­
norizada da in tenção do legislador (realizar a receita previdenciária), in clu in d o a
concepção de g rupo econôm ico, a natureza do vínculo fiscal, o benefício de ordem
e as condições deílagradoras.
G ru p o econôm ico pressupõe a existência de duas ou m ais pessoas ju ríd icas de
direito privado, pertencentes às m esm as pessoas, não n ecessariam ente em partes
iguais ou co in cid in d o os proprietários, co m p o n d o u m co n ju n to de interesses eco­
nôm icos su b o rd in ad o s ao controle do capital. O im p o rtan te na caracterização da
reu n ião dessas em presas é o com ando único, a posse de ações ou q u o tas capazes de
co n tro lar a ad m inistração, a convergência de políticas m ercantis, a padronização
de pro ced im en to s e, se for o caso, m as sem ser exigência, o objetivo com um .
A lei não falava, evidentem ente por cochilo do legislador e significando a u ­
sência deliberada, n o benefício de ordem . Isto é, se o INSS precisa saber se u m dos
devedores não reú n e condições de pagar, para p o d er cobrar do não originariam en-
te responsável ou p ro piciar o processo de cobrança d iretam en te sobre qu em reúne
m enores condições. E m bora o in stitu to jurídico seja novo e m ereça exam e detido,
e possa evoluir num o u n o u tro cam inho, nos term os da lei inexiste benefício de
ordem .
C ondições deflagradoras da aplicação da solidariedade d ep endem da iniciati­
va da autarquia; a lei não as definiu. Assim, n ão im p o rtan d o as condições de eq u i­
líbrio co ntábil ou econôm ico, o INSS pode ten tar receber de u m a das em presas a
dívida de o u tra, sem ter de d em o n strar — salvo a inadim plência — a incapacidade
da orig in ariam en te devedora de q u itar as obrigações.
A legislação previdenciária ressalvava o direito regressivo (PCSS, art. 31, § l e).
Este, no d izer de Oscar Joscph de Plácido e Silva, é “toda ação que cabe à pessoa,
p reju d icad a p o r ato de outra, em vir contra ela para haver o que é de seu direito,
isto é, a im p o rtân cia relativa ao dispêndio ou desem bolso que teve, com a prestação
de algum fato, ou ao prejuízo, que o m esm o lhe o ca sio n o u ”.
D esde l e.2.1999, o in stitu to previdenciário da solidariedade fiscal foi p ro ­
fu n d am en te afetado pela Lei n. 9.711/1998 q uando alterou a redação do art. 31
do PCSS. Vale re p ro d u zir a nova redação do seu caput: “A em presa co n tratan te
de serviços ex ecu tad o s m ediante cessão de m ão de obra, inclusive em regim e de
trab alh o tem p o rário , deverá reter onze p o r cento do valor b ru to da n ota fiscal ou
fatura de prestação de serviços e recolher a im portância retida até o dia dois do m ês
su b seq u en te ao da em issão da respectiva n ota fiscal ou fatura, em nom e da em presa
cedente da m ão de obra, observa o disposto n o § 5Qdo art. 3 3 ”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tíim o / / — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 455
O § 3e define a cessão de m ão de obra com o: “a colocação à disposição do
conLratante, em suas d ependências ou nas de terceiros, de segurados q u e realizem
serviços co n tín u o s relacionados ou não com a atividade-fim da em presa, quaisquer
que sejam a natureza e a form a de co n tratação ”.
Já o § 4 S elenca q uatro espécies: 1 — lim peza, conservação e zeladoria; II —
vigilância e segurança; 111 — em preitada de m ão de obra; e IV — contratação de
trabalho tem porário na form a da Lei n. 6.019/1974. Desse rol de atividades sujeitas
à cessão de m ão de obra, vislum bram -se dois tipos de co ntratos (incisos III/IV).
D em onstra a im p ro p riedade do dispositivo.
Em relação à cessão de m ão de obra (m atéria ainda não inteiram ente paci­
ficada, nem m esm o pelas O rdens de Serviço INSS/DAF ns. 195/1998, 203/1999
e 209/1999), resulta inexistir a aludida solidariedade, obrigando-se as em presas
co n tratan tes a anLecipar o recolhim ento das co ntribuições da contratada, retendo
e ap o rtand o 1 1% do valor contratado.
O tem a provocou discussões, convindo co n su ltar o livro “C ontribuição P re­
videnciária — R etenção sobre rem uneração relativa a cessão de m ão de obra", São
Paulo: Ed. Dialética, 1999 e os arts. 219/224-A do RPS.
543. C o n stitu iç ã o d o c ré d ito — A constituição do crédito previdenciário é
assem elhada à do tributário. Por isso, aproveitam as regras exacionais universais
do CTN, especialm ente as referentes à obrigação fiscal p ropriam ente dita. Possui a
própria natureza da obrigação principal, de ap o rtar a contribuição previdenciária.
O pera-se m ediante o lançam ento fiscal, atribuição adm inistrativa vinculada,
de com petência exclusiva da RFB, p o r m eio de sua fiscalização. Só a autoridade
autárq u ica tem atribuição para proceder à verificação da regularidade, apreensão
do fato gerador, apuração do m o n tan te da exação, seu levantam ento form al e id e n ­
tificação do o sujeito passivo.
D iscute-se sobre o p ro m o to r desse ato vinculado, se diz respeito exclusiva­
m ente ao A uditor-Fiscal ou se envolve o u tras pessoas da divisão in tern a de fisca­
lização ou arrecadação. Tal m atéria poderá ser convencionada em lei, m as silente
som ente o A uditor-Fiscal de C ontribuições P revidenciárias pode em p reen d er a
perquirição do crédito co rresp o n d en te aos deveres previstos na Lei n, 8.212/1991.
Inicia-se a co n stituição do credito m ediante o lançam ento, aperfeiçoando-se
com atos p osteriores e decantando-se com a inscrição da dívida.
O lan çam ento fiscal, núcleo do crédito, consiste em várias etapas: a) consta­
tação efetiva do fato gerador com inado na lei, m atéria real e form al, isto é, estar
con tid o na realidade factual ou nos registros escriturais ou contábeis do sujeito
passivo; b) caracterização da obrigação — verificar sua o p o rtu n id ad e exacional, se
não aten d id o , decaído ou prescrito; c) apuração do m o n tan te da base de cálculo;
d) fixação de tal alíquota aplicável à espécie; e) determ inação da exação devida
(valor original da co n tribuição); f) definição do sujeito passivo da obrigação, se
original ou corresponsável; e g) lavratura do term o co rresp o n d en te, acom panhado
de relatório discrim inativo das parcelas m ensais.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

456 W i a íf im í r N o v íi e s M a r t i n e z
Trata-se de ato ju ríd ic o a ser praticado exclusivam ente p o r pessoa com p eten ­
te, para isso h abilitada, em que são im p o rtan tes os aspectos form ais.
Sua n atu reza ju ríd ica é de declaração, q u an d o efetivada form alm ente a o b ri­
gação fiscal. Ela está c o n stitu íd a com a co m b in ação do b in ô m io lei-hipótese de
incidência. O A uditor-Fiscal declara a sua existência para fins da cobrança adm inis­
trativa o u judiciária, m as não é ele quem a constitu i nem o docu m en to elaborado.
Em relação à obrigação previdenciária, o d o cu m en to inicial d e constituição
do crédito é a N otificação Fiscal para L ançam ento de D ébito — NFLD ou A uto de
Infração — AI. A lgum as notificações fiscais falam em u m A uto de Infração O bri­
gação P rincipal — AIOP
A apuração se sujeita á contestação por parte do obrigado, m ediante Recurso
O rd in ário dirigido à C âm ara A dm inistrativa de R ecursos Fiscais — CARF. A cons­
tituição do créd ito , então, restará finalizada. No curso da in stru ção , em cada caso,
pod erá sub sistir anulação do lançam ento fiscal, ser to rn ad o in su b sisten te ou im ­
proced en te, revisto para m aior ou m enor. M atéria p erten cen te ao D ireito P reviden­
ciário P rocedim ental.
544. O b rig ações p rin c ip a is — A lei básica estabelece os deveres da em presa
e do em p reg ad o r dom éstico em relação à arrecadação (en ten d id a no sentido de
apreensão de valores pecu n iário s pessoais do trabalhador, do p ro d u to r rural ou do
seg u rad o esp ecial) e ao re c o lh im e n to , q u e re n d o d izer o d esem b o lso em favor
do FPAS.
D ispõe tam b ém sobre a cotização a cargo de certo s co n trib u in te s individuais.
P aralelam ente, regula d eterm in ad o s p ro c ed im en to s ad m in istrativ o s e contábeis
intern o s.
Regra tam bém a obrigação de certos contribuintes individuais e dos adquirentes
de ben s ru rais com ercializados p o r segurado especial ou p ro d u to r rural.
B asicam ente, são preceituados três ô nus principais, a ser aten d id o s pelo su ­
jeito passivo: a) arrecadar; b) recolher; e c) ap o rtar co n tribuições incidentes sobre
o fatu ram en to e o lucro.
A rrecadar as co n trib u içõ es do servidor, em pregado, tem p o rário e avulso quer
dizer desco n tar-lh e certa fração dos salários. Fazê-lo na retrib u ição m ensal, isto é,
im pedida a em presa de dissociar o desconto do pagam ento do m ês. A princípio,
não p o d e d ed u z ir n u m m ês quantum referente a o u tro período. O desconto é pre­
su m id o o p o rtu n a e regularm ente feito (PCSS, art. 33, § 5Q).
D esde a Lei n. 7.787/1989 não m ais existe retenção de em presário ou a u tô n o ­
m o, m as a p artir da Lei C om plem entar n. 84/1996 subsiste obrigação p atro n al em
relação à existência desses prestadores de serviços. A dedicação foi restabelecida
pela M edida Provisória n. 84/2002.
O d esco n to das co n trib u içõ es pessoais faz da em presa parte integrante do
sistem a de arrecadação da previdência social, atrib u in d o -lh e capacidade ju ríd ica
ex trao rd in ária, de in term ed iad o ra das im portâncias devidas pelos trabalhadores,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c i a l 457
pod en d o , em conseqüência, vir a caracterizar o crim e de apropriação indébita
(PCSS, art. 95, d). Essa possibilidade é relevante e preo cu p o u o legislador a ponto
de não fixar prazo de decadência para tais descontos efetuados ou nào (PCSS, art. 45,
parágrafo único).
A redução da rem uneração é legalm ente autorizada (CLT, art. 462), e co n s­
titui raridade, devendo ser cercada de todos os cuidados p o r parte do setor de
recursos h um anos. A legislação prom ove rede de proteção ao n um erário, fo rm u ­
lando obrigações acessórias, com o as previstas no art. 32 do PCSS, entre elas a de
registrar n a contabilidade as quantias apreendidas.
Em 1997, a Lei n. 9.528/1997 alterou a redação do art. 30, III, im pondo: “a
em presa ad q u iren le, co n su m id o ra ou consignatária ou a cooperativa são obrigadas
a recolher a co n trib u ição de que trata o art. 25, até o dia 2 do m ês sub seq u en te ao
da operação de venda ou consignação da produção, in d ep en d e n tem en te de estas
operações terem sido realizadas d iretam en te com o p ro d u to r ou com interm ediário
pessoa física, na form a estabelecida em reg u la m en to ”.
E stabeleceu distinção entre ad q u iren te e consum idora. A prim eira adquire
para revenda; a segunda, para co n su m ir pro p riam en te dito e para transform ar.
C om eteu o deslize de fixar obrigação principal “na form a estabelecida em regula­
m e n to ”, em delegação de discutível ju rid icid ad e. Terá de con ceitu ar “in term ed iá­
rio ”; se este d esco n to u e recolheu a contribuição não pode o ad q u iren te reassum ir
a responsabilidade.
545. D everes a c essó rio s — De acordo com o PCSS, a em presa subm ete-se a
três im posições genéricas: escriturai, procedim ental e contábil.
Lançar m ensalm ente em títulos p ró p rio s de sua contabilidade, de form a dis­
crim inada, os fatos geradores de todas as contribuições, o m o n tan te das quantias
descontadas, as con trib uições da em presa e os totais recolhidos.
O sujeito a esse dever é a em presa stricto sensu; o m esm o procedim ento não
é exigido do em pregador dom éstico. A lgum as das m edidas previstas no RPS, em
discutível delegação da lei, são de difícil cum prim ento, com o definir as parcelas
integrantes e não in teg ran tes do salário de contribuição e outras, com o a atualiza­
ção do livro diário, m elhor eslaríam na lei.
a) elaborar folhas de pagamento: Deve a em presa preparar folhas de pagam ento
das rem unerações pagas ou creditadas a todos os segurados a seu serviço, de acor­
do com os p ad rões e n orm as estabelecidos pelo INSS.
O rganizar folhas de pagam ento, constando a rem uneração devida aos segu­
rados sujeitos a desco n to, é tradicional no D ireito Previdenciário. D iscrim inativos
m ensais dos valores p ertencentes aos trabalhadores (anacrônicos diante da infor­
m atização), se prestam para facilitar à Fiscalização co n statar a base de cálculo da
contribuição.
No dizer do RPS, as folhas de pagam ento deverão consignar: a) nom e dos
segurados, servidor, em pregado, em presário, avulso, autô n o m o e equiparados,

C u r s o d f: P ir e i l o P r e v id e n c iAe io

458 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
relacionados coletivam ente, segundo os estabelecim entos ou dependências da
em presa, com a indicação de seus registros, no caso de em pregado, avulso e do
om itido eventual; b) cargo, função ou serviço prestado; c) parcelas integrantes da
rem uneração; d) ru bricas não integrantes da rem uneração; e e) descontos.
Ao referir-se a “todos os segurados a seu serviço”, o legislador inova e alarga
o papel tradicional do in stitu to laboral-previdenciário, criando a necessidade de
inclu ir no rol dos trab alhadores o em presário, o au tô n o m o e o eventual. Pensava,
então, p o ssivelm ente, nos 20% da Lei n. 7.787/1989, ajuizados com vistas aos 15%
da LC n. 84/1996 e aos 20% da Lei n. 9.876/1999.
Pode tal rol de pessoas serv ir com o recibo, se assin ad o pelo interessado,
m as os u sos e co stu m es im p u seram essa q u itação p o r m eio do fo rm u lário in d i­
vid u alizad o .
A folha de pag am ento fornece a base de cálculo da contribuição e é, so b retu ­
do, im p o rtan te p ara o segurado. Presta-se com o prova da rem uneração recebida
para fins de benefício e, extraviados outros registros, dem onstração da relação
em pregatícia. C o n seq u en tem en te, tem po de serviço. Daí m erecer análise detida a
d eterm in ação no sen tid o da retenção de docum entos.
b) lançarem títulos próprios: O PCSS fixa regras contábeis p ertin e n te s à previ­
dência social e, provavelm ente, atingindo exaçòes ou obrigações do tipo FGTS, IR,
RAIS, PIS-PASEP e co ntribuição sindical.
As p rin cip ais são: a) lançam entos m ensais dos valores da folha de pagam ento,
do fatu ram en to e do lucro; b) consignação m ensal das im portâncias descontadas
de trab alh ad o res e p ro d u to res ru rais e da parte patronal; e c) registro das c o n tri­
buições recolhidas.
Diz a n o rm a “de form a d isc rim in a d a ”. Assim , é preciso relatar a base de
cálculo da parte patronal (total da rem uneração) e do trab alh ad o r (rem uneração
até o lim ite do salário de contribuição).
Não deve ser esquecida a contribuição a título de seguro de acidentes do
trabalho.
M en cio n an d o a lei “os fatos geradores de todas as co n trib u içõ e s”, para fins de
p rev id ên cia social, n ão estão as em presas disp en sad as de re g istrar o p agam ento
de valores n ão in teg rantes do salário de contribuição.
P or “títu lo s p ró p rio s”, obediência aos ditam es contábeis consagrados e seus
princípios básicos, devendo as despesas com salários aparecer, conform e o plano
de contas, sob um título tecnicam ente correto.
c) prestar informações: De acordo com a legislação, o órgão gestor tem acesso
às inform ações cadastrais, financeiras e contábeis de seu interesse. Está autorizado,
tam bém , a solicitar esclarecim entos verbais ou p o r escrito. Interesse centrado na
apuração da h ip ó tese de incidência e, no caso p articu lar do INSS, in clu in d o dados
relativos à m an u ten ção de benefícios (v. g., saber se o percipiente de auxílio-doença
ou de ap o sen tad o ria por invalidez está p restan d o serviços na em presa).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o J í — P r e v id ê n c ia S o c ia l 459
Inform ações cadastrais são dados num éricos, características descritivas das
pessoas, referências à idade, função, tem po de serviço na em presa. Inform ações
financeiras reportam -se ao recebido ou seu crédi to, capazes de descrever a base de
cálculo da contribuição. Inform ações contábeis, os registros operados o u não pela
em presa, em sua contabilidade, pertin en tes ao fato gerador.
E sclarecim entos vêm a ser notícias ou relatos necessários ao cum prim ento
das obrigações para com a previdência social. Incluem ap u rar se o segurado pres­
tou serviços para a em presa em d eterm in ad o período e em certa ocupação pro­
fissional, razão pela qual a m enção legal (e os com provantes) — diferentem ente
da guarda de d o cu m en to s — eles dizem respeito ao período de trabalho, sem ser
afetados p o r q u alq u er prazo.
Tais registros têm grande u tilid ad e para a prova de tem po de filiação dos se­
gurados.
A fórm ula legal, aludindo a inform ações e esclarecim entos de variado tipo,
é abrangente. In clu i o faturam ento e o lucro, situando-se na divisa dos dados si­
gilosos ou privados, e reclam ando, p o r via de conseqüência, bom -senso p o r parte
do órgão n o tificad o r na proposição do pedido e no encam in h am en to da resposta
obtida. Nesse sentido, descabe solicitar dados co n d u cen tes à apuração da situação
patrim onial, econôm ica ou financeira da em presa, p o r exem plo, com vistas à pos­
sível concordata ou falência.
d) guardar documentos: A rquivados, com o referido, en ten d id o s com o guar­
dados, descabendo interpretação n o sen tid o de a obrigação referir-se apenas ao
arquivam ento, e, p o r isso, devendo a em presa preservá-los todo o tem po possível.
O PCSS e toda a legislação precedente apresentam lacuna indesculpável. Asse­
gurado co n stitu cio n alm en te o direiLo à aposentadoria p o r tem po de contribuição,
isto é, sendo um direito subjetivo do segurado os coeficientes aplicáveis ao salário
de benefício, isto é, do po n to de vista prático, não p ossuindo o INSS controle
individual da prestação de serviço ou das contribuições, resulta a obrigação de as
em presas guardarem , sem prazo, os papéis dem o n strad o res do vínculo em prega­
tício, pois, sem isso, respeitável parcela de segurados n ão consegue d em o n strar o
seu direito.
Não devem as em presas destruir, deixar de arquivar, sim plesm ente organizar
as folhas ou recibos de pagam ento. Tão não devem som ente guardar as folhas ou
recibos de p ag am en to e o livro registro d e em pregados, cab en d o , se for o caso,
o d ep ó sito de tais elem entos fiscais em ju n ta s com erciais, órgãos de controle do
exercício profissional ou sindicatos, para fins de fiscalização ou sim ples verifica­
ções. Isso dito, não se esquecendo do princípio da legalidade. A lacuna legislativa
p ertin en te à obrigação de fazer aí contida deve ser integrada com o dever de p re­
servar tais d o cu m en to s indefinidam ente,
De qu alq u er form a, os dez anos, a exem plo da decadência, se contam de
jan eiro de 1986 à frente; a norm a an terio r falava em cinco anos, indevidam ente.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

460 W la d im ir N f lV íie s M a r t i n e z
e) arquivar documentos: Reza o PCSS a obrigação de a em presa guardar “os
d o cu m en to s co m p ro batórios do cu m p rim en to das obrigações de que trata este
artigo, que devem ficar arquivados na em presa d u ra n te dez anos, à disposição da
fiscalização”. Na configuração desse ô n u s em presarial, é preciso d istin g u ir os d e­
veres d escritos an teriorm ente: a) p rep arar folhas de pagam ento; b) proceder aos
lan çam en to s contábeis; e c) prestar inform ações.
Os d o cu m en to s p ró p rio s dessas operações escriturais serão conservados p o r
dez anos. O co m an d o é am plo, exigindo a guarda das folhas de pagam ento e dos
recibos, se eles se co n stitu írem em prova de quitação; preservar, tam bém , os co m ­
p ro v an tes de caixa e outros d em onstrativos da hipótese de incidência, bem com o,
e especialm ente, as GRPS. E, ainda, n o caso de pagam ento de benefícios pela em ­
presa, o processo de instrução.
E lem entos de fiscalização alcançados pela lei têm du p lo interesse, cabendo
separá-los: a) co m p rovantes do cu m p rim en to da obrigação fiscal, form ais e p ecu ­
niários, os quais, em p rin cíp io , deveriam ser arquivados p o r dez anos; e b) com ­
provantes da prestação de serviços p o r parte dos segurados, os quais, m esm o sem
expressa determ in ação legal, com o ajuizado an terio rm en te, conviria guardá-los
sem prazo.
f ) elaborar diário: A utorizado pela lei, diz o art. 225, § 13, do RPS: “os lança­
m entos de que trata o inciso II, devidam ente escritu rad o s nos livros D iário e Razão,
serão exigidos pela fiscalização após no v en ta dias da ocorrência dos fatos gerado­
res das co ntribuições, devendo, obrigatoriam ente: I — omissis; II — omissis”.
N o u tras palavras, excetuados os ú ltim o s 90 dias, m en su rad o s do evento eco­
nôm ico capaz de criar a obrigação fiscal, o livro diário, tem de ser escriturado. Caso
co n trário a em presa se sujeita à m ulta.
A tribui, assim , a legislação, significativa im p o rtân cia à escrituração contábil.
Vale dizer, no caso de confrontação, até ser procedido o esto rn o ou revisão, o lan­
çam ento prevalece em relação aos com provantes de caixa.
U ltrapassado o prazo de posse referido n a lei — de decadência ou q u alq u er
o u tra exigência legal, p o r vários m otivos as em presas, na prática, n ão destroem o
livro diário; o m esm o vale para livro registro de em pregados, raciocínio extensível
às folhas de pagam ento.
g) outras obrigações: A Lei n. 8.870/1994 criou m ais u m ô nus form al para as
em presas: “As instituições financeiras obrigam -se a fornecer, m ensalm ente ao INSS,
relação das em presas contratadas conform e especificação técnica da au tarq u ia”.
O preceito visa a d ar efetividade ao caput do seu art. 10. Até 28.4.1995, a
au tarquia federal não havia regulam entado a m atéria. O co m an d o é im perativo e
drástico. Para isso, previu m u lta pesada.
N o seu art. 39, ela criou nova obrigação acessória, cuja operacionalização não
é fácil e p o n d o em risco, p o r falta de realism o, a sua boa in ten ção , a de as em presas
en cam in h arem cópias das GRPS aos sindicatos. L evando-se em conta a existência

C urso de D ir e i t o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia 5 o c i a l 461
de cerca de três m ilhões delas, não é difícil im aginar a q u an tid ad e de d o cu m en to s
envolvidos e a in fraestru tu ra necessária para arquivá-los e analisá-los, em face da
não observância da lei.
Além dessa m o n tan h a de papéis, o “INSS inform ará aos sindicatos os valo­
res efetivam ente recolhidos pelas em presas localizadas n a base territorial destes”
(art. 5°). Ora, isso é p reten d er fazer dos sindicatos não órgãos auxiliares do fisco,
m as fiscais de fato.
O dispositivo, além da referência genérica do art. 92, prevê sanção para o não
cum p rim en to , da ordem de 99.000 UFIRs. A finalidade do com ando é aclarada no
art. 6 S: p erm itir aos sindicatos d en u n c ia r as em presas inadim plentes. Trata-se de
iniciativa co n ceitu alm ente válida, porém , na prática, de onerada realização.
h) informações adicionais: A Lei n. 9.528/1997 acresceu um inciso IV ao art.
32 do PCSS, com onze parágrafos, tratan d o de d o cu m en to inom inado, lem brando
o antigo CARC, no qual são reproduzidas inform ações sobre a hipótese de inci­
dência, em p razo a ser estabelecido pelo regulam ento, prestando-se para fins de
definição da obrigação fiscal.
D ependendo do nú m ero de segurados, foram estabelecidas oito faixas, varian­
do a m u lta au to m ática de m eio até 50 salários m ínim os, além de outra, de valor
igual à co n trib u ição apurada (§ 5Q), e o u tra n o caso de erro no preenchim ento.
F inalm ente, o u tra sanção, a não em issão do referido d o cum ento, im plica obs­
táculo à CND. O parágrafo único transform ou-se no § 11.
546. C o b ran ça ad m in istra tiv a e ju d ic ia l — D iante da inadim plência, consti­
tuído o crédito, p or m eio da em issão do d o cu m en to co rresp o n d en te (NFLD ou AI)
ou m esm o com a confissão da dívida fiscal, n o caso do parcelam ento form alizado,
tem o cred o r a possibilidade de iniciar a cobrança.
A dm inistrativam ente, isso se opera m ediante a entrega dessas notificações,
além de ofícios periódicos, con citan d o o devedor ao cu m p rim en to do dever legal.
C ham a-se a esta últim a cobrança de amigável.
N os diferentes níveis, desde a lavratura da N otificação Fiscal, cabe recurso
ordinário à Receita Federal do Brasil e recurso de apelação à C âm ara S uperior de
R ecursos Fiscais, o prim eiro no prazo de 15 dias e o segundo em 30 dias, m atéria
de interesse do Direito Previdenciário P rocedim ental.
Em todo o tem po, se não contestada a N otificação Fiscal, o interessado pode
liquidar o débito à vista, m ediante parcelam ento de fato ou de direito, nesta últim a
hipótese ren u n cian d o à discussão de m érito.
R ecorrendo ou não aos níveis adm inistrativos dos órgãos de controle do p ro ­
cedim ento da adm inistração, a final, a dívida é inscrita, e, d estarte, a A dm inistra­
ção dispõe de títu lo líquido e certo para encetar a cobrança judicial.
Com a certidão de débito, a RFB ingressa com ação ju n to à Ju stiça Federal.
Da m esm a form a cabem recursos p ró p rio s, caso dos em bargos à execução, p ro sse­
guindo-se a cobrança até final execução do devedor.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

462 W / a d /m / r N o v í i e s M a r t i n e z
547. M ed id a c a u te la r fiscal — Em 1992, a Lei n. 8.397/1992 o u torgou à Fa­
zenda Pública, aí incluída a autarquia INSS, o p o d e r garantir-se u m pouco m ais em
relação à cobrança executiva. M edida cautelar fiscal é ação processual com vistas
à preservação da percepção do seu crédito. Pode ser in stau rad a antes ou no curso
da execução ju d icial.
As justificações são as seguintes: a) o devedor, sem dom icílio certo, intenta
ausentar-se ou alienar bens ou deixar de aten d er à obrigação n o prazo fixado; b)
tendo dom icílio certo, ausenta-se ou tenta ausentar-se, visando a descum prir o d e­
ver fiscal; c) caindo em insolvência, aliena ou tenta alienar bens; contrai ou tenta
co n trair dívidas extraordinárias; põe ou tenta p ô r seus bens em nom e de terceiros
ou com ete qualq u er outro ato tendente a frustrar a execução judicial; d) notificado
para p roceder ao recolhim ento do crédito vencido, deixa de pagá-lo n o prazo legal,
salvo se garantida a instância em processo adm inistrativo ou judicial; e e) possuindo
bens de raiz, ela in ten ta aliená-los, hipotecá-los ou dá-los em anticrese, sem ficar
com algum ou alguns, livres e desem baraçados, de valor igual ou su p erio r ao débito.
O s p ressu p o sto s da m edida estão contem plados n o art. 3Q d a referida lei e
consistem em ter de provar um a das hipóteses acim a aventadas e de ter constituído
o crédito fiscal.
A colhendo a ação, o m agistrado decretará a in d isponibilidade de certos bens.
Os efeitos da ação p o d em ser arredados com as garantias previstas no art. 9 Bda Lei
n. 6.830/1980. C essam os efeitos da m edida: 1) se a Fazenda Pública não pro p u ser
a execução ju d icial no prazo de 60 dias; 2) se não executada em trin ta dias; 3) se
julgada extinta a execução fiscal; e 4) se o devedor q u ita r o débito.
O valor m ín im o foi fixado pela P ortaria MPAS n. 504/1993, para o débito
o b jeto da m en cio n ada ação em 120.000 UFIRs. A R esolução INSS n. 179/1993
vin cu lo u a ação para os servidores.
548. M o d alid ad es ex tin tiv a s — Suscitado, nascido e aperfeiçoado o dever de
con trib u ir, o co rren d o, p o rtan to , o fato gerador idealizado pela lei, não abortado
pela im u n id ad e ou isenção, a im posição fiscal desaparece em in ú m era s o p o rtu n i­
dades, algum as hab ituais e n aturais e outras ju ríd icas ou ope legis.
a) pagamento: O cu m p rim en to da obrigação conform e quitação em dia ou em
m ora é form a h ab itu al e n atu ra l de ela ser extinta. Faz-se em din h eiro ou m ediante
cheque, na rede bancária, p o r m eio do GPS ou da GRPS. P agam ento é desem bolso
efetivo, sem condições e final do co rresp o n d en te em favor do FPAS.
b) acordo de parcelamento: Parcelam ento é pagam ento fracionado p o r acordo
com a ad m inistração de valores (contribuições, acréscim os e m u lta) em atraso,
co n so lidados em d eterm in ad o m o m en to e m ediante confissão da dívida. U m a fa­
cilidade estatal é direito subjetivo co ntem plado n a lei p ara quem cum pre os req u i­
sito s elencados. R eparcelam ento é novação da dívida p o r m eio de novo contrato.
c) dação em pagamento: Dação em pagam ento é quitação do débito pela e n ­
trega de b en s im óveis. No passado, q uando a previdência social ainda capitalizava
b en s, foi m uito utilizada.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 463
d) desembolso in n alura: Em determ in ad o s m o m entos, p o r conveniência do
sujeito passivo, este aceita bens in natura com o form a de pagam ento. A m edida,
obviam ente, só pode ser provisória e não chegar a ponto de estim ular a in ad im ­
plência e a com ercialização de produtos.
e) quitação com serviços: A troca da dívida pela prestação de serviços, especial­
m ente hospitalares, é prevista n a legislação e com patível, pois a final os recursos
da seguridade social são canalizados para essas entidades prestadoras de serviços.
f) interveniênciafiscal: Em presa em débito, carecendo da prova da inexistência
de débito, pode o b ter a certidão com prom etendo-se a, no ato da alienação do bem ,
q u itar a dívida com o n u m erário do adquirente.
g) depósito convertido em pagamento: D epósito, adm inistrativo ou judicial, não
é pagam ento nem form a extintiva da obrigação. A penas garante o não acréscim o
do m o n tan te original ou a instância. Porém , pode ser transform ado em pagam ento,
liquidando a dívida.
h) compensação: F orm a de o co n trib u in te ter de volta o pago indevidam ente
ou a m aior é conform e a com pensação. Segundo esse p rocedim ento, valores a n te­
riorm en te recolhidos superiores ao devido são referidos n a guia posterior, dando
quitação da obrigação.
i) remissão: M ediante rem issão o E stado perdoa a dívida. Em m uitos m o m en ­
tos, débitos de valor inferior a determ inada cifra foram dispensados de pagam ento,
prin cip alm en te q u an d o não atendem a relação custo/benefícios da cobrança.
j ) anistia: M om en taneam ente e para estim u lar a arrecadação, a lei, por vezes,
anistia valores da receita.
k) leilões: No processo final da cobrança executiva, sobrevêm o leilão dos bens.
549. R estitu ição e co m p en sação — Em pelo m enos três circunstâncias o pago
volta aos cofres do co n tribuinte: a) restituição; b) com pensação; e c) devolução de
depósito. E x cepcionalm ente, com caráter de benefício, nu m a quarta hipótese, até
20.11.1995, a entrega dos aportes feitos pelo segurado incapaz para o trabalho sem
ter com pletada a carência.
N os três casos iniciais (ausente a figura da retom ada das contribuições, desa­
parecida a p artir de 1960, com a LOPS), a restituição, a com pensação o u a devolu­
ção som ente de con trib uições indevidas, variando a causa determ inante.
R estituição é desem bolso efetivo em favor do contribuinte. C om pensação é
acerto contábil entre crédito e débito previdenciário. D evolução é volta de im por­
tância depositada para fins de garantia de instância. Só cabem restituição e com ­
pensação, em dois cenários: a) erro de cálculo ou equívoco fático, q uando o pedido
deve ser su m ariam en te encam inhado; e b) engano na interpretação da exação ou
lapso ju ríd ico , co m p o rtan d o ap ro fundado exam e da m atéria.
C om o dito, nos p rim órdios da previdência social, o aporte não era aspecto
tão peculiar do sistem a protetivo, em bora claram ente im portante. A dm itia-se o
seu volver em situações contem pladas n a lei. Todavia, a p o sterio r filosofia d o m i­

C urso d e D ir e it o P r e v id e n o Ar io
464 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
n an te d eterm in o u o fim dessa possibilidade em face da ênfase dada ao p rincípio
da so lidariedade e ao regim e financeiro de repartição sim ples. H o d iernam ente, tão
som ente, cabe recuperação das cotizações devidas, se o órgão gestor, p o r força de
lei, não p u d e r aten d e r o segurado nos benefícios p o r incapacidade.
Q u a n d o a lei fala em contribuições está-se re p o rtan d o a todos os valores
an terio rm en te aportados: principal, m ulta fiscal o u autom ática, juros e correção
m onetária, n u m erá rio englobável em d eterm inado instante e atualizado m oneta-
riam ente. A Lei n. 9.032/1995 e a n. 9.129/1995 lim itam o quantum a ser deduzido
na h ipótese da com pensação.
M esm o sem im p rópria delegação de poderes p o r parte da lei, o RPS ap ro fu n ­
da-se na in terp retação em um a ou m ais op o rtu n id ad es, extrapola as suas lim itadas
funções e abre flanco à discussão do regrado.
Por exem plo, fixa o prazo para o pedido em cinco anos. Tal determ inação, ex-
traível de o u tras fontes form ais, deveria constar da lei previdenciária. N a ausência,
obriga o in térp rete e o aplicador a se socorrerem da legislação subsidiária, q u an d o
não, discuti-la am plam ente. Deveria fazer rem issão ao art. 88 do PCSS ( “Os prazos
de prescrição de que goza a U nião, aplicam -se à Seguridade Social, ressalvado o
d isp o sto no art. 4 6 ”).
Essa disciplina provém do art. 178, § 10, VI, do C ódigo Civil, rep etin d o o
D ecreto n. 20.910/1932, no qual é estabelecido o prazo de cinco anos (art. 1Q). O
D ecreto-lei n. 4 .5 9 7/1942 estendeu o D ecreto n. 20.910/1932 às au tarquias, e, com
isso, a LOPS exigiu o m esm o lapso de tem po da U nião (art. 156). A conclusão vem
co n fo rm ad a na regra geral exacional do art. 165 do CTN.
C onform e a SPS, a em presa só pode solicitar a parte patronal, salvo se tiver
pro cu ração do seg u rado q u an d o p o d erá requerer a deste. A co n trib u ição indevida­
m ente desco n tad a do trabalhador e recolhida ao INSS àquele segurado pertence. O
su jeito passivo, ao p re te n d er essa restituição, tem duas soluções: a) devolver antes
ao titu lar do direito; e b) dele o b ter m andato para, em seu nom e, conseguir de volta
o recolhido a mais.
T ratando-se de valores, a princípio, devidos a terceiros, o órgão gestor devol­
verá ao req u eren te e, p o sterio rm en te, entender-se-á com as entidades m ediante
co m unicação d o fato e acerto de contas m ensal. Boa providência será, antes da
restitu ição , o u v ir o organism o interessado, pois pode a com unicação aludida no
RPS g erar conflitos de interpretação.
Se a co n trib u ição em tela referir-se exclusivam ente a terceiros, o pedido “será
form ulado d iretam en te à entidade, cabendo ao INSS prestar as inform ações e rea­
lizar as diligências so licitadas”. O pagam ento diz respeito ao pedido, sem prejuízo
da possibilidade de, na hipótese, o co n trib u in te tam bém proceder à com pensação
e, então, obviam ente, n a p ró p ria contribuição destinada a terceiros.
Às vezes, o reco lh im en to su p erio r deve-se à não com pensação autom ática ou
a m aio r do salário-fam ília o u salário-m alernidade pagos ao em pregado. O pro ce­
d im en to do reem bolso dessas im portâncias eqüivale a ped id o de restituição, e, se

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
legítim a a pretensão, a solução é a adm inistração autorizar o desconto dos valores
no p róxim o reco lh im ento a ser efetuado, a co n tar da notificação da decisão. O
pedido deve con star de requerim ento, em q u e são historiados e provados os fatos
alegados, especialm ente com vistas à atualização da im portância.
E star em atraso, relativo à contribuição não levantada ainda, ou estar des-
cu m p rin d o o acordo de parcelam ento, não im pedem a restituição, m as ela não
sucederá se o crédito previdenciário estiver constituído. Se a em presa concordar
em liquidar este, depen dendo de ser inferior ou superior ao solicitado, com por-se-á
com o órgão gestor.
A lei silencia q u an to a estar a em presa em dia para fazer ju s à repetição do
indébito. Todavia, não precisaria disciplinar; não tem sentido ter de volta o pago a
m ais se está devendo. Por via de com pensação lógica e contábil, seu crédito quita
o débito. Aliás, do p o n to de vista prático, co n trib u in te inadim plente não poder
co m p en sar e a exigência de ser feita na m esm a espécie de aporte criam em baraços
intran sp on ív eis para a com pensação, restando apenas a restituição. Dá-se exem plo
com a entidade beneficente de assistência social p reten d en d o com pensar a parte
patronal.
Os pedidos relativos ao concurso de prognósticos, faturam ento ou lucro d e­
vem ser en cam in h ad o s diretam ente ao D epartam ento da Receita Federal.
Devolver exações indevidam ente atendidas é p rincípio cediço n o D ireito Tri­
butário, regra universal n atu ralm en te com unicável ao D ireito Previdenciário, se n ­
do p ertin en tes ad aptações q uando da translação.
550. In e x istên c ia de d é b ito — Fm razão da lei, em diversas o p o rtu n id ad es
a em presa tem necessidade de d em o n strar estar em dia com as obrigações fiscais.
A concessão de d o cum ento com probatório da regularidade da em presa, no
tocante às contrib u içõ es sociais e às diversas situações envolvidas, forçaram o le­
gislador e a A dm inistração a disciplinar am plam ente o assunto desde 1960.
O D ecreto-lei n. 821/1969 dispensou os c o n trib u in tes de apresentar a prova
nas transações em que são outorgantes a U nião, os E stados, os M unicípios e as
en tid ad es públicas de direito interno. Tam bém para as alienações realizadas pelas
em presas com ercializadoras de im óveis, para os in stru m en to s, atos e contratos
retificadores, ralificaclores ou efetivadores de outro s anteriores. Igual tratam ento
sofreram as vendas de unidades im obiliárias resu ltan tes de incorporações reali­
zadas na form a da Lei n. 4.591/1964, q u an d o a certidão tivesse sido apresentada
para a inscrição do m em orial e para a com ercialização de u n id ad es construídas
com fin anciam ento co ntratado p o r in stru m en to para cuja lavratura já tivesse sido
apresentado o do cu m ento.
A legislação estabelece lim itações à prática de certos atos negociais, com erciais
e procedim entais, p o r parle dos co n trib u in tes, afetando-lhes a liberdade p ró p ria de
pessoa jurídica. Com esse fito, avulta o conceito de em presa e de proprietário. E m ­
presa, no sentido atrib u ído pelo caput e parágrafo do art. 15 do PCSS, dela excluído

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

466 W l a d i m ir N o v a e s M a r t i n e z
o em pregador dom éstico. Proprietário, entendido o condôm ino, o incorporador e o
p ro p rietário , além do d o n o de obra de construção civil, abarcando, ainda, a em pre­
sa, p ertin en te a edificações prom ovidas em seus estabelecim entos.
De tais pessoas ju ríd ic a s e físicas, é exigida com provação da inexistência de
débito, expedida pelo órgão gestor. D ébito co m p reen d en d o o co rresp o n d en te às
co n trib u içõ es sociais, só arredadas as dos co n trib u in tes individuais e do em prega­
d o r dom éstico. P articularm ente, em relação à em presa, tam bém a do em presário
pessoalm ente consid erado até 31.8.1989.
D ébito n o rm ai ou suplem entar, m as não o sob um acordo de parcelam ento.
M o n tan tes não discu tidos adm inistrativa ou ju d icialm en te, isto é, en q u an to não
co n stitu íd o o crédito previdenciário. Mas não n ecessariam ente im portâncias
não decaídas ou prescritas.
In stru ção norm ativa in tern a tinha ideia p ró p ria de débito: a) a em presa estar
em dia com as contribuições; b) tenha firm ado e venha c u m p rin d o o term o de co n ­
fissão de dívida do parcelam ento; c) esteja com o débito p en d en te de julgam ento
em face de defesa ou recurso; e d) efetue o depósito em din h eiro ou apresente um a
destas garantias: h ip oteca, alienação fiduciária de bem im óvel, fiança bancária,
caução de vinculação das parcelas do preço do bem a ser negociado a prazo (O r­
dem de Serviço IAPAS/SAF n. 22/1979).
O obrigado a fornecer a certidão era o INSS e passou a ser a RFB, em relação
às cotizações d eco rren tes de folha de pagam ento. A Secretaria da Receita Federal,
no tocante ao fatu ram ento e lucro.
A p rim eira e prin cipal exigência da em presa é estar regular com as o-brigações
fiscais ao co n tra tar com o P oder Público, receber benefícios ou incentivos fiscais
ou creditícios estatais. A iei básica regulam enta o art. f 95, § 3 e, d a CE U m a norm a
rígida e excepcional significa sério obstáculo à liberdade d e produção. C om ele, a
iniciativa privada é atingida frontalm ente. Preceito severo: a pessoa ju ríd ica não
pode celebrar co n tratos com a A dm inistração Pública (m esm o esta estando in te­
ressada nisso) ou receber benefícios, auferir incentivos fiscais o u creditícios.
Essa lim itação co n stitu cio n al, expressa na restrição legal, à vista dos p rin c í­
pios co n tid o s nos arts. 1-, IV, e 3Q, I, da C arla M agna, bem com o em face dos pos­
tulados da atividade econôm ica (art. 170,1 a IX e parágrafo ú nico, da Lei M aior),
n ão su rp reen d e, se se co n sid erar o bem jurídico tutelado, a seguridade social. E m ­
p en h o u -se o co n stitu in te em captar os recursos necessários às prestações, criando
rede de proteção à realização da receita.
Tais restrições são quatro: a) co n tra tar com o serviço público; b) receber
benefícios; c) u su fru ir incentivos fiscais; e d) o b ter créditos.
A seg u n d a restrição im posta é m ais geral: a em presa está obstada de alienar
o u onerar, não im p o rtan d o o título aLribuído à operação, bens im óveis ou direitos
relativos a eles. É-lhe vedado vendê-los ou hipotecá-los. A terceira é variação da
segunda, p ertin e n te aos bens m óveis e de valor superior, q u an d o da publicação do

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l 467
PCSS, a Cr$ 2.500.000,00 (valor de 1991). F inalm ente, a ú ltim a exigência im posta
à em presa em débito é não p o d er registrar ou arquivar ato relativo à baixa ou re ­
dução de capital, cisão total ou parcial, transform ação ou extinção de entidade ou
sociedade com ercial ou civil.
Em seu art. 47 o PCSS presta outros esclarecim entos: a im posição diz respeito
a todos os estabelecim entos ou dependências e obras de co n stru ção civil, facultan­
do-se ao INSS o d ireito de cobrar débito ap u rad o posteriorm ente. Em se tratando
de in co rporador, q u an d o exigida, in d ep en d e da apresentada no registro de im óveis
p o r ocasião da inscrição do m em orial de incorporação. N ão é necessário descrever
o texto da certidão em in stru m en to püblico ou particular, bastando referência ao
nú m ero de série e data. A certidão po d e ser apresentada p o r cópia autenticada,
valendo p o r seis m eses. S ubsistente u m parcelam ento, a certidão só será em itida
com base em garantia. O con d ô m in o , individualm en te considerado, poderá obtê-la
se com provar estar em dia com a sua unidade.
O legislador tam bém indica as hipóteses em que a prova da inexistência de
débito é dispensada: a) retificação, ratificação ou efetivação de ato ou contrato
praticado an terio rm en te, su p o n d o -se ter sido apresentada a prova; b) garantia de
crédito rural, salvo se o preten d en te do d o cu m en to possua produção p ró p ria e
esteja obrigado a recolher os 2,1% incidentes sobre o valor com ercial dos p ro d u to s
rurais; e c) averbaçào de im óvel co n stru íd o an terio rm en te à vigência do D ecreto­
-lei n. 66/1966, isto é, antes de 22.11.1966.
R ecriando o CARC, a Lei n. 9.528/1997 in stitu iu d o cu m en to p o r m eio do
qual a em presa deve p restar inform ações sobre o fato gerador. Se não o fizer no
prazo estará im pedida de receber a CND.

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W ltíc iim ir N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo LV

S a l á r io d e C o n t r ib u iç ã o

551. Fontes formais. 552. Fato gerador. 553, Conceito sucinto. 554.
S u m Ar i o :
Características básicas. 555. Parcelas integrantes. 556. Rubricas não integranles.
557. Ganhos habituais. 558. Acordo na Justiça do Trabalho. 559. Limites míni­
mo e máximo. 560. Consulta fiscaf.

A base de cálculo tom ada para m en su rar o valor da cotização dos segurados
d enom ina-se salário de contribuição. M edida do fato gerador, frequentem ente é
co n fu n d id a com ele p ró p rio , isto é, o direito, o crédito o u o pagam ento da re m u ­
neração o u dos ganhos habituais do trabalhador, ju stifican d o am plos com entários
sobre sua n atureza, extensão e conteúdo.
O salário de co ntribuição é grandeza fiscal pecuniária útil p ara a aferição da
co n trib u ição do segurado e do salário de benefício. P or eleição do legislador — e
tam bém a rem u neração do dom éstico e o salário-base dos c o n trib u in tes indivi­
duais — ele atrai o nível da renda m ensal de prestações calculadas.
Seus co m p o n en tes enfrentam problem as de nom enclatura. As palavras “acrés­
cim o ” e “a d icio n ais”, bem com o “gratificações” são freq u en tem en te confundidas
ou utilizadas com o m esm o sentido. Às vezes, em prega-se ajuda de custo com o
salário básico, o brigando os ju slab o ristas a distinguirem entre p ró p ria e im própria
qu an d o , na verdade, são parcelas distintas. M as o equívoco m ais generalizado é
to m ar rem u neração com o sin ô n im o de salário.
551. F o n te s form ais — Por seu realce, em bora au sen te sistem atização e
tran sp arên cia necessárias a in stitu to técnico-jurídico significativo são respeitáveis
as fontes form ais p ertin en tes à definição da hipótese de incidência da obrigação fis­
cal dos seg u rad o s su jeitos a d esconto (o servidor sem regim e próprio, em pregado
u rb an o ou rural, avulso e, com p articularidades, o dom éstico).
Salientam -se as constitucionais e as legais, sem desprezo pelas abaixo destas,
co n v in d o ex am in ar norm as laborais e relativas à previdência privada e do FGTS.
Sem expressão as relativas ao Im posto de R enda ou as sindicais.
a) constitucionais: Em três m o m en to s, com a generalidade ínsita, a C arta M ag
na m enciona a fonte de custeio enfocada. No art. 149, q u an d o alude a co n tri­

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 469
buições sociais (caput), e no parágrafo ún ico , referindo-se aos Estados, D istrito
Federal e M unicípios. P articularm ente, no art. f 9 5 , 1, com respeito ao RGPS. A pro­
priadam ente tratando do tem a, no art. 2 0 f , § l f , ao referir-se aos ganhos habituais,
fornecendo adução ao conceito.
b) legais: O p rincipal dispositivo legal sobre o salário de contribuição é o art.
28 do PCSS e seus nove parágrafos. M odalidade particular, o acordo trabalhista, é
referido adiante, no art. 43.
H istoricam ente, dispuseram as Leis ns. 3.807/1960, 5.890/1973, 6.950/1981,
7.787/1989, 8.212/1991, 8.870/1994, 9.032/1995, 9.528/1997 e os Decretos-leis
ns. 66/1966, 1.910/1981, 2.318/1986 e 2.351/1987. Mais recentem ente, as Leis ns.
9.711/1998, 9.876/1999 e 10.101/2000.
O art. 28 do PCSS explicita alguns valores in teg ran tes (§§ 29, 79 e 8 Q). No
§ 9 Q, com 22 alíneas, exem plifica espécies diferentes não integrantes. N enhum a
das duas relações é exaustiva. A m bas não esgotam o universo. O RPS am plia o rol,
en fren tan d o as ferram entas de trabalho (ignoradas pela lei).
c) medidas provisórias: Assim com o os antigos D ecretos-leis, nos anos
1996/1997, a MP n. 1.523/1996 e suas reedições dispuseram sobre a exigibilidade,
afinal convertida na Lei n. 9 .5 2 8 /f 997.
C uidou de q u atro parcelas im portantes. R elativam ente às diárias para viagem ,
reviu a redação do § 8e anterior, su b train d o in fin e ( “pelo seu valor to tal1'), m as
abriu a d isciplina falando em: “§ 8 S Integram o salário de contribuição pelo seu
valor total: a) o total das diárias pagas, q u an d o excedente a cin q ü en ta por cento
da rem uneração m ensal”.
Q uer dizer, não so lu cio n o u o antigo equívoco co n sid erar rem u n erató rio o
quantum inferior a 50%, q u an d o a som a das diárias para viagem a ultrapassa; sabi­
dam ente, nesses casos, o trabalhador teve ressarcim ento de despesas com viagem e
ausen te q u alq u er acréscim o ao seu patrim ônio a ju stificar a incidência.
Acresceu a alínea b: “os abonos de qu alq u er espécie ou natureza e as parcelas
den o m in ad as in d en izatórias pagas ou creditadas a q u alq u er título, inclusive em
razão da rescisão do co n traio de trab a lh o ”.
S ubstituiu a letra d do § 9Q ( “os abonos de férias nào excedentes aos lim ites da
legislação trab alh ista”) por: “a im p o rtân cia recebida a título de férias indenizadas”.
Com ete o m esm o excesso de exigir contribuições sobre valores indenizatórios.
Finalm ente: “e) a im portância prevista no inciso I do art. 40 do Ato das D ispo­
sições C onstitucionais T ransitórias”. Refere-se aos 40% do FGTS, q u an d o de dem is­
são desm otivada, m ulta com caráter indenizatório e, portanto, nào rem uneratório.
d) laborais: Em seu art. 144, a CLT fixa a não incidência de contribuição sobre
o abono de férias.
e) previdência privada: O D ecreto-lei n. 2.296/1986 d eterm in o u a dispensa
de con trib u içõ es previdenciárias em relação à parte patronal da p atrocinadora de
fundo de pensão, desp ertando interesse d o u trin ário sobre sua assim ilação o u não
pela Lei M aior de 1988.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

470 W 7 a d /rm r N o v a e s M a r t i n e z
C onform e o Parecer CJ/MTPS n. 107/1992, o órgão gestor en ten d eu não caber
ap orte em relação à assistência à saúde propiciada pela em presa.
Inovando, o art. 37, § 9Q, r, d o RCPS d eterm in o u a não integração do “valor
das co n trib u içõ es efetivam ente pago pela pessoa ju ríd ic a relativo a program a de
previdência com plem entar, aberta ou fechada, desde que disponível tl totalidade de seus
empregados e dirigentes'' (grifos n ossos), interpretação confirm ada pelo Parecer
N ota CJ n. 4 24/1997 e pela Lei n. 9.528/1997.
Para a SPS: “q u an d o a em presa contem pla diferentem ente os em pregados
entre si ou seus dirigentes, torna-se evidente a intenção de to rn ar o cargo m ais
atrativo, e n esta situação, a contribuição p ara a em presa de previdência privada
configura-se salário in d ire to ” (item 3 do D espacho de 24.7.1997).
O arg u m en to não convence; volta-se co n tra o in térp rete. A instituição da
previdência co m p lem en tar pode ter surgido com esse tmimus e ele não deve ser es­
quecido, m as é mais. Trata-se de conquista política historicam ente irreversível. Na
verdade, d ian te da expansão do sistem a, se a em presa não in stitu í EFPC d im in u i
a co m p etitiv id ad e e não retém o trabalhador no seu quadro. P or acaso, pondo à
disposição de todos não estaria atraindo?
A inexigibilidade escora-se no fato de a m edida ser prestação previdenciária
propiciada pelo em p regador e não ter sentido onerá-la. Tem total sem elhança com
a parte patronal do em pregador feita ao FPAS, n u n ca considerada com o base de
cálculo de q u alq u er exação.
A nosso ver, com a dicção do art. 202 da C arta M agna e o art. 68, § l g, da LC
n. 109/2001, a q uestão p erd eu interesse, definindo-se pela inexigibilidade.
j) decretos presidenciais: N o art. 214 e seus 16 parágrafos, o D ecreto n. 3.048/
1999 discip lin a am p lam ente o conceito, exem plificando em 25 alíneas. Foi pre­
cedido p o r reg u lam entos históricos: D ecretos ns. 4 8 .959-A /l960, 60.501/1967,
72.771/1973, 8 3 .081/1979, 356/1991, 612/1992 e 2.173/1997.
g) regulamentares: As norm as regulam entares são vastíssim as. Incluem por­
tarias m inisteriais e orientações, ordens de serviço, instruções norm ativas e, no
passado, form ulações e en ten d im en to s departam entais.
As principais: P ortaria MTPS n. 3.286/1973, P ortaria SPS ns. 199/1973,
29/1975, 2/1979 e 9/1978 (itens 39/49), Instrução N orm ativa SPS n. 2/1994. Fo­
ram im p o rtan tes as 36 form ulações da R esolução IAPAS n. 46/1979. Vale a pena
c o n su ltar as O rdens de Serviço INSS/DSS ns. 48, 50 e 55/1996 (indenização).
h) pareceres: Pareceres tratam de assuntos específicos cu id an d o da inclusão
ou não de certas parcelas. Os principais são: I.) direitos autorais (Parecer PGC
n. 526/1975 e CJ/MPAS n. 74/1980); 2) salário-habitação (Parecer CJ/MPAS ns.
058/1984, 043/1985 e 01/1988; CJ/IMPS n. 107/1969 e PGC n. 135/1982); 3) assis­
tência à saúde (Parecer CJ/MTPS n. 107/1992); 4) ajuda de custo (Parecer AC/IAPI
n. 06-02.4/50/1961; AC/INPS n. 23/1969 e PG C n. 526/1975); 5) abono (Parecer
AJ/CRPS n. 124/1967); 6) diárias para viagem (Parecer CJ/MPAS n. 75/1980, CJ/

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o d a ! 471
MTPS ns. 104/1974, 125/1971 e CGR n. 271/1974); 7) salário-alim entaçào (Pare­
cer CJ/MPAS ns. 10/1977, 79/1977, 31/1977, 24/1978, 40/1980, 40/1981, 58/1984,
25/1986 e 10/1989; Parecer PGC ns. 405/1976, 331/1982 e 43/1985; CJ/1NPS ns.
255/1967, 107/1969, 58/1971 e 87/1988); 8) participação nos lucros (Parecer CJ/
MPASn. 547/1996); e 9) valores indenizatórios (Inform ação CJ/MPASn. 244/1997).
i) súmulas: Da m esm a form a, in úm eras as consolidações de jurisprudência,
entre prejulgados, en u n ciados e súm ulas dos diferentes trib u n ais trabalhistas e da
Ju stiça Federal. São lem bradas algum as fontes.
A Súm ula TFR n. 167 dila: “A conLribuição previdenciária não incide sobre o
valor da habitação fornecida p o r em presa agroindustrial a título de liberalidade, a
seus em pregados, em observância a acordo coletivo de trab alh o ”.
Já o E n u n ciad o TST n. 78 reza; “A gratificação periódica co n tratu al integra
o salário, pelo seu duo décim o, para todos os efeitos legais, inclusive o cálculo da
natalidade da Lei n. 4 .0 90/62”.
O E n u nciado TST n. 290 dispõe: “As gratificações, sejam cobradas pelo em ­
pregador na nota de serviço ou oferecidas espontaneam ente pelos clientes, in te­
gram a rem uneração do em pregado”.
Para a Súm ula STF n. 468: “A base de cálculo das contribuições previdenciá­
rias, an terio rm en te ã vigência da Lei O rgânica da Previdência Social, é o salário
m ínim o m ensal, observados os lim ites da Lei n. 2.755, de 1956”.
Na Súm ula STF n. 530 consta: “N a legislação an terio r ao artigo 4 Q da Lei n.
4.749, de 12.8.65, a co ntribuição para previdência social não estava sujeita ao li­
m ite estabelecido no artigo 69 da Lei n. 3.807, de 26.8.60, sobre o 13a salário a que
se refere o artigo 3Q da Lei n. 4.281, de 8 .1 1 .6 3 ”.
A Súm ula STF n. 241 diz: “A contribuição previdenciária incide sobre o abono
inco rp o rad o ao salário ”.
j ) tributárias: O CTN, sem em bargo de a exação previdenciária não ser tributo,
é fonte form al subsidiária.
552. F ato g e ra d o r — De form a genérica, não necessariam ente precisa, a nor­
ma circunscreve a obrigação pecuniária e form al, principal e acessória, isto é, o
õ nu s fiscal d ecorrente da lei e do fato gerador.
O corrente este últim o, o sujeito ativo do crédito cerca-se de procedim entos
específicos para tê-lo com o o tipo legal e apreendê-lo. Nessa atuação, justificada a
certeza, opera-se o lev antam ento dos dados para a determ inação da exigibilidade.
D efinida a im posição defluente da n o rm a e do evento gerador, os efeitos ju ríd ico s
retroagem à época dos acontecim entos econôm icos decantadores.
O bviam ente, tam bém o sujeito passivo procede assim. A perquirição da hi­
pótese de incidência é ato de inteligência e vontade dos dois sujeitos da relação
de custeio. Não acolhida pelo polo passivo, m esm o não a constituindo, o Estado
declara a existência da exigibilidade. A constituição vem do m encionado binôm io
lei-hipótese de incidência. R eunidos os elem entos definidores, presente, portanto,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

472 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
o fato econôm ico, produzem -se conseqüências. À vista do m esm o quadro revelador
da realidade fiscal, co nstatando o co n trib u in te o evento delineador da contribuição,
nascem obrigações de variada ordem , independentem ente de lançam ento fiscal.
Essa verificação, na m aioria dos casos, é atividade sim ples: insere-se na p rá ­
tica ad m in istrativ a do devedor e não guarda m aiores preocupações. Realiza-se de
form a co stu m eira sem d esp ertar indagações nem perplexidades m aiores, e, p o r
isso, os fatos ro tin eiram en te praticados, em geral inform atizados ou sistem atiza­
dos, perdem expressão no m u n d o ju ríd ico .
Inexistente previsão orçam entária, a dim inuição do patrim ô n io jacente na exi­
gência da exação afeta a ordem econôm ica do contribuinte. A im posição, então tida
com o excepcional o u inesperada, po d e gerar contenciosidade entre os dois polos
da relação, discussões prelim inar e de m érito, antes da autuação e principalm ente
após, em pro ced im en to adm inistrativo ou ju dicial, até finai solução do dissídio.
N o rm alm en te, além de perten cer ao universo econôm ico e financeiro, o fato
gerad o r tem assento nos registros contábeis. A presença do obreiro no serviço, in­
ferida de situação descrita em lei, traduz-se em anotações escriturais obrigatórias.
Mas, ja c e n te o fato gerador, d em o n strad a sua existência corpórea à saciedade, a
falta do registro d o cu m en tal não o faz desaparecer p o r isso. P restador de serviços
igual ao retratad o no art. 3 Q da CLT, m esm o sem o p reen ch im en to co m p eten te da
CTPS ou ERE, é em pregado. A im portância a ele devida, creditada ou paga por
serviços prestados, m esm o sem recibo ou o u tro docu m en to hábil com probatório, é
rem uneração. D etectado o seu valor m onetário m ediante m eios idôneos e ju rid ic a ­
m ente sustentáveis, subsum e-se em obrigação fiscal. N ão hã aí vontade das partes.
Prevalece a cogência da norm a pública.
O fato gerad o r não po d e ser p resum ido, em bora excepcionalm ente sua co n ­
cepção seja ad m itid a sob p resunção absoluta (exem plo: piso salarial, norm ativo
ou da categoria). N ão confessado, tem de ser dim en sio n ad o pelo A gente Público.
Tem nascim ento, vida e m orte. A perfeiçoa-se em certo m om ento (m ês de
co m p etên cia), q u an d o buscado. N ão depende de condição. No lançam ento fiscal,
não cu m p rid o o d ever fiscal p o r parte do sujeito passivo, é im p o rtan te precisar o
m o m en to da cristalização, em geral o m ês e an o q u an d o se d eu a atividade m aterial
configuradora.
É igualm ente im prescindível assinalar o d o cu m en to , q u an d o ex istente o su ­
p o rte form al da realização do acontecim ento econôm ico, devendo a verificação
ap o n ta r o livro utilizado para a inspeção (v. g., D iário, C ontas C orrentes, Razão,
Caixa, folhas de pagam ento, recibos, cartão de p o n to , p lan ta baixa etc.).
Se a ap u ração é feita com base em dados indiretos, caso dos elem entos su b ­
sidiários, ela reclam a m ais cuidado. A notificação co rresp o n d en te precisa aco m ­
p anhar-se de relatório discrim inativo dos critérios adotados, cálculos e raciocínios
elaborados, com o se chegou às parcelas julgadas in teg ran tes do salário de c o n tri­
buição pelo A gente Público, e o m otivo. E, é cristalino, seguir-se am plo direito de
defesa e contestação, não só form ais com o m ateriais.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 473
Um dos aspectos im p o rtan tes na identificação do fato gerador é constatar se,
nascida a obrigação, ela ainda subsiste, isto é, se não se extinguiu pelo pagam ento,
rem issão, decadência e, na hipótese de não decaída, levantado o débito, se não
cessou com a prescrição.
No tocante à com pensação, o form alism o não deve su p lan tar a essência da
realidade. Exem plificativam ente, q uando a em presa recolhe as contribuições com o
se o trab alh ad o r fosse au tô n o m o , en q u a n to distin to s os ônus, e descobre ser ele
em pregado, é devedora apenas da diferença e não da totalidade, m esm o perm itida
a restituição do an terio rm en te pago.
Uma palavra sobre a consagrada e largam ente utilizada expressão “fato ge­
ra d o r”. O aco n tecim en to econôm ico não cria a contribuição. No ordenam ento
atual, sem a lei exigi-la, não nasce a obrigação ju ríd ica. N ão é a n o rm a em abs­
trato a criadora. Sem o fato m aterial inexiste a obrigação fiscal. Do p o n to de vista
econôm ico, a lei é im posição ju ríd ica, eventualm ente dispensável, n o respeitante
à exigibilidade, caso do facultativo. O m o tivador é a im periosidade da prestação.
Isso é dado sociológico e financeiro, apresentando-se a norm a incidental, m as in-
dispensavelm ente regradora do co m portam ento hu m an o . P or hipótese de in cid ên ­
cia entende-se o binôm io, necessariam ente, nessa ordem : o evento econôm ico e
a n o rm a ju ríd ica. Para o segurado obrigatório, é direito, o crédito ou pagam ento
da rem uneração, en q u an to a lei assim definir. Para o facultativo, ao contrário, por
exceção, a norm a auto riza co n sid erar sua vontade de filiar-se ou m anter-se filiado
ao regim e de previdência social.
D ivide-se o fato gerador, didaticam ente, em m ediato e im ediato. O prim eiro
é m enos expressivo p or sua efetividade, m as cientificam ente o m ais im portante,
m u ito em bora disLante das cogitações do dia a dia. F ilosoficam ente, o ô n u s de con-
Lribuir nasce precip u am ente da necessidade de obtenção dos recursos necessários
às prestações. Estas, sim , geram toda a instituição previdenciária, relação ju ríd ica
de custeio e a obrigatoriedade da contribuição. Sob o p o n to de vista fiscal, porém ,
jurídica e eco n o m icam ente releva o fato gerador im ediato, o direito, o crédito ou
pagam ento da rem uneração, e, no excepcionalíssim o caso da Lei n. 6.260/1975, a
obrigação de não fazer (cultivar a terra).
A causa rem ota da exaçáo securitária é a necessidade de o órgão gestor am ea­
lhar recursos necessários ao custeio das prestações atuais e futuras, isto é, a ativi-
dade-fim da previdência social.
D istante no tem po, o m otivo p rim eiro é o benefício a ser pago aos b en e­
ficiários, con ceb id o em po ten cial, considerado global e so cialm ente, e não em
particular.
Há algum a relação entre a prestação posta à disposição do segurado e seus d e­
p en d en tes, a sua condição econôm ico-financeira e a base de cálculo da c o n trib u i­
ção. Em bora a arrecadação das contribuições deva ser concebida com o fenôm eno
social, e não individual, e da m esm a form a im aginada a oferta dos benefícios, o
interesse pü b lico aí co n tido é do tipo com vistas à proteção das pessoas.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

474 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
No seguro social, estabelece-se elo entre a co n trib u ição e a prestação, não
cie d ep en d ên cia, m as de co n teú d o e nível, razão pela qual o fato gerador m ediato,
im prestável diretam ente para a apuração dos níveis do fato gerador im ediato, não
olvida o papel su b stitu id o r da previdência social com o um todo e, p articularm ente,
o da sua prestação.
C o nfunde-se o fato gerador m ediato com a razão de ser da contribuição ge­
nericam en te co nsiderada. É a necessidade de ap reen d er os recursos financeiros ou
eco n ô m ico s im prescindíveis à m an u ten ção do plano de benefícios dos titulares do
direito e daqueles q u edados n a sua expectativa.
F ato gerad o r im ediato é o p ro p ria m e n te dito, isto é, situação im positiva da
co n trib u ição . De acordo com a lei vigente, a definição do direito, constituição do
crédito ou o pag am ento da rem uneração. O u, apenas, a constituição do crédito,
q u an d o se tem ainda a quitação, form alizada, e, prin cip alm en te, o pagam ento,
contabilizado ou não.
P agam ento en ten d id o com o quitação ao fim d o m ês, pois, a p a rtir da Lei n.
8.620/1993, tam bém o ad ian tam en to precedente à liquidação da obrigação. Ser
o fato gerad o r o créd ito do direito e não necessariam ente o seu exercício (paga­
m en to ) é conclusão lógica. Raciocínio d istin to conduziria ao absurdo ju ríd ic o de
atribuir-se ao sujeito passivo a possibilidade de, resolvendo a obrigação o u não,
caracterizar o u não o fato gerador. Todavia, além do crédito, o pagam ento da re m u ­
neração a ele co rresp o n d en te confirm a situação definidora do fato gerador, em bora
n ão seja ab so lu tam en te im prescindível.
E, tam bém , não é sim plesm ente o crédito. Existem situações, in ocorrente a
in co rp o raçã o ao p atrim ô n io , em q u e a ausência de re m u n eração descaracteriza
a obrigação. Dá-se exem plo com a renúncia do obreiro. O bteve ganho de causa na
Ju stiça do Trabalho, o m o n tan te foi declarado seu, o direito, o crédito estão cons­
titu íd o s e, em acordo trabalhista válido, após a sentença, q u an d o da execução, ele
an u i em receber m enos (claro, falando-se de im portâncias renunciáveis).
Na verdade, o fato gerador da obrigação previdenciária acontece com o crédi­
to agregado aos bens do trabalhador, confirm ado pelo pagam ento da rem uneração,
devendo-se exam inar, em particular, q u an d o a quitação não acontece p o r vontade
do em preg ad o r ou do em pregado.
A certeza de ser o crédito e não apenas o pagam ento, co n stitu íd o em favor do
trabalhador, a ele p ertin e n te , m esm o não em bolsado o n um erário, a u m en to u com
o art. 35, 1, da Lei n. 7.787/1989, a prim eira a fornecer expressam ente os elem entos
definidores do fato gerador.
É créd ito ju ríd ico , não o contábil, ou seja, co n stitu íd o o direito, ele d eterm ina
o m o m en to do aperfeiçoam ento, nâo sendo relevante a declaração formal de sua
existência. Basta o trab alh ad o r fazer ju s.
553. C o n ceito su c in to — D escrever o salário de co n trib u ição dos segura­
dos desco n tad o s, à exceção do dom éstico, en ten d id o com o a base de cálculo da

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / / — P r e v id ê n c ia S o c ia l
con tribuição direta e pessoal (válida, sem lim ite, tam bém para a parte patronal)
— im p o rtân cia dedutível de sua rem uneração, globalm ente considerada — , ap a­
ren tem en te não guardaria dificuldade técnica ou jurídica.
Integram -no a rem uneração e os ganhos habituais. P ortanto, óbice respeitá­
vel à determ inação das rubricas consiste em desvendar o conceito trabalhista de
rem uneração e seus in stitu to s paralelos, indenização e ressarcim ento de despesas.
F u n d am en talm en te, repete-se, a rem uneração, nela co n tid o s principalm ente
o salário e os desem bolsos d eco rren tes de conquistas sociais. Restam excluídas im ­
portâncias ressarcitórias de gastos feitos pelo trabalhador em razão da prestação de
serviços e as in d en izatórias. A CF alterou essa singela construção, acrescentando
os ganhos habituais.
Na versão original do art. 28, o PCSS en ten d ia “a rem uneração efetivam ente
recebida ou creditada a q u alq u er título, d u ra n te o m ês, em um a ou m ais em presas,
inclusive os ganhos habituais sob a form a de utilidades, ressalvado o disposto no
§ 8 Q e respeitados os lim ites dos §§ 39, 4 e e 5a deste artigo”. D esapareceu da lei o
“p o r serviços presLados”, tão caro à LOPS.
C om a redação dada pela Lei n. 9.528/1997 passou a ser “para o em pregado
e trab alh ad o r avulso: a rem uneração auferida em um a ou m ais em presas, assim
en ten d id a a totalidade dos rend im en to s pagos, devidos ou creditados a qualquer
título, d u ran te o m ês, destinados a re trib u ir o trabalho, q u alq u er que seja a sua
form a, inclusive as gorjetas, os g anhos h abituais sob a form a e utilidades e os
ad ian tam en to s d eco rrentes de reajuste salarial, q u er pelos serviços efetivam ente
prestados, q u er pelo tem po à disposição do em pregador ou tom ador de serviços
nos term os da lei o u do contrato, ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de
trabalho ou sen ten ça n o rm ativ a”.
Significa integrarem o salário de contribuição os valores rem uneratórios, n e ­
les inseridos os salariais, en q u a n to contraprestação p o r serviços prestados, e os
agregados aos ingressos norm ais do trabalhador.
Do texto legal, deflui não ser im p o rtan te ter sido recebido (auferido), b astan ­
do ser creditado (co n stitu íd o o direito). Tam bém não é relevante o título atribuído
ao pagam ento. Da m esm a form a, provir de um a ou m ais em presas.
E xcluídos os aspectos jurídico-contábeis, nom enclatura e origem e, ainda,
sua tradicional m ensalidade, nuanças não nucleares, resta apenas e tão som ente ser
a rem u neração e o ganho habitual provenientes do em pregador.
554. C ara c te rístic a s básicas — Os principais elem entos definidores presen ­
tes 110 texto legal, p resum idos ou dele historicam ente afastados, capazes de c o n ­
ceitu ar o in stitu to , são os seguintes: a) rem uneração, com o núcleo fundam ental; b)
totalidade das im portâncias; c) pouco valer o título; d) contraprestatividade pelo
trabalho e não para o trabalho; e) consum ação ou não da quitação; D integração no
patrim ô n io do trabalhador; g) origem da retribuição; h) destinação da co n trib u i­
ção; i) papel su b stitu id o r do benefício; e, finalm ente, j ) a periodicidade.

C u r s o df. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

476 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
a) remuneração: C om efeito, repetindo, dele fazem parte os valores rem une-
ratórios, e arred ad o s os in denizatórios, ressarcitórios o u aqueles não referentes ao
co n trato de trabalho e as ferram entas de trabalho. A colhidos os ganhos h abituais,
m esm o os raros não rem uneratórios.
P o r rem u n eração , se en ten d e o salário, a gorjeta e as con q u istas sociais. Salário
é contrap restação p o r serviços prestados. G orjeta, pagam ento feito p o r estranhos
ao co n trato de trabalho em razão do sobre-esforço do obreiro. Da m esm a form a,
o direito de arena e a guelta. C onquistas sociais são créditos sem correspondência
com a prestação direta de trabalho, devendo-se, usualm ente, à lei, ao co n trato in ­
dividual ou coletivo de trabalho.
b) totalidade: Todas as im portâncias, sem exclusão de q u alq u er um a, ou seja,
sua som a. No caso do trabalhador, respeitado o lim ite vigente, o m esm o não acon­
tecendo com a em presa. Do rol das parcelas co m p o n en tes, n e n h u m a é excluída,
m esm o in natura, à exceção dos ganhos habituais em dinheiro.
c) irrelevância do título: Insiste a legislação em referir-se à não relevância do
títu lo de desem bolso. R ealm ente, se rem u n e rató rio o u g an h o hab itu al, no m e n e ­
n h u m atrib u íd o ao valor retira-lhe a condição de in teg ran te do conceito ou per se
o agrega.
D uas coisas o “q u alq u er título" ou o “q u alq u er que seja a su a fo rm a” não
representam : a) ser q u alq u er parcela; ou b) relativa a situação não deco rren te do
co n trato de trabalho.
N ão é q u alq u er im portância 110 sen tid o de abranger todos os valores, porque a
rem u n eração co m an d a a definição. Tam bém não possui o u tro significado, in clu in ­
do pagam entos deco rrentes de infinitas situações, pois só os p ertin e n te s ao vínculo
em pregatício interessam . O “a q u alq u er títu lo ” q u er dizer se re m u n erató rio , in d i­
feren tem en te o n o m e atribuído ao m ontante.
d) contraprestatividade: D eixou de co n star da descrição da base de cálculo a
m enção h istó rica aos serviços prestados. Isso, de certa form a, lim itava o conceito
ao salário q u an d o , sabidam ente, os responsáveis pela m an u ten ção do trabalhador
são a rem u neração e os ganhos habituais; e in ü m eras co n q u istas sociais. A Lei n.
9 .528/1997 deix o u clara a inclusão dos valores percebidos em razão de o trab alh a­
d o r ficar à disposição do em pregador.
e) consumação: A alusão ao crédito am plia o conceito, até então significando
serem exclusivam ente os apropriados. Na verdade são o direito (ideia ju ríd ica), o
crédito (concepção contábil) e, o m ais com um deles, o p agam ento (efetiva quitação).
J) integração no patrimônio: Para o bem vir a fazer parte do salário de c o n tri­
buição, é im prescindível integrar-se no patrim ônio do segurado. Ser dele. Trata-se
de ideia com plexa diante de diferentes situações, pois, nas figuras do direito e do
crédito, essa integração é form al, m as não real.
F iscalm ente falando-se, caracterizado o direito (p o r ex., ao piso m ínim o da
categoria), dispensa-se 0 crédito contábil o u o efetivo pagam ento.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l
No caso das stocks oplions, opções m ercantis oferecidas ao em pregado pelo
em pregador em condições privilegiadas e aduzem os seus bens, assum em caráter
rem uneratório.
g) origem pecuniária: Carece p erscru lar de on d e vem o dinheiro, se de tercei­
ros ou do em pregador. Em p rincípio, ex vi tegis, só as gorjetas podem originar-se
de estranhos à relação contratual. Dá-se exem plo a respeiLo: o cupando próprio
m unicipal (estádio) para isso cedido m ediante convênio oneroso, quem controla a
receita b ru ta dos espetáculos futebolísticos é a federação estadual, m as quem paga
os porteiros e seguranças são os clubes de futebol. No fundo, os ingressos são d e­
sem bolsados pelos torcedores...
íi) destinação da contribuição: A cotizaçâo previdenciária tem escopo, custeia
benefícios dos seg urados e dependentes. Ipso ja c to , sem em bargo de o RGPS c o n ­
sagrar o regim e de repartição sim ples, não tem sen tid o exigir contribuições sobre a
p ró p ria prestação, m esm o assum ida pela em presa. Dessa form a, descabe exigência
sobre os prim eiros f 5 dias an teced en tes do auxílio-doença, assistência à saúde ou
previdência privada.
i) papel substituidor: Não se pode olvidar o papel su b stilu id o r do benefício. Se,
de algum a forma, no caso do curso profissionalizante útil à em presa, ela propicia
integração definitiva no p atrim ônio do trabalhador, o bem m aterial ou im aterial
não pode prestar-se para a contribuição.
j) periodicidade: F inalm ente, entre os aspectos extrínsecos, evidentes p o r si
m esm os, destaca-se a frequência. Por tradição, os débitos laborais são atendidos
m ensalm ente, e essa a periodicidade do salário de contribuição.
R esultam : o direito, o crédito ou o pagam ento da rem uneração ou ganho
habitual ou o u tro bem , a ser su b stitu íd o pela prestação, destinado ao pagam ento
social dos benefícios, in co rp o rad o ao patrim ônio do trabalhador, devido pelo em ­
preg ad o r ao em pregado em razão do co n trato de trabalho.
555. P arcelas in teg ra n te s — E xcetuados os g anhos habituais, tratados em
particular, o prin cip al integrante do salário de contribuição é a rem uneração, nela
com preendidas cen ten as de variações.
a) remuneração: C om o insisten tem en te afirm ado, a rem uneração é o núcleo
do conceito. Presente desde os p rim ó rd io s da previdência social, ela foi escolhida
para ser a principal, senão a única base de cálculo da contribuição, em razão do
papel su b stitu id o r da prestação de pagam ento continuado. Isto é, ser a retribuição
o m eio h ab itu al de subsistência do trabalhador, precisam ente a contingência p ro ­
tegida pelo seguro social. De m odo evidente, tam bém p o r p o ssu ir dim ensão fácil
de ser ap u rad a e, aliás, em razão disso, objeto freqüente de interesse de outras
exações, c rité rio p ara vários fins sociais e p arâm etro m e n su ra d o r de in ú m e ra s
o b rig açõ es, d ire ito s e vantagens.
Os créditos rem u n erató rio s detêm nuanças da rem uneração, expressão
técnico-jurídica trabalhista co rrespondente às obrigações laborais e, p o r sua vez,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

478 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
espécie do gênero pag am entos ou im portâncias devidas ao obreiro em decorrência
do co n trato de trabalho (ao seu lado perfilham os desem bolsos indenizatórios,
ressarcitórios e ferram entas de trabalho). G ênero com preende diversas parcelas
auferidas, destacando-se, em particular, o salário, as conquistas sociais e a gorjeta.
A lei p rev idenciária não detém conceito próprio. Se o possuísse, teria de ser
praticam ente igual à definição trabalhista.
b) remuneração do doméstico: A lei destaca a con trib u ição do em pregador d o ­
m éstico, p o r não co n fundi-lo com a em presa ou o em pregador regido pela CLT.
Aliás, firm a alíquota diferenciada (12% ). Desde a Lei n. 5.859/1972 até 3 1 .1 2 .1 9 8 f,
era de 8% (igual à do trabalhador). Com o D ecreto-lei n. 1.910/1981, passou a ser
de 10% (e a do dom éstico to rn o u -se 8,5% ). P or força da Lei n. 7 .7 8 7 /f9 8 9 , a tin ­
giu o p atam ar atual dos 12% e, então, lim itado até três salários m ínim os. A p artir
da Lei n. 8.212/1991, o lim ite do salário de contribuição uniform izou-se em Cr$
170.000,00, de todos os segurados.
A lei silenciou q u an to ao teto da parte patronal do em pregador dom éstico.
O art. 22 do PCSS só fala em em presa, e, assim , a contrario sensu, o em pregado
dom éstico está sujeito aos R$ 4.159,00, do an o 2013.
A definição legal desse tipo de salário de contribuição é “a registrada na Car­
teira de T rabalho e Previdência Social, observadas as n o rm as a serem estabelecidas
em reg u lam en to para a com provação do vínculo em pregatício e o valor da re m u ­
neração ” (art. 28, II).
O conceito é frágil e form alista, reduzindo-se ao an otado, co n tra rian d o possí­
vel realidade; freq u en tem ente o em pregador dom éstico registra apenas o valor da
rem u n eração (seu nível pecu n iário ), raram en te consigna con q u istas sociais (v. g.,
alim entação, tran sp o rte, habitação etc.), parcelas incorporadas no conceito laborai.
N ão há p o r que ver na rem uneração aludida n a lei o u tro in stitu to ; é o m esm o
do art. 28, 1, isto é, a ideia trabalhista antes exam inada.
c) salário: D iferentem ente de alguns laboristas, salário é a única parcela re-
m u n erató ria referente diretam ente à prestação de serviços. A usente o labor efetivo,
o pagam ento não é salário, m as sim conquista constitucional, legal, sindical ou
pessoal, integ ran d o , ju n ta m e n te com ele, a rem uneração.
A palavra “salário ” é utilizada in d istin tam en te, até pela C arta M agna, com o
sin ô n im o de rem uneração. Não se confunde com ela, salvo na hipótese de ser a
única form a retributiva. Isso é p raticam ente im possível de suceder, pois os trab a­
lhadores obtiveram m uitas vantagens no curso da história, e so m en te nu m m ês ou
n o u tro os dois conceitos coincidem . De acordo com a CLT, d u as rubricas, salário
e gorjeta, definem a rem uneração. Mas ela supera isso, abrangendo, p o r assim di­
zer, os tipos de pag am entos não in d en izató rio s ou ressarcitórios, feitos em virtude
do ajuste laborai. Salário é rem uneração, mas ela n ecessariam ente não é salário,
co n stitu in d o -se, n u m e n o u tro m om ento, em direito assegurado com natureza d i­
ferente da salarial, caso das conquistas sociais.

C urso d f D ir e it o P b e v id e n c j a r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 479
U m a d istin ção é im periosa. Dá-se exem plo com as horas extras. No curso da
jo rn a d a de trabalho, o em pregado percebe o salário (e, eventualm ente, algum plus).
D urante as horas extras, em razão de prosseguir a prestação de serviço, o traba­
lh ad o r aufere o utra vez o salário e m ais 50%, adicional constitucional em razão
do sobre-esforço de q u em cu m p riu a jo rn a d a norm al, conquista social relevante,
po d en d o ser sindical (percentual a m ais, fixado com o fruto de negociação coleti­
va) ou pessoal (índice su p erio r aos anteriores, ajustado q u an d o da celebração do
co n trato de trabalho).
C onsequentem ente, elas têm dois elem entos rem uneratórios: a) 66,6% de salário;
e b) 33,4% de conquista social. O m esm o se passa com o adicional noturno, apresen­
tando parte nitidam ente salarial (por trabalhar) e duas conquistas sociais: 1) redução
da hora de 60 para 52,5 m inutos; e 2) acréscim o de valor p o r trabalhar à noite.
U sualm ente pago pelo em pregador, não é co m u m o salário o riu n d o de tercei­
ros, salvo se presente o u tro co n trato de trabalho. Por exem plo, a em presa quita o
salário e, os clientes, a gorjeta, quantum integrado na rem uneração para diversos
fins, e no conceito de salário de contribuição, p o r força de lei.
D esdobra-se o salário em inúm eras espécies, p o d en d o ser classificado ad in-
jinitu m . Ser fixo ou variável, em dinheiro ou em din h eiro e in natura. D esem bol­
sado ou creditado e devido o u recebido. B ruto o u líquido, em face do desconto.
A propriado d u ra n te a vigência o u não do co n trato de trabalho. A justado p o r es­
crito ou verbalm ente. Q u a n to à periodicidade, ter q u alq u er frequência ajustada,
sendo co m u n s a m ensal, quinzenal ou sem anal. O m o n tan te aferido p o r tarefa ou
não d ep en d er do resultado. Legal, sindical, adm inistrativo o u judicial, segundo a
origem do pacto firm ado ou im posição legal. O bserva piso m ínim o universal ou
profissional e, finalm ente, a im portância paga originária ou corrigida.
d) conquistas sociais. Espécie do gênero rem uneração, as conquistas sociais
não se inserem in teiram en te no cam po daquela, extrapolando-as e apresentando
algum as hipóteses de valores indenizatórios e ressarcitórios. Dá-se exem plo com
as férias an u ais fruídas (co n q u ista social re m u n erató ria) e as férias indenizadas
(conquista social in d en izatória). Tam bém o aviso-prévio, o salário-m aternidade e
ou tros particip an tes do c o n tra to de trabalho.
C onquistas sociais são parcelas individuais, caso do décim o terceiro salário,
adicional p o r transferência de sede, assum indo a form a de percentuais do salário ou
de outras conquistas sociais (horas extras, adicional n o tu rn o , adicional trabalhista
etc.). Assim denom inadas para distinguir do salário e não p o r se referir diretam ente
à prestação de serviços, granjeadas m ediante o esforço político dos trabalhadores.
P or sua vez, é gênero com preendendo espécies constitucionais, legais, sindicais,
juríd icas e pessoais.
São do tipo constitucional: décim o-terceiro salário, adicional n o tu rn o , parti­
cipação nos lucros, salãrio-fam ília, salário-m aternidade, repouso sem anal rem u n e­
rado, horas extras, férias anuais, licença à m aternidade, aviso-prévio e adicionais
especiais. Legais: diárias para viagem , adicional p o r transferência de sede, salário-

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

«0 W la d im i r N o v a e s M a r l i n e ?
-alim entação, auxílio-creche, prim eiros 15 dias, vale-transporte etc. Sindicais: gra­
ças á atuação dos sindicatos, m uitas delas transform adas em co nstitucionais e legais
(estabilidade das gestantes, dos cipeiros e dos representantes sindicais). C onquistas
pessoais: as conseguidas p o r m eio do esforço pessoal do trabalhador no ajuste labo­
rai, variando infinitam ente, conform e cada caso. C onquistas ressarcitórias: verbas de
representação, vale-transporte, diárias para viagens inferiores a 50% do salário etc.
e) licenças remuneradas: V erdadeiras conquistas sociais, co nstitucionais ou
legais, as licenças rem uneradas são m u ito com uns. A ntigas algum as, caso do
rep o u so sem anal rem u n erad o , novas outras, com o a licença à paternidade, são
variadas n a iniciativa privada e não desconhecidas no serviço público.
Os p rim eiro s 15 dias não integram o salário de co n trib u ição , em face de sua
n atureza de benefício previdenciário com etido à em presa, m as assim não pensa a
ad m in istração e só dispensa a contribuição em favor do co m p lem en to do auxílio-
-doença.
Licença à m aternidade ou salário-m aternidade tem origem n o Tratado de Ver­
salhes (1919). A licença à paternidade é reconhecida no art. 1°, XIX, da Lei M aior e
no art. 10, § I a, do ADCT. O repouso sem anal rem unerado deve-se à Lei n. 605/1949.
A CLT prevê várias faltas justificadas (v. g., nojo, gala, nascim en to de filho,
doação de sangue, alistam ento eleitoral e do serviço m ilitar obrigatório). Para co m ­
p arecer à Ju stiça do Trabalho, o segurado não perde a rem uneração. A CLT concebe
licen ça p ara in v e s tid u ra sin d ical, h a v e n d o , a in d a , a lic e n ç a -d isp o n ib ilid a d e e
a licença rem u n erad a p ro p riam en te d ita (art. 543, § 3a). L icença-prêm io é própria
de serv id o r público.
f ) férias anuais: Férias anuais dizem respeito a capítulo especial. São variadas e
integram o salário de contribuição: 1) férias anuais sim ples fruídas; 2) férias anuais
em d o b ro fruídas; 3) férias proporcionais fruídas; 4) férias coletivas fruídas; 5) gra­
tificação de férias, acim a de 20 dias; 6) u m terço co n stitu cio n al das férias anuais.
g) adicionais e abonos: A lgum as parcelas devidas ao em pregado têm individua­
lidade, co n h ecen d o nom e, fisionom ia, dim ensão, duração e regulam entação especí­
fica, d istin g u in d o -se do salário, m as fund am en talm en te não passam de acréscim os
de seu valor. Na m aioria, derivam de conquistas sociais. Entre o u tras, os diversos
adicionais e os abonos.
A dicionais são infindáveis e quase todos possuem n atu reza rem u n erató ria,
q u an d o n ão salarial. R aram ente têm essência ressarcitória de despesas presum idas
e não necessariam ente com provadas. E ntre os prin cipais, en co n tram -se o adicional
n o tu rn o , a d icio n a l de h o ra s ex tras, ad icio n a l p o r tra n sfe rê n c ia d e sede, ad icio ­
nal p o r tem po de serviço, adicional p o r cargo de chefia. Com im plicações na ap o ­
sen tad o ria especial, as p o r periculosidade, insalubridade e penosidade.
O s ab o n o s inserem -se na rem uneração do trabalhador. N ão são praticam ente
form a in d iv id u alizad a de pagam ento, e sim acréscim o an tecip ad o de salário ou de
rem uneração, p ercen tu al ou valor fixo, ad ian tam en to de au m en to , com duração
prevista, finalidade específica (além dos desd o b ram en to s) e em razão de situação
definida na lei ou d e ajuste laborai.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o í í — P r e v id ê n c ia S o c ía í *
P agam entos co n tin u ad o s, necessariam ente lim itados no tem po. Se p erm a n e­
cem , eles se in co rp o ram à rem uneração e, com frequência, não se desdobram em
outras form as rem uneralórias.
h) gorjeta: Parcela tradicionalm ente integrante da rem uneração e, em conse­
qüência, do salário de contribuição, conform e o caput do art. 457 da CLT, a gorjeta
é definida com o sen d o “não só a im portância esp o n tan eam en te dada pelo cliente
ao em pregado, com o tam bém aquela que for cobrada pela em presa do cliente,
com o adicional nas contas, a q u alq u er título, e d estinada à distribuição aos em pre­
g ados” (CLT, art. 457, § 3 e).
Tida co m o salarial pela maioria d o s juslaboristas, ou seja, com o rem uneração
provenien te de terceiros, ela retribui o sobre-esforço do em pregado em m elhor
atender o cliente. Se se reconh ece esse em p en h o especial do profissional de servi­
ços pessoais, já na gorjeta, reconh ecid am en te rem uneratória, adm ite-se certa fei­
ção salarial, p o is decorre diretamenLe de m elhor atendim ento.
0 salário normativo: Salário m ínim o é a im portância m ínim a assegurada ao
trab alh ado r su b o rd in ad o , aí incluído o servidor, o em pregado urbano ou rural, o
tem porário, o avulso e o dom éstico. T ranquilam ente, o salário m ínim o, recebido
ou não em seu valor integral, está sujeito à contribuição.
Salário prolissional, fixado p o r lei, o u o salário norm ativo, acordado entre
as partes, isto é, o piso m ínim o de certos setores laborais, nem sem pre observado
pelas em presas, pro p õ e, então, saber se a contribuição previdenciária incide sobre
esse nível ou recai sobre o efetivam ente auferido.
A incidência da co ntribuição sobre a fração do salário m ínim o não paga, ju s ­
tifica a exigibilidade em relação à parte do salário norm ativo não auferida. C rédito
ju ríd ico do trabalhador, dispensa o registro contábil e o efetivo pagam ento. N orm a
pública, am bas as disposições regentes da m atéria, não há nesses valores a renúncia
im plícita no acordo trabalhista após a sentença judicial. N inguém pode privar-se
do m ínim o, não ten d o eficácia declaração por parte do segurado nesse sentido.
j ) gratificações: G ratificação é tipo de pagam ento com m uitas espécies, trad i­
cional, Irequentem ente utilizado para representar ou m ascarar parte significativa
da rem uneração.
Segundo os dicionaristas, é retribuição excepcional do trabalho. C onfigura
participação especial, a p ar de u sualm ente devida, resultante de serviço bem -feito,
sazonal, proveitoso para a em presa, o u deriva de interesse m aior do execulante.
Prova do reconhecim ento, é tam bém exteriorização do jú b ilo do em pregador.
A origem etim ológica (dar graça) leva a p en sa r no agradecim ento p o r algum a
tarefa concluída, m as isso nem sem pre acontece. Nas m odernas relações de traba­
lho, a gratificação raras vezes possui esse cu n h o original, histórico, subsum indo-se
n orm alm en te com o sim ples form a rem u n erató ria, individualizada, q u ed a n d o ­
-se sob a disjuntiva legal de ser ou não ajustada, decisiva para saber se se incorpora
ou não ao salário. A sua origem era em razão das festas, das com em orações p o r
algum feito ou fato, das alegrias do palrão ao ver o resultado atingido.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

482 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
De q u alq u er form a, não pode ser identificada com o um a recom pensa, even­
tual pagam ento a em pregado p o r m otivo particular, distinto do contrato de trabalho,
e m uito m enos com o ajuda ou auxílio, im portâncias n itid a m e n te assistenciais.
Tam bém difere do p rêm io p o r sugestão ou do prêm io de concurso.
S ituada tecn icam ente entre o salário — retrib u ição de algum esforço físico
ou intelectual — e o prêm io, ela reconhece o sobre-esforço laborai individual, e,
en ten d id a com o desem bolso em presarial pelo d esem penho especial do obreiro ou
p o r dedicação ím par, é geralm ente plus salarial em virtude de serviços prestados.
R aram ente isolada ou única m aneira de retribuir, pressupõe a existência de outra
parcela, básica, g eralm ente o salário pro p riam en te dito.
E m bora q uestionável, um a conceituação em razão da m ultiplicidade de
espécies, a gratificação é pagam ento habitual ou com essa intenção, corolário
de serviços prestados incom uns, in co rp o rad o à rem uneração do obreiro o u não,
dependendo do tipo de relação direta e pessoal do em penho prem iado ou estipulado.
A gratificação recom pensa a dedicação pretérita ou incentiva o interesse fu­
turo, assu m in d o , assim , natureza rem u n eraló ria q u an d o ad strita ao exercício de
algum as ativ id ad es co m p re en d id as n o c o n tra to de trab alh o . C om põe o salário
de co n trib u ição q u an d o contínua o u com essa deliberação, presum indo-se, então,
o ajuste legal. Se verd adeiram ente esporádica, isto é, eventual, e graciosa, ou seja,
desm otivada, é m era liberalidade e não faz p arte da rem uneração.
Essa generosidade do em pregador, queira ou não, desaparece com a repetição.
Reeditado o pag am en to, estabelece-se o ajuste tácito. Este últim o, p o r sua vez,
o vínculo. Daí a obrigação laborai. A presenta duas facetas; para o em pregador é
esp o n taneid ad e e decorre certam ente de suas condições psicológicas e econôm i­
cas. No regim e de livre concorrência do sistem a capitalista, o objetivo é o lucro e
q u alq u er despesa o decresce. Assim, é difícil, m as não im possível e razoável, em
circunstâncias especiais e para nú m ero lim itado de em pregados, haver o pagam en­
to de gratificação não estim ulando o futuro ou prem iando o passado. Essa razão,
unilateral, ain d a não desobriga a em presa do p o n to de vista fiscal.
Do o u tro lado, há o em pregado recebendo o m o n tan te. N ão h á apreciação
subjetiva. Ele o aufere concretam ente e sabe o seu real papel, e, in d ep en d e n tem en ­
te de prem iá-lo o u estim á-lo, em bolsa-o e o in co rp o ra ao seu p atrim ô n io financei­
ro, social e m oral.
Por ap resen tar caráter nitid am en te salarial ou re m u n erató rio , à exceção da
não ajustada, todas as dem ais integram o salário de contribuição.
As prin cip ais são p o r antiguidade, produtividade, assiduidade ou frequência.
P reten d en d o alargar o conceito, a Lei n. 9.528/1997 fala em “gratificações e
verbas eventuais, co n cedidas a q u alq u er título, ainda q u e den o m in ad as pelas par­
tes de liberalidade, ressalvado o disposto no § 9 e”. Verbas eventuais é designação
genérica, abarcando a p ró p ria gratificação e os prêm ios. A eventualidade quebra a
regra de a co n trib u ição in cid ir sobre os valores contínuos.

C ursq de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o U — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 483
k) décimo terceiro salário: Até 31.8 .1 9 8 9 , em razão da taxa única, o valor não
era in d iv id u alizad o para fins de co n trib u ição . Até 12.1981, foi de 0,6% + 0,6% =
1,2%. De 1.1982 a 12.1986, elevou-se p ara 0,75% + 0,75% = 1,50%. A p a rtir da
co m p etên cia setem b ro de 1989, in c o rp o ro u -se ao m ês (Lei n. 7.787/1989). Dessa
data até o u tu b ro de 1991, era som ada à rem u n e raç ão d e dezem bro, p ara fins de
lim ite do salário de co n trib u ição . C om a eficácia da Lei n. 8 .2 12/1991, o cálculo
é feito em separado.
1) ajuda de custo: A juda de custo é pagam ento ún ico devido ao trabalhador
obrigado a viajar a serviço da em presa, destinado a custear despesas iniciais de
locom oção, p o sterio rm ente, no curso da viagem , cobertas pelas diárias. De acordo
com o art. 457, § 2S, da CLT, não integra a rem uneração, sob a p resunção de o valor
cobrir tais gastos.
m) auxilio-creche: Podem ser concebidos vários tipos de auxílio-creche, se­
g u ndo a m o dalidade adotada: a) creche n a em presa — o em pregador m antém
instalações adequadas aos cuidados da criança, c o n tra tan d o sponte própria pessoal
para isso necessário; b) creche conveniada — utilizando-se de seu espaço o u não,
ajusta com terceiros a m anutenção da prestação desse serviço; c) creche reem bol­
so — a em presa reem bolsa a im portância despendida pelo em pregado(a) (P ortaria
MT n. 3.196/1986); d) pagam ento direto do valor ao em pregado(a), sem necessi­
dade de com provação.
Em seu art. 79, XXV, a CF prevê creche e pré-escola. Para o art. 389, § l s , da
CLT, em presas com m ais de trin ta m ulheres são obrigadas a p o ssu ir instalação para
a guarda dos filhos daquelas. Segundo o P arecer PGC n. 149/1995 o reem bolso-
-creche pago à m ãe é benefício assistencial.
Som ente o últim o valor (d), n a ausência de dem onstração do gasto, pode in ­
tegrar o salário de contribuição.
n) salário-maternidade: O salário-m aternidade, ex vi legís, faz parte da exação
securitãria. No caso da dom éstica, criando o problem a da observância da ideia de
que o valor m ínim o n ão pode ser inferior ao salário m ínim o. V erdadeiram ente, é
prestação previdenciária e, in casu, não poderia abrigar a contribuição. Trata-se do
ú n ico benefício su jeito à contribuição.
A rigor, em bora possivelm ente não in co n stitu cio n al a m edida, não deveria
im por co n tribuição d u ra n te a percepção do salário-m aternidade, pois se trata de
benefício securitário, razão de ser das contribuições anteriores aos 120 dias.
o) parcelas legais: O PCSS, em seu art. 28, indica expressam ente algum as ru ­
bricas: 1) salário -m aternidade (§ 2e); 2) décim o terceiro salário (§ 7°); 3) valor
total das diárias pagas q u an d o excedentes a 50% da rem uneração (§ 8°). A con­
trario sensu, exige sobre: 4) excedente do salário-fam ília; 5) parcela in natura em
desacordo com a Lei n. 6.321/1976; 6) abono de férias excedentes aos lim ites da
legislação trabalhista.
Em 1997, a MP n. 1.523-11/1996 p reten d eu rever esse cenário, estabelecendo
nova redação ao § 8e do art. 28 do PCSS, dizendo integrar “o salário d e contribuição

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

484 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
pelo seu valor total: a) o total das diárias pagas, q u an d o excedente a cinqüenta por
cento da rem u n eração m ensal; b) os abonos de q u aisq u er espécies ou natureza e
as parcelas d en o m in ad as indenizatórias pagas ou creditadas a q u alq u er título, in ­
clusive em razão da rescisão do co n trato de trabalho, ressalvado o disposto no § 9 a
deste artig o ”. Por esse m otivo, a letra b do § 8e do art. 28 foi vetada pelo Presidente
c!a R epública, q u an d o da aprovação da Lei n. 9.528/1997, restando apenas a letra
a, relativa às diárias p ara viagem .
556. Rubricas não integrantes — As parcelas não in teg ran tes com põem-se
de q u atro g ru p o s principais: a) pagam entos com caráter indenizatório; b) ressarci­
m en to s de despesas; c) ferram entas de trabalho; e d) retribuições provenientes de
terceiros. O s diferentes itens considerados no art. 28, § 9 Q, do PCSS não exaurem o
universo, e, tanto q u an to as im portâncias particip an tes do salário de contribuição,
freq u en tem en te surgem novas rubricas, co rrespondentes a desem bolsos feitos a
trabalhadores não co m p o n en tes da base de cálculo.
Valores in d en izatórios não se co n fu n d em com ressarcitórios, sendo im pres­
cindível d istin g u ir reparação de d anos da reposição do já gasto ou a gastar.
A indenização é arredada do fato gerador p o r sua acidentalidade, por não
ser p erm a n en te e p o r não co m p o r o patrim ônio do obreiro. Isto é, ela é fortuita,
geralm ente de pag am ento ú nico, indesejada pelas partes e, ao m esm o tem po, não
acresce os b en s do percipiente.
Repete-se: im p o rta não co n fu n d ir indenização de danos com ressarcim ento
de despesas, m esm o sendo com um às duas situações a não adução patrim onial. É
usual utilizar-se os dois term os com o sinônim os, asseverando as diárias para via­
gem e a ajuda de cu sto indenizarem despesas havidas pelo em pregado. P agam en­
tos in d en izató rio s reparam prejuízos causados ao obreiro pela em presa, p o r culpa
desta. P agam entos ressarcitórios são devidos para to rn a r possível a execução dos
trabalhos, q u an d o o em pregado tem necessidade de fazer gastos.
C om o a civil, a indenização trabalhista não é rem u n erató ria. DisLingue-se
da co n trap restação . N ão p o rq u e não se refira a serviços prestados, m as em razão
de sua n atu reza reparadora-substituLiva, excepcional, fortuita. Em alguns casos,
punitiva.
A laborai decorre do co n trato de trabalho. Mas flui d esn atu rad am en te, e n ­
q u an to a rem u neração é conseqüência lógica da prestação de serviços.
Os valores ressarcitórios tam bém não integ ram o salário de contribuição.
A ssem elhando-se aos indenizatórios, não au m en tam o p atrim ô n io do trabalhador.
A uferidos an tes ou após a redução do nível dos ingressos do em pregado. Am bos,
geralm ente, im prescindíveis à execução dos serviços contratados.
C om o as indenizatórias, as parcelas ressarcitórias po d em m ascarar a re m u n e­
ração, n o tad am e n te se o em pregador dispensa com provantes dos gastos havidos.
Elas ap resen tam elem entos con stitu tiv o s distin to s das form as retributivas.
P ressupõem consum ações previam ente autorizadas. São específicas de certas ativi­
dades, profissões ou ocupações. U sualm ente envolvem trabalho externo. O brigam

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c i a l 485
o obreiro a desem bolsar o num erário, e, depois, a reem bolsar-se. Exigem o u não
com provação docum ental. São fixadas em p atam ar constante ou em fração da re ­
m u n eração m ensal. P or seu caráter, enfim , n ão rem uneratório, não repercutem em
o u tro s direitos trabalhistas.
Os in stitu to s enfocados não com portam condição. N ão é rem uneração o p rê ­
m io p o r assiduidade d ep endente de sorteio. Mas cesta básica estim uladora da não
abstinência laborai in d ep en d e de condição.
A lei en u m era alguns valores não integrantes do salário de contribuição.
a) salário-familia: Tanto q u an to o salário-m aternidade (legalm ente constante
da base de cálculo), o salário-fam ilia é prestação trabalhista com etida à previdência
social, transform ada em benefício e x v i legis.
É nítida a in tenção do legislador em descaracterizá-lo com o salário (m as é) —
preo cu p ad o com o d esdobram ento em o u tras retribuições e com o aspecto fiscal.
O salário-fam ilia, em sua concepção idealista, destina-se a am pliar a re m u n e­
ração do obreiro de baixa renda com filhos m enores de 14 anos ou inválidos. Sua
natureza é abono m ensal p erm an en te e, assim , acréscim o salarial e co n q u ista so­
cial. E xatam ente p o r isso, p o r acidentalm ente se trata r de benefício previdenciário
e ser recebido m ensalm ente, nào quis a lei considerá-lo retributivo, e, p o rtan to ,
não integra o salário de contribuição.
O m esm o não se pode dizer, en tre tan to , da im portância excedente ao seu
valor legal.
b) ajuda de custo e adicional do aeronauta: A Lei n. 5.929/1973 estabelece: “N ão
se in co rp o ra à rem uneração do aero n au ta o adicional d e que trata o § 2e, cujo p a ­
gam ento cessa a p artir da data em que o aeronauta regressa à sua base, bem assim
a ajuda de custo a que se refere o § 3 -”.
c) salário-alimentação: A alim entação é expressam ente m encionada no art.
458 da CLT, com o in tegrante dos ganhos do em pregado, no qual, aliás, a norm a
se refere à parte desse benefício laborai co m ponente do salário m ínim o, ou seja,
o percen tu al descontável. Dele excluídas as bebidas alcoólicas ou drogas nocivas,
e, nesse sentido, hesita a ju risp ru d ên c ia ao excluir a cessão gratuita de cigarros.
A Lei n. 6.321/1976 estabeleceu incentivo fiscal a quem fornecê-lo g ra tu ita ­
m ente (ou com cobrança m áxim a de 20%) ao em pregado. R egulam entada pelo
Decreto n. 78.676/1976, é disciplinada adm inistrativam ente pelas P ortarias MTb
ns. 651 a 653/1976.
Im porta não co n fu n d ir a alim entação necessária à execução dos serviços (caso
da co n tid a nas diárias para viagem ) com a propiciada aos prestadores, no refeitó­
rio ou p o r in term éd io de terceiros, inclusive servindo-se dos tíquetes-refeição. A
exem plo da habitação e do transporte, a alim entação prestada em locais afastados
da residência h abitual do trabalhador é tida com o im prescindível ao serviço e não
participa da rem uneração.
Salvo nos m oldes do Program a de A lim entação do Trabalhador — PRONAM,
as refeições cedidas g ratuitam ente integram o salário de contribuição. Em seu

C urso p r D ir e it o P r e v id e n c iá r io

486 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
art. 3 e, a Lei n. 6.321/1976 declara não se incluir “com o salário de contribuição a
parcela paga in natura, pela em presa nos program as de alim entação aprovadas pelo
M inistério do T rabalho”.
Se o seu valor u n itário u ltrapassa o m ensalm ente perm itido, a diferença cons-
tituir-se-á em rem uneração.
d) cesta básica: C ham a-se de cesta básica u m co n ju n to de diversos p rodutos de
con su m o diário, entre alim entos e outras m ercadorias de uso dom éstico, definido o
seu rol e a sua qualidade conform e cada caso, a custo zero ou subsidiado, entregue
ao em pregado. Tal b em é pagam ento in natura', feito habitualm ente, faz parte dos
ingressos do trabalhador. C om ela, tem o seu o rçam ento m ensal au m en tad o , outro
exem plo de gan h o h ab itu al, e, nessa condição, integra o salário de contribuição.
e) aviso-prévio indenizado: Diz o art. 487, § 1B, da CLT: “A falta do aviso-prévio
p o r parte do em p reg ad or dá ao em pregado o direito aos salários co rresp o n d en tes
ao prazo do aviso, garantida sem pre a integração desse período no seu tem po de
serviço”.
Q u an d o da resilição do vínculo em pregatício, apresentam -se pelo m enos seis
situações d istin tas: 1) aviso-prévio trabalhado; 2) aviso-prévio sem trabalho; 3)
aviso-prévio do em pregado; 4) aviso-prévio judiciário; 5) aviso-prévio de 60 horas;
e 6) aviso-prévio indenizado.
A in ex istên cia de prévia notificação relativa à rescisão co n tra tu al prom ovida
pelo em pregado é u su alm en te designada com o aviso-prévio indenizado. Isso se
deve à ideia de ser in d enizatório, afirm ação feita não ob stan te o período co rresp o n ­
dente, tan to q u an to o do aviso-prévio trabalhado, ser co n tad o para todos os fins do
direito laborai (e quiçá p ara os efeitos da previdência social).
A Inform ação CJ/MPAS n. 244/1997, prestada na ADIn n. 1.665/1997 do
PDT, opôs-se a essa in terpretação. Pelo seu teo r nela, é perceptível a influência dos
fu n d am en to s do P retório Excelso na ADI n. 1.202.2/DF q u an d o o STF en ten d eu
não caber co n trib u ição p atro n al sobre a retribuição dos em presários, au tô n o m o s
e avulsos, em v irtu d e de não estarem abrangidos na expressão “folha de salários”,
co ntida n o art. 195,1, da C arta M agna de 1988.
Nesse sen tid o , q u alq u er rubrica cabível nessa locução faria parte integrante
do fato gerad o r da co n trib u ição previdenciária. Ali se diz: “7. Assim , q u alq u er
tipo de contrap restação paga pelo em pregador, a q u alq u er título, ao em pregado,
faz parte da folha de salários, que nos term os da C arla Política de 1988 é a base de
incidência da co n trib u ição social devida pelos em pregadores”. Q uase disse, m as
não falou “q u alq u er p ag am en to ”...
D estarte, folha de salários, tom ada a expressão tecnicam ente (sugestão im ­
própria, em se tratan d o de Lei M aior), seria o d o cu m en to acolhedor da hipótese
de incidência. A inform ação não co n fu n d e “folha de pag am en to ” com “folha de
salários” e en tra em conflito q uando m an d a preservar o rol do § 9 S do art. 28 do
PCSS — esse dispositivo dispensa co ntribuições teoricam ente tam bém contidas na

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o II — P revid ên cia S ocial 487


m encionada folha de salários (v. g., salário-fam ília, ajuda de custo e adicional do
aeronauta, parcela in natura, vale-transporle, diárias para viagem inferiores a 50%
d o s salários etc.).
Folha de salários, a não ser na Lei n. 7.787/1989 (na qual é utilizada pela p ri­
m eira e ú nica vez), não pertence à h istória da legislação previdenciária nem traba­
lhista. M elhor e ú nica existente, é a folha de pagam ento, d o cu m en to tradicional em
que consignada a rem uneração (salário, gorjeta e conquistas sociais) e raram ente
incluídos valores in d enizatórios, ressarcitórios, ferram entas de trabalho ou valores
o riu n d o s de terceiros. Q uitação de indenização e ressarcim ento faz-se cm recibos
e ferram enta de trabalho, de regra, é in natura.
Com a Lei n. 9 .5 2 8 /f 997 a situação alterou-se significativam ente.
f ) férias indenizadas: Os valores indenizatórios estão excluídos do conceito
de salário de co n trib u ição, salvo se expressam ente incluídos p o r força de lei não
conflitante com a C arta M agna. Disso não escapam as férias indenizadas, sejam na
vigência do co n trato de trabalho ou após sua extinção, m esm o as individuais ou
coletivas, as sim ples ou as em dobro. G eralm ente, o trabalhador as solicita ju n to
com o aviso-prévio indenizado, e, então, a Ju stiç a F ederal se m anifesta contra a
contribuição. F érias anuais não fruídas, sim ples, proporcionais ou em dobro, são
indenizatórias. Isso ficou m ais claro na Lei n. 9.528/1997.
g) indenização por tempo de serviço: A indenização p o r tem po de serviço é a
principal form a in d en izatória prevista na legislação, em bora em franca extinção.
Por sua naLureza, não com põe a base de cálculo da contribuição.
h) 40% dos depósitos do FGTS: A M edida Provisória n. 1.523-11/1996 estabe­
leceu obrigação de co n trib u ir em relação aos 40% do FGTS previstos no art. 1 0 ,1,
do ADCT. O valor ap arenta p o ssu ir natureza de m ulta, e, se assim for, não é re m u ­
neratório, dispensa a contribuição. O acerto aconteceu com a Lei n. 9.528/1997,
deixando clara a inexigibilidade.
i) indenização da Lei n. 7.238/1984: De m odo geral, com o antecipado, a in d e ­
nização não faz parte do salário de contribuição, não havendo a m ínim a dúvida na
d o u trin a e na ju risp ru d ên c ia. Trata-se de pagam ento ím par, não substituível pela
prestação previdenciária, eventual e não responsável pela m anutenção habitual do
obreiro. D iferente seria se a lei determ inasse a percepção m ensal de im portância
equivalente à do últim o salário até o trab alh ad o r o bter novo em prego. Insitam ente
pagam ento único, em face da legislação vigente n ão tem sentido im aginá-la in te­
grando o salário de co ntribuição se, ao quitá-la, a em presa e o em pregado concor­
dam em parcelá-la m ensalm ente.
Com a redação dada pela Lei n. 7.238/1984, a Lei n. 6.708/1979 determ ina: o
em pregado "dispensado sem ju sta causa, no período de trinta dias que antecede a
data da correção salarial, tem o direito à indenização adicional equivalente a um salá­
rio m ensal, se oplante ou não do Fundo de G arantia do Tempo de Serviço — FGTS”.
Esse valor assum e feição indenizatória, m as sem elhantem ente à indenização
trabalhista visa a d ificultar a dem issão desm otivada, criando em baraços p ara as
em presas.

C u rso nn D i u r n o P rf .v id h n c i A k io
488 W ldííimir Novaes Martinez
R aciocínio d iferen te co lh e-se n o item 29 da Inform ação CJ/MPAS n. 244/
1997: “A in d en iza ção ad icional a que se refere o artigo acim a tam b ém n ão d e ­
corre de n e n h u m tipo de d an o , m as de um a relação de v ínculo em pregatício,
sen d o , p o rta n to , in d iscu tiv e lm e n te de n atu re za salarial” . Salário não é, pois não
se re p o rta a serviços p re sta d o s (Délio M aranhão). O sim ples fato de d eriv ar do
c o n tra to de trab a lh o não garan te n atu reza salarial. Saber se h á dano é m ais d e­
licado. P resu m e o leg islador estar o em pregado sen d o d em itid o em razão da
p ro x im id ad e do re aju sta m en to . C om o a p resu n ção é ab so lu ta, o valor in d en iza
o trab a lh ad o r pela perda.
No rol das inexigibilidades, a Lei n. 9.528/1997 Lambém in clu iu a indenização
da Lei n. 5.889/1973.
j ) acordo na Justiça do Trabalho: A alusão às parcelas d en o m in ad as “indeni-
zató rias” da M edida Provisória n. 1.523-11/1996 parecia ter endereço certo. Para­
lelam ente, o legislador não estava se referindo às indenizatórias, pois as qualifica
com o “d en o m in ad a s”, co n trarian d o a m enção feita logo a seguir, q uando despreza
o títu lo do valor.
É regra o quantum indenizatório não co m p o r o salário de contribuição. Se
parcela rem u n erató ria tom a esse título e co n tin u a sendo rem u n erató ria e sobrevêm
a incidência. Mas se alguém in titu lar de in d en izató rio o valor devido p o r reparação
de danos, a fo rtio rí, não h á obrigação fiscal.
Agia bem a m edida provisória se queria alcançar rem unerações, salários e ga­
nhos habituais co n tid o s no acordo trabalhista q u an d o o juiz, sem exam e de m érito,
para facilitar a conciliação, declara haver tantos p o r cento de salário e o restante
de indenização. N ão opera bem o PCSS q u an d o reclam a co n trib u ição sobre o total
se ausen te discrim inação do ju iz, parcela p o r parcela, pois pode haver algum valor
não rem u n erató rio .
D iante de u m a reclam ação trabalhista acolhida, não tem sentido o m agistrado
ho m o lo g ar u m acordo entre as partes sem o reconhecim ento do vínculo em prega­
tício n em afirm ar a existência de verbas laborais.
k) vale-transporte: D iante das dificuldades de tráfego, p articu larm en te nas
m etró p o les ou q u an d o a sede do trabalho é distante dos cen tro s u rbanos, o tra n s­
porte, su b sidiado ou não, to rn o u -se preocupação a m ais da em presa m oderna,
in flu in d o no direito laborai. O cô m p u to do tem po de deslocam ento na jo rn ad a de
trabalho é co n stru ção recente dos juslaboristas. A possibilidade de se co n stitu ir em
salário -u tilid ad e foi estudada p o r vários autores.
D espesas com o deslocam ento do trabalhador, consum idas para ir e voltar e
as desem bolsadas em razâo dos serviços prestados, as antecipadas o u repostas para
esse fim , variam significativam ente e ad o tam diversos títulos, refletindo os usos e
costum es regionais e o modus operandi dos em pregadores.
Se a em presa fornece o co rresp o n d en te à utilidade em din h eiro , im portância
tabelada ou em razão dos quilôm etros percorridos, p ara o serviço ser possível, é
im p o rtan te m an ter relação de com patibilidade com o salário. C aso contrário, terá

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P revidência S o c id / 489
de d em o n strar possu ir o desem bolso d espendido aquela nuança e não ser re m u ­
neração cam uflada.
Da m esm a form a com o ac o n tece com o u tra s u tilid ad e s, essa van tag em deve
ser d iv id id a em d u as categorias de p ag am en to : a) pelo trab a lh o ; e b) p ara o
trabalho.
G astos com a locom oção necessária em frente de trabalho são tidos com o im ­
prescindíveis à execução dos serviços e, co n sequentem ente, não integram o salário
de contribuição.
Q uilom etragem é título atribuído ao pago ao em pregado quando, p o r exigência
do serviço, o veículo consom e óleo e outros com bustíveis. Ela é tida com o não sala­
rial, e as diárias para quilom etragem devem ser entendidas com o diárias para viagem.
Em vez de desem bolsar, se a em presa fornece o com bustível e ele é consum ido
na utilização do serviço, não há rem uneração a ser considerada.
Por m eio de veículo p ró p rio ou alocado, q uando a em presa propicia a ida e
volta gratu ita da residência do trabalhador para o local de trabalho, isso é co n sid e­
rado adução salarial. É despesa não d espendida do obreiro.
Caso a em presa custeie a locom oção do em pregado, nu m a espécie de vale-
-tran sp o rte de fato, este deixa de ter o seu p atrim ô n io d im in u íd o e, com isso, acresce
o seu salário. Vale dizer, é rem uneratório.
O vale-transporte não integra a rem uneração do obreiro, m esm o havendo
participação da em presa no custeio desse benefício trabalhista.
I) ajuda de custo por transferência de sede: P rincipalm ente em três situações,
o em pregado deixa o sítio habitual de trabalho: a) p o r ocasião do deslocam ento a
serviço, sen d o devidas, conform e o caso, a ajuda de custo e as diárias para viagem ,
um a vez caracterizado esse deslocam ento pela cu rta duração e, n o rm alm en te, por
ir sem a família; b) tam bém q u an d o da transferência definitiva da sede dos servi­
ços; e, finalm ente, c) na m u dança provisória do local da prestação dos serviços.
Diferenciam as du as ú ltim as alterações do co n tra to de trabalho a localização
do trabalhador, além do possível direito ao adicional p o r transferência de sede,
parcela em in en tem en te rem uneratória, cabível no seg u n d o caso.
A presentam -se, então, dois pagam entos a serem apreciados: 1) ajuda por
transferência definitiva de sede; e 2) ajuda p o r transferência provisória de sede.
C onfigura-se o prim eiro, se o em pregado é rem ovido de seu dom icílio co stu ­
m eiro e passa, em caráter efetivo e p erm an en te ou m anifesta a intenção, a trab alh ar
em m unicípio d istin to e distante daquele para onde foi originariam ente contratado.
O desem bolsado ressarce despesas havidas com a m udança do trabalhador e a ins­
talação de nova residência.
Traduz-se o seg u n d o quando, ocorrida a transferência sem a intenção de o
em pregador m an ter o em pregado naquela localidade, é devido o adicional por
transferência de sede. Essa ajuda, tan to q u an to a anterior, não é rem uneratória.
Esses do is m o n tan tes sem elh an tes à aju d a de custo têm sua g ran d eza
relacionada com a rem uneração do obreiro. Se do tipo ajustado, in d ep en d en te de

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

490 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
com provação, não pode estar m ascarando salário e deve respeitar a com patibilidade
com o tran sp o rte de m óveis e pessoas, o tipo de veículo utilizado e a distância.
Se há d em onstração de despesas, deixa de ser esse tipo de pagam ento e, ainda,
com o caráter de ressarcim ento, é classificado com o despesas com provadas. Já o adi­
cional p o r transferência de sede é conquista legal, integra o salário de contribuição.
O canteiro de obras é caso particular. O d o rm itó rio e algum a dependência
(cozinha) são fo rnecidos em virtude do trabalho e não im p o rtan d o sua localização
(nem sem pre pode ser im p lan tad o ju n to à edificação), não é salário-habitação.
m) diárias para viagem: A ru b rica diárias para viagem é disciplinada duas ve­
zes no PCSS: a) no § 8a; e b) n o § 9e. Na prim eira hipótese, q u an d o a som a recebida
ultrapassa 50% da rem uneração e, n esta ú ltim a, se fica aquém de tal patam ar.
A co m p an h an d o a CLT, o en ten d im en to é no sentido de não co m p o r a re m u ­
neração e, co n seq u en tem en te, o salário de contribuição.
N ão im p o rtan d o o valor, oco rren d o ou não com provação dos gastos, m es­
m o se a d m itin d o o em pregado estar em bolsando a diferença entre o recebido e
o d esp en d id o , subsiste p resunção legal. Trata-se de im p o rtân cia ressarcitória de
despesas hav id as e, com o tal, n ão faz p arte da definição da base de cálculo da
co n trib uição .
Há m u ito tem po discute-se a transform ação operada na natureza do in stitu to
q u an d o o v alo r ultrap assa os 50% legais. Para a norm a, então, todo o m o n tan te
assum e n atu reza rem u n erató ria, m as isso contradita com a realidade en q u an to
elem ento p ré-ju ríd ico do legislador. Se ele adm ite, q u an d o inferior à m etade, re­
ferir-se a despesas com a viagem , não h á p o r que, atingindo acim a desse patam ar,
alterar-se a essência do d espendido abaixo dele.
n) bolsa de estudos: M ediante diversas m odalidades, a em presa oferece v an ta­
gens trab alh istas ao em pregado na área educacional. C o n stitu em o gênero bolsa
de estu d o s pag am en to de m ensalidades escolares, fornecim ento de livros e m ate­
rial escolar, estágio em escolas técnicas profissionalizantes e até universidades no
exterior.
O RCPS registrava-as em dois m om entos: a) bolsa de estagiário (Lei n.
6.4 9 4/1977); e b) bolsa de aprendizagem (Lei n. 8.069/1990).
N os term o s da P ortaria MTPS n. 1.002/1967, estagiário não é em pregado. De
acordo com a Lei n. 6.494/1977, inexiste vínculo em pregatício.
De m odo geral, q u an d o a em presa ressarce as despesas com educação está a u ­
m en tan d o o p atrim ô n io do trabalhador. Este deixa de fazer os desem bolsos e isso
não passa de salário indireto. À exceção d o disposto n o com ando legal, persiste a
in cid ên cia de co n trib uição nas dem ais hipóteses.
Caso a bolsa de estu d o s vise ã habilitação profissional do trabalhador, é e n ­
carada com o ferram enta de trabalho, in co rp o ran d o -se ao p atrim ônio espiritual do
trabalhador.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I I — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 491
A Lei n. 9.528/1997 acresceu duas alíneas ao § 9 Qc!o art. 28 do PCSS, explici­
tando quais as verbas não sujeitas à exação: a) “o valor relativo a plano educacional
que visa ao ensino fu n dam ental e a cursos de capacitação e qualificação profissio­
nais vinculados às atividades desenvolvidas pela em presa, desde que todos os em ­
pregados e dirigentes tenham acesso ao m esm o ” (letra t) e “a im portância recebida
a título de bolsa de aprendizagem garantida ao adolescente até 14 anos de idade, de
acordo com o disposto no art. 64 da Lei n. 8.069, de 13 d e ju lh o de 1990” (letra u).
o) participação nos lucros: Participação nos lucros é no rm a constitucional des­
de o art. i 57, IV, da C arta M agna de 1946. Provocou celeum a no D ireito do Traba­
lho sob os vários aspectos, particularm ente q u an to a sua natureza, entendida com o
salarial pela m aioria dos ju slab o ristas pátrios, até 1988, e pelo fato de transform ar
o em pregado em interessado, m as não em sócio da em presa, e sua distinção em
relação à com issão e ao prêm io-produção (pagam entos con cern en tes ao esforço
pessoal do trab alhador).
Em seu art. 7B, XI, a CF de 1988 diz ser direito do trabalhador a “participa­
ção nos lucros, ou resultados, desvinculada da rem uneração, e, excepcionalm ente,
participação na gestão da em presa, conform e definido em lei".
C om p artilh ar os lucros, resultantes do trabalho de todos, não é propriam ente
retribuição de esforço, isto é, salário, salvo n a concepção social deste. A desvincu­
lação da rem uneração, proclam ada pela Lei Maior, tam bém não significa necessa­
riam ente a inexistência desse cunho salarial. A N orm a Suprem a não confunde os
dois in stitu to s laborais e, p o r exem plo, não deseja a adição de dois valores para fins
do décim o terceiro salário.
A letra j do § 99 do art. 28 do PCSS fala em participação nos lucros quando
paga de acordo com a lei específica. Com a MP n. 794/1996 deu-se essa norm a, e,
a partir de 29.12.1994, deixou de co n stitu ir parte in teg ran te do salário de co n tri­
buição. Para o P arecer CJ/MPAS n. 547/1996, a partir de 29.12.1994.
U m a das condições im postas é a existência do acordo escrito entre Com issão
de Trabalhadores e a em presa.
p) salário-maternidade indenizado: C onsoante o art. 37, § 12, do RCPS, o salá-
rio-m aternidade indenizado, conform e a estabilidade prevista n o art. 10, II, b, do
ADCT, integrava o salário de contribuição.
q) verba de representação; A expressão indica valor ou bem in natura. Nos dois
casos, m an tid o o auferido pelo trab alh ad o r (isto é, se não estiver m ascarando outra
ru b rica), não tem caráter salarial nem re m u n erató rio e tam bém não é indenização
nem ressarcim ento de despesas (salvo se assim institucionalizado).
Reveste-se de variadas form as, desde o fornecim ento de vestuário, cessão de
veículo, ingressos para teatro e recitais, desem bolso de alm oços e jan lares, presen­
tes, enfim , m eios indispensáveis à função desem penhada, geralm ente de lobby ou
relações públicas.

C u r s o diz D ir e it o P r e v i d f .n c i A r i o

492 W la d im i? ' N o v a e s M a r t i n e z
A d otando critério assem elhado com as diárias p ara viagem , até 50% dos sa­
lários, o INSS co n sidera com patível; acim a desse nível integra o salário de c o n tri­
buição.
r) ferram entas de trabalho: As ferram entas de trabalho co n stitu em gênero de
pagam entos, em sua m aioria excluídos da rem uneração pela CLT. Dá-se exem plo
com a verba de representação. C o n stitu em quarta hipótese, logo após os rem une-
ralórios, in d en izató rio s e ressarcitórios. N ão sen d o salário n e m rem uneração, não
in tegram o salário de contribuição.
C om a Lei n. 9.528/1997 a redação final ficou: “o valor co rresp o n d en te a ves­
tuários, eq u ip am en to s e o u tro s acessórios fornecidos ao em pregado e utilizados no
local do trab alh o p ara prestação dos respectivos serviços”.
s) guelta: A guelta é figura curiosa no D ireito do Trabalho. P agam ento feito
p o r terceiros, espécie de com issão tarifada p o r venda de b en s certos m an u fatu ra­
dos. Tem sem elh an ça com o direito de arena. Valores desem bolsados p o r pessoas
estran h as ao co n trato de trabalho estabelecem nova relação ju ríd ica, conform e o
caso de prestação de serviços autônom os, e não p rovindo do em pregador descarac­
terizam -se com o rem uneração.
t) complemento do awcílio-doença: E n tran d o em visível conflito q u an d o exige
contrib uiçõ es sobre os prim eiros quinze dias, benefício previdenciário devido ao
em pregador, o órgão gestor dispensa-as sobre o valor pago pela em presa co rresp o n ­
d en te à diferença entre o salário e os 91% do salário de benefício d o auxílio-doença.
u) cessão de direitos autorais: Ig n orando o conceito de ganhos habituais, am ­
p lam en te com parado com a rem uneração, estran h am en te a Lei n. 9.528/1997 d is­
p en so u de co n trib u ição a cessão d e direitos autorais. Se o valor é p erm an en te e
se acresce ao p atrim ô n io do artista ele é ganho habitual e, com o tal, in teg ran te do
salário de co n trib u ição.
557. G a n h o s h a b itu a is — Diz o art. 201, § 11, da C arta M agna: “O s ganhos
h ab itu ais do em pregado, a q u alq u er título, serão in co rp o rad o s ao salário para efei­
to de co n trib u ição previdenciária e co n seq ü en te repercussão em benefícios, nos
casos e na form a da lei”.
C om esse nom e, m enção a ganhos habituais é novidade n a legislação. Eles
p o d em ser; a) parcela até então não incluída claram ente; b) reforço ao conceito de
rem u n eração ; c) alusão a pagam entos não salariais.
A rigor, dificilm ente será a prim eira concepção. Pela dicção, são insitam ente
não salariais. Referir-se a salários in d ireto s (benefícios trabalhistas) parece ser a
m elh o r explicação. A redação acim a pressupõe valores não salariais (se ah a Lei
M aior usa a expressão com esse significado; caso contrário, estará realm ente refor­
çando a ideia de rem u neração). Sendo assim tais im portâncias, os ganhos habituais
p o d eriam ser valores não rem uneratórios.
A Lei n. 8.212/1991 indevidam ente restringiu o com ando m aior, ao falar em
“ganho h ab itu al sob a form a de u tilid ad e s”. N a verdade, co n stitucionalm ente,

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo U — P revidência S o d c il 493


são todos p ag am entos indiretos. C laro, em razão de sua n atureza, ainda um a vez
excluídas as in d enizatórias e as ressarcitórias. A Lei n. 8.213/1991 fala em “sob a
form a de m oeda co rrente ou de utilidade, sobre as quais ten h am incidido c o n tri­
buições p revidenciárias” (art. 29, § 3°).
a) natureza: Trata-se de incorporação nào salarial com plem entar. Excepcio­
nalm ente, se único, provavelm ente assum e a natureza de rem uneratório; caso co n ­
trário perde a com plem entaridade. A cessório, segue o principal e não produz efei­
tos ju ríd ico s sem este. R esulta significativo o exam e da sua essência para, se for o
caso, excluir valores incapazes de au m en ta r o ren d im en to norm al do trabalhador.
b) habitualidade: Ser freqüente ou p o ssu ir a intenção de sê-lo. No prim eiro
caso, a receptibilidade será ap u rad a n o curso dos pagam entos; no segundo, pela
finalidade dos m ontantes.
A periodicidade define a habitualidade das parcelas; é significativo o espa­
çam ento entre du as delas, ser com patível com duração da vida profissional do
obreiro. C réditos m uito d istan tes podem ser periódicos, m as não são responsáveis
pelo padrão de vida do trabalhador. C onsequentem ente, prêm ios à assiduidade
efetuados a cada dez anos não devem ser incluídos.
c) independência de ajuste expresso: O m o n tan te precisa ser contratual, m as
independe de acordo expresso. C onsubstanciada a habitualidade têm -se configurado
o ajuste tácito e a co n tratualidade. Inexistente co n trato de trabalho, o pagam ento
perde a acessoriedade, prestando-se para o u tro s fins, caso dos autônom os.
d) incorporação ao patrimônio: Quantum devido e não necessariam ente rece­
bido, m as ad u zid o ao p atrim ônio da pessoa, ou seja, em suas m ãos, já sentenciado
ou d eterm in ad o em lei. Irrelevante q u an d o se opera a quiLação, se antes ou após a
rescisão co n tra tu al ou acum ulado em atrasados se, em princípio, refere-se a com ­
petências periódicas.
D eclarado pela Ju stiça do Trabalho subsiste o direito ao reclam ado, em deci­
são irrecorrível, m esm o não auferido inteira ou parcialm ente, não deixa de integrar
o co n ju n to de b en s do reclam ante.
e) causalidade: P odem derivar do co n trato de trabalho ou de o u tro vínculo
ju ríd ico assem elhado, com o do avulso ou do servidor.
Incluem -se im po rtâncias não salariais p eriodicam ente feitas pela em presa ao
trabalhador, caso dos direitos autorais (se subsistente o vínculo ju ríd ic o laborai).
f) procedência: O benefício deve provir da em presa, am pliada a ideia para abar­
car não só a em pregadora com o a em presa de trabalho tem porário e o sindicato dos
avulsos. Mas não do em pregador dom éstico.
A gorjeta, razão de ser do dispositivo constitucional, agregada à conta ou
convencionada, enfim , registrada, incorpora-se aos g anhos do obreiro. N ào as gra­
tificações oferecidas diretam ente pelo cliente ao p restad o r de serviços, pois sobre
estas não tem co n tro le a em presa. Da m esm a form a, estím ulos à venda de d eterm i­
n ados p ro d u to s (guelta) o riu n d o s de terceiros, em relação aos quais não subsista

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io
494 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
vínculo de su b o rdinação. A m bos são ganhos habituais, m as a contribuição só serã
exigida se assim d isp u ser a lei.
g) nível de valor: N ão tem significado o quantum d a im p o rtân cia acrescida
o u se ela é in sita m e n te variável, caso da d istrib u iç ão de lu cro s o u de d ireitos
au to rais.
558. A cordo n a Ju s tiç a do T rabalho — Em sua redação original, o art. 43 do
PCSS dizia: “Em caso de extinção de processos trabalhistas de q u alq u er natureza,
inclusive a d eco rren te de acordo entre as partes, de que resu ltar pagam ento de
rem u n eração ao segurado, o recolhim ento das contribuições devidas à Seguridade
Social serã efetuado in c o n tin e n ti”. Na versão anterior, da Lei n. 7.787/1989, em vez
de rem u n eração m encionavam -se “vencim entos, rem uneração, salários e outros
ganhos h ab itu ais do trab a lh ad o r”.
Dada a im p o rtân cia abrangente da rem uneração, ela foi preferida à locução
pretérita.
C om a Lei n. 8.620/1993 o texto ficou: “N as ações trabalhistas em que resultar
o p agam ento de direito sujeito à incidência de contribuição previdenciária, o Juiz,
sob a pena de responsabilidade, d eterm in ará o im ediato reco lh im en to das im por­
tâncias devidas à Seguridade Social. Parágrafo único. Nas sentenças ju d iciais ou
nos acordos ho m o lo g ados em que não figurarem , discrim inadam ente, as parcelas
legais relativas à co n trib u ição previdenciária, esta incidirá sobre o valor total a p u ­
rado em liquidação de sentença ou sobre o valor do acordo h o m o lo g ad o ”.
P reocupado com o fato gerador, preferiu transferir o problem a e disciplinar
g en ericam en te ( “d ireito sujeito à in cid ên cia”).
A M edida Provisória n. 1.523-8/1996, p o r seu tu rn o , dispôs: “os abonos de
q u alq u er espécie ou natu reza e as parcelas den o m in ad as in d en izató rias pagas ou
creditadas a q u alq u er título, inclusive em razão da rescisão do co n tra to de traba­
lh o, ressalvado o d isposto no § 9 e deste artigo”.
N esta ú ltim a tentativa, q u eren d o alcançar a indenização o u os valores sob
esse título. A redação não foi incorporada ao texto da Lei n. 9.528/1997.
O s efeitos p ráticos e jurídicos relativos à observância dos textos enfocados
são variados e se exigirá tem po para o in stitu to se consolidar. C onsiderações gerais
im põem -se em face de sua com plexidade.
A bstraindo eventuais ínconstilucionalidades, dos qu atro dispositivos é pos­
sível co n clu ir ser vontade da lei: a) rem uneração paga em virtude de acordo ou
sen ten ça ju d icial integra o salário de contribuição; b) os ganhos h ab itu ais estão
in clu íd o s n o conceito, bem com o vencim entos de servidor; c) au sen te discrim in a­
ção das parcelas co m p o n en tes, a contribuição incidirá sobre o total; e d) rubricas
in d en izató rias designadas subm etidas à exigibilidade.
A m atéria foi in teiram ente revista no art. 43 do PCSS.
a) inteligência dos textos: A lei confirm a a necessidade de pagam ento da
co ntribuição: 1) p o r ocasião da sentença ju d icial transitada em julgado, decisão

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T om o U — P r e v id ê n c ia S o c ia l 495
definitiva ou term inativa, com exam e de m érito; e 2) na fase da conciliação, quando
do acordo trabalhista sem exam e de m érito. Principais novidades: o prazo para a
quitação, a definição de fato gerador novo (total do pagam ento, se ausente discri­
m inação) e incidência sobre valores indenizatórios.
b) caráter dos pagamentos: P agam entos feitos ao trabalhador, não im portando
a época da operação, co n tin u am sendo os m esm os, isto é, m antêm a essência:
são salariais, rem u n erató rio s, in d en izató rio s, ressarcitórios, ou possuem o u tra
natureza (ferram enta de trabalho, direito au to ral etc.), a ser ab initio perquirida
em cada caso.
C ham ar de “salários atrasad o s” ao pago p o r contraprestação de serviços, fora
do m o m en to legal ou usual, não lhes su b trai a natureza ju ríd ica. Inexistem , p o r
conseguinte, salários indenizados.
Reparação p o r d an os causados ao em pregado, p roduzida d u ra n te a vigência
do co n trato de trabalho ou após a cessação deste, não deixa de ser indenização.
D esem bolso ressarcitório de despesas, antecipado ou postergado, é dispêndio não
inco rp o rad o ao p atrim ô n io do prestad o r de serviços, in d ep en d e n tem en te da data
da quitação. Por isso, am bos os valores não integram o salário de contribuição.
E n tretan to , não aten d id a a determ inação legal, o exercício tardio de certos
direitos pode alterar-lhe a substância. As férias anuais foram concebidas para ser
fruídas no p eríodo de concessão. Não o sendo nesse lapso de tem po, p o r culpa do
em pregador, sobrevêm direito ao em pregado (geralm ente cifrado no m esm o nível
dos salários), com caráter de indenização.
Tal tran sm u tação pode acontecer d u ra n te o curso da relação laborai ou após
sua extinção; nào im porta. A rigor, não deveria existir salário-m aternidade in d e­
nizado; o p agam ento do valor correspondente, após a ru p tu ra do co n trato de tra­
balho, ferindo a n atu reza do benefício e eventual estabilidade, não altera o valor.
Em bora im p ró p rio cobrar-se contribuição de benefício, con sen tân eo o RCPS, em
seu art. 37, § 12, a exigia.
Os créd ito s laborais não assum em necessariam ente essência indenizatória só
porque satisfeitos após a rescisão contratual. Ao se desfazer o vínculo em prega­
tício, são ap u rad as verbas devidas ao trabalhador, e esse tem sido o instante de
acertá-las. Salários pagos após a ru p tu ra do liam e laborai co n tin u am sendo salários
(até p o rque p ertin e n te à an terio r vigência do co n trato de trabalho).
A incidência de co n tribuições não se prende à resilição, o m esm o se passando
com as im p o rtân cias trabalhistas. Se a rubrica estudada integra o salário de c o n tri­
buição, a obrigação persistirá, m esm o após o term o da relação em pregatícia.
c) obrigação por ocasião do acerto: A quitação da rem uneração e de outras
im portâncias devidas ao em pregado é n o rm alm en te efetuada na sede da em presa,
even tu alm en te no sindicato da categoria profissional. Às vezes, na Delegacia
Regional do Trabalho e até na Ju stiça do Trabalho. O ô n u s fiscal d ecorrente desse
é o m esm o; existe ou não, d ep en d en d o da natureza do desem bolsado.

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496 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
In d ep en d en tem en te do local da quitação, se as im portâncias integram o salá­
rio de co n trib u ição , ficam su jeitas à exação. C aso co n trário , não. A declaração do
P o d er Ju d iciário n ão constitui o direito, apenas o declara, fixando-lhe a expressão.
A em presa, ao p agar a rem uneração na ju stiç a, tem o dever de recolher a
co n trib u ição , com o teria se tivesse acontecido em seu estabelecim ento. D iferente,
p o rém , é a configuração do direito do reclam ante. O ju iz federal pode declará-lo
existente ou não. P resente o fato gerador está aperfeiçoado, su jeitan d o -se a em p re­
sa ao reco lh im en to das contribuições.
d) desconto em atrasados: O co m u m é o em pregador, p o r ocasião da quitação
da rem u n eração m ensal, d esco n tar o co rresp o n d en te à aplicação da alíquota à base
de cálculo da exação. Esse o m o m en to o p o rtu n o e o autorizado n a lei. P ro d u to dos
usos e costum es, noção lógica e de sentido prático, esse pro ced im en to habitual
consagrou-se no curso dos tem pos e to m o u -se n o rm a ju ríd ic a regulam entar.
Diz o arl. 33, § 5S, do PCSS, haver presunção do desconto. D estarte, o
reco n h ecim en to do d ireito a parcelas in teg ran tes do salário de co n trib u ição não
liq u id ad as a seu tem po, ajustadas p o r ocasião da sentença ju d icial ou do acordo
trabalhista, ap rim o ra o fato gerador e deflagra a necessidade do aporte. N ão chega
a co n stitu í-lo , repete-se, ele preexistia à publicidade. N ão altera sua essência nem
in d iv id u alid ad e. S om ente se re su ltar em rem u n e raç ão — base n u clea r d o c o n ­
ceito — o recebido constituir-se-ã em hipótese de incidência. A n o rm a n ão diz (se
quisesse, po d eria dizer, m as estaria repetindo o art. 2 8 , 1, do PCSS) ser esse o fato
gerador.
C elebrado o ajuste, com ou sem exam e de m érito, isto é, antes ou após a s e n ­
tença d eclaratória, o crédito a ser pago é o acordado, to rn an d o -se im possível o des­
conto. A em presa assum e a totalidade da contribuição. M as no bojo da convenção
po d em as p artes acertar esse aspecto. Se nos trib u n ais e n a d o u trin a há divergência
sobre a im posição fiscal, enfim , se é v alidam ente discutível e a em presa só tom a
co n h ecim en to q u an d o da decisão, cabe a dedução.
e) validade da declaração: Em term os conceituais, o ram o ju ríd ico com o qual
o D ireito P revidenciário m ais se relaciona é o Direito do Trabalho. Em certas cir­
cunstân cias, é dele caudatãrio. Isso é fácil de ser explicado: o benefício de paga­
m ento co n tin u ad o su b stitu i a rem uneração q u an d o o trab a lh ad o r n ão m ais pode
obtê-la p o r m eio do labor.
As esferas dos dois dom ínios tangenciam -se frequentem ente, com pletando-se
a proteção social. A exigência das co ntribuições tam bém im põe p ro xim idade com
o D ireito Tributário, e, conform e a estru tu ra do P oder Judiciário, os dois segm entos
têm com p etên cia sobre m atéria com um : Ju stiç as do Trabalho e Federal.
E xclusivam ente p ara fins de lançam ento de débito, a Fiscalização do INSS
pode p re ssu p o r o vín culo em pregatício e, corolariam ente, d eterm in a r a existência
de rem u neração. Sem essa atribuição, seria im possível verificar a regularidade dos
reco lh im en to s. C abe à Ju stiça F ederal (tan to q u an to à do T rabalho) d izer se a pes­
soa in clu íd a em N otificação Fiscal é em pregada e se o pagam ento auferido é base
de cálculo d as contribuições.

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T orno JJ — P r e v id ê n c ia S o c ia l
Para d em onstração do débito levantado, a Fiscalização poderá ju n ta r aos au ­
tos da cobrança adm inistrativa ou executiva decisão de m érito transitada em julga­
do na Justiça do Trabalho, o m esm o sendo facultado ao sujeito passivo da obriga­
ção, caso a sen ten ça laborai lhe tenha sido favorável. O ju iz federal, exam inando as
provas da relação em pregatícia, poderá, igualm ente, acolher ou não a conclusão do
p o d er laborai. Em n en h u m dos casos, estarão os m agistrados ad strito s à decisão
anterior, devendo, ev identem ente, ad m itir sua validade, so m en te não a aceitando
se tiverem condições de fazè-Io nos autos.
O acordo ju d icial trabalhista conhece interesses outros, às vezes, passando
ao largo da exigibilidade fiscal. Com ele se pretende a tranqüilidade das relações
laborais. Pode co n star do term o de conciliação, hom ologado p o r sentença do juiz,
declaração q u an to à n atureza dos pagam entos feitos, contrária à realidade apurável
nos registros contábeis da em presa. Sem exam e de m érito, a decisão não sub o rd in a
o fisco federal (salvo se originária da Ju stiça F ederal).
A eficácia da declaração é res inter alios, não pro d u zin d o , necessariam ente,
efeitos co ntra terceiros. A usente apreciação do con teú d o , tratando-se de direito
discutível as parcelas co n tid as na petição inicial, o pago ao em pregado d en tro do
acordo para p ô r fim ao processo é gratificação espontânea.
Em cada caso, a Fiscalização da RFB, se disp u ser de elem entos suficientes,
poderá convencer-se da ocorrência da hipótese de incidência e, obrigatoriam ente,
terá de apurá-la e lançar a N otificação Fiscal. F inalm ente, a ju s tiç a Federal, na qual
o sujeito passivo tem o direito de opor-se, definirá a controvérsia.
A lhures alude-se à eventual indenização pela cessação do dissídio adjetivo.
N ào parece ser. A pretensão do trabalhador, en q u a n to não decantada e até m esm o
após, não cuida de dano.
J) prevalência do mês de competência: M ês de com petência e m ês de pagam ento
do dever fiscal gerado no prim eiro deles são institutos fiscais construídos ao longo do
tem po, ac o m p an h an d o a tradição de m uitíssim os deveres e direitos serem aferidos
m ensalm ente. A p ar da anualidacle, a m ensalidade é frequência consagrada no Di­
reito Previdenciário.
M ês de com petência não é apenas criação dos usos e costum es, m as exigência
da lógica. A bstraindo-o, nào teria sentido o lim ite do salário de contribuição.
Se a em presa paga atrasados, ju d icialm en te ou não, inexistente discrim inação,
em princípio, deve d iv idir o total, conform e o pedido inicial e o concedido, pelo
período, observar o lim ite aludido, aplicar a alíquota vigente e estim ar, se for o
caso, o m o m en to da fixação dos acréscim os legais.
Até a Lei n. 11.941/09, legalm ente ou não, o INSS autorizava as em presas a
considerarem , no acordo trabalhista, com o m ês de com petência o da convenção,
elidindo-se, assim , ju ro s de m ora, m ulta e correção m onetária, se efetuado o paga­
m ento in co n tin en ti, mas não, obviam ente, os efeitos da decadência.

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498 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Trata-se de concessão fiscal sem n en h u m apoio na lei, m as de grande alcan­
ce prático , contestável exclusivam ente se in co n v en ien te à p arte interessada. Pode
aco n tecer de, exigindo as contribuições relativas a acordos ou sentenças form ula­
dos n u m certo m o m ento, estas se referirem , com o é n atu ra l, a m eses de co m p etên ­
cia co m p reen d id o s em períodos alcançados pela decadência. E m bora o pagam ento
aperfeiçoe a hip ó tese de incidência, a concepção do m ês de com petência não pode
ser olvidada.
g) aplicação da decadência: F requentem ente, nas reclam ações trabalhistas, o
m o n tan te do acordado ou o da sentença transitada em ju lg ad o refere-se a vários
m eses de trabalho e, em casos extrem os, abrange parcelas alcançadas pelo prazo
da d ecad ên cia trabalhista.
Se o lapso de tem po objeto da conciliação ou decisão invade o da decadência
do crédito p revidenciário, resta extinta a possibilidade de o INSS exigir as c o n tri­
bu içõ es p ertin en tes ao tem po invadido. Todavia, com o o prazo trabalhista, a partir
da CF de 1988, é de cinco anos, é provável que todos os m eses e com petências
co n stan tes das reclam atórias restarem com preendidos nos cinco anos decadenciais
previdenciários e, assim , dificilm ente se operar a m en cio n ad a form a extintiva da
obrigação fiscal.
h) acréscimos legais: Além da correção m onetária, os acréscim os legais, isto é,
os juros e a m u lta, decorrem da m ora, do recolhim ento tardio das contribuições,
co n stan te nas reclam ações trabalhistas, reportando-se, de regra, a direitos pretéri­
tos. Se há discrim inação do período, observam -se os m eses de com petência, a im ­
p o rtân cia recebida pelo em pregado é decom posta conform e a inicial, aplicando-se
a cada um dos m eses em que é gestado o direito à atualização m onetária e aos ô nus
d o s ju ro s e da m ulta.
Se o fato deflagrador é a decisão judicial, p o r via de acordo ou sentença de
m érito, o m ês de com petência é globalizado por vontade do INSS, não incidindo,
se pago in co n tin en ti, n e n h u m acréscim o legal.
0 incorporação ao salário de benefício: As parcelas sobre as quais incide a c o n ­
trib u ição fazem p arte do salário de contribuição. Este, observados os seus lim ites
m ensais, presta-se para fixação do salário de benefício. Essa técnica estabelece cor-
relatividade (legal) entre o nível da prestação e da contribuição. Se assim é, to rn a­
-se im prescindível saber os valores m ês a m ês para, se rem u n erató rio s o u ganhos
habituais, in teg rarem o salário de benefício do reclam ante.
j ) natureza jurídica do acordo: O acordo trabalhista é pagam ento feito ao traba­
lh ad o r no seio da conciliação prom ovida obrigatoriam ente pelo P oder Judiciário.
G eralm ente, engloba várias rubricas, in clu in d o in úm eras verbas rescisórias, cada
u m a delas com essência distinta.
D eduzida a p retensão do reclam ante no preâm bulo do processo, d u ra n te a
conciliação ab an dona-se a articulação ju ríd ica. A im portância paga expressa c o n ­
cessão das partes, co n trato m ediante o qual o au to r se priva de fração do reclam a­
do, e o réu se obriga a pagar-lhe o convencionado no ajuste de vontades.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / I — P r e v i d ê n c i a S o c ú í I 499
Persiste razoável unan im id ad e entre os especialistas no sentido de o
pagam ento relativo ao acordo derivar de co n trato firm ado entre o em pregado
e o em pregador. A m bos, m orm ente aquele, desprezam o exam e das res dubia por
parte do Estado. N essa transação, opera-se renúncia conveniente à ordem ju ríd ica.
De m odo geral, salvo a de certa proporcionalidade de nível, a im portância
recebida não guarda m uita relação com o bojo do pedido, as verbas buscadas e a
procedência destas.
A rredada a articulação do direito, o reclam ante, recu an d o da ação reclam a-
tória, perde significado cada um a das rubricas exigidas, prevalecendo, então, ex ­
clusivam ente, o objetivo de p ô r fim à lide, satisfeita pelo pagam ento de fração em
dinheiro.
De m odo particular, cada caso há de ser exam inado per se. Se em pregado
reclam a R$ 1.000,00 de salários e há acordo em torno de R$ 700,00, estará presente
forte indício q u an to à natureza do pretendido. Todavia, é sem pre bom lem brar,
ausen te exam e de m érito jam ais se saberá se a pretensão tin h a cabim ento.
A im portância entregue ao obreiro, em p rocedim ento regular de h arm o n iza­
ção de interesses, espelha o resultado do ajuste. Tem com o pressuposto prestação
não satisfeita e, com o in stru m en to , u m co n fro n to de verdades, o correndo desis­
tência da apreciação do m érito e fim do dissídio. Com a proposta em dinheiro,
o em pregado é estim ulado a não c o n tin u ar na dem anda, e dela abre m ão, pouco
im p o rtan d o , n o tocante ao avençado, ser m en o r ou m aior em com paração com o
esboçado n a petição inicial. Perde sentido tam bém saber quem linha razão.
O Judiciário , em face da incognoscibilidade da natu reza do avençado e de sua
incapacidade de perquiri-la, em razão da ren ú n cia ao apro fu n d am en to , não tem
condições de firm ar a essência do pagam ento. Q uem desejar fazê-lo precisa co n ­
fron tar o cenário da prestação de serviços, buscar os d o cu m en to s com probatórios
da realidade, isto é, co n su ltar a contabilidade da em presa.
No exem plo acim a, su p o n h a-se a localização na contabilidade da reclam ada,
p o r p arte da Fiscalização do INSS, de salários atrasados cifrados a R$ 700,00.
D esaparece a incognoscibilidade e a gratificação espontânea torna-se rem uneração.
k) hipótese de incidência na extinção do processo: C o n su m ad o o aco rd o sem
busca d e suas form as co n stitu in te s, se o c o n stan te da d iscrim in ação aju stad o
e n tre o reclam an te e a reclam ada é su p e rio r à som a das ru b ricas in te g ra n te s do
salário de co n trib u içã o co n tid as na inicial, em p rin cíp io , não haveria dúvida
q u a n to à m ed id a do fato gerador, em b o ra p u d esse su b sistir in q u ietação q u an to
à h ip ó tese de in cid ên cia. A con clu são q ueda-se co n d icio n a d a à verificação dos
fatos ju n to à fo n te, a co n tab ilid ad e d a em presa, m as isso, na p rática, ra ram en te
aco ntece.
N a tentativa de so lu cio n ar a pendência, é bom lem brar a existência de sério
indício. A discrim inação, q u an d o operada pelo m agistrado, não deixa de ser quase
exam e de m érito e an u ência da reclam ada qu an to à individualidade das parcelas

C u rso de D ir e it o P r e v i d e n c i Ar io

500 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
e o seu nivel. P esquisa evidentem ente superficial, m as no sen lid o da apuração da
essência do pag am en to e não contra.
Sem pre im ag in ando o detalh am en to , p o r o u tro lado, se a im portância aven-
çada for inferior, co n stan d o parcelas co m p o n en tes e não com ponentes, algum as
soluções p o d em ser consideradas: a) aplicar regra de três entre o total recebido e
o co n stan te do ped id o de cada um a das verbas reclam adas; b) incidência sobre o
total do p ag a m e n to ; c) in o c o rre r in cid ên c ia d ia n te da in co g n o scib ilid ad e da
n atu reza do pagam ento; e d) da soma, extrair as im portâncias sujeitas ã contribuição,
restando as não taxãveis.
A p ro p o rcio n alidade (fl) co n traria a natureza sub stitu tiv a da prestação p re­
videnciária e conflita com o pressu p o sto da validade da p reten são do reclam ante.
E lim inará ru b ricas taxadas o u incluídas, sem apurá-las. F órm ula m atem ática de
transação e aplicação sim ples, arrosta a essência do fato gerador, cabível se esti­
pulada expressam ente na norm a, com o aconteceu com a discrim inação, em que
prevalece a v o n tad e do legislador. N ào deve ser acolhida.
É de solar evidência: ausência de especificação não transform a nào in teg ra n ­
tes em co m p o n en tes (b). O total pode estar in clu in d o ru b ricas sobre as quais não
incide a co n trib u ição e não é solução ju rid icam en te válida.
Na terceira hipótese (c), é im prescindível partir de distinção: direito às ru b ri­
cas discutíveis e indiscutíveis. O s valores, sejam uns ou outros, co n tid o s n a c o n ta­
bilidade, geram ou não contribuições, in d ep en d e n tem en te da declaração do ju iz na
sen ten ça ou da inexistência desta. São o u não realidade passível de ser verificada na
escritu ração da em presa, sujeita à inspeção e ao crivo d o contraditório.
A lgum as im p o rtâncias, porém , tornam -se hipótese de incidência se a ju stiç a
declará-las com o tais. N esse caso, silenciando, q u an d o poderia fixar-se a nucleari-
dade, restam incognoscíveis e, com o tais, não podem caracterizar o fato gerador.
São gratificações espontâneas, e estas, definitivam ente, não integram o salário de
contribuição.
F in alm en te, a exaustão (d). O pera com a prática, e não com a exceção. Recor­
re aos d ados co n stan tes da inicial, elem ento não desprezível na análise a ser feita,
de certa form a, não contestada pelo acordo e pela discrim inação acolhida.
Em bora n ão beneficiadas p o r q u alq u er p resunção p resen te na ab ertu ra do
p ro ced im en to trabalhista, as parcelas in teg ran tes do salário de contribuição per se
não podem ser olvidadas, pois além de base de cálculo da contribuição elas são m e­
didas do salário de benefício, apresentando, p o r força dessa d upla função técnica,
subm issão à n o rm a pública.
A rigor, nessa linha de pen sam en to , se o em pregado apenas reclam a re m u ­
neração e co ncorda em receber abaixo do nível p reten d id o , ren u n cian d o à fração
do devido, p resente exam e de m érito, ao celebrar o acordo, a incidência deveria
to m ar p o r alvo o total reclam ado, e não o recebido. Mas o segurado pode renunciar
à parte do seu d ireito e a incidência recairá sobre o acordado.

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T om o / / — P r e v id ê n c ia S o c ia l 501
Essa h ip ó tese de incidência d e co n trib u içã o p rev id en ciária é m aterial e
objetiva. Subsiste ou não. N ão declarada pelo ju iz , pode estar reg istrad a na c o n ­
tab ilid ad e do em presário. F irm an d o o falo pela au to rid a d e ju d ic ia l, p o d e nào
prosperar. O fu n d am en to da exigibilidade da co n trib u ição , isto é, o fato gerador
im ed iato , é o direito ao pag am en to . R eclam ando o tra b a lh a d o r h o ra s extras e
sen d o in co n tro v erso o fato, com o d ito , se a em presa não faz prova de tê-las pago
antes, não p airam d ú v idas q u a n to à im p o rtân cia p o r d esem b o lsar q u an d o do
acordo na justiça.
V importância da discriminação: A p artir de 6.4.1993, a questão assum iu nova
feição, em face do d eterm in ad o no caput do art. 43 d o PCSS. M esm o sem en tra r
no m érito da questão (subsiste u m p ré e quase exam e), isto é, da quinta-essência
das parcelas d iscutidas e do direito a elas, é dever do m agistrado individualizá-las
e discrim iná-las.
Presente a providência, ã vista do conceito de salário de contribuição, a in ci­
dência recairá sobre as sujeitas à exação, a despeito da p aten te incognoscibilidade
da hipótese de incidência. Islo é, saber se o recebido corresponde àqueles paga­
m entos. A nuindo ao nível proposto, p o r assim dizer, a em presa estaria re co n h e­
cendo a validade da n atureza do pleiteado (não necessariam ente o direito em si).
C uida-se de ficção fiscal legal.
Se n a Ala da A udiência não com parece o d etalh am en to exigido, haverá inci­
dência sobre o total do ajustado sem observância de limite. Trata-se de co n trib u i­
ção palronal.
O fato gerad o r é, ainda, o direito ao reclam ado, ap u rad o e (não necessaria­
m ente) pago. C om isso, o conceito do art. 2 8 ,1, do PCSS é alargado, e valores com
natureza diversa, à perquirição de cuja essencialidade renunciou-se, subm etem -se
à contribuição, b astan d o estar caracterizada a situação deflagradora, isto é, a au ­
sência de especificação.
A lei não fala em incidência sobre parcelas discrim inadas, preferindo, infeliz­
m ente, d isciplinar a contrario sensu, convindo verificar as sujeitas e as não sujeitas
à contribuição. Som ente na ausência do aclaram ento com parece o direito do sujei­
to passivo de reclam ar a cotização sobre o total auferido.
C onform e o regulam ento o INSS não reconhecia a validade das declarações do
juiz, q u an d o divide o quantum avençado em term os d e rem uneração e indenização.
m) significado de “imediato recolhimento”: A regra estabelecedora do prazo
para o reco lh im en to da contribuição era o art. 3 0 , 1, b, do PCSS, isto é, até o dia 20
do m ês su b seq u en te ao de com petência. N os casos de acordo o u sentença laborai,
a lei faria exceção àquela regra. O term o é distinto: tem de ser im ediato. No m esm o
dia da ciência da sen ten ça ou da celebração do acordo. Então, nesse instante, sem
acréscim os legais. No dia seguinte, com os adicionais.
De acordo com o art. 216 d o RPS, o prazo para o recolhim ento é o dia 20 do
m ês seguinte ao da liquidação da sentença.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c íAr ío

502 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
559. L im ites m ín im o e m áxim o — N ossa legislação previdenciária sem pre
previu dois pisos: a) m ínim o; e b) m áxim o. À exceção de p eq u en o período, o valor
m ínim o tem sido o salário m ínim o, m as o m áxim o variou en o rm em en te desde
1960, crescen d o ou d im in u in d o em term os relativos e reais.
Até 31 .7 .1 9 8 7 , o piso m en o r fixado era o salário m ínim o. De l e.8.1987 a
30.6.1989, foi o Piso N acional de Salários (D ecreto-lei n. 2.351/1987). A p artir de
l s.7 .1989, vo lto u a ser o salário m ínim o.
O piso m áxim o variou mais. De I a. 1.1960 a 30.11.1966, constituiu-se de cin­
co vezes o m aior salário m ínim o. De 1Q. 12.1966 a 10.6.1973 dobrou o valor. De
11.6.1973 a 3 0 .4.1975 foi de 20 vezes o m aior salário m ínim o. A p artir de 1 -.5.1975 até
31.5.1976, ficou em 20 vezes o m aior valor de referência. De l s .6.1976 a 31.12.1979,
definido com o Cr$ 10.400,00 (Lei n. 6.332/1976). De 1Q.1.1980 a 30.11.1981, um
total de Cr$ 51.930. De 1~.12.1981 a 3 0 .4 4 9 8 4 , voltou a ser de 20 vezes o m aior
salário m ínim o (Lei n. 6.950/1981). De 1Q.5.1984 a 31.7.1987, de 20 salários m íni­
mos. De l s.8.1987 a 30.6.1989, de 20 salários m ínim os de referência (Decreto-lei n.
2 .3 5 f/f9 8 7 ). A partir de ju lb o de 1989 até 31.7.1991, NCz$ 1.500,00 (Decreto n.
97.968/1989). Desde agosto de 1991, Cr$ 170.000,00 (Lei n. 8.212/1991).
A p a rtir da Lei n. 5.890/1973, têm sido os seguintes:

Período de vigência Limite de salário de contribuição

11.6.1973 a 30.4.1974 6.240,00

1B.5.1974 a 31.5.1974 7.536,00

l a.6.1974 a 30.4.1976 10.020,00

12.5.1976 a 31.5.1976 12.766,00

1B.6.1976 a 30.4.1977 14.872,00

l a.5.1977 a 30.4.1978 20.820,00

l e.5.1978 a 30.4.1979 28.940,00

1-.5.1979 a 31.10.1979 41.674,00

Ia. 1 1.1979 a 30.4.1980 51.930,00

1B.5.1980 a 31.10.1980 70.136,00

Ia. 11.1980 a 30.4.1981 93.706,00

l e.5 .1981 a 31.10.1981 133.540,00

Ia.11.1981 a 30.11.1981 184.390,00

1-.12.1981 a 30.4.1982 238.560,00

1Q.5.1982 a 31.10.1982 332.160,00

l e.l 1.1982 a 30.4.1983 471.360,00

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v i d ê n c i a S o c i a l 503
Período de vigência Limile de salário de contribuição

1B.5.1983 a 31.10.1983 695.520,00


Ia. 11.1983 a 30.4.1984 1.142.400,00
l e.5.1984 a 31.10.1984 1.943.520,00
l s.l 1.1984 a 30.4.1985 3.331.200,00
l a.5.1985 a 31.10.1985 6.662.400,00
Ia.I 1.1985 a 28.2.1986 12,000.000,00
l e.3.1986 a 31.12.1986 16.080,00
l s.1.1987 a 28.2.1987 19.296,00
l a.3.1987 a 30.4.1987 27.360,00
1®.5.1987 a 31.5.1987 32.832,00
l e.6.1987 a 31.8.1987 39.398,40
1B.9.1987 a 30.9.1987 41.246,20
l a.10.1987 a 31.10.1987 43.180,60
Ia.11.1987 a 30.11.1987 45.205,80
Ia.12.1987 a 31.12.1987 51.000,00
1° 1.1988 a 31.1.1988 61.200,00
Ia.2.1988 a 28.2.1988 72.000,00
l a.3.1988 a 31.3.1988 84.960,00
l a.4.1988 a 30.4.1988 98.640,00
l a.5.1988 a 31.5.1988 118.360,00
l a.6.1988 a 30.6.1988 139.680,00
1Q.7.1988 a 31.7.1988 167.520,00
l s.8.1988 a 31.8.1988 209.280,00
l a.9.1988 a 30.9.1988 254.040,00
19.10.1988 a 31.10.1988 315.120,00
1° 11.1988 a 30.11.1988 409.520,00
l e.12.1988 a 31.12.1988 511.900,00
l a.1.1989 a 31.1.1989 637.320,00
l a.2.1989 a 30.4.1989 734,80
l e.5.1989 a 30.6.1989 936,00

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

504 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
Período de vigência Limite de saiário de contribuição

l a.7.1989 a 31.7.1989 1.500,00

l a.8.1989 a 31.8.1989 1.931,40

1B.9.1989 a 30.9.1989 2.498, 07

l a.10.1989 a 31.10.1989 3.396,13

l e.11.1989 a 30.11.1989 4.673,75

l e.12.1989 a 31.12.1989 6.609,62

1B,1.1990 a 31.1.1990 10.149,07

1B.2.1990 a 29.2.1990 15.843,71

i a.3.1990 a 31.5.1990 27.374,76

l a.6.1990 a 30.6.1990 28.847,52

l e.7.1990 a 31.7.1990 36.670,74

l e.8.1990 a 31.8.1990 38.910,35

l e 9 .1990 a 30.9.1990 45.287,76

1B.10.1990 a 31.10.1990 48.045,78

1B.11.1990 a 30.11.1990 62.286,55

1°.12.1990 a 31.12.1990 66.079,80

l a.1.1991 a 31.1.1991 92.168,11

I a.2.1991 a 28.2.1991 118.859,99

1= 3.1991 a 31.7.1991 127.120,76

Ia.8.1991 a 31.8.1991 170.000,00

l e.9.1991 a 31.12.1991 420.020,00

1° 1.1992 a 30.4.1992 932.262,76

1B.5.1992 a 31.8.1992 2.126.842,49

l a.9.1992 a 31.12.1992 4.780.863,30

1B.1.1993 a 28.2.1993 11.532.054,23

1B3 .1993 a 30.4.1993 15.760.858,52

1B5 .1993 a 30.6.1993 30.214.730,31

1B 7.1993 a 31.7.1993 42.439.310,55

1-.8.1993 a 31.8.1993 50.613,12

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 505
Período de vigência Limite de salário de contribuição

1B.9.1993 a 30.0.1993 86.414,97


Ia. 10.1993 a 31.10.1993 108.165,61
l B. l l . 1993 a 30.11.1993 135.120,48
1®. 12.1993 a 31.12.1993 168.751,97
1B. 1.1994 a 31.1.1994 295.795,39

la.2.1994 a 29.2.1994 385.273,50


le.3 .1994 a 30.8.1994 582,86

l a.9.1994 a 30.4.1995 582,86

l a.5.1995 a 30.4.1996 832,66


l a.5.1996 a 31.5.1997 957,56
l e.6.1997 a 31.5.1998 1.031,87
1°.6.1998 a 30.11.1998 1.081,50
l a.12.1998 a 31.5.1999 1.200,00

l a.6.1999 a 31.5.2000 1.255,32

I a,6,2000 a 31.5.2001 1.328,25


1B.6.200I a 31.5.2002 1.430,00
l a.6.2002 a 31.5.2003 1.561,56

l a.6.2003 a 31.12.2003 1.869,34

l s.1.2004 a 30.4.2004 2.400,00


l ç.5.2004 a 30.4.2005 2.508.82
Ia.5.2005 a 31.3.2006 2.668,15
l a.4.2006 a 31.3.2007 2.801.56
l a.4.2007 a 31.7.2008 2.801,82
I a.8.2008 a 31.1.2009 3.038,99
l s.1.2009 a 31.12.2009 3.218,90
l fi.1.2010 a 31.12.2010 3.416,54

l e. 1.2011 a 3.689,66
31.12.2011 3.691,74
l s.1.2012 a 3.916,20

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

506 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
A Lei n. 9.528/1997 aclarou o conceito: !lO lim ite m ínim o do salário de
co n trib u ição co rresp o n d e ao piso salarial, legal ou norm ativo, da categoria ou,
inexistindo este, ao salário m ínim o, tom ado no seu valor m ensal, diário ou horário,
conform e o aju stad o e o tem po de trabalho efetivo d u ra n te o m ês”.
560. C o n su lta fiscal — Caso o sujeito passivo da obrigação fiscal ten h a d ú v i
das q u an to à exigibilidade da exação previdenciária, se ignora a natureza ju ríd ic a
do pag am en to efetuado ao trabalhador, tratando-se de falo gerador incom um ou
esporádico, do qual p o u co o u nada se saiba, ele pode su b m eter a incerteza ao órgão
gestor m ed ian te co n su lta fiscal.
E n q u an to não respondida a indagação, suspende-se a im posição, e u m a vez
aten d id a em erge o dever de proceder ao desconto e ao recolhim ento.
A co n su lta é in stru m en to de defesa do c o n trib u in te e só tem cabim ento em
certas circunstâncias, respeitados alguns parâm etros. Os principais são: a) identifi­
cação e qualificação do consulente; b) descrição porm enorizada da dúvida, em face
do fato gerad o r e da n orm a incidente; c) tratar-se efetivam ente de dúvida, cabendo
o ô n u s da prova ao consulente; d) valer a resposta apenas ao requerente; e) ser
su b stitu íd a p o r o u tra resposta; e f) efeitos fiscais.
A esse respeito ver o livro “C onsulta Fiscal”, de Valdir de Oliveira Rocha
(Ed. Dialética, SP).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v i d ê n c i a S o c i a l 507
Capítulo LVI

Q u it a ç ã o d e D éb it o s

561. Evolução histórica. 562. Fontes formais. 563. Normas adminis­


S u m ario ;

trativas. 564. Alíquotas pretéritas. 565. Questões suscitadas. 566. Profissionais


liberais. 567. Período de decadência. 568. Direito vigente. 569. Ato jurídico
perfeito. 570. Definição das obrigações.

Im p o rtân cias devidas ou não, sem reco lh im en to o p o rtu n o , passaram a ter


tratam ento diferenciado a p artir de 1983 e, especialm ente, de 29.4.1995.
Exercentes de atividades não sujeitas à filiação obrigatória (em pregado, a n ­
tes de 1923; em presário e au tô n o m o , antes de 1960; dom éstico, antes de 1973
etc.) po d em reco lh er co ntribuições h odiernam ente. C o n trib u in tes individuais em
m ora, m ediante p ro ced im en to especial.
Inovando em relação à LOPS, até ser revogada (28.4.1995), a Lei n. 7.175/1983
autorizou o segurado a “in d en iza r” períodos de filiação não obrigatória, discipli­
nando antiga disposição program ática presente na Lei n. 3.807/1960. P or outro
iado, regulando a m atéria e cu id an d o da contagem recíproca de tem po de serviço,
o art. 96, inciso IV, do PBPS diz: “o tem po de serviço an terio r ou posterior à o b ri­
gatoriedade de filiação à P revidência Social só será co n tad o m ediante indenização
da co n trib u ição co rresp o n d en te ao período respectivo, com os acréscim os legais”.
561. E volução h istórica — A cotização correspondente com parecia no art. 189
do RBPS (Decreto n. 611/1992): “Se ocorrer reconhecim ento de filiação em período
em que o exercício da atividade não exigia filiação obrigatória à Previdência Social,
esse p eríodo som ente será averbado se o INSS for indenizado pelas contribuições
não pagas. Parágrafo único. O valor da indenização corresponderá a 10% (dez por
cento) do valor previsto na Classe 1 (um ) da Escala de Salário-base de que trata
o art. 38 do ROCSS, vigente na data do pagam ento, m ultiplicado pelo núm ero de
m eses que se p reten d er certificar”.
Particularizava o art. 190: “N ão incidirão ju ro s de m ora e m ulta sobre o valor
apurado com base no art. 189”, p o d en d o ser objeto de parcelam ento (art. 191).
562. F o n tes fo rm ais — Mais recentem ente, a p artir de 29.4.1995, a Lei n.
9.032/1995 alterou a redação do art. 45 do PCSS, nesse p articu lar revogando a

C u r s o de: D ír e it o P r e v id e n c iá r io

508 W la d ím ir N o v a e s M a r tin e z
Lei n. 8.212/1991 e derrogando o referido D ecreto n. 611/1992, acrescentou-lhe
três parágrafos sobre o tem a: a) “N o caso de segurado em presário ou autônom o
e equ ip arad o s, o direito de a S eguridade Social ap u rar e c o n stitu ir seus créditos,
p ara fins de com provação do exercício de atividade, para o btenção de benefícios,
extingue-se em 30 (trin ta) an o s” (§ 1Q); b) “Para a apuração e constituição dos cré­
ditos a que se refere o parágrafo anterior, a Seguridade Social utilizará com o base
de in cid ên cia o valor da m édia aritm ética sim ples dos 36 (trin ta e seis) últim os
salários de co n trib u ição do segurado” (§ 29); e c) “N o caso de indenização para
fins da co n tag em recíproca de que tratam os arts. 94 a 99 da Lei n. 8.213, de 24
de ju lh o de 1991, a base de incidência será a rem uneração sobre a qual incidem as
co n tribu içõ es para o regim e específico de Previdência Social a que estiver filiado o
interessado, co nform e disp u ser o regulam ento, observado o lim ite m áxim o previs­
to no art. 28 desta Lei” (§ 3e).
Nesses três novos preceitos, silenciou qu an to aos ju ro s de m ora o u m ulta a u ­
tom ática, cabendo, na o p o rtu n id ad e, apreciar a aplicabilidade dos arts. 35 (m ulta
au tom ática) e 36 (ju ros de m ora) do PCSS, nos quais exigidos acréscim os das pes­
soas em débito. Tam bém nada disse sobre a correção dos salários de contribuição
d eterm in a n te s da m édia a ser apurada, sobre a qual incide a alíquota de 20%.
563. N o rm a s a d m in istra tiv a s — R egrando o assunto e de certa form a regu
lam en tan d o essa alteração da legislação previdenciária, o art. 2Qd a P ortaria MPAS
n. 2.923/1996 ditava: “Os débitos decorrentes da com provação do exercício de
atividade p o r segu rado em presário, au tô n o m o o u a este equiparado para fins de
obtenção de benefícios, será ap u rad o e co nstituído u tilizando-se com o base de in ­
cidência o valor da m édia aritm ética sim ples dos 36 (trin ta e seis) ú ltim o s salários
de co n trib u ição do segurado, im ediatam ente an terio r à data de en trad a do re q u eri­
m en to , ainda q u e não recolhidas as respectivas contribuições, corrigidos m ês a m ês
pelos m esm o s índices utilizados para a obtenção do salário de benefício, observado
o lim ite m áxim o do salário de co n trib u içã o .”
No m esm o ato norm ativo, fixava-se alíquota de 10%, se a m édia encontrada
chegasse até R$ 249,80 e 20%, caso superior, até R$ 832,66 (o então lim ite do salário
de contribuição). Seus preceitos foram revogados pela Portaria MPAS n. 3.604/1996.
A crescentando um § 49 ao m encionado art. 45 do PCSS, com o dito, anterior­
m ente alterado pela Lei n. 9.032/1995, a MP n. 1.523/1996 estabeleceu: “Sobre os
valores ap u rad o s n a form a dos §§ l a/2 e, incidirão ju ro s de m ora de u m p o r cento ao
m ês e m u lta de dez p o r ce n to .” D isposição referida com pareceu no subitem 3.1.2
da O rdem de Serviço C o n ju n ta INSS/DAF/DSS n. 48/1996.
Saliente-se ter-se olvidado do § 39, antes reproduzido, em bora a obrigação
adicional pudesse ser inferida dos já citados art. 35 usque 36 do PCSS ou in jin e
do art. 96, IV, do PBPS. A exem plo da Lei n. 9.032/1995, igualm ente, ignorou a
atualização m o n etária dos salários de contribuição.
Rezava a O rdem de Serviço INSS/DAF/DSS n. 48/1996: “A indenização para
fins de co n tag em recíproca de que tratam os arts. 198 a 207 do RBPS, para período

C urso de D ir f j t o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l
m
de filiação obrigatória, ou não, terá com o base de incidência a rem uneração sobre a
qual incidem as con trib uições para o regim e específico de previdência social a que
esteja filiado o interessado, observado o lim ite do salário de co n trib u içã o ” (item 4).
A lterando a redação anterior, o item 5 da O rdem de Serviço C o n ju n ta INSS/
DAF/DSS n. 50/1996 ditou: “A indenização para fins de contagem recíproca de
que tratam os arts. 198 a 207 do RBPS, para período de filiação obrigatória, ou
nào, an terio r ou po sterior à com petência 04/95, terá com o base de incidência a
rem uneração sobre a qual incidem as contribuições para o regim e específico de
previdência social a q u e esteja filiado o interessado, observado o lim ite do salário
de contribuição".
F inalm ente, a O rdem de Serviço C o n ju n ta INSS/DAF/DSS n. 55/1996 fixou
os critérios finais reclam ando, p o r exem plo, para o atual servidor público, u ltim a­
m ente 20% de R$ 1.561,56 p o r m ês em débito, m ais ju ro s de m ora de 0,5% ao m ês
e m u lta autom ática de 10% do total original (RPS, arts. 240, § 8° e 348).
564. A líq u o tas p re té rita s — No período de setem bro de 1960 até dezem bro
de 1997, as alíquotas de contribuição do au tô n o m o foram :
a) de I a.9.1960 a 10.6.1973 (Lei n. 3.807/1960) 8%;
b) de 11.6.1973 a 31.12.1981 (Lei n. 5.870/1973) 16%;
c) de l 2.1.1982 a 3 1.8.1989 (D ec.-lei n. 1.910/1981) 19,2%;
d) de l e.9.1989 a 31.7.1996 (Lei n. 7.787/1989) 10% e 20%;
e) de 1-.8.1996 em d ian te (M P n. 1.415/1996) 20%.
A base de cálculo da m esm a contribuição, em se tratan d o de profissional li­
beral inad im p len te, em seu valor m ínim o, até 31.10.1991, era a Classe II da escala
de salários-base (2/10 do lim ite do salário de contribuição).
56 5 . Q u e s tõ e s s u s c it a d a s — P ro b lem as re le v a n te s d izem re sp e ito ao
côm p u to do prazo decadencial decenal estabelecido pelo PCSS, em 25.7.1991, e o
trin ten ário fixado na Lei n. 9.032/1995. É preciso definir se en q u a n to vigeu o dis­
posto no art. 45 do PCSS. Vale dizer, não p o d endo ser cobrado executoriam ente, o
segurado estaria su jeito ao pagam ento de valores decaídos. Tam bém é im portante
questionar-se a afetação, p o r lei posterior, da base de cálculo da hipótese de inci­
dência previdenciária da cotização dos co n trib u in tes individuais.
Interessa saber se, em caráter im positivo, a Lei n. 9.032/1995 poderia eleger
o u tra base de cálculo (m édia dos últim os 36 salários de contribuição) sobre a qual
a P ortaria MPAS n. 2.923/1996 fez incidir as alíquotas de 10% e 20%, posterior­
m ente unificada em 20% pela M edida Provisória n. f .415/1996.
566. P rofissio n a is lib era is — Os profissionais liberais estiveram , no m ínim o,
subm etidos à Classe II e a todo o regim e contributivo do salário-base (art. 49 do
Decreto n. 83.081/1979). O INSS, desde então, sem pre obstou progressões e regres­
sões do inadim plente, fato constatado no § 12 do art. 29 do PCSS e norm as anterio­
res (art. 38 do Decreto n. 612/1992 e CANSB). Nessas condições, é perfeitam ente
possível acolher-se a dita Classe II, com o o salário-base de enquadram ento tardio.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

510 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
Em bora a Lei n. 9.032/1995 não aluda aos acréscim os legais devidos à m ora,
eles fazem parte do o rd en am en to ju ríd ico da previdência social e estão co n tem ­
plados n o s arts. 35 e 36 do PCSS, bem com o na M edida Provisória n. 1.523/1996.
567. P erío d o de d eca d ên cia — Sobrevindo lapso de tem po novo, de 30 anos
— de discutível co n stitu cio n alid ad e em face do princípio da igualdade — , descabe,
co rolariam ente, ser aplicado em relação a 30 anos passados, se contados quando
de sua vigência. Som ente no ano 2025 isso será possível. C o n tin u a m valendo os
dez anos da Lei n. 8.212/1991, e eles crescerão u m ano a cada 12 m eses até 2025,
q u an d o o INSS p o d erá reclam ar aportes trintenários, m en su rad o s de 1995 a 2024.
O co n trib u in te in ad im p len te pode ser cobrado executoriam ente, se não recolheu
as m ensalidades d e janeiro de 1986 até dezem bro de 1996.
D escabendo ser executado relativam ente a m ensalidades de dezem bro de 1985
p ara trás, alcan çan d o o seu débito, todavia, co n tin u ará inad im p len te, sujeitando-se
à exigência dos valores q u an d o da em issão da certidão de tem po de serviço para
fins de co n tag em recíproca.
O s arts. I 9 a 8Qda Portaria MPAS n. 3.604/1996 eram incisivos q u an to à neces­
sidade da quitação, em p articu lar dizendo o art. 7B: “O s valores ap u rad o s com base
nos arts. I 9 ao 6° são passíveis de acordo para pagam ento parcelado, nos term os da
Lei n. 8.212, de 24 d e ju lh o de 1991, não p o dendo o respectivo período ser c o m p u ­
tado para obten ção de benefícios até a quitação total do débito ou da in d en ização ”.
568. D ireito v ig en te — Em várias oportunidades, refletim os sobre o tem a
trazido à colação: a) “Filiação facultativa: estudo de u m caso co n creto ”, in RPS n.
62/31; b) “C õ m p u to do tem po de serviço de filiação não obrigatória”, in RPS
n. 88/191; c) “C ontribuição relativa a período an terio r à filiação obrigatória”, in
RPS n. 104/466; d) “Vigência da obrigação dos segurados indenizarem o tem po de
serviço an terio r à filiação obrigatória”, in Supl. Trab. LTr n. 14/84; e) “Averbação
do tem po de serviço an terio r à filiação obrigatória”, in Supl. Trab. LTr n. 147/84; f)
“Os em presários e a contagem do tem po de filiação facultativa”, in Supl. Trab. LTr
n. 4/78; e g) “Indenização do tem po de filiação não obrigatória”, in Supl. Trab. LTr n.
95/84. Principalm ente no “O Salário-base na Previdência Social”, São Paulo: LTr, 1986.
A bstraindo o polêm ico prazo an terio r a l e de novem bro de 1991, adargum en-
tandum , in d ev id am en te tido o órgão gestor com o de u m lu stro (P arecer CJ/MTPS
n. 8 5 /1 9 8 8 ), a p artir da data do início da eficácia do PCSS e ex vi do caput do seu
então vigente art. 45, a decadência das contribuições dos segurados sujeitos ao
d esco n to e dos c o n trib u in tes individuais passou a ser de dez anos.
Isso, no passado, obrigou-nos a observar: “D estarte, som ente em 1996, podem
ser exigidos dez an o s de contribuições não recolhidas, crescendo o lapso de tem po
decadencial de u m ano, a co n tar de 1991” ( “C om entários à Lei Básica da Previ­
dência Social”, 8 ã ed. São Paulo: LTr, 1996, Tomo I, p. 468). Tais considerações
escoram -se n o p rin cípio da vigência da norm a ao tem po dos fatos (tempus regit
actum). Q uando o PCSS foi editado (25.7.1991), o período pretérito, alcançado pela
decadência, n o en ten d e r equivocado da A dm inistração, era o su p erio r a cinco anos.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l 511
5 6 9 . A to ju r íd ic o p e rfe ito — Em relação ao passado, em se tratan d o de
co n trib u in tes individuais, vigiam as regras do art. 13 da Lei n. 5.890/1973, e os
au tô n o m o s estiveram sujeitos à escala de salários-base, p o sterio rm e n te co n te m ­
plad a no art. 29 do PCSS. P articularm ente, em se tratan d o de profissional liberal,
e até 31.10.1991, no m ínim o, à Classe 11. N orm as im perativas à época definiam a
taxa aplicável e não podem ser su b stitu íd as (art. 6 a, § ] B, da LICC).
O fato gerad o r (exercício de atividade profissional au tô n o m a), base de cálculo
e alíquota su bm eteram -se à norm a legítim a, válida e eficaz. Q uedam -se protegidos
pelo ato ju ríd ico perfeito, consoante o inciso XXXVI d o art. 5a da CE Exceto em
caráter facultativo, lei h o d iern a não pode afetá-los.
O animus da Lei n. 9 .0 3 2 /f 995 foi coibir o abuso de o RPS vir im p o n d o apenas
e tão so m en te R$ f 0,00 p o r m ês com p u tad o (im propriedade atuarial e ju ríd ica) e
de evitar o critério, até então vigente, de to m ar valores h istóricos e corrigi-los após
qu atro ou cinco transform ações da m oeda e elim inação de 12 ou 15 casas decim ais,
atu alizando a base de cálculo e to rn an d o possível o recolhim ento de contribuições
atrasadas.
Sob esse aspecto acolhe-se a ideia de se tom ar a classe da escala de salários-
-base corresp o n d en te à então situação do segurado — com isso, atualizando-se o
valor sem necessidade de correção m o n etária — , m as é inaceitável afetar a base de
cálculo (classe da época) ou a alíquota. O c o n trib u in te tem o direito de ad o tar essa
co n stru ção e aceitar a hodiernização da ficção fiscal.
T entando ab strair prováveis incon slitu cio n alid ad es da Lei n. 9.032/1995, é
possível ho m o lo g ar o valor original dos ú ltim o s 36 salários de contribuição da
classe de então, sem correção m onetária. A Lei n. 9.032/1995, in terferin d o no
passado protegido pelo princípio constitucional, não tem au to rid ad e para atingir a
base de cálculo d o p erío d o do débito.
Da m esm a form a, é vedado ã referida norm a, e principalm ente a atos adm inis­
trativos supervenientes, arrostar as alíquotas vigentes no período do débito. Tém
de ser tom adas as da época, aplicadas às bases de cálculo an terio rm en te referidas
(m édia do valor das últim as 36 classes anteriores ao requerim ento) e não sobre
R$ 4.159,00, lim ite do salário de contribuição do RGPS de 2009, q u an d o se tratar
de servidor.
570. D e fin iç ã o d as o b rig a çõ es — Em face da versão original do art. 45 da Lei
n. 8.212/1991, som ente de jan eiro de 1986 até o ú ltim o m ês exigível po d em ser
reclam adas con trib u içõ es previdenciárias em atraso; tal lapso de tem po crescerá e
a trin ten arid ad e só será aplicável integralm ente em 2025, em respeito ao p rin cíp io
co n stitu cio n al do ato jurídico perfeito.
A decadência decenal põe fim à possibilidade de o sujeito ativo da exigibilidade
exacional p ro m o v er cobrança ju d icial relativa a m ensalidades anteriores, m as não
extingue o débito p retérito, e, nessas condições, sua liquidação pode ser condição
para expedição de do cu m ento com probatório da regularidade de situação (certidão
de tem po de serviço); som ente os segurados sujeitos ao desconto são beneficiados
pela presunção da arrecadação e recolhim ento, estipulada no arl. 33, § 5e, do PCSS.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

* W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O falo gerador, a base de cálculo e as alíquotas vigentes em certo período não
podem ser m odificados p o r norm a posterior, salvo se facultativa o u favorável ao
co n trib u in te. R espeitando-se o tempus regit actum.
A Lei n. 9.032/1995 não poderia eleger, em caráter im positivo, o u tra base de
cálculo ou alíquota em relação a débitos pretéritos. C riou excepcionalidade um fa­
vor de co n trib u in tes in ad im p len tes e n en h u m o u tro favor fiscal; nessas condições,
a exem plo dos dem ais segurados obrigatórios, sobre o valor a p u rad o incidem ju ro s
de m ora de 0,5% e m u lta de 10%, sem correção dos salários de contribuição.

C u rso pf .D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
Capítulo LVII

I n d e n iz a ç ã o a o IN S S

Sumário: 571. Período anterior à filiação. 572. Contagem recíproca. 573. tem po
de contribuição. 574. Art. 27, II, do PBPS. 575. Atividade remunerada. 576.
Decadência de cinco anos. 577. Natureza do pagamento. 578. Valor da contri­
buição. 579. Base de cálculo. 580. Remuneração do serviço.

A LC n. 128/2008 inovou de tal forma que ju lgam os necessário separar a


quitação dos débitos dos co n trib u in tes individuais em antes e após a sua edição.
D epois dc revogar os arts. 45/46 do PCSS (que tratavam da decadência e da p res­
crição), essa LC n. 128/2008 regulam entou novam ente os ônus dos co n trib u in tes
individuais em atraso, com o caput e três parágrafos do art. 45-A do PCSS. Os débi­
tos com preendidos d en tro dos cinco anos da decadência seguem as regras norm ais
das contribuições.
Estão co m p reendidos na operação os co n trib u in tes individuais da iniciativa
privada filiados ao RGPS e os servidores filiados aos RPPS (que tenham tem po de
co n trib u in tes in d ividuais n o passado e queiram aproveitá-los), restando excluídos
os trabalhadores inform ais m encionados no art. 21 do PCSS.
571. P erío d o a n te rio r à filiação — N este particular, o dispositivo tam bém
envolve os co n trib u in tes individuais que exerceram atividades rem uneradas na
época em que as suas atividades não os sujeitavam à contribuição, caso dos ecle­
siásticos antes da Lei n. 6.696/1979 e dos exercentes de m andato eletivo antes da
Lei n. 9.506/1997.
Nesse sentido da an terio rid ad e não filiativa, nào houve preocupação com os
em presários ou au tô n o m os, um a vez que se tornaram segurados obrigatórios há
m ais de 49 anos.
572. C o n tag em recíp ro ca — C ontagem recíproca consiste na possibilidade
do seg u rad o co m p u ta r o tem po de serviço não co n c o m itan te exercido sob os
auspícios do RGPS n u m RPPS ou de um destes regim es pró p rio s m unicipais, esta­
duais, do DF e da U nião, no RGPS (§§ 9° do art. 40 e 201 da CF). U m a vez p ro m o ­
vido o acerto de contas com a Previdência Social serã em itida a co rrespondente
C ertidão de Tempo de C ontribuição — CTC, prevista nos arts. 94/99 do PBPS.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
573. T em po de co n trib u içã o — Sem em bargo de alu d ir ao tem po de co n tri­
buição, o art. 45-A do PCSS q u er dizer o tem po de serviço para todos os fins dos
benefícios do RGPS, valendo inclusive para com provar o período de carência.
574. A rt. 2 7 , II, do PBPS — O art. 27,11, do PBPS diz que, para os efeitos do
p e río d o de c a rên c ia , serão co n sid erad as as c o n trib u içõ e s: “realizad as a c o n ta r
da data do efetivo p agam ento da prim eira contribu ição sem atraso, não sendo c o n ­
sideradas para este fim as contribuições recolhidas com atraso referentes a co m p e ­
tên cias a n te rio re s, no caso do seg u rad o s em p reg ad o d o m éstico , c o n trib u in te
in d iv id u al, especial e facultativo, referidos, respectivam ente nos incisos II, V e VI
do art. 11 e n o art. 13”.
O ra, ain d a que verdadeiram ente sejam contribuições, com o o legislador or­
d in ário in sisten tem en te as cham a de indenizações, o in térp rete será levado à c o n ­
clusão que, neste caso, elas não se subm etem ao dispositivo acim a reproduzido e
se prestam para co m pletar o período de carência.
575. A tiv id ad e re m u n e ra d a — A norm a tem pertinência com a ideia de fi­
liação, isto é, envolve o trabalho rem u n erad o que força a filiação do trabalhador
ao RGPS.
576. D ecad ên cia d e cinco an o s — A indenização diz respeito aos períodos de
co n trib u içõ es decaídas, o u seja, aquelas que ultrapassam os 60 m eses da Súm ula
V inculante STF n. 8.
577. N a tu re z a d o p ag am en to — O com ando é nitid am en te contrário ao p rin ­
cípio da vigência da lei ao tem po dos fatos, arrosta frontalm ente o ato ju ríd ico
perfeito e, com o tal, é inconstitucional. O ferecida com o faculdade, com vistas à
sim plificação da prova do recolhim ento, em cada caso, o segurado poderia ter in ­
teresse na solução, m as, sendo obrigatória, co nsub stancia a irretroatividade vedada
pela ciência do Direito.
578. Valor da co n trib u içã o — O § 1Q do art. 45-A do PCSS define o valor da
co n trib u ição , fixando a alíquota de 20% e indicando a base de cálculo nos dois
incisos que dele fazem parte. Esses 20% são os m esm os do art. 21 do PCSS, que
basicam ente é a do co n trib u in te individual. N ote-se que é taxa hod iern a, ig n o ran ­
do a p ró p ria de cada u m dos m eses de com petência do passado.
N ão está claro o percentual dos co n trib u in tes individuais que prestaram ser­
viços a em presas in adim plentes, pois nesses casos o dever desses segurados seria
de ensejar apenas 11% da rem uneração devida pelos serviços prestados, arcando
o co n tratan te com os 20% patronais. C orretam ente, deveria ser de apenas 11% da
atual rem uneração.
Os ju ro s de 0,5% são lim itados a 50% e a m ulta é de 10% em todos os casos,
a serem co n fro n tad o s com os 20% da contribuição norm al (PCSS, art. 21, § 3 a) e
com os ju ro s do REII q u e observam a Lei n. 9.430/1996.
579. Base d e cálculo — A base de cálculo q u e se p resta para a definição da
obrigação fiscal designada pela lei com o indenização é m u ito sem elhante à defi­

C u rso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l 515
nição do salário de benefício das prestações de pagam ento co n tin u ad o (art. 29 do
PBPS). Ou seja, um a m édia dos 80% m aiores salários de contribuição, corrigidos
m ês a mês e p in çad o s no período de ju lh o de 1994 (Plano Real) até o m ês an terio r
ao pedido da providência.
C onform e o inciso 11, as contribuições m ensais que servem para o cálculo
da indenização deverão observar o lim ite do salário de contribuição do art, 28 do
PCSS, que em 2013 era de R$ 4.159,00.
O p eríodo considerado p o d erá adm itir algum as falhas co ntributivas de
alguém que em algum m om ento não esteve filiado, A divisão será pelo núm ero
de m eses de con trib u ições devidas.
5 80. R em uneração d o se r v iç o — Em bora não explicite o q u e se deva e n te n ­
d er p o r rem u neração do servidor, h á q u e se en te n d e r o conceito do D ireito A dm i­
nistrativo, ou seja, os vencim entos para o estatu tário o u o celetista.
A disposição arro sta a base de cálculo d o m ês de com petência, que pode não
ser a atual rem u neração do servidor. A presença dos ju ro s de m ora de 0,5% refe­
ridos no § 1Q dá conta de que não se trata de um a contribuição o u indenização
decantada no m o m en to da solicitação do acerto de contas.

C u r s o df. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

516 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo LVIII

S a l á r i o - B ase

S u m á r io : 581. Escala de salános-base. 582. Cumprimento dos interstícios. 583.


Enquadramento inicial. 584. Classes do facultativo. 585. Múltipla atividade.
586. Trabalhos simultâneos. 587. Revisão do posicionamento. 588. Possibilidade
de permanência. 589. Regras da regressão. 590. Contribuição do aposentado.

Desde a Lei n. 5.890/1973 — e ex vi da Lei n. 9.876/1999 até 3 1 .3 .2 0 0 3 — , a par­


ticipação financeira dos contribuintes individuais no custeio da previdência social era
prom ovida consoante regim e contributivo específico, conhecido com o salário-base.
D urante os próxim os 30 anos, a sua disciplina guardará im portância; por isso,
m antêm -se os com entários da l ã edição, reservando-se o próxim o capítulo para a tran­
sição e o novo regime contributivo instituído pela Lei n. 9.876/1999 e M edida Provi­
sória n. 83/2002.
O tem a é objeto do art. 29 do PCSS, e, nada obstante seu aperfeiçoam ento,
co n tin u a não sendo p erfeitam ente divulgado. C om isso, têm -se in úm eras situações
prejudiciais aos segurados. C om a Lei n. 8.212/1991, respaldado em diretrizes
atuariais, o legislador tentou im pedir o acesso a classes elevadas sem a corolária
co n trap artid a, m as não logrou evitar certas distorções.
Seus aspectos técnicos relevantes são: a) base de cálculo ficcional; b) dentro
da obrigação de co n trib u ir subsistir a faculdade de fazê-lo em d eterm in ad o nível;
c) exteriorização da vontade do segurado; d) problem as na apreensão da intenção;
e) respeito à volição; e f) a possibilidade de en q u ad ram en to , perm anência, regres­
são e retorno.
A base de cálculo da cotização — em certa circunstância influenciada pela
rem u neração (se tam bém trab alh ad o r sujeito a desconto) — nada tem que ver com
os ingressos o btidos em sua em presa, profissão ou ocupação in d ep en d e n te ou até
não auferidos (caso do facultativo e, em parte, do eclesiástico).
a) ficção fiscal: Classe do salário-base era ficção fiscal criada pela lei, isto é,
salário de co n trib u ição tarifado em p atam ar desvinculado da realidade laborai ou
econôm ica do segurado. C om o a dos dem ais co n trib u in tes, essa m edida tam bém se
prestava p ara o cálculo dos benefícios e, nesse sentido, é sim ples, em com paração
com a dos descontados.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 1/ — P r e v id ê n c ia S o c ia l
517
b) dever e faculdade: P ertencer ao regim e contributivo era im posição legal.
Postar-se em um a das dez classes, co n tu d o , era faculdade do segurado e, nesse
exercício, desfrutava de certa liberdade. E nquadrava-se (prim eiro posicionam ento),
perm anecia, progredia, regredia e retornava à classe de onde regredira. Tudo segundo
o seu desejo. Volição a ser apreendida q u an d o ele não a m anifesta.
c) exteriorização da vontade: A vontade do segurado era m anifestada pelo re­
colh im en to e este, em m uitas hipóteses, o C alcanhar de A quiles do sistem a. Nem
sem pre o segurado a deixava clara, enganando-se na base de cálculo, na alíquota
ou na próp ria co n tribuição.
Q uan d o transferia essa atribuição a o u tra pessoa, deixando para in term ed iá­
rios ou agências bancárias, o resultado podia não co rresp o n d er exatam ente a sua
intenção.
d) apreensão da intenção: Não externada m ediante o efetivo recolhim ento ou
p o r o u tro m eio válido em D ireito (v. g., com unicação escrita, notificação cartorial,
testam en to etc.), p rin cip alm en te na inadim plência de co n trib u in te falecido, o
objetivo do segurado podia ser evidenciado p o r sinais indicadores: 1) se p e rm a n e­
cia, a classe válida era a últim a (perm anecida); 2) se progredia sistem aticam ente,
q u eria ascender; 3) se havia regredido, postava-se na últim a classe (o reto rn o só
é possível com vo n tad e expressa); 4) eclipsada pelo salário, entender-se-ão c u m ­
p ridos os interstícios, com progressão e sem regressão. Em resum o, sem pre o m ais
alto nível p erm itid o pela situação do segurado; em ú ltim a análise, a despeito do
débito, propõe-se a m elh o r proteção para os dependentes.
e) respeito ã volição: Era legítim o e n atu ral, às portas da aposentação, facul­
tada a p erm anência na classe m ais elevada, ser essa a intenção de ali se quedar.
D em onstrado à saciedade estar nu m a classe, prin cip alm en te d en tro do período
básico de cálculo, se sobrevêm regressão não autorizada p o r escrito pelo segurado,
p o r culpa de terceiros, o INSS deve convalidar contribuições relativas à reposição
da regressão indevida.
f) inexistência de arrependimento: D entro do prazo m ensal para o recolhim ento
(até 31.12.1997, era até o dia 15 de cada m ês sub seq u en te ao de com petência),
fundado na legitim idade, o segurado pode acrescer valores ao recolhido no m ês ou
solicitar com provada restituição do pago a m aior, regularizando-se a sua situação.
Porém , após o decurso desse term o, se ele fez os pagam entos (e não terceiros)
não há possibilidade de m udança, de arrep en d er da base de cálculo e recom pô-la,
m esm o com os acréscim os legais.
g) alíquota ou base de cálculo: Por vezes, o segurado se engana n o p reen ch i­
m ento da guia de reco lhim ento (carnê o u GPS), valendo as seguintes conclusões.
1) se indica a base de cálculo correta e se equivoca no valor da contribuição —
obviam ente desfigurada da correlação m atem ática entre am bas — é inadim plente,
cabendo corrigir espo ntaneam ente; 2) se a base de cálculo e a contribuição estão
certas e a alíquota an otada errada, valem aquelas; 3) se à contribuição (dividida
pela alíquota) co rresp onde a base de cálculo do segurado e esta, co n stan te do carnê

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W l a d im i r N íiv a e s M a r t i n e z
518
ou GRCI, está d isco rd an te, prevalece a intenção expressa pelo aporte; 4) quando
das m u d an ças dos valores das classes, em razão da inflação ou p o r outro m otivo,
geralm ente em m aio de cada ano, m an tid a a classe (base de cálculo e alíquota),
desejou m antê-la e é in adim plente, p o d en d o acertar espontaneam ente; 5) pagando
por dois carnês, cujas bases de cálculo som adas rep resen tam a sua classe, o atraso
em relação a u m deles é sinal de regressão; 6) q u an d o aporta com base em valor
p róxim o do nível da classe, está nessa classe faltando (in ad im p len te), e não na
inferio r so b ran d o (com direito à restituição).
581. E scala de salário s-b ase — O art. 29 do PCSS é a única fonte form al d
regim e co n trib u tiv o do salário-base. Válido para o co n trib u in te individual des­
de 1°.9.1973 até 31.3.2003. E ntão, su b stitu iu o salário de inscrição e um antigo
salário-base, com o m edida para calcular a contribuição do segurado. O bjeto de um
ú n ico artigo n a lei in tro d u to ra e vigente, em razão de sua com plexidade, o custeio
co rresp o n d en te gerou copiosa norm atização infralegal (55 E n ten d im en to s e várias
O rd en s de Serviço), co n tin u a carecendo de sistem atização e desafiando a argúcia
dos estudiosos.
N os ú ltim o s 29 anos, os valores da escala variaram significativam ente. Na
n o rm a original, as dez classes eram com postas de m últiplos inteiros do salário
m ínim o regional. A partir de maio de 1975 (Lei n. 6.205/1975), passou a valor de
referência, à exceção do patam ar m ínim o, o salário m ínim o. A Lei n. 6.332/1976
alterou-a novam ente. Dela faziam parte su b m ú ltip lo s do lim ite do salário de c o n ­
tribuição (na ocasião, fixado em C r$ 10.020,00). Com o D ecreto n. 83.081/1979,
m odificou-se sem an ticam ente, fixando-se as classes em percentuais do piso m áxi­
m o. C om a Lei n. 6.950/1981, o aludido lim ite reto rn o u a 20 salários m ínim os. A
partir de ju n h o de 1987, as im portâncias co n stitu íram -se de salários m ínim os de
referência, sistem a vigente até 30 de ju n h o de 1989 (D ecreto-lei n. 2.351/1987).
Desde 1Q.7.1989 (Lei n. 7.787/1989), desapareceu o salário m ínim o de referência,
su b stitu íd o p o r m ú ltip lo s inteiros de um décim o do lim ite do salário de co n trib u i­
ção. A troca de dez classes, variando de u m a 20 salários m ínim os de referência p o r
dez salários m ínim os, gerou confusão entre os contribuintes. E ntão, m u ito s segu­
rados, postados, p o r exem plo, n a Classe VI — dez salários m ínim os de referência,
julg aram -se com direito à Classe X — dez salários m ínim os.
F u n d am en talm en te, é co n stitu íd a de dez classes. À exceção de certo período,
a classe m ín im a sem pre foi salário m ínim o e, até 31.10.1991, a dos profissionais
liberais situava-se na Classe II. A tualm ente, difere da descrita no art. 137 da CLPS.
Não m ais faz m enção ao tem po de filiação com o d eterm in a n te do p o sicionam ento
inicial do co n trib u in te. Os interstícios tam bém não são os m esm os. O c o rresp o n ­
d en te à C lasse IV de 24, foi en curtado para 12 m eses, e o da Classe VII, d im inuiu
de cinco para três anos. Com isso, sob o critério anterior, alguém precisava de
276 m eses para chegar à Classe X e, agora, bastam -lhe 264 m eses. Em I a. 11.1991,
q u em estava n a C lasse IV o u VII, se desejasse, ficava dispensado d e cu m p rir o in­
terstício da lei revogada. Silenciando qu an to à proporcionalidade (solução lógica),

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c i a l 519
a lei ad m itiu , de im ediato, a adoção do novo período, som ando, inclusive, os m eses
de com petência cujas contribuições foram vertidas no sistem a antigo. Prevalecem
as regras de ingresso dos §§ 3Q e 7e/8Q do m encionado art. 29.
A Lei n. 8.383/1991 facultou ao segurado com pensar recolhim entos excessi­
vos ou indevidos. O co n trib u in te individual (em face da im p o rtân cia do pagam en­
to com o m anifestação de vontade de situar-se neste ou naquele patam ar, progredir,
regredir, ou reto rn ar) deve to m ar cuidado e, se for o caso, em vez de com pensar,
optar pelo pedido de restituição. Exem plifica-se singelam ente o porquê. Estando
na Classe IV — 4/10 do lim ite do salário de contribuição — e, n u m certo m ês, reco­
lhe a m ais, digam os, sobre 6/10, pode, no m ês seguinte, recolher sobre 2/10 de tal
lim ite, co m pensando o recolhim ento a maior. R estará evidente a intenção de ficar
na Classe IV, especialm ente se, depois, co n tin u ar vertendo pela Classe IV. Porém ,
se o engano referir-se a prazo m aior, abrangendo o período do interstício, não é
recom endável a solução; po d e co n fu n d ir a sua vontade e jam ais esta será explicada.
Com o dito, a escala de salários-base é co n ju n to de m edidas do fato gerador,
ordenado em dez classes progressivas, destinadas a servir de base de cálculo para a
apuração da co n trib u ição de várias categorias de segurados obrigatórios e um a de
facultativo. Seus d estin atários são: 1) em presários u rb a n o s ou rurais; 2) eventual
e au tô n o m o p ro p riam en te dito; 3) equiparados a autônom os, entre os quais o p ro ­
d u to r ru ral pessoa física, o garim peiro e o eclesiástico; 4) em pregado de organism o
oficial in tern acio n al e brasileiro trabalhando n o ex terior para organism o oficial
internacional. E, p artir de 1Q. 11.1991, tam bém 5) o facultativo p ro p riam en te dito;
e 6) segurado especial.
Sua dinâm ica n o rm ativa avulta in úm eras características: im positividade (é
obrigatória), não alternatividade (o segurado nào po d e abandoná-la), estanquei-
dade (não se com u n ica com o u tro regim e), progressividade (valores insitam ente
crescentes), reajustabilidade (presente inflação, os níveis são atualizados), peculia­
ridade (o regim e é individual e ún ico ), representatividade (presum e crescim ento
profissional do segurado), fracionalidade (a despeito da lei, adm ite fracionam ento e
com pressão), presença da volição dos particip an tes (adm ite p o d er) e caráter fiscal
(é m edida de fato gerador).
G lobalm ente considerada é com pulsória, co m preendendo algum a facultati­
vidade. O segurado su b m etido ao seu regim e co n trib u tiv o não pode adotar outro
salário de co n trib u ição , m as desfruta de opção p o r um a das classes (conclusão
não válida para o en q u ad ram en to na C lasse I), determ inada im perativam ente sua
clientela pela força cogente de norm a de caráter público.
A escala, com o dito, faculta ao trab alh ad o r escolher os valores-base para a
fixação da contribuição. Esse arbítrio tem lugar não só no en q u ad ram en to (nível
da classe escolhida) com o, após, d inam icam ente, pela perm anência, progressão,
regressão e retorno. Ela não se aplica im ediatam ente antes nem após o exercício de
atividade sujeita a salário-base. Insitam ente progressiva, ou seja, concebida para,
em princípio, o segu rado ingressar na classe m ínim a e, p o steriorm ente, no curso

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

520 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
da vida profissional, ascender a patam ares superiores. P rópria apenas de alguns
segurados, pessoas com a particu larid ad e de ter rem uneração in co n stan te ou até
de nào a ter (caso do eclesiástico e do facultativo).
Com o idealizada, espelha a natural evolução da rem uneração m édia do trabalha­
dor. Claro, entendim ento não extensível ao eclesiástico e ao facultativo, duas exceções
à regra. Iniciava-se com um salário m ínim o e culm inava, em 31.12.2002, com cerca
de 7,8 salários m ínim os (R$ 1.561,56). Níveis constituídos de subm últiplos inteiros
do limite, afetáveis pela interferência de outro regime contributivo (ou fruição de
benefício).
R espeitados os parâm etros legais e a situação pessoal, a escolha da classe
inicial e su a oscilação ficam p o r conta, exclusivam ente, do desejo do co n trib u in te,
sub-rogável pela mens legis.
A dim ensão m atem ãtico-financeira das classes é independente dos rendim entos
do obreiro. R elacionou-se com o tem po de filiação no passado e, h o d iern am en te
(após o PCSS), com o nível de custeio anterior. N ada têm a ver, de regra, com os
h o n o rário s do au tô n om o ou com a retirada pro labore do em presário ou resultado
da exploração agropecuária do segurado especial. M edida do fato gerador do aporte
de algu n s in d iv íd u o s é ficção fiscal sistem atizada em função da capacidade co n ­
trib u tiv a dos segurados a ela sujeitos. In stitu to ju ríd ico fiscal, trata-se de norm a
pública im p o sta com o dever-direito.
Possui regras p róprias, constantes dos 12 parágrafos do art. 29, definidoras do
regim e co n trib u tiv o , algum as resultado da lógica e do p o sicionam ento d o utrinário.
C o m an d o s específicos — m uitos deles exclusivos, caso da progressão, utilizáveis
só na m en cio n ad a escala — exigem n o m en clatu ra p ró p ria, aplicação e in terp re ta­
ção pertin en tes.
O trabalhador não adota a escala, m as o faz com pulsoriam ente. A adm issão é
feita p o r m eio do enquadram ento. Este, m ediante o recolhim ento. Se exercer ativi­
dade circunscrita, autom aticam ente fica vinculado às suas im posições. Realizado o
enq u ad ram en to , grosso modo, decidindo-se o obreiro p o r um a das classes, recolhidas
as cotizações correspondentes, ele se m antém na escala e nela cum pre os interstícios;
progride, isto é, observa degraus superiores; regride para níveis inferiores e retorna
para a classe de onde havia regredido, etc. E, excepcionalm ente, nào contribui, ou
tem o salãrio-base com prim ido pela rem uneração auferida com o descontado.
C om o asseverado, a escala de salário-base é im posição ex lege, exigência do
regim e co n trib u tiv o . D entro do dever de contribuir, adm ite certa faculdade, deven­
do ser interpretada com o m atéria de custeio, enquanto ônus fiscal e com o direito do
co n trib u in te q u an d o o legislador faculta e condiciona à vontade do segurado.
A ciência do ingresso na escala e as alterações da base de cálculo são feitas
m ediante o pagam ento da contribuição pela GPS. A quitação ban cária é o veículo
de co m unicação entre o sujeito passivo da obrigação e o INSS (em bora o u tro s p ro ­
ced im en to s possam ser concebidos).
Inaplicãvel p o r im p ró p rio e em face da com plexidade do assunto o princípio
do co n h ecim en to da lei. N ão tem n e n h u m sen tid o ignorar e n o de fato com etido

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c iu /
521
pelo co n trib u in te, especialm ente às p o rtas da aposentação, dem o n strad o vício de
vontade ou m á com preensão da obrigação. N esses casos, apurado o equívoco fáti-
co, o segurado deve ser autorizado a corrigi-lo, assu m in d o os acréscim os deriva­
dos. Não agir assim representa o u to rg ar ao INSS p o d er infindável, não com patível
com sua função de órgão gestor da previdência social.
O regim e contrib u tivo do salário-base, com o de resto quase toda legislação
previdenciária, não escapa de qu estiú n cu las sem ânticas. A in trodução desse m eca­
nism o atípico em relação ao dos dem ais segurados im pôs nova linguagem , sem a
qual a com unicação se to rna difícil. O teor dos preceitos legais é, às vezes, tecnica­
m ente herm ético, b astan do ver a redação do § 12 do art. 29 do PCSS.
As dificuldades com eçam com a palavra “e n q u a d ra m e n to ”. D esigna a postura
inicial do segurado na escala de salários-base, m as tam bém é em pregada pela lei
Como o posicio n am en to dinâm ico em um a ou ouLra classe.
Não há títu lo para a classe do segurado após a regressão, não convindo o
vocábulo “p erm an ên cia” para essa hipótese. O m elhor, pois, é classe regredida.
Tam bém in existe designação para a classe do co n trib u in te individual concom i-
tantem en te em pregado, q uando o salário afeta o valor do salário-base. C om o este
últim o é d im in u íd o em sua dim ensão pecuniária pela presença da rem uneração
trabalhista, só resta ch am ar ao resultado de com pressão.
Não procede o uso do fracionado q uando o legislador se refere à com pres­
são. Fracionam ento, aliás, ilegalm ente proibido pelo § 16 do R egulam ento do C us­
teio, nada tem a ver com com pressão. Classe real, aquela em que o segurado está
recolhendo contribuições; e virtual, a d ecorrente de seu direito, p o r algum m otivo,
não em ergente. Classe pessoal é a determ inada p o r seu passado previdenciário.
Q uando da edição da Lei n. 9.528/1997, ela com punha-se dos seguintes valores:

Escala de salários-base
Número mínimo de
Classe Salário-base m eses de permanência em
cada classe (interstícios)
1 R$ 120,00 12
2 R$ 206,37 12
3 RS 309,56 24
4 R$ 4] 2,74 24
5 RS 515,93 36
6 R$ 619,12 48
7 RS 722,30 48
8 R$ 825,50 60
9 R$ 928,68 60
10 R$ 1.031,87 —

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io
522 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
582. C u m p rim e n to d o s in te rstíc io s — O s nove interstícios previstos na le
são absolutos e não po d em ser su p rid o s em h ip ó tese algum a. E m bora ate p re su ­
m idos na com pressão do salário-base, isto é, tidos com o presentes e cu m p rid o s (o
segurado não p o d e d em onstrá-los), nas dem ais circunstâncias, inevitavelm ente,
têm de ser rig orosam ente aten d id o s pelo segurado.
Tal conclusão, assente n a d o u trin a e r a r a ju risp ru d ên c ia, provém da in terp re­
tação sistem ática do texto, não ob stan te se pudesse, com algum esforço, colhê-la
do § 10 do art. 29 (“N ão é adm itido o pagam ento antecipado de co n tribuições para
su p rir o interstício en tre as classes”).
A regra foi fraturada pelo p ró p rio legislador q uando quis m odificar a lorm a
de adm issão na tabela (em 1991). M ud an d o de regim e contributivo, deixando
o do salário-base e ingressando no de d escontado e voltando ao do salário-base,
d ep en d en d o do alcance dos seus salários, os interstícios po d em ser legalm ente
conto rn ad o s. Legítim a e regular a relação em pregatícia, arredada a m á-fé, conluio
o u fraude, segurado c o n trib u in d o p o r engano ou vontade na Classe 1, se vier a tra­
b alh ar com o em pregado, pelo m enos p o r seis m eses, deixando o em prego em que
era d esco n tad o pelo teto, p o d erá enquadrar-se na Classe X (sic). Se isso acontece
p ró x im o do p erío d o básico de cálculo, resulta evidente a ofensa à diretriz atuarial
in sp irad o ra do regim e contributivo. ín casu, sobrevindo dúvida q u an to à validade
da relação em pregatícia, o ô n u s da prova em contrário é da au tarq u ia federal.
O u tra s fissuras afetam o sistem a. A dm itindo a contagem recíproca de tem po
de serviço, o ex-servidor, p o sterio rm e n te filiado com o co n trib u in te individual,
não p o d e utilizar-se de seus vencim entos p ara enquadrar-se. Se desejar m an ter o
seu padrão co n trib u tiv o , em razâo da idade, proxim idade da aposentação ou nível
de realização profissional, terá de agir com o exposto anteriorm ente: em pregar-se,
d eix ar de ser em pregado e, após, ingressar no regim e co ntributivo do salário-base.
Então, com a m édia salarial, estará no patam ar corresp o n d en te ao seu p atrim ônio
previdenciário.
O legislador deve aperfeiçoar esse m ecanism o; se ele n ão sugere sim ulação,
pelo m en o s cria m eio em que é incom patível a relação custo/benefício, to rn an d o
quase im possível com patibilizar as diferentes situações. Assim, m o stra a ex p eriên ­
cia, não tem p ro piciado b o n s resultados.
Em D ireito Previdenciário, com o regra geral, o recolhim ento antecipado de
co n trib u içõ es é obstado. M ensais, elas devem co rresp o n d er à seqüência da p resta­
ção do trabalho e à percepção das rem unerações. Trata-se, n o caso, d e disposição
in sitam en te atuarial e n o rm a com um a todos os segurados.
E in co rreto afirm ar ser im possível efetuar contribuições antes de seu venci­
m ento. A ntecipadas, en tre tan to , seus efeitos ju ríd ico s não se precipitam ; produzir-
-se-ão nas épocas p róprias.
O PCSS não acolhe o prévio pagam ento da contribuição de segurado sujeito
ao salário-base com vistas à observância dos interstícios (não com outros objeti­
vos). N ão declara, porém , a im possibilidade de antecipação (com o um a viagem ao

C urso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — ■P r e v id ê n c ia S o c ia l
523
exterior) aten d er à obrigação antes do tem po. Isso não lhe acarretará sanção nem
lhe trará vantagens. A antecipação não lhe assegura o direito antes de transcorrido
o term o legal.

A época p ró p ria para o pagam ento é a fixada a p artir do m ês de trabalho ou


de com petência. Nada obsta, con tu d o , o recolhim ento operar-se n o próprio m ês
do fato gerador.
583. E n q u ad ram en to inicial — C ham a-se en q u a d ram en to inicial ao ingresso
ou reingresso do segurado na escala de salãrio-base, m as não necessariam ente ao
prim eiro en q u ad ram en to, pois, se afastado do regim e contributivo, a ele re to rn an ­
do, procederá a novo en q u a d ram en to inicial.
A regra desse p ro cedim ento revelou-se b astante alterada com o PCSS em rela­
ção à CLPS. Pode dar-se, a exem plo do facultativo, de duas m aneiras: a) de quem
n u n ca perten ceu ao RGPS; e b) de quem era segurado obrigatório. Para a prim eira
hipótese, vale o disposto no § 2Qdo art. 29, isto é, en q u ad ram en to na Classe I, e na
segunda, o p receituado no § 3 9, ou seja, em função da m édia corrigida dos últim os
seis salários de contribuição.
Os seis ú ltim o s salários de contribuição, tom ados em seus valores m ensais,
observados os lim ites m ínim o e m áxim o de cada m ês, atualizados a p artir da va­
riação integral do in d ex ad o r econôm ico vigente, devem ser som ados, e o total
dividido p o r seis, obtendo-se m édia aritm ética.
Tal resultado deve ser confrontado com os valores da escala. O segurado tem
à sua disposição a classe m ais próxim a do nível en co n trad o , e todas as abaixo si­
tuadas.

Prom ovido o en q u ad ram en to , situado o co n trib u in te no patam ar de sua esco­


lha, cu m p rin d o o interstício, ele pode progredir na escala, conform e sua vontade,
perm anecer na classe ou regredir para níveis inferiores, bem com o retornar.
O m ecanism o da m édia corrigida su b stitu i o tem po de filiação do art. 13 da
Lei n. 5.890/1973. Soluciona antigo problem a e cria dificuldades novas. Trabalha­
dores com alto nível rem uneratório e pouco tem po de filiação enquadravam -se em
níveis inferiores; ao co n trário, segurado com longo tem po de filiação e baixos re n ­
dim entos podiam situar-se em patam ares elevados. A partir de 1° 11.1991, quando
abaixo do teto, o d eterm in an te é a rem uneração m édia anterior; esta posiciona o
co n trib u in te na escala, p o d en d o aco n tecer de, às portas da aposentação, o titu lar
ter de situar-se em níveis d istin to s do perm itido pelo sistem a anterior.
Se a m édia corrigida coincide exatam ente com o valor interm ediário entre
duas classes, o segurado tem o direito de escolher a m ais elevada. Se ele não reúne
seis salários, a divisão da som a dos salários de contribuição atualizados será, sem ­
pre, p o r seis.
584. C lasses do lacu ltativ o — O facultativo en co n tra a sua classe de dois
cenários: a) q u an d o ingressa pela prim eira vez na previdência social; e b) após
ter sido segurado obrigatório. A lei preceitua sobre essas m odalidades em dois

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io
524 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
m o m en to s (art. 29, §§ 2g e 8Q). C oincidentem ente, o p o sicio n am en to do segurado
obrigatório nessa prim eira classe, se não tem antecedente previdenciário, é asse­
m elh ad o (§ 3e).
a) primeiro enquadramento: O p rim eiro en q u a d ram en to do facultativo é neces­
sariam en te op erad o na C lasse 1 — u m salário m ínim o. C u m p rid o o interstício, no
caso de 12 m eses, se quiser poderá elevar-se à Classe II — 2/10 d o lim ite do salário
de contribuição. E, com o decurso do tem po, ascender sucessivam ente até a Classe X.
M as pod erá p erm an ecer en q u an to for de sua vontade.
E m bora a lei não esclareça perfeitam ente, refere-se à filiação inicial subm etida
ao regim e do salário-base, pois, se a pessoa foi segurada obrigatória, as regras são
o u tras, desenvolvidas a seguir (letra b).
O facultativo é adm itido no RGPS e o aban d o n a q u an d o quiser. Sua entrada
e saída são n o tificadas pelo início e fim dos pagam entos, respectivam ente, a não
ser m ediante o u tra m odalidade d e com unicação ao INSS. A ssim , diferentem ente
do co n trib u in te em d obro, ele en tra e saí q u an d o desejar; o p rim eiro recolhim ento
é en ten d id o com o voliçào de p articip ar e, o últim o, de n ão m ais fazer parte do
regim e.
P or vezes, en tre tan to , com o acontecia com aquele dobrista, p ara quem o legis­
lador havia fixado p razo para isso, sem prejuízo para a co n tin u id ad e da filiação, o
facultativo p o d er vir a cessar os aportes m ensais. Surge a dú v id a se é inadim plente
ou deix o u o regim e contributivo. D o u trin ariam en te certo não p o d er retroagir à
filiação inicial (estaria co n to rn a n d o o risco), questiona-se se au to rizad o , após ter­
-se filiado e co n trib u íd o facultativam ente, antes ou depois de p erd er a qualidade de
segurado, a reiniciar os pagam entos, arcando com os ô n u s legais (juros de m ora,
m u lta e correção m o n etária).
P o d en d o participar do RGPS e dele se retirar q u an d o ju lg ar conveniente, sua
inad im p lên cia confundir-se-ã com a intenção de se desfiliar. Assim , em princípio,
ele só po d eria reco lh er co n trib u içõ es em dia, sem acréscim os. Salvo se, de algum a
form a, co m u n ica r ao INSS o ânim o de, m esm o em atraso com as contribuições,
p re te n d er m anter-se filiado. Tudo isso p o r sua vontade; não tem a au tarq u ia o p o ­
d er de exigir-lhe co n tribuições não efetuadas.
Inexiste c o n to rn o ao risco no período de m an u ten ção da qualidade; o segu­
rado está p rotegido p o r animus legal. Im possível recusar co n trib u içõ es em m ora,
inferiores a sete m eses, se persistiu com a condição de segurado. F ora desse lapso
de tem po, p o rém , ele reinicia os pagam entos, sem p o d e r recolher os atrasados e
p erd endo, com isso, o tem po correspondente.
Todavia, a m elhor form a de notificação ainda é a contribuição. O recolhim en­
to tardio, com acréscim os, revela dem onstração subjetiva da vontade de m anter-se
integrante do sistem a e deve prevalecer sobre a ideia de a m ora representar o afasta­
m ento, raciocínio válido nu m sistem a em que a volição é respeitada frequentem ente.
b) ex-segurado obrigatório: N esta segunda situação, após ter sido segurado
obrigatório, o in d iv íd u o deseja m an ter a filiação à previdência social, consecuti-

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l 525
vãm ente ou tem pos após. N ão se vislum bre lapso de tem po correspondente ao da
perda da qualidade de segurado, com o o term o m áxim o para esse enquadram ento.
Q uando a lei diz “para m an ter essa qualid ad e” está-se re p o rtan d o à qualidade de
facultativo e não à de segurado obrigatório (aliás, im possibilidade para quem não
esteja exercendo atividade). Não só m enciona “essa” e não “aquela” qualidade, a
de segurado obrigatório referida no início da oração, com o fala em m antê-la após
ter dito “passar a c o n trib u ir com o segurado facultativo”. O fato de com eçar a regra
com a expressão “seg u rad o ”, tanto q u an to acontece n o § 2° (letra a), nào significa
estar-se referindo exclusivam ente a qu em detém essa condição. Q u alq u er pessoa,
m esm o após perd er a qualidade de segurado obrigatório, a q u alq u er tem po, e espe­
cialm ente quan d o nas vizinhanças de se aposentar, pode se refiliar, reinscrever-se
e proceder ao en q u ad ram en to na escala de salários-base, isto é, com base na m édia
dos últim os seis salários de contribuição, e nào n a classe m ínim a.
Inexiste referência explícita ao co n trib u in te ex-facultativo. O u seja, não há na
lei ditam e sobre a segunda filiação do facultativo, devendo-se, p o r analogia, aplicar
o § 8Q, obtendo-se a m édia dos últim os seis salários-base com o facultativo. Pode
aco n tecer de, ev en tu alm ente, a m édia corrigida ser inferior à classe-base de cálculo
da últim a contribuição.
Não co n trib u in te é não exercente de atividade filiável obrigatoriam ente ao
RGPS, m enos o percipiente de benefício previdenciário su b stitu id o r de salários
(excetuado, p o rtan to , o auxílio-acidente). C om putado o tem po deste últim o com o
de serviço, não tem sentido a contribuição facultativa.
A n teriorm ente à prim eira filiação facultativa, se o segurado não exercia ati­
vidade algum a (letra a), a data do início dessa verdadeiram ente prim eira filiação
ocorre na inscrição no órgão com petente, devendo, p o r força do art. 38, § 16,
do RCPS (de discutível liceidade), recolher a contribuição integral do m ês, m as,
evidentem ente, co m p u tan d o apenas o período m ediado da referida inscrição até
o final do mês. Porém , se essa prim eira filiação facultativa dá-se após o exercício
de atividade sujeita à o brigatoriedade encerrada em data diferente do últim o dia
do mês, propõe-se a questão de saber qual o valor da base de cálculo da c o n trib u i­
ção desse m ês de transição entre os dois regim es contributivos (pressupondo-se a
vontade do segurado de querer pagar a contribuição e co m p u tar todos os 28, 29,
30 ou 31 dias).
Segundo o citado § 16 do RCPS, o salário-base não pode ser fracionado, m as
certam ente o será em várias op o rtu n id ad es. Inexistente dispositivo legal deter­
m inando o início da filiação no prim eiro dia do m ês (representaria prejuízo para
quem está situado no p eríodo básico de cálculo e afronta à isonom ia co n stitu cio ­
nal), o ex-segurado obrigatório está autorizado a inscrever-se no dia seguinte ao da
cessação da atividade anterior. A purada a m édia aludida no § 8e do art. 29 do PCSS,
verificar-se-á se a diferença entre o lim ite do salário de contribuição e o saldo dos
salários recebidos na rescisão com porta tal m édia. C om portando, essa serã a base
de cálculo da co n tribuição com o facultativo; caso contrário, recolherá pela dife­

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

526 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
rença entre os dois valores, aguardando o m ês seg u in te p ara p o d er — plenam ente
— in d icar a classe de sua escolha (im pedido, no m ês da transição, de dem onstrá-la
inteiram en te).
Ao referir-se ao “p ara m an ter essa qu alid ad e”, com o dito, confunde-se um
p ouco o legislador. N ão só preserva o status de segurado referido n o art. 15 do
PBPS com o su b stan cia a condição de facultativo p ro p riam en te dita. Na verdade,
su sten ta a qualidade an terio rm en te garantida pela p retérita filiação obrigatória,
com o resguarda o p erío d o de contribuição e se presta para todos os fins de Direito
Previdenciário.
A lei regra o en q u ad ram en to desse segurado na escala de salários-base, d e­
vendo fazê-lo em q u alq u er classe próxim a da m édia aritm ética sim ples dos últim os
seis salários de co n tribuição ou outra, dela abaixo.
A operação m atem ática não é difícil: pinçam -se os últim os seis salários de
co n trib u ição , em seus m o n tan tes m ensais (caso se trate de segurado sujeito a des­
co n to , len d o trabalhado, no m ês, m enos de 30 dias, devendo observar a regra do
art. 28, § l s, do RCPS). Im portâncias corrigidas pela variação integral acu m u la­
da do in d ex ad o r vigente. A seguir, a som a é dividida sistem aticam ente p o r seis;
m esm o se o co n trib u in te não possui tal núm ero de salários. E eles não têm de ser
consecutivos.
O resu ltad o en co n trad o é confrontado com o quantum da tabela. A m ais p ró ­
xim a desses valores é a classe m áxim a p erm itid a ao segurado. Ele pode escolhê-la
o u a q u alq u er o u tra, postada abaixo.
Na hip ó tese de a m édia ficar exatam ente entre um a classe e outra, a dúvida
resolver-se-á em favor da classe su p erio r (há na escala de salários-base o direito
de co n trib u ir). De q u alq u er form a, se o segurado não a desejar, adotará a an terio r
m ais próxim a.
N orm alm en te, no últim o período de trabalho, precedente à ru p tu ra do c o n ­
trato de trab alh o , sob a designação genérica de “saldo de salários”, são pagas as
cham adas verbas rescisórias, e, com isso, p ro porcionalm ente, o em pregado dem i­
tido recebe im p o rtân cia su p erio r ao salário m ensal. Se o afastam ento sucede no
últim o dia do m ês, respeitado o lim ite do salário de contribuição, toda a im por­
tância presta-se para o cálculo da m édia dos ú ltim o s seis salários d e contribuição,
m as, se isso acontece em o u tra data, é preciso co n sid erar q ual o ad o tad o para a
m en su raçâo da referida média.
O salário desse mês incom pleto, ficção fiscal, salvo se incluídas parcelas relati­
vas a direitos trabalhistas assegurados em outros m eses de com petência, é o valor re­
sultante da divisão do pago p o r trin ta, m ultiplicado pelo núm ero de dias. A im por­
tância desse m ês de transição deve ser adicionada às cinco anteriores para cálculo
da co n trib u ição do facultativo, a operar-se nesse m esm o m ês ou futuram ente.
C o m p arativ am ente ao lim ite do salário de contribuição, nem sem pre a
m édia resu ltan te reflete a posição do segurado, especialm ente n o m ês an terio r ao

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 527
da data base. Em m uitas situações, sem pre cotejado com o teto m áxim o, sobrevêm
perda de nível. Q uem recolheu pelo lim ite do salário de contribuição não assegura,
necessariam ente, o en q u ad ram en to n a Classe X. F enôm eno m en o r com inflação
reduzida.
O prejuízo é inevitável, p ró p rio do sistem a, convindo ser revisto n a prim eira
o p o rtu n id ad e, pois inatacável em sua constilucionalidade. O não sujeito ao salário-
-base, ao passar para esse regim e contributivo, não tem direito à m anutenção do
patam ar anterior, em bora se possa, p o r o u tro lado, su sten tar exatam ente esse p rin ­
cípio, q u an d o o titu lar se en co n tra no bojo do regim e dos descontados.
585. M ú ltip la ativ id ad e — Diz o § 49 do art. 29: “O segurado q u e exercer
atividades sim ultâneas sujeitas a salário-base co n trib u irá em relação a apenas um a
d elas”.
A relação ju ríd ica entre o segurado e o órgão gestor é única, individual
e intuitu personae. E m p en h ad o em labor re m u n e rad o , o trab a lh ad o r filia-se
ob rig ato riam en te ao RGPS, sujeitando-se a u m ou a outro, até m esm o aos dois
regim es contributivos: a) do descontado (servidor, em pregado, tem porário, avulso
e dom éstico); e b) do co n trib u in te individual (em presário, autô n o m o , eclesiástico,
eventual e facultativo).
Trata-se de regra básica do D ireito Previdenciário. Q uem , concom itantem ente,
exerce m ais de um a atividade rem u n erad a sujeita ao RGPS é obrigatoriam ente
filiado em relação a cada um a delas.
ím p ar o vín cu lo com a entidade adm inistradora, se a pessoa em preende
esforços su b m etid o s aos dois regim es co n trib u tiv o s e su b sisten te diferença entre o
lim ite do salário de co n tribuição e a base de cálculo do p rim eiro regim e c o n trib u ­
tivo (do d esco n tad o ), observado o m encionado patam ar m áxim o, ela considera as
du as bases de cálculo, conform e as regras do § 59 do m esm o artigo.
Para du as ou m ais atividades situadas no regim e individual, o recolhim ento
é único e, diz o m encionado § 4 9, em relação a apenas um a delas (sem especificar
qual). Em presário tam bém au tô n o m o recolherá to m an d o p o r base de cálculo a
classe co rresp o n d en te à situação desfrutada em 31.10.1991 ou consoante as regras
dos diversos parágrafos do art. 29.
No exem plo anterior, cessando a prim eira atividade (de em presário), ela é
sucedida pela segunda (de au tô n o m o ), prosseguindo-se os aportes en q u a n to o
trab alh ad o r exercer, ao m esm o tem po, as duas profissões.
O exercício de n atividades não altera a base de cálculo, a alíquota o u a c o n ­
tribuição; elas perm an ecem iguais. A cotização, tan to q u an to a filiação, pode ser
única e é pessoal. P ortanto, o salário-base será o m esm o, in d ep en d e n tem en te das
diversas ocupações. M as, se se trata de em presário ou autô n o m o , a rem uneração
recebida das em presas em cada em preendim ento, sem lim ite de valor, presta-se
para a fixação da obrigação d e recolher os 15% determ in ad o s pela LC n. 84/1996
(e, depois, os 20% da Lei n. 9.876/1999).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

528 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A dicção legal nào é perfeita, causando a im pressão d e apenas u m a atividade
ser o fu n d am en to da filiação (“apenas u m a d elas”) e, co n seq u en tem en te, a o u tra
ou as ou tras não terem significado. N ão é verdade. Pode aco n tecer de o c o n tri­
bu in te iniciar-se com o em presário (ou facultativo) e vir a tornar-se, p o r exem plo,
professor au tô n o m o . Os recolhim entos feitos sob a p rim eira condição valerão para
a segunda, e, assim , com pletado o tem po exigido de trin ta anos de serviço, o segu­
rado fará ju s ã ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição de 100%, beneficiando-se
com os in terstício s cu m p rid o s en q u an to não professor. Tais dizeres, elegendo um a
das atividades, sem dizer qual (a m ais antiga já foi opção do INSS), poderá criar
problem as q u an d o da aposentação.
586. T rab alh o s sim u ltâ n e o s — Os §§ 5a e 6e do art. 29 descrevem a com pres
são do salário-base. Inicialm ente (§ 5®), é desenvolvida a regra; logo após, seu caso
extrem o (§ 6 Q). Em relação à lei original, tais preceitos n ão inovam m antendo-se
o m ecanism o anterior, em que visível prevalência dada ao salário em relação ao
salário-base.
Se o segurado exerce atividade sujeita aos dois regim es (dos descontados e dos
in d ep en d en tes) e a som a da base de cálculo iguala ou u ltrapassa o lim ite d o salário
de contribuição, o m o n tan te da Ultima situação dim inuirá d e m odo ao total atingir
o teto m ensal. Vale dizer, o salário-base será com prim ido. Claro, se a referida adição
não atingir o teto, os dois regim es conviverão separadam ente, sem se influenciarem .
Isso po d e aco n tecer em relação a quem era em pregado, tem porário, avulso
o u dom éstico (desco ntado) e veio a se tornar, con co m itan tem en te, au tô n o m o ou
em presário (c o n trib u in te individual) ou, ao inverso, enquadrava-se nesta ú ltim a
situação, de su jeito à escala, e foi adm itido com o segurado descontado. Tanto faz.
Classe co m p rim id a é a resu ltan te da diferença en tre o lim ite do salário de c o n ­
tribuição e a rem u n eração do trabalhador, ao m esm o tem po su b o rd in ad o laboral-
m ente e in d ep en d e n te civilm ente (exercente de duas o u m ais atividades sim u ltân e­
as). Pode assu m ir q u alq u er valor e até ser inferior ao salário m ínim o, tratando-se,
in casu, da classe real, pois a virtual estará eclipsada.
O eclipse da classe leva a situações com plexas, reclam ando m u ita c o n c en tra­
ção do co n trib u in te. Por exem plo, se o segurado recebe 95% do lim ite do salário
de co n trib u ição e vem a subm eter-se à escala (com direito, pelo m enos, à Classe I),
recolherá to m an d o p o r base de cálculo 5% do lim ite. Após 12 co n trib u içõ es m e n ­
sais, faria e faz ju s à Classe II, m as esta co n tin u ará eclipsada pelo salário de 95%
do teto. E assim sucessivam ente, assegurado o direito de, q u an d o ex tin to o salário,
p o d er co n trib u ir na classe na qual estaria não fosse a com pressão.
Pode dar-se tam bém de, iniciando sua atividade profissional com o c o n tri­
b u in te in d iv id u al, en q u ad rad o no rm alm en te, alcançados diversos patam ares, vir
sua classe a ser com prim ida. O raciocínio serã o m esm o, convindo, então, ter em
m ente a regra de revisão do en q u ad ram en to , a seguir desenvolvida.
Se, em todo o tem po, o salário su p erar o lim ite d o salário de contribuição,
seu salário-base ab initio será zero ou zerado e não poderá, en q u a n to p ersistir esse

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
cenário, m anifestar a sua vontade no regim e contributivo do salário-base. Só o fará
qu an d o o salário reduzir-se a valor inferior ao teto ou desaparecer de vez.
587. R evisão d o p o s ic io n a m e n to — Diz o § 7S do art. 29: “O segurado
qu e exercer atividade sujeita a salário-base e, sim u ltan e am en te, for em pregado,
inclusive d o m éstico, o u trab a lh ad o r avulso, po d erá, se p erd er o vínculo em ­
preg atício , rever seu en q u a d ra m e n to n a escala de salãrio-base, desde que nào
u ltrap asse a classe equivalenLe ou a m ais p ró x im a da m édia aritm ética sim ples
dos seu s seis ú ltim o s salários de co n trib u içã o de todas as atividades, atu alizad as
m o n e ta ria m e n te ”.
O dispositivo apresenta im propriedades sem ânticas e prom ove discussão de
questões intrincadas, em face da com plexidade e das particularidades disciplinadas.
Diz respeito ao uso da expressão “en q u a d ram en to ”. O legislador m enciona a
posição na escala de salários-base, fato dinâm ico, sem se re p o rtar ao ingresso na
m en cio n ad a tabela (en q u ad ram en to ).
O en q u ad ram en to na classe inicial é praticam ente a regra, e o “fracionam en-
to ” do salário-base ocorre q u an d o a adição das duas bases de cálculo ultrapassa
o lim ite do salário de contribuição. Caso a rem uneração do trab alh ad o r seja, por
exem plo, su p erio r a 9/fO do lim ite, o enq u ad ram en to situar-se-á no quantum da
diferença, sem co rresp o n d er à classe m ínim a (salário m ínim o) ou q u alq u er outra.
Pode su ced er de, p o steriorm ente, a referida rem uneração dim inuir, oferecendo-se
o ensejo de o valor do salário-base ocupar a sua posição virtual. Nesse caso, p re su ­
m e-se a vontade do legislador, isto é, se assim quiser, o segurado posicionava-se,
na classe onde estaria, se não fosse a com pressão.
O cenário im aginado pela lei pode acontecer no curso da relação, isto é, após
ter-se en q u ad rad o e vir progredindo ou não, o co n trib u in te individual assum ir a
condição de desco n tad o e aí sobrevir a adoção do m ecanism o da diferença para,
m ais adiante, dian te da cessação da atividade em pregatícia, operar-se o dispositivo.
A lgum as situações são com plexas e até inusitadas. Pode suceder de em pre­
gado e, ao m esm o tem po, co n trib u in te individual, estar fruindo o auxílio-doença
relativo à condição de d escontado, p erm anecendo apto p ara o trabalho com o in d e ­
pen d en te. N esta rara situação, para os fins do recolhim ento da contribuição pelo
salário-base, solução viável será o valor do benefício a ser tido com o rem uneração.
O texto co n traria a ênfase dada pelo PCSS ao regim e co n trib u tiv o , lim itador
de direitos, p erm itin d o ao segurado a m an u ten ção do nível contributivo. Assim,
exem plificativam ente, se o segurado percebe 4/10 do lim ite com o em pregado e,
n a condição de au tô n o m o , vem recolhendo sob a Classe IV, totalizando 8/10 do
m encionado teto, e deixa de receber os salários, poderá evoluir para a Classe VIII
— 8/10 do lim ite do salário de contribuição (se a m édia das últim as seis bases de
cálculo o p erm itirem ). Esse salto a patam ar elevado nào desrespeita os interstícios
da lei; aliás, os pressupõe (a m agnitude da evolução dependerá, inclusive, dos in ­
terstícios preen ch id o s), e deflagra, conform e o caso, o disposto no § f2 , Na prática,
em parte, to rn an d o in ú til o procedim ento.

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530 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Na legislação an terio r a I a. 11.1991, desaparecida a rem uneração, se a classe
do segurado estava co m p rim id a pela sua presença, Findo o vínculo em pregatício,
o trab alh ad o r situava-se na classe n a qual estaria, não fosse a com pressão, e nela
co n trib u irá a p artir de então.
O INSS insiste n u m a tese, inaceitável p o r não constar da lei. Exige do segu­
rado afastado do trabalho fazer a inscrição d en tro de um prazo d e 90 (e, p o ste­
rio rm en te, em 1997, alargado para 180) dias, caso co n trário a revisão resultará
na Classe 1 — salário m ínim o. Além de não ter sentido, falta am paro legal para a
im posição.
588. P o ssib ilid ad e de p erm a n ê n c ia — O § 11 do art. 29 faculta hipótese p re
vista desde 1973, vale dizer, o segurado p o d e r ficar q u an to tem po q u iser em certo
nível. A pós o aten d im en to do interstício da classe na q ual está ou situ ad o na Classe I,
p erm an ecer significa m anter-se no m esm o patam ar (classe), sem p ro g red ir nem
regredir. R igorosam ente, q uando está cu m p rin d o tal interstício tam bém não sobe
nem desce, m as essa p o stu ra não é designada com o “p erm a n ên cia”; esta pressupõe
aquele n ú m ero m ín im o de recolhim entos.
Tem com o aspectos principais: a) observância do interstício; b) ultrapassagem
do prazo p ara a progressão; c) contribuição na classe pessoal (quem regrediu não
“p erm an ece”); d) in ocorrência de progressão ou regressão; e e) in existência de
com pressão.
O pressu p o sto im ediato é o interstício.
Trata-se de p retensão subjetiva assegurada na lei, verdadeiro direito. P ressu­
posto rem oto é estar o segurado recolhendo na escala de salários-base. Seu início
dá-se ex atam ente n o mês seguinte ao do final do interstício e term in a q u an d o o
co n trib u in te p ro g red ir ou regredir. O co n trib u in te p erm anecerá indefinidam ente,
se quiser. Inexiste lim ite para a duração dessa situação.
D entro do dever de contribuir, é faculdade de m anter-se no m esm o nível de
contribuição. Isto é, perfilhado o interstício, com o dito, não progredir nem regredir.
Tal com o na regressão, a pessoa não tem de ju stificar o procedim ento. Q uem
não prog red iu n em regrediu (fatos dep en d en tes da vontade d e m u d a r), p o r igno­
rância ou inércia, sim plesm ente perm aneceu.
N e n h u m direito, além daquele gerado pelo interstício, a p erm an ên cia assegu­
ra. E vid en tem en te, o lapso de tem po nessas condições é co n sid erad o para outros
fins, entre os qu ais o tem po de serviço.
A p erm an ên cia não é, em p rincípio, presum ível. Tem de ser dem o n strad a, m as
se antes de e n tra r em inadim plência ou em o u tra situação n a qual se achava coi­
b ido de co n trib u ir n o rm alm en te (por com pressão do salário-base ou recebim ento
de benefício), o segurado assim se postou (e n u n ca m ais se pôde au scu ltar a sua
in ten ção ), seu in tu ito era perm anecer. Aliás, em v irtu d e da m esm a com pressão,
pode oco rrer situação assem elhada à da perm anência, sem ser. Isso ocorre quando
o c o n trib u in te individual é tam bém em pregado com salário co n stan te (sua classe
fica achatada em nível co n stan te).

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T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 531
S egurado in ad im p len te não po d e reg red ir e, se nao deseja progredir,
perm an ece.
589. R egras da re g ressão — A regressão (e as regras do reto rn o ) n a escala de
salários-base era m atéria difícil e atraen te na vigência da versão an terio r ao PCSS.
C om a atual redação do art. 29, § 12, as coisas restaram diferentem ente disciplina­
das, ainda ju stifican d o observações e com entários.
Seu teo r dizia: “O seg u rad o que não tem condições de su s te n ta r a c o n tri­
buição d a classe em q u e se e n c o n tra pode regredir n a escala até o nível q u e lhe
convém e re to rn a r à classe de o n d e regrediu, nela c o n ta n d o o p e río d o an terio r
de co n trib u içã o nesse nível, sem d ireito à re d u ção dos in terstício s p ara as classes
se g u in te s”.
Esse texto revogado provocou dissenções e dúvidas entre os aplicadores e
estudiosos, q u an to ao p o d er de o sujeito passivo m ovim entar-se. D iziam respeito,
prin cip alm en te, às possibilidades de progredir e regredir em pagam entos com atra­
so. O CRPS en ten d eu de não haver im pedim ento de progredir em contribuições
objeto de parcelam ento, e, se não perdeu a qualidade de segurado, este podia p ro ­
gredir q u an d o do reco lhim ento de cotizações em atraso.
A redação vigente reza: “O segurado em dia com as co n tribuições poderá
regredir na escala até a classe que desejar, devendo, para progredir novam ente,
observar o interstício da classe para a qual regrediu e os das classes seguintes, salvo
se tiver cu m p rid o an terio rm en te todos os interstícios das classes com preendidas
entre aquela para a qual regrediu e à qual deseja re to rn a r”.
Por força desse preceito, a p artir de l e. 11.1991, som ente o segurado em dia
pode regredir. Os dois dispositivos devem ser com parados para m elhor co m preen­
são. A preocupação da CLPS em ju stificar a regressão foi abandonada; jam ais exigi­
da a d em onstração das condições econôm icas ou financeiras do co n trib u in te, não
tin h a m esm o sentido.
C om o dito, im põe-se, agora, estar o co n trib u in te em dia, e fixou-se regra
nova: regredido, ele só poderá re to rn ar à classe da qual regrediu, para progredir se,
an terio rm en te ã regressão, havia cu m p rid o os interstícios.
A con clu são fu n d a m e n tal ex traíd a do d itam e é de o seg u rad o só p o d er
re g red ir e, p o ste rio rm e n te , re to rn a r e progredir, caso a n te rio rm e n te cu m p rira
os in terstício s das classes até aquela desejada. A lei quase ignora o re to rn o , o
p re ssu p o sto da p rogressão, im plícito n o tex to e a ele a lu d in d o in fin e ; tam bém
o m ite a regra relativa ao p erío d o a n te rio r de co n trib u içõ e s (an tes da regressão)
ser co m p u tad o para im p le m e n tar os in te rstíc io s após o re to rn o e, d estarte, to rn a r
re g u lar a progressão.
a) vigência do parágrafo: O dispositivo vige desde l e. 11.1991, m as os recolhi­
m en to s efetuados an terio rm en te a essa data o afetam , devendo ser considerados.
N atu ralm en te, destina-se a fatos futuros (regressões e reto rn o s), respeitando-se as
situações pretéritas.

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As classes regredidas, an terio rm en te à vigência do PCSS, foram sob o im pério
da Lei n. 5.890/1973. Os segurados podem , pois, ainda u m a vez, re to rn ar à classe
da qual provieram . F eito isso, se novam ente vierem a descer, subm eter-se-ão à
m en cio n ad a regra.
b) indistinção dos interstícios: A n o rm a legal não faz distinção qu an to aos in-
tersLícios referidos. Em princípio, os com pletados após sua vigência, m as se aco­
lh en d o tam bém os observados an teriorm ente. Isto é, o corridos antes ou após o
PCSS, em face do objetivo claram ente atuarial do dispositivo. Q u er dizer, se a
progressão n atu ral aco nteceu antes ou depois de l s. 11.1991., em época recente ou
passado rem oto, a exigência do cu m p rim en to dos interstícios está atendida.
c) objetivo do comando: A perm issão para a regressão (e, com isso, dim inuição
dos recursos pro p o rcio nados individualm ente ao sistem a), antes de 1991, lim ito u ­
-se a aten d e r às circu n stâncias particulares do co n trib u in te e prestou-se à redução
dos reco lh im en to s de quem se havia en q u ad rad o em patam ares elevados, deixando
para reto rn ar a esses níveis som ente antes do período básico d e cálculo das ap o se n ­
tadorias e, p o r conseguinte, frustrando a intenção do legislador de ac u d ir pessoas
m o m en tan eam en te sem capacidade contributiva.
O novo objetivo é ten tar m an ter o equilíbrio entre a contribuição e o b en e­
fício, em bora, possivelm ente, sem lograr o citado desiderato; quem cu m p riu os
interstício s p o d e co n to rn a r a razão atuarial m otivadora do com ando.
d) independência do regime contributivo dos descontados: A referência ao c u m ­
p rim en to dos in terstício s é claram ente indicativa. O legislador deseja cotizações
do segurado sujeito ao salário-base, pouco im p o rtan d o ele ter chegado a níveis
elevados graças a co n trib u içõ es descontadas (na condição de servidor, em pregado,
tem p o rário , avulso ou dom éstico). Sob esse raciocínio, som ente os aportes vertidos
den tro do regim e co n tributivo do salário-base, diferentem ente do disciplinado no
§ 7a do art. 29.
e) descumprimento dos interstícios: A ntes da regressão referida, se o segurado
não havia cu m p rid o os interstícios — chegara à classe enq u ad ran d o -se p o r tem po
de filiação (da lei revogada), ou pela m édia dos últim os seis salários de co n trib u i­
Ção >perm an ece n o nível inferior desejado e só retorna, ao nível d o qual descera,
após a futu ra observância de tais interstícios.
E squecendo-se da hipótese, o legislador deixou porta aberta à solução da
ascensão, p o r via legal. A bandonando o regim e contributivo do salário-base, tor­
n an d o -se em pregado, tem porário, avulso ou dom éstico por, no m ínim o, seis m eses
e no v am en te se su jeitando à escala de salários-base, o seu en q u ad ram en to será
conform e a m édia dos ú ltim o s salários.
f i retorno ao nível e não progressão: A difícil redação do § 12 parece in d icar a
volta ao patam ar para nele perm anecer; o reto rn o com esse sentido restrito (sem
fu tu iam en te progredir) seria autorizado, m esm o sem o cu m p rim en to das co n d i­
ções im postas. O titu lar estaria im pedido apenas de progredir dali para frente. A
confusão se deve ao uso da palavra “p ro g red ir” q u an d o deveria ser de “re to rn a r”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l
533
g) imperatividade da norma: A n o rm a é d rástica e im pede de fato a regressão,
praticam ente an u lan d o esse p o d er do co n trib u in te. Especialm ente para situados
em níveis elevados, atingidos sem o cu m p rim en to dos interstícios. M uitos preferi­
rão en trar em in adim plência a regredir, pois a regressão significará o risco de ter de
re to rn ar e perm an ecer na classe original o u vir a c u m p rir os interstícios.
h) reedição da regressão e do retorno: Q uem cu m p riu os interstícios tem per­
m issão para regredir e re to rn ar e c o n tin u a r progredindo. M antido, en tretan to , o
patam ar, se novam ente vier a regredir, a condição já foi cum prida, não tendo de
ser necessariam ente justaposta à regressão. A q u alq u er tem po, com pletada a p ro ­
gressão p o r via de cu m p rim en to dos interstícios, o segurado p o d erá progredir e
reto rn ar repetidas vezes.
i) regressão e retorno ã classe intermediária: A referência expressa a "progredir
no v am en te” indica estar o legislador, não tão claram ente qu an to o de 1973 (“e re­
to rn ar à classe de on d e reg red iu ”), falando de retorno à classe da qual o segurado
proveio.
Não há m enção ã volta a classes interm ediárias, entrem eadas entre o nível ao
qual desceu e aquele em que se situ o u ao se operar a regressão. Todavia, a solução
da dúvida deve observar a filosofia e a finalidade do dispositivo, nitid am en te a tu ­
arial.
Se nem m esm o interstícios in term ed iário s o segurado cu m p riu , ele não pode
reto rn ar a níveis entrem eados. Porém , se cm algum m om ento de sua relação fiscal
ele os aten d eu e, depois, p o r força de tem po de filiação ou conform e a m édia dos
ú ltim o s seis salários de contribuição, enquadrou-se em nível elevado e regrediu,
está au torizado, pelo m enos, a voltar à classe co rresp o n d en te aos interstícios pre-
terilam en te atendidos.
j ) regressão de classe sob compressão: E m bora não reconheça com o aten d im en ­
to de in terstício s os recolhim entos elevados feitos sob o regim e dos descontados, o
§ 1° do art. 19 indica solução aproveitável para o segurado cuja classe se en contra
sob com pressão da rem uneração (§ 59}.
O co n trib u in te individual cujo nível na escala de salários-base n ão pôde ser
explicitado p o r Torça d a com pressão determ inada pela rem uneração, im pedido,
p o r via de conseqüência (m esm o desejando), de progredir, se deixar de exercer
a atividade p o r m eio da qual contribuía, sim ultaneam ente, pelo regim e dos des­
co n tad o s, deverá im aginar atendidos os interstícios, e, assim , se regrediu, poderá
reto rn ar à classe na qual teria estado, não fosse a com pressão.
fe) regressão e retomo do inadimplente: À previdência social sem pre pareceu
c o n to rn a r os riscos o segurado pagar contribuições atrasadas m ediante regressões.
O raciocínio, diante do silêncio da lei, procedia. G eneralizando a ideia, a autarquia
tam bém não p erm itia ao in adim plente progredir nas contribuições pagas com atra­
so, mas isso não tin h a sen tid o e, p o r isso, a Ju stiça Federal m anifestou-se favorável
à progressão em contribuições recolhidas tardiam ente. Agora, a lei é clara e obsta a
regressão e o reto rn o do inadim plente.

C u r s o df: D ir e it o P r e v id e n c iá r io

V / la d im ir N o v ae s M a r lin e ?
534
A solução é o segurado c o n trib u ir relativam ente ao período em débito no
nível da ú ltim a co n trib u ição q uando do início da inadim plência. A contrario sensu,
a lei não obsta a progressão nas contribuições em m ora.
O § 12 inicia-se com a expressão “O segurado em dia com as co n trib u içõ e s...”.
Significa não estar devendo, não ser in ad im p len te em relação à presença no regim e
co n tributivo.
Parcelam ento de débito, favor da lei ao segurado, não coloca o co n trib u in te
em dia. O u ele liquida o débito ou não pode regredir.
I) arrependimento em face da regressão e do retomo: N ão se ten d o m odificada
a legislação, o segurado co n tin u a im pedido de, após regular regressão e reto rn o ,
arrepender-se e p re te n d er recolher as contribuições relativas ao período e nível
con to rn ad o .
m ) campo dc incidência da regressão e do retomo: A regressão e o reto rn o d is­
ciplin ad o s no § 12 d o art. 29 dizem respeito ao ingresso e perm anência do traba­
lhad o r no regim e co n tributivo do salário-base. A bandonando-o, subm etendo-se
ao dos desco n tad o s, e n ovam ente a ele re to m a , o en q u a d ram en to é feito com base
na situação exem plificada de d escontado (valendo a prim eira presença n o regim e
co n trib u tiv o do salário-base para cu m p rim en to de interstícios).
O raciocínio legal do § 12 é fraturado pelo afastam ento do regim e do salário-
-base e pela volta a ele. O novo en q u ad ram en to , dep en d en d o da m édia dos ú lti­
m os seis salários de co ntribuição, pode posicioná-lo em patam ares elevados não
possíveis p o r força do reto rn o na prim eira situação, se ele não havia cu m p rid o os
interstícios.
590. C o n trib u iç ã o do a p o se n ta d o — Não im p o rtan d o qual classificação a n ­
terio r com o segurado, aposentado, se voltar ao trabalho com o sujeito à escala de
salários-base, deve aportar. Isso ocorre desde a Lei n. 6.243/1975. A destinação
da im p o rtân cia é, no m ínim o, dúplice: a) não privilegiar fiscalm ente as em presas
co n tratan tes; e b) buscar novas fontes de custeio.
Ju b ilad o , excetuado o por invalidez, é o percipiente de ap o sen tad o ria por
tem po de co n trib u ição , p o r idade ou especial. N ão quem aufere renda m ensal vi­
talícia ou au x ílio-acidente. A posentadoria concedida pelo INSS. Não provindo do
RGPS, os valores d estinam -se a novos benefícios cujos requisitos o segurado pre­
encha ju n to ã autarquia.
O en q u a d ram en to do inativo até 30.4.1995 era sem elhante ao dos dem ais
co n trib u in tes. Em vez da m édia aritm ética dos ú ltim o s seis salários de c o n trib u i­
ção, adotava-se o m o n tan te do benefício d o m ês anteced en te ao da volta ao traba­
lho. Tal base de cálculo, para essa finalidade, não incluía a do auxílio-acidente. Se o
seu valor m ensal fosse alterado em face de pedido de revisão p o sterio r à concessão,
o p o sicio n am en to seria igualm ente m odificado.
A não au to m aticid ad e da concessão, na data de entrega do requerim ento, em
relação a seg u rad o s não em pregados, com deferim ento suced en d o m eses após o

C urso de D i r e it o P r e v id e n c iá r io
T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
535
pedido, gerava dificuldades para quem não se alastou da atividade. D eterm inado o
nível da ap o sentadoria, só então tais co n trib u in tes podiam escolher o seu salário-
-base, e, no caso de o fazer acim a do quantum do benefício, deveriam requerer a
restituição do pago ou co m p en sar o recolhido a m aior com fu tu ras obrigações.
A Lei n. 9.032/1995 alterou a redação original do PCSS, passando a exigir
co n trib uiçõ es do ap o sentado trab alh an d o com o segurado sujeito à escala de salá­
rio-base. Referiu-se exclusivam ente ao aposentado p o r idade ou tem po de co n tri­
buição (co n sen tân eo com certa proibição do percipiente da aposentadoria especial
p o d er reto rn ar ao trab alho). A base de cálculo do en q u ad ram en to passou ao “m ais
p róxim o do valor de sua rem u n eração ”. R em uneração q uerendo dizer retribuição
do trabalho, vale dizer, pro labore do em presário e h o n o rário do autônom o.
F in alm en te, red u ziu a base de cálculo ao salário m ínim o.

C u rso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

536 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo LIX

C o n t r ib u in t e I n d iv id u a l

591. Clientela abrangida. 592. Alíquota de contribuição. 593. Obriga­


S u m A r io :
ções da cooperativa. 594. Base de cálculo. 595. Valor declarado do Facultativo.
596. Deveres formais das empresas. 597. Aportes do aposentado. 598. Exercente
de dupla atividade. 599. Disposições transitórias. 600. Progressão e regressão
na transição.

Com vigência a p a rtir de 29.11.1999 (e transição p e rd u ra n d o até 31.3.2003,


qu an d o ad q u ire eficácia to tal), a Lei n. 9 .8 76/1999 revogou o regim e co n trib u tiv o
do salário-base, m od ificando a base de cálculo da cotização dos c o n trib u in te s
individuais.
A nova lei assinala-se p o r dois aspectos: a) regra de transição dos segurados fi­
liados até a véspera de sua vigência; e b) regra p erm anente, para segurados adm itidos
a partir de 29.11.1999 e para os anteriorm ente filiados (ocorrendo em abril de 2003).
N ão são m u itas as fontes form ais do novo regim e co n trib u tiv o dos c o n tri­
b u in tes individuais. A legal é exclusivam ente a Lei n. 9.876/1999 e a regulam entar
o D ecreto n. 3.265/1999. Elas alteraram o art. 29 do PCSS e o RPS (D ecreto n.
3.048/1999). A d m inistrativam ente, a m atéria com pareceu regulada na O rdem de
Serviço INSS/DC n. 4/1999.
591. C lie n te la ab ran g id a — A Lei n. 9.876/1999 não fornece definição de
c o n trib u in te individual. Prefere classificá-lo e elencá-lo. A lterando o art. 12, V, do
PCSS e o art. 11, V, do PBPS, d istrib u iu -o s em dez tipos: a) em presário u rb a n o ou
rural; b) d ireto r rem u nerado; c) trab alh ad o r eventual; d) profissional autô n o m o ;
e) p ro d u to r ru ral pessoa física; f) pescador artesanal; g) garim peiro profissional; h)
eclesiástico m antido; i) brasileiro n o exterior; e j) síndico de condom ínio.
a) empresário urbano ou rural: Os principais em presários são: titu la r de firm a
individual, d ireto r não em pregado, conselheiro de sociedade anônim a, sócio so­
lidário, sócio de capital, sócio de in d ú stria, sócio-gerente e sócio-cotista (quando
percipiente de pro labore).
b) dirigente remunerado: Os m ais conhecidos: d ireto r de cooperativa, de asso­
ciação, de en tidade filantrópica, de fundação pública ou privada e dirigente sindical
ou estatal.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l 537
c) trabalhador eventual. O ari. 12, V, g, do PCSS o define com o “quem presta
serviço de nalureza u rb an a ou rural, em caráter eventual, a u m a ou m ais em presas,
sem relação de em prego” (síc).
d) profissional autônomo: O PCSS diz ser autônom o: “a pessoa física que exer­
ce, p o r conta própria, atividade econôm ica de natureza urbana, com fins lucrativos
ou n ão ” (art. 12, V, h).
e) produtor rural pessoa física: N o seu art. 12, V, a , o PCSS caracteriza o p ro ­
d u to r rural pessoa física, com o o proprietário ou não “que explora atividade agro­
pecuária ou pesqueira, em caráter p erm an en te ou tem porário, diretam ente ou por
interm édio de prepostos e com auxílio de em pregados, utilizados a q u alq u er título,
ainda que de form a n ão c o n tín u a ”,
f ) pescador artesanal: Desde o D ecreto-lei n. 3.832/1941, especialm ente no
D ecreto n. 71.398/1972 e na Lei n. 7.356/1985, o pescador é considerado segurado
obrigatório na previdência social com o autônom o.
g) garimpeiro profissional O PCSS refere-se à m esm a pessoa física, ex p lo ran ­
do “atividade de exploração m ineral — garim po — , em caráter p erm an en te ou
tem porário, diretam en te o u p o r interm édio de preposto, com ou sem o auxílio de
em pregados, utilizados a q u alq u er título, ainda que de form a não c o n tín u a ” (art.
12, Y b).
h) eclesiástico mantido: O m inistro de confissão religiosa e o m em bro de “in s­
titu to de vida consagrada, de congregação ou ordem religiosa, q u an d o m antidos
pela en tidade a que pertencem , salvo se filiados obrigatoriam ente à Previdência
Social em razão de o u tra atividade ou a o u tro regim e previdenciário, m ilitar ou
civil, ainda que na condição de in ativ o s” (PCSS, art. 12, V, c).
i) brasileiro no exterior: O brasileiro civil trabalhando “no exterior para orga­
nism o oficia! internacional do qual o Brasil é m em bro efetivo, ainda que lá dom ici­
liado e co n tratad o , salvo q u an d o coberto p o r regim e p ró p rio de previdência social”
(NR) (PCSS, art. Í2 , y e).
j) síndico de condomínio: C onform e a l e t r a / d o art. 12, V, do PCSS: “O síndico
ou ad m in istrad o r eleito para exercer atividade de direção co n d o m in ial”, desde que
receba rem uneração.
Podem ser alcançados o u tro s segurados com o: 1) m édico-residente; 2) carto ­
rário e serventuário; 3) aposentado nom eado m agistrado classisla tem porário da
ju stiç a do Trabalho; 4) bolsista da F undação H abitacional do Exército; e 5) árbitro
e seus auxiliares.
592. A líq u o ta d e co n trib u içã o — A líquota de contribuição é expressão
m atem ático-fiscal, exteriorizada percentual m ente, com nítido caráter exacional,
prestando-se para o cálculo da contribuição previdenciária. Taxa de contribuição é
igual à alíquota, m ero sinônim o.
M ultiplicando-se a alíquota (ou taxa) pela base de cálculo da hipótese de in ­
cidência (fato gerador) obtém -se o valor da contribuição. U m exem plo singelo: 8%
(alíquota) x R$ 1.000,00 (base de cálculo) = R$ 80,00 (contribuição).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

538 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
N o passado, as alíquotas eram variadas, d ep e n d en d o de tratar-se de pessoa
física ou ju ríd ica. De m odo geral, o em pregado sofria descontos da ordem de 8%,
9% ou 11%, co nform e a faixa salarial, até o lim ite do salário de contribuição.
As em presas recolhiam 20% da m esm a hipótese de incidência, sem lim ite de
valor e u m a das três taxas do seguro de acidente do trabalho, variando de 1%, 2%
ou 3% (PCSS, art. 22, II, a/c).
Elas aportavam , ainda, 15% dos h o n o rário s dos au tô n o m o s prestadores de
serviço ou 20% da base de cálculo (classe da escala de salários-base) desses c o n tri­
b uin tes in d iv id u ais, ex vi da LC n. 84/1996.
Em certas circu n stâncias específicas, qu em co n trata os serviços de cessão de
m ão de obra fica obrigado a descontar e recolher, em n om e do co n tratad o , 11% do
valor da fatu ra ou n o ta fiscal (Lei n. 9.711/1998).
A Lei n. 9 .8 7 6/1999 revogou a LC n. 84/1996 (suscitando certa celeum a entre
os trib u taristas), e d eterm in o u sobre a contribuição patro n al relativa aos c o n tri­
b u in tes in d iv id u ais p restadores de serviços (p rin cip alm en te o au tô n o m o ) seja de
20% do “total das rem unerações pagas o u creditadas a q u alq u er título, no decorrer
do m ês” (PCSS, art. 22,111).
A alíq u o ta de 11% da Lei n. 9.711/1998 não sofreu alteração, m anteve-se a
m esm a, a não ser em relação à contratação de m ão de obra procedente de coope­
rativa de trabalho.
A p arte p atro n al das em presas c o n tin u a sendo de 20% d a rem uneração dos
em pregados, m ais as taxas de 1%, 2% ou 3%, do seguro de acidentes do trabalho,
conform e o grau d e risco (RPS, art. 201, I). Pelo m enos para aquelas cuja folha de
pag am en to não foi d esonerada (CF, art. 195, §§ 12/13, e Lei n. 12.546/11).
A p a rtir d a Lei n. 9.732/1998, as em presas com trabalhadores expostos aos
agentes nocivos insalubres d eterm in an tes da aposentadoria especial, ficaram su ­
jeitas a reco lh er adicional do seguro de acidentes do trabalho. De acordo com o
art. 6- da Lei n. 9.732/1998, tais taxas são as seguintes:
I — 15.4.1999 — quatro, três ou dois p o r cento;
II — 1 3 .9 .1 9 9 9 — oito, seis ou qu atro p o r cento; e
III — 1Q.3,2000 — doze, nove o u seis p o r cento.
O d ever fiscal d a em presa em relação ao em presário é de recolher 20% de sua
rem u n eração m ensal, seja pro labore ou h o n o rário s, sem lim ite de valor. A p artir
de l s .4.2003, de d esco n tar 20% dos c o n trib u in tes individuais, entre os quais o
em presário e o au tô n o m o (M P n. 83/2002).
O ô nus, em relação ao au tô n o m o , é de recolher 20% dos h o n o rário s pagos a
ele p o r serviços p restados, tam bém sem lim ite de valor.
P ertin en te às in stituições financeiras, diz o art. 22, § f Q, do PCSS: “O s bancos
com erciais, bancos de investim ento, bancos de desenvolvim ento, caixas econôm i­
cas, sociedades de crédito, financiam ento e investim ento, sociedades d e credito
im obiliário, sociedades corretoras, d istrib u id o ras de títu lo s e valores m obiliários,

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l
em presas de arren d am en to m ercantil, cooperativas de crédito, em presas de seguros
privados e de capitalização, agentes au tô n o m o s de seguros privados e de crédito
e enLidades de previdência privada abertas e fechadas", além das contribuições
referidas nos arts, 22/23, do PCSS, devem “a contribuição adicional de dois vírgula
cinco p o r cento sobre a base de cálculo definida nos incisos I e III deste artig o ”.
A alíquota do contribuinte individual é de 20% da base de cálculo (art. 199 do
RPS). Revogando o caput e os dois incisos do art. 21 do PCSS, a Lei n. 9.876/1999
adotou a seguinte redação: “A alíquota de contribuição dos contribuintes individual
e facultativo será de vinte p o r cento sobre o respectivo salário de contribuição” (NR).
A do facultativo é igual à dos c o n trib u in tes individuais: de 20% da base de
cálculo (art. 199 do RPS).
593. O brig ações d a co o p e rativ a — Até 31.3.2003, ex vi da M edida Provisória
n. 83/2002, em relação ao pagam ento feito aos seus cooperados as cooperativas
não cotizam nada. As em presas co n tratad o ras de cooperativas têm de pagar 15%
“sobre o valor b ru to da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, relativam ente
a serviços q ue lhe são p restados p o r cooperados p o r interm édio de cooperativas de
trab a lh o ” (PCSS, art. 22, IV).
Q uan d o retrib u em os serviços prestados pelos au tô n o m o s, seus cooperados,
as cooperativas de trabalho nào assum em n en h u m a obrigação fiscal.
Segundo o art. 201, § 19, do RPS a “cooperativa de trabalho não está sujeita
à contribuição de que trata o inciso II, em relação às im portâncias p o r ela pagas,
distribuídas ou creditadas aos respectivos cooperados, a título de rem uneração ou
retribuição pelos serviços que, p o r seu interm édio, ten h am prestado a em presas”
(NR).
No p ertin en te ao autô n o m o ou a o u tro s co n trib u in tes individuais, não coope­
rados, nestas condições, au sen te o elo cooperalivista com a entidade, esta últim a
observa os m esm os ônus fiscais das dem ais em presas. Igual valendo para os co n ­
trib u in tes individuais prestadores de serviços.
As dem ais cooperativas, com o as de crédito ou de p rodução, enfrentam as
obrigações n orm ais das dem ais em presas, não se beneficiando dessa distinção.
D iretores re m u n erad o s de cooperativas são segurados o b rig ató rio s classifi­
cados com o co n trib u in tes individuais e, p o r conseguinte, geram os ô n u s patronais
das dem ais em presas (art. 12, V,/, da Lei n. 8.212/1991) e as pessoais.
Com a criação dos 15% devidos pelo receptor da m ão de obra oferecida pelas
cooperativas de trabalho, sem possibilidade de reter qu alq u er im portância da nota
fiscal ou fatura (Lei n. 9 .711/1998), desapareceu a solidariedade entre os dois c o n ­
tratan tes e, destarte, o co n tratan te de m ão de obra oriu n d a de cooperativa não terá
de reter os 11% da fatura.
No d izer do art. 224-A do RPS: “O disp o sto nesta seção não se aplica à co n ­
tratação de serviços p o r interm édio de cooperativa de trab a lh o ” (NR).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io
540 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Na base de cálculo da n o ta fiscal fornecida pela cooperativa de trabalho à
to m adora da m ão de obra, está com preendida sua taxa de adm inistração. Por isso,
a alíquota é m enor, de 15%.
Q u an d o o total m ensal faturado pela cooperativa para a to m adora de sua m ão
de obra en globar d iferentes valores relativos aos in ú m ero s cooperados, em relação
à redução dos 45% , a regra é a do art. 216, § 22, do RPS: “A plicam -se as disposições
dos §§ 20 e 21, no que couber, ao cooperado q u e prestar serviço a em presa p o r in ­
term édio da co operativa de trabalho, cabendo a esta fornecer-lhe os com provantes
das respectivas rem u n eraçõ es”.
A in cid ên cia dos 15% é sobre a m ão de obra. Na n ota fiscal, co n stan d o discri­
m inação d as parcelas, o custo dos m ateriais será excluído do cálculo; caso c o n trá­
rio, não. C u id an d o da disciplina da Lei n. 9.711/1998, os §§ 7g/8 e do art. 219 do
RPS fazem essa distinção.
U sualm ente, 75% da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços é o valor
p erten cen te ao cooperado (sua rem uneração) e os 25% restantes, despesas de ad ­
m in istração ou o u tro s custos. Isto é, 15% = 20% de 75%.
D iante de nú m ero elevado de cooperados, caso das cooperativas de m édicos,
a en tid ad e terá de pro m over rateio da co n trib u ição dos 15% (devidos pelo to m ad o r
da m ão d e o b ra), forn ecendo a cada au tô n o m o cooperado um a declaração q u an to
ao valor p ro p o rcio n al aos serviços p restados no m ês, au to rizan d o -o , assim , a d e­
d u zir os 45% na co n trib u ição pessoal.
A GFIP p erten ce à tom adora, pessoa ju ríd ica co n tra tan te dos serviços, com
pouca relação ju ríd ic a com o prestad o r de serviços. Q uem entregará a declaração
será a cooperativa de trabalho.
N a redação original do art. 22, § l 9, da Lei n. 8.212/1991, as cooperativas
de créd ito com pareciam elencadas ao lado das dem ais instituições financeiras.
E n tretan to , possiv elm ente com vistas ao p rincípio co n stitu cio n al de estím ulo ao
cooperativism o, o art. 201, § 6Q, do RPS, as distinguia, d im in u in d o -lh e o encargo
previdenciário em 2,5%.
O D ecreto n. 3.265/1999 preferiu seguir a lei e igualou-as às dem ais in stitu i­
ções financeiras e, ípso jacto, sua obrigação é de 22,5% da base de cálculo.
As cooperativas deverão destacar, dos h o n o rá rio s devidos a cada associado
d eco rren te de serviços prestados, p o r seu in term édio, as em presas co n tra tan tes
de m áo de obra, daqueles prestados a pessoas físicas. Sobre o prim eiro m o n tan te
o co o p erad o tem direito de com pensar até 45% dos seus 20%, ou seja, até 9% do
recebido, lim itado à p ró p ria contribuição.
Com a M edida Provisória n. 83/2002, as cooperativas restaram obrigadas à
co n trib u ição em relação aos seus cooperados autôn om os.
594. Base de cálculo — Base de cálculo (ou m edida do fato gerador) é im por­
tância em m oeda co rrente nacional, atu alm en te expressa em reais (R $), servindo
para a definição do quantum da contribuição. O m o n tan te d esta ú ltim a é, aritm eti-
cam ente, o resultado da m ultiplicação da alíquota pela base de cálculo.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l

m
Para todos os co n trib u in tes individuais, segurados obrigatórios (em presário,
au tô n o m o , eventual, p ro d u to r ru ral pessoa física, garim peiro, eclesiástico etc.) ou
facultativos (facultativo pro p riam en te dito e segurado especial), consistia n u m a
das dez classes da escala de salários-base in troduzida pela Lei n. 5.890/1973 e
m odificada pelo art. 29 do PCSS, em 2002, indo de R$ 200,00 até R$ 1.561,56
(Classe X ou m áxim a).
Em razão da inexistência de vínculo com os ren d im en to s auferidos pelo traba­
lhador, reduzia-se ficção fiscal in stitu íd a pelo legislador ordinário (agora revista).
C onform e a redação do art. 28, III, do PCSS, dada pela Lei n. 9.876/1999,
passa a ser realidade: “a rem uneração auferida em um a ou m ais em presas ou pelo
exercício de atividade p o r conta própria, d u ra n te o m ês, observado o lim ite m áxi­
m o a que se refere o art. 5g” (NR).
C onform e a descrição anterior, o m o n tan te do pro labore recebido em contra-
prestação pelo executado n a adm inistração da em presa, é base de cálculo do em ­
presário. Às vezes, sob o título contábil de retirada, h o n o rário s e até de retribuição.
U ltim am ente, designado na lei com o rem uneração.
A do au tô n o m o é a im portância devida pelos serviços prestados à em presa
(PCSS, art. 22, III) ou aferida em razão do trabalho e declarada n o Im posto de
Renda.
Se ele não trab alh ar para n e n h u m a em presa, co n tin u ará tendo os seus re n d i­
m entos. Na falta de com provação, m atéria ainda a ser regulam entada pelo INSS, o
quantum que ele in d icar n o Im posto de R enda ou outro d o cum ento fiscal válido.
O novo art. 28 do PCSS dispõe: “I — vinte por cento sobre o total das re m u ­
nerações pagas, devidas ou creditadas a qu alq u er título, d u ra n te o m ês, aos segu­
rados em pregados e trabalhadores avulsos que lhes prestem serviço, destinadas a
retrib u ir o trabalho, q u alq u er que seja a sua form a, inclusive as gorjetas, os ganhos
habituais sob a form a de utilid ad es e os adiantam entos decorrentes de reajuste sa­
larial, q u er pelos serviços efetivam ente prestados, q u er pelo tem po à disposição do
em pregador ou to m ad o r de serviços, nos term os da lei ou do contrato ou, ainda, de
convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença n o rm ativ a” (NR).
Além do p ercentual, de 20%, a novidade consiste em referir-se, a b u n d a n te ­
m ente, ao “total das rem unerações pagas”, em vez de “rem unerações auferidas”, e
ou tras p eq uenas alterações sem ânticas.
C aso sua em p resa esteja d eso b rig ad a de e sc ritu raçã o co n táb il, a base de
cálculo da co n trib u ição do em presário será de 20% do salário de contribuição
(RPS, art. 201, § 3 S).
Q uan d o tam bém seja em pregado recebendo salário igual ou superior ao lim ite
do salário de co n trib u ição, a base de cálculo do em presário — em determ inação
de discutível liceidade; cria um a m edida de fato gerador, prerrogativa p ró p ria da
lei — , o art. 201, § 3a, do RPS, diz ser: o “valor equivalente ã m aior rem uneração
paga a em pregado da em presa”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
Só po d e ser a im p o rtân cia declarada p o r ele, se p o r acaso não esteja obrigado
ao Im posto de Renda.
Não ten d o em pregados, n a ausência de livro co n táb il obrigatório, valerá a
im p o rtân cia c o n stan te do Im posto de R enda e, se disp en sad o dessa providência,
a declarada pelo segurado.
D o u trin ariam en te, q u an d o legítim a a relação previdenciária, os associados
das cooperativas de trabalho têm sido considerados autônom os. O ato cooperado
previsto n a Lei n. 5.764/1971 é distinto da relação entre pessoa ju ríd ic a ou vínculo
em pregatício. No dizer do parágrafo único do art. 442 da CLT (redação dada pela
Lei n. 8.949, de 9 .1 2 .1994), não subsiste relação de em prego entre os cooperados
e a en tid ad e “n em entre estes e os tom adores de serviço”.
A bstraindo situações ilegítim as, q uando não em pregado e, sim , associado da
en tidade, grosso modo, o cooperado é dito co n trib u in te individual (autônom o).
595. V alor d ec la rad o d o facu ltativ o — A m edida do fato gerador do faculta
tivo, tan to q u an to a dos co n trib u in tes individuais, é a im portância necessária para
o cálculo da exação, designado na lei com o salário de contribuição.
Preceitua o art. 28, IV, do PCSS: “o valor p o r ele declarado, observado o lim ite
m áxim o a que se refere o § 5Q'\
Até o d esap arecim ento do co n trib u in te em dobro, ocorrido com o PCSS
(art. 162 do Decreto n. 356/1991), em 1B. 11.1991. Era figura de segurado antecessora
do atu al facultativo, co n trib u ía com base n um a im portância designada com o “salá­
rio d eclarad o ”, à época, n o s term os do art. 53 do D ecreto n. 83.080/1979, lim itado
ao salário m ín im o e ao m áxim o da rem uneração an terio r do titular.
S endo s u p e rio r ao m ín im o (R$ 6 7 8,00) e in ferio r ao m áxim o (R$ 4 .1 5 9 ,2 0 ),
na Lei n. 9 .8 7 6 /1 9 9 9 , o valor declarad o é q u a lq u e r im p o rtân cia esco lh id a pelo
facultativo. C om o a Lei n. 9 .8 7 6 /1 9 9 9 , o D ecreto n. 3 .2 6 5 /1 9 9 9 e a In stru ção
N o rm ativ a INSS/DC n. 4/1999 silenciam a respeito, e n te n d e n d o -se , respeitados
os dois lim ites a n tes alu d id o s, o seg u rad o p o d er estim ar os 20% sobre o quantum
desejado.
A lei não faz distinção. Ele pode m udá-la no m ês seguinte. A opção é do segu­
rado. As conseqüências operar-se-ão no seu benefício futuro. Ela d ep en d e exclusi­
v am ente da volição do co n trib u in te. C om o tem po e a evolução do novo in stitu to ,
o INSS a reg u lam en tará m elhor.
M anifesta-se essa declaração de vontade, m ediante o reco lh im en to m ensal da
contribuição. O arrep e n d im en to só se efetivará até a data do vencim ento (dia 15
do m ês seguinte ao da com petência). Em bora o sistem a perm ita a exteriorização
da vontade, para não co n to rn a r o risco, a p rincíp io, após o prazo de pagam ento
m ensal, o segu rad o não poderia recolher diferenças, questão a ser objeto de regu­
lam entação ou, a final, definida pelo P oder Judiciário.
Se facultativo alé m eados do m ês e, depois, tornar-se co n trib u in te indivi­
dual, em bora a base de cálculo da contribuição de trab alh ad o r seja a d eterm inante,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 543
q u an d o inferior ao limiLe do salário de contribuição, naquele m ês ele poderá reco­
lh er sobre o teto, co m b inando as duas condições.
596. D everes fo rm ais d as e m p re sas — O brigações form ais são ô nus proce­
dim entais, co n d u tas exigidas pela lei ou com portam entos pessoais (obrigações de
fazer). De m odo geral, essas im posições form ais estão disciplinadas em três m o­
m entos, todos do PCSS: a) no art. 30; b) parte do art. 31; e c) no art. 32.
Os prin cip ais deveres, de acordo com a nova redação dada ao art. 30 do PCSS,
são os seguintes:
a) arrecadar as contribuições de em pregados, tem porários e avulsos (bem
com o as dos servidores p ú b ü co s sem regim e p ró p rio ou ocu p an tes de cargos em
com issão) e dos co n trib u in tes individuais;
b) recolher m ensalm ente ao FPAS essas co ntribuições descontadas dos segu­
rados;
c) reter a co n trib u ição dos fornecedores de m ão de obra, prevista na Lei n.
9.711/1998 ou de p ro d u to res rurais, n a condição de adquirentes;
d) pagar as co n trib u içõ es em presariais relativas ao COFINS e Im posto de
Renda;
e) cotizar a parte patro n al das contribuições;
0 excluir-se, q u an d o for o caso, da responsabilidade solidária;
g) p rep arar folhas de pagam entos;
h) co n tabilizar os valores p ertin en tes à previdência social;
i) prestar inform ações ao INSS e a DRF;
j) info rm ar o fato gerador ao INSS (Lei n. 9.528/1997).
E m bora não seja considerado um a em presa, o em pregador dom éstico é obri­
gado a d esco n tar e reco lher a co n trib u ição relativa ao dom éstico, além da p ró p ria
( 12%).
A redação do art. 3 0 , 1, h, d o PCSS passou a ser: “recolher o p ro d u to arrecada­
do n a form a da alínea anterior, a co n trib u ição a que se refere o inciso IV do art. 22,
assim com o as co n trib u içõ es a seu cargo incidentes sobre as rem unerações pagas,
devidas ou recolhidas, a q u alq u er título, aos segurados em pregados, trabalhadores
avulsos e co n trib u in tes in d iv id u ais’' (NR).
A alteração deveu-se à nova classificação atrib u íd a aos segurados obrigatórios
(c o n trib u in tes individuais).
O D ecreto n. 3.265/1999 criou a obrigação de entregar a declaração ou a GFIP
aos co n trib u in tes individuais.
Um co n trib u in te individual deve guardar a GFIP, ju n to da sua guia de recolhi­
m en to (GPS). A p rin cípio, nada o b stan te a determ inação legal de estar obrigado a
arquivá-la p o r dez anos, é de seu interesse preservá-la p o r todo o tem po.


C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a es M a r tin e z
Se não estiver in scrito, a em presa não deverá entregar-lhe a GFIP Após a in s­
crição, reco lh en d o co n trib u içõ es regulares, p o d erá beneficiar-se da redução.
C om o tem p o , o INSS re g u la m en tará a m atéria relativa à em p resa c o n tra ­
tan te de d ezen as ou cen ten as de a u tô n o m o s p o r m ês. De q u a lq u e r m o d o , a GFIP
ou d eclaração — será preferível — terá de id en tificar o pro fissio n al in d e p e n ­
d en tem e n te (n o m e, CPF, n ú m ero de inscrição, m ês de co m p etê n cia, valor da
co n tra taçã o etc.).
A rigor, terá de elaborar um a GFIP para cada autô n o m o . M as no caso de m u i­
tos trab alh ad o res, pod erá em itir a m encionada declaração personalizada.
597. Aportes do aposentado — Ao trab alh arem de novo, os segurados ap o ­
sen tad o s ficam su jeito s à contribuição previdenciária. M esm o tais aportes não se
d estin an d o ao antigo p ecúlio, ex tin to pela Lei n. 8.870/1994, tan to os co n trib u in tes
in d iv id u ais q u an to as em presas devem observar o disposto na Lei n. 9.876/1999.
U m co n trib u in te individual aposentado contará com os 45% , da m esm a for­
m a com o o trab a lh ad o r ativo, isto é, o não aposentado.
O em presário ap osentado recolhendo com base n o salário m ínim o terá de
en q u adrar-se nas regras transitórias e estas põem fim à escala d e salário-base. Até
31.3.2003 pod erá v ariar a contribuição (ou o u tro s valores, com a m u d an ça opera­
da em m aio de cada a n o ).
598. Exercente d e d u p la atividade — Se o co n trib u in te individual, sim u lta­
neam ente em pregado e, nessa ú ltim a condição, sofrer d esconto sobre o lim ite do
salário de co n trib u ição (art. 29, § 6Q), não pagará co n trib u içõ es porque sua base
de cálculo está zerada.
A em presa, en tre tan to , deverá ap o rtar os 20% da rem uneração paga e, dessa
form a, não precisará fornecer a declaração ou a GFIP.
Q u an d o o em presário trabalha em duas ou m ais em presas cada um a delas,
in d iv id u alm en te, recolherá a contribuição, to m an d o p o r base de cálculo a re m u n e­
ração paga ao segurado, se ele fizer parte de m ais de u m a em presa, não im p o rtan d o
o nú m ero delas.
De igual m aneira, agirá o co n trib u in te individual, som ando os valores rece­
bidos. Até o INSS reg u lam en tar o assunto, parece razoável ap ro p riar os 45% da
prim eira em presa re m u n e rad o ra (solicitando-lhe a G FIP) e caso todas o paguem
n o m esm o dia, dividirá o valor pro p o rcio n alm en te en tre elas.
O trab alh ad o r du as vezes au tô n o m o som ará as rem u n eraçõ es auferidas e c o n ­
siderará o total com o se fosse u m a única parcela, o p eran d o os cálculos a p a rtir daí.
U m em presário e au tô n o m o agirá da m esm a form a, com o quem é duas vezes
au tônom o.
O a u tô n o m o não in scrito não p o d erá exigir a declaração o u a GFIP, pois
desses d o cu m en to s constará o seu nú m ero de inscrição. Q u an d o regularizar a
situ ação p esso al p o d er-se-á se e n te n d e r com a em p resa e o INSS, so lic ita n d o
a restitu ição de co n trib u içõ e s ev e n tu alm en te efetuadas a m aio r em razão da não
aplicação dos 45%.

C u r s o d i- D ir l it o P r e v id e n c iá r io

Tom o II — P revidência S o c i a l

-
Para o au tô n o m o que presta serviços para várias em presas, im portará saber o
valor total da rem uneração até sua adição atingir o lim ite do salário de co n trib u i­
ção e, então, obrigando-se a 20% do teto.
O crédito virtual dos 45%, em princípio, provirá de todas as em presas. Na
prática, se a rem uneração de u m a delas for suficiente, exigirá a GFIP ou declaração
dessa em presa.
A base de cálculo da co n trib u içã o da em presa e d o c o n trib u in te in d iv id u al,
n o caso de c o n tra ta r a u tô n o m o s tra n sp o rta d o re s de passageiros, carreteiros e
fretistas é d istin ta. S egundo a trad ição da legislação prev id en ciária (art. 267 do
RPS), os cálculos serão feitos, to m an d o -se 11,71% do v alo r da n ota fiscal ou
fatura dos serviços p restad o s, m as o art. 201, § 4e au to riz o u o MPAS a a d o tar o
percentual.
Na definição da base de cálculo da contribuição relativa ao em presário sem
pro labore e só com lucro d istrib u íd o contabilizado, com provado o seu trabalho,
a fiscalização do INSS arbitrará o pro labore no salário m ínim o, m as essa aferição
adm ite prova em contrário.
Q uem tem o pro labore inferior ao da classe, q uando terá de adotar essa reti­
rada com o base de cálculo, a rig o r som ente em abr./2003, devendo-se discutir, na
ocasião do direito ad q u irid o , a base de cálculo anterior.
O co n trib u in te individual trabalhando sem o bter rem uneração, n a condição
de segurado obrigatório, deverá recolher pelo salário m ínim o.
E sabido q u e o dever fiscal do co n trib u in te individual sem trabalho e sem
obter receita é n en h u m . N ão terá q u alq u er obrigação fiscal. Poderá pagar nesse
interregno com o facultativo.
A p artir de abril de 2003 ou para quem ingressou na Previdência Social com o
co n trib u in te individual a p artir de 29.11.1999, o valor da rem uneração foi a base
de cálculo obrigatória. N ão haverá o u tra alternativa, a não ser q uando possível, a
dim inuição da rem uneração.
Q uem já foi filiado à P revidência Social, e antes da Lei n. 9.876/1999 a d ei­
xou e re to rn o u após su a vigência, é com o se tivesse ingressado pela p rim eira vez.
Será esquecido o regim e anterior, especialm ente se houve perda d a qualidade de
segurado.
A redução virtu al dos 45% não tem a ver com o pro labore, d u ra n te a fase de
transição.
599. D isp o sições tra n sitó ria s — O regim e co n trib u tiv o dos co n trib u in tes
individuais e facultativos consistia nu m a ficção fiscal criada pela Lei n. 5.890/1973.
N o u tras palavras, um a tabela de dez classes, sem q u alq u er vínculo com a retrib u i­
ção (art. 29 do PCSS, na redação original).
Valeram as regras dessas classes até o dia 28 de novem bro de 1999, véspera da
publicação da Lei n. 9.876/1999 no DOU — art. 5e da Lei n. 9.876/1999).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

546 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
G rad u alm en te, a p artir de dezem bro de 1999, as classes de salário-base desa­
pareceram e, com as m esm as, m ais p ropriam ente com os interstícios finalm ente
ex tin to s em 31 de m arço de 2003, não m ais haverá a escala de salários-base criada
em 1973 (art. 5e, § l 9, da Lei n. 9.876/1999).
O n ú m ero m ínim o de m eses de p erm anência n u m a das classes, denom inado
tecn icam en te de interstício, será ab an d o n ad o a cada g ru p o de 12 m eses, conform e
se segue:
De dez./1999 até nov./2000, sem as classes I/Il.
De dez./2000 até nov./2001, sem as classes I/1V
De dez./2001 até nov./2002, sem as classes I/V
De dez./2002 até m ar./2003, sem as classes I/VII.
De abr./2003 em diante, sem as classes I/IX.

Q u an d o desaparecerem todos os interstícios, dois com andos devem ser co n ­


siderados: a) regra de transição; e b) regra perm anente.
Diz o art. 4 9, § 2e, da Lei n. 9.876/1999: “H avendo a extinção de um a deter­
m inada classe em face do disposto no § l 9, a classe su b seq u en te será considerada
com o classe inicial, cujo salário-base variará entre o valor corresp o n d en te ao da
classe ex tin ta e o da nova classe inicial”. P raticam ente igual se colhe no art. 278-A,
§ 2a, do RPS.
D epois de 31 de m arço de 2003, a base de cálculo deixou de ser a rem u n era­
ção do trabalhador.
A p a rtir de dezem bro de 1999, quem estava na C lasse I ou II, pôde o ptar por
q u alq u er valor co n tid o entre R$ 136,00 (C lasse I) e R$ 376,80 (Classe III).
Q uem esteve na Classe III ou IV, a p artir de dezem bro de 2000, op to u por
q u alq u er valor co n tid o entre R$ 136,00 (C lasse I) e o co rresp o n d en te ao da Classe
IV da época, e assim p o r diante.
Os seg u rad o s (que, antes, tin h am de cu m p rir os interstícios) poderão subir
rap id am en te na escala de salários-base. Não há m ais a preocupação do legislador
de o segurado pro g redir pau latin am en te, p orque o benefício será aferido com base
n u m período básico de cálculo alargado progressivam ente.
M uitos en q u a d ram en to s equivocados, extem porâneos ou m al operados, se­
rão n atu ra lm e n te corrigidos. M udou p o r inteiro a filosofia da base de cálculo da
co n trib u ição dos c o n trib u in tes individuais e dos facultativos. Q uem estiver num a
classe baixa p o d erá ascender e, querendo, em razão da rem uneração (im portância
praticam en te de su a escolha), p o d erá re d u zir a contribuição.
D eixarão de existir os interstícios em abril de 2003. N en h u m deles restará
(art. 5a, § 2°, da Lei n. 9.876/1999).
Nessa fase de transição, os segurados terão m ais liberdade que daí para frente;
não estarão obrigados ã rem uneração auferida, lim itadora a p artir de abril de 2003.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l 547
D esaparecendo um interstício, a classe m ínim a será:
Em nov./2000 — III.
Em nov./2001 — V
Em nov./2002 — VI.
Em abr./2003 — VIII.
A p artir de abril de 2003 (RPS, art. 278-A, § 3 S), a contribuição será “a re m u ­
neração auferida em um a ou m ais em presas ou pelo exercício de sua atividade por
conta p rópria, d u ra n te o m ês, observados os lim ites a que se referem os §§ 3° e 4 5”
(art. 214 do RPS).
E n q u an to existen tes os interstícios e co rrespondentes classes, o segurado n e­
las co m preendido que, p o r força do seu en q u ad ram en to estiver incluído nu m a das
classes ainda existentes, cu m p rid o s os interstícios da lei revogada, poderá progre­
dir ou regredir, conform e as regras do art. 29 do PCSS e poderia progredir pelo
m enos até novem bro de 2003.
O segurado em atraso com as contribuições, respeitando com andos an terio ­
res, de acordo com o su bitem 17.1, d, da Instrução N orm ativa INSS/DC n. 4/1999,
não regredirá n em progredirá na escala de salário-base.
D u ran te “a tran sitoriedade os débitos apurados segundo legislação de regên­
cia devem ser recolhidos na m esm a classe referente ao m ês im ediatam ente an terio r
ao da in terru p ção , m esm o que a classe já tenha sido e x tin ta ” (letra e do subitem
17.1 da In stru ção N orm ativa INSS/DC n. 4/1999).
No dizer da In strução N orm ativa INSS/DC n. 4/1999, “a p artir da com pe­
tência 12/1999 só serão com putadas as contribuições efetivam ente recolhidas na
classe em que o segurado in g resso u ” (subitem 17.1, le tra /) .
O p razo de transição da tabela de salários-base, de acordo com a Lei n.
9.876/1999, é dc cinco anos, m as o D ecreto n. 3.265/1999 reduziu a qu atro anos,
o que pod erá ser d iscu tid o em juízo. C riou obrigação antecipada (incidência so­
bre a rem u n eração ).
Se a rem u neração do co n trib u in te individual é su p erio r a sua classe do salã-
rio-base, en q u an to su b sistir u m a das classes, p o r exem plo, a VIII o u a IX, ou seja,
até 30.11.2003, seg u n d o o D ecreto n. 3.265/1999, a rem uneração não será decisiva
para a fixação da base de cálculo, prevalecendo o art. 4- da Lei n. 9.876/1999, em
particu lar o seu § 3H. A co n tar daí, o segurado co n trib u irá obrigatoriam ente com
base na sua rem uneração.
Inversam ente, se a classe é su p erio r à rem uneração, n em a lei n em o decreto
regraram o assunto. Agirá bem o INSS se m antiver o direito à base de cálculo exis­
tente, co n stitu íd a legalm ente no sistem a anterior, n um a espécie de direito ad q u iri­
do à co n trib u ição (o u respeito ao ato jurídico perleito).
600. P ro g ressão e reg ressão n a tra n siç ã o — D urante a transição, o c o n tri­
b u in te individual p o d e progredir ou regredir, m as a m atéria está obscura e não

C urso de D ír h it ü P r e v id e n c iá r io

548 Wladimir Novaes Martinez


disciplinada. Até abril de 2003, prevalece a eficácia da Lei n. 8.212/1991, isto é, nos
casos cabíveis e nas condições legais, existentes as classes, é possível a regressão e
a progressão, con v in d o sem pre lem brar: as classes m ínim as, cada vez mais, com o
passar do tem po, terão seus valores elevados.
O co n trib u in te filiado tardiam ente procederá igualm ente, pagando com os
acréscim os legais.
Até ab ril de 2003, n ão será im p o rtan te a situação do em presário cujo pro
labore é su p erio r a da classe.
Em v irtu d e de a lei alu d ir à rem uneração, para que sobrevenha a incidência
da p arte p atronal (20% ) e da individual (20% e, conform e o caso, 11%), é preciso
haver retrib u ição p o r serviços prestados à em presa.
Se o u tro tipo de pagam ento for efeLuado, sem essa natureza de fato gerador,
in ex istirá a hipótese de incidência, caso dos direitos autorais q u an d o o valor refle­
tir a cessão de direitos e n ão a prestação de serviços.

C u r s o de ; D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o 11 -— P revidência S ocial 549


Capítulo LX

E xação R ural

601. Obrigados a pagar. 602. Fato gerador. 603. Base de cálculo. 604.
S u m á r io :
Isenção da contribuição. 605. Alíquotas vigentes. 606. Responsável fiscal. 607.
Dever em relação ao segurado. 608. Produto rural. 609. Industria rurícola. 610.
Agroindústria.

Em bora a C F/1988 desejasse a equivalência urbano-rural, ela excepcionou e


definiu certa singularidade: o segurado especial observa fato gerador distinto dos
dem ais contribuintes. O PCSS fez tentativa de rever o m odelo consagrado pela LC n.
11/1971 (de regra, a hipótese de incidência aperfeiçoava-se com a com pra do p rodu­
to rural p o r adquirente), fazendo incidir a obrigação fiscal sobre a folha de pagam en­
to, m as logo abandonou essa m odalidade “u rb a n a” e voltou aos m oldes anteriores a
1° 11.1991. Com isso, didaticam ente, ainda se pode falar em exações rurais ou, pelo
m enos, envolvidas com o dom ínio cam pesino (substituir a parte patronal p o r o utra
hipótese de incidência não é privativo desse universo) e com características ímpares.
As fontes form ais consultáveis são a C arta M agna (caput do art. 7Q; 194, p a ­
rágrafo único, II; 195, § 8°, e 202, § 29). N um passado recente, as LC ns. 11/1971
e 16/1973 e os D ecretos ns. 69.191/1972 e 73.617/1974; o Plano de C usteio (Lei
n. 8.212/1991) e, u ltim am ente, as Leis ns. 8.398 e 8.540, de 1992; 8.861 e 8.870,
de 1994; 9.528, de 1997; e 10.256, de 2001. Tam bém tem interesse verificar o
D ecreto-lei n. 5.452/1943 (CLT) e a Lei n. 5.889/1973 (N PTR). H istoricam ente, a
Lei n. 1.824/1953, o E statuto do T rabalhador R ural — ETR (Lei n. 4.214/1963) e os
D ecretos-leis ns. 564/1969 e 704/1969 (Plano Básico da Previdência Social) e o De­
creto n. 1.197/1994. R ecentem ente, a MP n. 1.523/1996 e o Decreto n. 2.173/1997.
U ltim am ente, o D ecreto n. 3.048/1999 (RPS).
Em nível adm inistrativo, a P ortaria SPS n. 219/1979, certas form ulações e,
ultim am ente, a O rientação N orm ativa n. 2/1994 e a O rdem de Serviço INSS/DAF
n. 146/1996.
601. O b rig ad o s a pag ar — Na área fiscal rural, subsistem dois gru p o s de
sujeitos passivos distintos: a) co n trib u in te de fato (p ro d u to r), sem pre em presa ru ­
ral; e b) co n trib u in te de direito (ad q u iren te), n o rm alm en te em preendim ento tido
com o urbano, m as tam bém o rural.

C u r s o df. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

550 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
De fato, são seis personalidades, a m aioria delas co n stitu íd a de co n trib u in tes
in d iv id u ais (Lei n. 9.876/1999): 1) au tô n o m o (o p ro p riam en te d ito e o eventual);
2) equip arad o s a au tô n o m o (o p ro d u to r rural pessoa física e o garim peiro); 3)
segurado especial; 4) co n dom ínio horizontal; 5) p ro d u to r rural pessoa ju ríd ica; e
6) agroindustrial.
De direito, são q u atro pessoas: 7) em relação aos im portadores ou co n su m i­
dores e às ag ro in d ú strias, o p ró p rio pro d u to r; 8) adquirente; 9) cooperativa; e 10)
consignatário.
N ão é responsável o arren d an te da propriedade, o co n su m id o r final e o im por­
tad o r ou o ex p o rta d o r (do m esm o g ru p o econôm ico), e está isento quem p roduz
para rep ro d u ção , pesquisa o u finalidade educativa e para sim ples consum ição. Nem
m esm o quem cede a terra em com odato, m as sê-lo-á, certam ente, o com odatário.
a) autônomo e eventual: Trabalhador independente, prestador de serviços (v. g.,
sexador de p in to s, aviado am azonense, catador, m arisqueiro, co n d u to r de gado etc.)
ou — situação seguram ente rara — p ro d u to r agropecuário isolado. Segundo o RPS,
tam bém o feirante-com erciante e, diferentem ente da O rientação N orm ativa SPS n.
2/1994, o trab alh ad o r associado á cooperativa de trabalho. O veterinário e o agri-
m ensor, p o r possuírem nível universitário, são considerados au tô n o m o s “u rbanos”.
S u b o rd in ad am ente, o eventual presta serviços ocasionais ao p ro d u to r rural.
F igura quase in ex istente na cidade e ainda m ais difícil de ser en co n trad a no cam po,
onde, às vezes, é cham ado de volante.
b) equiparados a autônomo: A lei básica, na área rural, considera dois trabalha­
dores eq u ip arad o s a autônom o.
P rim eiro, o garim peiro ou quem explora ind iv id u alm en te atividade garim peira,
m esm o p o r in term éd io de preposto e com o auxílio de em pregado.
Segundo, o p ro d u to r ru ral pessoa física. Individualm ente sujeito à escala de
salários-base (até m arço de 2003), pro p rietário ou não da terra, em caráter tem po­
rário o u p erm an en te, em preende atividade rural, pesqueira ou de extração m ineral
com a ajuda de em pregado. Sem elhante ao titu lar de firm a individual, na condição
de p eq u en o p ro d u to r, difere do segurado especial por ter auxiliar e p ro d u z ir em
escala econôm ica expressiva.
c) segurado especial: Segurado especial é designação dada a vários tipos de
peq u en o s prod u to res, exercitando-se sob o regim e de econom ia familiar, vale dizer,
pessoas trab alh an d o em co n ju n to com os m em bros da fam ília e p raticam ente com
vistas à subsistência. Para tanto, não será preciso o exagero de p lan tar ou criar
exclusivam ente para o consum o. Pode a tu ar ind iv id u alm en te ou com o parceiro,
m eeiro, e arren d atário ou com odatário, exercitando o esforço rurícola.
Em caráter excepcional, inclui o pescador artesanal, isto é, quem , utilizando
ou não em barcação própria, de até duas toneladas brutas, sem eq u ip am en to s so ­
fisticados, faz da pesca sua profissão h ab itu al ou m eio principal de vida, e esteja
m atricu lad o na C apitania dos P ortos ou no In stitu to Brasileiro do M eio A m biente
— IBAMA.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo 11— P revidência Social 551


C om o assem elhado: m ariscador, caranguejeiro, eviscerador (lim pador de
pescado), observador de cardum es e catador de algas.
d) produtor rural pessoa jurídica: P ro d u to r rural pessoa jurídica é sociedade
agropecuária, d istin g u in do-se da pessoa física pelo vulto do estabelecim ento e em
razão da presença de sócios.
e) condomínio horizontal: C ondom ínio ho rizo n tal (ou ru ral) é reunião de
pessoas físicas, não integradas na form a de sociedade, geralm ente coproprietãrios
de área ou prédio rú stico não dividido, onde desenvolvida atividade rural, p o r
exem plo, pelos descen d entes de fazendeiro falecido.
A Lei n. 10.256/2001 criou figura assem elhada à do condom ínio horizontal,
designada com o consórcio sim plificado de p ro d u to res rurais, “form ado pela união
de p ro d u to res ru rais pessoas físicas, que outorgar a um deles poderes para c o n ­
tratar, gerir e dem itir trabalhadores para prestação de serviços, exclusivam ente,
aos seus integrantes, m ediante d o cum ento registrado em cartório de títulos e
d o cu m en to s” (PCSS, art. 25-A).
f ) adquirente: P restador de serviços, exercente de atividade em presarial com er­
cial ou in d u strial, co m p rad o r de p ro d u to rural para co nsum o, venda ou transfor­
m ação, geralm ente titu lar de firm a individual, sociedade p o r quota de responsabi­
lidade lim itada ou sociedade anônim a, são firm as tidas com o urbanas e, em alguns
casos, rurais (v. g., para engorda e revenda).
Sem razão a O rdem de Serviço 1NSS/DAF n. 146/1996 quando, descrevendo
essa pessoa, referindo-se ao uso da produção, arrem ata: “q u alq u er o u tra finali­
dade eco n ô m ica” (item 10). A lgum as pessoas físicas ou ju ríd ic a s adquirem bens
ru rais para estu d o (cobaias), prom ovem p esquisa de qu alid ad e ou aperfeiçoam en­
to da espécie (sem en tes) e nào são ad q u iren tes, no sen tid o de sujeito passivo da
obrigação fiscal.
g) consignatário: C onsignatãrio é em presa com ercial q u an d o detém a posse
física de p ro d u to ru ral não alienado. O perada a venda, ocorre sim ples ato de tra n ­
sação. A rigor, a in d ú stria tam bém poderia receber em consignação, m as não é fato
com um , pois prefere trabalhar seus pró p rio s bens ou com prados.
h) cooperativa: Sociedade de pessoas, in term ed iad o ra econôm ica, represen­
tante e m andatária dos cooperados ju n to ao m u n d o dos negócios sem finalidade
lucrativa. N o rm alm en te, seu escopo é colocar o p ro d u to no m ercado, m as pode
industrializá-lo e, com algum a frequência, com ercializa m atéria-prim a originária
de seus associados ou de terceiros. Na ú ltim a hipótese, apresenta-se com o em presa
com ercial ou in d u strial, criando q u estiú n cu las jurídicas n a definição de sua capa­
cidade contributiva.
i) agroindústria: Em presa transform adora de in su m o próprio. Tam bém , q u an ­
do insuficiente a p ro d u ção, conco m itan tem en te, é in d ú stria p ropriam ente dita,
utilizando-se de m ercadorias de terceiros. B astante usu al na atividade sucro-álcool-
-açucareira e de carnes.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

552 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
A Lei n. 10.256/2001 restabeleceu a disciplina da agroindústria, definida
“com o sen d o o p ro d u to r ru ra l pessoa ju ríd ica cuja atividade econôm ica seja a
in d u strialização de pro d u ção própria ou de prod ução p ró p ria e ad quirida de ter­
ceiros, in cid en te sob o valor d a receita b ru ta proveniente da com ercialização da
produção, em substituição às previstas nos incisos 1 e II do art. 22” (PCSS, art. 22-A).
As alíquotas de co n tribuição são: a) 2,5%, d estinados à seguridade social; e b ) 0,1%
para custeio da ap o sentadoria especial e p o r acidente do trabalho.
j ) agrocomércio: F irm a com ercial vendedora de b en s agropecuários p o r ela
m esm a p ro d u zid o s. Na verdade, o com ércio é atividade-m eio da produção rural,
estabelecim ento de com ercialização, p o r varejo ou atacado, ad o tan d o beneficia-
m ento do p ro d u to incapaz de caracterizá-la com o industrial. N ão distinguida ex­
pressam en te pela Lei n. 8.870/1994.
k) consumidor: E xistem v ariad as espécies de p ro d u to s fo rn ecid o s aos c o n ­
su m id o res: 1) n u trie n te s p a ra an im ais e vegetais (v. g., ab ó b o ras, ex c rem en to
de g alin h as); 2) n ão a lim en tar (v. g., eu c alip to s p a ra escora o u cerca); 3) para
em p reg ad o s; e 4) p ró p rio (v. g., para h ó sp ed e s, a lu n o s, in te rn a n d o s, presos,
so ld ad o s). O b em não é tido com o m atéria -p rim a; não será in d u stria lm e n te
tran sfo rm ad o .
Sobre o assu n to , diz o subitem 36.1 da O rdem de Serviço INSS/DAF n.
146/1996: “ev en tu al com ercialização dessa produção, não co n stitu i fato gerador
da co n trib u içã o .” O dispositivo é ilegal: se ocorre com ercialização, pouco im porta
se p erm an en te o u não.
1) parceria: A parceria é u m co n trato típico do D ireito Agrário em que duas
ou m ais pessoas se associam para a exploração da terra. Tem algum a sem elhança
com a sociedade de capital e in d ú stria da urbe; geralm ente o p ro p rietário da terra,
do s in su m o s, e até o arren d an te, cede-os ao trabalhador e sua fam ília, dividindo-se
os resultados. Logo, esse parceiro será segurado especial ou p ro d u to r rural pessoa
física. T radicionalm ente, inexiste parceria, e sim sociedade entre p ro d u to res rurais
pessoas ju ríd icas.
Tal tipo de negócio ju ríd ico gera dúvidas diante da d isparidade de forças
econôm icas d o s polos da relação; na incerteza, tende a Ju stiça do Trabalho pela
presença de vín cu lo de em prego.
A divisão do q u in h ão pode ser em dinheiro o u in natura o u com am bos, e,
nestas ú ltim as circunstâncias, tem -se p ro d u to rural (e depois com ercialização) de
quem não o em p reendeu. Esse outorgante será tido com o p rodutor, nascendo a
obrigação, se não caracterizado o c o n tra to de arren d am en to , em que ausente affec-
tio societatis.
V ariante da parceria é o co n trato de m eação; a divisão dos g anhos dos m eeiros
feita em partes iguais.
A O rd em de Serviço INSS/DAF n. 146/1996 estabeleceu regras para a hipótese
do o u to rg an te ser pessoa jurídica: a) a partir de l 5,11.1991, o parceiro outorgado é

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T om o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia i 553
segurado especial; b) desde 1s .4.1993, ele é tido com o equiparado a au lõ n o m o ; c)
após 1°.8.1994, com o pessoa jurídica. A ntes dessas datas, perfilhava o m ecanism o
anterior, da versão original do PCSS (item 48).
m ) produção integrada: Instituição relativam ente recente de co n trato entre
duas pessoas (surgiu possivelm ente na av icultura), segundo a qual um a delas se
incum be de envidar a p rodução, divididos os resultados conform e previam ente
avençado entre a avícola e os aviários (v. g., desenvolvim ento de p in to s de um dia).
Tam bém conhecida com o produção integrada.
Em algum as hipóteses, desfigurando a concepção inicial, o p ro p o n e n te do
ajuste, além da m atriz, fornece insum os, assistência técnica, controla a qualidade
da pro d u ção etc., ap roxim ando-se da parceria ou da sim ples sociedade.
De m odo geral, a incidência da contribuição sopesará se presente aquisição
p o r parte do criador, pois, nesse caso, no retorno sucederá novo ato de com ércio.
F req u en tem en te ocorre o contrário: o p ro p o n e n te paga para o executanle criar o
anim al, situ an d o -se nas vizinhanças do co n trato de em prego com serviço realizado
em dom icílio.
A O rdem de Serviço 1NSS/DAF n. 146/1996 reza: “N a parceria ru ral de p ro d u ­
ção agrária integrada, o falo gerador e a base de cálculo da contribuição estarão c o n ­
dicionados à espécie de cada parceiro, perante a P revidência Social, no m om ento
em que efetuarem a destinação dos respectivos q u in h õ es” (item 49).
E prossegue: “A entrega pelo parceiro outorgado, da produção, que na partilha
coube ao o u torgante, caracteriza a com ercialização da p ro d u ç ão ” (subitem 49.1).
O ato norm ativo p ressu põe ficar o verdadeiro produtor, a títu lo de ressarcim ento
pelos serviços prestados, com parte da produção. C aberá, então, ao p roponente
(outo rg an te) d esco n tar a contribuição devida e recolhê-la, p o r conseguinte, assu ­
m in d o a responsabilidade econôm ica, o p ro d u to r (outorgado).
Aduz: “A p arte da produção, que na p artilh a co u b er ao outorgante, é consi­
d erad a produção p ró p ria, incidindo a contribuição sobre o valor de m ercado, se
for in d u strializad o ou com ercializado” (subitem 49.2). E ntão, duas soluções são
viáveis: 1) o ou to rg ad o com ercializar o seu q u in h ão (sendo descontado pelo ad-
q uiren te); e 2) vendê-lo ao próprio o u torgante, este funcionando com o adquirente.
n) contrato de arrendamento: M ediante o arrendam ento, certa pessoa (designada
com o arren d an te ou o u torgante) cede a propriedade ou os m eios de produção a o u ­
tro em p reen d ed o r (designado com o arren d atário ou outorgado), para exploração
econôm ica, m ediante o pagam ento de valor m ensal ou anual (aluguel ou arren d a­
m en to ). D istingue-se da parceria p o r in d ep en d er do resultado final e p o r inexistir
sociedade de pessoas ou capitais. A cessão, in casu, é tida com o atividade “u rb a n a ”.
Form al e legitim am ente caracterizado o co n trato aludido, o arren d an te n ão é
p ro d u to r rural, m esm o na hipótese de receber o aluguel íti natura. N essas co n d i­
ções, o arren d atário , em relação a esse m o n tan te, é o responsável pela obrigação,
torn an d o -se co n trib u in te de fato e de direito (não há ato de com ércio e sim q u ita­
ção civil de débito).

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554 W la d im ií’ N o v a e s M a r t i n e z
o) contrato de comodato: N esta versão de cessão da p ropriedade ou de in s
tru m en to s econôm icos, não existe retribuição; seu caráter é gratuito, sem aluguel
o u divisão de q uinbões. O com odatário é ex p lo rad o r com um da terra, tido com o
p ro d u to r rural.
p) responsabilidade do espólio: A exem plo d a cidade, en q u a n to não solvida a
sucessão h ereditária, falecido o p ro d u to r rural, o espólio em preende a produção e
assum e as obrigações fiscais, tão som ente se alterando a razão social da em presa.
q) cessionário de mão de obra: E m presa cedente de m ão de obra não é co n sid e­
rada rurícola. Igual vale para as cooperativas de trabalho. Assim sendo, observa a
co n trib u ição u rb an a (com base nas folhas de pagam ento ou nào). O m esm o racio­
cínio vale para o tran sp o rte de m ercadorias.
A cessão de m ão de obra restou m odificada pela Lei n. 9.711/1998, quando
altero u a redação do art. 31 do PCSS, em certos casos obrigando o co n tratan te a
reter 11% da n o ta fiscal em itida pelo contratado.
602. F ato g erad o r — De m odo geral, fato gerador é a translação física forma
do d o m ín io d o bem , com p reen d en d o o crédito ju ríd ico o u o coníábil, e a q u ita ­
ção p ertin e n te à com ercialização e à consignação, bem com o a entrega m aterial à
cooperativa e, neste últim o caso, p o sterio rm e n te à alienação, o fornecim ento de
sobras, retornos, bonificações ou incentivos.
Em particular, a transform ação da m atéria-prim a na agroindústria; a troca
física, no escam bo e na com pensação; a quitação, no pagam ento de q u alq u er o b ri­
gação (até m esm o com o INSS); no leilão, a arrem atação.
C o n stitu i fato gerador a venda para reprodução, a produção na pesquisa, e d u ­
cação e co n su m o p ró p rio , m as inexiste exigibilidade p o r força de isenção ou não
incidência. M uito m enos o adian tam en to da legítim a e q u in h ão decorrente da su ­
cessão hereditária.
O rig in ariam en te isento p o r se trata r de m atéria-prim a d estin ad a à re p ro ­
dução, se ocorre, rejeição ou descarte, o u o u tra finalidade, caracteriza-se o fato
gerador.
As hipóteses de incidência m ais co m u n s são as seguintes:
a) comercialização: Ato de com pra e venda operado p o r em presa com ercia
in d u strial o u p restad ora de serviços. Posse e alienação de bem p ró p rio para com er­
cialização (p ró p rio do agrocom ércio).
Variando a situação m ais com um , diz a O rdem de Serviço INSS/DAF n.
146/1996: “Q u a n d o o p ro d u to r rural, pessoa física ou ju ríd ica, excetuado nestas
as agro in d ú strias ou as com o tais equiparadas, em relação à atividade-fim , adquire
produção rural, q u e não estejam expressam ente isentas da contribuição, direta­
m ente de o u tro p ro d u to rural, sub-roga-se n a obrigação de recolher a contribuição
devida p o r aquele, ainda que adquirida para fins de industrialização rudim entar. A
operação seg u in te tam bém está sujeita à contribuição, sem q u alq u er com pensação
daquela recolhida p o r ocasião da c o m p ra” (item 38).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 555
O texto não é claro. N ão se sabe quais entidades equiparadas à ag ro in d ú stria e
qual a operação seguinte. Se se refere a p ro d u to já elaborado, em ato de com ercia­
lização, não haverá d u pla incidência de contribuição. De q u alq u er form a, presente
o fato gerador, o valor an terio rm en te recolhido tem de ser considerado, caso co n ­
trário, em relação à diferença, subsistirá bicontribuição.
b) consignação: Trata-se da detenção física de bem ou m ercadoria, ainda sem
com ercialização. C om esse fato, o consignatário assum e a obrigação fiscal de des­
c o n tar o quantum da exação e recolher ao FPAS.
c) intermediação: R ecebim ento do p ro d u to pela cooperativa para fins de colo­
cação no m ercado. O fenôm eno econôm ico e ju ríd ico desdobra-se em dois m om en­
tos: a) q u ando do arm azenam ento físico; e b) p o r ocasião do acerto de contas final.
d) transformação: Industrialização de m atéria-prim a pela agroindústria. Se o
processo é lento, e ultrapassa 30 dias, caso da ferm entação do vinho, o m ontante
deve ser dividido pelos diferentes m eses de com petência. Em se tratan d o de
pecuária, por ocasião do abate do anim al e na agricultura, a data da industrialização
do vegetal.
e) es cambo: Q uando da operação com ercial de troca de m ercadoria rural ou,
excepcionalm ente, serviço, dá-se o escam bo. Sucedendo entre p ro d u to r rural e
adquirente, este últim o é o co n trib u in te de direito, devendo desco n tar o valor do
bem . A contecendo entre dois em preendedores rurais, cada u m deles em relação ao
pro d u to do o u tro é o responsável, sub-rogando-se na obrigação.
Esm iuçando: caso a em presa “A" troque com a em presa “B”, têm -se dois atos
com erciais e subsistem dois fatos geradores. A obrigação de “A” é descontar, da
N ota Fiscal em itida p o r “B”, o aporte p o r este últim o devido, conform e sua classi­
ficação previdenciária (segurado especial, p ro d u to r ru ral pessoa física ou jurídica),
na condição de co n trib u in te de fato; ao contrário, o dever de “B” em relação a “A”.
N o escam bo, os dois envolvidos tornam -se c o n trib u in tes de direito e de fato.
Dá-se exem plo prático num érico p ara ten tar aclarar a exposição. S u ponha­
-se troca de m ercadorias entre o segurado especial “SE” e o p ro d u to r-ru ral pessoa
jurídica “PRPJ”, no valor de R$ 1.000,00, antes da M edida Provisória n. 1.523/1996
(uniform izou as alíquotas). A em presa “SE” descontará 2,6% da “PRPJ”, ou
R$ 26,00 de “PRPJ”, e este auferirá líquido RS 974,00; a em presa “PRPJ” descon­
tará 2,1% de “SE”, ou seja, R$ 21,00, e este receberá R$ 979,00.
J) dação em pagamento: Variação do escam bo, é quitação de obrigação, com
a entrega de p ro d u to ru ral em vez do dinheiro. M odalidades assem elhadas são a
com pensação, a indenização e o ressarcim ento.
g) arrematação: A quisição do p ro d u to em leilão ou praça.
h) armazenagem: Os arm azéns gerais n ão são responsáveis pelo recolhim ento,
pois as m ercadorias são entregues para guarda ou depósito. O brigam -se os p ro d u ­
tores ou os adquirentes, conform e o caso. Mas as cooperativas de arm azéns têm
os m esm os ô n u s das dem ais cooperativas e o fato gerador será a posse física do
p ro d u to rural.

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556 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
i) produção integrada: Q u ando do recebim ento, de volta, do p ro d u to nas
condições avençadas. D iante da variedade de situações, é preciso exam inar caso
p o r caso, m as a regra é a entrega física.
j ) parceria rural: Os parceiros são p ro d u to re s ru rais e o fato g erad o r é o
m esm o: com ercialização do p ro d u to rural.
k) venda futura: Para fins da co n trib u ição rural, é im p o rtan te situ ar o tem po
do aperfeiçoam ento do fato gerador. N orm alm ente, isso acontece q u an d o da
com ercialização, co rresp o n d en d o à data da translação física do bem , determ inado
com o o dia co n stan te do d o cu m en to fiscal relativo. Assim, não o caracteriza o
in stan te do pagam ento.
Na venda para entrega futura, o fato gerador se consum a q uando do recebi­
m ento da m ercadoria, não im portando o m om ento da celebração do contrato ou o do
pagam ento, mas sim o da nota fiscal, pressupondo-se acom panhar o transporte. Na
dúvida sobre ser a data do docum ento ou da efetiva entrega, prevalecerá esta última.
Para a O rd em de Serviço INSS/DAF n. 146/1996: “A inda que sejam realizadas
antecipações de pag am ento p o r conta do preço dos p ro d u to s, a contribuição será
devida n a ocasião da entrega da p rodução, salvo se pagas o u creditadas m ediante
em issão de n o ta fiscal” (subitem 42.1).
Ao d isp o r dessa form a, o ad m in istrad o r hesita entre a data da entrega e da
em issão do d o cu m en to fiscal. A regra é o m om ento do fornecim ento, m as ela é
excepcionada se em itida a nota fiscal em ou tro instante.
I) valor afixar: N a referida in stru ção , colhe-se: “na com ercialização com preço
a fixar, a co n trib u ição será devida, nas com petências e nas proporções dos paga­
m entos, inclusive a títu lo de ad ian tam en to s, ou dos créditos efetu ad o s” (item 40).
C om o advento das leis m odificadoras do PCSS e a data de início de sua
eficácia fiscal, algum as regras se im põem em m atéria de decantação do fato gerador.
Ele precisa acontecer, ser aperfeiçoado q uando vigente a nova regra. Em rela­
ção à sem eadura, interessa a colheita e nào o plantio; p ertin en te à colheita, vale a
com ercialização e n ão a data da produção. C om ercializado o p ro d u to , a operação
com ercial co n stan te do d o cu m en to fiscal é im portante e não a data de entrega do
p ro d u to ou a do seu pagam ento (e até se ele não acontece).
E m bora n ão descreva o seguro com o integrante do fato gerador, o item 25-e
da O rdem de Serviço INSS/DAF n. 146/1996 m enciona com o base de cálculo o
valor da indenização da m ercadoria sinistrada p o r em presa seguradora, aliás, ad o ­
tando com o m edida o custo do prêm io (a rigor deveria ser a im portância segurada).
Seguro não é m o d alidade com ercial. A percepção do segurado, co rresp o n d en te em
tese ou não ao valor com ercial ou m ercado, n ão é ato de com ércio. Não prevista a
hipótese na n o rm a exacional, inexiste o fato gerador.
603. Base de cálcu lo — A base de cálculo do fato gerador rural adm ite vária
hipóteses: a) valor com ercial; b) preço de m ercado; c) m o n tan te da arrem atação; d)
indenização do seguro; e) nível da obrigação quitada; f) in d eterm inação do nível;
e g) quantum futuro.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo 11 — P revidência S ocial 557


a) valor comercial: Valor com ercial, o constante da nota fiscal, q u an d o com patí­
vel com o volum e, adotado na transação, consignação e no da entrega à cooperativa.
Tam bém designado com o receita b ru ta da em presa em relação ã com ercializa­
ção. Receita b ru ta, valor devido ou creditado pela com ercialização, ou seja, a o p e­
ração de venda ou consignação, ou entrega na cooperativa, p o dendo ser resultante
de perm u ta, com pensação, dação em pagam ento, ressarcim ento ou indenização,
rep resentando preço ou seu com plem ento.
b) inclusão do ICMS: P ropondo-se a questão do ICMS, a esse respeito diz a
O rdem de Serviço INSS/DAF n. 146/1996: “A integração ou não do Im posto de
C irculação de M ercadorias e Serviços n a base de cálculo da contribuição depende
de q uem su p o rtar o encargo financeiro dele d ec o rre n te” (item 43).
Na h ipótese de ser do produtor, satisfeito diretam ente ou m ediante retenção,
não a integrará, pois faz parte do valor da com ercialização, acrescendo o subitem
43.1.1: “Se o ad q u iren te reem bolsar ao p ro d u to r o im posto p o r este recolhido, o
valor do reem bolso será adicionado ã base de cálculo da contribuição, pois integra
o valor da produção ru ra l”.
Diz m ais a m encionada instrução: “Sendo do ad quirente, com o su b stitu to tri-
buíário, sem a co rresp o n d en te retenção (arrecadação), esse valor será adicionado
à base de cálculo da co n trib u içã o ” (item 43.2) e ad u z o subitem 43.2.1: “O valor
do ICMS, diferido, não integra a base de cálculo da co n trib u içã o ” (subitem 43.2).
F inalm ente, o su b item 43.3 reza: “E n ten d im en to idêntico deve ser aplicado
em relação às despesas com o tran sp o rte da p ro d u ç ão ” (sic).
Q uer dizer, o valor de fretes e carretos não faz parte da base de cálculo, mas
se está em b u tid o na N ota Fiscal, sem discrim inação, acabará de fato e n a prática
p o r sujeitar-se à obrigação.
c) preço de mercado: O preço de m ercado era adotado na agroindústria, nas
form as de escam bo e na dação em pagam ento. C ostum a ser en ten d id o com o o da
cotação do dia do aperfeiçoam ento do fato gerador na localidade do evento.
d) montante da arrematação: ArremaLação consiste em aquisição de bem em
leilão ou praça, p o r im portância igual, su p erio r ou inferior ao de m ercado. A base
de cálculo é o p ró p rio valor da arrem atação. Q uem recolhe é o arrem atante.
e) mercadoria sinistrada: O valor do prêm io de seguro do p ro d u to sinistrado.
D efinida a h ipótese de incidência — e nào parece ser o caso — a base de cálculo
deveria ser a im p o rtân cia segurada e não o prêm io.
f ) nível da obrigação quitada: A esse respeito, é o preço de m ercado. Para o
INSS deve ser o da obrigação quitada, se do d o cu m en to não co n star a quantidade
do pro d u to .
g) q u an tu m indeterminado: Diz o subitem 25.1: “Q u ando a docum entação não
indicar a q u an tid ad e da produção dada em pagam ento, ressarcim ento, indenização
e/ou com pensação, tom ar-se-á, com o base de cálculo da contribuição, o valor da
obrigação q u itad a”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

558 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
A dação em pagam ento, a indenização p o r prejuízos causados a terceiros e a
com pensação, bem com o o ressarcim ento de danos, n ão são form as habituais na
área rural, m as essas figuras apresentam a particu larid ad e de referirem -se a deter­
m in ad o m o n tan te, obrigação devida, quitada com o p ro d u to rural. A lei silencia
especificam ente sobre tais hipóteses (só fala em com ercialização, inexistente no
caso). Daí, na ausência de se saber o real valor, adotar-se o da quitação.
h) nível futuro: Reza o item 40: “N a com ercialização com preço a fixar, a c o n ­
tribuição será devida, nas com petências e nas proporções dos pagam entos, inclu­
sive a títu lo de ad ian tam en to s, ou dos créditos efetuados”.
i) fa lh a nos documentos: O INSS disciplinou a hip ó tese de falta ou deficiência
do d o cu m en to co m p robatório da operação com ercial n o to can te à base de cálculo
da contribuição. E stabeleceu três critérios: a) base de cálculo do ICMS; b) valor
para fins do Im p o sto de Renda; e c) im portância inform ada na declaração para o
C adastro de Im óvel R ural a ser apresentado ao INCRA.
“N o caso de divergência de valores entre os elem entos acim a e m encionados,
prevalecerá o valor m ais elevado” (subitem 44.1). “N ão sendo possível identificar
o m ês ou m eses de com ercialização, o valor ap u rad o será rateado entre todos os
m eses do a n o ” (su b item 44.2).
Surpreendendo, diz o item 45: “N a im possibilidade de se apurar, n o produtor
rural pessoa física, o valor da produção vendida, p o r qualquer docum ento e/ou pelos
elem entos já m encionados, o seu valor será calculado m ultiplicando-se o núm ero de
m ódulos ru rais explorados, constante do Certificado de C adastro do INCRA, por 6
(seis) vezes o lim ite m áxim o do salário de contribuição relativo ao últim o m ês do
ano-base, e sobre o m ontante apurado, exigidas as contribuições correspondentes”.
O preceito é in u sitado e, provavelm ente, sem am paro legal. Faz discrim inação
enLre os c o n trib u in tes (direcionou-se apenas ao p ro d u to r rural pessoa física) e cria
base de cálculo não prevista na lei. A bstraindo am plo direito de defesa, certam ente
propiciado, co n stitu i co n stran g im en to ilegal ao sujeito passivo, n ão explicando a
razão da adoção do m o n tan te estabelecido.
j) aferição indireta: Reza o item 46: “Se a fiscalização constatar, n o exam e
da escritu ração contábil e/ou de o u tro s d ocum entos, que a em presa não registra
o m o vim ento real, em volum e ou valores, das aquisições de produção rural e/ou
de m atéria-prim a, da pro d u ção pró p ria, industrializada, ap u rará as contribuições
devidas p o r aferição in d ireta”.
No art. 33, o PCSS outorga ao INSS o p o d er extraordinário de d eterm in ar a
base de cálculo da exação previdenciária m ediante a apuração com base em ele­
m entos in d iciário s designada im p ro p riam en te de aferição indireta (§ 3a), com ful­
cro n a área co n stru íd a da obra de co n stru ção civil (§ 4a) e em razão da inabilitação
ou inco m p atib ilid ad e da contabilidade (§ 5Q), em operações delicadas e a m erecer
todos os cuidados.
E m bora o item 46 diga respeito tão so m en te ao ad q u ire n te, a m esm a p ro v i­
dência po d e ser ad o tad a em relação ao p ro d u to r rural. A m edida, p o r sua natureza

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
559
excepcional, reclam a cautelas de toda ordem p o r parte da au tarq u ia e segura fu n ­
dam entação. A N otificação Fiscal deve ser ac o m p an h ad a de relató rio c irc u n sta n ­
ciado e d iscrim inativo esm iuçado do débito, e com o o A gente Fiscal chegou ao
m o n tan te, p ara não cau sar desconforto ao p rin cip io do co n tra d itó rio o u re strin g ir
a defesa.
604. Isenção da c o n trib u iç ã o — De m odo geral, regrando a isenção, diz o § 4 9
do art. 25 do PCSS: “N ão integra a base de cálculo dessa contribuição a produção
rural d estin ad a ao p lantio ou reflorestam ento, nem sobre o p ro d u to anim al des­
tinado à reprodução ou criação pecuária ou granjeira e a utilização com o cobaias
para fins de pesquisas científicas, q u an d o vendidas pelo p ró p rio p ro d u to r e quem a
utilize diretam en te com essas finalidades, e no caso de p ro d u to vegetal, p o r pessoa
ou en tid ad e que, registradas no M inistério da A gricultura, do A bastecim ento e da
Reform a A grária” (MAARA), “se dedique ao com ércio de sem entes e m udas no
País” (redação da Lei n. 8.861/1994).
P ressu p o n d o -se a referência à p rodução ru ral significando tam bém sua co ­
m ercialização, q u an d o d irecio n ad a para a reprodução anim al e vegetal (plantio e
reflorestam ento) e até m esm o p ara fins de pesquisa, ela está isenta de co n trib u i­
ções. As ad q u irid as ou p ro d u zid as pelo reprodutor. Se se trata r de o u tro p ro d u to
vegetal, a isenção só atinge o inscrito no MAARA e em relação às sem entes e
m udas.
O item 26 da O rdem de Serviço INSS/DAF n. 146/1996 esm iuça as diferentes
situações de isenção:
a) de 1-.11.1991 a 31.3.1993: C om preende apenas um a hipótese.
O p ro d u to vegetal objetivando o p lan tio ou reflorestam ento e o p ro d u to ani­
mal com vistas à rep ro d ução ou criação pecuária o u granjeira, vendidos pelo p ró ­
prio p ro d u to r a q uem os utilize diretam ente com essas finalidades, ou, no caso
de p ro d u to vegetal, p o r pessoa ou entidade registrada no MAARA, dedicada ao
com ércio de sem en tes e m udas no País.
b) de l eA .1993 a 31.7.1994: D esdobra-se em quatro circunstâncias:
1) p ro d u to vegetal destinado ao plantio o u reflorestam ento e o p ro d u to an i­
mal d estinado à reprodução ou criação pecuária o u granjeira, com ercializado entre
si, pelo segurado especial e o equiparado a trabalhador au tô n o m o utilizado d ire­
tam en te com essas finalidades, exceto se vendido à pessoa ju ríd ica ou diretam ente
ao consum idor;
2) p ro d u to anim al utilizado com o cobaia para fins de pesquisas científicas
no País;
3) p ro d u to vegetal para o plantio e reflorestam ento vendido pelo segurado
especial e o eq u iparado a au tô n o m o , à pessoa ou entidade registrada no MAARA,
dedicada ao com ércio de sem entes e m udas no País. C onform e o art. l e, parágrafo
único, da Lei n. 4.727/1965, sem ente é todo grão, tubérculo (batata), bulbo (cebo­
la) usado para a su a reprodução;

C urso df D ir e it o P r e v id e n c iá r io
560 W ladimir Novaes Martinez
4) p ro d u to vegetal vendido p o r pessoa ou entidade registrada no MAARA,
voltada ao com ércio de sem entes e m udas no País, q u an d o o co m p rad o r for eq u i­
parado a a u tô n o m o ou segurado especial, exceto se ven d id o à pessoa ju ríd ica ou
d iretam en te ao consum idor.
c) a partir de 1 -.8.1994: São, tam bém , q u atro situações:
1) p ro d u to vegetal p rep arad o p ara o p lan tio e reflo restam en to e o p ro d u to
anim al selecio n ad o para a rep ro d u ção ou à criação pecuária ou granjeira, co ­
m ercializados pelo p ró p rio p ro d u to r a qu em os em pregue d ireta m e n te com essas
finalidades;
2) p ro d u to anim al aproveitado com o cobaia para fins de pesquisas científicas
n o País;
3) p ro d u to vegetal desenvolvido para plan tio e reflorestam ento, vendido pelo
p ro d u to r ru ral à pessoa ou entidade registrada no MAARA, ocupada no com ércio
de sem entes e m u d as no País; e
4) p ro d u to vegetal vendido por pessoa ou entidade registrada no MAARA,
especializada no com ércio de sem entes e m udas no País.
Se o ad q u ire n te não desconta a con trib u ição p o r força da isenção e, m ais
tarde, com ercializa o p ro d u to com o u tro fim, não tinha o u p erd eu a condição as-
secu rató ria da inexigibilidade, assum e a obrigação de pagar (q u an d o transfere o
bem a terceiro s).
A aquisição de floresta ou m ata viva está isenta de contribuição. O cavalo
p u ro -san g u e, q u an d o com ercializado ou alugado com o garanhão, não gera c o n tri­
bu ição , m as se cedido para o turfe perde a isenção.
O s p ro d u to s ad q u irid o s para servir com o cobaia (hamster) não estão sujeitos.
N ão há co n trib u ição para o im portador, m esm o de m ercadoria p rovinda de
p ro p ried ad e ru ral dele no exterior.
Q u an d o o ex p lo rad o r ru ral está isento da contribuição in cid en te sobre o valor
do p ro d u to ru ral au tom aticam ente ingressa no regim e de co n trib u ição “u rb a n o ”,
isto é, além da co n trib u ição descontada do trab alh ad o r recolhe patro n alm en te
(20% + 3%).
C aso o p ro d u to seja utilizado para fins diversos da reprodução, com o ração,
ad u b o etc., não há a isenção. Dá-se o nom e de descarte ou refugo ao aproveitam en­
to d o b em d estin ad o ã reprodução, m as rejeitado. O m esm o trata m e n to sofrem as
m udas e ovos galados.
Até o seu advento e desde a LC n. 16/1973, a com ercialização dos peixes e
dem ais espécies aquáticas definia fato gerador. Porém , com a LC n. 55/1987, as
operações de cap tu ra realizada pelas indústrias de pesca (D ecreto-lei n. 221/1967),
d evidam ente in scritas no Registro G eral de Pesca, ficaram isentas da contribuição.
T ratando-se de n o rm a especial, sem ter sido expressam ente revogada pelo PCSS,
m antém -se a inexigêncía.

m
C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo 11 — P revidência S o c ia l
605. Alíquotas vigentes — Pouco se m odificaram as alíquotas de c o n trib u i­
ção, m antendo-se niveladas en q u an to vigente a LC n. 11/1971 (2%) e a Lei n.
6.195/1974 (0,5% ), isto é, até 31.10.1991. Mas, a partir de 1B.11.1991, sofreram
m uitas alterações, n o rm alm en te desdobradas em razão das prestações com uns e
acidentárias (0,1% ) — distinção anacrônica — e 0,1% para o SENAR.
d) do segurado especial: De l e.l 1.1991 até 31.3.1993, era de 3%. De 1Q.4.1993
até 30.6.1994, passou a ser de 2 % + 0,1% = 2,1%. De 1Q.7.1994 até 12.1.1997, ascen­
deu para 2,2% + 0,1% = 2,3%. A partir de 13.1.1997, uniform izou-se em 2,5% + 0,1%
= 2,6%. Desde 11.12.1997, de 2,1% (Lei n. 9.528/1997 e D ecreto n. 4.032/2001).
b) produtor rural pessoa física: De l s 3 1.1991 até 31.3.1993, recolhia pela fo­
lha de pagam ento (2,3% ). De 1°.4.1993 até 11.1.1997, era de 2% + 0,1% = 2,1%
+ 0,1% (SENAR) = 2,2%. A partir de 13.1.1997, uniform izou-se em 2,5% + 0,1%
= 2,6% + 0,1% (SENAR) = 2,7%. Desde 11.12.1997, de 2,1% (Lei n. 9.528/1997 e
D ecreto n. 4.032/2001).
c) produtor rural pessoa jurídica: De 1Q.11.1991 até 31.7.1994, recolhia pela
folha de pag am en to (2,3% ). A p a rtir de l s .8.1994, era de 2,5% + 0,1% = 2,6% + 0,1
(SENAR) = 2,7%.
d) contribuintes individuais rurais: De 1-. 11.1991 até 31.7.1996, o p ro d u to r
rural e o garim peiro postados nas Classes I a III recolhiam à base de 10% do salário-
base e de 20% das Classes IV a X. A p artir de l e 8 .1996, todas as classes sujeitaram -
se a 20%. A co n tar do m ês de abril de 2003, a base de cálculo será a rem uneração
(Lei n. 9.876/1999).
A ntes disso, a obrigação surgiu com a Lei n. 4.214/1963. ALé a Lei n. 6.260/
1975, era m eio confusa a situação previdenciária do em presário rural. A Lei n.
4.214/1963, in stitu id o ra da sua proteção rural, desdobrava-se em duas partes: a)
E statuto do T rabalhador Rural, pro p riam en te dito, discip lin ad o r de n o rm as tra­
balhistas de proteção ao trabalho rural (arts. l s/157); e b) FUNRURAL — regim e
previdenciário (art. 158 em diante).
1) Da Lei n. 4.214/1963 até o Decreto-lei n. 276/1967: No art. 160 d ispunha
sobre os “colonos o u parceiros, bem com o os peq u en o s proprietários rurais, em ­
preiteiros, tarefeiros e as pessoas físicas”, com o segurados obrigatórios. Para esses
filiados, náo havia salário de contribuição previsto. C om relação aos proprietários,
e segundo o m esm o m odelo da LOPS (m en cionand o os titulares de firm a indivi­
dual, diretores, sócios-gerentes, solidários, cotislas, cuja idade não ultrapassasse
50 anos), p o d eriam inscrever-se com o facultativos do ex-IAPI. A única distinção
era não haver a condição da retirada pro labore para o sócio-cotista (art. 161), estes
com salário de co n tribuição fixado.
2) Do Decreto-lei n. 276/1967 até a LC n. 11/1971: O Decreto-lei n. 276/1967
procedeu a alterações na Lei n. 4.214/1963, m odificando a redação do art. 160, e
revogou o art. 161. Eram segurados obrigatórios “os pequenos produtores rurais, na
qualidade de cultivadores ou criadores diretos e pessoais, definidos em regulam ento”.
O Decreto n. 61.554/1967, em seu art. 39, definiu “o proprietário, o arrendatário, o

C urso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

562 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
em preiteiro, o tarefeiro, parceiro e outros cultivadores e criadores diretos e pessoais,
sem em pregados, o u que os utilizem em núm ero igual ou inferior a q u atro ” (letra b),
e acresceu: “as m esm as pessoas físicas enum eradas na letra anterior que utilizem , na
atividade rural, seus dependentes familiares em regim e de m útua dependência, obser­
vado, quanto ao núm ero de em pregados, se os houver, o limite de qu atro ” (letra c).
Insistia, pois, no p eq u en o p ro d u to r rural.
3) Da LC n. 11/1971 até a LC n. 16/1973: C riado o PRORURAL, considerava
beneficiário: “O p ro d utor, proprietário ou não, que, sem em pregados, trabalhe na
atividade ru ral, in d iv id u alm en te ou em regim e de econom ia familiar, assim en te n ­
dido o trabalho dos m em bros da família, indispensável à p ró p ria subsistência e
exercido em condições de m ú tu a dependência e colaboração” (art. 39).
P or sua vez, o D ecreto n. 7.498/1972 incluiu os pescadores, sem vínculo em ­
pregatício, n a condição de p equenos produLores, trab alh an d o in d iv id u alm en te ou
em regim e de eco n o m ia familiar, que “façam da pesca sua profissão habitual ou
m eio prin cip al de vida e estejam m atriculados na repartição co m p ete n te”,
4) Da LC n. 16/1973 até a Lei n. 6.260/1975: Além de m a n te r o pescador
trab alh an d o in d iv id u alm en te ou em regim e de econom ia familiar, foi considerado
em presário “o p ro d u to r, p roprietário o u não, que, sem em pregados, trabalha na
atividade rural, in d iv idualm ente ou em regim e de econom ia fam iliar” (art. 2a, n. 1,
b, do D ecreto n. 73.617/1974).
5) Da Lei n, 6.260/1975 até o PCSS: S om ente com a Lei n. 6.260/1975, de
form a generalizada, a situação do em presário ru ral veio a ser disciplinada regular­
m ente. Verdadeira lei orgânica fixou o conceito de em presário, lim ite de idade para
filiação, plano de benefícios, carência, form a de custeio e outros aspectos de sua
proteção. O rig in ariam ente, a co n trib u ição era de 1,2% do valor da pro d u ção rural
do exercício an terio r e de 0,6% do valor da p ro p ried ad e ru ral p o rv e n tu ra m antida
sem cultivo (sic).
606. R esp onsável fiscal — F inanceiram ente, o ô n u s d e desem bolsar a co n tri­
buição é sem pre do p rodutor, m as fiscalm ente são dois os responsáveis pela exação
previdenciária: a) o co n trib u in te de fato (p ro d u to r); e b) o co n trib u in te de direito
(ad q u iren te).
a) contribuinte de fato: Em todos os casos, o co n trib u in te de fato su p o rta a
d im in u ição do p atrim ônio. Não im p o rtan d o qual deles é o p rodutor. Às vezes, ele
acum ula a condição de co n trib u in te de direito (q u an d o in d u strializa o p ró p rio
p ro d u to , vende de p o rta em p o rta a co n su m id o r ou exporta) o u , no ver do INSS,
recebe indenização de m ercadoria sinistrada.
Q u an d o o p ro d u to r vende a destinatário incerto ou se não consegue co m p ro ­
var o destin o da p ro d ução torna-se o responsável. N orm alm ente, tal com provação
deve ser feita com a n ota fiscal de entrada, em itida pelo ad q u ire n te ou n ota fiscal,
de em issão do p ro d u tor, q uando vender para pessoa física.
Diz a O rdem de Serviço INSS/DAF n. 146/1996: “A com provação do destino
da produção e a co n seqüente desoneração da obrigação de recolher a contribuição

C urso de D ír e it o P r e v id e n c iá r io

T om o U — P r e v id ê n c ia S o c ia l 563
é feita: a) pelo p ro d u to r rural pessoa física que transacionar com pessoa jurídica,
m ediante a via da N ota Fiscal de E ntrada, em itida pelo adquirente; b) pelo p ro d u ­
tor rural pessoa física o u ju ríd ica que transacionar com o utra pessoa física, pelo
com provante de sua m atrícula (C EI) no INSS com o produtor/em pregador rural; c)
pelo p ro d u to r ru ral pessoa ju ríd ica que transacionar com o u tra pessoa ju ríd ica, pelo
docu m en to fiscal regulam entarm ente em itido, com indicação do núm ero do CGC
(válido) do adquirente e com provação da entrega da pro d u ção ” (subitem 28.1.2).
b) contribuinte de direito: Q uem tem a obrigação form al e ju ríd ic a de, após
d ed u zir a co n trib u ição do co n trib u in te de fato, repassá-la ao FPAS é o adquirente,
consignatário ou in term ediário (cooperativa).
Com o antecipado, não é sujeito passivo da obrigação o co n su m id o r ou o im ­
portador, situ ad o no exterior. N em quem p ro d u z e consom e o próprio bem (v. g.,
criar abóboras para d ar para os porcos ou efetivam ente se a lim en tar com o p ro d u to ).
Tam bém quem pesquisa o u estuda.
O utro obrigado é a agroindústria, a partir de 1Q.8.1994 (Lei n. 8.870/1994). Nos
term os do art. 7a da Lei n. 9.528/1997: “O § 3a do art. 25 da Lei n. 8.870, de 15 de
abril de 1994, passa a vigorar com a seguinte redação: Para os efeitos deste artigo,
será observado o disposto no § 3a do art. 25 da Lei n. 8.212, de 24 de ju lh o de 1991,
com a redação dada pela Lei n. 8.540, de 22 de dezem bro de 1992” (art. 25, § 3a).
De acordo com a O rdem de Serviço INSS/DAF n, 146/1996, se o responsável
de direito não com provar a regularidade da aquisição, solicitando cópias do CGC,
DCT/CI de co n trib u in te individual, C artão de M atrícula e A lteração — CMA, am ­
bas em itidas pelo INSS, “O descu m p rim en to do subitem an terio r acarretará, ao
adquirente, co n sig n atário ou cooperativa, a presunção de que a produção rural foi
com ercializada com p ro d u to r rural c o n trib u in te da m aior alíquota previdenciária
vigente à época da o p eração” (subitem 28.2.2).
Esse preceito m elh o r estaria na lei, m as possivelm ente não é ilegal. Polêm ico,
vai d esp ertar discussões. Na verdade, quase está atrib u in d o a definição do fato
gerador ao INSS. A p artir da M edida Provisória n. 1.523/1996, to rn o u -se inócuo, a
alíquota é de 2,6% para todos.
C abendo ao ad q u iren te a obrigação de verificar de qu em com pra, ele assum e
o ô n u s de recolher esp ontaneam ente pela alíquota m áxim a (2,6% ) até prova em
con trário . Se não o faz essa será a taxa utilizada pela Fiscalização para d eterm in a r
o valor da co n trib u ição , abrindo-se a possibilidade de recurso com a dem onstração
da origem do pro d u to .
As en tid ad es de fins filantrópicos estão dispensadas da contribuição patronal,
desde a Lei n. 3.577/1959, porém , obrigadas ao valor d escontado (do trabalhador
ou de o u tro c o n trib u in te de fato). P or conseguinte, são sujeitos passivos da relação
de custeio ru ral e devem arrecadar, d eduzindo-o do bem adquirido do p ro d u to r
rural, e recolhê-lo.
Caso em preenda atividade rural, em algum estabelecim ento, e ainda for reco­
n hecid a com direito ao gozo da im unidade, q u an d o da entrega não p o d erá sofrer

s. C urso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
desconto, m as deve fornecer ao adquirente as provas de sua condição de im une.
N ão o fazendo, este ú ltim o com prador, o responsável de direito, arcará com a
obrigação. A exem plo da contribuição pessoal do trabalhador, o desconto da c o n ­
tribuição rural é sem pre presum ido.
c) produtor adquirente de outro produtor: Q u a n d o u m dos três em preendedores
ru rais adq u ire de o u tro p ro d u to r rural — exceto na hipótese de bem ainda inapto
para o co n su m o , transform ação ou com ercialização — assum e a condição de ad ­
quirente. N essas condições, se obtiver lucro na operação final de com ercialização,
em relação a tal atividade não se caracteriza o fato gerador, descabendo c o n trib u i­
ção, pois apenas o p rim eiro ato de com ércio está sujeito à exação.
607. D ever em relação ao seg u rad o — Os co n trib u in tes rurais, a exem plo dos
u rb an o s, se têm segurados a seu serviço, estão subm etidos à certa contribuição. Ao
ad m itirem pessoas sujeitas a desconto, caso do em pregado, devem d ed u z ir 8%, 9%
ou 11% da rem uneração, em todas as hipóteses, respeitado o lim ite do salário de
contribuição. O bservada a p resunção do d esconto (PCSS, art. 33, § 5a).
Isso se aplica ao autô n o m o , equiparado a au tô n o m o (garim peiro e p ro d u to r
ru ral pessoa física), segurado especial, co n dom ín io h o rizo n tal e p ro d u to r rural
pessoa jurídica. U m a regra absoluta, ela vale para as entidades de fins filantrópicos
ex p loradoras de atividade rural.
a) data do inicio do desconto: Salvo para os trabalhadores ru rais sujeitos ao
regim e u rb an o (h isto ricam ente, desde m aio de 1953, aportavam com o “u rb a n o s ”),
o ô n u s de desco n tar e recolher inicia-se a p artir de I a. 11.1991.
b) contribuição de terceiros: O p ro d u to r ru ral pessoa física, a p artir de 1Q.4.1993,
Lambém está obrigado a recolher contribuição de terceiros. Em se tratan d o de pro­
d u to r ru ral pessoa ju ríd ica ou agroindústria, a partir de l s .8.1994.
c) situações especiais: Diz o item 41: “Q uando o ad q u iren te se encarregar de
efetuar a co lh eita (com pra da produção n a árvore), a contribuição devida pelo p ro ­
d u to r ru ral (ven d ed o r), su b stitu i apenas a contribuição patronal incidente sobre a
folha de salários relativa dos em pregados.”
Em bora não m u ito claro o preceito, ele garante a substituição da parte patronal
dos em pregados d o p ro d u to r (prom overam o p lan tio ), m as não a d o adquirente.
Se um a em presa “u rb a n a ”, inexiste a figura da substituição.
Q u er dizer, com os 2,6% sobre o valor com ercial, h á sub stitu ição da parte
patronal relativa aos trabalhadores do produtor, de certa form a d im in u íd a com a
participação dos em pregados do adquirente.
Reza o su b item 41.1: “Q uando o ad q u iren te se encarregar da colheita e do
tran sp o rte dos p ro d u to s co n trib u irá sobre as rem unerações pagas ao pessoal en ­
volvido nessa ativ id ad e”.
O dispositivo p ressupõe serem seus em pregados os encarregados da colheita
e do tran sp o rte, ab rin do o p o rtu n id ad e p ara a discussão diante da possibilidade de
não determ in arem relação de em prego (podem provir de cooperativas de trabalho
ou em presas fornecedoras de m ão de obra).

C urso p e D ir e it o P« e v id e n c ia r io

Tom o II — P revidência S o c ia l 565


Dita o subitem 41.2: “N a hipótese de a agroindústria u tilizar os seus pró p rio s
em pregados (ainda que ligados à atividade ru ral específica), para realizar a colhei­
ta, co n trib u irá sobre as rem unerações pagas ou creditadas a esses em pregados, já
que, q u an to a essa atividade, não é considerada p ro d u to ra ru ra l”.
Se os em pregados da agroindústria utilizados na colheita são “trabalhadores
ru rais” ou pessoal agrário da em presa, a su bstituição da parte patronal é co n su m a­
da com a co n tribuição de 2,6% do valor de m ercado dos produtos. O utro p o n to de
vista con d u zirá à dúplice incidência de contribuição. N a hipótese de serem “traba­
lhadores u rb a n o s” ou pessoa industrial d a em presa não há sequer substituição; a
em presa obriga-se a recolher a parte patronal (23%).
d) Lei Complementar n. 84/1996: N os term os do art. l s, inciso 1, da LC n.
84/1996, as “empresas e pessoas ju ríd ic a s” estão obrigadas a recolher 15% da re­
m uneração paga aos “segurados em presários, trabalhadores autônom os, avulsos e
dem ais pessoas física s” (grifo nosso).
O s três p rincipais co n trib u in tes ru rais enquadram -se com o sujeitos passivos.
Q uan d o não são pessoas ju ríd ic a s (seria o caso dos equiparados a au tô n o m o e do
segurado especial) recaem no conceito de em presas.
Não têm a obrigação q u an d o co n tratam com fornecedores de m ão de obra ou
cooperativa de trabalho, m as, a rigor, o valor avençado certam ente vai agregar esse
ônus fiscal.
A p artir de m arço de 2000, a LC n. 84/1996 foi su b stitu íd a pela Lei n.
9.8 7 6 /Í9 9 9 , am pliando-se a alíquota para 20%.
608. P ro d u to ru ra l — P roduto rural é o resultante da criação agrícola, hor-
tícola e frutícola (reino vegetal), granjeira, pecuária, pesca e cata (reino anim al),
en q u an to em estado natural, ainda após o beneficiam ento, obtido p o r em preendi­
m ento m ercantil, profissional ou artesanal.
Exclui-se, d estarte, o desenvolvim ento educacional, recreativo, relativo à pes­
quisa e o não econôm ico. O reino m ineral n ão gera produto rural. No passado,
excepcionalm ente, o ouro sofreu incidência de contribuição de 1Q. 11.1991 até a
Lei n. 8.398/1992.
Mel e cera, n éctar e pólen prod u zid o s pela apicultura, são pro d u to s rurais. Os
co m p o n en tes das rações, en q u a n to individualidade, advindos de origem anim al ou
vegetal, mas a ração, p ro d u to resultante da m istu ra desses com ponentes, é p ro d u to
industrial.
Os n u trien tes, ou seja, m atéria-prim a adquirid a para alim entar os anim ais ou
as p lan tas (m ilho, abóbora, cenoura, cevada, sorgo, cana-de-açúcar e outros) são
m ercadorias rurais.
São considerados bens rurais os resíduos anim ais (pelos, penas, crina, lã etc.)
e até os de origem aquática e os vegetais. O excrem ento de aves d eu trabalho inter-
pretativo. Para a F orm ulação 1APAS/SAF n. 19/1981, nào houve essa classificação,
mas, a p artir de 13.1.1984, nos term os do P arecer CJ/MPAS n. 45/1983, foi consi­
derado resíduo e, p o rtan to , integrante do fato gerador.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

566 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
O sêm en é re síd u o , m as, em razão de su a finalidade, está isen to de c o n tri­
buição. As pérolas são p ro d u to s in natura, originários de fonte aquática.
A Lei n. 8.540/1992 m odificou o art. 25 do PCSS. O s procedim entos de
transform ação da m atéria-prim a ru ral conhecem descrição técnica, caso da longa
discussão em to rn o do carvoejam ento, cabendo, em cada espécie, co n su ltar obras
especializadas. São m étodos nascidos dos usos e costum es de preparação do pro­
du to ru ral, variando, grosso modo, conform e o nível de organização do em p reen ­
d im en to (co n fu n d in d o -se um pouco as expressões d itadas pela lei) e descrevendo
atividades trad icio n alm ente consagradas. Área onde facilm ente m escláveis os c o n ­
ceitos de ag ro in d ú stria, in d ú stria rural, in d ú stria caseira e artesanato ( “O Traba­
lh ad o r R ural e a Previdência Social”, São Paulo: LTr, 1985, p. 47).
a) lavagem — lim par, basicam ente com o em prego de água. F orm a de lim peza
ob jetivando pureza o u boa apresentação.
b) lim peza — qualidade do asseado, in clu in d o a lavagem, e o u tras m odali­
dades de esm ero, ap u ro e aprim oram ento. Pode u sar água, ar, p ro d u to s quím icos
adequados e, conform e o caso, resfriam ento ou aquecim ento, condensação ou flu­
tuação etc.
c) d escaroçam ento — retirada do caroço do fruto, to rn an d o -o apto para co n ­
sum o (alim entação) ou industrialização. O algodão é descaroçado, assim com o o
pêssego, cacau e o u tras frutas.
d) pilagem — em prego do pilão, in stru m en to antiquíssim o, ou assem elhado,
aproveitado para bater, calcar o u tritu ra r e até tirar a casca. O arroz é su b m etid o a
esse m ecanism o de transform ação n ão industrial.
e) descascam ento — extração da casca antes da utilização. C om um na ervilha
ou feijão. Vários m eios são viabilizados para atingir o resultado, distinguindo-se
co nform e a prática cia região.
f) len h am en to — corte de lenha, no caso a m adeira de pequenas árvores ou
arb u sto s, para queim a.
g) pasteurização — processo laboratorial graças a Louis de Pasteur, resultante
do aq u ecim en to até elevada tem p eratu ra e b ru sco resfriam ento, visando a d estru ir
m icro-organism os ou o b ter pureza.
h) resfriam ento — redução da tem p eratu ra do produto para vários fins, entre
os quais a conservação, caso do leite, do peixe e de frutos do mar.
i) secagem — desidratação de p ro d u to s ru rais e até m esm o de peixes, expos­
tos ao sol ou m ed ian te m áquinas, au m en tan d o a tem peratura, tam bém usado no
café, cacau e outros.
j) ferm entação — alteração quím ica p o r m eio de ferm ento vivo ou do princí­
pio ex traíd o do ferm ento, freqüente na fabricação do vinho.
k) em balagem — colocação do p ro d u to em caixa o u envoltório (a p ro p ria­
dos ao tran sp o rte, conservação ou consum o, separação), acolchoam ento, onde
em b ru lh ad o com p ro d u to s agrícolas (caso da p am o n h a), uso de papéis especiais,
pro teg en d o -o s co n tra choques, agentes externos ou contam inação.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o í í — P r e v id ê n c ia S o c i a l 567
1) cristalização — cortar e m istu rar frutas com açúcar e deixá-las secar para
apresen tar crosta ou se conservarem .
m ) fundição — fusâo obtida m ediante o aquecim ento ou liquefação, d erreten ­
do-se o p ro d u to original, caso dos diversos tipos de lacticínios.
n) carvoejam ento — transform ação quím ica, com a queim a da lenha, em
carvão.
o) cozim ento — preparo conform e aquecim ento, m istu rad o com água e óleo,
m anteiga ou o u tro p ro d u to , sob a influência do calor até atingir estado próprio
para o consum o.
p) destilação — evaporação e condensação de líquidos m ediante calor, p e n ­
sando apurá-los ou separá-los de o u tro , via p o sterio r condensação do vapor. M uito
usado em bebidas alcoólicas ou na p ró p ria água.
q) m oagem — trituração do produto, obtido p o r vários m étodos, alguns deles
arcaicos, utilizado no café, trigo, arroz e m ilho.
r) torrefação — tosta do p roduto até certo po n to ideal, caso do café, para ficar
válido ao consum o.
s) abale — corte de árvore com m achado ou serra elétrica,
t) seccionam ento — corte de árvore abatida em toras ou loretes com o uso de
serras m anuais ou elétricas.
609. In d ú stria ru ríc o la — O conceito de in d ú stria rural é buscado de longa
data. Para o ETR, “considera-se in d ú stria rural, para os efeitos desta Lei, a ativi­
dade in d u strial exercida em q u alq u er estabelecim ento rural não com preendido na
CLT”. A parentem ente, é o p rim eiro tratam en to da m atéria-prim a rural sem sig n i­
ficar a transform ação p ró p ria da industrialização.
No art. 25, § 4 S, do PCSS, com a redação dada pela Lei n. 8.861/1994, o legis­
lador fornece lista de procedim entos operacionais co n d u cen tes ao beneficiam ento
do p ro d u to , tam bém cham ado de industrialização elem entar (sem explicar, m as
com plicando).
Diz o item 1.2 da O rdem de Serviço INSS/DAF n. 146/1996: “In d ú stria rural
é a atividade que co m preende o p rim eiro tratam en to dos p ro d u to s agro-silvo-pas-
loris, realizado em estabelecim ento rural ou prédio rú stico .” A O rdem de Serviço
INSS/DAF n. 118/1994 fornecia descrição de industrialização rudim entar: o “p ro ­
cesso de transform ação do p ro d u to rural, realizado pelo p ro d u to r rural, pessoa
física ou ju ríd ica, afetando-lhes as características originais, com o, por exem plo, a
farinha, o queijo, a m anteiga, o iogurte, 0 carvão vegetal, o café m oído o u torrado,
o suco, o v in h o , a aguardente, o doce caseiro, a lingüiça, a erva-m ate, a castanha
de caju, torrada e tc.” (subitem 4.2).
Por seu tu rn o , descreve estabelecim ento ru ral com o o im óvel destinado à
produção econôm ica de alim entos e m atérias-prim as e ao extrativism o de origem
anim al ou vegetal, à industrialização, conexa ou acessória, dos p ro d u to s derivados
dessas atividades (subitem 1,1.1).

C urso de D ir e it o P r e v io e n c iAr io

568 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Prédio rústico , o prédio ou a propriedade im obiliária, situado no cam po o u na
cidade, destin ad o à exploração agro-silvo-pastoril de q u alq u er natureza (subitem
1 . 1 . 2 ).
Os dois d esen h o s lem bram m uito a dificuldade do co n so lid ad o r das leis trab a­
lhistas, em 1943. E m pregado é quem trabalha para em pregador e, este, é quem tem
em pregado a seu serviço... Do conceito, salva-se o "prim eiro tra ta m e n to ” e este,
finalm ente, é exem plificado e não en u m erad o exaustivam ente.
A descrição de cada u m desses processos (“C om entários à Lei Básica da P re­
vidência Social”, 8 ã ed., São Paulo: LTr, Tomo II, p. 172/174), acolhida na íntegra
pela O rdem de Serviço INSS/DAF n. 146/1996, co n d u z às possibilidades retratadas
no item anterior.
610. A g ro in d ú stria — Q u ando em presa dedica-se a esforço ru ral voltado
à transform ação de m atéria-prim a própria e, ao final da m an u fatu ra, com erciali­
zando ex tern am en te (e x p o rtan d o ), ou, internam enLe, v en d en d o para pessoas físi­
cas (co n su m id o res) ou jurídicas, torna-se, no dizer da legislação previdenciária,
“ag ro in d ú stria”.
Salvo n a h ip ó tese de en treg ar in natura ou sem q u a lq u e r tra ta m e n to (q u a n ­
d o será, p ara efeitos fiscais, sim ples em presa ru ra l), c o n sistin d o o se to r agrário
em ativ id ad e-m eio , classifica-se com o a g ro in d ú stria . Isto é, beneficia sua p ro ­
du ção , q ue sem tal processo não pode colocar o p ro d u to no m ercado; seu em ­
p e n h o sec u n d ário é p ro d u z ir in su m o s. C aso as divisões (agrícola e in d u strial)
p erten çam a d u as em p resas d istin tas, o e n q u a d ra m e n to fiscal difere: n a prim eira,
a ú n ica e p rin cip al atividade será ru ra l e, na seg u n d a, a ú n ica e p rin c ip a l tornar-
-se-á in d u strial.
P o rtan to , ag ro in d ústria é em preendim ento econôm ico com plexo, em que a
m atéria-p rim a ru ral própria é transform ada pela divisão m anufatureira. Nela, o
m en cio n ad o in su m o provém da área ru ral e ela se utiliza de m étodos industriais
para aperfeiçoar o bem , m esclando-se os objetivos sociais.
D idaticam ente, não se cuida da hipótese de sim ples in d ú stria (conceito tido
com o “u rb a n o ”), pelo sim ples fato de não co m p rar de o u tro s fornecedores rurais
ou nào, e sim co n su m ir a sua produção. Tam bém não se trata de em presa rural,
salvo q u an d o v en d er sem qu alq u er tratam ento.
N essas co n dições a exploração, stricto sensu, tecnicam ente não é rural nem
in d u strial, situ an d o -se a m eio cam inho — na fração com um aos dois dom ínios
— , figura ju ríd ic a co n hecida com o ag ro in d ú stria (objeto do art. 25, § 2e, da Lei n.
8.870/1994), não sen d o relevante para a análise o posicionam ento geográfico das
instalações (prédio rú stico ), no d istrito in d u strial ou no sítio rural, m as im p o rtan ­
do os objetivos da atividade econôm ica.
O co nceito de ag roindústria (e, tam bém , o de agrocom ércio) é buscado de
longa data pelos interessados. Em últim a análise, histo ricam en te sua origem é o
art. 7S, b, da CLT (D ecreto-lei n. 5.452/1943), en c o n tran d o abrigo no art. 3Q, item
11, RGPS (D ecreto n. 48.959-A /1960).

569
C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o II — P revidência S o cial


Para Arnaldo Lopes Süssekind e Délio M aranhão, a origem é m ais rem ota, ja ­
zen d o no arl. 1® do D ecreto-lei n. 505/1938, na área. Prosseguiu válida no E statuto
da Lavoura C anavieira (D ecreto-lei n. 3.855/1943), m antendo-se afastada da CLT
p o r força do D ecreto-lei n. 6.969/1944. J. C. da Silva Arouca levantou-lhe a história,
suas m archas e contram archas, avanços e recuos e dificuldades de inteligência do
texto d iscip lin ad o r (“O s trabalhadores ru rais da agroindústria e seu e n q u a d ram en ­
to sindical”, in Supl. Trab. LTr n. 76/1973).
Na legislação previdenciária p ro p riam en te dita, a norm a m ais antiga é o De­
creto-lei n. 22.367/1942 (R egulam ento do ex-IAPETC). A Resolução CD/DNPS n.
1.586/1972 a teve com o filiada ao então 1NPS, in casu, provindo do ex-IAPL
Com o E statuto do Trabalhador Rural — ETR (Lei n. 4.214/1963) a atividade
esteve vinculada à previdência social rural. Nele é possível colher-se este obscuro
conceito: “C onsidera-se in d ú stria rural, para os efeitos desta Lei, a atividade in d u s­
trial exercida em qu alq uer estabelecim ento rural não com preendido na C onsolida­
ção das Leis do T rabalho”. Ora, critério espacial inútil, pois a indústria pode situar-
se na área geográfica rural e a exploração rural acontecer na cidade. A intenção era
dizer processo industrial contido em em presa rural, concepção ju ríd ica e não física.
Sucessivam ente, a legislação en tro u em turbulência, sobrevindo leis e decre-
tos-leis, regulam entos e pareceres infindáveis ( “O T rabalhador Rural na Previdência
Social”, 2a ed., São Paulo: LTr, 1985), passando pelo Plano Básico e FUNRURAL,
até chegar à já m encionada Lei C om plem entar n. 11/1971, e, p o r isso, Eduardo
Gabriel Saad ex tern o u sua perplexidade a respeito ( “A sp e d o s controvertidos do
trabalho ag ro in d u strial”, in Supl. Trab. LTr n. 54/70).
N o passado, n en h u m a norm a legal definiu ou conceituou agroindústria,
preferindo aludir, em m uitas oportunidades, à indústria rural. A partir da Lei n.
8.861/1994, descreveu os processos de beneficiam ento do p roduto rural (art. 25, §
3°), aplicáveis na em presa ru ral e na agroindústria, descaracterizadores da indústria.
Até 31.10.1991, perfilhava as obrigações da LC n. 11/1971, apo rtan d o 2,5%
do valor com ercial do p ro d u to rural. E ntre 1°. 11.1991 e 31.7.1994, postou-se
com o em presa u rb an a, recolhendo o retido dos trabalhadores e a parte patronal
baseada na folha de p agam ento, observadas, respectivam ente, as alíquotas de 8%,
9% e 11% dos em pregados e 23% (com um e seguro de acidente do trabalho), além
de alguns terceiros (salário-educação e INCRA).
De m odo geral, o p ro d u to r ru ral pessoa jurídica, gênero do qual a agroindús­
tria é espécie, a p artir de 1Q.8.1994, obrigou-se a 2,6% (+ 0,1% para o SENAR =
2,7%). Tal cotízação su b stitu i a parte p atro n al (23% ), m antendo-se inalterável a
dos obreiros.
No tocante à ag ro indústria dispôs o § 2- do art. 25, textualm ente: “O disposto
neste artigo se esten d e às pessoas jurídicas que se dediquem a produção ag ro in ­
d u strial, q u an to à folha de salários de sua parte agrícola, m ediante o pagam ento
da co n trib u ição prevista neste artigo, a ser calculada sobre o valor estim ado da
pro d u ção própria, considerado seu preço de m ercado”.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

570 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
Com vistas ao texto, algum as conclusões po d em ser im ediatam ente extraí­
das: a) razão de ser da m odificação operada apenas em relação à agroindústria; b)
restabelecim ento da ideia de seto r agrícola d istin to do industrial; c) necessidade
de elaborar folhas de pagam ento apartadas; d) fracionam ento da em presa em duas
partes: ru ral e in d u strial, com obrigações diferenciadas; e) co n trib u ição tríplice
e distin ta em relação aos diferentes trabalhadores; e f) possibilidade de exigência
fiscal co n trá ria ao p rin cíp io da isonom ia.
A ag ro in d ú stria, diferentem ente da indústria, não com pra m atéria-prim a de
terceiros. O bem vegetal o u anim al transform ado é tran sp o rta d o fisicam ente do
cam po para a fábrica e, contabilm ente, sem a presença de ato de com ércio. Daí a
n ecessidade de o m o n tan te, para fins fiscais (base de cálculo), ter de ser definido
em especial: “v alo r estim ado da p rodução agrícola pró p ria, considerado seu preço
de m ercad o ”.
Foi recriado o m ecanism o da LC n. 11/1971 e diante da possibilidade de in ­
cidência de co n trib u ição sobre o p ro d u to m an u fatu rad o suscitar a bicontribuição,
em face da LC n. 70/1991, taxou-se a operação form al in tern a (as bases de cálculo
e os fatos geradores n ão são ig u ais).
Restabeleceu-se o conceito fiscal de setor agrário vigente até 31.10.1991, em
que operam os trabalhadores rurais propriam ente ditos e outros nem tanto (v. g.,
tratorisla rural, em pregados de nível universitário etc.), separados dos ocupados em
atividades “u rb a n as” (escritório e fábrica), identificados com o da divisão não agrária.
Tal em presa tem de p rep arar d u as folhas de pagam ento: seto r ru ral e setor
in d u strial. E — tarefa difícil — identificar as diferentes funções e classificá-las.
N os d o is casos, p ro m o v er d esco n to dos trab alh ad o res, m as ap en as no seto r in d u s­
trial su jeito à figura fiscal da parte p atro n al, in ex isten te a fração rural, su b stitu íd a
pelos 2,6%.
Suas co n trib u içõ es classificam -se em três m odalidades distintas: a) d esco n ta­
da de to d o s os trab alh adores (agrários ou in d u striais), sob as alíquotas de 8%, 9%
o u 11%; b) parte p atronal do setor urbano (23% ), em relação à folha de pagam ento
in d u strial; e c) 2,6% do valor de m ercado da produção rural.
N a h ipótese de venda direta a co n su m id o r ou de exportação, o ô n u s fiscal
e form al será in teiram en te da em presa (art. 25, § 3S, da Lei n. 8.870/1994). Re­
colherá em GRPS p ró p ria, com base nas notas fiscais; o co n trib u in te de direito
confunde-se, in casu, com o d e fato.
Se com ercializar d iretam en te o p ro d u to não su b m etid o ao processo de in ­
d u strialização, isto é, nào passar pela seção industrial, sofrerá a dedução pelo ad-
q u iren te, com base n o valor com ercial, não recolhendo a parte patronal calculada
sobre a folha de pagam ento. Além da separação das folhas de pagam ento, isso
im plica separação escriturai, pois o m o n tan te do fato gerador (valor com ercial) é
diferente n a ag ro in d ú stria (preço de m ercado).
Q u er dizer, repete-se, se sujeita à elaboração de duas folhas de pagam ento: a)
um a, do seto r agrário; e b) outra, do seto r não agrário. Em relação à m ão de obra

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o í J — P r e v i d ê n c i a S o c ia l
571
da prim eira, a parte p atronal será su b stitu íd a pelos 2,6%, m antendo-se a obrigação
de recolher os 23%, p ertin en tem en te ao pessoal do setor não agrário. E tam bém
contabilizar d istin tam en te as im portâncias referentes à venda de m atéria-prim a in
natura e transform ada agroindustrialm ente.
A dm itindo-se a p ro d u ção do em p reen d im en to da agroindústria ser resultado
do esforço do capital, insum os e de todos os trabalhadores, in d istin tam en te (agrá­
rios ou não), o percentual proporcional à relação entre o custo da m ão de obra dos
dois setores estará su jeito à d úplice exigibilidade: parte patronal e sobre os 2,6%.
Um a exigibilidade fiscal de contribuições sociais com a natu reza de tributo,
trib u to especial ou exação atípica é faculdade estatal vinculada prevista no T ítulo
VI — Da Tributação e do Orçamento e n o T ítulo VIII — Da Ordem Social, da C ons­
tituição Federal de 1988, ou, para alguns pensadores, apenas neste últim o título e
no seu art. 149.
Segundo a p rim eira concepção, su bm etida à im positividade dos princípios e
n o rm as dispositivas do C ódigo T ributário N acional — CTN (Lei n. 5.172/1966),
e m esm o para os defensores de exigência não trib u tária, aten d en d o a regras trib u ­
tárias universais, algum as das quais estabelecidas nos arts. 194 e 195 da Lei Maior.
Vale dizer, a co n tribuição previdenciária é exação, expropriação estatal su ­
bordinada ao o rd en am en to co n stitu cio n al e infraconstitucional, devendo observar
os en cam in h am en to s exacionais e, se conflitantes com os do CTN, perfilhar os
ditam es securitários, p o r exem plo, o princípio da trim estralidade (arl. 195, § 6Q),
em vez do preceito da anualidade (art. 150, III, b). Não confundível com o gênero
nem com as espécies tributárias, m as dada a generalidade desses rótulos, podendo
abrigar m odalidades assem elhadas (v. g., a parte patronal ser im positiva, e taxativa
a do trab alh ad o r), sem prejuízo da independência.
O cabim ento do art. 25, § 2S, da Lei n. 8.870/1994 subm ete-se às d eterm in a­
ções da C arta M agna, em particular, a possibilidade de caracterizar a bitributação,
ou seja, o com ando fazer in cid ir duas obrigações com igual natureza sobre o m es­
m o fato gerador.
C onform e o art. 149 da Lei M aior: “C om pete exclusivam ente à U nião in sti­
tuir co n trib u içõ es sociais, de intervenção no dom ínio econôm ico e de interesse
das categorias profissionais o u econôm icas, com o in stru m en to de sua atuação nas
respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, II, e 150, I e III, e sem p re­
juízo do previsto no art. 195, § 6e, relativam ente às contribuições a que alude o
d ispositivo”. Q u er dizer, n a ordem , já no p rim eiro artigo da Seção 1 — Dos Princí­
pios Gerais, após en u n ciar os trib u to s, neste art. 149, excepciona-os, e m enciona
as contrib u içõ es sociais, im pondo LC para a fixação das norm as gerais (art. 146,
III), legalidade (art. 1 5 0 ,1), anualidade e anterioridade (art. 150, III) e nada mais.
O co n stitu in te arrola três exações: a) contribuições sociais, tom ando a lo cu ­
ção com o sen tid o de gênero e espécie; b) de intervenção no dom ínio econôm ico
(co n trib uiçõ es de “terceiros”); e c) de interesse das categorias profissionais ou
econôm icas (co n trib u ição sindical).

C u rso pk D ir e it o P r e v id e n c iá r io

572 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Seu in fin e não deixa m argem à d ú v id a q u a n d o p o sicio n a o art. 149 sob o
C apítulo I — Do Sistem a Tributário Nacional, ressalvando a possibilidade de aplica­
ção de p rin cíp io tip icam ente previdenciário — o da trim estralid ad e (art. 195, § 6Q)
— em d etrim en to do p rin cíp io da anualidade, in sitam en te trib u tário . A rem issão
q u er dizer a translação da regra securitária para o nich o tributário.
C o n sen tân eo com esse en cam in h am en to , diz o art. 195, § 4 e: “A lei poderá
in stitu ir o u tras fontes destinadas a g aran tir a m anutenção ou expansão da seguri­
dade social, obedecido ao disposto no art. 154, I.” P or seu tu rn o , diz este últim o
dispositivo: “A U nião poderá instituir: I — m ediante lei com plem entar, im postos
não previstos no artigo anterior, desde que sejam não cum ulativos e não tenham
fato gerad o r ou base de cálculo p ró p rio s dos discrim inados nesta C o n stitu ição ”.
A Lei n. 8 .8 7 0/1994 não observou o p receituado no art. 69 do E statu to F u n ­
dam ental: “As leis co m plem entares serão aprovadas p o r m aioria ab so lu ta.” No
passado, a n o rm a in tro d u to ra da con trib u ição patro n al ru ral, com o lem brado, foi
a LC n. 11/1971. Sua revisão operou-se, d en tro do ord en am en to constitucional,
pela LC n. 16/1973, en tendendo-se, a p a rtir d e 1988, valer a lei ord in ária qu an d o
a exação estiver referida tex tu alm en te na CF (art. 195,1).
De todo m odo, aparentem ente, o deslinde da questão tem que ver com a com ­
plexa e perquirida natureza jurídica da exação previdenciária. Se tributária, estar-se-
ia diante da bitributação e, se não tributária, em face da bicontribuição, ao ver de
Cássio Mesquita Barros, tributária (“Previdência Rural e Previdência Estatal: unifor­
m ização urbano-rural. Custeio da Previdência Rural. Previdência do Servidor P ú­
blico”, in RPS n. 106/534). Na m esm a linha de raciocínio, o EAC n. 126.779/DF
(9592962) da 4a Turma do TFR, de 5.4.1988, rei. Carlos M. Velloso, in RPS n. 97/262.
C u id an d o dos efeitos das Leis C om plem entares ns. 11/1971 e 16/1973, vo­
tando R ecurso E xtrao rdinário n. 88.033 (in Dj de l e.6.1987), disse o M in. M oreira
Alves: “N ão há ju stificativa razoável para, p o r m eio de in terp retação , se o n erar
um a m esm a em presa com dois ô n u s p ara fins previdenciários: u m com relação
a seus em pregados, e o u tro em favor da categoria profissional em regra. Esse se­
g u n d o ô n u s só excep cionalm ente, p o r m otivo de natu reza econôm ica, é in stitu ­
ído, e, p o r isso m esm o, p o r n o rm a expressa” (apud R ecurso Especial n. 3.41 l/R J
(19 9 0 .00 0 .5 1 9 7 5 ) da 2â Turm a do STJ, rei. Min. Luiz V icente C ernicchiaro, de
6 .8.1990, ín L E X n . 19/182).
T om ando p o r fato gerador e base de cálculo d istin to s (rem uneração contida
na folha de pag am en to e valor com ercial dos p ro d u to s ru rais), o d estin o final dos
recursos é o m esm o: FPAS.
Resta ver se co n tra d ita a C arta M agna o INSS exigir d u as exações com igual
finalidade. Para o CRPS, a destinação d istin ta era im p o rtan te, e, q u an d o os 2,5% da
LC n. ] 1/1971 tinham direção difusa e a contribuição da folha de pagam ento c o n ­
vergia para os em pregados ah contidos, en ten d ia caber as duas exigências (Acór­
dão do l 9 GTU n. 331, de 25.2.1986, no Processo MPAS n. 417.022/25758/83,
de interesse da Cia. E ngenho C entral de Q uissam ãn, Rei. Cons. G ilberto Jesu s F
M oraes Rego, in RPS n. 78/306).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l
No dizer de Geraldo de Castilho Freire “são de exigência duvidosa p orque
transparece su a in co n stitucionalidade pelo fato de serem instituídas por lei o rd i­
nária e não, com o seria de rigor, p o r LC” (“M udança nos critérios de co n trib u i­
ções previdenciárias de em presas ru rais e agroindustriais a partir da com petência
ago./1994”, in RPS n. 166/693). P arte dessa contribuição p atro n al (a “in d u strial”),
está prevista no art. 195, I, da C F/1988, dispensando, destarte, lei com plem entar.
Com relação, porém , á “agrária”, in o co rren te a figura do faturam ento, e sim a da
industrialização, a sede não poderá ser a m esm a, cabendo postá-la no art. 195, § 4 e.
A LC n. 11/1971, criadora do PRORURAL, in stitu iu obrigação sem elhante
(2,5% do valor com ercial dos p ro d u to s rurais) e, n o caso da agroindústria, defla­
grou a q uestão de saber se ela poderia conviver com a contribuição descontada
dos trabalhadores do setor industrial. A favor dessa exigência, alguns julgados
sobrevieram com o o A córdão n. 1990.01.18581-9/M G , da 3S Turm a do TRF, de
24.4.1991, rei. ju iz T ourinho N eto e interessada a G ranja R ezende S.A., in RPS n.
136/251, bem com o o A córdão da 2- Turm a do TRF n. 1989.02.01790-7/RJ, relator
Des. A lberto N ogueira, de 14.4.1993, in RPS n. 163/454.
Nesse tem po, sobrevieram ilerativas decisões favoráveis às agroindústrias,
obrigando a au tarq u ia federal a m an d ar cum pri-las p o r m eio da C ircular INPS n.
601.005.0/90, de 25.5.1988, in RPS n. 93/598. U m a delas distinguiu entre rurí-
colas p ro p riam en te ditos e trabalhadores ru rais sujeitos ao regim e urbano (Acór­
dão na Apelação n. 104.989, do TFR, no M andado de Segurança n. 5.696.224, de
21.8.1976, in RPS n. 93/508).
Solução bem m ais recente, publicada em 11.1.1993, tem com o em enta: “C on­
tribuir, ao m esm o tem po e para o m esm o fim (Previdência Social) sobre o valor
com ercial de seus p ro d u to s agroindustriais e sobre os salários de todos os em prega­
dos, levaria à b itrib u tação , nu m a superposição contributiva, o que não é possível”
(Acórdão na Apelação Cível n. 1992.01.04752-5/M G , da 4ã Turm a do TRF da l s
Região, rei. Ju iz N elson G om es da Silva, de 9.11.1992, in RPS n. 156/972).
Repete-se. Diz o art. 154,1: “A U niáo poderá in stitu ir: 1 — m ediante lei co m ­
plem entar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não c u m u ­
lativos e não tenham falo gerador ou base de cálculo p ró p rio s dos discrim inados
nesta C o n stitu ição ” (grifos nossos).
Im posto “é o trib uto cuja obrigação tem p o r fato gerador um a situação in d e­
p e n d e n te de q u alq u er atividade estatal específica, relativa ao co n trib u in te ” (CTN ,
art. 16), e — destaque-se em face da generalidade da redação — “Os im postos
co m p o n en tes do sistem a trib u tário nacional são exclusivam ente os q u e constam
deste T ítulo, com as com petências e lim itações nele previstas” (C TN , art. 17).
Fato gerad o r “é a situação definida em lei com o necessária e suficiente à sua
o co rrên cia” (C TN , art. 114). O corre “q u an d o da com ercialização da produção ru ­
ral, assim en ten d id a a operação de venda ou consignação realizada pelo p ro d u to r
rural, assim identificado: c) a p artir de 8.1994, a industrialização da produção rural
p ró p ria realizada pela ag ro in d ú stria” (item 13 da O rdem de Serviço IN SS/D A F n.
118/1994, in DOU de 11.11.1994).

C u r s o df , D ir e it o P r e v id e n c iá r io

574 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Base de cálculo do fato gerador é a expressão econôm ica do fato gerador, sua
m edida m onetária. ín casu, no dizer de Valdir dc Oliveira Rocha, “o valor de m ercado
da produção rural p rópria transform ada, n o caso da in d u strialização ”.
Isto é, a Lei M aior não deseja a U nião in stitu in d o exação ad o tan d o fato ge­
rad o r ou base de cálculo estipulados no seu texto, caracterizando o bis in idem.
Perm ite, p o r co n seguinte, a incidência de várias espécies exacionais com o taxa
e im posto, sobre a m esm a hipótese de incidência. N ão obsta a possibilidade bie-
xacional co m binarem -se trib u to s com co ntribuições sociais. Mas não pretende,
parece claro, dois trib u to s ou duas co n tribuições sociais in cid in d o sobre o m esm o
falo gerad o r ou base de cálculo.
A base de cálculo do faturam ento das em presas, desde 12.4 .1992, é objeto de
incidência de exação, seja trib u tária ou não, para “financiam ento da Seguridade
Social, nos term o s do inciso I do art. 195 da CF, devidas pelas pessoas ju ríd icas
inclusive a elas eq u ip aradas pela legislação do Im posto de R enda, destinadas ex­
clusivam ente às despesas com atividades-fins das áreas de saúde, previdência e
assistência so cial” (art. l s da LC n. 70/1991). F orm alm ente, não coincidem as
hipóteses, p o is o preço de m ercado n ão é igual ao valor com ercial (faturam ento).
N o passado, tratan d o de questão sem elhante, m as não idêntica, sob o utra
alíquota, sem pre arredou a exigibilidade de exações para fatos geradores ou bases
de cálculo iguais. No caso, isso não ocorre, o legislador do art. 25, § 2e, escolheu
fatos geradores (pagam ento de salários e translação in tern a ) e bases de cálculo
(valor da folha de pagam ento e preço de m ercado) distintos. M as fez distinção
entre o gênero p ro d u to r rural pessoa ju ríd ica (caput do art. 25) e agroindústria (art.
25, § 2g), forçando o intérprete a sopesar a hipótese de haver afronta ao princípio
co n stitu cio n al da isonom ia ao “in stitu ir tratam en to desigual entre co n trib u in tes
que se en co n trem em situação equivalente” (art. 1 5 0 ,1, da CF).
P or não ser lei com plem entar, a Lei n. 8.870/1994, o STF en tendeu não existir
o seu art. 25, § 2-, e restabeleceu o m ecanism o da Lei n. 8.212/1991, para a agroin­
dústria.
A Lei n. 10.256/2001 atualizou a legislação, acrescentando um art. 22-A ao
PCSS, d efinindo a ag roindústria com o “o p ro d u to r rural pessoa ju ríd ic a cuja ativi­
dade econôm ica seja a industrialização de produção própria ou de p rodução p ró ­
pria e ad q u irid a de terceiros, incidente sobre o valor da receita b ruta proveniente
da com ercialização da produção, em sub stitu ição às previstas nos incisos I e II do
art. 22 desta Lei”.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c i a l 575
Capítulo LXI

C onstrução C ivil

6 1 1 . Regras apropriadas. 612. Conceito doutrinário. 613. Profissionais


S u m á r io :
envolvidos. 614. Responsabilidade original. 615. Corresponsabilidade exacio-
nal. 616. Aferição indireta. 617. Recolhimento das contribuições. 618. Fiscali­
zação da regularidade. 619. Ônus formais. 620. Isenção e mutirão.

C o n stru ção civil é cam po específico em m atéria de custeio. D esenvolveu-se


historicam ente a p artir da ação do ex-IAPI, nos pó s-g u erra e até os anos 60, quando
a fiscalização daquela au tarq u ia federal passou a exigir contribuição da casa p ró ­
pria, p o sterio rm en te estendida a outros sujeitos passivos. Desde a LOPS e, p rin ci­
palm ente, com o D ecreto-lei n. 66/1966, com a regulam entação da solidariedade,
a m atéria ad q u iriu m aio r im portância e suscitou divergências.
611. R egras ap ro p riad as — U m a área extensa com preende a responsabilidade
de constru to ras, em preiteiros e subem preiteiros, proprietários de construção resi­
dencial e de em presas co n tra tan tes dos serviços de profissionais do ram o, cuidando
tam bém das figuras do m utirão e da isenção.
As fontes formais específicas são poucas, incluindo-se em particular a vigente Lei
n. 8.212/1991 e o Decreto n. 3.048/1999, dispositivos do CTN aplicáveis à espécie, le­
gislação histórica (Decretos-leis ns. 66/1966 e 1.958/1982), os diferentes regulam en­
tos e, especialm ente, os com andos internos, m uito utilizados, em particular as O rdens
de Serviço INSS/DAF ns. 51/1992,58/1992,83/1993 e 88/1993,116/1994 e 161/1997.
612. C o n ceito d o u trin á rio — C om a construção civil, ocorre fenôm eno cu l­
tural interessante: para fins ordinários, todos pensam saber o significado técnico e
n in g u ém tem dúvidas. É assim porque é. Subsiste convenção universal. As questi-
úncu las surgem q u an d o se pretende especificar, exem plificar ou distinguir. Solici­
tadas a explicar, as pessoas têm dificuldades para e n c o n trar definição com pleta e
única dessa am pla atividade.
São m u ito s os autores proclam ando a construção com o sendo resultado do
ato de co n stru ir (síc). C onstruir, fazer edifício e este, seg u n d o o dicionarista, obra
de alvenaria ou m adeira para m orada. M oradia, o lugar d estin ad o à habitação. Esta,
sob o títu lo de casa, é residência ou dom icílio.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
No cu rso do tem po, por força da tradição, de aceitação generalizada e até
p o r convenção (raram en te p o r determ inação legal, no caso, p o stu ras m unicipais),
alguns serviços, o cu p ações ou funções foram considerados integrados no conceito
de co n stru ção civil, e outros não. U m processo dinâm ico, ele d ep en d e da evolução
d os u sos e co stum es e dos estím ulos propiciados a certas atividades, bem com o das
técnicas e m ateriais aproveitados.
A au tarq u ia federal baixou in ú m ero s atos norm ativos, in clu in d o algum as
o perações e ex clu in d o outras, p rincipalm ente com vistas à solidariedade. Verda­
d eiram en te, indicação segura é a relação de atividades p o r grau de risco de aci­
d en tes do trabalho, em q u e m encionadas as principais, in ex istin d o ditam e legal
q u an to a p eq u en o s serviços.
Divisão fiscal, é absolutam ente im prescindível à norm atização da m atéria, e,
m elh o r ainda, p o r via de lei ordinária. Listas, baseadas n a experiência do dia a dia,
são possíveis. Assim , as obras podem ser:
a) residenciais — destinadas à habitação perm an en te ou provisória e, in casu,
ap artam en to s, casas, hotéis, apart-hotels, m otéis, resorts, campings, abrigos, alber­
gues, pou sad as, delegacias, p en iten ciárias e presídios;
b) in d u striais — edifícios para fábricas ou escritórios, barracões, galpões, pis­
tas de ex p erim en tação , m atadouros, cu rtu m es, cham inés e poços;
c) com erciais — lojas, escritórios, consultórios, p ostos de gasolina, exposi­
ções, m ercados, en trep o sto s e centros de com pras;
d) ru rais — aviários, cercados, currais, cochos, granjas, haras, estábulos,
cocheiras, estru m eiras, estrebarias e pocilgas;
e) u so coletivo — escolas, repartições, estádios, ginásios, quadras de esporte,
pistas de atletism o, tem plos, hospitais, gasõm etros, teatros, cinem as, hipódrom os,
au tó d ro m o s, escadarias, planos inclinados, cem itérios, incineradores, b o n d in h o s
e teleféricos;
f) guard a — arm azéns, depósitos, silos, galpões, hangares, m arinas, estacio­
n am en to s e an coradouros;
g) tran sp o rte e com unicações — aeroportos, portos, heliportos, rodovias,
estradas, praças, avenidas, ruas, túneis, logradouros, escadas, passarelas, m etrôs,
ferrovias, elevados, co m portas, canais, eclusas, oleodutos, torres de televisão ou
m icro-ondas, instalação de telefones ou antenas parabólicas, televisão a cabo, telé­
grafos e lin h as de transm issão de energia elétrica;
h ) obras de arte — estátuas, obeliscos, torres, chafarizes, m o n u m en to s, co n ­
ju n to s eqüestres e arq uitetônicos;
i) apoio — estaqueam entos, aterros, barragens, barreiras, taludes, m u ro s de
arrim o, cercas, divisórias, açudes, terraplanagens, fundações, perfurações, to p o ­
grafias e instalações de poste;
j) san eam en to e reserva — redes de água ou esgotos, represas, canais, valetas,
diques e açudes, poços artesianos, galerias ad u to ras e reservatórios.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I I — P r e v id ê n c ia S o e m /
De m odo geral, com o visto, o conceito é am plíssim o, p o d en d o ser tido com o a
técnica in d u strial p rim ária tradicional, em que a m atéria-prim a é transform ada ou
não, utilizada geralm ente p o r agregação quím ica, m as acolhendo outros m étodos,
presa ao solo, em pregando m ateriais e processos consagrados ou convencionados,
co n d u zin d o a bem im óvel destin ad o à residência, trabalho, educação, recreio, cu l­
to, esporte, m ovim entação de pessoas, sua proteção e o u tro s lins, bem com o as
operações capazes de conservar o resultado.
613. P ro fissionais en v o lv id o s — Diversas pessoas físicas e ju ríd icas envol­
vem -se n um a co n stru ção, posicionando-se em diferentes ângulos, conform e cada
hipótese: o p ro p rietário, o dono da obra, o condôm ino ou o incorporador. Q uem
a efetiva é o co n stru to r, podendo ser em presa (em preiteiro), subem preiteiro ou
profissional do ram o. Participa, ainda, gerindo-a, o adm inistrador, o engenheiro
e o arq u iteto , sem q u alq u er responsabilidade fiscal e, finalm ente, o fornecedor de
m aterial com aplicação ou não.
P roprietário é a pessoa física o u ju ríd ic a em preendedora da edificação, reali­
zada sob sua supervisão direta e em terreno de sua propriedade. Aprova a planta
em seu nom e, co n trata os profissionais ou em presa e adquire o m aterial acom pa­
n h an d o o dia a dia da construção. Os prestadores de serviço, os executantes p ro ­
priam ente ditos, podem ser em presas, au tô n o m o s ou eventuais.
D ono da obra é a pessoa Tísica ou ju ríd ica ad m in istrad o ra da edificação em
terreno form alm ente alheio, p o d en d o ser p ro m iten te-co m p rad o r ou posseiro. O
dom ínio do im óvel p o r acessão passa ao p roprietário do terreno até a situação ser
regulam entada. Às vezes, o d o n o da obra é apenas cessionário ou prom itente-ces-
sionário de direitos sobre o im óvel ou sim ples arrendatário, não estando afastada a
possibilidade de ser locatário. Todos eles operam com o pro p rietário s e respondem
pelas obrigações.
C o ndom ínio é reunião de pessoas físicas ou ju ríd icas gerindo em com um a
construção, geralm ente prédio de apartam entos ou de escritórios, p o r interm édio
de incorporador.
Já co n d ô m in o , é o p ro p rietário de parte ideal do condom ínio.
Incorporador, “a pessoa física ou ju ríd ica, com erciante ou não, que, em bora
não efetuando a co n strução, com prom isse ou efetive a venda de frações ideais de
terreno, objetivando a vinculação de tais frações a u n id ad es au tô n o m as (vetado)
em edificações a serem co n stru íd as ou em construção sob regim e condom inial, ou
que m eram ente aceita propostas para efetivação de tais transações, coordenando
e levando a term o a incorporação e responsabilizando-se, conform e o caso, pela
entreca, a certo prazo, preço e determ inadas condições, das obras co n clu íd as” (Lei
n. 4.591/1964).
C o n stru to r é gênero de qu em constrói, p o d en d o ser profissional autônom o,
grupo de au tô n o m o s (cooperativa) ou em preiteiro estabelecido com em presa de
co n stru ção civil registrada no C onselho Regional de E ngenharia e A rquitetura —
CREA.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

578 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
E m preiteiro é a principal espécie de co n stru to r, geralm ente em presa especiali­
zada n o ram o, de grande p o rte, in d ú stria de construção civil. Possui em seu quadro
de pessoal a m ão de obra necessária ou a subem preita, c o n tra tan d o em pregados
ou au tô n o m o s, profissionais da área, ou transferindo a terceiros (subem preiteiros),
parcial ou to talm en te, a tarefa da edificação.
S ubem preiteiro é co n stru to r de m en o r expressão ou radicado em certos se­
tores da técnica co n strutiva. P ressupõe o em preiteiro e, assim , no sen tid o da soli­
dariedade, o p ro p rietário não co n trata subem preiteiro diretam ente; se o fizer, para
ele, será em preiteiro, o prim eiro contratante.
C ostum a-se designar de específica a atividade exercitada p o r algum as firm as
ocu p ad as em áreas definidas, geralm ente de acabam ento, im perm eabilização, re­
v estim entos, aplicações, assentam entos, instalação de elevadores, an ten as de tele­
visão, exaustores, e o utros em penhos, com tratam en to fiscal diferenciado.
O ad m in istrad o r controla contabilm ente a construção, sem ser o proprietário
ou o m estre de obra (gerente técnico). C onduz a com pra do m aterial e a co n tra ta­
ção da m ão de obra, recebendo, p o r isso, percentual das despesas. Não tem respon­
sabilidade fiscal e, de igual form a, o engenheiro ou arquiteto.
E m presa fo rn ecedora de m aterial com colocação proporciona o m aterial e o
instala, sem discrim inação do valor dos serviços ali contidos, em itindo nota fiscal
de venda de m ercadorias, e não participa da definição de construtor. F o rnecedor é
o com erciante v en d e d o r de m aterial sem aplicação.
F retistas e carreleiros são pessoas físicas ou ju ríd icas ocupadas em tran sp o rta r
m aterial de co n stru ção civil.
Profissionais do ram o são trabalhadores autôn om os ou em pregados, prestando
serviços com o arq u itetos, engenheiros, m estres de obras, pedreiros, carpinteiros,
encanadores, eletricistas, azulejistas, pintores, vidraceiros, estucadores, antenistas,
jard in eiro s, envernizadores, apontadores, vigias e o u tro s obreiros.
C ooperativas sào interm ediadoras de m ão de obra entre os interessados e os
profissionais, q u an d o cooperados. A relação ju ríd ica é celebrada com a entid ad e e
não com os segurados (autônom os).
614. R esp o n sab ilid ad e original — Nas obras de co n stru ção civil, o origina-
riam ente responsável é qu em co n trata os profissionais do ram o, norm alm ente o
sub em preiteiro ou o em preiteiro, e até m esm o o proprietário da casa própria. A
p artir de 21.11.1966, com o D ecreto-lei n. 66/1966, apresentou-se a responsabi­
lidade ind ireta do p roprietário, p o r solidariedade ao co n stru to r (quem adm ite os
execu tan tes e a q u em incum be, em princípio, as obrigações).
Isso é m u ito co m um com a co n stru to ra, ou, então, com a pessoa jurídica
q u an d o edifica com os seus p ró p rio s trabalhadores.
615. C o rre sp o n sa b ilid a d e ex acio n al — A solidariedade da pessoa física (p ro ­
p rietário ) em relação ao co n stru to r (pessoa ju ríd ica originariam ente devedora)
surgiu em 1966.

C urso de D ir e it o F r e v id e n c íA r io

T om o I I — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 579
Trata-se de so lidariedade passiva. Se o principal sujeito não recolher a co n ­
tribuição, o u tra pessoa, d iretam en te envolvida com a relação econôm ico-jurídi-
ca, sub-roga-se na obrigação fiscal. Toda a dívida, com o inicialm ente concebida,
transfere-se para o devedor acessório. Com isso, em presa com ercial poderá ter de
recolher para o SESl e o SENAI, e firm a in d u strial para o SESC e o SENAC.
Às vezes, a lei estabelece ordem de preferência. Por m eio dela, so m en te se
o devedor prin cip al nào h o n ra r o com prom isso o dev ed o r secu n d ário pode ser
cobrado. O u tras vezes, caso da legislação previdenciária, silenciando a respeito
(o benefício da o rdem só existe se co n stan te da n o rm a e a Lei n. 9.528/1997
disp en so u -o ), abre a po ssibilidade de o credor exigi-lo de u m dos devedores, do
pro p rietário do im óvel, eco nom icam ente m ais idôneo e capaz de assu m ir a o b ri­
gação. A lei p rev id en ciária n ão fixa essa seqüência, reclam ando ser o co n stru to r
cobrado an tes para, após, d ian te de sua inad im p lên cia, a responsabilidade ser
com etida ao p ro p rietário.
Um a aplicação da solidariedade, transferência de responsabilidade de um a
pessoa para o u tra, na prática, cria situações de infringência do direito de defesa.
A notificação fiscal deve fornecer ao obrigado todos os elem entos obtidos ju n to
da contabilidade do o riginariam ente sujeito, para não lhe cercear a contestação. O
recolhim ento referente ao período do débito, efetuado p o r u m ou outro, favorecerá
am bas as partes e arred ará a cobrança o u a solidariedade.
Não só existe p o ssib ilid ad e d e o so lid ário ev itar a so lid aried a d e (exig in d o
do o rig in aria m e n te o b rig ad o o prévio re c o lh im e n to , p o d e n d o , assim , fiscalizá­
-lo nesse p a rtic u la r) co m o tam b ém é asseg u rad o o d ireito de ação regressiva,
até m esm o d e d e sc o n ta r parte do av ençado p ara c o b rir as d espesas com a soli­
daried ad e.
616. A ferição in d ire ta — Em inúm eras op o rtu n id ad es, é im prescindível a p u ­
rar a m ão de obra (valor do salário de co n trib u ição ). N a construção civil, essa ex­
pressão tradicional co rresponde à retribuição dos trabalhadores, com preendendo
salários, ganhos h ab itu ais e, excepcionalm ente, honorários.
M ão de obra é o m o n tan te do fato gerador da co ntribuição previdenciária, sua
base de cálculo, verificada diretam ente nas folhas de pagam ento ou estim ada m e­
dian te elem entos indiciários (nota fiscal ou área co n stru íd a). N ão se confunde com
custo total, n o m en clatu ra designativa da m ão de obra (salários), m ais os encargos
sociais, despesas adm inistrativas e lucro do em itente da nota fiscal o u fatura de
serviços. M uito m enos com o custo global, resultado dos gastos com os m ateriais
e m ão de obra, co m p o n d o a som a final da edificação.
Se o sujeito passivo da obrigação organizou escrituração, preparou folhas de
pagam ento com im p o rtâncias referentes à edificação e, na parte contratada com
terceiros, p ro cu ro u verificar se os d o cu m en to s em itidos p o r estes guardam relação
conform e níveis aceitos pelo m ercado, não pode haver avaliação p o r via indireta,
devendo os valores contabilizados ser acolhidos. O bviam ente, am bas as quantias
com patibilizadas com a m etragem construída.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

580 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O p ercen tu al ap reendido p o r m eio das notas fiscais de serviço (40%) ou de
m ão de ob ra e m aterial (20% ) é arbitrado, não apresentando, necessariam ente,
vínculo direto com a realidade. O m esm o vale para os p ercentuais do CUB para
cada tipo de construção.
A p u rar diretam ente significa exam inar os d o cu m en to s p ró p rio s, aqueles pres­
critos em lei — co n d u zid a essa operação sob os princípios da escrituração — , tais
com o folhas de pagam ento, cartões de po n to , livros de registro de em pregados,
recibos de salário, diário, contas correntes, razão e o u tro s m ais, consagrados na
ciência contábil.
Q u an d o a obra é realizada com em pregados da em presa, esses são alguns dos
papéis a apreciar m ed iante exam e direto.
C om patibilidade entre área co n stru íd a e m ão de obra estim ável para a cons­
trução, de acordo com a lei, arreda a possibilidade de verificação com base em
elem en to s incliciários. Se isso acontece, o sujeito passivo pode d em o n strar a regu­
laridade dos reco lh im entos pela contabilidade.
U m a c o n stata ção d ireta da re g u la rid ad e é p ra tic ad a d iu tu rn a m e n te pela
F iscalização do INSS, em relação às d em ais ativ id ad es ec o n ô m ic as, au to riz ad a
a p ro c e d e r d e o u tra form a so m en te se p re sen tes fo rtes in d ício s de sonegação de
dados.
Aferição indireta é expressão institucionalizada, m as u m contrassenso v ern a­
cular. N ão existe aferição direta; a apuração com base em elem entos subsidiários
é sem pre oblíqua.
O Plano de C usteio oferece duas d eterm inações im p o rtan tes a respeito, co n ­
vindo, inicialm ente, reproduzi-las p o r inteiro. A prim eira diz: O correndo recusa ou
sonegação de q u alq u er d o cu m en to ou inform ação, ou sua apresentação deficiente,
o INSS e a Receita F ederal do Brasil podem , sem prejuízo da penalidade cabível,
inscrever de ofício im portância que reputarem devida, cabendo à em presa ou ao
segurado o ô n u s da prova em contrário (PCSS, art. 33, § 3°).
A seg u n d a diz: “Se, no exam e da escrituração contábil e de q u alq u er outro
d o cu m en to da em presa, a fiscalização constatar que a contabilidade não registra o
m o vim ento real de rem uneração dos segurados a seu serviço, do fatu ram en to e do
lucro, serão ap u rad as, p o r aferição indireta, as contribuições efetivam ente devidas,
cabendo à em presa o ô n u s da prova em co n trá rio ” (PCSS, art. 33, § 6a).
Essa aferição indireta tem características próprias: a) legalidade; b) excep-
cionalidade; c) co n traditório; d) pressu p o sto s legais; e) transparência; 0 lógica do
p ro ced im en to ; g) cabim ento; e h) relatório circunstanciado.
D iante do p rin cíp io co n stitu cio n al da legalidade, so m en te a lei pode autorizar
a obtenção da base de cálculo m ediante elem entos subsidiários. Inexisle apuração
ind ireta o u extensão da lei p o r m eio de decreto ou portarias m inisteriais. A regra
universal, provinda de norm a com caráter de lei com plem entar, são os arts. 148 e
149 do CTN.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c i a l 581
Aferição ind ireta é m edida excepcional e rom pe a regra ju ríd ica instalada.
Por isso, su a adoção precisa ser am plam ente justificada n a lei, refletindo situações
reais. A co n stru ção civil é exem plo concreto de validade.
D iante da excepcionalidade prevalece o princípio do co n trad itó rio e ele pres­
supõe o m ais am plo direito de defesa e oposição do alegado.
Os p ressupostos legais (in casu, regularidade do form alism o, com patibilidade
de valores, apresentação de todas as atividades etc.) são ab so lu tam en te im prescin­
díveis e d em o n strad o s à saciedade.
Seu p ro ced im en to adm inistrativo precisa ser claro, indicando a capitulação
legal e todos os raciocínios e operações m atem áticas utilizados, necessariam ente
transparentes.
E ncam in h am en to a ser lógico, isto é, refletir a realidade do dia a dia, facilm ente
com provãvel se necessário for.
Assim , exem plificativam ente, eq u ip am en to s su b stitu em o esforço h u m ano;
casas sim ples utilizam -se de m ateriais singelos e m ão de obra m enos custosa.
É preciso s u b s is tir relação lógica e ju ríd ic a para a b a n d o n a r a in sp eção
h ab itu a l (v erificação com b ase n as folhas de p a g a m e n to ), s u b s titu in d o pelo
exam e de n o tas fiscais ou p ela a p u raçã o da área c o n stru íd a . Im põe-se ju s tif i­
cação fu n d a m e n ta d a . In e x iste m p re su n ç õ e s ax io m áticas; as afirm açõ es têm de
ser d e m o n stra d a s.
617. R eco lh im en to d as co n trib u içõ e s — As contribuições previdenciárias
deco rrentes de obras de co n stru ção civil são aportadas, no caso de profissionais
autô n o m o s, p o r m eio da GPS e, no p e rtin e n te às em presas co n stru to ra s ou pessoas
juríd icas, m ediante GRPS.
Os pagam entos podem ser norm ais ou suplem entares, à vista ou por parce­
lam ento. Q uando for a hipótese, su b m etendo-se a todos os acréscim os legais, se
operad o s fora do prazo exigido n a lei.
Fica evidente a necessidade de os em preiteiros e subem preiteiros de várias
obras individualizá-las p o r CE1 ou GRPS específicas e, da m esm a form a, os p ro ­
prietário s co n tro larem essa identificação do im óvel, pois a apropriação de guias co ­
letivas dos ex ecu tan tes dos serviços, na inadim plência dos construtores, é prática
insegura. À exceção de concreto e m ateriais pré-fabricados, na prática, o INSS não
aceita g u ias g lo b alizad a s com a p ro p ria ç ã o p ara m ais de u m a o bra. T am bém
não acolhe as relativas ao pessoal da A dm inistração; estão fora do valor CUB.
618. F iscalização d a re g u la rid ad e — O proprietário de casa própria (pessoa
física) e a em presa (pessoa ju ríd ica), em relação às obras de construção civil in d i­
retam ente executadas, são p o r elas fiscalm ente corresponsáveis e, p o r conseguinte,
am bos sujeitos à verificação p o r parte do INSS.
D iferentem ente da ju ríd ica, a pessoa física não está obrigada à contabilidade,
bastando organizar e ap resentar folha de pagam ento, GRPS e d o cu m en to s m u n i­
cipais p ró p rio s da construção. O p roprietário da casa p ró p ria não é em presário.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

582 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A pessoa ju ríd ic a e o co n stru to r (em preiteiro ou subem preiteiro) têm obriga­
ções legais com plexas, igualm ente verificáveis.
C onform e as in stru çõ es internas do INSS, a fiscalização far-se-á no dom icílio
da em presa (cen tralizador). A do proprietário, p o r m eio da DRO, apresentada ao
seto r p ró p rio da GRAF do órgão local da autarquia.
As obrigações do p ro p rie tá rio são diferentes dos encargos dos executantes
da obra. Se alguém co n tra ta os serviços de em preiteiro, não precisa elaborar fo­
lhas de p ag am en to ou re g istrar na co n tab ilid ad e a quitação individualizada dos
serviços p restad o s p o r profissionais do ram o a seu serviço. Q uem os adm ite é o
em p reiteiro (ou o su b em p reiteiro ). É suficiente co n sig n ar os valores totais pagos
a ele (c o n stru to r).
Basta gu ard ar p o r dez anos os d o cu m en to s da edificação (p lan ta baixa, alvará
de co n stru ção , alvará de habitaçáo, auto de vistoria dos diferentes órgãos, notas
fiscais de m ateriais ou de m ão de obra, co n tra to s de co n stru ção e recibos de liqui­
dação das faturas). C onvém não destruí-los, pois, seg u n d o o parágrafo único do
art. 45 do PCSS, as em presas estariam obrigadas à contribuição descontada dos
trabalhadores... e a decadência ou prescrição (sic) do FGTS é de 30 anos!
Com vistas à futura arguição de decadência, o p ro p rietário da casa própria e
a pessoa ju ríd ic a precisam in d icar a data de conclusão da obra, razão pela qual,
repete-se, devem gu ardar os d o cu m en to s com probatórios p o r tem po indefinido.
Caso todos os d o cu m en to s ten h am desaparecido, prin cip alm en te após o curso de
m u ito s anos, verificação in loco p o r engenheiro especializado p o d erá servir de base
para a d eterm in ação do período da construção. M odelo arquitetônico, m ateriais
em pregados, localização, estado geral da obra, podem ser indicativos do nível de
ancianidade.
A ciência contábil observa princípios, cerca-se de proteção legal e respeito ins­
titucional. P erfilhados esses preceitos, subsiste presunção de legitim idade dos seus
registros. Seus valores não po d em ser contestados, salvo se op o n en te dem onstrar
à saciedade, m ed ian te prova satisfatória e indiscutível, a não validade dos ap o n ta­
m entos. Estes refletem realidade presum ida, em bora não absoluta.
619. Ô n u s fo rm ais — A atividade de construção civil, com o q u alq u er outra
em p reen d id a p or em preiteiros ou subem preiteiro s do ram o, p o r em presas com er­
ciais e in d u striais q u an d o realizam serviços in tern o s ou obras em seu estabeleci­
m ento e até p o r pro prietários de casa pró p ria, presente a hipótese de incidência,
sujeitam -se à verificação p o r parte do INSS.
Sua fiscalização, em certos casos, im plicando a aferição com base em elem entos
indiciários, apuração indireta do fato gerador e adoção do princípio fiscal da solida­
riedade, cerca-se de inúm eros cuidados e tem gerado conflitos e dissídios, finalm ente
resolvidos pela Justiça Federal. E, com isso, p roduzindo algum a jurisprudência.
P rovavelm ente, é rara atividade a exigir verificação física, com o a d eterm in a­
ção da m etragem e o exam e de d o cu m en to s de terceiros interessados na relação
econôm ica, im p o n d o co m p u lsar registros fiscais estran h o s à usualidade.

C urso d e D ir e it o P r e v i d e n c i A iu o

T o m o I I — P r e v id ê n c ia S o c ia l 583
Os elem enlos de fiscalização da construção civil variam conform e o sujeito
passivo e, no m ais, aco m p an h am as obrigações principais e acessórias, estabeleci­
das nos arts. 30 a 33 do Plano de C usteio.
A solicitação deve ser precedida de N otificação para A presentação de E lem en­
tos — NAE, na qual in d icados co ntratos de em preitada e subem preitada, faturas,
notas fiscais e recibos de pagam ento, alvará de licença e habitação, livro diário.
Os principais d o cu m en to s exigidos são: a) com provação da propriedade; b)
m atrícula da obra; c) p lan ta baixa ou croquis; d) alvará de construção; e) alvará de
habitabilidade; 0 alvará de conservação; g) co ntratos de m ão de obra; h) d o cu m en ­
tos trabalhistas; e i) registros fiscais e contábeis e GRPS.
620. Isen ção e m u tirão — Isenção e m u tirão são dois aspectos distintos na
construção civil. Isenção é instituição fiscal, o fato gerador existe, m as o legislador
não quer a exigibilidade. No m u tirão , nào h á fato gerador, sendo im p ró p rio falar-se
em isenção. A não o corrência da hipótese de incidência, em que im possível a obri­
gação fiscal, sucede em q u alq u er área e não necessariam ente na construção civil.
O inciso VIII do art. 30 do PCSS cuida do m utirão: “N en h u m a contribuição
à Seguridade Social é devida se a co n stru ção residencial unifam iliar, destinada ao
uso p róprio, de tipo econôm ico, for executada sem m ão de obra assalariada, obser­
vadas as exigências do re g u lam en to ”.
Em seu art. 44, depois de repetir o dispositivo acim a reproduzido, o R egula­
m en to do C usteio estabelece as condições: a) a área total da edificação não deve
u ltrap assar 70 m etros quadrados; b) a obra deve ser m atriculada no INSS, m ediante
com unicação obrigatória do responsável p o r sua execução, d en tro de 30 dias; e c)
a com provação da área total da edificação, da destinação e forma de execução deve
ser feita p o r ocasião da referida m atrícula, conform e norm as internas.
Previam ente inform ada a au tarq u ia no ato da m atrícula, será adm itido o m u­
tirão parcial.
M utirão é u m a das m ais antigas m anifestações hum anas ligadas ao trabalho.
Precede à divisão do trabalho. É tam bém a m ais tradicional das form as de labor
coletivo. Os séculos e as transform ações socioeconôm icas não lhe subtraíram a
principal característica, a solidariedade. C om a divisão do trabalho, à qual tanto
deve a civilização, d efinhou essa form a extraordinariam ente bela de esforço em
grupo. O m utirão, arred ando o aspecto m ais oneroso do serviço — a obrigação — ,
é alegre, festivo m esm o, chegando ao extrem o de se co n stitu ir nu m raro m om ento
de felicidade.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

584 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo LXII

E n t id a d e s B en e f ic e n t e s

S u m á r i o : 621. Comandos válidos. 622. Conceito de filantrópica. 623. Noção de


isenção. 624. Inexigibilidade na construção. 625. Dispensa da parte patronal.
626. Extensão aos estabelecimentos. 627. Deveres empresariais. 628. Contra­
tação de autônomo. 629. Fiscalização da imunidade. 630. Demonstração da
gratuidade.

Em razão da im unidade, certo tipo de em presa se destaca en tre os obrigados


à co n trib u ição previdenciária: são as entidades beneficentes de assistência social e,
em particular, as de fins filantrópicos.
621. C o m an d o s v álid o s — D ispensadas da parte patro n al da contribuiçã
previdenciária, o rig inariam ente em razão da Lei n. 3.577/1959, essas entidades
gozam de im u n id ad e exacional em relação ao aporte securitário.
S om ente as em presas com o tais caracterizadas fazem ju s à desobrigação e,
d estarte, é im prescindível precisar, em dado m om ento histórico e legal, as pessoas
jurídicas alcançadas pela exclusão fiscal.
A legislação sobre a m atéria é anciã, copiosa e, em nível adm inistrativo, m o­
difica-se com b astan te frequência. C onvém atualizá-la para fins de com preensão
do fenôm eno da elisão do crédito fiscal e, p rincipalm ente, observar o p rincípio da
aplicação da n o rm a vigente ao tem po do fato gerador (C TN , art. 1 7 5 ,1).
U m a p rim eira norm a a m encionar as “sociedades civis, as associações e as
fundações co n stitu íd as no País com o fim exclusivo de servir desinteressadam ente
à co letividade”, p o d en d o ser declaradas de utilidade p ú b lica (um dos requisitos
fun d am en tais), foi a antiquíssim a Lei n, 91/1935, regulam entada pelo D ecreto n.
50.507/1961.
A Lei n. 3.577/1959 isen to u “da taxa de contribuição de previdência aos Ins­
titu to s e Caixas de A posentadorias e Pensões as entidades de fins filantrópicos,
reconhecidas com o de utilidade pública, cujos m em bros de suas diretorias não
percebam rem u n e raç ão ” (art. 1Q). No art. 2-, previu o dever de recolher a parte
descontada dos trabalhadores. Os D ecretos Legislativos ns. 1.116, 1.117 e 1.118,
to d o s de 1962, tam b ém d ispuseram sobre o assunto.

C u r s o d í? D ir e it o P r e v id f .n c iá k io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l
Inovando, o D ecreto-lei n. 1.572/1977 revogou a Lei n. 3.577/1959 (art. I a),
m as reconheceu a possibilidade de algum as delas perm anecerem gozando do b en e­
fício fiscal (abrindo célebre discussão em torno do direito adquirido).
O art. 153 da CLPS consolidou a m atéria, constante, p o r sua vez, nos arts.
68 a 70 do D ecreto n, 83.081/1979 (R egulam ento do C usteio). Na ocasião, não
dispensava a cotização relativa ao seguro de acidentes do trabalho e ao salário-
m aternidade (art. 68, § 3 Q).
A Lei n. 8.212/1991 reviu a revogação e dispôs am plam ente sobre a isenção,
praticam ente restabelecendo os efeitos da Lei n. 3.577/1959, e, pela p rim eira vez,
designou os d estin atário s da norm a p o r “entidade beneficente de assistência so­
cial”, rein tro d u zin d o os requisitos para obtenção do favor fiscal (art. 55, 1 a V).
O dispositivo foi regulam entado pelos arts. 30 a 33 dos D ecretos ns. 3 5 6 /1 9 9 1
e 612/1992, p o sterio rm en te m odificados pelos D ecretos ns. 752/1993 e 1.038/1994.
Em nível adm inistrativo, o item 14 da O rdem de Serviço 1NSS/DAF n. 72/1993
regrou a m atéria e, assim , já d isp u n h a a O rdem de Serviço INSS/DAF n. 33/1992,
bem com o as O rdens de Serviço INSS/DAF ns. 51/1992 e 56/1992 e, p o sterio rm e n ­
te, a de n. 150/1996.
622. C o n ceito de filan tró p ica — Em bora cuide das entidades beneficentes
em dois artigos (150, VI, c, e 201, § 8 g), a C F/1988 não tem conceito ou definição
de en tidade filantrópica; nem se deveria esp erar isso. Aliás, m odificou a ideia p re­
térita falando em entidades beneficentes de assistência social.
Para fins da im u n idade previdenciária, é a reconhecida com o de utilidade
p ública federal, estadual, d istrital ou m u n icip al p o rtad o ra do C ertificado ou do
Registro de E ntidades de Fins F ilantrópicos, fornecido pelo CNSS, prom ovendo
assistência social beneficente a m enores, idosos, excepcionais ou pessoas carentes,
quando aplicar in teiram ente o resultado operacional na m an u ten ção e no desen ­
volvim ento de seus objetivos, e, se os seus diretores, conselheiros, sócios, institui-
dores ou benfeitores nào auferirem rem uneração ou não u su fru írem vantagens ou
benefícios a q u alq u er título (art. 55 da Lei n. 8.212/1991).
As in stru çõ es adm inistrativas, m esm o após o advento do Plano de C usteio,
fazem alusão às en tid ad es de fins filantrópicos, em vez de entidades beneficentes
de assistência social (item 16 da O rdem de Serviço INSS/DAF n. 51/1992).
Para esse efeito, é preciso distinguir: a) organizações sem fins lucrativos; b)
instituições religiosas; c) em p reen d im en to s beneficentes; e d) entidades b eneficen­
tes de assistência social.
“O rganizações sem fins lu crativ o s” é designação genérica, com preendendo
atividades econôm icas sem lucro. N esse caso, entre outras, as associações civis,
partidos políticos, fundações, cooperativas, entidades religiosas, beneficentes ou
filantrópicas. Q u an d o a receita supera a despesa, diz-se presente superávit.
In stitu içõ es religiosas são entidades tradicionalm ente reconhecidas com o tais,
voltadas ao culto, obediência, reverência a D eus, m in istra n d o os serviços pró p rio s

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

586 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
da fé. Tais organism os são firm as Iato sensu, para fins fiscais. N ão necessariam ente
beneficentes, nem sem resultados financeiros, frequentem ente, o u na m aioria dos
casos direcionadas para a religião, exercitam a filantropia e desenvolvem atividades
não com erciais. A lgum as seitas não católicas associam esforços editoriais, explo­
ram cem itérios, ed u candários etc., am pliando o seu alcance e m odificando um
po u co sua natureza.
E m p reen d im en to s beneficentes, religiosos ou civis são instituições atentas às
pessoas necessitadas, isto é, efetivam a filantropia e ajudam o próxim o, individual
ou coletivam ente. Além de privadas, podem ser estatais, aí com preendidas no cam ­
po da assistência social.
As en tid ad es beneficentes de assistência social, conform e a O rdem de Serviço
INSS/DAF n. 72/1993, são “aquelas que prestam assistência social gratuita, in clu ­
sive a ed u cacio n al e de saüde na área de atuação da seguridade social, a m enores,
idosos, excepcionais ou pessoas carentes” (item 1).
D o u trin ariam en te, pode-se defini-las com o a organização p articu lar esp o n ta­
n eam en te co o rd en ad ora de esforços po stad o s para o aten d im en to dos necessitados
(carentes, idosos, m enores de idade e deficientes), consistindo os bens oferecidos
em p eq u en o s benefícios em dinheiro, esporádicos ou tem porários, cuidados com a
saúde (h o sp itais), fornecim ento de alim ento (sopas vicentinas), habitação (asilos),
ensino (ed u can d ário s) e o u tras prestações, co m plem entando ou não os serviços
previdenciãrios, de filiação ou associação facultativa, com participação pecuniária
o u não dos d estin atários e sem finalidade lucrativa, p o r gestão não retribuída em
d in h eiro , reconhecida com o de utilidade pública pelos entes políticos.
623. N oção de isen ção — Entre as diversas m odalidades de não nascim ent
do crédito previdenciário, apresenta-se a isenção. Não se co n fu n d e com a anistia
nem com as form as de exclusão o u de extinção da obrigação fiscal, com o a deca­
dência e/ou a prescrição.
A isenção situa-se no bojo da incidência, u m universo no qual, de m odo ge­
ral, p resen te com o deflagrador, o direito ao pagam ento p o r serviços prestados de
co n stru ção civil.
Se ausente a incidência, em tese inexiste isenção ou anistia e qualquer exigência
estatal. Na não incidência, o fato econôm ico sucede, m as o legislador nào o deseja
com o geratriz ou d eterm inante de im posições exacionais. G enericam ente falando,
valores indenizatórios pagos ao trabalhador não integram o salário de contribuição.
N a isenção e na anistia, o fato gerador está caracterizado. Todavia, em relação
à certa pessoa, a lei não o q u er com o hipótese de incidência e de contribuição. Ou
seja, a n o rm a não im pede a o corrência do evento, apenas susta a exação.
Fábio Fannuchi lem bra distinção sim ples entre essas duas form as de exclusão
do crédito. A isenção preexiste ao falo econôm ico gerador da hipótese de in cid ên ­
cia e esta, assim , não acontece. A anistia, porém , após o surgim ento do fato gerador
e põe fim à obrigação ( “C urso de D ireito T ributário B rasileiro”, 3. ed., São Paulo:
Ed. R esenha T ributária, MEC, 1975, p. 367/386).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 587
A isenção das entidades beneficentes de assistência social diz respeito ape­
nas à parle patronal da im posição fiscal. Essa dispensa de contribuição é subsídio
governam ental ao aten d im en to de pessoas verdadeiram ente necessitadas, p arti­
cularm en te m enores ab an donados pelos pais, e deficientes físicos. Não exigindo
a fração principal do aporte, resulta a previdência social financiar a assistência
social, e esse não é seu papel ( “Subsídios para um M odelo de Previdência Social”,
São Paulo: LTr, 1992, p. 36).
624. In e x ig ib ilid ad e n a co n stru ç ão — O art. 30, VI, do PCSS, não excetuan­
do expressam ente, abriga as entidades beneficentes de assistência com o p erte n cen ­
tes ao u n iv erso das pessoas atingidas pela solidariedade. S om ente “o adquirente de
préd io ou unidade im obiliária que realizar a operação com em presa de com ercia­
lização ou in co rp o rad o r de im óveis” está excluído da responsabilidade solidária,
“ficando estes so lidariam ente responsáveis com o co n stru to r” (art. 30, VII) e não
se pod en d o falar em isenção no m utirão (art. 30, VIII), e sim em não incidência.
P or sua vez, o art. 55 do PCSS desobriga as entidades beneficentes de assistên­
cia da parte p atronal da contribuição gerada pelos seus em pregados, referindo-se,
in ca.su, às atividades norm ais. R aram ente, tais em presas possuem seto r próprio
de construção civil, u su alm ente, constróem m ediante a cooperação com unitária,
adm in istran d o d iretam en te ou co n tratan d o com terceiros.
Aplicada a corresponsabilidade, se elas não fossem dela excluídas, teriam de
recolher contribuições patronais e isso conflitaria com o direito à isenção. Esse
raciocínio sim ples deve ter inspirado o órgão gestor para dispensã-las da coobriga-
ção. Mas nascendo a solidariedade (e sua exclusão) e a isenção so m en te da lei, só
ela poderia arredá-la.
N o passado, p o r m eio da O rientação de Serviço INPS n. 029.5/1976 e ho-
diern am en te, o INSS estendeu a isenção a toda contribuição, in clu in d o a parte
descontada dos trabalhadores do executante dos serviços. A rigor, considerando
a sub-rogação com o obrigação transladada p o r inteiro, em princípio, ela tam bém
não estaria obrigada a pagar os 8%, 9% ou 11%, d eduzidos ou não dos segurados.
O item 16 da O rdem de Serviço INSS/DAF n. 51/1992 determ inou: “A en tid a­
de filantrópica, em gozo de isenção da cota patronal, não responde solidariam ente
pelas obrigações d eco rrentes de contrato de construção civil.” Nesse sentido, a
isenção é am pla e abrange todas as obrigações do c o n stru to r (parte do em pregado
e patronal).
D iferentem ente, n a O rdem de Serviço INSS/DAF n. 72/1993, dispõe-se: “A
isenção é extensiva às dependências, estabelecim entos e obras de co n stru ção civil
da en tidade beneficente, q uando p o r ela executada e d estinada a uso p ró p rio ”
(item 14), conclusão m uito natu ral diante do art. 55 do PCSS, m as o subitem 14.1
reza: “N a obra de co n stru ção executada com o auxílio de subem preiteiros, apenas
a parte executada pela entidade estará abrangida pela isenção”.
O dispositivo reproduzido inova em relação à norm a anterior, é restritivo e co n ­
fuso. Parece aplicar a isenção apenas à parte p o r ela executada (responsabilidade)

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

588 W \a d im ir N o v a e s M a r tin e z
e rejeita a co n tratad a com terceiros (corresponsabilidade ou solidariedade). Além
disso, fixa a corresponsabilidade com subem preiteiros, ignorando o em preiteiro
(presente, se há subem preiteiro). Resta a im pressão, feitas as correções sem ânticas,
de colidir com o item 16 da O rdem de Serviço INSS/DAF n. 5 f/1 9 9 2 , revogando-o.
Na transferência da obrigação, operada a solidariedade, o Ônus fiscal em nada
é alterado, ap resen tando-se com suas particularidades. A isenção afeta-o, e, dizen­
do respeito apenas à parte patronal, não ilide a obrigação de as entidades benefi­
centes de assistência social recolherem referente aos trabalhadores.
Se as en tid ad es beneficentes edificam e ad m in istram d iretam en te as obras, são
tidas com o p roprietárias. Seja p o r m an terem serviço p ró p rio de profissionais do
ram o da co n stru ção civil, seja p o r terem co n tratad o , registrando-os ou não, traba­
lhad o res para esse em p en h o laborai. A usente a participação de terceiros (c o n stru ­
to res), está disp en sada da parte patronal da contribuição, nu m a extensão norm al
da isenção à co n stru ção civil.
P or isso, é incisiva, m as não clara, a O rdem de Serviço INSS/DAF n. 51/1992:
“Q u an d o a en tid ad e filantrópica executar obra sob sua responsabilidade direta e
destin ad a a uso p ró p rio , goza da isenção de cota patronal, de seguro de acidentes
do trabalh o e das con tribuições destinadas a terceiros, em relação aos em pregados
v in cu lad o s à co n stru ção civil”.
O art. 30, § f fi, do R egulam ento do C usteio diz: “A isenção das contribuições
é extensiva às d ep en dências, estabelecim entos e obras de co n stru ção civil da en ti­
dade beneficente, q u an d o p o r ela executadas e destinadas a uso p ró p rio ”.
N esse caso, p o r dever d esco n tar ou ter descontado, está sujeita a recolher os
8%, 9% ou 11% dos trabalhadores subordinados.
O s textos são o b scuros q uando falam em responsabilidade direta (não explici­
tada) e uso p ró p rio . Para caracterizar a supervisão pessoal, é preciso o p roprietário
co n tra tar trab alh ad o r n ão au tô n o m o ou pessoas dep en d en tes, e isso é difícil em
m atéria de co n stru ção civil. Se co n stró i p ara terceiros, está desvirtuada sua co n d i­
ção de en tid ad e beneficente.
625. D isp en sa d a p a rte p a tro n a l — Q uando a entidade beneficente de assis­
tência social cu m p re as exigências da lei previdenciária, está dispensada da parte
p atro n al da exação securitária.
Da m esm a form a, não está obrigada a pagar os 20% dos adm inistradores (não
são rem u n e rad o s com o tais), prestadores de serviços referidos na LC n. 84/1996 e
Lei n. 9.876/1999.
Igualm ente, não têm de recolher 1%, 2% o u 3% relativos ao seguro de aciden­
tes do trabalho. N em m esm o os 8% sobre o lucro líquido ou os 2% sobre a receita
bruta.
626. E x ten são ao s e sta b e le c im e n to s — Diz o § 2a do art. 55 da Lei n.
8.212/1991: “A isen ção ” (leia-se im unidade) “de que trata este artigo não abrange
em presa o u en tid ad e que, tendo perso n alid ad e ju ríd ica pró p ria, seja m antida por
o utra que esteja no exercício da isenção”.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l 589
Tal disposição pôs fim a dúvidas pretéritas. Estão incluídos estabelecim entos
com CNPJ p ró prio, sob u m critério jurídico, deixando de lado o técnico.
Assim , se as entidades beneficentes de assistência social m antêm , com seus
recursos, escolas, creches, hospitais, em presas do “m esm o g ru p o ”, com personali­
dade ju ríd ica d istinta, a isenção e a n ão aplicação da solidariedade não se estendem
a tais entidades. Ao contrário, m antidos os requisitos dos incisos I a V do art. 55,
estabelecim entos com CNPJ individualizados e voltados para atividades estranhas
à filantropia (v. g., tipografia, livraria) gozam da isenção e da não aplicação da
corresponsabilidade.
627. D everes em p re sariais — São duas as obrigações da entidade beneficente
de assistência social: a) principal; e b) acessória.
Deverá d escontar (8%, 9% ou 11%) e recolher o deduzido de seus em pregados.
Se adquirir p ro d u to s rurais, tem o dever de descontar os 2,1% do segurado especial
e do p ro d u to r rural pessoa física. Os 2,6% do p ro d u to r rural pessoa ju ríd ica são por
ele diretam ente recolhidos ao FPAS, a partir da M edida Provisória n. 1.523/1996.
Precisará cu m p rir todos os deveres form ais co rrespondentes à condição de
em presa vinculada ao RGPS: a) m atricular-se; b) elaborar folhas de pagam ento; c)
em itir o PPP (am igos D1RBEN ou DSS 8030, D1SES SE 5235 e SB-40); d) p reencher
o AAS; e) p restar inform ações à Fiscalização do INSS; 1) exibir livros e d o cu m en to s
obrigatórios etc.
628. C o n trataç ão de a u tô n o m o — Q u ando co n tra ta autônom o, está d isp en ­
sada da co n trib u ição patronal referida na LC n. 84/1996 (O rientação N orm ativa
n. 6/1996) e na Lei n. 9.876/1999. Tal obrigação sem pre foi enten d id a, desde o
D ecreto-lei n. 959/1969, com o sendo patronal.
629. F iscalização d a im u n id ad e — Os diferentes itens reguladores das o b ri­
gações form ais da en tidade estão sujeitos à p erm an en te fiscalização do INSS. O
sujeito ativo da obrigação fiscal tem o p o d er de verificar a posse dos d ocum entos e
o cenário definidor da im unidade, podendo, após encam in h ar dossiê nesse sentido,
caracterizada a in adim plência form al, d esco n stitu ir a condição de desobrigada da
contribuição patronal.
D epois da em issão da notificação pró p ria, e, a final, consolidada a situação
irregular, em itirá a co m petente N otificação Fiscal de Lançam ento de D ébito —
NFLD.
Cabe recurso de apelação ao C onselho A dm inistrativo de R ecursos Fiscais do
M inistério da F azenda, no prazo de 15 dias, contados da ciência da notificação.
Salvo erro form al ou m aterial na em issão da NFLD (o m érito terá sido exam inado
q uan d o do exam e do dossiê an terio rm en te referido), a CARF prestigia o trabalho
fiscal e m antém a exigibilidade, em itindo a Decisão — N otificação.
Desse últim o d o cum ento, cabe recurso, no prazo de 30 dias, para o C onselho
Superior de Recursos Fiscais (sediado em Brasília), protocolado, tanto quanto o
prim eiro, na m esm a GRAF Esta decidirá em últim o e definitivo grau adm inistrativo.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

590 W lc iíiim ir N o v a e s M a r t i n e z
Em caráter excepcional, q uando m anifesta a im procedência ou insubsistência
do débito, solicitação (não é direito subjetivo) de apreciação ao M inistro de Estado.
F inalm ente, o ú ltim o rem édio é buscar a ju s tiç a Federal.
630. D e m o n stra ção da g ra tu id a d e — N ão basta a entidade praticar o assis-
tencialism o ou a b en em erência, enfim , aten d e r desinteressadam ente os necessita­
dos, efetivando a verdadeira filantropia.
A lei exige pro cedim entos escriturais e contábeis com plexos, de algum a for­
ma onerosos, para p erm itir a isenção da parte patronal. Isto é, torna-se necessário
d em o n strar a efetividade da gratuidade no atendim ento.

C u rso d e D i r e it o P r e v i d e n c i á r i o
T om o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 591
Capítulo LXIII

G r a t u id a d e n a s F il a n t r ó p ic a s

631. Normas disciplinadoras. 632. Tratamento legislativo. 633. Con­


S u m á r io :
cepção genérica. 634. Sistemas de apuração. 635. Escrituração e contabiliza­
ção. 636. Percentuais mínimo e máximo. 637. Importância aquém da parte
patronal. 638. Honorários tabelados. 639. Preço de compra. 640. Compensação
de valores.

De acordo com o art. 55, III, do PCSS, a entidade beneficente de assistência


social tem direito à im u n id ad e da parte patronal de sua contribuição, se prom over
“a assistência social beneficente, inclusive a educacional ou de saúde, a m enores,
idosos, excepcionais ou pessoas carentes”. N esse aten d im en to , está pressuposta a
ideia de oferecer serviços gratuitos ou subsidiados aos necessitados.
631. N o rm as d isc ip lin a d o ra s — A im unidade exacional das entidades b e­
neficentes de assistência social está contem plada no art. 150, VI, c (“p atrim ônio,
renda ou serviços dos p artidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades
sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social,
sem fins lucrativos, aten didos os requisitos da lei”), e no art. 195, § 7Q, da CF/1988:
“São isentas de co n trib u ição para a seguridade social as entidades beneficentes de
assistência social que atendam às exigências estabelecidas em Lei”.
Dessa desobrigação de contribuir, tam bém tratam os arts. 14 e 19 do CTN (Lei
n. 5.172/1966). Mais p articu larm en te, no art. 55, V do PCSS (Lei n. 8.212/1991)
(“aplicar in teiram en te eventual resultado operacional na m an u ten ção e desenvol­
vim ento de seus objetivos constitucionais, ap resen tan d o anu alm en te ao C onselho
N acional de Seguridade Social relatório circunstanciado de suas atividades”).
C uidam , ainda, da m atéria o D ecreto n. 752/1993 e o D ecreto n. 1.038/1994.
Tam bém convém co n su ltar a O rdem de Serviço INSS/DAF n. 72/1993, bem com o
as de ns. 33/1992, 51/1992 e 56/1992. E, tam bém , a de n. 150/1996.
632. T ratam en to legislativo — O disposto no art. 55, V, do PCSS é m ais bem
explicitado nos dois decretos e nas ordens de serviço internas. C om efeito, o art. 30,
§ 4q, do RCSS (D ecreto n. 612/1992), na redação dada pelo D ecreto n. 952/1993,
vigente até 5.3.1997, dizia: “O INSS verificará, periodicam ente, se a entidade

C urso p r P iR rr ro P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
beneficente c o n tin u a aten d e n d o aos requisitos de que trata este artigo, aplicando
em g ratu id ad e pelo m enos, o equivalente à isenção da contribuição previdenciária
p o r ela u su fru íd a, exceto no caso das Santas Casas e dos hospitais filantrópicos
filiados à C onfederação das M isericórdias do Brasil — CMB, p o r interm édio de
suas federadas estaduais, bem com o das APAEs e dem ais entidades que prestem
aten d im en to a pessoas p o rtad o ras de deficiência, filiadas à F ederação N acional das
APAEs”.
O m esm o D ecreto n. 952/1993, em seu art. 2e, III, im põe: “aplicar integral­
m en te, no T erritório N acional, suas rendas, recu rso s e eventual resu ltad o opera­
cional n a m an u ten ção e desenvolvim ento dos objetivos in stitu cio n a is.” N o in ci­
so IV, acresce: “aplicar anu alm en te pelo m enos vinte p o r cento da receita bruta
p ro v eniente da venda de serviços e de bens não integrantes do ativo im obilizado,
bem com o das co n tribuições operacionais, e gratuidade, cujo m o n tan te n u n ca será
inferior à isenção de contribuição previdenciária u su fru íd a ”.
Nova redação foi dada ao art. 30, § 4 a, do D ecreto n. 612/1992 pelo D ecreto
n. 1.038/1994, ficando com o seguinte texto: “O INSS verificará, periodicam ente,
se a en tid ad e c o n tin u a aten d en d o aos requisitos de que trata este artigo, aplicando
em g ratu id ad e, pelo m enos, o equivalente à isenção de contribuição previdenciária
por ela u su fru íd a”.
“Estão disp en sados das obrigações a q u e se refere o inciso IV d este artigo as
Santas Casas e H ospitais F ilantrópicos, bem com o as A ssociações de Pais e A m igos
d o s E xcepcionais — APAEs, dem ais entidades que prestem aten d im en to a pessoas
p o rtad o ras de deficiência, desde que observem o seguinte:
A O rdem de Serviço INSS/DAF n. 72/1993 desce a p o rm en o res im p o rtan tes
n a definição das obrigações form ais.
Seu item 2.e reza: “aplicar in tegralm ente o eventual resultado operacional na
m an u ten ção e desenvolvim ento de seus objetivos in stitu cio n a is”.
O item 2.j consigna: “aplicar em gratuidade, a p a rtir da com petência m arço
de 1993, pelo m enos, o equivalente à isenção das co n trib u içõ es previdenciárias
p o r ela u su fru íd as, exceto no caso das Santas Casas e dos H ospitais F ilantrópicos
filiados à C onfederação das M isericórdias do Brasil — CMB, p o r in term éd io de
suas federadas estaduais, bem com o das APAEs e dem ais en tid ad es que prestem
aten d im en to a p esso as...”.
N o su b item 21.3 colhe-se: “Para os fins previstos na letra ‘j ’, a en tid ad e b e ­
neficente de assistência social terá que d e m o n stra r m en salm en te a origem e apli­
cação dos recursos, evidenciando o m o n tan te do valor dos serviços p restados
g ra tu ita m e n te ”.
C om parece no subitem 2.4: “N ão será considerado serviço g ratu ito aquele
p restado em v irtu d e de convênio com o SUS.”
Em n o rin a de discutível liceidade, acrescenta o item 2.4: “A prestação de
serviços g ratuitos pela entidade a seus funcionários e/ou seus dependentes, even­
tu alm ente ou de form a contínua, não poderá ser co m p u tad a para preencher os

C urso d e D iresto P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 593
requisitos da letra j ”, e “os serviços gratuitos prestados não eventualm ente a seus
funcionários e/ou dependentes serão tidos com o rem uneração indireta” (subitem
2.51).
O D ecreto n. 2.173/1997 (R egulam ento do C usteio e O rganização da Segu­
ridade Social), a respeito, dispôs: “A pessoa ju ríd ica apresentará, ainda, as folhas
de pagam ento relativas ao período, bem com o os respectivos d o cu m en to s de ar­
recadação que com provem o recolhim ento das contribuições dos em pregados ao
In stitu to N acional do Seguro Social —- INSS, além de outros d o cu m en to s que pos­
sam vir a ser solicitados pela fiscalização do Instituto, devendo inclusive, lançar
na sua contabilidade, de form a discrim inada, os valores aplicados em gratuidade,
bem com o o valor co rresp o n d en te à isenção das contribuições previdenciárias a
que fizer ju s ” (art. 32, § 2e).
633. C o n cep ção genérica — T radicionalm ente, a assistência social é m in is­
trada em caráter b enem erente, isto é, sem custo para o beneficiário. C ostum a-se
designar de g ratuidade o fornecim ento de prestações sem despesas para os desti­
natários.
Ela deve ser en ten d id a com o a prestação de serviços ou entrega de bens in
natura aos aten d id o s ou assistidos, particip an tes das relações de saúde e de assis­
tência, sem cobran ça direta de num erário.
Tal relação náo é afetada pelo fato de a pessoa ser associada da entidade e
co n trib u ir m en salm en te com pequena parcela.
A g ratuidade não exclui o pagam ento. O u seja, é possível fiscalm ente convi­
ver com a exigência de parte do valor dos bens. Por conseguinte, se o custo real de
um a cirurgia é de R$ 1.000,00 e a entidade cobra do paciente R$ 200,00, a g ratu i­
dade pod erá ser cifrada na diferença entre os dois valores, R$ 800,00.
G ratu id ad e, porém , não se confunde com desconto. Tam bém não encontra
equivalência na inadim plência do devedor ou im possibilidade de cobrança se o ato
ju ríd ico previa onerosidade.
O direito associativo perm ite a um a entidade oferecer serviços gratuitos ao
lado de serviços cobrados, atendim entos parcialm ente rem u n erad o s e parcialm en­
te gratu ito s ou todas as prestações a custo zero para o participante.
634. S istem as de a p u raçã o — A determ inação do valor da gratuidade é tarefa
con ceitu alm en te difícil, operacionalm ente com plexa e não sistem atizada na A dm i­
nistração Pública.
F u n d am en talm en te, o valor do aten d im en to pode ser definido com o a som a
do custo direto m ais as despesas adm inistrativas, excluída, p o rtan to , a ideia de
lucro ou de superávit, objetivos incom patíveis com o assistencialism o, m as ad m i­
tidas provisões de investim entos. Ela pressupõe propiciar m elhores condições para
a pró p ria assistência.
A apuração pode ser alcançada p o r m eio de vários m étodos, variando a esco­
lha p o r p arte da en tidade, em conform idade com a relação custo/benefício em cada
caso, p o rte do estabelecim ento, clientela atendida ou assistida etc.

C u rso de D ir e it o P r e v ip e n c iá r io

594 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
a) valor fixado inteiramente: A en tid ad e poderá arbitrar, sponíe própria, a im ­
p o rtân cia dos diferentes atendim entos, presu m id am en te baseada em algum a ex­
periência, observados os lim ites m ínim o e m áxim o do m ercado. Precisará guardar
d em o n stração desse critério, pois a transparência e a com patibilidade têm de ser
observadas.
b) preço tabelado: P or preço tabelado, en ten d e-se a aplicação de algum a ta­
bela, oficial ou p articu lar, ex tern a à en tid ad e (v. g., AMB, do SUS, de entidades
co n v en en tes).
c) m ontante apurado: A entidade p o d erá ap u rar co n tab ilm en te o custo do
aten d im en to , no caso não se servindo de tabela, m as d iretam en te a partir de suas
despesas. Trata-se de p rocedim ento com plexo e custoso, cabível apenas para orga­
nizações de vulto.
635. E scritu ra ção e co n tab ilização — In d ep en d en tem en te do procedim ento
de determ in ação do valor do aten d im en to , de acordo com a lei previdenciária, a
en tidade deve fazer prova à Fiscalização da existência da gratu id ad e (d eterm in an te
da condição de im u n e). O interessante é fazê-lo sistem aticam ente, ou seja, m edian­
te p raxes padronizadas, com a in stitu ição de im pressos, form ulários, ro tin as etc.
É im perioso escriturar todas as prestações oferecidas, individualm ente, pelo
m enos com os seguintes dados: a) qualificação e identificação do atendido/assistido;
b) endereço com pleto; c) tipo de atendim ento prestado; d) duração do atendim ento;
e) q u arto ou ap artam en to ocupado; 0 valor da bolsa de estu d o s ou do a ten d im en ­
to; g) especificação do curso m inistrado; h) valor da prestação oferecida; i) quem
atendeu; j) nú m ero do prontuário; e k) data e assinatura do atendido/assistido.
O d o cu m en to deve consignar, ao final, o valor do aten d im en to e a natureza
da im p o rtân cia convencionada: b ru ta, líquida, de m ercado, tabelada, orçada etc.
Os registros contábeis, obviam ente transparentes, devem observar os p rin ­
cípios da contabilidade, elaborados em ordem cronológica, em contas próprias,
codificadas, co n sideradas com o despesas operacionais.
636. P erc en tu ais m ínim o e m áxim o — O valor m áxim o da gratuidade é a
dispensa total do pagam ento.
Seu m o n tan te m ínim o é convencionado pelo outo rg an te em face da hipossu-
ficiência do atendido/assistido, isto é, sua capacidade contributiva.
A som a m ensal deve co rresp o n d er ao valor da im unidade.
637. Im p o rtân c ia aq u é m d a p a rte p a tro n a l — O s valores são individualiza­
dos e m ensalizados, n ão havendo possibilidade de com pensação fora do período.
O s patam ares são m ínim os, p o d en d o u ltrap assar o total da im unidade.
Se eles su p eram a parle palronal da contribuição é sinal de efetivo assistencia-
lism o, não havendo possibilidade de am pliar o nível da im u n id ad e (parte patronal
e do seguro de acidentes do trabalho).
638. H o n o rá rio s tab ela d o s — O bservados os níveis de m ercado, com o o m á­
xim o exigível, a gratuidade pode ser sistem atizada p o r m eio de hon o rário s p o r

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 595
serviços prestados e m ão de obra previam ente tabelados, facilitando, destarte, a
escrituração e a contabilização. R estará ã entidade tão som ente a dem onstração, se
solicitada, de co n firm ar a veracidade dos patam ares.
639. Preço de co m p ra — D iscute-se sobre os valores do bens in natura, se d e­
vem ser ap ropriados pelo preço de com pra ou de venda. E ntidade filantrópica não
é em presa com ercial. Se adquire, p o r q u alq u er m otivo, abaixo do preço de m ercado
ou com desconto, essa a im portância a ser considerada.
Porém , se tem despesas com a estocagem desses p rodutos, sem pre em obser­
vância a não realização de lucro, ela pode fazer parte do custo final.
640. C o m p en sação de v alo res — D entro da periodicidade, eleito o m ês com o
tal, pois a co n trib u ição previdenciária é m ensal, gratuidades a m aior nu m m ês não
poderão ser com pensadas p o r gratuidades a m en o r em m eses seguintes.

- C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im i r N o v a es M a r tin e z
Capítulo LXIV

/\

O nus da I g r e ja

S u m A r io : 641. Entidade mantenedora. 642. Parte patronal. 643. Posição admi­


nistrativa. 644. Noção de eclesiástico. 645. Parecer da Consultoria Jurídica. 646.
Análise da lei complementar. 647. Relação entre Igreja e religioso. 648. Equipara­
do ao autônomo. 649. Orientação Normativa n. 8/1997. 650. Observações finais.

C om o um a razão de ser, as entidades religiosas m antêm m inistros, en q u a d ra­


do s prev id en ciariam ente com o eclesiásticos, nos term os do art. 12, V, c, do PBPS,
conform e definição contem plada na P ortaria MPAS n. 1.984/1980. Em bora sujei­
tos a regras existenciais de convívio grupai, às vezes, su b m etid o s a severos deveres
canônicos, não são prestadores de serviço à Igreja.
M as, à evidência, a instituição pode tê-los sob co n trato (advogados, m édicos,
professores, profissionais de m odo geral adm itidos para prestação de serviços não
religiosos), especialm ente com o em pregados e autônom os.
641. E n tid ad e m an te n e d o ra — Os m inistros da Igreja geralm ente: a) sáo
in d iv íd u o s vocacionados: atendem ao cham ado divino, dedicam e consagram suas
vidas à m issão de pregar o evangelho cristão, a todas as pessoas, concitando-as a
aceitar Jesu s com o salvador; b) em sua m aioria, form ados p o r faculdades ou se­
m inários de Teologia, com preparo técnico hum anístico de nível superior; c) para
ab raçar a carreira recebem “c h am ado” espiritual da Igreja, a aceitação co n stitu in ­
do-se n u m solene voto tácito de consagração da vida e existência à nobre m issão de
salvar alm as, co n sistin do nisso o objetivo essencial da Igreja m antenedora; d) são
investidos em sua m issão sagrada, p o r atos form alíssim os (sagração), credenciais
e licenças, restan d o h abilitados ao exercício de suas funções; e) são m antidos pela
Igreja, com recursos o riu n d o s de dízim os e ofertas prop o rcio n ad o s pelos fiéis; 0
pela n atureza em in en tem en te espiritual de suas ocupações, n ão estabelecem vín ­
culo em pregatício com a Igreja; e g) estão filiados obrigatoriam ente à previdência
social, desde 9.10.1979, e recolhem contribuições n a condição de eclesiásticos, sob
esse aspecto equip arados ao autô n o m o , ex ví da Lei n. 6.696/1979.
642. P arte p a tro n a l — C om vigência a con tar de 1Q.5.1996, diz o art. 1°
da LC n. 84/1996: “Para a m an u ten ção da Seguridade Social, ficam instituídas as

C ur -s h dit D i r e i t o P r e v i d e n c i á r i o

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l 597
seguintes co n trib u içõ es sociais: I — a cargo das em presas e pessoas ju ríd icas, in ­
clusive cooperativas, no valor de quinze por cento do total das rem unerações ou
retribuições p o r elas pagas ou creditadas n o decorrer do m ês, pelos serviços que
lhes prestem , sem vínculo em pregatício, os segurados em presários, trabalhadores
au tô n o m o s, avulsos e demais pessoas físicas” (grifos nossos).
R egulam entando-a, reza in fin e do D ecreto n. 1.826/1996: p o r segurados
em presários, trabalhadores au tô n o m o s e equiparados, avulsos e dem ais pessoas fí­
sicas” (grifos nossos).
C uid an d o da possibilidade de a m enção a “pessoas físicas” ou “e q u ip arad o s”
serem os eclesiásticos, a O rdem de Serviço INSS n. 6/1996, em seu subitem 1.4,
diz: “Não se aplica, ainda, o disposto neste item ao m inistro de confissão religiosa,
no tocante aos valores recebidos em face do trabalho religioso, ten d o em vista não
existir co n trato de trabalho ou de prestação de serviços entre este e a instituição
que o congrega”.
A O rdem de Serviço INSS/DAF n. 151/1996, em seu subitem 1.4, determ in o u
a incidência de co n trib uição sobre a rem uneração ou a retribuição: “A contribuição
de que traLa este ato incide sobre os valores recebidos p o r m inistro de confissão
religiosa, desde que estes se co n stitu am em rem uneração ou retribuição (contra-
prestação) p o r serviços prestados à entidade religiosa”.
Por seu tu rn o , a O rientação N orm ativa n. 8/1997 configura: “Sobre a re m u ­
neração paga a m in istros de confissão religiosa, na condição de equiparado a a u ­
tônom o, incid irá a co ntribuição de que trata o inciso II do art. 25 do ROCSS”,
sem m aiores esclarecim entos sobre estar falando da verba de representação ou da
rem uneração devida p o r encargos profanos do religioso.
Aquele últim o com ando, p o r sua vez, preceitua: “quinze p o r cento sobre o to ­
tal das im p ortâncias pagas ou creditadas no d eco rrer do m ês aos segurados em pre­
sários, trabalhadores au tô n o m o s e equiparados, avulsos e dem ais pessoas físicas,
pelos serviços prestad o s sem vínculo em pregatício”.
643. P osição a d m in istra tiv a — A C oordenadoria-G eral de A rrecadação e
Fiscalização do INSS, em resposta à consulta da Associação da Igreja M etodista,
esclareceu: “P erm anece, en tretan to o en ten d im en to de que m inistros de confissão
religiosa que se dedicam exclusivam ente a atividade religiosa, não serão objeto das
disposições da Lei C o m plem entar n. 8 4 ”.
Ela acrescentou ao final da resposta: “P or outro lado, na situação descrita por
V Sa. — nom eações para servirem em escolas, o u exercício de outras atividades
paralelas ao m inistério pastoral, fica caracterizada a prestação de serviços rem une­
rados à en tidade religiosa, m encionada no subitem 1.4 da O rdem de Serviço INSS/
DAF n. 151” (Ofício IN SS/D AF/AFAR n. 087, de 5.3.1997).
644. N oção d e ec lesiástico — Em várias ocasiões, tivem os a o p o rtu n id ad e
de n o s m anifestar sobre a natureza do vínculo am oroso celebrado entre o ecle­
siástico e a Igreja, q u ando se trata r de m inistro de confissão religiosa ocu p ad o em

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

598 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
seus afazeres can ô n icos e ser a m an ten ed o ra entidade caracterizada com o Igreja
( “Eclesiásticos: os m ais recentes segurados o b rig ató rio s”, in Revista LTr n. 44/55).
Tam bém já o fizeram Arnaldo Süssekind e Ives Gandra da Silva Martins ( “Previ­
dência Social. E ntid ad es religiosas. Equiparação aos au tô n o m o s, dos M inistros de
C onfissão R eligiosa”, in RPS n. 140/534), todos os dois na m esm a linha de haver
um elo atípico em com paração com o jacen te na relação societária (em presário),
civil (a u tô n o m o ) o u laborai (em pregado).
P rev idenciariam ente, o eclesiástico é um a pessoa titu lad a consagrada pela
au to rid ad e religiosa com petente. D etentor da perenidade in eren te à sua condição
de vocacionado para o ofício da fé, à catequese e aos en sin am en to s e práticas dos
preceitos divinos, m antém -se a serviço dos hom ens e de D eus ( “C om entários à
Lei Básica da Previdência Social”, 8§ ed., São Paulo: LTr, 2009, Tomo II, p. 97/98).
Seu vín cu lo é diferenciado q uando com parado com o utros liam es do m undo
do trabalho. Seu com prom isso é voto solene, não p o d en d o ser cotejado com a
vontade p resen te do ajuste laborai.
N ão trabalha para a Igreja, e sim para todos os fiéis.
Para Aroldo Moreira, escrevendo em 1972, não se poderia considerá-los “se­
gurados obrigatórios, pois im plicaria em atrib u ir às entidades religiosas a obriga­
ção de co n trib u ir com o em pregadores, com relação aos m in istro s sujeitos a vo­
tos religiosos”. A duziu: entre eles e “aquelas entidades não se configura nen h u m
tipo de relação em pregatícia” (P arecer CJ/SPS n. 339/1972, in Processo MTPS n.
108.363/1971).
P or sua vez, garantim os: “Nas relações estabelecidas com pessoas físicas ou
ju ríd icas com q u em possa estar envolvido, o vínculo é com pletam ente diferente,
pois o eclesiástico obedece e reverencia a D eus e presta serviços à com unidade de
fiéis, sem q u alq u er retribuição p o r isso, en q u an to o au tô n o m o necessariam ente
trabalha para in d ivíduo ou em presa, m ediante rem uneração sinalagm ática. O m is­
ter religioso não é rem unerãvel nem rem u n erad o , m as o labor do au tô n o m o é re-
tribuível e, no m ais das vezes, re trib u íd o ” ( “A Igreja em face da Lei n. 8 .2 12/1991”,
in RPS n. 135/108).
645. P are cer d a C o n su lto ria Ju ríd ic a — No P arecer PG/PCCAR n. 026/1996,
firm ado pela Dra. A driana M aria de Freitas Tapety, aprovado pelo C onsultor-G eral
do INSS, Dr. G erm ano C am pos C âm ara e pelo P rocurador-G eral, Dr. José W eber
H olanda Alves, diz-se: “11. Ora, o trabalho do colaborador, no âm bito da E ntidade
Religiosa possui características nas quais o legislador n ão quis im iscuir-se. Ainda
seg u n d o M artinez, a preocupação do legislador ao ‘eq u ip arar parece ter sido a de
n ão e sta b e le c e r n e n h u m v ín c u lo ju r íd ic o — relação de em p re g o o u locação
de serviço, conform e a m elh o r d o u trin a — entre o clérigo e a entidade religiosa”’
(“O Salário-base n a Previdência Social”, São Paulo: LTr, 1986, p. 93).
Acresce o parecerista do MPAS: “12. E ntendem os que não é o fato dos m in is­
tros de confissão religiosa obedecerem a horários, ou realizarem outras atividades,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iArso

T om o / / — P m / i d ^ n c i a S o c ia l 599
desde que sem fins com erciais, no âm bito da entidade religiosa, que os caracteriza­
ria com o em pregados, regidos necessariam ente pela CLT. Os deveres ou atividades
lícitas exercidas pelos m em bros da ordem religiosa, com o objetivo ou finalidade
de tais atividades, isto é, verificar se existem finalidades, com erciais ou lucrativas,
ou se inexiste a onerosidade. Tire-se com o exem plo ‘a diaconisa que presta serviços
em hospitais, asilos, abrigos, m aternidades, o u escolas públicas ou particulares, em
função d o s votos religiosos que professa, ausente a onerosidade, não é em pregada
dessas entidades. É sim , en q u ad rad a com o eclesiástica (M artinez, ob. cit., p. 9 7 )”.
646. A nálise d a lei co m p le m e n ta r — Da análise perfunctória do in fin e do
art. 1- da LC, especialm ente na parte assinalada anteriorm ente, resta solar estar o
legislador atento para, na ordem ali presente, falar do contrato de trabalho (quando
cita o vínculo em pregatício), de união societária (alusão ao em presário), da loca­
ção de serviços (referência ao autô n o m o ), da cessão de m ão de obra pelo sindicato
(m enção ao avulso), e de outros contratos civis (citação do eventual, indicado com o
“pessoas físicas”), em todos os casos, vinculados esses ajustes laborais lato sensu a
dois claríssim os entes: 1) rem uneração ou retribuição; e 2) por serviços prestados.
Para a definição do fato gerador da obrigação fiscal in stitu íd a na LC n. 84/1996,
devem estar presentes: a) dador de serviços; b) trabalhador definido com o segurado
obrigatório; c) subsistência do contrato de prestação de serviços; d) ocorrência de
retribuição vinculada sinalagm aticam ente com o contrapartida pelo labor exercita­
do; e e) destinar-se a ocupação jurid icam en te ao m encionado ofertante dos serviços.
647. R elação e n tre Igreja e religioso — A Igreja enseja atividade ao eclesiás­
tico e cie resta definido com o segurado obrigatório, resultando atendidas as duas
prim eiras prem issas. E n tretan to , n ão professa a fé e não catequiza os crentes para
a Igreja, e sim busca a crença e a salvação das ovelhas p o r elas m esm as.
Inexiste co n trato civil, com ercial ou laborai, tão som ente m inistério re-ligioso,
vale dizer, re-ligação a Deus. Já sustentam os: “O elo religioso com a igreja é am o ro ­
so, espiritual, canônico; o liam e do autô n o m o com a em presa é econôm ico, profis­
sional, ju ríd ico . N um caso secular e no outro, leigo. Pertencem a dom ínios d istin ­
to s” ( “C o n trib u ição P revidenciária sobre retribuições a E m presários, A utônom os,
Avulsos etc. — C om entários à Lei C om plem entar n. 84 /9 6 ”, in Revista D ialética de
Direito Tributário n. 6/88).
O pagam ento, com natureza ju ríd ica de verba de representação, não é re m u ­
neração nem retribuição. Padres e pastores, rabinos, m entores e m inistros reli­
giosos (estes últim os, no sentido de m em bros de O rdens, C ongregações e C om ­
pan h ias de Serviço no dom ínio do catolicism o) não cobram pelos sacram entos
m in istrad o s nem pela salvação operada ou não. Os dízim os recebidos pela Igreja
não têm caráter retributivo.
Valores in natura, aludidos no art. 201, § 11, da CF, apenas dizem respeito ao
em pregado.
A n u clearidade desse pagam ento foi objeto de incisivo p ro n u n ciam en to da
A ssessoria Ju ríd ica do MPAS, q u an d o M arcelo Pim entei m anifestou-se contra d e­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

600 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
cisão do CRPS, p o r ter tais pagam entos com o rem u n erató rio s, prin cip alm en te se
ap en as in natura: “D izer que o religioso recebe salário in natura é ab errantem ente
destitu íd o do m ais rem oto fundam ento legal” (P arecer Cj/MPAS n. 440/1972, in
Processo MTPS n. 129.822/1970).
D esvirtuada a natureza própria de sua m issão religiosa, sobrevêm trabalho,
pagam ento e relação econôm ica, im pondo-se a contribuição, caso do colportor
(“C olportor: au tô n o m o ou equiparado a a u tô n o m o ”, in Inform ativo D inâm ico
IOB, setem bro de 1983, p. 1046).
648. E q u ip a ra d o ao a u tô n o m o — B uscando a rre b a n h a r o eclesiástico, o p e­
ra n d o contra legem, o D ecreto n. 1.926/1996 in clu iu os eq u ip arad o s a au tô n o m o .
E x trap o la n d o a lei, n ão p odia fazêdo e, sob esse aspecto, deve ser ju rid ic a m e n te
ig n o rad o . O legislad o r não quis in c lu ir o eq u ip arad o ; ele n ão o ignora e, por
isso, o silên cio não é om issão, e sim n o rm ativo. O P oder E xecutivo talvez ten h a
pen sad o n as “pesso as físicas”, pois tal vala com um aceita q u a lq u e r in d iv íd u o ,
m as só po d em ser os rem u n erãv eis ou re trib u ív eis e o eclesiástico não é nem um
nem o u tro .
M elhor a O rdem de Serviço INSS n. 6/1996, acostando-se à d o u trin a segundo
a qual não existe co n trato de trabalho ou de prestação de serviços entre o eclesiás­
tico e a en tidade m an tenedora. M uito m enos societário.
É co rreta tam bém a O rdem de Serviço INSS/DAF n. 152/1996, ao fixar a h ip ó ­
tese de incidência, se existente rem uneração ou retribuição p o r serviços prestados.
C ertam en te não estava aludindo à verba de representação ínsita ao religioso.
C om a Lei n. 9.876/1999, foram eq u ip arad o s aos co n trib u in tes individuais, a
partir de 29.11.1999.
649. O rie n ta ção N o rm a tiv a n. 8 /1 9 9 7 — E quivocada, porém , a O rientação
N orm ativa n. 8/1997, ao tex tu alm en te referir-se ao m inistro de confissão religio­
sa na condição de eq u iparado a au tô n o m o , na linha do D ecreto n. 1.926/1996, e
rep o rtan d o -se ao art. 25, II, do D ecreto n. 2.173/1997 (subitem 13.23), exceto se
se estiver referindo, em particular, à rem uneração devida a qu em p resta serviços
à Igreja, e esse não é o caso do eclesiástico, de m odo geral, p o d en d o sê-lo qu an d o
trabalha lab o ralm en te para a instituição (dando aulas em sem inário, vendendo
livros n a ru a ou o cu p ad o em serviços b u ro crático s n ão religiosos).
Para o C oordenador-G eral de A rrecadação e Fiscalização do INSS, m ais a ten ­
to, é a rem u neração im própria aquela devida por serviços prestados q u an d o o
eclesiástico não realiza seu m ister natu ral, e sim trabalha em o u tras atividades.
Diversos dispositivos do PCSS (Lei n. 8.212/1991) dão conta da obrigação
de ap o sen tad o trab alh ando estar obrigado à contribuição. Diz o art. 28, § 9 S, na
redação dada pela Lei n. 9.032/1995: “O aposentado p o r idade ou p o r tem po de
serviço pelo Regim e Geral de Previdência Social — RGPS, que estiver exercendo
ou que voltar a exercer atividade abrangida p o r este Regime e sujeito a salãrio-base,
deverá en q u adrar-se na classe cujo valor seja o m ais próxim o de sua rem u n e raç ão ”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia Socií?! 601
Tal contribuição, à vista do disposto na Lei n. 8.870/1994, não m ais é capita*
lizada para fins de pecúlio.
650. O bservações fin ais — A Igreja não está obrigada a recolher a co n trib u i­
ção de 15% prevista na LC n. 84/1996 nem a de 20% da Lei n. 9.876/1999, em re ­
lação à verba de representação entregue ao eclesiástico, q u an d o ele exclusivam ente
exercita o m inistério religioso.
O eclesiástico, reto rn an d o ao trabalho com o em pregado, deve c o n trib u ir sem
direito a pecúlio. A posentado, q u an d o volta a operar nessa m esm a condição, não
tem rem uneração, e, assim , a classe m ais próxim a é o salário m ínim o.

C urso d e D ir e it o P r r v id e n c ià r io

602 W la d im ir N o m e s M a r tin e z
Capítulo LXV

S o c ie d a d e s C o o p e r a t iv a s

651. Problemas vernaculares. 652. Ato cooperado. 653. Fontes pertinen­


S u m á r io :
tes. 654. Particularidades distintivas. 655. Objetivo e função. 656. Classificação
e tipos. 657. Obrigações patronais. 658. Cooperativa de trabalho. 659. Enqua­
dramento do associado. 660. LC n. 84/1996, Leis ns. 9.711/1998 e 9.876/1999.

Do p o n to de vista previdenciário, prin cip alm en te em relação aos em pregados


(ocu p ad o s n a atividade-m eio de sua adm inistração), as cooperativas são em presas
com o as o utras. S ubsistindo algum a dúvida, o legislador preferiu aclarar esse fato
n o art. 15, parágrafo único, do PCSS. Resta apenas avaliar o significado do “para
os efeitos d esta Lei”. Lei, então (1991), na qual vigente obrigação de recolher 20%
da retrib u ição paga aos au tô n o m o s cooperados e, a p artir de l s.5.1996, de 15%, em
face da Lei C o m p lem entar n. 84/1996. Mas, note-se, preocupação presente desde o
art. 3Q do D ecreto-lei n. 959/1969.
O gran d e problem a co n tin u a sendo a distinção entre cooperativism o e as-
sociativism o e a diferença entre cooperativa e em presa de trabalho tem porário,
agência de em prego ou fornecedora de m ão de obra . E as evidentes sim ulações,
o brigando o ap licad o r da norm a a p inçar fatos da relação, esm iuçá-los e concluir.
Sem falar em saber q u em é o responsável laborai e previdenciariam ente, caso des­
caracterizada a relação cooperativa.
651. P ro b lem as v e rn a c u la re s — Q u alq u er estudo da cooperativa, en q u an to
polo de relações e, p articularm ente, a análise dos ô n u s fiscais inerentes, padece
com óbices sem ânticos. A legislação e a d o u trin a utilizam -se de expressões indevi­
das, m u itas delas consagradas, sem a garantia de estar descrevendo precisam ente o
enfocado. Assim, para d ar exem plo, stricto sensu, rigorosam ente, ato de com ércio
refere-se à venda de p ro d u to com prado p o r com erciante — de industrial ou de
atacadista. M as a locução tam bém é em pregada em relação a operações m ercantis
finais do p ro d u to r de m atéria-prim a m ineral ou agropecuária (em que inexistente,
sob rig o r gram atical, com ercialização) o u do fabricante.
C om algum a frequência, o vocábulo “co o p e rad o ” é su b stitu íd o p o r “asso­
ciad o ” (cooperativa é espécie associativa, m as a analogia deve cessar aí, pois a

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 1/ — P r e v id ê n c ia S o c ia l
natureza do vínculo difere da jacente na segunda concepção). Por vezes, com certo
exagero, o filiado é cham ado de sócio, título reservado apenas ao co m ponente de
sociedade p o r q u o ta de responsabilidade lim itada, de trabalho ou de indústria, ou
civil, e não para a sociedade anônim a ou cooperativa. Válida, se m em bro integrante
de associação.
Equívoco real diz respeito à alusão a lucro, objetivo próprio do p ro d u to r de
m atéria-prim a, do in d u strial ou agroindustrial, do com erciante ou prestador de ser­
viço exercentes de atividades m ercantilizadas, m as não da cooperativa em si. Ela
não foi concebida para encetá-lo (exceto, claro, qu an d o for o caso, o do cooperado),
da m esm a form a com o não tem lucro o consignatário, até aperfeiçoar a venda, e não
o aufere o m andatário, m ero interm ediário no negócio jurídico. C ooperativa não
em preende atividade com ercial; busca e realiza ou não resultado. A lgum as vezes, o
seu desem penho no m u n d o dos negócios resulta em déficit (coloca no m ercado por
nível inferior ao do estabelecido pelo cooperado e, até m esm o, abaixo do custo).
O m o n tan te do bem transferido a terceiros form alm ente, em seu nom e, m as
por conta de terceiros (cooperados) — na relação ju ríd ica cooperativa — , pode
ser latiado em três porções básicas: a) im portância entregue ao particip an te no
m o m en to da arm azenagem , p o d en d o ser tida com o antecipação do valor final; b)
despesas operacionais, entre as quais as adm inistrativas e as de preparação para
o ingresso no m ercado (im ediatas) ou de investim ento (m ediatas); e c) retorno,
sobra, bonificação etc. A prim eira e a ú him a fração pertencem ao cooperado e
eqüivalem ao desiderato pecu n iário da produção do bem . Da adição desses dois
itens, em relação ao custeio da p rodução, poder-se-ia falar em lucro do cooperado
(diferença enLre despesa e valor operacional).
Essas q u estiú n cu las lingüísticas devem -se, em parte, ao fato de, h istorica­
m ente, as cooperativas não se terem lim itado a sua função original; ao lado do
pro ced im en to ín sito, p raticarem atos de com ércio pro p riam en te ditos, vale dizer,
tam bém com prarem e venderem m ercadorias ou serviços, dos próprios cooperados
ou de terceiros, com vistas à regulação do m ercado o u para obterem m eios para
se desenvolver. Tudo isso acontecendo, às vezes, no m esm o espaço físico ou ente
organizacional.
De o u tra parte, ainda, justificam -nas a m ultiplicidade de objetivos: a) a co o ­
perativa de trabalho congrega mão de obra, suscitando dúvidas sobre quem presta
serviços a q uem e em quais condições laborais; b) a cooperativa de consum o é pes­
soa ju ríd ica ad q u iren te de m ercadorias p o r atacado vendidas a associados, geral­
m ente em pregados de certa em presa ou grupo, a preço de custo; e c) a cooperativa
de produção recebe bens e os d istribui no m ercado, in term ed ian d o a operação de
venda do p ro d u to r, com o m andatária o u consignatária.
F inalm ente, é preciso reconhecer ser sutil a diferença entre os seus m ecanis­
m os e as praxes do com ércio (negociação de bens m ediante pagam ento).
652. Ato co o p e rad o — A natu reza íntim a, econôm ica e jurídica da relação
sub sisten te entre cooperado e cooperativa — sem pre lem brando a m ultiplicidade

C u r so dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

604 W la d im ir N o va es M a r tin e z
de fins — vem sen d o investigada há algum tem po. Será preciso p erq u irir p rofun­
d am en te a essência difusa desse esforço em presarial, sob p en a de generalidade, e,
após, alcançar em cada hipótese. A bstraindo a form alidade essencial do ato co n sti­
tutivo, caracterizar a realidade da relação pelos m odos praticados pelo participante
e pela en tidade talvez seja o m elhor cam inho. De cooperação, se coincidente com
os da definição legal e com preensão doutrinária.
O ato co o p erad o é o presente no bojo da sociedade cooperativa, q u an d o esta
p ratica as funções para as quais tenha originariam ente sido criada conform e a re­
gulação legal (e não se haja m odificado in stitu cio n alm en le). O u seja, o papel de
coordenação, consignação, interm ediação o u representação, re u n in d o significativa
conjugação de esforços pessoais sem fito lucrativo. Mas o ato cooperativo tam bém ,
per se, define essa sociedade e o lucro do cooperado.
C om o essa finalidade é com um a o u tro s em p reen d im en to s econôm icos, caso
do associalivism o com ercial, ela certam ente não será suficiente para d ecid ir even­
tuais dúvidas.
Sua d ecantação fenom enológica reclam a a presença dos elem entos defin id o ­
res da in stituição, p o d en d o estes ser facilm ente m ascarados. P or vezes, a co n tab ili­
dade adota p lan o de contas igual, são im plantadas rotinas adm inistrativas e so b re­
vêm m étodos cooperativistas, m as a realidade nào é essa, agindo os agentes com
vistas a inexigibilidades, isenções ou benefícios fiscais. Em o u tras circunstâncias,
o m em bro in teg ran te é sócio ou, form atada a subordinação, m ero em pregado da
associação, fato adm issível, em tese, nas cooperativas de trabalho.
C ooperativa é u nião de pessoas e não de capitais. Possui personalidade j u ­
rídica distin ta da física e da ju ríd ica dos com ponentes. A sistem atízação de seus
esforços é a razão de sua existência m aterial e form al. Trata-se de elo igual ao do
entre partes e todo.
O cooperado não deve ser em pregado n em sócio da cooperativa; a rigor, sem an-
ticam ente nem sequer associado, pois ela não se confunde com sim ples associação.
A designação da relação ju ríd ica própria é “c ooperado” e “sociedade cooperativa”.
Isto é, vín cu lo atípico q u an d o com parado aos dem ais e p ró p rio exclusiva­
m en te dele. Para o art. 2e do D ecreto n. 22.239/1932 é relação ju ríd ic a sui generis.
C om o cada cooperado tem direito a apenas um voto, o dom ín io econôm ico dos
m ais fortes é afetado. O resultado financeiro tem que ver com o trabalho e não com
as q u o tas adquiridas.
De m odo geral, a Lei n. 5.764/1971 tem sua p rópria definição: “os praticados
e n tre as co o p e rativ as e seus associados, en tre estes e aq u e la s e p elas c o o p e ra ti­
vas entre si q u an d o associados, para a consecução dos objetivos sociais. Parágrafo
único. O ato cooperativo não im plica operação de m ercado, nem co n tra to de com ­
pra e venda de p ro d u to ou m ercadoria” (art. 79).
N ão é a m elh o r definição, pois sujeita aos objetivos sociais e estes po d em ser
q u aisq u er un s, d ep en d en d o de convenção. Seria preferível co n d icio n ad a a sua fu n ­

C ijr s o d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o U — P r e v id ê n c ia S o c ia l
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ção associativa de em p enhos dos econom icam ente fracos, a interm ediação operada
e a inexistência de escopo lucrativo. Além de clara im propriedade (“não im plica
operação de m ercad o ”), tem o m esm o defeito do conceito de em pregado do art.
39 da CLT. P ressupõe a cooperativa, e esta não é explicitada sem a presença do ato
cooperado (sic).
Poderia ser o jacen te entre relações produtivas, com vistas à idealização de n e ­
gócio ju ríd ico objeto da atividade-fim , p o r m eio da qual m atéria-prim a, serviço ou
p ro d u to m an u fatu rad o , de origem de pessoas form alm ente filiadas, são oferecidos
ao m ercado, m ediante união destas em interm ediação não lucrativa.
As três form as m ais o p eran tes são:
a) cooperativa de trabalho: N esta conjugação coletiva, claram ente liderada por
alguns, o ato cooperado consiste em o trabalhador, raram ente autô n o m o e econo­
m icam ente hipossuficiente, ju rid icam en te prestar serviços à congregação e m ate­
rialm ente à certa pessoa física ou ju ríd ica, rem u n erad o pela prim eira conform e o
volum e da produção (retribuição de trabalho e não da quota-parte). Q u ando legí­
tim a a relação, o ad q u irente dos serviços vincula-se à cooperativa pela m odalidade
civil de cessão de m ão de obra (pagam ento m ediante apresentação de nota fiscal,
em que é incluída fração da retribuição e a das despesas operacionais da organiza­
ção) ou de seguro em g rupo (caso das cooperativas m édicas).
b) cooperativa de produção: O ato cooperativo com preendido na reunião de
pro d u to res, a p ar da adm issão e participação nas assem bleias, em alguns casos, na
gestão da en tidade com voto singuiarizado e o u tras particularidades, é essencial­
m en te o fato econôm ico de translação sob consignação do p ro d u to , em troca do
pagam ento do valor co nvencionado em cada caso ou tabelado, algum a preparação
do p ro d u to e a distrib u ição n o m ercado, en cerrando-se com eventual acréscim o no
valor an tecip ad o (ou não).
c) cooperativa de consumo: Q uando co nstituído o seu capital p o r parte dos as­
sociados, aí diferindo de outras instituições (v. g., Serviço Social da Indústria, pois
com pra p o r atacado e vende aos seus associados pelo preço de custo sem quota-
parte), particu larm en te do associativism o, consiste na oferta de bens ou m ercado­
rias sem objetivo de lucro à clientela lim itada de pessoas.
653. F o n tes p e rtin e n te s — As principais norm as suscitadas pelo coopera-
tivism o são de nível in ternacional, constitucional e legal, m as alguns decretos e
pareceres norm ativos, quase sem pre se referindo ao envolvim ento in usitado entre
a en tidade e o particip ante, integram essas fontes form ais (em que são sediadas
respeitáveis dúvidas e perplexidades).
A R ecom endação OIT n. 127/1966 trata do tem a e recom enda apoio governa­
m ental à dissem inação do cooperativism o.
Q uando inicia o enfoque dessa instituição, diz o art. 5S, XVIII, da CF/1988: “a
criação de associações e, na form a da lei, a de cooperativas ind ep en d em de a u to ri­
zação, sendo vedada a interferência estatal em seu fu n c io n a m en to ”.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

606 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
O “n a form a da lei” aplica-se exclusivam ente às cooperativas. N esse sen tid o , a
Lei n. 5.764/1971 foi acolhida pela Lei M aior de 1988. Além da distinção operada
entre as duas organizações, ela julga necessária a regulam entação de sua atividade.
Na área exacional, p o r sua vez, dispõe o art. 146, III, caber à lei com plem entar
“estabelecer n orm as gerais em m atéria de legislação tributária, especialm ente sobre:
adequado tratam ento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades coo­
perativas” (c). Até 31.12.1997, tal lei com plem entar náo havia sido editada, m as sa­
liente-se a singularidade do cooperativism o contem plado no Texto C onstitucional.
N o art. 174, § 2Q, colhe-se norm a program ática de grande significado: “A lei
apoiará e estim ulará o cooperativism o e outras form as de associativism o.” Em bora
o p rim eiro ente seja política econôm ica, o co n stitu in te está-se referindo ao seu
prin cip al in stru m en tal: o desenvolvim ento das cooperativas. Logo em seguida, “fa­
vorecerá a organização da atividade garim peira em cooperativa, levando em conta a
proteção do m eio am biente e a prom oção econôm ica social dos garim peiros” (§ 3°),
com algum as p rioridades (§ 4S).
H istoricam ente, a lei m ais antiga sobre o assu n to foi o D ecreto Legislativo
n. 1.637/1907, refo rm ulado pelo D ecreto n. 22.239/1932. Este, p o steriorm ente,
revogado pelo D ecreto n. 24.647/1934. A lgum as tentativas de ap roxim ar o coo-
perativism o do sindicalism o foram feitas com os D ecretos-leis ns. 26.611/1933 e
24.647/1934, refletindo a instituição da época.
O D ecreto-lei n. 581/1938 dispôs sobre o registro, fiscalização e assistência
ao cooperativism o, logo acrescido dos D ecretos-leis ns. 926/1938 e 1.836/1939. A
fiscalização das cooperativas constou do D ecreto-lei n. 6.980/1941.
O D ecreto-lei n. 5.893/1943 reform ulou n o rm as an terio res e prevaleceu até
a vigência do D ecreto-lei n. 8.401/1945, revigorando o D ecreto n. 22.239/1932.
O D ecreto-lei n. 59/1966, regulam entado pelo D ecreto n. 60.597/1967, definiu a
política n acional e criou o C onselho N acional do C ooperativism o, en cerrando o
ciclo histórico.
P or últim o , a n o rm a básica vigente, a Lei n. 5.764, de 16.12.1971. Interessa,
ainda, em m atéria de custeio, o D ecreto-lei n. 959/1969, a LC n. 84/1996 e as Leis
ns. 9 .7 1 1/1998 e 9.876/1999, bem com o as F orm ulações ns. 18/1981, 20/1981 e
34/1983 e a P o rtaria SPS n. 2/1979 (item 25-c), a O rientação N orm ativa SPS n.
2/1994 e a O rdem de Serviço INSS/DAF n. 146/1996.
654. P a rtic u la rid a d e s d istin tiv a s — A com preensão do fenôm eno econô­
mico estu d ad o e sua diferença de o u tras m odalidades societárias podem derivar
do exam e de suas principais nuanças. P erm itirá cotejá-lo em face de organizações
paralelas, sem elh an tes e até de distorções da concepção original.
Walmor F ranke leciona: “A cooperativa, porém , se distin g u e conceitualm en-
te das dem ais organizações p o r um traço altam ente característico: en q u a n to nas
em presas não cooperativas a pessoa se associa para p articip ar dos lucros sociais na
pro p o rção do capital, já na cooperativa, a razão que conduz à filiação do associado

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo II — Previdência Sodaf 607


não é a obtenção de um dividendo de capital, m as a possibilidade de utilizar-se dos
serviços da sociedade, para m elh o rar o seu p ró p rio status eco n ô m ico ” ( “D ireitos
das Sociedades C ooperativas", São Paulo: Saraiva, 1973, p. 13).
D ráuzio Leme Padilha elenca as características básicas: a) variabilidade do
capital social; b) não lim itação do n ú m ero de associados, n ão p o d en d o , porém , ser
inferio r a 20; c) lim itação do valor das quotas-partes individuais do capital social;
d) inacessibilidade a terceiros; e) quorvm baseado n o nú m ero de associados pre­
sentes às assem bleias; 0 d istribuição de lucros ou de sobras proporcionalm ente à
produção do associado; g) indivisibilidade dos fundos de reserva; h) singularidade
de voto nas deliberações das assem bleias; e i) lim itação da área de ação social ( “So­
ciedades C o operativas”, São Paulo: Atlas, 1966, p. 9).
As prin cip ais n u an ças são as seguintes:
a) natureza não comercial: O cooperativism o, enten d id o com o interm ediação
coordenada do esforço de grupo definido de pessoas, é atividade econôm ica; visa à
realização, p o r m eios d istintos, do desiderato da pro d u ção e circulação de bens ou
serviços. P or (m era) convenção legal, é agente da produção com particularidades,
afastando-se da concepção tradicional de com ércio, indústria, exploração agrope­
cuária ou prestação de serviços (em bora com m eios aproxim ados).
Q u an d o co m pete no m ercado in tern o ou externo, o faz com o q u alq u er em ­
presa m ercantil, b u scan do a diferença entre o custo do bem e o resultado (superávit
para a cooperativa e lu cro para o em p reen d im en to m ercantil) e se sujeita, d a m es­
m a form a, a déficit (ou prejuízo).
N essas condições, in casu, co n stitu i equívoco técnico afirm ar ser a coope­
rativa ad q u iren te de bens do cooperado. É im possível ato de com ércio entre a
parte e o todo, o m an d an te e o m an d ad o , isto é, entre as pessoas co m p o n en tes e a
figura com posta. A rigor, a expressão m ais fidedigna da entrega física e translaçào
form al operada é “consignação”. A cooperativa recebe o bem , arm azena-o sob sua
guarda, em m u ito s casos procede à m elhoria (v. g., apresentação, padronização,
pulverização, acabam ento, resfriam ento etc.) e o in tern a no m ercado, enfrentando
a co n corrência das dem ais em presas e até de o u tras cooperativas.
Ao repassar valores para o cooperado, sinalagm aticam ente ao depósito, por
convenção legal e institucional não o está pagando; não com prou, m as antecipou o
preço final da venda, a ser efetuada ao adquirente pelo cooperado. Aliás, a m esm a
natureza tem a com plem entação dessa im portância, após o aperfeiçoam ento do ato
de consignação ao co n su m id o r (alienação).
b) regime jurídico: N ão sendo entid ad e insitam ente com ercial e não praticando
o ato de com ércio, a cooperativa rege-se p o r norm a própria (Lei n. 5 .7 6 4 /f9 7 1 ),
atípica em relação aos C ódigos C om ercial e Civil. Daí sobrevirem grandes dificul­
dades na prática, p rin cip alm en te q uando desvirtuada. A razão de ser dessa tipi-
cidade é histórica e representa u m contrafluxo às ideias do dom ínio do m ercado
enfatizado na iniciativa privada.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

sos W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
c) organização social: A sociedade cooperativa pertence ao gênero associação,
igualando-se, em parte, às associações civis e sociedades. Resulta da un ião de pes­
soas, d esignadas “co o p erad o s”, e estes assum em q u o ta-p arte, quase igual às ações
de sociedades anônim as.
S upervisionada p o r assem bleias gerais, ordinárias e extraordinárias, a exem ­
plo de o u tras in stitu ições, é ad m in istrad a p o r diretoria ou conselho eleito pelos
particip an tes, su b m etendo-se a E statuto Social e a regulam entos internos.
d) quota-parte: C ooperativa é em presa, lançada de form a oblíqua no m undo
dos negócios; tem estabelecim ento, contabilidade, balcões e depósitos, e m eios
p ró p rio s para atin g ir o co n su m id o r final. Tal azienda p arte de custo e p o r isso é
sistem atizada sob a form a de sociedade, n a qual os cooperados ingressam com um a
q u o ta-p arte, estabelecida conform e cada caso. C edida exclusivam ente aos filiados,
o n ú m ero é lim itado a cada associado, não p o d en d o u ltrap assar u m terço do total.
C onco rren tes do m esm o ram o não podem participar.
e) união de esforços: O cooperativism o é u nião de pessoas econom icam ente
fortalecidas com a conjugação dos esforços. As cooperativas de táxi dizem bem
dessa con cen tração de interesses. Pagando q u an tia m ensal, os m o to ristas têm à sua
disposição: coordenação geral, orientação sobre o trânsito, inform ações diversas,
co m unicação pelo rádio com a central, co n tato s com os clientes etc., e isso seria
im possível isoladam ente. N esse caso específico, prestam serviços, ditos padroniza­
dos, ju ríd ic a e m aterialm en te aos usuários, deles recebendo a retribuição. Se todo
esse serviço fosse oferecido p o r em presa lucrativa ela deixaria de ser cooperativa.
f ) responsabilidade jurídica: A responsabilidade dos cooperados vai até o valor
de sua q u o ta-p arte, nisso se igualando a alguns tipos de sociedades com erciais.
g) número mínimo: C erto anacronism o, o núm ero m ínim o de cooperados era
sete no D ecreto n. 22.239/1932 e é vinte na Lei n. 5.764/1971. Há razão lógica
para isso: in te n ta im pedir falsas sociedades com erciais. Tal im posição faz parte da
definição in stitucional.
h) singularidade do voto: In d ep en d en tem en te do núm ero o u valor das quotas-
-partes e do m o v im ento m ensal, cada associado tem direito a apenas u m voto nas
reuniões deliberativas.
F in alm en te, não sendo com erciais, não estão sujeitas à falência, m as à liq u i­
dação. A Lei M aior assegura o direito de alguém n ão ser obrigado à associação.
Por isso, a filiação é facultativa, em bora, a rigor, em d eterm inadas circunstâncias
econôm ico-sociais, a pessoa se veja forçada a p articip ar dessa conjugação. Mas
estas d u as ú ltim as características são co m u n s a o u tras entidades.
655. Objetivo e tunção — C ooperativa não tem fim lucrativo, ela in term e
dia ações públicas do cooperado, agindo em seu nom e. Sua finalidade precípua é
coesão de forças. M as tam bém sistem atiza e padroniza a produção, q uando os seus
m em bros, per se, não po d em fazê-lo. C oordena a d istribuição e a circulação de
bens. C ontrola, em alguns casos, o preço de m ercado. D istorcida de seus princípios
d o u trin ário s, d o m in a o m ercado.

609
C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I I — P r e v id ê n c ia S o c ia l
Ju rid icam en te, não ad q u irin d o os bens fornecidos pelos associados para
transferi-los, isto é, n ão sendo precipuam ente em presa com ercial, sua m otivação
econôm ica é m ediar entre a produção de bens o u serviços e o adquirente ou u su á­
rio. Dá-se exem plo singelo: centenas de pequenos p ro d u to res de leite conseguem
com p etir no m ercado, por interm édio da entidade. Isoladam ente, eles não p o d e ­
riam arcar com os insum os e despesas de distribuição.
Seu escopo é achegar o p ro d u to r (in d u strial ou com erciante atacadista) do
consum idor. C onsegue, assim , ad q u irin d o p o r atacado e não objetivando lucro,
preços m ais baixos. Q u ando de vulto, tam bém representam os cooperados, em bora
juridicam ente esteja desautorizada para fazê-lo em juízo, salvo com m andato dos
filiados.
656. C lassificação e tip o s — As cooperativas p o d em ser classificadas se­
gundo vários critérios. D estarte, são ditas urbanas ou rurais. U nitárias ou m istas.
Singulares, federadas ou confederadas. O objetivo e o modus operandi conferem -
-Ihes tipologia. ALuando em vários segm entos da econom ia as p rincipais são: a) de
produção; b) de consum o; c) de trabalho; d) habitacional; e) crédito; 0 seguro e
ou tras mais.
Assim , são conhecidas: 1) u rb a n as — q uando voltadas para atividades tidas
com o da cidade, p o r exclusão das rurais; 2) ru rais — se a atividade é a ex p lo ra­
ção da m atéria-prim a rural; 3) sim ples — as destinadas a um a só m odalidade:
de trabalho, de p ro d u ção , de co nsum o etc.; 4) singulares — as não federadas ou
não confederadas; 5) m istas — ao com binarem duas funções, p o r exem plo, de
pro d u ção e de trabalho; 6) h ab itacio n ais — n a hipótese de o objetivo propiciar
residência para os participantes; 7) creditícia — cuja finalidade é oferecer crédito
ou em p réstim o ao co o perado; 8) seguro — objetivando a co b ertu ra coletiva de
sinistro s; 9) d úplices — na circunstância de cu m u larem sua atividade ínsita com
in d u striais ou com erciais; e 10) federadas ou confederadas q u an d o reúnem en ti­
dades de base.
657. O b rigações p a tro n a is — C om o em presa, não obstante ser unidade não
m ercantil — p o r vezes, acum ulando este últim o cu n h o — , as cooperativas as­
sum em obrigações fiscais. As dúplices, isto é, cooperativas propriam ente ditas e
tam bém operando no m u n d o dos negócios com o com erciantes e industriais, têm
os pró p rio s de sua form atação ím p ar e os deveres de todo em preendim ento.
Por conseguinte, em relação aos em pregados, são em pregadoras, subm etidas
aos ô n u s previstos para tais hipóteses. Do po n to de vista tributário, distinguidas
co n stitu cio n alm en te, com certa proteção inerente à sua capacidade contributiva.
a) folha de pagamento: Devem descontar a contribuição dos em pregados (8%,
9% ou 11%), e, ju n ta m e n te com a parte patronal e a do seguro de acidentes de tra­
balho, encam inhá-las ao FPAS. Q u ando contratam au tô n o m o s o u se têm diretores
rem unerados, classificados com o em presários, sujeitam -se à Lei n. 9.876/1999 e à
Lei n. 10.666/2003 ( “Filiação dos D iretores de C ooperativa H abitacional à Previ­
dência Social", in Supl. Trab. LTr n. 101/83).

C u rso de. D ir e it o P b e v id e n c ia r ic i

610 W la d im ir N o v a e s M a rlin e z
b) faturam ento: As cooperativas caracterizam o fato gerad o r d a obrigação
prevista no art. 2 3 , 1, do PCSS, ou seja, estão obrigadas ao COFINS.
c) lucro: In ex isten te lucro, as cooperativas não estão sujeitas à contribuição de
8% prevista no art. 23, II, do PCSS.
d) produtos rurais: Q u ando apropriam p ro d u to s de segurado especial ou p ro ­
d u to r ru ral pessoa física ou ju ríd ica, em bora term inologicam ente não adquirentes,
recebendo a m ercadoria seja de cooperado o u não, ex vi legis a cooperativa está
su bm etida a d esco n tar a contribuição rural e reco lh êd a ao FPAS.
e) cooperativas de arm azéns gerais: Q u ando o p ro d u to r rural deposita m erca­
dorias em arm azéns gerais de C ooperativas de A rm azenagem , a responsabilidade
pela dedução da co n tribuição devida ao FUNRURAL era atribuída ao adquirente
do p ro d u to , m as se aquelas vendessem o p ro d u to estavam obrigadas ao recolhi­
m ento (F orm ulação IAPAS/SAF n. 18/1981).
f ) retorno, sobras e bonificações: Em m atéria fiscal, a questão instigante diz
respeito ao “re to rn o ”, “so b ra” e “bonificações”, expressões designativas do plus da
im p o rtân cia final o btida pela interm ediação. A F orm ulação IAPAS/SAF n. 20/1981
en ten d eu caber a co ntribuição ao FUNRURAL, tam bém em relação a esse valor,
na condição de integrante do preço final do p ro d u to , dele excluídas as despesas de
adm inistração.
g) reembolso de autônomos: Até ser su b stitu íd o o D ecreto-lei n. 959/1969, no
e n ten d e r da F o rm u lação IAPAS/SAF n. 34/1983, as cooperativas deviam acrescer
ao valor devido ao cooperado au tô n o m o o reem bolso do salário-base e, ainda,
reco lh er ao FPAS a diferença entre a im portância devida e a classe do trabalhador.
A referida n o rm a “au torizava” elas negociarem com o tom ador do serviço o valor
do acréscim o.
658. C o o p erativa de tra b a lh o — As cooperativas de trabalho têm história
apartada. Inicialm ente e por largo tem po, foram refugadas com o iniciativas condu-
centes à fraude na relação de em prego. A adm inistração previdenciária relutou m ui­
to (e ainda reluta) em aceitá-las com o agentes econôm icos, principalm ente quando
o modus operandi do cooperado suscita elem entos sem elhantes ao do em pregado.
N os anos 90, m uitas delas foram criadas, p rin cip alm en te na área rural, por
vários m otivos: a) visando a en fren tar o problem a do desem prego; b) em razão da
não fiscalização d o registro; c) para c o n to rn a r as obrigações trabalhistas dos em ­
presários; e d) flexibilização dos ô n u s laborais e fiscais.
D iante da realidade social (não serem os obreiros registrados pelos patrões),
parte da d o u trin a aceita-as, e exem plo disso é o aporte dado pela Carla M agna de
1988 e o texto da Lei n. 8.949/1994, q u an d o declarou o óbvio, de antem ão sabendo
das co n seq ü ên cias da declaração.
Em 1976, a O rganização das C ooperativas Brasileiras — OCB solicitou ao
G overno F ederal a regulam entação da co n trib u ição previdenciária. Em resposta, o
então MPAS não q u is defin ir os trabalhadores com o avulsos, p o r en te n d e r tratar-se

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T orno II — P r e v i d ê n c i a S o d a i 611
de responsabilidade do M inistério do Trabalho (Parecer CJ/MPAS n. 24/1980).
C on su ltad o pela C ooperativa M ista dos T rabalhadores em Asseio e C onservação de
São Paulo, o DNPS m an d o u exam inar a questão (R esolução CD/DNPS n. 374/1969).
A ntes, m ediante a R esolução CD/DNPS n. 836/1967, havia reconhecido a existên­
cia da C ooperativa de Trabalho dos T rabalhadores em Edifícios. F inalm ente, a Re­
solução CD/DNPS n. 131/1971 decidiu serem au tô n o m o s os cooperados da
CMTAC/SP (Processo n. 150.736/1968), “observado o disposto no D ecreto-lei n.
959, de 13.10.1969”.
Levando-se em co nta o fato de m uitas delas im porem a regularidade de situ a­
ção do trab alh ad o r (inscrição com o au tô n o m o ju n to ao INSS e até nas Prefeituras
M unicipais), prom overem ou se incum birem , ou cooperarem com o recolhim ento
das contribuições, g eralm ente com base no salário m ínim o, acabaram p o r se to rn ar
solução sopesável pelo legislador e, p o r isso, tram ita projeto no C ongresso N acio­
nal nesse sentido, ten tando convalidar a experiência.
O vetusto D ecreto n. 22.239/1932 a tin h a com o “aquela que, co n stitu íd a e n ­
tre operários de u m a d eterm in ad a profissão ou ofício ou de ofícios vários de um a
m esm a classe, têm com o finalidade prim ordial m elh orar os salários e as condições
de trabalho pessoal de seus associados e, disp en san d o a intervenção de um patrão
ou em presário, se propõem co n tra tar obras, tarefas, trabalhos ou serviços públicos
ou particulares, coletivam ente por todos ou por g ru po de alguns” (art. 24). Hoje,
apreciada essa disposição, percebe-se eivada de equívocos, en tre os quais se referir
a salários e patrões, em todo o caso refletindo época corporativista.
Para o VIII C ongresso B rasileiro de C ooperativism o, é “aquela que congrega
profissionais de u m a ou m ais classes e q u e co n tra ta com terceiros a execução de
serviços a serem p restados p o r seus associados, a q uem transfere os resultados
obtidos, sem visar lu cro ”. No p en sa r de Heloisa H em andez Derzi são “sociedades
con stitu íd as p o r pessoas físicas que integram um a determ in ad a categoria profis­
sional e que se utilizam dessa form a associativa para viabilizar a contratação global
dos serviços prestados p o r seus sócios ou associados” (“As obrigações em presariais
da LC n. 84/1996 e a capacidade tributária passiva das cooperativas de trab alh o ”,
in Jo rn a l do C ongresso B rasileiro de Previdência Social, de 1996, São Paulo: LTr,
p. 53/55). P ertencerem os trabalhadores à m esm a categoria deve-se à história, e,
destarte, nada im pede re u n ir m ais de um g rupo de profissionais. Da m esm a form a,
com o antecipado, a contratação poderia ser em preendida por em presa lucrativa.
As cooperativas de trabalho não diferem m uito de suas coirm ãs; distinguem -
-se p o r prestarem serviços, po stan d o -se no dom ín io laborai. Alocam a m ão de obra,
com nu an ças de em presa de trabalho tem porário ou agência de em prego. M uitas
vezes, m ontadas p o r g ru p o s de em presários interessados n a dim inuição dos custos
fiscais; apenas congregam os trabalhadores, interm ediam , contratam tarefas cole­
tivam ente, recebem o valor e o distribuem entre os cooperados (com o se fossem
em pregados). Caso se lim item ao papel de agenciadores de serviço, o contratado,
trab alh an d o d iretam ente para o to m ad o r e dele recebendo a retribuição, elas se
desvirtuam e d im in u em suas responsabilidades, au m en tan d o as do co ntratante.

C urso dh D ir e it o P r e v id e n c iá r io

612 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A p rin cip al questão p ertin e n te diz respeito aos cooperados serem ou não
em pregados. C om isso, restam desobrigadas, bem com o os co n tratan tes, da parte
p atronal da co n trib u ição previdenciária, do FGTS, décim o terceiro salário, férias
an u ais e o u tro s deveres pecuniários e form ais. Há m u ito tem po, a lei básica do
cooperativism o declarou a inexistência de relação em pregatícia entre am bos, o b ­
viam ente p re ssu p o n d o , em cada caso, a inocorrência fática dos elem entos do art.
3e da CLT.
O p e ran d o com o em presa de trab alh o tem p o rá rio , efetivam a cessão de m ão
de obra, de aco rd o com relação civil en tre duas pessoas ju ríd ic a s de d ireito p ri­
vado, gestan d o possíveis im plicações laborais para o to m ad o r da m ão de obra.
A su b o rd in aç ão , se p resen te, é realizada m ais facilm ente ju n to a este últim o,
em b o ra seja m ais difícil caracterizar a on ero sid ad e; quem paga os trab alh ad o res
é a co o p erativ a e não o to m ad o r da m ão de obra . A fo rm alid ad e do co n tra to , as
ind icaçõ es co n stitu cio n ais, e stim u la n d o o co o p erativ ism o e as ten d ên cias ho-
d iern as do D ireito do T rabalho, são em pecilhos p ara a d ecan tação do v ín cu lo
em pregatício.
A situação do m em bro tido com o au tô n o m o é esforço criativo de ideólo­
gos. M elhor será a lei intitu lá-lo previdenciariam ente cooperado, criando figura
própria, pois au tô n o m o ele não é n em n u n ca foi; sua realidade está distante dos
conceitos d o u trin ário s e legais do trab alh ad o r in d ep en d en te. Na m elh o r das h ip ó ­
teses, deveria ser eq u iparado a au tô n o m o , com o se alvitrou com o eclesiástico e
o garim peiro. A lm ir Pazzianotto Pinto, invectivando distorções sociais, destacou a
d istin ção en tre m ão de obra especializada e exercentes, em funções elem entares.
N ão conseguia ver cooperativa de trabalhadores ocupados em lim peza, conserva­
ção 011 de colheita de pro d u to s agrícolas ( “C orporativism o p re d ató rio ”, Folha de
São Paulo de 4 .1 0 .1996, p. 1-3).
Iguala-se, p o r assim dizer, aos avulsos: é co n tratad o na sede da cooperativa
(sin d icato s da orla m arítim a), presta serviços a diversas em presas (arm adores),
recebe da co o rd en ad ora e não do d ad o r de serviços, su b m eten d o -se às regras de
trab alh o im postas pelo to m ad o r da m ào de obra (proprietário do navio). D iferen­
tem en te daquela classificação (de avulsos), é tido erroneam ente com o autônom o.
A colhido com o autônom o agrupado (associado), e reconhecida a legitim idade
da sua condição de segurado obrigatório, filiado com o co n trib u in te individual,
p ressu p o sto s a serem exam inados em cada caso, com o o dos profissionais liberais,
algum as conclusões podem ser extraídas. Recolhe pela escala de salários-base, su ­
jeitan d o -se à alíq u o ta de 20%, a p artir de I a.8.1996, até 31.3.2003. Esse pagam ento
pode, na prática, ser operado pela cooperativa, se assim convencionado em seu Es­
tatu to Social, d esco n tado m aterialm ente do valor a ser pago pelo serviço prestado
(a cooperativa fu n cio n an d o com o m era arrecadadora, sem ser sujeito passivo de
tal obrigação fiscal).
Q u an d o legítim o e não m ascarado o cenário, inexiste relação jurídica laborai
entre a cooperativa e o cooperado, m as subsiste vínculo civil en tre ela e o tom ador

C urso oe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 613
de serviços, suscitando-se o disposto na Lei C om plem entar n. 84/1996. Igualm en­
te, não prevalece q u alq u er vínculo entre o au tô n o m o e o co n tra lad o r dos seus
serviços. Se não regular, certam ente, haverá vínculo em pregatício. Q uem presta
serviços é a cooperativa e não os autônom os.
659. E n q u ad ram en to d o asso ciad o — O en q u ad ram en to previdenciário do
cooperado só tem interesse na cooperativa de trabalho. Na de consum o, é pessoa
física filiada, n o rm alm en te em pregada de o u tra em presa; na de produção, titu lar
de firm a individual, sociedade lim itada ou anônim a, co n dom ínio ou o u tra azienda
civil ou com ercial, em que, em razão da personalidade ju ríd ica, resta sem sentido
a preocupação.
Na de trabalho, porém , a questão ainda não está deslindada, m as, n a ver­
dade, d epende dos fatos. A preocupação é antiga; o art. 90 da Lei n. 5.764/1971
declarava a inexistência de vínculo em pregatício entre cooperativa e cooperado. O
objetivo, diante da eficácia do contrato-realidade, era estim u lar o cooperalivism o;
cada caso, po rém , acabaria sendo resolvido pela Ju stiça do Trabalho. O em penho
do legislador, m áxim e a partir de 1988, é grande nesse sentido, haja vista a Lei n.
8.949/1994 ( “Q u alq u er que seja o ram o de atividade da sociedade cooperativa,
não existe vínculo em pregatício entre ela e seus associados, n em entre estes e os
tom adores de serviços d aq u e la”).
D iante da h ierarquia das leis, não se p o d erá tom ar esse dispositivo com o re-
vogador do art. 3 a da CLT. Trata-se de preceito d eclaratório e não constitutivo, a
ser confrontado com o art. 9Qda C onsolidação. D ependendo do modus operm di da
cooperativa, pode su b sistir o m encionado elo com ela o u com o tom ador dos ser­
viços. Eduardo Gabriel Saad pensa valer o parágrafo ún ico do art. 442 da CLT ap e­
nas p ara trabalho ev entual ou de curta duração. G arante: “Interpretá-la de m odo
diverso, ou literal, é ab rir cam po para graves deform ações incom patíveis com o
caráter protetivo da lei trab alh ista” (“C om entários à CLT”, 29- ed., São Paulo: LTr,
1995, p. 288).
A adm inistração sem pre hesitou em classificá-lo. Inexistente figura p ró p ria na
lei (deveria propô-la, com o foi criada a do avulso e a do tem porário), dizia ser au ­
tôn o m o “o trab alh ad o r associado a cooperativa de trabalho que, nessa qualidade,
presta serviços a terceiros” (item 25-c da P ortaria SPS n. 2/1979).
Q uer dizer, para aquele ato norm ativo in tern o revogado, bastava ser coopera­
do para ser autônom o. A conclusão conflitava frontalm ente com o conceito de au ­
tôn o m o co n tid o n a lei vigente à época. A CLPS dizia: “quem exerce habitualm ente
e p o r conta pró p ria atividade profissional re m u n e ra d a ” (art. 5Q, IV).
Na p rim eira disposição, percebia-se im p o rtan te inform ação d o u trin ária: não
im p o rtav am as co n dições de trabalho. Ignorava-se a situação pessoal do obrei­
ro. Todavia, sem pre houve dificuldade em caracterizá-lo com o em pregado das
cooperativas e m u ito s deles reclam aram , com razão, vínculo com os tom adores,
pois elas se lim itam à função in term ed iad o ra, verdadeiras em presas de trabalho
tem porário.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

614 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
A O rientação N orm ativa SPS n. 2/1994 evoluiu em relação a isso, restringindo
o alcance da classificação, seguram ente sopesando situação das cooperativas m é­
dicas. É au tô n o m o “o profissional liberal associado a cooperativa de trabalho que,
nesta condição, presta serviços a terceiros”. A definição não corre riscos porque
profissional liberal geralm ente é autô n o m o m esm o, m as, fora das cooperativas
m édicas, o trab a lh ad o r não desfruta de q u alq u er liberdade.
Se efetivam ente o cooperado não é em pregado da cooperativa ou do tom ador,
n ão sendo em presário e diante da dificuldade de tê-lo com o assum indo h ab itu al­
m ente os riscos da atividade profissional (trab alh ar p o r conta p ró p ria), só resta
classificá-lo com o eq uiparado a autônom o.
660. LC n. 84/1996, Leis ns. 9.711/1998 e 9.876/1999 — Inovando em relação
ao disposto na Lei n. 7.787/1989 e no PCSS, m as sem pre com vistas à obrigação ori-
ginariam ente instituída pelo Decreto-lei n. 959/1969, em razão da decisão tom ada em
12.5.1994 pelo STF (ADI n. 1.202.2/DF), em seu art. l s, diz a LC n. 84/1996: “Para
a m anutenção da Seguridade Social, ficam instituídas as seguintes contribuições so­
ciais: I — a cargo das em presas e pessoas jurídicas, inclusive cooperativas, no valor de
quinze p or cento do total das rem unerações ou retribuições por elas pagas ou credita­
das no decorrer do mês, pelos serviços que lhes prestem , sem vínculo em pregatício, os
segurados em presários, trabalhadores autônom os, avulsos e dem ais pessoas físicas”.
Assim, q u alq u er cooperativa, excetuada a de trabalho, se co n tra tar a u tô n o ­
m os ou avulsos, ou se os seus diretores forem segurados obrigatórios classificados
com o em presários (caso da habitacional), terá de recolher tal contribuição em
relação aos h o n orários, salários ou pro labore. Por exclusão, as “dem ais pessoas
físicas” só p o d em ser os tem porários ou equiparados a au tô n o m o s (garim peiros).
R eferentem ente à cooperativa de trabalho, reza o inciso II do m esm o art. I 9:
“a cargo das cooperativas de trabalho, no valor de quinze por cento do total das
im p o rtân cias pagas, distrib u íd as ou creditadas a seus cooperados, a título de re­
m u n eração o u retrib uição pelos serviços que prestem a pessoas ju ríd icas p o r in ­
term édio d elas”.
A origem h istó rica prende-se ao D ecreto-lei n. 959/1969 (em bora seja m ais
antiga e pro v en h a da LOPS). Em face do preceito legal, o fato gerador da obrigação
previdenciária é a transferência de im portâncias em d in h eiro ao cooperado (valen­
do, tam bém , o seu créd ito ), diretam ente relacionadas com a prestação de serviços
m aterialm en te ex ecutados p o r ele exclusivam ente a pessoas jurídicas. A presenta
sem elhança com a hipótese de incidência gerada pelo trabalho tem porário, m as
ali é rem u n erató ria. E, saliente-se, a lei adm ite a hipótese de a cooperativa pagar
rem u neração (co n trap artid a do trabalho de em pregado).
E xistir essa h ipótese de incidência e, p o r via de conseqüência, a exigibilidade
de con trib u içõ es caracteriza a cooperativa com o sujeito passivo e, principalm ente,
não p rescinde de d eterm in ar a relação ju ríd ica m an tid a com o cooperado.
a) relação entre cooperativa e filiado: Sendo legítim a e form alm ente co n stitu í­
da a cooperativa, q u an d o o cooperado não for seu em pregado nem do tom ador

615
C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo II — P revidência S ocial


de serviço ou lhes prestar serviços diretam ente com o autônom o, a relação é o ato
cooperativo, elo inconfundível com outros (v. g., de locação de serviços, sociedade
de fato, relação em pregatícia, trabalho dom éstico o u tem porário etc.). V ínculo civil
com algum a proxim idade com o com ercial, lem bra atos negociais do tipo m andato,
representação, consignação ou interm ediação.
b) destinatários dos serviços: Os serviços executados pelo cooperado d estinam ­
-se à cooperativa. Só m aterialm ente dizem respeito ao to m ad o r da m ão de obra.
De algum a form a, subsiste coordenação nas duas esferas (indicação do local de
trabalho, tipo de serviço, duração da jo rn a d a , fixação da retribuição, condições
laborais de m o d o geral etc.).
c) relação entre tomador e trabalhador: E ncam inhado pela cooperativa, o tra­
b alh ad o r presta serviços para o tom ador, apenas obrigado à n atu ral liderança ine­
rente à organização do trabalho. Se realm ente autô n o m o , ou equiparado, lim ita-se
ao cu m p rim en to de h orário, uso de equ ip am en to de proteção, sem desprezar a
subordinação própria do serviço.
d) contratante dos serviços: Os serviços são co ntratados, entre si, p o r duas pes­
soas ju ríd icas (cooperativa e to m ad o r de m ão de obra), m ediante contrato escrito
e fornecim ento de nota fiscal. De acordo com o art. 31 do PCSS, solidariam ente
responsáveis.
e) relação entre cooperativa e tomador: Relações contidas n o âm bito do D ireito
Civil. Não será fácil classificar tal cessão de m ão de obra no D ireito Com ercial.
f) natureza do valor: A típica a entidade cooperativa, em bora se refira a servi­
ços prestados (podendo, pois, ser designada com o retribuição) e não se referindo
a ren d im en to de capital, o valor d istrib u íd o em função da interm ediação pode
ser tido e designado com o honorário de cooperado. N ão tem exatam ente a m es­
ma natureza se o trab alhador prestar serviços d iretam en te ao tom ador, q uando se
reduziria ao h o n o rário civil. A triangulação faz esm aecer a subordinação e a inde­
pendência do profissional.
g) obrigação da cooperativa: D iante desse cenário, a cooperativa estava obri­
gada a, além de entregar o valor dos h o n o rário s m ensais (obrigação civil de dar),
recolher 15% dessa som a ao FPAS. A base de cálculo será o total avençado m enos a
parcela d eduzida a títu lo de adm inistração. Exceto na hipótese de prestar serviços
para pessoas físicas, caso das cooperativas m édicas e de táxis. A tom adora, c o n tri­
bu in te de fato, não tem q u alq u er dever fiscal direto, assum indo-o apenas p o r via
de solidariedade.
Pondo fim à solidariedade fiscal do art. 31 do PCSS, a Lei n. 9.711/1998
criou nova obrigação fiscal para as em presas, aí incluídas as cooperativas, decisão
contestada entre os estudiosos. As O rdens de Serviço INSS/DAF ns. 195/1995,
203/1999 e 209/1999 referem -se a essa obrigação das co n tra tan tes de serviços co­
operados de reter 11% da nota fiscal.
Com a Lei n. 9.876/1999, o art. 22 do PCSS sofreu alteração, restando com a
seguinte redação: “q u in ze p o r cento sobre o valor bru to e da nota fiscal ou fatura

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

616 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
de prestação de serviços, relativam ente a serviços que lhe são p restados p o r coo­
p erad o s p o r in term éd io de cooperativas de trab a lh o ”. A líquota diferente dos 20%,
que é a obrigação das dem ais em presas.
h) Lei n. 10.666/2003: C om a M edida Provisória n. 83/2002, novas obrigações
fiscais foram com etidas às cooperativas de trabalho e de p rodução, e até m esm o
com vistas à ap o sen tadoria especial.

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o í í — P r e v id ê n c ia S o c ia l 617
Capítulo LXVI

LC n . 84/1996

661. Introdução do assunto. 662. Sujeito passivo. 663. Fato gerador.


S u m ário:
664. Segurados arrolados. 665. Situação do eclesiástico. 666. Cooperativa cie
trabalho. 667. Alíquota das financeiras. 668. Substituição dos 15% por 20%.
669. Obrigações acessórias. 670. Eficácia da exigência.

A tentativa de nivelar as obrigações pessoais e patronais em relação a todos os


trabalhadores, entre su b o rd in ad o s e ind ep en d en tes, nem sem pre alcançada, desde
1969, levou o legislador a criar contribuições das em presas em relação a qu em lhes
p restar serviços.
O processo iniciou-se com o D ecreto-lei n. 959/1969, passou pela Lei n.
7.787/1989 e cu lm in o u com a LC n. 84/1996 e algum as m odificações operadas
pela Lei n. 9.876/1999. F inalm ente, atualizado com a Lei n. 10.666/2003.
A inda que revogada pela Lei n. 9.876/1999 e afetada a p a rtir de 1-.4.2003,
m antêm -se os com entários-
661. In tro d u ção do assu n to — A LC n. 84/1996 restabeleceu a contribuição
patronal (historicam ente introduzida pelo Decreto-lei n. 959/1969, alterada pela Lei
n, 5.890/1973, revista pela Lei n. 7.787/1989 e m an tid a pela Lei n. 8.212/1991) —
objeto da arguição de inconstitucionalidade ADI n. 1,202-2/D F com exigibilidade
suspensa em 12,5.1994, por decisão do STF, sob dois fundam entos: a) significado
da expressão “folha de salários”, constante do art. 1 9 5 ,1, da C onstituição Federal; e
b) necessidade de lei co m plem entar para sua im plem entação (art. 195, § 4 Q).
O lvidando-se do disposto no art. 7®, XXXiy da Carta M agna, além do em presário
e do au tô n o m o , o STF in clu iu o avulso naquela decisão, categoria de trabalhador
p o rtu ário não su b o rd in ado, quase em pregado ou quase autô n o m o , regulam entada
desde 1926, ju n ta m e n te com os dadores de serviços, ap o rtan d o com o se em pre­
gado dos sindicatos ou dos arm adores fosse (não é). Por conseguinte, afetando
im p ro p riam en te a p arte patronal da contribuição gerada por esses segurados.
A p aren tem en te, as duas exigências teriam sido aten d id as — o in stru m en to
n o rm ativ o é lei co m p lem en tar e com am paro no m en cio n ad o art. 195, § 4°: “A
lei p o d erá in stitu ir o u tras fontes” (as usuais co n stam do seu caput, 1 a III, p ara as

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W í a d i m í r N o va es M a rtin e z
quais b asta lei o rd in ária), “d estin ad as a g aran tir a m an u ten ç ão o u expansão da
seg u ridad e social, obedecido o disp o sto no art. 154, I.” Trata-se da com petência
residual da U nião, desenvolvida p o r Valdir de Oliveira Rocha, em q u e distingue
a n ão cu m u lativ id ad e ( “A C om petência residual da U nião e a co n trib u içã o ao
F in so cial”, in R epertório IOB de Ju risp ru d ê n c ia da I a q u in zen a de novem bro de
1991, p. 3 9 3 /96).
O preceito rem etido reza: “A U nião poderá instituir: I — m ediante lei com ­
plem entar, impostos não previstos no artigo a n te rio r” (em que arrolados tributos da
U nião), “desde q ue sejam não cum ulativos e não tenham fato gerador ou base de
cálculo p ró p rio s d o s discrim inados n esta C o n stitu ição ” (grifos nossos).
A rem issão do art. 195, § 4 5, ao m ecanism o do art. 1 5 4 ,1, necessariam ente não
vincula ev entual significado estrito à palavra “im postos”, e nem por isso classifica
a cotização secu ritária com o espécie tributária. O fato gerador da obrigação fiscal
individual, do em presário e do avulso (retribuição p o r serviços p restados exclusi­
vam ente à pessoa ju ríd ica), e do autô n o m o (igual, porém , à física e à ju ríd ica), e,
n as hipóteses do art. 3Q, §§ 1Qe 2g, da lei enfocada, a base de cálculo do salário-base
dos co n trib u in tes individuais pessoalm ente sopesados, repousam no art. 195, II, do
E statu to Político.
A lguns estudiosos m anifestaram -se sobre a natu reza da obrigação em foco e
possível in co n stitu cionalidade.
O m esm o Valdir de Oliveira Rocha, cauteloso na defesa das liberdades indivi­
duais, a tem com aquele defeito por exigir procedim entos da em presa ao co n tratar
o au tô n o m o , com o ter de verificar se inscrito, se co n trib u in d o e qual a sua classe
na escala de salários-base. C onsidera afetada a liberdade de associação, o direito
de não ser com pelido a associar-se, a livre-iniciativa, a livre concorrência e o livre
exercício da atividade econôm ica (“D ireitos C onstitucionais à Liberdade e C o n tri­
buição de Seguridade Social sobre P agam entos feitos a T rabalhadores A u tô n o m o s”,
in Revista Dialética de D ireito T ributário, de abr./1996, p. 63/70).
Para Sergio Pinto M artins, é in co n stitu cio n al em razão de o fato gerador ser
igual ao do 1SS (D ecreto-lei n. 406/1968). Da m esm a form a co n trariaria a C arta
M agna q u an d o exige 2,5% a m ais das entidades financeiras. C apacidade contri-
butiva, para ele, é princípio não aplicável às contribuições sociais (“C ontribuição
Social C riada pela Lei C om plem entar n. 8 4/1996”, in R epertório IOB de ju ris p ru ­
dência. da 1® q u in zen a de abr./1996, p. 163/64).
A observação de Valdir de Oliveira Rocha é excesso de zelo de especialista
cuidadoso. M uitíssim as o u tras obrigações acessórias são com etidas às em presas ou
co n trib u in tes, há décadas, até de com plexidade su p erio r à im posta pela inovação,
sem terem sido con testadas no Judiciário, valendo lem brar a história da exigibi­
lidade em discussão, desde 1969. A in ten ção do legislador é ten tar evitar fraude
à CLT e d im in u ir evasão da receita previdenciária, im p o n d o ô n u s à contratação
de au tô n o m o s no lugar de em pregados; não chega a exigir a associatividade nem
destrói a livre conco rrência ou exercício da atividade econôm ica.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o U — P revidênc ia S o cial 619


O p o n to de vista de Pinto M artins decorre de filiar-se à m ajoritária corrente
tributária, segundo a qual a exação previdenciária ou é trib u to p ro p riam en te dito
ou é espécie tributária. A p artir daí, é lógico concluir no sentido da duplicidade
com o ISS, mas esse não parece ser en ten d im en to capaz de esgotar o assu n to diante
das d istinções operadas pela especificidade da previdência social e m anifesta no
Texto C onstitucional.
A C onfederação N acional da Indústria ingressou com Ação Direta de Incons-
titucionalidade — ADI n. 1.432-3/600. A lim inar foi indeferida p o r u nanim idade
em 18.4.1996 (in DJ de 26.4.1996, Seção I, p. 13.078), m anifestando-se o C on­
su lto r Ju ríd ico do MPAS — não obstante filiar-se o parecerista Paulo José Leite
Farias à co rren te trib u tarista — favorável à constitucionalidade (Parecer CJ/MPAS
n, 552/1996, in DOU de 14.5.1996).
Os sujeitos passivos são distinguiclos, exatam ente com o sucede com a co n ­
tribuição patronal e profissional, previstas no art. 195, I (arts. 20 e 22 da Lei n.
8.212/1991), em que igual o fato gerador, m as não a base de cálculo para em pregado
auferindo acim a do lim ite do salário de contribuição (R$ 4.159,00, em 2013). N um
caso, a pessoa ju ríd ica (em presa) e, no outro, a física (segurado).
Na em enta da lei, é perceptível a preocupação form al do legislador de adequar
a n o rm a ao preceituado na Lei M aior (ab initio, o texto alude à m anutenção da
seguridade social).
As fontes form ais da exigibilidade são os arts. 195, § 45 (a par das contem pla­
das nos incisos I a III, prevê o u tras fontes de recursos), 154, 1 (autoriza a criação
de im postos não cum ulativos e sem fato gerador ou base de cálculo concebido na
C arta M agna), 146, III (elenca a atribuição da lei co m p lem en tar — fixar regras
gerais), e 150, II (isonom ia exacional), 150, § 69 (distingue exações Lributãrias das
prev id en ciárias), da C o nstituição Federal e o C ódigo T ributário N acional (Lei n.
5.172/1966).
N ão podem ser desprezados o D ecreto-lei n. 959/1969 (crio u ), as Leis
ns. 5.890/1973 (m odificou), 7.787/1989 (am pliou) e, especialm ente, a Lei n.
8.212/1991 (m anteve).
Em nível adm inistrativo, o D ecreto n. 1.826/1996, a Instrução N orm ativa SPS
n. 5/1996 e o Parecer CJ/MPAS n. 552/1996.
A lgum a coisa precisa ser regulam entada. O modus operandi das relações de
a u tô n o m o s e e m p re sá rio s com a em p re sa, no to c a n te ao sa lário -b ase, carece
de elu cidação, p rin cip a lm en te esclarecer o significado do “estar c o n trib u in d o ”,
“d istrib u iç ã o ” de im p o rtân cias, situ ação do a u tô n o m o não in scrito , dos carretei-
ros etc.
662. S u jeito passivo — Os obrigados à exigência são as “em presas e pessoas
ju ríd ic a s” (inciso I), com destaque para as cooperativas (aliás, q uando voltadas ao
trabalho, objeto de inciso ap artado), q u an d o seria suficiente alusão às em presas.
Estas últim as, no dizer do art. 15 da Lei n. 8.212/1991 — cuja rem issão é a u to ­
rizada pelo art. 5° — , são pessoas ju ríd icas (per se in clu in d o as cooperativas).

C urso ub D ir e it o P r k v id k n c ia r ío

620 W la d im ir N o va es M a rtin e z
A in tenção é desfazer dúvidas sobre em p re en d im en to s n ão lu crativ o s lato sensu e
in stitu içõ es (v. g., partidos, igrejas, órgãos de representação estrangeira e o p ró p rio
E stado), todos su b m etidos à norm a.
É in cluído o au tô n o m o , com ou sem em pregado, q u an d o co n trata autônom o;
a associação ou fundação; a sociedade civil ou com ercial e o co n d o m ín io urbano
ou ru ral, h o rizo n tal ou vertical. Sem dúvida, tam bém o segurado especial, en q u a­
drado no caput do art. 15 citado.
Da im posição fiscal, excluído o em pregador dom éstico (em que, aliás, o fato
gerad o r dificilm ente se realizaria). Da m esm a form a, no âm bito da co n stru ção ci­
vil, o p ro p rietário de casa própria.
Delicada, do p o n to de vista ju ríd ico , a situação do clube de futebol profissio­
nal e do p ro d u to r ru ral pessoa física o u jurídica.
Para o item 8 da In stru ção N orm ativa SPS n. 5/1996, não fazendo a Lei C om ­
p lem en tar n. 84/1996 distinção, seria válida a exigibilidade. As norm as referentes
à m atéria m andam su b stitu ir não a parte patronal, de m odo geral, m as a prevista
no arl. 22 da Lei n. 8.212/1991, e, assim , os 15% se m anteriam , o m esm o valendo
para as en tid ad es beneficentes de assistência social, in casu, apenas com relação à
con tratação do au tô n o m o (do raciocínio, excluído o eclesiástico).
663. F ato g e ra d o r — Sem lim ite para o m o n tan te, até m arço de 2000, a tax
era de 15%, d im in u in d o 5% em relação ao art. 22, 1, da Lei n. 8.212/1991. Salvo
para as h ip ó teses d escritas no art. 29 (em q u e é 17,5%) e n o referido art. 3e, §§ I a
e 2Q (p o d en d o ser de 20%).
A base de cálculo é a rem uneração (expressão característica de subordinado)
ou retribuição, elen cando o legislador, lado a lado, im p ro p riam en te, espécie e gê­
nero. Seria suficiente e su p erio r dizer retrib u ição (abrange rem uneração, h o n o rá­
rios e pro labore). De q u alq u er form a deflagrará q u estiú n cu las com o ato cooperado
(na obrigação do inciso I) e com o recebido p o r alguns eclesiásticos.
C erta n u an ça do fato gerador não é bem explicitada. A lude-se ao pagam en­
to ou crédito (no d eco rrer do m ês), criando-se problem a relativo à decantação
da h ipótese de incidência. Em verdade, nesta ordem , é o direito (co n stitu íd o por
declaração), o crédito (contabilizado p o r escrito) e o pagam ento (efetuado em
d in h eiro , trocado p o r bem ou serviço). Q uer dizer, se não houve o desem bolso,
basta o crédito contábil; inexistentes a quitação e o crédito é suficiente o direito.
Pela tradição do D ireito Previdenciário, o m om ento da prestação de serviços
d eterm in a o m ês de com petência. N ão é a data da definição do direito (p o r exem ­
plo, pela ju stiç a), da realização do crédito contábil ou a do efetivo desem bolso. A
m enção às “rem u n eraçõ es ou retribuições, p o r elas pagas" (grifos nossos), não em ­
palidece o en cam in h am en to , d ian te do “creditadas no d eco rrer do m ês”. O legis­
lador, com o sem pre fez, pressupõe o trab alh ad o r retribuído “no d eco rrer do m ês”.
C aracterizada a obrigação, delineia-se no m ês de com petência, isto é, naquele
da realização dos serviços. Assim , exem plificativam ente, em l e.5.1996, q uando a

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o 11 — P revidência S o c ia l 621


norm a legal ad q u iriu eficácia, m uitos pagam entos foram operados, referindo-se a
trabalho, direito e crédito consum ados antes dessa data, sem a exação ser exigível.
Ad argumentandum, se a lei co m p lem en tar for revogada, quitações produzidas após
a perda de su a eficácia, pertin en tes a serviços prestados antes, qu an d o vigente,
obrigarão à contribuição.
É im p o rtan te não co n fu n d ir o fato gerador (dever de re trib u ir o trabalho pres­
tado) com o in stan te de sua cristalização. É o pagam ento (e tam bém o direito e o
crédito), m as não ex atam ente q uando ele acontece.
Prestação de serviços “sem vínculo em pregatício” é despicienda n o texto, mas
elucida tratar-se de relação entre pessoas ju ríd ica e física, sem subordinação desta
àquela. A utorizado pelo sistem a, diante da realidade, a p resu m ir a existência da re­
lação em pregatícia, para fins de lançam ento, se o AudiLor-Fiscal da RFB considera
em pregado o trab alh ad o r form alm ente apresentado com o au tô n o m o , resolvendo­
-se a questão a favor da autarquia federal, os f 5% ou 20% recolhidos pela em presa
devem ser considerados na obrigação prevista n o art. 22, I, da Lei n. 8.212/1991.
Às vezes, o d o cu m en to apresentado pelo au tô n o m o engloba m ão de obra e
m ateriais, m as a incidência recai apenas sobre a prim eira. P or isso, os honorários
de fretistas e carreteiros, antes do cálculo, devem ser reduzidos a 11,71% do c o n ­
signado n o do cu m en to . Se não há discrim inação no recibo, nota fiscal ou fatura,
até prova em contrário, o valor total corresponde à retribuição.
Fssa obrigação é a antiquíssim a “p arte patro n al” e não a pessoal, daí valer
em cada estabelecim ento onde os segurados prestem serviços. Se o au tô n o m o e o
em presário trabalham para várias em presas farào nascer sucessivos deveres fiscais.
Nessa linha de raciocínio, não afetará o cálculo do benefício desses co n trib u in tes
individuais, estim ado em razão da filiação pessoal e com base no recolhido p o r
m eio do carnê de pagam ento.
N as sociedades civis restabelece-se polêm ica sobre a natureza do num erário
entregue aos sócios em razão do trabalho e do ren d im en to do capital aplicado.
Se presente pro labore contabilizado sua im portância será a base de cálculo, m as,
inexistente discrim inação entre a retirada e o lucro, aquela terá de ser presum ida
no valor m ínim o.
A com paração com a LC n. 84/1996 desperta algum as dúvidas: qual o alcance
das expressões “rem u n e raç ão ” e “retrib u ição ”, contidas na LC n. 84/1996, e qual o
significado do vocábulo “participação nos lu cro s”, na Lei n. 6.404/1976, com o se
deve en ten d e r a rem issão do art. 53 da LC n. 84/1996 ã Lei n. 8.212/1991? F inal­
m ente, o valor anual da participação nos lucros da em presa, prevista no E statuto
da consulente, deve in tegrar a sua rem uneração para fins de incidência dos 17,5%
referidos na lei co m p lem en tar em apreço?
664. S egu rad os arrolados — O rol dos segurados obrigatórios é exem plifi-
cativo (em presário, au tô n o m o e avulso) e generalizado (dem ais pessoas físicas).
Em seu art. 32, o Decreto n. 1.826/1996, tentando descobrir essas “dem ais pessoas
físicas”, constante do art. 1Q, I, da lei, fala em pessoa “cuja filiação ao Regime G e­

C urso de D ir e it o P b e v iü e n c ia b io

622 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
ral de Previdência Social — RGPS não seja o b rig ató ria”. M ais claram ente, a Lei
n. 9.876/1999 fala em “aos segurados c o n trib u in tes individuais que lhes prestem
serviços” (PCSS, art. 22, II). N ão é fácil exem plificar indivíduos p restando rem u-
n erad am en te serviços às em presas, sendo im pensável falar-se em facultativo.
Não faz d istinção, vinculando tam bém o aposentado, im pondo-se a co n trib u i­
ção (Lei n. 8.870/1994).
E m presário é o titu lar de firm a individual, sócio-gerente na sociedade por
cotas de responsabilidade lim itada ou cotista com retirada pro labore, sócio soli­
dário, sócio de in d ú stria, direto r de sociedade anônim a, m em bro de C onselho de
A dm inistração (e dirigentes rem unerados, de m odo geral), previstos no art. 12,111,
da Lei n. 8.212/1991 e, q u an d o com patíveis com ela, no seu regulam ento (D ecreto
n. 3.04 8 /1 9 9 9 ), e em atos m enores o riu n d o s do MPS. P rincipalm ente, o diretor
nào em pregado, m as não o m em bro do C onselho Fiscal de sociedades anônim as,
tido com o au tô n o m o . Tam bém o em p reen d ed o r de falo ou de direito, na sociedade
organizada ou irregular.
A u tô n o m o , o p ro p riam en te dito, assu m in d o os riscos, exerce atividade p ro ­
fissional. O RPS arrola 14 categorias deles (art. 9 e).
O avulso, q uem presta serviços a diversas em presas (g eralm en te arm a d o ­
res), com o u sem in term ed iação sindical, u su alm en te n a área p o rtu ária . O s p rin ­
cipais são: a) estivador, inclusive o trab a lh a d o r de estiva em carvão e m inerais;
b) alvarengueiro; c) co n feren te de carga e descarga; d) c o n se rta d o r de carga e
descarga; e) vigia p o rtu á rio ; f) a m a rra d o r de em barcação; g) tra b a lh a d o r em ser­
viço de b loco; h) trab a lh a d o r de capatazia; i) arru m a d o r; j) en sa cad o r de café,
cacau, sal e sim ilares; k) trab a lh a d o r na in d ú stria de extração de sal; 1) carre­
g ad o r de bagagem em p o rto ; m) p rá tic o de b arra em p o rto ; n) g u in d asteiro ; o)
classificador, m o v im e n ta d o r e em p a c o ta d o r de m ercadorias; e p) o u tro s, assim
classificados pelo MTA.
E ventual, figura praticam ente em extinção, é o trab a lh ad o r sem profissão,
o casionalm ente p restan d o serviços su b o rd in ad o à em presa em tarefa esporádica,
m ediante rem uneração.
A In stru ção N orm ativa SPS n. 5/1996 lem bra tam bém o síndico de co n d o ­
m ínio (se não rem u n erad o , m as isento da taxa de co n d o m ín io em relação a este),
o titu lar de m an d ato eletivo não sujeito a regim e próprio de previdência social, o
síndico de falência, o com issário de concordata e o m em bro de conselhos tutelares
(sic). P articu larm en te, o representante c l a s s í s L a cm relação ao órgão de represen­
tação e a rem u n eração por este desem bolsada para ele. Mas não o estagiário (Lei
n. 11.788/2008).
Na vala com um do in fine, entra o eclesiástico (salvo se a Igreja m an ten e­
dora for en tid ad e b eneficente de assistência social, alu d id a n o art. 55 da Lei n.
8 .212/1991), o p ro d u to r rural pessoa física, o garim peiro, o em pregado de orga­
nism o oficial in tern acio n al ou estrangeiro, e o brasileiro civil trabalhando para
organism o oficial internacional.

C urso de D i r f .i t o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c i a l 623
d en tem en te da d en om inação jurídica dos rendim entos, títulos ou d ireito s”. Isso
explica as alíquotas diferenciadas dos co n trib u in tes individuais (m aior, conform e
o nível da classe), dos segurados descontados (superior, consoante o patam ar dos
salários), relativa ao seguro de acidentes do trabalho (m ais elevada, segundo o
risco m ais grave), in ex istente a parte patronal para as entidades filantrópicas, dis­
pensada no m u tirão de construção civil e assim p o r diante.
Heloísa H ernandez Derzi posicionou-se contra a distinção, fundam entalm ente
partin d o da certeza de a contribuição previdenciária ser espécie trib u tária, lem ­
bran d o não ser unânim e a posição da d o u trin a q u an to à sua natureza ju ríd ic a
( “Instituições financeiras — C o ntribuição previdenciária diferenciada , in RPS n.
185/309). Ao co n trário , no m esm o espaço d o u trin ário ( “N úcleo de Pesquisas P re­
videnciárias da RPS”), Paulo José Leite Farias defendeu a necessidade da distinção
em face da capacidade contributiva das entidades, acostando-se a Roque Antônio
C arrazza, e fu n d an d o -se nos arts. 193, caput do 195 e inciso V, parágrafo único,
do art. 194 da CE
Se um a dessas entidades, em relação ao autô n o m o , opta p o r aplicar o disp o sto
no art. 3?, §§ 1Qe 25, a alíquota é de 20%, nào subsistindo o acréscim o d e 2,5%.
668. S u b stitu içã o d o s 15% por 20% — A lei com entada inovava em relação
à legislação p retérita, m u d an d o a base de cálculo da contribuição e a alíquota, e
oferecendo opção ao co n trib u in te. Tratava-se de evidente faculdade.
Podia ser a som a da rem uneração ou a classe do salário-base. As regras dos
dois parágrafos do art. 3Qvaliam apenas para o autô n o m o (e eventual). Em relação
aos co n trib u in tes individuais, com o o em presário e o avulso, sem pre de 15% da
retrib u ição , sem lim ite.
A In stru ção N orm ativa SPS n. 5/1996, em seu item 1, b, no silêncio do art. 1Q
ou 3e da Lei C o m p lem entar n. 84/1996, inclui o equiparado a autô n o m o . O ra, o
eq u ip arad o não é au tô n o m o ; caso contrário, não seria definido com o tal. A Lei n.
8 .2 1 2 /1 9 9 1 , no art. 12, tem dois com andos para eles (incisos IV e V), separando-os
didaticam ente. O legislador com plem entar não ignora a distinção, e se não o m en­
cionou (os ún ico s a serem abrangidos são os co n stan tes das letras c c d do inciso
V) não o q u eria no rol dos atingidos.
A alíq u o ta m áxim a nela alu d id a é de 20%, então c o rre sp o n d e n d o às C lasses
IV a X da escala de salários-base, p o d en d o , in casu, o su jeito passivo to m a r com o
base de cálculo a classe do c o n trib u in te , ob rig an d o -o , com o acontecia a n tes da
Lei n. 7.78 7 /1 9 8 9 , a c o m p u lsar o carnê de p ag am en to e a gu ard ar cópia xerox ou
ficar com d eclaração do profissional, com o diz o art. 5e do R egulam ento. C o n ­
fro n tad o o v alo r do pagam ento, acabará p o r p re le rir o salário-base. Por isso, res­
su scito u o in d ig itad o Recibo de P agam ento a A utônom o — RPA. C om a M edida
P rovisória n. 1.415/1996, não rejeitada n e m co n v e rtid a em lei em 1997, o P oder
E x ecu tivo p re te n d e u a unificação da alíq u o ta de 20% para todas as dez classes da
escala de salários-base dos c o n trib u in te s individuais. A cabou ac o n te cen d o com
a Lei n. 9.876/1999.

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626 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Essa base de cálculo dos situ ad o s nas Classes 1 a III da escala de salários-base
é a Classe IV, a p artir de l s.5.1996, no valor de R$ 383,02.
A In stru ção N orm ativa SPS n. 5/1996, n a hipótese de o p re sta d o r de serviços,
inscrito, estar em atraso, d eterm in o u no sentido de não haver opção, reco lh en d o ­
-se 15% da rem u n eração (a contrario sensu do art. 3 Q). C onform e os su b iten s 4. L I
e 4.1.2 da instru ção , se não estiver em dia será suficiente p ara vedar-se a su b stitu i­
ção das alíquotas. Força a arrecadação e, em certos casos, convirá à em presa e ao
profissional atualizarem -se antes.
N ão há m anifestação legal q u an to ao au tô n o m o não inscrito. N essa circu n s­
tância, vale o art. l e, 1, não se aplicando as regras do art. 32, §§ I a e 2a, incidindo
os 15% sobre o total da retribuição. P osterior regularização d o profissional não
alterará, retro ativ am ente, a contribuição patronal. A lei fala em “au tô n o m o que
esteja c o n trib u in d o ”, prestigiando o ad im p len te e forçando a em presa a exigir a
regularidade do profissional. C uriosam ente, agora se re p o rtan d o à p o n tu alid ad e do
sujeito passivo, o su b item 4.7 da n o rm a in tern a obsta o direito deste de su b stitu ir
a alíquota de 15% p o r 20%, se a em presa co n tratan te não recolheu as dem ais c o n ­
tribuições. Silente a lei a respeito, o subitem é n itidam ente ilegal.
Se o au tô n o m o exerce atividade sujeita à rem uneração, prevista n o art. 28
da Lei n. 8.212/1991 (conceito de salário de co n trib u ição ), isto é, q u an d o , sim ul­
taneam ente, for serv idor (sem regim e p ró p rio ), em pregado, tem porário, avulso
ou dom éstico, e a rem uneração percebida nu m a dessas condições for igual ou
su p erio r ao lim ite (R$ 957,56), seu salário-base é zero. N essa situação, a em presa
recolherá 20% da Classe I. Para raciocinar, se auferir valor inferior ao teto, por
exem plo, R$ 900,00, o seu salário-base será R$ 57,56, e esta ú ltim a im portância
prestar-se-á para a operação do art. 3Q, § 2Q, ou seja, 20% da C lasse IV (resultando
em R$ 76,60)!
Ao referir-se à situação de co n trib u in te, o legislador elege o salário-base real
em d etrim en to do virtual. Por conseguinte, se a classe do trab alh ad o r é a VI, ou
seja, R$ 574,53 (virtu al), e ele receber R$ 757,56, com o em pregado, naquele mês,
a operação consid erará o salário-base de R$ 200,00 (real).
Se em presário, p o sterio rm en te, se filia com o au tô n o m o (duas condições su ­
jeitas ao salário-base), a obrigação das duas em presas co n tra tan tes é com o se não
fosse d u p lam en te inscrito: com base na retirada pro labore, onde em presário (taxa
de 20% ), e in cid in d o nos h o n o rário s ou salário-base na em presa, on d e autô n o m o
(taxa de 15% ou 20%).
D estarte, se regrediu, e vem co n trib u in d o em classe inferior, esta últim a será
a utilizada para os cálculos, não im p o rtan d o o nível do qual regredira.
C om o acontecia antes, reabre-se a questão de d istin g u ir entre autô n o m o e
titu lar de firm a in d iv idual de pequeno porte. O s serviços sendo prestados pelo
prim eiro, tido com o pessoa física, subsiste a obrigação fiscal, m as, se pelo segundo,
ela inexiste. Não é fácil, m esm o à vista de d ocum entos, perceber-se a diferença.
Am bos, quase sem pre sem em pregados e com estabelecim ento m ínim o, em item

C u r s o lh -. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I — P r e v i d ê n c i a S o c iü l
nota fiscal ou recibos em igualdade de condições. Só a legislação trib u tária m u n i­
cipal pode diferenciá-los ( “D istinção entre autô n o m o e titular de firm a in d iv id u al”,
in R epertório IOB de Ju risp ru d ê n cia da I a qu in zen a de ju lh o de 1989, p. 199/201).
Se o au tô n o m o está q u estio n an d o na Ju stiça Cível, com a co n tratan te dos
seus serviços, o valor destes, en q u a n to p en d e n te subjudice a solução, será m elhor
aguardar a sen ten ça para, então, definir-se o m o n tan te da obrigação.
E stran h am en te, o subitem 4.6 da Instrução N orm ativa SPS n. 5/1996 alude
ao facultativo (art. 14 da Lei n. 8.212/1991), obviam ente um não exercente de
atividades, não se alcan çando o sen tid o da m enção.
669. O b rigações a ce ssó r ia s — A partir de l e.5.1996, o rol dos ô n u s previstos
no art. 32 da Lei n. 8.212/1991 é aum entado com novas obrigações acessórias.
Certificada de estar contratando autônom o, se pretender optar pela alíquota
m aior em relação à base de cálculo m enor (lim itada a R$ 957,56), precisará docu­
m entar-se a respeito do salário-base do profissional prestador de serviços. Tem de
saber: a) se está inscrito e qual o núm ero (a prova se faz com o C1CI-DIC1); b) se
está pagando em dia (p or m eio do carnê de pagam ento); c) se está contribuindo em
classe virtual ou real (m ediante a CTPS); e d) qual a classe pela qual vem recolhendo.
Tais inform ações podem ser obtidas diretam ente do p restad o r de serviço,
con stantes do recibo de pagam ento, no qual descritos, preferencialm ente: a) o
perío d o de execução dos trabalhos; b ) a natureza dos serviços; c) o valor total ou
m ensal dos h o n o rário s; e d) a inclusão ou não de m aterial.
No item 5 da In strução N orm ativa SPS n. 5/1996, colhe-se: “A em presa é
obrigada a p rep arar folha de pagam ento da rem uneração paga ou creditada a todas
as pessoas físicas previstas neste ato, discrim in an d o nom e, n ú m ero de inscrição,
serviço prestado, classe de en q u ad ram en to , valor do serviço e da contribuição,
bem com o a efetuar os co rresp o n d en tes lançam entos em títulos p ró p rio s de sua
contabilidade, com discrim inação, em separado, das contribuições referentes a to­
dos os segurados, inclusive aquelas decorrentes da opção a que se refere o item
4, em conform idade com o disp o sto no art. 47 do ROCSS”, obrigações acessórias
m ais bem situadas no decreto reg u lam en tad o r o u na lei.
Por o u tro lado, deverá, ainda, co n sig n ar na “GRPS, no cam po 8 — O utras
Inform ações”, de form a separada, a base de cálculo das contribuições previstas
nesse ato. H avendo a opção de que trata o item 4, a base de cálculo co rrespondente
deverá estar d iscrim inada separadam ente (item 17).
670. Eficácia d a exigência — A Lei C om plem entar n, 84/1996 en tro u em vi­
gor em 19.1.1996. Em observância ao p rincípio constitucional da trim estralidade
(art. 195, § 6°), os efeitos financeiros, obrigatoriedade de contribuir, iniciaram -se
em 1Q.5.1996, p o d en d o ser quitado o débito, sem acréscim o, até 2.6.1996.
Valeu até 28.2.2000, q u an d o en tro u em vigor a Lei n. 9.876/1999, estipulando
tratar-se de 20% da rem uneração dos co n trib u in tes individuais.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W l t J í íi m i r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo LXVII

R emuneração na LC n . 84/1996

S u m á r i o : 671. Legislação regente. 672. Dúvidas emergentes. 673. Desenvolvi­


mento da exigibilidade. 674. Caráter da “remuneração”. 675. Natureza da re­
tribuição. 676. Inteligência da “participação”. 677. Abrangência da remissão.
678. Comando do PCSS. 679. Natureza jurídica. 680. Sedimentação das ideias.

C om o ad v en to da Lei C om plem entar n. 84/1996 (valendo os raciocínios para


a Lei n. 9.876/1999 e para a M edida Provisória n. 83/2002), e sua referência explí­
cita à rem uneração, to rn o u -se necessário dissecar a natureza fiscal desta últim a.
671. L egislação regente — Em seu art. 152, a Lei das Sociedades A nônim as
(Lei n. 6 .404/1976) determ ina: “A assem bleia geral fixará o m o n tan te global ou
individual da rem u n eração dos adm inistradores tendo em conta suas responsabili­
dades, o tem po dedicado às suas funções, sua com petência e reputação profissional
e o valor do s seus serviços no m ercado. § l e O estatuto da com panhia que fixar o
d iv idendo obrigatório em 25% (vinte e cinco p o r cento) ou m ais do lucro líquido,
pode atrib u ir aos ad m inistradores participação nos lucros da com panhia, desde
que o seu total não u ltrapasse a rem uneração anual dos adm inistradores nem 0,1
(um décim o) dos lucros (art. 190), prevalecendo o lim ite que for m enor. § 2° Os
ad m in istrad o res som ente farão ju s à participação nos lucros do exercício social em
relação ao qual for atribuído aos acionistas o dividendo obrigatório de que trata o
art. 2 0 2 ”.
Desse preceito, resulta a existência de, pelo m enos, dois ingressos para os
ad m in istrad o res das sociedades anônim as, expressão corresp o n d en te ao em presá­
rio descrito no art. 12, III, do PCSS: a) rem uneração p o r serviços prestados; e b)
participação nos lucros da em presa.
Por o u tro lado, reza o art. l g da LC n. 84/1996: “Para a m an u ten ç ão da Se­
g u ridade Social, ficam in stitu íd as as seguintes co n trib u içõ es sociais: 1 — a cargo
das em presas e pessoas ju ríd icas, inclusive cooperativas, no valor de qu in ze por
cento do total das rem unerações ou retribuições p o r elas pagas o u creditadas no
d eco rrer do m ês, pelos serviços que lhes prestem , sem vínculo em pregatício, os
segurados em presários, trabalhadores au tô n o m o s, avulsos e dem ais pessoas físicas;

C urso de D ir e it o P r h v l d e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 629
e II — a cargo das cooperativas de trabalho, no valor de qu in ze p o r cento do total
das im p ortâncias pagas, distrib u íd as ou creditadas a seus cooperados, a títu lo de
rem uneração ou retrib uição pelos serviços que prestem a pessoas ju ríd icas, por
interm éd io destas”.
Registre-se, ainda, p o r o p o rtu n o , o preceituado no art. 5Q: “P ara os fins do
disposto nesta LC, aplicam -se subsidiariam enle os dispositivos da Lei n. 8.212, de
24 de ju lh o de 1991, com suas alterações posteriores, inclusive as penalidades por
seu d escum prim ento".
672. D úvidas em erg en tes — As expressões “re m u n eração ” e “re trib u iç ão ”,
contidas na LC n. 84/1996, têm dim ensão a ser alcançada. Igual vale para o sig­
nificado do vocábulo “participação nos lu cro s”, na Lei n. 6.404/1976. Interessa
tam bém a rem issão do art. 5Qda LC n. 84/1996 à Lei n. 8.212/1991. P erm itirá co n ­
clu ir se o valor anual da participação nos lucros da em presa, prevista no E statuto
da em presa, deve in tegrar a sua rem uneração para fins de incidência dos 17,5%
referidos na lei co m p lem entar em apreço.
673. D esen v o lv im ento d a ex ig ib ilid ad e — Sob esse aspecto, regulam entando
a LOPS, o D ecreto-lei n. 959/1969 in au g u ro u a im posição de contribuições p atro ­
nais em relação aos prestadores de serviço sem vínculo em pregatício. E ntão, em
particular, cuidava tão som ente do autô n o m o .
Inovando sua extensão, a p artir de 1Q.9.1989, a Lei n. 7.787/1989, em seu
art. 3e, I, in clu iu a rem uneração dos serviços do em presário: “de 20% sobre o total
das rem u n eraçõ es pagas ou creditadas, a q u alq u er título, no decorrer do m ês, aos
segurados em pregados, avulsos, au tô n o m o s e ad m in istrad o res”.
Antes de ser co n siderada inco n stitu cio n al pelo Suprem o Tribunal Federal, na
ADI n. 1,202-2/DF, dizia o art. 2 2 , 1, do PCSS: “20% (vinte p o r cento) sobre o total
das rem unerações pagas ou creditadas, a q u alq u er título, no deco rrer do m ês, aos
segurados em pregados, em presários, trabalhadores avulsos e au tô n o m o s que lhes
prestem serviços”.
N ão é difícil perceber a intenção de não alcançar os lucros nesse com ando
legal. Prim eiro, fala em “no decorrer do m ês”, e participação nos lucros, conform e
a tradição do D ireito C om ercial é anual. Segundo, a m enção a “qu alq u er títu lo ”
é cópia au tên tica do caput do art. 28 do PCSS, no qual disciplinado o salário de
co n trib u ição do trabalhador subordinado.
674. C a rá te r da “re m u n e ra ç ã o ” — O D ireito Previdenciário n ão dispõe de
conceito p róprio de rem uneração. Se o possuísse, seria praticam ente igual à des­
crição trabalhista. O in stitu to ju ríd ico pertence ao D ireito do Trabalho e ao Direito
A dm inistrativo; evidentem ente, poder-se-ia m odificá-lo ao seu talante e ter-se-ia
um a rem uneração previdenciária.
Talvez ex p liq u e sua d o u trin a n ão se p re o cu p ar em d esenvolver o in stitu to
ju ríd ic o . U m a definição previdenciária não teria de co in cid ir exatam en te com a
ordem trab alh ista, ou o u tra versão, a fortiori, com a descrição de salário. Para
isso, b asta o tipo legal circu n screv er o fato gerador, im p o n d o suas condições.

C urso nn D ir l it o P r e v id e n c iá r io

630 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
H isto ricam en te, tem sido assim , e, com a Lei n. 5.890/1973, a p a ren tem e n te , teria
h av id o ten tativ a de m o d ificar a abran g ên cia legal para a c o lh e r im p o rtân cias não
re m u n e ra tó ria s, en fo que a se r apreciado ex clu siv am en te a p a rtir de diretrizes
prev id en ciãrias.
A rem uneração, n o D ireito Previdenciário, q u e r dizer a co n tra p artid a onerosa
em razão d o c o n tra to de trabalho, distinguindo-se em p articu lar de im portâncias
ressarcilórias de despesas e indenizatórias (com vistas à natureza su b stitu tiv a da
prestação previdenciária). A dicção tem escopo particular, divergindo das relações
de trab alh o e da finalística do co n trato de trabalho. Valores ocasionais não devem
ser su b stitu íd o s pela prestação previdenciária; p o r via de conseqüência, nào in te ­
gram o co nceito do salário de contribuição.
Ela aten d e aos objetivos da LC n. 84/1996, pois sua abrangência é a retrib u i­
ção pelo em p en h o pessoal, esforço assem elhado ao dom ínio trabalhista. Refere-se
p articu larm en te à com pensação pelo trabalho, tam bém conhecida com o pro labore,
devida ao sócio, na sociedade p o r quota de responsabilidade lim itada o u de capital
e in d u stria, e ao d ireto r ou conselheiro na sociedade p o r ações. N ão se confunde
com o div id en d o do acionista e, m uito m enos, com a participação nos lucros dos
ad m in istrad o res.
Na sociedade p o r quotas de responsabilidade lim itada (Lei n. 3.708/1919), o
legislador previdenciário fez distinção im portante para o D ireito Previdenciário. O
sócio-cotista gerente, dos dois tipos, o único a exercer atividade na em presa, é se­
g u rad o obrigatório com o em presário; o sócio-cotista não gerente, sem retirada pro
labore, in d ep en d e n tem en te do lucro graças à co ta-parte, não está filiado. Descabe-
ria à previdência social su b stitu ir os ingressos devidos aos ren d im en to s do capital
(lucros, aluguéis, div idendos etc.) e som ente os do trabalho.
Para os fins da LC n. 84/1996, a rem uneração deve ser com preendida com o a
devida pela sociedade anônim a aos diretores e conselheiros, ou seja, aos ad m in is­
tradores, sob esse títu lo laborai, e com o com pensação p o r serviços diretam ente a
ela prestados.
675. N atureza da retribu ição — F requ entem ente, “re trib u iç ão ” é vocábulo
utilizado com o sin ô n im o de “rem u n eração ”. Por vez, é gênero, com preendendo
rem u n eração (do em pregado, nos term os do art. 47 da CLT), vencim ento (do ser­
vidor p ú b lico , conform e o art. 40 da Lei n. 8.112/1990) e soldo (do m ilitar).
Na LC n. 84/1996, porém , ter-se-á de com preendê-la com o u tro significado e,
então, referindo-se à com pensação devida à genérica pessoa física aludida n o infine
do dispositivo. Sabidam ente, do po n to de vista técnico-sem ântico, avulso — dada
a sem elhança com o em pregado im posta pelo art. 79, XXXIV, da CF — é re m u n e­
rado e au tô n o m o recebe honorários, assim com o “d istrib u ição ” traduz a partilha
dos resu ltad o s nas cooperativas. N esse tipo de organização associativa econôm ica,
inocorre rem u n eração de cooperados ou participação n o s lucros da em presa. As
“so b ras” ou “re to rn o s” são sim plesm ente d istrib u íd o s (entrega). Q uem tem lucro
ou su p eráv it é o cooperado e não a cooperativa.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o U — P r e v id ê n c ia S o c i a l 631
Para Carlos Alberto Ramos Soares de Queiroz, elas são “sociedades de pessoas
e não de capital. As em presas geram lucros, para os seus acionistas, pela venda dos
seus p ro du to s. As cooperativas prestam serviços aos seus cooperados, negociando
os seus p ro d u to s” ( “M anual da C ooperativa de Serviços e T rabalho”, São Paulo:
Ed. STS, 1996, p. 78/79). A palavra “d istrib u ição ”, p o r vezes, lam bém se refere à
bonificação ou a dividendos, e, nesse sentido, foi em pregada pelo art. 52 do PCSS.
Lucro, no m esm o texto, é dado ou atribuído.
676. In telig ên cia d a “p a rtic ip a ç ã o ” — Participação nos lucros ou nos resul­
tados não se confunde com rem uneração; não se refere diretam ente à prestação
de serviços. A exem plo da gorjeta, não tida com o salário stricto sensu, e das horas
extras (am bas rubricas re m u n erató rias), é acréscim o resultante do sobre-esforço
do ser h u m an o u n id o em sociedade.
Fran Martins leciona: “os adm inistradores devem em pregar no exercício de
suas funções o cu id ad o e diligência que todo hom em ativo e probo costum a em ­
pregar na adm inistração do seu p ró p rio negócio, para lograr os fins e o interesse
da com panhia, não podendo p raticar atos de liberalidade à custa da com panhia,
não tom ar por em préstim o, sem autorização da assem bleia geral o u do C onselho
de A dm inistração, recursos ou bem da com panhia, ou usar, em proveito próprio,
os bens da com panhia, serviços ou créd ito ” (“C urso de D ireito C om ercial”, Rio de
jan eiro : Forense, 1989, p. 426).
Q uando a em presa entrega parte dos lucros aos seus colaboradores faz deles
sócios. Participação nos lucros é fruto do esforço pessoal com binado com o capital
aplicado coletivam ente.
Subsiste algum a confusão term inológica, havendo quem em pregue d istrib u i­
ção de lucros, gratificação decorrente dos lucros, gratificação de balanço e grati­
ficação de fim de ano. O Parecer PGC n. 405/1976, provocado pelo Banco N acio­
nal de M inas G erais S.A., fez a distinção sem ântica: distribuição de lucros para
acionistas decorre do capital investido e sua partilh a para os em pregados provém
do seu trabalho, co n cluindo, neste últim o caso, haver incidência de contribuição
(Processo MTPS n. 2.348.504/1973).
Participação n o s lucros, resultante do trabalho de todos, não é p ropriam ente
retribuição de em penho físico, isto é, salário, salvo na concepção social deste. Sua
desvinculação da rem u neração, proclam ada pela Lei Maior, tam bém não significa,
necessariam ente, a inexistência desse cu n h o salarial.
N essa linha de pensam ento, o art. 7e do Projeto de Lei discip lin ad o r da CF
dizia: “A participação nos lucros, resultados ou ganhos econôm icos resultantes da
p rodutividade do trabalho nos term os do acordo respectivo, não integra o salário
do em pregado” ( “Da Participação nos L ucros”, in Supl. Trab. LTr n. 22/90).
677. A b rangência d a re m issão — Salvo no respeitante ao avulso, p articip an ­
do da LC n. 84/1996 p o r equívoco do STF (não se lem brou do art. 7e, XXXIV, da
CF), a rem issão do seu art. 5Qreclam a detida análise. A LC n. 84/1996 tem p o r falo
gerador pagam ento de natureza civil (h o n o rário s de au tô n o m o ) e com ercial (pro

C ursq d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

632 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
labore de d ireto r ou conselheiro de sociedade an ônim a) e, p o r conseguinte, não in ­
teressam à colação os valores laborais m encionados no art. 28, § 9e, particularm ente a
letra “j ”, pois dizem respeito ao conceito de salário de co n trib u ição do em pregado,
tem porário, avulso, dom éstico e servidor publico sem regim e p ró p rio de prev id ên ­
cia social. A dm itir-se-ão apenas e tão so m en te as referências com patíveis; assim ,
exem plificativam ente, deixar de cu m p rir significa tipificação do delito previsto no
art. 95, letra d , do PCSS.
M enções a esse dispositivo prestam -se apenas analogicam ente e, da m esm a
form a, a alusão conclusiva do Parecer CJ/MPAS n. 547/1996. N os dois casos, re ­
pete-se ad nauseam, reporta-se a valor integrante (até 28.12.1994) ou não (após a
M edida Provisória n, 794/1994) do salário de con trib u ição e com vistas ao art. 22
do PCSS e não à Lei C om plem entar n. 84/1996.
678. C o m a n d o d o PCSS — Q u an d o o PCSS, em seu art. 22, § 2° ( “Não
in teg ram a re m u n eração as parcelas de q u e trata o § 8° do art. 2 8 ”), aliás,
erran d o na rem issão, com o o faz, o u tra vez, n o caput d o art. 28, o u tra coisa não
q u e r senão d efin ir o salário de co n trib u içã o dos trab a lh ad o res su b o rd in ad o s,
to rn a n d o -se ig u alm ente im prestável à in terp re taçã o , exceto, com o an tecip ad o ,
an alo g icam en te.
O PCSS não tem regra sobre os ingressos de em presário en q u a n to base de cál­
culo de fato gerador. Até a Lei n. 7.787/1989 ter sido considerada inconstitucional,
a hipótese de incidência dizia respeito ao crédito ou pagam ento da rem uneração
dos adm inistradores. Sua contribuição pessoal é ficção (salário-base). Tem de ser
buscada no D ireito C om ercial e este pouco se p re o cu p o u com o tem a. Para a legis­
lação do Im posto de R enda é renda, lim itando a perquirição.
C onvém , então, exam inar o item 2 da O rdem de Serviço INSS/DAF n. 68/1996,
q u an d o descreve o fato gerador: “São consideradas rem uneração, do segurado em ­
presário, as im p o rtân cias pagas ou creditadas pela em presa a q u alq u er título, in ­
clusive os g an h o s habituais sob a form a de utilidades, excluídas as rubricas discri­
m inadas no § 9Q, do art. 28 da Lei n. 8.212/1991 e o lucro d istrib u íd o ”.
A inclusão dos ganhos h abituais n a definição de rem uneração do em presário
conflita com o art. 201, § 4 a, da Lei Maior. C laram ente, ela alude ao em pregado,
descabendo extensão, m áxim e situando-se a norm a em m atéria exacional. Da m es­
m a form a, quase im prestável é a alusão às parcelas do § 9 e do art. 28, em razão de
serem todas laborais, em bora im p o rtan te a exclusão do lucro distrib u íd o . De q u al­
q u er form a, nos term os da M edida Provisória n. 1.539, reeditada 37 vezes (sic),
sem o caráter de hab itualidade (art. 3 S).
A O rdem de Serviço INSS/DAF n. 151/1996 reproduz p raticam en te o m esm o
texto, retiran d o a referência às parcelas do § 9 e do art. 28, sem m aiores co n seq ü ên ­
cias. Esse en ten d im en to da adm inistração é confirm ado no subitem 27.4, a n te­
vendo rem u n eração em lucro antecipado e, dessa form a, fincando p é n a distinção:
o falo gerad o r da obrigação fiscal prevista na Lei C om plem entar n. 84/1996 é a
rem u n eração e não o lucro. O m esm o se vê na O rientação N orm ativa n. 5/1996.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 633
679. N atu reza ju ríd ica — P oucos escreveram sobre a essência da participação
nos lucros dos ad m inistradores nas sociedades p o r ações. Os encam inham entos
em p reendidos pelos laboralistas a respeito do direito dos em pregados podem ofe­
recer algum a co n tribuição ao estudo.
A queles estudiosos su sten tam , com algum a dificuldade, então, ser: a) salário;
b) crédito de co n trato de sociedade; e c) instituição a m eio cam inho entre um a e
o u tra das duas explicações anteriores.
O d isposto no art. 7B, XI, da CF e a Resolução TST n. 33, de 27.4.1994, can­
celando o E n unciado TST n. 251 (considerava salarial a participação nos lucros),
enseja m ais con trib u ições d o u trin árias, em bora casuísticas, afetando a prim eira
escola, pois, com certeza, salário o lucro não é. A quele in d ep en d e dos resultados
da em presa, e este é plus condicionado.
No dizer de Sérgio Pinto M artins, a “C onstituição de 1988 elim inou, p o rtan to ,
o caráter salarial da participação nos lucros, d eterm in an d o que tal prestação vem
a ser to talm en te desvinculada da rem u n e raç ão ”. E, enfatiza: “O objetivo foi real­
m ente este, de possibilitar que o em pregador concedesse a participação nos lucros
aos seus em pregados, em co n trap artid a não tivesse n en h u m encargo a m ais com
tal a to ” ( “P articipação nos lucros e incidência da contribuição previdenciária”, in
RPS n. 168/853).
Ao fazer distin ção entre rem uneração e participação nos lucros (com o dito, a
prim eira in d ep en d e n te e a segunda condicionada) na lei das sociedades anônim as,
resta evidente ser im possível a confusão. Q u ando oferecer lucro ao adm inistrador,
valor da m esm a form a inconfundível com os dividendos dos acionistas. Objetiva
estim ulá-lo à A dm inistração e ao alcance das finalidades da em presa econôm ica.
Trata-se de ren d im en to do sobre-esforço com vistas ao resultado positivo do em ­
preen d im en to .
680. S ed im en tação d a s id eias — Na LC n. 84/1996, rem uneração q u er dizer
o pagam ento p o r serviços prestados pelos adm inistradores à sociedade p o r ações
e retribuição, o desem bolso devido a autô n o m o , avulso e dem ais pessoas físicas
trab alh an d o para a em presa sem vínculo em pregatício.
Participação nos lucros significa partilha do resultado econôm ico do em pre­
en d im en to com ercial devido aos diretores e conselheiros das sociedades anônim as
por seu em p en h o pessoal na realização do fim social.
A rem issão feita pela LC n. 84/1996 ao PCSS, à exceção das disposições relati­
vas a certos trabalhadores sujeitos ao d esconto (servidor, em pregado, tem porário e
dom éstico), diz respeito a todas as norm as com patíveis com a exigibilidade in tro ­
duzida. Exem plificando-se com as ideias de falo gerador, base de cálculo, alíquota,
m ês de com petência, acréscim os legais etc., sem a preocupação de identificar a
participação nos lucros, prevista no art. 28, § 9 e, j, com a devida ao em presário.
Participação n o s lucros da em presa, auferida pelos adm inistradores das socie­
dades anônim as, não co n stitu i hipótese de incidência da exação referida no art. l e
da LC n. 84/1996 nem parte de sua base de cálculo.

C ijr s o de D ire ito P re v id e n c iá rio

634 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo LXVIII

S imples N acional

681. Preceitos legais. 682. Descrição sucinta. 683. Opção pelo S I M ­


S u m á rio :
PLES. 684. Alíquotas aplicáveis. 685. Fato gerador e base de cálculo. 686. Obri­
gações substituídas. 687. Fração dos terceiros. 688. Solidariedade fiscal. 689.
Arrecadação e fiscalização. 690. Natureza da exigibilidade.

A p artir de 31.3.1997, pela prim eira vez, as p equenas em presas (m icroem pre-
sas e em presas d e p eq u en o p o rte) p u d eram o p lar p o r u m regim e unificado de exa­
ção federal em sub stituição a certos trib u to s e algum as contribuições sociais. No
caso p articu lar da seguridade social de trocarem a taxa patro n al de 20% incidente
sobre o salário de co n tribuição co n tid o nas folhas de pagam ento p o r u m a alíquota
única da su a receita b ruta. Sim plificando o aten d im en to de tal exigibilidade.
De m odo geral, os especialistas em econom ia e adm inistração aplaudiram a m e­
dida, julg an d o ser possível dim inuir a inform alidade e gerar novos em pregos. No re­
ferente à previdência social, está em butida a tendência de tentar substituir o salário de
contribuição presente nas folhas de pagam ento com o base de cálculo de sua exação.
A Lei n. 9.528/1997 alterou a redação da Lei n. 9.317/1996, afetando a l e t r a /
do § l e do art. 3S: “co ntribuições para a Seguridade Social, a cargo da pessoa ju r í­
dica, de q u e tratam o art. 22 da Lei n. 8.212, de 24 de ju lh o de 1991, o art. 25 da
Lei n. 8.870, de 15 de abril de 1994, e a Lei C om plem entar n. 84, de 18 de janeiro
de 1996”, e m odificou o seu art. 9 9: “C om preende-se na atividade de construção de
im óveis, de que trata o inciso V d este artigo, a execução de obra de co n stru ção
civil, p ró p ria o u de terceiros, com o a construção, dem olição, reform a, am pliação de
edificação ou ou tras benfeitorias agregadas ao solo ou su b so lo ” (§ 4 a).
Com a LC n. 123/2006 reviu-se toda a regulam entação da Lei n. 9.317/1996,
in tro d u zin d o novos parâm etros e com andos.
681. P receitos legais — Esse tratam ento fiscal diferenciado deve-se ao p rin ­
cípio previsto no art. 170, IX, e ao preceituado no art. 179 da CF/1988. Postado no
C apítulo I — Dos princípios gerais da atividade econômica, sob o F ítu lo VII — Da
Ordem Econômica e Financeira, o dispositivo em tela reza: “A União, os Estados, o
D istrito Federal e os M unicípios dispensarão às m icroem presas e às em presas de

C u r s o l ie D ir e it o P r k v id k n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c i a l 635
pequeno porte, assim definidas em lei, tratam ento ju ríd ico diferenciado, visando
a incentivá-las pela sim plificação de suas obrigações adm inistrativas, tributárias,
previdenciárias e creditícias, ou pela elim inação ou redução destas por m eio de lei”.
682. Descrição sucinta — A Lei n. 9.317/1996 definia os dois tipos de c o n tri­
b u in tes alcançados: a) m icroem presa — “a pessoa ju ríd ica que tenha auferido, no
ano-calendário, receita b ru ta igual ou inferior a R$ 120.000,00 (cento e vinte mil
reais)”; e b) em presa de pequeno porte — “a pessoa jurídica que tenha auferido,
no ano-calendário, receita b ruta su p erio r a R$ 120.000,00 (cento e vinte m il reais)
e igual ou inferior a R$ 720.000,00 (setecentos e vinte m il re ais)”.
Para os fins do SIMPLES, não era m icroem presa a firm a com faturam ento
su p erio r a R$ 120.000,00 e tam bém não é em presa de peq u en o porte quando sua
receita b ru ta ultrapassasse R$ 720.000,00.
A partir da LC n. 123/2006, esses valores tornaram -se R$ 240.000,00 e R$
2.400.000,00 (Sim ples NACIONAL).
Não são beneficiados pelo m ecanism o de sub stitu ição do Sim ples N A C IO ­
NAL um nú m ero elevado de em presas descritas nas suas norm as referenciadas.
A pessoa física resto u excluída, particularm ente, os profissionais autônom os
com em pregados (m u itos deles citados expressam ente), m as foi criado o M icro-
em presãrio Individual (M EI). Nessas condições, tam bém o em pregador dom éstico.
Os clubes profissionais de futebol têm a p arte patronal su b stitu íd a p o r co n trib u i­
ção de 5% da receita b ru ta dos espetáculos desportivos, m as não foram referidos.
Em presas rurais deixaram de ser m encionadas, não p o d en d o ser beneficiadas.
As entidades reconhecidas com o de fins filantrópicos estão dispensadas da parte
patronal e, assim sendo, não têm interesse na opção. Q u ando perdem tal condição
e se p re en ch e m os re q u isito s legais acim a in d icad o s, p o d em p ro m o v er a in sc ri­
ção no Sim ples NACIONAL.
A lei silenciou q u an to às cooperativas de trabalho. Elas, ex vi da LC n. 84/1996,
estavam obrigadas a 15% da rem uneração distrib u íd a aos cooperados. Inexiste nes­
se em p reen d im en to a figura de contribuição patronal, m as a substituição não se
justificaria.
O co n d o m ín io ru ral é tido com o pessoa física, m as o urbano, geralm ente de
préd io s de escritórios ou residenciais, tem as m esm as obrigações das pessoas ju rí­
dicas e, nesse caso, ein princípio, não estão excluídos da possibilidade.
683. O pção p elo SIMPLES — O Sim ples NACIONAL é optativo, cabendo ao
interessado prom over a sua inscrição ju n to ao C adastro Geral de C o n trib u in tes do
M inistério da F azenda — CGC/MF, m ediante alteração cadastral, obrigando-se em
seguida, pelos 12 m eses sub seq u en tes ao ano de solicitação, valendo a p artir de l 9
de janeiro.
A exclusão do Sim ples NACIONAL dá-se em várias circunstâncias. P or so ­
licitação do beneficiado o u perda das condições da definição. Caso ultrapasse os
lim ites m ensais po d erá reverter o quadro, co n tin u an d o no sistem a, passando de
m icroem presa para em presa de peq u en o porte.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

636 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
T am bém o co rre p o r ato de ofício da ad m in istração , restando à Receita F ed e­
ral do Brasil en o rm e p o d er de discrição (as hipóteses descritas n o s incisos II e III
do art. 14 são p ra tic am en te su bjetivas), e vão pro vocar dissensão e discussão no
P oder Ju d iciário , além de dificuldades práticas. C om a exclusão o co n trib u in te
torn a-se su jeito passivo de ação fiscalizadora, com fato gerad o r e alíq u o tas dife­
renciadas.
684. A líq u o tas aplicáveis — A Lei n. 9.317/1996 estabeleceu as seguintes
alíq u o tas de contribuição:
I) microempresa:
a) até R$ 6 0 .0 0 0 ,0 0 ..........................................3,0%
b) de R$ 60.000,01 até R$ 9 0 .0 0 0 ,0 0 .........4,0%
c) de R$ 90.000,01 até R$ 1 2 0 .0 0 0 ,0 0 ...... 5,0%
II) empresa de pequeno porte:
d) até R$ 2 4 0 .0 0 0 ,0 0 ....................................... 5,4%
e) de R$ 240.000,01 a R$ 3 6 0 .0 0 0 ,0 0 ........5,8%
f) de R$ 3 6 0 .0 0 0 ,Of a R$ 4 8 0 .0 0 0 ,0 0 .........6,2%
g) de R$ 480.000,01 a R$ 6 0 0 .0 0 0 ,0 0 ........6,6%
h) de R$ 600.000,01 a R$ 7 2 0 .0 0 0 ,0 0 ........7,0%
O s A nexos da LC n. 123/2006 reproduzem as diferentes alíquotas vigentes.

Serviços e locação
Receita bruta em 12 meses Comércio Indústria
de bens móveis
Até 120.000,00 1,80 1,80 2,42

De 120.000.01 a 240.000,00 2,17 2,17 3,26

De 240.000,01 a 360,000,00 2.71 2,71 4,07

De 360.000,01 a 480.000,00 2,99 2,99 4,47

De 480.000,01 a 600.000,00 3,02 2,02 4,52

De 600.000,01 a 720.000.00 3,28 3,28 4,92

De 720.000,01 a 840.000,00 3,30 3,30 4,97

De 840.000.01 a 960.000,00 3,35 3,35 5,03

De 960.000.01 a 1.080.000,00 3,57 3,57 5,37

De J.080.000,01 a 1.200.000,00 3,60 3,62 5,42

De 1.200.000.01 a 1.320.000,00 3,94 3,94 5,98

De 1.320.000,01 a 1.440.000,00 3,99 3,99 6,09

De 1.440.000.01 a 1.560.000,00 4,01 4,01 6,19


C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P revidência S o c ia l
Serviços e locação
Receita bruta em 12 meses Comércio Indústria
de bens móveis
De 1.560.000,01 a 1.680.000,00 4,05 4,05 6,30

De 1.680.000,01 a 1.800.000,00 4,08 4,08 6.40

De 1.800.000.01 a 1.920.000,00 4,44 4,44 7,41

De 1.920.000.01 a 2.040.000,00 4,49 4,49 7,50

De 2.040.000.01 a 2.160.000,00 4,52 4,52 7,60

De 2.160.000,01 a 2.280.000,00 4,56 4.56 7,71

De 2.280.000,01 a 2.400.000,00 4,60 4,60 7,83

685. Fato gerador e base de cálculo — O falo gerador é a venda e a prestação


dos serviços.
Base de cálculo, a receita b ru ta, é descrita com o sendo “o p ro d u to da venda
de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados
e o resu ltad o nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e
os descontos incondicionais co n ced id o s”.
686. Obrigações substituídas — No respeilante à proteção social, as obriga­
ções fiscais su b stitu íd as são as seguintes: a) C ontribuição para os Program as de
Integração Social e de Form ação do P atrim ônio do Servidor P úblico — PIS/PASEP;
b) C o n trib u ição Social sobre o Lucro Líquido — CSLL; c) C ontribuição para o
F in an ciam en to da Seguridade Social — COFINS; e d) parte patronal referida no
art. 22 do PCSS.
C o nseq u en tem en te m antêm -se os subm etidos passivos da obrigação sujei­
tos às exações: e) C o n tribuição Provisória sobre a M ovim entação Financeira —
CPMF; f) co n trib u ição para o F undo de G arantia do Tempo de Serviço — FGTS;
e g) co n trib u ição descontada do em pregado (8%, 9% ou 11%) e a do em presário
com o co n trib u in te individual.
Por em pregado, entender-se-ão todas as figuras do art. 12, I, do PCSS, in clu ­
sive o tem porário. Mas excluído o dom éstico.
O rol dos co n tem plados é enum erativo, todavia, o dos arredados é exem pli-
ficativo. E ventual co n tribuição não prevista no art. 3 a, §§ I a e 2a, perm anecerá no
sistem a anterior.
Pela descrição da receita b ru ta, entre as pessoas ju ríd icas estão abarcados o
sindicato de avulsos e em presa de trabalho tem porário (art. 2°, § 2S), em bora difi­
cilm ente se en quadrem no conceito de p equenas em presas.
687. Fração d o s terceiro s — Dizia o art. 3Q, § 4° da Lei n. 9.317/1996: “A
inscrição no Sim ples dispensa a pessoa ju ríd ica do pagam ento das dem ais c o n tri­
buições in stituídas pela U nião”. Não m uito claro, m as bastante am plo, o preceito
rege a inexigibilidade de contribuição p ara os cham ados “terceiros” e não neces­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

638 W l a d im i r N o v a e s M a rtin e z
sariam en te fixa com precisão o m o m en to dessa re n ú n cia fiscal. Ela acontecerá
qu an d o aperfeiçoado o ato de inscrição e se to rn ar possível e válida a substituição
do fato gerad o r e alíquota.
D estarte, desaparece a obrigação de c o n trib u ir para terceiros: SESC (Deere -
to-lei n. 9.8 5 3 /1 9 4 6 ), SENAC (D ecreto-lei n. 8.821/1946), SESI (D ecreto-lei n.
9.4 0 3 /1 9 4 6 ), SENAI (D ecreto-lei n. 4.048/1942), SENAR (Lei n. 8.315/1991),
SEST e SEN AT (Lei n. 8.706/1993) e SEBRAE.
O rol dos “terceiros” é enorm e, incluindo o DPC (Decreto-lei n. 6.246/1944 e Lei
n. 5.641/1968), Fundo Aeroviário (Decreto-lei n. 1.305/1974), F undo Nacional de De­
senvolvim ento Econôm ico — FNDE/Salário-Educação (Lei n. 4.440/1964 e Decreto­
-lei n. 1.422/1975), INCRA (Decretos-leis ns. 1.110/1970, 1.146/1970 e 1.989/1982).
M anter-se-ão os 20% do SENAI, relativos à in d ú stria com m ais de 500 em ­
pregados (art. 6S da Lei n. 4.048/42), pois tais em presas estarão excluídas do
conceito.
S eguram ente, tais entidades reclam arão dos 3,5% estipulados com o taxa de
ad m in istração da fiscalização e arrecadação da con tribuição rem anescente (M edi­
da Provisória n. 1.523/1996), pois d im in u irá sensivelm ente a obrigação do INSS,
cabendo a rem u n eração p o r tais serviços, de legeferm da, a ser cobrada pela Receita
Federal do Brasil.
Diz o art. 240 da Lei M aior: “Ficam ressalvadas do d isp o sto no arl. 195
as atuais con trib u içõ es com pulsórias dos em pregadores sobre a folha de salários,
destin ad as às en tid ad es privadas de serviço social e de form ação profissional vin ­
culadas ao sistem a sin d ical”.
Tal com ando, in d ep en d e n tem en te de estar disposto no T ítu lo IX — Das Dis­
posições Constitucionais Gerais, deve ser confrontado com o já rep ro d u zid o art.
179. Possivelm ente, a Lei n. 9.317/1996 incidiu em in co n stitu cio n alid ad e ao pôr
fim àquela contribuição.
688. S o lid a ried ad e fiscal — A p eq u en a em presa de co n stru ção civil está afas­
tada do Sim ples NACIONAL e, nessas condições, seu eventual débito caracteriza­
do na m o d alid ad e tradicional poderá ser com etido a terceiros.
Se assu m ir a corresponsabilidade na co n stru ção civil ou nas hipóteses de ces­
são de m ão de obra, o farã em relação à obrigação original, com o ela se apresentar.
689. Arrecadação e fiscalização — O prazo para o recolhim ento das c o n tri­
buições é “o décim o dia do m ês sub seq u en te àquele em que h o u v er sido auferida
a receita b ru ta ”.
A guia de reco íh im en lo denom inar-se-á DARF-S1MPLES.
Na Seção II — Dos Acréscimos Legais, os arts. 19 a 22 descrevem ô nus por
in ad im p lên cia ou d escu m p rim en to da norm a. Os prazos são os d o Im posto de
Renda (art. 19).
De acordo com o art. 6 S, § 2a, da Lei n. 9.317/1996 não pode haver parcela­
m ento do débito.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / / — P revidência S o c ia l 639
Se elaborar o Livro Caixa, Livro Registro de Inventário e preservar os “d o cu ­
m en to s e dem ais papéis que serviram de base para escritu ração ” desses livros, e
os m an tiv er “em boa guarda e en q u an to não decorrido o prazo decadencial e não
prescritas eventuais ações que lhes sejam p ertin e n te s”, a m icroem presa está dis­
pen sad a da escrituração com um .
É criada a Declaração A nual Sim plificada de Escrituração, a ser apresentada
an u alm en te, entregue até o ultim o dia útil do m ês de m aio do ano-calendário su b ­
seq u en te ao da o corrência dos fatos geradores.
690. Natureza da exigibilidade — A Lei n. 9.317/1996 e a LC n. 123/2006
acresceram com plicador na perquirição da natureza ju ríd ica da contribuição previ­
denciária. Além de ag lutinar im postos e co ntribuições sociais e de entregar a gestão
do s recursos à en tidade operacionalizadora de trib u to s (Secretaria da Receita F ede­
ral) — fatos irrelevantes — , propõe substituição do fato gerador e base de cálculo
da exigibilidade, m as não a destinação.
N ão d isciplinadas em particular, a decadência e a prescrição regem -se pela
Súm ula V incuiante n. 8, ou seja, n o s dois casos, de cinco anos.

C urso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo LXIX

Exam e da C o n t a b il id a d e

691. Código Comercial. 692. Código Civil. 693. Fiscalização exacio-


S u m á r io :
nal. 694. Verificação previdenciária. 695. Livros comerciais. 696. Alcance da au­
ditoria. 697. Informações protegidas. 698. Presença de terceiros. 699. Segurados
e dependentes. 700. Ingresso no estabelecimento.

Diz a Súm ula n. 439 do STF: “Estão sujeitos à fiscalização trib u tária ou pre-
videnciária q u aisq u er livros com erciais, lim itado o exam e aos p o n to s objeto da
investigação.”
Tendo em vista a ancianidade do C ódigo C om ercial e seus preceitos, boa parte
deles foi derrogada o u revogada. As norm as que disciplinam a presença da fiscali­
zação n as em presas e os seus lim ites co n tin u am obscuras, su scitan d o dúvidas. Essa
antiga sú m u la do STF deixa claro que é p erm itid o o exam e da docum entação do
sujeito passivo da obrigação fiscal. A redação sintética está presu m in d o tratar-se
de co n trib u in tes.
A legislação e tam bém a sú m u la não disting uem o m o m en to da fiscalização
de so rte que ela p o d e suceder en q u an to estiver em fu n cio n am en to e até depois de
en cerradas as atividades ou d u ra n te as form as possíveis de interferência do Estado
(interdição, intervenção, concordata ou falência).
691. C ódigo C o m ercial — O vetu sto C ódigo C om ercial não cuidou da fis­
calização das em presas com erciais, o bstando o acesso aos livros nos arts. 17/19,
disposições su p erad as pela legislação.
6 92. C ódigo C ivil — N os seus arts. 1.179/1.195, o vigente C ódigo Civil re­
p ro d u z disposições do C ódigo C om ercial. Em precária redação, particulariza com
o art. 1.193: “As restrições estabelecidas neste C apítulo ao exam e da d o cu m en ta­
ção, em parte ou p o r inteiro, não se aplica às au to rid ad es fazendárias no exercício
da fiscalização do pagam ento de im postos, nos term os estritos das respectivas leis
especiais”.
Tal en ten d im en to , se prevalecente, valeria para a Receita F ederal do Brasil,
mas não para o INSS.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l
693. Fiscalização exacional — A referência à fiscalização tributária, ao tem po
em que a sú m u la foi editada, queria dizer fiscalização dos tributos, podendo ser
enten d id a desde que o STF passou a acolher a corrente trib u tarista da contribuição
previdenciária, com o sendo prom ovida pela Receita Federal do Brasil. P ortanto,
aquela que diz respeito ao financiam ento da previdência social.
694. Verificação p re v id e n ciária — Floje, se pode e n ten d e r o texto da súm ula
com o referente ao poder da fiscalização do órgão gestor de verificar fatos p erti­
nen tes aos benefícios do RGPS. O universo dos d o cu m en to s a serem considerados
será p articu lar q u an d o com parados com os da RFB. Tem a ver com o tem po de
serviço, contrap restação do trabalhador, tipo do contraLo m antido, classificação
do segurado, participação de terceirizados, contribuições devidas, presença de in-
salubridade, exposição a agentes nocivos etc.
695. Livros comerciais — A locução “livros com erciais” é am pla, convencio­
nal e tradicional. Q uer dizer todos os registros escriturais e contábeis relacionados
com o trabalho do p restad o r de serviços. Em term os reslrilos, q u er dizer os livros
Diário, Razão, Caixa, C onta C orrente etc. e, em term os am plos, a folha de paga­
m ento, os recibos de quitação, contratos, notas fiscais etc.
696. A lcance da a u d ito ria — Diz o art. 33, § l e do PCSS, que é “prerrogativa
da Secretaria da Receita F ederal do Brasil, p o r in term éd io dos A uditores-Fiscais da
Receita Federal do Brasil, o exam e da contabilidade das em presas, ficando o b ri­
gadas a prestarem todos os esclarecim entos e inform ações solicitados, o segurado
e os terceiros responsáveis pelo recolhim ento das contribuições previdenciárias e
das contribuições devidas a outras entidades e fundos”.
697. Informações protegidas — D iante da am plitude dos fatos geradores e
da m u h ip iicid ad e de fontes de custeio, não resta claro quais são os d ocum entos
que ficam fora do alcance da fiscalização da Receita F ederal do Brasil e do INSS, e
tam bém do M inistério do Trabalho e Em prego ou do M inistério da Saúde.
A sim ples ru b rica “P articipação nos Lucros ou R esultados” (PLR) dá ensejo
à verificação de aspectos da em presa q u e pouco têm a ver com o trabalho ou a
previdência. A verificação do cu m p rim en to das N orm as R egulam entadoras do Tra­
balho da Lei n. 6.514/1977, com vista à contribuição para aposentadoria especial
da Lei n. 9.732/1998 d ando azo a um a vistoria sem lim ites do estabelecim ento do
con trib u in te.
698. P resen ça de terceiro s — A norm a diz respeito nào à presença de todos
prestadores de serviços na em presa auditada, in clu in d o cooperados, tem porários,
pessoas ju ríd icas e os que personifiquem a m ão de obra de terceiros.
699. S eg u rad o s e d e p e n d e n te s — O s segurados estão obrigados a prestar in ­
form ações à Receita F ederal do Brasil. Não existem norm as positivadas a respeito
dos d ep en d en tes dos segurados.
700. In g resso no estab e lecim en to — O art. 229, § l s do RPS autoriza os
A uditores-Fiscais a ingressarem em “todas as dependências ou estabelecim entos da
em presa, com vistas à verificação fiscal dos segurados em serviço, para confronto

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

642 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
com os registros e d o cu m en to s da em presa, p o d en d o requisitar e ap ren d er livros,
n o tas técnicas e dem ais d o cu m en to s necessários ao perfeito d esem p en h o de suas
funções, caracterizando-se com o em baraço à fiscalização q u alq u er dificuldade
oposta à consecução do objetivo” (D ecreto n, 3.265/1999).
C o n tin u a sem regulam entação a fiscalização do em pregador dom éstico no
âm bito dom iciliar. C aso haja interesse em se obter inform ações sobre o fato gera­
d o r da co n trib u ição do dom éstico, de interesse da Receita F ederal do Brasil (co n ­
tribuições) ou do INSS (benefícios), o em pregador dom éstico será convocado a
co m parecer na sede desses órgãos federais.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l
643
■. I
Capítulo LXX

P ag am en to s do F a c u l t a t iv o

701. Normas incidentes. 702. Origem histórica. 703. Aspectos gerais.


S u m á r io :
704. Fato gerador. 705. Base de cálculo. 706. Alíquota vigente. 707. Modalidade
contributiva. 708. Enquadramento na escala. 709. Caso de inadimplência. 710.
Restituição e compensação.

O Facultativo é u m segurado atípico. D epois de co nhecer legislação própria


antiquíssim a, originária do MONGERAL CIO. 1.1835), e de ser conhecido com o
dobrista ou co n trib u in te em dobro, com o PCSS a p artir de 1991, ele passou a apor­
tar com o os dem ais co n trib u in tes individuais, assem elhadam ente ao em presário e
ao au tô n o m o . C o m u m en te co n fundido com este últim o.
Sua prin cip al característica, o exercício da vontade de se filiar ao RGPS, em ra­
zão de dele ingressar e se afastar, cria situações intrincadas, d espertando o interesse
por parle dos especialistas. A excepcionalidade da livre filiação gera inquietações
na interpretação. N um a previdência social nitid am en te contribuliva, constitui res­
peitável e ju stificada exceção.
701. N o rm as in c id e n te s — Até ser revisto pelaL C n. 20/1998, dizia o art. 201,
§ I a, da CF: “Q ualq u er pessoa poderá particip ar dos benefícios da previdência
social, m ediante co n tribuição n a form a dos planos prev id en ciário s”.
O facultativo está previsto n a legislação básica, no art. 14 do PCSS e no art.
11 do RPS.
702. O rigem h istó ric a — Ele é o antigo co n trib u in te em dobro, regulado
desde 1940 no ex-IAPC. Pela Lei n. 5.610/1970, teve o tem po de contribuição
co nsiderado para efeito dos benefícios da previdência social. Sua h istó ria e d ese n ­
volvim ento são co n tad os em “O C o n trib u in te em D obro e a Previdência Social”,
São Paulo: LTr, 1984.
703. A spectos g erais — Seus aspectos m ais interessantes são:
a) liberdade contributiva: Ingressando p o r sua volição, esse segurado inicia a
co n trib u ição (e com ela determ ina a adm issão no RGPS) segundo o seu desejo.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

644 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
b) excepcionalidade: A possibilidade de c o n trib u ir é excepcional, criada essa
faculdade para to rn ar possível a proteção social. N um a previdência contributiva,
en tretan to , o conceito despega-se de sua origem laborai.
c) base da filiação: O fulcro da filiação é exclusivam ente a intenção da pessoa.
A perfeiçoada com a contribuição m ensal.
d) provisoriedade: E m bora não absoluta a ideia, a lei n ão im pede a co n tin u id a­
de co n tributiva. A concepção conceituai são os seus pagam entos serem provisórios.
704. F ato g e ra d o r — Q uando se exam ina a hipótese de incidência dessa exa­
ção, são enfren tad as algum as dificuldades. O p ró p rio animus é o fato gerador da
obrigação fiscal. A tipicidade da previdência social explica essa possibilidade. Mas
não é fácil falar em obrigação d eco rren te de um desejo; en tre tan to , não há tanta
liberdade ou volição assim . Por vezes, ele é forçado a se filiar, q u an d o q u er m anter
os direitos.
O evento deflagrador da cotização do facultativo é o seu ingresso no RGPS
e o ím peto de nele perm an ecer todo o tem po ou p o r algum período de tem po.
Ele expressa-se por interm édio do recolhim ento, con fu n d in d o -se, então, talvez no
ú n ico caso, a definição da hipótese de incidência com o procedim ento.
705. Base de cálculo — D esde l e.11.1991 o facultativo aportava com o um a
espécie de co n trib u in te individual, observando a escala de salários-base da Lei n.
5.890/1973, com o se fosse au tô n o m o ou em presário, com algum as p articu larid a­
des, pois não é exercente de atividades. Isso valeu até 31 de m arço de 2003.
Sua situação era equiparada a do au tô n o m o até a Lei n. 9.876/1999, seguindo
a p artir de então as regras desta ú ltim a lei.
Assim , h isto ricam en te fazia o en q u ad ram en to inicial, perm anecia ou progre­
dia, regredia ou retornava na escala de salários-base. Não sofria as conseqüências
da com pressão do salário-base pelo salário de contribuição (não tinha nem tem
este últim o ).
706. A líq u o ta v igente — Desde 1-.8.1996, a alíquota é de 20%.
Até então, foi de 10% até a Classe III e de 20% acim a dela. No passado, expe­
rim en to u as taxas de 19,2%, 16% e até 8%.
707. M o d alid ad e c o n trib u tiv a — Feita a inscrição, prom ovido o en q u a d ra­
m ento inicial na Classe 1 (caso n u n ca tivesse se filiado ou co n trib u íd o ) ou confor­
m e a m édia dos ú ltim os seis salários de contribuição (se deixou de ser segurado
o b rig atório), o reco lh im en to era e hoje é operado por m eio do GPS, com o os d e­
m ais segurados não sujeilos ao desconto.
708. E n q u a d ra m e n to n a escala — O facultativo enquadrava-se m ediante dois
procedim entos: a) q uando ingressava na previdência social pela prim eira vez (na
Classe I); e b) após ter sido filiado com o segurado obrigatório ou m esm o facultativo.
A lei preceituava sobre essas m odalidades em dois m o m en to s (PCSS, art. 29,
§§ 29 e 8e). C oin cid entem ente, se não tin h a antecedente previdenciário, o posicio­
n am en to do segu rad o obrigatório na Classe T era assem elhado (§ 2a).

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c i a l 645
a) primeiro enquadramento: O prim eiro en q u ad ram en to era necessariam ente
na Classe 1 — salário m ínim o. C um prido o interstício, no caso de 12 m eses, se q u i­
sesse, p o dia elevar-se à Classe II — 2/10 do lim ite do salário de contribuição. E, no
curso do tem po, sem pre observando os interstícios, ascendia sucessivam ente até
a Classe X (lim ite). Mas podia perm anecer no referido patam ar no qual postado,
com o o segurado obrigatório, en q u an to fosse sua vontade.
E m bora isso não estivesse claro n a lei, tratava-se de ingresso inicial n o regim e
de salário-base, pois, se a pessoa tivesse sido segurada obrigatória as regras eram
outras, desenvolvidas a seguir (letra b).
O facultativo era adm itido n o RGPS e dele se retirava q u an d o quisesse. Sua
entrad a e saída eram notificadas pelo início e fim dos pagam entos, respectivam en­
te, a não ser m ed ian te o u tra m odalidade de com unicação ao INSS ou RFB. D estarte,
diferentem ente do antigo co n trib u in te em dobro, ele entrava e saía q u an d o optar.
O prim eiro reco lhim ento é en tendido com o intenção de p articip ar e o últim o, de
não m ais fazer parte do regim e.
b) ex-segurado obrigatório: Para esta segunda situação, após ter sido segurado
obrigatório, o in divíduo desejava m an ter a filiação à previdência social, co n secu ti­
vam ente (em seguida) ou m eses após.
Nào se vislum brava lapso de tem po co rresp o n d en te ao da perda da qualidade
de segurado com o term o m áxim o para esse en q u adram ento. Q u ando a lei dizia
“para m an ter essa q u alid ad e” estava se referindo à atividade anterior. A purada a
m édia referida no § 8S do art. 29 do PCSS, verificava se a diferença entre o lim ite do
salário de co n trib u ição e o saldo dos salários recebidos na rescisão com portava essa
m édia. C om p o rtan d o , essa era a base de cálculo da contribuição com o facuhalivo;
caso contrário, recolheria pela diferença entre os dois valores, aguardando o m ês
seguinte para poder — p len am en te — indicar a classe de sua escolha (im pedido,
no m ês de transição, de dem onstrá-la in teiram en te).
Ao referir-se a “para m an ter essa qu alid ad e”, com o dito, confundia-se um
p o u co o legislador. Não só preservava o síaíus de segurado referido no art. 15 do
PBPS com o substanciava a condição de facultativo p ropriam ente dita. Na verdade,
sustentava a qualidade an terio rm en te garantida pela pretérita filiação obrigatória,
assim com o resguardava o período de contribuição, e se prestava para todos os fins
de D ireito Previdenciário.
Lei regrava o en q u a d ram en to desse segurado na escala de salários-base, d e­
vendo fazê-lo em q u alq u er classe próxim a da m édia aritm ética sim ples dos ú ltim os
seis salários de co n trib u ição ou o u tra, dela abaixo.
Não era difícil a operação m atem ática: pinçavam -se os últim os seis salários de
con trib u ição , em seus níveis m ensais (caso se tratasse de segurado sujeito ao des­
conto, tendo trabalhado no m ês, m enos de 30 dias, devendo-se perfilhar a regra do
art. 28, § l 3, do RCPS). Im portâncias corrigidas pela variação integral acum ulada
do in d ex ad o r vigente. A seguir, a som a era dividida sistem aticam ente p o r seis,
m esm o se o c o n trib u in te não possuísse tal núm ero de salários. E eles não tinham
de ser consecutivos.

C u rso de D ir h it o P r e v id e n c iá r io

646 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O resultado en co n trad o era confrontado com os m o n tan tes da tabela. A m ais
próxim a desses valores era a classe m áxim a perm itida ao segurado. Ela podia es­
colhê-la ou a q u alq u er o u tra, posta abaixo.
Se a m édia ficasse exatam ente entre um a classe e outra, a dúvida resolvia-se em
favor da classe su p erior (havia na escala de salários-base o direito de contribuir).
De q u alq u er form a, se o segurado não a quisesse, adotava a anterior, m ais próxim a.
N o rm alm en te, no últim o período de trabalho, precedente à ru p tu ra do co n ­
trato de trabalho, sob a designação genérica de “saldo de salários”, são pagas as
verbas rescisórias e, com isso, proporcionalm ente, o em pregado dem itido recebe
m o n tan te su p erio r ao valor m ensal. Se o afastam ento sucede no últim o dia do
mês, respeitado o lim ite do salário de contribuição, toda a im p o rtân cia prestava­
-se para o cálculo da m édia dos últim os seis salários de contribuição, m as, se isso
acontecesse em o u tra data, era preciso co n sid erar qual a im p o rtân cia adotada para
a m en su ração d a referida média.
A retribuição desse m ês incom pleto, ficção fiscal, salvo se incluídas parcelas
relativas a d ireito s trabalhistas assegurados em outros m eses de com petência, era
a resu ltan te da divisão da retribuição m ensal por 30, m ultiplicada pelo nú m ero de
dias. O n u m erário desse m ês de transição devia ser adicionado aos cinco anteriores
para cálculo da co n tribuição, a operar-se nesse m esm o m ês ou futuram ente.
C om p arativ am ente ao lim ite do salário de contribuição, n em sem pre a m édia
resu ltan te refletia a posição do segurado, especialm ente no m ês an terio r ao da
data-base. Q uem a p o rto u pelo lim ite do salário de contribuição não assegurou,
necessariam ente, o en q u a d ram en to na C lasse X — fenôm eno m en o r com inflação
reduzida.
O prejuízo era inevitável e inju sto , não próprio do sistem a, convindo ser revis­
to na p rim eira o p o rtu n id ad e, pois inatacável em sua co nstitucionalidade. Acabou
sendo com a Lei n. 9.876/1999. O não sujeito ao salário-base, ao passar para esse
regim e co n trib u tiv o , não tem direito à m an u ten ção do p atam ar anterior. Em bora se
possa, p o r o u tro lado, su sten tar exatam ente esse princípio, q u an d o o titu lar se en ­
co n tra r no bojo do regim e dos descontados. Para corrigir essa distorção, bastava o
legislador co n sid erar os percentuais do lim ite e não os valores propriam ente ditos.
E n q u an to possível o recolhim ento, nas hipóteses previstas na lei, nada im ­
pede o parcelam ento das contribuições. P resum ida com o preservada a relação de
filiação (isto é, n ão caracterizado o afastam ento do RGPS), segurado em débito,
m an ten d o em dia as vincendas poderá recolher as vencidas com os acréscim os.
Fazê-lo de fato, pois de direito não com pensará o trabalho.
c) enquadramento de ex-servidor: Do servidor público que proviesse de outro
regim e de previdência social e especificam ente de sua situação não cuidava a legis­
lação previdenciária. N ão tin h a salário de co n trib u ição e, nessas condições, m esm o
se an tes recebeu ven cim entos iguais ou acim a do lim ite do salário de contribuição,
tinha de en q u adrar-se n a classe m ínim a (sic). Agirá bem o ju iz se considerar os
últim os seis v en cim entos com o salários de contribuição.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P revid ên cia S o c ia l 647


709. C aso d e in ad im p lê n cia — A tualm ente, o segurado que atrasar os paga­
m entos e p resente m anifesta intenção de c o n tin u ar com as co n trib u içõ es dentro do
perío d o de m an u ten ção da qualidade, pode recolher m ensalidades em m ora sem
m aiores conseqüências, que serão aceitas pela RFB e INSS.
P odendo p articip ar do RGPS e dele se afastar q uando ju lg ar conveniente, sua
inadim plência confundir-se-á com a in ten ção de se desfiliar. Assim, a princípio, ele
só poderia recolher con tribuições em dia, sem acréscim os. Exceto se, de algum a
form a, co m u n icar aos gestores o ânim o de, m esm o em atraso com as contribuições,
p reten d er m anter-se filiado. Tudo isso p o r sua vontade; não tem a autarquia federal
nem o M inistério o p o d er de exigir-lhe contribuições não efetuadas.
lnexiste co n to rn o ao risco no período de m an u ten ção da qualidade; o segu­
rado está protegido p o r animus legal. Im possível recusar contribuições em m ora,
inferiores a sete m eses, se persistiu com a condição de segurado. F ora desse lapso
de tem po, ele reinicia os pagam entos, sem p o d er recolher os atrasados e perdendo,
com isso, o tem po de contribuição correspondente.
Todavia, a m elh o r form a de notificação ainda é a contribuição. O reco lh im en ­
to tardio, com acréscim os, revela dem onstração subjetiva da vontade de m anter-se
integrado n o sistem a e deve prevalecer sobre a ideia da m ora representar o afas­
tam ento, raciocínio válido n u m sistem a em que a volição é respeitada frequente­
m ente.
710. R estitu ição e co m p en sação — S ucedendo um a cotização indevida ou
a maior, p rin cip alm en te em virtude de erro de cálculo, é válida a restituição ou
possível a com pensação das contribuições.
C om o não se trata de exercente de atividades e, p o rtan to , não repassou encar­
gos a consum idores, a com pensação é perfeitam ente recom endável, em bora a ser
feita com cautela, p o is pagam entos a m enor poderão configurar regressão, sob a
ótica do INSS. O segurado deve registrar na GPS ou, se for o caso, m ediante reque­
rim ento, co m u n icar expressam ente estar procedend o à com pensação.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

648 W ia d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo LXXI

P r o f is s io n a is L ib er a is

Sumário: 711. Problemas suscitados. 712. Obrigações da empresa. 713. Relação


de emprego. 714. Características comuns. 715. Nuanças incomuns. 716. Modus
opemndi. 717. Destinação do trabalho. 718. Percepção de benefícios sociais.
719. Modalidade da retribuição. 720. Aspectos não relevantes.

C om bastante frequência, as em presas adm item advogados, engenheiros,


m édicos, arq u iteto s e o u tro s profissionais liberais, em diferentes circunstâncias,
tem p o rária ou d u rad o u ram en te, ensejando incertezas sobre a natu reza do vínculo
ju ríd ico jacen te, daí derivando obrigações form ais e fiscais previdenciárias.
Em relação aos profissionais classificados com o em pregados, não ten d o sido
aten d id o o d isposto nos arts. 20 e 22 e determ inado pelos arts. 3 0 , 1, a a c, e 3 2 , 1
e II, do PCSS, são válidas as seguintes inform ações:
a) a base de cálculo da contribuição patronal de 20% (m ais a taxa do seguro
de acidentes do trab alho), não tem lim ite;
b) os 20%, pessoalm ente ap o rtad o s pelo profissional, en ten d en d o -se a u tô n o ­
m o e consid erad o em pregado, inexistente atividade particular ou o utra atividade
profissional, pode ser aproveitada;
c) a co n trib u ição de 8%, 9% o u 11%, ded u zid a da rem uneração e recolhida em
razão de atividade para o u tra em presa, parcial ou totalm ente, conform e o lim ite do
salário de co n tribuição, da m esm a form a, ela será utilizada;
d) em to d as as alíneas, a/c, os fatos têm de ser d e m o n stra d o s à saciedade ao
INSS p ara to rn a r eficaz o m en cio n a d o ap ro v eitam en to . As co n d içõ es im postas
são ab so lu tas, não co m p o rta n d o d isto rçõ es, e a prova d o cu m en ta l deve c o n v e n ­
cer a au tarq u ia de ter havido o re co lh im e n to , m ês a m ês, co n fo rm e o período
d iscu tid o .
711. P ro b lem as su sc ita d o s — D iante do motíus operandí da colaboração
desses p restadores de serviço às em presas, se indaga quais são os fatos assinala-
dores da relação de em prego, do co n trato de locação de serviços e m odalidades
societárias, oferecendo-se inform ações p ara elucidá-las.

C l jr s o d h D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia í 649
A ludindo a segurados lidos, em tese, com o em pregados não registrados, cogi­
ta-se da possibilidade de a RFB não tê-los com o em presários ou autônom os.
P or vezes, a au tarquia gestora, m esm o em face da docum entação relativa ã
condição de au tô n o m o desses profissionais, os tin h a com o em pregados não regis­
trados e prom ovia a cob rança de débitos.
O vínculo entre profissionais liberais, e o u tro s trabalhadores nitid am en te in ­
d ep en d en tes e as em presas provoca dissenções entre os especialistas em D ireito do
Trabalho e estudiosos do D ireito Previdenciário.
712. O brigações da em p resa — Até a Lei n. 10.666/2003, no tocante à co n ­
tratação de mão de obra cedida p o r terceiros (tem porário, avulso, em pregado ou
outro obreiro), d em onstrada inequivocam ente a legitim idade da relação civil, de
pessoa ju ríd ica para pessoa jurídica, n en h u m dever era prescrito n a lei, salvo os
decorrentes da solidariedade fiscal. O m esm o valia para o em presário, perfeitam ente
identificado, seja titular de firm a individual, sócio ou direto r de sociedade anônim a.
713. R elação de em prego — Profissionais liberais p restando serviços à em ­
presa ensejam sérias indagações referentes à existência da relação em pregatícia,
apta para fins de previdência social, FGTS, contribuição sindical. P rincipalm ente
quando a ocupação do obreiro coincidir com a atividade principal e perm anente
do em p reen d im en to . In casu, advogado e escritórios de advocacia; engenheiro e
em preiteiras; m édico e hospitais etc.
Mário L. Deveali ressalta essas dificuldades: são “zonas grises en las quales la
clasificaciõn se presenla p articu larm en te dificil” ( “L ineam ientos de D erecho dei
Trabajo”, Buenos Aires, 1948, p. 283).
V erdadeiram ente, existem situações nebulosas em que o aplicador da lei se vê
em baraçado para definir a figura ju ríd ic a enfocada, a p o n to de constatarem -se q u a­
se em pregados ou quase autônom os, convivendo lado a lado, q uando con co m itan ­
te certa d ep endência hierárquica ou funcional e algum a liberdade e independência
inerentes a esses prestadores de serviço.
A dificuldade cresce por serem in sitam en te po u co subordináveis e p o r exigi­
rem verificação do destinatário m aterial e jurídico do serviço prestado.
P esquisa válida, p o r conseguinte, é sopesar se a prestação de serviços resulta
em: 1) co ntrato de em prego; 2) locação de serviços autônom os; ou 3) negócio civil
entre duas pessoas ju ríd icas. O u seja, se o trab alh ad o r é em pregado, au tô n o m o ou
em presário.
O estu d o do problem a, com o em o u tras co n ju n tu ra s freqüentes em D ireito,
não p rescinde de exam inar-se a predom inância do aspecto form al sobre o real.
Isto é, prevalecer o co ntrato-realidade de Mário de La Cueva, estar presente o ani-
mus contrahendi de Am auri Mascaro Nascimento o u a docum entação exibida pelo
prestad o r de serviços (com o autô n o m o o u em presário) ser condição suficiente.
A dotando a prim eira corrente, em razão do dia a dia e da necessidade de ter o p ro ­
fissional rapidam ente a seu serviço, m uitas em presas foram levadas a exigências
fiscais e a ações trabalhistas no P oder ju d iciário .

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

650 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A usente controvérsia válida qu an to à pessoalidade e à onerosidade, elem entos
co m u n s aos diferentes tipos de convenções, resta a subordinação com o a caracte­
rística fu n dam ental do vínculo p rocurado, n ão se p o d en d o desprezar a assunção
dos riscos p ró p rio s do elo laborai. Nem sem pre recebe ordens: o nível de d ep en ­
dência varia co nform e os diferentes cenários, tendo a ver, às vezes, em certas h ip ó ­
teses, com a d u ração do contrato. No curso do tem po, o p eq u en o em presário passa
a au tô n o m o e, finalm ente, reduz-se à condição de em pregado.
Tendo em vista a nuclearidade definidora da relação ju ríd ica, o e n q u a d ram en ­
to a ser atrib u íd o não estã condicionado apenas ao n ú m ero m aior ou m enor dos
aspectos, m as p rin cip alm en te aos prevalecentes. A subordinação exterioriza-se sob
variados m atizes e seu patam ar depende da condição do obreiro, seu nível técnico
e função exercida na em presa. A bstraindo não ser titu lar de firm a individual, difi­
cilm ente o cliente su b o rd in a u m desses profissionais, m esm o lhes pagando direta­
m ente os serviços. É próprio desse c o n tra to particular, com o na confissão religiosa,
a iniciativa ficar in teiram ente nas m ãos do titular. Se é possível expressar ao arqui­
teto ou d eco rad o r com o se deseja o im óvel, quase nada se pode co n trad itar enge­
nheiro co n stru to r ou o calculista da viga ou da laje etc. Mas esses trabalhadores, em
relação a colegas, conform e a organização da em presa, podem ser subordinados,
p rin cip alm en te q u an d o integrantes de azienda de porte.
A ad m in istração gestora, a braços com o problem a, e n c o n tro u dificuldades
para desonerar-se de inquietações e perplexidades. Na O rdem de Serviço IAPAS/
SAF n. 37/1980, m an d o u a Fiscalização respeitar os co n trato s de locação de servi­
ços, en fatizando o form alism o docum ental. A O rientação de Serviço IAPAS/SAF n.
21/1984 desfez o co m ando anterior, reco n h ecen d o a realidade dos fatos com o d e­
term in an te do en q u a d ram en to previdenciário. Na verdade, o em baraço reside nas
desigualadas situações, valendo para cada profissional, e não se p o d er uniform izar
p ro ced im en to s, so b retudo n u m em p reen d im en to de expressão institucional, onde
com parecem pessoas trabalhando em diferentes am bientes.
O estu d o da realidade exige a consideração de m últiplas facetas. Os obreiros
po d em ser ag ru p ad o s consoante as suas características laborais dom inantes: a)
algum as delas são com uns a todos (v. g., pessoalidade e onerosidade); b) outras,
p ró p rias do em pregado (v. g., tarefa coincidente com a atividade da em presa, per­
cepção de direitos específicos de trab alh ad o r su b o rd in ad o , exclusividade e su b o r­
dinação); c) de au tô n o m o (v. g., assunção de riscos, possibilidade de substitutivi-
dade, serviços prestados em seu escritório, uso de in stru m en to de sua propriedade,
nível de aperfeiçoam ento e in dependência na condução da tarefa); d) existem ,
ainda, as p articu lares da em presa (v. g., natu reza do d ad o r de serviços, destinação
m aterial e ju ríd ic a do trabalho e do pagam ento, presença do animus contrahendi,
percepção de certo s ben efício s); e e) de p o u ca d im en são n a definição do v ín cu lo
ju ríd ic o (v. g., form alização, duração do co n trato , perten cer a sindicatos etc.).
714. C a ra cterísticas co m u n s — As características com uns não são decisivas
mas carecem ser exam inadas.

C ijr s o d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o í í — P r e v id ê n c ia 5 o c m / 651
a) pessoalidade: Som ente a pessoa tísica pode ser em pregada. O em pregado de
o u tra em presa, p restan d o serviços para um em preendim ento, subm etido o desem ­
p en h o laborai a co ntrato entre duas pessoas ju ríd icas ou ao regulam ento de em pre­
sa fornecedora de m ão de obra, nâo é em pregado da tom adora dos seus serviços.
Da m esm a form a, som ente o ser hu m an o pode ser autônom o, A pessoa ju r í­
dica está excluída dessa condição; seus auxiliares diretos são: o em pregado ou o
em presário.
b) onerosidade: O ajuste de vontades entre o profissional e a em presa resulta
oneroso; de u m lado, o obreiro presta serviços, e, do outro, é retribuído. Não é
em pregada u m a pessoa trabalhando abnegadam ente para em presas. M esm o se lal
esforço pessoal pro m o v er o seu nom e, granjeando-lhe notoriedade, representando-
-Ihe desenvolvim ento profissional ou atrain d o -lh e clientela para o seu escritório.
Mas sem m ú tu a e sínalagm ática retribuição não subsiste vínculo em pregalício.
A característica da retributividade é com um ao em pregado, ao au tô n o m o e ao
em presário, q u an d o oferecendo serviços a terceiros. N u m caso, tom a o título de
salários; n outro, o de h o norários; e, finalm ente, o de total estipulado entre pessoas
jurídicas. N orm alm ente, valores m ensalizados sinalizam o em pregado; im p o rtân ­
cias tarifadas, o au tô n o m o ou o em presário.
Isoladam ente se a pessoalidade e a onerosidade per se não são capazes de pôr
fim à investigação. É im prescindível p erscru tar o u tro s fatos da realidade laborai.
U m a característica co m um a todos os trabalhadores, elas têm pouca densidade no
deslinde da questão, consideráveis apenas no tocante à substitutividade e à m oda­
lidade retributiva.
715. N u an ças in co m u n s — As nuanças in co m u n s são as capazes de d eterm i­
n ar a distinção desejada.
a) não eventualidade; De acordo com o art. 3e da CLT, para se presenciar o em ­
pregado, entre o u tro s aspectos, é preciso coincidir a perm anência do trab alh ad o r
com a co n tin u id ad e da tarefa executada. Assim , serviços jurídicos n u m escritório,
trabalhos técnicos n u m a co n stru to ra, aten d im en to à saúde em hospital, perm item
o en q u ad ram en to do su bordinado. D estarte, ao contrário, advogado n u m a vidraça-
ria ou vidraceiro n u m escritório ju ríd ico , em relação a quem os paga, indicam um
autô n o m o ou em presário, dificilm ente em pregado.
É relevante a natureza do serviço executado pelo obreiro; precisa ser per­
m anente, co n tín u o , não ocasional, fazer parte principal da atividade-fim do em ­
preen d im en to , sem prejuízo de algum as divisões não finalísticas (v. g., diretoria,
contabilidade, pessoal, lim peza etc.) com portarem o em pregado.
b) an im u s co n trah endi: U ltrapassados o u tro s itens, insuficientes para solver o
im passe, dúvida q u an to à existência da relação em pregatícia pode ser solucionada
q u an d o constatada — pela form a de execução dos serviços ou em razão do c o n tra ­
to escrito firm ado entre as partes — a presença da d upla vontade dos sujeitos, de
terem o obreiro com o em pregado, au tô n o m o ou em presário.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

652 W l d í t í m i r N o v tie s M a r t i n e z
N os dois ú ltim o s casos (a u tô n o m o e em presário), o trab alh ad o r dá dem ons­
trações inequívocas de se ap resen tar em condição cientificam ente definida, p rin ­
cipalm ente conform e o in stru m en tal, técnicas utilizadas e seu nível de aperfeiçoa­
m ento. N ão só a d o cu m en tação o retrata com o in d ep en d en te, com o ele faz questão
de m an ter a sua liberdade operacional. N esse caso, ele fixa h o rário , h o n o rário s e
condições de trabalho.
A percepção d u ra d o u ra de d ireitos trabalhistas ou previdenciários próprios
do su b o rd in ad o indicam , p o r sua vez, a volição de ser em pregado. Q uem aceita
décim o terceiro salário, sai de férias anuais e — sem tan ta ênfase para a conclusão
— p articipa do clube e da cooperativa da em presa o u adere ao fu n d o de pensão,
d em o n stra a in tenção de d eliberadam ente p erte n cer à co m u n id ad e laborai com o
em pregado. A situação é confirm ada se tam bém participar de greves, eventos p ro ­
m ocionais de esportes o u lazer, e outras atividades p ró p rias de celetistas.
c) subordinação: E m bora, com o assinalado, de difícil m ensuração, a su b o rd i
nação é característica preciosa na definição do vínculo em pregatício de qualquer
trabalhador. D esdobra-se em: a) adm inistrativa; e b) técnica. P resente a segunda,
d ificilm ente se p o d erá falar em autô n o m o . R esulta essencial, no caso, perceber-se
a diferença entre u m a e outra. Estão arredadas, na d o u trin a, de longa data, a d e­
p en d ên cia econôm ica ou financeira.
A dm inistrativam ente, isto é, estru tu ra lm e n te , todos os obreiros — em pre­
gados, au tô n o m o s ou trabalhadores provindos de pessoas ju ríd ic a s — devem
obediência às recom endações internas. Sujeitam -se às im posições da organização
m o d ern a, precisam d ar satisfação de seus atos aos superiores. É p ró p rio da coor­
denação do em p reen d im en to , não im p o rtan d o qual seja ele, pouco tem a ver com
a relação ju ríd ica. Isolada, não define o tipo de trabalhador.
Subordinação técnica, m esm o para profissionais liberais, é im portante e deve
ser perq u irid a. Nesse sen tid o , urge distinção. Os liberais, deontologicam ente, não
estão su jeito s aos chefes im ediatos. M oralm ente, não se condicionam ; exceto ao
C ódigo de Ética da categoria.
U m a coisa é o h orário de apresentação do segurado à em presa, subm issão a d ­
m inistrativa, pod en d o até ficar à disposição do estabelecim ento; outra, a exigência
organizacional de fazê-lo seg u n d o experiência própria.
O uso de unifo rm e, crachás, n o rm as de higiene e segurança, específicos do
am biente de trabalho co n fu n d em as duas situações: são regras adm inistrativas e
técnicas, não facilitando a diferenciação.
Um profissional receber ordens de ou tro profissional, da m esm a categoria, e
a vigência de diretrizes éticas válidas perfeitam ente aceitas en tre colegas tornam
ainda m ais áspero lograr a presença de tal subordinação.
A in d ep en d ên cia na condição da tarefa é elem ento dos m ais significativos
para caracterizar o u não a relação em pregatícia, em bora, com o antecipado, de d i­
fícil apreensão na relação aulônom o-em presa. Q u ando su b stan ciad a aponta a clas­
sificação do segurado.

C urso de D ir e it o P r f .v i d e n c í á r í o

T om o / / — P r e v id ê n c ia S o c i a l 633
d) assunção de riscos: R eferentem ente à conceiluação previdenciária, o em pre­
gador assum e riscos econôm icos (a); o au tô n o m o enfrenta os profissionais (b); e o
em pregado não se su b m ete a risco algum (c).
U sualm ente, o penalm ente responsável p o r im perícia, negligência ou im p ru ­
dência é sem pre a pessoa física. A responsabilidade civil, porém , há de ser d e­
term in ad a em cada caso e é não desprezível na avaliação da relação de em prego.
E xem plificativam ente, a decisão de su b m eter paciente à transfusão de sangue, ve­
dada pela religião do in ternado, n o rm alm en te é de iniciativa do hospital, e, então,
é dado da locação de serviço.
O correndo dano causado ao cliente p o r erro do profissional, a determ inação
do responsável, com o dito, é fator de identificação do segurado. Sem prejuízo de
ação regressiva, se o serviço é co n tratad o diretam ente com estabelecim ento, sendo
ju rid icam en te o autor, tu d o indica tratar-se de em pregado, o p ro m o to r do prejuízo.
O fato de os p atro cin ad ores das ações preferirem acionar a em presa, com vistas à
execução da sentença, não interfere no raciocínio; o Ju iz cerca-se de cuidados n e ­
cessários, para saber o sujeito passivo da ação, se o em pregado ou o em pregador.
ej substitutividade: O em pregado não pode fazer-se su b stitu ir p o r o u tra pes­
soa; se isso acontece, subsistem dois co ntratos de trabalho no elo ju ríd ico estabe­
lecido. Mas o au tô n o m o , exceto na contratação personalíssim a, pode indicar outro
trab alh ad o r para realizar o serviço.
A relação laborai é intuitu personae. Se a em presa concorda com a substituição
está tratan d o com in d iv íduo in d ep en d en te, fazendo nascer outro co n trato de tra­
balho. Aliãs, su b stitu to de em pregado é em pregado. Só o au tô n o m o po d e fazer-se
substituir, sem m odificar a relação ju ríd ica e, ainda assim , nos casos em que a troca
não in terferir na natureza e qualidade do atendim ento.
J) local dos serviços: U m aspecto p ró p rio do profissional in d ep en d en te é atu ar
no seu estabelecim ento, em que se situa à vontade, adm ite auxiliares, usa suas
instalações, do m in a o am biente e com anda inteiram ente.
Nesse caso, é im p o rtante saber se o aten d im en to acontece em seu estabeleci­
m ento ou na sede da em presa co n tratan te. C onform e cada solução, a autonom ia
acen tu a ou se reduz, em razão das necessidades da organização m oderna.
g.) dador dos serviços: É indispensável verificar quem propicia os serviços ao
trabalhador. Se pessoa física ou ju ríd ica — poderá ser dom éstico em vez de em ­
pregado ou autônom o. Tratando-se de cooperativa de trabalho, não passará de
cooperado. De sindicato, o avulso. N um a sociedade com ercial ou m icroem presa,
u m em presário. Se órgão público, servidor.
A em presa fornecedora de m ão de obra precisa estar bem identificada e in d i­
vidualizada, não p o d en d o m ascarar co n trato de em prego com a em presa tom adora
dos serviços.
716. Modus operandi — O estágio científico do trabalhador, an terio rm en te
alcançado ou obtido no curso do co n trato de trabalho, é responsável p o r situ a­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

654 W l í J í íí m i r N o v a c s M a r t i n e z
ções p articulares, sinalizadoras da au to n o m ia na condução do labor. A dvogado
prestigiado no m eio científico (v. g., P ontes de M iranda, O rlando G om es, N elson
H ungria), arq u iteto conhecido (O scar Niem eyer, Lúcio Costa, Ram os de Azeve­
do), m édico solicitado (Ivo Pitanguy, Adib Jaten e etc.), n atu ralm en te serão co n ­
siderados com o au tô n o m o s. N ão desejam ser su b o rd in ad o s e, consequentem ente,
em pregados.
C erto nível de aperfeiçoam ento do profissional é ilustrativo desse cenário.
M uitas vezes, decorre da posse de in stru m en tal p ró p rio , nesse co n ju n to co m preen­
d ida a adoção de técnicas m odernas, p o r ele criadas ou desenvolvidas p o r terceiros.
Isso é ínsito ao au tô n o m o ; o em pregado, norm alm ente, serve-se das instalações do
em pregador.
N uança do em pregado, com o asseverado, é nào dispor de ferram entas de
trabalho; utiliza-se d as fornecidas pelo em pregador.
O em pregado adota, u sualm ente, a técnica consagrada no estabelecim ento da
em presa; o au tô n o m o usa os p ró p rio s m eios. Profissionais n o tó rio s são conhecidos
p o r terem descoberto procedim entos inovadores, dom inarem m étodos singulares,
possuírem habilidades in co m u n s e, p o r isso, tecnicam ente, não serem su b o rd i­
nados. Fazem escola, em pregam assistentes, escolhem as condições de trabalho,
o ptam pelos clientes, fixam os h o n o rário s etc., são ím pares e inconfundíveis.
717. D estin ação d o tra b a lh o — Tam bém é nuclear salien tar a qu em se des­
tin am , m aterial e ju rid icam en te , os serviços prestados: a) ao executante; ou b) à
em presa. Se se tratar do p rim eiro, estar-se-á diante do estagiário, figura disciplina­
da p articu larm en te na legislação previdenciária.
Existem sítios laborais em que a realidade é confundida pela docum entação
apresentada. E ntão, não é fácil p erq u irir o destinatário dos serviços, p rin cip al­
m ente em razão da m odalidade do pagam ento. Não se pode esquecer o contrato
de locação, celebrado entre o profissional e a em presa, para sim ples utilização dos
recursos oferecidos, convergindo os serviços para o u tra pessoa.
718. P ercepção de b enefícios so ciais — Em algum as realidades, com o dito,
o co n trato de locação de serviços, em razão das circunstâncias, curso do tem po,
acom odação das partes e, prin cip alm en te, da integração do trab alh ad o r à em presa,
tran sm u d a-se o ajuste inicial — de autô n o m o , o p restad o r de serviços torna-se
em pregado.
Daí em ergir algum a subordinação e arredar-se a assunção de riscos ou a
indep en d ên cia. N orm alm ente, esse quadro é aco m p an h ad o pela concessão de
peq u en o s benefícios trabalhistas ou previdenciãrios, reforçando a transfiguração.
Na dúvida, p resen tes o pagam ento do décim o terceiro salário e a concessão de
férias, decide-se a favor da existência do vínculo em pregatício.
U sualm ente, ajusta-se o reajustam ento dos h o n o rário s conform e a política
salarial e esse, em bora não decisivo, é dado não desprezível pelo aplicador da rea­
lidade. O co n ju n to desses acontecim entos é im p o rtan te. Sua ausência é indicação
de preservação do acordo pretérito.

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 655
719. M o d alid ad e d a re trib u iç ã o — A rem uneração é paga m ensalm ente, pre­
viam ente cifrada a sua q uantia, é indicativa de em pregado. É tão im p o rtan te essa
periodicidade e constância do valor para os trib u n ais a po n to de o TRT da 6 a
Região ignorar o local da prestação de serviços e ter sentenciado: “M édico que
presta serviços em dias e horas n o seu consultório, percebendo salário m ensal fixo
para atender os em pregados de em presa é em pregado nos term os da CLT” (Acórdão
n. 2.580/1970, de 8.4.1980, Ju iz rei. P aulo C abral de M elo, in LTr n. 44/1281).
H onorários co n v en cionados p o r tarefa ou resultado não significa necessaria­
m ente um au tô n o m o . Refere-se à inform ação a ser alinhavada com outras, para
a decantação do estado ju ríd ico . O au tô n o m o e o em presário raram ente recebem
h on o rário s constantes.
É igualm ente significativo determ inar-se quem prom ove a quitação. Se o co n ­
tratan te ou o p ró p rio cliente. M uitas vezes, os aspectos form ais travestem situações
reais e não se alcança, ju rid icam en te, o au to r do pagam ento, im pondo-se o exam e
da contabilidade, para se d eterm in a r o trân sito dos honorários. Claro, se é o cliente
o encarregado dos desem bolsos, dificilm ente será possível configurar-se o em pre­
gado. Isso não prejudica a possibilidade de a em presa, em nom e do trabalhador,
cob rar o convencionado e, até, se for o caso, adicionar taxa de adm inistração (não
confundível com a locação do estabelecim ento).
Não se pode olvidar tam bém quem fixa o valor da co n su lta ou do serviço; se
o executante, é au tônom o.
Finalm ente, o nível da retribuição tem significado. Isso é m ais patente q uando
o profissional, em co ntato direto com o cliente, fixa os seus h o n o rário s e os dos co­
legas, sem prejuízo de haver u m co n dom ínio de liberais atu an d o co n ju n tam en te.
720. A spectos irre le v a n te s — A lgum as circunstâncias são irrelevantes, isto
é, insuficientes para d ecidir pela existência do vínculo laborai, m as, obviam ente,
solidificada certa ten dência no espírito do in térp rete, co n trib u e m incisivam ente
para a definição da situação.
U m a delas é a form alização, p o r exem plo, estar o Lrabalhador registrado. A
figura do em pregado n ão é excluída se presentes os elem entos definidores, por
exem plo, não ter a CTPS assinada, existindo firm a individual perfeitam ente m a­
triculada n o s órgãos públicos, em dúvida, o in térp rete co n d u z à ideia inicial de
tratar-se de em presário, cabendo d em o n strar o contrário. N ão será, certam ente, a
docum entação decisiva, e sim a realidade dos serviços, m as sua posse trad u z certa
liberdade de trabalho. Além da vontade de perm an ecer e exteriorizar-se com o in­
dependente, a m atrícula na Prefeitura M unicipal e a inscrição no INSS, com o a u ­
tônom o, não pressupõe essa condição laborai, m as a indicam , carecendo verificar
os dem ais dados.
E m bora desperte celeum a e discussão, salvo na hipótese de estar bem caracte­
rizado o animus contrahendi, o fato de o segurado apresentar-se d o cu m entalm ente
com o em presário ou au tô n o m o não faz dele u m desses dois tipos. N en h u m a razão
assistia à O rdem de Serviço IAPAS/SAF n. 37/1980, no subitem 1.2, q uando dizia:

C urso pf .D ir e it o P r e v id e n c iá r io

656 W l a d im i r 'N o v a e s M a r t i n e z
“O s co n trato s de p restação de serviços de au tô n o m o serão sem pre aceitos pela
fiscalização, sendo que, na hipótese de ocorrência que fu n d am en tem dúvidas de
filiação, será o u v id a a S ecretaria R egional de A rrecadação e F iscalização an tes
de q u alq u er p ro ced im en to fiscal”.
Trata-se de o b stáculo a ser enfrentado pelo aplicador, obrigado à prova em
contrário. A tradição é no sentido de em pregados e autônom os, in d iferen tem en ­
te, p restarem serviços independentes. A presença de m icroem presas, exatam ente
q u an d o a legislação exige m aior contribuição do em pregado, é elem ento a ser so­
pesado n a análise. P rincipalm ente q u an d o a form alização é prom ovida pelo p ró ­
p rio co n tra tan te e observa determ in ad o padrão. N orm alm ente, esconde-se o u tra
condição laborai ou jurídica.
A descaracterização desse quadro, diante da presunção relativa de legitim i­
dade, até prova em co ntrário, m erece toda a atenção e cu id ad o para não su b sistir
arbítrio, facilm ente desfeito pelo P oder Judiciário. Este, sem tem po p ara exam e
m ais ap ro fu n d ad o , u su alm en te, elege o aspecto form al com o decisivo.
Q u a n to d u ra o co n trato n ão é elem ento de sua decantação. N ão obstante, sabi­
d am ente, o curso do tem po altera sua natureza. C om o dito, vínculos p erm anentes
tendem a tran sfo rm ar o em presário em au tô n o m o e o au tô n o m o em em pregado.
A ten d ên cia, observada nas em presas, se a prestação de serviço se perp etu a
n o tem po, alonga-se ano após ano, prin cip alm en te q u an d o se trata de estabeleci­
m ento de vulto e presente a integração do indivíduo nas em presas, a relação sofre
m utações, m ais facilm ente ocorrida com outros trabalhadores, m as tam bém em
relação aos liberais.
Repete-se ad nauseam: o tem po se incum be de relaxar certas regras, im por
outras, suavizar im posições e agravar determ inações. A in d ep en d ên cia cede lugar
à certa seg u ran ça e a conveniência, às vezes, dita a form a de aceitar as pressões das
circu n stân cias e das em presas. Claro, isso vale m ais para o obreiro carente desses
am paros, não p ara o realizado profissionalm ente. A integração na em presa, p a rti­
cipar do seu clube, de sua cooperativa, do fundo de pensão, as am izades nascidas
do convívio, são p articularidades co n d u cen tes ao nivelam ento da relação laborai
e sua transform ação, tendo com o final o padrão universal, de identificar-se com a
do em pregado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o í í — P r e v id ê n c ia S o c itií

Capítulo LXXII

A l íq u o t a s d e C o n t r ib u iç ã o

721. Sujeitos a descontos. 722. Empregado doméstico. 723. Parte pa­


S u m ário :
tronal. 724. Contribuinte individual. 725. Segurado facultativo. 726. Entidades
beneficentes. 727. Clubes de futebol. 728. Empresas rurais. 729. Regime Espe­
cial. 730. Simples NACIONAL.

Variam significativam ente as contribuições do custeio da previdência social.


No passado, houve um a tentativa de se criar um a taxa única, m as ela foi superada
(Lei n. 4.863/1964). Em 2010, basicam ente são quatro gru p o s de taxas: a) c o n tri­
buições desco n tad as dos segurados; b) contribuições patronais; c) su b stitu id o ras
das patronais; d) con tribuições pessoais (au tô n o m o s e facultativos); e e) an tecip a­
das (Lei n. 9.711/1998).
721. S u jeito s ao d esc o n to — Os em pregados e os avulsos co n trib u em por
interm éd io de d esco n to qu an d o do pagam ento da sua rem uneração.

Salário de contribuição Alíquota

Até R$ 1.247,70 8%

De R$ 1.247,71 até R$ 2.079,50 9%

De R$ 2.079,51 a RS 4.139,00 11%

722. E m p reg ad o d o m éstico — A parte descontada do em pregado dom éstico


é igual à dos em pregados e avulsos (8%, 9% ou 11%), m as a parte patronal lim itada
a R$ 4.159,00, é de 12% (PCSS, art. 24).
723. P arte p atro n a l — As em presas são obrigadas a reterem a contribuição
dos em pregados e avulsos até o lim ite do salário de contribuição e de recolherem
20% sem lim ite de valor.
Em relação ao seguro de acidentes do trabalho as alíquotas são, até 3 1 .12.2009,
de 1% (risco leve), 2% (risco m édio) e 3% (risco grave) que podem ser alterados a
p artir de 1Q. 1.2010 conform e o FAP

C urso n r D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Caso seja constatada insalubridade no am biente de trabalho que propicie a
concessão da ap o sen tad o ria especial, a em presa está obrigada a u m a contribuição
de 6%, 9% ou 12%. D istintas em relação ã contratação de m ão de obra que expõe
à in salubridade e p o r parte das cooperativas.
A alíq u o ta p atro nal das entidades financeiras é de 22,5% , d o valor da folha de
pagam ento dos em pregados (PCSS, art. 22, § l g).
N o caso de co n tratação de pessoal na figura da cessão de mão de obra, o dever
da c o n tra tan te é de reter 11% da nota fiscal.
O fatu ram en to das em presas sujeita-se à co n trib u ição de 2% (art. 23) e o
lucro líquido à taxa de 10%, sendo que é de 15%, caso se tratem de instituições
financeiras (PBPS, art. 23.
724. C o n trib u in te in d iv id u a l — C onsideram -se dois c o n trib u in tes indivi­
duais: os em presários e os autônom os. Os em presários sem pre sofrem um a reten ­
ção de 11% dos seus honorários (até R$ 4.159,00), aos quais deve ser acrescida a
parte p atronal de 20% do m esm o valor sem lim ite.
Os au tô n o m o s são divididos em dois grupos: os que prestam serviços para
pessoas físicas, obrigados à contribuição de 20% da som a dos seus honorários.
Aqueles que prestam serviços p ara pessoas ju ríd icas sofrem retenção de 11% dos
hon o rário s (devendo a co ntratante, a exem plo dos em presários, recolher 20% sem
lim ite de valor).
As regras para o trabalho eventual seguem as do au tô n o m o q u e presta servi­
ços para pessoa ju ríd ica.
725. S eg u rad o facultativo — Em todos os casos, o co n trib u in te facultativo
recolhe 20% de u m valor de sua escolha, q u e vai de R$ 678,00 até R$ 4.159,00. A
d espeito da diferença de receita que ele gera, tem direito a praticam en te todos os
benefícios com patíveis com a sua situação pessoal de inativo.
726. E n tid ad es b e n e fic e n te s — C om provada a filantropia de suas ações, as
en tid ad es beneficentes de assistência social estão dispensadas da contribuição pa­
tronal de 20% do total da folha de pagam ento (PCSS, arl. 55).
727. C lu b es d e futebol — Os clubes se futebol profissional su b stitu em a
parte p atro n al p o r 5% da “receita b ru ta d ecorrente dos espetáculos desportivos de
que p articip em em todo territó rio nacional em q u alq u er m odalidade desportiva,
inclusive jo g o s in tern acionais, e de q u alq u er form a de patrocínio, licenciam ento
de uso de m arcas e sím bolos, publicidade, propaganda e transm issão de espetáculos
d esp o rtiv o s” (redação da Lei n. 9 .5 2 8 /Í9 9 7 ).
728. Em presas rurais — A agroindústria recolhe 2,5% da receita bruta prove­
niente da com ercialização da produção + 0,1% para o seguro de acidentes do trabalho.
O p ro d u to r ru ral pessoa física está obrigado a 2% + 0,1% = 2,1% da com ercia­
lização da sua produção.
Um segurado especial, observadas as m esm as alíquotas do p ro d u to r rural
pessoa física, pode c o n trib u ir com o facultativo (20% de u m salário declarado).

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o U — P r e v id ê n c ia S o c ia f 659
729. Regim e E special — Os segurados que se filiam ao Regime Especial de
Inclusão dos Inform ais — REII (LC n. 123/2006) aportam 11% do salário m ínim o
(PCSS, art. 21, § 2S), podendo acrescer 9% caso pretendam a aposentadoria p o r
tem po de co n tribuição (§ 3e).
730. S im p les N A CIO NAL — As em presas de pequeno e m édio portes que
optarem pelo Sim ples NACIONAL su b stitu em sua parte patronal por um a co n tri­
buição específica.

Serviços e locação
Receita bruta em 12 meses Comércio Indústria
de bens móveis

Até 120.000,00 1,80 1,80 2,42

De 120.000.01 a 240.000,00 2,17 2,17 3,26

De 240.000,01 a 360,000,00 2.71 2,71 4,07

De 360.000,01 a 480.000,00 2,99 2,99 4,47

De 480.000,01 a 600.000,00 3,02 2,02 4,52

De 600.000,01 a 720.000.00 3,28 3,28 4,92

De 720.000,01 a 840.000,00 3,30 3,30 4,97

De 840.000.01 a 960.000,00 3,35 3,35 5,03

De 960.000.01 a 1.080.000,00 3,57 3,57 5,37

De 1.080.000,01 a 1.200.000,00 3,60 3,62 5,42

De 1.200.000.01 a 1.320.000,00 3,94 3,94 5,98

De 1.320.000,01 a 1.440.000,00 3,99 3,99 6,09

De 1.440.000.01 a 1.560.000,00 4,01 4,01 6,19

De 1.560.000,01 a 1.680.000,00 4,05 4,05 6,30

De 1.680.000,01 a 1.800.000,00 4,08 4,08 6.40

De 1.800.000.01 a 1.920.000,00 4,44 4,44 7,41

De 1.920.000.01 a 2.040.000,00 4,49 4,49 7,50

De 2.040.000.01 a 2.160.000,00 4,52 4,52 7,60

De 2.160.000,01 a 2.280.000,00 4,56 4.56 7,71

De 2.280.000,01 a 2.400.000,00 4,60 4,60 7,83

C urso m. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

660 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo LXXIII

B o lsa de Estu d o s

731, Treinamento interno. 732. Dúvidas sobre a natureza. 733. Hi­


S u m ário:
pótese de incidência. 734. Conceito legal. 735. Visão doutrinária. 736. Outras
opiniões. 737. Subsídios escolares. 738. Posição do CRPS. 739. Ferramentas de
trabalho. 740. Nível de valor.

De regra, os bens in naturci constituem -se em salário do em pregado. Mas m uitos


deles apresentam características inusitadas, obrigando à perquirição de sua essência
antes de se co n clu ir quanto à integração ou não no salário de contribuição. Interesse
p articular tem q u ando, p o r sua natureza, ficam agregados à pessoa hum ana e per se
dispensam a n atureza substitutiva da prestação. U m deles, a bolsa de estudos.
A Lei n. 9.528/1997 aduziu significativa contribuição à m atéria ao d eterm in ar
não se in teg rar no salário de contribuição “o valor relativo a plan o educacional que
vise ao ensino fu n d am ental e a cursos de capacitação e qualificação profissionais
vinculados às atividades desenvolvidas pela em presa, desde que todos os em pre­
gados e d irigentes tenham acesso ao m esm o ” (letra í do § 9 a do art. 28 do PCSS).
Por o u tro lado, acresceu: “A im portância recebida a títu lo de bolsa de ap ren ­
dizagem garantida ao adolescente até quatorze anos de idade, de acordo com o
disposto no art. 64 da Lei n. 8.069, de 13 de ju lh o de 1990” (letra u).
731. T rein am en to in te rn o — A lgum as em presas, em seu qu ad ro de pessoal,
no desenvolvim ento norm al de seus negócios necessitam c o n tar com em pregados
d o m in an d o am p lam ente língua estrangeira. A tuando p re p o n d era n te m e n te com
corporações de nível elevado, nacionais e m ultinacionais, suas atividades cobrem
tam bém o cam po trib u tário e contábil, exigindo, corolariam ente, o concurso de
técnicos hab ilitad o s em contabilidade, finanças, auditoria, colocação de títulos e
captação de recursos no exterior. Tais profissionais carecem d eter não só o in stru ­
m ental o p eracional indispensável ao bom cu m p rim en to desse espectro técnico.
Sob essa diretriz, a em presa ajusta com os seus servidores, m ediante norm as
intern as, frequência a cursos de línguas, em ho rário n o tu rn o ou em período in­
tegral, realizados n o Brasil ou, preferivelm ente, n o exterior. O aperfeiçoam ento
d epende do grau do estágio dos prestadores de serviço, sobrevindo necessidade de

C urso d l D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 661
atingirem d eterm inadas p ontuações e graus específicos, condição síne qua non para
a ascensão na carreira profissional. A em presa não prescinde de trabalhadores fa­
lando idiom a estrangeiro, m as precisa de especialistas p ensando significativam ente
nessa língua, capazes de m an ter conversação coloquial e de redigir correntem ente
sob gram ática e com unicação com ercial m oderna.
Dã-se o desenvolvim ento do profissional por m eio de extenso program a de
trein am en to padro n izado, a partir de cursos efetivados no exterior ou, q uando aqui
sucedidos, com m aterial didático naquele vocabulário e p erm a n en te avaliação dos
resultados.
O aten d im en to à clientela, a participação real em reuniões, a elaboração de re­
latórios ou planilhas, a rotina e o detalh am en to p ertin en te ao lançam ento de títulos
no exterior, viagens a novos países e o u tras atividades etc., são alguns dos esforços
p erm an en tes desse pessoal qualificado. Do m esm o m odo, a utilização tecnológica
em pregada pela organização internacional requer o con h ecim en to do inglês, pois,
nesse idiom a, tal tecnologia é expressa.
A tualm ente, o conhecim ento do inglês e, verdadeiram ente, o seu com pleto
dom ínio, nesse contexto, é im prescindível à realização pessoal do obreiro, bem
com o su a perfeita interação nos objetivos da em presa. Se não acontece, frustram -se
as intenções dos polos da relação ju ríd ica laborai.
O s cursos custeados pela em presa são oferecidos a em pregados atu an tes na
sua atividade-fim , segundo o nível de fluência m ostrado p o r aqueles. Assim sendo,
os em pregados com m enor nível de con h ecim en to da língua estrangeira d em an­
dam m aior con cen tração no aprendizado da língua.
Tais trein am en to s têm p o r escopo, com o conseqüência, repete-se, propiciar
aos su b o rd in ad o s condições de desenvolvim ento das atividades profissionais da
em presa. O acréscim o intelectual constitui au tên tica ferram enta de trabalho, pois
sem ele seria difícil, se não im possível, o aten d im en to da gam a de serviços ofere­
cidos à clientela.
732. D úvidas so b re a n a tu re z a — Com frequência, na área fiscal, é q u estio ­
nado se o curso de língua estrangeira m in istrad o a em pregados deve ter seu custo
global levado em consideração para efeito de com posição da base de cálculo da
co n trib u ição previdenciária. Se esse acréscim o intelectual-patrim onial é daquele a
ser tido com o integrante do salário de contribuição.
733. H ip ó tese de in cid ên c ia — O fato gerador da exação previdenciária é a
retribuição dos serviços presLados à em presa, p o r parte do em pregado definido no
art. 3 S da CLT, em d ecorrência do co n trato de trabalho, até R$ 4.159,00. Sem lim ite
de valor, para o em pregador (D ecreto-lei n. 2.318/1986).
A base de cálculo da hipótese de incidência do em pregado (e do tem porário,
avulso, dom éstico ou servidor sem regim e próprio de previdência social) é co ­
nhecida p o r salário de contribuição, expressão historicam ente utilizada ora com o
gênero e ora com o espécie da m edida do fato gerador da exação.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

662 W /c íd ã m r N o v a e s M a r t i n e z
O co n ceito é legal e d o u trin ário . C om o se verá, o p en sam en to nacional deve
estu d o ap ro fu n d ad o sobre o lem a. Ju risp ru d e n c ia lm e n te p o u co evoluiu, divergin­
do as decisões ad m in istrativ as e os raros ju lg ad o s no to can te às parcelas in teg ra n ­
tes do m en cio n ad o m o n tan te.
E m bora o D ireito Previdenciário seja au tô n o m o e haja nítida tendência de vir
co n so lid an d o os p ró p rio s in stitu to s ju ríd ico s, afastando-se cada vez m ais do D irei­
to do Trabalho, em razão da teoria ju ríd ica dos regim es contributivos, sofre a in­
fluência d o s ju slab o ristas, em m aior núm ero, afetando o in stitu to e aproxim ando-o
da ideia trab alh ista e de suas elucubrações.
734. C o n ceito legal — Sob o C apítulo IX — Do Salário de contribuição, no
caput do seu art. 28, diz o PCSS: “E ntende-se p o r salário de contribuição: 1 — para
o em pregado e trab alh ad o r avulso: a rem uneração efetivam ente recebida ou cre­
ditada a q u alq u er título, d u ra n te o m ês, em um a ou m ais em presas, inclusive os
ganhos hab itu ais sob a form a de utilidades, ressalvado o disposto no § 8 Q, e respei­
tad o s os lim ites dos §§ 3Q, 4 S e 6 Qdeste artigo”.
O § 2e (salário -m aternidade), o § 7Q (décim o terceiro salário) e o § 8 e (diárias
para viagem ) acrescem esclarecim entos, e o § 8S, na verdade, o § 9°, arrola dez
espécies não integrantes, entre as quais se situa “a im portância recebida a título de
bolsa de co m plem entação educacional de estagiário, q u an d o paga nos term os da
Lei n. 6.494, de 7 de dezem bro de 1977” (letra i).
R estrita ao in fin e (q u an d o paga n o s term os da Lei n. 6.494/1977), ressalta
evidente a in tenção do legislador de sopesar o aprendizado e o aperfeiçoam ento do
obreiro, de estim u lar o seu desenvolvim ento profissional e educacional. A tividades
ínsitas ao Estado, com etidas da m esm a form a ao p articu lar e, então, incentivadas
fiscalm ente (item 42 da Portaria SPS n. 2/1979).
Do art. 28, I, do PCSS avulta fazer parte nuclear do salário de contribuição
a rem u n eração e esta não é concepção em in en tem en te previdenciária, devendo a
descrição legal ser bu scada na legislação laborai e, a do u trin ária, no D ireito do Tra­
balho, com as dificuldades inerentes, dada a sua relevância e os desdobram entos
h istóricos. P rin cip alm ente distingui-la de o u tro s ingressos, caso das m odalidades
in d enizatórias e ressarcitórias de despesas, e de valores decorrentes de convenções
paralelas ao co n trato de trabalho.
No C apítulo II — Da Remuneração, o elaborador da CLT n ão se aven tu ro u a
conceituá-la ou defini-la, lim itando-se a circunscrevê-la.
P o n tu an d o exem plificativam ente, n o seu art. 457 reza: “C om preendem -se na
rem u n eração do em pregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e
pago diretam en te pelo em pregador, com o contraprestação do serviço, as gorjetas
que receb er”. Seus §§ l e (relatando diversas espécies), 2- (ajuda de custo e diárias
para viagem ) e 3 e (gorjeta) ensejam elucidações úteis.
No art. 458, postam -se dados válidos à perquirição: “Além do pagam ento em
din h eiro , co m preendem -se no salário, para todos os efeitos legais, a alim entação,

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o U — P r e v id ê n c ia S o c ia i 663
habitação, vestuário ou outras prestações in natura que a em presa, p o r força do
co n trato ou do costum e, fornecer habitualm ente ao em pregado. Em caso algum
será p erm itid o o p agam ento com bebidas alcoólicas ou drogas nocivas.”
Finalm ente, p o n tu an d o n u clearm en te a questão, aborda o § 2-\ “N ão serão
considerados com o salário, para os efeitos previstos neste artigo, vestuários, equi­
pam entos e o utros acessórios fornecidos ao em pregado e utilizados n o local de
trabalho, para a prestação dos respectivos serviços”.
Sem em bargo de genérico no caput, qu an d o fala em “outras prestações in
natura", tam bém aqui n o § 2e, ao excluir parcelas, refere-se a um difuso “outros
acessórios”. E n tretan to , nesta ú ltim a disciplina, acentua a destinação desses bens
naturais: “utilizados no local de trabalho, para a prestação dos respectivos serviços”,
podendo-se co n clu ir estar-se referindo aos m eios m ateriais (local de trabalho) e
não m ateriais (realização dos serviços).
D eflagrou eno rm e interesse pela distintiva: valor pago para o trabalho ou pelo
Lrabalho. E ntre o u tro s laboristas, desenvolvida p o r Carlos Coelho dos Santos (“A
H abitação ou M oradia no D ireito do Trabalho e o Tratam ento Processual E xistente”,
in Revista LTr n. 48-8/935).
A lista, iniciada com os vestuários, in d u z a linha de raciocínio. São, en tre­
tanto, prestações in natura im prescindíveis ao serviço e, p o r conseguinte, nào se
lim itando à esfera m aterial.
O p eran d o com a regra, pensando m ais na in d u stria e n o com ércio, e m enos na
prestação de serviços, o elaborador da norm a não aludiu expressam ente a valores
intelectuais, mas obviam ente, p o r necessários, em razão da generalidade da lei,
tinha-os em m ente.
Aliás, em vários m o m en to s prestigiou tais benefícios trabalhistas e estim ulou
ou in cen tiv o u a em presa a propiciar, direLamente, os m eios de consecução da se­
guridade social, com o assistência social e à saúde, fundos de pensão, cooperativas,
planos de saúde, clubes patronais, em préstim os subsidiados e m uitíssim as m odali­
dades de salário indireto. D ividiu com o particular as obrigações ínsitas ao Estado.
735. Visão d o u trin á ria — Salário de contribuição, in stitu to pecuniário m ate-
m ático-financeiro, base de aferição da cotização do trabalhador (e fulcro do cálculo
de seus benefícios) e da em presa, é palavra tom ada em sentido genérico, abarcando
a m edida e o fato gerador dos co n trib u in tes. Q uer dizer, pelo m enos, duas en tid a­
des: a) com o com posto (co n teú d o ); e h) im portância do valor (nível).
No bojo das fontes de custeio, por seu papel de expressão m onetária da in ci­
dência da co n tribuição, sobressai a definição de salário de contribuição. Não obs­
tante esse aspecto, h istoricam ente os textos legais conheceram redação singela e,
de certa form a, ainda o têm . A linearidade assinala-se p o r dois m otivos m ínim os: a)
ao referir-se, p u ra e sim plesm ente, à rem uneração, não conceituada em particular;
e b) tendo optado p o r essa solução, rem eter im ediatam ente a in stitu to ju ríd ico não
previdenciário ainda não consolidado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

664 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
F acilm ente fiscalizada pelo em pregado, em pregador e INSS, bem com o p o r
sin d icato s (co n trib u ição ), Caixa Econôm ica F ederal (FGTS) e Receita Federal do
Brasil (Im p o sto de R enda).
Os valores rem u n erató rio s detêm as nuanças da rem uneração, expressão
técnico-jurídica trabalhista designativa de gênero das obrigações laborais e, por
sua vez, espécie do gênero “pag am en to ”, recebidos pelo obreiro em decorrência
do co n trato de trabalho (ao seu lado perfilham os desem bolsos in denizalórios e
ressarcitórios). C om preendem diversas parcelas auferidas, destacando-se, em par­
ticular, o salário, as conquistas sociais e, in cid en talm en te, a gorjeta.
A legislação previdenciária não dispõe de conceito p ró p rio de rem uneração.
Se o possuísse, seria p raticam ente igual ao d esenho trabalhista. O in stitu to ju ríd ico
p erten ce ao D ireito do Trabalho e, evidentem ente, poder-se-ia m odificá-lo a seu
talante e ter-se-ia um a rem uneração previdenciária.
Na verdade, a n o rm a previdenciária disciplina ente específico, o salário de
co n trib u ição , e, com o co m p o n en te central, a rem uneração.
É decisivo d eterm in a r se essa base de cálculo inclui o u não im portâncias não
rem u n erató rias (ru b ricas indenizatórias, ressarcitórias e o u tras m ais). Tal posicio­
n am en to não guard a relação com o direito laborai. Q uando a lei quiser arrolar tais
frações para aten d e r a o u tro s fins, bastará com inar expressam ente.
N ão é só o órgão g esto r da p re v id ê n cia social que ju rid ic a m e n te paga b e­
nefícios. M uitas vezes, a lei delega essa atribuição à em presa e disso é exem plo
clássico os ‘‘p rim eiros 15 d ias”, prestação securitária atribuída ao em pregador, ex
ví do art. 60, § 3S, do PBPS.
P erscrutando-se o crédito contábil ou direito constituído juridicam ente, se os
vários critérios n ão p erm itirem en co n trar a solução final, urge verificar se se ju s ­
tifica a sua su b stitu ição pela prestação previdenciária. M antendo-se o nível de in ­
gressos do ser hu m an o. Exem plifica-se o singelam ente alegado com duas rubricas
m u ito com uns: a) salário-habitação, pagam ento in natura facilm ente convertível
em pecúnia; e com b) verba de representação. Após a aposentação, a pessoa n e­
cessita c o n tar com o valor co rresp o n d en te à prim eira parcela para a m anutenção
do seu patam ar de subsistência. Trata-se de exigência natu ral e do dia a dia. Ao
contrário, n a m aioria dos casos, além de a segunda não ser rem u n erató ria, é dis­
pensável na inatividade.
Avulta-se ainda m ais a finalidade. Repete-se: só tem sentido a exigibilidade se
o n u m erário reclam ado objetivar garantir os benefícios. Isso é essencial à exação
com o um todo; ela é m eio para a execução de u m propósito.
C onsequentem ente, o próprio valor do treinam ento na língua inglesa, particu­
larm ente quando ofertado pelo em pregador sem ônus para o trabalhador, não pode
ser base de cálculo nem fato gerador de obrigação fiscal securitária. Não tem lógica,
quando a prestação aludida na descrição da seguridade social concebida pela CF/1988
é m inistrada diretam ente pela em presa, com ou sem financiam ento direto, subsistir a
obrigação ( “O C om plem ento de Benefícios e o Art. 138 da CLPS”, in RPS n. 98/77).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o tn o I I — P r e v id ê n c ia S o c ia l 665
Além de ex cepcionar o valor co rresp o n d en te às ferram entas de trabalho (letra
o), n o s seus itens p e q, a Instrução N orm ativa SPS n. 2/1994 excluiu do conceito
os benefícios postos á disposição pela em presa, entre os quais a assistência à saúde
(letra í). Na esteira lógica, não só de estim ulá-las e incentivá-las, acostando-se à
determ inação co n stitu cio n al de divisão dos encargos, com o em virtude de posicio­
nar-se diante do escopo exacional da contribuição.
736. O u tra s o p in iõ es — R aram ente a d o u trin a nacional preocupou-se com
pro fu n d id ad e com o tem a, fazendo-o geralm ente en passant. Registre-se a singele­
za das abordagens. Para Feijó Coimbra, “salário de contribuição é a rem uneração
efetivam ente percebida pelo segurado em pregado, a q u alq u er título, com o lim ite
de 20 salários de referência” (“D ireito P revidenciário B rasileiro”, 2~ ed., Rio de
Janeiro: Edições Trabalhistas, 1990, p. 280). Para a definição, além da irrelevância
do nomen ju ris e do lim ite m ensal do salário de contribuição, não é tão som ente a
im p o rtân cia efetivam ente percebida, m as a devida ou a constituída contábil m ente,
m esm o não recebida. O u seja, três m o m en to s econôm icos diferenciados.
M arly A, Cardone o tem com o “a rem uneração efetivam ente percebida, nela
integradas todas as im p ortâncias havidas a q u alq u er títu lo ” ( “P equeno D icionário
de D ireito P revidencial”, São Paulo: LTr, 1983, p. 110). S ubstituindo “im p o rtân cia”
p o r rem uneração ou retribuição, alargou em dem asia o in stitu to , pois em bolsos
ind en izató rio s ou ressarcitórios são im portâncias e, necessariam ente, não fazem
parte da rem uneração nem do salário de contribuição. Aliás, a lei deliberadam ente
excluiu algum as delas (PCSS, art. 28, § 9Q, letras b e c).
Sua visualização peca p o r atrib u ir generalidade ao “q u alq u er títu lo ”, olvidan­
do-se, no ensejo, a razão histórica da locução (antes da LOPS, até 1960, q u an d o ela
com pareceu na legislação pela prim eira vez, os contadores descreviam pagam entos
rem u n erató rio s sob a denom inação de gratificações ou prêm ios espontâneos) e
ela qu erer dizer, se retributivo, não ter significado o no m e escriLural atribuído ao
pagam ento.
Ronaldo Belmonte tem a rem uneração, fu n d am en to nuclear do conceito, com o
“o valor pago ou creditado por um a em presa física o u ju ríd ica (em presa) em tro ­
ca dos serviços prestados p o r u m a pessoa física, em razão de u m contrato verbal
ou escrito ” ( “O brigações das Em presas ju n to à Previdência Social", São Paulo:
LTr, 1996, p. 56). O m érito de ter destacado o fato gerador ser o pagam ento ou o
crédito — em bora se tivesse esquecido do direito — e se lem brado dos sujeitos
passivos restou ligeiram ente em panado pelas lim itações atribuídas à descrição. A
rem uneração deriva do co n trato de trabalho, ideia abrangente por natureza, e não
apenas da prestação de serviços; retribuição desta, na síntese m agnífica de Délio
Maranhão, é o salário, o seu principal com ponente. O co n trato tácito, q uando
perfeitam ente decantado, é suficientem ente válido para caracterizar a hipótese de
incidência salarial ou rem uneratória.
Para Leny Xavier de Brito e Souza, ao largo da conceituação, “Integram o salá­
rio de co n tribuição os ganhos h abituais do segurado em pregado, a qu alq u er título,

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

666 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
desde que sobre o m esm o tenha incidido contribuição previdenciária”, lem brando
in fin e do art. 29, § 3Q, do Plano de Benefícios (Lei n. 8.213/1991) e, possivelm ente,
in sp irad a no art. 201, § 4 g, da C arta M agna, ressaltada a im portância da finalística
da exação (Previdência Social, São Paulo: LTr, 1993, p. 20).
Salário de contribuição, n a ótica de Sérgio Pinío M artins, “é a rem uneração efe­
tivam ente recebida o u creditada, a qualquer título, du ran te o m ês, em um a ou m ais
em presas, inclusive os ganhos habituais sob a form a de utilidades (art. 28,1, da Lei n.
8.2 1 2 /1 99 1 )” (“D ireito da Seguridade Social”, 2® ed., São Paulo: Atlas, 1993, p. 81).
Resta n ítid a a preocupação dos especialistas em focar dois aspectos p o r eles
nem sem pre bem sopesados: a) necessidade im periosa da percepção da im p o rtân ­
cia retributiva; e b) ênfase desnecessária a “q u alq u er títu lo ”.
M ateriais, as associações esportivas, cooperativas de consum o, previdência
privada, clubes, plan o s de saúde gratuitos ou subsidiados, cesta básica, tran sp o rte
cedido to talm en te ou em parte, cessão dos p ró p rio s p ro d u to s a baixo custo, em ­
p réstim o s sob ju ro s irreais, e o u tro s estím ulos de difícil apreensão.
O ra, previdência privada e plano de saúde, além de p ro p ó sito s e objetivos
co n stitu cio n ais da seg uridade social, q u an d o de sua instituição, estão agregados
ao trabalhador, to rn an d o despicienda a incidência de contribuição. São adm itidos
todos os gan h o s se habituais, sejam utilid ad es ou não, se aderíveis aos benefícios
de p agam ento co n tin u ado.
N a exata e m esm a situação, se en co n tram as bolsas de estudos propiciadas
pelo em p reg ad o r ao em pregado, se tal providência é de iniciativa do em pregador e
visa ao aperfeiçoam ento útil para a em presa.
737. S u b síd io s esco lares — O art. 28 do PCSS, em seu § 9 e, diz não integrar
o salário de co ntribuição: “a im p o rtân cia recebida a títu lo de bolsa de com ple-
m entação educacional de estagiário, q u an d o paga nos term os da Lei n. 6.494, de
7 de dezem bro de 1977” (letra 0 - 0 m esm o se via na Instrução N orm ativa SPS n.
2/1994 (item j) .
Via de conseqüência, as dem ais bolsas de estudos incorporar-se-iam àquele
valor.
M ediante diversos procedim entos, a em presa oferece vantagens trabalhistas
ao em pregado na área educacional. C o n stitu em o gênero “bolsas de estu d o s” o
pagam ento de m ensalidades, fornecim ento de livros e m aterial escolar, em prés­
tim os su bsidiados, estágio em estabelecim entos técnicos profissionalizantes e até
universidades n o exterior.
C onsoante a P ortaria MTPS n. 1.002/1967, o estagiário não é em pregado. Nos
term o s do art. 4 e da Lei n. 6.494/1977: “O estágio não cria vínculo em pregatício de
q u alq u er natureza e o estagiário poderá receber bolsa de estudos, ou o u tra form a
de co n trap restação que v en h a a ser acordada, ressalvado o que d isp u ser a legislação
previdenciária, devendo o estu d an te, em q u alq u er hipótese, estar segurado contra
acidentes pessoais”. Igual se colhe na vigente lei do estágio (Lei n. 11.788/2008).

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o U — P re v id ê n c i a S o c ia / 667
Pontuava a P ortaria SPS n. 2/1979: “Não incidem contribuições sobre o valor
da bolsa paga pela em presa a estagiário” (item 42).
De m odo geral, q uando a em presa ressarce despesas com a educação, p ro ­
m ovida p o r iniciativa e às expensas do trabalhador, está am pliando o patrim ônio
deste. Ele deixa de fazer os desem bolsos e isso não passa de salário indireto. À
exceção do d isposto no preceito com entado, persiste a incidência de contribuição
nas dem ais hipóteses.
Tal critério não deve ser co nfundido qu an d o a educação visa ao aprim ora­
m en to do trabalhador, valioso p ara a em presa.
O estu d an te, p ro p riam en te dito, a partir da Lei n. 7.004/1982, foi autorizado
a c o n trib u ir facultativam ente à previdência social. E, desde 25.7.1991, extinto o
Regime de Previdência dos E studantes, a filiar-se com o facultativo.
Em p rim eiro lugar, a disposição de envidar o aperfeiçoam ento profissional e
intelectual do trab alh ador é sua. O investim ento é duplo: da em presa e do em pre­
gado. A política de recursos h u m anos aí p resen te não objetiva apenas a otim iza­
ção das relações laborais, caso da cooperativa, clube, plan o de saúde ou fundo de
pensão. O interesse p recípuo, inserido nas ideias do neoliberalism o econôm ico, é
o em prego do acréscim o cultural nos serviços da em presa; visa ao reto rn o útil ao
trabalho.
Se está diante de adução subjetiva e im aterial, incapaz de ser restituída ou
subtraída; trata-se de incorporação à personalidade e esta p o d erá u tilizar tal pro­
gresso para toda a vida, naquela ou em outra em presa, em diferentes fins. P retender
a inclusão na rem uneração trabalhista ou no salário de contribuição desse valor
corresponde a desejar a agregação de todo crescim ento individual ou profissional
do trab alh ad o r ensejados pela em presa.
Em face da n atu reza atípica desse bem , qu an d o da aposentaçâo, não precisará
o INSS au m en ta r o valor do benefício com vistas a curso de línguas. D iplom ado,
disporá o aposentado, em todo o tem po de sua existência, desse plus pessoal.
Restará, previam ente, aten d id a a natureza sub stitu tiv a da prestação de p a ­
gam ento con tin u ad o . É b em incorporado ao ser hu m an o com o conseqüência do
trabalho e da convivência, estím ulo e gratificação culturais im perdíveis e in su b s­
tituíveis. Não pode ser confundida essa ferram enta com outros incentivos ofereci­
dos pelo em pregador, m esm o q u an d o deseja seduzi-lo. A ssem elha-se à previdência
privada fechada, segurança ou seguridade p o r ocasião da inatividade, bem não
m ensurável econôm ica ou socialm ente.
738. P osição d o CRPS — Q uando da decisão da cobrança adm inistrativa
de débito da Indaru — In d ú stria e C om ércio Ltda., o prim eiro considerando do
relator O ctávio P. M. M acedo, conselheiro representante do G overno F ederal no
CRPS, foi "que o recorrente alega que os cursos que custeia aos seus em pregados
são, em realidade, treinam ento dos m esm os, p o r necessidade da em presa e não
dos em pregados, porém nada traz aos autos para com provar tal alegação”; adm ite,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

668 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
im p licitam ente, a possibilidade de, ao contrário, feita a dem onstração, aceitar-se
com o u tilid ad e (A córdão da 4 â CAj do CRPS n. 3.694/95, in “A córdãos do CRPS”,
Brasília: Ed. ANFIP, 1996, p. 163/65).
C om razão o C o n selh o de R ecursos da P revidência Social q u a n d o d ecid iu
sobre o reem b o lso escolar p ro p icia d o pela Terex do B rasil Ltda. aos em pregados.
E ntre o u tras p o n d eraçõ e s, a trib u in d o ganho da causa à reco rre n te, as razões de
v o tar do re la to r co n selh eiro E dson de Je su s Jin k in g s foram : “C o n sid e ran d o que
os reem b o lso s so m en te foram efetuados n o s casos de cu rso s específicos e co r­
relato s com as ativ id ades exercidas pelos em p reg ad o s da e m p re sa” (A córdão da
2- CAj do CRPS n. 646, de 9.3.95, in “A córdãos do CRPS” , Brasília: Ed. ANFIP,
1996, p. 4 0 3 /4 0 4 ).
739. F e rra m e n ta s d e tra b a lh o — D uas concepções fu ndam entais devem ser
distinguidas: a) cuidar-se de ferram entas de trabalho im prescindíveis ao desenvol­
vim ento d o s serviços necessários ao em pregador; e b) tratar-se d e valores m orais
in tegrados n a p erso n alid ad e do ser hu m an o , de tal form a to rn an d o despicienda
a adição da parcela corresp o n d en te no salário de contribuição, en q u a n to base de
cálculo da exação, e sua repercussão no salário de benefício, na o p o rtu n id ad e da
percepção de p restação de pagam ento co n tin u ad o su b stitu id o ra dos ingressos do
segurado.
Sem descurar, en tretan to , da n atureza, ao m esm o tem po, alim en tar e, p rin ci­
palm ente, su b stitu tiv a do auxílio-doença e das diferentes aposentadorias.
A respeito disso, reza a C onvenção O IT n. 95/1949: “N os casos em que se a u ­
torize o pag am en to parcial do salário com prestações em espécie, devem ser to m a­
das m edidas p ertin en tes para g aran tir que: a) as prestações em espécie sejam ap ro ­
p riadas ao uso pessoal do trabalhador e de sua família e re d u n d em em benefícios
d o s m esm os; b) o valor atribuído a estas prestações seja ju sto e razoável” (art. 4e,
§ 2e).
Desses valores ou dela, se se preferir, não vai ter necessidade q u an d o da apo-
sentação, e nisso reside aspecto n u clear do conceito, ressaltado ad nauseam.
740. N ível de v alo r — F inalm ente, u m a palavra sobre o nível pecuniário do
bem oferecido, na hipótese de vir a ser caracterizado cientificam ente com o u tilid a­
de e, p o rtan to , tido com o rem uneratório.
N o dizer do art. 458, § 1®, da CLT tal p atam ar tem de ser ju sto e razoável.
F irm an d o -se m ajo ritariam ente a d o u trin a no sentido de serem os percentuais de
com posição do salário m ínim o aplicáveis à rem uneração, e não os p ró p rio s valores,
e su b sistin d o referência explícita na CF (art. 7a, IV) à educação, ad argumentan-
d u m , resu lta não ser possível atrib u ir à totalidade das despesas com os cursos even­
tual n atureza de rem u neração e, p o r via de conseqüência, integrar-se no salário de
co n tribuição.

C urso de D ir e it o P
Tom o II — P revidência S o c ia l
r e v id e n c iá r io


Capítulo LXXIV

A porte para EFPC

Sum ário:74 !. Normas vigentes. 742. Hipótese de incidência. 743. Caráter da re­
muneração. 744. Conceito legal. 745. Ótica doutrinária. 746. Ganhos habituais.
747. Salário de contribuição. 748. Essência do valor. 749. Verba de representa­
ção. 750. Identidade com a parte patronal.

O d esp en d id o pelas em presas no oferecim ento de prestações previdenciárias,


assistenciárias ou sanitárias desperta interesse p o r parte dos estudiosos q uando do
exam e do conceito de salário de contribuição. Em razão da proxim idade do co n ­
trato de trabalho e o em pregador patro cin an d o fundo de pensão, p articu larm en te
q uan d o não c o n trib u tó rio o Plano de Benefícios, suscita-se a questão de saber a
natureza do desem bolsado m ensalm ente pela em presa em favor de EFPC, e dos
particip an tes seus em pregados, com vistas ao financiam ento das prestações com -
plem entares.
741. N o rm as v ig en tes — Em seu arl. 2Q, o D ecreto-lei n. 2.296/1986 dispôs:
“As con trib u içõ es efetivam ente pagas pela pessoa ju ríd ic a relativas aos program as
de previdência privada, em favor dos seus em pregados e dirigentes, não são co n ­
sideradas in teg ran tes da rem uneração dos beneficiários para efeitos trabalhistas,
prev idenciários e de co ntribuição sindical, nem integrarão a base de cálculo para
as co n tribu içõ es do FG TS”.
Terceiro regulam ento do PCSS, o D ecreto n. 2.173/1997, em seu art. 37, § 9g,
alínea r, dizia: “Não integra o salário de contribuição o valor da contribuição efe­
tivam ente pago pela pessoa jurídica relativo a program a de previdência com ple­
m entar, aberto ou fechado, desde que disponível à totalidade de seus em pregados
e d irig en tes.”
Esta ú ltim a redação não com parecia no Decreto n. 356/1991 nem no D ecreto
n. 612/1992 (prim eiro e seg u n d o regulam entos do PCSS), e acabou contem plada
na Lei n. 9.528/1997: “o valor das contribuições efetivam ente pago pela pessoa j u ­
rídica relativo a program a de previdência com plem entar, aberto ou fechado, desde
que disponível à totalidade de seus em pregados e dirigentes, observados, no que
couber, os arts. 9Q e 468 da CLT.”

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
O art. 9 e con so lidado cuida da anulação de “atos p raticados com o objetivo
de desvirtuar, im p ed ir ou fraudar a aplicação dos preceitos co n tid o s na presente
C on so lid ação ”, e o art. 468 fala na possibilidade de variação dos contratos.
Os dois textos suscitam a seguinte dúvida: caracteriza-se com o parcela in te­
gran te do salário de co ntribuição o aporte patronal para fundo de pensão instituído
pela em presa, se todos os em pregados e dirigentes não forem tidos com o adm issí­
veis no Plano de C usteio e Benefícios da entidade?
C om a redação da EC n. 20/1998, o art. 202 da CE em seu § 2° determ inou:
“As con trib u içõ es do em pregador, os benefícios e as condições co n tratu ais previs­
tas nos estatu to s, regulam entos e planos de benefícios das en tid ad es de previdên­
cia privada não in tegram o co n trato de trabalho dos particip an tes, assim com o, à
exceção do s benefícios concedidos, não integram a rem uneração dos participantes,
no s term os da !ei”.
Por seu tu rn o , disciplinando o lem a o caput do art. 68 da LC n. 109/2001
pontua: “As co n trib u içõ es do em pregador, os benefícios e as condições c o n tra­
tuais previstos n o s estatutos, regulam entos e planos de benefícios das entidades de
previdência co m p lem en tar não integram o co n trato de trabalho dos participantes,
assim com o, à exceção dos benefícios concedidos, não integram a rem uneração dos
particip an tes”, praticam ente reeditando a norm a constitucional.
742. H ip ó tese de in cid ên c ia — O fato gerador da exação previdenciária é a
retribuição do s serviços prestados à em presa, p o r parte do em pregado definido no
art. 3° da CLT, em decorrência do co n tra to de trabalho, até R$ 4.159,00 (2013).
Sem lim ite de valor, para o em pregador (D ecreto-lei n. 2.318/1986).
A base de cálculo da hipótese de incidência do em pregado (e do tem porário,
avulso, dom éstico o u servidor sem regim e próprio de previdência social) é co ­
n h ecid a p o r salário de contribuição, expressão historicam ente aludida ora com o
gênero, ora com o espécie da m edida do fato gerador da exação.
São co n h ecid o s conceitos legal e d o u trin ário . C om o se verá, o p en sam en ­
to nacional deve estu d o ap ro fundado sobre o tem a. ju risp ru d e n c ia lm e n te , pouco
evoluiu, divergindo as decisões adm inistrativas e os ju lg ad o s n o tocante às parcelas
integrantes do m en cio nado m o n tan te fiscal.
E m bora o D ireito Previdenciário seja au tô n o m o e venha co n so lid an d o seus
in stitu to s ju ríd ico s, afastando-se cada vez m ais do D ireito do Trabalho, a teoria
ju ríd ica dos regim es contrib u tiv o s sofre a decisiva influência dos ju slab o ristas, em
m aior nú m ero , afetando o conceito ora buscado e aproxim ando-o da visão trab a­
lhista e das elu cu b raçõ es inerentes.
F req u en tem en te, “retrib u ição ” é vocábulo ad o tad o com o sin ô n im o de re m u ­
neração. Por vezes, é gênero, com p reen d en d o rem uneração (do em pregado, nos
term o s do art. 47 da CLT), vencim ento (do servidor público, conform e o art. 40
da Lei n. 8 .112/1990) e soldo (do m ilitar).
N a LC n. 84/1996 é com preendida com ou tro significado e, então, referindo­
-se à com pensação graças à genérica pessoa física aludida in fin e do dispositivo.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 671
Sabidam ente, do p o n to de vista técnico-sem ântico, o avulso — dada a sem elhança
com o em pregado, im posta pelo arl. 7Q, XXXIV, da CF — é rem u n erad o e o a u tô ­
nom o recebe honorários.
Q u an d o o PCSS, em seu art. 22, § 2e, diz: “N ão integram a rem uneração as
parcelas de que trata o § 8 a do art. 2 8 ”, aliás, equivocando-se n a rem issão, com o o
faz, o u tra vez, no caput do art. 28, o u tra coisa não q u er senão definir o salário de
co n trib u ição dos trab alhadores subordinados.
743. C a rá te r da re m u n e raç ão — N ossa legislação previdenciária não dispõe
de noção p rópria de rem uneração. Se possuísse, provavelm ente seria praticam ente
igual à descrição trabalhista. Ela pertence ao D ireito do Trabalho e ao D ireito A dm i­
nistrativo. Poder-se-ia m odificá-la e dispor-se-ia de rem uneração previdenciária. A
definição securitária nào precisaria coincidir exatam ente com a ordem trabalhista,
ou o u tra versão, a fo rtiori, com a descrição de salário. Para isso, basta o tipo legal
circunscrever o fato gerador, im p o n d o suas condições. H istoricam ente, tem sido
assim , e, com a Lei n. 5.890/1973, aparentem ente, teria havido tentativa de m odi­
ficar a abrangência para acolher im portâncias não rem uneratórias (sem sucesso),
enfoque a ser apreciado exclusivam ente a p artir de diretrizes previdenciárias.
A rem uneração, no D ireito Previdenciário, q u er dizer co n trap artid a onerosa
em razão do co n tra to de trabalho, distinguindo-se, em particular, de im portâncias
ressarcitórias de despesas e indenizatórias (tu d o com vistas à natureza substitutiva
da prestação previdenciária). A dicção tem escopo particular, divergindo das rela­
ções laborais e da finalística do co n trato de trabalho. Im portâncias ocasionais não
devem ser su b stitu íd as pela prestação previdenciária; p o r via de conseqüência,
não integram o conceito do salário d e contribuição.
744. C o n ceito legal — Em seu art. 2 8 , 1, o PCSS define o salário de c o n trib u i­
ção. Nos §§ 1-/7®, são prestadas m ais inform ações envolvendo o in stitu to técnico.
Seu § 8Q en u n cia com o parcela não in teg ran te (diárias p ara viagem ) e no
seu § 9Qsão elencadas 22 h ipóteses de não incidência, sendo que n a alínea e, nada
m enos do que nove m odalidades de retribuição do trabalho.
A exposição com pleta-se com o art. 214 do RPS, especialm ente o § 99 e as 25
rubricas de não incidência.
745. Ó tica d o u trin á ria — Do art. 28 do PCSS, deflui a concepção íntim a do
conceito. Os elem entos integrantes da definição, presentes no texto legal, p re su ­
m idos ou nele h isto ricam en te im pregnados, são: a) rem uneração, com o núcleo
fu n dam ental; b) destinação da contribuição; c) contraprestatividade, isto é, a ideia
de ser pelo trabalho ou para o trabalho; d) totalidade da im portância; e) nada
significar o título; 0 consum ação do pagam ento; g) integração n o patrim ô n io do
trabalhador; e, finalm ente, h ) origem da retribuição.
Desses itens convém destacar alguns (letras a, b e c). A finalística do aporte é
ressaltada; a co n trib u ição custeia os benefícios socialm ente postos à disposição do
segurado e d ep endente. Não tem sen tid o se o pagam ento assum ido pela em presa é
a p ró p ria prestação previdenciária.

C u r s o d i- D ir r it o P r e v id e n c iá r io

672 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
C om efeito, integram o m encionado salário de co n trib u ição valores rem une-
ratórios, restan d o ex cluídos os pagam entos in denizatórios, ressarcitórios ou não
referentes ao co n trato de trabalho (v. g., co n trato de m ú tu o , de locação etc.). Dele
fazem parte os g an h os habituais, m esm o não rem u n erató rio s (v. g., cessão de d i­
reitos au torais).
Já salientam os: a rem uneração é o núcleo do conceito de salário de c o n trib u i­
ção. Presente desde os p rim ó rd io s da previdência social, foi escolhida para ser a
principal, sen ão a única referência do aporte.
Isso acontece em razão do papel su b stitu id o r da prestação de pagam ento co n ­
tin u ad o. Isto é, ser a retribuição o m eio h ab itu al de subsistência do trabalhador,
precisam ente a co n tingência protegida pelo seguro social. De m odo solar, tam bém
p o r p o ssu ir d im ensão fácil de ser ap u rad a e objeto freqüente de interesse de outras
exações, critério para vários fins sociais e parâm etro de inúm eros deveres e ônus,
direitos e vantagens. F acilm ente fiscalizada pelo em pregado, em pregador e INSS,
bem com o p o r sin d icatos (co n trib u ição ), Caixa E conôm ica F ederal (FGTS) e Re­
ceita F ederal do Brasil (Im posto de R enda).
Todas as im p o rtâncias re m u n erató rias detêm n u an ças da rem uneração, ex­
pressão técn ico -ju ríd ica trabalhista designativa de gênero das obrigações laborais
e, p o r sua vez, espécie do gênero “pag am en to ”, recebido pelo obreiro em decor­
rência do co n trato de trabalho. Ao seu lado perfilham o u tro s desem bolsos, entre
os quais os in d en izatórios e os ressarcitórios.
C om p reen d em diversas parcelas auferidas, destacando-se, em particular, o
salário.
A n o rm a previdenciária disciplina ente específico, o salário de contribuição,
e, com o co m p o n en te central, a rem uneração.
É decisivo d eterm in ar se essa base de cálculo in clu i ou não im portâncias não
re m u n erató rias (ru b ricas indenizatórias, ressarcitórias e o u tras m ais). Tal posicio­
n am en to não guarda relação com o direito laborai, Q u ando a lei q u iser arrolar tais
frações para aten d e r a o u tro s fins, bastará prescrever expressam ente.
Uma definição previdenciária de salário d e contribuição não tem de coincidir
exatam ente com a o rdem trabalhista, ou o u tras, de rem uneração ou, a fo rtio ri,
com a descrição de salário. Para isso, é necessário o tipo legal circunscrever o fato
gerador, im p o n d o su as condições.
Interessam so m ente os b en s incorporáveis ao p atrim ô n io da pessoa, sejam
m ateriais ou intelectuais, a serem su b stitu íd o s pela prestação previdenciária.
Sopesam os as p rincipais características do salário de co n trib u ição , com o a
subm issão à técnica protetiva, im peratividade legal, natureza fiscal, procedência
laborai, h ab itualidade, in corporação ao patrim ônio, lim itação, cognoscibilidade,
irrelevância do títu lo , in dependência de condição e, em especial, a natureza su b s­
titutiva e a destinação dos aportes (in “C om entários à Lei Básica da Previdência
Social”, 2- ed., São Paulo: LTr, 1996, Tomo I, p. 173/286).

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo II — P revidência S o c ia l
673
C om põe o salário de contribuição o n u m erário substituível pela m ensalidade
do benefício de p agam ento continuado. N em todas as im portâncias rem unerató-
rias integram -no. A co n tribuição destina-se socialm ente à obtenção dos recursos
necessários á consubstanciação dos benefícios. Se não há prestação considerada em
vista, inocorre a exigibilidade.
Por isso, a licença rem unerada, com plem ento do auxílio-doença ou da ap o ­
sentadoria p o r invalidez, financiada diretam ente pela em presa, não faz parte da
definição. É o p ró p rio benefício previdenciário.
Não só o órgão gestor da previdência social juridicam ente paga benefícios. M ui­
tas vezes, a lei delega essa atribuição à em presa e disso são exem plos clássicos os
“prim eiros 15 d ias”, prestação securitária atrib u íd a ao em pregador, ex vi do art. 60,
§ 3e, do PBPS. C onsentânea com essa linha de raciocínio, diz a Form ulação IAPAS/
SAF n. 18, de 15.7.1982: “Assunto: C om plem entação do Auxílio-Doença. Não inci­
dência de contribuições — Não cabe incidência de contribuição previdenciária sobre
o pagam ento, pela em presa, da diferença entre a im portância do auxílio-doença e o
da licença rem unerada a que o segurado tiver direito, na form a prevista no parágrafo
único do art. 33 da CLPS, expedida pelo Decreto n. 77.077, de 24 de janeiro de 1976.
A com plem entação do auxílio-doença não desfigura o caráter das licenças concedidas
ao segurado de acordo com o art. 476 da C onsolidação das Leis do Trabalho, dado
não recair sobre a rem uneração, m as sim sobre o benefício previdenciário” (Parecer
CJ/MPAS n. 016/1981, in Processo MPAS n. 014.869/80-1APAS n. 1.025.951/1980).
C ircunvizinha do tem a, à m esm a conclusão chegou M aria W ilm a de A. S. Re­
zende, da C onsultoria-G eral do M inistério da Previdência Social — MPS, q uando
decidiu pela não incidência de contribuição sobre o aten d im en to à saúde, ofereci­
do pela em presa (P arecer CJ/MPS n. 141/1991). N ão ignorava tratar-se de ganho
habitual, m as considerou o fato de se trata r de prestação securitária antecipada
pelo particular.
Igual pen sam en to acom p an h o u o ju iz Rei. M urat Valadares (Processo n. 11.280,
da 4® Turma do TRF de M inas Gerais, na Apelação Cível n. 1989.01.00361.9/MG,
in R epertório IOB de Ju risp ru d ê n cia da 2- q u inzena de m aio de 1990).
N as du as co n ju n tu ra s reproduzidas, a em presa sub-rogou-se no dever do Es­
tado de m in istrar a seguridade social. E, p o r via de conseqüência, não se justifica
tal oferecim ento vir a se c o n stitu ir em hipótese de incidência da exação previden­
ciária. Faz parte in teg rante da natureza da contribuição a sua finalística. A tendido
d iretam ente o objetivo da previdência social, em condições ideais, dada a p ro x im i­
dade gerada pelo co n trato de trabalho, entre quem enseja a proteção e o protegido,
não tem cabim ento subtrair-se do p ró p rio m o n tan te parcela a ser utilizada na sua
consecução. N ão respeita a lógica sedim entadora da co n stru ção do ordenam ento
científico da seguridade social; p o rtan to , tal raciocínio deve ser estendido (e esti­
m ulado) a todas as prestações laborais com cunho previdenciário, principalm ente
qu an d o , caso da consulta, o acréscim o operado fica fazendo parte indissociável da
pessoa h u m an a e p o d er ela, todo o tem po, c o n tar com ele.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

674 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
746. G a n h o s h a b itu a is — O conceito de salário de contribuição restou m ais
com pleto com a inserção constitucional: “O s ganhos h abituais do em pregado, a
q u alq u er títu lo , serão in co rp o rad o s ao salário para efeito de contribuição previ­
denciária e co n seq ü en te repercussão em benefícios, nos casos e na form a da lei”
(art. 201, § l f ) .
A lei é o PCSS (Lei n. 8.212/1991); seus excessos foram considerados, par­
ticu larm en te a restrição operada pelo caput do art. 28 ( “A S eguridade Social na
C o n stitu ição F ed eral”, 2- ed., São Paulo: LTr, 1992, p. 132/145).
O fin al do d isp o sitiv o c o n stitu c io n a l ( “c o n se q ü e n te re p erc u ssã o em b e n e ­
fício s”) traz à tona a discussão do tem a central da consulta. A A ssem bleia N acional
C o n stitu in te quis in tegrar no salário d e contribuição valor adicionável ao benefício
e, d estarte, fixando-se n u m a correlação entre um a e o u tra entidade.
747. S alário de co n trib u içã o — Para a definição, além da irrelevância do
nomen juris e do lim ite m ensal do salário de contribuição, não é tão som ente a
im p o rtân cia efetivam ente percebida, m as a devida ou a co n stitu íd a contabilm ente,
m esm o não recebida. O u seja, três m o m en to s econôm icos diferenciados.
Farid Salomão José acom p an h o u essa ótica linear: “O salário de contribuição
com preende: a) a rem uneração efetivam ente recebida a q u alq u er título até o lim ite
m áxim o de 20 vezes o salário m ín im o ”, igualm ente d esnecessariam ente centrado
no lim ite pecu n iário do valor, m edida não integrante da definição (“C om entários
Práticos à CLPS”, 4- ed., São Paulo: LTr, p. 108).
Rosni Ferreira dita: “É a rem uneração efetivam ente recebida ou creditada a
q u alq u er títu lo , inclusive os ganhos h abituais sob form a de u tilidades, n ão p o d en ­
do ser m en o s que o salário m ínim o m ensal, e o m áxim o de C r$ 170.000,00 (cento
e setenta mil cruzeiro s), reajustados a p artir de 1Q de agosto de 1991, na m esm a
época e com os m esm os índices que os do reajustam ento dos benefícios de p resta­
ção co n tin u ad a da P revidência Social” ( “Guia P rático de Previdência Social”, São
Paulo: LTr, 1993, p. 61).
M ozart Victor Russomano ( “C om entários à CLPS”, São Paulo: Revista dos Tri­
b unais, 1977, p. 373) não quis desto ar da m aioria: “A CLPS, para reforçar esse
en ten d im en to , referiu-se, latam ente, à rem uneração, esclarecendo q u e nela se in ­
cluem todas as qu an tias efetivam ente recebidas pelo segurado, a qualquer título"
(grifos do original).
748. E ssên cia d o v alo r — O fato gerador da contribuição do em pregado é
o direito, o crédito ou o pagam ento da rem uneração, nas duas circunstâncias ex­
cepcionais anteriores, não sendo relevante tenha havido efetivam ente o em bolso
p o r parte do trabalhador. Igualm ente, po u co ou n en h u m significado tem o nom e
escritu rai ou contab ilm ente atribuído à quitação; interessa sua natureza ju ríd ica
trabalhista, de rem u neração ou ganho habitual capaz de efeitos no D ireito Previ­
denciário, em razão da natureza sub stitu tiv a da prestação.
C onform e an tecipado, a insistência dos autores em m encionar os ganhos h a­
bitu ais sob a form a de utilidades tam bém m ereceu reparos o p o rtu n am e n te consig­

C ürso r>n D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l
675
nad o s (“C ondições para que os pagam entos in natura sejam excluídos do salário
de co n trib u ição ”, in Supl. Trab. LTr n. 67/77 e “Os ganhos h abituais no salário de
con trib u ição ", in RPS n. 98/3).
A Lei n. 8.212/1991, no caput do art. 28, ao se referir às u tilidades, restringiu o
com ando do então art. 201, § 4 Q, da CE R epete-se, a Lei M aior fala em “ganhos h a ­
b ituais do em pregado, a qu alq u er título, serão in co rp o rad o s ao salário para efeito
de co n tribuição previdenciária e co n seq ü en te repercussão em benefícios, nos casos
e na form a da lei” (grifos nossos).
São ad m itid o s todos os ganhos se habituais, sejam utilidades o u não, se aderí-
veis aos benefícios de pagam ento co n tin u ad o . O ra, previdência privada e plan o de
saúde, além de p ro p ó sito s e objetivos constitucionais da seguridade social, quando
de sua instituição, agregam -se ao trabalhador, to rn an d o despicienda a incidência de
contribuição.
Não d escu ran d o , en tretan to , ao m esm o tem po, da natureza alim entar e, p rin ­
cipalm ente, su b stitu tiv a do auxílio-doença e das diferentes aposentadorias.
Arnaldo Süssekind, Délio Maranhão e José de Segadas Vianna com entam: Em face
do estatuído n o parágrafo único do art. 458 da Consolidação, para que determ inado
fornecim ento seja considerado com o salário-utilidade, faz-se m ister que não tenham
p o r fim a sua utilização no local de trabalho para a prestação dos serviços contratados”.
Eles acrescem : “E que, n este caso, a utilidade co n stitu i um m eio necessário
ou co n veniente para a execução dos serviços e não um re n d im en to do em pregado
proveniente do trabalho realizado; equipara-se aos m aq u in ism o s e in stru m en to s
de trabalho, indispensáveis ao fu n cionam ento da em presa, não p odendo, conse-
guin tem en te, su b stitu ir, com o utilidade vital para o trabalhador, o salário a que faz
jus pela prestação dos serviços co n tra tad o s” (“Instituições de D ireito do T rabalho”,
Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1955, vol. I, p. 385).
Na m esm a linha de raciocínio M ozart Victor Russomano: “N ão se considera
salário, apenas, as u tilidades fornecidas ao em pregado para uso de serviço e não
se adm ite o fornecim ento ao trabalhador de tóxicos e bebidas alcoólicas. O eq u i­
pam en to necessário à prestação do trabalho corre à conta da em presa, que é quem
dirige o serviço e sofre seus riscos. As u tilidades salariais, p o rtan to , são aquelas que
se destinam às necessidades individuais do trabalhador, e não, às necessidades do
serviço aproveitado pela em p resa” ( “C om entários à CLT”, Rio de Janeiro: Revista
dos Tribunais, p. 461).
739. Verba d e re p re se n ta ç ã o — Amauri Mascaro Nascimento, su m arian d o a
opinião da d o u trin a laborai, entre os quatro critérios legais d o u trin ário s eleitos,
tem bem assinalado o “aten d im en to às necessidades individuais do trabalhador e
não às necessidades do serviço” ( “M anual do Salário’ , São Paulo: L lr, 1984, p. 219).
Ele estabelece distinção válida no respeitante à verba de representação, o u tra
utilidade necessária ao trabalho, co nsiderando-a não salarial nem rem uneratória.
A “verba de representação, em princípio, não é salário; é um a indenização nos
m oldes das d iárias” (ob. cit., p. 63).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

676 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
T ratando especificam ente da área da controvérsia, garante: “Não integram o
salário as indenizações, inclusive as diárias e ajud as de custo, os benefícios e com -
p lem entações previdenciárias, os recolhim entos sociais e parafiscais, os pagam en­
tos de d ireito s in telectuais e outros pagam entos não considerados salários p o r lei”
( “C urso de D ireito do T rabalho”, 9â ed., São Paulo: Saraiva, 1991, p. 435).
Pode ser h ab itu al e ganho do em pregado, pois se dispensa um pouco de a d ­
q u irir ro u p as ou gastar em hotéis, festas e presentes, sem pre a serviço da em presa,
e, nessas condições, acréscim o pessoal em parte incorporável a sua personalidade,
m as não in teg ran te da definição do salário de contribuição previdenciário.
750. Identidade com a parte patronal — Exigir co n tribuições sobre a partici
pação da p atro cin ad o ra no financiam ento das despesas da entid ad e de previdência
privada, aberta o u fechada, eqüivaleria a reclam ar co n tribuições da em presa sobre
a p arte p atro n al (20% ), prevista no art. 22 do PCSS.

C urso de D ir e it o P r e v íd e n c ia r ío

Tom o U — P revidência S ocial 677


Capítulo LXXV

C lubes de Fut ebol

S um ário:751. Notas introdutórias. 752. Substituição da parte patronal. 753. Al­


terações na Legislação. 754. Superveniência da Lei n. 5.939/1973. 755. Validade
da lei. 756. Advento da Lei n. 8.641/1993. 757. Regulamento do Custeio. 758.
Revogação pelo PCSS. 759. Automobilismo e para-quedismo. 760. Hipótese de
incidência.

Até sed im entar-se com as inovações in tro d u zid as pela Lei n. 9.528/1997, a
legislação sobre a obrigação de as associações esportivas futebolísticas re co lh e­
rem a co n trib u ição p revidenciária sofreu várias alterações, m erecendo exam e em
particular.
751. N o tas in tro d u tó ria s — A p artir de 1973, a legislação laborai e previden­
ciária relativa aos trabalhadores em associações desportivas loi alterada pela Lei n.
5.939/1973, regulam entada pelo D ecreto n. 77.210/1976 (art. 6S). Elas integram
o Sistem a D esportivo N acional, ex vi da Lei n. 6.251/1975. A Lei n. 6.629/1975
in stitu iu assistência co m p lem en tar ao atleta profissional e foi regulam entada pelo
D ecreto n. 77.774/1976. A relação laborai do futebolista, em particular, foi regrada
pela Lei n. 6.354/1976.
Em term os ad m inistrativos, foi regulada pela O rdem de Serviço IAPAS/SAF n.
029.25/1977. A p artir de 1Q.9.1989, vigeu a Lei n. 7.787/1989, na qual se dispunha:
“O s clubes de futebol profissional co n trib u irão com 5% do total de sua receita b ru ­
ta, sem prejuízo do acréscim o para financiam ento das prestações p o r acidentes do
trab a lh o ” (art. 5Q). D ispõem , ainda, sobre o assunto o PCSS e o RCPS e, em nível
adm inistrativo, as F orm ulações IAPAS/SAF ns. 9 /Í9 8 0 , 34/1980 e 16/1981.
752. S u b stitu ição d a p a rte p a tro n a l — Em especial, com vigência a partir de
l s 2 .1976, os clubes de futebol profissional e as associações equiparadas foram o b ri­
gados a efetuar o recolhim ento apenas das contribuições descontadas dos em prega­
dos e da taxa referente ao seguro de acidente do trabalho, ficando à C onfederação ou
Federação o dever de recolher o percentual de 5%, com o parte patronal dos clubes.
Isto é, su b stitu iu -se a fração em presarial, referida no art. 22 do PCSS, de 20%
d o s salários de contrib u ição, sem lim ite de valor desde o D ecreto-lei n. 2.318/1986,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

678 W l a íi i m ir N o v a e s M a r t i n e z
cifrada à rem u n eração dos segurados, p o r um a parte fixa de 5% da ren d a dos espe­
táculos. A p arentem ente, o G overno F ederal p reten d eu alcançar dois objetivos: a)
estim u lar o esp o rte n acional (tricam peão m undial de futebol em 1970); e b) to rn ar
m ais realizável a receita previdenciária, definindo novo sujeito passivo.
Com eficácia a p a rtir de 22.9.1991, o PCSS alterou a redação da Lei n. 5.939/
1973, passando a exigir os m en cio n ad o s 20%.
753. A lterações n a legislação — A Lei n. 8.641/1993 novam ente m odificou a le­
gislação sobre o tem a, fixando em 5% da renda bruta dos jogos de futebol profissional
(art. I 9). E, im portante, em seu § 4° colhe-se: “As dem ais entidades desportivas de
que tratam as Leis n. 5.939, de 19 de setem bro de 1973, e n. 6.251, de 8 de outubro de
1975, continuam a recolher suas contribuições na forma estabelecida para as em pre­
sas em geral, segundo as disposições da Lei n. 8.212/1991, e legislação subsequente”.
R egulam entando-a, o D ecreto n. 832/1993 define clube de futebol profissio­
nal com o aquele filiado à F ederação E stadual (art. 2S, § l 9). Silenciou qu an to às
dem ais associações desportivas. A O rdem de Serviço INSS/DAF n. 77/1993 reedita
os dizeres do § 4 Qdo art. l e da Lei n. 8.641/1993 (item 10).
754. Superveniência da Lei n. 5.939/1973 — A Lei n. 5.939/1973 sobreveio
após a Lei n, 5.890/1973, e esta últim a havia procedido a significativas alterações
na LOPS, a m aior m udança desde o D ecreto-lei n. 66/66, obrigando ao advento do
RRPS (D ecreto n. 72.771/1973). O Brasil se havia sagrado Tricam peão do M undo no
M éxico, e o Sr. P residente da R epública, p o rtan d o a Bandeira N acional às portas do
Palácio do Planalto, com em orou com júbilo; ele havia previsto o resultado do jogo
final co n tra a azzurra: Brasil 4 x 1 . G ostava de lutepédio, e se entusiasm ou com a
hipótese de o u tros esportes levarem o nom e do País aos quatro cantos do planeta.
Os clubes de futebol, a exem plo das prefeituras m unicipais, em respeitável
n ú m ero , aí in clu íd as representações nacionais de renom e, nem sem pre ho n raram
os co m prom issos fiscais para com a previdência social.
A p rin cip al fonte de receita da época, o resultado financeiro na cobrança dos
ingressos (a p u b licid ade nos estádios e pagam entos da TV não eram tão desenvol­
vidos), a ren d a dos espetáculos realizava-se in loco.
Essa iniciativa do Poder Executivo visou, em prim eiro lugar, ã realização da re­
ceita, e prova disso foi a translação do sujeito passivo da obrigação: do filiado para o fi-
liante (Federação responsável e Confederação corresponsável), pois de nada adianta­
ria m u dar a hipótese de incidência (passando da folha de pagam ento para a renda dos
jogos) se a posse dos valores continuasse nas m ãos de associações não interessadas
em cum prir suas obrigações fiscais. Feitas contas prelim inares, 5% da renda, realizado
incontinenti, superaria a im provável parte patronal da folha de pagam ento. Pensou­
-se, prim eiro, na previdência social e, em segundo lugar, nos esportes olímpicos.
Todavia, ressalta-se, para boa com preensão do assu n to , a mens legislatoris é
pouco relevante dian te da mens legis, e esta deve ser perquirida. A em enta da Lei
n. 5.939/1973 dizia: “d ispõe sobre a concessão de benefícios pelo INPS ao jo g ad o r
p rofissional de futebol, e dá o u tras providências”.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P revidência S o c ia l
679
N o seu art. 2B rezava: “Em su bstituição à contribuição em presarial prevista no
item III, do art. 69, da Lei n. 3.807, de 26 de agosto de 1960, incidirá sobre a renda
líquida dos espetáculos realizados em todo o território nacional entre associações
desportivas, u m a percentagem de cinco p o r cento devida pelos clubes com o co n ­
tribuições previdenciárias, global e exclusiva e que será recolhida d iretam en te ao
Institu to N acional de Previdência Social pela Federação pro m o to ra da partida, até
quaren ta e oito horas após a realização do espetáculo”.
Em bora a descrição do destinatário per se fosse genérica (associação desportiva),
no § 19 estendia o regime às “associações desportivas, que m antenham departam entos
am adoristas dedicados à prática de, pelo m enos, três m odalidades de esportes olím pi­
cos, estão incluídos”. C onclusão derivada dos dois textos indicava a possibilidade de
o grupo original não praticar, necessariam ente, os três esportes olímpicos. Ter m en­
cionado outros em preendim entos, no § 1°, depois da referência genérica “associações
desportivas" e com vistas à redação da em enta da lei, dá a im pressão de esse § 1Qter
sido produto de em enda quando da tram itação do Projeto de Lei.
T ratando do assu n to, a F orm ulação IAPAS/SAF n. 9/1980 rezava: “Assim, para
o en q u ad ram en to na form a do § l 9 do art. 2e da Lei n. 5.939/1973, é necessário
que as associações desportivas, além da prática de, pelo m enos, três m odalidades
de esporte olím pico, aufiram renda dos certam es em que participem . De o u tra for­
ma, em lugar da su b stitu ição do regim e de custeio previsto na referida Lei, haveria
era isenção da co n trib u ição em presarial” (P arecer PGC n. 144/1980 — Processo
IAPAS n. 1.024.934/1980, de interesse de Brasília M otonãutica C lube).
755. V alidade da lei — A contribuição da em presa, a co n tar de 22.9.1991,
nos term os do art. 22, 1 e II, da Lei n. 8.212/1991, foi disciplinada com o sendo
20% da rem u neração dos segurados a seu serviço. Deflagrava polêm ica sobre a
natureza ju ríd ica da Lei n. 5.939/1973 e sua eficácia diante de lei orgânica e geral,
com o a Lei n. 8.212/1991, prin cip alm en te à vista do seu art. 105: “Revogam -se as
disposições em co n trá rio ”.
No passado, ponderam os: “A validade da Lei n. 5.939/1973 é objeto de co n ­
sideração assem elhada, pois a regra geral do art. 22 da Lei n. 8.212/1991. conflita
com a p articularidade da Lei n. 5.939/1973. P rim eiro, é preciso e n ten d e r a n a tu re ­
za desta últim a lei. Ela m odificou a base de cálculo e a taxa da parte patronal das
associações desportivas, m as nem por isso é lei especial; assim , era despicienda
m enção expressa para revogá-la. R estou su b stitu íd a p o rq u e a m atéria foi in teira­
m ente revista e disciplinada sistem aticam ente”.
756. A dvento d a Lei n. 8 .6 4 1 /1 9 9 3 — Eventual dúvida q u an to a essa in ter­
pretação desapareceu com a edição da Lei n. 8.641/1993. Ela, particularizanclo e
referindo-se apenas aos clubes de futebol, estabeleceu o m ecanism o de su b stitu i­
ção da incidência sobre a folha de pagam ento por incidência sobre o faturam ento
(receita b ru ta).
No dizer do art. I 2, § 4 Q: “As dem ais entidades desportivas de que tratam as
Leis n. 5.939, de 19 de setem bro de 1973, e n. 6.251, de 8 de o u tu b ro de 1975, co n ­

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

680 W la d im lr N o v a e s M a rtin e z
tinuam a reco lh er suas co ntribuições na form a estabelecida para as em presas em
geral, segundo as disposições da Lei n. 8.212, de 1991, e legislação su b seq u e n te”.
757. R eg u lam ento do C u ste io — Assim , o d isposto n o art. 29 do R egulam en­
to do C usteio era m era contribuição d o u trin ária do P oder E xecutivo, m as desejou
o m esm o efeito revogador. De qu alq u er form a, não poderia d erro g ar lei ordinária.
Essa revogação da Lei n. 5.939/1973 pela Lei n. 8.212/1991 é im plícita, por
ter regulado in teiram ente a m atéria e ser su p erv en ien te e superada. Inexistiu re ­
vogação expressa.
No p ertin e n te à área da controvérsia — e controvérsia habemus! — , a Lei n.
8.641/1993 é sistem aticam ente interpretativa, q u er p ô r fim à dúvida, e, p o r isso,
não revogou expressa n em im plicitam ente a Lei n. 5.939/1973, apenas a decla­
rou revogada pela Lei n. 8.212/1991. O m esm o efeito é possível encontrar-se na
extinção da eficácia do D ecreto-lei n. 1.572/1977 (p u n h a fim às entidades de fins
filantrópicos); a Lei n. 8.212/1991, revogando-o, restabeleceu — sem efeito repris-
tínatório — a situação anterior.
758. R evogação pelo PCSS — N osso ord en am en to só tem um a lei revoga-
dora. A revogação ú nica e válida é a da Lei n. 8.212/1991. Ela en tro u em vigor em
25.7.1991 e teve eficácia, em m atéria de custeio, em 22.9.1991, isto é, 90 dias d e­
pois. G enerosam ente, o D ecreto n. 356/1991 deferiu o prazo para l e.l 1.1991. Fez
em baixada com ch ap éu alheio e erran d o , pois sua publicação é de 7.12.1991 (sic),
q u an d o ven cid o o p razo para recolhim ento da com petência novem bro de 1991,
equívoco corrigido p o r portaria m inisterial subsequente.
O Decreto n. 356/1991 e sua reedição, o Decreto n. 612/1992, discordam do tex­
to da Lei n. 5.939/1973, mas quando editados esta últim a não tinha força vinculante,
valendo a Lei n. 8.212/1991. Destarte, não eram legais, m ais isso pouco im porta.
759. A u to m o b ilism o e p a ra q u e d ism o — A Lei n. 6.251/1975, sem ser in ­
co n stitu cio n al, ex cluiu três atividades n itid a m e n te esportivas do Sistem a D es­
portivo N acional, provavelm ente a ten d e n d o a lobby dos interessados: au to m o ­
bilism o e p araq u ed ism o (art. 2B, § 2B) e, destacadam ente, o turfe (D ecreto n.
8 4 .3 9 5/1 9 8 0 ), razão pela qual a F orm ulação IAPAS/SAF n. 2, de 16.11.1979, ex ­
cluiu as en tid ad es turfísticas da Lei n. 5.939/1973 (P arecer PGC n. 106/1979, in
Processo 1APAS n. 1 .008.679/1978).
760. H ip ó tese d e in cid ên c ia — Revogada a Lei n. 5.939/1973, com o q u er o
Decreto n, 356/1991, em 31.10.1991, com pelidos a pagar com o em presas com uns,
os clubes não têm legítim o interesse de agir.
Se recolheram a contribuição patro n al a p artir de l e. l 1.1991, falta-lhes p ro ­
priedade para p ed ir restituição e, na hipótese de procederem à com pensação, terão
de se h aver com as Leis ns. 9.032/1995 e 9.129/1995,
A Lei n. 5.939/1973 pressupõe o espetáculo e, p o r via de conseqüência, a
renda deste. Não fixa valor m ínim o ou m áxim o, não obriga os clubes a cobra­
rem ingresso, m as, se havia espetáculo e renda, estavam presentes os pressupostos
lógicos para a exigibilidade. Mas isso não se confunde com as condições para a

C urso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / / — P r e v id ê n c ia S o c ia l 681
substitu ição , pois quem prom ovia espetáculos desportivos, cobrando legitim a­
m ente ingressos, sem aten d er a outros requisitos (v. g., praticar três esportes o lím ­
picos), não poderia fazer a su bstituição da base de cálculo.
Não há na n o rm a n ú m ero m ínim o de assistentes ou valor da renda. N ão tem
sentido qu alq u er exigência do INSS, se o jogo aconteceu em condições norm ais,
exatam ente iguais às anteriores da concessão fiscal (se o esporte, caso do voleibol,
não desp erto u interesse m aior dos torcedores).
As expressões “global” e “exclusiva”, constantes do art. 2° da Lei n. 5.939/1973,
referindo-se à co n trib u ição previdenciária, significam não haver o u tra, restando
excluída a incid en te sobre a folha de pagam ento e ser total. A crescida a descontável
e, não a descontada, dos trabalhadores (atletas ou não) e a p ertin en te aos acidentes
do trabalho.
Essa locução “exclusiva” im plica a ideia de substituição; se a associação des­
portiva ap o rta os 5% em term os form ais regulares nào tem de cotizar a co n trib u i­
ção in cid en te sobre a folha de pagam ento. A exclusividade diz respeito à parte
patronal, não q u er d izer desobrigada da o u tra fração (descontável e seguro de
acidentes do trabalho).
N a Lei n. 5.939/1973, subsiste exem plo de co n trib u in te m ediato (o torcedor),
o c o n trib u in te de fato (o participante da com petição, n u m a últim a palavra, o res­
ponsável pela renda, v. g., Sociedade E sportiva Palm eiras) e o co n trib u in te de di­
reito. Sujeito passivo da obrigação é a federação estadual pro m o to ra do espetáculo
e não os clubes p articipantes. M as, à evidência, aquela deduzirá, à boca do cofre, o
n um erário co rresp o n d en te antes de pagar os com petidores.
Se não há ren d a não se realiza a hipótese prevista pelo legislador, pois a trans-
lação da base de cálculo (e a p ró p ria responsabilidade fiscal) só acontece em p arti­
das em q u e cobrados ingressos, e estes p ressupõem público assistente. Restabelece­
-se a situação anterior, os dois participantes do espetáculo têm de recolher com
base na folha de p agam ento em relação àquela partid a, isto é, proporcionalm ente,
se no m esm o m ês tiveram eventos com público.
No Sistem a D esportivo N acional, as confederações e federações detêm o poder
de fixar a obrigação do ingresso e determ inar-lhe o preço. U m a associação despor­
tiva, não p erten cen te à federação, porém , poderá d esc u m p rir essa determ inação.
Os dizeres do art. 2° da Lei n. 5.939/1973 com portam dúvidas. A contribuição
de 5% destina-se exclusivam ente à substituição da parte patronal, não alu d in d o aos
terceiros. N os term os da O rientação de Serviço IAPAS/SAF n. 150/1988, ficaram
obrigadas ao SESC (1,5% ), ao Salário-E ducação (2,5% ) e ao INCRA (0,2% ), to ta ­
lizando 4,2%. Tal conclusão proveio do P arecer CJ/MPAS n. 24, de 27.7.1987, por
solicitação do Sindicato dos E m pregados em C lubes E sportivos e em Federações/
RS (Processo 1APAS n. 35.000.010.309/1986). Q u an do a Lei n. 5.939/1973 falou
em “co ntribuição em presarial prevista no item III do art. 69, d a Lei n. 3.807, de
26 de agosto de 1960”, estava referindo-se à parte p atro n al da contribuição previ­
denciária, não in clu in d o outras, com o os cham ados “terceiros”. Estes continuaram
exigíveis e aco m p an h an d o o descontado e o seguro de acidentes do trabalho.

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

682 W l a d i m i r N o v a e s M a r íin tr z
Capítulo LXXVI

D é c im o T e r c e ir o

Sum ário:761. Origem do problema. 762. Prescrições incidentes. 763. Posição


do regulamento. 764. Ausência de limite. 765. Lei n. 7.787/1989. 766. Abono
anual. 767. Decreto n. 356/1991. 768. Separação dos valores. 769. Desde janeiro
de 1992. 770. Delegação da lei.

Segundo a legislação previdenciária, o décim o terceiro salário integra o salário


de co n trib u ição , m as ela tam bém lim ita a base de cálculo a d eterm in ad o valor, des­
de jan eiro de 2013 em R$ 4.159,00. Segundo o INSS, o em pregador deve operar a
aferição to m an d o a gratificação de N atal, em separado, resu ltan d o , no m esm o mês
(da rescisão do co n trato de trabalho ou em dezem bro), co n trib u ir sobre a rem u n e­
ração n o rm al a gratificação natalina.
761. O rig em do p ro b lem a — Assim, em face do lim ite do salário de co n tri­
buição, regra m aior, a expressão “calculada em separado”, co n stan te do § 3s do
art. 39 do D ecreto n. 611/1992, na redação dada pelo art. I a do D ecreto n. 738/1993,
n a op in ião de alguns, queria dizer para a em presa separar os valores e não para
recolher ao INSS.
N úm ero considerável de pessoas tem dúvidas sobre o modus operandi da c o n ­
tribuição de décim o terceiro salário e se se aplica o lim ite do salário de co n trib u i­
ção, no m ês de dezem bro de cada ano, ou q uando do acerto d e contas da rescisão
c o n tratu al, em relação ao total recebido pelo em pregado o u os valores devem ser
observados em separado.
762. P rescriçõ es in c id e n te s — A p artir de 12.1 1.1991, a n o rm a vigente sobre
a in cid ên cia de co n tribuições do décim o terceiro salário é o art. 28, § 7fi, do PCSS,
com a redação d ad a pela Lei n. 8.870/1994: “O décim o terceiro salário (gratificação
natalin a) in teg ra o salário de contribuição, exceto para o cálculo do benefício, na
form a estabelecida em re g u lam en to ”.
R egulam entando o dispositivo, diz o art. 37, § 6S, do RCSS: “A gratificação n a­
talina — décim o terceiro salário — integra o salário de contribuição, sendo devida
a co n trib u ição q u an d o do pagam ento ou crédito da últim a parcela, ou na rescisão
do co n trato de trab a lh o ”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

7 a m o II — P revidência S ocial 683


A P ortaria MTPS n. 3.002/1992 diz: “A contribuição de que trata o parágrafo
an terio r será calculada sobre o valor b ru to do 13e (décim o terceiro) salário, sem
com pensação dos ad ian tam en to s pagos in d ep en d en tem en te do salário do m ês de
dezem bro ou do m ês de rescisão do co n trato de trab a lh o ”, isto é, aplicando-se alí­
quota e lim ites distin to s para as duas h ipóteses de incidência, inovando em relação
à Lei n. 7.787/1989.
O art. 7a, § 2-, da Lei n. 8.620/1993 dita: “A contribuição de que trata este a rti­
go” (o caput do artigo fixa a data do recolhim ento da contribuição co rrespondente
ao décim o terceiro salário até o dia 20 de dezem bro ou no dia im ediatam ente a n te­
rior, havendo ex p ed ien te bancário) “incide sobre o valor b ru to do décim o terceiro
salário, m ed ian te aplicação, etn separado, das alíquotas estabelecidas nos arts. 20
e 22 da Lei n. 8.212, de 24 de ju lh o de 1991”.
763. Posição d o re g u la m en to — D errogando o art. 30, § 6Q, do RBPS, a Lei
n. 8.870/1994 forneceu a redação final, ora vigente, vedando a inclusão do décim o
terceiro salário no cálculo do salário de benefício, pois sua contribuição individua­
lizada destina-se a cu stear o abono anual, não podendo, destarte, acrescer aos 48
últim os salários de co n tribuição determ in an tes da renda m ensal inicial do b en e­
fício.
Então, sob o título G ratificação de N atal, o décim o-terceiro salário dos em pre­
gados regidos pela CLT foi in tro d u zid o n o Direito do Trabalho pela Lei n. 4.090/
1962, restando regulam entado pelo D ecreto Legislativo n. 1.881/1962, com p eq u e­
nas m odificações o p erad as pela Lei n. 4.749/1965.
O abono anual, espécie de décim o terceiro salário dos aposentados e pensio­
nistas, com o nom e de abono especial, foi criado pelo art. 3 a da Lei n. 4.281/1963.
Em razão da Lei n. 4.863/1965, unificadora das alíquotas previdenciárias
(art. 35), a co n trib u ição , ao tom ar p o r base de cálculo a G ratificação de Natal ou o
décim o terceiro salário, “passará a ser recolhida, m ensalm ente, pelas em presas na
base de 1,2% (um e dois décim os p o r cento) sobre o salário de contribuição dos
segu rad o s...”.
764. A u sên cia de lim ite — A ntes do advento da Lei n. 4.749/1965, a m edida
do fato gerador do décim o terceiro salário (art. 4a), por descuido do legislador, não
observava o lim ite do salário de contribuição aludido no então art. 69 da LOPS.
Os obrigados até 3 L 8 T 9 8 9 recolhiam 0,75% + 0,75% = 1,50%, calculados
sobre o salário de contribuição. A p artir de l e.9.1989, ex vi da Lei n. 7.787/1989,
o décim o terceiro salário incorporou-se à rem uneração, com pondo-a n o m ês de
pagam ento e observando o m encionado lim ite do salário de contribuição vigente,
para fins de co n trib u ição (com o se fossem horas extras ou outra qu alq u er parcela
rem u n erató ria e com significativos efeitos técnicos e ju ríd ico s, legais e d o u trin á ­
rios, em m atéria de benefícios de pagam ento co n tinuado).
765. Lei n . 7 .7 8 7 /1 9 8 9 — No curso do tem po, com o visto, a contribuição
deixou de ser individualizada, fundiu-se nu m a taxa única e não m ais se vinculou
correspectivam ente com o abono anual, nào subsistindo, desde a referida lei,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

684 Wladimir Novaes Martinez


q u alq u er relação entre am bos. Fica sem sentido ou de difícil apuração prática
verificar se o p rin cíp io co n stitu cio n al da precedência do custeio foi observado pela
Lei n. 8.212/1991, q u an d o o PBPS atende o art. 195, § 59, d a Lei Maior, e redefine
o conceito de ab o n o anual (art. 201, § 69).
A Lei n. 7.78 7 /1989, reed itad a nesse p artic u la r no PCSS, fratu ro u aquela
correlatividade entre as obrigações fiscais e o direito subjetivo dos segurados. Seu
art. 3° preconizava: “A contribuição das em presas em geral e a das entidades ou
órgãos a eles equiparadas, destinadas à Previdência Social, in cid en te sobre a folha
de salário, será: 1 — de 20% sobre o total das rem unerações pagas ou creditadas, a
q u alq u er títu lo , no decorrer do m ês, aos segurados em pregados, avulsos, a u tô n o ­
m os e ad m in istrad o res; II — 2% sobre o total das rem u n eraçõ es pagas ou creditadas,
n o d eco rrer do m ês, aos segurados em pregados e avulsos, p ara o financiam ento
da com p lem en tação das prestações p o r acidente do trab a lh o ”.
Tratando especificam ente da desvinculação m encionada, n o § l 9 rezava: “A
alíq u o ta de que trata o inciso I abrange as co n trib u içõ es p ara o salãrio-fam ília,
para o salário -m aternidade, para o abono anual e para o PRORURAL, que ficam
su p rim id as a p a rtir de l 9 de setem bro, assim com o a co n trib u ição básica para a
Previdência Social”.
A co n trib u ição m ensal de 20% para financiar todas as doze m ensalidades
co m u n s e a décim a terceira m ensalidade (abono anual, era o e n ten d im en to p re­
d o m in an te entre os especialistas). D estaque restante, a co n trib u ição relativa ao
seguro de acid en tes do trabalho, de 2%, distinção preservada n o art. 2 2 , 1, do PCSS.
D esapareceu, en q u an to individualidade, a cotização para cu stear o salãrio-fam ília,
salário -m atern id ad e e o décim o terceiro salário.
766. A b o n o a n u a l — C ontem plado tex tu alm en te n a C arta M agna com o direi­
to dos ap o sen tad o s e pensionistas, o abono anual é consagrado no RBPS: é devido
abono anual ao segurado e ao d ep en d en te da previdência social q u e, d u ra n te o ano,
recebeu auxílio-doença, auxílio-acidenle ou aposentadoria, pensão p o r m orte ou
auxílio-reclusão.
A duz o parágrafo único: “O abono anual será calculado, no que couber, da
m esm a form a q u e a G ratificação de N atal dos trabalhadores, ten d o p o r base o valor
da ren d a m ensal do benefício do m ês de dezem bro de cada a n o ”.
767. D ecreto n. 356/1991 — C onsequentem ente, o art. 30, § 69, do RBPS dizia:
“Não será considerado no cálculo do salário de benefício a rem uneração anual —
139 (décim o terceiro salário)”. Mas, em sua reedição, o RBPS (D ecreto n. 611/1992),
equivocadam ente, m andou incluir o valor na definição do salário de benefício.
A m atéria está restrita ao disposto no m encionado art. 28, § 7H, do Plano de
C usteio, em pleno vigor, na redação dada pela Lei n. 8.870/1994, in terp re tad o pelo
art. 1° da Lei n. 8.620/1993, n o sen tid o da separação das duas bases de cálculo.
O D ecreto n. 738/1993, regulam ento da Lei n. 8.620/1993, apenas deu-lhe
cu m p rim en to , não revogando n en h u m a lei (não poderia fazê-lo).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o I I — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 685
768. Separação do s valores — Por ocasião da rescisão co n tra tu al no curso de
exercício e, particu larm ente, q uando do pagam ento do décim o-terceiro salário, no
m ês de dezem bro de cada ano, deve a em presa operar em separado com o salário
do m ês objeto de cálculo e com o décim o terceiro salário.
Sob o título de G ratificação de N atal, o décim o terceiro salário foi introduzido
no Direito do Trabalho p o r força da Lei n. 4.090/1.962, com peq u en as m odificações
pela Lei n. 4.749/1965. O abono anual, um a espécie de décim a terceira m ensalida­
de dos ap o sentados e pensionistas, designado inicialm ente com o abono especial,
foi criado pela Lei n. 4.281/1963.
Em razão da Lei n. 4.863/1965, unificadora das alíquotas previdenciárias, a
con trib u ição relativa à G ratificação de N atal passou a “ser recolhida, m en salm en ­
te, pelas em presas, n a base de 1,2% (um inteiro e dois décim os p o r cento) sobre
o salário de co n tribuição dos seg u rad o s...” (art. 35). Até então, vigia contribuição
distinta, de 8% + 8% = 16,0%, da em presa e do em pregado.
A tualizando-se, até 31.8.1989, as em presas recolhiam 0,75% + 0,75% =
1,50%, calculados sobre o salário de contribuição m ensal. A p artir de l s .9.1989,
ex vi da Lei n. 7.787/1989, o décim o terceiro salário inco rp o ro u -se à rem uneração,
com p o n d o -a no m ês do pagam ento e observado o lim ite do salário de contribuição
vigente, para fins de co ntribuição (com o q u alq u er o u tra parcela rem u n erató ria),
com significativos efeitos técnicos e ju ríd ico s, legais e d o u trin ário s, em m atéria de
benefícios de pagam ento continuado.
C om o visto, no cu rso do tem po, a contribuição deixou de ser individualizada
(em relação ao abono an ual), fundiu-se nu m a taxa única e desvinculou-se corres-
pectivam ente do abono anual, não subsistindo, desde a citada Lei n. 7.787/1989
e presentem ente, q u alq u er correlatividade entre am bos. Fica sem sentido ou de
difícil apreensão verificar se o princípio constitucional da precedência do custeio
foi observado pela Lei n. 8.212/1991, q u an d o ela atende o art. 195, § 5Q, da Lei
Maior, e redefine o co nceito de abono anual (art. 201, § 6Q).
Com o asseverado, até 31.8.1989, véspera do início da eficácia da Lei n. 7.787/
1989, a legislação estabelecia um a distinção e um a correlação entre o custeio e os
benefícios. Prevaleciam co n trib u içõ es particulares, destinadas ao salário-fam ilia
(4% ), ao salário -m atern idade (0,3%) e ao décim o terceiro salário (1,50% ). Cada
um a delas, de certa form a, u m bilicalm ente ligadas às referidas prestações.
A Lei n. 7.787/1989, acolhida, nesse particular, n o PCSS, fraturou esse sina-
lagm a entre obrigações fiscais e direitos previdenciários. Seu art. 3a diz: “A con-
Lribuição das em presas em geral e a das entidades ou órgãos a ela equiparados,
destinada à Previdência Social, incidente sobre a folha de salários, será: 1 — 20%
sobre o total das rem unerações pagas ou creditadas, a q u alq u er título, no decorrer
do m ês, aos segurados em pregados, avulsos, au tô n o m o s e adm inistradores; 11 —
de 2% sobre o total das rem unerações pagas ou creditadas no deco rrer no m ês, aos
segurados em pregados e avulsos, para o financiam ento da com plem entação das
prestações p o r acidente do trab a lh o ”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

686 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Tratando especificam ente da aludida desvinculação, no § l 9, reza: “A alíquota
de que trata o inciso I abrange as contribuições para o salário-fam ília, para o salário-
-m aternidade, e para o abono anual e para o PRORURAL, que ficam suprim idas a
partir de l 9 de setem bro, assim com o a contribuição básica para a Previdência Social”.
Os especialistas veem na contribuição m ensal de 20% (sem lim ites a partir
do D ecreto-lei n. 2 .3 Í8 /1 9 8 6 ), financiam ento para todas as doze m ensalidades co­
m u n s e para a décim a terceira m ensalidade (o abono anual). D estacam a c o n trib u i­
ção relativa ao seguro de acidentes do trabalho, de então 2%, distinção preservada
no art. 22, I, do PCSS. D esapareceram , en q u an to individualidades, a contribuição
para cu stear o salário-fam ília, o salário-m aternidade e o décim o terceiro salário.
Vale consignar, p o r interessar à m atéria, a preocupação do legislador de 1991:
a som a d o s dois valores, a rem uneração h ab itu al e o décim o terceiro salário pode
ultrap assar o lim ite m ensal do salário de contribuição. P or isso, d eterm in o u no
arl. 135 do PBPS; “O s salários de contribuição utilizados n o cálculo do valor de
benefício serão co n siderados respeitados os lim ites m ínim o e m áxim o vigentes nos
m eses a q u e se referirem ”.
E n ten d en d o cabível a delegação de poderes e reg ulam entando a parte final do
art. 28, § 7Q, do PCSS, diz o art. 37, § 79, do RCPS: “A co n trib u ição de que trata
o § 6Q incid irá sobre o valor b ru to da gratificação, sem com pensação dos adian­
tam en to s pagos, m ediante aplicação, em separado, da tabela de que trata o art. 22
e observadas as n o rm as estabelecidas pelo INSS” (grifos nossos). O m encionado
art. 22 fixa três faixas de salário de contribuição, su jeitan d o os em pregados,
tem porários, avulsos e dom ésticos a u m desconto variável de 8,9%, 9% ou 10%,
conform e o nível da base de cálculo.
769. Desde janeiro de 1992 — Q u er dizer, a p artir de jan eiro de 1992, o
trabalhadores com salários até Cr$ 461.631,38 tiveram o cálculo da contribuição
do décim o-terceiro salário em separado da norm al, utilizando-se para cada parcela
(rem u n eração h ab itu al de décim o terceiro salário) a alíquota fixada para cada um
dos valores, o m esm o valendo para os percipientes de salários superiores a esse
patam ar. No p rim eiro caso, au m en tan d o o valor do desconto, e, no segundo, as
coisas se invertendo.
A p a rtir da vigência da Lei n. 7.787 /1 9 8 9 (e, a fo rtio ri, em razão do art. 28,
§ 79, do D ecreto n. 612/1992) o décim o terceiro salário integra o salário de c o n ­
trib u ição e este, p o r sua vez, é “a rem u n eração efetivam ente recebida ou creditada
a q u a lq u e r títu lo , d u ra n te o m ês” (PCSS, art. 28, I). Desse conceito não p o d e ser
desm em b rad o .
E xatam ente após consagrar a igualdade dos iguais, diz a Lei M aior: “n inguém
será obrigado a fazer ou deixar de fazer algum a coisa senão em v irtude da lei”
(art. 59, II). Trata-se do com ezinho princípio da legalidade, co n q u ista dos cidadãos
em face dos crescentes poderes do Estado. Som ente a lei po d e forçar um a pes­
soa a fazer o u d eix ar de fazer algo. Lei, en ten d id a a com plem entar, a delegada, a
ord in ária e, p articu larm en te, os decretos legislativos e as resoluções do C ongresso
N acional.

C urso de D ir r u o P u k v id e n c iAr io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 687
O m an d am en to co n stitucional não explicita (nem deveria fazê-lo) qual o ato,
com issivo ou om issivo, então regrado. Sabiam ente, o utorgou esse deslinde à d o u ­
trina, justifican d o as reflexões dos especialistas.
770. Delegação da lei — Q uestiona-se, pois, saber se a lei, no caso, pode
delegar sua com petência.
De m odo geral, a dicção legal deve ser genérica para não se referir exclusiva­
m ente à d eterm in ad a situação o u pessoa e, com isso, ofender o p rincípio da igual­
dade. P or isso, freq u en tem ente, o diplom a legal tem de ser esm iuçado, ad q u irin d o
a capacidade de ferram enta jurídica útil n orm atizadora da co n d u ta hu m an a. As
C on stituições apresentam , p o r natureza e tradição, com andos difusos, descrições
sucin tas de preceitos a serem instrum entalizados. Os direitos fundam entais, ao
contrário, são declarados im perativam ente e aclarados à exaustão, direcionados a
objetivos p erfeitam ente indicados.
Estes, sucessivam ente, de cim a para baixo, têm papel específico e cada vez
m enos p o d er de criar obrigações ou direitos. A lei, posicionada entre a Carta M ag­
na e o m en o r ato regulam entar, p o r eleição do ord en am en to ju ríd ic o e da norm a
con stitucional, é a expressão da vontade do P oder Legislativo en q u a n to represen­
tan te do povo.
Para operacionalizar a lei, o P residente da R epública pode “expedir decretos
e regulam entos para sua fiel execução”. Em bora, d en tro de seu dom ínio, seja ato-
-regra tanto q u an to a lei, o papel do decreto regulam entador é apenas esse, viabi­
lizar a correta execução da lei. N ada m ais.
N ão poderia d esfru tar de q u alq u er fração do p o d er legal, pois im plicaria a
dualidade de com petência e a invasão de atribuições dos poderes. O P residente da
República, se não concorda com os dizeres da lei, deve vetã-los; se não os rejeita
ou se o faz, m as im p ugnação n ão é acolhida pelo C ongresso N acional (podendo,
até, eventualm ente, arguir-lhes a in co n stitu cio n alid ad e), ele não tem o u tra escolha
senão cu m p rir os term os da lei.
É cediço na d o u trin a nacional e estrangeira o regulam ento não p o d er ex trap o ­
lar a lei, in terp retã-la, ir além dela ou ficar aquém dela, m as tão som ente trilhar-lhe
a direção e, nos casos difíceis, perseguir-lhe a meus legis, o seu espírito, en q u a d ra­
m ento científico, enfim , alcançar-lhe o sentido teleológico. N unca criar, d im in u ir
ou au m en ta r direitos ou obrigações. Nas sábias palavras de Heiy Lopes Meirelles,
“o regulam ento jam ais poderá in stitu ir ou m ajorar tributos, criar cargos, au m en tar
vencim entos, perd o ar dívidas, co nceder isenções tributárias, e o m ais que d ep e n ­
d en te da lei p ro p riam en te d ita ” ( “D ireito A dm inistrativo B rasileiro”, 12a ed., São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1986, p. 141).
No dizer de Celso Ribeiro Bastos, “às vezes, os regulam entos, instruções, até
m esm o m eras portarias acabam p o r incidir na vida real das pessoas de u m a m anei­
ra m ais aguda e p u n g en te que a p ró p ria lei com a qual passam a rivalizar. É curial
que esses atos, p o r encobrirem , sem pre, delegações de com petência que, a rigor,
seriam do Legislativo, têm recebido a m ais viva condenação p o r parte da doutrina.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

688 W la d i m / r N o v a e s M a rtin e z
O p rim ad o da lei subsiste, pois, q u er a nível teórico, no sentido de que a c o n stitu i­
ção proclam a so lenem ente, q u e r do po n to de vista de um ideal sem pre acalentado,
ante o qual as violações sofridas não são senão u m a série de pecadilhos, que devem
ser ex tirp ad o s a fim de que se restaure a santidade da suprem acia da lei” ( “C om en­
tários à C o n stitu ição do B rasil”, São Paulo: Saraiva, 1989, p. 24).
Salvo se previsto na Lei M aior (não há previsão), o decreto que regulam enta
a lei está im p ed id o de estabelecer obrigação nela não firm ada. N o dizer do m esm o
Celso Ribeiro Bastos, “os regulam entos delegados, encontráveis em alguns países,
tam bém não se am oldam ao nosso direito, porque se trata de transferência d e com ­
petência legislativa, o que só pode d ar pela única via co n stitu cio n alm en te aceita,
que é da lei d elegada” (ob. cit., p. 31).
A lém de a u tô n o m o , o decreto de execução de lei é o ú n ic o ex isten te no
Brasil. Se a lei n ão d efine a h ip ó tese de in cidência, n ão existe a obrigação daí
derivada. Se ela transfere a atrib u ição de fixar o sujeito passivo, a alíq u o ta o u a
base de cálculo ao d ecreto, este ú ltim o n ão existe n o m u n d o ju ríd ic o ; o com ando
legal é in co n stitu cio n al.
E m bora, em p rin cípio, com o dito, a lei tu d o possa, ela está logicam ente im ­
pedida de desn atu rar-se e, com isso, qu eb rar o equilíbrio e as características dos
três Poderes. Se ela delega atribuições suas ao P oder E xecutivo, destrói o prim ado
da organização d em ocrática do Estado de D ireito, co n sisten te n a tríplice divisão
dos estam en to s co n stitucionais. Os Poderes da U nião, co n seq u en tem en te, deixam
de ser in d ep en d en tes e harm ônicos, com o deseja o art. 2° da Lei Maior. Se a C arta
M agna quisesse atrib u ir o u tra função à lei, dar-lhe capacidade de substabelecim en-
to, não teria criado a figura da lei delegada. C onform e Paulo Dourado de Gusm ão,
“as leis ordinárias não podem estar em conflito com as constitucionais; os decretos
(regulam entados) não podem d isp o r de form a contrária ao prescrito pelas leis,
en q u a n to a sen ten ça e os atos que se fundam nas leis ou nos decretos não podem
ir além d o s m esm o s” ( “Introdução ao E studo do D ireito”, 13s ed., Rio de Janeiro:
F orense, p. 137).
No geral, en tre tan to , os com andos transferem à lei o p o d er de configurar os
d ireitos e as obrigações m ais significativos, aqueles p ertin e n te s à soberania do Es­
tado, à cidadania, à dignidade da pessoa h u m ana, aos valores sociais do trabalho e
à propriedade individual. E xem plificativam ente, toda a Seção II — Das Limitações
do Poder de Tributar, é reservada à preservação dessa individualidade e capacidade
co n tributiva. N ela, se colhe a regra de ouro em m atéria fiscal aplicável à c o n trib u i­
ção social: é vedado aos entes políticos “exigir ou a u m en ta r trib u to sem que lei o
estab e leça” (art. 50, I). M esm o a c o n trib u iç ã o p re v id en ciária não sen d o trib u to ,
o art. 97 do CTN dispõe: “S om ente a lei pode estabelecer: I — a in stitu ição de tri­
bu to s, ou a sua extinção; II — a m ajoração de tributos, ou a sua red u ção ...”.
E, fixando n o rm a de grande significado, dita: “O co n teú d o e o alcance dos
decretos restringem -se aos das leis em função das quais sejam expedidos, determ i­
nados com observância e regras de in terpretação, estabelecidas n esta Lei” (art. 99).

C urso d e D ik e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v i d ê n c i a Social
Situada no ápice do o rd enam ento infraconstitucional, às vezes, a lei é im pre­
cisa e carece, para a sua aplicação ou efetivação, de um a correta adequação aos
fatos, isto é, u m novo com etim ento de atribuição ao veículo n o rm atizad o r hierar­
quicam ente abaixo. O art. 28, § 7Q, da t e i n. 8.212/1991 observa o p rin cíp io da
legalidade até q u an d o diz “décim o terceiro salário (gratificação natalina) integra
o salário de co n trib u ição, exceto para o cálculo do benefício, na form a estabeleci­
da em reg u lam en to ”. O “n a form a estabelecida em re g u lam en to ”, após a vírgula,
objeto do art. 37, § 79, do D ecreto n. 612/1992 e da P ortaria MTPS n. 3.002/1992,
desn atu ra a m edida do fato gerador e é providência fora do alcance do decreto
regulam entador.
A “form a” in d icada n ão pode m odificar o sujeito passivo nem a alíquota, não
alterados pelo regulam ento ou portaria, e m uito m enos a base de cálculo. Em se
tratan d o de n o rm a de D ireito Social, não se alegue estar ela beneficiando a m aior
parte dos c o n trib u in tes percipientes de salários situados até a m etade do lim ite
do salário de co n trib u ição, m esm o po rq u e, sim ultaneam ente, prejudica os posi­
cionados acim a desse patam ar. Nem ser distributiva o u o abono anual precisar de
custeio p róprio. A d istrib u tiv id ad e e o financiam ento dos benefícios são exigências
da técnica não con tem p ladas na lei e, p o rtan to , sem existência jurídica.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W l a d i m i r N o v a e s M a r tin e z
Capítulo LXXVII

P a rt i c i p a ç ã o nos Lu c r o s

771. Distinção da remuneração. 772. Previsão constitucional. 773.


S u m á r io :
Regulamentação legal. 774. Objetivo empresarial. 775. Natureza jurídica. 776.
Salário de contribuição. 777. Cunho salarial. 778. Condição de sócio. 779. Re­
quisitos legais. 780. Negociação trabalhista.

Em seu art. 79, XI, a C onstituição F ederal de 1988 diz ser um direito do traba­
lh ad o r a “participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da rem uneração, e,
excep cio n alm en te, participação na gestão da em presa, conform e definido em lei”.
771. Distinção da remuneração — P articipar nos lucros, re su ltan te d o traba­
lho de to d o s os em pregados, não é pro p riam en te um a retribuição de esforço, isto
é, u m salário, salvo n a concepção social deste. A desvinculação d a rem uneração
proclam ada pela Lei M aior tam bém não significa n ecessariam ente a inexistência
desse cu n h o salarial. A N orm a Suprem a não q u er c o n fu n d ir os dois in stitu to s
laborais e, p o r exem plo, im pede a adição dos dois valores p ara os fins do décim o
terceiro salário.
772. Previsão constitucional — Do p o n to de vista da filosofia do D ireito
P revidenciário, esse art. 7S, XI, assum iu um respeitável posicionam ento diante
do caráter su b stitu tiv o da prestação previdenciária. A par da m agnífica disposição
filosófica de agregar o trab alh ad o r à em presa, de fazer dele se não efetivam ente um
sócio pelo m en o s um parceiro na exploração econôm ica, dispôs que o valor do PLR
auferido não se integra no salário de contribuição.
773. Regulamentação legal — Um tem a tão com plexo n ão poderia ter sido
reg u lam en tad o n u m a norm a tão singela qu an to a Lei n. 10.101/2000. N ão disci­
p lin an d o o PLR p ro p riam ente dito, m as sua convenção, basicam ente, ela diz que
o in stitu to técnico tem de ser negociado entre a em presa e os trabalhadores e só
in d iretam en te inform a os pro ced im en to s a serem aplicados.
Deveria ter evitado a utilização das expressões “regras claras e objetivas”, sem
explicitã-las co n v en ien tem en te nem delegá-las para a regulam entação ad m in istra­
tiva. N ão po d eria ter sido genérica, aplicável ao espectro de todas as atividades, sa­
ben d o de an tem ão que em algum as delas os critérios dizem respeito à qualidade e

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o II — P revidência S o c ia l 691


n ão à q u antidade. Se não é oneroso apurar-se um resultado para quem fabrica u n i­
dades de certa m ercadoria ou p ro d u to , com o aferir a produtividade de um a escola?
774. O b jetiv o e m p re sa ria l — De m odo geral, as em presas adotam processos
de apuração do direito dos colaboradores ao PLR. Pretendem q u e tal m ecanism o
espelhe m elhor a com petência, a dedicação e a assunção do papel profissional por
parte de cada co lab o rad or e, p o r isso, sopesam essa participação individual.
Com a Lei n. 10.101/2000, que regulam entou a C arta M agna, desapareceram
algum as dúvidas sobre a natureza ju ríd ic a desse pagam ento ao trabalhador, m as
nem todas. N esse sentido, com o é usual, a ANC delegou ao legislador ordinário a
possibilidade de criar um in stitu to ju ríd ico novo no Direito Previdenciário.
É evidente que a ideia do co n stitu in te nacional é de aproxim ar o trabalho do
capital, u n ir os em pregados à em presa, m elh o rar as condições do prestad o r de ser­
viços, co m p artilh ar com o em pregador o em p en h o de p ro d u zir m elhor dentro de
u m cenário de convivência social. Inform alm ente, faz do segurado certo partícipe
do em p reen d im en to econôm ico.
Amaurí Mascaro Nascimento reproduz opinião de Maurice Dobb, segundo a
qual a participação no s lucros resulta do p ropósito de estim ular entre os trab a­
lhadores um espírito coletivo favorável a u m a produção m elhor e interessá-los
financeiram ente no êxito das em presas ( “O Salário”, São Paulo: LTr, 1968, p. 323).
775. N a tu reza ju ríd ic a — F un d am en talm en te, essa parcela, um a re trib u i­
ção do sobre-esforço do trabalhador seria salarial, m as a C onstituição Federal não
a q u er com essa n atureza para os fins exacionais, su b train d o -lh e expressam ente
eventual caráter rem uneratório.
Depois de h isto riar toda a evolução do in stitu to técnico trabalhista, Sergio
Pinto M artins m o strou com o a d o u trin a, a partir da C arta M agna de 1988 deixou
de co n siderar o PLR com o parcela salarial e a tem com o rubrica não rem uneratória,
sem integrar o salário de contribuição ( “D ireito do Trabalho”, 7~ ed., São Paulo:
Atlas, 1998, p. 217/231).
A C arta M agna, ab initio d eterm in o u que o pagam ento co rresp o n d en te não
possuísse n atu reza rem u n erató ria. D estarte, diante desse preceito dispositivo o d e­
sem bolso resta sem tal natu reza ju ríd ica, para isso bastan d o cu m p rir as norm as
reg u lam en tad o ras da Lei n. 10.101/2000.
776. S alário d e c o n trib u iç ã o — E sm iu çan d o o fato gerad o r e a b ase de
cálculo da co n trib u ição, diz o art. 28, I, do PCSS, q u e o salário de contribuição
será a “rem uneração auferida em um a ou m ais em presas, assim en ten d id a a to ta­
lidade d os ren d im en to s pagos, devidos ou creditados a q u alq u er título, d u ra n te o
m ês, d estinados a re trib u ir o trabalho, q u alq u er que seja a sua form a”. Resta, pois,
excluída a “participação nos lucros o u resultados da em presa, q u an d o paga ou
creditada de acordo com lei especifica” (art. 28, § 9Q,j, do PCSS).
Ao d eterm in ar que tal rubrica não faz parte do salário de contribuição, a Lei
Suprem a q u e r d eso n erar os co n trib u in tes do ô n u s fiscal, sem ig n o rar que tal cle-

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W / a d i m i r N o va es M a rtin e z
term inação ofende a natu reza substitutiva da prestação securitária: o valor não se
in co rp o ran d o ao p atrim ônio laborai pessoal do segurado, ele não fará parle dos
cálculos da renda m ensal inicial dos seus benefícios previdenciários.
777. C u n h o salarial — E videntem ente, ainda que não esteja fazendo horas
extras, trab alh an d o m ais e m elhor, em penhando-se em term os de m aior eficiência,
o m o n tan te p ecu n iário teria u m cu n h o salarial que lhe foi retirado p o r disposição
legal, caráter q ue assum e se descum prida a essência da lei regulam entadora.
778. C o n d ição de sócio — A despeito da fusão de interesses que assinala o
PLR, tendo em vista que o trabalhador não assum e os riscos da atividade econôm i­
ca ele não se to rn a u m sócio de em presa nem inform alm ente.
E fetivam ente, o PLR faz do trab alh ad o r um partícipe m aior do q u e a condição
de em pregado. Além desse estado ju ríd ic o condição trabalhista de servir funcio­
n alm ente ao em pregador, p o r ser parceiro no ato de criação da riqueza (lucros ou
resu h ad o s), ele se to rna colaborador participante, com pensado com PLR. Q uando
a em presa observa os preceitos legais exigidos pela C arta M agna para que o total
não d eten h a n atu reza salarial, tem -se que o quantum pago é exatam ente aquele p re­
visto n o art. 28, § 9°, j do PCSS, ou seja, um a participação nos lucros ou resultados.
L ap idarm ente João Ernesto Aragonés Viana diz: “Assim , desde a prom ulgação
da C arta de 1988 a participação nos lucros não integra o salário de co n trib u içã o ”
( “C urso de D ireito P revidenciário”, São Paulo: LTr, 1996, p. 109).
779. R eq u isito s legais — D ecantado que a substância científica do in stitu to
foi reservada à lei ordinária, resta verificar o que a Lei n. 10.101/2000 fixou com o
requisitos para que o pagam ento não d eten h a caráter salarial (um a condição que
os dois polos da relação laborai podem q u erer avençar certo dia, com vistas à pre­
vidência social). Além de o m o n tan te não p o d er su b stitu ir nem co m p lem en tar a
rem u n eração — questão estranha ao assunto ora enfocado — , q uem regulam enta
os req u isito s legais é o art. 2° da Lei n. 10.101/2000.
Seu caput diz: “A participação nos lucros ou resultados será objeto de n e ­
gociação en tre a em presa e seus em pregados, m ed ian te um dos pro ced im en to s
a seg u ir descritos, escolhidos p elas p artes de com um a c o rd o ”. Significa dizer:
au sen te o p acto, o b serv an d o o u não o § 1Q desse art. 2e, se a em presa e sp o n ta ­
neam ente in stitu ir u m PLR que seja co n d icio n ad o a presença desses resultados
financeiros, de p ro d u ç ão ou de p ro d u tiv id ad e, poder-se-ia estar d ian te de prêm io
à p ro d u ção ou o u tra parcela, possivelm ente com caráter salarial, m as n ào o PLR
co n stitu cio n al.
780. N egociação tra b a lh ista — M ais do q u e afeiçoar-se à ideia de que essa
avença co n v encional configura um a gratificação ajustada, q u er a norm a legal um a
ap ro x im ação do capital ao trab alh o e que am bos d eb atam e resolvam ju n to s
esse escopo de m ú tu o interesse: crescim ento econôm ico da em presa e m elhoria
de situação do trabalhador. A m bos decidirão, ab initio, o tipo de negócio que e n ­
vidarão. Sentar-se-ão à m esa para discutir com o vão debater e, depois, com o serão
as condições.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o U — P r e v id ê n c ia S o c ia l
693
Em seguida, tios incisos I/II, são estabelecidas duas soluções, um a das quais
pode ser alvitrada: "I — C om issão escolhida pelas partes, integrada tam bém por
u m rep resen tan te in d icado pelo sindicato da respectiva categoria; II — C onvenção
ou acordo coletivo”. A usente um a dessas duas soluções, não se terá atendida a
disposição legal.
A presença de dois vocábulos assem elhados: “critério s” e “condições” e tam ­
bém “m etas” e “resu ltados”, sem se saber qual foi a mens legislatoris, obriga a
considerá-las com o en tidades distintas. A exigência de serem claras e objetivas
torn a difícil co n sid erar as cláusulas, p articu larm en te q uando se trata de banco não
com ercial. Per se, a lei não deveria u sar essas duas im posições, elas são subjetivas.
Por últim o , diz o art. 3S que: “A participação de q u e trata o art. 2e não subs­
titui ou com plem enta a rem uneração devida a q u alq u er em pregado’ . Trata-se de
presunção que trabalha a favor de certo crescim ento profissional no sentido de que
esse m o n tan te possa m ascarar algum salário. Daí ser im prescindível que a m assa
salarial au m ente q u an d o presente essa participação nos lucros ou resultados.
O PLR deve ser sugerido, discutido, negociado e convencionado com os tra­
balhadores, n um ou no utro m om ento sem que tivesse havido prejuízo p ara a com ­
preensão do nexo técnico que deve subsistir entre o sobre-esforço pessoal dos b an ­
cários e a consum ação dos lucros e do atingim ento das m etas antes previam ente
estabelecidas.
Sem em bargo de sua natureza com plexa, em face da especificidade da ativi­
dade desenvolvida e sem em bargo de que determ inações legais exigindo clareza
e objetividade são subjetivas, a prova q u e se tem de que as regras contidas nas
cláusulas foram claras e objetivas é que jam ais foram contestadas não só pelos seus
em pregados com o tam bém pelos sindicatos da categoria.
Acresce-se, ad nauseam, o princípio: o escopo m aior da C onstituição F ederal
é um a aproxim ação real do trabalho ao capital acon teceu e ela deve acontecer sem
prejuízo do respeito os requisitos da Lei n. 10.101/2000.
Q uando program a um PLR ex vi legís — ainda que n ão constasse da lei, mas
para conferir-lhe legitim idade — a em presa deve ter a preocupação de convocar
os trabalhadores in d icados pelo Sindicato, para participarem da construção de um
in stitu to técnico d estinado a u n ir o capital ao trabalho e, assim , am bos alcançarem
o desiderato desejado, q u e é socializar legalm ente o lucro.
O ju iz D irceu de A lm eida Soares, falando no acórdão exarado no REsp n.
637.905/RS, de 21.9.2005, da 2- Turma do TRF da 4â Região, na Apelação Cível n.
2002.71.00.317070/RS, in DJU de 23.11.2005, assevera que: “A tendidos os dem ais
requisitos da legislação que tornem possível a caracterização dos pagam entos com o
participação nos resultados, tais irregularidades apenas afastam a vinculação dos
em pregados aos term os do acordo, podendo rediscuti-los novam ente. Tais irregula­
ridades não afetam a n atureza dos pagam entos que co n tin u am sendo participação
nos resultados; podem interferir, tão som ente, na form a de participação no m o n ­
tante a ser d istribuído, fatos irrelevantes para a tributação sobre a folha de salários".

C urso de D ir e ít o P r e v id e n c iá r io

694 W l c íd i m i r N o v a e s M a rtin e z
C onclusão confirm ada pela ju íza Lilian Roriz da 2- Turm a do TRF da 2ã Re­
gião, co n stan te do Processo n. 2005.1010259452/R J — AMS n. 45.500, de 2003:
“C ercar o in stitu to com excessos de exigências desvirtualiza-o e desincentiva as
em presas a fazê-lo, o que fere a norm a c o n stitu cio n al” (in DJU d e 28.7.2003).
O legislador p en san d o nu m a su p erio r performance dos trabalhadores e das
em presas, que po d eria ser alcançada com um estím ulo da retribuição e ajuizando
com a u n ião desses dois polos da relação laborai, d im in u in d o os riscos dos confli­
tos trab alh istas e pro m ovendo a atração da m elh o r m ão de obra para o quadro de
pessoal, in stitu iu o PLR e su p rim iu -lh e a natureza rem uneratória.

695
C urso d e D ir f it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l
Capítulo LXXVIII

S alário- H abitação

781. Legislação incidente. 782. Formação do salãrio-habitaçào. 783.


S u m Ar i o :
Cálculo por dentro e por fora. 784. Salário contratual. 785. Vigência da exigibi­
lidade. 786. Limites e razoabilidade. 787. Imóveis de terceiros. 788. Pluralidade
de residentes. 789. Residências rurais. 790. Resumo da pendência.

Os salário s in natura têm sido o bjeto de copiosa legislação e abastados


estu d o s, não só de laboralistas com o de previdenciaristas. Os diferentes valores,
sem pre em crescente núm ero, despertaram o interesse dos especialistas por suas
particularidades.
781. Legislação incidente — A prom ulgação da Lei n. 6.887/1980 despertou
inúm eras inquietações nas áreas trabalhista e previdenciária. N orm a jurídica especial,
dispôs sobre a m atéria de custeio e leve grande repercussão na previdência social.
Em seu art. 1B, in clu iu parágrafo único no art. 76 da LOPS, com a seguinte
redação: “A utilidade habitação, fornecida ou paga pelo em pregador, co n tra tu al­
m en te estipulada ou recebida p o r força de costum e, passa a integrar o salário de
contribuição em valor co rresp o n d en te ao p ro d u to da aplicação dos percentuais das
parcelas co m p o n en tes do salário m ínim o ao salário contratual".
N ossas d o u trin a e ju risp ru d ên c ia enten d em pacificam ente no sentido de a
cessão de habitação a em pregado constitui acréscim o salarial à rem uneração. A
fonte formal da qual extraem essa conclusão é a CLT: “Além do pagam ento em
dinheiro, co m preendem -se no salário, para todos os eleitos legais, a alim entação,
habitação, vestuário ou outras prestações in natura que a em presa, p o r força de
co n trato ou de costum e, fornecer hab itu alm en te ao em pregado. Em caso algum
será perm itid o o pagam ento com bebidas alcoólicas ou drogas nocivas” (art. 458).
A partir de sua vigência, o D ecreto-lei n. 229/1967 in troduziu um § l 5 com a
seguinte redação: “Os valores atribuídos às prestações in natura deverão ser ju sto s
e razoáveis, não p o d endo exceder, em cada caso, os dos percentuais das parcelas
co m p o n en tes do salário m ínim o (arts. 81 e 8 2 )”.
O valor co rresp o n d en te à m oradia, conhecido com o salário-habitação,
in tegrando a rem uneração do em pregado, co n seq u en tem en te integra o salário de
co n trib u ição previdenciário.

C urso r>n D ir e it o P r e v id e n c iá r io

QfS W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
ln terp retativ am en te, elegendo a m edida do fato gerador (valor locativo), a
ad m inistração previdenciária confirm a o e n ten d im en to anterior, d eterm inando
in teg rar o salário de contribuição: “parcela paga in natura pela em presa, desde
que co n tra tu alm e n te estipulada o u hab itu alm en te recebida p o r força de costum e,
inclusive o v alor locativo da habitação, salvo nas hipóteses das letras c e g do item
3 9 .2 ” (item 39.1, letra i, da P ortaria SPS n. 2/1979).
A letra c do item 39.2 referido cuida dos pagam entos in natura em d ec o rrê n ­
cia de trab alh o em local distante da residência habitual do trab alh ad o r (frentes de
trabaLho), O órgão gestor esposa d o u trin a segundo a qual, q u an d o a em presa p ro ­
porciona a h ab itação com o propósito de to rn a r possível a prestação de serviços,
tal pagam ento in natura não é contraprestacional (R esolução CD/DNPS n. 362, de
5.8.1971, in Processo MTFS n. 130.327/1971).
N a letra g trata da alim entação recebida conform e o Program a N acional de
A lim entação ao T rabalhador (Lei n. 6.321/1976).
As disposições reproduzidas aplicam -se ao em pregado regido pela CLT e, ex­
cep cionalm ente, ao autônom o. Em particular, aplica-se ao zelador de condom ínio
residencial. Salvo um a ou o u tra decisão escoteira, a ju risp ru d ê n c ia trabalhista tem
entendido: a residência do zelador é cedida em contrapreslação pelo trabalho e não
para o trabalho.
Não se aplicam ao trab alh ad o r rural; este observa a n o rm a do art. 9Q, a, da Lei
n. 5.889/1973, m esm o q u an d o segurado obrigatório do RGPS.
782. Formação do salário-habitação — A cessão da m oradia ou o pagam ento
do abono para aluguel ao em pregado surgem m ediante acordo expresso o u ajuste
tácito.
Na prim eira origem , opera-se p o r determ inação de cláusula do co n trato de
trabalho, inserida p o r ocasião do início da relação em pregatícia, ou, ainda, por
alteração, d u ra n te a vigência daquele, m as, sem pre, expressam ente consignada.
U m a segunda origem , o em pregador perm ite ao em pregado instalar-se na re­
sidência e dele n ad a cobra p o r isso. Essa ocupação não é ato sim ples acontecido
ou repetido sem a ciência da em presa; devida a u so s e costum es, essa vantagem
beneficia quem se u tiliza hab itu alm en te da m oradia.
Terceira fórm ula, de em prego m ais recente, é a adotada na agroindústria. Al­
gum as categorias profissionais e p atronais da indústria canavieira têm acordado
q u an to ã cessão, cláusula de não com posição do valor do salário-habitação na
rem u neração do em pregado. D issídios são acordos coletivos, norm as não estatais,
reconhecidas pela d o u trin a e ju risp ru d ên c ia pátrias com o fontes form ais do D ireito
do Trabalho. Tem-se ajustado nesses acordos coletivos o fornecim ento de h ab ita­
ção, além dos lim ites de sua atribuição.
De q u alq u er form a, res inter alios, se tais convenções coletivas dispõem sobre
a integração do salário ou não, contra legem, não têm eficácia nesse particular. Ex­
trap o lan d o sua com petência, contrariam o art. 9 Qda CLT.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o II — P revidência S o c ia l 697


R espeitante às obrigações fiscais, a regra é a m esm a. As fontes form ais infe­
riores à lei só podem aplicar-se q u an d o favoráveis ao em pregado (é o caso) e não
co n trariem disposições expressas em contrário.
N ão se desobriga a em presa do pagam ento da contribuição previdenciária,
cujo fim social é p e rm itirã o em pregado, q u an d o aposentado, receber prestação p e­
cuniária capaz de assegurar-lbe, em p rincípio, um a m oradia de valor assem elhado.
783. Cálculo por d e n tro e p o r fora — D úvida desfeita pela Lei n. 6.887/1980,
praticam ente p o r inteiro em relação à previdência social, é a p ertin en te à participa­
ção do valor do salário-habitação na com posição da rem uneração do em pregado.
Se esse valor com põe o salário (salário-habitação p o r d en tro ) o u se som a a ele
(salário-habitação p o r fora).
Um exem plo prático elucida as duas posições:
S uponha-se em pregado co n tratad o com salário de R$ 670,00, em São Paulo,
em que o percentual co nstante da atual tabela de salários m ínim os, relativo à h ab i­
tação, é de 33% (D ecreto n. 85.950/1981).
Na prim eira hipótese — salário-habitação p o r d en tro — divide-se o salário
co n tratu al p o r 67 e m ultiplica-se p o r 100; obtém -se o valor total da rem uneração.
Assim: R$ 670,00 : 67 = R$ 10,00 x 100 = R$ 1.000,00. Esses R$ 1.000,00 são
1,4925 su periores a R$ 670,00. R epresentam 49,25% de acréscim o.
Em um a seg u n d a hipótese — salário-habitação por fora — acresce-se ao salá­
rio con tratu al 33% de seu valor. Assim: R$ 670,00 x 33% = R$ 221,10 + R$ 670,00
= R$ 891,10. Estes R$ 891,10 são 1,33% a m ais dos R$ 670,00. R epresentam 1,33%
de acréscim o.
Q ual das duas hipóteses corresponde à ideia do legislador?
Na com posição das diversas parcelas que constituem o valor do salário m íni­
m o (CLT, arts. 81 e 82), a lei utiliza-se da prim eira, e isso leva alguns a e n ten d e r
ser essa a mens legis em relação a salários superiores ao m ínim o. R ealm ente, se o
em p reg ad o r paga em d in h eiro apenas 67% do salário m ínim o regional, não se
poderia calcular o saiário-habitação p o r fora, que resultaria em 89,11% do salário
m ínim o. Nesse caso, é cabível o salário-habitação p o r dentro.
A redação da Lei n. 6.887/1980, referindo-se a “valor co rresp o n d en te ao p ro ­
du to da aplicação dos p ercentuais das parcelas com ponentes do salário m ín im o ”,
dem o n stra que o legislador opta pelo salário-habitação por fora, cujo valor (calcu­
lado em função do salário co n tratu al), deve ser som ado e não em butido.
D iferente é a com preensão relativa ao conceito trabalhista do salãrio-habila-
ção vigente, pois a CLT diz que “com preende-se no salário”, e isso leva Antonio
Lamarca ( “S alário-U tilidade”, in LTr n. 41/1291) a insistir: a “utilidade poderá ser
acrescida ao salário em espécie, que deverá ser sem pre pago em m oeda corrente do
País (CLT, art. 463); nunca acrescida ao salário global, pois dele é, consoante a lei,
atendidos os pressupostos, parte integrante. Em sum a, a utilidade co n tratad a não
se som a ao salário do em pregado, dele faz parte (com preensão do salário) '.

C urso de D i r f .i t o P r e v id e n c iá r io

698 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
784. Salário contratual — A dm itido o fato gerador de o valor do salário-ha-
bilação ser o salário co n tratu al, e não (m ais) o salário m ínim o ou o u tras soluções
aventadas (com o a do salário-habitação p o r d en tro ou o valor da rem uneração
recebida), vale esm iu çar o salário contratual.
No T ítu lo IV — Do Custeio, a LOPS referia-se duas vezes ao fato gerador da
co n trib u ição previdenciária. Um a, genericam ente, q uando fixava a taxa de c o n tri­
buição (LOPS, art. 69, § 2e); outra, especificam ente, ao definir o salário de c o n tri­
buição (LOPS, art. 7 6 , 1).
Em n e n h u m m o m ento, usava salário contratual. Prefere im portâncias recebi­
das (LOPS, art. 69, § 29) ou rem uneração efetivam ente percebida (LOPS, art. 76,1),
am bos os casos resu ltan d o no valor real devido — não n ecessariam ente recebido
— ao em pregado; não o co n tratad o ou o estim ado.
Tais disposições constam da redação original da LOPS, desde 1960, q u eb ran ­
do a sistem ática an terio rm en te vigente, a qual adm itia contribuição in cid en te so­
bre salário fictam ente contratual.
Sem em bargo, relativam ente à fixação da im p ortância do salário-habitação, a
Lei n. 6 .8 8 7/1980 reto rn a à situação an terio r à LOPS (e pela significativa razão de o
valor dever ser o locativo) e em prega a designação salário contratual. Significa não
só o valor inicial do co n trato de trabalho, com o tam bém as alterações p erm a n en ­
tes, tais com o reaju stam entos devidos à inflação, prom oção de cargos, acréscim os
co n tín u o s, adicionais p o r tem po de serviço etc., valores in corporados ao salário,
co n sid erad o s variações do valor inicial.
Por não estarem estipuladas no c o n tra io de trabalho — m esm o dele derivadas
— estão excluídas im portâncias extem porâneas (v. g., horas extras, prêm ios, gra­
tificações esporádicas, gratificação de N atal, ajudas de custo, diárias para viagens,
abono de férias, férias indenizadas, aviso-prévio indenizado, m ulta do art. 137, § 2a,
da CLT e m u itas o u tras). Se não fazem p arte do salário co n tra tu al, p o r oulro lado
não d im in u e m seu valor faltas ao serviço, descontos p erm itid o s em lei, reduções
evenluais do salário etc.
785. V igência da ex ig ib ilid ad e — D esde 10.11.1943, o salário-habitação in ­
tegra a rem u neração dos em pregados, ex vi do art. 458 da CLT. Nos term os do
Parecer CJ/MTPS n. 109/1969 (in Processo MTPS n. 135/861/1968), aprovado pelo
M inistro do Trabalho e Previdência Social, a exigência das co n trib u içõ es previden-
ciárias conta-se a p artir de I a. 1.1969.
A respeito do valor do salário-habitação, vários p ontos de vista form ulam -se,
v alendo destacar os seguintes:
a) o percen tual da parcela co m ponente do salário m ínim o deve ater-se ao
p ró p rio m ín im o regional.
N esse caso, o valor do salário-habitação é constante: 33% do salário m ínim o
regional, em São Paulo. A redação do § I a do art. 458 da CLT, d ad a pelo D ecreto-lei

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo II — Previdência Social 699


n. 2 29/1967, referin d o -se aos p ercen tu ais d o salário m ín im o e não aos p e rc e n ­
tuais do salário, pôs fim a essa interpelação, adotada até então p o r M ozart Victor
Russomano (“C o m entários à CLT”, 3- ed., vol. II, p. 628).
b) o percentual da parcela co m p o n en te do salário m ínim o deve ater-se à re­
m u neração m ensal do em pregado, não im p o rtan d o qual seja ela.
N essa h ipótese, de todas a m ais inviável, o valor do salário-habitação é variá­
vel, m ês a m ês, d ep en d en d o do salário do em pregado, flutuando conform e flutuar
sua rem uneração, e isso não condiz com a ideia de valor locativo, m ais duradoura.
c) o salário-habitação, calculado à base de 33% do salário co n tratu al, com põe
a rem uneração, e então o recebido em d in h eiro corresponde a 100% - 33% = 67%
dessa rem uneração.
Trata-se do salário-habitação p o r dentro, cujo valor pode ser obtido pela m u l­
tiplicação do salário em dinheiro p o r 1,4925.
A p artir de l s . 1.1981, n ão condiz com a Lei n. 6.887/1980.
Em face da onerosidade nele contido (decorrência do ajuste expresso ou táci­
to, em co n traprestação dos serviços prestados e não para a prestação dos m esm os
serviços, caso das frentes de trab alh o ), não p airando dúvidas de o salário-habitação
co m p o r o salário de contribuição, o parágrafo único do art. 76 da LOPS, redação
da Lei n. 6.887/1980, refere-se ao fato gerador sobre o qual o percentual deve ser
calculado.
A lgum a incerteza reside em saber se se trata de n o rm a in stitu íd o ra ou inter-
pretativa da m atéria. Boa p arte da dúvida deriva do em prego do verbo "passar”. Em
virtude do d isposto no D ecreto-lei n. 229/1967, antes m esm o da Lei n. 6.887/1980,
o critério de cálculo do valor do salário-habitação tom ava p o r base o salário co n ­
tratual. Vigente o p rin cípio da subsidiaridade da legislação social, conciliando-se o
p io n eirism o histó rico e a precedência jurídica da norm a trabalhista, resulta: antes
da Lei n. 6.887/1980, o salário co n tra tu al era o fato gerador. D estarte, esta últim a
lei, sem em bargo do verbo em pregado, é interpretativa e não in stitu íd o ra do lim ite
do valor, a ela preexistente.
786. L im ites e ra zo ab ilid ad e — Segundo o art. 458, § 1Q, da CLT, o valor do
salário-habitação deverá ser ju sto e razoável, determ inação provinda da C onven­
ção da OIT n. 95/1949, ratificada pelo Decreto n. 41.271/1957.
Im ediatam ente, tem -se: 33% do salário m ínim o não é ju sto nem razoável.
D esprezando sua conceituação filosófico-sociológica, praticam ente, resulta
inadm issível, p o r exem plo, residindo dois em pregados n u m m esm o co n ju n to h a ­
bitacional com posto de m oradias iguais, se o salário de u m é m aior em com paração
com o salário do ou tro , o valor do salário-habiLação seja igual.
A fórm ula a ser en co n trad a há de fazer o salário-habitação das vilas resid en ­
ciais ser igual, in d ep en d en tem en te do salário dos seus ocupantes. Sugestão válida,
crê-se, que seja consentânea com a lei e a mens legis, pois, é o valor locativo do
im óvel, respeitado o lim ite de 33% do salário contratual.

C urso de D ir ü t o P r e v id e n c iá r io

700 W la d if J iir N o v a e s M a r t i n e z
Tal solução, p o u co prática, im plica u m custo operacional elevado, consistente
na verificação desse valor. Todavia, se factível, deve ser adotada.
A disposição in tro d u zid a pela Lei n. 6.887/1980 diverge sobrem aneira do art.
458, § l e, da CLT. Na legislação trabalhista, dispõe-se sobre o lim ite d o valor do
salário-habitação. Este, nos term os do D ecreto-lei n. 229/1967, não poderá exceder
33% do salário c o n tra tu a l, m as p o d erá ser in fe rio r a esse lim ite, n u n c a abaixo
de 33% d o salário m ínim o, sem pre ju sto e razoável, isto é, co rresp o n d en d o ao valor
locativo. Já a atu al redação do art. 76, I, da LOPS d eterm in a ser 33% do salário
con tratu al. Tem-se aí conflito entre n o rm a geral trabalhista (m antém -se para todos
os seus fins) e n o rm a especial previdenciária, q u an d o fixa regras p ró p ria s p ara o
seguro social. A solução não pode desco n h ecer o princípio da prim azia da realida­
de. N ão tem sen tid o exigir co ntribuições calculadas com base em 33% do salário
co n tratu al se a m o rad ia vale m enos ou m u ito m enos. Todavia, a lei é clara no sen ­
tido anterior.
787. Im óveis d e te rc e iro s — Im óveis cedidos pela em presa aos em pregados
podem não ser de sua propriedade, apresentando-se, então, diversas situações fora
da regra (residências p erten cen tes ao em pregador).
a) habitação de terceiros: Caso os im óveis pertençam a terceiros, pessoa física
ou ju ríd ica, d istin tas do em pregador, não im p o rtan d o se com cobrança ou não
dos alugueres, u m a rem uneração assem elhada à das gorjetas, pois são pagam entos
feitos p o r terceiros — m erecem exam e acurado das circunstâncias processadas.
Salvo as referidas gorjetas, os pagam entos feitos p o r terceira pessoa a em pre­
gado não têm sido m u ito estudados no D ireito do Trabalho e se m an têm incog-
noscíveis.
Q u an d o tais cessões não se caracterizarem com o burlas à norm a trabalhista,
não p o derão ser consideradas com o integrantes da rem uneração do em pregado.
No exam e da reg u laridade de tais situações, questão a ser am plam ente ventilada é
saber a causa de tais cessões gratuitas, pois elas dim inuem o p atrim ô n io dos p ro ­
p rietário s do im óvel.
h) habitação paga pelo empregador: O u tra hip ó tese acontece q u an d o o em prega
d o r firm a co n trato de locação com terceiros, em benefício de em pregado. É, ainda,
salário-habitação, in d ep en d e n tem en te de o em pregador nâo ser o p ro p rietário do
im óvel. Se há cobrança de algum n u m erário , nào sim bólico e inferior ao nível lo ­
cativo, a diferença é salário-habitação. O D ecreto n. 58.400/1966, relativam ente ao
Im posto de Renda, assim enten d ia (art. 47, g).
Se a em presa cobra aluguel da m oradia (inex istente, n o caso, co n trato de lo ­
cação p ró p rio ), inexiste acréscim o nos ingressos do trabalhador, não h á obrigação
fiscal em relação à co ntribuição previdenciária, sindical ou do FGTS.
C aso ela cobre p arte de valor locativo do im óvel ou abaixo dos 33% do salário
co n tratu al, a p arte restante é salário-habitação e fica sujeita à co n trib u ição p re­
videnciária. Se co bra u m m o n tan te irrisório, sem expressão pecuniária, quantum
sim bólico, é com o se nada cobrasse. Se a em presa exige parte do valor locativo

C urso de D ir e it o P
Tom o II — Previdência 5 o c i a I
b e v id e n c íá r ío


do im óvel ou abaixo dos 33% do salário co n tratu al tem -se a parte restante com o
salário-habitação e sujeita à contribuição previdenciária. Subsiste a cessão g ratu i­
ta; raram en te bem sem expressão no m u n d o econôm ico não tem significado no
universo ju rídico.
M esm o se a em presa cobra o aluguel do im óvel locado pelo seu valor real,
tal ajuste, paralelo ao do trabalho, não será contrato de locação típico, este se rege
pela Lei do Inquilinalo, salvo se esta lei for observada e, exem plificativam ente, o
em pregado, após a rescisão co n tratu al, p u d e r c o n tin u ar o cu p an d o o imóvel.
O TRT da 9 a Região, no A córdão de 14.12.1976 (Processo n. 110/1976, in
LTr n. 31/393) decidiu: se o “em pregado ocupa um a casa em razão do co n trato
de trab alh o , em b o ra ten h a sido firm ado u m c o n tra to de locação, a co m p etên cia
é da Ju stiça do Trabalho para apreciar reclam atória onde se d iscuta a supressão da
h ab itação ”.
c) abono para aluguel: Urna terceira categoria de im óveis de terceiros é a h ip ó ­
tese de o em p reg ad o r entregar ao em pregado im portância em dinheiro para pagar
o aluguel. Essa im portância vem sendo cham ada de abono p ara aluguel e deve
inserir-se no conceito de salário-habitação, cu m p rin d o observar-lhe as condições
e lim ites, com o se a p ropriedade do im óvel fosse do em pregador.
788. Pluralidade de residentes — A dotando-se o valor locativo do im ó ­
vel com o d eterm in an te básica do salário-habitação ou, com o se conclui, 33% do
salário co n tratu al, se diversos trabalhadores, parentes ou não, em pregados de igual
em presa, ocupam um a m esm a residência, não há sen tid o em v in cu lar o valor do
salário-habitação à som a dos salários dos em pregados ocupantes da residência,
devendo estim á-lo a p artir do m o n tan te do imóvel e distribuí-lo proporcionalm ente
aos residentes.
N ão há n o rm a trabalhista ou previdenciária urb an a a esse respeito, m as o
art. 30 da Lei n. 4.214/1963 (ETR) fixa regra tom ada p o r analogia: “Sem pre que
m ais de u m trab alh ad o r residir só ou com sua fam ília na m esm a m orada fornecida
pelo em pregador, o desconto estabelecido no artigo an terio r será dividido propor­
cionalm ente aos respectivos salários”.
Vincular-se o salário-habitação ao cabeça do casal ou a quem em prim eiro
lugar ocupa o im óvel co n traria o interesse dos dem ais locatários e lhes causa sen ­
síveis prejuízos, não só em relação aos benefícios trabalhistas com o aos previden­
ciários. E m bora a Lei n. 5.889/1973, em seu art. 9°, § 2a, proíba a m oradia coletiva
de fam ílias, se acontece, a solução deve ser a m esm a.
789. R esidências ru ra is — Diversas categorias de trabalhadores rurais, su b ­
m etidos à legislação trabalhista ru ral (Lei n. 5.889/1973), eram obrigatoriam ente
sub m etidas ao regim e u rb an o de previdência social (RCPS, art. 5S, VI a IX; RBPS,
art. 3B, VIII a XI). D escontando 8% de sua rem uneração, o em pregado — em presa
rural — co n trib u i em favor do FPAS.
O valor da parcela rem u n erató ria corresp o n d en te à utilidade-habitação, in
casu, disposta no art. 9Q, a, da Lei n. 5.889/1973, é de até 20% do salário m ínim o.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

702 W l a d ím i r N o v a e s M a r t i n e z
D isciplinando a m atéria, o DNPS determ inava: o valor de habitação, for­
n ecid a pela em p resa ao trab a lh a d o r ru ra l, só in teg ra o salário d e co n trib u içã o
q u an d o decorrenLe de cláusula p actuada no ajuste laborativo ou costum e local
p resum ido com o obrigação (R esolução CD/DNPS n. 358/1971, in Processo MTPS
n. 127.092/1970).
790. R esu m o d a p en d ê n cia — R esultam as seguintes conclusões:
a) Desde 10.11.1943, até a data an terio r à vigência do D ecreto-lei n. 229/1967,
o v alo r do salário-habitação consiste no percentual de com posição do salário m í­
nim o a ele aplicado.
b) D esde a vigência do D ecreto-iei n. 229/1967, o salário-habitação é o valor
locativo do im óvel até 33% do salário co n tra tu al (no caso, do E stado de São Paulo).
c) Essa exigibilidade das co n tribuições previdenciárias conta-se a p artir de
l e.6.1969.
d) A p artir da vigência da Lei n. 6.887/1980, o salário-habitação, para fins p re­
videnciários, é de 33% do salário co n tratu al, perm anecendo, para fins trabalhistas,
o valor locativo até 33% do salário contratual, por analogia com a lei previdenciária
(o p ercen tu al de 33% é o vigente no Estado de São Paulo).
e) Em relação ao lim ite do salário-habitação, é interpretativa a Lei n. 6.887/
1980.
0 O m o n tan te do salário co n tra tu al incorpora as im portâncias perm an en tes
e exclui as acidentais.
g) P agam ento de quantum irrisório, a título de alugueres, não caracteriza o
co n trato de locação oneroso.
h) Inexiste b u rla à CLT se terceiros fornecem g ratuitam ente as m oradias; não
há salário-habitação.
i) Em vez de fornecer residência, se o em pregador paga em d in h eiro o n u ­
m erário co rresp o n d en te, h á incidência de contribuição calculada sobre o referido
valor.
j) Para fins de contribuição previdenciária dos trabalhadores rurais sujeitos
ao regim e u rb a n o de previdência social, a m edida do salário-habitação é o valor
locativo do im óvel rural até 20% do salário m ínim o regional.
k) Se d u as o u m ais pessoas ocupam um a m esm a residência, o valor locativo
do im óvel deve ser proporcionalm ente distrib u íd o a todos.

C urso de D ir e it o P r e v i d e n c í Ar io

T o m o U — P r e v id ê n c ia S o c ia l 703
Capítulo LXXIX

S e g u r o d e V id a

791. Origem laborai, 792, Características relevantes. 793. Substituti-


S umArio :
vidade do benefício. 794. Incorporação patrimonial. 795. Previdência comple­
mentar. 796. Doutrina e jurisprudência. 797. Destinação do aporte. 798. Con­
dição resolutiva. 799. Seguro para terceiros. 800. Alterações no regulamento.

A lgum as em presas celebram co n trato de seguro de vida em grupo em favor


de seus diretores e em pregados, e seus dependentes, arcando com a totalidade ou
parte do prêm io, facultando aos trabalhadores aderirem a esse ajuste de vontades.
Com esse proced im en to, ju lg am estar prop ician d o m aior proteção securitária e
otim izar, ainda m ais, as boas relações de trabalho m antidas com os em pregados.
Tanto q u an to o aporte p atro n al das patrocinadoras para as EFPC, a questão
suscita discussões q u an to à natureza do valor.
791. O rigem lab o rai — O salário de contribuição, base de cálculo da hipótese
de incidência da co n tribuição devida pelo em pregado e em presa, em relação ao
FPAS, é desenvolvido no art. 28, 1, do PCSS com o “a rem uneração efetivam ente
recebida ou creditada a q u alq u er título, d u ra n te o m ês, em u m a ou m ais em presas,
inclusive os ganhos habituais sob a form a de utilidades, ressalvado o disposto no §
8S e respeitados os lim ites dos §§ 3Qe 4S deste artigo”. A Lei n. 9.528/1997 alargou
o conceito, porém , sem afetar o tem a ora em discussão.
A grandeza p ecu n iária do fato gerador não é, necessariam ente, concepção
trabalhista, a despeito de suas parcelas co n stitu in tes coincidirem com rubricas
re m u n erató rias laborais. A distinção é assegurada pela fisionom ia e papel do in sti­
tuto ju ríd ico previdenciário.
E videntem ente, na m aioria dos casos, a raiz do conceito p o n tu a a função
su b stituidora do benefício de pagam ento continuado. É idealização insitam ente su b ­
sequente, en q u an to a obreira é naturalm ente precedente. A cessório, o salário de
co n tribuição segue boa parte do destin o do principal, en q u a n to tal processo não
destoar do en cam in h am en to específico da previdência social, enfático dian te do
trabalhista, e igualm ente subm isso à vontade da lei.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

704 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
U sualm ente, a rem uneração oriu n d a da em presa presta-se com o parâm etro
para d eterm in ação dos benefícios, m as não cessa aí a influência do in stitu to traba­
lhista com o referencial e fonte de consulta. E ventuais p erquirições qu an to à n a tu ­
reza ju ríd ic a do p agam ento devem abeberar-se no D ireito do Trabalho, o prim eiro
a d ar a palavra, sem p rejuízo da in dependência do D ireito P revidenciário.
D istintas as n u clearidades consideradas, as sem elhanças entre os elem entos
da rem uneração e os do salário de contribuição, bem com o a proxim idade de am ­
bos, são facilm ente aceitas q u an d o exam inadas com o responsáveis pela subsis­
tência habitual da pessoa hum ana. E p orque a lei, refletindo esse estado de coisas
p ré-ju ríd ico , assim o deseja.
Para im p o rtân cia (nível p ecu n iário ) o u valor (c o n teú d o ) pertencerem ao
co nceito legal de salário de contribuição é preciso aten d e r ao dispositivo a n te­
rio rm en te rep ro d u zid o. D escartada a possibilidade de ser ganho habitual (não ser
utilid ad e), ser rem u n erató ria, não ser in d en izató ria o u ressarcitória e possuir as
n uanças definidoras.
792. C a ra c te rístic a s re lev an tes — C aracterísticas não são necessariam ente
elem en to s da definição, e sim aspectos fu n d am en tais do ente enfocado. O desen­
volvim ento seguinte lem bra idealizações para sinalizar o conceito, isto é, fornece
ajuda q u an d o a parcela sob estudo resiste à apreensão de sua essência m ais íntim a.
A diante serão vistos os principais dados relacionados com a questão em tela
dizem respeito à: a) su bstitutividade; b) incorporação patrim onial; c) destinação
dos aportes; e d) condição resolutiva.
793. Substitutividade do benefício — O s valores integrantes do salário de
co n trib uição são su b stitu íd o s pelos benefícios de pagam ento co n tin u ad o , quando
da percepção destes. Por isso, nem todos os valores rem u n erató rio s integram o
conceito. A co n trib u ição destina-se à obtenção social dos recursos pecuniários
necessários à form ação das prestações.
N ão fosse a in ten ção de obstar a contratação de aposentados (disciplinada em
favor do s ativos), e a contribuição dos ju b ila d o s p o r tem po de serviço, especial ou
p o r idade, d escu m p riria esse aspecto. P or isso, ex tin ta pela Lei n. 8.870/1994. O
pecúlio, ú n ica p reten são colim ada, não é de pagam ento co n tin u ad o e foi igualm en­
te elim inado do Plano de Benefícios (Lei n. 8.213/1991).
P erscru tan d o -se as im portâncias, se os vários critérios legais não perm itirem
um a solução final, carece verificar se se ju stifica a su b stitu ição pela prestação pre-
videnciãria, m an ten d o -se o nível de ingressos d a pessoa hum ana. Exem plifica-se
com o salário-habitação, pagam ento in natura facilm ente convertível em pecúnia,
e com a verba de representação. Após a aposentação, o trab alh ad o r precisa contar
com o v alo r co rresp o n d en te à prim eira parcela para a m an u ten ção do padrão de
vida. Ao co n trário , n a m aioria dos casos, além de a segunda não ser rem uneratória,
é dispensável na inatividade.
Se o seguro de vida fosse exigência p erm a n en te e todas as pessoas precisassem
celebrar o co n trato co rresp o n d en te, o valor da renda m ensal inicial deveria cobrir

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I — P r e v id ê n c ia S o c ia l
705
essa despesa e para tan to su b stitu ir a contribuição. As pessoas têm necessidade
de m orar, alim entar-se, vestir-se e transportar~se, m as não de segurar a vida. Se o
fazem é para o b ter proteção com plem entar, não garantida pela prestação estatal.
794. In co rp o ração p a trim o n ia l — Para valores fazerem parte integrante do
conceito sob enfoque, é im prescindível agregarem -se aos bens do trabalhador. Isso
arreda alguns deles, p rincipalm ente os in denizatórios e os ressarcitórios. N ada
acrescem .
N ão é fácil estim ar a parcela ad u to ra do p atrim ônio; igualm ente difícil, a não
aum entadora. A lei, às vezes, soluciona, firm ando presunções relativas e absolutas,
caso das diárias para viagem .
É b o m alinhavar idealizações sobre a incorporação ao p atrim ô n io (m ais ou
m enos a m esm a q u estão pertin en te à definição do direito adquirido). A adição
pode su ced er d iretam ente, vale dizer, o trabalhador vê au m en tad a a rem uneração
q u an d o ela é am pliada com d eterm inado valor devido, creditado ou pago. Dá-se,
tam bém , in d iretam en te, q u an d o ele deixa de ter essa despesa p erm an en te (ex.:
habitação, alim entação, transporte, saúde e vestuário). N esta últim a hipótese, é ele­
m ento n u clear da instituição a im prescindibilidade e habitualidade da im portância:
só h á am pliação se a pessoa realm ente co n su m ir aquele valor; caso contrário, não.
Isso se dá com o oferecim ento, p o r parte do em pregador, da previdência
co m p lem en tar ou da assistência ã saúde em d elerm inado nível de atendimenLo.
A im p o n d erab ilid ad e (probabilidade de não acontecer) arreda a possibilidade de
incorporação às avessas em relação a essas parcelas (não fossem elas, per se, m a­
nifestações próprias da seguridade social). O corre tam bém com o seguro de vida
feito pela em presa, pois, necessariam ente, não há certeza de o trabalhador fazêdo.
O usu al é não contratá-lo.
795. P rev id ên cia c o m p le m e n ta r — Previdência com plem entar privada,
aberta ou fechada, não é salário, constitui-se na p ró p ria prestação previdenciária,
m esm o fornecida a custo zero para o trabalhador. Em face da facultatividade de
ingresso no sistem a, ele poderia não se filiar ao fundo de pensão. Padece da m esm a
im ponderabilidade de o u tras prestações vinculadas à seguridade social, d ep e n d en ­
tes de virem a se efetivar no curso do co n trato de trabalho ou do tem po. Nessas
condições, não se co n stitui em parcela rem uneratória.
O valor co rresp o n d en te às despesas da em presa com a EFPC, para a Lei n.
9.528/1997, se estendido o benefício a todos os trabalhadores, não integra o salário
de contribuição.
796. D o u trin a e ju ris p ru d ê n c ia — Pelo m enos, p o r dois m otivos, o valor
corresp o n d en te à assistência à saúde não integra o salário de contribuição: a) ser a
saúde prestação securitária constitucional; e b) ser im possível verificar-se a incor­
poração ao p atrim ô n io , no caso, se o em pregado não se u tilizar do serviço.
Assim en ten d eu o TRF da I a Região (A córdão n. 21.280 da 3§ Turm a, na Ape­
lação Cível n. 1989.0100361-9/M G , Juiz Rei. M urat Valadares, in R epertório IOB
de Ju risp ru d ên cia da 2- q u inzena de m aio de 1990).

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

706 W ladim ir Novaes M a r ti n e z


Maria W ilma de A. S. Rezende, da C o n su lto ria Ju ríd ica do M inistério da Previ­
dência e A ssistência Social, reportando-se ao P arecer CJ/MTPS n. 142/1991, acos­
tou-se à n atu reza não rem u n erató ria da assistência à saúde (P arecer CJ/MPAS n.
107/1992, in DOU de 13.11.1992). Bem b astante assem elhado ao oferecido pela
em presa aos seus em pregados e dirigentes.
797. D estin ação d o a p o rte — Talvez a m ais im p o rtan te característica ausente
no seguro de vida em tela seja a destinação do aporte. M uitas vezes, desconhecida.
Só tem sen tid o lógico, ju ríd ico e fiscal a exigibilidade se a im portância re­
clam ada destinar-se a custear os benefícios. Isso é essencial à exação com o um
todo; ela é o m eio para a execução de um propósito. C o n seq u en tem en te, a própria
prestação, especialm ente se propiciada pela em presa, não pode ser base de cálculo
n em fato gerad o r da contribuição previdenciária. Ela, per se, presta-se para outros
d escontos, com o pensão alim entícia ou Im posto de Renda, m as não para a cotiza-
ção securitária. N ão tem cabim ento, q u an d o a prestação é diretam en te m inistrada
(com o u sem fin an ciam ento direto), su b sistir a obrigação ( “O C om plem ento de
Benefícios e o art. 138 da CLPS”, in RPS n. 98/77).
O co rren d o o sinistro, havendo incidência de contribuição — na hipótese de
o INSS aceitar o valor para cálculo do salário de benefício — , ter-se-iam duas p ro ­
teções para a m esm a contingência.
798. C o n d ição re so lu tiv a — Q u ando a em presa celebra co n trato de segu­
ro com terceiros em favor de seus em pregados, ela objetiva co bertura potencial
d ep en d en te de ev en to fortuito e futuro im prescindível, acréscim o su b o rd in ad o à
condição resolutiva. Isto é, será necessário suceder o sinistro para sobrevir a in d e­
nização. Não é salário e, so bretudo, rem uneração, im portância in d ep en d en te de
condição. A retribuição pode ser condicionada, m ediante ajuste, a diferentes acon­
tecim en to s (com o, p o r exem plo, para o ven d ed o r com issionista, a consum ação da
venda sob ascendência do obreiro).
Para aperfeiçoar o acréscim o ao patrim ônio do obreiro (ele receber m ais, o
valor do seguro), é preciso acontecer o sinistro. Até então, é sim ples possibilidade
de ocorrência. De im ediato, e o salário é sinalagm aticam ente retribuição co n tem ­
porânea ao trabalho, nada sucede.
O co rrid o o fato deflagrador, o salário não dep en d e de m ais nada. Às vezes, a
em presa institui prêm io su b m etid o a determ inada situação, sobre a qual o traba­
lh ad o r n ão m odifica ou interfere.
Com tal valor, além de ocasional e não habitual, não ser su b stitu íd o pela p res­
tação previdenciária, o segurado não deve contar.
Não aten d e a q u alq u er obrigação legal, fá-lo espontaneam ente, e, da m esm a
form a, q u an d o da aposentação, inexiste obrigação de o inativo celebrar esse tipo
de co n trato .
799. Seguro p a ra terc eiro s — Saber se im portância integra o salário de c o n ­
tribuição, isto é, incluí-la n o conceito de rem uneração, im plica verificar sua n a tu ­
reza juríd ica. Q u an d o não é salário, então p erq u irir sua essência.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c íAr io

T om o U — P r e v id ê n c ia S o c ia l
707
A em presa, esp o n taneam ente, im planta vantagem em favor dos trabalhadores,
visando a m elh o r protegê-los contra os infortúnios da vida. Além da previdência,
custeada p o r con trib u ições profissionais e patronais, en ten d e de am pliar a cober­
tu ra oferecendo parte do custeio do prêm io de u m seguro de vida. N ão se estava
sujeita a isso, pois, até certo lim ite, trata-se de obrigação do Estado.
Assim , estã-se diante de estipulação espontânea em favor de terceiros, co n ­
tratada pela hab itu alid ade, com natureza previdenciária co m p lem en tar privada.
800. Alterações no Regulamento — A p a rtir de 5.3.1997, o R egulam ento
do C usteio (D ecreto n. 2.173/1997) acresceu a letra r ao art. 37, § 9Q: “O valor
das co n trib u içõ es efetivam ente pago pela pessoa ju ríd ica relativo a program a de
previdência com plem entar, aberto ou fechado, desde que disponível à totalidade
de seus em pregados e d irig en tes”, não integra o salário de contribuição (RPS, art.
214, § 9Q, XXV).
Tal conclusão interpretativa do P oder Executivo decorreu da natureza ju r í­
dica da exação previdenciária, pois o PCSS não havia m odificado o conceito. Sua
concepção é verdadeira, em bora não possa ser aplaudida q u an d o exige ser o bem
assegurado a todos os trabalhadores. V erdadeiram ente, ele não sofre m utação se
estendido aos em pregados su bordinados, esquecendo-se a em presa dos dirigentes.
O m esm o texto, com o antecipado, passou a fazer parte da Lei n. 9.528/1997.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
708
Capítulo LXXX

A c id e n t e s d o T r a b a l h o

S u m Ar io : 801. Normas consultãveís. 802. Contribuintes sujeitos. 803. Taxas sub­


sistentes. 804. Critério de estabelecimento. 805. Responsável pelo enquadramen­
to. 806. Possibilidade de revisão. 807. Trabalhador temporário. 808. Escritório
de construtora. 809. Contribuição do presidiário. 810. Taxa da microempresa.

E m bora não m ais se ju stifiq u e, p o d en d o ser englobada pela “taxa ú n ica” p a­


tronal, a co n trib u ição destinada ao custeio das prestações acidentárias co n tin u a
separada das dem ais, gerando confusão e desinform ação q u an to a sua natureza.
Não há q u alq u er m otivo para isso; co ntabilm ente, o INSS agrupa as duas fontes.
A penas h isto ricam en te se explica a distinção.
801. N o rm as co n su ltáv e is — O seguro de acidentes do trabalho estã previsto
nos arts. 7Q, XXII (prevenção) e XXVIII, da CF, em que trata do seguro p ro p riam en ­
te dito, e n o art. 201, I, ao aludir à co b ertu ra acidentãria.
A Lei n. 8.212/1991 o prevê no seu art. 22, II: “financiam ento da com plem en­
tação das prestações p o r acidente do trabalho, dos seguintes percentuais, in cid en ­
tes sobre o total das rem unerações pagas ou creditadas, no d eco rrer do m ês, aos
seg urados em pregados e trabalhadores avulsos: a) omíssis; b) omíssis; c) omissis”.
D epois, a Lei n. 9.528/1997, além de fazer m enção à base de cálculo de form a
d esto an te do inciso I do art. 28 e d e a lu d ir ao “grau de in cid ên cia de in cap aci­
d ad e laborativa d ec o rre n te dos riscos am b ien tais do trabalho, conform e disp u ser
o reg u lam en to , nos seguintes p ercentuais, sobre o total das rem u n eraçõ es pagas
ou creditadas, no d ec o rre r do m ês, aos segurad os em pregados e trabalhadores
av u lso s”, em im proprieclade legislativa, com eteu ao regulam ento a fixação dos
p ercen tu ais.
O RCPS ditava: “A contribuição da em presa, destinada ao financiam ento da
co m plem entação das prestações p o r acidente do trabalho, co rresp o n d e à aplicação
dos seguintes percen tuais incidentes, sobre o total da rem uneração paga ou credi­
tada a q u alq u er título, no decorrer do mês, aos segurados em pregados, trab alh ad o ­
res avulsos e m édicos-residentes: I — omíssis; II — omissis; III — om issis” (art. 26).
C om o se verá adiante, o D ecreto n. 2.173/1997 alterou a m atéria.

C urso dl D ir e it o P r r v ip e n c iAr io

T om o JJ — P r e v i d ê n c i a S o c i a l
H istoricam ente, a legislação sobre acidente do trabalho é copiosa. In a u g u ro u ­
-se com o Decreto Legislativo n. 3.724/1919. Foi alterada p o r várias .leis e, p rin ci­
palm ente, pelo Decreto-lei n. 7.036/1944.
R ecentem ente, foi m odificada pelo D ecreto-lei n. 893/69, Lei n. 5.316/1967,
Lei n. 6.367/1976 e D ecreto n. 79.037/1976. Do assunto trataram as duas CLPS,
em p articular o art. 38 do D ecreto n. 83.081/1979.
N aárea ru ral,p ela Lein. 6.195/1974, regulam entada pelo D eereton. 76.022/1975.
A Relação das Atividades, Segundo o G rau de Risco, foi regulam entada diversas
vezes, valendo consignar a Portaria MPAS n. 3.609/1985 e a Relação de Atividades Pre­
ponderantes e C orrespondentes G raus de Risco, conform e a Classificação N acional
de Atividades Econôm icas — CNAE, contida no Anexo í do Decreto n. 2.173/1997.
A tualm ente, o Anexo V do RPS, na redação dada pelo Decreto 6.957/2009.
802. C o n trib u in te s su jeito s — Os sujeitos passivos da obrigação fiscal são
os seguintes: a) em presas de m odo geral — todas com em pregados, tem porários,
avulsos e servidores sem regim e próprio; b) entidades de fins filantrópicos — dis­
pensadas da co n tribuição por força da im u n id ad e fiscal; c) em presas rurais — in ­
cluída em alíquota d esnecessariam ente apartada; d) em pregador dom éstico — in e­
xistente; e) pessoa física com em pregado — não regulam entada; e f) construção
civil — com o de q u alq u er indústria, n o rm alm en te de 3%, ten d o gerado problem as
em relação aos escritórios.
803. Taxas su b s is te n te s — São três as alíquotas previstas: a) risco leve — 1%;
b) risco m édio — 2%; e c) risco grave — 3%. A partir de l s.1.2010, sujeitas ao FAP.
804. C rité rio d e estab e lecim en to — Até 4.3.1997, a determ inação da ativida­
de p rep o n d eran te da em presa fazia-se em função do “m aior n ú m ero de segurados
em pregados, trabalhadores avulsos e m édicos-residentes” (art. 26, § l 9, do D ecreto
n. 612/1992), e a distinção operava-se p o r estabelecim ento conform e possuísse
CNPJ individualizado.
Desde o D ecreto n. 2.173/1997, passou a ser: “a atividade que ocupa, na em ­
presa” — não m ais no estabelecim ento — “o m aior núm ero de segurados em ­
pregados, trabalhadores avulsos ou m édicos-residentes” (art. 26, § 1Q), conform e
disposto no seu A nexo I.
O com ando é inferior ao pretérito; este apresentava o defeito de vincular-se ao
critério de concessão do CNPJ, m as dizia respeito ao estabelecim ento. O vigente fala
em em presa, e com isso escritórios e lojas de indústria, se n a produção existirem
mais em pregados trabalhando, recolherão pela m esm a alíquota do parque fabril: 3%.
A im propriedade é patente. Lado a lado, fazendo o m esm o serviço e trab a­
lh an d o em igual circunstância e am biente laborai, tais trabalhadores da em presa
poderão op erar ju n ta m e n te com tem porários ou pessoas de o u tra em presa cujas
alíquotas possam ser diferentes.
805. R esponsável pelo e n q u a d ra m e n to — O en q u ad ram en to é de iniciativa
da em presa. D iante de sua atividade, principais e acessórias, conform e a existência

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

710 W l a d i m i r N o v a e s M a r t in e z
de u m ou m ais estabelecim entos, filiais etc., ela se posicionará em u m dos três
gru p o s de risco, sob código específico, ad o tan d o a alíquota correspondente.
Q u an d o de visita fiscal, a RFB poderá rever essa classificação. Na hipótese de
ter havido en q u a d ram en to a m aior, existirá restituição ou com pensação; se m enor,
sujeitar-se-á ao reco lhim ento com acréscim os legais.
806. P o ssib ilid ad e de revisão — Em bora taxativa a relação de riscos, diz
o art. 27 do R egulam ento do C usteio: “O MPS deverá revisar, trienalm ente, com
base em estatísticas de acidentes do trabalho e em relatórios de inspeção, o en q u a­
d ra m e n to das em presas de que trata o art. 26, visando estim u lar investim ento em
prevenção de acidentes do trabalho. Parágrafo único. O MPS e o MTA adotarão,
im ed iatam en te, p o r interm édio de C om issão con stituída no âm bito da Secretaria
N acional de Previdência Social — SNPS e da Secretaria N acional do Trabalho —
SNT, as providências necessárias à im plem entação de sistem a de controle e acom ­
p an h a m e n to de acidentes do trabalho, a p artir da com unicação prevista no art. 142
do R egulam ento dos Benefícios da Previdência Social — RBPS”.
Se o co n trib u in te se ju lg a equivocadam ente classificado nessa relação de ris­
cos e alíq u o tas deve elaborar dossiê fu n d am entado e encam inhá-lo ao MPS. O MPS
“p o d erá au to riz ar a em presa a re d u zir em até cin q ü en ta p o r cento as alíquotas da
co n trib u ição a que se refere o artigo anterior, a fim de estim ular investim entos
d estin ad o s a d im in u ir os riscos am bientais do trab a lh o ”.
A red u ção da alíquota referida condiciona-se à m elhoria das condições de
trabalho, m ed ian te a prevenção e gerência de risco, im pliquem a dim inuição dos
acidentes, fruição de auxílios-doença e m elhorem a saúde do trabalhador.
807. T ra b alh ad o r tem p o rá rio — Em n en h u m a das relações de atividades
por grau de risco, se encontrava descrição expressa p ara agência de em prego, in-
term ed iad o ra ou fornecedora de m ão de obra ou em presa de trabalho tem porário.
O C ódigo 8 0 .5 0 7 (0 ), m ais próxim o dessas atividades, referia-se a “escritório de
colocação e registros diversos”, sem m aiores esclarecim entos.
A em presa de trabalho tem p o rário não se confunde, à vista da sua definição
legal, com a agência de em prego — cujos colocados não têm vínculo trabalhista
com ela — n em com em presa fornecedora de m ão de obra.
Ela p o d e ser de todo tipo (excluídos os órgãos públicos e as ru rais), su jeitan ­
do-se os seus em pregados, conform e o caso, às três diferentes taxas.
O tem p o rário , q uando lhe presta serviços, o faz em local de trabalho em que
presen tes riscos leves, m édios e graves.
N ão po d e ser 1%, relativa ao escritório da fornecedora de m ão de obra, salvo
se ela apenas fornecer tem porários para trabalhar em escritórios.
A dotar a taxa da tom adora é ideia atraente e ap aren tem en te lógica, pois obser­
va o risco a que fica sujeito o trabalhador, conflita com o critério do CNPJ ( “Taxa
de seguro do trab alh ad o r tem p o rá rio ”, in Inform ativo D inâm ico lOB, de julho de
1984, p. 835/834).

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 711
808. Escritório de construtora — Os canteiros de obras de grandes em prei­
teiros situam -se geograficam ente afastados de sua sede social, áreas onde realizadas
as atividades-fim da em presa. Assim, o m aior núm ero de em pregados e de outros
prestadores de serviços, com o au tô n o m o s e subem preiteiros, executa suas funções
profissionais ou em presariais onde desenvolvidas as obras, condicionadas as o p e­
rações à orientação técnica o riu n d a da central adm inistrativa, local da celebração
dos co n trato s das diferentes obras, feitos os estudos, plantas e program ações de
trabalho a ser executado no canteiro de obras de cada proprietário.
Na sede social, acontecem en cam inham entos inerentes à gerência de q u al­
q u er em presa com ercial ou in d u strial, com preendidos, principalm ente, no G rupo
805 — Escritórios comerciais, p articu larm en te n o C ódigo 805.08 (0) — Escritórios
de firm a s industriais, da Relação de A tividades P rep o n d eran tes e C orrespondentes
G raus de Risco.
C om o as atividades-m eío de outros segm entos da econom ia, as do co n stru to r
têm reduzido riscos de acidentes do trabalho. Isso leva o elaborador da norm a
previdenciária a en quadrá-las no risco leve, su jeitando a base de cálculo da co n tri­
buição previdenciária à alíquota de 1% (PCSS, art. 26, II, fl).
Por o u tro lado, as dem ais operações industriais, m orm ente a edificação, su ce­
dem no universo das atívidades-fim , o u seja, da construção civil pro p riam en te dita,
abarcadas no G rupo 121 — Construção civil e, especialm ente, sob o C ódigo 121.01
(0) — Construção civil em geral, situadas no risco grave, subm etidas à alíquota de
3% (PCSS, art. 26, II, c).
Tal cenário suscita dúvidas qu an to ao en q u ad ram en to na Relação de Ativi­
dades P rep o n d eran tes e C orrespondentes G raus de Risco, anexa ao D ecreto n.
2.173/1997, aludida no art. 22, II, a a c, do PCSS (Lei n. 8.212/1991). P ossuindo
um único CNPJ, qual a taxa de seguro de acidentes do trabalho do escritório da
sede social e dos diferentes canteiros de obras?
Não co n stan d o da lei referência ao CNPJ, a d eterm in an te da existência do
estabelecim ento e, co n sequentem ente, da taxa de contribuição, o en ten d im en to
foi frequentem ente discutido na Ju stiça F ederal, pois a no rm a regulam entadora
contrariava noção técnica de risco de acidentes do trabalho. Os tribunais vinham
enten d en d o nesse sentido e, destarte, a taxa de escritório de firma in d u strial era
0,4% (A córdão n. 2.064/PB, da I a Turm a do TRF da 5a Região, de 20.6.1991, in
DJU de 12.7.1991), devendo ser diversificada da produção em função da diversi­
dade de riscos (A córdão n. 1 9 9 0 .0 1.06366-7/M G , de 7.10.1991, da 3 ã Turma do
TRF da 1§ Região, in DJU de 11.11.1991).
C onstante da n o rm a vigente, diz o art. 22 do PCSS (Lei n. 8.212/1991): “11 —
para o financiam ento da com plem entação das prestações p o r acidente do trabalho,
dos seguintes percentuais, incidentes sobre o total das rem unerações pagas ou
creditadas, no d ecorrer do mês, aos segurados em pregados e trabalhadores avulsos:
a) 1% (um p o r cento) para as em presas em cuja atividade p re p o n d eran te o risco
de acidentes do trabalho seja considerado leve; b) 2% (dois p o r cento) para as em ­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

712 W /íu f im ir N o v a e s M a r f i n c e
presas em cuja atividade p re p o n d era n te esse risco seja co n sid erad o m édio; c) 3%
(três p o r cento) p ara as em presas em cuja atividade p re p o n d eran te esse risco seja
consid erad o grave”.
R egulam entando o PCSS, dizia o D ecreto n. 357/1991: “C onsidera-se p re p o n ­
d erante a atividade econôm ica au tô n o m a que ocupa o m aior nú m ero de segurados
em pregados e trab alhadores avulsos n a em presa ou estabelecim ento a ela eq u ip a­
ra d o ” (art. 26, § 1Q).
E, aduzia: “E stabelecim ento equiparado para os fins deste artigo é aquele
que d epende de ou tro, o principal, a m atriz, possuindo, todavia, CGC próprio do
M inistério da E conom ia, F azenda e P lanejam ento e onde são exercidas atividades
econôm icas au tô n o m as pelos segurados em pregados e trabalhadores avulsos da
em presa cen tralizad o ra” (§ 2Q).
Q u er dizer, adm itia, nu m a m esm a em presa, desm em brados fisicam ente os
dois segm entos, m eio e fim, p o ssu ir atividades econôm icas au tô n o m as e p re p o n ­
d eran tes, caso da atividade-m eio (sede social) e da atividade-fim (produção), com ­
p reen d id as sob o m esm o CNPJ. P resentes os C ódigos 121.01 (0) e 805.08 (0),
descabia a distin ção entre escritório e industrialização em relação à em presa se,
trad icio n alm en te, os seus estabelecim entos, filiais ou dependências (canteiro de
obras) não têm CNPJ próprio.
F in alm en te, p o n d o fim à possível dú v id a, aclaran d o ainda m ais a Lei n.
8 .2 1 2 /1 9 9 1 , relativ am en te ao co n ceito de estab elecim en to , de d ep e n d ên cia ou
filial, diz o art. 26, § 2Q, do D ecreto n. 612/1992: “C onsidera-se estabelecim ento
da em presa a d ep e n d ên cia, m atriz ou filial, que possui n ú m ero de GCG p ró p rio ,
bem com o a obra de construção civil executada sob sua responsabilidade” (grifos
n o sso s).
Em diversos m o m en to s o elab o rad o r da n o rm a previdenciária, q u an d o cuida
do seguro de acidentes do trabalho, fala em atividade econôm ica au tônom a, evi­
d en tem en te com o fito de apartá-la da d ependente. A ideia desse pen sam en to é a
possibilidade lógica de em diferentes estabelecim entos p ro d u tiv o s oferecerem -se
níveis desiguais de riscos de acidentes de trabalho, devendo, p o rtan to , cada um
deles ap o rtar desigualadam ente.
Sob o p o n to de vista da exploração m ercantil, os esforços conjugados da or­
ganização em presarial podem ser divididos em dois setores básicos: a) atividades-
-m eio, vale dizer, m étodos p red isp o n en tes e acessórios à consecução do objetivo
social, to rn an d o possível u ltim ar o resultado colim ado; e b) atividades-fim , as efe-
tivadoras da realização do em p reen d im en to m ercantil, geralm ente um co n ju n to de
práticas voltadas d iretam en te para a p rodução de bens e serviços.
Esses esforços h u m an o s po d em ser sistem atizados conform e cada espécie de
em p reen d im en to , sob estabelecim entos in d ep en d e n tes ou não, m as sem pre in ter­
ligados. E xem plo típico desse cenário é a in d ú stria autom obilística. A liberdade
da atividade econôm ica nào é absoluta, pois a produção m o d ern a é sem pre acom ­
p anhada, ag ru p ad a em p o n to s em com um e con d u zid a seg u n d o procedim entos

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c i a l 713
de m an u fatu ra da m atéria-prim a, e su bm etida à organização. Resulta im possível à
m on tad o ra finalizar o p ro d u to sem a coordenação das diferentes fases do trabalho,
operada pela m atriz, junto ao fabricante de autopeças.
A tividade econôm ica significa a produção, seja no segm ento da atividade-
-m eio seja no da atividade-fim , capacidade de en cam in h ar os processos de m an u ­
fatura, sob a supervisão da concepção central, m as in d ep en d en te, especial e o p e­
racionalm ente. No caso da construção civil, os critérios de edificação, em bora sob
orientação da sede social, onde in teiram en te im aginada a obra, são com pletam ente
d istintos, pela n atureza m esm a das coisas (execução) das atividades dos escritórios
centrais, idealização e orientação. Os processos de trabalho da construção civil, de
m o d o geral, nào se co n fu n d em com os da adm inistração; isso é tam bém válido para
m u ito s o u tros em p reen d im en to s econôm icos. Mas não acontece n u m escritório de
contabilidade, onde todos os passos (projeto, coordenação e execução) sucedem
no m esm o ou em diferentes am bientes de trabalho, porém , em igualdade de co n ­
dições. E, co n seq u en tem ente, conform e os en cam in h am en to s do trabalho sujeitos
às m esm as possibilidades de o trab alh ad o r sofrer acidente.
U m a co n stru ção civil pode ad m itir planejam ento, incorporação, venda e p ro ­
dução de im óveis em o u tro s prédios, em distintas atividades. São todos esforços
indep en d en tes, e o en q u ad ram en to n a relação de riscos de acidente do trabalho
depende de estarem se realizando no m esm o sítio, em igual dependência, su b m e­
tidas ao m esm o CNPJ (critério ju ríd ic o ) e conform e o nú m ero de trabalhadores
ali ocupados.
O risco de acidente do trabalho no escritório de co n stru to ra não é igual —
valendo o raciocínio para todas as in d ú strias — ao da obra de construção civil. N or­
m alm ente, o risco é classificado com o sendo leve, en q u an to o da área de produção
é tido com o grave, a eles co rresp o n d en d o as alíquotas de 1% e 3% respectivam ente.
A razão de o legislador distin g u ir atividades econôm icas incom uns, desenvol­
vidas em diferentes estabelecim entos, é frequentem ente ocorrerem em lugares dis­
tintos, onde realizadas operações p rodutivas diferenciadas e, u sualm ente, p o ssu í­
rem graus de riscos p róprios. Seu escopo principal é firm ar correlação técnica entre
a frequência e a gravidade dos acidentes (m aiores na agricultura e na in d ú stria e
m enores no com ércio), ten tan d o atrib u ir à em presa o n d e sucedem os infortúnios
a responsabilidade ju ríd ica correspectiva, e estim ulá-la à prática da prevenção dos
acidentes.
Se a alíquota é uniform izada, o sujeito passivo não se sente m otivado à re d u ­
ção do nú m ero de acidentes, além de penalizar quem , natu ralm en te, em razão da
atividade exercida, não propicia o m esm o índice acidentário. O responsável deve
co n trib u ir com valor su p erio r ao do não responsável para a constituição das fontes
de custeio das prestações acidentárias. U m a sim ples relação de causa e efeito, esta­
tu íd a ex vi legis e p arte integrante da tradição do D ireito Previdenciário.
Caso a em presa possua escritório (risco leve), com ércio (risco m édio) e in­
d ú stria (risco grave), subm etida, respectivam ente, a três distin tas possibilidades

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

714 W f a d i m ir N o v a f s M a r f i n s
de aciden tes do trab alho, ela se equipara à situação de três diferentes em preendi­
m en to s onde, in d iv idualm ente, desenvolva as funções de escritório, de com ércio
e de in d u stria, b astan do para isso, em todos os casos, os serviços realizarem -se em
distin to s sítios operacionais, isto é, apresentando índices de acidentes do trabalho
inerentes a sua atividade.
A m enção do CNPJ p ró p rio é p ressuposto do legislador de o M inistério da
Fazenda só ex p ed ir essa m atrícula para estabelecim entos diferentes, em bora o cri­
tério, n o caso, seja exclusivam ente jurídico.
Todos os regulam entos, desde o D ecreto n. 79.037/1976 até o D ecreto n.
612/1992, fazem d istinção, im posta pela realidade dos fatos. Se no m esm o local de
trabalho, igual estabelecim ento ou filial, enfim , na m esm a d ependência da em pre­
sa, são exercitadas várias atividades econôm icas, sujeitando os obreiros a diferentes
graus de risco, to d a a un id ad e é en q u ad rad a na alíquota co rresp o n d en te à atividade
prep o n d eran te, não im p o rtan d o se separados fisicam ente ou não, em bora assim
devesse ser.
D estarte, n u m m esm o espaço físico, em igual extensão espacial, se a em presa
po ssu i atividade in d u strial (per se sujeita, em princípio, à taxa de 3%) e, tam bém ,
atividade com ercial (per se sujeita, em tese, à alíquota de 2%), toda ela estará su b ­
m etida à taxa co rresp o n d en te ao m aior n ú m ero de em pregados. E xistindo, com o
é usual, m ais pessoas o perando n o seto r industrial, a taxa será de 3%; se no setor
com ercial, de 2%, p o rque esse quantum d eterm in a a possibilidade de acidentes.
Caso a co n stru to ra esteja erigindo obra onde, no m esm o lugar, exista setor de
atividade adm inistrativa, próxim o de refeitórios, dorm itórios, alm oxarifado e escri­
tório ap ro p riad o ao canteiro de obras, seus segurados estarão sujeitos à taxa de 3%.
A existência de núm ero de m atrícula distinta, expedidas pelo MF para em p re­
en d im en to s econôm icos situados nas im ediações de outro, da m esm a pessoa ju r í­
dica, sem m eios de serem separados fisicam ente com vistas ao risco de acidentes,
su b m eten d o os trab alhadores das vizinhanças a tais riscos, é critério m eram ente
ju ríd ico -fo rm al (sim ples posse do CNPJ individualizado). C ontraria a noção de
perigo e a possibilidade de ocorrência de acidentes. C o n sequentem ente, não se
presta à relação en tre o n ú m ero de eventos danosos e à co b ertu ra financeira in d is­
pensável, co m p ro m ete a alíquota aplicável, e esta se com unica de u m a para outra
atividade.
D estarte, p o r exem plo, não pode um trabalhador, sujeito a u m risco m aior
(p o rq u e viaja, inspeciona lugares perigosos, visita obras etc.), registrado no escri­
tório da sede social, beneficiar o sujeito passivo da obrigação fiscal com a taxa de
risco co rolariam ente m enor.
Às vezes, a ideia de espaço físico para a em issão do CNPJ é desnorteada pela
realidade. Se não é im possível co n c eitu ar o estabelecim ento de ferrovia (p rin cip al­
m ente, a linha férrea), praticam ente o será para em presa de tran sp o rtes m arítim os
ou aéreos. Sem falar nas situações em que juridicam ente não exista CNPJ (v. g., no
local de prestação de serviços do tem porário ou n o exterior).

C urso de D ir e it o P r e v i d e n c i A i^ o

T om o í f — P r e v i d ê n c i a S o c i a l
715
In casu, considerações jurídicas são irrelevantes; o risco do lugar onde acontece
o trabalho determ ina a taxa de seguro. Diante do fato de norm alm ente as obras de
co n stru ç ão civil não n ec essaria m e n te p o ssu írem CNPJ específico e toda a gam a
de ocupações da construtora ficar subm etida ao m esm o núm ero do ME exigindo em
nível adm inistrativo um a taxa de seguro própria, a Form ulação IAPAS/SAF n. 27/1981
firm ou o seguinte entendim ento: “Os escritórios de em presas de construção civil são
enquadrados, para efeito do seguro de acidentes do trabalho, com o risco grave e,
consequentem ente, sujeitos à contribuição de 2,5% (dois e meio por cento) sobre a
folha de salário de contribuição. As m atrículas específicas e o recolhim ento por obra
visam, apenas, com provar a quitação para efeito de em issão de certificados, sem o
propósito de equiparar as obras a estabelecim entos com CGC próprio’ e de configurar
os escritórios com o unidades autônom as de natureza adm inistrativa. “A contribuição
é genérica, abrangendo toda e qualquer atividade de construção civil” (Resolução do
Conselho Atuarial n. 44/1981, exarada no Processo IAPAS/CG n. 1.039.724/1981).
Trata-se de in terpretação interna. Ignorou lapidarm ente o G rupo 805.08 (0)
— Escritório de firm a s individuais e fez da co n stru ção civil o único seto r distin-
guido com tal exegese, ao arrepio do disposto no art. 150, II, da CF A causa, nào
explicitada n o ato norm ativo referido, é o fato de os canteiros de obras não serem
con tem plados com a em issão de m atricula pelo MF, em bora o sejam pelo MPS
(C E I), q u an d o o certo era sopesar a ideia geral da lei acidentaria: atrib u ir diferentes
alíquotas a distin to s riscos contidos em atividades díspares.
E m n e n h u m m o m ento a legislação acidentaria ou previdenciária fixou cri­
térios a respeito da u nicidade dos estabelecim entos das em presas. Esta é p roduto
dos regulam entos.
N ào é esse o espírito ou o sentido lógico e teleológico da lei, e, co n seq u en te­
m ente, não podia o P oder Executivo extrapolá-la fixando alíquota de contribuição
para a em presa, co n trarian d o a regra universal exacional: “A com petência trib u tá­
ria é indelegãvel, salvo atribuição das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos,
ou de ex ecutar leis, serviços, atos ou decisões adm inistrativas em m atéria trib u tá­
ria, conferida p o r u m a pessoa ju ríd ic a de direito público a o u tra, nos term o s do
§ 32 do art. 18 da C onstituição" (art. 7a do C TN ). A C onstituição F ederal de 1988
declara tex tu alm en te a im possibilidade de “exigir ou a u m en ta r trib u to sem lei que
o estabeleça” (art. 1 5 0 ,1).
E m bora tardio, o § 2° do art. 26 in clu iu a “o bra de co n stru ção civil executada
sob sua resp o n sab ilid ade” entre os estabelecim entos, po d en d o , m esm o sem CNPJ
pró prio, sujeitar-se à alíquota diferenciada. O u tra não poderia ser a com preensão
da A dm inistração Pública em face da evidência dos fatos e da deliberada intenção
do legislador, com o dem onstrado.
A Lei n. 8.212/1991, inicialm ente, loi regulam entada pelo D ecreto n. 356/1991.
Nesse com ando ad m inistrativo, não havia conceito de estabelecim ento equiparado
à em presa. C om o D ecreto n. 612/1992, com parece o art. 26, com o § 2S, deixando
claro serem as obras de construção civil espécie de dependência de em presa de
construção.

C urso n r D ir e it o P r e v id e n c iá r io

716 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O conceito, tan to do prim eiro q u an to do segundo decreto regulam entador,
presta-se para a A dm inistração Pública, m as de n en h u m a serventia p ara os c o n tri­
b u in tes de m o d o geral p o rq u e não co nstante da lei.
E n ten d er os canteiros de obras com o estabelecim entos próprios da em pre­
sa não d ep en d e do decreto, pois o critério de v incular a d ep endência ao CNPJ é
ditam e de o u tro decreto, em delegação de p o d er não só não autorizada pela lei,
com o co n trária ao p rincípio da legalidade inscu lp id o n o art. 5S, II, da Lei Maior.
N en h u m a lei atrib u iu ao CNPJ (e se o fizesse não seria científico, e sim ju ríd ico ) a
capacidade de d efinir onde ocorrem m ais e m enos acidentes. Tam bém não o p o d e­
riam fazer os reg u lam entos, e m u ito m enos ato norm ativo com o a F orm ulação. A
Lei n. 8.212/1991, sem pejo de repristinação — em face do in terregno de vigência
da Lei n. 7.787/1989 — , restabeleceu o critério da Lei n. 6.367/1976, a prim eira
a co n tem p lar a tríplice alíquota conform e o grau de risco. Assim, o en ten d im en to
de as obras de co n stru ção civil deverem ser subm etidas à taxação distinta do escri­
tório prevalece desde 1° 11.1991. O art. 26, § 29, do RCSS apenas determ inava à
Fiscalização do INSS não m ais exigir tal en q u a d ram en to indevido sem reconhecer-
lhe a validade para o passado. Não tendo e não podendo c o n stitu ir ou desco n stitu ir
obrigação fiscal, lim itou-se a declarar a inexistência do inexistente.
C onclusões: a d espeito de p o ssu ir u m ún ico CNPJ, o co n stru to r deve ser
en q u ad rad o em dois graus de risco, p ró p rio s da atividade-m eio (escritório ad m i­
n istrativo) e da atividade-fim (edificação de obras de construção civil); subm etido
à alíq u o ta de 1%, em relação à folha de pagam ento da ad m in istração e à alíquota
de 3%, resp eitan te à m ão de obra da produção, in d ep en d e n tem en te da posse de
CNPJ para os can teiros das diferentes obras.
809. C o n trib u iç ã o do p re sid iá rio — Os presidiários eram considerados p ro ­
tegidos pela prestação acidentária. C onform e a F orm ulação IAPAS/SAF n. 11, de
3.6.1980, os estabelecim entos congregadores de presidiários estiveram obriga­
dos a recolher a co n tribuição de 2,5% relativa à rem u n eração efetivam ente paga
aos presidiários, classificados sob o C ódigo 80.708 (0) (D ecisão in Processo n.
1.011.966/1979).
810. Taxa d a m icro e m p resa — M icroem presa e em presa de peq u en o porte
não o p tan tes pelo Sim ples NACIONAL, in d ep en d e n tem en te do grau de risco, ad o ­
tam a taxa m ínim a, de 1% (Lei n. 7.526/1984).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o d a í 717
Capítulo LXXXI

F l e x ib il iz a ç ã o d o SAT

Su m a r i o : 811. Taxa de contribuição. 812. Autoenquadramento. 813. Empre­

sa e estabelecimento. 814. CNAE e CNPJ. 815. Atividade preponderante. 816.


Enquadramento de não empregados. 817. CriLério de enquadramento. 818. Fa-
lor Acidentário de Prevenção. 819. Conclusões preliminares. 820. Contestação
empresarial.

O seguro de acidentes do trabalho, histórica e anacronicam ente distinguido


da proteção com um , m onopolizado pelo INSS, é um seguro social b astante asse­
m elhado ao seguro privado, m ediante um a contribuição da em presa (prêm io) que
tem por fato gerador a rem u n eração m ensal do segurado (salário de contribuição)
sem q u alq u er lim ite de valor.
T eoricam ente essa contribuição objetiva a cobertura acidentaria (auxílio-do-
ença, aposenLadoria p o r invalidez, auxílio-acidente e pensão p o r m orte). Teorica­
m ente; ela e as dem ais co n trib u içõ es sociais constituem englobaclam ente o FPAS
que custeia todos os benefícios.
811. Taxas de c o n trib u iç ã o — Até 31.12.2009, com o FAP en tra n d o em vigor
em l 9.1.2010, as taxas de seguro de acidentes do trabalho estabelecidas a p artir
l e.6.2007, pelo D ecreto n. 6.042/2007, e revistas pelo Decreto n. 6.957/2009, eram
de 1% (risco leve), 2% (risco m édio) e 3% (risco grave).
Depois das m u d anças ocorridas ex vi do D ecreto n. 6.957/2009, a partir da
com petência janeiro de 2010 elas serão m ultiplicadas pelo FAP e variarão a cada
12 m eses com base na experiência da frequência, gravidade e custo dos benefícios
acidentários (Lei n. 10.666/2003).
Em sua concepção técnica essas três alíquotas vinculadas aos três riscos q u e­
rem dizer que a em presa q u e m ais provocar acidentes do trabalho aportará u m
nível m aior de contribuição.
812. A u to en q u a d ram en to — Assim que iniciadas as atividades, a em presa
vinculada ao RGPS em face do seu CNPJ e da descrição de sua atividade eco n ô m i­
ca, ex am inando o A nexo V do RPS (D ecreto n. 6.957/2009), prom overá um a u to ­
enq u ad ram en to , o p tan d o p o r um a das três alíquotas.

C urso d e D ir e it o P r e v ip e n c iA m o

718 W l a d im i r N o v a e s M a r í m e s
Q u an d o d iscip lina esse posicio n am en to , o art. 22 do PCSS reza: “II — Para
fin anciam ento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei n. 8.213, de 24 de
ju lh o de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapaci­
dade laborativa d eco rrente dos riscos am bientais do trabalho, sobre o total das re­
m u n eraçõ es pagas ou creditadas, n o decorrente do m ês, aos segurados em pregados
e trabalhadores avulsos: a) 1% (um p o r cento) para as em presas em cuja atividade
p rep o n d eran te o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; b) 2% (dois
p o r cento) para as em presas em cuja atividade p re p o n d era n te o risco de acidentes
do trabalho seja considerado m édio; c) 3% (três p o r cento) para as em presas em
cuja atividade p re p o n d eran te o risco de acidentes do trabalho seja considerado
grave” (art. 22).
Igual definição se po d e colher no art. 202, l/III, do RPS, que consagra a ideia
de que o en q u ad ram en to é feito p o r em presa e não p o r estabelecim ento: “C on­
sidera-se p re p o n d era n te a atividade que ocupa na em presa, o m aior núm ero de
segurados em pregados e trabalhadores avulsos” (art. 202, § 2°),
813. E m p resa e e stab e lecim en to — Para os fins do SAT, em presa é o em ­
p re en d im en to eco n ô m ico, lu crativ o o u não, com p erso n alid a d e ju ríd ic a , m as
sem configuração m aterial. C onsiderando-se um a delas com u m a única unidade
ou com várias u n id ades, em cada um dos estabelecim entos, o critério será o da
prep o n d erân cia do núm ero de em pregados. Se a u n idade no seu estabelecim ento
ap resenta variados riscos (leve, m édio e grave), o critério é o básico, a área com
m aio r n ú m ero de em pregados é que d eterm in ará a alíquota a ser fixada.
E stabelecim ento é a expressão física d a em presa, u m am b ien te em que sucede
a produção. N estas condições, um em preendim ento pode ter u m a única unidade
(é o caso m ais co m u m ) o u várias e então esses estabelecim ento serão cham ados,
às vezes, de filiais, sucursais, canteiro de obras etc. P resentes essas un id ad es sepa­
radas fisicam ente elas têm CNPJ próprio.
814. CNAE e CNPJ — De regra, observadas as d eterm in açõ es legais, o CNPJ
rep resen ta um a u n id ad e produtiva p ró p ria e no com um dos casos indica um esta­
belecim ento.
A C om issão N acional de Classificação — CONCLA, p o r in term éd io de sua
S ubcom issão Técnica da CNAE-Fiscal divulga o Roteiro da C odificação e CNAE-
-Fiscal, versão 2001, em que fixados os P rocedim entos O peracionais Padrão para
C odificação em CNAE-Fiscal.
O p rim eiro nível de agregação na tabela é a Seção, representada p o r letras (A
a Q ). N elas foi localizada a Seção K — Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços
prestados às empresas (D ivisões 70 a 74), a que m ais se aproxim a dos serviços ter­
ceirizados.
Seu item 5 desse roteiro divide-se em vários passos, com indicação das o rien ­
tações corresp o n d en tes. O d o cu m en to possui u m glossário em que arroladas, en ­
tre outras, as definições de preponderância, receita operacional, u n id ad e, unidade
auxiliar, u n id ad e produtiva, além de explicitar o que seja atividade principal e ati­

C ürso de D ir e it o P R n v i p r .N C i A R i o
T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 719
vidade secu n d ária e d istin g u ir o CNAE do CNAE-Fiscal. Da análise desse roteiro,
deflui que será a atividade econôm ica e não o CNPJ (que po d e ser individualizado
p o r un id ad e) que d eterm in a o CNAE.
815. A tividade p re p o n d e ra n te — Desde que se co n heceu a redação do art. 22
do PCSS e com o foi aplicada pelo INSS, estabeleceu-se polêm ica sobre o critério da
p rep o n d erân cia q ue se espraiou pela d o u trin a e ju risp ru d ên c ia, form ando-se duas
correntes. Dos que en ten d em q u e deve ser: a) com base no nú m ero de em prega­
dos de toda a em presa; e b) com base no núm ero de em pregados de cada um a das
unidades.
Reza o art. 86, II, da In stru ção N orm ativa SRP n. 3/2005 que “considera-se
prep o n d eran te a atividade econôm ica que ocupa, na empresa, o m aior núm ero
de segurados em pregado e trabalhadores avulsos, observado que: a) ap u rad o no
estabelecimento, na em presa ou n o órgão do p o d er público, o m esm o núm ero de
segurados em pregados e trabalhadores e avulsos em atividades econôm icas d istin ­
tas, considerar-se-á com o p re p o n d eran te aquela que co rresp o n d er ao m aior grau
de risco; b) não serão considerados segurados em pregados que prestam serviços
em atividades-m eio, p ara apuração do grau de risco, assim en ten d id as aquelas que
auxiliam ou co m p lem entam in d istin tam en te as diversas atividades econôm icas da
em presa, tais com o serviços de adm inistração geral, recepção, faturam ento, co­
brança, contabilidade, vigilância, d entre o u tro s”.
N um caso sim ples, se um a em presa m antém duas un id ad es n o m esm o estabe­
lecim ento e CNPJ (escritório e área pro d u tiv a), prevalecerá a alíquota da atividade
em que presta serviços o m aior nú m ero de em pregados. No com um dos casos, se o
escritório tem 20 colaboradores (risco leve) e 60 deles, n a parte fabril (risco grave),
prevalecerá a taxa de 3% para toda a folha de pagam ento da em presa. Ao contrário,
se n o escritório trabalham 80 pessoas e 20 na fábrica, a taxa desta ú ltim a será a
do escritório (1% ). R aciocínio legal que ignora que o risco do escritório difere da
produção.
N um a o u tra hipótese, a que p ro d u z as divergências, caso sejam duas unidades
situadas em estabelecim entos distintos, cada um deles com seu próprio CNPJ, o
enq u ad ram en to se fará com base n o s em pregados em cada um a dessas unidades.
Assim, con sid eran d o que não h á p rodução da atividade-fim no escritório, ali a alí­
quota será de 1%. Se h o uver algum a área não pro d u tiv a na fábrica e m aior nú m ero
de pessoas na produção, a taxa será de 3%. Para a Receita F ederal do Brasil, a taxa
será de 3% para toda a em presa.
Esse é u m pen sam ento que conflita com a ideia da aposentadoria especial,
pois q uem trabalha n o escritório de um a em presa que apresenta insalubridade
am biental não fará ju s ao benefício. Este, som ente será devido a quem opera na
área in d u strial, com o lem bra Antônio S. Polini ( “Seguro de A cidentes do Trabalho
— SAT”, disponível na E nciclopédia Ju ríd ica Soibelm an — in Ju s N avigandi).
ju lg a-se que boa parte das divergências, q u an d o se faz a interpretação m e­
ram ente gram atical, é que as m enções à palavra “e m p resa” não estão indicado o

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

720 W la d im ir N o v a e s M a r íin e s
local de p restação de serviços, até p o rq u e esse vocábulo n ão tem m aterialidade.
Os acidentes ocorrem nas suas unidades, nos estabelecim entos, com CNPJ indivi­
dualizados ou não; estes têm substância m aterial. Ricardo Araújo Cozer reproduz
acórdão do STJ dizendo q u e a taxa “é determ inada separadam ente p o r estabeleci­
m ento da em presa” (acórdão da 1- Turma do STF n o Ag/Rg no Agravo de In stru ­
m ento n.722.829/SP, relatado em 14.3.2006 pelo Min. Teori Albino Zavaski (DJ de
3.4.2005). L apidarm ente, no acórdão, exarado no RESP n. 353.482/SC (in Processo
n. 2004.0032818-1), em 9.11.2005, diz o relator M inistro José Delgado: “2. A alí­
q u o ta da co ntribuição para o Seguro de A cidente do Trabalho — SAT deve corres­
p o n d er ao grau de risco das atividades desenvolvidas em cada estabelecim ento da
em presa, m esm o q u an d o esta possui u m único CGC. 3. P ossuindo o parque indus­
trial e o escritório da adm inistração inscrições próprias no C G C/M F (atual CNPJ),
o en q u ad ram en to da tabela de risco para fins de custeio do SAT será com patível
com as áreas desenvolvidas em cada um deles (art. 40, do D ecreto n. 8 3.081/1979)”.
D iante da presença da palavra “em presa” n o art. 28, 1, do PCSS, que tam bém
com parece n a sú m u la, o INSS tem en ten d id o que o critério da prep o n d erân cia será
fo rm ulado p o r em presa e não p o r estabelecim ento. Nessas condições, não exam ina
a p rep o n d erân cia p o r unidade, m as no c o n ju n to em presarial.
Após longa h istória de debates e m anifestações d o u trin árias, o STJ en ten d eu
que co n so lid ar o seu pen sam en to a respeito de polêm ica q u e vem se arrastan d o há
m uito tem po, diz respeito a se saber q ual deve ser a taxa de co n trib u ição do SAT
relativa à folha de pagam entos dos em pregados q u an d o nu m a área se ocupam em
atividade q u e os expõem a u m dos três tipos riscos (leve, m édio ou grave) e na
o u tra área o risco é d istin to do prim eiro. A Súm ula STJ n. 351 diz: “A alíquota de
co n trib u ição para o Seguro de A cidentes do trabalho (SAT) é aferida pelo grau de
risco desenvolvido em cada em presa, individualizada pelo seu CNPJ, ou pelo grau
de risco da atividade p re p o n d era n te q u an d o h ouver apenas u m registro”.
Em lin h as gerais, p o r exem plo, q u an d o o escritório tem 10 em pregados su ­
je ito s ao risco leve (1%) e o seto r produtivo tem 90 em pregados sujeitos ao risco
grave (3% ). No caso, se os 100 estiverem ocupados em um a m esm a área sob um
ú n ico CNPJ, a co n tribuição de todos os 100 obreiros será de 3%. Ao contrário,
se existirem 55 em pregados na adm inistração e 45 na produção, a alíquota dessa
un id ad e em presarial será de 1%.
81 6 . E n q u a d ra m e n to d e n ão em p re g ad o s — A produção m o d ern a im plica n
utilização de m ão de obra p ró p ria e aquela proveniente de terceiros.
O fen ôm eno da terceirização registra a presença de vários obreiros: a) a u ­
tônom os; b) tem porários; c) cooperados; d) em presários, em pregados ou o utros
segurados fornecidos p o r pessoas ju ríd ic a s etc. N u m caso particular, serve-se de
m enores ap rendizes e estagiários.
Q u an d o a lei fala em cálculo da prep o n d erân cia ela se reporta aos “em prega­
dos e trab alh ad o res avulsos”, possivelm ente p orque n a época de sua concepção a
prestação de serviços não era tão significativa. Possivelm ente, fazendo um a d istin ­

C u rsu de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o Ji “ P r e v id ê n c ia S o c ia l
ção (não m uito clara na legislação), exclui o u tro s obreiros que não sejam os dois
m encionados. P o rtanto, estão excluídos os terceiros desse cálculo, o que é um a
extraordinária distorção, pois todos os que trabalham na p rodução estão sujeitos
aos riscos am bientais.
A O rientação N orm ativa INSS n. 02/1997 excluiu os trabalhadores que p res­
tam serviços n a atividade-m eio da em presa (item 2.2.1), m as isso foi considerado
ilegal no REsp n. 317.846/PR , relatado pela M inistra Eliana C alm on, da 2® Turm a
do STJ, in DJ de 9.5.2005.
817. C rité rio de e n q u a d ra m e n to — C onsiderando-se a em presa com um a
ú n ic a u n id ad e ou em p resa com várias u n id a d e s (e sta b e le c im e n to s), em cada
um a delas o critério será o da preponderância do núm ero de em pregados dos dife­
rentes setores ali presentes.
N o seu estabelecim ento u n itário , se essa divisão apresenta variados riscos
(leve, m édio e grave), o critério é o básico: o m aior nú m ero de em pregados em cada
área de risco d eterm in a a taxa a ser fixada para todo esse estabelecim ento. Antonio
S. Polini arrolou seis acórdãos nessa linha de raciocínio (“SAT — Seguro de Aci­
den tes do T rabalho”, disponível na internet in E nciclopédia Ju ríd ica Soibelm an).
Juliana Junqueira Coelho e André Mendes Moreira se filiam a m esm a corrente,
dizendo que se há um a un id ad e individualizada até m esm o sem CNPJ, o e n te n d i­
m ento tem validade (“A lgum as ilegalidades da contribuição para o SAT — Seguro
de A cidentes do trab alh o ”, São Paulo: Dialética, Revista RDDT n. 126, m ar./2006,
p. 17/19).
8 18. F a to r A cid en tário de P revenção — C onform e o disposto n o art. 202-A
do RPS, n a atual redação dada pelo D ecreto n. 6.042/2007, o INSS procederá à veri­
ficação de três elem en to s definidores do FAP, q u e são a frequência, a gravidade e o
custo, prom ovidas p o r u n id ad e definida no CNPJ, a ser confrontado com o CNAE
da categoria econôm ica.
F requência de acidentes ocorridos em cada un id ad e configurada pelo CNPJ,
portan to , estabelecim ento. G ravidade da ocorrência, ou seja, tem po de duração
da licença m édica para efeitos de auxílio-doença ou ap o sen tad o ria p o r invalidez.
C usto, o total dos valores desem bolsados pelo INSS com os benefícios e que d e ­
pen d em do salário de contribuição de cada segurado.
P ro cedim ento que estabelece um a distinção entre em presa e estabelecim ento,
confirm ando as teses d o u trin árias esposadas e o que vem p ensando o P oder J u d i­
ciário federal.
Com certeza, q u alq u er q u e seja o enq u ad ram en to encetado a p artir de
1Q. 1.2010, sofrerá as conseqüências da redução que poderá chegar a 50% da taxa
vigente ou m ajoração de até 100% d u ra n te 12 m eses ( “Prova e C ontraprova do
N exo T écnico P revidenciário”, São Paulo: LTr, 2008, p. 96/100).
819. C o n clu sõ es p re lim in a re s — O en q u ad ram en to das atividades eco n ô ­
m icas p rin cip ais e secu ndárias desenvolvidas pelas em presas, para os efeitos da

C urso d e D ir e it o P re v id e n c iá rio

722 W la d im ir N o v a e s M a r t in e z
taxação do seguro de ac id en tes do trab alh o é pro m o v id o p o r estabelecim ento,
caracterizado ou não pelo CNPJ, observado o critério da prep o n d erân cia do n ú ­
m ero de em pregados ali o cupados nas diversas atividades subm etidas aos graus de
risco leve, m édio e grave.
Segurados terceirizados, os m enores aprendizes, estagiários, tem porários e
cooperados, e até m esm o os em presários e sócios das pessoas ju ríd icas, não entram
no cálculo do n ú m ero de em pregados que se presta para a determ inação dos crité­
rios da p rep o n d erân cia (rigorosam ente um equívoco do legislador).
Caso todos os em pregados desenvolvam atividades idênticas nu m a m esm a
u n id ad e o u estabelecim ento da em presa com o um a totalidade, a alíquota deve ser
a dessas atividades.
Todas as filiais da em presa e tam bém sua sede social, terá de ser classificada
no CNAE-Fiscal, conform e o Roteiro de C odificação do CNAE-Fiscal, recom en­
d ando-se a co n su lta ao M anual de Prevenção de A cidentes do Trabalho em Serviços
de M anutenção, u m a cartilha divulgada pelo MTE, específica e adequada para a
p rin cip al atividade desenvolvida pela consulente.
N ão há periodicidade para a fixação do CNAE-Fiscal n em para as taxas de aci­
den tes do trabalho, exceto se sobrevierem alterações n o layout d a em presa ou FAP
d iferentes de 1 (u m ) em razão da Lei n. 10.666/2003, hipótese em que anualm ente,
louvando-se na experiência de risco dos últim os 24 m eses, o INSS estabelecerá
u m a nova alíq u o ta do seguro de acidentes do trabalho.
A atualização das alíquotas poderá se d ar a p artir de I a. 1.2010, ocasião em
que en trará em vigor o FAP do D ecreto n. 6.042/2007 e, nesse sen tid o , em razão
da frequência, gravidade e custo dos benefícios previdenciários d eco rren tes de aci­
d en tes do trab alh o , a em presa adotará um a alíquota diferente para cada um a de
suas unidades.
8 20. C o n testaçã o e m p re sa ria l — D iscordando do FAP q u e lhes foi atribuído
em 30.9.2009, as em presas desejam saber quais são as m edidas adm inistrativas e
ju d iciais q u e podem ser prom ovidas para im pugná-lo.
S egundo o Inform ativo da CNI, algum as indústrias sofrerão um acréscim o de
200% n as suas taxas do SAT, m as 80% das em presas pagarão m enos (1% ou 2% ou
3% da folha de pagam ento, a ser m u ltiplicado pelo FAP).
Suas dúvidas se con cen tram no fato de que, a p artir dos seus registros, n ú m e ­
ros ap resen tad o s pelo MPS p o d eriam ser im pugnados.
As dificuldades aum entam um a vez que nesta o p o rtu n id ad e, diferentem ente
de 2007, acionado o site da Previdência Social, não foram inform ados os NITs
(N úm ero de Identificação do T rabalhador) dos segurados q u e teriam sido vítim as
de acidentes do trab alho ou doença ocupacional.
De m o d o geral, ignora-se p o r que as alíquotas vigentes até 31.5.2007 fo­
ram d im in u íd as a co n tar de I a.6.2007 e voltaram aos níveis anteriores a p artir de
1Q.1.2010. O MPS não d eu satisfações à opinião pública.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 723
A inconform idade provém das divergências entre os registros in tern o s de aci­
den tes do trabalho e os que fizeram parte dos com plexos cálculos do MPS. Em
term o s de frequência, a internet apenas inform a a quan tid ad e de ocorrências que o
INSS registra, ou seja, a p artir dos pedidos de NB 91 (auxílio-doença acidentário)
ou NB 92 (aposen tad o ria p o r invalidez acidentaria). E n ad a mais.
Todas as em presas precisam levantar o seu m apeam ento de sinistros, ap u ra­
rem as CAT em itidas, controlarem os p ro n tu ário s m édicos, enfim , descobrirem
realm ente q u an to s segurados requereram benefícios p o r incapacidade, ainda que
com u n s (NB 31 ou NB 32) e tentarem saber se foram convertidos ou não em pres­
tações acidentárias. Será necessário ap u rar a identidade de cada trabalhador, seja
em pregado ou ex-em pregado. E, o que é im p o rtan te, se o afastam ento perdurou
m enos ou mais do q u e 15 dias.
Relevará tam bém d eterm in a r q u an to tem po d u ro u a fruição dos benefícios,
especialm ente o auxílio -doença (data da DCB m enos a data da DIB) e quais eram
os salários de benefício de cada u m dos obreiros. Às vezes, as em presas não têm
inform ações sobre essa duração nem sobre a rem uneração do colaborador que
tam bém pode ser em pregado de o u tra em presa.
O m ais difícil será apurar, ainda que coincidam o C1D com o CNAE afirm a­
do pela perícia m édica do INSS, se a incapacidade é um a doença ocupacional ou
com um . P rincipalm ente, tratando-se de u m a m oléstia não ocupacional, com o é o
caso da degenerativa, faixa etária, endêm ica, genética ou pregressa (ad q u irid a em
o u tra em presa).
A prova será m uito m ais onerosa se previam ente não for in stitu íd a um a rotina
de trabalho adequada ao controle da saúde ou integridade física dos em pregados
desde a sua adm issão na em presa.
O prazo p ara recorrer adm inistrativam ente é cu rto (30 dias) e n a contestação
deve-se p ro testar pela ju n ta d a de provas posteriores. C alcula-se que serão m ilh a­
res de im pugnações e q u e acabará p o r fixarem um a política adm inistrativa sobre
o assunto.
N ão se recom enda q u alq u er ação ju d icial antes de l s . 1.2010, qu an d o o fato
g erador co n stan te da GFIP passará a ser auditado pela Receita F ederal do Brasil,
aproveitando-se essa o p o rtu n id ad e para a oposição de razões e provas em relação
à eventual cobrança de débitos indevidos. Até lá, calcula-se no m ínim o 12 m eses,
os reco rren tes disp o rão de m ais argum entos e evidências a seu favor.
Sem os d o cu m en to s trabalhistas, a partir do A testado de Saúde O cupacional
— ASO da ad m issão , in c lu in d o os exam es seq ü e n ciais e até o exam e dem issio-
nal, os p ro n tu ário s m édicos, os PPP, LTCAT, PPRA, PCMSO etc., e outras inform a­
ções, o Setor Ju ríd ico da em presa terã en o rm es dificuldades de alcançar a verdade
fiscal.

* C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W ia d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo LXXXII

C es sã o d e M ã o d e O b r a

821. Conceito de solidariedade. 822. Cessão de mão de obra. 823. Pres­


S um ário:
tação de serviços. 824. Contrato de empreitada. 825. Local dos serviços. 826.
Solidariedade sem retenção. 827. Microempresa cedente. 828. Impropriedade do
enquadramento. 829. Rol do Regulamento. 830. Compensação de contribuições.

A Lei n. 9.711/1998 alterou a redação do art. 31 do PCSS, obrigando as em pre­


sas co n tra tan tes de certos serviços a reter e a recolher 11% do valor b ru to da nota
fiscal, a p artir de 15.2.1999 (item 53 da O rdem de Serviço INSS/DAF n. 203/1999).
É possível tecer algum as conclusões do desenvolvim ento, a saber:
a) C essão de m ão de obra é colocação de pessoal fornecido pelo cedente,
fu n cio n alm en te à disposição do to m ad o r de serviços, a qu em cabe co n d u zir a exe­
cução do co n v encionado, com seus recursos.
b) Prestação de serviços é a realização, p o r parte de qu em detém os m eios
pró p rio s para obtê-los e age in d ep en d e n tem en te da co n tratan te, norm alm ente exe­
cu tan d o as operações em sua sede social.
c) E m preitada consiste em um em p reen d im en to em que é salientada a tarefa
p roposta, n o rm alm en te n ão contínua, e frequentem ente efetivada nas d ep e n d ên ­
cias do co n tratan te e sem subordinação hierárquica.
d) Indicativo, não é decisivo o local da realização dos serviços; porém , sabida­
m ente, as tarefas in erentes à cessão de m ão de obra geralm ente são ultim adas nas
dep en d ên cias d a co n tratante.
e) Existem lim itações n a Lei n. 9.317/1996 para certas atividades de cessão de
m ão de obra e, nessas condições, os fornecedores equivocadam ente enquadrados
com o Sim ples NACIONAL terão dificuldades com a RFB, q u an to à com pensação
ou restituição.
f) In dividual ou coletivam ente, p o r interm édio de associações de classe terão
de co n ven cer a au tarquia a reg u lam en tar a possibilidade de com pensação, pois
suas co n trib u içõ es p atronais indevidam ente tom aram com o base de cálculo o fa­
tu ram en to e não a folha de pagam ento.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o U — P r e v id ê n c ia S o rtti! 725
g) A m udança de enq u ad ram en to terá de ser solicitada à Receita F ederal do
Brasil.
h) Q uando o fornecim ento de m ão de obra é executado por pequenas so­
ciedades de responsabilidade lim itada, sem em pregados, o tom ador dos serviços
prom overá a retenção de 11%, m as o fornecedor terá dificuldades para operacio-
nalizar a com pensação. O en q u ad ram en to levará em conta a nota fiscal em itida em
cada mês.
821. C o n ceito d e so lid a rie d a d e — S olidariedade é in stitu to ju ríd ic o o riu n d o
do D ireito Civil. Pode ser ativa ou passiva. A solidariedade fiscal ora cogitada é a
passiva. Define-se com o corresponsabilidade de terceira pessoa (co n tratan te) em
relação à obrigação originária do devedor (contratado).
O C ódigo Civil de 1916 pontuava; “H á solidariedade q u an d o na m esm a o b ri­
gação co ncorre m ais de um credor, o u m ais de u m devedor, cada um com direito,
ou obrigado à dívida to d a” (arl. 896, parágrafo único).
In stitu to ju ríd ic o p raticam ente universal, colhido no Direito T ributário (CTN ,
arts. 124/265), n o D ireito do Trabalho (CLT, art. 455) e, em m atéria de construção
civil, de longa data, no D ireito Previdenciário (PCSS, art. 30, VI).
Não se trata de corolário da solidariedade social, m as responsabilidade de
pessoas cham adas à obrigação fiscal ex vi legis.
De longa data, diz a CLT: “N os contratos de subem preitada responderá o su ­
bem preiteiro pelas obrigações derivadas do contrato de trabalho que celebrar, ca­
bendo, todavia, aos em pregados, o direito de reclam ação contra o em preiteiro p rin ­
cipal pelo in adim plem enlo daquelas obrigações por parte do p rim eiro” (art. 455).
Presentes duas pessoas (em preiteiro e subem preiteiro), acontece de o em prei­
teiro ter de assu m ir ô n us do subem preiteiro, devedor originário. Figuras assem e­
lhadas po d iam ser vislum bradas no g rupo econôm ico (CLT, art. 2Qe PCSS, art. 30,
IX) e na sucessão de em presas (CLT, art. 448).
Reflexo n atu ral desse in stitu to trabalhista, transposição reclam ada pela rea­
lidade, a ele co rrespondia o art. 142, § 2B, da 1- CLPS (D ecreto n. 77.077/1976).
O u tro exem plo de utilização do princípio era visível na lei do trabalho tem porário
(CLPS, arl. 142, § 5Q).
Solidariedade é legal e não pode ser presum ida ou inferida. Em face de suas
conseqüências, as hipóteses de aplicação com parecem na lei o u não existem ; fora
dela, especialm ente em decreto ou p ortaria m inisterial, tal em prego é im possível.
Tam bém não se pode ad otar essa técnica p o r integração o u interpretação. N este úl­
tim o caso, só se ficar definido o animus do legislador de corresponsabilizar pessoas
originariam ente não sujeitas.
Até 31.1.1999, a lei previdenciária previa as seguintes m odalidades de solidarie­
dade passiva: 1) construção civil; 2) grupo econôm ico; e 3) cessão de m ão de obra.
Cessão de mão de obra era caso p articu lar n a solidariedade fiscal previdenciã-
ria, aplicando-se as m esm as diretrizes, com as especifícidades distinguidas na lei.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

726 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A redação d efin idora dessa cessão, na versão original (PCSS, art. 31, § 2Q)
pecava pela o b scuridade. Iniciava-se com autorização para os obreiros da fornece­
do ra ingressarem nas dependências da tom adora de m ão de obra ou na de terceiros,
faculdade essa im plícita no cu m p rim en to de co n trato s dessa natureza.
Releria-se a “serviços c o n tín u o s”, com o se as tarefas eventuais, nas m esm as
condições, não restassem subm etidas ao dispositivo. As arroladas n a lei (e n o re­
g u lam en to ) eram , p o r sua n atureza, realizadas em curto espaço de tem po ou d e­
mo rad am en te.
P rosseguindo, aduzia serem esses serviços, “cujas características im possibi­
litem a p len a identificação dos fatos geradores das co n trib u içõ es”. Ora, não era
essa a geratriz da so lidariedade e, sim , a inidoneidade fiscal, a inadim plência e a
dificuldade de cob ran ça do principal devedor.
A Lei n. 9.032/1995 elim inou os “assem elhados especificados no regulam en­
to ”, co rrig in d o as im propriedades norm ativas. S ubstituiu, tam bém , os dizeres
“cujas características im possibilitam a plena identificação dos fatos geradores da
co n trib u içã o ”, p o r “relacionadas direta ou indiretam ente com as atividades nor­
m ais da em p resa”.
D esde a Lei n. 9.129/1995 foi acrescido o vocábulo “n ão ” após a locução “ser­
viços c o n tín u o s” (art. 31, § 2°).
A Lei n. 9.528/1997 m elhorou ainda m ais a redação, fixando: “E xclusivam en­
te para os fins d esta Lei, enLende-se com o cessão de m ão de obra a colocação à
disposição do co n tratan te, em suas dependências ou nas de terceiros, de segurados
que realizem serviços co n tín u o s, relacionados ou n ão com atividades norm ais da
em presa, q u aisq u er que sejam a natureza e a form a da co n tratação ”, texto do art.
31, § 2g, do PCSS, p raticam en te m an tid o na Lei n, 9.711/1998.
U m a in cap acid ade de apuração do fato gerador e a definição do fiscalm ente
responsável levavam à inexigibilidade. Traindo o dispositivo sua h istó ria vinculada
à co n stru ção civil, o legislador não estabelecia percentual relativo à n ota fiscal ou
fatura nem facultava ao regulam ento fazê-lo (até a Lei n. 9.711/1998). Com isso,
criou, in cen tiv o u e p erp etu o u bizantinas discussões em to rn o do quantum presente
de m ão de o b ra em tais docum entos.
Sob delegação legal, o Decreto n. 2.172/1997 arrolava várias atividades: a)
co n stru ção civil; b) lim peza e conservação; c) m anutenção; d) vigilância; e) segu­
rança e tran sp o rte de valores; D transporte de cargas e passageiros; e g) serviços de
inform ática. Por vezes, agindo im propriam ente, o RPS co n tin u a com essa faculdade.
A Lei n. 9.711/1998 acresceu zeladoria e trabalho tem p o rário e su b stitu iu
co n stru ção civil p o r em preitada de m ão de obra (PCSS, art. 31, § 4Q, l/TV). E rede­
finiu a cessão de m ão de obra.
O preceito, em sua versão de 1991, incorria em séria im propriedade, ao com e­
ter ao reg u lam en to atribuição própria apenas da lei. A solidariedade tem existência
q u an d o prescrita expressam ente na n o rm a legal, de nada valendo o legislador or­
d in ário atrib u í-la ao P oder E xecutivo.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia f 727
Duas atividades, de segurança e transporte de valores ou tran sp o rte de cargas
e passageiros (co n tid as no reg u lam en to ), não constavam da lei e esta não podia
transferir ao decreto reg ulam entador com petência para arrolá-las. F oram elim in a­
das na redação atual, convindo saber se incluídas no inciso 111 do § 4Q: “em preitada
de m ão de o b ra”.
Essa im p ró p ria delegação ao regulam ento, m áxim e com vistas à genérica “em ­
preitada de m ão de o b ra”, c o n tin u a prescrita n o § 4 Qdo novo art. 31.
As condições deflagradoras da aplicação da solidariedade dependiam da ini­
ciativa da autarquia; a lei não as definiu. Assim , n ào im p o rtan d o as condições de
equilíbrio co ntábil ou econôm ico, o INSS podia ten tar receber de um a das em pre­
sas a dívida de o u tra, sem ter de d em o n strar — salvo a inadim plência — a in cap a­
cidade da o rig in ariam ente devedora de q u ita r as obrigações.
Isso ficou claro com a Lei n. 9.528/1997, ao alterar o disposto in fin e do caput
do art. 31 (benefício de ordem ).
A legislação previdenciária ressalvava o direito regressivo (PCSS, art. 31, § l s).
Este, n o dizer de OscarJoseph de Plácido e Silva é “toda ação que cabe a pessoa, p re­
ju d icad a p o r ato de o u tra, em vir contra ela para haver o que é de seu direito, isto
é, a im p o rtân cia relativa ao dispêndio ou desem bolso que teve, com a prestação de
algum fato, ou ao prejuízo, q u e o m esm o lhe o ca sio n o u ” (“V ocabulário Ju ríd ic o ”,
4® ed., Rio de Janeiro: Forense, 1975, p. 544).
Com a Lei n. 9.711/1998, o § l 9 do art. 31 deixou de existir sendo substituído
pelo modus operandi em relação ao m o n tan te retido.
822. C essão de m ão de o b ra — A Lei n. 9.711/1998 alterou a redação do
caput do art. 31 do PCSS, que ficou assim: “A em presa co n tratan te de serviços exe­
cutad o s m ediante cessão de mão de obra, inclusive em regim e de trabalho tem porá­
rio, deverá reter onze p o r cento do valor b ru to da nota fiscal ou fa tu ra de prestação
de serviço e recolher a im portância retida até o dia dois do m ês su b sequente ao da
em issão da respectiva nota fiscal ou fatura, em nom e da em presa cedente da m ão
de obra, observado o disposto no § 5° do art. 3 3 ” (grifos nossos).
Salienta-se a distinção co n tid a no texto acim a reproduzido: a) cessão de m ão
de obra; e b) prestação de serviços. E, diante do rol enum erativo do § 4 Q, o signi­
ficado de em preitada.
N o § 3e, com a redação dada pela m esm a Lei n. 9 .7 1 1 /1 9 9 8 , esse art. 31
d efine cessão de m ão de obra, esclarecen d o tratar-se de colocar, à disp o sição do
c o n tra ta n te , pesso as necessárias à ex ecu ção dos serviços (a b strain d o -se, agora,
o u tra s ca rac te rístic as d este in s titu to ali d ec an tad as). C om isso, a co n su m ação
do d esid erato red u z-se à u tilização de pessoal p ró p rio do fornecedor, o p e ra n ­
do pelo re c e p to r (p referiv elm en te em seu estab e lecim en to , p o d e n d o ser n o de
terceiro s).
A lgum as atividades, em virtude de sua nuclearidade, obviam ente só podem
ser objeto de cessão de m ão de obra, caso da lim peza, conservação e zeladoria e

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

728 W / a d ím í r N o v a e s M a r t i n e z
vigilância e segurança. M uitas o u tras, apenas de prestação de serviços (v. g., a ten ­
d im en to cirúrgico p or m édico, parecer de advogado ou p lan ta baixa desenhada por
arq u iteto etc.).
Q u an d o o texto reproduzido faz m enção à fatura de prestação de serviços
apenas indica o d o cu m en to (com o conhecido), sem p reten d er in clu ir a prestação
de serviços no d ever de retenção,
O elem ento n u clear do conceito é a disponibilização do pessoal. No m ínim o
q u er dizer: a) su p ervisão geral, incluindo o controle técnico, p o r p arte da c o n tra ­
tante; b) co n d u ção dos trabalhos em preendida pelo tom ador; c) aplicação de m eios
p ró p rio s do receptor; d) diante da im pessoalidade, a possibilidade de substituição
do trabalhador.
A co n tin u id ad e reclam ada é do serviço e nào do executante. D iante da irre­
levância da form a o u m odalidade do co n trato , os prestadores de serviços podem
originar-se ou não do fornecedor de m ão de obra (os quarteiros).
823. P restação de serv iço s — N ão há conceito de prestação de serviço na lei
ou na O rdem de Serviço INSS/DAF ns. 195/1998, 203/1999 o u 209/1999. Pode
ser a realização do trabalho, norm alm ente, m as não n ecessariam ente na sede da
co n tratad a, visando à realização de trabalho, com os m eios p ró p rio s e a orientação
su p erio r do fo rn eced or de pessoal.
Inexiste disponibilização de m ão de obra em bora possa haver preocupação
com o resu ltad o da tarefa (p ró p ria da em preitada). A distintiva m aior talvez seja o
local da realização dos serviços, na sede da contratada, pois ali dispõe de m elhores
m eios para atin g ir o seu desiderato.
824. C o n tra to de em p re ita d a — E m preitada de m ào de obra pode ser espécie
da cessão e gênero abarcando-a, conform e se convencione.
À vista do item 4 da O rdem de Serviço INSS/DAF n. 195/1998 e da O rdem de
Serviço INSS/DAF n. 203/1999, a diferença consiste exclusivam ente na disp o n ib i­
lidade da m ão de obra, assem elhando-se à prestação de serviços.
N essas condições, ab strain d o sua origem histórica, d ep e n d en d o de sua inter­
pretação, o INSS p o d erá co n sid erar alguns serviços com o concluídos na ideia de
em preitada, m ãxim e q uando referentes à tarefa ou resultado. E o faz com o RPS.
Pela redação atrib u íd a ao subitem 4.1 ( “A plicam -se as disposições constantes
deste ato tam bém à em preitada de m ão de obra na atividade de construção civil,
exceto q u an to aos serviços elencados n o subitem 4 .3 ”), é perceptível a intenção
de não v in cu lar o conceito estritam ente à co n stru ção civil e seguram ente isso ge­
rará problem as de interpretação na aplicação da lei porque a espécie não pode
equiparar-se ao gênero.
A dificuldade aq ui ap o n tad a deve-se à indefinição d o u trin ária dos três co n ­
ceitos (cessão de m ão de obra, prestação de serviços e em preitada) e ao fato de o
legislador ter descrito a cessão de m ão de obra com o gênero (§ 3S) e, logo a seguir,
q u an d o en u m ero u as espécies, arrolar outro gênero (§ 4 Q), o da em preitada, com o
se espécie fosse.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o U — P r e v id ê n c ia S o c ia l 729
Para os rom anos, o gênero locação de serviços com preendia a em preitada
(locatio operis) e o co n trato de trabalho (locatio operctrum). D istinguia-os, no dizer
de Orlando Gomes e Elson Cottschalh: a) o m odo da rem uneração; b) o fim do c o n ­
trato; c) a profissionalização do em pregador; e d) a subordinação ju ríd ica ( “C urso
de D ireito do T rabalho”, Rio de Janeiro: F orense, 1981, vol. I, p. 197).
C om o salientado p o r M ozart Victor Russomano, na em preitada o im p o rtan te
é a obra co n tratad a e sua realização ( “O E m pregado e o E m pregador no Direito
B rasileiro”, 5ã ed., São Paulo: LTr, 1976, p. 131).
E n tretan to , desassem elha-se a prestação de serviços da em preitada. N esta ú l­
tima, o co n tratad o é a tarefa o u o resultado final e os trabalhos co n d u cen tes, a
p rin cíp io , são sem pre realizados n a sede do tom ador. D ificilm ente, será possível
a em preitada aco n tecer nas dependências do fornecedor do serviço.
Dão-se exem plos singelos: em preitada na agricultura (sucede no solo da p ro ­
priedade da co n tra tan te) ou em preitada na construção civil (os serviços necessa­
riam ente sobrevêm na obra do proprietário).
Para o item 4 da O rdem de Serviço INSS/DAF n. 203/1999, em preitada de mão
de obra é “a contratação de em presa prestadora de serviço para executar serviços
relacionados ou não com a atividade-fim da em presa co ntratante, nas d e p e n d ê n ­
cias desta ou nas de terceiros”.
N esta definição, restam evidentes dois aspectos relevantes: a) n en h u m a m en­
ção à subordinação do trabalhador cedido (disponibilização da m ão de obra); e b)
o labor aco n tecer na sede da tom adora ou de terceiros.
Para o art. 101 da Instrução N orm ativa INSS/DAF n. 71/2002: “é a execu­
ção, co n tratu alm en te estabelecida, de tarefa o u de obra ou de serviço, p o r preço
ajustado, com ou sem fornecim ento de m aterial ou de equipam entos, que podem
ou não ser utilizados, realizada nas dependências da em presa co n tratan te, nas de
terceiros ou nas da em presa co n tratad a, ten d o com o objeto um fim específico ou
um resu ltad o p re te n d id o ”.
825. Local dos serviços — O sítio da execução dos trabalhos é indicativo do
tipo de contratação, sem ser condição resoluliva para sua caracterização. A lgum as
atividades, com exceção das com preendidas na ideia de em preitada, m encionadas
no § 4 a, realizam -se na sede da tom adora.
N osso legislador, dian te do exacerbado fenôm eno da terceirização, quis al­
cançar aqueles serviços an terio rm en te à Lei n. 6.019/1974 (regulam entadora do
trabalho tem porário) operacionalizados com o pessoal p ró p rio da em presa.
Por isso m esm o, enfaticam ente realizado na sede da co n tratan te (p o r força
da essência do ajustado). Sem pre existiram trabalhos, p o r sua natureza e especia­
lização e/ou conveniência, aten d id o s p o r terceiros e preferivelm ente no estabele­
cim ento destes.
Cessão de m ão de obra executada nas dependências da cedente é p ratica­
m ente im possível, m as não estranha os serviços poderem ocorrer no habitat da
co n tratan te.

C u rso d l D iu rn o P re v id e n c iá rio
730 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
826. S o lid a ried ad e sem re te n ção — À exceção do fornecim ento de m ão de
obra de co n stru ção civil (PCSS, art. 30, VI), abstraída a do g ru p o econôm ico, com
a sub stitu ição do caput do art. 31, na redação dada pela Lei n. 9.528/1997, a partir
da Lei n. 9.711/1998, deixa de existir a solidariedade fiscal previdenciária.
Se a em presa não retiver ou não recolher os 11% retidos sujeita-se ao disposto
in fin e do caput, isto é, em erge a prestação do d esconto e do reco lh im en to (PCSS,
art. 33, § 5Q), obrigando-se ao m ontante. É com o se tivesse em pregado a seu servi­
ço ou ad q u irid o p ro d u to rural (PCSS, art. 3 0 , 1, a e III).
A obrigação é principal e original, não se trata de corresponsabilidade.
827. M icroem presa cedente — O item 50 da O rdem de Serviço INSS/DAF n.
203/1999 diz: “A pessoa jurídica que se dedica à prestação de serviços m ediante cessão
de m ão de obra ou m ediante em preitada de m ão de obra não pode optar pelo Sistema
Integrado de Pagam ento de Im posto e C ontribuições das M icroempresas e das Em pre­
sas de Pequeno Porte — SIMPLES, conform e vedação expressa na Lei n. 9.317/1996”.
Por seu tu rn o , ao definir o sujeito passivo da obrigação fiscal ora introduzida,
reza o caput do art. 31 do PCSS, com a redação dada pela Lei n. 9.711/1998: “A em ­
presa co n tratan te de serviços executados m ediante cessação de m ão de obra, inclu­
sive em regim e de trabalho tem porário, deverá reter onze p o r cento do valor b ru to
da n o ta fiscal ou fatura de prestação de serviço e recolher a im portância retida até o
dia dois do m ês su b sequente ao da em issão da respectiva n ota fiscal ou fatura, em
nom e da em presa cedente da m ão de obra, observado o disposto n o § 5S do art. 3 3 ”.
Vale dizer, em n e n h u m m om ento a lei definiu quem é o p restad o r de servi­
ços, a em presa fornecedora de m ão de obra o u a contratada. Podem ser todas as
descritas no art. 15 da Lei n. 8.212/1991. A única designação adotada é: “cedente
da m ão de o b ra .” Sabidam ente, em presa de trabalho tem porário tem de ser pessoa
ju ríd ic a (Lei n. 6 .0 1 9 /1974), m as na construção civil operam o au tô n o m o , o titu lar
de firm a individual, a sociedade p o r qu o ta de responsabilidade lim itada e a socie­
dade anônim a. D uas pessoas físicas e duas pessoas jurídicas. E m p reendim entos
voltados para o u tras m odalidades previstas (v. g., lim peza, conservação e zeladoria
e vigilância e segurança) geralm ente são de pessoas jurídicas.
A Lei n. 9.317/1996, além da lim itação p ró p ria do fatu ram en to (art. 2-, 1/11,
§§ I 3/2 °), em seu art. 9°, XII, excluiu da possibilidade de ser SIMPLES N acional
quem realize o p erações relativas à: “0 prestação de serviços de vigilância, lim peza,
conservação e locação de m ão de o b ra ”.
C om o as atividades de construção civil haviam sido excluídas p o r força do
inciso V e a locução “locação de m ão d e o b ra ” é m u ito abrangente, n en h u m a das
em presas fornecedoras de m ão de obra pode ser incluída n o SIMPLES N acional. A
n o rm a ad m in istrativ a lim ita-se a lem brar o teor da lei.
C o n tratan d o os serviços dessas m icroem presas, não necessariam ente classifi­
cadas com o Sim ples NACIONAL pela Lei n. 9.317/1996, q u an d o presente cessão
de m ão de obra, a to m adora dos serviços deverá cu m p rir o disp o sto no art. 31 do
PCSS, p ro m o v en d o a retenção de 11% e o recolhim ento ao FPAS.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 731
Já que tais fornecedores de m ão de obra, indevidam ente estão no regim e co n ­
trib u tiv o do SIMPLES N acional, não têm contribuição previdenciária calcada nas
folhas de p agam ento suficiente, dificilm ente lhes será possível prom over a com ­
pensação. O quantum retido p o r ocasião da apresentação da n ota fiscal, fatura ou
recibo diz respeito à base de cálculo.
R equerendo restituição de contribuições, em virtude da dedução operada pela
co n sulente, diante da im propriedade técnica da transform ação para o Sim ples NA­
CIONAL, a RFB en ten d erá inadim plentes para o FPAS e indeferirá o pedido.
A elas restará, in d iv id u alm en te o u p o r interm édio de associações, m ediante
po stulação articulada, expondo o falo, p reten d er a regulam entação da co m p en sa­
ção particu larizad a ou, dian te de negativa, fazê-lo na form a de recurso ao C onselho
A dm inistrativo de R ecursos Fiscais, do ME
E xceto m ed ian te regu lam en tação da m atéria, a qu estão não será solvida e
nem san ad as as dificuldades. À evidência, o co rrerá a d u p licid ad e de incidência
de co n trib u içã o , co n v in d o so lu c io n a r a p en d ê n cia ju n to à R eceita F ederal do
B rasil, so b a alegação de bis in idem (p a g am en to d u p lic a d o ) e im p ro p rie d a d e
do e n q u a d ram en to .
A m u d an ça não será autom ática. C ada um desses prestadores de serviço terá
de req u erer à Receita Federal do Brasil, m ediante com unicação (art. 13,1, da Lei n.
9.317/1996). A exclusão de ofício está com inada no art. 14 da m esm a lei, m as só
ocorrerá caso a liscalização constate a im propriedade do en q u ad ram en to , o p eran ­
do-se os efeitos ju ríd ico s desde o início de atividade da pessoa ju ríd ica (art. 15, III).
D efinindo a cessão de m ão de obra diz o § 3 9 do arl. 31: “Para os fins desta Lei,
entende-se com o cessão de m ão de obra a colocação à disposição do contratante,
em suas d ependências ou na de terceiros, de segurados que realizem serviços co n ­
tínuos, relacionados ou n ão com a atividade-fim da em presa, q uaisquer que sejam
a n atureza e a form a de co n tra taçã o ” (grifos nossos).
N essas condições, a participação pessoal do em presário n ão exclui a socieda­
de prestadora de serviços de sofrer a retenção dos 11%. A exem plo da m icroem -
presa, subsistem dúvidas q u an to à m odalidade de com pensação, se não há folha
de pagam ento.
Para esse últim o efeito, ou n a hipótese da restituição, pode-se cogitar da
contribuição patronal em relação a esse segurado prevista inicialm ente na LC n.
84/1996, a única respeitanle à pessoa do em preendedor (titu lar de firm a individual
ou sócio). O su b item 28.1 da O rdem de Serviço INSS/DAF n. 203/1999, ao tratar do
recolhim ento da contribuição por parte da em presa cedente de m ão de obra, alude
som ente às “contribuições destinadas à Seguridade Social arrecadadas pelo Instituto
N acional de Seguro Social — INSS, não p o d en d o absorver contribuições destinadas
a terceiros (entidades e fundos) as quais deverão ser recolhidas integralm ente’'.
O conceito de cessão de m ão de obra exige do p re sta d o r de serviços pes­
soalm ente considerado a perm anência à disposição do to m ad o r — dificilm ente
se poderá im aginar, na órbita ju ríd ica, a figura do em presário subordinado; ele

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

732 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
transform ar-se-ia em em pregado da co n tratan te. Ao definir cedente, a O rdem de
Serviço só alu d e ao au tô n o m o com em pregado, silenciando q u an to ao em presário
(com ou sem em pregados) prestad o r de serviços.
A ú n ica h ipótese com referência à in existência de em pregado — e para dis­
pen sar da retenção — é a prevista no subitem 22.2 da O rdem de Serviço: “A em ­
presa c o n tra tan te estará dispensada de efetuar a retenção q u an d o o faturam ento
da em presa ced en te no m ês de em issão da n ota fiscal, fatura ou recibo, for igual
ou inferior ao lim ite m áxim o do salário d e contribuição e não p o ssu ir segurados
em pregados. N esse caso, a em presa co n tratan te deverá exigir d a em presa cedente
declaração do fatu ram en to e de não p o ssu ir segurados em pregados, ju n ta n d o -a à
respectiva n o ta fiscal, fatura ou recibo de prestação de serviços”.
Por o u tro lado, em m u ito s m o m en to s da disciplina, a O rdem de Serviço re­
porta-se à folha de p agam ento, p resu m in d o a presença de em pregado.
828. Impropriedade do enquadramento — D epois da definição do § 3°,
q u an d o o PCSS define a cessão de m ão de obra, o § 4 Q prom ove enq u ad ram en to
de “serviços”: “I — lim peza, conservação e zeladoria; II — vigilância e segurança;
III — em p reitad a de m ão de obra; e IV — contratação de trabalho tem porário na
form a da Lei n. 6.019, de 3 de jan eiro de 1974."
Tom adas ab initio o parágrafo an terio r (3B), as tarefas abrangidas referem -se a
“segurados que realizem serviços co n tín u o s, relacionados ou não com a atividade-
-fim da em p resa” e, destarte, efetivam ente a relação só poderia se co n stitu ir de
serv iç o s n o se n tid o de tarefas a serem e x e c u ta d a s, n ão c o m p re e n d e n d o tip o s
de co n trato , com o os citados nos incisos III/IV
C om efeito, descabia a lei elencar tarefas (lim peza, conservação, zeladoria,
vigilância e seg u ran ça) a p ar de co n tra to s (em preitada de m ão de obra e trabalho
tem p o rário ). Ela p o n tu a quais os m eios de adm issão da m ão de obra n a abertura
do art. 31, ao falar em “m ed ian te cessão de m ão de o b ra” e ex atam ente qu an d o
define essa cessão de m ão de obra (§ 3 a). Inconfundíveis a cessão de m ão de obra
com a em p reitad a, p o d en d o a prim eira ser gênero e a segunda espécie, desclassifica
a possibilidade de in clu ir a em preitada — p ró p ria de tarefas com com eço, m eio e
fim — , no cam po de incidência dos 11% da n ota fiscal.
829. Rol do Regulamento — Na Seção 11 — Da Retenção e da Responsabilida­
de Solidária, n o s arts. 219/224-A , o D ecreto n. 3.048/1999 cuida do tem a, desde o
início, alargando o conceito do art. 31 do PCSS, falando em “cessão ou empreitada
de m ão de o b ra” (grifo nosso), define cessão (§ l s), m as enfatiza p o d er certo rol de
serviços ser co n tra tad o m ed ian te um a em preitada não definida (§ 3S).
N o seu § 2°, arro la 25 m o d alid ad es de serv iço s, os qu ais se su b m e te ria m
à cessão de m ão de o b ra (e, em p artic u la r, à e m p re ita d a). A lista é precária,
m is tu ra n d o espécies p ró p ria s com im p ró p ria s (caso da c o n stru ç ã o civil), ou
n eb u lo sas (m o n tag e m ) e, à exceção das d u as referid as, n e n h u m a delas objeto
de em p reitad a.

C urso de D ir e it o P
Tom o 11 — P revidência S o c ia l
r e v id e n c iá r io

m
C o n so an te o art. 102 da Instrução N orm ativa INSS/DAF n. 71/2002: “E starão
sujeitos à retenção, se co n tratad o s m ediante cessão de m ão de obra ou em preitada,
os serviços de:
1 — lim peza, conservação ou zeladoria, que se co n stitu am em varrição, la­
vagem , en ceram ento, desinfecção ou em o u tro s serviços d estinados a m an ter a
higiene, o asseio ou a conservação de praias, jard in s, rodovias, m on u m en to s, edi­
ficações, instalações, d ependências, logradouros, vias públicas, pátios ou de áreas
de uso com um .
[[ — vigilância ou segurança, que tenham p o r finalidade a garantia da integri­
dade física de pessoas ou a preservação de bens patrim oniais.
III — co n stru ção civil, que envolvam a construção, a dem olição, a reform a
ou o acréscim o de edificações o u de q u alq u er benfeitoria agregada ao solo o u ao
subsolo ou obras co m p lem entares que se integrem a esse co njunto, tais com o a
reparação de ja rd in s ou passeios, a colocação de grades ou de in stru m e n to s de
recreação, de u rbanização ou de sinalização de rodovias ou de vias públicas.
IV — cu n h o rural, que se constituam em desm atam ento, lenham ento, aração
ou gradeam ento, capina, colocação ou reparação de cercas, irrigação, adubação, con­
trole de pragas ou de ervas daninhas, plantio, colheita, lavagem, lim peza, m anejo de
anim ais, tosquia, insem inação, castração, m arcação, ordenham ento, industrialização
rudim entar, em balagem ou extração de produtos de origem anim al ou vegetal.
V — digitação, que co m preendam a inserção de dados em m eio inform atizado
por operação de teclados o u de sim ilares.
VI — preparação de d ados para processam ento, executados com vistas a via­
bilizar ou a facilitar o p rocessam ento de inform ações, tais com o o escaneam ento
m anual ou a leitu ra ótica.
Parágrafo único. C om relação ao inciso IV deste artigo, é considerada in d u s­
trialização ru d im en tar a pasteurização, o resfriam ento, a ferm entação, o carvoe-
jam en to , o cozim ento, a destilação, a m oagem , a torrefação, o descascam ento, a
debulhação ou a secagem de p ro d u to s rurais, entre o u tro s sim ilares”.
De acordo, ainda, com o art. 102: “E starão sujeitos à retenção, se contratados
m ediante cessão de m ão de obra, os serviços de:
I — acabam ento, que envolvam a conclusão, o preparo final ou a in co rp o ra­
ção das últim as parles ou dos com ponentes de pro d u to s, com vistas a colocá-los
em condição de uso.
II — em balagem ou de acondicionam ento para preservação, conservação, ar­
m azenam ento ou tran sp o rte de produtos.
III — cobrança, que objetivem o recebim ento de qu aisq u er valores devidos à
em presa co n tratan te, ainda que periodicam ente.
IV — coleta ou reciclagem de lixo ou de resíduos, q u e envolvam a busca, o
tran sp o rte, a separação, o tratam en to ou a transform ação de m ateriais inservíveis
ou resu ltan tes de processos produtivos.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

734 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
V — copa, q ue envolvam a preparação, o m anuseio e a d istribuição de todo
ou de q u alq u er p ro d u to alim entício.
VI — hotelaria, que concorram para o aten d im en to ao hóspede em hotéis,
pousadas, paciente em hospitais, clínicas ou em outros estabelecim entos do gênero.
VII — corte ou ligação de serviços públicos, que ten h am com o objetivo a
conecção o u a in terru p ção do fornecim ento de água, de esgoto, de energia elétrica,
de gás o u de telecom unicações.
VIII — d istrib u ição, que se co n stitu am em entrega, em locais p re d eterm in a­
dos, ainda que em via pública, de bebidas, de alim entos, de discos, de panfletos, de
periódicos, de jo rn ais, de revistas ou de am ostras, entre o u tro s p rodutos, m esm o
que d istrib u íd o s no m esm o período a vários contratantes.
IX — trein am en to ou ensino, q u an d o co n tratad o s p o r em presa que tenha por
objeto social a in stru ção ou a capacitação de pessoas.
X — entrega de contas e de d o cu m en to s, que se relacionem com docum entos
ou com co n tas de água, de energia elétrica ou de telefone ou com boletos de co ­
b ran ça ou com cartões de crédito ou com m alas diretas ou com sim ilares.
XI — ligação o u leitura de m edidores, que ten h am p o r objeto aferir o co n su ­
mo ou a utilização de d eterm inado p ro d u to ou serviço ou a coleta das inform ações
aferidas p o r esses equipam entos.
XII — m an u ten ção de instalações, de m áquinas o u de equipam entos, quando
indispensáveis ao seu funcionam ento regular e perm anente, desde que o contrato
obrigue a em presa contratada a m anter equipe à disposição da em presa contratante.
XIII — m ontagem , que envolvam a reunião sistem ática, conform e disposição
p red eterm in ad a em processo in d u strial ou arlesanal, das peças de um dispositivo,
de um m ecanism o o u de q u alq u er objeto, de m odo que possa funcio n ar o u atingir
o fim a q ue se destina.
XIV — o p eração de m áq u in as, e q u ip a m e n to s e veículos re lacio n ad o s com
a sua m o v im en tação ou fu n c io n a m e n to en v o lv en d o serv iço s tipo m an o b ra de
veículos, operação de guindastes, painéis eletroeletrônicos, tratores, colheitaclei-
ras, m oendas, em p ilh adeiras ou cam inhões fora de estrada.
XV — operação d e pedágio ou de term inais de tran sp o rte, que envolvam a
m an u ten ção , a conservação, a lim peza o u o aparelham ento de term inais de passa­
geiros terrestres, aéreos ou aquáticos, de rodovias, de vias públicas, e que envolvam
serviços p restados diretam ente aos usuários.
XVI — operação de tran sp o rte de cargas e de passageiros, envolvendo o d es­
locam ento de pessoas ou de cargas por meio terrestre, aquático ou aéreo, cujo
co n trato obrigue a em presa co n tratad a a m an ter equipe à disposição da em presa
co n tratan te.
XVII — portaria, recepção ou ascensorista, realizado com vistas ao o rd en a­
m ento o u ao co n tro le do trânsito de pessoas ou à distribuição de encom endas ou
de d o cu m en to s em locais de acesso público.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o H — P revidência S o c ia l 735


XVIII — recepção, triagem o u de m ovim entação, relacionados ao recebim ento,
à contagem , à conferência, à seleção ou ao rem anejam ento de m ateriais.
XIX — prom oção de vendas ou de eventos, que tenham p o r finalidade colo­
car em evidência as qualidades de p ro d u to s ou a realização de sJiows, de feiras, de
convenções, de rodeios, de festas ou de jogos.
XX — secretaria e expediente, q u an d o relacionados com o desem penho de
rotin as adm inistrativas.
XXI — saúde, q u ando p restados p o r em presas da área da saúde e direcionados
ao aten d im en to de pacientes, tendo em vista avaliar, recuperar, m an ter o u m elh o ­
rar o estado físico, m ental ou em ocional desses pacientes.
XXII — telefonia ou de telcmarketing, que envolvam a operação de centrais
ou de aparelhos telefônicos ou de teleaten d im en to ”.
F inalm ente, p o n tu a o art. 123: “É exem plificativa a relação dos serviços m e n ­
cionados nos arts. 102 e 103, de form a que, com fu n d am en to na Lei n. 8.212, de
1991, sem pre que h o u v er cessão de m ão de obra ou em preitada, será cabível a
reten ção ”.
830. Compensação de c o n trib u iç õ e s — Em seu § 1°, com a redação da Lei n.
9.711/1998, diz o art. 31 do PCSS: “O valor retido de que trata o caput, q u e deverá
ser destacado na nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, será com pensado
pelo respectivo estabelecim ento da em presa cedente da m ão de obra, q u an d o do
reco lhim ento das con tribuições destinadas à Seguridade Social devida sobre a folha
de pagam ento dos segurados a seu serviço”.
O s 11% referidos n o caput do art. 31, retidos pelo tom ador da m ão de obra e
p o r ele recolhido ao FPAS, é m odalidade de antecipação da contribuição m ensal
devida pelo cedente. Alguns aspectos dizem respeito ao preceito.
a) natureza do retido: O quantum calculado com base em 11% do total da nota
fiscal é co n trib u ição previdenciária devida pelo fornecedor de m ão de obra (c o n ­
trib u in te de fato), ap o rtada pelo to m ad o r dessa m esm a m ão de obra (c o n trib u in te
de direito).
b) antecipação do recolhimento: A retenção do m o n tan te é form a antecipada
dessa obrigação fiscal, operada p o r terceiros (co n tratan te) e recolhida em nom e do
c o n trib u in te de fato (contratado).
c) destaque dos valores: Tal im portância deverá ser destacada no d o cu m en to
fiscal, nota fiscal ou fatura (im propriam ente designada na lei com o de prestação
de serviços), com parecendo: 89% (líquido) + 11% (contribuição) = 100% (total do
d o cu m en to ).
d) compensação: C om o a fornecedora de pessoal tem de fazer recolhim entos
relativos à atividade-m eio (organização interna) e atividade-fim (m ão de obra), de
regra a som a desses valores pode u ltrap assar os 11% das faturas em itidas no curso
do m ês. Assim sendo, com o o retido é antecipado, o valor da diferença deve ser
recolhido no prazo, m as caso ocorra o contrário, q uando a retenção for superior, a

C u r s o de D i r e it o P r e v id e n c i á r i o

736 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
fornecedora de m ão de obra, no m esm o m ês de em issão do d o cu m en to , co m p en ­
sará o quantum. Caso o m o n tan te a com pensar seja su p e rio r ao recolhim ento terá
de p ed ir restituição ao INSS (PCSS, art. 89).
e) propriedade da alíquota: O legislador escolheu 11% p re su m in d o essa alí­
q u o ta rep resen tar a obrigação fiscal em relação à m ão de obra contida na nota
fiscal. Trata-se de concepção legal e pode ser contestada a p artir de situação fática,
p rin cip alm en te q u an d o a relação entre a m ão de obra e o custo final são díspares.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o í í — P r e v id ê n c ia S o c i a l
737
Capítulo LXXXIII

E q u il íb r io A t u a r ia l

S u m a r i o : 831. Inlrodução da matéria. 832. Conceito mínimo. 833. Significado


lógico. 834. Causa e nascimento. 835. Classificação didática. 836. Natureza e
consubstanciação. 837. Alcance e abrangência. 838. Objetivo técnico. 839. Con­
seqüências jurídicas. 840. Aplicação prática.

D esde o dealbar da previdência social, a im prescindível relação m atem ático-


-financeira entre o volum e das contribuições e o nível dos benefícios program ados
forçou o surgim ento de um a técnica su p erio r com andante, de alto nível na esfera
científica e ju ríd ica, disciplinada com texto genérico na C arta M agna, até ser ap ro ­
fundada pela d o u trin a e ju risp ru d ê n c ia vai gerar polêm ica e, no m ais com um dos
casos, en q u an to não aperfeiçoada, prestar-se-á com o b andeira sob a qual podem
furtar-se situações côm odas ou o u tro s objetivos. Nada obstante p o d e r ser invoca­
da com presteza pelo político, ad m in istrad o r ou parlam entar, para jusliticar isto
ou aquilo, m áxim e n um a instituição em p erm an en te transform ação, m esm o nâo
tendo sido concebida com essa intenção fluída e precisar ser resgatada e levada ao
seu verdadeiro leito, o cmimus legislatorís.
O desequilíbrio econôm ico do plano com prom ete sua execução, daí a neces­
sidade de ser p lantada providência basilar o bstaculizadora ou dificultadora de m e­
didas inadequadas, e até gera soluções inco n g ru en tes, com o a criação de benefícios
sem fonte própria de custeio ou a extensão de tributos ausente prévia destinação.
Por isso, a ser p erq u irido em consonância com a ideia da precedência do custeio
e ou tras políticas co n d u cen tes à ordenação sistêm ica do edifício previdenciário.
À evidência, para não se desm oralizar, perder eficácia ou prestígio, o princípio
aí co n tid o carece ser equacionado apropriadam ente, conceituado e bem definido,
resultando circunscrito pela norm a legal, a experiência da ju risp ru d ên c ia e o bom -
-senso da d o u trin a especializada.
831. In tro d u ç ão d a m a téria — Inovando em face da regulação anterior, alte­
rando o texto de 5.10.1988, com a redação dada pela EC n. 20/1998, diz o caput do
art. 201 da CF: “A previdência social será organizada sob a form a de regim e geral,
de caráter co n trib u tiv o e de filiação obrigatória, observados critérios que preser­
vem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos term os da lei.”

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

738 W la d im ir N o va es M a rtin e z
Na m esm a lin h a de raciocínio, o caput do art. 202 pontua: ao regim e de p re­
vidência co m p lem en tar será organizado “baseado na co n stitu ição de reservas que
g aran tam o benefício co n tra ta d o ”.
Além d e o u tro s ângulos de realce (v. g., organização, natu reza do regim e,
co n trib u tiv id ad e, caráter da filiação etc.), ressalta a volição do C o n stitu in te Em en-
d ad o r de a técnica p ro tetiva a ser organizada ou certa fração dela (regim e próprio),
e até m esm o apenas p lano (no tocante à com plem entar), d eten h am solvência e li­
quidez, fontes de custeio diretam ente proporcionalizadas as despesas operacionais,
vale dizer, o b u scad o p o n to de consenso e, conco m itan tem en te, ele seja financeiro
e atuarial.
E v identem ente, é m an d am en to postado à base do sistem a de cobertura, en ­
ten d id o com o ferram enta indispensável à consecução do seu objetivo m aior: o
cu m p rim en to regular, m aterial e form al, do ô n u s protetivo.
O m otivo desse prim ado ter sido gu in d ad o à altura co n stitu cio n al é sua abso­
luta im periosidade n o contexto do ord en am en to técnico. Sem seu perfilham ento
dificilm ente o ad m in istrad o r público ou o p articu lar lograrão a intenção inicial
proposta, vale d izer a segurança da ordem previdenciária.
F req u en tem en te, o legislador regra esses cuidados m ínim os, com o é o caso do
Chile. À guisa de lem brança, do p o n to de vista prático, seg u n d o Julio Bustamante
Jeraldo, as AFP têm fundo de reserva de flutuação da rentabilidade, obtida com
o excesso d o s frutos m édios dos últim os 12 m eses ( “F u n cio n am ien to dei N uevo
Sistem a de P en sio n es”, Santiago: Icare ed., 1988, p. 71).
No Brasil, Elaine Romeiro Costa estu d o u as form as de co n tro lar as aplicações
do s recursos, tu d o isso com vistas ao indigitado equilíbrio econôm ico (“P revidên­
cia Privada e F u n d o s de P ensão”, São Paulo: L um em ju ris , 1996, p. 87).
832. C o n ceito m ín im o — N ão se p o d e co n fu n d ir o in stitu to enfocado com
sua e stru tu ra orgânica; cuida-se de preceito ju ríd ico a ser cu m p rid o pelo legislador
in fraco n stitu cio n al e pelo organizador da previdência social, en q u an to o elem ento
m aterial in fo rm ad o r defluir da natureza m esm a dos deveres h u m an o s presentes
na relação lógica securitária. Sem esse acerto de contas contábil é im possível dar
p ro sseg u im en to à pro posta form ulada de co n su m ar as prestações.
Diz a regra técnica aí contida: a e stru tu ra do regim e, seja o geral ou o co m ­
p lem entar, tem de ser estim ada a p a rtir da clientela protegida, sua capacidade co n ­
tributiva e a co b ertu ra desejável ou possível n u m m om ento histórico e, em razão
disso, quais os aportes usuais ou adicionais bastantes, assim com o o vulto dos
desem bolsos realizáveis.
C onsoante se pode constatar, é relação econôm ica envolvendo e vinculando o
nível das en trad as e saídas, sopesando o passado (as obrigações em cu m p rim en to ),
o p resente dos c o n trib u in tes e o futuro (benefícios a conceder).
Previdência social com critério s n o rm ativ o s eq uânim es é aquela capaz de
satisfazer as obrigações jacen tes, estar p reparada para os deveres em relação àque-

C u rso de D ire ito P re v id e n c iá rio


T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 739
les nas p ro x im id ad es do cenário d ec an tad o r da pretensão, e c o rresp o n d en d o às
pro p o siçõ es do pro g ram ado no p e rtin e n te aos futuros beneficiários, suficiente
para a c u d ir as despesas do dia a dia, e ajustada eco nom icam ente para eventuais
variações da m assa d en tro de concepção o m ais ap roxim ado possível da reserva
m atem ática ideal.
O p o stu lad o do equilíbrio econôm ico, acentu ad am en te ju ríd ico , m as com ex­
pressão e origem m aterial, consiste n a concepção form al oferecida pelo equilíbrio
financeiro e atuarial, envolvendo os aspectos pecuniários e m atem áticos. A usentes,
im plicam em m anifesta inconstitucionalidade.
A conceituação d o u trin ária do equilíbrio financeiro e atuarial pode ser for­
necida em linhas gerais, de form a difusa com tal abstração a torna quase inútil.
Interessa a apuração, em cada caso, em face de u m ou o u tro plano ou m assa e em
m om ento certo, avaliação a ser operada p o r econom ista especializado em finanças
ou p o r m atem ático co n h eced o r de atuária. Esses profissionais habilitados ditarão
os p arâm etros m ínim os a ser seguidos e valem para a situação enfocada, pois o
déficit indesejado pode provir de diferentes causas.
833. S ignificado lógico — O p rin cíp io q u er d izer o co n ju n to n o rm ativo e
técnico ter de ser o rd en ad o para assum ir suas prom essas, erigido para isso ac o n ­
tecer. Para tan to , ele precisa organizar-se de m olde a haver previsão a longo prazo
das despesas co rren tes, bem com o a provisão dos m eios necessários, isto é, as
co n trib u içõ es e seus ren d im en to s sejam g aran tid o res dos benefícios. Performance
e tanto.
Significa, tam bém , acolher todas as m edidas co n d u cen tes a esse desiderato,
postando-se, nessas condições, acim a do convencionado e p o d en d o m odificá-lo
sem pre q u an d o p resentes os pressu p o sto s m ateriais.
No dizer de Manuel Soares Póvoas: “Para que a entidade possa satisfazer seus
com prom issos, tem de, periodicam ente, m o strar a seguinte situação: as reservas
m atem áticas cuja constituição ao longo de cada co n trato é feita à base dos núm eros
fornecidos pelo cálculo atuarial, deve ser igual, pelo m enos, ao fundo form ado p e­
las contribuições p u ras que recebe devidam ente capitalizadas; sem dúvida e esta é
um a form a sim plista de explicar um a situação com plexa, m as que é suficiente para
m ostrar que tal situação de equilíbrio depende de in ú m ero s fatores aleatórios que
podem im pedi-lo, o principal dos quais é a eventual possibilidade da entidade c o n ­
seguir no m ercado de capitais, um a taxa efetiva de re n d im en to dos investim entos
que caucionam essas reservas, pelo m enos igual à taxa técnica atuarial, co n sid era­
da no respectivo cálculo” ( “Previdência P rivada”, Rio de Janeiro: F undação Escola
N acional de Seguros, 1990, p. 298).
Grosso modo, p lano equilibrado não despreza as recom endações do CNSP,
contidas no art. 15 da Lei n. 6.435/1977, e as executa com sucesso: “P ara garantia
de todas as suas obrigações, as entidades abertas co n stitu irão reservas técnicas,
fu n d o s especiais e provisões” ... “além das reservas e fundos determ in ad o s em leis
especiais.”

C urso d e D ire ito P r e v id e n c iá r io

740 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Para o art. 9Qda LC n. 109/2001: “as entidades de previdência co m p lem en tar
co n stitu irão reservas técnicas, provisões e fundos, de conform idade com os crité­
rios fixados pelo órgão regulador e fiscalizador”.
Segundo o art. 11 da m esm a norm a: “Para assegurar com prom issos assum i­
dos ju n to aos particip antes e assistidos do plano de benefícios, as entidades de p re­
v idência co m p lem en tar poderão co n tra tar operações de resseguro, p o r iniciativa
p ró p ria ou p o r d eterm inação do órgão regulador e fiscalizador.” Os arts. 249/50,
da Lei Maior, au to rizam a criação de fundos integrados p o r bens, d ireitos e ativos,
para “assegurar recursos p ara o pagam ento de p ro v en to s” e “benefícios concedidos
pelo RGPS”.
834. Causa e nascimento — A origem da no ção é ac id en tal, su rg iu em
razão da h istó ria recente da p revidência social, d o p ro b lem a das insuficiências
do INSS e de m u ito s fu n d o s d e pen são ab erto s e fechados, p riv ad o s e estatais.
D istonias, p o r sua vez, co n h e cen d o variadíssim as razões desde as dem ográficas
até as econôm icas.
N asceu na n o rm a ju ríd ica, em bora in cu tid a na consciência dos atuários havia
m uito tem po. Pelo m enos fazia parte da construção m atem ática até então nào ob­
servada e acabou p o r im por-se ao legislador.
835. Classificação didática — F u n d am en talm en te, o equilíbrio conhece duas
m odalidades: a) financeira; e b) atuarial.
Por equilíbrio financeiro, entende-se literalm ente a necessidade de as reser­
vas m atem áticas efetivam ente co n stitu íd as serem suficientes para g aran tir os ônus
ju ríd ico s das obrigações assum idas, presentes e futuras.
E quilíbrio atu arial com preende as ideias m atem áticas (v. g., taxa de co n trib u i­
ção, experiência de risco, expectativa de m édia de vida, tábuas biom étricas, m ar­
gem de erro, variações, e da m assa etc.) e as relações biom étricas, de igual m odo,
to rn em possível estim ar as obrigações pecuniárias em face do co m p o rtam en to da
m assa e o nível da co n tribuição e do benefício.
Por sua vez, p lano desequilibrado é aquele com déficit ou superávit, am bos
reclam ando providências do adm inistrador, a serem equacionadas im ediatam ente.
A ideia é vasta e suscita a filosofia do D ireito P revidenciário convencionado
n u m certo m o m en to histórico. Assim , p o r exem plo, leva em conta a relação e n ­
tre a p articip ação do trab alh ad o r em relação à da em presa (e, se for o caso, a do
E stado).
No âm bito da previdência co m p lem en tar (CE art. 202, § 3-), quis o legislador
co n stitu in te parid ad e de u m p o r um , isto é, os vu lto s das co ntribuições dos polos
da relação devem ser iguais (aliás, não sucede no RGPS). M edida co n trária a essa
propo rcio n alid ad e q u an d o consagra colide com o p o stu lad o enfocado.
836. Natureza e consubstanciação — A essência do equilíbrio econôm ico é
técnica, fu nciona com o pressuposto da efetividade da proteção. C onsubstanciado
com a realização do p o n to ideal en tre custeio e benefícios.

C urso de D ir e it o P ü e v id e n c iAr io

T om o ZJ— P revidência S ocial


741
E m bora de consistência e nu an ças com plexas, o princípio é sim ples em sua
idealização, pois a singeleza da preten são é o plano o u regim e para m an ter a so l­
vência das reservas e a liquidez das prestações presentes e futuras.
837. A lcance e a b ran g ên c ia — A exigência do equilíbrio econôm ico apare­
ceu na Carta M agna; nessas condições, é p rincípio previdenciário constitucional,
prescrito no caput do art. 2 0 1 , no qual, in cid en talm en te, o legislador contem pla a
previdência social básica.
Isso não q u er dizer, en tretan to , aplicar-se apenas e tão so m en te ao RGPS. Não
im p o rtan d o o sítio onde jaz, vale sistem aticam ente para os planos do servidor p ú ­
blico, o regim e geral e, acentuadam ente, o com plem entar.
838. O bjetiv o técnico — Ele procura funcio n ar com o freio à desorganização
da previdência social. Em verdade, trata-se de m ecanism o de polícia visando à im ­
pugnação de m edidas co n d u cen tes à ingovernabilidade dos planos.
Q uer o princípio co rresp o n d er ao nom e: o equilíbrio, e econôm ico e, assim ,
sejam co ndenadas as m edidas opostas e, ao contrário, possam c o n trib u ir para a
criação de déficits.
Na lição de Fernanda Gama: “F ato r im pactante nos resultados das avaliações
atuariais, conciliado com a hipótese de rotatividade dos em pregados, deve ser u ti­
lizado com bastante critério, um a vez que, baseando-se no ingresso de m assas j o ­
vens, levam o valor atual das obrigações futuras da en tid ad e a ser inferior ao valor
atual das contrib u içõ es futuras relativas a esta m assa, resu ltan d o nu m a dim inuição
das reservas m atem áticas de benefícios a conceder. O u seja, projetam -se desses
novos en trad o s com contribuições m aiores q u e os benefícios que irão receber na
ap o sentadoria, co laborando, desta forma, solidariam ente para financiam ento dos
benefícios da m assa total de p articipantes do plano. Logo, a não concretização
dessa h ipótese acarreta um déficit das reservas de co bertura dos com prom issos
fu tu ro s da m assa avaliada, p o dendo, na ocasião, sobrevir até a insolvência do fu n ­
do de p en são ” ( “C ritérios A tuariais e G eração F u tu ra à N ecessária Segurança”, ín
C o n ju n tu ra Social, de ju n ./1 9 9 9 , Brasília: MPAS, p. 33/34).
839. C o n seq ü ên c ia s ju ríd ic a s — O princípio foi enquistado no texto da Lei
M aior com o m andam ento a ser perseguido pelo legislador ordinário e acom pa­
nh ad o de p erto pelo organizador da previdência social. N ão se trata de abstração
especulativa ou co n strução dou trin ária; é com ando dispositivo invocável q uando
das m edidas aten tad o ras co n tra sua determ inação.
Ignorado pelo ad m in istrad o r ou legislador ordinário, vale dizer, pelo aplicador
da regra previdenciária, a m edida tom ada reveste-se da classificação ju ríd ica de
in co n stitu cio n al, so b revindo os consectários inerentes.
840. A plicação p rá tic a — Sem em bargo do princípio substanciado pela es-
tipulação, o caput do art. 201 da CF é norm a im perativa, ordem para os vários
organizadores o cupados com a previdência social, em particular, o legislador e o
adm inistrador.

C urso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

742 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A legislação de cada um desses segm entos proverá a conceituação do e n te n ­
dim en to do equilíbrio financeiro e atuarial e fixará as sanções cabíveis, de toda
ordem , no caso de sua ausência co m prom eter a saúde do plano.
Segundo a teoria m atem ática dos atuârios, no curso do desenvolvim ento do
plano, em v irtu d e da variação co m portam ental da m assa, ele experim enta superá-
vits e déficits m o m en tâneos, corrigíveis com soluções im ediatas sem co m p ro m e­
ter sua higidez. Não é essa afetação sim ples o núcleo do p rincípio, m as, sim , da
p resença de in d icad o res significativos que p o n h am em risco a eficácia do plano e
exijam m edidas equacionadoras.
Dada a generalidade da dicção co n stitu cio n al e a expressão m aterial in co rp o ­
rada, verd ad eiram en te concerto de ideias, ela não terá n en h u m a utilidade prática
ou será desv irtu ad a caso o legislador infraconstitucional n ão esm iuçar os seus
lim ites e propósitos, estabelecendo sua aplicabilidade, isto é, os casos a respeitar
no eq u ilíb rio econôm ico.
Carece de ficarem claras quais as reais hipóteses às quais ele se destina, par-
ticu larizan d o de fora para dentro: se é a previdência social com o u m todo, regim e
previdenciário em p articu lar ou apenas plano, pois im p u lsio n a efeitos significati­
vos na relação ju ríd ic a e pode causar danos irreparáveis.
A previdência h ospedada na ideia constitucional com põe-se de regim es
(geral, dos servidores, com p lem en tar); esses grandes estam entos têm entidades e
em p reend em seus in stitu to s técnicos e, no caso particu lar da supletiva, pode acon­
tecer m ais de um p lan o, de contribuição definida ou de benefício definido, cada
um deles su jeito à análise específica. A lguns deles, p o r definição, n u n ca entram em
descom passo financeiro ou econôm ico.
O legislador o rd in ário carece de explicitar cada um desses pontos, porque,
conform e a Lei n. 6.435/1977, per se, ele determ ina grandes conseqüências práticas
e ju ríd icas. Q u an d o do exam e da con stitu cio n alid ad e da Lei n. 9.876/1999, o STF
invocou a razão; para a m ais Alta C orte do País, a inexistência de correlatividade
entre a co n trib u ição vertida e a renda m ensal inicial afetaria o equilíbrio do RGPS.

C u rso de D ire ito P re v id e n c iá rio


T om o I I — P r e v i d ê n c i a S o c ia l
743
Capítulo LXXXIV

R egime Especial

841. Fontes formais. 842. Conceito de regime. 843. Regime especial.


S u m á r io :
844. Regras de com unicação. 845. Alíquota de contribuição. 846. Base de
cálculo. 847. Acréscimos legais. 848. Microempresário. 849. Benefícios previs­
tos. 850. Aposentadoria por tempo de contribuição.

Os §§ 12/13 do art. 201 da C arta M agna preveem um regim e previdenciário


d istin to do RGPS, a ser designado com o Regime Especial de Inclusão dos Inform ais
— RE1I. Essa disposição co n stitu cio n al coincide com nossa sugestão de resgatar
previdenciariam ente a inform alidade (Reflexões sobre a Reform a da Previdência
Social, ín Jo rn al do 16e C ongresso B rasileiro de Previdência Social, Sào Paulo: LTr,
2003, p. 120/132).
O regim e reclam a regulam entação esm iuçadora, um a vez q u e a lei e o decreto
reg u lam en tad o r não são suficientes.
C om a p articularidade da figura do MEI, estão abrangidos pelo REII: I) todos
os 31 co n trib u in tes individuais arrolados na IN INSS n. 20/2007; II — o facultati­
vo; III — o sócio de sociedade que ten h a receita b ru ta anual de até R$ 36.000,00.
O D ecreto n. 6.042/2007 n ão o especifica expressam ente, m as tam bém inclui
o trab alh ad o r eventual.
Em particular, é incluído o segurado especial (art. 199-A, § 2S).
A Lei n. 12.154/12 criou o Regime de Previdência da Dona de Casa — RPDC,
m ediante a qual algum as pessoas ali definidas podem c o n trib u ir com 5% e obterem
benefícios do salário m ínim o.
841. F o n te s fo rm ais — O REII foi regulam entado pela Lei n. 11.430/2006 e
Decreto n. 6.042/2007 (art. 199-A do RPS) e en tro u em vigor em 12.02.2007. A LC
n. 123/2006 alterou o art. 21 do PCSS, acrescendo-lhe os §§ 2e/3° De certa form a,
está presente na LC n. 128/2008, q u an d o elas regulam entam o M icroem presário
Individual (M EI).
842. C o n ceito de regim e — O sistem a nacional de previdência social de di­
reito público conhece dois grandes grupos de regim es: a) RGPS — Regime dos

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

44 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
tra b a lh a d o re s da in ic ia tiv a p riv a d a (L ei n. 8 .2 1 3 /1 9 9 1 ); b) RPPS — Regim e
dos servidores da U nião (Lei n. 8.112/1990), 26 Estados, DF e aproxim adam ente
5.564 M unicípios (Leis ns. 9.717/1998 e 10.887/2004).
Em m atéria de direito privado, co m p lem en tan d o as prestações básicas, são
três segm entos: a) previdência fechada; b) previdência fechada associativa; e c)
previdência aberta (LC n. 108/2001 e LC n, 109/2001).
O RGPS com p reende um co n ju n to de regras sobre filiação, inscrição, co n tri­
buições e prestações e alguns regim es especiais (e alguns segm entos contributivos
p articulares). A p ar dele, o recente REI1, q u e p reten d e abarcar os trabalhadores da
inform alidade. N ão se confunde com o SIMPLES N acional (das m icroem presas e
em presas de p eq u en o p o rte), que é u m regim e fiscal distin to d en tro do RGPS.
843. Regime especial — O REII funciona com o um círculo estan q u e circun-
vizinho de u m círculo m aior (RGPS), dos inform alizados, e que acabam se form a­
lizando especialm ente e com o plano de benefícios de renda m ensal m ínim a. Q uem
p reten d er receber u m a prestação de R$ 678,00 e não pen sar na aposentadoria por
tem po de co n trib u ição (concepção do RGPS e dos RPPS), se inscreverá no REII.
8 4 4 . R egras de co m u n icação — As regras de com unicação entre o REII e o
RGPS ou os RPPS não estão bem definidas na legislação.
Mas, de an tem ão, sabe-se q u e se um trabalhador filiado ao REII p retender
ingressar no serviço público e ali co m p u tar o tem po de contribuição terá, p rim ei­
ro, de ingressar n o RGPS, ou seja, acrescer 9% do salário de contribuição a todas
as m ensalidades do p eríodo que desejar p o rtar m ediante a contagem recíproca de
tem po de serviço.
Tam bém , se ele desejar se ap o sen tar com u m valor su p erio r ao salário m ínim o
terá de igualm ente fazer a m esm a com plem entação. Tal p rocedim ento o faz deixar
o REII e ingressar no RGPS.
845. A líq u o ta de c o n trib u iç ã o — V isando estim ular a aproxim ação do tra­
b alh ad o r inform al à Previdência Social, é estabelecida u m a alíquota de 11%, que
incide sobre o salário m ínim o.
T ecnicam ente, ela seria suficiente para cobrir todas as prestações de risco
im previsíveis e a ap o sen tad o ria p o r idade. Teoricam ente, suscita u m contrassenso
que consiste em sab er que os cerca de 10 m ilhões de filiados ao RGPS com direito
ao salário m ínim o geram um a co n trib u ição de 8% + 20% = 28%.
846. Base de cálculo — A base de cálculo é única: o salário m ínim o. N ão se
im agina que a pessoa exerce du p la ou tripla atividade inform al; se isso aco n tecer a
afiliação, a inscrição e a contribuição co n tin u arão sendo as únicas.
847. Acréscimos legais — Q u em pagar contribuições em atraso arcará com
os ju ro s de 0,5% e m u lta de 10%.
848. M icro e m p resário — A LC n. 128/2008 criou a figura do MEI, u m traba­
lh ad o r assem elhado ao titu lar e firm a individual do D ireito C om ercial, cuja renda
b ru ta não supere R$ 36.000,00 anuais e com certas características próprias.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 745
849. B enefícios p re v isto s — Com exceção da aposentadoria p o r tem po de
contribuição, a despeito da pequena contribuição estão ã disposição do filiado ao
REII todas as dem ais prestações do RGPS. A inda que não haja contribuição espe­
cífica fará ju s às prestações acidentárias.
850. A p o sen tad o ria p o r tem p o d e co n trib u içã o — Caso o filiado ao REII
preten d a transform ar o seu tem po de serviço em tem po de contribuição e assim
fazer ju s à ap osentadoria por tem po de contribuição, ele deverá com plem entar a
con trib u ição m ensal de 11% do salário m ínim o com 9% da m esm a base de cálculo,
preteritam en te (pelo tem po que escolher). E recolhendo 20% desde q uando deci­
dir, para frente.
Nestas condições, ficará assem elhado a u m segurado do RGPS que sem pre p a­
gou pelo salário m ínim o. A ssem elhado, m as não igual, porque a sua renda m ensal
inicial não terá cálculo nem aplicação do fator previdenciário, su pondo-se que ela
ocorra após 35 anos de contribuição (hom em ) e 30 anos de contribuição (m ulher).
Ao falar em “exclusão o direito ao benefício da ap o sen tad o ria p o r tem po de
c o n trib u ição ”, que lem bra o art. 18 do PBPS, fica a im pressão de que esse filiado ao
REII se d em o n strar os pressupostos legais terá direito à ap o sen tad o ria especial e à
do professor. Claro, sem pre com renda m ensal de u m salário m ínim o.

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746 W ía d im ir N o v a e s M a r f i n s
Capítulo LXXXV

M i c r o em p re sá r io

851. Concepção básica. 852. Excluídos do regime. 853. Distinções


S u m á rio :
necessárias. 854. Vigência da inclusão. 855. Alíquotas e base de cálculo. 856.
Retenção dos 11%. 857. MEI com empregado. 858. Benefícios previdenciários.
859. Fiscalização do contribuinte. 860. Situação do empregado.

A ten d en d o (e em parte co n trarian d o ) o art. 201, §§ 12/13, da C onstituição


F ederal, na redação dada pela EC n. 47/2005, o legislador ord in ário criou u m
Regime Especial de Inclusão dos Inform ais — REII. Esse regim e previdenciário
facultativo d istin to , cifrado ao salário m ínim o, foi disciplinado no art. 80 da LC
n. 123/2006, q ue acresceu os §§ 2e/3 e ao art. 21 do PCSS e foi regulam entado no
D ecreto n. 6.042/2007.
Com base n a m esm a C arta M agna (art. 170), essa LC n. 123/2006 regulou
n o v am en te o regim e fiscal das p equenas em presas, criando o Sim ples NACIONAL
(em que a p arte p atro n al das contribuições previdenciárias é su b stitu íd a p o r um a
alíquota ú nica que engloba o u tras exações, conform e cinco anexos).
A LC n. 128/2008, alterando disposições da LC n. 123/2006, criou o MEI,
tam bém cham ado de M icroem preendedor Individual e de certa form a um a m oda­
lidade v ariante do Sim ples NACIONAL (art. 18).
Dentro do REII o titular de firma individual que optar pelo MEI adotará um regi­
m e fiscal distinto, para isso devendo atender algum as determ inações da lei. Perm ane­
ce n u m círculo m enor: se o ultrapassar, ingressará no SIMPLES Nacional (um círculo
m aior); ultrapassado este, ingressará no RGPS, u m terceiro e círculo ainda maior.
851. C o n cep ç ão b ásica — O § l e desse art. 18 diz q u e é M EI o “em p resário
a que se refere o art. 966 da Lei n. 10.406, d e 10 de jan eiro de 2002 — C ódigo Civil,
que ten h a auferido receita b ru ta, no ano-calendário anterior, de até R$ 36.000,00
(trin ta e seis m il reais) optante pelo Sim ples N acional e que não esteja im pedido
de o p tar pela sistem ática prevista neste artig o ”.
Q u an d o abre o Livro II — Do DireiLo de Empresa, no T ítulo I — Do empresá­
rio, e no C ap ítu lo 1 — Da Caracterização e da Inscrição (arts. 966/980), o art. 966

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o ZI— P revidência S ocial 747


do C ódigo Civil diz que é em presário “quem exerce profissionalm ente atividade
econôm ica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”. O
parágrafo único exclui algum as atividades.
R igorosam ente esse era o titu lar de firm a individual do D ireito C om ercial,
citado com o segurado obrigatório no art. 12, V,/, do PCSS, agora com o utra n o ­
m en clatu ra, m as sem d eixar de ser o co n trib u in te individual en q u an to contido no
RGPS.
852. Excluídos do regime — N ão pode ser MEI o em presário:
1 — cuja atividade seja tributada pelos A nexos IV (prestadora de serviços) ou
V da lei com plem entar, salvo autorização relativa a exercício de atividade isolada
na form a regulam entada pelo com itê gestor;
I] — que possua m ais de u m estabelecim ento;
III — que participe de o utra em presa com o titular, sócio ou adm inistrador;
IV — que co n trate em pregado recebendo acim a do salário m ínim o ou em pre­
gados (art. 18, § 4 Q, I/IV); ou
V — aufira renda m ensal b ru ta anual su p erio r a R$ 36.000,00.
853. D istin çõ es n e c e ssá ria s — A partir da LC n. 123/2006, são três os regi­
m es previdenciários a serem considerados: a) Regime do MEI, no bojo do REII; b)
SIMPLES N acional; e c) RGPS. Cada um deles com características próprias.
Se o em presário ultrapassar os R$ 36.000,00 e nào chegar a R$ 43.200,00, ele
deixará o regim e do MEI e ingressará no regim e do Sim ples NACIONAL. Descum -
pridas as regras destes dois últim os regim es ele será vinculado ao RGPS.
854. Vigência da inclusão — O regim e fiscal do M EI iniciou-se n o dia 1° de
ju lh o de 2009. Este é o prim eiro m ês de com petência. O ano-calendário que presta
para o cálculo será o an o de 2008.
855. Alíquotas e base de cálculo — O em presário q u e o ptar p o r esse regim e
fiscal terá as seguintes obrigações fiscais principais:
a) co ntribuição pessoal — f 1% do salário m ínim o (11% x R$ 678,00 = R$
74,58). D esejando a ap osentadoria p o r tem po de contribuição, deverá com plem en­
tar com 9%, que resulta R$ 55,98. O total m ensal chega a R$ 124,50.
b) co n trib u ição p atronal — Caso co n trate u m em pregado, deverá recolher 3%
do valor (que som ente pode ser o salário m ínim o ou o piso salarial da categoria).
856. R etenção d o s 11% — A em presa tom adora de m ão de obra que co n tra­
tar os serviços de um MEI é obrigada a reter de 11% do valor da n ota fiscal (Lei
n. 9.711/1998 — art. 18-B), considerando-o um conLribuinte individual para os
efeitos da Lei n. 10.666/2003. De regra, o MEI está dispensado da em issão desse
docu m en to , m as se p restar serviços para pessoa ju ríd ica será obrigado a em iti-la.
Mas som ente q u an d o se trata r de cessão de m ão de obra relativa a “serviços de
hidráulica, eletricidade, p in tu ra, alvenaria, carp in taria e de m anutenção o u reparo
de veícu lo s” (parágrafo único).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

748 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Logo, caso esse valor ultrapasse a contribuição previdenciária do MEI, ele fará
ju s a u m crédito a ser restitu id o ou com pensado. No m ês, sem pre q u e em itir um a
nota fiscal su p erio r a R$ 678,00, esse crédito em ergirá, pro p o n d o -se as questões da
restituição e da com pensação.
857. MEI com em p re g ad o — N ão perde a condição de MEI o em presário que
ad m itir u m em pregado cujo salário não ultrapasse u m salário m ínim o (art, 18-C).
Deverá reter os 8% e recolhê-los ao FPAS com o as dem ais em presas vinculadas ao
RGPS e d evendo p restar “inform ações relativas ao segurado a seu serviço” (pará­
grafo ú n ico, II).
Em tal caso, se sujeita às várias inform ações do art. 32 do PCSS a serem p res­
tadas ao INSS e à RFB. Em relação ao salário m ínim o, essa co n trib u ição patronal
m ensal será de R$ 18,66. Se o piso salarial for de R$ 678,00, ela será de R$ 54,24. No
E stado de São Paulo, que tem três pisos salariais, variará conform e cada um deles.
85 8 . B enefícios p re v id e n ciário s — O em presário q u e o p tar p o r esse regim e
fiscal fará ju s a to d o s os benefícios previstos n o PBPS com patíveis com a condição
de em presário, exceto a aposentadoria p o r tem po de contribuição e todos eles no
valor do salário m ínim o.
Caso p re te n d a esse últim o benefício terá de recolher a diferença (9%). P en­
sando em prestações superiores a R$ 678,00, ele deverá d eixar o regim e fiscal do
MEI e ingressar no Sim ples NACIONAL o u RGPS.
O seu tem po de serviço d en tro do REII (inicialm ente, não se cogita de tem po
de co n trib u ição ), caso ele resolva co m p lem en tar a contribuição de 9% e transfor­
m á-lo em tem po de co ntribuição, produzirá efeitos assim que efetuado o p agam en­
to. Em relação aos benefícios program ados (aposentadoria especial, p o r idade e
tem po de co n trib u içã o ), se não tom ar essa providência so m en te fará ju s à aposen­
tadoria p o r idade aos 65 anos (hom em ) e 60 anos (m ulher).
8 5 9 . F isc a liz a ç ã o do c o n trib u in te — O art. 33 d a LC n. 1 2 3/2006 fala na
fiscalização da em p resa q u e o p to u pelo S im ples NA CIO N A L, n ão m en c io n a n d o
os MEL
A d m itin d o a figura de um consórcio de o p tan tes pelo Sim ples NACIONAL, a
no rm a silencia q u a n to a u m a reunião de m icroem presário individual (art. 56), que
já existe no u n iv erso rural.
860. S itu ação d o em p reg ad o — A norm a não deixa m u ito clara a situação
do em pregado, devendo-se e n te n d e r q u e ele está co n tid o no RGPS e assim faz jus
a todas as prestações possíveis. A presença desse em pregado (que lem bra aquele
co n tratad o p o r en tid ade b eneficente de assistência ou clubes de futebol profis­
sional — que têm a parte p atro n al dispensada ou su b stitu íd a) evidencia lacunas
norm ativas deixadas pelo legislador.
P artindo-se dessa obrigação tiscal e da equiparação ao em pregado com um ,
filiado ao RGPS, m esm o ausente a contribuição patronal de 20%, tem -se que ele
tem direito a to d o s os benefícios, inclusive a ap o sen tad o ria p o r tem po de co n tri­

C urso p r D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o d a / 749
buição. Dá-se com o exem plo a contribuição dos clubes de futebol e das entidades
beneficentes de assistência social, su b stitu íd a n o p rim eiro caso e ausente na
segunda hipótese.
O legislador deveria dizer aclarar as dispensas de contribuição e elucidar
vários aspectos com o a contribuição do acidente do trabalho e da aposentadoria
especial, Possivelm ente em butidas na parte patronal do MEI (3%).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

750 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo LXXXVI

A feri ção Indi reta

Sum á r i o : 861. Apuração usual. 862. Avaliação mínima. 863. Objetivo da apura­

ção. 864. Exemplo prático. 865. Levantamento fiscal. 866. Fundamento legal.
867. Nulidade do lançamento. 868. Mérito de aferição. 869. Posição do CRPS.
870. Contestação do contribuinte.

A legislação exacional prevê u m a exceção na apuração dos elem entos decan-


tadores do fato gerad or da obrigação fiscal conhecida com o aferição indireta. De
longa data, as n o rm as tributárias tratam desse tem a tendo em vista a prática da
inform alidade e da sonegação de inform ações.
8 61. A p u ração u su a l — Fiscalizando o co n trib u in te, a Receita Federal do
Brasil exam ina vários d o cu m en to s trabalhistas (PPP, LTCAT, do am biente do tra­
balho) e contábeis (d o cu m en to s de caixa) para verificar a presença do fato gerador.
E ntre m u ito s o u tros, são considerados a folha de pagam entos, recibos de p a­
gam ento, holleriths, cartões de po n to , pag am en to s aos co n trib u in tes individuais
(au tô n o m o s, eventuais e em presários), co n trato s de prestação de serviços ou de
cessão de m ão de obra, d o cu m en to s a aquisição de p ro d u to s, rendas e receitas,
q uitações no P oder ju d iciário , enfim , um a q u antidade significativa de registros
escritu rais p ertin en tes aos deveres das obrigações principais e secundárias.
As rem u n eraçõ es então apuradas são co nfrontadas com a base de cálculo das
co n trib u içõ es reco lh idas p o r in term éd io das guias da previdência social.
8 62. A valiação m ín im a — A apuração de débitos previdenciários m ediante o
em prego da aferição indireta provoca respeitáveis polêm icas no D ireito P reviden­
ciário. C om fulcro n o CTN e PCSS, diante do cenário descrito na n o rm a ju ríd ica, o
A uditor-Fiscal está au torizado a prom over o levantam ento e lançam ento de débito
p o r m eios oblíquos.
Essa m o d alid ad e de detenção do fato gerador, p o r sua excepcionalidade, re­
clam a cuidados extrem os do aplicador da norm a. Ela tem pressu p o sto s, m ecanis­
m os de lev an tam en to , claríssim a descrição do modus opem ndi fiscal e u m relatório
discrim inativo que não obste o direito co n stitu cio n al de defesa. P or ser inusitada
ab initio, m erece ju stificativa efetiva e deve ser in terp retad a restritivam ente.

C urso p r. D ir e it o P r f v id e n c iá r iq

T o m o í í — P r e v i d ê n c i a S o c ia í 751
863. O b jetiv o d a ap u ração — A aferição indireta é u m a locução si m esm a
pleonástica, consiste na determ inação do fato gerador (direito, crédito ou paga­
m ento de rem uneração), p o r interm édio de recursos fora do padrão norm al, ditos
indiretos, oblíquos ou presum idos, autorizados na lei em cada caso.
8 6 4 . E x em p lo p rá tic o — Se todos os alam biques de um a região, com um a
m édia de dez em pregados conseguem p ro d u z ir 50.000 litros de ag u ard en te por
ano e todos eles ad o tam a m esm a tecnologia de pro d u ção , é lógico pen sar que
igual n ú m ero de em pregados deveria estar trab alh an d o n u m fabricante que atinja
essa lilragem anual. Para tanto, o A uditor-F iscal terã de com p ro v ar que o c o n tri­
b u in te fiscalizado é ex atam ente igual a todos aqueles to m ad o s com o parâm etro,
q ue não dispõe de recu rso s tecnológicos d istin to s nem q u e ten h a co n tra tad o a u ­
tôn o m o s, tem p o rário s, o u pessoas ju ríd ic a s para a ju stific ar os seus resultados
econôm icos.
D eterm inado o n ú m ero de em pregados, deverá ap u rar o valor arbitrado da fo­
lha de p agam ento que tam bém poderá se servir da analogia com o u tro s fabricantes
de aguardente da região.
865. L ev an tam en to fiscal — O levantam ento do débito justificará o procedi­
m ento inédito com provando a produção física de 50.000 litros, a ausência de outra
explicação p ara a ausência da m ão de obra, ju n ta n d o aos autos provas da relação
entre em pregador e litragem na região, valor de m ercado da rem uneração dos tra­
balhadores. Tais cálculos terão de ser claríssim os, objetivos e lógicos, inform ando
as várias fontes em que se abeberou para chegar às conclusões fiscais.
866. F u n d a m e n to legal — Para fu n dam entar esse procedim ento incom um ,
o A uditor-Fiscal da Receita F ederal do Brasil rep ro d u zirá o art. 33, § 3e, do PCSS,
que fala em recusa, sonegação o u apresentação deficiente.
Recusar, vencido o prazo para a exibição dos do cu m en to s solicitados, p o s­
suin d o -o s o co n trib u in te, é negar-se a entregá-los sob q u alq u er razão. Pode ser
direta (negativa verbal) ou p o r escrito ou indireta, m ediante negaceios protelató-
rios, indicados de negativa A apresentação p o sterio r ao lan çam en to social pode
aperfeiçoá-lo, m as não ilide a infração com etida.
Sonegação é não apresentação, sob a alegação de não tê-los, possuinclo-se ou
não. É escondê-los, su btraí-los, fazê-los desaparecer da vista, m uitas vezes, afastan­
do do local de trabalho o segurado não registrado.
A presentação deficiente é revelar parte do d o cu m en to ou fato, entregar m e­
nos, registrar abaixo do real, drib lar valores, consignar inferiorm ente na co n tab ili­
dade ou não lançar a im p o rtân cia verdadeira.
867. N u lid ad e d o lan ça m en to — Um lançam ento fiscal que não atenda todas
as condições que são exigidas p ara o arb itram en to é in su b sisten te e deve ser a n u ­
lado ab initio pela au to rid ad e adm inistrativa ou judicial.
868. M érito d a aferição — C ada um a das razões desse arb itram en to , isto é,
os exercícios operad o s pelo lançador devem estar p resentes e se subm eterem à

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

752 W í a d i m i r N o v a e s M a rtin e z
lógica, ao senso co m u m e à obviedade. Para ju stific ar a adoção de fatos geradores
não co n stan tes da co ntabilidade de um a em presa, faz-se m ister ded u zir as razões
que levariam o co n trib u in te ao com p o rtam en to adotado.
Se um em pregado não registrado foi vítim a de acidente do trabalho fatal, será
preciso ap u rar su a rem uneração e então u m a p esquisa de m ercado será suficiente
para isso. N este caso, é im prescindível que o A uditor-Fiscal traga um a am o stra­
gem respeitável da rem uneração de o u tro s profissionais q u e sejam o m ais próxim o
possível daquele que se está co nsiderando (v. g., idade, capacidade funcional, co­
n h ecim en to técnico, form ação profissional etc.
869. Posição do CRPS — Diz o E nu n ciad o CRPS n. 29, de 13.12.2006: “N os
casos de lev an tam en to p o r arb itram en to , a existência do fu n d am en to legal que
am para o p ro ced im en to , seja no R elatório F u n d am en tad o Legal do D ébito — FLD
ou no R elatório Fiscal — REFISC, g arante o pleno exercício do co n tra d itó rio e da
am pla defesa, não gerando a nulidade do lan çam en to ”.
Esse en u n c ia d o assevera que o registro do fu n d am en to per se garante o p rin c í­
pio co n stitu cio n al, o que não é verdade. C itar a razão legal sem indicação de com o
se chegou ao m o n tan te do fato gerador retira da em presa o p o d e r de co n testar o
débito. N ão explicar origem é co n stran g im en to ao direito de defesa.
No m áxim o, o en u nciado assegura que a presença do fu n d am en to configura
algum a legitim idade ao ato fiscal, m as som ente isso apenas n ão o fortalece, se au ­
sentes o u tro s elem en tos da aferição indireta.
870. Contestação do contribuinte — O co n trib u in te p o d erá im p u g n ar o lan­
çam ento fiscal em todos os seus aspectos, im propriedades lógicas o u elem entos
in u sitad o s u tilizad o s pela fiscalização, m ostrando: a) não é igual aos dem ais; b)
desfru ta de tecnologia distinta; c) co n tra to u o u tro s profissionais além dos em pre­

í
gados; d) Jio exem plo acim a, que ad q u iriu aguardente p ro n ta para revendê-la etc.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l
Capítulo LXXXVII

D e c a d ê n c ia e P r e s c r iç ã o

871. Distinções imprescindíveis. 872. Art. 45 do PCSS. 873. Art. 46 do


S u m á rio :
PCSS. 874. Posição do CTN. 875. Pensamento doutrinário. 876. Cômputo
do quinquídio. 877. Natureza da contribuição. 878. Justiça do Trabalho. 879.
Contribuições decaídas. 880. Previdência Complementar.

Diz a Súm ula V inculante STF n. 8, de 12.06.2008: “São in co n stitu cio n ais o
parágrafo ú n ico do art. 59 do D ecreto-lei n. 1.569/77 e os artigos 45 e 46 da Lei n.
8.212/91, que tratam de prescrição e decadência de crédito trib u tá rio ”.
Essa redação não pôs os dois in stitu to s técnicos em ordem lógica e trocou a
respectividade dos artigos: p rim eiro um a exação é cobrada ou não e, se cobrada
form alm ente, d epois prescreve ou não. O art. 45 tratava da decadência e o art. 46,
da prescrição.
Com isso, a decadência do crédito previdenciário passou a ser de cinco anos,
em vez dos dez an o s do art. 45 do PCSS e a prescrição, da m esm a form a, deixou de
ser decenial e se to rn o u q ü in q ü en al (art. 46). O s C inco + C inco = Dez anos criados
m o m en tan eam en te pelo STJ não m ais têm aplicação sutnular.
Q uer dizer, a despeito do esforço de um a m inoria de previdenciaristas que
configuram a co n trib u ição social da Lei M aior com o exação não tributária, o STF
abraçou a corrente tributarista.
A destinação da exação, especificada nos arts. 195 e 201 da Lei M aior confir­
m a a disLinção do s trib utos, m as foi ignorada. O p rincípio nonagesim al (art. 195,
§ 6°), em oposição ao p rincípio da anualidade (art. 150,111, b), com a m esm a dife­
renciação não se p resto u para nada.
E squecendo-se que a Lei n. 8.212/1991 tem caráter de lei com plem entar, p o r
seu tu rn o , a sú m u la desprezou tam bém o fato de que q uando o art. 195, § 4 Q, re­
m ete ao art. 1 5 4 ,1 (que exige lei co m p lem en tar), está falando em “o u tras fontes” e
não nas tradicionais, u suais, vigentes e definidas no p ró p rio art. 195.
871. D istinções im prescindíveis — Im porta salientar a diferença didática en ­
tre a decadência e a prescrição previdenciárias, os seus prazos e com o eles se contam

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

754 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
em term os de exercícios fiscais. Em linhas bastante gerais, decadência é o prazo que
a Receita Federal do Brasil dispõe para notificar o co n trib u in te a existência de um
débito e para co n stitu ir o lançam ento que consubstanciará o crédito previdenciário.
U m a vez con so lidado esse débito, in scrita a dívida fiscal, a m esm a Receita
Federal do Brasil tem m ais cinco anos para processar a cobrança executiva; esse
ú ltim o é o prazo da prescrição.
fiisto ricam en te, os dois term os perm aneceram ind istin to s, confundidos, sem
q u alq u er esforço p artic u la r da A dm inistração P ública previdenciária em resolver a
questão. Logo após a fusão dos intuitos, ocorrida efetivam ente em jan eiro de 1967
(D ecreto-lei n. 7 2 /1 9 66), a ação fiscal do INPS intensificou-se e m uitas notifica­
ções fiscais in clu íram períodos m aiores que os cinco anos do CTN , d espertando
o interesse pela m atéria. As em presas recorreram aos trib u taristas e estes, com o
CTN à m ão, passaram a p erq u irir legislação previdenciária.
872. A rt. 45 d o PCSS — Até que tivesse sido revogado pela LC n. 128/2008,
o art. 45 do PCSS fixava a decadência previdenciária em dez anos: “O direito da
Seguridade Social de ap u rar e co n stitu ir seus créditos extingue-se após 10 (dez)
anos contados: I — do prim eiro dia do exercício seguinte àquele em que o crédito
poderia ter sido constituído; e 11 — da data em que se to rn ar definitiva a decisão que
houver anulado, por vício formal, a constituição de crédito anteriorm ente efetuada”.
Tratava-se de um term o razoável para a realização da receita previdenciária,
ainda q u e o da restituição fosse m en o r que esse decênio. D iante da possibilidade
de prorrogações, o q u e poderia ser inferior era o da prescrição.
873. A rt. 4 6 d o PCSS — O prazo decenal da prescrição estava estabelecido no
art. 46 do PCCS: “O direito de obrar os créditos da Seguridade Social, co n stitu íd o s
na form a do artigo anterior, prescreve em 10 (dez) an o s”.
A n terio rm en te, vigeu um ab surdo prazo de 30 anos, prorrogável em várias
hipóteses, confirm ado d u as décadas depois de sua criação pela Lei n. 6.830/1980.
874. P osição do C TN — Em seus arts. 172/173, pen san d o em trib u to s, desde
25.10.1966, o CTN fixou-se nu m a decadência e prescrição de apenas cinco anos.
A m o d ern id ad e organizacional da Secretaria da Receita F ederal p erm itia que o
fato gerad o r fosse localizado, determ inado e lançado no curso espaço de 60 m eses.
875. P en sam en to d o u trin á rio — A decadência e a prescrição têm sido consi­
deradas m ais p o r trib u taristas do q u e p o r previdenciaristas. Os p rim eiro s sem pre
en ten d eram q ue a co ntribuição social é um a m odalidade trib u tária e nessas co n d i­
ções, deveria se su b m eter aos prazos do CTN. Mas, curiosam ente, a nem todos os
seus in stitu to s técnicos (benefício da ordem ).
Possivelm ente, ocuparam -se m ais com a obrigação fiscal das em presas, não se
d eten d o na ch am ad a indenização ao INSS (PCSS, art. 45-A) n em n a contribuição
dos seg u rad o s facultativos e m u ito m enos com os d esd obram entos da in ad im p lên ­
cia em relação ao direito aos benefícios. As razões previdenciárias foram literal­
m ente ignoradas.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 755
R igorosam ente, foram poucos os que se detiveram com a expressão “receber”
e “co b ra r” do art. 144 da LOPS. A m aior parte dos previdenciaristas preferiu não
com entá-las e esse é apenas m ais um exem plo de com o o tem a foi abandonado
pelos especialistas. Tecnicam ente falando, até 24.7.1991 não havia na legislação
previdenciária prazo decadencial e apenas prescricional (sic).
876. C ô m p u to do q u in q u íd io — O s atuais cinco anos da decadência co n tam ­
-se a partir do exercício an terio r àquele em que se en co n tra o observador.
A ssim , em 2012, é possível exigir c o n trib u iç õ e s dos an o s 2 0 0 7 /2 0 1 1 , e
restam d ecaíd as as c o m p etê n cias c o n tid a s n o s exercícios de d ezem bro de 2006
para trás.
N ada prorroga esse prazo e um a vez ultrapassado não é possível exigirem ­
-se co n trib u içõ es p o r via de cobrança executiva sem prejuízo de serem realizadas
p o r outras m odalidades de cobrança (aliás, adotadas em relação aos co ntribuintes
individuais).
877. N a tu reza da c o n trib u iç ã o — Se a decadência foi sem pre mal estudada
pelos especialistas no D ireito P revidenciário, igual e triste d estin o coube à natureza
ju ríd ica da co n tribuição social.
Todas as tentativas de considerá-la um a exação não trib u tária e, p o rtan to , não
subm etida à Lei n. 5.172/1966 em term os de decadência acabaram sem sucesso
dou trin ário .
O STF o lim picam ente ignorou in fin e do art. 150, § 6 B, que em algum m o ­
m ento fala em que “regule exclusivam ente as m atérias acim a enum eradas ou o
corresp o n d en te tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 29,
XII, g” (grifam os).
Deu a en ten d e r para quem assim q u iser ver que o Sistem a T ributário N acional
(C apítulo 1 do T ítulo VI da C arta M agna) — m elh o r seria designá-lo Sistem a Exa-
cional N acional — , abriga trib u to s (im postos, taxas e contribuições de m elhoria)
e con trib u içõ es sociais. Logo, im posições distintas; ip sofacto , co n trib u ição social
exacional, m as não tributária.
878. J u s tiç a d o T rabalho — A ntes de ser reform ulado em 2005, o item I da
Súm ula TST n. 368, dizia: “A Ju stiç a do Trabalho é com petente p ara d eterm in ar o
recolhim ento das con tribuições previdenciárias e fiscais provenientes das sen ten ­
ças que processar. A com petência da Ju stiç a do Trabalho para execução das c o n tri­
buições previdenciárias alcança as parcelas integrantes do salário de contribuição,
pagas em v irtu d e de co n trato, ou de emprego reconhecido em ju ízo ou decorrentes de
anotação da C arteira de Trabalho e P revidência Social — CTPS, objeto de acordo
hom ologado em ju íz o ” (grifos nossos).
C om parando-se esse texto com a Súm ula TST n. 368 ab initio verifica-se m e­
lhor precisão lingüística: desapareceu a inútil distinção en tre contribuições p re­
videnciárias e fiscais (pelo m enos no item 1). E tam bém , não m ais com pareceu a
referência ao “em prego reconhecido em ju íz o ”, com tu d o o que isso significasse.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

756 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
A p artir da Resolução TST n. 138/2005, os ju izes do trabalho cobraram apenas
as con trib u içõ es nascidas das sentenças co n d en ató rias que proferirem e não m ais
d aq u elas exações p re ssu p o sta s q u a n d o do re co n h ec im e n to do v ín cu lo em prega-
tício. O que é u m a pena, p o rq u e em cada caso a exigibilidade fica com etida à Re­
ceita F ederal do Brasil (a Previdência Social perde a oporLunidade), lem brando-se
que terá de co n sid erar o côm puto do tem po de serviço co rresp o n d en te ao vínculo
laborai para fins de benefícios,
Q u er dizer, co n denada a em presa ela fica obrigada a recolher a contribuição
previdenciária; se não o fizer a cobrança será executada pela própria Ju stiça do
Trabalho.
Tendo em vista que a legislação m enciona as co n trib u içõ es sociais e as dos
terceiros se en q u ad ram nesse conceito, elas tam bém têm de ser executadas nessa
o p o rtu n id ad e. Se isso ocasionalm ente nào sucede, a Receita F ederal do Brasil terá
de cobrá-las.
P artindo-se do fato de que os au tô n o m o s não são partes legítim as para recla­
m arem d ireito s na Ju stiça do Trabalho, a priori os ju iz e s nào sen ten ciariam sobre
tais pretensões. E n tretan to , às vezes, desclassificando o vínculo em pregatício ou
não os afirm ando, p o d em e n ten d e r que está p resen te a relação de prestação de
serviços entre um a em presa e u m au tô n o m o , e ai sobrevirem os deveres de reter e
reco lh er os 11% da Lei n. 10.660/2003.
A d espeito dos registros do CNIS, as contribuições devidas pelas em presas
objeto de sen tenças trabalhistas, executadas pela Ju stiça do Trabalho o u pela Re­
ceita F ederal do Brasil (e até m esm o as não cobradas) têm de ser consideradas para
todos os efeitos dos benefícios.
S u p erv en ien te sentença de m érito ou em acordo trabalhista em erge o fato
gerad o r da obrigação fiscal previdenciária e a rem uneração para a definição de
carência, tem po de serviço e salário de contribuição.
As reclam ações trabalhistas seguem a regra da decadência laborai, m as as c o n ­
tribuições sociais dep endem da Súm ula V inculante STF n. 8. N esse sentido, então
os ú ltim o s cinco anos são contados da petição inicial (e não da sen ten ça), já q u e a
sen ten ça não co n stitu i o direito, m as apenas o declara preexistente.
879. C o n trib u iç õ e s d ecaíd as — A LC n. 128/2008, in tro d u ziu um a alteração
significativa no PCSS, revogando o seu art. 45 e in tro d u zin d o u m art. 45-A (sic),
tratando as co n trib u ições de co n trib u in tes individuais inad im p len tes em relação a
p erío d o s anterio res aos cinco anos decadenciais.
Ter ad o tad o u m a lei com plem entar em vez de lei delegada ou ordinária, para
revogar um a lei ord in ária (ainda que com viés de lei com plem entar, q u e é o PCSS)
aten d eu ao d isp o sto na C arta M agna. Em bora não se tratasse de contribuição nova,
apenas red isciplinou u m a exigência legal que provêm da Lei n. 9.032/1995.
D istinguindo entre co n trib u in tes “coletivos” (de regra, os su b o rd in ad o s ou
que têm as con trib u ições retidas e recolhidas pelas em presas) e os co n trib u in tes

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o U — P r e v id ê n c ia S o c i a l 757
individuais, ficou claro que o INSS som ente considerará o tem po de serviço com o
tem po de co n trib u ição se o segurado provar que efetuou o recolhim ento de co n tri­
buições relativas às m ensalidades que vâo até dezem bro de 2004.
Fez u m a pequena distinção q u an to a esse tem po de serviço: a ser utilizado
no p róprio RGPS ou, p o r interm édio da contagem recíproca de tem po de serviço,
nu m RPPS.
Os segurados obrigatórios co n trib u in tes individuais que desejarem recolher
con trib u içõ es atrasadas p retéritas ao prazo decadencial adotarão um a alíquota de
20% (que é a taxa pad rão do facultativo e dos au tô n o m o s que prestam serviços
para pessoas físicas), ainda que estejam sujeitos a apenas 11%. Servidores públicos
subm etidos a 20% do vencim ento m esm o q u e na ocasião do período considerado
tivessem recebido o salário m ínim o (sic).
Sua base de cálculo será igual ao do salário de benefício (para fins de cálculo
das prestações de pagam ento co n tin u ad o ), ou seja, m édia corrigida m ensalm ente,
dos 80% m aiores salários de contribuição para os trabalhadores da iniciativa p ri­
vada e (ú ltim o ) v en cim ento do servidor público.
Além de não ser m édia, com o no caso do RGPS, essa base de cálculo é a tu a­
rialm ente descabida na m edida em que tom a o ú hiin o vencim ento e assim se tem
ofendido o p rin cíp io da igualdade.
Em todo o caso, não consagrando a alíquota e base de cálculo da época do
fato gerador — não q u erendo proceder a um a atualização m onetária de períodos
rem otos — a LC n. 128/2008 agride a ordem exacional do Direito T ributário N a­
cional. Sem falar que com ete disciplina ao RPS, o que raram ente é recom endável
em m atéria de expropriação estatal.
D esde a Lei n. 9.032/1995, em sua redação original, o C ongresso N acional
adotou a expressão “in d en ização ”; ela provocou divergências entre os d o u trin ad o -
res. Por que os segurados deveriam indenizar o INSS, se eles não causaram prejuízo
m aterial à au tarq u ia federal nem dano ao Regime G eral p o r ele adm inistrado?
Ficar devendo, e n tra r em m ora, assum ir a inadim plência, fazem parte da rela­
ção ju ríd ica de custeio desde que esse in stitu to técnico é reconhecido, prevendo-se
a reparação devida ao sistem a, que são os ju ro s e a m ulta.
Se o segurado está pagando ju ro s (de 0,5%) e m ulta (de 10%), e se equiparou
ao adim plente, não h á com o in d en izar a Previdência Social.
Esse pen sam en to de alu d ir a essa instituição inadequada, que é a indenização,
deve ter origem n o destino dos in stitu to s da decadência e da prescrição que, his­
toricam ente, sem pre foram p equenos para a política fiscal e agora, com a Súm ula
V inculante do STF n. 8 baixou de dez anos para cinco anos. E ntão, n o en ten d er
de quem concebeu essa criação esdrúxula, a indenização não decairia nem p res­
creveria nunca!
Alegar-se que essa com posição da dívida não é obrigatória não m elhora as
dúvidas em ergentes da questão fiscal. A seguridade social q u er que as pessoas co n ­

C urso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

758 W la d im irN o v a e s M a r tin e z


trib u am e se ap o sen tem , m as não sobrecarreguem os custos da assistência social.
A posentar-se é u m direito previdenciário e se as co n tribuições dos co n trib u in tes
coletivos (p rin cip alm en te em pregados e avulsos) são p resum idas (sic) e não po­
dem ser exigidas, p o r que a dos co n trib u in tes individuais há de ser exigida fora dos
padrões do D ireito Tributário?
R eclam ar co n tribuições pretéritas anteriores a l e. 11.1991 — data-lim ite a
p artir da qual o PCSS passou a exigir contribuições dos rurícolas — , d e obreiros
que foram trab alh ad ores rurais, sabendo-se que por ocasião do fato gerador não
eram reclam adas provoca dúvidas entre os intérpretes.
N aquele en tão e até 4.10.1988, a legislação previdenciária d istinguia os trab a­
lh adores da iniciativa privada em dois grupos: a) segurados obrigatórios urbanos
desde 24.1.1923 e b) trabalhadores ru rais beneficiários de u m a no rm a de caráter
assistenciário em term os de definição técnica (com exceção de algum as categorias
diferenciadas o p eran d o nesse universo). O u seja, de m odo geral o rurícola só c o n ­
trib u iria com a criação de riquezas das quais não era destinatário.
A C o n stitu iç ã o F ed eral de 5 .1 0 .1 9 8 8 in sc u lp iu o p rin cíp io da equivalência
u rb a n o -ru ra l, sig n ifican d o a obviedade de o u tro s E sta tu to s M aiores: o ru ríc o la
é p re v id e n c ia ria m e n te igual ao u rb a n o . N esse sen tid o , en tão , ele deveria c o n ­
trib u ir, o u seja, é fiscalm ente co rreto a in d a que n ão o seja so cio lo g icam en te.
R ecebendo salário m e n o r que o tra b a lh a d o r das cid ad es, ele será confiscado
fiscalm ente.
P ossivelm ente, n en h u m ju sp rev id en ciarista centrou-se em saber com o consi­
d erar esse p erío d o passado sem co n trib u içõ es e se as contribuições poderiam ser
exigidas, a que títu lo fosse.
880. P rev id ên cia C o m p le m e n ta r — A prescrição previdenciária não é ques
tão m uito torm en to sa, m as costum a su scitar algum as polêm icas em virtude do
descaso do legislador em disciplinar a m atéria. H istoricam ente, não havia prazo na
Lei n. 8.213/1991 (até porque o direito às prestações é im prescritível). Foi criado
um lu stro e p o sterio rm en te estabeleceu-se o atual e vigente prazo de dez anos (Lei
n. 9 .528/1997). Significa, na previdência básica (RGPS) q u e dez anos depois o
segurado n ão tem com o p ed ir revisão de cálculo da renda m ensal inicial ou renda
m antida. Por o u tro lado, qual seria o term o p ara um a revisão prom ovida pela au tar­
quia? Tem-se en ten d id o que exceto na figura do dolo ou m ã-fé, o prazo é tam bém
de dez anos. M as, o que é dolo é má-fé?
E ntão, lem b ran d o com o referência e p o d en d o d o u trin ariam en te ser rem etido
para a previdência com plem entar, o prazo para eventuais reclam ações no INSS é
de dez anos.
No que diz respeito à previdência co m p lem en tar fechada, esse prazo é de
cinco anos, estabelecido no art. 75 da LC n. 109/2001, regendo-se o prazo da
previdência aberta pelo C ódigo Civil. O dispositivo citado não é bem form ulado,
m as é o ú n ico a ser m encionado e, p o r via de interpretação. Pode ser estendido a
praticam en te tu d o o que se referir ao exercício ex tem porâneo de direito.

C urso de D ir e it o P r c v id ü n c iA r io

T om o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l 759
Vale dizer que passados esses cinco anos o fundo de pensão não está obrigado
a rever a concessão, o cálculo da renda inicial com plem entar ou o u tro s aspectos
do benefício. M as, se quiser, p o d erá fazê-lo porque as relações entre participação e
EFPC são m uito m ais pessoais do que as dos segurados e o INSS.
Poder-se-á alegar que esse prazo é cu rto e é m esm o. Por o u tro lado, é preciso
que exista um term o para estabelecer tran q ü ilid ad e ju ríd ic a às relações.
Q uestão in trin cad a em m atéria de direito intertem poral diz respeito à data a
p artir da qual se contam os 60 m eses do lustro. Pois, às vezes, o direito em erge de
u m a decisão nova e será dela que se m en su rará o direito de recorrer.
O u tro q u estio n am en to refere-se à contagem do prazo legal, de cinco anos.
Para nós, em v irtu d e de a Lei n. 6.435/1977 não ter fixado nada de prazo (ainda
que pudesse ser inferido do C ódigo Civil de 1916), som ente cinco anos depois
de 29.5.2001, ou seja, em 29.5.2006 é que o art. 75 da LC n. 109/2001 adquiriu
eficácia. .

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

760 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo LXXXVIII

E x e c u ç ã o J u d ic ia l

S u m á r io : 881. Sujeitos ativos. 882. Justiça d o Trabalho. 883. Natureza da


cobrança. 884. Sentença e acordo. 885. Discriminação das parcelas. 886. Mês de
competência. 887. Acréscimos legais. 888. Aposentadoria especial. 889. Conci­
liação e anuência. 890. Contestação empresarial.

A exigibilidade de contribuições securitárias em face de fatos geradores a p u ­


rados na Ju stiça do Trabalho é in stitu to técnico recente e ainda em aberto ao debate,
a Súm ula TST n. 368 assevera:
“D escontos Previdenciários e Fiscais — C om petência — R esponsabilidade pelo
Pagam ento — F orm a de cálculo. I — A Justiça do Trabalho é com petente para de­
term inar o recolhim ento das contribuições fiscais. A com petência da Justiça do Tra­
balho, qu an to à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às sentenças
condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo hom ologado,
que integrem o salário de contribuição (ex-OJ n. 141 — Inserida em 27.11.1998)
(Alterado) — Res. 138/2006, DJ 2 3 ,2 4 e 25.11.2005.11 — É do em pregador a respon­
sabilidade pelo recolhim ento das contribuições previdenciárias e fiscais, devendo in­
cidir, em relação aos descontos fiscais, sobre o valor total da condenação, referente às
parcelas tributárias, calculado nos term os da Lei n. 8.541/1992, art. 46 e Provim ento
da CGJT n. 01/1996 (ex-OJ n. 32 — Inserida em 14.3.1994 e OJ n. 228 — (Inserida
em 20.6.2001). III — Em se tratando de descontos previdenciários, o critério de
apuração encontra-se disciplinado no art. 276, § 4Q, do D ecreto n. 3.048/1999 que
regulam entou a Lei n. 8.212/1991 e determ ina que a contribuição do em pregado, no
caso de ações trabalhistas, seja calculada m ês a m ês, aplicando as alíquotas previstas
no art. 198, observado o lim ite m áxim o do salário de contribuição”. (ex-OJ n. 32 —
Inserida em 14.3.1994 e OJ 228 — Inserida em 20.6.001).
F in alizando antiga pretensão da P revidência Social, finalm ente, a EC n.
45/2004 d eterm in o u a com petência da Ju stiça do Trabalho para processar e ju l ­
gar: “a execução, de ofício das co ntribuições sociais previstas n o art. 195, I, a, e
II, e seus acréscim os legais, decorrentes das sen ten ças que p ro ferir” (inciso VIII).
Sentenças, significando as de m érito e as hom ologatórias de acordos trabalhistas.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 761
881. Sujeitos ativos — As contribuições previdenciárias são arrecadadas m e­
diante q u atro procedim entos: a) recolhim ento m ensal espontâneo dos segurados e
em presas; b) exigência fiscal prom ovida pela RFB; c) im posição do INSS p o r oca­
sião da solicitação de benefícios; e d) cobrança executória pela ju stiç a trabalhista.
882. Justiça do Trabalho — Dois tipos de decisões devem ser avultados: a)
sentenças ou acordos que tiveram p o r objeto decisão sobre im portâncias devidas
pelo em pregador; b) sentenças ou acordos referentes à configuração do vínculo
em pregatício. Tem-se en ten d id o que a Ju stiça do Trabalho nào estaria obrigada a
processar a cobrança dos valores da segunda hipótese, cabendo ao INSS ou RFB,
em cada caso, a iniciativa de encetá-la.
Não está claro q u an d o o pedido for alternativo (o segurado pediu o reco n h eci­
m ento de certos perío d o s de serviço e salários co rrespondentes a o u tro s períodos).
O bservado o princípio da o p o rtu n id ad e, julga-se que a cobrança trabalhista deva
aten d er às d u as situações.
883. N a tu reza d a co b ran ça — O art. 43 da Lei n. 11.941/2009 diz claram en­
te que com pete à Ju stiça do Trabalho “o im ediato reco lh im en to das im portâncias
devidas à Seguridade Social” nascida de sentença q u e co n d en ar a em presa a p a­
gar “direitos sujeitos à incidência de contribuição prev id en ciária” (redação Lei n.
8.620/1993).
Não fora o que dizem os §§ 1Q/5 Q desse m esm o artigo e se poderia en ten d er
com o direitos sujeitos à incidência o sim ples reconhecim ento do tem po de serviço,
alargando a atrib u ição do P oder Ju d iciário trabalhista.
A inda que a ju s tiç a do Trabalho não possa ser identificada com o fisco federal,
que não haja a figura do lançam ento fiscal, m as de u m títu lo apto para a cobrança
executiva que é a sentença, apresenta-se a decadência do direito de cobrar: os cinco
anos da Súm ula V inculante STF n. 8.
884. S en ten ça e acordo — C om o vim os antes, de regra, as decisões d a ju s tiç a
do Trabalho são de dois tipos: sentenças com exam e de m érito e acordos trabalhis­
tas. B asicam ente elas são iguais, m as na segunda delas o valor acordado pode ser
m en o r do que a realidade fiscal.
Adm ita-se para arg um entar que alguém reclam e R$ 2.000,00 de salários e que
concorde em receber à vista R$ 1.500,00. Sobreveio renúncia pessoal do titular do
direito à rem uneração que produzirá efeitos externos (por m era conveniência do
credor). Julga-se que caso a RFB tenha condições de ap u rar indiscutivelm ente o fato
gerador poderá reclam ar a contribuição devida sobre os R$ 500,00 renunciados.
885. Discriminação das parcelas — D iscrim inação das parcelas é a ap re­
sentação individualizada p o r parte do reclam ante das rubricas que deseja vê-la
reconhecida com o direito subjetivo. G eralm ente, ela faz parte da petição inicial da
reclam ação trabalhista.
U m a sen ten ça com o u sem exam e de m érito poderá ou não discrim inar as
parcelas q u e en ten d eu serem rem uneratórias. Não o fazendo, op tan d o p o r um a

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

762 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
im p o rtân cia sem relação com a natureza ju ríd ica do m o n tan te reclam ado, será um
tratam en to fiscal, p o ssivelm ente inconstitucional, diferente daquela que explicite
os diferentes m on tan tes.
C laram ente o § l e do art. 43 diz que, nesse caso, a incidência será “sobre o
valor total ap u rad o em liquidação de sentença ou sobre o valor do acordo hom olo­
gado”. D estrói o co nceito do art. 28 do PCSS, sem en c o n trar am paro no art. 1 9 5 ,1,
a, da C arta M agna, que fala em “dem ais rend im en to s do trab a lh o ”, além de exigir
o inexigível, porá em dúvida o INSS se deve arm azenar tais inform ações n o CNIS,
de valores não rem u n erató rio s para fins de salário de contribuição definidores do
salário de benefício. Valores ressarcitórios e indenizatórios não são rendim entos.
886. M ês d e co m p etê n cia — U m a das pretensões do MPS q u an d o da reg u ­
lam entação da cobrança executiva pelo Poder Judiciário dizia respeito a p ô r fim à
prática dos juizes de fixar os m eses de com petência de p eríodos de trabalho nu m
ú n ico m ês, afastando os acréscim os legais. C onsagrou-se a v etusta ideia de m ês de
com petência com o sendo o que sem pre foi: o da prestação dos serviços (art. 43,
§§ 2g/3 B).
A disposição da Lei n. 11.941/2009 não esclarece o pro ced im en to caso a de­
cisão especifique as parcelas d en tro do período reclam ado, m as não porm enorize
os m eses de com petência. Exceto na hipótese de co n trato de trabalho ter ajustado
u m a n ão u n ifo rm ização m ensal dos valores, a divisão do total pelo núm ero de m e­
ses será um a solução prática ideal.
887. A créscim os legais — E stabelecido o período do débito e os valores m e n ­
sais ao lev an tam en to operado pelo m agistrado estará em condições de d eterm in ar
os ju ro s e a m u lta autom ática. Na m esm a ocasião, verificar-se-á em face do fato
g erador m ensal qual a base de cálculo, a alíquota e o lim ite do salário de c o n tri­
buição do trabalhador.
8 8 8 . A p o sen ta d o ria esp ecial — Na hipótese de o ju iz reco n h ecer que certo
p erío d o de trabalho é insalubre e que ele se insere n a definição dos arts. 57/58 do
PBPS, p o rtan to , ind icando um possível direito à ap o sen tad o ria especial ou conver­
são do tem po especial para o com um , a exigência incluirá os 6%, 9% ou 12%, da
Lei n. 9.732/1998.
88 9 . C o n ciliação e an u ê n cia — C ientificados da sentença, se as partes en tra­
rem em acordo, o critério será o deste últim o.
Igual raciocínio será adotado q u an d o de acordo ocorrido nas C om issões de
C onciliação Prévia (Lei n. 9.958/2000).
890. C o n testaçã o e m p re sa ria l — A decisão ju d icial de co b rar as c o n trib u i­
ções tem m u ita sem elhança com a exigência operada pelo A uditor-Fiscal da RFB.
N esse sen tid o , pois, cabe im pugnação dos valores p o r parte da em presa, se ela não
co n co rd ar com o co n tid o na sentença.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c íAr io

T o m o I I — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 763
Parte III. P restações

Capítulo LXXXIX

P r e s t a ç õ es em D in h e ir o

891. Óbices na linguagem. 892. Título dos benefícios. 893. Preceitos


S u m á rio :
úteis. 894. Classificação das espécies. 895. Requisitos legais. 896. Estado de fi­
liado. 897. Período de carência. 898. Contingência protegida. 899. Afastamento
do trabalho. 900. Normas protetivas.

G enericam ente consideradas, as prestações co n stitu em vasto cam po a ser


palm ilhado. E nsejam in úm eras singularidades, a p artir das quais podem ser es-
visceradas, convindo todo o tem po focalizar o interesse em sua natu reza essencial
e função sistem atizada, desde sua definição legal até suas caracterísLicas básicas.
São a razão de ser da seguridade social e situam -se com o a principal atividade-
-fim. Nesse sentido, as previdenciárias são atraentes em relação às fontes de custeio.
Têm escopo d efinidor de seu papel: propiciar os m eios de subsistência às pessoas
previam ente definidas em tese, contidas em clientela genericam ente descrita na
norm a e q u ando de circunstâncias deflagradoras da proteção social.
Não apenas reparam danos, pois em m uitas ocorrências inexiste prejuízo nem
indenização à vista. As contingências d eterm in an tes apenas as liberam e a elas n e ­
cessariam ente nào co rrespondem culpa de terceiros. Em m u ito s casos, não passam
de p oupanças coletivam ente capitalizadas.
G enericam ente sopesadas as previdenciárias e as assistenciárias ou as em di­
nheiro e os serviços, a n uclearidade m ais distintiva é su b stitu írem aqueles in stru ­
m entos n atu rais de sobrevivência da pessoa hum ana, em circunstâncias variadas,
em alguns raros casos an tes da ocorrência da perda dos m eios e, norm alm ente após
a sua rup tu ra.
N ão são afetadas pelo nível do cu m p rim en to da obrigação, em vital ou m íni­
ma, indispensável à subsistência ou à sobrevivência, pois tais grandezas são co n ­
venções conform e a fortaleza econôm ico-financeira do sistem a.
Do p o n to de vista ju ríd ico , os benefícios e serviços são obrigações de d ar e
de fazer, com prom issos do órgão gestor e crédito exigível do beneficiário. As de

C urso n r. Dmriro P r e v i d e n c i a r í o
N o v a es M a r tin e z
dar, em dinheiro; as de fazer, em serviços. As prim eiras, protegidas pela ideia de
valor, com configuração apreensível de q u an tid ad e e as de serviços, padronizadas
seg u n d o a capacidade instalada n o local de atendim ento.
P ressupõem várias condições, os requisitos legais e, um a vez aten d id o s em
sua p len itu d e pelos dois polos da relação, im põem -se au to m aticam en te a sua ofer­
ta. E m bora d isparadas segundo o arbítrio do titular, ao seu aten d im en to não se
p o d e fu rta r o órgão gestor.
F o rm am vín cu lo obrigacional entre os envolvidos, p o d en d o ser, conform e o
caso, direito subjetivo e potestade. Tal elo é patrim o n ial e objetivo, desco n h ecen ­
do avaliação m oral n o tocante ao co m portam ento do credor da obrigação (exceto,
claro, nas relações com o órgão gestor).
Prestações públicas ou privadas, exigíveis ou não, subm etidas à ordem jurídica,
e in co n fu n d ív eis entre si.
As prestações da seguridade social são entidades com plexas, convindo decom ­
pô-las, no m ín im o , segundo cada um de seus objetivos, em: a) sanitárias; b) assis-
tenciárias; e c) previdenciárias.
Tal distinção visa tão som ente a situar o m om ento e o modus operandi. As sa­
nitárias são serviços sociais de habilitação ou reabilitação da pessoa para o trabalho.
Assistenciárias concedidas tem porariam ente enquanto presente a contingência obsta-
culizadora (na prática, definitivas) e sem contribuição. As previdenciárias, com cunho
de definitividade e dependentes da filiação e (existência, em tese) da contribuição.
Prestações são benefícios ou serviços, valores em dinheiro o u atenções p es­
soais, de aten d im en to im ediato ou co n tin u ad o , postos à disposição dos beneficiá­
rios, aten d id o s os requisitos legais exigíveis do órgão gestor, segundo a discrição
do titular, p o r via ad m inistrativa ou judicial.
891. Ó bices n a linguagem — Em sua m aioria, os benefícios e serviços têm
títu lo p ró p rio . U ns poucos, com o o adicional de 25% e as diárias para viagem
d o s su b m etid o s a exam e m édico ou reabilitação profissional, não são nom inados.
Parte deles m u d o u de designação no curso da história: a ap o sen tad o ria ordinária
passou à ap o sen tad o ria p o r tem po de serviço e, a p artir da EC n. 20/1998, vem
sen d o designada com o aposentadoria p o r tem po de contribuição. A aposentadoria
p o r idade já foi p o r velhice. O benefício dos d ep en d en tes era pensão, n a CLPS;
atualm en te, é pensão p o r m orte. O abono anual é m uitas vezes cham ado de décim o
terceiro salário ou gratificação natalina. A renda m ensal vitalícia dos m aiores de 70
anos foi in titu la d a com o am paro assistencial, a p a rtir de 1Q. 1.1996. A gora, aos
65 anos é benefício de pagam ento co n tin u ad o (da LOAS). V ulgarm ente, o abono
de p erm an ên cia em serviço recebeu o apelido de “p é n a cova”.
A área padece dc in ú m ero s problem as term inológicos e preten d en d o -se rigor
sem ântico, certos nom es de benefícios restam sujeitos à crítica.
892. T ítu lo d o s benefícios — S ubstituir os títulos é com plicado; preten d en d o ­
-se ad otar expressão tecnicam ente correta ter-se-ia de encom pridá-los e não seria
prático. Os com entários seguintes visam tão som ente a m elhor elucidar sua concepção.

C u rso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
a) Abono anual: A gratificação de N atal dos trabalhadores (sem natureza de
prêm io ), designada com o décim o terceiro salário, transportou-se para a previdên­
cia social sob indicação im própria. C om em orativa do nascim ento de C risto, não é
abono n em precisa da qualificadora anual, pois nesse caso os dem ais seriam m en­
sais... Aliás, fora do m ês de dezem bro, é paga em outras circunstâncias.
b) Auxílio-acidente: O vocábulo “au x ilio ” com parece em várias prestações, até
valendo para o antigo funeral e a natalidade, de pequeno valor, m as inadequado
para esse benefício acidenlário, pois representa 50% do salário de benefício. Pode­
ria ser benefício p o r seqüela (laborai o u não).
c) Auxílio-doença: Essa co n q u ista teve vários nom es em sua história, entre os
quais auxílio p ecuniário. Já foi p o r incapacidade e p o r enferm idade. Não é auxílio
nem tem a doença com o evento determ inante. C oncedido em razão da incapacida­
de para o trabalho, po d eria ser designado benefício p o r incapacidade.
d) Aposentadoria por invalidez: Q uem a está recebendo sem tê-la deferida em
caráter definitivo não está aposentado e, então, m elhor será dizer percipiente de
apo sentadoria p o r invalidez. Aliás, não é prestação devida a inválido, e sim a se­
gurado insuscetível de reabilitação para o trabalho. Invalidez é ideia associada a
d ep en d en te e a deficiente físico.
M ensalidades de recuperação são parcelas próprias após a alta m édica do se­
gurado, pagam entos m ensais sub seq u en tes ao en cerram en to do benefício, corres­
p on d en d o ao títu lo utilizado.
e) Aposentadoria por idade: Após a m udança, m ovida por razões psicológicas e
políticas, en co n tro u -se designação correta, u m a vez concedida em função da faixa
etária do segurado e não da fase biológica de sua vida.
j ) Aposentadoria especial: A qualificadora “especial” é genérica e abriga m uitas
situações para designar benefício específico. Talvez o nom e tivesse de ser am pliado,
abarcando as três situações (perigosa, penosa e insalubre). Na verdade, ela é aposen­
tadoria p or tem po de serviço do exercente de atividades sujeitas aos riscos laborais
específicos (exposição a agentes físicos, quím icos e biológicos).
g) Aposentadorias de legislação específica: D iante do fato de englobar várias d e­
las, cuidadas especificam ente em leis particulares, a designação foi razoavelm ente
correta.
h) Aposentadoria por tempo de serviço: Tendo em vista o evento determ inante,
talvez devesse ser ap o sentadoria p o r filiação ou, q uando realm ente se tornar, por
contribuição. O nom e não corresponde à realidade e, aliás, o facultativo, sem n u n ­
ca trabalhar, poderá obtê-la, ficando sem sentido o “serviço”. Por isso, a m udança
para ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição m elhorou a designação.
i) Salário-maternidade: O valor recebido pela gestante n ão é salário, m as re­
m un eração , e o devido referente a período de 120 dias, em que presentes gravidez
adiantada, p arto e am am entação. E, até m esm o adoção e a guarda.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

766 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
j) Salário-familia: Parcela dos filhos talvez fosse superior. O valor não tem cará­
ter salarial nem sustenta a família. Assignação familiar é espanholism o desnecessário.
k) Pensão por morte: R igorosam ente, a pensão p o r m orte é devida no caso de
falecim ento, d esaparecim ento e ausência do segurado. Se n ão se confundisse com
a designação de o u tro s direitos (com o caráter genérico, usado n a E uropa), poderia
ficar apenas com o pensão.
1) Auxílio-reclusão: P odendo ser de 100% do salário de benefício, não é auxílio
e se deve à prisão, in clu in d o a reclusão e a detenção.
m) Pecúlio: D esaparecidos em 1995, com essa expressão geral designavam -se
vários tipos de pagam ento único, m elh o r verbalizados q uando diziam respeito às
con trib u içõ es do aposentado trabalhando, sendo im próprios para os 75% ou 150%
do lim ite, n o s casos de ap o sen tad o ria p o r invalidez ou m orte acidentaria.
893. P rec eito s ú te is — As p rin cip ais prestações, com o as aposentadorias, o
salário-fam ilia e o salário-m aternidade, jazem previstas na CF, e delas cuidam as
n orm as gerais (Lei n. 8.213/1991), especiais, extravagantes e até im pertinentes.
Todo o RGPS cuida das prestações, em disposições am plas e nem sem pre
sistem atizadas.
894. C lassificação d as esp écies — O RGPS co n tem p la várias espécies de
benefícios e serviços, p rincipalm ente, aposentadorias e prestações de dependentes.
Eles p o d em ser classificados pelo evento determ inante: 1) tem po de serviço —
ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição, aposentadoria especial e do professor;
2) incapacidade parcial, tem porária ou dim inuição da ap tid ão — auxílio-doença,
ap o sen tad o ria p o r invalidez, auxílio-acidente, e cota de d ep en d en te na pensão por
m orte; 3) em razão da m aternidade — salário-m aternidade e salário-fam ilia; 4) não
secu ritário s — exilados, anistiados, ex-com batentes, S eringueiros da A m azônia,
p ensão Hemocliálise de C aruaru, C ésio 137 e Síndrom e da Talidom ida; 5) perda do
cônjuge ou co m p an h eiro (a) — pensão p o r m orte e auxílio-reclusão.
Os benefícios podem ser classificados segundo u m sem -núm ero de critérios.
Grosso modo são de dois tipos: a) de pagam ento continuado; e b) de pagam ento único.
a) Quanto à iniciativa: Podem ser p o r ação do trabalhador, da em presa ou do
órgão gestor. À exceção do abono anual, deferido auto m aticam en te, sem solicita­
ção p o r parte do interessado (e de algum auxílio-doença) e da ap o sen tad o ria por
idade co m p u lsó ria, deflagrada pelo em pregador, a iniciativa dos dem ais pertence
ao beneficiário.
b) Quanto à periodicidade: Em sua m aioria m ensalizados, o ab o n o anual é
anualizado. O s raros de pagam ento único geralm ente são esporádicos.
c) Quanto ao cálculo: N ão são calculados o salário-fam ilia e o salário-m aterni-
dade; de certa form a, o abono anual, pois p u ra e sim plesm ente aferido em função
de o u tro benefício. Os auxílios e ap osentadorias ap u rad o s a p a rtir do salário de
benefício. A p o r tem po de contribuição dep en d e tam bém do fator previdenciário
(L e in . 9.876/1999).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 767
d) Quanto à duração: A pensão p o r m orte e a m aioria das aposentadorias são
definitivas, m as na p o r invalidez o segurado pode ter alta a q u alq u er m om ento. O
salário-m aternidade é de m an u ten ção previam ente determ inada e o au x ílio -d o en ­
ça, a p rincípio, destina-se a ter curta duração. Todos se encerram com a m orte do
beneficiário.
e) Quanto à autossuficiência: Em sua m aioria, são individualizados, m as a apo­
sen tadoria p o r invalidez depende, na m aioria dos casos, de auxílio-doença p ré­
vio; o abono an u al pressupõe benefício m antido. O auxílio-acidente depende do
auxílio-doença. O adicional inom inado de 25% é acessório da aposentadoria por
invalidez.
f ) Quanto à transformação: A lguns são transform áveis e o utros perm anecem
do m esm o m odo até a extinção.
g) Quanto à prescritibilidade: Boa p arte deles é im prescritível, m as os de paga­
m ento ú n ico prescreviam em cinco anos. No caso da pensão p o r m orte, a contar
da data do início (não necessariam ente p o r ocasião do óbito) não prescrevem os
direitos dos m enores.
h) Quanto à origem: O salário-fam ília e o salário-m aternidade são prestações
laborais com etidas à previdência social.
895. R eq u isito s legais — Faz ju s à prestação previdenciária quem preenche
os requisitos legais. Estes variam conform e o tipo do benefício e a época da co n ­
cessão. Todos con stan tes da lei ou inspirados no espírito desta, são im plem enta­
das p o r exigências ad m inistrativas (v. g., req u erim en to , declaração dos salários
de co n trib u ição , prova do tem po de serviço, indicação de endereço, exibição de
docu m en to de id en tid ade, procuração etc.).
Por o u tro lado, tem direito ad q u irid o quem atende às referidas exigências e
não quis exercitar o p o d er conferido pela lei, o p o rtu n am e n te (q u an d o esperado
pela n orm a) ou após a superveniência de regra am pliadora de restrições.
De m o d o geral, isto é, p e rtin e n te m e n te a to d o s os benefícios, os re q u isito s
fu n d a m e n tais são três: a) q u alid ad e de seg u rad o ; b) carência; e c) ev en to d e te r­
m in an te. A b strain d o o d ireito ad q u irid o , co n sid era-se su p e r re q u isito im p líci­
to a co n c o m itân c ia deles. S im u ltan eid a d e d isc u tid a na p en sã o p o r m o rte; para
alg u n s, m esm o ap ó s a m en cio n a d a p erda, su b sistiria o d ireito d o s d e p e n d e n ­
tes. D iante do d ireito ad q u irid o (seg u rad o com carên cia e ev en to d e te rm in a n te
co n fig u rad o s), ap ó s a p erd a da q u alid ad e , o in tere ssa d o m a n té m a faculdade ao
benefício.
Os req u isito s legais sâo deveres m ateriais e form ais e devem ser dem o n strad o s
ao órgão gestor. São as condições sine qua non para o aperfeiçoam ento do direito.
Cada u m deles prom ove diferentes relações d o D ireito P revidenciário com
o u tro s ram os ju ríd ic o s ou ciências sociais e exatas. A qualidade de segurado com o
Direito; a carência com a M atem ática e a C iência das Finanças; o evento d eterm i­
nante com a M edicina e a Sociologia.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

768 W ltíílim ir N o v a e s M a r t i n e z
P ossuem p rin cíp io s p ró p rio s, regras de in terp retação típicas e norm as d isp o ­
sitivas b astan te incisivas. Variam conform e a época (segundo o im pério da legisla­
ção), a técnica p ro tetiva e o tipo de benefício; avançam e recuam de acordo com a
filosoíia d o m in an te do D ireito Previdenciário.
Para os seg urados sujeitos ao desconto, não se considera a in adim plência dos
d ad o res de serviço; subsiste presu n ção de dedução e reco lh im e n to (PCSS, art. 33,
§ 5a). Os c o n trib u in te s individuais têm direito m esm o estando com as c o n trib u i­
ções atrasadas, não prevalecendo o en ten d im en to do INSS seg u n d o o qual só tem
direito q u em está com as m ensalidades do período básico de cálculo recolhidas.
Q ualidade de segurado é entidade previdenciária e, p o r isso, o atendido ou
o assistido não a tem , nem m esm o o percipiente do am paro assistencial da Lei n.
8.742/1993 ou Síndrom e da Talidom ida. É tam bém única e pessoal. Se o trabalha­
d o r exerce du as ou m ais atividades ela c o n tin u a sendo u m a só.
8 96. E stad o d e filiado — O estado ju ríd ic o de filiado ao regim e geral, bem
com o a inscrição, é condição exigida para que se estabeleça a relação ju ríd ic a pre-
videnciária. A expressão filiação é m uito am pla e dá azo a dificuldades interpre-
tativas. R igorosam ente, co rresponderia à ideia de quem ingressou no RGPS, ali se
m anteve e especialm ente após a concessão e d u ra n te a m an u ten ção de um a p res­
tação de pag am en to con tin u ad o .
T anto q u an to a qualidade de segurado, com a qual é confundida, esse staíus
inexiste, é ad q u irid o u m dia e desaparece com o fim do seu su p o rte m aterial.
A expressão “seg u rad o ” deveria indicar apenas quem tem g arantida a p ro te­
ção secu ritária, m as ela é tam bém utilizada n o sen tid o de percipiente de benefício,
ou seja, de aposentado.
O ap o sen tad o não é segurado ainda que volte ao trabalho, m as vernacular-
m ente se diz filiado e segurado.
Estas indefinições tam bém afetam a previdência co m p lem en tar que tem difi­
culdades para especificar a relação ju ríd ic a de quem op to u pelo vesíing. Seria p ar­
ticipante h ib ern an d o ou alguém desligado do fundo de pensão e que u m dia volta
à EFPC para gozar o benefício correspondente.
897. P erío d o d e carência — C arência é característica do seguro social, im po­
sição atuarial, não confundível com tem po de serviço, utilizada a expressão com
vários significados.
Válida a d istin ção entre os u n iv erso s u rb a n o e ru ral, quase n ão tinha sen ti­
do falar em carência rural, pois definida com o nú m ero m ínim o de contribuições.
A dotava-se, en tre tan to , sua presença m ínim a na área ru ral com o su b stitu to .
a) Conceito: C arência é núm ero m ínim o de co n trib u içõ es vertidas. Período
de carência, o d ecurso de lapso de tem po associado a contribuições periódicas,
devidas ou vertidas, exigidas com o condição para a definição do direito a deter­
m inado benefício. Para caracterizar este últim o, o evento deflagrador da prestação
tem de sobrevir após, isto é, no m ês ou m eses seguintes aos da integralização do
m en cio n ad o período.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II -— P r e v id ê n c ia S o c ia l
769
Assim, exem plificativam ente, segurado “incapacitado para o seu trabalho ou
para a sua atividade habitual p o r m ais de 15 (quinze) dias consecutivos” (PBPS,
art. 59), por doença ou enferm idade n ão acidentaria, antes de com pletar 12 c o n tri­
buições, não tem direito ao auxílio-doença (PBPS, arts. 25, I, e 59).
Tal período calcula-se m ediante contribuições, e não pelos meses. D estarte —
em hipótese extrem ada, p ara fixar o raciocínio — , em pregado adm itido em 31/1
(um a contrib u ição ), filiado tam bém de fevereiro a novem bro (dez contribuições),
e d em itido em 1/12 (u m a co n trib u ição ), com cerca de 302 dias de trabalho, por­
tanto, ap ro x im ad am en te dez m eses de serviço, som a 12 contribuições.
O interregno em tela não tem de ser consecutivo, podendo-se adicionar dois
ou m ais períodos de filiação, se separados p o r período inferior ao do prazo de perda
da q ualidade de segurado (PBPS, art. 15). D iferentes tem pos não concom itantes
pod em ser som ados para com pletá-lo.
A carência tem de ser evidenciada ao órgão gestor, q u an d o do requerim ento,
e nào pode ser presum ida, salvo raras exceções. O ô n u s da prova é do beneficiário.
b) Posicionamento: Na seqüência co n tín u a de longo período de trabalho, em
princípio, a carência se posta no início da relação previdenciária, m as é apreen-
sível em q u alq u er m om ento. Se o segurado apresenta, co nsecutivam ente, vários
períodos de filiação (v. g., sucessivos em pregos, sem perder a qualidade), a carência
con su b stan ciad a n u m p rim eiro vínculo em pregatício passa para o seguinte, caso
o anterior, p o r q u alq u er m otivo, seja im pugnado ou não provado. O com um e o
m ais fácil é considerá-la ho d iern am en te, isto é, nas proxim idades do ped id o de
benefício.
c) Integralização: C arência é exigida de segurado obrigatório ou facultativo e
pode ser com pletada com contribuições relativas à condição de u m a ou de outra
dessas duas filiações. R equisito n o rm alm en te reclam ado do segurado e, Lambém,
conform e a n o rm a vigente, do dependente.
De m odo geral, com o antecipado, contribuições devidas (não necessariam en­
te recolhidas pelo servidor, em pregado, tem porário, avulso ou dom éstico — co n ­
trib u in tes sujeitos ao d esconto) ou vertidas (pelo em presário, autô n o m o , eventual,
eclesiástico ou facultativo — co n trib u in tes individuais).
Os aportes das prim eiras pessoas citadas são presum idos (PCSS, art. 35, § 5a),
e os das seguintes têm de ser dem o n strad o s com as guias de recolhim ento. Parce­
lados, p o r m eio de cópia do acordo de parcelam ento e confissão de dívida fisca).
E n q u an to não convertido em pagam ento, não valem os incluídos em depósito
ad m inistrativo ou ju d icial, bem com o os legalm ente restituídos ou com pensados.
Os co ntidos em N otificação Fiscal, en q u a n to não dirim ida a questão, som ente se
pagos. Não recolhidos p o r incobráveis, po d em ser tidos com o presentes, descon­
tados no beneficio.
Salvo exceção em d etrim en to do autô n o m o , com o se verá adiante, co n trib u i­
ções pagas em dia ou em atraso.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

770 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
C o n stitu íd a de co ntribuições e não se co n fu n d in d o com o tem po de serviço
(em q u e é válida a extensão logo referida), o período não pode ser am pliado p o r
conversão de tem po de serviço (com o acontece com a atividade especial). Assim,
120 m eses de aúv id ade perigosa, penosa ou insalubre, para fins de aposentadoria
p o r tem po de serviço, podem ser transform ados em 144 m eses, m as co n tin u am
sendo dez an o s para a carência.
O tem po de fruição do auxílio-doença e da aposentadoria p o r invalidez (PBPS,
art. 55, II) é co n tad o para a aposentadoria p o r tem po de serviço, m as nessa h ip ó ­
tese, au sen tes as co n tribuições, não se presta para a carência.
De regra, p ag am entos relacionados com o regim e estudado (v. g., RGPS, servi­
d o r público, IPC etc.), m as q u an d o a lei generaliza e não p articulariza (PBPS, art.
94), ã vista da com pensação financeira (PBPS, art. 94, parágrafo único), significa
p o d er co m p u tar pag am entos operados em o u tro s regim es. C ontribuições desco n ­
tadas de serv id o r podem im plem entar as da iniciativa privada para integralizá-la,
valendo o raciocínio m esm o qu an d o ele não estava obrigado à dedução nos venci­
m entos. O acerto de contas pressupõe o desem bolso da parle individual e patronal
(in casu, am bas assum idas pelo ente político).
Vale o p erío d o de inscrição, m as tam bém o de filiação; se p o sterio rm en te, o
segurado prova ter exercido atividade caracterizadora de filiação, an terio rm en te à
inscrição; efetuados os recolhim entos, eles são úteis para a carência.
D epen d en d o d o disposto em cada A cordo Internacional, pode ser com pletada
a carência com as con tribuições nacionais e estrangeiras.
d) Distinções: P eríodo de carência não se confunde com período básico de
cálculo da renda m ensal inicial. N aquele últim o, à exceção da prim eira, são exigi­
das m ensalidades inteiras, arredada a últim a, se fracionada, para fins do salário de
benefício. A base de m edida dessa derradeira exação não faz parte da aferição do b e­
nefício. Tem eficácia tão som ente para atender à exigência m ínim a de contribuições.
A carên cia é aperfeiçoável, isto é, ad q u irív e l, e p o d e ser arred ad a. Exceto
se o seg u rad o , ao tem po, preenche os requisitos, isto é, tem direito adquirido — se
perd er a qualidade de segurado com isso desfaz-se a carência (m as n ão o tem po de
serviço co rresp o n d en te); terá de recom eçá-la da estaca zero.
Sem razão o Prejulgado 10-c, da P ortaria MTPS n. 3.286/1973, q u an d o asse­
vera: “Com a perda da qualidade desaparecem todos os vínculos com a Previdência
Social” (grifo n osso). A filiação e o tem po de serviço m antêm -se im anentes, p o d e n ­
do ser restau rad o s se recuperada a qualidade de segurado.
C arência é fu n d am en talm en te co n stitu íd a de co n trib u içõ es devidas e estas,
na previdência social, desde 1960, não são restituídas, m as o legislador m andava
devolvê-las, sob benefício de pagam ento ún ico in o m in ad o , q u an d o o segurado não
com pletasse a carência (PBPS, art. 8 1 ,1 ).
e) Data do início do cômputo: De longa data, a legislação de custeio distingue
os d ileren tes segurados, possivelm ente, d ad a a dificuldade m aterial de fiscalizar

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o U — P r e v id ê n c ia S o c ia l 771
algum as das categorias de trabalhadores. D esde 1960, o autô n o m o foi objeto de
dispositivo específico e, a co n tar de 25.7.1991, tam bém o em presário, o segurado
especial, o eclesiástico e até o dom éstico foram igualm ente atingidos (em disposi­
ção de discutível co n stitucionalidade).
Para esses segurados, o período de carência é co n tad o não do m ês de com pe­
tência recolhido, m as da data do pagam ento “da p rim eira contribuição sem atraso"
(PBPS, art. 27, II). P rim eira, enten d id a, de regra, com o sendo a do m ês inicial de
filiação, m as pod en d o ser o utra (m antendo-se in ad im p len te em relação às p re té ri­
tas) e até m esm o a contem porânea.
Se o objetivo do elaborador da n o rm a era o de p rom over a arrecadação, esse
desiderato não é atingido in teiram en te ao m encionar apenas a prim eira c o n trib u i­
ção. Basta recolhê-la, e n tra r em m ora e atualizar-se som ente às p o rtas do benefício.
f) Outras modalidades: O legislador, inspirado no in stitu to técnico, varia em
relação a diversas situações. Por isso, no passado, é possível en c o n trar algum as
figuras assem elhadas às da carência: a) exigência de 36 m eses p ara a conversão de
tem po serviço especial em com um (RBPS, art. 64, parágrafo ú n ico ); b) pecúlio, a
ser recebido a cada 36 m eses; c) prazo de 36 m eses para a contagem recíproca; d)
cinco anos de filiação para o Ju iz Tem porário (Lei n. 6.903/1981); e e) tem po m í­
nim o de filiação não obrigatória e u m de filiação obrigatória para fazer ju s à renda
m ensal vitalícia (Lei n. 6.179/1974).
g) Direito: Salvo na hipótese legal de dispensa, não há com o deixar de exigi-la.
A norm a prescinde dela q u an d o o bem ju ríd ico tu telad o é in ten so (v. g., prestações
acidentárias). E lem ento de definição do benefício, sem ela não subsiste o direito.
C om o exceção, a Lei n. 6.383/1979 (exilados).
Sua in terp retação , a m esm a das prestações, o u seja, extensiva, m as som ente
no caso de dúvida sobre m atéria ju ríd ica cabe o in dubio pro misero.
C arência é exigência do cálculo atuarial. Trata-se de grandeza m atem ático-
-financeira, expressa em nú m ero de contribuições periódicas (anuais, se desejado
p o r lei específica, caso do FUNRURAL, n o passado, e, norm alm ente, m ensais), não
im p ortando o nível de valor do aporte.
Nessa área, o Direito Previdenciário relaciona-se com a M atem ática e a C iência
das F inanças.
Seu fund am en to é histórico e científico, em bora convenção atin en te à técnica
protetiva.
H istoricam ente, surgiu no início da previdência social e im p u n h a-se com o
razão lógica: inex isten tes recursos, se não previam ente am ealhados, não há com o
aten d er sequer às prim eiras contingências. No desenvolvim ento, posteriorm ente,
im pôs-se in d ividualm ente, com a previdência social ad m in istran d o algum as reser­
vas de p o u p an ça, ainda n a defesa do sistem a financeiro. Se os benefícios são co n ­
cedidos auto m aticam ente, sem o m encionado aporte m ínim o, m antidos os atuais
patam ares de valor da prestação, a instituição enfrentará déficit técnico.

M | C u rso d e Di r e i t o P r e v i d e n c i A k i o
772 W laáim ir Novaes M artinez
C ientificam ente, ela preserva a natureza do seguro social: cobrir riscos previ­
síveis e im previsíveis, assegurados p o r prévia contribuição. Assim , é ínsito à p re­
vidência social, m as não necessariam ente in teg ran te de o u tra técnica protetiva ou
para alguns benefícios. N esse sentido, conform e a fortaleza do regim e, pode ser
d ispensada sistem aticam ente para as prestações im previsíveis. Para isso, basta o u ­
vir o atu ário q u an d o da fixação da alíquota e base de cálculo. N um sistem a ideal,
em q u e realizada a receita necessária, pode ser arredada para todos os benefícios.
Tem papel educativo, incentivar a contribuição e p ro m o v er a arrecadação,
pois exige dos p ro teg idos o co n tín u o jo rro de recursos, desaguando, p o r sua im ­
portância, no princípio constitucional da precedência do custeio (CF; art. 195, § 69).
P rópria da rep artição sim ples e no plano de tipo benefício definido perde im por­
tância na capitalização e no plano de contribuição definida.
898. C o n tin g ê n cia p ro teg id a — A contingência protegida pelo RGPS, ainda
co n sid erad a conform e cada tipo de benefício, é o evento d eterm in an te da conces­
são de u m a prestação.
Levando em conta a qualidade de segurado (exigência ju ríd ic a ), o período de
carência (im posição atu arial), a consum ação do sinistro securitário, esse evento
d eterm in an te é o fato m ais im portante da relação ju ríd ica d e previdência social,
p o is fu n d am en talm en te dele dep en d erá o deferim ento da prestação.
U sualm ente, a m aior parte das dificuldades de prova n o D ireito Previdenciá-
rio P rocedim ental está sediada nessa contingência protegida, m áxim e no que diz
respeito à in capacidade laborai e no tem po de serviço.
899. A fastam en to do tra b a lh o — Em diversas o p o rtu n id ad es históricas,
m o stran d o sua hesitação ou aten d e n d o a conveniências, o legislador reclam ou
do trab alh ad o r su b o rd in ad o de ele ter de ro m p er o vínculo em pregatício para ser
deferida a prestação. Q uando o fez, positivando a disciplina, pôs fim a eventuais
dúvidas q u an to ao benefício per se p ô r fim à relação de em prego. M as tais norm as
tiveram cu rta duração e a dúvida perm anece.
Enfim, q u ando exigida, trata-se de requisito legal sem ofensa ao princípio consti­
tucional da liberdade de trabalhar. O segurado terá de optar entre o em prego (poden­
do, até, ser recontratado) e a aposentadoria. Em princípio, cientificam ente falando, o
benefício previdenciário destina-se a substituir as fontes de ingresso do obreiro.
N atu ralm en te, o auxílio-doença obriga o afastam ento do trabalho; a ap o sen ta­
doria p o r invalidez definitiva e a ap o sen tad o ria com pulsória p o r idade são incom ­
patíveis com a relação em pregatícia.
900. N o rm as p ro te tiv a s — Em razão de sua alim entaridade e da cogência da
no rm a pública, a percepção do benefício de pagam ento co n tin u ad o , em particular,
bem com o o de pag am ento único, visando a garantir os m eios de subsistência da
pessoa, é assegurada pela n o rm a legal. Esse cuidado in stitu cio n al abrange vários
aspectos: a) direito em si; b) preservação do quantum ; c) nível de m o n tan te; e d)
alienação. N a o p o rtu n id ad e, deve-se considerar a possibilidade de descontos pre­
videnciários com vistas à pensão p o r m orte.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 773
A prim eira m anifestação refere-se ao direito em si, sua indisponibilidade.
M esm o p o r vontade livre e consciente do titular, a prestação não pode ser objeto
de ren ú n cia (salvo na hipótese de transform ação ou opção p o r m elh o r). Dele não
dispõe o interessado, não p o d en d o ser transferido a terceiros.
Na prática, porém , a afirm ação revela-se não ser absoluta. D eixar de requerer
o benefício, com pletados os requisitos legais, direito do trabalhador, resulta, de
certa form a, em renúncia. O aposentado com eter aos terceiros a tarefa de receber,
m aterialm ente, significa entregã-lo às m ãos de m andatário, com as conseqüências
dessa outorga. N os casos de tutela e curatela, a transferência é im posição legal.
A segunda p articu laridade diz respeito ao quantum. Preservado h isto ricam en ­
te pelo direito ad q u irid o (e pela coisa julgada e pelo ato ju ríd ico perfeito), a partir
de 5.10.1988 ele é definido em observância ao princípio co n stitu cio n al da irredu-
tibilidade, g aran tid o r do p o d er aquisitivo diante da inflação.
O to tal m ensal tam bém é resguardado. A p rin cíp io , não está su jeito a q u ais­
q u e r d esco n to s, só aos legais. A lei básica fre q u en tem en te elege as p ossibilidades
de red u ção do v alo r para entrega à terceira p esso a física ou ju ríd ic a a fim de: a)
co m p en sar co n trib u içõ e s devidas n ão vertidas; b) re stitu ir valores in d ev id am en ­
te pagos; c) d ed u z ir o Im p o sto de R enda; d) pensão alim entícia; e f) m ensalidade
de associações.
A concessão de benefícios dos c o n trib u in tes individuais depende da prova
do recolhim ento. N esse caso, o interessado poderá com pensar seu débito com o
pagam ento da m ensalidade futura. M antido o benefício, se o percipiente recebeu
valores indevidos, parceladam ente p o d erá q u itar a dívida por deduções m ensais. A
no rm a fixa percentual m áxim o para o desconto (30% ), devendo-se p o n d erar sobre
a possibilidade de d esconto de que tem direito ao salário m ínim o.
A taxa de desconto para o IR é estabelecida na legislação específica. As sen­
tenças ju d iciais fixam o p ercentual do benefício ou valor da pensão alim entícia a
ser deduzida. C ada associação deve ex tern ar sua pretensão junto à adm inistração
para o bter a im p o rtân cia dedutível em seu favor.
A lgum as das regras de proteção têm caráter ju ríd ico . D izem respeito: a) à
pen h o ra; b) ao arresto; c) ao seqüestro; d) à venda; e) à cessão; e f) ao ô n u s de
poderes irrevogáveis.
O ord en am en to científico e a posição filosófica daí d eco rren tes tam bém p ro ­
tegem ou não o benefício previdenciário. N esse sen tid o , discute-se a validade de
a n o rm a jurídica im p o r contribuição ao valor da aposentadoria, com vistas ao seu
próprio p agam ento, em razão do regim e de repartição sim ples adotado ou p e n ­
sando na assistência m édia (adotada no passado pelo D ecreto-lei n. 1.910/1981, e
considerada co n stitucional pelo STF).
In d ep en d en tem en te do fato de a natureza su b stitu tiva da prestação preví-
clenciária na legislação estar relacionada co m o m on tan te bruto da base de cálcu lo
substituída (e não do líq u id o , afinal, o ú n ico receb id o), a ideia básica da previ­
d ên cia so cia l é haver con trib u ição para custear o s b en efícios, n ão tendo sen tid o a

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

774 W la d im ir N o v a e s M a r t i n e z
convivência das d u as in stitu içõ e s q u an d o da aposentação ou percepção provisória
de benefícios. Aliás, reco lh er d u ra n te o salário -m atern id ad e é excrescência da
legislação.
O fim da co n trib uição é o benefício, descabendo retenções deste. Se o custeio
está atu arialm en te assegurado pela contribuição, qual a razão da contribuição do
aposentado? Se não, carece ser am pliado, mas aposentado não precisa contribuir.
Ela deve ser exigida do trab alh ad o r d u ra n te a fase ativa de sua vida profissional,
q u an d o no auge de sua capacidade física, intelectual e financeira para isso.
A possibilidade de desco n tar q u alq u er contribuição (m esm o a indevida) do
benefício m ín im o (salário m ínim o) é área controversa. Q uestões jurídicas e p rá­
ticas vêm à colação, subm etendo o m odelo de proteção à cisma. D iferentem ente,
dos arts. 5S e 201 da CF, definir o valor do m ínim o, no p rim eiro caso, incluindo a
co n trib u ição e não fazendo referência, no segundo, m as rem etendo ao prim eiro.
A p arentem ente, pois do p o n to de vista jurtdico-consL itucional, é possível deduzir
de q u em recebe o m ínim o, e, p o r isso, talvez não contrarie a C onstituição Federal
a retenção do trab alh ad o r percipiente do salário m ínim o. O conceito de salário
m ínim o é econôm ico e não jurídico.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I I — P r e v id ê n c ia S o c ia l 775
Capítulo XC

P r in c ip a is C a r a c t e r ís t ic a s

SumArio: 901. Direito subjetivo. 902. Individualidade natural. 903. Natureza ali­
mentar. 904. Substitutividade dos ingressos. 905. Titularidade do direito. 906.
Definitividade da concessão. 907. Irredutibilidade do valor. 908. Irrenunciabi-
lidade da faculdade. 909. Independência de condição. 910. Imprescritibilidade
do benefício.

As prestações previdenciárias, em p articu lar os benefícios, vale dizer, os desem ­


bolsos em din h eiro devidos no RGPS, são in stitu to s ju ríd ico s com plexos, podendo
ser esm iuçados e com p reendidos a p artir de suas nuanças. A lgum as nucleares, isto
é, essenciais à existência; outras, m eram ente exteriores, form ais p o r excelência,
m as quase todas revestindo-se de aspectos ju ríd ico s e práticos e, p o rtan to , p ro d u ­
zindo significativos efeitos, convindo repassá-las. O exam e dessas particularidades
conduz à aproxim ação m ais íntim a do fenôm eno. Daí sua im portância.
Por força de m an d am en to co n stitu cio n al, q u an d o de sua concepção pelo le­
gislador, globalm ente sopesadas, as prestações devem observar a seletividade e a
distributividade. Da m esm a form a, suscitam questões ligadas à correlatividade em
relação à contribuição.
Seletividade q u er dizer dever o Plano de Benefícios co n tem p lar benefícios m í­
nim os necessários, em confronto com p ro p ó sito am bicioso e inexequível adotado
em certo m o m en to histórico. D istributividade significa oferecer prestações m aio­
res a q uem m ais necessita. C orrelatividade é relação pecuniária entre contribuição
e benefício.
901. D ireito su b jetiv o — Q u ando o E stado interveio na órbita privada e
exp ro p rio u o indivíduo, ad m in istran d o sua poupança, obrigando-o à filiação e ã
contribuição, fez nascer o direito subjetivo às prestações. P reenchidos os requisitos
legais ele faz ju s a cias.
Sem em bargo, subsiste subm issão à norm a pública e, em certos casos, im posi­
tividade da vontade do legislador. Ela se m anifesta em várias op o rtu n id ad es, com o
na in d isponibilidade dos benefícios, eleição de dep en d en tes e na aposentadoria
com pulsória.

C urso n r D ir e it o P r e v id e n c iá r io

776 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
902. In d iv id u a lid a d e n a tu ra l — Os benefícios são individualizados, ap resen ­
tando u n icidade, não p o d en d o ser confundidos u n s com o u tro s nem duplicados.
P osicionados n o lugar do salário o u da retribuição do titu lar (e até de ficção fiscal),
ingressos ím pares, são definíveis, su b stitu in d o os seus m eios de subsistência do
trabalhador. Daí se sujeitarem às regras de acum ulação, descabendo a percepção
de dois deles de m esm a natureza ou função social.
E m bora sem elhantes, o auxílio-doença não se co n fu n d e com a aposentadoria
p o r invalidez. Têm data de início e de cessação separados. O m esm o se passa com
a seqüência apo sen tadoria/pensão p o r m orte.
Dessa in d ividualidade, faz parte a iniciativa da deflagração. De regra, pertence
ao interessado (só ele pode decidir se e q u an d o o requer) e, excepcionalm ente, ã
em presa (ap o sen tad o ria com pulsória) ou ao INSS (v. g., auxílio-doença, ap o sen ta­
doria p o r invalidez, abono anual etc.).
Por via de conseqüência, não cabe o deferim ento de prestação com um e aci­
den taria, ao m esm o tem po, a despeito de haver fontes de financiam ento ap aren te­
m en te in d ep en d en tes.
903. N a tu re z a a lim e n ta r — As prestações em d in h eiro possuem ou não
caráter alim entar, isto é, em alguns casos destinam -se à subsistência m ínim a do
percipiente. As previdenciárias subm etem -se a esse crivo e, de m o d o geral, p o r sua
individualidade e expressão m onetária, suscitam tal qualidade.
Essa alim entaridade dos benefícios é m atéria não inteiram ente desenvolvida
n o D ireito P revidenciário e raram en te disciplinada pelo legislador. P roduto de c o n ­
venção, o critério deveria fazer parte da norm a positivada. A pensão p o r m orte
e o benefício de valor m ínim o possuem esse atrib u to , m esm o q u an d o recebidos
acu m u lad am en te, em razão de atraso. De igual form a, as prestações acidentárias e
os benefícios p o r incapacidade.
904. S u b stitu tiv id a d e d o s in g resso s — M ensalidades auferidas su bstituem
os ingressos do beneficiário. Essa substitutividade, conform e filosofia d om inante,
é expressa p o r v alo r inferior, igual ou su p erio r ao recebido; deve pautar-se pela m é­
dia dos salários em certo período básico de cálculo e não sobre a ú ltim a retribuição;
aquela espelha m elh o r o padrão de vida do segurado. Benefícios calculados devem
refletir — co nform e convenção didática — o nível social do segurado dos últim os
tem pos de atividade. A lei estabelece a relação entre essas d u as im portâncias, a
su b stitu íd a e a su b stituidora.
Da su b stitu tiv id ade, defluem a co n tin u id ad e e a m ensalidade. Os benefícios
são ingressos p erm an en tes, não p o d en d o ser interrom pidos. Se ocorre in ad im p lên ­
cia (do órgão gesto r), m esm o diante da alim entaridade, os atrasados são repostos.
Q u an d o de dúvida sobre a m an u ten ção do pagam ento, n ão sustá-lo é bem -vindo.
905. T itu la rid a d e do d ire ito — O direito ao benefício pertence a apenas um
indivíduo. A ele corresponde o titular. Às vezes, o exercente não é o único perci­
p iente, rep resen tan d o pessoas, com o na pensão p o r m orte, q u an d o o pai ou a mãe
recebem em n o m e p ró p rio e dos filhos.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o / / — P r e v id ê n c ia S o c ia l 777
E m bora outorgável procuração para terceiros para q u itar pelo recebedor, a
titularidade não é transferível. C o n sequentem ente, não pode a viúva pro cu rad o ra
do segurado aposentado, falecendo este, p re te n d er a co n tin u id ad e da percepção.
Deve habilitar-se com o pensionista com pedido de pensão. Sobrevindo a m orte do
segurado, cessa a aposentadoria. A transform ação em pensão não é transferência
de titulares nem m u d ança de benefício (os titulares são distintos).
906. D efin itiv id ade d a concessão — O benefício é definitivo e nada pode
afetá-lo em seu valor intrínseco. Irreversível, descabe ao órgão gestor — salvo se
legitim ado p o r descoberta de vício insanável — rever a concessão ou o cálculo da
m ensalidade. O titular, porém , dian te da im prescritibilidade do direito (o m ais), a
qu alq u er Lempo, tem a sua disposição requerer a revisão da concessão (o m enos),
pro p o n d o opção por o u tra espécie ou m odificando o quantum.
A Lei n. 9.528/1997 estabeleceu prazo decadencial de dez anos. A cabou sendo
de cinco anos (Lei n. 9.711/1998). D epois, voltou a ser de dez anos.
Na área da definitividade ou irreversibílidacle discute-se a possibilidade de
anulação do ped id o p o r parte do interessado. No caso da aposentadoria, a desapo-
sentação. A n o rm a ju ríd ica vigente não a veda nem lhe cria em baraços; se existem ,
são de ordem adm inistrativa. P resente o princípio da n o rm a m ais favorável é d e­
fensável o desfazim ento da concessão, p o r m otivos subjetivos (até m esm o para o
req u eren te p o d er beneficiar-se de situação m ais vantajosa).
Dela tam bém faz p arte a portabilidade. O interessado pode m u d ar de M unicí­
pio ou E stado e até m esm o d eixar o País sem p erd er o direito.
A Lei n. 9.528/1997, em caráter transitório, vigendo de 11.12.1997 a 2.2.1998,
au to rizo u o em pregado de estatal aposentado entre 13.10.1996 e 30.11.1997, tra­
balhando após a concessão da aposentadoria sem solução de co n tin u id ad e, a su s­
pendê-la e restabelecê-la.
907. Irre d u tib ilid a d e do v alo r — C om o deco rrên cia da definitividade, o
benefício é protegido co n tra redução do m ontante. Aliás, trata-se de princípio
con stitu cio n al específico e sob esse aspecto é tam bém objeto do direito adquirido.
D escontos legais ou legítim os, obviam ente não afetam essa característica.
908. Irre n u n c ia b ilid a d e d a facu ld ad e — S ubm etido ã cogência da norm a
pública, o benefício é irrenunciável. P rincipalm ente com vistas à outorga de
poderes para o u tra pessoa. Na prática, a afirm ação não é absoluta, pois deixar
de requerê-lo por su a iniciativa Livre ou não recebê-lo após a concessão im plica
certa abstenção.
Indisponível, p o r conseguinte, n e n h u m docu m en to firm ado p o r beneficiário
d esistin d o do benefício, exceto p ara o bter m elhor, tem validade ju ríd ica.
Assim com o irrenunciável, é im penhorável e inalienável. Não pode ser arres­
tado nem seqüestrado.
909. In d e p e n d ê n c ia d e co ndição — De m odo geral, os benefícios são in d e­
p en d e n te s ou subordinados. Os da previdência social básica, à exceção do abono

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

778 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
anual, não estão su b m etid o s a qualquer condição, m as, até 29.5.2001, os da com ­
plem en tar fechada dependiam exatam ente do deferido pelo órgão gestor estatal
(LBPC, art. 68, § 2Ü). Sob a regra da subsidiaridade (que desapareceu), nào conce­
d ido o p rim eiro , não subsistia o direito ao segundo.
In d ep en d em d a situação do segurado, salvo nos casos em que a contingência
é p ressuposta. Pode estar pobre ou rico. Ser crim inoso ou santo.
910. Im p re sc ritib ilid a d e do b en efício — O direito às prestações, de m odo ge­
ral, é im prescritível. A lgum as delas, en tre tan to , caso dos benefícios de pagam ento
único, decaem . S egundo o PBPS, em cinco anos. Em bora im prescritível o direito,
perdem -se as m ensalidades, se o req u erim en to não é o p o rtu n o . Dormientibus non
su cu rritj us.
A citada Lei n. 9.528/1997, perfilhando a M edida Provisória n. 1.523/1996,
in tro d u ziu nov id ad es substantivas e adjetivas, algum as delas arro stan d o a im pres­
critibilidade dos benefícios e o adágio “se pode o m ais pode o m en o s”.
A lterando a redação do art. 103 da Lei n. 8.213/1991, determ inou: “É de dez
anos o prazo de decadência de to d o e q u alq u er direito ou ação do segurado ou
beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a c o n tar do dia p ri­
m eiro d o m ês seg u in te ao do receb im en to da p rim eira prestação ou, q u a n d o for
o caso, do dia em que to m ar co n h ecim en to da decisão indeferitória definitiva no
âm bito adm inistrativo. Parágrafo único. Prescreve em cinco anos, a c o n tar da data
em que deveriam ter sido pagas, toda e q u alq u er ação para haver prestações v en ci­
das o u q u aisq u er restituições ou diferença devidas pela Previdência Social, salvo o
direito dos m enores, incapazes e ausentes, na form a do C ódigo Civil".
Há visível conflito de ideias: se o benefício é im prescritível (co n stru ção d o u ­
trin á ria , p o is a d icção legal p asso u a ser p arág ra fo , s u b m e te n d o -se à regra do
caput), com o im p ed ir o direito ou o direito de ação para corrigir enganos com e­
tidos na concessão? A favor da tese legal, dir-se-á ser largo o prazo (de dez anos),
m as c o n tin u a sendo restrição indevida.
Pior, q u an d o a Lei n. 9.711/1998 d im in u iu -o para cinco anos.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 779
Capítulo XCI

P r e s s u p o s t o s L eg a is

S u m á r i o : 911. Tipos de estados. 912. Qualidade de segurado. 913. Inexigência


do síatus. 914. Período de carência. 915. Dispensa de carência. 916. Evento de­
terminante. 917. Afastamento do trabalho. 918. Concomitância de requisitos.
919. Aperfeiçoamento do direito. 920. Concessão automática.

Alem dos aspectos form ais (req u erim en to pessoalm ente assinado, consulta ao
CN1S, in stru ção b u rocrática in tern a do pedido, apresentação de provas d o cu m en ­
tais), incluídos os benefícios e serviços, o direito individual às prestações previden-
ciárias exige o su p rim en to de alguns requisitos m ateriais básicos. De m odo geral,
substan cialm en te são apenas três.
911. T ipos d e e sta d o s — No D ireito Previdenciário, um único vocábulo dis­
tingue a capacidade ju ríd ica: a) qualidade de segurado; e b) qualidade de d ep en ­
dente. N orm alm ente, o segundo estado condiciona-se à existência do prim eiro.
Q u an d o o in d ivíduo perde a qualidade de segurado, os seus dependentes
têm perecida a capacidade ju ríd ica previdenciária. Mas existem razões para o de­
saparecim ento do estado de d ep en d en te sem relação com a do segurado, com o é
a m aioridade dos filhos do segurado aos 21 anos ou a recuperação da sua higidez
(PBPS, art. 16).
912. Q u a lid ad e de seg u rad o — De regra, som ente os filiados obrigatória ou
facultativam ente ao RGPS fazem ju s aos benefícios. Presentes a filiação e a inscri­
ção, em algum m om ento, considerado pelo aplicador, a pessoa desfrutará ou não
da qualidade de segurado.
M esm o no bojo da seguridade social, só tem direito à previdência social quem
é segurado (ou d ep en d en te). E lipticam ente, em vez de deixar isso claro, o legisla­
d o r prefere falar n u m atrib u to da pessoa protegida, e, destarte, ter a qualidade de
segurado e ser segurado é a m esm a coisa.
Q ualidade de segurado é denom inação legal indicativa da condição ju ríd ica
de filiado, inscrito ou genericam ente atendido pela previdência social. Q uer dizer,
o atrib u to do assegurado, cujos riscos estão previdenciariam ente cobertos.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

780 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Pode ser co n fu n d id a com a situação de filiado, m elh o r dizendo, de inscrito.
Exige pressu p o sto m aterial e ex vi legís deflui deste autom aticam ente. Q uem exerce
ativ id ad e p ro fissio n a l está filiado e é seg u rad o , ao m esm o tem p o do exercício
da atividade (e p o r algum tem po m ais).
D istingue-se da qualidade de dep en d en te, aspecto pecu liar de pessoas eleitas
pela lei com o su b o rd in ad as econom icam ente ao segurado. E n q u an to nào realizada
a p roteção, aquela é atrib u to ju ríd ic o corolário da condição de segurado. Desfeita
aquela relação desaparece esta.
A concessão das prestações, em p articu lar dos benefícios, pressupõe o preen ­
ch im en to de req u isitos legais. O aten d im en to dessa determ inação deve acontecer
sim u ltan eam en te — de nada adian tan d o , p o r exem plo, reter alguns deles — salvo
na h ipótese do d ireito adquirido. N esse caso, reu n id as as exigências legais a seguir
desenvolvidas, m esm o com a p o sterio r perda de um a delas (qualidade de segurado
ou carência), não obsta o direito.
Os requisitos legais são m atérias fáticas e, presentes, só asseguram o direito
subjetivo se d em o n strad o s à saciedade ao órgão gestor. Ô n u s do beneficiário se
associam as providências de iniciativa do ente concedente (v. g., procedim entos
ad m inistrativos, exam e m édico, verificações in loco, análise de do cu m en to s, in s­
trução do pedido etc.).
Em algum m o m en to histórico, eles são acrescidos da necessidade de rom pi­
m en to do co n trato de trabalho ou do afastam ento da atividade.
A qualid ad e de segurado é um p o d er ju ríd ico adquirível e perecível, capacida­
de previdenciária da pessoa h u m ana, con h ecen d o , conform e esta, sucessivas fases:
a) inexistência; b) aquisição; c) posse; d) m anutenção; e) perda; e í) reaquisição.
a) Fase da inexistência: A usente vontade exteriorizada de se filiar, ao m aior de
dezesseis anos ou se o indivíduo nào pratica esforço prom otor de filiação (v. g., trabalho
de servidor, em pregado ou dom éstico; estabelecim ento independente com o em presá­
rio, autônom o ou equiparado ou segurado especial; labor vinculado ao dador de ser­
viços, com o o tem porário e o avulso; serviço no âm bito da família, do dom éstico; de­
voção com o eclesiástico), enfim, de m odo geral, se não exercer atividade profissional
rem unerada, inexiste qualidade de segurado por ausência do pressuposto fático eleito
pelo legislador: vontade (para o facultativo) e exercício de atividade (para o obrigató­
rio), podendo subsistir, respeitadas as regras legais, a qualidade de dependente.
A ntes da aquisição e após a sua perda, inexiste a m en cio n ad a qualidade. Até
ser d eclarad a ex istente, p o r q uem de direito (v. g., ad m in istrad o r, ju iz etc.), ela
não se diz p resen te e não p ro d u z efeitos. R econhecida, as conseqüências retroagem
à data da aquisição sub judice. Se se trata de benefício p o r incapacidade, este deve
ser co ncedido e m an tid o até a definição, obviam ente, raciocínio feito a p artir de
indícios razoáveis.
b) M omento da aquisição: Com a presença do fato m aterial p rovocador (repete­
-se, desejo ou ativ idade), inicia-se, autom ática e sim u ltan eam en te, a qualidade de
segurado. O pera-se no exato instante predefinido, conform e cada tipo de segurado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 781
Para o servidor, em pregado, dom éstico, tem porário ou avulso, q u an d o do
nascim ento do vínculo jurídico ou relação laborai, precisam ente ao se aperfeiçoar
o ajuste, com a m útua m anifestação de vontade, podendo ser provado, nesse preci­
so in stante; caso co n trário, q uando da assinatura form al do d o cum ento com proba-
tório. No caso do co n trato verbal, p o r ocasião da convenção e em face de contrato
tácito, a p artir da repetição dos atos claram ente indicativos da dúplice intenção.
A do em presário, autô n o m o ou segurado especial mecle-se na data do início
constante de d o cu m en to oficial (R egistrado n a ju n ta C om ercial, C artório de Regis­
tro, ou Repartição). Na falta deste, na data do m esm o papel. A usentes estes, com
a prim eira operação econôm ica. A pós m u ito s anos, prevalece o consignado no
co n trato social ou na ab ertura de firm a individual ou inscrição com o autônom o.
O eclesiástico a tem na data da ordenação ou sagração correspondente, p re­
sentes n a declaração expedida pela au to rid ad e religiosa com petente. Em relação ao
garim peiro, data co n stante do registro n o órgão próprio.
Já o facultativo a aperfeiçoa p o r ocasião da data do recolhim ento da prim eira
contribuição, em bora o m ês de com petência possa estar retroagindo até trin ta dias
(se feito o pagam ento em dia do m esm o m ês).
D em onstrada d u ran te a vida do segurado e após o seu falecim ento, p o r todos
os m eios de prova ad m itidos em Direito.
c) Exercício da posse: A dquirida, o atrib u to ju ríd ico prossegue, en q u an to vi­
gente a causa d eterm in an te, com recolhim ento de contribuições ou não. Filiado, o
segurado se diz com essa qualidade.
Ele a tem d u ra n te as férias, licença-prêm io ou licenças rem uneradas. Princi­
palm ente, no cu rso da m anutenção de benefício tem porário ou definitivo.
Na verdade, a rigor, sem anticam ente, a expressão “seg u rad o ” é designativa de
quem fez seguro, o está pagando; para o usuário do benefício o correto é “filiado”.
d) Período de manutenção: Cessada a razão su p o rte, já náo desfruta o segurado
dessa qualidade, m as a m antém , e p o r algum tem po, sem contribuição, d u ran te
período variável, conform e o tipo de segurado e a sua situação.
Aferido do prim eiro dia do m ês sub seq u en te ao da últim a com petência re­
colhida (não im p o rtan d o, se regular, a data do pagam ento), é m antida p o r seis
m eses, m ais os dias co rrespondentes ao prazo m ensal para o recolhim ento, para o
facultativo (em 1998, era o dia 15). De regra, seriam 12 m eses e 15 dias. Após esse
term o, deixa de ser facultativo, perde a qualidade de segurado, em bora possa, no
dia seguinte, readquiri-la com nova contribuição, respeitando-se, então, as regras
da aquisição.
N este p o n to , sobrevêm questão polêm ica. Os períodos de m an u ten ção da
qualidade, conform e exam inado a seguir, para os segurados ou situações, pode
chegar a 25 m eses e 15 dias. O u 37 m eses e 15 dias. Suponha-se segurado coberto
p o r esse período, inscrevendo-se com o facultativo e, p o sterio rm en te, deixando de
con tribuir. A dúvida é se prevalecem os 12 m eses e 15 dias ou o período anterior, se

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

782 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
m aior (co n tad o , é claro, do afastam ento do trabalho). Silente a lei, a interpretação
deve co n d u z ir à seg unda hipótese, pois se trata de direito adq u irid o , inalterável
pela m u d an ça na classificação com o segurado.
O utra qu estão ainda relativa ao facultativo reporta a sua m ora. Se ele para de
reco lh er é u m segu rado p o r vontade afastado da previdência social ou apenas estã
em m o ra e pode, com os acréscim os, pagar os atrasados? Inad im p len te, d u ran te
o p eríod o de m an u ten ção da qualidade (repete-se, de 12 m eses e 15 dias), pode
reco lh er os atrasados, pois caracterizado com o sim ples devedor. A pós o decurso
do p razo , porém , não pode pagar as m ensalidades vencidas, cabendo, se desejar,
reto m ar as co n trib u içõ es a p artir daí, co n tad o do prim eiro dia do m ês seguinte ao
da últim a com petência devida (não im p o rtan d o a data d o pagam ento).
A ferido do p rim eiro dia do m ês su b seq u e n te ao do ú ltim o dia (contida no
m ês de co m p etên cia devida) de atividade, para o em presário, au tô n o m o e e q u i­
parados e para o seg urado especial, d u ra n te m ais 12 m eses é o prazo para o reco­
lh im en to da co n trib u içã o (em 2012, era até o dia 15). P o rtan to , de regra, de 13
m eses e 15 dias.
M ensurado do dia do m ês p o sterio r da cessação do vínculo laborai (relação de
dom éstico, de tem p o rário o u de avulso), p ara o servidor, em pregado, tem porário,
avulso e dom éstico, m ais 12 m eses é o prazo para o reco lh im en to da contribuição
(em 2012, era até o dia 20 para o em pregado, avulso e co n trib u in te individual)
(em presário au tô n o m o q u e presta serviços para pessoas ju ríd icas). Isto é, de regra,
13 m eses e 20 dias, e de 13 m eses e 15 dias para os co n trib u in tes individuais que
prestam serviços para pessoas físicas e facullaLivos.
De m o d o geral, para todos os segurados, ten d o início em m o m en to s distintos,
em diversas situações previstas na legislação, a saber: a) caso com um ; b) segregado;
c) serviço m ilitar; d) 120 contribuições; e f) desem pregado.
e) Prazo da perda: R eadquirida q uando da presença d e novo fato garantidor
vontade para o facultativo e atividade para o obrigatório, e a p artir da data do even­
to. A Ju stiça tem en ten d id o preservá-la em certas circunstâncias.
A M edida Provisória n. 83/2002 alterou um pouco esse cenário, au to rizan d o a
concessão da ap o sen tad o ria p o r idade porque, no passado, c o n trib u iu p o r 20 anos
ou m ais e perd eu a qualidade de segurado.
D idaticam ente ela é in existente (1), ad q u irid a (2), preservada (3), m antida
(4), perecida (5) e recuperada (6).
Inexiste, caso o trab alh ad o r não esteja filiado (sem exercer atividade ou não
desejar ingressar na Previdência Social).
É ad q u irid a assim que d em o n strar a atividade que o filia ao RGPS. No caso do
facultativo, evidenciar a volição de ser adm itida no regim e.
Preserva-se e n q u a n to co n tin u a r nessa condição o u d u ra n te o gozo de b en e­
fícios (PBPS, art. 1 5 , 1).
O p erío d o é m antido nas várias circunstâncias legais do art. 15 do PBPS.

C urso dr D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P re v id ê n c ia S o c ia l 783
A qualidade de segurado desaparece q u an d o cessa a atividade su p o rte da lilia-
ção ou term ina a co n trib uição ou no final do período de m anutenção.
Pode ser restabelecida bastando ao segurado reingressar no cenário inicial da
aquisição.
f) Hibernação: P odem os cham ar de hibernação ao período d u ra n te o qual o
segurado que assegurou o direito ad q u irid o sem exercitá-lo fica sem realizar o fato
su p o rte da filiação ou da qualidade de segurado.
913. In ex ig ên cia d o status — Na figura do direito adq u irid o (quem no pas­
sado com pletou os três requisitos ora configurados), preservados o período de
carência e o evento d eterm in an te, pouco im porta a p o sterio r perda da qualidade
de segurado.
U m segurado que trabalhou p o r 35 anos seguidos (po rtan to , co n sum ando o
evento d eterm in an te, o período de carência e a qualidade de segurado), que deixou
o País e so m en te voltou 20 anos depois, diante da im prescritibilidade do direito e
do direito ad q u irid o u su fruirá a aposentadoria p o r tem po de contribuição a co n tar
a Data de E n trad a do R equerim ento.
De acordo com a Lei n. f0 .666/2003, subsiste o direito à aposentadoria por
idade de quem co m p letou o período de carência e perdeu a qualidade de segurado.
914. P eríodo de carência — Os benefícios são classificados em três tipos:
a) exigem carência; b) dispensam carência; e c) nào tem sen tid o falar no núm ero
m ínim o de contribuições.
C u riosam ente, a Lei n. 9.876/1999 criou um sistem a em que o m esm o benefí­
cio dispensa carência para algum as seguradas e a reclam a para outras: em presárias,
autônom as, facultativas etc. (PBPS, art. 25,111).
Q u an d o im posta, a carência é de f 2 contribuições m ensais (auxílio-doença e
apo sentadoria p o r invalidez) ou de 180 contribuições (aposentadoria p o r tem po
de co n trib u ição , especial ou idade).
Não tem sen tid o em relação ao abono anual e salário-fam ília, pecúlio (em
extinção) ou abono anual.
A nacronicam ente, diz o art. 27, II, que o seu cô m p u to se fará a partir do re­
colh im en to da p rim eira contribuição sem atraso.
915. D isp en sa da carên cia — N ossa legislação dispensa a carência em várias
hipóteses:
a) sinistros in fo rtu nísticos (prestações acidentãrias);
b) m oléstias arroladas no art. 151 do PBPS;
c) pensão p o r m o rte e auxílio-reclusão;
d) acidente de q u alq u er natureza ou causa;
d) segurados especiais do arl. 39 do PBPS;
e) serviços sociais;
f) reabilitação profissional.

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

784 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
9 16. E vento d e te rm in a n te — E vento d eterm in a n te é o sinistro, ou seja, a
co n tin g ên cia p rotegida consum ada, que varia conform e cada tipo de benefício. U m
d eterm in an te é aco n tecim en to m aterial, atingindo o seg u rad o (a) física ou social­
m ente (o u o seu d ep e n d en te). Trata-se de fato fisiológico, psicológico ou socioló­
gico, a co n tin g ên cia protegível realizada, a consum ação do sinistro. O risco coberto
pela previdência social.
F atos da vida deflagram vários benefícios (v. g., n ascim ento, incapacidade
etc.), e a cada prestação corresponde u m determ inante, p o d en d o vir com binados
ou ser sucessivos, in stantâneos, ou p ro d u z ir efeitos p erm an en tes (v. g., incapacida­
de, acid en te do trabalho etc.). São program ãveis e im previsíveis.
a) Auxílio-doença: O segurado restar inapto para o seu trabalho ou ocupação
h abitual p o r m ais de 15 dias.
b) Aposentadoria por invalidez: Incapacidade para o trabalho p o r m ais de 15
dias e in suscetibilidade de recuperação.
c) Aposentadoria por idade: A m u lh er som ar 60 anos e o h om em 65 anos de
idade. N a área rural, cinco anos m enos.
d) Aposentadoria especial: O trab alh ad o r exercer d u ra n te certo lapso de tem po
atividades ou insalubres, em que exposto aos agentes físicos, quím icos e biológicos
acim a dos níveis de tolerância das N orm as R egulam entadoras do Trabalho e rela­
tados no PPP e LTCAT.
e) Aposentadoria por tempo de contribuição: A m u lh er e o hom em m anterem -se
filiados à previdência social d u ra n te certo lapso de tem po e contrib u in d o .
f ) Salário-maternidade: A segurada estar em adiantado estado de gestação e
du ran te certo p erío d o de aleitam ento do bebê ou posterior ao parto. Ter a guarda
ou adotar crianças.
g) Salário-familia: O servidor, em pregado, tem porário e avulso, ter filho m e­
n o r de 14 anos o u inválido e ap resen tar certidão de n ascim ento e cad ern eta de
vacinação obriga Lória.
h) Abono anual: O segurado ter recebido benefício de pagam ento continuado.
í) Auxílio-acidente: O acidentado au ferir auxílio-doença e, após a alta m édi­
ca, restar com seqüela d im in u id o ra de sua capacidade de trabalho. Se não fruiu o
auxílio-doença (caso do aposentado), provar o direito a ele.
j ) Pensão por morte: U m segurado(a) falecer, desaparecer o u se ausentar.
k) Auxílio-reclusão: O seg u rad o (a) ter sido recolhido à prisão sem receber re ­
m u neração da em presa, não estar em gozo de auxílio-doença o u de aposentadoria.
I) Auxílio-funeral: C erto segurado(a) falecer e ter sido e n terrad o até 31.12.1995.
m ) Auxílio para tratam ento fo ra do domicílio: N ecessidade de aten d im en to fora
do dom icílio.
n) Serviço social: N ecessidade do atendim ento.
o) Habilitação profissional e reabilitação profissional: Inaptidão para o exercício
h abitual de funções laborais.

C u r so p i: D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 785
917. A fastam en to d o tra b a lh o — Há tem pos que não há m ais necessidade
de afastam ento do trabalho para a obtenção de um benefício que não seja p o r in­
capacidade.
Logo, exceto no caso de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, a exi­
gência é dispensada.
918. C o n co m itâ n cia d o s re q u isito s — De regra, os três requisitos têm de ser
sim ultâneos. De nada adiante alguém ter 180 contribuições sem provar a exposição
aos agentes nocivos físicos, quím icos, biológicos, ergom étricos ou psicológicos. Do
m esm o m odo, q u em faz essa dem onstração com PPP ou LTCAT sem carência, não
tem direito ã ap o sen tad oria especial.
919. A p erfeiço am ento do d ire ito — A concessão e a m an u ten ção do salário-
-fam ília e do salário -m aternidade em relação a em pregados e avulsos é a da co m p e­
tência do em pregador ou do OGMO. Os seus pressupostos devem ser inicialm ente
verificados p o r quem propicia os serviços ao segurado e m ais tarde verificados pela
Previdência Social.
920. C o n cessão au to m ática — O abono anual, cujo requisito básico é a exis­
tência de um a prestação de pagam ento co n tin u ad o paga d u ra n te o exercício anual
dispensa p ro ced im en to form al p o r parte do beneficiário: é concedido au to m atica­
m ente assim que p reenche os pressupostos legais.

C urso de D ir e it o P r iív id e n c iá r io

786 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo XCII

R e n d a I n ic ia l

S u m á r i o : 921. Período básico de cálculo. 922. Salário de contribuição. 923.


Atualização monetária. 924. Percentuais aplicáveis. 925. Salário de beneficio.
926. Mínimos e máximos. 927. Primeira mensalidade. 928. Limites da impor­
tância inicial. 929. Fator previdenciário. 930. Renda inicial.

C ap ítu lo dos m ais im p o rtan tes em m atéria de prestações diz respeito à deter­
m inação do m o n tan te da renda m ensal, a área técnica em q u e o D ireito Previden-
ciãrio m ais se identifica com a M atem ática.
R enda m ensal é expressão (im própria, m as consagrada) designativa do m o n ­
tante do benefício de pagam ento co n tin u ad o e, excetuadas as revisões de cálculo
e os reaju stam en to s p rovenientes da perda do p o d er aquisitivo da m oeda, consiste
na im p o rtân cia a ser m ensalm ente repassada ao titu lar do direito (segurado ou
d ep en d en te).
Sua estim ativa e p atam ar p ecuniário final, níveis m ínim o e m áxim o, são d e­
term in ad o s com clareza na lei vigente ao tem po do seu início.
L istam -se alguns m om entos distintos: a) Data de E ntrada do R equerim ento
— DER (geralm ente a m esm a D1P); b) Data do A fastam ento do Trabalho — DAT,
q u an d o exigido ro m p im ento; c) Data do Início do Beneficio — DIB; d) Data da
C oncessão — DC; e) Data do Início do P agam ento — D1P; f) Data da C essação do
Benefício — DCB; e g) Data do R ecebim ento — DR.
DER é o dia do p rotocolo do pedido, provisório ou definitivo ou da postagem
nos correios. Q u an d o reclam ado o desligam ento, a DAT é o ú ltim o dia de prestação
de serviços (cessação do vínculo em pregatício, para o em pregado; definida p arti­
cu larm en te p ara o em presário e autônom o; inexistente para o facultativo, podendo
ser o derrad eiro dia da últim a com petência recolhida). DIB, o dia a p artir do qual
são devidos os p agam entos, não im p o rtan d o q u an d o ocorreu a concessão ou se se
efetivaram os pagam entos. DC, a do despacho deferitório, a data da com unicação
é a co n stan te da notificação do órgão gestor (recebida, u sualm ente, dias após). D1P
co rresp o n d e ao m o m en to a p artir do qual o valor fica à disposição do titular. DCB,
o últim o dia de vigência da prestação. DR, q u an d o o titu la r em bolsa o quantum.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo II — Previdência Sodaí 787


No caso de dúvida q u an to à aplicação da norm a, prevalece a do início do
benefício. E nganou-se a Lei M aior de 1988 q uando disse “expresso em núm ero de
salários m ínim os, que tin h am na data de sua concessão” (ADCT, art. 58). Q ueria
dizer, na DIB. E xcetuado para a fixação do prazo decenal de revisão, raram ente,
a data do deferim ento tem im portância, sendo significativa a data da ciência (p o r
parte do trab alh ad o r e do em pregador).
Renda m ensal é o m o n tan te do n u m erá rio quantificado em m oeda corrente
nacional, em p rin cíp io inalterável, protegido pela lei, divisível apenas q u an d o m ais
de u m a pessoa p articip ar (v. g., pensão p o r m orte e auxílio-reclusão).
A fixação da R enda M ensal Inicial — RMI é estabelecida a partir de certos
elem entos m atem áticos do cálculo, in stitu to s ju ríd ico s próprios do D ireito Previ­
denciário, a seguir exam inados, a saber: a) período básico do cálculo — PBC; b)
salários de contribuição; c) correção m onetária; d) salário de benefício — SB; e)
valor m ínim o; 0 valor m áxim o; g) coeficientes aplicáveis ao SB; e h) renda m ensal
inicial. Além, é claro, do fator previdenciário para a ap o sen tad o ria p o r tem po de
contribuição (Lei n. 9.876/1999).
Exigem benefícios sem cálculo e benefícios tarifados. O salário-m aternidade é
a rem uneração da gestante sem o lim ite dos R$ 4.159,00. De certa form a, o abono
anu al não tem cálculo em bora se refira aos valores de pagam ento m antidos d u ran te
o exercício. O salário-fam ília é an u alm en te tabelado.
A ap o sentadoria p o r idade prevista na Lei n. 10.666/2003 de quem perdeu a
qualidade de segurado e não m ais co n trib u iu depois de ju n h o de 1994 está fixada
nu m salário m ínim o. Isso ocorre tam bém q u an d o o em pregado, avulso e dom ésti­
co estiverem com dificuldades para provarem o valor dos seus salários de co n tri­
buição (PBPS, arts. 35/36).
Q u an d o o beneficiário requer o benefício tem pos após o p reenchim ento dos
requisitos legais (en ten d id o com o o m o m en to desejado em tese pelo legislador) — ,
sofrendo perdas de m ensalidade p o r força dos princípios dormientibus non sucurrít
ju s e tempus regit acíum — o cálculo da renda inicial é feito com base na legislação
vigente ao tem po do cu m p rim en to dos requisitos legais.
Claro, observados os parâm etros, critérios e lim ites em vigor na ocasião da
DER (que não se co n fu ndirá com a DIB).
Uma vez ap u rad o esse m o n tan te hipotético, presente processo inflacionário,
o quantum será reaju stado com o se fosse um benefício em m anutenção, até chegar
à DIB.
921. P erío d o b ásico de cálculo — Por ocasião da escolha do referencial para
estim ar o benefício, o legislador dispôs de algum as soluções: a) fixar o valor, ta­
rifando-o (com o faz com os de pagam ento único e com a ajuda assistenciária); b)
a d o tar o últim o salário de contribuição (afinal, o nível su b stitu íd o ); c) escolher a
m aior base de cálculo; d) o ptar p o r m édia obtida em certo lapso de tem po (de curta
duração ou aco m p an h an d o o período co ntributivo).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

788 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
O respeito à su b stitutividade obrigou-o à ú ltim a solução; caso contrário teria
de m u d ar a filosofia dom inante. Tom ar série de im portâncias responsáveis pelo
padrão de vida do segurado, raciocínio válido en q u a n to estas lim itadas ao teto da
base de cálculo da contribuição. Na verdade, a definição leva em conta a base de
cálculo da co n trib u ição; esta é substituída, e não os salários do trabalhador.
Assim , p referiu a m édia dos salários de co n trib u içã o co n tid o s em certo in-
terreg no e d efin iu -o com o o p reced en te à data do início do benefício. De acordo
com a lei v ig ente, esse lapso de tem p o é u n ifo rm e, co n fo rm e se trata r de p re sta ­
ções im previsíveis ou previsíveis, v arian d o de ju lh o de 1994 até o m ês véspera
do ped id o .
P restigiou-se a m édia dos últim os salários de contribuição, fixado o term o
final co nform e fato eleito (v. g., afastam ento do trabalho, m ês inteiro an terio r ao
afastam ento do trabalho etc.), e sem term o final.
Nesse sen tid o , o m odelo nacional com etia equívoco atuarial h istórico, pois
refletia o nível de vida do trabalhador dos últim os tem pos, congelando-o, e igno­
ran d o as necessidades dos beneficiários após a aposentação (au m en ta ou d im in u i),
e despreza a série h istórica de recolhim entos (operado sob lim ites crescentes, va­
rian d o de 2 até 20 salários m ínim os, em diferentes m o m en to s históricos).
O lapso de tem po d u ra n te o qual são tom ados os salários de contribuição é
con h ecid o com o PBC. As 80% m aiores bases da aferição da contribuição devida ou
recolhida nesse espaço são corrigidas m o n etariam en te e utilizadas na apuração da
m édia designada com o salário de benefício.
Esse sistem a é su p erio r a q u alq u er outro; reflete m elh o r a substitutividade,
em bora, ressalte-se, diga respeito à base de cálculo (e, m uitas vezes, nada tenha
que ver com os ingressos do trabalhador, m áxim e se co n trib u in te individual sujei­
to à escala de salário-base). P erm ite m inim izar quedas e ascensões de valores no
in terreg n o e q u an to m ais longo m elhor espelhará o padrão de vida do segurado.
Até 28.11.1999, a legislação previa u m PBC de 36 m eses d en tro de lapso
m aior, de 48 m eses. O universo com preendia apenas três situações possíveis: a)
nos últim os 36 m eses, o interessado m anteve-se filiado, sem interrupções; b) pos­
sui 36 con trib u içõ es esparsas d en tro dos últim os 48 m eses; e c) tem m enos de 36
co n trib u içõ es no bojo dos últim os quatro anos.
Nas d u as prim eiras situações descritas, a m édia consistia n a divisão p o r 36,
do total de salários de contribuição corrigidos. Na ú ltim a hipótese, a m esm a som a
dividida pelo n ú m ero de m eses — caso sejam superiores a 24 e inferiores a 36 — e
p o r 24, q u an d o in ferior a esse núm ero, para a ap o sen tad o ria p o r tem po de serviço,
especial e p o r idade. N o caso do auxílio-doença e da ap o sen tad o ria p o r invalidez,
dividindo-se sem pre o total pelo nú m ero de meses.
O seg u rad o , d epois de ter deixado o trabalho, deixando passar algum tem po
e a inflação red u zin d o o p o d er de expressão m onetária dos salários de c o n trib u i­
ção, a renda m ensal inicial então obtida deve ser corrigida, com o se m antida fosse,
até a DIB.

C urso de D ir e it o P r o v id e n c ia r !»
T om o / / — P r e v id ê n c ia S o c ia l 789
a) teim o inicial: C o n tan d o o período em m eses e não em dias, o term o inicial
é d eterm in ad o pela Lei n. 9.876/1999, com o sendo ju ih o de 1994 ou outro, em
cada fato. Se o segurado trabalhou o últim o m ês inteiro, com o tal será considerado;
caso tenha prestado serviços apenas n o últim o dia do m ês, a im portância corres­
p o n d en te será aproveitada.
b) termo final: O term o final do perío d o , se in ex isten te in terru p ç ão de ativi­
dade, é o m ês an terio r ao da solicitação do benefício. N o caso de cessação, é p re­
ciso verificar qual o dia do m ês em que isso aconteceu. Se o segurado trab a lh o u o
m ês inteiro, ele será o ú ltim o ; caso tenha prestado serviços p o r m enos d e 30 dias,
esses dias não serão co n sid erad o s e o m ês an terio r en cerrará o período básico de
cálculo.
G eralm ente, o PBC antecede o pedido do benefício. Mas, às vezes, o seg u ra­
do co n tin u a trab alhando e o re q u er tem pos após o p reenchim ento dos requisitos
legais, co nfigurando o direito adquirido. Tem o direito ao benefício calculado com
base no PBC da reunião das exigências, se de m aior valor.
No caso do auxílio-doença e da aposentadoria p o r invalidez, o últim o m ês
fracionado não é sopesado para o PBC, m as co ntado para com pletar carência.
O período básico de cálculo, igual para todos os benefícios sujeitos aos cálcu­
los, com preende as com petências iniciadas em ju lh o de 1994 (data da im plantação
do Plano Real) e que vão até a solicitação do benefício.
No m esm o final de 2009, q u an d o o PBC solicitava 180 m eses, cogitava-se de
reduzi-lo para apenas 120 meses.
922. S alário d e co n trib u içã o — Salário de contribuição é in stitu to previ­
denciário de custeio e de prestações, p o r convenção cientifica, tido com o base de
cálculo da co n tribuição e dos benefícios, e não acidentalm ente.
As bases utilizadas na apuração do benefício, n o geral, são exatam ente as m es­
m as da determ in ação da contribuição. N esse sentido, a prestação atrai o aporte.
Ela d eterm in a as parcelas com ponentes do benefício e, destarte, da contribuição,
e não ao contrário.
O salário de co n tribuição é lim itado p o r n atureza, m ensalm ente, pelo salário
m ínim o e pelo teto. Im portâncias inferiores ou su periores a esse espectro não são
consideradas.
Q uem não está sujeito ao m ínim o, com o o m en o r aprendiz, a base a ser tom a­
da será a da contribuição, conform e o caso. Se em todo o período assim procedeu,
fatalm ente a m édia resultará abaixo do m ínim o e, in casu, ascenderá para esse
patam ar, por exigência legal.
N ão atingindo a rem uneração m ínim a, em d eterm inado m ês, o segurado co n ­
tribuirá p o r essa im portância e considerado para efeito de benefício.
Para os sujeitos à escala de salários-base, prevalecia a classe real e não a vir­
tual, ou seja, a ado tad a pelo segurado para efetuar os recolhim entos, com prim ida
pelos salários ou não.

C urso d e D ir e it o P r e v ip f n c iAr ío

790 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
Os seg urados subm etidos a descontos oferecerão os valores devidos, e para
os dem ais, os recolhidos (em dia, com m ora, m ediante parcelam ento e até com
d edução no p ró p rio benefício).
Não são n ecessariam ente todas as im portâncias co n stan tes da base de cálculo
da co n trib u ição ; co n soante norm a vigente, p o r q u alq u er m otivo, se o segurado
am p lio u a base de cálculo (m esm o sendo devida a co n trib u ição ), ilegitim am ente
operad a d en tro do PBC, não será válida.
Caso, n o perío d o, o segurado esteve em gozo de benefício p o r incapacidade,
o salário de co n trib u ição é su b stitu íd o pelo salário de benefício da prestação p ro ­
visória en tão m antida.
Os salários de contribuição são as bases de cálculo das 80 m aiores cotizações
devidas o u vertidas pelo trabalhador desde ju lh o de 1994 até o m ês a n terio r à DER.
De regra, o INSS trabalha com os registros da DATAPREV, constantes do CNIS
(PBPS, art. 29-A). Se eles não coincidirem com os das em presas ou dos segurados,
eles poderão ser contestados, devendo ser inform ados aos segurados em 180 dias, os
núm eros utilizados. Em bora o art. 29-A, § 29, fale em “a qualquer m om ento”, possi­
velm ente dentro de 120 meses, o segurado poderá agregar novas inform ações ao CNIS.
É preciso to m ar cuidado com a aplicação do art. 43 do PCSS para saber se a
ju s tiç a do Trabalho inform ou ao INSS os salários de co n trib u ição objeto das recla­
m ações trabalhistas executadas pelo m agistrado.
Sabidam ente, tendo em vista que a prestação co rresp o n d en te tem fonte de
custeio p ró p ria, u m a décim a terceira contribuição, deste cálculo não faz parte o
salário de co n trib u ição do décim o terceiro salário.
923. A tu alização m o n e tá ria — A C onstituição F ederal assegura o direito de
m an u ten ção do p o d e r aquisitivo da m oeda para os valores da previdência social e
entre eles, o dos salários de contribuição.
Em v irtu d e da perda de p o d er aquisitivo da m oeda, decorrente da inflação,
o nível o riginal dos salários de contribuição (e, no caso do direito adquirido, até
m esm o a renda m ensal inicial) é m o netariam ente corrigido. H odiernizados, eles
restabelecem a essência real detida q uando da geração da obrigação de recolher as
co n trib u içõ es e, assim , m elhor induzem o padrão de vida do segurado.
C orreção m o n etária é operação econôm ico-financeira, sim ples atualização do
valor, então tido com o nom inal para ascender à condição de real.
924. Percentuais aplicáveis — C ada segurado e benefício, considerados in d i­
vid u alm en te, ex vi íegis, possuem coeficiente aplicável ao salário de benefício para
se atin g ir a ren d a m ensal inicial. São percentuais, variando de u m n ú m ero básico,
co n h ecen d o m ínim o e m áxim o.
Em alguns casos, com o na ap o sen tad o ria p o r invalidez, aposentadoria es­
pecial, p ensão p o r m orte e auxílio-reclusão, é de 100% e, destarte, coincidem o
salário de benefício e a renda m ensal inicial. Para o auxílio-doença, está tarifado
em 91%. No caso do auxílio-acidente, de 50%.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / i — P r e v id ê n c ia S o c ia l 791
A ap o sentadoria p o r idade adota 70% básicos, m ais 1% p o r ano de filiação até
um m áxim o de 100%. A aposentadoria p o r tem po de contribuição adota 70% b á ­
sico s, p a ra m u lh e re s com 25 a n o s e h o m e n s com 30 an o s de serv iço , m ais 5%
p o r ano de co n tribuição até um m áxim o de 100%. Os percentuais dos benefícios
são os seguintes:
A uxílio-doença — 91%
A posentadoria p o r invalidez — 100%
Acréscim o do art. 45 do PBPS — 25%
A uxílio-acidente — 50%
A posentadoria especial — 100%
A posentadoria p o r idade — 70% m ais 1% p o r ano de contribuição
A posentadoria do professor — 100%
A posentadoria p o r tem po de contribuição — 70% m ais 5% a cada ano que
u ltrap assar os 25 anos (m ulheres) ou 30 anos (hom ens)
Pensão p o r m o rte — 100% da aposentadoria m antida ou presum ida
A uxílio-reclusão — 100% da aposentadoria m antida ou presum ida
A bono anual — 1/12 do benefício recebido no exercício
Benefício do ex-com batente — respeitado o teto constitucional, rem uneração
que estaria recebendo se estivesse trabalhando.
925. S alário de ben efício — Salário de benefício é dado m atem ático-financei-
ro situado espacialm ente entre o salário de contribuição e a renda m ensal inicial;
p o r m eio dele, da base de cálculo da contribuição chega-se à base de cálculo do
benefício.
Desde 25.7.1991 até 28.11.1999, a m édia dos salários de contribuição raone-
tariam ente corrigidos e contidos no período básico de cálculo, observados valores
m ínim o e m áxim o.
No caso da apo sen tadoria p o r tem po de contribuição, o seu valor depende do
fator previdenciário (Lei n. 9.876/1999) do segurado.
A m édia dos 80% m aiores salários de contribuição co n tid o s n o período bá­
sico de cálculo, isto é, a som a de todos os salários de contribuição atualizados
m o n etariam ente, divididos pelo núm ero de m eses, corresponde ao que se co n v en ­
cionou ch am ar de salário de benefício. Até a data do início da vigência da Lei n.
9.876/1999 eram 36 m ensalidades.
Seu valor m ensal do auxílio-acidente incorpora-se aos salários de c o n trib u i­
ção, sem pre respeitados os lim ites m ensais.
O salário de benefício do exercente de m últipla atividade é com plexo. Se o
segurado aten d eu em relação a todas as atividades os pressupostos os salários de
con tribuição serão som ados. Caso isso não suceda, u m p ercentual aferido a p artir
dos m eses de co n trib u ição e do período de carência será som ado aos salários de

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

792 W ld í i i m i r N o v a e s M a r t i n e z
co n trib u ição da atividade em que com pletou aqueles requisitos. M as, se nu m a ati­
vidade o segurado recolher sem pre pelo teto, essa atividade é que se prestará para
o cálculo (PBPS, art. 32, § 2a).
D entro do período básico de cálculo caso o segurado ten h a u su fru íd o de al­
gu m benefício p o r incapacidade, o salário de benefício da renda inicial deste com
a de devida atualizações será incorporado (PBPS, art. 32, § 59).
N um a n o rm a anacrônica em face da contrib utívidade e da correspectividade
entre co n trib u ição e o benefício, se d en tro de 36 m eses o segurado teve aum ento
injustificado não será considerado.
C om pletados os requisitos legais para a apo sentadoria p o r tem po de co n tri­
bu ição , cogitado o direito ad q u irid o aos coeficientes co rresp o n d en tes aos anos
com pletados, o segurado tem o p o d er de se servir do período básico de cálculo
capaz de resu ltar n a m elhor renda inicial.
Até 28.11.1999, a n o rm a legal, afirm ando dever o INSS calcular o salário de
benefício com base nos últim os 36 salários de contribuição, prestou-se exclusiva­
m en te para o co m u m dos casos. N ão excluiu o direito de o p tar p o r período básico
de cálculo anterior, retroagindo en q u a n to possível o direito, se dessa operação
resultasse renda m ensal de p atam ar maior.
Isso vale em face da im prescritibilidade do direito às prestações, não só para
quem não requereu o benefício quando da reunião dos pressupostos com o para quem
o fez e, sem pre de acordo com a lei, descobre ser viável, am pliar o nível da prestação,
Essa conclusão não ignora o regim e financeiro adotado pelo RGPS (repartição
sim ples) nem as prem issas atuariais. Se direito legítim o havia, o INSS deveria estar
prep arad o para atendê-lo.
Dá-se exem plo concreto do alegado: segurado aposentado em 15.10.1993,
q u an d o possu ía 42 anos de serviço, teve renda inicial de Cr$ 81.951,70. Em
15.10.1986, contava 34 anos de serviço e, portan to , direito a 92% do salário de
benefício (CLPS, art. 32, § 1Q, e § 2Q do art. 33). O valor da renda inicial corrigido
até o u tu b ro de 1973, pelos índices p róprios, chega a Cr$ 120.077,11 (sic).
A plica-se a situações com o essa o en ten d im en to da adm inistração gestora,
esposado no item 4 da C ircular n. 88/1987, em que se colhe: “A ssim sendo, q uando
o segurado, m esm o ten d o im p lem en tad o todos os requisitos necessários à conces­
são da ap o sen tad o ria preten d id a ao se desligar do em prego ou atividade, venha a
re q u erer o benefício tardiam ente, o período básico de cálculo (PBC) será fixado
em função do últim o salário de contribuição, utilizando para o cálculo da re n ­
da m ensal inicial (RMI) os índices de correção co rresp o n d en tes tam bém a este,
reajustando-se o valor ap u rad o até a data d o início d o pagam ento (D1P) a qual será
d eterm in ad a pela data da entrada do re q u erim en to (D E R )”, ratificado na O rdem de
Serviço INSS/DISES n. 78/1992 (subitem 4.7).
N esse sen tid o , os acórdãos seguintes: a) “A p osentadoria. R egência do b en e­
fício pela lei m ais favorável, em cuja vigência podia o co n trib u in te aposentar, porque
já reu n ira as condições pressupostas. Sentença concessiva confirm ada, salvo q u a n ­

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 793
to ao p ercen tu al h o n o rá rio ” (AC n. 103.774/SP, da 3§ Turm a do TRF, rei. M in. José
D antas, in DJU de 5.6.1997, p. 9.815); b) “O s proventos da inatividade regulam -se
pela lei vigente ao tem po em que o segurado reu n iu os requisitos necessários à
sua aposentadoria. A lei nova deve respeitar os direitos adquiridos sob o im pério
que ela revogou, e só pode ser aplicada à situação ju ríd ica an terio r à sua vigência
quando para beneficiar. Apelo provido. Sentença reform ada” (AC n. 105.845/SP, da
3- Turma do TRF rei. Min. F laquer Scartezzini, in DJU de 28.8.1986, p. 15.049);
e c) “Tendo o segurado preenchido os requisitos para aposentadoria p o r tem po
de serviço na vigência de lei an terio r àquela sob a q ual a requereu, os cálculos do
benefício devem obedecer os critérios da Lei n. 3.807/1960, com a redação que
lhe foi dada pelo D ecreto-lei n. 66/66. Tratando-se de direito adq u irid o e dem anda
ajuizada antes da en trad a em vigor do novo texto não se pode falar em afronta à
C onstituição F ederal” (AC n. 1990.03.7747-9/SP, da l à Turm a do TRF da 3a Re­
gião, v. u n., rei. Ju iz Silveira Bueno, j. de 28.5.1991, in LexJSTJ e TRF n. 29/422).
926. Mínimos e máximos — Os salários de contribuição, originais ou atu a­
lizados, valor do salário de benefício (e até m esm o a renda m ensal inicial) não
podem ficar aquém do salário m ínim o nem além do lim ite do salário de c o n tri­
buição (PBPS, art. 29, § 2e). De m odo geral, no final de 2009, essa m édia era de
apro x im ad am en te R$ 3.104,00 para o que sem pre aportou pelo teto (R$ 3.218,90).
O salário de benefício conhece piso m ínim o. De acordo com a legislação, é o
salário m ínim o. Assim, se o cálculo chegou à im portância inferior ao salário m íni­
m o, este será tom ado com o salário de benefício.
Não o b stan te os salários de contribuição serem im portâncias finitas p o r n a­
tureza e elas, em cada m ês, per se, observarem l i m i L e determ in an te do alcance da
previdência básica, o legislador ordinário co stu m a estabelecer piso su p erio r para
o salário d e benefício. Em f9 9 8 , tom ava com o teto o próprio lim ite do salário de
con trib u ição do m ês do início do benefício (e, com isso, antes da EC n. 20/1998,
e m razâo da CF p o ssu ir conceito p ró p rio de salário de benefício); su bsistia nítida

inconslitucionalidade (raram en te reconhecida pelo P oder Ju d iciário federal).


927. Primeira mensalidade — À exceção da aposentadoria p o r tem po de
con trib u ição , vítim a da influência do fator previdenciário im posta pela Lei n.
9.876/1999, renda m ensal inicial, nos term os da legislação, é o resultado do p ro ­
d u to do salário de benefício pelo coeficiente do segurado, aplicado a prestação
sob cálculo. No salário-m aternidade, m o n tan te não cifrado e sem cálculo, a renda
m ensal inicial coincide com a rem uneração da em pregada gestante.
Trata-se de patam ar su b m etid o a dois extrem os: m ínim o e m áxim o. A exem ­
plo do salário de benefício, não pode resultar inferior ao piso m ínim o, n o rm al­
m ente o salário m ínim o, n em su p erio r a determ inado valor fixado pela legislação,
usualm ente o m esm o teto da contribuição.
Im portância m ínim a é conceito co n stitu cio n al e, m áxim a, exigência de lei
ord in ária fixadora do alcance vertical da previdência social estabelecido em razão
do cálculo atuarial.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

794 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
a) valor mínimo: O Direito P revidenciário não tem conceito p ró p rio de im por­
tância m ínim a. Aliás, a legislação é precária q u an d o co n ceitu a o u define o objetivo
da su b stitu tiv id ad e da prestação: para a sobrevivência, real ou ideal. Sobreviver é
viver com o m ín im o e eqüivale à subsistência m en o r possível; abaixo disso a pes­
soa perece. Real é a possível, diante do sistem a, realização da receita, decorrente
da técnica co nsiderada. Ideal, a capaz de p ropiciar existência digna para a pessoa
h u m an a, aten d en d o à discrim inação de itens a serem satisfeitos, com o habitação,
alim entação, vestuário, algum tran sp o rte e lazer.
A d o u trin a n acional não enfocou precisam ente a concepção de benefício m í­
n im o em razão da determ inação constiLucional de ser o salário m ínim o, isto é,
co in cid ir com a rem uneração m ínim a. Os dois conceitos não se confundem , m as
a ausência de pesquisas de cam po e form ulação da ideia tem feito m in g u ar os es­
tudos-.
O s itens das necessidades dos ap osentados e pensionistas não são os m esm os
do trab alh ad o r em atividade, e será preciso con ceitu ar um m ínim o previdenciário
d istin to do trabalhista.
b) valor máximo: De longa data, criando expectativa psicológica desnecessá­
ria e sem q u a lq u e r sen tid o científico, a legislação ord in ária estabeleceu relação
en tre a base de cálculo da co n trib u içã o e o valor dos benefícios de pagam ento
co n tin u ad o . No p erío d o de 1973 a 1987, as im p o rtân cias m antiveram -se sep a ra­
das, g erando gran d e in co m p reen são até m esm o entre os especialistas, esq u e cen ­
do-se estes do fato de os recursos provirem da co n trib u ição e não da m edida
eco n ô m ica do fato gerador, p o d en d o , p o r co n seguinte, os benefícios ser cifrados
p o r o u tro s parâm etros, especialm ente levando-se em c o n ta o elevado n ú m ero de
tra b a lh a d o re s re c e b e n d o sa lá rio s su p e rio re s à faixa de c o rte [lim ite do salário
de co n trib u içã o ).
A qu estão ad q u iriu im portância nos anos 1986/1995, a po n to de a C F/1988
ter definido o salário de benefício (sic), n atu ra lm e n te , não lhe a trib u in d o patam ar
(pois a base de cálculo era, obviam ente, todos os m eses, lim itada a certo nível) e a
lei o rd in ária ter estabelecido relação entre as duas bases de cálculo (contribuição
e benefício) q u an d o o País enfrentava índices de inflação de até 40% ao mês! Com
isso, se criou desnecessária inconstitucionalidade.
9 2 8 . L im ites d a im p o rtâ n c ia in icial — A ren d a inicial, a exem plo do salário
de benefício, é igualm ente restringida em seus valores m ín im o s e m áxim os. Os
parâm etros são os m esm os: salário m ínim o e teto do salário de contribuição.
F o rnece-se visão singela. O auxílio-doença do co n trib u in te pelo salário m ín i­
m o seria 91% dessa base de cálculo, m as in casu terá de ser de 100%.
Q uestão ju rídica, se o salário de benefício ultrapassa o teto da contribuição,
há de ser consid erad o aquele, pois a CF de 1988 não propiciava lim ites para esse
m o n tan te. Os R$ 1.200,00 só com pareceram na EC n. 20/1998.
929. F ato r p re v id e n ciário — No final de 2009, cogitava-se da substituição do
fator previdenciário pela F ó rm u la 95 com o diferencial do direito à aposentadoria

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — ■P r e v id ê n c ia S o c ia l 795
p o r lem po de contribuição. O u seja, trocar um a técnica de cálculo p o r um critério
de concessão. Se não conflitar com a extinção constitucional da aposentadoria
proporcional (EC n. 20/1998), agirá bem o legislador se co n tem p lar percentuais
co rresp o n d en tes ao tem po de serviço. P or exem plo: 100% com 95 anos; 98% com
94 anos; 96% com 93 anos, e assim p o r d ian te até chegar 90%.
930. R enda inicial — A renda m ensal inicial resulta da m ultiplicação do sa­
lário de benefício peio percentual do benefício do segurado. Em se tratan d o da
apo sentadoria p o r tem po de contribuição, afetada pelo fator previdenciário.

C urso dl D ir e it o F h iív id e n c iá m o

796 W la d im ir N o v a e s M ar tin e z
Capítulo XC III

S a l á r io d e B e n e f íc io

931. Primeiro conceito. 932. Lei n. 9.876/1999. 933. Período básico d e


S u m á r io :
cálculo. 934. Seleção dos salários de contribuição. 935. Objetivo do legislador.
936. Filiado até 28.11.1999. 937. Benefícios atingidos. 938. Correção dos salá­
rios. 939. Média da soma. 940. Momento do fator.

O conceito do salário de benefício, especialm ente n o tocante à aposentadoria


p o r tem po de co n trib uição, a p artir de 29.11.1999, sofreu p ro fu n d as m odificações
em sua estru tu ra.
931. P rim eiro co n ceito — Salário de benefício, u sualm ente, é m édia a rit­
m ética sim ples d as bases da contribuição co n tid as n u m certo básico período de
cálculo, quantum que se presta p ara a aferição da renda m ensal inicial da prestação
em d in h eiro de pag am ento continuado.
A operação de cálculo de (nem todas) prestações p arte desse conceito. So­
m ente as de p agam ento co n tin u ad o que d ep endam de cálculo.
O salário -m aternidade relaciona-se com a rem uneração da segurada gestante,
o salário-fam ília é m o n tan te prefixado e, da m esm a form a, o abono anual.
Até ser alterado pela Lei n. 9.876/1999, ocorrido em 29.11.1999, n o m ais
co m u m d o s casos, de regra o salário de benefício consistia n u m a m édia aritm ética
sim ples dos ú ltim o s 36 salários de contribuição corrigidos m o n etariam en te, m ês a
mês, to m ando-se as m ensalidades anteriores ao afastam ento da atividade ou à data
de en trad a do req u erim ento.
D iante de falhas de contribuições no período, esses 36 m eses podiam ser
buscados em 48 meses.
A inda assim , se o seg u rad o n ão re u n isse 24 co n trib u iç õ e s, o to tal dos sa­
lário s de co n trib u iç ã o co rrig id o s d ividia-se p o r 24 (racio cín io válido para a p o ­
se n ta d o ria p o r tem p o de serviço, a p o se n ta d o ria especial e ap o se n ta d o ria p o r
id ad e).
D epois da Lei n. 9.876/1999, para o d eten to r do direito ad q u irid o — quem
p reen ch eu to d o s os requisitos legais (v. g , qualidade de segurado, carência e evento

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o l i — P r e v id ê n c ia S o c ia l
d eterm in an te) — , até 28.11.1999, a renda m ensal inicial será estim ada consoante o
PBPS, sem alargam ento do PBC nem utilização do fator previdenciário. O bservadas
a Lei n. 8.213/1991 e a E m enda C onstitucional n. 20/1998.
932. Lei n. 9 .8 7 6 /1 9 9 9 — O salário de benefício, a p artir da Lei n. 9.876/1999
sofre a influência de dois elem entos determ inantes: a) alargam ento do PBC; e b)
em prego do fator previdenciário.
Após as operações m atem áticas que substanciam as alterações, a seguir desen­
volvidas, a im p o rtân cia obtida, com a p o sterio r utilização dos percentuais próprios
de cada benefício, servirá para a obtenção da renda m ensal inicial.
933. P erío d o básico d e cálculo — Subsiste novo período básico de cálculo, é
aban d o n ad o o PBC de 36 salários de contribuição, su b stitu íd o por lapso de tem po
m aior, am pliando-se cada vez m ais com o decurso do tem po.
O p rim eiro m ês, em todos os casos (se nele o segurado teve co n trib u ição ), é
julho de 1994. A p artir daí, todo o período de contribuição.
Já o últim o rnès será o im ediatam ente an terio r ao desligam ento do trabalho
ou à data de en trada do requerim ento.
934. S eleção d o s sa lá rio s de co n trib u iç ã o — N ão são con sid erad o s todos
os salários de co n trib u ição do período contributivo. Após a atualização m onetária,
são to m a d o s ap e n as os 80% m aiores. O seg u rad o in te re ssa d o in fo rm ará todos
os salários de co n trib u içáo e o INSS selecionará os 80 m aiores.
E ntre ju lh o de 1994 e a véspera do m ês do req u erim en to , caso o segurado
ten h a falhas co n trib u tiv as, a respeito diz o art. 3e, § 2Q, da Lei n. 9.876/1999: “No
caso das apo sen tad o rias de que tratam as alíneas b, c e d do inciso I do art. 18, o
divisor considerado no cálculo da m édia a que se refere o caput e o § I a não poderá
ser inferior a sessenta p o r cento do período decorrido da com petência ju lh o de
1994 até a data de início do benefício, lim itado a cem p o r cento de todo o período
c o n trib u tiv o ”.
O § l e do arl. 24 do PBPS, n a sua redação original, previa figura assem elhada,
válida para o segurado sem contribuições em todo o período básico de cálculo:
“N o caso de ap o sentadoria por tem po de serviço, especial ou p o r idade, co n tan d o
o segurado com m enos de 24 (vinte e quatro) contribuições no período m áxim o
citado, o salário de benefício co rresponderá a 1/24 (u m vinte e quatro avos) da
som a dos salários de co n trib u ição ”.
A regra é p raticam en te a m esm a, apenas o divisor passou a ser 60, com plicado
pelo faLo de ser aferido em razão dos 80% do período básico de cálculo e que este
não é estático (crescerá um a m ensalidade a cada m ês). O divisor será o núm ero
m ínim o equivalente a 60% da q u antidade de m eses que com puserem o PBC.
Vejamos exem plos do caso m ais com um (a regra) e o das diferentes situações.
Suponha-se, nas cinco situações abaixo, n u m período contributivo ap u rad o de
ju l./1 9 9 4 a ju n ./2 0 0 4 , p o rtan to , total de 120 m eses (ou dez anos). O den o m in ad o r
n u n ca pod erá ser inferior a 60%, ou seja, para este exem plo, n u n ca inferior a 72.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

798 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
a) Caso o segurado tenha pago d u ran te os dez anos, todos os salários de co n ­
trib u ição serão corrigidos e tom ada a som a dos 80% x 120 = 96 m eses do período,
dividida p o r 96.
b) Se, p o rém , no m esm o lapso de tem po (dez an o s), tenha recolhido por
100 m eses, to d o s os salários de contribuição serão corrigidos, obtida a som a dos
salários de co n trib u ição dos 80% x 100 = 80 m eses do perío d o e dividida p o r 80.
c) Na h ipótese de, em igual lapso de tem po (sem pre dez anos), ele haja apor­
tado so m en te p o r 90 m eses, todos os salários de co n trib u ição serão corrigidos,
usada a som a dos salários de contribuição dos 80% x 90 = 72 m eses do período,
dividida p o r 72.
d) Nas m esm as condições (dez anos), se ele cotizou p o r o iten ta m eses, será
colhida a som a d o s salários de contribuição dos 80% x 80 = 64 m eses do período.
C om o o d en o m in ad o r não pode ser inferior a 60% do período deco rrid o (60% de
120 m eses = 72 m eses), e com o ele cotizou m ais de 72 m ensalidades, serão selecio­
nados os 72 m aiores salários de contribuição e sua som a dividida p o r 72.
e) F in alm en te, n u m caso extrem o, se só tiver sessenta m eses, todos os salários
de co n trib u ição serão corrigidos. O resultado da som a dos 60 salários de c o n trib u i­
ção serã dividido p o r 72, pois o d en o m in ad o r não po d e ser inferior a 60% do total
de m eses do p erío d o co n trib u tiv o (60% de 120 m eses).
9 35. O bjetiv o do leg islad o r — P retende o elaborador da no rm a ten tar fazer
su b sistir a correlação entre a contribuição e o m o n tan te do benefício, em bora possa
não ser in teiram en te alcançado esse desiderato. No curso do tem po, variaram as
alíquotas e a m édia leva em conta, n ão a contribuição, m as sua base de cálculo.
Em 2000, com o IGP-D1 su p erio r ao dos o u tro s índices, o objetivo se to rn o u m ais
distante.
De q u alq u er form a, essa intenção é reforçada com o fator previdenciário (ele
sopesa tam bém a idade e, p o r conseguinte, a esperança m édia de vida).
Tal solução n ão co n stitu i o cham ado regim e de capitalização. Trata-se de pas­
so nesse sen tid o , en tre tan to ele não é ainda atingido.
936. F iliad o até 2 8 .1 1 .1 9 9 9 — Para qu em estava filiado até 28.11.1999, a
Lei n. 9.876/1999, em seu art. 3S, fala em “m édia aritm ética sim ples dos m aiores
salários de co n trib u ição, co rrespondentes a, no m ínim o, 80% de to d o o período
co n trib u tiv o d eco rrid o desde a com petência ju lh o de 1994”.
Q u er dizer, de lodo o tem po de contribuição do PBC, após a correção m o n e­
tária dos salários de contribuição, são pinçados os 80% m aiores valores.
Em dezem bro de 1999, eram 66 salários de contribuição e foram utilizados 66
x 80 = 52,8, isto é, 52 salários de contribuição. Em dezem bro de 2000, foram 78 x
80 = 62,4, isto é, 62 salários de contribuição.
Para o filiado a p artir de 29.11.1999, com a alteração prom ovida pela Lei n.
9.876/1999, a redação é um p o u q u in h o diferente, alu d in d o à “m édia aritm ética
sim ples dos m aiores salários de contribuição co rresp o n d en tes a 80% de todo o
período co n trib u tiv o ”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o If — P r e v id ê n c ia S o c ia l 799
937. Benefícios atingidos — O período básico de cálculo criado pela Lei
n. 9.876/1999, será u tilizado para todos os benefícios calculados com uns ou aci-
den tário s (aposentadoria por idade, especial, p o r tem po de contribuição, auxílio-
doença, apo sen tad o ria p o r invalidez e auxílio-acidente).
Ele não será utilizado para o salário-fam ília ou o abono anual, prestações de
valor arbitrado previam ente nem para o salário-m aternidade (na m aioria dos casos,
com o se verá adiante, consistente na rem uneração m ensal da m ulher).
938. Correção dos salários — Os salários de contribuição são atualizados.
C orreção m o n etária é operação que não tem m u ito a ver com a substância da
im p o rtân cia resultante. Trata-se de sim ples atualização do valor nom inal; após a
restauração, passa a ser real.
Por esse m otivo, todos os salários de contribuição do PBC (p o r exigência
con stitu cio n al) restam corrigidos para, depois, serem escolhidos os 80 m aiores.
Tanto q u an to na legislação anterior, em virtude de o salário de benefício ser
resu ltan te de m édia aritm ética sim ples, é im prescindível totalizarem -se todos os
salários de co n trib u ição do PBC para, em seguida, dividir-se pelo nú m ero de m eses
considerados e obter-se a aludida m édia.
939. M édia d a so m a — M édia da som a, expressão m atem ática, é o resultado
da p rim eira p arte do cálculo do salário de benefício. A segunda, resultará da adoção
do fator previdenciário.
A im p o rtân cia en contrada não poderá ser m enor do que R$ 678,00 nem u ltra­
passar R$ 4.159,00 (g ritante im propriedade técnica). N úm eros de 2012.
Vale lem brar, o art. 29, I, do PBPS que diz: ‘‘m édia aritm ética sim ples, dos
m aiores salários de co n tribuição corresp o n d en te a 80% de todo o período c o n tri­
butivo, m ultiplicado pelo fator p revidenciário”.
Prim eiro, será preciso en c o n tra r a m édia, depois m ultiplicar o resultado pelo
fator previdenciário para, som ente então, ser observado o lim ite de R$ 3.218,90.
940. M o m en to d o fa to r — O fator previdenciário, adiante explicitado, será
usado em relação à m édia aritm ética sim ples dos 80 m aiores salários de c o n trib u i­
ção do segurado.
Com o fator previdenciário, finalm ente, obter-se-á o m o n tan te do salário de
benefício. Então, é chegado o m om ento de operar-se o percentual próprio de cada
prestação.
Na ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição, 70% para m ulheres com 25
anos de serviço e hom ens com 30 anos de serviço, m ais 5% a cada ano, nos term os
da EC n. 20/1998. Na aposentadoria p o r idade, 70% + 1% por ano de contribuição.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

800 W ía d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo XCIV

F a t o r P r e v id e n c iá r io

S u m á r i o : 941. Definição fundamental. 942. Fórmula matemática. 943. Tempo d e


contribuição. 944. Expectativa de sobrevida. 945. Benefícios abrangidos. 946.
Conseqüências mediatas. 947. Perdas e ganhos. 948. Cálculos do fator. 949.
Implantação gradual. 950. Constitucionalidade da Lei n. 9.876/1999.

P ossivelm ente, te n ta n d o resgatar u m lim ite de idade n ão alcançado qu an d o


do trâm ite da EC n. 20/1998, u m ano depois, a Lei n. 9.876 /1 9 9 9 in tro d u ziu um
elem en to q ue afetou o valor da ap o se n ta d o ria por tem po de co n trib u içã o (e facul­
tativ am en te da ap o sen tad o ria p o r idade) e fadado a d esap arecer no final d e 2009:
o fator previdenciário.
941. D efinição fu n d a m e n ta l — O fator previdenciário é nú m ero decim al, em
cada caso m en o r ou m aior do que 1 (um ). Foi adotado esse título p o rq u e m odifica
a definição do salário de benefício. M ultiplicado pela m édia dos salários de co n tri­
buição co n tid o s no PBC, resulta no salário de benefício.
F u n d am en talm en te, tenta estabelecer u m a correspectividade entre a c o n tri­
buição e o benefício. Tam bém visa evitar distorções do m odelo an terio r e se ap ro ­
xim ar do regim e financeiro da capitalização.
Ele expressa co n ju n to de d ados biom étricos do segurado, ligados à sua vida
pessoal, profissional e previdenciária, deduzido n u m a fórm ula m atem ática.
942. F ó rm u la m atem ática — A fórm ula m atem ática é ex teriorizada como:
_ TC X 0,31 í ID + (TC X 0,31) 1
F =— 2 X 1+ 1— — 1
-

ES [ 100
São três variáveis, núm eros pessoais de cada segurado: a) ID — idade; b) TC
— tem po de co n trib u ição; e c) ES — expectativa de vida.
E n tende-se p o r idade do segurado o tem po fracionado q u an d o da aposenta-
ção. A p rin cíp io , q u em possuir, p o r exem plo, 54 anos, 7 m eses e 10 dias, o núm ero
co rresp o n d en te será 54,6029. E m bora a lei não faça distinção (e possa provocar
discussões), as tábuas de m ortalidade são elaboradas tom ando-se anos inteiros e
não fracionados.

C u rso dv. D ire ito P re v id e n c iá rio


T o m o II — P re v id ê n c ia S o c ia l
801
Tempo de contribuição, os seus anos de pagam ento das m ensalidades. Período
d u ran te o qual verteu ou deveria ter vertido contribuições para a previdência social.
O em pregado, tem porário, avulso ou servidor sem regim e próprio, eviden­
ciam esse tem po de co n tribuição beneficiando-se da p resunção do desconto e do
reco lhim ento da exação (PCSS, art. 33, § 5Q). Basta exibir a CTPS devidam ente
anotada ou fazer valer os registros do CNIS.
Significa só ter de provar o tem po de serviço (então, en ten d id o com o de c o n ­
tribuição).
O co n trib u in te individual e o facultativo d em o n stram esse tem po de c o n tri­
buição pelos d o cu m en tos h abituais e, agora, com ênfase para a GPS.
Para o dom éstico, a confirm ação do tem po de contribuição se faz com CTPS,
a GPS ou o CNIS do INSS.
9 43. T em po de co n trib u içã o — A p artir da EC n. 20/1998, so m en te o tem po
de contribuição. N ão haverá mais tem po de serviço. A questão não está pacificada
na dou trin a. Para alguns, so m en te após a regulam entação, por via de lei com ple­
m entar, u m critério su b stitu iria o outro, não sendo suficiente a regulam entação
adm inistrativa (P ortarias MPAS n. 4.882/1998, 4.883/1998 e 4.992/1999 e O rdem
de Serviço INSS/DSS n. 619/1998).
Tempo de serviço (ao qual nem sem pre corresponde o trabalho rem unerado),
m elh o r in titu lad o “tem po de filiação”, abriga o tem po de contribuição, aquele sem
pagam entos, o em gozo de benefício p o r incapacidade, o do serviço m ilitar e o
pró p rio tem po de serviço (trabalho), bem com o os períodos fictícios (40% da c o n ­
versão na ap o sen tad o ria especial, acréscim o do em barcado, em dobro, de licença-
-prêm io etc.).
C onceitualm ente, o tem po de contribuição gera a obrigação fiscal de recolher
contribuições.
944. E x p ectativ a de so b rev id a — Expectativa de sobrevida é o tem po q u e os
atuáríos, dem ógrafos ou estatísticos pressupõem ser estim adam ente o período a ser
vivido após a aposentação.
É obtido de tábuas biom étricas, conform e o D ecreto n. 3.266/1999, que dita:
“Para efeito do disposto n o § 7e do art. 29 da Lei n. 8.213, de 24 de ju lh o de 1991,
com a redação dada pela Lei n. 9.876, de 26 de novem bro de 1999, a expectativa
de sobrevida do segurado n a idade da aposentadoria será obtida a p artir da tábua
com pleta de m ortalidade para o total da população brasileira, co n stru íd a pela F u n ­
dação In stitu to Brasileiro de G eografia e E statística — IBGE, considerando-se a
m édia nacional única para am bos os sexos” (art. 1E).
A prim eira tábua de m ortalidade foi adotada p o r um ano. Diz o art. 2a do m es­
m o Decreto n. 3.266/1999: “C om pete ao IBGE publicar, an u alm en te, no prim eiro
dia útil de dezem bro, no Diário Oficial da U nião, a tábua com pleta de m ortalidade
para o total da população brasileira referente ao ano anterior. Parágrafo único. Até
quinze dias após a publicação deste D ecreto, o IBGE deverá publicar a tábua com ­
pleta de m o rtalid ad e referente ao ano de 1998”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

802 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A Resolução FIBGE n. 1, de 30.11.1999, em seu anexo, publicou a “T ábua
C om pleta de M ortalidade — am bos os sexos — 1998” (in DOU d e I a. 12.1999).
A fórm ula do fato r previdenciário tem u m a constante. A bstraindo o núm ero 1
(u m ) e o n ú m ero 100 (cem ), que dela fazem parte, som ente um a: 0,31.
Grosso m odo, foi escolhido 0,31 p o r sim ples convenção m atem ática. A ju stifi­
cativa, para se atin g ir o resultado desejado: seria a som a da contribuição patronal
(20% ) + alíq u o ta m áxim a do em pregado (11% ) = 0,31%. Na verdade, a c o n tri­
buição p atro n al varia b astante e os 11% não refletem a taxa m édia dos segurados.
E squecendo-se do seguro de acidentes do trabalho, de m odo geral, a alíquota não
expressa a contribuição.
945. Benefícios abrangidos — O fator é utilizado, em princípio, para a ap o ­
sen tad o ria p o r tem po de contribuição e, em casos excepcionais, n a aposentadoria
p o r idade. Para as dem ais prestações calculadas (auxílio-doença, aposentadoria
p o r invalidez, ap o sen tad o ria especial, pensão p o r m orte, auxílio-reclusão e auxí-
lio -acid en te), não será utilizado. E, é claro, nos tarifados, com o salário-fam ília e os
sem cálculo, com o o salário-m aternidade e abono anual.
946. Conseqüências mediatas — Por com paração com o sistem a anterior, de
m odo geral, a aplicação do fator reduz a renda m ensal inicial, obrigando o segura­
do a se retirar com idade avançada ou com m ais tem po de contribuição.
Caso faleça ap ó s ter-se aposentado sob a vigência e a aplicação da Lei n.
9.876/1999, a p ensão por m orte será ap u rad a com base no benefício e, então, os
efeitos serão os m esm os, isto é, de 100% da ap o sen tad o ria m aior o u m enor, c o n ­
form e o caso. Igual conclusão vale para o auxílio-reclusão.
A P revidência Social p reten d e obter algum resultado. Tecnicam ente, o MPS
p en sa n u m a correlação entre a contribuição e a prestação m ais ju s ta q u e o sistem a
an terio r (beneficio previam ente definido), não desco n h ecen d o que m uitas pessoas
solicitarão a apo sen tadoria proporcional com valores m enores.
947. Perdas e ganhos — De m odo b astante geral, quem disp u ser de tem po de
co n trib u ição acim a de 40 anos o u estiver com idade avançada, ganha com o fator.
Para esse fim, tem po de contribuição elevado com idade m édia o u idade avançada
com tem po de co n tribuição m édio se eqüivalem .
N um a palavra, o trab a lh ad o r m édio ju b ila n d o -se bem m ais tarde terá v an ­
tagens.
De form a sim ples: qu em co n trib u iu p o r tem po suficiente acu m u lo u capi­
tais m o n tan tes e pode u su fru ir de m ensalidade relativam ente alta; p o r outro lado,
q uem tem idade avançada viverá m enos e, destarte, tem condições de o bter m o n ­
tan te igualm ente alto.
Sob p o n to de vista da rem uneração m édia são favorecidos os segurados pos­
tados, grosso modo, ap ro x im ad am en te entre R$ 800,00 e R$ 2.000,00. Nesses
casos, se o fator for su p e rio r a 1 (u m ), o resultado ficará abaixo dos R$ 4.159,00,
to rn an d o -se factível.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
803
Há quem perca com o fator. Em p rim eiro lugar, os segurados req u eren tes da
aposentadoria proporcional, p rin cip alm en te quem se ju b ila r precocem ente, com
pouco tem po de co n trib uição ou baixa idade.
Em função da rem uneração m édia, são prejudicados, sem pre em term os ge­
rais, os que auferem abaixo de R$ 800,00 e acim a de R$ 2.000,00 (valores escolhi­
dos aleatoriam ente).
O s segurados com a rem uneração m édia abaixo de R$ 800,00 não costum am
ter qualificação profissional, em m u ito s casos trabalham na inform alidade e não dis­
põem de tem po de contribuição com provados na CTPS. C om parâm etros m ais ele­
vados, estando abaixo do lim ite de R$ 4.159,00, poderiam ter m ensalidades maiores.
Segurados com a rem uneração m édia acim a de R$ 2.000,00, frequentem ente
têm o tem po de co ntribuição com provado, m as deixarão de ganhar, caso se ap o ­
sen tem tardiam ente, p orque o teto lim itará o acréscim o, de m odo a não su p erar
os R $ 4 .1 5 9 ,0 0 .
M esm o com 0 b ô n u s de cinco anos, a m u lh e r perde mais. Para que isso não
aconteça teria de haver adução para sua idade. M ulher com 25 anos de serviço,
m esm o com o plus de cinco anos, geralm ente tem idade m enor.
À exceção do bôn us da m u lh er (cinco anos), da professora (dez anos) e do
professor (cinco an o s), o fator é o m esm o para am bos os sexos.
Ele é de utilização nacional. N ào faz distinção en tre estados ou m unicípios,
vale para todo o Brasil.
Os segurados do RGPS, isto é, os trabalhadores da iniciativa privada são os
destinatários. O s servidores públicos estão excluídos. A Lei n. 9.876/1999 não se
destina aos servidores públicos federais, estaduais, d istritais ou m unicipais nem
para os parlam entares ou m ilitares.
Ex-servidores p ú blicos po sterio rm en te filiados ao RGPS serão atingidos. Por
via de contagem recíproca de tem po de serviço (PBPS, arts. 94/99), se a segunda
aposentadoria oco rrer ju n to ao INSS, eles se subm eterão ao (ator. Ao contrário,
se sem pre foi celetista e se apo sen tar com o servidor, nesse caso, subm eter-se-á às
regras p ró p rias do regim e do servidor.
Servidor apo sen tado, tam bém filiado ao RGPS, ao o bter o segundo benefício,
será afetado pelo fator, in casu, será tido com o trab alh ad o r da iniciativa privada.
Inclui o o cu p an te de cargo em com issão. Ele é segurado do RGPS.
Q uem tem direito adq u irid o estará excluído do sistem a. Na hipótese da Lei n.
9.876/1999, o favorecido poderá o p tar pelo fator. C o n tin u a n d o a trabalhar, se com
o fator o benefício resu ltar m aior tam bém poderá o p tar p o r ele.
948. C álcu los d o f a to r — Suponha-se segurado com 30 anos de contribuição
e 50 anos de idade, com esperança de sobrevida de 22,8 anos.
Os cálculos serão:
F = 0,4078 x 1, 623 = 0,6618

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

804 W la d im ir N o v a ts M a r íin c e
N o u tro exem plo, hom em com 35 anos, 6 m eses e 25 dias de contribuição e 53
anos, 3 m eses e 20 dias de idade, com esperança de vida de 25,20.
35,56 X 0,31 50,30 + (35,56 X 0 ,3 1 )
F = --------------------------X 1+
25,2 100

F = 0,4 3 6 7 4 x 1,6132 =
F = 0,7056
O cálculo de m ulher, com 25 anos de serviço e 48 anos de idade, será:
— 25 + 5 an o s (bônus) = 30 anos
— expectativa de sobrevida = 26,8 anos
— idade = 48 anos
30 X 0,31 48 + (30 X 0,31)
- X 1+
26,8 100
F = 0 ,3 4 7 0 x 1,573 =
F = 0,5558
Os anos, m eses e dias tam bém têm de ser percentualizados. Exem plo: quem
tem 30 anos, 8 m eses e 22 dias, fará a seguinte conta:
8 x 30 = 240 + 22 = 262 dias
262 d ividido p o r 365 = 0,7178
30,0000 (30 anos) + 0,7178 (8 m eses e 22 dias) = 30,7178
Para to rn a r p o liticam ente viável a aprovação do projeto de lei, foi in stitu íd o
acréscim o para a m ulher, a professora e o professor. Para a m ulher, cinco anos; o
professor tem cinco anos; e a professora, dez anos.
Feitos os cálculos, se a renda m ensal inicial u ltrap assar o lim ite dos benefícios
ficará ad strita àquele valor.
949. Im p lan taç ão g ra d u al — H om em com um fator de 0,7000, em dezem br
de 1999, se deixou para req u erer o benefício depois, não teve o valor dim inuído
0,5% p o r m ês, e em dezem bro de 2004, p o r exem plo, p erd eu 30%.
A regra de transição gradual, a seguir exam inada, não diz isso, porque em
dezem bro de 2004, ele adicionou cinco anos de contribuição e cinco de idade. Seu
fator seria 0,8446, p o rtan to , a redução será de 0,15%.
Legalm ente, o fator previdenciário en tro u em vigor no dia 29.11.1999, m as
não o efeito total da fórm ula. Ele to rn o u -se integral cinco anos depois, isto é, em
dezem bro de 2004.
Até então, aplicava-se gradual e sucessivam ente, in tro d u zin d o -se 1/60 (um 60
avos) p o r mês. Isto é, o resultado da fórm ula só teve eficácia total 60 m eses após a
publicação da Lei n. 9.876/1999. E xatam ente em dezem bro de 2004.
Isso aco n teceu p o r m otivos políticos. A solução alvitrada to rn o u possível a
aprovação do p ro jeto de lei no C ongresso N acional.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o II — P revidência S ocial 805


No art. 59 da Lei n. 9.876/1999, colhe-se: “Para a obtenção do salário de b en e­
fício, o fator previdenciário de que trata o art. 29 da Lei n. 8.213, de 1991, com a
redação desta Lei, será aplicado de form a progressiva, in cid in d o sobre um sessenta
avos da m édia aritm ética de que trata o art. 3e desta Lei, p o r m ês que se seguir a
sua publicação, cu m ulativa e sucessivam ente, até com pletar sessenta sessenta avos
da referida m éd ia”.
Na hipótese do fator ser 0,7000, p o r com paração, com renda m ensal inicial
reduzida 30%, se solicitou o benefício em dezem bro de 1999, sua perda real foi de
R$ 5,01.
A plicar-se-á a fórm ula:
SB = (f. x. m ) + m. (60. x), em que:
f = fator previdenciário;
x = nú m ero equivalente à com petência a partir de nov./1999; e
m = m édia aritm ética sim ples dos salários de contribuição.
N esse caso, a perda foi de 1/60 x 30% = 0,5%. Isto é, se a m édia do novo p e­
ríodo básico de cálculo resu ltar em R$ 1.000,00, a m ensalidade será de R$ 994,99.
Perdeu, p o r com paração, in casu, apenas R$ 5,01.
Q u an d o exatam ente a m esm a pessoa, acim a descrita, requereu o benefício em
janeiro de 2000, então (se não alterou efetivam ente os seus parâm etros pessoais),
a dim in u ição foi de 2/60 x 30% = 1,0%. C om a m édia do exem plo anterior, a renda
m ensal inicial som ou R$ 989,99.
Sob esse aspecto, q uem tem o fator acim a de 1 (u m ), com o qual ganharia com
o sistem a, em razão da redução m ensal da im plantação gradual, perdeu.
Provavelm ente, faltará am paro legal para a pretensão. H ouve cochilo do legis­
lador para prever a hipótese.
950. C o n stitu c io n a lid a d e da Lei n. 9 .8 7 6 /1 9 9 9 — D eslindar a constitucio-
nalidade da lei que in tro d u ziu o fator previdenciário é q u estiú n cu la polêm ica na
d o u trin a entre os estudiosos. Em apertada síntese, tendo em vista a desconstitu-
cionalização do cálculo da renda m ensal inicial, a m enção ao equilíbrio atuarial e
financeiro, bem com o o fato de o preceito regente alu d ir a “na form a da lei” (art.
201 da C F), a Suprem a C orte teve de en ten d er com patível com a C arta M agna.
Desde 16.12.1998, o em en d ad o r co n stitu cio n al não m ais q u er regrar o cál­
culo dos benefícios, ju lg a n d o ser tarefa da lei ordinária e, para isso, com eteu essa
atribuição ao elab orador da norm a com um .
a) Desconstitucionalização do cálculo: C om isso, desconstitucionalizou a m en-
suração do valor das prestações e, respeitados o direito ad q u irid o e o ato ju ríd ico
perfeito, observado o bom -senso, a lei ord in ária p o d e m odificã-lo.
b) Utilização de todo o período básico de cálculo: Do po n to de vista m atem ático-
-financeiro, aferição baseada em to d o o período co ntributivo do segurado é m ais
adequada, m áxim e se ela se referir aos benefícios program ados.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

806 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
c) Benefícios imprevisíveis: Já não será tão ju sto nem equânim e ou ficará dis­
tan te da solidariedade social m atizadora da previdência social se tam bém valer
para os benefícios im previsíveis, com o aconteceu com a Lei n. 9.876/1999.
d) Retroação do período básico de cálculo: A retroação do PBC a ju lh o de 1994
nào é in co n stitu cio n al p o rq u e a m atéria foi delegada ao legislador ordinário, m as
de q u alq u er m o d o afeta preteritam ente a aferição das prestações de pagam ento
co n tin u ad o . E, p o r isso, sujeita-se a críticas e será contestada.
Ju rid icam e n te , deverá ser su sten tad a porque só quem tem direito adquirido
fica à m argem de m udanças.
e) lrredutibilidade dos benefícios: O art. 194, parágrafo ún ico , IV, da Lei Maior,
garante a irred u tib ilidade do valor dos benefícios, depois de concedidos. Inexiste
nesse dispositivo q u alq u er com ando preservando a consolidação da legislação a n ­
terio r e seria im utável q u an d o definisse as m ensalidades dos benefícios.
f ) Equilíbrio atuarial efinanceiro: O art. 201 da Lei M aior diz que “A P revidên­
cia Social será organizada sob a form a de regim e geral, de caráter co ntributivo e de
filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial, e aten d erá, nos term os da lei, a...”.
Trata-se de notável disposição, in sculpida n o prim eiro artigo que disciplina a
previdência social básica, flanqueando enorm e leque de opções para o legislador
ordinário. O co nceito terá de ser trabalhado pela d o u trin a até consolidar-se n u m
p rin cíp io dos m ais im portantes.
N ada o b stan te as expectativas ou p retensões subjetivas da p o p ulação obreira,
m eritó rias e ju stificad as no cenário econôm ico e social atu al, agudizadas pela ter­
ceirização, info rm alidade e desem prego re n iten tes, o arcabouço d esen h ad o pela
EC n. 2 0 /1 9 9 8 é de sistem a previdenciário v islum brando regim e financeiro h í­
b rid o , de quase capitalização (n u m prim eiro m o m en to , co n sid era m ais o tem po
de co n trib u ição e só m ais tarde, q u an d o o PBC for de 30 ou 35 anos, sopesará o
nível de co n trib u ição ) e de repartição sim ples (especialm ente para os benefícios
im previsíveis).
g) Futuro do fa to r previdenciário: É difícil p rognosticar o futuro do fator p re­
videnciário. C om o p ro d u zirá inconform idades e insatisfações, gerará divergências
e perplexidades. P ena não ter sido debatido no seio da sociedade e entre os espe­
cialistas. O p ro jeto de lei transitou celerem ente p o r noventa dias no C ongresso
N acional, sem grandes discussões sobre sua propriedade ou busca de alternativas.
Provavelm ente, é sem ente no cam inho da capitalização.
E xperiência d estinada a p ro d u zir frutos, en co n trará grande resistência e, a
final, será su b stitu íd o assim que enco n trad o o necessário equilíbrio das contas do
INSS. Sua baixa so lidariedade acabará p o r condená-lo nu m m odelo m ais ju sto e
pró p rio da previdência social.

C urso d l D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II —- P r e v id ê n c ia S o c ia l 807
Capítulo XCV

A specto s N e g a t iv o s

951. Origem espúria. 952. Pressuposto insustentável. 953. Contribui­


S u m á r io :
ção e mensalidade. 954. Unissexualidade dos segurados. 955. Distinções regio­
nais. 956. Constante 0,31- 957. Limite de valor. 958. Tábua de mortalidade. 959.
Regra de transição. 960. Seguro-desemprego.

O fator previdenciário tem nuanças positivas an terio rm en te ressaltadas ( “As­


pectos Positivos do F ato r P revidenciário”, in Jo rn al do 26s C ongresso de Brasileiro
de Previdência Social, São Paulo: LTr, 2007, p. 40), entre as quais a de propiciar
um lim ite de idade pessoal e de estabelecer certa correlação entre a contribuição, a
expectativa de vida do segurado e o quantum da renda inicial.
Ju lg an d o p o d er aperfeiçoá-lo, são exam inados os seus aspectos negativos.
Kaizô Beltrão chega ao extrem o: “O fator previdenciário é um arrem edo de cálculo
atuarial. N enhum atuário considera o fator previdenciário criado em 1998 um a
fórm ula adequada para calcular a aposentadoria" (“Especialista critica fator previ­
denciário para serv id o r p u b lico ”, in F olha O nline de 5.2.2003).
Não escapa de n in g u ém que a despeito das perdas havidas pelos segurados
que se aposentam precocem enle, às vezes, forçados por circunstâncias adversas
do m ercado de trabalho, boa parte da resistência à ideia deveu-se a sua pequena
com plexidade m atem ática.
Para que a F ó rm ula 95 tivesse algum sucesso ju n to ao grande público, a ex­
pressão (x/y + zXlKjK.K^j = 95 anos, foi su b stitu íd a p o r x + y = 95 anos. O u seja,
poucos estudiosos do D ireito Previdenciário gostam de aritm ética.
M as existem o u tro s ângulos. Flávio Bento considerou aspectos econôm icos,
lem brando a opinião de alguns, de q u e o fator previdenciário reteria as pessoas
nos em pregos e não prom overia um a desejável rotatividade de m ão de obra ( “F a­
to r Previdenciário: considerações sobre sua C o n stilu cio n alid ad e”, São Paulo: LTr,
jo rn a l do 139 C ongresso Brasileiro de Previdência Social, 2000, p. 48).
951. O rigem e sp ú ria — Ao in tro d u zir o fator previdenciário, o legislador de
1999 n ão d em o n stro u estar tão interessado na relação entre o tem po de c o n tri­
buição e o valor do benefício, o m aior m érito dessa iniciativa técnica. Ele te n to u

C urso de D ir f jt o P r e v id e n c iá r io

808 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
estabelecer um a disposição ju ríd ica o m ais co n stitu cio n al possível capaz de resga­
tar o lim ite d e idade perdido qu an d o da tram itação n a C âm ara dos D eputados, em
ju n h o de 1998, da E m enda C o n stitu cio n al n. 20/1998 (em relação à aposentadoria
in teg ral p o r tem po de co n trib u ição ), que seria a dos servidores: 60 anos para os
h o m en s e 55 anos para as m ulheres.
C om b in ad o com u m novo período básico de cálculo (80% m aiores salários
de co n trib u ição desde ju lh o de 1994), evidentem ente essa solução é su p erio r a um
sim ples lim ite de idade n u m País co n tin en tal tão desigualado em suas condições
socioeconôm icas.
No afogadilho na busca p o r u m sucedâneo do lim ite de idade, o P oder Exe­
cutivo, au to r do P rojeto de Lei, centrou-se no escopo desejado — adiar o requeri­
m en to e a concessão dos benefícios p o r parte dos segurados — ju lg an d o que isso
seria suficiente para o bter o equilíbrio atuarial e financeiro do RGPS.
Sergío Ferreira Pantaleâo sim plifica essa visão: “n a m edida em q u e o benefício
apresenta u m a expectativa de vida m aior, ou seja, q u an to m aior a experiência de
vida do segurado m en o r o valor do benefício” ( “F ator P revidenciário — O que
fazer se o cálculo não for o esp erad o ?”, disponível na internet, em 15.8.2009).
Q uem elaborou esse estudo técnico deve ter recebido u m pedido para co n s­
tru ir fórm ula m atem ática que desestim ulasse a ap o sen tad o ria precoce e incen­
tivasse a situação desejada pelos atuários q u e buscam o equilíbrio do plano de
benefícios: h o m en s com m ais de 60 anos de idade e aproxim adam ente de 40 anos
de co n trib u ição , q u e propicia um fator previdenciário igual a 1.066, pouco m aior
do q u e u m e que eqüivaleria aos 100% do salário de benefício do m étodo anterior.
Sendo certo, com o afirm a Fabio Giambiagi, que em razão dos 80% m aiores
salários de co n trib u ição, o segurado pode ter um ganho real, para isso bastando
ter 58 an o s de idade e 40 de tem po de contribuição ( “O F ator P revidenciário”,
disponível in C lipping de 29.6.2009).
De igual m al padece o reen co n tro da nossa F órm ula 95, desengavetada para
en fren tar a su b stitu ição do fator previdenciário e não p o r conta de suas virtudes
técnicas, ja m a is apreciada em sua totalidade e agora desprezando olim picam ente o
“Y”, que é o resgate da inform alidade dos hipossuficientes.
952. Pressuposto insustentável — P or ocasião dos debates conhecidos com o
Reform a da Previdência Social, que acabaram sendo apenas m udanças na ap o se n ­
tadoria p o r tem po de serviço, os parlam entares n ão cogitaram de p erq u irir tecni­
cam ente se a ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição (que passou a ser o título e
a essência dessa prestação) deveria ser m antida n o RGPS. Hoje, ao lado do B runei,
o Brasil é o ú n ico País do m u n d o a praticá-la com o concebida na LOPS (Lei n.
3.807/1960).
Para isso, aliás, pouco im porta que ela não dê co b ertu ra a q u alq u er risco se-
cu ritário (u m a in trig an te preocupação dos filósofos do D ireito Previdenciário, m as
não dos técnicos).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I — P r e v id ê n c ia S o c ia l 809
Tam bém não se considerou que ela é benefício elitista r cujo defeito essencial é
corrigido pela F órm ula 95 ( “A F órm ula 95 ao alcance de to d o s”, São Paulo: ABRA­
PP, Revista do XIV C ongresso Brasileiro dos F undos de Pensão, 1993, p. 64/71).
O interesse m aior foi agradar politicam ente os co n trib u in tes da previdência
social, sem so lu cio n ar os problem as trazidos à colação. N aquela ocasião e m esm o
agora em 2009, os elaboradores da norm a não têm ousadia de p en sa r em extinguir
esse benefício.
E note-se que a exigência dos 55 e 60 anos de idade para os servidores está bem
próxim a disso (EC n. 41/2003), ainda que bastante aliviada pela EC n. 47/2005.
Os técnicos da Previdência Social brasileira têm um desafio: conviver a ap o ­
sen tad o ria p o r tem po de contribuição sem lim ite de idade com u m seguro-desem -
prego incom patível com as necessidades defluentes das condições socioeconôm i-
cas do Pais.
M ais cedo ou m ais tarde eles terão de rever essa posição e reapreciar o benefí­
cio, co n cen tran d o -se na aposentadoria p o r idade. Q ue, um dia, tam bém deixará de
ser os atuais 65 anos e chegará a 70 anos (art. 9Q da Lei Estadual n. 13.549/2009,
que disciplina a C arteira de Previdência dos A dvogados Paulistas), com o fazem 98
países do planeta.
Na o p o rtu n id ad e, p o r falta de estudos consistentes e do animus necessário,
o G overno Federal não quis sequer cogitar de u m am plo debate nacional sobre o
direito das m ulh eres de se ju b ila ram cinco anos antes que os ho m en s e, além disso,
viverem uns sete anos mais.
Se as seguradas das classes C e D fazem ju s a essa com pensação em face de
sua dedicação à criação de riquezas em co n trap artid a não rem uneradas, o m esm o
não se pode d izer das m u lheres das classes A e B.
953. C o n trib u iç ão e m e n sa lid a d e — A prim eira das constantes da fórm ula
do fator previdenciário é o tem po de contribuição do segurado (Tc), configurada
u m ano depois que a C arta M agna foi m odificada e pôs fim ao tem po fictício, m as
m anteve o direito à contagem recíproca de tem po de serviço.
Significa dizer os salários de contribuição de períodos de trabalho transpor­
tados dos RPPS para o INSS até ju n h o de 1994, h ip o teticam en te dele fazem parte,
ainda que a base de cálculo lenha sido o salário m ínim o e p ro d u z in d o efeitos na
ren d a inicial do segurado, com o se fossem os salários de contribuição do período
básico de cálculo (Lei n. 9.876/1999).
Essa variável diz respeito aos form alizados, ou seja, m etade da população
obreira do País e sem q u alq u er p resunção a favor dos m enos assistidos, que m oram
pessim am ente, se vestem p obrem ente, alim entam -se precariam ente, se tran sp o r­
tam sem dignidade e vivem m enos que os outros.
954. U n issex u a lid ad e dos seg u rad o s — Sem em bargo de acrescer 5% ao tem ­
po de co n tribuição da m u lh er e do professor e 10% para a professora, m as sem um
plus para a idade dos m esm os, o fator adota um a tábula de m ortalidade unissexual.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

810 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
N ão d esconhecendo que a m u lh er vive em m édia cerca de sete anos mais dos
que os hom ens, a referência à expectativa de vida do IBGE é igual para os dois sexos.
A atitu d e do C ongresso N acional foi expressão pública do m achism o nacio­
nal, receoso de ofen der a m u lh er com um fator previdenciário ainda m en o r para
as seguradas. E p erd er os seus votos.
955. D istin çõ es re g io n a is — Sabendo o legislador que a esperança m édia de
vida d o s h ab itan tes da região nordeste do País é de 10 anos inferior aos da região
su d este, e q ue existem estados em que a diferença chega aos 12 anos, não é d em o ­
crática u m a p ro p o sta que ignore as condições socioeconôm icas nacionais e não
nivele os coestaduanos.
956. C o n sta n te 0,31 — Tendo em vista que n e n h u m estudo poderia c o n ­
clu ir que a co n trib u ição nacional m édia chegaria aos 0,31% , é incom preensível
sua adoção. E xcetuado se foram tabuladas as centenas de hipóteses de c o n trib u i­
ção pessoal e patronal e as dezenas de figuras de sub stitu ição das alíquotas e fatos
geradores (en tid ad es beneficentes de assistência social, clube de futebol, produção
rural e Sim ples NACIONAL).
A p aren tem en te, sem co nhecer os m eandros do cálculo operados, essa co n s­
tante 0,31 lem bra os 20% (p atro n ais) + 11% (pessoais) = 31%. Se isso for verdade
e ad o tad o na com posição da fórm ula ela é fora de propósito.
Ao co n trário desse ju ízo , José Leandro Monteiro de Macedo afirm a que to m an ­
do tais 20% + 1 1 % = 31% do art. 22 do PCSS, q u e é contribuição das classes A e B,
isso ajudaria as classes C e D ( “O novo critério de cálculo dos benefícios p reviden­
ciários do Regime Geral de P revidência Social intro d u zid o pela Lei n. 9 .876/99”,
in RPS n. 179/113).
957. L im ite d e v alo r — Tendo em vista q u e a essência m atem ática da fórm ula
era estabelecer um a correlatividade entre a contribuição e o benefício em face da
esperança m édia d e vida do trabalhador, portan to , um a concepção que observaria
o p rin cíp io co n stitu cio n al do equilíbrio atuarial e financeiro do plano de benefícios
da previdência social — oferece m ais a quem vive m enos e m enos a qu em vive m ais
— é d estitu íd o de sen tid o lógico observar o lim ite do salário de contribuição. Dito
isso sem se olvidar que o teto do RGPS tem previsão constitucional.
Para q u em co n trib u iu pelo lim ite do salário de conLribuição ou próxim o dele
d en tro do p erío d o básico de cálculo e tem idade avançada o u suficiente tem po de
serviço p ara que o fator seja su p erio r a 1 (u m ) e a ren d a inicial calculada venha
a ultrap assar o atu al teto de R$ 4.159,00, m atem ática, técnica e ju rid icam en te
não há p o r que não pagar benefícios acim a desse leto. Esse segurado não estaria
o fendendo q u alq u er postulado atuarial nem jurídico e nào prejudicaria q u alq u er
ordem do sistem a.
958. T áb u a de m o rta lid a d e — A escolha do censo do IBGE é inadequada. Ele
reflete a pop u lação brasileira e não a clientela protegida. Passados 86 anos desde
a Lei Eloy M arcondes de M iranda C haves (D ecreto Legislativo n. 4.682/1923), o
INSS deveria p o ssu ir sua própria tábua de m ortalidade.

C urso d e D i r f .i t o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 811
Aliás, para isso, n in g u ém dispõe da estatística necessária m elh o r do q u e a do
banco de dados da DATAPREV
Sendo certo que era um a exigência dos m atem áticos, em 1999, sabia-se que
essa tábua biom étrica específica não existia, m as a Lei n. 9.876/1999 poderia ter
program ado sua feitura a posteriori.
A propósito Newton C ézar Conde e Ivan Sa n tA n a Fernandes lem bram que: “O
prim eiro passo é a escolha da população envolvida, ou seja, a tábua se baseará na
experiência de um País, de u m grupo de em presas, de entidades de previdência,
de co m p an h ias seguradoras etc. Em seguida, será definido o período em que as
inform ações serão coletadas, cham ado de período estatístico, que po d e variar de
cinco a dez anos, geralm ente” ( “A tuaria para não atu ário s”, São Paulo: ABRAPP/
Sindapp, 2007, p. 22).
939. R egra de tran siçã o — Em face de u m tem po de contribuição de 35 anos,
o então in tro d u zid o p eríodo de transição de cinco anos foi exíguo e não corres­
pondeu a u m a regra de transição aceitável ten d o em vista a perspectiva pessoal cios
trabalhadores.
De m o d o geral, som ente de 1999 a 2004, essa transição foi aplicada grad u al­
m ente. Insuficiente para que os segurados pudessem reorganizar as suas vidas a
p artir de um a aposentadoria. M uitas vezes forçadam ente precoce em decorrência
de circunstâncias in d ep en d en tes das suas vontades.
Daí a en x u rrad a de pedidos de benefícios n o e n to rn o de 1998/1999, um a
corrida aos p o sto s do INSS, dos quais hoje m u ito s se arrependem e pensam na
desaposentação ( “D esaposentação”, 5§ ed., São Paulo: LTr, 2012).
N ão se está afirm ando a existência de direito ad q u irid o a um regim e jurídico,
mas a um a disposição que cuidasse da expectativa de direito. Ela foi cogitada, m as
em doses hom eopáticas; no m ínim o, deveria ser de 17,5 anos (“Im plantação G ra­
dual do F ator P revidenciário”, São Paulo: LTr, jo rn a l do 19g C ongresso Brasileiro
de Previdência Social, 2006, p. 5).
Sergio Pinto M artins, escrevendo em 2006, recorda que em 1999 a idade m édia
dos ap o sentados era de 51,7 anos e que em 2004, subira apenas para 53,3 anos,
um crescim ento p eq u en o , possivelm ente justificado pela regra de transição (“F ator
P revidenciário”, in RPS n. 304/175).
No dizer de A rthur Bragança de Vasconcellos W eintraub: “O fator previdenciá­
rio teve na prática o condão de d ilatar a idade da ap osentadoria no Brasil, onde a
idade m édia de ap o sen tadoria p o r tem po de contribuição subiu de 48,9 em 1997
para 52,3 anos em 2000” ( “F ator P revidenciário”, São Paulo: LTr, jo rn a l do 16?
C ongresso Brasileiro de Previdência Social, 2003, p. 16).
Supõe-se que a p artir daí não tenha sido m u ito maior, especialm ente levando­
-se em conta os (raros) fu n d o s de pensão que efetivam ente com plem entam o INSS
e que podem estar incentivando um a aposentadoria precoce.

C urso de D ir e it o P r e v íd e n c j á r io

812 W ííid ír m r N o v tf e s M a r f i n e e
960. Seguro-desemprego — Ignorando a realidade nacional, o m aior equívo
co do fator prev id en ciário foi desprezar que a m aioria dos trabalhadores das classes
C e D, q u an d o perd em o posto de trabalho têm m uitíssim as dificuldades de serem
recontratados.
H om ens e m u lh eres a p a rtir de 45 anos não conseguem novam ente um posto
de trabalho. A robótica, cibernética, autom ação e inform atização desem pregaram
pessoas sem habilitação profissional e que n ão logram reen co n tra r um trabalho.
A solução ap o n tad a há décadas é responsabilizar a sociedade de co n su m i­
dores, os co n trib u in tes dos produtos. Já expusem os esse pensam ento: 11 anos de
seguro-desem prego, pagos divididos em 3 gru p o s de três anos com dois intervalos
de 12 m eses, ou seja, os em presários seriam indiretam ente responsáveis pelo finan­
ciam ento de um seguro-desem prego sem elhante ao auxílio-doença, q u e m antives­
se o trab alh ad o r desem pregado até que com pletasse o tem po de serviço necessário.
E v identem ente, um direito de quem u ltrapassou certa idade-lim ite fixada
pelo legislador depois de p esquisa d e cam po.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iAiu o

T o m o I I — P r e v id ê n c ia S o c i a / 813
Capítulo XCVI

C urso das P restações

961. Regras de manutenção. 962. Revisão de cálculo. 963. Prazo para


S u m Ar i o :
reconsideração. 964. Transformação de benefício. 965. Deduções permitidas.
966. Transferência de domicilio. 967. Resíduos deixados. 968. Divisão da pen­
são. 969. Desconto nas mensalidades. 970. Reajustamento do valor.

As prestações de p agam ento co n tin u ad o , após requeridas, e in stru íd o o pro­


cedim ento adm inistrativo, são ou não concedidas, seguindo-se com unicação por
escrito ao interessado. Prom ovidos os prim eiros pagam entos, m antidas até o final
da extinção. No curso do tem po, podem ser revistas, transform adas, transferidas,
suspensas e restabelecidas.
961. R egras de m an u ten ç ão — Se entendida form alm ente a pretensão, a par­
tir de direito definido, o órgão gestor passa a cu m p rir a obrigação de d ar m ensal­
m en te o valor ao titular.
Em algum as hipóteses, exigindo m andato do procurador ou outro docum ento
(v. g., curatela, tutela ou term o de com prom isso etc.), de tem pos em tem pos, for­
çando o com parecim ento do percipiente ou prom ovendo recadastram ento. Por
erro da cam panha de d esburocratização, em preendida no passado, abandonou-se
o A testado de Vida e R esidência Civil — AVEC, docu m en to sem estral de grande
utilidade e in ib id o r de recebim entos indevidos de m ensalidades.
O beneficiário do auxílio-reclusão deve, a cada três m eses, apresentar atestado
de au to rid ad e co m p eten te com provando estar o segurado detido ou recluso, sob
pena de suspensão do benefício.
Às vezes, p o r necessidade, procede-se à m udança do órgão de pagam ento.
U ltim am ente, tem sido a rede bancária, m as, em algum as circunstâncias, caso do
salário-m aternidade do dom éstico, o desem bolso é feito nas Agências da Previ­
dência Social do INSS. Q u ando se trata do salário-m aternidade da em pregada e
do salário-fam ilia, a quitação é operada pela dedução na GRPS, sem participação
direta da autarquia.
962. R evisão de cálcu lo — Por variados m otivos, aten d en d o à solicitação do
segurado ou p o r m eio de auditoria in tern a, o INSS pode ser obrigado a reexam inar

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

814 W ii i d i m i r N o v a e s M a r t i n e z
a concessão e, invariavelm ente, tom a um a das seguintes soluções: a) cancela o
benefício; b) su sp en d e o pagam ento; c) dim inui-lhe o valor m ensal; e d) au m en ta­
-lhe o nível.
Nos três p rim eiros casos, cabem reclam ações ad m inistrativas o u judiciais,
bastante freqüentes e o cu p an d o a m aior parte dos recursos nas JR e CAj, versando
p rin cip alm en te a im pugnação de p eríodos dc filiação, salário-base etc. No últim o
deles, sobrevêm pagam ento de atrasados.
A Ju stiça F ederal tem copiosa ju risp ru d ên c ia sobre o assu n to e até m esm o
algum as sú m ulas consultáveis.
Por vezes, a revisão é ex officio, isto é, encetada pelo INSS, caso das pensões
iniciadas até 4 .1 0 .1 9 88 em relação ao percentual, e pagas a p artir de l e.6.1992, dos
benefícios relativos ao período de 5.10.1988 a 4.4.1991 (“buraco negro") e dos
com eçados entre 5.4.1991 e 23.8.1991.
96 3 . P razo p a ra re c o n sid e ra ç ã o — Até o adv en to da M edida Provisória n.
1.523/1996, co n v ertida n a Lei n. 9.528/1997, diante do p rin cíp io da im p rescriti­
bilidade do d ireito aos benefícios, não havia prazo para o interessado prom over
a revisão d o benefício, su b sistin d o lim ite de cinco anos, para o INSS to m ar igual
iniciativa.
Inovando, assim dispôs o art. 103 do PBPS, na redação dada pela referida lei:
“E de dez anos o prazo de decadência de todo e q u alq u er direito ou ação do segu­
rado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a co n tar do
dia p rim eiro do m ês seguinte ao do recebim ento da prim eira prestação ou, q uando
for o caso, do dia em que tom ar co n h ecim en to da decisão indeferitória definitiva
no âm bito ad m in istrativ o ”.
A fixação de prazo para reclam ação, não ob stan te relativam ente longo (dez
anos), en tra em ch o q u e com a im prescritibilidade do direito aos benefícios, b astan ­
te arran h ad a com a nova n o rm a legal. Mas, possivelm ente, a m edida n ão é in co n s­
titucional, su b m eten do-se ao im pério da discrição adm inistrativa.
Ressalta-se o fato de haver prazo substantivo (“todo e q u alq u er d ireito ”), e
adjetivo ( “ou ação do seg u rad o ”) e referir-se à concessão operada ou não.
Dita o parágrafo único do m esm o artigo: “Prescreve em cinco anos, a contar
da data em que deveriam ter sido pagas, toda e qu alq u er ação para haver p resta­
ções, vencidas ou q u aisq u er restituições o u diferenças devidas pela Previdência
Social, salvo o direito dos m enores, incapazes e ausentes, na form a do Código C ivil”.
As coisas ficaram cientificam ente piores com a Lei n. 9.711/1998, que reduziu
o prazo p ara cinco dias. Mas logo ele voltou a ser de dez anos.
964. T ran sfo rm ação de ben efício — Por solicitação do segurado, em certas
circunstâncias o benefício é su b stitu íd o , passando de um a o u tro , em inúm eras
hipóteses, co n sideradas no capítulo seguinte.
Nesse cenário específico, o cálculo da nova renda inicial é fragilm ente disci­
plinado, co n v in d o ao segurado verificar antes a resultante do pedido.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l 815
A transform ação não é autom ática, e, sem em bargo de, às vezes, os valores coin­
cidirem , im põe-se à iniciativa do interessado. No caso de falecim ento do detido ou
recluso, bastando ju n ta r a certidão de óbito, o INSS converterá em pensão p o r morte.
965. Deduções permitidas — Tendo em vista o objetivo de ten tar m anter o
nível de valor, não são m uitas as hipóteses em que podem ocorrer retenções no va­
lor das m ensalidades dos benefícios. E m bora as circunstâncias sejam quatro delas,
devem ser consideradas com o excepcionais e assim interpretadas.
O INSS som ente tem autorização para fazer deduções nos casos de: a) pensão
alim entícia; b) retenção do Im posto de Renda; c) débitos dos beneficiários; e c)
para fins de em p réstim o s consignados,
966. Transferência de domicílio — Se o segurado m u d a de endereço, tran s­
fere-se de u m m u n icíp io para o u tro ou passa a residir em E stado diferente do o ri­
ginal, tem o direito de solicitar e ter transferida a m anutenção.
967. Resíduos deixados — O valor das m ensalidades não recebidas pelo ti­
tu lar falecido é pago seg u n d o os seguintes critérios: a) havendo dep en d en tes h a ­
bilitados ã pensão por m orte, o pagam ento lhes será efetuado após a concessão
deste últim o benefício; b) sem beneficiários e sem bens a inventariar, será feito aos
herdeiros ou sucessores, na form a da lei civil, m ediante requerim ento dos in teres­
sados; c) presentes bens a inventariar e não sendo os resíduos incluídos no in v en ­
tário ou arrolam ento, o desem bolso ficará condicionado à apresentação de alvará
judicial; e d) co n stan d o os resíduos nos bens a inventariar, a quitação acontecerá
diretam en te ao inv en tariante ou advogado do espólio, com poderes para esse fim,
se ap resen tad o alvará ou m an d ad o de pagam ento.
968. D ivisão da p e n sã o — Desde o início, p o r ocasião da concessão, ou mais
tarde, havendo desavença entre os interessados, im põe-se a divisão da pensão por
m orte en tre dois ou m ais pensionistas. N essa condição, processados vários b en e­
fícios e m an tid o s em separado.
Por falta de d o cu m en to e até no caso de filho nascido p o sterio rm en te ao óbito
do segurado, em alguns casos, o titu lar do direito exercitado passa a dividi-lo com
pensionista.
Se a(o) ex-esposa(o) ou ex-co m p an h eira(o ), tem pos após o óbito, conseguem
d em o n strar estar em condições de dividir o benefício, o INSS tem de reparti-lo
conform e as regras da pensão por m orte. Em se tratan d o de duas m ulheres ou dois
hom ens, poderá ter de sep arar a m an u ten ção e renum erados os procedim entos.
969. D esco n to nas mensalidades — Q uando o d eten to r do benefício recebe
indevidam ente algum a im portância, ele tem de devolver. Isso tam bém acontece se,
p o r ocasião da solicitação, estava em débito com as contribuições.
Dessa form a, a m ensalidade pode sofrer dedução no valor até com pletar a
devolução.
Se o benefício estiver encerrado (v. g., auxílio-doença ou aposentadoria por
invalidez), diz a CANSB dever ser com unicado o fato à em presa. Se desem pregado

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

816 W la d im irN o v a e s M a r tin e z


o trabalhador, a n o tar na Ficha Individual de A ntecedentes — FIA, p ara desconto
em caso de novo benefício. Para o c o n trib u in te individual, será em itida GRPS 3 e
encam in h ad a à P rocu radoria R egional da R epública — AGU.
Salvo na hip ó tese de m á-fé, o desconto não poderá ser su p e rio r a 30% do valor
da prestação.
970. Reajustamento do valor — P eriodicam ente, em v irtu d e do processo
inflacionário, é preciso atualizar as m ensalidades.
A m atéria é am plam ente preceituada na legislação (PBPS, art. 41), aliás, objeto
de m u ita discussão q u an to aos diferentes critérios e índices a serem utilizados.
Em v irtu d e da erosão inflacionária (circunstancial) o u , exem plificadam ente,
na extinção pro p o rcional da ap o sen tad o ria p o r invalidez (in stitu c io n a l), os p ata­
m ares m an tid o s p o d em ser afetados p o r reajustam entos periódicos o u não. Estes
se operam co nform e regra geral vigente, consistindo, geralm ente, n a correção do
padrão vigente até d eterm in ad a data-base pelo índice da variação acu m u lad a da in ­
flação do p erío d o sub sequente. Os percentuais aritm eticam ente adicio n ad o s e não
sim p lesm en te som ados. Assim , exem plificativam ente, se a inflação foi de 2%, 1%,
5%, 10%, a variação acum ulada não será 18% (adição m atem ática), e sim 23,31%
(adição m atem ático-financeira).
A irred u tib ilid ad e do valor dos benefícios, co n q u ista alcançada pelos benefi­
ciários, está en q u istad a no art. 194, IV, da C onstitu ição Federal de 1988. O precei­
to fluía n atu ra lm e n te do direito adquirido, m as não tin h a dicção expressa na Lei
M aior e, com o tal, raram ente foi desenvolvido pelos especialistas.
No bojo da faculdade concedida pela lei à prestação previdenciária, insere-se
nu clearm en te a preservação de seu nível (p erdendo o significado econôm ico, e,
co n seq u en tem en te, ju ríd ico ). Benefício em din h eiro , obrigação de d ar em m oeda
corrente n acional, se sua grandeza real é dim in u íd a pela p erda do p o d er aquisitivo
da época da concessão, há constrangim ento do direito.
Do direito ad q u irid o , decorre o preceito da m anutenção do m o n tan te, bem
com o de várias n o rm as dispositivas. P articularm ente, outorgar ao legislador o rd i­
nário a atrib u ição de fixar o critério de restabelecim ento do p atam ar original.
A filosofia o rien tadora da política governam ental, grosso modo, deve atrelar-se
ao estágio econôm ico e social do País, não sendo técnico, assim , p erm itir aos a p o ­
sentados e p en sio n istas quedarem -se aquém ou situarem -se além dos indicadores
d a riqueza da Nação.
D iante da d inâm ica econôm ica e social dos ag ru p am en to s hu m an o s, do avan­
ço da tecnologia e da m odificação dos usos e costum es, não é possível m an ter exa­
tam ente o p o d e r aq uisitivo dos benefícios previdenciários. A escolha do coeficiente
é tentativa de preservação da capacidade de aquisição dos bens.
Para enfrentar, via de regra, o fato de as necessidades serem progressivas e
alterarem -se n o cu rso do tem po e da realidade, o legislador deve rever, periodica­
m en te, o critério de atualização e, com o n o rm a superior, reexam inar o estágio da

Cumo p e D ír e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
econom ia do País e suas conquistas m ateriais, eleger novas prescindibilidades e
ab an d o n ar outras. Se o m ercado exclui n o rm al e genericam ente, é válido, so b re tu ­
do, ten tar aco m p an h ar o padrão dos trabalhadores ativos.
Em term os de crescim ento costum eiro é possível escolher rol de p ro d u to s m e­
dian am en te con su m id o s p o r parcela expressiva da com unidade, com o responsável
pela hodiernização dos valores. Cesta de coeficientes pon d erad o s seria bom índice,
não fosse a com plexidade de sua apuração.
O ditam e co n stitucional com eteu ao legislador ordinário atualizar o poder
aquisitivo da m oeda nacional, para fins de reajustam ento dos benefícios, e, este, por
sua vez, atrib u iu ao CNSS prerrogativa extraordinária de im plem entar o indexador.
Esse com ando co n stitu cio n al reza: “irredutibilidade do valor dos benefícios”
(art. 194, parágrafo ú n ico, IV). A norm a dispositiva declara: “É assegurado o re­
aju stam en to dos benefícios, para preservar-lhes, em caráter p erm an en te, o valor
real. conform e critério s definidos em lei” (art. 201, § 4Q).
Os dois textos não se confundem : u m é princípio, preceito não im perativo,
carente de disposição expressa; o outro é regra regulam entar. O segundo é in s tru ­
m ento do prim eiro; caso contrário, queda-se com o no rm a program ática.
Do referido art. 201, § 4e, defluem as seguintes conclusões: a) garantia cons­
titucional; b) preservação do quantum real; c) caráter perm anente; e d) delegação
de com petência ao legislador ordinário.
As três prim eiras, de m eridiana clareza.
Provindo de cenário circunstancial — p erd u ran d o o suficiente para, pratica­
m ente, ser tido com o estru tu ra l — , é assegurado o reajustam ento. Não obstante
defluísse do direito ad q u irid o , a reedição e o aclaram ento co n trib u em para a sua
definição.
O objetivo do dispositivo é m anter o valor real, m anutenção cifrada à m ensa­
lidade na m edida de os pagam entos habituais serem m ensais. Indiscutivelm ente a
m ensalidade deve refletir o poder aquisitivo original da data do início dos benefícios.
P leonasticam ente, a preservação é perm anente, com isso elidindo a possibili­
dade de ser episódica, q u er dizer, todo o tem po, sem exceções.
Essas três observações referem -se ao núcleo da oração; parâm etros para o le­
gislador ordinário. Delas se servirá para aten d e r à quarta conclusão, co m etim ento
para d isciplinar a m atéria. N ão p o d e descum pri-las, ficar aquém ou ir além .
O “conform e critérios definidos em lei” significa, respeitados os lim ites da
operacionalidade — o extrem o da recom endação constitucional — , delegação à
lei ordinária para estabelecer a fórm ula m atem ática do reajustam ento, o índice
adotado, a periodicidade; n u n ca a possibilidade de desrespeitar os três com andos
im perativos do parágrafo (garantia, preservação e perm anência).
Assim, o elab orador do diplom a legal está autorizado a repetir o preceito
co n stitu cio n al (art. 41, I), fixar o critério de atualização (art. 41, II) e firm ar a fre­
quência do reaju stam ento (art. 41, II, in /in e ). N ada m ais, além disso.

C urso d f D ir e it o P r e v id e n c iá r io

818 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
P ouco im p o rta no passado não ter sido assim e, diferenLem ente do agora
regrado, não ten h a sido praticado em m atéria de política salarial.
Os reaju stam en tos de setem bro de 1991, jan eiro e m aio de 1992, não obser­
varam o m an d am en to constitucional, q u an d o as p o rtarias m inisteriais, vencido
o período, nas datas-base indicadas, m ajoraram relativam ente os m o n tan tes dos
benefícios. Sem quitar, na form a de um pagam ento único (tipo ab o n o ), a diferença
m édia entre o valor an terio r e o posterior, isto é, sem recu p erar a perda do poder
aquisitivo no lapso entre as datas-base. M ajorando as im portâncias apenas nos
m eses de setem bro, jan eiro e m aio, som ente neles (e, ainda assim , exclusivam ente
no dia do p ag am ento) preservou-se o poder aquisitivo da m oeda.
Isso co n stitu i afronta ao princípio constitucional, cujo lim ite, com o observa­
do, cinge-se tão so m ente à capacidade operacional do pagam ento, isto é, aos seus
aspectos práticos.
O IN PC , ap u rad o pelo IBGE (e, po sterio rm en te, o IRSM, IP C -r e IGP-DI),
padece de defeitos e tem virtudes, m as nada tem que ver com o problem a desen­
volvido a seguir; nesse particular, não tem sido contestado.
a) Introdução: O reaju stam en to proporcional à data do início visa a p ô r fim
à celeb érrim a e descabida discussão, a p a rtir de 1979 ( “C onsiderações sobre o
p rim eiro reaju stam en to dos b en efício s”, in RPS n. 6 5 /2 0 4 ), e to rn a r iguais os
idênticos.
O benefício previdenciário, ao prestar-se para a recom posição do p o d er aq u i­
sitivo da rem u neração do trabalhador (até então em atividade) não atingido pelo
reaju stam en to salarial seguinte, em v irtude da aposentação entre as datas-base la­
borais, foi aco lh id o pela ju s tiç a F ederal e, até hoje, um a infinidade de autores vem
v en cendo as ações judiciais.
B em -intencionado, pen san d o em fazer ju stiça, o P oder Ju d iciário recriou os
indigitados “m elh o re s” e “p io res” m eses para a jubilação. Provavelm ente, pesaram
nas razões de d ecidir o baixo nível dos salários e dos benefícios, a abulia legislativa
sobre a m atéria, e ser a prestação jurisdicional in stru m en to factível de prom over a
d istribuição de rendas, própria da previdência social. P ensou-se em com pensar o
ap o sen tan d o com um m elhor p atam ar da prestação em razão da perda da últim a
reposição (sic); se a política salarial não atualiza o valor da rem u n eração , o INSS
o fará p o r m eio do prim eiro reajustam ento. Q uando o C ongresso N acional não
legisla, o Ju d iciário induz as relações entre os beneficiários e o órgão gestor da
técnica protetiva...
Se verdadeiros esses pressupostos, renasce das cinzas a tese da integralidade,
ignora-se o d isposto na lei, e o resultado será, sem dúvida, o m esm o, absurdo ló­
gico e ju ríd ico .
N ada significa (por força do art. 201, § 3 S, da CF e do art. 31 do Plano de
Benefícios) serem corrigidas todas as m ensalidades do período básico de cálculo,
in clu in do -se o ú h im o m ês, ho d iern izan d o , destarte, o salário de benefício.

C urso de D ir e it o P iíe v id e n c iá k io

T o m o l í — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 819
Tam bém não teria realce o fato de, transform ando-se as im portâncias em dólares
ou q u alquer outro indexador nacional confiável, fato de a proporcionalidade m anter
o síatus real do segurado e o de a integralidade criar o enriquecim ento jurídico.
A bstraindo o art. 41, II (fixa-se na proporcionalidade), o problem a é retom a­
do, em 1993/1995, desta vez com novas e substanciais ponderações. A principal
delas é a existência de possível vínculo en tre o valor da renda m ensa! inicial (não
im p o rtan d o a data do início do benefício) e o lim ite do salário de contribuição da
m esm a data. Esse p retenso liam e estar ausente do texto co n stitu cio n al ou legal não
p reocupa os seus defensores.
A propriedade da lei pode ser facilmente dem onstrada com o auxílio de exem ­
plos num éricos. Com m oeda estável, por exem plo, o dólar, convindo ressalvar peque­
nas diferenças resultantes da flutuação do dinheiro am ericano em relação ao nosso.
Suponha-se benefício concedido em m aio de 1993, de segurado vertendo pelo
teto de co n trib u ição , no valor inicial de Cr$ 19.581.870, q u an d o o lim ite era de
Cr$ 30.214.732, rep resentando, p o rtan to , 64,8% deste últim o nível ou 537 d ó ­
lares. Em setem bro de 1993, aplicando-se a integralidade do IRSM, ou 186%, tal
renda inicial alça-se para Cr$ 56.004,14 (os m esm os 64,8% do lim ite do salário
de co n tribuição) o u 514 dólares. Os 23 dólares a m enos devem -se à m encionada
flutuação diária da m oeda, im portância ap u rad a sem pre no dia 15 do m ês.
Tom ando-se, agora, o m esm o segurado, com data de início do benefício em
agosto de 1993, a renda inicial será de Cr$ 44.463 ou 549 dólares. C orrigida se­
g u n d o a p ro p o rcio n alidade, o u seja, com os 32,22% da inflação do m ês, irá para
Cr$ 58.788 ou 539 dólares, a serem com parados com os 537, de m aio de 1993, ou
514, após o p rim eiro reajustam ento integral.
A plique-se a integralidade do período (m aio a agosto), 186% de inflação para
esse benefício e ele saltará para Cr$ 127.164 ou 1.165 dólares! O benefício passa a
ser de 147% (o u tra vez!) do teto.
O fato de a inflação ser m ensal, co n h ecer índices novos a cada 30 dias e o
lim ite do salário de co n tribuição m anter-se constante d u ra n te quatro m eses, leva à
perp lexidade e causa a nítida im pressão de haver prejuízo financeiro. A ideia legal
de o valor do salário de benefício ser a base de cálculo da definição da prestação e,
no prim eiro m ês do início do benefício, não ser corrigido, não obstante inocorrer
dano m o n etário , au m enta as dificuldades de apreensão do fenôm eno presente na
transição do labor para o ócio. Todavia, com o dem o n strad o com os cálculos se­
guintes, o prejuízo inexiste.
1) Inicialm ente, com segurado co n trib u in d o ã base de 2/10 do lim ite do sa­
lário de contribuição. A posentado em jan eiro de 1993, teve renda inicial de Cr$
1.512.423 (13,11% do lim ite vigente n o m ês da concessão). A plicando-se a in te­
gralidade do coeficiente, teria Cr$ 1.512.423 x 2,6201 = Cr$ 3.962.699 (13,11% do
m esm o lim ite de m aio de 1993), com o m anda a Lei n. 8.213/1991. Tal m o n tan te
deve ser confrontado com a ren d a inicial de igual segurado, aposentado em m aio
de 1993: Cr$ 3.913.374 (12,96% ).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

820 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
2) Q uem se ap o sen to u em abril de 1993, com renda inicial de Cr$ 3.036.691
(19,15% do lim ite), com direito, de acordo com a lei, a 28,25% de reajustam ento,
iria para Cr$ 3.894.556, a ser confrontado tam bém com os Cr$ 3.913.374. P eque­
n as diferenças devem -se às desigualdades dos d istin to s p eríodos básicos de cálculo
sem interferir no raciocínio. A dotada a corrente integral, este últim o aposentado
faria ju s a Cr$ 3.036.691 x 2,6201 = Cr$ 7.956.434 (50,48% do lim ite).
F inalm ente, q uem co n trib u iu sobre 10/10 do lim ite do salário de contribuição.
3) A p o sentando-se em setem bro de 1992, com renda inicial de Cr$ 3.322.327
(69,49% do lim ite), em jan eiro de 1993, obteria o seguinte reajustam ento: Cr$
3 .322.237 x 2,4121 = Cr$ 8.013.784 (69,49% do lim ite de jan eiro de 1993), a ser
cotejado com a renda inicial de Cr$ 7.562.116, de jan eiro de 1993.
4) Já o ap o sen tado em dezem bro de 1992, q u an d o os lim ites do salário de
co n trib u ição e do salário de benefício foram de C r$ 4.780.863, conseguiria (não
fosse o art. 29, § 2e, revisto pela Lei n. 8.870/1994) a seguinte im portância: Cr$
6.156.691 (ren d a inicial d ecorrente do período básico de cálculo) x 1,2558 = Cr$
7.731.572, a ser co m parada com os Cr$ 7.562.116, de jan eiro de 1993. E, ad o tan ­
do-se a integralidade, iria para Cr$ 6.156.691 x 2,4121 = CrS 14.850.554 (sic).
b) Propostas em confronto: O percentual do prim eiro reajustam ento das pres­
tações previdenciárias conhece duas propostas em conflito, a saber: a) legal, da
pro porcionalidade, ou seja, o coeficiente repõe a perda havida com inflação super­
v en iente ao início do benefício e até a data-base do próxim o reajustam ento (art.
41, II); e b) da integralidade, isto é, em q u alq u er caso, não im p o rtan d o a data da
aposentação, o coeficiente a ser utilizado deve ser o da variação total acum ulada
dos índices m ensais.
Na prim eira hipótese, ju b ila d o s em diferentes m eses, os segurados teriam
reaju stam en to s diferenciados, conform e a distância da data-base, e, na segunda,
benefícios concedidos em distintos m eses, aufeririam o m esm o índice m áxim o
(to talidade d o IN PC , IRSM, IPC -r e IGP-D I).
Vale lem brar, à guisa de te n ta r explicar os diferentes resultados en co n trad o s
para pessoas assem elhadas pela base de cálculo da contribuição m ensal, quase
idênticas, o fato de o p atam ar m áxim o (da contribuição e do benefício) nos ú lti­
m os anos p o ssu ir atu alizador distin to dos salários de co n trib u ição definidores do
salário de benefício. Tendo a ver, em face de diferentes p eríodos básicos de cálculo,
tom ar-se, para d istin to s segurados, índices acu m ulados não iguais. Aliás, nesse
sen tid o , a m á gestão da m atéria revela desigualdades: su p ondo-se inflação m ensal
igual a 30% (percentual elevadíssim o), em 1994, pessoas idênticas aposentadas,
co n tan d o no p erío d o básico de cálculo com o INPC de 84,32% , do últim o m ês
do governo Sarney, terão salário de benefício bem su p erio r a qu em o fizer q u an d o
aquele IN PC não p articip ar do referido período. Sem v islu m b rar aí q u alq u er ilega­
lidade ou in co n stitu cionalidade...
Realidade indiscutível e, com certeza, im propriedade praticada na condução
política do assu n to . O elaborador da norm a tentou, sem conseguir, ajustar as coisas

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o U — P r e v id ê n c ia S o c ia l 821
e estabelecer certa correlação entre am bos (in d u zin d o a Ju stiça F ederal, na celeu­
m a dos 147,06% , a to m ar o parágrafo ún ico do art. 20 da Lei n. 8.212/1991, ao
co n trário do positivado).
c) Fundamentos da integralidade: Sopesar as razões apontadas seguidam ente
pela co rren te da integralidade p erm itirá inteirar-se das dificuldades inerentes. As
principais são cinco: 1) o princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios; 2)
a validade da Súm ula TFR n. 260; 3) redução percentual da m ensalidade em cotejo
com o lim ite do salário de contribuição; 4) as prestações acom panharem o m esm o
lim ite; 5) discrim inação dos percipienles de benefícios.
Se se co n sid erar a evolução norm ativa dos fatos, aceitando-os com o m al ad ­
m inistrados, e os diferentes índices de inflação m ensais, m odificando a “igualdade”
d o s segurados (sem caracterizar q u alq u er inconstitucionalidade), será difícil aca­
tar cada um a das razões apresentadas. N en h u m a delas satisfaz ou resiste à m enor
análise.
B asicam ente, a q u estão cinge-se à tan g ên cia de dois sem icírculos, co rres­
p o n d en tes às p o líticas salarial e previdenciária, de atualização dos valores cor­
ro íd o s pela inflação, isto é, o exam e dos p receitos in fo rm ad o res da transição
en tre a cessação da rem u n e raç ão e o início da prestação. Talvez, valen d o a pena,
pen sar n u m p o stu lad o da co n tin u id a d e dos ingressos do trab a lh a d o r q u an d o na
atividade (nível dos salários) em relação à inatividade (nível da ap o se n ta d o ria).
P erfilh an d o , ao m esm o tem po, o c a ráter su b stitu tiv o e a lim en tar do benefício
prev id en ciário .
d) Irredutibilidade do valor: A subordinação expressaria o princípio c o n stitu ­
cional da irredutibilidade do valor das prestações (art. 194, parágrafo único, IV).
Se verdadeira a concepção (m as não é), sem dúvida um significativo argum ento a
ser sopesado. Receia-se, porém , ter havido pequena confusão, derivada da vontade
de beneficiar os atuais aposentados (em d etrim en to dos futuros).
O m en cio n ad o princípio rege e protege a renda inicial, obviam ente após a
concessão do benefício; não faz p arte integrante da definição de seu valor. Não
socorre essa posição o preceito co n stitu cio n al de atualização dos salários de c o n tri­
buição (art. 201, § 3e). Este últim o po stu lad o vale p ara a fixação das im portâncias
integrantes do salário de benefício. Am bos nada têm a ver com o prim eiro reajus-
lam ento.
Em m an d am en to fundam ental (art. 194, parágrafo único, IV), e norm a dis­
positiva (art. 201, § 3e), a Lei M aior assegura a irredutibilidade da renda inicial,
m as não a do patam ar laborai do segurado, em confronto com o nível do lim ite do
salário de contribuição. Nem tinha de fazê-lo. As im portâncias com preendidas no
p eríodo precedente ao início do benefício são atualizadas, com o devem ser, m as
não atreladas a nada, nem poderiam , logicam ente. Salvo a m antença do nível m o ­
netário real, a Carta M agna não positiva a co n tin u id ad e nem se refere à natureza
sub stitu tiv a ou alim en lar da prestação; am bas as concepções defluem da ciência
previdenciária.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

822 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Aliás, su b stitu i-se o salário de benefício e não o ú ltim o salário de c o n trib u i­
ção. A teoria da in tegralidade despreza o fato de os últim o s 36 salários de co n tri­
buição serem h o d iern izad o s até a véspera do início do benefício, p o r in d ex ad o r per
se não objeto de contestação.
e) Súm ula TFR n. 260: A Súm ula TFR n. 260, em bora tenha su p rid o lacuna
legislativa (inexistia regra legal sobre o assu n to ), p artiu de equívoco científico — a
p revidência social co rrigir o achalam ento salarial resultante de os reajustam entos
serem a cada seis m eses, sem reposição das perdas havidas entre as datas-base — e
elaborou em erro n u m érico — dar, para diferentes pessoas, o m esm o coeficiente
— para satisfazê-lo.
Para in stru m en talizar pressuposto inadequado, a previdência social deve ate­
n u ar as d istorções da política salarial, criando pro rata antes d a aposentação — des­
p rezo u axiom as lógicos, m atem áticos e ju ríd ico s. Pessoas com o período básico de
cálculo diferentes, desigualadas pela inflação, obtiveram índices iguais.
f ) Redução da mensalidade: O terceiro argum ento não é razão suficiente. Sim ­
ples con statação im procedente não basta, claro, salvo se a Lei M aior e a ordinária
am p arassem a p retensão. E xtravasa o princípio da irredutibilidade, vai além dele,
b astan d o , para isso, tran sfo rm ar os valores resultantes em m oeda estável.
A b strain d o a afronta à igualdade, ad o tar coeficiente su p e rio r ao da inflação
no p erío d o en tre o início do benefício e o p ró x im o reaju stam en to , prom ove o e n ­
riq u ec im e n to ju ríd ic o do percipiente. Do po n to de vista m atem ãtico-financeiro,
em b o ra n ão desfaça ev en tu al in co n fo rm ism o subjetivo com o sistem a de aferição
(h isto rica m e n te precário, m as co n stitu cio n al), a no rm a positiva não red u z o valor
em si, co rrigido, m en salm en te todo o tem po. O bviam ente, sen d o 36 e diferentes
IN PC , IRSM, IPC -r ou IGP-D I, a serem acu m ulados, o salário de benefício deixa
de ser igual p ara pessoas com salário de co n trib u içã o idênLico em todo o período.
N este passo, é sem pre bom lem brar: o conceito de salário de benefício é rele­
vante no estudo. Se os salários de contribuição, em term os reais, variam n o período
básico de cálculo, a m édia não espelha o últim o ou os ú ltim o s salários (verdadeira
fixação psicológica dos co n trib u in tes); pode ser m aior ou m enor. Não serve com o
referencial.
R epete-se ad nauseam , o erro da legislação é não corrigir a ren d a inicial no
p rim eiro m ês de m an utenção do benefício. Se o trabalhador n ão tivesse se ap o ­
sen tad o teria a atualização desse m ês. O “p rim eiro re aju stam en to ” (não co n fu n d ir
com o reaju stam en to do prim eiro m ês) parte de im portância erodida pela inflação
do m ês da concessão.
g) Discriminação: Não hã discrim inação (pelo m enos, entre pessoas iguais).
Segurados id ên tico s não são desnivelados e, aí, talvez resida o p o n to nodal, concei­
to de igualdade. Dois gêm eos univitelinos, co n trib u in d o sob salários de c o n trib u i”
ção ab so lu tam en te iguais d u ra n te 35 anos e, especialm ente, no PBC, aposentados
em m eses consecutivos, p o rtan to , com períodos básicos de cálculo ligeiram ente
diferentes, não são iguais. O b ten d o valores não iguais, relativam ente m en o r para

C urso d f D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l 823
o p rim eiro e m aior para o segundo, q uando do próxim o reajustam ento estarão em
situação corresp o n d en te à sua p ró p ria igualdade.
h) Vínculo com o salário de contribuição: Afirma-se: o valor dos benefícios em
m an u ten ção deve aco m p an h ar o lim ite do salário de contribuição. Isso só acon­
tecerá, em term os, q u ando o critério de atualização dos dois elem entos (lim ite do
salário de co ntribuição e atu alizad o r dos salários de contribuição) perm anecer
igual p o r três anos. N em assim , se as datas-base forem bim estrais, trim estrais ou
qu adrim estrais, ora um a, ora o u tra, no período básico de cálculo de cada segurado.
Finalm ente, a novidade. Pouco im p o rtan d o não constar da lei o atrelam ento
do valor da m ensalidade ao lim ite do salário de contribuição (se isso, é claro, a ten ­
desse ao p rin cíp io da irredutibilidade). E n q u an to os dois indicadores cam inharem
separados, não cum prem o preceito, e, não co n stan tes da vontade da lei, é im pos­
sível alcançar as razões co n d u cen tes à tese da integralidade.
C onteste-se o indexaclor (IN PC , IRSM, IPC-r, IGP-DI) ou a diversidade de cri­
térios, adotada no passado, e até m esm o o ach atam ento real do lim ite do salário de
contribuição. São adversidades co n ju n tu ra is decorrentes da avassaladora inflação,
m as não há, com o não houve em 1979, razão para — m esm o abstraindo a isono­
m ia (sic) — pretender-se, sem determ inação lega! expressa, fixar a relação entre a
renda m ensal inicial e o lim ite do salário de contribuição do m ês da concessão do
benefício.
Finalm ente, fica a lição: qu an d o a inflação baixar, se não se p reten d er a m esm a
confusão, é im prescindível legislar levando-se em conta ser o salário de benefício
m édia dos últim os salários de contribuição, e, antes da aplicação do coeficiente do
segurado para se ap u rar o valor do benefício, ser ele da m esm a form a atualizado.
i) Conclusões: Não favorece a tese o princípio co n stitu cio n al da irre d u tib i­
lidade do m o n tan te das prestações (atende apenas à preservação da im portância
original).
É im p ró p rio invocar a Súm ula TFR n. 260. Além dela cuidar de situação não
análoga (náo havia correção dos últim os 12 salários de co n trib u ição ), e esse foi o
su pedâneo de tantas decisões judiciais, com o provado, a sedim entação da ju ris p ru ­
dência p artiu de dois equívocos.
Inexiste — em bora, diante de processo inflacionário perverso, devêssem os
cogitar disso — preceito co n stitu cio n al assegurador do nível real dos ingressos
dos trabalhadores, q u ando ele passa da atividade para a inatividade, enlaçando o
D ireito do Trabalho com o D ireito Previdenciário.
Caso se opere com m oeda estável é possível evidenciar a inexistência de re­
dução das m ensalidades.
O valor do benefício não tem , no direito positivado nem n a construção d o u ­
trinária conhecida, q u alq u er vínculo com o lim ite do salário de contribuição. O
prim eiro dep en d e da situação particular do segurado e de seu período básico de
cálculo, en q u an to o segundo é expressão da política previdenciária. M ajorá-lo ou

C urso d e D ir e it o P r e v ip e n c iá r io

824 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
reduzi-lo não é in co n stitu cio n al diante da inexistência de relação jurídica entre a
co n trib u ição e os benefícios.
In ocorre discrim inação de pessoas iguais. Ao co n trário , elas resultam desi-
gualadas se o índice de reajustam ento para quem se ap osentou após o prim eiro m ês
entre as datas-base for da integralidade.
A M edida Provisória n. 1.415/1995, m an d o u atualizar os benefícios em m an u ­
tenção, a p artir de 1°.5.1996, “pela variação acum ulada do índice G eral de Preços
— D isponibilidade In tern a — IGP-DI, ap u rad o pela F undação G etúlio Vargas, nos
12 m eses im ed iatam ente an terio res” (art. 2-).
Resolveu, tam bém , ser a p a rtir de 1997, o m ês de ju n h o , a data-base dos ap o ­
sen tad o s e pensio n istas, sem fixar critério de reajustam ento (art. 4 9). O art. 10 da
M edida Provisória n. 1.415/1995 revogou o art. 29 da Lei n. 8.880/1994 (tratava
dos critério s de reaju stam ento dos benefícios em m anutenção).
D ispõe o art. 5a d a referida M edida Provisória: “A título de au m en to real, na
data da vigência d o s dispositivos co n stan tes dos arts. 6S e 7° desta M edida P rovi­
sória, os benefícios m antidos pela P revidência Social serão m ajorados de form a a
totalizar quinze p o r cento, sobre os valores vigentes em 30 de abril de 1996, in clu í­
do nesse p ercen tu al o reajuste de que trata o art. 25”.

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l 825
Capítulo XCVII

C o n cessã o e M a n u ten ç ã o

971. Requerimento do benefício. 972. Instrução do pedido. 973. Defe­


S u m a r io :
rimento da prestação. 974. Data do início. 975. Continuidade dos pagamentos.
976. Reajustamentos periódicos. 977. Cessação das mensalidades. 978. Rejeição
da concessão. 979. Suspensão e restabelecimento. 980. Cancelamento definitivo.

Em virtude das características da definitividade e da co n tin u id ad e, isto é,


pelo fato de as prestações securitárias serem créditos pessoais resolvidos sucessiva­
m ente, após a concessão e até à cessação, os pagam entos são m an tid o s pelo órgão
gestor. M ensalm ente (o u anualm ente, caso do abono anual), são expedidas ordens
de pagam ento às en tid ades bancárias disso incum bidas. Às vezes, q u an d o de atra­
sados, são desem bolsados valores acum ulados, pagos de u m a só vez, seguindo-se
as quitações m ensais habituais.
973., R eq u erim en to do benefício — Pedidos p o r m eio de requerim ento escri­
to, com os docu m en to s com probatórios do direito juntados aos autos, capeados por
form ulário padronizado de solicitação, segue-se a rotina interna dos benefícios, so­
brevindo ou não exam e m édico e — incidentalm ente — a im posição de exigências.
Na hipótese de em algum m o m en to o titular ter recebido algo indevido, ele
m esm o ou os d ep en d en tes tidos com o civilm ente sucessores, sofrerão descontos
nas m ensalidades até a com pleta restituição do equivocadam ente auferido. Agindo
o au to r com com provada m á-fé, além das sanções penais previstas, a restituição
será exigida pelo total. A dedução m ensal é usual nas duas co n ju n tu ra s, após o
INSS in te n ta r ação de cobrança, n a prática m ais difícil.
Receber a com unicação ou a prim eira m ensalidade necessariam ente não sig­
nifica co n co rd ân cia do titu la r com o benefício ou seu valor, p o d en d o a qu alq u er
m o m en to recorrer dessa decisão. N ão há prazo para a adm inistração, se calcada em
nu lid ad e procedim ental, subsistindo dez anos para o adm inistrado.
Diverge-se sobre o exato m om ento do aperfeiçoam ento da concessão: se o da
expedição da C arta de C oncessão/M em ória de C álculo ou o da percepção da m ensa­
lidade. A nosso ver, a p artir da ciência do deferim ento encerra-se a relação ju ríd ica
do pedido, concluída a concessão, esgotando-se o prazo para a sustação do pedido.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

826 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Os benefícios são num erados:
21 — pensão p o r m orte;
23 — pen são p o r m orte de ex-com batente;
25 — auxílio-reclusão;
30 — renda m ensal vitalícia dos inválidos;
31 — auxílio-doença;
32 — ap o sen tad o ria p o r invalidez;
40 — ren d a m ensal vitalícia de m aiores de setenta anos;
41 — ap o sen tad o ria p o r idade;
42 — ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição;
43 — ap o sen tad oria de ex-com batente;
45 — jo rn alista profissional;
46 — ap o sen tad oria especial;
47 — ab o n o de p erm anência em serviço;
57 — ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição de professor;
58 — ap o sen tad o ria excepcional de anistiado;
59 — p ensão p o r m orte de anistiado;
61 — auxílio-natalidade;
62 — auxílio-funeral;
68 — pecúlio de aposentados;
70 — p ecúlio de segurado incapacitado definitivam ente para o trabalho e sem
carência;
80 — salário -m aternidade da dom éstica e avulsa;
91 — auxílio -d o ença acidentário;
92 — ap o sen tad o ria p o r invalidez acidentária;
93 — pensão acidentária p o r m orte;
94 — auxílio-acidente;
96 — pecú lio p o r invalidez acidentária; e
97 — pecú lio p o r m orte acidentária.
972. Instrução do pedido — P rotocolado o re q u erim en to form al, a P revidên­
cia Social exam inará a docum entação e verificará seus registros a partir do N IT do
req u eren te (CNIS).
E ncam inhado o p rocedim ento, é providenciado o cálculo da renda inicial,
fixada em razão dos parâm etros oferecidos pelo requerente, verificados e ratifica­
dos pela autarquia. E stabelecida a DIB com unica-se ao titu lar e faz-se o prim eiro
pagam ento (g eralm ente, com alguns atrasados).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia f
P ode dar-se de, no curso da in stru ç ã o , convencer-se a seg u rad o ra da im ­
p ro p rie d a d e do p ed id o . O brigada ao receb im en to dos pap éis e ao p ro to co lo ,
d ian te da in ex istên cia do d ireito , após d esp a ch o de avaliação, co n c lu irá pelo
in d eferim en to .
Nas duas circunstâncias, concessão total ou parcial sobrevêm notificação ao
interessado, com o im prescindível aviso qu an to ao prazo para interposição de in ­
conform idade.
Das decisões de negar, dar parcialm ente ou com equívocos ju ríd ico s o u fãti-
cos, cabe recurso de revisão à JR e CRPS, conform e as regras do D ireito P reviden­
ciário P rocedim ental.
973. D eferim en to d a p re sta ção — C om pletado o processo adm inistrativo de
concessão, o órgão gestor com unica ao titu lar o deferim ento do benefício m ediante
o form ulário C arta de C om unicação/M em ória de C álculo). A nosso ver, é o ato
aperfeiçoador da concessão.
974. D ata do in ício — Os benefícios definitivos de pagam ento co n tinuado
têm data para com eçar. Cada um deles atende à regra própria conform e sua n a tu ­
reza e n orm a vigente, com alguns desses ditam es perm anentes, prin cip alm en te em
relação à cessação.
Os dois benefícios p o r incapacidade referidos extinguem -se na data firm ada
na alta m édica, prorro gando-se o pagam ento da aposentadoria por invalidez por
m ais algum tem po, com valores p ro p o rcio n alm en te reduzidos.
O salário-m aternidade, u m benefício com duração prefixada de 120 dias, tem
com ando irreal, na prática desrespeitada. Deve iniciar-se 28 dias antes do parto e
cessar 91 após. Sob essa exigência legal, as gestantes preferem , em conluio com as
em presas, protelar o com eço da licença até às vésperas da délivrance, para fruir os
1.20 dias na com panhia do bebê.
Cada tipo de benefício tem definida legalm ente um a DIB. O início dos b en e­
fícios p o r incapacidade ligados exatam ente à instalação da inaptidão. G eralm ente,
(auxílio-doença e ap o sen tad o ria p o r invalidez), iniciam -se após certo período de
espera, na legislação vigente firm ado em 15 dias, após o decurso do qual, conform e
a data do ped id o , eles com eçam . Essa espera significa lapso de tem po d u ra n te o
qual o segurado p o d e recuperar a condição para o trabalho e não ter necessidade
de instau ração do p ro cedim ento adm inistrativo. Diante de um a incapacidade que
perdure p o r m enos de 15 dias, é preferível o próprio em pregador d ar licença m édi­
ca e rem u n e rar o trabalhador. Então, tem -se u m benefício previdenciário com etido
à em presa.
É tam bém fixado período de 30 dias, d u ra n te o qual, se exercitado form al­
m ente o direito, o início retroage ao l ó e dia, co ntado do afastam ento do trabalho.
Um a vez ultrapassado esse term o, o benefício é deferido na data do pedido (DER),
salvo se o segurado d em o n strar ter estado im possibilitado de requerê-lo dentro
dos 30 dias.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

828 W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
0 salário-fam ília historicam ente observa com ando específico, pois o direilo
é form al. C om eça com a apresentação de d o cu m en to s co m probatórios do direito:
certidão de n ascim en to e vacina obrigatória, sendo irrelevante a data de n ascim en­
to do m en o r de 14 an os ou do inválido.
A ap o sen tad o ria p o r idade, tem po de contribuição e especial subm etem -se
a critério igual. Q u a n d o exigido o afastam ento do trabalho, caso solicitados n u m
certo lapso de tem po Cem 2012, de 90 dias), iniciam -se no dia seguinte ao últim o
dia de trabalho, n ão im p o rtan d o a data do requerim ento. R equeridos a p a rtir do
91Q dia, o com eço coincide com a data da en tra d a do requerim ento.
Tal regra vale para o caso de n ão haver necessidade de ro m p im en to do co n ­
trato de trabalho.
A p ensão p o r m orte, de regra, conta-se da na data do óbito, não interessando
o dia do pedido, caso solicitada até 30 dias. P osteriorm ente ao m ês, na data de
en trad a do re q u erim en to (Lei n. 9.528/1997), retroagindo a esta ú ltim a data para
os m enores incapazes.
975. Continuidade dos pagamentos — U sualm ente, um a vez concedidos os
benefícios são m an tid os até que cessem , sejam suspensos o u cancelados. N os m ais
de 80 anos de existência do RGPS, o INSS n u n c a atraso u os pagam entos.
976. Reajustamentos periódicos — D iante do fenôm eno d a inflação, p erio d i­
cam ente, o v alo r das m ensalidades são reajustados conform e índices legais.
977. Cessação das mensalidades — O s benefícios cessam p o r vários m otivos.
Falecendo o titular, todos eles desaparecem im ediatam ente (sobrevindo ou não
p restações para os d ep en d en tes). As p rin cip ais causas são:
1 — m o rte do titular;
II — alta m édica, nos casos de benefícios por incapacidade;
III — recuperação da higidez do filho ou irm ão inválido;
IV — reen co n tro do presidiário que se evadira;
V — cessação do período de vigência (salário-m aternidade);
VI — concessão de novo benefício (auxílio-acidente);
VII — transform ação do tipo do benefício;
VIII — desaposentação.
978. Rejeição da concessão — Por qualquer m otivo e até m esm o caso não
concorde com o valor que esperava, o beneficiário poderá deixar de consum ar a co n ­
cessão, declarando esse fato p o r escrito ou não recebendo a prim eira m ensalidade.
9 79. Suspensão e restabelecimento — Em várias hipóteses, o benefício em
m an u ten ção será suspenso: a) concessão de salário-m aternidade; b) volta ao tra­
balho do percipiente de aposentadoria p o r invalidez e ap o sen tad o ria especial; e c)
com provada susp eita de fraude.
A segurada em gozo de auxílio-doença que ingressa no período de 120 dias da
licença à m aternidade tem o benefício por inaptidão para o trabalho suspenso e resta­
belecido no final dos 120 dias (claro se a causa da incapacidade co n tin u ar presente).

C urso de D ir e it o P r f .v i p e n c í à r í o

T o m o I I — P re v i d ê n c ia S o c ia l
O órgão gestor co n statando que u m segurado aposentado p o r invalidez voltou
ao trabalho, os p ag am entos serão suspensos, cogitando-se da eventual devolução
do que foi in d evidam ente recebido. C om provada a cessação desse exercício laborai
vedado, o benefício será restabelecido. Em face do trabalho exercitado, eventual­
m ente, a au tarq u ia po d erá exigir nova perícia m édica para ap u rar a disposição para
o trabalho.
Q uem se ap o sen to u pela aposentadoria especial, alegando co n tin u ad a expo­
sição aos agentes nocivos insalubres está im pedido de voltar ou c o n tin u a r num
trabalho insalubre. Tom ando con h ecim en to do fato o INSS suspenderá o benefício
e o restabelecerá após o segurado deixar o trabalho.
N um a única circunstância, a da concessão indevida por m otivo de fraude,
o titu lar será cientificado da im propriedade, cabendo-lhe refazer o pedido com
novos d o cu m en to s o u provas. Se isso não sucede, os pagam entos serão suspensos,
cabe recurso ad m in istrativo e ju d icial para rever a decisão da au tarq u ia federal.
980. C an ce lam en to defin itiv o — Por variados m otivos, u m benefício pode
ser cancelado, cenário que não se confunde com a natu ral cessação. C ancelam ento
não se co n fu n d e com suspensão, cessação ou transform ação. A prestação é anulada
e não pode ser restabelecida nas m esm as condições.
E quivocadam enle, se u m hom em foi aposentado p o r tem po de contribuição
com apenas 29 anos de serviço, ainda que seja p o r culpa do órgão concessor, a c o n ­
cessão será desfeita e a m an u ten ção cessará. C abendo, em cada caso, a devolução
dos pagam entos indevidos.
À evidência, q u e tal cenário será apreciado caso a caso, porque é preciso so­
pesar as responsabilidades p resentes e os prejuízos causados aos dois polos da
relação jurídica.
No exem plo, se o segurado c o n tin u o u trabalhando e provar m ais 12 m eses de
filiação, um novo benefício será concedido.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

830 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo XCVIII

N ex o E p id e m io l ó g ic o

981. Clientela protegida. 982. Nexo causai. 983. Nexo técnico. 984.
S u m á r io :
Presunção relativa. 985. Conceito regulamentar. 986. Poder da administração.
987. Contestação empresarial. 988. Conseqüências decorrentes. 989. Responsa­
bilidade civil. 990. Vigência do crilério.

C om a in stituição do N exo T écnico E pidem iológico Previdenciário — NTEP


pela Lei n. 11.430/2006, a p artir de I a.4.2007, cientificado do in fo rtú n io laborai
via CAT o u req u erim en to de benefício acidentário em q u e referido determ inado
C1D, o INSS to m ará decisões adm inistrativas, entre as quais a em issão da CRER,
que deflagrarão obrigações á em presa e direitos aos segurados.
Deverá fazê-lo a p a rtir de análise pericial, baseado em fatos o corridos no esta­
belecim en to da em presa e após inspeção m édica realizada n o trabalhador. C aben­
do, q u an d o o for o caso e presentes os pressupostos, a contraprova p o r parte do
em pregador, conform e o contencioso adm inistrativo da Lei n. 9.784/1999 e P orta­
ria MPS n. 323/2007. Logo, o in stitu to técnico designado com o “nexo cau sai”, que
vigeu de 15.1.1919 até 31.3.2003, deixou de existir.
A n o rm a básica que trata da m atéria é a Lei n. 11.430/2006, regulam entada
pelo art. 337 do D ecreto n. 3.048/1999, na redação d ad a pelo D ecreto n. 6.042/2007,
esm iuçada pela IN INSS n. 16/2007 (DOU de 30.3.2007) e IN INSS n. 31/
2009. Tam bém co n v indo exam inar o art. 168 da CLT e os dizeres da Portaria
MTE n. 41/2007. E tam bém as R esoluções CNPS ns. 1.101/1998, 1.269/2004 e
1.269/2006. M ais recentem ente, as R esoluções n s .1.305/2009 e 1.306/2009 (FAP),
981. C lie n te la p ro te g id a — Esse NTEP é próprio do em pregado u rb an o ou
rural, do tem p o rário e do servidor filiado ao RGPS. N ão há referências ao avulso
nem ao dom éstico na lei básica da m atéria.
O co n trib u in te individual vitim ado p o r acidente de q u alq u er natu reza ou cau­
sa não gera estes deveres ou pretensões, o m esm o valendo para o em pregado (não
há culpa p o r parte da em presa). N ão há previsão para o em presário que presta
serviços para a em presa e sofre um acidente do trabalho.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o Ji — P r e v id ê n c ia S o c ia l 831
D entro dos diferentes períodos de m an u ten ção da qualidade de segurado
(PBPS, art. 15), o desem pregado não co n trib u in te ou o facultativo que vier a re­
q u erer auxílio-doença ou aposentadoria p o r invalidez, alegando doença o cu p a­
cional ad q u irid a q u an d o era em pregado, tem porário ou servidor filiado ao RGPS,
está in cluído n esta m o dalidade de proteção (art. 4 5, § 12, da IN INSS n. 16/2007).
P rovará com a CTPS e outros registros válidos p ró p rio s dessa relação ju ríd ica
laborai.
A não em issão de CAT p o r parte do em pregador não o desobriga dos deveres
q u e nascem do NTEP. Por seu tu rn o , se ela provier de o u tra origem reforçará a
presunção estabelecida n a lei.
N ote-se que im p ortará a acidentalidade dos trabalhadores que prestam ser­
viços para a em presa na condição de em pregados e não de autônom os, pessoas
juríd icas. N em terceiros (especialm ente tem p o rário s), p orque os infortúnios que
envolverem estes ú ltim os co n tratad o s afetarão a em presa da qual façam parte e não
da contratan te. Tam bém estão excluídos os estágios (não em pregados).
982. N exo causai — N exo causai acidentário é um a relação lógica de causa
e efeito atribuível entre o am biente laborai e o tipo de contingência (designada
com o agravo) que v itim ou o segurado e que o im peça de trabalhar por m ais de 15
dias e, na figura da concausa, q u e tenha co n trib u íd o para isso. O u seja, um vínculo
correspectivo entre um a entidade laborai (exercício de atividade profissional) e o u ­
tra (exercício do d ireito ao benefício previdenciário). De tal sorte que o resultado
possa ser atrib u íd o às circunstâncias p recedentes no tem po, m ediata ou im ediata­
m ente (configurando certas responsabilidades do d ad o r de serviços).
Relação im p o rtan te para o D ireito Previdenciário e que obriga a em presa, em
relação ao segurado, a tom ar um a série de providências form ais, assum idas quando
tiver consciência da realidade, pelo P oder Ju d iciário ou, usualm ente, pela perícia
m édica do INSS.
Para a IN INSS n. 16/2007, são tidos com o agravos: “a lesão, a doença, o
tran sto rn o de saúde, o d istú rb io , a disfunção ou a síndrom e de evolução aguda,
su baguda ou crônica, de natu reza clínica ou subclínica, inclusive m orte, in d ep en ­
d en tem en te do tem po de latência” (art. 29, § l e).
983. N exo técn ico — A IN INSS n. 16/2007 regulam entou esse novo in stitu to
técnico, o NTEP, con clusão p resen te q u an d o caracterizadas certas circunstâncias
que envolvam a atividade exercida pelo segurado (em função do CNAE da em ­
presa) e a causa da incapacidade para o trabalho (codificada n u m ericam ente pelo
CID), do p o n to de vista epidem iológico.
P or dar-se um a inaptidão para o trabalho (geradora do auxílio-doença co­
m u m ) e não haver m oléstia ocupacional, conclusão a ser definida pela perícia
m édica do INSS, cabendo, se for o caso, os benefícios previdenciários. N estas cir­
cunstâncias, para que chegue a essa conclusão ou a afaste, a perícia m édica poderá
solicitar exam es com plem entares, dem onstrações am bientais da em presa, pesqui-

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

S32 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
sas ou vistorias in loco e até m esm o o PPP do trabalhador. À evidência, essas deci­
sões terão de ser fu n d am en tad as em do cu m en to s a serem fornecidos ao segurado
para co ntestação (CRER).
A IN/INSS n. 31/2008 decom pôs essa relação em três tipos:
a) N exo técnico profissional ou do trabalho — Associação entre patologias e
as exposições co n stan tes das Listas A e B do A nexo II do RPS (art. 3 Q, I);
b) N exo técnico p o r equiparação — D ecorrente de acidentes de trabalho; e
c) N exo T écnico E pidem iológico Previdenciário — P ropriam ente dito, q u a n ­
do p resen te significância estatística entre o CID e o CNAE da em presa.
9 84. P resu n ç ão relativ a — A Lei n. 11.430/2006 estabeleceu um a presunção
ju ríd ic a ju ris tantum de que a m otivação d eterm in an te da in ap tid ão para o trabalho
se deve ao em pregador, q u an d o coincidam essa incapacidade laborai com a ativi­
dade exercida da em presa, estatisticam ente com binando-se o C ódigo CNAE com
o C ódigo CID.
Por se trata r de um a adm issão indireta e não ser u m a p resunção absoluta,
nasce o direito subjetivo do em pregador de contraditá-la, com provando que não
deu m otivo para a in ap tid ão do trabalhador. Por exem plo, se um a m u lh er é cro-
cheteira d u ra n te o seu tem po não laborai e em razão dessa ocupação p articu lar é
obrigada a m ov im en tos repetitivos, possivelm ente esse últim o esforço rotineiro
será o cau sad o r da LER e não o que ela faz no serviço. Um m úsico roqueiro pode
afetar audição em d ecorrência dos altos níveis de decibéis a q u e fica subm etido
n o s fins de sem ana e não na em presa. Em am bos os casos, pensa-se até m esm o na
h ipótese da concausalidade.
E v identem ente, m esm o com a presença do nexo causai podem não haver
incapacidade e concessão dos benefícios correspondentes.
98 5 . C o n ceito re g u la m e n ta r — C onceitualm ente, seg u n d o o § 3e do art. 2Q
da IN INSS n. 16/2007, existe nexo causai entre o trabalho e a doença (pelo ato
norm ativo designado com o agravo), q u an d o for possível fixar-se a ocorrência do
rtexo “epidem iológico entre o ram o de atividade econôm ica da em presa” (CNAE)
“e a en tid ad e m órbida m otivadora da in cap acid ad e” (C ID ).
Pode in o co rrer o NTEP, m as estar presente a incapacidade para o trabalho,
geran d o o auxílio-doença com um .
986. P o d e r d a ad m in istra ç ã o — A norm a ju ríd ica atrib u iu ao INSS o p o d er
discricionário de avaliar o cenário apresentado, com ou sem CAT e, q u an d o for o
caso, co n statar a presença do nexo técnico en tre a atividade exercida pelo segurado
e a m orbidez incapacitante. O ju íz o é da A dm inistração Pública, q u e se reserva esse
d ireito ; se a co n c lu sã o não for co n testad a, ela gerará obrigações p a ra a em presa
e direitos para os trabalhadores.
Os p rin cip ais d esd o b ram en to s são os seguintes:
I — m ulta p o r om issão de CAT (PBPS, art. 133);
II — estabilidade acidentaria p o r 12 m eses (art. 118 do PBPS);

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c i á r i o
Tomo II — Previdência Social
833
III — fiscalização do MTE;
IV — recolhim ento m ensal do FGTS;
V — responsabilidade civil (PBPS, art. 120);
VI — indenização civil (Súm ula n. 229 do STF).
987. Contestação empresarial — D en tro do prazo de 15 dias, co n tad o da
data da en trega da GFIP, a em p resa p o d erá co n testa r a definição do nexo técnico
a p a rtir de in fo rm açõ es am b ien tais que p o ssu a (p ro n tu á rio m édico, m apeam ento
de sin istro s, LTCAT, PPRA, PCM SO etc.). Se n ão o fizer no p razo, ad m in istra ti­
vam ente, se e n te n d e rá q u e confessou a oco rrên cia (restan d o -lh e ap en as a prova
em co n trá rio no P oder Ju d ic iá rio ). C aso so m en te tom e co n h e cim en to do diag­
nó stico a posteriori, ren ova-se esse term o. A lgum as p ro v id ên cias auxiliam nesse
m ister:
I — m ostrar que o trab alh ad o r sofreu a ação deletéria em o u tro em prego, que
é degenerativa, genética, ou p ró p ria da região;
II — d e m o n stra r q u e n ão h o u v e q u a lq u e r au tu ação d o MPS, MS ou MTE;
III — evidenciar que vem red u zin d o o nível de acidentalidade, fato confirm a­
do com a redução da alíquota do SAT (Lei n. 10.666/2003);
IV — relatar a baixa frequência das ocorrências assem elhadas;
V — convencer o INSS de que elabora o PPRA e o PCMSO e não tem em itido
CAT nem PPP;
VI — fornecer LTCAT;
VII — ap resentar o R elatório da CIPA com evidência da baixa acidentalidade;
VIII — copiar e entregar os exam es adm issionais, seqüenciais, audiom étricos
e dem issionais sem ocorrências;
IX — provar ju d icialm en te a inexistência de ações trabalhistas ou civis;
X — exibir relatório circunstanciado com parecer idôneo da m edicina, higie­
ne e segurança do trabalho de que a sua prevenção acidentária é eficaz.
Por seu tu rn o , o segurado p o d erá opor-se à contestação da em presa, apre­
sen tan d o contrarrazões, tu d o isso após ter acesso ao requerim ento da em presa,
no prazo de 15 dias. Q uem apreciará essa verdadeira Defesa Prévia serã a perícia
m édica do INSS, que dará ciência ao interessado, cabendo, em seguida, recurso
à J u n ta de R ecursos e, p o sterio rm en te, à CAj do C onselho de R ecursos (Portaria
MPS n. 323/2007).
988. Conseqüências decorrentes — C aracterizado o NTEP, presentes os d e­
m ais requisitos legais, será concedido o auxílio-doença, seguindo-se, q u an d o for
o caso, o auxílio-acidente ou a aposentadoria p o r invalidez. No acidente fatal, a
pensão p o r m orte.
Do p o n to de vista laborai, a estabilidade p o r 12 meses. Fiscalm ente, o dever
de co n tin u ar d ep o sitan do o FGTS.

C ursq d e D i r e it o P r e v id e n c i á r i o
Wladimir Novaes Martinez
834
N ote-se que a p ar do p rocedim ento previdenciário d e concessão de um desses
benefícios, terá seguim ento eventual contestação p o r parte da em presa, sem prejuízo
da prestação previdenciária p o rq u e as conseqüências são trabalhistas.
989. R esp o n sab ilid ad e civil — Assevera o art. 120 do PBPS que: “N os ca­
sos de negligência q u an to às norm as padrão de segurança e higiene do trabalho
in d icados para p ro teção individual e coletiva, a Previdência Social p ro p o rá ação
regressiva co n tra os responsáveis”.
D etectada a culpa in vigilando do em pregador, se assim co n clu ir a perícia m é­
dica do INSS (sxc), de certa form a su b stitu in d o o papel do MPF, cercada das provas
de que dispuser, cientificará à P rocuradoria F ederal Especializada (INSS), para que
sejam tom adas as providências visando o ressarcim ento da Previdência Social (art.
7Q), além de rep resentar as C om issões In tersetoriais de Saúde do Trabalhador —
C1ST (Lei n. 8 .0 8 0 /1999).
990. Vigência d o critério — A IN INSS n. 16, datada de 27.3.2007, entrou
em vigor em 1“.4.2007.
Serão su b m etid as a este novo p rocedim ento as ocorrências q u e deflagrarem
req u erim en to de benefício a p artir dessa data (art. 5Q).
Os p ro ced im en to s em andam ento, iniciados antes dessa linha corte, su b m e­
tem -se a estas novas regras, inclusive o direito de contestação do em pregador.
A C onfederação N acional da In d ú stria — CNI ingressou n o STF com a ADI
n. 3.931/2007, co n testan d o o NTEP, até hoje sem solução.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io
T om o 11 — P re v idência Social
835
Capítulo XCIX

C om unicação de A cidente

Su m a r i o : 991. Natureza jurídica. 992. Obrigação da emissão. 993. Incidentes

laborais. 994. Interesse no incidente. 995. CAT por terceiros. 996. Fator aciden­
tário. 997. Nexo epidemiológico, 998. Duração do afastamento. 999. Ausência
de multa. 1000. Mapeamento de sinistro.

A Lei n. 11.430/2006 a u to riz o u a perícia m édica do INSS decidir se a incapa­


cidade afirm ada pelo segurado requerente de auxílio-doença ou de aposentadoria
p o r invalidez deco rreu da insalubridade am biental do trabalho, q u an d o coinciden­
tes epidem iologicam ente o CNAE da em presa com o CID alegado pelo trabalhador,
u m in stitu to técnico conhecido com a sigla NTEP.
991. N a tu reza ju ríd ic a — A C om unicação de A cidentes do Trabalho — CAT
é u m a notícia escrita, form alizada e en cam in h ad a m ediante form ulário p adroniza­
do, a que está obrigada a em presa q u an d o da ocorrência de evento infortuníslico
laborai, para que várias au to rid ad es m inisteriais do G overno F ederal tom em co­
nh ecim ento do nível de acidentalidade do local de trabalho.
Três m inistérios (MS, MTE e MPS) têm evidentes interesses em tabular, ras-
trear e aco m p an h ar essas ocorrências a p o n to de, n a sua ausência, satisfazerem -se
com a em issão terceirizada (PBPS, art. 22, § 2e).
A m en cio n ad a Lei n. 10.666/2003 e a Lei n. 11.430/2006 deixaram claro que
o G overno Federal afastou as políticas m eram ente program áticas em term os de
prevenção e enveredou p o r um a ação m ais eficaz, ou seja, incentivar a redução dos
acidentes do trab alh o com o NTEP e o FAP
Estas providências tom adas pelo MPS estão diretam ente ligadas ao conceito
de acidente do trabalho, com vistas à dim inuição do custo de m an u ten ção dos be­
nefícios p o r incapacidade, ou seja, aqueles que dem andam afastam ento por m ais
de 15 dias. A m anhã, talvez se interesse p o r incidentes m enores do dia a dia; em
grande nú m ero tam bém dão conta da inospitalidade do am biente do trabalho.
992. O brigação da em issão — O caput do art. 21 -A do PBPS reza: “A em presa
deverá co m u n icar o acidente de trabalho à Previdência Social até o 1Q (prim eiro)

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c i á r i o
W ladim ir Novaes M artinez
836
dias útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de m orte, de im ediato, à autoridade
co m p eten te sob p en a de m u lta variável entre o lim ite m ínim o e o lim ite m áxim o
do salário de co n trib u ição sucessivam ente au m en tad a na reincidência, aplicada e
cobrada pela Previdência Social”.
De so rte que, a despeito de o u tras considerações, q uando se trata r de acidente
do trabalho, o dever form al se im põe.
993. In c id e n te s lab o ra is — A usente determ inação expressa legal bem clara
sub sistem algum as dúvidas sobre as ocorrências de acidente do trabalho típico
(trau m ático ) ou doenças ocupacionais que im plicarem em afastam ento laborai por
m enos de 15 dias.
D iferente é a situação do licenciado por alguns dias, q u e volta ao trabalho e se
sen tin d o sem condições de trabalhar, novam ente se licencia, de m odo que os dois
períodos de afastam ento som ados superem os tais prim eiros 15 dias, caracteriza o
acidente do trabalho e, p o r conseguinte, à luz do que diz o art. 23 do PBPS.
N esta últim a hipótese, não pairam dúvidas qu an to ao dever da em issão da CAT
porque se trata do acidente do trabalho que deflagra o auxílio-doença acidentário.
Em n e n h u m m o m ento, ao definir o que seja o in fo rtú n io laborai a legislação
acidentaria se refere ao evento infortunístico que afaste o trab alh ad o r p o r m enos
de 15 dias, u su alm en te designado com o incidente.
O s arts. 19/23 não tratam dessas in aptidões para o trabalho, resolvidas in ter­
n am en te com licenças rem u n erad as concedidas pelo seu seto r de m edicina do tra­
balho até p o rq u e o conceito de acidente que interessa à legislação e à Previdência
Social é o que im plica em afastam ento su p erio r aos prim eiros 15 dias e eventual
concessão de au xílio-doença, ap o sen tad o ria p o r invalidez, auxílio-acidente e p e n ­
são p o r m orte.
994. Interesse no incidente — Sem em bargo de o MPS, MTE e MS sem pre
revelaram preocupação com as estatísticas acidentárias de m odo geral, n en h u m a
n o rm a ju ríd ica d eterm in o u claram ente o ônus form al de co m u n icar esses in cid en ­
tes, problem as, às vezes de solução adm inistrativa interna.
Em v irtu d e do vazio norm ativo e do silêncio ju risp ru d en c ial, a em presa que
desejar certificar-se da desnecessidade de em issão da CAT deve p rotocolar C on­
sulta Fiscal ao INSS nos term os da Lei n. 9.784/1999 e do D ecreto n. 70.235/1972
(arts. 46/52).
995. CAT p o r terceiros — Se a em presa não em ite a CAT relativa a esses
in cid en tes laborais, n ad a im pede q u e terceiros o façam , entre os quais o próprio
segurado, seus fam iliares, o m édico do trabalho ou o sindicato.
996. F a to r a c id e n tá rio — O desejo do MPS de tabular m etodicam ente a
frequência, gravidade e custo dos acidentes, com o dito em ergiu com a Lei n.
10.666/2003, crian d o o FAP sem eficácia até o dia 31.12.2009, e a Lei n. 11.430/2006,
crian d o o NTEP. Esta ú ltim a norm a dispensou a CAT para as doenças ocupacio­
nais, de vez que o evento será arm azenado pela autarquia federal a p artir do NTEP

C u rso d e D ir e it o P r e v id e n c i á r i o
Tomo II — Previdência Social
C on sid eran d o que a dispensa de m u lta referida no art. § 5e do art. 22 do PBPS
se refere tão som ente à superveníência de um a doença ocupacional, resta saber se
os acidentes trau m ático s do trabalho que determ inem a afastam ento inferior a 15
dias im plicam na CAT.
D iante da indefinição legal, em bora se possam classificar tais ocorrências
com o sendo acidentárias p o r não repercutirem na concessão de benefícios por
incapacidade não se ju stifica a em issão por parle da em presa da CAT, até p orque
terceiros podem fazê-lo.
997. N exo ep id em io ló g ico — Im plantada a m etodologia do NTEP em
l s.4.2007, m ed ian te a qual a perícia m édica do INSS assum iu a atribuição de fixar
a relação entre o am biente de trabalho e a incapacidade para o trabalho, possivel­
m ente pen san d o o legislador na subnotificação da CAT, tem -se inform ação sobre o
papel desse d o cu m en to a ser considerada.
A p arentem ente, o MPS desvinculou a CAT das doenças ocupacionais e elegeu
o acidente trau m ático com o sendo aquele que justifica sua em issão.
998. D uração do afastam en to — Caso o segurado tenha se afastado p o r al­
guns dias e reto rn ad o ao trabalho p o r pouco tem po, não logrando re to m a r as ati­
vidades habituais e no v am ente se afaste, de m odo que os dois perío d o s de licença
superem os 15 dias, cum pre-se o objetivo da lei de que o trabalhador, ele deve ter
sua licença m édica custeada pelo INSS, contado da data em que com pletou esses
15 dias, n o rm alm en te p o r interm édio do auxílio-doença ou, nu m a rara hipótese,
da ap o sen tad o ria p o r invalidez.
N este caso, a d espeito da dispensa da m ulta, é d ever da em presa em itir a CAT,
a ser d atada q u an d o o seto r de m edicina do trabalho co n clu ir pelo novo afastam en­
to su p erio r aos 15 dias e, então, aplicando-se com o conceito do dia do acidente,
aquele que consta do art. 23 do PBPS: “C onsidera-se com o dia do acidente, n o caso
de doença profissional ou do trabalho, a data do início da incapacidade laborativa,
para o exercício da atividade habitual, ou dia da segregação com pulsória, ou o dia
em que for realizado o diagnóstico, valendo p ara esse feito o que ocorrer prim eiro'’.
999. A usência de m u lta — A m esm a Lei n. 11.430/2006 alterou a redação do
PBPS acrescentando u m art. 21-A, que no seu § 5a diz: “A m ulta de que trata este
artigo não se aplica na hipótese do caput do art. 21-A ”.
Sente-se que ap arentem ente o P oder E xecutivo hesita em atrib u ir im portância
à em issão da CAT, acolhendo recom endação do CNPS (R esoluções ns. 1.236/2004 e
1.269/2006 e, m ais recentem ente, com as Resoluções ns. 1.308/2009 e 1.309/2009).
1000. M ap eam en to de s in istro — In d e p en d en tem e n te na necessidade-de
em issão da CAT, que interessa efetivam ente ao MTE e in d iretam en te ao INSS, sob
o p o n to de vista da prevenção acidentária e da definição das alíquotas de c o n tri­
buição do SAT, e até m esm o do controles do M inistério da Saúde, a em presa deve
exercer rígida supervisão sobre sua acidentalidade. Im porta que tabule u m m ap e­
am ento de sinistro à altura do seu am biente de trabalho.

C u rso d e D i r e it o P r e v id e n c i á r i o
W ladimir Novaes Martinez
838
Capítulo C

A u xí l i o - D qença

1001. Natureza jurídica. 1002. Evento determinante. 1003. Quando


S u m á r io :
começa. 1004. Momento da cessação. 1005. Importância inicial. 1006. Primei­
ros 15 dias. 1007. Exame médico, 1008. Simultaneidade de atividades. 1009.
Volta ao trabalho. 1010. Exigências documentais.

A uxílio-doença é benefício p ró p rio de todos os segurados, h isto ricam en te o


p rim eiro a ser in stitu íd o , p o d endo ser com um (derivado de doenças ou enferm i­
dades) ou d eco rrer de acidente, do trabalho ou não. A usente expressam ente na
CF, todavia é sinalizado no art. 2 0 1 ,1, q uando a C arta M agna fala em cobertura da
doença.
Se acid en tário , é p ressu p o sto para a estabilidade laborai provisória do segu­
rado (art. 118 do PBPS). De fato, n ão im p o rtan d o a causa determ in an te, pode ser
condição para a ap o sentadoria p o r invalidez.
Em 28.4.1995, teve o seu cálculo b astante sim plificado, resu ltan d o da aplica­
ção de coeficiente padrão (91% ) sobre o salário de benefício.
D u ran te sua fruição, o em pregado é considerado licenciado peia em presa. Se
esta lhe g arante licença rem u n erad a deverá pagar-lhe a eventual diferença entre o
salário con tratu al e os 91% devidos pelo INSS.
1001. N a tu re z a ju ríd ic a — Prestação nilidam ente previdenciária tem porária
su b stitu id o ra dos salários, de pagam ento co n tinuado, reeditável, o bstando a volta
ao trabalho, é direito do segurado incapaz para o seu labor p o r m ais de 15 dias. No
co m u m dos casos, exige período de carência de 12 contribuições m ensais e afas­
tam ento do em prego, provindo de doença o u enferm idade com um ou acidentaria.
R ecusado p ara q u em ingressa incapaz no sistem a, em razão de doença ou
lesão invocada com o causa (excetuadas as figuras da progressão ou agravam ento),
perm anece com caráter securitário.
N ào trab alh an d o q u an d o dos reco lh im en to s m ensais, é direito do faculta­
tivo; pode ficar in cap acitado para a sua atividade (no m o m en to da ocorrência,
in ex isten te).

839
C l ir s o d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — Previdência Social
1002. E vento d e te rm in a n te — Nos term os da lei vigente, é devido ao segu­
rado “incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade h ab itu al p o r m ais
de 15 dias con secu tiv o s”.
A distintiva “trab alh o ” e “atividade h ab itu al” q u er dizer a ocupação do segu­
rado sujeito a d esconto (servidor, em pregado, avulso e dom éstico) e do c o n trib u in ­
te individual (em presário, au tô n o m o , equiparados e segurado especial).
N ão im porta a causa, se com um ou acidentária (acidente do trabalho, doença
profissional, do trabalho ou de qu alq u er natureza), terá de ser, porém , obslativa
do labor. A lgum as incapacidades não o dellagram , cada um a delas exam inada em
função do exercício da atividade.
1003. Q u a n d o com eça — R equerido até 30 dias do afastam ento do trabalho,
tem início n o 16° dia, contado a p a rtir do últim o dia de labor, para o servidor, em ­
pregado, tem p o rário ou em presário.
No caso do au tô n o m o , eventual, eclesiástico, avulso, dom éstico, segurado
especial e facultativo, com eça na Data do Início da Incapacidade — DII ou da DER,
se entre essas dalas se tiverem passado m ais de 30 dias.
Se o segurado não pode requerê-lo p o r im possibilidade física, especialm ente
quando in tern ad o em hospital ou em tratam en to am bulatória!, m esm o solicitado
após o decurso dos 30 dias, a prestação paga-se desde o referido 16Q dia.
Nos term os do su b item 3.1,1 da O rdem de Serviço INSS/DSS n. 120/1993: “A
fixação da DIB do auxílio-doença para os segurados facultativo, trabalhador a u ­
tôn o m o ou a ele eq u iparado e segurado especial, q u an d o co n trib u in te individual,
será de acordo com a DII, p o d endo estas coincidir, ou não, com a últim a com pe­
tência paga, cabendo neste caso a restituição das contribuições efetuadas”.
O INSS tem a obrigação de processar a concessão q u an d o tiver conhecim ento
do direito do interessado.
1004. M om ento da cessação — O benefício cessa p o r ocasião da alta m édica
ou, form alm ente, p o r disfunção, no dia a n terio r ao início da aposentadoria por
invalidez ou do auxílio-acidente. N ão h á m ensalidade de recuperação, com o na
apo sentadoria p o r invalidez.
Sem solução de co n tin u id ad e, em bora já existisse, no passado (prim eiro, de
12 m eses e depois, de 24 m eses), não h á term o para a sua duração. Seu período
de m an u ten ção é considerado para fins dos dem ais benefícios.
1005. Im p o rtân c ia inicial — A renda m ensal inicial corresponde a 91% do
salário de benefício, não p o d en d o ser inferior ao salário m ínim o n em su p erio r ao
lim ite do salário de contribuição.
No caso do exercente de duas ou m ais atividades, sujeita-se a cálculo p ro p o r­
cional ao p erío d o de carência (12 contribuições).
1006. P rim eiro s 15 d ias — O salário dos p rim eiro s 15 dias antecedentes
à data do início é devido pela em presa, com o se ele tivesse trabalhado (Lei n.
605/1949).
Som ente incapacidade perdurando por lapso de tem po superior a 15 dias deter­
m ina a concessão. Acom etido por doença ou enferm idade inibidora do trabalho por

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c i á r i o

840 Wladimir Novaes Martinez


prazo inferior, devidam ente com provada por m édico próprio, conveniado ou do SUS,
as faltas são abonadas pela em presa, cabendo ser pagos os salários correspondentes.
Tal im portância assum e natureza de benefício previdenciário devido pela empresa.
Reedilãvel, d u ra n te a vida profissional o u fora dela, o trab alh ad o r pode req u e­
rer e u su fru ir in ú m ero s auxílios-doença. Em certos casos, interligados pela m esm a
enferm idade, deverão ser unificados.
A respeito d e sucessivas faltas entrem eadas com reto rn o ao trabalho ou de
co n secutivos auxílios-doença, determ inada a não prestação de serviços pela m es­
m a enferm idade, diz o art. 73, § 3e, do D ecreto n. 2.172/1997: “Se concedido novo
benefício deco rren te da m esm a doença dentro de 60 dias contados da cessação do
benefício anterior, a em presa fica desobrigada do pagam ento relativo aos 15 p ri­
m eiros dias de afastam ento, p rorrogando-se o benefício an terio r e descontando-se
os dias trabalhados, se for o caso”.
1007. Exam e m éd ico — O req u eren te do auxílio-doença sujeita-se a exam e
m édico pericial, p rom ovido pelo INSS.
Fixada a D ata do Início da Incapacidade — DII em m om ento a n terio r ao in­
gresso n a previdência social, salvo na hipótese de agravam ento, não há direito ao
benefício.
É o b rig ad o tam b ém a p a rtic ip a r de p ro c e sso d e re a b ilita ç ã o p ro fissio n a l e
a tratam en to m édico às expensas da previdência social. Insuscetível de recu p era­
ção para sua atividade habitual, o benefício não cessa até ser p erfeitam ente habili­
tado para o u tra função, capaz de lhe g aran tir a subsistência.
D iante do elevado núm ero de benefícios deferidos nos últim os anos, o MPS
pensa em divulgar um a tabela com cerca de 10 mil CIDs, com os períodos de
du ração da m an u ten ção previam ente fixados.
1008. S im u ltan eid a d e de ativ id ad es — Exercendo o segurado m ais de um a
atividade, a p rin cíp io terá de se afastar de todas elas para fazer ju s à prestação. Caso
a incapacidade diga respeito a apenas u m a inscrição, os salários de contribuição
co rresp o n d en tes d eterm inarão o salário de benefício.
O p erío d o de carência a ser verificado será o dessa atividade, au to rizad o a
p erm an ecer trab alh ando na o u tra atividade.
No curso da m anutenção do benefício, advindo incapacidade para as dem ais
atividades, o v alo r m ensal deverá ser revisto considerando-se os salários de c o n ­
tribuição co rresp o n d entes. Se, em relação a algum a ocupação, ele ap resen tar o
q u ad ro clínico d eterm in a n te da aposentadoria p o r invalidez, o auxílio-doença será
m an tid o até a incapacidade estender-se às dem ais funções.
1009. Volta ao tra b a lh o — Tratando-se de benefício p o r incapacidade, obsta
o reto rn o ao trabalho. Se, in advertidam ente, o segurado o faz, tem alta técnica, o
pagam ento das m ensalidades é sustado e, na h ip ó tese de ter voltado ao trabalho
sem info rm ar o órgão gestor, recebeu indevidam ente e está obrigado a restituir.
1010. E xigências d o c u m e n ta is — Os principais d o cu m en to s exigidos são:
requ erim en to , relação dos salários de contribuição desde ju lh o de 1994, provas
de filiação (n o rm alm en te, a CTPS) e contribuição , de endereço e de identificação.

C u r s o diz D í r i íi t o P r e v id e n c t A rto
Tomo II — Previdência Social
Capítulo Cl

A p o s e n t a d o r ia p o r I n v a l id e z

1011. Notas introdutórias. 1012. Essência lécnica. 1013. Fato deflagra­


S u m a r io :
dor. 1014. Valor inicial. 1015. Acréscimo de 25%. 1016. Data do início. 1017.
Mensalidades de recuperação, 1018. Perícia médica. 1019. Vedação ao trabalho.
1020. Documentos necessários.

A posentadoria por invalidez centra a atenção dos estudiosos p o r se tratar de


prestação característica do seguro social, criada praticam ente ao tem po do auxílio-
-doença. Tem previsão co n stitu cio n al e legal, conhece considerável d o u trin a sobre
os seus fu n d am en to s e copiosa ju risp ru d ên cia.
1011. N otas in tro d u tó ria s — B enefício-irm ão m aior do auxílio-doença é
prestação previdenciária geradora de respeitáveis dissídios adm inistrativos e ju d i­
ciais p ertin en tes à definição do evento d eterm inante.
D iante da en o rm e dificuldade de caracterizar a incapacidade para o labor ou
recuperação, é negada para quem não tem condições de trabalho e deferida ao apto,
provocando um sem -núm ero de discussões qu an to à m atéria fática, principalm ente
q uan d o o riu n d a de acidente do trabalho, doença profissional ou do trabalho.
Em 1995, teve o valor m ajorado para 100% do salário de benefício, sim plifi­
cando os cálculos e su p eran d o o valor líquido auferido pelo trabalhador quando
em atividade.
1012. E ssên cia técnica — A posentadoria p o r invalidez é benefício substitui-
d o r dos salários, de pagam ento co n tin u ad o , provisório ou definitivo, pouco reedi-
tãvel, devido a segurado incapaz para o seu trabalho e insuscetível de reabilitação
para o exercício de atividade garantidora da subsistência.
A ele faz ju s o facultativo, m esm o não trabalhando, e quem ingressa na previ­
dência social incapaz para o trabalho não faz ju s, salvo se su ced eu progressão ou
agravam ento após a filiação.
O benefício subm ete-se a período de carência d e doze contribuições m ensais
e é d eterm in ad o p o r doença ou enferm idade com um ou acidentária, sujeitas à ve­
rificação p o r exam e m édico pericial, sem lim ite de idade.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c i á r i o
842 W ladimir Novaes Martinez
1013. Fato deflagrador — A condição deflagradora da ap o sen tad o ria p o r in ­
validez distin g u e-se da d o auxílio-doença, pela in tensidade da inaptidão. R equer­
-se a m esm a in capacidade para o seu trabalho p o r m ais de 15 dias, porém , estando
o segurado im p ossibilitado de reabilitação.
Q u er dizer, tam bém , quadro clínico m ais sério e, p o r isso, o benefício pode
d isp en sar o auxílio -d oença precedente.
A exem plo do auxílio-doença, não faz ju s ao benefício qu em ingressou inca­
paz para o trabalho.
1014. V alor in icial — A partir da Lei n. 9.032/1995, sendo co m u m ou aciden-
tário, o benefício passou a ser de 100% do salário de benefício.
P recedido de auxílio-doença, o salário de benefício deste com porá o período
básico de cálculo e su b stitu irá os salários de contribuição.
Q u an d o p reen ch id o s os requisitos, se o segurado tiver concedida a aposenta­
d o ria p o r idade, tem po de serviço ou especial, cessa a aposentadoria p o r invalidez.
De acordo com o art. 49 do D ecreto n. 3.048/1999, após os prazos da m ensalidade
de recuperação.
R esultando o benefício de transform ação do auxílio-doença (caso m ais
co m u m ), o salário de benefício deste últim o direito é considerado no cálculo da
ap o sen tad o ria p o r invalidez, operada a transform ação au to m aticam en te pelo órgão
gestor.
1015. A créscim o d e 25% — Caso o segurado, em razão da invalidez, precise
da ajuda de pessoa é pago acréscim o de 25%, podendo, in casu, su p erar o lim ite do
salário de benefício.
Essa adição cessa com o falecim ento do segurado e não se incorpora, com o o
principal, ao valor da pensão p o r m orte.
A d o u trin a vem defendendo a ideia de que esses 25% deveriam ser estendidos
a todos os ap o sen tad os q u e estiverem nas condições do art. 45 do PBPS.
1016. Data do início — De regra, o beneficio com eça após o en cerram en to
do auxílio-doença, m as, dispensado este ú ltim o em razão da gravidade da in cap a­
cidade, tem início no 16e dia co ntado do afastam ento do trabalho, observando as
m esm as regras do auxílio-doença.
Se con ced id o d iretam ente, sem o auxílio-doença, os p rim eiro s quinze dias são
pagos pela em presa.
1017. M en salid ad es de re cu p eraçã o — Q u ando o segurado readquire a ap ­
tidão p ara o trabalho e tem alta, o benefício é pago em m o n tan tes m enores por
algum tem po, até term in ar de vez. Caso a perícia m édica conclua nesse sentido, ela
pode ser definitiva. Cessa im ed iatam en te se o segurado, espontaneam ente, voltar
ao trabalho.
As regras aplicáveis são as seguintes: 1 — no caso de recuperação total e ocor­
rer d en tro de cinco anos contados da DIB da aposentadoria do auxílio an teced en ­
te, cessa: a) de im ediato para o em pregado com direito a re to rn ar à função antes

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia f 843
desem penhada; b) após tantos m eses qu an to s forem os anos de duração dos dois
benefícios, para os dem ais segurados; II — q u an d o a recuperação for parcial ou
ocorrer após cinco anos, ou, ainda, q u an d o o segurado for declarado apto para o
exercício de trabalho diverso do qual hab itu alm en te exercia, o benefício m an tém ­
-se: a) pelo seu valor integral du ran te seis m eses a partir da recuperação da capaci­
dade; b) redução de 50%, p o r seis m eses; e c) com redução de 75%, p o r seis m eses,
até term in ar definitivam ente.
1018. P erícia m édica — A concessão e a m an u ten ção do benefício dependem
de exam e m édico. Os segurados com m ais de 55 anos tam bém estão obrigados à
inspeção m édica.
Da m esm a form a, sujeitos ao processo de reabilitação profissional.
10 f 9. V edação ao tra b a lh o — E xatam ente com o o auxílio-doença, a p resta­
ção obsta n atu ralm en te a volta ao serviço. S entindo-se em condições de Lrabalhar
o percipiente do benefício deve solicitar alta m édica. Se não o fizer, retornando ao
labor, d eterm in ará o en cerram en to do benefício e, nesse caso, terá de restitu ir o
indevido.
1020. D o cu m entos n e c e ssá rio s — Os d o cu m en to s necessários são os seguin­
tes: requ erim en to , relação dos salários de contribuição desde ju lh o de 1994, prova
de filiação (CTPS) e de contribuição, prova de endereço e, se quiser, ju n ta d a de
atestados m édicos particulares ou pareceres sobre a incapacidade.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

844 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo Cll

A p o s e n t a d o r ia p o r Id a d e

1021. Regras legais. 1022. Naturezajurídica. 1023. Causa determinante.


S u m á r io :
1024. Início do direito. 1025. Primeiro montante. 1026. Origem da concessão.
1027. Solicitação compulsória. 1028. Labor do aposentado. 1029. Normas sobre
acumulação. 1030. Papéis reclamados.

Ao lado do auxílio-doença e da aposentadoria p o r invalidez, a aposentadoria


p o r idade é tradicional benefício da previdência social, criada praticam en te ao
tem po de sua im plantação. Prestação universal, dos trabalhadores u rb a n o s ou r u ­
rais, e dos servidores públicos, sob critérios distintos, cria problem as de in terp re­
tação em relação ao rurícola e u rb a n o (justificando o in medio virtu es£, isto é,
concessão cinco an o s antes da parte ru ral e cinco anos depois da urb an a, se o tra­
balhador, sim u ltan eam en te, pertence aos dois dom ínios).
A p artir de 25.7.1991, deixou de ser aposen tadoria p o r velhice, na vã ten ta­
tiva de evitar d iscrim inação contra o idoso. À exceção da carência, n ão com porta
g randes dúvidas interpretativas.
Na fixação do evento determ in an te, o benefício faz distinção entre o trab a­
lh ad o r da cidade e do cam po, e, conform e a tradição, entre h om em e m ulher, com
visível preocupação com o princípio da isonom ia e da equivalência urb an o -ru ral.
Com isso, levantando-se questões, pois, legitim am ente beneficiada pela d im in u i­
ção de cinco anos, a m u lh er vive pelo m enos sete anos mais.
Será, p or algum tem po, polêm ica em relação ao conceito de trab alh ad o r rural,
ob rig an d o a diferenciação nos casos lim ites. E, para estes ú ltim o s segurados, su b ­
m etida à regra de discutível liceidade (PBPS, art. 143).
A distin ção do direito à previdência social no respeitante a ser o segurado ur­
bano ou rural, de m o do geral, e a possibilidade de auferir benefícios com critérios
d istintos, de m odo particular, faz em ergirem dúvidas profundas, m erecendo detida
análise, p rin cip alm en te no to can te aos ruríco las classificados com o trabalhadores
rurais su jeito s ao regim e urbano. Trata-se de parcela significativa de obreiros, ca-
suisticam en te filiados ao regim e urb an o , em l e.11.1991 transform ado no RGPS.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l 845
1021. R egras legais — Prevista n o art. 40,111, d, e no art. 2 0 2 ,1, da CF está
regulam entada pelos arts. 48 a 51 do PBPS e pelos arts. 49 a 53 do RBPS. A M edida
Provisória n. 1.523/1996 vedou a concessão para percipiente de benefício do Te­
souro N acional, m as o preceito não foi convertido na Lei n. 9.528/1997.
1022. N a tu reza ju ríd ic a — Benefício su b stitu id o r dos salários, de pagam ento
con tin u ad o , definitivo e não reeditável, é devido a segurado com a idade m ínim a
determ in ad a na lei e não obsta a volta ao trabalho.
1023. C au sa d e te rm in a n te — O p ressuposto técnico da prestação é a idade
avançada do trabalhador, prom ovida distinção real entre segurado urb an o e rural,
bem com o entre hom em e m ulher.
A trabalhadora rural a tem aos 55 anos e o trab alh ad o r ru ral aos 60 anos. Na
cidade, há acréscim o de cinco anos; a m u lh er a obtém aos 60 anos, e o hom em aos
65 anos.
1024. Início d o d ire ito — A data do início do benefício conhece regras m uito
sim ples, estendidas, p or rem issão, à aposentadoria p o r tem po de contribuição e
especial.
a) ausência de rompimento: F ixada n a data da solicitação (DER), se o trabalha­
d o r nào p ed ir dem issão, q uando não exigido esse requisito.
b) dentro de 90 dias: Se o segurado, por q u alq u er m otivo, se desliga da em presa
e solicita o benefício até 90 dias contados da rescisão, a DIB é o prim eiro dia su b ­
seq u en te ao térm ino do co n traio de trabalho.
c) após 90 dias: A inda nessa hipótese de desfazim ento do vínculo em prega­
tício, requerida a prestação após os 90 dias, da m esm a form a contados, o com eço
se dá na DER.
d) imprescritibilidade do direito: Solicitado o benefício a destem po, isto é, m u i­
tos anos após, ele prin cipia q uando da solicitação (DER), devendo a renda m ensal
inicial ser atualizada, com o se m an tid o tivesse sido o benefício, até a DIB.
1025. P rim eiro m o n ta n te — O benefício corresponde a 70% do salário de b e­
nefício m ais 1% p o r ano de filiação à previdência social, observados os patam ares
m ínim o e m áxim o dos dem ais benefícios.
1026. O rigem da co ncessão — N orm alm ente, é concedido a quem está tra­
balhando, m as p o d e provir de auxílio-doença ou aposentadoria p o r invalidez, por
via de transform ação, q u an d o atendido o período de carência próprio.
1027. S olicitação co m p u lsó ria — Q u ando a segurada com pletar 65 anos ou
o segurado 70 anos de idade em atividade, a em presa pode requerer o benefício
sponte própria, se eles p reencherem os requisitos legais (in ca su, qualidade de segu­
rado e p eríodo de carência).
F órm ula a ser revista em sua concepção, pois pode ser utilizada politicam en­
te. Se perfeitam ente válida a prom ovida pela em presa em relação ao trab alh ad o r
braçal, não tem m u ito sentido q u an d o in telectu al (v. g., professor).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

846 W ía d /m ír N o v a e s M a r fin e z
A decisão de re q u erer o benefício previdenciário, a despeito de ele situar-se no
cam po da n o rm a pública, é do titu lar do direito. O riginária d iretam en te da p rerro ­
gativa de trabalhar, direito assegurado co n stitu cio n alm en te, a regra é afetada pela
possibilidade de o em pregador p o d er solicitar a ap o sen tad o ria p o r idade, então
dita com pulsória.
O preceito legal pressupõe o fato de, a p artir de certa idade, o obreiro não
ap resen tar as condições de trabalho anteriores. N ivelada em 70 anos para os h o ­
m en s e, 65 an o s de idade, para as m ulheres, patam ar alto para País cuja expectativa
de vida é de 65 anos.
1028. L ab o r do a p o se n ta d o — Na atual legislação, não há im p ed im en to para
a volta ao trabalho, ju stifican d o o assu n to reconsideração p o r p arte do legislador,
prin cip alm en te em se tratan d o de segurado com a ap o sen tad o ria básica com ple­
m en tad a pela particular.
1029. Normas sobre acumulação — De acordo com a M edida Provisória n.
1.523-3/1996, se o segurado é aposentado pelo Tesouro N acional, não faz jus ao
benefício. E n q u an to não em endada a C arta M agna, a disposição entra em choque
com a su a previsão de benefícios para o filiado aos dois regim es.
A preciando lim inar, em novem bro de 1997, o STF en ten d eu ao contrário,
ad m itin d o a percepção co n ju n ta dos benefícios.
R espeitado o lim ite, pode ser acum ulado com o auxílio-acidente.
1030. P ap éis reclam ad o s — O s d o cu m en to s exigidos são: req u erim en to , ú l­
tim os salários de co ntribuição do PBC, prova de filiação d u ra n te o período de
carência (CTPS e o u tro s), certidão de nascim ento ou de casam ento, e de endereço.

C u rs o d e D ire ito P r e v id e n c i á r i o
T om o I I -— • P r e v i d ê n c i a S a c i a i
847
C a p í t u l o C lll

A p o s e n t a d o r ia E s p e c ia l

1031. Disposições pertinentes. 1032. Clientela de destinatários. 1033.


S u m Ar i o ;
Natureza jurídica. 1034. Atividades especiais. 1035. Valor inicial. 1036. Primei'
ro pagamento. 1037. Ônus da prova. 1038. Prova indireta das condições. 1039.
Demonstração do cenário. 1040. Laudo técnico.

As tran sfo rm açõ es aco n tecid as n a ap o se n ta d o ria especial, iniciadas com a


Lei n. 9 .0 3 2 /1 9 9 5 , p re ssu p õ e m d isto rçõ es n o in s titu to ju ríd ic o , vale dizer, na
aplicação à legislação, com a in clu são de funções ou atividades sem justificação
técnica, bem com o a aceitação dos e n tão SB-40 in ad eq u a d o s p o r parte da ad m i­
nistração . Prova disso, é o elevadíssim o n ú m ero de a p o se n ta d o s te r voltado ao
trab alh o , m esm o q u a n d o co m p lem en tad o , na m esm a ativ id ad e de risco d eterm i­
n an te do benefício.
N um extrem o, em determ inado m om ento, as au to rid ad es e alguns especialis­
tas p retenderam extingui-la sob a alegação de não estar bem caracterizado o risco
protegido, e, m ais adiante, pensou-se em transform á-la nu m a espécie de aposen­
tadoria p o r invalidez (o segurado teria de provar, após exam e m édico pericial,
ter sido vítim a dos agentes físicos, quím icos ou biológicos). A prim eira solução é
inteiram en te descabida e a segunda propicia aspectos positivos, com o a elim inação
da discussão sobre os requisitos legais, m as enseja nuanças negativas, com o a su b ­
jetividade da perícia m édica e as infindáveis discussões ad m inistrativas e judiciais
sobre a presença da incapacidade, com o sucede com o acidente do trabalho. O
correto talvez seja m anter-se o direito, m elhor discipliná-lo, m aior participação no
custeio p o r parte do trabalhador e da em presa geradores desse sinistro.
O ptou-se p o r m odificações, m ediante lei e m edida provisória, e de atos nor­
m ativos m enores, aqui e ali, pondo fim ao direito anterior, criando restrições a
funções e am bientes, im pondo-se condições lim itadoras novas.
A tendência, em bora não expressa na EC n. 20/1998, assinalam reform ulação
do m odelo, com novo rol de destinatários, inovação dos cenários caracterizadores,
lim ite m ínim o de idade, em baraços a fim de te n ta r d im in u ir o núm ero de re q u eri­
m entos e concessões.

C u rso de D ire ito P r e v id e n c iá r io

848 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
1031. D isp o siçõ es p e rtin e n te s — N ão são m uitas as fontes form ais, co n v in ­
do salien tar as principais. Em seu art. 202, II, a C arta M agna, logo após disciplinar
a ap o sen tad o ria p o r tem po de serviço integral e proporcional, dizia: “ou em tem po
inferior, se su jeito s a trabalho sob condições especiais, que p reju d iq u em a saúde
ou a integridade física, definidas em lei”.
A Lei n. 9 .0 3 2/1995 redefiniu o art. 57 do PBPS, alterando: a) o coeficiente do
salário de benefício, unificado em 100%; b) a necessidade de prova das condições
am bientais; c) com eteu ao MPS a atribuição de fixar os critérios d e conversão; d)
elim in o u o cô m p u to do tem po de serviço do d irigente sindical; e e) vedou a volta
ao trabalho do aposentado.
D esde a M edida Provisória n. 1.523/1997, prescreveu a Lei n. 9.528/1997: a)
a possibilidade de o P oder E xecutivo relacionar os agentes nocivos; b) recriou o
SB-40 (que passou a D1SES SB 5235, DSS 8030, DIRBEN 8030 e PPP); c) in stitu iu
o laudo técnico; d) exigiu referência à tecnologia d im in u id o ra da nocividade; e)
fixou m u lta para em presa sem laudo técnico atualizado; e f) in stitu iu o perfil pro-
fissiográfico e revogou a Lei n. 8.641/1993 (telefonistas).
Além dos D ecretos ns. 48.949-A /1960 (R egulam ento da LOPS), 60.501/1967
(reg u lam en to do D ecreto-lei n. 66/1966), 72.771/1973 (regulam ento da Lei n.
5 .8 9 0 /1973), e d o D ecreto n. 53.831/1964, relativam ente ao A nexo III, não pode
ser ig n orado o R egulam ento dos Benefícios ( l â versão: D ecreto n. 357/1991; 2-
versão: D ecreto n. 611/1992; e versão vigente: D ecreto n. 3.048/1999).
R ecentem ente, alterando p ro fu n d am en te a CANSB, foram editadas u m sem ­
-n ú m ero de O rd em de Serviço e Instrução N orm ativa, estando em vigor a IN INSS
n. 45/2010.
1032. C lie n te la d e d e s tin a tá rio s — Em tese, nem todos os segurados têm
direito à ap o sen tad o ria especial. Por sua natureza, de não exercente de atividade,
o facultativo está excluído, e, da m esm a form a, em razão do m ister e am biente de
labor, o eclesiástico e o dom éstico. Raros au tô n o m o s e raríssim os em presários fa­
rão ju s ao benefício. Podem vir a obtê-los o em pregado, aí incluído o tem porário.
Igualm ente, o serv id o r sem regim e p ró p rio e algum as categorias de avulso.
Até a Lei n. 9.032/1995, o P oder Legislativo tin h a com petência para relacio­
n ar as possíveis pessoas com direito. A p a rtir desse diplom a legal, o P oder E xecu­
tivo ficou com essa atribuição.
A ntes do advento do P arecer CJ/MPAS n. 223/1995, o INSS exigia a idade
m ínim a de 50 an o s para os arrolados no A nexo III do D ecreto n. 53.831/1964.
Pela essência do tipo de benefício, direito excepcional, o rol dos destinatários
é en u m erativ o e não exem plificativo, m as a Ju stiça F ederal já decidiu diferen te­
m ente. N esta ú ltim a linha de raciocínio, o A nexo IV do D ecreto n. 2.172/1997 traz
n o ta explicativa, ad m itin d o a extensão.
Nào é definitivo. Q u alq u er categoria, representada pela em presa o u sindicato
pode elaborar dossiê circunstanciado e fund am en tad o e encam inhá-lo ao MPS para
a inclusão.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I — P r e v id ê n c ia S o c ia l
D iferentem ente do passado, a configuração im plantada pela Lei n. 9.032/1995
dá co n ta de direito do indivíduo e não m ais de categoria.
Vale recordar que os deficientes foram aq u inhoados com u m a aposentadoria
especial, que co n tin u a o debate m e torno do direito dos eletricitários e aeronautas e
que a d o u trin a adm ite o direito das p ro stitu tas, com todas as dificuldades que estas
terão em provar a exposição os agentes nocivos (Súm ula TN U n. 62).
Nesse sen tid o convém re p ro d u zir o E nunciado CRPS n. 33: “Para os efeitos
de reconhecim ento de tem po especial, o enq u ad ram en to do tem po de atividade
do trab alh ad o r rural, segurado em pregado, sob o código 2.2.1 do Q uadro anexo
ao D ecreto n. 53.831, de 15 de m arço de 1964, é possível q u an d o o regim e de
vinculaçâo for o da Previdência Social U rbana, e não o da Previdência Rural
(PRORURAL), para os períodos anteriores à unificação de am bos os regim es pela
Lei n. 8 .2 f3 , de 1991, e aplica-se ao tem po de atividade ru ral exercido até 28 de
abril de 1995, in d ep en d e n tem en te de ter sido prestado exclusivam ente na lavoura
ou na p ecu ária”.
1033. N a tu reza ju ríd ic a — A aposentadoria especial é direito subjetivo ex­
cepcional de quem preenche os requisitos legais. Espécie do gênero aposentadoria
p o r tem p o de c o n trib u iç ã o , com o são as do professor, an istiad o e a a p o se n ta d o ­
ria p o r tem po de serviço p ro p riam en te dita. B astando a exposição ao risco, dislan-
cia-se da apo sen tad o ria p o r invalidez.
Com caráter definitivo, im prescritível, benefício su b stitu id o r dos salários, ali­
m en tar em algum as circunstâncias, não reeditável, de pagam ento co n tin u ad o , veda
o reto rn o ao trabalho em atividade especial.
1034. A tiv id ad es esp eciais — O s três exercícios físicos, vale dizer, os p eri­
gosos, penosos e insalubres d eterm in am a existência de três tipos, ou um só se se
preferir, deflagrado p o r três contingências distintas em q u e reclam ados tem pos de
serviços diferenciados, de 15 anos, 20 anos ou 25 anos de serviço.
São co n sid erad o s agentes nocivos físicos, quím icos, biológicos, ergom étricos
ou psicológicos, o u sua reunião, capazes de ocasionar danos à saúde ou à in teg ri­
dade física do trabalhador, em razão de sua n atureza, concentração, intensidade e
exposição.
N atureza q u er dizer essência física, quím ica ou biológica. A lguns p ro d u to s,
com o o urân io , são danosos em praticam ente todas as dosagens.
C oncentração é o grau de presença do agente em determ inado elem ento. M uito
gás carbônico cria problem as respiratórios.
Inten sid ad e significa a capacidade de causar efeitos no organism o hum ano.
T em peraturas baixas produzem danos no organism o.
Exposição q u er dizer o trabalhador ficar subm etido aos seus efeitos, próxim o
dele, sem condições de dim inuir-lhe as ofensas. Tecnicam ente, expor-se aos agen­
tes acim a dos níveis de tolerância. Q uem está próxim o do calor sofre sua in flu ên ­
cia; ju n to do ru íd o acim a de 85 decibéis h á prejuízo para a audição etc.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

850 W la d im ir N o v a e s M a r ti n e z
P or saúde, en ten d e-se o perfeito equilíbrio biológico do ser hu m an o . Integri­
dade física q u er dizer a preservação integral do organism o, sem afetação prejudicial
p o r ação exterior.
a) Agentes físicos: Os principais agentes físicos: ruído, vibração, tem p eratu ra
(frio, calor), pressão, atm osféricos (vento, chuva), um idade, eletricidade, eletro-
m agnetism o, radiação io n izan te e não ionizante, e o u tras m anifestações da n a tu ­
reza etc.
b) Agentes químicos: São elem entos quím icos en c o n trad o s n a form a de névo­
as, neblinas, poeiras, fum os, gases, vapores e, em alguns casos, em estado líquido,
pastoso e gasoso.
c) Agentes biológicos: M icrorganism os com o bactérias, fungos, parasitas, vírus,
bacilos, verm es etc.
d) Agentes ergométricos: São os p ró p rio s do modus operandi da execução das
tarefas.
e) Agentes psicológicos: As adversidades inerentes ao trabalho, p rin cip a lm en ­
te n as h ip óteses de funções perigosas, m as igualm ente p resen tes n a penosidade,
devem -se à pressão (dos circu n d an tes), ã tensão (do tráfego), ao m edo (do am b ien ­
te), ao risco de acidente (perigo), e a repetitividade de gestos (DORT).
f ) Combinação de agentes: Por vezes, a agressão ao organism o sucede não em
razão da natureza, exposição, concentração ou in tensidade d o agente, m as da co m ­
binação de vários deles.
1035. V alor in icial — Nos ú ltim o s anos, o cálculo dos benefícios do RGPS
sofreu alterações em seu procedim ento, p rincipalm ente no coeficiente aplicável ao
salário de benefício.
Até 24.7.1991, o m ontante do benefício dividia-se em d u as partes, separadas
pelo m en o r valor-teto, atingindo m áxim o de 95% do salário de benefício, partin d o
do coeficiente básico de 70% m ais 1% p o r ano de filiação.
Com o art. 57 do PBPS, o quantum m odificou-se para 85% d o salário de b en e­
fício m ais 1% p o r ano de contribuição, até o m áxim o de 100%.
Desde 29.4.1995, a renda m ensal inicial foi uniform izada em 100% do salário
de benefício.
1036. Primeiro pagamento — A data do início do benefício segue a regra da
ap o sen tad o ria p o r idade.
1037. Ô n u s d a prova — Só o segurado pode requerer os benefícios da previ­
dência social e, destarte, ele assum e o ô n u s da prova das condições exigidas. C om o
é p raticam en te direito de segurado sujeito a desconto, não tem de d e m o n strar ter
havido o reco lh im en to das contribuições.
Ele deve in fo rm ar os seus dados cadastrais, com o: 1) nom e; 2) idade; 3) p e­
ríodo de trabalho; 4) função; 5) rem uneração; 6) jo rn ad a de trabalho; 7) endereço;
8) local de trabalho etc.

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o II — P revidência Social 851


A exem plo da apo sentadoria p o r tem po de contribuição, o segurado precisa
provar o tem po de serviço, dispensado de prom over o cálculo da conversão de
tem po especial em com um . A presentar o PPP fornecido pela em presa, e exibir o
LT CAT.
São co n siderados os seguintes períodos: a) de trabalho exposto; b) auxílio-
-doença; c) férias; d) de d irigente sindical até 28.4.1995; e e) licença m édica.
Três sâo os requisitos legais para a obtenção do benefício: a) qualidade de
segurado; b) p eríodo de carência; e c) evento determ inante.
Salvo na h ipótese do direito adq u irid o , isto é, após a reunião das exigências
con stan tes da lei, q u an d o ela será irrelevante, só o trabalhador segurado pode re­
querer o benefício. O bviam ente, quem não é segurado não tem direito.
A carência da apo sentadoria especial com porta três hipóteses: 1) quem vinha
co n trib u in d o an tes de 24.7.1991 observa a tabela gradualm ente progressiva do art.
142 do PBPS; 2) q uem se filiou após 24.7.1991 terá de com pletar 180 c o n trib u i­
ções m ensais; 3) quem havia co n trib u íd o antes de 24.7.1991 e voltou a co n trib u ir
após essa data deverá som ar 180 contribuições m ensais, sendo exigidas, no m íni­
m o, 60 con trib u içõ es após o PBPS. C ritérios alterados sensivelm ente pela M edida
Provisória n. 83/2002.
O segurado está obrigado a com provar: 1) o tem po de filiação; e 2) o período
de trabalho sob as condições insalubres.
N ão é ex ig id a ru p tu ra do c o n tra to de tra b a lh o p ara a co n c essão do b en e­
ficio. H istoricam ente, a questão evoluiu da seguinte form a: 1) da LOPS até a Lei n.
6.887/1980 — não foi exigida; 2) da Lei n. 6.887/1980 até a Lei n. 6.950/1981—
era preciso ro m p er o vínculo em pregatício; 3) da Lei n. 6.950/1981 até a M edida
Provisória n. 381/1993 — novam ente foi dispensado o desligam ento do serviço; 4)
da M edida Provisória n. 381/1993 até a Lei n. 8.870/1994 — o u tra vez foi exigida a
extinção do co n trato de trabalho; 5) da Lei n. 8.870/1994 até a M edida Provisória
n. 1.523/1996 — restabeleceu-se a desnecessidade da exigência; 6) da M edida P ro­
visória n. 1.523-0 até a M edida Provisória n. 1.523-3 — não se im pôs a ru p tu ra de
qualq u er dos polos da relação, m as a concessão do benefício per se rom pia a relação
de em prego; 7) após a M edida Provisória n. 1.523-7 e até a M edida Provisória n.
1.596-14/1997 — não m ais se exigiu o rom pim ento n em a lei extinguia o contraio
de trabalho. Com a Lei n. 9.528/1997, tentou-se, o utra vez, o fa ctu m principis, m as
o STF, em 19.12.1997, havia liberado lim inar em sen tid o contrário.
De m odo geral, em sua m aioria, a d o u trin a laborai considera ex tin to o co n tra­
to de trabalho, se o segurado solicitar e tiver concedida a prestação.
Até 1997, o P oder Ju d iciário trabalhista decidia m ajoritariam ente, acom pa­
n h an d o o p en sam en to da d outrina.
Para a concessão do direito não im prescindível, o segurado deve estar exer­
cendo atividade especial d u ra n te o período de carência ou básico de cálculo. N em
será preciso recorrer ao direito adquirido, isto é, ter com pletado os requisitos desse
benefício e d epois passado a operar em atividade com um .

C u rso de D ire ito P r e v id e n c iá r io

852 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1038. Prova indireta das condições — A prova indireta, ou seja, aquela não
decorrente de Fichas de Registro de E m pregado ou CTPS, guias do FGTS, RAIS e
o u tro s d o cu m en to s consagrados com o válidos (“Prova de Tempo de Serviço”, in
Supl. Trab. LTr n. 10/84) é restringida em m atéria de ap o sen tad o ria especial. Seu
p o d er de con v en cim ento é m enor.
O exercente de atividade especial não está im pedido de utilizar-se da ju stifi­
cação ad m in istrativ a prevista no art. 108 do PBPS, m as terá de carrear m ais com ­
pro v an tes do exercício particular. Sim ples foto, holleriths, recibos de pagam ento,
até m esm o as folhas de pagam ento (prova plena para o u tro s benefícios) não serão
suficientes.
As m esm as observações anteriores valem para a justificação ju d icial e m esm o
esta ficará a critério do INSS avaliar, salvo se contida em pedido de benefício al­
cançado pela sentença.
D eclarações feitas não o p o rtu n am en te, em relação a am bientes de trabalho
nào m ais ex isten tes ou desfigurados pela ação do tem po ou m odificações do cená­
rio, propiciam dificuldades, salvo se possuírem as características básicas do PPP e
LTCAT.
A não ser em co n ju n to com o u tras provas, reforçando-as, declarações de sin­
dicatos têm pouco p o d er de convencim ento.
O ferecendo os d o cu m en to s à análise, o segurado pode fazer consulta ao INSS
sobre a prova do tem po de serviço, m as será preferível, pelos efeitos p ráticos e
ju ríd ico s, req u erer a averbação do período.
C om o m edida cautelar (as condições atuais podem desaparecer), o segurado
pode oferecer ao INSS as provas do alegado e solicitar não apenas o reconhecim ento
do tem po de serviço, m as sua consignação em CTPS.
S egundo a mens legis, o ideal é o M édico do Trabalho ou o E ngenheiro de Se­
gurança em itir o LTCAT, mas a lei não veda a possibilidade de esse d o cu m en to ser
elaborado p o r p erito habilitado autô n o m o ou p o r in stitu ição privada ou pública
especializada estran h o ao quadro da em presa.
N essas condições, recom enda-se ser o referido especialista aco m p an h ad o pelo
profissional da em presa, pois este sem pre estará em m elhores condições de p ro p i­
ciar inform ações ú teis à verificação. Se não p erm itir a en trad a do técnico, o in te­
ressado deverá socorrer-se do P oder Judiciário.
Q u an d o não m ais existirem sinais do estabelecim ento, se m u ito s anos se pas­
saram e ele sofreu m odificações, com novas instalações e m odificações do m eio
am biente, se a p ró p ria em presa m aterialm ente desapareceu, so m en te restará ao
segu rad o a prova p o r sim ilaridade, q u an d o o M édico do Trabalho e o E ngenheiro
de Segurança terão a tarefa redobrada.
Além do laudo pro p riam en te dito, terão de fazer relatório circunstanciado
e discrim inativo das condições exam inadas, para a conclusão assum ir p o d er de
convencim ento.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o U — P r e v id ê n c ia S o c ia l 853
E ntende-se por sim ilaridade os profissionais encontrarem estabelecim ento
igual ou assem elhado onde farão a verificação, variando as conclusões alternativa­
m en te em conform idade com a identidade ou não dos cenários.
Todas as afirm ações fundadas, inform am -se os critérios adotados e o porquê
das conclusões.
Por prova indireta, en ten d e-se a feita na inexistência total de am biente sim ilar
ou analógico, so co rrendo o perito de raciocínios indiciários, tabelas preexistentes,
experiência histórica, balanço de ocorrências, repetição de acontecim entos, reque­
rim ento de auxílios-doença, casos sem elhantes, situações analógicas ou sim ilares.
1039. D em o n stração do cen ário — O DIRBEN 8030 não é referido na lei
ou no regulam ento de form a expressa, m as, até 31.12.2003, exigido em am bos os
casos diante da necessidade de o segurado fazer a prova das condições adversas à
sua saúde. Ele é im presso fornecido pelo INSS e reproduzido pela em presa.
O objetivo é relatar ao órgão concessor as condições do obreiro e o am biente,
bem com o o p eríodo de duração das atividades com o o lapso de tem po e a jo rn ad a
de trabalho, sua função e dem ais inform ações cadastrais. Deve retratar o local de
trab alh o com o se lá estivesse um servidor da previdência social.
E ntre outros aspectos, ex ig id o s em cada caso, o d o cu m en to deve precisar,
pelo m enos: 1) d escrição do local — inform ações relativas ao estabelecim ento
on d e realizado o labor, co m relato porm en orizado das ed ificações, sua p osição no
con ju n to e proxim idade de outras áreas adm inistrativas ou de produção; 2) d escri­
ção das atividades — relato d escritivo das fu n çõ es exercidas pelo trabalhador com
porm enores sobre sua atuação p rofissional e quais serviços executados; 3) agentes
presentes — os agentes físicos, q u ím ico s ou b io ló g ico s atuantes na área de traba­
lho; 4) babitualidade — se o serviço é prestado Lodos os dias, isto é, frequentem en­
te; 5) perm anência — se, além de fazê-lo tod o s o s dias, trabalha toda a jornada,
é claro, abstraídos o s p eríod os ded icad os ao d escan so, às refeições e n ecessid ad es
fisiológicas, contrap on d o-se às ideias de eventualidade ou interm itência; 6) oca-
sionalidade — explicar se a n ecessid ad e da presença do trabalhador é eventual,
sem predeterm inação, ocorrendo fortuitam ente; e 7) interm itência — inform ações
sobre a frequência da atividade, se ela ocorre a determ inado tem po.
Além do n o m e, é preciso qualificar o trabalhador com o exercente de certa
profissão, função, cargo ou atividade.
E igualm ente im p ortante dizer qual a jo rn a d a de trabalho, indicando hora
de en trada e saída, tu rn os, revezam ento, substituições, perío d o s de não atividade.
Nas m édias e g randes em presas o DIRBEN 8030 é p reen ch id o pela Divisão
de R ecursos H um anos, órgão adm inistrativo frequentem ente distante fisicam ente
do centro de operações. O encarregado nem sem pre m antém contato com o traba­
lhador. Por isso, deve basear-se em relatório elaborado p o r quem está presente à
atividade, o chefe im ediato.
Ele é d o cu m en to declaratório de direito, fornecido pela em presa, notícia so­
bre as circunstâncias do trabalho, não assum indo caráter técnico nem científico.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

854 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Deve ser assinado pelo Chefe de Pessoal, D iretor de R ecursos H um anos, enfim ,
responsável pelo setor. Na hipótese de co n trib u in te individual p o r ele ou se presta
serviços p ara terceiros, p o r estes.
Se a em presa se recusa a fornecer o d o cu m en to , o segurado terá algum as o p ­
ções: 1) req u erer diligência fiscal ao INSS ju n to do pedido do benefício; 2) solicitar
atuação do sindicato; e 3) ingressar com ação na Ju stiça do Trabalho.
A p a rtir de l e.7.2003 foi su b stitu íd o pelo Perfil Profissiográfico P revidenciá­
rio — PPP
1040. L au do técnico — São fontes form ais as Leis ns. 9.032/1995 e 9.528/1997
Os órgãos controladores do exercício dos m édicos e engenheiros certam ente devem
ter disciplinado os aspectos éticos da profissão e as características do laudo técnico.
R elatório oficial elaborado p o r pessoa ju rid icam en te habilitada com caráter
co n stitu tiv o de direito.
A Lei n. 9.032/1995 fez alusão à prova da exposição aos agentes nocivos, m as
so m en te a M edida Provisória n. 1.523/1996 explicitou a exigibilidade da perícia.
Logo, a não ser nos casos de ruído, só pode ser exigido a p artir de 14.10.1996.
A lei n ão esclarece se o laudo pode ser coletivo ou individual, e a Lei n.
9.528/1997 in d u z no sen tid o da coletividade, m as a ideia contraria a filosofia de ser
o benefício direito individual. Tendo em vista a existência de am bientes d e trabalho
o n d e o p eram vários segurados, se, nas exatas m esm as condições, nada im pediria a
feitura de laudos agrupados.
O rig in ariam en te, o laudo técnico deve ser em itido pelo M édico do Trabalho
ou E ngenheiro de Segurança da em presa.
Seu co n teú d o m ín im o exige: 1) dados da em presa (atividade principal); 2)
sim p les descrição do setor de trabalho; 3) d escrição das co n d içõ e s am bientais;
4) presença d o s agen tes n o civ o s, com sua identificação, nível de concenLração,
intensidad e, tem p o de exp osição; 5) u tilização de eq u ip am en tos de segurança; 6)
in stru m en tos u tiliza d o s na verificação; 7) n o m e d os acom panhantes; 8) dia e hora
da realização da perícia; 9) c o n d iç õ e s am bientais gerais; 10) co n clu são do perito;
e 11) data e assinatura.
A p artir de l e.7.2003, foi su b stitu íd o pelo Laudo T écnico de C ondições Am ­
b ientais do Trabalho — LT CAT.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o JJ — P r e v id ê n c ia S o c ia l 855
Capítulo CIV

A p o s e n t a d o r ia p o r T em p o d e C o n t r ib u iç ã o

1041. Descrição d o instituto. 1042. Comandos consultãveis. 1043. Na­


S u m á r ío :
tureza protetiva. 1044. Modalidades subsistentes. 1045. Evento determinante.
1046. Data do início. 1047. Valor inicial. 1048. Limite de idade. 1049. Retorno
à atividade. 1050. Provas exigidas.

A prestação m ais polêm ica da legislação previdenciária e a m ais desejada p e ­


los brasileiros é a ap o sentadoria p o r tem po de contribuição. O riginária do serviço
público, d en o m in ad a com o sendo ordinária na Lei Eloy C haves, provocou discus­
sões e dissenções no am biente político, científico e técnico nos anos 1992/1998, e
até hoje, estando possivelm ente co n d en ad a ao desaparecim ento em razão de suas
distorções (v. g., falta de fonte específica, ausência de lim ite etário pessoal, fre­
q ü en te volta do trabalho, dúvida sobre a existência de risco, acum ulação com o u ­
tros benefícios, adoção de regim e de repartição sim ples, fator previdenciário etc.).
Enseja respeitável crítica de abalizados estudiosos, mas vai-se m antendo enquanto
não criado seguro-desem prego com patível.
1041. Descrição do instituto — Trata-se benefício su b stitu id o r do salário, de
pagam ento co n tin u ad o , definitivo e não reeditável, na m odalidade integral devido
aos segurados, m u lh er com 30 anos e hom em com 35 anos de contribuição.
O tem po de serviço com preende o tem po de filiação, entre outros, de c o n tri­
buições (inclusive com o facultativo), de serviço m ilitar, fruição de benefícios p o r
incapacidade e o deco rrente de conversão ou contagem recíproca. C onsiderados
os perío d o s de serviço público e rural e, p rincipalm ente, da iniciativa privada. Até
m esm o do m en o r aprendiz, se rem u n erad a a atividade ou presente o co n trato de
em prego. A colhido o an terio r à filiação obrigatória, m ed ian te pagam ento de co n ­
tribuições co rresp o n d entes hodiernas.
Deferida a proporcional, com q u alq u er percentual, se o segurado co n tin u a a
trabalhar, na m esm a em presa ou em outra, nào faz jus à integral, ao com pletar o
tem po, em face de a prim eira concessão ser tida pelo órgão gestor com o definitiva.
A época usu al para solicitação é após o p reenchim ento dos requisitos legais,
mas se o titu lar não a faz nesse m om ento pode requerê-la q uando desejar, respeita­
do o direito ad q u irid o e observada a prescrição de m ensalidades anteriores à DER.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

856 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
N os an o s 2011/2012 cogitou-se de p ô r fim ao fator previdenciário e su b stitu í­
d o pela F ó rm ula 95, p o r n ó s idealizada em 1992, com a ideia de q u e deva avançar
para a F ó rm u la 100 e até 105 conform e o crescim ento da esperança m édia de vida
dos brasileiros.
1042. C o m an d o s co n su ltáv eis — A aposentadoria p o r tem po de serviço,
benefício tradicional do D ireito Previdenciário, pelo m enos desde 24.1.1923, era
referida duas vezes no texto co n stitu cio n al de 1988. Nos arts. 40, III, a a c e 201,
rep o rtan d o -se ao servidor e ao trabalhador da iniciativa privada. Com a EC n.
20/1998 integrou-se definitivam ente n o texto co n stitu cio n al (art. 201), convindo
co n su ltar os diversos artigos da p ró p ria Em enda.
Está reg u lam en tada nos arts. 52 a 55 do PBPS e no RPS, nos arts. 56 a 63
(D ecreto n. 3.048/1999).
1043. N a tu reza p ro te tiv a — Benefício p o r tem po de co n trib u ição assum e
caráter d istrib u tiv o e form a de p o u p an ça coletiva em favor do indivíduo. C aracte-
risticam ente salário diferido, resulta de p o u p an ça som ada pelo segurado d u ran te
os anos de trabalho, em term os sociais, p o r isso, se recom endando, venha a apoiar­
-se no regim e de capitalização.
1044. Modalidades subsistentes — A posentadoria p o r tem po de c o n trib u i­
ção é gênero, co n h ecen d o várias espécies.
Q u an to ao p ercentual, é proporcional (70% a 90%) o u integral (100% ). Em
razão da fonte form al, é ordinária ou co n stitu cio n al (professor). P artindo da ativi­
dade, pode ser co m u m ou especial (insalubre).
E xistiam ainda as específicas, de trabalhadores obsequiados p o r legislação
p artic u la r (juiz tem porário, aeronauta, jo g ad o r de futebol, jo rn alista etc.). Perm a­
n ecem as de legislação excepcional (ex-com batentes e exilados etc.).
E stran h a saber q u e a Ju stiça F ederal rejeita o direito ad q u irid o a u m valor
m aio r q u an d o da reu n ião dos pressupostos do benefício proporcional, em com pa­
ração com o valor m enor, atual, da integral.
1045. Evento determinante — A contingência protegida pelo benefício é o
tem po de contribuição. Por esse m otivo, sendo com um a poucos países no m undo,
alega-se alh u res não haver risco a proteger. A questão é m eram ente convencional.
C om binada com lim ite de idade e fonte de custeio apropriada, a prestação
aten d e à necessidade de alguns países, caso do Brasil. O risco pro teg id o é o trab a­
lho desenvolvido d u ra n te longos anos, a falta de em prego para a m eia-idade e a
p ró p ria idade avançada do trabalhador, estando ele, nos casos m ais com uns, p ró ­
xim o da ap o sen tad o ria p o r idade.
1046. Data do início — O benefício segue as m esm as regras da aposentadoria
especial e p o r idade.
a) ausência de. rompimento: Fixada na data da solicitação (DER), se o trab alh a­
d o r não p ed ir dem issão, q uando não exigido esse requisito.

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 857
b) dentro de 90 dias: Se o segurado, p o r q u alq u er m otivo, se desliga da em presa
e solicita o benefício até 90 dias contados da rescisão, a DIB é o p rim eiro dia su b ­
seq u en te ao térm ino do co n trato de trabaLho.
c) após 90 dias: Ainda nesta hipótese de desfazim ento do vínculo em prega-
tício, requerida a prestação após os 90 dias, da m esm a form a contados, o com eço
se dá n a DER.
d) imprescritibilidade do direito: Solicitado o benefício a destem po, isto é, m u i­
tos anos após, ele prin cipia q u an d o da solicitação (DER), devendo a renda inicial
ser atualizada, com o se m antido tivesse sido o benefício, até a DIB.
1047. Valor inicial — O valor m ínim o é o salário m ínim o e, o m áxim o, o li­
m ite do salário de contribuição. No passado (Lei n. 5.890/1973), adm itiu-se acrés­
cim o de 5% além do tem po exigido.
A renda inicial é de 70% do salário de benefício, m ais 5% p o r ano de filiação
além dos 25 anos, para as m u lheres e 30 anos para os hom ens, até u m m áxim o de
100 %.
A Lei n. 8.213/1991 d im in u iu o percentual básico de 80% para 70%, a p artir
de sua eficácia, m as q uem an terio rm en te p reencheu os requisitos legais fez ju s
àquele prim eiro percentual, m esm o desobrigado ao m en o r e m aior valor-teto.
1048. L im ite de id ad e — Desde 1962, q uando desapareceu do texto da LOPS,
não havia lim ite de idade para o benefício, p o dendo ser requerido, a qualquer
m om ento.
Até o D ecreto n. 4.206/2002, na prática, os com plem entados, de m odo geral
para q uem ingressou após a regulam entação do sistem a, existe a obrigação de ter
55 anos de idade.
C om a EC n. 20/1998, na fase de transição, foi fixado lim ite de idade de 48
anos, para as m ulheres, e 53 anos para os hom ens, no caso da proporcional. Com o
regra p erm anente, não m ais existindo a proporcional em relação aos filiados após
15.12.1998, fixado em 55 anos, para as m ulheres, e 60 anos, para os hom ens.
Sem qualq u er lim ite para a integral, m as com a Lei n. 9.876/1999, e o fator
previdenciário, de fato foi instituído algo assem elhado, pois se o segurado a requer
p rem atu ram en te o quantum é d im inuído.
1049. R eto rn o à ativ id ad e — Por sua natureza, o benefício não obsta a volta
ao trabalho, pod en d o ser discutida q u an d o do côm puto de tem po especial conver­
tido em com um .
1.050. Provas exigidas — O INSS exige o requerim ento, prova dos últim os 80
m aiores salários de co n tribuição desde ju lh o de 1994 e sua explicitação, com pro­
vação do tem po de serviço e prova de endereço. Em certos m om entos históricos,
o afastam ento do trabalho.

C u r so hh D ir e it o P r e v id e n c iá r io

858 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Capítulo CV

T em p o d e C o n t r ib u iç ã o

S u m á r i o : 105J. Conceito sumariado. 1052. Distinções necessárias. 1053. Fun­

ção decantadora. 1054. Quantificação de coeficientes. 1055. Termos inicial e


final. 1056. Cálculo dos dias. 1057. Períodos computados. 1058. Tempo regula­
mentar. 1059. Interregnos não válidos. 1060. Conversão comum/especial.

U m conceito típico do direito previdenciário é o tem po de serviço. Tem


sem elhança, sem se equiparar, ao in stitu to laborai correspondente. Releva por
d eterm inar o fundam ento de alguns benefícios ou quantificar o nível de outros. Realça
na definição de prestações definidas exatam ente p o r ele, estipulando coeficientes.
Não o cu p an d o m uito espaço n a disciplina legal, é sede de preocupação dos in ­
teressados, p rin cip alm ente com vistas à aposentadoria por tem po de contribuição.
D espertou o p ro cedim ento da justificação adm inistrativa e obrigou a estu d ar
figuras com plexas de segurados obrigatórios e facultativos.
1051. C o n ceito su m a ria d o — Tem po de contribuição é o período d e filiação
ao RGPS, o u a o u tro s regim es, de exercício de atividade ou m anifestação de v o n ta­
de e reco lh im en to de contribuição ou não, co ntem plado na lei ou no regulam ento
e até p o r eq uiparação válida, real ou virtual, n ão p resum ido, suficiente para carac­
terizar o benefício ou configurar sua expressão pecuniária.
Em seu estu d o , além da descrição, e n a num eração das várias hipóteses, é
im p o rtan te sab er qu ais deles são reconhecidos pela lei, em m u ito s casos reduzida
a q uestão à p o ssibilidade de prova m aterial plena, indiciaria ou m eram ente teste­
m unhai.
Além das contribuições, sem pre as devidas, em alguns casos, as recolhidas,
im plica o d ecu rso do tem po. Por isso, inexiste tem po de contribuição fu tu ro , ve­
dada a antecipação de m ensalidades. E xcedente tem serventia condicionada ou é
inútil.
E xaurido parcial ou totalm ente, não po d e ser recuperado. R aram ente, a legis­
lação facultou sua utilização sim ultânea para dois benefícios (v. g., d upla aposen­
tadoria do ferroviário, tem po de guerra, contagem em d obro etc.).

C u rs o de D ire ito P r e v id e n c i á r i o
T om o II — P r e v i d ê n c ia 5 o c i a l 859
Pode ser co n tín u o (n u m a m esm a em presa ou atividade), entrem eado, in ter­
rom pido ou partilhado. Até m esm o renunciado, quando conveniente ao interessado
(L e in . 9.032/1995).
Ú nico, não su p erp o sto , eqüivale à pessoa, subm etendo-se à noção de ser ín-
tuitu personae. Presta-se para vários fins e já serviu para definir a classe da escala
de salários-base (Lei n. 5.890/1973), entre o u tro s aspectos, para ap u rar o salário de
benefício, período de carência e a base de cálculo de contribuições.
Im prescritível, pode ser d em o n strad o m ediante os diferentes m eios adm itidos
em Direito.
1052. D istin çõ es n e c essária s — Tempo de serviço é locução largam ente ad o ­
tada na legislação previdenciária, algum as vezes, co nfundido com tem po de co n ­
tribuição ou de filiação. A EC n. 20/1998 su b stitu iu -o por tem po de contribuição,
mas, com tantas exceções, ainda é praticam en te igual ao anterior.
As três expressões indicadas têm significados diferentes e talvez fosse possível
considerar tem po de filiação com o gênero e espécies as dem ais (v. g., tem po de
contribuição, de benefício, de serviço etc.).
D estarte, tem po de contribuição corresponde às m ensalidades recolhidas ou
devidas, eletiva o u p resu m id am en te aportadas. V alendo pagam ento m ensal em dia,
em m ora (q uando não excepcionada), sob um parcelam ento ou m ediante a “in ­
d en ização ” da Lei n. 9.032/1995, e até m esm o a deduzida no benefício concedido
(PBPS, art. 115).
Tempo de serviço é dim ensão tem poral da base m aterial deflagradora da filia­
ção, sem conversão ou outros eventuais aduzim entos, p ersistindo en q u a n to p re­
sente o su p o rte físico (atividade ou vontade), incluído o período de férias anuais
ou licenças rem uneradas.
P or seu tu rn o , tem po de filiação é ideia m aior, abrangendo as duas co ncep­
ções an teriores e, tam bém , exem plificativam ente, de contribuição do facultativo,
de fruição de benefícios p o r incapacidade, de serviço m ilitar e até o de conversão,
bem com o o resu ltan te da contagem recíproca.
R esultante de conversão é ficção criada pelo legislador, am pliação do período
norm al de trabalho em condições especiais (Lei n. 6.887/1980).
Claro, n en h u m a dessas situações confundidas com o tem po de inscrição.
1053. F u n ção d e c a n ta d o ra — C aracterística notável do in stitu to é ser deter­
m in an te da concessão de benefícios com uns (v. g., aposentadoria especial, p o r tem ­
po de co n trib u ição e do antigo abono de perm anência em serviço etc.), específicos
(v. g., aero n au ta, jo rn alista, ju iz tem p o rário , jo g ad o r de futebol etc.) e excepcio­
nais (v. g., exilados, ex-com batentes etc,). Até 31.12.1995, u m dos requisitos da
renda m ensal vitalícia.
Com efeito, nesses casos o segurado precisa provar a filiação su p o rte (exer­
cício de atividade ou o utra situação) e, em algum as delas, ter havido o recolhim ento
das contribuições.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

860 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Q u an d o ev en to d eterm in a n te p ropriam ente dito, caracteriza circunstância
básica. Na ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição, condição b astante com um ,
não se reveste de m u itas particularidades, salvo o cô m p u to do tem po de benefício
usu fru íd o e de serviço m ilitar. Na aposentadoria especial, desenvolve n u an ça s in ­
gular: serviços insalubres, exigindo dem onstração fática da exposição aos agentes
nocivos. C o n v ertid o , opera acréscim o derivado de ficção norm ativa, p rovindo de
o u tro s regim es n a contagem recíproca.
R elativam ente ao período de carência, im pregna-se d a ideia de aportes real­
m ente efetivados, e assum e caráter drástico, considerado m ês a m ês, p o d e n d o não
refletir o tem po de labor, m as apenas o de contribuição.
C aindo o afastam ento do trabalho em m eados do m ês, presta-se para a carên ­
cia, m as n ão para definição do período básico de cálculo.
1054. Q u an tificação d e co eficien tes — O u tra função im portante do tem po
d e co n trib u ição , u m tan to esm aecida a p a rtir de 29.4.1995 (u n iform izado o coe­
ficiente do au x ílio -d o ença em 91% e o da aposentadoria p o r invalidez em 100%),
é ser d efin id o r do p ercen tu al aplicável ao salário de benefício (Lei n. 9.032/1995).
Dessa form a, na ap o sen tad o ria p o r idade, ela co rresp o n d e a 70% d o salário
de benefício m ais 1% ao ano p o r g ru p o de 12 co ntribuições, até o m áxim o de
100%.
Na ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição proporcional, além de 70%, cada
g ru p o de 12 m ensalidades, além dos 25 anos, para as m ulheres, e além dos 30 anos,
para os h o m en s, acresce 5% até o m áxim o de 100%.
1055. T erm os inicial e final — C laram ente d eterm in ad o para os trab alh a­
dores su b o rd in ad o s, com parecendo na CTPS ou LRE, não tem consenso p ara o
em presário e o au tô n o m o , se a escrituração ou a contabilidade n ão registrarem a
data. Para co n trib u in tes individuais com eça (quase) sem pre no início d o m ês da
p rim eira contribuição.
Decisivo para a substanciação do requisito, o tem po de serviço é com putado
dia a dia, in clu in d o o prim eiro e o últim o deles, tratando-se de facultativo, nas
hipóteses m ais co m u n s, de m eses inteiros.
Para efeito da contagem , eqüivale ao ano civil, 365 dias, d esprezando o 3669
dia dos anos bissextos.
1056. C álcu lo d o s dias — Pode ser ap u rad o m ediante técnica bastante sim ­
ples, su b train d o -se do term o final o inicial, expresso em dias, m eses e anos, e
observadas regras particulares.
Tome-se exem plo p articu lar do adm itido em 31.12.1997 e dem itido no dia
l e. 1.1998, len d o trabalhado, sabidam ente, dois dias. A operação será:

Dias Meses Anos


01 01 98
-3 1 12 97


C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l
Tendo em vista a im possibilidade m atem ática de su b trair 12 de 1 (coluna de
m eses) ou 1 de 31 (co luna de dias), tom am -se 12 m eses (1 ano) “em prestados”
dos anos, ficando 1997 no exem plo, resu ltan d o a segunda coluna em 01 + 12 = 13
meses. A expressão então ficará:
Dias Meses Anos
01 13 97
- 31 12 97
Ainda há o problem a relativo aos dias. Tomam-se “em prestados” 28, 29, 30 ou
31 dias, conform e o m ês do início do período cogitado seja fevereiro, fevereiro de ano
bissexto, m eses de 30 ou 31 dias. Tendo em vista, por definição, compuLar-se o p ri­
meiro e o últim o dias, é preciso sem pre acrescer 1 dia ao resultado. O cálculo ficará:
Dias Meses Anos
01 12 97
- 31 12 97
02 00 00
O u tro exem plo é de segurado adm itido em l 9.1.1997 e dem itido em
31.12.1997. O resultado terá de ser 1 ano.
Dias Meses A nos
31 12 97
- 01 01 97
31 11 00
No caso, 11 m eses e 31 dias são 12 m eses ou um ano (janeiro tem 31 dias).
Para q uem foi ad m itido em 19.12.1996 e dem itido em 30.11.1997, o cálculo
serã:
30 11 97
01 12 96

30 23 96
- 01 12 96
30 11 00
No caso, 11 m eses e 30 dias são 12 meses. Da m esm a form a, 11 m eses de 30
dias totalizam 12 m eses ou 1 ano.
E nvolvendo o m ês de fevereiro (à exceção do ano bissexto, ele tem 28 dias)
não há m aiores dificuldades. S uponha-se segurado adm itido em l e.3.1997 e dem i­
tido em 28.2.1998, cujo resultado é, antecipadam ente, tam bém um ano.
Dias Meses A nos
28 02 98
- 01 03 97

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r ío

862 W J íid im ír N o v a e s M artinez


D iante da im possibilidade de su b trair 2 de 3 m eses, faz-se a substituição já
indicada acim a, restando assim:
28 14 97
- 01 03 97
30 11 00
Por estar envolvendo o m ês de fevereiro, será preciso a d u z ir 2 dias (30 - 28 =
2) ao resu ltad o e ter-se-á 1 ano. Caso seja ano bissexto (29 dias), a d u z ir 1 dia, Não
se esq u ecen d o da regra inicial de a toda operação au m en ta r 1 dia.
M ais u m exem plo, agora com alguém adm itido em 28.2.1997 e dem itido em
27.2.1998.
27 02 98
- 28 02 97

57 13 97
- 28 02 97
30 11 00
1057. P erío d o s co m p u tad o s — G enericam ente, no d izer d o caput do art. 55
do PBPS, são válidos os períodos de filiação dos segurados o b rig ató rio s, tra n s­
ferindo-se a in cu m b ên cia da definição das possibilidades de cô m p u to ao decreto
regulam entador. De im ediato, a lei fornece notável esclarecim ento: valem os a n te­
riores à p erda da qualidade de segurado.
O tem po de co n tribuição é im prescritível e, no prazo decadencial, pode ser
invocado a q u alq u er tem po, para fins de revisão do valor do benefício (Lei n.
9.528/1997).
A lei exem plifica interregnos típicos.
a) Serviço militar: Tempo m ilitar, inclusive o v o lu n tário e o previsto no § 1Qdo
art. 143 da CF, “desde que não tenha sido contado para a inatividade rem unerada
nas Forças A rm adas ou aposentadoria no serviço p ú b lico ” (art. 55, I).
O dispositivo m encionado diz: “Às Forças A rm adas com pete, na form a da
lei, atrib u ir serviço alternativo aos que, em tem po de paz, após alistados, alegarem
im perativo de consciência, en tendendo-se com o tal o d ecorrente de crença religio­
sa e de convicção filosófica ou política, para se exim irem de atividades de caráter
essencialm ente m ilitar”.
Em sum a, tidos com o tem po de serviço: a) serviço m ilitar obrigatório ou
alternativo; b) tiro de guerra (q u an d o presente atividade paralela); e c) carreira
m ilitar (via contagem recíproca),
Para a CANSB, em se tratan d o de reservista de segunda categoria, o prazo
m áxim o é de nove m eses. E m bora o convocado possa realm ente ter ficado à dis­
posição das Forças A rm adas p o r m ais tem po (tem po b ru to ) e c o n tar com tem po
líquido m enor, o INSS considera o prim eiro deles.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — Previdência Social 863


b) Cotização de facultativo: O período do co n trib u in te em dobro (ex vi da Lei
n. 5.610/1970) e do segurado facultativo a p artir de l 9.11.1991, antes disso, segu­
rado obrigatório o u não, é aceito se efetuadas as cotizações nas épocas próprias no
m ês de com petência ou m ediante ‘‘in d en ização ” a posteriori (L e in . 9.032/1995).
D ébitos atrasados, com os acréscim os, relativos a períodos norm ais inferiores
ao da perda da qualidade de segurado, são convalidados.
c) Mandato eletivo: O m andato eletivo federal, estadual ou m unicipal, se não
aproveitado no serviço público civil ou m ilitar, e m esm o sem contribuição (aliás,
co n su b stan cian d o distorção do sistem a).
d) Trabalho rural: O trabalho rural, de difícil com provação fãtica, deve ser ava­
liado antes e após a criação do FUNRURAL, com lim itações nos benefícios, porém ,
garantido p resen tes co n trib u içõ es o u terem sido devidas à época.
Até 31.10.1991, o tem po prestava-se exclusivam ente para efeito de benefícios
cifrados pelo salário m ínim o, em norm a de discutível Iiceidade. Em 13.11.1997,
o STF em itiu lim inar nesse sentido co n tra a M edida Provisória n. 1.523-11/1997
(AD1-MC n. 21.664/U E rei. Min. O ctavio G allotti).
e) Justificação administrativa ou judicial: Q uaisquer lapsos de filiação d em o n s­
trados m ediante justificação adm inistrativa ou ju dicial, reconhecidos pelo INSS ou
sen ten ciad o s pela Ju stiç a Federal.
E m bora a Ju stiça do Trabalho seja co n stitu cio n alm en te com petente para di­
rim ir conflitos entre em pregado e em pregador e, in casu, não ser a questão p ro ­
priam en te dissídio entre am bos, o INSS ignora prova feita sem início razoável de
prova m aterial.
f ) Período indenizado: O segurado, após com provar a filiação, pode recolher
co ntribuições relativas ao passado p ertin e n te s a débitos e tam bém relativas à filia­
ção facultativa (Lei n. 9.032/1995).
g) Trabalho no exterior: N os acordos internacionais, caso da A rgentina, o tem ­
po de serviço prestado em território estrangeiro vale para efeito de benefício. Os
diferentes tratados, cada u m deles, dispõem sobre a validade do labor oferecido nos
países co n tratan tes.
Trabalho no ex terior não se confunde com o decorrente do acordo in tern a­
cional. V ários prestadores de serviços em o u tro s países são segurados obrigatórios
(PCSS, art. 12, c a / e V, d a e).
1058. T em po re g u la m en tar — O D ecreto n. 2.172/1997 arrola outros perío­
dos abaixo considerados.
a) Tempo de filiação: O principal deles, de vínculo com o RGPS, iniciando-se
em 24.1.1923, con sid erando até períodos anteriores à criação da previdência so­
cial. Na prática, possivelm ente apenas antes da Lei n. 4.213/1963 (ETR).
b) Benefícios por incapacidade: Tempo de m anutenção do auxílio-doença ou da
ap osentadoria p o r invalidez, entrem eado com trabalho ou contribuição. As m en sa­
lidades red uzidas per se não são acolhidas.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

864 W l a d im i r N o v a e s M artinez
c) Salário-maternidade: Os 84 dias o u 120 dias da licença à m aternidade tido
com o de efetivo exercício, recolhida ou não a co n trib u ição devida. Da m esm a for­
ma, os 14 dias do ab o rto não crim inoso e as duas sem anas antes e após os 120 dias.
d) Anistiado ou exilado: Período d u ra n te o qual a pessoa, p o r m otivos p o líti­
cos, não pode exercer atividade filiável ao RGPS (D ecreto Legislativo n. 18/1961,
D ecreto-lei n. 864/1969, Lei n. 6.683/1979 e EC n. 26/1985).
A esse respeito diz o art. 120 do RBPS: “O tem po de serviço será co m p u ta­
do de co nform idade com o disposto no art. 58 e, no q u e se refere ao inciso VIII
daquele artigo, considerar-se-á o de afastam ento da atividade em decorrência de
d estitu ição do em prego p o r atos de exceção, institucionais ou com plem entares, ou
p o r o u tro s d ip lo m as legais, até a véspera do início do benefício”.
e) M andato classista: Serviço prestad o ju n to a órgão de deliberação coletiva,
p resen te contribuição.
./) Licença remunerada: Se houve d esconto de contribuição, a duração da licen­
ça rem u n erad a é tem po de serviço.
g) Disponibilidade remunerada: Igual tratam en to é reservado à disponibilidade
rem unerada.
h) Justiça dos Estados: Q u ando oferecido às serventias extrajudiciais e às escri-
vanias ju d iciais, ‘desde que n ão tenha havido rem uneração pelos cofres públicos
e que a atividade nào estivesse à época vinculada a sistem a p ró p rio de previdência
social”.
i) Período de aprendizagem: O Decreto n. 2.172/1997 adm ite o cô m p u to do
tem po de serviço do sob aprendizagem , prestado nas escolas técnicas, com base no
D ecreto-lei n. 4.073/1942 e n o período de 9.2.1942 a 16.2.1959.
Tam bém é reco n hecido o “período de frequência às aulas dos aprendizes m a­
tricu lad o s em escolas profissionais m antidas p o r em presas ferroviárias”.
j ) Empregador rural: Os exercícios de contribuições vertidas sob os auspícios
da Lei n. 6.260/1975.
k )J u iz temporário: Se não aproveitado para ou tro sistem a de previdência, o re­
lativo à colaboração à U nião p o r parte dos ju izes tem porários (Lei n. 6.903/1981).
í) Servidor público: O tem po de contribuição efetuada pelo servidor público
alu d id o nas alíneas i, j e I do inciso I do art. 6e, com base nos arts. 8° e 9 e da Lei n.
8.162/1991 e n o art. 2Q da Lei n. 8.688/1993.
m) Direito do Trabalho: O direito laborai oferece conceito p ró p rio e m anda
aproveitar o tem po do aviso-prévio (CLT, art. 487).
1059. In terreg n o s não v álid o s — Tem po de serviço co n su m id o em outro
regim e de previdência social n u n ca é sopesado. No bojo do RGPS, utilizado, é
desprezado.
P rincipalm ente, nào tem validade o de não segurado, caso do estagiário ou
de quem não com prove, q u an d o exigida, a base da filiação (P ortaria MTPS n
1.002/1967).

C urso d l D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo II — Previdência S o c ia l
865
É inútil a época de não filiação, caso o segurado, então, não co n trib u iu com o
facultativo.
1060. C o nversão com u m /esp ecial — C onversão de tem po de serviço c o n ­
siste em transform ação de período de trabalho perigoso, penoso ou insalubre em
com um (Lei n. 9 .032/1995), necessariam ente se estendendo o interregno labora!
em n úm ero de dias, conform e tabela de equivalência, defluente n atu ralm en te da
relação m atem ática entre os 15, os 20 e os 25 anos.
Sua finalidade específica diz respeito ao requisito do tem po de serviço, seja
com o elem ento básico para o benefício — caso da ap o sen tad o ria p o r tem po de
contribuição (NB 42) — , ou para a fixação dos coeficientes aplicados ao salário de
benefício (v. g., apo sen tadoria por invalidez ou aposentadoria p o r idade), não se
prestan d o para o u tro s fins.
Assim, segurado com 65 anos de idade e dez anos especiais e oito anos co­
m uns terá direito a 10 x 1,20 = 12 + 8 = 20 anos, e 20% + 70% = 90% do salário
de benefício.
O faLo de a tabela abaixo reproduzida indicar m u lh er (30 anos) e hom em (35
anos), lem brando a ap o sentadoria p o r tem po de contribuição, não significa im pe­
d im ento de ser utilizada para os o u tro s benefícios,
P ressuposto lógico da conversão é a existência de dois ou m ais tem pos de ser­
viço especiais (de 15 ou 20 ou 25 anos) — hipótese m enos com um — ou tem pos
de serviços especiais e com uns. Daí se afirm ar ser im possível conversão apenas de
tem po especial.
A p artir de 29.4.1995, a tabela passou a ser a seguinte:

Tempo de atividade a para 15 para 20 para 25 para 30 para 35


converter anos anos anos anos anos
Mulher Homem

de 15 anos 1,00 1,33 1,67 2,00 2,33

de 20 anos 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75

de 25 anos 0,60 0,80 1,00 1,20 1,40

Suponha-se segurado com 10 anos, 5 m eses e 8 dias de trabalho com um e 10


anos, 11 meses e 22 dias de trabalho especial. Os cálculos serão os seguintes:

Tempo comum Tempo especial

10 anos = 3.650 dias 10 anos = 3.650 dias

5 meses = 150 dias 11 meses = 330 dias

8 dias = 8 dias 22 dias = 22 dias

Total = 3.808 dias Total = 4.002 dias


4.002 dias x 1,40 = 5.602 dias + 3.808 dias = 9.410 dias
9.410 dias: são 25 anos, 9 meses e 15 dias.

C urso de D irf ito PRHVipr.NciÀRio


866 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O tem po de serviço de m arítim o em barcado é convertivel. Cada 255 dias de
em barque em navio nacional, contados da data do em barque à do desem barque,
eqüivalem a u m ano de atividade em terra, “obtida essa equivalência pela p ro p o r­
cionalidade de 255 m eses de em barque, n o m ínim o, para 360 m eses em terra, no
m ín im o ” (RBPS, art. 57, parágrafo único).
O INSS não fornece certidão de tem po de serviço com conversão nem acolhe
tem pos de serviço público convertidos, entretanto, a conversão em apreço foi criada
pela Lei n. 6 .8 8 7 /Í9 8 0 e a vedação para a utilização de tem pos especiais provém
da Lei n. 6.226/1975, q uando nem sequer se cogitava da m en cio n ad a conversão.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo 11 — Previdência 5 o r i a l 867


Capítulo CVI

Ju b i l a ç ã o do P rofessor

S u m á r i o : 1061. Magistério educacional. 1062. Professor autônomo. 1063. Apo­


sentadoria especial. 1064. Prestação constitucional. 1065. EC n. 20/1998. 1066.
Agente nocivo. 1067. Tempo de contribuição. 1068. Conversão de tempo de
serviço. 1069. Acréscimo do educador. 1070. Contagem recíproca.

A natureza ju ríd ica da aposentadoria do professor é tida com o sendo a de tem po


de contribuição, u m benefício que, com o a ap o sen tad o ria especial não desfruta da
possibilidade da proporcionalidade. Som ente existe a integral. O percentual é de
100% do salário de benefício, im portância que se su b m ete ao fator previdenciário
(com os b ô n u s de cinco anos para os professores e de dez anos para as professoras,
acrescidos ao tem po de contribuição para as professoras).
1061. M ag istério ed u cacio n al — De m odo geral, para fins previdenciários,
professor é o ed u c ad o r que m inistra aula na educação infantil, n o ensino funda­
m ental e m édio.
O art. 201, § 8e, da C arta M agna vigente diz: “O s requisitos de idade e de
tem po de conLribuição serão reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto no
inciso I do parágrafo anterior, para o professor que com prove exclusivam ente tem ­
po de efetivo exercício das funções de m agistério na educação infantil e no ensino
fundam ental e médio” (grifos nossos).
D iferentem ente do conceito da EC n. 20/1998 acim a, que arredou o ensino
superior, com a redação dada ao art. 67 da Lei n. 9.394/1996 (LDBE), pela Lei n.
11.301/2006: “são co n sideradas funções de m agistério as exercidas por professo­
res e especialistas em educação n o d esem penho de atividades educativas, quando
exercidas em estabelecim ento de educação básica em seus diversos níveis e m o d a­
lidades, inclu íd a, além do exercício da docência, as de direção e unidade escolar e
as de coordenação e assessoram ento pedagógico”.
1062. P ro fesso r a u tô n o m o — De regra, o professor é em pregado ou servidor.
Q uem presta serviços com o autô n o m o , entre os quais o professor de m úsica que en ­
sina em casa e não em um conservatório, tem certa dificuldade para provar o exercí­
cio da atividade em razão da ausência do am biente dos estabelecim entos de ensino.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

868 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
As m esm as diliculdades dos autônom os em relação à aposentadoria especial. Para
o Parecer CGJ/EB, n. 110/1983 não está caracterizada a contingência protegida.
1063. A p o sen ta d o ria esp ecial — Até 30.6.1981, os professores tinham di­
reito a u m a ap o sen tad o ria especial aos 25 anos de serviço, sem distinção quanto
ao sexo. Esse benefício desapareceu e som ente qu em deteve o direito adquirido
naquela ocasião pôde requerê-la p o sterio rm en te (NB 46).
N ote-se que com o a Lei n. 6.887/1980 p erm itia a conversão de tem po espe­
cial p ara o co m u m , é possível tom ar o tem po de m agistério an terio r a 1“ 7.1981 e
convertê-lo para o tem po com um (art. 129 da IN INSS n. 20/2007) e obter a ap o ­
sen tad o ria p o r tem po de contribuição (NB 42),
1064. P restação c o n stitu c io n a l — Desde a EC n. 18/1981, esse direito previ­
denciário do professor didaticam ente passou a ser u m a prestação constitucional. O
art. 56 do PBPS o d istin g u e da aposentadoria p o r tem po de contribuição e, p o r isso,
não há lim ite de idade a ser observado. Excetuado, claro para certos servidores,
o brigados aos 50 e 55 anos de idade.
1065. EC n. 2 0 /1 9 9 8 — A EC n. 20/1998 alterou o conceito de professor
lim itando-o consideravelm ente, eq u ip aran d o -o apenas ao d ocente que m inistra
aulas em classes.
Q uem até 16.12.1998 não havia com pletado o tem po de serviço necessário
foi aq u in h o ad o com um acréscim o de 17% (professor) ou 20% (professora). Isso
p o rque 30 x 1,17 = 35 anos e 25 x 1,20 = 30 anos.
1066. A gente nocivo — Ainda que o benefício devido ao professor possa não
ser a ap o sen tad o ria especial em virtude da determ inação co n stitu cio n al (CF, art.
40, § 4 9 e art. 201, § l s), a distinção legislaúva deve-se aos percalços da atividade
do m agistério em si m esm a.
Até 28.4.1995, q uando m u ito s ju lg ara m que se tratava de u m Lempo especial
especulou-se sobre o tipo de agente nocivo que afeta a saúde ou a integridade física
do professor: se quím ico (pó de giz) ou se de ordem psicológica, prevalecendo a in-
salubridade o riu n d a do estresse educacional. Possivelm ente, prevalece esta últim a
concepção, agravadas as circunstâncias com a agressividade do am biente escolar
nos tem p os m odernos.
1067. T em po d e co n trib u içã o — O tem po de contribuição exigido do p ro ­
fessor é de 25 an o s para as m u lheres e de 30 anos para os hom ens, um a distinção
co n stitu cio n al que reclam a o exercício do m agistério seg uidam ente d u ra n te todo
esse tem po.
O s tem pos de fruição dos benefícios do auxílio-doença o u da aposentadoria
p o r invalidez, intercalados com o de professor, é co n tad o com o se de professor
fosse de m agistério. O decorrente de acidente do trabalho dispensa que haja a
intercaiação.
1068. C o n v ersão d e tem p o de serv iço — E xcetuada a hipótese de conces­
são da ap o sen tad o ria especial, não há previsão legal para conversão de tem po de

C u rso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I I — Previdência S o c ia l 869
serviço de professor para o co m u m nem da atividade com um para o de professor.
Assim, se alguém exerceu o m agistério por f 5 anos e o u tra atividade p o r m ais 20
anos, não fará ju s à ap o sentadoria de professor nem ã por tem po de contribuição.
C laram ente, os 15 anos do ed u cad o r serão considerados com o com uns e so­
m ados aos subseq u en tes 20 anos, per se com uns, chegando a 35 anos de tem po de
con tribuição (NB 42).
Para alguns estudiosos, o benefício é a aposentadoria especial até 28.4.1995,
com p o rtan d o , p o rtan to , conversão do tem po especial para o com um até essa data.
1069. A créscim o d o e d u c a d o r — No que diz respeito ao cálculo do fator
previdenciário, o professor do sexo m asculino tem u m acréscim o de cinco anos
ao seu tem po de contribuição. Q uem tem 30 anos é com o se tivesse 35 anos. Se
for do sexo fem inino, u m au m en to de dez anos (professora com 25 anos será tida
com o tendo 35 anos).
1070. C o ntagem recíp ro ca — Se, em am bos os regim es (RGPS e RPPS), o
ed u cad o r presto u serviços com o professor, nada im pede aplicarem as regras da
contagem recíproca de tem po de serviço público m unicipal, distrital, estadual e
federal, com os da atividade privada.

C urso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

870 W la d im ir N o v a e s M artinez
Capítulo CVII

Fó rm u la 9 5

1071. Alcance técnico. 1072. Pressupostos científicos. 1073. Explicita­


S u m á r io ;
ção da apresentação. 1074. Variáveis básicas. 1075. Variáveis secundárias. 1076.
Razão do total de anos. 1077. Números mínimo e máximo. 1078. Indicadores
socioeconôm icos. 1079, Regime financeiro. 1080. Comparação com o vigente.

C om os “Subsídios para u m M odelo de P revidência Social” (São Paulo: LTr,


1992, p. 5 3/54), os especialistas em D ireito Previdenciário tom aram conhecim ento
de p ro p o sta para a definição de novo evento d eterm in an te da aposentadoria por
tem po de serviço, n acionalm ente conhecida com o F órm ula 95. Por m otivo inal-
cançável, foi olim p icam ente ignorada p o r eles, que, salvo as honrosas exceções de
sem pre, não a criticaram nem a aplaudiram .
Trata-se de expressão m atem ática, com seis variáveis, co n d u zin d o a resultado
n u m érico em anos, indicativa da fu tu ra aposentadoria p o r tem po de contribuição.
As três p rim eiras variáveis representavam elem entos pessoais do trabalhador e as
três seguintes, de p arâm etro s sociais, ou seja, idade, tem po de filiação, salário m é­
dio, sexo, atividade exercida e nível da expectativa de direito em relação à in tro d u ­
ção do m ecanism o. D ados objetivos, a serem con tem plados na legislação ordinária
discip lin ad o ra da inovação.
C onsistia na fixação de critérios para a concessão de benefício, em que, d i­
ferentem ente do m étodo vigente, na sua definição, eram co n siderados a idade, o
tem po real de co n tribuição e a situação econôm ica e social do trabalhador, além de
o u tro s aspectos, com o a atividade, sexo e regras de transição.
Fixava lim ite m ínim o de idade pessoal e não nacional, ten tan d o desfazer as
distorções d eco rren tes das diferenças regionais, profissionais e sociais e, assim ,
d eselitizar o benefício.
A p ro p o sta levava em conta vários pressu p o sto s científicos, diante dos ele­
m en to s p ré-ju ríd ico s definidores da aposentadoria p o r tem po de serviço concebida
pela LOPS, q u an d o da instituição do atual RGPS. Sopesavam os aspectos dem ográ­
ficos, sociológicos e ju ríd ic o s — reflexos da condição social do segurado no c o n ­
texto da seg u rid ad e social — adequados à realidade nacional. P ropiciando ajustes

C urso d i D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
periódicos, legais se esses indicadores sociais assim o solicitarem . A justando-se à
c o n ju n tu ra de dificuldades atuais, m as acolhendo, q u an d o o cenário econôm ico-
-social o forçar, a transform ação das diretrizes da prestação.
C laram ente inserida n u m novo m odelo de previdência social, sob plano de
benefícios en x u to , in teiram ente baseado no cálculo atuarial, sem a prevalência do
econôm ico sobre o social, predom ínio do político sobre o técnico ou enfatizando o
ju ríd ico em d etrim en to do científico. C om binando capitalização (benefícios pro­
gram ados) e repartição sim ples (benefícios de risco). Indicando provas universais
e de acesso m ais fácil a quem tenha dificuldades em obtê-las, sem prejuízo de
ofertá-las em condições norm ais às dem ais pessoas. Sugestão para exam e, discus­
são e reflexão, com vistas ao seu aperfeiçoam ento.
O norte p rincipal era admiLir válido o benefício na legislação brasileira, su s­
tentá-lo no bojo do m odelo proposto.
Nos anos 2011/2012 o MPS cogitou de adotá-la em su b stitu ição do fator pre­
videnciário.
1071. Alcance técnico — A F órm ula 95 encam pava dois benefícios: aposen­
tadoria por tem po de serviço e especial. Aplicava-se aos trabalhadores da iniciativa
privada, servidor pú b lico e parlam entar. Incluía as categorias diferenciadas (com o
ferroviários, jo rn alistas, aeronautas, exilados etc.). C onsagrava a universalidade. E
refletia na previdência com plem entar.
Alcançava, ainda, o m ecanism o da contagem recíproca de tem po de serviço.
Acolhia a eventual conversão de tem po de serviço. A dm itia o exercício de ativida­
des sim ultâneas no tocante ao cálculo do valor.
1072. P re ssu p o sto s cien tífico s — Os especialistas detectaram dificuldades
para a previdência social cu m p rir as suas obrigações com os atuais e fu tu ro s ap o ­
sentados. O sistem a de caixa, sim plificado na m odalidade de arrecadar no m ês para
aten d er aos benefícios do m esm o m ês, sem q u alq u er poupança, é negação da téc­
nica protetiva. D eixa-a frágil, incapaz de oferecer segurança aos seus beneficiários.
A proposta incorporava ideia de previdência social consentánea com os re­
cursos possíveis. As dem andas desse cenário são apreensíveis pelos pressupostos
científicos.
a) Universalização dos protegidos: C om o tradução do prim ado fundam ental da
isonom ia dos iguais, n o bojo da ideia da seguridade social, propiciar previdência
social igual para todos os brasileiros, distin g u in d o apenas as ocupações cuja n a­
tureza ju stifica atenção especial do legislador. N esse sen tid o , um a aposentadoria
p o r tem po de filiação idêntica para os segurados da iniciativa privada, servidores
públicos m ilitares e civis dos Três Poderes da R epública e entes políticos, inclusive
parlam entares. M esmo filiados a regim es distin to s e pagos por entidades diferen­
ciadas. Todas as pessoas subm etidas a iguais critérios de concessão do benefício,
definição de seg urados e d ep en d en tes, apenas observadas as necessárias distinções,
próprias dos diferentes segm entos da sociedade e, até onde possível, aten d id o o
princípio da un icid ad e da prestação previdenciária.

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

872 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
b) Preceitos atuariais: A tendidos os reclam os do cálculo atuarial, sistem atiza­
dos os p lan o s de custeio e benefícios segundo a ciência m atem ática. Os indicadores
econôm icos e sociais subm etidos, antes da aprovação pelo C ongresso N acional, a
exam e dos atuários. Em todo m om ento, tais especialistas particip an d o da fo rm u ­
lação dos indicadores.
D efinição do regim e de capitalização em relação à pessoa e de repartição sim ­
ples no to can te à coletividade, com binados com plano de contribuição definida e
benefício definido.
c) Deselitização do benefício: P erm itia, pela variável Z, aos segurados de baixa
renda u su fru írem o benefício.
Os recursos necessários obtidos m ediante contribuição m aio r exigida dos hi-
persuficientes, os cjuais se filiam em idade m aior em com paração com os hipossu-
ficientes.
d) D istributividade da renda: Em virtude de o salário do h ipossuliciente ser
fator d eterm in a n te da definição do direito do benefício e do respeito às diferenças
regionais e sociais, prom ove m elh o r partilha da renda nacional.
ej Desigualdades sociais e regionais: O s indicadores econôm icos definidores do
Z refletiam a avaliação de sociólogos e dem ógrafos q u an to à situação do hipossufi-
ciente, m en su rad a conform e o salário m édio nos últim os doze anos. Ao segurado
p ad rão ideal co rresponde Z = 1, a u m en ta n d o para os situ ad o s acim a desse patam ar
e d im in u in d o para os situados abaixo dele, com índices definidos em lei, apurados
p o r en tid ad es particulares.
f ) Precocidade laborai: S opesando a idade das pessoas, a m edida não despre­
zava a possibilidade de m uitas (têm sido exatam ente os segurados de baixa ren ­
da) com eçarem a trabalhar m ais cedo, em alguns casos co n trib u írem e poderem
aposentar-se precocem ente. A tendida a exigência atuarial e observados os recursos
capitalizados, nada im pedia elas receberem o benefício an tecipadam ente, observa­
do o lim ite m ínim o.
g) Distinções profissionais: Os exercentes de d eterm in ad as atividades, com o,
p o r exem plo, m agistrados, policiais, professores, m ilitares e o cupados em ativida­
des perigosas, penosas ou insalubres, beneficiados pelo K2, de m odo a atingir o
lim ite com facilidade. A escolha de tais segm entos da sociedade, dos exercentes de
atividades especiais, operada p o r lei delegada, revista a cada cinco anos, e com base
na experiência sociológica.
h) Distinção sexual: A m ulher, privilegiada com K l diferencial, p e rm itin d o ­
-lhe alcançar an tes os noventa e cinco anos, em condições de u su fru ir o ócio com
dignidade.
i) Reservas matemáticas: Os 95 anos representam acréscim o m édio de cinco
anos em relação ao previsto na legislação tradicional. P ressupondo-se trabalhador
in ician d o -se no m ercado aos 15 anos e vertendo co n trib u içõ es d u ra n te 35, terá 50
an o s q u an d o da aposentação, um a idade Lida com o baixa.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o 11 — Previdência S o d c ií 873


Acrescem -se cinco anos e ele terá 55 anos, quando do preenchim ento dos re­
quisitos para o benefício. Aí: 40 + 55 = 95 anos. Isto é, esse segurado terá co n trib u í­
do (portanto, acum ulado reservas) m ais cinco anos e deixado de receber o benefício
por igual tem po. O INSS acum ulará recursos necessários à m anutenção dos dem ais
benefícios e, em particular, para o hipossuficiente. O interessado não terá de provar
os 40 anos, favorecido, em razão de seu salário m édio dos últim os 12 anos, pelo Z.
j ) Ajustes laborais: Exigia ajustes laborais. Um deles, a criação de em baraços ã
volta ao trabalho do aposentado. P rincipalm ente, u m seguro-desem prego redim en-
sionado em seu valor, du ração e critérios de concessão, to rnando-se um a prestação
previdenciária custeada pela em presa e pelo em pregador.
k) Expectativa de direito: A tendia a expectativa de direito, isto é, situação cor­
respo n d en te ao tem po de serviço com pletado até o últim o dia do ano an terio r à
institu ição de novo benefício, m aior para os com m ais tem po e m en o r para os com
m enos tem po.
1073. E x plicitação d a ap re se n ta ç ã o — A F órm ula 95 era expressão m atem á­
tica definidora dos requisitos caracterizadores do direito ao benefício. ApresenLava
as variáveis básicas n u m éricas do segurado segundo adição e divisão, cujo resu l­
tado m ultiplicado p or o u tras três variáveis secundárias. E videntem ente, discipli-
nável em prosa.
A presentada sob a form a aritm ética, para sim plicidade de com unicação. Em
sua m odalidade m ais sim ples, a som a da idade e tem po de filiação dividido pelo
nú m ero co rresp o n d en te ao salário m édio do trabalhador nos últim os 12 anos. Em
sua m odalidade m ais com plexa, o resultado da som a e divisão m ultiplicado pelas
três variáveis secundárias.
M atem aticam ente:
TS = (X + Y/Z). K l. K2. K3 = 95 anos
1074. V ariáveis b ásicas — C ada u m a das três variáveis básicas representava
um dado.
a) significado de X: X representava a idade do segurado na data da en trad a do
requerim ento do benefício, dado objetivo fácil de ser dem onstrado.
H om em com 65 anos ou m u lh er com 60 anos, ou cinco anos m enos, se rurí-
colas, têm direito à ap o sentadoria p o r idade.
b) significado de Y: Y queria dizer o tem po de contribuição com provado. O b­
servada ou não a p resunção de desconto e recolhim ento. Fazia parte da proposta o
INSS m an ter cadastro de pagam entos.
c) significado de Z: Z era nú m ero inferior, igual ou su p erio r a um , conform e
a situação socioeconôm ica do co n trib u in te nos ú ltim o s 12 anos, evidenciada m e­
d ian te su a rem u neração m édia (em se tratan d o de trabalhador sub o rd in ad o ou
sua base de cálculo, se co n trib u in te individual). Isto é, elem entos inform adores da
condição pessoal do segurado.

C urso nn D ir e it o P r e v id e n c iá r io

874 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O salário m édio do trabalhador, para fins de fixação do valor Z, disciplinado
após levantam ento dem ográfico e sociológico dos diferentes cenários, a fim de im ­
p ed ir que pessoas fora do período básico de cálculo ofereçam rem uneração m édia
inferior à realidade (para d im in u ir o tem po de serviço).
O elab o rad o r da norm a elege o trab alh ad o r m édio, de q uem se exigem 35 +
5 = 40 an o s de tem po de filiação para fazer ju s ao benefício. Trata-se de critério
m atem ático-sociológico das diferentes condições, d ep e n d en te de pesquisa de cam ­
po e su jeito a m odificações periódicas.
A pesq u isa reclam a, p o r exem plo, do hipossuficiente d em o n strar apenas 30
anos de serviço, crescendo o in d icad o r até chegar a um . L evantam ento estatístico
verificará, em relação a cada trab alh ad o r com dez anos de serviço, q u an to s têm
provados, co nform e diferentes classes sociais e faixas salariais. O objetivo é al­
cançar o b jetiv am en te o segurado de baixa renda: com eça a trab alh ar m ais cedo,
n u tre-se m al, vive n a periferia, ganha pouco e não consegue provar todo o tem po
de serviço.
O p eracio n alm ente, a idade é som ada à divisão entre o tem po de contribuição
pelo fator representativo da condição social do indivíduo. O valor, expresso em
anos. Se resu ltar em 95, não h á m ultiplicação p o r q u alq u er Kn.
1075. Variáveis secundárias — As três variáveis secundárias po d em ser co ­
nhecidas.
a) significado do K l: K l dizia respeito à m ulher. Se em d eterm in ad o m om ento,
o legislador desejasse d ar tratam en to igual ao hom em , K l = 1; caso contrário, e
conform e avaliação sociológica, K l seria m aior. O acréscim o não devia ser su p e­
rio r ã relação entre os 30 e 35 cinco da lei vigente, isto é, su p erio r a 1,16. O K l da
ru ríco la p o dia su p erar o da m u lh e r urbana.
b) significado do K2: K2 referia-se a situações especiais, isto é, a profissões
diferen ciad as o u o cu p açõ es ju stific a n d o m en o s tem po de serviço. C o rresp o n d ia
à ideia da ap o se n ta d o ria especial, in c lu in d o -se aí, se for o caso, as d iferentes
categorias.
c) significado do K3: O últim o K representava a expectativa de direito. C onfor­
m e a vo n tad e política do elaborador da n o rm a seria aplicado coeficiente referente
aos ano s de serviços com pletados anteriores até o últim o dia do ano an terio r à
adoção da fórm ula, de sorte a favorecer, d u ra n te a transição e im plantação das
m edidas, as pessoas “p ró x im as” da aposentação.
1076. R azão do to ta l de an o s — Sem prejuízo de parecer sim plificação, 40 +
55 = 95 anos, os n o v en ta e cinco, ao m esm o tem po, eram m édia entre 90% (valor
líquido auferido pelo trab alh ad o r desco n tad o ) e 100% (valor b ru to ).
Tratava-se de n ú m ero convencionado, sujeito à atualização histórica.
1077. N ú m ero s m ín im o e m áxim o — Se alguém com eçou a trab alh ar com
12 anos, e p u d e r provar o fato, q u an d o exigidas as co n trib u içõ e s desde então,
com 52,5 anos de idade, teria 42,5 anos de filiação, totalizando 95 anos. Tratava-se

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 875
de longo período de filiação in in te rru p ta, grande contribuição ofertada ao RGPS,
o trab alh ad o r fazendo ju s à aposentação precoce. N orm alm ente, quem com eça a
trab alh ar tão cedo é hipossuficiente, e não consegue, salvo exceções, provar tantos
anos de contribuição. Sua esperança de vida é m enor, se segurado de baixa renda.
Supondo-se requerer o benefício com 64 anos, faltando 12 m eses para a ap o ­
sentadoria por idade, se som asse os 95 anos, é sinal de ter trabalhado por 31 anos;
portan to , filiou-se com 33 anos. O u antes disso, se teve períodos entrem eados de
não filiação.
A idade m ais nova com parada com a m ais avançada não desfigurava a p ro ­
posta da fórm ula. Em p rim eiro lugar, era preciso considerar o lapso de tem po de
fruição do benefício, p o r parte desta ú ltim a pessoa, aposentando-se aos 64 anos.
Em segundo lugar, de q u alq u er form a, de acordo com a lei atual, atendida a carên ­
cia (na m elh o r das hipóteses, de 15 anos), dali a u m ano faria ju s à aposentadoria
p o r idade.
Com 65 an o s (h o m em ), laz ju s ao benefício p o r idade; logo, a preocupação
com a apo sen tad o ria p o r tem po de contribuição deve ser com esse lim ite de idade.
É preciso co n sid erar tam bém se a pessoa pertence à classe m édia, terá contribuído
indiretam en te à previdência social. E, se verdade, m esm o d iretam ente, com alíq u o ­
tas progressivas e salários elevados, terá gerado recursos m aiores em com paração
com as pessoas da situação anterior. Uma m ensalidade de seis salários m ínim os
do últim o segurado eqüivale a seis m eses de um a pessoa com direito a um salário
m ínim o.
1078. In d ic a d o re s socioeconôm icos — O s indicadores influenciadores eram
quatro: a) sociais; b) sexuais; c) profissionais; e d) jurídicos.
Os sociais diziam respeito ao co n trib u in te pessoalm ente considerado, aferí-
veis em razão da rem u n eração m édia recebida nos últim os 12 anos. Exem plificati-
vam ente, quem tem p or salário rem uneração m ensal de u m salário m ínim o terá Z
= 0,89. Para u m salário m édio de seis salários m ínim os, Z = 1. E assim p o r diante.
Variaria, co n so an te a oitiva dos atuários, dem ógrafos e sociólogos, de 0,89 a 1,11.
A m ulher, p articu larm en te a trabalhadora rural, deve ser beneficiada, fixan­
do-se um K l = 1,16, d im in u in d o historicam ente até Z = 1, pelo m enos, para a
segurada urbana.
Os profissionais, com o o militar, m agistrado, professor e outros, a critério do
elaborador da norm a, ficavam sujeitos à contribuição variando de 32 a 36 anos.
O utras categorias de obreiros, tal qual a dos exercentes de atividades perigosas, pe­
nosas ou insalubres, beneficiados por tem po m en o r a ser fixado pelos técnicos do
MPS, após ouvirem os especialistas em m edicina, higiene e segurança do trabalho.
In d icador ju ríd ic o é fixado pela lei.
1079. Regime financeiro — Um plano de benefício em que abrigada a F ór­
m ula 95 tinha de ser m isto, de repartição sim ples para as prestações de risco e
de capitalização, em relação ao segurado, para as aposentadorias p o r tem po de

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

876 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
co n trib u ição e p o r idade. É híbrido, no tocante à definição do quantum : CD, para
as program adas e BD para as de risco im previsível. Em relação à clientela desses
benefícios, de repartição sim ples (se o segurado não chega a au ferir o benefício, se
ele se esgota an tes ou se sobram recursos).
1080. C o m p araç ão com o vigente — M odalidade exigindo idade (60 anos
e tem po de co n trib uição (40 anos) elevados, totalizando in casu 100 (se aplica­
da a F ó rm ula 95), no fator previdenciário da Lei n. 9.876/1999, nào faz justiça
para q u em com eça a trabalhar e co n trib u ir m ais cedo (hipossuficiente) sem poder
prová-lo e privilegia quem o faz m ais tarde (hipersuficiente).

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T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c i a l
Capítulo CVIII

A bo n o A nual

S u m a r i o : 1081. Bases legais. 1082. Âmago científico. 1083. Conceito doutri­

nário. 1084. Nível anual. 1085. Evento determinante. 1086. Requisitos legais.
1087. Data do início. 1088. Época do pagamento. 1089. Possibilidade de acumu­
lação. 1090. Automaticidade da concessão.

C om a particu larid ade de ser o ún ico benefício deferido autom aticam ente, o
abono anual registra, ainda, o fato de o seu direito d ep e n d er da existência de o utra
prestação de pagam ento continuado. Observa, rigorosam ente, a regra interpretativa
de o acessório seguir o principal.
Pago em dezem bro de cada ano, n a verdade representa d upla m ensalidade no
fim de ano, logo após o recebim ento do m ês de novem bro. Prestação sim ples, não
guarda grandes dificuldades de concessão e m an u ten ção , a ser entendida com o
benefício individualizado e, de certa form a, abstraindo o RGPS adotar o regim e de
repartição, possuir fonte de custeio p ró p ria (décim o terceiro salário).
M uitos se esquecem disso, m as historicam ente ele se presta para custear as
com em orações do n ascim ento de Cristo.
1081. B ases legais — C riado pela Lei n. 4.281/1963, o abono anual tem com o
fontes form ais o arl. 40 do PBPS e o art. 201, § 6S, da CF, no qual se diz: “A gratifi­
cação natalina dos ap o sentados e pensionistas terá p o r base o valor dos proventos
do m ês de dezem bro de cada a n o ”.
O bviam ente, ele não é gratificação n em tom a por base “os p ro v en to s”, im ­
portância paga a serv id o r aposentado. A precária redação deve-se a sua origem , o
décim o terceiro salário (Lei n. 4.090/1962).
1082. Âm ago cien tífico — A bono anual é benefício acessório, su b stitu id o r
do décim o terceiro salário, de pagam ento anu alm en te co n tin u ad o , provisório ou
definitivo, reeditável ou não (nas hipóteses de auxílio-doença e aposentadoria p o r
invalidez, provisórios e reeditados).
D ireito de certos beneficiários definidos n a lei, cujo rol não pode ser am pliado
p o r via interpretativa.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

878 W l a d i m i r N o v a e s M a r li n e z
1083. Conceito doutrinário — Benefício periódico, de pagam ento continuado,
s u b stitu id o r de ingressos, definitivo se o benefício pressu p o sto for perm anente,
não obsta a volta ao trabalho, salvo nas circunstâncias do percipiente de auxílio-
-doença ou de ap o sen tad o ria por invalidez, q u an d o a vedação é determ inada por
estes. In d e p en d en te de período de carência.
1084. N ível a n u a l — Benefício sem carência, dos segurados e dep en d en tes, é
igual à m en salid ad e auferida no m ês de dezem bro de cada ano, p o d en d o ser p ro ­
porcional em relação a quem recebeu o benefício principal não integral d u ra n te o
ano.
C orresp o n d e a 1/12 do valor do m ês de dezem bro. C onsequentem ente, pode
ser inferio r ao salário m ínim o, e o m áxim o, 100% do benefício gerador. Na defini­
ção, segue as regras do décim o terceiro salário.
1085. Evento determinante — O fato deflagrador do benefício é a fruição de
certa prestação de p agam ento co n tin u ad o no exercício, p o r p arte de segurado ou
beneficiário.
1086. Requisitos legais — T itulares são o segurado e o pensionista, perci-
pientes de au x ílio -d oença ou aposentadorias, pensão por m orte o u auxílio-reclu-
são e, no caso de acidente do trabalho, q u alq u er prestação acidentária co ntinuada
ou auxílio-acidente.
N ão tem direito quem esteja recebendo o am paro assistencial da Lei n.
8 .742/1993, a pensão H em odiálise de C aruaru da Lei n. 9.422/1994, bem com o a
p ensão Síndrom e da Talidom ida, três prestações assistenciárias e o antigo abono
de perm an ên cia em serviço.
1087. Data do início — P ercipiente de benefício num determ in ad o exercício,
no m ês de dezem bro desse m esm o ano com eçará a ser pago. Se a prestação p ressu ­
posta cessa an tes do fim de ano, ele é pago im ediatam ente.
1088. Época d o pagamento — O benefício deve ser pago pelo INSS, até o dia
20 do m ês de d ezem bro de cada ano e q u an d o da alta m édica no auxílio-doença
ou ap o sen tad o ria p o r invalidez. .
1089. Possibilidade de acumulação — É acum ulável cora o benefício gerador
e p raticam en te com q u alq u er outro, especialm ente com o seguro-desem prego.
1090. A u to m aticid ad e da co ncessão — Prestação acessória, não precisa ser
requerida, sen d o concedida autom aticam ente.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P re v id ê n c ia S o c i a l 879
Capítulo CIX

P e c ú l io s

S u m á r io : 1091. Fundamentos jurídicos. 1092. Definição técnica. 1093. Tipos


persistentes. 1094. Período de carência. 1095. Prazo prescricional. 1096. Total
a receber. 1097. Regras de acumulação. 1098. Presunção do desconto. 1099.
Sucessão hereditária. 1100. Provas solicitadas.

Com a Lei n. 8.870/1994 (dos aposeruados) e as de ns. 9.032/1995 e 9.129/1995


(acidentados e seg urados sem carência), os pecúlios desapareceram do PBPS.
O prim eiro deles, en tre tan to , para quem c o n tin u o u trabalhando após
15.4.1994 e não se afastou do trabalho, é direito a ser exercitado q uando do ro m ­
pim ento do vín cu lo em pregatício.
1091. F u n d a m e n to s ju ríd ic o s — Estavam previstos nos arts. 81, 1 e II, 82
(valor), 83 (acidenlãrios) e 84 (prazo para levantam ento) da Lei n. 8.213/1991.
Referidos, pela ú ltim a vez, no art. 184 do D ecreto n. 3.048/1999.
1092. D efin ição té c n ic a — P ecúlio é p restação em d in h e iro , de pagam ento
ú n ico , reed itáv el, c o rre sp o n d e n d o às c o n trib u iç õ e s d ev id as (ou v ertid a s) pelo
seg u rad o : a) in cap az para o trab a lh o sem ter co m p letad o o p erío d o de carência;
b) v alo r tarifad o na lei em relação a q u em se ap o se n to u p o r invalidez ac id e n ­
taria; c) do s d e p e n d e n te s do seg u rad o falecido em d e c o rrê n c ia de ac id e n te do
trab alh o ; e d) do a p o se n ta d o q u a n d o da cessação do tra b a lh o re to m a d o após a
apo sen tação .
1093. T ip o s p e rs is te n te s — Existiam quatro tipos de pecúlio: a) do segurado
incapaz para o trabalho p o r m ais de 15 dias sem ter com pletado período de carên­
cia; b) do percipiente de aposentadoria p o r invalidez acidentãria; c) dos d ep e n d en ­
tes do segurado falecido em razão de acidente do trabalho; e d) após a aposentação,
de quem vo lto u ao trab alho e dele se afastou.
M esm o ten d o de volta as c o n trib u iç õ e s pessoais, o seg u rad o sem carência
e sem a u x ílio -d o en ç a teve a filiação m an tid a, p rin c ip a lm e n te em razão da parte
p a tro n a l da exação. O p ercip ien te de ap o se n ta d o ria p o r invalidez é filiado em
razão do gozo do benefício. D e p en d en tes não são filiados. A p o sen tad o sem pre
é filiado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

880 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1094. P e río d o d e carência — P or su a n atu re za, o b en efício disp en sav a
carên cia.
Fato d eterm in an te, no prim eiro caso, é a nào existência de direito ao a u x ílio
-doença; nos seguintes, o acidente do trabalho; e, no últim o, a volta ao trabalho.
1095. Prazo prescricional — Prescreviam em cinco anos. No caso de faleci­
m ento do segurado, o p rim eiro pecúlio era direito dos sucessores civilm ente.
1096. Total a receber — À exceção dos dois pecúlios tarifados (75% e 150%
do lim ite, nos casos de aposentadoria p o r invalidez e pensão p o r m orte acidentá-
rias), os dois o u tro s correspondiam à contribuição m ensal vertida pelo segurado,
corrigida m o n etariam ente em razão dos índices de inflação.
1097. Regras de acumulação — P or se trata r de benefício de pagam ento
ú n ico, podia e pode ser acum ulado com q u alq u er outro, m as não auferido c o n ju n ­
tam en te entre si.
Na h ipótese de o segurado ter recebido o pecúlio de 75% (aposentadoria por
invalidez) e, p o sterio rm en te, vir a falecer só fazia ju s a esse pagam ento. Os 150%
eram devidos se o segurado m orreu no acidente do trabalho e não posteriorm ente.
1098. P resu n ção d o d e sc o n to — O benefício do aposentado deve ser c o n ­
cedido m esm o na hip ótese d e o em pregador não ter procedido aos recolhim entos
regulares, pois são presum idos.
A rigor, o m o n tan te é devido até m esm o não tendo havido os descontos, ca­
bendo ao INSS ressarcir-se de eventual prejuízo ju n to à em presa.
1099. Sucessão hereditária — D iscute-se sobre a natureza do m o n tan te se
o segurado não o recebeu. D o u trin ariam en te aceita-se a corrente segundo a qual
se trata de herança devida aos herdeiros e não necessariam ente aos dependentes.
1100. Provas solicitadas — C om provantes m ínim os são: requerim ento,
relação das co n trib u içõ es devidas ou vertidas, prova da filiação, certidão de óbito,
certidão de casam ento, e prova do endereço.

C urso dh D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
Capítulo CX

a b o n o de P e r m a n ê n c ia

Su m á r i o : 1101. Previsão legal. 1102. Tipos de abono. 1103. Início e fim. 1104.

Correção monetária. 1105. Regra de acumulação. 1106. Salário de contribuição.


1107. Incorporação à aposentadoria. 1108. Fim dos 20%. 1109. Fim dos 25%.
1110. Direilo adquirido.

Um cu rioso benefício previdenciário desapareceu em 15.4.1994, um a espécie


de ap o sen tad o ria proporcional: o abono de perm anência em serviço que, aliás, não
exigia a m an u ten ção p o sterio r do trabalho nem da filiação (sic).
N ada tin h a ligação com a aposentadoria especial. Logo, os segurados que
provassem o exercício de atividade especial d u ra n te 25 anos não tinham qu alq u er
direito a essa antecipação do benefício.
Situava-se entre os benefícios de pagam ento co n tin u ad o , não reeditável, que
perm itia a co n tin u id ad e ou volta ao trabalho, devido ao segurado que já tivesse
direilo à apo sen tad o ria p o r tem po de serviço. C uriosam ente, se na DER o segurado
estivesse desem pregado não poderia usufruí-lo (sic).
Im agina-se que o legislador tivesse desejado im p lan tar esse benefício com o
um estím ulo à não aposentaçào, com o faz a EC n. 41/2003 em relação ao servidor
(que fica dispensado da contribuição de 11% após p reen ch er os requisitos legais).
1101. Previsão legal — O abono de perm anência em serviço (de 25%) faz
parte do art. 87 do PBPS até o advento da Lei n. 8.870/1994, que pôs fim a sua exis­
tência. Antes dessas disposições, no seu art. 34, a CLPS d isp u n h a sobre esse direito.
1102. Tipos de abono — E xistiam dois tipos de abono:
a) de 20% do salário de benefício para a m u lh er que tivesse de 25 a 29 anos
de serviço e para o hom em que tivesse de 30 a 34 anos de serviço;
b) de 25% da m esm a base de cálculo para a m u lh er com 30 anos de serviço e
h o m em com 35 an o s de serviço.
1103. Início e fim — A regra é que o benefício tin h a início na DER, sendo
m an tid o ainda que o segurado deixasse de trabalhar, e se encerrava na véspera da
concessão da ap o sen tadoria p o r tem po de serviço.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

882 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Q u an d o da solicitação da aposentadoria m u ito s segurados julgaram que bas­
taria m u ltip licar p o r cinco ou quatro o m o n tan te do abono para chegar à renda
inicial da apo sen tad o ria, m as o raciocínio não era correto. O valor desta últim a
referia-se aos ú ltim o s 36 salários de contribuição.
1104. C o rreção m o n e tá ria — A atualização m onetária dos valores m ensais
dos dois abonos observava os m esm os índices dos dem ais benefícios. Por q u alq u er
m otivo, não seria im possível diante de u m a q u ed a b ru ta l dos salários de c o n tri­
buição p o steriores, raram en te sucedida que o seu valor resultasse su p erio r ao da
ap o sen tad o ria (síc)!
1105. Regra de acumulação — O benefício podia ser acu m u lad o com o au-
xílio-doença e com o seguro-desem prego, m as não com qu aisq u er aposentadorias.
1106. Salário d e contribuição — U m a vez concedido o benefício, o valor da
m an u ten ção do benefício não m an tin h a relação com o salário de contribuição do
segu rad o que c o n tin u o u trab alh ad o r (que poderia ser m aior ou m enor).
1107. Incorporação à aposentadoria — Q uando cessasse, o seu valor m ensal
não se inco rp o rav a à aposentadoria p o r tem po de serviço. N em fazia parte do salá­
rio de co n trib u ição , com o é o caso do auxílio-acidente.
1108. F im d o s 20% — O abono de 20% desapareceu em 24.7.1991 com o
PBPS. E v identem ente, os segurados que até essa data tin h am até 29 anos (m u lh e­
res) ou 34 an o s (h o m ens) m antiveram esse direito.
1109. F im dos 25% — O abono de 25 desapareceu com a Lei n. 8.870/1994.
1110. D ireito a d q u irid o — Até 15.4,1994, quem requereu o benefício ou o
vinha recebendo ex vi do direito assegurou a possibilidade de c o n tin u a r recebendo.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / / — P r e v id ê n c ia S o c ia l
883
Capítulo CXI

S a l á r io - M a t e r n id a d e

1111, Normas respeitantes. 1112, Evento determinante. 1113. Des­


S u m á r io :
tinatários da proteção. 1114. Natureza jurídica. 1115. Devedor da obrigação.
1116. Alcance mensal. 1117. Período de duração. 1118. Acumulação de bene­
fícios. 1119. Prazo presericional. 1120. Formalidade documental.

Até o advento da Lei n. 6.136/1974, a licença à m aternidade era dever n iti­


dam ente laborai. C om essa norm a, a responsabilidade pelo desem bolso foi social
e juridicam ente atrib u ída à previdência social. C onsiderada a m atern id ad e com o
co n tingência protegível, o in stitu to trabalhista transform ou-se em benefício p re­
videnciário, em bora a razão da transferência do ô n u s pecuniário tenha sido evitar
discrim inação co n tra as m ulheres.
Prestação subm etida à cogência de norm a pública é desrespeitada, particular­
m ente no tocante ao período de fruição. As em pregadas preíerem deixar para se afas­
tar do trabalho às portas da délivrance e desfrutar de todos os 120 dias em casa, dando
m aior atenção ao bebê (e ensinando o legislador). E nquanto a lei não for alterada
a respeito dos 28 dias, a em presa corre os riscos inerentes ao acidente de trabalho.
Por sua n atureza im previsível, in d ep en d e de período de carência.
1111. N o rm as re sp e ita n te s — A proteção à m aternidade com parece no art. 7®,
XVIII, da CF, e o benefício está co ntem plado nos arts. 93 a 103 do RPS. O direito
da dom éstica e da segurada especial foi preceiluado, aliás, restritivam ente, na Lei
n. 8.861/1994. Em seus arts. 391 a 400, a CLT cuida da proteção à m aternidade.
1112. E vento d e te rm in a n te — O benefício é devido em razão da gravidez em
estado ad ian tad o , do nascim ento com ou sem vida, e do período de aleitam ento
do nascido. Pode ser concedido na hipótese de parto antecipado, e, se vítim a de
aborto não crim inoso, a segurada tem direito à prestação d u ra n te duas sem anas.
M esm o antes de seis m eses, se sobrevêm nascim ento com vida, n ão im p o rtan d o o
falecim ento logo após, ela se im põe.
A lei não garante o salário-m aternidade no caso de aborto crim inoso, m as se
a segurada ficar incapaz para o trabalho fará ju s ao auxílio-doença. A disposição
vedativa revela-se in ó cua, anacrônica e irreal.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

884 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O salãrio -p atern idade co n stitu cio n al não foi regulam entado até agora.
Foi estendido à segurada guardiã ou que ad o tar criança até oito anos de idade.
1113. Destinatários da proteção — Só tin h am direito a servidora sem re­
gim e p ró p rio de previdência social e a em pregada regida pela CLT o u pela Lei n.
5.889/1973 (N PTR), a tem porária, a avulsa, a dom éstica e a segurada especial.
Com a Lei n. 9.876/1999, a em presária, au tô n o m a, eventual, garim peira ou facul­
tativa passaram a fazer ju s ao benefício.
A ap o sen tad a grávida tem direito, e, nesse caso, a em presa assum irá todo o
ô nus, sem p o d er d ed u zir o valor na GRPS.
1114. Natureza jurídica — O salário-m aternidade é prestação trabalhista co ­
m etida à p revidência social, espécie de licença m édica rem u n erad a em razão da
incapacidade para o trabalho decorrente da gravidez, do p arto e aleitam ento.
Benefício de p agam ento co n tin u ad o , de cu rta e p redeterm inada duração,
su b stilu id o r d o s salários, reeditável, im pede a volta ao trabalho.
Trata-se de direito disponível, p o d en d o ser renunciado se c o n trib u ir para o
bem -estar da m ulher, hipótese em que um a vez aprovada pela perícia m édica, a
m u lh er estará au to rizada a desistir dos 120 dias e voltar ao trabalho. Claro, em,
ou tras palavras, q u an d o isso fizer bem a ela.
1115. D ev ed o r d a obrigação — M aterialm ente, quem desem bolsa o salário
co rresp o n d en te é o d ad o r de serviços (órgão público, em pregador, em presa de
Lrabalho tem p o rário ou sindicato), m as, ju rid icam en te , o cu m p rim en to da obri­
gação é dever do INSS. Para essas pessoas ju ríd icas, o ato da quitação acontece no
am b ien te do trab alh o (tesouraria), m ediante p o sterio r dedução no recolhim ento
m ensal. Para a dom éstica e segurada especial, o devedor m aterial e ju ríd ic o é a
au tarq u ia e será pago no posto local de benefícios.
Na h ipótese de o d ad o r de serviços ro m p er o vínculo ju ríd ic o com a gestante,
deverá, a p artir de então, arcar com a obrigação.
Com a Lei n. 9.876/1999, esse procedim ento passou a ser exceção, m aioria
das seguradas deve receber o benefício nos postos do INSS, rep resen tan d o enorm e
retrocesso.
1116. Alcance mensal — Para a servidora, em pregada, tem p o rária e avulsa,
o m o n tan te é ex atam ente a rem uneração m ensal b ru ta, deduzida a contribuição
pessoal até o lim ite do salário de contribuição. N esse sentido, não tem teto.
No caso da dom éstica, o anotado na CTPS, m enos o d esconto previdenciário,
observado o lim ite do salário de contribuição.
A segurada especial faz ju s ao salário m ínim o.
O PCSS e o PBPS propiciam norm a conflitante. O prim eiro im põe c o n trib u i­
ção em relação ao p agam ento do salário-m aternidade e, o segundo, garante não ser
possível benefício in ferior ao salário m ínim o. P or conseguinte, prevalecendo essa
ideia m aior, q u an d o a gestante aufere o salário m ínim o com o rem uneração não

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io saM M
T om o 11 — P re v ic te n ria S o c i a l
885
poderia sofrer desconto. ín casu, o em pregador deverá acrescer 8%, caso contrário
assum irá o ô n u s do INSS.
Q uan d o dedutível na GRPS, para não sobrevir reincidência de contribuição,
o em pregador deve descontar 100% da rem uneração. Se o salário-m aternidade é
su p erio r ao su b to tal, com parecerá no INSS para receber a diferença.
1117. Período de duração — A licença à m aternidade perd u ra p o r 120 dias,
devendo ser 28 antes e 91 dias após o parto. Q uem determ ina esses dois lapsos de
tem po é o m édico exam inador.
De acordo com a CLT, o m édico poderá am pliar a licença, antes e após o pe­
ríodo, p o r du as sem anas. Nesse caso, será necessário novo atestado.
1118. Acumulação de benefícios — À exceção do auxííio-acidente, p o r sua
natureza em in en tem en te su b stitu id o r dos salários ele não p o d e ser acum ulado
com q u alq u er o u tro benefício previdenciário.
Verdadeira su b stitu ição dos salários, segurada p restando serviços em dois ou
m ais em pregos, receberá a som a das diferentes rem unerações.
Por ocasião do início dos 120 dias, se estiver auferindo auxílio-doença, este
últim o benefício é suspenso, retom ando-se os seus pagam entos, p resen te a incapa­
cidade, após o final do prazo anterior.
1119. Prazo prescricional — A em presa deve d ed u zir o total n o m ês p ró p rio
da licença. Se não o fizer, dentro do prazo de cinco anos, terá de solicitar restituição
de contribuições.
O fendendo o p rin cípio da igualdade, a Lei n. 8.861/1994 estabeleceu noventa
dias para a dom éstica e a segurada especial receberem o benefício no INSS.
1120. Formalidade documental — Os d o cu m en to s necessários à concessão
do benefício são: atestado m édico fornecido pelo SUS, entregue à em presa. Para
a d o m éstica e seg u rada especial, além do atestad o m édico: I — re q u erim en to ;
]] prova de trabalho (CTPS e ato co n stitu tiv o da em presa rural), 111 carnê de
recolhim ento; e IV — prova de endereço.
Os d o cu m en to s devem ser guardados p o r dez anos.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
886
Capítulo CXII

M ã e G en ét ic a

S u m á r i o : 1121. Conceito mínimo. 1122. Questões vernaculares. 1123. Adoção e


guarda. 1124. Contingência protegida. 1125. Fertilização in vitro. 1126. Direito
da gestante. 11.27. Direito da mãe genética. 1128. Remuneração da gestação.
1129. Aborto nào criminoso. 1130. Algumas conclusões.

C om a generalização da reprodução assistida na m odalidade de insem inação


artificial, em q ue algum as m ulheres se predispõem a engravidar filhos engendrados
p o r casais estéreis, sem grande participação genética na concepção, propõem -se
algum as q u estõ es relativas ao salário-m aternidade q uando um a delas (a m ãe gené­
tica e a m ãe su b stitu ta) ou am bas sejam seguradas do RGPS.
A procriação artificial vem d esp ertan d o várias controvérsias n o direito de fa­
m ília. E fetivam ente, q uem é a m ãe do recém -nascido? Os autores afirm am não
m ais haver o m ater semper certa est. A parentem ente, agora som ente se sabe quem
é o ho m em que forneceu os esperm atozoides.
D epen d en d o do conceito que se tenha de progenitora, do p o n to de vista da
concepção da vida, se entenderá que serão duas. A m ãe genética é um pouco m ais
do que a m ãe gestante. Afinal, a m aternidade envolve o utros aspectos além do p ro ­
cesso biológico da reprodução, desde a gestação até o parto. A m u lh e r que adote
u m bebê logo após o n ascim ento e dele cuide p o r toda a vida, ainda que sem laços
san g u ín eo s com a criança, e que ju rid icam en te seja considerada adotante, pode ser
tida m o ralm en te com o a m ãe pessoal, fam iliar o u social.
Em u m a união hom oafetiva, co n stitu íd a de duas m ulheres ou de dois h o ­
m ens, é possível q u e essa família deseje ter filhos m ed ian te a reprodução insem i-
natória, co n tan d o com os óvulos e os esperm atozoides dos conviventes próprios
ou de terceiros.
Já na u n ião heterossexual, referindo-se ao art. 1.596, Y do C ódigo Civil, lem ­
bra Ravênia Márcia de Oliveira Leite que se o m arido concorda com a insem inação
artificial da esposa, ele é tido com o pai da criança, sem ter tido participação gené­
tica na concepção ( “Insem inação artificial suscita d ú v id as”, artigo disponível na
Internet).

C urso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o JJ — P r e v id ê n c ia S o c ia l
887
1121. C o n ceito m ín im o — De regra, o salário-m aternidade era um a p resta­
ção trabalhista, com etida à Previdência Social (Lei n. 6.136/1974), inicialm ente
devida à seguradas em pregadas e à avulsas gestantes d u ra n te 28 + 92 = 120 dias
(PBPS, arts. 71/73). Depois da Lei n. 11.770/2008, sob convenção das p artes pode
ser am pliada p o r 60 dias.
Mais tarde, o direito foi estendido à m u lh er em presária, au tônom a, dom ésti­
ca, segurada especial e facultativa (Lei n. 9.876/1999). P or últim o, à m ãe adotante
e à m ãe guardiã (Lei n. 10.421/2002).
Trata-se de um a prestação em d inheiro, de pagam ento con tin u ad o determ i­
nado, corresp o n d en te ao m o n tan te do salário de contribuição da segurada (com
exceção da dom éstica e da segurada especial) em um ou vários em pregos.
1122. Q u e stõ e s v ern acu lares — C om o sói acontecer, p o r ocasião do desen­
volvim ento de u m novo in stitu to técnico ju ríd ico , com as inúm eras m anifestações
d o u trin árias que enriquecem o debate, sobrevêm problem as lingüísticos. Ainda
sem se saber com precisão filosófica quem é a mãe da criança nascida desse vín cu ­
lo convencional entre as duas m ulheres, constata-se a presença de várias locuções
para in dicar os polos da relação hum ana.
Uma m u lh er que fornece o óvulo, ju n ta m e n te com os esperm atozóides do h o ­
m em , tem sido conhecida com o m ãe doadora, em issora, biológica, genética e, até,
de adotante. A m u lh er q u e prom ove a procriação é cham ada de receptora, doadora,
fecundadora, pro criad ora e, especialm ente, de substituta.
A parentem ente, vai se consagrando o uso de m ãe su b stitu ta e m ãe genética.
1123. A doção e g u a rd a — P or força da Lei n. 10.421/2002, o benefício previ­
denciário foi deferido à segurada do RGPS que adote ou ob ten h a a guarda ju d icial
de certa criança. N esse caso, o direito da adotante ou guardiã nào se confunde com
o direito da m ãe biológica, que, ao seu tem po, fez ju s ao benefício, se era segurada.
Resta evidente que, nesse caso, o legislador prestigia a proteção às crianças, à
adoção e à guarda, e não necessariam ente a gestação em si m esm a, pois a adotante
e a guardiã não engravidaram n em ficaram im pedidas de trabalhar. Se a criança
adotada for recém -nascida, fará ju s ao m aior tem po possível dos 120 dias (D ecreto
n. 4.729/2003).
1124. C on tin g ência p ro teg id a — Em bora o título da prestação seja salário-
-m aternidade, não é apenas a m aternidade o risco coberto pelo seguro social. A
m u lh er fica grávida p or oito m eses (entende-se que ela possa laborar até esse p en ú l­
tim o m ês de gestação). N os últim os 28 dias seguintes, teria enorm es dificuldades
para co n tin u ar trabalhando, daí a licença antes do parto e depois dele fazer ju s a
u m período de m aternidade de 91 dias para poder assistir ao bebê. Aliás, conform e
a convenção, pod en d o prorrogar os 120 dias p o r m ais 60 dias (Lei n. 11.770/2008).
N ote-se que d u ra n te duas sem anas antes ou duas sem anas depois do parto,
co n so an te atestado m édico específico, ela poderá ser licenciada e ser reem bolsada
pelo benefício (RPS, art. 93, § 3B).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

888 W l a d im i r N o v d e s M a r t i n e z
Logo, a co n tin g ência protegida é a gravidez seguida da gestação e certo p erío ­
do de aleitam en to (92 ou 106 dias).
O lvidando-se a angústia psicológica, a natu ral ansiedade e o ac o m p an h am en ­
to pari passu, a m ãe genética não tem o prim eiro p erío d o fisiológico nem assum e
os ô n u s do aleitam en to p o sterio r ao nascim ento (com leite p ró p rio ) e, fisicam ente,
ela não tem de se recu p erar com o ex-parluríente.
A m ãe su b stitu ta tem o p rim eiro período, todos os encargos da gestação, e,
após o p arto, precisa convalescer, m as sem os deveres de cu id ar d o recém -nascido.
Esse racio cín io não é apenas cerebrino. O legislador au to riza um d esc an ­
so de d u as sem an as para a h ip ó tese de ab o rto n ão crim in o so (q u a n d o não há
n asc im e n to e tão so m en te a gestação). Aliás, foi um equívoco do elab o rad o r da
no rm a, q u e se esq u e ceu dos d an o s causados ao casal q u e q u eria esse filho a b o r­
tado. L egislador q u e tam bém m erece ce n su ra q u an d o trata do ab o rto crim inoso:
po ssiv elm en te, a m u lh e r sofre psico lo g icam en te m u ito m ais do que a v ítim a do
aborLo n atu ral.
Possivelm ente, p o r enfocar u m a exceção, curiosam ente a no rm a não prevê
as dificuldades en o rm es que sobrevêm q u an d o de partos m últiplos. Im aginem o
trabalho que dá no caso de q uíntuplos...
1125. F ertiliz açã o in vitro — Em nen h u m m om ento, a legislação previden-
ciãria regulou o direito da m u lh er que se dispõe a engravidar, gestar e d ar à luz um
bebê de terceiros, situação conhecida com o m aternidade sub stitu tiv a (e, vulgar­
m ente, barriga de aluguel).
N esse caso, a fertilização, isto é, o en co n tro do óvulo com os esperm atozói­
des, do casal fo rn eced o r dos genes se dá em um a proveta de laboratório e depois é
im p lan tad o no ú tero para a reprodução. Daí tam bém se falar em “bebê de proveta”.
1126. D ireito d a g e sta n te — Em se tratan d o de um a segurada, ainda que
não ten h a havido relação sexual pro p riam en te dita, ela fica grávida hab itu alm en te
d u ra n te os nove m eses e dá à luz. M esm o que não d etenha o bebê sob sua guarda
em seguida nem vá alim entá-lo com o seu leite, ela precisa se recu p erar do parto.
Não p aira q u alq u er dúvida de que deve fazer ju s ao salário-m aternidade nas exatas
condições, com o se o filho fosse geneticam ente seu.
Caso essa m ãe su b stitu ta não seja segurada da Previdência Social, ela arcarã
sozin h a com todos os esforços da gravidez, com o os su p o rtam as dem ais m ulheres
não seguradas, sem fazer ju s ao benefício, m as, note-se, bastaria a ela co n trib u ir
com o facultativa pelo p eríodo de carência necessário de dez co n tribuições m ensais
(PBPS, art. 25, III).
1127. D ireito da m ãe g en ética — A família da m ãe genética fornecerá o óvulo
ju n ta m e n te com o esp erm atozoide do m arido ou com panheiro. Na gravidez, será
concebido um ser h u m an o tido p o r todos com o seu filho.
D u ran te os nove m eses, ela acom panhará a gestação da m ãe gestante, psico­
logicam ente vivenciará certa m aternidade virtual à distância. Depois do nascim ento,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
889
assum irá todos os desvelos de aten d er às necessidades do recém -nascido em re­
lação a um bebê que é fruto do seu am or. Alegrar-se-á e sofrerá com o q u alq u er
m u lh er fértil.
R igorosam ente, se não precisou da licença trabalhista d u ra n te os 28 dias a n ­
teriores ao parto, com certeza vai necessitar dos 91 dias subsequentes. N ão foi
m ãe portadora, m as é m ãe biológica, n atu ralm en te diferente da m ãe ado tan te ou
guardiã. Sem estar grávida, dificilm ente convencerá o seu em pregador que precisa
se afastar 28 dias antes do p arto de o utra m ulher.
Se não for um a segurada, as eventuais dúvidas se desfarão; n ão subsistirá o
direito ao benefício, m as, da m esm a form a, ela tam bém poderia ter contribuído
d u ra n te dez meses.
Na condição de segurada, diante do silêncio norm ativo, será preciso consi­
derar as diversas situações envolvidas e a mens legis. No m ínim o, fará ju s aos 120
dias posteriores ao parto, na condição de m ãe adotante.
Até o advento da Lei n. 10.421/2002, talvez não fosse possível serem operados
os raciocínios seguintes, m as, depois de sua edição, tem -se que a Previdência Social
se verá obrigada a desem bolsar dois benefícios em função de u m m esm o fato ge­
rador. Se am bas as m ulheres (m ãe gestante e m ãe ad o tan te) são seguradas, as duas
farão jus ao salário -m aternidade (RPS, art. 93, § 1Q).
Do p o n to de vista da co n trap artid a, não haveria obstáculo; am bas são seg u ra­
das e para isso co n trib uíram . A exem plo do que se passa com o salário-fam ília, um a
m esm a contingência protegida pode gerar m ais de u m beneficio (RPS, art. 82, § 3e).
R igorosam ente, a m ãe genética adotaria um a criança po rtad o ra dos seus genes.
Há m uito tem po que o legislador deveria disciplinar essa m atéria e tam bém o
direito ao salário m ínim o da ex-esposa e ex-com panheira con co rren tes em relação
ao segurado que co n trib u ía pelo salário m ínim o. Em sendo o RGPS u m regim e
linanceiro dc rep artição sim ples e atendido o postulado constitucional de assegu­
rar R$ 678,00 às duas pensionistas (h o m en s ou m ulheres), sem im portar que o
segurado(a) as tivesse m an tid o com esse valor ínfimo.
Juliana de Oliveira Xavier Ribeiro diz que o salário-m aternidade é ilegal para
as duas e p ro p õ e que haja u m a divisão entre as m esm as: 60 + 60 = 120 dias (“Os
efeitos ju ríd ico s do salário-m aternidade na barriga de aluguel”, artigo disponível
na internet).
1128. R em uneração d a gestação — Toda vez que o E stado cria situações que
suscitem a licitude ou im põe um a exigência inadequada, ele tem responsabilidade
na ocorrência. É, no m ínim o, coautor.
A R esolução n. 1.358/1992 do C onselho F ederal de M edicina é irreal ao obs-
tar a rem uneração da gestação in vitro (item 2, inciso VII), pois esse direito p a tri­
m onial é am oral e não im oral. Q uem o redigiu deveria saber qu an to custa abrigar
no ventre um filho de terceiros por nove m eses, padecer dos incôm odos e das dores
do parlo, e não ficar com a criança que am orosam ente em balou tanto tem po.

C urso de D ir e it o P an v iP E N C iA R io

890 W /a d im ir N o v a e s M a r tin e z
No m ín im o , ela deve ressarcir-se de todas as despesas com os alim entos n u ­
tricionais, exam es p ré-natais e dem ais custos, en tre os quais os m edicam entos e as
consultas m édicas.
1129. A b o rlo n ão crim in o so — É preciso pen sar tam bém na ocorrência do
aborto, crim inoso ou não, que im pede o n ascim ento com vida. Nesse caso, o que
m u d a é apenas o tem po fornecido pela lei previdenciária para a licença à m ater­
nidade: passa a ser de duas sem anas. Ressalta-se que, então, após a délivrance, se
os 14 dias não forem suficientes para a recuperação da m ulher, ela deverá solicitar
um auxílio-doença.
Nessa h ipótese, Edivan Bertin diz que não caberia o salário-m aternidade e sim
u m auxílio -d o en ça ( “O aborto com o fato gerador do salário -m atern id ad e”, artigo
disponível na Internet no siíc Juris-W ay desde 7.3.07). A borto é doença e não é
p arto natural.
1130. A lgum as co n clu sõ es — Exceto n a figura da extensão do período (de
duas sem anas), o salário-m aternidade não é fracionado. M esm o se a segurada tra­
b alh o u até a véspera do parto (com o é m u ito com um e condenável), fará ju s aos
120 dias — situação aceita pelas au to rid ad es (a m u lh er se sacrifica no trabalho
para p o d er ficar com o bebê m ais tem po).
R igorosam ente, então, a p artir das duas realidades deveria haver um a p e ­
q uen a d im in u ição do direito da m ãe gestante (em relação à in existência do aleita­
m en to ) e, tam bém , u m a pequena dim inuição do direito da m ãe genética (que não
estará grávida). C om o isso não é possível, sendo am bas seguradas, nos dois casos,
m antém -se o direito ao benefício, que, necessariam ente, não terá de ser o m esm o
quantum.
In ex isten te n o rm a adm inistrativa que assegure a pretensão às d u as m ulheres
seguradas na legislação, o INSS deverá reconhecer o direito ou não contestá-lo.
Caso co n trário , terá de se haver com decisões interativas da Ju stiça F ederal até que
o en ten d im en to seja sum ulado. C om o sucedeu com a un ião hom oafetiva, objeto
da Ação Civil P ública n. 2000.71.00.09347-0, e ou tras conquistas dos segurados.
O direito dessas duas m ulheres carece de ser regulam entado em m elhores
condições, especialm ente para avultar os direitos trabalhistas inerentes, com o é o
caso da estabilidade e outras m ais conquistas dos trabalhadores.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o / / — P r e v id ê n c ia S o d a ! 891
Capítulo CXIII

S a l á r io - F a m íl ía

1131. Prescrições válidas. 1132. Clientela de beneficiários. 1133. Nu-


S u m á r io :
clearidade científica. 1134. Evento determinante. 1135. Valor mensal. 1136,
Início e cessação. 1137. Hipóteses de acumulação. 1138. Direito do aposentado.
1139. Devedor da obrigação. 1140. Comprovantes formais.

Salário-fam ília, um a prestação de hipossuficientes, é direito dos segurados de


baixa renda, acréscim o salarial de pouco significado, p erd eu expressão com o pres­
tação previdenciária em razão do quantum m ensal. Só não desapareceu ju n ta m e n te
com o auxílio-funeral e o auxílio-natalidade, p o r ocasião da Lei n. 8.742/1993, por
haver previsão constitucional.
Parcela da rem uneração do em pregado, tem porário e avulso, é aferida em
razão do valor vigente e do nú m ero , idade e higidez dos filhos. Tam bém constitui
direito específico do servidor sem regim e p ró p rio , q u an d o filiado ao RGPS. Por
força de lei de 1963, transform ou-se em prestação previdenciária.
Desde o advento da Lei n. 7.787/1989, não tem fonte de custeio individuali­
zada e n o s term o s do art. 28, § 9 Q, a , do PCSS tam bém não se constitui em base de
cálculo da co n trib u ição previdenciária (até porque benefício). Em bora não in te­
g rante do salário de co ntribuição, por determ inação legal e im posição da finalística
da previdência social, é co n q u ista social e, p o rtan to , form a rem u n erató ria cuja
obrigação dc pagar, em razão de recom endação da OIT e ex vi legis, foi com etida à
previdência social.
1131. Prescrições válidas — Benefício trabalhista-previdenciário criado pela Lei
n. 4.266/1963 e regulam entado pelo Decreto n. 53.153/1963, está contem plado no
art. 7°, XII, da CF/1988, ali definido com o direito dos dependentes do trabalhador.
Em virtude de a seletividade ter sido mal assim ilada pelo legislador ordinário,
o PBPS distin g u iu o valor entre quem ganha abaixo e acim a de d eterm in ad o pata­
m ar (3/10 do lim ite).
O su b stitu tiv o Bem Veras, aprovado em 8.10.1997, pela C om issão de C ons­
tituição e Ju stiça e C idadania (PEC n. 33-A /1995), contem plava: “salário-fam ília
pago em razão do d ep endente do trab alh ad o r de baixa renda nos term os da lei”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

892 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Em seu art. 13 a EC n. 20/1998 assim dispôs: “Até que a lei discipline o
acesso ao salário-fam ília e o auxílio-reclusão para os servidores, segurados e seus
dep en d en tes, esses benefícios serão concedidos apenas àqueles que ten h am renda
b ru ta m ensal igual o u inferior a R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais), que, até a
publicação da lei, serão corrigidos pelos m esm os índices aplicados aos benefícios
do regim e geral de previdência social”.
1132. C lie n te la de b en e ficiário s — P reenchendo os requisitos legais e o b ­
servados severos aspectos form ais, têm direito o serv id o r sem regim e p ró p rio de
previdência social, o em pregado ru ral (desde 5,10. f 988), o u rb an o , o tem porário
e o avulso. C ertos ap o sentados tam bém fazem jus.
Não pode obtê-lo quem apenas está em gozo de auxílio-acidente o u se recebe
o am paro assistencial da LOAS (Lei n. 8.742/1993) e a pensão Síndrom e da Tali-
dom ida. Da m esm a form a, inexiste previsão para o dom éstico.
Q u an d o o filho m en o r estiver sob a guarda de o utra pessoa, esta tem direito
à parcela. N os casos de separação do casal, o percipiente será o determ in ad o pelo
ju iz. A colhido p o r in stituição benem erente, esta a titu lar percipiente.
1133. N u c le a rid a d e científica — Beneficio de pagam ento co n tin u ad o , tem ­
porário, com d u ração definida, n ão su b stitu id o r dos salários, não se acresce ao
salário do trab alh ad o r para q u alq u er fim laborai.
1134. E vento d e te rm in a n te — O direito é deflagrado pela existência de filho
m en o r de 14 anos ou inválido. São tidos com o equiparados aos filhos, os legitim a­
dos, en teados, excluídos os m enores sob guarda.
A invalidez é ap u rad a m ediante exam e m édico-pericíal prom ovido pelo INSS.
1135. V alor m en sal — Em 1B.1.2013, q uando o lim ite do salário de c o n tri­
buição era de R$ 4 .159,00, o valor somava:
a) de R$ 31,22, para segurado com rem uneração m ensal até R$ 608,80; e
b) de R$ 22,00, para segurado com rem uneração m ensal su p e rio r a R$ 608,81.
In d e p en d en tem e n te dos dias trabalhados, o avulso recebe o valor integral.
1136. Início e cessação — O benefício com eça, de regra, a p a rtir do início da
relação ju ríd ic a com o d ad o r de serviços (órgão público, em pregador, em presa de
trabalho tem p o rário ou sindicato), se o interessado apresentar im ediatam ente os
d o cu m en to s exigidos.
Caso a relação trabalhista ou previdenciária com ece ou term ine no m eio do
m ês, é devido o m o n tan te integral.
A prestação extingue-se no m ês seguinte: a) ao da m orte do filho ou eq u ip a­
rado; b) após co m p letar 14 anos; c) ao se recuperar a higidez; e d) pelo desem prego
do segurado.
1137. H ip ó teses d e acu m u lação — Se m arido ou m ulher, com panheiro ou
co m p an h eira forem segurados, am bos fazem ju s à prestação, d u p lican d o -se a im ­
po rtância etn relação a cada filho.
No caso de dois em pregos, são faculdades distintas.

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C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P re v id ê n c i a S o c ia l
1138. Direito do aposentado — Os aposentados rurais, em pregados e avulsos
ju b ilad o s p o r idade, invalidez ou percipientes de auxílio-doença têm direito.
Especialm ente os que voltaram ao trabalho (PBPS, art. 18, § 29}.
1139. Devedor da obrigação — O o nerado com o dever de pagar é o INSS.
Q uem faz os pagam entos é a em presa, ded u zin d o o valor no subtotal da GRPS. Se
não opera o desco n to o p o rtu n am e n te terá de solicitar restituição de contribuições.
C aso d esconte indevidam ente poderá estar com etendo crim e previdenciário, sem
prejuízo da d im inuição do salário, se o interessado é culpado.
1140. Comprovantes formais — São exigidos: a) certidão de nascim ento do
filho ou docu m en tação relativa ao equiparado; b) apresentação anual de atestado
de vacinação obrigatória do m enor; e c) declaração de responsabilidade de obriga­
ção de co m u n icar q u alq u er falo m odificador do direito.
Por dez anos, a em presa deve guardar os com provantes dos pagam entos e as
cópias das certidões correspondentes, para exam e da fiscalização do INSS.

Êmmtm C urso d f D ir e it o P r e v id e n c iá r io

894 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CXIV

P en s ã o p o r M o r t e

1141. Principais destinatários. 1142. Natureza jurídica. 1143. Manu­


S u m á r io :
tenção das mensalidades. 1144. Acumulação de direitos. 1145. Valor inicial.
1146. Data do início. 1147. Rateio do total. 1148. Divisão das mensalidades.
1149. Evento determinante. 1150. Instrução do pedido.

Pensão p o r m o rte é benefício de beneficiário(a), não n ecessariam ente filiado


ou co n trib u in te, vale dizer, de d ep en d en te do titular da filiação, o segurado(a).
Surgiu praticam en te ao tem po da criação da proteção social.
A dm ite p resu n ção absoluta, de dependência econôm ica, em favor de certas
pessoas sem respaldo na realidade histórica, econôm ica, sociológica e social. Pre­
sunção essa que vem sendo d iscutida na dou trin a.
Carece ser in teiram ente revista em seus term os, definição do rol de d ep e n ­
den tes e, provavelm ente, estribada na m ú tu a dependência. Deveria ser direito de
quem não tem com o o bter os m eios necessários para a subsistência, descabendo
para percipiente de o u tros benefícios ou rendas.
1141. Principais destinatários — A pensão p o r m orte tem com o titulares,
em p rim eiro lugar, os dep en d en tes presum idos do segurado(a) — cônjuges, co m ­
pan h eiro s e filhos — e, secundária e con co rren tem en te, sem a adm issão prévia da
dep endência econôm ica, os pais e irm ãos.
C aracterizado o direito da ex-esposa e da ex-com panheira, seu m o n tan te é
dividido entre am bas; conform e o caso, tam bém com os filhos destas.
A p artir de 25.7.1991, passou a co n tem p lar o m arido e co m panheiro com o
possíveis pensionistas, desaparecida distinção entre os sexos.
Se o cônjuge se ausenta do lar, só fará ju s caso prove a d ep endência eco n ô ­
mica. Da m esm a form a, para o desq u itad o ou divorciado. A percepção de pensão
alim entícia é o principal m eio de prova dessa relação ju ríd ic a do distanciam ento.
Caso alegue invalidez, os filhos ou irm ãos são obrigados a exam e m édico
pericial. O INSS pode, ainda, subm etê-los à reabilitação profissional com vistas

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 1/ — P r e v id ê n c ia S o c i a l 895
à recuperação e cessação da cota (com efeito prático som ente se forem os únicos
percipientes).
A decantação do d ireito cifra-se à DO. Se, então, existem os prim eiros d epen­
den tes acim a e estes, no curso da m an u ten ção , não m ais fazem ju s, os segundos
d ep en d en tes não podem habilitar-se. Isso sucessivam ente para os terceiros (pais)
e q u arto s d ep en d en tes (irm ãos).
Designa-se dependenLe quem dep en d e do segurado; p ensionista quem recebe
a pensão.
A p artir de 14.10.1996, o m en o r sob a guarda deixou de ser dep en d en te
(subitem 16.1 da O rdem de Serviço INSS/DSS n. 564/1997). A m orte acontecendo
antes, o direito perm anece.
1142. Natureza jurídica — A pensão p o r m orte é prestação dos dependentes
necessitados de m eios de subsistência, su b stitu id o ra dos seus salários, de paga­
m ento co n tin u ad o , reeclitável e acum ulável com aposentadoria.
Sua razão de ser é ficar sem condições de existência de quem dependia do
segurado. N ão deriva de co n trib u içõ es aportadas, m as dessa situação de fato, a d ­
m itida presu n tiv am en te pela lei.
1143. Manutenção das mensalidades — C oncedido o benefício, ele se m an­
tém integralm ente até a extinção da ú ltim a cola.
O s m otivos são os seguintes: a) m orte do pensionista; b) recuperação da higi-
dez do inválido; c) m aioridade do m enor; d) em ancipação do filho ou do irm ão; e
e) reaparecim ento do segurado ausente ou desaparecido.
Na legislação atual, em séria d isto rção , o casam ento da viúva não co n stitu i
m otivo para a cessação do benefício. R equerendo segunda pensão, em razão da
m orte do seg u n d o seg urado o u to rg an te, terá de o ptar pelo benefício de m aior
valor.
E xtinta a cota de u m d ependente, o seu direito transfere-se para os dem ais e
isso é igualm ente verdade se, na divisão entre ex-esposa e ex-com panheira, um a
delas não m ais faz jus.
1144. Acumulação de direitos — C aracterizada a dependência econôm ica
em relação a novo e sucessivo segurado, não há im p ed im en to para a fruição de
m ais de um a pensão p o r m orte.
Trata-se de direito próprio da condição de d ep endente e, p o r isso, pode ser
recebido ju n ta m e n te com benefício de segurado.
C om a M edida Provisória n. 1.523-9/1996, o P oder Executivo ten to u im pedir
a acum ulação de pensão com aposentadoria, m as logo voltou atrás e revogou a
no rm a tem porária.
1145. Valor inicial — Para óbitos ocorridos a p artir de 29.4.1995, a renda
inicial é igual a 100% do salário de benefício da aposentadoria do segurado,

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

896 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
reajustada de aco rd o com os índices de m an u ten ção até a DIB. Se a data de início
da ap o sen tad o ria deu-se no período de 5.10.1988 a 28.4.1995, m as o falecim ento
su ced eu a p artir de 29.4.1995, a ren d a inicial será de 100% do salário de benefício.
Se a ap o sen tad o ria foi deferida até 5.10.1988 e o óbito a p a rtir de 29.4.1995, a
pensão p o r m o rte será de 100% da aposentadoria. Para m ortes acontecidas a partir
de 29.4.1995, o valor do auxílio-acidente deixou de ser in co rp o rad o à pensão (su-
b iten s 16.14 a 16.17 da O rdem de Serviço INSS/DSS n. 546/1997).
A ju s tiç a Federal, sem em bargo de rejeitar a despensão, tem en ten d id o que é
o pen sio n ista o titu la r do direito de revisão da RM1, caso seja possível provar que o
valor do benefício que deu causa ao cálculo possa, tam bém , ser revisto.
1146. Data do início — De regra, o benefício com eça no dia do óbito do
segurado.
Im prescritível, pode ser requerido a destem po, prescrevendo m ensalidades
não recebidas. Caso os dependentes, m aiores de idade, p o r qu alq u er m otivo
solicitem -na m u ito tem po após o óbito, receberão, desde a DER, 60 m ensalidades
atrasadas. P resentes m enores, incapazes ou ausentes, não ocorre a prescrição.
A M edida Provisória n. 1.523/1996 alterou esse m ecanism o, de regra fixando o
benefício n a DER, salvo se requerido até 30 dias após o desenlace, ideia m antida
na Lei n. 9.528/1997.
A concessão não é protelada p o r falta de habilitação de u m ou outro d epen­
dente. Q uem se ap resen tar p o sterio rm en te terá a cota iniciada a p artir de então.
1147. R ateio d o to tal — C on stitu íd o , todo o tem po de m an u ten ção em 100%
da ap o sen tad o ria, ex tinguindo-se algum a cota, o seu percentual autom aticam ente
reverte para o(s) o u tro (s) pensionista(s) com direito.
1148. D ivisão d as m e n sa lid a d e s — Na h ip ó tese de o benefício ter de ser
d ividido en tre dois ou m ais pensionistas, a partilha se fará conform e o nú m ero
de pessoas com direito. Assim, presentes m ãe e filho, será de 50% para cada um
deles; apenas três filhos, eles terão direito a 33,3%. Q uando da concorrência esposa/
com p an h eira e filhos, as cotas serão iguais ao núm ero de pensionistas.
A divisão n ão é ju sta. In casu, p resentes duas fam ílias, subsistem despesas
co n stantes e variáveis e era su p erio r a CLPS, q u an d o adm itia parte básica, familiar,
e cotas p o r depen d en tes.
1149. E vento d e te rm in a n te — São três os eventos determ inantes: a) m orte;
b) desaparecim ento; e c) ausência.
N o caso de m orte presum ida (ausência e desaparecim ento), o direito co n ­
diciona-se à sen ten ça declaratória da ausência, contada de sua em issão, e, n o de
desaparecim ento, da data do evento.
R eapareceiido o segurado, cessam os pagam entos m ensais sem necessidade
de devolução.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l
897
O benefício segue a regra do direito adquirido. O segurado falecendo após per­
der a qualidade de segurado, os dependentes não podem usufruí-la. Mas se o óbito
se der após o preen ch im ento de requisitos legais das aposentadorias, ele se m antém .
Igual raciocínio deve valer para o auxílio-doença, m áxim e se a causa mortis é
a m esm a ou está ligada ao benefício.
1150. In stru ç ão d o p e d id o — São exigidos: a) certidão de óbito ou declara­
ção ju d icial, no caso de ausência ou desaparecim ento; b) certidão de casam ento;
c) certidão de n ascim ento; d) provas da união estável para com panheiros; e) re­
querim ento; D ú ltim o s 48 salários; g) carnê de pagam ento do benefício; e h) prova
de endereço.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

898 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
Capítulo CXV

A u x íl io - R e c l u s ã o

S u m á r i o : 1151. Similaridade com a pensão. 1152, Começo do desembolso. 1153.


Momento da cessação. 1154. Natureza jurídica. 1155. Importância iniciai. 1156.
Evento determinante. 1157. Manutenção do benefício. 1158. Requerimento a
posteriori. 1159. Comprovação trimestral. 1160. Demonstração formal.

A uxílio -reclu são é b en efício -irm ào da pensão p o r m o rte. A m aio r diferença


con siste em o seg u rado estar d etid o ou recluso, no p rim eiro caso, e m o rto , au sen te
ou desap arecid o , no últim o. À exceção dos d o c u m e n to s exigidos, a habilitação
é qu ase a m esm a. Em razão disso, d iscip lin ad o em ap en as u m artigo no PBPS
(art. 80).
Seu p ressu p o sto básico é a fam ília do preso estar desam parada, presunção
não acolhida no caso de fuga, em bora, a rigor, da m esm a form a, os dep en d en tes
estarão em dificuldades para sobreviver, No confronto com o desestím ulo à fuga,
o ad m in istrad o r preferiu prestigiar a política penitenciária.
A EC n. 20/1998, estritam ente, em vez de com pará-lo à pensão p o r m orte,
equ ip aro u -o ao salãrio-fam ília (sic), p reten d en d o ser direito de qu em recebe até R$
360,00, isto é, d o s bipossuficientes.
1151. S im ilarid ad e com a p en sã o — A sem elhança com a pensão p o r m orte
é ju ríd ica. Significa definição do direito para as m esm as pessoas, exercitado e m an­
tido nas m esm as condições, à exceção do fato gerador, prisão de segurado não
rem unerado.
Os destin atário s, p o r conseguinte, são os m esm os daquele benefício, em bora
possa com plicar-se se a esposa ou com panheira vier a estabelecer novo “casam ento”
ou u n ião estável.
1152. C om eço do d esem b o lso — No com um dos casos, o benefício tem
início na data do recolhim ento do segurado à prisão. In tern ad o no estabelecim en­
to p en iten ciário o segurado todo o tem po, requerido po sterio rm en te, com eçará
q u an d o da solicitação (DER), conform e o caso, aplicando-se a regra de prescrição
da pensão p o r m orte.

C um o p r D ir f it o P r e v id e n c iá r io

T om o I I — P r e v id ê n c ia S a c ia i 899
1153. Momento da cessação — Esse benefício term ina, observando as m es­
mas regras com patíveis da pensão p o r m orte, acrescidas as p ró p rias de pessoa
detida cu m p rin d o pena.
O recluso for lib ertado p o r q u alq u er m otivo, a prestação acaba. Se ele foge, o
benefício é suspenso, p o d en d o encerrar-se não havendo recaptura.
1154. Natureza jurídica — D ireito de d ep en d en te, benefício su b stitu id o r
dos salários, com caráter provisório, de pagam ento co n tin u ad o , reeditável, até a
M edida Provisória n. 83/2002 im pedia o trabalho rem u n erad o no estabelecim ento
penitenciário.
1155. Importância inicial — Seu m o n tan te é igual ao da pensão p o r m orte,
100% do benefício cujos requisitos estiverem preenchidos.
1156. Evento determinante — O evento d eterm in an te é a prisão, detenção
ou reclu são de seg u rad o sem p ercep ção de re m u n e ra ç ã o da em p resa ou bene­
fício da previdência social. C uriosam ente, a lei inclui até a percepção do abono de
perm anência em serviço, e se o segurado não estava trabalhando, aquela pequena
prestação não bastaria para a subsistência.
É irrelevante se in ocente ou culpado, condenado ou não. No caso de prisão-
-albergue, pod en d o trabalhar, não fará ju s caso rem unerado.
Nos casos de prisão adm inistrativa, a rigor, presentes os dem ais requisitos, os
dependentes fazem ju s ao benefício.
1157. Manutenção do benefício — C oncedido, m antém -se en q u a n to o segu­
rado estiver recolhido à prisão. Se cum pre a pena e é libertado ou foi absolvido e
é solto, o benefício se extingue. C aso fuja, é suspenso até a recaptura, na hipótese
de ele não ter perdido a qualidade.
Períodos de filiação d u ra n te a fuga são considerados para este últim o fim.
Não foi ju sto o elaborador do regulam ento q u an d o im pôs esta últim a regra,
pois seg u ram en te quem escapole dificilm ente conseguirá m eios de subsistência e
poderá m an ter a qualidade de segurado.
1158. R eq u erim en to a postcriori — N ão estan do preso, condenado ou não,
a família não faz ju s ao benefício e, assim , se requerido após a soltura, inexiste o
direilo.
1159. Comprovação trimestral — A cada três m eses, os dep en d en tes têm de
fazer a prova da d eten ção ou reclusão.
1160. D em o n stração form al — Além do requerim ento, os últim os salários
de contribuição, certidão de casam ento e nascim ento, prova da união estável e de
endereço dos d ep en d en tes, é preciso ju n ta r a certidão com probatória da prisão,
expedida pela au to rid ade penitenciária.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

900 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CXVI

D IREITO S D O S PR ESO S

1161. Direito constitucional. 1162. Papel do labor, 1163. Natureza ju­


S u m a r io :
rídica. 1164. Condições legais. U 65. Administração das atividades. 1166. Am­
biente de realização. 1167. Tarefas executadas. 1168. Duração da jornada. 1169.
Medicina do trabalho. 1170. Principais direitos.

O p residiário tem o direito de trabalhar; em alguns casos, é obrigado a fazê­


-lo. O arl. 200 da Lei das Execuções Penais — LEP to rn o u -se letra m orta a partir
de 5.10.1988. Ele dizia que: “O con d en ad o p o r crim e político não está obrigado
ao trab alh o ”. No Brasil, nos term os da C arta M agna, n in g u ém é preso p o r m otivos
políticos. Do direito de trabalhar derivará o direito à previdência social.
1161. D ireito c o n stitu cio n al — O direito de trabalhar é constitucional. Trata-
se de u m princípio que assegura ao apenado essa possibilidade e de não ser im p e­
dido de fazê-lo q u ando estiver agindo conform e as regras penais. Evidentem ente,
sem q u alq u er garantia de o b ter trabalho, em prego ou posto de trabalho.
E v entualm ente, na condição de presidiário, se as circunstâncias locais p en i­
tenciárias o perm itirem poderá c o n tin u ar trabalh ando para o em pregador anterior.
D iferentem ente da U nião Soviética de antes de 1989, fora da esfera penal, o
trabalho n ão é obrigatório ju rid icam en te, em bora recom endado do p o n to de vista
da m edicina legal. M as, em relação aos presidiários, é com pulsório.
Ele deriva da Lei M aior que, na m edida do possível, o Estado deve oferecer
condições para que o presidiário trabalhe in tern a ou externam ente. Presentes e
d em o n strad as estas possibilidades, inocorrentes im pedim entos, passa a ser direito
subjetivo do titular.
1162. P apel d o lab o r — O trabalho útil tem papet ex trao rd in ário d u ra n te o
c u m p rim e n to da p en a . R esgata a p e rs o n a lid a d e d im in u íd a pela p ris ã o , o c u p a
o tem po do d etido, im põe ordem na carceragem , cria a subordinação necessária,
disciplina o co m p o rtam en to das pessoas, ensina um a profissão, oferece algum re­
curso financeiro, faz em ergir a dignidade hu m an a quase perdida, recupera o in d i­
víduo e prep ara a volta à coletividade.

C urso de P iR ru o P r e v id e n c iá r io

T o m o / / — P r e v id ê n c ia S o c i a l 901
P o rtanto, é absolutam ente im p o rtan te para quem está preso, e a o brigatorie­
dade de trab alh ar não lhe retira esse ex traordinário papel.
1163. N atu reza ju ríd ic a — C om o o trabalho destina-se ao preso e não ao
co n tratan te d o s seus serviços, o Estado não é em pregador nem to m ad o r dessa m ão
de obra atípica. Logo, o presidiário n ão é estatu tário n em celetista e m u ito m enos
em pregado da iniciativa privada. Raciocínio am plo que vale para o labor destinado
para terceiros ou para o estabelecim ento penal. De regra, o presidiário que labora
é u m co n trib u in te individual do RGPS.
1164. C o n d içõ es legais — A LEP estabelece as condições para o trabalho
externo.
a) a perm issão é válida para “os presos em regim e fechado som ente em servi­
ço ou obras públicas realizadas p o r órgãos da adm inistração direta ou indireta, ou
entidades priv ad as” (art. 36);
b) dep en d ên cia da anuência do interessado (art. 36, § 39);
c) o nú in ero m áxim o de presos é de 10% do total de em pregados na obra (art.
36, § 15);
d) som ente depois do cu m p rim en to de u m sexto da p en a (art. 37);
e) desde que não p ratique fato “definido com o crim e”, o u seja, ter sido p u n i­
do por falta grave ou tiver com p o rtam en to contrário aos requisitos da lei.
1165. A d m in istraçã o d as ativ id ad es — Todo trabalho hum ano é auditado;
até m esm o do artista que cria um a obra para si. Q uando Michelangelo disse pada
para a estátua rep resen tando Davi esculpida no m árm ore, ele estava dando nota
dez à sua m agnífica obra.
O esforço físico laborai do preso deve ser coordenado pelo estabelecim ento
correcional e, q u an d o for externo, pela tom adora da sua m ão de obra.
Ainda incipiente, a participação da sociedade será am pliada não só em relação
à aquisição d o s pro d u to s m an u fatu rad o s pelos presidiários com o os contratados
para prestarem serviços. Q uase todas as tarefas realizadas em residência (com o os
que usam com p u tad o res) po d em ser desenvolvidas pelos presos.
1166. A m b ien te da realização — Por definição é aquele sucedido no estabe­
lecim ento p risional, m as existem exceções. Q u ando o presidiário é deslocado para
trab alh ar fora do local em que cum pre a pena, é dito trabalho externo.
Em certas circunstâncias, o preso tem o direito de p restar serviços in tern o s ou
externos para a com unidade. Esse trabalho não se confunde com o do presidiário
sem liberdade. No caso, o labor é a própria pena e, p o r isso, não é rem unerado
(LEP, art. 30).
Aquele que cu m p re a pena em seu dom icílio pode ser en ten d id o com o reali­
zador de u m m isto de trabalho in tern o e externo.
1167. Tarefas ex e cu tad as — Variam os trabalhos que podem ser realizados e
devem co n tin u am en te ser am pliados.

C urso de D ir e it o P re v id e n c iá rio

902 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
a) Colônia agrícola: O preso q u e está cu m p rin d o p en a nu m a colônia agrícola
ocupar-se-á da ag ricultura e da pecuária, plantará o u criará anim ais.
b) Trabalhos artísticos: Q uem já tinha pendão para a arte o u a desenvolveu
na prisão tem perm issão para gravar m úsicas em discos, sem pre q u e as condições
carcerárias o p erm itirem . Poderá escrever livros (rom ance, poesias, aventuras etc.)
e publicá-los. É um a form a de educar-se ou de m anter-se educado.
c) Pessoas idosas: Em bora a LEP fale em trabalho dos m aiores de 60 anos, Júlio
Fabbrini Mirabete dá ao item 2.50 do seu livro o título de “A nciãos” (“Lei das Exe­
cuções P enais”, São Paulo: Saraiva, 1987, p. 111). N a verdade, ele está se referindo
aos idosos, para ele, pessoas sexagenárias. E videntem ente que nestes casos o traba­
lho in d icad o serã aquele com patível com a idade avançada do recolhido à prisão.
d) Doentes e deficientes: E m bora sejam figuras ju ríd icas distin tas, até porque
do en tes não devem trabalhar, o art. 32 da LEP diz que eles e tam bém os deficientes
“exercerão atividades apropriadas ao seu estad o ” (§ 39).
1168. D u ração d a jo rn a d a — C onsoante o art. 33 da LEP existe um a jo rn ad a
m ínim a de seis horas e um a m áxim a de oito horas. Q uem for destinado a serviços
de conservação e m an u ten ção do estabelecim ento penal experim entarão horários
especiais de trabalho.
1169. M edicina d o tra b a lh o — As n o rm as sobre higiene, m edicina e segu­
rança do trabalho u rb an o e rural foram estabelecidas sistem aticam ente na Lei n.
6.514/1977 e esm iuçadas n a P ortaria MTPS n. 3.214/1978 (N orm as R egulam enta-
doras do T rabalho). Visam o trabalho do liberto, com grande aplicação na indústria.
Suas d eterm inações, recom endações e indicações m utatis m utandis são, p o ­
rém , un iv ersais e valem para q u alq u er tipo de esforço físico laborai, inclusive com
as devidas adequações às atividades dom ésticas. D iante dessa universalidade, são
aplicadas tam bém para o em p en h o do apenado.
O art. 28, § l e, da LEP fala em segurança e higiene, e silenciou sobre a m edici­
na do trabalho, em bora a dicção de 1978 não pudesse ig n o rar as NR do M inistério
do Trabalho e Em prego. Q u ando o § 2a do m esm o artigo diz que esse trabalho “não
está sujeito ao regim e da C onsolidação das Leis do Trabalho”, ele q u e r dizer que
são aquelas referentes ao em pregado liberto e, p o r isso, não conflita com o § l e.
1170. P rin cip ais d ire ito s — E ntendendo-se que a CLT não se aplica aos pre­
sos, os seus direitos são os com patíveis com as lim itações da LEP
a) Pagamento da remuneração: O trabalho é rem unerado e não pode “ser infe­
rio r a três q u arto s do salário m ín im o ” (caput do art. 29 da LEP).
b) Destino da remuneração: C onsoante o art. 29 da LEP: “O p ro d u to da re m u ­
neração pelo trabalho deverá atender: a) à indenização dos d anos causados pelo
crim e, desde que d eterm inados ju d icialm en te e não reparados p o r outros m eios;
b) à assistência à família; c) as peq u en as despesas pessoais; d) ao ressarcim ento ao
E stado das despesas realizadas com a m an u ten ção do con d en ad o , em proporção a
ser fixada e sem p rejuízo da destinação prevista nas letras an terio res” (§ 1Q).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11— P r e v id ê n c ia S o c ia l 903
c) Registro de patentes: Q uem inventou algum a coisa ú til para a hum anidade,
p o r interm édio de procurador, registrará a patente correspondente.
d) Propriedade dos produtos m anufaturados: A quilo que foi p ro d u zid o pelo p re­
so é sua pro p ried ad e e ele tem o direito de com ercializá-lo.
e) Fonnação profissional: Ainda q u e a am p litu d e do trabalho seja vasta no
regim e carcerário ela n ão exclui a possibilidade da form ação profissional, da h a b i­
litação e, se for o caso, da reabilitação laborai.

C urso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

904 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CXVII

C rim es P r e v id e n c iá r io s

S u m á r io : 1171. Apropriação indébita. 1172. Apropriação do descontado. 1173.


Aportes de despesas. 1174. Benefícios reembolsados. 1175. Falsidade na in­
formática. 1176. Modificação de informações. 1177. Sonegação previdenciária.
1178. Divulgação das informações. 1179. Falsificação nas declarações. 1180.
Omissão nas declarações.

A Lei n. 9.983/2000, publicada no DOU dc 17.7.2000, alterou vários disposi­


tivos do C ódigo Penal (lei orgânica e geral, com caráter de código). Tratou exclusi­
vam ente de m atéria penal, previdenciária e de inform ática, definiu infrações novas,
estabelecendo equiparações, revendo redações e revogando o caput, suas alíneas a/j
e q u atro dos cinco parágrafos do art. 95 do PCSS, até 13.10.2000, con tem p lan d o os
crim es p rev idenciários ( “Os C rim es P revidenciários no C ódigo P en al”, São Paulo:
LTr, 2001).

O C ódigo Penal divide-se em Parte G eral, com oito títulos principais e Parte
Geral, n a qual com inados especificam ente os delitos, com 11 títulos. As m odifica­
ções o co rrid as dão-se nesse últim o espectro, nos T ítulo I — Dos Crimes contra a
Pessoa (art. 153); T ítulo II — Dos Crimes contra o Patrimônio (art. 168-A); Título X
— Crimes contra a Fé Pública (arts. 296/97) e T ítulo XI — Dos Crimes contra a
Administração Pública (arts. 325, 327, 313-B e 337-B).

1171. A p ro p riação in d éb ita — C om a Lei n. 9.983/2000, o C ódigo Pen


p assou a: “D eixar de repassar à previdência social as co ntribuições recolhidas dos
co n trib u in tes, no prazo e form a legal ou convencional. P ena — reclusão, de 2
(dois) a 5 (cinco) anos, e m u lta ” (art. 168-A). No caput do art. 168, o C ódigo Penal
já previa o crim e d e apropriação indébita: “A propriar-se de coisa alheia m óvel, de
que tem a posse ou a d eten ção ”.

C om o a descrição não se ajustava bem à pretensão do INSS, em 1991 criou-se


o u tra figura, a do art. 95, do PCSS: “deixar de recolher, n a época pró p ria, co n trib u i­
ções ou o u tra im p o rtância devida, ã Seguridade Social e arrecadada dos segurados
o u do p ú b lico ” (letra d), espécie previdenciária de apropriação indébita.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
905
Esse últim o ditam e suscitou o referido art. 168-A, em epígrafe, p o d endo a
ilicitude ser designada com o apropriação indébita previdenciária, com a delibera­
da in tenção de não co n fu n d ir com a apropriação indébita com um (art. 168). Esta
últim a, dessa form a, ad q uire a condição de gênero.
D eixar significa não fazer, ação om issiva, isto é, estando para isso obrigado,
não operar o reco lh im en to de certas contribuições à Previdência Social.
R eferência à “form a legal'’ diz respeito à lei, so m en te as m odalidades de p a­
gam ento fixadas na norm a ordinária po d em ser objeto do crim e, desprezando-se,
ipso Jacto, ev entual excesso do regulam ento.
A co n d u ta reclam ada é sim ples. Presente legítim a exigência exacional, cons­
titu íd o o crédito previdenciário, é dever do co n trib u in te en cam in h ar o quantum
dentro do prazo legal ou convencional ao FPAS; abster-se de fazê-lo significa c o n ­
trariá-la, in cid in d o no tipo penal.
Repassar é fazer o recolhim ento na rede b ancária, no p ró p rio INSS (por exem ­
plo, q u an d o ele paga o salário-m aternidade) e até na ju s tiç a Federal. Desses agen­
tes arrecadadores o btendo a prova (v. g., GPS quitada ou o u tra m odalidade), pouco
im p o rtan d o o destino po sterior da im portância nem m esm o se chega efetivam ente
aos cofres do FPAS. A rrecadado o ded u zid o da rem uneração ou da n ota fiscal,
apropriado do co n trib u in te de fato (v. g., segurado, p ro d u to r rural, clube de fute­
bol etc.), im põe-se vertê-lo à P revidência Social (consoante as prescrições legais).
O co n trib u in te de direito, não efetuando o pagam ento das im portâncias “re ­
colhidas dos c o n trib u in te s” de fato, isto é, deles retidas, pratica o crim e. Claro, têm
de ser as recolhidas (apreendidas).
Tal quitação pode acontecer por vários instrum entos: a) pagam ento à vista;
b) parcelam ento de fato ou de direito; c) interveniência; d) dação em pagam ento;
e) com pensação; 0 d epósito ju d icial etc.
C onvindo, em cada caso, exam inar-se o ditado na lei vigente para identificar­
-se o en ten d id o p or isso.
P agam ento à vista consiste n o recolhim ento m ensal operado até o dia do v en ­
cim ento da obrigação. C onsoante o art. 38 do PCSS, é perm itido o parcelam ento de
débitos. Na in terv en iên cia, a autarquia federal perm ite-se interferir em transação
im obiliária, recebendo no ato o seu crédito. Dação em pagam ento é o oferecim ento
e a recepção de bens em substituição ao n u m erário. Q u ando o m o n tan te do salário-
-m aternidade ou do salário-fam ília, ou am bos, superam o líquido a ser recolhido,
o co n trib u in te tem crédito a auferir do INSS e ao fazê-lo quita sua obrigação fiscal.
A rigor, o d epósito ju d icial não é pagam ento, m as im portância indisponível, pro­
d u zin d o efeitos ju ríd ico s. Para o art. 151, II, do CTN, su sp en d e a exigibilidade do
crédito tributário.
A Lei n. 9.703/1998 (art. 1H) determ inou: “os depósitos judiciais e ex tra ju d i­
ciais, em d inheiro, de valores referentes a trib u to s e contribuições federais, inclusi­
ve seus acessórios, ad m inistrados pela Secretaria da Receita F ederal do M inistério

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

906 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
da F azen d a” (e, tam bém , os ad m in istrad o s pelo INSS) “serão efetuados n a Caixa
E conôm ica Federal, m ediante D ocum ento de A rrecadação de R eceitas F ederais —
DARF, específico para essa finalidade”.
O seu § 2Q tran sform a o depósito em pagam ento provisório, deixando para se
to rn ar definitivo q u an d o da decantação da obrigação (§ 39, II).
No C apítulo IV — Extinção do Crédito Tributário, na Seção 1 — Modalidades
de Extinção, o art. 156 do CTN dá p o r findo o crédito tributário: o pagam ento (I),
a com pensação (II), a transação (III), a rem issão (IV), a prescrição e a decadência
(V), a conversão do depósito em renda (VI), o pagam ento antecipado e a hom olo­
gação do lan çam en to nos term os do art. 150 e seus §§ l g e 4 e (VII), a consignação
em p agam ento, n o s term os do § 2B do art. 164 (VIII), a decisão adm inistrativa ir-
reform ável, assim en ten d id a a definitiva na órbita adm inistrativa, sem p o d er mais
ser objeto de ação an u lató ria (IX) e a decisão ju d icial passada em ju lg ad o (X).
Para a caracterização d a inadim plência fiscal é im p o rtan te decantar-se o m o ­
m en to da co nsum ação, p o r exem plo, nos casos de dissídio processual o u proce­
d im ental, q u an d o caracterizado o crédito previdenciário (discutido em cobrança
ad m in istrativ a ou judicial).
N ão se exim e o sujeito ativo, se apenas pagar o líquido = b ru to — m enos
co n tribuição. No C apítulo CVIII — Das Outras Receitas, o legislador contem pla
nove fontes extras de custeio. À exceção da prim eira (PCSS, art. 27, I), relativa
aos acréscim os, n en h u m a o u tra caracteriza o repasse; en tretan to , o parágrafo ú n i­
co, regendo os 50% dos prêm ios devidos pelas com panhias seguradoras ao INSS,
m enciona essa expressão, m as m esm o assim , tam bém não há o repasse desta lei.
Previdência Social significa o INSS, pessoa ju ríd ica de direito público, au tar­
quia federal, dicção legal su p erio r à S eguridade Social (PCSS, art. 95, d ), a qual não
co rresp o n d e q u alq u er sujeito passivo com personalidade jurídica.
N ão é possível o delito, caso: a) as co n trib u içõ es recolhidas sejam de servidor
p úblico (desobrigado ao RGPS); b) refiram -se à parte da p atrocinadora n o custeio
da su p lem en tação ou com plem entação de benefícios do segm ento fechado; ou c) o
v alor d esco n tad o do trabalhador, q u an d o ele e a em presa bancam o seguro de vida
privado (salvo se decidido fazer parte do salário de contribuição).
C o n trib u içõ es exigidas, nos term os da lei, recolhidas diretam ente por tercei­
ros e não p erten cen tes ã Previdência Social (20% do SENAI), não geram o ilícito.
Já as referidas no art. 94 do PCSS, não im p o rtan d o qual seja a en ú d a d e profissio­
nalizante, caracteriza a infração penal.
C o n trib u içõ es previdenciárias são im portâncias devidas pelos segurados o b ri­
gatórios referidos no PCSS ou o riu n d as de terceiros sujeitos a deduções fiscais
(pessoas físicas ou ju ríd icas).
Valores co m p ensados in d ev id am en te são cotizações n ão recolhidas; ocor-
ren te ded u ção de terceiros dessas im p o rtân cias, dão conta de ilícito m atem ático
e fin an ceiram en te.

C tjR 5 Q de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o d ü i
907
A créscim os d esestim uladores da inadim plência, tais com o ju ro ou m ulia a u ­
tom ática, não co n stitu em a hipótese. São p o sterio rm en te m encionados.
Tam bém não se in clu i o pago a m aior pelo INSS, a ser havido p o r este, por
ocasião da concessão ou m anutenção de benefícios. N esse m o n tan te, nunca abar­
cadas as co n trib u içõ es ditas em presariais.
D iferentem ente da presunção de dedução e do reco lh im en to contidos no art.
33, § 5a do PCSS (com o utros objetivos), as contribuições consideradas arrecada­
das, n o u tras palavras, as descontadas ou deduzidas do quantum devido pelo c o n ­
tribu in te, vítim as da retenção.
N ão arrecadadas não se realiza o ilícito, de nada valendo a presunção jure et
de jure antes aludida.
A sim ples in ad im p lência do co n trib u in te, q uando ele não cum pre a obrigação
fiscal (deixar de pagar a p arle descontável e a em presarial) não significa a ilicitude
prevista no art. 168-A do CP, se nada ded u ziu do segurado ou de terceiros.
Sua m aterialidade será caracterizada com o desconto no hollerith, anotação do
fato na folha de p agam ento ou registros contábeis.
C o n trib u in tes vêm a ser os segurados, pessoas físicas, principalm ente o em ­
pregado e o dom éstico, e pessoas físicas ou jurídicas, caso do p ro d u to r ru ral (em
relação ao p ro d u to com ercializado, sob a alíquota de 2,1% do art. 25 do PCSS),
co n tratan te, em face d o s 11% da Lei n. 9.711/1998 (no respeilante ao co n tratad o ),
a associação desportiva em razão do art. 22 do PCSS e o u tro s m ais, com o o público.
O prazo é até o últim o dia do vencim ento da obrigação. A tualm ente, o dia 20
do mês su b seq u en te ao de com petência (PCSS, art. 3 0 , 1).
C onform e diz o § 3 9 do m esm o artigo, extingue-se a punibilidade se o deve­
d o r “efetua o pag am en to das co n trib u içõ es”. O u seja, ele pode pagar fora do prazo
com os acréscim os legais “antes do início da ação fiscal”.
Segundo a versão original do art. 45 do PCSS, co nstituído o crédito prev id en ­
ciário, o reco lh im en to deverá ser in co n tin en ti, isto é, ato contínuo. Tratando-se de
sentença ju d icial, um a vez definida a obrigação, o co n trib u in te tem 30 dias para
efetuar o recolhim ento sem os acréscim os legais.
O prazo e a form a do pagam ento têm de ser os previstos na lei. A form a legal
ou convencional diz respeito ao prazo. Às vezes, caso do parcelam ento, é ajustado
term o d istin to para o v encim ento da obrigação.
A pena da apropriação indevida previdenciária foi sensivelm ente m ajorada. A
m ulta é fixada pelo m agistrado, nos term os do C ódigo Penal.
1172. A p ro p riação do d e sc o n ta d o — O § I a do m esm o artigo configura va­
riação do tema: deixar de recolher, no prazo legal, contribuição ou o u tra im p o rtân ­
cia d estinada à previdência social descontada de pagam ento efetuado a segurados,
a terceiros ou arrecadada do público.
D iferentem ente do caput, aqui o legislador fala em “quem deixar d e” recolher,
co rresp o n d en d o ao m esm o repassar e, p o steriorm ente, no final do dispositivo,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

908 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
alude à im p o rtân cia “descontada de p ag a m e n to ” e “arrecadada do p ú b lico ”. No
prim eiro caso, é a dedução cujo valor foi ou n ão repassado, isto é, vertido ao INSS.
O arrecadado do pú b lico difere dessa hipótese.
Prazo legal é igual ao do caput, esquecendo-se, neste inciso I do § l 5 do art.
168-A, do p razo convencional.
A co m p an h an d o as “c o n trib u içõ es” do caput, n este § l e o legislador am plia
o n u m erário , referindo-se a “o u tra im p o rtân cia” e, então, já não im porta m ais se­
rem co n trib u içõ es. In clu i q uaisquer valores descontados de “pagam ento efetuado
a segurados, a terceiros ou arrecadado do p ú b lico ”. Não serão m uitas as hipóteses,
pois o em presário co nhece lim itações em seu poder de descontar, m as se o fizer,
incidirá no dispositivo.
M esm o aqui o sujeito passivo é o INSS e não a seguridade social.
Segurados, os obrigatórios, com o no caput, aqueles d escritos no art. 12 do
PCSS. Terceiros, não necessariam ente os aludidos no art. 94 do PCSS, m as quais­
q u er pessoas físicas o u ju ríd icas, incluindo o segurado especial.
O tipo in clu iu obrigação fiscal respeitante às F ederações ou C onfederações
D esportivas (c o n trib u in tes de direito) em relação à receita b ru ta devida aos clubes
profissionais de futebol (c o n trib u in te de fato), arrecadada nos estádios p o r ocasião
de espetáculos futebolísticos, prevista no art. 22, §§ 6Q/ 11, do PCSS.
1173. A p o rte s d e d e sp e sa s — O inciso II d o art. 168-A com ina o recolhim en­
to d e co n trib u içõ es devidas à previdência social in tegrando despesas contábeis ou
custos relativos à venda de p ro d u to s ou à prestação de serviços.
É o b scu ra a legislação q u an d o d ita sobre despesas, vendas e prestação de
serviços, d an d o a im pressão de falar sobre atividades p rim árias (com ércio e pres­
tação de serviços). D espesas contábeis con su m id as com a co n tratação de serviços
de contabilidade, m as não fala disso o legislador e, sim , de despesas de m odo geral
contabilizadas.
C ustos têm sem elhança com despesas. Am bas as inserções, despesas ou custos,
dizem respeito à venda de p ro d u to s ou à prestação de serviços.
1174. B enefícios re em b o lsa d o s — O u tro ilícito é pagar benefício devido a
seg u rad o , q u a n d o as respectivas co tas o u v alo res já tiverem sid o reem bolsados
à em presa pela Previdência Social.
Até a Lei n. 9.876/1999 (excluindo-se os convênios), som ente dois benefícios
eram pagos d iretam en te pela em presa: salário-fam ília e salário-m aternidade. Este
ú ltim o passo u a ser q u itad o pelo próprio INSS e, em certas circunstâncias, pelo
em pregador.
Caso a em presa tenha se ap ro p riad o de valor (que deveria ser reem bolsado) e
não faça a transferência ao trabalhador, incidirá n o crim e de apropriação indébita
previdenciária. A lei não fala até quando, m as entender-se-ã q u an d o devida a q u i­
tação. O salário-fam ília deve ser quitad o ju n to com a rem uneração (PBPS, art. 68),
o m esm o valendo para o salário-m aternidade (PBPS, art. 72).

C urso n r D ir f u o P r e v id e n c iá r io

Tomo II — P revidência S o c i a l 909


C otas o u valores são im p o rtân cias relativas aos benefícios, geralm ente de
pagam ento co n tin u ad o . A expressão “colas” lem bra o salário-fam ilia.
Em seu art. 15 (com a redação dada pela Lei n. 9.876/1999), o PCSS fornece
o conceito de em presa: “a firm a individual ou sociedade que assum e os riscos de
atividade econôm ica u rb an a ou rural com fins lucrativos ou não, bem com o os
órgãos e entidades da adm inistração pública direta, indireta e fu n d acio n al”, logo
estendido em seu parágrafo único.
No § 2Q, previu-se extinção da punibilidade: se o agente, espontaneam ente,
declara, confessa e efetua o pagam ento das contribuições, im portâncias o u valores
e presta as inform ações devidas à previdência social, n a form a definida em lei ou
regulam ento, an tes do início da ação fiscal.
No T ítulo VIII — Da Extinção da Punibilidade, em seus arts. 107/19, o C ódigo
Penal disciplina as circunstâncias q u an d o a persecutio criminis não se realiza por
inteiro, por variados m otivos (art. 107, I/X).
N en h u m a das dez hipóteses codificadas cuida do lem a sob enfoque, convin­
do, pois, estu d ar a m odalidade fixada pela Lei n. 9.983/2000: a) declarar a exis­
tência do débito; b) confessá-lo; c) efetuar o pagam ento; e d) prestar inform ações.
Tudo isso devendo aco n tecer até certo term o eleito pelo preceito.
Agente é o co n trib u in te de direito, a pessoa física responsável pelo recolhi­
m ento das contrib u içõ es retidas dos segurados, quem sofrerá a ação penal e even­
tu alm en te será penalizado. Em dispositivo revogado pela lei com entada, m as se
presta para a interpretação, dizia § 3 a do art. 95 do PCSS: “C onsideram -se pes­
soalm ente responsáveis pelos crim es caracterizados o titu lar da firm a individual, os
sócios solidários, gerentes, diretores ou adm inistradores que p articipem ou tenham
participado da gestão de em presa beneficiada assim com o o segurado que tenha
obtido van tag en s”.
Ocorre a extinção da punibilidade quando o agente ativo procede por sua ini­
ciativa, vale dizer, não é forçado por qualquer ação em preendida pela autarquia fede­
ral. Podendo ser p o r outra m otivação, nào subjetiva, desde que não previdenciária.
R esgatando o antigo CARC, a Lei n. 9.528/1997 in tro d u ziu nova obrigação
acessória, im pondo às em presas inform ar m ensalm ente ao INSS, p o r interm édio de
d o cu m en to a ser definido em regulam ento, dados relacionados aos fatos geradores
de co n trib u ição previdenciária e outras inform ações de interesse do INSS (PCSS,
art. 30, IV).
De acordo com o art. 225, § l 9, do RPS, esse d o cu m en to é a G uia de R ecolhi­
m ento do F u n d o de G arantia e Inform ações à Previdência Social — GF1P.
D eclarar consiste em o co n trib u in te prestar as declarações acim a indicadas,
na form a da lei e do regulam ento, com referência aos fatos geradores de interesse
da autarquia federal.
C onfessar significa ad m itir ter havido a retenção, subsistir débito, e estar com
a in tenção de q u itá-lo m ediante acordo parcelam ento. O legislador usa a expres­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

910 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
são “confessar” em razão do disposto no art. 38 do PCSS, ao reger a hipótese
do p agam ento parcelado. Afirma necessário as co n tribuições serem “verificadas e
confessadas", im p licando, a princípio, em não m ais p o d er o sujeito ativo da dívida
d iscu tir o quantum cobrado.
E n tretan to , a confissão referida pela Lei n. 9.983/2000 só servirá p ara elidir a
responsabilidade penal, já que: “Não poderão ser objeto de parcelam ento as co n ­
trib u içõ es desco n tadas dos em pregados, inclusive dos dom ésticos, dos trabalha­
dores avulsos e as decorrentes da sub-rogação de que trata o inciso IV do art. 30,
in d ep en d en tem en te do disposto no art. 9 5 ” (parágrafo ún ico do art. 38 do PCSS).
Além de d eclarar ou confessar a existência do débito, o sujeito passivo pode
p ô r fim à p u n ib ilid ad e, se ele recolher, pois os valores correspondentes: “antes do
início da ação fiscal”.
No seu caput, o art. 168-A fala em “co n trib u içõ e s”, n o § l 9,1, acresce “im por­
tân cia”, alargando a ideia e, agora, neste § 2a, aduz “valores”, p reten d en d o , sem
conseguir, am pliar ainda m ais o conceito. Im p o rtân cia e valores são sinônim os, na
m elh o r das hipóteses valor pode abarcar im portância em d in h eiro e bens m ateriais
(difícil de ser im aginado).
Para Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, im portância, além de “q u an tia em
d in h eiro ”, é “g rande v alo r” ou “valor em d in h e iro ”; valor é “o equivalente ju sto
em d in h e iro ” ou “im portância de determ inada coisa, estabelecida ou arbitrada de
an tem ã o ” ( “N ovo D icionário da L íngua P o rtu g u esa”, Rio de Janeiro: Ed. N ova
F ronteira, p. 747 e 1.439).
P restar inform ações à Previdência Social é dicção com plexa; em vários m o­
m en to s a legislação dispõe sobre essa obrigação acessória. Por exem plo, no art. 32,
III e, n o m esm o artigo, inciso IV.
A ação fiscal é o ato p o r m eio do qual o INSS verifica o reco lh im en to das
contrib u içõ es (PCSS, art. 33 e seus parágrafos). Ela tem início com a em issão e a
entrega do Termo de Início de Ação Fiscal — TIAF (ODS INSS/DAF n. 198/1998).
C onform e § 3e, é facultado ao Ju iz deixar de aplicar a p en a ou aplicar som ente
a de m ulta se o agente for prim ário e de bons antecedentes.
A pena n ão aplicada, a juízo do m agistrado, é a prevista no dispositivo: dois a
cinco an o s de reclusão. A m u lta é pena fixada pelo Juiz, não p o d en d o ser inferior
a dez d ias-m ulta n em su p erio r a 360 dias-m ulta.
M odernam ente, essa é forma alternativa de p u n ição a ser levada em conta
quando o valor fixado seja sign ificativo.
P rim ário é quem n u n ca com eteu crim es ou se o com eteu não há decisão
definitiva. Para o art. 63 do CP, “verifica-se a reincidência q uando o agente com ete
novo crim e, depois de tran sitar em ju lg ad o a sentença quem , no país ou no estran­
geiro, o ten h a co n d en ad o p o r crim e a n te rio r”.
O texto legal n ão faz distinção entre a reincidência específica (m esm o delito)
ou genérica; no silêncio, vale a últim a.

C urso de D ireito P re v id e n c íá rio


T o m a II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 911
Bons an teced en tes dizem respeito ao com portam ento pessoal do agente, in­
clusive no tocante à reincidência. O ju iz deve sopesar com o ele procede no seio
da fam ília e do g rupo social, se foi au tu ad o diversas vezes ou não, se responde por
o u tro s delitos.
Uma condição para a eficácia do § 3a é um a das duas concebidas nos incisos
I/II, a seguir com entadas.
A prim eira é: ten h a prom ovido, após início da ação fiscal e antes de oferecida a
denúncia, o p agam ento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios.
Na prim eira das condições determ in an tes da não aplicação da pena, com pare­
ce o pagam ento da co n tribuição; terá de ocorrer num certo lapso de tem po: desde
o início da ação fiscal até a d enúncia prom ovida pelo M inistério Público. Trata-se
de espaço tem poral significativo, pois o p rocedim ento adm inistrativo de notifica­
ção fiscal de lan çam en to de débito com preende a autuação e as im pugnações, mas
pod erá haver d en ú n cia en q u a n to o crédito previdenciário não está bem definido
adm inistrativam ente.
Diz o art. 24 do CPP que “n os crim es de ação pública, esta será prom ovida
p o r d en ú n cia do M inistério Público, m as dependerá, q uando a lei o exigir, de re­
quisição do M inistro d a ju stiç a , ou de representação do ofendido ou de quem tiver
qualidade para rep resen tá-lo”.
Com a d en ú n cia, espécie de petição inicial, oferecida pelo M inistério Público,
dá-se o início da ação penal (ne proceclat ju d ex ex officio). “N ela se conterá a exposi­
ção do fato crim inoso com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado
ou esclarecim entos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crim e e,
q uan d o necessário, o rol das testem u n h as” (CPP, art. 41).
N ovam ente, o legislador m u d a a designação do quantum a ser recolhido pelo
contrib u in te. C o n tribuição social previdenciária busca dar a natureza técnico-jurí-
dica do aporte, sen d o suficiente falar em previdenciária. Na verdade, é a cotização
antes aludida, referindo-se, agora, aos acessórios.
Os acessórios são dois: a) m ulta autom ática (art. 35 do PCSS); e b) ju ro s de
m ora (art. 34 do PCSS).
A segunda é: o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual
ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, adm inistrativam ente, com o
sendo o m ínim o para o ajuizam ento de suas execuções fiscais.
Por causa da relação custo/benefícios, débitos po u co expressivos não ju stifi­
cam a cobrança adm inistrativa o u ju d icial e são rem idos (perdoados). C orrespon­
deria à ideia da lana caprina, vale dizer, nível insignificante, e este não deve ser
objeto da ação penal pela pouca im portância.
N ão existe p ro p riam en te valor m ínim o para o ajuizam ento, m as im portância
m ínim a para a cobrança.
1175. F a lsid a d e n a in fo rm á tic a — Pela prim eira vez, o legislador com ina
crim e relativo à inform ática, ju stifican d o -se a delim itação em que o delito possa

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

912 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
acontecer. N ão fora o lexto do dispositivo, a p a rtir de seu nomen ju ris seria im ­
possível sab er se ele está falando do títu lo ilícito ou não. A usente em en ta m ais
específica n a Lei n. 9 .983/2000, não se ju stifica even tu al crítica ao fato de ter
in clu íd o nela ilícito tão geral q u an to este. C om o se verá, o su jeito passivo da ação
não é apen as o INSS.
No caput do art. 313, o C ódigo P enal cuida do crim e do pecu lato m ediante
erro de outrem : “A propriar-se de dinheiro o u qu alq u er utilidade que, no exercício
do cargo, recebeu p o r erro de outrem : P ena — reclusão, de 1 (um ) a 4 (quatro)
anos, e m u lta”.
No art. 313-A, ele dita: “In se rir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inser­
ção de d ados falsos, alterar ou excluir indevidam ente d ados corretos n o s sistem as
in form atizados o u b ancos de dados d a A dm inistração P ública com o fim de obter
vantagem indevida p ara si ou a outrem , ou para causar dano. P ena — reclusão de
2 (dois) a 12 (doze) anos, e m ulta".
O s sistem as inform atizados, grosso modo, dizem respeito à inform ática, téc­
nica eletrônica desenvolvida com o uso bits, com putadores e m icrocom putadores
ou rede deles, scanners, eq u ip am en to s sofisticados em p erm a n en te evolução cien ­
tífica. F acilitam o trabalho, p erm itin d o a com unicação em tem po real (internet), o
arm azen am en to de dados, a operacionalização de cálculos, b em com o a prestação
de u m sem -n ú m ero de serviços que antes exigia enorm e m ão de obra o u consig­
nações com m áq u in as de escrever ou de calcular, tabuladoras e o u tro s tipos de
m ecanism os m anuais.
A Previdência Social dispõe de banco de dados, cadastro de recolhim ento de
contribuições, estim a valor de benefícios, controla as quitações das listagens de p a­
gam ento das prestações, em ite correspondência tradicional escrita, ap u ra débitos,
em ite notificações fiscais, prom ove a inscrição da dívida fiscal, gerencia cobranças
adm inistrativas e ju diciais, elabora os precatórios etc., adm inistra co n ju n to de d a­
dos h o sp ed ad o s em seus com putadores e term inais operacionais. Os elem entos são
acrescidos p o r m eio de m ecanism os singelos, sendo aduzidos à rede de inform ações.
Inserir dados falsos significa acrescê-los em substituição aos existentes, ou
consigná-los pela prim eira vez. Q uer dizer tam bém colocá-los no sistem a m ediante
operação digitalizada o u de ou tro tipo, na própria rede o u à distância, no m om ento
ou d eixando pro g ram ado para o u tro instante, qu an d o o crim e se consum a.
F acilitar é ato com issivo to rn an d o possível a consum ação do crim e, caso do
fornecim ento d e sen h a para alguém estran h o ao serviço.
A despeito de a CF e a Lei n. 8.112/1990 (E statuto dos Servidores Públicos
Civis da U niào) não m ais se referirem a funcionário, preferindo a expressão “ser­
v id o r”, esta lei insiste em m encionar designação superada.
O C ódigo Penal define funcionário público, “para os efeitos penais, quem ,
em bora tran sito riam en te o u sem rem uneração, exerce cargo, em prego ou função
p ú blica” (art. 327), equiparando-o a “q uem exerce cargo, em prego ou função em
en tidade p araestatal” (§ l e) e au m en ta a pena em um terço “q u an d o os autores

C u rs o d e D ire ito P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c iti/ 913
dos crim es previstos neste C apítulo forem o cu p an tes de cargos em com issão ou de
função de direção ou assessoram ento de órgão da adm inistração direta, sociedade
de econom ia m ista, em presa pública ou fundação in stitu íd o s pelo poder p ú b lico ”
(§ 2B, acrescido pela Lei n. 6.799/1980).
A Lei n. 9.983/2000 alterou o § 1Q do art. 327, antes m encionado, e ditou:
E quipara-se a funcionário público quem exerce cargo, em prego ou função em en ­
tidade paraestatal, e quem trabalha para em presa prestadora de serviço contratada
ou conveniada para a execução de atividade típica da A dm inistração P ública”.
E quivocou-se o legislador ao aludir ao agente “au to riz ad o ”, pois tam bém o
não au to rizad o praticará o m esm o delito.
Q u an d o se utilizou do verbo “in serção ” restou evidente a pobreza de lingua­
gem , em razão do infinitivo "in serir” usado para iniciar a oração, pois restou inserir
a inserção.
Não pode o servidor, dessa form a, in tro d u zir dados falsos “com o fim de obter
vantagem indevida para si ou para outrem , ou para causar d a n o ”. Poderá fazê-lo,
en tretan to , se o registro é verdadeiro ou julga sê-lo (p o r faltar-lhe o dolo) ou m es­
m o lalso, se não agiu com a intenção de obter vantagem .
Dados falsos, em razão da finalística do dispositivo, lem bram os capazes de
propiciar toda sorte de vantagem para alguém , com o, p o r exem plo, au m en ta r a
base de cálculo de benefício, acrescer o tem po de contribuição do segurado, adotar
fator previdenciário su p erio r ao real etc.
A lterar identifica-se com m odificar, m udar, fraudar elem entos constantes do
program a, tro can d o o ex istente pelo desejado em seu favor ou de alguém.
Além de inserir, de facilitar a inserção e de alterar, o crim e consum ar-se-á se
o sujeito ativo elim inar os m esm os dados, usando a linguagem técnica, “d eleta” o
registro, apagando-o provisória ou definitivam ente.
O servidor, p o r força de sua atuação (e o fará frequentem ente), tem perm issão
para m odificar os dados do com putador, alterando-os o u excluindo-os; só não pode
fazê-lo co n trariam en te à ordem fixada pelo su p erio r hierárquico, determ inada por
instru çõ es ou a recom endada pelo botn-senso. Q uando o faz, é indevidam ente.
Dados corretos opõem -se aos lalsos, aqueles constantes, provenientes de o u ­
tros d o cu m en to s ou resultado de operações procedidas em virtude de inform ações
corretas.
Sistem as inform atizados são os procedim entos utilizadores de técnicas de in­
form ática, conjugados sistem aticam ente e organizados com certo objetivo.
Bancos de d ad o s é program a (software) arm azenando inform ações consul-
táveis em arquivo ou u n id ad es de disco (disco rígido, disquete o u CD). Senha é
código alfanum érico (palavras e n úm eros), só de palavras o u só de núm eros.
A A dm inistração Pública com preende os órgãos das adm inistração direta e
indireta, fundacional e as em presas estatais (sociedades de econom ia m ista e em ­
presas públicas).

C urso d e D ir e ít o P b e v id e n c iAb io
914 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
O conceito de fu ncionário público desta lei não coincide exatam ente com a
classificação m o d ern a dos órgãos da A dm inistração Pública.
V antagem indevida é o oposto da devida, aquela deco rren te da lei. É indevido
o benefício co n trário à lei, conclusão derivada de interpretação u n ân im e, razoável,
consagrada ou ju risp ru d en c ialm e n te predom inante.
O objetivo da prática ilícita deve ser para o bter vantagem para si ou para ter­
ceiros, não n ecessariam ente o autor.
P o r vezes, a in tenção do sujeito ativo é afetar o sistem a, sem p re te n d er q ual­
q u er vantagem pessoal, sim plesm ente querendo o resultado, caso dos hackers.
1176. M odificação d e in fo rm açõ es — Este crim e está bastan te próxim o do
anterior, em b o ra dele defira significativam ente, pois aqui o objeto da ação crim ino­
sa é o sistem a de co m putação, en q u an to a letra “A” objetiva vantagem específica,
sem o sistem a, com o razão de ser do iter criminis.
Reza a lei: “m odificar ou alterar, o funcionário, sistem a de inform ações ou
program a de inform ática sem autorização ou solicitação de au to rid ad e co m p eten ­
te. Pena — detenção, de 3 (três) m eses a 2 (dois) anos, e m u lta ” (art. 313-B).
M odificar ou alterar usados com o sinônim os, querem dizer m udanças no es­
tabelecido, p o u co im p o rtan d o a causa subjetiva m otivadora do agente.
C aracteriza-se o crim e q u an d o ele procede a inovações seja no sistem a ou
num program a.
A n o rm a tu tela os registros inform áticos, não os q u er m u d ad o s sem razão de
ser n o rm al (perm issão ou pedido de su p erio r hierárquico).
Pela redação, em bora sopesável pela autoridade ju lg ad o ra, não im porta o leit-
motiv. Mas, claro está, a novidade ser a com prom etedora do program ado, especial­
m ente as bem -vindas.
Sistem a de inform ações é rede sistem atizada de instalações, re u n in d o dados
relativos a certa área. C onceito am plo, inform ação abarca u m sem -n ú m ero de ele­
m en to s de interesse do ind iv íd u o ou da coletividade previdenciária.
P rogram a de com putação (software) é co n ju n to de com andos eletrônicos para
a operacionalização do com putador. A utorização é ordem de su p erio r m ediato ou
im ediato a ser cu m p rida. Pode ser verbal, escrita ou sistem atizada.
Solicitação é pedido de alguém , in tasu , da au to rid ad e com petente, a m esm a
a dar a autorização.
A utoridade com petente é o chefe de setor, su p erio r im ediato, sup erin ten d en te,
d ireto r ou presidente, aquele do qual provém as determ inações adm inistrativas,
sendo preferível obedecer, na h ierarquia funcional, ao que está m ais próxim o.
C on so an te o parágrafo único, as penas são aum en tad as de um terço até a
m etade se da m odificação ou alteração resulta dano p ara a A dm inistração Pública
ou para o ad m in istrado.

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P revidência S o c ia l 915
Sobrevêm agravam ento da p u nição q u an d o a atitude do sujeito ativo provocar
dano m aterial ou financeiro para a A dm inistração Pública, por exem plo, im plican­
do em gastos de reparação.
Caso os co n trib u in tes ou beneficiários da previdência social sejam afetados
pela ofensa causada ao sistem a, de igual form a, as penas serão am pliadas.
1177. S onegação p re v id e n ciária — Desde 1940, em seu art. 337, o C ódigo
Penal disciplinava a su b tração ou inutilização de livro ou docum ento: “Subtrair, ou
inutilizar, total ou parcialm ente, livro oficial, processo ou d o cu m en to confiado à
cu stó d ia de funcionário, em razão de ofício, ou de particu lar em serviço p ú b lico ”.
O crim e de sonegação fiscal com parecia na legislação desde a Lei n. 4.729/1965
(art. I 9, I/V), com pena de detenção de seis m eses a dois anos de detenção e m ulta,
de duas a cinco vezes o valor do tributo, ressaltando-se que se o agente se prevale­
cesse do cargo público a pena era au m en tad a da sexta parte (§ 2e), am pliada com
a terça parte se fosse A gente Fiscal (§ 3e) e extinguindo-se a p unibilidade q uando
ele prom ovesse o reco lhim ento (art. 29).
A dicção legal é m u ito sim ples: su p rim ir o u red uzir contribuição social previ­
denciária e q u alq u er acessório (art. 337-A).
Por meio de três modus operandi (incisos I/III), quando o sujeito ativo da ação
crim inosa deixar de fazer constar nom es de segurados: (I) não prom over os registros
contábeis de valores deduzidos; (II) ou om itir receitas ou lucros; (III) e suprim ir valo­
res devidos, o agente incidirá no crim e de sonegação de contribuição previdenciária.
S u p rim ir lem bra algo existente, m as o sen tid o da lei é de objetivam ente não
pro ced er conform e m an da a lei e, com isso, su b trair elem entos caracterizadores do
fato gerad o r da obrigação fiscal na som a do m o n tan te devido, isto é, elim inação
do valor.
Reduzir, p o r sua vez, é a m esm a operação, adotando-se iguais procedim entos,
porém , sem atin g ir a to talidade da exação securitária.
As três co n d u tas reprováveis são elencadas nos incisos subsequentes, todas
elas de om issão.
O prim eiro p ro cedim ento é o m itir de folha de pagam ento da em presa ou
de d o cu m en to de inform ações previsto pela legislação previdenciária, segurados,
em pregado, em presário, trabalhador avulso o u trab alh ad o r au tô n o m o ou a este
equiparado prestan d o serviços.
A om issão corresp onde a não fazer co n star o nom e de certos segurados, pos­
sivelm ente p orque não registrados no Livro ou Ficha de R egistro de Em pregados
(caso do em pregado), q u an d o deveriam fazer parte da folha de pagam ento ou for­
m ulário ú til para o cálculo da contribuição previdenciária, pois o dispositivo tutela
a receita previdenciária.
Folha de pagam ento é docu m en to laborai tradicional, no qual co nstante o
nom e dos em pregados (segurados obrigatórios), perm ite d ar quitação da rem u­
neração e to rn a possível o cálculo da contribuição previdenciária, fundiária ou
sindical e do Im posto de Renda.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

916 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Pela prim eira vez, o legislador m enciona a em presa, inferindo-se estar aludindo
ao em p reen d im en to conceituado no art. 15 do PCSS, excluído, por conseguinte, o
em pregador dom éstico.
Em seu art. 31, com as alterações prom ovidas pela Lei n. 9 .7 11/1998, e no
art. 32 do PCSS, a legislação previdenciária enuncia os principais d o cu m en to s
fiscais: a) folhas de pagam ento; b) contabilidade; e c) inform ações cadastrais.
Registros a ser guardados p o r dez anos (§ 11 do art. 32), salientando-se o seu inciso
IV, com redação da Lei n. 9.528/1997.
A legislação previdenciária com preende duas leis básicas (PCSS e PBPS), seu
regulam ento (D ecreto n. 3.048/1999) e dem ais atos norm ativos consentâneos com
a lei e p u b licad o s no D iário Oficial da União.
Identificam -se os segurados com os obrigatórios, pessoas físicas enum eradas
no art. 12 d o PCSS e seus incisos, com exclusão do facultativo.
Daí resu ltan d o a exclusão do servidor sem regim e p ró p rio de previdência
social (art. 13), pois a lista é enum erativa.
E m pregado, p ara os efeitos da legislação previdenciária, o descrito n o art. 12,
I, do PCSS, e suas sete hipóteses (letras o/i), convindo destacar que alguns deles
suscitam o p rin cíp io da territorialidade. P articularm ente, devendo-se p e rsc ru ta r a
situação do serv id o r público ocu p an te de cargo em com issão.
Na dúvida, n ad a im pede rem issão ao art. 3Q da CLT, do qual provém o c o n ­
ceito.
E m presário é a pessoa designada na versão original do art. 12, III, do PCSS
(titu la r de firm a in dividual, sócios de m odo geral, direto r não em pregado ou m em ­
bro do co n selh o de adm inistração de sociedades anônim as e direto r rem unerado
de associações ou en tidades), com a particu larid ad e de serem classificados com o
co n trib u in tes in d ividuais, a p a rtir da Lei n. 9.876/1999. Às vezes, erroneam ente
designados com o em pregadores, com o faz a C arla M agna (art. 1 9 5 ,1).
Avulso é trab alh ad o r com características de em pregado e de au tônom o: “quem
presta, a diversas em presas, sem vínculo em pregatícío, serviços de natureza urbana
ou rural definidos no re g u lam en to ” (PCSS, art. 12, VI), geralm ente p o rtu ário s e
especificados n o art. 9fi, VI, a/j, do RPS.
O au tô n o m o v inha descrito no art. 12, IV do PCSS, com o: “a pessoa física
que exerce, p o r conta própria, atividade econôm ica de natureza u rb a n a com fins
lu crativos ou n ã o ”, considerado co n trib u in te individual pela Lei n. 9.876/1999.
O PCSS e a CLPS, desde há m u ito tem po, elencavam algum as figuras com o
eq u ip arad as aos au tô n o m o s (PCSS, art. 12, V), en q u a d ram en to desaparecido com
a Lei n. 9.876/1999, co n tan d o com três espécies: a) peq u en o p ro d u to r rural; b)
eclesiástico; e c) brasileiro no exterior.
O segundo reza: deixar de lançar m ensalm ente nos títu lo s p ró p rio s da c o n ­
tabilidade da em presa as q u an tias descontadas dos segurados ou as devidas pelo
em pregador ou pelo to m ad o r de serviços.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 917
C onform e antecipado, q uando do exam e do crim e de apropriação indébita
previdenciária, d eixar significa n ão fazer, ação om issiva, isto é, não prom over os
lançam entos segundo os princípios da contabilidade, q u an d o obrigado a eles.
Lançar, co n tab ilm ente, é fazer o registro escriturai dos pagam entos de in te­
resse da previdência social: quantias descontadas dos segurados e devidas pelo
pro p iciad o r de serviços.
A contabilidade tem regras ínsitas e um a delas é a existência de títu lo s p ró ­
prios para as diferentes contas. A norm a tutela a verificação fiscal e, p o r isso, exige
esse p ro ced im en to co n sentâneo com a lei. E xam inando a d enúncia, o m agistrado
não desprezará o fato de o registro ter sido feito em o u tra conta inocorreu prejuízo
para a ação fiscal.
C ontabilidade é ciência de registro e avaliação do patrim ô n io das em presas,
conceito tradicional sem co m portar dúvidas. O objeto m aterial são seus livros, d o ­
cu m entos, ou program as de com putação, m as não isoladam ente os com provantes
de caixa.
Q uantias d escontadas referem -se à contribuição do trabalhador, aquela p re­
vista no art. 20 do PCSS. Pode dar-se de o agente não ter feito a dedução e, com
isso, se não incidir em o u tro delito, in existente a retenção, não subsiste a sonega­
ção fiscal. D eclara perem ptoriam ente a lei serem so m en te as im portâncias descon­
tadas necessariam ente lançadas na contabilidade.
C o n tribuições do em pregador é a parte p atro n al ou em presarial, concebida no
art. 21 do PCSS, aí incluídas as não referentes à participação dos em pregados. Para
não repetir o vocábulo “em presa”, com parece em pregador, e o legislador refere-se
novam ente a ela, interpretação não desprezadora pelo fato de ele saber a distinção
entre em presa, em pregador e em presário.
A expressão “to m ador de serviços” rem ete a terceiros, fornecedores de m ão
de obra cedendo obreiros para o u tras pessoas jurídicas. G eralm ente, contribuições
em presariais, com o a prevista na Lei n. 9.711/1998 ou a de 15% disciplinada na Lei
n. 9.876/1999, em relação às cooperativas.
O terceiro com ina: om itir, total ou parcialm ente, receitas ou lucros auferidos,
rem unerações pagas ou creditadas e dem ais fatos geradores de co n tribuições so ­
ciais previdenciárias. Pena — reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e m ulta.
O m itir é d eixar de consignar, sonegar dados ou inform ações e, n este caso,
au sen te o universo (contabilidade), diz respeito a q u alq u er docum entação. Não
faz o legislador distinção q u an to ao vulto do quantum sonegado, se total ou parcial.
Receitas, o resultado da operação com ercial, valores obtidos m ediante a ex­
ploração econôm ica. Subsistentes vários tipos contábeis e econôm icos, in casu, a
lei está se rep o rtan d o à hipótese de incidência estabelecida no art. 23.
Lucro é a diferença entre o total das receitas e o das despesas operacionais.
Em lace do art. 23, II, do PCSS, o “lucro líquido do período-base, antes da provisão
para o Im posto de R enda”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

918 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
O fato gerador da obrigação fiscal previdenciária surge na Lei n. 9.983/2000
pela p rim eira vez. R em uneração é a contraprestação p o r serviços prestados, no
co m u m dos casos con vindo co n su ltar os arts. 457/458 da CLT e, principalm ente,
o art. 28 do PCSS. H ipótese d e incidência in clu in d o em pregados e o u tro s tipos de
segurados prestad o res de serviços para em presas.
R em unerações pagas desem bolsadas pelo devedor, de p ro n to o u em parcelas,
m ediata ou im ediatam ente, co n stan tes da folha de pagam ento ou de recibos. Nào
necessariam ente consignadas nos registros contábeis da em presa. R em unerações
creditadas contabilizadas, m esm o com disposição em conflito, pois se não foi feito
o registro (pelo m enos) não houve o crédito contábil. Fatos geradores são m ú lti­
plos. D izem respeito à contribuição do trab alh ad o r e à em presarial.
1178. Divulgação das informações — U m novo delito com parece no C ódigo
Penal: “divulgar, sem ju sta causa, inform ações sigilosas o u reservadas, assim d e­
finidas em lei, co n tid a s ou não n o sistem a de in fo rm açõ es o u b an c o s de d ados
da A dm inistração Pública. P ena — detenção, de 1 (u m ) a 4 (q u atro ) anos, e m ulta
(§ l e-A )”.
Divulgar q u er dizer dar publicidade, expor ao público, com unicar abertam ente,
passar ad ian te inform ações detidas.
O legislador veda o agente de passar inform ações sigilosas ou reservadas,
p o d en d o fazê-lo sem incidir no ilícito q u an d o autorizado pela lei, costum es ou
condição técnica.
Inform ações sigilosas não divulgáveis p o r subm eterem -se à privacidade. D á­
-se exem plo tradicional com o resultado de exam es m édicos.
Elas afetam a segurança do sistem a e nào podem ser divulgadas sob a pena de
afetá-lo. Se a lei n ão diz, terá de especificar quais são essas inform ações sigilosas
ou reservadas.
Na su a versão original o art. 296 cuidava da falsificação do selo o u sinal p ú ­
blico. Diz o caput: “Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: I — selo público
d estin ad o a au ten ticar atos oficiais da U nião, de Estado ou de M unicípio; II — selo
ou sinal atrib u íd o p o r lei à entidade de direito público, ou à au to rid ad e, ou sinal
pú b lico de tabelião. Pena — reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e m u lta ”.
Seu § l s dizia: “Incorre nas m esm as penas: I — quem faz uso do selo ou
sinal falsificado; II — quem utiliza indevidam ente o selo o u sinal verdadeiro em
prejuízo de o u trem o u em proveito próprio ou alh eio .” E o § 2° reza: “Se o agente
é fu n cionário p ú b lico , e com ete o crim e prevalecendo-se do cargo, aum enta-se a
pena de sexta p arte .”
1179. Falsificação nas declarações — Na terceira hipótese, quem altera, falsi­
fica o u faz uso indevido de m arcas, logotipos, siglas ou q uaisquer outros sím bolos
u tilizad o s ou identificadores de órgãos ou entidades da A dm inistração Pública.
Altera quem m odifica o original, texto escrito, d esenho ou fotografia, afetan­
d o -lh e a substância e to rn an d o possível a confusão.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m a II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 919
O falsificador ad ultera, altera, refaz com m ã-fé, m odifica, trabalhando a p artir
do original, ten tan d o im itá-lo. Assim, as cédulas falsificadas, im pressas p o r inteiro,
diferindo das que possam ser alteradas.
Faz uso indevido quem se utiliza indevidam ente de m arcas da Previdência
Social. Com m arcas, logotipos e sím bolos, o legislador m escla entidades m uito
assem elhadas. M arca é nom e, d esenho, etiqueta ou sím bolo que assinala p ro d u to
ou instituição.
O G rande D icionário Larousse C ultural registra vinte e quatro explicações
para a palavra (sic). Logotipo é reunião de letras representadas graficam ente ou
estilizadas e o ficialm ente rep resen ta a in stitu ição . Sigla é ab rev iatu ra de nom es
ou títulos. MPS sintetiza M inistério da Previdência Social. INSS q u e r dizer In stitu ­
to N acional do Seguro Social. Sím bolo é sinal figurativo identificador de conceito
ou im agem .
Identificadores são representações pictóricas, gráficas ou m usicais caracteri-
zadoras da A dm inistração Pública.
O art. 297 do CP trata de falsificação de d o cu m en to público: “Falsificar, no
todo ou em parte, d o cu m en to público, ou alterar d o cu m en to público verdadeiro:
Pena — reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e m ulta. § 1QSe o agente é funcionário
público, e com ete o crim e prevalecendo-se do cargo, aum enta-se a pena de sexta
parte. § 25 Para os efeitos penais, equiparam -se a d o cum ento público o em anado
de en tidade paraestatal, o título ao p o rtad o r ou transm issível p o r endosso, as ações
de sociedade com ercial, os livros m ercantis e o testam ento particular. § 3 QNas m es­
m as penas incorre quem insere ou faz inserir: I — na folha de pagam ento ou em
do cu m en to de inform ações que seja destinado a fazer prova perante a previdência
social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório”.
Locução am pla, são m u ito s os d o cu m en to s envolvidos com a relação de p re­
vidência social, em m atéria de inscrição, co n trib u içõ es e benefícios. A folha de
pagam ento é form ulário tradicional p o r todos conhecido, d o cu m en to ú til para a
quitação da rem uneração e tam bém para o cálculo das deduções e recolhim entos
ao FPAS.
D o cum ento de inform ações é am plíssim o, com p reen d en d o todos os m eios
de prova, com o Ficha de R egistro de Em pregados, quadro de horário , cartões de
p o n to , holleriths, PPP, LTCAT, laudo técnico, perfil profissiográfico e m uitíssim os
outros, p rin cip alm en te, a CTPS.
Teria sido m elh o r o legislador ter dito “quem não seja segurado o b rigatório”.
O bviam ente, tam bém não poderá inscrever segurado em o u tra em presa.
O inciso II reza: “na CTPS do em pregado ou em d o cu m en to que deva p ro d u ­
zir efeito p eran te a previdência social, declaração falsa ou diversa da escrita”.
A CTPS é o principal m eio de prova do trabalhador ju n to ao INSS, su b stitu ta
da C arteira Profissional — CP, d o cu m en to em itido pelo M inistério do Trabalho e
Em prego.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

920 W la d im i r N o v a e s M d r í i n e z
O conceito é igual ao inciso anterior: q u alq u er papel necessário para tornar
eficaz a relação ju ríd ica de previdência social, em particular com vistas ao benefício.
D eclaração falsa n ão corresponde à verdade. Por exem plo, registrar salário
acim a do percebido, fazer constar tem po de serviço inexistente.
A declaração diversa difere da falsa, q uando m odifica registro correto, a d u l­
terando-o.
O d o cu m en to contábil tam bém é protegido ou em q u alq u er o u tro docum ento
relacionado com as obrigações da em presa perante a previdência social, declaração
falsa ou diversa da constável.
D o cu m en to contábil é designação genérica, todo d o cu m en to utilizado na
co ntabilidade, p articu larm en te os com provantes de caixa, folhas de pagam ento,
recibos etc.
Trata aqui o legislador da falsificação ou adulteração de d o cu m en to relaciona­
do com as obrigações acessórias e principais das em presas.
1180. Omissão nas declarações — F inalm ente, a extensão do conceito: “Nas
m esm as penas incorre quem om ite, nos d o cu m en to s m encionados n o § 3e, nom e
do segurado e seus dados pessoais, a rem uneração, a vigência do co n trato de tra­
balho ou de prestação de serviços” (§ 4 5).
D ados pessoais do segurado é redação vasta. Significa todos os elem entos
individuais ou profissionais não sigilosos, relativos a sua vida laborai, bem com o
os p ertin e n te s à segurança, higiene e segurança do trabalho. Exem plo: função,
local de prestação de serviços, rem uneração etc. R em uneração é conceito laborai
jã com entado.
D ita o legislador especificam ente a data do início e da extinção do co n trato de
trabalho. É p reciso inform ar, para não in c id ir n o d elito , a vigência do co n tra to
de prestação de serviços, isto é, os elem entos civis da relação en tre a em presa e o
au tô n o m o , não se exigindo o m esm o do em presário pessoalm ente considerado.
O art. 325 cuida do crim e de violação d o sigilo funcional: “Revelar falo de que
tem a ciência em razão do cargo e que deva perm anecer em segredo, ou facilitar­
-lhe a revelação: Pena — detenção, de 6 (seis) m eses a 2 (dois) anos, ou m ulta, se
o fato não co n stitu i crim e m ais grave. § l e Nas m esm as penas deste artigo incorre
quem : 1 — p erm ite ou facilita, m ediante atribuição, fornecim ento e em préstim o de
se n h a ou q u a lq u e r o u tra form a, o acesso d e pessoas n ão a u to riz a d a s a sistem a
de inform ações ou banco de dados da A dm inistração P ública”.
P erm itir é tolerar, to rn a r possível, deixar suceder, q u an d o obrigado a im pedir
o aco ntecim ento. Facilitar é cooperar, aju d ar o agente. A tribuição é com etim en-
to, in cu m b ir o u trem daquilo sabidam ente im possível de fazê-lo. F ornecim ento
da sen h a significa entregá-la d ando-lhe as características. E m prestar é p erm itir o
uso provisório, de algum a form a ceder p o r algum tem po. Senha é m ecanism o de
inform ática g aran tid o r do acesso, espécie de chave to rn an d o possível inform ações
ou dados inacessíveis sem ela. Pode ser núm ero-chave ou palavra-chave.

C urso de D ir e it o P re v id e n c iá rio
T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l 921
Q ualq u er m eio autorizador do acesso indesejado. Acesso significa a entrada
no sistem a, p en e trar nas inform ações p o d en d o delas dispor, infiltrar-se no arquivo,
conseguir ad en trar aos dados, quem não tem autorização para fazê-lo.
Por m otivos de segurança, organização ou im portância, som ente alguns pes­
soas são auto rizad as a o p erar certos equipam entos o u atingir áreas reservadas do
co n hecim ento eletrônico, Por isso, esses nichos são acessíveis a servidores com
atribuição para operá-los. Q uem desobedece essas recom endações indevidam ente
está acessando inform ações das quais nào poderia dispor.
A atuação delituosa poderá causar dano à A dm inistração Pública ou a terceiros.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

922 W lfld trm r N o v a e s M a r ti n e z


Capítulo CXVIII

A u x íl io - A c id e n t e

Sumá r i o : 1181. Fontes consultáveis. 1182, Natureza jurídica. 1183. Evento

determinante. 1184. Data do início. 1185. Valor mensal. 1186. Percepção con­
junta. 1187. Agregação aos benefícios. 1188. Posição jurisprudência! 1189.
Acumulação com salário. 1190. Documentos exigidos.

Q u an d o o segurado sofre acidente do trabalho ou é vitim ado p o r aconteci­


m ento trau m ático de qu alq u er natureza e fica com seqüela d im in u id o ra de sua
ap tidão profissional, tem direito a benefício com caráter definitivo.
1181. F o n te s co n su ltáv eis — Flistoricam ente, o auxílio-acidente surgiu com
a Lei n. 6.367/76, evoluindo significativam ente. Foi alterado pelas Leis ns. 9.032/95
e 9.129/95 e, m ais recentem ente, pela Lei n. 9.528/97 (com efeitos o p erados desde
a M edida Provisória n. 1.523/96).
1182. N a tu reza ju ríd ic a — O auxílio-acidente é benefício vitalício, não subs-
titu id o r d o s salários, sem natureza alim entar (em razão da alta cum ulabilidade),
devido ao segurado após sofrer acidente do trabalho e fruir o auxílio-doença aci-
dentário, caso tenha perm anecido com seqüela, com o as elencadas n o Anexo III do
RBPS, isto é, p o rtad o r de dim inuição da capacidade laborai, verificada na época da
cessação daquele benefício provisório. Pouco im porta se essa redução do em penho
em exercer a atividade habitual vier a ser superada pelo esforço próprio do traba­
lhador, p o r processo de reabilitação profissional ou p o r qualquer o u tro tipo de cura.
Prestação de p agam ento co n tin u ad o , geradora de abono anual, incorporável à
pensão p o r m orte, é vantagem não acum ulável com q u alq u er aposentadoria. C o n ­
trariam en te ao en ten d im en to da Ju stiça Federal, não é acrescível à rem uneração
para q u aisq u er fins previdenciários, n em m esm o para a fixação do conceito de sa­
lário de co n trib u ição com vistas ao futuro benefício ( “A P ropósito de um a Decisão
d a ju s tiç a F ed eral”, in RPS n. 120/643, e, de M arilinda da Conceição M. Fernandes,
“C um ulação do A uxílio S uplem entar com o Benefício da A posentadoria p o r Tem­
po de Serviço”, in RPS n. 118/519).
Trata-se de direito condicionado à perícia m édica e só p o r isso, dian te da
nebulosa descrição legal, de difícil m ensuraçâo da perda da capacidade do traba-

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo I I — Previdência 5ocia! 923


lhador, provoca reflexão dos estudiosos, perplexidade dos exam inadores e desco n ­
forto e in co nform idade do titu lar do benefício, capaz de gerar dissídios infindáveis
em m atéria fãtica.
S ubstituiu o au x ílio-acidente e o auxílio su p lem en tar da Lei n. 6.367/1976 e
do D ecreto n. 79.037/1977.
Tanto q u an to o auxílio-doença acidentário, tido com o seu pressuposto lógico
e ju ríd ico , dispensa o período de carência.
1183. Evento determinante — Deriva do conceito básico de acidente, de suas
form as extensivas ou de doença profissional ou do trabalho, se im plicar perda da
capacidade laborativa ou for capaz de im pedir o obreiro de d esem p en h ar sua ativi­
dade com o dantes. C om o antecipado, pode provir tam bém de acidente de qu alq u er
natu reza ou causa.
Trata-se de indenização paga por terceiros p o r dan o causado ao trabalhador,
não confundível com a indenização civil aludida n o art. 7®, XXV1I1, da CF, p re sta­
ção, esta, devida pela previdência social e custeada socialm ente pelas contribuições
patronais.
As três hipóteses legais, previstas até a alteração havida em 29.4.1995, m elhor
configuravam o direito, com incapacidades parciais para o trabalho.
Na prim eira delas, havia redução capaz de im por esforço ou necessidade de
adaptação para o exercício da m esm a atividade, com ou sem reabilitação profis­
sional. A títu lo de exem plo, o profissional tinha de im prim ir m aior energia física
ou intelectual ou precisava acom odar-se para p o d er realizar a tarefa an terio rm en te
realizada.
Já na segunda, a seqüela era m ais grave, chegando a im pedir o cu m p rim en to
das tarefas habituais, não se estendendo, p o rtan to , a o u tras atividades. E ntretanto,
isso tudo avaliado após a reabilitação profissional, em se tratando, essa o u tra fu n ­
ção laborativa, de com plexidade igual à anterior.
A terceira situação só diferia da segunda no p ertin en te à diversidade com ple­
xa da profissão para a qual fora reabilitado, ou seja, m en o r em com paração com a
habitual.
N a Lei n. 6 .3 6 7 /1 9 7 6 su b sistia d isp o sitiv o m a n d a n d o s u p rim ir o p a g a m e n ­
to do au x ílio s u p le m e n ta r de 20%, q u a n d o da a p o se n ta d o ria do trabalhador.
E co m isso se in su rg iu M arilinda da Conceição M. Fernandes ( “C u m u lação do
A uxílio S u p le m en tar com o B enefício da A p o sen ta d o ria p o r tem po de serv iç o ”,
in Jornal do 111 C on g resso B rasileiro de P revidência Social, São Paulo: LTr, 1990,
p. 15/16).
Em 1991, com o art. 86 desapareceu o auxílio suplem entar, restando apenas o
auxílio-acidente, reduzido a 50% do salário de benefício, a p artir de 29.4.1995. De
acordo com o item 10.3 da O rientação N orm ativa SPS n. 5/1996, o auxílio-acidente
não se in co rp o ra à pensão p o r m orte, m as a Lei n. 9.528/1997, alterando o texto
do art. 86, § 3Q, p erm itiu a fruição cum ulativa.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

924 W /a d im ir N o v a e s M a r tin e z
A Lei n. 9.129/1995 in tro d u ziu significativa alteração n o conceito. Seu art. 5°
rezava: “O au x ílio-acidente será concedido com o indenização ao segurado q u a n ­
do, após a consolidação das lesões d eco rren tes de acidentes de q u alq u er natureza,
resu ltar seqüelas que im plicam redução da capacidade funcional”.
O acidente de q u alq u er natureza ou causa pode ser visto, pela prim eira vez,
no art. 26, II, do PBPS, em que sua presença dispensa o período de carência p ara o
auxílio-doença e a ap osentadoria p o r invalidez.
Esse in stitu to precisa ser apreendido. C om certeza não serã o acid en te do
trabalho p ro p riam en te dito, descrito nos arts. 19 a 21 do PBPS. Refere-se ao ac o n ­
tecim en to trau m ático dom éstico o u não, sucedido nos m o m en to s de n ão execução
de trabalho, gerad o r de inaptidão p o r m ais de 15 dias.
Inexiste id en tid ade entre o acidente de trabalho e esse fato de q u alq u er n a ­
tureza. C o n tin u am distintos; o segurado classificado na segunda hipótese não foi
vítim a de in fo rtú n io laborai, não tem justiça especializada com o co m p eten te, nem
faz ju s aos benefícios acidentários. P ura e sim plesm ente ao auxílio-doença com um .
Aliás, não goza da estabilidade provisória do art. 118 do PBPS.
Possivelm ente, nessas condições, afastar-se-á da infortunística, ficando p ró ­
xim o das incapacidades decorrentes de doenças ou enferm idades e perderá o an a­
crô n ico vezo m oral das prestações acidentárias.
A na Francisca Moreira de Souza Sanbden apreciou as alterações da Lei n.
8.213/1991, operadas pela Lei n. 9.032/1995 ( “A uxílio-acidente: alcance da ex ­
pressão ‘acidente de q u alq u er natu reza’ constante do art. 86 da Lei n. 8.213/91,
com a redação dada pela Lei n. 9 .0 3 2 /9 5 ’’, in Revista da P rocuradoria-G eral do
INSS, de o u t./dez. de 1995, p. 65/71).
A lterando o art. 86 do PBPS e inovando o u tra vez, a Lei n. 9.528/1997 deter­
m inou: “a p erda da audição, em q u alq u er grau, som ente p roporcionará a concessão
do au x ílio-acidente, q u an d o , além do reconhecim ento da causalidade entre o tra­
balho e a doença, resultar, com provadam ente, na redução o u perda da capacidade
para o trab alh o que h ab itu alm en te exercia”.
1184. D ata d o início — O benefício tem início no dia seguinte ao da cessação
do auxílio -d o en ça acidentário, e exatam ente p o r isso não é acum ulável (podendo,
no en tan to , assim se apresentar com o u tro , se p o sterio rm en te concedido). Logo,
se há prorrogação do prim eiro auxílio-doença é im prescindível haver ded u ção do
valor do au x ílio-acidente recebido no interregno. No caso do “q u alq u er natureza
ou cau sa”, após o auxílio-doença com um .
1185. Valor m en sal — O PBPS fixava o valor do auxílio-acidente, válido até
2 8.4.1995, em 30%, 40% ou 60% do salário de contribuição do dia do sinistro
(reajustãvel à data do início do benefício), não p o dendo os m esm os percentuais
apresentar-se inferiores ao salário de benefício, adotando-se, de pronto, o maior.
O u seja, cessado o auxílio-doença acidentário, pressuposto do auxílio-acidente,
era preciso recorrer ao cálculo de sua renda m ensal inicial para ap u rar o valor do

C urso de D i r e i t o P r e v id e n c iá r io
T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
auxílio-acidente. Isto é, era de 91% “do salário de benefício o u do salário de c o n ­
tribuição vigente no dia do acidente, o que for m ais vantajoso, caso o benefício seja
decorrente de acidente do trab a lh o ” (PBPS, art. 61, b).
E n co n trad o o quantum nos autos do processo de concessão do auxílio-doença
acidentário co n v in h a atualizá-lo até a data de início do auxílio-acidente. Se a opção
fora a de 91% do dia do acidente, dispensado o cálculo do salário de benefício, bas­
tava dividir o m o n tan te m an tid o p o r 100 e m u ltip licar p o r u m dos três coeficientes
do auxílio-acidente, pois, m antido, ele n ecessariam ente estava atualizado.
A p artir de 29.4.1995, com o antecipado, o valor passou a ser de 50% do sa­
lário de benefício.
1186. P ercepção co n ju n ta — A lei estabelece regra p articu lar de acum ulação
de benefícios, d istinta das previstas n o art. 124 do PBPS, e a elas a ser acrescida,
ad m itin d o a percepção co n ju n ta de auxílio-acidente com q u alq u er outro benefício
prev id en ciário de segurado, à exceção das aposentadorias. A m enção a “salário”,
próxim a da referência à “rem u n eração ” (§ 29), é cochilo do legislador. Em am bos
os casos, rem uneração.
A dicionar o valor desse benefício à aposentadoria é questão aberta quando o
aposentado tem ren d a m ensal igual ao lim ite do salário de contribuição. O Poder
Jud iciário m anifestou-se iterativam ente no sen tid o da inclusão do auxílio-acidente
à ap osentadoria p o r idade, especial ou por tem po de serviço, inferindo-se de al­
gum as decisões a possibilidade de esse valor ser som ado ao m áxim o perm itid o e,
assim , o segurado ultrapassar o lim ite (R$ 4.159,00, em 2013).
A concessão e a m anutenção vitalícia do auxílio-acidente pressupõem a perda
da capacidade do trabalhador, em redução percentualizada pela perícia m édica
(50%). Assim, exem plificativam ente, se o segurado recebia R$ 4 4 5 9 ,0 0 da em presa
para a qual trabalhava e passa a ter auxílio-acidente de m etade desse quantum ,
adm ite-se, conceitualm ente, estar recebendo apenas 50% de rem uneração. O b en e­
fício acidentário reporia a perda.
Com o d ecu rso do tem po, porém , em m uitos casos, o percipiente dos 50%
consegue reto rn ar aos 100% do salário. Em tal hipótese, aposentando-se pelo lim i­
te do salário de co n trib uição do m ês de início da prestação, não tem sen tid o lógico
a percepção co n ju n ta dos dois benefícios. Em co n trário , au ferirá 150%, a rro stan ­
do a n atureza sub stitu tiva da prestação previdenciária.
Por força da Lei n. 9.032/1995, o caput e o § 1Qdo art. 86 foram inteiram ente
alterados com o segue: “O auxílio-acidente será concedido, com o indenização, ao
segurado q u ando, após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de qual­
q u er n atureza que im p liquem redução da capacidade funcional”.
A Lei n. 9.032/1995 uniform izou o nível do auxílio-acidente em 50%, tornando
ineficazes os três incisos do art. 86 e revogando o § f s .
Essa m edida adotada não podia ser aplaudida, em bora sim plificasse a tarefa
do INSS. As situações en co n trad as pelos m édicos-peritos não são iguais, e as três

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

926 W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
circunstâncias con tem pladas na Lei n. 8.213/1991 eram superiores à generalidade
da nova. A Lei n. 9.032/1995 descreve diferentem ente a situação fisiológica capaz
de deflagrar o benefício, não m ais as três versões dos incisos I, II ou III.
Nivela todas as seqüelas e isso não é bom , especialm ente se lem brando a
função técnica do benefício acidentário, recom por a capacidade de ganho do traba­
lhador, ap tidão física d im in u íd a pelo acidente. A redução da capacidade funcional
varia ex trao rd in ariam en te, e a todos os segurados serã m in istrad o o m esm o per­
centual. O espectro, da seqüela m ínim a (não justificando recom posição) à m áxim a
(caso de concessão da aposentadoria p o r invalidez), é largo para ser aferido p o r um
único percentual. O texto terá de ser refeito no futuro.
Q uem teve o fato gerador do benefício determ inado até 28.4.1995, m esm o o
req u eren d o após essa data, se configurar a hipótese prevista n o inciso III do art. 86,
fará ju s aos 60% da lei anterior. É direito adquirido.
Fica evidente, ainda um a vez, a deliberada intenção de apagar da legislação
m enções ao acidente do trabalho. A costando-se a dispensa de carência do art. 26,
II, acolhe, além das laborais (acidentãrias, p o rtan to ), as provindas de acidente de
qu alq u er n atu reza o u causa, inovando em relação à Lei n. 8.213/1991.
Os §§ 4 e e 5Qd o art. 86 foram revogados pelo art. 8Qda Lei n. 9.032/1995. Por
sua vez, a atu al n o rm a vigente é a redação dada pela Lei n. 9.528/1997.
1187. A gregação aos b enefícios — F alecendo o segurado, se a fatalidade não
é acidentária, o seu valor é som ado à pensão p o r m orte.
N esse caso, o resultado poderá ultrapassar o lim ite do salário de benefício
previsto no art. 29, § 2Q, do PBPS?
A leitu ra do § 5Qparece in d icar positivam ente, pois ali se lim ita a adição ao va­
lor m áxim o do salário de benefício e no § 4 S não h á igual regra. C o n tu d o , essa não
é a m elh o r leitu ra do dispositivo: se, com a m orte acidentária, deflagra-se proteção
m aior, restringe-se ao teto do salário de contribuição, n ão se poderia u ltrap assar no
caso de m orte n ão acidentária, m enos protegida pela lei previdenciária.
G arante o ú ltim o parágrafo do art. 86 a inclusão do valor do auxílio-acidente
para o segurado m o rto em razão de o u tro acidente, restrita a in corporação ao teto
do m aior salário de benefício. O alcance vertical da previdência social seria sufi­
ciente para a su b sistência do inativo, lim itada a natureza su b stitu tiv a da prestação
ao teto previdenciário.
1188. P osição ju ris p ru d e n c ia l — C ontrariando a natureza su b stitu tiv a do
benefício, a Ju stiça F ederal tem decidido in co rp o rar o benefício às aposentadorias,
qu an d o p erm itido, sem preocupação com o lim ite do salário de benefício.
1189. A cu m u lação com salário — Pela sua natureza de benefício não subs-
titu id o r dos salários, ele p o d e ser percebido co n ju n tam en te com a rem uneração
com o em pregado o u o utros ingressos de trabalhador independente.
1190. D o c u m e n to s exigidos — Tendo em vista o en cerram en to do auxílio-
-doença, p o u co s são os d o cu m en to s exigidos do segurado. Basta o requerim ento
do benefício.

C urso d e D ir e it o P r e v íd e n c iá r io

T om o U — P r e v id ê n c ia S o c ia J 927
Capítulo CXIX

A posentadoria P roporcional

Sum á r i o : 1191. Descrição mínima. 1192. Data do início. 1193. Períodos sopesa­

dos. 1194. Definitividade da concessão. 1195. Essência científica. 1196. Rom­


pimento do contrato. 1197. Critério da proporcionalidade. 1198. Modalidades
existentes. 1199. Regras de acumulação. 1200. Validade técnica.

Variante da ap o sentadoria p o r tem po de contribuição, m u ito solicitada, ch a­


m ou a atenção dos estudiosos nos anos 1996/1998, q uando desapareceu para
quem ingressou no RGPS após 15.12.1998, ex vi da EC n. 20/1998. Ajuizava-se na
lin h a do p rin cíp io da distributividacle, base para o fim do abono de perm anência
em serviço e do pecúlio (Lei n. 8.870/1994).
1191. D escrição m ín im a — A posentadoria proporcional é m odalidade de
retiro antecipado, versão m enor da integral, concedida às seguradas, após com ple­
tarem de 25 a 29 anos, e aos segurados, após 30 a 34 e q u atro anos, co n ferin d o ­
-lhes, respectivam ente, os percentuais de 70%, 75%, 80%, 85% e 90% do salário de
benefício (m édia do PBC, após a aplicação do fator previdenciário, com piso infe­
rio r de u m salário m ínim o (R$ 678,00) e su p erio r de R$ 4.159,00 — teto de 2013).
Benefício co m u m , sem obstar a volta ao trabalho, nitidam ente su b stitu id o r
dos salários, de pag am ento co n tin u ad o , definitivo e não reeditável. A dm ite tran s­
form ação em apo sen tadoria especial ou em aposentadoria p o r invalidez.
1192. D ata d o início — Tem início no dia seguinte ao do afastam ento do
trabalho, se req uerido até noventa dias dessa data e com eçando no do protocolo,
q u an d o solicitado após 90 dias. Na DER, se não rom pido o vínculo laborai.
1193. P erío d o s so p e sa d o s — A proveitam todos os períodos de trabalho da
ap o sentadoria p o r tem po de contribuição, inclusive os resultantes da conversão do
especial em com um e os derivados da contagem recíproca.
Valem interregnos de filiação, isto é, períodos de tem po excepcionais (v. g.,
gozo de auxílio-doença ou aposentadoria p o r invalidez) e norm ais, de contribuição
e sem ela (serviço m ilitar). P articularm ente, considerados os do facultativo, desde
25.7.1991, e os do co n trib u in te em dobro, anteriores a essa data (Lei n. 5.610/1970).

C urso de D ir h l t o P r e v id e n c iá r io

928 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
São tam bém acolhidos os h o d iern am en te qu itad o s nos term os da Lei n.
9.032/1995 e da M edida Provisória n. 1.523/1996, com aspectos p ráticos e form ais
da O rdem de Serviço INSS/DSS n. 55/1996.
1194. Definitividade da concessão — N esta o p o rtu n id ad e , abstraindo consi­
derações sobre a d esaposentação — posição p o r n ó s su sten tad a — , vale acen tu ar
a definitividade e a irreversibilidade do benefício.
M esm o na hipótese de o trab alh ad o r não ter rom pido o co n trato de trabalho
e c o n tin u ar p restan do serviços (e a pagar co ntribuições m ensais), após o deferi­
m en to da prestação, ao com pletar 30 anos (m ulheres) ou 35 anos (h o m en s), no
e n ten d e r do INSS não fará ju s à aposentadoria integral.
Assim sen d o , para o órgão gestor, inexiste conversão de proporcional em
integral.
1195. Essência científica — Na d o u trin a brasileira, subsistem ponderáveis
óbices d o u trin ário s à aposentadoria p o r tem po de contribuição, principalm ente
sob a alegação de ela não cobrir q u alq u er risco social.
Tal afirm ação não tem m u ita procedência; o tem a reduz-se à m era convenção
científica. E n trin ch eiram -se os críticos p o r indisposição (válida) ao benefício, m as
isso é o u tra coisa. Provavelm ente, ele é caro e, com certeza, precisa ser inteiram ente
revisto, quiçá extinto.
A co n tingência prolegível existe e pode ser m ensurada a q u alq u er m om ento: o
segurado ter trab alh ado todos os anos exigidos produz desgaste n o seu organism o,
estar já com algum a idade avançada (bastando estabelecer m ínim o etário pessoal
para m elh o r configurá-la) e, na verdade, concebida até a m u lh er com pletar 60 anos
e o ho m em 65 anos, pois a partir daí eles têm direito à ap o sen tad o ria p o r idade.
1196. R o m p im en to do c o n tra to — A discussão em to rn o da possibilidade
de a concessão da ap osentadoria rom per o vínculo de em prego — tem a recorrente
diante da hesitação do C ongresso N acional — espraiou-se para a aposentadoria
p ro p o rcio n al a p artir da eficácia da M edida Provisória n. 1.596-14/1997, q u an d o
ela d eterm in o u o fim da relação laborai. E, afinal, fixado com a Lei n. 9.528/1997.
Esse fa ctu m principis gera dissenções em razão de possivelm ente ofender o
prin cíp io da igualdade. A rigor, a norm a não fala em aposentadoria proporcional,
m as diz benefícios de quem não tiver 30 anos (m ulheres) o u 35 anos (hom ens),
p o rtan to , alcançando tam bém a p o r idade e a especial, e o u tras m ais, e até m esm o
a p o r invalidez.
Em 19.12.1997, o STF co n cedeu lim inar co n tra a disposição da lei, aguar­
dando-se solução final, possivelm ente en fren tan d o dois problem as: a) inconsti-
tu cio n alid ad e da m edida p o r o len d er o princípio da igualdade; e b) co n tra d ita r a
d o u trin a favorável ao não desfazim ento d a relação em pregatícia pela aposentação.
As m en cio n ad as n o rm as in tro d u ziram novid ades ao im p o r o desfazim ento da
relação em pregatícia do requerente desse tipo de benefício (em bora abarque, em
razão da mens legis, outras aposentadorias). C riou m esm o, em caráter transitório, a
figura da susp en são e restabelecim ento do benefício (arl. 11 da Lei n. 9.528/1997).

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l 929
1197. Critério da proporcionalidade — D iante da explicitação do benefício
pela C arta M agna de 1988, falando em benefício proporcional, alguns estudiosos
tentaram realinhar os p ercentuais fixados n a CLPS (vigentes até 24.7.1991) e os
im p lantados pelo PBPS. N ão seriam os da lei ordinária e deveriam atender, rigoro­
sam ente, à relação m atem ática presente, pois proporção é vínculo entre dois entes
num erais. E, sem dúvida, naquela ciência exata, é.
A nosso ver, a p ro p orcionalidade cifra-se dos 70% aos 100% e, nesse caso,
a legal é abso lu tam en te perfeita. Não teria sentido a pretensão dos 30/35, 31/35,
32/35, 33/35 e 34/35 ou 85,71% , 88,85% , 91,42% , 94,28% e 97,14% .
Júlio da Costa Barros apontou im propriedades na sentença proferida pelo Juiz
da 2- Vara Civil da Ju stiça Federal em M arília (in Processo n. 1994.1005763-9),
q uando aquele m agistrado adm itiu a inconstitucionalidade do art. 53, II, do PBPS.
Na decisão, colhe-se: “a razão entre o tem po e o percentual é, p o rtan to , 03,5
(35:100). Para m anter-se essa igualdade, observando-se o critério da proporcio­
nalidade, ter-se-á que a aposentadoria aos trin ta anos de serviço eqüivalerá a 85%,
pois 30: 85 = 0 ,3 5 ”.
No dizer do arguto observador, “p artiu , porém , o autor da ação e depois dele
o excelente m agistrado, de prem issa falsa, qual seja, a de que o legislador co n stitu ­
cional teria garantido a aposentadoria proporcional aos 30 anos. Não perceberam
que o que o legislador co n stitu in te garantiu, foi o direito à ap o sen tad o ria pro p o r­
cional, após os 30 anos. Isto é, o que diz a letra do texto constitucional. Vale dizer:
o co n stitu in te facultou a aposentadoria proporcional após, o u seja, em relação ao
período p o sterio r aos 30 anos, isto é, que vai dos 30 aos 35 anos (lim ite final, onde
a ap o sentadoria é de 100% )”.
Ao final, acresceu: “E deixou para o legislador ordinário a definição dos ter­
m os em que essa aposentação poderia se dar. Daí o caput do art. 202 usar a expres­
são: nos term o s da Lei” (“A posentadoria P roporcional”, in RPS n. 189/679).
Sérgio Pardal Freudenthal, m encionando d o u trin ad o r inom inado, apresenta
nova e interessante possibilidade. Busca a preten d id a equivalência p o r outro cam i­
nho. Para ele, se aos 35 anos o hom em tem 100%, cada ano m asculino de trabalho
valeria 2,85% e 3,33% o an o fem inino. N esse caso, os coeficientes seriam : 86,55%,
89,40% , 91,45% , 94,30% e 97,15% (para os hom ens).
De qu alq u er form a, a relação não é apenas aritm ética, e sim atuarial, ou seja,
os percentuais defluem de cálculo estim ativo securitário e não apenas da m atem á­
tica. N esse particular, é sem pre bom recordar os cuidados necessários q uando da
transposição de regra de um a ciência para outra. A lguns estatísticos desavisados,
sem saber nadar, afogaram -se q u an d o ten taram atravessar rio com profundidade
m édia de 50 centím etros...
No ginásio, apresentando o tem a “regra de três com posta”, os professores pro­
põem problem as do tipo: dez pedreiros fazem tantos m etros de um m uro em 20
dias; 20 pedreiros constroem a m esm a obra em dez dias; 40 pedreiros em cinco dias,
e assim p or diante. Logo, 1.000 pedreiros reunidos... não conseguem fazer nada!

C urso dh D ir e it o P r e v íd e n c iá r io

930 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
O benefício co n tin u ará observando a C onstituição F ederal e, se algum dia,
o p atam a r m ín im o reduzir-se a, digam os 50%, acrescendo-se 10% a cada ano a
m ais até chegar a 100%, não se fratu ran d o a proporcionalidade, m as d im in u ir esse
básico ainda m ais pode q u erer dizer o fim do benefício, e isso não pode acontecer.
1198. M o d alid ad es e x iste n te s — Só existem dois tipos de ap o sen tad o ria p ro ­
porcional: a) do servidor público; e b) do trabalhador da iniciativa privada.
Não se co n sidera proporcional a idade de quem não tenha 30 anos de filiação,
em bora o m o n tan te seja d eterm inado proporcional ao tem po de serviço. Tam bém
não há previsão de aposentadoria especial proporcional.
A EC n. 20/1998 criou im passe curioso. Q uem , à véspera de sua prom ulgação
(1 6 .12.1998), preen chia os requisitos legais não teria de aten d e r lim ite m ínim o de
idade (48 e 53 an o s), m as se viesse a acrescer os anos de serviço necessários à aqui­
sição de 5% após a vigência da m udança, teria de im plem entar a idade, p o dendo,
obviam ente, o p tar p o r um a delas.
1199. Regras de acumulação — O benefício é su b stitu id o r dos salários e, des­
sa form a, n ão ad m ite acum ulação com prestações de igual índole (auxílio-doença,
ap o sen tad o ria p o r invalidez, especial o u p o r idade).
1200. Validade técnica — A ap o sen tad o ria proporcional, espécie de abono
de p erm an ên cia em serviço rem anescente, não tem sen tid o no m odelo brasileiro.
Torna o trab alh ad o r percipiente precoce de benefício, não se ju stific an d o no segu­
ro social. A ntes de 16.12.1998, m u lh er filiada aos 14 anos, com 39 anos de idade,
p o d ia obtê-lo, e até antes, se exercitou atividade especial.
Além do m ais, seu custo é elevado e o segurado invariavelm ente volta ao tra­
b alh o , d em o n stran d o a im propriedade da concessão.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I — P r e v id ê n c ia S o c i a l 931
Capítulo CXX

R eabilitação P r o f i s s i o n a l

1201. Conceito básico. 1202. Processos de recuperação. 1203. Deve­


S u m á r io :

dor da prestação. 1204. Destinatários da atenção. 1205. Natureza da prestação.


1206. Atendimento fornecido. 1207. Admissão obrigatória. 1208. Auxílio para
tratamento. 1209. Exame fora do domicílio. 1210. Certificado oficial.

Em bora tenha p erd ido a extraordinária im portância que já d esfrutou na p re­


vidência social, q u an d o o INSS propiciava um a e stru tu ra relevante de serviços de
recuperação dos trab alh adores sem condições p ara operar, a legislação prossegue
reafirm ando o seu papel na habilitação e na reabilitação profissional.
Trata-se de um a política governam ental que im plica em ações do Estado, a
serem em preendidas pelo INSS, em estreita cooperação com o M inistério da Saúde,
e tam bém co n tan d o com a cooperação das em presas (PBPS, art. 93).
Tecnicam ente, os que estão em recuperação co n stitu em um a espécie de es­
tagiários: devem ser objeto de atenção m édica em estabelecim entos para isso ad e­
quados e, ao m esm o tem po, poderem trab alh ar n u m a atuação q u e lhes assegure
a dignidade h u m an a, algum a rem uneração e a possibilidade de virem a ocu p ar a
função para eles reservado na produção econôm ica.
M uitas em presas ad m item portadores de deficiência, cu m p rin d o a cota legal
com os p ró p rio s em pregados que perderam parte da condição de trabalhar.
1201. C o n ceito básico — C onsidera-se reabilitação um direito subjetivo da
pessoa h u m an a à aquisição ou recuperação da condição de apto para o trabalho,
com o um a prestação previdenciária co n stitu íd a de atenções m édicas, serviços de
tratam ento, fornecim ento de próteses, p equenos desem bolsos em din h eiro , trein a­
m entos e o u tras m odalidades de cuidados sanitários.
1202. P rocessos d e re cu p eraçã o — O s processos de recuperação dos indiví­
duos basicam ente são de dois tipos: habilitação e reabilitação.
O prim eiro é a preparação do inapto para exercer as atividades, em d ec o rrê n ­
cia de incapacidade física adquirida o u deficiência hereditária.

C u r s o d f; D ir e it o P r e v id e n c l à m o

932 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O seg u n d o p ressupõe a pessoa ter tido aptidão e lê-la perdida p o r m otivo de
enferm idade ou acidente.
Ju rid icam en te, esse deficiente não é reabilitado e, sim , u m habilitado.
Am bas as técnicas têm p o r objetivo a educação o u a reeducação e a adaptação
ou a readaptação, conform e o caso, q u an d o o indivíduo for incapaz o u deficiente,
para p o d e r p articip ar do m ercado de trabalho e da vida social. Essas duas hipóteses
adm item tam bém q ue viver em sociedade am plia dem asiadam ente o alcance dos
serviços sociais da Previdência Social, to rn an d o -o s difusos.
1203. D ev ed o r da p re sta ção — O devedor da prestação é a U nião, represen­
tada pela au tarq u ia federal do INSS.
Ela é o su jeito passivo de q u alq u er ação que objetive esse tipo de atendim ento
e o deferim en to das prestações em d in h eiro ou em serviços.
De certa form a, o em pregador, q u an d o se obriga a receber em seu quadro de
pessoa! os p o rtad o res de lim itações.
1204. D e stin a tá rio s da aten ção — A lei assegura esses serviços basicam ente
aos segurados em caráter obrigatório, m as, n a m edida do possível, tam bém para os
seus d ep en d en tes. N este últim o caso, para q u e não se tornem pensionistas.
1205. N a tu reza da p re sta ção — Os serviços de recuperação representam os
serviços que fazem p arte do ô n u s da previdência social.
1206. A ten d im en to fornecido — De acordo com o parágrafo único do art.
89 do PBPS, o INSS garantirá: “a) o fornecim ento de aparelho de prótese, órtese
e in stru m e n to de auxílio para locom oção q u an d o a perda ou redução da capaci­
dade fu n cio n al p u d er ser atenuada p o r seu uso e dos eq u ip am en to s necessários à
habilitação e reabilitação social e profissional; b) a reparação o u sub stitu ição dos
ap arelhos m en cio n ados no inciso anterior, desgastados pelo uso n orm al ou p o r
o co rrência estran h a à vontade do beneficiário; e c) o tran sp o rte do acidentado do
trabalho, q u an d o necessário”.
1207. A d m issão o b rig ató ria — As em presas são obrigadas a ad m itir pessoas
p o rtad o ras de deficiência (PBPS, art. 93). Esse é u m grande problem a, que pode
ser local ou co nform e a atividade do em preendim ento.
O co nceito de deficiência não está m u ito claro na realidade nem n a legislação
e isso gera dificuldades operacionais ( “O s deficientes n o D ireito P revidenciário”,
São Paulo: LTr, 2008).
1208. A uxílio p a ra tra ta m e n to — A legislação prevê u m serviço em dinheiro,
com o é caso das diárias desem bolsadas se presente u m tratam en to não propiciado
no local.
1209. Exam e fora do d o m icílio — Q u ando o dom icílio do segurado não for­
nece condições para a realização dos exam es m édicos, o INSS arca com as despesas
de transporte.
1210. C e rtifica d o oficial — Diz o art. 92 do PBPS que: “C oncluído o processo
de habilitação o u reabilitação social e profissional, a P revidência Social em itirá cer­

933
C urso pr D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o U — P r e v id ê n c ia S o c i a l
tificado individual, in d icando as atividades que poderão ser exercitadas pelo b en e­
ficiário, nada im p ed in d o que este exerça o u tra atividade para a qual se cap acitar”,
Há u m m o m en to em que a autarquia federal entende com pletada a hab ilita­
ção o u reabilitação profissional do trab alh ad o r e, na m edida do possível, tam bém
a preparação p red isp o n en te para a adequação do beneficiário à convivência social.
Se o prim eiro esforço náo é fácil, o seg u n d o apresenta-se com o tarefa de difícil d e­
sem penho. Todavia, a previdência social em penha-se na recuperação das pessoas
necessitadas de in stru m en to s de realização pessoal, profissional e social.
F inalizado esse processo de recuperação é im prescindível certificá-io e isso
é feito m ediante d o cu m en to fornecido pelo Serviço de R eabilitação Profissional,
com o qual o reabilitado identifica-se p erante as em presas e a sociedade.

C u rso de D ir e it o P k e v id e n c ia k io

934 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
Capítulo CXXI

C o n t a g e m R ecíproca

1211. Noções fundamentais. 1212. Conceito elementar. 1213. Tipos de


S u m á rio :
contagem. 1214. Acerto de contas. 1215. Carência da operação. 1216. Ativida­
de especial. 1217. Exigência da reciprocidade. 1218. Critérios inerentes. 1219.
Indenização do tempo de serviço. 1220. Devedor da obrigação.

C o n stitu in d o -se, provavelm ente, na ú nica norm a de su p erd ireito (em rela­
ção a dois regim es da previdência social pública, o estatal e o p riv ad o ), a lei d is­
cip lin a a po ssib ilid ade de o trab a lh ad o r aproveitar e so m ar p erío d o s de trabalho
oferecidos para diferentes em pregadores. A m atéria é tratad a em particular, apre­
sen tan d o n o rm as p róprias, q u an d o se destacam a reciprocidade de trata m e n to e
regras particulares.
1211. Noções fundamentais — Tanto q u an to a conversão é caso particu l
da som a de tem po de serviço (PBPS, art. 57, § 59, antes da Lei n. 9.732/1998), a
contagem recíproca é espécie da adição de p eríodos subm etidos a sistem as previ­
d enciários d istintos. P articulariza p o r ser preceituada p o r n o rm a geral em relação
aos diferentes estam entos. Não só se aplica ao RGPS com o é com um a todos os
regim es do serv id o r federal, distrital, estadual ou m unicipal.
Im posição da universalização do seguro social e conseqüência do princípio
da proteção, não é inédita; com outros m atizes, objeto da Lei n. 3.841/1960 e de
p receitos an teriores, im põe-se de longa data.
Tendo trab alh ado sob diferentes planos de previdência sem ter com pletado
os req u isito s in d ividuais em cada u m deles, não tem sen tid o o trabalhador não se
ap o sen tar p o r tem po de serviço, só o fazendo pela aposentadoria p o r idade.
Isso é m ais significativo q u an d o se tratam das atividades perigosas, penosas
ou insalubres, exercidas em distin to s am bientes de trabalho, n a iniciativa privada
ou para o E stado (“C ontagem recíproca de tem po de serviço em atividades in salu ­
b res”, in RPS n. 41/359).
No passado, ao regulam entá-la, o legislador foi tím ido e preocupou-se em
lim itar os seus efeitos e isso fez atrasar a inevitável universalidade. P odendo, não

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / / — P r e v id ê n c ia S o r in I 935
generalizou n em o rd en o u, forçando os estudiosos, em m u ito s casos, a in terp re tar
sistem aticam ente a legislação. Talvez tenha sido sofreado pelo C alcanhar de Aquiles
da concepção: o acerto de contas entre os gestores. M uito difícil de ser operaciona-
lizada, até a Lei n. 9.796/1999, não havia acontecido (sic).
As regras m ínim as da contagem recíproca são as seguintes:
A situação de quem trabalhou na iniciativa privada e n o serviço público sem ­
pre gera dúvidas, em bora as regras vigentes sejam b astante sim ples. Vale lem brar:
o legislador n atu ralm en te q u er o equilíbrio dos diferentes regim es de previdência
social e p o r isso é preciso que haja um acerto de contas previsto na lei.
O tem po de serviço do Regime G eral de P revidência Social (RGPS) dos tra­
balhadores da iniciativa privada pode ser som ado ao tem po de serviço de um
Regime Próprio de P revidência Social (RPPS) dos servidores públicos m unicipais,
estaduais, federais e do DE Para isso ser preciso obter a C ertidão de Tempo de
C ontribuição (C TC ) do INSS.
Se o segurado teve sim ultaneam ente dois períod os de filiação ao RGPS, para
os fins dessa contagem recíproca é com o se tivesse tido apenas um , e um a vez
com p u tad o n um RPPS, ele não m ais serve para o RGPS.
No caso de dois períodos distin to s, p o rtan to , não concom itantes, é possível
averbar apenas um deles nu m RPPS e aproveitar o restante no RGPS (para os vários
fins, inclusive para o tem po de contribuição, carência, definição d o coeficiente
aplicado ao salário de benefício etc.).
O INSS fatia um m esm o período. Solicitado, ele em ite u m a CTC para um a
parte, a ser co m p u tad a no serviço público e a parte restante serve no RGPS.
Q uem usou a contagem recíproca n u m RPPS e sobrou algum tem po do RGPS,
desde que cum pra a carência, geralm ente de 15 anos, e os dem ais requisitos, poderá
requerer a ap o sen tad o ria por idade.
N inguém pode ter duas aposentadorias n u m m esm o regim e de previdência
social.
Alguém pode u su fru ir um benefício no RPPS e o u tro no RGPS. E, ainda, um
benefício no regim e dos m ilitares e o u tro dos parlam entares. Claro, terá de atender
aos p ressupostos legais desses regim es todos.
O servidor público m édico, professor e técnico tem direito a dois ou m ais
benefícios em RPPS; isso não vale no RGPS. Trata-se de um a exceção constitucional.
A contagem é recíproca, ou seja, o INSS considera tem po de serviço público
e o órgão pú b lico considera o tem po do RGPS.
Um período com putado (vale dizer “gasto”) um a vez não pode m ais ser usado.
A concessão da ap o sentadoria se dá sem pre no últim o regim e.
A carência é da lei do servidor público (CE art. 40) se a aposentadoria ali se
d er e n o RGPS, caso seja no INSS. Elas são diferentes.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im i r N o v a e s M a r tin e z
A inda persistem algum as dúvidas qu an to ao cô m p u to do tem po de serviço
especial co nvertido para o co m u m com vistas à ap o sen tad o ria especial. De m odo
geral, a Ju stiça F ederal acolhe essa conversão.
De lodo m o d o , com o, agora, praticam ente todas as categorias de profissionais
obtiveram m an d ad o de segurança e a m atéria foi regulam entada em cada órgão
público, é p erfeitam ente possível alguém adicionar tem pos especiais de serviço de
u m regim e com tem pos especiais de serviço de outro regim e.
Q uem tiver um PPP do RGPS com 10 anos de serviço especial exercitado
n u m a em presa privada e m ais outro PPP com 10 anos de serviço especial realizado
n u m órgão p ú b lico , p o rtan to , com u m total de 20 anos de serviços insalubres e
m ais 7 an o s d e atividade com um , o servidor público filiado em q u alq u er regim e
pod erá o b ter 35 anos de contribuição.
N ote-se que neste caso o benefício é a ap o sen tad o ria p o r tem po de co n tri­
buição (N B-42) e não a especial (NB-46). No serviço publico terá de ter 60 anos
de idade (ho m em ) ou 55 anos de idade (m u lh er) e no INSS, se su b m eter ao fator
previdenciário.
Exem plo:
10 anos + 10 anos = 20 anos.
20 anos x 1.40 = 28 anos.
28 anos + 7 anos = 35 anos.

1212. C o n ceito e le m e n ta r — Pode ser conceituada com o a som a de períodos


de trabalho p restados sucessivam ente, na iniciativa privada e p ara órgãos públicos
ou vice-versa, com vistas à im plem entação dos requisitos dos benefícios concedí-
veis pelos o rd en am en to s nos quais contem plados. Tem com o pressu p o sto lógico a
reciprocidade e o repasse m útuo de contas.
C riada, p rin cip alm ente, para a ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição, sua
extensão a o u tro s benefícios ou adoção com objeto de m ajorar os coeficientes ap li­
cáveis ao salário de benefício deve ser analisada com base nos dispositivos legais
fixadores das exigências e definidores das vantagens.
D iante da generalidade dada ao in stitu to ju ríd ico e redação extensiva, abriga­
va certa carência. Isto é, o ex-servidor público p o d erá c o m p u tar perío d o s an terio ­
res oferecidos ao serviço público, para fins de im plem entá-los no RGPS.
1213. T ip o s d e contagem — Basicam ente, distinguem -se dois tipos: 1) c o n ­
tagem entre o RGPS e o regim e do servidor, em que a reciprocidade in stitu íd a é
p ró p ria da absorção do ex-IPASE pelo então INPS; e 2) contagem en tre os RGPS
e o regim e do serv id or estadual, d istrital ou m unicipal, q u an d o a reciprocidade é
condição exigida para a adição dos períodos de filiação.
Terceiro tipo, fora do RGPS, é a conjugação de tem pos de trabalho, entre si,
d o s serv id o res federal, estad u al, d istrital ou m u n icip al, prevista na Lei M aior
(art. 40, § 3Q).

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o í í — P r e v id ê n c ia S o c i a l 937
Os benefícios auferidos com base na contagem recíproca variam conform e o
p lano no qua! o segurado esteja filiado, q uando da solicitação.
Um servidor federal pode trazer o período de filiação da iniciativa privada,
para fins de ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição, especial, p o r invalidez, p o r
idade ou com pulsória. O segurado do RGPS adiciona o tem po de serviço público
federal para todos os benefícios elencados no art. 18 do PBPS.
E preciso av ultar a finalidade da contagem recíproca. São dois os objetivos
principais: 1) co m p letar o requisito básico do benefício (geralm ente, tem po de
serviço); e 2) am pliar os coelicientes.
Nas prestações p o r tem po de contribuição, ocorre a im plem entação do re­
quisito tem poral; nas dem ais (com o a ap o sen tad o ria p o r idade, p o r invalidez ou
auxílio-doença), ela se presta apenas para fixar os coeficientes, acrescidos com o
tem po estran h o ao regim e.
A redação do PBPS é su p erio r à da CLPS. A contagem recíproca é para “efeitos
dos benefícios prev isto s” no RGPS. C orrige a im propriedade do art. 202, § 2Q, da
C F/1988, q u an d o falava em “tem po de co n trib u içã o ” e, na verdade, queria dizer
tem po de filiação. Só não dizia com o se faria a com pensação financeira entre os
diversos regim es previdenciários, deixando a explicação para o regulam ento. A
Lei n. 9.528/1997 alterou a redação do art. 94 do PBPS, su b stitu in d o o “tem po de
serviço” p o r tem po de contribuição (já com vistas à EC n. 20/1998).
Essa contagem recíproca de tem po de serviço é direito subjetivo co n stitu cio ­
nal, com parece no art. 201, § 99, e não pode ser m odificada p o r lei ordinária.
Sobre o assu n to , a Lei n. 9.032/1995, alteran d o a redação do art. 45 do PCSS,
acresceu-lhe u m § 3®, o qual dita: “N o caso de indenização p ara fins de contagem
recíproca de que tratam os arts. 94 a 99 da Lei n. 8.213, de 24 de ju lh o de 1991,
a base de incidência será a rem uneração sobre a qual incidirem as contribuições
para o regim e específico de P revidência Social a que estiver íiliado o interessado,
conform e d ispuser no regulam ento, observado o lim ite m áxim o previsto no art. 28
desta Lei”.
Q uer dizer, o atual servidor público, se quiser c o m p u tar tem po de serviço
filiado ao RGPS com o c o n trib u in te individual e não dispuser da prova de haver
recolhido as con trib u içõ es de então, deverá, segundo o preceito, calcular 20% da
base de cálculo, fixada no teto pela O rdem de Serviço INSS/DSS n. 55/1996.
A contagem reciproca de tem po de serviço sofreu m odificações conceituais
com a Lei n. 9.711/1998 (RPS, art. 123) e Leis ns. 9.528/1997 e 9.796/1999 (acerto
de contas), bem com o pela MP n. 2.187-12/2001.
1214. A certo d e co n tas — Em norm a tida com o letra m orta até a Lei n.
9.796/1999, presente no art. 202, § 2a, da C arta M agna antes da EC n. 20/1998,
a lei básica tratava do acerto de contas entre os diferentes gestores. Estabelecia
evidente parâm etro: o ente concessor do benefício deve ser o recep to r das c o n tri­
buições vertidas ou não (alguns Estados e M unicípios, m esm o a U nião até a Lei n.

C urso de D ir e it o P R n v iD E N C iA R io

938 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
8.112/1990, não exigiam co n tribuições) pelos regim es expedidores das certidões
de tem po de serviço. C om a Lei n. 9.796/1999, esses passos foram d ados e iniciou­
-se p roced im en to de acerto de contas entre a U nião e os dem ais entes da federação.
1215. C a rê n c ia d a o p e ra ç ã o — A carên cia é n ú m e ro m ín im o de c o n tri­
b u içõ es m en sais ex ig id as para a fruição de d e te rm in a d a p restação (PBPS, arts.
24 a 27).
C ada benefício reclam a ou não período de carência, com pletado juntam ente
com os dem ais requisitos necessários à respectiva prestação. A cada tipo de bene­
fício co rresp o n d e a carência, p ró p ria dele. Incidentalm ente, algum as prestações a
d ispensam (PBPS, art. 16,1 a V).
A co n tag em recíproca, isto é, a som a de tem pos de serviço de regim es dis­
tin to s, per se exigia carência pró p ria, de três anos. Exem plificava-se: com 34 anos
de serviço p ú b lico , segurado do sexo m asculino p o sterio rm e n te filiado ao RGPS
e nele há dois anos, p o rtan to , com 36 anos de trabalho, não tinha ainda direito à
ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição. Da m esm a form a, com oito m eses de
trabalho pú b lico e há q u atro m eses na iniciativa privada, não podia o b ter o auxílio-
-doença com a som a dos tem pos de serviço, em razão do im posto pelo art. 25, I,
do PBPS. Só faria ju s ao benefício, m ediante essa contagem especial, após três anos
de atividade privada (e, nesse caso, teria com pletada a carência bem antes, não
n ecessitando da reciprocidade).
O p eríodo de carência da contagem recíproca havia de ser integralizada quando
da solicitação do benefício. Nesse caso, não a tinha quem trab alh o u , nesta ordem ,
dois anos em atividade privada, trin ta anos em serviço público e, após p erd er a
qualidade de segurado, m ais dois anos em atividade privada, devendo c o n trib u ir
m ais um ano para inteirá-la (raciocínio, evidentem ente, válido para a integralidade
do p erío d o de carência, conform e o art. 142).
O exigido era para o benefício; antes disso, o segurado podia requerer a certi­
dão de tem po de serviço (C ircular INPS n. 621-0005, de 2.12.1987).
A M edida Provisória n. 1.891-8/1999, em 2002 ainda tram itan d o no C o n ­
gresso N acional, ex vi da EC n. 32/2001, pôs fim ao disposto n o caput e parágrafo
ú n ico do art. 95.
1216. A tiv id ad e esp ecial — Não há dúvida q u an to ao cô m puto do serviço
público (em particular, o federal) para fins da ap o sen tad o ria p o r tem po de c o n tri­
buição. O problem a é saber se certo lapso de tem po com um ou especial pode ser
so m ado ao de atividade especial do RGPS (com ou sem conversão).
Se o segurado exerceu n o órgão público um a das ocupações contem pladas no
A nexo IV do D ecreto n. 2,172/1997 (RPS, A nexo IV), o in terregno pode ser adicio­
nado respectivam ente com período de igual atividade exercida na em presa privada.
A com binação da contagem recíproca com a conversão de tem po de serviço
não é estran h a p o r vários m otivos: 1) o art. 2° da Lei n. 6.226/1975 falava em b e­
nefícios da LOPS; 2) a Lei n. 6.887/1980 m encionava “ap o sen tad o ria de qualquer

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia f 939
espécie”; 3) o art. 94 do PBPS diz “benefícios previstos no RGPS” ( “Soma de Tempo
de Serviço C o n v ertid o ”, in Supl. Trab. LTr n. 105/84).
Dizia o art. 75 da CLPS: “O segurado do sexo m asculino beneficiado pela
contagem recíproca de tem po de serviço n a form a deste capítulo não faz ju s ao
abono de p erm anência em serviço de que trata o item 1 do art. 3 4 ” (art. 6° da Lei n.
6.226/1975). Tratava-se do abono de perm anência em serviço do segurado do sexo
m asculino com 30 an o s de filiação ao então regim e urbano; se do sexo fem inino,
com esse p erío d o de trabalho fazia ju s à aposentadoria p o r tem po de contribuição
e ao m esm o abono.
Q uestão não in teiram en te pacífica é saber se o tem po de atividade perigosa,
penosa ou insalubre, obtido por força de conversão, pode ser utilizado. Em seu art. I a,
a Lei n. 6.887/1980 fala em “aposentadoria de q u alq u er espécie”; não lim itando,
então, as condições, ela faz parte da legislação p ertin e n te a que se refere o artigo.
O art. 57, § 39, do PBPS, porém , m enciona “para efeito de q u alq u er benefício”.
A rigor, q u an d o da edição da lei in tro d u to ra da contagem recíproca (Lei n.
6.226/1975) não havia conversão de tem po de serviço, e a alusão à especial não
seria p ertin e n te à ap o sentadoria especial.
1217. E xigência da re cip ro cid ad e — D ispunha o art. 3Q do Projeto de Lei
resultante na Lei n. 6.226/1975 estender-se aos Estados e M unicípios a contagem
recíproca. O arligo foi vetado, m as restabelecido pela Lei n. 6.864/1980, reclam an­
do com o condição para o INSS contar o tem po de serviço prestado para esses entes
políticos; estes, p o r sua vez, considerarem tam bém o tem po de filiação ao RGPS.
N outras palavras, cada Estado ou M unicípio deverá assegurar a reciprocidade
para o INSS p o d e r aceitar o tem po de serviço executado a esse Estado ou M unicí­
pio ( “C ontagem Recíproca dos Servidores E staduais e M u n icip ais”, in Supl. Trab.
LTr n. 100/80).
1218. C rité rio s in e re n te s — O art. 96 do PBPS estabelece regras para a apli­
cação da contagem recíproca de tem po de serviço, praticam ente rep ro d u zin d o o
art. 4a da Lei n. 6.226/1975 e art. 72 da CLPS.
A legislação p ertin en te referida é o PBPS, para os trabalhadores filiados ao
RGPS e cada um a das leis regentes do vínculo laboral-previdenciário do servidor;
para os federais, a Lei n. 8.112/1990.
Seguindo os term os do art. 202, § 2a, da Lei F u n d am en tal de 1988, o dispo­
sitivo falava em “tem po de co n trib u içã o ”. O correto, porém , seria dizer “tem po
de filiação”; tanto o servidor qu an to certos trabalhadores rurais não efetivaram
con trib u içõ es, e, sem dúvida algum a, a disciplina refere-se tam bém ao passado.
C onsoante o inciso I, n ão haverá contagem em dobro ou em condições espe­
ciais. C ircunstâncias essas não necessariam ente explicitadas, inexistindo p aradig­
m a no regim e u rb an o -ru ral, o tem po de guerra ou o de licença-prêm io, vantagem
característica do servidor público, deve ser considerado sim ples e não em dobro.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

940 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
T am bém não se pode co m p u tar o cu m p rid o em caráter especial. Não é ap ro ­
veitável, p o rtan to , a conversão de tem po m arítim o em terrestre e do tem po de
aero n au ta (CANSB, 1.44, a).
O dispositivo legal sobre o assunto deve ser en ten d id o , obviam ente, com o
n o rm a su b m etid a ao tem a contagem recíproca de tem po da atividade obreira e
não com o o b stáculo à fruição dessas épocas, n a hipótese d e o laborista preencher
todos os req u isito s em am bos os regim es previdenciários. Q uem trabalhou para a
iniciativa privada e para o órgão público, sim ultaneam ente, d u ra n te 35 anos, tem
direito a d u as ap o sentadorias p o r tem po de contribuição.
C onsagra-se a ideia de consum içâo de tem po de serviço. O período de traba­
lho, de filiação ou de contribuição, utilizado n u m regim e de previdência social não
p o d e ser aproveitado em outro. Em bora a disposição fale em “a p o se n ta d o ria”, o
e n te n d im e n to é m ais ab ran g en te, não se p re sta n d o para q u a isq u e r fins o u b e n e ­
fícios ( “Benefício Previdenciário do E statutário A posentado com Base na C onta­
gem R ecíproca que Volta ao Trabalho”, in Supl. Trab. LTr n. 49/86).
1219. In d e n iz açã o do tem po de serv iço — O tem po de serviço an terio r à
liação obrigatória é considerado para os fins dos benefícios previdenciários (PBPS,
art. 55, § 1Q). A n o rm a é despicienda; para aquele período ser concedido em c o n ­
dições norm ais, é preciso ocorrer o recolhim ento da contribuição atualizada.
O PBPS foi alterado pela Lei n. 9.528/1997: “O tem po de serviço an terio r ou
p o sterio r à o b rig ato riedade de filiação à Previdência Social só será contado m e­
diante in d en ização da contribuição corresp o n d en te ao período respectivo, com
acréscim o de ju ro s m oratórios de u m p o r cento ao m ês e m ulta de dez p o r c e n to ”.
A co n trib u ição originariam ente devida à Lei n. 7.175/1983, m encionada no
art. 55, § 2°, do PBPS, e regulada no art. 189 do R egulam ento dos Benefícios (sic),
resu lto u in teiram en te superada pela nova redação dada ao art. 45 do PCSS, e nos
term os da MP n. 1.523/1996.
Os seg urados estão obrigados, em relação ao m ês de com petência reco n h eci­
do, ao pagam ento de ju ro s de m ora de 0,5% (ab an d o n ad a a m alfadada ideia da Lei
n. 8 .383/1991) e m u lta au to m ática de 10%. D evendo-se lem brar, n a oportu n id ad e,
inexistirem , n as d u as norm as legais citadas, m enção à correção m onetária dos 36
salários de co n trib u ição determ in an tes da base de cálculo da referida contribuição
(em bora prevista a m encionada atualização nas O rd en s de Serviço INSS/DSS ns.
48, 50 e 55, de 1996), e, ainda, de a possibilidade da hodiernização da base de
cálculo, im posta pela Lei n. 9.032/1995, possivelm ente estar co n tra rian d o o ato
ju ríd ic o perfeito.
Até a Lei n. 9 .5 28/1997 (revogou o inciso V do art. 96), o tem po de trabalha­
d o r ru ral a n terio r a 25.7.1991 era considerado. Dizia a lei ser co n tad o sem recolhi­
m entos; m as, sim u ltan eam en te, fixava regra injusta, ou seja, a de fazê-lo cum prir
essa carência; esta, p o r definição, im p u n h a o recolhim ento das contribuições.
Afirm ava o art. 192 do RBPS: “O tem po de serviço prestado pelo trabalha­
d o r ru ral an terio r à com petência novem bro de 1991 será reconhecido desde que

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o U — P r e v id ê n c ia S o d a ! 941
devidam ente com provado, in d ep endentem ente do recolhim ento das contribuições
a ele co rresp o n d en tes”, m as ao regrar a contagem recíproca de tem po de serviço,
exige a contribuição no p erío d o de carência (RBPS, art. 200, V). E essa carência só
a p artir de l e.11.1991 (RBPS, art. 23, parágrafo único).
D iferentem ente da Lei n. 6.226/1975 e do art. 73 da CLPS, a Lei n. 8.213/1991
assegura o direilo à ap o sentadoria p o r tem po de serviço proporcional, aos segura­
dos do sexo fem inino e m asculino, com a contagem recíproca do tem po de serviço.
Além disso, ressalva ou tras situações de redução do tem po de trabalho previstos
em lei (v. g., apo sen tad o rias especiais e específicas do ex-com batente, professor,
aeronauta, jo rn alista e ferroviário).
Não singularizava a C arta M agna, ao contem plar essa vantagem , no últim o
parágrafo do art. 202. G arantia a Lei M aior o direito e propiciava a contagem re­
cíproca; não preceituava este últim o benefício só se aplicar à aposentadoria plena.
C om pensadas financeiram ente as entidades gestoras, lei obstando a fruição do
acréscim o do tem po de serviço será nitidam ente contrária ao desejo do C onsti­
tu in te de 1988.
Regra-se o p eríodo trabalhado ap u rad o com base na contagem recíproca, na
hipótese de a som a resultar superior a 30 ou 35 anos, quando, nos term os do art. 53,
I e II, do PBPS, o obreiro, m u lh er ou hom em , tem 100% do salário de benefício.
A n o rm a integrava os arts. 74 da CLPS e 53, § 4 a, da Lei n. 6.226/1975, prova­
velm ente com vistas à Lei n. 5.890/1973. Ela m andava acrescer percentual a quem
ultrapassasse o tem po de serviço m áxim o (CLPS, art. 116).
Todavia, dificilm ente o efeito se m antém , em face de a Lei n. 6.210/1975 re ­
vogar o acréscim o em 1975.
O u tra hipótese, b astante viável, é a adição dos tem pos de serviço particular
e público su p erar o tem po m áxim o exigido e, então, o segurado, para o u tro s fins,
ten tar separar a parte excedente do tem po prestado na iniciativa privada para, com
nova filiação e co n trib u ições, obter a aposentadoria p o r idade.
Dá-se exem plo: o segurado com 22 anos de INSS e 18 anos de serviço público,
aposentado pelos cofres estatais, u ltrapassando em cinco anos o tem po reclam ado,
não poderá utilizar-se d o s cinco anos privados para som á-lo a tem po m ais recente
e com pletar a carência para a aposentadoria p o r idade.
Em bora nào claram ente, o dispositivo acena para a unicidade do tem po de
serviço na contagem recíproca, pois, em p rincípio (não lora o com ando), se esses
cinco anos fazem parte inlegrante dos vinte e dois anos (o segurado trabalhou
n u m a em presa cinco e n o u tra, 17 anos), ele poderia utilizá-los para co m pletar o
direito a o u tra aposentadoria.
1220. Devedor da obrigação — Cabe ao INSS receber o pedido do benefício,
estim á-lo, concedê-lo e m antê-lo segundo a Lei n. 8.213/1991, com o se o segurado
tivesse sido su jeito todo o tem po ao RGPS.

C urso de D ir l it o P k e v l d e n c iA r io

942 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
De igual m aneira, agirá cada M unicípio, Estado ou o D istrito F ederal e a
U nião. C om pletados os pressu p o sto s n o regim e de cada u m desses entes políticos,
eles deferirão a prestação e m antê-la-ão.
C aso o E stado ou M unicípio não possua o regim e p ró p rio aludido n o art. 12
do PBPS, au to m aticam ente, filiados seus servidores (caráter especial) ao RGPS,
não há falar em contagem recíproca de tem po de serviço e seus regim es. Os lapsos
de tem po, então p erten cen tes a um m esm o sistem a (RGPS), são sim plesm ente
adicionados, com o se fossem da iniciativa privada, “C aráter especial” porque não
aplicará o final do n orm ativo, ou seja, o benefício tem de ser calculado segundo os
critérios do art. 40 da Carla de Transição D em ocrática.
Pode aco n tecer de, p reen ch id o s os requisitos legais, o segurado fazer parte, si­
m u ltan eam en te, dos dois regim es, isto é, o público e o privado, o correndo assim a
d u p la filiação (vinculação, no dizer errado da lei). E videntem ente, só fará jus a um
benefício (não p o d en d o os lapsos de tem po concom itantes ser som ados e devendo
um deles ser desprezado e até eventualm ente aproveitado n o u tra circunstância) a
ser concedido pelo órgão gestor com poder legítim o.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o r i ti l 943
Capítulo CXXII

E f e it o s da A po sen tação

Su m a r i o : 1221. Evolução da questão. 1222. Medida Provisória n . 1.523/1996.

1 223. Possíveis indagações. 1224. Carta de comunicação. 1225. Ciência da em­


presa. 1226. Ratificação do ato. 1227. Factum princípis. 1228. Data da conces­
são. 1229. Ponto de vista judicial. 1230. Inovações da Lei n. 9.528/1997.

Um problem a em aberto, na d o u trin a e ju risp ru d ên c ia, postado na linha lim í­


trofe entre o D ireito do Trabalho e o D ireito P revidenciário, diz respeito a saber se
a concessão de ap o sen tadoria per se rom pe o co n trato de trabalho.
A Lei n. 9.528/1997 alterou a redação do art. 453 da CLT e fixou regras tra n ­
sitórias (para os em pregados de estatais) e perm an en tes sobre o assunto, aletando
significativam ente a discussão.
1221. E volução d a q u e stã o — À exclusão do in terregno m ediado entre a
M edida Provisória n. 381/1993, e su b seq u en tes reedições nos três m eses seguintes,
finalm ente convertida na Lei n. 8.870/1994 e, aparentem ente, até o dia 13.10.1996,
a respeito da necessidade de o em pregado afastar-se do trabalho para requerer e ter
deferida a ap o sentadoria p o r idade, p o r tem po de contribuição ou especial, preva­
lecia o disposto no art. 4 9 ,1 , b, do PBPS. Isto é, restabeleceu-se a situação vigente
entre a LOPS e a Lei n. 6.887/1980 e, no intercurso entre a Lei n. 6.950/1991 e a
M edida Provisória n. 381/1993.
Vale dizer, atualm ente, m esm o com a Lei n. 9.528/1997, para ter outorgado
o benefício previdenciário, o em pregado não precisa prom over o ro m p im en to do
vínculo em pregatício. Se o em pregador o fizer sponte própria, corre o risco inerente
à possibilidade de o ped ido de aposentadoria representar, im plícita, a vontade do
trab alh ad or de p reten d er desfazer a relação laborai. Q uestão sum ariada na d o u tri­
n a p o r Arion Sayâo Romita ( “A posentadoria do em pregado. Efeito sobre o contrato
de trabalho. C om plem entação da aposentadoria a cargo de entidade filantrópica de
previdência priv ad a”, in Revista LTr n. 57-4/417).
1222. M ed id a P ro v isó ria n. 1 .5 2 3 /1 9 9 6 — A M edida P rovisória n. 1 .5 2 3 ­
-0/1 9 9 6 e três reed içõ es, isto é, até 10.1.1997, s u b s titu iu o art. 138 do PBPS (o

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

944 W ÍH íiim ir N o v a e s M a r í i n e s
q u al tratav a de o u tro a ssu n to ) pela seg u in te redação: “O ato de co ncessão de
b en efício de ap o se n ta d o ria im p o rta ex tin ção do v ín cu lo e m p re g a tíc io ”.
Esse preceito im perativo conviveu de fato com o m en cio n ad o art. 4 9 , 1, b, do
PBPS, a reclam ar in terpretação, m áxim e levando-se em conta o fato de m u ito s se­
gurad o s terem req u erido o benefício até 13 de o u tu b ro de 1996, véspera da eficácia
da alu d id a n o rm a provisória e a prestação vir a ser deferida p o sterio rm en te, sob seu
im pério, destarte, afetando a volição inicial do requerente.
À falta de regulam entação, problem as relativos ao deferim ento do benefício e
seus efeitos laborais p reocuparam as em presas. Só resolvidos pela Lei n. 9.528/1997.
1 2 2 3 . P o ssív e is in d a g a ç õ e s — A pós 1 4.10.1996, n ão se a lte ro u o p ro c e d i­
m en to d o INSS na c o n c e ssã o d e a p o s e n ta d o ria s . N ão p o d e ria e x ig ir e x p re s ­
sa m e n te o d eslig am en to do em p regado, ou seja, im p o r ao seg u rad o o p ed id o de
d em issão d a em p resa, a fim de lib e ra r o benefício. D everia reclam ar ratificação
do p ed id o , se a d ata d este foi a n te rio r à M edida P rovisória e, n esta h ip ó tese,
cab en d o d efin ir-se o term o a ser co n sid erad o para fins de té rm in o do vín cu lo : a)
d ata do re q u e rim e n to inicial, q u a n d o o em p reg ad o não tin h a n ecessid ad e de se
d em itir; e b) data da ratificação, após a publicação da M edida P rovisória, q u an d o ,
leg alm en te, o seg u rad o h av eria de se afastar do em prego p ara a efetivação do b e ­
nefício. S ilen cian d o a respeito, sim p le sm e n te co m u n ic a n d o a con cessão a p a rtir
de tal data.
Na h ipótese de a au tarq u ia não con d icio n ar a concessão ao desligam ento:
1 — a em presa está autorizada a co n sid erar term inado o vínculo em pregatício, a
p artir da data da ciência da concessão, liberando ao su b o rd in ad o os depósitos do
FGTS m ed ian te o C ódigo 05 (100% ), sem pagar os 40%? II — não havendo ciência
do despacho da ap o sentadoria de parte do em pregado, e o correndo a continuação
da prestação de serviços, in d ep en d e n tem en te da vontade do em pregador, será le­
gítim o co n sid erar rescindido o co n trato de trabalho p o r ju sta causa? III — nesta
últim a hipó tese, a data da rescisão c o n tra tu al será retroativa à do deferim ento do
benefício, ou a relativa ao con h ecim en to da aposentação, se ele não co m u n ico u o
fato à em presa? IV — n a prim eira hipótese, su b sistin d o reclam ação trabalhista, há
possibilidade de a em presa ser co n d en ad a a reintegrar o em pregado, ten d o em vista
a divergência d o s dispositivos legais retrom encionados?
R em anescem poucas dúvidas sobre a em presa p o d er renovar o co n trato de
trab alh o com os aposentados.
1224. C arta de co m u n icação — Em d ecorrência da redação dada ao art. 138
do PBPS (d isp u n h a sobre o trab alh ad o r e o em pregador ru ral objeto da LC n.
11/1971 e Lei n. 6.26 0/1975), a p artir de 14.10.1996, inclusive, com o vinha fa­
zendo desde a m en cio nada Lei n. 8.870/1994, o INSS inform a o em pregado e a
em presa sobre a concessão da ap o sen tad o ria p o r idade, ap o sen tad o ria p o r tem po
de co n trib u ição e ap o sen tad o ria especial (esta últim a com vistas ao § 6° do art, 57
do PBPS, com a redação dada pela Lei n. 9.032/1995, na qual vedada a volta ao tra­
balho na m esm a atividade, p o r parte do percipiente desse benefício excepcional).

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 945
O d o cu m en to configura a DIB, frequentem ente coincidente com a DER e faz
m enção — a p artir de 14.10.1996 — à Data de D espacho do Benefício — DDB.
C ertam ente, sem q u alq u er alusão a efeitos laborais, com o a cessação do elo tra­
balhista, obrigação de pagar o aviso-prévio co ntem plado no art. 487 da CLT ou
desem bolsar os eventuais 40% do FGTS, p o r se trata r de m atéria estran h a à relação
jurídica de previdência social, m as im portante para a definição dos deveres do em ­
pregador em relação ao trabalhador.
O INSS silencia sobre a data da extinção do liam e laborai, pelo m esm o m otivo,
em bora devesse d iscip linar sobre o polêm ico (exato) m om ento da aposentação. Ao
m enos, co n firm ar u sos e costum es, a prática adm inistrativa de considerá-la co n su ­
m ada q u an d o da percepção do valor inicial na rede bancária.
1225. C iên cia da em p re sa — C om pelida a p reen ch er a Relação de Salários de
C o n trib u iç ã o — RSC e, p o rta n to , c ien te do anim us do se g u ra d o , na h ip ó te se
de haver extravio de correspondência ou do em pregado não lhe avisar o despacho
do benefício, a em presa poderá, p o r requerim ento, solicitar inform ações ao Posto
local do INSS.
A M edida Provisória não m odifica o procedim ento usual da autarquia em
m atéria de in stru ção de pedido de prestações. Deveria instituir, por algum tem po
(p o r ex.: 90 dias), ratificação ou retificação do requerim ento, m as a P ortaria GM/
MPAS n. 3.604/1996 em udeceu a respeito. Todavia, o im passe foi corrigido pela Lei
n. 9.528/1997, fixando prazo para isso. P or falta de com ando legal, o INSS dispensa
a rescisão con tratu al com o condição para deferir a prestação de qu em p reen ch er os
requisitos legais. Desde 15.4.1994, tal p rocedim ento lhe é obstado. E, a p artir de
14.10.1996, e até 9.1.1997, tornou-se clespiciendo.
O afastam ento do trabalho só é exigível para a ap o sen tad o ria p o r invalidez
(PBPS, art. 43). Por vontade da em presa, dá-se a extinção da relação ju ríd ica labo­
rai na h ip ó tese da ap o sentadoria p o r idade com pulsória (PBPS, art. 51).
P reten d id o o benefício, ele será concedido e se aperfeiçoará in d ep en d en te­
m en te do cenário laborai (possivelm ente q u an d o o apo sen tan d o sacar a m en sa­
lidade inicial na rede bancária). É im p o rtan te destacar esse fato. Prom ovida pelo
segurado, a concessão ocorre p o r vontade da adm inistração, m as se aquele conse­
guir, de algum a m aneira, a n u lar o despacho (principal) o efeito da rescisão acom ­
panhará a anulação (acessório). Da m esm a form a, q uando o p ró p rio INSS rever o
deferim ento desfará o ro m pim ento do vínculo em pregaticio. Só a concessão regu­
lar e legítim a, aperfeiçoada com a publicidade das partes, e a percepção inicial dos
valores, liquida a relação trabalhista.
1226. Ratificação do ato — C om o asseverado, o INSS não estava im pondo —
em bora devesse fazê-lo — a ratificação do pedido. Se a solicitação ocorreu antes de
14.10.1996, a data do térm ino do vínculo em pregaticio é a da ciência da concessão
do benefício, e não a data de entrada do requerim ento, obrigando a em presa a
acautelar-se q u an to ao recebim ento da carta de com unicação, recom endando-se
proto co lar a sua en trada na recepção do estabelecim ento, com vistas à definição
dessa notificação.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

946 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Tam bém não será a data da ratificação, pois esta é co m p lem en to do pedido e
retroagirã à DER, sem pre qu an d o da ciência p o r parte da em presa.
Com efeito, não exigindo o INSS expressa ou im plicitam ente o desligam enio
do trabalho, a em presa está autorizada a co n sid erar desfeito o c o n tra to de trabalho
a p artir da data do co n h ecim en to da concessão do benefício, p o d en d o liberar os
depósitos do FGTS (100% ) e consectários inerentes à rescisão contratual.
1227. Factum principís — A bstraindo a hipótese de a DER ser an terio r á M e­
dida Provisória n. 1.523/1996, exam inada em seqüência, p o r não ter encetado o
fim da relação, e sim ele derivar d c factum principis, com certeza estará desobrigada
do aviso-prévio e da m u lta dos 40% indicada no art. 1 0 ,1, do ADCT.
Q u an d o se cien tificar do deferim ento da ap o sen tad o ria, ele terá sucedido
dias atrás, criando-se alguns problem as. C o n sid eran d o a DDB com o o fim do
co n trato , deparar-se-ã com lapso de tem po, de prestação de serviços e de p ag a­
m en to de salários, en tre ela e a notificação, em alguns casos su p e rio r aos dez dias
do art. 477, § 6g, da CLT. Porém , se eleger o da p u b licid ad e com o o do térm ino,
e, ato c o n tín u o , p ro ced er à form alização da rescisão, evitará a discussão em to rn o
daquele p eríodo.
Terá de p rocessar im ediatam ente os trâm ites da rescisão, caso contrário, se
após a n o tícia da aposentação m antiver-se inerte estará dan d o acolhida a contrato
tácito, obrigando-se aos ô n u s ínsitos estabelecidos na legislação laborai (v, g., p e­
ríodo aquisitivo de férias, décim o terceiro proporcional, aviso-prévio, depósitos do
FGTS e os 40% ).
Sabendo, p o r escrito, da aposentação, em prazo razoável, se o em pregado não
com u n ica o fato à em presa possivelm ente estará com etendo o ilícito abrigável no
inciso 1 do art. 482 da CLT ( “ato de im p ro b id ad e”). No dizer de Eduardo Gabriel
Saad, “todo aquele que não se coaduna com os padrões de m oral de u m a dada so­
ciedade e n u m dado m o m en to ” ( “CLT C o m en tad a”, 29® ed. São Paulo: LTr, 1996,
p. 359). À evidência, a dosim etria final do fato ficará inteiram en te a cargo da d o u ­
trina e d a ju s tiç a do Trabalho.
Ainda n esta h ipótese, q u an d o caracterizada, a rescisão p o r ju sta causa ope-
rar-se-á q u an d o a inform ação da aposentação chegar ao em pregador. C om o fato
determ in an te, a prática do m encionado ato de im probidade e não m ais a própria
aposentação.
1228. Data d a concessão — Poder-se-ia ad m itir o u tra data, a da concessão
(DDB), pois ela é m aterial e, n esta circunstância, qu an d o do con h ecim en to jã teria
ocorrido o fim da relação, o silêncio do trab alh ad o r p o n d o térm in o tão som ente
ao novo co n trato tácito estabelecido. De q u alq u er form a, os efeitos ju ríd ic o s serão
os m esm os.
Os dispositivos do Plano de Benefícios não são conflitantes. D ispensam o
afastam ento do trabalho com o requisito legal para o deferim ento do benefício,
m as, p o r o u tro lado, a concessão põe fim ao co n trato de trabalho. As co n se q ü ên ­
cias de ev entual reclam ação trabalhista pressupõem o exam e de dois cenários: a)

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S ocicíl 947
DER an terio r a 14.10.1996; b) DER p o sterio r a essa data e a análise do posiciona­
m ento d o u trin ário a respeito da aposentadoria; c) ro m p er o contrato de trabalho;
e d) não ro m p er o co n trato de trabalho.
Se a in stru ção do benefício foi feita sob o im pério da n o rm a então vigente (Lei
n. 8.213/1991) — ela não p u n h a a perder o em prego — e se o em pregado não rati­
ficou o pedido, sua vo n tade foi viciada e a concessão per se não extingue o contrato
de trabalho. A em presa corre o risco de ser forçada a reintegrá-lo.
Risco p eq ueno, m ensurável consoante a posição da d o u trin a — m ajoritaria-
m ente favorável à tese de o pedido de aposentadoria desfazer o co n trato de tra­
balho — e da ju risp ru d ên c ia trabalhista, co n trária à pretensão dos trabalhadores.
N esse caso, da m esm a form a, restando desobrigada do aviso-prévio e dos discutí­
veis 40% do FGTS, e de derivados.
1229. P onto de v ista ju d ic ia l — Presentes duas relações distintas, com su ­
jeito s diferenciados (em pregado/em pregador e segurado/IN SS) e outros objetivos
(trabalho/salário e ap o sentadoria), aposentação não q u er dizer vontade de afastar­
-se do convívio da em presa.
Se o req u erim en to do benefício foi proto co lad o p o sterio rm en te a 13.10.1996,
e até 9.1.1997, debaixo da M edida Provisória enfocada, dificilm ente o trabalhador
convenceria o P oder Ju d iciário do seu direito à reintegração e, m uito m enos, ao
aviso-prévio ou aos eventuais 40% do FGTS. O m esm o vale para a indenização
trabalhista. E n tretan to , a regra foi m odificada pela Lei n. 9.528/1997 e com efeitos
retroativos.
Insofism avelm ente, a nova redação dada ao art. 138 do PBPS acabava com o
vínculo em pregatício, de certa form a d im in u in d o ou p o n d o fim à célebre discussão
d o u trin ária sobre a concessão do benefício extinguir, per se, a relação laborai, res­
tabelecendo-se a situação an terio r a 14.10.1996 com a redação dada a versão da
M edida Provisória n. 1.523-3/1996.
Até 4 .1 0 .1 9 8 8 , ex vi da Lei n. 5.107/1966, os em pregados eram o p tan tes ou
não do FGTS. A pós essa data, todos são tidos com o “o p ta n te s”. Com a ap o se n ta­
ção, os antigos em pregados levantam os d epósitos do FGTS (100% ), sem fazer ju s
ã indenização do art. 477 da CLT. C onform e antecipado, d ificilm ente a Ju stiça do
Trabalho lhes assegurará este ú ltim o valor, p o r e n te n d e r ser o ped id o de benefício
v o n tad e de se afastar da em presa. Essa a ju risp ru d ê n c ia d o m in an te no p retó rio
laborai.
E n q uanto não em endada a CF, a vigente garante o direito de trabalhar; exceto
nas hipóteses de aposentadoria especial ou aposentadoria p o r invalidez, nada im ­
pede a recontratação do trabalhador na m esm a em presa ou em outra, renascendo as
obrigações e os direitos trabalhistas, a partir da data desejada pelos polos da relação.
Q u an d o ex am in o u a prim eira e dem ais reedições da referida norm a provi­
sória, o C ongresso N acional teve de apreciar as relações ju ríd icas acontecidas de
14.10.1996 em diante. D ificilm ente poderia an u lar os efeitos, pois eles estiveram
ao abrigo do ato ju ríd ico perfeito. Restar-lhe-ia convalidar as situações, e quem

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

948 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
p reten d er o aviso-prévio o u os 40% do FGTS terá de recorrer ao P oder Ju d iciá­
rio trabalhista, sem m uitas possibilidades de sucesso. Mas o C ongresso N acio­
nal agiu diferente e disciplinou o passado (afetando p articu larm en te o período de
13.10.1996 a 10.1.1997).
M edidas provisórias, en q u an to vigentes, são com o lei, e nesse sentido repre­
sen tam a v o n tad e do legislador. À polêm ica questão de saber se a aposentadoria
rom pe o co n trato de trabalho, acresce-se essa contribuição científica. Som ente no
lapso de tem po referido ele desejou esse efeito, não mais.
A redação dada à M edida Provisória n. 1.523-0/1996, e à sua terceira versão,
restabeleceu a célebre polêm ica. No l s C ongresso Brasileiro de D ireito do Traba­
lho, pro m o v id o pela IOB, no dia 22.5.1997, expusem os nossa opinião m inoritária
co n tra essa possibilidade, após o plenário ter ouvido a posição m ajoritária, de
Am auri Mascaro Nascimento, ad m itin d o o desfazim ento do vínculo em pregaticio.
O art. 453 da CLT, até a véspera da Lei n. 9.528/1997, tem sido apontado
p o r vários ju slab o ristas com o sup ed ân eo ju ríd ico aplicável à espécie para explicar
a extinção do vínculo em pregaticio. F m bora a questão seja in sitam en te laborai,
enquista-se na área co m um às duas disciplinas científicas e, p o r isso, m erece alg u ­
m as ad uções em particular.
R eproduz-se a versão original do texto, na redação dada pela Lei n. 6.204/1975:
“N o tem po de serviço do em pregado, q uando readm itido, serão co m p u tad o s os
perío d o s, ainda que não contínuos, em que tiver trabalhado an terio rm en te na em ­
presa, salvo se h o u v er sido despedido p o r falta grave, recebido indenização legal
ou se apo sen tad o esp o n tan e am en te”.
a) objetivo do preceito: Postado n a CLT, em p rincípio, p rin cip alm en te com vis­
tas ao D ireito do Trabalho, o dispositivo cuida do tem po de serviço do em pregado.
A p arentem ente, de n ada m ais. U tiliza-se da fórm ula do art. 487, § 1H, q u an d o in ­
co rp o ra o p erío d o de duração do aviso-prévio ao tem po de serviço do trabalhador
(pen san d o na relação laborai e não na previdenciária, esta ú ltim a tem seu próprio
conceito).
N ão po d eria d eix ar de ser diferente; tem po de serviço é assu n to fundam ental
na previdência social e, p o r sinal, cuidado objetivam ente no art. 55 do PBPS e
art. 58, I a XXII, do RBPS.
b) pressuposto presente: Ao alu d ir à readm issão, o preceito rep ro d u zid o acim a
adm ite ter havido ro m pim ento do co n traio de trabalho, sem especificar a causa.
Assim se refere p o r não ter sentido disciplinar o tem po de serviço sem ru p tu ra
an terio r do vín cu lo (ele seria co n tad o in in te rru p tam en te ).
N essa o p o rtu n id ad e , a lei, porém , não elenca as várias causas extintivas do
co n trato de trabalho. A referência, em seguida, à aposentadoria é en passant.
c) propósito legal: A conclusão, estreitam ente vinculada com o objetivo, é ter
p o r válido o tem po a n terio r ao dito desfazim ento do elo laborai, com vistas a certas
faculdades laborais.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 949
d) determinação dos períodos: Excedendo-se em explicações, o vocábulo “re­
ad m itid o ” reconhece trabalho anterior, e na m esm a em presa, e elucida serem os
interregnos de trabalho prestados ao em pregador, co n tín u o s ou não.
e) exceções à regra: O legislador, en tão , elenca h ip ó teses não su b m etid as
ao com ando: a) falta grave; b) receb im en to de indenização; e c) ap o sen tad o ria
esp o ntânea.
A posentado esp o ntaneam ente (as outras circunstâncias não interessam ago­
ra), não haverá o cô m puto do tem po de serviço an terio r à livre aposentação, sem
afirmar, em q u alq u er m om ento, ser essa aposentadoria espontânea d eterm in an te
do fim do vínculo em pregatício. E xatam ente porque, em seu art. 5 1 ,0 PBPS m anda
extingui-lo pela ap o sentadoria com pulsória.
1230. Inovações da Lei n. 9 .5 2 8 /1 9 9 7 — R esultado da conversão da M edida
Provisória n. 1.523/1996 e de em endas apresentadas no C ongresso N acional, a Lei
n. 9.528/1997 alterou pro fu n d am en te o cenário laboral-previdenciário. R epetiu o
§ 1Qdo art. 453 da CLT, antes com entado, co n stan te da M edida Provisória, e acres­
ceu redação dada pela M edida Provisória n. 1.596-14/1997: “O ato de concessão de
benefício de ap o sen tad oria a em pregado que não tiver com pletado 35 anos de ser­
viço, se hom em , ou 30, se m ulher, im porta em extinção do vínculo em pregatício”.
E m bora a mens legislatoris possa ter desejado alcançar apenas a aposentadoria
proporcional, a mens legis abarcou esse benefício, bem com o a por idade e a espe­
cial, pois as três não são integrais.
O texto não com porta q u alq u er dúvida: a concessão do benefício d eterm ina
a extinção do vínculo laborai.
M ais adiante, no art. 1 1, a Lei n. 9.528/1997 estabeleceu regras de transição.
O desfazim ento da relação em pregatícia para quem , tendo-se aposentado na vi­
gência da M edida Provisória, c o n tin u o u trabalhando até 9.12.1997, especialm ente
para q u em foi d isp ensado entre 13.10.1996 e 30.11.1997. Para isso, terá de, até
30.1.1998, su sp en d er a aposentadoria. Seu retorno ao trabalho terá de acontecer
até 2.2.1998, sem direito a q u alq u er “indenização, ressarcim ento ou contagem de
tem po de serviço d u ra n te o período situado entre a data do desligam ento e a data
do eventual re to rn o ”,
A lei não fala em devolver o recebido, sendo certo ap o n tar a obrigação de
devolver em relação às entidades de previdência co m p lem en tar (in fin e do caput).
N ão se aplica a quem recebeu “rescisórias ou indenizatórias, ou quaisquer
o u tras vantagens a título de incentivo à dem issão”, d im in u in d o a clientela.
N o final de 1997, o STF havia concedido lim inar a partidos de esquerda,
en ten d en d o não caber extinção do co n trato de trabalho em razão da concessão da
ap o sentadoria proporcional.

C u rso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

950 W / a d im í r N o v a e s M a r ti n e z
Capítulo CXXIII

P o s s ib il id a d e de D esapo sen tação

Su m á r i o : 1231. Pressuposto da r e n ú n c i a . 1232, Manifestações doutrinárias.


1233. Exteriorizações jurisprudenciais. 1234. Norma subordinante. 1235. Ato
jurídico perfeito. 1236. Entendimento administrativo. 1237. Interesse coletivo.
1238. Nuança moral. 1239. Inexistência de vedação. 1240. Direito de trabalhar.

D esco n stitu ir a aposentação ainda é um tem a novo em D ireito P revidenciário,


mas não in só lito nem escoteiro. M uitos trib u n ais e pareceristas tiveram de enfren-
tã-lo e tais p ro n u n c ia m en to s co n stitu em contribuição d o u trin ária para o in stitu to
ju ríd ico . D epois da n atu ral reação diante de proposta nova, antes não idealizada
nem justificada, os estudiosos passaram a considerá-la na esfera das especulações.
E n tretan to , o n ú m ero de casos e de solicitações em and am en to e serem tão fre­
q ü en tes as reflexões apresentadas obrigam a não m ais ig n o rar a possibilidade.

1231. Pressuposto da renúncia — A desaposentação tem com o p ressuposto


m aterial e ju ríd ic o certa renúncia a benefício previsto no RGPS. A m bos os in stitu ­
tos ju ríd ic o s raram en te enfocados pela d o u trin a, m erecendo detid a consideração
p o r p arte do estudioso.

Para De Plácido e Silva, in casu, é a renúncia expressa, significando ab an d o ­


n ar direito existente integralizado renunciável (“V ocabulário Ju ríd ic o ”, 4. ed., São
Paulo: F orense, 1975, p. 1346), convindo p erq u irir da possibilidade da referida
desistência e suas conseqüências. Vale dizer, é d eterm in ar o status nascido com
sua efetivação na esfera do co n tratad o com terceiros, especialm ente em proteção
social particular.

1232. Manifestações doutrinárias — Já nos m anifestam os sobre a m atéria


( “R eversibilidade da Prestação P revidenciária”, in R epertório IOB de J u ris p ru d ê n ­
cia da 2- q u in zen a de ju lh o de 1988, n. 14/88, p. 187/88). Tam bém o fez Sueli
Garcez de M artino Lins de Franco (“A perfeiçoam ento da A posentadoria”, in Jornal
do IX C ongresso Brasileiro de Previdência Social, São Paulo: LTr, 1996, p. 74) e
André Santos Novaes ( “A desaposentação é possível?”, in Tribuna do D ireito n. 436,
de fevereiro de 1997, p. 12).

951
C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l
Além do Parecer CJ/MPAS n. 27/1986, a adm inistração gestora do RGPS, o INSS
expendeu-se sobre o assunto, d eterm in an d o n a C ircular INSS n, 601.005.0/138/
1986: “a) o segurado que estiver em gozo de abono de perm anência em serviço e
p reten d er aposentar-se com o funcionário público federal, estadual ou m unicipal,
sendo necessário co m pletar o tem po de serviço para a aposentadoria estatutária
com o prazo privado, p o d erá requerer o cancelam ento do abono e a expedição de
certidão de tem po de serviço, nos term os da Lei n. 6.226, de ] 4 de ju lh o de 19 7 5 ”.
Ao m enos, ad m itiu a autarquia federal o abandono do abono de perm anência
em serviço, ap ro v eitando o tem po de serviço consum ido com esse benefício de
duração tem porária (aliás, ex tin to em 15.4.1994, pela Lei n. 8.870/1994), para a
concessão da ap o sen tadoria p o r tem po de serviço, em seqüência tem poral, ju n to
ao tesouro da União.
1233. E x teriorizações ju risp ru d e n c ia is — A p ar de decisões iterativas da JRPS
e do CRPS, no Parecer CJ/MPAS n. 70/1985, o P rocurador R onaldo Maia Marcos
op in o u pelo cancelam ento da aposentadoria de Maria do C arm o Peres dos Santos.
Em decisão de 14.10.1992, o CRPS, p o r m eio da CAj (A córdão n. 065/1992
no Processo 1APAS n. 35.151/0007611/1990), d eterm in o u a renúncia à ap o sen ta­
doria p or tem po de serviço e concessão da aposentadoria especial.
T angenciando questão específica, m as análoga, diz o art. 9Q da Lei n.
6.9 0 3 /1 9 8 3 : “Ao inativo do Tesouro N acional ou da Previdência Social que estiver
no exercício do cargo de Ju iz do Trabalho e fizer jus à aposentadoria nos term os
desta Lei, é lícito o p tar pelo benefício que m ais lhe convier, cancelando-se aquele
excluído pela o p ção ”.
Exem plifica-se com o Ato n. 119/1994, do Tribunal Regional do Trabalho da
23- Região, no qual o Juiz M anoel Alves C oelho obteve essa vantagem (in DOU
de 10.10.1994). A m esm a decisão pode ser vista n o DOU de 7.6.1995, a favor de
B enedito G om es Ferreira.
Q u er dizer, o destinatário daquela prescrição pode ter o benefício m antido
pelo INSS desfeito e, diante do silêncio da norm a, até sem a necessidade de repor
o status quo ante. D iferente pessoa, nas m esm as condições, a p rincípio, tam bém
poderia. Não se conclua, a contrario sensu, outros estarem im pedidos p o r não m e n ­
cionados na n o rm a, pois o silogism o da exclusão só é possível q u an d o o co n ju n to
com põe-se de dois elem entos em oposição, e isso não acontece no caso em tela.
Com igual finalidade, o INSS conveio em cancelar benefício cuja concessão
legíLima e regular havia sido aperfeiçoada. O p ressuposto da decisão é a segurança
atuarial e ju ríd ica do RGPS, não afetada com a renúncia. D estarte, em bora raro, o
pedido do co n sulente não co n stitu i novidade n o D ireito Previdenciário.
C aracterística fundam ental do benefício de pagam ento co n tinuado, enquanto
garantia do segurado, é sua definitividade. Vitalício, representa consistência do
direito, cristalização de seu papel e do valor. Perene, opõe-se à noção de províso-
riedade da m ensalidade laborai. Tal atrib u to é conferido enfocando-se o equilíbrio
do sistem a e tran q ü ilidade do filiado. Trata-se de norm a pro teto ra do ind iv íd u o e

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

952 W ltiíiím ij' N o v a e s M a r t i n e z


n ào da in stitu içã o . P reen ch id o s re g u lar e sim u lta n e a m e n te os re q u isito s legais,
requerida e deferida, enfim , outorgada, a prestação torna-se irreversível (pelo m e­
nos em relação à v o n tad e do segurado).
1234. N o rm a s u b o rd in a n te — Inexiste na LOPS, ou nas duas CLPS (D ecretos
ns. 77.077/1976 e 89.3 12/1984), m esm o n o PBPS, ou em q u alq u er regulam ento e
o u tra legislação conhecida, disposição expressa relativa à reversão da situação ju r í­
dica de ap o sen tad o para a de não aposentado. M uito m enos vedando esse procedi­
m ento. As p o u cas exteriorizações d o u trin árias conhecidas são aqui reproduzidas.
A interp retação usual do órgão gestor, calcada nos usos e costum es, conform e
inform ado, é pela negativa. D eferido o benefício, consum ar-se-ia a relação ju ríd ica
de concessão. L egitim am ente despachado, ele não se desfaria. Afinal de contas,
costum a-se alegar, isso n u n ca aconteceu e ninguém saberia com o reconsiderar o
ato de concessão.
1235. Ato ju ríd ic o p erfeito — Tratar-se-ia de ato ju ríd ic o perfeito, acabado,
irretocável, e in ex istiriam procedim entos adm inistrativos ou ju d iciais restabelece-
dores do estado anterior. Aliás, esse in stitu to ju ríd ic o co n stitu cio n al tem sido u su ­
alm ente invocado com o razão de decidir, e sua existência é argum ento apoiando
a conclusão a favor da negativa. A parentem ente, em circunstância algum a ele p o ­
deria ser ofendido. Por isso, é im p o rtan te d eterm in a r o seu papel no ord en am en to
ju ríd ico e, p rin cip alm ente, a possibilidade de ser invocado pelo órgão gestor, com o
m otivo para não desfazer ato in tern o de interesse do co n trib u in te.
Em seu art. 5a, XXXV, diz a CF: “a lei não prejudicará o direito adquirido, o
ato ju ríd ico perfeito e a coisa ju lg a d a ”. Tal po stu lad o centra-se entre os direitos e
garantias fu n d am en tais (em enta do T ítulo II), a p ar dos direitos individuais e co ­
letivos (em enta do C apítulo l), e, pelo rol dos 77 preceitos (sic), em que postado,
é n ítid o perceber-se referir, p rincipalm ente, à individualidade, aplicando-se, em
particular, ao tem a trazido à colação.
Não é objetivo da Carta M agna petrificar o ato jurídico perfeito, tanto quanto
o direito adquirido e a coisa julgada; ela deve palm ilhar no sentido do titular da
faculdade e não contra. A proteção oferecida (sem prejuízo de consentaneam ente
am pliada pela d o u trin a) é contra legem, ou decisão prejudicial aos interesses legíti­
m os e consolidados do indivíduo. Com o a adm inistração pode rever os seus próprios
atos, não goza do favor desse postulado; dispensa-o. Poderá sustentá-la, se acionada,
com o prova de procedim ento correto. N unca contra a volição, se legítim a, do adm i­
nistrado. Nada im pede, nem poderia obstar num a Lei M aior de Estado D em ocrático,
a afetação p o r parte do titular, enquanto isso representar o exercício da liberdade.
A lhures, afirm a-se significar im pedim ento o fato de a lei não ter previsto a
hipótese, assim não ter desejado o legislador. O elaborador da norm a não prevê
tudo; o passar do tem po e a dinâm ica da vida m oderna prom ovem adaptações à
legislação, en co rp an d o -a com a disciplina de novas situações. Q u ando se avolum a­
rem pedidos dessa n atu reza, com certeza, o P oder Legislativo terá de se m anifestar
explicitam ente.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
953
1236. Entendimento administrativo — Interpelados, co n trap õ em os técni­
cos o p o n en tes sobrevir tu m u lto adm inistrativo. Dão com o exem plo concreto o p a ­
rágrafo único do art. 56 da CLPS, no qual fixado prazo de 36 m eses para a segunda
e dem ais solicitações do então pecúlio.
Por via de conseqüência, nada obstante as m otivações do pedido se recusam
a an u lar benefício corretam ente constituído. P onderável posição dian te do silêncio
da norm a, ju risp ru d ên cia e da d o u trin a, a m erecer aprofundam ento. Mas, receia­
-se, não é a m elh o r solução.
Q uiçá os m otivos sejam outros, de ordem psicológica ou m oral, isto é, n iti­
d am ente subjetivos em relação ao aplicador da n o rm a ju ríd ica. O ineditism o da
p roposta (in d ep en d en tem en te do custo para a adm inistração, eventualm ente co­
m etid o ao interessado) estran h a pelo inusitado, O obstáculo à concepção tam bém
p o d e ser a m oralidade da pretensão; geralm ente, o p re te n d en te q u er m elhorar sua
situação e isso seria eticam ente discutível.
O tim izar o padrão de vida é p ró p rio do ser h u m an o , e, se a pretensão não
causa prejuízos a terceiros ou à coletividade, é convalidada pelo Direito.
Brevitatis causa, cita-se a escala de salários-base do art. 29 do PCSS, na qual
se constatava a progressão na base de cálculo, su p o rte do futuro salário de b en e­
fício. Era ínsita ao sistem a. Os percentuais aplicáveis ao m esm o salário de benefício
são todos ascendentes, estim ulando-se m elhores rendas m ensais iniciais. Todo o
RGPS, refletindo o regim e político e econôm ico do País, é perm eado pela ideia da
evolução.
Repete-se ad nauseam : se atuarial e financeiram ente não sobrevêm d anos à
m assa de co n trib u in tes e aposentados, e caso o p re te n d en te aja, no silêncio da nor­
ma, em conform idade com o espírito do sistem a, é coonestado pela legitim idade
do procedim ento. A rrem atando, se o legislador assim não desejasse, teria vedado
expressam ente.
P o stando-se a respeito do Parecer n. 27/1986, D M z Justiniano de Santana as­
sim se m anifesta: “3. A d argumentandum, não tem sen tid o que a Previdência Social
urbana m an ten h a d u ra n te 10 (dez) anos tal aposentadoria para, depois, cancelá-la
apenas por sim ples conveniência do interessado”.
Acresce esse parecerista: “4. Se, nessa altura, tal situação fosse desfeita, des­
p rezando-se inclusive o longo tem po decorrido, estaríam os não só abrindo prece­
d en te perigoso com o incentivando a instabilidade adm inistrativa, o que fugiria aos
objetivos desta C o n sultoria Ju ríd ica”.
F inalm ente, conclui: “5. Im põe-se, assim , objetivam ente, seja cum prido, no
p resente caso e o u tro s iguais o u assem elhados, o disposto na legislação pertinente,
no sen tid o de que não pode ser co n tad o em u m regim e o tem po de serviço que já
ten h a sido contado para aposentadoria de o u tro ”.
Esse respeitável ponto de vista, e outro, a seguir exam inado, dão conta da rea­
ção em ocional de quem se vê a braços com a questão pela prim eira vez. Por isso,
am bos m erecem ponderações. Q uem sabe, com isso, possa aproxim ar-se da verdade.

C urso de D ír e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Inexiste “sim p les” conveniência de aposentado; o cancelam ento pretendido é
direito ou não. Se for, subsistirá exercício de faculdade legal. M uito m enos conve­
niência do en te ad m inistrativo. Este se posta à disposição dos titulares do direito,
e, n o s exatos term os da lei, tem de atendê-los, descabendo-lhe fazer prevalecer os
seus interesses sobre os dos beneficiários.
O direito é d in âm ico e igual para todos os segurados posicionados na m esm a
situação. E in o p o rtu n o lalar em precedente; presente, há de se o esten d er a quem
estiver sob igual cenário. S ubsistente, não pode ser su b traíd o de ninguém , com o se
fosse odioso privilégio a ser extirpado do ord en am en to ju ríd ico .
Tal ótica d istorcida representa enfoque singelo na análise de problem a de
respeitável indagação científica. Preocupação do gestor deve ser no sen tid o de tal
p ro ced im en to nào cau sar prejuízos aos dem ais beneficiários e nada mais.
O tem po co n su m ado, aludido na norm a referenciada, é p ertin e n te a benefício
m an tid o . C om o cancelam ento, restituição d o recebido, q u an d o exigido, desfaz-se
o ato ju ríd ic o e o tem po de serviço p o d e ser reutilizado. O im p o rtan te no deslinde
da qu estão é, n o s term os da lei, não causar prejuízo à adm inistração, à com unidade
e ao equilíbrio do sistem a — ju ízo operado pelo elaborador da no rm a e não pelo
aplicador.
Se os beneficiários pudessem desfazer a proteção obtida, m esm o em lim itadas
o p o rtu n id ad es, reflexionam os dirigentes, trariam in tran q ü ilid ad e à entidade e ela
se veria a braços com sobre-esforço despiciendo.
Tais arg u m en to s não resistem à breve conjetura. O órgão gestor em preende
ativídade-m eio e não fim; in stru m en to , ela deve servir aos ad m in istrad o s e não
p o star conveniências sobre os interesses destes.
Precisa adaptar-se às circunstâncias e não os beneficiários fazê-lo; se isso o n e­
rar os cu stos, q u em os paga, em ú ltim a instância, é a co m u n id ad e d e segurados.
A evidência, n in g u ém p roporá reeditadas anulações. Bastaria estabelecer p e­
río d o m ed ian d o entre dois gestos dessa natureza, a ser observado pelos in teressa­
dos, com o acontece com o exem plificado pecúlio. N ào estranharia se o requerente,
além de re stitu ir o auferido, devesse arcar com as despesas operacionais.
C ausa m ais p ro fu nda desse posicionam ento adm inistrativo reside no fato his­
tórico, ainda observado à risca: a previdência social é erigida pela A dm inistração
Pública, m ais p ro p riam en te pelos previdenciários — sem au scu ltar os beneficiá­
rios, cen tro s de estu d os, universidades, sindicatos etc. — e, n atu ra lm e n te , n u m
processo de autodefesa, sobrepõe sua vontade ao interesse da clientela securitária,
ú n ico m otivo de ser, não só do órgão gestor com o da instituição com o um todo.
Dito isso sem se esquecer de estar su bm etida à cogência de n o rm a de caráter
público. Se o legislador se tivesse m anifestado expressam ente, vedando a desapo-
sentação, estas afirm ações perderiam sentido.
1237. Interesse coletivo — O interesse coletivo, tão decantado, é expressão
destitu íd a de significado prático e ju ríd ic o , se não se referir à u n idade co n stitu in te
da coletividade, o indivíduo.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o Ji — P r e v id ê n c ia Sociizl
A q uem se p reten d e proteger, na previdência social, com a cham ada im perati-
vidade da n o rm a pública, senão a volição pessoal do ser hum ano? A tende-se à cole­
tividade q u an d o se oferta à pessoa o seu legítim o direito; com parado ao indivíduo,
o coletivo é m assa n u m érica abstrata. Inexiste interesse público previdenciário não
particularizado na figura de um segurado ou dependente.
Aliás, q u an d o a n o rm a deseja a proteção da sociedade, caso da eleição dos
dep en d en tes do segurado (este não tem o p o d er de in d icar o u tras pessoas) e da
ap o sentadoria p o r idade com pulsória aos setenta anos (ele não pode ficar na em ­
presa), ela o diz expressam ente. Tal com pulsoriedade da ju b ilação dos setuagená-
rios é prova insofism ável da liberdade constitucion al de trabalhar e de não haver
obrigatoriedade de aposentação (exceto para a hipótese lem brada e justificada pela
idade avançada do trab alh ad o r e p resen te incom patibilidade para o trabalho).
Talvez, então, o interesse coletivo fosse a tran q ü ilid ad e das relações jurídicas.
Isso, em m u ito s casos, não passa de eufem ism o para preservar o sossego do Estado.
N em teria sentido, realm ente, p o d er o segurado aposentar-se e desaposentar-se
qu an tas vezes quisesse.
A adm inistração não é fim em si m esm a, e sim in stru m en to de realização da
proteção social. C om o atividade-m eio, tem de se p rep arar para aposentar e desa-
po sen tar alguém ; se quiser, n o rm atizando a exigência, se desejar, cobrando taxa
do req u eren te (ele está dan d o trabalho...), m as quem tem de ficar tranqüilo é o
co n trib u in te e não o gestor.
1238. N u an ça m o ral — O u tra alegação, de n u a n ç a m oral. Refere-se à in ten ­
ção do interessado: geralm ente solicitar, m ais tarde, benefício de m aior valor. O
elem ento ético é in fo rm ador do legislador; ele deve sopesá-lo. Se a lei perm ite, é
legítim a a pretensão do autor. A discussão da validade científica do in stitu to ju r í­
dico deve o co rrer an tes da transform ação da vontade política em norm a positivada.
Até a edição da M edida Provisória n. 1.523/1996, a Lei n. 6.903/1981 autorizava o
ju iz Tem porário a co n trib u ir d u ra n te 25 anos com base no salário m ínim o e, após
cu m p rir p erío d o de carência de cinco anos, aposentar-se recebendo algo em to rn o
de 50 salários m ínim os... (sic).
Inexistente n o rm a positivada pertin en te, cabe p erq u irir outras fontes, pers-
c ru tan d o os princípios, raciocinando na esfera da filosofia e papel da previdência
social. M otivos para se desfazer o ato — não im portando se subjetivos ou não — ,
p o r vontade do titular, são m uitos: arrep en d im en to , inadaptação à aposentadoria,
inconform idade com o m o n tan te, transferência para outro m om ento. N ão im porta.
R etratação da vontade não é atitu d e singular; anulação de atos ju ríd ico s não su r­
p reende ninguém ; m odificação de situações co nstituídas é sem pre possível, cabível
e válida, em cada caso.
Enfim , abdicar de faculdades renunciáveis é direito consagrado. Instituições
provectas e respeitáveis extinguem -se; entre elas, o sacrossanto casam ento. Tal ati­
tude pressu p õ e abdicação em favor de situação m elhor, no com um dos casos, sob
juízo do interessado. Im pedir a abstenção representa sacrificar o indivíduo.

C urso dl D ir e it o P r i :v i p e n c i A k i o

956 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O ap erfeiçoam ento do ato adm inistrativo in tern o deflagrador da concessão
da ap o sen tad o ria se dá com a vontade do segurado, ex tern ad a q u an d o do req u eri­
m en to do benefício e ultim ada com o afastam ento do trabalho (se exigido), fatos
exteriorizáveis pelas form alidades regulam entares. Tudo, p ro d u to d a volição livre e
consciente do titular. Sem a in ten ção do beneficiário de aposentar-se é im possível
a aposentação; explica-se, d estarte, a assin atu ra no d o cu m en to , a pessoalidade e a
in tran sferib ilid ad e da providência.
A exceção do art. 51 do PBPS (cuida da aposentadoria com pulsória) d em o n s­
tra essa regra. Trata-se de respeito ao p rin cíp io co n stitu cio n al da liberdade, pilar
da e stru tu ra técnica da previdência social. Tão som ente naquela hipótese desejou
o legislador a ex tinção da relação ju ríd ico -lab o ral c, n a o p o rtu n id ad e, im p o n d o sua
vontade sobre a do Indivíduo.
Fê-lo com carrada de razões, p re ssu p o n d o não d eter a pessoa condições de
co n tin u ar trab alh an d o em idade avançada e não ser interesse do E stado a c o n tin u i­
dade do vínculo em pregatício. Nesse caso, e som ente nesse, essa volição im põe-se
sobre a liberdade individual.
Se o desejo livre e consciente dã início ao ato e é essencial á su a consecução,
não po d e ser desp rezado nas cogitações sobre o desfazim ento do m esm o ato, por
parte do d e te n to r do direito. Para a vontade da pessoa ser ignorada, é preciso ato
com issivo, claro e expresso, pois representa agressão à liberdade, não p o d en d o ser
presum ido.
Os benefícios previdenciários concretizam a técnica protetiva. C om o norm a
pública, é d ever do E stado — p o r ex p ro p riar a iniciativa de auto p ro teção d o par­
ticular, p o r m eio da au tom aticidade da filiação e o brigatoriedade da contribuição
— d isp o r as prestações aos beneficiários. Todavia, não pode esse m esm o Deus ex
machina im p o r a aposentação, restan d o à discrição da pessoa o instante e a decisão
de fazê-lo. A liberdade de trabalhar é assegurada com o postulado fundam enta! do
Estado; lim itações a esse direito natu ral têm de ser exam inadas com m u ito cuidado
pelo ap licad o r e in térp rete da norm a.
1239. In e x istên c ia de vedação — E m bora aparentem ente frágil o argum ento,
convém arguí-lo. Se não há vedação legal para a desaposentação, subsiste perm issão.
R ealm ente, q u an d o a norm a pública p reten d e im pedir d eterm in ad o fato —
p o r co n sistir essa m edida em restrição à liberdade — , deve contem plá-lo clara e
expressam ente; a p rin cípio, se não está pro ib in d o , en q u a n to convier ao titu la r do
direito, é p o rque deseja acontecer.
É im prescindível p erscru tar o caráter do silêncio da regra em apreço. N orm a-
tizaria pela eficácia jurídica da n o rm a não positivada ou não passaria de sim ples
lacuna? Na disposição proibitiva, a om issão nem sem pre q u er dizer perm issão, e
na prescrição au to rizaliva nem sem pre a abstenção significa vedação.
Os anais da legislação não contêm observação a respeito e, assim , torna-se
incognoscível o desígnio do legislador, restando ao in térp rete, consoante o sisteina,
ten tar alcançar a mens !egis.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
Sem som bra de dúvida, a liberdade é tem a a ser cuidado explicitam ente, não
p o d en d o ser inferida o u deduzida, disciplinada p o r om issão ou a contrario sensu.
Trata-se de bem fundam ental e carece, q u an d o afetado pela norm a ju ríd ica, de
prescrição claríssim a, exigindo disciplina objetiva e expressa. Caso contrário, não
existe ou não pode ser considerada na interpretação.
1240. D ireito de tra b a lh a r — C om o dito, o o rd enam ento ju ríd ic o su b o rd in a­
-se à Carta M agna, e esta assegura a liberdade de trabalho, vale dizer, a de p erm a­
n ecer prestan d o serviços ou não (até após a aposentação) e, possivelm ente, a de
desfazer esse ato.
Desse p o stu lad o fundam ental deflui a liberdade de escolher o in stan te de se
ap o sentar ou de n ão fazê-lo. A usente essa diretriz, o benefício previdenciário dei­
xaria de ser lib ertad o r do hom em para se transform ar no seu cárcere.
Na Apelação Cível n. 92.5069-7, co n testan d o a ação e lem brando a Súm ula do
S uprem o Tribunal F ederal n. 379, o INSS alegou a im possibilidade de renúncia da
ap o sen tad o ria p o r ser alim entar. A nalisando a questão, a ju íz a F ederal da 17- Vara
opôs-se a essa p o stu ra, co n sid eran d o válida a possibilidade de Juarez de Alm eida
vir a desaposentar-se (Sentença n. 1.215, de 17.10.1994).
Referiu-se aquela m agistrada ã decisão do Tribunal de C ontas da U nião (Pro­
cesso TC 002.392/81-0, rei. José A ntônio B. de M acedo), cuja em enta foi: “ f. Apo­
sentadoria. A concessão da aposentadoria em favor de H elena M aria C astro de
Souza, a p artir 6.6.80, já foi considerada legal em sessão de 26.1.82 (fls. 15-v.).
2.Trata-se, agora, da renúncia à aposentadoria em causa, tendo em vista estar a
servidora trab alh an d o em em presa privada, e desejar co m p u tar o tem po de serviço
público para fu tu ra ap o sen tad o ria previdenciária”.
E prosseguiu: “3. O D iretor-G eral do D epartam ento de Pessoal do M inistério
das C om unicações, através da P ortaria n. 1.861/87 (fls. 19) hom ologou a m en cio ­
n ad a ren ú n cia, com efeitos a c o n tar de 1.1.88...”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

958 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CXXIV

T r a n s f o r m a ç ã o d e B e n e f íc io s

1241. Características e distinções. 1242. Conversão do tipo. 1243.


S u m á r io :
Opção pelo melhor. 1244. Doença e invalidez. 1245. Prestações acidentárias. 1246.
Desdobramentos da incapacidade. 1247. LOAS e aposentadoria. 1248. Tempo de
contribuição. 1249. Benefícios dos dependentes. 1250. Variação dos percentuais.

Além de várias distinções im prescindíveis, a possibilidade da desaposentação


suscito u entre os estu d io so s a figura da transform ação de benefícios. A p ar da acu­
m ulação de prestações assistenciárias e previdenciárias, trata-se de um tem a pouco
desenvolvido na legislação e raram ente referido na doutrina.
Os casos m ais co m uns respeitam à seqüência do auxílio-doença e da ap o sen ­
tadoria p o r invalidez e dos benefícios de pagam ento co n tin u ad o do segurado que
geram os d ireito s dos dependentes.
D iferentes figuras existem no RGPS e são agora consideradas, lem brando-se
que alguns desses direitos não perm item a volta ao trabalho e dois deles são afeta­
dos pelo fator previdenciário.
O assu n to obriga a definição sobre a existência ou não, em cada caso, de u m
benefício novo ou do m esm o. A ntes do pedido de transform ação, é preciso c o n ­
sid erar as diferenças de cálculo da renda inicial, prom ovendo-se um a sim ulação,
pois conform e o caso o m o n tan te da m ensalidade poderá ser m enor.
Um percipiente de ap o sen tad o ria especial, im pedido de voltar ao trabalho e
desejoso de fazê-lo, que solicitar a transform ação para a ap o sen tad o ria p o r tem po
de co n trib u ição — obviam ente porque preenchia o requisito dos dois benefícios
— terá de levar em conta o fator previdenciário. Sem pre será bom lem brar que os
co m p o n en tes de um prim eiro benefício n ecessariam ente não se tran sp o rtam para
o segundo.
Transform ação de benefícios não se co n fu n d e com a desaposentação, em bora
se tenham dois aspectos sem elh an tes presentes: u m benefício original (cessado
pela renúncia) e novo benefício. Tam bém não diz respeito à opção pela prestação
m ais benéfica (em bora ela deva ser praticada pelo órgão, caso o novo direito tenha
condições inferiores).

C u r s o dl-, D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o í l — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 959
Ela tem com o p ressuposto a existência de duas prestações à disposição do tra­
b alh ad o r e sua m anifestação expressa, ocasião em que se sopesará a o p o rtu n id ad e
daquela n o rm a mais benéfica.
Sem em bargo de a naLureza da prestação ser praticam en te m esm a, tam bém é
possível tran sfo rm ar u m benefício previdenciário p o r tem po de contribuição com o
na ap o sen tad o ria excepcional do anistiado (AC n. 168.967/AL, n o Processo n.
1999.0510395-8, em que foi relator o Ju iz N apoleão M aia, da 2- Turm a do TRF da
5- Região, decisão de 11.12.2006, in DJU de 25.1.2007). E, à evidência, configurar-
se o direito dos ex -com batentes que recebiam benefício com um do INSS, ou a da
ap o sentadoria especial do professor n a com um (para p erm itir a volta ao trabalho).
1241. Características e distinções — As p rin cip ais características da tran s­
form ação (e, que, aliás, a distingue da desaposentação) são as seguintes:
a) m esm o regim e — A m udança ocorre d en tro de u m m esm o regim e previ­
denciário.
b) im prescritibilidade do direito — C om o o direito às prestações é im pres­
critível e não se trata de revisão da concessão, mas de m udança, a q u alq u er tem po
poderá ser feita a solicitação dessa solução.
c) ap ro v eitam ento de novas contribuições — As co n trib u içõ es vertidas após
a aposentação não são consideradas (PBPS, art. 18, § 2e).
d) inexistência de devolução — Inexiste a hipótese de devolução de m en sa­
lidades recebidas.
e) presença de dois benefícios — São duas prestações envolvidas: a prim eira
(an terio r) e a seg u n d a (posterior). Nesse processo, subsistem dois cenários ju ríd i­
cos: o prim eiro e o segundo. Em bora não seja im possível, é difícil pensar na ces­
sação de um a ap o sen tadoria p o r invalidez para, em seguida, sobrevir a concessão
do auxílio-doença.
0 obstáculo legal — N ão há im p ed im en to legal; a m atéria não está sistem ati­
zada n a legislação. O § 2B do art. 18 trata de quem c o n tin u o u a trabalhar ou voltou
a trab alh ar e apenas cuida da não acum ulação de benefícios. N estas condições,
não é absurdo pen sar em alguém aposentado que requeira a substituição do seu
benefício pela ap o sen tadoria p o r invalidez.
g) requisitos do novo benefício — À evidência, o segurado tem de cu m p rir
todos os requisitos do novo benefício. Tendo em vista que m antém a qualidade
de segurado, bastará provar a ocorrência do período de carência e o novo evento
determ in an te.
h) d esd o b ram en tos — Em cada caso, a transform ação p erm itirá a volta ao
trabalho o u a percepção de um valor m aior.
A lgum as distinções se im põem . A transform ação não é desaposentação (não
in co rp o ra novas co n trib u içõ es), da m esm a form a ele não se co n stitu i n u m a co n ­
versão ou opção. A ceitando a regularidade, a legalidade e a legitim idade da conces­
são inicial, o segurado não pensa em revisão de cálculo (não existem contribuições

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

960 W la d im ir N o v a e s M a r f i n s
a serem in clu íd as n e m reconsideradas) nem p reten d e q u alq u er figura de ac u m u ­
lação de benefícios. Não se trata de suspensão nem de restabelecim ento porque a
transform ação im plica em benefícios distintos.
1242. C o n v ersão d o tip o — A ntes de l 9.4.2007, em bora isso tam bém fosse
possível, o n eran d o o trab alh ad o r com a prova a p a rtir dessa dala-base com a fi­
xação do NTEP (Lei n. 11.430/2006) o auxílio-doença req u erid o ser considerado
acidentãrio, so b revindo os d esd obram entos conhecidos.
M as, se isso não sucede e o INSS defere o NB 31, fazendo a dem onstração da
doença ocupacional ou do acidente do trabalho, o interessado p o d erá co nverter o
benefício com um em acidentário.
Um a conversão desse tipo p ro d u z consectários consideráveis, de m odo geral
retroagindo à DER da prim eira versão do benefício, com o é o caso da dispensa de
carência, estabilidade n o em prego, recolhim ento do FGTS etc.
1243. O pção p e lo m e lh o r — U m a figura de opção é q u e se refere ao direito a
um a de duas pen sõ es p o r m orte. F alecendo o segurado com quem m an tin h a um a
u n ião , a viúva, com p anheira o u convivente que estava recebendo pensão p o r m orte
em deco rrên cia do falecim ento do prim eiro m arido, co m panheiro ou convivente,
não p o d en d o ac u m u la r as duas pensões, terá de escolher a m ais vantajosa.
A inda sem ter q u alq u er benefício, o u tra opção é a que nasce da aplicação da
n o rm a m ais benéfica. Com direito a um a de duas prestações, o órgão gestor ou o
segurado o p tará pela m elh o r delas.
1244. D oença e in v alid ez — A figura m ais conhecida de transform ação de
benefícios é a referente à cessação do auxílio-doença e a concessão da ap o sen tad o ­
ria p or invalidez. São duas m odalidades p o r incapacidade, variando a co n tin g ên ­
cia p rotegida e o valor d a renda inicial, sendo que os dois im pedem o retorno ao
trabalho.
O cálculo da ap osentadoria p o r invalidez já pro d u ziu polêm ica no Direito
Previdenciário e agora prevalece o critério de que d en tro do período básico de
cálculo deve prevalecer o salário de benefício do benefício a n terio r atualizado m o-
netariam ente.
1245. P restaç õ es a c id e n tá ria s — N a área da in fo rtu n ístic a, q u an d o o se­
g u rad o tem alta m édica definitiva do au x ílio -d o en ça e é p o rta d o r de um a in ca­
pacidade parcial e p erm a n en te, cessa o prim eiro benefício, sendo co n cedido o
aux ílio -acid en te.
E m bora acidentárias, as duas prestações são bem distintas: a prim eira obsta a
volta ao trab alh o e a segunda a perm ite. A renda inicial do auxílio-doença aciden­
tário é 91% do salário de benefício e no auxílio-acidente, de apenas 50% da m esm a
base de cálculo. O m o n tan te do auxílio-acidente, q u an d o cabível, incorpora-se ao
salário de benefício da aposentadoria.
Não existiria aux ílio-acidente sem antes haver um benefício p o r incapacidade
(de regra, o auxílio-doença).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
961
E m bora em sua definição, o caput do art. 86 não a m encione, o § 2q do m esm o
artigo ao d efin ir a sua data do início fala em cessação do auxílio-doença. Q uando
alude ao cálculo do valor o art. 104, § l e, do RPS, tam bém se refere a um auxílio-
-doença. A Justiça Federal fará ju stiç a se tam bém o co nceder no caso de cessação
de aposentadoria p o r invalidez; o segurado, da m esm a form a, poderá ter dim inuída
sua aptidão para o trabalho.
Note-se: diz o art. 104, § 6°, do RPS que: “N o caso de reabertura de auxílio-
-doença p o r acidente de q u alq u er natureza que tenha dado origem a auxílio-aci-
dente, este será susp en so até a cessação do auxílio-doença reaberto, q u an d o será
reativado”.
1246. Desdobramentos da incapacidade — Q uem está em gozo de ap o se n ­
tadoria p or invalidez e com pleta a idade m ínim a de 60 anos (m ulher) ou 65 anos
(hom ens) n a cidade e 55 anos (m u lh er) e 60 anos (h o m em ), se trabalhador rural,
e detém o p erío d o de carência, poderia p ed ir a transform ação da aposentadoria por
invalidez em apo sen tad oria p o r idade.
A p rim eira conseq üência é q u e um a vez deferido este últim o benefício terá
perm issão para voltar ao trabalho. Não haverá interesse nessa m u d an ça se o segu­
rado estiver recebendo os 25% do art. 45 do PBPS. E o escopo passa a ser m aior
caso o fator previdenciário com pense um a m ajoração do valor.
U m a ap o sen tad o ria especial p o d e ser transform ada em aposentadoria p o r
idade, p rin cip alm en te para quem pretende trabalhar ou p o rq u e detém um fator
previdenciário significativo.
F igura singular de transform ação, p o r sinal que transitória, é a do auxílio-
-doença m antido por um a segurada que entra no período de 120 dias do salário-ma-
ternidade p o rtad o ra de incapacidade laborai.
O prim eiro benefício p o r incapacidade é suspenso, concedendo-se o salário-
-m atern id ad e p o r prazo d eterm inado e geralm ente de m aior valor, seguindo-se
após a cessação dessa prestação da gestante, o restabelecim ento do auxílio-doença.
1247. LOAS e aposentadoria — A quele que preenchia os requisitos da ap o ­
sentadoria p o r idade, m as preferiu solicitar o benefício de pagam ento continuado
da LOAS (p orque não quis ter o trabalho de provar o período de carência), se tom ar
esta últim a providência, m udará de benefício assistenciário para previdenciário,
garantindo o décim o terceiro salário e p o d en d o outorgar pensão por m orte para os
depen d entes, ou auxílio-reciusão.
Os d ep en d en tes de um percipiente da LOAS falecido que provarem a posteriori
a existência do direito à aposentadoria p o r idade podem assegurar a pensão por
m orte ou auxílio-reclusão.
Fabrício Barcelos Vieira e Tiago Faggione Bachur lem bram que o assistido,
além da carência precisa d em o n strar a posse da qualidade de segurado (“Com o
converter Benefício A ssistencial e A posentadoria ou Pensão p o r M orte”, in LFG,
disponível n a internet em 15.4.2009).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

962 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
Caso a pessoa tenha com pletado o período de carência e depois perdido a
q ualidade de segurado, esse direito se m anterá ex vi da Lei n. 10.666/2003.
1248. T em po de c o n trib u iç ã o — Segurado em gozo da aposentadoria por
tem po de co n trib u ição, em particu lar o que está recebendo os 70% da ap o se n ­
tadoria pro p o rcio n al que lograr provar que se expôs aos agentes nocivos físicos,
quím icos, biológicos, ergom étricos ou psicológicos referidos nos arts. 57/58 do
PBPS, que não p retenda voltar ao trabalho nem se sinta p rejudicado pelo fator
previdenciário, tem perm issão para m u d ar aquele benefício para a aposentadoria
especial. E ntão, de 100% do salário de benefício.
1249. B enefícios d o s d e p e n d e n te s — N um a única hipótese, a transform ação
envolve prestações de beneficiários distintos: segurados e dep en d en tes, com a ca­
racterística fu n d am en tal de ser prestações e titularidade novas. É caso da pensão
p o r m orte do segurado falecido em gozo de um a ap o sen tad o ria ou q u alq u er outro
benefício do RGPS.
O auxílio-reclusão pode ser transform ado em pensão p o r m orte se o presidiá­
rio foge da prisão e for declarado com o ausente. Mais tarde, se recuperado, cessa o
pensão p o r m o rte e se restabelece o auxílio-reclusão.
1250. V ariação d e p erc e n tu a is — Possivelm ente serão raros os casos, m as é
possível passar-se do abono de p erm anência sem serviço 20% para 25% (em bora
não seja possível, fora da desaposentação, transform ar-se ap o sen tad o ria p ro p o r­
cional em integral).
No passado, havia a possibilidade de m elh o ra r o p ercentual do auxílio su p le­
m en tar de 30%, 40% e 60%.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 963
Capítulo CXXV

A c u m u l a ç ã o d as P r e st a ç õ es

1251. Normas de superdireito. 1252. Entre regimes. 1253. Benefícios de


S u m á r io :
segurados. 1254. Benefícios de dependentes. 1255. Substituidores dos salários.
1256. Não substituidores dos salários. 1257. Cumulações possíveis. 1258. Pen­
sões não securitárias. 1259. Direitos não previdenciários. 1260. Universo rural,

A acum ulação de prestações no D ireito Previdenciário não está sistem atizada


na sua legislação. As regras com parecem isoladas, raram en te ordenadas, e carecen­
do de integração norm ativa. Com o passar do tem po a lei, o decreto regulam entador
e as n o rm as ad m in istrativ as foram p o n tu alm en te estabelecendo os critérios do
que é possível o u não acum ular.
Desde sua prim eira edição, a CLPS previa cinco regras de não acum ulação
de benefícios. D uas delas referentes ao auxílio-natalidade e renda m ensal vitalícia,
com andos que foram excluídos do PBPS.
A cum ulação é percepção sim u ltân ea pelo beneficiário de duas ou m ais p res­
tações de igual ou d istin ta natureza. N essa síntese, em p articu lar não trata o ins­
titu to técnico da p o ssibilidade de recebim ento de benefícios de segurado com os
de dependentes.
C onsiderados em espécie, ou seja, individualizadam ente tidos, os benefícios
são acum uláveis ou não. Isso vale para as prestações previdenciárias e outros direi­
tos pró p rio s do D ireito Social.
Os serviços de saú de ou atenções assistenciárias observam técnicas distintas,
circunscritos os aten d im en to s pessoais tão som ente à condição h u m an a (intuiíu
personae) e classificados com o não su b stitu id o res nas considerações abaixo.
N ão sistem atizada idealm ente, carece de o rd enam ento e, diante de seu al­
cance, envolve diferentes regim es e áreas. D everia ser objeto de lei com plem entar,
sopesando, entre outras, as seguintes particularidades: a) serem universais, alcan­
çando especialm ente os vários regim es e as diferentes situações; b) p ertin e n te à
sua n atu reza, referirem -se a ingressos laborais e securitários (previdenciários e
assistenciários); c) relativos à deflagração, reportarem -se às causas com uns e às
acidentárias; d) particulares, para os segurados, dep en d en tes e para quem reúna

C urso pe P iR n iT o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
as d u as c o n d içõ e s ao m esm o tem p o ; e) q u a n to à p e rio d ic id a d e de percepção,
sep aran d o as m ensais das anuais; 0 relativas à previdência co m p lem en tar fechada
e aberta; e g) n o rm as de superdireito nacionais e estrangeiras.
U m a definição desses com andos deflui da natureza e função da prestação e,
p rin cip alm en te, de seu caráter su b stitu id o r ou não. Em princípio, grosso modo,
constata-se um a regra geral: entre si os su bstituidores dos salários são inacum ulá-
veis e acum uláveis os não que não os substituem .
A M edida Provisória n. 1.523-9/1996 tentou im pedir a fruição da aposentado­
ria com pensão p o r m orte, m as resu lto u revogada logo em seguida.
D ireitos p ró p rio s de dependentes, incluídos os serviços destes e dos seg u ra­
dos, são auferíveis ao m esm o tem po.
Tendo em vista os ingressos do trab alh ad o r ou ficção fiscal, salário ou salário
de co n trib u ição , os benefícios são ditos su b stitu id o res ou não substituidores. Os
p rim eiros propiciam a subsistência da pessoa no lugar da retribuição e os segundos
rep aram despesas ocasionais.
Até 28.4.1995, havia nítida distinção entre os benefícios com uns e acidentá-
rios, aplicando-se separadam ente as regras aqui desenvolvidas. A principal delas,
não ad icio n ar os acid entãrios com os com uns.
O auxílio-acidente, beneficio então preservado, quebra praxes e apresenta
p articu larid ad es notáveis.
C onform e n o rm a vigente a prestação assistenciária não pode ser acum ulada
com q u alq u er o u tro benefício, assistenciário ou previdenciário. Isso vale para o
benefício da LOAS d os idosos ou deficientes e para a Síndrom e da Talidom ida.
Tanto q u an to os assistenciários, os de caráter trabalhista ex vi legis proíbem
percepção com o u tros, caso do seguro-desem prego, em bora possa com binar-se o
salário com o auxílio-acidente.
A posentadorias ou pensões recebidas de instituições estrangeiras, não im ­
p o rtan d o a n atureza destas, previdenciária ou assistenciária, não são consideradas
para os fins das regras de recebim ento co n ju n to . C om o se não existissem .
Já os concedidos em razão dos acordos internacionais, ratificados pelo C o n ­
gresso N acional, su b m etem -se à legislação nacional.
No p ertin en te a essa m atéria, os direitos dos dep en d en tes não segurados cons­
titu em universo à parte e, se eles ainda são tam bém segurados, novas regras se
im põem . A lgum as delas, aplicáveis aos segurados valem para eles e outras não.
Os d ep en d en tes po d em ter dois ou m ais benefícios p ró p rio s de sua situação e
adicioná-los com os típicos da condição de segurado.
Exceto o ô n u s de ter de d em o n strar a d ep endência econôm ica, nada im pede a
m ãe de receber pensão p o r m orte de diferentes filhos, segurados falecidos.
De 25.7.1991 a 28.4.1995, o segurado ou segurada podia acu m u lar pensão
p o r m orte do falecim ento de segurada ou segurado. A p artir de 29.4.1995, ex vi da

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P rc v iííê n c iti S o c ia l 965


Lei n. 9.032/1995, tiveram de o ptar p o r um deles. Em relação aos filhos, con tu d o ,
a regra não é válida, e a titular, após a opção pelo benefício m ais vantajoso, pode
c o n tin u ar recebendo a qu o ta de 100% (sic) do filho do p rim eiro m atrim ô n io até
com p letar m aioridade.
1251. Normas de superdireito — E n tendendo-se que o D ireito P revidenciá­
rio abarca o RGPS e os RPPS, além do regim e dos parlam entares, o adequado seria
um a norm a geral, orgânica e sistem atizada, d ispond o sobre preceitos de su p erd i­
reito, alcançando o regim e dos trabalhadores da iniciativa privada e os servidores
públicos dos entes políticos.
Salvo os relativos aos idosos ou deficientes e a contagem recíproca de tem po
de serviço, inexistem com andos superiores gerais no Brasil. Os antes indicados
dizem respeito, em sua m aioria, ao RGPS e não valem p ara o u tro s regim es.
Com isso, é possível acum ular benefícios de servidor estatu tário e trab alh a­
d o r celetista. A rigor, o sistem a nacional perm ite ao m ilitar reform ado, com dois
m an d ato s legislativos, se for servidor federal e estabelecido na iniciativa privada,
quatro apo sen tad o rias (sic).
Às vezes, caso do Estado de São Paulo, em relação aos advogados e outras
categorias profissionais filiados facultativam ente ao 1PESP, obterem aposentadoria
ou pensão com base em contribuição pessoal (Lei Estadual n. 13.549/2009).
C erta indenização civil prevista na Lei Maior, m esm o paga em m ensalidades,
é auferida ju n tam en te com q u alq u er outra. O m esm o vale para as prestações do
seguro obrigatório autom otivo.
A LC n. 109/2001 não tem preceitos nesse sentido. Assim , nada im pede de
alguém receber du as com plem entações de fundos de pensão. Da m esm a form a, as
rendas da previdência aberta são acessíveis a todos e são acum uláveis.
C uida-se da acum ulação d en tro de um regim e protetivo, separando os d isp o ­
sitivos relativos aos segurados e aos d ep en d en tes, e tam bém da percepção co n ju n ta
em dois ou m ais regim es. N este caso, atento às prestações securitárias, sem se pre­
ocu p ar com as trabalhistas ou de o u tra ordem e, p o r ora, deixando-se de lado as
regras p ró p rias da previdência com plem entar (que as têm em particular).
1252. Entre regimes — Os critérios en tre os regim es previdenciários devem
deixar claro quais os benefícios sujeitos à acum ulação, especialm ente levando em
conta as disposições co nstitucionais lim itativas dos serviços e até m esm o a possi­
bilidade de com unicação entre eles (prova em prestada).
Q uem exerce reg ularm ente um a atividade na iniciativa privada e o u tra com o
serv id o r (caso do professor, m édico etc.), aposentando-se p o r invalidez n u m regi­
m e, este deferim ento se com unicaria ao outro, ou o subsidiaria.
Por ora, olvidando as exceções constitucionais, em bora a m aioria dos servido­
res não possa receber duas aposentadorias, eles são obrigados à filiação no RGPS e
RPPS e nessas condições têm direito a dois benefícios.
1253. Benefícios de segurados — N u m regim e próprio, subsistem regras de
acum ulação de benefícios devidos aos segurados, sem se co n fu n d ir com as h ip ó te­
ses de percepção co n ju n ta na condição de dependentes.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

966 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Ao m esm o tem po se o trab alh ad o r é segurado e dep en d en te n o RGPS, ele faz
ju s a um benefício de segurado e o u tro , de d ep en d en te. N ada im pede a acu m u la­
ção desses estados ju ríd ic o s, sendo válida a recíproca nas h ipóteses de casam ento,
união estável e u n ião hom oafetiva.
1254. Benefícios de dependentes — As regras que valem para os d ep en d en ­
tes n ecessariam en te não coincidem com as dos segurados. U m pensionista pode
receber m ais do q ue u m a pensão p o r m orte; para isso, basta que preencha os re­
quisitos legais.
O d ep en d en te pensionista que se casa ou se une novam ente com um segu­
rado, falecendo este não receberá duas pensões, m as o ptará pela m ais vantajosa.
1255. Substituidores dos salários — Os principais benefícios su b stitu id o res
são: p o r incapacidade, o auxílio-doença e a aposentadoria p o r invalidez. P or tem po
de co n trib u ição , a aposentadoria p o r tem po de serviço e a ap o sen tad o ria especial.
Por idade, a ap o sen tad o ria p o r idade. Com caráter laborai, o salário-m aternidade e
o seguro-desem prego. Em relação aos dependentes, a pensão p o r m o rte e o auxílio-
-reclusâo. A ssistenciários: o am paro assistencial da Lei n. 8.742/1993 dos idosos
e deficientes e a Síndrom e da Talidom ida. C om feição política: aposentadoria dos
exilados, anistiados, dos ex-com batentes e Seringueiros da A m azônia. Indenizató-
rios: p en são H em odiãlise de C aruaru e Césio 137 de G oiânia.
D entro de u m m esm o regim e, os benefícios su b stitu id o res do salário são ina-
cum uláveis. Assim não se pode auferir aposentadoria e auxílio-doença nem mais
de um a apo sen tad o ria (PBPS, art. 124, 1/1).
E m bora o ab o n o de p erm an ên cia em serviço não fosse su b stilu id o r do salá­
rio ele não p o d eria ser recebido ju n ta m e n te com a ap o se n ta d o ria p o r tem po de
serviço.
Não é possível à gestante receber o auxílio-doença e ao m esm o tem po o saiá-
rio -m ate rn id ad e d en tro dos 120 dias. Se estiv er incapaz p ara o trab alh o , o b en e­
fício p o r incapacidade será suspenso, m antendo-se o salário-m aternidade até o seu
final, e restabelecido o auxílio-doença.
1256. Não substituidores dos salários — Os benefícios não su b stitu id o res
do salário, com o é o caso do pecúlio, podem ser acum ulados en tre si e com os
su bstituidores.
O au x ílio-acidente é figura curiosa da acum ulação de benefícios: p erm ite a
volta ao trabalho, logo, é possível acum ulá-lo com a rem uneração, m as n ão adm ite
a acum ulação com aposentadorias (Lei n. 9.528/1997).
A inda que ocorra um seg u n d o acidente gerador de novo auxílio-doença e que
p o r ocasião da cessação deste o segurado reste com um a seqüela, ele não fará ju s a
dois benefícios, devendo o ptar pelo m ais vantajoso.
Possivelm ente, fora do cam po da acum ulação, se o trab alh ad o r tem sim u lta­
n eam ente dois em pregos receberá dois salários-fam ília em relação ao m esm o filho.
Igual vale para a gestante d u p lam en te em pregada.

C u rs o d e D ire ito P rev id en c iá r io

T o m o H — P r e v id ê n c ia S o c ia l 967
É im possível acu m u lar auxílio-doença e aposentadoria p o r invalidez, m esm o
se u m ou o u tro deles é acidentário, m as a Ju stiça F ederal já decidiu incorporá-los.
A existência de fonte de custeio distinta não assegura a duplicidade de proteção
nem a justifica. Não é a contribuição (in casu, m eram ente com plem entar) garan-
tidora do direito.
A ap o sentadoria especial exclui a aposentadoria p o r tem po de contribuição
o u p o r idade. N en h u m a das três pode ser auferida acum u lad am en te entre si, pois
têm a m esm a n atureza substituidora. D iante da definitividade, ter aposentado por
tem po de co n trib u ição e c o n tin u a r trabalhando filiado e aportando, não dá direito
à aposentadoria p o r idade.
O art. 5e, XIII, da C arla M agna garante o direito de trabalhar e perm ite ao
aposentado voltar ao trabalho e, assim , salvo para o auxílio-doença e ap o sen tad o ­
ria p o r invalidez (prestações por incapacidade), é possível acu m u lar salário com
benefício previdenciário.
Pensão p o r m orte (do ausente ou desaparecido) é incom patível com o auxí­
lio-reclusão, em bora m ãe possa receber auxílio-reclusão relativo a esposo preso e
pensão p o r m orte de filho falecido, em razão de os in stitu id o res serem diferentes
pessoas.
Não se considerava percepção de aposentadoria e auxílio-acidente com o fi­
gura de acum ulação, salvo se o prim eiro benefício estivesse no lim ite do salário
de benefício. A Ju stiça Federal, en tretan to , já p erm itiu as duas prestações. Em bora
o auxílio-acidente não seja substituidor, é vitalício, e até a M edida Provisória n.
1.596-14/1997 p o dia ser acum ulado com q u alq u er das quatro aposentadorias pos­
síveis. Todavia, falecido o segurado não se in co rp o ra à pensão por m orte. Com a
Lei n. 9.528/1997, m anteve-se essa regra.
Sem em bargo da possibilidade de ocorrência da contingência protegida, não
é possível acu m u lar dois ou m ais auxílios-acidente (Lei n. 9.032/1995). Os b en e­
fícios não su b stitu id o res — à exceção do auxílio-acidente e do salário-fam ilia — ,
geralm ente de pagam ento único, podem ser recebidos conjuntam ente.
D estarte, era perceptível o auxílio-funeral e a pensão p o r m orte, auxílio-na-
talidade com salário -m aternidade (e até salário-fam ilia), os três últim os referentes
ao m esm o nascim ento. O pecúlio pode ser auferido associado a qualquer outro
benefício.
Benefícios não su b stituidores (de certa duração ), com o o auxílio-acidente e
o salário-fam ilia, são perceptíveis ao m esm o tem po. Aliás, som am -se ao próprio
salário.
R estituição de co n tribuições devidas, p o r falta de carência, m o n tan te inom i-
nado, é adicionável a q u alq u er outro benefício.
E m bora su b stitu id o r (das despesas com em orativas do N atal), o abono anual
é acum ulável com qu alq uer benefício, m ensal ou não.
1257. C u m u lações p o ssíveis — São adm itidas todas as acum ulações consa­
gradas p o r lei, especialm ente aquelas pertin en tes às pensões não securitárias.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

968 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
1258. P en sõ es n ão se c u ritá ria s — F oram criadas m uitas prestações não se­
cu ritárias (Seringueiros da A m azônia, Césio 137, Sindrom e d a Talidom ida, H em o-
diálise de C aru ru etc.) concedidas e adm inistradas pelo INSS, cada u m a delas com
um a regra pró p ria de acum ulação.
1259. D ire ito s não p re v id e n ciário s — O s direitos não previdenciários, com o
os fu n d iário s e os trabalhistas podem ser acum ulados com os previdenciários, c o n ­
vindo, em cada caso, exam inar-se a hip ó tese da volta ao trabalho.
Há perm issão p ara a percepção de assistência m édica, m as não se acum ula o
benefício da LOAS com q u alq u er outro benefício. O seguro-desem prego som ente
se acum ula com a pensão p o r m orte e auxílio-acidente (Lei n. 9.032/1995).
1260. U n iv erso ru ra l — A Súm ula n. 72 da TRF da 4 § Região, diz que: “É
possível acu m u lar ap o sen tad o ria u rb a n a e pensão ru ra l”. P ensando-se em term os
de RGPS, os critérios de acum ulação ou não de benefícios com parecem no art. 124
do PBPS, que n u n ca trato u da diversidade de regim e protetivo entre segurados e
d ep en d en tes. C om efeito, q u an d o do exam e da percepção co n ju n ta de benefícios
é preciso d istin g u ir os segurados dos seus dependentes.
Existem com an dos que contem plam a acum ulação para os segurados e pre­
ceitos para os d ep en d en tes (e, é claro, regras para acum ulação de benefícios do
RGPS em relação aos diferentes RPPS). Sem falar naquelas disposições específicas
que envolvem as prestações assistenciárias e as nào securitárias.
De regra, n o RGPS nos RPPS (que assim d isp u seram ), não há vedação para
a percepção sim u ltânea de benefícios de segurado com benefícios de dependente.
U m a ap o sen tad a tem direito de auferir pensão p o r m orte deixada pelo m arido
segurado; u m pen sio nista obter u m a aposentadoria. Claro, raciocínios para quem
m an tém du as filiações.

C u r s o l ie D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 969
Capítulo CXXVI

C o m po n en tes d o C á lc u lo

Sum á r i o : 1261. Passos vestibulares. 1262. Significado prático. 1263. Condições

para reconhecimento. 1264. Rubens Limongi França. 1265. Aproximação do


bem. 1266. Pretensão e expectativa. 1267. Pretensão aos componentes. 1268.
Aquisição do direito. 1269. Momento da aposentação. 1270. Período básico de
cálculo.

Diante de postulado superior da im prescritibilidade do direito aos benefícios,


e em face de outro preceito igualm ente superior, o da liberdade de trabalhar, parti­
cularm ente em razão de quase todas as prestações levarem em conta contribuições
m ensalizadas, definindo-se o seu m ontante etn função do curso do tem po e serem ,
por seu tu rn o , de fruição sucessiva, propõe-se a questão do dom ínio do bem jurídico
etn relação às suas partes constituintes (período básico de cálculo, salários de con­
tribuição, percentuais, renda inicial etc.), quando estão presentes distintas situações.
1261. P assos v e stib u la re s — Dos prin cíp io s gerais, em seguro social, o de
m anuseio m ais difícil é o relativo ao direito adquirido. M andam ento co n stitu cio ­
nal fu n dam ental, disposição legal tradicional (art. 6e da LICC) e no rm a universal,
acolhido sem restrições p o r toda a d o u trin a e ju risp ru d ên c ia, invade ouLros ram os.
M atéria de inteligência árida p o r natureza (em face das sutilezas na apreensão do
conceito), nas variadas hipóteses não é sistem atizadam ente desenvolvida com a
profu n d id ad e desejável.
Na previdência social, m uitas vezes avocado im p ro p riam en te, nem sem pre
é com p reen d id o em su a função ou em seu cam po de atuação. São exem plos per­
tinen tes às prestações de pagam ento co n tin u ad o , com a extensão da concepção:
aplicar-se-ia exclusivam ente ao in stitu to protetivo, com o u m todo, ou tam bém
valeria para os elem entos integrantes?
U m princípio ju ríd ico e, ao m esm o tem po, fundam ento político, na prática
resguarda a tran q ü ilid ad e jurídica e social. G lobalm ente, o exam e histórico da
legislação previdenciária revela ter sido razoavelm ente respeitado. Em in ú m eras
o p ortu n id ad es, o legislador ord in ário o consagrou, c u m p rin d o a C arta M agna e a
Lei de In tro d u ção ao C ódigo Civil.

C urso d e D i r e i t o P r e v id e n c i á r i o
W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
1262. Significado prático — D istinto do sim ples interesse ou faculdade, não
pode ser alterado. Exceto — em situação excepcionalíssim a — se tal exercício afe­
tar o arcabouço p ró p rio do sistema protetivo.
B asicam ente, au to riza a pessoa a agir conform e a n o rm a vigente ao tem po de
sua consolidação.
1263. Condições para reconhecimento — V ários autores põem em evidência
os req u isito s p ara ser reconhecido: a) sucedido o fato ju ríd ic o do qual se originou
o direito nos term os da lei, tenha sido integrado ao p atrim ô n io de quem o ad q u i­
riu ; e b) resu ltad o de fato idôneo, p ro d u zid o em face de lei vigente, n ào se tenha
ap resen tad o ensejo para fazê-lo valer, antes da atuação de lei nova sobre o m esm o
fato ju ríd ic o já sucedido.
R elativam ente aos elem entos das prestações previdenciárias, é necessário o
segurado aten d e r aos pressu p o sto s legais, ter requerido o u n ão o beneficio, estar
recebendo ou não as m ensalidades.
E xem plificativam ente, se a ap o sen tad o ria p o r tem po de co n trib u ição tem o
requisito tem p o ral au m en tad o de 35 para 40 anos, quem não com pletou os 35
anos antes da vigência da lei am pliadora desse evento d eterm in a n te não tem direito
ad q uirido. Posta-se na sim ples expectativa de direito. Porém , se o havia integra-
lizado e não req u ereu o benefício, a faculdade perm anece integral e assegurada,
disponível a q u alq u er tem po.
1264. R ubens Lim ongi França — Para Rubens Limongi França, a integração ao
patrim ô n io nem sem pre é bem explicitada. Reclam a o exercício — especialm ente
q u an d o de créditos de aten d im en to co n tin u ad o — ou bastaria a sua existência em
tese (reu n ião dos requisitos legais)? No caso das aposentadorias, não exige o exer­
cício, n o nosso o rd en am en to ju ríd ico co n stitu cio n al, caso co n trário , arrostaria a
liberdade de trabalhar. D iante da im prescritibilidade da prestação previdenciária,
deve ser consid erad o integrado ao p atrim ô n io do segurado o beneficio não req u e­
rido (so b rev in d o perdas m ensais pela inação). É p ró p rio estar a sua disposição.
A Lei de Introdução ao Código Civil tem descrição meio enigmática: “C onsideram ­
-se ad qu irid o s assim os direitos que o seu titular, ou alguém p o r ele, possa exercer,
com o aqueles cujo com eço de exercício tenha term o prefixo, ou condição preesta-
belecida inalterável, a arbítrio de outrem " (LICC, art. 6Q, § 2e). “Possa exercer” são
exatam ente os existentes, isto é, de acordo com a lei (cum pridos os requisitos).
1265. A p roxim ação d o b em — As prestações previdenciárias apresentam ca­
racterísticas que as distinguem de outros bens e direitos. O deferim ento dep en d e de
v ários parâm etro s que se realizam em d istin to s m o m en to s até um aperfeiçoam ento
final. A lguns desses elem entos são alterados com algum a frequência e outros são
m antidos. A solução da obrigação se dá no curso do tem po e então sobrevêm novas
m odificações particu lares e gerais.
O direito aos dados definidores da pretensão segue os m esm os critérios do
direito à prestação com o um todo, ou seja, devem ser atendidos n u m certo m om ento
e a p artir de então não são afetados p o r inovações legais ou pelo decurso do tem po.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l 971
De m o d o geral, os p rin cip ais são: a) evento d eterm in a n te ; b) perío d o de
carência; e c) qualidade de segurado.
N o que diz respeito à determ inação do quantum inicial, é preciso pensar em
1 — PBC (alterado em 1999); II — valores originais dos salários de contribuição;
111 — atualização m o n etária e a m u dança dos indexadores; IV — seleção de quais
m eses serão pinçados; V — critérios da m édia resultante; VI — validade do fator
previdenciário; VII — percentuais do benefício ou do segurado; VIII — lim ites
desses valores todos; e, p o r últim o, IX — renda m ensal inicial.
1266. P reten são e ex p ectativ a — Da m esm a form a com o sucede com o d i­
reito ad q u irido, p artin d o-se do nada em face do bem desejado, pretensão é form a
em brionária de direito. Q uer dizer, o filiado sem carência (em função das p resta­
ções q u an d o exigidas) ou sem o evento d eterm in an te com pletados.
Na fase seguinte, e antes do direito sim ples, constata-se a expectativa de direi­
to, situação do próxim o de com pletar o direito, ainda sem tê-lo feito.
O Direito P revidenciário conhece algum as m anifestações de expectativa de
direilo, e disso é exem plo o art. 142 do PBPS. O perío d o de carência, de 60 c o n ­
tribuições passou a 180 m ensalidades, m as o filiado antes de 24.7.1991 teve a
triplicação im plantada g radualm ente até o ano 2011.
A EC n. 20/1998 tem form a assem elhada: os segurados têm acréscim o de 40%
para o tem po de serviço faltante para a aposentadoria proporcional, e de 20% para
a integral.
1267. P reten são aos co m p o n en te s — O sim ples direito de cada um dos com ­
pon en tes do cálculo corresponde à posição do titu lar após o preen ch im en to dos
requisitos legais. Q uem atende às exigências da lei e pode prová-las assegura esses
com ponentes. Tal condição deve ser cifrada a certo bem específico, pois ele pode
estar cu m p rin d o os pressupostos de um benefício e não de outro.
Sua análise co m porta o exam e da legislação vigente ao tem po da reunião dos
elem entos im postos.
1268. A q u isição do d ire ito — Direito adq u irid o é locução designativa de
cenário m uito assem elhado m as nào idêntico à do direito sim ples. Em princípio,
dele se cogita p o r ocasião da dim inuição de vantagens an terio rm en te asseguradas
e não usufruídas.
P rincipalm ente, em duas hipóteses, são válidas considerações: a) não utiliza­
ção do bem q u an d o possível, com um ou esperado pelo legislador; e b) superve-
niência de n o rm a ou ato m odificador das características anteriores.
Dá-se exem plo da prim eira delas com quem não requereu a aposentadoria
proporcional, deixando para fazê-lo pela integral ou com pletando 35 anos, não
solicitou a ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição, preferindo pedi-la n o u tro
m o m en to (com m elh o r salário de benefício). A segunda circunstância configura a
m ud an ça das regras, caso da adoção de u m lim ite de idade, novo período de cál­
culo, carência etc.

C u r s o diz D ir e it o P r e v id e n c iá r io

972 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
1269. M o m en to d a a p o se n ta ção — Salvo nas hipóteses da aposentadoria por
invalidez e p o r idade com pulsória, fixadas pelo legislador (n o rm a p ública), o m o­
m ento da ap o sen tação perten ce à discrição do segurado. D iante do princípio cons­
titu cio n al da liberdade de trabalhar, só a ele cabe decidir q u an d o isso sucederá.
T am bém p ertence à volição do segurado, com direito a u m dos dois, escolher
qual benefício vai gozar. Só não tem opção pelo de m en o r valor. E m bora o Direito
Previdenciário enseje m uitas n o rm as com caráter p úblico, essa alternativa pertence
ao titu lar do direito.
C onvertida a M edida Provisória n. 1.523/1996 n a Lei n. 9.528/1997, o legis­
lad o r dispôs: “Se m ais vantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas
condições legalm ente previstas n a data do cu m p rim en to de todos os requisitos
necessários à obten ção do benefício, ao segurado que, ten d o com pletado 35 anos
de serviço, se hom em , ou 30 anos, se m ulher, op to u p o r p erm an ecer em atividade”.
1270. Período básico de cálculo — C om pletados os requisitos legais para
a ap o sen tad o ria p o r tem po de contribuição, cogita-se do direito aos coeficientes
co rresp o n d en tes aos anos com pletados. O segurado tem o poder de servir-se do
p erío d o básico de cálculo capaz de re su ltar na m elh o r ren d a inicial.
Até 28.11.1999, a n o rm a legal, afirm ando dever o INSS calcular o salário de
benefício com base n o s ú ltim o s 36 salários de contribuição, presta-se exclusiva­
m ente para o co m u m dos casos. N ão exclui o direito de o p tar p o r período básico
de cálculo anterior, retroagindo en q u a n to possível o direito, se dessa operação
resu ltar renda m ensal de p atam ar m aior.
Isso vale, em face da im prescritibilidade do direito às prestações, não só para
q u e m não re q u e re u o b en e fício q u a n d o da re u n iã o d o s p re s su p o s to s com o
para q u em o fez e, sem pre de acordo com a lei, descobre ser viável, am pliar o nível
da prestação.
Essa conclusão não ignora o regim e financeiro adotado pelo RGPS (repartição
sim ples) n em as prem issas atuariais. Se direito legítim o havia, o INSS deveria estar
preparado para atendê-lo.
Dá-se exem plo concreto do alegado: segurado aposentado em 15.10.1993,
q u an d o possu ía q u arenta e dois anos de serviço, teve ren d a inicial de Cr$ 81.951,70.
Em 15.10.1986, contava 34 anos de serviço e, p o rtan to , direito a 92% do salário de
benefício (CLPS, art. 32, § l e, e § 2° do art. 33). O valor da renda inicial corrigido
até o u tu b ro de 1973, pelos índices pró p rio s, chega a Cr$ 120.077,11 (sic).
Aplica-se a situações com o essa, o en ten d im en to da adm inistração gestora,
esposado no item 4 da C ircular n. 88/1987, em que se colhe: “A ssim sendo, quando
o segurado, m esm o tendo im p lem entado todos os requisitos necessários à conces­
são da ap o sen tad o ria p retendida ao se desligar do em prego o u atividade, venha a
requerer o benefício tardiam ente, o período básico de cálculo (PBC) será fixado
em função do ú ltim o salário de contribuição, utilizando para o cálculo da renda
m ensal inicial (RMI) os índices de correção co rresp o n d en tes tam bém a este, rea-

C U R S O D E D lR E I T O P R E V ID E N C IÁ R IO
T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 973
justando-se o valor ap u rad o até a data do início do pagam ento (DIP) a qual será
determ in ad a pela data da en trad a do requerim ento (DER)”, ratificado na O rdem
de Serviço INSS/DISES n. 78/1992 (subitem 4.7).
N esse sen tid o , os acó rd ão s seguintes: a) “A p o sen tad o ria. R egência do b e­
nefício pela lei m ais favorável, em cuja vigência podia o co n trib u in te aposentar,
porque já reu n ira as condições pressupostas. Sentença concessiva confirm ada, sal­
vo q u an to ao percentual h o n o rá rio ” (AC n. 103.774/SP, da 3â Turm a do TRF, rei.
Min. José D antas, in DJU de 5.6.1997, p. 9.815); b) “Os proventos da inativida­
de regulam -se pela lei vigente ao tem po em que o segurado re u n iu os requisitos
necessários à sua aposentadoria. A lei nova deve respeitar os direitos adquiridos
sob o im pério que ela revogou, e só pode ser aplicada à situação ju ríd ica ante­
rior à sua vigência q u an d o para beneficiar. Apelo provido. S entença reform ada”
(AC n. 105.845/SP, da 33 Turm a do TRF, rei. Min. Flaquer Scartezzini, in DJU de
28.8.1986, p. 15.049); e c) “Tendo o segurado preenchido os requisitos para ap o ­
sentadoria p o r tem po de serviço na vigência de lei an terio r àquela sob a qual a re ­
quereu , os cálculos do benefício devem obedecer os critérios da Lei n. 3.807/1960,
com a redação que lhe foi dada pelo D ecreto-lei n. 66/1966. Tratando-se de direito
adq uirido e d em anda ajuizada antes da entrada em vigor do novo texto não se pode
falar em afronta à C o n stituição F ederal” (AC n. 1990.03.7747-9/SSP, da l ã Turm a
do TRF da 3â Região, v. un., rei. Ju iz Silveira Bueno, j. de 28.5.1991, in LexJSTJ e
TRF n. 29/422).

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

974 W íc iiíim ir N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo CXXVII

D ir e it o A d q u ir id o

S u m á r i o : 1271. Prestações enfocadas. 1272. Tempus regit cictum. 1273. Exigên­


cia do exercício. 1274. Requisitos necessários. 1275. Ausência e perecimento.
1276. Expectativa de direito. 1277. Atualização dos valores. 1278. Factum prin-
cipis. 1279. Posição doutrinária. 1280. Resumo das conclusões.

G arantido co n stitu cio n alm en te, em dicção q u e desvenda a preocupação de


p o d e r ser ofendido com o m an d am en to fundam ental do ord en am en to ju ríd ico , o
direito ad q u irid o é u m a conquista do cidadão em face da organização social, da
validade da ordem legal e dos percalços gerados p o r interpretações equivocadas do
fu n cio n alm en te obrigado a definir a preten são dos indivíduos.
A Súm ula STF n. 359 diz: “Ressalvada a revisão prevista em lei, os proventos
da inatividade regulam -se pela lei vigente ao tem po em que o m ilitar, ou o servi­
d o r civil reu n iu os requisitos necessários, inclusive a apresentação do requerimento,
quando a inatividade fo r voluntária” (grifos nossos).
De todas as que a C orte Suprem a baixou, esta talvez seja a m ais im p o rtan te de
suas cond en saçõ es sum ulares. A plicando a idealização de Cario Francesco Gabba
ela pôs fim às celebérrim as discussões sobre qual norm a a ser praticad a q uando de
d ireito s su b stan ciad o s antes do d ecurso do tem po: se a revogada ou vigente.
É u m divisor de águas a ser assim ilado no D ireito P revidenciário qu an to aos
elem entos da definição da prestação (se ela é co n stitu íd a de vários deles) e a in sti­
tuição p ro tetiva em si m esm a.
A exigência da locução intercalada ( “inclusive a apresentação do req u erim en ­
to ”) restringia. Fazia do exercício u m requisito a m ais para a conservação das
p retensões asseguradas, obrigando as pessoas a se retirarem do trabalho co n tra a
sua vo n tad e, tese ad m itida apenas na ap o sen tad o ria com pulsória (PBPS, art. 51).
Essa p osição foi reform ulada p o r ocasião do R ecurso E x trao rd in ário n.
72,509/PR , em 14.2.1973. Na o p o rtu n id ad e do ju lg am en to do feito q u an d o p re­
sente o M in. A liom ar Baleeiro, travou-se discussão sobre a revisão da súm ula, o p e­
rada p o r m aioria de votos e vencidos o presidente do STF e o M in. A ntonio Neder.
No ensejo, desapareceu tam bém o in fin e sublinhado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o U — P r e v i d ê n c i a S o c ia l
O texto final ficou: “Ressalvada a revisão prevista em lei, os proventos da in a­
tividade regulam -se pela lei vigente ao tem po em que o m ilitar, ou o servidor civil,
reu n iu os requisitos necessários”.
Em sua síntese, a Súm ula STF n. 359 faz valer a norm a eficaz q uando da re u ­
nião das exigências definidoras da prestação, e não a da no rm a subsequente, se ela
dã m enos ou im põe requisito novo danoso para os titulares.
N esta rara condensação sobre o assunto, pari passu com a teoria ju ríd ica e o
orden am en to nacional, o STF consagrou a potencialidade de o legislador — seja
o constitucional seja o o rdinário — legitim am ente justificado por elem ento pré-
-jurídico, inovar em relação à regulam entação das instituições sociais, aum en tan d o
ou d im in u in d o as prestações, extinguindo-as ou adaptando-as, enfim , aperfeiçoan­
do o regim e em algum m om ento histórico.
Redigida em 1963, com o era usual, o texto padece de algum as im proprieda-
des vernaculares. Em vez de falar dos “p ro v en to s da inatividade”, deveria dizer
aposentadoria ou pro v entos da aposentadoria. P roventos da inatividade é truísm o
e significam “os v en cim en to s” dos jubilados. No bojo do RGPS, representa o valor
da renda inicial dos benefícios de pagam ento continuado.
Se a norm a aplicada à espécie im põe um a alteração a ocorrer no futuro, será
operada essa revisão fixada nessa lei.
1271. P restaçõ es en fo cad as — A súm ula alude a proventos da inatividade cn
passant, certam ente. Foi esta a questão que m otivou a sintetização da ju ris p ru d ê n ­
cia. Q uando com patíveis com a instituição definida, vale tam bém para outros b e­
nefícios do segurado de pagam ento co n tin u ad o (auxílio-doença ou aposentadoria
p o r invalidez) e dos p en sionistas (pensão p o r m o rte ou auxílio-reclusão).
Elegeu-se o critério da lei vigente ao tem po da reunião dos pressupostos com o
referência para co n trastar com as norm as su p erv en ien tes m odificadoras nas h ip ó ­
teses de redução de v an tagens ou direitos. Não obsta, com isso, o surgim ento de
alterações posteriores a essa ocasião; tão som ente preserva os direitos de quem
aten d eu aos requisitos legais.
U m a p rim eira leitu ra dá a e n te n d e r que o texto da Súm ula STF n. 359 so m en ­
te se aplica aos benefícios voluntários e que ele não valeria para os com pulsórios,
com o é o caso da ap o sentadoria p o r idade (ou até m esm o para as não program a­
das). P or q u alq u er m otivo, se alguém não se ap osentou co m pulsoriam ente e veio a
fazê-lo q u an d o de nova lei, se havia preenchido os requisitos do benefício, receberá
conform e a n o rm a vigente ao tem po da reunião dos requisitos.
R igorosam ente, são garantidos os elem entos da com posição do direito. As­
sim , em 16.12.1998, u m segurado com 31 anos de serviço e carência com pletada
assegurou o direito aos 76% do salário de benefício. D eixando para se aposentar
em 16.12.1999, um ano depois, fez ju s a 70% + 6% + 5% = 81%, a ser aplicado ao
salário de benefício.
1272. Tempus regit actum — Repete-se. A sú m u la consagra a observância da
regra vigente ao tem po dos fatos definidores do direito. C om 30 anos de co n tri­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

976 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
buição, o seg u rad o que d etin h a u m salário de benefício equivalente ao lim ite da
previdência social e os seus 70% co rrespondentes superassem os 100%, quando
chegou aos 35 anos, p o r conta de u m a eventual contribuição inferior posterior, o
benefício a ser con ced ido é o da aposentadoria proporcional aos 30 anos.
E m bora visível que a súm ula em ergiu de problem as n a área do funcionalism o
civil e m ilitar, pela universalidade da regra e o seu em basam ento lógico e ju ríd ico ,
ela se aplica aos trabalhadores da iniciativa privada filiados à previdência básica e
com plem entar.
Fato reco n h ecid o n a Apelação Cível n. 53.642/M G , relatado pelo M in. A ldir
Passarinho, em decisão de 3® Turm a do TFR (DJU de 5.9.1989): “O princípio da
sú m u la aludida, em b ora apenas se referira ela a servidor público civil ou m ilitar,
co n tém regra aplicável a situações com o a dos autos, e até com m aior ra zão ” (Jor­
nal do III C ongresso Brasileiro de P revidência Social, São Paulo: LTr, 1990, p. 30).
1273. E xigência d o exercício — Um exercício (req u erim en to do benefício)
seria im posição para a configuração d o direito sim ples, m as o direito adq u irid o
dispensa tal p ro ced im ento (vale dizer, ter de solicitar a prestação assim que p re­
en ch id o s os req u isito s legais), de m odo que o que distingue um do o u tro é ex ata­
m ente o n ão exercício opportune tempore ou após a m udança para p io rar a situação
do beneficiário.
O direito ad q u irid o preserva a validade do patrim ô n io assegurado, tido com o
in co rp o rad o , em face da passagem do tem po futuro e das m u d an ças havidas na
legislação.
1274. R eq u isito s n ec essário s — O s pressupostos necessários são as d eterm i­
nações legais, geralm ente três: a) qualidade de segurado m antida; b ) período de
carência (q u an d o exigida); e c) evento determ inante.
Q uem detém os dois últim os (logo, tin h a o estado ju ríd ic o previdenciário)
pode p erd er o prim eiro sem prejuízo da pretensão.
1275. A usência e p erecim en to — Seqüencialm ente, o direito às prestações se­
curitárias se diz inexistente (durante a ausência da filiação), em form ação (antes
da expectativa), próxim o da realização (expectativa), torna-se realidade (direito),
aperfeiçoa-se com o direito adquirido e um direito perece (decadência ou prescrição).
C u rio sam en te, alguém pode estar vivendo duas ou m ais dessas situações ao
m esm o tem po. C om direito à aposentadoria proporcional, ele viverá a ausência de
direito à integra! e na expectativa da aposentadoria por idade.
1276. E x p ectativ a d e d ire ito — P osicionado no estágio ju ríd ic o da expecta­
tiva de direito o beneficiário não tem direito sim ples nem adquirido.
Q uem faz ju s à ap osentadoria proporcional (um segurado do sexo m asculino
dos 30 aos 34 anos) queda-se na expectativa da ap o sen tad o ria integral (aos 35
anos).
O que p reen ch eu todos os requisitos legais tem direito e o cálculo será feito
conform e a n o rm a d a época da reunião dos pressupostos legais.

C unso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o 11 — P revidência S o c ia l 977


N ào sendo exercitado nesse m om ento, m as m ais tarde e especialm ente sobre­
vindo n o rm a q u e reduza os direitos, a garantia passa a ser e a denom inar-se direito
adquirido.
1277. Atualização dos valores — A purado o valor ao qual ele corresponde, o
direito ad q uirido é consolidado n a época da reunião dos requisitos.
Caso presen te inflação posterior, os valores m onetários devem ser atualizados
até a data do início da fruição.
1278. Factum principis — A legislação do Im posto de R enda e a obrigação de
pagar pensão alim entícia são fatos não previdenciários que afetam a m ensalidade
do benefício e p o r isso não b á direito adquirido ao valor do benefício que arredasse
o factum principis.
Se a co n trib u ição dos servidores inativos fosse co n stitu cio n al, m as não é, não
se po d eria falar em direito adquirido ao nível antes da tributação.
1279. Posição doutrinária — C om base em C ario Francesco Gabba, alhures
sustenta-se ser o direito in co rp o rad o ao patrim ônio do titu lar bem seu. A aquisi­
ção, referida no título, im porta en fren tar q u alq u er ofensa exterior p o r via de apli­
cação, integração ou interpretação da lei, p o r parte do particular, adm inistrador
ou julgador.
D istinto do sim ples interesse ou faculdade, não pode ser alterado. Exceto —
em situação excepcionalíssim a — se tal exercício afetar o arcabouço próprio do
sistem a protetivo.
B asicam ente, auto riza a pessoa a agir conform e a norm a vigente ao tem po de
sua consolidação.
De Plácido e Silva elenca os requisitos para ser reconhecido: a) sucedido o fato
ju ríd ico do qual se o riginou o direito nos term os da lei, tenha sido integrado ao
p atrim ô n io de quem o adquiriu; e b) resultado de falo idôneo, produzido em face
de lei vigente, não se tenha apresentado ensejo para fazê-lo valer, antes da atuação de
lei nova sobre o m esm o fato ju ríd ico , já sucedido.
Relativam ente às prestações previdenciárias, é necessário o segurado atender
aos pressu p o sto s ou tê-las requerido, recebido o u estar recebendo (benefícios de
trato su cessiv o ). E xem plificativam ente, se a aposentadoria p o r tem po de co n trib u i­
ção tem o requisito tem poral au m entado de 35 para 40 anos, qu em n ão com pletou
os 35 anos an tes da vigência da lei am pliadora do tem po do evento determ inante,
não tem direito adq u irido, se posta na sim ples expectativa de direito. Porém , se o
havia integralizado e não a requereu, a faculdade perm anecerá integral e assegura­
da, disponível a q u alq u er tem po.
Prossegue aquele professor: “O direito adquirido tira a sua existência dos fatos
ju ríd ico s passados e definitivos, q uando o seu titu lar os podia exercer. No en tan to ,
não deixa de ser ad q u irido o direito, m esm o q u an d o o seu exercício dep en d e de u m
term o prefixado o u de condição preestabelecida, inalterável a arbítrio de o u trem ”.
G arantia sem a qual seria im possível a ordem ju ríd ica e tam bém conquista p o ­
lítica, em n en h u m a hipótese se sujeita a q u alq u er ataque. “Por isso, sob o p o n to de

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

978 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
vista da retroatividade das leis, não som ente se consideram ad q u irid o s os direitos
aperfeiçoados ao tem po em que se prom ulga a lei nova, com o os que estejam s u ­
bord in ad o s a co n dições ainda não verificadas, desde que não indiquem alteráveis
ao arbítrio de o u tre m ”.
Rubens Limongi França ( “D ireito In tertem p o ral B rasileiro”, p. 432), acostan­
do-se às clássicas palavras de Cario Francesco Gabba, define-o com o “conseqüência
de um a lei, p o r via direta ou p o r interm édio de falo idôneo; conseqüência que,
ten d o passado a in teg rar o patrim ônio m aterial ou m oral do sujeito, não se fez valer
antes da vigência da lei nova sobre o m esm o o b jeto ”.
Lei en ten d id a p rin cip alm en te com o norm a ju ríd ica. O direito po d e ser c o n ­
figurado p o r o u tro in stru m en to não contrário à e stru tu ra organizacional, com o a
decisão ju d iciária tran sitada em julg ad o o u a prática do ato ju ríd ic o perfeito.
1280. R esum o d as co n clu sõ es — Em face de po stu lad o superior, im prescri-
tibilidade d o s benefícios, em face de outro preceito igualm ente elevado, liberdade
de trabalhar, p articu larm en te em razão das prestações levarem em conta c o n tri­
buições m ensalizadas, definindo-se seu m o n tan te em função do curso do tem po,
e serem , p o r seu tu rn o , de fruição sucessiva, propõe-se a questão do dom ínio do
bem ju ríd ic o em relação às partes constituintes. O u seja, período básico de cálcu­
lo, salário de benefício, percentuais, renda inicial etc., q u an d o p resen tes distintas
situações.
Dos p rin cíp io s gerais, em seguro social, o de m anuseio m ais difícil é o re ­
lativo ao direito ad q uirido. M andam ento co n stitu cio n al fundam ental, disposição
legal tradicional (art. 6 Üda LICC) e no rm a universal, acolhido sem restrições por
toda a d o u trin a e ju risp ru d ê n c ia ele invade o utros ram os. M atéria de inteligência
árida p o r n atureza (em face das sutilezas na apreensão do conceito), nas variadas
hip ó teses não é sistem atizadam ente desenvolvida com a p ro fu n d id ad e desejável.
Prescrição longeva tem -se com o adequada ao ord en am en to social. A presenta
a p articu larid ad e de, sendo ofendido, vir a revitalizar-se.
Na previdência social, m uitas vezes avocado im propriam ente, nem sem pre é
co m p reen d id o em sua função ou em seu cam po de atuação. Dá-se exem plo per­
tin en te às prestações de pagam ento co n tin u ad o , com a extensão da concepção:
aplicar-se-ia exclusivam ente ao in stitu to protetivo, com o u m todo, ou tam bém
valeria para os elem entos integrantes?
P rincípio ju ríd ic o e, ao m esm o tem po, fu n d am en to político, na prática res­
guarda a tran q ü ilid ad e ju ríd ica e social. G lobalm ente, o exam e histórico da legis­
lação previdenciária revela ter sido razoavelm ente respeitado. Em in úm eras opor­
tu n id ad es, o legislador ordinário o consagrou, cu m p rin d o a C arta M agna e a Lei
de In tro d u ção ao C ódigo Civil.
A integração ao p atrim ô n io nem sem pre é bem explicitada. Ela reclam a o
exercício — especialm ente q u an d o de créditos de aten d im en to co n tin u ad o — ou
bastaria a sua existência em tese (reunião dos requisitos legais)? No caso das ap o ­
sen tad o rias, não pode exigir o exercício, no nosso ord en am en to ju ríd ico consti­

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l
979
tucional, caso co n trário arrostaria a liberdade de trabalhar. D iante da im prescriti­
bilidade da prestação previdenciária, o direito deve ser considerado integrado ao
p atrim ô n io do segurado o benefício não requerido (sobrevindo perdas m ensais
pela inação). É p ró p rio estar a sua disposição.
N ossa Lei d e In trodução ao C ódigo Civil tem descrição m eio enigm ática:
“C onsideram -se ad q u iridos assim os d ireitos que o seu titular, ou alguém p o r ele,
possa exercer, com o aqueles cujo com eço d e exercício L e n h a term o prefixo, ou
condição preestabelecida inalterável, a arbítrio d e o u tre m ” (LICC, art. 69, § 2e).
“Possa exercer” são ex atam ente os existentes, isto é, de acordo com a lei (cu m p ri­
dos os requisitos).
O exam e do direito adquirido em co n cretitu d e pressupõe a perquirição da
dinâm ica do elo ju ríd ico estabelecido en tre o órgão gestor e os beneficiários, desde
o surgim ento da relação até sua extinção. C om vistas à faculdade p ropriam ente
dita — o vínculo fu n dam ental entre a pessoa e o benefício (ele consubstancia,
em últim a análise, a razão de ser da previdência social) — o liam e evoluir por
diferentes patam ares na sua consolidação, desde o estágio inicial (inexistência de
q u alq u er d o m ínio) até a fase final (perecim ento to tal), consoante de várias etapas:
pretensão, expectativa, direito e direito adquirido. Nos dois extrem os dessa linha:
inexistência e prescrição.
D ireito adq u irid o é expressão do direito pro p riam en te dito, porém , assim
qualificado em face do não exercício a tem po ou diante do advento de lei m odifi-
cadora. Q u an d o norm a legal dim inui o p o d er em si ou de suas partes integrantes,
sopesa-se a presença do direito adquirido.
Assim, exem plificativam ente, q uem possuía 30 anos de serviço até o dia
24.7.1991, d u ra n te a vigência da CLPS, fazia ju s a 80% do salário de benefício.
R equerido o benefício sob o im pério da Lei n. 8.213/1991, ao co n trário do disposto
em seu art. 53, I a II (aplica-se a situações futuras, contadas da data do início de
sua eficácia), tin h a o benefício calculado com aquele percentual básico e, saliente­
-se, co n tan d o , tam bém , com as vantagens então introduzidas, com o a correção dos
ú ltim o s 12 salários de contribuição e o fim do m en o r valor-teto.
Q u alq u er form a de direito, esgotado o liam e entre os sujeitos, p o r via judicial
ou n atu ral, desaparece. Q uem u su fru iu o auxílio-doença e teve alta m édica não
m ais faz ju s a esse d ireito, salvo se vier a ser acom etido p o r nova incapacidade.
P artindo-se do nada, preten são é form a em brionária de direito. Q u e r dizer, o
filiado sem carência (em função das prestações qu an d o exigidas) o u sem o evento
determ in an te com pletados.
Na fase seguinte e antes do direito sim ples, constata-se a expectativa de direito,
situação do titu lar pró xim o de com pletar o direito, ainda sem tê-lo feito.
O D ireito P revidenciário conhece algum as m anifestações de expectativa de
direito, e disso é exem plo o art. 142 do PBPS. O período de carência, de 60 co n ­
tribuições passou a 180 m ensalidades, m as o filiado antes de 24.7.1991 teve essa
triplicação im plantada g radualm ente até o ano 2011.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

980 W líid im irN o v a e s M a r tin e z


Sim ples direito ou direito sim ples corresponde à posição do titu lar após o
p reen chim en to dos requisitos legais. Q uem atende às exigências da lei e as prova
faz ju s. Tal condição deve ser cifrada a certo bem específico, pois ele pode estar
c u m p rin d o os p ressu postos de u m benefício e não de outro.
A análise co m p o rta o exam e da legislação vigente ao tem po da reunião dos
elem entos im postos. N orm alm ente, são três: a) qualidade de segurado; b) período
de carência; e c) evento determ inante. Em certos m om entos, a lei exigiu o afas­
tam en to do trabalho com o quarto requisito e, norm alm ente, os fundos de pensão
im p u seram lim ite m ínim o de idade (q u in ta condição).
O d ireito ad q u irid o é pensam ento d istin to do direito sim ples. Em princípio,
dele se cogita p o r ocasião da dim inuição de vantagens an terio rm en te asseguradas
e não usufruídas. P rincipalm ente, em duas hipóteses, são válidas as co n sid era­
ções: a) n ão utilização do bem q u an d o ele é possível, co m u m o u esperado pelo
legislador; e b) su p erveniência de n o rm a ou ato m odificador das características
anteriores.
Dá-se exem plo da prim eira delas com quem não requereu a aposentadoria
p roporcional, d eix an do para fazê-lo pela integral o u com pletando 35 anos, não
solicitou a ap o sen tad oria p o r tem po de contribuição, preferindo pedi-la noutro
m om ento (com m elh o r salário de benefício). A segunda circunstância configura
a m u d a n ç a d as re g ras, caso da ad o ç ão de u m lim ite d e id a d e , n o v o p e río d o
de cálculo, carência etc. Salvo nas hipóteses da ap osentadoria p o r invalidez e por
idade co m p u lsó ria, fixadas pelo legislador (norm a pública), o m om ento da apo-
sentação p ertence à discrição do segurado. D iante do princípio co n stitu cio n al da
liberdade de trabalhar, só a ele cabe decidir q u an d o isso sucederá.
Tam bém p ertence à volição do segurado, com direito a u m dos dois, escolher
qual benefício vai gozar. Só não tem opção pelo de m en o r valor. Em bora o D ireito
P revidenciário enseje m uitas norm as com caráter público, essa alternativa pertence
ao titu lar do direito.
Na Lei n. 9.528/1997, o legislador dispôs: “Se m ais vantajoso, fica assegurado
o direito à ap o sentadoria, nas condições legalm ente previstas na data do cu m p ri­
m ento de todos os req uisitos necessários à obtenção do benefício, ao segurado que,
ten d o co m p letad o 35 anos de serviço, se hom em , ou 30 anos, se m ulher, o p to u por
p erm an ecer em atividade.”

C u r m de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia l
Capítulo CXXVIII

J u s t if ic a ç ã o A d m in is t r a t iv a

S u m á r i o : 1281. Evolução histórica, 1282. Conceituação e definição. 1283. Âma­


go do procedimento. 1284. Instrução do pedido. 1285. Possibilidade de recurso.
1286. Função e objetivo. 1287. Rol de testemunhas. 1288. Eficácia e alcance. 1289.
Momento da produção. 1290. Início de prova.

O art. 201, § 9e, da C arta M agna, se fosse aprovada a P roposta dc E m enda


C on stitu cio n al n. 33-A /1995 (M ensagem do P oder E xecutivo n. 306/1995), teria a
seguinte redação: “A com provação adm inistrativa o u ju d icial da relação em pregatí­
cia valerá para efeito do reconhecim ento do tem po de co n trib u içã o ”. No R elatório
Beni Veras, de 8.10.1997, porém , o texto foi su b stitu íd o e desapareceu.
Tal dispositivo deveu-se a acordo entre o G overno F ederal e os líderes das
centrais sindicais. Sem prejuízo de lei co m p lem en tar inspirada no art. 153 do PBPS
de exigir início razoável de prova m aterial, a no rm a silencia a esse respeito. Pela
o p o rtu n id ad e convém repassar esse in stitu to jurídico.
Logo após d iscip linar a justificação adm inistrativa (arts. 142 a 151), o RPS
dispõe: “R econhecim ento de filiação é o direito do segurado de ter reconheci­
do, em qu alq u er época, o tem po de serviço exercido an terio rm en te em atividade
abrangida pela previdência social” (art. 121).
1281. Evolução h istó rica — A prim eira referência à possibilidade de o segura­
do provar m atéria de seu interesse com pareceu no art. 28, parágrafo único, do De­
creto n. 20.465/1931, adm itindo justificação ju d icial para provar tem po de serviço.
D em onstração form al adm inistrativa, sob o nom e de justificação avulsa sur­
giu no 1APC, ainda restrita ao tem po de serviço, p o r meio do art. 196 do Decreto
n. 5.493/1940. O D ecreto n. 2.410/1940 estendeu-a a todos os IAPs, am pliando-a
para o u tro s assuntos. O D ecreto n. 32.667/1953 facultava a justificação adm inis­
trativa e ju d icial e o D ecreto-lei n. 7.485/1945 p erm itiu evidenciar o casam ento
com a justificação judicial.
O art. 32, § 3°, da LOPS, bem com o o art. 60 do RGPS (D ecreto n. 48.959-A /
1960), adm itiram a justificação adm inistrativa, pela prim eira vez aludindo ao início
razoável de prova m aterial, destinado a polem izar no futuro. M ediante as P ortarias

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

982 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
MTPS ns. 3.626/1970 e 3.286/1973, o assunto foi regulam entado, en contrando-se
esm iuçado n a CANSB (O rdem de Serviço 1NSS/SSS n. 052.24/1977-P arte 4-II). A
legislação su b seq u en te sem pre previu a hipótese. Os dispositivos vigentes são o art.
55, § 3 5, e o art. 108, am bos do PBPS. Pelo d etalh am en to , convindo ver os arts. 178
a 187 do RBPS e item 2 da Parte II da O rdem de Serviço INSS/DISES n. 78/1992.
M ais recen tem en te, o art. 162 do D ecreto n. 2.172/1997 diz: “O processo de ju s ti­
ficação adm in istrativ a é parte de processo antecedente, vedada sua tram itação na
con d ição de processo au tô n o m o ”.
1282. C o n ceitu ação e definição — Justificação adm inistrativa é in stitu to
pro ced im en tal, ap roxim ando-se de elem entos d o Processo Civil e do D ireito A dm i­
nistrativo, florescente ju n to às repartições com o prática in tern a de longo alcance
e u tilidade. Cabível no D ireito Previdenciário, com nu an ças p ró p rias do Direito
Social, quase não conhece lim itações.
A ssegurada p o r lei, é direito subjetivo de todos os segurados, dependentes
ou co n trib u in tes, q u an d o desejam d em o n strar algo do qual não possuam o m eio
satisfatório o u ele é insuficiente.
D ispensa, p o r definição, a prova plena. O INSS, na entrevista, não pode soli­
citar d o cu m en to s óbvios com o a anotação da relação de em prego na CTPS. O exi-
gível situa-se no nível da razoabilidade de quem n ão tem a consignação com pleta.
A evidência posiciona-se a m eio cam inho da prova robusta e do vazio probatório.
E m bora deflagrada pelo au to r (requerente), quem conduz o en cam in h am en to
é o sujeito passivo da ação (réu ), deten d o a iniciativa de im pulsioná-la e cabendo-
-Ihe o p o d er de im pério de fixar a data e a discrição da decisão final. Isso não só
acontece q u an d o d eterm inada pela Ju n ta de R ecursos ou C âm ara d e ju lg a m e n to do
CRPS (em diligência); nesse caso, o processante lim ita-se a en c am in h ar a assentada
e os d ep o im en to s testem unhais àqueles órgãos julgadores.
C onsidera-se justificação adm inistrativa o meio de convencim ento, de inicia­
tiva do titu lar da pretensão, processado pelo sujeito passivo da ação, com vistas
a levá-lo à persuasão a respeito de certos fatos ou circunstâncias, previam ente
circunscritos pela norm a, de interesse previdenciário e em relação aos quais o b e­
neficiário não d eten h a m eios razoáveis ou acessíveis de dem onstração.
1283. Âm ago d o p ro c ed im en to — Tanto q u an to a ju d icial (m as dela dife­
rin d o ), su b stan cialm ente, é m eio de prova. Por esse expediente singular, “poderá
ser su p rid a a falta de d o cu m en to ou provado ato do interesse d e beneficiário ou
em p resa” (PBPS, art. 108).
P ro cedim ento n itid am en te in tern o , copiado do Judiciário, o resultado res­
ta su b m etid o à deliberação d o órgão justificante. Q uem verifica os pressupostos,
avalia o início razoável de prova m aterial, sopesa a validade e a autenticidade do
dep o im en to testem u n h ai, é a autarquia gestora.
A decisão faz coisa ju lg ad a in tram u ro s e p ro d u z efeitos ju n to ao processante
(RPS, art. 148) e, com o todo ato adm inistrativo, pode ser revista sua conclusão,
claro, q u an d o fundada a resolução e presentes m otivos ou razões suficientes.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l
983
Trata-se de direito subjetivo do polo da relação ju ríd ica de seguridade social.
P reenchidos regularm ente os pressupostos lógicos, descabe ao INSS rejeitar o p e ­
dido, em bora possa não acolher a pretensão da prova. Tam bém poderá indeferi-la,
se evidentes o u tro s m eios de configurar o fato.
Sua reedição é vedada em atos adm inistrativos m enores, m as o bom -senso
recom enda aceitá-la se o ju stifican te ap resen tar fatos novos. De q u alq u er form a,
sem pre poderá ser prom ovida na Ju stiça do Trabalho (com eficácia reduzida, em
face da ausência do INSS com o parte) ou na Ju stiça Federal.
1284. In stru ç ã o do p e d id o — A ndam ento form al, a justificação adm inistra­
tiva deflagra-se m ediante pedido do autor, dito justificante. G eralm ente, o INSS
fornece fo rm ulário-padrão, em que o titu lar p reenche os claros, qualificando-se, e
“expondo, clara e m inuciosam ente, os p o n to s que pretende ju stific ar” (RPS, caput,
do art. 145). Na o p o rtu n id ad e, arrola de três a seis testem u n h as idôneas, cujo d e­
p o im en to deverá levar ou não o órgão gestor à convicção.
C ientificadas do dia e hora aprazados e do local para a entrevista, as teste­
m u nhas serão in q u irid as a respeito de fatos objeto da justificação em separado,
seguindo-se os dep o im entos e exibição de d o cu m en to s à autoridade com petente
para hom ologação ou não. Inicia-se com os term os da assentada, sobrevindo lei­
tu ra do req u erim en to do requerente. Também são lidos os testem u n h o s, antes da
assinatura.
O processante obterá as declarações p o r escrito e consignará na ata o com ­
po rtam ento das testem u n h as, para fins de avaliação, suas contradições o u afirm a­
ções categóricas. A n o rm a não exclui a acareação. O ju stifican te pode assistir aos
depoim entos e, p o r in term éd io do processante, fazer indagações às testem unhas.
Em seguida, o INSS com unicará o resultado p o r escrito, concluindo pela: a)
eficácia total; b) parcial; e c) negativa de eficácia.
1285. P o ssib ilid ad e d e re c u rso — Reza o art. 147 do RBPS: “Não caberá re ­
curso da decisão da au to rid ad e co m p eten te do In stitu to N acional do Seguro Social
que co n sid erar eficaz ou ineficaz a justificação ad m in istrativ a”.
A im possibilidade de d u p lo grau de ju risd ição (caber recurso à JR ou CAj) es­
taria m ais bem situada na lei, dada sua im portância. Esse p o sicionam ento contraria
o am plo direito co n stitucional de defesa.
Na verdade, o reexam e acontece no bojo do pedido de benefício negado,
q u ando o segurado te n ta r evidenciar o fato m ediante justificação adm inistrativa.
1286. F u n ção e o bjetivo — O objetivo da justificação adm inistrativa é provar,
de m odo sim plificado, fatos de interesse dos beneficiários e co n trib u in tes, q uando
estes não dispõem dos m eios plenos exigidos em cada caso. Assim, ela é sem pre
o perada m ediante indícios m ateriais ou de depoim entos testem unhais. Preferivel­
m ente, com binados.
A in tenção do procedim ento é facilitar para os beneficiários, pois, processada
no in terio r da autarquia, de form a singela, evita a busca do P oder Judiciário.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

984 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Um a d em o n stração indireta, não proveniente diretam ente do D ireito do Tra­
balho ou D ireito Previdenciário (v. g., boletim de ocorrência policial, noticiário
em periódicos, trab alh os escritos etc.), supera em qualidade a declaração hodíerna
lirm ada para o m esm o fim. A fortuita, ocasional, acidental, isto é, a im prevista, tem
preferência sobre a p rogram ada. A espontânea, m esm o im precisa, vence a detalhis-
ta, se adrede preparada.
1287. Rol de testemunhas — C onform e o art. 146 do RPS, não podem teste­
m u n h a r “os loucos de todo o g ên ero ” (inciso I); “os cegos e os surdos, q uando a
ciência do fato que se q u er provar, dependa dos sentidos, que lhes faltam ” (inciso
11); “os m enores de 16 (dezesseis) a n o s” (inciso III); e o “ascendente, descendente
ou colateral, até o terceiro grau, p o r consangüinidade ou afinidade” (inciso IV), A
A dm inistração en ten d e essa pessoa com o sendo o avô, pai, filho, neto, irm ão, tio,
so b rin h o , cu n h a d o , sogro, genro, nora, padrasto, m adrasta e enteado.
D ispositivo incom pleto e genérico, não aclara os loucos, esquece-se dos m u ­
dos, ignora os m enores de 16 anos (seu dep o im en to tem p o d er de convencim ento),
o m esm o aco n tecen d o com o dos parentes. O interessado pode firm ar declarações,
m as não d ep o r a seu favor.
1288. Eficácia e alcance — Em D ireito, o u n iv erso da prova é gran d e, m as
lim itad o na justificação ad m in istrativ a. Pode su p rir a falta de alg u n s d o c u m e n ­
tos, m as não de todos, e levar à convicção sobre fato ou c irc u n stâ n cia de m odo
geral.
A restrição é, da m esm a form a, anacrônica, pois segurados de baixa renda sem
saber se foram registrados em algum cartório têm dificuldade de provar a idade.
N ão tem sentido exigir a com provação científica, difícil e de alto custo.
C onform e o § I a do art. 142: “N ão será adm itida a justificação q u an d o o fato
a co m p ro v ar exigir registro público de casam ento, de idade ou de óbito, ou de
q u alq u er ato ju ríd ic o para o qual a lei prescreva form a especial”.
Tal n o rm a obsta a prova do desaparecim ento do segurado, com vistas à p en ­
são p or m o rte e tam bém salientar a existência de em presa (se de am bos os fatos o
preten d en te possu ir início razoável de prova m aterial). O legislador e o elaborador
do regulam ento deveriam excluir desse ô n u s o dom éstico e o trab alh ad o r rural,
pois am bos nem sem pre têm com o ap resen tar o m encionado início razoável.
O d ep o im en to testem u n h ai exclusivo é vedado para o tem po de serviço (salvo
q u an d o presen te m otivo de força m aior ou caso fortuito), depen d ên cia econôm ica,
iden tid ad e e relação de parentesco (RPS, art. 143).
Para a CLT, força m aior é todo acontecim ento inevitável em relação à vontade
do em pregador e para a realização do qual este não concorreu, direta ou indire­
tam ente (art. 501). E m bora previsível, é inesperada. De Plácido e Silva a equipara
ao caso fortuito. “Q u alq u er distinção havida entre eles, conseqüência da violência
do fato ou da causalidade dele, não im porta na técnica do D ireito” ( “Vocabulário
Ju ríd ico ”, 4 a ed., Rio de ja n e iro , F orense, 1975, vol. I, p. 351, e vol. II, p. 711).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o !I -— P r e v id ê n c ia S o c ia l
985
C aso fortuito é o im previsível e sobre o qual o hom em não tem d o m ín io ou
capacidade de subm eter.
Se a sim ples perda o u ausência de Livro Registro de Em pregados não é força
m aior ou caso fortuito, o desaparecim ento em razão de acontecim ento incontrolá-
vel (v. g., terrem oto, furacão, naufrágio, in undação, incêndio etc.) caracterizam -no.
1289. M om ento da p ro d u ç ão — A justificação adm inistrativa pode ser efe­
tuada an tes ou d u ra n te o pedido de benefício. E até após sua concessão, d u ra n te a
m anutenção, q u an d o o segurado obteve os in stru m en to s necessários e, então, para
ver o tipo de prestação ou seu valor.
Produzida antes, será de natureza cautelar, sugerida nas hipóteses de possibi­
lidade de perecim ento dos indícios de prova ou do depoente.
M elhor, na o p o rtu n id ad e, ser requerida ju n to com a solicitação do benefício.
1290. Início de prova — O PBPS faz distinção. No art. f0 8 , disciplina ju s ti­
ficação ad m inistrativa, de m odo geral, e no art. 55, § 3a, em particular, cuidando
apenas do cô m p u to do tem po de serviço, q uando im põe início razoável de prova
m aterial.
A expressão “início razoável de prova m ateria l” desdobra-se, pelo m enos,
em três partes: a) ser incipiente, dispensada a prova exaustiva; b) ser razoável,
isto é, acolhida pelo senso com um ; e c) ser m aterial, não se aceitan d o a apenas
testem u n h ai.
A lei não especifica a natureza desse com eço de evidência, sua potencialidade
ou eficácia. Abre, p o r conseguinte, cam po a m uitas perspectivas. Silencia quanto
à q u an tid ad e ou qualidade dos docum entos. Um , se eficiente, é suficiente; vários,
m esm o frágeis, na m esm a direção, são convincentes. No “Prova de Tempo de Ser­
viço” (3a ed., São Paulo: LTr) são sugeridas m ais de 300 m odalidades...
Q uem , p o r exem plo, no título de eleitor, certificado de reservista, certidão de
nascim ento ou de n ascim ento dos filhos, declarou profissão da qual possui d ip lo ­
m a ou certificado (indícios individualm ente fracos), beneficia-se da presunção de
ter exercido esse m ister.
Se no com eço, m eio e fim de certo período ap resen to u prova de trabalho,
adm ite-se tê-lo prestado todo o lapso de tem po.
A R esolução CD/DNPS n. 6 9 /f9 6 8 (Processo MTPS n. 357.121/1967) co n ­
cluiu pela im prescindibilidade desse indício, m esm o se tratan d o de ju stificaçõ es
o p erad as no P oder Ju d iciário . O P arecer CJ/MTPS n. 8 3 /1 9 7 2 (P rocesso MTPS n.
1 2 0 .1 0 4 /1 9 6 9 ) ex ig e-o p ara ju s tific a ç ã o a d m in is tra tiv a . O P are cer CJ/M PTS
n. 01/1983 disp en so u-o q uando do abandono da área rural (C ircular INPS n.
601.005.0/111/1983). A P ortaria MPAS n. 3.329/1984 exigia justificação adm inis­
trativa diante de certidões de nascim ento possivelm ente falsas.

C urso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

986 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CXXIX

S erviços S oc iai s

S u m á r io : 1291. Aproximação do assunto. 1292. Habilitação ao trabalho. 1293.


Reabilitação profissional. 1294. Fornecimento de aparelhos. 1295. Prevenção
acidentária. 1296. Admissão de deficientes. 1297. Convênio de serviços. 1298.
Atendimento aos necessitados. 1299. Assistência jurídica. 1300. Orientação geral.

Prestações previdenciárias são benefícios (pagam ento em dinheiro, ún ico ou


co n tin u ad o ) e alguns peq u en o s serviços. Estes ú ltim os, aten d im en to s pessoais aos
segurados e seus d ep en d en tes desenvolvidos sob diferentes m odalidades. E, tam ­
bém , cu id ad o s para com os pensionistas.
A ssem elhados àquelas, não são form as assistenciárias (em q u e igualm ente
p resen tes benefícios e atenções individuais).
O serviço social já preo cu p o u estudiosos com o Washington Luiz da Trindade.
Ele se refere aos diversos em penhos em preendidos à época (1970). A ludiu a servi­
ços co m p lem en tares, m encionando o art. 52 da LOPS, ao defin ir a assistência com ­
plem entar: “a ação pessoal ju n to aos beneficiários, q u er individualm ente, q u er em
grupo, p o r m eio da técnica do serviço social, visando à m elhoria das condições de
vida, reclam ando a participação das em presas nesse esforço to tal” ( “A Seguridade
Social e a técnica do serviço social com o dispositivo de segurança das sociedades
abertas n a A m érica L atina”, in LTr n. 36/455).
Dão-se exem plos dessas práticas auxiliares.
As vezes, o beneficiário é obrigado a deslocar-se para localidade diversa de sua
residência, a fim d e subm eter-se a exam e m édico-pericial o u m esm o a processo de
reabilitação profissional, na ausência de recursos locais. Q u a n d o im prescindível,
aco m p an h ad o de alguém .
N essas hipóteses, o órgão gestor custeia o tran sp o rte e as diárias ou prom ove
a hospedagem em hotéis. É, talvez, o único valor em din h eiro dos serviços.
A lei cuida (precariam ente) do transporte do segurado, acidentado no trabalho.
O serviço social, sob largo espectro, ainda sob condições in cipientes, objetiva
m elh o rar as relações dos participantes d o sistem a com o órgão gestor, orientá-lo de

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S a c i a i 987
m odo geral sobre obrigações e direitos, m inistrar-lhe p equenos atendim entos (nas
vizinhanças da área de atribuição da assistência social), com patíveis com a função
principal — pagar benefícios — , organizando a m ú tu a cooperação entre o cidadão
e o Estado, com vistas ao bem -estar da coletividade protegida.
De todas, a área m enos desenvolvida na seguridade social, p articu larm en te o
serviço prestado pelos assistentes sociais. À exceção da recuperação profissional,
h isto ricam en te é processo em abandono p o r parte do Estado, sem perspectiva de
m elh o rar nos p róxim os anos. Em parte, isso se deve à m encionada vizinhança com
o objetivo da assistência social.
1291. A proxim ação do a ssu n to — O serviço social é a principal prestação
não pecuniária da previdência social. Faz parte de sua assistência, efetivada por
interm éd io de assistentes, procuradores, m édicos e dem ais servidores. Abarca c o n ­
ju n to de atenções voltadas para as relações do beneficiário (e até co n trib u in te) com
o órgão gestor.
São inúm eros esses cuidados da adm inistração gestora, entre os quais os se­
guintes:
a) esclarecim entos e inform ações a respeito dos direitos sociais;
b) discussão em co n ju n to dos problem as da previdência social com a apresen­
tação de p ro postas de solução encam inhadas às autoridades;
c) utilização de intervenção técnica, assistência ju ríd ica, ajuda m aterial, re­
cursos sociais, convênios e pesquisas;
d) participação dos beneficiários no exam e dos problem as securitários;
e) convocação das associações e entidades de classe para a im plem entação da
política previdenciária;
0 assessoram ento técnico aos Estados, D istrito F ederal e M unicípios, na ela­
boração e im p lantação de suas propostas.
O RPS prevê p rioridade para os benefícios p o r incapacidade e atenção espe­
cial aos ap o sen tad o s e pensionistas ( s í l ) . C hega a po n to de ad m itir a elaboração
de pareceres sociais para subsidiar os processos de in stru ção e avaliação m édico-
-pericial, ideia conflitante com o p o d er de discrição da adm inistração em relação
à concessão das prestações.
1292. Habilitação ao trabalho — A habilitação profissional é aten d im en to
físico. Não se co n fu n d e com a reabilitação. A prim eira é preparação do inapto para
exercer alividades, em decorrência da incapacidade física adquirida ou deficiência
hereditária.
Tem p o r m eta a educação técnica ou a adaptação do indiv íd u o para participar
do m ercado de trabalho e da vida social.
A m aior parte dessas funções é executada p o r entidades patronais (SENAI,
SENAC, SENAT e SEN AR). De algum a form a, tam bém o SESI e o SESC.
1293. R eabilitação p ro fissio n al — Reabilitação q u er dizer a repreparação da
pessoa para o exercício da atividade, sua reeducação ou readaptação profissional.

C urso on D ir e it o P r e v id e n c iá r io

988 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
Além da p ró p ria reabilitação profissional, ao final do procedim ento, o órgão
gestor expede certificado no qual indica a função para a qual o reabilitado está apto.
A hab ilitação e a reabilitação não se co n stitu em em direito subjetivo, desen­
volvendo-se conform e a capacidade instalada da autarquia.
1294. Fornecimento de aparelhos — O INSS se predispõe a ceder, a custo
zero, ap arelhos de p ró tese, órtese e in stru m en to s de auxílio para locom oção q u a n ­
do a perda ou redução da capacidade funcional p u d e r ser aten u ad a p o r seu uso e
os eq u ip am en to s necessários à habilitação e reabilitação social e profissional.
Inclui a reparação ou a substituição dos in stru m en to s m encionados, desgasta­
dos pelo uso n o rm al ou p o r ocorrência estran h a à vontade do beneficiário.
1295. Prevenção acidentária — A tividade principal d o serviço social, é a
prevenção dos acidentes do trabalho, m ediante cam panhas institucionais.
Há previsão na legislação para a negligência quanto às norm as de segurança e
saúde do trabalhador, cabendo ação regressiva contra os responsáveis. Visa a dim inuir
a incidência da aposentadoria especial e garantir m elhores condições para o segurado.
A In stru ção N orm ativa SSST n. 3/1996 fixa diretrizes para C am panha N acio­
nal de C om bate aos A cidentes do Trabalho.
1296. A d m issão de deficientes — E m bora diga respeito à m atéria laborai, a
legislação previdenciária legisla sobre a aceitação com pulsória, p o r parte das em ­
presas, de trab alh ad o res reabilitados ou deficientes habilitados, observados certos
p ercen tuais relativos ao n ú m ero de seus em pregados.
A em presa com 100 ou m ais em pregados, conform e tabela legal, devia ad m itir
de 2% a 5% do seu q uadro de pessoal de pessoas deficientes ou reabilitadas (PBPS,
art. 93).
U m a dispensa desses adm itidos só pode ocorrer em d eterm in ad as circu n stân ­
cias, após a adm issão de o u tro reabilitado ou deficiente.
1297. Convênio de serviços — D iversas organizações (em presas, sindicatos,
en tid ad es e associações) podem celebrar convênios de variado alcance, en tre os
quais in stru ir o p ed id o de benefício, su b m eter o segurado a exam e m édico e pagar
prestações.
1298. Atendimento aos necessitados — Em bora atividade ínsita à assistência
social, o INSS p o d erá form ular convênios para aten d e r as pessoas p o rtad o ras de
deficiência.
1299. A ssistên cia ju ríd ic a — Sem em bargo de serem p artes, às vezes em c o n ­
tencioso, a legislação adm ite a existência de serviço ju ríd ico g ratu ito de orientação
aos segurados e dep en dentes. Tal tarefa inclui a realização de program as sociais em
favor d o s beneficiários.
1300. O rie n ta ção g eral — É obrigação institucional da previdência social
ilu strar os beneficiários, esclarecendo pessoalm ente ou p o r telefone quais as suas
obrigações e direitos. Isso se faz p o r escrito, m ediante co n su ltas e nos balcões de
aten d im en to dos postos de serviços, bem com o pelo telefone 191.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P revidência S o c ia l
Capítulo CXXX

M últipla A ti vi dad e

1301. Introdução histórica. 1302. M e n s legislatoris e mens iegis. 1303.


S u m Ar io :
Destinatário da norma. 1304. Comunicação das características. 1305. Critérios
da simultaneidade. 1306. Atividades principal e secundária. 1307. Omissão le­
gislativa. 1308. ConcomiLância total. 1309. Concomitância parcial. 1310. Ex­
plicações finais.

O art. 32 do PBPS disciplina o salário de benefício e, consequentem ente,


a renda inicial do segurado exercente de duas ou m ais atividades sujeitas ao
RGPS. O assu n to era precariam ente explicitado no art. 22 da CLPS e no D ecreto
n. 83.080/1979, o brigando a CANSB a porm enorizã-lo com inúm eros exem plos,
e co n tin u a obscuro. Não regra dezenas de eventos possíveis nem fixa critérios
com a tran sp arên cia ou objetividade im prescindíveis, cedendo espaço à n o rm a
ad m inistrativa e à in terpretação d outrinária. Aquela em pregou, diante do silêncio
norm ativo, soluções casuísticas.
Para fins dos en cam in h am en to s a seguir operados, considerar-se-ão os sa­
lários de co n trib u ição de quantum constante, inflação zerada em todo o período
básico de cálculo, e lim ite de R$ 900,00 (em vez dos R$ 4.159,00). Para não ter de
repetir os três itens, neste desenvolvim ento, “te rm o ” significará: a) data de entrada
do req uerim ento; b) data do óbito; e c) período básico de cálculo. O legislador de
1991, q u an d o redigiu o preceito, pensava num PBC de trin ta e seis m eses e, agora,
ele não tem lim ite prefixado, algum dia p o d en d o ser de 30 anos (sic).
1301. In tro d u ç ão h istó ric a — A inteligência do art. 32 recom enda p erq u i­
rição histórica para estabelecer-se liam e en tre a mens legislatoris e a mens Iegis. O
processo foi m ais o u m enos sem elhante ao da in tro d u ção do dispositivo relativo
às alterações salariais às p o rtas do período básico de cálculo (PBPS, art. 29, § 4g).
Na ocasião, m u ito s segurados, p róxim os da aposentação, sim ularam relações
ju ríd icas previdenciárias ou, sem fraude, exerceram -nas regularm ente, com a d e­
liberada in tenção de au m en tar o salário de benefício. Im puseram -se, co n seq u en ­
tem ente, m esm o sob singelos ditam es atuariais, as regras intro d u zid as pelo art. 4°
da Lei n. 5.890/1973.

C urso de D ire ito P r e v id e n c iá r io

990 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Até 10.6.1973, inexistiam preceitos sobre o assunto e, então, som avam -se
os salários de co n trib u ição das diferentes atividades, sem levar em conta o tem po
de filiação em cada u m a delas, im p o rtan d o tão so m en te estarem acontecendo no
p erío d o básico de cálculo. Prevalecia o salário de contribuição.
1302. M ens legislatoris e m ens legis — Se, inicialm ente, a in ten ção do elabo-
ra d o r do co m ando foi coibir abusos praticados às vésperas da aposentação, acabou,
afinal, in stitu in d o estipulação para todos os casos. E, com o restará evidente, sob
precariedade norm ativa.
Agora, n a interp retação da m atéria, interessa o texto da lei, q u an d o lacunosa
ou om issa, rem issão à igualdade das pessoas e aos fun d am en to s atuariais. Assim,
p o r exem plo, exercendo duas ou m ais atividades, se na principal o segurado c o n ­
trib u i pelo m áxim o p erm itid o (com o se exercesse um a só), na definição do m o n ­
tante as dem ais devem ser desprezadas.
1303. D e stin atá rio da n o rm a — U m a prim eira providência é especificar
quais dispositivos válidos para quais direitos ou situações, divididas as principais
p articu larid ad es em três grupos: 1) dos benefícios não definidos pelo tem po de
serviço (incisos I e II) — auxílio-doença, aposentadoria p o r invalidez e ap o sen ta­
doria p o r idade, em que o período de carência é relevante; 2) definidos pelo tem po
de serviço (inciso III) — aposentadoria p o r tem po de contribuição e especial; e
3) q u an d o im possível, p o r parte do segurado, ex tern ar a base de cálculo real, em
v irtu d e da com pressão do salário-base pela rem uneração com o em pregado (§ I 9)
e pelo critério da proporcionalidade da rem uneração (§ 2Q).
1304. C o m u n icação d as c a ra c te rístic a s — Im porta, da m esm a form a, fixar
norm as m ínim as: 1) quem tem qualidade de segurado m antida n u m a atividade
prin cip al tem para todas; 2) com pletado o período de carência e não tendo havido
perda da qualidade de segurado, atendeu esse requisito básico com vistas ao direito
ao benefício; todavia, a ausência em o u tras atividades ali seráco n sid erad a (auxílio-
-doença, ap o sen tad o ria p o r invalidez e por idade); 3) exceto para o auxílio-doença
e ap o sen tad o ria p o r invalidez, cum prido o evento d eterm in a n te n um a atividade,
subsiste para as dem ais; 4) se o segurado Lem direito à ap o sen tad o ria especial, em
razão de certa ocupação, é com o se tivesse em todas; e 5) nas considerações, o
período básico de cálculo é o lato sensu, isto é, se necessário, os antigos 48 salários
de co n trib u ição , m as, claro está, se o segurado desfrutava de 36 salários de c o n tri­
buição nos ú ltim o s 36 m eses (consecutividade), eventuais co n tribuições de outras
atividades, con tid as no q u arto ano, dele não fazem parte.
1305. C rité rio s da sim u lta n e id a d e — Possível critério da concom itância é
inicialm ente estabelecido no caput do m encionado art. 32, no qual a lei parece estar
referindo-se à circu n stância m elhor aclarada n o seu inciso I (de quem preenche os
req u isitos legais em todas as atividades). A lude à “som a dos salários de co n trib u i­
ção ”, d itan d o , p o rtan to , sobre os PBC p ró p rio s de cada relação jurídica.
São consideradas sim ultâneas as atividades, nu m m o m en to ora designado
com o “te rm o ”: 1) exercidas na data do requerim ento; 2) na data do óbito; e 3)

C u rso dr D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P revidência S o c íti/ 991


ocorridas d en tro do período básico de cálculo. Não faz p arte do conceito, exigir,
em cada caso, o cu m p rim ento dos requisitos legais, se atendido em u m deles.
S ituação rara, e cu rio sa, a do seg u rad o , cessando a ativ id ad e sec u n d ária
após o term o do p e río d o básico de cálculo e an tes da data de e n tra d a do re­
q u e rim e n to . C om o ele ate n d e ao p rim e iro crité rio , a situ ação será tida com o
co n c o m itan te.
1306. Atividades principal e secundária — O assunto sim ultaneidade re­
clam a as noções de atividades p rin cip al e secundária. A lei e o regulam ento não a
fornecem ; a ideia é im portante para a definição do nível p ecuniário do benefício e
deveria co n star da n o rm a legal.
A concepção básica é o tem po de filiação m aior e consecutivo determ in ar
a principal. Caso ela tenha cessado antes do período básico de cálculo, deve ser
su b stitu íd a pela de tem po de filiação m aior ou de salário de contribuição de valor
m ais próxim o.
N o caso m ais sim ples, se o segurado foi em pregado, sucessivam ente, m esm o
de diversas em presas, e n o final da carreira torna-se tam bém autônom o, há ten ta­
ção de se co n sid erar a prim eira condição com o principal, e com certeza ela será se
os salários de co n trib u ição forem superiores aos do salário-base. Aliás, separar as
atividades, para fins dessa classificação, em função do tipo de segurado (sujeito a
desconto ou n ão), é critério so lu cio n ad o r de alguns problem as.
Propõe-se conceito de principal: a atividade na qual o segurado exerceu m ais
tem po de serviço; co rolariam ente, as dem ais, designadas com o secundárias. Q u a n ­
do a atividade principal cessou d en tro do período básico de cálculo — razão para
ser considerada — , deve ser su b stitu íd a p o r um a o u m ais das concom itantes, prefe­
rindo-se a m ais antiga ou de salário de contribuição m ais aproxim ado da atividade
cessada, se m ais vantajosa.
A atividade prin cipal já foi entendida com o a m ais antiga e não aquela ca­
paz de beneficiar o segurado (A córdão GTU/CRPS n. 16/1985, Processo INPS n.
22.856/1983, in RPS n. 54/309).
E xistindo um a especial, observadas as regras anteriores, ela será a principal.
O m o n tan te do salário de contribuição dos últim os tem pos, m áxim e do p erío ­
do básico de cálculo, p o d e ser indicativo.
Q u an d o de ped id o ex tem porâneo de benefício, tem pos após o desligam ento
do trabalho, a data deste últim o é o term o do período básico de cálculo fixador
ou não da concom itância. A juizando do p resen te para o passado, se a segunda ou
dem ais atividades cessaram fora dos últim os 48 m eses, elas nào são consideradas
para os fins do art. 32. É com o se não existissem .
Se d u as ou m ais atividades foram exercitadas, estendendo-se até o interregno
em que co n tid o o p eríodo básico de cálculo, devem ser tidas com o sim ultâneas,
som ando-se os valores m ensais dos salários de con tribuição, na conform idade do
tipo de benefício.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

992 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Por exem plo, se a data de entrada do re q u erim en to é 6.1.1997 e o segurado
trab alh o u na atividade A, de l e. 1.1967 a 31.12.1996, n u m total de 360 m eses (pe­
ríodo básico de cálculo: 1Q.1.1994 a 31.12.1996), e na atividade B, de 1° 6 .1967
a 30.6.1994, n u m total de 330 m eses, os seis ú ltim o s salários de contribuição na
atividade B serão som ados aos seis salários de con trib u ição da atividade A (in casu,
p ro p o rcio n alm en te à relação 360/330, isto é, de 91,66% ).
Tendo em p reen dido várias atividades, d u ra n te longos anos, se no PBC exer­
cito u apenas u m a (C ), sendo irrelevante o valor dos salários de contribuição, so­
m ente os desta servirão de base para o cálculo.
1307. O m issão legislativa — A lei não regulou claram ente a situação do se
g u rad o sujeito a desconto com o seguinte cenário: a) n a atividade dita principal,
com m aior tem po de filiação, u ltim am en te, den tro do período básico de cálculo,
recolheu sob salário de contribuição inferior; e b) na atividade dita secundária,
com m en o r tem po de filiação, recolheu sob salário de co n trib u ição elevado. Nessas
condições, em b o ra possa ter pago pelo lim ite da co n trib u içã o no PBC terá b en e­
fício de quantum irrisório.
R aciocinem os com o PBC an terio r à Lei n. 9.876/1999.
Dá-se exem plo singelo. Na em presa A, on d e trabalha há 360 m eses, recebe R$
120,00. Todos os salários de contribuição do período básico de cálculo relativos a
essa firm a serão in teg ralm ente considerados. Na em presa B, onde trabalha há trinta
e seis m eses (ou 10% de 360 m eses), recebe R$ 600,00. O m o n tan te m aior será
consid erad o p ro p o rcionalm ente (10% ) ao tem po de serviço. A base de cálculo de
su a co n trib u ição era de R$ 720,00, mas o benefício será aferido a p artir de:
A — R$ 120,00 (integralidade) x 100% = R$ 120,00
B — R$ 800,00 (proporcionalidade) x 360/36 = 10% = R$ 60.00
R$ 180,00
R$ 180,00 (salário de benefício) x 70% = R$ 126,00 (renda m ensal)
Para se vislu m b rar o resultado, se ab an d o n ar a atividade A, n a qual recolheu
com base n o s R$ 120,00, e continuar, p o r m ais qu aren ta e oito m eses, na atividade
B, so m en te a mens legislatoris explica o m odelo. A tuarialm ente, é um desastre.
C om paradas as realidades expostas quem , regularm ente, nos ú ltim o s anos apor­
tou com base em valores elevados acabará p o r ter salário-base elevado. As m esm as
im p o rtâncias, ch egando ao FPAS p o r duas ou m ais atividades, con d u zirão a salário
de benefício m enor.
O regim e co n trib utivo do salário-base é exem plo típico dessa im propriedade
atuarial. Sem alíq u o ta progressiva própria, alguém adota para base de cálculo um
salário m ín im o no início da carreira profissional e ao seu final, ap o sentando-se no
lim ite (sic).
Silente a norm a, convém sopesar a situação do trab a lh ad o r ru ral em face da
ap o sen tad o ria p o r idade, para ele concedível cinco anos antes do obreiro urbano,
q u ando, sim u ltan eam en te, ele presta serviços nos dois dom ínios (na cidade e no
cam po).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo íl — P revidência S o c ia l
993
Se m ulher, aos 55 e, se hom em , aos 60 anos, será deferida a prestação com
base n o s critérios do benefício rural, tom ando-se os pressupostos da definição do
direito da atividade rurícola. C om pletando ela 60 anos e ele 65 anos, será concedi­
da a prestação co n so an te os critérios citadinos.
1308. C o n co m itân cia to tal — No inciso I do art. 32, o legislador descreve a
tigura da concom itância total. D everia fazer m enção ao caput do art. 29. Diz re sp ei­
to ao seg u rad o com to d o s os re q u is ito s a te n d id o s em d u a s o u m ais ativ id ad es
(v. g., A, B e C) n o term o, vale dizer, conform e o caso, carência e evento determ i­
nan te (tem po de serviço, idade, incapacidade etc.).
O bservado o lim ite legal, no exem plo, som am -se os três salários de co n trib u i­
ção de cada m ês ou os salários de benefício obtidos em cada situação e, em seguida,
aplica-se o coeficiente do segurado. Chegar-se-á à renda inicial.
R aciocina-se com o se o segurado tivesse exercido um a única atividade, nela
contidos diferentes e individualizados salários de contribuição.
1309. C o n co m itân cia p arcial — N o inciso II do art. 32, o legislador configura
a concom itância parcial, razão de ser do tem a abordado no artigo, ap resen tan d o ­
-se a o p o rtu n id ad e de aplicação do cálculo da proporcionalidade e das observações
anteriores. O m ais com plexo dos cenários. Sua com preensão com pleta-se com as
particularidades aventadas nos §§ l e e 2° e com as hipóteses dos parágrafos do art.
32 do RBPS.
O corre q u an d o , no term o, o segurado exercia duas ou m ais atividades, um a
delas (secundária) nào Lão recentem ente, m as cessada d en tro do período básico
de cálculo (p o rque se ex tin ta antes dele será tida com o in existente, sem avaliação
das eventuais pretensões do segurado). Sem pre observado o seu lim ite, os valores
proporcionais (à carência ou ao tem po de serviço, conform e o caso) dos salários
de co n tribuição destas últim as (secundárias) são som ados à base de cálculo da
co n trib u ição da atividade principal exercida até a véspera do início do benefício,
operando-se, a seguir, conform e o inciso anterior.
O u q u ando praticadas até o term o, m as iniciadas em diferentes m om entos,
isto é, m aiores ou m enores tem pos de filiação em cada um a delas.
Para caracterização do direito é im prescindível o segurado ter preenchido os
requisitos legais. Somados: ter 25 a 30 anos (m ulheres) ou 30 a 35 anos de serviço
(h o m en s), na hipótese da aposentadoria p o r tem po de contribuição. Som ar 15 ou
20 o u 25 anos de atividades perigosas, penosas ou insalubres, com vistas à aposen­
tadoria especial. P o ssuir a idade m ínim a (55 e 60 anos) para a aposentadoria por
idade, 60 ou 65 anos de idade.
Se o segurado não com pletou tais exigências em relação a todas as atividades
exercitadas no term o as regras são com plexas, devendo-se ap u rar a m édia dos sa­
lários de co n trib u ição de cada um a delas.
De acordo com a lei, o m o n tan te do salário de benefício correspondente à ativi­
dade principal, q u ando atendidas as condições, é aproveitado integralm ente; o valor

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994 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
das dem ais ocupações, proporcionalm ente. Todavia, favoravelm ente, a CANSB —
Parte 6 — Subitem 2A.2.2-b: “se na atividade principal, o segurado já percebeu
valor equivalente ou su p erio r ao lim ite m áxim o, em todo o PBC, considera com o
inexistente a atividade concom itante, apenas para efeito de cálculo.” O adm inistra­
d o r ajuíza atuarialm ente, com o se fosse a única atividade, e isso sim plifica as coisas.
Sob a ótica legal, o critério da proporcionalidade consiste nu m a relação e n ­
tre o n ú m ero dos m eses com pletos de contribuição ou dos períodos de carência
(para o auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e p o r idade). P articularm ente,
tratan d o -se de benefício p o r tem po de serviço (aposentadoria p o r tem po de c o n tri­
buição e esp ecial), o p ercen tu al “será o re su ltan te da relação en tre os an o s com ­
pletos de atividade e o núm ero de anos de serviço considerado para a concessão
do benefício” (incisos II e III),
A situação prevista no inciso II, de certa form a com binada com a do inciso
I (atividade B em relação à A), pode ser exem plificada. Im agine-se segurado p re­
ten d en d o auxílio-doença, filiado há quatro anos, trab alh an d o exatam ente há 48
m eses n as em presas A e B e há seis m eses, na em presa C, respectivam ente, com R$
300,00, R$ 200,00 e R$ 400,00 de salário de benefício, em que seis m eses é 50% de
12 m eses, o p erío d o de carência do benefício em tela.
O cálculo será:
A tividade A — R$ 300,00 x 100% = R$ 300,00 (carência total)
A tividade B — R$ 200,00 x 100% = R$ 200,00 (carência total)
A tividade C — R$ 400,00 x 50% = R$ 200.00 (m etade d a carência)
R$ 700,00 x 91%= R$ 637,00
P articu larizan d o situações, esclarece o art. 32, § 3g, do RBPS: “Se o segurado
se afasta de um a das atividades antes da data do requerim ento ou do óbito, porém
em data abrangida pelo período básico de cálculo do salário de benefício, o res­
pectivo salário de co ntribuição é contado, observadas, conform e o caso, as norm as
deste a rtig o ”, m elh o r aclarando o inciso II.
N ovo exem plo, de benefício p o r tem po de serviço m elhorará a com preensão.
Na p rim eira circunstância, se o segurado trabalhou 35 anos na atividade A, cessan­
do-a em 31.1 2 .1 9 9 6 e 35 cinco anos na atividade B, cessando-a em 31.12.1995 (um
ano am es), os 24 salários de contribuição integrais (e não proporcionais, pois a
relação é 420/420 = 1 = 100% ), de 1Q.1.1994 a 31.12.1995 serão som ados e adicio­
nados aos 12 do p eríodo de l 9.1.1996 a 31.12.1996 (exclusivam ente da atividade
A), para ap u ração do salário de benefício.
Na seg u n d a circunstância, se o segurado trab alhou 420 m eses na atividade A,
cessando-a em 31.12.1996 e 140 m eses (p o rtan to , 1/3 do tem po da atividade A),
cessando-a em 31.12.1995, u m terço dos salários de co n trib u ição de l g.1.1994 a
31.12.1995 d esta ú ltim a (B), será som ado aos salários de co n trib u ição integrais da
atividade A do m esm o lapso de tem po e adicionado aos do período de 1e. 1.1995 a
31.12.1996 (ainda da A), para apuração do salário de benefício. A inda com vistas

995
C urso de D ire ito P r e v id e n c iá r io

T o m o I I — P revidência Social
à ap o sentadoria p o r tem po de contribuição, s u p o n h a - s e segurada há 30 anos tra­
b alh an d o na em presa A (pela m anhã), há 20 anos na em presa B (ã tarde) e há dez
anos da em presa C (à n oite) e, em todos os casos, ap urados os salários de co n tri­
buição, resulte em três salários de benefício iguais de R$ 300,00. O cálculo será
sim ples.
A tividade A — R$ 300,00 x 3/3 ou f 00% = R$ 300,00
A tividade B — R$ 300,00 x 2/3 ou 66% = R$ 200,00
A tividade C — R$ 300,00 x 1/3 ou 33% = R$ 100.00
R$ 600,00 x f 00% = R$ 600,00
A lei em udece sobre o cálculo do auxílio-doença do exercente de duas (ou
m ais) atividades, incapaz para o trabalho em apenas um a delas. Em bora dispondo
sobre o d ireito ao benefício, em seu art. 71, o RBPS m antém -se m u d o qu an to ao
referido cálculo. R egulam enta tão som ente o valor da aposentadoria p o r invalidez
em circunstâncias assem elhadas (RBPS, art. 32, § 53, a e b).
A regra, em sua generalidade, é estim ar-se a renda m ensal em função dos salá­
rios de co ntribuição auferidos na atividade em que im possível o exercício da carga.
Em p rin cíp io , pois a base de cálculo da contribuição (o salário de contribuição
dessa atividade) prestar-se-á para a definição do valor do benefício.
S uponha-se a seguinte situação: o segurado recebe R$ 600,00 com o em prega­
do da em presa A e R$ 1.200,00 n a em presa B, nu m total de R$ 1.800,00 de re m u ­
neração. Sob a alíquota de 11%, ficará sujeito aos seguintes descontos:
R$ 600,00/R $ 1.800,00 x R$ 900,00 = R$ 300,00 (na em presa A)
R$ 1.200,00/R$ 1.800,00 x R$ 900,00 = R$ 600,00 (na em presa B)
R$ 900,00
Inabilitando-se na atividade A, o salário de benefício basear-se-á em R$ 300,00
e, se na atividade B, em R$ 600,00. Aliás, conclusão inevitável será de, no exem plo
(em que o salário na em presa A é 6/18 = 1/3 do to tal), ele contribuir, na em presa
B, sobre os restantes dois terços.
Pode suceder, p o r falta de regulam entação, de a em presa B preferir descontar
11% de R$ 900,00 (co n tribuição m áxim a), nada restando à em presa A para apor­
tar, exceto a sua parte p atronal em relação aos R$ 600,00 restantes. Em função dos
salários de co n tribuição nessa em presa, nada receberia de auxílio-doença (sic).
O m étodo, elegendo a base de cálculo da contribuição real com o fundam ento,
não parece correto nem equânim e. O INSS sponte própria, no caso, deve operar
a proporcionalidade an terio rm en te aludida. C om o se as duas em presas de fato a
tivessem operado.
Isso é p articu larm ente verdadeiro para o em pregado e au tô n o m o , q uando o
salário de co n trib u içã o com o su b o rd in ad o u ltra p a ssa r o teto. O b rig a to ria m en ­
te, o salário-base restará zerado. Da m esm a form a, in casu, o INSS deve buscar
o salário-base v irtual, não exteriorizado pelo segurado ex vi Iegis e considerá-lo.
O bviam ente, se não aplicar o m encionado subitem 2.4.2,2 da Parte 6 da CANSB.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

996 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
Sobre o cálculo da aposentadoria p o r invalidez do segurado percipiente de
auxílio-doença p e rtin e n te a u m a atividade q u an d o ele vem a p erd er a aptidão para
as dem ais, diz o art. 32, § 5Q, do m esm o RBPS: “No caso do § 3Qdo art. 71, o salário
de benefício da ap o sentadoria p o r invalidez deve co rresp o n d er à som a das parcelas
seguintes: a) o valor do salário de benefício do auxílio-doença a ser transform ado
em ap o sen tad o ria p o r invalidez, reajustado na form a do § 7a do art. 30; b) valor
co rresp o n d en te ao p ercen tu al da m édia dos salários de co n trib u ição de cada um a
das dem ais atividades n ão consideradas n o cálculo do auxílio-doença a ser tran s­
form ado, percen tu al esse equivalente à relação entre os m eses com pletos de co n ­
trib u ição , até o m áxim o de 12 (doze), e os estipulados com o período de carência
para a ap o sen tad o ria p o r invalidez”.
O RPBS não explica — e m enos ainda o PCSS ou o RPS — qual a base de
cálculo da co n trib u ição d eterm in an te da segunda ou dem ais atividades. Deve ser
a diferença entre o lim ite do salário de contribuição e o salário de benefício do
auxílio-doença. Pelo visto, o RBPS elege o salário de benefício do auxílio-doença
com o atividade principal. Mas pode dar-se d a outra ou de o u tras atividades (aquelas
ditas não co n sideradas no cálculo do auxílio-doença) ser a principal, devendo-se
recorrer, en tâo, às regras apropriadas.
O § I Qdo art. 32 refere-se à regra de custeio seg u n d o a qual o salário de c o n ­
tribuição do segurado sujeito a desconto prevalece sobre o de co n trib u in te indivi­
dual. N esse caso, a co ntribuição, p o r m eio do art. 29, § 6Q, do PCSS, não com anda
o cálculo do salário de benefício, desprezando-se as situações sujeitas à escala de
salário-base para efeito da determ inação da renda m ensal inicial.
Porém , se a rem uneração com o em pregado não su p lan tar o lim ite do salário
de co n trib u ição e o co rrer a com pressão do salário-base aludida no PCSS, o dispos­
to no caput e incisos 1 a 111 há de ser aplicado.
Dão-se exem plos extrem os. Segurada filiada há 30 anos, in icialm ente en q u a­
d rada na Classe 1 (R$ 112,00, em fevereiro dc 1997), há seis m eses é registrada
com o em pregada, n o s ú ltim o s 36 m eses recebendo acim a do lim ite do salário de
co n trib u ição , aqui co nvencionado de RS 900,00, terá seu salário-base zerado, para
fins de contribuição.
Segundo a regra do inciso II, som ente 3/30 = 1/10, o u 10% de R$ 900,00, se­
ria o salário de benefício. Mas o § I a despreza o inciso (e, curiosam ente, não fixa
parâm etros su b stitu tiv os para o cenário), forçando o INSS, na CANSB, a regular o
assunto.
A au tarq u ia deveria tom ar o salário-base real — q u an d o inexistente o salário
de co n trib u ição com o em pregado e v irtualm ente proceder às progressões (com o
se o salário-base não tivesse sido com prim ido pelo salário e, em seguida, aplicar a
integralidade ou p ro p o rcionalidade an terio rm en te aludidas).
1310. E x plicações finais — Tanto q u an to a do § I a, a redação do § 2Q peca
pela obscuridade. O “não se aplica o disposto neste artigo” é inco n g ru en te, pois
a regra do inciso I é possível para a circunstância aventada, coincide com a do

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
997
art. 31 (em que o legislador trabalha com o com um dos casos, um a única atividade
sem elhante à situação an terio r à n o rm a revogada vigente em 10.6.1973). Isto é,
p u ra e sim plesm ente som ar os salários de contribuição o u os salários de benefício.
No § 2-, o legislador cuida do segurado exercente de duas ou m ais atividades
sujeitas a desconto, p articularm ente do trab alh ad o r com dois ou três em pregos,
fato com um entre professores e m édicos.
Prim eiro, é preciso recordar a regra do reco lh im en to , não m ais constante do
PCSS. Q uan d o segurado exerce duas ou m ais atividades e a som a dos salários não
atinge o lim ite é com o se exercesse um a só, auferindo o total das rem unerações.
E ntretanto, se a adição das bases de cálculo ultrapassa o teto, convencionadam ente,
em cada um a das em presas, a m edida do fato gerador deve, proporcionalm ente às
rem unerações, ser d im inuído de m odo a atingir o m encionado lim ite do salário de
contribuição. Caso, por força de convenção en tre as em presas (m ãxim e n o grupo
eco n ôm ico), preferir d esco n tar apenas nu m a delas, as coisas se com plicarão para
o segurado, e este terá de esperar o INSS fazer a proporcionalidade.
C om um lim ite de pouca expressão pecuniária, com o vigorante nos anos
1995/1997, cerca de 900 dólares, o m ais com um dos casos de m últipla atividade
são os abordados n este parágrafo.
N ão se aplicando o dispositivo, com o m an d a o parágrafo, som am -se os
salários de co n tribuição sem observância da proporcionalidade. Tal interpretação,
d ecorrente da lei, conflita com a situação presente no inciso II, a e h. Para aqueles
segurados, a p ro porcionalidade, e para estes, a integralidade. Se se en ten d e r tais
pessoas com o iguais o princípio da isonom ia foi ofendido pelo legislador.
D estarte, os segurados sujeitos a desconto sim u ltan eam en te exercentes de ati­
vidades su b m etid as ao regim e co n trib u tiv o do salário-base não estão obrigados às
regras da p ro p o rcio n alidade dos incisos II e III. A no rm a com entada foi redigida na
form a negativa. P o rtanto, o seu destinatário não tem de cu m p rir a proporcionali­
dade, aplicando-se a ele, co n sequentem ente, o inciso I, com o se em cada atividade
preenchesse todos os requisitos, p articu larm en te o tem po de serviço ( “A P ropor­
cionalidade em Face da Lei n. 6 .332/76”, in Supl. Trab. LTr n. 87/76; C álculos da
P roporcionalidade em Maio de 1977”, in Supl. Trab. LTr n. 64/77; “C álculos da P ro­
porcionalidade após M aio de 1978”, in Supl. Trab. LTr n. 73/78 e “P luriatividade e
A cidentes do T rabalho”, in D iário Legislativo IOB de ju n h o de 1981).
A com plexidade do cálculo dos benefícios do exercente de várias atividades,
com vistas ao cu m p rim en to do período de carência, foi enfrentada p o r Teresinhü
Lorena Pohlmann Saad ( “Valor dos Benefícios — A posentadoria p o r Tempo de Ser­
v i ç o — A cidente do Trabalho — O utras Q uestões”, in RPS n. 116/393).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

998 W l a d i m i r N o v a e s M a r f i m ’?
Capítulo CXXXI

M en o r A p r e n d iz

S um ario : 1311. Visão doutrinária. 1312. Tipos de designações. 1313. Idade mí­
nima. 1314. Destinação dos serviços. 1315. Vínculo empregatício. 1316. Tempo
de serviço. 1317. Remuneração escolar. 1318. Filiação ao R G P S . 1319. Aprendiz
ferroviário. 1320. Curso profissionalizante.

A situação do m en o r aprendiz co n tin u a sem disciplina previdenciária siste­


m atizada, ainda que a Lei n. II .180/2005 tenha criado u m Program a PROJOVEM,
destinado à educação de m enores de idade.
Sua filiação sem pre foi m u ito d iscutida no D ireito P revidenciário e da m esm a
form a o cô m p u to do tem po de serviço realizado q u an d o o trabalhador tinha idade
inferio r à p erm itid a constitucionalm ente. N um raro caso, a Ju stiça F ederal reco­
nh eceu o direito de um m en o r com dez anos de idade (sic).
As m aiores dificuldades d o u trin ária s estão contidas no conceito de rem u­
neração, d estinação dos serviços p restados pelo jovem prestad o r de serviços e o
cô m p u to do tem po de serviço para os fins do RGPS. M ais ou m enos os m esm os
que fazem parte do estagiário da Lei n. 11.788/2008.
1311. V isão d o u trin á ria — M enor aprendiz é o jo v em que está apren d en d o
um a profissão, p rin cip alm en te u m ofício, adm itido em em presas privadas, escolas
técnicas ou cu rso s profissionalizantes, com ou sem rem uneração.
N ossa legislação, a d o u trin a e as decisões ju d iciais não têm cuidado do a u tô ­
n o m o ou m icroem presário, m enores de idade.
A priori, não se confunde com o em pregado; falta-lhe a capacidade jurídica
laborai para tan to , m as em caráter excepcional o vínculo em pregatício poderá ser
reco n h ecid o para fins trabalhistas e previdenciários.
1312. T ip o s de d esig n açõ es — A expressão “m en o r a p ren d iz” é um gênero
que co m p reen d e várias figuras de m enores de idade trab a lh an d o , en tre as quais
o aluno bolsista, operário aprendiz, aluno aprendiz, em pregado aprendiz, operário
alu n o e m en o r assistido (D ecreto-lei n. 2.318/1986} e até m esm o u m m enor ap ren ­
diz no serviço público (art. 268 da Lei n. 1.711/1952), sem falar no m en o r traba­
lh ad o r da CLT (art. 428).

Cusso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / / — P r e v id ê n c ia S o c ia l 999
Fora dessa legislação com um os exem plos indicativos de garotos que prestam
serviços são ainda m aiores, geralm ente referidos com o guardas-m irins.
f3 1 3 . Id a d e m ín im a — Desde a EC n. 20/1998, para a C onstituição Federal
vigente, a idade m ínim a para trabalhar é de 16 anos, exceto na condição de m enor
aprendiz, com idade m ínim a de 14 anos (art. 7e, XXXIII).
Na n o rm a trabalhista consolidada, é de 14 anos (CLT, art. 431). Pensando-se
na proteção especial é preciso ter 18 anos (arts. 402/441 da CLT).
N o dizer da Lei n. 11,180/2005, é de 14 a 24 anos.
1314. D estin ação d o s serviços — Além de outras, um a das características
fun d am en tais que distin gue o m en o r aprendiz dos dem ais obreiros é a destinação
ju ríd ica do seu trabalho: é preciso que suas tarefas estejam voltadas para o ap ren ­
dizado, crescim ento profissional, busca de ap ren d er u m ofício.
De m odo geral, o guarda-m irim , vigilante-m irim , polícia-m irim , legionãrio,
patru lh eiro está ap ren d en d o o exercício de um a atividade.
1315. V ínculo em p reg atício — C onform e cada circunstância a ser apreciada
m inuciosam ente pelo aplicador da norm a, dá-se de haver u m vínculo em pregatício,
o q u e transform ará o m en o r aprendiz em em pregado.
C om provada a rem uneração existe o vínculo em pregatício (Parecer Cj/MPAS
n. 2.893/2002). Presentes a subordinação funcional, o salário m ensal e os serviços
destinarem -se à em presa tem -se a figura do em pregado.
1316. Tem po d e serviço — O cô m p u to do tem po de serviço desses trabalha­
dores é questão ainda polêm ica, m as, de m odo geral, é aceita a contagem p o r parte
d a ju s tiç a Federal.
A alegação do INSS de que tal trabalho do m en o r é vedado não lhe retira a
condição de su p o rte da filiação e da condição de segurado obrigatório.
Evidentem ente, nesses casos a prova do exercício da atividade tem de ser robus­
ta, exaustiva e indiscutível, o que nem sem pre é possível em face do tem po passado.
1317. R em u n eração esc o la r — D iante do silêncio norm ativo, a ideia é um a
con stru ção d o u trin ária e ju risp ru d en c ial, in d o do excesso à escassez. Para alguns
autores, a cessão da m oradia, a alim entação, o fardam ento, m aterial escolar e o
vestuário, fornecidos p o r quem os adm ite, são suficientes para caracterizar a re m u ­
neração, m as as decisões judiciais n ão têm uniform idade. De m odo geral, sem pre
se aceitou a bolsa de estudo, caso do auxílio financeiro do ITA.
1318. F iliação ao RGPS — De acordo com a IN INSS n. 20/2007, os m enores
con tratad o s pelas em presas são em pregados. Essa contratação presum e o registro
na CTPS e LRE e sua definição com o subm etidos à CLT, fora da condição de m e­
nores aprendizes.
1319. A p ren d iz ferroviário — T radicionalm ente, as ferrovias adm itiam m e­
nores de idade que pretendessem fazer carreira de ferroviários. U m a das exigências
do co n trato celebrado com as estradas de ferro é que o m enor, depois de form ado
na escola, perm anecesse trabalhando nessa em presa de transporte.

C u r s o dk D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Em alg u n s casos, a ju stiç a F ederal vem m an d an d o c o m p u tar o tem po de ser­
viço, ainda que au sente o cu m p rim en to dessa condição.
1320. C u rso p ro fissio n aliza n te — É aceito o estu d o n o s cursos em escola
in d u striais o u técnicas da renda federal de ensino, bem com o em escolas eq u ip ara­
das (colégios ou escolas agrícolas), desde que tenha havido retribuição pecuniária
à co n ta do O rçam en to da U nião (IN INSS n. 20/2007, art. 113, II).
Os cu rso s nas escolas do G rupo S são reconhecidos q u an d o presente algum a
rem uneração.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l 1001
Capítulo CXXXII

Ex - C o m ba ten tes

1321. Proleção inicial. 1322. Carta Magna de 1967. 1323. Emenda


S u m A r io :
Constitucional n, 1/1969. 1324. Lei reguladora. 1325. Lei n. 5.698/1971. 1326.
Parecer MPAS n. 3.052/2003. 1327. Interpretação do INSS. 1328. Posição do
INSS. 1329. IN INSS n. 20/2007. 1330. Pensão por morte.

U m a problem ática questão tem sido desvendar os direitos dos ex -com baten­
tes; se o quantum da p en são p o r m orte deve ser 100% do total da sua aposentadoria
até R$ 26.623,23 ou se deve observar o lim ite m áxim o im posto para os benefícios
com uns do RGPS (R$ 4.159,00).
1321. P roteção in icial — Esses ex-com batentes e, p o r conseguinte, os seus
dep en d en tes, foram d estinatários de u m a copiosa legislação previdenciária, in i­
ciada logo depois do final da Segunda G uerra M undial (anos 1939/1945). Em
reconhecim ento ao bravo desem penho na Europa, eles foram distinguidos com
disposições expressas já na C arta M agna de 1967 (art. 178, d).
H istoricam ente, definiu-se que o custo das hom enagens prestadas pela Nação
brasileira seria com etido à previdência social, com a “aposentadoria integral aos 25
anos de serviço, se co n trib u in te da previdência social” (grifos nossos).
Em relação aos dem ais trabalhadores, com a prom ulgação da Lei n. 3.807/1960
previu-se u m a ap o sen tadoria p o r tem po de serviço aos 30 anos, sendo acrescidos
aos seus 80% de 4% a cada ano até u m teto m áxim o de 20%, tida com o integral.
N esse sentido, evidenciava-se que o benefício dos ex-com batentes seria deferido
dez anos an tes dos dem ais segurados.
Foram asseguradas duas relevantes vantagens: a) ser de 100% “da m édia do
salário integral realm ente percebido, d u ra n te os 12 m eses anteriores à respectiva
concessão”; e b) um a redução no tem po de serviço de 35 - 10 = 25 anos. E o que
é im p o rtan te destacar: eram benefícios específicos, não confundíveis com a ap o ­
sen tadoria por tem po de contribuição dos dem ais segurados obrigatórios da LOPS,
aliás, indevidam ente designada com o aposentadoria especial, subm etida a um a
regência p ró p ria da proteção co n stitu cio n alm en te garantida.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1002 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1322. C a rta M agna de 1967 — A C onstituição F ederal de 1967 m encionava
um a “ap o sen tad o ria com pensão in teg ral”, expressão que designaria 100% de um
parâm etro incognoscível. E m bora utilizasse a m esm a palavra, à evidência sem se
pen sar n a p en são p o r m orte, m as n um a prestação ju b ila tó ria d istin ta da ap o se n ­
tadoria com um .
1323. E m en d a C o n stitu c io n a l n. 1/1969 — O art. 197, letra c, da E m enda
C o n stitu cio n al n. 1/1969, alterou ligeiram ente a redação anterior, ag lu tin an d o os
servidores e os trab alhadores, m as ainda m en cionando os “p roventos integrais” aos
25 an o s de serviço.
1324. Lei re g u la d o ra — A Lei n. 4.297/1963 regulam entou esse in stitu to
deixando claríssim a a regra-m atriz de q u e a ap o sen tad o ria seria “igual à m édia do
salário integral realmente percebido, d u ra n te os 12 m eses anteriores à respectiva
concessão, ao segurado ex-com batente, de q u alq u er In stitu to de A posentadoria
e Pensões ou Caixa de A posentadoria e Pensão, com q u alq u er idade, que tenha
servido, com o convocado ou não, no teatro de operações da Itália — no período
em 1944-1945 — ou que tenha integrado a Força Aérea Brasileira o u a M arinha
de G uerra ou M arinha M ercante e tendo nessas ú ltim as, p articipado de com boios
e p a tru lh a m e n to ” (grifos nossos).
1325. Lei n. 5 .6 9 8 /1 9 7 1 — A quela norm a, po sterio rm en te revogada pela Lei
n. 5.698/1971 (sem prejuízo do direito adq u irid o ali reafirm ado), foi a única que
co rretam en te en ten d eu o espírito do trib u to nacional devido aos p racin h as da FEB,
até que o Ato das D isposições C onstitucionais T ransitórias — ADCT, da Lei M aior
de 1988, no v am en te se m anifestasse e reconhecesse o verdadeiro direito, cuja regra
não deixa m argem à m en o r dúvida: a “aposentadoria com proventos integrais aos
25 anos, em q u alq u er regim e ju ríd ico " (com grifos nossos).
1326. P are cer MPAS n. 3 .0 5 2 /2 0 0 3 — C om o lem bra o § 21 do P arecer CJ/
MPAS n. 3.052/2003: “N ada obstante, o aspecto de m aior relevância para o desate
da v ertente discussão diz respeito da expressão 'proventos integrais’ para fins de
fixação do 'quantum ’ do benefício e de sua form a de reajuste.” Locução a ser in ter­
pretada seg u n d o a n atu reza da mens legislatoris de in d en izar os perigos a que se
ex p u seram os sold ad os civis (e m ilitares).
O p ró p rio parecer, depois de configurar que a n o rm a válida co n tin u a sendo
a da Lei n. 5.698/1971 — evidentem ente p ara fatos geradores o co rrid o s após sua
eficácia — rep ro d u z u m acórdão do STJ em que se apresenta: “2. O ex-com batente
q ue co m p leto u 25 (vinte e cinco) anos de serviço na vigência da Lei n. 4.297/63,
deve ter seus pro v entos iniciais calculados em valor co rresp o n d en te ao de sua
rem u neração à época da sua inativação (Súm ula n. 84 do ex-TR F), reajustados
com base em critérios estipulados na p ró p ria lei, ou seja, conform e a variação dos
salários atuais e futuros, de idêntico cargo, classe, função ou categoria da atividade
a que p erten cia (excluídas as vantagens pessoais)”.
Ressaltou que a p a rtir dessa Lei n. 5.698/1971, o reajuste alcançaria apenas a
parcela que n ão excedesse o valor co rresp o n d en te a (dez) vezes o salário m ínim o
vigente a cada época.

C urso d e D ir e ít o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 1003
Igual se colhia na N ota Técnica n. 173/2001 da P rocuradoria-G eral do INSS:
“12. D estarte, so m en te para o ex-com batente que p reencheu os requisitos para
obtenção de benefícios previdenciários antes do advento da Lei n. 5.698/71 é que
deve ser considerado o salário integral para fixação do valor inicial do benefício,
atendendo-se ao disposto nos artigos 5Qe 6 S da Lei n. 5.698/71, q u an to aos futuros
reajustes, m esm o após prom ovida a revisão determ inada pelo art. 58 do ADCT”.
Exata e precisam ente o cenário da consulente.
Significa dizer, desde a Lei n. 288, de 1948, que as m ensalidades iniciais das
aposentadorias desses ex-com batentes e os posteriores reajustam entos restaram mal
disciplinados, nebulosos e polêm icos. Vale dizer, alguns elaboradores da disciplina
superior e infraconstitucional olvidaram -se do m érito desses heróis e não tiveram a
sensibilidade filosófica, jurídica e técnica para in tu ir que não se trata de aposentado­
ria previdenciária e, sim , estatal, cuja gestão foi atribuída ao INSS, na hipótese de tra­
balhadores da iniciativa privada. E que o art. 53, III, do ADCT criou um a alternativa.
Q ue nào cabia q u alq u er interpretação, se não a de que essa expressão “p ro ­
ventos in teg rais” (tecnicam ente inadequada, exceto para os servidores), p o r se
trata r de um a pensão de segurado vivo, deveria ser en ten d id a com o um a distinção
devida aos ex-com batentes para ao receberem um a m édia dos últim os 12 salários
anteriores à data da su a aposentação e em todo o tem po de suas vidas.
Todas as n orm as posteriores ao E statuto M aior de 1967 que identificaram a
prestação devida com o sendo certa prestação previdenciária, falando em 100% do
salário de benefício, observando o teto m áxim o, ou não operando os reaju stam en ­
tos que ultrapassem os dez salários m ínim os (tido com o teto das m ensalidades),
são nitid am en te in co nstitucionais.
E n ten d en d o -se a locução “proventos integrais” com o sendo um a totalidade
da retribuição do segurado (ou então lhe devem ser cassadas as m edalhas in cru sta­
das n o peito esses in trép id o s m acróbios), as Leis ns. 288/1948 e 4.297/1963 foram
recepcionadas p or todas as constituições sub seq u en tes, em v irtu d e da hom enagem
devida a esses defensores da pátria vivos e aos seus dependentes. As restrições
im postas p o sterio rm en te deveram -se substancialm ente à insuspeitada ingratidão e
à deletéria am nésia do legislador pátrio, sem o condão de derrogar a Lei Maior, o
direito ad q u irid o e a vigência do ternpus regit actum.
A Lei n. 5.698/1971 in terp re to u lim itativam ente o patam ar dos “salários in te­
grais” q u an d o ela asseverou: “à renda m ensal do auxílio-doença e da aposentadoria
de q u alquer espécie, que seria igual a 100% (cem p o r cento) do salário de benefício,
definido e delim itado na legislação com um da previdência social” (art. 1Q, II).
Mas, com o não poderia deixar de suceder, pois o conceito de direilo adquirido
de Cario Francesco Gabba já estava assegurado no ordenam ento ju ríd ico brasileiro,
ficou “ressalvado o direito ao ex-com batente que, na data em que e n tra r em vigor
esta lei, já tiver preenchido os requisitos na legislação ora revogada, para a conces­
são da aposentadoria p or tem po de serviço nas condições então vigentes observando,
porém , nos fu tu ro s reajustam entos, o disposto no art. 5e”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W / a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
In d o além das sandálias, o legislador ord in ário ex trap o lo u sua com petência
e afetou o valor que ukrapassasse os dez salários m ínim os (art. 5°). Fê-lo ardilo­
sam ente, sem coragem de ofender os pracinhas, m as agredindo, q u an d o disse que
não reajustaria os valores nu m a N ação com índices severos de inflação. Form a
im piedosa de sep u ltar o valor real.
1327. In te rp re ta ç ã o do INSS — O INSS não tem a capacidade de in te rp re ­
tar a n o rm a e agiu seg u n d o a exegese oficial do MPS. F o rm alm en te, foi preciso
no se n tid o de cu m p rir reco m en d açõ es su p erio res, m as essen cialm en te p ro ced eu
in co rretam en te. São equivocados os fu n d a m e n to s ju ríd ic o s das decisões que re­
d u zam o v alo r d o s benefícios ao atu al lim ite (R$ 4 .1 5 9 ,0 0 ). E isso é d ito não
se ig n o ran d o o p atam ar de R$ 1.200,00 da E m enda C o n stitu c io n a l n. 20, de
15.1 2 .1 9 9 8 , que se d estin a a todos os seg u rad o s, m en o s aos ex -co m b aten tes com
d ireito ad q u irid o .
E da lógica m ais solar que provento é sem pre integral em si m esm o e que a
integralidade diz respeito à rem uneração (ou ao vencim ento, n o caso de servidor);
logo tal repetição significa a totalidade da rem uneração do trab alh ad o r sem a o b ­
servação de q u alq u er lim ite (exceto a do art. 37 da Lei M aior, é claro). C om o recor­
dava José Serson ( “C ontribuição de previdência dos ex -co m b aten tes”, São Paulo:
LTr, in S u p l Trab. LTr n. 60/71, p. 248).
A bstraindo o valor da diferença preten d id a e a idade avançada dos interes­
sados que bu scam ju stiça, o ju lg a d o r terá de d eter alta dose de sensibilidade ao
perceber que as h o m enagens são consistentes, cifradas pela verdadeira em oção
h u m an a de re trib u ir acim a e além da origem técnica sem desaboná-la, de ser ju ri­
dicam en te generoso com os que m erecem esse galardão de terem defendido o País.
Q ue, aduz-se ad nauseam, n ão valem os raciocínios h abituais do D ireito P reviden­
ciário (válidos em si m esm os) para ten tar co m p en sar essa dedicação à Dem ocracia.
N ão seria um p en sam en to ju ríd ic o afirm ar que o u tra conclusão desestim ulará
o soldado brasileiro a defender nosso território no futuro, m as é preciso transpen-
sar q u e às vezes a aplicação fria do raciocínio equivocado, ignorando a verdadeira
razão previdenciária, não é ju stiça.
1328. P osição do INSS — N ada ob stan te tais considerações, o direito da con-
su len te não está am parado pela em oção. U sualm ente, o INSS baseia-se no Parecer
Cj/MPAS n. 3.05 2 /2 003, que se refere ao cálculo da renda inicial e do critério dos
seus reaju stam en to s anuais. As com unicações não deixam claros os seus m otivos,
se um ou o u tro , m as certas m enções às norm as indicam que certam en te se refere
ao desrespeito oficial para com os ex-com batentes.
In casu, o q u e im porta é que p reen ch en d o os requisitos legais (ser ex-com ba­
ten te e ter trab alh ad o p o r 25 anos) d u ra n te a vigência da Lei n. 4.297/1963, que é o
caso, daí p ara frente o ex-com batente e a sua viúva têm direito de receber o salário
integral, com o se ele efetivam ente estivesse trabalhando e até RS 26.623,23. Teto
universal p o rq u e co n stitu cio n al e exigência da legitim idade das prestações securi­
tárias, que paira to talm ente soberano acim a do direito adquirido.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I I — P r e v i d ê n c i a S o c ia í 1005
1329. IN INSS n. 2 0/2007 — Sem n en h u m a razão o parágrafo único do art.
607 da IN INSS n. 20/2007, q uando assevera: “C onform e definido no Parecer CJ/
MPAS n. 3.052, de 30 de abril de 2003, o vocábulo ‘aposentadoria com proventos
integrais’ inserto no inciso V do art. 53 dos Atos das D isposições C onstitucionais
Transitórias da C arta M agna 1988, não assegura ao ex-com batente aposentado com
valor equivalente à rem uneração que este percebia na atividade e os proventos
integrais que o m en cio n ado preceito garante são os estabelecidos pela legislação
prev idenciária”. Tal in terpretação pode valer para a A dm inistração Pública, m as
não para os adm inistrados.
Em resum o, tem -se que sob o E statuto M agno vigente, q u an d o do p reen ch i­
m ento dos seus req u isitos (com pletar 25 anos de serviço), o ex-com batente fará
jus a um a ap osentadoria por tem po de serviço específica, ad m in istrad a pelo INSS,
corresp o n d en te todo o tem po à m edia dos ú ltim o s 12 salários da atividade e m an­
tidos com o se em atividade estivesse, sem observância do lim ite da previdência
social (R$ 4.159,00).
C om o determ inava de form a clara o art. 15 da R esolução CD/DNPS n. 1.138,
de 6.11.1964: “O s valores das aposentadorias e pensões concedidas n a form a da Lei
n. 4.297/1963 serão reajustadas ao salário integral de idêntico cargo, classe, função
ou categoria da atividade a que pertencia o segurado ou n a im possibilidade dessa
atualização na base dos aum entos que o seu salário integral teria, se perm anecesse
em atividade, inclusive em conseqüência de todos os dissídios coletivos ou acordos
entre em pregados e em pregadores, posteriores à sua ap o sen tad o ria”.
As n o rm as ordinárias que dispuseram de m odo diferente não têm constitu-
cionalidade a am pará-las.
1330. P en são p o r m o rte — O m o n tan te da renda m ensal inicial da pensão
por m orte no D ireito P revidenciário brasileiro evoluiu significativam ente ao longo
do tem po. No RGPS, para os dep en d en tes dos segurados que faleceram após a Lei
n. 9.032/1995 é de 100% da aposentadoria (art. 75 do PBPS).
D iferentem ente do praticado ex vi da LOPS, possivelm ente em v irtude da
ausência do lim ite usual para a aposentadoria e certa dim inuição dos encargos dos
pensionistas (faleceu o titu lar), o art. 10 da R esolução CD/DNPS referida d eterm i­
n o u que o valor da pensão devesse ser de 70% (setenta p o r cento) do “salário in ­
tegral” realm ente percebido ou que fizesse ju s n a data do falecim ento. E xatam ente
nos term os do art. 3 Qda Lei n. 4.297/1963; p o rtan to , 70% do valor da ap o sen tad o ­
ria. Mas, a Lei n. 9.032/1995 alterou esse percentual, que ascendeu a 100%.
A Lei n. 5.698/1971 m anteve o direito adq u irid o da aposentadoria, m as
im plicitam ente revogou o critério de cálculo da pensão p o r m orte (art. 8e). Até
5.10.1988, não existiam regras ju ríd icas específicas sobre esse benefício dos d epen­
dentes, de m aneira que o com ando subm eteu-se aos critérios da CLPS, m as não o
seu teto. O art. 37, XI, da C arta M agna lim ita a R$ 26.623,23 todos “os proventos,
pensões ou o u tra espécie re m u n e rató ria”, in clu in d o a pensão por m orte dos p en ­
sionistas de ex-com batentes. Falecendo o trabalhador em 28.9.2006, e adm itindo-

C urso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1006 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
-se que a pensão p o r m orte seja benefício novo, ela rege-se pelo m esm o raciocínio
que o lim ita ao p atam ar constitucional, exatam ente com o leciona o au to r Fabio
Zam bitte Ibrahim (“C urso de D ireito P revidenciário”, 14ã ed., N iterói: E ditora Im-
petu s, 2009, p. 716).
Esse p atam ar a ser observado, sem em bargo do art. 53, III, do ADCT, se alter­
n ativ am en te não determ inasse: “em caso de m orte, pensão à viúva ou com panheira
ou d ep en d en te, de form a proporcional, de valor igua! ao do inciso a n te rio r”.
A Lei n. 8.05 9 /1990 regulam entou esse preceito co n stitu cio n al transitório,
resu ltan d o q u e a p ensionista, adem ais do benefício previdenciário antes referido
de 100% do patam ar m áxim o constitucional de R$ 26.623,23, pode optar pela pensão
especial (art. 2S, II). C om o asseverado n o art. 4 Q, § 2e, da m esm a lei, p o dendo optar
pelos “ren d im en to s pagos pelos cofres p ú b lico s”.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l 1007
Capítulo CXXXIII

A co rdo s I n t e r n a c io n a is

1331. Evolução histórica. 1332. Normas regentes. 1.333. Conceito


S u m á r io :
mínimo. 1334. Natureza jurídica. 1335. Princípios aplicáveis. 1336. Nuanças
gerais. 1337. Fontes de custeio. 1338. Prestações disponíveis. 1339. Tratados
vigentes. 1340. Tendências atuais.

A cordos in tern acio nais são convênios celebrados b ilateralm ente entre paí­
ses com vistas a oferecer benefícios e serviços previdenciários aos trabalhadores
im igrantes ou deslocados tran sito riam en te de seu dom icílio original, às vezes, de
nascim ento, para prestar serviços no exterior. Integrante deste ram o ju ríd ico , não
esgota as norm as do D ireito Previdenciário Internacional.
“Tratados in tern acio n ais” é locução reservada para a hipótese de duas o u m ais
nações estabelecerem relações ju ríd icas, geralm ente declaratórias e raram ente dis­
positivas, verdadeiras cartas de intenções.
A disciplina da área é insuficiente e não sistem atizada. A co n su lta é feita
quase que exclusivam ente nos precários textos dos ajustes. Por qualquer m otivo,
a CLPS não co n so lid o u as suas leis regentes, com o se não fossem com ponentes do
orden am en to previdenciário.
O PBPS nada dispõe sobre o tem a. A partir da Lei n. 9.876/1999, o art. 85-A
do PCSS passou a com inar: “Os tratados, convenções e ouíros acordos in tern acio ­
nais de que E stado estrangeiro ou organism o internacional e o Brasil sejam partes,
e que versem sobre m atéria previdenciária, serão in terp retad o s com o lei especial”,
A d o u trin a é p raticam en te in existente e escassa a ju risp ru d ê n c ia nacional,
mas os seus princípios foram form ulados ( “P rincípios de D ireito P revidenciário”,
5. ed., São Paulo: LTr, 2006, p. 235/243).
Em 2012 assinalava-se pela precariedade de aten d im en to dos interessados,
desinform ação, inoperância e excessiva burocracia dos órgãos gestores. N orm al­
m ente, os d o cu m en to s são redigidos p o r diplom atas, em linguagem nâo necessa­
riam en te ju ríd ica, com fins políticos ou econôm icos ( “R espeito aos A cordos In ter­
n acio n ais”, in Jo rn al do VIII C ongresso Brasileiro de Previdência Social, São Paulo:
LTr, 1995, p. 89).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1008 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A presentam a característica atípica de, um a vez aprovados pelo C ongresso
N acional, editados p o r D ecreto Legislativo, to rnarem -se um a lei ordinária, a ser
observada com o q u alq u er outra.
1331. E volução h istó ric a — Em bora sucessivas recom endações da OIT te­
n h am p ro p o sto a feitura de acordos previdenciários entre as nações, som ente em
1970, o Brasil p rom oveu o prim eiro ajuste sobre previdência social. Fê-lo com
P ortugal, reco n h ecen d o a existência de m ilhões de lusitanos vivendo no território
brasileiro há m u ito s anos e aqui radicados definitivam ente, e in co rp o rad o s à nossa
cu ltu ra (D ecreto Legislativo n. 40/1970 e D ecreto n. 67.695/1979).
N ossos prim eiro s convênios foram form ulados com países eu ropeus, entre os
quais a E spanha, Itália, Ilha de Cabo Verde e Luxem burgo. Em razão da im igra­
ção de m ão de obra, estranha-se terem sido ignorados os laços com o Japão, pelo
m enos até o D ecreto n. 7.702/2012. P osteriorm ente, em virtude da proxim idade com
países lim ítrofes ou não do C one Sul da A m érica Latina, com o Paraguai (1974),
U ruguai (1978), C hile (1980), A rgentina (1982). E até com a G récia (1984).
1332. N o rm a s re g en tes — As fontes form ais da m atéria seguem as do Direito
Previdenciário, com algum as particularidades: a) C onstituição Federal, em p a rti­
cu lar os arts. 5 e, § 2S, 49, I, VII e 59; b) legislação ord in ária (D ecreto Legislativo e
D ecreto R egulam entador); e c) art. 85-A do PCSS.
Em caráter im plem entar, e não vin cu lan te, com o contribuição d o u trin ária, os
tratad o s in tern acio n ais e as recom endações da OIT.
S ubsidiariam ente os in stitu to s ju ríd ic o s de D ireito In tern acio n al Público e
P rivado (v. g., C ódigo B ustam ante).
1333. C o n c e ito m ín im o — A ex p ressão “aco rd o in te rn a c io n a l”, em m a ­
téria de p re v id ê n c ia social, designa n ão só o d o c u m e n to básico de aplicação
com o a área técn ica p ro tetiv a. Tais avenças são n o rm as b ilaterais, n ac io n a is em
cada país e, p o rta n to , co m p o n e n te s das fo n tes form ais de D ireito P rev id en c iá­
rio. E x em p lificativ am en te, d iscip lin a m o re sp eito à filiação n u m e n o u tro ter­
ritó rio e co m p u ta m o tem po de serv iço , co n fo rm e cláu su la s estab elecid as en tre
os sig n atário s.
1334. N a tu re z a ju ríd ic a — Os acordos in tern a cio n ais são disposições legais
sobre prev id ên cia social, concebidos com o leis especiais, su b m etid o s os D ecretos
L egislativos às n o rm as gerais das leis orgânicas nacionais e in terp re tad o s da m es­
m a form a.
N ão há n en h u m a razão para serem editados m ediante D ecretos Legislativos,
de iniciativa do C ongresso N acional, q u an d o podiam ser objeto d e lei co m p lem en ­
tar ou ordinária. O acordo diplom ático, p ro p riam en te dito, presta-se com o lei, a ser
ou não aprovado pelo P arlam ento.
1335. P rin cíp io s aplicáveis — Além dos p ró p rio s do ram o ju ríd ic o , aplicam ­
-se os p rin cíp io s da: a) solidariedade internacional; b) reciprocidade; c) igualdade
de tratam en to ; d) conservação dos benefícios em vias de aquisição; e) conservação

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io H H H
T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c i a l
1009
dos direitos adquiridos; f) pagam ento das prestações no exterior; g) equivalência
dos órgãos gestores; h) livre circulação dos trabalhadores nas zonas fronteiriças; e
i) adaptação das legislações nacionais.
1336. N uanças gerais — Os acordos internacionais, excetuada a particularidade
de rom perem o princípio da territorialidade das leis, têm as m esm as nuanças da
previdência social nacional, lim itados às regras convencionadas entre os celebrantes.
As principais são:
a) reciprocidade: As disposições com uns aos países co n tratan tes devem co­
m unicar-se a u m e ao outro, reciprocam ente. T rabalhadores originários do país
A, situ ad o s n o país B, devem ter as m esm as obrigações e os m esm os direitos dos
trab alh ad o res do país B, q u an d o no país A. N enhum a discrim inação p o d e ser co ­
m etid a em n e n h u m d o s E stados convenientes, m esm o na hip ó tese de u m deles
abrigar n ú m ero su p erio r de im igrantes.
b) igualdade dc tratamento: O estrangeiro terá o m esm o direito do nacional,
com o se assim fosse. Salvo o determ inado especificam ente no ajuste não será d is­
crim in ad o legalm ente. Isso vale até n a hipótese de se referir à prestação in existente
no país de origem do trabalhador.
c) respeito à expectativa e. direito adquirido: D ireitos em curso de aquisição ou
já ad quiridos serão respeitados no País receptor. Dessa m aneira, a carência iniciada
n u m país pode ser com pletada no outro.
d) cômputo do tempo de filiação: O tem po de filiação n u m país será considera­
do no o u tro com todas as conseqüências práticas e jurídicas.
e) divisão proporcional do pagamento: C alculado o benefício o seu pagam ento
será d istrib u íd o en tre os convenientes conform e regras estipuladas nos acordos.
Isso pode d eterm in ar certo desequilíbrio q u an d o um dos países adm ite aposenla-
ç ã o em tem po inferior ao do outro, devendo ser prom ovidos acertos p o r ocasião

da celebração do acordo para não preju d icar os interessados.


f) reconhecimento das diferenças nacionais: N ão é objetivo do acordo in tern a­
cional unifo rm izar a legislação, em bora essa seja u m a m eta a ser alcançada p o r
o u tras providências. N esse sen tid o , são reconhecidas e respeitadas as nuanças p ró ­
prias de cada E stado convenente.
g) submissão a normas específicas: Os acordos internacionais não interferem na
au to d eterm in ação dos povos e, p o r via de conseqüência, são respeitadas as norm as
específicas de cada u m deles.
h) aplicação subsidiária da legislação local: No caso de dúvida, a legislação
local aplica-se subsidiariam ente; in existente regra p ró p ria no d o cu m en to firm ado
entre os países, aplicam -se os princípios e regras de in terpretação onde se d er a
concessão do benefício.
1337. F o n te s d e c u steio — O financiam ento das prestações pagas aos b e n e ­
ficiários não apresenta aspectos destacáveis; são as fontes nacionais dos dem ais
segurados e depen d en tes.

■ ■ ■ C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Wladimir Novaes Maríinez


1010
1338. Prestações disponíveis — Em razão da igualdade de tratam ento, se
avençado, o trab alh ad or de um país, q u an d o deslocado para outro, p reen ch id o s os
requisitos legais (com o côm puto da filiação no país de origem ou de trân sito ), faz
ju s às prestações p ostas à disposição dos nacionais.
Isso acontece m esm o na hipótese de não haver o m esm o direito n o território
originário.
Assim, exem piificativam ente, segundo o ajuste celebrado com a A rgentina,
o platino pode co n tar o tem po de serviço daquele país para fins da aposentadoria
por tem po de co n trib u ição; a recíproca não é verdadeira p o r não existir esse direito
naquele país.
São assegurados benefícios e serviços.
1339. Tratados vigentes — São os seguintes: a) B rasil-Portugal; b) Brasil-
-Itália; c) B rasil-Espanha; d) B rasil-Ilha de C abo Verde; e) B rasil-Luxem burgo; 0
B rasil-U ruguai; g) B rasil-A rgentina; h) B rasil-Paraguai; i) B rasil-C hile; j) Brasil-
-L uxem burgo; e k) B rasil-Grécia e 1) Brasil-Japão.
1340. Tendências atuais — C audatária a segu ridade e, em particular, a previ­
dência, da globalização da econom ia, em v irtude da U nião Européia, P acto A ndino,
Nafta e M ercosul; a tendência é a internacionalização da previdência social.
N ão só serão form ulados acordos entre os diferentes países lim ítrofes ou não,
com o surgirão tratad os in tern acio n ais de alcance, com p reen d en d o , algum dia,
todos os povos da A m érica Latina.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io
T om o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l
Capítulo CXXXIV

D ir e it o d o s D efic ie n t e s

1341. Instrumentos de convencimento. 1342. Pessoas autorizadas.


Su m á r io :
1343. Laudos técnicos. 1344. Provas securitárias. 1345. Exame admissionat.
1346. Previdência fechada. 1347. Seguro privado. 1348. Demonstrações em ­
prestadas. 1349. Perícias judiciais. 1350. Declarações oficiais.

As pessoas portadoras de deficiência ex p erim entam u m a legislação ad equa­


da às suas lim itações, enfatizando-se aquelas que dizem respeito à previdência
social. Q u an d o do exercício dos direitos, usu alm en te esses deficientes enfrentam
obstáculos para convencer terceiros de que têm restrições físicas d eterm in an tes do
deferim ento de b en s ju rídicos.
No com um dos casos, eles terão de fazer um a persuasão negativa, o que torna
ainda m ais onerosa à evidência dos fatos. C onvencer alguém de que não se logra
realizar algum a coisa é diferente da afirm ação positiva.
R ecentem ente, a Lei n. 12.470/2011 alterou o art. 16, I, do PBPS e acresceu.
“O cônjuge, a com p anheira, o com panheiro e filho não em ancipado, de qualquer
condição, m en o r de 21 (vinte e um ) anos ou inválido ou que ten h a deficiência
intelectual ou m ental que o torne absoluta ou relativam ente incapaz, assim decla­
rado ju d icialm en te”.
1341. In s tru m e n to s de co n v en cim en to — A prova da deficiência observa
algum as características próprias. As disposições são raríssim as e não estão sistem a­
tizadas. O D ecreto n. 3.298/1989, em seu art. 16, § 2e, oferece um a regra geral: “A
deficiência ou a incapacidade deve ser diagnosticada p o r equipe m ultidisciplinar
de saúde, para fins de concessão de benefícios e serviços”.
Q u er dizer, o interessado será su b m etid o a vários exam es ou consultas m édi­
cas até que se chegue a um a conclusão definitiva; perícias, aliás, periódicas.
O s in stru m en to s suscitados relacionam -se d iretam en te com o tipo de dim i­
nuição das aptidões da pessoa: anatôm icas, fisiológicas, psicológicas ou intelec­
tuais. Cada p ro d u ção se fará consoante a natureza da lim itação apresentada.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1012 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1342. Pessoas autorizadas — Som ente profissionais h ab ilitad o s têm per­
m issão para co n clu ir sobre deficiências. De m odo geral, m édicos-peritos, isto é,
profissionais especializados nos exam es. O bviam ente cada especialista verificará a
insuficiência p ertin e n te à sua especialização. Assim, o rto p ed istas apreciarão lim i­
tações anatôm icas. O ftalm ologistas exam inarão a visão. E assim p o r diante.

Os laudos, declarações e atestados m édicos firm ados em seguida aos exam es


procedidos, em cada caso, observarão certa hierarquia q u an to à capacidade judicial
de co nvencim ento.
D estarte, classificam -se esses docum entos: a) atestado m édico particular; b)
declaração do m édico do trabalho; c) perícia de órgão oficial; d) exam e m édico da
previdência social; e) lau d o pericial judicial.
R igorosam ente, a deficiência não se presum e. Carece ser d em o n strad a fatica-
m ente. Em bora não seja absoluta, até evidência em contrário, a sim ples concessão
de benefício corresp onde a cenário que presum e a deficiência. C ertas incapacida-
des reclam am prova a priori e outras, a posteriori.
1343. Laudos técnicos — A m elhor m odalidade de persuasão é a conclusão
m édica declarada em laudo técnico pericial a que foi su b m etid o o interessado,
em itido p o r profissional habilitado e idôneo.
Q u alq u er pessoa co n su ltará com m édico-assistente de sua confiança, para
que seja ou não declarada sua dim inuição de capacidade. N este caso, além da id o ­
neid ad e do profissional ou da entidade em itente do d o cum ento, é im p o rtan te que
o atestado seja precedido do m ais com pleto exam e possível.
1344. Provas securitárias — É na área da saúde, assistência e previdência,
que se apresen tam o m aior núm ero e m eios de provas.
a) Perícia médica securitária: O INSS é u m órgão oficial, au tarq u ia federal a u ­
torizada a su b m eter os beneficiários (segurados e d ep en d en tes) a exam es m édicos
iniciais e seqüenciais (PBPS, art. 101).
A CREM e a CRER do NTEP são d o cu m en to s que d em o n stram , para fins
de benefícios, um a incapacidade para o trabalho, respectivam ente decorrente de
doença co m u m ou ocupacional.
b) Benefício da LOAS: Por ocasião da solicitação d o benefício de pagam ento
co n tin u ad o (BPC), o laudo da perícia m édica do INSS é prova convincente (Lei n
8.742/1993).
c) Aposentadoria por invalidez: A incapacidade total e insuscetibilidade para o
trabalho que deflagra a aposentadoria por invalidez d ependem de perícia m édica
da en tidade previdenciária (PBPS, art. 42, § l s), cujo lau d o prova a incapacidade.
d) Invalidez dos dependentes: Os filhos o u irm ãos dos segurados m aiores de
21 an o s têm declarada a invalidez, m ediante exam e pericial da previdência social
(PBPS, arl. 16, I e III).
e) Art. 93 do PBPS: O PBPS não estabeleceu quem atestará a deficiência, en ­
tend en d o -se que a co n tra tan te é que o fará.

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T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c ia l
1013
f ) Certificado de habilitação da readaptação: Diz o art. 92 do PBPS, que: “C o n ­
cluído o processo de habilitação ou reabilitação social e profissional, a Previdência
Social em itirá certificado individual, ind ican d o as atividades q u e poderão ser exer­
citadas pelo beneficiário, nada im pedindo que este exerça o u tra atividade p ara a
qual se capacitar”.
1345. Exam e ad m issio n a l — Q u a n d o da contratação de em pregados, com
vistas à higiene, m edicina e segurança do trabalho, os candidatos se subm etem a
um exam e adm issional. N o caso do vínculo obrigatório do art. 93 do PBPS ou da
celebração do C o n trato de Estágio da Lei n. 11.788/2008, o ASO (que com prova a
higidez ou não) ou a conclusão m édica do m édico do trabalho é d o cu m en to que
convence sobre a existência de lim itações laborais ou não. Pelo m enos, para os
efeitos do D ireito do Trabalho.
1346. P rev id ên cia fechada — As EFPC e EAPC em item d ocum entos relativa­
m ente ao estado de saude dos p articipantes ou beneficiários q uando da solicitação
de com plem entação dos seus benefícios.
1347. Seguro p riv ad o — Q u ando da alegação do in fo rtú n io coberto pela
apólice de seguro, a co m panhia seguradora exigirá exam e m édico. A declaração ex ­
pedida para fins de pagam ento da indenização tem valor probatório da deficiência.
] 348. D em o n strações em p re sta d as — É bastante com um a im portação de
provas, de um a instituição ou de um processo para outra. Até 28.5.2001, quando vi­
gia a subsidiaridade da previdência fechada, as EFPC acolhiam as decisões do INSS
para fins da definição do direito à com plem entação da aposentadoria p o r invalidez.
1349. P erícias ju d ic ia is — Q u ando de litígios em q u e subsistam dúvidas
qu an to ao nível da incapacidade de um a pessoa que objetiva u m benefício (e até
m esm o um a reparação m aterial ou m oral), poderá levar o m agistrado a solicitar
perícia ju d icial, cuja conclusão se prestará para sua decisão.
1350. D eclaraçõ es oficiais — E ntidades governam entais, com o F aculdades
de M edicina, H ospitais, Postos de Saúde do SUS, F u n d acen tro e outras m ais, re­
queridas, exam inam o interessado e expedem declaração q u an to às lim itações do
requerente.
a) Obviedade da evidência: Existem circunstâncias, especialm ente as referentes
às lim itações anatôm icas que dispensam provas. As conclusões são visuais e não
reclam am habilitação profissional.
b) Contestação da prova apresentada: Pessoa física ou ju ríd ica, que não se co n ­
vencer com a decisão tom ada p o r um a em presa, órgão governam ental ou da previ­
dência social desfruta do p o d e r ju ríd ic o de opor-se a essa conclusão p o r interm édio
de inconform idades ad m inistrativas (P ortaria MPS n. 323/2007) ou ju d iciais (art.
120 do PBPS), sob os auspícios da Lei n. 9.784/1999.
c) Provas da doença, invalidez e da deficiência: Perícia m édica estabelecerá se
a pessoa é doente, inválida ou deficiente. As incapacidades são m uito próxim as,
sem elhantes e apresen tam elem entos com uns.

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W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
E v identem ente, doenças geram deficiências. Tam bém é consabido que m uitos
dos sin to m as de u m são sinais de outros.
I) O rigem — A origem m ais com um das deficiências é genética. R aram ente
alguém fica gago ou sofre de problem as fonoaudiológicos e parece falar pelo nariz
a p artir de um m om ento.
II) C ausa — Q uem nasceu cego, su rd o ou m u d o n ão é tido com o doente. A
vítim a de um acidente que teve um a am putação, após a alta m édica não é doente.
III) Tipos co n h ecidos — A lgum as deficiências são trad icio n alm en te reco n h e­
cidas.
IV) D uração — As doenças costum am ser provisórias e as deficiências tendem
a ser definitivas.
V) C apacidade de recuperação — A m aior parte das doenças, diagnosticadas
a tem po e objeto de tratam en to , são passíveis de cura.
VI) Tipo de tratam ento — As lim itações podem ser am enizadas com o em prego
de eq u ip am en to s m édicos.
d) Demonstrações escolares: C ertificado de M atrícula, frequência ou conclusão
de C urso d e E ducação Especial expedido pela instituição de ensino especial, cre­
denciada pelo M EC (art. 36, § 2° do D ecreto n. 3.298/1999).
e) Resultado Final de Concurso Público: A segunda lista da publicação do re­
su ltad o final do co n cu rso (art. 42 do D ecreto n. 3.298/1999), em que arrolados os
deficientes.
P arecer em itido pela equipe m ultiprofissional q u e faz parte da organização do
co n cu rso público (art. 43 do D ecreto n. 3.298/1989).
f) Acessibilidade urbana: A Lei n. 10.098/2000 estabeleceu “critérios básicos
para a prom oção da acessibilidade das pessoas p ortadoras de deficiência ou com
m obilidade red u zid a”, sem , entretanto, especificar com clareza com o tais pessoas
farão a d em onstração do seu estado físico que autoriza a utilização dessas vantagens.
A solução é p ro c u rar um órgão oficial da assistência à saüde, com o o SUS e
solicitar u m atestad o m édico.

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T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
1015
Capítulo CXXXV

Esta tu to d o Id o so

S u m á r io : 1351. Apreciações mínimas. 1352. Significado do Estatuto. 1353. Di­


reitos contemplados. 1354. Atendimento à saúde. 1355. Benefício da LOAS.
1356. Previdência social. 1357. Respeito pessoal. 1358. Facilidades urbanas. 1359.
Profissionalização do trabalho. 1360. Delitos puníveis.

O direito do idoso não é exatam ente m atéria disciplinada n o D ireito Previden-


ciário, m as sua defesa está b astante envolvida com a seguridade social na m edida
em que vários dos seus in stru m en to s são os principais m eios de execução de um a
política nacional de aLendim ento a quem necessita de proteção.
Um idoso bem aposentado é respeitado pelos fam iliares, am igos e no m eio
social.
1351. A preciações m ín im as — Além dos problem as vernaculares, que não
são p o u co s (velho, idoso, provecto, m elh o r idade, m eia-idade, decrépito, senil
etc.), é preciso ap reen d er o que se deva en te n d e r com o idoso. N ão h á um a defini­
ção única, m as inúm eras; são várias as prioridades a serem consideradas.
Ab initio, a definição há de ser buscada com vistas em várias nuanças: a) cro­
nológica (tem poral); b) psicológica (m édico); c) econôm ico-financeira; d) social;
e e) legal.
Para a prim eira concepção, é idoso quem tem tantos anos de idade, fato n o r­
m alm ente com provado m ediante a apresentação da certidão de nascim ento.
A condição psíquica, pouco relevando a faixa etária, é que ressalta as aptidões
físicas do organism o e do intelecto da pessoa hum ana.
C onsoante a terceira configuração, im porta o patam ar econôm ico-financeiro
da pessoa, a priori pressupondo-se que o hipossuficiente necessita de m aior p ro te­
ção em com paração com o independente.
Socialm ente, é preciso considerar o sítio em que ele convive, no am biente
fam iliar ou in tern ad o em algum estabelecim ento de repouso.
Legalm ente, o que dispuser a lei vigente. In casu., qu em tiver 60 ou m ais anos,
se hom em ou m ulher, nacional ou estrangeiro, urb an o ou rural, trabalhador da

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1016 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
iniciativa privada ou do serviço público, livre ou recluso, exercendo atividades ou
ju b ilad o , in clu in d o o pensionista e qualquer que seja sua condição social (“C om en­
tários ao E statuto do Idoso”, 3. ed., São Paulo: LTr, 2012, p. 20).
1352. Significado do Estatuto — O desrespeito ao idoso é u m fenôm eno
cultu ral, b astan te acentuado no Brasil, ao contrário do q u e sucede na E uropa e nos
países asiáticos. U m a lei não costum a alterar o co m p o rtam en to fam iliar e social,
m as co n trib u i len tam ente para form ular a convicção das pessoas da necessidade de
que os idosos devam ser aten d id o s em suas necessidades.
O tem po vai in d icar que é possível m elh o rar esse estado negativo. Basta olhar
para os cartazes no s bancos e outros locais, oferecendo prio rid ad es para as grávi­
das, deficientes e idosos, para evidenciar que edu can d o o povo é possível resgatar
a cidadania do s idosos.
A punição dos crim es com uns não tem d im in u íd o a crim inalidade, m as sem a
certeza da p u n ib ilid ad e é possível que voltem os à barbaridade dos prim eiros anos
da hum an id ad e. O s crim es contra os idosos poderão inibir algum as ações, que
sejam praticadas, se a Lei n. 10.741/2003 não existisse.
1353. Direitos contemplados — Essa Lei n. 10.741/2003 é um a valiosa
C arta de Intenções. C om o passar do tem po as pessoas se conscientizarão da n e ­
cessidade de reco n h ecer os direitos de cidadão dos idosos.
Ela g arante o direito à vida (art. 9°), à liberdade, respeito e dignidade (art. 10),
entre o u tras in ú m eras pretensões.
1354. Atendimento à saúde — C onform e o art. 15 do E statuto do Idoso “é
assegurada a atenção integral à saúde do idoso, p o r interm édio da do Sistem a Ú n i­
co de Saúde — SUS, g aran tin d o -lh e o acesso universal e igualitário, em co n ju n to
articu lad o e co n tín u o das ações e serviços, para a prevenção, prom oção, proteção
e recuperação da saúde, in clu in d o a atenção especial a doenças que afetam prefe­
ren cialm en te os idosos”.
1355. B enelício d a LOAS — O E statuto do Idoso red u ziu a idade m ínim a
para a percepção do benefício de pagam ento co n tinuado, tam bém , conhecido
com o benefício da LOAS, aos 65 anos de idade.
Com isso, au m en ta o núm ero de pessoas desassistidas o u vivendo em estado
de m iserabilidade que passam a ter esse am paro assistenciário.
1356. P rev id ên cia social — De m odo geral, além dos serviços, dos serviços
sociais, da recuperação para o trabalho, a principal prestação suscitada pela p re­
vidência social é a ap o sentadoria p o r idade, a ser requerida com a prio rid ad e de
aten d im en to em relação a o u tro s segurados.
1357. R esp eito p e sso a l — A Lei n. 10.741/2003 visa am pliar o respeito ao
idoso. Pode-se falar em resgatã-lo porque no passado já existiu. A p ró p ria norm a
(art. 10) preceitua sobre a dignidade e a liberdade (com sete incisos). O legislador
foi in sp irad o pelo aspecto m ais im p o rtan te, que é o respeito.

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T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
1017
A tualm ente, com o desm em bram ento da família, a extinção das en o rm es resi­
dências térreas e a adoção de pequenos apartam entos, os p er pais perdem espaços.
Os m ais velhos são m arginalizados em razão do avanço crescente da tecnologia e
de su a desatualização.
1358. Facilidades urbanas — P ouco a pouco, os 27 Estados e as 5.564 m u ­
nicipalidades vão transform ando os preceitos norm ativos em favor do idoso em
regras de aplicação efetiva. De certa form a, reeducando o povo a considerá-lo com o
cidadão.
1359. P ro fissio n alização do tra b a lh o — Im porta criar estím ulos aos em pre­
sários para que ele ofereça trabalho ao idoso e tam bém a iniciativa privada em
term os de co n trib u in tes individuais (p equenos em presários e autônom os).
N o C anadá, os aposentados experientes são cham ados de volta ao m ercado
para ensinarem os jo v ens dentro das em presas, um a política de grande sucesso
naquele País.
C om a ap o sen tad oria p o r tem po de contribuição cada vez m ais distante e
exigindo idade m ínim a elevada, é preciso pensar na m ão de obra dos m ais velhos.
1360. D elitos p u n ív eis — O E statuto do Idoso prevê p u nição para dezenas de
crim es que costum am ser praticados co n tra os idosos. Essa é um a m edida salutar
porque instru m en taliza o exercício da cidadania.
A om issão de socorro, a exposição a perigo e o aban d o n o são exem plos de
co m p o rtam en to s (às vezes, pessoais e fam iliares), ações que po d em deflagrar a
persecutória penal do Estado, e ten tar d im in u ir as agressões.

C u r s o d ií D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CXXXVI

U n iã o E s t á v e l

1361. Instituições em confronto. 1362. Distinções necessárias. 1363.


S u m á r io :
Decantação legal. 1364. Características elementares. 1365. Amoralidade da le­
gislação. 1366. Análise previdenciária. 1367. Interpretação da matéria. 1368.
Lei n. 9.278/1996. 1369. Uniões instáveis. 1370. Provas possíveis.

A lém de so lu cio n ar o conflito de com petência ju risd icio n al, q u an d o en ten d eu


que u m p ed id o de p ensão p o r m orte ao INSS deveria ser d irim ido pela Ju stiç a Fe­
deral e não pela Ju stiça Estadual (m esm o se esse benefício dos d ep en d en tes tenha
p o r p ressu p o sto s legais questões q u e envolvam o D ireito de F am ília), o STJ assim
decidiu: “A existência, n o s autos, de sentença judicial extinguindo o casam ento,
não concede ao ju ízo suscitado a possibilidade de inferir que havia entre a autora
e o de cujus u n ião estável...”.
U m a inform ação básica do acórdão exarado em 14.10.2009 no C onflito de
C om petência n. 106.669/M G — Processo n. 2009.0136483-90, é que o divórcio
do segurado q u e era casado p er se não garante a existência da união estável desse
ho m em com o u tra m ulher. S ubstancialm ente, o dissídio ju ríd ic o diz respeito à va­
lidade de um a u n ião estável heterossexual. Se u m dos m em bros é casado, a relação
é im p u ra, ad u lterin a, de concubinato.
1361. Instituições em confronto — U m a das dificuldades dos beneficiários
da previdência social consiste em provar a relação ju ríd ic a de d ependência eco n ô ­
mica para fins da pensão p o r m orte.
Sob o p o n to de vista da legislação do D ireito Previdenciário, a realidade social
atual põe em evidência três instituições básicas.
A p rim eira delas é m ilenar. A regulam entação da segunda conta com cerca
de 50 anos e a últim a, não m ais que um a década. São: o casam ento civil (CC, arts.
1.511/1.590), a u n ião estável prevista n o art. 226, § 3Q, da C arta M agna e a união
hom oafetiva (ACP n. 2000.71.00.009347-0). U m a q u arta hip ó tese lem brada será
o concubinato.
O respeito in stitu cio n al, tradicional e social ju sta m e n te devotado ao casa­
m ento, tran sfo rm o u o m atrim ônio entre o hom em e a m u lh er um a referência para

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o í f — P r e v id ê n c ia S o c i a l 1019
juízo s relativos aos o utros tipos de un ião experim entados pela sociedade (ainda
que hoje em dia aquele tipo de união oficializada não seja m ais a m odalidade m a­
jo ritária de constitu ição da família).
Fam ília, cujo conceito precisa ser atualizado com o lem bra Maria Berenice
Dias tratan d o da hom ossexualidade: “A p ró p ria C onstituição reconhece com o en ­
tidades familiares o u tros tipos de família, com o aquela co n stitu íd a por qualquer
dos pais e seus filhos. Fica claro que a regra constitucional n ão é exaustiva” (M aria
Berenice Dias, São Paulo: Jo rn al do A dvogado de out./2009, n. 344, p. 14/15).
Dessa forma, é perceptível entre os profissionais do D ireito q u e os raciocínios
sobre as uniões estáveis heterossexuais e hom ossexuais, em virtude de algum a se­
m elhança, sejam operados a p artir da idealização do casam ento com o instituição
h u m an a largam ente reconhecida.
Q uem exam ina os requisitos dessas duas últim as relações listadas, exigidos
pela lei, verifica que foram extraídos dos elem entos do m atrim ô n io e não em ergi­
ram necessariam ente dos elem entos das próprias espécies de uniões.
O E stado exige publicidade, duração e objetivo familiar, p o rq u e o casam ento
é público, costum a p erd u rar no tem po e geralm ente constitui um a família. Em bo­
ra não seja com um , as três instituições podem não ser notórias (especialm ente as
hom oafetivas) n em d u rad o u ras e m uito m enos fam iliares.
Ainda q u e esteja à frente do Direito Civil, o D ireito P revidenciário corre atrás
da realidade social sem lograr alcançá-la e, p o r isso, os aplicadores se utilizam
de m ecanism os an acrô nicos que obstam a consecução do direito subjetivo das
pessoas.
Os po u co s que se opõem à união estável terão de rever os seus conceitos em
face das novidades que vão surgindo, pois no in te rio r do E stado de São Paulo,
em agosto de 2012 u m cartório de registro civil acolheu um a declaração de união
entre um a m u lh er e dois ho m en s (siç). U m ménage à trois au to rizad o pelo Estado.
1362. D istin çõ es n ec essária s — É consabido que um a relação hom oafetiva,
pela sua n atu reza atípica, suscita co m p o rtam en to s novos, in co m u n s, sem referên­
cias antropológicas e que ela obriga análises específicas.
Do m esm o m odo, a união estável se posiciona m uito próxim a do casam ento
e com ele poderia se co n fu n d ir se fosse arredada a concepção d etu rp ad a dos que
ainda não abandonam a m iopia de sua falsa m oralidade.
Q uem tem à m ão u m a certidão de casam ento, ainda que a cerim ônia civil
ten h a o corrido há dois dias (sem m uita publicidade, n en h u m a perm anência e não
seja co n ceitu alm en te fam iliar), é aceito com plen o direito aos benefícios previ-
denciários. M as um casal que viveu m uitos anos ju n to s sem filhos ou fotografias
ju n to s, m o ran d o em ap artam en to s em que os vizinhos não se conhecem , num a
chácara ou sítio distante, terá m u ito s obstáculos para evidenciar a convivência
more uxore. Se for um a união hom oafetiva então...

C urso de D ir e it o P m i v id e n c iA r io

1020 W íf ld im ír N o v a e s M a r t i n e z
N ão p o d en d o en fren tar a presunção de d ep endência econôm ica, legalm ente
configurada em 1966 a favor das com panheiras (D ecreto-lei n. 6 6/1966), os órgãos
gestores fincaram pé em reclam ar as provas da existência em si m esm a da união
estável, tran sferin d o o ô n u s da persuasão da d ependência econôm ica do titu lar
para o con v en cim en to da m útua convivência do casal.
C u riosam ente, q u an d o do estudo operado pela ACP n. 2000.71.00.009347-0,
d escu m p rin d o a decisão da Juíza Federal Sim one B arbisan Fortes, em 2001, n u m
prim eiro m o m en to o INSS exigiu dem onstração form al da d ep endência econô­
mica. No m esm o processo, obrigou a m agistrada a um a nova decisão e im p o r à
au tarq u ia o dever de p rotocolar e in stru ir os pedidos de pensão p o r m orte dos
hom ossexuais, d isp en san d o os conviventes da evidência, cabendo-lhes apenas d e­
m on strarem a convivência (o que tam bém não é fácil).
O s trib u n ais, cuja lentidão na apreensão do fenôm eno social refletem um a
posição subjetiva dos seus com ponentes, às vezes, constroem um a barreira in ­
tran sp o n ív el para a expressão do direito. Não porque a prova seja mal produzida,
m as, q u an d o da sua avaliação, em virtude de partirem do pressu p o sto de que essas
sejam relações im p u ras (!).
S eg u rad o casad o (h o m em ou m u lh e r), a in d a q u e sep a rad o de fato j u r id i­
cam en te, n ão p o d e ria m a n te r um a relação estável com o u tra p esso a (m u lh e r
ou h o m e m ). Tal e n te n d im e n to estim u la ria o casam en to — tese pro flig ad a pelo
art. 226, § 3 a, da C arta M agna — , m as essa ú ltim a in stitu iç ã o n ão p recisa disso
(ju stificad a m e n te, ela tem b o n s defen so res, en c an ec id o s g u ard iõ e s e re p re se n ­
ta n te s m ag istrais). Essa posição a n a crô n ica não in cen tiv a n em d e sin c e n tiv a o
casam en to .
C om isso, a in d a terem os q u e e sp e rar m u ito m ais até que a Ju stiç a F e d e ­
ra l d ec id a pela divisão do benefício do RGPS ou RPPS, q u a n d o se tra ta r de
um s e g u ra d o (a ) casad o (a) q u e m an tev e d u a s relações ao m esm o tem po (sic).
A p a ren tem en te , su a excelência, o ju lg a d o r, v erd ad eiro El C id in tra n sig e n te da
m o ral, ju lg a que essa seja um a ó tim a o p o rtu n id a d e de cru cificar esse d esa tin a d o
D on ju a n .
Pelo m enos foi o que pensou o STF n o RE n. 397.762, q u an d o decidiu não
dividir a p ensão p o r m orte deixada p o r servidor entre a esposa e o u tra m ulher, com
quem ele viveu p o r 37 anos (sic). Segundo a notícia, para o relator M in. M arco
Aurélio: “a união entre V aldem ar e Jo an a não pode ser considerada estável” ( “STF
diz que co n cu b in a não tem direito a m etade d a pensão da viúva”, in Jo rn a l do Ad­
vogado, São Paulo: OAB/SP, 2008, p. 21)
C onform e o co m entário da IOB ao REsp n. 674.176/PE , in Processo n.
2004.0099857-2, da 6a Turm a do STJ, em que foi relator o M in. H am ilton Carva-
Ihiclo, m esm o com dois filhos havidos em co m u m nu m a união estável de 30 anos
(sic) a com p an h eira não faz ju s a nada (R epertório de Ju risp ru d ê n c ia IOB n. 20,
segunda q u in zen a de o ut./2009, n. 3/27839).

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T o m o I I — P r e v id ê n c ia S o c i a l
1363. D ecantação legal — A união estável, prim eiro, tem existência n a reali­
dade e segundo, certa visualização no universo jurídico. O Plano Básico da Previ­
dência Social — PBPS (Lei n. 8.213/1991) não fornece o seu conceito, preferindo
ten tar d efin ir q u em são os seus com ponentes (PBPS, art. 16, § 3Q). Aliás, quando
faz questão de ressaltar a condição de não serem casados, sem explicitar o que seja
un iáo estável, diz que com panheira (o) é quem vive em união estável...
O R egulam ento, m ais ousado, faz um a tentativa: “A quela configurada na co n ­
vivência pública, co n tín u a e d u ra d o u ra entre o hom em e a m ulher, estabelecida
com a in tenção de co nstituição de família, observado o § Ia do artigo 1.723 do
C ódigo Civil,
Essa redação, graças ao D ecreto n. 6.384/2008, salta aos olhos, faz desneces­
sária rem issão ao C ódigo Civil, que tem praticam ente a m esm a redação e algum a
m enção ao arl. 226, § 3°, da C arta Magna.
O p eran d o u m a excepcional concessão, a ANC de 1988 ad m itiu a existência
dessa novel figura, desde q u e ela estivesse direcionada para o casam ento, deter­
m in an d o ao legislador ordinário que facilitasse “sua conversão em casam ento”.
Q uer dizer, a u n ião estável só teria existência ju ríd ica com o um preâm bulo do
m atrim ônio. Isso n u m a C arta M agna em que “são invioláveis a intim idade, a vida
privada, a h o n ra e a im agem das pessoas”, em que “todos são iguais peran te a lei,
sem distinção de q u alq u er n atu re za”, “é inviolável a liberdade de consciência . E,
po r ú ltim o deve “p ro m over o bem de todos, sem preconceito de origem , raça, sexo,
cor, idade e q u a isq u e r outras form as de discriminação” (grifos nossos).
A lei previdenciária nào tem descrição do casam ento, nem dele exige p u b lici­
dade, co n tin u id ad e o u disposição de constituição de família. A com panha o Código
Civil que, em seus 80 artigos, n ad a dispõe sobre essas exigências m ateriais (arts.
1.511/1.590).
1364. C a ra cterísticas elem e n ta res — A união estável apresenta n u an ças a
serem esm iuçadas, lem bradas e apreendidas para ser concebida com algum a obje-
Lividade.
a) liberdade de assunção — O hom em e a m u lh er o p tam p o r um a convivência
m ais am iúde sem os com prom issos dos laços ju ríd ico s m atrim oniais. O verdadeiro
con h ecim en to das pessoas, proveniente do dia a dia, po d e ser atingido sem m aiores
consectários para as duas partes.
b) facilidade de desfazim ento — Se o casal reconhece não re u n ir as condições
ideais para u m a convivência d iu tu rn a feliz, tem condições de resgatar o estágio
libertário que an tes desfrutava, e de novam ente te n ta r e n c o n tra r o parceiro ideal.
ç) prevalência da diversidade — A diversidade propiciada p o r esse tipo de rela­
ção, tão assustadora para o com um dos m ortais e cuja ausência tem levado tantos
hom ens ao celibato, é p ró p ria daqueles que estão buscando um a cara m etade com
a qual sem pre sonharam .

C urso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1022 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
d) form alização — A cerim ônia do casam ento é onerosa, forma! e exigente
em term os de p ro c ed im en to s bu ro crático s e tem algum custo p ara os despossuí-
dos. Só re cen tem e n te o legislador p en so u em d im in u ir os encargos d a separação
do casal.
e) honestidade de propósitos — A parentem ente os unidos se aproxim am in sp i­
rados em m otivos m ais em ocionais e m enos racionais, então d espreocupados com
o p atrim ô n io do parceiro ou de seus fam iliares. O objetivo é im ediato, celebrarem
o am o r q ue os une. O fim de um a u nião estável é sem pre m enos estressante que o
casam ento.
f ) restrições religiosas — M uitas religiões, seitas e filosofias de vida não aco­
lhem o u tra form a de convivência m ütua que não seja o casam ento religioso ou
civil, e esse é u m aspecto negativo da un ião estável p o r ter sido posicionada h isto ­
ricam en te com o um a instituição m en o r do que o casam ento.
g) meios de persuasão — Em razão do modus vivendi, é m ais difícil provar a
u n ião estável que o casam ento.
h) regulação dos bens — A aceitação dessa m odalidade de convivência tam bém
se deve ao m o d o com o os p atrim ônios são distinguidos.
i) questão lingüística — Existiria um a un ião estável, m as n inguém fala em
casam ento estável e não se afirm e que todos o são.
1365. A m o ralid ad e da legislação — A inda não sabem os o significado da es­
tabilidade que in titu la a locução un ião estável, se é a p erm an ên cia da convivência
e, p o r co n seg u in te, do vínculo nascente ou de um a estabilidade fam iliar no sentido
de m ú tu o respeito, assistência e consideração. Nesse sentido, o casal Bonny and
Clide, ju n tad o s para a prática do crim e, seria um a un ião estável ou o seu com por­
tam ento crim inoso e nitid am en te antissocial deveria excluí-los do conceito?
A nosso ver, sob a esfera da proteção social o q u e deve im p o rtar em term os de
p en são p o r m o rte é a co b e rtu ra que se im põe. Pessoas de péssim o co m p o rta m e n to
pessoal, profissional ou social, sem atentarem contra as regras co n vencionadas
no seguro p riv ad o fazem ju s à indenização, se p resen te o sin istro previam ente
ajustado.
O D ireito P rev id enciário é am oral, ain d a que os ben eficiário s estejam im ­
p ed id o s de p ra tic arem im o ralid ad es nas relações m an tid as com o órgão gestor.
T rata-se de um a relação ju ríd ic a p atrim o n ial. Q uem tem de p a tru lh a r o co m p o r­
tam en to ético dos seg urados é o p ad rão de m oral vigente, a religião e o convívio
social, além de o u tra s in stitu içõ e s hum anas. Se, em algum m o m en to u m a e n ­
tidade p a rtic u la r n ão aceita m u lh ere s no seu seio, isso co m p ete à liberdade da
in iciativ a p riv ad a, o m esm o valen d o para as igrejas que não q u erem sacerdotes
do sexo fem inino.
1366. A nálise p re v id e n ciária — A evidência, q uem alegar ter vivido em união
estável tem de fazer a dem onstração, m as o aplicador da n o rm a n ão irá além dos
parâm etros do co n v en cim ento a partir de u m a realidade atípica (p o r com paração
com o casam ento).

C u r s o d e D ir e i r o P r o v i d e n c i a r io
T o m o II — P r e v i d ê n c i a S o c ia J 1023
Q u an d o o atuário estim a a contribuição dos segurados e dispensa o período
de carência para a pensão p o r m orte e o auxílio-reclusão (PBPS, art. 26, I), ele
não ajuíza com casais casados, u nidos ou nos conviventes da un ião hom oafetiva.
S im plesm ente, visualiza certo período-base, tabula q u an to s são os segurados que
co n trib u em e falecem e os que receberão o benefício.
1367. In te rp re ta ç ã o da m atéria — Os m eios de prova da un ião estável, d i­
ficultados n atu ra lm e n te pela ausência de um a certidão cartorária que garanta sua
existência, devem ser sopesados pelo observador sem ignorar as particularidades
desse tipo de u n ião entre hom em e m ulher. Por um a questão de usos e costum es,
q u an d o a viúva ap resenta a certidão de casam ento recente e da qual não consta
q u alq u er averbação, isso é suficiente para com provar a estabilidade do m atrim ô ­
nio, m as se a pessoa u n id a rem anescente não d em o n strar a co n tin u id ad e tem poral
da relação fica sem o benefício.
P ura e sim plesm ente exigir dos u n id o s q u e tenham com p o rtam en to de m ari­
do e m u lh er é ign o rar a realidade social dessa conivência. A exegese carece consi­
derar que os u n id o s convivem ju n to s despreocupados em d eixar rastros desse tipo
de união.
Viver assim , livres e descom prom issados, pode ser ro m anticam ente o que
sem pre desejaram em term os de am or (hoje, u m so n h o que era som ente do hom em
e co m p artilh a com a m u lh er); esse fato real nào pode ser ignorado pelo estudioso,
aplicador da n o rm a ou julgador.
C ertos ou não, alguns varões sentem -se m ais am ados q uando m enos form al­
m ente co m prom etidos (sic). Julgam terem conquistado em v irtude de sua íorte
personalidade, encanto ou sensibilidade, e raram ente adm item que quase sem pre
sobreveio um a m ú tu a sedução am orosa.
1368. Lei n. 9 .2 7 8 /1 9 9 6 — Da Lei n. 9.278/1996 defluem algum as conside­
rações p ertin en tes à união estável, p o r se referirem as suas nuanças.
Em seu art. I 9, ela fornece os elem entos básicos: a) entid ad e familiar; b) co n ­
vivência d u rad o u ra; c) existência pública; d) co n tin u id ad e; e) diversidade sexual;
e 0 objeto de co n stitu ir u m a família.
No art. 2Q, são fixados direitos e deveres iguais dos unidos: I — respeito e
consideração m ú tu o s; II — assistência m oral e m aterial recíprocas; e 111 — guarda,
su sten to e educação dos filhos com uns.
Lendo-se a M ensagem do P oder Executivo n. 420, de 10.5.1996 em que vetou
os arts. 3g/4 s e 6Qdo Projeto de Lei, a im pressão que se tem é que o Poder Executivo
não queria nem concordava com a regulam entação da união estável, m as tam bém
não teve coragem de vetar todo o texto. Q uais são as falhas constantes da m ensagem ,
não disse. D iscordar de um casam ento de segundo grau naqueles dias significaria
um terceiro grau (sic). Tam bém não falou quais eram as condicionantes desejáveis.
Por fim, fez com o quase sem pre fazem os no Brasil: jo g o u o problem a para frente
( “A União Hom oafetiva no Direito Previdenciário”, São Paulo: LTr, 2008, p. 66).
Possivelm ente, não se poderia esperar o u tra coisa porque os costum es eram
diversos, m as o tratam ento d o u trin ário e ju risp ru d ên cia que a união estável expe­

C urso Dti D ir e il o P r e v id e n c iá r io

1024 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
rim en to u no passado não devem orgulhar ninguém , n ão servir de exem plo e a ser
esquecido.
P rim eiro, foi u m a frente de batalha co n tra as m u lheres (quem sabe arq u iteta­
da pelos hom ens).
Segundo, ig n o ro u todo o tem p o que a un ião estável é a m o d alid ad e m ais
com um de u n ião h u m an a desde tem pos m em oriais.
Terceiro, p orque confundiu a m u lh er com em pregada dom éstica a ser rem u n e­
rada, para não se dizer coisa pior. Q uando não, um a sócia e aí não p o d en d o herdar.
F in alm en te, m an ten d o um a distância olím pica da realidade q u e os cercava,
resultado de um a en o rm e hipocrisia que não se espera seja repetida mais.
T369. U n iõ es in stáv eis — U m a palavra sobre a instabilidade das instituições
que envolvem as relações entre seres h um anos. A vida em com um de hom em e
m ulher, casados ou u nidos, in clu i algum as desavenças tem porárias. Na m aior parte
dos casos, são resolvidas entre si e preservando-se a relação form al ou inform al.
Ao co n trário do que sucede com as uniões estáveis e as não estáveis co n tín u ­
as, cuja visualização é de onerosa conceituação, as relações fugazes têm decantação
didática possível, em bora, é claro, em virtude da sua fugacidade, padeçam das
m esm as q u estõ es dos preconceitos h u m an o s dessa delicada área.
De regra, os en co n tro s in stan tân eo s não costum am g erar m u ito s efeitos ju ­
rídicos; in casu, a eventualidade não é protegida pela lei previdenciária. Em cada
circunstância, a reedição dos atos opõe em baraços a qu em a tem de conceituar.
Teria de d eterm in a r a p artir de qual repetição o vínculo deixou de ser esporádico
e se to rn o u co n tín u o .
Para se avaliar a relevância ju ríd ica do tem a considerem -se as conseqüências
de u m a gravidez resu ltan te de u m ún ico ato am oroso ou, o que será pior, a m a­
tern id ad e deco rren te de u m estupro. C ertos contatos h u m an o s são instantâneos,
jacen tes n u m m o m en to único, program ados ou não, m u ito co m u n s q u an d o envol­
vem a p ro stitu ição , que se consom e naquele breve evento — nos Sete Minutos, de
Irving W allace — e desaparecem do m u n d o ju ríd ico .
1370. P ro vas p o ssív e is — Já su scitam o s as provas d a u n iã o estável ( “A
Prova n o D ireito P rev id en ciário ”, 3. ed., São Paulo: LTr, 2012, p. 183/185). E ntre
elas não c o n tem p lam o s a d em o n straç ão d o divórcio de um dos com panheiros.
N ecessariam en te, o estado de solteiro, divorciado, viúvo (e até casado) não é em
si m esm o d em o n straç ão da existência de u m a u nião estável. C aso o interessado
precise ev id en c iar o d esfazim ento dessa relação, ele p o d erá se u tilizar dos se­
g u in tes in stru m en to s:
a) Separação civil — D istanciam ento físico dos partícipes, evidenciado com
d ep o im en to de testem unhas, contas etc.
b) Separação judicial — S entença judicial.
c) Divórcio — Sentença ju d icial em itida pela au to rid ad e com petente.
d) A n u lação— Q u alq u er prova da presença de u m dos seis incisos do art. 155
do C ódigo Civil,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II — P r e v id ê n c ia S o c ia l
1025
ej Nulidade — D eclaração ju d icial em q u e com provado o descu m p rim en to
dos requisitos.
f) Separação da união estável — A separação se reveste das m esm as caracterís­
ticas da separação de fato civil.
As p rincipais provas da união estável são as que se seguem :
I) sociedade com ercial ou civil — Presença no co n trato social com o sócio-
-gerente ou sócio-cotista em sociedade (D ecreto n. 3.708/1919).
II) registro em cartório — D eclaração das parles de que vivem ou viverão
ju n to s.
Tll) procuração — M andato outorgado de um para o outro m em bro da sociedade.
IV) doação testam entária — D esignação da pessoa com o herdeira.
V) conta-co rren te — C onta-corrente co n ju n ta em bancos.
VI) endereço co m u m — N om e constante de contas de água, luz, telefone etc.
VII) crediário com ercial — F orm ulário próprio preenchido pelo m em bro fa­
lecido.
VIII) avalista — G arantia oferecida.
IX) participação em clubes — Ser sócio da m esm a associação desportiva.
X) internação em hospitais — A firm ação do nosocôm io do nom e de quem
prom oveu a internação.
XI) registro de em pregado — A notação na CTPS ou LRF com o em pregado,
tem porário ou com o co n trib u in te individual, estagiário ou em presário na em presa
do falecido.
XII) d ep oim ento — D eclaração escrita do segurado.
XIII) co rresp o n d ên cia — C artas trocadas entre os m em bros.
XIV) dedicatória — M enção à pessoa constante de abertura de livro.
XV) hom enagem — A lusão escrita em hom enagem .
XVI) d ep oim ento de vizinhos — D epoim ento firm ado p o r vizinhos, zeladores
ou porteiros de prédio.
XVII) viagens — Bilhetes de passagens adquiridas em com um .
XVIII) h o téis — Ficha de registro em hotéis, resortes, colônias de férias etc.
XIX) filho — F ilhos havidos em com um e reconhecidos com o do casal.
XX) testem u n h as — D epoim ento testem u n h ai de quem convive com o casal.
XXI) fotografias — Todo tipo de gravação, im agem em q u e apareçam ju n to s.
XXII) pensão alim entícia de fato ou de direito — Percepção de valor deposi­
tado em co n ta-co rren te bancária.
XXIII) sen ten ça co n d en ató ria para pagam ento de pensão alim entícia.
XXIV) justificação ju d icial — S entença da ação judicial.
XXV) justificação adm inistrativa — R esultado da justificação prom ovida ju n ­
to do INSS.

C um o de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1026 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CXXXVII

U n iã o H o m o a f e t iv a

1371. Conceito doutrinário. 1372. Polos da relação. 1373. Principais


S u m A r io ;
características. 1374. Prestações alcançadas. 1375. Definição legal. 1376. Des­
dobramentos jurídicos. 1377. Dessemelhanças técnicas. 1378. Posição jurispru-
dencial. 1379. Adoção e guarda. 1380. Vida em comum.

Em m aio de 2000, o M inistério Público F ederal de P orto Alegre ingressou


com a Ação Civil P ública n. 2000,71.00.009347-0, p reten d en d o o reconhecim ento
da u n ião hom oafetiva para os fins das prestações previdenciárias do RGPS.
A m edida logrou sucesso com a sentença exarada pela Juíza S ubstituta da 3ã
Vara Previdenciária, d o u to ra Sim one Barbisan Fortes.
D essa decisão, INSS recorreu à 6 a Turm a do TRF da 4 ã Região, m as a lim in ar e
o m érito foram m an tidos por decisão do desem bargador João Batista Silveira Pinto.
Tentativas ju n to ao STJ e ao STF não anularam a decisão, q u e prossegue em seus
aspectos adjetivos form ais (Pet. n. 1.984/RS).
1371. C o n ceito d o u trin á rio — U m a descrição da un ião hom oafetiva não
guarda m aiores dificuldades para os que, historicam ente, partiam com parativa­
m en te do casam ento ou da união estável. Pode ser tida com o a relação d u rad o u ra
de d u as pessoas capazes, do m esm o sexo, com o objetivo de c o n stitu ir u m a família,
e baseado esse vínculo na m ú tu a assistência e respeito dos seus com ponentes.
C ertam ente, serão raros os casos, m as nada im pede n o m u n d o fático que um
h om em ou u m a m ulher, além da união hom oafetiva regular m an ten h am outra,
ig u alm ente hom ossexual.
Assim com o nasce, a relação hom ossexual, ela deixa de existir. Se não foi p ro ­
m ovida a inscrição ou um registro cartorial, a convicção de am bos os m om entos
terá de ser p ro d u zid a p o r outros m eios.
1372. Polos d a relação — A relação ju ríd ica da u n ião hom oafetiva envolve
duas pessoas do m esm o sexo: h om ens ou m ulheres. Têm de ser pessoas ju rid ic a ­
m ente aptas, devendo ser exam inada com atenção q u an d o sucedida com m enores
de 16 anos.

C urso de D h íe it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 11 — P r e v id ê n c ia S o c i a l 1027
Não im poria o seu estado civil, m as o com um é que sejam solteiros e m enos
com u m en te, enco n tram -se separados, d esquitados ou divorciados, sem tecnica­
m ente rejeitar-se a h ipótese de casados o u de bissexuais.
E m bora a ACP dissesse respeito ao RGPS, ela é referência para a definição do
direito de todos os trabalhadores, servidores, m ilitares e parlam entares. Abrange,
ainda, os destinatários da assistência social, oferta de saúde e do seguro privado.
1373. P rin cip ais ca rac te rístic as — D istinguindo-se de outras relações hu m a­
nas, a união hom oafeliva tem suas próprias nuanças, algum as das quais tendentes
a sofrer m utações fu tu ram en te em face da aceitação ou não p o r parte da sociedade.
a) Identidade sexual — Som ente hom ossexuais com põem esse tipo específico
de união hum ana.
Os bissexuais co n stitu em um a relação heterossexual e hom ossexual e, em
raros casos, as duas relações.
Transexuais, depois de subm etidos à cirurgia de transgenitalização, m udam
fisiológica, psicológica e h o rm o n alm en te de sexo. A dotando o novo sexo, nessas
condições, no co m u m dos casos, caso venham a se unir, serão tidos com o heteros­
sexuais.
Mas claro, exem plificalivam ente, se alguém do sexo m asculino tornar-se do
sexo fem inino e se u n ir a u m a m ulher, o que se terá é u nião hom oafetiva.
b) Convivência m ore uxore — A acolhida pessoal, social e ju ríd ica da união
hom oafetiva deve-se à circunstância de se referir a duas pessoas convivendo juntas.
A m ando-se ou não, m as se respeitando e se aju d an d o , o que é útil para os indiví­
duos e para a sociedade.
c) M útua assistência — A affectio societatis é fun dam ental para que seja reco­
nhecid a a u n ião hom oafetiva.
d) Constância no tempo — O ce n ário re q u e r alg u m a p e rm a n ê n c ia , não
positivado o tem po de du ração dessa u n ião de pessoas, m as d em o n strad o pelas
intenções.
e) Objetivo fa m ilia r — O pensam ento é que seja co n stitu íd a um a família, que
se reduzirá apenas aos dois conviventes ou agregará filhos p ró p rio s dos dois ou de
terceiros, além de o u tro s parentes.
f ) Alguma publicidade — C om o ú ltim a característica, requisito exigido na
união estável e de certa form a p resum ido no casam ento, espera-se que seja de
dom ínio público o fato alegado, em bora reconhecidam ente sobrevenha enorm e
con stran g im en to p o r parte dos dois polos da relação e deva ser m ensurada histo ­
ricam ente.
1374. P restaçõ es alcançadas — No que diz respeito ao D ireito Previdenciário,
duas prestações dos d ep en d en tes cham a a atenção: pensão por m orte e auxílio-
-reclusão.
D ois benefícios de duração lim itada não podem ser esquecidos: salário-fam í­
lia e salário-m aternidade.

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1028 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
1375. D efinição legal — N ão existe definição legal de união hom oafetiva, da
m esm a form a com o a lei não descreve o casam ento ou a un ião estável.
O PBPS co n ceitu a os com panheiros (16, § 5e). O art. 16 do RPS fornece a
seguinte definição de un ião estável: “aquela configurada na convivência pública,
c o n tín u a e d u ra d o u ra e n tre o h o m e m a e m u lh er, e stab e lecid a com a in ten çã o
de constituição de família, observado o § l s do art. 1.723 do C ódigo Civil, instituído
pela Lei n. 10.406, de 10 de jan eiro de 2 0 0 2 ” (§ 6Q).
Para se ter um a ideia legal bastaria referir-se a pessoas do m esm o sexo.
1376. D e sd o b ra m e n to s ju ríd ic o s — São infindáveis os consectários do reco­
n h ecim en to na esfera civil, inclusive na ação de sucessão civil, pensão alim entícia,
direito de fam ília em geral. Tam bém , no D ireito C om ercial, do Trabalho, Tributário
e F undiário.
Q u estão n ão p revidenciária que n o passado im p u lsio n o u o debate em tor­
no da so ciedade de fato, c o n tra to de prestação de serviços e da un ião estável,
h o d iern a m en te, dirá respeito ao p atrim ô n io co n stru íd o pelos parceiros da união
hom oafetiva.
1377. D e ssem elh an ças técn icas — À evidência, a u nião hom oafetiva difere
do casam ento pela ausência de form alism o, capacidade de terem filhos em com um
e a distinção sexual e da un ião estável em v irtude dessa m esm a identidade sexual.
Cada um dos conviventes, h o m en s ou m ulheres, poderão ter filhos p ró p rio s e
trazê-lo p ara a convivência dos pais. E, é claro, poderão dar-lhes guarda, adotá-los
ou abrigá-los.
1378. P osição ju ris p ru d e n c ia l — Q uando os interessados com eçaram a p ro ­
cu rar o P o d er Ju d iciário , especialm ente n o Rio G rande do Sul, as decisões foram
un ân im es em assegurar o reconhecim ento da u nião hom oafetiva para fins civis,
san itários e, p o r últim o, previdenciários.
A tualm ente, en q u a n to não sobrevem a regulam entação da m atéria (o Estado
é ótim o p ara delegar questões difíceis para que se resolvam p o r si m esm as), as
discrim inações co n tin u am , m as o lem a avança len tam en te com o deve ser os das
m inorias.
1379. A doção e g u ard a — D epois de garantido o direito dos dep en d en tes
às prestações, resta aos interessados o reconhecim ento da fam ília q u e constituem
para fins de adoção e guarda.
1380. V ida em co m u m — E nquistados no art. 16, I, do PBPS, desobrigados
de provar a d ep en d ên cia econôm ica, os conviventes apenas têm que dem o n strar
convivência more uxore.
Isso é m ais difícil de provar o casam ento (q u an d o não se tem a certidão ou
ocorreu a separação de fato) e provar a un ião estável.

C uaso de D ir e it o P
T om o U — P revidência S o cial
r e v id e n c iá r io

,,0
Capítulo CXXXVIII

E s t á g io P r o f is s io n a l

S u m á r i o : 1381. Fontes formais. 1382. Conceito doutrinário. 1383. Sujeitos en­


volvidos. 1384. Atos constitutivos. 1385. Remuneração mensal. 1386. Duração
do contrato. 1387. Jornada de trabalho. 1388. Recesso anual. 1389. Seguro pes­
soal. 1390. Classificação previdenciária.

Revogando a Lei n. 6.494/1977, q u e havia revogado a P ortaria MPTS n.


1.002/1967, a p artir de 26.9.2008 a Lei n. 11.788/2008 dispôs sobre o estagiário
( “Estágio Profissional em 1.420 P erguntas e R espostas”, São Paulo: LTr, 2009). A
nova lei desfez algum as dúvidas e criou outras.
1381. F o n tes fo rm ais — As fontes form ais q u e disciplinam o estudo e o
trabalho dos jo v en s profissionais rem ontam inicialm ente à P ortaria MPTS n.
1.002/1967, a p rim eira a dispor sobre a contratação de estu d an tes que estivessem
p reten d en d o aperfeiçoar os seus co n hecim entos prestan d o serviços nu m a em presa.
Várias n o rm as dispuseram em separado sobre as bolsas de estudos, com o é o
caso do Prejulgado n. 1 da P ortaria MTPS n. 3.286/1973. Tam bém a P ortaria SPS
n. 2/1979 cu id o u do assunto (item 42).
A Lei n. 4.215/1963 disciplinou p articu larm en te o estágio dos advogados. A
prim eira lei a cu idar do assunto foi a Lei n. 6.494/1977. A residência m édica, tam ­
bém um a form a de estágio, teve seu regram ento inicia! com a Lei n. 6.932/1981.
A Lei n. 7.004/1982 criou u m Program a de Previdência Social aos E studantes, que
vigeu até 24.7.1991.
Em particular, a Lei n. 6.855/1980 centrou-se nos bolsistas da F undação H a­
bitacional do Exército. O ECA tam bém trato u do assunto (art. 63). O PCSS regeu
a bolsa de estu d o s (28, § 9 e, letras i e /.)
A Portaria SRP n. 3/2005 m andou en q u ad rar o estagiário com o em pregado se
não fosse cu m prida a Lei n. 6.494/1977 e o classificou com o co n trib u in te individual
(art. 99, XVIII). Igual ponto de vista se colhe no Decreto n. 6.722/2008. A O rien ta­
ção N orm ativa SRFI n. 7/2008 disciplinou o estágio no serviço público. Por últim o,
sobreveio a Lei n. 11.788/2008, a atual Lei de Estágio dos E studantes — LEE.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W /d J im ir N o v a e s M a r tin e z
1382. Conceito doutrinário — Em lin h as gerais, co rresp o n d e ao cenário
ju ríd ic o de q uem , sob u m a orientação m onitorada, está se ed u can d o e aperfei­
çoando os seus co n h ecim entos teóricos com a experiência laborai exercitada nas
em presas. E stu d an d o , com o significado de freq ü en tar um curso com patível com
as tarefas exercitadas.
O fato de trab alhar om bro a om bro com o em pregado e, às vezes, com um
au tô n o m o terceirizado e, praticam ente, de exercer as m esm as funções lem bra esses
trabalhadores.
1383. Sujeitos envolvidos — V árias pessoas ju ríd icas e físicas estão envol­
vidas na relação ju ríd ica de estágio. O estabelecim ento educacional, o agente de
integração e a parte concedente (em presa) são as principais pessoas ju ríd icas. As
físicas são: o e stu d an te p ro p riam en te dito, o professor o rien ta d o r e o supervisor
funcional.
De algum a form a, um a co m p an h ia seguradora e os A uditores-Fiscais do MF
e do MTE. No caso de benefícios, até m esm o servidores do MPS.
1384. A tos co n stitu tiv o s — Os principais atos con stitu tiv o s são três: a) Ter­
m o de C om prom isso (triangular); b) C o n trato de estágio (bipolar); e c) CTPS.
N ovos d o cu m en to s acom panham a relação ju ríd ica: a) R elatório d o professor
o rien ta d o r e su p erv iso r funcional; b) C onvênio com o A gente de Integração; c)
R elatório do estagiário e da Parte C oncedente; d) Apólice de seguro etc.
1385. Remuneração mensal — A LEE faz um a distinção: estágio obrigatório e
não obrigatório. N este últim o caso subsiste o dever de pagar um a bolsa de estudos,
sem p rejuízo de a em presa convencioná-la com o trabalhador tam bém no estágio
o b rigatório (art. 12).
A em presa tam bém deve pagar u m au x ílio -tran sp o rte e alim entação do esta­
giário.
1386. Duração do contrato — Diz o art. 11 da LEE que: “A duração do es­
tágio, na m esm a parte concedente, não poderá exceder de 2 (dois) anos, exceto
q u an d o se trata r de estagiário p o rtad o r de deficiência”.
N esta ú ltim a h ipótese, o co n trato pode p erd u rar até a form atura do deficiente
( “Os D eficientes no Direito P revidenciário”, São Paulo: LTr, 2009).
1387. Jornada de trabalho — De regra, a jo rn a d a é de seis horas, m as a LEE
adm ite q u atro m odalidades:
a) de q u atro horas — N o caso dos cursos de “educação especial e dos anos
finais do en sin o fu n d am ental, na m odalidade profissional de educação de jovens
e a d u lto s”.
b) de seis horas — Para o ensino superior, educação profissional de nível
m édio e do en sin o m édio regular.
c) oito ho ras — C ursos que alternem teoria e prática.
d) red u zid a à m etade — Nos casos de aprendizagens periódicas ou finais.

C u m o d e D irf .ito P r e v id e n c iá r io
Tom o II — P revidência Social 1031
1388. R ecesso a n u a l — C om o se fossem férias trabalhistas anuais é assegu­
rado um período de descanso de 30 dias, rem u n erad o s o u não, conform e o caso.
F requentem ente, na interpretação de dúvidas sobre esse recesso, ter-se-á que
recorrer à CLT.
1389. Seguro p esso al — A em presa é obrigada a celebrar u m co n trato de
seguro pessoal em favor do estagiário. Isso ocorre porque ele, de regra, não tem a
proteção previdenciária do RGPS.
1390. C lassificação p re v id e n ciária — Não sendo em pregado nem co n tri­
b u in te individual, o estagiário não é segurado obrigatório. Logo, ele com um ente
poderá ingressar no RGPS por in term éd io da condição de segurado facultativo.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1032 W ic iííim írN íiV íie s M a rtin e z


Capítulo CXXXIX

D an o M o ral

1391. Fontes formais. 1392. Conceito mínimo. 1393. Falso dano.


S u m Ar i o :
1.394. Escopo do instituto. 1395. Material e moral. 1396. Exclusão da responsa­
bilidade. 1397. Sujeitos da relação. 1398. Pressupostos lógicos. 1399. Provas do
alegado. 1400. Quantificação do valor,

Com cerca de 32 m ilhões de co n trib u in tes ativos, 24 m ilhões de beneficiários,


a serem recebidos em m ais de 1000 postos de aten d im en to , disciplinado o direito e
as obrigações n u m a infinidade de norm as, haveria de certam en te p ro d u z ir desen­
co n tros, co n traried ad es e dissídios de relacionam ento pessoal. M ais ainda q uando
os governos d escuidam da e stru tu ra organizacional da A dm inistração P ública e
não cuida, prep ara ou estim ula os atendentes.
1391. Fontes formais — E xem plarm ente, diz o art. 5a, Y da C onstituição
F ederal de 1998: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além
da indenização p o r dano m aterial, m oral ou à im agem ”, em preceito inserido no
C apítulo I — Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, ab rin d o o T ítulo 11 —
Dos Direitos e Garantias Fundamentais.
Além de fixar a responsabilidade de form a m uito clara sobre a ação regressiva,
diz o art. 37, § 6Q, da Carta M agna que: “As pessoas ju ríd icas de direito público
e as de d ireito p rivado p restadoras de serviços públicos responderão pelos danos
q u e seus agentes, nessa qualidade causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso co n tra o responsável nos casos de dolo o u c u lp a”,
O art. 186 d o C ódigo Civil pon tu a: “A quele que, p o r ação ou om issão v o lu n ­
tária, negligência ou im prudência violar direito e causar dano a o u trem ainda que
exclusivam ente m oral, com ete ato ilícito”.
1392. Conceito mínimo — O dano em si m esm o é prejuízo, isto é, afetação
do ser h u m an o . O dan o m oral agride a pessoa ou os seus bens, ainda no âm bito da
individualidade, no que ela tem de m ais relevante, a sua personalidade. E ntendida
no sen tid o de atrib u to ju ríd ico do indivíduo, sem se referir ao seu organism o físico,
cuja lesào ilegal co n h ece outros in stitu to s técnicos individuais.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iâ r ío

T om o U — P revidência S o c ia l
Em prim eiro lugar, dano é o resultado de um a ofensa (h u m an a ou não); em
segundo lugar, um a d im inuição dos bens de alguém que deixa de gan h ar ou perde
com ela e, p o r últim o, um a afirm ação deletéria individual da vítim a. O universo
m oral do lesado inclui os seus bens m ateriais e o seu organism o, o com portam ento
ilícito pode red u zir sua riqueza hum ana, m as existem hipóteses em que o corpo
fica a salvo e apenas os bens físicos são atingidos (tam bém aí os m orais) e, d erra­
deiram ente, tão som ente sua reputação pessoal é prejudicada, sem violência contra
o organism o. Em todas essas circunstâncias, sobrevêm o dano.
D ano m oral é o ato ilícito praticado pelo ser h u m an o , em seu nom e o u repre­
sen tan d o u m a pessoa ju ríd ica, consciente ou não, om issiva ou com issivam ente,
que objetivam ente atinja a personalidade do sujeito passivo nessa ação, causando­
-lhe um co n stran g im en to pessoal ou social, n u m a ofensa n atu ra lm e n te m en su ­
rável, redução do seu p atrim ô n io m oral com o cidadão, que possa ser o p o rtu n a e
ju rid icam en te reparável (“D ano m oral no D ireito P revidenciário”, 2. ed. São Paulo:
LTr, 2009, p. 28).
Não existe conceito legal de dano na órbita ju ríd ica de m odo geral e, m uito
m enos, no referente à seguridade social. Assim, não há definição de dano m oral
previdenciário. Pode-se dizer que é o sucedido na relação de proteção social e nada
mais. A vítim a será a m esm a de outras lesões, m as o au to r é diferente e é preciso
não esquecer o afã de quem busca a proteção social com o u m so n h o a ser realizado,
preten sam en te apoiado no direito subjetivo. E, valendo repetir ad nauseam, jam ais
se esquecendo o cientista da disparidade de forças em jogo. Alguém necessitado
co n tra alguém estabelecido.
1393. F also d an o — Além das várias ex cludentes da legitim idade da ação
(com o a ausência ocultada ou a inexistência de nexo causai entre o procedim ento
o resultado) e tan to q u an to a variedade de relações p rocedentes, são enconlradiços
fatos subjetivos do ofendido que poderiam afetar a decantação da hipótese do dano
m oral. O u seja, indicadores pessoais que eventualm ente elidiram a responsabili­
dade pela com pensação ju ríd ica, quase todos eles de difícil apreensão p o r quem
tem de fazer ju stiça. O tem po a avançar adiante, a experiência d iu tu rn a e um a
ju risp ru d ên c ia caudalosa serão capazes de indicar os cam inhos para se reparar o
real dano o u do falso dano m oral.
a) aumento da indenização: De regra o processo do dano m oral envolve dois
aco n tecim en to s distintos: a) busca da indenização pecuniária de recom por o nível
m aterial do au to r da ação; e b) perquirição da com pensação da m oral afrontada e
em virtude do p adecim ento do réu, cuja solução pode ser pecuniária ou, tam bém
m oral (caso da retratação, do arrep en d im en to , do desagravo etc.). M uitas vezes,
o ofendido não se conform a com o quantum da indenização civil assegurada m e­
dian te conciliação prévia o u m esm o costum eiram ente obtida e deseja am pliar essa
operação por m eio de um processo de dano m oral.
b) meio de vida: A invocação do in stru m en to técnico d a com pensação de danos
deve ser fortuita, no m ais das vezes, acidental o u esporádica. Até m esm o reeditável,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1034 W if ld im ir N o v a e s M a r ti n e z
caso sejam repetidos os atos praticados contra o titu lar do direito, m as, à evidência,
descaberia ele serv ir com o fórm ula para o b ter rend im en to s (perceptível q u an d o o
sujeito ativo da ação tem evidentes recursos, já que então será m aio r o pedido).
c) ju s vindicatae: N ão é estranho ao ser h u m an o que sofre os efeitos de um a
atuação indevida não se conform ar com a punição im posta pelo Estado ao agente.
M esm o ausen te o dano m oral, subjetivam ente avaliado, ele deseja vingar-se, fato
bem co m u m q u an d o de agressões físicas, hum ilhações e outros sentim entos íntim os.
d) aventura jurídica: Na nossa sociedade, não é rara a figura do p o stu lan te m i­
litante, aq uele in o cu lad o pelo animus litiganti. D iante da en o rm id ad e de qu estio ­
n am en to s n a Ju stiça F ederal e da sua com plexidade, m u ito s dos quais acabam p o r
não p ro d u z ir os resu ltados desejados, o pedido com esta natureza fluida reclam a
análise prévia, sem pre encetada pelo profissional para evitar a av en tu ra ju ríd ica.
e) armadilha ardilosa: A m bicionado gan h o fácil, felizm ente em alguns poucos
casos, será possível perceber que o a u to r predispôs-se a ser on erad o com a ofensa
e, com ela, p reten d er indenização, figura não in co m u m no seguro de vida e até
m esm o, lam entável, e na infortunística laborai.
f ) motivação invejosa: A inveja inspira m uitas paixões hum anas. Q uem não
tem poder, riqueza ou celebridade, algum as vezes, é incitado a m over-se co n tra
o réu com u m a p reten são de dano p atrim onial, apenas p o rq u e sem pre adm ira o
sucesso alheio.
g) ânsia de publicidade: C redores e profissionais despreparados, p o r vezes
buscam an sio sam en te a notoriedade, u tilizando-se de processos ju d iciais para se
q u ed arem co n h ecid o s, ad q u irirem celebridade, serem entrevistados pela m ídia,
gozarem os 15 m in u to s de fam a de Andy Warhol.
h) instrum ento inescrupuloso: D iante do sujeito passivo da ação, m uitas vezes,
a vítim a é sensibilizada p o r pessoa in escrupulosa que a convence de p ro cu rar um
profissional para ingressar com um a d em an d a judicial, bu scan d o u m a reparação
sem relação a dan o m oral, q u e ela n ão havia sen tid o e que então é ressaltada.
i) compensação do irreparável: Pela sua natureza, os danos m orais são o u não
reparáveis. E ntre os ú ltim os, estão aqueles sem grandeza m onetária; co rrespondem
a afetações de m en o r vulto. Q u ando o dan o é desse tipo, inexiste legitim idade para
a ação p ersecu tó ria, especialm ente se a dita reposição já sucedeu, m as, m uitas
vezes, a irreparabilidade só será ap reendida d u ra n te o processo de conhecim ento.
j ) resgate psicológico: E ntre as subjetividades, an terio rm en te referidas, que se
prestam para serem apreciadas está a dem onstração de p o d er da pessoa agravada,
ou seja, considerar-se até que po n to caracteriza-se o agravo e com eça o exercício
dessa au toridade.
1394. Escopo do instituto — O in stitu to técnico do dano m oral tem vários
objetivos. O p rim eiro deles é rep arar u m eventual prejuízo causado à pessoa física
ou ju ríd ica. U m a tentativa, p o r vezes vã, de re p o r aquilo que se p erd eu na esfera
m aterial e m oral das relações hum anas.

C urso n r. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o H — P r e v id ê n c ia S o c ia l 1035
Um segundo escopo é ten tar inibir ações deletérias contra a pessoa ou contra
o Estado. U m a espécie de certeza da punibüidade.
Socialm ente, sua incidência inform a ao governante a necessidade de m elhorar
os serviços, propiciar m elhores condições de trabalho para os servidores.
Politicam ente, d em o n stra que o E stado está inerte diante dos problem as,
com o é o caso da perícia m édica na previdência social. A m orte de três m édicos-
-peritos é a p o nta de um iceberg que o G overno Federal não q u er enxergar.
A in tenção desse in stitu to técnico não é obter um a prestação securitária ou
previdenciária nem rep arar a ausência do direito subjetivo a um benefício. Ainda
que (nos casos de perda do processo de u m benefício) a reparação deva se consti­
tu ir na concessão desse benefício.
1395. M aterial e m oral — As expressões “dano m oral” ou “processo de dano
m oral”, atendendo à sim plificação da linguagem , acabaram conferindo u m caráter de
gênero que inclui o dano puram ente m oral, m as tam bém o dano puram ente m aterial.
De im ediato, con cluindo-se que a constatação do prim eiro é m uito m ais difí­
cil que a do segundo tipo.
O dano m aterial avulta a h o n ra da pessoa física ou o patrim ônio da pessoa
jurídica; este últim o igualm ente definido com o co n ju n to dos bens corpóreos e
inco rpóreos, isto é, as propriedades im obiliárias, títulos com erciais, créditos e re­
nom e com ercial que tem larga tradição no D ireito Civil e C om erciai. Tecnicam ente,
conhecem -se duas hipóteses: danos em ergentes e lucros cessantes.
E ntre esses danos, estã a lesão corporal.
O dano m oral diz respeito à personalidade da pessoa, en ten d id o com o sua
d o r ín tim a ou im agem pública. C om a significativa particu larid ad e de ser cifrada à
subjetividade e à objetividade, com isso querendo-se dizer que o m esm o ato lesivo
pode gerar reações diferentes, inesperados juízos nas vítim as e diferentes perdas.
A cusar u m ap o sen tad o de vagabundo afronta-lhe a dignidade individual, d estra­
tando um ocioso fru in do o legítim o direito previdenciário.
1396. E xclusão d a re sp o n sa b ilid a d e — O prejuízo causado ao patrim ônio
m aterial e à m oral dessas pessoas, ainda que consum ado, d em onstrado ou p resu ­
m ido per se não define o dever da indenização correspondente, seja reparação ou
com pensação p o r vários m otivos objetivos ou subjetivos, a responsabilidade do
agente não terá nascim ento.
Não con ced er prestação estatal, q uando en ten d id o com o ausente o direito
subjetivo do titu lar requerente, é decisão do ente gestor que causa desconforto no
solicitante, dano m aterial e o m oral não reparável. A usente a ilicitude do ato que
determ in a o direito à reposição da perda não há falar em com posição do conflito.
Os m otivos que levam à exclusão da responsabilidade são variados: a) inim pu-
tabilidade do agente; b) ausência de nexo causai; c) força m oral; d) estado de neces­
sidade; e) exercício de dever legal; D concorrência da vítim a; g) falha de terceiros;
h) ausência de alternativa; i) cláusula exclusória; e j) vontade viciada.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1036 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
1397. Sujeitos da relação — Em term os de seguridade social ou de previ­
dência social, variam as vítim as das ações deletérias da m oral h u m ana. São os
beneficiários do RGPS, os assistidos da assistência social e os atendidos das ações
de saúde.
P odem ser os segurados e os seus dep en d en tes e, em alguns casos, os parentes
do titu lar da relação (não dep en d en tes, tutores, curadores etc.).
N o o u tro polo da relação, os gestores adm inistrativos das ações securitárias,
em p artic u la r as A gências da P revidência Social, os postos da Receita Federal do
Brasil. N u m nível m ais elevado, a figura chegando ao M inistro de E stado e até ao
P residente da R epública. Q u alq u er entid ad e que cause prejuízo de ordem m oral
ou m aterial dos protegidos.
1398. Pressupostos lógicos — A ação ordinária de dano m oral tem requisitos
lógicos, m ateriais e ju ríd ico s, a serem esm iuçados in dividualm ente em cada expe­
riência vivida, n u m a operação racional objetiva e isenta q u e pinçará as hipóteses
cabíveis e afastará aquelas tecnicam ente sem procedência.
Não bastam sensações desagradáveis, inconform idades eventuais e certo sub-
jetiv ism o p ró p rio d o ser h u m an o ; ele é in stitu to ju ríd ico que existe decantação
técnica. G era em oção, m as subm ete-se às regras ju ríd ic a s su b stan tiv as e adjetivas.
L ogicam ente, condiciona-se à presença efetiva do prejuízo sofrido pelo su ­
jeito passivo da ofensa, fato esse a ser identificado, qualificado e m en su rad o (para
que se possa, ao final, fixar-se com propriedade, a m odalidade e a quantia da re­
paração). Em razão das pessoas físicas, diante da subjetiva do cenário fático, aqui
residem as m aiores dificuldades para o aplicador da lei.
Ju rid icam en te, ab initio, im põe à decantação da au to ria (p erq u irin d o -se o res­
ponsável), a ilicitu d e do p rocedim ento, isto é, caracterização da culpa (ato com is-
sivo ou om issivo) e a ausência das causas exclud entes da responsabilidade.
M aterialm ente, o co nvencim ento do d an o à vítim a, é d em o n stração que p res­
supõe im aginação, cuidados percucientes e co nstitucionais de qu em se p ro p u se r a
isso. N esse sentido, difere da m aterialidade do dano patrim onial. N ão raras vezes,
um a sim ples alegação a ser sopesada pelo ju lg a d o r no contexto a circunstâncias.
L em brando que a certeza in stitu cio n al do direito à reparação m oral estim ula a
com pensação de dan o m oral in existente, p o r parte de alguns inescrupulosos.
1399. Provas do alegado — P erquirida a com pensação fora da m aterialidade
das coisas, na esfera espiritual, em ocional ou íntim a, sediada, pois, a lesão em algo
in co rp ó reo , em face da autoria, da culpabilidade e da responsabilidade, faz parte
essencial do processo de apuração do ressarcim ento da vítim a, a evidência do fato
alegado.
As ofensas verbais, co m p o rtam en to s antissociais e o desrespeito costum am
não d eix ar sinais tão claros, isto é, ficam sem os rastros p ró p rio s das hum ilhações
covardes, até silenciosas, gestos p ró p rio s dos m edíocres q u e operam às som bras,
p or sua relevância p rocessual im p o rta identificar, qualificar a aprofundar.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II — P revid ên cia S ocial 1037


O ô n u s da prova é p o stu lad o processual, m as a sua ausência não inibirá o utros
proced im en to s recom endados. O processo sem ela claudicará, en tretan to , o expe­
diente será im p ulsionado pelo julgador, que apreciará a poslulação e a contestação.
Esse direito ao co n v en cim en to é am plo e absoluto. E xceto os m eios ilegais,
valem todas as d em o n strações, inclusive gravações e fotografias não autorizadas.
Prevalecendo essa p retensão ju ríd ic a , o direito à persuasão su b sistirá e tam bém ,
é claro, o direito à co n traprova. Tudo o q u e se disser q u an to ao a u to r valerá para
o réu.
Entre os p rincipais m eios de persuasão, está o d o cu m en to , o depoim ento tes­
tem u n h ai, a perícia ju d icial, a prova em prestada, a acareação pessoal e até m esm o
a presunção do dano.
1400. Q u an tificação d o v alo r — Sentenciada a reparação p atrim onial, a par
da decantação do prejuízo subjetivo, o que m ais inquietações suscita nesta área é a
quantificação do m o n tan te do dano m oral. Q uase todos os au to res indicam varia­
dos critérios, mas o profissional do D ireito que d ed u zir a prestação ju risd icio n al,
o rep resen tan te do su jeito passivo da ação processual, o perito avaliador e, por
últim o, o ju lgador, todos enfrentam enorm es dificuldades.
F req uen tem en te, o m agistrado fará com parações com outros casos, tabulará
decisões de d istin to s profissionais e verificará a ju risp ru d ên c ia, m as restará com
a ideia de que se p o sto u aquele ou foi além do seu dever de m en su ra d o r da perda
íntim a hu m an a. Isso faz parte da natureza onerosa dessa espinhosa tarefa.
N ossa ju risp ru d ê n c ia repudia os exageros em relação ao dano m oral nessas
ações. O en ten d im en to é o de que a indenização por dano m oral não pode ser fato
de en riq u ecim en to e deve g u ard ar um a proporcionalidade com a su p o sta (sic)
calúnia, injú ria ou difam ação.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1038 W / a íi i m ir N o v a e s M a rtin e z
T omo III
Capítulo CXL

In t r o d u ç ã o

Sum á r i o : 1401. Regras pretéritas. 1402. Disciplina iributária. 1403. Questiún-

culas vernaculares. 1404. Conceito e definição. 1405. Processo e procedimento.


1406. Esgotamento da via interna. 1407. Doutrina específica. 1408. Jurispru­
dência administrativa. 1409. Duplicidade do exame. 1410. Imparcialidade dos
julgadores.

No bojo do D ireito Previdenciário, u m a de suas divisões destaca-se das d e­


m ais, ex p o n d o características p ró p rias polarizadas para a solução de problem as
adjetivos do dia a dia da relação ju ríd ic a de Previdência Social. Trata-se do D ireito
Previdenciário P rocedim ental, área avaram ente abordada pela d o u trin a e a m erecer
m eticulosa atenção dos estudiosos.
Sua ap resentação pressupõe sistem atização, convindo, inicialm ente, sejam
abo rd ad o s aspectos pream bulares.
1401. Regras pretéritas — In stitu íd a a Previdência Social em 24.1.1923, em
virtu d e dos conflitos entre os solicitantes de prestações e os órgãos gestores das
antigas C aixas, to rn o u -se necessário co m p o r os dissídios n o âm bito adm inistrativo
e judicial.
O D ecreto Legislativo n. 4.682/1923 (Lei Eloy M arcondes de M iranda Chaves)
dizia: da decisão do C onselho de A dm inistração da Caixa “contrária à concessão da
ap o sen tad o ria ou pensão haverá recurso para o ju iz de direito do cível da com arca
onde tiver sede a em presa. O nde houver m ais de um a vara, com petirá à prim eira.
Esses processos terão m archa sum ária e correrão in d ep en d e n tem en te de quaisquer
custas ou selos” (art. 31).
No artigo seguinte previa o C onselho N acional do Trabalho — CTN (art. 32),
órgão su p erio r co rresp o n d en te ao hoje MPS e re estru tu rad o pelo D ecreto-lei n.
6.597/1940.
A Lei n. 5.109/1926 inaugurou o D ireito Previdenciário Procedim ental, criando
o R ecurso A dm inistrativo ex ofjicio ao CNT e o referente à cessação da pensão por
m o rte (art. 21, § 1Q).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o III — D ireito P re v id e n c iá rio P roced im en ta l


1041
Por sua vez, o D ecreto n. 20.465/1931 adm itia apelação do segurado ou d epen­
d en te ao CNT, d en tro do prazo de 30 dias contados da decisão tom ada p o r ferrovia
causadora de prejuízo ao ferroviário (art. 51). Da m ulta fixada pelo m esm o CNT,
cabia contestação ao M inistério do Trabalho, Indústria e Com ércio — MTIC (art. 58).
Esse ato norm ativo foi o prim eiro a criar a justificação judicial de tem po de serviço.
Com o D ecreto n. 5.493/1940 im plantou-se a justificação avulsa na esfera do
IAPC, estendida a todos os IAP pelo D ecreto-lei n. 2.410/1940.
O Decreto-lei n. 8.742/1946 su b stitu iu o CNT pelo D epartam ento N acio­
nal de Previdência Social — DNPS. A C âm ara de Previdência Social do CNT foi
transform ada em C onselho Superior de Previdência Social — CSPS (D ecreto-lei n.
8.738/1946).
O D ecreto n. 26.778/1949 concebeu recurso ao CSPS ou DNPS, in terp o sto p e­
rante o P residente da CAP o u IAP (art. 54). O D ecreto n. 22.872/1933, in slitu id o r
do IAPM, co n tem p lo u inconform idade ao CNT (art. 77, d). O art. 178 do D ecreto
n. 32.667/1953, reo rganizador do IAPC, p erm itiu recorrer da decisão do presidente
da au tarq u ia ao DNPS ou CSPS.
Em seus arts. 32, § 3Q e 60, a LOPS regulam entou a justificação ad m in istrati­
va, um futuro p ro ced im ento in tern o dos IAPs.
A C onstituição F ederal de 1967, em seu art. 111, dizia: “A lei poderá criar
co n ten cio so ad m in istrativo e atribuir-lhe com petência para o ju lg am en to das cau­
sas m en cio n ad as no artigo a n te rio r”.
A m atéria nun ca foi regulam entada em nível infraconslitucional e desapare­
ceu na C arta M agna de 1988. Esta Lei M aior diz em seu art. 5a, LV: “aos litigantes,
em processo ju d icial ou adm inistrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
co n trad itó rio e am pla defesa, com os m eios e recursos a ela inerenLes”.
1402. D isciplina trib u tá ria — Na órbita do M inistério da F azenda, em bora
conheça an teced en tes rem otos o D ecreto-lei n. 822/1969 m arcou m o m en to signifi­
cativo da regulam entação: “O P oder Executivo regulará o processo adm inistrativo
de determ in ação e exigência de créditos trib u tário s federais, penalidades, em prés­
tim os co m p u lsó rio s e o de co n su lta” (art. 2e).
No âm bito federal, com o D ecreto n. 70.235/1972 regrou-se o contencioso ad ­
m inistrativo de form a sistem ática. Esse dispositivo vigeu com pequenas alterações
até a Lei n. 8.748/1993. Foi m odificado pelo D ecreto n. 75.445/1975 (R ecurso de
Ofício e fim do pedido de reconsideração), D ecreto n. 79.630/1977 (extinguiu o 3 Q
CCM F e d en o m in o u o 4g, de 3 e C C FM ), D ecreto n. 83.304/1970 (criou a CSRF),
Decreto-lei n. 1.715/1979 (pôs fim ã declaração dc devedor rem isso), D ecreto-lei
n. 2.227/1985 (processo de co n su lta), Lei n. 8.541/1992 (acabou com o pedido de
reconsideração dos acórdãos do CCM F).
O D ecreto n. 70.235/1972 se m antém vigente e reafirm ado.
São im po rtan tes, tam bém , as P ortarias MF ns. 537/1992, 538/1992 e
539/1992, que são im plantadoras do R egim ento In tern o dos CCM F e a Portaria
MF n. 540/1992 (RI da CSRF). Sobre a com petência, o D ecreto n. 2.191/1997 e
tam bém a Lei n. 6.830/1980. E alguns artigos do CTN.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1042 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Por derrad eiro , o art. 6Q do D ecreto n. 982/1993: "Os processos ad m in istrati­
vos relativos ã exigência de crédito trib u tário , penalidades isoladas ou retificação
de prejuízo fiscal, co rresp o n d en tes às representações de q u e trata este D ecreto,
serão ju lg ad o s p rio ritariam en te pelos órgãos com petentes da Secretaria da Receita
Federal e pelos C onselhos de C o n trib u in tes do M inistério da Fazenda, respeitados
o co n trad itó rio , a am pla defesa e o devido processo legal”.
1403. Q u e stiú n c u la s v e rn a c u la re s — C om o era de se esperar, o D ireito Pre­
videnciário P rocedim ental padece de dificuldades sem ânticas. Basta ler as Portarias
MPAS n. 3 .3 1 8/1984 e 4.414/1998 o u as P ortarias MPS ns. 712/1993, 713/1993,
88/2004, 323/2007 e 548/2011, para se d etectar o esforço do elaborador, às vezes
infrutífero, de ten tar não copiar expressões do D ireito Processual. Já as de ns. 537
a 549/1992 do M inistério da F azenda, sem receio de errar ou ten tan d o se valorizar
elas copiaram diretam ente a linguagem do Judiciário.
O s óbices iniciam -se com o títu lo da disciplina: não poderia ser D ireito Previ­
denciário Processual, pois este nom e é prerrogativa do ram o adjetivo não ad m in is­
trativo. Daí, p ro ced im ental, em bora raras vezes assim m encionado. Sistem atizado,
não existe u m D ireito P revidenciário Processual, louvando-se nas regras do D ireito
Processual Civil. O contencioso adm inistrativo é, pois, apenas p ara a ad m in istra­
ção e o ad m in istrad o , regu lad o r das lides internas.
Os entes julgadores não têm jurisdição no sen tid o p ró p rio da palavra e, sim ,
área de influência ou de atuação; da m esm a form a, n ão desfrutam de com petência,
m as de atribuição. A instituição é órgão deliberativo colegiado de controle de atos
adm inistrativos, não p o ssu in d o a m esm a força ju d ican te do P oder Ju d iciário , salvo
n os lim ites de sua esfera. P or isso, não é usual o em prego de “a u to r” ou “ré u ”, m as,
freq u en tem en te, de partes. Sob a influência do D ireito T ributário, é adotado crédito
previdenciário, alu d in do-se às obrigações do sujeito passivo e débito do INSS, em
relação às prestações do beneficiário.
A organização h ierárquica adm inistrativa pressupõe níveis o u graus, em vez
de instâncias, m as a partir da Lei n. 9.784/1999 passou-se a falar em instâncias. De
resto, não h á a figura da entrância.
De m odo geral, com estas e o u tras exceções, o contencioso adm inistrativo
utiliza-se de linguagem própria do Processo Civil, Penal ou Trabalhista, não h a ­
vendo p o r que criar expressões típicas, salvo q u an d o estiver tratan d o de in stitu to
ju ríd ic o in ex isten te naqueles ram os adjetivos, caso da avocatória.
R ecentem ente, sem necessidade, criou-se um problem a ao se designar as a n ti­
gas JRPS. Elas, agora, são referidas com o ju n ta de R ecursos — JRs (e, obviam ente,
da Previdência Social). Suas decisões são cham adas de acórdãos. Os m em bros,
designados com o conselheiros, igualando-se aos do CARE
1404. C o n ceito e d efin ição — O D ireito P revidenciário P rocedim ental é fra­
ção do D ireito P revidenciário voltada p ara aspectos adjetivos da P revidência Social,
co rresp o n d en d o a su a parte processual.

C u rso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I I — D ir e ilo P r e v i d e n c i á r i o P r o c e d im e n ta l 1043
Pode ser descrito com o o co n ju n to de norm as e providências adm inistrativas
ordenadas sistem aticam ente visando o cu m p rim en to das obrigações do gestor e do
beneficiário ou co n trib u in te co m p o n d o dissídios previdenciários suscitados entre
am bos.
Para Celso Antônio Bandeira de Mello, com vistas ao processo adm inistrativo
de m o d o geral, liLigioso ou não, é “sucessão itinerária e encadeada de atos ad m in is­
trativos ten d en d o todos a um resultado final e conclusivo” (“E lem entos de Direito
A d m inistrativo”, p. 71, citado p o r Diógenes Gasparini, in “D ireito A dm inistrativo”,
São Paulo: E ditora Saraiva, 1987. p. 78).
No dizer de Luiz Henrique Barros de Arruda “é o que tem p o r escopo obter
da p ró p ria A dm inistração Pública (n o tad am en te dos órgãos do Poder Executivo)
determ in ad a providência ou o reconhecim ento de u m direito, no pressuposto de
que a ela tam bém com pete o exam e da validade ju ríd ic a dos atos de seus agentes”
( “P rocesso A dm inistrativo Fiscal”, São Paulo: Ed. Resenha Tributária, 1994. p. I).
1405. Processo e p ro c ed im en to — Subsiste peq u en a dissensão qu an to aos
vocábulos “p rocesso” e “p ro c ed im en to ”; alguns defendem a validade das duas p a­
lavras, tanto no P oder Ju d iciário qu an to na adm inistração.
A p aren tem en te — pois a questão parece dep en d er apenas de convenção —
nas duas esferas, processo diria respeito à litigiosidade e procedim ento a expediente
não contencioso, em bora em am bos os casos se possa falar em autos (papéis enfei-
xados e capeados) ou feito (o co n teú d o técnico desses autos).
Na prática, no âm bito das repartições públicas, é com um referência a processo,
reportando-se o servidor ao trâm ite interno, a dossiê e até a sim ples “expediente”.
Nesta exposição, para não ter de repetir, são utilizadas as expressões com o sinônimas.
1406. Esgotamento da via interna — O direito de recorrer ao P oder Judiciário,
q u an d o envolve relações do p articu lar com o P oder Público, em princípio, não d e­
pende da busca prévia da adm inistração, em bora a providência, em m u ito s casos,
seja recom endável e necessária, su p rin d o o legítim o interesse de agir. As soluções
costum am ser m ais rápidas e sim ples.
A Justiça F ederal tem en ten d im en to sobre a negativa da autarquia federal.
Q uando é p ú blica e n o tória a disposição do INSS de indeferir esta ou aquela p re­
tensão, o beneficiário pode ingressar diretam ente com a ação. Mas, tratando-se
de direito novo, sobre o q ual não subsistam m anifestações ou sejam rarefeitas as
finalizações, é im prescindível a decisão indeferitória do órgão gestor.
Veja-se, a respeito, exem plificativam ente, a Súm ula n. 9 do Tribunal Regional
F ederal da 3a Região: “Em m atéria previdenciária, torna-se desnecessário o prévio
ex au rim en to da via ad m inistrativa, com o condição de ajuizam ento da ação”.
1407. Doutrina específica — Silencia um p o u co a d o u trin a sobre o co n ­
tencioso adm inistrativo. O volum e dessa especialização, sua singeleza, o caráter
ad m in istrativ o e a iniciativa p o r um a das partes, fazem dela expediente sim ples,
ap aren tem en te sem ensejar grandes problem as. Mas inquietações existem , são c o n ­
sideráveis e reclam am reflexão.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1044 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
P oucos estu d io sos preocuparam -se com esta particularidade do D ireito Previ­
denciário. E tem as interessantes não faltam , com o analisar a im possibilidade de o
INSS recorrer à Ju stiça F ederal q uando vencido, no m érito, em decisão definitiva,
no CRPS.
São po u cas as referências nas obras de previdência social, lim itando-se aos
co m en tário s sobre os recursos. C onvém ver Antônio Bizerra Machado (“Do insti­
tu to da defesa e do recurso no levantam ento de débito prev id en ciário ”, in Supl.
Trab. LTr n. 76/80), nosso “Temas de D ireito Previdenciário P roced im en tal” (in LTr
n. 4 4 /4 3 5 ), e W ladim ir Novaes Filho (“O dueprocess o fla w no processo ad m in istra­
tivo p rev id en ciário ”, in Revista Dialética de D ireito T ributário n. 31/66).
Porém , esten d endo-se o alcance para as exações securitárias gerenciadas pelo
M inistério da F azenda, am plia-se extrao rd in ariam en te a d o u trin a. M uitos tribu-
taristas, adian te m encionados, cuidaram do processo adm inistrativo fiscal e da
consulta.
E ntre o u tros, devem ser citados Valdir de Oliveira Rocha ( “O N ovo Processo
A dm inistrativo T rib utário”, São Paulo: Ed. IOB, 1993 e L uiz Henrique Barros de
Arruda (ob. cit.). No passado, de Salomão Vieira: “Defesas Fiscais n o A dm inistrativo
e Ju d iciário ”, São Paulo: V ellneich Editor, 1976. A ntes da unificação dos fiscos,
Cláudio Borba escreveu um verdadeiro tratado: “Processo A dm inistrativo Federal
e do INSS”, N iterói, E ditora Im petus, 2004.
1408. J u ris p ru d ê n c ia a d m in istra tiv a — N ossa ju risp ru d ê n c ia adm inistrativa
divide-se em três partes: a) decisões iterativas, n o m esm o sentido; b) enunciados
do CRPS (consolidação dos julgados) e c) súm ulas da AGU.
A sem elhança com o P oder Ju d iciário é notável, a tal p o n to de tam bém se
co n stitu ir em pressu posto de recurso. De igual m aneira, os enu n ciad o s têm p ra ti­
cam ente o m esm o feitio das súm ulas dos tribunais.
O C o n selh o Pleno do CRPS é co m p eten te para b aixar en u n ciad o s, co n so li­
dação das decisões iterativas das CAj (P ortaria MPS n. 548/2011).
P ena terem sido editados p o ucos enunciados, prin cip alm en te assu n to s ques­
tionados com o os co ntidos na antiga avocatória e não haver divulgação sistem ática
das decisões das CAj. Em bora de difícil acesso, pois raram en te se en c o n tram p u b li­
cados os acórdãos, subsiste ju risp ru d ên c ia adm inistrativa, consistente na reunião
de decisões das CAj do CRPS.
À exceção da Revista de Previdência Social, da Revista da P rocuradoria Geral
do INSS, Revista de D ireito Social, Revista de Previdência, Revista IOB Trabalhista
e Previdenciária, Revista Síntese e Revista M agister quase n en h u m a divulgação
sistem ática é feita do co n teú d o dos procedim entos, m áxim e de sua solução. Em
m atéria de custeio são valiosos os dois volum es “A córdãos do CRPS”, editados em
1997 pela ANFIP
1409. D u p licid ad e do exam e — O sistem a brasileiro de controle das ações
ad m in istrativas difere do contencioso francês, nos seus lim ites ad m itin d o reexam e
de p arte do decidido intram uros. Julga-se, com isso, estar aten d en d o à prim azia do

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II I —~ D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1045
Judiciário, entregar certas decisões a servidores não participantes do Poder Executivo
e realizando-se a ind ep endência co n stitu cio n al dos Poderes.
Persiste certa d u plicidade de ações, a ser revista q u an d o da reestruturação
do sistem a. Em alguns casos, a linha recursal funciona com in stru ção de pedidos
a serem feitos ju n to do Judiciário; noutras, filtro, elim inando questiúnculas. Em
algum as, porém , é espécie de fase cognitiva, caso da cobrança adm inistrativa.
1410. Imparcialidade dos julgadores — Os órgãos de controle dos atos ad m i­
nistrativos sem pre desp ertaram a curiosidade dos processualistas, em relação à p o ­
sição dos m em bros julgadores. Indicados pela sociedade e pelo G overno Federal,
nom eados pelo P residente da R epública ou M inistro de Estado. Em bom núm ero,
na com posição de servidores sujeitos, até então, à hierarquia funcional.
C om raras exceções, a m aioria desses representantes paritários, nos lim ites da
atribuição dos seus órgãos, é in d ep en d en te e vota conform e sua consciência. N a­
quele m om ento, não devem obediência à adm inistração, m as à lei, e a im parcialida­
de não só é garantia de ju stiça com o p rincípio su sten tad o r do sistem a intram uros.
Em alguns casos, são especialistas, com publicação d o u trin ária respeitável, e
dão co n trib u ição ao estu do do Direito Previdenciário Procedim ental.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1046 W la d im irN o v a e s M a r tin e z


Capítulo CXLI

A s p ec t o s C ie n t íf ic o s

Su m á r i o : 1411. Natureza jurídica. 1412. Enquadramento científico. 1413. Auto­

nomia técnica. 1414. Relação com outros ramos. 1415. Regras interpretativas.
1416. Campo de incidência. 1417. Objeto e objetivos. 1418. Fontes formais.
1419. Presunções válidas. 1420. Tendências hodiernas.

Problem as cham am a atenção no contencioso adm inistrativo q u an d o se p re­


tende estudá-lo com o área do con h ecim en to ju ríd ico , ju stifican d o concentração do
observador. Sua tipicidade deve ser lem brada, seu m aior escopo é com por conflitos
havidos na área social, em se tratan d o de prestações (atividade-fim da previdência
social), em q ue reconhecida, em m uitos casos, a incapacidade de o interessado
exercitar a m ais co m ezinha das faculdades.
D iante do desconhecim ento e em face da com plexidade da m atéria, às vezes
envolvendo q u estiú n cu las cerebrtnas, im põe-se a iniciativa p rotetiva dos entes
co n tro lad o res da atividade adm inistrativa. Sem elhante form alm ente ao D ireito
Processual, co n tu d o , apresenta preceitos insuspeitados nessa área adjetiva.
Dá-se exem plo da especificidade do D ireito P revidenciário P rocedim ental
com o art. 63 da vetusta P ortaria MPS n. 713/1993: “N os processos que versem
sobre benefícios, se restar provado nos autos que o interessado faz ju s à prestação
diversa d a req u erid a ou que esta lhe é m ais vantajosa, em q u alq u er instância re-
cursal pro ced erá o CRPS da seguinte form a: I — se tal e n ten d im en to se d er em
vista do recu rso do interessado arguindo a nova situação, será dada ciência ao
INSS p ara as co n trarrazões com nova apreciação do pedido; II — se for do R elator
a percepção do novo direito, deverá baixar os autos em diligência para que o in te­
ressado afirm e sua concordância ou não com esta nova situação, encam inhando-se
p o sterio rm en te as co ntrarrazões da autarquia, seguindo-se o ju lg a m e n to ” (Portaria
MPS n. 548/2011 — art. 31, § 3e).
O u tra razão se refere às nuanças do ente controlador dos atos da adm inistração.
N egado o bem ped id o, apreciando recurso, se o órgão gestor resolve concedê-lo, os
au to s sobem para apreciação da JR ou CAj, sem prejuízo da execução, para estes
co n selheiros decidirem pelo aten d im en to integral do pedido.

C urso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o III — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
Esse julg ad o r não se posta isento e acim a das partes, ele tem de buscar a ver­
dade e apontá-la, ainda que não deduzida por um dos polos da relação. Tal tarefa,
obviam ente, é das m ais difíceis e nem sem pre bem com preendida pelos m em bros dos
órgãos colegiados, pois em previdência social — diferentem ente da assistência so­
cial — interpreta-se a norm a apenas e tão som ente a partir dos seus preceitos legais.
Bastante significativa, lem bra Aurélio Pi tanga Seixas Filho, é a eficácia da so­
lução. “Só existe u m p rocedim ento adm inistrativo q u an d o sua decisão últim a e
final po ssu ir o efeito ju ríd ico de term in ar ou en cerrar definitivam ente um litígio
ou um conflito de interesses entre as partes, isto é, p o ssu ir no seu sen tid o próprio
e verdadeiro a função ju risd icio n al, consistente em d irim ir term inativam ente um
conflito de interesses” ( “Q uestões R elacionadas à C ham ada Coisa Julgada A dm i­
nistrativa em M atéria Fiscal”, in P rocedim ento A dm inistrativo Fiscal, São Paulo:
Dialética, 1998, p. 11/27).
1411. N a tu reza ju ríd ic a — A com posição in tram u ro s dos dissídios referentes
à relação securitária, operada p o r órgãos m onocráticos ou colegiados represen­
tativos dos interessados e do G overno Federal, é um a prestação ju risd icio n al de
aten d im en to adm inistrativo form alm ente próxim o do ensejado pelo P oder J u d i­
ciário. M uitas vezes, esgotando ou resolvendo-se a divergência com os m esm os
m ecanism os operacionais.
C onciliação de conveniências, quase ju ízo arbitrai (falta a eleição dos co m ­
pon en tes pelas partes), os entes apreciadores avaliam os atos da adm inistração,
reexam inando a procedência ou subsistência das decisões tom adas.
Sem prejuízo do p rincípio da prim azia do Judiciário, a rigor trata-se de solu­
ção exógena de p en dências entre os envolvidos na relação ju ríd ica ou acom odação
de pretensões de am bas as partes com vistas na ju stiç a social dim ensionada pela
norm a positivada.
Sua ad m in istratividade há de ser lem brada sem pre. A todo instante, o gestor
pode rever os seus atos e lodo o procedim ento ser avocado pelo M inistério e resultar
inteiram en te m odificado.
1412. E n q u a d ra m e n to científico — O Direito P rocedim ental, ao adm inis­
trar conflitos e dúvidas subjacentes, é ram o ju ríd ico -ad m in istrativ o cujo escopo é
aco m p an h ar o desenvolvim ento adjetivo entre os polos da relação de Previdência
Social.
S ubordina-se aos preceitos do D ireito A dm inistrativo e às regras do Direito
Previdenciário, subsidiando-se, de perto, no D ireito Processual Tributário ou do
Trabalho e nos m ecanism os válidos do Processo Civil.
N essas condições, é ram o de direito público, subm etendo-se às injunções
próprias dessa classificação.
1413. A u to n o m ia técnica — Em bora em preenda algum as praxes próprias e
apresente certas características ím pares, configuradoras de seu fim , ele é incipiente
técnica in stru m en tal, sem d o u trin a especializada ou condições asseguradoras de
independência.

C u rso de D ire ito P r e v id e n c iá r io

1048 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Boa p arte da dificuldade de alçar voo deve-se à reverência a p o d er m aior; suas
decisões p o d em ser revistas a q u alq u er m om ento, n ão só pela au to rid ad e ad m in is­
trativa su p erio r com o pelo P oder ju d iciário .
M aior p roblem a, porém , é o G overno F ederal não ter v o ntade política de
reestru tu rá-lo com o em p reen d ed o r do contencioso adm inistrativo. Acaba fun cio ­
n ando com o filtro, p ré-instrução do processo judicial o u sim ples ensaio.
E ntre nada fazer e o in stitu to m ais abrangente previsto no art. 111 da C ons­
tituição F ederal de 1967, o P oder E xecutivo m anteve a atual linha recursal sem
g randes in stru m e n to s operacionais.
Para Alfredo J. Ruprecht: “O p rocedim ento em m atéria previdenciária alcança
a categoria de direito autônom o; rege-se pelos princípios gerais do procedim ento
com um , m as existe u m co m portam ento típico para a solução dos diversos pro b le­
m as” ( “D ireito da S eguridade Social”, São Paulo: LTr, 1996, p. 139).
1414. Relação com outros ramos — O D ireito P revidenciário P rocedim ental
relaciona-se, nesta ordem , diretam ente com o D ireito Previdenciário, A d m in istra­
tivo e Direito Processual Civil, T ributário e do Trabalho.
A rem issão, quase dependência, ao Processo Civil é enorm e, n atu ra l e válida,
pois se red u z à cópia d e m u ito s de seus in stitu to s jurídicos.
1415. Regras interpretativas — N ão confundíveis com as do ram o su b stan ­
tivo em razão do form alism o e de seu objetivo im ediato, são poucas as regras de
interpretação próprias. Porém , os usos e costum es desenvolveram algum as práticas
acolhidas pela adm inistração.
O s p razos representam inibição válida ao direito de peticionar, do co n tra d i­
tório e da defesa, d im in u in d o a liberdade das pessoas. M as tam bém querem dizer
sistem atização do ord enam ento adjetivo, im pondo-se à organização da distribuição
da justiça.
G eralm ente os seus term os estão clarificados na no rm a e a exegese p o u ca ou
n en h u m a utilid ad e tem. E ntretanto, às vezes, o elaborador do preceito não é p re­
ciso e, na incerteza, cabe concluir a favor do requerente ou im p etran te do recurso.
P rin cipalm ente, de o n d e se co n tam os dias e com o se m edem .
Nem sem pre a notificação da decisão do INSS chega co rretam en te às m ãos
do in teressad o , su b sistin d o dúvidas sobre a data de entrega o u a respeito de quem
recebeu a co rresp o n d ência. N esse caso, n ão houve ciência o u o recurso é tem pes­
tivo. N esse sentido, as notificações carecem de insofism ável identificação de para
quem foram entregues.
1416. Campo d e in cid ên c ia — O contencioso ad m in istrativ o observa com ­
p etência m aterial e territorial. Não se fraciona em razão da pessoa. M aterialm ente,
lim itado à ad m inistração, p o r sua natureza e, em razão de sua substância, só com ­
p reen d e pen d ên cias voltadas para a relação ju ríd ic a de previdência social, q uando
a seg u rad o ra presta sua obrigação constitucional de pagar benefícios. N a vertente
do M inistério da F azenda, só de consultas, fiscalização e arrecadação.

C urso de D ir e it o P R r .v iD F .N C iA R io
T o m o III — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1049
Seus lim ites são os dissídios entre segurados e dep en d en tes o u c o n trib u in ­
tes de m od o geral e a seguradora (INSS e a RFB), em m atéria de proteção social,
descabendo-lhe o p in ar sobre outros conflitos, fora desse âm bito, m esm o q u an d o
p resente divergência entre essas partes.
Tam bém suscita problem as de Direito A dm inistrativo ou D ireito do Trabalho,
e só pode d ecidir em relação ao servidor público se filiado ao RGPS. Já teve atrib u i­
ção q u an to ao FGTS. C uriosam ente, com o acessório, diz respeito a contribuições
não previdenciárias de “terceiros” (SESC, SESI, SENAC, SENAI, SEST, SEN AT e
SEN A R etc.).
A função prim ordial das JR é apreciar recursos in terp o sto s co n tra decisões do
INSS e de rever seus próprios julgam entos, em m atéria de concessão e pagam ento
de benefícios.
Já a principal com petência das CAj é “julgar, em ú ltim a instância, os recursos
interp o sto s das decisões proferidas pelas Ju n ta s de R ecursos que infringirem a lei,
regulam ento, en u n ciad o ou ato norm ativo m inisterial, salvo q u an d o se trata r de
m atéria sujeita à apreciação pelo C onselho Pleno, na lorm a do arl. 32, incisos IV e
V” (art. 34, I, do R egim ento In tern o do CRPS). E reconsiderar suas decisões.
T erritorialm ente as JR s têm ju risd ição estabelecida em atos do CRPS. G eral­
m ente, corresponde aos lim ites físicos do Estado, p o d en d o alcançar m ais de um
deles. Em razão da p roxim idade a Turm a de C am po G rande, excepcionalm ente,
pertence à JR de B auru, em São Paulo.
As JRs e as CAjs alcançam todo o território brasileiro, o m esm o valendo para
o C onselho Pleno do CRPS, p o r vezes resolvendo problem as surgidos no exterior.
Os CARF (que su b stitu íram os CCM F) são nacionais, bem com o a CSRF,
cab endo-lhes apreciar recurso e especial.
1417. O b jeto e o b jetivos — O seu objeto m aterial é o conflito de ideias entre
as parles, área de controvérsia fática ou ju ríd ica, trazida à colação nos autos. Isto
é, são exam inadas n o rm as (direito), situações (fatos), d o cu m en to s (papéis), inca-
pacidades físicas, provas e dep o im en to s testem unhais etc.
Por o u tro lado, seu objetivo é reco m p o r a ordem ju ríd ica rom pida com o
questio n am en to do direito invocado. Seu papel, diante do proposto e da norm a in ­
cidente, consiste em ad equar a regra ao fato. Dizer qual dos polos está com a razão.
Pôr fim à incerteza. S olucionar a pendência. Esclarecer o sen tid o da disposição.
Q u an d o possível, o ideal do julgador, ap u rar a verdade.
Exem plificalivam ente, dizer qu an d o o segurado está o u não incapaz para o
trabalho habitual. Se houve ou não o reco lh im en to da contribuição. C aracterizar
certo trab alh ad o r com o segurado obrigatório. D efinir se é a ex-esposa ou a ex­
-com panheira que lem direito à pensão por m orte. C onfigurar a presença da relação
em pregatícia.
1418. F o ntes form ais — O Direito Previdenciário Procedim ental não está le­
galm ente sistem atizado nem codificado. Os com andos superiores subm etem -se à Lei

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1050 W la d im ir N o v a e s M a rt in ez
n. 9.784/1999, Decreto n. 70.235/1972 e Portaria MPS n. 548/2011. Algumas regras
jazem esparsas nas duas leis básicas substantivas (PCSS e PBPS). As norm as organi­
zacionais, bastante explícitas, constam de portarias m inisteriais. Aqui, destacam -se
as pertin en tes ao MPS, m encionando-se, oportunam ente, as relativas ao ME
a) Constitucionais: a C arta M agna de 1988 não oferece m u ito s dispositivos
sobre m atéria adjetiva. São m ínim as as referências ao p rocedim ento (art. 5Q, LV)
ou ao processo, lim itando-se a form ular po stu lad o s fundam entais.
A m aioria deles contem plada no art. 5°: a) recurso ao Ju d iciário (XXXV); b)
direito à inform ação (XXXIV, b); c) possibilidade de peticionar (XXXIV, a); d) ser
processado so m en te p o r au to rid ad e co n stitu íd a (L lll); e) necessidade de processo
(LIV); f) p rin cíp io da am pla defesa e do co n trad itó rio (LV); g) invalidade de prova
ilícita (LVI); h) pu b licidade (LX); i) ação p o p u lar (LXXIII); e j) assistência ju ríd ica
g ratu ita (LXXIV).
b) Legais: o D ecreto-lei n. 72/1966 dispôs sobre os recursos, nos arts. 23/25. A
Lei n. 6 .3 0 9/1975 alterou a organização d o CRPS. R eestru tu ração do CRPS deve-se
à Lei n. 8.42 2 /1 9 9 2 , m atéria regulam entada nos D ecretos n. 568/1992 e n. 656/1992.
A P ortaria MPS n. 430/1992 im plantou o R egim ento In tern o do CRPS. Da m esm a
form a, a Portaria MPS n. 712/1993. A Portaria MPAS n. 1.448/1994 alterou o art. 24
da P ortaria MPS n. 712/1993.
As duas leis básicas (PCSS e PBPS) ditam regras em m atéria de processo e
p rocedim ento.
O P lano de Benefícios tem vários com andos p ertin e n te s a processualística e
procedim entalística: a) prescrição da ação (art. 103); b) prescrição da ação acid en ­
taria (art. 104); c) ju stificação ad m in istrativ a (art. 108); d) recurso ao CRPS (art.
126); e) su b sid iarid ade do CPC (art. 127); f) dem andas ju d iciais (art. 128); g)
com petência em m atéria acidentaria (art. 129); h) efeito suspensivo e devolutivo
(art. 130); i) desistência de ação (arts. 131/32); e j) m u ltas (art. 133).
O Plano d e C usteio apresenta quatro com andos: a) m ulta (art. 92); b ) recur­
sos de ofício (art. 93, parágrafo único); c) defesa da m u lta (art. 93); e d) rem issão
de débitos (art. 98).
N o to can te aos crim es previdenciários, a Lei n. 9.983/2000.
c) Portarias ministeriais: Tratando-se de entes de deliberação coletiva, as JR,
CAj e o C onselho Pleno d o CRPS são disciplinados pelo MPS. D estarte, m u ito s atos
no rm ativ o s em itidos pelo G abinete do M inistro de E stado regram as d u as divisões
departam entais.
Assim, a P ortaria MPAS n. 31/1975 aprovou o R egim ento In tern o do CRPS,
m odificado pela P o rtaria MPAS n. 32/1975 e alterado pela P ortaria MPAS n.
4.301/1988.
A Portaria MTPS n. 3.346/1973 dispôs sobre o Regim ento Interno das JR,
q u an d o conhecidas com o J u n ta s de R ecursos da P revidência Social. A Portaria
MPAS n. 160/1975 reco m en d o u ao então INPS abster-se de recorrer em certas
circunstâncias.

C urso de D ir f . i t o P r e v id e n c iá r io

T o m o 111— D i r e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l | 51
Iniciativa da revisão de atos procedim entais com pareceu na P ortaria MPAS
n. 632/1977. O Parecer PGC/GCB n. 132/1985 dispôs sobre os prazos. A Provisão
CRPS n. 1/1981 expediu n o rm as relativas ao p o d er de alçada das JR.
A Portaria MPAS n. 3.318/1984, alterada pela de n. 3.379/1984, in stitu iu as
N orm as de P rocedim ento (relativas à tram itação de recursos adm inistrativos), ver­
dadeiro código de p ro cedim ento previdenciário, com 135 artigos, su b stitu íd a pelas
Portarias MPS n. 712/1993 e MPS n. 713/1993.
F inalm ente, a m atéria está consolidada na P ortaria MPS n. 548/2011 (m odo
geral).
d) Jurisprudência dos tribunais superiores: Diz o art. 131 do PBPS, na reda­
ção dada pela Lei n. 9.528/1997: “O M inistro da Previdência e A ssistência Social
poderá auLorizar o INSS a form alizar desistência ou abster-se de p ro p o r ações e
recursos nos processos judiciais sem pre que a ação versar m atéria sobre a qual
haja declaração de in co nstitucionalidade proferida pelo Suprem o Tribunal Federal
— STF súm ula de ju risp ru d ê n c ia favorável aos beneficiários”. Ideia a ser aplicada
com m uita ênfase, com as letras a/c do parágrafo único e a redação do art. 103-A
da C onstituição F ederal (súm ula vinculante).
A m edida é recom endável sob todos os aspectos. Não tem sentido o órgão
gestor buscar os m ais altos pretórios, se eles já se m anifestaram co n trariam en te em
m ansa e pacífica ju risp ru d ên c ia, a po n to de ter sido sum ulado.
As cortes federais aludidas são o STJ e o STF In d ep en d en tem en te do com an­
do, não podem ser desprezadas as sú m u las do TST acostadas ao Direito Previden-
ciário, convindo lem brar, pela o p o rtu n id ad e, tam bém as do ex-Tribunal Federal
de Recursos.
A redação da n o rm a an terio r a Lei n. 8.620/1993 falava em “beneficiários e
c o n trib u in tes”, o que era u m a pena. Da m esm a forma, em m atéria de c o n trib u i­
ções, não é conveniente in sistir em recorrer de decisões iterativam ente favoráveis
ao sujeito passivo da obrigação fiscal. N ão é ilegal, p o r conseguinte, decreto m a n ­
d ar esten d er a regra acim a às m encionadas exações.
À evidência, tal disposição aplica-se em relação ao D ireito Previdenciário P ro­
cedim ental.
e) Súmulas: asp rin cip ais condensações d aju risp ru d ê n cia do STF são as de ns. 35
(direito da co m p an h eira), 105 (suicídio do segurado), 196 (definição do em pre­
gado), 217 (volta do aposentado ao em prego), 229 (indenização civil), 230 (início
da prescrição da ação acidentaria), 235 (com petência para acidente do trabalho),
337 (controvérsia entre em pregador e seg u rad o r), 612 (proteção acidentária do
rurícola) e 613 (pensão p o r m orte dos d ep en d en tes rurais).
As do STJ são as seguintes: ns. 44 (disacusia), 62 (com petência da Justiça
E stadual) e 89 (exau rim ento da via adm inistrativa).
Súm ulas do TST: ns. 57 (Lrabalhadores de u sin a), 337 (salãrio-fam ília dos
rurais), 254 (direito ao salário-fam ília) e 260 (co n trato de experiência).

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1052 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Do antigo Tribunal F ederal de R ecursos são lem bradas as de n. 171 (renda
m ensal inicial) e n. 260 (prim eiro reajustam ento).
Um estudo m ais com pleto pode ser visto n o nosso livro Comentários às Sumulas
Previdenciárias: São Paulo: LTr, 2011.
1419. P resu n ç õ es v álid as — São poucas as presunções em m atéria adjetiva
no D ireito P revidenciário. A p ar de lem brar a distinção en tre presunções sim ples e
legais, Luie Eduardo Schoueri d iscute as que estão p resentes n o processo adm inis­
trativo trib u tário ( “Presunções Sim ples e Indícios no P rocedim ento A dm inistrativo
F iscal”, in Processo A dm inistrativo Fiscal. São Paulo: Dialética, 1997. p. 81/88).
Aqui e ali algum as delas podem ser colhidas.
a) Presunção do conhecimento da notificação: se o beneficiário e, principalm ente,
o co n trib u in te, co n testa alegações, afirm ações, atitudes ou decisões tom adas pelo
órgão gestor e ao m esm o tem po p ro testar pelo direito de defesa, p articu larm en te
se não assin o u a N otificação Fiscal, presum em -se sabidos os fatos.
b) Presunção da aceitação: p o r ocasião do co n trad itó rio , especialm ente n a d is­
cussão do m érito dos L ançam entos Fiscais ou A utos de Infração, se a defesa ou
o recurso silenciam em relação a certa m atéria entende-se haver conform ação,
aceitando-se o alegado pela parte contrária. O m esm o se passa com a o u tra parte
(INSS ou RFB).
c) Presunção da legitimidade: os atos adm inistrativos gozam a p resunção de
legitim idade. Trata-se da presunção relativa, co m p o rtan d o prova em contrário. É
prerrogativa do Estado, própria do procedim ento.
1420. T en d ên cias h o d ie rn a s — O s organism os de controle dos atos ad m i­
nistrativos, além de filtrarem q u estiú n cu las e oposições de interesse, d im in u in d o
o encargo do P oder Ju d iciário , refletem a preocupação do ad m in istrad o r com a
apuração da realidade factual e jurídica.
L am enta-se prestarem -se, m uitas vezes, com o m ecanism o de in stru ção de p e­
didos de benefício e de cobrança adm inistrativa, com freqüentes inovações da causa
petendi ou oferecim ento de provas antes não exibidas. Sua conceituação depende
do P oder E xecutivo, reorganizando a in stitu ição e, prin cip alm en te, d a conscien­
tização de seus m em bros. N em todos têm noção de sua n eu tralid ad e, ju lg an d o -se
ainda p erten cer às JJR.
N ota-se visível valorização de alguns de seus in stitu to s, ch am ando a atenção
a Revisão de Ofício, ainda não inteiram en te conhecido (b astan d o ver, pelo núm ero
de apreciações, q u an tas solicitadas pelo INSS e pelos o u tro s polos da relação).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I I I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
Capítulo CXLII

P r in c íp io s a p l ic á v e is

S u m á r i o : 1421. Economia processual. 1422. Iniciativa da parte. 1423. Simplici­


dade operacional. 1424. Gratuidade cartoriaí. 1425. Celeridade do andamento.
1426. Subsidiaridade do CPC. 1427. Reformatio in pejus. 1428. Recurso do titu­
lar. 1429. Ampla defesa e contraditório. 1430. Direito Administrativo.

Na solução d o s conflitos jace n tes nos expedientes, p o r vezes o aplicador da


n o rm a tem dc socorrer-se de in u sitad o s in stru m e n to s técnico-jurídicos. Vale-se,
então, dc p rincípios p róprios, e não são poucos.
Ao co m en tar o art. 179 da CLPS, d ispondo a respeito de norm as processuais
p ertin en tes às ações acidentárias, M o^art Víctor Russomtmo refere-se a quatro deles:
a) p rin cíp io da preferência; b) p rincípio da sim plicidade; c) p rincípio da celeridade
dos processos; e d) p rincípio da gratuidade ("C om entários à CLPS”, p. 533/41).
Além disso, usando a expressão “princípios” com o significado de fundam ento,
ele adota diversas regras com o preceitos reguladores da ação ju d icial, com o é o
caso da com petência da Ju stiça C om um .
Celso Alves Feitosa ("A crescente form alização do PAF, sua transform ação e
conseq ü ên cias”, in Processo A dm inistrativo Fiscal, São Paulo: Dialética, 1997,
p. 31/48) preo cu p o u -se com os princípios co nstitucionais aplicáveis, julgando-os
au sentes q u an d o de instância sin g u lar (operada a decisão p o r servidor da A dm i­
nistração ), lem brando as recom endações de Marçal Justen Filho de observância do
p rin cíp io da legalidade e enfatizando os da m oralidade e im pessoalidade, concluiu
ser im possível conciliar a celeridade com a am pla defesa, co n trad itó rio , im parcia­
lidade, im pessoalidade, legalidade, verdade m aterial e o inform alism o (sic).
Eduardo Bottallo ( “A lgum as reflexões sobre o PAT e o Direito que lhe cabe
assegurar", São Paulo: Dialética, 1997, p. 51/62) abre o estudo sobre os princípios
inform adores, salientando a am pla defesa e a legalidade.
1421, E co n o m ia pro cessu al — O contencioso adm inistrativo é o resultado
de po stulad o técnico elevado, inspirador do exam e adm inistrativo das pendências
entre beneficiário ou co n trib u in te e a Previdência Social.

C urso de D ir c it o P r e v id e n c iá r io
1054 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O p rin cíp io da econom ia processual é preceito lógico; a relaçao adjetiva não
pode constituir-se em ô n u s a m ais ao exercente do direito de ação.
Ele tran sp o rta-se p o r inteiro para o D ireito Previdenciário. Em sua obser­
vância deve evitar-se a repetição de atos e form alism os desnecessários, a proteção
de decisões d ep en d en tes de cu m p rim en to de obrigações não essenciais e o utros
entraves buro crático s, característica do form alism o.
Daí, q u an d o diante do direito inequívoco, a possibilidade de o CRPS exam inar
recurso im petrado fora do prazo legal.
1422, In iciativ a da p a rte — O p rocedim ento previdenciário é iniciado pelo
gestor do seguro social (v. g., concessão espontânea de auxílio-doença, cobrança
ad m in istrativ a de d éb itos, m atrícu la ex ojficio etc.) ou pelos o u tro s su jeito s da
relação jurídica, a em presa (v. g., restituição de contribuições, parcelam ento de
débitos, certificado de quitação, etc.) ou o beneficiário (v. g., ped id o de ap o sen ta­
doria, reem bolso de despesas m édicas, contagem de tem po de serviço etc.).
Em face de sua n atu reza adm inistrativa, o en cam in h am en to é não jurisdi-
cional, no sen tid o de ser desenvolvido fora do P oder Judiciário; opera-se dentro
dos lim ites im postos à A dm inistração Pública pelo sistem a constitucional. A não
adoção do co n ten cio so referido n a C arta M agna de 1967 não lhe retira a natureza
adm inistrativa.
N essas condições, sendo a adm inistração parte e única deflagradora do ex ­
ped ien te (não im p o rtan d o de quem tenha partido a iniciativa), o processo é im ­
pu lsio n ad o p o r essa m esm a parte. Isso é ínsito ao expediente e, a despeito de a
origem e a m ovim entação dos atos serem praticam ente todas dela, com o os dem ais
sujeitos da relação, ela se obriga aos cânones processuais. E, fu n dam entalm ente, à
im parcialidade.
A A dm inistração Pública abre o processo e o m antém em an d am en to até a
solução final. Iniciado pelo beneficiário ou co n trib u in te, o gestor deve d ar encam i­
n h am en to ao feito, m esm o se registrando algum desinteresse de parte do interes­
sado. E v identem ente, insere-se no princípio, e a ele não se opõe, a ideia de se fixar
prazo p ara o beneficiário ou co n trib u in te c u m p rir algum a providência e, q uando
ele não a cum prir, extinguir-se o andam ento.
Diverge-se, neste particular, da opinião de AgustinA . Gordillo (“P rocedim iento
y R ecursos A d m in istrativos”, p. 59/60), citado p o r Hely Lopes Meirelles ( “D ireito
A dm inistrativo B rasileiro”, p. 656). Da inação do adm inistrado, su sten ta aquele
autor, não pode derivar, em n e n h u m caso, a paralisação do procedim ento.
R egularm ente oferecida ao interessado a o p o rtu n id ad e de praticar d eterm i­
nad o ato co n d u cen te à solução da pendência, fixado prazo razoável para isso, se
ele se m an tém in erte, não pode o co n d u to r ficar etern am en te ã m ercê, devendo
arquivar os autos.
Tam bém se insere no p rincípio o feito ficar sobrestado en q u a n to aguardar
decisão ju d icial sobre a m esm a m atéria. É postulado co n stitu cio n al, nada p o d er
ser su b traíd o ao exam e do P oder Judiciário.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T orno I I I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1055


A p ar da iniciativa procedim ental, em m u ito s casos, é a própria adm inistração
quem fixa n orm as su b stantivas e de procedim ento. À falta de disciplina legal, resta
ao ente gestor elaborar com andos ju ríd ico s aplicáveis; isso reclam a isenção de
ânim o com patível com a dignidade da coisa pública.
O fund am en to do p rincípio está em prevalecer proveito coletivo em d etri­
m ento ao do particular; quando a adm inistração está cuidando de um caso individual
deve ter em m ente, em prim eiro lugar, o interesse de todos.
1423. Simplicidade operacional — As técnicas de proteção social subsis­
tem p o rque atendem às contingências im periosas. O seguro social supre carências;
estas, se inexistentes, o to rn ariam inútil. A necessidade de co bertura deriva da
incapacidade de o trabalhador m anter-se, q uando presentes os riscos protegidos,
e, ainda, de desenvolver técnicas individuais de aten d im en to a p o n to de dispensar
as sociais.
Tal desvantagem é ínsita ao sistem a capitalista vigente, razão pela qual a em ­
presa é solicitada a participar, é tam bém cham ada de hipossuficiência do trabalhador,
ou seja, ausência de condições de autodefesa co n tra os infortúnios da vida.
Sociologicam ente, certos indivíduos são beneficiados pela capacidade de
enfren tar os perigos. São pessoas preparadas in telectualm ente. O utras, porém , e
co n stitu em m aioria, são p ortadoras de deficiência sociocultural, e têm dificultado
o exercício dos direitos sociais.
Cada dia o m u n d o se to rn a m ais com plexo; essa com plexidade reflete-se em
todas as coisas e, em particular, na esfera jurídica. O surgim ento do D ireito Pre­
videnciário, com o ciência form al au tô n o m a deve-se à diversificação das relações
sociais, econôm icas e jurídicas, derivadas do trabalho e sua organização.
Os recursos criados pelo hom em para enfrentar as dificuldades inerentes à
m ultiplicidade de situações não são capazes de dim inuí-las p o r inteiro, pois a a d ­
versidade com batida é das relações sociais e estas são ricas e criadoras.
Nesse sentido, o D ireito é insuperável, a tal po n to de seu exercício ficar co n ­
dicionado à form a revestida, ao seu in stru m en to de realização.
D ependendo dos bens ju ríd ico s tutelados, a com plexidade é aceitável ou su ­
portável, p o is é preferível a segurança lastreada à singeleza nada garantidora. Isso
não se passa no seguro social. A sim plicidade deve ser axiom a de D ireito Previ­
denciário, su p rin d o -se falhas p o r presunção ou pela iniciativa da adm inistração.
Dada a n atureza alim entar o expediente adm inistrativo deve ser o m ais sim ­
ples possível, a fim de perm itir aos beneficiários se servirem a tem po da previdência
social.
A sim plicidade não é preceito teórico e sim prático, destinado à adm inistração,
devendo ser aplicado no dia a dia e não apenas referido nos estudos e pareceres.
Seu lim ite é a segurança jurídica da situação. D entro desse universo, tu d o deve ser
sim plificado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1056 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
João Antônio G uilhem -B em ard Pereira Leite (“A Sim plificação das Leis de P re­
vidência Social”) destaca aspecto p articu lar da sim plicidade, de grande relevância,
no respeitante à n o rm a ele garante: “A legislação de previdência social é in d escu l­
pavelm ente co m p licada”. “A sim plificação das leis é um a m eta a ser perseguida
co n scien tem en te, visando ao aperfeiçoam ento dos diversos regim es de segurança
social” (ob. c it) .
M esm o acidental, a com plicação da legislação previdenciária constitui-se em
ob stáculo a m ais na consecução dos benefícios. “A com plicação é nociva em si
m esm a e, além disso, facilita o arbítrio, favorece a burocracia, exaspera a ficção
do co n h ecim en to da lei e dificulta a in terp re taçã o ”, confirm a Pereira Leite. Avulta
ser “preciso in sistir em que a com plexidade nào é inerente às leis de Previdência
Social”. A dem ais, “A im p o stu ra vocabular, o palavreado tecnocrata, a form ulação
esotérica propiciam a ignorância” (ob. cit.).
R eportando-se à CLPS, legislação de co nsum o direto, para Celso Barroso Leite
as leis previdenciárias não se destinam apenas a ju ristas, m as tam bém a trabalha­
dores necessitados da previdência social, de conhecê-la em seus m eandros técnicos
e ju ríd ico s.
1424. Gratuidade cartorial — O procedim ento adm inistrativo é inteiram ente
gratuito. Além de d isp en sar in term ediários, não há cobrança de preço público. O
ô n u s do interessado é processual, isto é, ter de provar o alegado em seu favor. En­
tretan to significa não ser oneroso, pois observa os cânones processuais, atribuindo
às partes certas obrigações, às vezes pesadas, até insuportáveis, m as não tem custas,
em olu m en to s, despesas de expediente ou os h o n o rário s de peritos (q u an d o deter­
m inados pela A dm inistração Pública).
O fu n d am en to do p rincípio é fácil de ser aceito. Os encargos da adm inistração
são cu stead o s pela cotização dos segurados e das em presas; estes se servem dos
serviços, globalm ente considerados com o contribuintes. N ão há, assim , razão p o n ­
derável para os beneficiários, individualm ente, sofrerem ô n u s pecuniários. Mas,
em m u ito s casos, acidentalm ente, a A dm inistração Pública ser generosa e se per­
m itir a liberalidade de fornecer gratu itam en te im pressos custosos com o a CND,
sobrecarrega o sistem a em favor de alguns dos titulares.
O princípio deve aplicar-se à parte procedim ental do D ireito P revidenciário,
am in g u an d o -se em o u tras áreas, a fim de p erm itir o exercício do direito de ação
in teiram en te g ratu ito . O contencioso adm inistrativo é in teiram en te sem despesas.
Um a das poucas referências expressas à gratuidade dos serviços públicos estava
co n tid a na CLPS: “A ação m ovida pelo acid en tad o ou seus d ep en d en tes terá p re­
ferência sobre as dem ais, e será gratuita q u an d o vencido o a u to r” (art. 179, § I a).
Na verdade todos os pro ced im en to s adm inistrativos são gratu ito s e assim
deve ser. Em especial, os respeitantes à concessão e prestações e os recursais.
1425. Celeridade do andamento — U m a das feições nucleares do seguro
social é sua natureza m arcadam ente tutelar.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I I — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
1057
C o m entando a obrigação de contribuir, Pontes de M iranda antevia o dever ali­
m en tar co n tid o na previdência social. Marly Antonieta Cardone (“A lguns P rincípios
de D ireito Previdencial”) elege o caráter alim entar com o princípio securitário e em
2000 essa posição foi reafirm ada pelo art. 101-A da C arta Magna.
Substituindo m eios habituais de subsistência do trabalhador, a prestação pre-
videnciária destina-se a propiciar a referida m anutenção, razão pela qual sua per­
cepção deve seguir-se, o m ais continuadam ente possível, ao pagam ento dos salários
ou rendim entos do trabalhador. Aplicação prática do princípio da continuidade é
a obrigação do em pregador de pagar os prim eiros 15 dias antecedentes à fruição
do auxílio-doença, evitando-se, assim , solução de continuidade na percepção dos
ingressos.
C om o as necessidades básicas da sobrevivência são urgentes, co n tín u as e
perm anentes, a liberação das prestações deve ser im ediata; seu pagam ento perene,
enq u an to p erd u rar a contingência protegida d eterm inante. D estarte, im põe-se
velocidade nessa concessão, regularidade no pagam ento e determ inação n a p erm a­
nência, sob pena de não se realizar o principal objetivo da previdência social. Se hã
concordância em relação à parte da pretensão, esta deve ser atendida, prosseguindo
a divergência no tocante ã área controversa.
O p rin cíp io da celeridade no trato das questões trabalhistas, no âm bito ju d i­
ciário, se desloca para o D ireito P revidenciário. O processo adm inistrativo deve
ser sim ples e rápido, se não, perece o alim entando, e isso contraria o princípio da
proteção.
As hipóteses de concessão parcial, de circunscrição da área controversa e de
aten d im en to im ediato fazem parte desse concerto de ideias respeilante à celeridade
do procedim ento.
In ú m eras são as disposições legais versando sobre o p rincípio da celeridade,
destacando-se as referentes ao processo adm inistrativo acidentário. P ertin en te­
m ente, d isp u n h a a CLPS: “Terá p rioridade absoluta para ju lg am en to , nas Ju n tas e
no C onselho de Recursos da Previdência Social, o recurso relativo a direito decor­
rente deste títu lo ” (art. 179, § 4e).
Toda a m atéria relativa a prestações deve ter prio rid ad e na adm inistração.
C onfrontadas duas delas, as acidentãrias têm preferência sobre as com uns; o au x í­
lio-doença deve sobrepor-se à aposentadoria p o r tem po de serviço; a concessão de
pensão deve operar-se antes do despacho concessório da aposentadoria p o r idade.
Na área securitária rezava a Lei n. 6.367/1976: as ações acidentárias não são
suspensas e se processam inclusive d u ra n te as férias forenses, atendendo ao p rin ­
cípio da celeridade.
1426. Subsidiaridade do CPC — O en cam in h am en to previdenciário não
conhece sistem atízação perfeita. Basicam ente, segue princípios do processo a d ­
m inistrativo, quase todos eles ten d o origem no direito consuetudinário. Salvo a
cobrança de débito e um a ou outra, as norm as adm inistrativas não estão e s tru tu ­
radas n u m a lei orgânica ou nu m código específico.

‘ I C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1058 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
E xcluída a in ex istência de ju risd ição e todos os efeitos p ráticos e jurídicos se­
guintes, o en cam in h am en to adm inistrativo é assem elhado ao processo ju d iciário ,
em p articu lar o civil. D epois do D ireito Previdenciário e do D ireito A dm inistrativo,
a ciência ju ríd ica m ais próxim a do Direito Previdenciário P rocedim ental é o D ireito
Processual Civil.
As razões não são difíceis de serem apreendidas; os objetivos a serem alcan ­
çados são p róxim os, isto é, d irim ir conflitos, restabelecer a ordem ju ríd ic a e dar
cu m p rim en to à lei. E videntem ente, as técnicas são distin tas e os resultados ficam
sem pre à m ercê da invocação do P oder Judiciário.
C om o no art. 769 da CLT, não há disposição na legislação previdenciária, de
caráter genérico, d eterm in an d o a utilização de norm as processuais, m as é en ten d i­
m ento pacífico deverem ser observados os princípios processualísticos com patíveis
com o ex p ed ien te adm inistrativo.
O C ódigo de Processo Civil é norm a subsidiária do D ireito P revidenciário nos
pro ced im en to s ad m in istrativos e norm a básica nas ações judiciárias. Em m atéria
de acidentes do trab alho, única onde houve preocupação de deixar definida essa
atribuição, dispõe-se: “O C ódigo de Processo Civil será aplicável, no que couber,
inclusive q u an to à perícia m édica, à ação de acidente do trabalho co n tra o INPS,
obedecidos os seg u in tes p ra zo s” (CLPS, art. 179, § 6e).
No D ireito do Trabalho, a rem issão explícita ao art. 769 da CLT resulta no
p rin cíp io da subsid iaridade do CPC. As condições ali exigidas são as m esm as apli­
cáveis à p rev id ên cia social: om issão d a lei e co m p atib ilid ad e en tre as n o rm as
p rocessuais civis e as exigências do p rocedim ento previdenciário.
A legislação, todo o tem po à disposição do INSS, em m atéria exacional, é a p er­
tin en te ao processo adm inistrativo fiscal, em p articu lar o D ecreto n. 70.235/1972,
n a redação dada pela Lei n. 8.748/1993.
1427. R eform ado in pejus — No D ireito Penal, em m atéria recursal, vige
p rin cíp io segundo o qual o reexam e de sentença co n d en ató ria não deve im p li­
car solução capaz de p io rar a situação do réu. Em virtude do p o stu lad o su p erio r
da verdade, in sp irad o ra do exercício do D ireito, a prova da veracidade ocorrerá
d u ra n te a tram itação do processo adm inistrativo. Em decorrência de recurso são
co n statad o s erros de fato o u de direito, im p o rtan d o na revisão da decisão recorrida.
Wiison de Souza Campos Batalha ( “Tratado de D ireito Ju d iciário do Trabalho”,
p. 769/70) resum e o posicionam ento em m atéria trabalhista, su sten tan d o po sta­
rem -se a d o u trin a e a ju risp ru d ên c ia brasileiras no sen tid o de não acolher decisão
de instância su p erio r atrib u in d o m enos em com paração com a decisão recorrida.
“Q u an d o a decisão recorrida h o u v er consagrado u m error in procedendo, a decisão
da instância su p erio r deve d eterm in ar a rem essa dos au to s ao juízo a quo, a fim de
ser o processam ento renovado a partir da ocorrência da nulidade e decidido nova­
m ente o m érito. Q u ando, porém , haja a decisão recorrida incidido em error in
judicando, a in stân cia su p erio r deve proferir decisão que su b stitu a aquela”.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o l i l — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
1059
Até o advento da Lei n. 9.858/1997, no D ireito P revidenciário, silenciava a
legislação sobre o prazo para o órgão gestor rever processos de despacho de benefícios;
sob pedido do beneficiário ou não, pode-se revisar a concessão em si (direito ao
benefício) ou os coeficientes num éricos determ in an tes do valor da prestação.
R eexam inando o deferim ento a pedido do interessado, se a adm inistração
con statar de fato o u de direito, deve reform ar a decisão concessória no seu m érito
ou em seus valores.
E xem plificativam ente, suponha-se segurado aposentado requerendo a revisão
de cálculo do valor de sua aposentadoria. N o reexam e, co nstatado erro a maior,
cabe rescisão da decisão recorrida im plicando redução do nível do benefício.
A posentado, se o segurado pede dem issão de seu em prego e, sem culpa, ve­
rifica-se não ter d ireito à aposentadoria (porque, p o r exem plo, não havia com ple­
tado o tem po de serviço necessário), a prestação deve ser cancelada e apurada a
responsabilidade do servidor, a adm inistração carecendo de ressarcir civilm ente os
d an o s causados ao titular.
O utro exem plo, a revisão de débito d eco rren te de defesa ou recurso, apre­
sentado com atraso p o r co n trib u in te autuado. Pode acontecer de, efetuada aquela,
m esm o calcada no m esm o período de fiscalização e fato gerador, resu ltar em débito
de valor superior. Im põe-se reexam e, alteração do to tal, reform a para pior e, se não
significar inovação de m atéria controversa, descabe reabertura de prazo para se
con testar a diferença apurada.
A m atéria co ntida em recurso adm inistrativo não se confunde com o p ro ce­
dim ento de cognição. Ao apreciar decisão de instância inferior (do INSS, pelas JR;
das JR, pelas CAj do CRPS, e assim por dian te), constatado error in procedendo, o
ente adjetivo su p erio r deve fazer re to rn ar o feito ao órgão recorrido para regulari­
zação do processo, sem en trar no m érito dos elem entos su p erv en ien tes à prolação
da sentença.
1428. R ecurso do titu la r — R ecorrer de decisão causadora de prejuízo su b ­
jetivo p erten ce à discrição do titular do direito afetado (c o n trib u in te ou benefi­
ciário). Ele não é obrigado a p ro m o v er o du p lo grau de exam e adm inistrativo ou
jurisdicional.
Porém , especialm ente em m atéria fiscal, às vezes a adm inistração im põe aos
seus servidores o dever de recorrer de ofício. Trata-se de recurso obrigatório, pre­
visto, em cada caso, n a legislação.
1 4 2 9 . A m pla d efesa e c o n tra d itó rio — A am pla defesa e o co n trad itó rio são
garantias co n stitu cio n ais (art. 5S, LV), adiante estudadas. Aqui basta lem brar serem
ex trao rd in ário s preceitos insculpidos na C arta M agna, m erecendo toda a atenção
do aplicador, do in térp rete da norm a previdenciária.
N aquela ocasião consideram os os seus aspectos principais: a validade da am ­
plitude, o significado da defesa, quais os m eios possíveis, os recursos postos à
disposição, a eficácia do co n trad itó rio , a igualdade das partes e a im parcialidade
do ente julgador.

C urso de D ír e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
1430. D ireito A d m in istrativ o — Q u ando se instalaram os prim eiros in sti­
tu tos de previdência social, na década de 1930, tiveram de ser criadas técnicas
ad m in istrativas p erm itin d o a efetivação do direito às prestações. Sim ples em seu
n asced o u ro , logo a adm inistração deu-se conta da com plexidade da tarefa a seu
cargo e sua en o rm e responsabilidade e im portância. H oje, o processo está sed i­
m en tad o p o r m eio de práticas, praxes, usos e costum es, a p a r do cu m p rim en to de
regras processuais fixadas pela p ró p ria gestora, na ausência de determ inação legal
sistem atizada.
M esm o precária e incipiente, a experiência anterior, proveniente do Im pério,
foi aproveitada e boa parte dos en sin am en to s do D ireito A dm inistrativo foi e é
ainda utilizada. Os progressos do processo adm inistrativo vêm sendo adotados no
DPR
José Cretella Júnior (“D ireito A dm inistrativo”, p. 339/86) dedica toda a q u in ta
parte de seu livro ao processo adm inistrativo. Destaca as dificuldades na sua concei-
tuação; na “realidade, cada aparelham ento adm inistrativo im prim e características
específicas, típicas, inconfundíveis, ao instituto, condicionando-o ao direito positivo
vigente local, o que constitui óbice quase irrem ovíve! para que se consiga atingir a
desejada definição d e âm bito u n iversal”.
Dá com o definição ser o processo adm inistrativo um “co n ju n to de atos e
form alidades que, an tecedendo e preparando o ato adm inistrativo, perm item que
o E stado atinja seus fins p o r m eio da vo n tad e da adm inistração, q u er expressa
esp o n tan eam en te, q u er p o r iniciativa do particular ou do funcionário lesado em
seus d ireito s”.
Os prin cíp io s do processo adm inistrativo não coincidem exatam ente com os
p o stu lad o s do p ro ced im ento previdenciário. Todavia, a sem elhança é enorm e e se­
ria id en tid ad e, não fosse a tipicidade do D ireito Previdenciário. Sobreleva, porém ,
basicam ente, subsistirem relações entre interesse individual e público, vínculos
u n in d o pessoa ju ríd ica de direito público e particu lar e, o m ais im portante, elo de
fundo em in en tem en te social, reclam ando distinção n o p ertin e n te a outros ex p e­
d ien tes entre ad m in istrad o s e adm inistradores.
Hely Lopes Meirelles ( “D ireito A dm inistrativo B rasileiro”, p. 655/59) assinala
cinco p rin cíp io s do processo adm inistrativo.
a) Princípio da legalidade objetiva: o processo adm inistrativo deve ser in stau ra­
do com observância da lei e objetivando a preservação da norm a jurídica. Q uando não
cum pre a lei (en ten d en d o -se aí co n tid o s os atos norm ativos integrantes) eiva-se de
n u lid ad e e não deve prosperar. Im põe-se a correção d en tro da p ró p ria repartição.
b) Princípio da oficialidade: a m ovim entação do processo adm inistrativo, para
n ó s designada com o p rincípio da iniciativa, cabe à A dm inistração Pública. M esm o
se a parte interessada o deflagrou (to rn an d o -o especial), a ação inicial é da ad m i­
nistração. A traso nesse andam ento im plica responsabilidade de servidor público;
oco rren d o dano a particular, deve ser reparado pelo Estado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II I — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
Em m atéria de seguro social, já ressaltada p o r meio do princípio da celeridade,
avulta a im portância de as prestações alim entares serem encam inhadas ad m in istra­
tivam ente, o m ais rápido possível, m esm o para negativa.
c) Princípio do injormalismo: cuida-se neste particular, da sim plicidade, ou
seja, a A dm inistração Pública previdenciária deve d ispensar form alism os, re d u ­
zindo-se o p ro ced im en to a práticas absoluLam ente insubstituíveis e essenciais à
relação jurídica.
d) Princípio da verdade material: nas palavras de Hely Lopes Meirelles, enquanto
“nos processos ju d iciais o Juiz deve cingir-se às provas indicadas no devido tem po
pelas partes, no processo adm inistrativo a autoridade processante ou ju lg ad o ra
pode, até o ju lg am en to final, co n h ecer de novas provas, ainda que pro d u zid as em
outro processo ou decorrentes de fatos supervenientes que com provem as alegações
em tela”.
e) Princípio da garantia de defesa: este é p rincípio básico de D ireito Processual
e se tran sp o rta p o r inteiro para o D ireito A dm inistrativo e, em particular, para o
contencioso adm inistrativo. C onsiste em oferecer-se o m ais am plo direito de defesa,
desde a publicação e o con h ecim en to dos atos processuais, o p o rtu n id ad e para co n ­
testação, produção de provas, aco m p an h am en to e vistas dos autos e, finalm ente,
utilização de recursos. Está, evidentem ente, nele co m p reendido o p rincípio do
contraditório.
O princípio do co n traditório é ínsito à relação processual. Tem por sustentação,
além da C arta M agna, o direito à liberdade, à defesa, o p rincípio da publicidade dos
atos processuais e todos os postulados relativos à dignidade a serem observados na
relação processual. Com azedum e e ironia sustentam alguns advogados: na prática,
se ganharia o processo e não o direito; tam bém na prática, p o r ou tro lado, vence
quem tem prova da faculdade e não qu em a tem ao seu lado.
Se o lem a su p erio r da Ju stiça é a apuração da verdade, deve ela apresentar-se
em todas as relações ju rídicas. Por isso é absolutam ente necessário ser procurada
até os lim ites do cognoscível. É indispensável todos os atos serem públicos ou
deles terem co n h ecim ento as partes em litígio. À apresentação da pretensão deve
seguir-se a contestação. A ação só tem início válido com o recebim ento da resposta
da p arte provocada.
Em processo adm inistrativo im põem -se iguais m edidas e cautelas. Todos os
fatos alegados p o r quem d ed u z a pretensão devem chegar ao conhecim ento da
o u tra parte, seja beneficiário ou órgão gestor.
P rocedim entos sem as exigências legais são tidos com o nulos ou anuláveis,
d ep en d en d o da gravidade da falha processual.
D em onstrada a reivindicação, se n ão contestada no todo ou em parte, deve
ser adm itida com o válida. A fração não com batida é de ser dada com o reconhecida,
salvo se o co n ju n to in stru tó rio p erm itir concluir o contrário.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1062 W l a d i m i r N o v a e s M t ír f i n e s
Na colocação desse p rincípio há de ressaltar-se com toda evidência o fato de,
na su a aplicação, n ão p o d er resultar faculdade ou obrigação não in stitu íd a em lei.
O direito às prestações previdenciárias depende do cu m p rim en to de requisitos b á­
sicos, essenciais, m ín im os e indispensáveis; não podem ser su p rid o s p o r sanções
de n atu reza processual. Exem plifica-se tal p o n to de vista com duas situações dis­
tintas, um a relativa à m atéria de custeio e o utra p ertin e n te a prestações.
Se h á cobran ça adm inistrativa de débito, incluindo as ru b ricas A, B e C, e o
reco rren te co n testa A e B, entender-se-á estar ad m itin d o C. A preciando as razões
do recurso, se a ad m inistração reafirm a o p ropósito da cobrança em relação a A, em
face de seu silêncio, estará aceitando a im pugnação q u an to a B. Esse m ecanism o
en c o n tro u guarida no art. 17 do D ecreto n. 70.235/1972 com a redação dada pela
Lei n. 9.532/1997: “Consiclerar-se-á não im pugnada a m atéria que não tenha sido
expressam ente co ntestada pelo im p u g n a n te ”.
Por o u tro lado, se o benefício é indeferido p orque o segurado não tem carência
e não teria incapacidade para o exercício de seu trabalho e, em novo exam e médico,
resu ltar co n statad a a invalidez, m esm o silenciando o INSS qu an to à carência, as­
pecto nuclear, não subsiste o direito ao auxílio-doença, p o r falta de pressuposto
m aterial fu n d am en tal. E ventualm ente, fará jus a o u tra prestação.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o í í í — D i r e ü o Previdenciário Procedimental 1063


Capítulo CXLIII

C aracterísticas E lementares

1431. Caráter exógeno. 1432. Polo impulsionador. 1433. Gratuidade


S u m ário:
dos serviços. 1434. Representação do titular. 1435. Submissão à autoridade.
1436. Dependência do judiciário. 1437. Singeleza dos autos. 1438. Impossibili­
dade de recorrer. 1439. Composição dos colegiados. 1440. Influência do direito
substantivo.

O D ireito Previdenciário P rocedim ental, na condição de com patibilizador


de questões p en d en tes havidas entre os sujeitos da relação securitária, apresenta
algum as n u anças próprias, m as a m aioria de seus elem entos definidores proveio do
D ireito Processual ou, com o não poderia deixar de ser, do D ireilo A dm inistrativo.
Nesse sentido, o direilo procedim ental é a divisão do D ireito Previdenciário,
relativa à oposição de ideias m ateriais e jurídicas; praxes não litigiosas continuam
sofrendo a decisiva in fluência do Direito A dm inistrativo.
1431. C a rá te r exógeno — Tendo em vista a natureza das dissidências s u s c i L a -
das entre o órgão gestor e os d estinatários da P revidência Social e co n sid eran d o a
hipossuficiência ou quase indigência dos beneficiários, m áxim e em m atéria de as­
sistência social, de certa form a a singeleza de alguns tem as, justifica-se sim pliticar
a busca da com posição dos desencontros instaurados, recorrendo-se à reprodução
do trâm ite ju d iciário em term os internos, isto é, no seio da A dm inistração Pública,
particu larm en te, no bojo de entes do MPS.
E xperiência de algum as décadas m ostra a o p o rtu n id ad e dessa solução e, por
isso, utilizada não só em o u tro s países, com o no Brasil, p o r outras instituições,
p rin cip alm en te na área tributária.
Na verdade, e esse talvez seja aspecto positivo n ão original, sendo um a dis­
torção a ser registrada e estudada o expediente acaba prestando-se para a instrução
final da reclam ação. Isto é, exem plificativam ente, a apresentação de provas nos
diferentes níveis aperfeiçoa o pedido inicial.
A centuadam enle, o en cam in h am en to ocorre den tro da repartição, ou seja,
rege-se pelas regras do D ireito A dm inistrativo e conhece eficácia lim itada e não
faz a coisa julgada judiciária. O caráter adm inistrativo im plica a observância de
com andos particulares; o prim eiro deles é o im p u lsio n ad o r ser um a das partes.

C urso de D ir e it o P r e v id iín c ia r io

1064 W ladim ir Novaes M a r ti n e z


1432. Polo impulsionador — N ão há nessa com posição exatam ente a m esm a
triangulação do processo ju d icial (m agistrado — au to r — ré u ), em bora a trilate-
ralidade c o n tin u e existindo (órgão julgador — ben eficiário /co n trib u in te — INSS),
com a particularidade de a instrução ser operada pelo órgão gestor. Fato nem sem pre
b em co m p reen d id o pelo servidor, q u an d o confunde as obrigações de servir à lei
o u à adm inistração.
Assim, exem plificativam ente, a N otificação Fiscal tem início com a decisão do
A uditor-Fiscal. Se o pedido de restituição com eça com requerim ento do segurado,
cabe àquele agente especializado inform á-lo inicialm ente. A solicitação de b en e­
fício é processada n a repartição. À exceção dos atos de controle adm inistrativo,
p raticad o s p o r servidores vinculados ao CRPS (não im p o rtan d o provenham do
MPS), todos os dem ais são efetivados por servidores da au tarq u ia e do M inistério.
Igual se passa no M inistério da Fazenda.
INSS e c o n trib u in tes ou beneficiários são partes, situando-se os julgadores
acim a desses dois polos em oposição e d eterm in an d o à au tarq u ia certas obrigações
(v. g., inform ações, diligências, vistorias, ju n ta d a s de d o cu m en to s o u o u tro s autos,
apensações etc.). Bem com o a execução da decisão final.
N ão há cartório n a linha recursal e, p o r conseguinte, inexistem oficiais de
ju stiça. As verificações externas são praticadas p o r AFPS o u AFRF e outros servi­
dores públicos.
1433. Gratuidade dos serviços — D esde a petição inicial até o final arquiva­
m ento dos auto s, todo o expediente cam inha sem custas para o p o stulante. Nesse
sen tid o inexistem despesas processuais ou sucum bência.
A g ratuidade, su sten tad a historicam ente, em certos casos não tem m uito sen­
tido, pois o in d iv íd u o pode estar on eran d o a coletividade. É a hipótese da CND,
im presso de alto custo, expedida a favor de algum as em presas e paga p o r todos.
1434. R ep re sen taçã o do titu la r — O req u erim en to de benefício ou de CND,
a contestação de A uto de Infração ou de Lançam ento Fiscal, po d em ser feitos por
q u alq u er pessoa capaz, dispensada a representação do profissional habilitado em
D ireito, m as, q u an d o operada a inconform idade p o r advogado o u outro represen­
tante, é preciso ju n ta r a procuração. No caso de tu to r ou curador, a tu tela ou a
curatela. Sob esse aspecto pouco difere do Processo Civil.
1435. Submissão à autoridade — O p ro ced im en to previdenciário, com o as­
severado, é ex p ed ien te adm inistrativo. E m bora in stru íd o regularm ente e suba os
três diferentes níveis, fica todo o tem po sujeito a verificação p o r parte da autoridade
superior, p rin cip alm en te nos casos de procedência ou insubsislência.
O bviam ente, nas diferentes fases, o INSS pode abster-se de prosseguir na o p o ­
sição. Fá-lo deixando passar o prazo para recurso ou concedendo o bem pretendido.
Os au to s podem ser revistos, em qu alq u er grau, em razão de p aten te irregula­
ridade, equívoco ou de renúncia à jurisdição.
E x cepcionalm ente, p o r meio da antiga avocatória, os atos an terio rm en te p ra­
ticados podiam ser revistos pelo M inistro de E stado e to rn ad o s sem efeito. Na

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo lll — Direito Previdenciário Procedimental 1065


esfera fazendãria, ex vi da Lei n. 9.784/1999 existe procedim ento idêntico à antiga
avocatória, m as tam bém os atos sem pre po d em ser reexam inados pela p ró p ria a u ­
toridade.
1436. Dependência do Judiciário — A qualquer m om ento, presentes os re­
quisitos da postulação, o contribuinte ou o beneficiário podem solicitar a prestação
jurisdicional. Fazem -no sem encam inham ento interno, em certas hipóteses, ou com
ele. N este últim o caso, os autos ficam sobres tados, aguardando-se a sentença judicial.
P o r conseguinte, o feito perm anece, todo o tem po, em tese, p e n d e n te da op i­
nião do Poder Ju d iciário.
E ntre as garantias constitucionais, consignava a C arla M agna de 1969 o di­
reito de recorrer à via ju diciária: “A lei nào p o d erá excluir da apreciação do Poder
Jud iciário q u alq u er lesão de direito individual". O ingresso em ju ízo podia ser
condicionado a se exaurirem previam ente as vias adm inistrativas, desde que não
exigida garantia de instância, nem ultrapassado o prazo de 180 dias p ara a decisão
sobre o ped id o (art. 153, § 4a).
M ais sim plificadam ente, assegura a Lei M aior de 1988: “a lei não excluirá da
apreciação do P oder Ju d iciário lesão ou am eaça a d ireito ” (art. 5g, XXXV).
A par dessa disposição lapidar determ inava o art. 111 da C onstituição F ederal
de 1969 que a lei pode criar contencioso adm inistrativo e atribuir-lhe com petência
para o ju lg am en to das causas m encionadas no seu art. 153, § 4Q, e “Poderão ser
criados contenciosos adm inistrativos, federais e estaduais, sem p o d er jurisdicional,
para a decisão de questões fiscais e previdenciárias, inclusive a relativa a acidentes
do trabalho (art. 153, § 4 e) ” (art. 203).
Finalm ente, d isp u n h a o art. 204: a “lei p o d erá p erm itir que a parte vencida na
instância ad m inistrativa (arts. 111 e 206) requeira diretam ente ao Tribunal com pe­
tente a revisão da decisão nela p ro ferid a”.
P erm an en tem en te aberto o cam inho judiciário, quem está litigando com a ad ­
m inistração previdenciária, antes, d u ra n te ou depois de in ten tad o o procedim ento
adm inistrativo, pode invocar o P oder Judiciário.
Se a ação precede ao pedido adm inistrativo, este não deve ter prosseguim ento;
se acontece de o ingresso ser sim ultâneo, o procedim ento adm inistrativo deve ser
sobrestado.
Assim en ten d eu a C onsultoria Ju ríd ica do MTPS, resultando no P rejulgado
n. 80í> da P ortaria MTPS n. 3.286/1973: “N ão cabe apreciar-se na via adm inistrativa
m atéria p en d e n te de decisão ju d ic ia l” (Parecer MTPS n. 208/1973, in Proc. MTPS
n. 108.985/1970).
Q uando a adm inistração tom a conhecim ento da existência de feito idêntico
ao adm inistrativo ou capaz de afetar a decisão final, deve su sta r o and am en to dos
auto s até estarem esgotados os recursos e tran sitad a em julg ad o a sentença final
judiciária.
1437. Singeleza d o s a u to s — Em razão da m atéria e das pessoas envolvidas
na relação, com vistas ao bem ju ríd ico objetivado, o expediente é singelo. F req u en ­

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1066 W l a d im i r N o v a e s M artinez
tem ente, o pedido dos benefícios consiste em form ulários a serem preenchidos.
Até m esm o recursos são padronizados, insistindo-se na adoção de tais im pressos.
E m bora co n stan te algum form alism o, q u an d o necessário, os atos de im pulsão
caracterizam -se pela sim plicidade e celeridade. Nesse sentido, ao contrário da p re­
tensão, às vezes, a econom icidade form al da decisão chega ao p o n to de constranger
o direito de defesa.
1438. Im p o ssib ilid a d e d e re c o rre r — Tendo em vista ficar à sua disposição
todos os m eios ju ríd ico s e adm inistrativos e o ju lg am en to acontecer p o r entes com
cu n h o in tram u ro s, fazendo parte do MPS (a s JR e CAj, em sua com posição têm
50% dos co n selheiros representando o G overno Federal, e, no caso de em pate,
caberá o Voto de M inerva a um destes), tradicionalm ente a A dm inistração Pública
vem en ten d e n d o não caber ação ju d iciária p o r parte da au tarq u ia federal q u an d o
vencida em ú ltim o nível.
A solução, em bora consagrada, não é tão tranqüila assim , pois o acesso ao
Ju d iciário é p o stu lad o fundam ental. A rigor, n ad a im pediria a adm inistração de
reto m ar a discussão.
N esse sentido, a opinião de Rubens Gomes de Souza (“Justiça e Processo Fiscal”,
Rio: IBDF, 1954. p. 57). Gilberto de Ulhôa Canto pensa igual (“Processo T ributário”,
Rio de Janeiro: Vol. 2 da C om issão de Reform a do MF, da FGV, 1964. p. 66). Aurélio
Pitanga Seixas Filho reproduz decisão da 4 â Turm a do TRF da l ã Região (Apelação
Cível n. 95.01.05547-7/PA ), a opinião contrária de Miguel Seabra Fagundes e de
Valdir de Oliveira Rocha ( “Q uestões R elacionadas com a C ham ada Coisa Julgada
A dm inistrativa em M atéria Fiscal”, in PAF São Paulo: Dialética, 1998. p. 11/29), ele
p ró p rio m anifestando-se a favor da possibilidade de a adm inistração (ativa) tentar
rever a decisão da ad m inistração (judicante) p o r interm édio do P oder Judiciário.
1439. Composição dos colegiados — C om o exem plo da Ju stiç a do Trabalho,
à exceção do órgão m onocrático, os três níveis são co m postos de representantes
dos beneficiários, em presários e do G overno Federal. N um ericam ente, o desequi­
líbrio só acontece no C onselho Pleno (17 representantes do G overno Federal e 16
da sociedade).
Na esfera do M inistério da F azenda ocorre praticam ente o m esm o: Delegacia
de Ju lg am en to da RFB (órgão colegiado), C onselho A dm inistrativo de Recursos
Fiscais (órgão colegiado) e C âm ara S uperior de R ecursos Fiscais (órgão colegiado).
Os dois ú ltim o s co n tan d o com conselheiros provindos da sociedade e do G overno
Federal.
1440. Influência do direito substantivo — O contencioso adm inistrativo é
in stru m e n to de realização do D ireito Previdenciário, com c u n h o assinaladam ente
de execução dos p ro p ó sito s da previdência social. Assim sendo, a despeito de s u b ­
m issão às regras gerais de interpretação e das particularidades do D ireito Social, e
de co n h ecer m ecanism os p róprios, sofre a influência de m atéria substantiva. Dá-se
u m exem plo com a intem pestividade: se o direito é inequívoco, o CRPS requisita
os au to s e decide.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo III — D i reito Previdenciário Procedi mental


1067
Capítulo CXLIV

O rganismos D eci só ri os

S u m a r i o : 1441. Entes executantes. 1442. Junta de Recursos. 1443. Câmara de


Julgamento. 1444. Conselho Pleno. 1445. Composição da JR e CAj. 1446. Ministro
da Previdência. 1447. Delegacia de Julgamento. 1448.Conselho Administrativo de
Recursos Fiscais. 1449. Câmara Superior de Recursos Fiscais. 1450. Ministro
da Fazenda.

L apidarm ente dita o art. 59, L11I, da C onstituição Federal: “nin g u ém será
processado nem sen tenciado senão pela au to rid ad e com petente".
No o rd en am en to dos entes adm inistradores da exação securitária, com vistas
na arrecadação ou fiscalização e adequação de conflitos decorrentes, inexistem
instâncias. N as duas vertentes controladoras da contribuição social (MPS e MF)
subsistem divisões posicionadas em quatro diferentes patam ares: u m grau o p era­
cional (decisório), dois solucionadores de pendências (p o r assim dizer, ju d ican tes)
e, no ápice do arcabouço, um ultim o, em caráter excepcional.
D ependendo da área da controvérsia — benefícios ou custeio — a estru tu ra
é d istinta, os organism os decisórios fazendo p arte in teg ran te da A dm inistração
F ederal (INSS e RFB) e os do p rim eiro ao terceiro grau, do MPS e M F C om a p arti­
cularidade de o INSS ser autarquia federal. V erdadeiram ente, diante da com petência
lim itada e específica do C onselho Pleno do CRPS, são apenas dois os níveis da
linha recursal (JR e CAj). Da m esm a form a, em relação ao M inistério da Fazenda
(CARF e CSRF).
Os órgãos decisórios são m onocráticos ou coletivos: APS, J u n ta de Recursos
e C âm aras de Ju lgam ento do CRPS, no MPS, de um lado, e, do outro, Delegacia de
Ju lg am en to , C onselho A dm inistrativo de R ecursos Fiscais e C âm ara S uperior de
Recursos Fiscais, no M F (P ortaria RFB n. 256/2009).
C om postos p o r cargos singulares e p o r representantes do G overno F ederal e
da sociedade, nos colegiados (conselheiros). F, novam ente m onocrático, q uando
referente aos M inistros de Estado.
Os atos efetivados determ inantes ou não de prejuízo jurídico geram docum en­
tos, conhecidos no âm bito previdenciário propriam ente dito com o A uto de In-

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
fração (AI), N otificação L ançam ento (NL), D ébito C onfessado em GFIP (DCG)
e L ançam ento de D ébito C onfessado (LD C), co n stan tes do art. 460 da IN RFB n.
971/2009, despacho, resolução, sú m u la e acórdão, Bem com o enunciados.
As JR o u CAj e os CARF ou CSRF e, respectivam ente, o INSS e a RFB são
órgãos de m esm o nível burocrático, p erten cen tes ao MPS e ao M F U m não su b o r­
dina o o u tro , em bora a decisão da linha recursal de am bos em definitivo grau de
apreciação e da qual não caiba recurso tenha de ser cu m p rid a pela adm inistração
executora.
O co n ten cio so adm inistrativo não tem cartório. Boa p arte dessa função é exer­
cida pelas Secretarias das JR ou CAj e pelos diferentes órgãos d o INSS, e, da m esm a
form a, nos CARF e na CSRF
Os servidores, em p articu lar os fiscais ou auditores, são órgãos auxiliares do
co n tencioso ad m in istrativo, cabendo-lhes d ar aten d im en to às solicitações das JR
e CAj ou CARF e CSRF, em m atéria de diligência, exclusivam ente em assunto fá-
tico. D escabe, p o r im propriedade, a oitiva da P rocuradoria n a solução de questões
ju ríd icas.
1441. E n tes e x e c u ta n te s — Na área de financiam ento ad m in istrad a pela RFB,
o p ro ced im en to inicia-se com : a) A uto de Infração; b) N otificação de Lançam ento;
c) D ébito C onfessado em GFIP e d) L ançam ento de D ébito C onfessado.
Trata-se de fase p ream bular aperfeiçoada com decisão da RFB (v. g., indeferi­
m en to de certidão negativa de débito).
Em m atéria de benefícios, após o req u erim en to de au to ria do beneficiário, o
d eferim ento ou não é prom ovido pela A gência da P revidência Social, subordinada
à S u p erin ten d ên cia R egional e esta, à Presidência do INSS.
Em todas essas hipóteses, a decisão é pessoal, tom ada ind iv id u alm en te por
serv id o r e m aterializa-se p o r escrito, p o r m eio de intim ação encam inhada pelos
correios ou ciência nos autos.
O u tro s órgãos decisórios “são as au to rid ad es m encionadas na legislação de
cada u m d o s dem ais trib u to s ou, n a falta dessa indicação, os chefes da projeção
regional ou local da en tid ad e que adm inistra o tributo, conform e for p o r ela esta­
belecido” (art. 2 5 , 1, b, do D ecreto n. 70.235/1972).
A defesa prévia, R ecurso O rdinário, R ecurso V oluntário ou R ecurso Especial,
to d o s com n atu reza de apelação, costum am ter efeitos reduzidos q uando de grandes
indagações, pois geralm ente o su p erio r im ediato, prestigiando o trabalho do colega
su b o rd in ad o , transfere a solução para os órgãos recursais.
1442. J u n ta de R ecursos — O contencioso adm inistrativo atual do MPS
com põe-se de 29 J u n ta s de R ecursos — JR, criadas inicialm ente em 1967, pelo
Decreto-lei n. 72/1966. Seu p rim eiro R egim ento In tern o foi objeto da P ortaria MTPS
n. 3.346/1973. E q u atro CAj.

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / / / — D i r e ito Previdenciário Procedimental 1069


São órgãos colegiados de deliberação regionais, em alguns casos estaduais,
co n tan d o com áreas de protocolo, assistência técnica, perícia m édica, secretaria e
G abinete do Presidente.
O art. 18 da Portaria MPS n. 323/2007 fixa a sua alçada. “I — F undam entada
exclusivam ente em m atéria m édica, q u an d o os laudos ou pareceres em itidos pela
Assessoria M édica da Ju n ta de R ecursos e pelos M édicos Peritos do INSS apresen­
tam resultados convergentes e II — Proferida sobre reajustam ento de benefício em
m anutenção, em consonância com os índices estabelecidos em lei, exceto quando
a diferença na Renda M ensal Atual — RMA decorre de alteração da Renda M ensal
Inicial — RM1.
A ntes da Lei n. 11.457/2007 e da Lei n. 11.941/2009 a CAj especializada em
exações só exam inava processos relativos a contribuições ou restituição inferiores
à im p o rtân cia fixada em ato oficial. T ratando-se de débito, considerava-se a som a
do principal m ais a correção m onetária e, no caso de restituição, o valor requerido.
1443. Câmara de Julgamento — A com petência, em m atéria de custeio, das
ju n ta s de Recursos, foi com etida originariam ente às C âm aras de Julgam ento sedia­
das em Brasília, e com prerrogativa exclusiva para apreciar esses feitos, consistindo
no prim eiro e últim o nível ju d ican te.
Sobre a com posição e atribuição das CAj dispuseram vários atos, entre os
quais a P ortaria CRPS n. 9/1993. A P ortaria MPS n. 403/1993 m andava d ar prefe­
rência a débitos acim a de 120.000 UFIR, entre 60.000 e 120.000 e até 60.000 UFIR.
Em relação a cada CAj, a distribuição é feita pela letra inicial do nom e do
c o n trib u in te ou pela razão social da em presa. A 4- CAj cuida de aportes específicos
de P refeituras e C âm aras M unicipais.
Além do órgão decisor operacional, com o dito, atualm ente CAjs do CRPS
são com petentes para apreciar contribuições patronais e profissionais relativas ao
trabalhador.
N os term os da P ortaria CRPS n. 17/1997, as CAj são com petentes para “ju lg a ­
m ento de recursos relativos à m atéria p ertin en te ao R egulam ento da O rganização
e do C usteio da Seguridade Social” (art. l e, 11).
1444. C o n selh o P leno — O C onselho Pleno constitui-se do P residente do
CRPS m ais os conselheiros das CAj (art. 4o da Portaria MPs n. 323/2007). R eúne-se
ordinária e extrao rd in ariam ente, convocado pelo P residente do CRPS. O quorum
para deliberação é de 13 m em bros dos 33 possíveis e u m m ínim o de três classistas.
A C orregedoria é cargo singular.
Sua com petência é lim itada a aspectos adm inistrativos: a) alteração do Re­
gim ento In tern o do CRPS; b) m odificação da com posição das JR, CAj o u Turm as
destas; c) baixar enunciados; e d) d eliberar sobre assu n to s próprios da entidade.
Mas, tam bém , se m anifesta sobre o m érito: e) d irim ir divergências de en ten d i­
m ento ju risp ru d en c ial entre JR e CAj, p o r provocação dos respectivos presidentes

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1070 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
ou do P residente d o C onselho Pleno, em itindo súm ulas; D apreciar recurso in tem ­
pestivo q u an d o inequívoco o direito; e g) em itir e rever resoluções e prejulgados.
O CRPS, títu lo referente n ão só à organização-m atriz, sediada em Brasília, m as
a toda linha recursal, atu alm en te se com põe de P residência e C orregedoria, três
níveis de órgãos ju lg ad o re s (JR, CAj e C onselho P leno). S ubordina-se diretam ente
ao MPAS. Seu R egim ento In tern o estava contido n a P ortaria MPS n. 548/2011.
1445. C o m p o sição da JR e CAj — As JR o u CAj são com postas p o r quatro
conselheiros, sendo dois rep resen tan tes do G overno Federal, u m deles escolhido
P residente, u m rep resen tan te das em presas e u m dos trabalhadores “de reco n h eci­
da com petência e experiência da legislação previdenciária”.
A m bas podem subdividir-se em Turm as, com postas da m esm a forma. Em
C am po G rande, funciona Turm a da J u n ta de Recursos, de São Paulo. R ecentem ente
foi criada u m a 2~ C om posição A djunta da 13® JR de São Paulo, instalada em São
B ernardo do C am po (P ortaria CRPS n. 16/2010).
O s q u atro conselheiros, bem com o os qu atro suplentes, são nom eados pelo
M inistro de E stado da Previdência Social, p o r indicação do P residente do CRPS,
com m an d ato de três anos, perm itida a recondução. Os rep resentantes classistas
são escolhidos en tre três, indicados pelas entidades sindicais.
Os rep resen tan tes do G overno F ederal são servidores do INSS ou MPS, ativos
ou inativos, “com n o tó rio s conhecim entos da legislação prev id en ciária”.
As JR e CAj reúnem -se ord in ária e extrao rd in ariam en te, com núm ero m ínim o
de três co n selh eiro s (quorum).
1446. M in istro d a P revidência — E m bora a avocatória n ão fosse p ro p ria­
m ente um recurso, m as rem édio ju ríd ico in te rn o so lu cio n ad o r de pendências d e­
rivadas de equívocos, postada a com petência e a decisão no G abinete do M inistro
de E stado, de fato ela funcionava com o últim o in stru m en to de com posição de
conflitos, com p articularidades próprias.
1447. Delegacia de Julgamento — A Delegacia de Ju lg am en to da RFB é u m
órgão colegiado q u e aprecia em prim eira instância os atos p raticados pela A udito-
ria-Fiscal e os recursos in terp o sto s pelos co n trib u in tes (arts. 27/32 do Decreto n.
70.235/1972).
1448. Conselho Administrativo de Recursos Fiscais — Por com paração, os
CARF do MF correspondem às JR do MPS. Trata-se de órgão colegiado nacional de 2®
instância, com posto de Seções, C âm aras e Turmas. Cada um deles com com petência
distribuída p o r m atéria e os seus julgadores são designados com o conselheiros.
A ntes que a designação CCM F fosse su b stitu íd a pelo CARF, o l fi CCM F pos­
suía oito C âm aras; o 2a e o 39 tin h am três C âm aras. No art. 25 do Decreto n.
70.235/1972 distrib u iu-se a com petência dos três CCM F
O art. 2a do A nexo II da P ortaria RFB n. 256/2009 definiu as com petências:
a) Prim eira Seção
II — C o n trib u ição social sobre o lucro líquido — CSLL;

C u r s o dh D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo 111— Direito Previdenciário Procedimental


V — T ributos do SIMPLES e Sim ples Nacional;
IV — co n trib u içõ es previdenciárias, inclusive as instituídas a título de su b sti­
tuição e as devidas a terceiros, definidas no art. 3° da Lei n. 11.457, de 16 de m arço
de 2007 e
V — penalidades pelo d escu m p rim en to de obrigações acessórias pelas pes­
soas físicas e ju ríd icas, relativam ente aos trib u to s de que trata este artigo.
b) Terceira Seção
I — co n trib u ição para o PIS-PASEP e contribuição para o F inanciam ento
da Seguridade Social (CO FIN S) inclusive as incidentes na im portação de bens e
serviços.
II — C o n trib u ição para o F u n d o de Investim ento Social (FINSOCIAL),
XXI — Penalidades pelo d escu m p rim en to de obrigações acessórias pelas pes­
soas físicas e ju ríd ic a s relativam ente aos trib u to s de que trata este artigo.
1449. C âm ara S u p erio r d e R ecursos F iscais — A C âm ara Superior de Re­
cursos Fiscais foi criada pelo D ecreto n. 83.304/1979, q u a n d o era com posta p o r
P residente e V ice-Presidente do 1Q CCMF, das dem ais C âm aras do l s CCMF, do
2- CCM F e das C âm aras do 3a CCM F (q u an d o se trata r de recurso interposto de
decisão prolatada p o r q uaisquer das C âm aras do m esm o C onselho).
Ju n to à CSRF funciona u m P ro cu rad o r da Fazenda N acional.
Sua com petência é julgar R ecurso Especial in terp o sto co n tra decisão não u n â­
nim e do CARF q u an d o contrária à lei ou à evidência dos fatos e de conclusão
in terp retativ a divergente de o u tro CARF ou da p ró p ria CSRF
Ainda cabe à CSRF representar, p o r in term éd io do P residente, ao Chefe do
D epartam ento da Receita Federal, sobre irregularidade verificada nos autos e ocor­
rida nos órgàos a este subo rd in ad o ; p ro p o r ao M inistro de Estado m odificação no
RI; m an d ar riscar dos autos expressões injuriosas; corrigir erro m aterial com etido
no julgam ento de recurso de sua com petência; indicar ao M inistro de Estado a
aplicação de equidade, na form a da legislação vigente, q u an d o não h o u v er reinci­
dência, sonegação, fraude, sim ulação ou conluio; e deliberar sobre outros assuntos
de interesse da C âm ara (art. 82 da P ortaria M F n. 540/1992).
1450, M in istro d a F azen d a — C onform e o Decreto n. 70.235/1972, com petia
ao M inistro da F azenda, em instância especial, ju lg ar recursos de decisões dos
CARF interpostos pelos Procuradores R epresentantes da Fazenda ju n to aos m esm os
conselhos, m as o Decreto n. 83.304/1979 transferiu essa atribuição à CSRF, res­
tando-lhe “decidir sobre as propostas de aplicação da equidade apresentadas pelos
C onselhos de C o n trib u in tes” (art. 26, II).
Em seu art. 39 o D ecreto determ ina não caber “pedido de reconsideração de
ato do M inistro da F azenda que ju lg a r ou decidir as m atérias de sua co m petência”.
P ortanto, não existe form alizada a figura da avocatória.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1072 W l a d im i r N o v a e s M artinez
Capítulo CXLV

S ujeitos da R e l a çá q

S u m á r i o : 1451. Órgão gestor. 1452, Pessoas físicas e jurídicas. 1453. Emprega­


dor doméstico. 1454. Sucessor do titular. 1455. Dependente do segurado. 1456.
Terceiro interessado. 1457. Litisconsórcio de autores. 1458. Proprietário de casa
própria. 1459. Representante de menores. 1460. Substituto procedimental.

N orm alm en te, a relação procedim ental conhece dois polos e às vezes três
(ex., na in terv en iên cia de fundo de pensão, da concorrência en tre esposa e com pa­
n h eira e n a solidariedade fiscal). U m sujeito co nstante (INSS o u RFB); os dem ais,
variando.
1451. Órgão gestor — A entid ad e gestora da previdência social é parte per­
m anente n o s feitos em an d a m e n to n o co n ten cio so adm inistrativo. O In stitu to
N acional do Seguro Social — INSS, au tarq u ia federal representada, conform e o
nível, pelos órgãos de prim eiro grau e, a partir daí, p o r seus p ro curadores. Da
m esm a form a, se sujeita aos prazos e com possibilidade de reco rrer das decisões
co n trárias à sua pretensão.
P ertin en te à arrecadação das contribuições relativas ao co ncurso de p ro g n ó s­
ticos, fatu ram en to ou lucro, o sujeito ativo da relação é a Receita F ederal do Brasil.
1452, Pessoas físicas e jurídicas — Os co n trib u in tes, pessoas físicas (in ­
dividuais) o u ju ríd icas (em presas), em m atéria de custeio, são polos da relação,
co m p arecen d o pessoalm ente ou p o r in term éd io de procuradores (com m andato
ju n ta d o aos autos). N este caso, a falta do d o cu m en to é causa prejudicial de p ro sse­
gu im en to do feito; um a vez corrigida, saneada a falha, ele tem andam ento.
N o am plo espectro das relações previdenciárias, o segurado é sujeito da rela­
ção procedim ental. Em m atéria de benefício é o m ais com um req u eren te ou recor­
rente. N ão im p o rtan d o se obrigatório ou facultativo.
A capacidade p ro cedim ental é igual à previdenciária: qu em é filiado pode re ­
q u erer e recorrer. Q u em não a tem , exem plificativam ente p o r m enoridade, au sên ­
cia, prodigalidade, idiotia, su rd o -m u d ez etc., não pode in terp o r contestação sem a
representação de terceiros.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o III — D i r e it o Previdenciário Procedimental


Com vistas à pensão p o r m orte ou auxílio-reclusão, os filhos m enores de 21
anos são representados pelos pais, m as os inválidos podem requerer e recorrer.
O co n d o m ín io ho rizontal é tido com o pessoa física. Sua identificação varia,
p o d en d o ser F ulano de Tal e outros, herdeiros de B eltrano de Tal ou a m enção ao
nom e de todos os condôm inos.
A 3a Turm a do TRF da 5a Região, decisão de 26.9.1996, relatada pelo ju iz
Nereu Santos, apreciando a Apelação Cível n. 47.039/C E , en ten d e u de faltar legiti­
m idade ad causam aos sindicatos d e avulsos para ajuizar açâo co n tra o INSS para
receber o salãrio-fam ília (in RPS 204/1125).
1453. E m p reg ad o r d o m éstico — O em pregador dom éstico é um caso p a rti­
cular de em presa, co n trib u in te responsável pela parte “p atro n a l” e a descontada do
dom éstico, assum indo algum as obrigações form ais (Lei n. 5.859/1972).
O titu lar do direito subjetivo de recorrer é o chefe de fam ília, geralm ente o h o ­
m em , p o d en d o ser a m ulher. Na república de estudantes, q u alq u er “c o n d ô m in o ” é
sujeito passivo da obrigação fiscal.
1454. S u cesso r do titu la r — Q u ando do falecim ento do titu lar de firm a in ­
dividual e se ainda não resolvido o inventário, o espólio é o sucessor. N este caso, a
razão social dirá Espólio de F ulano de Tal. P osteriorm ente, o sucessor propriam ente
dito, conform e a lei civil e com ercial.
1455. D e p en d en te d o seg u rad o — Os dep en d en tes do segurado, m esm o este
estando vivo, tam bém são sujeitos da relação procedim ental, em esfera m ais lim i­
tada à inscrição, benefícios e responsabilidade sucessória.
A ssinaladam ente, se ele faleceu, com vistas à pensão p o r m orte.
1456. Terceiro in te re ssa d o — As entidades de previdência privada, m esm o
depois de ter desaparecido a subsidiaridade (com a LC n, 109/2001), em relação à
situação de d eterm in ad o segurado ou participante, podem envolver-se em proce­
dim ento adm inistrativo, cabendo-lhes d em o n strar à exaustão o legítim o interesse
de agir.
Igualm ente, q u alq u er pessoa ju lg an d o -se d ep en d en te e o principal devedor,
qu an d o cobrado com o solidário. N o caso, esses ou o u tro s terceiros, em suas p e ti­
ções, devem alu d ir ao titu lar do processo, para fins de identificação e ju n ta d a de
docum entos.
1457. L itisco n só rcio de a u to re s — O litisconsórcio é ativo ou passivo. A co ­
brança do INSS pode associar-se um dos “terceiros” (v. g., SENAI, SENAC, SESC,
SESI, SENAR, SENAT, SEST etc.). Da m esm a form a os co n trib u in tes (v. g., p ro p rie­
tário e em preiteiro, n a hipótese da solidariedade da construção civil o u do grupo
econôm ico).
1458. P ro p rie tá rio d e casa p ró p ria — O proprietário, q u an d o constrói a casa
própria, é sujeito passivo de relação substantiva e adjetiva. N essas condições, se
m u ltad o p o r falta de m atricula ou notificado a recolher contribuições, pode, p es­
soalm ente, in terp o r reclam ação (defesa e recurso).

C urso p f D ir e it o P k f .v id e n c iá r ío
W ladim ir Novaes M artinez
1074
1459. Representante de menores — M enores de idade o u pessoas incapazes
são represen tad o s p o r tu to res o u curadores, devendo ser ju n ta d a a com provação da
titulação. A mãe ou o pai são n atu ralm en te rep resen tan tes dos filhos m enores de 21
anos ou inválidos, em relação à pensão p o r m orte ou auxílio-reclusão.
1460. Substituto procedimental — N o rm alm ente as relações previdenciárias
são intuitu pcrsonae e os procedim entos adm inistrativos assinalam -se pela indivi­
dualidade.
É o interessado ou é rep resen tan te legal, restando praticam en te desconhecida
a figura do su b stitu to procedim ental.
De q u alq u er m odo, a exem plo do processual, só o adm itido legalm ente. Daí
ser válida a rem issão ao art. 8S, III, da C onstituição F ederal, on d e se diz: “ao sin­
dicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos o u individuais da categoria,
inclusive em questõ es ju d iciais ou adm inistrativas”.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tomo 111 — Direito Previdenciário Procedimental 1075


Capítulo CXLVI

In s t r u ç ã o P r o c e di m en t al

S u m á r i o : 1461. Impulso inicial. 1462. Formalidade do ato. 1463. Requisitos do


pedido. 1464. Movimentação do expediente. 1465. Despacho interlocutório.
1466. Apensação aos autos. 1467. Documentos anexados, 1468. Conexão e con­
tinência. 1469. Desanexação e desapensação. 1470. Comunicação oficial.

O encam in h am en to do expediente adm inistrativo — a exem plo do processo


jud icial — tem abertura, autuação, isto é, com eço form al e capeam ento na forma
física de processo.
A petição inicial, geralm ente um requerim ento padronizado ou não, seguem ­
-se atos in tern o s seqüenciais, com o decisões interlocutórias, cotas, ju n ta d a s de
docu m en to s, apensações, despachos saneadores, pareceres, interposição de recu r­
sos, sobrestam ento, anexação, enfim , an d am en to norm al até final solução, e arqui­
vam ento.
1461. Im p u lso in icial — O im pulso inicial dá-se com o pedido do interessa­
do ou p o r ato ad m inistrativo, geralm ente p o r m eio de im presso p adronizado ou
com unicação ao co n trib u in te ou beneficiário (carta, ofício etc.).
O riu n d o de fora, deve ser protocolado, e receber núm ero identificador; porém ,
se em itido pela autoridade, é previam ente num erado e datado.
A p retensão escrita caracteriza o nascim ento da relação procedim ental e, em
m u ito s casos, daí se m edem efeitos jurídicos.
As vezes, a partir de ato formalizado com o o Termo de Apreensão de Docum entos,
a N otificação de L ançam ento, o A uto de Infração, D ébito C onfessado em GFIP,
L ançam ento de D ébito C onfessado etc.
1462. Formalidade do ato — O ato adm inistrativo deflagrador do proce­
dim ento deve provir de autoridade com petente, perfeitam ente qualificada, com
aposição de sua assinatura. G eralm ente, com carim bo identificador.
Tem destinação, pessoa a q uem interessa, e endereço circunstancial.
Precisa explicitar a causa da com unicação, os fun d am en to s legais, suas conse­
qüências ju ríd icas e, se for o caso, ab rir prazo para recurso, indicando o local para

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M artinez
su a interposição. E ncam inhado pelo correio ou o u tra m odalidade, im pende ju n ta r
o recibo com provante de entrega.
1463. R eq u isito s d o p e d id o — As solicitações en cam inhadas ao gestor cer­
cam -se de certa form alidade tradicional e reclam am variados pressupostos, cada
um deles p ró p rio do incidente.
Salvo na hipótese de form ulários padronizados, é im prescindível ap o n tar os
fatos e o direito presente (fu n d am en to ju ríd ic o do pedido), b em com o a solici­
tação. Preferivelm ente, ordenados nessa seqüência. D iante da especificidade do
pro ced im en to , em m atéria de benefício, silêncio qu an to à norm a incidente, en tre­
tanto, não obsta o prosseguim ento do feito.
Q u an d o reclam ados, a ju n ta d a de d o cu m en to s com probatórios do fato pro-
bando.
1464. M o v im entação do ex p e d ie n te — P rotocolados pelo setor com petente,
são en cam in h ad o s à autoridade para instrução. Passam p o r vários setores, às vezes
restan d o fisicam ente b astante incorpados.
Im p u lsio n ad o s pelo servidor adm inistrativo, chefes, fiscais e procuradores.
G eralm ente as norm as preveem prazo para as inform ações, sobrevindo res­
p o n sabilidade n a inadim plência.
1465. D esp ach o in te rlo c u tó rio — F req u en tem en te são proferidas considera­
ções, registros, observações e constatações a respeito de questões abordadas, sem o
caráter de sim ples en cam in h am en to ou de solução. São subsídios da adm inistração
e até do interessado visando esclarecer obscuridades.
1466. A pensação aos a u to s — Apensação é ju n tad a de autos, reunião de outro(s)
processo(s), m antidos em sua integralidade. Por exem plo, agregação de NL arquivada
com cobrança de contribuição de segurado tido com o em pregado, em autos em que
se discute a filiação deste.
1467. D o c u m e n to s an ex ad o s — Dossiês, m em oriais, pareceres, d ocum entos
em geral e até m esm o procedim entos p o d em ser agregados ao processo principal,
perdendo individualidade. São anexados, na seqüência habitual, e acabam to rn an d o ­
-se parte in teg ran te dos autos.
1468. C o n ex ão e c o n tin ê n c ia — D isciplinando a distribuição dos feitos, d i­
zia o art. 29, parágrafo único, da P ortaria MPAS n. 4 .4 1 4 /f9 9 8 : “N a distribuição,
deverá ser observada a conexão e a co ntinência, consoante os seguintes critérios:
a) reputam -se conexos dois ou m ais recursos q u an d o lhes for co m u m a causa de
pedir; b) ocorre co n tin ên cia q u an d o há identidade de partes e de causa de pedir,
m as o objeto de um dos recursos, p o r ser m ais am plo, abrange o do o u tro ”.
Tanto a conexão q u an to a co n tin ên cia im plicam a m u d an ça da regra da d istri­
buição. E m bora a letra a não diga, é preciso haver coincidência de p artes (m uitos
pedidos de benefícios baseiam -se na m esm a razão). Se o requerido é tão abrangente
e abarca o co n tid o em o u tro , dá-se a continência.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o III — D ire if o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1077


1469. D esanexação e d esapensação — Sao atos form ais de separação de partes
ju n tad as, com ren u m eração das folhas.
1470. C o m u n icação oficial — Q u an d o de despacho in terlo cu tó rio relevante
ou de decisão, sobrevêm notificação.
A ciência das soluções pode ser por escrito, por meio de carta, entregue m ediante
recibo pelos correios, ou conform e vistas nos autos.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1078 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo CXLVII

Q u estõ es P r e j u d ic ia is

1471. Apuração de incompetência. 1472. Verificação da tempestivida-


S u m á r io :
de. 1473. Ilegitimidade da parte. 1474. Suspeição e impedimento. 1475. Cons­
tatação da litispendência. 1476. Coisa julgada. 1477. Preclusão e perempção.
1478. Decadência e prescrição. 1479. Presença da ação judicial. 1480. Cons­
trangimento à defesa.

O d esab ro ch ar n atu ral da sucessão de atos adm inistrativos — objetivando o


exam e de m érito de pendências com o ad m in istrad o — registra alguns incidentes
de percurso. São in cidentes adjetivos im p o rtan tes ou não, alguns deles capazes
de d esfigurar o u p reju d icar a tarefa principal cognitiva e co m p ro m eter a solução.
C ostum am ser encarados com o circunstâncias a serem superadas, caso contrário o
feito não prossegue e in terro m p e-se a prestação ju risd icio n al adm inistrativa.
O u tro s, p o r sua n atureza, afetam o expediente e este aborta, devendo ser
encerrad o , sob um a decisão term inativa, incapaz de fazer coisa julgada. A lguns
sim p lesm en te p õ em fim ao processo em caráter definitivo.
Se certo ato p raticado nos au to s é n ulo, o fato é capaz de im pedir o encam i­
n h am en to do feito, e, se anulável, pode ser refeito.
Não garantida a instância quando era exigida, descabia a apreciação do recurso.
A ausência de procuração, se representado o beneficiário, susta o encam inham ento.
E assim p o r diante. A seguir, são exam inadas as p rin cip ais exclusões.
A Portaria CRPS n. f 9/1996 criou nova prelim inar. Decidida a pendência pela JR,
só cabe recurso p o r parte do su cu m b en te se este d em o n strar o legítim o interesse de
agir. A parte co n trária opor-se-ã m ediante espécie de agravo de in stru m en to e este
e o recurso terão de ser apreciados pela CAj, com o condição de adm issibilidade.
1471. A puração de in co m p etên c ia — Em prelim in ar pode ser arguida a in
com petência, p o r m eio de exceção, do ente ju lg a d o r (JR ou CAj e CARF o u CSRF).
A inadequação po d e p ro v ir da m atéria reportada (não se referindo à relação p re­
v id en ciária), em razão do âm bito territorial ou p o r falta d e atribuição específica.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o III — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1079
Os entes previdenciários não podem ju lg ar litígio relativo ao FGTS. Veda-se
ao segurado residente em B orborem a in te n ta r pedido de benefício em Vinhedo.
D ano m oral causado pelo INSS à pessoa, e não reconhecido, tem de ser apreciado
na esfera p rópria e não adm inistrativam ente.
Suscitada a incapacidade de apreciação no início do recurso, deve ser exam i­
nada em prim eiro lugar, devolvendo-se os autos à origem com despacho esclarecedor
dos m otivos da incom petência.
Caso um a das partes não se conform e com essa decisão, poderá recorrer ao
CRPS e um a de suas C âm aras de Ju lg am en to decidirá q u an to a essa prelim inar.
R esultando vencedora a alegação de cabim ento do ju ízo , os autos retornarão ao
ente ju lg ad o r ad quem.
1472. V erificação d a te m p estiv id ad e — A tem pestividade da im pugnação é
condição sine qua non para prosseguir o exam e de m érito. Deve ser cogitada pelo
órgão ju lg ad o r e não pelo recorrido. Este, tam bém , m anifestar-se-á sobre a contes­
tação, p o d en d o acolhê-la e d ar o bem p reten d id o , ou rejeitar a pretensão, prosse­
guin d o o recurso, pois é prerrogativa do árbitro decidir sobre o cu m p rim en to do
prazo.

O direito p ro ced im en tal cria situações inusitadas, prin cip alm en te em razão
de as prestações serem de trato sucessivo e, especialm ente, ser im prescritível o
direito a elas.
Assim, em face de prelim inares (exem plo: descu m p rim en to da tem pestivi­
dad e), a JR pode não conhecer do recurso, m as, no m érito, resultar evidente o
direito do recorrente. R ejeitando o requerim ento, obrigará o interessado solicitar
novam ente o pedido, e eis reinstalada a relação jurídica adjetiva.
Daí: “Na hipótese de não se conhecer do recurso, um a vez inequívoco o direito
ao benefício, o processo será encam inhado pelo Presidente da Ju n ta ou da C âm ara
de Julgam ento ao P residente do CRPS, m ediante despacho fundam entado, para
apreciação pelo C onselho P leno” (item 73, § 2a, do RI do CRPS).
A adm issão do recurso é prerrogativa do órgão ju d ican te. Q uem exam ina a
tem pestividade é o órgão a quo. O órgão decididor não po d e recusar-se a fazer su b ir
os au to s em virtude da intem pestividade.
1473. Ileg itim id ad e d a p a rte — O polo oposto ao INSS ou RFB é o c o n tri­
b u in te ou beneficiário. Salvo na hipótese de terceiro interessado na questão, só
estes podem acio n ar a linha recursal.
Poderão fazê-lo p o r in term éd io de m andatário . De acordo com a Portaria
MPAS n. 3.697/1996, o d o cum ento de representação deve conter: 1) qualificação
do o u to rgante e do outorgado; 2) objeto da representação; 3) assinatura do m an­
dante, em caso de in stru m en to particular.
Terceiro interessado na lide tam bém é sujeito aLivo adjetivo. Existem pessoas
diretam ente en volvidas (com p anh eira em relação à viúva, alegando ser d ep en d en te

C u r s o dl : D ir e it o P r e v id e n c iá r ío

1080 W íflííim írN í)V £ie5 M a r t i n e z


do segurado falecido) e ind iretam en te relacionadas (fundo de pensão pretendendo
desfazer a concessão de benefício, ju lg ad o indevido). Às vezes, q u an d o m an ten e­
doras de m enores, as entidades sociais.
P raticam en te, são pessoas físicas capazes e ju ríd icas, de direito privado de
fato ou não, de direito público in tern o e até ex tern o (com prerrogativas). E m pre­
sas privadas, nacionais ou estrangeiras, públicas (fundações, em presa pública e
sociedade de econom ia m ista), particulares e repartições da adm inistração direta e
indireta (autarquias).
1474. S u sp eição e im p e d im e n to — Diz o art. 27 do RI do CRPS: “N ão p o ­
derá ser relator, n em tom ar parte no julgam ento, o C onselheiro que, em qualquer
circunstância, ten h a se p ro n u n ciad o an terio rm en te sobre o m érito de questão d e­
batida ou tenha, direta ou indiretam ente, interesse no processo”.
O dispositivo conceitua as figuras do im p ed im en to e da suspeição. Dá-se
exem plo singelo de AFRF nom eado conselheiro de CAj ou CSRF exam inando
Notificação de L ançam ento p o r ele lavrada anteriorm ente ou de P rocurador em issor
de parecer no m esm o processo, m ais tarde a ele distribuído.
A suspeição está diretam ente ligada à pessoa do julgador, p o r exem plo, ele
ser sócio da em presa cujo débito está sendo questionado. C om incursões no grau
de parentesco.
1475. C o n sta taçã o da litisp e n d ê n c ia — Q u ando a área da controvérsia
está sendo exam inada em outro processo adm inistrativo, será preciso proceder à
apensação dos autos. Se duas CAj estão julgando a causa petendi (v. g., a m esm a
co n trib u ição , n u m caso cobrada do em preiteiro, e n o outro, do p ro p rietário ), os
processos têm de ser ju n ta d o s e julgados pela m esm a CAj.
C aracterizada a identidade de causas, cabe a arguição da exceção de litisp en ­
dência. Ela não tom a esse nom e q u an d o há duplicidade de ju risd ição (judiciária
e adm inistrativa, prevalecendo a p rim eira). Por m otivos práticos e ausência de
sistem atízação, lim itada ao âm bito de cada M inistério, inexiste litispendência entre
feito previdenciário sobre rem uneração de em pregado apreendida pela fiscalização
da RFB e do INSS, m as a prova (em prestada) pode ser translacionada de um a para
a o u tra repartição.
1476. C o isa ju lg a d a — A coisa ju lg ad a adm inistrativa, na condição de inci­
d en te p ro ced im en tal, é sede de respeitável discussão acadêm ica sobre sua validade
e alcance. Não é tem a esgotado pela d o u trin a. Desavisados sim plesm ente alegam
não existir, sob a razão de que q u alq u er decisão in tern a p o d e r ser revista pelo
P oder Judiciário . C om o se vê, atribuem abrangência absoluta ao p o d er de revisão
do Judiciário . In ex istente com o instituição, ela não seria alcançada pelo art. 5°,
XXXVI, da C o n stitu ição Federal.
Aurélio Pitanga Seixas Filho considera a coisa julgada “característica de um a
decisão proferida p o r um a autoridade que tem a com petência legal de dirim ir ter-
m inativam ente u m litígio, ou um conflito de interesses, entre duas ou mais pessoas,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I I I ■— D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1081
isto é, a decisão finaliza ou encerra litígio sem que caiba m ais algum recurso ju ríd ico
para m odificá-la", ao final da exposição adm itindo a possibilidade de coisa julgada
ser revista p o r decisão da Justiça, a pedido da adm inistração ou do adm inistrado
(“Questões Relacionadas à Cham ada Coisa julgada Adm inistrativa em Matéria Fiscal”,
São Paulo; Dialética, 1998. p. 11/27).
Sob o aspecto da possível repetição inexiste conflito de ideias. Os dois dom í­
nios são distin to s e, co nsiderando-se o reexam e, o adm inistrativo é postado abaixo
do Judiciário. E n tretan to — caso o órgão público não consiga o reconhecim ento
de sua interpretação, terá dificuldades para invocar a prim azia do Judiciário — , em
cada um a de suas esferas eles são típicos, m as vinculados. Mas não hã im possibili­
dade, pois quem decide não é a adm inistração-parte e sim parte da adm inistração.
Jorge Ulisses Jacoby Fernandes tem lição a respeito de sua validade: “Efetiva­
m ente o co n teú d o da ju risd ição restaria vazio de significado lógico e prático, se
não lhe seguisse a im utabilidade de decisão. Aliás, se as partes pu d essem atacar a
decisão ju d icial a q u alq u er tem po, seja por m eio de recurso, o u por ou tro processo,
ela não teria eficácia” (“Lim ites à revisibilidade ju d icial das decisões dos tribunais
de co n tas”, in Rev. da Proc. Geral do INSS, de ju l./set. de 1997, vol. 4, n. 2, p. 7/42).
Diz a em enta do R ecurso E xtraordinário n, 68.253/PR , decidido em 2.12.1959,
pelo Pleno do STF, q u an d o relator o M in. Barras Monteiro (in RTJ 53/561): “Coisa
julgada fiscal é d ireito subjetivo. A decisão proferida pela au to rid ad e fiscal, em bora
de instância adm inistrativa, em relação ao Fisco, tem força vinculatória, equivalente
à coisa julgada, p rin cip alm en te q u an d o gerou aquela decisão um direito subjetivo
para o co n trib u in te. Recurso E xtraordinário conhecido e provido”.
Pretende-se a decantação da decisão adm inistrativa d en tro da repartição e,
então, não há p o r que d esconhecer a procedência da decisão tom ada. Se o trabalha­
d o r foi lido com o segurado, para fins de auxílio-doença, vindo a falecer d u ra n te a
m an u ten ção do benefício, salvo na hipótese de descoberta de fato novo (capaz de
an u lar a p rim eira com preensão) ou superveniência de lei, a solução an terio r tem
de prevalecer q u an d o da solicitação da pensão p o r m orte. Se não era filiado antes,
não fez ju s ao auxílio-doença nem os d ep en d en tes têm direito ã pensão p o r m orte.
Se a fiscalização considera certo trabalhador com o em pregado e lhe exige
contribuições, tran sitan d o em ju lg ad o a decisão, ela não pode negar essa condição
de segurado obrigatório para fins de benefícios.
Assim, sem razão o acórdão na Apelação Cível n. 95.630/PE (1996.05.06159-7),
q u an d o não reconheceu a coisa ju lg ad a operada no processo de aposentadoria,
auto rizan d o o reexam e de m atéria fática na pensão p o r m orte (TRF da 5§ Região,
relatora Juíza G ennana Moraes, decisão de 1.1.9.1997).
Essa pendência acadêm ica a respeito do alcance das decisões é distinção téc­
nica sobre sem ântica.
A falta de n o m en clatu ra própria, designa-se de coisa julgada adm inistrativa a
eficácia da decisão com esse cu n h o e nos seus lim ites (am plitude in tern a da previ­

C urso de D ir e ít o P r e v id e n c íá r ío

1082 W ía d im ir N o v a e s M a r tin e z
dência social). A lguns procedim entalistas com o W ladim ir Novaes Filho, cham am -na
com o coisa decidida adm inistrativa. No seu âm bito p ro d u z os m esm os efeitos da
coisa ju lg ad a judiciária, p erdendo sentido falar de sua inexistência.
N ão tem p ro p ried ad e qu an d o confrontada com a segunda; produz efeitos
apenas no seu dom ínio. D estarte, se correta e legitim am ente solvida a pendência,
observadas as regras adjetivas pertinentes, não cabe reconsideração. A Revisão de
Ofício excepciona, e seu p ressuposto básico é a im propriedade factual da decisão.
D iante da insuficiência d o u trin ária do p rocedim ento e da om issão legislativa,
questõ es m an têm -se em aberto, m erecendo estudo dos especialistas. São lem bra­
das algum as delas.
A relação de custeio da previdência social im plica obrigações de trato sucessivo.
D estarte, as cotizações são m ensais. N estas condições, se AFRF levantou débito
p ertin e n te a certo m ês de com petência e um dos CARF o considerou indevido, ele
ou o u tro AFRF, se não houve q u alq u er m odificação no fato gerador ou na legisla­
ção, poderá ap u rar tal contribuição em relação a m ensalidade seguinte? Em presa
au tu ad a p o r recusar-se a ap resen tar d o cu m en to s está sujeita a nova autuação, m an­
tida a negativa de ex ibir o solicitado, no m ês seguinte?
As respostas são positivas nos dois casos, com algum as diferenças. E xistente
en u n ciad o do CRPS d eterm in an d o a não incidência, o AFRF está obstado de n o ­
tificar, su jeitan d o -se às com inações disciplinares se o fizer; inconform ado, poderá
rep resen tar ou su scitar avocatória. Se não h á regra im p ed in d o ou divergência de
decisões, in dúbio, poderá agir. Até a adm inistração baixar ato norm ativo obstativo,
o A uditor-F iscal está autorizado a o n erar a em presa, obviam ente sem incidir no
excesso de exação.
C onsidere-se, p o r exem plo, a cobrança adm inistrativa, levando-se em conta
a existência de vários órgãos em issores da N otificação Fiscal, diferentes tribunais
adm inistrativos, inúm eros sujeitos passivos diante do m esm o fato gerador, diversos
entes gestores e ser a exigibilidade de trato sucessivo.
Dá-se exem plo singelo com as horas extras, en ten d id a com o rem uneração
pela legislação do Im posto de R enda, FGTS e da previdência social. Por m eio de
lançam ento fiscal o perado pela RFB, Caixa E conôm ica ou INSS, após o en cerra­
m ento do feito, não im p o rtan d o o resultado, prestar-se-ã a instrução para as outras
duas en tid ad es rem anescentes?
C om p lican d o as coisas, se o AFRF cobrou as contribuições correspondentes,
en ten d e n d o caracterizada a hipótese de incidência, e se provado o fato gerador,
po d eria o INSS não q u erer co m p u tar o valor para fins de salário de benefício? Se
a exigência é d iscu tida n o plano d o u trin ário (sobre benefícios propiciados pela
em presa ao em pregado), referente a certa verba, a solução vale para as dem ais.
D ecidida em relação a determ in ad o co n trib u in te ou p o r agente estatal, sofre m odi­
ficação se m u d a a em presa ou o AFRF?

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o III — D i r e i/ o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
D iante do p rin cíp io do acesso ao Ju d iciário , se o CRPS aplicou o c o n tra d itó ­
rio, p o r um m otivo ou outro, e considerou válida ou não a contribuição, levada
a questão às barras dos tribunais reabre-se a apreciação, restando a coisa julgada
adm inistrativa cingida aos seus m uros.
A caracterização da coisa ju lg ad a reclam a a presença dos m esm os sujeitos e,
nestas condições, se o MF cobrou contribuições patronais, relativas ao em pregado,
por força da Lei n. 9.317/1996 (SIMPLES), em bora o fato gerador seja o m esm o, sem
prejuízo da prova em prestada, o INSS terá de fazer o seu próprio com etim ento. A
coisa decidida adm inistrativa lim ita-se, isoladam ente, ao MPS e ao M inistério da
Fazenda. Tão som ente q u an d o tinha com petência para isso a linha recursal previ­
denciária pôde m anifestar-se sobre o FGTS.
Não tem m uito sentido o P oder Judiciário reexam inar o m érito da cobrança
adm inistrativa se, em p rocedim ento legítim o e regular, em que oferecidos a am pla
defesa e o co n trad itó rio , a nuclearidade da exigência foi suficientem ente apreciada.
R econhecendo-se a pro priedade do m étodo utilizado, consagrado na C arta M agna,
a ju risd ição é una no sentido de apenas um a vez ser sopesado o m érito.
Depois de apreciado in tern am en te e chegando ao últim o grau de decisão
(CRPS ou CSRF), o processo adm inistrativo fiscal retorna ao órgão originário,
onde, de resto, prom ove-se a inscrição da dívida, pressuposto da cobrança p o r via
judicial. Um pouco an tes disso, após, ou concom itantem ente, é freqüente o c o n ­
trib u in te ingressar com ação declaratória desconstitutiva de débito ou em bargos à
execução e, nesses processos, d iscu tir o m érito.
Jorge Ulisses Jacoby Fernandes (ob. cit., sob o su b títu lo “Dos lim ites à revisão
ju d iciária dos atos ad m inistrativos em geral”, p. 12/15), ao lado de José Cretella Jr,,
Seabra Fagundes, Celso Ribeiro Bastos e Flely Lopes Meirelles e Lúcia Valle Figueiredo,
a quem cita e reproduz textos, tentou d em o n strar a im propriedade do reexam e,
restando ao P oder Judiciário: “Inteiram ente livre para exam inar a legalidade do ato
adm inistrativo, está p roibido o P oder Judiciário de en trar na indagação do m érito,
que fica totalm ente fora do seu po liciam en to ”.
A questão está em se saber o alcance do princípio insculpido n o art. 5a, XXXV
( “A lei não excluirá da apreciação do Poder judiciário lesão ou am eaça a direito”) e
no inciso LV (“aos litigantes, em processo judicial ou adm inistrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e am pla defesa, com os meios e recursos a
ela inerentes”), diferente do disposto no art. 111 da Carta M agna de 1967. A solução
indica a natureza do contencioso adm inistrativo e sua subm issão ao Poder Judiciário.
Q uer dizer, p o r econom ia processual, é cabível tom ar a prova do expediente
adm inistrativo, aliás, todos os d o cu m en to s dos autos, m as o ju iz não estará im pe­
dido de sen ten ciar sobre o m érito. Nem a adm inistração está im pedida de revê-lo,
nào o bstante ter sido superada n a avaliação do CRPS ou CSRF
1477. P reclu sào e p erem p ção — A preclusão e a perem pção sâo in stitu to s
processuais típicos do processo ju d iciário , em que presente diálogo entre os polos
da relação ju risd icio n al. No direito procedim ental, em face da sua tipicidade, eles
têm efeitos reduzidos.

C urso de D ireito P re v id e n c iá rio

1084 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O CPC conhece regra sobre a preclusão, o b stando a prática de ato processual
após o d ecu rso de p razo fixado pelo julgador, pela lei ou convencionado. Segundo
E. D. M otiiz dc Aragão (“C om entários ao C ódigo de Processo C ivil”, 5- ed., Rio de
Janeiro: F orense, 1987, II, vol., p. 129) a preclusão “é um dos efeitos da inércia da
parte, acarretan d o a p erda da faculdade de praticar o ato processual. M as, nem só
da inação poderá resultar. Além da tem poral, que se form a pelo d ecurso do tem po,
h á a lógica, que deco rre da incom patibilidade entre o ato praticad o e o o u tro , que
se queria p raticar tam bém , a consum ativa, que se origina de já ter sido realizado um
ato, não im porta se com m au ou bom êxito, nào sendo possível, tornar a realizá-lo”.
A preclusão no âm bito previdenciário quase inexiste, pois ausente interlocução
entre ju lg ad o r e partes, com o é com um n o Direito Processual. O árbitro não despacha
em razão da m anifestação dos interessados. Os atos de controle da adm inistração
são co n cen trad o s na decisão do INSS e no ju lg am en to (da JR , CAj). Pode ocorrer,
en tretan to , p o r m eio de requisição de diligência, de a JR estip u lar prazo para u m
dos po lo s realizar d eterm inada dem onstração, fixando-lhe term o p ara isso.
Se o co n trib u in te o u beneficiário, em vez de prom over d eterm in ad o ato con-
sen tân eo com a área da controvérsia, vem a tom ar o u tra providência, incidiu na
preclusão lógica. Solicitado a ap resen tar testem u n h a, se o recorrente alega que
ju n ta rá p o sterio rm en te, cu m p riu o prazo, m as deixou de aten d e r à determ inação.
D iante de alternativas, escolhida u m a das opções as o u tras estarão excluídas,
n ão obstan te não o b ter êxito n a eleita.
O art. 268, parágrafo único, do CPC define perem pção: “Se o a u to r d er causa,
p o r três vezes, à ex tinção do processo pelo fundam ento previsto n o n. III do artigo
anterior, não p o d erá in te n ta r nova ação contra o réu com o m esm o objetivo, fican­
do-lhe ressalvada, en tre tan to , a possibilidade de alegar em defesa o seu d ireito ” .
P erem pção diz respeito à extinção (term inativa) do processo. Suponha-se
segurado com qualidade, carência e incapaz para o trabalho p o r m ais de quinze
dias, p o rtan to , em tese, com direito ao auxílio-doença. Se ele não se subm ete a
exam e m édico, o pedido serã indeferido e, ato co n tín u o , arquivado.
M elhor exem plo é o do prazo fixado pelo INSS para o segurado com pletar
a d o cu m en tação apresentada. Se ele não o faz, o pedido será indeferido p o r esse
m otivo. A legislação previdenciária não prevê q u an tas vezes o beneficiário poderá
reed itar o pedido. S ubsidiariam ente, salvo se ap resen tar fato novo, aplicar-se-á a
perem pção.
1478. D ecadência e p rescrição — A decadência e a prescrição, exam inadas
o p o rtu n am e n te , são form as extintivas da obrigação de d ar ou fazer. Assim, o d i­
reito de receber algum a coisa do co n trib u in te p o r parte da previdência social ou
da RFB ou a v o n tad e do segurado de auferir benefício, se não exercido a tem po,
po d em não m ais se realizar em virtude da presença de um desses dois institutos.
Se o d ébito decaiu, o Fisco não m ais po d e exigi-lo e sem e n tra r no exam e
de m érito, em prelim inar, o p rocedim ento pode ser encerrado. Da m esm a forma,
em bora não caducado, se prescreveu o direito de ação, a pretensão não m ais existe.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
F aculta-se ao co n trib u in te recolher contribuições decaídas ou prescritas, com
vistas em o u tro interesse previdenciário; q u er dizer, nâo pode ser cobrado, m as está
autorizado a pagar. No silêncio da parte, diverge-se sobre a obrigação de os entes
de controle ad m in istrativo invocar um a dessas duas causas extintivas.
1479. P resen ça da ação ju d ic ia l — Por m eio de inform ação in tern a ou por
solicitação do interessado, tom ando a linha recursal con h ecim en to de o P oder J u ­
diciário ter sido acionado, sobre a m esm a questão, o procedim ento deve ser sobres-
tado p o r despacho, sendo m antido p en d e n te no órgão de origem até solução final.
E n q uanto o Judiciário não se m anifestar ele perm anecerá inerte, sem p ro p u l­
são. Caso a q uestão trazida ao processo judiciário diga respeito a aspectos form ais
do en cam in h am en to adm inistrativo, solucionada a pendência, reconduzido aos
trilhos, terá prosseguim ento.
1480. C o n stra n g im e n to à defesa — Se o analista percebe ter havido cons­
tran g im en to ao d ireito de defesa, ele não pode d ar and am en to ao feito e ingressar
no exam e do m érito. Trata-se de garantia constitucional a ser respeitada em todos
os casos e com os lim ites p ró p rio s da instituição.
C onform e as circunstâncias, pedido de am pliação do prazo é de ser au to ri­
zado pelo órgão com petente, caso contrário im pede a faculdade da im pugnação.
Nessa linha, discute-se a validade do prazo de 15 dias para a defesa, diante de
lançam ento fiscal com plexo e ação fiscal duradoura. M esm o havendo possibilidade
do recurso, realm ente não tem sentido propiciar-se aquele prazo m inúsculo, se a
fiscalização d em o ro u seis m eses ou dois anos para elaborar a NL.
Não am pliar o p razo sob a alegação de haver, ainda, os 30 dias para o recurso
é to rn ar in ú til a defesa.
Igualm ente co n stitui co n stran g im en to recusar a acolher m em orial, com n o ­
vas razões e provas, se a defesa ou recurso foram in terp o sto s a tem po, reforçando
a inconform idade.
A rguidas e d em o n stradas algum as dessas e o u tras situações, é causa para não
encam in ham en to do feito, devendo-se baixar os autos para correção. Claro, da
m esm a form a, se o en te apreciador da defesa ou do recurso prom ove revisão do
débito e o am plia, reabrem -se todos os prazos iniciais.
A preciando o recurso, se o INSS atende à pretensão do recorrente, o feito deve
su b ir à J u n ta de R ecursos para considerar a extensão do pedido, e saber da p ro p rie­
dade da decisão da autarquia. C aberá, em despacho ao qual todos estão obrigados,
constatada irregularidade na concessão, sugerir reapreciação à autarquia federal.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1086 W í a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo CXLVIII

N u a n ç a s das D ecisões

Sum ário:1481, Tipos de composição. 1482. Juízo de admissibilidade. 1483. Ava­


liação do mérito. 1484. Voto contrário. 1485. Componentes da solução. 1486.
Relatório inicial. 1487. Fundamentos jurídicos. 1488. Decisum da questão.
1489. Decisão ritrd, extra e ultra petita. 1490. Efeitos devolutivo e suspensivo.

As decisões ad m inistrativas são assem elhadas às sentenças ou acórdãos do


P oder Jud iciário , p o r isso valendo p erm a n en te rem issão ao D ireito Processual. Daí
caber re q u erim en to in om inado para esclarecim ento dos dizeres dessas soluções
intern as, q u an d o im precisas, lacunosas ou m al redigidas, à guisa de em bargos de-
claratórios.
A ntes de seu desfecho, po d em ser arguidas e verificadas prelim inares, com o
tem pestividade, com petência, litispendência, im p ed im en to , suspeição etc. Em se­
guida à pro m o ção do ju ízo de adm issibilidade, finalm ente, sobrevem o exam e do
m érito.
C onclusões do INSS e dos dois entes ju lg ad o res (JR, CAj), em m atéria de b e­
nefícios, devem ser sim ples, vazadas em linguagem acessível ao com um dos m o r­
tais, evitando-se raciocínios técnico-jurídicos elaborados, com o a contrario sensu,
uso de p rin cíp io s n ão explicitados n o texto, em prego de exagerada latinidade,
referência a siglas, códigos ou instruções adm inistrativas não p u blicadas no Diário
Oficial da U nião.
É inadm issível o procedim ento de o INSS enviar carta padronizada, excessi­
vam ente sintética, co m u n ican d o o indeferim ento de benefícios, no m ais das vezes
dizendo tão som ente “p o r falta de am paro legal”, sem ju stificar claram ente o m o­
tivo da negativa.
Dizia o art. 3 e da P ortaria MPAS n, 3.318/1984 dever a decisão basear-se em:
a) lei; b) n o rm a reg ulam entar; c) ato do M inistro de Estado; d) en u n ciad o do CRPS
ou e) ato norm ativ o do MPAS. O art. 2Qda P ortaria MPS n. 713/1993 apenas exigia
fu ndam entação, “a fim de p erm itir ao interessado a defesa de seu d ireito ”. Ambas,
co nflitantes en tre si, sugeriam não alusão às instru ções internas. O correto é citar
a lei e, se om issa o u genérica, m encionar o ato m en o r válido, de preferência com a
rep ro d u ção integral do dispositivo invocado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o III — Direito Previdenciário Procedimental 1087


1481. Tipos de composição — A com posição de divergências dá-se p o r deci­
sões. Elas são de m érito (definitivas) ou não (term inativas). Sem e n tra r na essência
das questões, existem as relativas às diligências ou de não u ltrapassam enlo do
critério de adm issibilidade (conhecidas com o “de não con h ecim en to do recu rso ”).
Na n u clearidade p ropriam ente dita da com posição do dissídio subsistem três
m odalidades básicas: a) não provim ento; b) provim ento integral; e c) provim ento
parcial (p o d en d o sobrevir, em conseqüência, certo recurso adesivo).
a) Não provimento: q u er dizer a negação do pedido; n a opinião dos julgadores
inexiste faculdade ou prova su sten tan d o a pretensão. Por exem plo, o segurado não
fazer ju s à ap o sen tad o ria por tem po de serviço p o r descu m p rim en to do período de
carência ou co n sid erar in teiram en te subsistente o AI.
b) Provimento integral: nesse caso, a decisão recursal concede plenam ente o
requerido, reco n h ecen d o a validade de todas as alegações ou evidências ap resenta­
das. Por exem plo, m an d an d o revisar o valor da renda m ensal com o desejado pelo
au to r o u to rn ar im p ro cedente a NL.
c) Provimento parcial: nesta fórm ula h á concessão dividida, dando m enos em
com paração com o solicitado e, assim , aten d en d o tam bém ao INSS. As duas partes
venceram e perderam frações da pretensão. Caso de quem pediu 35 anos de tem po
de serviço e foram o u torgados apenas 32 deles. O u redução de débito, passando de
R$ 100.000,00 para R$ 80.000,00.
d) Não conhecimento: o não co n h ecim en to decorre das p relim inares que foram
acolhidas: falta de com petência, haver intem pestividade, su b sistir litispendência
etc.
Na hipótese de im pedim ento ou suspeição, redistribuem -se os autos para outro
conselheiro relator, não se colhendo o voto de quem está im pedido de votar naquele
julg am en to .
1482. Ju ízo de ad m issib ilid ad e — Juízo de adm issibilidade é preocupação
pream bular, providência cautelar, pois é causa excludente do exam e de m érito.
Pode p ro rro g ar (diferir) a solução da pendência, decidindo-se sem apreciação de
seu âmago.
Nessa aproxim ação prelim inar, o ju lg a d o r verifica elem entos essenciais para a
adm issão do recurso. Precede a análise do m érito e dele é pressuposto.
Na seqüência lógica, prim eiro convém verificar a com petência. N ão sendo a
JR, CAj ou o CP capazes, não se considerará se o recurso foi interposto no prazo.
A seguir, sopesar-se-ã a tem pestividade. Em caráter excepcional ou se alegada, a
suspeição e o im p ed im ento, a preclusão ou a perem pção. Se tiver conhecim ento
do fato d eterm in an te, proceder-se-ã ao sobrestam ento dos autos até definição do
P oder Ju diciário, No caso de AI ou NL, se operada a garantia de instância então
exigida.
1483. A valiação do m é rito — U ltrapassada a adm issibilidade, é im prescindí­
vel ad e n trar o coração do dissídio. N esse balanço, o ju lg ad o r aten tará para os fatos

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1088 W í a d if m r N o v a e s M a r /i n e z
relatados, co n stan tes dos autos, e perquirirã a n o rm a incidente. Pesará as provas
ap resentadas, co m p u lsan d o d o cu m en to s ou ouvindo testem u n h as. N o caso de su s­
tentação oral, aco m p an h ará aten tam en te o d epoim ento. Em seguida, suscitará as
razões suscitadas pelas partes. No ato m ais im p o rtan te, procederá a adequação da
lei ao caso. F in alm en te, decidirá.
ju lg a m e n to é ato de inteligência das coisas e vontade do julgador.
N os lim ites de sua atuação, o conselheiro é livre para decidir, devendo ter
consciência do papel de so lu cio n ad o r de questões n itid am en te previdenciárias, p o r
co n seg u in te, sociais, ciente da distinção da assistência social, capaz de apreender
a n atu reza da solução e sua im portância para o sistem a.
Ignorará o fato de o órgão ju lg a d o r su p erio r ou o Ju d iciário poderem rever
o seu en ten d im en to . E scutará cu idadosam ente a opinião dos o u tro s conselheiros,
para assim ilar o m áxim o de inform ações.
Sua espinhosa tarefa é com por o dissídio, m uitas vezes resolver o insolúvel
no m u n d o real, com o afirm ar se um a GPS é falsa ou válida, se alguém está apto
ou incapaz. Reclam a cu ltu ra invejável, experiência contábil, bagagem dos usos
e co stu m es bancários, conhecim ento das praxes da vida com ercial, e n ten d e r da
p ro d u ção rural, noção de cu ltu ra religiosa etc. N ão basta ser form ado em direito,
é preciso saber a vida.
N o P arecer CJ n. 030/1983 (in Proc. MPAS n. 003.328/1978) colhe-se lição a
respeito: “21. Sob o p o n to de vista d o u trin ário , é sem pre de bo m alvitre não co n ­
fu n d ir a elaboração e o desenvolvim ento do m aterial ju ríd ico , cam po da atividade
teórica e p rática d o s relatores dos autos, com a criação de direito novo. Se nesses
ju lg ad o s adm in istrativos os relatórios descobrem novas aplicações da lei, não fa­
zem m ais do q ue desenvolver o co n teú d o latente do direito dado, e n c o n trar o que
nele já se co n tin h a, p o rém não in tro d u z, p artin d o de fora, preceitos e conceitos ei­
vados de vícios au tô n om os. Desse m odo, a opinião p articu lar do ju lg ad o r deixa de
p o ssu ir au to rid ad e para im p o r norm as; o respeito que cerca essa decisão das razões
de ordem in tern a su p erio r e, p raticam ente, sua influência m ede-se pela aceitação
hierárq uica m inisterial que obtiver. 22. A teoria p u ra do direito, aplicada neste caso
concreto, ao afirm ar que não cabe aos órgãos colegiados da P revidência Social fixar
datas ou p erío d o s para a cobrança de contribuição previdenciária procura elim inar
do conceito de direito positivo todo e q u alq u er elem ento não ju ríd ico ; procura
saber o que é e com o é o direito, e não com o deve ser, ou com o se deve elaborá-lo.
Trata-se de aplicação da Lei P revidenciária, art. 144 da LOPS, e não de Política de
D ireito ” (in M em o-C ircular CRPS/GP n. 4, de 23.9.1983).
1484. Voto c o n trá rio — A exata com preensão da área da controvérsia varia de
pessoa a pessoa. Em v irtude disso nem sem pre as decisões são un ân im es, em bora o
consenso ten h a pouca im portância procedim ental. Se o conselheiro nào concorda
e é voto vencido, ele pode ex p o r o seu p o n to de vista em texto em separado, parte
in teg ran te do julgado.

C u r so df. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 111 — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
1089
No voto em contrário, ele m anifesta sua inconform idade com a decisão tom ada
pela m aioria, opondo-se às ponderações apresentadas. O docum ento, na form a de
parecer, divide-se basicam ente em três partes m ínim as: a) breve resum o do enca­
m in h am en to do voto vencedor; b) razões contrárias; e c) conclusão. A exposição
do pen sam en to será útil para a parte sucum bente.
1485. C o m p o n en tes da solução — Além da identificação dos autos, in d i­
cação do protocolo de adm issão, será preciso qualificar as partes em oposição.
Registrar o núm ero da NL, AI, LDC ou DCG ou do benefício caracterizadores do
choque de interesses.
Finalizada essa operação form al, o cerne da decisão conterá necessariam ente
três partes: a) relatório; b) fundam ento; e c) decisum.
C om plem entam -na, ainda, ao final, ab ertu ra de prazo p ara recurso e o ente
apreciador deste. Bem com o, é claro, o núm ero do acórdão, a data do julgam ento
e a assinatura do conselheiro.
Os acórdãos das JR, CAj e as resoluções do CP devem , preferencialm ente, ser
em entados. Isso facilita a divulgação e a classificação nos repertórios.
Em enta é u m resum o sin tetizad o r do contido n a decisão, aflorando palavras
sintéticas indicadoras do m érito.
1486. R elatório inicial — Relatório é abertura da decisão. Faz parle de seu
corpo. Nele, circunscritos à área da controvérsia, são narrados os fatos com o apre­
sentados pelas partes, as inform ações pertinentes prestadas p o r am bas, indicando
se táticas ou ju ríd icas e, se for o caso, os incidentes de percurso.
Im prescindível, o relatório é sum ário de eventos e nào precisa descrever cir­
cun stan cialm en te todos os atos praticados nos autos, bastando, conform e o caso,
fazer rem issão às folhas do processo.
N ão se trata de despacho saneador nem resum o do feito, m as relato abreviado
dos ponLos cardeais para a incidência da lei aos fatos.
1487. F u n d am en to s ju ríd ic o s — F indo o relatório, procede-se à adequação
da n o rm a ao fato, em raciocínio p u ra m e n te ju ríd ico , assinalando-se o supedâneo
da decisão a ser tom ada em seguida. É absolutam ente necessária m enção ao dis­
positivo legal, ao u so e costum e ou princípio, se for o caso com a reprodução do
texto, para to rn a r efetivo o direito ao co n trad itó rio e à defesa.
E m bora os seus term os sejam os operadores dos efeitos ju ríd ico s, nos fu n d a­
m entos situa-se o coração do acórdão. Carece ser vinculado logicam ente aos fatos
e dizer respeito à pendência. Vai fazer coisa julgada adm inistrativa em relação ao
dissídio.
N en h u m arg um ento pode co n trariar a lei, mas integrá-la ou interpretá-la é
possível, caso co n trário inexiste ju ízo útil. Em bora intram uros, pode considerar a
liceidade do decreto ou a constitucionalidade de lei.
Um livre co n v en cim ento co n d u z à avaliação da prova, aceitando-a ou não
conform e o nível de p ersuasão apresentado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1090 W í a d im i r N o v a e s M a rtin e z
ObviamenLe, ju lg ará seguindo os preceitos da previdência social e, q uando for
o caso (v. g., am paro assistencial), os da assistência social, in terp re tan d o extensiva­
m ente os benefícios e restritivam ente as contribuições.
1488. D ecisum d a q u e stã o — A conclusão p ro p riam en te dita encerra o acór­
dão, reclam ando cuidado especial em sua redação, co n sentânea com as partes a n ­
teriores (relatório e fundam entos). É, m uitas vezes, con fu n d id a com a própria
sentença, pois a resum e e encerra o núcleo da questão. Daí a absoluta necessidade
de texto claro, insofism ável e escorreito, á luz daquela área da controvérsia.
Precisa ser silogism o perfeito, vinculando o relatório com os fundam entos.
De n ad a ad ian ta falar do cabim ento do auxílio-doença precedente à aposentadoria
p o r invalidez se q u em está requerendo a pensão por m orte não era dep en d en te do
segurado falecido em gozo do últim o benefício.
1489. D ecisão citra, extra e ultra petita — Por vezes o colegiado se excede
em suas funções em relação ao alcance da causa petendi, com etendo im propriedades
técnicas e ju stific an d o revisão.
No ju lg am en to citra petita, a sentença fica aquém da área da controvérsia,
m anifestando-se sobre m enos em com paração com o solicitado, an u lan d o o ato
decisório.
As vezes, ela é ultra petita, vai além do reclam ado e, d a m esm a form a, é des­
cabida, devendo ser refeita.
Sentença extra petita, p o r seu tu rn o , significa ter ultrapassado os m u ro s dos
au to s e resolver sobre questão não contida.
O acórdão n. 1 9 9 4 .0 1.29.553-0/M G , de 4.10.1995, da 2® Turm a do TRF da l ã
Região, em que relatora a ju íza Assusete Magalhães, reviu a decisão de prim eira ins­
tância p o r ser extra e ultra petita (RPS 181/1960). O acórdão n. 1989.03.06929-3, de
19.9.1995, da 1- Turma do TRF da 3 ã Região, q uando relator o ju iz Sinval Antunes,
negou concessão de abono de p erm anência em serviço a quem , na inicial, havia
req uerido a ap o sen tad o ria especial (RPS 183/145).
1490. E feitos d ev o lu tiv o e su sp e n siv o — Salvo nas h ipóteses da alçada, e
do últim o grau, as decisões sem pre adm item revisão p o r parte do ju ízo ad quem,
restab elecen d o -se o exam e do m érito. De m odo geral, os recu rso s deveriam ser
recebidos com os dois efeitos possíveis, m as diz o art. 61 da L ein. 9.784/1999: “Salvo
disposição em co n trário o recurso não tem efeito su sp en siv o ”. Tal análise su b m ete­
-se ao tipo de proced im ento, p rin cip alm en te se p erten cen te ã área de benefícios
ou arrecadação.

C u rso de D ir e it o P re v id e n c iá rio
T om o IIZ — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1091
Capítulo CXLIX

P rovas d o A leg a d o

149 i. Onus probandi. 1492. Campo de aplicação. 1493. Meios admiti­


Su m ário:

dos. 1494. Classificação didática. 1495. Momento da produção. 1496. Fatos não
probandos. 1497. Desnecessidade ou independência. 1498. Confissão do autor.
1499. Prova emprestada. 1500. Depoimento testemunhai.

Os pedidos e os recursos baseiam -se em alegações (jurídicas) e acontecim entos


confirm ados (provas). Os relatos descritivos dos eventos têm de ser dem onstrados,
de preferência, ã saciedade, para estim ularem o con vencim ento do aplicador e do
julgador.
A tentativa de persuasão cabe ju n to à adm inistração ou p eran te o P oder J u ­
diciário.
O CPC tem regra geral: “Todos os m eios legais, bem com o os m oralm ente
legítim os, ainda que não especificados n este Código, são hábeis para provar a ver­
dade dos fatos em que se funda a ação ou a defesa” (art. 332).
Eduardo Gabriel Saad opõe-se à extensão operada pelo art. 179 qu an d o , indo
além da lei, exige indício razoável de prova m aterial tam bém para a dependência
econôm ica ( “A Previdência Social e a Prova” , São Paulo: LTr, in Supl. Trab. LTr n.
83/1997).
14 9 1. O nus probandi — Segundo cediça afirm ação e dispositivo adjetivo, a
obrigação de confirm ar é encargo de quem alega. Por exem plo, se o segurado afir­
m a ter trabalhado em certa em presa d u ra n te d eterm inado período, precisa ju n ta r
os com provantes da declaração.
M uitas vezes, p o rém , o interessado não dispõe dos m eios de convicção, em
razão deles estarem acim a de suas forças (caso do exam e d ocum entoscópico ou
grafotécnico) o u inacessíveis (quedar-se na contabilidade da em presa). É uso e cos­
tum e adm inistrativo o segurado req u erer a providência à autarquia ou aos órgãos
julgadores. N este caso, a certeza provirá do p ró p rio INSS ou MPS.
Não evidenciado o fato pelo interessado é dado com o inexistente.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1092 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1492. Campo de aplicação — Inexistem lim ites para os instrum entos de prova,
exceto q u an d o p rescrito em co n trário na n orm al legal. São adm itidos todos os
m eios legais, regulares e m orais. Mas tão som ente exigidos os possíveis e pertinentes
ao processo. N ão podem ser im postas alegações negativas.
1493. Meios admitidos — De m odo geral, conform e o CPC, os in stru m en to s
da prova variam : a) confissão; b) docum entos; c) exam e; d) vistorias; e) arb itra­
m ento; f) presunções; g) indícios; e h) depoim ento (A Prova no Direito Previdenciário,
3. ed., São Paulo: LTr, 2012).
Os fatos alegados podem ser provados p o r m eio de m atéria (v. g., fita de vídeo,
fotografia, filme, qu adro, folha de papel, desenho, placa em obra de arte etc.),
d o cu m en to s (lato sensu), declarações escritas e depoim entos.
Q u alq u er objeto m aterial presta-se para a persuasão, se ele perm ite exam e de
sua legitim idade e ancianidade. Ressalvam -se os m icrofilm es, q u an d o pretender-se
ex am inar a au ten ticid ad e corporal da folha.
Papel da época dos acontecim entos, m esm o encanecido pela ação do tem po
ou envelhecido, é o bastante. D eclarações firm adas pelo interessado, caracterizada
a esp o ntaneidade da afirm ação, tam bém são úteis (v. g., curriculum vitae na em presa
seguinte, cartas para nam orada o u fam iliar etc.).
O d ep o im en to testem unhai é válido em algum as circunstâncias (p o r exem ­
plo, para o dom éstico e trabalhador ru ral), m esm o sendo o ún ico disponível e, nas
dem ais situações, aco m p an h ad o de início razoável de prova m aterial.
Antiga disposição da CANSB oferecia validade à declaração firm ada antes de
1957.
1494. C lassificação d id á tic a — As provas po d em ser enquadradas, conform e
o grau de co n v en cim ento, com o as seguintes:
a) p len a — dispensa o u tro s m eios de dem onstração, bastando um a delas
(caso da CTPS correta, legítim a e regularm ente preenchida) em relação a diversos
fatos com o vínculo de em prego, profissão, salário e tem po de serviço;
b) ro busta — é a capaz de convencer o apreciador ou julgador, pela sua ido­
neidade, esp o n tan eid ade e eficácia de convencim ento;
c) indiciaria — indicativa do fato, isoladam ente incapaz de convencer, m as
reunidas várias delas, assum e persuasão;
d) direta — a obtida no p ro ced im en to norm al, h ab itu al ou costum eiro, com o
a folha de pagam ento, o livro de registro de em pregados;
e) ind ireta — p o r tabela, caso do boletim de ocorrências;
f) do in teressad o — p re en ch im en to de curriculum vitae, carta;
g) de terceiros — em d o cu m en to s estran h o s à relação (v. g., procurações, cer­
tidões, escrituras, d o cu m en to s públicos de m odo geral);
h) local — realizada n a Ju stiça ou n a adm inistração;
i) em prestada — trazida de o utros processos da autarquia ou de fora dela;

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o III — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1093


j) desnecessária — em cada caso, aquela que é su p erab u n d an te;
k) im possível — em face das circunstâncias, a que não m ais pode ser p ro d u ­
zida.
1495. M om ento d a p ro d u ç ão — A evidência dos requisitos legais deve ser
feita p o r ocasião da inicial, geralm ente q u an d o da juntada de docum entos. Na h i­
pótese de recurso, com o protocolo deste. Esta é um a prova op o rtu n a, m as existe
a cautelar, operada antes, com receio de perecim ento.
Antes do ju lg am en to é perm itida a apresentação de m em orial.
Fatos novos, aco n tecidos após o ju lg am en to — p o r exem plo, a descoberta de
um a prova — , po d em ser apresentados p o r req u erim en to , solicitando a revisão da
decisão.
Se o segurado declara p o ssu ir a faculdade, após o advento de lei d im in u id o ra
de direitos, an tes da m u dança, aquela poderá ser exercitada.
1496. F ato s n ão p ro b a n d o s — A lei elege aco ntecim entos indem onstráveis
p o r meio de justificação adm inistrativa. Assim, quando sujeitos a registros públicos,
só p o d em ser avultados com certidão da Ju n ta C om ercial o u do C artório.
1497. D e sn e cessid ad e ou in d e p e n d ê n c ia — A lguns eventos não têm de
ser provados (v. g., dependência econôm ica dos cônjuges ou com panheiros e a dos
filhos, bem com o o recolhim ento da contribuição, por parte do em pregado). Tam bém ,
assim são co n sid erad o s os incontroversos ou adm itidos pelas duas partes.
Em seu art. 3 4 , 1, o CPC arrola os “n o tó rio s”, disp en san d o as provas. O ju ízo
pertence ao órgão decisor e julgador. A ninguém é dado ig n o rar Edson Arantes do
Nascimento, o Pelé, n em o trabalho artístico de Paulo Autran...
1498. C o n fissão do a u to r — A figura ju ríd ic a da confissão quase não se tran s­
porta para o D ireito Previdenciário. C onfissão, só a escrita, p o r m eio de d o cu m en to
firm ado. Só é possível q u an d o contrária aos interesses, m as, facilitando as coisas,
às vezes, aceitam -se declarações (dependência econôm ica dos pais o u irm ãos) ou
valem d o cu m en to s firm ados pelo titu lar (cu m cu lu m vitae). São im portantes nos
p ro cedim entos de fraudes.
D iante de sua esp ontaneidade não há p o r que recusar em aceitar o declarado
em curriculum vitae.
1499. Prova e m p re sta d a — E xistem dois tipos de provas em prestadas: a)
interna e b) externa. Q u ando o 1APAS fiscalizava o FGTS, po d ia servir-se da prova
obtida n u m a N otificação Fiscal para outra.
Na prova in tern a, o órgão gestor (INSS ou RFB) serve-se de in stru m en tal o b ­
tido pelo órgão fiscalizador em outro processo ou procedim ento. Na externa, ela é
trazida à colação, provindo de fora da adm inistração.
Assim, a autuação do M inistério do Trabalho, a respeito da presença de traba­
lhadores não registrados, presta-se para cobrança de débito. O docu m en to ap reen ­
dido peia Caixa E conôm ica Federal, com vistas no FGTS, serve para o INSS. D ados
con stantes do AI são úteis à Notificação Fiscal.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1094 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1500. Depoimento testemunhai — À exceção dos incapazes (in terd itad o s)
acom etidos p o r im possibilidade de com unicação, do cônjuge, da parte no pedido,
de q u em intervém em nom e de o u trem (tu to r de m enor) e dos suspeitos, todas as
dem ais pessoas p o d em depor, m as só interessa, de um a form a ou de outra, quem
p resen cio u os fatos.
Divergem os au to res e os tribunais a respeito da validade do dep o im en to tes­
tem u n h ai, p rin cip alm en te q u an d o desacom panh ado de início razoável de prova
m aterial. Em seu art. 55, § 3e, a Lei n. 8.213/1991 é clara a esse respeito, m as m uitos
ju lg ad o s a en ten d eram com o inconstitucional.
Suponha-se alguém reclam ar ter trabalhado para certa pessoa, sem ser verdade,
p o r trin ta e cinco anos. N ão com parecendo o pseu d o em p reg ad o r à audiência na
Ju stiça do Trabalho, a Vara Trabalhista anota na CTPS do reclam ante a relação de
em prego. D iante da presunção do d esconto e do recolhim ento o interessado fará
ju s à ap o sen tad o ria p o r tem po de serviço (sic). Ju rid icam en te, o p rocedim ento é
correto, m as m aterialm ente com o fica o INSS?
Do p o n to de vista científico a problem ática é mal conduzida. Na verdade, o
im p o rtan te é d iscern ir de qu em se solicitará o início razoável de prova m aterial e
de quem bastará o d ep o im en to testem unhai, pois não tem condições de obter outra
prova (trab alh ad o r rural, dom éstico etc.).
Palavras do M in. L uiz Vicente Cemicchiaro podem ser colhidas no RE n.
112.678 (DJU de 12.5.1997), em acórdão da 6 a Turm a do STF: “A C onstituição da
República adm ite q u alq u er espécie de prova. Há um a restrição lógica: a obtida por
m eio ilícito (art. 5H, LVI). N ote-se: integra o rol dos D ireitos e G arantias C o n stitu ­
cionais, evidente a inco n stitu cio n alid ad e da Lei n. 8.213 (art. 55, § 1°) que veda,
para a com provação do tem po de serviço, a prova exclusivam ente testem unhai. A
restrição afeta a busca do D ireito Ju sto . O STJ en ten d e em sentido contrário. Por
política ju d iciária, ressalvado o en ten d im en to pessoal, venho subscrevendo a tese
m ajo ritária”.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 111 — D ir e ito P r e v i d e n c i á r i o P r o c e d im e n ta l 1095


Capítulo CL

P r a z o s R e c u r s a is

1501, Regras da contagem, 1502. Conseqüências jurídicas, Í503.


S u m á rio :
Recursos de Apelação. 1504. Recursos especiais. 1505. Contrarrazões. 1506.
Revisão de Ofício. 1507. Revisão de benefícios. 1508. Vistas dos aulos.
1509. Prazos do MPS. 1510. Prazos do ME

Em Direito, os prazos assum em extraordinária relevância. Os principais, geral­


m ente fixados na lei, devem ser observados pelas p a r L e s . N ão há privilégio para a
adm inistração gestora; seus term os são iguais aos dos contribuintes ou beneficiários.
Porém , de fato eles restam elastecidos, pois inexistem cartórios e quem fixa a data
do recebim ento dos au tos na repartição é o servidor.
N ão obstante a fatalidade dos prazos, a Portaria MPS n. 713/1993 oferecia
regra característica do p rocedim ento adm inistrativo e carecia de explicação, em
cada caso: “H avendo m otivo justificado o P residente da JR, CAj ou CRPS poderá
prorro g ar quaisq u er prazos, m as n u n ca p o r m ais de trinta dias, salvo as hipóteses
do art. 2 0 ” (sic).
Mas, com o art. 25, § 3S, do RI do CRPS: “os prazos previstos n este regim ento
são im prorrogáveis, salvo em caso de exceção expressa”.
1501. Regras d a contagem — De m odo geral, o prazo para interposição de
recursos de apelação é de 30 dias contados da data da ciência da parte interessada.
A notificação acontece: a) pessoalm ente; b) p o r via postal; e c) p o r edital.
Note-se: “T ratando-se de processo de benefício, a intem pestividade do recur­
so só poderá ser declarada se a ciência da decisão for feita pessoalm ente a segu­
rado, ao seu rep resentante legal ou procedida através de via edilalícia” (arl. 28 da
P ortaria MPAS n. 4.414/1998).
Aplica-se a consagrada regra latina: dies a quo non com putatur in termine. Isto
é, não se conta o da ciência (CPC, art. 184). Se ele cair num feriado, sábado ou
dom ingo, ou não havendo expediente n a repartição pública, prorroga-se para o
p rim eiro dia útil.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1096 W la d im ií' N o v a e s M a r tin e z


Dizia o art. 27, § 1Q, da P ortaria MPAS n. 4.414/1998: “N a contagem dos
prazos estabelecidos neste Regim ento excluir-se-ã o dia do início e incluir-se-ã o
do vencim ento, p ro rrogando-se este ú h im o para o p rim eiro dia útil em que haja
ex p ed ien te no órgão recebedor do recurso, caso term ine em sábado, dom ingo ou
feriad o”.
O art. 20, parágrafo único, da Portaria MPAS n. 3.318/1984 tinha com ando vá­
lido sobre greve e ou tras interrupções: “A superveniência de dias em que não h o u ­
ver ex p ed ien te n o rm al na en tid ad e do S1NPAS ou no órgão da instância recursal
su sp en d e o curso do prazo, que será restilu íd o por período igual ao da suspensão
hav id a”.
Se o recurso foi in terp o sto p o r via postal, vale a data aposta pelo correio no
envelope. In ex isten te com provação do recebim ento da ciência, o recurso será tido
com o tem pestivo. Até q uando, dep en d erá do bom -senso do aplicador da norm a,
da área da controvérsia, da natureza do ped id o e da pessoa envolvida.
1502. Conseqüências ju ríd ic a s — Se o recurso é intem pestivo, em princípio
ele não terá curso. Todavia, em m anifestação ínsita ao p rocedim ento ad m in istra­
tivo, com provado à saciedade o direito do beneficiário, o ente a quo fará os autos
subirem para apreciação do órgão ad quem. R econhecido o direito do im petrante o
CRPS relevará a intem pestividade.
O art. 62, § 3 9, do R egim ento In tern o do CRPS (P ortaria MPAS n. 4.414/1998)
silenciava a respeito de im pugnação em m atéria de custeio, en ten d en d o -se caber
a m esm a providência.
1503. Recursos d e Apelação — São dois: R ecurso O rdinário (MPS) e R ecurso
Voluntário (M F). No âm bito do MPS, o prazo para o Recurso O rdinário é de 30 dias.
C o ntado da data da ciência, q u an d o da entrega em m ãos ou do recibo dos
correios, é de 30 dias o prazo para p rotocolar a defesa de N otificação Lançam ento.
1504. Recursos Especiais — Para o R ecurso Especial de decisão do CARF
in terp o sto à CSRF é de 30 dias.
1505. C o n tra rra z õ e s — De decisão da Ju n ta de R ecursos, o INSS ou o b en e­
ficiário tem 15 dias para ap resen tar contrarrazões (art. 305, § 1Q, do RPS). Diz o
art. 27, § 3 Q, da P ortaria MPAS n. 4.414/1998: “Para o In stitu to N acional do Seguro
Social — INSS, o prazo para interposição de recurso e oferecim ento de c o n tra rra­
zões terá início q u an d o da entrada do processo na P rocuradoria ou no órgão que
tiver a atribuição para a prática do a to ”.
1506. R evisão de O fício — C om o se verá n o capítulo que trata da Revisão de
Ofício, a tradicional avocatória desapareceu com a P ortaria MPS n. 88/2004 e
de certa form a foi su b stitu íd a p o r u m rem édio ju ríd ico ad m in istrativ o m ais am plo,
a Revisão de Ofício.
C laram ente, o § 2e diz que sobrevier Revisão de Ofício: “O conselheiro deverá
re d u zir a term o as razões de seu co nvencim ento e d eterm in a r a notificação das
partes no prazo co m um de 30 (trin ta) dias, antes de su b m eter o seu en ten d im en to
ã apreciação da instância ju lg ad o ra”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1097
O p razo p ara a Revisão de Ofício, à luz do que diz o caput do art. 60, rig o ro ­
sam ente deveria ser de dez anos (PBPS, arts. 103 e 103-A).
Protocolado esse p ed id o o INSS tem 30 dias para encam inhá-lo (§ 4 Q). Mas,
nos term os do § 69, que rem ete ao art. 27, ele é de 30 dias.
O prazo para co n trarrazões em relação à Revisão de Ofício, protocolado pelo
INSS, é de 30 dias (art. 60, § 4a). Silencia a P ortaria MPS n, 323/2007 q u an to ao
prazo do INSS no caso de Revisão de Ofício do segurado ou co n trib u in te (que
deverá ser de 30 dias).
1507. R evisão de b enefícios — O art. 103 do PBPS foi b astante alterado com
a redação dada pela Lei n. 9.528/1997: “É de dez anos o prazo de decadência de
lodo e q u alq u er direito ou ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato
de concessão de benefício, a contar do dia p rim eiro do m ês seguinte ao do rece­
bim ento da p rim eira prestação, q u an d o for o caso, do dia em que tom ar co n h eci­
m ento da decisão indeferitória definitiva n o âm bito ad m in istrativ o ” (desde a MP
n. 138/2003).
P articularizando, diz o parágrafo único: “Prescreve em cinco anos, a contar da
data em que deveriam ter sido pagas, toda e q u alq u er ação para haver prestações
vencidas ou q u aisq u er restituições ou diferença devidas pela P revidência Social,
salvo direito dos m enores, incapazes e ausentes, na form a do C ódigo C ivil” (MP
n. 1.523/1997).
Segundo o dispositivo, o beneficiário teria dez anos para reclam ar da concessão
de prestação.
Em n o rm a adjetiva, prescreveria em cinco anos o prazo para ingressar com
ação ju d icial visando a prestações vencidas, restituições ou diferenças.
A im p rescritibilidade do direito aos benefícios é princípio técnico de D ireito
Previdenciário ( “P rincípios de D ireito P revidenciário”, 5 - ed., São Paulo: LTr, 2005,
p. 173) e tem de ser respeitada pela lei o u rejeitada. O po stu lad o fundam ental do
direito ao trabalho assegura a existência co n stitu cio n al do direito aos benefícios de
pagam ento con tin u ad o . O parágrafo ún ico do art. 103 do PBPS é norm a correta: a
q u alq u er tem po alguém poderá recorrer à adm inistração ou aos tribunais, m as só
poderá receber os ú ltim os 60 meses.
C om a Lei n. 10.839/2004, foi acrescido um art. 103-A ao PBPS, dizendo: “O
direito da Previdência Social de an u lar os atos adm inistrativos de que decorram
efeitos favoráveis para os seus beneficiários decai em dez anos, contados da data
em que foram praticados, salvo com provada m á-fé” (redação inicial da M edida
Provisória n. 138/2003).
Q uer dizer que se o INSS com eter erro na concessão (ou em o u tro m om ento
da m an u ten ção das prestações, com o, p o r ocasião dos reaju stam en to s), engano ao
qual não foi ind u zid o p o r com provada má-fé do segurado, ele tem dez anos para
revisar a im propriedade. U ltrapassado esse decênio o valor a m aior integra-se no
p atrim ô n io do beneficiário.
Vale lem brar que essa disposição, tanto q u an to a do art. 103, tem eficácia dez
anos após a sua vigência. Logo, até 2014 o INSS não teria prazo para observar.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1098 W ia d ím ir N o v a e s M a r tin e z
1508. Vista dos aulos — São concedidos cinco dias para a vista dos autos na
sede da repartição p ú blica (arl. 132, XXI, da P ortaria MPAS n. 4.414/1998).
Dizia o parágrafo único do art. 123 da P ortaria MTPS n. 3.318/1984: “Sob
n en h u m p retex to p o d erão ser retirados do processo os originais dos atos nele exa­
rados, p o d en d o ser fornecida, en tre tan to , q u an d o for caso, cópia au tenticada para
u so do in tere ssa d o ”.
O term o para terceiros não se altera significativam ente, é de 30 dias, o term o
legal.
1509. Prazos do MPS — E ntre outros, os prazos do MPS são os seguintes:
a) 30 dias — Para o R ecurso O rdinário, R ecurso Especial e Pedido de U n i­
form ização da Ju risp ru d ê n cia, relativa à decisão adm inistrativa in deferitória de
prestações.
b) 30 dias — Para as JR, CAj ou CP, decidirem processo. E o aten d im en to de
diligências.
c) 30 dias — Para as C ontrarrazões e Em bargos D eclaratórios.
d) 60 dias — C u m prim ento de diligências externas dependentes de ação fiscal.
e) 10 dias — In stru ção dos processos nos órgãos da previdência social. A pós a
distrib u ição , p ara o relator estu d ar o processo, preparar o relatório e p ed ir inclusão
na p auta. Para o INSS encam in h ar a diligência.
0 30 dias — Para o INSS re stitu ir os au to s ao órgão ju lg a d o r com a diligência
integ ralm en te cum prida.
g) 30 dias — Para o INSS inform ar ao segurado decisão definitiva m ais favo­
rável diante de decisão judicial.
h) 30 dias — Para o cu m p rim en to de decisão do CRPS.
i) 5 dias — Para inform ar sobre o não cu m p rim en to da decisão do CRPS.
j) 5 dias — D espachos nos processos in tern o s do INSS. R estituição do p ro ­
cesso à Secretaria ou ao órgão de origem pelo CRPS, após a decisão do pedido de
revisão. Vista e prática, pelo INSS ou pelos interessados, de q u alq u er ato sem o u tro
p razo fixado em lei o u regulam ento.
1510. Prazos do MF — O D ecreto n. 70.235/1972 estabelece alguns prazos:
a) 30 dias — De m odo geral para o R ecurso V oluntário à CARF e Recurso
Especial à CSRF
b) 30 dias — Prazo de p erm an ên cia n a repartição da notificação não im p u g ­
nada, p ara cobrança amigável.
c) 30 dias — R ecurso V oluntário.
d) 30 dias — Recurso Especial.
e) 48 horas — N otificação aos interessados, pelos setores do INSS, dos atos
ou fatos que lhes digam respeito, na ausência de prazo específico.

C urso df D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o íf f — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1099
Capítulo CLI

S essã o d e J u l g a m e n t o

1511. Distribuição dos feitos. 1512. Pauta do dia. 1513. Sessão pro­
S u m á rio :
priamente dita. 1514. Voto de Minerva. 1515. Defesa oral. 1516. Juntada de
memorial. 1517. Retirada de processo. 1518. Pedido de vista. 1519. Ausência
de conselheiro. 1520. Resultado da votação.

O pera-se o julgam ento nas JR e nas CAj, órgãos colegiados assem elhados em
term os de com posição e no C onselho Pleno, em sessões previam ente aprazadas,
com q u an tid ad e m ensal lim itada, não abertas ao público, com n ú m ero m ínim o de
conselheiros (respectivam ente, três nas duas instâncias e 13 n o CP) e de autos.
As sessões são an u alm en te nu m erad as cronologicam ente. O bedecido u m n ú ­
m ero m ínim o, o nú m ero m ensal é fixado pelo presidente d aJR ou da CAj, conform e
o volum e de processos.
São 15 sessões m ensais nas JR ou CAj. A pauta m ínim a varia de dez (para até
250, em an d am en to ), 12 (de 251 a 500) e de 15, acim a de 500 processos. Para o
C onselho Pleno não há núm ero m ínim o.
1511. D istrib u ição d o s feitos — Nos E stados com apenas um a JR não há
distribuição de processos. O nde existirem duas, o n ú m ero de protocolo do recurso
determ ina: se ím par, n u m a, e, se par, na o u tra JR.
A d istribuição p o r conselheiros, m esm o na sua ausência, é procedida ao final
da sessão, cabendo u m terço dos feitos ao presidente da JR ou CAj.
Os recursos idênticos (igual pessoa) ou conexos (igual assunto) são relatados
por um ú n ico conselheiro e ju lg ad o s no m esm o dia. São conexos q u an d o com um
o objeto ou a causa petendi.
1512. P auta do d ia — Para cada sessão de ju lg am en to é elaborada p auta dos
processos a serem apreciados, em que consignados o no m e do interessado, órgão
de origem , breve resum o do assunto e nú m ero identificador do protocolo na linha
recursal.
Nesse d o cu m en to é indicado o relator, sorteado na sessão an terio r e, na hip ó ­
tese de volta de diligência, quem fará o relatório.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1100 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
D epois de vistada pelo presidente a p auta será afixada em local visível e aces­
sível ao público (saguão do préd io ), pelo m enos cinco dias antes do julgam ento.
1513. Sessão propriamente dita — No dia e ho ra aprazados, a sessão é aberta
pelo presid en te, com q u alq u er núm ero, m as a votação só é possível q uando pre­
sentes, n o m ínim o, três conselheiros. A prim eira preocupação será a verificação
do quorum.
A sessão observa certa solenidade, com a abertura dos trabalhos, registro da
p resença dos conselheiros, justificativa dos ausentes, verificação do quorum, c o n ­
signação da participação do interessado ou p ro cu rad o r ou o u tra pessoa requisitada
ou convidada, e in cid entes de variada ordem .
São exam inadas, na o p o rtu n id ad e , com unicações (de férias, substituições,
chegada de su p len tes), propostas e indicações, bem com o consignações de m odo
geral.
Em seguida, processa-se a leitura da ala da sessão an terio r p o r p arte da secre­
tária. Ato co n tín u o ela é d iscutida e posta em votação. A ordem de obtenção dos
votos é a seguinte: relator, rep resen tan te do governo, dos segurados e das em presas
e p resid en te (a m esm a para os processos). Aprovada, o presidente passa a palavra
ao relator. N ão aprovada, são encetadas as alterações necessárias e sua substituição.
A ata deve conter: 1) núm ero da sessão e sua natureza (ordinária o u ex tra­
ord in ária); 2) dia, h o ra e local onde realizada; 3) registro da presença e ausência
de conselheiros; 4) nota sobre a aprovação da ata an terio r ou m odificação; 5) re­
m issão à pauta, com indicação dos processos ju lg ad o s e os retirad o s de pauta; 6)
fatos aco ntecidos d u ra n te o ju lg am en to , prin cip alm en te a su sten tação oral o u a
p resença de técnicos; 7) q u antidade de processos distribuídos; e 8) assinatura dos
presentes.
Se houve solicitação prévia do relator, o assistente jurídico d aJR ou CAj, médico
perito, Auditor-Fiscal da Previdência Social ou servidor especializado, com parecerá à
sessão e dela participará.
Inexiste abstenção, os votos são favoráveis o u contrários.
O relato r faz o relatório do processo a ele atrib u íd o , seguindo-se a m anifesta­
ção d o s dem ais conselheiros. E ncerrada a discussão, o p re sid e n te inicia a votação,
co lh en d o , u m a um , os votos. Até a proclam ação do resultado, o conselheiro pode
alterar o seu voto. O ato final é a distribuição dos processos para a próxim a sessão.
1514. Voto de M inerva — O presid en te da JR ou CAj n o rm alm en te vota na
condição de conselheiro representante do governo federal, e tem voto de qualidade.
Presentes q u atro conselheiros (na JR ou CAj), pode em p atar a contagem (2 x 2).
N esta h ipótese, o p resid en te vota, desem patando.
1515. Defesa oral — Tendo solicitado previam ente, o interessado ou p ro c u ra ­
d o r co n stitu íd o , de q u alq u er um a das partes, inclusive o INSS, pode m anifestar-se,
logo após o relatório, p o r 15 m in u to s, sem ser in terro m p id o . N a ocasião poderá
falar de im proviso ou ler texto, reforçando as razões do recurso e até m esm o tra­
zendo novos fatos à colação.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 111 — - D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1101
Caso algum conselheiro deseje, p o r interm édio do presidente, poderá inquirir o
defendente e até m esm o o interessado, para prestar esclarecim entos.
1516. Juntada de memorial — M em oriais são exposições, estudos, pareceres,
enfim , trabalhos ap resentados pelos op o n en tes ao INSS, visando aclarar pontos
obscuros, en u n ciar q u esitos difíceis.
A presentam -se sob a form a de análises sistem atizadas ou laudos técnicos,
geralm ente elaborados p o r especialistas.
Eles são freqüentes q u an d o de sustentação oral, trazidos em cópia para cada
um dos conselheiros, en tregues antes do ju lg am en to e fazendo parte integrante do
procedim ento.
Se não feita an terio rm en te, até a realização da sessão de julgam ento, é a
o po rtu n id ad e da ju ntada de m em orial aos autos. Isso é o correto, m as, em casos
excepcionais, pod erá dar-se até na p ró p ria sessão e sua avaliação dependerá da
com plexidade.
1517. Retirada de processo — Q uando da leitura dos dados co n stan tes da
pauta, u m d o s conselheiros poderá solicitar a retirada do processo para posterior
análise.
1518. Pedido de vista — D urante o ju lg am en to o conselheiro terá vista dos
autos. O processo serã retirado de pauta e entregue a ele para estudo, devendo ser
julgado p rio ritariam en te na próxim a sessão. Caso a vista ocorra nesta, o en cam i­
n h am en to prosseguirá. O pedido só poderá acontecer após o voto do relator.
1519. Ausência de conselheiro — A ausência do conselheiro poderá ser par­
cial, p articip an d o apenas de parte da sessão ou total, não com parecendo, devendo
a oco rrência ser consignada na ata. Se é o conselheiro presidente, a presidência serã
assum ida pelo o u tro rep resentante do governo.
Até então ausente, após a leitura do relatório, o conselheiro não m ais p artici­
pará do ju lg am en to .
1520. Resultado da votação — Nas JR e CAj as votações podem ser de dois
tipos: a) p o r u n an im id ad e (3 x 0 ou 4 x 0); e b) por m aioria (2 x 1, 3 x 1 ou 3 x 2).
Após a resolução da JR, os autos descem à origem para ciência dos interes­
sados (INSS e a o u tra parte). Caso a decisão seja da CAj eles baixarão à JR para
con h ecim en to e, em seguida, ao INSS.
Se o relato r é voto vencido, será tido com o relator ad hoc aquele cujo voto foi
o vencedor.

C urso u e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1102 Wladimir Novaes Martinez


Capítulo CLII

P r o c e d im e n t o s em E s p é c ie

1521. Matrícula de conlribuintes. 1522. Certidão Negativa de Débito.


S u m á r io :
1523. Reconhecimento de filantrópica. 1524. Parcelamento de débito. 1525.
Designação de dependentes. 1526. Averbação de tempo de filiação. 1527. Cer­
tidão de tempo de serviço. 1528. Verificação de salário-base. 1529. Indenização
de débito. 1530. Apreensão de documentos.

São m ú ltip lo s os procedim entos previdenciários in tern o s, alguns com m enor


ou m aio r expressão form al. Parte deles, gestando a dúvida de saber se contenciosos
ou não e, p o r co n seguinte, q u an d o de decisão contrária co u b er recurso.
O s prin cip ais são: a) cobrança adm inistrativa de débito, m u lta ou acréscim os
m onetários; b) pedido de benefício; c) restituição de contribuições; d) revisão de
cálculo de prestação; e) justificação adm inistrativa; 0 in q u érito adm inistrativo; e
g) con su lta fiscal. A diante exam inados em particular.
O u tro s, em b o ra b astante com uns, são m ais singelos, b astante sim plificados,
com o os desenvolvidos a seguir.
1521. M atrícu la de c o n trib u in te s — Os co n trib u in tes têm de ser identifica­
dos ju n to à au tarq u ia gestora da previdência social. A m atrícula dos sujeitos pas­
sivos su b m etid o s ao CGC é bastan te sim plificada, u tilizando-se do n ú m ero deste,
o b tido ju n to ao M inistério da Fazenda.
Em se tratan d o de co n stru ção civil ou entidade sem CGC, identificadas pelo
CEI, é preciso p reen ch er form ulário do INSS, em q u e são fornecidos dados quali-
ficadores do requerente.
O s co n trib u in tes individuais podem prom over sua inscrição n as agências da
ECT ou nos postos do Seguro Social do INSS, bastando o p reen ch im en to de deter­
m inado fo rm ulário p adronizado e a apresentação da docum entação identificadora
(g eralm ente, CTPS, C édula de Identidade, CPF ou título de eleitor).
1522. Certidão Negativa de Débito — A Certidão Negativa de Débito, docum en­
to formal de grande im portância, opera-se por meio do PCND, im presso adquirido nas
papelarias.

C urso d e D ireito P re v id e n c iá rio


T o m o 111 — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1103
O PCND é d o cu m en to necessário à expedição da CND, devendo ser p re en ­
chido à m áquina ou em letra de form a, sem em endas ou rasuras, assinado pelo
co n trib u in te ou seu preposto, recepcionado pela RFB.
O órgão gestor verificará: a) existência de outros estabelecim entos, além do
soliciLante; b) dados cadastrais do co n trib u in te, atualizando-os se for necessário;
c) conta corrente dos recolhim entos dos ú ltim o s 60 m eses; d) presença de débito
notificado ou registro im p ed in d o a CND; e) existência de acordos trabalhistas sem
o respectivo recolhim ento; 0 direito à isenção de cotizações.
Tam bém pod erá ser solicitada a C ertidão Positiva de D ébitos Previdenciários
— CPD, q u ando o co n trib u in te req u erer a CND e for constatada falta de recolhi­
m ento.
1523. R eco n h ecim en to de filan tró p ica — As entidades beneficentes de assis­
tência social, para terem acolhido esse estado ju ríd ic o — sobrevindo a im unidade
de contribuições patronais — , têm necessidade de se habilitarem docum entalm ente
p eran te a previdência social. Os principais procedim entos estão com inados no
Parecer CJ/MPAS n. 509/1996 (DOU de 27.3.1996).
Destarte, a expedição do AtesLado de Registro e Certificado de E ntidade Benefi­
cente de A ssistência Social so m en te será feita a favor da m an ten ed o ra com perso ­
nalidade ju ríd ica configurada form alm ente.
Cada u m a das dep endências terá de apresentar: “a) denom inação do estabele­
cim ento m antido, endereço, CEP e telefone; b) cartão do C G C , com o n ú m ero de
ordem respectivo àquela m antida, se for o caso; c) atestado de que a en tid ad e está
em pleno fu n cio n am en to, fornecido p o r au to rid ad e local” (art. 2Q da Resolução
C N SSn. 49/1996).
1524. P arcelam en to d e d é b ito — C o n trib u in te em débito desejando parcelá­
-lo deverá p ro cu rar a RFB onde solicitará e preench erá os seguintes form ulários:
a) pedido de parcelam ento; b) confissão de dívida; c) parcelam ento.
1525. D esignação d e d e p e n d e n te s — A designação de dependentes faz-se na
pró p ria em presa ou ju n to ao INSS, bastan d o ap resen tar os d o cu m en to s com proba-
tórios da condição de beneficiário do RGPS: CTPS, cédula de identidade, certidão
de nascim ento ou casamenLo, título de eleitor, tutela ou curatela, PIS-PASEP, decla­
ração da FUNAI.
1526. A verbação de tem p o d e filiação — No seu art. 121, o RPS define o reco­
nhecim en to do tem po de filiação com o “o direito do segurado de ter reconhecido,
em qu alq u er época, o tem po de exercício de atividade an terio rm en te abrangida
pela previdência social”.
O art. 178 do RBPS dava um a descrição singela: “é o assentam ento, em
d o cu m en to hábil, do reconhecim ento da filiação à previdência social”.
P reenchendo form ulário padronizado e ju n ta n d o a com provação do alegado,
o segurado tem o tem po de serviço averbado para diversos fins, “à exceção do p e­
ríodo de carência” (RBPS, art. 180).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1104 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
1527. Certidão de tempo de serviço — A solicitação de certidão de tem po de
serviço, a ser expedida pelo INSS, principalm ente com vistas na contagem recíproca
de tem po de serviço, é procedim ento estandardizado p o r m eio de form ulário a ser
p reen ch id o pelo interessado, ju n ta n d o a d o cum entação com probatória da filiação
e do tem po de serviço desejado.
A ntes da solução, às vezes a au tarq u ia em ite Requisição de D iligência (RD),
a ser cu m p rid a p o r A uditor-Fiscal ou Solicitação de Pesquisa (SP), aten d id a p o r
servidor, im p lican d o visita ao estabelecim ento onde o segurado p re sto u serviços.
E v entualm ente, pod erá solicitar reforço de prova e en cam in h ar o requerente à
justificação ad m inistrativa.
A au tarq u ia só considera o tem po dia a dia, não pro ced en d o a conversão do
p erío d o especial em com um .
1528. V erificação de salário -b ase — E nq u an to existiu o en q u a d ram en to in i­
cial, o p o sicio n am en to n o curso da relação obrigacional, m u ita s vezes de até 35
anos, eventuais progressões, perm anências e regressões na escala de salários-base,
pelo m enos até 31.3.2003, tornava possível haver equívocos na escolha da base de
cálculo da co n tribuição.
H avendo dúvidas, o co n trib u in te individual podia solicitar ao INSS a verifica­
ção de sua regularidade. Para isso tinha de ju n ta r todos os recolhim entos, desde o
prim eiro, no rem o to setem bro de 1973, p o r cópia xerox, on d e co n stan te a im por­
tância recolhida (para a autarquia verificar se foi em dia ou em atraso).
O resultado, tal com o na consulta fiscal, era um a carta co m u nicando o reco­
n h ecim en to da validade dos pagam entos o u a não aceitação.
1529. Indenização de débito — Nas hipóteses de débito de co n trib u in te in­
dividual (em presário, au tô n o m o , eventual, eclesiástico etc.) d e m ensalidades até
abril de 1995 (ex vi da Lei n. 9.032/1995) de períodos q u an d o a lei não exigia filia­
ção obrigatória do trabalhador, tais valores podiam ser pagos nos term os da O rdem
de Serviço INSS/DSS n. 55/1996.
Desde a Lei C o m plem entar n. 128/2008, nos ternos do art. 45-A d o PCSS.
N essas condições, o interessado, de posse da prova da filiação passada, reco­
n h ecid a pela repartição, solicita v erbalm ente no Posto de Seguro Social a planilha
dem o n strativ a da m édia dos últim os 36 salários de contribuição e de todo o m o n ­
tante, m ensalm ente explicitado, inclusive fornecendo a GPS correspondente.
1530. A p reen são de d o c u m e n to s — A preensão de d o cu m en to s é atitu d e
drástica e com im plicações práticas e ju ríd icas, pois significa invasão da privaci­
dade do cidadão e, nessas condições, só pode ser praticada sob o pressuposto de
su a propriedade.
P raticam ente q u aisq u er papéis de interesse da previdência social podem ser
apreen d id o s da em presa, em pregador dom éstico ou co n trib u in te, especialm ente a
CTPS, declarações o u d o cu m en to s sobre os quais pairem d úvidas qu an to à au te n ­
ticidade.

m
C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I I — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
Na área de custeio isso é p articu larm en te com um , sendo recolhidas GPS ou
CND presu m id am en te falsas.
Tais d o cu m en to s perm anecem sob a custódia do INSS até final solução do
incidente, restando in u tilizados ou devolvidos, conform e cada caso.
O ato, de grande relevância, tem de ser praticado p o r pessoa para isso fu n ­
cionalm ente h abilitada e m ediante o fornecim ento do Termo de A preensão de
D ocum entos, fornecendo-se cópia a qu em d etin h a o apreendido.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1106 W fa d irm r N o v a e s M a r tin e z


Capítulo CLIII

J u s t if ic a ç ã o A d m in is t r a t iv a

S u m á r i o : 1531. Desenvolvimento normativo. 1532. Descrição d o instituto. 1533.

Núcleo do procedimento, 1534. M o d u s operandi. 1535. Função e desiderato.


1536. Lista de testemunhas. 1537. Eficácia e alcance. 1538. Tempo da realização.
1539. Início razoável de prova material. 1540. Possibilidade de recurso.

A justificação ad m inistrativa é exem plo bem acabado de pro ced im en to in ­


terno. P o r m eio desse trâm ite sim plificado o co n trib u in te o u o beneficiário pode
d em o n strar ao gestor quase todos os fatos de seu interesse. Para Eduardo Vandré
Oliveira Leme Garcia, essa prova supera a ju d iciária em am plitude ( “Prova de tem po
de serviço na Previdência Social”, in RPS n. 184/230).
1531. D esen v o lv im en to n o rm ativ o — A prim eira referência à possibilidade
de o beneficiário provar m atéria de seu interesse com pareceu n o art. 28, parágrafo
único, do D ecreto n. 20.465/1931, ad m itin d o justificação ju d icial para com provar
o tem po de serviço.

D em onstração form al in tern a, sob o nom e de justificação avulsa, surgiu no


IAPC, ainda restrita ao tem po de serviço, p o r m eio do art. 196 do D ecreto n.
5.493/1940. O D ecreto n. 2.410/1940 estendeu essa possibilidade a todos os 1AP, e
alargando para o u tro s assuntos.

O D ecreto n. 32.667/1953, ainda na esfera dos com erciários, facultava a ju s ­


tificação ad m in istrativ a e a ju dicial. O D ecreto-lei n. 7.485/1945 p erm itiu a prova
do casam ento com justificação judicial.
P o r in term éd io das Portarias MTPS n. 3.626/1970 e n. 3.286/1973 a m atéria
foi reg ulam entada em nível in lram u ro s, re en co n tran d o -se b astante esm iuçada na
C onsolidação do s Atos N orm ativos sobre Benefícios — CANSB (O rdem de Serviço
1NPS/SSS n. 052.2 4 /1 9 77 — Parte 4 — II).
O art. 32, § 3e, da LOPS, bem com o o art. 60 do RGPS, admiLiu a justificação
adm inistrativa, pela prim eira vez alu d in d o ao início razoável de prova m aterial,
destin ad o a polem izar, no futuro.

C urso de D ireito P revidenciário


T o m o I I I — D i r e i t o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
1107
A legislação su b sequente sem pre previu a hipótese. Os dois dispositivos v i­
gentes são o art. 55, § 3e e o art. 108, am bos do PBPS. Pelo d etalh am en to operado,
con v in d o ver os arts. 142 a 151 do RPS.
Equivoca-se in fin e do art. 108 ao m en cio n ar a em presa à vista do art. 15 do
PCSS, em que distin g u ida do em pregador dom éstico. O bviam ente este últim o tam ­
bém pode servir-se desse instrum ental.
1532. Descrição do instituto — A justificação adm inistrativa é um instituto
jurídico procedim ental, aproxim ando-se de elem entos de Processo Civil e do Direito
A dm inistrativo, florescente ju n to à repartição previdenciária, com o prática b u ro ­
crática de longo alcance e utilidade. Cabível no Direito Previdenciário, com nuanças
p ró p rias do D ireito Social, p raticam ente não conhece lim itações.
G arantida p o r lei, é direito subjetivo de todos os segurados, d ep en d en tes ou
co n trib u in tes, q u an d o desejem d em o n strar algo e do qual não possuam o m eio
satisfatório o u ele é insuficiente.
Ela dispensa, por definição, a prova plena. N ão pode reclam ar d ocum entos
tão evidentes com o registro da relação de em prego na CTPS. Situa-se no nível da
razoabilidade do exigido de q uem não tem a anotação com pleta. A dem onstração
posiciona-se a m eio cam inho da prova robusta e do vazio probatório.
A despeito de ser deflagrada pelo au to r (requerente), quem co n d u z o enca­
m in h am en to é o sujeito passivo da ação, deten d o a iniciativa de im pulsioná-lo e
cab en d o -lh e o p o d er de im pério de fixar a data e a discrição da decisão final. Isso
só não acontece q u an d o o expediente foi determ inado pela JR ou CAj; nesse caso,
o processante lim ita-se a en c am in h ar a assentada e os dep o im en to s testem unhais
àqueles órgãos.
C onsidera-se justificação adm inistrativa m eio de prova, de iniciativa do ti­
tu lar da pretensão, processada pelo sujeito passivo da ação, com vistas a levar o
órgão gestor da Previdência Social ao convencim ento a respeito de certos fatos,
ou circunstâncias, p reviam ente eleitos pela norm a, de interesse previdenciário do
requerente e em relação aos quais não d eten h a m eios razoáveis o u acessíveis de
dem onstração.
1533. N úcleo d o p ro c ed im en to — Tanto q u an to a justificação ju d icial (m as
dela diferin d o ), a justificação adm inistrativa é, su bstancialm ente, m eio de prova.
Por esse p ro ced im en to singular, “p oderá ser su p rid a a falta de d o cu m en to ou p ro ­
vado ato do interesse de beneficiário ou em presa” (PBPS, art. 108).
P ro cedim ento nitidam ente in tern o , in sp irad o r do sem elhante ju d iciário , de
iniciativa do interessado, su b m etid o o resultado à discrição do órgào justificante.
Q uem verifica os pressupostos avalia o início razoável de prova m aterial, sopesa a
validade e a auten ticid ade do dep o im en to testem unhai, é a autarquia gestora.
A decisão faz coisa julgada in tram u ro s e p ro d u z efeitos ju n to ao processante e,
com o todo ato ad m in istrativo, pode ser revista a conclusão, claro, q u an d o fundada
a decisão e presentes m otivos o u razões suficientes.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

uos W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Trata-se de direito subjetivo do polo da relação ju ríd ic a de previdência social.
Preenchidos regularm ente os pressupostos lógicos, descabe ao INSS rejeitar o pedido,
em bora possa não aco lh er a pretensão da prova. Ele tam bém poderá indeferi-la se
existirem o u tro s m eios de configurar o fato.
Da decisão negativa de não prom ovê-la cabe recurso à ju n ta de Recursos. Mas,
prom ovida, descabe im pugnação da decisão de negar eficácia com probatória aos
d o cu m en to s e depoim entos.
Sua reedição é vedada em atos adm inistrativos m enores, m as o bom -senso
recom enda aceitá-la, se o justificante apresenta fatos novos. De q u alq u er form a,
procedida ou não, sem pre poderá ser feita na Ju stiça do Trabalho (com eficácia
reduzida em face da ausência do INSS com o parte) ou na Ju stiça Federal.
1534. M odus operandi — Um p rocedim ento form al, a justificação ad m in istra­
tiva é deflagrada p o r m eio de pedido do autor, dito justificante. G eralm ente, o INSS
fornece form ulário-padrão em que o interessado preenche os claros, qualificando­
-se, e exp o n d o , clara e m inuciosam ente, os p o n to s que p retende ju stificar (RPS,
art. 145). Na o p o rtu n id ad e, arrolará de três a seis testem u n h as idôneas, cujo d e ­
p o im en to deverá levar o órgão gestor à persuasão.
C ientificado do dia e hora aprazados e do local para a entrevista, q uando as
testem u n h as serão in quiridas em separado a respeito de fatos objeto da justifica­
ção, seguindo os d ep o im entos e d o cu m en to s exibidos ou já apensados aos autos,
com despacho do processante à au to rid ad e co m p eten te para hom ologação ou não.
Inicia-se com os term os da assentada, leitura do requerim ento do requerente. Também
são lidos os testem u n h o s, antes da assinatura.
O p rocessante o b terá as declarações p o r escrito e consignará na ata a atitude
pessoal das testem u n h as para fins d e avaliação, suas co n tradições ou afirm ações
categóricas. A n o rm a não exclui a acareação. O ju stifican te pode assistir aos dep o i­
m entos e, p o r in term éd io do processante, fazer indagações às testem unhas.
Em seguida, o INSS com unicará o resultado por escrito, conclu in d o pela: a)
eficácia total; b) parcial ou c) negando validade.
1535. F u n ção e d e s id e ra to — O objetivo da justificação adm inistrativa é
to rn ar possível a d em onstração fácil de fatos de interesse dos beneficiários e co n ­
trib u in tes, q u an d o estes não dispõem das provas plenas exigidas em cada caso.
Assim , ela é sem pre feita m ediante indícios m ateriais ou de dep o im en to s testem u ­
nhais. G eralm ente, com binados.
A in tenção do p ro cedim ento é facilitar para os beneficiários, pois, processada
no in terio r da au tarquia, de form a singela, evita a busca do P oder Judiciário.
A prova indireta, não referente diretam ente ao Direito do Trabalho ou Direito
P revidenciário (v. g., boletim de ocorrência policial, noticiário em periódicos, tra­
balhos escritos etc.), supera em qualidade a declaração hodierna firm ada para o
m esm o fim. A fortuita, ocasional, acidental, isto é, a im prevista, tem preferência
sobre a program ada. A espontânea, m esm o im precisa, vence a detalhista, se adrede
preparada.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io .
T o m o II I — D i r e iío P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
1536. Lista de testemunhas — C onform e o art. 146 do RPS não po d em tes­
tem u n h ar: “os loucos de todo o gênero” (inciso I); “os cegos e os surdos, quando
o fato que se q u er provar d ep e n d er dos sen tid o s que lhes faltam ” (inciso II); os
m enores de 16 (dezesseis) an o s” (inciso III); e “o ascendente, descendente ou co­
lateral, até terceiro grau, p o r consaguinidade o u afinidade” (inciso IV).
A adm inistração en ten d e essas pessoas com o sendo o avô, pai, filho, neto,
irm ão, tio, so b rin h o , cu n h ad o , sogro, genro, nora, padrasto, m adrasta e enteado.
O dispositivo é in com pleto e genérico. N ão aclara os loucos, esquece-se dos
m udos, ignora os m enores de 16 anos (seu depoim ento tem p o d er de convenci­
m en to ), o m esm o aco n tecendo com o dos parentes.
Q ualq u er interessado pode firm ar declarações, mas não depor a seu favor.
1537. Eficácia e alcance — O universo da prova é grande, m as lim itado na
justificação adm inistrativa. Pode su p rir a falta de alguns docum entos, m as não de
todos, e p rovar fato ou circunstância de m odo geral.
A restrição é, da m esm a form a, anacrônica, pois segurados de baixa renda sem
saber se foram registrados em algum cartório têm dificuldade de provar a idade.
Não tem sentido exigir-se a com provação científica, difícil e de alto custo.
C onform e o parágrafo ún ico do art. 142, § 1°, do RPS: ‘ N ão será adm itida
a justificação ad m in istrativa q uando o fato a com provar exigir registro público
de casam ento, de idade ou de óbito, ou de q u alq u er ato ju ríd ico para o qual a lei
prescreva form a especial”.
Tal n o rm a obsta a prova do desaparecim ento do segurado, com vistas n a p en ­
são p or m orte, e tam bém provar a existência de em presa (se de am bos os fatos o
preten d en te possui início razoável de prova m aterial). O legislador e o elaborador
do regulam ento deveriam excluir desse ônus o dom éstico e o trabalhador rural,
pois am bos nem sem pre têm com o apresentar o dito início razoável de prova m a­
terial .
O dep o im en to testem unhai exclusivo é vedado nos casos de prova de tem po
de serviço (salvo q u an d o p resen te m otivo de força m aior ou caso fortu ito ), d ep en ­
dência econôm ica, id entidade e relação de parentesco (RPS, art. 148).
Para a CLT, força m aior é todo acontecim ento inevitável em relação à vontade
do em pregador e para a realização do q ual este não concorreu, direta ou in d ireta­
m ente (art. 501). Em bora previsível, é inesperada. Oscar Joseph de Plácido e Siíva
a equipara ao caso fortuito. “Q u alq u er distinção havida entre eles, conseqüência
da violência do fato o u da causalidade dele, não im porta na técnica do D ireito”
(“Vocabulário Ju ríd ico ”, 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1975, Vol. 1, p. 351 e Vol. II,
p. 711).
Caso fortuito é aquele im previsível e sobre o qual tam bém o h o m em não tem
d o m ín io e capacidade de controlar.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1110 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
Se a sim ples perda ou ausência de Livro Registro de E m pregado não é força
m aior ou caso fo rtu ito, o seu desaparecim ento em razão de acontecim ento in*
controlável tam bém o caracteriza (v. g., terrem oto, furacão, naufrágio, inundação,
in cên d io etc.).
O § 29 do art. f 42 do RPS apresenta disposição ilegal e, possivelm ente inconsti­
tucional: “O processo de justificação adm inistrativa é parte de processo antecedente,
vedada sua tram itação na condição de processo au tô n o m o ”.
O ra, em p rim eiro lugar isso não consta da lei (PBPS, art. 108).
A delegação legal não convalida a disposição. Em segundo lugar, a jA foi
criada para d im in u ir a justificação judicial, sim plificar o p rocedim ento e facilitar a
vida dos beneficiários. Im agine-se que haja um a prova próxim a de perecer; ela tem
de ser feita m esm o an tes de requerido algum benefício e averbada nos assentos do
segurado.

1538. T em po d a realização — A justificação adm inistrativa pode ser pro­


m ovida an tes ou d u ra n te o pedido de benefício. E até a sua concessão, durante
a m an u ten ção , q u an d o o segurado obteve os in stru m en to s necessários e, aí, para
rever o tipo de benefício ou seu valor.
A ntes, será de n atureza cautelar, recom endada nas hipóteses de possibilidade
de perecim en to do indício de prova ou do depoente.
M elhor, na o p o rtu n id ad e, ser requerida ju n to com o pedido de benefício.
1539. Início razoável d e prova m a te ria l — O PBPS faz célebre distinção. No
art. 108, d isciplina justificação adm inistrativa de m odo geral e no art. 55, § 3 9, em
particular, cu id an d o apenas do cô m p u to do tem po de serviço, q u an d o então exige
o início razoável de prova m aterial.
A expressão “início razoável de prova m aterial” desdobra-se, pelo m enos, em
três partes: a) ser incipiente, dispensada a prova exaustiva; b) ser razoável, isto é,
ser acolhida pelo senso com um ; e c) ser m aterial, não se aceitando a apenas teste­
m unhai.

A lei não especifica a natureza desse início de prova, sua potencialidade ou


eficácia. Abre, p o r conseguinte, cam po a m uitas perspectivas. N ão fala em q u a n ti­
dade ou qualid ad e dos docum entos. Um , se eficiente, é suficiente; vários, m esm o
frágeis, na m esm a direção, são convincentes.
Q uem , p o r exem plo, no título de eleitor, certificado de reservista, certidão de
casam ento ou de n ascim ento dos filhos, declarou profissão da qual possui d ip lo ­
m a o u certificado (provas ind iv id u alm en te fracas), pressupõe-se ter exercido esse
m ister.

Se no com eço, m eio e fim de certo período ap resen to u prova de trabalho,


adm ite-se tê-lo p restado todo o lapso de tem po.

C urso de D ireito P revidf.nciArio


T o m o I I I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
1111
A Resolução CD/DNPS n. 69/1968 (in Proc. MTPS n. 357.121/1967) concluiu
pela im prescindibilidade desse indício, m esm o em se tratando de justificações o p e­
radas no P oder Judiciário.
O Parecer CJ/MTPS n. 83/1972 (in Proc. MTPS n. 120.104/1969) exige início
para justificação adm inistrativa.
M ediante o Parecer CJ/INPS n. 01/1983, a autarquia federal dispensou o início
para aban d o n o do lar na área rural (in Circ. 1NPS n. 601.005.0/111/1983).
A Portaria MPAS n. 3.329/1984 exigia justificação adm inistrativa diante de
certidões de nascim ento possivelm ente falsas.
1540. P o ssib ilid ad e de re c u rso — Reza o art. 147 do RPS: ''N ão caberá re­
curso da decisão da au to rid ad e com petente do In stitu to N acional do Seguro Social
que considere eficaz ou ineficaz a justificação ad m inistrativa”.
A im possibilidade de du p lo grau de ju risd ição da justificação adm inistrativa
(caber recurso à JR ou à CAj), estaria m ais bem situada na lei, dada a sua im portância.
Em bora concessão da adm inistração, o dispositivo contraria o am plo direito de
defesa.
Na verdade, o reexam e acontece no bojo do pedido de benefício, negado
qu ando o segurado te n ta r evidenciar o fato por m eio de justificação adm inistrativa.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1112 W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
Capítulo CLIV

P e d id o de B e n e f íc io

1541. Inicio do expediente. 1542. Numeração e protocolo. 1543. Exa­


S u m á rio :
me preambular. 1544. Diligência ou pesquisa. 1545. Síntese da análise. 1546.
Quantificação do valor. 1547. Emissão da comunicação. 1548. Conferência da
concessão. 1549. Primeiro pagamento. 1550. Siglas utilizadas.

A ten d er à finalidade da previdência social, vale dizer, en c am in h ar a instrução


do pedido de benefícios de segurados ou dependentes, é a mais com um atividade da
au tarq u ia gestora. Os passos do expediente in tern o são caracterizados pela singe­
leza, padronização e inform atização.
Q uando configurada um a negativa, eles se tornam procedim entos contencio­
sos em que, m uitas vezes, são discutidas questões am plas e com plexas próprias da
proteção social.
A solicitação da prestação é feita ju n to ao INSS. Não pode o segurado pedir
o benefício d iretam en te ao P oder Ju d iciário (acórdão da l ã Turm a do TRF da 5-
Região, na Apelação Cível n. 73.878/SE, Proc. n. 1995.05.01805-3, de 30.5.1995,
em que foi relato r o Ju iz Castro Meira, in RPS n, 192/996).
Se o au to r pede diferentes benefícios, alternativam ente, concede-se o devido.
1541. In ício do ex p e d ie n te — Sejam os previdenciários o u assistenciários
os benefícios de pagam ento co n tin u ad o , eles com eçam com a iniciativa do b en e­
ficiário. A figura da concessão espontânea é rara, cabível q u an d o o segurado não
possa requerer o benefício. A inform ação do INSS p o r carta de que h á o direito à
ap o sen tad o ria p o r idade, iniciada em 2010, reclam a a volição do segurado.
Som ente o abono anual dispensa requerim ento. Igualm ente, em razão do
m ecanism o de p ag am ento, em princípio, dele não se cogita em relação ao sa-
lãrio-fam ília e, à exceção da dom éstica e segurada especial, da m esm a form a o
salário-m aternidade. Em algum caso, com o antecipado, p o r ação do INSS, o au x í­
lio-doença do incapaz de solicitá-lo.
O pera-se o pedido m ediante re q u erim en to , conform e im presso padronizado
pela autarquia, sem p rejuízo de o interessado pretendê-lo p o r petição inicial, se
esta co n tiv er os d ad o s essenciais contem plados n o form ulário oficial.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I I — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1 1 1
O s claros a serem preenchidos são m uito intuitivos, reduzidos às inform ações
m ínim as necessárias: a) tipo do benefício (às vezes bastando assinalar u m x na
q uadrícula p ró p ria); b) sexo; c) no m e e endereço do titular; d) nú m ero do PIS-
-PASEP e do CPF; e) tipo de filiação (v. g., em pregado ou co n trib u in te individual);
f) data do n ascim ento; g) n ú m ero de dependentes; h) d o cu m en to de inscrição
(CTPS); i) se exerce o u tra atividade; j) conta corrente na agência bancária; e k)
data e assinatura.
Fazem parte in tegrante do pedido os d o cu m en to s com uns a todos eles: 1)
requ erim en to em im presso-padrão fornecido pelo INSS; 2) relação de salários de
contribuição do p erío d o básico de cálculo, aliás, não exigido se co n star do CNIS;
3) C artão de Inscrição de C o n trib u in te Individual; 4) d o cu m en to de identidade; 5)
prova de endereço (geralm ente feita com a conta dc luz); 6) procuração; 7) prova
do tem po de serviço e de reco lh im en to das contribuições (CTPS, CP, CS, GPS,
carnês etc.); e 8) cartão do PIS-PASEP
Benefícios diferenciados, com o a aposentadoria especial ou a pensão p o r m orte,
reclam am papéis próprios (PPP, certidão de óbito, de casam ento e de nascim ento).
R ecom enda-se gu ardar xerox de todos esses docum entos.
1542, N u m eração e p ro to co lo — Os d o cu m en to s com p o n en tes do pedido
de benefício, enfeixados e capeados com o os autos de um processo, são reunidos e
entregues pessoalm ente nos órgãos locais do INSS ou nas agências da ECT.
São n u m erad o s seqüencialm ente e protocolados, ob ten d o o Protocolo de Be­
neficio — p d b . O req u erente recebe com provante da entrega dos papéis, com data
e assin atu ra do serv id or do INSS.
A data do p ro tocolo é a Data de E ntrada do R equerim ento — DER, com vá­
rias finalidades práticas e jurídicas. Presente a hipótese do protocolo provisório,
é im p o rtan te gu ard ar o com provante pertinente. N ão podendo haver recusa no
recebim ento dos d o cu m entos, p o r estarem incom pletos, é em itido o provisório; o
prazo de 45 dias previsto na Lei n. 8.213/1991 conta-se do definitivo.
A figura do agendam ento, que é bem recebida por todos, não pode afetar o
direito dos beneficiários. Assim, de posse dos d o cu m en to s necessários, se o titu ­
lar pro cu ra o INSS em um prim eiro dia e este agenda o seu aten d im en to para um
segundo dia, ainda que a data do protocolo do pedido possa se d ar nesse segundo
dia, a DIB deve ser a do p rim eiro dia.
1543. Exam e p re a m b u la r — Os d o cu m en to s do pedido, catalogados em or­
dem , d u ran te a in stru ção são analisados p o r servidor especializado. Serão sopesa­
dos os requisitos básicos da concessão: a) qualidade de segurado; b) período de
carência; e c) evento d eterm inante.
Em se tratan d o de benefícios p o r incapacidade, esta será verificada adiante.
O prin cip al requisito é a contribuição, isto é, o tem po de serviço; ele deter­
m ina a q ualidade de segurado, o período de carência, o fator previdenciário e os
percentuais aplicáveis ao benefício.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1114 W la d im ir N o v a e s M a rfin e z
F altando algum a prova ou docum ento, será com unicado p o r escrito ao titu lar
do direito ou reclam ado q u an d o de sua volta ao Posto ou APS do INSS. Esses acrés­
cim os são designados co m u m en te p o r “exigência”.
1544. D iligência ou p e sq u isa — P or vezes, a exigência terá de ser verificada
in loco e, p ara isso, o INSS com anda a ida de servidor ou requisitará a presença de
A uditor-Fiscal. O p ro cedim ento ficará paralisado ag uardando o cu m p rim en to da
pesquisa ou diligência.
N ada im pede o interessado de levar tais com provações ao P osto do INSS, para
o serv id o r o u A uditor-Fiscal constatar as inform ações, se a situação não im puser
ida ao local de trabalho.
Em raros casos, im por-se-á o exam e docum entoscópico ou grafotécnico, p ro ­
m ovido pelo INSS o u interessado.
A Resolução INSS n. 388/1996 define pesquisa externa com o “o serviço exter­
n o in eren te à elucidação de dúvidas e/ou verificação da d o cu m en tação apresentada
pelo beneficiário interessado, realizada p o r servidor especializado da linha do Se­
guro Social, p reviam ente designado”.
Se a verificação exigir exam e “da regularidade de inscrição dos períodos de
trabalho o u dos salários de contribuição inform ados, sem pre que a diligência im ­
plicar na verificação dos livros e o utros d o cu m en to s contábeis da em presa” será
em itida u m a RD.
1545. S ín tese da an álise — Prom ovida a in stru ção , isto é, ju n ta d o s todos os
d o cu m en to s necessários, chega a term o a análise procedim ental, ultim ada a cons­
tatação da p resença dos requisitos legais.
E ntão, so m en te d uas decisões são possíveis: a) indeferim ento; e b) concessão.
Se o benefício é negado, o in fo rm an te concluirá p o r d espacho e com andará a
em issão da C arta d e C om unicação do Indeferim ento, norm alm ente sobrevindo o
R ecurso O rd in ário àJR .
Na hip ó tese de concessão, dará início ao passo seguinte, o cálculo do valor da
renda m ensal inicial.
1546. Q u an tificação d o v alor — C om base nos dados fornecidos pelo segu­
rado ou p ro veniente do CNIS, conferidos in tern a m e n te , b em com o a posteriori e
um a vez reco n h ecid o s, são preenchidas p lanilhas para a DATAPREV d eterm in an d o
o cálculo da renda inicial.
São co n sid erad o s, de regra, os 80% m aiores salários de co n trib u ição desde
ju lh o de 1994. C orrigidos m ês a m ês, estim ando-se o salário de benefício. Em
seguida, calcula-se a renda inicial, a p artir do coeficiente do benefício aplicado ao
salário de benefício. N os dois casos, observados os lim ites m ínim os e m áxim os.
O s cálculos não são necessariam ente elaborados com base nas inform ações no
RSC ou do CNIS, pois n o caso do co n trib u in te individual consideram -se os carnês.
Q u an d o a base de cálculo está equivocada serã desprezada e su b stitu íd a pela deter­
m in ad a na lei. Daí, frequentem ente, advirem conflitos.

C urso dc D ireito P revidenciário


T om o / / / — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
1115
1547. E m issão da co m u n icação — São fornecidos dois d ocum entos oficiais:
a) M em ória de C álculo, em que expostos os dados principais do benefício; e b)
C arta de C om unicação da concessão. Com isso, encerra-se a parte operacional do
expediente da instrução.
1548. C o n ferên cia da co ncessão — Todo o expediente da concessão, p rin ci­
palm ente o direito, o tem po de serviço e o cálculo da renda inicial, são conferidos
sistem aticam ente n u m segundo exam e, p o r o u tro s servidores.
A perfeiçoado o expediente da concessão do benefício, encerra-se o procedi­
m ento com despacho form al m an dando-se arquivar os autos.
Além da revisão periódica (art. 69 do PCSS) o reexam e conta com a ajuda de
terceiros (DATAPREV, ECT, BB, TCU e FEBRABAN), nos term os da Portaria MPS
n. 132/1993.
1549. P rim eiro p ag am en to — C oletivam ente, um a vez definida a agência
da rede bancária inicia-se o pagam ento, processando-se a autorização, m ediante o
im presso A utorização para Pagam ento de Benefício — APB.
1550. Siglas u tiliz a d a s — As principais siglas utilizadas em im pressos do
INSS são as seguintes:
AAS — A testado de A fastam ento e Salários (su b stitu íd o pela RSC)
AIH — A testado de Internação H ospitalar
APB — A utorização de P agam ento de Benefício
AX-1 — Prim eiro Exam e do A uxílio-D oença
AX-n — E nésim o Exam e de A uxílio-D oença
CP — C arteira Profissional
CS — C arteira de Saúde
CPM — C onclusão da Perícia M édica
CREM — C om unicação de R esultado de Exam e M édico
CTPS — C arteira de Trabalho e Previdência Social
DAT — Dala do A fastam ento do Trabalho
DCB — D ata da Cessação do Benefício
DCI — Data da C essação (provisória) da Incapacidade
DDB — Data do D eferim ento do Benefício
DER — Data da E ntrada do R equerim ento (protocolo definitivo)
DIB — Data do Início do Benefício
D iC — Data do Início da C ontribuição
D1D — Dala do Início da Doença
DI1 — Data do Início da Incapacidade
D1P — Data do Início do Pagam ento

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1116 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
DN — Data do N ascim ento
DO — Data do Ó bito
DRE — Data da Realização do Exam e
ENCEM — E n cerram en to p o r N ão C om parecim ento a Exam e M édico
ENSE — E n cerram ento p o r N ão Satisfação de E xigências ou p o r desistência
FBM — Ficha de Benefício em M anutenção
FIA — F icha In dividual de A ntecedentes
ICM C — Indeferido p o r C onclusão M édica C ontrária
IFPC — Indeferido p o r Falta de P eríodo de C arência
1FTS — Indeferido p o r Falta de Tem po de Serviço
IPll — Indeferido p o r Inscrição Indevida
1PQS — Indeferido p o r Perda da Q ualidade de Segurado
MR — M ensalidade R eajustada
OL — Ó rgão Local
PBC — Período Básico de C álculo
PR — P edido de R econsideração
RBC — Relação de Benefícios C oncedidos
RD — R equisição de D iligência
RMI — R enda M ensal Inicial
RPA — Relação de P agam entos A utorizados
RSC — Relação de Salários de C ontribuição
SB — Salário de Benefício
SC — Salário de C ontribuição
SM — Salário M ínim o
SSC — Soma do s Salários de C ontribuição
TBC — Transferência de Benefício em fase de C oncessão
TBM — Transferência de Benefício em M anutenção
TCPS — Teto de C ontribuição para a Previdência Social
TS — Tem po de Serviço
TST — Tem po de Serviço Total

C urso pf . D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l

Capítulo CLV

R e v is ã o de C á lc u lo

S u m á rio : 1551. Recebimento da ciência. 1552. Estrutura da interposição. 1553.


C ausa petendí. 1554. Provas materiais. 1555. Recalculo da renda. 1556. Razões
e comprovações. 1557. Decisão favorável. 1558. Execução de atrasados. 1559.
Despacho indeferitório. 1560. Revisão de revisão.

C oncedido o benefício, o interessado (segurado ou dep en d en te) pode ficar


insatisfeito com o seu valor o u inconform ado com algum de seus fundam entos.
A insatisfação decorre do desconhecim ento do cálculo, de erro m aterial com etido
pela au tarq u ia o u do não reconhecim ento de algum dado co m ponente do direito
(com o o coeficiente defluente do tem po de serviço).
D entro do prazo legal, a q u alq u er tem po o titu lar pode em preender o reexa-
m e. Revisão de cálculo é espécie do gênero reconsideração de benefício; o d esc o n ­
forto p o d e estar cen trado em vários elem entos da operação m atem ática.
A Lei n. 9.528/1997 alterou a sistem ática an terio r e a tradição, estabelecendo:
“É de dez anos o prazo de decadência de todo e q u alq u er direito ou ação do seg u ra­
do ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a co n tar do dia
prim eiro do m ês seguinte ao do recebim ento da prim eira prestação ou, q u an d o for
o caso, do dia em que tom ar conhecim ento da decisão indeferitória definitiva no
âm bito adm inistrativo. Parágrafo único. Prescreve em cinco anos, a co n tar da data
em que deveriam ter sido pagas, toda e qualquer ação para haver prestações vencidas
ou quaisquer restituições ou diferenças devidas pela Previdência, salvo direito dos
m enores, incapazes e ausentes, na form a do C ódigo C ivil”.
1551. Recebimento da ciência— Recebida a com unicação da concessão, com
o pedido de revisão de cálculo p o r parte do beneficiário instala-se a contenciosi-
dade.
In strum entaliza-se p o r m eio de req u erim en to dirigido ao órgão concessor,
com a dem o n stração do alegado e, se for o caso, a ju n ta d a de novas provas.
O INSS usa im presso sim ples p adronizado, no m ais das vezes com pouco
espaço para m aiores explicitações, convindo aduzi-las em separado e até m esm o
com anexos ou m em oriais.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
1552. Estrutura da interposição — O pedido de reconsideração do cálculo
deve co n ter a identificação e a qualificação do autor, a espécie e o núm ero do bene­
fício deferido.
P articularidades necessárias para localizar o processo, n esta altu ra prestes a
ser arquivado. O req u erim en to será ju n ta d o aos autos, prosseguindo-se o feito.
A solicitação nào é (ainda) recurso. Por isso, d estinada a quem deferiu a pres­
tação. O d u p lo grau de jurisdição surgirá na fase seguinte, se não aten d id a a p re­
tensão do autor.
Inform ações m ín im as são: a) exposição das operações m atem áticas do INSS;
b) d esenvolvim ento dos núm eros e dados do autor; c) raciocínio a favor do o b ­
jetiv o do beneficiário; d) fu n d am en to legal da alegação; e e) ped id o de revisão
p ro p riam en te dito e de pagam ento de atrasados.
1553. Causa petendi — O requerim ento carece de fundam entação específica.
E m bora p o d en d o alegar o desconforto sem ap resen tar razões ju ríd icas, tal atitude
tornaria m ais difícil a circunscrição da área da controvérsia. M ãxim e em se tratando
de p en d ên cia relativa a direito e n ão a fatos, com o, p o r exem plo, n ào ter sido c o n ­
siderado certo p eríodo de trabalho, tido pelo solicitante com o legítim o.
C aracterizado equívoco m aterial, bastará ao requerente evidenciar aritm etica-
m ente o engano. Porém , se a pretensão inicial não foi atendida p o r interpretação
da n o rm a jurídica, cabem ponderações igualm ente ju ríd icas. M uitas vezes, com a
ju n ta d a de pareceres d outrinários.
M atéria su b stan tiva dá-se exem plo com o critério da proporcionalidade, para
alguns d evendo ser apenas m atem ático, enq u an to para nós não passa de m atem á-
tico-previdenciário. N esta hipótese, não há prova a ser feita, a discussão é p u ra ­
m ente técnico-jurídica.
C o m u m en te subsiste discussão com relação à distonia entre a expectaLiva do
segu rad o (c o n trib u iu sem pre pelo teto) e o dispositivo legal aplicado pelo INSS,
po u co restando à ad m inistração gestora. M esm o ad m itin d o a validade do desejado
não p o d e in terp re tar a lei e deve cu m p rir as determ inações o riu n d as das esferas
superiores. A in co n stitu cio n alid ad e do art. 29, § 2S, do PBPS é exem plo singelo.
1554. P rovas m ateria is — Se do processo inicial não constaram d ocum entos
com probatórios do atual pedido, urge ju n tá-lo s nesta oportunidade. Q uase sem pre,
sim ples reforço de prova. De certa form a, a interposição do ped id o e, às vezes, do
recurso su b seq u en te, prestam -se com o in stru ção do re q u erim en to do benefício.
Q uan d o certo período foi im pugnado, por insuficiência de prova, e o segurado
d isp u n h a de o u tra, em m elhores condições de convencim ento, é o ensejo para
exibi-la.
1555. R ecalculo da re n d a — É im prescindível o requerente fazer e exibir o
seu cálculo, d em o n stran d o a divergência com o m étodo utilizado pelo órgão con-
cessor.
Salientar o erro com etido, em certos casos, de sim ples digitação.

C u rs o d e D ire ito P revidenciário


T o m o 111 — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1119
É com um o INSS im p u g n ar progressões na escala de salários-base, apoiado
em in terpretação própria. N esse caso, o beneficiário deve opor-se a essa concepção
e ap resentar cálculo resultante de sua posição.
1556. R azões e com provações — As razões ju ríd icas e as com provações são
apreciadas in tern am en te, sopesando-se a validade do arrazoado. Q uando com plexa
a questão, deve ser ouvida a C o n su lto ria da P rocuradoria Local.
F req u en tem en te a revisão de cálculo tem que ver com discussões ju ríd icas
áridas sobre questõ es não m atem áticas. O utras vezes, a prova antes apresentada
era insuficiente, cabendo reforçá-la.
1557. D ecisão favorável — Se o requerente tem razão, sobrevêm o recalculo,
com apuração dos atrasados, e, se for o caso, o adicional da correção m onetária.
1558. E xecução d e a tra sa d o s — Ato co n tin u o será em itido com ando para
o pagam ento único, englobando-se as diferenças e a incorporação da vantagem
obtida nas m ensalidades subsequentes. O requerente será com unicado da decisão.
1559. D esp ach o in d e fe ritó rio — N a hipótese de não m odificação da co n ­
cessão inicial, o órgão gestor em itirá com unicação ao interessado com a recusa,
abrindo prazo de 30 dias para recurso àJR , indicando prazo e local para apresentação
deste.
1560. R evisão d e rev isão — A revisão pode ser total, aten d en d o toda a p re­
tensão exposta. M as, em alguns casos, é parcial, ficando aquém do desejado pelo
autor. Em grau de recurso, a apelação discutirá a parte não atendida, p reten d en d o
a revisão da revisão.

C urso d e D ir e ít o P r e v i d f .n c i a r i o

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CLVI

E x p e d ie n t e s V o l u n t á r io s

1561. Concepção mínima. 1562. Essência do encaminhamento. 1563.


S u m á rio :
instrução do pedido. 1564. Desenvolvimento interno. 1565. Tipos de requeri­
mentos. 1566. Distinção da consulta. 1567. Incidentes interlocutórios. 1568.
Resolução definitiva. 1569. Notificação da resposta. 1570. Cabimento do recurso.

O p o n d o -se d id aticam ente aos litigiosos (q u an d o h á busca da obrigação de dar


o u de fazer), em bora em m enor núm ero, subsistem pro ced im en to s ju n to à adm i­
nistração, ditos v oluntários. Neles, às vezes, são sopesadas prelim inares do direito,
tom adas m edidas cautelares, feitas indagações e prestadas inform ações, praticados
atos declaratõrios, definidas situações, procedidos en q u ad ram en to s, respondidas
co n su h as, enfim , ensejados atos pream bulares sem visar, im ediatam ente, provi­
dência de d ar ou de fazer (p o r exem plo, o pagam ento de benefício, a restituição de
co n trib u ição o u a obtenção de CN D ),
N ão se pode confundir, sob a ótica dessa separação didática, a definição quanto
à filiação de certa pessoa ten d o com o u m a conseqüência o pedido de benefício
calcado na referida filiação. F req u en tem en te, da decisão sobre tais questões não
cabem recursos; os atos são declaratõrios constitutivos de direitos.
1561. C o n cep ção m ín im a — E xpedientes ou p ro cedim entos voluntários são
req u erim en to s adm inistrativos, de iniciativa do interessado o u da p ró p ria ad m in is­
tração, m ediante os quais este tom a conhecim ento de soluções capazes de influenciar
o seu direito potencial, futuro o u m edialo.
Por sua n atureza não litigiosa não se cogita do co n trad itó rio . O titu lar apenas
solicita m anifestação do órgão gestor. Às vezes, sim ples orientação.
Variados, nem sem pre é fácil distinguir os voluntários dos contenciosos, m esm o
q u an d o o titu lar não estiver p reten d en d o ação de entregar, de fazer ou não fazer
p o r parte do INSS.
1562. E ssên cia do e n c a m in h a m e n to — Tal expediente inicia-se com solicita­
ção de inform ações do con trib u in te/b en eficiário da previdência social e encerra-se
com a resposta dada pela seguradora. Deseja o p ro n u n c ia m en to da adm inistração
sobre determ in ad a questão, co n su b stan cian d o a pretensão p o r m eio de pedido

C urso de D ireito P revidenciário


T o m o II I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1 1 2 1
form alizado posterior. Dá-se exem plo com prova de filiação, inscrição ou c o n tri­
buições em seu poder, sobre as quais possa pairar dúvida.
Trata-se de en cam in h am en to adm inistrativo declaratório e, em raros casos,
con stitu tiv o de direito. Tem, ao m esm o tem po, caráter de m edida cautelar e pedido
de inform ação.
1563. In stru ç ão d o p e d id o — A solicitação voluntária é encam inham ento
sim ples p or natureza. Na ausência de form ulário p adronizado é elaborado reque­
rim ento em que o interessado ded u z sua pretensão, depois de qualificar-se e expor
as dificuldades ao órgão gestor.
Em m uitas hipóteses subm eterá um d o cu m en to ou prova à análise do órgão
gestor; n o u tras, solicitará apreciação de m atéria ju ríd ica, convindo, q uando o caso,
oitiva da consultoria.
1564. D esen v o lv im ento in te rn o — Tom ando ciência da necessidade do re­
querente, o p ro cedim ento é in stru íd o à vista das norm as legais e das instruções
adm inistrativas, com m anifestações, despachos, cotas e pareceres.
C oncluído, é em itida a carta de com unicação com a resposta. Em seguida, é
arquivado o feito.
1565. T ipos de re q u e rim e n to s — São in úm eras as possibilidades de ações
voluntárias, m uitas das quais m escladas com pedidos efetivos. As principais são: a)
definição da filiação; b) tipo de segurado; c) en q u ad ram en to na escala de salários-
-base; d) caracterização de dependente; e) cálculo da conversão de tem po de serviço
especial em com um ; 0 autorização para proceder a recolhim ento duvidoso; g) m ani­
festação sobre a validade de docum ento; h) pedido de verificação de recolhim entos,
por parle de co n trib u in te individual; i) apuração de validade de d o cum ento; j)
verificação do en q u ad ram en to na escala de salários-base etc.
1566. D istin ção d a co n su lta — N ão se considera a consulta fiscal um p ro ­
cedim ento v o lu n tário , principalm ente em razão dos efeitos ju ríd ico s pretendidos,
em bora alguém possa q u erer co n su ltar a adm inistração, em lese, sem estar viven-
ciando situação concreta.
Por exem plo, g rupo de pessoas p reten d en d o criar cooperativa de trabalho e
desejando ap u rar as responsabilidades exacionais.
1567. In c id e n te s in te rlo c u tó rio s — Às vezes a solicitação reclam a exam e de
m atéria fática, com o verificação de situação ou docum ento. N outras oportunidades,
com o dito, em questões ju ríd icas, a in stru ção exige a oitiva da procuradoria.
1568. R esolução d efin itiv a — A decisão é o resultado do pedido. Trata-se de
ato adm inistrativo de relevante im portância, pois, de certa form a e em seus lim ites,
obriga o órgão gestor.
1569. N otificação d a re sp o sta — A solicitação feita pelo interessado deve ser
resp o n d id a form alm ente, p o r escrito.
1570. C ab im en to do re cu rso — De decisão em procedim ento voluntário,
exceto se previsto em norm a, não cabe recurso na esfera adm inistrativa. Se é um
fund am en to de prestação, o pretendente deve requerê-la, abrindo-se, então, am plo
cam po para a discussão.

C urso de D jr e it o P r e v id e n c iá r io

1122 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo CLVII

M o d a l id a d e s d e I m p u g n a ç õ e s

1571, Defesa de contribuinte. 1572. Apelação à JR ou à CAj. 1573.


S u m á r io :
Contrarrazões. 1574. Embargos decfaratórios. 1575. Recurso adesivo. 1576. Inter-
posição voluntária e obrigatória. 1577. Solicitação de revisão. 1578. Agravo de
instrumento. 1579. Embargos infringenles. 1580. Conteúdo da inconformidade.

No contencioso adm inistrativo cabem várias m anifestações de inconform idade,


com caráter de recurso de apelação, a m aioria das reclam ações designadas com o
Recurso O rd in ário e R ecurso Especial e um rem édio ju ríd ico cham ado de Revisão
de Ofício, em term os da P ortaria MPS n. 548/2011. Tam bém é possível ingressar
com ped id o in o m in ado assem elhado aos Em bargos D eclaratórios do CPC, visando
ao esclarecim ento das decisões. Na verdade, até m esm o certo Agravo de In stru ­
m ento, viável q u an d o a JR se recusa a fazer su b ir recurso de sua decisão à CAj.
1571. D efesa d e co n trib u in te — Defesa é ato de insatisfação do sujeito passiv
em m atéria de contribuição (NL), m ulta (AI) e exigência de acréscim os legais (DCG)
ou desconstituição de entidade beneficente de assistência social (IF). Diante do prazo
cu rto (30 dias), ela é contestação sum ária do procedim ento fiscal, dirigida à RFB.
N o M inistério da F azenda, designada com o im pugnação, a ser apresentada até
30 dias, sob o nom e de Recurso Voluntário.
Prevista n o art. 126 do PBPS, constitui-se em direito subjetivo do co n trib u in te
notificado, au tu ad o ou inform ado, praticam ente com as m esm as características do
recurso. C om seu protocolo tem pestivo, a cobrança fica subjudice.
Suas n u an ç as p rin cip ais são: a) destinatário; b) qualificação do defendente; c)
identificação do ato im pugnado com n ú m ero e data; d) razões ju ríd icas; e) provas
d o cu m en tais do alegado; e 0 assin atu ra d o responsável.
Deve ser p ro tocolada no endereço indicado no ato defendido, ou seja, órgão
local do INSS ou do M inistério da Fazenda.
Classifica-se com o total, q u an d o o co n trib u in te contesta p o r inteiro a co ­
brança ou parcial, se im pugna apenas parte da área d a controvérsia. N esta últim a
circunstância, o defendente en co n trará dificuldade para obtenção da CND, pois há
dívida logicam ente adm itida.

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o ÍÍ7 — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
Se a N otificação Fiscal é com plexa ou d o cu m en talm en te vultosa, o c o n tri­
buin te p o d e req u erer p rorrogação do prazo. N ão prevista especificam ente essa
dilatação, protestará na defesa pela ju n ta d a de m em orial ou reservará os principais
argum entos e provas p o r ocasião do recurso a u m a das seis CAj.
A im pugnação, dita instauradora da fase litigiosa do procedim ento, é prevista
no art. 14 do Decreto n. 70.235/1972. Deve ser protocolada no órgão preparador,
m encionando: “I — a autoridade julgadora a quem é dirigida; 11 — A qualificação
do im pugnante; 111 — os m otivos de fato e de direito em que se fundam enta, os
pon to s de discordância e as razões e provas que possuir; IV — as diligências ou
perícias que o im p u g n ante pretenda sejam efetuadas, expostos os m otivos que as
justifiquem com a form ulação dos quesitos referentes aos exam es desejados, assim
com o, no caso de perícia o nom e, o endereço e a qualificação profissional do seu
p e rito ” (art. 16 do Decreto n. 70.235/1972, na redação dada pela Lei n. 8.748/1993).
1572. Apelação à JR ou à CAj — Da decisão do INSS, em m atéria de benefício,
m elh o r dizendo, q u an d o nào referente d iretam en te à arrecadação, conform e os
arts. 29 e 30 da P ortaria MPS n. 323/2007, cabe inlerposição de insatisfação àJR
(R ecurso O rdinário). P o steriorm ente, em razão da decisão desta, conform e o caso,
recurso à CAj (R ecurso Especial).
Em virtude de decisão p ertin e n te à arrecadação, cabe recurso a um CARF do
M inistério da Fazenda.
Esse recurso de apelação inicia o co n tra d itó rio adm inistrativo e m antém o
débito subjudice.
Em m atéria de financiam ento, sua e stru tu ra form al é assem elhada à da defesa,
com p reen d en d o os m esm os elem entos básicos. Preferivelm ente — tendo em vista
ser protocolada na RFB — convém capeã-la (abri-la com ped id o de reconsideração
da decisão recorrida e solicitação de encam in h am en to ao prim eiro nível),
D iscutia-se sobre a possibilidade de, não ten d o sido protocolada a defesa e,
consequentem ente, m antida a lavratura da Notificação Fiscal, ser possível o recurso
de prim eiro grau ou se o procedim ento contencioso adm inistrativo se encerraria
sobrevindo im ediatam ente a inscrição da dívida. Q uando fixa os percentuais da
m ulta autom ática, en passant, a Lei n. 9.528/1997, alteran d o arl. 35 da Lei n.
8.212/1991, no inciso II, c, diz: “vinte p o r cento, após a apresentação de recurso
desde q u e an teced id o de defesa, se am bos tem pestivos, até 15 dias da ciência da
decisão do C onselho de R ecursos da P revidência Social — CRPS”.
O direito de defesa está contem plado n o art. 243, § 29, do RPS. Por sua vez:
“D ecorrido esse prazo, ser autom aticam ente declarada a revelia, considerado, de
plano, procedente o lançam ento, perm anecendo o processo no órgão jurisdicíonanle,
pelo prazo de trin ta dias, para cobrança am igável” (§ 3Q).
Não obsta o recurso e este seria ou nào apreciado pelo CRPS.
Antônio Bizerra Machado, escrevendo em 1980, e à luz da regulam entação
vigente, argum entava não ser possível o recurso e pergunta: “Mas, de q u e decisão

C urso de D ir e it o P r e v ip e n c iá r io

1124 W la d im ir N o v a es M a r lin e z
reco rrer?”. N ão ap resentada defesa ou fora do prazo seria anuência ( “Do in stitu to
da defesa e do recurso no levantam ento de débito prev id en ciário ”, in Supl. Trab.
LTr n. 76/1980).
As P ortarias MPS ns. 712/1993 e 713/1993 em várias o p o rtu n id ad es registram :
“A d m itir ou não recurso é prerrogativa do CRPS, sendo vedado a q u alq u er órgão
do INSS recu sar o seu recebim ento ou sustar-lhe o an d a m e n to ”. Diz o art. 23, I,
b, relacionando os elem entos indispensáveis à in stru ção dos processos de recurso
relativos a contribuições: “defesa do co n trib u in te, se apresentada, acom panhada,
q u an d o for o caso, da prova de representação legal”, desfazendo a dúvida a favor
da possibilidade do recurso sem defesa.
N o M inistério da F azenda a insatisfação tom a o nom e de recurso hierárquico
se im p etrad o pela ad m inistração (de ofício), designando-se com o recurso especial
o dirigido à CSRF de decisão de u m dos CARF, seja ele v oluntário (c o n trib u in te)
o u de ofício (repartição), no prazo de 30 dias.
1573. C o n tra rra z õ e s— A presentado recurso àJR , à CAj, o u ao CP (art. 66, XIV,
da Portaria MPS n. 712/1993), a parte contrária tem direito de tom ar conhecim ento
dos seus term os. Para isso será notificada. Q uerendo, opor-se-ã aos fundam entos da
apelação, subindo am bas, razões e contrarrazões, ao ente ju d ican te superior.
O ex p ed ien te das contrarrazões não se confunde com o recurso adesivo. Nele,
o co n trarrazo an te pode contestar toda a alegação da parte contrária; no recurso
adesivo co n trad ita apenas a parte sucum bida.
Trata-se de faculdade e sem ela os autos sobem ao ju ízo ad quem.
No M inistério da Fazenda, designada com o contra-alegações, o m esm o sucede.
1574. E m bargos d e c la ra tó rio s — Em seu art. 53, dizia a P ortaria MPS
n. 713/1993: “Q u an d o o órgão ou au to rid ad e a qu em caiba executar o julg ad o da
JR, CAj ou do C onselho Pleno tiver dúvidas sobre a m atéria de sua execução, in clu ­
sive p o r obscu rid ad e ou am bigüidade do texto, poderá solicitar ao órgão p rolator
os esclarecim entos necessários”.
A evidência, a solicitação tem natureza de em bargos declaratórios e a ser a ten ­
dida pelo ente p ro lato r da decisão.
P ena essa antiga disposição ter-se esquecido dos segurados e contribuintes.
Tendo em vista a am pla possibilidade de revisão, ressalta a possibilidade destes
interessados, insp irados no CPC, solicitarem inform ações sobre o co n teú d o da
decisão do INSS o u acórdão da JR, CAj ou CR
As explicações far-se-ão p o r m eio de com unicação apensada aos autos e, se for
o caso (d ian te da im p ortância da alteração prom ovida), m ediante o refazim ento do
teor do acórdão, con tando-se, novam ente, o prazo para eventual recurso.
A tualm ente o art. 58 da Portaria MPS n. 323/2007 diz: “C aberá em bargos
quando existir no acórdão obscuridade, am bigüidade ou contradição entre a decisão
e os seus fu n d am en to s ou q u an d o for om itido p o n to sobre o qual deveria p ro n u n ­
ciar-se o órgão ju lg a d o r”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1125
1575. R ecurso ad esivo — Q uando a decisão da lin h a recursal dá provim ento
parcial a m anifestação de inconform idade do beneficiário, ele pode recorrer em
relação à parte não atendida.
Da m esm a forma, o INSS e a RFB estão autorizados a opor-se à fração atendida.
Os dois recursos, ditos adesivos, sobem à CAj ou CSRF para apreciação e
julg am en to .
1576. In te rp o siç ã o v o lu n tá ria e o b rig ató ria — Os recursos, p o r parte do
beneficiário ou co n trib u in te, são necessariam ente voluntários. Isto é, in terp o sto s
se assim essas partes desejarem .
A adm inistração não dispõe dessa opção. Subsiste recurso obrigatório nas
seguintes hipóteses; a) declarar indevida contribuição; b) reduzir ou relevar m ulta
fiscal; c) au to rizar restituição ou com pensação; e d) indeferir solicitação fiscal de
cancelam ento de isenção.
1577. S olicitação de revisão — Estar a adm inistração autorizada a reapreciar
os seus atos, além de prática inteligente, é m edida salu tar cu m p rid o ra do princípio
da econom ia processual. As duas n orm as ad m inistrativas estão povoadas de precei­
tos sobre o lem a, n o s diferentes patam ares (prim eiro nível e três graus ju d ic a n te s ).
A q u alq u er tem po, o INSS reexam ina a decisão tom ada ab initio, da m esm a form a
pod en d o fazê-lo os entes da linha recursal e até sua cúspide (arl. 34 da Portaria
MPS n. 323/2007).
Segundo o art. 31, IX, da P ortaria MPS n. 71.2/1993, o P residente do CRPS
era com etido de au to rid ade para “reexam inar processos que co n ten h am erros m a­
teriais e falhas de n atureza substantiva, q u an d o inequívoco o direito da parte, para
reapreciação p o r p arte do INSS, ou novo ju lg am en to pelas JR e CAj”. Tam bém
podia ser suscitada a avocatória (inciso X) e rever suas decisões (XIV), todo tem po
ditas “p ró p ria s”.
O CP tin h a faculdade para “em itir e rever resoluções e prejulgados, editando
as respectivas decisões” (art. 32, VII).
As CAj revisariam suas decisões (art. 34, III) e seu presidente podia “corrigir
erro m aterial com etido pela C âm ara” (XVIII).
Todas as JRs tinham liberdade para reconsiderar as suas decisões (art. 36, II).
A Portaria MPS n. 713/1993 contem plava todo u m C apítulo VII — Da Revisão
(arts. 44/51), em que cuidava do seu cabim ento, revisão p o r iniciativa do INSS, da
Secretaria de Previdência Social e do interessado, bem com o o p rocedim ento do
CRPS.
A P ortaria MPAS n. 3.379/1996 alterou a redação do RI do INSS. Seu art. 143
autorizava “rever de ofício decisões de autoridade su b ordinada que restitua co n tri­
buições recolhidas in d ev id am en te” (inciso VI).
No inciso VII: “rever de ofício decisão de autoridade su b o rd in ad a que declare
indevida co n trib u ição o u o u tra im portância ap u rad a pela Fiscalização, reduza ou
releve acréscim os legais ou m ulta aplicada p o r infração à legislação previdenciária
(S u p erintendências E staduais classificadas com o categorias C e D )”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1126 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Toda a m atéria que diz respeito à revisão adm inistrativa está atu alm en te co n ­
solidada n o s art. 60 (Revisão de O fício), arts. 6 Í/6 2 (U niform ização em Tese da
Ju risp ru d ê n cia) e P edido de U niform ização de Ju risp ru d ê n cia — PUJ (art. 63),
m atéria am p lam en te desenvolvida adiante em capítulos próprios.
1578. A gravo d e in s tru m e n to — Tendo em vista o art. 34 da Portaria MPS n.
7 1 2 /f9 9 3 , o arl. 2Q da P ortaria CRPS n. 19/1996, dizia só ser possível a subida de
recurso para a CAj “q uando a decisão recorrida h ouver infringido lei, regulam ento,
en u n ciad o , o u ato n orm ativo m inisterial ou que divergir de decisão de C âm ara
de Ju lg am en to , excepcionada a com petência do C onselho Pleno. Parágrafo único.
Aplica-se o disposto no caput deste artigo aos casos em que a decisão recorrida não
ten h a sido p o r u n a n im id a d e ”.
Mais ad ian te, a Portaria MPAS n. 3.697/1996 determ inava: “Da decisão da JR,
referente a assu n to de interesse dos segurados e beneficiários cabe recurso para
u m a das C âm aras de Ju lg am en to — CAj/ CRPS, exceto q u an d o se tratar de m atéria
ab rangida pela alçada ou q uando não h o u v er infringência de lei, en u nciado ou ato
n o rm ativ o m in isterial, casos em que o P residente da JR, p o r despacho, decidirá
lim in arm en te”.
L im itavam -se as hipóteses de cabim ento, excluindo a divergência das CAj e a
u n an im id ad e da decisão.
O preceito é polêm ico, am plia o subjetivism o dos ju lg ad o s e é destinado
a gerar conflitos entre os recorrentes e os órgãos ju d ican tes. No m ais das vezes, a
área da controvérsia consiste, exatam ente, na infringência de norm a. Se a JR e n ­
ten d eu de certa form a, o polo perd ed o r não oblerá efeito devolutivo assegurado.
D ificilm ente será aplicada a parte final do dispositivo, pois não existe estru tu ra de
divulgação dos acórdãos das CAj.
O p rescrito no art. 79 não era prático. De nada adiantava o art. 3e dizer: “O
recorrente que não se conform ar com o despacho q u e in ad m itir o recurso poderá
fo rm u lar ped id o de reconsideração, no prazo de quinze (15) dias, q u e será deci­
dido pelas au to rid ad es m encionadas no art. 3g da presente P ortaria” (P residente
d a J R o u Turm a) — raram ente o P residente, participando do ju lg am en to , voltará
atrás. A tradição ju ríd ica processual m an d a a CAj exam inar acolhida do recurso e
não o en te p ro lato r da decisão com batida.
1579. E m bargos in frin g en te s — O C onselho Pleno está previsto n o C apítulo
II — Da E stru tu ra O rganizacional (art. 2a) da Portaria MPS n. 323/2007 e sua
com petência, no art. 154, l/III.
Sua decisão cham a-se en unciado, q u an d o decide sobre processo.
As funções básicas do CP são institucionais e adm inistrativas. Sua principal
atividade é:
“I — uniform izar, em tese, a ju risp ru d ê n c ia adm inistrativa previdenciária,
m ediante a em issão de enunciados;
II — dirim ir, em caso concreto, as divergências de e n ten d im en to ju risp ru -
dencial en tre as C âm aras de Ju lgam ento, p o r provocação de q u alq u er C onselheiro

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r ío

T om o III — D i r e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1127


integrante das C âm aras ou da parte, p o r m eio de pedido de uniform ização de ju ris ­
prudência, reform ando o u m an ten d o a decisão originária, m ediante a em issão de
resolução; e
III — d irim ir acerca da perda de m andato de C onselheiro, nos cargos em que
o Presidente do CRPS entender necessário subm eter a decisão ao colegiado” (art. 15,
I/III).
Em 1994, com a alteração procedida pelo D ecreto n. 656/1992 no D ecreto n.
612/1992 (arts. 115/116), não m ais existe recurso de apelação de decisão da CAj
ao C onselho Pleno.
Até sobrevir o D ecreto n. 944/1993, os recursos de decisões das JRPS eram
julgados pela 9s JRCPS. C om o D ecreto n. 1.514/1995, passaram à com petência das
CAj (acórdão de 17.6.1996, da 2- Turma do TFR da l ã Região, na Apelação Cível
em MS n. 1996.01.05091-4/BA, Rei. Ju iz Jirair Aram M egueríam, in RPS 199/542).
1580. C o n teú d o d a in co rfo m id ad e — Os recursos reclam am form alm ente al­
guns requisitos m ínim os. A evidência, os principais são: a fundam entação e a prova
do alegado. Eles po d em ser divididos em dois grupos, p ertin en tes à arrecadação de
contribuições (p rin cip alm ente débito) e referentes a benefícios.
Os p rim eiros são: a) NL; b) AI; c) CDG e sua com unicação; d) pedido de
recurso; e) co ntrarrazões; f) despacho do reexam e, por parte do INSS; e g) provas.
Os segundos são: a) processo inicial do benefício (requerim ento, AAS ou RSC,
prova do tem po de serviço, decisão do INSS, com unicação dessa decisão etc.);
b) pedido de recurso; c) reexam e da m atéria pelo INSS; d) contrarrazões; e) provas.
In terp o sto s p o r m andatário, a procuração deverá ser ju n ta d a aos autos.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1128 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CLVIII

M a n d a d o d e P r o c e d im e n t o F isc a l

1581. Conceito básico. 1582. Escopo do procedimento. 1583. Fontes


S u m á r io :
formais. 1584. Período de validade. 1585. Natureza jurídica. 1586. Data da
extinção. 1587. Verificação da autenticidade. 1588. Tipos de mandados. 1589.
Conteúdo mínimo. 1590. Validade do documento.

D esde 22.11.1999, para q u e sobrevenha a fiscalização de um co n trib u in te é


im prescindível que a ação fiscal seja com andada pela RFB, m ediante um in stru ­
m en to escrito em itido pela au to rid ad e co m p eten te, designado com o M andado e
P ro cedim ento Fiscal — MPF (art. 6S da P ortaria RFB n. 1.614/2000).
A inda que a au to rid ad e fazendária tenha co n h ecim en to da existência de u m
possível d ébito securitário (ou de o utra natureza), im põe-se u m com ando formal
para o p eracio n alizar a apreensão dos fatos geradores e superveniência do lan ça­
m ento fiscal.
C om o largo em prego da inform ática e a possibilidade de o fato gerador ser
ap u rad o a p a rtir de inform ações prestadas pelo co n trib u in te p o r interm édio da
GF1P, a utilização dessa autorização se to rn a m ais evidente.
1581. C o n ceito básico — A ação da A uditoria Fiscal prom ovida pela RFB
cercada de cuidados jurídicos elem entares em relação ao sujeito passivo da obrigação
fiscal, devendo observar vários princípios de D ireito A dm inistrativo e D ireito Tri­
b u tário , referentes ao lançam ento fiscal.
Para q u e ela seja form alm ente considerada pela au to rid ad e, iniciada e em ­
p reen d id a, sem perda da n atu ra l in d ep en d ên cia e au to n o m ia do A uditor-Fiscal, é
p reciso u m a decisão b urocrática d en tro da A dm inistração P ública do M inistério da
F azenda, u m a resolução vinculada ao p lan ejam en to fiscal e obrigatória no que diz
respeito a d eterm in ad o co n trib u in te ou fato gerador.
Um A uditor-Fiscal não tem atribuição para esp o n tan eam en te tom ar a inicia­
tiva de in iciar um a inspeção ou prorrogá-la, sem que seja form alm ente autorizado
pelo seu su p erio r hierárquico para tal m issão.

C urso de D ik e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II I — D i r e i t o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1129
N esse sentido, em 1999 foi criado um in stitu to técnico específico, o MPF, que
é u m a determ inação e autorização funcional para que seja procedida a fiscalização
de um a em presa ou para que se dê cu m p rim en to de um a diligência.
1582. E scopo d o p ro c e d im e n to — Além de um severo controle in tern o e
possibilidade de execução do P rogram a de P lanejam ento da Fiscalização, o MPF
obsta que sejam tentadas fiscalizações com o u tro s objetivos que não sejam os c o n ­
tidos nesse plan ejam en to adm inistrativo.
A classificação d o u trin ária desse controle in tern o não foi reconhecida pela re­
latora da 1- C âm ara do CCM F no acórdão n. 101.940.060, ju lg an d o q u e se trata de
u m ato prep arató rio indispensável ao exercício da fiscalização e, p o r conseguinte,
do lançam ento fiscal. Sua oposição é que não é um sim ples controle adm inistrativo,
m as u m preâm bulo legal da fiscalização e pode ser as duas coisas.
Dando cum prim ento à Portaria RFB n. 1.265/1999 (que trata do planejam ento
fiscal), com a em issão desse docum ento o superior hierárquico dos A uditores Fiscais
exercita o m ap eam en to dos co n trib u in tes, seleciona aqueles que devem ser fisca­
lizados inicialm ente, o rienta a ação fiscal para um a m elhor realização da receita
exacional.
1583. F o n te form al — A fonte form al q u e criou o MPF é a P ortaria RFB
n. 1.265, de 22.11.1999 (art. 2e). Ela foi alterada p o r sucessivas portarias m inis­
teriais. A tualm ente está em vigor a P ortaria RFB n. 4.066, de 2 de m aio de 2007.
Esses atos n o rm ativos descrevem um form ulário que praticam ente oferece
todos os elem entos para a configuração do procedim ento fiscal a ser iniciado.
1584. P erío d o d e v alid ad e — O MPF conhece dois prazos:
a) 120 dias para a fiscalização e
b) 60 dias para a diligência.
D iante do vulto de um a auditoria em and am en to , esse prazo pode ser pror­
rogado m ais de u m a vez, fato bastante com um . A norm a adm inistrativa silencia,
mas o ato de prorrogação, um novo MPF, deverá en u n c ia r a razão de ser da dilação
do prazo.
A inda que os CARF não tenham esse d o cu m en to com o fundam ental para a
fiscalização, Luís: Felipe considera que a prorrogação desse prazo sem um novo
MPF co n traria a legislação vigente ( “D ecurso do Prazo do M andado de P rocedi­
m ento Fiscal e Sua N u lid ad e”, in Jus Navigandi de 13.1.2009).
Com efeito, se a p ró p ria A dm inistração Pública, reco n hecendo-lhe a validade
in tro d u ziu esse m ecanism o, ele não pode ser m eio cum prido, cum prido em parte.
Para Roque Antonio Carrazzci e Eduardo Botíaílo, vencido o prazo ele não se prorroga
pelo d ecurso do tem po, acrescem haver a em issão de um M PF-C (“M andado de
P rocedim ento Fiscal e E sp o n tan eid ad e”, in RDDT n. 80/1996).
1585. N atu reza ju ríd ic a — O tem a ainda é polêm ico. Mas, aparentem ente
não haveria dúvidas de que o MPF é u m ato adm inistrativo pream bular da fisca­
lização, um a autorização e um a determ inação de tarefa funcional a ser executada

C urso df D ir e it o P k e v id e n c ia b io

1130 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
pelo A uditor-Fiscal. Logo, sem ele não seria possível a fiscalização de um a em presa
ainda que reco n h ecidam ente em débito.
Escrevendo para o FiscoSoft on Une Mary Elbe Queiroz d isco rd o u do e n te n d i­
m ento dos CCMF, q u e o tem com o sim ples controle b u ro crático e não integrante
do processo de fiscalização ( “O M andado de P rocedim ento Fiscal com o u m pressu­
posto de in stau ração e regularidade do P rocedim ento fiscal — N orm a O brigatória
e V in cu lan te”, co lh id o na in tern e t em 4/2007).
Fratar-se de um direito-dever.
D ireito p o rq u e a A dm inistração desfruta do p o d er estatal de polícia in stitu ­
cional de verificar o cu m p rim en to da legislação com vistas ã realização da receita
tributária.
Um dever, um a vez que diante do fato gerador ela tem a obrigação de prom over
essa verificação.
O contencioso adm inistrativo do MF tem entendido que um a Notificação Fiscal
não é an u lad a se o M PF não observou as form alidades in tern as, garantindo-se que
trata de um a ordem m eram ente burocrática dirigida a um servidor, ainda que se tenha
reflexos en tre os adm inistrados.
C o m en tan d o u m a P roposta de E nunciado do CSRF, que teria o MPF u m ins-
Lrumento de controle adm inistrativo e q u e om issões, incorreções ou observância
de n orm as não im plica em n u lid ad e de lançam ento, Stephan Rhode opôs-se a essa
pro p o sta p o r e n ten d e r que esse pro ced im en to adm inistrativo é u m p reâm bulo e
aperfeiçoador do fato de fiscalização e do lançam ento fiscal (“N ulidades do M an­
dado de P ro cedim ento Fiscal com afronta aos princípios da Legalidade, Am pla
Defesa e C o n trad itó rio ”, in site Edison Freitas de Siqueira — A dvogados).
Para o acórdão n. 106-14.374 da 6a C âm ara do então 1Q C onselho de C on­
trib u in tes no Proc. 10.120.006364/00-18, relatado p o r E dson C arlos F ernando,
é ato de co n tro le ad m inistrativo e não anularia os atos fiscais sub seq u en tes (in
RDTT n. 80 /1 9 9 6 ). O d escu m p rim en to do prazo não im plica n u lid ad e (A córdão
012 .0 5 .1 8 9 da l 5 Turm a da CSRF de 14.3.2005, no Proc. 10.746 00094.2001-93,
in RDDT n. 138/234). N ão é ato essencial (AC n. 107.08.991, da 7§ C âm ara do
1- CCM F de 15.4.2007). A carretaria sanções disciplinares, m as não nulidades, in
RDDT n. 151/230.
O endereço fiscal do co n trib u in te ser outro no MPF não anula o ato (RE n.
893.616/PR , relatado pela M inistra Eliana C alm on no Proc. 2006.22584-0, da 2ã
Turm a do STJ em 6.5.2008, in RDDT n. 155/130).
1586. D ala d a ex tin ção — O MPF extingue-se no seu prazo ou com a co n clu ­
são da au d ito ria. Se n ão for prorrogado e se im p u ser a co n tin u id ad e da fiscalização,
terá de ser em itido o utro MPF
1587. V erificação da a u te n tic id a d e — Se o co n trib u in te estiver em dúvida
q u an to ã validade de um MPF ou da p ró p ria fiscalização, ele pode co n su ltar o
Program a C o n su lta M andado de P rocedim ento Fiscal no site da Receita Federal
do Brasil.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o III — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l .1.131


1588. T ip o s d e m a n d a d o s — Seriam quatro tipos de MPF:
a) M PF-F — Fiscalização da em presa;
b) M PF-D — D iligência na em presa;
c) MPF-E — No caso de flagrante constatação de um contrabando, descam inho
ou infração que reclam a a ação fiscal im ediata.
A Portaria RFB n. 1.614/2000 fala num M PF-Ex para diligências.
1589. C o n teú d o m ín im o — Em seu art. 1- a p ortaria in tro d u to ra do MPF
configura o m ínim o que esse docu m en to deve conter:
a) N úm ero de identificação do MPE
b) Identificação do sujeito passivo da ação fiscal.
c) Tipo de ação fiscal (MPF-F, M PF-D ou M PF-E).
d) Prazo para a validade do docum ento.
e) N om e e m atrícula do AFRF executante.
0 N om e, telefone e endereço funcional do su p erio r hierárquico do AFRF
g) N om e, m atrícula e o registro de assinatura eletrônica da au to rid ad e outor-
gante do MPF.
1590. V alidade d o d o cu m en to — O MPF vale até o seu term o ou até a co n ­
clusão da fiscalização, se isso suceder antes. E xtinto esse prazo ele perde validade,
pode ser prorrogado indefinidam ente.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c ía r io

1132 W ii i d í m í r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo CLIX

P r o c e d im e n t o F isc a l

1591. Preceitos consultáveis. 1592. Sujeitos ativo e passivo. 1593.


S u m á r io :
Principais modalidades. 1594. Inicio, curso e extinção. 1595. Ônus da prova.
1596. Depósito recursal. 1597. Questões prejudiciais. 1598. Garantia constitu­
cional. 1599. Princípios constitucionais. 1600. Exame de constitucionalidade.

U m a das espécies do expediente adm inistrativo, especificam ente diz respeito


à operacio n alid ad e da arrecadação de contribuições e a verificação da regularidade
do su jeito passivo: é o processo fiscal. Até a unificação da receita previdenciária
com a Receita F ederal do Brasil (ex vi da Lei n. 11.457/2007), em razão das indivi­
d u alidades dos órgãos gestores, p raticam en te eram dois tipos im p u lsio n ad o s pelos
M inistérios da Previdência e da Fazenda.
N ão eram m u itas as diferenças; apenas subsistiam p eq u en as desigualdades
acidentais entre o trâm ite previdenciário e o fazendário. D istinção perceptível
referia-se às co n trib uições p atronais e às relativas aos trabalhadores, ao ente em ­
p re en d ed o r (INSS), à decadência e à prescrição de dez, em vez dos cinco anos do
CTN, ad o tad o s pelo M inistério da F azenda para a cotização securitária não d eri­
vada da folha de pagam ento. P rincipalm ente, em v irtude da n atu re za jurídica da
exação (trib u tária, para a m aioria dos trib u taristas, e co n trib u ição social, no ver
dos previdenciaristas).
E v entuais descom passos entre os dois m odelos in tern o s deviam -se à não u n i­
form ização norm ativa e distan ciam en to dos gestores; com o passar do tem po vão
se sep aran d o e ad q u irin d o m atizes pró p rio s. Dá-se exem plo singelo com a retirada
do defensor, q u an d o de su sten tação oral no então C onselho de C o n trib u in tes do
M inistério da F azenda, solução inexistente nas JR ou CAj do CRPS.
São n ítid a s algum as n u an ças da previdência social. C ertos in stitu to s, em razão
da evolução h istó rica e da p ró p ria natureza da exigência, dão sinais de sua espe­
cificidade, com o o cálculo da co n stru ção civil e a aferição com base em elem entos
indiciários. Sem serem relevantes a p o n to de justificar distinção didática, explicam ­
-se em virtude da coexistência das leis previdenciária e trib u tária, destoando-se
aqui e ah. O sim ples fato de alguém p o d er pagar co n tribuições relativas a períodos

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o III — D i r e i t o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1133
de q u aren ta ou 50 anos atrás, com certos acréscim os, enseja a tônica das diferenças
possíveis (Lei n. 9 .032/1995). E, é claro, a possibilidade de, m esm o após os prazos
daquelas form as extintivas da obrigação, antes citadas, com vistas em benefício,
o co n trib u in te p o d er sem pre cotizar. Sem falar na natureza constitucional de suas
leis básicas, se com plem entares ou não à C arta M agna, podendo, se posterior, um a
revogar a o utra (caso do prazo de dez anos da decadência e prescrição do PCSS em
face dos dois lustros do CTN ).
N essa área lim ítrofe, o D ireito Previdenciário sofre a decisiva influência do
D ireito Tributário, abeberando-se em várias de suas regras universais.
Não é difícil co n statar a praticam ente abúlica d o u trin a previdenciária a res­
peito. Domingos de Souza N ogueira Neto, um dos raros autores a se m anifestar sobre
o tem a, desenvolveu a in stru m en talid ad e do expediente adm inistrativo, avultando
a auto n o m ia securitária ('‘Ensaio para a efetividade do processo p revidenciário”, in
RPS 184/242). Antônio Bizerra Machado discorreu sobre a possibilidade de in te rp o ­
sição de recurso sem defesa ( “Do in stitu to da defesa e do recurso no levantam ento
de débito p rev id en ciário ”, in Supl. Trab. LTr 76/1980) e o nosso “Temas de Direito
P revidenciário P ro cedim ental”, in Rev. LTr n. 44/435.
Com o antecipado, o procedim ento fiscal previdenciário não era m u ito dife­
rente d o s dem ais (federal, estaduais ou m unicipais). Reduzia-se a co n ju n to de atos
form ais praticados pela adm inistração e ad m inistrado em oposição, reunião siste­
m atizada d o cu m en talm en te ordenada em autos, de iniciativa de u m ou de outro
dos polos, atendidos os p rin cíp io s da am pla defesa e co n trad itó rio , da publicidade
e im parcialidade, visando aperfeiçoar a exigibilidade exacional, definir a obrigação
fiscal, caracterizar o ato ilícito ou p ro m o v er a com posição de interesses entre os
dois sujeitos da relação jurídica.
Para Hugo de Brito Machado, o “processo adm inistrativo tributário é a série
ordenada de atos que tem p o r finalidade a apuração e a exigência do crédito tri­
butário, ou o oferecim ento de resposta à consulta sobre a aplicação da legislação
trib u tária” (“O Devido Processo Legal A dm inistrativo Tributário e o M andado de
Segurança”, in Processo A dm inistrativo Fiscal, São Paulo: Dialética, 1996. p. 73/90).
Segundo Galbino Fraga, citado p o r Marcos Maia Júnior ( “P eculiaridades e
controvérsias em to rn o do processo adm inistrativo fiscal em m atéria de c o n tri­
buições p revidenciárias”, in Processo A dm inistrativo Fiscal, São Paulo: Dialética,
1998, 3 a vol. p. 175), “o recurso adm inistrativo co n stitu i o m eio legal de que dis­
põe o particular, afetado em seus direitos ou interesses, p o r um determ inado ato
adm inistrativo, de o bter nos term os legais da autoridade adm inistrativa a revisão
do p ró p rio ato, a fim de que a m esm a autoridade o revogue, anule ou reform e, caso
ache com provada a ilegalidade o u a in o p o rtu n id ad e do a to ” ( “D erecho A dm inis­
trativ o ”, 7. ed., M éxico, 1958. p. 482),
1591. P receitos co n su ltáv eis — As fontes form ais do procedim ento fiscal são
co nstitu cio n ais (art. 5Q, LV) e infraconstitucionais. Até certo nível são com uns aos

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1134 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
dois m in istério s envolvidos (MPS e M F). O CPC vale para am bos e, em relação às
regras exacionais un iversais nele contidas, tam bém o CTN. As infraconstitucionais
podem ser elencadas p o r m inistério.
a) M inistério da Previdência Social: A p rin cip al fonte era o PCSS (Lei n.
8.212/1991), em seus arts. 30 (obrigações p rincipais), 32 (obrigações acessórias),
33 (arrecadação e fiscalização), 37 (N FLD ), 45 (decadência), 46 (prescrição), 89
(restitu ição ), 92 (m ulta fiscal), 93 (recursos) e 94 (fiscalização de terceiros).
As n o rm as adm inistrativas sobre an d am en to disciplinadas nas P ortarias MPS
ns. 712/1993 e 713/1993. S ubsidiariam ente, n o D ecreto n. 70.235/1972 e Leis ns.
6.830/1980, 8.748/1993 e 9.532/1997.
b) Ministério da Fazenda: De m odo geral, interessam o Decreto-lei n. 822/1969
(regras gerais), Lei n. 6.830/1980 e Lei n. 8.542/1992. Em especial, o Decreto n.
70.235/1972 e as Leis ns. 8.748/1993 e 9.532/1997. São válidas consultas aos Decretos
ns. 73.529/1974, 75.445/1975, 79.630/1977, 83.304/1979, 982/1993 e 1.346/1997.
E xplicitam ente, o fu n cionam ento dos CCM F e da CSRF, regidos pelas P orta­
rias MF ns. 537 (1Q C C M F), 538 (2g C C M F), 539 (3a CCM F) e 540 (CSRF), todas
de 1992.
A p artir da Lei n. 11.457/2007 e 11.941/2009 interessa o D ecreto n 70,235/1972
e a P ortaria RB n. 256/2009.
1592. S u jeito s ativo e p assivo — Sujeitos ativos, apenas Receita Federal do
Brasil. Os “terceiros” (SESC, SES1, SENAC, SENAI, SENAR, SENAT e SEST etc.)
não têm p erso n alid ade ju ríd ic a para isso; seus créditos aco m panham os da previ­
dência social (PCSS, art. 94).
S ujeitos passivos, os co n trib u in tes, isto é, a em presa, em pregador dom éstico,
proprietário de obra de construção civil e contribuinte individual. Em caso particular,
a Caixa E conôm ica F ederal (concurso de prognósticos) e os devedores, em relação
às fontes excepcionais previstas no art. 27 do PCSS.
Na linha recursal, os órgãos julgadores: Ju n ta de R ecursos, C âm aras de J u l­
gam ento e C onselho Pleno do CRPS, n o MPS e Delegacia, CARF, C âm ara Superior
de R ecursos Fiscais, no ME
1593. P rin cip ais m o d a lid a d e s — Na órbita do MPS, os prin cip ais processos
fiscais eram os seguintes: a) cobrança de contribuições (N FLD ); b) m u lta fiscal
(AI); c) D ébito C onfessado em GFIP (D C G ); d) L ançam ento de D ébito C onfes­
sado (LD C); e) co n sulta fiscal (C F) f) Inform ação Fiscal (1F) e g) restituição de
contribuições.
E m bora contenciosa, a solicitação de C ertidão N egativa de D ébito não é p ro ­
cesso fiscal, m as adm inistrativo com um . Da m esm a form a, a com pensação operada
nas guias de reco lh im ento ou o pedido de parcelam ento. Essas ações seguem os
preceitos do D ireito A dm inistrativo, p rin cip alm en te o direito de defesa e o co n ­
traditório.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o III — D ir e if o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1135
Nos term os da legislação então vigente, o and am en to do p rocedim ento fiscal
do INSS reclam ava depósito de valor correspondente à garantia da instância, no caso
de lavratura de A uto de Infração. A partir da M edida Provisória n. 1.521-31/1997
tam bém para o lançam ento fiscal (NI.). Q u ando exigido, o depósito ad m in istrati­
vo era sim ples, b astan d o o p reen ch im en to de guia distinta para isso e proceder ao
recolhim ento na rede bancária, m as tal garantia não existe mais.
N aquele tem po, q u an d o não efetuado o depósito do valor, o recurso era tido
com o deserto, questão p rejudicial ao andam ento, tropeçando no exam e de adm is­
sibilidade, a ser prom ovido p o r um a das seis CAj do CRPS.
O p rocedim ento ad m inistrativo relativo à consignação de pagam ento é área
fiscal. AbsLraindo a garantia de instância, acim a exam inada, reduz-se à volição do
c o n trib u in te de não co n co rd ar com o exigido, desejando d ep o sitar o valor e, com
isso, im pedir os acréscim os legais (juros e m u lta autom ática). Além de d em o n strar
boa vontade para com o Fisco.
Acolhida a p retensão p o r parte do INSS o u RFB, aguardar-se-á a solução adm i­
nistrativa da p en d ên cia; se favorável ao d epositante, operar-se-ã a devolução im e­
diata, providência não confundível com restituição ou com pensação (m odalidades
de repetição do in d ébito com outros pressu p o sto s e form alidades).
Na órbita do M inistério da Fazenda existem : a) A uto de Infração; b) Notificação
de L ançam ento; c) L ançam ento de D ébito C onfessado e d) D ébito C onfessado em
GFIP, bem com o p ro ced im entos de restituição e, neste caso, subm etidos às regras
particulares desenvolvidas no Decreto n. 70.235/1972, com a redação dada pela
Lei n. 8.748/1993.
1594. Início, cu rso e ex tin ção — O processo previdenciário fiscal relativo
à co n trib u ição dos trabalhadores inaugura-se com as notificações, aperfeiçoa-se
com a decisão da delegacia, percorre os órgãos de controle adm inistrativo e afinal,
q uan d o válida a exigência da exação ou im posição da m ulta, ou acréscim o legal,
desem boca na inscrição da dívida, prom ovida pela au tarq u ia em seu órgão local.
Todo o tem po, a RFB lem bra ao interessado a necessidade da quitação do débito,
m as, baldados os seus esforços, só lhe resta a cobrança executiva p o r m eio de ação
na Ju stiça Federal.
E ntre as várias q u estões teóricas, algum as com reflexos práticos e ju ríd ico s
(v. g., prescrição), posta-se a de saber q u an d o tem início a relação procedim ental,
assinaladam ente em m atéria de arrecadação e fiscalização e, especialm ente, n o to ­
cante ao pro ced im en to de cobrança de contribuições. Dar-se-ia com o L ançam ento
Fiscal ou com eçaria com a Decisão da Delegacia de Ju lg am en to da RFB?
A solução pressu p õ e exam e da natureza dos dois d o cu m en to s e da defesa
im petrada. E n q uanto, ou se não apresentada a defesa, não h á o co n trad itó rio e a
relação ju ríd ica não se aperfeiçoa. Se o co n trib u in te silencia, o prazo fica à sua dis­
posição e, vencido, tem -se caracterizada a renúncia, iniciando-se o procedim ento
adm inistrativo de cobrança. N esta últim a hipótese, a p artir da decisão, se im posta
pelas norm as in tern as e se dispensada, no term o do prazo de im pugnação.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1136 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Nessa m esm a linha de raciocínio Marcos Maia Júnior ( “A am p litu d e da defesa
no Processo A dm inistrativo T ributário e os aspectos ju ríd ic o s da D N ”, in Revista da
Proc. G eral do INSS, vol. 4, n. 2, de ju l./set. de 1997. p. 47/52), reclam ando m elhor
elaboração do d o cu m ento.
C o nfundem -se u m pouco as coisas, convindo sep arar a co n tenciosidade da
possibilidade de recorrer. A litigiosidade dá-se com o p rim eiro d o cu m en to , pois o
ato form al pode significar oposição de ideias. A linha recursal, en tretan to , in au g u ra­
-se com a decisão da Delegacia de Ju lg am en to da RFB.
Segundo o art. 14 do Decreto n. 70.235/1972, “a im pugnação da exigência
in stau ra a fase litigiosa do p ro c ed im en to ”.
1595. Ô n u s d a prova — No lançam ento fiscal e d u ra n te todo o trâm ite da
cobrança ad m in istrativa, quem suscita a hipótese de incidência e a faz em ergir dos
elem entos co n táb eis in tern o s da em presa ou a traz à realidade da luz da cognição
é o Fisco. Deve fazê-lo cercando-se de in ú m ero s cuidados e observando severas
regras de co m p o rtam ento.
S ed im entando a convicção da existência do fato gerador a p artir de elabo­
rações, freq u en tem en te, restando obrigado, nos autos, a fazer d em o n stração do
alegado com a ju n ta d a de provas e razões ju ríd ic a s com plexas (C T N , art. 142).
O ô n u s m aterial e form al do lançam ento é do A uditor-Fiscal.
A perfeiçoada e legitim ada a N otificação Fiscal, não elidida p o r q u alq u er causa
prejudicial o u erodida p o r nulidade, im procedência ou insubsistência, encerra-se
a obrigação in stru m en tal do A uditor-Fiscal de ap reen d er a obrigação exacional.
In terp o sta co ntestação, po d e a parte contrária, disco rd an d o dos term os da
Notificação Fiscal, im pugná-la. N ão obstante a proteção de diversos in stru m en to s
constitucionais onera-se com o dever de enfrentar a exigência fiscal. Tem a obrigação
de co n testar e ten tar provar o contrário.
1596. D ep ó sito re cu rsal — Q uestão aberta à discussão (até m esm o depois
de ex tin ta), dizia respeito à obrigatoriedade de o co n trib u in te g aran tir a instância
para p o d er opor-se ad m inistrativa ou ju d icialm en te à exigibilidade de co n trib u i­
ções sociais.
A Lei n. 8.870/1994 (alterando o art. 93 do PCSS) disp u n h a: “As ações ju d i­
ciais, inclusive cautelares, que tenham p o r objeto a discussão de débito para com
o INSS, serão, o b rig atoriam ente, precedidas do depósito p rep arató rio do valor do
m esm o, m o n etariam en te corrigido, até a data de efetivação, acrescido dos ju ro s,
m ulta de m ora e dem ais encargos. Parágrafo único. A p ro p o situ ra das ações previs­
tas neste artigo im porta em renúncia ao direito de recorrer na esfera adm inistrativa
e desistência do recurso in terp o sto ” (art. 19).
N o passado, p o r m eio do D ecreto n. 568/1992, a adm inistração já havia te n ­
tado a garantia de in stância adm inistrativa: “N os processos referentes a débito p re­
videnciário, a in terposição de recursos à J R será precedida de depósito atualizado,
acrescidos das com inações legais”.

C u r -So d c D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o III — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
O dispositivo, ao disciplinar a organização do CRPS, cuidava do recurso im ­
petrad o àquele órgão de decisão d asJR e, não, da defesa apresentada em razão de
decisão do INSS, ã m esm a JR.
Em n en h u m m o m ento, as N orm as de Procedim ento-T ram itação de R ecursos
A dm inistrativos (P ortaria MPS n. 713/1993) falaram da garantia de instância. Até
serem alteradas pela P ortaria MPAS n. 4.414/] 998 (art. 30).
A Portaria MPAS n. 412/1997 alterou o art. 24 da Portaria MPS n. 712/1993 e
ns. 12 e 22 da Portaria MPS n. 713/1973, deixando claro estar o INSS desobrigado
de d ar prosseguim ento ao recurso se não garantida a instância p o r depósito, em se
tratan d o de AI.
A in stituição (pelo D ecreto-lei n. 72/1966) e a extinção do depósito prévio
(pela Lei n. 6.309/1975) sem pre foram procedidas p o r m eio de lei ordinária, em
respeito ao p rin cíp io d a legalidade. Isto é, som ente o diplom a legal pode in stitu ir
esse ônus processual, o depósito adm inistrativo ou ju d icial do valor discutido.
A A dvocacia Geral da U nião, apreciando a ADIN n. 1.031-0/160, de 7.4.1994,
m en cio n an d o Celso Ribeiro Bastos e Democrito Ramos Reinaldo Filho, considerou o
referido depósito de acordo com a C arta M agna de 1988 (in RPS n. 161/392).
Até a M edida Provisória n. 1.621-30/1997, conform e a legislação vigente, so­
m ente os recursos relativos a A utos de Infração lavrados pelo INSS reclam avam ga­
rantia de instância, não obstante decisões do STF em m atéria de notificação fiscal.
Com a M edida Provisória n. 1.608-12/1998, a exigência de 30% do valor foi
estendida às NLFD. O recolhim ento se fazia p o r m eio da GRPS 3. Dessa form a a
defesa não im põe o depósito. O INSS en ten d eu de exigir a garantia de instância
apenas da pessoa ju ríd ica, dispensando-a da pessoa física (C ircular INSS/DAF n.
01-600.0/023/1998).
“Em q u alq u er caso, o recurso v o luntário som ente terá seguim ento se o re ­
co rren te o insLruir com prova do depósito do valor co rresp o n d en te a, no m ínim o,
trin ta p o r cento da exigência fiscal definida na decisão” (dizia o vetusto art. 33,
§ 29, do D ecreto n. 70.235/1972).
A d o u trin a discutia e se o p u n h a à necessidade desse depósito, tanto o adm i­
nistrativo q u an to o ju d icial. Este últim o, q uando representar o valor do débito com
os acréscim os legais, pode to rn a r im possível a defesa do contribuinte.
N ào sen d o definitivo o AI ou a NL, Valdir de Oliveira Rocha en ten d eu d es­
cabida a garantia em face do art. 5a, LV, da C onstituição F ederal ( “Invalidade de
Exigência de D epósito Recursal e P rep arató rio ”, in RPS 163/422). A ele se opôs
Meire Lúcia Gomes Monteiro (“A Q uestão do D epósito de G arantia Prévia nas vias
ad m inistrativa (m ultas) e judicial, na área da P revidência Social”, in RPS 163/463).
Defendendo a am plitude constitucional da defesa, Maria Marta Rufino Penteado
Gueller sustenta: “o interessado pode contestar o A uto de Infração com ação anula-
tória e pode ten tar não d ep o sitar com m andado de segurança (“D epósito recu rsal”,
in RPS 166/681).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1138 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
Antônio Carlos Polini e Francisco Antônio Zem Peralta rep ro d u zem acórdão da
3§ Furma do FFR de Brasília, n. 1991.01.10621-0/B A , de 25.2.1994, em que o dep ó ­
sito ad m in istrativ o foi considerado inconstitucional (“D epósito adm inistrativo ou
questão judicial. Exigência de depósito. Ilegalidade”, in Jo rn al do VII C ongresso
Brasileiro de P revidência Social, São Paulo: LFr, 1994. p. 37).
P rin cip alm en te relevando a regra da devolução do valor depositado, sem
m enção à rem u n eração do capital, Aroldo Comes de M atts opõe-se à exigibilidade
( “D epósito C om p u lsó rio com o pressuposto de A dm issibilidade de R ecurso A dm i­
nistrativ o ”, in RDDF n. 32/7).
E xam inando m atéria assem elhada, m as não idêntica, pois os valores são tabe­
lados e factíveis, no D ireito do Frabalho, em razão da Lei n. 8.542/1992, diversos
ju slab o ristas se m anifestaram . Para Eduardo Gabriel Saad é n itid am en te in co n s­
titu cio n al ( “O d epósito ju d icial e o duplo grau de ju risd iç ã o ”, in Revista LTr n.
57-02/167). Segundo Júlio Assumpção Malhadas é in co n stitu cio n al p o rq u e atinge
quem não po d e p agar e perm ite a defesa p ara os com capacidade co n trib u tiv a ( “D e­
pósito p ara R ecurso na Ju stiça do Trabalho: Inconstitucionalidade? Injustiça?”, in
Revista LTr n. 57-02/163). Igual pensa Ocíavio Bueno Magano ( “D epósitos j u d i­
ciais”, in Revista LTr n. 57-02/191) e, com ênfase, José Alberto Couto Maciel ( “Da
in co n stitu cio n alid ad e do depósito exigido pelo art. 899 da CLT”, in Revista n. LTr
n. 57-02/192). Júlio César do Prado Leite diz: “Os valores dem arcados na lei devem
ser com patíveis com a realidade econôm ica não p o d en d o p reju d icar o direito de
recurso constitucional assegurado”, sem se m anifestar sobre o tem a proposto (“De­
p ó sito R ecursal”, in Revista LTr n. 57-02/171). Am auri Mascaro Nascimento cria
ser ou não in co n stitu cio n al, conform e o caso, isto é, a capacidade econôm ica do
co n trib u in te (“N atu reza Ju ríd ica do D epósito R ecursal”, in Rev. LTr n. 57-02/142).
In co n stitu cio n al para José Augusto Rodrigues Pinto (“O s novos enigm as do D epósito
Recursal T rabalhista”, in Revista LTr n. 57-02/147), m as Wagner D. Ciglio o tem
com o co n stitu cio n al (“D epósito Recursal — A lteração d ecorrente da Lei n. 8 .5 4 2 ”,
in Revista LTr n. n. 57-02/159). E, da m esm a form a, para Emílio Gonçalves ( “O
depósito recursal na Lei n. 8.542, de 23.9.1992”, in Revista LTr n. 57-02/184). Christovão
Piragibe Tostes M alta apenas critica os aspectos form alistas sem posicionar-se ( “D e­
pósito p ara R ecurso”, in Revista LTr n. 57-02/173).
Q u an d o enseja a am pla defesa, o art. 5a, LY não alude à garantia de instância,
em favor da ad m in istração (nem era o m o m en to de fazê-lo, pois o art. 5° c o n stitu i­
-se em u m rol de iten s protetivos do cidadão e do c o n trib u in te ), proibindo-a ou
não, p o r não se trata r de m atéria co n stitu cio n al, m as processual.
A questão parecia estar sediada na dosagem , não na exigência, em si m esm a
cabível. O cioso, q u an d o o legislador não q u e r configurar o nível do depósito ele se
identifica com o m o n tan te da m ulla ou do débito e, então, p o d e constituir-se em
obstáculo à contestação.
O prestígio do trabalho fiscal é im p o rtan te e seu lim ite é o abuso do p o d er e
o excesso de exação. N esse sentido, o depósito prévio podia estim u lar o arbítrio

C U R SO DE P lR F .lT O PREVIDENCIÁRIO
T o m o l í l — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1139
fiscal. R ecursos p ro telatórios sem pre existirão e tal qual o arbítrio fiscal são de
avaliação subjetiva, n u n ca se resolvendo a questão, convindo ficar a critério do
ju lg ad o r a im posição do depósito ou não, conform e cada caso.
A antecipação e a garantia são questões objetivas, apenas esbarrando no valor.
No caso da m u lta fiscal, salvo exceções, não im pede o direito de oposição, m as na
hipótese de débito v u ltoso, se não arbitrado em percentual, constitui co n stra n ­
gim ento sério. M elhor seria a lei ter tarifado valores e não vinculá-los à possível
dívida em discussão. A avaliação da co nstitucionalidade deve ater-se, em bora com ­
plexa, em m atéria fática, ã insignificância do valor em relação ao sujeito passivo.
E n tretan to com a decisão do STF desapareceu do m u n d o ju ríd ico essa garantia
de instância.
1597. Q u estõ es p re ju d ic ia is — C om o no processo ju dicial, o prosseguim ento
do feito adm inistrativo e, principalm ente, a perquirição do m érito da área da co n tro ­
vérsia aventada, q u an d o do ju lg am en to , podem ser afetados p o r in ú m ero s e n tra ­
ves, ocorrência de atos nulos o u anuláveis, desvios processuais, im propriedades
científicas e, especialm ente, ilegalidades ou inconstitucionalidades. M uitas vezes,
to rn an d o difícil sopesar a solução ideal, a ofensa a princípios ju ríd ic o s adjetivos.
Boa parte desses obstáculos são arguidos quando da decisão, na fase pream bular
do exam e de adm issibilidade, tais com o a com petência do ente ap reciador e a
tem pestividade do rem édio utilizado. Em relação ao conselheiro, sua suspeição ou
im p edim ento. Q u an d o exigida, nos casos de A uto de Infração lavrados pelo então
INSS, a garantia de instância. Em face de o u tro ju lg ad o idêntico, a litispendência.
A preclusão e a p erem pção tam bém são percalços procedim entais. S obrestar o feito
p o r influência de processo ju d iciário . Verificar a legitim idade da parte. E, assinala-
dam ente, co n sid erar p resente a difícil coisa julgada.
Os en cam in h am en to s po d em ser sim plesm ente afetados (pela com petência,
sen d o deslocados para o ju lg ad o r válido), outros sustados (na existência de ação
no Ju d iciário ) e até ex tintos (p o r força da decadência, prescrição ou coisa julgada).
Os in cid en tes são su p erad o s p o r correção (suspeição, com a troca do julgador ou
garantia de in stân cia, com o depósito), retom ando-se o andam ento.
1598. G a ran tia co n stitu c io n a l — D esaparecendo o art. 111 da C arta M agna
de 1967, a p ar da prim azia do Ju d iciário , o dispositivo co n stitu cio n al atu al m ais
pró x im o do controle adm inistrativo é o inciso LV do art. 59: “aos litigantes, em
processo ju d icial ou adm inistrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
co n tra d itó rio e am pla defesa, com os m eios e recursos a ela in ere n tes”.
O p o stu lad o tem grande significado e alcance, e pela generalidade do texto
propicia exercício interpretativo. N ão dita os lim ites para a am p litu d e da defesa, e,
diante da infinidade de casos, a circunscrição restará à doutrina.
Segundo José Eduardo Soares de M elo, o processo adm inistrativo “foi alçado à
dignidade co n stitu cio nal; e, assim , em que pese os privilégios com etidos ao Poder
Público, devem ser observados os dem ais princípios regradores da processualística,
especialm ente a am pla defesa, q u e só tem cabal condição de ser exercida na m edida

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1140 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
em que seja prom ovida a publicidade dos atos, d o cu m en to s e todos os dem ais ele­
m en to s que o in teg ram ” (“Processo A dm inistrativo Fiscal”, São Paulo: Dialética,
1995, p. 93/104).
A generalidade da locução constitucional e o em prego da expressão “am p la”,
de significado quase ilim itado, criam problem as interpretativos. N um extrem o, a
im possibilidade de o Fisco dar prosseguim ento ao trâm ite e, no o u tro , o sim ples
direito de defesa. A lcançar a mens legislatoris da ANC d em an d ará com preensão, em
cada caso, p or parte da doutrina e da jurisprudência. E a todo m ecanism o de atuação
do E stado co rresp o n d erá um a reação do p articu lar até a sedim entação do instituto
ju ríd ico .
Dá-se exem plo singelo, (azendo-se p eq u en o exercício exegético. Q ual o des­
tino da petição clara e insofism avelm ente protelatória, exceto ser ignorada e tida
com o inepta? Alegar as eventuais condições socioeconõm icas adversas do País —
em m u ito s m o m en to s reconhecidas p o r todos — não pode ser encarado ju rid ic a ­
m ente com o p rática da am pla defesa. Todavia, são elem entos a serem considerados,
se n ào pelo julgador, ao m enos p o r parte do elaborador da norm a e, volta e meia,
abre possibilidade de am plos p arcelam entos e repareelam entos, reconhecendo a
existência do cenário su sten tad o pelo co n trib u in te, e m uitas vezes tido apenas
com o ju stificação da protelação.
Assegura a Carta M agna am pla defesa “com os m eios e recursos a ela ineren­
tes”. O tem a com porta variadas considerações com vistas no seu espectro. Im porta,
p rin cip alm en te, explicitar, de form a ú til e objetiva, qual o real significado da
abrangência do ato de se defender, dos m eios e dos recursos próprios. Por exem plo,
q u estio n ar se a garantia de instância co n trad ita esses princípios.
1599. P rin c íp io s c o n stitu c io n a is — Os principais são:
a) A m plitude da ação: Defesa am pla significa a possibilidade de os litigantes
— inclusive o Fisco — se servirem de todos os in stru m en to s lícitos para d em o n s­
trar sua com preensão da realidade fiscal.
Passo a passo, o E stado foi am ealhando m ecanism os operacionais (v. g., so ­
lidariedade, aferição indireta, acesso quase in co n tid o à contabilidade, presunções
ju ríd icas, obrigações acessórias etc.), às vezes excedendo os lim ites jurídicos. Dá-se
exem plo com a M edida Provisória n. 1.621-31/1997.
Ao co n trib u in te, todos os su p o rtes legais para o exercício de seu direito. Q uer
dizer com unicação escrita, transparência e publicidade, ju n ta d a de m em oriais,
anexação de pareceres, sustentação oral, efeito suspensivo e devolutivo, existência
de prazos razoáveis para os recursos, contrarrazões, garantia de instância p o n d e­
rada etc.
E specialm ente, poder socorrer-se do Judiciário. Odete M edauar, citada por
Víildir de Oliveira Rocha ( “O N ovo Processo A dm inistrativo T ributário”, São Paulo:
IOB, 1993, p. 14), faz a distinção en tre sim ples direito de defesa e am pla defesa.
M as a ideia não é a inexistência de lim ites e, sim , de p o d er utilizar-se de todos
os recursos lícitos disponíveis. Só é possível sopesar, p o r exem plo, a licitude da

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I I — D ir e ilo P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
1141
vedação reg u lam en tar do recurso na justificação adm inistrativa ou a existência da
alçada d asJR , com vistas n a am plitude da defesa, à luz da possibilidade de p o d er
envidá-la, todo o lem po, n o bojo do pedido de benefício, ou na Ju stiça Federal.
b) R ecurso Voluntário: D efender-se significa intuitivam ente p o d e r negar-se a
aceitar o exigido pelo Fisco. E nfrentá-lo no cam po de ideias antagônicas.
Além do oferecim ento de razões, isto é, raciocínios lógicos o u ju ríd ico s, a
apresentação de todo tipo de prova contrária ao reclam ado.
P rincipalm ente, p o d er contestar p o r m eio de recurso com caráter nitidam ente
adm inistrativo.
c) M eios utilizáveis: Os m eios procedim entalísticos são os do processo e suas
regras.
Natanael Martins ( “Processo A dm inistrativo Fiscal — Direito à am pla defesa
e ao co n tra d itó rio ”, in Volume de Apoio do 3g Sim pósio N acional IOB de D ireito
Tributário, São Paulo: IOB, 1994, p. 67/69) dá três exem plos de decisões do CCMF,
anuladas pelo CSRF por d escu m p rim en to de suas n o rm as (não apreciação das
prelim inares arguidas, inexistência de fundam ento claro e preciso, om issão sobre
o trib u tad o ).
d) R ecursos possíveis: Em face da expressão “m eios”, p o r recursos h á de se
en ten d er a oposição escrita, com razões e provas e observados os prazos, a serem
apreciados pelos órgãos de controle da adm inistração.
e) P rincípio do contraditório: Q u a n d o a Lei M aior garante a defesa am pla,
com os in stru m en to s próprios, praticam ente está ensejando resistência à afirm ação
da p arte contrária. F aculta ao co n trib u in te c o n tra d ita r o Fisco e, ao m esm o tem po,
este últim o opor-se ao sujeito passivo. R eferência ao co n trad itó rio resulta n u m
anacronism o.
D iante da afirm ativa de haver o fato gerador, este ser negado; presente a h ip ó ­
tese de incidência e a cobrança d a contribuição, a alegação desta já ter acontecido;
rejeitada com pensação por não dem onstração do repasse dos encargos, su sten tar a
não im posição deste e assim p o r diante.
C ontrapor-se q u er dizer não ser obrigado a aceitar o alegado pela p arte c o n ­
trária, em term os de fatos e de argum entos, exercitando esse direito de confrontar
com a articulação de razões e a exibição de provas m ateriais.
0 Igualdade das partes: As p artes em litígio, na concepção d o u trin ária, estão
em igualdade de condições; am bas d esfrutam da m esm a possibilidade de d em o n s­
trar o seu p o n to de vista. Todavia, n atu ra lm e n te , a relação nào é equivalente; a
iniciativa e o p ro p u lsio n ad o r é o Fisco, m esm o q u an d o em pregada a ação pelo
co n trib u in te. Isso fica evidente com o privilégio dos prazos, p o r parte da adm inis­
tração e as eventuais presunções em seu favor.
g) Im parcialidade do julgador: A im parcialidade do ente apreciador é questão
sim ples do p o n to de vista teórico e torm entosa, na prática. Na p rim eira linha de
atuação, no grau m ínim o, o servidor está subm etido a um sistem a de norm as fun­
cionais e trein am en to para operar en q u an to Fisco.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá iu j

1142 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
No caso da RFB, p o r exem plo, fixada a decadência em cinco anos, descabe-
-lhe interp retá-la, op o ndo-se, p o r conseguinte, à corrente segundo a qual é de dez
anos. Está, p o r im posição funcional, forçado a cum pri-la (co n su ltar in tern am en te
ou representar, m as o resultado poderá ser a prim eira conclusão).
N om eado para exercer o cargo de julgador, o servidor deixa de subordinar-se
fu n cio n alm en te ao seu superior, devendo obediência apenas à lei, conform e ele a
conceber. N ão terá de ficar do lado da adm inistração o u d o co n trib u in te, m as da
C o n stitu ição Federal.
1600. Exam e de c o n stitu cio n alid ad e — Persiste na adm inistração certa com ­
preensão equivocada. Adstritos ao procedim ento oficial, sujeitos à hierarquia funcio­
nal e às ordens in tern as, certos servidores não estariam im pelidos a fundam entar
ju rid icam en te o ato formal praticado, bastando assinalar a capitulação legal, dis­
pensados de apreciarem as razões jurídicas, principalm ente discu tir alta indagação,
legalidade ou inconstitucionalidade. Tal tarefa caberia, alega-se alhures, apenas à
P rocuradoria. Pior, q u ando entes julgadores sentem -se inoperantes a esse respeito.
Para Paulo Celso Bergstrom Bonilha ( “Da Prova no Processo A dm inistrativo Tri­
butário , Sâo Paulo: LTr, 1992. p. 93): “a presunção de legitim idade não é suficiente”.
Ricardo M ariz de Oliveira e João Francisco Bianco desenvolveram o tem a. O
prin cip al arg u m en to apresentado p o r eles é fazer parte da am pla defesa, o exam e
da validade d as leis e decretos regulam entares ( “A Q uestão da Apreciação da C ons­
titu cio n alid ad e de Lei pelos C onselhos F ederais de C o n trib u in te s”, in Processo
A dm inistrativo Fiscal, São Paulo: Dialética, SP, 2QVol., 1997. p. 117/128).
Luiz Henrique Barros de Arruda opõe-se intransigentem ente. Ele garante: “Dessa
forma, ressalvada a análise das questões ligadas à Teoria da Recepção Kelseníana, falece -
-Ihes, com o falece aos órgãos do Poder Executivo criados para desem penhar atribui­
ções equivalentes, com petência para pronunciar-se a respeito da conform idade de lei,
validade editada segundo o processo legislativo constitucionalm ente previsto, com os
dem ais preceitos em anados da própria C onstituição Federal, a ponto de declarar-lhe a
nulidade ou a inaplicabilidade ao caso expressam ente nela previsto, m atéria reservada,
tam bém p or força de dispositivo constitucional, ao Poder Judiciário”.
Ele adm ite a não recepção, mas em relação a “ato editado posteriorm ente ao
texto constitucional, caberá alegar-se a incom petência para o exam e da m atéria,
com o esclarecido acim a’ . E conclui: “Em hipótese algum a, porém , podem as a u to ­
ridades lançadora ou julgadora deixar de conhecer do pedido, cabendo, no segundo
caso” (exam e da constitucionalidade), “rejeitar a prelim inar pelas razões expostas”.
Razão p o n d erável é o princípio da econom ia procedim ental. Se o cuidado não
for to m ad o inicialm ente, terá de sê-lo m ais tarde.
Mas o fu n d am en to m aior é a arrecadação e fiscalização, com o atos d e controle
do Fisco, estarem sujeitos aos po stu lad o s constitucionais. N ão podem o INSS ou a
RFB p raticar in co n stitu cio n alid ad es e o co n trib u in te, ao co n trário , não tem com o
elidir-se à im posição da C arta Magna.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T õm o III — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
Vale rep ro d u zir dois p o n to s de vista, exarados em acórdãos do CCM F (in
Volume de Apoio do 3 g Sim pósio N acional IOB de D ireito Tributário, p. 135/36).
De um lado, o voto vencido do conselheiro Luiz Alberto Cava Maceira: “O controle
da co n stitu cio n alid ad e das leis não é u m p o d er particular conferido aos Tribunais.
Cabe a todos aqueles que aplicam ou in terp retam as leis. Pelo princípio da h ie­
rarquia das leis, desde que se situa a C onstituição acim a de todos outros textos,
ao ap h cad o r ou ao in térp rete se depara um a opção: se as norm as colidem , opta-se
entre a C onstituição e a lei. Assim, q uando o in térp rete aplica a C onstituição, não
está in frin g in d o a lei. E ntão, se existe incom patibilidade entre a lei e a C onstitui­
ção, aplica-se esta e deixa-se de aplicar aquela. Executivo é o órgão de execução a
qu em cabe o direito e o dever de ad m in istrar com os olhos voltados p rim eiro para
a C onstituição e, p o steriorm ente, para a lei, que deverá sem pre guardar form al e
m aterialm ente, obediência àquela”.
Do voto do conselheiro Adelino Martins Silva tem -se: “m eu entendim ento
atual sobre a q uestão tem a ver tam bém com a substanciosa obra 'C ontrole da
C o n stitucionalidade das L eis, de autoria de o u tro em in en te ex-ocupante do cargo
de C onsultor-G eral da R epública, o prof. Reinaldo Poletti, que escreveu: quando a
au to rid ad e ad m inistrativa e n te n d e r que a lei que lhe in cum bido executar é in co n s­
titucional, o rem édio im ediato está em não executá-la p o r esse m otivo, declarando-o
expressam ente; o Executivo é o órgão de execução in cum bido de m ovim entar a
m áquina adm inistrativa do Estado; cabe-lhe o direito de ad m in istrar com os olhos
voltados para a C o n stituição e para as leis que não tenham o vício de inconstitucio-
nalidade; assim com o o m agistrado deixa de aplicar a lei in co n stitu cio n al e o legis­
lador deixa de vogar as proposições do Executivo, que en ten d em serem ofensivas
ao texto co n stitucional, tam bém o E xecutivo tem o direito e a obrigação de não
d ar cu m p rim en to às leis que en ten d a estarem viciadas de inconstitucionalidade .
O D ecreto n. 1.346/1997 m anda a adm inistração d ar cu m p rim en to im ediato
às decisões do STF “que fixem, de form a inequívoca e definitiva, interpretação do
texto co n stitu cio n al”.

C u r s o dt. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1144 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CLX

C o b r a n ç a A d m in is t r a t iv a

S u m á r i o : 1601. Solicitação de elementos. 1602. Notificação Fiscal. 1603. Auto


de Infração. 1604. Débito Confessado em GFIP 1605. Impugnação inicial. 1606.
Apreciação fiscal. 1607. Revisão de débito. 1608. Decisão da Delegacia de Julga­
mento. 1609. Recurso ao CARF. 1610. Informação fiscal.

D epois do pedido de benefício, o expediente m ais am iúde no INSS é o da


cobrança fiscal. Seu trâm ite é específico, observando regras distintas. O bjetiva a
apropriação de im p ortâncias presu m id am en te de sua propriedade, ou seja, c o n tri­
buições (NL), m u ltas (AI) o u acréscim os (D C G ). O perada p o r servidor especial­
m ente treinado para isso e habilitado tecnicam ente, o A uditor-Fiscal da RFB.
A constituição do crédito inicia-se com ato bastante formal. L ançam ento fiscal
é gesto de ofício, criação e volição do fisco. N otável com preensão do fato gerador,
sua assim ilação, e desejo de perquiri-Io. Em consonância, im perativam ente segue­
-se a exigência do valor.
Providência determ inante de vários efeitos jurídicos, adm inistrativos e práticos,
é em p en h o in telectu al com plexo no qual, diante da presença da hipótese im poní-
vel, o lan çad o r inicia o processo de cognição do crédito fiscal.
Esforço estatal vinculado, ele reclam a cum prim ento de in ú m ero s pressupostos
e cuidados form ais. Ato ju ríd ic o form al, observando as diversas exigências m ate­
riais e técnicas, p o r m eio dele o sujeito ativo da relação exacional dá ciência ao polo
passivo da existência de processo adm inistrativo da exigibilidade. Com ele, com eça
a consolidação form alizada do crédito. Pois, de fato, ele preexiste a esse ato.
Em v irtu d e do co n trad itó rio , no prazo de lei, tem o notificado a faculdade de
im p u g n ar m atéria fática e ju ríd ica, in stau rar litigiosidade, ap resen tan d o provas e
razões contrárias. Sucede com frequência de haver distintas contestações, p e rti­
nentes ao co n teú d o real, devendo ser devidam ente articuladas e exam inadas.
1601. Solicitação de elem entos — Em bora a legislação silencie sobre a matéria,
a verificação da regularidade das em presas pressupõe a apresentação de docum entos
pelo sujeito passivo da ação fiscal. Vale dizer, a exibição formal de livros obrigatórios ou
facultativos, em que p resum idam ente contida a hipótese de incidência da cotização.

C u rso de D i r f .u o P r e v id e n c iAr ío

T o m o I I I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
Para obtê-los regularm ente, o AFRF previam ente avisa o co n trib u in te, en ­
tregando-lhe, m ediante recibo, a N otificação para A presentação de E lem entos —
NAE, indicando claram ente o desejado, fixando prazo razoável e ap o n tan d o hora
e local para a entrega.
O sítio ideal para ser procedida a fiscalização é a sede social da em presa, onde
habitu alm en te ocorre o fato gerador e u sualm ente arquivada a docum entação com -
probatória. E xcepcionalm ente, conform e a natureza da atividade ou o porte do fis­
calizado, pode suceder em escritório de contabilidade e, em certas circunstâncias,
autorizado o ingresso, na residência do p roprietário (de obra de co n stru ção civil)
ou em pregador dom éstico.
1602. N otificação Fiscal — D iante da possibilidade de in adim plência do su ­
jeito passivo da obrigação, em atitu d e adm inistrativa vinculada, o AFRF tem o
dever de ex am in ar a h ipótese de incidência, apurar-lhe a base de cálculo, adequar
a alíquota e aferir, m ês a m ês, a contribuição correspondente. Isso é feito em im ­
presso p ad ro n izad o (N L), inform atizado, bastante sim plificado e sistem atizado.
Sua função é tríplice: a) notificar o con trib u in te; b) in au g u ra r o procedim ento
de cobrança; e c) ten tar a constituição do crédito.
C om o su b p ro d u to , a lavratura regular obsta à concessão de CND e, p rin cip al­
m ente, caracteriza a situação descrita n o art. 1.95, § 3a, da C onstituição Federal ( “A
pessoa jurídica em débito com o sistem a da seguridade social, com o estabelecido
em lei, não poderá co n tratar com o P oder Público n em dele receber benefícios ou
incentivos fiscais ou credilícios”)-
C onsoante o mês de com petência, a lei estipula o início da exigibilidade.
C onsu b stan ciad a a m ora, vencido o term o para o reco lh im en to e, observado o
período decadencial, após apuração do débito, im ediatam ente a em presa deve ser
cientificada, p o r escrito, para pagar as m ensalidades devidas.
Lançam ento fiscal é ato de inteligência e vontade do notificante. Deflagra
o p ro cedim ento da exigibilidade adm inistrativa, cu lm in an d o com a inscrição da
dívida, o in stru m en to inicial da cobrança ju d icial executiva.
A lei recom enda, insofism avelm ente, o ônus de o levantam ento descrever,
clara e precisam ente, a hipótese de incidência (frequentem ente designada p o r falo
g erad o r), tendo se esquecido — m as é preciso prover — da capitulação legal. É
im perioso m encionar, n o discrim inativo do débito, a base de cálculo, a alíquota
aplicada, a co n trib u ição resultante e o elem ento contábil fornecido pelo sujeito
passivo. Q uem aten d eu à Fiscalização, consignando, se possível, os responsáveis.
Se as rubricas são tidas com o discutíveis, a Fiscalização precisa acostar à sua
fu ndam entação os elem entos especiais, as fontes form ais típicas ou atípicas p ubli­
cadas no Diário Oficial da U nião (v. g., lei com plem entar, lei ordinária, decreto,
portaria, parecer norm ativo etc.).
E videntem ente, im portâncias arroladas m ês a m ês, em lodo o período, clas­
sificadas com o n orm ais ou suplem entares. Parcelado o débito, com o autorizado

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1146 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
em lei, n ão há necessidade da notificação; a confissão de dívida fiscal, pressuposto
do favor, presta-se com o in stru m en to hábil para a cobrança executiva do crédito
previdenciário.
a) D estinatários da norm a: O art. 37 do PCSS, em q u e disciplinada a ação fis­
cal, situ a-se n o C apítulo X — Da A rrecadação e R ecolhim ento das C ontribuições.
P o rtanto, sujeita a em presa de m odo geral.
À exceção do facultativo, são incluídos, tam bém , os c o n trib u in tes individuais.
P ertin en tem en te a estes, a RFB não exercita a verificação, preferindo exam inar a
regularidade d o s reco lh im en to s p o r ocasião do req u erim en to dos benefícios.
N ada im pede a inspeção do em pregador dom éstico. Trata-se de sujeito passivo
de obrigação com o qualquer outro, podendo sua docum entação ser exam inada, se for
o caso, n a Delegacia d e ju lg a m e n to da RFB, após notificação escrita para com pare-
cim ento. Da m esm a form a, com o é fiscalizado o p roprietário de obra de construção
civil. C o n sen tin d o , na sua residência; caso contrário, n a sede da autarquia.
b) C o n trib u içõ es exigíveis: Som ente contribuição pode ser objeto de levan­
tam en to, arred ad a a possibilidade de exigência, pelo in stru m e n to ora exposto, de
o u tras fontes de custeio. Não devem ser considerados para esse fim os acréscim os
previstos no PCSS (juros, m ulta e correção m onetária), solicitados p o r in strum ento
de cobrança ad m in istrativa individualizada (D C G ).
D ébito, p o r exem plo, entre o u tro s, tam bém a im portância descontada da GPS,
relativa a benefício não pago pela em presa ao titu lar do direito (v. g., salário-m ater-
nidade o u salário-fam ília).
c) H ipótese de incidência: O elem ento n u clear da N otificação Fiscal é a h i­
pótese de in cid ên cia ou fato gerador, perfeitam ente dem o n strad o , com descrição
com pleta de sua decantação, isto é, o m otivo d eterm in an te da cobrança.
G eralm ente, o pagam ento de im portância descrita no art. 28 do PCSS. E xcep­
cio n alm ente, o crédito do valor e, até m esm o, a inocorrência de u m ou do outro,
se o direito está in co rp o rad o ao patrim ô n io do titular. Sem se esquecer do total do
acordo trabalhista, ausente a discrim inação de parcelas (Lei n. 8.620/1993).
Se a ap u ração do m o n tan te se fez com base em elem entos subsidiários, a for­
m atação da h ip ó tese de incidência reclam a m aior atenção do notificador, quando
de sua apreensão, e, em particular, p o r ocasião do relato form al.
d) Base de cálculo: A N otificação Fiscal deve indicar, m ês a m ês, a dim ensão
financeira da h ipótese de incidência, fornecendo, p aralelam ente, os lim ites m en­
sais observados. A ausência desse dado torna-a, ab initio, sem validade, pois ele
configura a cotização. Sem falar n o significado desse valor no cálculo do benefício.
e) A líquota de contribuição: C o rresp o n d en d o a cada hipótese de incidência
e p erío d o do d ébito, é im prescindível m enção expressa à alíquota utilizada para o
cálculo d a co n tribuição.
f) C o n trib u ição m ensal: O m o n tan te m ensal da contribuição é substancial,
devendo resu ltar do p ro d u to da base de cálculo pela alíquota, deduzindo-se, se

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
for o caso, os reco lh im entos an terio rm en te efetuados. C om parecendo de form a
sintetizada na notificação propriam ente dita e porm enorizada, no discrim inativo.
g) C apitulação legal: O relatório registrará o supedâneo legal para a cobrança,
m esm o tratando-se de contribuições norm ais e tidas com o não discutíveis. A norm a
a ser m encionada é a vigente ao tem po do fato gerador.
h ) R elatório fiscal: A com panha a N otificação Fiscal narrativa circunstanciada,
em que presentes os elem entos de fiscalização, com o o período da ação fiscal, os
d o cu m en to s contábeis com pulsados no levantam ento, o fund am en to legal e outros
fatos definidores do débito.
i) D iscrim inativo do débito: Dela faz parte integrante discrim inativo m ensal das
parcelas definidoras da dívida, de preferência com indicação da página do livro Diá­
rio, em que localizada a base de cálculo ou o docum ento utilizado pela Fiscalização.
j) Entrega da notificação: A ciência do co n trib u in te opera-se p o r de três m o­
dalidades: a) envio pelo correio; b) edital e, o m ais com um : c) entrega pessoal
m ediante recibo.
O en cam in h am en to via postal é aco m p an h ad o de Aviso de R ecebim ento —
AR. Se há recusa em receber o AR, a notificação serã feita p o r edital. Isso acontece
tam bém na hipótese de ausência do interessado ou paradeiro desconhecido. C o n ­
siste em publicação em periódico de circulação local, p o r três vezes, em 15 dias,
afixando-se o edital no saguão da RFB.
A entrega da Notificação Fiscal deve ser aco m panhada pela assinatura de
quem a recebeu, de preferência assinalando-se a hora e o local, para fins de recurso.
N esse particular, no d o cu m en to é im p o rtan te co n star o prazo, a autoridade e o
local para protocolo da contestação.
k) R econhecim ento do débito: Q uando há recusa de receber a Notificação Fiscal
— o recebim ento não significa reconhecim ento do crédito previdenciário — ela
deve ser enviada p o r via postal, sem prejuízo do m érito, contando-se o prazo para
a defesa da data da entrega pelo correio.
1603. A uto de In fração — Presente infração genérica à lei, aludida n o art. 92
do PCSS (o m esm o valendo para os o u tro s ilícitos), a Fiscalização da RFB, em
providência vinculada, é obrigada a lavrar o A uto de Infração notificante do fato e
declaratório da ilicitude.
A caracterização e a constituição da infração — após a contestação da n o ti­
ficada — , p ressuposto da fixação da m ulta, é providência form al com etida à RFB.
C uida-se, na espécie, de docu m en to de abertura do procedim ento adm inis­
trativo de atuação — não é, ainda, a punição — ciência da reunião dos elem entos
d en u n ciad o res do clelito. C om unicação da pretensão subjetiva da autarquia de
com provar o ilícito. N otícia do ato m aterial ou form al e ciência da abertura de prazo
para a defesa, além , obviam ente, de descrição objetiva, precisa e sum ariada da si­
tuação com inada na n orm a legal.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1148 W la d im ir N o v a e s M a rlin e z
Pode abrigar vários itens o u assuntos e referir-se à m atriz e/ou filiais. Deve,
ev id en tem en te, cercar-se de cuidados necessários: a) qualificar o sujeito passivo
da ação; b) configurar o fato típico d eterm in an te da punição; c) ser precedido de
notificação; d) relatar as circunstâncias aten u an tes ou agravantes; e) capitular a
infração; e f) alertar p ara os prazos para a defesa e recurso.
Necessariamente precedido de notificação, quando for o caso, com prazo e
local para a exibição de documentos.
Ato reeditável, se a obrigação é exigida e não cum prida, é de trato sucessivo,
p o r exem plo, se m ensal, pode ser repetido a cada mês. Inexistente prazo n a lei entre
a o corrência do fato punível e a autuação, respeitado o p rincípio da o p o rtu n id ad e,
não pode exceder o da guarda de d ocum entos (PCSS, art. 32, parágrafo único) ou
o da decadência. Lavrado o A uto de Infração, conform e a lei cabe defesa prévia.
a) Papel: O auto clestina-se a ap u rar e registrar a o corrência de infração p ra ti­
cada pelo sujeito passivo da obrigação fiscal. C om isso, to rn ar possível a instauração
do respectivo processo de infração. Ressalvados os recursos possíveis, são dois atos
distin to s, p raticad o s p o r pessoas diferentes: 1) lavratura d o d o cu m en to p ro p ria ­
m ente dito; e 2) aplicação da m ulta.
b) U nicidade: Por obra de construção civil não m atriculada, alvará de licen­
ciam ento para co n stru ção concedido sem a apresentação da m atrícula no CEI,
p o r acidente do trabalho não com unicado ao órgão gestor ou ato praticado sem o
do cu m en to co m p ro b atório da inexistência de débito, p o r em pregado ou avulso
não in scrito , o AI será individualizado.
Não há distinção entre m atriz e filial, cabendo apenas um , m as, se a fiscalização
ocorre na d ep en d ên cia, aí se dará lavratura do auto.
c) Pessoalidade: Se o sujeito passivo da ação é órgão ou entid ad e da ad m in is­
tração direta ou indireta, não observada a exigência de apresentação de com provação
da inexistência de débito, a autuação serã lavrada respectivam ente, na pessoa do
serv id o r responsável e serventuário da Justiça.
d) Sucessão: Subsistindo sucessão, tan to q u an to a NL, o AI será em itido contra
o sucessor, m en cionando-se tam bém a razão social do sucedido.
e) R ecebim ento: E m itido o auto, em duas vias (p rim eira para a repartição
pú b lica e seg u n d a p ara o a u tu ad o ), em form ulário previam ente n u m e ra d o , serã
assinado pelo procurador, nom eado m ediante in stru m en to público, sócio, diretor,
titu lar de firm a individual. H avendo recusa da pessoa autorizada ou na sua au sê n ­
cia, a segunda via será encam inhada pelo correio, registrada, até três dias da lavratura,
co n signando-se o m otivo.
0 C ircunstância: O d o cu m en to deve ser aco m p an h ad o de relatório descritivo
dos fatos e ex plicar o en q u ad ram en to , in fo rm an d o de m aneira precisa e clara as
circunstâncias, razões da autuação e, se for o caso, m en cio n ar a presença de agra­
vante ou aten u an te.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o III — D i r e i t o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
g) L iquidação judicial: Se a em presa está em regim e falim entar, concordata,
dissolução, liquidação ju d icial o u extrajudicial, deverá ser au tu ad o o síndico, o
com issário ou o liquidante.
Hugo de Brito Machado diz que o ju iz tem o poder de o b star a lavratura do AL
“Não pode ser lavrado se tiver com o finalidade im p u tar u m com etim ento ilegal
ao co n trib u in te, e aplicar-lhe penalidade, em v irtude de co n d u ta cuja legalidade é
objeto de q u estio n am ento ju d icial, ainda não definitivam ente resolvido” ( “Provi­
dências judiciais acautelalórias do direito do co n trib u in te”, in R epertório de Ju ris­
prudência IOB da I a q u inzena de jan eiro de 1998, p. 20/23).
1604. D éb ito C o n fessad o em G FIP — C onstatado erro de cálculo na apuração
dos acréscim os legais ou sua ausência, será em itido o D ébito C onfessado em GFIP
— DCG e enviado pelo correio.
Tal notificação tem o objetivo de co m u n icar ao co n trib u in te o d escu m p ri­
m ento da legislação e inform ar os dados co m p o n en tes da GFIP onde com etido o
engano, fixando a base de cálculo (no caso, a contribuição) e os ju ro s, a m ulta ou
a correção m onetária.
O DCG é cobrança adm inistrativa de num erários, pretensão da Previdência
Social de h aver o n u m erário expresso no anverso. P or isso, pode ser contestada,
inicialm ente, p o r m eio de defesa e, p osteriorm ente, de recurso.
Ele deve ser em itido pelo AFRF, q uando constatar a falta ou insuficiência de
acréscim os legais (juros, m u lta e correção m onetária), feito em duas vias n u m era­
das e de valor su p erio r a R$ 1.000,00.
A consolidação da dívida é operada conform e os seguintes critérios: a) até
a com petência dezem bro de 1994, o total originário é transform ado em UF1R e
atualizado pela UFIR da data da operação; b) a p artir da com petência jan eiro de
1995, o débito é co n substanciado em reais; c) a im portância final será o resultante
da som a dos dois valores anteriores.
A DCG, tal com o a NL, é acom panhada pelo D iscrim inativo do D ébito C o n ­
solidado.
1605. Im p u g n ação inicial — Lavrada e entregue a NL, se desejar, o notificado
pode m anifestar sua discordância à Delegacia de Julgam ento. A ceitando-a, o cor­
reto será q uitá-la im ediatam ente. O in stru m en to de inconform idade é conhecido
com o R ecurso V oluntário, que não passa Lecnicamente de u m recurso de apelação.
Q u an to ao co n teú d o , im plem entam -se os com entários relativos ao capítulo
M odalidades de Im pugnações. A contestação do notificado poderá consignar: a)
prelim inares; b) q uestão ju ríd ica; e c) questão fática.
Nas prelim inares, arguições de: a) incom petência; b) decadência; c) litispen-
dência; d) duplicidade; e) coisa julgada; f) ilegitim idade de p arte e o u tras mais.
ju rid ic a m e n te a m atéria é vasta, abrindo-se cam po para m uitas considerações,
convindo sem pre re p ro d u zir a disposição referida, a obra d o u trin ária consultada e
acórdão da ju risp ru d ê n c ia favorável.

C u rs o d e D ire ito P r e v id e n c i á r i o

1150 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Faticam ente, a contraprova se fará com do cu m en to s, entre os quais, o p rin ­
cipal deles, a GPS.
Nessa o p o rtu n id ad e , cabe protesto p o r ju n ta d a de provas a posteriori ou p e­
dido de renovação de prazo. Se justificada a dilatação probatória, a RFB poderá
reab rir p razo p o r m ais 15 dias.
D iferen tem en te do AI, não era exigida garantia de instância n em havia valor
de alçada. Até ser extinta, o INSS exigia 30% do valor cobrado.
As defesas p o d em ser tem pestivas (protocoladas no prazo) ou intem pestivas,
pro d u zin d o -se diferentes efeitos ju ríd ico s. A avaliação da tem pestividade cabe à
RFB. C aracterizado o destem po, o processo é encam inhado para a inscrição da dí­
vida. São ainda classificadas em totais e parciais. Na ú ltim a hipótese, salvo depósito
do valor não contestad o, n ão há liberação da CND.
Os prin cip ais elem entos da defesa são: a) destinatário; b ) qualificação do peti-
cionãrio (razão social, endereço, CEP, inscrição no M inistério d a Fazenda etc.); c)
assin atu ra do responsável ou do m andatário (com procuração in clusa); d) razões
de direito; e e) provas docum entais.
Iguais providências valem para o AI e DCG.
160ó. A preciação fiscal — In terp o sta a defesa, d en tro do p rincípio do co n ­
trad itó rio , cabe apreciação p o r parte (de preferência) do p ró p rio AFRF au to r da
lavratura da NL, AI ou em issor do DCG.
Trata-se de análise form al das razões da defesa e verificação das provas d o ­
cu m en tais ju n ta d a s na o p o rtu n id ad e ou po sterio rm en te (se ho u v e prévio protesto
p o r m em orial). C u id ando-se de em presa de p orte, período coberto longo e fisca­
lização dem o rad a, q u ando a NL é com plexa, o prazo de 15 dias representa co n s­
tran g im en to , cabendo o aperfeiçoam ento da defesa (protocolada no prazo) com a
apresentação de provas a posteriori.
F rabalho de apreciação intelectual e ju ríd ico , convindo sopesar cada um a das
razões concatenadas, contestá-las ou adm iti-las, o silêncio querendo dizer anuência.
Se o d ébito se m an tém na integralidade, os autos sobem conclusos à RFB para
a em issão da DN. Se a defendente tem razão em algum aspecto o u apresentou GPS
antes não exibida, im põe-se a revisão do débito. Caso todo o valor seja considerado
insu bsistente o u im procedente, p o r m eio de notificação o delegado m andará arquivá­
-lo, m as, antes disso, o processo sobe para hom ologação da au to rid ad e superior.
Silencia a n o rm a a respeito, é praxe dissem inada e quase consagrada, o noti-
ficante nào estar obrigado a revestir a apreciação da im pugnação de observações
ou fu n d am en to s teóricos, devendo cingir-se exclusivam ente ao su p o rte m aterial
do crédito p retendido.
A ssevera-se alhures que o au to r da notificação dever abster-se de ponderações
ju ríd icas, p o r escapar-lhe a atribuição. Para o exercício de suas funções, aduz-se,
bastar-lhe-ia o b serv ar co rretam en te as n o rm as h ierárquicas, re sta n d o a q uem de
direito o estudo dos argum entos doutrinários ou jurisprudenciais oferecidos à colação.

C uuso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o III — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
N em todos pensam assim. É direito-dever, e não obrigação, o lançador apreciar
m atéria ju ríd ica, tanto q u an to a fática, até o lim ite de sua capacidade pessoal e,
q u an d o for o caso, recorrer aos setores adm inistrativos para isso aparelhados.
O pro ced im en to fiscal não pode elevar-se aos órgãos ju d ic a n te s apenas com a
inform ação de d escaber ao a u tu an te análise profunda e sem m anifestação versando
assu n to controverso. Ter-se-á adm itido o não apreciado.
In d ep en d en tem en te da qualificação do servidor, em particu lar do notificante,
o aperfeiçoam ento profissional nu m a área por excelência ju ríd ica é atitu d e própria,
salutar, a ser estim ulada.
Deve-se ir além , acreditando-se ocorrer incoerência na eventual negativa desse
ônus; não pode o titu lar do p o d e r de notificação alegar desconhecer o fundam ento
técnico da operação p o r ele iniciada, se foi capaz de deflagrá-la.
O lançam ento fiscal é ato adm inistrativo com plexo, significativo, formal e
pressupõe razoável co n h ecim en to da legislação, dom ínio da contabilidade e de
diversos ram os juríd icos. A lavratura de auto ou notificação é com etida a quem
detém fundadas bases teóricas e práticas, pois lhe cabe qualificar o sujeito passivo,
alcançar a obrigação, descrever a m edida do fato gerador, fazer cálculos e, sobretudo,
apontar, capitulada e indubitável, a disposição legal infringida e a penalidade cabível
(D ecreto n. 70.235/1972).
N esta m edida, bastante autom atizada pela inform ática, reduzida ao p reen ch i­
m ento de quadros, à aposição de n úm eros e códigos e à assinalação de opções, está
concen trad a providência de p rofunda repercussão e alcance legal. Se o au tu an te
tem co n h ecim en to suficiente para isso, terá de ser capaz de m uito m enos, isto
é, apreciar as razões opostas. Q uestiona-se, não a capacidade do titular, m as sua
atribuição.
In ex isten te serviço cartorário na A dm inistração Pública, quem in stru i o p ro ­
cesso é, desde o início, o au tu an te ou o u tro s servidores. A im pulsão do pro ced i­
m ento dá-se à custa de p ro n u n ciam en to s, despachos ou inform ações em cota e,
se indispensável, a co n sulta de órgão especializado, em particular, a P rocuradoria.
O agente público deve proceder a N otificação Fiscal, consignando ab initio
todos os elem en to s do lançam ento e, n o caso de envolver q uestões m ais in trin ­
cadas ou altas indagações, subscrever as razões de ordem legal determ in an tes da
autuação. P o sterio rm ente, q u an d o da im pugnação, é seu dever funcional trazer
aos au to s os fu n d am entos de sua oposição à tese arguida pelo defendente. Não
p ro ced en d o assim , com ete excesso de exação.
Em alguns casos é forçado a acolher as pretensões do co n testan te e p ro p o r a
in su bsistência ou a im procedência do feito, reduzindo-se, destarte, os custos o p e­
racionais iniciais do executivo fiscal.
O au tu an te tem papel elevado, im aginativo, abrangente (tan to q u an to o laudo
do técnico, o p arecer do ju rista e a sentença do Ju iz), visão global e analítica da
incidência da n o rm a sobre o fato gerador da obrigação fiscal. Assim , lançam ento
fiscal perfeito é do cu m ento adm inistrativo consistente, líquido e certo, alim entado,
su sten tad o e aco m p an h ad o pelo seu iniciador.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1607. R evisão d e d é b ito — O p rocedim ento ad m in istrativ o , no caso de co­
brança fiscal, às vezes presta-se para instrução. P or ocasião da apreciação da defesa,
q u an d o do recurso à CAj, ou m esm o após a decisão desta, pode im por-se a revisão
da N otificação Fiscal. P or vezes o equívoco é percebido sem essas m anifestações
externas.
A revisão tem m uita sem elhança com a Notificação Fiscal, pois vários pressu­
po sto s devem ser cum pridos (ela se opera n o processo em andam ento), lim itando-se
à área da controvérsia. C onsideradas as razões da em presa o u provas, os critérios
são reexam inados, geralm ente com elim inação de algum fato gerador, tornando
necessária a redução do m ontante.
E xpediente in tern o , justificado m ês a m ês e ru b rica p o r rubrica, sujeito à co n ­
firm ação da au to rid ad e com petente, obrigando-se a em issão de DN, onde constante
o novo total e esclarecendo-se as parcelas alteradas. A discussão sobre o m érito
p ro sseg u e com o saldo rem anescente e a decisão da autarquia, n aquela cobrança,
faz coisa julgada.
Se a revisão inova (representa segunda fiscalização) o u am plia o débito, é
preciso co m u n icar ao notiíicado as alterações, explicando-as com relatório e dis-
crim inativo, e reabrindo-se prazo para defesa ou recurso em relação à novidade
in tro d u zid a. N este caso, convém em itir nova NL, abrangendo as q uestões surgidas,
com as conseq ü ên cias p ró p rias da lavratura.
1608. Decisão da Delegacia de Julgamento — A decisão da Delegacia de
Ju lg am en to é d o cu m en to form al de em issão da RFB, num erad o e datado, espécie
de desp ach o san ead o r do com p o rtam en to fiscal até então. P rom ovidas ou não revi­
sões, acatadas ou não as razões e provas da defendente, ela aperfeiçoa o lançam ento
fiscal.
N esse d o cu m en to são apreciadas, de sua parte, sum ariam en te, as razões da
defendente e do AFRF concluindo, ao final, pela: a) insubsistência; b) im procedência;
c) m an u ten ção total; d) m an u ten ção parcial.
Na realidade, esse d o cu m en to deveria ser m ais explícito e com plexo, determ i­
n an te da exigibilidade, m as, na prática, reduz-se à sim plicidade, verdadeira em enta
da NL. Por isso, o recurso à CARF acaba co n testan d o a N otificação Fiscal e não
p ro p riam en te a decisão da Delegacia de Ju lg am en to da RFB.
1609. R ecurso ao CARF — E m itida a decisão p o r parte da Delegacia de J u l­
gam ento da RFB é possível recorrer ao CARE
Até 6 .6 .1 9 9 5 , o órgão ju lg a d o r era a 9~ JRCPS. C om a Lei n. 1 1 .4 5 7 /2 0 0 7
passou a ser atrib u ição do MF
O recurso de apelação deve ser protocolado no órgão em que se originou a
NL, Al ou DCG.
1610. In fo rm ação fiscal — A Portaria MPAS n. 3 .0 1 5 /1 9 9 6 in tro d u ziu rotina
favorável à en tidade beneficente de assistência social. A nteriorm ente, q uando o
AFRF se deparava com a perda da qualidade de filantrópica, isso ipso facto acarre­
tava a lav ratu ra da NL. A p artir de 1 6 .2 .1 9 9 6 , o pro ced im en to é outro.

C u r s o d c D ir e it o P r e v id c n c iá k io
T o m o II I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
C onstatando d escum prim ento do art. 55 do PCSS, a Fiscalização em itirá Infor­
m ação Fiscal — IF “n a qual relatará os fatos que determ inam a sua p erd a” (art. I e).
Cabe defesa, no prazo de 30 dias, para contestação. A seguir, o INSS decidirá
sobre o cancelam ento ou não da isenção, em itindo, se for o caso, o Ato Cancelatório.
Desta o u tra decisão abre-se prazo para recurso à CSRF, tam bém em 30 dias.
Vencida a reco rren te no CSRF, sobrevirá a em issão de NL, m as isso não im plica
reabertura da instância para rediscussâo do m érito. A decisão final na IF terá feito
coisa julgada.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1154 W / a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo CLXI

R e s t it u iç ã o p e C o n t r ib u iç õ e s

S u m á r io : 1611. Normas verificáveis. 1612. Termo para solicitação. 1613. Pressu­


postos lógicos. 1614. Partes do requerimento. 1615. Instrução da decisão. 1616.
Situação dos terceiros. 1617. Salário-família e salário-maternidade. 1618. Atua­
lização do restituído. 1619. Devolução sumária. 1620. Transferência do encargo.

R estituição é obrigação de d ar (devolver) do órgão gestor (INSS ou RFB), não


se co n fu n d in d o com o levantam ento de depósito (ato im ediato e in condicionado),
com pensação ou reem bolso. M uito m enos, com pagam ento de benefícios e dife­
renças atrasadas.
Sedim enta-se, ju rid icam en te, qu an d o o co n trib u in te, p o r m á in terpretação da
exigibilidade ou erro de cálculo, aportou indevidam ente ou a maior. E ob initio, c o n ­
vindo distinguir: a) contribuições, descontadas ou não, do trabalhador; b) parte
p atronal da em presa em relação a prestad o r de serviços; c) valor devido a terceiros;
e d) exações gerenciadas pela RFB.
Sob o títu lo “c o n trib u içõ es” estão com preendidos os acréscim os legais e outras
im p o rtân cias não p ro p riam en te previdenciárias. E q uando de benefícios prev id en ­
ciários deferidos d iretam en te pela em presa (salário-fam ília e salário-m aternidade).
N ão cabe restituição de m o n tan te sobre o qual tenha havido m anifestação
ju d iciária definitiva a favor da exigibilidade, N em em relação a exações anistiadas
após o desem bolso.
Da decisão negativa de restituição cabia interposição de R ecurso O rdinário à
JR, no p razo de 30 dias co n tad o da notificação, seguindo o p rocedim ento do AI ou
NL, q u an d o o INSS adm inistrava as contribuições. Sem necessidade de depósito
prévio. D epois da Lei n. 11.457/2007 a u m dos CARF do MF
Q uan d o a fu n d am entação disser respeito à exigibilidade d e exação, ter-se-á
processo fiscal ao co n trário da constituição do crédito (NL ou AI).
Da decisão favorável ao co n trib u in te subsiste recurso obrigatório à autoridade
superior.

1155
C urso de D ir e it o P re v id e n c iá rio
T o m o II I — D i r e i t o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
A au tarq u ia d istingue em pregados dom ésticos e co n trib u in tes individuais,
dim in u in d o -lh es os encargos form ais, bem com o em relação a valores de pouca
expressão o u enganos evidentes.
A definição do sujeito credor é questão delicada e sobre a qual silenciam os
atos norm ativos. A rig o r e na prática, tem sido a em presa, q u an d o agirá em seu
nom e e do trabalhador, obrigando-se ju rid icam en te a devolver-lhe o descontado
indevidam ente q u an d o da satisfação da pretensão. N esse caso, o em pregador tem
as seguintes soluções: a) devolve, antecipadam ente, ao em pregado, sub-rogando-se
no d ireito do valor; ou b) obtém procuração para solicitar a restituição. A P orta­
ria SPS n. 1/1979 linha regra a respeito: “N o caso de contribuição indevidam ente
descontada do segurado e recolhida à previdência social, a restituição só se fará ao
pró p rio segurado, ou ao seu procurador, salvo se a em presa com provar que já fez
a restituição” (su b item 50.2).
Nada im pede o p róprio segurado de requerer a volta do indevido, principal­
m ente se apenas esse foi o engano com etido e então a RFB terá de dar-lhe tratam ento
simplificado.
1611. N o rm as verificáveis — Além do princípio co n stitu cio n al, de longa
data a lei civil preceitu a sobre alguém ficar indevidam ente com algo de tercei­
ros e relativam ente à in cidência do enriq u ecim en to ilícito, esta ú ltim a situação
nem sem pre clara ao aplicador da norm a. C onvindo consultar, pois, as Leis ns.
3.071/1916 (C ódigo Civil) e 5.172/1966 (C TN , art. 166) e, h isto ricam en te, os
Decretos ns. 20.910/1932 e 4.597/1942, prin cip alm en te com relação ao prazo de-
cadencial. E a Súm ula STF n. 546.
Na esfera previdenciária, trata do assunto o art. 89 do PCSS. A Lei n.
9.528/1997, acrescen tando parágrafo ún ico ao art. 103 do PBPS, confirm ou o p ra­
zo de cinco anos para o protocolo do requerim ento, excepcionando em relação aos
“m enores, incapazes e ausentes na form a do C ódigo C ivil”.
Em term os adm inistrativos, a ú ltim a n o rm a in tern a vigente é a O rdem de
Serviço C o n ju n ta INSS/DAF n. 51/1996. Na órbita da RFB, disciplinada nas Ins­
truções N orm ativas SRF ns. 22/1996 e 21/1997, b astan te sum ária e onde a petição
inicial tom a o nom e de P edido de R estituição.
1612. T erm o p a ra so licita ção — U m a vez con statad a a im propriedade do
pagam ento é preciso verificar se o credor não decaiu do direito à devolução. De
longa data a lei prescreve um lustro para isso. O co n trib u in te tem cinco anos para
pedir a restituição das co n tribuições pagas indevidam ente o u a m aior. Caso elas se
refiram a m ais de u m m ês — é o m ais co m u m — , a decadência atingirá as m ensa­
lidades pagas 60 m eses para trás.
O term o conta-se da data do recolhim ento indevido e não do m ês de com pe­
tência. Se a desnecessidade do desem bolso derivar de decisão adm inistrativa ou de
sen ten ça ju d icial, ele será m en su rad o e constará de sua lavratura.
Nessas condições, exem plificativam ente, postado 1998, se alguém , em 1995,
v erteu contrib u içõ es im p ró p rias relativas ao período de 1980 a 1990, terá direito
à restituição.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
1613. P ressu p o sto s lógicos — O deferim ento da restituição está condicionado
a certas exigências:
a) E xistência do recolhim ento: É im prescindível ter havido o aporte indevido
— na GPS n o rm al ou na de parcelam ento — , verificado pelo órgão gestor em seus
arquivos ou d em o n strad o pelo requerente nos autos do pedido.
b) Presença de equívoco jurídico ou material: Haver dem onstração insofismável
da im procedência da contribuição. Dá-se exem plo de co n trib u in te individual ao
m esm o tem po trab alh ad o r subordinado, d escontado pelo teto com o em pregado e
ap o rtan d o p o r um a das classes da escala de salários-base do art. 29 do PCSS até
31.3.2003. E videnciará a relação em pregatícia, as deduções com os holerites e j u n ­
tará xerox dos carnes de pagam ento ou GRCI.
c) Não ocorrência da decadência: Faz-se necessário exam e prelim inar, verificar
estarem as m ensalidades com preendidas no lustro decadencial.
d) A dim plência do con trib u in te: Requer-se a adim plência do requerente. Ele
precisa estar em dia para fazer ju s à restituição, pelo m enos com relação à parte
patronal.
Pode o correr de ele ter dívida inferior ao valor a ser restituído e a RFB devolver
a diferença, q u itando-se as contribuições em atraso.
C om débito em pendência adm inistrativa ou ju dicial, o pedido de restituição
ficará so brestado até solução final do dissídio.
1614. P artes do re q u e rim e n to — A solicitação da restituição, na form a de
re q u erim en to com ju n ta d a de provas, processa-se ju n to à divisão da RFB ju risd i-
cio n an te do co n trib u in te.
A O rdem de Serviço C o n ju n ta INSS/DAF n. 51/1996 criou o R equerim ento
de Restituição de C ontribuição, a ser form alizado em duas vias ju n to ao Posto de
A rrecadação e Fiscalização ju risd icio n an te do peticionário.
Depois da qualificação e da afirm ação de estar em dia com as contribuições,
o req u eren te deve alinhavar as d eterm in an tes da devolução, h isto rian d o os fatos,
fu n d a m e n tan d o e ju stifican d o as alegações, q uando for o caso ex p o n d o os cálculos
equivocados e os corretos.
Em seguida exibirá as provas do alegado, ju n ta n d o cópia xerox dos docum entos
em apreço.
Da solicitação deve constar: a) nom e ou razão social do signatário, com registro
do nú m ero , data e órgão ex p ed id o r de sua carteira de identidade, inscrição no CPF,
cargo na em presa e dados da procuração; b) m atrícula ju n to ao órgão gestor: CEI
ou CGC; c) fu n d am en to s e justificativas do pedido; d) discrim inação, m ês a mês,
das im p ortâncias tidas com o indevidas e data dos recolhim entos; e) elem entos da
con tab ilid ad e confirm ando o pagam ento.
As provas são as seguintes: a) cópia autenticada (GPS o u GRCI); b) cópia
au ten ticad a dos recibos de devolução efetuados ao em pregado; c) dem onstrativo
contábil e eco n ôm ico-financeiro com provando de form a inequívoca não ter tran s­

C u r s o d lí D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I I I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
ferido a terceiros o encargo financeiro dos recolhim entos cuja restituição é p leite­
ada; d) cópia auten ticada do ato constitutivo da em presa (contrato social, estatuto
ou ata da assem bleia ou registro de firm a individual); e) original do CGC ou C erti­
ficado de M atrícula e A lteração — CMA; f) borderô de clube profissional de futebol
ou da entidade p ro m o to ra do espetáculo.
Em se tratan d o de exercício encerrado são solicitados, ainda, o original e
cópia do balanço patrim onial e declaração do responsável legal pela contabilidade
e pela em presa (n ú m ero do livro diário e do registro n o órgão co m p eten te), bem
com o a especificação da conta em que apropriado o valor recolhido indevidam ente.
Para exercício corrente, o original e a cópia da folha do livro diário onde co n ­
signado o valor e declaração do responsável pela contabilidade e em presa, constando
o núm ero do livro diário.
Os órgãos públicos, os co n trib u in tes individuais e as entidades beneficentes
de assistência social estão dispensados dessas d u as últim as exigências.
A n o rm a adm inistrativa separa os co n trib u in tes conform e quatro grupos: a)
em presas e equiparados; b) em pregado e dom éstico; c) co n trib u in te individual; e
d) p ro d u to r rural, e exige diferentem ente de cada u m deles.
Na hipótese de decisão ju d icial m an d an d o restituir, o m andado ju d icial (lim i­
n ar ou sen ten ça de m érito) será im ediatam ente protocolizado com o petição inicial
e encam in h ad o à P ro curadoria Estadual e prosseguim ento.
1615. In stru ção da decisão — Instruído form alm ente o requerim ento, proces­
sa-se a restituição, isto é, m andar pagar ao contribuinte. O órgão gestor analisará: a)
tem pestividade da arguição; b) presença dos recolhim entos nos registros internos;
c) existência de outros requerim entos de restituição; d) constatação de débitos ap u ­
rados e em andam ento; e) verificação do m érito em face de decisão transitada em
julgado.
Cada u m dos órgãos gestores utiliza um procedim ento típico para o pagam ento.
O INSS adotava a A utorização de Pagam ento — AP e resolvia em dois níveis: a)
decisão, n o rm alm en te pelo chefe do Posto de A rrecadação e Fiscalização da DRP;
e b) hom ologação, pelo Secretário de A rrecadação e Fiscalização.
1616. S itu ação d o s terceiro s — O recolhim ento a m aior, envolvendo ter­
ceiros, pode ser de dois tipos de situações: a) contribuições a favor da seguridade
social e de terceiros; e b) exclusivam ente de terceiros.
Na prim eira hipótese, o p rocedim ento será in stru íd o pelo INSS, ouvida a en ti­
dade interessada (SESI, SESC, SENAI, SENAC, SEST, SENAT, SENAT etc.). O INSS
procedia a restituição e descontava do repasse m ensal feito à entidade respectiva.
Caso a restituição diga respeito exclusivam ente a im portâncias referentes aos
pró p rio s terceiros, o dever do INSS é de apenas prestar inform ações e encam inhar
os autos à en tidade sujeita à restituição. O pedido deve ser feito diretam ente a cada
um a delas.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1158 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
1617. Salário-familia e salário-maternidade — Na hipótese de a em presa
pagar o au x ílio-natalidade, salário-fam ilia ou salário-m aternidade indevidam ente,
o p ro ced im en to não varia em relação aos dem ais valores. O trâm ite é o m esm o.
Por ocasião da fiscalização da em presa, o INSS verificará a correção do p ro ­
cedim ento.
1618. Atualização do restituído — D isciplinando a obviedade, o art. 89,
§ 4 a, do PCSS dispõe sobre a atualização m onetária dos valores restitu íd o s ou com ­
pensados. N ão ap o n ta o indexador, m as o D ecreto n. 2.173/1997 diz: “utilizando-
se os m esm os critérios aplicáveis à cobrança da própria contribuição em atraso, na
form a da legislação de regência” (art. 72, § 1Q).
A p artir de I a. 1.1996, “acrescida de ju ro s equivalentes à taxa referencial do
Sistem a Especial de L iquidação e de C ustódia — SELIC, acu m u lad a m ensalm ente,
calculados a p artir da data do pagam ento indevido ou a m aior até o m ês an terio r
ao da com pensação ou restituição em q u e estiver sendo efetu ad a” (§ 2-),
A d m inistrativam ente, os critérios desdobram -se em q u atro partes: a) até a
com petência 12.1994 — atualização m onetária desde a dala do recolhim ento indevi­
do até 3 1.12.1995, utilizando a U F IR d e R$ 0,7952 na conversão para real e, a p artir
de jan eiro de 1996, aplicação da taxa SELIC; b) com petência de I a. 1995 a 11.1995
— sem atualização m onetária, usando-se os ju ro s co rresp o n d en tes à SELIC a partir
de l a.l .1996, e, se o co rrer pagam ento de contribuições referentes às com petências
an teriores, fora do prazo de vencim ento e a partir de l a. l . 1996, seguir o disposto na alí­
nea c; c) a p artir da com petência 1 2 .1 9 9 5 — sem atualização m onetária, adotando-se
ju ro s co rresp o n d en tes a u m p o r cento do m ês do recolhim ento indevido e a SELIC a
p artir dos m eses subsequentes; d) no m ês da restituição, ju ro s correspondentes a um
p o r cento nas situações descritas nas letras a, b e c (item 15 da ODS n. 51/1996).
1619. Devolução sumária — A regra da restituição é excepcionada q uando
se tratar de reco lh im en to a m aior, originário de evidente erro de cálculo ou “não
envolver erro de en q u ad ram en to nas tabelas dos códigos FPAS, SAT ou Terceiros,
ou de apuração da base de cálculo de contribuição no com provante de recolhim ento”,
pag am en to em dup licata ou de co n trib u in te individual em gozo de benefício.
Nesse caso “a restituição será feita p o r rito sum ário estabelecido pelo In sti­
tu to N acional do Seguro Social — INSS, reservando-se este o direito de fiscalizar
p o sterio rm e n te a regularidade das im portâncias restitu íd as”.
As co n trib u içõ es terão de ser validadas e im põe-se req u erim en to , sendo d is­
p ensado o p ro n u n c ia m en to prévio da fiscalização.
E stran h am en te, de acordo com a O rdem de Serviço C o n ju n ta INSS/DAF n.
51/1996, “não cabe recurso de ofício n o rito su m ário ” (item 8.3). N esses casos,
geralm ente o valor é pequeno e obrigará o credor a buscar o P oder Ju d iciário ou
desistir.
1620. Transferência do encargo — No § Ia do seu art. 89 o PCSS estabelece:
“A dm itir-se-á apenas a restituição ou a com pensação de contribuição a cargo da em ­

1159
C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II I — D i r e il o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
presa, recolhida ao In stitu to N acional do Seguro Social — INSS, que, p o r sua n a tu ­
reza, não tenha sido transferida ao custo de bem ou serviço oferecido à sociedade”.
O texto provoca polêm ica e nos estendem os sobre ele (“R estituição ou C om ­
pensação de C o n tribuições P revidenciárias”, in “C ontribuições Sociais — Q uestões
Polêm icas”, São Paulo: Dialética, 1995. p. 111/20). Em 1983, lodo um Sem inário
N acional de D ireito Tributário voltou-se ao tem a, dele resultando 26 alentados ar­
tigos de especialistas ( “Repetição do Ind éb ito ”, C aderno de Pesquisas Tributárias,
Vol. 8, São Paulo: R esenha T ributária, 1991).
O CRPS não exigia a condição se se tratasse de pequeno estabelecim ento,
caso dos cabeleireiros (acórdão n. 947/1996 da 7- C âm ara de Ju lgam ento, no Proc.
117684/1993, in “A córdãos do CRPS”, Brasília: ANFIP, Vol. II, 1997. p. 437). Em
decisão m uito interessante, a favor do SESI, e n ten d e u igualm ente desnecessário o
repasse, pois essa instituição não transpassa o ô n u s (acórdão n. 4.647/1996 da 8-
C âm ara de Ju lg am en to , no Proc. n. 2.290.189/1996, in ob. cit., p. 439/41).
A respeito do tem a, alguns p ontos podem ser lem brados: a) restabelecim ento
da ordem ju ríd ica; b) ilegitim idade do terceiro na relação ju ríd ica; c) ordem natural
da restituição; d) determ inação do valor incorporado; e) transform ação da obriga­
ção fiscal; 0 pagam ento indevido gerar obrigação de restituir; g) enriquecim ento
ilícito do INSS; h) transferência ser fato econôm ico e não jurídico; e i) a c o n trib u i­
ção previdenciária não com portar transferência.
a) R estabelecim ento da ordem jurídica: O pressuposto da m an u ten ção da o ri­
gem ju ríd ica — tida com o afetada se não atendida a pretensão da restituição — é
o direito subjetivo à recom posição da situação financeira do co n trib u in te anterior
ao recolhim ento indevido.
Caso len h a assum ido inteiram ente a obrigação, o equilíbrio será estabelecido
com a reposição do indevidam ente expropriado de seu patrim ônio. Mas, se de
algum a form a se recom pôs, transferindo o ô n u s a íertius, o desequilíbrio ou é m o ­
m entâneo ou é aparente, e inexiste para fins econôm icos. P or via de conseqüência,
jurídicos.
Enfocando o consum idor, se o co n trib u in te de direito tem de volta o recolhi­
do (ou não), en q u an to não o restitui a quem su p o rto u o encargo, a ordem ju ríd ica
não é restabelecida. Esta últim a restituição, em com paração com a apuração contábil
do transladado, é mais difícil. De q u alq u er form a, inocorre obrigação legal desse
acerto de contas com o co n trib u in te de fato.
C onsoante certo pensam ento lógico, enq u an to o p roblem a não for econôm ica,
contábil e ju rid icam en te equacionado (regulando-se a transferência e definindo-se
sua caracterização), talvez o m elhor seja a im portância ficar com o INSS, com o se
depósito fosse, indisponível, até solução final.
b) Ilegitim idade do terceiro na relação jurídica: A relação ju ríd ica fiscal, sob a
ótica da obrigação, co m preenderia apenas dois polos: os sujeitos ativos e passivos.
Salvo na hipótese da solidariedade, o terceiro ou co n su m id o r não faria parte dessa
relação jurídica. Logo, não poderia ser beneficiado pela restituição.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1160 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Ao referir-se à transferência do encargo fiscal, m esm o o econôm ico, sem olvidar
o d isposto no arl, f 24 do CTN, o legislador pressupôs a q u eb ra da bilateralidade da
relação fiscal; passa a triangular. No respeitante à co n trib u ição previdenciária do
em pregado d escontado, isso é m ais verdade, pois o em pregador econom icam ente
é m ero in term ediário. Sem prejuízo do dogm atism o na concepção ju ríd ica dessa
relação, não tem n en h u m sen tid o a em presa apropriar-se, p o r via de restituição ou
com pensação, da exação prevista no art. 20 do PCSS; se co n trib u in te de direito,
sem repassar, en trem entes, o valor é seu,
Se terceiro arcou com o ônus, a d o u trin a, à vista do texto legal e da Súm ula
STF n. 546 ( “Cabe restituição de trib u to pago indevidam ente q u an d o reconhecido
p o r decisão que o co n trib u in te dc jure não recuperou do co n trib u in te de fato o
quantum respectivo”), terá de adm itir exceção à regra e refletir sobre a triangula-
ridade,
c) O rdem n atu ra l da restituição: A ordem n atu ral da restituição cam inharia na
direção de o INSS devolver ao sujeito passivo e este, p o r sua vez, a quem arcou com
a obrigação. Inex istente obrigação fiscal legal de devolver ao terceiro e nen h u m a
tradição de cu m p rim en to do art. 764 do C ódigo Civil, d esnatura-se a seqüência,
co n v in d o sopesar a m elh o r solução sob o aspecto custo/benefício. M elhor seria, de
legeferenda, creditar-se no valor m ediante a redução de preços e, d em o n strad o esse
proced im en to , o b ter o co rresp o n d en te, do sujeito ativo.
Não se desprezando o co n trib u in te de jure, p ressuposto de todas as norm as
rep roduzidas, o exam e do equilíbrio das relações tem de levá-lo em conta, não
bastantes as dificuldades m ateriais e de execução. A Previdência Social dispõe de
instru m en to legal suficiente para criar em baraços ao co n trib u in te e, possivelm ente,
a ordem n atural subm eter-se-ã às soluções operacionais e estas, sem dúvida, d epen­
derão , em últim a análise, do P oder Judiciário.
d) Determ inação do valor incorporado: Se não se pode determ inar com precisão
a im p o rtân cia in co rp o rad a ao bem ou serviço, individualizá-la, com o apurá-la ou
contabilizá-la, para fins de restituição?
A dificuldade é concreta e é fora de sen tid o pretender-se m aior organização
das em presas. Todavia, alguns co m p o rtam en to s, refletidos nos ap o n tam en to s c o n ­
tábeis, são evidentes. Se a em presa lançou a exação com o despesa operacional, não
im p o rta q u an to ten h a refletido no custo final do produto. Em p rincípio, toda ela
agregou ao bem ou serviço.
e) Transform ação da obrigação fiscal: N ão restitu ir significaria conferir p ro ­
pried ad e ao inexigível, in stitu cio n alizar sua validade, N ão necessariam ente. Di­
ferentes são as duas situações em relação a q uem recolheu ou não a contribuição
controversa, Se o sujeito passivo não o fez, o quantum adquire exigibilidade. Nesse
caso, não reco lh en d o o devido, p o r inadim plência, estaria o co n trib u in te regrando
a não im posição?
D P agam ento indevido gerar obrigação de restituir: A regra é válida, mas,
pondere-se, não é absoluta. Se o suporte é a ideia de apropriação indevida, raciocínio

C urso d e D ir e t o P r h v id t in q á r io

T om o Jll — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1161


lógico-jurídico, vencido o prazo decadencial, com o explicar o erário ficar com o
valor indevidam ente pago? A m esm a causa excludente da incidência, diante da
decadência, um a ficção técnico-jurídica, transform a a exigência em inexigência.
Na verdade subsiste convenção, in casu, relativa à m atéria não regulada.
A questão não é apenas o dever de restituir, m as a quem e com o fazê-lo. O
art. 166 do CTN e o art. 89 do PCSS são in stru m e n to s legais vigentes diante da rea­
lidade fiscal. A em presa, on eran d o os custos, au m en ta os preços: dim inuindo-os,
não reduz os preços e, com isso, o co m p rad o r acaba sendo o co n trib u in te de fato.
A obrigação de re stitu ir é em relação a este últim o.
g) E nriq u ecim en to ilícito do INSS: O conceito de en riq u ecim en to ou locuple-
tam ento ilícito do p o n to de vista jurídico, não é pacífico. O bviam ente ficar com o
valor alheio não pode ser sustentado pelo Direito, m as afirm ar que o E stado com ete
enriq u ecim en to ou locu pletam ento não legal é im propriedade.
Orlando Gomes sustentava inexistir preceito legal consubstanciador do enri­
quecim en to sem causa; p o rtan to , n a sua opinião, n ão co n stitu i geratriz de obriga­
ções (apud Lindemberg da Mota Silveir a, in “C aderno de Pesquisas T ributárias”, São
Paulo: Resenha Tributária, 1991, Vol. 7, p. 60/86). Para este últim o, ocorre q uando
alguém , a expensas de o utrem , aufere vantagem patrim o n ial sem co n trap artid a,
ou justificada. A presenta quatro requisitos fundam entais: a) o enriquecim ento de
alguém ; b) o em p o b recim ento de outrem ; c) o nexo de causalidade entre um e
outro; d) a falta de causa ou causa injusta.
h ) Transferência ser fato econôm ico e não jurídico: A translação é falo econô­
m ico com conseqüências jurídicas. C om o regrada a instituição, o legislador a c o n ­
sidera p ro d u zin d o efeitos n a órbita jurídica. Sem em bargo de não tê-lo m ensurado,
atrib u in d o papel à d o u trin a ou até invalidando o m étodo utilizado, o legislador
quis com eter a tal aco n tecim ento significado form al, d esd obram entos práticos e
jurídicos.
i) C ontribuição previdenciária nào co m portar transferência: A Lei n. 9.032/1995
não aclara qual contribuição possa ser transferida. Sebastião Alves dos Reis, M inistro
do extinto TFR (5ã Turm a, na A pelação Cível 70.545/M G , ap u d Marco Aurélio
Greco, in “C aderno de Pesquisas T ributárias”, São Paulo: Resenha Tributária, 1991,
Vol. 7, p. 282), posiciona-se no sentido da im possibilidade.
A parentem ente, seria o encargo form alizado, pois a contribuição p re v id e n ­
ciária, com o q u alq u er outra, acresce-se com o despesa operacional ao custo dos
p ro d u to s e, assim , é econôm ica e ju rid icam en te transferível.
Segundo a m aioria dos autores a exação transferível é tão som ente a deflagrada
pela operação com ercial, em que envolvidas duas pessoas.
O Parecer CJ/MPAS n. 1.078/1997 trata do ô n u s da prova da transferência do
encargo a terceiro, no caso de microempresa, desobrigada de certos livros e docum entos.

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1162 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Capítulo CLXII

C o n s u l t a A d m in is t r a t iv a

1621. Significado técnico. 1622. Quem pode consultar. 1623. Desti­


Su m á r io :

natário do pedido. 1624. Elementos da indagação. 1625. Limites da resposta.


1626. Possibilidade de reexame. 1627. Efeitos fiscais. 1628. Recurso de consulta.
1629. Oportunidade das perguntas. 1630. Consultas públicas.

A con su lta é u m m ecanism o de provocação da A dm inistração P ública para


o b ter p ro n u n c ia m en to da autoridade, p o u co desenvolvido no D ireito P revidenciá­
rio (p rin cip alm en te em m atéria de benefícios). À vista do disposto n o art. 5Q, XX/
XIV, b, da C o n stitu ição F ederal (“a obtenção de certidões em repartições públicas,
para defesa de direito e esclarecim ento de situações de interesse p esso al”), é direito
a ser exercitado p o r todos os adm inistrados, n o variado espectro da proteção social.
Em term os legais, ela com parece nos arts. 46/58 do D ecreto n. 70.235/1972.
O INSS está obrigado, p o r força desse m an d am en to co n stitu cio n al, a aten d er
á co n su lta e a p restar inform ações. N ão pode recusar-se. E em prazo razoável, caso
contrário, sobrevirão conseqüências. O m esm o vale para a Receita Federal do Brasil,
onde, aliás, m elh o r disciplinada a m atéria.
Para Valdir de Oliveira Rocha é direito, garantia ou faculdade co n stitu cio n al­
m ente assegurada (in “A C onsulta Fiscal”, Sâo Paulo: D ialética, 1996. p. 14).
L egitim am ente exercido, cu m p rid o s os pressupostos, o direito de co n su ltar
não tem lim ites; os efeitos fiscais, porém , podem ser restritos. Se o co n su len te per­
g u n ta o óbvio o u o faz p o r curiosidade, sem caracterizar caso concreto, a resposta,
q u an d o devida, prestar-se-á apenas para ilustração.
A legislação previdenciária básica não tem dispositivo específico sobre a c o n ­
sulta, em bora as indagações possam ser form uladas tanto em m atéria exacional —
em que m ais co m u m a incerteza e desenvolvido o in stitu to — qu an to em relação
a benefícios.
A área gerida pelo M inistério da Fazenda é pródiga em fontes formais, convindo
ver o art. 61, § 2a, do CTN, os arts. 46/58 do D ecreto n. 70.235/1972 e os arts. 48/50
da Lei n. 9.430/1996 e, em razão desta últim a, a Instrução N orm ativa SRF n. 2/1997.

C urso d ei D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I I I — D ir e íto P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
O in stitu to trib u tário p ertin e n te é regra universal acolhida pelo Direito P re­
videnciário, em todos os seus term os e condições, deixando o h ab itat n atu ra l do
dever (co n tribuições) e ingressando na área do D ireito (prestações). C om a par­
ticularidade de, n esta ú ltim a circunstância, n ão se poder aplicar com a m esm a
eficácia o princípio do conhecim ento da lei.
O sujeito passivo obriga-se a tom ar ciência da n o rm a, mas nem sem pre co n ­
segue com preendê-la em seu rea! significado e alcance. Prova é a existência de sem ­
-núm ero de p en dências teóricas o cupando o P oder Ju d iciário e serem infindáveis
as opiniões adm inistrativas ou doutrinárias, a respeito de questões litigiosas. M uitas
delas, até p u ra m e n te cerebrinas.
A Lei n. 9 .4 3 0 /Í9 9 6 traz regra bastante útil para os contribuintes: “As solu­
ções das consultas serão publicadas pela im prensa oficial, na form a disposta em ato
norm ativo em itido pela Secretaria da Receita F ed eral” (art. 48, § 49).
São inúm eros os trabalhos publicados em m atéria tributária, m as nen h u m sobre
previdência social, especialm ente a respeito de benefícios. Vale consignar o livro
“A C onsulta Fiscal”, de Valdir de Oliveira Rocha (ob. cit.). Por ele m encionados,
entre outros, po d em ser citados artigos de Cléber Giardino ( “In stitu to da consulta
em m atéria trib u tária — D eclaração de ineficácia”, in Revista D ireito T ributário
n. 39, p. 225), Luciano Amaro ( “Do processo de co n su lta”, in N ovo Processo Tri­
b utário , Resenha Tributária, 1975, p. 88), Gilberto de Ulhôa Canto ( “C onsulta ao
F isco”, in Rep. E nciclopédico do D ireito Brasileiro, de J. M. de Carvalho Santos,
vol. XII, p. 94) e Ruy Barbosa Nogueira (“C onsulta e direito au to riz ad o ”, in Direito
Tributário Atual, Vol. 6, p. 1567).
1621. S ignificado técn ico — D iante da dificuldade de co m p reen d er a legis­
lação para p o d er aplicá-la, ou enfrentando óbices interpretativos, o sujeito passivo
de eventual obrigação, justificado para isso, pode transferir esse em baraço subjetivo
intelectual para a ad m inistração e aguardar a solução.
A consulta in tram uros, ou representação, tem outras características. Da m es­
m a form a, a resposta propiciada por em presas particulares especializadas (LTr,
IOB, RPS, Dialética etc.) ou pareceres d outrinários. Segundo a O rientação N orm a­
tiva SPS n. 3/1994, para o encam in h am en to de consulta da D ireção-G eral do INSS
à Secretaria de Políticas da Previdência Social, deve antes ser obtido o p ro n u n c ia ­
m ento fun d am en tad o da respectiva diretoria e parecer da P rocuradoria G eral da
U nião. Decidida a questão, seu item 2 m anda expedir O rientação N orm ativa para
evitar novas co n su ltas sobre o m esm o tem a.
São razoavelm ente freqüentes no tocante à taxa de seguro de acidentes do
trabalho, sobre a co n tribuição previdenciária, q u an to ao prazo de decadência e de
prescrição, e o u tros assuntos mais. O dispositivo m ais q u estio n ad o é o art. 28 do
PCSS (salário de contrib uição). Por conseguinte, tantas m anifestações d o utrinárias
e pareceres norm ativos.
C om um , q u an d o do advento de exigibilidade nova ou m u d an ça na definição
do fato gerador, a consulta tem natureza contenciosa e da resposta, d espertando

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1164 W i a d í m i r N o v a e s M a r ti n e z
inco n fo rm id ad e no interessado, inexiste previsão de recurso adm inistrativo, en tre­
tanto cabe ação d eclaratória n a Ju stiça Federal. Para obrigar a adm inistração a se
m anifestar (ação m an d am en tal) ou para dizer do direito (ação declaratória).
Tendo em vista tratar-se de relação en tre adm inistração e certo adm inistrado
(co n su len te), em p rincípio, não tem caráter norm ativo para as dem ais pessoas.
Nada im pede estas de, igualm ente, prom overem a consulta; a resposta só será nor­
m ativa q u an d o divulgada no D iário Oficial da União. Todavia, a falta de n orm ati-
vidade deve-se tão som ente à ausência de publicidade, pois o estudo desenvolvido
em relação à indagação proveniente de cenário típico terá de ser igual para todos
os co n su len tes em iguais circunstâncias. Na verdade, a resposta sistem aticam ente
deveria ser divulgada. Q uando solicitada p o r entidade representativa alcança todos
os seus in teg ran tes em igualdade de situações.
Divergem os au to res a respeito. Valdir de Oliveira Rocha cita dois oponentes.
Para Francisco de Souza Mattos, a resposta estende-se a terceiros (“A C onsulta Fiscal”,
in Revista Tributária, Vol. 205, p. 36), m as Gilberto de Ulhôa Canto pen d e ao co n ­
trário ( “C o n su lta F iscal”, ob. c it.).
A resposta beneficia a todos na m esm a situação. A inteligência de não se es­
tender, conclusão praticada p o r algum a divisão da adm inistração, deve-se ao receio
de n ão h aver coincidência de situações e, sendo m uitos os setores adm inistrativos,
p o d er perder-se a u n ifo rm id ad e de tratam en to , em term os regionais ou nacional.
Daí, com os recu rso s da inform ática, haver concentração do ente com au to ri­
dade e com p etên cia para responder.
1622. Q u em p o d e c o n su lta r — A legitim idade para co n su ltar desdobra-se e
dois aspectos: a) pessoal e b) m aterial.
P essoalm ente, só o beneficiário ou c o n trib u in te está au to rizad o a consultar;
apen as aquele in teressado d iretam en te na solução da pendência. Precisa d em o n s­
trar estar en fren tan d o o obstáculo em causa. Em presas de consultoria ou escritórios
de advocacia só podem fazê-lo em relação a clientes e em no m e deles.
Se hã m anifestação pública da adm inistração sobre a m atéria o ped id o de co n ­
su lta é ineficaz. Tam bém inexiste legitim idade se o co n su len te foi an terio rm en te
inform ado.
O co n su len te, em vez de bu scar a adm inistração, p o d erá socorrer-se de espe­
cialistas o u au to rid ad es no assunto, com o pedido de parecer. Trabalho d o u trin á ­
rio, o estu d o não vincula a adm inistração e, assim , não p ro d u z os efeitos fiscais
an tes aludidos.
A ad m inistração pode co n su ltar e frequentem ente processa-a m ediante des­
p achos n o s autos, en cam in h an d o -o s à C o n su lto ria ou P rocuradoria, em solicitação
form al o u não. Boa parte dos pareceres norm ativos nasce de consultas.
E n tid ad es rep resen tativ as de categorias com o associações, en tes sindicais
p atro n ais ou profissionais, ordens e o u tras organizações m ais, q u an d o em nom e
de gru p o s, tam b ém estão au to rizad o s a fazê-lo.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 111 — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1165


1623. Destinatário do pedido — M aterialm ente, as consultas devem referir-se
ao pro ced im en to adm inistrativo. As referentes às contribuições devem ser dirigi­
das à RFB. A p ertin en te a benefícios ou a contribuição nascida da prestação de
serviços dos segurados, ao INSS.
Em bora os assuntos possam ser correlatos, não deve a adm inistração respon­
d er quesitos im p ertin en tes, com o falar do côm pulo do tem po de serviço do aviso
prévio na relação laborai com vistas à CLT, m esm o o p eríodo interessando à relação
previdenciária.
A Caixa Econôm ica Federal deve silenciar quanto à incidência de contribuições
previdenciárias sobre as horas extras, m atéria co m u m ao FGTS.
Porém , a RFB p o d erá m anifestar-se sobre o conceito de rem uneração (base de
cálculo do aporte p rev idenciário), em razão dele fazer parte do fato gerador do Im ­
posto de Renda; e o fará com vistas em sua legislação e critérios e não os do INSS.
In existente regra de su p erd ireito em relação aos diferentes órgãos da adm inis­
tração, se o co n trib u in te obtiver resposta diferente, em anada de d istin to M inistério,
terá de socorrer-se à C o n sultoria Geral da República, para o eventual desem pate.
C uid an d o de con tribuições relativas ao trabalhador, devidas pelo co n trib u in te
ou pela em presa, de prestações ou m atéria previdenciária de filiação ou de inscrição,
a co n su lta será dirigida ao INSS.
Se, en tretan to , disser respeito ao financiam ento deverá ser encam inhada à
RFB. E m razão da Lei n. 9.317/1996 (SIMPLES), am pliou-se a atribuição desta para
a parte p atro n al, então su b stitu íd a, da m icroem presa e em presa de pequeno porte.
Se p ertin en te ao co n cu rso de prognósticos, à Caixa Econôm ica Federal.
A In strução N orm ativa SRF n. 2/1997 estabeleceu a com petência dos entes
consultados: “I — C oordenação Geral do Sistem a T ributário, n o caso de consulta
form ulada p o r órgão central da A dm inistração federal ou p o r entidade rep resen ta­
tiva de categoria econôm ica ou profissional de âm bito nacional; II — S u p erin ten ­
dência regional da Receita Federal, nos dem ais casos” (art. 7B). Das outras fontes de
custeio, previstas no art. 27 do PCSS, ao MPS.
1624. E lem en to s d a indagação — A co n su lta tem com o pressuposto lógico a
existência de efetiva dúvida ou conflito de interpretação. Técnica e cientificam ente
falando-se. P relim inarm ente, é preciso estar diante de verdadeira incerteza e não
de d esconhecim ento p u ro da lei. Em segundo lugar, é necessário ser razoável a
perquirição, descabendo sobre fatos geradores ou situações com uns.
D em onstra má-fé q u em deseja saber qu an to à incidência de contribuições
sobre o salário ou indaga da filiação obrigatória do em pregado, restando ineficaz o
pedido. O ô n u s de d em o n strar esses dois requisitos é do consulente.
A legitim idade do pedido corresponde ao interesse de agir p ro cedim ental­
m ente. Sem essa d em onstração, descabe a consulta.
A resposta à indagação é ato form al, de grande relevância, aperfeiçoam ento do
processo fiscal de consulta. M uito assem elhada ao parecer norm ativo, deve cercar­
-se de cuidados m ín im o s p o r parte da adm inistração.

C urso de D ireito P re v id e n c iá rio

1166 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Seus elem en to s básicos são os seguintes:
a) titu larid ad e — qualificação do consulente, com razão social, endereço, des­
crição com pleta da atividade, CGC ou CPF, e outros dados necessários à com preensão
da dúvida, com o existência de filiais ou não, trabalho no territó rio nacional ou
ex terior e assim p o r diante;
b) fu ndam entação — indicação das norm as aplicáveis, em tese, à situação
co ncreta g eradora da dúvida. D esenvolvim ento lógico da questão, com a fo rm u ­
lação de raciocínios, citação de jurisprudência e rem issão à d o u trin a nacional ou
estrangeira;
c) indagação — elaboração exaustiva e cuidadosa dos quesitos sobre os quais
deseja a resposta, pois a adm inistração a eles estará adstrita;
d) ju íz o de adm issibilidade — justificação da procedência da consulta, expo­
sição de sua legitim idade, com a inform ação de não estar sob ação fiscal relacionada
com a m atéria e o fato de não ter, an terio rm en te, feito igual indagação;
e) referir-se à existência de situação concreta ou a se realizar.
1625. Limites da resposta — O alcance da resposta ã co n su lta diz respeito
exclusivam ente à: a) pessoa consulente; e b) m atéria circunscrita.
Mesmo sendo o problem a abordado genérico e com um a outros obrigados, a
rigor, subjetivam ente a resposta referir-se-ã tão som ente a quem provocou a indagação.
Da m esm a form a, m aterialm ente dirá respeito exclusivam ente ao contido no
pedido, não extravasando para outras abordagens. Se a adm inistração fica aquém ,
deverá ser co n sultada novam ente, m as, se há excesso, este não tem eficácia jurídica.
Baseada em certa lei ou o u tro fu n d am en to válido, se estes são m odificados a
resposta p erd e eficácia.
A n o rm a não fixa prazo para a resposta, em bora ela devesse sobrevir nu m
prazo m áxim o de 90 dias. Fora disso há direito subjetivo a exigir reparação pela
dem ora, q u an d o prejuízo causar.
1626. Possibilidade de reexame — A resposta à consulta pode ser derrogada
p o r vários eventos: a) nova consulta; b) iniciativa da adm inistração; c) m odificação
da norm a; d) alteração do sítio determ inante; e e) possibilidade de recurso.
Sobrevindo u lterior pergunta, diante de com preensão inédita o u outro cenário
legal, a resposta po d erá ser m odificada.
D ando-se co n ta de haver-se equivocado, a adm inistração revê a decisão e e n ­
cam inha co m unicação p o sterio r ao consulente.
A lterando-se a norm a, a indagação deve ser reexam inada. As respostas são
definitivas até serem m odificadas.
H avendo previsão legal de recurso, a alteração dar-se-á p o r força de decisão
superior.
N ovos fatos exigirem revisão do en ten d im en to anterior.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o III — D ir e ito P r e v i d e n c i á r i o P r o c e d im e n ta l 1167


Se, na nova consulta, é acrescida a área da controvérsia, os efeitos lim itar-se-ão
à questão aduzida.
1627. E feitos fiscais — Efeitos fiscais são constatados, d u ran te e após a res­
posta. E n quanto aguarda solução, o sujeito passivo não está livre de ser notificado
— acautelando-se a Fiscalização qu an to a esse aspecto — , m as, em seguida à res­
posta, se ela p en d eu pela exigibilidade, no prazo de 30 dias previsto no art. 48 do
D ecreto n. 70.235/1972, o co n trib u in te estará desobrigado dos acréscim os legais.
N o silêncio n o rm ativo da previdência social, esse prazo tam bém é ali consagrado.
Se a adm inistração se equivoca na resposta e a revê, os efeitos contam -se da
data do recebim ento da nova com unicação, valendo o en ten d im en to an terio r até
a véspera.
Caso a resposta len ha aten d id o sua pretensão, restará desobrigada.
A form ulação de consulta elide sanções (juros e m u lta autom ática), mas não
a possibilidade de ação. Se o AFRF tem certeza do procedim ento — assum indo os
riscos do excesso de exação — , en q u a n to não solvida a dúvida, poderá notificar
a consulente. Não se trata de providência adm inistrativam ente recom endável; se a
pendência justifica, ele deve fazer, intram uros, a sua própria consulta antes de
autuação ou notificação.
Diante do m esm o q uadro fático e legal, se dois interessados obtiverem resposta
desigual, as d u as co n su ltas estão invalidadas pelo conflito d e ideias. Tom ando
conhecim ento do fato, a adm inistração terá de reapreciar as duas e com unicar aos
contribuintes. O consulente prejudicado tem o direito de solicitar revisão da decisão.
Para o M inistério da F azenda, a “co n su lta im pede a aplicação de penalidade
relativam ente à m atéria consultada, a partir da data de sua protocolização até o
trigésim o dia seguinte ao da ciência, pelo consulente, da decisão que a soluciona,
desde que o pag am en to ocorra n este prazo, q uando for o caso” (caput do art. 10 da
Instrução N orm ativa SRF n. 2/1997).
Q uando a m atriz consulta beneficia as filiais. Se o fato ainda não aconteceu,
os efeitos contar-se-ão de sua realização.
Em diversas hipóteses não se operam os efeitos fiscais referidos. Isso ocorre
nas seguintes circunstâncias: a) não ser o sujeito ativo; b) inexistência de qualifi­
cação; c) trata r de questão genérica; d) a indagação não descrever suficientem ente
os fatos ou deixar de ap resen tar a form ulação do raciocínio; e) q uando a área da
controvérsia envolver m atéria em litígio; f) prom ovida por consulente sob ação fiscal;
g) cu id ar de assu n to já consultado; e h) se o tem a estiver perfeita e claram ente
disciplinado em ato norm ativo válido e vigente.
C uriosam ente, a In strução N orm ativa SRF n. 2/1997, no art. 11, arrola com o
óbice a esses efeitos se o problem a “versar sobre constitucionalidade ou legalidade
da legislação trib u tária”. No m ais das vezes esse é o vício que inquina a aplicação da
norm a. Sem em bargo do custo operacional, a adm inistração tem o dever de respon­
d er perguntas sobre a validade das leis ou sua constitucionalidade. A resposta será
declaratória e sem pre su bm etida ao crivo do P oder Judiciário.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1168 W l a t/ i m ir N o v a e s M a r t i n e z
1628. R ecu rso de c o n su lta — Da decisão de a te n d e r a consulta, cabe (se
previsto) ou não recurso. A indagação é torm entosa, em face da am pla defesa e do
co n trad itó rio e do p rincípio da econom ia procedim ental. C om a resposta, o in te­
ressado obtém solução antecipada para o problem a trazido à colação, evitando-se
d an o s para si e cu sto s para a adm inistração.
Sem som bra de dúvidas, no núcleo da questão subsiste contenciosidade, ou
seja, oposição de interesses im ediatos ou m ediatos e, p o rtan to , sendo válido o
d u p lo grau de apreciação. Por o u tro lado, é a opinião da adm inistração e ela tem
o direito de expressá-la, restando ao co n trib u in te, se insatisfeito, aguardar a efeti­
vação de m edida co rresp o n d en te para, então, p o d er defender-se adm inistrativa ou
ju d icialm en te.
O tem a é convencional; adm itida a linha recursal in tern a ter-se-á ação decla-
rató ria adm inistrativa e sua solução poderá im pedir o Estado de agir, dim inuindo-se,
p o r co n seg u in te, q u estiú n cu las e con stran g im en to s ao adm inistrado.
Em su a versão original o D ecreto n. 70.235/1972 adm itia recurso, “com efeito
suspensivo, de decisão de prim eira instância, dentro de 30 dias contados da ciência”
(arl. 55), prevendo, inclusive, recurso de ofício de decisão favorável ao co n su len te
(art. 56), o b stan d o , tam bém , pedido de reconsideração (art. 58).
Infelizm ente, a Lei n. 9.430/1996 alterou essa sistem ática: “N ão cabe recurso
nem ped id o de reconsideração da solução da consulta ou do despacho que declara
sua ineficácia” (art. 48, § 39).
1629. O p o rtu n id a d e d as p e rg u n ta s — A consulta é adm itida a q u alq u er m o ­
m ento, p articu larm en te logo após a inovação legal. Para n ão ofender a sua boa-fé,
não cabe prom ovê-la d u ra n te a ação liscal. M enos ainda, após a notificação. Logo
m ais o co n trib u in te terá direilo de co n testa r a N otificação Fiscal e provocar a d is­
cussão da questão.
1630. C o n su lta s P úblicas — A Lei n, 9.784/1999 prevê as figuras da C onsulta
P ública e da A udiência Pública, in stru m en to s de consulta de iniciativa da A dm i­
nistração Pública.

C urso de D ir e it o P r e v íp e n c iá r io

T o m o III — D i r e ií o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
Capítulo CLXIII

R ev is ã o d e O f íc io

1631. Primeiras ideias. 1632. C o m a n d o s normativos. 1633. Enquadra­


S u m á r io :
mento cientifico. 1634. Prazo de elaboração. 1635. Distinção da Uniformização.
1636. Características básicas. 1637. Sujeitos envolvidos. 1638. Requisitos técnicos.
1639. Abrangência do instituto. 1640. Conclusões finais.

A possibilidade dos órgãos gestores da P revidência Social reverem os seus


atos ad m inistrativos conhece história longa e vem se m odificando com o passar do
tem po. À evidência, aco m p an h o u a assertiva consagrada de que a A dm inistração
Pública p o d e reexam inar suas decisões.
1631. P rim eiras id eias — A Portaria MPAS n. 3.318/1984, d isp u n h a sobre
a revisão (arts. 105/116), p o r parte do INSS (arts. 107/109), da SPS e SSM (arts.
110/113) e do interessado (arts. 114/116), providência que não confundia com a
avocatória (arts. 120/122).
A P ortaria MEPS n. 3.302/1970 fez confusão entre os dois institu to s, estabe­
lecendo prazo de 120 dias (art. 7a). A m esm a diferença é perceptível na Portaria
MPS n. 713/1993.
O art. 199 da CLPS (D ecreto n. 77.077/1976) atribuía ao C onselho Fiscal da
Previdência Social p o d er para “recorrer para o M inistério da Previdência e Assis­
tência Social de decisão tom ada p o r m aioria não su p erio r a 2/3 (dois terços) dos
m em bros, no prazo de 10 (dez) dias contados da data da decisão .
Dizia a Portaria MPAS n. 632/1977: “A iniciativa para a revisão de atos dos órgãos
ou autoridades com preendidas na área de com petência do MPAS poderá ser exercida
pelo Secretário-Geral do m inistério, sem prejuízo da com petência m inisterial .
Já extern am o s su rp resa dada a sem elhança entre a revisão, contida no art. 119,
e a avocatória, co n stan te do art. 121 daquelas norm as (in “C om entários à Lei Bá­
sica da Previdência Social”, 3ã ed., São Paulo: LTr, Tomo II, 1995. p. 453). O m es­
m o fez Fernando Camargo Dias, histo rian d o u m processo kafkiano concreto, com
m archas e contram archas, ora avocatória e ora revisão ( “Avocatória M inisterial”,
in RPS n. 111/1970).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1170
O s dois dispositivos tratavam de poderes distintos. A p rim eira providência
só corrigiria equívoco da au tarq u ia ou da JR e não d a CAj. Tratava-se de direito
subjetivo da au to rid ad e pública, dele não se p o d en d o servir os c o n trib u in tes ou be­
neficiários; a estes, restaria a depois extinta avocatória, com suas particularidades.
Com o art. 60, a P ortaria MPS n. 88/2004 revogou a avocatória disciplinada no
art. 4 a da Lei n. 6.309/1975, su b stitu in d o -a p o r u m m ecanism o de algum a form a
sem elhante ao an terio r e acrescendo um P edido de U niform ização de J u risp ru d ê n ­
cia — PUJ. Daí as várias m enções feitas abaixo àquele vetusto in stitu to técnico.
A ideia da Revisão de Ofício não é nova. O D ecreto n. 2.173/1997, em seu
art. 119, dizia: “O órgão de direção su p erio r com petente do M inistério da Previ­
dência e A ssistência Social po d e provocar, perante o CRPS, no prazo de cinco anos,
a revisão de decisão do INSS ou de JR, que tenha co n trariad o disposição de lei, de
regulam ento ou de norm a por ele expedida, de en u nciado do CRPS o u de decisão
do M inistro da P revidência Social ou do CRPS”.
P o r o u tro lado rezava o art. 121: “O M inistro da P revidência e A ssistência
Social pode avocar e rever de ofício ato ou decisão de qu aisq u er órgão o u autoridade
co m p reen d id o s na sua área de co m petência” (um m isto de avocatória e pedido de
revisão).

A p o ssibilidade dos beneficiários, isto é, segurados e d ep en d en tes ou c o n tri­


buintes, vale dizer pessoas físicas ou ju ríd icas, tentarem rever decisão tom ada pelo
co n ten cio so ad m in istrativo, m ais p articu larm en te do CRPS em diferentes níveis da
in strução do ato em and am en to ou final, designado de acórdão, é m atéria pouco
versada pelos m onografistas ou ensaístas do D ireito Previdenciário Procedim ental.
A p artir da P ortaria MPS n. 323/2007 tem -se então dois in stitu to s técnicos:
a) Revisão de Ofício e b) P edido de U niform ização da Ju risp ru d ê n cia. São duas
tentativas de correção dos atos adm inistrativos com a diferença de q u e o prim eiro
pode ser su scitado pelo interessado, m as não é um direito subjetivo. Não logrando
ter a preten são aten d id a, só lhe restará o P oder Judiciário.
1632. C o m an d o s n o rm ativ o s — Diz o art. 60 da Portaria MPS n. 323/2007
que asJR e CAj: “poderão rever sua próprias decisões, de ofício, enq u an to não ocor­
rer a decadência de que trata o art. 103-A da Lei n. 8.213, de 14 de Ju lh o de 1991”.
1633. E n q u a d ra m e n to científico — A autoridade in term ed iária ou m áxim a
po d er reco m p o r os seus atos ou decisões é próprio do D ireito A dm inistrativo.
Trata-se de faculdade de desfazer inerente a quem tem o p o d e r de fazer. A m edida
acredita alcançar acerto no segundo exam e.
É possível refazer os acórdãos dos órgãos de controle adm inistrativo da Previ­
d ência Social — Ju n ta de R ecursos ou C âm aras de Julgam ento — , diante de m an i­
festo engano no co n teú d o da decisão exarada, alterando-a, m áxim e em se tratando
de erro m aterial, m as n ão sendo im possível em q uestões ju ríd icas, em observância
ao p rin cíp io de econom ia procedim ental.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 111 — D i r e it o P r e v i d e n c i á r i o P r o c e d im e n ta l
1171
Não se cuida de decisão revisanda, segundo o duplo grau de jurisdição adm i­
nistrativa, conseq ü ên cia do efeito devolutivo, realizada p o r entidade de nível su p e­
rior. P o rtanto, a m edida sob enfoque não h ã de ser tida com o recurso.
Este, com n atureza de apelação ou de declaração, é o im petrado contra deci­
sões do INSS às JR ou das JR às CAj. Ipso jacto, não é possível contrapor-se à decisão
final do CRPS, n a esfera adm inistrativa, p o r m eio de recurso.
D escabe-lhe, tam bém , servir de recurso intem pestivo; quem p erd eu o prazo,
m esm o com razão, deverá u tilizar o u tro in stru m en to , previsto nas norm as procedi­
m entais. N esse sen tid o o acórdão da 2~ Turm a do TRF da I a Região, de 12.9.1994,
na Apelação em MS n. 1989.01.21585-3/D F, in RPS 171/112.
Revisão de Ofício não é recurso, m as rem édio jurídico-adm inistrativo final
com vistas a sanear determ inação equivocada. Deflui do p o d er de im pério da adm i­
nistração com etido ao CRPS.
A rigor, m esm o não form alm ente disciplinado o procedim ento, com o siste­
m atizado na legislação previdenciária, é solução cabível em outras esferas m inis­
teriais.
Por sua essência, aspirando os au to s de baixo para cim a, abriga certa dispo­
sição condicionada para a providência; o interessado n o desfazim ento do ato não
está privado da faculdade de g aran tir sua efetividade.
No entender do Parecer CJ/MTPS n. 29/1970, que se aproveita pela oportuni­
dade: “con stitu i providência extrem a e som en te se justifica na ocorrência de erro
substancial ou nulidade in san ável”. Se a JR, em exam e prelim inar de tem pestivi­
dade, conLar erradam ente o prazo de interp osição de pedido de reconsideração da
d ecisão do INSS, a CAj requerida reform ará o acórdão da JR e m andará apreciar o
m érito, reabrindo-se as instâncias.
Tem caráter de um a ação rescisória adm inistrativa, conform e vislum brou o
Parecer CJ/MTPS n. 42/1970: “que, na form a processual, seria o m eio adequado
para corrigir-se um a sentença eivada de vício ou erro substancial, com o ocorreu
na espécie, situação essa so m en te trazida à luz, repetim os, depois de tran sitad a em
ju lg ad o a decisão de últim a instância adm inistrativa o rd in ária”.
Se a au tarq u ia se m anteve inerte “um a vez perdido o prazo para o recurso, ou
m esm o, ten d o se resignado ao julgado, cabe, ao INPS, arcar com as co nseqüências”
(P arecer PGC/GCB n. 132/1985, exarado n o Proc. n. 3 1 .0 0 0/015.636/1985, in
C ircular 6 0 1 .005.0/36/1986).
José dos Reis Feijó Coimbra, escrevendo há tem pos, vai longe: “O p o d er m i­
nisterial de revisão só en contra u m obstáculo: é o prazo estabelecido pela CLPS.
Escoado o p razo em q u estão ” (de cinco anos) “não p o d e ser revisto o benefício
concedido, por iniciativa da ad m in istração ” ( “D ireito P revidenciário”, 2a ed., Rio
de Janeiro: Trabalhistas, 1980. p. 336).
Leova Bem stein, Alcides S. Pessoa e José dos Reis Feijó Coimbra lecionam : “Este
rem édio processual, todavia, é de índole especial, de vez que seu cabim ento lim ita-se

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W ia íiim ir N o v c ie s M a r t i n e z
1172
aos casos em que se tenha ap u rad o m anifesta infringência da lei, do regulam ento,
de n o rm a ex p ed id a pela Secretaria de Previdência Social (antes pelo CD/DNPS) ou
q u an d o o co rra divergência frontal da interpretação de texto de lei, en tre a decisão
recorrida e o u tra, do m esm o órgão julgador. C om o se apura, já aqui se cuida de
recurso em que o interesse da parte não se m ostra escoteiro, nem é prep o n d eran te,
pois o que lhe perm ite o cabim ento é o in ten to de velar-se pela aplicação da lei
e uniform izar-se a ju risp ru d ên c ia do CRPS. Mas, adm itido q u e seja o recurso de
infringência, seu ju lg am en to encerra o debate, declarando, de m aneira definitiva, o
direito dos co n ten d o res, um a vez que, para eles, o ju lg ad o é irrecorrivel” (Parecer
CJ/MTPS n. 331/1972, exarado no Proc. MTPS n. 132.160/1970, in BS/DS n 120
de 26.6.1973).
Fernando Camargo Dias, alegre com a vergastada que dá (sic), consigna
decisão, p o ssivelm ente escoteira, da 2% Turm a do TRF da 4 a Região (in DJU de
3.4.1991), segundo a qual "a decisão m inisterial, que revoga as o u tras (decisões),
p o r não o b serv ar o direito à am pla defesa, carece de validade ju ríd ic a ” ( “Fim das
A vocatórias?”, in RPS 129/469). A nosso ver, im pedir a adm inistração de negar o
benefício q u an d o o ju lg a indevido, d ian te de todo o P oder Ju d iciário estar à d isp o ­
sição do querelante, não constitui co n stran g im en to ao direito de defesa.
P onderava M arta Maria Rufino Penteado Gueller: “A avocatória dã ao M inistro
de Estado e ao P residente do CRPS capacidade de decidir im perativam ente, sem
co m p o rtar m anifestações ou controvérsias das partes d iretam en te interessadas na
decisão do processo adm inistrativo. Mas, esta capacidade de decidir im perativa­
m ente, que retira dos interessados a possibilidade de m anifestação no processo
ad m in istrativ o não pode ser vista com o exercício de soberania do Estado, pois se
tran sm u d a em arb ítrio, m uitas vezes, violado o devido processo legal, o direito,
co n stitu cio n alm en te assegurado, à am pla defesa e, em conseqüência, abala a segu­
rança dos ad m in istrad o s que poderão ser em q u alq u er fase processual su rp re e n ­
didos p o r este novo in stitu to , a avocatória” ( “A avocatória é u m re c u rso 7” in RPS
156/879).
1634. P razo de elaboração — O prazo para a adm inistração rever os seus atos
estã nebuloso, ainda é m atéria não bem equacionada em D ireito P revidenciário
P rocedim ental.
Pelo silêncio, o PCSS revogou o art. 207 da CLPS (D ecreto n. 89.312/1984),
m as não a n o rm a de superdireito do D ecreto n. 20.910/1932. Se o benefício foi re ­
gular, legal e legitim am ente concedido, em p rincíp io nào poderia ser revisto. Não
praticado o ato ju ríd ico perfeito e sem a cobertura da coisa julgada, caracterizado
o erro m aterial ou a fraude, a q u alq u er tem po a revisão seria possível (em bora não
recom endável a inexistência de prazo).
C o m en tan d o o art. 210 da CLPS (D ecreto n. 77.077/1976), M ozart Victor
Russomano su sten tav a haver prazo para a avocatória de cinco anos, e ser esse o
m esm o do art. 214 da referida consolidação (“C om entários à CLPS”, São Paulo: Re­
vista dos Tribunais, 1977. p. 589/590). O m esm o en ten d im en to colhia-se em Farid
Salomão José ( “C o m en tários P ráticos à CLPS”, 4a ed., São Paulo, LTr, 1984. p. 157).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Com o III — ■D i r e it o P r e v i d e n c i á r i o P r o c e d im e n ta l
1173
C om as alterações prom ovidas pela Lei n. 10.839/2004 no art. 103 do PBPS e
a in trodução do art. 103-A, as coisas m elhoraram bastante. Mas ainda restam p o n ­
tos obscuros n o que diz respeito à data da eficácia dessas alterações. O INSS tenta
aplicar preteritam en te, m as essa não é a m elh o r in terpretação. C om o en ten d eu a
m agistrada Tatiana Ruas Nogueira (in Proc. n. 2006.61.83.005615-7, decisão de l â
instância de 11.12.2006).
Q uan d o atraído o procedim ento ao CRPS, a este a q u alq u er m o m en to lhe
é facultado fazê-lo, em bora não recom endável, perm itido especialm ente q uando
se tratar de prestação alim entar ou situação periclilante para o beneficiário (v. g.,
am paro assistencial da LOAS (Lei n. 8.742/1993), m as não antes da decisão de um
dos três níveis (INSS, JR e CAj).
R epetem -se razões apresentadas. Assim agindo o CRPS, d esco n sid era o c o n ­
tencioso adm inistrativo, razão pela qual, sendo esse pedido de revisão solução
excepcional, mais excepcional ainda deve ser a operada em processo em andam ento.
Exagerada a possibilidade, transform ará o CRPS nu m trib u n al de exceção, cen tra­
lizador e ú n ico , desfigurando os órgãos ju d ican tes adm inistrativos p o r inteiro. A
P ortaria MPAS n. 3.379/1984 dizia: “em q u alq u er fase em que se en c o n trem ” os
pro ced im en to s (art. 120).
Silenciando q u an to ao prazo para a avocatória, no entanto, a P ortaria MPS
n. 713/1993 fixava term o de cinco anos para a revisão de processo de interesse de
beneficiários e, de dez anos, para os co n trib u in tes (art. 45).
A Revisão de Ofício rege-se pelo princípio geral e não pode ficar sem prazo,
tan to p o r parte do INSS qu an to dos outros interessados. É um bo m período
adjetivo de dez anos, consagrado no Direito. C ientificam ente, diante da natureza
alim en tar e su b stitu tiv a da prestação previdenciária, salvo erro m aterial ou fraude,
não pode ser revista a q u alq u er tem po. Equívoco ju ríd ico com porta reexam e no
lustro e q u alq u er vício de form ação, à exceção da fraude, deveria ter prazo próprio
alongado. F ora dele, sendo im possível a reform ulação da concessão.
1635. D istinção d a u n ifo rm ização — N os arts. 62/63 a P ortaria MPS n.
323/2007 trata da U niform ização em Tese d a Ju risp ru d ê n cia e do Pedido de U ni­
form ização da Ju risp ru dência. É u m rem édio ju ríd ico vigente, a p ar da Revisão de
Ofício, mas com este últim o não se confunde (ainda que o resultado final possa
ser o m esm o).
D iferenciam -se os seus pressupostos técnicos: lá, as divergências entre os
acórdãos do CRPS, aqui, na Revisão de Ofício, são o u tras causas.
1636. C a ra cterísticas b ásicas — Insiste-se: a Revisão de Ofício não é recurso,
em bora form alm ente assem elhado a ele e, diferentem ente da avocatória, subsistente
direito subjetivo à realização do reexam e da decisão.
Reclama a m esm a fundam entação adjetiva; o interessado tem de provar à
exaustão ter havido a causa justificante.

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iAb io

W la d im ir N o v a es M a r tin e z
1174
Iguala-se ao P edido de U niform ização da Ju risp ru d ê n cia, tem sen tid o q uando
com etido erro m aterial, descu m p rim en to de lei, interpretação absurda, in co n stitu -
cionalidade gritan te, n u lid ad e insanável, vício substancial etc.
D iferentem ente do caput do que dizia o art. 69 da P ortaria MPAS n. 4.414/1998,
a solicitação d a revisão não é n icho ideal para estabelecer tese ju ríd ica, resolver re­
levante q uestão previdenciária ou de alta indagação.
A Revisão de Ofício é “d espacho san e ad o r” de im propriedades transparentes,
não se constituindo em nicho para discussões cerebrinas ou acadêm icas. Im prestável,
p o r exem plo, para p erscru tar a natureza da contribuição previdenciária.
A rigor, não po d e haver em relação ao reexam e operado em Revisão de Ofício
nem reco rrer da resolução nela tom ada, caso contrário o p rocedim ento tenderia
a não ter fim. Mas, se CRPS é ind u zid o a erro nesta ú ltim a e extrem a m edida, o
in stru m en to cabível seria o P oder Judiciário. A P ortaria MPS n. 713/1993 vedava
revisão de revisão sem fato novo (art. 46, II).
Crê-se que, todavia, diante de equívoco na análise m aterial da Revisão de
Ofício e sob o p rin cíp io da econom ia p ro cedim ental e busca da verdade m aterial,
essa análise da revisão excepcionalm ente caberia.
Nos term os do Parecer CJ/MTPS n. 42/1970, trazido à colação até porque em i­
tido q u an d o vigente a avocatória, dizia “o p o d er de revisão, con tid o na avocatória
m inisterial, visa evitar decisões dos órgãos da previdência, flagrantem ente contrárias
à lei ou a prejulgado m inisterial, ou, ainda, contam inadas por vício de erro de fato”.
O resu ltad o da Revisão de Ofício, com o q u alq u er o u tro ato decisório, precisa
ser divulgado e, na prática, a publicação com parecer no D iário Oficial da União.
E m bora apen as m encionando, p o r vezes, o núm ero do parecer em basador,
não se sabendo o m otivo do indeferim ento ou acolhim ento da pretensão. Se ex­
plicitados p u b licam en te os seus en cam inham entos, funcionaria com o verdadeiro
en u n ciad o e d im in u iriam os pedidos.
1637. S u jeito s envolvidos — Pelo m enos duas pessoas entrelaçam -se na re­
lação adjetiva:
a) Solicitante do pedido: Sob a expectativa de direito, em tese pode pretendê-lo
q u alq u er pessoa in teg rante da relação ju ríd ica de seguridade social e até m esm o
terceiro ju rid icam en te interessado na lide (v. g., fundo de pensão qu eren d o desfazer
ato praticado pelo INSS, com efeitos na com plem entação). Assim, podem solicitá-lo
o segu rad o ou o d ep en d en te, o co n trib u in te individual ou a pessoa jurídica.
b) Órgão requerido: O su scitan te da solicitação é o P residente da JR ou CAj, do
CRPS. Só ele po d e en cam inhá-lo e, m u ito provavelm ente — q u an d o n ão se estiver
d iscu tin d o m atéria fática — , após oitiva de sua consultoria ju ríd ica. Q uem tem a
iniciativa ad m inistrativa, ora designado de requerente, é ele e ninguém m ais.
O P residente da JR o u CAj, convencido da m edida extrem a decidirá. Ou,
ainda, rejeitará a suscitação. Não ob stan te a intenção do solicitante (interessado) e
do req u eren te (p ro m o to r), a revisão opera-se p o r vontade exclusiva da autoridade.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o 111 — D ire ilíi P re videnciário P roced im en ta l


1175
Sobre o assu n to dizia o art. 121 da P ortaria MPAS n. 3.379/1984: “In d e p en ­
den tem en te do disposto no art. 120” (em que cuidava do art. 205 da CLPS e tratava
da avocatória) “cabe ao P residente do CRPS suscitar a avocatória m inisterial para
exam e e reform a de decisões dos órgãos ju lg ad o res da Previdência Social, desde
que verifique ter havido infringência de lei, regulam ento, decisão ou ato do M inistro
de Estado, súm ula do CRPS, ou ato norm ativo de órgão com petente do MPAS”.
1638. R eq u isito s técn ico s — A lguns pressupostos técnicos são adm itidos na
concepção desse in stitu to ju ríd ico atípico.
a) Poder de revisão: Não fosse a possibilidade de a adm inistração p o d er rever
os p ró p rio s atos e decisões e a Revisão de Ofício seria inviável. Tal prem issa, p o r
sua vez, ad m ite serem com etidos erros na articulação das questões.
b) Erro material: Para operá-la é im prescindível a presença do erro, às vezes
dito substancial, seja de avaliação da prova, de m atem ática ou de lógica, evidente­
m ente “q u an d o violarem literal disposição de lei ou d ecreto ” (art. 60, I).
Se a decisão, p o r desconhecim ento da tecnologia, ignorou a validade de m i­
crofilm e ou program a de com putação, im põe-se a reconsideração. D em onstrado
cientificam ente não ser válida a afirm ação, e tendo em vista tais m étodos não per­
m itirem análise grafotécnica, a decisão perm anece. Tam bém ocorre erro m aterial
q u an d o se contam eq u ivocadam ente os prazos dos períodos de carência, os anos
do tem po de serviço etc.
Marcelo Pimentel, noP arecer CJ/MTPSn. 361/1973 (Proc. MTPSn. 119.238/1970,
iti BS/DG n. 242, de 17.12.1974), exem plifica erro de fato: “pois a autarquia havia
negado pensão p o r m orte à viúva sob o fundam ento de n ão en c o n trar ele entre os
seg urados”, acrescendo lição: “E sgotados os prazos recursais, qu alq u er decisão dos
órgãos ju risd icio n ais da P revidência Social torna-se irretratável. A com petência
transfere-se ao M inistro de Estado, único q u e pode repor o direito violado, conse­
qüência da supervisão que exerce sobre a e n tid ad e”.
Erro não se co n fu nde com exegese. N ão erra a JR o u CAj q u an d o interpreta
razoavelm ente a lei. Se integra a om issão legal, estará exercendo sua função ju d i-
cante. Porém , se a in terpretação é absurda, co n traria g ritantem ente o bom -senso,
im pondo-se a revisão.
c) Vício insanável: A Portaria MPAS n. 3.318/1984 falava em n ulidade in san á­
vel (art. 56). Se o erro com etido pode ser corrigido, deve-se prom over sua solução
sem a Revisão de Ofício. Indeferim ento de pensão p o r m orte requerida sem a cer­
tidão de óbito do segurado reclam a m edida form al sim ples e possível na esfera da
in strução e não de recurso de benefício.
Em seu art. 60, § l e, a Portaria MPS n. 88/2004 definia o que en tende p o r vício
insanável: “1 — o voto de conselheiro im pedido ou incom petente, bem com o c o n ­
denação, p o r sentença judicial transitada em julgado, p o r crim e de prevaricação,
concussão ou co rru p ção passiva, diretam ente relacionado à m atéria subm etida ao
julgam ento do colegiado; 11 — a fundam entação baseada em prova obtida p o r

C urso p e D ir f . i t o P r e v id e n c iá r io

1176 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
m eios ilícitos ou cuja falsidade tenha sido ap u rad a em processo judicial; III — o
ju lg am en to de m atéria diversa da contida nos autos; IV — a fundam entação de
voto decisivo ou de acórdão incom patível com sua co n clu são ”.
d) Equívoco jurídico: Se na decisão da autarquia, da JR ou da CAj foi praticado
engano ju ríd ico evidente, com o desrespeito a parecer em anado da C onsultoria
Ju ríd ica do MPS, ín íringência clara à lei federal, fu n dam ento em norm a revogada
com o causa de d ecid ir etc., cabe provocar a su p erio r análise. N ão aplicar o dies a
quo non computatur in termine é lapso ju ríd ico prim ário. Após a ADIN n. 1.202.2/DF
sobre a co n trib u ição dos em presários, au tô n o m o s e avulsos, m an ter débito apurado
em NL, configura im propriedade jurídica.
e) Decisões conflitantes: Q uando asJR ou CAj vêm decidindo conflitantem ente
com pareceres da C o n sultoria Ju ríd ica do MPS ou do A dvogado-G eral da U nião em
relação à m esm íssim a situação, está presente o p ressuposto da Revisão de Ofício.
j ) Excesso no julgado: A córdão além da área da controvérsia, caso do ju lg a ­
m en to de instância final extra petita ou ultra petita, deflagra o rem édio apontado.
g) Existência de decisão: A ntes de ocorrer a decisão (do INSS) ou do julgam ento
(da JR ou da CAj), não podem os beneficiários o u co n trib u in tes ten tar prom over
a revisão, en tre tan to autorizado o CRPS a fazê-lo, após con h ecim en to , provocado
ou não, da decisão do INSS e antes de o contencioso se m anifestar.
h) Inexistência de causa: Se não inexiste erro m aterial substancial, desobediência
a parecer ou en u n ciad o, infringência de lei, nulidade insanável, nào pode o CRPS
rever.
i) Apresentação de provas: Em vassalagem ao princípio básico do procedim ento
adm in istrativ o da p erquirição da verdade m aterial, se é exibida a destem po prova
que configura o d ireito, a revisão se im põe.
1639. A b ran g ên cia do in s titu to — A revisão, m áxim e em seguida à decisão
da CAj, se co n trária ao INSS, não tem efeito suspensivo. A autarquia tem a o b ri­
gação de d ar cu m p rim en to im ediato à determ inação do CRPS. A P ortaria MTPS
n. 3.301/1970 m andava: “As decisões do CRPS, das quais não caibam q uaisquer
recursos dos previstos nos arts. 48, alíneas a e 1>, e art. 49, do D ecreto n. 60.120, de
23 de jan eiro de 1967, que aprovou o regim ento do CRPS, deverão ser cum pridas,
im ediatam ente, pelos órgãos do INPS, tão logo recebidos os respectivos processos”.
O MPS su p erv isio na a previdência e a assistência social, restan d o as ações de
saúde p o r co n ta do M inistério da Saúde. Essas duas vertentes da seguridade social
estão sob o alcance do pedido.
1640. C o n clu sõ es fin ais — A m atéria pode ser sum ariada:
a) A Revisão de Ofício é solução procedim ental excepcional, reclam ando sis-
tem atização do seu cabim ento, caso co n trário o excesso de p o d er chega ao arbítrio
e gera in tran q ü ilid ad e jurídica.
b) U m a ev entual suscilação do interessado tem de ser filtrada.
c) Seu aco lh im en to não pode ser in terp retad o extensivam ente.

Q jr s o d e D ir e it o P r e v íd e n c iá r io

T o m o II I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
d) C ondensação de pedidos, aten d id o s ou não, deve p ro d u z ir enunciados,
recom endando-se a divulgação dos seus fundam entos.
e) O p ro cedim ento funciona com o se fosse u m a ação rescisória no âm bito
adm inistrativo p ro ced im ental, se for o caso, refazendo todo o ato indevidam ente
praticado.
f) Pela sua n atureza não pode ser em preendida a q u alq u er tem po, observado
um prazo de decadência.
g) Igual à antiga avocatória, diante do equívoco adm inistrativo, em bora não
seja u m recurso, não há direito subjetivo ao in strum ento.
h) A iniciativa de subida dos au to s é do P residente do CRPS, esp o n tan e am en ­
te, ao to m ar co n h ecim ento da im propriedade ou provocado p o r req u erim en to da
parte prejudicada.
i) Sim ples rem édio jurídico, ela não é recurso.
j) Seu escopo é a correção de enganos com etidos n o p rocedim ento adm inis­
trativo, evitarem -se ações no P oder Ju d iciário , e com isso atingir-se a desejável
tran q ü ilid ad e ju rídica.
k) A Revisão de Ofício de Revisão d im in u i os encargos do P oder Ju d iciário
e sistem atizado com base nesses en ten d im en to s, ele valoriza o contencioso adm i­
nistrativo.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1178 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
Capítulo CLXIV

U n if o r m iz a ç ã o d o s J u l g a d o s

1641. Significado do pedido. 1642. Competência administrativa. 1643.


S u m Ar io :
Demonstração da divergência. 1644. Propugnador da medida. 1645. Reconhe­
cimento do alegado. 1646. Apreciação do Conselho Pleno. 1647. Emissão do
Enunciado. 1648. Participação dos conselheiros. 1649. Prazo para o pedido.
1650. Uniformização em Tese.

Inovando em relação às norm as adm inistrativas anteriores, tentando se atualizar


em com paração com o processo ju d iciário , a P ortaria MPS n. 88/2004 introduziu
dois in stitu to s técnicos: a U niform ização em Tese da Ju risp ru d ê n c ia — UTJ (arts.
6 1/62) e o P edido de U niform ização de Ju risp ru d ê n c ia — PUJ (art. 63). A ideia
vai ao en c o n tro do o art. 103-A da C o nstituição Federal, q u e criou a sú m u la vin-
culante. T ornou factível a em issão de enunciados, tão úteis à adm inistração qu an to
aos ad m in istrad o s, d im in u in d o os pesados encargos da função de ju lg a r inúm eros
processos repetidos. A m atéria foi revista pela P ortaria MPS n. 323/2007.
Seu art. 62, que trata do UTJ, d eterm in a a obrigação do CRPS QR e CAj) de
c u m p rir os en u n ciad os, esquecendo-se desse dever em relação ao PUJ, m as ele
tam bém terá de ser observado.
Pena que a segunda solução (art. 63), na prática será de difícil execução para
o polo privado. N ão existe divulgação sistem ática dos acórdãos (apenas m enções
aos n ú m ero s do s processos no DOU). A m edida norm ativa presta-se para o CRPS
p ro m o v er a sim etria ju d ic a n te p o r sua iniciativa. As em presas e os beneficiários
não têm com o saber o que vem sendo decidido, m esm o com a ajuda da inform ática,
p o r falta de sistem atização. No passado, em 1977, a ANFÍP p u b lico u um livro
m u ito ú til, “A córdãos”, sobre decisões relativas ao custeio.
1641. Significado do pedido — O Pedido de U niform ização de Ju risp ru d ên cia
q u er d izer a possibilidade de a interpretação das diferentes CAj restarem o m ais
u n iform e possível, com o se elas fossem u m a só.
E v identem ente, tanto q u an to ocorre com a ju risp ru d ê n c ia ju d iciária, se esses
p ro ced im en to s n ão forem agilizados, eles n ão terão utilidade para as partes in te­
ressadas. F u n cio n an d o com a presteza desejável, para q uem a deflagrou (INSS,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 111 — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1179


beneficiário ou o co n trib u in te) acabará sendo — e tam bém com o sucede com a
Revisão de Ofício — com o um novo rem édio jurídico adm inistrativo (já que a u ­
sente direito subjetivo à pretensão).
O polo insatisfeito, tom ando conhecim ento da existência de julgados divergen­
tes entre as decisões das CAj (e nesse sentido o INSS, m ais próxim o do poder, leva
vantagem sobre as em presas e os beneficiários), requer a definição do entendim ento
e, se conseguir convencer o C onselho Pleno do CRPS e este baixar o E nunciado,
acabará p o r ver dem onstrada a sua pretensão (decisão que, curiosam ente, não afetará
os processos anteriores de outras partes que a fundaram ).
O MPS pôs fim à avocatória, m as criou u m m ecanism o cujo resultado será
praticam ente o m esm o, com a diferença de que a decisão escapou das m ãos do titular
do M inistério e foi transferida a u m órgão colegiado, presum ivelm ente infenso a
lobies, influências e políticas.
O P edido de U niform ização de Ju risp ru d ê n cia é um deflagrador de E n u n cia­
dos no bojo do CRPS e contribui para a uniform ização do en ten d im en to ad m in is­
trativo. Mas, tam bém pode ser com parado a u m pedido de Revisão de Ofício (ainda
que au sentes os p ressu p o sto s do art. 60 da P ortaria MPS n. 323/2007).
1642. C o m p etên cia ad m in istra tiv a — C onform e o art. 14, que define a com ­
petência dos órgãos ju lg ad o res do CRPS, o seu C onselho Pleno pode uniform izar,
em tese, a ju risp ru d ên cia adm inistrativa previdenciária, m ediante a em issão de
en u n c ia d o ” (I) e “d irim ir as divergências de en ten d im en to ju risp ru d en c ial entre
as C âm aras de Julg am ento, p o r provocação de q u alq u er conselheiro ou da parte,
através de pedido de uniform ização de ju risp ru d ê n c ia ” (II).
O § 1° do art. 61 provoca dúvida na m edida em que adm ite divergências entre
o en ten d im en to das CAj e do p ró p rio C onselho Pleno, de certa form a presum indo
que as C âm aras de Ju lg am en to não respeitem os E nunciados.
1643. D em o n stração d a divergência — O requerim ento reclam a da parte
interessada que ten h a ciência de decisões anteriores, tratan d o da m esm a m atéria,
e se cuide ali exala e p recisam ente do m esm o assunto, para que sobrevenha a ex­
tensão dos julgados.
A parte que tom ará a iniciativa do pedido tem o dever de d em o n strar q u e o
dissídio é igual ou que o raciocínio daquelas decisões anteriores possa ser ap ro ­
veitado.
1644. P ro p u g n ad o r d a m ed id a — No conlencioso adm inistrativo dois polos
estão em conflito que, às vezes, a norm a norm ativa cham a de partes: do lado oficial,
o INSS e, do o u tro lado, as em presas e contribuintes individuais e os segurados e
dependentes. U m a ú n ica pessoa ju ríd ica de direito público e pessoas jurídicas
e físicas de direito privado podem acionar a solicitação agora enfocada, N ào estão
auto rizad as para isso as associações, sindicatos ou agências reguladoras, ainda que
interessados na m atéria, por falta de previsão na legislação. Em sum a: três pessoas:
P residente do CRPS, P residentes das CAj e P residentes da JR, em m atéria de alçada.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1180 W íc íd ím tr N o v a e s M a r t i n e z
O re q u erim en to é proto co lad o ju n to do P residente da C âm ara d e Ju lg am en to
em que foi ju lg ad o o feito provocador e de sua decisão não cabe recurso (§ 3 e).
1645. R eco n h ecim en to d o alegado — A dm itida a presença indiscutível da
divergência entre os acórdãos do CRPS, decisão que cabe ao P residente da C âm ara
de Ju lg am en to , ele su bm eterá os autos ao C onselho Pleno p ara “q u e o ped id o seja
d istrib u íd o ” (§ 4 H).
1646. A preciação do C o n selh o P leno — C om o antecipado, o pedido fu n ­
ciona com o u m rem édio ju ríd ico , o C onselho Pleno, de duas, pode to m ar um a
atitude: a) se a m aioria dos conselheiros aprovar a decisão baixará o E nunciado,
aplicável a todo o co n tencioso adm inistrativo previdenciário ou b) decidirá apenas
o processo q u e p rovocou a reunião, se não sobreveio a m aioria dos votos.
1647. E m issão do E nunciado — O conselheiro responsável pelo voto vencedor
(sic) redigirá o E n u n ciado, que será d iscutido (e não “a provado” com o m enciona o
§ 6a) n a m esm a sessão em que se deu a aprovação o u em sessão posterior.
1648. P articip ação dos c o n se lh e iro s — Os conselheiros que haviam p a rti­
cip ad o do ju lg am en to do processo que resu lto u no Pedido d e U niform ização de
Ju risp ru d ê n cia n ão estão im pedidos de p articip ar do C onselho Pleno, de d iscu tir
a m atéria e de v otar (§ 9 9).
1649. P razo p a ra o p e d id o — De acordo com o § 2e do art. 63 da P ortaria
MPS n. 323/2007, o p razo é de 30 dias.
1650. U n ifo rm ização em Tese — Por últim o, regula o art. 61 sobre a u n ifo r­
m ização da ju risp ru d ê n c ia p o r iniciativa da A dm inistrativa P ública (CRPS). N os
term o s dos arts. 61/62, m odo geral, ela pode ser provocada p o r quase todos os
co n selh eiro s d o CRPS (JR e CAj).
À evidência, o objetivo é fazer com q u e as decisões do co n tencioso ad m in is­
trativo sejam p o ssivelm ente h arm ô n icas (ainda que as em presas, os co n trib u in tes
e os segurados e d ep en d en tes n ão tenham a o p o rtu n id ad e de suscitá-la).
Diz o art. 30 que o INSS e a s JR decidiram conform e E nunciado do CRPS, o
conselheiro relato r decidirá de plano indeferindo a pretensão da parte, sem fazer
su b ir os au to s à in stância superior. Suscitada essa m odalidade de uniform ização
ju risp ru d e n c ia l intern a, segue-se o p rocedim ento da PUJ (art. 61, § 2Q).

C urso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o l l l — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
Capítulo CLXV

C onteúdo dos R ecursos

1651. Destinatário da impugnação. 1652. Qualificação do recorrente.


S u m á rio:
1653. Identificação do processo. J654. Relato dos fatos. 1655. Arguição de preli­
minares. 1656. Análise da decisão. 1657. Supedâneo legal. 1658. Dedução lógica.
1659. Pedido conclusivo. 1660. Encerramento da peça.

Na linha recursal, a im pugnação das decisões adm inistrativas cerca-se de


atenções form ais m ín im as a serem atendidas no corpo do texto da irresignação
do beneficiário ou co ntribuinte. A lgum as delas, co n stan tes de atos norm ativos
in tern o s e ou tras não, nascidas de usos e costum es e m uito da sem elhança com o
Processo Civil.
A peça básica apresenta e stru tu ra sim ples, ordenada com vistas no pedido.
Daí ser exposição objetiva, sem considerações filosóficas ou passagens literárias.
O lvidando-se, na o p o rtu n id ad e, do dever-ser. Preferindo, q u an d o possível, a mens
legis em d etrim en to da mens legislatoris.
Sua linguagem reclam a clareza, dispensando longos silogism os d o u trin ário s
ou ju risp ru d en ciais, salvo se se tratar de alta indagação ju ríd ica, q u an d o fu n d a­
m ental à solução perquirida.
O tratam en to u rb an o recom endado é o da co rrespondência oficial, reverenciai
sem ser subserviente, mas respeitoso e digno, com o suscitam as instituições públicas,
sem prejuízo da am pla defesa e do contraditório.
1651. D e stin a tá rio d a im p u g n ação — N orm alm ente desdobrando-se em
d u as p artes (folha de ab ertu ra e páginas de desenvolvim ento, em que especial­
m en te d ed u zid o o d ireito), o texto co n substanciador do recurso é destinado a
certa pessoa singular (órgão m onocrático decididor) ou ente colegiado (ju n ta s de
R ecursos, C onselho A dm inistrativo de R ecursos Fiscais, C âm aras de Julgam ento
ou C âm ara S uperior de R ecursos Fiscais).
Deve ser protocolado num a APS (benefícios) um Posto da RFB (custeio),
sem necessidade de m en cio n ar o nom e da autoridade; na segunda, ao P residente e
dem ais conselheiros do órgão con tro lad o r dos atos adm inistrativos. É im p rescin ­
dível identificar o d estinatário. Q u ando subsistente m ais de um a JR, CAj ou CARF,

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1182 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
convém d eixar p eq u en o espaço em branco, antes da designação d o organism o. Só a
d istribuição, operad a p o steriorm ente, dirá em qual delas o conflito será com posto.
O tratam en to pode ser Ilustríssim o S enhor (para o p rim eiro grau) e E xcelen­
tíssim o S enhor (p ara os dem ais graus), em bora não exista regra escrita.
1652. Qualificação do recorrente — A despeito de poder estar inteiram ente iden­
tificado nos autos da pretensão, é prática conveniente a qualificação do recorrente.
Q u an d o pessoa física, escrever o nom e p o r inteiro (de preferência em letra
m aiú scu la), a n acionalidade, o estado civil e se m aior de idade. Deve sinalizar o
n ú m ero do CPF, RG e, conform e o caso, a CTPS. Acresce-se a profissão, sobretudo
em se trata n d o de benefício.
Se pessoa ju ríd ica, a razão social, o ram o de atividade (in d ú stria, com ércio,
prestação de serviços ou rural) e o CNPJ do ME
N os dois casos, com o endereço com pleto, o C ódigo de E ndereçam ento Postal
— CEP e o telefone. Até m esm o e-inail da internet.
Na hipótese de representante legal, a indicação do tipo: “p o r seu p ro cu rad o r
(proc. in clu sa)”.
Se terceiro interessado na lide, igual qualificação. Tratando-se d o INSS, a tarefa
é b astan te sim plificada, m as a au to rid ad e recorrente deve ser clarificada.
1653. Identificação do processo — D ependendo d o tipo de procedim ento,
em m atéria de financiam ento, será im p o rtan te ap o n tar o núm ero da NL, AI ou do
DCG, do ped id o de parcelam ento etc.
Para o benefício, o tipo (v. g., auxílio ou aposentadoria) e seu núm ero. Na d ú ­
vida, m u ito s reco rren tes ju n ta m cópia xerox da notificação ou carta indeferitória.
Tudo isso facilitará a localização dos au to s on d e ju n ta d a a inconform idade.
1654. Relato dos fatos — Sem prejuízo de a inform ação co n star dos autos, é
aconselhável h isto riar os acontecim entos precedentes à im pugnação, de preferência
na ordem cronológica, e, tanLo nesse m om ento com o adiante, q u an d o ju n ta d o s os
co m provantes a referenciados (A nexo tal, em núm ero rom ano, fls. tais etc.).
M elhor se os parágrafos da articulação forem num erados, a p a rtir do segundo
deles. T ornará m ais fácil a p osterior identificação dos itens. Tam bém é útil os diversos
tópicos básicos estarem encim ados p o r títulos em letra m aiúscula, citados em ro ­
m ano, do tipo “III. DO M ÉRITO”.
A descrição do sucedido situa espacial e tem poralm ente as ideias e perm ite ao
analista ou ju lg a d o r m elhor visualizar as q uestões postas na discussão.
Dá-se exem plo singelo: “Em / /___ , a ora im p u g n an te” (defendente,
recorrente ou co n trarrazo an te) “recebeu a N otificação de L ançam ento de D ébito
— NL DEBCAD n . , datada de ,por m eio da qual a RFB p retende
haver a im p o rtân cia de R $ _________ (_______), relativa a co n trib u içõ es referentes
ao p erío d o de / a / ”,

C urso u t- D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II I — D i r e i t o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1183
1655. A rguição d e p re lim in a re s — A pós a narrativa dos eventos im portantes,
se for o caso, cabe a arguição de algum a prelim inar. Será interessante in titu lar esse
espaço com o seguinte tópico: “Da P relim inar d a _________
As principais são: a) exceção de incom petência; b) ilegitim idade de parte; c)
litispendência; d) decadência; e) suspeição ou im pedim ento; e I) tem pestividade.
1656. Análise da decisão — R eproduzidos os term os da decisão recorrida,
ainda sem en tra r p ro p riam ente no m érito da questão, m as afetando-o, é a h o ra de
analisar a solução contrária, p ertin en te à m atéria fãtica e/ou ju ríd ica, apresentando
as provas ou razões contrárias à tese.
Se o recurso provém do INSS, convém apreciar as razões da in stru ção e os
argum entos da inconform idade an terio rm en te apresentada.
1657. Supedâneo legal — Em p leno âm ago do discurso, convém ap o n tar o
fun d am ento legal das alegações.
C ostum a-se ordenar as fontes form ais da C arta Magna, para baixo e, da m esm a
form a, p rim eiro os acórdãos dos trib u n ais superiores para, em seguida, os de ins­
tância inferiores.
A rem issão à d o u trin a ou a reprodução de textos devem vir acom panhados da
auto ria, títu lo da obra, nom e da editora, cidade, ano, núm ero da edição e páginas.
1658. Dedução lógica — O en cam in h am en to lógico é a aplicação da norm a
aos fatos an tes descritos, com as provas e as razões. Trata-se de trabalho criativo,
baseado na veracidade das ocorrências e na inteligente leitura do texto legal.
Q u an d o ferindo m atéria fática, enfrentada com provas; p o r ocasião de dis­
cussão ju ríd ica, cim entado por razões apoiadas pela m aioria ou au to res idôneos e
reconhecidos.
P rosopopeia não é acolhida nem raciocínios elucubratórios im pertinentes.
Com m uito cuidado, o silogismo a contrario sensu. D istinguindo bem a mens legís-
latoris da mens Iegis. A tento à n o rm a vigente à época dos fatos. Socorrendo-se
da analogia com atenção. Invocada a isonom ia som ente para os verdadeiram ente
iguais. L em brando sem pre: previdência não é assistência.
1659. Pedido co n clusivo — A rrem atando o recurso, é preciso requerer, ar-
ticu ladam ente, o desejado, inclusive p ro testan d o pela juntada de m em oriais e/ou
solicitação de susten tação oral.
O pedido deve ser explicitado item p o r item , em p rim eiro lugar os capazes de,
se atendidos, elim in ar os seguintes; encadeados na seqüência suficiente para, ad
argumentandum, se não providos prosseguir-se a análise da pretensão.
1660. Encerramento da peça — A im pugnação é, finalm ente, datada e assi­
nada p o r q u em de direito.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CLXVI

In q u é r i t o A dministrativo

1661. Âmago procedimental. 1662. Denúncia formal. 1663. Instaura­


S u m á r io :
ção de sindicância. 1664. Convocação do sindicado, 1665. Apreensão de provas.
1666. Tomada de depoimentos. 1667. Diligências externas. 1668. Juntada de
documentos. 1669. Relatório sucinto. 1670. Decisão derradeira.

O D ireito A dm inistrativo adm ite p rocedim ento específico, com a finalidade


de ap u rar fatos irregulares p raticados p o r servidor ou terceiros e, se for o caso,
in stru ir a aplicação de penalidades.
Variante dessa m odalidade, dele derivada, envolvendo a adm inistração gestora
e o co n trib u in te o u beneficiário, com vistas exclusivam ente na ilicitude, guar­
d an d o algum a sem elhança com o in q u érito policial, o contencioso adm inistrativo
ad m ite o in q u érito ou sindicância.
São sujeitos dessa relação: de u m lado, o co n trib u in te, pessoa física ou b en e­
ficiário (segurado e d ep en d en te), e, do outro, a adm inistração, representada pela
In sp eto ria ou C orregedoria do INSS.
Singelo em relação à guia de recolhim ento ad u lterad a (custeio) e sim ples
q u an to ao recebim ento indevido de prestações (benefício), prin cip alm en te nos
casos de falsificação ideológica e m aterial de docum entos. O bedece às fases de sin ­
dicância (apuração) e de in q u érito (discussão de m érito ), além da linha recursal.
Os p rin cip ais p o n to s dessa investigação podem ser evidenciados: a) denúncia;
b) apreensão de d o cu m en to s; c) apuração dos fatos relativos à infração; d) dili­
gências externas; e) tom ada de depoim entos; f) decisão; g) ab ertu ra de prazo para
defesa; h) execução e i) arquivam ento.
Q u an d o referente a benefícios m antidos, é caudalosa a ju risp ru d ê n c ia no se n ­
tido de só caber o cancelam ento q u an d o perfeitam ente caracterizada a infração e a
auto ria, p o r m eio de p rocedim ento anterior. A lguns ju lg ad o s in ad m item suspensão
de pagam entos an tes da conclusão da verificação.
A q uestão é difícil e divide os ju lg ad o res e estudiosos. Heíga Klug Doin Vieira
su sten ta com clareza não p o d er o INSS cancelar o benefício sem o processo adm i-

C urso de D ir e it o P r e v íd e n c í Ar io
T o m o I I I — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
1185
nistrativo p ró p rio , m as Paulo Roberto Cachoeiro adm ite essa providência ( “C ance­
lam ento u n ilateral de benefícios”, in RPS n. 181/862). O tem a foi desenvolvido por
Ricardo Perlíngeiro Mendes da Silva (“S uspensão do benefício sem procedim ento
adm in istrativ o ”, in RPS n. 170/23).
Vem a propósito a Súm ula STF n. 473: “A A dm inistração po d e anular seus
pró p rio s atos, q u an d o eivados de vícios que os tornem ilegais, p orque deles nào
se originam direitos; ou revogá-los, p o r m otivo de conveniência ou oportu n id ad e,
respeitados os direitos adquiridos e ressalvados, em todos os casos, apreciação j u ­
d icial”, n a linha geral de p o d er rever os atos (Súm ula STF n. 346).
Não pairando q u alq u er dúvida n a d o u trin a q u an to a só ser possível o cance­
lam ento após o devido processo legal, a discussão cinge-se à suspensão provisória
(e p or q u an to tem po?) en q u a n to in stru íd a a decisão. Sim ples suspeita não basta,
dizia a Súm ula TFR n. 160: “A suspeita de fraude na concessão de benefício previ­
denciário não enseja, de plano, a sua suspensão o u cancelam ento, m as dependerá
de apuração em pro ced im ento ad m in istrativ o ”.
A P ortaria MPAS n. 2.308/1995, nos casos de suspensão de benefícios, deter­
m inou n o sentido de os autos passarem pela Inspetoria G eral e A uditoria do INSS,
antes do en cam in h am en to à P rocuradoria.
1661. Â m ago p ro c ed im en tal — O p rocedim ento adm inistrativo de apuração
de fatos considerados ilícitos, contra a organização da seguridade social, tem n a tu ­
reza de in q u érito policial com feição interna, subm etendo-se, em p rim eiro lugar,
ao p rin cíp io co n stitucional da am pla defesa e do co n trad itó rio , aos preceitos do
D ireito Processual e do en cam in h am en to burocrático.
Trata-se de averiguação necessária à tom ada de decisão, culm inando com esta
solução, processo de apuração de fatos, com vistas ao controle da regularidade
adm inistrativa.
E xem plificativam ente, diante de d o cu m en to falso, m aterial ou ideologica­
m ente, o INSS tem necessidade de ap u rar a autoria e a falta de auten ticid ad e para,
se for o caso, en cam in h ar a d en ú n c ia às au to rid ad es policiais e tom ar providências
internas (su sp en d er o pagam ento do benefício).
1662. Denúncia formal — D enúncia é ato im p o rtan te no L r â m i t e , n o rm al­
m en te efetuada p or escrito e , se oral, colhido o depoim ento. C arece de elem entos
básicos e form ais, entre os quais a descrição do ilícito, provável autoria e, se p o s­
sível, a capitulação legal.
Em virtude de seus term os ou q uando anônim a, pode ser arquivada, de plano,
p or im procedência. A colhida, tem prosseguim ento com a instauração da investi­
gação.
D enúncia é com unicação à au to rid ad e de ocorrência d e fatos indicativos de
ilicitude praticada co n tra a adm inistração, causadora de prejuízo ju ríd ico ou m a­
terial, pela om issão ou ação de agente.
1663. Instauração de sindicância — A instauração da sindicância é ato forma!
por meio do qual o sindicante dá início ao procedim ento, fazendo-o m ediante Termo

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1186 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
de A utuação. Seus elem entos sao praticam en te os m esm os da d enúncia, com tra­
tam ento ju ríd ic o adequado.
1664. Convocação do sindicado — In stau rad a a sindicância, opera-se a co ­
m unicação do indiciado p o r escrito, q uando são ap o n tad o s os fatos denunciados.
A notificação deve assinalar os dados do p rocedim ento, a im putação e o en ­
dereço e o horário p ara com parecim ento.
N essa ocasião abrir-se-á prazo para vista aos autos do procedim ento.
1665. Apreensão de provas — Na inicial ou em o utra fase do processo, é pos­
sível a retenção de d o cu m en to s (GPS, declarações, folhas de pagam ento, cartões de
p o n to etc.) e sua ju n ta d a aos autos. Realiza-se p o r m odo p ró p rio , m ed ian te Termo
de A preensão de D ocum entos.
Diz o art. 282 do RPS: “A seguridade social, p o r m eio de seus órgãos com pe­
tentes, prom overá a apreensão de com provantes de arrecadação e de pagam ento de
benefícios, b em com o de q uaisquer d o cu m en to s p ertin en tes, inclusive contábeis,
m ediante lavratura do com petente term o, com a finalidade de a p u ra r ad m in istra­
tivam ente a o corrência dos crim es previstos em lei”.
O parágrafo ú n ico reza: “O In stitu to N acional do Seguro Social — INSS e
a Secretaria da Receita Federal — SRF estabelecerão n o rm as específicas para: I)
apreensão de co m provantes e dem ais docum entos; II) apuração adm inistrativa da
o co rrência de crim es; III) devolução de com provantes e dem ais docum entos; IV)
in stru ção do processo adm inistrativo de apuração: V) en cam in h am en to do resul­
tado da apuração referido no inciso IV à au to rid ad e com petente; VI) aco m p an h a­
m ento de processo ju d ic ia l”.
1666. Tomada de depoimentos — Na audiência de in stru ção serão tom ados
dep o im en to s do sin dicado e/ou testem unhas, e de outras pessoas arroladas p o r
aquele. No caso de contradição ou conflito de opiniões, p o d e o co rrer de o sindi-
cante exigir acareação.
O indiciado, p o r interm édio do sindicante, poderá fazer perguntas às testem u ­
nhas, as quais, com as respectivas respostas, farão parte da instrução. As testem unhas
são inquiridas em separado.
Todos os d ep o im en to s, antes de serem assinados, são lidos em voz alta.
1667. D iligências ex te rn a s — No an d am en to do expediente, a entidade
sin d ican te p o d e p recisar de verificação in loco, prom ovendo, nestas condições, a
em issão d e R equisição de D iligência, a ser cu m prida p o r m em bro da Inspetoria ou
C orregedoria ou AFRF
1668. J u n ta d a de documentos — Todo o tem po, am bas as partes podem so­
licitar a ju n ta d a de provas, declarações, pareceres, laudos e o u tro s d o cu m en to s de
interesse da averiguação.
E u m a m anifestação do direito de defesa e co n trad itó rio , im prescindível à
validade do pro ced im ento.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o H l — D ir e if o P r e v i d e n c i á r i o P r o c e d im e n ta l 1187
1669. R elatório su cin to — A Inspetoria o u C orregedoria, ao térm ino dos
trabalhos de verificação, em itirá relatório final circunstanciado, no qual estão nar­
rados os fatos, desde a d enúncia até final conclusão q u an to à caracterização do
ilícito, ap o n tan d o os possíveis autores da infração. Inclusive p ro p o n d o o en cam i­
n h am en to dos autos à Polícia Federal, para ab ertu ra de in q u érito policial.
Do relatório, no m ínim o, deverão constar: a) abertu ra-in tró ito ; b) denúncia
das irregularidades; c) apuração dos fatos, com a narrativa de incidentes proce­
dim entais; d) ilicitude praticada; e) capitulação legal; f) instrução, reportando-se
à apreensão e ju n tad a de docum entos; g) razões da defesa; h ) análise crítica das
razões da defesa e i) co nclusão final, com im putação de responsabilidades.
1670. D ecisão d e rra d e ira — Se o relatório propuser a inocência do sindicado, a
autoridade com petente determ inará o arquivam ento do processo. Se fizer a dem ons­
tração da validade do procedim ento contestado, os autos prestar-se-ão para execução
(v. g., liberar o pagam ento das m ensalidades suspensas).
Caso co n trário , com base no relatório discrim inativo da C om issão Sindicante,
tom ará a decisão final, conform e a ocorrência. Se im plicar suspensão do benefício,
dará ciência à divisão correspondente. No caso de GPS falsas com andará fiscalização
para apuração de débito, e assim p o r diante.
Para o C onselho Pleno do TRF da 5- Região, nào pode ser suspensa aposen­
tadoria p o r invalidez p o rq u e o segurado passou a exercer m an d ato com o vereador
(acórdão no MS n. 26.317/PB, Proc. n. 1993.05.1244-1, decisão de 20.10.1993, in
RPS 165/649).

C u rs o d e D ire ito P revidenciário


W la d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo CLXVII

D ecadência d o C rédi to

Su m á r i o : 1671. Natureza da exação. 1672. Distinção da prescrição. 1673. Fontes


antigas. 1674. O instituto na LOPS. 1675. Receber e cobrar. 1676. Prazo trinte­
nário. 1677. Parecer MPAS n. 85/1988. 1678. Art. 45 do PCSS. 1679. Contagem
do período. 1680. Importância.

Até o ad v en to da Súm ula V inculante STF n. 8, no art. 45 o PCSS disciplinava


a polêm ica decadência do crédito securitário. P ossivelm ente, pela p rim eira vez,
o prazo fora estabelecido n a legislação, em 1991. Pelo m enos, com a clareza n e­
cessária. P o n derado, separando os dois in stitu to s, o legislador ord in ário deixou a
prescrição para o art. 46 do PCSS.
1671. Natureza da exação — A discussão em torno da essência da c o n trib u i
ção secu ritária, co n clusáo-pressuposto para o prosseguim ento de estu d o s subse­
q u en tes, n ão se esgota com a Lei n. 8.212/1991 nem a sú m u la v in cu lan te do STF
Para os trib u taristas, sem vislum brar feição de lei co m p lem en tar no PCSS, co n ti­
n u ará prevalecendo os cinco anos do CTN , ali estatuídos p ara os tributos desde a
Lei n. 5.172/1966.
Por isso, re p o rtan d o -se ao art. 146, III, b, da C arta M agna, Salvador Cândido
Brandão considerava o art. 45 do PCSS com o in co n stitu cio n al e prevalecente o
lu stro trib u tário (“C ontribuições para a Previdência Social e decadência", in Re­
p ertó rio de Ju risp ru d ê n cia IOB da 2i q u inzena de jan eiro de 1993, n. 2/93, p. 34).
Mas não só ele pensa assim .
E m bora útil, tão som ente a análise da Lei M aior de 1988, da LOPS e da le­
gislação posterior, não são suficientes para d eslin d ar a exação em foco. A Lei n.
3.807/1960 retratava em boa parte a instituição e se constitui em inform ação téc­
nica não desprezível para descrever a tipicidade da m odalidade protetiva, os seus
in stitu to s científicos, in stru m en to s operacionais, p ro cedim entos adm inistrativos e
o modus operandi. T ributária ou não a cotização, depois de algum esforço in telectu ­
al, perm itirá, p o r exem plo, a decantação de sua decadência, seus lim ites tem porais,
sob o p o n to de vista prático e ju ríd ico .

C urso d e D ir e it o P r r v id e n c i Ar io
T o m o 111 — D i r e ito P r e v i d e n c i á r i o P r o c e d im e n ta l
Essa m o dalidade de extinção do crédito fiscal despertou o interesse dos espe­
cialistas — p articu larm en te dos afeiçoados ao D ireito Tributário — , em razão da
nuclearidade da exação securitária. Pena não se haverem dedicado com igual afin­
co ao co n hecim ento da própria previdência social, en q u a n to instituição pública.
No afã de alargar o ram o predileto, p redeterm inaram -se a en q u a d rar a exação no
excessivam ente genérico, e p o r isso in ú til, conceito de trib u to do art. 3B do CTN.
InexisLe dúvida tão m al conduzida n a legislação, ju risp ru d ên c ia ou d o u trin a
previdenciária, e em que m ais dissenções tenham se instaurado. Os publicistas, em
sua m aioria, preten d em configurá-la em condições didáticas de refutar as pálidas
susten taçõ es opostas pelos previdenciaristas. SusciLando argum entos nem sem pre
adequados, im precisos algum as vezes o u não técnicos. S entindo não ser assim tão
sim ples, m as sem conseguir dem onstrá-lo convenientem ente. A questão ressente-se
de am adorism o e sim plificação, de parte a parte.
Razões para isso acontecer sobram e, entre elas, o d esconhecim ento do fer-
ram en tal securitário, sua especificidade, natureza e propriedade, seu verdadeiro
papel e com o se situa p aralelam ente ao Estado...
Podem ser dados vários exem plos históricos. Iniciam -se com a tão célebre
quão in co m p reen d id a construção lapidar de Poníes de Miranda, rep ro d u zid a gra­
tuitam en te em várias obras, sem m aior elucidação ou crítica, tida com o suficiente
para resolver o assunto, m as jeju n a de considerações técnico-jurídicas. O ju rista
alagoano ofereceu tese inteligente e criativa, possivelm ente correta, apenas esbo­
çada e jam ais ap ro fu n d ada p o r ele ou p o r q u alq u er outro estudioso, em trabalho
no qual co m enta a previdência social de passagem .
A p artir de 5.10.1988, a m atéria leve acrescido u m com plicador. A m pliou-se
o nicho em q u e está abrigada a dita exigibilidade. Até então, investigava-se a coii-
zação previdenciária e, agora, estã-se dian te do aporte securitário. Q uer dizer, será
preciso explicitar, em particular, igualm ente as verbas destinadas a ações de saúde
e à assistência social.
Dever-se-á responder à indagação; im porta, nesta pesquisa, saber se os recur­
sos são canalizados para pagam ento de prestações previdenciárias, serviços assis-
tenciários ou sanitários? A resposta é positiva, pois essas apropriações estatais são
diversificadas e adquirem form atação conform e, entre outros aspectos, sua utilização
idealizada constitu cio n alm ente.
Ruy Barbosa Nogueira preocupou-se com isso: “as contribuições são tributos,
salvo as destinadas ao custeio da assistência social que, p o r estarem reguladas no
art. 195, in serto no C apitulo II do T ítulo VIII, p erten cen te à O rdem Social, têm
outra n atu reza” (“C urso de D ireito T ributário”, p. 128).
Além de não ter desprezado o sítio onde assentada a im positividade, qual o
m otivo de ter selecionado a assistência social e ignorado a previdência social? Se a
posição geográfica é im portante, as três vertentes da seguridade social estão coligadas
(arts. 193 e 204).

C u r s o de. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O destino da receita é condição necessária, m as não suficiente; aparentem ente,
não é capaz de solver a perquirição em tela. A natu reza do aporte deve ser sugerida
pela finalidade conceituai, e não pelo seu uso prático. Não é relevante se o num erário
desem bolsado pelo facultativo (dificilm ente en q u ad rad o na ideia de im posição),
afinal, sob o regim e de repartição sim ples, prestou-se para pagar benefício de segu­
rado obrigatório.
Da m esm a form a, se a m ulta não é trib u to (m era e cara convenção à qual
tan to se apegam os p ublicistas), é despiciendo saber se atinge o m esm o desiderato.
F in alm en te, p o u co im porta sopesar o fato de a contribuição pessoal voltar-se para
as despesas adm inistrativas. R econhece-se a validade, com o contribuição d o u tri­
nária, do esp írito do art. 4Q, II, do CTN.
E studando a obrigação da em presa de contribuir em relação ao autônom o (ex vi
da Lei n. 7.787/1989), afinal tida com inconstitucional pelo STF, Ives Gandra da Silva
M artins su sten ta ser im possível contribuição social sem vantagem decorrente da
atividade estatal. O contribuinte, pessoa física ou jurídica, precisaria ser beneficiado
direta ou in d iretam en te ( “C aderno de Pesquisas T ributárias”, p. 16/17). P onto de
vista d o u trin ário , ele não deflui da Lei M aior, e distante da realidade científica,
fatual e h istó rica da previdência social, na qual vigente princípio fundam ental da
solidariedade social e adotado o regim e financeiro de repartição sim ples e — em
m agnífica m anifestação da especificidade da técnica protetiva — in úm eras as h ip ó ­
teses de co n trib u içõ es pessoais sem co n trap artid a e, ao contrário, prestações sem
ap o rte do indivíduo; em que, aliás, a em presa só tem deveres.
Gilberto de Ulhôa Canto, Antônio Carlos Garcia de Souza e Marcello Beltrão
da Fonseca endossam : “Parece, p o rtan to , que m esm o em face da nova form ulação
co n stitu cio n al de 1988, qu em não tenha vínculo em pregaticio com os beneficiários
direto s da seg u rid ad e social nào se qualifica com o sujeito passivo das contribuições
d escritas n o inciso I do art. 195, já que o seu en u nciado alude a ‘em pregadores’,
‘folha de salários’, ‘fatu ram en to ’ e ‘lu cro ’, conceitos que necessariam ente integram
a configuração de em presários” ( “C aderno de Pesquisas T ributárias”, p. 63).
Os beneficiários nunca têm vínculo com as em presas, só o segurado. Se d e­
p en d en tes firm am co n trato de trabalho, deixam essa designação e situação ju ríd ica
e assum em as dos segurados. Q uem co n trata o em pregado é a em presa e não o
em p reg ad o r (art. 2Q da CLT). As expressões “fa tu ram en to ” e “lu cro ” configuram
em p reen d im en to econôm ico; em presário designa segurado pessoalm ente co n sid e­
rad o e ad m in istrad o r de firma.
Por alu d ir a faturam ento ou lucro, em presas sem em pregados (po rtan to , não
em pregadoras), ao contrário do afirm ado, são sujeitas à exação. Tom ado o vocábulo
“em pregadores” no seu sentido correto, vale dizer, de “em presários”, m elhor dizendo,
de em presas, os esforços industriais e com erciais estão n atu ralm en te alcançados.
Sócios, nas sociedades lim itadas, e titu lar de firm a individual, pelo m enos
desde 1940, no ex-lA PC e, sem exceção, a p artir de setem bro de 1960, são segura­
dos obrigatórios ex vi da Lei n. 3.807/1960. Segundo a Súm ula STF n. 466: “N ão é

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 111 — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1191
inco n stitu cio n al a inclusão de sócios e adm inistradores de sociedade e titulares de
firm a individual com o segurados obrigatórios da Previdência Social”.
M as, sa!iente-se, q uando o com entarista estiver perseguindo a natureza da
contribuição previdenciária, m elhor seria explicar de qual delas estará falando.
Isso se aplica às m enções constitucionais; só para as ali m encionadas valerá a co n ­
clusão. N este ensejo, p o r am or à brevidade (já que o tem a pertence ao Tomo I),
cuida-se tão som ente da referida nos arts. 20 e 22 do PCSS, isto é, a descontada e
a patronal. C inge-se às co n trib u içõ es geridas pelo INSS, com vistas nas prestações,
benefícios e serviços dos segurados e dependentes, deixando de lado as obrigações
e direitos de assistidos ou atendidos.
T am bém se despreza a parte d eduzida do trabalhador, cuja natureza e des­
tino são olim picam ente ignorados q u an d o não m ais exigível, se derrogada pela
decadência ou prescrição. O m esm o vale para a presunção do desconto, in stitu to
ju ríd ico raram en te com entado ou exam inado com a atenção desejada. F inalm ente,
resta a hom ologação, ab andonada com o se n e n h u m interesse guardasse.
Tudo isso sem a noção de a com plexidade de toda a exação previdenciária
con ter inúm eras m odalidades:
a) fração descontada do trabalhador;
b) obrigação patronal;
c) cotização referente aos co n trib u in tes individuais;
d) aporte do facultativo;
e) indenização não com pulsória da Lei n. 9.032/1995 (sic);
D presunção do desconto;
g) possibilidade de se o p tar pela filiação;
h) pagam ento sem efeito nos benefícios;
i) p o d er co n tid o no dever de contribuir;
j) diversidade de agentes arrecadadores;
k) correiatividade entre nível da base de cálculo da contribuição e do benefício;
1) m ultip licid ad e constitucional e legal de fontes (v. g., laborai, lucro, fatura­
m ento, lúdica, supérfluos, apreensões etc.) e destino,
Claro, sem falar no óbvio, a absolutam ente im prescindível perquirição da n a­
tureza, especificidade e função da própria previdência social.
1672. D istinção d a prescrição — A indistinção entre decadência e prescrição,
a pouca im portância atribuída à segunda e a excessiva atenção devotada à prim eira,
além de seu desco n h ecim ento, podem ser explicadas pela falta de cuidado e m ini-
m ização da gestão de elevada indagação científica.
O despreparo técnico do legislador na elaboração das norm as contribui para esse
estado de coisas (veja-se a redação original do parágrafo único do art. 45). Pensa

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1192 W /a d im ir N o v a e s M a r tin e z
ele fazer um a coisa (mens legislatoris), diz outra (mens Iegis) e acaba p ro duzindo um a
terceira. Reflexo do desproporcional interesse da iniciativa privada com parado ao
po u co em p en h o da adm inistração gestora.
A esse respeito citam -se as m alsinadas redações do D ecreto-lei n. 27/1966, das
Leis ns. 6.136/1974, 6.332/1976 e 6.830/1980, sem falar nas E m endas C o n stitu cio ­
nais ns. 1/1965 e 8/1977.
A sim plificação de problem a envolvente, o exam e globalizado de u m todo
co m p o sto de u n id ad es heterogêneas, isto é, p re te n d er ver a co n trib u ição previden­
ciária com o um en te com um , uniform e, a som a de divisões q u an d o detém parcelas
d istintas, cada u m a delas, eventualm ente, com natureza própria.
A p ar de tu d o isso, à sem elhança com os trib u to s (decorrente da superposição
do Estado com um ao previdenciário), torna m ais áspero o cam inho do estabeleci­
m ento da su til identidade, atrain d o os estudiosos para a adesão.
P o r ser um qu ase-tributo — figura in existen te no D ireito — a contribuição é
cham ada de especial.
A decadência na LOPS é exem plo m arcante de com o a técnica é m al estudada
nas u niversidades, p ouco ap rofundada pela d o u trin a e in suficientem ente n o rm a ­
lizada na legislação.
D esconsiderada pelo P oder Judiciário, que co n fu n d e previdência social com
Direito Previdenciário, p o r vezes concede benefícios paternalisticam ente, sem am ­
paro técnico, ju lg an d o tratar-se de prestação estatal, dever do E stado, e não d istin ­
g uindo, no co m u m dos casos, previdência da assistência. Para, felizm ente, poucos
ju izes federais (n u m a sim plificação alarm ante), pagou, tem direito. Sem falar na
inexpressiva atuação da A dm inistração Pública, cujo dano m aior reside em p ro p o r
n o rm as com o a Lei n. 6.830/1980, ou prazos sem n en h u m sentido lógico com o o
do (revogado) parágrafo ún ico do revogado art. 45 do PCSS.
1673. F o n te s an tig as — C om a característica da generalidade e da p recarie
dade da época, u m dos registros m ais antigos a respeito da m atéria é o art. 450 da
Lei n. 556/1850 (C ódigo C om ercial), n o qual se d eterm in o u não ser beneficiário
da prescrição o depositário de valores e bens. O utro im p o rtan te aporte do século
retrasado é o D ecreto n. 8 5 7 /f 8 5 f : fixou a prescrição em 40 anos. Inicialm ente, o
C ódigo Civil consagrou 30 anos (art. 179).
Q uestão bizantina hoje, co n sid eran d o esses períodos enorm es, após a p ro ­
m ulgação da LOPS, o M in. O scar Saraiva, citado p o r Albino Pereira da Rocha ( “A
Lei O rgânica da P revidência Social”, Rio de Janeiro: M elso, 1960. p. 225/26), ques­
tio n o u o da previdência social. Seriam 40 anos ou 30 anos ou não existiria lapso
de tem po algum ?
C ertam en te eslava referindo-se à decadência, even tu alm en te não disciplinada
n o D ireito Previdenciário, pois não tinha n em tem sentido a adm inistração dispor
de tan to tem po para, co n stitu íd o o crédito, prom over a cobrança executiva.

C urso dc D ireito P revidenciário


T om o I I I — D i r e i t o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1193
A distorção de se cuidar preferencialm ente da prescrição, pen san d o na deca­
dência com o nela em butida, co n tin u a até os nossos dias, pois, na pior das hipóteses,
a prim eira absorveria a segunda.
Os decretos im plantadores dos ex-IAP não tinham preceito a respeúo, ju s ­
tificados pelo fato de a exigibilidade datar de pouco tem po. M as o D ecreto n.
20.465/1931, discip lin ador das Caixas de A posentadorias e Pensões — CAP, exis­
tentes desde a Lei Eloy M arcondes de M iranda C haves (D ecreto Legislativo n.
4.682/1923), sustentava a inexistência de prazo para a cobrança de contribuição
(art. 9Q). C onceito válido para a época e im prestável hoje em dia.
O D ecreto n. 35.448/1954, regulam entador da Lei O rgânica dos Seguros So­
ciais do Brasil — LOSSB (Lei n. 7.526/1945), p ro tó tip o da LOPS, tam bém se acos­
tava à im prescritibilidade da cobrança (art. 65).
1674. O in s titu to n a LOPS — D idaticam ente, a LOPS não ofereceu aporte
científico à distinção entre tributo e contribuição social. Não teve essa preocupação,
surgida som ente após a Lei n. 5.172/1966. D epois de consolidar a im prescritibilida­
de dos benefícios (art. 57), dizia: “O direito de receber ou cobrar as im portâncias
que lhes sejam devidas, prescreverá, para as instituições de previdência social, em
trinta an o s” (art. 144).
A d o u trin a não desejou en fren tar esse texto. Eduardo Gabriel Saad ( “Lei O rgâ­
nica da Previdência Social — LOPS”, São Paulo: LTr, 1969, p. 63) e M oacyr Velloso
Cardoso de Oliveira (“A Previdência Social brasileira e a sua Nova Lei O rgânica”,
Rio de Janeiro: Record, 1961. p. 205/06), com en tan d o -o , preferiram não esm iuçar
o com ando. O últim o, escrevendo em 1987, dispensou-se de estu d ar a decadência
( “Previdência Social”, Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1987. p. 319/20).
O m esm o sucedeu com Marcelo Pimentcl, Hélio C. Ribeiro e Moacyr D. Pessoa
(“A Previdência Social Brasileira In terp retad a”, São Paulo: Forense, 1969. p. 375/76).
Passaram ao largo da questão, cabendo-lhes o m érito de não aceitar 30 anos para
os benefícios.
N inguém , a esse tem po, p ro n u n c io u um a palavra sobre a decadência. Ela é
im po rtan te; pouca polêm ica provocou a prescrição. Todavia, descurou-se a p ri­
m eira, perm itin d o -se o exagero trin ten ário para a segunda, m uitas vezes levado o
legislador pela ideia de assim estar defendendo a previdência social. O ra, adianta
um prazo infindável de 30 anos para cobrar se, no lançam ento fiscal, o período
exigível é curto?
O dispositivo rep ro duzido tem que ver com o art. 156, no qual se acresceu:
“A plicam -se às in stituições de previdência social os prazos de prescrição de que
goza a U nião Federal, ressalvado o disposto nos arts. 57 e 144”, em distinção des­
percebida dos estudiosos, da m esm a form a com o é im portante a im prescritibilidade
dos benefícios.
Em 1996, q u eb ran d o certo je ju m d o u trin ário em livros, Ronaldo Belmonte
dedicou-lhe nove páginas (“O brigações das Em presas ju n to à Previdência Social”,

C urso df D ik e it o P r e v íd e n c ia r io

1194 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
São Paulo: LTr, 1996, p. 227/35) e Sérgio Pinto M artins reservou-lhe duas (“D ireito
da S eguridade Social”, 2. ed., São Paulo: Atlas, p. 115/16).
1675. Receber e co b ra r — O art. 144 da LOPS reclam ava esclarecim entos
jam ais prestados. Saber o significado do seu “receber ou co b ra r” é um deles.
A p aren tem en te, os co n trib u in tes teriam 30 anos para, p o r vontade própria,
ap o rtar as contribuições devidas, e igual lapso de tem po desfrutaria a adm inistração
para, depois de lançados os débitos em notificação fiscal, cobrá-los m ediante execução.
A p aren tem en te p o rque, em face da im prescritibilidade dos benefícios, n ão tinha,
n em tem n e n h u m sentido lim itar o recolhim ento espontâneo, e p o rq u e o prazo
para a exigência executiva, ju rid icam en te prorrogável, era excessivam ente largo.
A dm itindo-se o órgão gestor não cobrar contribuições atrasadas m ais de 30
an o s (decadência) o u os autos da cobrança ficarem em p rocessam ento, em suas
rep artições, p o r o u tro s 30 anos, isso não deveria im pedir o co n trib u in te de reco­
lh er a q u alq u er tem po. Q uer dizer, constrangim ento conflitante com o direito aos
benefícios, nesse particular, absoluto.
C om o pode ser im prescritível a aposentadoria p o r tem po de serviço se, para
a reu n ião dos seus p ressu p o sto s, im pede-se a contribuição?
E x tern an d o m al a sua intenção, o elaborador da n o rm a n ão disciplinou o
reco lh im en to esp o n tâneo e p reten d eu referir-se a decadência com o “receber” e a
prescrição com o “c o b ra r”, suposição confirm ada pelo fato de, em n en h u m outro
m o m en to , e m u ito m enos nos arts. 80/81 da LOPS, ela cu id ar da decadência.
Se tanto, regrou a som a dos dois prazos (30 anos), fato perfeitam ente aceitável
naquela ocasião. P or exem plo, levantados 12 anos (decadência), a adm inistração
disp o ria de o u tro s 18 anos (prescrição) p ara cobrá-los; ap u rad o s 28 anos, só teria
dois anos, e assim p o r diante.
Im aginar o “receber” com o recolhim ento espontâneo e o “co b rar” com o re ­
ferente à decadência e prescrição ou exclusivam ente à prescrição (tom ando-se o
verbo “p rescrev erá” em seu significado lato) choca-se frontalm ente com o “para as
in stitu içõ es de Previdência Social”.
A oração tem com o sujeitos os órgãos gestores. Para eles, “p rescrevem ” ou
prescrevem e decaem as contribuições. N ão se regra aí o direito dos co n trib u in tes
de, a q u alq u er m o m ento, operarem os recolhim entos devidos. A palavra “prescre­
verá” está m al em pregada, com sen tid o genérico, abarcando a p ró p ria prescrição
e a decadência.
O “receber” o u “co b ra r”, não sendo sinônim os — não é dado ao legislador
rep etir palavras — , que dizer de decadência e prescrição? Por últim o, à época, não
era co m u m referir-se à contribuição e, sim , ã obrigação.
1676. Prazo trintenário — Tom ando o art. 144 nesse sen tid o prescricional,
o § 2- do art. 9 9 da Lei n. 6.830/1980 m anteve o m esm o e esd rú x u lo prazo de 30
anos, sem d eterm in a r q ual o de decadência e o de prescrição, m as, possivelm ente,
regendo, ã m ín g u a de explicações, a som a dos dois prazos.

C urso dc D ireito P revidenciário


T o m o 111— D i r e i t o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1195
Q uestão m ais delicada, su p erio r aos esclarecim entos reclam ados pela obscura
redação, é saber o regulado no art. 144: a) som ente prescrição; b) som ente deca­
dência; ou c) decadência e prescrição.
Na p rim eira hipótese, acolhida pela d o u trin a contem p o rân ea à edição da lei,
o legislador teria op tad o pela inexistência da decadência (tese prevalecente até
1960, na legislação) ou sim plesm ente não a teria disciplinado. Os arts. 80/81 da
LOPS resolveriam , na prática, os problem as de fiscalização. Além de essa in terp re­
tação co n trariar o p rin cípio da sapiência do legislador, de q u alq u er form a, o prazo
é exagerado para dar an dam ento à cobrança. A dem ais, não explica o “receber ou
co b rar”, e os arts. 80/81 (guarda de d o cu m en to s) não são soluções científicas para
a decadência.
A segunda hipótese escora-se na pálida ideia de a LOPS não ser lei adjetiva e
não ter de regrar a prescrição. Inexistente prazo após o lançam ento fiscal, poderia
pressupor-se o interesse da adm inistração em agilizá-lo. Tal visão das coisas não é
absurda. Em n en h u m m om ento a LOPS fala expressa e juridicam ente em decadência,
e esta é significativa para o adm inistrado. Mas a prescrição não poderia ficar in albis
ou d ep en d er dos seus arts. 80/81.
A ú ltim a hipótese parece plausível, em bora não acolhida ju rid icam en te até
boje. Na prática, a fiscalização continuaria com dificuldades para exigir d ocum entos
por m ais de cinco anos (art. 80), m as sem pre conseguiria (art. 81). Aceitando a LOPS
regulando a som a dos dois períodos, não haveria prazo para o contribuinte quitar
espontaneam ente, quebrando-se, com isso, o conflito anteriorm ente apontado.
De qualquer m aneira, os dois lapsos de tem po som ados ainda são excessivos,
prin cip alm en te se, n u m caso, o lançam ento fiscal in clu ir poucas e rem otas m ensa­
lidades; noutro, o ente segurador teria tem po ínfim o para cobrar débitos de dilatados
períodos (m as seria o ú nico culpado disso).
Com o advento do CTN, a decadência despertou o interesse dos estudiosos
pela natureza da co n trib uição previdenciária. O m esm o se passou com a autarquia.
Vários aportes científicos foram dados à m atéria, convindo referir alguns deles.
1677. P arecer MPAS n. 8 5 /1 9 8 8 — Sem esgotar o assunto, o Parecer CJ/
MPAS n. 85/1988, n o rm ativo e vin cu lad o r para a A dm inistração Pública, a ten ­
dendo à pregação dos trib u taristas p o r um a decadência q u inquenária, m o m en ta­
neam ente pôs fim à questão, exatam ente q uando a C arta M agna avultava a dita
contribuição social com o espécie exacional não trib u tária e o Suprem o Tribunal
F ederal acolhia a distinção.
N ão ignorava o Parecer SR n. 12/1986 da C onsultoria-G eral da República,
ao qual se subm etia em m atéria de prescrição, e do qual reproduzia as conclusões
(item 2), indo além no p ertin en te à decadência. Reeditava as afirm ações do Con-
suhor-G eral e perfilhava opiniões da d o u trin a e da jurisprudência: até 13.4.1977,
ou pelo m enos no período de 25.10.1966 até essa data, a contribuição previdenciária
revestiu-se de perfil trib utário, su b o rd in an d o -se ao CTN, e não à LOPS.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1196 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Com o corolário dessas reflexões nitid am en te term inativas, em 14.4.1977, d e­
sapareceria o possível perfil trib u tário e assum iria a exação securitária a natureza
de co n trib u ição social, refletindo-se isso, q u e r se crer, tan to na decadência quanto
n a prescrição.
No dizer do C onsultor-G eral “Após essa data, cessou o prevalecim ento do
lapso q ü in q ü e n a l” (item “b ”).
O p arecer destaca ainda a análise da P rocuradoria-G eral do IAPAS, segundo
a q u al “a m atéria, na realidade, não m erece m aiores esclarecim entos, u m a vez que
foi sobejam ente d im en sio n ad a pelo P arecer SR n. 12/1986 e p o r in ú m ero s julgados
do STF e TFR ” (item 3).
As co nclusões n ão coincidem precisam ente com as da C onsultoria-G era! da
R epública, órgão norm ativo superior. E tam bém o Suprem o Tribunal F ederal não
estava aco m p an h an d o o então Tribunal F ederal de Recursos.
1678. A rt. 45 do PCSS — Em bora sem m encioná-la expressam ente, o caput
do art. 45 regrava a decadência (deixando a prescrição, com o dito, a cargo do
art. 46). Fixava os p razos nos dois incisos e, no parágrafo ú nico, inovava su b s­
tancialm ente, d eterm in an d o a n ão existência de lapso decadencial para valores
descontáveis dos co n trib u in tes (sic).
O prazo era estabelecido em dez anos, a ser confrontado com o en ten d im en to
da A dm inistração Pública, de cinco anos (Parecer n. 85/1988), e com o incognos-
cível tem po da LOPS ou com a total ausência de regra sobre a m atéria. Se o lapso de
tem po não existia ou era inapreensível no art. 144 da LOPS, p o r ocasião da edição
do PCSS, em 1991, podiam ser exigidas contribuições desde 1981, m as, prevale­
cendo o en ten d im en to adm inistrativo anterior, era preciso fixar-se a data-base a
partir da qual devem ser contados os dez anos. Isto é, o PCSS, ao p receitu ar prazo
dobrado, retroage ou não.
Mais recen tem ente e com certa acordância dos M inistros, o STJ vinha aco­
lh en d o a teoria dos C inco + C inco = Dez anos.
1679. C o n tag em do p erío d o — Em 1991, por força do en ten d im en to adm inis­
trativo, os co n trib u in tes não estiveram sujeitos a cobranças de débitos anteriores a
jan eiro de 1986. O s cinco exercícios, de 1986 a 1990, definiam a decadência. Não
significando, en tretan to , não poderem os ditos co n trib u in tes ap o rtar esp o n tan ea­
m en te em relação a anos anteriores, com vistas em o u tras finalidades (obtenção
da certidão negativa de débito, para em presas, e benefícios, para os co n trib u in tes
in d iv id u a is).
P o sterio rm en te, não aco lhendo a validade do P arecer CJ/MPAS n. 85/1988, a
ad m inistração, em 1993, acolheu os dez anos e p asso u a disp en sar contribuições
anteriores a 1983.
Assim fazendo, agiam os sujeitos passivos conform e o im pério da lei vigente
(ou, pelo m enos, da interpretação oficial dada ao art. 144 da LOPS).

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o W — D i r e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1197
D estarte, som ente a p artir de 1996 p u d eram ser exigidos dez anos de c o n ­
tribuições não recolhidas, crescendo o lapso de tem po decadencial de um ano, a
co n tar de 1991.
O caput do art. 45 falava em “a p u ra r” e “c o n stitu ir” o crédito da contribuição
previdenciária, im p ondo-se a definição destas duas fases da cobrança.
Apuração significa o levantam ento da hipótese de incidência, isto é, a apreen­
são da base de cálculo (expressão m onetária do fato gerador). C onstituição do
crédito é a form alização do levantam ento do débito em docu m en to hábil, então
era a NFLD, convalidada pela autoridade, p o r m eio de D ecisão-N otificação. N este
últim o m om ento tem se in stau rad o o procedim ento adm inistrativo de cobrança,
iniciando-se, inclusive, o prazo de prescrição.
Em v irtu d e de o ano do lançam ento fiscal ser excluído (com preensão tom ada
por em préstim o do CTN e universalm ente aceita pela d o u trin a e ju risp ru d ê n c ia ),
o prazo sem pre será de anos inteiros, sem ser afetado pelo da prescrição.
N os incisos l/II do arí. 45 eram estabelecidas regras de contagem do prazo
de dez anos, copiadas do art. 173, I/Il, do CTN. O p rim eiro dilata o prazo até 11
m eses m ais, pois em dezem bro de u m exercício é aferido de dezem bro do ano
an terio r para trás. O segundo, provavelm ente, visa defender o sujeito passivo da
possibilidade de o lançam ento fiscal ser anulado p o r vício insanável e na sua restau­
ração o débito não estar vencido pela decadência. O prazo recom eça a ser contado,
m edindo-se da decisão anulaLória.
1680. Im p o rtân c ia — O indigitado parágrafo único d o derrogado art. 45 ( “A
Seguridade Social nunca perde o direito de apurar e constituir créditos provenientes
de im portâncias d escontadas dos segurados ou de terceiros ou decorrentes da p rá­
tica de crim es previstos na alínea j do art. 95 desta Lei”) inovava em relação ao
Direito Previdenciário e co n su b stan cio u teses de sim pósios e sem inários, A c o n tri­
buição descontãvel (e não a descontada, com o diz a lei) não deveria subm eter-se
às form as extintivas da exigibilidade.
É possível ser verdadeira a conclusão, m as o ditam e en tra em conflito com
o caput. Estabelecido p razo para a decadência, o legislador deseja a tranqüilidade
jurídica olerecida por esse in stitu to fiscal. T ranqüilidade arredada pelo parágrafo
único , provocando dissídios processuais, prin cip alm en te em face do disposto no
art. 32, parágrafo único, do PCSS (guarda de d ocum entos).
Assim, em bora até pudesse ser constitucional a determ inação, não tinha m uito
sentido lógico ou prático o parágrafo único, O dispositivo, inspirado na vontade
férrea de d isciplinar m atéria atraente, pretendia o b ter as parcelas descontáveis do
trabalhador, as quais, p o r força da decadência ou da prescrição, quedavam -se in ­
devidam ente nos cofres da em presa.
M elhor era dar cum prim ento efetivo e real ao art. 95, letra d, do m esm o PCSS,
d enunciando à Justiça Federal os infratores (sem pre, é claro, observando o prazo
decadencial desse crim e). N unca legitim ar essa im propriedade de, sem pre e indefini­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1198 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
dam ente, p o d er a Fiscalização do INSS exigir contribuições descontadas ou descon-
táveis, já extinta a obrigação p o r força de decadência ou da prescrição. A providência
tornava im possível a defesa do contribuinte.
Provavelm ente o P oder Judiciário poria em dúvida a validade do com ando
legal, o qual, co n tra rian d o os altos interesses dos segurados, concorreria para as
em presas n u n ca m ais fornecerem provas antigas de trabalho, convindo ser revisto
na p róxim a reform a da legislação previdenciária.
C om a in tro d u çã o de três novos parágrafos desapareceu o parágrafo único do
art. 45 (Lei n. 9.032/1995).
R estringindo-se ao em presário, au tô n o m o , eclesiástico, e esquecendo-se do
segurado especial, o § I a do art. 45 regra a decadência das contribuições indivi­
duais desses segurados obrigatórios, fixando-a em 30 anos (sic) e, justificando-se,
afirm ar ser co m an d o para a apuração e constituição de crédito “para fins de com ­
provação de atividade, p ara obtenção de benefício”. Isto é, a apuração e a cobrança
da exigência têm p o r fim a definição da atividade com vistas n o benefício, atividade
subjetiva do interessado.
A contrario sensu, fora do prazo norm al, co n stante do caput (dez anos), a fis­
calização do INSS não pode exigir essas contribuições não decaídas.
O dispositivo deve ser considerado com vistas à p resunção do desconto
(PCSS, art. 33, § 59), convalidando a distinção en tre os diferentes segurados. Os
co n trib u in tes individuais devem fazer prova da contribuição para fazerem ju s ao
benefício. Estão obrigados a pagar p o r 30 anos ex vi Iegis, e os cinco restantes, da
ap o sen tad o ria p o r tem po de serviço, são solicitados à boca do cofre, pelo setor de
benefícios do INSS, sem possibilidade de cobrança ad m inistrativa ou judicial.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o III — D ir e ito P r e v i d e n c i á r i o P r o c e d im e n ta l 1199


Capítulo CLXVIII

P r e s cr i çã o das C ontribuições

S u m á r i o : 1681. Norma dispositiva. 1682. Distinção da decadência. 1683. Omis­


são doutrinária. 1684. Aplicação do CTN. 1685. Desdobramento histórico.
1686. Súmulas do TFR. 1687. Prazo do PCSS. 1688. Contagem do termo. 1689.
Manifestação do STE 1690. Resumo do cenário.

A prescrição guarda m enores dúvidas em com paração com a decadência, em ­


bora o seu prazo freq u entem ente seja tam bém q u estio n ad o do po n to de vista legal
e prático, se cinco ou dez anos, e em certo m om ento, de 30 anos (sic). H istori­
cam ente, aco m p an h o u a decadência, padeceu e padece das m esm as indefinições.
1681. N o rm a d isp o sitiv a — No art. 46, a Lei n. 8.212/1991 estipulava a pres­
crição do crédito previdenciário. O seu absurdo e discutível prazo original (1960),
de 30 anos, prorrogável em várias hipóteses, confirm ado duas décadas depois pela
Lei n. 6.830/1980 (à vista da EC n. 8/1977, de iniciativa da A dm inistração Pública,
preten d en d o d errogar o art. 174 do C TN ), era lapso de tem po desnecessariam ente
dilatado.
À vista do então art. 57 da LOPS, prevalecia conclusão coincidente com a
im prescritibilidade dos benefícios, em bora de difícil sentido prático: o crédito pre­
videnciário desconheceria a decadência, casuísm o rejeitado pelo espírito crítico,
antes de exam inar o o rd en am en to ju ríd ic o e, até m esm o, a legislação da técnica
protetiva.
1682. D istin ção da d ec ad ên c ia — A om issão do legislador de 1960 e a co n ­
fusão firm ada entre os dois in stitu to s ju ríd ico s — decadência e prescrição — à
época, levou o órgão gestor a conceber um prazo de decadência trintenário! Na
prática, respeitando rev erentem ente a in com preendida prescrição, esta lhe parecia,
no m ínim o, gênero do qual a decadência era espécie. Na prálica aplicou-se com o se
a som a dos dois períodos devesse ser de 30 anos. Caso contrário, a A dm inistração
Pública ver-se-ia a braços com 60 anos!
M ensurado o p eríodo da prescrição da prim eira m ensalidade incluída n o lan­
çam ento fiscal e não da data da lavratura deste ou da inscrição da dívida fiscal.

C u r s o dh D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1200 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
É insofism ável o en trechoque entre o bom -senso do dia a dia (a exigir um
term o razoável na m en te do aplicador da n o rm a) e a incom preensão do fenôm eno
jurídico co n tid o nessas form as extintivas da obrigação. N ão q u eren d o utilizar o
verbo “d ec air” ou com receio do anacrônico “c ad u car”, preferiu-se o “prescrever”
e, a p a rtir daí, pro sp erou a confusão entre os dois institutos.
Se o prazo de prescrição era de 30 anos, não tin h a sen tid o a adm inistração
contá-lo do m ais antigo m ês de com petência lançado, com o se fazia usualm ente
(pelo m enos, d u ra n te três décadas, e até o PCSS) e considerava sensato fazê-lo.
Com isso em butia a decadência. D iante da dubiedade do art. 144 da LOPS, sentia-se
ali a discip lin a de d o is prazos, e, não, de u m deles em especial.
Na verdade, à época, a leitura correta era a inexistência da decadência (sic)
e, u m a vez ap u rad o o débito, d isp o r a autarquia de tantos anos q u a n to a diferença
entre 30 e o p erío d o objeto do lançam ento.
1683. O m issão d o u trin á ria — Na ocasião, ou pelo m enos até o advento do
CTN, a qu estão não cham ou a atenção dos estudiosos e pouca ou n en h u m a co n ­
tribuição d o u trin ária dos previdenciaristas ofereceu-se à questão. Os dois prazos
p erm an eceram obscuros, confundidos, sem q u alq u er esforço p articu lar da ad m i­
nistração em ver resolvido o dissídio. Logo após a fusão dos in stitu to s, ocorrida
efetivam ente em jan eiro de 1967 (D ecreto-lei n. 72/1966), a ação fiscal intensificou­
-se e m u itas notificações fiscais incluíram períodos m aiores, d esp ertan d o o in te­
resse pela m atéria. As em presas recorreram aos trib u taristas e estes, com o CTN à
m ão, passaram a estu d ar a legislação previdenciária.
M ozart Victor Russomano, u m dos raros especialistas a afetar o tem a, lem brando
en passant a im prescritibilidade do direito aos benefícios, aceitou o prazo com o
sendo p re scricio n al, ig norando a decadência, e apenas o cen su ro u com o sendo
m u ito largo ( “C o m en tários à Lei O rgânica da Previdência Social”, 2~ Ed., Rio de
jan eiro : Jo sé K onfino, Tomo II, p. 467/69).
M oacyr Vélloso Cardoso de Oliveira, escrevendo na época, dizia: “As c o n tri­
b uições devidas aos In stitu to s e C aixas pelos em pregadores que lhe são filiados,
m esm o q u an d o se trate de pessoa de direito público, são im prescritíveis, ex vi do
art. 168, i y do C ódigo Civil, pelo caráter de m andatários legais, de que se revestem
os em pregadores p eran te aquelas instituições a esse resp eito ” ( “A prescrição das
contribuições devidas aos Institutos e C aixas”, in Rev. Industriários, vol. 7, p. 23-27
e 32, apud Albino Pereira da Rosa, in “A Lei O rgânica da P revidência Social”, Rio de
Janeiro: M elso, 1960. p. 227).
1684. A plicação d o C TN — P artindo de p ressuposto não axiom ático — ser a
co n trib u ição previdenciária, na m elh o r das hipóteses, um a m odalidade atípica de
trib u to — , os p u blicistas desenvolveram en cam in h am en to s lógicos e ju ríd ic o s no
sen tid o de aplicar os arts. 173/174 da Lei n. 5.172/1966 à exação previdenciária.
Assim , para eles, a decadência e a prescrição deveriam ser de cinco anos.
Sem condições de enfrentá-los (o D ireito P revidenciário não possuía m o n o ­
grafias n o nível das dos trib u taristas), em bora sen tin d o as diferenças existentes, os
p areceristas do órgão gestor lim itaram -se a apegar-se ao texto da lei, n em sem pre

C u rso de D i r e i t o P revidenciário
T om o I I I — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
claro, ou, então, acostaram -se à teoria da exigibilidade dos d o cu m en to s (cinco
anos). C om isso tanto a decadência quanto a prescrição ficaram credoras de avanços
científicos significativos.
1685. D esdobram ento histórico — Desde os dez anos do art. f 78, § 10, da Lei
n. 3.071/1916 (Código Civil), passando pelo art. 1Qdo Decreto n. 20.910/1932 (cinco
anos) e Decreto-lei n. 4.597/1942 (cinco anos), o prazo de prescrição contra a União e
a favor do instituto previdenciário provocou perplexidade entre os aplicadores.
C om o a co n clusão dependia da natureza ju ríd ica da contribuição previden­
ciária, ela desp erto u correntes p ró e co n tra a subm issão ao CTN. A costado à im -
prescritibilidade dos benefícios, o órgão gestor perseguiu a prescrição de 30 anos
d u ra n te m uito tem po, não só com relação à contribuição incidente sobre a folha
de pagam ento com o a p ertin en te à qu o ta de previdência.
1686. S úm ulas do TFR — O silêncio do Tribunal Federal de Recursos, ao editar
a Súm ula TFR n. 108 (cuidando da decadência), q u an to à prescrição, ao tem po
de regrar am bos os in stitu to s em relação aos entes políticos, provocou inúm eras
m anifestações da A dm inistração Pública, especialm ente a p a rtir da E m enda C ons­
titucional n. 8/1977. F inalm ente, chegou-se à com preensão da C onsultoria-G eral
da R epública, aco m p an hada pelo instituto.
Um pouco antes, o m esm o TFR baixara a Súm ula n. 219: “N ão havendo an te­
cipação do pagam ento, o direito de co n stitu ir o crédito previdenciário extingue-se
d eco rrid o s 5 (cinco) anos do prim eiro exercício seguinte àquele em que ocorreu
o fato g erad o r”.
T ratando da F azenda Pública, abordou a prescrição: “A ação de cobrança do
crédito previdenciário contra Fazenda Pública está sujeita à prescrição quinquenária
estabelecida n o D ecreto n. 20.910, de 1932”.
1687. Prazo d o PCSS — De certa form a, o PCSS pôs fim à discussão e, abs­
train d o a opinião dos trib u taristas, fixou o prazo de dez anos m antido até a Súm ula
V inculante STF n. 8, co nvindo exam iná-lo.
A Lei n. 8.212/1991 não linha regra sobre a data do início da contagem do prazo
prescricional. Nem em relação a quais processos, novos ou em andam ento, ele incide.
O R egulam ento do C usteio preferiu repetir a redação do art. 174 do CTN,
em m edida de discutível liceidade, fixando a in terru p ção do prazo. Dar-se-ia em:
“a) d istribuição da execução em juízo; b) protesto judicial; c) outro ato ju d icial
que co n stitu ía em m ora o devedor; d) ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que
im porte o reco n h ecim ento do débito pelo devedor; e) citação pessoal do devedor”.
1688. C o n tag em do te rm o — R aciocinando em 1993, sen d o certo iniciar-
se o p razo de dez an o s da d ecadência de ja n e iro de 1983 p ara frente, restando
d efin itiv am en te in d ev id as as co m p etên cias dezem bro de f9 8 2 para trás, dife­
ren te é a aplicação do início da prescrição, en c u rta d o de trin ta para dez anos.
E n q u an to v ig en te a n o rm a anterior, a Lei n. 3.80 7/1960, co n v alid ad a pela Lei
n. 6 .8 3 0 /1 9 8 0 , agiu c o rretam en te a in stitu içã o , p ro m o v en d o a co b ran ça nesse
lapso de tem po. P orém , a p a rtir de 25.7.1991, n ão pode m ais fazê-lo, e p ara os
créd ito s c o n stitu íd o s a n te rio rm e n te e se não vencida a trin te n a rid a d e , só dispõe

C urso d e D ir e it o P r e v i d e n c : iA r i o

1202 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
de m ais dez an o s p ara obtê-lo. N otificações lavradas, p o r exem plo, em 25.7.1989
só p o d em ser co b rad as até 2001.
1689. M anifestação do STF — Com a possível revogação da prescrição trinte­
nária da LOPS pelo CTN e ao discutível restabelecim ento pela Lei n. 6.830/1980 e,
principalm ente, em razão da EC n. 8/1977, alterou-se o cenário. Para o Parecer CJ/
MPAS n. 85/1988, a prescrição seria novam ente trintenária e desde a Lei n. 6.830/1980.
O STF aco lh eu a prescrição qu in q u en ária para m ensalidades vigentes até
13.4.1977. A co n trib uição previdenciária p erd eu (a nosso ver n u n ca teve) a n a ­
tureza tributária. Mas não disse ainda qual seria essa natu reza e, p o r conseguinte,
qual o prazo. Em todo o caso, não sendo trib u tária, a tendência pode ser no sentido
e acolher a validade da Lei n. 8.212/1991 e, assim , tornar-se decenal.
C om a Súm ula V inculante n. 8, o STF en ten d eu que o prazo é de cinco anos.
Sérgio Pinto M artins lem bra a necessidade de o PCSS, p ara ter validade, dever
ser lei co m plem entar, com b in an d o o texto do art. 149 com o do art. 146, III, b, da
Lei M aior ( “D ireito da Seguridade Social”, São Paulo: Atlas, 1992, p. 80).
D iferentem ente pensa Valdir de Oliveira Rocha, dispensando a exigência de lei
com plem entar exatam ente com base no m esm o dispositivo, atribuindo ao legislador
o rdinário o p o d er de alterar os p eríodos da decadência e da prescrição. “A lei co m ­
plem en tar estabelecedora de n o rm as gerais em m atéria de legislação tributária,
ainda q u e não dispensável (prevista que está pela C onstituição) não é estritam ente
necessária à instituição de qu alq u er trib u to ” ( “N orm as G erais em m atéria de Legis­
lação Tributária; prescrição e decadência”, in Rep. IOB d e ju ris p . da 2- quinzena
de novem bro de 1994, n. 22/94, p. 454).
1690. R esum o do cenário — C om as divergências d o u trin ária s m antidas e
ainda ag u ard an d o solução definitiva, h isto ricam en te os dois prazos podem ser su ­
m ariados a seguir:

Períodos Decadência Prescrição


Do Código Civil (1916) até o Decreto n. 29.910/1932 10 anos 10 anos
Do Decreto n. 29.910/1932 até a Lei n. 3.807/1960 (LOPS) 5 anos 5 anos
Da LOPS até a a soma da decadência com Lei n. 5.172/1966 prescrição
(CTN) dava
30 anos

Do CTN até a EC n. 8/1977 5 anos 5 anos


Da EC n. 8/1977 até a Lei n. 6.830/1980 a soma da
decadência
com a prescri­
ção dava
30 anos
Da Lei n. 6.830 até a Lei n, 8.212/1991 (PCSS) 5 anos 30 anos
Do PCSS em diante até a Súmula Vinculante STF n. 8 10 anos 10 anos
Após a Súmula Vinculante STF n. 8 5 anos 5 anos

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o 111 — D ir e ito P r e \ i d e n c i á r i o P r o c e d im e n ta l 1203


Capítulo CLXIX

R e c o l h im e n t o da C o n t r ib u iç ã o

Su m á r i o : 1691. Prazos para o recolhimento. 1692. Acréscimos legais. 1693.

Complementação de diferenças. 1694. Compensação de valores. 1695. Reem­


bolso de benefícios. 1696. Décimo terceiro salário. 1697. Produtor rural. 1698.
Construção civil. 1699. Associações desportivas. 1700. Contribuinte individual.

Um p ro ced im en to com ezinho, praticado n o dia a dia, p o r vezes capaz de gerar


dú v id a nos co n trib u in tes (são freqüentes as alterações provindas do órgão gestor),
é o regim e de p agam ento das contribuições. São variadas as form as, dizendo res­
peito ao ap orte n o rm al ou suplem entar, as cotizações vencidas e vincendas, à vista
ou em parcelas, devidas à au tarq u ia ou a terceiros, sob a form a de pagam ento ou
depósito, p o r m eio de guias positivas ou negativas, e assim p o r diante.
As prin cip ais fontes form ais são o PCSS, a Lei C om plem entar n. 84/1996, as
Leis ns. 8.870/1994 e 9.317/1996 e o RPS. Em nível adm inistrativo, a R esolução
INSS/PR n. 43/1991, criadora da G uia de R ecolhim ento da Previdência Social —
GRPS, e a antiga O rdem de Serviço INSS/DAF n. 170/1997, da qual foram colhidas
m uitas inform ações. A p artir de jan eiro de 1998, foi im plantada a G uia de R ecolhi­
m en to de C o n trib u in te Individual — GRCI, com algum as características do antigo
carnê de pagam ento.
1691. P razo s p a ra o re co lh im e n to — N ão varia m uito o term o fata! para a
quitação da co n trib u ição previdenciária.
u) Contribuição patronal: As contribuições em presariais devem ser recolhidas
até o dia 20 do m ês su b sequente ao da com petência.
b) Associações desportivas: As cotizações o riu n d as das associações desportivas
vencem até dois dias ú teis após a realização do espetáculo futebolístico.
Em se tratan d o de patrocínio, licenciam ento de uso de m arcas e sím bolos
de publicidade ou propaganda, e de transm issão dos espetáculos, exigida a partir de
12.12.1997, até o dia 2 do m ês de com petência.
c) Contribuinte individual: O co n trib u in te individual pode verter suas c o n tri­
buições até o dia 15 do mês seguinte ao de com petência.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1204 W ltid im ir N o v a e s M a r tin e z


d) Décimo terceiro salário: A contribuição in cid en te sobre o décim o-terceiro
salário vence n o dia 20 de dezem bro de cada ano.
e) Acordo trabalhista: No caso da sentença hom ologatória de acordo trabalhista,
prevista no art. 43 do PCSS, o prazo do dia 20 conta-se do m ês su b sequente da
liquidação do acordo ou da sentença.
Se q u alq u er desses vencim entos cair em dia sem expediente bancário na loca­
lidade é prorrogado para o prim eiro dia ú til seguinte.
1692. A créscim os legais — Se o pagam ento é operado fora do prazo legal (dia
15 ou 20 do m ês), su bsistem três acréscim os previstos na lei.
a) Correção monetária: Vigente até dezem bro de 1994, m ediante a divisão do
valor o riginário pela cotação da UFIR do prim eiro dia ú til do m ês su b seq u en te ao
da com petência, m ultiplicando-se o resultado (quantidade em UFIR) pela UFIR do
dia do aporte.
A ideia da correção m onetária vigeu até a Lei n. 8.218/1991 que revogou o
art. 36 do PCSS, q u an do desapareceu form alm ente (em bora às vezes em butida nos
ju ro s SELIC).
b) Juros: C alculados sobre o valor original da contribuição atualizada até a
com petência d ezem bro de 1994 e a p a rtir de jan eiro de 1995, sobre o valor origi­
nário. No p erío d o de o u tu b ro de 1979 a dezem bro de 1990, com 1% ao m ês; de
jan eiro de 1991 a dezem bro de 1992, a variação da TRD, sobre o valor originário,
se pago d en tro desse período; após o período, calculado sobre o débito atualizado.
De fevereiro de 1992 a dezem bro de 1994: 1% ao m ês-calendário, para pagam en­
tos até m arço de 1997 e para recolhim entos a p a rtir de 4.1997, adiciona-se a taxa
SELIC. De jan eiro de 1995 a m arço de 1995, aplicar a Taxa M édia de C aptação do
Tesouro N acional — TM CTN.
A c o n tar de abril de 1995 aplicar a taxa referencial SELIC. No m ês do venci­
m ento e n o m ês do p agam ento adicionar ju ro s de 1% ao m ês.
D esde a M edida Provisória n. 449/2008, ju ro s calculados com base no art. 61
da Lei n. 9.430/1996.
c) M ulta automática: O art. 3 5 , 1/III, §§ l a/4fi, do PCSS, com as sucessivas alte­
rações prom ovidas pelas Leis ns. 9.528/1997 e 9.876/1999 alterou a disciplina da
m atéria que resultou diversificada:
I — para pagam ento de contribuição não in clu íd a em NL:
a) 8% d en tro do m ês do vencim ento;
b) 14% d en tro do mês do vencim ento; e
c) 20% a p artir do segundo m ês do vencim ento.
II — Para pagam ento de débito em NL:
a) 24% até 15 dias da NL;
b) 30% após o 159 dia da NL;

C urso de D ir e it o P r iiv id e n g iA r io

T om o I I I — D i r e i t o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1205
c) 40% após a apresentação de recurso antecedido de defesa, até 15 dias da
ciência da decisão do MF; e
d) 50% após o 15a dia da ciência da decisão do MF, en q u a n to não inscrito em
Dívida Ativa.
111 — Para pagam ento de crédito inscrito em Dívida Ativa:
a) 60% q u an d o n ão tenha sido parcelado;
b) 70% se presente parcelam ento;
c) 80% após o ajuizam ento da execução fiscal; e
d) 100% após o ajuizam ento da execução fiscal;
Da m esm a form a conform e o art. 61 da Lei n. 9.430/1996.
1693. C o m p lem en tação d e d iferen ça s — O recolhim ento com plem entar é
o referente à diferença en co n trad a pela em presa no pagam ento norm al. Além dos
acréscimos devidos à m ora, é igual ao feito todo mês, devendo-se lançar no campo 13
o m ês e ano relativos à contribuição, esclarecendo-se, no cam po 8, tratar-se de
ap o rte im plem entar.
1694. C o m p en sação de v alo res — A com pensação é a dedução do valor a
reco lh er em razão de ter havido pagam ento indevido ou a m aior e o reem bolso é
o direito de d esco n tar da im portância a recolher a referente ao salário-fam ilia ou
salário-m aternidade. E ao auxílio-natalidade, até dezem bro de 1995.
O bservada a legislação, a com pensação não pode ser su p erio r a 30% do valor
a recolher (C am pos 1 6 + 1 7 — 21). Se o crédito do co n trib u in te ultrapassar esse
percentual ele deve proceder à operação em várias etapas.
É preciso registrar, no cam po 8, o valor originário recolhido indevidam ente e
a com petência referente, o cálculo da atualização e o total do cam po 17. A dedução
só pode aco n tecer em GRPS com recolhim entos em dia.
1695. R eem bolso d e b enefícios — O reem bolso poderá ser feito no cam po
21. Se o valor a d ed u zir for su p erio r ao do a recolher (16 + 17 + 18), resultando
em saldo zero o u favorável ao co n trib u in te, ele deverá com parecer ao PAF para
quitação e reem bolso.
1696. Décimo terceiro salário — A contribuição do décim o terceiro salário acon­
tece em duas circunstâncias: a) no m ês do pagam ento da últim a parcela; b) q u an d o
da rescisão de co n trato de trabalho.
1697. P ro d u to r ru ra l — A dedução do percentual d escontado na N ota Fiscal
da com ercialização do p ro d u to ru ral e o pagam ento devem ser feitos até o dia 20
“su b seq u en te ao da operação ou consignação da produção, in d ep en d en tem en te de
estas operações terem sido realizadas d iretam en te com o p ro d u to r o u com in term e­
diário pessoa física na form a estabelecida em regulam ento” (art. 30, III, do PCSS,
na redação dada pela Lei n. 9.528/1997).
O segurado especial tam bém p o d e pagar com o co n trib u in te individual (facul­
tativo), observando prazo p ró p rio (dia quinze).

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1206 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1698. Construção civil — Para as obras de co n stru ção civil a O rdein de Ser­
viço INSS/DAF n. 170/1997 apresenta u m q u ad ro sinóptico em que é d escrita a
contribuição.
1699. A ssociações d esp o rtiv a s — As associações desportivas dispõem de
dois term os para o recolhim ento: a) “até dois dias úteis após a realização do evento”
... “no caso de espetáculos desportivos de que participe no territó rio nacional, em
q u alq u er m o dalidade desportiva, inclusive jo g o s in tern a cio n ais”; e b) “dia 2 (dois)
do m ês seg u in te ao da o corrência do fato gerador, prorrogando-se o prazo para o
dia ú til su b seq u en te, q u an d o o dia 2 (dois) cair em dia no qual não haja expediente
bancário, no caso”... “de q u alq u er form a de patrocínio, licenciam ento de uso de
m arcas e sím bolos de publicidade ou p ropaganda e de transm issão dos espetáculos
desportivos (co n trib u ição devida a p a rtir de 12.1 .1 9 9 7 )” (su b item 3.8.1 da O rdem
de Serviço INSS/DAF n. 170/1997).
1700. Contribuinte individual — Até dezem bro de 1997, o em presário, a u tô ­
nom o, ev entual, eclesiástico e o facultativo recolheram a co n trib u ição p o r m eio de
carnê de pagam ento. Em passado rem oto, antes de 1975, p o r in term éd io de guias
individualizadas.
A p a rtir de jan eiro de 1998, m ediante a GRCI.
Os q u ad ro s da GRCI são m uito intuitivos, não restan d o algum as dificuldades
no preen ch im en to .
Um em p reg ad o r dom éstico é fiscalm ente responsável pela cotização do d o ­
m éstico, d evendo fazê-lo conform e a regra dos co n trib u in tes individuais.
A alíq u o ta do p restad o r dom éstico de serviços é igual à dos em pregados ce­
letistas (8%, 9% ou 11%) e a do em pregador, de 12% do salário de contribuição
(valor an o tad o n a CTPS).
A GRCI p ertence ao dom éstico e deve ficar em seu poder.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o III — D ireito P re v id e n c iá rio P ro ced im en ta l 1207


Capítulo CLXX

B e n e f íc io A s s is t e n c ia l

Sumárío: 1701. Demonstração da idade. 1702. Comprovação da deficiência.


1703. Renda familiar. 1704. Solicitação do benefício. 1705. Competência da
concessão. 1706. Data do início. 1707. Hipótese de indeferimento. 1708. Ma­
nutenção dos pagamentos. 1709. Suspensão das mensalidades. 1710. Extinção
do direito.

O benefício de pagam ento continuado integrante da assistência social, pre­


visto na Lei n. 8.742/1993 e n a Lei n. 10.741/2003, regulam entado n o D ecreto n.
1.744/1995 e alterado peta MP n. 1.473-29/1997, é adm inistrado pelo INSS, c o n ­
form e as R esoluções INSS/PR ns. 324/1995 e 435/1997 e O rdem de Serviço INSS/
DSS n. 562/1997, sen d o conhecido com o am paro previdenciário ou benefício de
pagam ento co n tin u ad o da LOAS, especialm ente depois do E statuto do Idoso (Lei
n. 10.741/2003).
Em linhas gerais, o an dam ento é o m esm o das dem ais prestações, com p ar­
ticularidades p ró p rias ao direito dos idosos e deficientes, com o estar im pregnado
pela ideia de alim eniaridade e assistencialidade inerente a esse direito. Tem de ser
singelo e célere em com paração com os dem ais, aplicando-se o in dubio pro misero
com bastante p ropriedade.
1701. D em o n stração d a id ad e — A idade é com provada m ediante certidão
de nascim ento, de casam ento civil ou religioso, certificado de reservista, carteira
de identidade, certidão de inscrição eleitoral e declaração expedida pela FUNA1
(para o indígena) ou CTPS. Para os estrangeiros, o título declaratório de n aciona­
lidade brasileira, certidão de nascim ento ou casam ento, passaporte, d o cu m en to de
iden tid ad e ou certidão, guia de inscrição consular, ou C ertidão de D esem barque.
1702. C o m provação da deficiência — A deficiência é verificada p o r m eio
de Laudo Pericial de Avaliação, expedido p o r serviço co n tan d o com equipe m ul-
tiprofissional do SUS, dos C entros e N úcleos de Reabilitação Profissional, Perícia
M édica e Serviço Social do INSS ou de entidades e organizações de reconhecida
com petência m édica.
1703. R enda fam iliar — C om pete aos C onselhos de A ssistência Social dos
Estados, dos M unicípios e do D istrito Federal, aos A ssistentes Sociais e ju íz e s ju íz e s

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1208 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
de Paz, P rom otores de Ju stiça, C om andantes M ilitares do Exército, da M arinha, da
A eronáutica e das Forças auxiliares e dos D elegados de Polícia, a declaração.
Para q uem exerce atividade rem unerada, o re n d im en to será evidenciado por
m eio de:
1) CTPS;
2) co n trach eq u e de pagam ento ou d o cu m en to expedido pelo em pregador;
3) carnê de co n tribuição para o INSS;
4) extrato de p agam ento do benefício previdenciário.
A situação dos m em bros da fam ília pertencentes ao m ercado inform al serã
declarada pelos assistentes sociais.
1704. Solicitação do benefício — O pedido será apresentado nos Postos do
Seguro Social do INSS, conform e form ulário p ró p rio , em bora se possa solicitá-lo
p o r req u erim en to escrito.
Caso assinado p or representante, deverá ser com provada tal condição (procura­
ção, tutela, curatela etc.).
Se o titu lar é analfabeto, m ediante im pressão digital n a presença de servidor
do INSS, da en tidade ou organização credenciada identificadora.
1705. Competência da concessão — C om pete ao Posto de Seguro Social a
habilitação, a concessão e o pagam ento do benefício assistencíal.
A veracidade das inform ações contidas no Laudo Pericial de Avaliação e no
A testado de C om posição do G rupo e Renda F am iliar para P o rtad o r de D eficiência
e para Idoso é de responsabilidade dos em itentes.
1706. D ata do início — O benefício tem início a p a rtir d a aprovação do res­
pectivo req u erim en to , devendo o prim eiro pagam ento ser efetuado até 90 dias, a
c o n tar da DER, se satisfeitas as condições exigidas.
Q u an d o a apresentação se com pleta após os 90 dias, ele com eçará no 9 0 a dia.
A n o rm a silencia sobre a possibilidade de a im plem entação vir a realizar-se após
m uito tem po, m as o INSS costum a d ar um prazo de 60 dias para as providências e
se não aten d id o , ele arquiva a solicitação.
1707. Hipótese de indeferimento — Não com provado o direito até o final da
in stru ção , o benefício será indeferido.
Da decisão, cabe Recurso O rdinário à Ju n ta de R ecursos, no prazo de 30 dias
a co n tar da ciência. A JR é a ú ltim a instância, q u an d o o indeferim ento se der p o r
não com provação da incapacidade para vida in d ep en d en te e para o trabalho.
1708. Manutenção dos pagamentos — O pagam ento do benefício será efe­
tu ado diretam en te ao beneficiário ou ao seu procurador, tutor, c u rad o r ou ad m i­
n istrad o r provisório, e não serã antecipado.
A p rocuração deve ser renovada a cada 12 meses.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o Ul — D ireilo P re v id e n c iá rio P roced im en ta l 1209


1709. Suspensão das mensalidades — C onstatada qu alq u er irregularidade
na concessão ou na m anutenção, o benefício será suspenso, abrindo-se prazo inicial
de 30 dias para o interessado prestar esclarecim entos e p ro d u zir prova cabal da
veracidade dos fatos alegados.
N ão aten d id o o INSS, o benefício será cancelado, abrindo-se prazo de 30 dias
para o Recurso O rd in ário à JR.
1710. Extinção do direito — O benefício cessa pela:
a) m orte do beneficiário;
b) m orte presum ida;
c) su p eração das causas determ inantes;
d) ausência declarada do beneficiário.
De acordo com o subitem 7.3 da O rdem d e Serviço 1NSS/DSS n. 562/1997:
“As alterações ocorridas, após a concessão, nas condições que deram origem ao
benefício, não co n stitu em irregularidades”.

C urso n r. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1210 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CLXXI

D e v id o P r o c e s s o L e g a l

S u m á r i o : 1711. Ampla defesa. 1712. Ciência dos fatos. 1713. Processualidade


administrativa. 1714. Princípios aplicáveis. 1715. Prazos legais. 1716. Garantias
exigidas. 1717. Meios de prova. 1718. Unicidade da decisão. 1719. Obrigação de
decidir. 1720. Poder Judiciário.

É co m u m ouvir-se falar no devido processo legal com o natu ral im posição,


quiçá d em ocrática e cidadã, do am plo direito a q ue faz ju s a pessoa hum ana, quando
de um p ro ced im en to , em que pretenda exercitar um direito ou lhe seja im putado
algo.
A expressão, copiada do inglês due process o fla w , literalm ente significa dever
ser u m ex p ed ien te ad equado ao ato a ser praticado: único, próprio e válido. Estas
são inform ações teóricas e reduzidas diante das circunstâncias fáticas, às vezes
quase in ú teis, que se apresentam a qu em Lenha de lidar com isso.
Se o vocábulo “c o n tra d itó rio ” não é difícil de ser com p reen d id o , acolhida no
sentido de que a toda afirm ação de um a parte a o u tra tem de ter ciência e o p o rtu ­
nidade de contestação, frequentem ente invocada, a locução “am pla defesa”, não
é tão clara assim , especialm ente n o que tange ao seu lim ite (espectro q u e vai de
n en h u m a defesa até a im punidade). A ser assim ilada com o inteiram ente abrangente
d en tro do seu dom ínio.
Assim , a recusa em se aceitar defesa ou recurso fora de prazo n ão exíguo, não
ofende essa idealização; a m archa do expediente observa regras (ou não se realiza).
Sem pre haverá tem po para que se tente d em o n strar a verdade.
W ladim ir Novaes Filho preocupou-se com a real existência do due process oj
law no DPP Ele ex am in o u as n o rm as in tern as estru tu ra d as do encam in h am en to
ad m in istrativ o , d istin g u in d o processo de procedim ento, o direito d e petição, a am ­
pla defesa e o co n trad itó rio , reportando-se, em substituição à coisa julgada, à coisa
decidida ad m inistrativa, im pondo para a caracterização do devido processo legal a
existência do d u p lo grau de decisões, form a de controle dos atos da adm inistração.
A final, concluiu: "... o devido processo legal form al está plen am en te g aran ti­
do no processo ad m in istrativ o previdenciário, porém , em sua fase su bstancial, ain-

C urso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o 111 — D i r e it o P re videnciário P ro ced im en ta l


da tem que se b uscar m uitas m elhorias no sistem a para que seja atin g id o ” ( “O due
process o fla w no processo adm inistrativo previdenciário”, in RDDT n. 31/1966).
Refere-se, exem plificativam ente, à falta de transparência do contencioso a d ­
m inistrativo. Os advogados e interessados não localizam sistem aticam ente, por
falta de divulgação, os acórdãos das CAj e o co n teú d o das avocatórias, estudos
interessantes do p o n to d o u trin ário , co n tid o s em pareceres da C onsultoria do MPS.
Sob condições de legalidade, é acolhida a prova pericial, feita a pedido da adm i­
nistração ou a rogo do interessado. Na m esm a lin h a de raciocínio, adm itindo-a,
Paulo Celso Bergstrom Bonilha (“C ontraditório e Provas no Processo A dm inistra­
tivo Tributário. Ô nus, D ireito à Perícia, Prova Ilícita”, in Processo A dm inistrativo
Fiscal, São Paulo: Dialética, 1995, p. 133), m encionando-a com o m eio de prova
(L e in . 8.748/1993).
N ão o b stan te defenda o direito do co n trib u in te de d em o n strar a rep resen ­
tação da realidade, onerando-se com a prova do alegado, Aurélio Pitanga Seixas
Filho não acolhe a perícia técnica por parte do c o n trib u in te ( “A Prova Pericial no
Processo T rib u tário ”, in ob. cit., p. 9/14).
1711. A m pla defesa — Defesa am pla não se define com o prévia nem p o ste­
rior; é vasta, a m aior possível den tro do seu am biente, p o d en d o ser escrita ou oral,
pessoal ou representada, e sem ela não h á legitim idade na decisão.
Q uer dizer, po d er contradizer o opositor de que toda e qualquer afirm ação tem
com o ser confrontada com argum ento ou prova em contrário. N ão existe magister
dixit; até m esm o presunções absolutas podem ser guerreadas.
Todos têm o d ireito de arrolar testem u n h as a seu favor, que deverão ser o u ­
vidas no n ú m ero suficiente para a instrução. Q u ando não falarem a língua pátria,
aco m panhadas de trad utores, in térp retes e de fonoaudiólogos, se surdos, m udos ou
pessoas com dificuldade de expressão. É perm itida a acareação q uando necessária.
O im p u lsio n am en to oficial deve ser isento. A boa-fé de quem encam inha os
autos é abso lu tam en te im prescindível, sob pena de anulá-lo ah inítio.
1712. C iên cia do s fatos — Os dois polos litigantes têm de ter conhecim ento
de todos os fatos, preservando-se apenas a privacidade garantida co n stitu cio n al­
m ente. Não existem d ep o im en to s secretos n em razões de segurança ou de Estado
que não possam ter publicidade.
U m infrator tem o direito de acessar todas as inform ações dos autos que lhe
digam respeito, in clu in d o notícias p ertin en tes a o u tras pessoas envolvidas e que
interessem a sua defesa. No que se refere aos relacionados há liberdade de consulta
ao processo, com d ireito de vistas e obtenção de cópias.
A intim ação das decisões im portantes, in terlo cu tó rias ou term inativas será
subm etida ã parte contrária m ediante notificação corretam ente operada; na dúvida,
não houve a citação.
1713. P ro cessu alid ad e a d m in istra tiv a — A form alização do procedim ento
reclam a ato oficial de constituição, identificação do agente responsável e dem ais
aspectos da instauração do dissídio.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c íá r s o

1212 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Sua validade d epende de a ação iniciar-se, prosseguir, extinguir-se, tão som ente
q u an d o m ovida p o r au to rid ad e para isso legalm ente com petente.
O fato p erq u irid o estará previsto ou idealizado n a legislação, circunscrito na
lei ou no decreto, e so m ente ele será causa m atriz do p rocedim ento, em que bem
cap itu lad o e descrito.
São válidas diligências externas, sobrestando-se o an d a m e n to até q u e sejam
concluídas, exceto as m anifestam ente protelatórias. A m ovim entação dos autos
segue as regras processuais com ezinhas, com apensação, anexação, d esm em b ra­
m en to , ju n ta d a de m em oriais, arquivam ento etc.
Previsto na lei, o efeito suspensivo será observado, m as sem o efeito devolu-
tivo não h á decisão aceitável.
1714. P rin cíp io s aplicáveis — O objetivo do ex p ed ien te adm inistrativo é
p erquirir, em cada caso, a verdade tecnicam ente alcançável. P or isso, adm itidas
provas co n tu n d en te s a q u alq u er m om ento. O sujeito passivo da ação pode-se fazer
rep resen tar p o r pessoa habilitada.
Em ato de ofício, a A dm inistração P ública poderá rever todos os atos pratica­
d os desde o início da ação, m odificando pro ced im en to s ultrapassados e até m esm o
a decisão final.
P relim inarm ente serão considerados os que afetem a validade, entre os quais:
a) tem pestividade; b) prescrição; c) legitim idade de parte; d) litispendência; e) sus-
peição etc.
Q u an d o da decisão serão perfilhados os com andos legais ou regulam entares
relativos às aten u a n tes e às agravantes. Se o sujeito corrigiu a falha, tal fato deve
ser sopesado pelo condutor.
E m v irtu d e de não serem in stitu cio n a lm en te idênticos os polos da relação,
todos terão direito ao m esm o tratam ento procedim ental.
Sem em bargo de ser relevante princípio adm inistrativo de interesse da ad m i­
n istração , a rapidez da solução dos questio n am en to s faz parte do escopo do p ro ­
cedim ento.
Em sum a, os princípios ju ríd ic o s adjetivos devem ser seguidos, particu lar­
m ente aqueles q ue dizem respeito ao D ireito A dm inistrativo.
1715. P razo s legais — Se, em cada caso, o prazo é reduzido e incapaz de p er­
m itir a defesa, os p ed idos de am pliação desse term o fatal têm de ser considerados
sob p en a de anulação do feito.
A despeito de a A dm inistração P ública p o d e r rever os seus atos a qualquer
m o m en to e que o p ro cedim ento in tern o deva sem pre buscar a verdade, os prazos
existem p ara serem cum pridos. As duas ideias, su b m etid as ao bom -senso, devem
conviver.
1716. G a ra n tia s ex ig id as — D epois que o STF e n ten d e u descaberem as ga­
ran tias p ecu n iárias ou de outro tipo para o protocolo ou a subida dos autos, a

C u rso de D ir e it o P r e v id h n c iA r io

T o m o II I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
m
legislação pod erá criar algum a m odalidade de proteção da A dm inistração Pública
co n tra recursos p ro telatórios ou desnecessários, m as até lá não podem ser exigidos
depósitos prévios.
Se isso um dia suceder, não serão feitas im posições que estejam acim a da capa­
cidade de cu m p rim en to p o r parte do interessado nem exigidas provas im possíveis.
1717. Meios de prova — À evidência e a locução tradicional diz tu d o , todos
os m eios legítim os de prova são adm itidos em Direito.
Q u an d o não for possível lograr-se a m aterialidade da prova, abstraindo even­
tuais presunções legais, a afirm ativa de sua existência será considerada no conjunto
probatório.
Sem pre que for apresentada prova nova, a parte oposta tem o direito de ree­
xam iná-la e, se for o caso, sobrevir a reabertura dos prazos.
1718. Unicidade da decisão — É destituído de sentido subsistir decisões diver­
gentes derivadas do m esm o fato corrido sob a vigência da m esm a lei no m esm o
m om ento. A b straindo a coisa julgada ju dicial, se a norm a jurídica, os costum es e
os eventos não se alteraram nem a definição da técnica protetiva, o en ten d im en to
será sem pre igual.
1719. Obrigação de decidir — A A dm inistração Pública não tem com o se
exim ir do dever de resolver (e rap id am en te) a p endência a ela subm etida (art. 48
da Lei n. 9 .748/1999). No caso de não lograr ap u rar tecnicam ente os fatos e de
não d isp o r de elem entos que induzam u m a solução ju sta , refará a apuração até
que en co n tre a verdade em tem po suficiente para que o bem jurídico não pereça.
1720. Poder Judiciário — A qualquer m om ento as partes, se quiserem , podem
interrom per, m odificar, afetar e an u lar atos praticados nos autos (com o d esen tra­
n h ar provas obtidas ilegalm ente) e ter arquivado o procedim ento p o r decisão do
P oder Ju diciário.
N ão h á p o rq u e se vedar a A dm inistração Pública, por seu tu rn o , de buscar a
verdade que não en c o n tro u no processo adm inistrativo.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1214 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Capítulo CLXXII

S u s p e n s ã o d e B e n e f íc io s

S u m á r i o : 1721. Distinções necessárias. 1722. Fontes normativas. 1723. Prazo


para revisão. 1724. Postulados aplicáveis. 1725. Suspensão e cancelamento.
1726. Defesa prévia. 1727. Prazos a respeitar. 1728. Mandado de Segurança.
1729. Novo benefício. 1730. Restituição do indevido.

Em virtude da m á instrução dos pedidos, da concessão indevida de benefícios,


das falhas da ad m inistração (inclusive na área da interpretação) e principalm ente
do n ú m ero de fraudes constatadas, a Previdência Social to m o u a decisão de rever
apo sen tad o rias especiais a co n tar de 1995, aposentadorias p o r tem po de serviço d e­
feridas pró x im as da edição da EC n. 20/1998, auxílios-doença nos anos 2005/2007,
apo sen tad o rias p o r invalidez, em virtude do recenseam ento de 2005/2006.
1721. Distinções necessárias — C om o o utros tem as, o assu n to “suspensão
de benefícios” enfrenta problem as de linguagem . As prestações de pagam ento co n ­
tin u ad o cessam n atu ra lm e n te (caso do fim da incapacidade), são transform adas
em ouLras (ap o sen tad oria em pensão p o r m orte), convertidas (de co m u m para aci­
d en tárias), susp en sas (p o r tem po lim itado) ou canceladas (definitivam ente). C es­
sação, que é p rev id en ciariam ente natu ral, não se co n fu n d e com o cancelam ento.
Às vezes, a p ró p ria legislação se equivoca ao falar em cancelam ento q uando
se trata de susp en são , u m a vez que o cenário co m porta a renovação do benefício.
O percipiente de ap o sentadoria especial, que voltou ao trabalho insalubre terá o
benefício su sp en so e um a vez que deixe esse serviço ou passe a o p erar em outras
áreas terá as m en salid ades restabelecidas.
Q u an d o de suspeita de fraude, irregularidade ou im p ropriedade q u e com ­
p ro m etam a concessão, o que pode haver é su spensão e, se for o caso, ao final do
p ro ced im en to , até m esm o sobrevir o cancelam ento.
1722. F o n te s n o rm a tiv a s — O art. 69 do PCSS — a disposição é da área de
benefícios e m elh o r se situaria no PBPS — autoriza o MPS a p erm an en tem en te
proceder a “revisão da concessão e da m an u ten ç ão ” de benefícios, visando apurar
irregularidades e falhas existentes. Na verdade, tam bém co n clu ir pela sua validade.
Até m esm o os concedidos pela Ju stiça F ederal (art. 71), especialm ente em
m atéria de acidente do trabalho, então com bastante cuidado com relação ao co n ­
ceito de coisa ju lg ad a aplicado a cada caso.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o III — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1215
1723. P razo p a ra revisão — C om o o prazo para a revisão não estava claro na
legislação e a sua inexistência foi b astante d iscutida (não se fazia distinção entre
as causas, se técnicas ou m orais), a Lei n. 10.839/2004 acrescentou o art. 103-A ao
PBPS, d ispondo que: “O direito da Previdência Social de an u lar os atos ad m in is­
trativos de que decorrem efeitos favoráveis para os seus beneficiários decai em dez
anos, co n tados da data em q u e foram praticados, salvo com provada m á-fé”.
C om o se vê, sem coragem de disciplinar expressam ente a fraude, usou um
eufem ism o norm ativo, a ela se referindo excepcionalm ente in fin e do artigo.
Q u er dizer, para o PBPS, se o co rrer fraude não h á tem po para o INSS rever o
benefício, cancelar a concessão ou m odificar a m anutenção. Sem p re te n d er esti­
m u lar o co n lu io ou a m alversação de recursos públicos, m esm o para esses casos
deveria haver um prazo, talvez de 20 anos, após os quais até m esm o a falsidade
não pod eria ser revista.
1724. P o stu la d o s aplicáveis — O afã de corrigir abusos, que é m uito natural,
tem gerado problem as na co n d u ção da revisão de benefícios, às vezes co n fu n d in d o ­
-se erros de interpretação (do p ró p rio servidor) com a intenção de fraudar. É sabido
que a aposenLadoria especial até 1995 contava com beneplácito da Previdência
Social, sen d o in terp retada extensivam ente e que depois dessa data até m esm o a
Ju stiça Federal tem im posto restrições.
P o r isso, m ais do que nunca, a aplicação do direito subjetivo de revisão do
INSS, pelo que ocasiona, deve subm eter-se aos p o stulados legais que regem a m a­
téria. S u sp en d er ou cancelar um a aposentadoria de peq u en o valor pode significar
a suspensão ou o cancelam ento da sua com plem entação. N ão se trata de u m argu­
m en to que defenda a im propriedade, m as que lem bra a necessidade dessa provi­
dência ser tom ada com todos os cuidados necessários.
Assim sendo, recom enda-se:
a) am pla defesa;
b) co n trad itó rio ;
c) devido processo legal;
d) prazos co rresp o n d en tes à exigência;
e) análise objetiva, correta e adequada;
0 consideração pelo tem po passado.
1725. S u sp en são e ca n celam e n to — Sendo certo que a suspensão não se
con fu n d e com o cancelam ento (que é definitivo), a prim eira providência só poderá
ser tom ada q u an d o h o u v er convicção plena da im propriedade praticada ou se o
interessado não resp o n der às exigências.
C onform e vem d ecid in d o o STJ e co n tan d o com a quase m aioria dos d outri-
nadores, o cancelam ento do benefício som ente sucederá após o trânsito em julgado
da decisão judiciária.

C urso de D ir e it o P r e v íd e n c ià r io

W la d im ir N o va es M a rtin e z
1726. D efesa p ré v ia — C itado p ara ap resen tar provas ou razões, o interessado
deve exibi-las ou info rm ar que não as possui. R equererá a ju n ta d a dos d ocum entos
que ju lg a co m p ro v ar a validade do seu direito, esperando pelo p ro n u n c ia m en to da
O uvidoria Regional. Em alguns casos, a inconform idade se m anifestará pela su b sti­
tuição de u m tem po de serviço im pugnado p o r outro do qual p o ssu a prova m elhor.
Dessa decisão caberá Defesa Prévia à O uvidoria Regional, seguindo-se o trâ­
m ite do co n ten cio so ad m in istrativ o (na JR e CAj).
1727. P razo s a re s p e ita r — A Defesa Prévia será apresentada até 30 dias da
ciência da exigência (PCSS, art. 69, § l s), em cada caso cabendo o pedido de di-
lação do prazo, especialm ente se o período a com provar ocorreu há m uito tem po.
1728. M andado de segurança — D iante da suspensão do benefício (e a for-
tiori se ele foi can celado), o titu la r do direito poderá ingressar com M andado de
Segurança visando à lim in ar que in terro m p a a suspensão, diante do fum us bonis
ju ris e do periculum em mora. D iante das provas a serem apreciadas em ju ízo , o
M agistrado p o d erá em itir a lim inar para que as m ensalidades sejam restabelecidas,
en q u a n to se d iscu te o m érito.
1729. N ovo b en efício — Se há convicção de que a concessão foi indevida
p o rq u e algum tem po de serviço não existiu o u não está bem provado (ou a d em o n s­
tração é im possível), se depois da aposentação o segurado c o n tin u o u trabalhando
e co n trib u in d o p o r tem po igual o u su p erio r ao im pugnado, ele pode requerer um
novo benefício. Este será concedido com base nos novos pressu p o sto s, enquanto
tram ita o processo ad m inistrativo ou ju d icial que cuida da im propriedade. Mais
tarde, se logrou p ro v ar o direito, serão prom ovidos os acertos de contas e, caso
co n trário , restitu irã o indevido.
1730. R estitu ição do in d ev id o — A devolução do recebido indevidam ente é
q uestão torm entosa. Se o segurado não tinha o direito, ab initio os valores foram
indevidos. M esm o não sendo pu n ição específica da má-fé (a ser sancionada no
âm bito do Direito P enal). Se esta estiver ausente, os valores obtidos até data da co­
m u n icação e em face da culpa in vígilando do INSS, não cabe a restituição, devendo
devolver as vincendas a co n tar daquela data.
No caso de com provada m á-fé, não haverá contem plação den tro dos referidos
20 anos. A coletividade não pode ser prejudicada p o r espertinhos.
Para Benedicto Nestor Penteado: “De considerar-se, ainda, que prova seja a ação
anulatória, dela não resulta a restituto in integrum a benefício da A dm inistração, no
caso o INSS, lim itada a repetição do que indevidam ente tenha pago nos últim os dez
anos relativos a co n tar da citação do beneficiário, respeitado sem pre o direito deste
às verbas que tenha recebido até então, se em boa-fé (Súm ula n. 106, do Tribunal de
C ontas da U n ião )” ( “Suspensão de benefícios e a anulabilídade no D ireito A dm inis­
trativo diante da Lei n. 9.784/1999, que regula o processo adm inistrativo no âm bito
da adm inistração p ú blica federal e prazo para o INSS rever seus atos”, in Jornal do
183 C ongresso Brasileiro de Previdência Social, São Paulo: LTr, 2005. p. 66/67).

C urso de D ireito P r e v id e n c iá r io

T o m o I I I — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1217
Capítulo CLXXIII

A ç ã o R eg r ess iv a

S um ário : 1731. Prazo da decadência. 1732. Constitucionalidade do PB PS. 1733.


Dano e indenização. 1734. Postulação civilista. 1735. Sujeitos da relação. 1736.
Responsabilidade fiscal. 1737. Culpa em sentido estrito. 1738. Constituição de
capitais. 1739. Desconstituição da ação regressiva. 1740. Justiça competente.

Diz o art. 7e, XXV1I1, da C arla M agna, haver “u m seguro de acidentes do


trabalho, a cargo do em pregador, sem excluir a indenização a que está obrigado
q u an d o ocorrer em dolo o u c u lp a”.
Por outro lado, afirm a o art. 120 do PBPS que: “Nos casos de negligência quanto
às n o rm as-padrão de segurança e higiene do trabalho indicados para a proteção
individual e coletiva, a Previdência Social proporá ação regressiva co n tra os res­
ponsáveis”. Acresce ainda o art. 121 do PBPS que: “O pagam ento pela Previdência
social, das prestações p o r acidente do trabalho não exclui a responsabilidade civil
da em presa ou de o u trem ”.
Q u alq u er tentativa de descaracterizar um in stitu to técnico ju ríd ico quase
sem pre leva a im p ropriedades insuspeitadas, conclusões inesperadas, dem andando
sensibilidade especial para a percepção.
O valor cobrado das em presas p o r interm édio da ação regressiva detém n a tu ­
reza ju ríd ica específica, a ser perquirida com acuidade e à exaustão. A tribuir-se o
títu lo de indenização a esse quantum não lhe com ete necessariam ente tal p articu la­
ridade; cham á-lo de ressarcim ento das despesas tem igual destino inglório.
Tendo em vista que as em presas não causam q u alq u er dano o u prejuízo ao
INSS (os n atu rais ô n u s da autarquia seguradora, em co n trap artid a são financiados
pela co n trib u ição p atro nal), o pagam ento p retendido é um a dúplice exigência exa-
cional, u m a nova co n tribuição e sem previsão legal ou co n stitu cio n al (CF, art. 195,
§ 4Q).
Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari su sten tam que o cará­
ter da ação é indenizatório, visando a u m restitutio in integm m (M anual de Direito
Previdenciário, 3- ed. São Paulo: LTr, 2001, p. 435). O utros estudiosos dizem que

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1218 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
o objetivo é san cio n ar as em presas q u e negligenciaram a proteção do trabalhador,
levando à dúvida se o escopo dessa reparação é cu stear despesas do INSS o u p u n ir
as em presas.
Sendo certo que tais ônus serão recepcionados pelo FPAS, orçam entariam enle
eles se co nfundirão com as contribuições securitárias norm ais vertidas pelas m esm as
pessoas. E, nesse caso, consistirão em indesejável bis in idem exacional.
O s valores securitários carreados ao FPAS têm sem pre um a m esm a destinação:
cu stear prestações, in casu, acidentárias. Se estas já foram aten d id as não há porque
au m en ta r tais m o n tan tes em favor da Previdência Social. D escum pridas norm as
form ais, se a sanção não tem sido bastante, au m ente-se o valor das m ultas traba­
lhistas da CLT.
1731. Prazo da decadência — Do m esm o m odo sucede com a com petência;
tem -se instalada algum a incerteza q u an to ao prazo de decadência da ação regressi­
va entre vinte, cinco e três anos (sic).
P resum indo-se estar-se diante de indenização devida a d an o causado ao INSS
— o que, em p rincípio, afastaria a possível adoção da decadência de cinco anos
da Súm ula V inculante STF n. 8 — , tem -se q u e esse term o há de ser buscado no
C ódigo Civil de 2002, obrigando o aplicador a considerar o vigente e o revogado,
em razão da regra de transição estabelecida no vigente art. 2.028.
Assim, rep o rtan do-se ao dever de in d en izar pessoas prejudicadas referidas no
art. 159 do C ódigo de 1916, tinha-se que o prazo para ação de reparação era vin-
tenário (art. 177). Aliás, u m lapso de tem po exagerado q u an d o co n fro n tad o com o
direito de ação de cinco anos do art. 204 do PBPS.
C om m enção expressa ao m esm o dever de reparação, que atu alm en te define
a responsabilidade civil (art. 186), esse prazo foi en cu rtad o para três anos (CC,
art. 206, § 3e, V).
A definição do prazo legal estaria pacificada na m edida em que se destinasse
a p ro d u z ir seus efeitos no futuro. No ano de 2005 se passaram os três anos e essa
seria a regra a ser invocada.
O corre q u e o art. 2.028 do C ódigo Civil regra u m a transição pró p ria, a ser
observada pela AGU: “Serão os da lei a n te rio r” — de 20 anos — “os prazos, quando
red u zid o s p o r este Código, e se, na data de entrada em vigor” — que ocorreu em
10.1.2002 — “já h o u v er transcorrido m ais da m etade do tem po estabelecido n a lei
revogada” (que falava em 20 anos).
M etade de 20 anos são 10 anos. E ntão, agora, para acidentes d o trabalho
o corridos há m ais de 10 anos contados em 2002, o prazo é de 20 anos, e se forem
an tes desse decênio, será a regra p erm a n en te de três anos.
1732. C o n stitu cio n alid ad e do PBPS — São direitos dos trabalhadores urbanos
e ru rais, além de o u tro s que visem à m elhoria de sua condição social, p o n tu a o
E statu to M agno: “seguro de acidentes do trabalho, a cargo do em pregador, sem
ex clu ir a indenização a que está obrigado q u an d o in co rrer em dolo ou c u lp a” (CF,
art. 7e, XXVIII).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o ZÍZ — D i r e it o P r e v i d e n c i á r i o P r o c e d im e n ta l 1219
À evidência, desse claro dispositivo norm ativo resulta u m a com binação de
dúplice ônus para o em pregador e dúplice direito para o trabalhador: a) seguro
de acidentes do trabalho hoje m onopolizado pelo INSS e b) indenização p o r dano
ou prejuízo à saúde ou à integridade física do trabalhador.
Com a p articu laridade de q u e é observada a teoria da responsabilidade obje­
tiva do em pregador em m atéria de acidentes do trabalho.
À luz do art. 201, § 10, resta evidente que as em presas se sujeitam a esse se­
guro, operado m ediante certa contribuição p receitu ad a no art. 22 do PCSS, sem
ficar definido qual é o titu lar da ação reparatória civil referida in fin e do com ando:
se algum M inistério ou en tid ad e que tenha certo interesse ou sofrido algum dano
ou o trabalhador vitim ado pelo sinistro.
Nossa C o n stitu ição F ederal não estabelece que o INSS seja o sujeito ativo
dessa relação jurídica civil, m as deixa solar que, na hipótese de dano m oral, esse
polo ativo seria a vítim a, a nosso ver, o segurado (C F art. 5°, V).
José Eduardo Duarte Saad diz que: “C ontudo, essa obrigação legal do em prega­
d o r não im pede que seu em pregado, que sofreu u m acidente do trabalho, m ova-lhe
um a ação com estribo no su p racitad o inciso constitucional, postulado o pagam en­
to de um a indenização p o r danos m ateriais e m orais” ( “R esponsabilidade Civil do
E m pregador pelos D anos D ecorrentes do A cidente do T rabalho”, São Paulo: LTr,
Revista LTr n. 74, ju l./2 010. p. 793).
Caso a co n trib u ição prevista no art. 22, II, do PCSS, em cada circunstância
acrescida da incidência do FAP previsto na Lei n. 10.666/2003, não seja orçam entaria-
m ente suficiente para aten d e r ao equilíbrio da relação custeio/benefícios aciden-
tãrios, relação essa in stitu íd a pelo p ró p rio art. 22, II, o legislador com plem entar
terá de se haver com a disciplina de um a fonte de custeio nova (CF, art. 195, § 4 g).
Um a regra de ouro institucional da previdência social diz que as prestações
serão custeadas com contribuições. N ão serão com m ultas ou qu aisq u er outros
tipos de reparações possíveis (art. 1Q, III, da Lei n. 9.717/1998).
D iante da verdadeira presunção constitucional da acidentalidade das opera­
ções laborais (CF, art. 7Q, XXI), com a perspectiva de sucesso da ação regressiva,
ficaria sem sen tid o a co ntribuição acidentaria usual.
Q u an d o ocorre d escu m p rim en to de norm as de segurança do em pregador, tal
ilicitude não pode im plicar em exação fiscal nem em reparação civil, m as na m ulta
trabalhista fixada no art. 201 da CLT, cifrada em UFIR.
P o rtanto, sem m uita razão Marcelo Barroso Mendes q uando afirma: “N estes
m uitos casos, o INSS p o d e e deve ir em busca da indenização para recom por os
cofres públicos do d an o a que a em presa deu causa” (ob. cit.).
Essa é um a fonte de custeio não prevista no E statuto S uperior para custear
benefícios.
As três p rin cip ais razões apresentadas são as que envolvem a com patibilidade
do art. 120 com o art. 7®, XXVIII, art. 195, I, a e com o art. 195, § 4 9, todos da
C arta Magna.

C u rso d e D ik rito P re v id e n c iá rio


W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O art. 7e, XXV111 im p u ta o u tras obrigações pecuniárias ao em pregador, c o n ­
clusão com a qual se pode aderir, m as sem ter feito a definição do polo ativo de
eventual reclam ação. Teria de ser um a ação direta de reparação de danos in ten tad a
pelo in teressad o , o trab alh ad o r prejudicado, com base na Súm ula STF n. 229 ou
art. 5g, Y da C o n stitu ição Federal.
O au to r Fernando Maciel (Ações Regressivas Acidentárias, Sào Paulo: LTr,
2010) rep ro d u z texto do desem bargador federal Volkner de Castilho na A rguição
de In co n stitu cio n alid ad e na A pelação Civil n. 1998.04.012.023654-8/RS: “A C ons­
tituição não diz que essa indenização é ao em pregado. A C onstituição diz q u e o
em p reg ad o r fica responsável por u m a indenização se ele d er causa ao acidente por
culpa ou dolo. O d ireito dos trabalhadores u rb an o s e ru rais é o seguro contra aci­
d en te de trabalho. Foi isso que se garantiu n a C onstituição".
Bem, se não existisse o seguro de acidentes do trabalho (SAT), com o era antes
de 15.1.1919, em ergiriam incertezas sobre o titu lar de u m direito de ação; mas,
com o está p resente, hã 91 anos existe esse seguro obrigatório, com o qual o INSS
obtém as fontes de custeio necessárias para financiar as prestações correspondentes
às eventuais reparações, resta ao trab alh ad o r essa titularidade.
Na seg u n d a das razões é afirm ado o seguinte: “Com efeito, considerando
que os ún ico s d estin atários do SAT, ou seja, os seus ‘segurados’ são os pró p rio s
trabalhadores, resta evidente que os em pregadores não estão abrangidos p o r esta
co b ertu ra secu ritária de natureza pública e social, de m odo que o sim ples fato de
cu m p rirem u m dever tributário, no caso o recolhim ento da alíquota SAT, não lhes
dá direito de se exim ir das responsabilidades advindas de suas condutas dolosas
e/ou cu lp o sas”.
N inguém p retende elisão de responsabilidade, se configurada a negligência
do em pregador em face do texto constitucional. O desejável é que responda ao
ofendido pela ação deletéria, m as não ao INSS.
Por últim o , exam inado a terceira razão, que envolve o art. 195, § 4e, em que
os au to res en ten d em haver um a duplicidade válida de relações: a) previdenciária
(acidentária) e b) civil.
Para su b sistir essa relação sem previsão na C arta M agna com o fonte de custeio
era preciso que a em presa tivesse causado prejuízo ao INSS e isso, p o r definição,
não acontece. Exceto exclusivam ente no am biente civil, nas relações entre em ­
presas e seg u rad o ras (visando à real proteção do trab alh ad o r), com o é o caso do
seguro p rivado em g rupo, o que em ergem são obrigações de pagar o prêm io pelo
co n trib u in te, cu m p rim en to das cláusulas co n tratu ais e, p o r p arte da seguradora, a
quitação da indenização.
Dada a n atureza do seguro privado (e a nossa previdência social não deixa de
ser u m seguro, u m seguro socializado), se não sobrevêm o info rtú n io , não há q u al­
q u er desem bolso ao segurado; realizou-se com sucesso a relação ju ríd ica securitária
e a seguradora nada deve a q uem co n trib u iu com o prêm io, aquele que com ela
celebrou u m co n trato , com isso vê aum en tad o o seu lucro patrim onial.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o III — D ir e ita P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
*
Ao contrário, se sobreveio um acidente, outro não será o dever da seguradora
exceto pagar a indenização devida, sem q u e pretenda a posteriori q u alq u er reforço
do seguro ou reparação p o r parte do segurado.
Pagar indenizações p o d e gerar prejuízos de natureza econôm ica ou financeira
à em presa seguradora, se ela não m odelou idealm ente o seu plano de benefícios
(relação entre prêm ios e indenizações etn certo período), mas esses prejuízos (ou
lucros) fazem parte do risco do em preendim ento, sem serem im p u tad o s a alguém .
O m esm o José Eduardo Duarte Saad referindo-se ao texto do arl. 120, extre­
ma: “Eis u m exem plo de redação que não deve ser seguido p o r n in g u ém ” (ob. cit.,
p. 794).
Ele nos garante que em: “Rápida pesquisa, orientada pelo princípio do direito
com parado, fez-nos perceber que inexiste norm a legal autorizando a em presa segu­
radora m over ação regressiva com segurado (no caso, o em pregador) que se p o rto u
culposam ente no d esen cadeam ento do sin istro ”.
D epois acresce: “N ossa legislação reguladora do seguro privado (D ecreto-lei
n. 73, de 21 de novem bro de 1966 e seu regulam ento baixado pelo D ecreto n.
60.459, de 13 de m arço de 1967) não agasalha disposição sem elhante à do art. 120
da Lei n. 8.213/1991. O m esm o dissem os n o tocante ao C ódigo Civil, ex vi do pre-
ceituado nos arts. 757 usque 8 0 2 ”.
P or últim o: “As regras co nstitucionais sobre o seguro co n tra o acidente do
trabalho não fazem a m en o r alusão à possibilidade de a Previdência Social ajuizar
ação regressiva co n tra o em presário que agiu com negligência no cu m p rim en to da
legislação regente à segurança e m edicina do trab a lh o ” (ob. cit., p. 794/796).
1733. D ano e in d en ização — A ntes m esm o de prever a reparação p o r danos
causados à saúde ou à integridade física do trab alh ad o r pelas em presas, na aber­
tu ra dos D ireitos e Deveres Individuais e C oletivos, en tre os D ireitos e G arantias
F un d am en tais, diz o art. 5S, Y da Lei Maior: ser: “A ssegurado o direito de resposta,
proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à im agem ”
(grifos nossos).
Assim , são garantidos os direitos à reparação de danos m orais e m ateriais, que
sorte que o art. 186 do C ódigo Civil disciplina essa reparação m oral e o art. 120 do
PBPS, certa reparação m aterial dos trabalhadores.
C onform e o C ódigo Civil: “aquele que p o r u m ato ilícito (arts. 186 e 187),
causa dano a o u trem ficando obrigado a reparã-lo. Parágrafo único. Haverá obriga­
ção de reparar o dano, in d ep en d en te de culpa, nos casos especificados em lei, ou
q uan d o atividade m oralm ente desenvolvida pelo au to r do dano im plicar, p o r sua
natureza, risco para os direitos de o u tre m ” (art. 937).
Dano m oral “é o ato ilícito praticado pelo ser hu m an o , em seu nom e ou repre­
sentando um a pessoa juridicam ente consciente ou não, omissiva ou com issivam ente,
que objetivam ente atinja a personalidade do sujeito passivo dessa ação, causando-
-Ihe um constrangim ento pessoal ou social, ofensa naturalm ente m ensurável, d im i­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1222 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
nuição do seu p atrim ô n io com o cidadao, que possa ser o p o rtu n a e ju rid icam en te
rep aráv el” (Dano Moral, 2. ed., São Paulo: LTr, 2009, p. 18).
P o r o u tro lado, o dano m aterial avilta todo o patrim ônio da pessoa física, d i­
m in u i o seu co n ju n to de bens, a ser preservado pela n o rm a jurídica.
Q u an d o de lesão física que agride a saúde ou a integridade orgânica do traba­
lhador, tem -se o dano m aterial, suscitando-se um a indenização civil, exatam ente
aquela de que trata a Súm ula STF n. 229, q u an d o assevera: “A indenização acidenta­
ria não exclui a do direito com um em caso de dolo ou culpa grave do em pregador”.
Jã su sten tam o s a d uplicidade dessa reparação, com o sendo “um equívoco
histó rico p erp etu ad o , provocando desnecessária indisposição das em presas”
(Comentários às Súm ulas Previdenciárias, São Paulo: LTr, 2011).
M arlinho Garcez N etto cita vários estudiosos, entre os quais Araújo de Castro,
Aguiar Dias, R. Amorim, A. Médici Filho e Savatier, convencido de que a vítim a do
acidente de trabalho só pode obter a indenização com um (Prática da Responsabili­
dade Civil, 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1989. p. 22/23).
Desde a prim eira edição, quando com entam os o art. 120 do PBPS, nos pusem os
hesitan tes q u an to a essa m ultiplicidade de exigências pecuniárias do em pregador:
“Essa dúvida tem su scitado dúvida entre os intérpretes, p rincipalm ente, se ele não
é bis in idem de tais im posições legais” (Comentários á Lei Básica da Previdência
Social, 7. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 576).
C o m en tan d o o art. 121 (“O pagam ento, pela Previdência Social, das p resta­
ções p o r acidente do trabalho, n ão exclui a responsabilidade civil da em presa ou
de o u trem ”) observam os que: “A princípio, a reparação do dan o , q u an d o causado
em razão do acidente do trabalho, deveria ser indenização (desaparecida com a
Lei n. 5.316/1967) de pagam ento ún ico ou através de prestação de pagam ento
co n tin u ad o , com etida à Previdência Social, custeada p o r um a contribuição espe­
cifica da em presa. E n tretan to , in d ep en d en tem en te do benefício previdenciário, da
co n stru ção d o u trin ária e, p o sterio rm en te, da jurisprudência, desaguou n o direito
à in d en ização civil, restando, com o área controversa, em que hipótese ela subsis­
tiria” (ob, cit., p. 577).
Em todo o caso, a existência de dois direitos, assegurados p o r n o rm a su m u lar
consagrada, parece exagero ju ríd ico , de m odo que frequentem ente os m agistrados
se veem obrigados a ap e q u en ar os valores da condenação.
É consabido que quem sofreu certa lesão física o u m oral jam ais se recuperará
dela, m as q u em a causou precisa ter a certeza de que deve ser p u n id o p o r ter p erm i­
tido que isso acontecesse; daí haver algum a subsistência lógica nas indenizações.
Tem verdadeiro sen tid o de inibição da falta de atenção com terceiros.
1734. P o stu lação civ ilista — No T ítulo IX, cu id an d o da R esponsabilidad
Civil, no C apítulo I — Da obrigação de indenizar, o C ódigo Civil contem pla a regra
fundam ental: “A quele que, p o r ato ilícito (arts. 186 e 187) causar dano a outrem ,
fica obrigado rep ará-lo ”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o II I — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1223
Não fora os arts. 59, V e 7°, XXVIII, da C arta M agna e esta rem issão não teria
q u alq u er sentido em term os de relações entre em pregados e em pregadores.
O parágrafo único do m esm o artigo deixa claro que o dever de indenizar in­
depende de culpa, q u an do a atividade exigir riscos.
Logo em seguida, no art. 932 o Código Civil define o responsável pela reparação:
“o em pregador ou co m itente, p o r seus em pregados, serviçais e prepostos, no exer­
cício do trabalho que lhes com petir, ou em razão dele” (III).
M esm o se a culpa for de terceiros, em pregados de fornecedores de m ão de
obra que operem a serviço das co n tratan tes, estas últim as serão responsáveis pelas
obrigações (art. 933).
Ilídio das Neves configura os cinco elem entos da responsabilidade civil: a)
fato volu n tário do lesante; b) ilicitude do fato; c) im putação ao lesante; d) dano ou
prejuízo; e) nexo de causalidade (Direito da Segurança Social, C oim bra: C oim bra
Editora, 1996. p. 609).
Carece haver um ato livrem ente desenvolvido pelo em pregador, sem apresentar
características de licitude, exclusivam ente a ele possa ser atribuído, causar um
dano ou prejuízo e lograr-se estabelecer um a relação entre a atuação do em pregador
e o resultado.
O u seja, se nào ficar caracterizada a culpa do em pregador nào há reparação e
tam bém nos casos em que a culpa foi atrib u íd a ao em pregado. Essa é um a relação
m aterial, form al entre o em pregado e o em pregador da qual o INSS não participa.
1735. S u jeitos da relação — São os seguintes:
a) Polo ativo
A dm itindo-se a existência de um direito do em pregado violado ilicitam ente
pelo em pregador, é preciso ap reen d er quem será o polo ativo de um a eventual ação
de reparação, paralelam ente sopesado o fato de que esse em pregador obrigatoria­
m ente celebrou um co ntrato de seguro para as eventualidades acidentárias.
Q uem poderia reclam ar eventual indenização de ordem civil é o trabalhador,
a pessoa que teria sido p rejudicada e ele tem para isso a reparação propiciada pela
vetusta Súm ula STF n. 229, sem falar na possibilidade de tam bém arguir dano
m oral (CF, art. 5S, V).
O brigados os em pregadores a reparar o INSS q u an d o está com pulsoriam ente
subm etid o a um co n trato de seguro acidentário com a autarquia, depois de ter co n ­
tribuído para isso, significa de fato su b stitu ir o papel da autarquia federal, pagando
benefícios devidos, o que q u er dizer re to rn ar a 24.1.1923.
Q uando o dano ou o prejuízo atinge a pessoa física, a ela cabe a iniciativa ou
não de o b ter a devida reparação, não terceiros que n ão são interessados na lide,
exceto to m ar co n h ecim ento do resultado com vista à proteção acidentária.
U m a em presa que gera acidente do trabalho em larga escala, além da flexi­
bilização do SAT significa que ela detém um am biente inseguro, convindo que
seja fiscalizada pelos três m inistérios envolvidos em m atéria de saúde, m edicina e
segurança do trabalho.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1224 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Som ente o segurado ou os seus dep en d en tes é que podem in ten tar um a ação
o rdinária civil para ten tar repor perdas havidas com o acidente do trabalho, sem
prejuízo do direito a m an u ten ção do auxílio-doença, aposentadoria p o r invalidez
ou au x ílio-acidente e, no caso de falecim ento, da pensão p o r m orte p o r parte dos
seus depen d en tes.
C onclusão que deflui do deliberado silêncio do art. 7a, XXVIII, da C o n sti­
tuição F ederal que, p o d en d o , não especificou o titu lar desse direito, porque ele
em ergiria de todo o seu ordenam ento.
b) Polo passivo
Os in fo rtú n io s laborais ocorridos n a sede do estabelecim ento da em presa ou
fora dela e q u an d o a serviço do em pregador vitim am os seus em pregados e os ter­
ceiros contratados m ediante fornecedores de m ão de obra (em presários, em pregados,
cooperados, au tô n o m o s etc.).
N ão jazen d o dúvidas sobre a responsabilidade relativa aos prim eiros, é preciso
sopesar esse m esm o dever obrigacional em relação aos terceiros.
Excetuada a elisão da responsabilidade (culpa do em pregado, descum prim ento
de n o rm a, d ecorrente da faixa etária, m otivo genético, processo degenerativo, razão
endêm ica, regressa, isto é, proveniente de o u tra em presa etc.), o acidente do tra­
balho, m áxim e aquele traum ático, é frequentem ente atrib u íd o ao em pregador, de
vez que o am b ien te inseguro é de sua ú nica responsabilidade.
Assim , m esm o se tratan d o de trabalhadores fornecidos p o r terceiros, se estes
sofrerem acidente do trabalho e estabelecida a negligência da contratante em term os
de n orm as de seg u rança do trabalho, ela assum irá essa responsabilidade (a des­
peito de toda dificuldade operacional prática em relação aos dados da pessoa, do
benefício, das m ensalidades e da sua m anutenção).
Q u an d o da co ntratação com terceiros, com vistas ao NTEP (D ecreto n.
6 .042/2007) vim os recom endando a revisão dos co ntratos de prestação de servi­
ços, um a vez que esses trabalhadores estão expostos aos agentes nocivos físicos,
quím icos e biológicos da c o n tra tan te (Prova e Contrapm va do Nexo Epidemiológico,
2. ed., São Paulo: LTr, 2000).
Esses seg urados operam om bro a om bro com os em pregados das em presas
c o n tra ta n te s e, nessas condições, estão obrigados ao cu m p rim en to de todas as
N orm as R egulam entadoras do Trabalho im postas pela Lei n. 6.514/1977 e Portaria
MTPS n. 3.214/1978. Vale dizer, im p o r u m a tecnologia de proteção individual,
respiratória e coletiva.
1736. R esp o n sab ilid ad e fiscal — Solidariedade é u m in stitu to ju ríd ico
o riu n d o do D ireito Civil. Ela pode ser ativa ou passiva. A solidariedade fiscal então
cogitada é a passiva. D efine-se com o a corresponsabilidade de terceira pessoa em
relação à obrigação originária do devedor. Tem de ser legal e jam ais po d e ser p re su ­
m ida. In stitu to ju ríd ic o praticam en te universal é constatado n o D ireito T ributário
(C TN , arts. 124/126), n a legislação trabalhista (CLT, art. 455) e, em m atéria de
co n stru ção civil, de longuíssim a data, no D ireito Previdenciário (D ecreto-lei n.
66/1966).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m a III — D i r e i t o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1225
No respeitante ao D ireito Infortunístico, em relação aos seus em pregados, os
em pregadores são d iretam en te responsáveis pelas co n trib u içõ es devidas.
São obrigados à prevenção, à im plantação de regras de segurança e de todos
os cuidados visando à dim inuição dos sinistros e fiscalm ente responsáveis pela
contribuição do SAT e os desdobram entos do FAE
Em cada caso, além do dever de desem bolsar adicionais de insalubridade e pe-
riculosidade e de com eter a contravenção penal do art. 19, § 2Q, do PBPS e do critne
do art. 132 do C ódigo Pena! (“E xpor a vida o u a saúde de alguém a perigo direto
ou im inente. Pena — D etenção de três m eses a um ano, se o fato não co n stitu ir
crim e m ais grave”, as em presas ainda se sujeitam às m ultas de 30 a 300 valores de
reverência, (m edicina do trabalho) e de 50 a 500 valores de referência (segurança
do trabalho), ex vi do art. 201 da CLT.
Até que a Lei n. 9.711/1998 m odificasse o art. 31 do PCSS, subsistia responsa­
bilidade solidária das em presas co n tratan tes em relação às contratadas. Sobreveio
certa elisão legal da corresponsabilidade, su b stitu íd a pela retenção dos 11% do
valor da n o ta fiscal.
Por conseguinte, a solidariedade fiscal restou restrita aos co ntratos envol­
vendo a co n stru ção civil e ao grupo econôm ico (PCSS, arts. 30, VI e IX), além de
outras peq u en as hipóteses legais referentes vinculadas à m atéria da consulta.
C om o salienta Fabio Zam bitte Ibrahim: “a cobrança solidária é ainda am pla­
m ente utilizada, sendo atualm ente aplicável na co n stru ção civil, nas relações entre
órgão gestor de m ão de obra e operador p o rtu ário , aos adm inistradores e dirigentes
públicos, gru p o s econôm icos, sociedades lim itadas, firm as individuais e até em
sociedades anônim as, com o se verá a seg u ir”, que é a figura da retenção dos 11%
da nota fiscal, fatura ou recibo previsto n a Lei n. 9.711/1998 (Curso de Direito Pre­
videnciário, 15. ed. N iterói: Editora Im petus, 2010. p. 404).
Em v irtu d e da inexistência do benefício de ordem exacional, p o r ter havido
adesão ao C ódigo T ributário N acional — CTN e expressa dicção legal na legislação
básica do fin anciam ento da seguridade social, há responsabilidade direta (em rela­
ção aos seus em pregados ou pessoas terceirizadas) e corresponsabilidade som ente
n aquelas duas hip ó teses antes m encionadas (o que, aliás, não está bem claro na
legislação).
Mas, no com um das hipóteses, caso a Receita F ederal do Brasil ten tar receber
p o r interm édio de ação regressiva de algum a co n stru to ra fiscalm ente inidônea e
não conseguir, as em presas co n tratan tes dos seus serviços serão solidariam ente
responsáveis.
Q uando da co n tratação da m ão de obra de terceiros, cujos trabalhadores
operarão nos seus estabelecim entos e sujeitos às regras de higiene, m edicina e
segurança do trabalho, ocorrendo um acidente de trabalho subsistirá a responsa­
bilidade direta da con tratante. Isso se dá p o rq u e os com andos de proteção dos tra­
balh ad o res estão sob as ordens da co n tratan te, que os in stitu i, controla e fiscaliza.

C u r so dh D ir e it o P re v id e n c iá rio
1226 W ladimir Novaes M a r ti n e z
P o rtanto, de m odo geral, exceto n a figura da co n stru ção civil e do grupo
econôm ico, se o INSS não conseguir receber por in term éd io de ação regressiva
os valores co rresp o n d en tes às despesas da autarquia havidas com em pregados de
terceira em presa, p o r esses valores não responde solidariam ente a c o n tra tan te dos
seus serviços.
A ú n ica responsabilidade jacen te nessas exatas condições são as que dizem
respeito aos acid en tes o corridos n a sede social da co n tratan te, pelos trabalhadores
fornecidos pelas cedentes de m ão de obra, ou fora dela ao seu serviço, com o se
fossem os p ró p rio s em pregados.
1737. C u lp a em se n tid o e strito — D iferindo do in fin e do art. 7S, XXVIII, d
Lei Maior, que ad o ta a teoria da responsabilidade objetiva, e que en tra em conflito
com o parágrafo ú n ico do art. 927 do C ódigo Civil, dos três elem entos da culpa
civil, o disposto no art. 120 do PBPS, de form a lapidar fixou-se apenas na negligência,
d esprezando os efeitos deletérios causados pela im perícia (que são de difícil m en-
suração) e os da im p ru d ên cia (que não são tão incom uns assim ).
Essa exclusão significa q u e sem pre que os acidentes ocorrerem em razão de
ato im perito ou im prudente das em presas, vale dizer, dos seus prepostos, não haverá
o pressu p o sto p ara um a ação regressiva, que consiste n u m p eq u en o contrassenso
da n o rm a ju ríd ica. R igorosam ente, ainda que em m en o r escala, tais ocorrências
tam bém trazem as indesejadas despesas para a Previdência Social.
N esse sen tid o im porta m uito q u e os relatórios dos m apeam entos de sinistros
d eten ham precisas inform ações sobre as tais características das ocorrências, para
p ro p iciar a defesa das em presas.
Q u er dizer, o d isposto na norm a básica dos benefícios da previdência social
ficou aquém do p rescrito na C onstituição Federal. N ota-se que o texto c o n stitu ­
cional é m ais am plo; ele fala em q u an d o in co rrer em dolo ou culpa e a lei ordinária
apenas na figura da negligência.
Vale consignar que em presa é um a abstração, pessoa ju ríd ica de direito privado
nessa relação juríd ica.
Ela opera p o r interm édio dos seus prepostos, em pregados ou não; estes é que
agirão ou não com im perícia ou im p ru d ên cia, convindo que a investigação de cada
caso se aprofunde nas ocorrências e d eterm ine qual a natureza da causa do acidente,
d epois que restar excluída a possibilidade da negligência.
A caracterização da responsabilidade das em presas n o tocante a u m acidente
do trabalho cham a a atenção para o sinistro envolvido. Dada a sua n atureza, a ação
regressiva não diz respeito ao acidente do trabalho, m as ao infortúnio laborai, que
seja possível atribuir-se culpa pela ocorrência à em presa, ô n u s ju ríd ic o caracteri­
zado pelo uso da expressão legal “negligência”.
N em sem pre a ocorrência sucedida na sede de trabalho do em pregador pode
ser definida legalm ente com o um acidente do trabalho, cada caso hã de ser exam i­
n ad o para se ap u rar eventual responsabilidade civil.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o III — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1227


A ocorrência da negligência pode ser patronal ou profissional e da segunda
não cuida especificam ente o art. 120 do PBPS.
N egligenciar é d escuidar da atenção exigida em cada circunstância; faltar com
a atenção devida naquele caso, um a form a de incúria, displicência ou desatenção.
Para os dicionaristas é um a falta não intencional daquele que se om itiu no cum ­
p rim en to de um d eterm inado ato que lhe incum bia.
N egligenciar é nào cuidar da segurança com o concebida pelas N orm as Re-
gulam en tad o ras do Trabalho e, além delas, as im postas pelo bom -senso quando
com patível com a atividade exercida. O u seja, om itir-se.
Essa negligência não se confunde com a im perícia ou a im prudência, que são
elem entos da culpa que não interessariam à hipótese ora cogitada, m as que podem
produzir acidente em função da inabilidade do su p erio r hierárquico, agindo perigo­
sam ente ou p o n d o em risco a saúde ou a integridade física dos em pregados.
Daí a preocupação das em presas em ap u rar com correção com o se processou
o modus operandi daquela contingência, presu m in d o que nem ela n em os seus s u ­
bordinados tin h am a in tenção de p ro d u zir o resultado.
Bem com o a d em o n stração de que adotaram o m ais m o d ern o e intensivo trei­
nam ento dos bancários em term os de segurança física em face do m anuseam ento
de dinheiro.
Em cada caso, a negligência pessoal do trab alh ad o r tam bém há de ser consi­
derada, devendo ser com batida com o m esm o trein am en to intensivo em todos os
seus extrem os.
Não será suficiente policiar essa m odalidade de com p o rtam en to inseguro;
im porta co n trib u ir para que ele não aum en te e não seja caracterizada a concausa-
lidade.
N en h u m a em presa tem controle sobre os fenôm enos da natureza (incêndio,
alagam ento, vendaval, terrem oto, m arem oto, tsunam i etc.). Por conseguinte, por
isso não poderá ser responsabilizada.
Para Antonio de Jesus Trovão é “a ausência de necessária diligência, im plicando
em om issão ou inobservância de dever, ou seja, aquele de agir de form a diligente,
p ru d en te, agir com o devido cuidado exigido pela situação em tese” (“U m a breve
análise acerca da sintaxe do Título III do Livro II, do C ódigo Civil vigente: do
d a n o ”, colhido na internet em 30.5.2010, no Boletim Jurídico).
A spectos relevantes tam bém dizem respeito a não negligenciar no item da
proteção à saúde, em p articu lar aquela que se refere à saúde psicológica, pois os
tran sto rn o s m entais devidos às pressões laborais vêm crescendo significativam ente
em todas as atividades e m ais ainda q u an d o se trata do am biente bancário.
1738. C o n stitu ição d e cap itais — R igorosam ente, adm itida a propriedade da
ação regressiva tran sitad a em julgado, ten d o em vista que certo devedor inidôneo
da obrigação alim en tar pode fu tu ram en te deixar de cum pri-la, o valor depositado
poder ser garantia de execução da sentença.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1228 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O art. 475-Q d o CPC, na redação da Lei n. 11.232/2005 diz que: “Q u ando a
indenização p o r ato ilícito inclui prestação de alimentos, o ju iz, qu an to a esta parte,
poderá ord en ar ao devedor constituição de capital, cuja renda assegure o pagam ento
do valor mensal da pensão”, além do § 4 Q, que fala em alim entos, as expressões g ri­
fadas indicam tratar-se de ação de alim entos e, conform e observa Marcelo A lbem az,
Juiz da 5a Turm a do TFR-1 na AC n. 2000.01000696420, em 17.10.2006: “11. Não
tendo a obrigação de caráter alim entar (reem bolso dos valores desp en d id o s pelo
INSS) não há com o lhe im p o r a constituição de capital".
A despeito do su bitem 6.4.2.2 da C artilha da AGU, não há previsão legal para
a co n stitu ição de capital na hip ó tese da ação regressiva.
E n tretan to , caso u m a em presa for condenada, não haverá dificuldades formais
para o m atem ático estipular esse m o n tan te em razão das m ensalidades do benefício,
ad o tan d o m argem de segurança para eventuais crescim entos reais do valor ao longo
do tem po e os periódicos reajustam entos anuais, além do acréscim o do art. 45 do
PBPS. Sem falar nas possibilidades de revisão de cálculo, que ocorrem com razoável
frequência.
A questão de índole m ais com pleta e a ser apreciada em cada caso será a tábua
de m ortalidade elaborada pelo atuário indicado pelo m agistrado e, p o r com seguinte,
a esperança m édia de vida do segurado.
Todas as em presas têm de se estruturar, d o m in ar o cálculo atuarial, o que se
en ten d e p o r renda m ensal program ada ou vitalícia.
1739. D e sc o n stitu içã o d a ação regressiva — Q uitadas todas as m ensalidade
vencidas, so b revindo a cessação do benefício p o r incapacidade, o m o n tan te capi­
talizado rem an escen te posto à disposição do INSS com o m odalidade de reparação
dos gastos havidos com o segurado ou dependentes, deverá ser im ediatam ente
restitu íd o a quem o dep o sito u , p o r in term éd io de sim ples re q u erim en to ao P oder
Ju d iciário q u e o recepcionou.
O INSS e, se for o caso, a AGU tem o dever adm inistrativo de com unicar às
em presas d ep o sitan tes a cessação dos benefícios de pagam ento co n tin u ad o ou da
cessação da p en são p o r m orte, bem com o o encerram ento das prestações pelos
m ais variados m otivos possíveis (esgotam ento natu ral, transform ação, desaposen­
tação etc.).
Caso a A u ditoria R egional en c o n tre falhas ou im propriedades n o deferim ento
do benefício, im p licando em sua suspensão e ao final, u m cancelam ento, desapa­
recem esses ô n u s em presariais.
Se o benefício acidentário foi transform ado n o u tro , sem caráter acidentário
com o a ap o sen tad o ria especial, p o r tem po de contribuição ou idade, altera-se o
dever de rep arar o INSS.
Sobrevindo a em issão de CTC para fins da contagem recíproca de tem po de
serviço, d im in u i a obrigação da au tarq u ia federal e, p o r conseguinte, a da em presa
que fora co n d en ad a a indenização.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o III — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1229


Na figura da desaposentação, favorecido pela restituição dos valores que a n ­
terio rm en te havia d esp endido em favor do aposentado, o INSS não tem razão para
ter de volta o que co n sum iu com o segurado que desaposentou. Em se tratando
de m orte do trabalhador, além da cessação do benefício de segurado, será preciso
pen sar nos dependentes.
Em todos esses casos, além da m udança de endereços, a em presa tem de tom ar
conhecim ento de qualq uer alteração na m anutenção do beneficio.
1740. J u s tiç a co m p ete n te — A determ inação da com petência ju d iciária para
apreciação das ações regressivas contra as em presas, restaurará certa polêm ica his­
tórica, m uitas controvérsias pretéritas e toda a celeum a em to rn o da com petência
do Poder Ju d iciário para exam inar questões que envolvam as relações laborais
entre em pregados e em pregadores (estas últim as, definidas finalm ente pela EC n.
45/2004), diante da presença de um a au tarq u ia federal interessada no feito, repre­
sen tan d o a União.
Marcelo Barroso Mendes, citando acórdão da 3a Turma do TRF da 4 ? Região, re ­
latado pela ju íza Vânia Hack de Alm eida em 26.6.2006 (Proc. n. 2006.04000125560/
SC in DJ de 2 3.8.2006), firm a-se na com petência da Ju stiç a F ederal ( “Ressarci­
m ento do INSS em acidentes do trab a lh o ”, in ju s Navigandi de m ar./2009). Nessa
m esm a linha de raciocínio Sandro Cabral Silveira ( “A ação regressiva proposta pelo
INSS”, in Jus Navigandi de nov./2003).
E n tretan to , em d ecorrência de acidente do trabalho na origem do conllito,
divergindo desses dois autores, não concorda Cláudio Mascarenhas Brandão, que
vislum bra a com petência específica da Justiça do Trabalho (“A cidentes do trabalho:
com petência para o ju lg am en to de ação regressiva d ecorrente de culpa do em pre­
gad o r”, em 2010 disponível na internet).
A C artilha publicada em 2009 pela AGU, que foi d en om inada “A tuação nas
Ações Regressivas A cid entárias”, afirm a que o órgão do P oder Judiciário com pe­
tente é a Justiça Federal, ex vi do art. 109, § l s , da C o nstituição F ederal (item 6.1).
E n ten d im en to esse baseado no Parecer da AGU/PGF/GOB/DIGEA n. 9, de
15.9.2009, que obriga toda a adm inisLração da Previdência Social, in casu, o INSS.
Não se pode olvidar o disposto no art. 114, VI, da m esm a C arta M agna, que
cuida das “ações de indenização por dano m oral ou patrim onial decorrentes da
relação de trab alh o ”, q u an d o ele define essa com petência d a ju s tiç a do Trabalho, su ­
pondo-se que então esteja se referindo aos dissídios entre em pregado e em pregador.
C erta confusão v ernacular acabou ocorrendo, em cada caso q u an d o não se
distin g u ir quais são os polos do conflito que se sopesa: se é u m a reclam ação do em ­
pregado co n tra o em pregador ou de um a ação regressiva do INSS contra o m esm o
em pregador que teria causado dano ao trabalhador.
Daí a Súm ula STF n. 736 que: “C om pete à Ju stiça do Trabalho ju lg a r as ações
que ten h am com o causa de p ed ir o descum prim ento de norm as trabalhistas relati­
vas a segurança, higiene e saúde do trab alh o ”.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1230 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
L iteralm ente, essa disposição, com certeza tem com o sujeitos da ação os em ­
pregadores e os em pregados.
D iante da presença da U nião com o polo da relação, não restam dúvidas de que
a com petência é d a ju s tiç a Federal, no que estam os aco m p an h ad o s do AGRESP do
STJ n. 931.438, Cláudio Mascarenhas Brandão, Carlos Alberto Ferreira de Castro e
João Batista L azzari, Miguel Horvath Júnior, Marcelo Barroso Mendes, Sandro Cabral
Silveira e Fernando Maciel, que os cita (Ações Regressivas Acidentárias, São Paulo:
LTr, 2010. p. 38/41).
A d espeito da co rren te d o u trin ária fundada exclusivam ente na origem do dis­
sídio — acidente do trabalho de em pregado — diante da m aior experiência da
Ju stiça F ederal em m atéria de prestações previdenciárias, parece indicado que deva
ser a Ju stiça F ederal a com petente para esses conflitos. N ão há qu alq u er conflito
entre em pregado e em presa, não se ju stifican d o a presença d a ju s tiç a do Trabalho.
P or o u tro lado, ainda que a ação seja tida com o in d en izató ria adm itida ad
argumentandum tantum , a inequívoca presença da U nião, representada pelo INSS,
arreda de p lano a com petência d a ju s tiç a Estadual.
C onclusivam ente, é a Justiça Federal qu em terá de apreciar a pro p ried ad e e
a co n stitu cio n alid ad e do art. 120, e com por o dissídio, em face do que diz a Carta
M agna e todo o o rd enam ento ju ríd ico nacional.

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o III — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1231
Capítulo CLXXIV

N a t u r ez a A limentar

1741. Componentes mínimos. 1742. Pensão alimentícia. 1743. Pres­


S u m á r io :
tações securitárias. 1744. Particularidade do percipiente. 1745. Tutela antecipada.
1746. Concorrência na pensão por morte. 1747. Influência da moralidade.
1748. Fixação de um padrão. 1749. Fundamentos da irrepetibilidade. 1750.
Condições para não restituição.

D esde que o art. 101-A da C arta M agna deixou clara a natureza alim entar das
prestações previdenciárias esse tem a ad q u iriu m aior interesse no D ireito P reviden­
ciário, p rin cip alm en te no que diz respeito a obrigação ou não de restituir valores
pagos in d evidam ente pelo INSS. Até m esm o aquelas m ensalidades que regular­
m ente desem bolsou, caso da desaposentação.
Tem sido usu al atribuir-se à locução “natureza a lim en tar” um determ inado
valor, n o rm alm en te referindo-se à q u an tia trabalhista ou securitária, em particular
à prestação previdenciária, e tam bém para o benefício de pagam ento co n tin u ad o
da LOAS regido no art. 34 da Lei n. Í0.741/2003. E, de m odo geral, para ouLras
im portâncias capazes de ensejar a subsistência das pessoas e das famílias.
Ab initio convém lem brar o que diz o art. 101-A da C arta M agna: “O s débitos
de natureza alim entícia com preendem aqueles decorrentes de salários, vencim entos,
proventos, pensões e suas com plem entações, benefícios previdenciários, in d e n i­
zação p o r m orte ou invalidez, fundada na responsabilidade civil, em virtude de
sentença tran sitad a em ju lg a d o ” (redação da EC n. 30/2000).
À exceção da clara descrição do dispositivo co n stitu cio n al antes epigrafado,
jam ais regulam entado p o r lei ordinária, não existe definição sistem atizada e posi­
tivada de qual é o m o n tan te que detém tal essência ju ríd ica. N em m esm o em con-
ceituações d o u trin árias definitivas, a despeito do em p en h o de m u ito s estudiosos.
G eralm ente, magister dixit, afirm a-se que tais valores têm essa nuança. Por
conseguinte, q u an d o recebidos indevidam ente, nâo têm de ser devolvidos.
A parentem ente, em term os pu ram en te pecuniários, não seria possível tabelar­
-se um n u m erário único para todos os eventos, situações e d estinatários, baixo do
qual as q u an tias aí contidas seriam alim entares.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Diante da m ultiplicidade de circunstâncias, além de declarar tal atributo ju ríd ico ,
exam inando o am biente form al, os m agistrados às vezes constituem a alim entaridade
em d eterm in ad o quantum. A tendência observada ao longo do tem po (perfilhando
o p en sam en to co n stitu cio n al) é de alargar a concepção original e de se estabelecer
um conceito específico para cada u m a das hipóteses em que é aplicável.
Mas, ressalte-se ad nauseam, ainda não existe u m parâm etro com u m m ontante
financeiro básico. Nos casos das m anifestações específicas ad ian te aludidas não se
m enciona esse nível dos desem bolsos.
O q u e dificulta a apreensão de u m a posição ju sta é a repercussão desse e n ­
q u ad ram en to ju ríd ico . Saber quais as rendas m ensais indevidas que teriam ou não
de ser restitu íd as e as que são indisponíveis afetam seriam ente sua perquirição e
decantação.
Q u alq u er p resu nção sem fundam ento técnico não teria m uito significado,
m as, note-se, o beneficio da LOAS pressupõe que existam pessoas que recebem 1/4
do salário m ínim o m ensal (R$ 155,40), valor nitid am en te insignificante.
O tem a assum e im portância na m edida em que cu n h a d a certa qualificação ela
trará d esd o b ram en to s práticos e ju ríd ic o s relevantes.
1741. C o m p o n en tes m ín im o s — À luz do art. l e, 111, da C arta M agna, dou-
trin ariam en te afirm a-se que o pagam ento alim en tar destinar-se-ia, em princípio, à
alim entação p ropriam ente dita; num a segunda abrangência, ao vestuário, à m oradia,
ao tran sp o rte para o local de trabalho. P odendo-se, perfeitam ente, in clu ir os gastos
com a educação e a saúde.
F ora desse u n iv erso circunscrito su bsistiriam o u tras quitações indispensáveis
à existência digna sem o dito caráter alim entar. A rigor, nesse caso, seriam excluídas
as despesas com o lazer, as viagens de recreio e supérfluos de m odo geral.
R eportando-se ao art. 154 do RPS, o Parecer M PS/CONJUR n. 616/2010 diz
que não há perd ão da dívida previdenciária, ainda que presente a boa-fé do titular,
reco m en d an d o -se o parcelam ento da dívida (item 89).
P ara o art. 115, II, do PBPS tem de haver a restituição, com possibilidade de
p arcelam ento (§ l 9).
A p erq u irição da alim entaridade de um a im portância não desprezaria os c o n ­
ceitos de m anutenção, subsistência e sobrevivência, condições m ínim as garantido-
ras da dig n id ad e h um ana. A bstraindo, p o r ora, a disposição co n stitu cio n al antes
m en cio n ad a, tem -se p raticam en te assente que todas as q uitações responsáveis pela
subsistência ou sobrevivência da pessoa hu m an a são alim entares, m as igual concor­
dância não favoreceria a m an u ten ção da família.
A percepção de atrasados cuja som a reflita u m período de m ensalidades ali­
m entares, em cada caso pode não ser alim entar. Teoricam ente, o solicitante de u m
benefício, que conseguiu sobreviver até o seu deferim ento, obteve os m eios de m a­
n u ten ção m ed ian te em préstim os com terceiros e necessita ressarci-los. O correto é

C urso de D ir e it o P r e v id e n c ía r io

T o m o l l l — D ir e ito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l
que haja alteraçao na natureza do valor, se os seus níveis pecuniários forem altíssi­
m os, em seu total ultrap assando a som a m ensal das necessidades de subsistência.
U m p rin cíp io nasce da lei, da criação de um d o u trin ad o r ou da reedição da
ju risp ru d ên cia. Às vezes, m ovido pela m elhor das intenções alguém in tro d u z um a
assertiva que en co n tra h ab itat natural para p rosperar sem q u e esse observador se
deten h a em ex am in ar sua procedência.
Em l 9.10.2007 o TFR da 4 ã Região fez alusão a um p rincípio da irrepetibili-
dade dos alim entos, sem deixar claro se eslava m encionando os alim entos civis ou
securitãrios (acórdão AC n. 13.034/SC, n o Proc. 2003.72.04.013.034-0).
A despeito da posição m ajorante dos entendim entos favoráveis à nào devolução
de parcelas alim entares, crê-se que ainda não se pode falar em u m principio; ele
reclam a m aior profundidade e capacidade de solucionar dúvidas internas. U m a delas
é saber se o elem en to m oral envolvido nas relações ju ríd icas deve ser sopesado.
Tal conclusão não pode se prestar para d esd obram entos desnaturalisados; não
ler de devolver m ensalidades de u m benefício contestado pelo INSS, m as favorecido
p o r um a lim in ar n u m a ação judicial e, que, afinal ficou decidido que o titu lar não
fazia ju s, estim ularia o ingresso desse tipo de ação sem fundam ento; não haveria
necessidade de devolução.
Nos casos de desaposentação alguns m agistrados vêm en ten d e n d o não haver
a devolução do recebido desde a aposentação porque as m ensalidades do beneficio
seriam alim entares, m as é bom iem brar o u tro s aspeclos, inclusive o equilíbrio
atuarial e financeiro do plano de benefícios do RGPS, su b m etid o ao regim e finan­
ceiro de repartição sim ples.
Alguém filiado a u m fundo de pensão que adote o plano de benefícios de co n ­
tribuição definida, se auferiu indevidam ente um valor a m aior não carece de devolver
porque sacou de sua própria conta individual, quando ela estiver voltada apenas para
as prestações program adas. Igual raciocínio já não vale para as com plem entações
imprevisíveis porque os capitais acum ulados são m utualisticam ente coletivos, m u ­
tualistas e solidários. Dar a quem não faz ju s é subtrair dos que têm direito.
E m bora sem descrevê-la, qu an d o trata dos precatórios a norm a sem pre excep­
ciona os valores alim entares.
A Súm ula STF n. 655 reza: “À exceção prevista no art. 100, caput, da C ons­
tituição em favor dos créditos de natu reza alim entar, não dispensa a expedição de
precatório e lim ita-se a isentá-lo d e observância da ordem cronológica dos preca­
tórios d eco rren te de condenação de o u tra n atu re za”.
Por o u tro lado, a Súm ula STJ n. 144 dita: “O s créditos de natureza alim entar
gozam de preferência, desvinculados os precatórios da ordem cronológica e dos
critérios de n atureza diversa”. Várias disposições tratam dos precatórios. O art. 33
do ADCT inicia-se falando em “R essalvados os créditos de natureza alim entar, o
valor dos precató rio s ju d iciais,...”.

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1234 W l a d im i r N o v tie s M a r ti n e z
D epois de m archas e contram archas, afinal, a 3§ Turm a do STJ en ten d eu que
os h o n o rário s advocatícios têm natureza alim entar e não podem ser objeto de in-
d isp o n ib ilid ad e q u an d o se tratar de adm inistradores de instituições financeiras;
seriam b en s im p enhoráveis (Lei n. 6.024/1974), eq u ip arad o s aos salários (RESP n.
724.158/PR , q u an d o relatora a M inistra N ancy Andrighi, in DJ 16.10.2006, p. 365).
1742. P en são alim en tícia — Prim acialm ente em bora possa ter sido concebida
ajuizando-se com a n utrição da m u lh er e dos filhos e de o u tras despesas m ínim as
dignas da respeitabilidade h u m ana, a pensão alim entícia civil de u m segurado não
se d estin a exclusivam ente à sobrevivência ou à subsistência.
Ao caracterizar u m cenário particular, ela observa outros elem entos pertinentes
ao alim en tan te e ao alim entado, cogitando-se prin cip alm en te d e sua educação e
saúde.
C onform e a F olha de São Paulo, A lexandra P inheiro, ex-esposa de Roberto
Carlos, jo g ad o r de futebol do C orínthians, ped iu cerca de R$ 9 00.000,00 de pensão
alim entícia ( “E x -m u lh er cobra 900 mil de R oberto C arlos”, in FSP n. 14.4.2010,
p .E - 2 ) .
Todo esse valor, se pago de um a vez, não poderia ter caráter alim entar. Im agi­
n ando que um a ação rescisória posterior dem onstre a im propriedade do pagam ento,
ter-se-á que d efin ir a sua natureza para saber da devolução.
Julga-se que boa parte dos elemenLos da teoria ju ríd ica da pensão alim entícia
m igrou in d ev id am en te para a natureza alim entar das prestações securitárias. O
co n teú d o m oral presente nas ações civis acabou p o r in flu en ciar outros valores
sem se ter certeza até onde essa contam inação é válida. Há algum a confusão entre
os alim en to s civis e os alim entos securitários. Pratica-se certa id en tid ad e entre os
dois m o n tan tes, com o se eles fossem iguais e não são e julga-se ser arriscado tentar
im p o rtar os conceitos civilistas para a previdência social.
1743. P restaçõ es se c u ritá ria s — As prestações securitárias reclam am atenção
especial no Direito Previdenciário; consideradas globalm ente nem todas elas assum i­
riam esse caráter.
L evando-se em conta que o benefício m édio do RGPS em jan eiro de 2012 foi
de cerca de R$ 8 5 1,00 conclui-se que se posta abaixo do que é m in im am en te neces­
sário para as despesas básicas de um a pessoa n u m País em que 2/3 dos beneficiários
aufere RS 678,00 p o r mês.
C om o elas variam de R$ 678,00 até R$ 4.159,00 no RGPS e até R$ 26.723,23
no RPPS, sem se afirm ar que todas as m ensalidades dos benefícios previdenciários
po ssu am esse caráter, é garantido q u e um nível pecuniário escolhido estaria com ­
p reen d id o no teto da Previdência Social. Pressupõe-se q u e um a fam ília (m arido e
tn u lh er e dois filhos) poderia viver bem com R$ 4. f 59,00.
O País conhece dois conceitos de salário m ínim o: a) constitucional (m uito
m ais am plo); e b) legal. Em 2012, o legal é de R$ 678,00, q u an d o a cesta básica
m édia n acional gira em tom o de R$ 300,00. N estas condições, em v irtu d e do seu
baixo piso p ecu n iário , sem som bra de dúvidas, ab initio, tem -se q u e o valor do
salário m ín im o é in teiram ente alim entar.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II I — D i r e it o P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1235
N ão parecer haver m uitas dúvidas sobre a alim entaridade da prestação previ-
denciãria de p eq u en o v alor no nosso Pais.
É preciso so p esar a resistência à to rre n te ju risp ru d en c ial que in d istin tam en te
m anda não devolver as m ensalidades recebidas indevidam ente do INSS, lem brando
que o RGPS é u m regim e financeiro de repartição sim ples e não de capitalização.
N ão se pode ignorar que q uando o INSS faz um pagam ento dessa natu reza ele
retira recursos da clientela protegida, q u e tem d im in u íd o o patrim ônio coletivo, e
que precisa reaver esse vaior para m anter equilibrado o regim e financeiro. Tam bém
não se pode pen sar de form a sim ples: se o INSS foi o culpado, per se não tem de
haver a restituição. Assim sanciona-se a adm inistração pública favorecendo quem
fu n d am en talm en te não tem direito.
Tenta-se configurar q u e um a vez fixado u m pagam ento, ele deteria o caráter
da alim en tarid ad e até d eterm in ad o nível e sem possuí-lo acim a desse patam ar.
1744. Particularidades do percipiente — O quantum ora enfocado é p erso n a­
líssim o; tem a ver com a condição econôm ica ou financeira do titular. D eterm inado
patam ar assum iria um a n u ança d istin ta e o u tro não a deteria (aquele, por exem plo,
de q uem ten h a rendas p róprias). A aposentadoria do RGPS deveria ser considerada
alim en tar para q u em ganha R$ 678,00, m as não para o abastado que tem m uitos
im óveis alugados ou o u tras rendas.
U m a concepção ju ríd ic a dessa natu reza não pode olvidar o enfoque pessoal
e familiar. Em m édia co n stitu íd a de pai e m ãe e dois filhos, de m odo geral um a
família carece de m enos tio que q u atro valores individuais com essa m esm a n a ­
tureza para a sua subsistência. Existem despesas pessoais (chuveiro) e gerais (TV
ligada), e que d ep en d em da qu an tid ad e de indivíduos vivendo sob o m esm o teto.
Releva co n sid erar a situação do percipiente do valor sopesado, se ele desfruta
ou não de o u tras condições econôm icas ou financeiras que lhe perm itam o b ter os
m eios de m an utenção. D etentor de dois o u m ais benefícios deveria ser avaliado
em particular.
Marcelo Cerqueira estuda a situação do indivíduo q u an d o trata do alim ento
civilista ( “O brigação alim en tar e possibilidade de restituição dos alim entos pagos
in d ev id am en te”, co lh id o na internet), adm itindo a restituição. A rem issão é válida
na exata m edida de q u e a conclusão em ergiu da condição do alim entado: se ele tem
com o o b ter os m eios de subsistência, não faz ju s aos alim entos. Se u m aposentado
tem o u tros m eios de vida e o valor da ap o sen tad o ria indevida não era necessária,
ela tem de ser devolvida.
O u seja, não se pode afirm ar que haja um a presunção ju ríd ica de que os valo­
res recebidos in d evidam ente foram consum idos com o alim entos, nem há vedação
legal para a ação de restituição. Ao contrário.
As pessoas beneficiadas pelas disposições de que o benefício correspondente
deva ser deferido preferencialm ente (nesse sen tid o , a pensão p o r m orte o auxílio-
-reclusão) e as idosas, devem ser consideradas em particular. Da m esm a form a, os
deficientes.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1236 W líjd ím i r N o v a e s M a r t i n e z
O utro g ru p o de pessoas é constituído daqueles que têm outros m eios de
sub sistên cia p ró p rio s o u são m antidos p o r terceiros, caso dos presidiários e dos
eclesiásticos.
1745. Tutela antecipada — O in stitu to técnico da tu tela an tecip ad a tem
gerado polêm ica considerável no que diz respeito à repetição das m ensalidades
recebidas na hipótese de o segurado restar sem gan h o de causa.
Tal ação, disciplinada no CPC, im põe condições para a sua efetividade e um a
delas é de que: “N ão se concederá a antecipação da tutela q u an d o h o u v er perigo de
irreversibilidade do p rovim ento an tec ip ad o ” (C PC , art. 273, § 2Q).
As divergências d o u trin árias são respeitáveis. Camila Cibele Pereira Marchesi
en ten d e q ue deva h aver a devolução, m as Lais Fraga Kauss posiciona-se ao c o n ­
trário, en ten d e n d o não haver a necessidade da devolução ( “A efetividade da tutela
an tecipada n o s benefícios de trato alim en tar”, São Paulo, IOB, Revista Síntese de
jan eiro de 2011).
O STJ não tem posição final sobre a devolução dos valores auferidos em razão
da antecipação de tu tela q uando n ão foi reconhecido o direito do titular.
A M inistra do STF Carmem Lúcia é do p o n to de vista de que não deve ser
devolvido, m as m agistrados do STJ invocando o art. 273, § 2-, do CPC, ficam em
sentido contrário.
1746. Concorrência na p en sã o por morte — Q uando o segurado deixa duas
m u lh eres o u fam ílias com direito à pensão por m orte (raciocínio que vale para o
auxílio-reclusão) é b astante com um q u e um dos d ep en d en tes se antecipe ao outro
e ten h a o benefício concedido integralm ente.
Na hip ó tese de circunstâncias que ju stifiq u em esse cuidado, o CRPS tem re­
co m endado ao INSS que sem pre procure saber se há m ais alguém que possa c o n ­
correr à p en são p o r m orte.
As vezes, a au tarquia federal não tom a esse cuidado e depois de ter deferido
o benefício p ara u m d ep endente e vir m an ten d o as m ensalidades, descobre que há
o u tra pessoa com direito à m etade da renda m ensal, n o rm alm en te im pondo-se a
divisão da pensão p o r m orte. N estas condições cobra daquela q u e recebeu a to ta­
lidade, 50% do valor do benefício.
A d o u trin a discute qual deve ser a DIB da fração de quem pede o benefício a
posteriori: se é a Data de Entrada do R equerim ento do segundo pedido (DER) ou a
Dala do Ó bito (DO) do segurado. C onvindo que seja a DER, a divisão opera-se daí
para frente, mas caso contrário, tem -se instituído um débito da prim eira dependente.
O INSS é quem recebe a solicitação, qu em instrui a concessão e quem verifica
o direito, exceto na raríssim a hipótese de não saber da existência de o u tras pessoas
com direito, ele tem todas as condições de saber quem tem direito. Na dúvida, deve
deferir apen as 50% até que se defina a situação. Não o fazendo, age com culpa in
vigilando e n ão tem sen tid o cobrar de quem agiu de acordo com a lei.

C u r s o df. D ir e it o P r e v id e n c iá r io
, .
T o m o III — D ireito P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1237
Em 10.12.2007 a Lei n. 9.528/1997 d eterm inou que a DIB da pensão p o r m orte
é a DER se passados m ais de 30 dias da solicitação do titular do benefício (PBPS,
art. 75). Assim, m uitas viúvas cultural e financeiram ente hipossuficientes, p ro cu ra­
doras do segurado aposentado, que recebiam a aposentadoria, geralm ente no valor
do salário m ínim o, ignorando a diferença ju ríd ica entre as duas prestações, apresen­
tando-se tardiam ente, descobrem que “devem ” o que receberam desde a DO. Ora,
co n traditando a lei, nesses casos a DIB deveria ser a DO e não existir débito algum
a ser devolvido.
R ecentem ente, o Tribunal de C ontas da U nião descobriu que o INSS com eteu
erro rio pagam ento de benefícios nos anos de 2008/2009, pagando a m aior para
cerca de 25.000 pessoas em São Paulo e vai descontar 30% do valor nas m ensalida­
des m an tid as (site K ravchychyn A dvocacia e C onsultoria, colhido em 20.1.2011).
1747. Influência da moralidade — Q uase todos os m agistrados da Justiça
Federal entendem que não deve haver a restituição de prestações previdenciárias por
serem alim entares e, reforçam essa tese quando dem onstrada a boa-fé do beneficiário
(um elem ento m oral).
T ratando da devolução das m ensalidades legitim am ente auferidas depois da
aposentação, isso é o q u e ad m ite Cleusa Oliveira Bueno q u an d o lem brou a AC n.
2 0 0 2 .04.01.049.702-7/RS da 4 ã Região ( “Do D ireito à D esaposentação no Sistem a
P revidenciário B rasileiro” colhido em 14.12.2009, n a internet).
A contrario sensu, em bora isso não tenha sido dito, se presente a m á-fé teria
de h aver a restituição. Não se consegue vislum brar p o r que a natureza ju ríd ic a do
valor — ou o dever da re stitu ir em ergiria — se altera com o co m portam ento ético
do beneficiário. Não sabe se alguém q u e furtou u m bem alim en tar teria de devolver
porque p ratico u um crim e ou p orque ficou com o q u e não era seu.
A m oralidade no âm bito da legislação previdenciária é um anacronism o que
perd u ra e que tem causado dano à interpretação. R ecentem ente o MPS en ten d eu
co rretam en te que o professor que exerceu o m agistério não precisa ap resen tar o
diplom a (Parecer MPS/CONJUR n. 616/2010), que é um a gota d ’água no oceano e
assinala para a possibilidade dessa com preensão prevalecer adiante.
Se um segurado que recebe o salário m ínim o apropriou-se de algum as m e n ­
salidades indevidas, o p eran d o com m á-fé, deve ser processado e, se isso não carac­
terizar u m delito fam élico, será sancionado penalm ente, mas não teria de devolver
po r conta do vulto da im portância.
1748. F ixação d e u m p a d rã o — Caso decante-se essa posição ju risp ru d en c ial
de não restituição do indevido, n a falta de disciplina sistem atizada da m atéria, será
necessário ajuizar em p articu lar tam bém sobre as conseqüências dessa política.
Sem em bargo de não ser im prescindivelm ente correto, inicialm ente pode-se
pen sar n um pad rão dos gru p o s de pessoas que com põem os segm entos sociais. De
m o d o geral, o con su m ido em alim entos pro p riam en te dito varia m enos do que o
co n su m id o em relação aos dem ais itens obrigatórios da definição. Deve-se consi­
d erar sistem aticam ente as disposições legais vigentes, que excluem a indisponibi-
lidade de cada um dos vários cenários.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1238 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Im porta d istin g u ir a natureza dos pagam entos, p articu larm en te q u an d o re­
fletirem a reparação do dan o m oral, indenizações não arroladas na C arta M agna,
restituição do indevido e os atrasados acum ulados.
É im periosa a regulam entação desse instituto técnico, ainda que ele encontre
abrigo válido na d o u trin a; a ausência de uniform ização conduz a p equenas dis­
torções que cu ltu ra lm en te vão se estabelecendo p o r falta de co n h ecim en to da
natu reza estru tu ra l da previdência social. A lei deveria fixar parâm etros básicos,
percentuais m ín im o s e critérios legais que orientem os profissionais.
E xcetuadas as indenizações previstas n a C arta M agna, essas quantias repõem
os direitos m en su rad o s financeiram ente, m as u su alm en te sua ausência não teria
conotação com a alim entaridade do titular.
A Lei n. 12.190/2010 estabeleceu um a reparação da U nião para as vítim as
da Síndrom e da T alidom ida de R$ 50.000,00, a ser m ultiplicada pelo núm ero de
p o n to s da Lei n. 7.070/1982. Um valor tão expressivo com o esse põe em dúvida
sua alim en tarid ad e, p rincipalm ente em face de sua destinação.
1749. F u n d am en to s d a irre p etib ilid ad e — É notável observar com o foi erigida
a co n stru ção lógica de que se é alim en tar o valor indevido, não deve ser restituído.
Seria p o rq u e lais valores são destinados efetivam ente à subsistência hu m an a
ou p o rq u e a clientela dos beneficiários é h isto ricam en te de hipossuficientes?
Teriam os au to res se dado conta de que na pensão alim entícia o alim entante
é o p ro p rietário dos recu rso s e o INSS não é proprietário do p atrim ônio da previ­
dência social?
O p atrim ô n io do seu plano de benefícios (que perten ce ã coletividade de pro­
tegidos) não se co n fu n d e com o p atrim ô n io da autarquia. Se u m servidor recebeu
do Setor de R ecursos H um anos do INSS vencim entos alim entares indevidos ele
talvez n ão devesse devolvê-los com o tam bém não teria de devolver o em pregado
de um a em presa q u e auferiu rem uneração indevida, m as identificar esse cenário
com o plano de benefícios gerido pelo INSS é indistinção tecnicam ente reprovável.
1750. C o n d içõ es p a ra n ão re s titu iç ã o — A repetibilidade precisa ser am p la­
m ente reg u lam en tad a, u m a vez que vigem distonias legais, d o u trin árias e ju risp ru -
denciais, o tem a carecendo de disciplina específica.
a) D efinição da dispensa da restituição — E stabelecim ento das condições que
autorizam , com aclaram ento da clientela protegida.
b) D ecantação do patam ar com natu reza alim en tar irrestituível — Q ue pode
ser o salário m ínim o.
c) Presença da culpa in vigilando do INSS — A claram ento da afirm ação de
que não deve haver restituição se os pagam entos indevidos se deveram a u m erro
da au tarq u ia federal.
d) Pagam entos de longa duração — Fixação de u m período de pagam entos
indevidos, a p artir do qual os valores incorporaram -se ao patrim ô n io do titular.

C urüo d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o II I — D ire i Io P r e v id e n c iá r io P r o c e d im e n ta l 1239
e) Definição do aspecto m oral — Precisa ficar legalm ente claro se a boa ou a
má-fé do beneficiário tem a ver com interpretação da restituição. U m a vez quitados
m ensalm ente valores indevidos eles não devem ser restituídos, exceto se decorrente
de má-fé (Súm ula AGU n. 34).
f) N atureza do direito — Se é individual ou familiar. Às vezes, o segurado vive
com a família e tem os m eios de subsistência garantidos pela renda familiar.
g) Possibilidade de parcelam ento da dívida — Em todos os casos a legislação
deve p ro p iciar a possibilidade de parcelam ento da dívida com autorização clara
para a retenção no caso de benefício em m anutenção.
h) Subjetividade do direito — O direito à não restituição deve enfoca o in­
divíduo fam iliarm ente considerado e não isoladam ente se ele vive com a família.
i) F racionam ento do valor — D efinição na essência técnica do valor abaixo e
acim a de u m eventual patam ar estabelecim ento.

C u rso d e D ir e it o P k e v ip e n c iâ r íO

1240 W lü í i i m i r N o v íi e s M a r t i n e z
T omo IV
Capítulo CLXXV

A presentação

S u m Ar io : 1751. Alcance do campo. 1752. Visão básica. 1753. Conceito de im­


plementar. 1754. Noção de suplementar. 1755. Ideia de complementar. 1756.
Nível do patamar. 1757. Pecúlios em dinheiro. 1758. Assistência à saúde. 1759.
Distinção das entidades. 1760. Prevalência do segmento fechado.

1751. Alcance d o campo — A previdência social brasileira com põe-se de dois


n ú cleo s fundam entais: a) básico, de natureza estatal e pública; e b) com plem entar,
com caráter p articu lar e privado. A C onstituição F ederal de 1988 cogita da su-
pletivídade g o vernam ental, em seu art. 202 (ex vi das ECs ns. 20/1998, 41/2003 e
47/2005) e, en passant, no art. 192, II.
O s n ú m ero s do segm ento fechado im pressionam : são 337 EFPC, com
2.251.980 p articip an tes ativos, 669.474 assistidos e 3.599.586 dependentes, n u m
total de cerca d e 6.521.040 protegidos. O total de investim entos chegou a R$
4 29.3 9 2 .0 3 7 ,0 0 em n úm eros de 2011, vale dizer, 14,1% do PIB, a ser confrontado
com os 12,8% de 2002 (dados da ABRAPP).
1752. Visão básica — C onsidera-se supletiva a técnica protetiva d estinada a
p ro p iciar ren d as ou pecúlios paralelos, não n ecessariam ente acrescidos ao sistem a
oficial, m ed ian te a adição ou não do desem bolsado pelo RGPS ou RPPS, com va­
lores ju rid ic a m e n te d ep en d en tes ou não deste últim o. V erdadeiram ente com ple­
m entar, q u an d o consiste na diferença entre o benefício básico e a m édia recebida
p o r ocasião da atividade.
L em brando o d u p lo significado da expressão “c o m p lem en tar” (então, gênero
e espécie), largam ente utilizada no sentido designativo de técnica particular aces­
sória à estatal e de m odalidade agregacional da prestação, desde já é im p o rtan te
co n v en cio n ar o alcance dos vocábulos “im p le m e n tar”, “su p le m e n ta r”, en q u an to
designativos do d ireito do segurado.
C onform e os d icionaristas pátrios, as três palavras são com u m en te em prega­
das com o m esm o significado de acréscim o, adução, incorporação, convindo fixar
ideias a respeito do espectro alcançado p o r elas.

O j r -s o d l D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o Í V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1243
G ira d a s às básicas, nesse sentido, por sim ples convenção sem ântica, presta­
ções im plem entares são benefícios de pagam ento co n tinuado, previam ente fixadas
as im p ortâncias ou não, conform e o tipo de plano, desvinculadas do nível da re­
m u neração m édia precedente do titular ou do valor estatal auferido,
1753. Conceito de implementar— “Im p lem en tar” provém de “im p le m e n to ”,
do latim im plem entum , representando com pletar, gram aticalm ente sinônim o de
“co m p lem en tar”. Valor acrescível ao benefício público, sem nen h u m vínculo
de p atam ar com este, im portância in d ep en d en te, calculada nos term os de cláusula
co n tratual. As prestações da previdência aberta nada têm a ver com as de previ­
dência básica.
1754. N oção de s u p le m e n ta r — Suplem entação difere da im plem entação.
Previdenciariam ente, u m valor contido entre a diferença do p ercentual da m édia
ajustada dos salários de participação e o quantum devido pelo gestor oficial. Q u a n ­
do esse percentual é o m áxim o, trata-se de com plem entação. Subsistente, p ortanto,
vínculo obrigacional com o patam ar básico.
Suplem entares são as rendas de trato sucessivo, de certa form a, aferidas sobre
a retribuição do participante, em níveis variáveis, sem esgotar a diferença entre esta
e a oficial. Provém do latim suplementum , com o significado de adição, ju rid ic a ­
m en te qu eren d o d izer o acrescido.
1755. Ideia de complementar — F inalm ente, com plem entares, im portâncias
m ensais resultantes da exata diferença entre a rem uneração m édia do segurado e o
desem bolsado pelo ente governamenLal.
Do latim com plem entam , traduz-se na integralização do faltante para a totali­
dade. Para De Plácido e Silva, lem brando o uso com um desses dizeres com o sinô­
nim os, o su p lem en to am plia e o com plem ento com pleta ( “V ocabulário Ju ríd ico ”,
p. 372).
Para a previdência privada, se assim convencionado, a precisa diferença entre
a rem uneração m édia do particip an te e o devido pelo RGPS ou RPPS é relação não
só de valor com o de vínculo. D im inuindo este últim o, deve au m en tar aquele, para
m anter-se a to talidade dos ingressos.
1756. N ível do p a ta m a r — A questão da irredutibilidade do p o d er retributivo
a ser su b stitu íd o pela prestação en c o n tra óbice na apreensão dos valores. A econo­
m ia não fornece critérios objetivos sobre a perda do p o d e r aquisitivo da m oeda, e
im p era su b jetiv id ad e p e rtin e n te a cada interessado e “in flação ” pessoal, norm al
e “deflação”, com o envelhecim ento.
C ada um a dessas três hipóteses sujeitas estão às regras próprias, legais ou c o n ­
tratuais, especialm ente, as duas prim eiras, em que vigente algum a independência
pecuniária em relação à oficial.
1757. P ecúlios em d in h e iro — Pecúlios são capitais acum ulados d u ra n te cer­
to tem po, sem pertin ência com os benefícios de pagam ento co n tin u ad o , devidos
em circunstâncias ajustadas contratualm ente.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1244 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1758. Assistência à saúde — Serviços assistenciários, p raticam en te em ex ­
tinção com a LBPC, particularizados os m édicos, vêm a ser atenções pessoais e
fornecim ento de b en s in natura, com o aten d im en to am bulatorial, hospitalar, ci­
rúrgico, exam es, tratam en to fisioterápico etc., postos à disposição d o interessado.
Em alguns casos, até 28.5.2001, incluía em préstim os para aquisição de residências
ou ben s duráveis, bolsas de estudo e program a de preparo para a aposentação,
m as, estes, quase desapareceram com a LC n. 109/2001. N orm alm ente, os recursos
provêm exclusivam ente da p atrocinadora, p o r ela m en surados, então sendo ato
negociai pró x im o do co n trato individual de trabalho.
1759. Distinção das entidades — Além da necessidade de, no desenvolvi­
m ento da m atéria, sem pre se fazer a distinção entre fechada e aberta, lucrativa ou
não (m o n tep io ), em cada caso, q uando a regra não estiver prescrita na lei fu n ­
d am ental, é im prescindível su b o rd in ar a perquirição ao disposto nos diferentes
reg u lam en to s básicos.
1760. Prevalência do segmento fechado — Tendo em vista o nú m ero de e n ­
volvidos (ap ro x im ad am ente quase 7 m ilhões de pessoas em 2012), a q u an tid ad e de
q u estõ es deflagradas em razão de cerca de 378 regulam entos básicos, não necessa­
riam en te iguais, e a com plexidade norm ativa da área, na exposição deu-se d esta­
que ao segm ento fechado, fazendo-se a distinção, q uando im prescindível, em cada
circunstância. Da m esm a form a, dian te da m ultiplicidade deco rren te da infinidade
de situações p articulares, as observações são genéricas (nem sem pre específicas),
dizendo respeito aos incidentes com uns ao sistem a.
T am bém ficará evidente ao leito r o caráter expositivo deste ensaio, reduzido
ao m ínim o o ap ro fu n d am en to dos tem as, isto é, trata-se d e p rim eira aproxim ação,
com vistas aos não iniciados. Sem falsa m odéstia, um sim ples ABC.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T òm o ÍV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
m
Capítulo CLXXVI

B reve H is t ó r ia

S um ario:1761. Montepio geral. 1762. Ato mais antigo. 1763. Primeiro diploma
legal. 1764. Constituição Federa!. 1765. Direito Comercial. 1766. Companhias
de seguro. 1767. Servidores públicos. 1768. Regulamento Murtinho. 1769. Pri­
meiras EPCs. 1770. Tempos modernos.

D iante da dificuldade de se localizarem d o cu m en to s fiéis, é com um relatarem ­


-se as n o rm as ju ríd icas, em vez de descreverem -se as instituições, m as é o que se
pode fazer em relação ao d esdobram ento da Previdência Social.
Com algum a frequência, os autores confundem a história da técnica com o
desenvolvim ento da proteção supletiva. A qui se tratará apenas desta últim a, e mais
do segm ento fechado, ainda que o aberto a tenha precedido (D ecreto-lei n. 73/1966).
A previdência co m p lem en tar teve im pulso significativo a p a rtir de 1978. Com
a edição da Lei n. 6.435/1977 e dos dois decretos regulam entadores, com o in stitu i­
ção nacional, nesta data, pelo m enos em term os norm ativos, com eçou a pro d u zir
efeitos. M as algum a coisa a antecedeu, convindo repassã-la rapidam ente.
1761. Montepio geral — O surgim ento da previdência com plem entar brasi­
leira — sem n atu reza acessória e in existente a básica — , pelas características de
facultatividade e do m utualism o, pode ser fixado em 10.1.1835, com a criação do
MONGERAL — M ontepio Geral de E conom ia dos Servidores do Estado, p ro p o s­
to pelo M inistro da Justiça, Barão de Sepetiba. A entidade é um a das prim eiras
e fu n cio n o u co n tin u am en te com o m ontepio, isto é, previdência aberta sem fins
lucrativos (até os dias de hoje).
Em São Paulo, d u ra n te a gestão do Prefeito A ntonio Prado, pela Lei n. 1.236,
de 11.9.1909, criou-se o M ontepio M unicipal.
1762. Ato m ais an tig o — A bstraindo a assistência social, pública ou religiosa,
e o m u tu alism o ou seguro privado (achegando-se à ideia da previdência básica), a
pré-história da previdência co m p lem en tar inicia-se com o alvará po rtu g u ês, datado
de 22.11.1684, m encionado p o r A m ilcar Santos com o a prim eira regulam entação
do seguro privado aplicável ao Brasil.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1246 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1763. P rim eiro d ip lo m a legal — Para Rubem Rosa, citado pelo D eputado H ei­
to r Dias, relator da C om issão M ista do C ongresso N acional, o M ontepio dos Órfãos
e Viúvas dos Oficiais da M arinha, criado em 2.9.1795, e assinado pelo P ríncipe D.
Jo ão , no Palácio Q ueluz, em Lisboa, é o p rim eiro diplom a legal ( “Im u n id ad e Tri­
b u tária das E n tidades F echadas de Previdência P rivada”, p. 113/22).
Ao fin al do p erío d o co lo n ial, m ais de u m sécu lo d ep o is d o m en cio n ad o
alvará, a te n d e n d o à re p resen ta ção dos co m ercian tes de Salvador, o G o v e rn ad o r
e C a p itão -G e n era l d a ex -C a p ita n ia H ered itária da Bahia a u to riz o u o estab e le­
c im en to da C o m p a n h ia de Seguros Boa-fé, em 1808, a m ais an tig a in stalad a no
Brasil.
N ovo d o cu m en to oficial, de 11.8.1771, dispôs sobre o seguro privado até
nossa independência: R egulações da Casa de Seguros de Lisboa. C arta Régia de
24.10.1808 aprovou resolução do m esm o G overn ador e C apitão-G eneral, a u to ri­
zou a C o m p an h ia de Seguros C onceito Público a funcionar no Rio de Janeiro, a
partir de 5.2.1810.
Alvará de 5.5.1810 perm itiu às partes, nos co ntratos de câm bio e seguros
m arítim os, estip u lar os ju ro s e prêm ios convencionados.
C on fo rm e Antonio Carlos de Oliveira ( “D ireito do Trabalho e P revidência
Social”, p. 9 1 ), registros vetustos dão conta de que D om P edro I, P ríncipe Regente,
in stitu iu , em l 9.10.1821, ap o sen tad o ria para m estres e professores aos 30 anos
de serviço, e ab o n o de 25% da rem u n eração para q uem co n tin u asse trab alh an d o
(sic).
No p erío d o im perial, em 29.4,1828, surgiu a Sociedade de Seguros M útuos
Brasileiros.
1764. C o n stitu iç ã o F ed eral — A C onstituição F ederal de 1824, em seu
art. 179, XXXI, ditava: “A C onstituição tam bém garante os socorros pú b lico s”.
Em 1834, surgiu a Sociedade M usical de Beneficência e, em 1838, a Sociedade
A nim adora da C orporação de O urives, am bas no Rio de Janeiro.
1765. D ireito C o m ercial — O C ódigo C om ercial, de 1850, trato u do seguro
g aran tid o r de viagens m arítim as, principalm ente em m atéria de cargas tra n sp o rta ­
das, no T ítulo VIII — Dos Seguros M arítimos (arts. 666/684).
1766. C o m p an h ias de seguro — A p artir da segunda m etade do século XIX,
as co m p an h ias de seguro se m ultiplicaram em todo o País, algum as delas p restando
serviços até os dias de hoje.
O D ecreto n. 2.679, de 2.11.1860, disciplinou o fu n cio n am en to das em presas
de seguro e foi com p lem entado pelo Decreto n. 2,711, de 19.12.1.860. M edidas de
fiscalização foram in tro d u zid as pela Lei n. 294, de 5.9.1895, regulam entada pelo
Decreto n. 2.153, de 19.11.1895.
O final do século XIX foi pródigo. Sacha Calmon Navarro Coelho ( “Im unidade
Tributária das E ntidades Fechadas de Previdência P rivada”, ob. cit., p. 41/94) dá
conta de algum as entidades.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1247
O D ecreto n. 10.269, de 20.7.1889 criou pensões para os trabalhadores da
Im prensa Régia, a Lei n. 3.397, de 24.11.1888, a Caixa de Socorros para os ferro­
viários estatais, e o D ecreto n. 9 .2 1 2-A, d e 26.3.1889, m ontepio obrigatório (sic)
para os em pregados dos correios.
1767. S erv id o res p ú b lico s — M enciona-se, ainda, o D ecreto n. 942-A, de
31.10.1890, sobre o M ontepio O brigatório dos E m pregados do M inistério da F a­
zenda. O D ecreto n. 221, de 26.2.1890, estabeleceu a aposentadoria dos em pre­
gados da Estrada de F erro C entral do Brasil, estendida pelo D ecreto n. 565, de
12.7.1890, a todos os ferroviários das estatais.
A Lei n. 217, de 29.11.1892, im p lan to u a aposentadoria p o r invalidez e a p en ­
são por m orte dos operários do Arsenal de M arinha do Rio de Janeiro.
C onsigna-se, p articularm ente, um m o n tep io para os em pregados m unicipais
de Salvador (15.4.1899).
1768. R eg u lam en to M u rtin h o — D isciplina geral sobreveio com o Regula­
m ento M u rtin h o (D ecreto n. 4.270, de 10.12.1901). A Lei n. 953, de 29.12.1901,
procedeu a diversas alterações nesse regulam ento, assim com o o D ecreto n. 5.702,
de 12.12.1903.
O u tras disposições sub seq u en tes são o D ecreto n, 9.287, de 30.12,1911,
referente à fiscalização ju n to às com panhias estrangeiras de seguros, e a Lei n.
2.718/1912, revogando a exigência da contribuição pelas com panhias de fundo
para retrib u ição do pessoal da Inspetoria de Seguro.
1769. P rim eiras EPC s — Em 16.4.1904, surgiu a Caixa de Previdência dos
F un cio n ário s do Banco do Brasil S.A. — PREV1, em 2009, o m aior fundo de pensão
brasileiro.
A Caixa de Pensão dos O perários da Casa da M oeda foi objeto do D ecreto n.
9.284, de 30.12.1911. O D ecreto n. 9.517, de 17.4.1919, criou a Caixa de Pensões
e E m préstim os para o Pessoal das C apatazias da Alfândega do Rio de jan eiro .
Em seus arts. 1.432/1.465, na versão de 1916, o C ódigo Civil dispôs sobre o
co n trato de seguro e, nos arts. 1.466/1.470, a respeito do seguro m ú tu o , e os arts.
1.471/1.476, que regraram o seguro de vida.
O GBOEx ap areceu em 1918, p ara a fam ília dos m ilitares do Rio G ran d e
do Sul.
Em 2 8 .1 .1 9 6 7 , foi aprovado o E statu to do F u n d o de B eneficência aos F u n ­
cio n ário s do Banco do E stado do P araná S.A. — FUNBEP. Em 1970, apareceu
a PETROS, en tid ad e de previdência da P etro b ras S.A., exem plo p a ra a Lei n.
6.4 3 5 /1 9 7 7 e to d as as d em ais su rg id as na década seguinte. Em I a. 1.1978, nasceu
o EC O N O M U S — In stitu to de S eguridade Social (dos ec o n o m iário s do E stado
de São P aulo).
Até 23.1.1923, q u an d o instituída a previdência pública apenas para os fer­
roviários (e alguns servidores civis e m ilitares), não se podia falar em previdência
com plem entar, em virtude de inexistência da básica. À exceção da proteção dos

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iA r ío

1248 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
servidores públicos, eram planos n itidam ente m utualistas, e m u ito s deles, caso do
M ONGERAL, co n tin u aram existindo após a Lei Eloy C haves (D ecreto Legislativo
n. 4.682/1923).
A lgum as entidades, p rin cip alm en te m ontepios, organizadas d u ra n te a seg u n ­
da m etade do século XX, chegaram até 1977 sem sistem atízação legislativa, su b m e­
tidas ao C ódigo Civil e a algum as norm as com erciais e de seguro privado.
1770. Tempos modernos — O D ecreto-lei n. 73/1966 regulou o seguro p ri
vado.
O C onselho M onetário N acional — CMN foi criado pela Lei n, 4.595/1964. O
m esm o aco n tecen d o com o Banco C entral do Brasil — BCB. O C onselho N acional
de Seguros Privados — CNSP e a S u perintendência de Seguros Privados — SUSEP
sobrevieram com o m esm o D ecreto-lei n. 73/1966. A Bolsa de Valores com a Re­
solução BCB n. 39/1966 e a C om issão de Valores M obiliários — CVM, com a Lei
n. 6.385/1976.
C om a Lei n. 6.435/1977, é regrada a previdência com plem entar. R egulam en­
tada pelos D ecretos n. 81,240/1978 (fechada) e n. 81.402/1978 (aberta) e p o r deze­
nas de resoluções da Secretaria de Previdência C o m plem entar — SPC e da SUSEP
Em 3.3.1978, foi criada a Associação Brasileira das E ntidades F echadas de
P revidência Privada — ABRAPP Em 23.8.1988, o C entro de E studos de Seguridade
Social — CESS.
A E m enda C o n stitucional n. 20/1998, alterou a redação do art. 202 da Lei
Maior, d isp o n d o sobre o tem a em seus seis parágrafos.
O D ecreto n. 3.721/2001 alterou o D ecreto n. 81.240/1978, n o tocante à idade
m ínim a, geran d o en o rm e controvérsia sobre sua validade.
C om a LC n. 109/2001, a par da LC n. 108/2001, seus decretos regulam enta-
dores e, p rin cip alm en te, os atos norm ativos baixados pelo C G PC e SPC, do MPS,
in au g u ro u -se novo p eríodo na legislação da previdência com plem entar. C om o se
verá adiante, a p ar dessas leis, há in ú m era s portarias e resoluções adm inistrativas.

C urso de D ireito P revidenciário


T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
1249
Capítulo CLXXVII

Q u e stõ e s T e r m in o l ó g ic a s

S u m á r io : 1771. Título da técnica protetiva. 1772. Nome das entidades. 1773. Tipos
de plano. 1774. Requisitos regulamentares. 1775. Portabilidade de capitais. 1776.
Institutos próprios. 1777. Influência do cálculo atuarial. 1778. Clientela protegida.
1779. Vínculo dos integrantes. 1780. Direito previdencial e assistencial.

A previdência supletiva, sem anticam ente influenciada pelos privale pension


funds n orte-am ericanos, pro p ô s ou ad o to u jargão próprio para m u ito s in stitu to s,
com o: participante; p atrocinadora; planos; vesting; salário real de participação ou
salário de participação; salário real de benefício; tem po passado, além de m uitos
outros.
Eliana Sampaio p reocupou-se com o conceito de algum as dessas referências,
com o: pessoa indicada (pessoa designada); beneficiário dep en d en te (dep en d en te);
tem po de vinculação à EFPC (tem po de filiação); m in o ran te, quem ganha até cinco
salários m inim os; m ediante, entre cinco e dez e m ajorante, acim a de dez salários
m ínim os ( “Plano de Benefícios: A lternativas de C usteio-P lano Previnor II”, p. 1).
1771. T ítu lo d a técnica p ro tetiv a — O vocábulo “previdência priv ad a” busca
diferenciar-se de “seguro privado” e de previdência oficial. M as, sem pre, previ­
dência social. Tal designação é abrangente, m ais in stitu ição e m enos contrato. Na
fração aberta, são m enores as pressões para a celebração do co n trato com o em pre­
endedor. D istinguem -se am bas, aberta e fechada, da estatal, palavra indicativa da
previdência social básica tradicional (RGPS).
O sistem a enfocado, sopesado com as características fundam entais de su p le­
tivo, facultativo, adicional e acessório (nem sem pre é pecuniariam ente com ple­
m en tar), pode ser público ou privado, este últim o, com o asseverado, aberto ou
fechado. Previdência co m p lem en tar sem anticam ente é gênero; as dem ais, espécies.
1772. N om e das en tid ad es — O título atribuído à instituição gestora, em espe­
cial no segm ento fechado, não está consagrado pelo uso. O ficialm ente, são en tid a­
des fechadas de previdência com plem entar, m as utilizadas, até na razão social, d i­
ferentes designações, com o, im propriam ente, fundação de seguridade social, salvo,
se propiciar, sob sua iniciativa, tam bém as ações de saúde e de assistência social.

C urso m :D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1250 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
R eferências a fundos de pensão são com uns, igualm ente im próprias, em vir­
tu d e do significado brasileiro de pensão e, no segm ento, com p reen d en d o rendas
equivalentes aos benefícios do segurado e seus dependentes. E ntidade previden­
ciária carece de qualificação, não se sabendo se se trata de aberta ou fechada. E n­
tidade privada p o u co diz, e, talvez, o correto fosse previdência privada, pois nem
sem pre os diversos planos são supletivos ou com plem entares. Há tam bém m enções
a fu n d o de previdência. Q uestio n am en to co n stan te diz respeito às diferenças entre
in stitu to , fundação e associação.
Na previdência aberta veem -se seguradoras, fundações, m ontepios, in stitu i­
ções de previdência, sociedades de capitalização, caixas, cada u m a com sentido
p ró prio. É de uso com um , p o r sem elhança com a EFPC, a E ntidade A berta de Pre­
vidência Privada — EAPP Depois da LC n. 109/2001, de m odo geral, as entidades
passaram a ad o tar a sigla EPC, sendo as fechadas com o EFPC e as abertas com o
EAPC.
Na relação dos fundos de pensão integrantes do censo prom ovido pela ABRAPP
em 1992, encontravam -se 66 fundações, 45 sociedades, 26 sociedades de previ­
dência privada, 17 in stitu to s, dez in stitu to s de seguridade social, nove sociedades
previdenciárias, oito caixas de previdência, cinco associações, três previdências
privadas, dois fundos, duas caixas de previdência e assistência, duas caixas de
assistência e tão som ente u m fundo de pensão (sic), e o u tras designações m ais
( “C enso ABRAPP-1992”, p. 91/92).
A p a rtir da LBPC, as provedoras são patrocinadoras, isto é, as em pregadoras
dos p articip an tes e instituidoras, aquelas que controlam ou representam os seus
associados. Daí serem designadas, as últim as entidades gestoras, com o setoriais ou
associativas.
1773. Tipos de plano — R eferindo-se à provedora, ou seja, em presa patroci­
nadora sem encargo para o p articipante, em vez de p lano sem contribuição pessoal
ou não co n trib u tiv o , é geral o uso da locução “não c o n trib u tó rio ”.
É consagrada a distintiva contribuição definida e benefício definido, desig­
nan d o d iferentes planos e, da m esm a form a, conform e o regim e financeiro, de
capitalização, capitais de co bertura ou repartição sim ples.
N um m esm o plano, con tu d o , podem coexistir regim es financeiros distintos
para benefícios diferentes.
1774. Requisitos regulamentares — Em vez de levantam ento de c o n trib u i­
ções corrigidas e até acrescidas, usa-se resgate.
A obten ção do valor da reserva de poupança, in clu in d o a contribuição da
p atro cin ad o ra, é cham ada de vesting, q u an d o do benefício proporcional diferido.
1775. Portabilidade de capitais — U m in stitu to técnico-jurídico novo nas­
ceu com a LBPC, a p o rtabilidade, isto é, a possibilidade de o particip an te que deixa
um a en tidade e se transfere para o utra, sem acesso aos recursos, p o rtar (levar co n ­
sigo) os valores acu m u lad o s e conduzi-los p ara o novo destino.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c ia r i»

T om o IV — P re v id ê n c ia C o m p le m e n ta r 1251
Nasce com im propriedade sem ântica porque o segurado não aporta, red u zin d o ­
-se a sim ples transferência de capitais sobre os quais não tem acesso.
1776. Institutos próprios — T êm in stitu içõ es ju ríd ic a s ím pares, com o joia,
recuperada da antiga Lei Eloy C haves. A lguns planos preveem co n trib u içõ es su ­
plem entares facultativas, e quase todos, a taxa de inscrição (para adesões tardias).
D epósito prévio ou dotação inicial é aporte p atro n al antecipado, para as p ri­
m eiras despesas.
Logo serão referidos os b ô nus de reconhecim ento (valor da pou p an ça estatal).
1777. Influência do cálculo atuarial — A influência do cálculo atuarial é sen­
tida, falando-se em carregam ento (despesas de adm inistração em butida na c o n tri­
buição), risco (em vez de contingência), prêm io no lugar de contribuição e assim
p o r diante. M as quase não se em prega indenização, própria do seguro privado.
1778. C lie n te la p ro teg id a — O fato de, no segm ento aberto, o co n tratan te
ser cham ado de segurado e, n o fechado, de participante, ou ainda, de não assistido
e assistido, ativo ou inativo, é m eram ente gram atical. R igorosam ente, am bos são
protegidos ou cobertos pelo sistem a; só não são associados, com o queria a LOPS
de 1960, ou desejam alguns m ontepios,
0 co n trib u in te ativo é dito particip an te não assistido, e o aposentado o u quem
está recebendo benefício definitivo, participante assistido. N ào há a distintiva se­
gurado e aposentado; am bos são filiados.
Beneficiário, po rém , presta-se para dois papéis: ora é gênero de participante
e depen d en te, com o n a básica, ora é sinônim o de d ependente. Para este últim o,
às vezes, utilizada a designação pessoa indicada. P raticam ente ignorando-se, nos
reg u lam en to s básicos, o term o designação, nitid am en te preferindo-se inscrição.
1779. V ínculo dos in te g ra n te s — C om insistente habitualidade, copiando-se
un s aos o u tros, os E statutos Sociais e R egulam entos Básicos falam em inscrição
da p atrocinadora, ten tando criar gênero inexistente. A expressão fica m elhor para
as pessoas físicas, não sendo im perioso atrib u ir nom e especial à sua adesão; de
qu alq u er form a é atividade com plexa não com preendida na singeleza da locução
inscrição,
1780. D ireito p re v id e n c ia l e assiste n c ía l — D ando-se razão à M arly A.
Cardone, diz-se, com relativa frequência, benefícios ou serviços assistenciais, em
vez de assistenciários. C uriosam ente, não é tão com um o em prego de D ireito P re­
videncial.
Não houve preocupação de criar designação p ró p ria para o ram o ju ríd ico
su bstantivo ou adjetivo. E ntende-se com preendido no D ireito Previdenciário. Pre­
ferim os D ireito Previdenciário C om plem entar, para designar a ciência ju ríd ica que
disciplina a técnica p ro tetiva supletiva.
Para o seguro privado, n en h u m a indicação em especial.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1252 W líid ir m r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo CLXXVIII

C o n c e it o S u c in t o

1781. Introdução do assunto. 1782. Modalidade de ingresso. 1783.


S u m á r io :
Serviços disponíveis. 1784. Poupança individual. 1785. Delegação estatal. 1786.
Concentração de riquezas. 1787. Política de recursos humanos. 1788. Seguro
social. 1789. Técnica privada. 1790. Conceito final.

1781. In tro d u ç ã o d o a ssu n to — As principais características da previdên­


cia com plem entar, a seguir enunciadas, perm item circunscrever sua essência, e o
co n to rn o , noções com patíveis com a realidade h istórica desse in stru m en tal social
protetivo: facultatividade, acessoriedade, solidariedade e poupança individual e
coletiva, opção particular, além de fonte institucional de investim entos.
1782. Modalidade de ingresso — Q u alq u er dedução nesse sentido não pode
d esprezar o ingresso, p o r vontade própria (ainda que inexpressiva), das pessoas fí­
sicas (p articip an tes) e ju ríd icas (patronal), por oposição com o vínculo da proteção
estatal, e sua n atureza nitid am en te supletiva.
1783. Serviços disponíveis — Prestação de serviços securitários com fins lucra­
tivos para algum as EPC, então com nuanças de seguro propriam ente dito, ousem esse
escopo comercial, caráter essencialm ente m utualista (m ontepio) no caso das entidades
ditas abertas, isto é, franqueadas a quem quiser e puder pagar o encargo estipulado.
1784. P o u p an ça in d iv id u a l — Esforço individual dos segurados, financeiro,
m as não lu crativ o , com substância previdenciária, au to rizad o à clientela previa­
m ente definida de pessoas envolvidas com um a ou m ais corporações o u sem n e ­
n h u m a dessas exigências.
1785. Delegação estatal — Delegação do Poder P úblico para su p rir sua inca­
pacidade de so co rrer as necessidades do indivíduo, subm ete-se a controles gover­
n am entais (em especial, o segm ento fechado e, deste, a fração estatal) e é, ainda,
p ro d u to de sua história, q u an d o da form ulação de cam inho próprio.
1786. C o n cen tra ção d e riq u e z a s — C oncentração de riquezas capitalizadas e
d istribuição de rendas, participação do trabalho n o resultado das em presas, p o r via
de aquisição de ações, fonte de recursos financeiros (funding ) e, p o r conseguinte,
geradora de inversões e novos em pregos.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o IV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1253
1787. Política de recursos humanos — A inda que p o r interm édio de pessoa
ju ríd ica distinta, a previdência com plem entar m antém -se com o forma de estím ulo
ao trabalho, atração de profissionais qualificados, dom ínio do conhecim ento de
terceiros.
1788. Seguro social — C aráter nitid am en te securitário, com aspectos m utua-
listas, observância a prem issas atuariais, denom inadores dem ográficos e avaliações
estatísticas. M odalidade forçada de solidariedade social.
1789. Técnica privada — Iniciativa do particular, ainda que subm etida a
severo controle estatal. O rganização de pessoas e capitais cujas atividades-fins aca­
bam p o r se to rn ar um in stru m en to econôm ico e financeiro de desenvolvim ento da
p ou p an ça nacional.
1790. C o n ceito final — E stru tu ralm en te, cuida-se de um co n ju n to de ope­
rações econôm ico-financeiras, cálculos atuariais, práticas contábeis e norm as j u ­
rídicas, em p reendidas no âm bito particular da sociedade, inserida no D ireito P ri­
vado, subsidiária do esforço estatal, de adesão espontânea, propiciando benefícios
adicionais ou assem elhados, m ediante recursos exclusivos do protegido (aberta e
associativa), ou divididos os encargos entre o em pregado e o em pregador, ou ape­
nas de um deste últim o (fechada).

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1254 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CLXXIX

C a r a c t e r ís t ic a s N u c lea res

1791. Facultatividade de ingresso. 1792. Independência da básica.


S u m á r io :
1793. Complementaridade do valor. 1794. Solidariedade entre as pessoas. 1795.
Submissão ao direito privado. 1796. Observância do cálculo atuarial. 1797. Re­
gimes financeiros obrigatórios. 1798. Gestão colegiada transparente. 1799. In­
dependência das pessoas jurídicas. 1800. Supervisão governamental.

A co m preensão do fenôm eno da participação da iniciativa privada na parceria


com o E stado para prom over a proteção adicional dos indivíduos tem procedência
técnica e ju ríd ica. Sua exposição, pela descrição clara dos seus in stru m en to s e
objetivos, visa a personalizá-la, sedim entá-la e distingui-la. E, destarte, sua in te­
ligência to rn a r aplicável a legislação, enfrentar dúvidas, desfazer inquietações e
in terp retar as regras avençadas.
M aneira razoável de fazê-lo, com o dito, é n a rra r as p rincipais características;
elas talvez tracem os seus lim ites e papéis.
1791. Facultatividade de ingresso — F acultatividade q u er dizer a possibil
dade livre de um a in stitu ição em p reen d er um a EPC, algum as m udanças de trajeto,
escolha do p lan o de custeio/benefícios e regim es financeiros, e de dissolvê-la. Do
p o n to de vista real, o em pregador iniciar o processo form al, dar-lhe curso e, se for
o caso, dele se afastar sponte própria.
D ado ín sito tam b ém diz re sp eito à ad m issão do seg u rad o no sistem a de
p ro teção . E ste é q u ase se n h o r d a d ecisão d e p a rtic ip a r ou não, em b o ra a lei
p u d esse im p o r-lh e a filiação com o expressão de so lid aried a d e e co n d ição p ara a
efetiva c o b e rtu ra , pelo m enos p ara certo s patam ares salariais (com o su ce d e no
U ru g u ai).
H istoricam ente, assim aconteceu, m as discute-se, no âm bito da previdência
social, o sen tid o da entrega da opção ao tutelado. A d entrando p o r volição e ge­
rin d o os interesses, o particip an te assum e relação psicológica de parceiro e, por
conseguinte, preocupa-se com o sucesso da ideia. P odendo participar, se assim não
faz, fere de m orte a concepção fundam ental da técnica: a ajuda m ú tu a necessária
à conjugação d e forças.

1255
C urso de D ire i t o P r e v id e n c iá r io

T om o I V — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n ta r
Significa não po d er a p atrocinadora ou a entidade gestora coagir o em pregado
a aderir ao plano, em bora seja desejável elevado nível de un ião da coletividade para
o seu êxito.
Igual faculdade, para a pessoa m anter-se e retirar-se. C om um ente os regu­
lam entos básicos d ispõem sobre a form a desse afastam ento e relativam ente aos
valores recuperáveis. Os lim ites estão entre o estím ulo à entrada e o desestím ulo à
saída. Devolução da reserva de poupança ou resgate de contribuições só é possível,
na m aioria dos casos, com a perda do vínculo em pregatício com a patrocinadora,
em bora o p articip an te possa retirar-se a q u alq u er m om ento, com o levantam ento
postergado para tal circunstância.
N ada ob stan te substancialm ente institucional a natureza ju ríd ica da relação
entre o p articip an te e o fundo de pensão, este ú ltim o não desfruta do poder de re­
cusar a adesão, m esm o dian te de m au risco. Para isso, os atuários propõem regras
rígidas quanto à adm issão e u su fru to das diferentes prestações possíveis. Nesse
sentido, é o ú n ico obrigado.
Na prática, a facullatividade é potencialidade, pois dificilmenLe será ciado ao
trab alh ad o r discordar da p roposta apresentada — não participar do m ecanism o
protetivo — , p rin cip alm ente q u an d o a m an ten ed o ra d em o n stra efetivam ente estar
buscando otim izar as relações laborais.
Essa liberdade não diz respeito tão som ente aos co n tato s entre o participante
e a entidade, m as aos firm ados entre esta e a patrocinadora. Tom ada a iniciativa de
in stitu ir a gestora, observadas as regras pertinentes, com o dito, é tam bém possível
a retirada. Com o u sem ônus, conform e o convencionado; e aí, além do ju rista,
po n tu a o atuário.
M odernam ente, especialm ente com a enorm e prom oção suscitada pela LBPC,
com ênfase à proteção com o form a de poupança e aplicação, am eaça-se o conceito
de previdência social, pois outorga (na área em que a presença do Estado deve ser
presente) grande iniciativa do indivíduo, que não tem n atu ralm en te desenvolvida
a consciência da proteção diferida.
1792. In d e p e n d ê n c ia d a b ásica — Na prim eira edição, este tópico cham ava­
-se su b sidiaridade da básica e, depois da LC n. 109/2001, p o r força do seu art. 68,
§ 2e, essa d ep endência p raticam ente desapareceu.
A specto fu n d am en tal do segm ento fechado (com pouca expressão no aberto),
além dos pressu p o sto s convencionais, consistia em o exercício do direito do titu lar
estar co n cretam ente condicionado ã pretensão estatal. O s benefícios de pagam ento
co n tin u ad o só podiam ser deferidos após o aten d im en to dos requisitos legais da
previdência social básica e concedida igual prestação p o r parle do órgão gestor
oficial. Não bastava a faculdade, em tese, ju n to ao INSS, era preciso m aterializá-la
para po d er deflagrar o bem com plem entar.
Q uem havia preen chido as exigências norm ativas, solicitado, mas não havia
obtido a prestação do RGPS, não podia ter a particular. D ependendo, em cada caso,

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
da regra estipulada no R egulam ento Básico, se o titu lar solicitasse, sim ultaneam ente,
os dois benefícios, d espachado com atraso o oficial, o supletivo retroagia à data de
en trada do req uerim ento.
A su b sid iarid ad e do sistem a e a co m plem entaridade criavam situações em ­
baraçosas para o interessado. Em íitisconsórcio ativo com a entidade, ele tinha
legítim o interesse processual de agir para p reten d er m u d an ça no valor da prestação
básica. Sob esse aspecto, se o órgão gestor não pagasse o devido, o ente com ple-
m en tad o r p o dia reclam ar p ara d im in u ir a sua obrigação.
O utro p roblem a era a extinção de alguns benefícios previdenciários, caso do
abono de perm an ên cia em serviço (o de 20% acabou em 24.4.1991, e o de 25%, em
15.4.1994). Se algum a entidade o in stitu iu condicionado, não era possível com ple­
m en tar o in ex isten te, devendo a EFPC d ar destino ao eventual superávit nascido
da não obrigação de pagá-lo.
Na su sp en são ou no cancelam ento de aposentadorias, prin cip alm en te a p o r
invalidez, o fundo de pensão ficava na d ep endência da solução p o r parte do INSS.
A rigor, deveria su sta r ou p ô r fim tam bém , m as aguardava o trân sito em julg ad o da
decisão ad m in istrativa ou judicial.
C om o idealização do m odelo, a subsidiaridade era fundam ental, m as não n e­
cessária a sua existência, p o r isso, foi extinta, tendência h o d ie rn a consistente em
b u scar o segm ento in d ep en d ên cia em relação ao principal. Só assim alçará o voo
dos libertos.
C om a cessação da subsidiaridade criam -se novas responsabilidades para o
o rg an izad o r e gestor, p orque têm de ser estabelecidos critérios próprios, restando
de m en o r v alo r aquela prescrição que se via em quase todos os regulam entos bási­
cos, de rem issão ao RGPS.
Pode dar-se, agora, de alguém ter negado um auxílio-doença pelo INSS e tê-lo
concedido pelo fundo de pensão; de ter co m putado o tem po de contribuição pela
au tarq u ia federal e negado pela EFPC.
M as, à evidência, n ad a im pede a invocação de todo o con h ecim en to desenvol­
vido pela p revidência básica, p rincipalm ente, a experiência d eco rren te da aplica­
ção dos prin cíp io s, que são universais e com uns a todos os segm entos, m u ito s dos
quais aq u i sucessivam ente lem brados.
1793. C o m p le m e n ta rid a d e do v alo r — Q u ando su b o rd in ad a à oficial, a im
po rtân cia da ren d a m ensal, acaso convencionada, está adstrita ao nível do benefí­
cio devido pelo órgão gestor. N esta hipótese, d u ra n te a in stru ção do pedido, nada
im pede o cálculo daquela para an tecip ar o deste.
Caso o valor inicial da com plem entação, definida nas cláusulas reg u lam en ta­
res, seja a diferença entre determ inada m édia (dos últim o s 12 m eses, p o r exem plo)
e o recebido o u devido pelo INSS, a en tid ad e fica sujeita, lodo o tem po, a desem ­
bolsar ex atam en te o resultado da subtração, com a particu larid ad e extraordinária
de esse vín cu lo obrigacional ser m antido, não im p o rtan d o a causa determ inante

C urso de D ireito P revidenciário


T orno I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
da flutuação do desem bolsado pelo órgão estatal. Relação apurada entre valores
b ruto s, não devendo ser considerados, nesse raciocínio, descontos em am bas as
prestações, m esm o os decorrentes de contribuições.
No respeitante ao quantum, a entidade concessora pode aferir o seu dever e
determ iná-lo previam ente. Se a autarquia se equivoca, para m ais ou para m enos, a
EFPC necessita interferir n o processo adm inistrativo e não apenas ignorá-lo. Não
basta fazer o cálculo do benefício oficial e observá-lo. Q u ando a inconform idade
do esperado deve-se à in terpretação da lei, é preciso discuti-la com o órgão gestor
até alcançar definição final, p erm anecendo o ô n u s de m an ter o pagam ento m ensal
ao assistido. E sgotados os m eios ju ríd ico s, m esm o inconform ada, não tem outra
alternativa senão a de aco lh er a decisão da autarquia.
D ependendo da situação, o direito convencionado há de ser respeitado, não
im p o rtan d o o sucedido com o im posto pela lei.
Diz a Súm ula STJ n. 92: ‘‘O direito à com plem entação de aposentadoria, cria­
do pela em presa, com requisitos p ró p rio s, não se altera pela in stitu içã o de b en e­
fício previdenciário p o r órgão oficial”. Presum e essa decantação da ju risp ru d ên c ia
a previsão institu cio n al do plano, recursos p ró p rio s e o vínculo laborai jacen te, que
é a tendência m oderna do segm ento. O correto, pois, parece ser a in d ep en d ên cia
tam bém q u an to ao m o n tan te da prestação.
De igual form a, na área da co m p lem entaridade não pode ser esquecida a p ro ­
posição de ser o benetício substituidor. Escapa ao conceito o en riq u ecim en to ilícito
e, p o r isso, diz o E nunciado do TST n. 87: “Se o em pregado, ou seu beneficiário,
já recebeu da instituição previdenciária privada, criada pela em presa, vantagem
equivalente, é cabível a d edução do seu valor do benefício a q u e faz ju s p o r norm a
regulam entar a n te rio r”.
1794. S o lid aried ad e e n tre as p e sso a s — Solidariedade é princípio ju ríd ic o e
in stru m en tal técnico, essência e razão d e ser da previdência social, básica ou com ­
plem entar. Sem ela a alicerçar os esteios da proteção social, inexiste m odalidade
securitária ( “P rincípios de D ireito P revidenciário”, p. 74/90).
M esm o com a adoção do regim e financeiro de capitalização para benefícios
program ados e a despeito do plano de tipo contribuição definida, se os recursos
am ealhados no curso da relação de custeio não são suficientes para a m an u ten ção
do aposentado, após o prazo atuarialm ente previsto, recorre-se à ideia geratriz do
m utualism o (form a incipiente previdenciária): solidariedade entre os p artic ip a n ­
tes. Isto é, o excesso atuarial derivado da n ão fruição por parte de alguns atende ao
excesso de gozo de outros.
Daí a necessidade de previsão das reservas de contingência, tão celebradas no
cálculo atu arial e m uitas vezes m al com preendidas pelo adm inistrador.
Nesse sentido, vale lem brar q u e um plano do tipo contribuição definida ou
benefícios com resgates rápidos e sim plificados, que transform am a técnica em
m era p o u p an ça ou aplicação financeira, d esn atu ram a ideia de previdência social.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1258 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
1795. Submissão ao direito privado — N ada obstante o leviatânico inter­
v encionism o estatal, a previdência co m p lem en tar é relação ju ríd ic a estabelecida
no âm bito do d ireito privado. A adesão ao seguro firm ado entre o p articipante e o
fundo de pensão, no caso da fechada, bem com o no da aberta, pertence à esfera do
D ireito Civil, e p o r ele é regulada.
A su p erv isão do E stado e su a en o rm e presença, b em com o a regulação da
m atéria (m aio r ou m enor, conform e a vo n tad e política do m o m en to ) e m esm o a
sem elh an ça de objetivos não chegam a su b m eter a relação às norm as de direito
público.
R egistre-se, a afirm ação não é ab so lu ta, pois a co n tig u id ad e do E stado re­
gu lad o r é in ten sa, ferindo a liberdade convencional e, em particu lar, às vezes, no
bojo da relação privada im põe-se o espírito da n o rm a p ú b lica (tal o seu alcance
p ro teto r). Ao in té rp re te cabe perceber as áreas p re d o m in a n te s de u m e de o u tro
sítio.
C om a LC n. 109/2001 e cerca de 60 m enções aos entes supervisores em seus
79 artigos, resu lto u ainda m aior a vizinhança dos m inistérios; os ju izes federais
n ão po d erão e stra n h ar ações p re te n d en d o que o Estado (U nião) seja solidário nas
obrigações, tal o seu p o d er de atuação n o s m ínim os p o rm enores das entidades.
1796. Observância do cálculo atuarial — D esde a instituição, an tes da ap ro ­
vação da en tidade, o em preendim ento deve ter a assistência técnica do atuário
(N ota Técnica). No curso da adm inistração, a presença do m atem ático é freqüente e
indispensável à segurança e equilíbrio do plano. O pen sam en to d o executante
co n cen tra-se nas n orm as contábeis, atu ariais e jurídicas.
Por d eterm in ação do art. 23 da LBPC, a cada balanço, os planos de benefícios
deverão ser apreciados p o r atu ário ou in stitu to habilitado. Igual se colhia no art.
43 da Lei n. 6.435/1977.
E ventual responsabilidade desse profissional será ap u rad a, em caráter ad m i­
n istrativo, pelo In stitu to Brasileiro de A tuaria — IBA.
A regra pressu põe o equilíbrio do sistem a, observados os p rin cíp io s m alem á-
tico-financeiros, em bora tal resultado não se deva apenas a esses aspectos.
1797. Regimes financeiros obrigatórios — Em delegação de discutível licei-
dade, au to rizad o pelo art. 44 da Lei n. 6 .4 3 5 /f9 7 7 , o art. 28 do R egulam ento da
referida n o rm a básica estabelecia os regim es financeiros a serem praticados:
I — repartição sim ples — para o auxílio-doença, auxílio-natalidade, salário-
-fam ília, salário -m aternidade, pecúlio e auxílio-funeral; II — repartição de capital
de co b ertu ra — para a pensão p o r m orte, auxílio-reclusão e pecúlio; e III — capi­
talização — para as ap osentadorias de q u alq u er natureza.
D ada a im p o rtância da m atéria, m elh o r teria sido o assu n to com parecer na lei
ordinária, p o n d o fim a eventuais discussões sobre sua legalidade. A aposentadoria
p o r invalidez, benefício não program ado, foi igualada aos previsíveis.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1259
Trata-se de su b p ro d u to específico da subm issão ao cálculo atuarial. O legis­
lado r busca frear as ações do adm inistrador, opondo-se ao sistem a oficial, onde
tecn icam en te prevalecente regim e de repartição sim ples, m as, na verdade, o rça­
m entário ou de caixa.
Com a LBPC, diz seu art. 7Q: “Os planos de benefícios atenderão a padrões
m ínim os fixados pelo órgão regulador fiscalizador, com o objetivo de assegurar
transparência, solvência, liquidez e equilíbrio econôm ico-financeiro e atuarial. Pa­
rágrafo único. O órgão regulador e fiscalizador n o rm alizará planos de benefícios
nas m odalidades de benefício definido, contribuição definida e contribuição va­
riável, bem com o o u tras form as de planos de benefícios que reflitam a evolução
técnica e possibilitem flexibilidade ao regim e de previdência co m p lem en tar”. Tudo
isso subm etido ao m an d am en to do art. 6g, que só autoriza a instituição de planos
de benefícios aprovados pelos entes supervisores.
Q uer dizer, ex atam ente q u an d o afirm ávam os que essa m atéria deveria ter sido
contem plada na lei, a LC n. 109/2001 com ete ao ad m in istrad o r m inisterial com ­
petência para estabelecê-la!
C onform e o art. 18, § l e, da LC n. 109/2001: “O regim e financeiro de capi­
talização é obrigatório para os benefícios de pagam ento em prestações que sejam
program ados e co n tin u ad o s.” No dizer do art. 31, § 2°, II, “o fertar exclusivam ente
plano de benefícios na m odalidade contribuição definida, na form a do parágrafo
ú n ico do art. 7° desta Lei C o m p lem en tar”.
1798. G estão colegiada tra n s p a re n te — As entidades de previdência fechada
são organizadas na form a de sociedades civis ou de fundações. De acordo com a
LBPC, ad m inistradas, acom panhadas e fiscalizadas p o r organism os representativos
internos, todos colegiados, sob a form a de conselhos.
Com exceção do M inistro de Estado, os dem ais órgãos envolvidos, superviso­
res, consultivos e ex ecutantes, devem ser coletivos, acessados dem ocraticam ente.
E ntes individuais, em face da excepcionaiidade da situação, apenas o fiscal, o a u ­
d ito r fiscal, o in terv en to r ou o liquidante.
D iante da natureza de ajuste negociai — é m ais nítida a ideia de propriedade
dos participantes tratar-se da condução de patrim ônio de terceiros, política m oder­
na de recursos h u m an o s (neste particular, inspirando a básica) — , a previdência
com plem entar, p o r tradição e necessidade de com unicação, carece de transparência.
N um regim e co n trib u tiv o e protetivo assinaladam ente de reservas vultosas,
garantidoras do futuro, a exem plo do FGTS e da p o u p an ça individual, é ab so lu ta­
m ente necessário o p articip an te ter conhecim ento, não só das provisões com o de
todo o sistem a, as contas do fundo de pensão, sua organização, com o é gerenciado
e p o r quem , além de tom ar ciência do destino e risco das aplicações.
Com a E m enda C onstitucional n. 20/1998 e o § l s que acresceu ao art. 202
da C arta M agna, a tran sp arência do sistem a to rn o u -se um princípio constitucional
(“P rincípios de D ireito P revidenciário”, p. 193), norm a legal e postulado cientílico
de en orm es conseqüências para o gestor e os interessados.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1799. Independência das pessoas jurídicas — As pessoas ju ríd ic a s envolvi­
das na relação são distintas, não se co n fu n d in d o a in stitu id o ra, patrocinadora ou
m an ten ed o ra com o órgão gestor dos recursos alocados. A en tid ad e criada não faz
p arte do g rupo econôm ico, não é holding n em /ra n c/ú sin g , p o u ca identidade tem
com a provedora, em bora esta últim a, de algum a form a, participe de sua adm inis­
tração. N ão vige so lidariedade de qu alq u er espécie, civil ou fiscal entre a m an ten e­
d o ra e a m antida. A penas a obrigação de supervisioná-la.
A in d iv id u alid ade das d u as pessoas ju ríd ic a s au to riza débitos e créditos de
am bas as partes e até a possibilidade d e cobrança executiva. E n q u an to m an tid o o
vínculo protetivo (ideia de a p atrocinadora fom entar a co b ertu ra das c o n tin g ên ­
cias), subsiste o elo obrigacional civil.
E conôm ica e in stitu cio n alm en te, en tre tan to , o destino da EFPC está ligado ao
da patro cin ad o ra. A supervisão e o aco m p an h am en to , pari passu, n ão afetam esta
característica, especialm ente q uando p atrocinadora da iniciativa privada (m enos
q u an d o estatal), são válidos e eficazes. A fusão, in corporação ou o desaparecim en­
to desta pode significar o m esm o para o fundo de pensão. M as, claro, exceções
existem , graças à boa adm inistração, caso do PARSE e do COM IND.
1800. Supervisão governamental — D esde o nascedouro até sua extinção, o
fu n d o de p ensão é aco m p an h ad o pelo G overno Federal. E m bora goze de iniciativa
in stitu cio n al, é controlado, fiscalizado e au d itad o , sofrendo interferência p o r parte
dos M inistérios.
A hom ologação de atos praticados, q u an d o a n o rm a im põe tal p ro ced im en ­
to, não significa per se regularidade ou legitim idade, pois a SPC ou a SUSEP não
são responsáveis pela gerência das entidades. Sua capacidade de interveniência
lim ita-se às form as legais, nào se ap resen tan d o o E stado com o avalista, sucessor
ou responsável. Os riscos são da in stitu id o ra ou patrocinadora, da patrocinada e do
p articipante. N ão condiz com a ideia de liberdade do sistem a p re te n d er a garantia
estatal.
Sua atuação é o fio da navalha de reconhecer a volição das entidades e seu
policiam ento. Interessa ao segm ento e a sua credibilidade certa supervisão unifi­
cadora de p ro ced im en to s, verificação periódica de balanços ou dem onstrações,
enfim , de m odo geral, a norm alidade contábil e o equilíbrio financeiro do sistem a.
Da m esm a form a, em particular, as entidades abertas estão sob a orientação
do M inistério da F azenda, m ais p articu larm en te da SUSEP.
Os dois segm entos, p o r sua vez, em m atéria de investim entos, em discutível
co n stitu cio n alid ad e, são aco m panhados pela CVM e, p rin cip alm en te, pelo CMN,
e a essas en tid ad es subm etidas.
A presença do E stado na previdência privada, m aior ou m en o r em algum as
circu n stân cias, é qu estão aberta à discussão. A p aren tem en te, entre os dois extre­
m os — estatização e privatização — , a verdade parece estar in medi o virtus es t.
H isto ricam en te, em 2002, o sistem a n ão apresentava am ad u recim en to suficiente
p ara d esenvolver livremenLe suas aptidões, ainda carecendo de tu tela governa­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o IV — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n t a r 1261
m ental. Problem a evidente consiste em definir os lim ites da atuação do G over­
no Federal. C ada ad m in istrad o r tem sua ótica a respeito. O correto parece ser a
acom odação natu ral ir in d ican d o , m o m en to a m om ento, a m elh o r solução, com
avanços e recuos.
A consciência previdenciária, o fortalecim ento das entidades, a capitalização
do p atrim ô n io e, sem dúvida, os riscos próprios do em preendim ento, ditarão, afi­
nal, o m elh o r cam inho.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1262 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CLXXX

N a t u r e z a J u r íd ic a

1801. Paralelismo da cobertura. 1802. Feição previdenciária. 1803.


S u m a r io :
Técnica protetiva. 1804. Principal instrumento. 1805. Objetivo constitucional.
1806. Direito subjetivo. 1807. Nuclearidade securitária. 1808. Motivação em­
presarial. 1809. Duplicidade de cobertura. 1810. importância do status jurídico.

H isto ricam en te, ausente a proteção do Estado, a hoje considerada supletiva


foi a ú n ica previdência ex istente, mas desde 1978 é acentu ad am en te ad u to ra ao
sistem a oficial. Por isso, alguns d o u trin ad o res equivocam -se ao ap resen tar insti­
tuições in cip ien tes, não necessariam ente acessórias, com o fazendo parte do seu
passado. A previdência com plem entar com eçou ao lado da básica, e não antes dela;
p reteritam en te, só havia m u tu alism o ou seguro privado e era substancial.
1801. P aralelism o da co b e rtu ra — Trata-se de técnica d e proteção social
particular, paralela, adicional, sup erv isio n ad a pela U nião, com a relação ju ríd ica
su b m etid a p rin cip alm en te às norm as de direito privado.
1802. F eição p re v id e n c iá ria — Em razão da in d ep en d ên cia das pessoas e n ­
volvidas e do celebrado, não se trata objetivam ente de salário indireto, m as de
in stitu ição p ró p ria, securitária, inconfundível com o elo laborai. Isto dito, não se
olv idando os casos particulares de custeio total p o r parte do em pregador, se ele
in stitu i pessoa ju ríd ic a p ró p ria para em p reen d er a cobertura.
1803. T écn ica p ro te tiv a — Para en fren tar as necessidades de m an u ten ção
cotidiana, co n to rn a r o advento de fatos sociologicam ente inibidores do esforço
laborai, o h o m em criou e, no curso da história, desenvolveu várias m odalidades de
proteção individual e social. Esta últim a, de m odo geral, é u m c o n ju n to de m edidas
sistem áticas objetivando o seu conforto d u ra n te a inatividade (aí, identificando-se
com o escopo do D ireito Social).
1804. P rin c ip a l in s tru m e n to — H o d ie rn a m e n te , seu p rin c ip a l in s tru m e n ­
to é a p re v id ê n cia social, p o r sua vez, técn ica de p ro te ç ã o social p ro p icia d o ra
d o s m eios in d isp en sáv eis ã su b sistê n c ia do ser h u m a n o — q u a n d o n ão p o d e
o b tê-lo s ou n ão é so cialm en te desejável au feri-lo s p elo esforço físico ou in te ­
lectu al, p o r m o tiv o d e gravidez, m a te rn id a d e , in cap a cid ad e para o trab alh o ,

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
invalid ez, d esem p reg o , p risão , idade avançada, tem p o de serviço ou m o rte —
m ed ian te c o n trib u iç ã o c o m p u lsó ria, p ro v e n ie n te da c o m u n id a d e e de cada um
dos d estin atário s.
1805. O bjetivo c o n stitu c io n a l — Expressão principal da seguridade social, é
objetivo da O rdem Social, contem plada na C onstituição Federal de 1988 (art. 193),
um cam inho para alcançar a ju stiç a e a paz social.
1806. D ireito su b jetiv o — O fertada consoante norm a insitam ente cogente,
subm etid a às regras do D ireito Público, a previdência básica co n stitu i direito su b ­
jetiv o co n stitucional de certo cidadão tutelado, em virtude de o Estado subtrair-lhe
o alvitre de gerir sua proteção e expropriar-lhe parte dos bens, com a im posição da
exação. Além de ou tras im p o rtan tes funções, é d istrib u id o ra de rendas.
1807. N u c le arid ad e se c u ritá ria — Básica ou com plem entar, é um em penho
coletivo e pessoal de ten tar cobrir os riscos, dim inuí-los, indicando m eios de m a­
nutenção às pessoas, q u ando presente o sinistro das contingências protegidas. Tais
circunstâncias são pessoais, inerentes à profissão, p ró p rias da econom ia e das re­
lações em sociedade.
Sistem aticam ente, a oficial autolim itou-se a certo patam ar, deixando a desco­
berto ingressos sup erio res a esse valor. C om isto, as ideias m utualistas do século
XIX, acopladas a p o stu lados securitários, renovaram o surgim ento de entidades
privadas b u scan d o co b rir tal espaço. Esse processo interessou às grandes em presas,
inicialm ente as postad as no serviço público (estatais).
1808. M otivação em presarial — Move-se a patrocinadora, ao se to rn ar prove­
dora (custeio total) ou m antenedora (divisão dos encargos), por razões econômicas,
laborais e sociais. Não forçada legalm ente, decide patrocinar por livre e espontânea
vontade jurídica (m as certam ente coagida pela com petitividade dos concorrentes e
pela disposição de congregar os m elhores em pregados). Daí poder arrepender-se, afas­
tar-se ou dim inuir a parceria, sujeitando-se, conform e cada caso, ao convencionado e,
m oralm ente, subm etida às sanções inerentes, pela quebra de expectativa psicológica.
1809. D u p licid ad e de co b e rtu ra — A duplicidade do segm ento fechado e a
sem elhança dos seus benefícios dão conta do seu am plo espectro. A p articu larid a­
de de p o d er e, ao m esm o tem po, m in istrar serviços assistenciários, entre os quais,
de grande relevância, o aten d im en to m édico, revela sua natureza securitária.
1810. Im p o rtân c ia do statu s ju ríd ic o — A im portância da definição da n a­
tureza ju ríd ica da in stituição não é apenas teórica. F requentem ente, os estudiosos
são convocados a d ar parecer, definindo-a com vista à legislação superveniente.
Disso se dá exem plo com a Lei n. 8.666/1993, aplicável exclusivam ente às e n tid a­
des m an tidas p o r estatais.
A nuclearidade da prestação propiciada aos particip an tes no curso da relação
ju ríd ica privada dá sinal do âm ago do m ecanism o protetivo co n tid o na previdência
fechada. Q uestões envolvem o âm ago da obrigação devida, às vezes, erroneam ente
cham ada, q u an d o benefício de pagam ento co n tin u ad o program ado, de aposenta­
doria. O u de haver dois benefícios; na verdade, u m só, pago p o r fontes distintas.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1264 W ía d ím ír N o v a e s M a r tin e z
0 titular, q u an d o aufere com plem entação ou su p lem en tação , só p o r isso não
se ap o sen ta n o fu n d o de pensão. U sualm ente, na m aioria dos casos, já é ju b ila d o
(do INSS). A ap o sen tação, isto é, o novo estado previdenciário (ju rid icam en te,
passa de ativo p ara in ativ o ), dá-se ju n to à au tarq u ia federal (o u tro polo) e, m uitas
vezes, m as não n ecessariam ente, im p lican d o afastam ento do trabalho. A rescisão
c o n tra tu al com a p atro cin ad o ra, se exigida, é im posição da política de recursos
h u m an o s da em presa e pouco tem a v er com a aposentação su b stan cialm en te
co nsiderada.
A co m plem entação da aposentadoria, não obstante o nível pecu n iário possa
ser su p erio r ao devido pelo INSS, é acessória e tem com o pressuposto o benefício
ju n to à au tarq u ia federal. O caráter co m p lem en tar do sistem a ap o n ta essa su b o rd i­
nação do acessório ao principal.
Assim, para efeitos ju ríd ico s, quem pede a com plem entação é u m aposentado
e a ap o sentação p ro p riam en te dita aconteceu na data do início do benefício da
básica e n ão n a data de sua concessão, m u ito m enos q u an d o d o ped id o ou deferi­
m en to da prestação com plem entar. N esse sentido, q u an d o o R egulam ento Básico
m en cio n a a data da aposentadoria, está alu d in d o à do INSS. Do po n to de vista
lógico, significa serem aferidos os d ireitos a p artir de então.
Dá-se exem plo p rático do alegado com a dúvida in stalada sobre o direito ao
pecúlio ou com plem entação, subjacente nos arts. 9, § 29, 15, § 29,1, e 19, da R egu­
lam entação Básica do BANESPREV II.
O b en efício do p ecúlio em tela é asseg u rad o n o referido art. 9 Q, § 2 e: “Caso
a co m p lem en tação for in ferio r a 5% d a ú ltim a rem u n eração , o p a rtic ip a n te fará
ju s a u m b en efício ú n ic o co rre sp o n d e n te a 3 vezes o seu ú ltim o salário de c o n ­
trib u ição ao BANESPREV, e serã pago de um a só vez, não p o d e n d o ser in ferio r
a 100% das co n trib u iç õ e s do p a rtic ip a n te v ertidas p ara o P lano, dev id am en te
c o rrig id a s”.
A com p lem en tação é fixada no art. 19: “O BANESPREV pagará ao parLici-
p an te, m en salm en te, a título de com plem entação de ap o sen tad o ria, im portância
equivalente à diferença en tre o valor pago pelo INSS e a rem u n eração percebida na
ativa (sic), de tal form a que a som a das parcelas pagas pelo INSS e pelo BANES­
PREV atinja 100% do equivalente salário do funcionário da ativa, obedecendo à
p ro p o rcionalidade do tem po de serviço prestado nas em presas do conglom erado
BANESPA e CABESP”.
P o r seu tu rn o , fixando o m om entum da definição d o d ireito , o art. 15, § 2Q,
I, estabelece o critério: “T itulares de categoria efetiva: a diferença en tre o valor
da ap o sentadoria paga pelo In stitu to N acional do Seguro Social e a rem uneração da
categoria a que pertencer, na data da ap o se n ta d o ria”.
Se o seg u rad o /p articipante exercitou o direito tem pos após a data do início do
benefício do INSS, q u an d o os n ú m ero s em questão forem outros, d eterm in an d o
im p o rtân cia inferior aos ditos 5%; m as se superior, feita a com paração q uando da
aposentação, ele faz ju s ao benefício co n tin u ad o , desprezando-se o pecúlio.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1265
Toda essa in terp retação nasceu em razão de texto precário em que se fala em:
1) diferença entre o nível m en o r e o m aior (síc), devendo ser entre patam ar m aior e
m enor; 2) f 00% das contribuições, em vez de apenas contribuições; 3) a obviedade
da afirm ação diferença entre o m aior e o m enor adicionada ao m enor resultar igual
ao m aior valor; 4) fu n cionário em atividade privada; 5) n ão estar claro o critério de
proporcionalidade e o u tros que tais; 6) em prego do verbo “for”, q u an d o o correto
era “seja” (su b ju n tiv o presente de ser).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1266 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CLXXXI

E n q u a d r a m e n t o C ie n t íf ic o

S u m á r i o : 1811. Similitude com a básica. 1812. Postulados inerentes. 1813. Função


das prestações. 1814. Presença da vontade. 1815. Legalidade da complementari­
dade. 1816. Acessoriedade das normas. 1817. Semelhança de propósitos. 1818.
Afetação da norma pública. 1819. Cuidado do estudioso. 1820. Classificação
derradeira.

É com um classificar a legislação privada e as praxes do segm ento supletivo


no cam po do direito privado. Isso sucede em razão da relativa liberdade de ação
atrib u íd a ao indivíduo, possibilidade de ingresso no sistem a ou de m anifestação da
vontade. Se assim for, valem as disposições civilistas com patíveis, em especial, as
pertin en tes ao contrato.
A p aren tem en te, opor-se-ia ao posicionam ento no direito público, onde v igen­
tes n o rm as cogentes e não a volição do indivíduo, ou esta ú ltim a seria insignifi­
cante, restan d o , p o r confronto de ideias, não prevalecentes àquelas na previdência
com plem entar.
1811. S im ilitu d e com a b ásica — Na análise, não se pode ig n o rar aspecto
fu ndam ental da previdência fechada: sua sim ilitude com a básica e su a com ple­
m en tarid ad e. Supre-a in stitu cio n alm en te e subsidia-a pelas suas prestações.
1812. Postulados inerentes — Em razão do sistem a, a p a rtir de 1978, três
co nclusões significativas podem ser colhidas em relação à coexistência desses re­
gim es: a) os in stitu to s ju ríd ic o s são assem elhados e, em diferentes espectros, c u m ­
prem o m esm o papel; b) o co m p lem en tar é acessório do principal; e c) o privado
é im p lem en tar do público.
1813. Função das prestações — O bviam ente, isto é asseverado cogitando-se
de prestações de pagam ento co n tin u ad o (não de todas); algum as delas são im ple-
m entares ou su p lem en tares, não se v in cu lan d o estritam en te às básicas.
1814. Presença da vontade — Vale, repete-se, consignar particularidades des­
ses sem icírculos: n o sistem a estatal, vigem norm as de caráter público (vontade do
legislador); n o sistem a particular, as de cu n h o contratual (volição da pessoa). Como

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o / V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1267
antecipado, afirmações, por sinal, não absolutas, pois o contexto com porta, igual­
m ente, conform e o po n to enfocado, disciplina com um deles ou am bos esses vieses.
1815. Legalidade da complementaridade — Além de derivar da essência da
instituição, a co m p lem entaridade (provindo diretam ente do conceito legal de ór­
gão gestor), deflui do art. 1- da LC n. 109/2001: “O regim e de previdência privada,
de caráter co m p lem en tar e organizado de form a au tô n o m a em relação ao regim e
geral de previdência social, é facultativo, baseado na constituição de reservas que
garantem o benefício, nos term os do caput do art. 202 da C onstituição Federal,
observado o d isposto nesta Lei C o m p lem en tar”.
Mais claram ente, rezava o art. 34 da Lei n. 6.435/1977: “As en ú d ad es fecha­
das consideram -se co m plem entares do sistem a oficial de previdência e assistência
social, enq u ad ran d o -se suas atividades na área de com petência do M inistério da
Previdência e A ssistência Social”.
Em sum a, não só as organizações com o os benefícios concedíveis (alividade-
-fim) são sem elhantes e com plem entares.
1816. Acessoriedade das normas — N estas condições, a acessoriedade das
instituições de previdência com plem entar aproxim a-as das norm as públicas e su b ­
trai parte da p reten d id a liberdade do direito privado.
1817. Semelhança de propósitos — Os propósitos são nitidam ente similares.
Dá-se exem plo singelo com a redação do art. 9- do Decreto n. 81.240/1978: “Os bene­
fícios instituídos pelos planos das entidades ficam sujeitos aos períodos de carência dos
benefícios de que são com plem entares na previdência social, sem prejuízo dos perío­
dos que forem estipulados pelos próprios planos, desde que não inferiores àqueles”.
1818. Afetação da norma pública — P or conseguinte, não obstante a p ro p rie­
dade do en q u ad ram en to , é perigoso ten tar su b m eter q u alq u er m atéria p ertin en te a
in stitu to s ju ríd ic o s de direito privado. Só podem ser invocados os procedim entos
pró p rio s, gestando dificuldades qu an to aos universais, isto é, com uns aos dois d o ­
m ínios. Caso co n trário , a legitim idade do ato estará irrem ediavelm ente am eaçada.
1819. Cuidado do estudioso — Resta ao aplicador e ao intérprete desafio per-
cuciente e tarefa espinhosa: em cada caso, n o seu bojo, conform e a particularidade,
saber p in çar o fato apreciável sob a ótica privada e à luz pública.
Sem em bargo de perten cer ao direito privado subsiste afetação da norm a p ú ­
blica, direta ou in d iretam ente. M udanças no sistem a oficial autom aticam ente alte­
ram o m odelo particular, mas as diferentes circunstâncias têm de ser exam inadas
conform e o co n v encionado entre as partes. Em razão da identidade de objetivos,
em m uitas p articularidades, aproveitam -se os princípios de D ireito Previdenciário.
1820. Classificação derradeira — P artin d o dessa conclusão — subm issão
ao direito p rivado, cabe verificar a natureza das questões e acostá-las ou não ao
D ireito Público, conform e as suas particularidades. Só prevalece a vontade do
legislador q u an d o a do particu lar conflitar com o objetivo do sistem a: propiciar
benefícios com plem entares ao básico. Se para o p rim eiro nível valem o p rin cíp io e
a regra da irredutibilidade do valor, não im pera para o segundo, se convencionada
m odalidade d istin ta de preservação desse valor.

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1268 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CLXXXII

O b je t iv o e P a p el d o s F u n d o s d e P e n s ã o

1821. Complementador do Estado. 1822. Indutor acessório da assis­


S u m á r io ;
tência social. 1823. Preparador da aposentação. 1824. Assunção de responsa­
bilidades. 1825. Política de recursos humanos. 1826. Renovador do quadro de
empregados. 1827. Financiador de projetos nacionais. 1828. Popularizador de
capitais. 1829. Poupança individual e coletiva. 1830. Investidor institucional.

O objetivo da previdência co m p lem en tar deve ser sopesado consoante o an g u ­


lo co n siderado. Pode ser lucro objetivado pela co m panhia seguradora autorizada,
m elh o rar as relações laborais segundo a ótica da p atrocinadora, e, para a econom ia
do país, estim u lar a p o u p an ça individual e aplicar os capitais em investim entos.
S ubjetivam ente, no que diz respeito ao segurado, garantir-lhe renda adicional ã
oficial, fazendo o resultado aproxim ar-se o m ais possível da ú ltim a retribuição e,
especialm ente, g arantir-lhe a subsistência no caso de acidente do trabalho ou aco-
m etim en to de in capacidade o u invalidez, tem po de serviço/contribuição ou idade,
o m esm o valendo para os seus fam iliares, q u an d o de sua m orte.
Variam as m etas nos dois segm entos. M inim izados form alm ente no aberto
— am p liar os ingressos das pessoas em d eterm inadas condições e certa co bertura
diante de co n tin g ên cias preestabelecidas — e com plexos, q uando dizem respeito
à adesão do p articip an te no dom ín io fechado, sob a concepção do em pregador, e
com vistas às p róprias prestações postas à sua disposição, coincidindo, então, com
o m esm o d irecio n am en to do aberto.
Q u a n d o da in stitu içã o da en tid ad e, a em presa colim a vários pontos: a) o ti­
m izar as relações laborais e criar co n d içõ es ideais de trab alh o ; b) selecio n ar a
m elh o r m ão de obra; c) co m p letar e su b stitu ir o Estado, m in istra n d o ela p ró p ria
a aten ção e o aten d im e n to pro tetiv o ; d) a tra ir trab a lh ad o res de em presas sem
igual vantagem ; e) p reserv ar os b ons profissionais; f) m elhorar, de m odo geral,
a co n d ição so cio eco n ô m ica do obreiro; g) d esp e rtar o sen tid o da solidariedade,
p o u p an ç a e seg u ran ça futura; h) ap ro x im a r as pessoas da técnica; i) re sp o n sa b i­
lizar os in teressad o s n a gestão; j) au m en tar, em ú ltim a análise, a consciência da
prevenção.

C urso pr D irf jto P re v id e n c iá rio


T o m o ÍV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1269
À evidência — dado não ausenle na básica — , não ignora o fenôm eno econô­
mico: com o passar do tem po as despesas operacionais são assim iladas pelo custo
dos bens e serviços p roduzidos e, afinal, repassados ao co n su m id o r (sociedade).
N os term o s do art. 1- da Lei n. 6.435/1977, as entidades “têm p o r objeto in s­
titu ir planos privados de concessão de pecúlios ou de rendas, de benefícios com ­
plem entares ou assem elhados aos da previdência social, m ediante contribuição de
seus participantes, dos respectivos em pregadores ou de am bos”.
Para o art. 1° da LPBC: “O regim e de previdência com plem entar é operado
p o r entidades de previdência com plem entar que têm p o r objetivo principal insti­
tu ir e executar p lano de benefícios de caráter previdenciário, na form a desta Lei
C o m p lem en tar”.
O interesse maior, q uando su plem enta ou com plem enta, tanto qu an to o ofi­
cial, é oferecer renda p erm a n en te de subsistência ao trabalhador. Esse conceito
(em rem issão autorizada pelo art. 36 da Lei n. 6.435/1977), podia ser vislum brado
no art. I a da CLPS: “tem por fim assegurar aos seus beneficiários os m eios in d is­
pensáveis de m an u ten ção , p o r m otivo de incapacidade, idade avançada, tem po de
serviço, encargos fam iliares e prisão ou m orte daqueles de quem d ependiam eco­
nom icam ente, bem com o serviços que visam à proteção da sua saúde e concorrem
para o seu b em -estar”.
Se a en tidade su p rim e esses benefícios o fato resulta na perda do objeto e
m esm o a m an u ten ção de direitos de pequena m onta ou expressão não configura
a instituição.
M atéria in tim am ente ligada aos objetivos diz respeito ao seu alcance, par­
ticu larm en te no segm ento fechado. Até 29.5.2001, antes da LBPC, prom ovido o
necessário registro na SUSEP, nada im pedia o fundo de pensão de servir com o cor­
retora de seguros, recebendo a com issão, em relação ao seguro de vida em grupo
dos seus participantes. A PSS — Associação P hilips de Seguridade Social, firm ou
convênio dessa n atureza cobrindo 18.000 vidas ( “V antagens de ad m in istrar o se­
gu ro ”, p. 30).
Por isso, boa parte dos especialistas concorda com certas recom endações: l
— gestão profissional da entidade, d iretam en te aco m panhada pelos interessados;
II — eleger investim entos em bens de raiz, d e liquidez rápida e aplicações a longo
prazo; 111 — sistem a, ju ríd ic a e adm inistrativam ente flexibilizado, reduzindo-se
a participação norm ativa do Estado e au m en tan d o -se a supervisão, em geral, e a
fiscalização, em particular, sobre o equilíbrio atuarial e financeiro; IV — benefícios
adequados às fontes de custeio m ediatas e im ediatas; V — relatórios freqüentes aos
participantes, com a exposição dos n úm eros da entidade; VI — seguro coletivo
obrigatório co b rin d o a insolvência, déficit real, retirada de p atrocinadora e outros
incidentes de percurso; VII — am pliação da técnica, estim ulando-se os grêm ios,
associações, sindicatos, entidades representativas ou de controle do exercício pro­
fissional à instalação de fundos de pensão; VIII — regulam entos básicos evitando
d ep endência dos critérios co n stan tes da legislação básica; IX — am pla discussão

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1270 W l a d i m i r N o v a e s M a rtin e z
prévia do tipo de p lano e regim e financeiro; X — gestão dem ocrática e am plam ente
tran sp aren te; e XI — d etido estudo do D ireito P revidenciário, atualidade e te n d ê n ­
cias n acio n ais e estrangeiras.
A im p o rtân cia atual dos fundos de pensão e o fato de, no ano de 2008, terem
am ealhado p a trim ô n io de cerca de 430 bilhões de reais, estendendo-se a aproxi­
m ad am en te 2.036.020 de particip an tes ativos e 4.229.237 d e d ep en d en tes, refle­
te o significado real desse in stru m en to de proteção social, gerido pela iniciativa
privada. D esde sua concepção original, co m p lem en tar os benefícios oficiais, para
em pregados de em presas estatais, até o cenário atual, com 378 entidades, cham a a
atenção para o seu papel em transform ação (am pliação de objetivos).
A qu estão p reo cu p a alguns. Luiz Carlos C. Campos e Romeu Carlos Lopes de
Abreu avaliaram as ten dências e perspectivas, onde destacaram diferentes signifi­
cados do segm ento fechado ( “Integração entre as políticas de R ecursos H um anos
e os F u n d o s de P en são ”, p. 45/57).
M as alguns, com o Luís Paulo Rosemberg, são excessivam ente otim istas: “Vale
dizer, p o r m eio da ação co n ju n ta dos fundos de pensão, os trabalhadores co n ­
vertem -se em p atrõ es de seus patrões, participando dos conselhos de ad m in istra­
ção e d em itin d o in co m p eten tes” (“M orrendo na p raia”, in Folha de S. Paulo, de
30 .1 .1996, p. 2-2).
Luciano Coutinho ap o n ta com o papéis: “a) financiam ento dos investim entos
privados e p ú b licos, co n trib u in d o para elevar a taxa agregada de form ação de ca­
pital fixo; b ) m o d ernização da e stru tu ra em presarial do país, com avanço da p ro ­
fissionalização da gestão e criação de em presas de porte global; c) am pliação do
m ercado de capitais, viabilizando a liquidez dos títulos e o desenvolvim ento de
form as secu ritizad as de capitalização”.
Im põe com o condição profissionalizar a gestão, a portabilidade dos recursos
e a p lu ra lid a d e d as in s titu iç õ e s ( “O p ap el d o s fu n d o s de p e n s ã o ” , in Folha de
S. Paulo, de 24.12.1995, p. 2-4).
Os conceitos envolvidos com as finalidades da instituição po d em ser dividi­
dos em três g ru p o s principais, a seguir encam inhados: a) q u an to aos trabalhadores;
b) referentes à em presa; e c) p ertin e n te s ao sistem a p ro p riam en te dito.
1821. Complementador do Estado — A responsabilidade de im plem entar,
su p lem en tar ou co m p lem en tar o benefício básico foi a causa d eterm in a n te do re­
nascim en to d o s fu n d o s de pensão (e das seguradoras). Esse n o rte histórico ainda
é bastante significativo e fixa sua razão de ser principal. Em bora prevalecente, não é
exclusivo, pois os diferentes serviços p o sto s à disposição d o em pregado e da cole­
tividade são ig u alm ente relevantes.
Na hip ó tese de dim inuição do alcance vertical da previdência básica, este
aspecto co n tin u ará d itan d o procedim entos, a serem sem pre considerados pelo es­
tudioso. Igual co n clusão deflui, em razão de a característica da subsidiaridade,
p erd er expressão.

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T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
Pode acontecer, no fuluro, enq u an to co n tin u arem soprando os ventos do neo-
liberalism o e da social-dem ocracia, de vir a ser in stru m en to de definição do escopo
da previdência oficial, deixando a acessoriedade e adquirindo principalidade.
f 822. Indutor acessório da assistência social — À com plem entação do b e­
nefício básico n atu ra lm e n te se agregou a realidade de aduzir os serviços assistenci-
ãrios p ropiciados pelos entes políticos. As m esm as causas históricas, estru tu ra is e
co n ju n tu rais d eterm in an tes da im prescindibilidade se agigantaram no tocante aos
aten d im en to s à saúde.
A proxim idade do trabalhador em relação ao em pregador, a possibilidade de
am bos poderem fiscalizar, em m elhores condições, as atenções p o r parte dos h o s­
pitais, clínicas, laboratórios e profissionais da M edicina, e a divisão dos encargos,
to rn aram viáveis e m ais eficientes os diferentes convênios.
C onform e as carências de cada segm ento, grupos de trabalhadores, locais de
trabalho e circunstâncias p ró p rias, são criados program as assistenciais, incluindo
bolsas de estudo, cooperativas, clubes e outras form as indiretas de salário (v. g.,
cesta básica, vale-alim entação, vale-transporte etc.).
É natu ral o desejo do assistido nesse sentido e óbvio o crescim ento do leque de
serviços postos à disposição do participante, prom ovendo efetiva e prom issora in­
tegração com a em presa e, destarte, m elhores resultados econôm icos e financeiros.
M as n en h u m a política em presarial sadia p o d e ignorar a liquidez do salário e
p reten d er su b stitu í-lo p o r serviços. A quele tem de ser concebido individualm ente,
sem prejuízo destes.
Humberto Torloni Filho, em palestra realizada no dia 2 8 .f f . 1995, para a Foster
& Higgins, evidenciou n ú m ero s dos planos de saúde supletivos para aposentados.
S egundo ele, 98% das em presas concedem a assistência m édica para os ativos e
respectivos d ep en d en tes, d en tro de um universo de 53% de patrocinadores, m as
apenas 15% delas incluem assistência à saúde para os aposentados. G arante ser
o referido plano de saúde m otivo para o em pregado c o n tin u ar na em presa, sem
prejuízo do p lano de benefícios já existente.
1823. Preparador da aposentação — Fm sua versão prim eira, a previdência
social não se p reo cu p o u com o afastam ento do trabalho. Julgou ser suficiente p ro ­
piciar os (m ínim os) m eios de subsistência, m as cedo deu-se conta dos percalços
com a transição entre a atividade e a inatividade. Daí foi um passo, e surgiram os
prim eiros program as ocupacionais em relação ã terceira idade.
As m edidas de preparação para a aposentação nasceram na iniciativa priva­
da, incluídas n o s projetos em presariais de renovação da m ão de obra. Falvez sua
origem traia objetivos pragm áticos, m as, h odiernam ente, são program áticos, a ten ­
den d o às necessidades do indivíduo de adaptação à nova vida.
O desenvolvim ento operado p o r entidades com o a F undação CESP precisa ser
estudado e desenvolvido, por sua experiência e validade. O MPS deveria encam par
iniciativas nesse sen tid o, sim plesm ente p o r m eio de program as institucionais.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1272 W la d ir ti i r N o v a e s M a r ti n e z
O direito ao lazer, ainda não sistem atizado form alm ente, en con trou nessas
idealizações o im p u lso estim ulador para vir a se tornar tem a de im portância cres­
cente em futuro próxim o.
1824. Assunção de responsabilidades — O ingresso com (certa) facultativi-
dade, o despreen d im en to do em pregador a seu favor, a circunvizinhança da entida­
de por interm édio de representantes e gestores, o contato perm anente m ediante pe­
riódicos e even to s cien tíficos e o acom panham ento da adm inistração, até m esm o a
assunção coleLiva dos riscos com o s in vestim en tos, enfim , a parceria do trabalhador
com a entidade, d esen volve-lh e o interesse pelo em preendim ento com o um todo.
O segu rad o tem o p o rtu n id ad e de analisar as dificuldades do G overno Fe­
deral na área e confrontá-las com as do fundo de pensão. C ria-se n o participante
a consciência previdenciária e a responsabilidade, dim in u in d o -se procedim entos
deco rrentes da falta de confiança no Estado.
Faz bem ser ele o p ro p rietário e responsável pela m assa de recu rso s e a im pe-
riosidade de bem em pregá-los ao longo do tem po, fiscalizar sua gestão, aperfeiçoar
os pro ced im en to s burocráticos, estu d ar os m eios instrum entalizadores e ap rim o rá­
-los para m elh o r atendê-lo.
Por isso, Antonio Salazar P. Brandão reclam a “inform ações objetivas e sim ples
que auxiliem n a ad m inistração e na divulgação dos riscos das carteiras” (“Para
confiar na P revidência P rivada”, p. 29/30).
1825. Política de recu rso s humanos — A criação e o d esen v o lv im en to de um
fundo de p ensão, esp ecialm en te com a sem pre recom endada divisão de encargos,
co n d izem com m oderna política de recursos hu m an os e visam m elhorar as rela­
çõ es laborais.
O em p reg ad o r consegue despertar o interesse do trab alh ad o r pela em presa,
seu sucesso com ercial, e este dela acaba sendo parte integrante. Q uando adm itido
aplicar em ações da p ró p ria p atrocinadora, esse envolvim ento será m aior e os re ­
su ltados m ais auspiciosos.
Não funciona a política sem aproxim ação da EFPC em relação aos setores de
R ecursos H um anos; am bas fusionam -se e, às vezes, até co n fu n d em o seu ideário.
U m a é in stru m en to da outra, e, nesse sentido, os ô n u s fiscais para a em presa são
m enores e, com a otim ização da situação propiciada pela entidade, am pliam -se os
ho rizo n tes p atro n ais e profissionais.
1826. R en o v ad o r d o q u a d ro de em p re g ad o s — Com o leque de m elhores
condições de trabalho, o em pregador pode reter o profissional satisfatório e arredar
a m ão de obra in co n veniente. A existência da co m p lem entaridade assegura tra n ­
qüilidade ao trab alh ad o r e ele se em p en h a em p erm an ecer e p ro g red ir na em presa.
O sucesso desta pode ser o responsável pela segurança da sua velhice.
P or o u tro lado, desenvolve no obreiro a necessidade de aperfeiçoam ento p ro ­
fissional, ex atam ente para d im in u ir o nível de rejeição.
Tam bém significa atrair quem não tem essas vantagens.

C urso nr D ireito P re v id e n c iá rio


T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1273
1827. Financiador de projetos nacionais — Os vultosos recursos am ealha­
dos em dinheiro (reservas técnicas), canalizados para os investim entos, além de
m ovim entar a econom ia de m odo geral, podem ser direcionados para em p reen d i­
m entos nacionais de grande interesse coletivo.
Espera-se, brevem ente, parceria en tre o Estado e o particular, n a gestão de
in d ú strias de base, pesquisas, estradas, hidrelétricas, silos, enfim , atividades onde
o G overno atuava isoladam ente.
1828. Popularizador de capitais — C om a contribuição pessoal e a da patro­
cinadora, q u an d o da aquisição de títulos, ações e debêntures, o fundo de pensão
e, co n seq u en tem en te, os seus prop rietário s — os participantes — adquirem , da
m esm a form a, esses capitais.
No dizer de Arnold Wald: “N um a obra pioneira, o grande p ensador e econo­
m ista am ericano Peter D rucker considerou que a previdência privada estava reali­
zando um a revolução invisível, ao p erm itir que a propriedade de grande nú m ero
de ações passasse a p erten cer aos em pregados das em presas” ( “A im unidade dos
F u n d o s de Pensão e o M ercado de C apitais”, p. 43/48).
1829. Poupança individual e coletiva — O regim e financeiro de capitalização
e, até m esm o o de repartição sim ples, no segm ento fechado de previdência privada,
transform a o b rigatoriam ente o trab alh ad o r em poupador.
Se os in v estim en tos têm os resultados desejados, o valor é significativo e se
co n substancia em p o u p an ça dos indivíduos.
A coletividade, p or in term éd io das entidades, tam bém am ealha recursos para
o porvir.
1830. In v e stid o r in stitu c io n a l — Nos últim os anos, os fundos de pensão
tornaram -se, sob o aspecto form al e prático, investidores de peso, graças ao m o n ­
tante dos recursos e à necessidade das inversões.
F êm de ser en ten d id o s com o tal e, por isso, predestinados a ocu p ar função
im p o rtan te na organização da econom ia do País, com a vantagem de serem p erm a­
nen tem en te fiscalizados p o r um a constelação de interessados.

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1274 W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
Capítulo CLXXXIII

P r in c íp io s A p lic á v e is

Su má r i o : 1831. Autonomia da vontade. 1832. Imprescritibilidade das presta­

ções. 1833. Conhecimento das normas pactuadas. 1834. Remissão à legislação.


1835. Acessoriedade da inslituição. 1836. Complementaridade do benefício.
1837. Direito adquirido. 1838. Reserva legal. 1839. Ato jurídico perfeito. 1840.
Solidariedade do sistema.

Os p rin cíp io s têm origem sem elhante à dos costum es. Práticas sedim entadas
no cu rso do tem po revestem -se de qualidade ú til à solução de dúvidas. Q uando
cabíveis, devem ser preservados, en riq u ecid o s e utilizados.
C onfirm ados pelo uso, colhidos pelos cientistas sociais, estes os p erscru tam
em su a form a em b rio n ária e testam os seus fun d am en to s, e sua validade. Sua ad e­
quação ao o rd e n am en to ju ríd ic o é trabalho de longa reflexão, desde a sim ples
den o m in ação até sua delim itação, repassando p o r seu dealbar, aplicações e desapa­
recim ento. In sin u ad o s na legislação, corporificados pela d o u trin a ou acatados pela
ju risp ru d ên c ia, fu n cio nam com o fontes in sp irad o ras do Direito.
F erram en tas de pesquisa da técnica protetiva, os princípios de D ireito Previ­
denciário têm sido de valia na disciplina da m atéria, q uando genéricos e pró p rio s
desse ram o ju ríd ico .
Q u an d o a qu estão enfocada envolve as relações da previdência supletiva, in i­
cialm ente, devem ser p erq u irid o s os po stu lad o s gerais de D ireito Civil. Incapazes
de solucionar, é im perioso buscar os prin cíp io s técnicos do D ireito P revidenciário,
en tre os qu ais os da: a) au to n o m ia da vontade; b) im prescritibilidade das p resta­
ções; c) co n h ecim en to das norm as pactuadas; d) rem issão à legislação; e) ainda
certa sub sid iarid ad e d a instituição; D com plem entaridade dos benefícios; g) direito
ad q uirido; h ) legalidade; i) ato ju ríd ico perfeito; e j ) solidariedade.
A ch am ada Reform a da P revidência Social, iniciada com a EC n. 20/1998
in tro d u ziu u m significativo princípio de D ireito P revidenciário: o do equilíbrio
atu arial e financeiro. N ão fez p o r m enos, en q u isto u -o em u m nível constitucional.
Assim, n e n h u m p lan o de benefícios de EFPC pode ser estru tu ra d o sem observân­
cia das regras atuariais.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o ÍV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
1831. Autonomia da vontade — Na análise das diferentes situações, o apli-
cador ou intérp rete deve p a rtir da liberdade de assunção da proteção supletiva,
facultatividade de ingresso, perm anência e co n tín u a m anifestação do desejo de
agregar-se. A convenção encontra lim ite na lei e na volição das pessoas.
Nessas condições, exem plificativam ente, p reen ch id o s os requisitos co n tra­
tuais, se o p articip an te não pretende, estã desobrigado de requerer o benefício.
O bservados a lei e o R egulam ento Básico, o desejo do particip an te é soberano;
salvo q u an d o afetado pela norm a publica ele é pleno e deve ser respeitado.
1832. lmprescritibilidade das prestações — A exem plo da básica, a presta­
ção supletiva é im prescritível, excetuando-se apenas certas m ensalidades conven­
cionadas. A q u alq u er m om ento, p reen ch id o s os requisitos legais, o participante
pode solicitar o benefício. No silêncio do R egulam ento Básico, vale o com ando da
legislação estatal. C onclusão prática, não prevalece a cláusula expulsória.
C on trato d ispondo diferente, im pondo regra contrária ao direito adquirido,
não tem validade. O direito ao benefício em hipótese algum a desaparece. Dife­
ren tem en te da básica, onde d istinta a lunçào da prestação, em bora de pagam ento
único, não pode perecer o direito ao pecúlio não levantado o p o rtu n am en te.
1833. Conhecimento das normas pactuadas — P rincípio e, ao m esm o tem ­
po, p resunção, o p articip an te deve tom ar conhecim ento do contratado. Não pode
alegar desco n h ecim en to do avençado, em bora de fato seja natural ignorar p artic u ­
laridades do cálculo atuarial.
Tratando-se de adesão à instituição, em q u e im p o rtan tes a leitura e anuência
às condições estatuídas, pressupõe-se ciência do estipulado, principalm ente quando
o interessado dá recibo da posse do R egulam ento Básico.
A presunção do conhecim ento da lei é p rincípio, tal a sua im portância para a
organização do Direito. O princípio da transparência im põe o conhecim ento, por
parte do participante ou contratante, das regras ajustadas com as EPC. O R egula­
m ento Básico deve ser escrito e entregue aos interessados, de preferência sob recibo.
O titu lar não pode alegar ignorância do contido nas cláusulas convencio­
nadas. Julga-se estar inteirado das exigências da inscrição, participação de m odo
geral, co n trib u ição e gozo dos benefícios nas condições estipuladas.
Q uestão in trin cada é a com preensão dos seus term os, se vertidos em lin g u a­
gem herm ética. O segurado está desobrigado de co n h ecer fórm ulas m atem áticas
elaboradas, acessíveis apenas aos iniciados.
1834. Remissão à legislação — Na previdência supletiva, em particular no
segm ento fechado, em razão da sem elhança dos planos de custeio e benefícios com
o RGPS e a com plexidade de am bos, frequentem ente as norm as pactuadas não
conseguem aten d er a todas as situações fáticas.
Por falta de codificação no D ireito P revidenciário, é com um a rem issão à le­
gislação de m o d o geral.
Na aplicação e na integração, é sustentável o transporte da lei estatal para dentro
da previdência privada, quando não conflitante com a subm issão ao direito privado.

C u rso dh D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1276 W f a íJ im ir N o v a e s M t ir í ín e s
Tarefa árd u a p ara o aplicador e in térp rete é saber q u an d o po d e utilizar-se da
rem issão. N esse sen tido, os tem as dividem -se em rem issíveis e não rem issíveis. Se
nào há regra essencial no R egulam ento Básico, o interessado não pode buscá-la
n o u tro lugar.
1835. A c esso ried ad e d a in stitu iç ã o — A previdência supletiva é acessória em
relação à básica, em bora devesse adotar com o objetivo a busca de m aior in d ep en ­
dência. A concessão de o benefício co m p lem en tar condicionar-se ao deferim ento
d a p arte prin cip al foi superada com a LC n. 109/2001. M esm o elegível o benefício,
q u an d o d ep en d en te do oficial, não concedido este últim o, não está aten d id a a
condição, e o direito, im anente, não pode ser exercitado.
A su b sid iarid ad e era m era convenção institucional e, p o rtan to , nessa linha,
algum as prestações (caso do auxílio-nupcialidade) nada têm a ver com a estatal.
São principais, au tô n o m as e independentes.
1836. C o m p le m e n ta rid a d e do benefício — Q uando assim aju stad o , o nível
da prestação acessória é adicional da básica, ficando o cálculo da renda m ensal na
d ep endência da co rresp o n d en te aferição oficial.
Trata-se de dado de grande alcance prático e jurídico, a ser com preendido e
observado pelas duas partes da relação jurídica: solicitante e concessor do benefício.
C o m p lem en tarid ade n ão se confunde com subsidiaridade. A prestação pode
ser co m p lem en tar e in d ep en d e n te, d ep e n d en te e não com plem entar.
1837. D ireito ad q u irid o — Sem em bargo da subm issão ao direito privado e
da larga m argem de negociação n a elaboração das cláusulas co n tratu ais, o direito
ad q u irid o é p rin cíp io in cru stad o n o ápice do ord en am en to ju ríd ico . Tem de ser
observado, q u an d o alinhavado e aperfeiçoado, para preservação da ordem e tra n ­
qüilidade ju ríd ica.
Seu alcance abrange não só o benefício em tese, com o seu valor. Assim sendo,
ab strain d o o acordado, n en h u m a razão pode atingir o seu exercício, su b m eten d o ­
-se so m en te aos ditam es constitucionais.
1838. R eserva legal — As relações privadas contidas no bojo das relações
com p lem en tares su b m etem -se ao p rin cíp io da legalidade, p articu larm en te às re­
gras de d ireito in tertem p o ral (v. g., vigência, vacatio legis, eficácia, retroeficácia,
su b stitu ição , revogação, derrogação, in ocorrência do efeito rep ristin a tó rio etc.).
1839. Ato ju ríd ic o p erfeito — T anto q u an to a coisa ju lg ad a e o direito ad q u i­
rido, o ato ju ríd ic o perfeito é observado no D ireito P revidenciário C om plem entar.
Legitim am ente p raticado o p rocedim ento adm inistrativo, não pode ser refeito por
no rm a superv en ien te. Seu lim ite é apenas a vontade do interessado, respeitada
com o m anifestação do direito privado.
1840. S o lid a ried ad e d o siste m a — N ada obstante seu caráter afeiçoadam ente
de p o u p an ça e capitalização, o segm ento fechado não seria previdência se ignoras­
se o p rin cíp io científico fundam ental, a solidariedade. Em prim eiro lugar, inform a
o elab orador da n o rm a e, p osteriorm ente, o aplicador. Perm eia toda a estru tu ra
protetiva e sem ele esta não se realiza.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o / V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
Capítulo CLXXXIV

A p l ic a ç ã o e I n t e r p r e t a ç ã o

1841. In dubio pro mísero. 1842. Norma mais favorável. 1843. Ótica
S u m a r io :

extensiva. 1844. Visão restritiva. 1845. Retroeficácia benéfica. 1846. Uso da


analogia. 1847. Respeito à vontade. 1848. Possibilidade de remissão. 1849. Nor­
ma do tempo do fato. 1850. Recomendações finais.

D iferentem ente da básica (onde o estudioso tem à sua disposição as fontes


tradicionais do D ireito), na supletiva, além dos postulados legais contidos nas n o r­
m as securitárias e, em especial, no D ecreto-lei n. 73/1966 e na Lei n. 6.435/1977,
bem com o n a LBPC, no respeitante ao segm ento fechado, p o r sua com plexidade e
am plitude, q u an d o da aplicação ou da interpretação, é preciso sopesar o estip u la­
do na convenção in stitucionalizada (E dital de Privatização, C onvênio de Adesão,
E statuto Social e R egulam ento Básico etc.).
O D ireito P revidenciário, então, aprecia as regras gerais positivadas e as espe­
cificadas nas estipulações.
U m aplicador observa a rotina adm inistrativa, p rocedendo em conform idade
com instruções, atos norm ativos in tern o s e m anuais. Se com pletos e sistem áticos
estes, trarão orientação segura sobre a m aior parte das situações. C onsentâneo com
a C arta M agna, as leis básicas e os decretos, e não se o p o n d o ao C ódigo Civil, o
R egulam ento Básico atende às diferentes hipóteses.
Aplica-se a disposição seg u n d o os term os do convencionado, perfilhando-se
as cláusulas co n tratu ais, p ressupondo válido, conhecido e legítim o o acordo cele­
brad o entre os interessados.
Surgindo dificuldades, isto é, deparando-se o aplicador com lacuna ou om is­
são, necessita integrá-las e, em face de dúvida, precisa desfazê-las.
A integração só tem sentido qu an d o a n o rm a apreciada n ad a dispõe sobre a
área da controvérsia nem rem ete a o u tras fontes. Por exem plo, em relação ao per­
cipiente de auxílio-doença, cujo benefício oficial é transform ado em aposentadoria
p o r invalidez. No cálculo da prestação com plem entar co rresp o n d en te à invalidez,
caso o R egulam ento Básico silencie sobre o salário de participação de qu em vinha

C urso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1278 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
au ferindo im plem entação o u suplem entação e inexistente disposição em c o n trá ­
rio, p articu larm en te de ordem atuarial, o in tegrador deve su p rir a lacuna, obser­
vando o p ro ced im en to da básica.
A apreensão das ideias difere da utilizada na norm a pública, tem de respeitar­
-se o co n v en cio n ad o entre as partes, e só é possível rem issão às praxes do D ireito
Previdenciário co m u m q u an d o esgotado o exam e das diretrizes privadas. Se com ­
patíveis e n ão co nflitantes com a observância do direito privado, seg uram ente em
poucas situações particulares, podem ser invocados os m étodos de interpretação
do D ireito Previdenciário.
Repete-se. Urge considerar as nuanças fundam entais: subm issão ao direito
privado, facu ltativ id ade de ingresso, so lid aried ad e e c o m p lem en tarid ad e do d i­
reito. N ão se esquecendo do regim e financeiro e do tipo de plan o adotados.
O ajuste, porém , não é sacrossanto. É co m u m a observação de o prom etido e
ajustado dever ser cu m prido. A convenção não é grilhão ab so lu to ou inquebran-
tável. O in térp re te sensível, se d o m in ar a ciência e so u b er decan tar o m om ento,
pode alcançar visão superior, diretam ente defluente do co n ju n to tex tu al, rnáxim e
se, afinal, ele se revelar leonino para um a das p artes e a intenção, ao concebê-lo,
não ter sido esta.
S uponha-se abstenção norm ativa a respeito do direito ad q u irid o (postulado
co n stitu cio n al) e sobre ped id o extem porâneo de qu em p reen ch eu os requisitos
(até aqui, sim ples lacuna n orm ativa) e contem plad a a c o n ju n tu ra n a rem issão ge­
nérica “à legislação geral”.
N este caso, o ex ecutante buscará solução na lei básica gerai, onde vige o
prin cíp io da im p rescritibilidade dos benefícios e da prescrição das m ensalidades.
A solução é calcular a renda m ensal inicial à época da reunião dos pressupostos e
h o d iern izar o valor, com o se m antido o benefício até a data de en tra d a do re q u eri­
m ento. A p artir daí, com eçar as quitações m ensais.
Por o u tro lado, im agine-se discussão em to rn o do índice de atualização dos
valores m onetários. O R egulam ento Básico prevê INPC, e o órgão gestor oficial, ex
vi Iegis, adota o IPC-r, resultando aquele inferior a este. O princípio da norm a m ais
benéfica, in casu, cede espaço ao convencionado.
O sen tid o a ser atribuído à palavra “previdência”, contida no art. 192, II, da
Lei M aior de 1988, a ser arredada, no dizer de Ernesto José Pereira Reis (“Previ­
dência Social e a P rivada”, in RPS n. 154/703): “autorização e fu n cionam ento dos
estabelecim entos de seguro, previdência e capitalização, bem com o do órgão gestor
fiscalizador e do órgão oficial ressegurador” (grifado), perm ite exem plificar.
Sem p recisar re c o rre rá h erm en êu tica previdenciária, estabelecim ento ali q u er
dizer em presa, m as sistem aticam ente, considerando-se a utilização das palavras
“seguridade social”, “previdência social”, “a p o sen tad o ria”, bem com o todo o T í­
tulo VIII, o vocábulo “previdência” significa a privada, pois as três entidades rela­
cionadas são particulares.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1279
In terp retar é operação árdua, espinhosa, reclam a correta inteligência da situ a ­
ção e argúcia do observador, n u n ca an tecip ar ju ízo s, sob pena de danos científicos.
Exercício dessa natureza pode ser feito com o disposto n o art. 31, IV do D ecreto n.
81.240/1978, o n d e fixado lim ite m ínim o de 55 anos para a fruição da com plem en­
tação da ap o sen tad o ria p o r tem po de serviço.
Na Lei n. 6.435/1977, nada consta, e a m atéria é legal, silenciando tam bém a
Lei M aior de 1967 sobre o assunto. A C onfederação N acional dos Trabalhadores
do Setor M ineral ingressou com um a A rguição de Inco n slilu cio n alid ad e — ADI
n. 992-3/Rio. A preciada em 20.5.1994, o Suprem o Tribunal F ederal en ten d eu de
não exam inar a questão, p o r se estar d iscu tin d o in co n stitu cio n alid ad e de decreto
qu ando, na verdade, o cabível é sua ilegalidade.
A parentem ente, de nada valeria o ajuste de vontades. A redação da Revisía de
Previdência Social m anifestou-se contra os 55 anos (“Idade M ínim a para a aposen­
tadoria na Previdência C om plem entar", in R P S n. 165/595).
Na verdade, o STE en passant, m en cio n o u o fato de leis contrárias ao espírito
da C onstituição Federal de 1988 restarem autom aticam ente revogadas, m as não se
m anifestou q u an to ao m érito, isto é, saber se o lim ite contrariava o ordenam ento
previdenciário pelo fato de o art. 202 da C arta M agna silenciar a respeito do RGPS.
Ao fazê-lo, se perseguir a ideia da referência, terá de ad m itir valerem as regras do
Título VIII para os segm entos aberto e fechado, de direito privado e público.
Interpretação é esforço em baraçoso se o exegeta não d i s L i n g u e a mens legis d a
mens legislatoris ou nâo tem bom -senso. A ntes da EC n. 20/1998, no art. 2 0 2 ,1, ao
definir o direito à apo sentadoria p o r idade, a C onstituição F ederal falava em “aos”
tantos anos, e logo abaixo, nos incisos II/III, m ais tecnicam ente, q uando disciplina
a ap o sen tad o ria p o r tem po de serviço, aludia a “ap ó s”. Se se e n ten d e r sem antica-
m ente, só ex atam ente aos 65 e 60 anos poderia ocorrer a aposentadoria p o r idade,
qu an d o , em verdade, é após os segurados com pletarem essa idade, a p a rtir daí a
q u alq u er tem po.
As relações entre os segurados/participantes e as EPC, com vistas às p resta­
ções previdenciárias, traem sua origem e sem elhança com as co n tid as na previdên­
cia social oficial onde a diferença, notadam ente, é a presença de pessoa ju ríd ica de
Direito Público e pessoas física e ju ríd ica de direito privado. N ão têm , p ro p riam en ­
te, regras específicas de aplicação o u de interpretação, salvo no tocante à distinção
repelidas vezes feita entre os dois d o m ín io s referidos. A identidade com a básica
sugere achego com as recom endações prevalecentes no D ireito Previdenciário ofi­
cial e seu estudo.
1841. In dubio pro misero — De todos os m ecanism os de interpretação do
D ireito Previdenciário, o capaz de d esp ertar m aiores dissenções é este. N em sem ­
pre aplicado, m as m u itas vezes referido, p ro d u z estupefação entre os estudiosos;
m uitos deles, a rigor, não têm opinião firm ada sobre o tem a, preferindo acostar-se
nesta ou naq u ela posição, não resistindo à tentação de acolher o p o n to de vista dos
juslaboristas.

C u rso d e D ireito P re v id e n c iá rio


1280 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
R espeitável óbice é e q u ip arar a prev id ên cia social à assistên cia social, m as
o m aio r o b stáculo reside em fixar-se as condições de instalação da dúvida e qual o
cam po de aplicação d o postulado. De natureza genérica, ao se cogitar de sua u tili­
zação em D ireito, reclam a cuidados especiais de parte do exegeta.
Mal se sab en d o , de antem ão, qual o destinatário do adágio — devendo-se d e­
term in ar o significado da palavra hipossuficiente (misero) — , é preciso vislum brar
o conceito de dú v id a e a qual área ela se refere: düvida q u an to ao fato ou q u an to
ao d ireito incidente.
Parece ser disposição de não aceitar fato, elem ento subjetivo. Em relação à
incapacidade para o trabalho, o m édico-perito pode form ular as seguintes p o si­
ções: a) certeza — aceitar ou não a incapacidade; b) ignorância — desconhecer a
condição; e c) dú v id a — não saber se há o u não incapacidade no segurado.
D úvida não é desconhecim ento; tam bém não corresponde exatam ente à in ­
certeza, oposta à certeza. D esconhecim ento é desconform idade entre o substrato
da realidade e ideia concebível sobre ela. E se a incerteza prossegue ad infinitum ?
Q u an d o absoluta eqüivale, do p o n to de vista lógico e jurídico, à dúvida, cabendo
o u não aplicar o princípio.
D úvida não se co n fu n d e com ignorância do fato, q uando im possível a a p u ­
ração.
Se certo m édico considera incapaz o segurado e o u tro profissional pensa o
co n trário , há incerteza q u an to à incapacidade, devendo ser desfeita p o r terceiro
facultativo, eleito desem patador. F alecendo o exam inado, p o r o u tro m otivo, antes
de periciado p o r esse terceiro especialista, a incerteza chega à dúvida e im põe-se
aplicação da regra sob com ento.
D úvida tam bém não se co n fu n d e com ausência de evidências. Se a d em o n stra­
ção não é plena, não h á prova. Inexiste o direito, se ele dependia de com provação.
Ela abriga, no m ínim o, duas indicações. Inocorre, se o problem a com porta
apenas um a solução. Possível é aquela onde se apresentam duas o u m ais opções e
todas satisfazem seg u n d o determ inado prism a, devendo o in térp re te ad o tar apenas
um a.
Na co n co rrên cia à pensão por m orte, ignorando-se a localização da esposa,
a dúvida ou o desco n hecim ento hão de ser solucionados a favor da com panheira.
H avendo ig norância de fato q u an to ao seu paradeiro, feitas razoáveis, em bora in­
frutíferas tentativas de localização p o r qu em de direito, deve-se d ar a esposa por
desaparecida.
H avendo realm ente dúvida, se ela se refere à proteção, afirm a-se com o conclu­
são, deve ser resolvida a favor do beneficiário. Assim , pender-se-á pela filiação, pela
incapacidade, pela necessidade, pelo direito à prestação. A legando a tem po certa
doença ou enferm idade e vindo esta a ser a causa mortis, sem ser periciado em vida,
ao segurado, além da pensão por m orte, cabe o auxílio-doença ou aposentadoria
p o r invalidez.

C u h so n r D ir e it o P r e v ib e n o a r io

T o m o I V — P revidência C o m p l e m e n ta r 1281
A efetivação dessa regra interpretativa exige precauções do aplicador. Precisa
estar seguro de se trata r de dúvida e inexistirem o u tro s m eios de d irim ir a p en d ên ­
cia. São raros os casos onde ela se aplica, devendo orientar-se pelo senso com um
e não pelo especial, conform e o esperado de todos, e n ão o inusitado, de acordo
com o m ais lógico e evidente.
1842. Norma mais favorável — A norm a m ais favorável é acolhida com tra n ­
qüilidade no D ireito do Trabalho e Direito Previdenciário, sendo de equaciona-
m ento singelo. U tilizada q uando, diante de dois ou m ais alvitres, o titu lar pode
escolher. N esse caso, é direito subjetivo do protegido o ptar pelo m elhor.
Várias situações fáticas e preceitos previdenciários dispõem sobre esta regra.
O segurado com 30 anos de serviço com provados e 65 anos de idade tem direito
à ap osentadoria p o r idade ou à aposentadoria p o r tem po d e contribuição. Poderá
requerer a prim eira se os coeficientes de cálculo forem superiores aos da segunda
prestação.
U su alm en te, n o co n fro n to de d u as disp o siçõ es d e hierarq u ias diferenciadas,
em p rin cíp io , deve p revalecer a superior. Em seguro social, p o rém , se a regra m e­
n o r é m ais benéfica, su p lan ta a su p erio r, q u a n d o não co n tra ria d itam e expresso
desta.
A alternatividade, assegurada na lei ou no co n trato , nada tem a ver com a
ética. Se p o stas à disposição do participante duas faculdades e um a é nitidam ente
preferível à o u tra, descabem avaliações m orais sobre a vantagem legitim am ente o b ­
tida. Q uem deve sop esar essas considerações é o elaborador da lei, não o aplicador.
1843. Ótica extensiva — Técnica reconhecida na herm enêutica é a extensão
dos critérios e suas m odalidades. Assim, dois cam pos se opõem : interpretação ex­
tensiva e restritiva — identificadas em vários ram os jurídicos ou nu m m esm o, em
diferentes áreas.
A in terp retação extensiva beneficia o sujeito envolvido na relação. O c o n trá ­
rio se dá com a restritiva. Toda m atéria penal previdenciária deve ser com pulsada
restritivam ente. Se os delitos do art. 95 do PCSS tin h am com o sujeito passivo o
órgão gestor oficial, não tipificavam crim es em relação às EPC (salvo os previstos
genericam ente no C ódigo Penal).
De m o d o geral, a interpretação extensiva deve chegar a resultados m ais am ­
plos em com paração com os preten d id o s pelo legislador. E videntem ente, essa in ­
teligência não é absoluta nem arreda a in terpretação sistem ática.
E ncontra abrigo em m atéria de inscrição (adm issão ao sistem a) e na definição
do direito às prestações, em pregada a restritiva no cam po da contribuição.
D ificilm ente, se poderá criar prestação p o r via de interpretação extensiva,
m ajorã-la ou estendê-la a o utra pessoa não beneficiária.
1844. Visão re stritiv a — A interpretação restritiva encontra habitat no Direi­
to P revidenciário C om plem entar. O m ais abrangente é a regra e o m enos ab ran ­
gente é a exceção a ela. A aposentadoria especial deve ser considerada com o direito

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1282 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
excepcionai, e se a entidade tem rol de aspirantes ao benefício, não especificando
se o chefe do exercente ou se o auxiliar deste estão contem plados, descabe incluí-
los, pois tais listas são n o rm alm en te enum erativas e n u n ca exem plificativas.
D iante da subsidiaridade da previdência supletiva, avalia-se o abono de per­
m anência em serviço, desaparecido em 15.4.1994 (Lei n. 8 .8 70/1994), m esm o
atu arialm en te eq u acionado e ju rid icam en te previsto no R egulam ento Básico. É
im possível concedê-lo a p a rtir de seu térm ino, devendo o C onselho de C uradores
ouvir o atu ãrio e d estin ar a outros fins os recursos antes provisionados para essa
finalidade.
1845. Retroeficácia benéfica — N orm alm ente, para n ão a u m en ta r o descon­
forto dos titulares, a lei não retroage. Isso é especialm ente válido no Direito Tri­
b u tário e D ireito Penal, onde discutidos direitos fundam entais d o patrim ônio e da
liberdade das pessoas. A irretroatividade das leis é p rincípio de D ireito.
U sualm ente, a previdência social cuida do passado. Em in ú m ero s aspectos,
cogita do tem po de trabalho ou de contribuição, períodos de carência, fatos ocor­
ridos p reteritam en te. É próprio da técnica protetiva tratar com os an teced en tes do
segurado.
D escabe co n fu n d ir disciplinar o passado com beneficiá-lo, fato m uitas ve­
zes sucedido n a legislação previdenciária. Vigente a n o rm a, e destinada ao futuro,
m en su rar d ad o s p retéritos, caso, p o r exem plo, da aposentadoria proporcional da
m ulher, aos 25 anos, in stitu íd a pela Lei n. 8.213/1991 (e in ex isten te até então).
Até a véspera de sua vigência, o segurado do sexo fem inino só podia se ap o ­
sen tar aos 30 anos de trabalho e contribuição; no dia seguinte, o prazo d im in u iu
em cinco anos, e a disposição teve autoaplicabilidade. R etroagir a n o rm a seria
con ced er o benefício em relação a quem houvesse com pletado os 25 anos antes de
25.7.1991 (sob a hipótese de ter sido solicitado p o r analogia com a aposentadoria
p roporcional dos h o m ens).
E m bora o p lano estivesse preparado para co m plem entar essa aposentadoria
(integralm ente) só aos 30 anos, subitam ente, a m u lh er solicita-a um lustro de anos
an tes (não im p o rtan d o ser p ro p orcionalm ente). D iante da retroeficácia da norm a
básica, ela afeta a com plem entar, e o direito deve ser concedido (em época dife­
rente da prevista).
Às vezes, o legislador deseja o preceito retroagindo para beneficiar, e disso são
exem plos os arts. 144/45, da Lei n. 8.213/1991. Em am bos os casos, a lei m andou
rever o cálculo de prestações deferidas antes de sua vigência (25.7.1991). Isso
repercutiu n o s valores supletivos, d im in u in d o , em alguns casos, a obrigação da
en tidade com a m ajoração da im p o rtân cia devida pelo gestor oficial.
1846. Uso da analogia — D ada a sem elhança de objetivos em dom ínios tão
vizinhos, são co m u n s m enções à analogia, q u an d o da interpretação ou da in te­
gração das disposições supletivas. A lhures, sustenta-se haver direito adq u irid o e
analogicam ente, expressões m al utilizadas com frequência, até m esm o p o r quem
deveria conhecê-las.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1283
A nalogia re p resen ta sim ilitu d e de cenários. Se insofism avelm ente regrados,
ela perde in teresse, m as se os co m an d o s ju ríd ic o s são afins, têm a m esm a e stru ­
tura, p ressu p o sto s, objetivos, e u m deles é mal c o n stru íd o , vale a rem issão ao
outro.
As praxes e práticas, os procedim entos e m ecanism os, enfim , os in stitu to s
ju ríd ico s dos co n ju n to s (básico e com plem entar) invariavelm ente são esm iuçados
e sistem aticam ente ex auridos em sua co n tex tu ra, po uco adian tan d o recorrer a um
ou a outro, em face da regulação de am bos, convindo exam inar a aplicação da an a­
logia diante de algum a situação especial.
Suponha-se lacuna de regra relativa à co n ju n tu ra prescrita n o u tro o rd en a­
m ento. Prim eiro, é necessário certificar-se q u an to à natu reza do silêncio n o rm ati­
vo, se ele é do tipo integrável, pois pode ter havido esquecim ento do elaborador da
norm a ou então v o n tad e de não disciplinar, isto é, não co n tem p lar preceito para
a hipótese. Tratando-se de om issão, é preciso cotejar as duas seções dos dom ínios
para en co n trar p o n to s em com um . A seguir, exam inar a pro p ried ad e da translação.
P osteriorm ente, pro ced er aos ajustes necessários (processo de adaptação).
A analogia não dispensa os cuidados específicos da interpretação, com o in­
teligência dos fatos, d iscern im en to da n o rm a im portada, sendo válida no direito
com um , arredada no excepcional ou em privilégios. Rol enum erativo nào pode ser
transform ado em exem plificativo. H avendo d ispensa de carência para 13 enferm i­
dades na lei orgânica (LOPS) e igual rol form ulado n a n o rm a com plem entar, se a
lei su p erv en ien te acrescenta dois (Lei n. 8.213/1991), é descabido, por analogia,
adotar a extensão.
1847. R esp eito à v o n tad e — O C ódigo Civil não tem indicações específicas
fixando o m éto d o de interpretação dos contratos; se existissem , eles deveriam in i­
ciar o seu Título IV — Dos contratos. Isso obrigou Silvio Rodrigues a co m en tar os
do direito italiano ( “D ireilo C ivil”, p. 51/57).
Dali, extraiu ele algum as conclusões: a) q uando o co n trato ou a cláusula apre­
senta duplo sentido, deve-se interpretá-los de m aneira que possa gerar algum efei­
to, e não de m odo q u e n en h u m resultado produza; b) as disposições am bíguas se
concebem segundo o costum e do lugar o n d e estipuladas; c) expressões com m ais
de um sentido devem ser en ten d id as conform e a natureza e o objeto do ajustado;
d) os ditam es in scritos nas condições gerais do convencionado, im pressos ou for­
m u lados p o r u m dos co n tratan tes, na dúvida, conc!uem -se a favor do outro.
Em seu art. 85, diz a Lei n. 3.017/1916: “N as declarações de vontade se a ten ­
derá m ais ã sua in ten ção que ao sen tid o literal da linguagem ”.
Assim, bu scar a v o n tad e das partes é a função prim ordial da interpretação, e
essa é, praticam ente, a única determ inação a respeito.
Em seu art. 131, o C ódigo Com ercia! apresenta algum as regras, a seguir re­
sum idas. A inteligência sim ples e adequada, de acordo com a boa-fé e o verdadei­
ro espírito e n atureza do contrato, deverá sem pre prevalecer o rigoroso e estrito
co n teú d o das palavras. As cláusulas duvidosas serão entendidas pelas claras, se

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W / a d im i r N o v a e s M a rtin e z
as p artes tiverem -nas adm itido. As antecedentes e subsequentes, em harm onia,
explicarão as am bíguas. O co m p o rtam en to dos contraentes, p o sterio r à celebração
do co n trato , relacionados com o objeto principal, serã a m elhor explicação para a
vontade presente na consum ação do m esm o. O uso e a prática geralm ente obser­
vados no com ércio, n os casos da m esm a natureza, e, especialm ente, o costum e do
lugar on d e o co n trato deva ter execução, prevalecerão a q u alq u er inteligência em
co n trário , a ser dada aos vocábulos. A dúvida, im possível de se resolver segundo
as bases estabelecidas, decidir-se-á em favor do devedor.
1848. Possibilidade de remissão — O s regulam entos básicos, as norm as or­
gânicas das EPC — diante da com plexidade do fenôm eno securitário e da quase
im possibilidade de cada ord en am en to tornar-se código abrangente e sistem ático
— , devem conter, de preferência ao final, disposição alu d in d o à rem issão a fontes
consultáveis e em qu ais circunstâncias. Claro, sem pre ten tan d o evitar a indesejável
subo rd in ação com isso criada.
Regulada a translação em condições ideais e procedida em cada caso, abre-se
ao in térp rete ram o ju ríd ico e novos ho rizo n tes interpretativos.
O silêncio a respeito da rem issão não a obsta, adm itida na Lei n. 6.435/1977,
e tam bém diante da com plem entaridade e subsidiaridade da previdência privada
da época. N este caso, tom ando-se os cuidados reclam ados n a analogia.
1849. N o rm a d o tem p o d o fato — No Direito Intertem poral, desenvolvem -se
regras sobre a eficácia da n o rm a no tem po. Vale o p rincípio segundo o qual os fatos
acontecidos, salvo preceito expresso su p erveniente, subm etem -se aos com andos
então incidentes.
M elhorando ou pio ran d o o conceito de salário real de benefício no curso do
tem po, não po d e o p articip an te ou a entidade invocar a regra atual para direitos
exercidos n o passado, sob o im pério do ditam e vigente q u an d o d e sua concessão.
Mas, ao co n trário, se o segurado p reen ch e os requisitos legais e configura o
direito adq u irid o , p o steriorm ente, q u an d o não m ais vigente a determ inação, pode
solicitar o benefício com base n a lei revogada.
Lm e n ten d im en to lim itador do conceito de previdência privada, equiparan-
do-a a sim ples extensão do co n trato de trabalho, diz o E nunciado n. 288 do TST:
“A co m plem entação dos proventos da aposentadoria é regida pelas n o rm as em
vigor na data de adm issão do em pregado, observando-se as alterações posteriores
desde que m ais favoráveis ao beneficiário d o d ireito ”.
Tal co m preensão acosta-se à ideia anacrônica de ser a previdência fechada ex ­
tensão do co n trato de trabalho. A referência à data de adm issão q u er dizer tam bém
com as alterações su pervenientes.
1850. Recomendações finais — A h erm en êu tica evolui acen tu ad am en te com
a absorção do sen tid o das leis, co n h ecen d o particularidades q u an d o da análise das
volições co n v en cio n adas entre os particulares. As regras de interpretação conheci­
das valem no estu d o da legislação básica e com plem entar, convindo, a esse respeito

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
com pulsar as diretrizes de Carlos M axim iliano (“H erm enêutica e Aplicação do
D ireito”) e de Washington Luiz da Trindade ( “Regras de aplicação e interpretação
no Direito do Trabalho”).
Sem pre será útil lem brar o disposto n o art. 82 da CLT: “As au to rid ad es ad ­
m inistrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais o u contratuais,
decidirão, conform e o caso, pela ju risp ru d ên c ia, p o r analogia, p o r equidade e o u ­
tros prin cíp io s e n o rm as gerais de direito, prin cip alm en te do direito do trabalho
e, ainda, de acordo com os usos e costum es, o direito com parado, m as sem pre de
m aneira q u e n en h u m interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse
p ú b lico ”.
A assim ilação do especificado n o s regulam entos básicos (fechado) e nas cláu­
sulas convencionadas (aberto), além das proposições anteriores com patíveis por
sua universalidade, exigem a assunção de técnicas p ró p rias para a interpretação
dos con trato s, em p articu lar do previdenciário.
A lgum as recom endações podem ser elencadas.
a) Leitura do texto estudado: Em certas circunstâncias, a dificuldade desapa­
rece após leitu ra detida do dispositivo. Ele indicava corretam ente a ideia do ela-
b o ra d o r da norm a. E m bora n ão claro com o desejável, representava p o n to de vista
c o n s e n L ã n e o com a n atureza do disciplinado. C onvém verificar, tam bém , o t e x t o

anterior, se revogado, e a h istória da disposição. Esse esforço será aclarador.


b) Norma contrária à Constituição Federal: Se possível, n ão a considere em
suas elucubrações, m as às vezes essa necessidade só sobrevêm ao final da operação.
A rigor, o trabalho de apreciação prelim inar consiste em processo interpretativo
do D ireito C o n stitu cio n al. Exam e p ream bular poderá elim inar desgaste posterior.
c) Significado da proposição no conjunto do ordenamento: Toda disposição tem
objetivo a ser alcançado e traduz algo perceptível no m u n d o ju ríd ico , caso c o n trá­
rio, não seria objeto de regulam entação. O elab o rad o r da norm a não é ocioso nem
cria regras inúteis. Procure atingir esse sentido antes de avançar na com preensão
do todo.
d) Sentido da palavra no contexto: S upondo, inicialm ente, técnico o seu uso,
encam inhe-se para e n c o n trar o alcance da palavra em pregada, m as não se apegue
literalm en te ao vocábulo. O STF considerou o term o “folha de salários” rep resen ­
tan d o o d o cu m en to o n d e contida apenas a rem uneração dos trabalhadores s u ­
bordinados. A leitu ra co n trario u esta solicitação; a locução tem , n a C arta Magna,
o u tro propósito.
e) Intenção do elaborador da norma: Sem em bargo de, no direito positivo, o
im p o rtan te ser a mens legis e não a mens legíslatoris, sensibilize-se com o anim us
do elaborador da regra. P erscrute a sua in ten ção ao redigi-la. A R esolução CPC n.
01/1978 fala em fundo de garantia, m as seguram ente o seu elaborador não pensava
no FGTS da Lei n. 5.107/1966 e, sim , em reserva asseguradora de direitos.
f ) Validade da disposição defeituosa: A in terpretação deve au scu ltar o espírito
do com ando. Se mal escrito, não deve ser ab andonado, convindo salvá-lo.

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1286 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
g) Conclusão clara diante da confusa: Esta proverbial indicação de Carlos
M axim iliano é ú til e significativa, exigente e difícil. Mas vale o esforço nesse enca­
m in h am en to . D iante do caso concreto, o exegeta será su rp re en d id o com a beleza
do resultado. Recuse hipóteses inusitadas. O pte pela h arm o n ia com o sistem a, em
d etrim en to d o contrário.
h) Confronto da norma geral com a especial: A prescrição específica rom pe a
o rd em da geral. Ao escrevê-la, o elaborador do preceito tinha em m ente particular
circu n stân cia e isso deve ser respeitado. A C onstituição F ederal pode, p erfeitam en­
te, g aran tir o direito adquirido em seu preâm bulo e, m ais adiante, restringi-lo. O
m esm o vale para o u tros preceitos.
i) Conflito da disposição subsidiária com a principal: O acessório segue o p rin ­
cipal. Q u an d o co n trad itó rio , prevalece o segundo. O caput subm ete o parágrafo.
j ) Interpretação de prescrição clara: A parêm ia latina é altam ente válida: in
claris cessat interpretado. No exam e do texto, verifique a sua com preensão, alcan­
çando-a, desista do processo de con h ecim en to e aceite-o com o tal. A im aginação,
em D ireito, precisa an d a r de m ãos dadas com a inteligência e o bom -senso.
k) Entendimento de terceiros: Flerm enêutica é arte coletiva. C onvém saber
com o os o u tro s pensam . D iante de lacuna co n su lte n o rm as e autores diferentes
sobre o m esm o assunto.
I) Prescrição correspondente quando da omissão: A rem issão é atividade com -
pen sad o ra, em bora im p o n h a cuidados especiais, pois o tran sp o rte de regras é p e ri­
goso, Mas trata-se de esforço capaz de propiciar resultados positivos.
m) Preferência da interpretação quando existente dúvida no silêncio da lei: Se
tiver co n h ecim en to dos anais da discussão, q u an d o da elaboração da norm a, não
despreze as anotações. Às vezes, o grupo preparador esboçou certo en c am in h a­
m en to e não d esejou prosseguir. Não era essa a intenção, e o silêncio e a incerteza
não pod em chegar a esse desiderato.
n) Sentido social da regra: O D ireito Previdenciário, básico e com plem entar,
tem p o r objetivo m elh o rar e estabilizar a situação dos trabalhadores, prom over
distrib u ição igualitária de renda, su b stitu ir os ingressos ob tid o s d u ra n te o labor,
q u an d o ele não é m ais possível; enfim , é direito protetivo.
o) Interpretação extensiva em prestações: Todo o em p en h o do in térp rete, q u a n ­
do em dificuldades, deve ser no sen tid o de adequar o com ando sob enfoque ao
d o m ín io o n d e situado.
p) Interpretação restritiva em custeio: Se se trata de ex p ro p riar o indivíduo ou
a em presa, é preciso atenção na análise das palavras, n o sentido das orações, e ve­
rificar com precisão o seu alcance.
q) Resultado atingido: R ecom posto o texto conform e as diferentes técnicas, de
certa form a su b stitu in d o o legislador, n a m edida do possível, olhe para o resultado.
Veja se n ão é ab su rd o ou contrário ao sistem a.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P re v id ê n c ia C o m p l e m e n t a r 1287
Capítulo CLXXXV

P r e s u n ç õ e s V á l id a s

S u m á r i o : 1851. Validade da concessão oficial. 1.852. Inscrição do participante.

1853. Pagamento do descontado. 1854. Higidez do segurado. 1855. Morte do


tilular. 1856. Dependência econômica. 1857. Pensão alimentícia. 1858. Incapa­
cidade laborai. 1859. Regime financeiro. 1860. Registros contábeis.

Presunção não é criação do D ireito Previdenciário, n em m esm o do Direito.


Foi apreendida da realidade do m undo, ad q u irin d o feição e utilidade jurídicas. São
vários os exem plos de presunções do D ireito Civil, p. ex., consagrando m eios in d i­
retos de prova. U m a das principais presunções ju ríd icas, adm itida com o princípio
geral de D ireito, é a do conhecim ento da lei (LICC, art. 69).
Segundo Milton D uarte Segurado (“In tro d u ção ao E studo do D ireito”, p. 90),
dan d o ato provável com o provado, “p resu n ção ju ríd ic a é m eio in telectu al de ela­
boração do D ireito pelo qual, de algo conhecido, ded u z-se u m a conseqüência
v erd ad eira”.
Provém do latim praesum ptione, querendo dizer ideia antecipada.
A presunção pode ser lógica ou de falo e ju ríd ica o u de direito. A prim eira
faz p arte do intelecto h u m an o , um a ordem do pensam ento ten d en te à conclusão,
segundo o qual um evento pode ser inferido a p artir de outro. A presunção ju r í­
dica (praesumptiones ju ris) é a m esm a presunção lógica (praesumptiones /tominis),
tran sp o rtad a para a esfera científica.
A presu n ção ju ríd ica pode ser, p o r sua vez, absoluta (juris et de jure), isto é,
não co m p o rtar prova em contrário, e relativa (juris tantum ), q uando a adm ite. Nem
sem pre expressam ente, porém , am bas contidas em lei.
O D ireito Previdenciário conhece inúm eras presunções ( “P rincípios de Di­
reito Previdenciário”, p. 344/352), algum as delas peculiares à previdência privada.
1851. Validade da concessão oficial — Desde a LBPC, o benefício supletivo
deixou de ser subsidiário, isto é, além de com plem entar, até 28.5.2001, ele d ep en ­
dia do oficial. Sem o d eferim ento do público não sobrevinha o privado. Por isso,
o participante, en q u a n to segurado, solicitava inicialm ente a prestação estatal, e
obtida a ciência p o r escrito, só então encam inhava o pedido do bem supletivo.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1288 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
N ão era necessária notificação direta do INSS à entidade, em bora convênio
firm ado entre as duas instituições acabasse p o r encetar esse enten d im en to .
A carta de co m unicação expedida ao interessado, obtida legitim am ente, era
pressu p o sto do direito à com plem entação. G uardava a p resunção relativa de vali­
dade do direito básico.
Com os arts. 1- e 68, § 2g, da LC n. 109/2001, essa relação de dependência
deixou de existir e, assim , cessou a subordinação à concessão da oficial, desapa­
recendo a p resu n ção de que os requisitos, se coincidentes com os regulam entares,
estavam dem o n strad os. Mas perm anece a ideia de que o INSS verifica a presença
desses pressu p o sto s, o que faz su p o r que o fundo de pensão poderá em prestar
as provas d o cu m en tais ali apresentadas. E, se devidam ente convencionado com o
pressu p o sto , exigir a aposentação oficial.
1852. Inscrição do participante — Inscrição é providência m aterial e formal
indispensável à fruição das prestações, especialm ente das de pagam ento continuado.
Q u an d o do re q u erim en to destes benefícios ela deve ser d em o n strad a à en ti­
dade, não o b stan te a singeleza do p rocedim ento e os registros in tern o s da EEPC.
Às vezes, sucede de, tanto o participante q u an to o órgão gestor, não p o ssu í­
rem os d o cu m en to s co rrespondentes à form alidade da adesão, passados m uitos
an o s ou em v irtu d e de desaparecim ento. N estas condições, ela pode ser presum ida
a p artir de o u tro s dados, com o, p o r exem plo, o desconto hab itu al das c o n trib u i­
ções do em pregado a favor da entidade. Vale, tam bém , a an terio r utilização não
co n testad a de o u tro s benefícios.
1853, Pagamento do descontado — No D ireito P revidenciário básico, vige o
princípio do d esconto e reco lh im en to das contribuições dos segurados su b o rd in a­
d o s (PCSS, art. 33, § 5e), de respeitável significado ju ríd ic o e utilidade prática nas
relações entre o beneficiário e o órgão gestor.
O vín cu lo jace n te entre o participante e o fundo de pensão fechado difere,
em bora sofra o em pregado dedução da rem uneração, operado exatam ente pela
p atro cin ad o ra criadora da instituição. Esta detém todos os m eios im prescindíveis
à realização da receita original da EFPC.
Retendo do trabalhador e não ap o rta n d o ao fundo de pensão, a responsa­
bilidade é sua, em bora não se possa esten d er o raciocínio (com o acontece na lei
básica) se, p o r q u alq u er m otivo escusável, não foi feito o d esconto com o, p. ex.,
divergência q u an to à procedência o u oportu n id ad e. A pretensão ao benefício não
dep en d e desse desem bolso patronal.
No p e rtin e n te ao elo en tre segurado e seguradora, frequentem ente, o contrato
dispõe sobre a m atéria, exigindo o pagam ento do p rêm io pelo interessado, com o
condição para a realização da indenização do sinistro. Q u ando a em presa, em vez
de in stitu ir fundo de pensão, co n trata os serviços previdenciários de seguradora
(en tid ad e aberta), se não avençado, a obrigação é sua, então presum indo-se a re ­
tenção. Mas o ideal, e para não provocar discussões, é que o R egulam ento Básico
assim disponha.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n ta r 1289
1854. Higidez do segurado — Diz o art. 1.459 do C ódigo Civil de 1916:
“Sem pre se presum irá não se ter obrigado o segurador a indenizar prejuízos resu l­
tantes de vício intrínseco à coisa seg u rad a”.
Em pelo m enos dois casos, a p resunção tem validade na previdência privada,
feitas, obviam ente, as necessárias adaptações ao texto de 1916.
Veda o ingresso do incapaz com vistas ao auxílio-doença ou à aposentadoria
p o r invalidez.
Da m esm a form a, se o R egulam ento Básico, p o r ocasião da adm issão, im põe
a declaração do tem po de serviço/contribuição do p articipante (até para avaliações
atuariais), ele criará problem as ao sistem a ao ap resen tar períodos de trabalho não
declarados o p o rtu n am en te, im pondo soluções localizadas.
1855. M orte d o titu la r — Um dos pressupostos m ateriais exigidos dos d e­
pen d en tes, para auferir a pensão p o r m orte, é o falecim ento do segurado (PBPS,
art. 74). Em certas circunstâncias, subsistem incertezas qu an to ao falecim ento da
pessoa, oco rren d o a ausência (PBPS, caput do art. 78) ou o desaparecim ento (PBPS,
art. 78, § l e).
Em am bos os casos, diz a lei, os dep en d en tes têm direito à pensão p o r m orte
e a receberão, en q u a n to o segurado se m antiver distante.
Trata-se de p resunção relativa. Há, aqui, tam bém , jacen te, técnica p rev id en ­
ciária; o p ro ced im en to é diferente daquele do D ireito Civil e do D ireito Penal.
A p resu n ção da m o rte é estabelecida em função da natureza alim entar assum i­
da pela prestação previdenciária, em particular, a pensão p o r m orte, en ten d im en to
esse fu n d am en tad o na lei da previdência social básica. “Verificado o reaparecim en­
to do segurado, o pagam ento da pensão cessará im ediatam ente, desobrigados os
d ep en d en tes d o s valores recebidos, salvo m á-fé” (PBPS, art. 78, § 2Q).
E ncam in h am en to s são divisados na previdência básica. A legislação com ple­
m en tar (lei e regulam ento) silencia a esse respeito e en q u a n to vigia a su b sid iari­
dade os problem as são p equenos, m as qu an d o a prestação supletiva não depende
da estatal ou aq uela precede a antecipação, caso de alguns regulam entos e da pre­
vidência aberta, im põem -se procedim entos particulares, servindo, por analogia, as
proposições acim a.
C aracterizada ju d icialm en te a ausência o u o desaparecim ento, deflagram -se
os direitos co rresp o n d en tes ã m orte do participante. Se ele reaparece e voha ao tra­
balho, p articu larm en te restabelece a relação ju ríd ica com a EFPC, o n u m erário a u ­
ferido pelos d ep en d en tes deve ser tido com o resgate autorizado. Se não restituído,
a relação reinicia-se em novas bases, convindo haver renegociação das condições
da participação.
Para a Lei n. 9.140/1995, as 136 pessoas arroladas em seu A nexo I, desapare­
cidas no p eríodo de 2.9.1961 a 15.8.1979, são reconhecidas com o m ortas (cabendo
indenização do E stado).
1856. D ep en d ên cia econôm ica — Na previdência social oficial, im peram
regras consagradas a respeito da d ependência econôm ica, m uitas delas copiadas

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1290 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
pelos d iferentes reg ulam entos dos fundos de pensão (PBPS, art. 16). C uidam ,
fu n d am en talm en te, do conceito de fam ília desenvolvido p o r João Antonio
G uilhem -B em ardt Pereira Leite (“A Fam ília e o D ireito P revidenciário”).
Em face da n atu re za sub stitu tiv o -rep arad o ra da prestação, a com plem entação
da pensão p o r m o rte destina-se a su b stitu ir ingressos do de cujus. Por isso, só os
d ep en d en tes eco n o m icam ente dele têm direito ao benefício. O legislador elencou
os tidos presum idam ente com o tais (PBPS, art. 16,1) e quais pessoas têm de dem ons­
trar a d ep en d ên cia econôm ica.
A convenção, da previdência aberta o u fechada, precisa estip u lar as pessoas
lidas assim , de m o d o geral e em particular, as p resum idam ente, e, da m esm a form a,
q uem precisa evidenciar a d ependência econôm ica. Preferivelm ente, ap o n tan d o os
m eios de dem onstração.
Se ac o m p an h ad a a lei básica, os prim eiros são m arido e m ulher, com p an h ei­
ro e com p an h eira, filhos até certa idade ou inválidos, e os o u tro s, p o r exclusão
(PBPS, art. 16, § l s), os pais, irm ãos e o u tras pessoas. N o caso de silêncio da
n o rm a avençada, vale ac o m p an h ar a ideia do RGPS. D epois da Ação Civil Pública
n. 2000.71.00.009347-0, as EFPC têm de pen sar em alterar os seus d o cu m en to s
básicos p ara abrigar a união hom oafetiva.
1857. P en são alim en tícia — O pagam ento de pensão alim entícia p o r parte
do segu rad o /p articipante, em favor de ex-esposa, ex -com panheira ou ex-convi-
vente (da u n ião hom oafetiva), faz e n ten d e r presente a d ependência econôm ica (se
não houve regra especial co n trária). C onsequentem ente, com direito à pensão por
m orte e benefícios correlatos.
M as o cu m p rim en to da m esm a obrigação em relação a filhos do falecido h a­
vidos com a ex-esposa ou ex-com panheira não im plica reco n h ecim en to de d ep en ­
dência econôm ica dessas m ulheres em relação ao contribuinte. P edindo o benefício
e ele d ep en d en d o desse fato, terão de provar subordinação financeira.
C o n tem p lad a a hipótese no R egulam ento Básico, a p resunção é absoluta,
não carecen d o verificação de valores nem de qu ad ro econôm ico-financeiro da
requerente.
1858. In c ap ac id a d e laborai — Em condições usuais, a incapacidade para o
trabalho não se presum e. E situação fática a ser objetivam ente d em o n strad a pelo
a u to r ao réu. Todavia, existem cenários em que o interessado pode ser beneficiado
p o r presunções.
Internado, subm etido à segregação com pulsória, é considerado doente. Falecen­
do em conseqüência da m esm a enferm idade, é porque jazia incapaz para o trabalho.
T orrente ju risp ru d en c ial acom panha esse po n to de vista e pode ser tran s­
ladada para o segm ento aberto e fechado; é p resunção não apenas ju ríd ica, m as,
tam bém , lógica.
1859. R egim e financeiro — D ispondo sobre o seguro m ú tu o , diz o art. f .467
do CCb: “N esta form a de seguro, em lugar do prêm io, os segurados contribuem

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P revidência C o m p l e m e n ta r 1291
com as quotas necessárias para o co rrer às despesas da adm inistração e aos p re ju í­
zos verificados. Sendo om issos os estatutos, presum e-se que a taxa das quotas se
d eterm in ará segundo as contas do a n o ”.
Q u er dizer, além de prever o carregam ento (despesas de adm inistração), o
C ódigo Civil faz do regim e de repartição sim ples o pano de fundo daquele sistem a.
Se o seg u rad o r não d isp u ser expressam ente sobre o valor do prêm io, ele co rresp o n ­
derá à relação an u al entre custeio e benefícios pagos.
1860. R egistros co n táb e is — O s lançam entos contábeis gozam de presunção
de veracidade dos fatos consignados. O m esm o vale para os balanços e balancetes.
Assim , os salários de co ntribuição e o u tras inform ações cadastrais fornecidas pela
patrocinadora ou co n stantes da CTPS d o particip an te presum em -se verdadeiros (e
válidos) até prova em contrário.
A EFPC, baseada em declarações escritas do segurado, requerente de b en e­
fício oficial (q u an d o p ressuposto do d ireito ), pode d ar andam ento à instrução do
pedido da com plem entação. Tais afirm ações são tidas com o boas.
Às vezes, é bom lem brar a existência dos dois tipos de presunção. Daí a dis­
tinção feita pelo E n u nciado TST n. 12: “As anotações apostas pelo em pregador
na C arteira Profissional do em pregado não geram presunção ju ris et de jure, m as
apenas ju ris tantum
Tanto o INSS q u an to a entidade podem d em o n strar o co n trário do registrado,
o m esm o valendo para o interessado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1292 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CLXXXVI

T e n d ê n c ia s H o d ie r n a s

Sum á r i o : 1861. Fundo multipatrocinado. 1862. Serviços assistenciãrios. 1863.

Liberdade de investimentos. 1864. Divisão de encargos. 1865. Independência da


básica. 1866. Personalização da entidade. 1867. Plano de contribuição definida.
1868. Regime financeiro de capitalização. 1869. Setorização profissional. 1870.
Terceirização dos serviços.

Q u an d o de n orm as abúlicas, interpretações hesitan tes e p rin cíp io s ausentes


o u nào satisfatórios, em sum a, se os in stru m en to s analíticos são incapazes de di­
rim ir as d ú v idas do espírito o u não em basam as conclusões in tu íd a s pela lógica,
um a ú ltim a recom endação resta ao estudioso: exam inar as tendências. Elas, em si,
não são preceitos nem têm eficácia ju ríd ica. P redisposições da técnica, vocações da
ciência e cam in h o s da arte, não são fontes form ais, m as prestam -se com o subsídio
e fonte m aterial à com preensão do fenôm eno sob exame.
R aram ente m en cionadas pelos especialistas, é im prescindível conhecê-las, em
sua extensão e alcance, em se tratan d o de esfera dinâm ica com o a securitária.
No seguro social, as p ropensões são palpáveis; são alcançadas e even tu alm en ­
te sopesadas com o elem entos de inteligência do ram o ju ríd ic o e, particu larm en te,
da ciência protetiva. Na assim ilação da disciplina, não se pode ignorar a inclinação
para a co b ertu ra social, alargar sua abrangência, p en d en d o -se para a seguridade
social, n u m a aplicação do m étodo protetivo am plo e suficiente para oferecer m aior
ju stiç a e paz social.
C om o ferram en ta de trabalho prático, presentes técnicas auxiliares, a validade
das ten d ên cias é quase n en h u m a; porém , d ian te do incognoscível e do im p o n d e­
rável, elas subsidiam a apreensão do co n h ecim en to e fu n d am en tam as decisões.
N esse sentido, estu d o atraente, m u ito ú til e recom endável, é p alm ilh ar a j u ­
risp ru d ên cia, não só ad m inistrativa com o, e p rin cip alm en te, a judiciária. Revela
o cam in h ar do ram o ju ríd ico ; a p o n ta diretrizes para o legislador e aplicador da
norm a. D ecisões ju d iciais refletem o direito pulsante, representam situações reais
e não abstrações ou construções cerebrinas. M erece do in térp rete todo o respeito e
análise.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1293
De m odo geral, as tendências são apuráveis, em bora não seja fácil sistem atizá-
las ou ordená-las até a extração de regras. O bserváveis a olho n u , no dia a dia,
sim plesm ente acontecem e, p o r isso, são referíveis ad argumentandum. Não se pode
ignorá-las ou desprezá-las. Só um trabalho global de observação e síntese torna
possível separar peq u en as distorções, m esm o reeditadas, da m archa inexorável da
evolução do in stitu to pesquisado.
Dá-se exem plo com o objeto da com plem entação. De acordo com o espírito
da Lei Básica da Previdência C om plem entar, é apenas adicionar a previdência b á­
sica, co n su b stan ciad a no RGPS, m as m uitas prefeituras m unicipais e até alguns
Estados pensam em criar fundos de pensão para acrescer valores aos benefícios dos
servidores p ú blicos estatutários, ex vi, da EC n. 20/1998.
Se elas têm m e n o r interesse n a aplicação, até m esm o n a h erm e n êu tica, isso
nâo aco n tece q u an d o da co n stru ç ão do sistem a. O leg islad o r não po d e d istan ciar­
-se das ten d ên cias m u n d iais e n acionais, sob p en a de reg rar para p resen te im edia­
to, esq u ecen d o -se do fu tu ro . Em 1996, q u an d o da p rim eira edição, reclam ava-se
do em en d a d o r c o n stitu c io n a l sen sib ilid ad e e p en sa r n a globalização da econom ia
e n o s efeitos do M ercosul, em m atéria de trata d o s in tern a cio n ais de P revidência
Social. C aso co n trá rio , a C arta M agna em en d ad a p o d eria ren ascer envelhecida
para a realidade. Todavia, em 2008, o tratad o in tern a cio n al cam inhava m u ito
lentam en te.
Assim com o possíveis vocações na previdência social básica, elas em p artic u ­
lar são dedutíveis no segm ento supletivo. E xem plificativam ente, é im p o rtan te veri­
ficar a opinião da d o u trin a e dos tribunais sobre im un idade tributária, com petência
ju risd icio n al para dissídios entre participante e entidade, bem com o a natureza da
relação ju ríd ica estabelecida entre am bos, se p ura, de co n trato de adesão ou p arti­
cipação de instituição.
Sem a preocupação de ap u rar as m acrotendências nacionais ou estrangeiras
(com o a internacionalização da com plem entação, privatização, adoção do regim e
financeiro de capitalização, plano de contribuição definida, aplicações no exterior
para fugir à tributação etc.), é im possível fazer exercícios ideais sobre o futuro do
segm ento aberto e fechado da previdência supletiva.
Essas tendências são fontes m ateriais (a m aior delas é a do crescim ento do
sistem a) sem n e n h u m significado ju ríd ic o e form al, em alguns casos cooperando
com a interpretação.
Às vezes, algum as soluções são copiadas e m uitos seguem os m esm os trilhos
p o r algum tem po, não se sabendo, ainda, tratar-se ou não de tendência. Dá-se
exem plo com a terceirização da gestão da carteira de investim entos. Em certo m o ­
m ento, p en so u tratar-se de providência útil, m as essa política foi alvo de críticas.
Sonia Fonseca disco rd o u dessa opção, assinalando estudo da M W C onsultoria a
respeito do co n fro n to dessas ideias ( “Reflexões sobre a adm inistração ex tern a”,
p. 1/12).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1294 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
N os an o s 2011/2012, foi perceptível o nascim ento de um a tendência in ci­
piente, especialm ente na oferta dos p ro d u to s das entidades abertas, com grandes
facilidades para resgate e livre opção p o r investim entos, co rren d o o risco de essa
p roteção coletiva transform ar-se em pou p an ça individual a sim ples aplicação fi­
n an ceira sem q u alq u er solidariedade.
1861. F u n d o m u ltip a tro c in a d o — Em razão da segurança oferecida, da reti­
rada da p atro cin ad o ra, dos óbices na viabilização de peq u en o s fundos de pensão
e na realização do s recu rso s o u p o r elevar a participação e reforçar os efeitos da
solidariedade, o n ú m ero das entidades m u ltip atro cin ad as vem aum entando.
A perfeiçoados os seus m ecanism os de adesão e, p rin cip alm en te, o reexam e
da n o rm a legal da solidariedade nos convênios, talvez seja a solução para alguns
dos problem as do segm ento. U m exem plo é o das m icroem presas franqueadas dos
correios e telégrafos. Cada um a delas teria em baraços o peracionais para co n stitu ir
EFPC, congregando de dez a 20 em pregados, m as seguram ente obteria sucesso a
aproxim ação em relação à POSTALIS ou a regim e apartado co n tab ilm en te e adm i­
n istrad o p o r esse fundo de pensão.
N esse tipo de entidade, acentuam -se as vantagens da terceirização e da p ro ­
fissionalização da sua gestão.
1862. S erviços assiste n c iá rio s — O segm ento fechado d e previdência p ri­
vada nasceu no bojo da A dm inistração Pública, p articu larm en te da federal, em
circunstâncias atípicas, com estatais propiciando lab o ralm en te certas vantagens
para o trabalhador, um quase servidor público. Em razão disso, n o seu dealbar e
diante da vedação de contribuição pessoal, os serviços assistenciários não tiveram
grande estím ulo.
M ais tarde, o em presário da iniciativa privada com preendeu a im portância de
estendê-los ou criá-los; situam -se na m esm a linha de raciocínio da proteção ínsita
ao fundo de pensão. M uitos convênios m édicos apontaram para a necessidade de
criação de EFPC ad m in istran d o a assistência à saúde.
Seja m ed ian te a p ró p ria gerência ou m ediante convênio com as m odalidades
de proteção à saú d e p erten cen tes à iniciativa privada, o certo é constatar, cada vez
m ais, o interesse da em presa em oferecer assistência social e, com ênfase, o aten d i­
m en to à saúde em sen tid o am plo.
A possibilidade de controle su p erio r ao do Estado, u m rígido ac o m p an h a­
m ento das d isp o nibilidades e dem andas em m atéria de aten d im en to , e até m esm o
a confiança m u tu am en te depositada entre a em presa e a entid ad e assistenciária, in­
dicam a possibilidade de atenção satisfatória. Talvez seja a solução, q uando o seg­
m en to alcançar toda a população, p ara o problem a da assistência à saúde no País.
M edida assecuratória do avanço dessa técnica consiste em convencionar a
participação do in teressado no custeio das despesas.
No caput do art. 76 d a LBPC v islu m b ra-se o funeral d o s serviços assis­
ten ciário s, que po d em ser m an tid o s, m as não m ais criados, p a rtic u la rm e n te os

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o JV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1295
financeiros, b astan te afetados, que “d everão ser ex tin to s a p a rtir da data de p u ­
b licação ” da LC n. 109/2001, alteran d o -se p ro fu n d a m e n te a n atu re za e a função
da entidade.
1863. L ib erd ad e de investimentos — N em sem pre se com preende a política
do G overno F ederal em relação à in d ep en d ên cia do sistem a, em m atéria de apli­
cações de recursos g arantidores de obrigações futuras. P ensando em oferecer certa
tranqüilidade ao p articipante e, de certa form a, apropriando-se dos recursos para
a solução de problem as de caixa, é sabido haver, desde o inicio, rígida supervisão
sobre os investim entos, m anifestados p o r um sem -núm ero de orientações n o rm a ­
tivas em anadas de diferentes órgãos supervisores, cuja intensidade, tal a presença
leviatânica do Estado, às vezes, suscita dúvida sobre o en q u ad ram en to da relação
previdenciária no cam po do direito privado.
U ltrapassadas as dificuldades econôm icas enfrentadas após 1973 e equilibra­
da a econom ia, a c o n tar de 1994, seguram ente a ú nica preocupação oficial será a
de g arantir a solvabilidade do sistem a. N esse sentido, esses controles dim inuíram
com a LBPC e as en tid ad es gozarão cada vez m ais de liberdade para direcionar seus
recursos.
Tal p ro ced im en to cam inhará historicam ente para a direção da independência
total, se, no curso do tem po, sobrevierem dem onstrações de eficácia, ausência de
m anipulação, h o n estid ad e na condução das aplicações, redução dos riscos, enfim ,
prova de am ad u recim en to da instituição.
1864. D ivisão de encargos — A lgum as provedoras preferem arcar com todas
as despesas dos benefícios. R aram ente, o financiam ento provém exclusivam ente
do trabalhador. O m ais com um é a repartição dos encargos e, nesse caso, tendendo
rapid am en te para equilíbrio de colização, do tipo u m p o r um , entre patrocinadora
e participante.
Se, em term os m édios, todo o sistem a apresenta relação atuarial e socialm ente
correta na participação (20% do trabalhador e 80% da sociedade, p o r exem plo),
sem as distorções do passado, o sistem a ganhará credibilidade. Mas é preferível isso
ser alcançado natu ralm ente, sem a presença de no rm a im positiva.
1865. In d e p e n d ê n c ia da b ásica — A despeito da regra legal vigente, é per­
ceptível a transform ação dos regulam entos básicos no sentido de os benefícios
com plem entares assum irem feição própria, descom plem entarizando-se sua c o n ­
cepção e papel.
A não subo rd in ação significa dim inuição da subsidiaridade e da co m p lem en ­
taridade, to rn an d o a in stitu ição personalizada e individualizada. M udam -se os
critérios de co n trib u ição e de concessão dos benefícios, fixando-se requisitos p ró ­
prios do segm ento, apenas d ep en d en tes dos ditam es convencionados.
Por conseguinte, assum indo m aior papel de poupança individual e m en o r
de seguro privado, reservando-se função m enos expressiva para a proteção dos
benefícios de riscos não program ados, isto é, acolhendo-se estes sob a m odalidade
em in en tem en te securitária, estatal e/ou privada.

C u rs o d c D ire ito P r e v id e n c iá r io

1296 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Essa convergência m ostrará m elhores resultados q u an d o sobrevierem a li­
berdade e a flexibilização norm ativas dos procedim entos, isto é, se dim in u írem os
reg u lam en to s ad m in istrativos dos M inistérios. E xem plo é o fim da exigência de
100 em pregados p ara a co n stitu ição de EFPC.
1866. P erso n alização d a e n tid a d e — Q u ando do nascim en to da previdência
co m plem entar, a em presa gestora com parecia com o in stru m en to da política de re­
cu rso s h u m a n o s d a m a n te n e d o ra , sem in d iv id u a lid a d e real. Suas o b rig açõ es de
p o u p an ça, aplicações, pagam ento de benefícios, adm inistração da relação prática e
ju ríd ica previdenciária, com a profissionalização da gestão, robustecerão a perso­
n alidade das en tid ad es gestoras.
Algum as, com o o PARSE, do P araná, desenvolveram -se sem a patrocinadora,
com características próprias.
E m bora as relações entre patro cin ad a e p atrocinadora co n tin u em íntim as e
efetiva a p resença da provedora no destino do fundo de pensão, os passos cam i­
n h am na direção de pessoas ju ríd icas inconfundíveis, em alguns casos, com o a
F un d ação CESP e PREVI, com p atrim ô n io su p erio r ao da CESP e do Banco do
Brasil S/A.
1867. P lano de co n trib u içã o d efin id a — O RGPS é organizado segundo a
concepção do benefício definido, isto é, em term os os co n trib u in tes an tecip ad a­
m ente sabem o seu valor q uando de sua utilização.
Talvez em razão disso, os prim eiros fundos de pensão organizaram -se sob
essa filosofia. P o steriorm ente, alguns deles preferiram a m odalidade da c o n trib u i­
ção definida, esta sim é conhecida, sem prejuízo da eventual solidariedade entre
os p articip an tes, q u an d o da concessão do benefício. M ais recentem ente, foram
ad o tad o s sistem as h íb ridos, isto é, contribuição e benefício definidos, conform e a
co n tin g ên cia protegida.
Os plan o s de previdência privada h o d iern o s vêm consagrando a m odalidade
de co n trib u ição definida.
Mas, no dizer de Everett T. Allen Jr. ( “P lanos E m presariais”, p. 82), os planos
“estão vivos e vão bem obrigado. Eles estão solidam ente en trin c h eirad o s nas p rin ­
cipais em presas, e a m aioria dos em pregados hoje cobertos p o r planos privados
p articipa de acordos de benefício defin id o ”.
1868. R egim e financeiro de ca p italização — Esta é ten d ên cia praticam ente
m u n d ial, em d etrim en to da repartição sim ples e de o u tras técnicas. P raticam -no o
C hile, o Peru, a A rgentina e a C olôm bia e m u itíssim os planos nacionais, em p a rti­
cular, p raticam en te todos os do seguro privado.
1869. S eto rização p ro fissio n al — Por previdência associativa, entende-se a
im plantação de fu n d o de pensão a favor de d eterm inadas categorias, com o a dos
profissionais liberais, sem a presença da p atrocinadora, o u com p o u quíssim a ex­
pressão desta últim a, designada in stitu id o ra (associação, in stitu to , cooperativa ou
sin dicato).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o IV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
Com a autorização da LBPC, aquilo que assinalávam os com o tendência, a par-
lir de 2008, to rn o u -se solução de grande alcance e futuro para o segm ento fechado.
C alcula-se que a OABPrev v en h a a ser um dos m aiores fundos de pensão do País,
ultrap assan d o a PREVI.
1870. T erceirização d o s serv iço s — Em vez de constituírem entidades
próprias, algum as p atrocinadoras preferem co n tra tar os serviços de organização
aberta, bancos ou seg u radoras com experiência no ram o, para agilizar a proteção
dos seus em pregados. Pensam , com isso, d im in u ir os encargos da adm inistração,
em bora, ressalte-se, devam enfrentar o custo elevado do lucro.

C urso de D ir e it o P b k v id e n c íá r ío

1298 W lflíiim ir N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo CLXXXVII

J u s t iç a C o m p e t e n t e

Sum á r i o : 1871. Vínculo entre seguradora e segurado. 1872. Elo entre patroci­

nadora e patrocinada. 1873. Liame entre patrocinadora e participante. 1874.


Relação entre entidade e participante. 1875. Envolvimento da provedora com o
empregado. 1876. Pessoas físicas e jurídicas e entes supervisores. 1877. Relação
entre entidade e INSS. L878. Relação entre EFPC e entes políticos. 1879. Pres­
tações acidentárias. 1880. Associações e outros.

A perquirição do órgão do Poder Judiciário autorizado constitucional e legal­


m ente para apreciar os conflitos nascidos da relação ju ríd ica de previdência privada,
sob certos aspectos, é tarefa não ultim ada no Direito Previdenciário. Reclama d is­
ciplina m ais bem sistem atizada e busca de soluções de lege ferenda. D iferentem ente
do nível de com plexidade do vínculo básico, onde su p eriorm ente regrado o tem a, a
com petência ju risd icional im põe aprofundam ento em cada tipo de questionam ento.
A exem plo do constatado com a própria relação ju ríd ica, d istin ta em cada
hip ó tese circunstanciada, tratando-se do segm ento aberto o u fechado, diversas in-
ju n ç õ e s p articulares apresentam -se no bojo do in stru m en to em p reen d id o pela in i­
ciativa privada, as previdenciárias e as assistenciárias. Só será possível englobá-las
q u an d o reu n irem pressupostos com uns.
Trata-se, p rin cip alm ente, de com petência em razão da m atéria, convindo b u s­
car as fontes form ais aplicáveis, q uando presente a U nião, valendo em v irtu d e da
pessoa.
F in can d o pé na com petência racionae personae, diz a Súm ula STF n. 556: “É
co m p eten te a Ju stiç a com um para ju lg a r as causas em q u e é p arte a sociedade de
econom ia m ista”.
Q u er dizer, reconhece o posicio n am en to deste tipo de estatal no cam po do
D ireito Privado. C laro, referindo-se às questões de ordem civil, sem a preocupação
de m anifestar-se q u an to às laborais ou previdenciárias.
Por o u tro lado, consagra: “É co m p eten te para a ação de acidente do trabalho
do trab alh ad o r a Ju stiça cível com um , inclusive em segunda instância, ainda que
seja parte au tarq u ia seg u rad o ra” (Súm ula STF n. 235).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
N este caso, ajuíza em relação às pretensões do acidentado contra o INSS, sem
particularizar — com o o faz a ju risp ru d ê n c ia — o m érito da controvérsia (v. g.,
índice de reaju stam en to do valor do benefício).
O nú m ero elevado de enu n ciad o s baixados pelo Tribunal S uperior do Traba­
lho dá notícia do po sicionam ento da m ais alta corte laborai qu an to à com petência
d a ju s tiç a do Trabalho em relação às diversas m odalidades de com plem entação das
aposentadorias.
Esta últim a atrib u ição é questão aberta à discussão e possivelm ente só será
solucionada com a institucionalização das entidades de previdência privada e os
conflitos verificados entre o particip an te e o fundo de pensão.
A m u ltiplicidade de entidades particulares, paraestatais e estatais, envolvi­
das com a proteção social supletiva, m áxim e no respeitante à regulam entação das
aplicações e à existência de instituições civis representativas, com o associações e
sindicatos, reclam a arguto estudo da com petência e, se for o caso, m u d an ça na le­
gislação para adequar-se à realidade dos problem as e viabilizar o desenvolvim ento
do segm ento.
1871. Vínculo entre seguradora e segurado — Os dissídios in stau rad o s en ­
tre seguradora ou m ontepio, entidades com ou sem fins lucrativos, e os beneficiários,
seg u rad o s ou d ep en d en tes, são dirim idos pela Ju stiça C om um .
A relação previdenciária é insitam ente civil, regendo-se, fundam entalm ente
pelo C ódigo Civil (Lei n. 10.406/2002), especificam ente pelo Decreto-lei n. 73/1966,
Lei n. 4.595/1964, D ecreto n. 81.402/1978 e, subsidiariam ente, pelas Leis ns.
6.435/1977 e 8.213/1991. A partir de 29.5.2001, subsidiando-se na LC n. 109/2001.
A usente em p reg ad or ou afastado da área da controvérsia inexiste divergência
a respeito desta definição.
1872. Elo entre patrocinadora e patrocinada — N a presença de provedora
(em presa cu stean d o in teiram en te o sistem a) ou p atrocinadora (custeio dividido
entre as partes) e até na hipótese in co m u m de financiam ento exclusivo pelos par­
ticipantes, relações entre m antenedora, en q u an to em presa, e entidade fechada de
previdência privada são exam inadas pela Ju stiça C om um . Am bas, pessoas ju ríd icas
de direito privado.
Caso se trate de em presa pública, sociedade de econom ia m ista ou fundação
de d ireito privado, em razão da pessoa m an ten ed o ra (U nião), a com petência não
é atraída para Ju stiça Federal, pois tais entidades pertencem , tam bém , ao direito
privado.
Estas co nclusões valem para as relações entre as instituições e as entidades
associativas ou setoriais.
1873. Liame entre patrocinadora e participante — A com petência para d i­
rim ir conflitos entre em pregador e em pregado é da Ju stiça do Trabalho (CF, art.
114). In stitu íd o s p eq u en o s benefícios sem a organização form al de fundo de p e n ­
são, m áxim e se au sen te participação do trabalhador, a órbita p erm anece laborai.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1300 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
São m uitos esses fringe benefits laborais, alguns dos quais insitam ente securi-
tários. Os assistenciários fazem parte da em presa m oderna, e os previdenciários,
im p o sto s pela lei ou de sua iniciativa, com põem o co n trato individual de trabalho.
A bstraindo o problem a da com petência rationae materiae da ju stiç a do Tra­
balho, para apreciar pedido de com plem entação de benefícios previdenciários em
dissídio coletivo, é significativo p erq u irir se seria factível, lógico e ju ríd ico , por
m eio de p o stulação laborai ajuizada contra a patrocinadora, os em pregados as­
segurarem con q u istas securitárias não contem pladas n o plano de benefícios da
en tidade criada pela em pregadora.
E im prescindível exam inar a natureza fática, legal e científica do elo estabe­
lecido entre a p atro cin ad o ra e a entidade, com o esse vínculo posiciona-se em face
do co n trato individual do trabalho e quais os postu lad o s ju ríd ic o s inform adores.
Im p o rtan te, tam bém , buscar a essência dos pagam entos feitos à entidade e ap u rar
as características da p ro m o to ra da com plem entação.
C onsoante a legislação aplicável ã espécie, as em presas po d em in stitu ir fun­
dação ou sociedade civil com finalidade específica de p ropiciar im plem entação dos
benefícios devidos pela básica. E m bora facultativa, essa decisão não é totalm ente
livre. In stitu cio n alizad a, deve ser regulam entada e subm etida à aprovação da Se­
cretaria de Previdência C om plem entar, resultando em crim e a tu ar “com o entidade
de previdência privada, sem estar devidam ente au to riz ad a” (art. 80 da Lei n.
6.435/1977), com as penas do art. 67 da LBPC.
M esm o pressionado pelos em pregados, o em pregador não po d e assum ir o b ri­
gação pessoal de co m p lem en tar ou m elh o ra r a com plem entação, salvo m ediante
m ecanism os técnico-científicos das entidades de previdência privada, criados for­
m alm en te p ara esse fim, após a aprovação do MPS.
Tal exigência deve-se à natureza subsidiária da prestação p articu lar e ao m a­
nifesto interesse do E stado nessa atividade. Há preocupação q u a n to à sua possível
distorção e aos desvios para o u tro s fins, dos recursos am ealhados — enfim , em
relação à concretização do escopo do pretendido ab initio. Vale lem brar a pouca
eficácia, no tem po, da norm a convencionada n o acordo ou sentenciada no dissídio
coletivo, lim itad o ra da program ação de ações perpetuáveis.
As fontes de custeio do plano de prestações das entidades consistem em c o n ­
tribuições p atro n ais das patrocinadoras e pessoais, dos em pregados, bem com o no
ren d im en to das aplicações patrim oniais e financeiras. A entidade previdenciária
consubstancia-se em pessoa ju ríd ica de direito privado, com personalidade j u ­
rídica e p atrim ô n io próprios, inteiram en te distinta da m an ten ed o ra, geralm ente
sociedade civil ou fundação, regida pelo E statuto Social, aco m panhada de perto,
mas não ficando à m ercê da adm inistração da instituidora.
Não têm relevância os m otivos socioeconôm icos e laborais estim uladores do
patrocínio. Ao in stitu í-lo e dotá-lo co n tin u am en te da fração dos recursos neces­
sários, o em p reg ad o r celebra co n trato de seguro com seguradora, com algum as
particularidades. C oncebida a vontade de proteger, o co n trato é obrigatório para a

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o J V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1301
em presa q u an d o o em pregado resolve participar. A clientela coberta é previam ente
definida e lim itada, e a em presa desonera-se de eventual obrigação de tu telar por
ou tro s m eios. Pode afastar-se q uando quiser; m as, enq u an to presente, está sujeita.
A relação ju ríd ica, além de sim ples patrocínio, é seguro privado com pulsório
em favor de terceiros, os seus em pregados, com a nuança de, inicialm ente, se p o ­
d er fixar as condições desse seguro. U m a vez im plantada a entidade, não há com o
alterã-la sponte própria, restando, então, sim ples adesão ao co n trato estabelecido.
Do p o n to de vista fãtico, a criação e a m an u ten ção de entidade são atrativos
oferecidos pela em presa, form a de m an ter vinculados os trabalhadores a ela co n ­
venientes, m eio de criar m elhores condições de trabalho.
Sob a ótica legal, in stitu íd a a EFPC , nasce um co n trato de D ireito Civil, com
direitos e obrigações de parte a parte: a patrocinadora obriga-se a acu d ir as des­
pesas, e a en tidade a cu m p rir as disposições estatutárias concebidas q uando de
sua institucionalização. Segundo ângulo científico, trata-se de seguro obrigatório
circunscrito à clientela previam ente definida, cujo prêm io é rateado entre a p atro ­
cinadora e os p articipantes. A contribuição da em pregadora deve ser concebida
com o parte do prêm io pago à seguradora.
O Suprem o Tribunal Federal editou duas súm ulas sobre com petência: “É com ­
petente para a ação de acidente do trabalho do trabalhador a Justiça Cível com um ,
inclusive em segunda instância, ainda que seja parte autarquia seg u rad o ra” (STF n.
235); é “com petente a Justiça com um para ju lg ar as causas em que é parte a socie­
dade de econom ia m ista” (STF n. 556), onde m antida a tradição do ordenam ento.
1874. Relação entre entidade e participante — Área onde m aior divergência
subsiste diz respeito às relações entre a entidade e o participante ou seus d e p e n d en ­
tes. M uitos juizes e tribunais trabalhistas julgam -se com petentes, m esm o quando
da divisão dos encargos do financiam ento. E ntendem , equivocadam ente, em razão
da origem da en tidade e sua m an u ten ção financeira, tratar-se de extensão da em ­
presa e a com plem entação reduzir-se a salário indireto.
A princípio, essa concepção não pode ser alterada pela origem da entidade,
iniciativa do em pregador e ser ele parceiro econom icam ente responsável. Se assim
fosse, nos conflitos entre segurado e INSS, a com petência da Ju stiça F ederal deve­
ria ser arredada.
São relações civis-previdenciárias distanciadas do vínculo laborai em razão do
sujeito e dos objetivos.
Q uando esposaram a tese da com petência d a ju s tiç a do Trabalho, Céíio Goyaíá
(“Temas que em ergem da aposentadoria co m p lem en tad a”, in LTr n. 39/597) e João
Regis Fassbender Teixeira ( “C om plem entação de A posentadoria”, in LTr n. 36/369)
o fizeram antes do advento da Lei n. 6.435/1977. E, claro, m uito antes do art. 68
da LBPC.
O u tra não foi a conclusão do Tribunal Regional do Trabalho, da 4 ã Região:
“Se o em pregador institui fundação com finalidade previdenciária em benefício

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1302 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
dos em pregados, cuja associação à m esm a é facultativa, é incom petente a Justiça
do Trabalho para apreciar a dem anda m ovida pelo em pregado que busca com ple­
m entação de ap o sen tad o ria concedida pela F undação, pois não se trata de cláusula
anexa ao co n tra to de trabalho, m as de litígio d eco rren te de c o n tra to de seguro com
en tid ad e de P revidência Privada” (A córdão n. 8.249/85, in Processo da 2a Turma,
Ju iz Rei. Jo sé F ern a n d o E. de M oura, in Calheiros Bomfim, “D icionário de Decisões
T rabalhistas”, p. f5 0 ).
C om o art. 68 da LC n. f0 9 /2 0 0 I, em bora cedo, alguns estudiosos reviram
sua posição e passaram a en ten d e r que o legislador q u er a Ju stiça C om um com o
co m p eten te, p o rq u e a relação é distinta entre o particip an te e a patrocinadora.
1875. E n v o lv im en to d a p ro v e d o ra com o em p reg ad o — A lgum as em presas
preferem in stitu ir fu n d o de pensão a custo zero para o em pregado. Tais p atro cin a­
doras p o d em ser designadas, para fins de distinção, com o provedoras.
E ntre as p reo cupações das em presas, q uando da decisão de criar entidade de
previdência fechada, está a de saber o perfil da referida institu ição , se o encargo
será exclusivam ente dela o u do trab alh ad o r ou se ele restará dividido.
U m tipo de organização m enos com um , adotado p rin cip a lm en te p o r m u ltin a ­
cionais europeias, é o não co n trib u tó rio , isto é, todas as despesas com benefícios e
serviços são cu steadas tão so m en te pela provedora.
N este caso, são im postas diferentes condições, estim ulando-se a presença do
particip an te na en tid ade provedora. N ão só benefícios previdenciários são conce­
bidos, m as tam bém os assistenciários, com o em préstim os subsidiados.
C onflitos p rev idenciários entre a provida e o participante são solúveis pela
Ju stiça C om um , e eventuais d esen ten d im en to s entre o trabalhador, na condição
de em pregado, e a provedora, então em pregadora, m anter-se-ão laborais, sendo
com p eten te a Ju stiç a do Trabalho.
1876. P esso as físicas e ju ríd ic a s e e n te s su p e rv iso re s — O p articu lar e o
Estado, às vezes, envolvem -se em pendências adm inistrativas (resolúveis, em
prin cíp io, pelos dois organism os supervisores) ou judiciais. N este caso, presente a
U nião, seja o M F o u o MPS, a com petência é d a ju s tiç a Federal.
N esse sen tid o , em bora litisconsorte passivo a CENTRUS — F undação do
Banco C entral d o Brasil, q u an d o os servidores aposentados do banco p atrocinador
in ten tara m ação (em presa privada) contra a entidade federal bancária, p re te n d en ­
do URPs de ju n h o de 1987, abril e m aio de 1988, fevereiro de 1989 e o IPC de
m arço de f9 9 0 , o Suprem o Tribunal de Ju stiça, em 9 .1 1.1994, pelo CC n. 10.286.3
(9 4 .0 0 2 46 6 4 -1 ), ju lg o u -se com petente (in RPS n. 175/400).
1877. R elação e n tre en tid a d e e INSS — Em d eterm inadas circunstâncias —
caso da in terv en ién cia do fundo de pensão, interessado econôm ica e ju rid icam en te
na decisão do órgão gestor oficial — , se conflitar com a au tarq u ia federal n o exam e
da concessão de benefício básico, a ju stiç a com petente é a federal.
A p resença da U nião define a com petência.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1303
1878. Relação entre EFPC e entes políticos — Entes políticos federais, do
D istrito Federal, estaduais e m unicipais co n stitu em entidades fechadas de previ­
dência privada. Estabelecidos conflitos entre eles, atraem a ju stiç a com petente.
Diz o E nunciado TST n. 106: “É in co m p eten te a Ju stiça do Trabalho para
ju lg a r ação co ntra a Rede F erroviária Federal, em que ex-em pregado desta pleiteia
com plem entação de aposentadoria, elaboração ou alteração de folhas de pagam en­
to de aposentados, se p o r essas obrigações responde órgão da Previdência Social”.
1879. P restaçõ es a c id e n tá ria s — O participante, q u an d o se opõe ao em ­
pregador, a respeito de acidente do trabalho, invoca a Ju stiça C om um , m as se a
questão envolve o reajustam ento do benefício, tem -se en ten d id o caber à Justiça
Federal a com petência. Se o particip an te m ove ação contra EFPC , envolvendo
a com plem entação do benefício (ausente em pregador e U nião na lide), a Justiça
C om um deve ser com petente.
A posição do STF dizia: “É co m p eten te para a ação de acidente do trabalho
a Ju stiça Cível C om um , inclusive em segunda instância, ainda que seja parte au ­
tarquia seg u rad o ra” (Súm ula n. 235). Q u ando o S uperior Tribunal de Justiça en ­
tendia com petente a ju s tiç a Federal, nos casos onde não m ais se d iscuta o benefício
(C onflito de C om petência n. 14.686/SC, Reg. 95.0039408-1, de 2.2.1996, in DJU
de 4.3.1996, fls. 5.347), o Suprem o Tribunal Federal, acostando-se ao art. 1 0 9 ,1, da
Lei Maior, julga ser atribuição da Ju stiça Estadual (não haveria distinção c o n stitu ­
cional) em todos os casos (Agravo de In stru m en to n. 150.770-5/040/SC , de
15.3.1996, in DJU de 8.4.1996, fls. 10.413).
1880. A ssociações e o u tro s — A ABRAPP e a ANAPP são pessoas ju ríd icas
de direito privado. R elacionam -se, de algum a forma, com as patrocinadoras, fre­
qu en tem en te com as patrocinadas, sendo com petente a ju s tiç a C om um . Q uando
se envolvem com o G overno Federal, a ju s tiç a F ederal deve ser buscada.
Salvo na hipótese do ente político (sem pre atraen te em razão da pessoa), a
com petência será da Ju stiça C om um .

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1304 W la d im ir N o v a e s M a r ti n e z
Capítulo CLXXXVIII

F o n t e s F o r m a is

1881. Constituição Federal. 1882. Código Comercial. 1883. Código Civil.


S u m á r io :
1884. Lei básica privada. 1885. Regulamentos da lei. 1886. Atos normativos
administrativos. 1887. Resoluções do CGPC. 1888. Estatuto Social e Regulamento
Básico. 1889. Jurisprudência judiciária e administrativa. 1890. Princípios gerais.

As fo rte s m ateriais com plem entares são praticam ente as m esm as da básica,
ou seja, co n trato individual de trabalho, prestação de serviços, contingências rea­
lizadas relativas a certas pessoas (participantes e seus d ep en d en tes). No caso da
aberta, a vontade do segurado.
As fontes form ais do D ireito Previdenciário pertencem a três gru p o s p rin c i­
pais: a) legislativas — constitucionais, legais, infralegais e portarias m inisteriais;
b) convencionais — Edital de Privatização, C onvênio de Adesão, E statuto Social
e R egulam ento Básico das entidades; e c) subsidiárias — legislação geral (C ódigos
Civil e C om ercial) e p revidenciária básica.
Em seu art. 10, claram ente, a Lei n. 6.435/1977, dizia: “As entidades abertas
serão reguladas pelas disposições da presente Lei e, no que couber, pela legislação
aplicável às en tid ad es de seguro p riv ad o ”.
A crescia o seu § l s : “Aplica-se às entidades abertas com fins lucrativos o d is­
posto no art. 25 da Lei n. 4.595, de 3 de dezem bro de 1964, com a redação que lhe
deu o art. 1- da Lei n. 5.710, de 7 de o u tu b ro de 1971”.
1881. C o n stitu iç ã o F ederal — A ntes de 5.10.1988, não ob stan te vários pos­
tulados co n stitu cio n ais fossem e continuassem aplicáveis à m atéria, a C arta M agna
silenciava a respeito. A p artir desta data, a C onstituição F ederal con tem p lo u d isp o ­
sição expressa sobre a com plem entação pública.
N o art. 201, § 7Q, colhia-se: “A previdência social m anterá seguro coletivo, de
caráter co m p lem en tar e facultativo, custeado p o r co n tribuições adicionais”.
Tratava-se do vetusto art. 68 da LOPS e art. 96 da CLPS, guindado ao nível
constitu cio n al. A bstraindo a expressão “seguro coletivo”, de n en h u m significado
técnico, a disposição dizia respeito à possibilidade de a pessoa im plem entar, suple­
m en tar ou co m p lem en tar os benefícios oferecidos pelo Estado.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c m r io

T om o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1305
Nao se referia ex atam ente ao tem a da Lei n. 6.435/1977 e, sim , à oferta de
previdência co m p lem entar estatal, não regulam entada até hoje.
Eram raras as fontes form ais sobre previdência privada na Lei M aior até
15.12.1998.
A U nião detém exclusividade para legislar sobre seguro (art. 22, VII e XIX),
atribuição com um sobre saúde e assistência pública (art. 23, II) e concorrente so­
bre previdência, proteção e defesa da saúde (art. 24, XII).
No C apítulo IV — Do Sistema Financeiro Nacional, encontra-se: “autorização
e fu ncionam ento dos estabelecim entos de seguro, previdência e capitalização, bem
com o do órgão oficial fiscalizador e do órgão oficial resseg u rad o r” (art. 192, II).
Cada um dos postulados capitulados nos arts. 193/204 deve ser exam inado
d etid am en te, an tes de invocado com o referência, na previdência privada. F u n d a ­
m entalm ente, a intenção do legislador era d isp o r exclusivam ente sobre a básica
(e, claro, nessa condição diante da subsidiaridade, os seus dispositivos podem ser
solicitados), p o d en d o , em algum caso, dada a universalidade do com ando, aplicar­
-se à com plem entação (caput do art. 193).
C om a EC n. 20/1998 as coisas transform aram -se extrao rd in ariam en te e o
art. 202, que definia o valor dos benefícios do RGPS, passou a dispor inteiram ente
sobre a previdência com plem entar. Com efeito, seu caput diz: “O regim e de previ­
dência privada, de carãter e organizado de form a au tô n o m a em relação ao regim e
gerai de previdência social, será facultativo, baseado na constituição de reservas
que garanLam o benefício co n tratad o , e regulado p o r lei co m p lem en tar”.
São evidentes aí os seguintes aspectos: a) caráter co m p lem en tar da proteção
social; b) indep en d ên cia em relação ao RGPS; c) facultatividade de ingresso; d)
pressuposto da presença de reservas técnicas; e e) regulação por lei com plem entar.
1882. C ódigo C om ercial — Em seus arts. 666/730, no T ítulo VIII — Dos
seguros marítimos, o C ódigo C om ercial (Lei n. 556, de 1850) rege o seguro privado
n a área m arítim a.
1883. C ó digo C ivil — Em seus arts. 233/965, no Livro 1 da Parte Especial —
Do Direito das Obrigações, C apítulo XXV — Do contrato de seguro (arts. 757/802),
o C ódigo Civil brasileiro cuida do seguro privado.
As sociedades m ú tuas de seguro foram objeto dos D ecretos-leis ns. 4.608/1942
e 7.377/1945. O s beneficiários do seguro de vida são definidos no D ecreto-
lei n. 5.384/1943. A profissão de co rreto r de seguros está disciplinada na Lei n.
4 .5 9 4 /Í9 6 4 . A Lei n. 6.194/1974 cuida do seguro obrigatório de danos pessoais
provocados p o r acidentes terrestres autom otivos.
D iante das du as leis básicas (LC n. 109/2001 e D ecreto-lei n. 73/1966), os
dois códigos só po d em ser co nsultados no caso de insuficiência, isto é, subsidia-
riam ente; o m esm o valendo para lei fundam ental oficial.
1884. Lei b ásica p riv ad a — O segm ento privado está subm etido à lei funda­
m ental (LC n. f 09/2001): aberto e fechado. A fração relativa ao seguro privado tem
sua própria lei orgânica: D ecreto-lei n. 73/1966.

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1306 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
P or su a generalidade, convém co n su ltar o C ódigo de Defesa do C onsum idor
e a Lei de Defesa da E conom ia Popular.
a) Previdência aberta: A lei básica do seguro privado é o Decreto-lei n. 73/1966,
regulam entado pelo D ecreto n. 60.459/1967 e alterado pelos D ecretos-leis n. 168/
1967 e n. 296/1967. São rem issíveis, ainda, as Leis n. 4.595/1964 e n. 5.710/1971.
D ispõe sobre o Sistem a N acional de Seguros Privados e, em seu art. 3Q, p ará­
grafo único, exclui taxativam ente o RGPS de sua disciplina.
M enciona as seguintes entidades gestoras: a) C onselho N acional de Seguros
Privados — CNSP; b) S u p erintendência de Seguros P rivados — SUSEP; e c) In sti­
tu to de R esseguros do Brasil, sociedade de econom ia m ista in stitu íd a pelo D ecreto
n. 6 0 4 6 0 /1 9 6 7 .
A inda com põem o dito sistem a as sociedades seguradoras e os corretores de
seguros.
b) Previdência fechada: Até 29.5.2001, a norm a básica era a Lei n. 6.435/1977,
com as alterações da Lei n. 6.462/1977, D ecreto-lei n, 2.053/1983 e Lei n.
8.020/1990.
A LC n. 109/2001 é a n o rm a básica da Previdência C om plem entar. Logo após
o C ap ítu lo I — Introdução (art. l s/59), no C apítulo II dispõe sobre os planos de be­
nefícios (arts. 6/30), no C apitulo III disciplina as entidades fechadas (arts. 31/35),
n o C ap ítu lo IV, as en tidades abertas (arts. 36/40), n o C apítulo V (arts. 44/62) trata
da in tervenção e da liquidação, C apítulo VI — Do regime disciplinar (arts. 63/67)
e, finalm ente (arts. 6 8/79), D isposições G erais (C apítulo VIII).
c) Código de Defesa do Consumidor: Na Lei n. 8.078/1990 (C ódigo de Defesa
do C o n su m id o r), no C apítulo VI — Da proteção contratual, Seção III — Dos con­
tratos de adesão, prevê-se proteção aos serviços securitários.
Seu art. 3e, § 29, diz: “Serviço é q u alq u er atividade fornecida ao m ercado de
co n su m o , m ed ian te rem uneração, inclusive as de natureza bancária, financeira e
securitária, salvo as d eco rren tes de caráter trab alh ista”.
Eixa regra de grande alcance na exegese da m atéria: “As cláusulas co n tratu ais
serão in terp re tad as de m aneira m ais favorável ao co n su m id o r” (art. 47).
1885. R eg u lam entos d a lei — A Lei n. 6.435/1977, sabiam ente foi regulada
por dois decretos: R egulam ento da Previdência fechada (D ecreto n. 81.240/1978)
e R egulam ento da Previdência aberta (D ecreto n. 81.402/1978).
D iante da generalidade própria da lei fu n d am en tal (regrou o m ínim o possível
em razão da liberdade do sistem a), os decretos quase se lim itaram a copiá-la, pouco
esm iu çan d o o texto legal, raram ente sendo criativos. Q u ando o foram , ex trap o la­
ram seu papel, e criaram o lim ite de 55 anos de idade...
O D ecreto n. 81.240/1978 foi alterado pelos D ecretos ns. 82.325/1978
(alterou o § l e do art. 6Q), 86.492/1981 (m odificou o § 3Qdo art. 1°) e 87.091/1982
(regras sobre a co n trib uição dos participantes). O D ecreto n. 99.244/1990 reviu os
arts. 14/19 do D ecreto n. 81.240/1978.

C u k -SO d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
Em m atéria de previdência fechada, foi editado o D ecreto n. 4.206/2002, logo
su p erad o pelo Decreto n. 4.942/2003.
1886. Atos normativos administrativos — D iversos órgãos supervisores
baixam n o rm as sobre a previdência privada. Os p rin cip ais atos n o rm ativ o s são os
seguintes: a) R esolução C PC n. 0 1/1978 — N orm as reguladoras sobre o fu n cio ­
n am en to d as EFPC ; b) R esolução CMN n, 4 6 0/1978 — D iretrizes para aplicação
das Reservas Técnicas; c) R esolução C G PC n. 4/1994 — N orm as de A plicação das
Sanções A d m in istrativas (arts. 75 a 79 da Lei n. 6 .435/1977); d) R esoluções do
C onselho F ederal de C on tab ilid ad e e as R esoluções CPC n. 2/1978 e n. 4/1980;
e) M anual de P revidência P rivada A berta (C ircu la r SUSEP n. 50/1979); 0 P or­
taria MPAS n. 12.057/1978 — R egim ento In te rn o da SPC; g) R egim ento In tern o
do CPC (P o rtaria MPAS n. 1.058/1978); h ) m u itíssim as resoluções do Banco
C en tral do Brasil sobre aplicações; i) N o ta E xplicativa CMN n. 6/1978 — Regras
sobre aplicações; e j) R esolução n. 240/1978 do T ribunal de C o n tas da U nião.
Tam bém não podem ser esquecidas as resoluções do C onselho de C uradores
ou da D iretoria Executiva de cada entidade.
1887. Resoluções do CGPC — O CGPC é órgão colegiado, norm ativo, de
deliberação, controle e avaliação da execução da política nacional das EFPC (art.
I9 do Decreto n. 607/1992). S ubstituiu o C onselho de Previdência C om plem entar.
Sua com petência eslã aclarada no art. 35 da Lei n. 6.435/1977, entre os quais:
“0 con h ecer dos recursos de decisões dos órgãos executivos da política traçada na
form a da alínea a deste inciso”.
Sua com posição foi alterada pelo D ecreto n. 610/1992. N estas condições, ór­
gão de controle dos atos adm inistrativos das entidades, o CGPC tem sim etria com
o C onselho de R ecursos da Previdência Social — CRPS. Suas decisões constituem
“ju risp ru d ên cia1' ad m inistrativa e prestam -se com o fonte de consulta.
1888. Estatuto Social e Regulamento Básico — A par do E dital de Privati­
zação e do C onvênio de A desão, os atos oficiais de constituição das entidades, ou
seja, a lei orgânica do plano de custeio e benefícios, o E statuto Social e o R egula­
m ento Básico, são d o cu m en to s im p o rtan tes n a aplicação, integração e in terp re ta­
ção das situações fáticas e jurídicas. Q u ando em consonância com a lei básica e
seu regulam ento, postam -se acim a destes n a hierarquia das fontes formais. Se não
con trário s à C arta M agna, em particular q u an d o não ofendem a coisa ju lg ad a, o
ato ju ríd ico perfeito e o direito ad q u irid o são convenções entre as partes e têm de
ser exam inados e respeitados, em cada caso.
L egitim am ente aprovados, por interm édio dos órgãos in tern o s com petentes
e hom ologados pela SPC, co n stitu em o co n trato de adesão a ser consultado, em
prim eiro lugar, pelo in térp rete e aplicador da regra.
C o nfundidas as suas atribuições, alguns julgam ser o E statuto Social cor­
resp o n d en te à lei, devendo o R egulam ento Básico igualar-se à ideia de decreto
regulam entador. O E statu to deve cu id ar da entidade, en q u a n to fundação ou socie­
dade civil, razão social, definição dos objetivos e órgãos adm inistrativos, fixando a

C u rso ü£ D ir e it o P R n v ip n N C iA R io

1308 W ltíd ím trN o v a e s M a r tin e z


com p etên cia de cada u m deles (D iretoria Executiva, C onselho d e A dm inistração,
C onselho de C urad o res, C onselho Fiscal), d eterm in an d o sobre a extinção d a en ti­
dade e o u tro s aspectos institucionais.
Por seu tu rn o , o R egulam ento Básico é a norm a previdenciária, onde defini­
dos os req u isito s de adm issão, joia, taxa de inscrição, conceito de particip an te lato
sensu, fontes de custeio, rol de benefícios, form as de resgate, regras de d ec ad ên ­
cia, prescrição, reajustam ento, enfim , com andos p ertin e n te s ao financiam ento e às
prestações.
P or isso, S u d i Garcez de M artino Lins de Franco recom enda cuidados especiais
n a sua redação ( “N ecessidade de A perfeiçoam ento dos R egulam entos Básicos das
E FPP”, in RPS n. 187/470).
C om o an tecip ad o, em m u ito s casos, subsistem im p o rtan tes disposições no
E d i L a l de P rivatização e n o C onvênio d e Adesão.

1889. Jurisprudência judiciária e administrativa — A ju risp ru d ê n c ia não


é fonte form al, m as contribuição d o u trin ária de grande relevo, pois representa o
p en sam en to dos ju iz e s e tribunais. N orm alm ente, as decisões ju d iciárias das três
esferas, federal, co m u m e trabalhista, são de significação prática para o estudioso.
Os m agistrados, não d ispondo de condições m ateriais para e stu d a r perfeitam ente
cada co n llito de interesse, socorrem -se frequentem ente do p en sa m e n to de seus
colegas e tribunais.
1890. Princípios gerais — O s princípios tam bém não são fontes form ais.
E n tretan to , da m esm a form a e até m ais, são p ro cu rad o s avidam ente pelo intér­
p rete q uan d o aquelas são incapazes de so lu cio n ar conveniente e satisfatoriam ente
as questões, d evendo ser p erq u irid o s em respeito a sua real condição. Em face da
lei dispositiva e expressa nada significam ; porém , na om issão o u lacuna assum em
im p o rtân cia, e nos seus lim ites, q u an d o cabíveis, são in stru m en tal ideal para cada
caso.

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
m
Capítulo CLXXXIX

D o u t r in a N a c io n a l

S u m á r i o : 1891. Segmento aberto. 1892. Segmento fechado. 1893. Cálculo atua­

rial. 1894. Mercado de capitais e contabilidade. 1895. Apostilas de cursos. 1896.


Pareceres técnicos. 1897. Seguro privado. 1898. Matemática financeira. 1899.
Teses etn congressos. 1900. Periódicos especializados.

Não é escassa a literatu ra técnica sobre previdência com plem entar, prevale­
cendo sobre o segm ento aberto. Affonso Almiro, escrevendo em 1978 ( “Indicações
bibliográficas sobre Previdência Supletiva no Brasil”), cita cerca de 40 autores e 70
trabalhos, dos quais cinco livros. Ele m esm o, em 1984, prom oveu o u tro levanta­
m ento, assinalando as principais publicações incluindo significativo rol de teses
apresentadas em diferentes congressos e sem inários (“Bibliografia Previdenciária
Brasileira”, IBDP, p. 27/97).
Com o advento da Lei n. 6.435/1977, obras de vulto não apareceram sobre
previdência fechada. N inguém se arriscou a com entá-la, m as elevado n ú m ero de
artigos foi editado em diferentes periódicos, destacando-se, sobretudo, os p ro m o ­
vidos pela ABRAPP, p articu larm en te apostilas para cursos expositivos.
M uitos desses ensaios podem ser encontrados na Revista de Previdência So­
cial, da E ditora LTr, e na Revista C o n ju n tu ra Social, do então MPAS, e em teses e
conferências publicadas em círculo restrito das entidades p rom otoras dos eventos.
No p ertin e n te à m atéria de custeio, na Revista Dialética de D ireito Tributário.
Individualm ente com entam os a LC n. 109/2001 (“C om entários à Lei Básica da
Previdência C o m p lem entar”), desenvolvem os dois institutos técnicos (“A P ortabi­
lidade na Previdência C om plem entar” e “Retirada de P atrocinadora”) e reunim os
estudos específicos (“P areceres Selecionados de Previdência C om plem entar”), além
do “D ireito Previdenciário C om plem entar P rocedim ental”, todos pela LTr Editora.
1891. S egm ento a b e rto — Em 1977/1978, a E ditora LTr lançou no m ercado
livreiro, de Aroldo Moreira e Paulo R. Lustosa, “A P revidência Supletiva e o F un d o
de Pensão E m presarial” e, de Affonso Alm iro, “A P revidência Supletiva no Brasil”.
U m ou o u tro reu n iu a legislação, caso de Carlos Alberto Mascarenhas Schild, no
“Previdência S upletiva”.

C u r s o dh D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1310 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
O bras acatadas são: “Previdência P rivada” e “Previdência Privada — Planos
E m presariais", ab ran g en d o os segm entos aberto e fechado, am bas de Manuel Se­
bastião Soares Póvoas. Tam bém é bom co n su ltar Severino Garcia Ramos (“N oções
de Previdência Privada A berta”).
A ANAPP p u b lico u o livro “1 Sem inário de Previdência Privada A berta”, no
Rio, em 1984. Em 1986, foi a vez do II Sem inário. Francisco Assis Corrêa Barbosa é
u m dos ú n ico s a versar a exação fiscal das entidades, no “A spectos T ributários da
P revidência Privada A berta e legislação aplicável”, R io-1980.
De m o d o geral, J. E. Abreu de Oliveira (“Pensões M ilitares”, Forense, 1960),
Moyses Glatt ( “F u n d o s de P ensão”, Ed. 1BEMEC, 1975), NoemiaSpinoItí ( “A gigan­
tesca m áq u in a dos fundos de pensão am ericanos”, SP, 1979) e Voltaire Giavarina
Marensi ( “Previdência Privada — Legislação e N o rm as”, Síntese, 1979).
Os m o n tep io s d espertaram b astante interesse no passado — historicam ente,
d estacando-se o livro de Miguel Lemos (“Razões contra o M ontepio O b rig ató rio ”,
Ed. Tip. C entral, 1885) e o de Antônio José Fabrícío da Cunha, “N otícia sobre o
M ontepio Geral da E conom ia dos Servidores do E stado”, Tip. Leuzinger, 1895) —
objeto de vasta literatura técnica, valendo ap o n tar teses de Álvaro Moraes ( “A rea­
lidade atual dos m o n tep io s”, SP, 1975), Cíóvis Pogelli (“O s M ontepios e o Sistema
N acional de Seguros”, SP, 1976), Eduardo Radanovitsck ( “E stru tu ra Técnico-A tua-
rial das EAPP”, PA, 1979), F rank M ax Simon Germann ( “E stru tu ra ju ríd ic a Insti­
tucional das EAPP”, PA, 1979), José Virgílio Castelo Branco Rocha ( “O M ontepio e
seus O bjetivos”, SP, 1980), Marcelo Tostes ( “M ontepio e S eguro”, SP, 1974), Ruben
Rosa (“M ontepio Civil à N eta C asada”, Brasília, 1964), Sebastião Carlos Valladão
(“O papel social do s m o n tep io s”, SP, 1974).
O u tro s livros sobre o m esm o assunto são de Álvaro Moreira da Silva ( “Teoria
e Prática do M ontepio e Pensões M ilitares”, Ed. C onquista, 1964), A m aury Soa­
res Silveira (“A realidade atual dos M ontepios”, IDORT, 1976), Frederico Cúrio de
Carvalho ( “O M ontepio C ivil”, Ed. Imp. M ilitar, 1922) e Wilson do Valle Fernandes
( “Previdência Privada. M ontepios e outros ensaios”, Ed. AMAL, 1980).
1892. S eg m en to fechado — André Franco Montoro e C om élía Nogueira Porto
desenvolveram ideias na “Previdência Social e a Previdência C om plem entar". O bra
considerável é, tam bém , o “Sim pósio N acional da Previdência P rivada”.
Pela o p o rtu n id ad e do desenvolvim ento, vale co n su ltar “P lano de Benefícios
das E n tidades de P revidência Privada: A lterações do R egulam ento e o D ireito A d­
q u irid o ”, de M iriam Costa Rebollo Câmera (in RPS n. 37/24).
1893. C álcu lo a tu a ria l — Os atuários são os escribas m ais atu an tes do setor.
Rio Nogueira en cam in h o u m uitos artigos, teses e trabalhos esparsos, bem com o
dois livros: “P revidência Privada — As opções da em presa u su ária” e “A crise m o ­
ral e financeira da Previdência Social”. É interessante co n su ltar dele “Reservas e
Regimes F inanceiros das E ntidades P revidenciais” e “M étodos A tuariais — Varia­
ções sobre um m odelo sim ples”.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n t a r 1311
Newfon Cesar Conde apresenta tese universitária ( “Tábua de m ortalidade des­
tinada às en tid ad es fechadas de previdência priv ad a”) e o u tro s trabalhos. Wilson
Vilanova escreveu “M atem ática A tuarial” e N ewton J. Monteiro p ro d u ziu o “C álculo
das P robabilidades”.
Newton César Conde e Ivan Sant’Ana Ernandes publicaram o talvez único livro
para in iciantes em atuaria (Atuãria para Não A tuãrios, São Paulo: ABRAPP, 2007).
Emilio Recamonde Capelo tem tese universitária, verdadeiro livro, sob o título
de “F u n d o s Privados de Pensão — U m a introdução ao estudo a tu arial”.
Joel Montelo é au to r da “Técnica A tuarial”, SP, 1980, e Jesse M ontello publicou
“E xpansão D em ográfica e P revidência Social no Brasil”, Ed. IBGE, 1983. O utras
teses, de Ricardo Frischtak (“T ábuas biom étricas: sua adequação à realidade das
EFPP”, PA, 1983), Sylvio Pinto Lopes ( “A specto A tuarial e C u steio ”, C âm ara dos
D eputados, 1978) e Wi/son Vilanova ( “A questão do juro atu arial”, PA, Í983).
1894. Mercado de capitais e contabilidade — “M ercado F inanceiro”, de Ri­
cardo Fortuna, preen ch e em parte a lacuna sobre m ercado de capitais. Os livros
sobre econom ia são m uitíssim os e, alguns, p o r serem clássicos, devem ser m encio­
nados com o o “P rincípios de E conom ia M o d ern a”, de Eugênio Gudin.
Ney Roberto Ottoni de Brito é au to r do “M ercados F u tu ro s — Sua relevância e
ex p eriên cia”. Paulo de Tarso Medeiros escreveu: “O que é o M ercado de A ções”. L uiz
F. Forbes tem “P rincípios Básicos para aplicar nos M ercados F u tu ro s”.
Os congressos do 1BDP e da ABRAPP foram ótim as o p ortunidades para divul­
gação de m uitas teses. Agnaldo Souto apresentou no G uarujá, em f9 7 8 , “M ercado de
Ações”; A ry de Carvalho Alcântara, “A plicação das Reservas das EFPP com o fator
de D esenvolvim ento Social e E conôm ico do País” (SP, 1981); Ermindo Ceacketo
Júnior ( “Aplicação das Reservas das EFPP", Rio, 1979); Francisco de Assis Figueira
(“M ercado de Previdência P rivada”, SP, 1980, e “As EFPP com o In stru m en to de
Incentivo da Poupança N acional”, SP, 1981); Geraldo Hesse (“M ercado de Ações
M obiliárias”, Rio, 1979); Helbert Rosa ( “Investim entos: adm inistração própria ou
ex tern a”, SP, 1981); Manoel Octüvio P. Pereira Lopes ( “Aplicação das Entidades Fe­
chadas no M ercando Financeiro e de C apitais”, G uarujá, 1978); M ário lnnocentinni
( “Aplicações previstas na Res. n. 460 do C M N ”, PA, 1979); Matias M. Molina (“A
Bolsa de Valores sob o reinado dos F u n d o s de P ensão”, SP, 1979); Paulo de Tarso
Medeiros ( “C ritérios e F u n d am en to s das Aplicações das R eservas”, PA, 1983); Pedro
Leitão da Cunha (“As E ntidades de Previdência Privada e a Res. n. 4 6 0 ”, G uarujá,
1978); Plínio Catanhede ( “A lguns A spectos da Previdência Social: o problem a da
aplicação de reservas”, Ed. Tip. M ercantil, 1946); Reinado Heller (“F u n d o s de P en­
são. A CVM ap o stan d o no fu tu ro ”, SP, 1979); Roberto Ferreira Saboya de Albuquerque
( “O acom panham ento dos Investim entos no M ercado de Ações”, G uarujá, 1978);
Theodoro J. Meisone ( “O s F u n d o s de Pensão no M ercado de Ações”, SP, 1979).
Na con tab ilid ad e, destaca-se “N orm as e Práticas C ontábeis no Brasil”, de
A rthur Andersen, e a tese de Paulo Gustavo Dias Allão ( “N orm as e C ritérios G erais
de C o n tab ilid ad e”, Rio, 1979).

C urso d e D ir e it o P r e v i d i .;n c i á r í o

1312 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
1895. A p o stilas d e cu rso s — São centenas as apostilas sobre previdência
fechada, so b retu d o as editadas pela ABRAPP, convindo d estacar “Benefícios Pre-
vid en ciais”, de M aria Helena Carneiro, e “U m a visão básica e prática do D ireito
P revidenciário”, de N ew ton Cesar Conde. É dele tam bém o “C urso A tuário para não
atu ãrio s”. Igual títu lo pertence a Ivan S anfana Em andes,
Newton J. Monteiro oferece apostila sobre os elem entos básicos do cálculo
atu arial ( “E studo A tuarial para Sistem as de P revidência M unicipal”).
José Francisco de Souza elaborou “U m estudo sobre F u n d o s de Pensão — Novo
m odelo de P revidência Social”, em 1988. “O rep o sicio n am en to da im agem dos
F u n d o s de P en são ”, publicada n o Rio, em 1994, é de C esar Rômulo Silveira Neto.
Devanir da Silva g estou “Visão geral do Sistem a de P revidência C o m p lem en tar”,
em 1992, e “V antagens para Em presas e E m pregados”, em 1994. Leonel Carvalho
de Castro ap resen to u “Sem inário E stratégia A dm inistrativa para C u rad o res”, em
C uritiba, em 1994. Roseli da Graças Silva Delia Zuana elaborou “C álculo atu arial”,
tam bém de C uritiba, em 1994. Francisco de Resende Baima preparou “M edidas de
Avaliação de D esem penho de Investim entos das E FPP”, em Brasília, em 1988 e,
tam bém , “As EFPP — Evolução e perspectivas”.
V ersando atuaria, Ronaldo Araújo Vieira escreveu o “M odelo A tuarial Valia”.
Emilio Recamonde Capelo preparou “Um plano de P revidência C om plem entar sem
risco de inso lv ên cia”. A exposição de Ari Barcelos da Silva cuida da “Previdência
C o m p le m e n ta r” (Rio, 1987), e a d e Gisele C antuária Selvas ab o rd a a “P rev id ên ­
cia C o m p le m e n ta r — Legislação e N o rm a s”, de 1992. Rubens Scuoppo transm itiu
sua experiência (“F u n d o de Pensão para D irigentes”, de 1994, e “A Previdência
Social C o m p lem en tar e os órgãos do Sistem a”, Rio, 1979). Eneas Virgílio Saldanha
Bayão, com “Legislação da Previdência C o m p lem en tar”, de 1994, e Renato Chagas
tem trabalho sob o título “Benefícios P revidenciais”, tam bém de 1994.
1896. P areceres técn ico s — Em 1995, a ABRAPP-ICSS pub lico u reunião de
pareceres, sob o títu lo “Im unidade T ributária das entidades fechadas de previdên­
cia p riv ad a”.
Nos diferentes volum es dos “Pareceres de D ireito do Trabalho e Previdência
Social”, de Arnaldo Süssekind e Luiz Inácio B. Carvalho, são en co n trad o s vários
estu d o s aprofundados.
O volum e “Pareceres de D ireito do Trabalho”, de M ozart Victor Russomano,
tem análises consultáveis.
1897. Seguro p riv ad o — O seguro privado conhece bibliografia respeitável.
E ntre os p rin cip ais trabalhos, estão os de Voltaire Giavarina Marensi ( “O Seguro no
D ireito B rasileiro — tem as atu ais”), Isaac Halperin ( “C o n trato de S eguro”), Antônio
Carlos Otoni Soares ( “F u n d am en to ju ríd ic o do C o n trato de Seguro”); Alexandre
L uzzi Las Casas ( “M arketing de Seguros”); Angelo Mario de Morais Cerne ( “O Se­
guro Privado n o Brasil”); N um a Freire ( “A spectos do S eguro”); João José de Souza
Mendes ( “Bases Técnicas do Seguro”) e Manuel Sebastião Soares Póvoas ( “G estão
de M arketing na atividade de seguros”). Wícidemir Standerslki e Alecseo Kravec são
autores do “Seguros Privados & Previdência C o m p lem en tar”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o iV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1313
1898. Matemática financeira — É m uito citado o “C urso de M atem ática Fi­
nanceira e A tuarial”, de Filadelfo Insolera. Nivaldo Cândido de Oliveira Jr., Félix
da Cunha e Sérgio José Vignoli prepararam o utilissim o “M atem ática F inanceira”.
Tam bém publicaram o “Soluções F in an ceiras”.
1899. Teses em co ngressos — Os congressos anuais prom ovidos pelo IBDP e
ABRAPP têm sido fó ru n s ideais para painéis, conferências e teses. São m uitíssim as
as contrib u içõ es de diferentes autores, sendo de interesse salien tar as principais
delas, de Affonso Heleno de Oliveira Fausto ( “Planos de C om plem entação de b en e­
fícios e serviços de um a E ntidade do Setor P úblico”, Rio, 1979); Alcides Thom az
Lauria (“Previdência C om plem entar do A dvogado”, Salvador, 1981); Américo M.
Goulart Simas ( “E ntidades com m ais de um p a tro c in ad o r”, PA, 1983); Angelo Bal-
docchi (“O perações da E ntidade Fechada de Previdência P rivada”, Rio, 1979); An­
tônio Marsiloc de Oliveira ( “Sobre a Res. n. 4 6 0 ”, G uarujã, 1978); Antônio Tofareto
( “Q uem ganha com a E volução dos F undos de P ensão?”, SP, 1979); Carlos Alberto
Allgayer ( “A Previdência C om plem entar em face da Atual C o n ju n tu ra Previdenciá­
ria”, SP, 1981); Cláudio Luiz Pinto ( “N orm as R egulam entares”, Rio, 1978); Darcy
Rocha M artins (“A Previdência C om plem entar no Processo de U niversalização da
Seguridade Social”, PA, 1980); Eduardo Alcoforado Pontual ( “P lanos de C om ple­
m entação de benefícios e serviços de u m a entidade do Setor P úblico”, Rio, 1979);
EduardoJuarez (“Serviços A ssistenciais”, Brasília, 1980); Elpídio M arinho de Mattos
( “F u n d o s de Pensão — para a em presa é Lucro ou D espesa?”, SP, 1979); Ernesto
Albrect ( “O M inistério da Fazenda e as E F PP ”, Rio, 1979); Ernesto José Pereira Reis
( “A Previdência Privada e o D ireito P revidenciário”, Rio, 1984, e “Previdência Pri­
vada e O ficial”, SP, 1984); Francisco Assis Corrêa Barbosa (“D ireito do Trabalho e
as E ntidades de Previdência P rivada”, SP, 1980); Francisco Darthanan Ribeiro (“As
em presas estatais e privadas e o sistem a previdenciário co m p lem en tar”, PA, 1983);
Gabriel Salles ( “F u n d o s de Pensão. M odalidades de contribuições e benefícios”, SP,
1979); Galeno Velhinho de Lacerda ( “R egulam entação da P revidência P riv ad a”,
SP, 1974); Humberto Torloni ( “O Ano III da Previdência Social C om plem entar do
Brasil”, Rio, 1979, “A Previdência Social O ficial e a com plem entar e sua c o n trib u i­
ção para o D esenvolvim ento E conôm ico do País”, Rio, 1979, e “Expansão e For­
talecim ento da P revidência C o m p lem en tar”, Brasília, 1980); Jaym e de Castro M on­
teiro e Jorge Gonçalves Sá ( “P atrim ônio das E FPP”, SP, 1976); Jaym e Rolemberg de
Lima ( “O papel das E ntidades de P revidência Privada”, SP, 1976);Joac[uim Caetano
Gentil Netto (“A Previdência Social C om plem entar e os Ó rgãos do Sistem a”, Rio,
1979); JorgeJohannpeter Gordson ( “As Em presas Estatais e Privadas e o Sistem a de
Previdência C o m p lem en tar”, PA, 1983); José Anchieta da Silva ( “Benefício insti­
tuído antes da Lei 6.435 e benefício in stitu íd o p o r E FPP”, Rio, 1983); José Carlos
Soares Freire (“C riação de um Sistem a de Previdência Privada para os Servidores
Públicos F ederais”, G oiânia, 1981); Mário Henrique Simonsen (“A participação da
iniciativa privada na P revidência”, SP, 1976); Mário Trindade ( “F u n d o s de P ensão”,
SP, 1974); Ornar Bacha ( “E statização das EAPP”, PA, 1980); Omar Emir Chaveso
(“Previdência Privada — F u n d o s de Pensão”, 1976); Ovídio A. Batista da Silva

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1314 W ladim ir N o v a e s M artinez


(“N alu reza ju ríd ic a do co n trato de Previdência P rivada”, Rio, 1983); Paulo Mente
( “C aracterização legal, conceituação e objetivos essenciais das E F PP ”, Rio, 1979);
Paulo R. Lustosa ( “P revidência C om plem entar”, Rio, 1983); Raimundo Carneiro
( “A Previdência Social C om plem entar e os órgãos do Sistem a”, Rio, 1979); Raul
de Souza Silveira (“E xperiência brasileira em P revidência P rivada”, SP, 1974); Rio
Nogueira (“Regim es C om plem entares de Previdência com patíveis com as Caixas
A ssistenciais d o s A dvogados”, Rio, 1976); Severino Ramos ( “C onstituição e Planos
de P revidência P rivada”, Rio, 1980); Sylvio A im ando Nacarato ( “G enerosidade dos
P lanos de P revidência C o m p lem en tar”, 1980); Victor Frank Paranhos ( “E ntidade
com m ais de u m p a tro c in ad o r”, PA, 1983) e Wonter Pieter H arlem jr. ( “C o n stitu i­
ção, organização e fu n cionam ento das E FPP”, Rio, 1979).
Os jo rn ais do C ongresso Brasileiro de Previdência C om plem entar, prom ovi­
dos pela LTr E ditora, editados nos anos 2000/2005, apresentam u m sem -núm ero
de artigos, exposições e teses de grande relevância.
1900. Periódicos especializados — As revistas C o n ju n tu ra Social e P revidên
cia Social em Dados, do MPAS, a Revista de Previdência Social, da LTr E ditora, bem
com o a Revista e Jo rn a l ABRAPP, têm divulgado centenas de trabalhos nacionais e
estrangeiros sobre previdência privada.
O jo rn a l (verdadeiro livro) dos congressos patro cin ad o s pela ABRAPP traz
con trib u içõ es científicas n a form a de artigos, teses e ensaios. O jo rn a l dos 15 c o n ­
gressos de Previdência Social, prom ovidos pela LTr, tam bém volum oso e su b stan ­
cial, registra colaborações valiosas. P rincipalm ente os dois do I/1I C ongresso Brasi­
leiro e Previdência C om plem entar (2001/2002). Na área fiscal, a Revista Dialética
de D ireito T ributário.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I V — Previdência Com plem entar


Capítulo CXC

S istema N acional S upletivo

1901. Domínio aberto. 1902. Domínio fechado. 1903. Seguro de vida,


S u m á r io :
pecúlio e invalidez. 1904. Protegidos na área jurídica. 1905. Seguro automotivo
obrigalório. 1906. Benefício empresarial. 1907. institutos de assistência social.
1908. Cobertura dos grêmios. 1909. Seguro de transportadoras. 1910. Assistên­
cia à saúde.

O sistem a nacional supletivo, de m odo sum ariado, é com posto p o r várias in s­


tituições: a) previdência aberta; b) previdência fechada; c) seguro privado; d) segu­
rados da área da Justiça; e) seguro au tom otivo obrigatório; 0 beneficio trabalhista
em presarial; g) pecúlio individual; h) seguro grem ial; i) seguro de transportadora;
j) previdência co m p lem en tar pública; e k) assistência à saúde (planos de saúde).
É integrado tam bém pela caderneta de p o u p an ça individual e aplicações pes­
soais na Bolsa de Valores.
1901. D o m ín io a b e rto — Os planos abertos são securitários e previdenciá­
rios, oferecendo pecúlio e rendas, adm inistrados prin cip alm en te p o r seguradoras.
E stribados no seguro privado e no regim e financeiro de capitalização, com fins
lucrativos (seguradoras, em presas de capitalização e de previdência) e sem visar
lucro (m o n tep io s, associações e fundações).
Em m atéria de previdência social, a novidade de 1996 foi a aposentadoria-
-poupança, co n stitu íd a de depósitos m ensais vo lu n tário s d u ra n te 10 anos, com
Im posto de R enda diferido.
1902. D o m ínio fechado — Em presas estatais e privadas in stitu em entidades
restritas aos seus prestad ores de serviços, m ediante custeio exclusivo da provedora
ou divididos os encargos entre os p articipantes e a patrocinadora.
M enos com um , em pregados reúnem -se para co n stitu ir associação p reviden­
ciária à sua p ró p ria custa, grêm ios profissionais com o fito de autoproteção.
1903. Seguro d e vida, pecúlio e in v alid ez — P ropiciado pelas com panhias
seguradoras, o seguro privado, com certos aspectos previdenciários, cobre os riscos
da atividade profissional. Tem p o r principais eventos d eterm in an tes a invalidez e
a m orte.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1316 W l a d im i r N o v a e s M artinez
Bancos e seg u radoras co n tratam pecúlios individuais, com algum acréscim o
em v irtu d e de ren tab ilidade, baseados n o regim e financeiro de capitalização. Em
alguns casos, até com sorteios de bens duráveis.
1904. Protegidos na área jurídica — O s In stitu to s de P revidência dos E sta­
dos, a exem plo de São Paulo (IPESP), costum avam prever carteiras, isto é, regim es
especiais facultativos para m agistrados, advogados e cartorários, in clu in d o , num a
e n o u tra hipóteses, o u tras categorias de trabalhadores ligados à Justiça. Em São
Paulo, com o SPPREV, o IPESP deverá desaparecer.
O custeio é gerado individualm ente e pela sociedade, m ediante taxas ou em o­
lu m en to s in cid en tes sobre custas e despesas ju d iciais ou cartorárias.
As prestações são rendas m ensais vitalícias ou pecúlios d eterm in a d o s no
convênio.
1905. Seguro automotivo obrigatório — Q uem possui veículo terrestre auto­
m otivo é obrigado a fazer seguro contra acidentes de trânsito (Lei n. 6.194/1974).
Por sinal, fração da arrecadação deste faz parte da receita da Previdência Social básica.
1906. Benefício empresarial — A lgum as em presas, sponte própria, criam b e­
nefícios trab alh istas e serviços a favor do em pregado, com plem entação da rem u­
neração no caso de auxílio-doença, pecúlios, assistência à saúde, pagam entos in
natura, salários indiretos, enfim , benefícios trabalhistas.
N os term os da Lei n. 6.435/1977, não se trata de previdência com plem entar.
1907. In s titu to s de a ssistê n c ia social — A lgum as em presas instituíram in s­
titu to s de assistência social, associações civis com vistas à assistência social p ro ­
p riam en te dita e até alguns benefícios previdenciários, provavelm ente à m argem
da LBPC.
1908. Cobertura dos grêmios — Boa parte dos grêm ios, associações p ro ­
fissionais, órgãos de controle do exercício profissional, in stitu to s ligados a certas
categorias de trabalhadores, geralm ente de liberais ou com algum a in d e p e n d ê n ­
cia, m ediante filiação e contribuição facultativa, in stitu em planos de benefícios
de p agam ento ú n ico (pecúlio, auxílio-funeral etc.) a favor dos seus associados e
convênios de saúde.
1909. Seguro de transportadoras — Em presas tran sp o rtad o ras celebram
co n trato de seguro de vida ou de invalidez em grupo, com com panhias segura­
doras, a favor de seus passageiros, cobrindo aquelas contingências, em caso de
acidente de trajeto d u ra n te a viagem.
Em níveis in su speitados de precariedade sem ântica, em linguagem policial,
reza a Súm ula STF n. 35: “Em caso de acidente do trabalho ou de transporte, a
co n cu b in a tem direito de ser indenizada pela m orte do am ásio, se entre eles não
havia im p ed im en to para o m atrim ô n io ”.
Por o u tro lado, dita a Súm ula STF n. 161: “Em co n trato de transporte, é in o ­
peran te a cláusula de não in d en iza r”.

C U R 5 Q DE P l R l I l T O P R E V ID E N C IÁ R IO
T om o IV — P re v id ê n c ia C o m p le m e n ta r
1910. A ssistência à saúde — Setor em que talvez seja m aior e m ais difundida
a participação do p articu lar é n o aten d im en to à saúde. Por m eio de diferentes
m ecanism os criados pela im aginação do em presariado, as ações estatais, p artic u ­
larm ente o SUS, são im p lem entadas de diversas m aneiras.
A lgum as m odalidades diferenciadas foram criadas, com o o seguro-saúde (o
seguro privado na assistência à saúde), as cooperativas m édicas (particularm ente
a U n im ed ), a cham ada M edicina de G rupo (sim ples reunião de em presas ou p ro ­
fissionais), enfim , atividades securitárias privadas den o m in ad as genericam ente
planos de saúde. A lgum as em presas preferem a autogestão, ad m in istran d o elas
p ró p rias o aten d im en to m édico e o u tras terceirizam , firm ando convênios com
planos de saúde, clínicas, hospitais ou profissionais autônom os.
C onform e p alestra p ro ferid a dia 3 0.11.1995, no S em inário de P lanos de
Saúde, p ro m o v id o pelo J o h n so n & H iggins, Humberto Torloni afirm ou: 98% das
em presas b rasileiras co ncedem assistência m édica aos ativos; 36 m ilhões de p e s­
soas são co b ertas pelo s p lan o s de saúde; 7,2 bilh õ es de dólares envolvem a assis­
tência m édica su p letiv a; e 15% das em presas m in istra m assistência m éd ica aos
apo sen tad o s.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la tf ím i r N o v íj e s M artinez
Capítulo CXCI

R e l a ç ã o Ju r í d i c a de P r evi dênc ia C o m p l e m e n t a r

1911. Securização da relação. 1912. Pessoas envolvidas. 1913. Previ-


S u m ario:
dencialização da cobertura. 1914. Proximidade do contrato laborai. 1915. Papel
da entidade. 1916. Nalureza do vinculo. 1917. Adesão à instituição. 1918. Dinâ­
mica da relação. 1919. Função da remissão. 1920. Objetivo da relação.

A relação ju ríd ic a de previdência privada pode ser classificada, esm iuçada e


po rm en o rizad a, assinaladam ente, a nascida entre os segurados e a EAPC, e, es­
pecialm ente, a jacen te en tre os particip an tes e a EFPC. A perquirição objetiva
ap reen d er a essência do vínculo presente no entrelaçam ento de pessoas ju ríd icas
e pessoas físicas.
N o bojo da p ro teç ão supletiva, a rigor, o segm ento aberto não difere fu n ­
d a m e n ta lm e n te do seg m en to fechado. Do p o n to d e vista co n ceitu ai, o envolvi­
m e n to é p ra tic am en te igual, no p rim eiro caso, lig eiram en te influ en ciad o pela
p ro x im id ad e do seguro priv ad o , regim e financeiro tipo de p lan o e po ssib ilid ad e
de lu cro. Sob essa ótica, m ais seguro e m enos previdência, em razão do m ecan is­
m o p ro tetiv o u tiliza d o e tipo das p restaçõ es postas à disposição, em b o ra alguns
p lan o s nov o s estejam se id en tifican d o com os fechados, p re ferin d o re n d as m e n ­
sais a pecúlios.
Na previdência fechada, subsiste triângulo abarcando, pelo m enos, três relações
distintas: a) p atrocinadora e entidade; b) entidade e participante; e c) patrocinadora
e p articip an te (com caráter acen tu ad am en te laborai).
Pequenas diferenças em ergem e devem ser ressaltadas: a) cooperação pecuniá­
ria e v izin h an ça do m antenedor; b) sem elhança e d ep endência da prestação básica;
e c) vín cu lo em pregaticio com patrocinador.
1911. Securização da relação — Na previdência aberta, d u as pessoas tê
interesse d ireto n o ajuste de vontades: o seg u rad o r e o segurado. A preo cu p ação
do E stad o ex iste, m as é rem ota e lim ita-se a d isciplinar, re g u la m en tar e su p e r­
visionar. N ão se p o d e co n sid erar, grosso modo, estar a dita relação su b m etid a à
cogência da n o rm a de caráter p ú b lico , em bora, com o se verá, não fique im une
ao legislador.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o IV — Previdência Com plem entar 1319


H istoricam ente, diferindo da origem da fechada, a presença tio Estado é m e­
n o r e a norm alização reduzida, em bora exatam ente nessa área tenham ocorrido
problem as de insolvência e não cu m p rim en to de obrigações pactuadas.
E m bora o objetivo da pessoa física seja igual ao do filiado à previdência básica
(proteção), o da seg uradora é exclusivam ente o rendim ento. Isso tem significado
e precisa ser com preendido, distinguindo-se, a com eçar pela interpretação da nor­
ma protetiva estatal. Prevalecem as cláusulas contratuais e desconstituí-las im põe
fundam entação ro b u sta e exaustiva, envolvendo a boa-fé e os princípios próprios
do direito privado.
1912. Pessoas en v olvidas — A inda na aberta, de um lado, a EAPC, pessoa
ju ríd ica de direito privado, com panhia de capitalização, seguradora, banco, asso­
ciação civil ou fundação (m o n tep io ), organização com ou sem finalidade lucrativa.
De o u tro lado, a pessoa física, às vezes, designada com o segurado, associado, sócio,
m as p rincipalm ente participante.
H odiernam ente, en q u an to patrocinadores, alguns em pregadores celebram
convênio de adesão com EAPC, a favor dos seus em pregados, criando-se a trilatera-
lidade própria da fechada, em razão da disposição a favor de terceiros. C aracteriza
a condição de fechada e a ser concebida com o tal. A terceirização não desnatura o
fundo de pensão.
D iferentem ente do segm ento fechado, n o aberto, os p articipantes são quais­
quer pessoas com capacidade civil, não se exigindo exerçam atividade profissional,
b astan d o deterem poten cialidade co n trib u tiv a (a m esm a condição im posta a quem
q u er celebrar co n trato de seguro).
Para a definição da relação ju ríd ica aberta, não é im portante o segurador ser
em presa com ercial (com fins lucrativos) ou associação (sem fins lucrativos), na p ri­
meira, entre seguradora e segurado, e, na segunda, se estabelece entre sociedade e
associado. Na com posição da contribuição, é preciso lem brar a taxa de lucro, valen­
do regras m ais rígidas sobre a inadim plência e ser reduzida ou nula a solidariedade.
Manoel Sebastião Soares Póvoas desdobra essa relação em duas: a) relação so­
cietária; e b) relação previdenciária. Na últim a, a pessoa seria sócia e participante.
Não faz distinção entre o co n trato de seguro e previdenciário, no respeitante às
entidades com fins lucrativos (“Previdência P rivada”, p. 202).
1913. Previdencialização da cobertura — E ntrem entes, no segm ento fecha­
do vislum bra-se subjacente o m esm o elo definidor da relação ju ríd ica, de custeio
e de prestações. De igual form a, suscita dois polos em ergentes: a) de um lado,
entidade civil, isto é, sociedade civil ou fundação, com personalidade jurídica de
direito privado (d istin ta da m antenedora); e, de outro, b) o participante, pessoa fí­
sica, em pregado da patro cinadora ou seu beneficiário (d ep en d en te ou designado).
Seus elem entos relevantes são a faculdade de ingresso no regim e protetivo
(ressaltada, p o r confronto, com a au tom aticidade na previdência básica), a n a tu ­
reza institucional e convencional do vínculo nascido entre as partes e — m arcante

C urão de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1320 W la d im ir Novaes M artinez


p resença da co m p lem entaridade — , o direito d ep en d er das prestações oficiais (vale
dizer, de sua legislação e não de sua concessão), exigindo-se, am iúde, acom odação
das n o rm as p articulares às públicas.
A relação é fática e jurídica. Surge da volição do ind iv íd u o e é obrigacional
(obrigação de fazer e de d ar), subm etendo-se à im peratividade da n o rm a legal e
convencional, p o d en d o ser discutida em ju ízo , enfim , regendo-se pelo Direito.
N o dizer de Arnaldo Süssekind, reportando-se ao segm ento fechado: “A ins­
crição com o p articip an te d a en tid ad e d ecorrente de ato volitivo do em pregado,
configura u m a relação ju ríd ic a co n tra tu al sujeita ao direito privado. Trata-se de
típico co n trato de adesão, em que um a das partes m anifesta sua vo n tad e de aderir
às condições u n ifo rm es previam ente estabelecidas pela o u tra parte, to rn an d o a
relação bilateral” ( “Pareceres de D ireito do Trabalho e P revidência Social”, p. 351).
O n ascim en to da relação, do p o n to de vista ju ríd ico , surge com a adesão do
trab alh ad o r às co n d ições sedim entadas no Edital de Privatização, C onvênio de
A desão, R egulam ento Básico e n o E statuto Social da entidade. O p tan d o o segu­
rado aos term os do convencionado previam ente, não pode o gestor recusar-se a
adm iti-lo nem alterar as cláusulas sem consenso. N a prática, m edida ad m in istra­
tiva inviável.
A ssem elhadam ente ao co n trato de trabalho, não é exatam ente livre esse ajuste
de vontades; a volição é de ingresso (e na prática — em bora isso não seja elem ento
ju ríd ico — n em essa liberdade ex iste), de perm anência e afastam ento. A entidade
registra os parâm etros da convivência, m anifestados nas in úm eras cláusulas regu­
lam entares, as quais ela p ró p ria se inclina; o participante tem a escolha de concor­
d ar ou não com o p roposto. Em certas circunstâncias sociais, laborais e pessoais,
nem isso.
O m esm o Manuel Sebastião Soares Póvoas cham a a esse estado ju ríd ico de
co n trato de D ireito Previdenciário, isto é, “tipo específico de co n trato de seguro,
jacen te na relação entre a entidade de previdência privada fechada e o p artic ip a n ­
te ”. N esse sentido, posiciona-se não aceitando ser extensão do co n trato individual
de trabalho.
Seria “ato jurídico bilateral pelo qual um a pessoa — o participante, querendo
garan tir a si e aos seus co n tra as conseqüências da m aterialização de certos riscos
sociais, acorda com u m a pessoa legalm ente autorizada a efetuar, no dom ínio p ri­
vado, a com pensação desses riscos, m ediante o pagam ento (único ou co n tin u ad o )
de u m a im p o rtân cia — a contribuição — , receber, p o r ele o u pelas pessoas que
designou beneficiárias, a respectiva com pensação ou reparação, na form a de b en e­
fício p ecu n iário ou de serviços previdenciários” (“Previdência P rivada”, p. 203).
Aqui, alu d in d o à ideia de indenização, ele destoa. N ão há m otivo para a EFPC
rep arar o p articip an te; não lhe causou dano algum . Ao contrário.
Trata-se de concepção previdenciária; nada tem a ver com indenização, red u ­
zindo-se a seguro, verdadeiro salário socialm ente diferido.

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o J V — Previdência Com plem entar


A ideia de indenização ou reparação é afetada pela con tratu alid ad e e p o u p a n ­
ça contidas no negócio ju ríd ico . O ajustado é a substituição de ingressos auferidos
na atividade, prorrogada no tem po p o r interesse do Estado (sociedade), em prega­
d o r e em pregado. O p lano de benefícios das EFPC incorpora prestações não inde­
nizatórias nem reparatórias, com o em préstim os, bolsas de estudo e assistenciárias
de m odo geral.
1914. Proximidade do contrato laborai — A análise do vínculo jurídico
sofre a influência de vários fatores: a) proxim idade física da entidade gestora à
sede social da p atro cin adora (quase sem pre, fu n cio n an d o no m esm o prédio); b)
contiguidade do co n trato individual de trabalho, relação jurídica distinta, porém ,
vizinha, às vezes, co n fu ndindo-se; c) fato da p atrocinadora criar, su p erv isio n ar e,
praticam ente, m an ter a entidade.
Daí m uitos serem levados a co n fu n d ir a proteção laborai lato sensu, transfor­
m an d o a previdência fechada em sim ples salário indireto ou su b p ro d u to da política
de recursos h u m an o s da em presa.
Q uando a presença da p atrocinadora é acentuada, na gestão e nos cuidados
gerais, de fato asfixia o am adurecim ento natural da entidade, co n d u zin d o à falsa
im pressão de sim biose (estarem fundidas).
Reclam ações trabalhistas co n tra o em pregador não influem na relação p re­
videnciária, e ações co n tra a entidade não devem afetar a relação laborai. Q uer se
dizer, no sen tid o in stitu cional p o rq u e se alguém reclam a horas extras isso in flu en ­
ciaria no cálculo das suas contribuições e benefícios.
1915. P apel da en tid a d e — É preciso alcançar o significado da co m p lem en ta­
ção, enxergá-la além do universo laborai. Nos seus co n to rn o s (clientela) e função
(supletiva), a EFPC é sem elhante ao INSS, ente gestor de recu rso s provindos do
indivíduo e da sociedade para custear as prestações. N ão é em presa com ercial nem
entidade assistencial; q u ando m inistra aten d im en to aos participantes, é no bojo da
relação previdenciária.
E stran h am en te (possivelm ente, pen san d o apenas na provedora, em presa
financiando integ ralm en te), haja vista o acórdão TST n. 4.121, de 10.1.1983, no
Recurso de Revista n. 3.899, em que o relator, M ozart Victor R ussom ano, considera
“os fundos de pensão entidades assistenciais de previdência privada sui generis
(sic), sem natureza p rev idenciária” ( “Pareceres de D ireito do Trabalho”, Rio de
Janeiro: Forense, 1987. p. 161/187).
D istinguindo entre a natureza da obrigação e o litígio provir ou não da relação
de trabalho e co n sid eran d o o PAC — P lano de A posentadoria C om plem entar, do
Banco Itaú S.A., in stitu ição laboral-em presarial, e não previdenciária, o ju iz Vicen­
te da Silva en ten d eu co m petente a Ju stiça do Trabalho (Acórdão n. 1.573/80 do
TRT da 9a Região, n. 176/1980, de 15.10.1980, in LTr n. 45-5/615).
Im aginar a im p lem entação, su p lem en tação ou com plem entação dos b en e­
fícios oficiais, por m eio da dúplice contribuição (em pregado-em pregador), m a­
nifestação assistencial, é estender em dem asia o conceito desta últim a técnica,
tradicionalm ente não co ntributiva e conferindo-lhe função não natural.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

X3 2 2 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1916. Natureza do vínculo — Esse vínculo será verdadeiram ente contratual
Na teoria do D ireito Civil, no cam po das obrigações, co n trato é negócio ju ríd ico
bilateral, acordo de vontades livres. R aram ente, no m u n d o con tem p o rân eo , pode
ser en co n trad o em estado p u ro , sem a interferência da lei.
Para Luiz Rafael Mayer, M inistro aposentado do STF, acostando-se a M ígud
Reale e citando Hans Kelsen: “Com efeito, o ato ju ríd ico ou o co n trato , com o é
o estatu to , em ergente da au to n o m ia privada são fontes de direito, tão legítim as
q u an to a lei ou o reg ulam ento, in stitu in d o norm as ju ríd icas particulares ou indivi­
d ualizadas que v in cu lam as pessoas que participam de sua form ação” (Parecer para
o In stitu to C ibrazem de Seguridade-CIBRIUS, de 9.8.1991).
O c o n tra to gera obrigações de dar e fazer, ou não fazer, p ara os signatários.
U m a delas, a força vinculante das convenções, razão não absoluta, capaz de ser
m odificada p o r nova avença. Logicam ente, esse dever en c o n tra lim ite na capa­
cidade de resolução da obrigação. E m bora discutível em ju ízo , a discrição dessa
po ten cialid ad e pertence ao d e te n to r dos in stru m en to s de resolução; in casu, nas
prestações de trato sucessivo, quem deve atendê-las são os fundos de pensão. D e­
m o n strad a a possibilidade, descabe eventual m odificação pretendida.
Isso é co m u m nos c o n tra to s de adesão, o n d e as cláusulas são previam ente
estip u lad as p o r u m a das partes; a o u tra, sem força de negociação, não tem p o ­
deres para d eb atê-las, n em in tro d u z ir m odificações. In ex iste co m p o sição nesse
tip o d e aju ste, isto é, os polos não transigem sobre o acordo; o in teressad o adere
ou não.
A in co rp o ração ao sistem a n ão é u n ilateral nem sim ples; im plica bilateralida-
de e com plexidade. Q u ando o em pregado se inscreve, próxim o ou não de realizar
o risco protegido, a entidade assum e obrigações.
No d izer de Leonel José Carvalho de Castro: “tais co n trato s, sendo atos ju ríd i­
cos perfeitos e bilaterais, aprovados caso a caso pelo M inistério da Previdência e
A ssistência Social, não podem ser revogados p o r q u alq u er nova disposição legal,
pois as obrigações e direitos dos co n tratan tes, elencados e definidos em cada texto,
estão p o r eles assegurados sob o am paro de preceitos co n stitu cio n ais” ( “A C o n sti­
tuição, a Lei n. 6.435/77 e dem ais textos q u e regem as E FPP”).
Tal classificação não assegura a condição de co n trato , p u ra e sim plesm ente.
Daí falar-se, n o seio do segm ento fechado, frequentem ente, em co n trato adesivo.
Silvio Rodrigues avança, p ro p o n d o observação válida: “Desse m odo vam os en ­
contrar, nessa espécie de contrato, um a restrição ainda m ais extensa, ao princípio
básico da au to n o m ia da vontade. U m a das partes não pode interferir nas condições
do co n trato , que deve aceitar ou rejeitar em bloco. E não pode, tam pouco, recusar o
contrato, sob p en a de ficar privada de serviços fundam entais para a vida m o d ern a”
(“D ireito Civil — Dos C ontratos e das D eclarações U nilaterais de V ontade”, p. 46).
1917. Adesão à instituição — Os co n tra to s dessa natureza podem ser afe
dos p o r u m a das partes e, p o r isso, alguns autores ten tam d im in u ir os efeitos da
p resença decisiva do ajuste de vontades, e ver aí instituição. A p ró p ria criadora das

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c i á r i o
Tomo IV — Previdência Com plem entar 1323
regras, q u ando do exam e da proposta de inscrição, não pode m odificá-las; tam bém
ela se su b m ete ao regulam ento an terio rm en te aprovado p o r autoridade interna e,
às vezes, no caso da previdência privada, hom ologado ex tern am en te (SPC).
N esse sentido, o co n trato de previdência co m p lem en tar assem elha-se às n o r­
m as im postas à previdência básica. E m bora pareça relevante — n a prática não é
— , só difere em razão da au tom aticidade de filiação da básica e da facultatividade
da com plem entar.
Nào se p o d en d o id entilicar com o co n trato em estado puro, p raticam ente in e­
xistente, p o stad o o vínculo a m eia distância do co n trato de adesão e da instituição,
resta exam inar as regras ju ríd icas aplicáveis à espécie. Se típicas do direito privado
ou as do direito publico. O u tra não é a preocupação com o deslinde da questão:
saber com o se opera no m u n d o ju ríd ico . Por exem plo, qual a justiça com petente.
A relação com preende situações ou frações segm entais, regras ou praxes, se-
cionadas, on d e cabível a norm a pública e, n o u tro m om ento, prevalece a norm a
privada. Não é dado a ninguém ignorar ser a supletiva oriu n d a da básica, dela con-
sectária e d ep en d en te o n tologicam ente (daí a sem elhança dos benefícios), resguar-
clando-se, em ú ltim a análise, a insuficiência da cobertura da prim eira. G uardando
m uito de sua essência.
O universo da convenção, nessa área de proteção social, en q u an to concebido
com o ato r principal o E stado, não é ilim itado n em fica inteiram ente ao alvitre dos
coadjuvantes. Porém , o n d e podem as p artes negociar, o co n trato é livre e válida a
contratação.
Por o u tro lado, não incom patibilizando com o avençado, o aplicador e o exe-
geta estão au to rizados a se socorrerem da norm a pública.
a) Problemas vernaculares: No trato desta m atéria ab initio im põe-se lem brar as
dificuldades que obstaculizam a com preensão do fenôm eno estudado. O art. 202 da
Carta M agna alude à expressão “benefício c o n tra ta d o ”, in d u zin d o alguns a partir
dessa locução a red u zir o problem a e, de im ediato, a en te n d e r que se trata de um a
relação sim plesm ente contratual. Q uando a LBPC fala em convênio de adesão não
poderia fazê-lo; ela descreve a criação de um a entidade, pessoa ju ríd ica de direito
privado inexistente até a celebração do dito convênio. Adesão pressupõe dois
polos. Com m uita frequência, alude a plano de benefícios q u an d o q u er referir-se à
EEPC e co m u m en te a m enciona e, na verdade, desejava dizer plano de benefícios.
D esavisados ju lg am que um plano superavitário é equilibrado, afinal existe excesso
de recursos, m as para os m atem áticos este últim o não contém su perávit nem défi­
cit. Para a previdência com plem entar, beneficiário é espécie de d ependente do par­
ticipante e para a previdência básica, é gênero que abriga o segurado e as pessoas
que dele d ep en d em financeiram ente. Pior são aqueles que cham am os com plem en­
tados de aposentados; só INSS ou RPPS aposenta e, aliás, depois de 29.5.2001, essa
aposentação não é necessária para o deferim ento da com plem entação.
b) Am plitude da abrangência: C om o o vinculo básico, a relação ju ríd ica de
previdência co m p lem en tar é com plexa e desdobra-se em vários elos form ais. Em

C u r s o de D ir e it o P r e v i d e n c i á r i o

W ladim ir Novaes M artinez


p rim eiro lugar, carece esclarecer de qual segm ento está se falando: aberto ou do
fechado. N este brevíssim o ensaio, apenas deste últim o. Agora, tam bém n ão in te­
ressará o que sucede en tre as entidades e os entes su periores do MPS nem m esm o
da U nião com os patrocinadores. O liam e en tre o G overno F ederal e o patrocinador
é o u tro tipo de relação, p ró p rio do ad m in istrad o r e ad m inistrado. Por o u tro lado,
p raticam en te não há m u ito interesse no que diz respeito ao participante co n tra­
cenando com o MPS; ele funciona com o cidadão perante o E stado. P or últim o, é
evidente que, com a ausência de p atro cin ad o r n a entidade associativa instituída,
esses v ínculos são atipicam ente alterados.
E v identem ente, a relação ju ríd ica enfocada se d esdobra em form alidades da
adm issão (I), co n tribuição (II) e benefícios (III), com suas p articularidades. Tam ­
bém n ão se pode d esprezar (e a m erecer estudo particu lar) os contatos entre o
au to p atro cin ad o e a entidade fechada ou a entidade associativa (IV), para não falar
do estado ju ríd ic o especial do titu la r do vesting (V).
A relação ora enfocada subsiste entre a EFPC privada o u pública, que adm i­
n istra u m p lan o co n trib u tário e os seus participantes, n ão se devendo esquecer do
que sucede en tre esses co n trib u in tes e o plano de benefícios, p rin cip a l in stru m en to
de ação do fundo de pensão. Em bora um plano não co n trib u tário , de certa form a
id ealm ente o p osto ao plano associativo (naquele, som ente o em pregador contribui
e n este, so m en te o participante co n trib u i), subsistem alguns aspectos distintos
resp eitan te apen as à relação de custeio.
c) Contrato puro: D uas correntes de contratualistas lideram a in terpretação d
n atureza ju ríd ica da relação de previdência com plem entar, am bas com ardorosos
defensores e com argum entos b astan te plausíveis.
A prim eira delas, que sofre algum a crítica dos estudiosos, diz ser um vínculo
convencional, classificado p o r alguns autores, com o u m co n trato puro. A censura
que sofre é válida na m edida em não se vislum b rar efetiva; especifica e m anifesta
v o n tad e dos dois polos da relação. A dm itindo-se com o substancial a volição da
pessoa de ingressar no plano, p reen ch id o s os requisitos regulam entares, não seria
respeitada a volição da entidade gestora; logo, co n trato p u ro não é.
O p articip an te não pode m u d ar o plano nem a entidade; aquele está instituído
e é aceito ou não. Por isso, q uando de m udanças de planos, respeitado obviam ente
o direito adq u irid o , tem -se en ten d id o que o particip an te que o ptara pelo plano A
co n tin u a nele ou adere ao plano B ou se afasta da EFPC.
C ostum a-se d esprezar o que não é nuança ju ríd ic a n u m a exegese que se diz
ju ríd ica, m as o fato de a pessoa não ter opção d ian te da possível escolha de se
p roteger ou não, — ou seja, de que na prática a filiação é o brigatória — , a facul­
tatividade de ingresso reduz-se à posição m eram ente form al. Q uem ganha acim a
do lim ite do salário de co n trib u ição do RGPS (R$ 4.159,00) deve se inscrever na
EFPC ou não tem proteção co m p lem en tar fechada.
D ian te desses óbices, p arte da d o u trin a c o n tra tu alista acostou-se à figura do
c o n tra to de adesão, conceito m ais palatável do que o d o c o n tra to p u ro . R ealm ente,

G jr s q d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T iim o IV — Previdência Com plem entar 1325


o em p reg ad o , d ian te do plan o de benefícios, an u i a ele (ou n ão ). M as, essa
an u ê n cia (e o seu afastam ento), com o se verá adiante, é apenas um a form a de
ingresso.
Não se ju lg u e que oferecida a possibilidade de expressar a vontade de ingres­
sar e de se afastar, com isso se terá ipsofacto caracterizada a natureza de contrato
puro ou co n trato de adesão para toda a relação, que é m ais com plexa do que isso
e não se esgota nesses dois atos jurídicos.
d) Relação de adesão: V erdadeiram ente, o m o m en to em que a pessoa ex p ri­
m e a vontade é in stan tâneo, de entrada e de saída, reduzindo-se a atos form ais
sim ples: pedido de inscrição e pedido de retirada. Uma vez adm itida n o plano de
benefícios, ela não tem m ais satisfação de desejo p ró p rio (exceto o instituído): se
não ap o rtar a co n trib u ição serã afastada do plano de benefícios. Q u ando m uda de
síatus, deix an d o de ser ativo e passando a assistido, m anifestando-se um novo elo,
novam ente, a sua vo n tad e com parece, requerendo ou não a com plem entação. Mas,
tal potencialidade d ecanta a busca natural.
No curso do período de conLribuição, erodido o estado de em pregado da p a­
trocinadora, o segurado o p tará p o r um a das quatro soluções do art. 14 da LBPC,
p erm itidas pelo in stitu íd o ex vi legis.
Depois da adm issão, que realm ente é adesiva, esgota-se a adesão e o parti-
cipanLe se su b m ete ao que está instituído, da m esm a form a com o sucede com a
previdência básica. Sob esse aspecto, o que as distingue é apenas a m odalidade de
ingresso: obrigatória n o RGPS ou RPPS e facultativa na com plem entar.
e) Visão institucional: Existem poucos ensaios ju ríd ico s divulgados sobre a
classificação in stitu cio n al da relação en tre particip an te e EFPC. A p ar de u n s raros
estudiosos que a consideram u m co n trato puro, a m aioria dos especialistas en ten d e
ser um co n trato de adesão. Ser u m a instituição, m uitas vezes referido, é raram en te
explicitado.
De inodo geral, em D ireito, concebe-se essa instituição com o expressão de-
signativa de um a en tidade m aterial e ju ríd ica, um em p reen d im en to organizado
sistem atizado tecnicam ente e voltado para um fim específico, descrição fluída que
se associa à ideia de u m in stitu to técnico. N este últim o sentido, diz-se que o casa­
m ento é um a instituição (e não um co n trato ). E xatam ente porque institucional-
m en te abriga e acolhe a convenção; depois da cerim ônia e en q u an to prevalecer o
fato ato ju ríd ico , os polos não têm o u tra vontade senão de c u m p rir o instituído.
Um a em presa, designada com o patro cin ad o ra, m ed ian te um ato constitutivo,
equiv o cad am en te designado com o convênio de adesão — pois, se trata de ato
u n ilateral praticad o p o r um a só pessoa ju ríd ic a — , im planta u m a o u tra em presa,
p o r assim dizer coligada, com perso n alid ad e ju ríd ic a p ró p ria e escopo distinto.
Essa em presa u su alm en te designada com o entidade p o r não ter finalidade lu cra ti­
va (e tam bém po d eria ser cham ada de in stitu ição ), p o r sua vez, cria u m plan o de
benefícios, o in stru m e n to de sua ação ex terio r no universo previdenciário fático
e ju ríd ico . Em bora às vezes con fu n d id o s, tem os aí u m a pessoa ju ríd ic a de direito

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la íiim il N o v a e s M a r t i n e z
priv ad o e um a técnica de p ro ced im en to s in eren te à p roteção com plem entar, es­
pécie p a rtic u la r da proteção social prev id en ciária (com o v erten te d a seguridade
social).
G eralm ente, os atos con stitu tiv o s dessa em presa (E dital de Privatização,
C onvênio de A desão e E statuto Social e R egulam ento Básico) são aprovados pela
PREVIC e registrados em C artório de R egistro Civil.
Im p lan tad o o p lan o de benefícios com o um a p roposta regulam entar, depois
de aberta a cam p an ha de adesão aos em pregados — um a vez aderidos e designa­
dos com o p articip an tes — , quem estiver interessado em p articip ar da cobertura
da rem u n eração que ultrapassa o lim ite do salário de contribuição do RGPS
(R$ 4 .1 5 9 ,0 0 ), req u er a inscrição, a qual, depois de in stru íd a é aperfeiçoada pela
com unicação da en tidade de que ele atende as norm as regulam entares e foi aceito.
Essa p retensão de inscrição, pro d u zid a p o r in term éd io de requerim ento pes­
soal e a in stru ção in tern a, é apenas o p rim eiro de um a série seqüencial de outros
atos, em que a pessoa se obriga a m an ter o vínculo em pregatício com a patrocina­
d o ra e a fazer os aportes m ensais que lhe assegurará o direito à com plem entação
e, p o r ú ltim o, com o desenlace natu ral, a concessão do benefício, q u an d o o p artici­
p an te se to rn ará u m com plem entado.
Esse novo estado ju ríd ico , in titu lad o tecnicam ente com o de particip an te as­
sistido, não se co n fu nde com o de particip an te ativo. N ote-se que a relação enfo­
cada tem a capacidade de qualificar o em pregado — laboralm ente, ab an d o n ara a
condição de pessoa — para se to rn ar um participante, atrib u to p ró p rio de um a
instituição. E, agora, p erdendo esse status e se to rn an d o u m com plem entado, o b ­
tém o u tro títu lo e p ersonalidade outorgadas pela instituição.
J) Seguro privado: A inda que o seguro privado se subm eta à enorm e presença
do E stado e regulam entação adm inistrativa, pode-se, da m esm a form a, classificar
sua relação com o in stitucional, pois é factível a facultatividade, algum a vontade
do co n tratan te, um a m ultiplicidade de situações e particularidades qu an to ao bem
coberto, q ue indicam a existência de um a instituição, aliás, tan to q u an to a anterior
b astan te assem elhada à do co n trato , de sorte que poderia ser cham ado de contrato
securitário.
N ão passa despercebido que na previdência básica, o segurado é o Estado;
na previdência com plem entar, um a pessoa ju ríd ic a de direito privado e no seguro
privado, o u tra pessoa ju ríd ic a de direito privado (sociedade anônim a, q u an d o lu ­
crativa ou fundação sem fins lucrativos), m eras exigências legais que não afetam a
essência da relação ju ríd ica.
T am bém é evidente a d istância que as norm as do seguro privado têm em re­
lação às n o rm as do seguro social, p o r sua natureza m aior na previdência aberta do
que na fechada.
g) Sem elhança entre os institutos: Saltam à vista as sem elh an ças e até id e n t
dades en tre as três teorias aqui ex p licitad as, o que talvez explique a sim plicidade

C u rso de D ir e s t o P r e v id e n c iá r io

T om o IV — P re v id ê n c ia C o m p le m e n ta r 1327
com que os tem as v en h am sen d o abordados. A da in stitu içã o , p o r ser técnica
m ais ab ran g en te, abriga os asp ecto s do c o n tra tu a lism o , não só o da adesão e em
m en o r escala, o do c o n tra to puro. O fato de a previdência supletiva situar-se no
cam po do direito priv ado e ser in ferio r a influência da n o rm a pú b lica, parece
ap o iar o co n tra tu alism o , m as, n o s casos de dúvida, o h e rin e n e u ta é obrigado a
buscar luzes no D ireito Público. Afinal, p re v id ê n cia co m p lem en tar ou básica é
previdência social e ela é técnica protetiva estatal, co m etid a ao particular, p o r
m otivos h istó rico s.
A influência do D ireito Público no D ireito Privado, avultada na órbita securi­
tária, cada vez m aior diante do in tervencionism o estatal (e aduzida a p artir da LC
n. 109/2001), retira alguns aspectos da essência co n tra tu al e se subm ete às norm as
públicas. Na verdade, quem define os d ep en d en tes para fins da com plem entação
da pensão p o r m orte, é o legislador das norm as da pensão p o r m orte básica, fre­
q uen tem en te, copiadas pelo R egulam ento Básico. O segurado que desejar m aior
liberdade pessoal, terá se socorrer do seguro de vida privado.
1918. D inâm ica da relação — A relação de previdência privada, tanto quanto
a da básica, surge e desaparece, ela tem início e fim. No com um dos casos, inicia-se
com a inscrição do p articip an te e acaba com a m orte do últim o dependente.
Seu desenvolvim ento desdobra-se em períodos de contribuição (e utilização
de alguns benefícios ou serviços), períodos de fruição das prestações de pagam ento
contin u ad o (a par de co ntribuição, possivelm ente com vistas à pensão p o r m orte)
e, finalm ente, m u d an ça da pessoa envolvida, o titu lar passa a ser o d ep endente, até
a cessação do benefício.
Em lin h as gerais, pelo m enos três fases im p o rtan tes destacáveis: a) c o n tri­
b u in te (particip an te ativo); b) p ercip ien te-co n trib u in te (p articipante inativo); e c)
percipiente não co n trib u in te (dependente). Em cada um a delas, são evidentes os
fatores definidores das diferentes personalidades.
Em algum m o m en to, o salário se transform a em retenção, depois vira co n ­
tribuição, ap reendido pela EFPC é capital acum ulado, transform a-se em aplicação
financeira, adquire caráter de reserva técnica e, p o r fim, chega à condição de pres­
tação previdenciária.
1919. F u n ção d a rem issão — É im p o rtan te não co n fu n d ir coisas. U m a delas,
a divisão entre a m atéria sujeita à n o rm a pública e à norm a privada. A contratação
esbarra nos lim ites da C onstituição Federal, nos princípios previdenciários e até
no bom -senso.
O utra, p o r íalha de sistem atização da regra privada, busca-se a regra pública,
p o r via de rem issão.
Perfeita a codificação do R egulam ento Básico, esta ú ltim a operação é desne­
cessária.
Em sum a, existem preceitos suscetíveis de serem ajustados e outros, estabele­
cidos no Direito. Ex.: o direito adquirido, a igualdade dos idênticos e o utros mais.

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1328 W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
1920. Objetivo da relação — Igual à básica, a co m p lem en tar é relação intuitu
personae, visa o ser h u m an o . Por isso (frequentem ente, à m íngua de disciplina le­
gal), tem n atu reza alim entar e caráter substitutivo. Com essas d u as características
deve ser concebida (e interpretada).
É am oral ou aética, não im p o rtan d o o co m p o rtam en to social do indivíduo,
direito patrim o n ial (e com isso assegurando a faculdade, n o caso de suicídio e de
hom icídio).

C u rso de D ire ito P re v id e n c iá rio


T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n t a r ,*3
Capítulo CXCII

S u jeit o s d a R e l a ç ã o J u r íd ic a

1921. Participante e dependente. 1922. Patrocinador particular. 1923.


Su m á r io :
Patrocinador estatal. 1924. Provedor particular. 1925. Entidade multipatroci-
nada. 1926. Companhia seguradora. 1927. Sociedade de capitalização. 1928.
Montepio associativo. 1.929. Entidade de previdência fechada. 1930. Plano de
pequenos benefícios.

Na previdência com plem entar, de m odo geral, im pera relação ju ríd ic a entre
dois polos: de um lado, sem pre pessoa ju ríd ic a de direito privado (m esm o q u an d o
provida p o r em presa estatal), e, de outro, pessoas ju ríd icas ou físicas, conform e se
trate de vínculo de custeio ou de benefícios.
N orm alm en te, no segm ento aberto, é bilateral (em bora a patro cin ad o ra possa
bu scar seguradoras o u m ontepios para celebrarem um convênio previdenciário,
com vistas aos seus em pregados). No fechado, envolve Lrês pessoas: patrocinadora,
gestora e p articipante. Se na prim eira hipótese o co n trib u in te é tam bém beneficiá­
rio, na segunda, nem sem pre isso acontece.
A descrição dos sujeitos envolvidos na relação ju ríd ic a propicia os prim eiros
elem entos desse liam e de Direito, desenvolvidos n o capítulo seguinte.
N os term os do art. 5Q, XXI, da C onstituição Federal de 1988, “as entidades
associativas, q u an d o expressam ente autorizadas, têm legitim idade para rep resen ­
tar seus filiados judicial ou ex traju d icialm en te”. N essas condições, a Associação
Brasileira das E ntid ad es F echadas de Previdência Privada — ABRAPP é instituição
nacional co n stitu íd a pelas EFPC, representando-as. Da m esm a form a, a Associação
N acional das E n tidades A bertas de Previdência Privada — ANAPP é união cons­
titu íd a de EAPC.
A R esolução CNSP n. 10/1994 disciplinou a transform ação de sociedades ci­
vis de previdência privada aberta, sem fins lucrativos, em sociedades com erciais,
sob a form a de sociedades anônim as, com fins lucrativos.
1921. P a rtic ip a n te e d e p e n d e n te — O destinatário da previdência privada é
pessoa física, designada com o segurado, associado ou sócio na aberta, e p articip an ­
te, na fechada. Nos dois casos, os seus dep en d en tes ditos beneficiários.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1330 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
O universo co m preende, a princípio, todos os segurados obrigatórios e fa­
cultativos do regim e oficial e tam bém os excluídos (raciocínio levando em conta,
p rin cip alm en te, a previdência aberta).
No segm ento fechado, para os efeitos da Lei n. 6.435/1977, os “gerentes,
d iretores e co nselheiros o cu p an tes de cargos eletivos” já eram considerados em ­
pregados. A n o rm a visa in clu ir o em presário (PCSS, art. 12, V), isto é, sócios na
so cied ad e lim ita d a e d ire to re s e c o m p o n e n te s do C o n selh o de A d m in istraçã o
de sociedade anônim a. Até m esm o os integrantes do C onselho Fiscal, se re m u n e­
rados. Na hip ó tese de entidade religiosa, os eclesiásticos.
Em sua origem histórica, a proteção era destinada apenas aos prestadores de
serviço su b o rd in ad o s (principalm ente o em pregado). A largou-se, m as não há m en ­
ção ao au tô n o m o , m esm o q u an d o inteiram ente integrado na corporação. Segura­
m ente, sob nova concepção, a SPC autorizará a constituição de fu n d o s d e pensão,
para m édico cooperado ou trab alh ad o r avulso (p o rtu ário ). Mas difícil será cuidar
do tem p o rário , em razão da transitoriedade do seu status ju ríd ico .
Com a terceirização e a flexibilização do contrato individual de trabalho, re­
crudesce a necessidade de redefinição legal da clientela, sua revisão e am pliação,
facilitando-se a in co rp o ração pelo m últip lo patrocínio. N este sentido, além do tra­
balh ad o r in d ep en d e n te, convém in clu ir o estagiário, m édico-residente e outros
obreiros.
A relação entre a EFPC e o particip an te é diferente da vigente entre segurado
e INSS, sobressaindo-se a inscrição em d etrim en to da filiação. Se o participante
prom ove aquela, p reen ch en d o os form ulários e o d o cum ento é hom ologado pela
en tidade, d esem b o lsando a taxa dela exigida, salvo dolo ou m á-fé, trata-se de ato
jurídico perfeito, a ser respeitado pelas partes.
Enfaticam ente subm etidos à ordem atuarial, especialm ente p ensando nas apo-
sentações, frequentem ente, os planos im põem lim ite m ínim o de idade, n o rm alm en ­
te estip u lad o s en tre 50 e 60 anos, de certa form a copiados do antigo art. 59, § 5B,
da CLPS (e, aliás, criando problem as atuariais e ju ríd ico s, a p artir de 25.7.1991,
q u an d o os sexagenários passaram a ter todos os direitos no regim e geral).
1922. P a tro c in a d o r p a rtic u la r — P atro cin ad o r p articu lar é pessoa ju ríd ica,
n o rm alm en te em presa de porte, voltada à in d ú stria ou com ércio, banco, hospital,
estabelecim ento de ensino etc., p erten cen te ao universo privado, excluídos, por­
tanto, os órgãos da ad m inistração direta. P reocupada com a entidade pro p riam en te
dita a legislação não cuida de descrever a patrocinadora, em especial, sendo rara­
m en te m encionada.
A p ró p ria EFPC , pode ser, e freq u en tem en te é, p atro c in ad o ra (em relação
aos seu s em p reg ad o s, n ão re q u isitad o da p a tro c in a d o ra ). A c o n trib u iç ã o p a tro ­
nal, in casu, provirá, em ú ltim a análise, da m a n te n e d o ra , a títu lo de despesas
ad m in istrativ as.
T am bém se en ten d erá com o provedor p articu lar a entid ad e q u e cria EFPC
associativa.

C urso d f D ir e it o P r e v id e n c íá r io

T om o /V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
1331
1923. P atro cin a d o r e sta ta l — C erta organização do Estado em preende com ­
plem entação, p o r in term éd io de em presa pública, sociedade de econom ia m ista ou
fundação de direito público. A lgum as norm as, às vezes, fazem referência a p atro ­
cínio de autarquias. A distinção é didática e im põe-se diante da regulam entação
própria, não só da p atrocinadora com o do fundo de pensão.
As p rim eiras foram estatais (Banco do Brasil S.A. e P etrobras S.A.), e os m aio­
res p atrim ô n io s pertencem aos entes paraestatais.
R igorosam ente, não diferem da p atrocinadora particular, m as, subm etidas à
discrição dos entes p olíticos, são co m u m en te d istin g u id as na lei e no regulam ento.
O D ecreto n. 87.597/1986 su sp en d eu a criação de entidades no âm bito da
adm inistração federal. O D ecreto n. 93.597/1986 regulou a contribuição para a
form ação e m an u ten ção das entidades, fixando o aporte m áxim o em 7% da folha
de pagam ento, não p o d en d o u ltrap assar 2/3 dos custos com benefícios. O D ecreto
n. 94.648/1987 alterou o D ecreto n. 93.597/1986, in clu in d o a regra das adesões às
entidades já em fu n cio nam ento.
O D ecreto n. 95.8 75/1988 alterou o D ecreto n. 93.597/1986, d ispondo sobre
a autorização do C onselho Interm inisterial de Salários das Em presas Estatais —
CISE ou do C onselho Interm inisterial de R em uneração e Proventos — C1RP, para
o p atro cín io novo ou adesão aos existentes.
A Lei n. 8.020/1990, regulam entada pelo D ecreto n. 606/1992, dispôs sobre as
EFPC das estatais, não p o d en d o estas co b rir despesas daquelas, facultando a cessão
de pessoal m ediante ressarcimenLo.
A P ortaria Interm inisterial n. 7/1994 in stitu iu C om issão Interm inisterial para
analisar o Patrocínio E statal aos fundos de pensão fechados.
1924. P rovedor p a rtic u la r — D esigna-se provedora a p atrocinadora in cu m ­
bida in teiram en te do custeio das despesas com o fundo de pensão.
Em n ú m ero reduzido, geralm ente, oferecem benefícios de expressão m enor
— não con fu n d id as com em presas insLituidoras de p equenos planos in tern o s — ,
m antêm relações pessoais com a entidade, quase descaracterizando a indiv id u ali­
dade desta. Sua retirada praticam ente põe fim à entidade criada, to rn an d o difícil
o soerguim ento.
Tal situação define a com petência ju risd icio n al em razão da m aior presença
do em pregador.
Para Rogério Refinetti: “É m elh o r ser não contributiva, ainda que dando even­
tu alm en te u m o u o u tro benefício a m enos. O funcionário p o u p a aquilo que seria a
sua co n trib u ição e banca o benefício que q u iser a m ais” (“Só a em presa contribui",
p. 13).
1925. E n tid a d e m u ltip a tro c in a d a — No fundo de pensão m ultipatrocinado,
em presas do m esm o g rupo (o m ais com um ) ou de grupos diversos, com ou sem
algum interesse econôm ico em com um , em preendem fundo de pensão. O nasci­
m ento da coletividade de in stitu id o ra dá-se in stitu cio n alm en te ou no curso do
tem po, p o r m eio convênio de adesão.

C urso de D ir e it o P rev id en c iário

1332 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A hipótese era prevista no art. 34, § 2C, da Lei n. 6.435/1977, onde se deter­
m inava: “No caso de várias patrocinadoras, será exigida a celebração de convênio
de adesão entre estas e a entidade de previdência, no qual se estabeleçam , p o rm e­
norizad am en te, as co n dições de solidariedade das partes, inclusive q u an to ao fluxo
de novas en trad as an u ais de p atro cin ad o ras”.
Essa m odalidade de proteção, defendida para p equenas em presas, só não se
desenvolveu m ais em v irtude das conseqüências da solidariedade im posta pela
legislação.
1926. C o m p an h ia se g u ra d o ra — S eguradoras são co m panhias de seguro,
sociedades anônim as, instituídas com vistas no seguro privado, em presas com fins
lucrativos. D esenvolvem planos de cobertura e praticam ente se transform aram em
entidades de previdência.
1927. S ociedade de cap italização — C om relevante tradição, firm as são
co n stitu íd as para re u n ir depósitos à guisa de poupança e, com algum a ren tab ilid a­
de, serem p o sterio rm en te entregues aos adquirentes. G eralm ente, tais planos vêm
aco m p an h ad o s de so rteios de valores ou prêm ios.
São consideradas sociedades de capitalização “as que tiverem p o r objetivo
fornecer ao público, de acordo com planos aprovados pelo G overno Federal, a
c o n s titu iç ã o de u m cap ital m ín im o p e rfe ita m e n te d e te rm in a d o em cada p lan o ,
à pessoa que p o ssu ir um título segundo cláusulas e regras aprovadas e m en cio n a­
das no p ró p rio títu lo ” (art. 1Q, § l e).
1928. M o n tep io associativo — M ontepios são associações civis o u fundações
de direito privado, in stituições sem fins lucrativos.
Alguns com tradição, caso do M ONGERAL, a m aioria ligada a instituições
de beneficência social ou entidades religiosas, com en o rm es serviços prestados à
coletividade. O utros, n o passado, nem tanto.
1929. E n tid ad e d e p re v id ê n cia fechada — No dizer do art. I a do D ecreto n.
81.240/1978, EFPC são “sociedades civis ou fundações criadas com o objetivo de
in stitu ir planos privados de concessão de benefícios co m plem entares ou assem e­
lhad o s aos da previdência social, acessíveis aos em pregados o u dirigentes de um a
em presa ou de u m g ru p o de em presas as quais, para os efeitos deste regulam ento,
serão d en o m in ad as p atro c in ad o ras”.
Logo em seguida, a ideia é am pliada tendo em vista instituições preexistentes,
adm itidas com o tais: entidades assistenciais, educacionais ou religiosas, sem pre
sem fins lucrativos, tu telan d o em pregados ou eclesiásticos com o participantes.
1930. P lan o d e p e q u e n o s benefícios — De acordo com o art. 6 S da Lei n.
6.435/1977: “N ão se considerará atividade de previdência privada, sujeita às d is­
posições desta Lei, a sim ples instituição, no âm bito lim itado de um a em presa, de
um a fundação ou de o utra entidade de natureza au tô n o m a, de pecúlio p o r m orte,
de p equeno valor, desde que ad m in istrad o exclusivam ente sob a form a de rateio
entre os p articip an tes”.

C ukão d e D ireito P r e v id en ciá rio

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
1333
A legislação não acolhe entidade de previdência privada de fato. É co n sid e­
rado crim e (in o m in ad o) atu ar com o tal sem estar devidam ente autorizada (art. 80
da Lei n. 6.435/1977).
A lgum as em presas in stitu em program as de assistência aos seus prestadores
de serviço, co m p lem entando benefícios com o o auxílio-doença e a aposentadoria
p o r invalidez, p o r prazo lim itado. O utras criam pecúlios, fornecem em préstim os
ou bolsas de estudo, com o u sem participação do favorecido.

C urso de D ir e it o P r e v íd e n c ia k io

1334 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Capítulo CXCIII

R e l a ç ã o J u r íd ic a d e I n s c r iç ã o

1931. Fontes formais. 1932. Natureza jurídica. 1933. Procedimento in­


S u m á r io :
terno. 1934. Tipos de designação. 1935. Documentos exigidos. 1936. Demons­
tração da providência. 1937. Desconstituição da designação. 1938. Aperfeiçoa­
mento do ato. 1939. Presunções úteis. 1940. Condição jurídica.

Sem em bargo de a em pregadora-patrocinadora ter anotações internas, no se­


to r de R ecursos H um anos, de d ados laborais do em pregado-participante, levada
p o r m otivos in stitu cio n ais e organizacionais e, p rincipalm ente, p o r exigências
atuariais, o fundo de pensão carece de cadastro de inform ações do trabalhador.
O co n ju n to de providências visando o fornecim ento e a consignação de ele­
m entos b io m étrico s e sociais dos beneficiários (com o dito, m u ito s dos quais co n s­
tan tes da C arteira de Trabalho e Previdência Social, Livro ou Ficha de R egistro de
E m pregados), iniciando-se com o pedido, a exibição de docum entos, assinatura
em declarações, p reen chim ento de form ulários, e sua final aprovação, enfim , o ato
solene de adesão ao p lano, cham a-se inscrição.
1931. F o n te s fo rm ais — São poucas as fontes form ais sobre o in stitu to p ro ­
cedim ental, prevalecendo o disposto no E statuto Social e no R egulam ento Básico
de cada entidade.
O art. 42, I, da Lei n. 6.435/1977 fazia m enção a “condições de adm issão dos
particip an tes de cada plano de benefícios”, d eterm in an d o , p o r sua vez, no § 9e do
m esm o artigo: “a todo particip an te será obrigatoriam ente entregue, q u an d o de sua
inscrição, cópia do estatu to e do plano de benefícios, além de m aterial explicativo
q u e descreve, em linguagem sim ples e precisa, suas características”.
O m esm o se vê, respectivam ente, n o sarts. 2 0 ,1, e 26, do D ecreto n. 81.240/1978.
A Resolução CPC n. 01/1978 silencia a respeito e, com isso, as EFPC desfrutam de
algum a liberdade co n tratu al. Não há referência ao C ertificado d e Inscrição, m as
esse co m p ro v an te é garantia m ínim a do particip an te e deve ser em itido.
No art. 17, a Lei n. 8.213/1991 dispõe sobre as regras de inscrição válidas para
o RGPS e a rem issão é cabível, no silêncio do R egulam ento Básico.

C urso de D ir e it o P r e v s d e n c iá r io

T íim o / V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n t a r 13 :
1932. N a tu reza ju ríd ic a — E m bora não pareça, em face da singeleza ins­
tru m en tal e operacional, a inscrição é providência com plexa e p roduz diversos
efeitos, prático s e ju rídicos. C onsiste em expediente adm inistrativo m ediante o
qual o interessado m anifesta a vo n tad e de ingressar no plano, com prova condições
m ateriais reclam adas, culm inando-se com a decisão hom ologatória da entidade e
a expedição do certificado.
Inexiste direito subjetivo à inscrição para quem não preenche os requisitos
contratuais. Porém , atendidos in tegralm ente estes, não pode haver recusa. Toda­
via, a discrição de estabelecer as exigências pertence à instituição.
Descabe falar em au tom aticidade da inscrição em relação ao vínculo em pre­
gatício com a patro cin adora. E n tretan to , a inscrição, para quem deseja p ertencer
ao sistem a, é obrigatória.
M ediante o pedido e o acolhim ento, consum a-se a incorporação do req u eren ­
te ao Plano de C usteio e de Benefícios, sobrevindo obrigações e gerando direitos,
alguns dos quais im ediatam ente.
Trata-se de ato adm inistrativo — resposta à oferta de adesão ao contrato previ­
denciário — assum idam ente formal, e condição nem sem pre absoluta, para a conse­
cução dos direitos. Podendo, quando convencionado entre as partes, isto é, constan­
do de cláusulas dos ES/RB, ser im posta com o deflagradora dos serviços e benefícios.
De certa form a, diante da facultatividade do sistem a, a inscrição corresponde
à ideia de filiação do RGPS. Em princípio, o direito aos benefícios está sustentado
ju rid icam en te na adm issão e m aterialm ente nas contribuições.
A inscrição tem dois pressupostos: a) rem oto — ser ou ter sido em pregado
ou d irig en te da p atrocinadora; e b) próxim o — vontade m anifesta de ingressar no
sistem a.
1933. P ro ced im en to in te rn o — Inscrição é m edida bilateral, de iniciativa do
segurado. N ão ocorre de ofício nem é o b astante apenas solicitá-la, é im prescin­
dível satisfazer os requisitos co n tratu ais e obter a aprovação. Um deles, dos m ais
sim ples, ser em pregado ou dirigente da patrocinadora.
Suspensão do co n traio de trabalho, licença não rem unerada e fruição de au-
xílio-doença do INSS é m atéria a ser contem plada n o R egulam ento Básico e, se for
o caso, exigida perícia m édica adm issional.
N orm alm ente, inicia-se com o p reenchim ento de form ulários padronizados
da entidade, a assinatura e a ju n ta d a de d ocum entos com probatórios das exigên­
cias. In stru íd o o en cam inham ento, é subm etido à análise do setor próprio da e n ­
tidade, onde aprovado (ou não). Da não aceitação, deve ser adm itido recurso em
caráter adm inistrativo. A lguns regulam entos exigem exam e m édico com vistas à
com plem entação dos benefícios p o r incapacidade.
O m o m en to ideal para a adm issão do obreiro é o do n ascim ento do co n tra to
individual de trabalho com a in stitu id o ra, m as pode su ced er tem pos após. Em
tese, se efetuados os reco lh im en to s anteriores, havendo anuência da entidade,
pode relroagir.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1336 W lü c fim t/ N o v a e s M a r ti n e z
Salvo se ex u b eran tem en te dem o n strad a, em razão da im portância com etida à
liberdade de opção, nào existe inscrição post mortem de em pregado, m as se com -
provadam ente ele a solicitou, deve prosseguir após a m orte.
1934. Tipos de designação — A exem plo da básica, a relação ju ríd ic a de in s­
crição n a previdência com plem entar é intuitu personae. É única. O titu lar do direito
é o p articipante. D idaticam ente, ela desdobra-se em pessoal e dos dependentes,
co rresp o n d en d o a diferentes obrigações form ais, em cada caso.
M esm o p en san d o em benefícios assegurados, não tem sen tid o providenciar-se
nova inscrição para o participante-assistido, m as nada im pede, após ter deixado a
patro cin ad o ra, se ele volta a prestar-lhe serviços, restabelecê-la. C laro, o período
de não inscrição e de ausência de contribuições, pro d u zin d o efeitos. Não é in co m ­
patível, se o trab alh ad or tem dois em pregos, pode fazer duas inscrições, um a em
cada fundo de pensão.
A lguns regulam entos dispensam essa providência dos dep en d en tes, se p ro ­
m ovida ju n to ao INSS ou n a em pregadora.
1935. Documentos exigidos — Inscrição é providência adm inistrativa form al,
cadastram en to de inform ações e dados pessoais do participante. P or conseguinte,
são exigidas, no m ínim o, certidão de nascim ento (idade), de casam ento (existência
de esposa), prole (d ep en d en tes), residência, relação em pregatícia (CTPS), vinculo
ao INSS, função exercida (aposentadoria especial), atestados m édicos (invalidez
de filhos), salário etc. e, no caso de afastam ento da patrocinadora, prova da co n ti­
n u id ad e da relação com a entidade. Em alguns casos, com o dito, prova da higidez
do p reten d en te.
G eralm ente, capeados pelo pedido, em im presso fornecido pela entidade.
Im po rtan te inform ação a ser prestada diz respeito ao tem po de serviço a n ­
terio r ao da p atrocinadora, conste ou não da CTPS, alterações posteriores, aver-
bações assentadas ou em andam ento, justificações adm inistrativas ou judiciais,
questões em consulta.
Sua ausência pode gerar problem as adm inistrativos e atuariais, reclam ando
solução ju ríd ic a conform e o convencionado. Se o R egulam ento Básico em udece a
respeito dessa obrigatoriedade, a entidade deve ten tar acordo com o participante
para acertar as co n dições de elegibilidade, d ian te do fato novo apresentado. A
rigor, a om issão de dados pode se c o n stitu ir em desclassificação da inscrição em
relação ã área de controvérsia.
1936. Demonstração da providência — E xecutada a inscrição e desapareci­
do s os co m provantes do particip an te o u da entidade, ou de am bos, são adm itidas
todas as provas em D ireito reconhecidas com o válidas.
V ínculo em pregatício e desconto de contribuições m ensais na patrocinadora
pressupõem início razoável de prova m aterial da inscrição.
Se in ex isten te cláusula d ispondo sobre a hipótese no R egulam ento Básico, a
inscrição de dep en d en tes, feita no INSS o u na patrocinadora, é evidência da in te n ­

Cuaso DE P lR T -IT O P R E V ID E N C IÁ R IO
T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
1337
ção do segurado, devendo ser sopesada. Q u ando as circunstâncias o exigirem , até
m esm o o u tro s indícios são invocãveis com o a pensão alim entícia, de direito ou de
fato, de pessoas não designadas.
1937. Desconstituição da designação — Variados m otivos po d em deflagrar
o cancelam ento da inscrição: a) m orte — então pro d u zin d o efeitos em relação ao
segurado e d ep en d en tes; b) pedido do participante; c) ro m p im en to do vínculo
laborai com a p atro cinadora, se ausente vontade de p erm an ecer n o sistem a; d)
extinção da entidade p o r liquidação extrajudicial; e e) atraso no recolhim ento das
contribuições, d u ra n te certo lapso de tem po (geralm ente, de três m eses), na hip ó ­
tese de contin u id ad e da relação após a cessação do liam e laborai.
O desaparecim ento da p atrocinadora não é, necessariam ente, causa extintiva
da relação.
Rescisão do co n trato de trabalho, p o r dem issão ou exoneração do em pregado,
não significa ipso Jacto a in ten ção do participante de desligar-se do fundo de p e n ­
são. O R egulam ento Básico deve d ispor a respeito fixando prazo para m anifestação
do interessado.
A nulação de ofício só ocorre nas hipóteses previstas na legislação ou no co n ­
trato , dá-se quan d o do descu m p rim en to das exigências, falsidade ideológica etc.
A inscrição dos d ep en d en tes observa regras próprias. P ressupõe a do p arti­
cipante. O cancelam ento da inscrição deste ultim o im plica o fim da inscrição do
prim eiro. Salvo, é claro, na circunstância de concessão do benefício p ró p rio por
m orte do trabalhador.
Além do óbito, diferentes hipóteses põem fim à inscrição dos dependentes:
m aioridade o u em ancipação dos filhos ou recuperação da higidez, casam ento do
cônjuge, ab an d o n o do lar etc.
Q uem pode designar (inscrever dep en d en tes) tem a faculdade de refazer a
designação, cabendo a providência ao interessado.
1938. Aperfeiçoamento do ato — A inscrição, com o negócio ju ríd ico , tem
com eço, curso e aperfeiçoam ento, consistindo este últim o no deferim ento do p e ­
dido, pelo seto r p ró p rio da entidade (seguindo-se a em issão do certificado com -
p robatório).
Alguns regulam entos básicos aceitam a designação dos dependentes, b astan ­
do a declaração do participante. N ada im pede a inscrição post mortem daqueles.
Na fase de in stru ção do pedido o u em seu and am en to , é possível alterar os
d ados fornecidos, ad u zin d o inform ações com o nascim ento de novo filho.
E m bora a inscrição só deva p ro d u zir efeitos a p a rtir da hom ologação, os re­
su ltados retroagem à data do pedido. Assim, solicitada, e se, no en cam in h am en to
adm inistrativo, sobrevêm acidente do trabalho, benefício sem carência, este se im ­
põe com o direito subjetivo.
Porém , se a inscrição não é corroborada (v. g., conclui-se ser o requerente
p restad o r au tô n o m o de serviços ã p atrocinadora ou em presário e não seu em pre­
gado), o d ireito não subsiste.

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1338 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1939. P resu n ç õ es ú te is — A rigor, a inscrição não se presum e, tem de ser
providenciada e com provada. Mas a relação ju ríd ic a estabelecida acolhe algum as
presu n çõ es, com o a de ter sido prom ovida se estão sendo operados descontos na
rem u neração do trabalhador.
T rabalhador(a) casado(a) apenas no religioso tem o cônjuge com quem vive
com o co m p an h eiro (a). Se paga pensão alim entícia, adm ite-se a d ep endência eco­
nôm ica. O s cô n ju g es e filhos são presum ivelm ente dep en d en tes do participante.
F alecendo de enferm idade determ inada, estava incapaz para o trabalho até o óbito,
cabendo o benefício corresp o n d en te até então indeferido.
1940. C o n d ição ju ríd ic a — A inscrição, en ten d id a com o m odalidade de ad ­
m issão no sistem a, é o brigatória e im prescindível à fruição dos benefícios. Reflete
a v o n tad e de segurar-se e, p o r isso, deve ser procedida antes da configuração do
evento d eterm in an te.
Nesse sen tid o , é condição ju ríd ica para a consecução do benefício. N ão se
trata de ato n u lo ou in existente e, sim , anulável, p o d en d o ser aperfeiçoada no
cu rso da relação, especialm ente, se m anifesta a in ten ção de buscar a proteção. Não
efetivada e in ex isten tes contribuições, o em pregado está afastado do sistem a e não
tem os direitos inerentes.
Flom em o u m u lh e r não inscritos, após o óbito do seg u rad o (a), ou antes disso,
ap resen tan d o a prova da condição de com p an h eiro (a), deve ter direito à pensão
p o r m o rte ou dividi-la com o(a) ex-esposo(a).
Inscrição é en tid ad e com plexa e desdobra-se em p artes co n stitu in tes, p o d e n ­
do a anulação afetar algum a delas: a) não com putação do tem po de serviço igno­
rado pela entidade; b) desconhecer filho(a) ou co m p an h eiro (a) n ão identificados,
sem prejuízo de assegurar o u tro s direitos.
A om issão de inform ações, p o r ocasião do ato de ingresso de futuro p artici­
pan te e até m esm o acréscim os posteriores de dados, tem gerado questões, e p ro ­
blem as p ara os dois polos da relação ju ríd ica.
Se in existe declaração q u an to à existência de novos dep en d en tes (v. g., p re­
sença de u m a ou m ais com panheiras em lace da esposa), a program ação m atem á­
tica fica co m p ro m etid a áb initio.
Q u a n d o o segu rado não inform a a com posição do núcleo familiar, o valor p o r
ele capitalizado p ara a hipótese do seu silêncio tem de ser m odificado o u redese­
nh ad o , senão a proteção não se realiza com o desejada pelas partes.
Daí a im p o rtân cia de os interessados serem alertados para esses e o u tro s as­
pectos, p rin cip alm en te, sobre o recolhim ento de tem po de serviço passado.
O correto é o R egulam ento Básico dispor claram ente sobre essa exigência, es­
pecialm ente, no tocante à concorrência da ex-esposa com a ex-com panheira, caso
co n trário sobrevirão dificuldades, conflitos e ações n a ju stiç a.

C ijr s o d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o IV — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n ta r
Capítulo CXCIV

Ó r g ã o s S u p e r v is o r e s

1941. Empresa instituídora. 1942. Ministério da Previdência Social.


Su m á r io :

1943. Ministério da Fazenda. 1944. Câmara de Recursos da Previdência Com­


plementar. 1945. Superintendência Nacional da Previdência Complementar.
1946. Conselho Nacional de Seguros Privados. 1947. Superintendência de
Seguros Privados. 1948. Conselho Monetário Nacional. 1949. Comissão de Valo­
res Mobiliários. 1950. Tribuna! de Contas da União.

Entre o u tro s aspectos, a previdência co m p lem en tar assinala-se pela gestão


pró p ria da iniciativa privada. Tanto os fundos de pensão qu an to as seguradoras,
associações religiosas, fundações ou m ontepios são ad m in istrad o s por órgãos co-
legiados (diretorias e conselhos), eleitos conform e os diferentes atos constitutivos
(estatu to s sociais e regulam entos básicos).
Sua liberdade operacional, co n tu d o , não é absoluta.
A EFPC é su b m etida à verificação in tern a e externa. Internam ente, segue os
preceitos do E statuto Social e do R egulam ento Básico, bem com o as resoluções do
C onselho de C uradores. E, indiretam ente, na pessoa de adm inistradores por ela
escolhidos, com o aco m p an h am en to da patrocinadora.
E x ternam ente, são vários os entes coordenadores de sua ação, m áxim e em
m atéria de investim entos. É m arcante a presença do G overno F ederal e objeto de
dissenção entre os estudiosos e em preendedores da técnica protetiva.
1941. E m presa in s titu id o ra — A Lei n. 6.435/1977 não esclarecia m in u cio ­
sam ente o papel da p atrocinadora ou provedora em relação à entidade patrocinada
ou provida, salvo no tocante à constituição e obrigação de contribuir. Seu silêncio
não era om issão, en tregando a m atéria à livre pactuação.
Q uando iniciava a regulam entação, no § I a do art. 34, rezava: “As patrocina­
doras supervisionarão as atividades das entidades referidas neste artigo” — logo
em seguida, redirecionando-se — “orientando-se a fiscalização do p o d er público
no sen tid o de p ro p o rcionar garantia aos com prom issos assum idos para com os
participantes dos planos de benefícios”, em precária técnica legislativa, on d e con-

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
cen tra a discip lin a d o tem a n um a única palavra (supervisão) e regra dois assu n to s
no m esm o dispositivo. O art. 5a do D ecreto n. 81.2 40/1978, lim itando-se a copiar
a lei, não m elh o ra as coisas.
A lacuna legislativa não define a relação entre as duas pessoas ju ríd icas e di­
ficulta a ap reen sã o d a n atu re za do elo su b jace n te en tre as d u as o rg anizações e,
de certa form a, dificulta a personalização d a entidade previdenciária. Pior, qu an d o
m anifesta a ingerência nos atos adm inistrativos. S upervisionar não é ad m in istrar
nem fiscalizar, com algum a chance de regular, m as esta ú ltim a tarefa é com etida
ao p o d er público, esgotando-se, assim , a possibilidade de a função estar delegada à
patro cin ad o ra. O legislador relegou o assu n to ã discrição dos interessados e, com o
não p o dia d eixar de ser, pelo m enos p o r ocasião da co n stitu ição , o criad o r tem a
iniciativa. M antém -se, todo o tem po, algum a subordinação de fato, prestando-se,
em alg u ns casos, p rin cip alm en te n as estatais, para a solução de problem as laborais
da institu id o ra.
C abe à em pregadora ac o m p an h ar pari passu, com o o faz, de m odo geral, no
cam po do D ireito Civil, a in stitu id o ra em relação à fundação, isto é, observar a
ad m inistração, os pro cedim entos e o cu m p rim en to do avençado, estabelecendo as
regras de convivência na convenção (E statuto Social e R egulam ento Básico). C om o
é quem in stitu i, fá-lo segundo a sua conveniência e, ao final da elaboração dos atos
co n stitu tiv o s, assegura o controle da entidade.
À guisa de exem plo, veja-se o art. 32, § 2S, do E statu to Social da ECOS —
F un d ação de S eguridade Social do Banco E conôm ico S.A. (alterado pela R esolução
do C onselho d e C u radores n. 01/1993 e aprovada pela SPC em 22.4.1994): “A n o ­
m eação e a d estitu ição dos m em bros dos órgãos referidos n este artigo” — C onse­
lho de C uradores, D iretoria Executiva e C onselho Fiscal — “caberá ao P residente
do C onselho de A dm inistração do Banco E conôm ico S.A.”.
A seguir, no art. 34, exige três dos cinco m em bros do C onselho de C u rad o ­
res serem escolhidos entre os em pregados ou dirigentes d a p atrocinadora, “sendo
certo adem ais que os P residentes do C onselho de A dm inistração e da D iretoria
Executiva da P atro cin ad o ra-ln stitu id o ra Banco E conôm ico S.A., são m em bros n a ­
tos do m esm o co n selh o ”.
Ainda: “o P residente do C onselho de C uradores é o P residente do C onselho
de A dm inistração do Banco E conôm ico S.A., a qu em caberá in d icar o respectivo
su p le n te ” (art. 34, § 2S). Mais: a m u dança do estatu to só p o d erá ser operada por
deliberação absoluta do C onselho de C uradores, sujeita à hom ologação da p atro ­
cinadora. O m esm o m ecanism o de defesa vê-se no E statuto Social da VALIA —
F u n d ação Vale do Rio Doce de Seguridade Social.
1942. M in istério d a P revidência Social — Flierarquicam ente, o M inistério da
Previdência Social é o órgão su p erio r da previdência social básica e co m p lem en tar
(fechada). A rigor, dada a natureza da proteção social, tam bém deveria abranger o
segm ento aberto, pois os seguros privados aduzem o sistem a protetivo nacional.
Sua e stru tu ra organizacional atu al foi aprovada pelo D ecreto n. 55/1991.

C urso pe D ir e it o P r e v i d e n (j i á r l o

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r

m
Por in term éd io da SPC, órgão execuLivo específico singular previsto no
D ecreto n. 1.644/1995, e do CGPC, ente oficial norm ativo (art. 35, I, da Lei n.
6.435/1977), acom panhava de p erto as entidades fechadas e sobre elas exercia
dom ínio regulam entador.
Esses dois órgãos foram su b stitu íd o s pela PREVIC (Lei n. 12.154/2009) e
CNPC.
O riginariam ente, sua ação estava estabelecida no art. 3e, I/IV, da Lei n.
6.435/1977: a) p ro teg er os interesses dos p articipantes dos planos; b) determ inar
padrões m ínim os adeq uados de segurança econôm ico-financeira, para preservação
da liquidez e da solvência dos planos, isoladam ente, e da entidade de previdência
privada, em seu co n ju nto; c) disciplinar a expansão dos planos, prop ician d o c o n ­
dições para su a integração no processo econôm ico e social do País; e d) coordenar
as atividades legais com as políticas de desenvolvim ento social e econôm ico-finan-
ceiro do G overno Federal.
Sua com petência restava estipulada no art. 37 (autorização para fun cio n a­
m ento da en tidade fechada) e no art. 38 (alteração de estatutos).
1943. Ministério da Fazenda — Duas divisões supervisoras da previdência
privada p erten cem ao M inistério da Fazenda: C onselho N acional dos Seguros Pri­
vados e S u p erintendência de Seguros Privados (criados em 1966).
Am bos, conselho e su p erin ten d ên cia, baixam portarias e resoluções, discipli­
n an d o as atividades dos diferentes gestores.
C onform e o D ecreto n. 1.745/1995, o M inistério da F azenda tem com o cole-
giados, entre o u tros, o C onselho M onetário N acional (art. 2-, 111, a), o C onselho
N acional de Seguros Privados (art. 2S, III, d), e com o entidades vinculadas: au tar­
quias (IV, a) — o Banco C entral do Brasil, a C om issão de Valores M obiliários — e
sociedade de econom ia m ista — o In stitu to de R esseguros do Brasil (reestru tu rad o
pelos arts. 41/71, do D ecreto-lei n. 73/1966). A Bolsa de Valores é entidade privada
disciplinada na Resolução BCB n. 39/1966.
1944. Câmara de Recursos da Previdência Complementar — O CRPC surgiu
com o C onselho de P revidência C om plem entar (art. 1 4 d o D ecreto n. 81.240/1978).
Previsto na Lei n. 8.444/1992 (art. 4 a, VIII), seu R egim ento In tern o foi aprovado
pela P ortaria MPS n. 420/1992 e alterado pela Portaria MPAS n. 1.608/1994. O
Decreto n. 85.237/1980 reviu a sua com posição.
O D ecreto n. 607/1992 fixou a com petência do CGPC, prevista no art. 35, da
Lei n. 6.435/1977, d efinindo nova com posição.
O D ecreto n. 710/1992 m odificou o D ecreto n. 607/1992, incluindo “dois
m em bros de notó rio saber em assuntos previdenciários, escolhidos pelo M inistro
de E stado da P revidência Social” (art. 2a, X). O D ecreto n. 1.114/1994, inexplica­
velm ente, reestru tu ro u a com posição do colegiado, excluindo os referidos m em ­
bros de n o tó rio saber, totalizando 18 conselheiros, aí incluídos representantes da
SEPLAN, INSS, BACEN, CVM, ABRAPP e IBA.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W ladimir Novaes M ar/inej


1945. Superintendência Nacional da Previdência Complementar —
A Secretaria de Previdência C om plem entar foi criada pelo art. 14 do Decreto
n. 81.240/1978. Pela P ortaria MPAS n. 1.057/1978 teve aprovado seu R egim ento
Interno. Em seu lu g ar foi criada a PREVIC (Lei n. 12.154/2009).
1946. Conselho Nacional de Seguros Privados — O C onselho N acional de
Seguros Privados foi criado pelos arts. 32/34 do D ecreto-lei n. 73/1966. In tro d u ­
ziu a sigla EAPP (R esolução CNSP n. 33/1989), designativa das entidades abertas
e sociedades seguradoras. Seu d o cu m en to básico são as N orm as R eguladoras de
F u n cio n am en to das E ntidades Abertas de Previdência Privada (R esolução CNSP
n. 10/1983). O R egim ento In tern o foi aprovado pela Resolução CNSP n. 14/1991.
1947. S u p e rin te n d ê n c ia d e S eguros P rivados — A SUSEP foi criada pelos
arts. 35/39 do D ecreto-lei n. 73/1966. Seu R egim ento In tern o foi aprovado pela
Resolução CNSP n. 31/1968. S ubstituiu o D epartam ento N acional de Seguros Pri­
vados e C apitalização, do M1FC.
1948. C o n selh o M o n etário N acional — O C onselho M onetário N acional foi
criado pela Lei n. 4.595/1964. O pina p rincipalm ente em m atéria de investim entos
e disciplina os seus en ten d im en to s m ediante resoluções do BCB.
1949. C o m issão d e Valores M ob iliário s — A CVM, criada pela Lei n. 6.385/
1976, tam bém se m anifesta sobre investim entos, especialm ente no m ercado de
capitais.
1950. T rib u n al de C o n tas d a U nião — O Tribunal de C ontas da U nião (art.
71, II, da C o n stitu ição Federal) tem com petência definida para regular os inves­
tim entos.
Tem poderes para fiscalizar as despesas feitas pelos entes políticos federais e
verificar as co n tas das entidades instituídas p o r estatais.
A F u n d ação Escola N acional de Seguros — F unenseg (R esolução CNSP n.
31/1968), o In stitu to de Resseguros do Brasil — IRB e o In stitu to Brasileiro de
A tuãria — IBA p articip am do sistem a de diferentes m aneiras.

C urso d e D ireito P revidenciário


T o m o IV — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n t a r
1343
Capítulo CXCV

D in â m ic a d as E n t id a d e s F e c h a d a s

1951. Aprovação estatal. 1952. Gestão das entidades. 1953. Possibili­


S u m á r io :
dade de fusão. 1954. Intervenção pela PREV1C. 1955. Recuperação da EFPC.
1956. Retirada de patrocinadora. 1957. Desistência de provedora. 1958. Direto­
ria Fiscal. 1959. Fiscalização do INSS. 1960. Liquidação extrajudicial.

A criação de um a EFPC , desde sua idealização alé o início do funcionam ento


n o rm al, pode ser equacionada sob quatro aspectos ou fases nucleares: a) decisão;
b) aprovação pela PREVIC; c) im plantação; e d) adm inistração.
O m an u al básico d en o m in ad o “Im plantação de E ntidade F echada de Previ­
dência Privada — E FPP”, elaborado em 1992, pela ABRAPP, indica, com m inúcias,
as sucessivas etapas e fornece as principais inform ações.
Nas N orm as Reguladoras do F uncionam ento das Entidades Fechadas de Previ­
dência Privada (Resolução CPC n. 01/1978) são estabelecidas as condições básicas,
com o núm ero m ínim o de participantes (50% do total de em pregados), valor do depó­
sito prévio, indicação da diretoria e conselho (três m em bros). Nelas, há regras sobre
o reajustam ento de benefícios, entidade m ultipatrocinada, parâm etros atuariais e pre­
ceitos gerais. Posteriorm ente, diversas resoluções alteraram alguns de seus com andos.
P rim eira providência é c o n stitu ir C om issão Técnica interna, com m em bros
escolhidos pela fu tu ra patrocinadora. E ntão, discutidos os aspectos globais do seg­
m ento fechado, circu nstâncias locais justificadoras da constituição da entidade
e, principalm ente, apreciações genéricas sobre o plano de benefícios em vista (v. g.,
n atureza da en tidade — se fundação ou sociedade civil — , regim e financeiro, tipo
de plano, elenco das prestações, lim ite de idade, nível do direito, com sistem a p ró ­
prio de cálculo e eleição de in d ex ad o r diante da inflação o u form a de revisão da
m ensalidade m an tid a).
É a h o ra de o p tar pelas linhas fundam entais do ordenam ento a ser adotado,
ainda sem a oitiva dos especialistas em atuária o u direito. A experiência de outros
fundos de pensão e a assessoria propiciada pela ABRAPP são de grande valia.
A segunda providência diz respeito à decisão de co n stitu ir a entidade. Tendo
em vista a exigência legal e a validade de sua contratação, é preciso pensar n o atuá-

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1344 W f a d i r n i r N o v a e s M a rtin e z
rio responsável. Efetivada a escolha, ele deverá ser inform ado sobre os dados socio-
biom étricos relativos aos futuros participantes: núm ero, sexo, idade, estado civil
e dep en d en tes, rem u n eração, tem po de serviço na p atrocinadora, função exercida
(possibilidade e direito à aposentadoria especial) e períodos de filiação ao RGPS.
Em seguida, d esen h ar o plano desejado, onde e q u an d o fixadas as condições
de elegibilidade (requisitos legais e regulam entares), determ inação do lim ite de
custo, taxa de ju ro s, patam ar das despesas adm inistrativas, fixação p re lim in ar das
alíq u o tas de co n trib u ição dos particip an tes e da patrocinadora. C om base nesses
elem entos, o m atem ático p o rm en o rizará o plan o e redigirá a N ota Técnica oficial.
A terceira providência refere-se à constituição civil da entidade p ropriam ente
dita. N esta o p o rtu n id ad e, elaborados o E statuto Social e o R egulam ento Básico,
p o r especialista em D ireito Previdenciário.
N orm as m ínim as são im postas pela lei para a elaboração desses d ocum entos
constitutivos: a) regras de inscrição; b) valor da joia e da taxa de inscrição; c)
inscrição de d ep en d en tes e cancelam ento; d) prescrições sobre aquisição, m an u ­
tenção e perda da qualidade de participante; e) períodos de carência e hipóteses
de dispensa; 0 lim ites de idade e requisitos, com o afastam ento do trabalho; g)
p arâm etros sobre o cálculo da renda m ensal final; h ) m étodo de revisão e reajus­
tam en to dos benefícios m antidos, com fixação de época e in d ex ad o r econôm ico;
i) m en su ração do resgate; j) possibilidade de m an u ten ção da relação após o ro m ­
pim ento do vínculo com a patrocinadora; k) alíquota de contribuições pessoais;
1) descrição dos órgãos estatutários (C onselho de C uradores, D iretoria Executiva,
co nselhos consultivo e fiscal), com definição de escolha, m andato, rem uneração,
com petência, subo rd inação, d esconstituição e substituição; m ) disposições sobre o
balanço anual; n) com andos sobre m odificações dos atos constitutivos; o) d iretri­
zes a respeito da extinção da entidade o u do afastam ento da patrocinadora.
Com a Resolução CGPC n. 3/1993, revisto o subitem 45.1 da R esolução CPC
n. O f/1978, não há m ais necessidade de núm ero m ínim o de 100 participantes.
F inalizando este degrau, escolha da razão social da entidade.
O E statuto Social e o R egulam ento Básico, após aprovação, são registrados em
C artório de T ítulos e D ocum entos. Esses atos constitutivos, m ais a N ota Técnica,
ju n ta m e n te com requ erim ento, devem ser encam inhados ao MPAS para exam e e
po sterior hom ologação da entidade em criação.
A q u arta providência reporta-se à efetiva im plantação. Segue-se o estágio
im p o rtan te da cam panha de adesão, com publicidade da aprovação da entidade,
folhetos sobre os seus principais objetivos, prom ovendo-se, im ediatam ente, a in s­
crição dos p rim eiros interessados, e iniciando-se o trabalho de cadastram ento dos
dados.
Na opinião de André de Montigny, a escolha, por parte do em presário, entre
fundação e sociedade sem fins lucrativos, obedece a alguns pressupostos. N ào obs­
tante considere iguais em m atéria de tributação e estarem subm etidas a um a única
legislação previdenciária, as estatais m ostram clara preferência pela fundação, e as

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1345
em presas privadas optam , em cerca de 90% dos casos, pela sociedade civil. C riar
sociedade é m ais fácil em com paração com a instituição de fundação de D ireito
Privado ( “A opçâo entre fundação e sociedade”, p .10).
A Instrução N orm ativa SPC n. 1/1994 fixou as N orm as P rocedim entais para
o E statuto Social, o R egulam ento Básico e os C onvênios de Adesão das EFPP Foi
su b stitu íd a pela Instrução N orm ativa SPC n. 6/1995.
1951. A provação e sta ta l — A constituição, organização e funcionam ento de
EPC dependem de prévia autorização governam ental. Trata-se de anacronism o in-
tervencionista, explicado historicam ente, próprio dos anos 70 e m anifestação de
Estado leviatânico no em preendim ento particular, justificado pela iniciativa das
estatais federais no processo de im plantação da previdência fechada.
Essa presença é configurada nos quatro incisos do art. 3g da Lei n. 6.435/1977.
Em relação às EFPC, a com petência do MPS com parece definida nos incisos
l/II do art. 35 da m esm a lei.
Por d eterm inação da lei, as entidades fechadas são co nstituídas no âm bito
privado, p o r in term éd io de fundações ou sociedades civis, regisLradas nos órgãos
públicos e su b m etid as ao crivo da Secretaria de P revidência C om plem entar. A pro­
vadas as exigências m ínim as, m ediante p ortaria do M inistro de E stado, o Diário
Oficial da U nião dá p u blicidade e validade à hom ologação.
1952. G estão das e n tid a d e s — As entidades abertas, q u an d o sociedades a n ô ­
nim as, regem -se pela Lei n. 6.404/1977, isto é, são conduzidas p o r diretoria, co n ­
selho de adm inistração o u deliberativo, consultivo e fiscal.
Já as fechadas são adm inistradas p o r órgãos colegiados p ró p rio s de sociedades
civis ou fundações, isto é, C onselho de C uradores e D iretoria Executiva, além de
C onselho Fiscal, e eventuais conselhos deliberativo ou consultivo.
A Lei n. 6.435/1977 não fixou ditam es específicos referindo-se, am iudem ente,
aos gestores e aos conselheiros. Cabe ao E statuto Social aclarar a com posição e as
atrib u içõ es dos diferentes órgãos internos. P rincipalm ente, a nom eação de seus
m em bros e rem uneração.
Para as EAPC, a p rim eira m enção aos adm inistradores aparece no art. 20 da
Lei n. 6.435/1977, alu d in d o à diretoria e conselhos (adm inistrativo, consultivo e
fiscal). Integrarão organism os colegiados de, no m ínim o, nove m em bros. A dm ite-
se rem uneração para d iretores e conselheiros.
No art. 30, faz-se distinção entre “associados co n tro lad o res” e p articipantes
dos planos.
Para as EFPC, é vista no art. 53 da referida lei. São solidariam ente resp o n ­
sáveis p o r prejuízos causados a terceiros (art. 76). E xcepcionalm ente, q uando de
hipóteses cabíveis, o in terv en to r e o liquidante gerem -nas.
1953. P o ssib ilid ad e d e fusão — Da m esm a form a com o as patrocinadoras,
são agrupáveis ou incorporáveis entre si, p o r variados m otivos, EFPC podem vir a
agregar-se, p rincipalm ente, se as m an ten ed o ras optam pela união dos patrim ônios
e objetivos.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1346 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Na elaboração do E statuto Social e R egulam ento Básico de entidade fusionada,
deverão ser resp eitad o s os d ireitos p actu ad o s nos d o cu m en to s anteriores. Trata-se
de trabalho árd u o de sistem atização dos diferentes textos e d istin to s segm entos.
Tam bém pode ser a o p o rtu n id ad e de rediscussão do plano, com o revisão de
suas linhas gerais; nada im pede a preservação de quadros em extinção, relativos a
particip an tes das en tid ades fusionadas.
1954. In terv en çã o p ela PREVIC — As entidades de previdência privada são
fiscalizadas, au d itad as in tern a e externam ente, e sofrem intervenção. Providências
excepcionais, previstas na lei, praticadas p o r autoridade co m petente, m ediante ato
ad m in istrativ o form alizado.
O fato de haver terceirizado sua adm inistração não obsta o ato excepcional,
com o aconteceu com a AEROS — entregue ao Banco GNPP (liquidado pelo BCB,
em 5.12.1995) — , su b m etida à intervenção em dezem bro de 1995. U m a das cau­
sas, ap licar n o p ró p rio gerente ( “F u n d o da VASP sofre in te rv e n ç ã o ”, in F olha de
S. Paulo, de 27.12.1995, p. 1-5).
a) Pressupostos: Os fatos d eterm in an tes da m edida especial estavam previstos
desde o art. 55 da Lei n. 6.435/1977: “Para resguardar os direitos dos participantes,
poderá ser decretada a intervenção na entidade de previdência privada, desde que
se verifique, a critério do órgão fiscalizador: I — atraso n o pagam ento de obrigação
líquida e certa; II — prática de atos que possam conduzi-la à insolvência; III —
estar a en tidade sendo adm inistrada de m odo a causar prejuízo aos participantes;
IV — estar a en tid ad e em difícil situação econôm ico-financeira; V — aplicação de
recursos em desacordo com as norm as e determ inações do C onselho M onetário
N acional. Parágrafo único. A intervenção terá com o objetivo principal a recu p era­
ção da en tid ad e .” P raticam ente, igual se colhe no art. 44 da LBPC.
b) Objetivo: No parágrafo único, ficava claro o sen tid o do ato in usitado do
Estado: g aran tir a estabilidade da entidade, vale dizer, o interesse dos participantes.
c) Previsão legal: A intervenção só tem sen tid o e cabim ento q u an d o prevista
na n o rm a legal.
d) Poder intervencionista: Tanto q u an to a liquidação, com o dito, a intervenção
é cuidado extrem o, fere a liberdade de co n d u zir a gerência in d ep en d en te da e n ti­
dade e obsta o exercício n orm al dos gestores.
Em seu art. 56, a lei facultava a intervenção p o r iniciativa da SPC ou p o r soli­
citação dos ad m in istrad o res da entidade. Dava-se p o r m eio de p ortaria do M inistro
de Estado, pu b licad a no D iário Oficial da União. Nesse d o cu m en to , a autoridade
explicitará o alcance da intervenção e os poderes atrib u íd o s ao interventor.
e) Temporariedade: Tam bém a intervenção era tem porária. C onform e o art. 57,
p erd u raria d u ra n te o tem po necessário “ao exam e da situação econôm ico-financei-
ra da en tidade e adoção das m edidas destinadas à sua recuperação, prorrogável a
critério do M inistro de E stado”.
f ) Conseqüências: Além da substituição dos gestores, de im ediato, desde a p u ­
blicação da decreLação, estarão suspensas as obrigações vencidas e a fluência dos

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o IV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1347
prazos das obrigações vincendas an terio rm en te contraídas (art. 58, 1/11), m as não
a suspensão do p agam ento de benefícios novos o u em curso. Em caráter excepcio-
nalíssim o, redução d o s valores d u ran te o tem po necessário.
g) Término: A intervenção cessava q u an d o a entidade estivesse com a situação
norm alizada, co n to rn ad as as dificuldades, elim inados os entraves e afastadas as
causas deflagradoras. Seu fim se dava com a aprovação do relatório do in terv en to r
p o r parte do M inistro de Estado.
Deste ato form al, dá-se exem plo com a publicação do R elatório F inal da Inter­
venção na F un d ação de S eguridade Social BRASLIGHT, onde desenvolvidos quatro
itens principais: a) situação inicial; b) situação atual; c) denúncias do sindicato;
e d) recom endações do in terv en to r (in D iário Oficial da U nião, de 20.7.1995) e
da intervenção da BEP — Caixa de Previdência Social — PREVBEP, conform e o
despacho da SPC de 26.12.1995 (in DOU de 27.12.1995).
1955. R ecu peração d a EFPC — D entro da Seção III — Da Liquidação Ex­
trajudicial, da Lei n. 6.435/1977, encontrava-se o art. 69; “M esm o no curso da
liquidação será ad m itid a a h ip ó tese de recuperação, na form a in d icad a n a Seção
II deste C ap itu lo ”.
Na referida Seção II, disp u n h a-se sobre a intervenção (arts. 55/62). O objetivo
desta era o reerguim ento da entidade (art. 55, parágrafo único).
A recuperação tanto pode acontecer d u ra n te a intervenção q u an to na liqui­
dação extrajudicial, se as condições perm itirem , isto é, presente probabilidade
atuarial de soerguim ento, com a observância das obrigações correntes (e até das
futuras) e viabilidade de m an u ten ção da entidade.
O arl. 61 da Lei n. 6.435/1977 tin h a norm a excepcionalíssim a: “Os p arti­
cipantes do planos de previdência das entidades fechadas, bem com o as p atro ­
cinadoras, não poderão se o p o r a q u alq u er p lano de recuperação, proposto pelo
in terv en to r e aprovado pelo M inistro de Estado da área a q u e estiver vinculada a
entidade, m esm o q u e essa recuperação envolva a transferência de todos os direitos
e obrigações para o u tra entidade, fechada ou aberta, com ou sem a redução dos
benefícios e dos pagam entos devidos aos participantes dos planos de benefícios”.
Regras im perativas e drásticas representam delegação exagerada de poderes
ao esforço de salvam ento da entidade. Mas o com ando não era absoluto ou irre-
corrível, pois “Das decisões do in terv e n to r caberá recurso, em única instância, sem
efeito suspensivo, no prazo de 10 (dez) dias, contados da ciência da decisão, para
o M inistro de E stado da área a que estiver vinculada a en tid ad e” (art. 59).
Trata-se do am plo direito de defesa, oferecido a cada participante em p artic u ­
lar, atingido p o r decisão pessoal e a todos, da m esm a form a, q u an d o o in terv en to r
exceder-se em suas atitudes, extravasando a com petência atribuída pelo art. 61, a
de ten tar salvar a organização. Se a en tid ad e é recuperável, o sentido teleológico
da lei é m an d ar aplicar o art. 61 para o período de intervenção. Isto é, dispõe o in ­
terv en to r de am plos p oderes nesse sentido. Essa outorga, entretanto, não o investe
no p o d er arbitrário, não o autoriza a prejudicar alguns participantes em favor de

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1348 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
outros, n ão privilegiar os assistidos com o recom endado (art. 67, § 39), preterir
direitos; enfim , com eter injustiças ou, no afã de recu p erar a entidade, subm etê-la
a riscos atuariais, ou m esm o proceder a u m a divisão do espólio sem critério de
igualdade.
1956. R etirad a d e p a tro c in a d o ra — E xercitando a facultatividade inerente ao
sistem a fechado, a p atrocinadora, em algum m om ento, pode deixar de financiar
os benefícios da com plem entação. As causas são m uitas, o correndo p o r alienação
(privatização, estatização, absorção, incorporação, fusão) o u insolvência (co n co r­
data ou falência, ex tinção ou liquidação). E, ainda, p o r vontade própria.
Os com an d o s relativos a esse distanciam ento, designado com o retirada de
p atro cin ad o ra, não estão sistem atizados n o D ireito P revidenciário fechado.
E m bora a m atéria devesse ser cuidada p o r lei, com parece disciplinada tão
som ente na Resolução CPC n. 06/1988 e em estu d o s não oficiais (“N orm as R egu­
ladoras de Saída de P atro cin ad o ra”).
Sobre o assu n to , Newton C ezar Conde e Flávia Tahis E Germignani adotam
com o postu lad o s básicos: a) preservação dos direitos dos participantes; b) esforço
co n duzido no sen tid o de não liquidar a entidade; c) descartar a hipótese de d istri­
buição do p atrim ô n io (in “R etirada de P atrocinadora”, p. 3).
C onsagram com o deliberação da C om issão de Alto Nível: “II — a retirada da
patrocinadora pode ocorrer por vontade própria, a qualquer tem po” (ob. cit., p. 8).
A observação é válida, trata-se de prática econôm ica. N ão m ais convindo ao em ­
pregador, ele afasta-se. Resta saber as condições do afastam ento, regrado ou não
nos estatu to s da in stituição ou convênio, n o caso de fundos m ultipatrocinados.
Em 1992, pela P ortaria MTPS n. 3.348/1992, o G overno F ederal prom oveu
au diência p ú blica para estu d ar o assunto.
A adoção de ou tras m odalidades de afastam ento da p atrocinadora, além da
falência e da liquidação extrajudicial, subm eteu-se à crítica da d o u trin a. Para Eu-
clides A ntunes: “A m u d an ça de controle acionário de um a em presa n ão a obriga
a deixar a condição de patrocinadora de u m fundo de pensão, pois nesse caso
caracteriza-se no cam po ju ríd ico a sucessão” (“R etirada de p atro c in ad o ra”, p. 4).
Reunião realizada em 25.5.1991, no A uditório da SUPREV, sob o título “Análise
Jurídica e A tuarial da Retirada da P atrocinadora”, form ulou conclusões sobre a m a­
téria: “a) a retirada não im plica necessariam ente a liquidação do plano ou da EFPP,
se h o uver suficiente solvência, capaz de su p o rtar os benefícios pelos novos partici­
pantes assistidos e dos participantes ativos que tiverem até essa data im plem entada
a condição de beneficiário, m esm o porque há fórm ulas de redução, de benefícios
(vesting) e de custeio exclusivo pelos participantes para os dem ais; b) os direitos dos
participantes devem e precisam ser preservados com o requisito de m anutenção de
im agem positiva e saudável do sistem a; c) é preciso distinguir ausência de patrocínio,
consubstanciado p o r contribuição de patrocinadora, das atribuições e responsabi­
lidades das patrocinadoras pela supervisão, controle, fiscalização e necessidade de
cobertura patrim onial, quando couber, pois h á determ inadas m odalidades de bene-

O jr s o d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o /V — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n ta r
fícios, financiáveis tão som ente pelos participantes; d) a EFPP, graças ao regim e de
capitalização, através do qual constitui reservas, teoricam ente pode sobreviver à pa­
trocinadora, arcando com seus com prom issos no nível de benefícios, se tiverem ade­
quado nível de solvência e de reajustam ento dos planos de benefício; e) a aplicação
dos tratam entos próprios de diretoria fiscal, interventoria e liquidação extrajudicial,
obedecem a u m ritual de pré-condições definidas em lei e ‘gradação’ caracterizado-
ra da situação da EFPP e de seus planos, a superação dos fatores determ inantes da
m edida e a recuperação a qualquer tem po da EFPP e de seu plano de benefícios”.
E, finalm ente: “Sob esse aspecto, o cu m p rim en to de com prom issos da p a­
trocinadora assum e caráter fundam ental, m as deve-se ter sensibilidade para que
estes não co n stitu am u m a cam isa de força para o em presário ou para a burocracia
estatal, a p o n to de inviabilizar a venda de p arte ou de toda a em presa, seja estatal
privatizãvel, seja privada alienável, ou no caso de encerram ento de atividades”
(“Q uando a p atro cin ad ora se re tira”, p. 6/9).
Alguns E statu to s Sociais, sob inspiração de aluários previdentes e, particu lar­
m ente, q u an d o a in stitu id o ra é estatal, dispõem sobre as condições de afastam ento.
No art. 10, § I a, o E statuto Social da VALIA exige garantia dos “valores...” (a) e
“fu n d o s...” (b).
1957. Desistência de provedora — As raras norm as positivas sobre retirada
de patro cin ad o ra não fazem distinção entre as diferentes m odalidades de custeio
das EFPC, se divididos os encargos (form a m ais com um ) ou se inteiram en te sob
responsabilidade do em pregador, nesse caso, designado de provedor. As conse­
qüências são diversas e m ais acentuadas, pois o p atrim ô n io da provida seg u ram en ­
te não eqüivalerá à h ipótese da du p la fonte de custeio, salvo se a in stitu id o ra da
proteção tom ou a iniciativa de verter vultosos recursos p ara a entidade.
A p ar do problem a crucial de d eterm in ar a com petência ju risd icio n al n o caso
de conflito jacente entre o participante e a entidade, o afastam ento da provedora,
em cada caso, pode significar o descu m p rim en to do co n trato laborai.
P osicionando-se o observador pela in d ep en d ên cia das pessoas ju ríd icas, p res­
sup o sto da com petência da ju stiç a com um , não en ten d e n d o com o extensão do
co n trato de trabalho, o afastam ento da provedora situa-se no âm bito da liberdade
de fo m en tar ou não o fundo de pensão. Porém , se a instituição, por suas caracterís­
ticas, for tida com o m era política de recursos h um anos, salário indireto, a ju stiç a
do Trabalho será co m p etente e o afastam ento im plicará a indenização de obriga­
ções futuras. Isto é, assunção de deveres laborais pecuniários.
1958. Diretoria F iscal — A au d ito ria é form a hierarquicam ente su p erio r de
fiscalização das en tid ad es de previdência privada. Posta-se no meio de dois extre­
m os do controle: a) fiscalização operada pelo AF do INSS, no caso das fechadas; e
b) intervenção. Reclam a cenário distinto do d eterm in an te da intervenção e, obvia­
m ente, da liquidação extrajudicial.
Procedida p o r D iretor-Fiscal indicado pela Secretaria de Previdência Social,
com m an d ato definido e prazo de atuação, e acesso às instalações e inform ações
da auditada.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1350 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Em seu art. 51, dizia a Lei n. 6.435/1977: “Sem pre que ocorrer insuficiência
de cobertu ra, ou in ad equada aplicação das reservas técnicas, fundos especiais ou
provisões, ou an o rm alidades graves no setor adm inistrativo de q u alq u er entidade
de previdência privada, a critério do órgão fiscalizador, poderá este nom ear, por
prazo d eterm in ad o , um diretor-fiscal com as atribuições e vantagens que, em cada
caso, forem fixadas pelo órgão n o rm ativ o ”.
Os p ressupostos da presença do D iretor-Fiscal, ou seja, as irregularidades na
co n d u ta das EPC, são descritos de form a abrangente na lei, in clu in d o , basica­
m ente, as seg u in tes situações m ínim as: a) insuficiência de cobertura; b) aplicação
im p ró p ria das reservas; e c) anom alias adm inistrativas.
O objetivo é, a tem po, salvaguardar os interesses dos particip an tes, resguardar
a credibilidade da en tidade e o nom e do sistem a.
N os term o s in fin e do dispositivo, o critério de decantação dessas c o n tin g ên ­
cias p ertence à SPC.
Na prim eira circunstância, aiude-se ao déficit técnico, ou seja, a evidente
deficiência dos recursos para enfrentar as obrigações correntes e futuras, o dese­
q uilíbrio atu arial da entidade.
Na seg u n d a h ipótese, tem -se não só o descu m p rim en to dos percentuais fixa­
dos nas n o rm as o riu n d as do CM N, com o a opção em in vestim entos im próprios,
q u an d o , em tese, p u serem em risco a solvabilidade do plano.
São situações “ex tern as”; as internas estão configuradas no terceiro cenário
e são objetivas: anom alias na adm inistração (v. g., não realização da receita, recusa
descabida dos p edidos de benefícios, descu m p rim en to das determ inações dos
órgãos ad m in istrativ o s, ausência sistem ática dos cânones contábeis, desatendi-
m ento das recom endações do atuário, concessões indevidas de prestações, gastos
exagerados com despesas, rem uneração desproporcional para os dirigentes etc.).
A aud ito ria, prom ovida p o r pessoa física ou ju ríd ica, não é intervenção nem
afeta ju rid icam en te a en tid ad e e sua representatividade. Inocorre a substituição
do corpo de ad m inistradores. Estes co n tin u am o perando norm alm ente, execu­
tan d o as suas funções rotineiras, sob a supervisão do D iretor-Fiscal. Porém , nos
term o s do art. 52: “O d escu m p rim en to de q u alq u er determ inação do diretor-fiscal
p o r ad m in istrad o res e m em bros de conselhos deliberativos, consultivos, fiscais ou
assem elhados, ou fu n cionários da entidade, acarretará o afastam ento do infrator,
sem prejuízo das sanções penais cabíveis, assegurado ao interessado o direito de
recurso, sem efeito suspensivo, para o M inistro de E stado da área a que estiver
vinculada a e n tid ad e”.
O D iretor-Fiscal tem obrigações form ais a serem cum pridas, estabelecidas no
art. 54: a) análise organizacional da em presa; e b) estudo de sua situação eco n ô ­
m ico-financeira.
Ao final dos trabalhos deve apresenLar relatório circunstanciado à SPC onde
cabe, se for o caso, recom endar a intervenção, m edida drástica justificada.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o IV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1351
Não aclarando bem quais os servidores, o art. 41, parágrafo único, facultava o
ingresso de servidores do MPS nas EFPC. O D ecreto n. 1.317/1994 fala em Fiscal
de C o n tribuições P rev id en ciárias— FCE Com a Lei n. 1! .457/2007, é possível que
esse encargo seja atrib uído aos A uditores Fiscais da Receita Federal.
A au d ito ria referida nos arts. 51/54 era a oficial. Mas o art. 47 determ inava:
“As entidades fechadas subm eterão suas contas a auditores independentes, regis­
trados no Banco C entral do Brasil, divulgando, an u alm en te, entre os participantes,
o parecer respectivo ju n ta m e n te com o Balanço Geral e dem onstração de R esul­
tados do Exercício. Parágrafo único. A auditoria in d ep en d en te poderá ser exigida
tam bém quanto aos aspectos atuariais, conform e for estabelecido pelo órgão n o r­
m ativo do M inistério da Previdência e A ssistência Social”.
1959. F iscalização do INSS — C om o dito, o art. 41, parágrafo ú nico, da
Lei n. 6.435/1977 fazia m enção à fiscalização das EFPC por parte de servidor do
MPS. C om o dito, o D ecreto n. 1.317/1994 atrib u iu à Fiscalização do INSS essa
incum bência.
Tal inspeção não se confunde com as atribuições costum eiras com etidas ao
FCP, quando verifica o cum prim ento das determ inações do RGPS (principalm ente,
o recolhim ento de contribuições). O referido ato norm ativo presidencial faz refe­
rência à Lei n. 6.435/1977, com isso identificando a especificidade da visita fiscal, e
ressaltando a possibilidade de “requisitar livros, notas técnicas e dem ais d o cu m en ­
tos necessários, caracterizando-se com o em baraço à fiscalização qualquer dificul­
dade oposta à consecução do objetivo, punível nos term os da Lei”. Isto é, sem p re­
juízo da verificação habitual procedida nos livros fiscais, com vistas nas obrigações
principais e acessórias contem pladas na Lei n. 8.212/1991, a Fiscalização do INSS
poderá conferir o cum prim ento da Lei n. 6.435/1977 e do D ecreto n. 81.240/1978.
Salienta o D ecreto n. 1.317/1994 a obrigação do sigilo fiscal e o tratam ento
especial em relação às operações ou assuntos reservados.
Dispositivo am plo é o seu art. 3 a: “Aplica-se ã fiscalização das entidades fecha­
das, no que co u b er e não colidir com os preceitos deste Decreto e da Lei n. 6.435,
de 1977, o disposto na Lei n. 8.212, de 24 de ju lh o de 1991, e dem ais dispositivos
da legislação p rev id en ciária”.
1960. L iq u id ação e x tra ju d ic ia l — As em presas desapareceram n aturalm ente,
p o r alienação, falência ou substituição p o r outras; não co n stitu i novidade n o m u n ­
do dos negócios. P odem ser fundidas, encam padas, confiscadas, desapropriadas,
privatizadas ou estatizadas. Associações, cooperativas e entidades porem fim às
suas atividades, é p ró p rio da ancianidade e senectude dos em preendim entos dessa
natureza.
Às vezes, o encerram ento se dá por cum prim ento dos objetivos sociais ou exaus­
tão de suas funções. Frequentem ente, p o r dificuldades operacionais de toda ordem.
P o r definição, porém , certas instituições têm o seu fim d eterm inado em lei,
não podem solicitar co ncordata o u en trar em falência. Sofrem intervenção e até li­

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1352 W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
quidação extrajudicial, caso das entidades dc previdência privada. A dissolução do
p atrim ô n io é cu id ad o sam ente regrada na n o rm a ju ríd ica, ten d o em vista a fru stra­
ção do propósito inicial. É válido, sobretudo, no tocante às entidades de previdên­
cia fechada, reco m en dação do C entro de E studos de S eguridade Social — CESS,
da ABRAPP, oferecido ao MPS. Indicava incentivos à absorção do co n tin g en te por
o u tro s fu n d o s de pensão, m ediante seguro em grupo nacional do segm ento.
P revendo a h ipótese, os arts. 47/53 da LC n. 109/2001 disciplinam am plam en­
te esse processo, m as, salvo o artigo “A responsabilidade previdenciária da em presa
privada sob in terv en ção ” (in RPS n. 19/25), n ão foram localizados estu d o s técnicos
sobre essa atividade, b em com as decisões ju d iciais referentes à m atéria.
A lgum as causas determ in an tes são ali assinaladas, entre elas, a inviabilidade
de recuperação da entidade. O principal m otivo é a ausência da patrocinadora, a
sua retirada, p o r liquidação extrajudicial, com a conseqüente perda dos in d isp en ­
sáveis ingressos aos planos de custeio e benefícios.
A LBPC prevê, em particular, oito efeitos práticos e ju ríd ico s da liquidação
extrajudicial, to d o s relevantes, d em o n stran d o o cuidado do legislador em facultar
ao ad m in istrad o r in tervencionista a possibilidade de salvar a entidade.
A lguns deles su rp reen d em pelo significado prático e alcance ju ríd ico : “Sus­
pensão das ações e execuções iniciadas sobre d ireitos e interesses relativos ao cervo
da en tidade liq u id a n d a” (1) e “in terru p ç ão do pagam ento à liq u id an d a das c o n tri­
buições dos p articip an tes e dos patrocinadores relativas aos planos de benefícios”
(VIII), ap aren tem en te con d u zin d o ao fim da in stitu ição (art. 49).
Pela validade assum ida no co n tex to das obrigações do liq u id an te convém
re p ro d u zir o art. 67, § 3B, da Lei n. 6.435/1977: “O s particip an tes que já estiverem
recebendo benefícios, o u que já tiverem adquirido esse direito antes de decretada a
liquidação ex traju d icial, terão preferência sobre os dem ais p artic ip a n te s”.
É evidente a preocupação de restabelecer a norm alidade nas relações e buscar
a tran q ü ilid ad e ju ríd ica, reconhecendo não poderem os aposentados o u pen sio n is­
tas, m u itas vezes idosos, assegurar os m eios de subsistência. Há, pois, seg u ram en ­
te, no co rp o da lei, um p rincípio de proteção ao assistido, q u an d o da distribuição
dos bens d a m assa do fundo de pensão extinto. Se isso é verdade, prevalece o
m esm o en ten d im en to para toda a fase da liquidação extrajudicial.
O legislador adm ite a recuperação, e os critérios encontram -se na disciplina
da in tervenção (arts. 44/46), p reâm bulo da liquidação.
Não deve escapar à com preensão do aplicador da norm a, o liquidante, a ideia
de ten tar a recuperação no curso da liquidação extrajudicial e ser a intenção da lei
preservar, de todas as form as legais, a garantia dos direitos e, se possível, a situação
dos futuros apo sen tad os e beneficiários. Ele só deve d ar curso ao encerram ento das
atividades se a liq u id an d a não oferecer condições m ínim as de restabelecim ento;
essa a filosofia a ser im prim ida à sua adm inistração.
L iquidação não se co n fu n d e com intervenção, m as suas características são
p raticam en te as m esm as:

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o /V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1353
a) Previsão legal: A fonte m ais rem ota da liquidação é a lei. Para ela acontecer é
preciso a norm a em tese, adm itindo e disciplinando a m edida excepcional, definir
o órgão liq u id an te e a clientela liquidanda.
b) Poder liquidante: A liquidação é m edida extrem a, fere a liberdade e o direito
de propriedade. Os titulares de direitos devem p o d er exercitã-los sem co n stra n ­
gim ento. Ela obsta a livre utilização dessas faculdades e, p o r isso, não pode ser
operada p o r quem não d etenha co n stitu cio n al ou legalm ente essa atribuição, em
ú ltim a análise, ser p raticado pela coletividade. Só o E stado, no caso, o MPAS, d e­
flagra essa providência.
c) Instrumento legal: M esm o dian te da situação descrita em abstrato na lei
com o sujeiLa a provocar a liquidação, efetivada concretam ente na realidade, a in ­
tervenção não acontece autom aticam ente. Reclama providência form al, escrita,
em anada de au to rid ad e com petente. Pode ser decreto, portaria m inisterial ou, c o n ­
form e o caso, ato m en o r de pessoa au to rizad a ou delegada. N ão há liquidação ou
ela não p roduz efeitos jurídicos, se o sujeito ativo da relação não baixar a resolução
capaz de lhe d ar nascim ento. Sua extinção pode suceder tacitam ente, m as o início
exige o form alism o.
d) Temporariedade: O ntologicam ente, não existe liquidação perm anente; n e s­
se caso, é encam pação. O objetivo é preservar a ordem jurídica, e, se ela não é a tin ­
gida em prazo razoável, deve sobrevir m edida m ais drástica p o r parte do Estado,
po d en d o ser o confisco ou até a supressão total da em presa.
A regra, porém , é a liquidação ser transitória, ter início, m eio e fim, e extin-
guir-se q u an d o atingido o desideratum, ou seja, o restabelecim ento do equilíbrio
das coisas. Não deve subsistir p o r m uito tem po, sob pena de transform ar-se em
estatização, in v adindo área reservada ao particular, desrespeitando a liberdade p o ­
lítica e econôm ica vigente no estado dem ocrático.
e) Excepcionalidade: A liquidação constitui coerção à liberdade das pessoas,
físicas ou ju ríd icas, lim itação à livre-iniciativa. Im põe subm issão, exam e e apre­
ciação de atos praticados pelo sujeito passivo. Ao hom em livre, repugna a ideia do
constrangim ento. Em tais condições, sua característica m arcante é a singularidade.
Trata-se de m edida excepcional e, nessas condições, deve ser interpretada.
Os p o deres do liq uidante e seus propósitos são distintos; confundem -se os
seus im eresses com os dos participantes. Sua presença reclam a a lucidez dos bem ­
-intencionados e a capacidade gestora dos isentos, socorrendo-se, q u an d o im pres­
cindível, de assessoria e consultoria à altu ra da tarefa vital para sobrevivência da
entidade.
A exem plo da intervenção, para a fase de liquidação extrajudicial, não hã dis­
positivo co rresp o n d en te ao art. ó f , convindo sopesar a propriedade de sua adoção.
As expressões contidas na lei são im perativas e drásticas, representando delegação
de m uitos poderes ao esforço de salvam ento da entidade. Mas o com ando não é
absoluto ou irrecorrível.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1354 W la d im ir N o v a e s M a r t in e z
N os term o s do art, 59 da Lei n. 6.345/1977: “Das decisões do in terv e n to r
caberá recurso, em ú n ica instância, sem efeito suspensivo, no prazo de 10 (dez)
dias, co n tad o s da ciência da decisão, para o M inistro de E stado da área a que estiver
v inculada a e n tid ad e”.
Trata-se d o am plo direito de defesa, oferecido a cada particip an te em particu ­
lar, atingido p o r decisão pessoal e a todos, da m esm a form a, q u an d o o in terv en to r
exceder-se em suas atitudes, extravasando a com petência atrib u íd a pelo art. 61:
ten tar salvar a organização.
R epete-se o afirm ado q uando da intervenção. Se a entid ad e é perfeitam ente
recuperável, o sen tid o teleológico da lei m anda aplicar o art. 59 e o art. 61, para o
p erío d o de liquidação. Isto é, dispõe o liquidante de am plos p oderes nesse sentido.
Essa outorga, po rém , não o investe de p o d er arbitrário, não o au to riza a prejudicar
alguns p articip an tes em benefício de o u tro s, a privilegiar os assistidos com o reco­
m en d ad o pela lei (art. 67, § 3Q), preterir direitos, enfim , com eter injustiças ou, no
afã de recu p erar a en tidade, subm etê-la a riscos atuariais, o u m esm o proceder à
divisão do espólio sem critério de igualdade.
B uscar u m a ou m ais patrocinadoras, ten tar realizar o p atrim ô n io da en tid a­
de, organizar-se com o fundo m u ltip atro cin ad o , co n tin u ar reaju stan d o benefícios
(com m eios para isso, aprovação do atu ário e autorização da SPC), fazer econom ia
em gastos, rever benefícios ilegítim os, ad equar a gerência a um a nova organização,
enfim , de m odo geral, ten tar recu p erar a entidade em fase de liquidação, é em pe­
n h o defensável co n tid o nos term os do referido art. 61. Tudo isso, sem prejuízo dos
direitos em expectativa e dos adquiridos.
Tanto q u an to possível e diante das circunstâncias, isto é, nos lim ites m ateriais
das d isp o nibilidades financeiras, é obrigação legal e m oral da entidade preservar os
direitos dos atuais e dos futuros assistidos, equilibrando as m edidas, para não p ri­
vilegiar uns em d etrim en to de outros. Sem pre lem brando a preferência desfrutada
p or q u em tem o direito assegurado pela legislação. Esforço m aior deve co n d u z ir à
situação de tran q ü ilid ad e fática e ju ríd ica. Essa a mens legis da lei básica da previ­
dência com plem entar.
Ela não dispõe especificam ente sobre as providências a serem tom adas pelo
liq u id an te, para so lu cio n ar os problem as de transform ação de entid ad e sob liqui­
dação ex traju d icial n u m fundo de pensão p erm anente, au to p atro cin ad o ou m u lti­
patrocinado. Inexiste d o u trin a ou ju risp ru d ê n c ia consultável enfocando a m atéria.
O p rin cíp io da transparência é fundam ental na intervenção e, assinaladam en-
te, n u m a liquidação cujo objetivo su p erio r é o reerguim ento da entidade. Sem
som bra de d ú v idas os p articipantes, sejam eles assistidos ou futuros assistidos, não
podem ignorar as condições estru tu rais da organização; precisam ser ouvidos. Não
o b stan te as circu n stâncias da adesão e a interferência do Estado, a relação ju ríd ica
de previdência supletiva situa-se no cam po do D ireito Privado. A vontade das pes­
soas, nos lim ites do E statuto Social e da lei, deve ser respeitada. Além da aprovação
dos relatórios pela SPC, é im prescindível o consenso dos titulares, os participantes.
Os co n to rn o s, com o dito, consagrados na LBPC.

C u r s o d iz D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1355
Capítulo CXCVI

A tos C o n stitu tiv o s das EFPC

196J. Edital de Privatização. 1962. Convênio de Adesão. .1963. Estatu­


S u m a r io :
to Social. 1964. Regulamento Básico. 1965. Conselho de Curadores, 1966. Dire­
toria Executiva. 1967. Função do Presidente do Conselho de Curadores. 1968.
Atribuição dos diretores. 1969. Conselho Fiscal. 1970. Substituição de gestores.

Q uando perfilham os preceitos co nstitucionais — a FC n. 109/2001 e seu


decreto reg u lam en tad o r — , a principal fonte form al de consulta im ediata do ad ­
m in istrad o r da EFPC é, nesta ordem , o E statuto Socia! e o R egulam ento Básico.
Atos regentes co n stitu tiv o s da entidade, estes dois d ocum entos institucionais
ordenam a estru tu ra aziendal e em presarial, sua divisão organizacional e com posi­
ção, as áreas gerenciais, suas funções e m eios m ateriais.
Resoluções do C onselho de C uradores ou das decisões da D iretoria Executiva
inspiram -se e executam suas norm as, a elas se subordinando.
Cada um deles com âm bito de atuação circunscrita, atribuições e fins indivi­
dualizados e in confundíveis, sistem atizados hierarquicam ente.
A Lei n, 6.435/1977 tin h a poucas disposições sobre a m atéria (valendo regis­
trar, pela im propriedade de tessitura, a “autorização” do art. 31, § 4Q, para rem u n e­
rar conselheiros de pessoas ju ríd ic a s de direilo privado), com m enção a esses entes
adm inistrativos no seu art. 49. A LBPC é m ais silente ainda.
No passado, algum as patro cin ad o ras arvoraram -se no direito de baixar reso­
luções p róprias da adm inistração interna do fundo de pensão, m as tais m edidas
praticam ente desaparecem do sistem a p o r contrariarem a sua individualidade.
Às vezes, eles norm alizam m atéria ínsita ao E statuto Social ou ao R egulam ento
Básico, m ediante resoluções do C onselho de C uradores ou da D iretoria Executiva,
sem subm issão à SPC. C o n sequentem ente, tais atos não têm validade, salvo após
hom ologados pelo MPAS.
1961. Edital de Privatização — N os casos em que a patrocinadora se subm ete
ao processo de privalização, as cláusulas co n stan tes do Edital de Privatização cos­
tum am d ispor sobre a previdência com plem entar.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
1962, Convênio de Adesão — Mais do que o Edital de Privatização, no co­
m um dos casos, o C onvênio de Adesão é o p rim eiro ato co n stitu tiv o de u m a EFPC,
devendo ser consultado.
1963. Estatuto S ocial — E statuto Social, in stru m e n to básico, é ato consti­
tutivo da en tid ad e fechada, registrado em C artório de T ítulos e D ocum entos da
localidade da sede social, após aprovação pelo MPS, p o r p o rtaria publicada no
Diário Oficial da U nião.
O bjetiva definir a in fraestru tu ra da instituição, seus fins sociais im ediatos e
m ediatos, com o serã gerida, não lhe cabendo cuidar, salvo em linhas gerais, do
p lan o de custeio e benefícios, função reservada ao R egulam ento Básico. Q uando
m u ito , fixar as diretrizes no rtead o ras da proteção convencionada; n u n ca descer às
m inúcias técnicas o u praxes procedim entais.
Trabalho jurídico relevante, recom endando-se sua feitura seja entregue a espe­
cialista em D ireito Previdenciário, estabelece as cláusulas m ais im portantes, intro­
d u tó rias da faculdade às prestações, às quais o participante aderirá ou não, contem ­
plando deveres e direitos pertinentes ao desenvolvim ento operacional da entidade.
P receitua com o ser alterado, de quem a iniciativa, qual a com petência e em
quais circu n stân cias isso é possível.
Salienta as pessoas ju ríd icas e físicas envolvidas, o papel da patrocinadora,
n atu reza da sua supervisão, e com o ela será executada de fato, estabelecendo, es­
pecialm ente, as regras de convivência entre as duas em presas (p atro cin ad o ra e
p atrocinada) e os participantes,
Para sua elaboração, pressupõe-se prévia leitura dos estatu to s sociais de co-
irm ãs e avaliada a experiência d iu tu rn a adquirida, com vistas à estabilidade ju rí­
dica. N ão deve ser concebido para sofrer alterações freqüentes e, sim , engendrado
para p erdurar, em bora isso possa suceder, com o R egulam ento Básico, trabalho
m ais específico.
O ideal é ser au tô n o m o , codificado, com n en h u m a ou poucas rem issões e,
se possível, in d ep en d ên cia norm ativa. Valendo, conform e o caso, reproduzir-se
a n o rm a rem etida, p ara ter p o rtab ilid ad e e to rn ar fácil a consulta. E, à evidência,
vazado em linguagem acessível ao usuário, sem raciocínios ju ríd ico s sofisticados
ou expressões em latim p o u co utilizadas.
Tem n atureza, abrangência e escopo determ inados, co rresp o n d en d o , p o r as­
sim dizer — não fosse seu papel de ato constitutivo — , à lei, en q u a n to o Regula­
m ento Básico seria o seu decreto regulam entador.
E stru tu rad o , propicia regras gerais e especiais, esgotando as dúvidas de apli­
cação e, se possível, as de integração e interpretação, não só dele p ró p rio com o do
R egulam ento Básico.
Seu tem ãrio, n o m ínim o, com preenderá a seguinte divisão didática:
a) en tidade — denom inação da natu reza ju ríd ica da in stitu ição (se associação
ou fundação) e sua p erenidade e seu título oficial;

C urso de D ir e it o P r e v id iín c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n t a r 1357
b) finalidade — definição genérica do objelivo social e das prestações;
c) com posição — descrição porm enorizada das pessoas envolvidas: patroci­
nadora, EFPC e participante;
d) localização — sede social e foro;
e) p atrim ônio — form ação, incorporação e desvinculação;
0 investim ento — critérios de aplicações de toda ordem ;
g) ente ad m in istrad o r — d esenho dos diversos órgãos gestores, com o o C on­
selho de C uradores, a D iretoria Executiva e o C onselho Fiscal, eleição e atribuições
de cada u m deles;
h) regim e juríd ico -laboral dos em pregados da entidade (celetista) e sua co n ­
dição de tam bém patrocinadora;
i) diretrizes filosóficas do plano de custeio e benefícios;
j) n orm as tran sitó rias relativas às alterações do ES/RB;
k) disposições sobre a extinção da entidade e saída da patrocinadora;
1) regras de integração e interpretação do ES/RB;
m ) preceitos contábeis;
n) relações com os participantes, prescrições sobre o ingresso e o afastam ento
do participante.
1964. R egulam ento Básico — R egulam ento Básico é consolidação dinâm ica
on d e regradas, sistem aticam ente, a adm issão e a p erm an ên cia na entidade, o nível
m ensal das co n trib u ições dos co m p o n en tes e, assinaladam ente, as prestações em
espécie. Se o E statuto Social cuida especificam ente das relações entre a p atro c i­
nad o ra e a patrocinada, o R egulam ento Básico trata do envolvim ento que sucede
entre a entidade e o participante.
Sua natureza é regulam entar, dispensado de copiar o E statuto Social ou conter
m atéria nele explicitada, p articularm ente, no tocante à patrocinadora e ã patroci­
nada, referidas abreviadam ente.
Esm iuça obrigações form ais e pecuniárias das partes envolvidas, de form a
clara, descendo a p o rm enores, fundam entalm ente q u an to às grandezas envolvidas
e, p rin cip alm en te, sem subordinação ou rem issões.
O rgânico e exaustivo, consigna o m áxim o de hipóteses, deixando pouco es­
paço à interpretação.
F erram en ta ju ríd ica elem entar, de utilização no dia a dia, orientação segura
para o aplicador, não deve em pregar expressões genéricas ou difusas. Reclama
conceitos tran sparentes, delinições objetivas e descrição precisa das circunstâncias
idealizadas.
N o seu art. 42, a Lei n. 6.435/1977 contem plava oito questões fundam entais,
necessariam ente abordadas no R egulam ento Básico.

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1358 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
No m ín im o , enfrenta os seguintes temas:
a) form a de adm issão — form alidade da inscrição, joia, taxa de inscrição,
in clu in d o p erm an ên cia e afastam ento da entidade e o reingresso, com o conceito
p o rm en o rizad o e in d ep en d en te, de particip an te e dependentes;
b) fontes de custeio — separadam ente, as obrigações principais e acessórias
da p atro cin ad o ra e dos participantes, com o depósito prévio, alíquota e base de
cálculo da co ntribuição;
c) cálculo das prestações — período básico de cálculo, salário real de partici­
pação, coeficientes, salário real de benefício e valores m ínim o e m áxim o da renda
m ensal inicial;
d) req u isito s regulam entares — qualidade de segurado (aquisição, m a n u te n ­
ção e perd a), evento determ in an te, período de carência e desligam ento da p atro ­
cinadora;
e) m ora — inad im plência e m ora dos com ponentes;
f) b o d iern ização de valores — m éto d o s de atualização m onetária;
g) critério de reajustam ento periódico e episódico dos benefícios;
h) m an u ten ção — início, substituição, transform ação e cessação de benefícios;
i) tipo de prestações — fixação das dim ensões pecuniárias;
j) d ireito in tertem p o ral — prazos de decadência e prescrição;
k) p ro cedim entalística — hipóteses de interposição de recursos, sua natureza
e prazos;
1) tran sferência de recursos — m odos de restituição, resgate, portabilidade,
nas várias hipóteses;
m ) co m an d o s atuariais — regim e financeiro e tipo de plano;
n) dinâm ica — autorização para alterações.
1965, Conselho de Curadores — C onselho de C uradores, expressão própria
das fundações ou C onselho de A dm inistração, é divisão adm inistrativa h ierarq u i­
cam ente p ostada no ápice da organização, com a atribuição de supervisionar, d eli­
b erar e o rien ta r a en tidade, nào lhe sendo p ró p rio gerir.
R eúne-se periódica ou frequentem ente, convocado pelo seu presidente ou
su p erin ten d e n te da EFPC, nos term os do E statuto Social, q u an d o fixadas as d eter­
m inações necessárias (principalm ente, m ediante resoluções).
Ó rgão colegiado, com decisões tom adas p o r m aioria de votos, cabendo ao seu
P residente o de d esem pate (qualidade).
Com funções m ú ltip las variando conform e o porte de cada organização, as
m ínim as e p rin cip ais são: reform ar o E statuto Social e o R egulam ento Básico; u l­
tim ar o orçam en to -p rogram a e suas eventuais alterações propostas pela D iretoria
Executiva; traçar linhas gerais do custeio e de aplicação do patrim ô n io ; criar novos
planos; elaborar relatório anual e prestação de contas do exercício após apreciação

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

Tom o IV — P re v id ê n c ia C o m p le m e n ta r 1359
do C onselho Fiscal; aceitar doações com ou sem encargos; form ular projetos e p ro ­
gram as, anuais e plurianuais, norm as e critérios gerais; d isp o r sobre a extinção da
entidade; ju lg a r recursos interpostos de decisões da D iretoria Executiva; e decidir
sobre casos om issos e o u tro s alos julgados necessários à su p erio r adm inistração.
E m bora de n atureza diferente, a com petência do C onselho de C uradores é
sup erio r à da D iretoria Executiva; abarca a parte gerencial (atribuições n aturais da
D iretoria Executiva) e m atéria previdenciária.
Q uestões relativas à relação entre EFPC e p artic ip a n te , q u an d o silente os
ES/RB, são dirim idas p o r resoluções baixadas pelo C onselho de C uradores, decidi­
das em reuniões, objeto de núm ero, data e em enta. Nesse caso, carecendo de am pla
divulgação, de preferência, com cópia enviada a cada um dos interessados.
D epois de algum tem po, consolidáveis ou codificáveis em N orm as Internas.
1966. D ire to ria E xecutiva — D iretoria Executiva é órgão colegiado de gestão
da entidade: seu ente condutor.
U m a distrib u ição de encargos co m u m en te enconLrada é: diretor su p erin ten ­
dente ou presidente, d ireto r de seguridade social, d ireto r financeiro e direto r adm i­
nistrativo, em bora a ú ltim a função possa se co n fu n d ir com a prim eira.
R eúne-se m ais am iúde, tom adas as decisões p o r m aioria de sufrágios, o u to r­
gado ao presidente, o Voto de M inerva.
Abaixo dos diretores, em cada divisão departam ental, situam -se os órgãos
operacionais p ro p riam en te ditos.
No âm bito ad m inistrativo, suas atribuições são am plas, convindo lem brar
apenas as m ais im portantes: elaborar o orçam ento-program a e suas eventuais al­
terações; p rep arar o balanço geral e o relatório anual de atividades; fixar os planos
de custeio e de aplicação do p atrim ônio; encam in h ar ao C onselho de C uradores
propostas de doação, alienação de im óveis e a con stituição de ônus ou direitos
reais sobre os m esm os; p ro p o r novos planos de seguridade; in d icar novos p atro ­
cinadores; su g erir a ab ertu ra de créditos adicionais; indicar a reform a do ES/RB;
estabelecer o q u ad ro de lotação do pessoal da entidade; aprovar o m anual dos
direitos e deveres do pessoal; co n tra tar e d em itir servidores; suscitar a criação,
transform ação ou extinção de órgãos ou divisões; celebrar convênios, acordos ou
contratos sem ô n u s para enlidade; au to rizar a aplicação de disponibilidades even­
tuais, respeitar as condições regulam entares pertinentes; cu m p rir e fazer cu m p rir
os ES/RB; p erm itir alterações orçam entárias de acordo com as norm as do C onselho
de C uradores; o rien tar e aco m p an h ar a execução das atividades técnicas e ad m in is­
trativas; san cionar a aquisição de bens im óveis; validar o plan o de contas; designar
substitutos; e co n tra tar e dem itir atuários.
Problem as p ertin en tes à adm inistração in tern a são disciplinados p o r resolu­
ções da D iretoria Executiva e até de diretores, se de vulto a entidade.
À sem elhança das resoluções do C onselho de C uradores, devem ser datadas e
num erad as e, da m esm a form a, convindo consolidá-las.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1360 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
1967. Função do Presidente do Conselho de Curadores — O presidente
do C onselho de C uradores tem as atribuições co m u n s ao com ando de órgãos de
deliberação, com o convocá-lo, presidi-lo, m an d ar elaborar o R egim ento Interno,
ad m in istrar as sessões, verificando o com parecim ento, elaboração de atas e outras
tarefas com patíveis.
1968. Atribuição dos Diretores — Os E statutos Sociais costum am regula­
m en tar a com p etên cia dos diretores, geralm ente atrib u in d o -lh es título, com o de
p resid en te da entid ad e, presid en te da diretoria ou direto r su p erin ten d e n te.
A p rincipal delas é observar as norm as estatutárias e regulam entares, bem
com o as resoluções baixadas pelo C onselho de C uradores e d a D iretoria Executiva.
Socialm ente, cabe-lhe representar a EFPC ativa, passiva, adm inistrativa, ju d icial
e extraju d icialm en te, autorizado a c o n stitu ir procuradores ad judicia e ad nego-
tia, p rep o sto s e delegados. A ssinar convênios, acordos, co n tra to s ju n ta m e n te com
o u tro s diretores. Designar, entre os diretores, o seu su b stitu to . M ovim entar recur­
sos financeiros, com a assinatura do D iretor F inanceiro. F irm ar d o cu m en to s onde
p restados esclarecim entos às au to rid ad es supervisoras. D ecidir sobre recursos.
C onvocar e presid ir as reuniões da D iretoria Executiva. P raticar todos os atos esta­
tu tário s ou legais co m preendidos na su p erin ten d ên cia ou p residência da entidade.
1969. C o n selh o F iscal — C onselho Fiscal não é órgão ad m in istrativ o nem
de supervisão da entidade. Seu papel é controlador, fiscalizador e relator. Para
isso, tem de ter acesso às dependências e do cu m en to s, m ediante term o, p o d en d o
ap reen d er estes últim os.
Sua decisão é conhecida com o parecer, p o r m eio dele em ite opinião sobre ges­
tão e seus aspectos organizacionais, contábeis, econõm ico-financeiros e atuariais.
As prin cip ais atribuições são: a) exam inar e, se for o caso, aprovar os balance­
tes; b) em itir relatório sobre a situação da entidade; c) verificar papéis, d o cu m en to s
e livros; d) secretariar o livro de atas ou de pareceres; e) ap resen tar p arecer ao C o n ­
selho de C urad o res sobre a situação da fiscalizada; 0 d en u n c ia r irregularidades; e
g) solicitar au d ito ria externa.
1970. Substituição de gestores — O E statuto Social deve prever a re m u ­
neração, p resença e o afastam ento dos m em bros do C onselho de C uradores e da
D iretoria E xecutiva.
Na h ip ó tese de afastam ento, opera-se a sub stitu ição de cada u m deles, p a rti­
cu larm en te, em caso de incapacidade para o trabalho ou viagem a serviço.

C urso de D ir e it o P r f .v i d e n c i A r i »

T o m o / V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
Capítulo CXCVII

C o m po siç ã o das E n t id a d e s F e c h a d a s

1971. Estrutura das entidades. 1972. Representantes dos participantes.


S u m ário:
1973. Montagem dos conselhos. 1974. Requisitos dos conselheiros. 1975. Ex­
periência administrativa. 1976. Idoneidade profissional. 1977. Nível superior.
Í978. Responsável pelas aplicações. 1979. Solidariedade dos gestores. 1980.
Remuneração dos dirigentes.

1971. Estrutura das entidades — O art. 35 da LBPC trata do órgão gestor da


entidade fechada. Em seu caput, textualm ente dispõe que: “As entidades fechadas
deverão m an ter e stru tu ra m ínim a com posta p o r conselho deliberativo, conselho
fiscal e d iretoria ex ecutiva”.
A LC n. 109/2001 desenha a EFPC e delinea os indicadores relativos a sua
m ontagem estru tu ral interna.
A ordem dos en tes adm inistradores arrolados significa certa hierarquia. O
C onselho D eliberativo decide, a D iretoria Executiva executa e o C onselho Fiscal
faz a auditagem (com o se fossem os três poderes da República, legislativo, ex ecu ti­
vo e ju d iciário ). A n o rm a fala em C onselho D eliberativo, esquecendo-se do tradi­
cional C onselho de C uradores, bastante freqüente nas fundações previdenciárias.
Às vezes, caso da F undação CESP, a Assem bleia G eral tem poderes de direção
(art. 13 do E statuto Social, in P ortaria SPC n. 563/1999).
Tam bém não há m enção ao C onselho C onsultivo, o que não im pede a sua
existência p o rq u e a disposição legal é m ínim a.
Em v irtu d e do disposto no § 2- do m estno arligo, fica evidente que os fundos
de pensão aludidos na ab ertu ra do dispositivo são dois: os patrocinados e os ins­
tituíd o s (associativos). Não im p o rtan d o sua classificação, em razão dos planos ou
dos provedores (LBPC, art. 34, 1/11).
Q uando o legislador enuncia o dever de criar um a organização, in casu, m í­
nim a, ele está afirm ando que a entidade será pessoa ju ríd ica com personalidade e
organização p ró p rias e que seus encargos adm inistrativos habituais não podem ser
com etidos à patrocinadora.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1362 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Im p o rtan te ficar elucidado à exaustão que, após a sua im plantação, a pessoa
ju ríd ica que em preende o plano de benefícios é in d ep en d e n te do im plantador, fato
m arcante no caso da instituidora.
D iante da obrigatoriedade de m anutenção, o que acontecerá se não for cum pri­
da? Q uan d o do exam e dos atos constitutivos, em especial, o E statuto Social, os entes
supervisores se darão conta da presença ou não desses organism os, condição para
sua aprovação, com o um todo, da entidade. Previstos form alm ente e não instalados
em prazo aceitável, aplica-se o art. 44, IV, da LBPC (podendo sobrevir a intervenção).
P o r estru tu ra , entender-se-á o espaço norm ativo e organizacional, n o rm al­
m ente desenvolvido n o E statuto Social, aco m p an h an d o das instalações físicas d e­
p artam en tais correspondentes.
C om o o C o n selho D eliberativo e o C onselho Fiscal n ão têm presença efe­
tiva co n stan te, tan to q u a n to a D iretoria Executiva, sua arru m ação física poderá
ser sim plificada, m as as norm as sobre suas responsabilidades serão am p lam en te
disciplinadas.
O dispositivo aborda a estru tu ra m ínim a, a ser co n stitu íd a. Os m entores têm
liberdade ínsita ã iniciativa privada para criarem outros órgãos adm inistrativos.
Essa m o n tag em da organização da EFPC com o um a em presa, conform e o caso
e seu papel, está ad strita ao objetivo previdenciário do plano, sem pre com a n a tu ­
reza de órgão gestor do patrim ônio de terceiros, e onde prevalecente a atividade-
-fim de propiciar prestações, e stru tu ra m en o r ou m aior, consoante o núm ero de
p articipantes.
A com posição regrada é a que diz respeito ao ord en am en to previdenciário,
n ada o b stan d o a presença de outros organism os in tern o s, com o u m C onselho C o n ­
sultivo ou de o u tra ordem , caso o vulto do em preendim ento justifique. F req u en te­
m ente, farão parte da organização divisões externas (terceiros).
N esse sen tid o de gestão m ínim a, é im prescindível os três órgãos colegiados
estarem presentes e coordenados, não im p o rtan d o o porte do fundo de pensão ou
dos provedores.
O C onselho D eliberativo posta-se no ápice da pirâm ide da supervisão interna
da entidade. Seu papel é estu d ar e enfrentar as grandes q uestões apresentadas, dis­
c u tir e to m ar as decisões im portantes, sopesar e en cam in h ar as políticas da EFPC,
enfim , exercer o su p erio r com ando da em presa, sem executá-lo efetivam ente (p a­
pel da D iretoria E xecutiva).
N o dizer do art. 52 da m in u ta do R egulam ento da LC n. 109/2001: o “órgão
m áxim o da e s tru tu ra organizacional da entidade fechada, é responsável pela defi­
nição da política geral de adm inistração da p ró p ria entidade e de seus planos de
benefícios, pelo estabelecim ento da política para aplicação dos recursos garantido-
res e pela aprovação dos planos de custeio elaborados pelo a tu á rio ”.
D eliberando p o r m aioria sim ples, seu art. 53 fixa algum as m atérias de sua
com petência:

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1363
I — política geral de adm inistração da entidade e do plano de benefício —
quando serão estudadas a centralização ou divisão dos encargos, a terceirização de
serviços ou não etc.; II — alteração de Estatuto Social e de R egulam ento Básico, im ­
plantação e extinção de plano, da decisão de patrocinador ou instituidor e retirada
de patrocinador — am plos aspectos dos atos constitutivos, regras explícitas sobre a
transferência ou fim de planos ou da própria entidade; III — gestão de investim entos
e plano de aplicação de recursos — tarefa form idável para o sucesso da proteção e
com o se operará profissionalização dos investim entos dos capitais; IV — nom eação
e exoneração dos m em bros da Diretoria Executiva — aspectos funcionais da designa­
ção ou eleição, posse e exercício, bem com o a suspensão de m andato; V — apuração
de responsabilidades pelas ações de seus adm inistradores — instalação de comissão de
sindicância e inquérito com caráter adm inistrativo; e VI — exame, em grau de recur­
so, das decisões da Diretoria Executiva — efetivação dos princípios fundam entais de
Direito Previdenciário Procedim ento no âm bito adm inistrativo interno.
E m bora possa ser considerado u m organism o não ad m in istrad o r da EFPC,
o papel do C onselho Fiscal é de fiscalizador do cu m p rim en to da lei, do E statuto
Social e do R egulam ento Básico, bem com o dos atos norm ativos dos entes super­
visores do MPS ou suas recom endações. E, é claro, das resoluções dos organism os
gestores internos.
P rincipalm ente, analisar e avaliar as contas, expressando suas conclusões em
relatórios com pareceres e votos, decisões constantes de livro próprio, igualm ente
nem divulgadas. O ideal é que dele faça parte, no m ínim o, u m advogado, um eco­
nom ista e u m contador.
D iretoria E xecutiva é o órgão atu an te m ais efetivo da entidade, na m edida
em que operacionaliza as atividades-m eio e atividades-fim , cu m p rim en to das di­
retrizes dos diferentes conselhos, ex ecutando as tarefas d iu tu rn a s da organização
in tern a com vistas ao cu m p rim en to das disposições convencionadas.
C om o em quase todas as organizações o u sociedades, ela é que adm inistra,
para isso p ratican d o os atos inerentes à condução do em preendim ento.
No § 4 S do m esm o artigo cuida dos m em bros da D iretoria Executiva, bem
com o a respeito dos responsáveis pelas aplicações (§ 59), responsabilidade solidá­
ria (§ 6Q), rem u n eração (§ 7°) e ausência de profissionais de nível su p erio r (§ 8g).
1972. R e p re se n ta n te s d o s p a rtic ip a n te s — Na LBPC, o § l 9 do art. 35 prevê
a figura do rep resen tan te: “O estatu to deverá prever re p resen ta n te s dos p artic i­
pan tes assistidos nos conselhos deliberativo e fiscal, assegurar no m ínim o um
terço das vagas.”
Neste m om ento, e nos parágrafos seguintes, ela dá cum prim ento, em bora sem
a ênfase esperada, ao art. 202, § 6S, da C onstituição Federal: “A lei com plem entar
a que se refere o § 45 deste artigo estabelecerá os requisitos para designação dos
m em bros das diretorias das entidades fechadas de previdência privada e disciplina­
rá inserção dos particip antes nos colegiados de instâncias de decisão em que seus
interesses sejam objeto de discussão e deliberação”.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1364 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O estatu to que m enciona é o E statuto Social. Ele deverá con tem p lar “a form a
de escolha d o s rep resentantes de particip an tes e assistidos para integrar os conse­
lhos de que trata o caput” (regra a participação dos dois conselhos) “p o r meio de
processo eletivo d ireto ou indireto, com garantia de participação dos representados
no respectivo processo eleitoral” (m in u ta do regulam ento da LBPC, art. 55, § 2S).
C om o salientado, ato constitutivo da entidade, seu principal papel é esse, de
prever sua organização in tern a, e a com posição dos dois conselhos e da Diretoria
Executiva.
É im prescindível que a com posição do C onselho D eliberativo e C onselho
Fiscal seja a da lei. Assim , u m terço das vagas está previam ente destinado, restando
ao E statu to Social d ecidir sobre os dois terços restantes.
Os p articip an tes ativos devem fazer parte integrante dos dois conselhos, d eli­
berativo e fiscal. Pelo m enos um terço deles tem assento nesses colegiados.
C uriosam ente, vitim ado pela obviedade, o legislador não aludiu a representa­
ção dos participantes ativos. A m inuta do regulam ento tratou de explicitar m elhor:
“Aos participantes da entidade, inclusive assistidos, serão asseguradas, no m ínim o,
um terço das vagas nos conselhos deliberativo e fiscal da entidade fechada” (art. 55).
Os p articipantes, ativos ou assistidos, agora, assum em o papel de represen­
tantes, em observância a várias disposições co nstitucionais (CF, arts. 194, VII e
2 0 2 , § 6e).
Tam bém os p articipantes assistidos concorrem à eleição para integrarem os
conselhos. Vale lem b rar que o direito dos participantes e dos assistidos de integra­
rem os co nselhos não pode ser afetado pelo afastam ento da p atrocinadora.
O m ínim o assegurado é de um terço, p o d en d o ser m aior. O ideal é que nesse
C onselho D eliberativo façam parte, proporcionalm ente, rep resentantes da patroci­
nadora, d o s particip antes ativos e assistidos e dos dependentes.
U m a divisão equânim e do C onselho Fiscal poderia ser: a) representante da
D iretoria Executiva; b) representante da patro cin ad o ra/in stitu id o ra; e c) rep resen ­
tante dos participantes.
O idealizador dos organism os dirigentes deverá com pô-los com m últiplos
de três para p o d er to rn ar m ais fácil a divisão. No caso do C onselho Fiscal, três
é o ideal. As vagas serão ocupadas pelos titulares, convindo prever a presença de
substitu to s.
D iante da diversidade de provedores e da clientela protegida, o elaborador
da n o rm a destaca regras para o fundo m u ltip atro cin ad o (LBPC, art. 34, 11, b). E,
à evidência, q u an d o desdobrou o critério, incluin do o “m o n tan te dos respectivos
p atrim ô n io s”, co m plicou a sua apuração d esnecessariam ente (aliás, aqui d em o ­
craticam ente in co rreto ao envolver os p atrim ô n io s em vez de ater-se apenas ao
n ú m ero de p articip an tes).
O dispositivo, en tre tan to , diante da necessidade de unidade do com ando, só
vale para os dois co n selhos (CD e CF).

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1365
1973. M ontagem d o s conselhos — Sobre a m ontagem dos conselhos, diz o
§ 2° do art. 35: “Na com posição dos conselhos deliberativo e fiscal das entidades
qualificadas com o m ultipatrocinadas, deverá ser considerado o n ú m ero de p artici­
pan tes vinculados a cada p atro cin ad o r ou instituidor, bem com o o m o n tan te dos
respectivos p atrim ô n io s”.
Esse preceito trata da com posição dos conselhos q u an d o se trata de fundo
m u h ip atro cin ad o . N esta hipótese, tem -se um a única entidade com um único ou
diferenLes planos e m ú ltiplos patrocinadores, o que q u er dizer n ú m ero s desiguais
de p articipantes e assistidos o riu n d o s de cada u m desses patrocinadores, em bora
regra p ró p ria para a com posição.
A ideia é esses escolhidos representarem os particip an tes de todos os em pre­
gadores, e, às vezes, com plica o cálculo da proporcionalidade, im pondo-se até o
rodízio, com o diz o art. 56, § 2-, da m in u ta do regulam ento.
A com plexidade pode obrigar a criação de “com itês deliberativos, fiscais ou
assem elhados para ac o m p an h am en to e fiscalização de plano de benefício, sem p re­
ju ízo das atribuições e responsabilidades dos órgãos estatutários da e n tid ad e” (art.
56, § 3e, da m in u ta do regulam ento).
Se a regra é boa para o C onselho D eliberativo, o m esm o não se pode dizer
para o C onselho Fiscal.
D iante do seu nú m ero ideal, o C onselho Fiscal dificilm ente poderá aten d er
à determ inação legal, especialm ente q uando m u ito s os provedores agrupados no
fundo m uh ip atro cin ad o.
A proporcionalidade, com o p rincípio dem ocrático, resta prejudicada com ele­
vado nú m ero de provedores, caso da PEFROS (fundo de pensão da PETROBRAS e
m ais de u m a dezena de patrocinadoras).
Além de outras q u e lhes podem ser atribuídas pela d o u trin a ou legislação,
na LBPC, as entidades são qualificadas no art. 4 Q (abertas e fechadas), art. 31, 1
(patro cin ad a), art. 31, 11 (in stitu íd a) e art. 34 (de plano com um e m u ltip lan o ou
singulares e m u ltipatrocinadas).
No § 2Q, trata daquela que tem m últiplos provedores, isto é, várias patro cin a­
doras (h ip ó tese bastante freqüente) ou in ú m ero s in stitu id o res (não será im possí­
vel, m as ainda inexiste).
As entidades m u ltip atro cin ad as foram im plantadas p o r diferentes p atro c in a­
doras ou, m ediante convênio de adesão, ainda que in icialm ente criadas p o r um a
única provedora, adm itiram o m ultipatrocínio.
N este m o m en to , não q uerendo criar um neologism o do tipo “m u ltip ro v e d o r”,
o legislador está falando exatam ente disso, um a coligação de patrocinadoras ou
in stitu id o ras, conform e confirm ado in fin c do dispositivo.
A regra é im positiva, esse fundo de pensão não tem escolha, a com posição dos
co nselhos será paritária em relação ao núm ero de p articipantes e ao m o n tan te dos
respectivos patrim ônios.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1366 W ííic lim ir N o v a e s M a r í in e ?


O s em es supervisores deverão explicitar com m inúcias com o se fará essa re­
lação n u m érica, pois as diferentes situações conduzirão a incertezas de toda or­
dem , p articu larm en te, na divisão pro p riam en te dita e na duração do m andado dos
rep resen tan tes, se aqueles totais determ in an tes se m odificam no curso do tem po.
Para d ar aten d im en to ao princípio dem ocrático da representação im põe-se a
co m p o sição dos entes gestores com representantes.
O n ú m ero de p articip an tes serã o inicial e aquele que se seguir. D essa forma,
h avendo crescim ento ou flutuação da m assa, o E statuto Social deve prever a p e­
riodicidade de reavaliação. A purado antes da organização dos colegiados. O que
é um o b stáculo q u an d o do início das atividades (ainda no estágio da cam panha
de adesão). Total que in clu irá os ativos e assistidos e tam bém os d ep en d en tes em
gozo de benefício.
Em vez de filiado ou associado, o legislador prefere cham ar de vínculo ao
liam e en tre o in teressado e a patrocinadora. Por isso, são os p articip an tes ou assisti­
dos “p erte n cen te s” a cada provedor. N ão confundível com a condição de vinculado
(protegido q u e se afastou da p atrocinadora e co n tin u a co n trib u in d o ).
Essa q u an tid ad e será a da que precede a eleição, não se alterando a co m p o ­
sição m esm o q u e a p atrocinadora, no in terregno até a próxim a escolha, altere os
seus núm eros.
A apuração antes referida far-se-á conform e a origem do particip an te em re­
lação a cada patrocinador.
N ão diz respeito ao núm ero de em pregados dos provedores, m as daqueles
deles o rig in ário s in scritos na entidade. No caso de o trabalhador p restar serviços a
m ais de u m deles, em cada um será considerado.
Q uando se tratar de um fundo m ultiprovido, im por-se-á ap u rar q uantos asso­
ciados cada um deles possui. Da m esm a form a, com o no fundo m ultipatrocinado,
quem estiver inscrito em m ais de um a associação, mais de um a vez será com putado.
M ontante é o seu valor expresso em m oeda nacional, ap u rad o quando da com ­
posição. Reclama u m verdadeiro balancete contábil para se chegar ao resultado.
Esse quantum financeiro altera-se praticam en te a cada m ês de vigência do
fundo de pensão, sendo suficiente apurar-se aquele subsistente q u an d o da data da
com posição e, após, q u an d o de novos m andatos.
P atrim ô n io , in casu, é o co n ju n to de bens da entidade. P atrim ônio indivi­
dualizado é o daquele referente aos p articipantes de cada patrocinadora. Eventual
dúvida p o d erá sobrevir no tocante a qual patrim ônio está se referindo o legislador.
A rigor, ele não ex p licitou se o da entid ad e o u de cada u m dos provedores. Tudo
leva a crer tratar-se do ativo corresp o n d en te a cada grupo de participantes, nada
tendo a v er com os bens dos provedores.
1974. Requisitos dos conselheiros — Os m em bros alu d id o s no § 3° do art.
35 são os q u e o cu parão cargos de deliberação e fiscalização, certa supervisão na
en tidade, agora, apenas, os dos conselhos deliberativo e fiscal.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1367
Todos eies, sem distinção q u an to à origem ou representação, estão su b m e­
tidos à norm a. Por não ter feito distinção, m esm o os suplentes, em bora n ão haja
infração, nào chegam a exercer a substituição.
Em relação ao C onselho D eliberativo (e, com o se verá, tam bém no p ertin en te
ao C onselho Fiscal), exagerou o legislador ao exigir credenciais tão elevadas, ava­
liação afirm ada em razão da função a ser exercitada.
Dos m em bros do C onselho D eliberativo, nào se poderá exigir prática de co n ­
tabilidade ou de auditoria, m as poderiam ser solicitados alguns conhecim entos de
atuaria. D ificilm ente, se en co n trará elem ento com todas as características relacio­
nadas que envolvem um grande e diversificado conhecim ento hum ano.
E stendendo a observação anterior, o C onselho Fiscal deve re u n ir pessoas h a­
bilitadas à função contábil, financeira e de auditoria, não sendo im prescindível
con hecim ento de maLemática atuarial.
Seria preferível que o legislador tivesse com inado aspectos m orais, pois o
papel relevante de in sp eto r sobreleva a deontologia, os padrões de ética e a id o n ei­
dade profissional, em vez de grande experiência jurídica.
Cada um a das pessoas que tenha o objetivo de ocu p ar u m cargo n a direção
da EFPC tem necessidade de intitular-se peran te os entes supervisores m ediante
com provante do cu m p rim en to da determ inação legal e estatutária.
Isso significa a necessidade de currículo e dossiê sobre a sua vida profissional
a ser entregue à entidade.
Som ente pode tom ar posse ju n to dos organism os diretivos quem detiver a
capacidade ju ríd ica elencada na lei.
Sem esses p ressupostos, o exercício é sem efeito e torna im prestáveis os atos
praticados, além de eventual sanção adm inistrativa.
Os requisitos relatados pela entidade são apenas os relacionados, não p o ­
dendo o regulam ento da lei alterá-los, acrescentá-los ou dim inuí-los. Eles estão
com binados nos dois incisos e sào reclam ados co n ju n tam en te, e são enum eradas
as qualificações profissionais exigidas dos preten d en tes aos cargos.
Dizem respeito à titulação ou diplom ação próprias (inciso I) e ao seu com por­
tam ento m oral an terio r (inciso II).
C om o se vê do texto, requisitos m ínim os, nada im pedindo a retenção de o u ­
tros conhecim entos. O rol é o m ínim o, não o conhecim ento dos titulares.
1975. E x p eriên cia a d m in istra tiv a — É reclam ada experiência dos gestores:
“I — com provada experiência no exercício de atividades nas áreas financeira, ad ­
m inistrativa, contábil, ju ríd ica, de fiscalização ou de au d ito ria ”.
Q u an d o da aplicação do inciso I, fique claro que não se pode con d icio n ar o
nível su p erio r dos co m p o n en tes dos colegiados. Q u ando quis (§ 4 a), o legislador
enu n cio u a necessidade.
A qualificação m encionada no § 3- é aquela que form alm ente for trazida, exi­
bida e d em o n strad a à entidade e, p o r sua vez, conferida pelos entes supervisores.

C l jr s o d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1368 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
De nada ad iantará alegar o dom ínio dessas ciências sem que, de fato, com pro­
ve d o cu m en talm en te tê-las em seu p atrim ônio moral.
E xperiência q u er dizer o perfeito controle de algum a área do conhecim ento
hu m ano. D iferente do estágio probatório (insuficiente para aten d e r a lei) e d isp en ­
sa, por seu tu rn o , a p rofunda prática dos especialistas na m atéria.
Grosso modo, diz-se experiente um a pessoa que ap ren d eu um a profissão, o cu ­
pação, função, u m a arte ou esporte, foi diplom ada ou não (se a área não exige
certificado). R epresenta, tam bém , capacidade de p o d e r apreciar a rig o r as variantes
do seu sitio de atuação.
D iante da im posição legal desse dom ínio, a enum eração que se segue sur­
preende pelo espectro largo, a m o strar que o nível dessa prática não pode ser tão
am bicioso.
N ão deseja o legislador pessoas diplom adas ou form adas nas áreas relatadas
sem q u e ten h am exercitado a profissão contem plada.
Será preciso que evidenciem terem se em pregado nessas atividades ou as exer­
cido profissionalm ente pelo tem po com patível.
São seis e sofisticadas as atividades elencadas que o elaborador da norm a jul­
gou úteis para a com preensão da adm inistração do fundo de pensão.
E m bora o inciso II guarde um a peq u en a presunção de que o interessado possa
se ter envolvido com as coisas da proteção social, q uando alude ao d esc u m p rim e n ­
to da legislação da seguridade social, em n en h u m m o m en to há referência à cultura
previdenciária, básica ou supletiva.
Todas as h ip ó teses configuradas são am plas e adm item especialização, em
m uitos casos su p o n d o longos anos de prática cotidiana. Em todos eles, tam bém ,
se im p o n d o algum a noção da legislação inerente à área.
A área financeira diz respeito de perto à Ciência das F inanças, a algum a visão
de m atéria financeira (dispensado o cálculo atu arial), indexadores econôm icos,
correção m o n etária, ju ro s, rendim entos, vivência do m ercado financeiro nacional
e estrangeiro.
É indispensável o aco m p an h am en to da evolução cotidiana da Bolsa de Valo­
res, certa aproxim ação com o câm bio e as m oedas.
Talvez a exigência m ais correta seja a que diz respeito à adm inistração, de vez
que a previdenciária é presum ida. Um curso de adm inistração de em presas viria a
calhar.
Com efeito, um fundo de pensão, na condição de em presa suí gcnerís, solicita
trân sito nas coisas internas de um a organização associativa, m áxim e em m atéria
de sociedades civis e fundações, dom ín io das ro tinas burocráticas e vivência de
pro ced im en to s e expedientes.
Ter trab alh ad o em o u tra em presa, registrado na CTPS, especialm ente nas áre­
as de recursos h u m an o s, por alguns anos, será suficiente.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1369
E m bora nem sem pre destacada com o ciência específica, e o cupando pouco
espaço norm ativo, a contabilidade é aspecto im portantíssim o na organização de
um a EFPC, porque a m aior responsável pelo controle das contas da entidade.
Não chega o legislador a exigir que o m em bro seja u m contador, contabilista
ou técnico de contabilidade, m as que já tenha trabalhado nessas áreas, especial­
m ente, na escrituração dos livros. Q ue saiba a conta, débito e crédito, a diferença
entre balancete e balanço não lhe fará mal.
C o nhecim ento das obrigações exacionais próprias das em presas serão úteis
ao p reten d en te ao cargo.
A relação de previdência social com plem entar é ju ríd ica. Os principais aspec­
tos dessa técnica protetiva são regidos pela C arta M agna, lei com plem entar, leis
ord inárias e regulam entos. N en h u m outro assunto que envolve o segm ento está
m ais perLo do que este da n o rm a ju ríd ica.
O em p reen d ed o r de um fundo de pensão precisa d eter noções de Direito.
Preferivelm ente, não as m ínim as, mas aquelas capazes de interpreLar o texto legal
aplicável à hipótese. Já que foi tão preciosista, o legislador poderia ter sido corpo-
rativista e exigido a presença de u m advogado no corpo dirigente.
Sem ter feito distinção de tais qualificações exigidas para a posse em quais dos
conselhos, fica p aten te que os dois colegiados acolhem inform ações sobre fiscali­
zação, m as m uito m ais o fiscal.
Sem chegar ao extrem o de exigir que seja um au d ito r fiscal da receita federal
ou previdenciária, nem estadual ou m unicipal, não serã fácil ao preten d en te com ­
provar experiência nesse ram o da atividade adm inistrativa.
Na condição de fiscal das coisas da entidade, precisará deter am pla prática de
todas as especialidades ou ficar na superficialidade.
Se adm itida a exigência com o de nível m édio, não se ped in d o um pós-gra­
duado nas várias atividades, confunde-se um pouco o legislador, pois os objetivos
e m étodos da fiscalização e da auditoria estão contíguos.
E n tretan to , é claro, a diferença existe. A fiscalização verifica e d enuncia as
ocorrências, com vistas ao cu m p rim en to da norm a. A au d ito ria tam bém apura,
m as ap o n ta as soluções.
1976. Id o n eid ad e p ro fissio n al — O requisito seguinte diz respeito ao p as­
sado do gestor: li l — não ter sofrido penalidade adm inistrativa p o r infração da
legislação da seguridade social ou com o servidor p ú b lico ”.
N o inciso II, o com ando trata do passado do ad m in istrad o r que fará o u não
parte dos conselhos. C uriosam ente, cinge-se ao âm bito adm inistrativo, p re su m in ­
do que dos entes gerentes não façam parte quem sofreu sanção de ordem penal.
Não tem o dispositivo norm a sobre a anterioridade da punição. Se o ilícito
pu n id o se deu a m ais tem po do que o da sua prescrição, é com o se ele não tivesse
existido (CP, art. 109).

C urso pn D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1370 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A ssim , com o o inciso I tratava de atos afirm ativos (que podem ser provados),
o inciso II cuida de fatos que o interessado poderá subtrair. Exigir-se q u e ele traga
folhas co rrid as é o m áxim o que se pode fazer em relação ao D ireito Penal, m as
não existem certidões ad m inistrativas de âm bito nacional que dem o n strariam sua
condição de idôneo, restan d o à EFPC solicitar declaração sob as penas do art. 299
do C ódigo Penal.
Convém ao fundo de pensão saber o que os pretendentes aos cargos fizeram antes
da posse. Pouco im porta que tenham sido inquiridos ou denunciados, sejam culpados
ou inocentes, o que interessa serã a aplicação da pena e, é claro, se cum prida ou não.
M as tam bém está claro que, se houve condenação p o sterio rm en te anulada, é
com o se não tivesse existido.
A p ena precisa ter existido c pode ser sim ples advertência, suspensão do exer­
cício, m ulta ou q u alq u er o u tra m odalidade de punição. A penalização indica que
o profissional agiu m al preteritam ente, não sendo relevante ao legislador o fato de
ter cu m p rid o a p en a e se recuperado. Presente, d em onstrada, ocorrida d en tro do
prazo p rescricional, ele fica alijado dos conselhos.
C uida aqui o dispositivo da pena adm inistrativa, que é m u ito com um no
âm bito do serviço público. Dessas penas com cu n h o adm inistrativo, cuidam o
PCSS e PBPS e, no tocante ao servidor, a Lei n. 8.112/1990 e cada um dos estatutos
estaduais ou m unicipais.
Infringe a lei quem procede ao co n trário do recom endado, q uando expres­
sam ente dele exigido esse com p o rtam en to . Infração adm inistrativa, que não se
co n funde com a penal, é aquela ap u rad a no seio da adm inistração, constante das
n orm as in tern as e especialm ente punidas.
A legislação da seguridade social é u m conjunto de três leis básicas e orgânicas
que esteiam a previdência social básica (PCSS e PBPS) ou com plem entar (LC ns.
109/2001 e 108/2001), e m ais três sobre a assistência social (Lei n. 8.742/1993), saú­
de (Lei n. 8.080/1994), Planos de Saúde (Lei n. 9.656/1998). Bem com o um a infini­
dade de leis especiais e esparsas, decretos regulam entadores e portarias m inisteriais.
E m bora p u d esse se ater à Previdência Social básica e supletiva, o legislador
preferiu aludir, talvez até p o r exagero o u apego à literalidade, à seguridade social.
F u n d am en talm en te, a p a rtir de 5.10.1988, nos term os do seu art. 194, para a
C arla M agna, seg u rid ade social “com preende u m co n ju n to integrado de ações de
iniciativa dos Poderes P úblicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social”.
Em in ú m eras o p o rtu n id ad es a expressão “seguridade social” com parece no
texto co n stitu cio n al, substituída, às vezes, p o r “previdência social”, com o m esm o
sentido, e pela palavra “a p o sen tad o ria”. A técnica p rotetiva se apresenta com o so­
corros m ú tu o s (1 824), aposentadoria (1889), previdência (1934) seguro (1937),
previdência social (1946) e, agora, o cu p an d o todo u m capítulo com 11 artigos,
abarcando a saú d e, previdência e assistência social, n u m to tal de 12 m enções.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p / e m e n t a r 1371
Para M oacyr Veiloso Cardoso de Oliveira, é u m “C o n ju n to de m edidas adotadas
pelo Estado, p o r meio de organizações p ró p rias ou subvencionadas, destinadas a
prover as necessidades totais da população do País, nos eventos básicos previsíveis
e em ou tras eventualidades, variável segundo as condições nacionais, que podem
verificar-se na vida de cada u m p o r m eio de u m sistem a integrado de seguro social
de prestação de serviços sociais, de cuja adm inistração e custeio participem , direta
ou in d iretam ente, os p ró p rio s segurados e ou a população m esm a, as em presas e o
Estado" (“Previdência Social”, p. 21).
Já a conceituam os com o a técnica de proteção social, custeada solidariam ente
p o r toda a sociedade segundo a capacidade de cada um , que propicia universal­
m en te a todos o bem -estar das ações de saúde e os serviços assislenciários em nível
m utável, conform e a realidade socioeconôm ica, e o das prestações previdenciárias,
estas ú ltim as q u an d o do nascim ento, incapacidade ou invalidez, idade avançada
ou tem po de serviço, prisão ou m orte, em função das necessidades e não da capaci­
dades dos d estin atário s (“A Seguridade Social na C onstituição F edera!”, p. 55/56).
Possivelm ente p ensando nos fundos de pensão m antidos p o r entidades, ór­
gãos públicos e até m esm o levando em conta a respeitável participação dos servi­
dores públicos nas EFPC, o legislador cuida das punições destes.
Com efeito, qu alq uer que tenba sido a infração adm inistrativa, o trabalhador
p u n id o fica im pedido de p o d er particip ar da gestão das enLidades.
1977. N ível s u p e rio r — Os diretores terâo de ser form ados em nível superior.
Os m em bros da D iretoria Executiva são frequentem ente cham ados de direto­
res. N orm alm ente, arm a-se pirâm ide gerencial com o d ireto r presidente, diretores
tesoureiros, secretários, adm inistrativos, financistas etc.
A lei não faz distinção. Todos eles, hierarquicam ente em q u alq u er cargo ou
função, estão obrigados ao § 4 S, im pondo-se a qualificação profissional, só excep­
cionada n o § 8Q.
D iretoria Executiva é o órgão colegiado su p erio r da gestão de um fundo de
pensão com efetiva capacidade dirigente. As principais m edidas decididas p o r um a
EFPC, o riu n d as do C onselho D eliberativo ou p ró p rias do E statuto Social, são ins-
trum enLalm ente atrib u ídas a esse ente gestor.
O C onselho D eliberativo e o C onselho Fiscal podem se re u n ir periodicam en­
te, m as a D iretoria Executiva tem afazeres diários, porque d iu tu rn as as suas o b ri­
gações in tern as e externas.
Ainda u m a vez, a lei é clara e agora reclam ando com provação efetiva. Não
existem exceções, todos os possíveis diretores carecem de d em o n strar à entidade a
com provação de su a titulação.
Por form ação, se en ten d erá terem cursado u m curso su p erio r até seu térm ino,
que pode ser de bacharelado, não se exigindo pós-graduação.
Claro, nessa form ação com preendida a diplom ação, isto é, o reconhecim ento
p o r parte do M EC da regularidade da escola e da legitim idade do curso p o r parte

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1372 W la d im ir N o va es M a r tin e z
do aluno. C urso su p erio r é aquele m inistrado p o r faculdades em diferentes níveis
escolares. P odem ser de bacharelado, d o u to rad o ou m estrado e até m esm o de ex­
tensão universitária.
O aten d im en to se fará com a apresentação dos diplom as exigidos pela lei para
cada um a das profissões declaradas. C uriosam ente, aqui não fala em experiência,
apenas em form ação superior, prática presum ida pelo curso efetuado, m as, in fine,
q u an d o m en cio n a os requisitos, é isso que o legislador está p reten d en d o .
O s req u isito s exigidos são, a exem plo dos conselheiros, tam bém de duas or­
dens: a) com provação da experiência; e b) lisura, idoneidade e m oralidade ad m i­
nistrativas.
A com binação d os dois dispositivos, sem q u alq u er exagero, leva à conclusão
de que o ad m in istrad o r ideal é aquele form ado nu m a daquelas disciplinas elenca-
das no inciso 1 do § 3 e do art. 35 da LBPC.
O § 3Q cu id a especificam ente dos conselheiros. O legislador regrou em sepa­
rado as co n d içõ es de operacionalidade dos diretores, m as não os disp en so u dos
m esm os critérios. Dessa form a, pelo m enos no que diz respeito aos critérios de
assunção, eles os equiparou. Os requisitos do parágrafo an terio r que deverão ser
aten d id o s m ais enfaticam ente são os que dizem respeito ao inciso II, p o rq u e não
parece provável que o legislador esteja se referindo tam bém ao inciso I com a m es­
ma intensidade.
Caso co n trário , a LBPC estaria im pondo u m critério irrealizável, qual seja de
a D iretoria E xecutiva ser com posta apenas p o r doutores.
Acresce o § 8 Qdo art. 35 que: “Em caráter excepcional, poderão ser ocupados
até trin ta p o r cen to dos cargos da diretoria executiva p o r m em bros sem form ação
de nível superior, sendo assegurada a possibilidade de participação neste órgão de
pelo m en o s u m m em bro, q uando da aplicação do referido p ercen tu al resu ltar n ú ­
m ero inferio r à u n id a d e ”.
A brindo espaço para a norm atização m inisterial, re co n h ecen d o a severidade
dos d itam es anteriores, esse § 8Q outorga aos entes su periores a possibilidade de
regrar as h ip ó teses e circunstâncias em que esses m esm os dispositivos possam ser
q u ebrados.
C aracterizada u m a das excepcionalidades referidas n a norm a adm inistrativa
superior, o MPS au to rizará o d escu m p rim en to do com ando legal. De todos os car­
gos da D iretoria Executiva, sem pre aconselhando-se q u e seja de m ú ltip lo s de três,
alguns deles não terão de observar o § 4S.
Trinta p o r cento corresponde a um terço do nú m ero de m em bros da D iretoria
E xecutiva. C argos dessa diretoria são todos aqueles q u e com põem a organização
diretiva estatu tariam en te determ inada. Esse u m terço de pessoas ocu p ará os m es­
m os cargos ou funções dos dem ais dois terços. Q u alq u er nível será aceito, prefe­
rivelm ente os do seg undo grau para cim a (cursos colegial, ginasial e científico, e
p rofissio naliza n te ).

C u r s o d e D i r e i t o P r e v i o e n c i A ulo
T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
A lém de um terço, o dispositivo trata da participação m ínim a que é garantida
pela LBPC.
Esse m ínim o q ue é um terá assento no colegiado diretivo. O preceito, com o
visto, vale apenas para a D iretoria Executiva. A exigência legal é de u m núm ero
m ínim o. O percentual será calculado com base no núm ero de diretores escolhidos
no E statu to Social.
N úm ero m en o r do que u n id ad e é o que vai até um . N ão há regra para núm ero
su p erio r a u m e in ferio r a dois, adm itindo-se que, in casu, o m ínim o continuará
sendo um .
1978. R esp o nsável p elas ap licaçõ es — O fundo de pensão terá de inform ar
o n om e do responsável pelas aplicações dos recu rso s da entidade aos entes su ­
pervisores.
Q uem prestará as inform ações aos entes supervisores será a entidade co n sti­
tuída p o r in term éd io da D iretoria Executiva. E todas as alterações subsequentes.
Sua obrigação é de inform ar o nom e e a qualificação da pessoa com a res­
ponsabilidade indicada na lei, a duração do seu m andato e eventuais substituições
ocorridas.
Vale lem brar que não são só os entes supervisores que as EFPC devem a ten ­
der. A R esolução TCU n. 248/1990 exige: “Inform ações anuais e detalhadas sobre
as respectivas EFPP integrarão as prestações de contas dos adm inistradores, das
entidades da A dm inistração Indireta ou de o u tras sob a Jurisdição do T ribunal”
(art. 2°). Do parágrafo ú nico consta: “As inform ações de que trata este artigo deve­
rão ser co n stitu íd a d o s seguintes elem entos: a) relação dos adm inistradores, m em ­
bros de conselhos deliberativos, consultivos, fiscais ou assem elhados da E ntidade
de Previdência P rivada”.
P or sua vez o art. 3e, III, recom enda “às Estatais patrocinadoras, q uando ca­
racterizadas infrações ou irregularidades apenas dos adm inistradores, m em bros
de conselhos deliberativos, consultivos, fiscais ou assem elhados das E ntidades de
Previdência Privada, as sanções estabelecidas no regim e disciplina-repressivo (art.
75 da Lei n. 6 .435/1977), na form a prevista no art. 35, §§ 1° e 2°, do citado diplom a
legal”.
Os en tes supervisores arm azenarão inform ações, entidade p o r entidade, ór­
gão gestor p o r órgão gestor, dos ocupantes do cargo referido, com seus períodos
de atuação.
Agirá bem a SPC, a quem incum birá tal atividade, se organizar u m cadastro
em ordem alfabética, que tornará possível u m controle m ais severo.
O responsável pelas aplicações é u m profissional especializado em C iência
das Finanças, a quem se atribuirá a função principal de em p reen d er os investim en­
tos da entidade, esforço, à evidência, dos m ais delicados e que tem de ser acom pa­
n h ad o pari passu por toda a D iretoria Executiva.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1374 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A p a rtir da determ inação da lei, se antes não tinha, agora passa a assum ir ex­
trao rd in ária relevância no segm ento e para a entidade em si m esm a, especialm ente
dian te da inexistência de lim ites em sua atuação.
A plicações são operações m ercantis, onde presente o investidor, pessoa física
ou ju ríd ica, que negocia bens rentáveis, títulos públicos ou com erciais de toda
ordem , ações e o u tro s valores ou bens, com vistas à obtenção de ju ro s, dividendos,
alugueres ou v an tagens financeiras.
Trata-se o en te significativo da entidade, talvez o seu coração, de vez que dos
resultados positivos ou negativos vai dep en d er o sucesso econôm ico do plano de
benefícios.
R ecursos da en tidade são os bens garantidores dos benefícios, n o u tras pala­
vras, as suas reservas técnicas, aqueles valores, bens ou im portâncias que podem
ser transform ados em p ecúnia para serem cum pridas as obrigações do dia a dia e
aten d id as as prestações dos participantes.
O legislador aqui não tem a preocupação de falar em planos da entidade, mas
nos seus bens, e o faz englobadam ente. Caso isso aconteça de form a co m p artilh a­
da, será preciso in d iv idualizar o responsável de cada plano.
A quele que fará as aplicações, até m esm o para p o d er ser responsabilizado,
tem de ser m em bro da D iretoria Executiva, sua designação pode ser direto r finan­
ceiro ou de investim entos.
A inda que seja em pregado da p atrocinadora ou in stitu id o ra não convém que
seja em pregado da entidade. Precisa ter iniciativa, já que cuida de bens da entidade
e freq u en tem en te os porá em risco.
O legislador deseja sep arar esse d ireto r financeiro dos dem ais diretores. Tal
destaq u e tem razão de ser porque o futuro da instituição depende do seu conheci­
m en to e da especialização, e até da sua sorte.
M uito provavelm ente a decisão recairá sobre técnico, q u an d o da m ontagem
da D iretoria Executiva e não depois desta com posta.
O d ireto r financeiro é pessoa im p o rtan te, tan to qu an to o presidente, e tem de
ser escolhido com m u ito cuidado.
Fixa a lei com clareza que esse profissional nào fará parte dos conselhos c o n ­
sultivos, deliberativo ou fiscal, e sim apenas da D iretoria Executiva.
D iante da n atu reza do seu m ister, é recom endável que ele n u n ca acum ule
cargos na en tidade, em bora possa ser p articipante, isto é, interessado, e q u e tenha
experiência n o tó ria na m atéria.
1979. S o lid a ried ad e dos g e sto re s — O § 6e da LBPC tem n o rm a de grande
alcance e conseqüências: “Os dem ais m em bros da diretoria executiva responderão
so lidariam ente com o dirigente indicado na form a do parágrafo an terio r pelos
danos e p rejuízos causados à entidade para os quais ten h am co n c o rrid o ”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n ta r 1375
À exceção do d ireto r financeiro, os dem ais m em bros, ora destacados, co m ­
põem a D iretoria Executiva.
De certa form a, o legislador dá destaque especial a esse colaborador. Fica
patente que ele é tom ado com o referência, m otivo que leva a instituição à necessi­
dade de criação de m ecanism os de controle de suas operações.
Seu p o d er é enorm e dentro da EFPC e fora dela, recom endando-se severo
controle de suas atividades, bem com o transparência de seus atos. O m ínim o que se
exigirá é um a declaração de bens quando da assunção, e outro, ao final do m andato.
M em bros da D iretoria Executiva, ora referidos, são os envolvidos com a ad ­
m inistração da entidade.
Todos eles, sem q u alq u er distinção, inclusive, e p rincipalm ente, o presidente
da D iretoria Executiva.
Ju rid icam en te, de m odo geral, a responsabilidade adm inistrativa, civil ou pe­
nal é direta ou originária e indireta ou solidária.
In casu, não tendo sido o causador efetivo ou direto, m as apenas concorrido
para que acontecesse o dan o ou prejuízo, esses m em bros serão responsabilizados
indiretam en te. M uitas vezes, até su rp re en d id o s pelo que aconteceu, e com o m es­
m o direito de defesa do principal acusado.
Q uem é d en u n ciad o por solidariedade responde com o se fosse o p ró p rio a u ­
to r da iniração, in cid in do nas m esm as penas, salvo se dem o n strar a sua inocência.
Claro, um a vez d em o n strad a a sua participação efetiva e sua colaboração para que
a infração se consum e, não p o rq u e é m em bro da D iretoria Executiva.
Tal condição confere a cada um deles, en tretan to , com o dito, o direito aos
controles para que possam elidir sua responsabilidade.
O dirigente in d icado é o escolhido para ser aquele que em preenderá as apli­
cações.
Pela p rim eira vez, a LBPC designa os direitos de dirigente, individualizando
as responsabilidades. Q uem responde não é a D iretoria executiva com o um todo,
m as cada d ireto r pessoalm ente considerado que tiver cooperado com o ato o in­
frator.
O que acontecerá n atu ralm en te porque seus pares é que o indicarão aos entes
supervisores e não podem ignorar sua presença nem atuação.
Na form a, q u er dizer de acordo com a com unicação que a entidade form al
fará aos entes supervisores.
Com o visto, ad nauseam, observa-se que o parágrafo an terio r distingue um
direto r dos dem ais, ad otando-o com o referência para a apuração de responsabili­
dades, suscitando-se, desde já, a questão da prova em prestada e do resultado da
apuração ser co m unicada àqueles m em bros cossolidários.
Desse m odo, a indicação do § 5S terá de ser am pla, noticiada para todos os
particip an tes e, especialm ente, ser de conhecim ento dos m em bros da D iretoria
Executiva.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1376 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
O parágrafo an terio r trata em particular da indicação do nom e do direto r fi­
nanceiro, ap o n tan d o -o com o responsável direto pelas operações de investim entos.
C om isso, restringe a corresponsabilidade ao m andato do escolhido e suas
ações.
O ideal seria q u e a com unicação aos entes supervisores, p o r sua im portância,
fosse feita pela D iretoria E xecutiva com a assinatura do ciente de cada u m dos seus
m em bros, inclusive dos suplentes.
O legislador usa a expressão “d an o s” e, logo em seguida, fala em “p rejuízos”,
m as, sem an ticam en te, elas são assem elhadas. De Plácido e Silva define o dano com o
sendo prejuízo, e este ú ltim o com o igual ao dano.
D iante da dificuldade de ap u rar a intenção do elaborador da norm a, im põe-se
p equena distinção. A parentem ente, danos são os prejuízos econôm ico-financeiros.
Prejuízos são d anos não econôm icos nem financeiros, que acabam por ad q u i­
rir essa natureza.
N os dois casos, representam redução do patrim ônio da en tid ad e ou do plano
de benefícios.
Os danos e prejuízos deflagram a responsabilidade solidária e necessariam ente
deterão nexo causai com a ação individual.
Em m uitas circunstâncias podem sobrevir esses percalços econôm icos ou
financeiros sem que se possa atrib u ir culpa ao aplicador.
N a apuração do s fatos co n d u cen tes à responsabilização, é im p o rtan te ficar
d em o n strad o s a atuação do suspeito p o r im perícia, negligência ou im prudência, e
os resu ltad o s d anosos ou prejudiciais à entidade. É ela q u e deve sofrer o dan o ou
prejuízo. O u tras afetações não têm interesse.
Nesse m o m en to , o legislador não está p reocupado com práticas contrárias à
previdência co m p lem en tar com o instituição ou segm ento fechado, salvo se atingir,
p o r sua vez, tam bém a EFPC.
A tarefa de ap u rar as responsabilidades fixadas no § 6fi é m uito séria e com ­
plexa. Em função da organização própria de cada EFPC, ela terá de aco m p an h ar a
ação dos seus dirigentes.
Resta evidente que o D ireito Previdenciário P rocedim ental co m p lem en tar terá
de desenvolver m eios e im p o rtar in stitu to s do D ireito A dm inistrativo, p rin cip al­
m ente, n a área de sin dicância e in q u érito internos.
In fin e do dispositivo, o legislador p o n tu a que a corresponsabilidade nào é
gratuita, apenas b astando a presença dos dem ais diretores para prevalecer. Para que
tam bém sejam cu lp ados ou responsabilizados é im prescindível que eles tenham
cooperado para isso.
A qui tem os m atéria para am plas discussões p o rq u e não serã fácil d eterm in a r­
-se essa concorrência. N um órgão colegiado, as decisões são tom adas individual­
m ente (caso do d ireto r financeiro) ou coletivam ente; se dão certo, a vitória é de
todos, m as, se falham , co stum am ser atrib u íd as a apenas u m indivíduo.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1377
Provavelm ente, as d ecisõ es que en volvam essa matéria terão de ser form a­
lizadas e tom adas por escrito para dim inu ir os em baraços que necessariam ente
sobrevirão.
1980. R em uneração dos d irig e n te s — A rem uneração dos dirigentes é
disciplinada no § 7a do art. 35 da LBPC: “Sem prejuízo do disposto no § 1° do
art. 31 desta Lei C om plem entar, os m em bros da diretoria executiva e dos conselhos
deliberativo e fiscal p oderão ser rem u n erad o s pelas entidades fechadas, de acordo
com a legislação aplicável”.
As entidades fechadas são organizações não lucrativas, na suas m odalidades,
m as, com o se verã, isso não im pedirá que os seus diretores sejam assalariados.
Tal rem u neração poderá se c o n stitu ir em problem a sério em razão da natureza
da em presa e seus objetivos, porque a folha de pagamenLo é co m p o n en te de peso
na taxa de adm inistração, convindo que a determ inação se faça com a oitiva dos
participantes.
Q uando abre o C apítulo 111 — Das Entidades Fechadas de Previdência Comple­
mentar, a LC n. 109/2001 fornece inform ações sobre a organização dos fu n d o s de
pensão.
Em seu § l 9, acresce sua natureza econôm ica lato sensu, m as não lucrativa.
Isso a distin g u e das em presas com erciais em que presente lucro dos proprietários,
sejam as sociedades lim itadas ou anônim as.
De certa form a, sem se identificar, distancia-se das entidades filantrópicas
ou assistenciais, na m edida em que não obstam a rem uneração dos seus diretores.
Não é só a LC n. 109/2001 que rege as entidades não lucrativas. Q u ando se tra­
ta daquelas patrocinadas por entes públicos, convém co n su ltar a LC n. 108/2001,
além de outras n o rm as relativas à A dm inistração Pública.
O s m em bros que têm assento na D iretoria Executiva poderão ser rem u n era­
dos, sem falar em distinção (operada no § 8 9) qu an to a sua origem ou form ação.
D iferentem ente do caput, neste particular da retribuição dos operadores do
fundo de pensão, estabelecendo diferença d ecorrente das atividades exercidas,
m aiores num caso e m enores noutro, a D iretoria Executiva com parece em p rim ei­
ro lugar.
Faz pensar que o valor não terá, necessariam ente, de ser igual para todos os
adm inistradores, hierarquizados conform e a ordem legal.
R em uneração do C onselho D eliberativo estranha aos objetivos da ad m in is­
tração de um a EFC na m edida de suas atribuições e de seu papel de colegiado
paritário, com posto de representantes.
A rigor, não deveria existir, salvo nas entidades de grande vulto ou fundo
m u ltip atro cin ad o , porque, a princípio, o valor, com natureza de jeto n , terá de ser
sim bólico.
De acordo com a lei, porém , podem se rem unerados, dentro da concepção de
que a eles serão com etidas atribuições relevantes n a gestão do fundo de pensão.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1378 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
Igual raciocínio vale para o C onselho Fiscal, acrescido da ideia de que a re tri­
buição, ain d a que não se queira, pode su b o rd in ar pessoas não conscientes de seu
papel, de que não são fiscais apenas da entidade, m as dos participantes.
Não existe direito subjetivo à rem uneração e ju rid ic a m e n te apenas pretensão,
m as, à evidência, a profissionalização da adm inistração é recom endável.
Sem diretores bem rem unerados, a gestão não vai p o d er atra ir os m elhores
técnicos ou especialistas. As exigências do art. 35 no tocante à qualificação das
pessoas pressu p õ em retribuição à altura.
A rem u n eração a ser paga aos diretores e conselheiros, m elh o r que seja apro­
vada em assem bleia geral, deve refletir a natureza e o vulto dos serviços prestados
e estim u lar o trabalho, bem com o atra ir b ons profissionais.
Do p o n to de vista exacional, é salário, sujeitando-se a várias incidências, entre
as quais a co n trib u ição do INSS, na condição de co n trib u in tes individuais.
Só as entidades podem rem u n erar os seus diretores; ninguém mais. C om isso,
fica descartada a possibilidade de as patrocinadoras ou in stitu id o ras virem a fazê-lo.
Até m esm o n a intervenção e na liquidação extrajudicial, essa atribuição é
com etida ao fu n d o de pensão.
O legislador não deixou escolha ainda um a vez, e que a rem uneração, se
decidida pelo fu n d o de pensão, se faça conform e regra su p erio r externa à EFPC.
Vai exigir n o rm a própria, proposta pelos entes supervisores com vistas a evi­
tar abuso e, de certa form a, uniform izar procedim entos.
N ão existe leg islação aplicável a n te rio r siste m atiz ad a n em será c o n v e n ie n ­
te que a lei o rd in ária ou re g u la m en to atrib u a tam an h a c o m p etê n cia aos en tes
su p erv iso res.
Sem ferir em dem asiado a liberdade da iniciativa privada, o que ela po d e fazer
é estabelecer prin cíp ios, fixando critérios relativos ao vulto do em preendim ento,
ativos ou b en s garan tidores e nú m ero de participantes, vale d izer em função da
carga de serviços.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o /V — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n ta r
Capítulo CXCVIII

A d m in is t r a ç ã o d o s B e n e f íc io s

S u m á r i o : 1981. Requerimento e concessão. 1982. Reajustamentos periódicos e


episódicos. 1983. Resgate em caso de afastamento. 1984. Vesting na demissão.
1985. Rateio na extinção da EFPC. 1986. Alterações contratuais. 1987. Paga­
mentos indevidos. 1988. lnterveniência no INSS. 1989. Cláusula expulsória.
1990. Cancelamento do benefício.

O p o rtu n am en te, conform e previam ente convencionado, preenchidos os re­


quisitos co n tratu ais e desejando, o particip an te pode solicitar a com plem entação
(ou o u tro benefício). Tam bém cabe-lhe, se assim decidir, adiar o m o m en to do
pedido, devendo, nas duas hipóteses, exam inar as disposições regulam entares, o
direito, em p rin cíp io im prescritível, a prescrição de m ensalidades e a m odalidade
de cálculo da renda m ensal inicial.
A exem plo do en cam inham ento no bojo do órgão oficial, depois de p ro to ­
colado, o ped id o é in stru íd o até final decisão do seto r com petente, sobrevindo
com unicação escrita ao interessado e início dos pagam entos.
Deferido, o benefício é m antido, procedendo-se aos reajustam entos de valor
em razão da inflação ou por o u tro s m otivos, com o au m en to s reais, até transform a­
ção em ou tro , caso da pensão p o r m orte, ou extinção p ropriam ente dita.
D iversos in cid en tes in terlo cu tó rio s são suscitáveis no curso da m anutenção,
convindo repassar os principais.
1981. R eq u erim e n to e concessão — A com plem entação deve ser requerida,
geralm ente em im presso p ró p rio da entidade e com data e assinatura do p artici­
pante. Pode ser por procuração e até m esm o pela curatela.
O ped id o é p rotocolado, valendo o dia de entrada para efeitos jurídicos. N or­
m alm ente, coincidirá com a data aposta n o docum ento.
Solicitação, aco m panhada de com provantes do direito, que, entre outros, c o n ­
form e cada R egulam ento Básico, po d em ser: a) certificado de inscrição; b) últim os
12 salários reais de participação; c) tem po de serviço (CTPS e outros), às vezes
su p rid o pela carta de concessão do INSS; d) função; e) carta de deferim ento do
benefício oficial, se convencionado; 0 endereço; e g) certidão de nascim ento.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1380 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
No caso de d ep en d en tes, ju n ta d a de certidões de óbito, de casam ento e de
nascim ento. P or in term éd io de representantes, com a procuração. Para a ap o sen ­
tadoria especial, q u an do for o caso, além do laudo técnico pericial, o form ulário
in tern o co rresp o n d en te ao PPP, fornecido pela patrocinadora.
Por ato pessoal do titular, a solicitação é in stru íd a in tern a m e n te na divisão
de Seguridade Social da entidade, repete-se, com a ju n ta d a de d o cu m en to s espe­
cíficos, alguns deles co n stan tes do cadastro da patrocinadora, na posse do p arti­
cipante, da EFPC e, form alm ente, q uando exigida, a prova de estar concedido o
benefício p rin cip al, do gestor oficial. O s salários reais de participação do período
básico de cálculo são decisivos para fins de apuração da renda m ensal final.
É preciso co n su ltar o R egulam ento Básico para d eterm in a r a data do início e,
seg u n d o o ali estatuído: a) n o dia seguinte ao do afastam ento do trabalho; ou b) na
de en trad a d o req u erim ento, conform e cada hipótese.
O en cam in h am en to é concluído m ediante despacho exarado p o r pessoa
co m p eten te, geralm ente, o direto r de divisão de Seguridade Social. Ato co ntínuo,
em itida a notificação ao particip an te inativo, preferivelm ente entregue sob recibo,
dand o -se ciência de: a) título do benefício com plem entar; b) data do início; c) va­
lor da renda m ensal inicial; d) local dos pagam entos; e) m em ória de cálculo; f) nível
da renda m ensal do INSS; g) tem po de serviço ap u rad o e utilizado; h) coeficiente
aplicado ao salário real de benefício; e i) data da concessão.
A decisão final tam bém pode ser indeferitória ou concessória com valores
abaixo do esperado pelo requerente. Em am bos os casos, o R egulam ento Básico
deve prever a possibilidade de interposição de recurso de inconform idade ao dire­
to r de seguridade social e, po sterio rm en te, ao C onselho de C uradores.
Esgotada a via adm inistrativa, o solicitante tem à sua disposição a justiça
co m u m para ter ou n ão reconhecida a pretensão. Com a decisão desta, em últim a
instância, esgota-se o dissídio.
A perfeiçoado o direito ao benefício supletivo, o usual é o p articip an te soli­
citá-lo im ed iatam en te, m as, p o r variados m otivos (com o não desejar ro m p er o
v ín cu lo com a p atro c in ad o ra ou p referir c o n tin u a r au ferin d o a assistência m éd i­
ca) e até p o r d esco n h ecim en to , acontece de requerê-lo d eco rrid o s alguns m eses
e até anos.
Q u an d o a co m plem entação é solicitada m eses ou anos após a aposentação na
seguradora estatal, e presente a dependência, o prim eiro cuidado é verificar se a
renda tnensa! oficial m antida está correta, observando-se as regras dos benefícios
do RGPS.
Q u estõ es ju ríd icas envolvem esse cenário. Em p rim eiro lugar, o interessado
nào estar obrigado a exercitar o direito após o p reen ch im en to dos requisitos legais;
goza da liberdade de fazê-lo qu an d o quiser. Salvo a observância do dormientibus
nort sucurritjus ou regra excepcional facultando-lhe receber desde aquele prim eiro
m om ento, o correto e o com um é o início ocorrer coin cid in d o com a data do pe-

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o ÍV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
dido, prescrevendo-se algum as ou iodas as m ensalidades anteriores. N ada im pede,
porém , que o R egulam ento Básico disp o n h a sobre algum as m ensalidades conside­
radas não decaídas (estim ulando à aposentação).
Se o R egulam ento Básico silencia a respeito, vale a im prescritibilidade dos
benefícios previdenciários (princípio universal acolhido no segm ento fechado, ex ­
ceto diante de cláusula legal expressa obstativa) e, nesse caso, m esm o com eçando a
percepção a p artir do requerim ento, o titular tem direito adquirido ao cálculo com
base nos valores p recedentes à solicitação, ou seja, após a reunião dos requisitos
regulam entares.
São duas situações, de q uem p reencheu os requisitos legais: a) afastou-se da
patrocinadora; e b) co n tin u o u trabalhando. Na prim eira circunstância, a data do
início deve ser a da en trad a do req u erim en to , o período básico de cálculo v encen­
do-se no últim o m ês de trabalho. Na segunda hipótese, o p erío d o básico de cálculo
en cerrando-se q u an d o da reunião dos requisitos legais.
A usente regra específica, a rem issão ao D ireito Previdenciário com um é per­
feitam ente válida.
R ecom enda-se o R egulam ento Básico dispor sobre o prazo para ingressar com
o pedido de revisão do benefício, aí com preendidos a su bstituição, a transform ação
e o reexam e do cálculo da renda m ensal. De preferência, ser im prescritível esse
direito, bem com o o de acrescer novos tem pos de serviço (prom ovido o acerto
atuarial), valendo, é claro, a revisão a p artir do requerim ento.
1982. R eaju stam en to s p erió d ic o s e ep isó d ico s — O valor dos benefícios
com plem entares, em razào da perda do p o d er aquisitivo da m oeda ou conform e co n ­
vencionado no R egulam ento Básico, é reajustado eventualm ente (por o u tra causa,
às vezes, su p eráv it atuarial) ou periodicam ente, q u an d o do reaju stam en to oficial,
p o r ocasião de acordos (ou dissídios) coletivos da p atrocinadora ou em data-base
estipulada. N ão se trata de revisão do direito ao benefício, m as de sim ples alteração
norm al de seu valor m ensal.
E m b o ra p o u co freq ü en te, às vezes, essa alteração se dá em razão de decisão
ad m in istrativ a ou ju d ic ia l. F ato co m u m n o p e río d o de ín d ices in flacio n ário s
elevados.
Além do disposto nos itens 25/29, da Resolução CPC n. 01/1978, alterando-os,
a Resolução CPC n. 03/1980 fixou as regras gerais das m udanças a serem seguidas.
Os reaju stam en to s esporádicos sucedem em determ inadas circunstâncias, vi­
sando rep o r perdas havidas em certos lapsos de tem po ou levada a EFPC, ouvido
o atuário, por m otivos aleatórios, com o superávit.
O critério de definição dos reajustam entos é sede de problem as p o r falta de
im aginação do especialista incum bido da redação. M uitos aposentados ficam in ­
satisfeitos com os índices oferecidos e em diversas o p o rtu n id ad es a entidade não
sabe com o resolver a questão apresentada diante de regra sim plista constante do
R egulam ento Básico e a situação com plicada da realidade laborai.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1382 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Dá-se exem plo com os regulam entos básicos onde constem norm as v in cu ­
lando o reaju stam en to à data-base da atualização dos salários dos em pregados da
p atro cin ad o ra (até aí tudo bem ) e, tam bém , aos m esm os índices. Salvo no caso
(rem oto) de o p ró p rio R egulam ento Básico ter m antido os ap o sen tad o s dentro de
hierarquia sem elh an te à do plano de cargos e salários da p atro cin ad o ra (hipótese
inviável, de difícil realização diante da dinâm ica laborai da em presa), terá entraves
form idáveis para estabelecer o p ercen tu al de reajustam ento, se a categoria ativa foi
beneficiada p o r vários índices ou critérios, pisos diferenciados etc.
C om o so lu ção plausível, possivelm ente contestável, resta ao ad m in istrad o r
verificar q u a n to cresceu, em term os m édios, a folha de pagam ento dos em prega­
dos em atividade, e aplicar o re su ltad o en co n trad o à totalidade dos aposentados.
Mas o p rin cíp io , m u itas vezes, p ro m etid o nos pro sp ecto s de lan çam en to do plano,
de m an ter o m esm o pad rão , em igualdade de condições com o ativo, não será
cu m prido.
R ecom enda-se, da m esm a form a, redação capaz de definir o papel das m o d i­
ficações, pois pode acontecer de sobrevir reajustam ento em razão da inflação ou
co n q u ista trabalhista, m as tam bém o u tras alterações com o o pagam ento de abono
não incorporável ã rem uneração dos ativos.
A finalidade p rim ordial da cláusula é definir o reajustam ento e com o tal deve
ser in terp retad a. Pagam entos extem porâneos, com o a participação nos lucros ou
resultados, desem bolsados pelo em pregador de um a só vez, salvo n o rm a específi­
ca, não podem ser agregados ao valor das com plem entações.
O s pleitos jud iciais conhecidos com o IRSM 1994/1997 suscitaram q u estio n a­
m entos referentes ao direito dos particip an tes assistidos que obtiveram sucesso nas
ações e tiveram acrescidas as m ensalidades de 1,17% a 39,67% nas m ensalidades
em face da concepção da com plem entaridade. Se a EFPC obrigara-se a pagar a
diferença financeira entre certa im p o rtân cia definida no seu R egulam ento Básico e
o que o INSS deveria pagar com o benefício básico sendo q u e este últim o valor foi
m ajorado, reduzia o encargo da EFPC (conclusão com a qual os interessados não
con co rd aram ). No m ínim o, eles desejavam saber quem deveria arcar com os h o ­
norários do advogado, se haviam ganho a ação. Na com plem entação, não há outro
raciocínio se não a m inoração dos encargos da EFPC, que os terá elevado caso o
INSS d im in u a as m ensalidades. Por isso, para afastar a perplexidade dos partici­
pan tes assistidos, aconselham os a com posição negociai da EFPC com os com ple­
m entados, d iv id in d o os valores para evitar novas discussões ju d iciais ( “R enda do
F un d o de Pensão e M ensalidade do INSS”, in Jo rn al do 5® C ongresso Brasileiro de
Previdência C om plem entar, São Paulo: LTr, 2005, p. 11/12). N egociação tam bém
recom endada p o r L u iz Antonio Alves Gomes ( “O ajuste do IRSM e as conseqüências
no s fundos de p en são ”, in ob. cit., p. 13/14).
1983. R esgate em caso d e afastam en to — D iferentem ente da previdência
básica, o n d e rara a hipótese (PBPS, art. 81, I), é possível a restituição de algum as
co ntribuições, q u an d o o participante se afasta do sistem a.

C urso df D w f it ü P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1383
Na Seção V — Das disposições especiais, no art. 42, V, a Lei n. 6.435/1977 dis­
p u n h a sobre a: “existência ou não, nos planos de benefícios de valor de resgate das
contribuições saldadas dos p articipantes e, em caso afirm ativo, a norm a de cálculo
qu ando estes se retirem dos planos, depois de cum pridas condições previam ente
fixadas e antes da aquisição do direito pleno aos benefícios”.
Se o p articipante ab a n d o n ar o sistem a antes de preencher os requisitos legais,
salvo n a hipótese de cessação do co n trato de trabalho com a patrocinadora, isso
im plicará a perda dos benefícios para os quais não foram com pletadas as c o n trib u i­
ções necessárias (art. 3 1 , VII, do D ecreto n. 81.240/1978) e, p o r conseguinte, “na
hipótese de cessação do co n trato de trabalho, o plano de benefícios deverá prever
o valor de resgate co rrespondente, em função da idade e do tem po de contribuição,
sendo facultada a m an utenção dos pagam entos, acrescidos da parte da em presa,
para a co n tin u id ad e da participação ou a redução dos benefícios em função dos
pagam entos efetuados até a data daquela cessação” (art. 31, inciso VIII).
O § 2- do m esm o art. 31 fixava o valor m ínim o; “No caso do item VIII, o par­
ticipante terá direito à restituição parcial das contribuições vertidas, com correção
m onetária, de acordo com as norm as estabelecidas no p ró p rio plano, não inferior
a 50% (cin q ü en ta por cento) do m o n tan te ap u rad o ”.
Do p o n to de vista atuarial, os planos preveem ou não cláusulas sobre a resti­
tuição das contribuições. O direito ao resgate depende de convenção. Verdadeira­
m ente, incidente no curso da relação ju ríd ica, é direito à devolução e não benefício
antecipado.
C o ntrário à ideia da solidariedade, o resgate foi in tro d u zid o para estim ular o
ingresso no sistem a, dar liberdade ao participante para se retirar daquela entidade
e ingressar em o u tra, isto é, oferecer portabilidade aos recursos e dinâm ica interna
ao segm ento.
Q uestão m aior diz respeito à sua dim ensão. Reserva m atem ática (c o n trib u i­
ção pessoal, m ais a do patrocinador e rentabilidade) ou só reserva de poupança
(aporte do trab alh ad o r). Para a R esolução CNSP n. 07/1979, a p artir do 609 mês,
deve ser a prim eira. Com a R esolução CNSP n. 10/1983, no 369 mês.
Os percentuais, claram ente dispostos, devem referir-se, em cada caso: a) ao
valor recolhido peio participante; b) à som a da contribuição do participante e da
patrocinadora; c) a este últim o capital m ais a rentabilidade; e d) em todas as h ip ó ­
teses, presente correção m onetária.
Prevendo o art. 31, VIII e § 2fi, “devolução m ínim a de 50% ”, e no R egulam en­
to da FUNBER há previsão de resgate de 70% m ais a correção m onetária, não há
direito aos 100% (A córdão da 5® Turm a do TRT da 9 ã Região, n. 22.848/1995, no
PR-RO n. 9.946/1994, de 6.7.1995, in LTr n. 59-11/1152).
Em seu art. 14, a LC n. 109/2001 dispôs rapidam ente sobre a m atéria, depois
de falar en passant sobre o vesting e a portabilidade, n o inciso III, alu d in d o a: “res­
gate da totalidade das contribuições vertidas ao plano pelo participante, desco n ta­
das as parcelas do custeio adm inistrativo, na form a regulam entada”.

C u rso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1384 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Resgate não é novidade da lei. R epresenta a retirada de certos valores, que
são en tregues p essoalm ente ao titular, com o se fosse u m benefício, de pagam ento
único, com nível bem aclarado no dispositivo legal.
Totalidade significa a som a de todas as contribuições, p o r isso, seria preferível
que se dissesse seu m o n tan te, pois, com o se vê in fin e do dispositivo, são feitas
deduções. Ao referir-se à totalidade, o legislador lim itou o alcance do resgate. Essa
po d eria ser a h ipótese m áxim a. D everia perm itir, conform e convencionado, outras
circu n stân cias ou valores.
C laram ente, o legislador fala em contribuições vertidas, referindo-se às pagas
pelo p articip an te ou d eduzidas do seu salário, e não às devidas. H ouve u m tem po
em que o INSS “devolvia” valores a segurado cuja em presa não havia aportado as
im p o rtân cias, a títu lo de pecúlio; nào é esse o caso. Se, p o r q u alq u er m otivo, o
em pregador deixa de descontar rubricas que, nu m m om ento, e n ten d e u indevidas,
elas nào com porão o m o n tan te do resgate.
O resgate diz respeito às co n tribuições do participante, não in clu in d o as da
em presa. Q u a n d o o titu la r proveio de ou tro fundo, p o rtan d o valores (que vão além
das p ró p rias con trib u ições vertidas p o r ele), essas deverão ser tidas com o co n tri­
buições vertidas (o que pode afetar, com o lem brado, a portabilidade).
N ão são todas essas contribuições, m as apenas e tão som ente as que ele ver­
teu, bem com o seus frutos, porém , com o desconto de despesas adm inistrativas.
O en te su p erv iso r regulará a m atéria e tam bém , em particular, com o se p ro ­
cessará o cálculo da taxa de adm inistração.
1984. Vesting n a d em issão — O art. 31, VIII, do D ecreto n. 81.240/1978
rezava: “na hip ó tese de cessação do contrato de trabalho, o plan o de benefícios
deverá prever o valor de resgate correspondente, em função da idade e do tem po de
co n trib uição , sendo facultada a m an u ten ção dos pagam entos, acrescidos da parte
da em presa, para a co n tin u id ad e da participação ou a redução dos benefícios em
função dos pag am en tos efetuados até a data daquela cessação”.
De certa form a, in fin e previa o vesting (tam bém conhecido com o benefício
p ro p o rcio n al d iferido), isto é, benefício de valor reduzido, po rém , in clu in d o a co n ­
tribuição do p articip an te e m ais a parte da patrocinadora.
Trata-se de instituição desconhecida n a previdência básica e não confundí-
vel com o resgate operado em caso de afastam ento ou em v irtude de extinção da
EFPC. Na concepção de E liana Sampaio, trata-se de valor agregado concedido a
particip an te cujo vín culo com a patro cin ad o ra desapareceu sem ele ter conseguido
cu m p rir os req u isito s co n tratu ais necessários à percepção de benefício co n tem p la­
do no R egulam ento Básico.
Pode ser tido com o prêm io adicional recebido pelo participante, co rresp o n ­
d en te a cada ano de trabalho na patrocinadora.
São várias as m odalidades adotadas; todas elas, en tre tan to , baseadas na co n ju ­
gação de idade do interessado, tem po de serviço e de contribuição n a em pregadora
e, ainda v ariando, se o plano consagrado é de benefício definido, de contribuição
definida ou m isto.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o /V — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n t a r 1385
A possibilidade de req u erer o vesting dep en d e de o particip an te ter p reen ch i­
do determ inadas condições (com o idade m ínim a) estabelecidas no R egulam ento
Básico, análogas às exigências da concessão dos benefícios previstos.
Dá-se exem plo com o participante afastado da em presa patrocinadora sem possi­
bilidade de gozar a com plem entação da aposentadoria por tem po de serviço, vindo a
receber a im portância futuram ente, quando atendidas as cláusulas convencionadas.
A LBPC dispôs sobre o vesting no seu art. 14, 1, descrevendo-o com o “b en e­
fício proporcional diferido, em razão cia cessação do vínculo em pregatício com
o p atro cin ad o r ou associativo com o in stitu id o r antes da aquisição do direito ao
benefício pleno, a ser concedido q u an d o cu m p rid o s os requisitos da elegibilidade”.
O benefício co m p lem en tar deve ser en ten d id o com o prestação em din h eiro de
pagam ento co n tin u ad o , isto é, com plem entação de prestação previdenciária. Não
deve ser visto com o vantagem ou benefício lato sensu, que é conquista a favor do
participante.
A ideia, n ad a o b stan te o silêncio norm ativo, lem bra a ap o sen tad o ria p o r tem ­
po de co m rib u ição p ro porcional, m as não im pede a concessão de um pecúlio ou
entre a de m o n tan te com vistas à aquisição de renda vitalícia.
Em lace da plenitude da prestação, aludida quase ao final do inciso I, a propor­
cionalidade quer dizer m enos que o total, segundo critérios do plano de benefícios.
Proporcionalidade p u ram ente m atem ática ou previdenciária, conform e convencio­
nada, que, ã evidência, dependerá o tipo do plano (v. g., CD, BD, híb rid o etc.).
D esem bolsado adiante, q uando do p reen ch im en to dos requisitos. C o rresp o n ­
de ao cenário do p articipante que se afastou da p atrocinadora ou da entidade, sem
co m p letar todas as exigências preceituadas no R egulam ento Básico.
V ínculo em pregatício é a relação de em prego m antida entre o participante e
a patrocinadora. Seu desfazim ento pode dar-se p o r m orte do trabalhador, pedido
espontâneo de dem issão, aposentadoria ou p o r razões da em presa (justa causa,
vontade econôm ica, en cerram ento de filial ou estabelecim ento etc.).
A lei não faz distinção, o que im porta é a ru p tu ra da relação ju ríd ic a laborai.
Pressupõe-se tratar-se de em pregado.
O “o u ” que interm edeia o patro cin ad o r com o associativo não pode induzir
a pen sar em relação de em prego do associado com a entidade. O que cessa é essa
relação de vínculo jurídico associativo e não laborai.
P atrocinador é o em pregador, aquela pessoa ju ríd ica com a qual o titu lar m a n ­
tin h a o vínculo em pregatício, tantas vezes m encionado na lei. V ínculo associativo
tido com o o elo ju ríd ic o que o associado ou m em bro m antém com associação da
qual faz parte. O fim pode dar-se p o r m orte do participante, extinção da entidade
ou afastam ento do titular.
In stitu id o r é a pessoa ju ríd ica (órgão de controle do exercício profissional,
sin d icato s e outros) a qual o participante está associado, com quem m antém o
vínculo associativo. “A ntes da aquisição” q u e r dizer expectativa de direito; é a
situação do p articip an te que não aten d e u a todas as exigências.

C urso df D ir e it o P r iív íp e n c ia r io

1386 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
Benefício p leno q u e t dizer a totalidade da renda m ensal inicial. Só tem sentido
q u an d o a prestação é calculada e conhece valores m ínim os e m áxim os. P ropósito
ou concepção do p lan o. Exem plo: com plem entação da ap o sen tad o ria integral p o r
tem po de contribuição.
Cada co m p lem ento de benefício suscita co m p o rtam en to do titular. Para fazer
jus à prestação, exercitanclo-a ou não, ele precisa com provar — q u an d o a entidade
não d isp u ser in tern am en te desses elem entos — que atende aos p ressu p o sto s co n ­
tidos no R egulam ento Básico.
1985. R ateio na ex tin ção d a EFPC — O E statuto Social geralm ente prevê
a destinação d o s recursos na circunstância de extinção da entidade. A situação
é com plexa, pois subsistem obrigações em relação aos benefícios m antidos e aos
p ertin en tes a q uem não os pode o bter p o r força do desaparecim ento da gestora. Se
possível, a liquidação deve disciplinar todas essas situações. F req u en tem en te, é a
som a da disp o n ib ilid ade pecuniária a d eterm in an te das soluções.
A lei privilegia os aposentados e pensionistas; só após o aten d im en to de suas
necessidades é possível pen sar em devolver algum a coisa aos particip an tes ativos.
1986. A ltera çõ es c o n tra tu a is — Tendo em vista as características de certa
su b sid iarid ad e e da co m p lem en tarid ad e do sistem a supletivo, divergem os es­
tu d io so s sobre alterações do R egulam ento Básico. De m o d o geral, prevalece a
possibilidade de m u d ança, observadas as regras fu n d am en tais p ró p ria s do direito
obrigacional.
E x am in an d o a n atureza dos diferentes regulam entos, Manuel Sebastião Soares
Póvoas consagra su a m utabilidade: “Nos casos de m odificação da lei ou da norm a,
de que resulta alteração ou a elim inação dos benefícios d a Previdência Social, a e n ­
tidade tem direito a alterar a fórm ula de benefício, dos serviços e das contribuições,
de form a a m an ter o m esm o nível global e de contribuições, benefícios e serviços
vigentes da data da inscrição de cada p artic ip a n te” (“Previdência P rivada”, p. 217).
N ão se rep o rtan d o à exigência de oitiva do interessado, esse estudioso finca-
se n a posição contrária à im utabilidade do contratado. M udanças são perm itidas,
pod en d o ser objeto de negociação e discussão com os participantes, o u unilateral,
auscultados q u an d o de sua vigência, ou seja, é válida a novação das condições ou, se
se preferir, nova convenção. M as, sobre o modus operandi, silenciam os especialistas.
Q u an d o do exam e da cláusula “ex p u lsó ria”, objeto do Parecer CJ/MPAS n.
31/1979, R enato A ntonio Prale M enegat, então C onsultor Ju ríd ico do MPAS,
m anifestou-se sobre a natureza da relação ju ríd ica, fixando-a com o co n trato civil
(an u ên cia de p en sam en to s), revigorando a ideia: “Segundo en ten d im en to da m e­
lh o r d o u trin a, o co n trato de adesão, ao ser celebrado im plica na aceitação pelas
partes do ajuste no seu todo — co n stitu in d o -se lei entre as partes — devendo,
co n seq u en tem en te, ser executado com o se fossem disposições legais para quem
celebrá-lo” (P arecer CJ/MPAS n. 9/1987, in Revista LTr n. 51-5/627).
O põe-se o citado parecerista às alterações, acostando-se à ideia original de
tratar-se de co n trato , valendo o avençado. R epresenta, praticam ente, o grosso da

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1387
opinião da d o u trin a, en ten d en d o só serem possíveis as m odificações, em deter­
m inadas circunstâncias, e respeitando o direito adquirido de quem preencheu os
requisitos legais até a véspera da alteração.
A exem plo da oferta de condições iniciais e a obtenção da anuência do p arti­
cipante, é im perioso dar am plo conhecim ento das razões m otivadoras e das alte­
rações procedidas, facultando-se o seu desligam ento sem prejuízos. É im portante
o R egulam ento Básico não estabelecer cláusulas leoninas, im postas a quem não
queira ad erir às alterações, form a oblíqua m oralm ente condenável de obrigar o
p articipante a perm an ecer no sistem a.
Tem-se com o pressuposto a m odificação ser de interesse de todos, aten d e r aos
objetivos da clientela protegida, perfilhados os reclam os do atuário.
O m esm o Manuel Sebastião Soares Póvoas, em o u tro m om ento, sob o C apítulo
XIV — Dinâmica dos contratos empresariais, p ressu p o n d o , p o rtan to , o câm bio, ad ­
m ite a m u d an ça das regras, ouvidas as duas partes. Diz ele: “N a sua com plexidade
estes contratos têm um a dinâm ica m uito ativa, sendo co ntinuada e frequentem ente
sujeitos as alterações que decorrem da vontade tan to da en tid ad e e da em presa,
com o da vo n tad e de cada um dos inscritos, e de fatos relativos ã operação do pla­
n o ” ( “Previdência P rivada”, p. 309).
A rrola u m sem -n úm ero de h ipóteses de alterações nos planos de custeio e
prestações: a) relativas à adm issão no plano; b) para elegibilidade dos benefícios; c)
de valor; d) na espécie do benefício; e) espécie da renda; f) elenco dos benefícios;
g) alteração do índice de correção m onetária e outros.
R aram ente, os trib unais têm se m anifestado sobre o assunto, polarizados para
os aspectos laborais, ajuizando com vistas n o contraio individual de trabalho e
possivelm ente avaliando situações on d e a com plem entação reduz-se a benefício
trabalhista. O TST divulgou três en ten d im en to s versando a questão ou dela se
aproxim ando.
O prim eiro, seguram ente laborai, e o segundo e o terceiro, n itidam ente pre-
videnciãrios: a) “As cláusulas regulam entares que revoguem ou alterem vantagens
deferidas an terio rm en te só atingirão os trabalhadores adm itidos após a revogação
ou alteração do reg u lam en to ” (E nunciado TST n. 5 f) ; b) “A com plem entação dos
proventos da apo sen tadoria é regida pelas norm as em vigor na data de adm issão
do em pregado, observando-se as alterações posteriores desde que m ais favoráveis
ao beneficiário do d ireito ” (E nunciado TST n. 288); e c) “A posentadoria-com -
plem entação. In stitu íd a com plem entação de aposentadoria, p o r ato da em presa,
expressam ente d ep en d ente de sua regulam entação, as condições destas devem ser
observadas com o parte integrante da n o rm a” (E nun ciado TST n. 97).
A ideia cen tral no tem a é o respeito ao convencionado, m as a dinâm ica do sis~
tem a e sua dep en d ên cia do oficial (ultim am ente, sofrendo m utações e adaptações
con stitu cio n ais) obriga a retificações de percurso. Dá-se exem plo singelo: se o li­
m ite do salário de co n tribuição ascende de R$ 1.430,00 para cerca de R$ 1.500,00,
com o aconteceu em 2002, crescendo realm ente, im põem -se acertos atuariais nos

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1388 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
d iferentes planos, m as o ajustado com o particip an te não pode ser ignorado, tem
de ser respeitado, co n v in d o prom over os en co n tro s m ateriais e financeiros neces­
sários com a oitiva d o s interessados. O correto é p ro p o r a alteração à clientela. Ela
só tem validade com a sua concordância.
M iriam Costa Rebollo Câmera, estudando o assunto, chega às seguintes co n ­
clusões: a) “podem ser efetuadas m odificações nas norm as regulam entares desde
que, ev id en tem en te, tal possibilidade já esteja prevista e com a q ual o particip an te
já teria aquiescido q u an d o de sua adesão”; b) “se não existir a previsão dessas
p ossibilidades, os R egulam entos po d em ser alterados p o r co n se n lim en to expresso
dos p articip an tes, seja p o r m anifestação direta, seja p o r m anifestação indireta; isto
é, p o r via de rep resen tantes que ten h am escolhido e que sejam integrantes ou não
dos corpos diretivos das en tid ad es”; c) “sobrevindo fato im previsível, que tenha
repercussão sobre a d isciplina norm ativa das EFPP e im p o n h a a alteração do Re­
g u lam ento, ou, ainda, caso fortuito ou de força m aior, justificar-se-á a alteração”;
e d) “não h avendo previsão sobre possibilidade de alteração, o u con sen tim en to
expresso do p articip ante, ou superveniência de fato im previsível q u e enseja al­
teração, o R egulam ento pode ser alterado; alteração essa, porém , com aplicação
exclusiva a partir de então, isto é, que abrangerá apenas os futuros participantes,
aqueles q u e ingressaram após a referida m odificação, com a ressalva de que tal al­
teração, m esm o com aplicação apenas para o fu tu ro , não p o d erá prejudicar, direta
o u in d iretam en te, os direitos dos atuais p articip an tes” ( “P lano de Benefícios das
E n tid ades de P revidência Privada: A lterações do R egulam ento e o D ireito A dqui­
rid o ”, in RPS n. 37/24).
A respeito das m u d an ças po d em ser fixadas algum as ideias iniciais:
a) m utab ilid ad e — revisões, em princípio, são possíveis;
b) direito ad q u irid o — de ord in ário , elas d estinam -se exclusivam ente às si­
tuações futuras, con tadas a partir da eficácia da no rm a superveniente;
c) factum principis — na h ip ó tese de o R egulam ento Básico d ep en d er da Pre­
vidência Social, alterando-se a legislação desta, m u d a a daquele. Disso se dá exem ­
plo com a extinção do abono de perm anência em serviço. Q uem se p re d isp u n h a
a co m plem entá-lo não pode m ais fazê-lo; o co m p lem en tan d o tem de c o n tin u ar a
receber;
d) novação — as m udanças têm de ser negociadas, ajustadas co n tra tu alm e n ­
te, c o n tar com a aprovação do participante, de preferência p o r escrito e, se isso não
acontece, na prática, inco n v en ien tem en te, vão-se criando sucessivos q u adros em
extinção (regim es p ró p rio s para cenários an terio res), desigualando as pessoas, não
se reco m en d an d o , tam bém , ap resen tar fatos consum ados;
e) sujeitos da negociação — a associação de aposentados p o d e representá-los
e q u em dela não faz parte ou discorda do ajustado tem de se m anifestar expressa­
m ente em contrário;
f) aprovação da SPC — a validade ju ríd ic a só sucede após a hom ologação da
S ecretaria de P revidência C om plem entar;

C urso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1389
g) fonte form al — resoluções da patrocinadora ou do C onselho de C uradores
não têm validade; é preciso alterar o R egulam ento Básico;
h ) ren ú n cia — na fase de negociação é possível a renúncia de direitos, recla­
m ando, à evidência, representatividade, transparência, com patibilidade e outras
características desse in stitu to jurídico.
1987. P ag am en to s in d ev id o s — Se, inadvertidam ente, o fundo de pensão
paga a m ais, reajusta su p erio rm en te ao convencionado, desem bolsa acim a do d e­
vido, im põe-se a repetição do indébito por parle do percipiente do benefício,
A rotina ad m in istrativa deve prever procedim ento form alizado, in fo rm an d o ­
-se ao interessado a causa d eterm in an te do valor a m aior, com o se fará a dedução
m ensal (na falta de norm a — é rem issível a regra da previdência básica de não
ultrap assar 30% — os cálculos operados, e abrindo-se prazo para recurso interno).
D iante do equívoco m aterial, é dever do ad m in istrad o r ap u rar as causas, ten­
tar im p edir a repetição e cobrar o pago indevidam ente, m esm o na hipótese de erro
do co ncessor ou m an ten ed o r do benefício. O credor da im portância é a co m u n id a­
de, m as, claro está, se há culpa in vigilando da entidade, ela será a responsável, ca­
bendo negociar com o devedor nos lim ites do bom -senso. Inexiste, porém , direito
adq u irid o a valor obtido ou concedido p o r erro de fato ou de direito.
1988. In terv en iên cia n o INSS — As duas áreas organizacionais, básica e com ­
plem entar, relacionam -se sistem aticam ente, sob os aspectos p ráticos e ju ríd ico s, e
sua intersecçào gera questões in trin cad as e inusitadas, pouco ou n ad a sopesadas
pela d o u trin a. U m a delas, a tangência de seus contornos. O encam in h am en to se­
guinte pressu p õ e as disposições privadas vinculadas às públicas.
Q uan d o im posta com o condição, atendida a pretensão do segurado pelo INSS,
deve ser deferida a prestação co m p lem en tar correspondente. Trata-se de condição
(requisito) extrarrelação jurídica entre o participante e o fundo de pensão, com
im plicações externas.
C ada E statuto Social e R egulam ento Básico dos fundos de pensão co n tem ­
plam regras p ró p rias para os diferentes benefícios. O s parâm etros nem sem pre
coincidem com os do RGPS, sendo, p o r isso, com um os aposentados terem de
esperar para cu m p rir a carência, tem po de serviço ou idade m ínim a.
Às vezes, en tretan to , a falta de sin to n ia diz respeito às condições exigidas para
a obtenção do benefício. Isso, exem plificativam ente, no en ten d e r da entidade, o
segurado percipiente de aposentadoria p o r invalidez estar apto para o trabalho
ou não ser válida a prova do tem po de serviço apresentada ao órgão gestor oficial
(m atéria de fato) ou, ainda, discordar da interpretação dada à disciplina do tem a
(questão de direito).
Existe in stru m en to de ação por parte da EFPC, caso não se conform e com a
instrução ou a decisão do INSS, em m atéria de fato ou jurídica. Tem-se configurado
com o terceiro interessado econôm ica e juridicam ente no pedido inicial do segurado/
participante, em seu recurso adm inistrativo ou, am plam ente, n a pendência judicial.

C u rso d f D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1390 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Em seus arts. 56/61, o C ódigo de Processo Civil (Lei n. 5.869/1973) regra a
presença de terceiro, designado com o opoente, no processo judicial: “Q uem p re­
tender, n o todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e
réu , poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra am bos" (art. 56).
O texto rep ro d u zid o reporta-se a direito adjetivo, q u an d o presente dissídio,
m as não im pede, p o r analogia, aproveitá-lo no direito procedim ental, m esm o co n ­
firm ados o pedido e a concessão, ou seja, com ou sem área de controvérsia.
N ão ob stan te a divergência, se a concessão do ente autárquico é regular e le­
gítim a, é obrigação da EFPC conceder e m an ter a com plem entação, en q u an to nào
se resolve a pendência. Q uestões com o concorrência esposa/com panheira podem
se arrastar ad m in istrativa e ju d icialm en te p o r m u ito s anos, o m esm o valendo para
problem as de reaju stam ento de benefícios.
E m bora m ais fácil, não é recom endável d eixar a questão apenas p o r conta do
INSS, con v in d o aprofundá-la.
1989. C lá u su la e x p u lsó ria — A liberdade de co n tratar (ou de ser obrigado a
ad erir), bem com o a possibilidade de alterar as n o rm as avençadas, no D ireito do
Trabalho e no cam po da previdência co m p lem en tar — no m ais su bm etida às regras
do D ireito Privado — , não é absoluta. D escabe-lhe, em especial, ofender os p rin ­
cípios constitu cio n ais, em particular o desejo de trabalhar e o direito adquirido.
C láusulas conv en cio nadas co n trárias a esses p o stulados inexistem ju rid icam en te,
não p ro d u z in d o efeitos práticos ou ju ríd ico s.
P reenchidos os requisitos legais, o particip an te tem direito ao benefício, p o ­
dendo ex ercitar essa faculdade q uando lhe aprouver, assum indo os prejuízos ine­
rentes ao dormientibus non su curritjus (perda de certas m ensalidades, m as não do
direito ao benefício).
Da m esm a form a, a solicitação da prestação previdenciária básica não rom pe
o co n trato dc trabalho, se ausente vontade, livre e consciente, de ro m p er o vínculo
em pregatício.
D ispositivo co n tid o em R egulam ento Básico reg ran d o sobre a p erda total ou
parcial do b en efício q u an d o da re u n iã o dos re q u isito s im p o n d o , d estarte, o seu
re q u erim en to (h av en d o ou n ão afastam en to do tra b a lh o ), significa violação ao
direito a d q u irid o . Pior, se o m ecanism o for u tiliza d o à guisa de estím u lo forçado
ao ro m p im en to do c o n tra to de trab alh o , com o condição p ara a utilização do
benefício.
N esse sen tid o , a cham ada cláusula expulsória, com o ficou conhecida, é n iti­
d am en te co n trária ao espírito da lei co m p lem en tar e seu sistem a. À m esm a co n clu ­
são chegou a C o n su lto ria Ju ríd ica do MPS (P arecer CJ/MPAS n. 31, de 4.7.1979).
1990. C an ce lam en to do ben efício — P ouco se escreveu no D ireito P reviden­
ciário a respeito da desaposentação, isto é, sobre a possibilidade de cancelam ento
do ped id o ou da concessão da aposentadoria, abo rtan d o -a no início ou m esm o
d u ra n te sua m an u ten ção.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o Í V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1391
Inicialm ente pensa-se na im possibilidade adm inistrativa, m as existem deci­
sões contrárias.
Além dos Pareceres CJ/MPAS n. 27/1986, Cj/M TPS n. 073/1991, CJ/MPS n.
180/1993 (in RPS n. 157/1003), a adm inistração gestora do RGPS estendeu-se so­
bre o assu n to , d eterm in an d o na C ircular n. 601.005.0/138/1986: “a) o segurado
que estiver em gozo de abono de p erm an ên cia em serviço e p re te n d er aposentar
com o funcionário pú b lico federal, estadual ou m unicipal, sendo necessário com ­
pletar o tem po de serviço para ap o sen tad o ria estatutária com o prazo privado,
poderá requerer o cancelam ento do abono e a expedição de certidão de tem po de
serviço, nos term os da Lei n. 6.226, de 14 de ju lh o de 1975”.
Além de in ú m eras decisões das JR e das CAj do CRPS, no Parecer CJ/MPAS n.
70/1985, o P ro cu rad o r R onaldo Maia M arcos op in o u pelo cancelam ento da ap o ­
sentadoria de M aria do C arm o Peres dos Santos.
Na área da controvérsia, diz o art. 9Q da Lei n. 6.903/1981: “Ao inativo do
Tesouro N acional o u da Previdência Social que estiver no exercício do cargo de
ju iz do Trabalho e fizer ju s á aposentadoria nos term os desta Lei, é lícito o p tar pelo
benefício que m ais lhe convier, cancelando-se aquele excluído pela o p ção”.
Por m eio do Ato n. 119/1994 do TRT da 23- Região, o Ju iz M anoel Alves
C oelho obteve essa vantagem (in DOU de 10.10.1994). No DOU de 7.6.1995, a
favor de B enedito G om es F erreira, colhe-se igual decisão.
Q uer dizer, com igual finalidade, o INSS ju lg o u conveniente cancelar bene­
fício cuja concessão legítim a e regular havia sido aperfeiçoada. O pressuposto da
conclusão é a segurança atuarial e ju ríd ica do RGPS, não afetada com a renúncia.
A hipótese não co n stitu i novidade no D ireito Previdenciário.
C aracterística fu n d am ental da prestação de pagam ento co n tin u ad o , enquanto
garantia do segurado, é sua definitividade. Tida esta com o consistência do direito
e com o cristalização do seu papel e valor. C oncepção opondo-se à ideia de provi-
soriedade da prestação iaboral. Tal atrib u to é conferido com vistas na segurança
do sistem a e defesa do filiado. P reenchidos sim u ltan eam en te os requisitos legais,
requerida e deferida, enfim outorgada a prestação, ela é irreversível (pelo m enos,
em relação à vontade da seguradora).
N a LOPS ou na CLPS, e m uito m enos no PBPS, ou, ainda, na Lei n. 6.435/
1977 ou n a LBPC, em n en h u m dos seus regulam entos (ou em legislação c o n h e ­
cida), não há d isposição expressa relativa à reversão da situação ju ríd ic a de ap o ­
sen tad o para a de não aposentado. P oucas exteriorizações d o u trin ária s po d em ser
reproduzidas.
A interpretação usual do órgão gestor, calcada nos usos e costum es, é pela
negativa. O utorgado o benefício, consum a-se a relação ju ríd ic a de concessão. Legi­
tim am ente deferido, ele não se cancelará. Trata-se de ato ju ríd ic o perfeito, acabado,
irretocável e inexistiriam procedim entos adm inistrativos ou ju d iciais restabelece-
dores do estado anterior.

C urso de D ir e it o P b e v ip r n c ia r io

W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Interp elad o s, alegam os técnicos sobrevir tu m u lto adm inistrativo. Dão com o
exem plo co n creto o parágrafo único do art. 55 da CLPS, onde fixado prazo de 36
m eses p ara a seg u n d a e dem ais solicitações do pecúlio.
C o n seq u en tem en te, n ão obstante as m otivações d o pedido, recusam -se a a n u ­
lar o benefício co rretam en te despachado. Ponderável posição d ian te d o silêncio da
no rm a, ju risp ru d ê n c ia e d o u trin a, a m erecer aprofundam ento.
P ostando-se a favor do Parecer n. 27/1986, D iniz Justiniano de Santana assim
se m anifesta: “3. A d argumentandum, n ão tem sentido que a Previdência Social
u rb an a m an ten h a d u ra n te 10 (dez) anos tal aposentadoria, p ara depois cancelá-la
apenas p o r sim ples conveniência do in teressad o ”.
Ele acresce; “4. Se, nessa altura, tal situação fosse desfeita, desprezando-se
inclusive o longo tem po decorrido, estaríam os não só abrindo preced en te perigoso
com o in cen tiv an d o a instabilidade adm inistrativa, o que fugiria aos objetivos desta
C o n su lto ria Ju ríd ic a ”.
F inalm ente, arrem ata: “5. Im põe-se, assim , objetivam ente, seja cu m p rid o , no
p resente caso e o u tro s iguais ou assem elhados, o disposto n a legislação pertin en te,
no sen tid o de que ‘não pode ser contado em um regim e o tem po de serviço que já
ten h a sido co n tad o para aposentadoria de o u tro ”’.
Não há “sim p les” conveniência do aposentado; o cancelam ento p reten d id o
é direito o u não. Sendo, não há o p o rtu n ism o e, sim , exercício d a faculdade legal.
Segundo essa ótica, a tranqüilidade seria interessante para o órgão gestor...
O direito é dinâm ico e igual para todos na m esm a situação. É in o p o rtu n o falar
em p reced en te, se ele existe, há de se estendê-lo a qu em estiver na m esm a situação.
O tem po co n su m ad o , alu d id o na n o rm a referenciada, é o p e rtin e n te a b en e­
fício m an tid o . C om o cancelam ento, restituição do recebido, desfaz-se o ato ju ríd i­
co, e o tem po de serviço pode ser reutilizado. O im p o rtan te n a solução d a questão
é, nos term os da lei, não causar prejuízos à gestora, à co m u n id ad e e ao equilíbrio
do sistem a, ju íz o o p erado pelo elaborador do preceito e não pelo aplicador.
Se os apo sen tad o s e pensionistas pudessem desfazer a proteção obtida, m es­
m o em lim itadas o p o rtu n id ad es, reflexionam os co n trário s à m edida, trariam in se­
gurança à seg u rad o ra e ela se veria em lula com sobre-esforço desnecessário.
Tais arg u m en to s n ào resistem à breve análise. A adm inistração em preende ati-
vidade-m eio, e não fim; in stru m en to , ela deve servir aos segurados e não su p erp o r
seus interesses aos destes. Precisa adaptar-se às circunstâncias, n ão cabendo aos
beneficiários fazê-lo; se isso o nera os custos, quem os paga, em ú ltim a instância, é
a co m u n id ad e de segurados.
Claro, n in g u ém p ropugnaria reeditadas anulações. Bastaria estabelecer p e ­
río d o en tre dois gestos desta natureza, a ser cu m p rid o pelos interessados, com o
acontece com o exem plificado pecúlio, en q u a n to existente.
C ausa m ais p ro fu n d a desse posicio n am en to oficial (além da su rp resa do pedi­
do) reside n o fato histórico, ainda observado à risca: a previdência social foi erigida

C urso de D ir e i t o P r e v id e n c i á r i o

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
1393
pelo G overno Federal, m ais propriam ente pelos previdenciários — sem au scu ltar
os beneficiários, centros de estudos, universidades, sindicatos etc. — , e, n atu ra l­
m ente, im põe sua vontade ao interesse da clientela securitária, único m otivo de
ser, nào só do órgão gestor, com o da instituição. Dito isso sem se esquecer o fato
de estar a previdência social su bm etida à cogência da n o rm a de caráter público.
Se o legislador se tivesse m anifestado, vedando a desaposentação, estas afirm ações
perderiam sentido...
O u tra alegação, de n u ança m oral, refere-se à intenção do requerente: geral­
m ente, solicitar o u tro benefício, de m aior valor e, frequentem ente, dos cofres p ú ­
blicos. O elem ento ético é inform ador pré-jurídico do legislador; ele deve sopesá-
lo. Se a lei p erm ite, é legítim a a pretensão do interessado.
A discussão da validade científica do in stitu to ju ríd ico deve ocorrer antes da
transform ação da vontade política em norm a positivada. A Lei n. 6.226/1975 fa­
culta ao filiado ao RGPS recolher d u ra n te 30 anos, com base no salário m ínim o e,
adm itid o no serviço p ú blico, no m ais alto cargo, aposentar-se após cu m p rim en to
do período de carência de cinco anos (art. 19). Os juizes tem porários da Lei n.
6.903/1981, nas m esm as condições, ju b ilam -se sem qu alq u er apoio no cálculo a tu ­
arial, bastan d o -lh es perm anecer os cinco anos precedentes na Ju stiça do Trabalho.
Inex isten te n o rm a positivada pertin en te, cabe p erq u irir outras fontes, pers-
cru tan d o os princípios, raciocinando na esfera da filosofia e n o papel da P revidên­
cia Social.
M otivos para desfazer o ato, p o r vontade do titular, são m uitos: arrep en d i­
m ento, inadaptação à vida de aposentado, inconform idade com o valor, tran sferên ­
cia para ou tro m o m en to e, in ca su, surgim ento de o p o rtu n id ad e de ganho superior.
N ão im p o rtan d o se subjetivos ou não.
Retratação da vo n tade não é atitu d e singular; anulação de atos ju ríd ico s não
su rp reen d e a n inguém ; m odificação de situações con stitu íd as é sem pre possível,
cabível e válida; enfim , abdicar de faculdades renunciãveis é direito consagrado.
Institu içõ es antigas e sérias extinguem -se, entre elas, o casam ento.
O aperfeiçoam ento do ato adm inistrativo deflagrador da aposentadoria dá-se
com a vontade do segurado, m anifestada q u an d o do req u erim en to do benefício e
ultim ada com o afastam ento do trabalho, se exigido, fatos m ateriais exteriorizados
pelas form alidades regulam entares.
Tudo p ro d u to da volição livre e consciente do titular. Sem a intenção do b e n e ­
ficiário de aposentar-se é im possível a aposentação; explicam -se assim a assinatura
n o d o cu m en to , a pessoalidade e a intransferibilidade da providência. A exceção do
art. 51 da Lei n. 8.213/1991 (aposentadoria com pulsória) d em o n stra essa regra.
Se o desejo dá início e térm ino ao ato e é essencial à sua consecução, não pode
ser desprezado nas cogitações sobre a anulação do m esm o p o r parte do titular do
direito.
Os benefícios previdenciários concretizam a previdência social. Esta se ap re­
senta com o n o rm a p ú b lica, sendo dever do Estado — expropria a iniciativa de

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1394 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
auto p roteção do particular, por m eio da autom aticidade da filiação e conseqüente
co n trib u ição — p ô r as prestações à disposição dos beneficiários. Todavia, não pode
esse m esm o E stado im por a aposentação, restando ao arbítrio da pessoa o instante
e a decisão de fazê-lo.
E m bora ap aren tem ente frágil o raciocínio, convém argui-lo. Se não há vedação
legal para a ap o sen tação, subsiste perm issão. R ealm ente, q u an d o a n o rm a pública
p reten d e im p ed ir d eterm in ad o fato, deve discipliná-lo claram ente; a princípio, se
não está pro ib in d o , en q u a n to convier ao titu lar do direito, é p orque o adm ite.
É im prescindível p erseru tar o caráter do silêncio da regra em apreço. N o rm a­
lizaria pela eficácia ju ríd ica da norm a não positivada ou não passaria de sim ples
lacuna? Na disposição proibitiva, a om issão nem sem pre q u er d izer perm issão, e
na disposição au to rizativa nem sem pre a om issão significa vedação. Os anais da
legislação previdenciária não contêm observação a respeito e, assim , torna-se in-
cognoscível o desígnio do legislador, restando ao in térp rete, consoante o sistem a,
ten tar alcançar a mens legis.
O o rd en am en to ju ríd ic o se su b o rd in a à Carta M agna, e esta assegura a liber­
dade de trabalho, vale dizer, a de perm anecer prestando serviços o u não (até após
a aposentação).
Desse p o stu lad o fundam ental, d eílui a possibilidade de escolher o m om ento
de se ap o sen tar ou de não fazê-lo. A usente essa diretriz, o benefício previdenciário
deixaria de ser lib ertador do hom em para se transform ar no seu cárcere.
N ão p revisto n a legislação e au se n te na ju risp ru d ê n c ia , o d ireito subjetivo
à d esap o sen tação faz parte da d o u trin a , o n d e su sten tad o . O P lano de B enefícios
n ão tem d isp o sitiv o ved an d o nem a u to riz a n d o o ca n celam e n to d e benefícios
reg u larm en te co n ced id o s. A re n ú n cia de direito s d isp o n ív eis é cientificam ente
possível, co n v in d o , ap en as, em cada caso, verificar se ela não causa prejuízos a
terceiros, e, n o âm b ito da n o rm a pública, só é possível para m elh o ra r a situação
do re n u n cian te.
N o D ireito Previdenciário, subsiste o princípio da regra m ais benéfica, co n ­
sagrado na legislação, g aran tin d o a legitim idade da pretensão à m elhor situação,
e, nesse sen tid o , desejar e obter o m elhor benefício não é en riq u ecim en to ilícito.
P o rtan to , é m o ralm en te correto. Se cancelado o benefício, o efeito é, desde sua co n ­
cessão, p ara n ão provocar d anos atuariais ao RGPS, cabendo, co n seq u en tem en te,
a obrigação do re n u n cian te de restitu ir ao INSS as m ensalidades recebidas desde a
d ata do início da prestação.
Manuel Sebastião Soares Póvoas ( “P revidência P rivada”, p. 285/286), exam i­
n an d o a cessação da relação p o r inadim plência, opõe-se ã readm issão do afastado.
C ondiciona-a à v o n tade da entidade, m as a rigor esta, fora d o R egulam ento Básico,
não existe. Se o trab alh ad o r é readm itido n a p atrocinadora e restitui o resgate, nada
im pede reassu m ir a condição an terio r ou, no caso de m ora, repõe-se o atrasado.
Claro, sem pre aten d idas as exigências atuariais, respeitado o equilíbrio do plano,
sem causar prejuízos à entidade.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o ÍV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1395
Capítulo CXCIX

F o n t e s d e C u s t e io

1991. Contribuições patronais. 1992. Cotizaçôes individuais. 1993.


S u m á r io :
Rentabilidade financeira. 1994. Rendimentos patrimoniais e outras fontes.
1995. Moíius operandi da receita. 1996. Cobrança na inadimplência. 1997. Res­
ponsabilidade do administrador. 1998. Alíquotas e bases de cálculo. 1999. Dé­
bito na retirada de patrocinadora. 2000. Fato gerador da obrigação civil.

Os recursos im prescindíveis ao financiam ento das prestações com plem enla-


res, n o caso das en tid ad es fechadas, substancialm ente provêm de três fontes: a) da
p atrocinadora; b) do participante; e c) dos investim entos.
A crescem -se o u tro s m eios, de m en o r expressão, com o: o depósito prévio,
espécie de antecipação; a joia; a taxa de inscrição; taxa de retorno; subvenções; le­
gados; rendas p atrim o n iais; resultado da prestação de serviços etc. Para as abertas,
p rin cip alm en te, os dois últim os itens.
N os dois segm entos sendo relevante o obtido com as aplicações.
1991. C o n trib u iç õ e s p a tro n a is — A em presa ou as em presas (em fundo m ul-
tipatro cinad o ), do p o n to de vista pecu n iário , são as principais fom entadoras dos
m eios necessários à im plem entação dos benefícios. Em se tratan d o de estatais,
subm etidas a co n tro le rígido...
As o b rig aç õ es são c o m u n s e ex c ep cio n ais. Sobre estas ú ltim a s, art. 42,
§ 3 e, d a Lei n. 6 .4 3 5 /1 9 7 7 , rezava: “F acu lta-se às p a tro c in a d o ra s d as e n tid a ­
des fech ad as a assu n ç ão da re sp o n sa b ilid a d e de en carg o s a d ic io n a is, referen tes
a b en efício s c o n c e d id o s, re s u lta n te s de re a ju s ta m e n to s em bases su p e rio re s
às p rev istas n o s p arág ra fo s a n te rio re s, m e d ia n te o a u m e n to do p a trim ô n io lí­
q u id o , re s u lta n te de d o ação , su b v en ção o u realização do ca p ita l n ec essário à
c o b e rtu ra da reserv a c o rre sp o n d e n te , n as co n d iç õ e s estab e lecid as p elo órgão
n o rm a tiv o ” do MPS.
A ludindo rap id am ente ao dever de contribuir, o art. 42, § 4 e, determ inava a
responsabilidade: “os adm inistradores das patrocinadoras que não efetivarem re ­
gularm en te as contrib u ições a que estiverem obrigadas, n a form a dos regulam entos

C urso dl D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1396 W lc id im ir N o v a e s M a r t i n e z
dos planos de benefícios, serão solidariam ente responsáveis com os ad m in istra­
dores das entidades fechadas, no caso de liquidação extrajudicial destas, a eles se
aplicando, no que couber, as disposições do C apítulo IV desta Lei”.
Por o u tro lado, o art. 69, § l 9, do D ecreto n. 81.240/1978, na redação dada
pelo D ecreto n. 8 2 .325/1978, alude ao depósito prévio: “O fun cio n am en to da en ­
tidade fechada, a iniciar-se com a cobrança das co ntribuições dos em pregados e da
p atro cin ad o ra, deverá ser precedido de doação desta àquela de valor em dinheiro
ou em O brigações R eajustáveis do Tesouro N acional (ORTN), n u n ca inferior a
7% (sete p o r cento) da folha de salários dos participantes no ano im ediatam ente
anterior, realizada na form a que for estabelecida pelo C onselho de Previdência
C o m p lem en tar — CPC, do MPAS, a que se refere o artigo 14 deste re g u lam en to ”.
O art. 10 regra a prestação da assistência social: “Os serviços assistenciais,
especialm ente os de assistência m édica, prestados na form a do § l e do artigo 7g,
integram a participação da em presa no custeio da entidade, considerada com o par­
ticipação a diferença entre o custo dos serviços e o reem bolso das em presas resul­
tante de convênio com a entidade co m p ete n te” do SINPAS. No referido parágrafo
e no seguinte, é aclarado o ônus p ecuniário das patrocinadoras.
A co n trib u ição m ínim a é tratada no art. 11 (e m elh o r estaria inserta na lei):
“C o n sid erad o o disposto n o artigo anterior, a participação da em presa no custeio
do p lan o de benefícios da entidade não será inferior a 30% (trin ta por c e n to )”.
1992. C o lizaçó es in d iv id u a is — O participante é o segundo principal res­
ponsável pelos aportes co n d u cen tes às prestações colocadas à sua disposição. Sofre
desco n to s em sua rem uneração, d estinados ao fundo de pensão, da m esm a form a
com o se o p era a dedução para a previdência básica.
Sua participação pode ser dividida em: a) inicial adm issional (joia e taxa da
inscrição); e b) p erm anente. D eduzido da rem uneração ou desem bolsado na c o n ­
dição de inscrito, após o seu afastam ento da p atrocinadora, q u an d o observa regras
peculiares.
O m o n tan te desse valor n o curso da relação, isto é, a som a das contribuições
vertidas, corrigidas (apenas em função da perda do p o d er aquisitivo) e sem os ju ro s
ou d ividendos, acréscim os decorrentes da rentabilidade, é d en o m in ad o reserva de
poupança.
C ada R egulam ento Básico, levando em conta a condição de fu n d a d o r ou não,
daLa da inscrição ou situação particular, prescreve a m odalidade da contribuição
pessoal.
A co n trib u ição , grosso modo, é exigência sine qua non para assegurar o direito
a certas prestações.
1993. R en tab ilidade financeira — R eunidas, a contribuição da em presa e a
do em pregado, aplicadas em diferentes investim entos, invariavelm ente resultam em
dividendos. Em face do longo período de m aturação do plano e do efeito m ultipli-
cativo (dos ju ro s com postos) nos regim es de capitalização, este é pilar significativo

C u rso dc D ir e it o P re v id e n c iá rio
T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1397
nas fontes de custeio. Em pouco tem po, ultrapassa o m ontante da contribuição
pura. Capital constante m ensalizado, a 6,17% a.a. dc juros, dobra a cada 11,8 anos.
Para se ter ideia do significado dessa fração, em term os m édios, ela é re sp o n ­
sável p or cerca de 60% do capital final custeador das rendas m ensais. Nesse sen ti­
do, com as falhas de co ntribuição (desem prego), inadim plência do em pregador e
benefícios p o r incapacidade, o sistem a chileno não poderia p rosperar apenas com
10% do segurado. A principal receita provém do rendim ento.
1994. Rendimentos patrimoniais e outras fontes — Vários o u tro s m eios
propiciam recursos, convindo m en cio n ar os rendim entos patrim oniais, lucro veri­
ficado n a co m p ra e venda de im óveis e até de em presas, aluguéis etc.
Em alguns casos, em bora de m en o r expressão, o resultado da prestação de
serviços. A rigor, a fração não resgatada pelo participante tam bém é im portância
ponderável.
G eralm ente, os ES/RB preveem as diferentes form as de acréscim os, com o su b ­
venções, doações.
1995. Modijs operandi da receita — Do po n to de vista prático, a receita da
EFPC tem tudo para se realizar plenam ente, pois, convalidando a intenção de insti­
tuir e m an ter a com plem entação, a instituidora em preende os m eios indispensáveis.
Por seu tu rn o , na o p o rtu n id ad e, a exem plo das obrigações do RGPS, m ensal­
m ente deduz do trab alh ador a contribuição estabelecida no R egulam ento Básico e
encam inha-a à instituída.
U ltim ado o cálculo e operada a transferência dos valores p o r em pregados
participantes, ipso fa cto , não é necessária a fiscalização; os interessados executam -
-na no dia a dia.
Assim , tais relações m arcam -se pela cordialidade, ausente o animus jiscalizan-
di p róprio do Estado, em face dos co ntribuintes.
Dúvidas surgem m ãxim e na definição do fato gerador, m om ento de sua d e­
cantação, reclam ações trabalhistas com a patrocinad ora, conceito de m ês de com ­
petência, solvidas entre as partes, seguindo-se, na m edida do possível, a orientação
do Direito Previdenciário básico.
Dá-se exem plo com o descontãvel não descontado o p o rtu n am e n te e a res­
ponsabilidade da em pregadora, convindo dispor sobre a m atéria de forma clara no
R egulam ento Básico. No silêncio deste, vale rem issão ao art. 33, § 5S, do PCSS, m as
tam bém en ten d im en to entre as partes (em pregado/em pregador), principalm ente,
q uan d o a p atro cin ad o ra só vem a to m ar conhecim ento da obrigação p o r ocasião
do acordo, decisão ou sentença.
1996. Cobrança na inadimplência — As relações entre a entidade e a insli-
tuid o ra de fu n d o de pensão, além de am istosas por natureza, são civis. O s deveres
nascem da criação de sociedade civil ou fundação, traduzindo-se os efeitos em
prêm io de seguro a favor de terceiros, no bojo de co n trato do seguro privado.
Em algum as circunstâncias, a m an ten e d o ra recolhe apenas parte do devido
(descontado), atrasa-se ou deixa de en cam in h ar a im portância m ensal, criando-se

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1398 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
situação desconfortável do po n to de vista institu cio n al e, m u ito provavelm ente,
certa indisposição de natureza adm inistrativa. A lguns rem édios são utilizados, e n ­
trevistas entre executivos e troca de correspondên cia, prom essas não cu m p rid as e,
finalm ente, cristaliza-se a inadim plência.
N estas condições, esgotados os m eios h abituais, en q u a n to n ão caracterizado
o afastam ento da p atrocinadora (a p artir do qual é ju rid icam en te im possível a exi­
gência de m ensalidades vincendas), além de o u tras providências, é preciso encetar
a cobrança p o r via ju dicial. Todas as tentativas de acerto são válidas, pois m edidas
ex tern as agudizam as relações e po d em co n d u zir ao fim do patrocínio.
Na h ipótese de cobrança, exauridas as m odalidades adm inistrativas, cabe
ação ex ecu tó ria na ju stiça com petente.
1997. R esp o n sab ilid ad e d o a d m in is tra d o r — Dizia o art. 42, § 4Q, da Lei n.
6.435/1977: “O s ad m inistradores das patrocinadoras que não efetivarem regular­
m ente as co n trib u içõ es a que estiverem obrigadas, na form a dos regulam entos dos
p lan o s de benefícios, serão solidariam ente responsáveis com os adm inistradores
das en tid ad es fechadas, n o caso de liquidação ex trajudicial destas, a eles se ap li­
cando, no q u e couber, as disposições do C apítulo IV desta Lei”.
A m an ten e d o ra tem o direito e o dever de supervisionar a EFPC , nos term os
da lei, Por isso, p articipa da elaboração de seus atos con stitu tiv o s e, assim , arca com
obrigações civis para com ela. Na hipótese de liquidação extrajudicial, o co n d u to r
da p atro cin ad o ra, ju n ta m e n te com o da gestora, é responsabilizado pela m ora.
A d isposição é quase letra m orta; m elh o r seria m ultá-lo o u obstar-lhe o exer­
cício (en fren tan d o as dificuldades constitucionais; pelo m enos obrigá-lo-ia a dis­
c u tir na ju stiç a), pois n u n ca o seu patrim ônio pessoal será suficiente para resolver
a “re sp o n sab ilid ad e” fixada pela lei.
O legislador deveria ter se utilizado do artigo para regulam entar a in ad im ­
plência da p atro cin adora e dispor na hipótese de não liquidação.
1998. A líq u o tas e b ase s d e cálculo — A LC n. 109/2001 não tem regras sobre
a base de cálculo nem sobre as alíquotas de contribuição. N ão deveria ter, não é
tem a para lei, e sim para decreto.
N o art. 31, VI, do Decreto n. 81.240/1978, há m enção aos “salários de co n tri­
bu ição à previdência social”. R em uneração inferior a 50% do lim ite, a alíquota p re­
vista é de 3%; de 50% até o dito teto, de 5%, atingindo o m ínim o 7% em relação ao
excedente do teto da contribuição de previdência básica (em 2013, de R$ 4.159,00).
D essa form a, a base de cálcu lo é a m esm a d esc rita no art. 28 do Plano de
C usteio e O rganização da Seguridade Social, rem etendo às ideias de definição do sa­
lário de co n trib u ição . A lgum as referências à rem uneração confirm am esse e n te n d i­
m en to e ele se co ad u na com a natureza su b stilu id o ra dos ingressos d o trabalhador,
1999. D éb ito n a re tira d a d e p atro c in a d o ra — Repete-se, retirada de patroci­
n ad o ra é m atéria com plexa, não regrada nem sistem atizada no segm ento fechado.
A ABRAPP prom oveu vários estudos, entre os quais o efetuado pela C om issão

C u r s o d e D ir t :i t o P R n vrD H N C iA iuo
T o m o I V — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n ta r 1399
“R etirada de P atro cin adora”, em o u tu b ro de 1991. No m esm o ano, a F undação
CERES p atro cin o u pesquisa sob o títu lo “E xtinção de P atrocinadoras”. O G rupo
de AIlo Nível, liderado p o r N ew ton C esar C onde e Flávia Thais F G erm ignani,
elaborou pesquisa sob o título “R etirada de p atrocinadora, liquidação, intervenção
e Diretoria Fiscal em E FPP”, em jan eiro de 1992.
Os ensaios idealizam as conclusões, quase todos eles im pondo com o condi­
ção o cu m p rim en to das obrigações previstas, isto é, reservas técnicas necessárias
ao aten d im en to dos benefícios em curso (em alguns casos, até das vincendas),
m as o afastam ento da patrocinadora geralm ente se dá p o r m otivos econôm ico-
-financeiros, e as garantias ju ríd icas n em sem pre são válidas (principalm ente, se o
patrim ô n io da in stitu íd o ra desaparece do m u n d o de negócios).
Im porta, na p rim eira análise da tentativa de recuperação do crédito da en tid a­
de, no caso da u n ip atro cinada, o exam e do contraio (E statuto Social e R egulam en­
to Básico) e do convênio de adesão, q uando do m ultipalrocínio. Isto é, verificar o
convencionado entre as partes. A p artir daí, a discussão do crédito. Provavelm ente,
no P oder Judiciário.
Nem todos os regulam entos básicos têm respeitado este preceito, preferindo
fixar a sua p rópria descrição de base de cálculo. Na verdade, a infringência tem
sido relegada com o an acronism o do sistem a, a ser superado.
Não é m otivo para auditoria, fiscalização ou intervenção, pois os m aiores in te­
ressados (em pregado-em pregador) póem -se de acordo. Discussão individual, na hi­
pótese de a norm a regulam entar (nem lei é) ser su p erio r à cláusula avençada, à vista
da contratualidade do sistem a, provavelm ente vai p e n d e r para o convencionado.
2000. F ato g e rad o r d a obrigação civil — A p atrocinadora — em relação ao
participante, e em face do fundo de pensão — atende a duas ordens de obrigações:
principais e acessórias.
P rincipalm ente, a de descontar da rem uneração do trabalhador o valor da
con tribuição e desem bolsar a parte patronal, entregando a som a das duas im por­
tâncias m ensalm ente à tesouraria da entidade gestora. A cessoriam enle, prestar in­
form ações sobre o obreiro, a base de cálculo e, de m odo geral, sobre a hipótese de
incidência da obrigação civil.
O fato g erador m ediato é a necessidade de atender à obrigação instituída com
a entidade, em m o n tan te suficiente para, ju n ta m e n te com a do participante, e a
rentabilidade das aplicações, custear as despesas com os benefícios.
No referente ao segurado, o fato gerador im ediato é o direito, o crédito ou o
pagam ento de rem u neração do em pregado, aproveitando, no cabível, e observados
os lim ites p róprios, todas as regras da hipótese de incidência da previdência básica.
Assim, desdobra-se em três círculos concêntricos: a) o m aior deles — direito
à im portância, creditada e paga o u não; b) o interm ediário — direito creditado
contábil ou ju rid icam en te, ainda n ão efetivam ente incorporado ao p atrim ônio do
trabalhador (em bolsado ou depositado); e c) o m en o r — o pagam ento, isto é, o
desem bolso do valor.

C u rs o d e D ire ito P r e v id e n c iá r io

1400 W l a d im i r N o v a e s M a r ti n e z
Capítulo CC

P r est a ç õ es P r e v id e n c iá r ia s

S u m a r i o : 2001. Natureza e papel. 2002. Classificação dos benefícios. 2003. Re­


quisitos regulamentares. 2004. Período básico de cálculo. 2005. Salário real
de participação. 2006. Atualização monetária. 2007. Salário real de benefício.
2008. Coeficientes do salário real de benefício. 2009. Renda mensal inicial.
2010. Liquido a receber.

Prestações são a razão de ser da previdência social, básica ou com plem entar.
Elas co n stitu em a atividade-fim , co m p reen d en d o interpretação extensiva, cujo fi­
n an ciam en to é a atividade-m eio, onde válida a exegese restritiva. Por isso, ap ro ­
veitam os elem entos fundam entais dos benefícios e serviços estatais, enfatizados
os d eco rren tes da subm issão ao direito privado.
N atu ralm en te, ocupam respeitável espaço na legislação e, principalm ente,
nos reg u lam en to s básicos, pois ali estão definidos os principais direitos do p arti­
cipante. Sofrem, co n sequentem ente, influência incisiva do D ireito Previdenciário.
2001. Natureza e papel — D erivada da principal, a prestação com plem entar
acessória, no m ínim o, possui a m esm a essência da básica: ser su b stitu id o ra co n tí­
n u a dos m eios de su bsistência do trab alh ad o r — direito assegurado em razão da
inscrição, participação no segm ento, com observância de suas regras (p reen ch i­
m ento dos p ressu p o stos) e, p rincipalm ente, exigindo as cotizações necessárias.
Sua função é garantir a m anutenção do ser h u m an o , em parte provida pela
prestação básica, ou oferecer padrão de vida, o m ais pró x im o possível do obtido
q u an d o em atividade.
O caráter su b stitu tiv o da prestação com plem entar, com o sucede na previdên­
cia básica (o n d e rom pe o vínculo do ingresso obtido na atividade e uniform iza-se
com a essência da ap osentadoria), não pode ilu d ir o in térp rete a p o n to de estabe­
lecer relação direta com a rem uneração, m esm o na hipótese de o plano co n tem ­
plar igualdade de nível — isto é, assegurar valor co rresp o n d en te ao auferido pelos
ativos.
A ltera-se, sub stancialm ente, a natureza do direito. Na prim eira hipótese, é
retrib u ição p o r serviços prestados defluente do co n traio de trabalho (ou exercício

C u rs o d e D ire ito P r e v id e n c iá r io

T o m o ÍV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1401
de atividade) e, na segunda, sem prejuízo da concepção de salário diferido, é p re s­
tação previdenciária não retributiva, nascida da relação ju ríd ica estabelecida com
a entidade, e não com o em pregador.
Assim, referindo-se à essência do valor e não à sua dim ensão (pode haver
vínculo financeiro e ju ríd ico com a rem uneração do trabalhador), a aposentadoria
ou com plem entação da m esm a é im portância única, não decom ponível, pouca re­
lação g u ardando com as parcelas da retribuição do trabalhador. Se ele se aposentou
q u an d o recebia salário (x) e horas extras (y), o total (z) será o u nào a expressão p e­
cuniária da aposentadoria. In d e p en d en tem e n te dessa adição, no curso da relação
de inativo, observar o m esm o padrão dos colegas em atividade, não representarão
salários nem h o ras extras direitos de em pregado.
A crescer co nquistas de trabalhadores aos aposenLados, na lei ou no regula­
m ento, com o sucede com o servidor público civil e m ilitar, é d e sn a tu rar a ordem
previdenciária e gerar dificuldades de aplicação.
Na interpretação do reajustam ento das com plem entações, salvo claríssim a
cláusula em co n trário , é preciso levar em conta a d istin ta natureza dos ingressos
dos ativos e inativos, sem n en h u m prejuízo para a validade de regras, m antendo o
nível de valor, um a das conquistas do sistem a de com plem entação,
2 002. Classificação dos benefícios — A Lei n. 6.435/1977 relacionava b en e­
fícios m ínim os, o u tro s poderão ser concebidos pela convenção, depois de aprova­
dos pela então SPC. A LBPC silencia a respeito.
P rogram ados, isto é, previsíveis, o pecúlio dos p articipantes e a com plem enta­
ção das aposentadorias p o r tem po de serviço, especial e p o r idade e do abono anual
dos assistidos ou d ependentes.
Não program ados, em m aior núm ero: com plem entação do auxílio-doença,
aposentadoria p o r invalidez, salário-fam ilia, salário-m aternidade, auxílio-funeral,
pensão p o r m orte, auxílio-reclusão e pecúlio dos dependentes.
Resgate, vesíing, rateio após a extinção da entidade não são pro p riam en te
considerados benefícios, mas valores devidos aos participantes.
A classificação é didática, convindo ao desenho atuarial do plano, m as in ­
teressando ju rid icam en te, especialm ente no tocante à prescrição. À exceção do
pecúlio, os dem ais previsíveis são de pagam ento co n tin u ad o e reclam am norm as
específicas.
2 003. Requisitos regulamentares — A exem plo da Lei Básica da Previdência
Social, de m odo geral (alguns regulam entos dispõem diferentem ente), só tem di­
reito à com plem entação qu em p reen ch e os requisitos legais, Estes, em m aior n ú ­
mero: a) q ualidade de participante; b) período de carência; c) evento determ inante;
d) concessão do benefício oficial; e) afastam ento do trabalho.
a) Qualidade de participante: Em seu art. 21, VII, a Lei n. 6.435/1977 obrigava
a existência de regras sobre a perda da qualidade de participante (corresponden-

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1402 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
do à ideia da qualidade de segurado do art. 15 do PBPS, rem issível q u an d o não
co n flitante com o sistem a). O art. 20, VII, do D ecreto n. 81.240/1978, falando em
“causas ou co n d içõ es”, repete esse dever.
A aquisição da qualidade de participante dá-se com a aprovação da inscrição
na en tidade. N ão necessariam ente n a data do início das atividades na em pregadora,
mas p o r ocasião da opção do interessado. Data constante do protocolo do requeri­
m ento da inscrição. Assim, a hom ologação opera-se retroativam ente.
P reservando-se o vínculo em pregatício, m antém -se a qualidade de p articip an ­
te todo o tem po. E até após, em algum as circunstâncias.
O exato in stan te da aquisição da qualidade é fundam ental, com vistas nas
prestações p o r incapacidade com um ou acidentaria. Pode dar-se de, n o curso do
en cam in h am en to ad m inistrativo do pedido de inscrição e antes de sua h o m o lo ­
gação (já trab alh an d o com o em pregado na em presa e, p o rtan to , com direito às
prestações p ró p rias do INSS), caracterizar-se o evento determ inante.
Seu surgim ento, requisito fundam ental para a elegibilidade do direito, dá-se
q u an d o do aperfeiçoam ento do ato adm inistrativo de aprovação do pedido. Mas, se
o req u erim en to aten d e a todas as regras da m atéria, a in terpretação deve ser dada
no sen tid o favorável ao requerente. Inscrição, com vistas à qualidade de segurado,
interp reta-se de form a benéfica ao trabalhador.
P erder a qualidade de participante pode o co rrer p o r variados m otivos, como:
a) ro m p im en to do co n trato de trabalho com a patrocinadora; b) percepção de
benefício básico p o r incapacidade, sem direito ao com plem entar; c) extinção da
entidade; d) ped id o do interessado; e e) nas diferentes form as previstas em cada
R egulam ento Básico.
A lei fu n d am en tal não fala em período de graça, p o d en d o , ouvido o atuário,
cada reg u lam en to d ispor livrem ente. A Resolução CNSP n. 10/1983, em seu item
99.1, prevê a p o ssibilidade de inadim plência, no segm ento aberto, p o r três m eses
(C C b de 1916, art. 1.450).
A C ircular SUSEP n. 53/1984 vedava às EAPC “estabelecer com o condição de
su sp en são de co b ertu ra dos benefícios ou de cancelam ento do co n trato o eventual
p ag am en to de co n trib u içõ es fora de o rd em ”.
Os diferentes regulam entos básicos (possivelm ente pensando m ais em quem
se afastou da p atro cin ad o ra) fixam esses m esm os três m eses de garantia, após os
quais ocorre a perda da qualidade de segurado. Não distin g u in d o , caso, p o r equí­
voco, a p atro cin ad o ra deixe de d esco n tar da rem uneração, não há de se e n ten d e r
configurada a vontade do afastam ento. Esta, tanto q u an to a de adm issão, há de ser
m anifestada sem pre p o r escrito.
b) Período de carência: O período de carência não é fixado pela legislação, fi­
cando a critério de cada entidade convencioná-lo. Varia desde padrões p ró p rio s até
a cópia do RGPS, não p o d en d o ser inferior aos prazos deste, pois conform e o art. 9 e
do D ecreto n. 81.240/1978: “O s benefícios in stitu íd o s pelos planos das entidades

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e \ i d ê n c i a C o m p l e m e n ta r
ficam sujeitos aos perío dos de carência dos benefícios de que são com plem entares
na previdência social, sem prejuízo dos períodos que forem estipulados pelos p ró ­
prios planos, desde que não inferiores àqueles”.
A R esolução CPC n. 02/1980 dispõe no m esm o sentido dessa subordinação.
G eralm ente, os regulam entos básicos não regram os períodos de não inscri­
ção, p ressu p o n d o a p erm anência do trabalhador na patrocinadora até a h o ra da
aposentação, m as isso nem sem pre acontece e pode ocorrer de ele afastar-se da e n ­
tidade e retornar. Se repõe o levantado e não causa prejuízo financeiro ou atuarial
ao sistem a, não há p o r que ter de retom ar o período da carência.
O sistem a perde p o r inexistir regra de superdireito, ou seja, com ando aplicá­
vel à transferência do p articip an te de um a para outra EFPC, p articularm ente sob
o tem a do p erío d o de carência. É preciso pensar em regrar a portabilidade, não só
dos recursos, m as dos direitos adquiridos ou em fase de aquisição, em relação aos
diferentes fundos de pensão.
Além de im plícito o período de carência do RGPS, os regulam entos básicos
fixam outras duas carências paralelas: a) tem po de perm anência n a patrocinadora;
e b) tem po de inscrição na entidade. A justada, a regra é válida, não interferindo
com ela o fato de a previdência básica exigir requisitos m enores ou até dispensar
esse nú m ero m ínim o de contribuições.
c) Evento determinante: Exceto para as prestações não contem pladas no RGPS,
o conceito de evento d eterm in an te perde expressão n a previdência supletiva diante
de sua subsidiaridade à básica.
São as m esm as contingências ali previstas: gravidez (salário-m aternidade),
parto (au x ílio-natalidade), educação (salário-fam ília), incapacidade (auxílio-do­
ença), invalidez (ap o sentadoria p o r invalidez), tem po de serviço (aposentadorias
p o r tem po de co n trib u ição e especial), idade avançada (aposentadoria p o r idade),
N atal (abono an u al), m orte, ausência ou desaparecim ento (pensão p o r m orte e
auxílio-funeral), prisão (auxílio-reclusão), com o dito, além de outros, próprios do
sistem a e de cada entidade.
O au x ílio-nupciaiidade tem com o fato deflagrador o casam ento civil do par­
ticipante. A prova faz-se com a certidão. C onsequentem ente, se diferente não for
disposto, não deflagra o direito o m atrim ônio canônico ou a união estável, em bora
as pessoas envolvidas façam ju s à pensão p o r m orte ou auxílio-reclusão.
A subsidiaridade não obsta o direito da entidade de verificar a presença do
evento d eterm in an te. A concessão do benefício oficial guarda presunção relativa.
Pelo reforço de prova ou interveniência, o fundo de pensão pode aprofundar-se
na apuração. Não está im pedido de su b m eter o segurado a exam e m édico pericial,
nos casos de auxílio-doença ou aposentadoria p o r invalidez. Pode perfeitam ente
dispor, no R egulam ento Básico, sobre a inexistência de direito a esses benefícios
para q uem ingressar incapaz para o trabalho.
Diz a Súm ula STF n. 105: “Salvo se tiver sido prem editado, o suicídio do
segurado no p erío d o co n tra tu al de carência não exim e o segurador do pagam ento
do seg u ro ”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1404 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
A p a r de o u tras sú m u las sobre o assunto, esta dispõe sobre a obrigatoriedade
de aten d im en to do evento deflagrador, provavelm ente, q u eren d o dizer após ven­
cido o p erío d o de carência e não no seu curso. A dem ais, a n o rm a destina-se ao
seguro privado, pois o direito à prestação previdenciária dos d ep e n d en tes n ada tem
a ver com o co m p o rtam en to do segurado/participante.
d) Concessão do benefício oficial: C ondição definidora da su b sid iarid ad e do
sistem a consistia em só ser possível o deferim ento do benefício co m p lem en tad o
q u an d o d em o n strad a a existência do básico. D esapareceu com a LBPC. N ão bas­
tava ter direito, reu n ião dos pressupostos legais ou co n tratu ais, era preciso o bter a
prestação ju n to ao órgão oficial.
V erdadeiram ente, tratava-se de sujeição h isto ricam en te convencionada, p o ­
den d o desaparecer com a individualização do sistem a, o u do co n trato , to rn ad o
au tô n o m o em relação ao básico.
Tal condição n ão im pedia o protocolo e a in stru ção do pro ced im en to adm i­
nistrativo, en q u a n to se aguarda a solução da au tarq u ia federal.
e) Afastam ento do trabalho: F req u en tem en te, os regulam entos exigem o des­
ligam ento do em pregado em relação à p atrocinadora, p ara fazer ju s ao benefício
adicional.
Às vezes, confiando na legislação oficial, o elab o rad o r d o regulam ento da
en tidade, em vez de d isciplinar essa contingência, prefere d eix ar p o r conta d a re­
m issão à n o rm a estatal. Esta, porém , su bm etida a outras in ju n çõ es, em alguns
m o m en to s d isp en sa a rescisão co n tra tu al para conceder as aposentadorias. N esse
caso, não h avendo previsão co n tratu al, m as d ep endência em relação à concessão
do benefício p rin cip al, só resta o deferim ento da pretensão do acessório.
2004. P erío d o básico d e cálculo — O período básico de cálculo é lapso de
tem po, de 12 m eses, anteriores ao afastam ento do trabalho.
A lei e o regulam ento são om issos a respeito das várias possibilidades e a re­
m issão à Lei n. 8.213/1991 e ao D ecreto n. 611/1992 é perigosa, dian te da diferença
entre os p erío d o s da previdência básica e da com plem entar. Para se ter ideia, em
1996, era três vezes m aior e pensava-se em am pliá-lo. C om a Lei n. 9.876/1996 d e­
saparecem os 36 m eses e ele passou a ser todo o período co n trib u tiv o desde ju lh o
de 1994 (Lei n. 9.876/1999).
A lgum as con clu sões são possíveis n o silêncio do R egulam ento Básico. Se n u m
lapso de tem po o seg urado/participante esteve em gozo de auxílio-doença o u ap o ­
sen tad o ria p o r invalidez, licença não rem u n erad a o u requisição, isto é, nas qu atro
hipóteses sem estar co n trib u in d o e, p o rtan to , sem salário real de participação, é
preciso su b stitu í-lo em cada caso. Nas circunstâncias dos benefícios p o r incapaci­
dade o v alo r destes, oficial e particular, podem prestar ao cálculo; nos dois casos
finais, recua-se no tem po para alcançar os 12 meses.
2 005. S alário real d e p a rtic ip a ç ã o — Salário de participação o u salário real
de co n trib u ição é locução designativa da base de cálculo do benefício com plem en­
tar, co rresp o n d en te ao salário de contribuição do RGPS.

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
Diz respeito às im portâncias devidas ao trabalhador em razão do co n trato de
trabalho, isto é, sua retribuição pelos serviços prestados e o u tras rubricas co m p o ­
nentes da base de cálculo.
A Lei n, 6.435/1977 e o D ecreto n. 81,240/1978 nào tin h am conceito expresso
de base de cálculo da contribuição e, co n sequentem ente, para efeito de determ i­
nação da m édia (em bora possa ser inferida dessas duas norm as). O legislador e o
ad m in istrad o r passaram céleres pelo lem a, porém , deixaram algum as pegadas, a
seguir exam inadas. É preciso estu d ar a com petência dos regulam entos básicos e
saber se eles podem in clu ir ou excluir certas parcelas laborais devidas, creditadas
ou recebidas pelo trab alhador na patrocinadora.
A redação do art. 42, § 5S, da Lei n. 6.435/1977 , dada pela Lei n. 6.462/1977,
falava em “m édia das rem u n eraçõ es sobre as quais in cid irem as co n trib u içõ e s
p ara a p rev id ên cia p riv a d a ”, ap a ren tem e n te elegendo a re m u n e raç ão laborai
com o a d ita m edida do fato gerador. A co m p an h aria a co rren te da previdência
básica, É percep tív el ter regrado ser a m édia das re m u n e raç õ es, sem d izer serem
elas. O vín cu lo firm em ente fixado é: a m esm a base de cálculo da co n trib u içã o
será a do benefício.
Q u an d o parecia ser igual a descrição do art. 28 do PCSS, o arl. 31, IV, do
D ecreto n. 81.240/1978, tratando da aposentadoria p o r tem po de serviço, criou
confusão ao alu d ir a “um a rem uneração não su p erio r a 3 (três) vezes o teto estabe­
lecido para as con trib u ições de previdência social”. Alguns enten d eram ser esse o
lim ite do benefício e o u tros, o teto da base de cálculo da contribuição. Só pode ser
a segunda versão, pois não p o d eria o decreto su b stitu ir a palavra “b enefício” p o r
rem uneração num a lei previdenciária.
No seu art. 31, VI, alc, o m esm o decreto m enciona seguidam ente a palavra
“rem u n eração ”, servindo para a fixação das três alíquotas.
Os atuários ten taram criar vocábulos novos. Rio Nogueira propôs salário de
participação, e Jessé Montello preferiu salário real de contribuição, am bos pensando
d istin g u ir do salário de contribuição do RGPS. N este trabalho, foi adotado o salário
real de participação.
Em su m a, e n q u a n to vigente a su b sid ia rid a d e da prev id ên cia co m p le m e n ta r
à básica, da co m p le m e n ta rid a d e de suas p restaçõ es, da n a tu re z a su b stitu tiv a
d o b en efício su p letiv o e das in ú m era s referên cias d a lei, o salário real de p ar­
ticip ação é a re m u n e raç ão do trabalhador. À evidência, devida, cred itad a ou
desem bolsada.
Não podem os regulam entos básicos excluírem parcelas rem uneratórias, nem
incluírem não re m u n erató rias (ressarcitórias ou in denizatórias). A liberdade de
convenção esbarra nos lim ites da lei.
O conceito é am plíssim o e sobre ele discorrem os ( “N ovas C ontribuições na
Seguridade Social”). Deve gerar divergências de opiniões q u an d o da contribuição
e do benefício, sendo, in casu, válidas rem issões ao D ireito Previdenciário com um .

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1406 W la c fim ir N o v a e s M a r t i n e z
Q u an d o do afastam ento do trabalhador da patrocinadora, m as não da en tid a­
de, é preciso definir-se a m edida da hipótese de incidência su bsequente. Perde a
natureza laborat e assum e a de ficção financeira, convindo, a par, regrar os critérios
de sua atualização.
Se o p articip an te teve reduzida a sua rem uneração, p o r q u alq u er m otivo, ele
pod erá m an ter a base de cálculo da contribuição ten d o em vista benefícios (art.
23, § 2a, do D ecreto n. 81.240/1978), em regra típica do segm ento co m p lem en tar
(e in ex isten te n a básica).
Caso a perda seja total, e se exerceu o cargo pelo m enos d u ra n te 36 m eses,
poderá con serv ar a base de cálculo (art. 23, § 3e). A lei fala em p erd a apenas parcial
(art. 42, § 79), m as o Decreto n. 81.240/1978 esten deu a regra à perda total.
P ensando nas prestações dos dependentes, para fins de cálculo da pensão por
m orte é consid erad o o m esm o salário real de participação (falecim ento d u ra n te a
atividade) o u valor do benefício recebido (quando na inatividade).
Com a com p lem entação do abono anual, geralm ente, o décim o terceiro salá­
rio não faz parte do conceito reg u lam en tar de salário real de participação.
Os reg u lam en to s básicos podem dispor e, em alguns casos, prescrevem sobre
au m en to s reais aco ntecidos d u ra n te certo lapso de tem po, an terio r à concessão do
benelício, não ju stificad o s ã luz de critérios previam ente estabelecidos.
2 0 0 6 . A tu alização m o n e tá ria — A correção m onetária dos salários reais de
participação (e, q u an d o m an tid o o benefício, o das rendas da com plem entação) é
área controversa no segm ento fechado. P odendo dispor livrem ente sobre o assu n ­
to, respeitadas as regras do MPS, cada entidade escolhe o seu critério e daí sobre­
vêm dificuldades co n tratu ais, pois a norm a constitucional sobre a atualização dos
valores dos salários de contribuição diz respeito tão som ente ao RGPS.
E m seu art. 42, § 1-, a Lei n. 6.435/1977 fixava os com andos da atualização
m onetária: “P ara efeito de revisão dos valores dos benefícios, deverão as entidades
observar as condições que forem estipuladas pelo órgão norm ativo do M inistério
da Previdência e A ssistência Social, baseadas nos índices de variação do valor n o ­
m inal atualizado das O brigações Reajustáveis do Tesouro N acional — ORTN”.
A seguir, acresce: “A dm itir-se-ã cláusula de correção dos benefícios diversa da
de ORTN, baseada em variação coletiva dos salários, nas condições estabelecidas
pelo órgão norm ativ o do M inistério da P revidência e A ssistência Social” (art. 2e).
2 0 0 7 . S alário real de benefício — A definição da renda inicial depende do
salário real de benefício.
É a m édia dos salários reais de participação co m p reen d id o s no período básico
de cálculo. Da m esm a form a, a descrição dessa im p ortância varia de entid ad e para
entidade.
Não há a figura legal de valor m ínim o, em bora alguns fu n d o s de pensão c o n ­
tem plem a hipótese em seus regulam entos básicos, com vistas na aceitação do
plano.

C u rso de D ir e it o F r e v id e n c m Ar io
T om o IV — P re v id ê n c ia C o m p le m e n ta r 1407
2008. Coeficientes do salário real de benefício — O u tra instituição a cargo
da convenção é a d eterm inação dos coeficientes aplicáveis ao salário real de b en e­
fício. G eralm ente, ouvido o atuário, os regulam entos partem de coeficientes ofi­
ciais, havendo variações entre eles.
No caso da ap o sen tad o ria p o r tem po de serviço, a parte básica segue os 70%
da CLPS ou os 80% do Plano de Benefícios, acrescentando-se diferentes percen­
tuais a cada 12 m eses, após os 30 anos de serviço.
2009. Renda mensal inicial — R enda m ensal inicial ou valor do benefício
supletivo é im portância convencionada em cada regulam ento, p o dendo ser im ple­
m entada, su p lem en tad a ou com plem entada. O bserva valores m ínim o e m áxim o,
conform e cada situação.
à) Renda mensal m ínim a: D iferentem ente do RGPS, e p ensando no próprio
conceito (salário m ín im o e renda m ínim a), inexiste, no segm ento fechado, a ideia
de benefício m ínim o im posto pela legislação, p o d en d o o regulam ento dispor livre­
m ente sobre o assunto. F req u en tem en te, adota o salário m ínim o.
b) Renda mensal máxima: O D ecreto n. 81.240/1978 tem regras a respeito, es­
tip u lan d o o m áxim o em cada caso. Para a com plem entação do auxílio-doença, é a
m édia da rem u neração recebida no período básico de cálculo. Na hipótese da apo­
sen tad o ria p o r tem po de serviço, três vezes o lim ite do salário de contribuição do
RGPS, em 2002, de R$ 1.561,56 x 3 = R$ 4.684,68. E para o pecúlio, não poderia
u h rap assar R$ 1.561,56 x 40 = R$ 62.462,40 (art. 31), n ú m ero s de ju n h o de 2002.
2010. Líquido a receber — A renda m ensal inicial não é a im portância a ser
em bolsada pelo p articipante, pois, em algum as hipóteses, são feitos descontos.
Sào previstos p ercentuais incidentes sobre a renda m ensal inicial, com vistas
ao próprio benefício ou à pensão por m orte. Aqui incluído algum seguro de vida
em grupo.
A legislação tam bém prevê retenção do Im posto de Renda.
A pensão alim entícia é o u tra dedução perm itida, bem com o os em préstim os,
o valor da assistência m édica q u an d o subsidiada e a referente às associações ou
clubes.

C u r s o dk D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1408 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CCI

B e n e f íc io s em E s péc ie

S u m á r io : 2011. Auxílio-doença. 2012. Aposentadoria por invalidez. 2013. Apo­


sentadoria especial. 2014. Aposentadoria por idade. 2015. Aposentadoria por
tempo de contribuição. 2016. Abono anual. 2017. Benefícios em razão da ma­
ternidade. 2018. Benefícios dos dependentes. 2019. Pecúlios do participante.
2020. Valor dos benefícios.

A p rin cip a l finalidade dos fu n d o s de pensão é im p le m e n tar, su p lem en tar


ou co m p le m e n ta r os benefícios oficiais, de p agam ento ú n ico ou co n tin u a d o ,
p ro g ram ad o s o u im previsíveis, co m u n s ou acid en tário s, dos p a rtic ip a n te s e seus
d ep en d en tes.
O s critérios de concessão das diferentes EFPC, isto é, os requisitos regula-
m entares, variam num ericam ente, em bora perceptíveis linhas gerais com uns a to ­
dos eles.
A m aioria repete o RGPS, até n o título, m as alguns, com o o auxílio-nupciali-
dade, são inovações do sistem a. Os p rin cip ais são: a) benefícios p o r incapacidade;
b) tem po de serviço e idade; c) m aternidade; d) m orte; e e) pecúlios.
A subsid iarid ad e é característica fundam ental do sistem a, m as, ausente p re ­
visão co n tratu al, não é capaz de criar benefício co m p lem en tar próprio. Assim,
se o INSS concede pensão por m orte sem carência e o Regulam ento Básico a exige,
o segu rad o precisa aten d er este requisito, de nada servindo a rem issão genérica
con stan te da convenção.
2011. A u x ílio -d o en ça— A uxílio-doença é benefício de pagam ento continuado,
tem porário, reeditável, su b stitu id o r dos salários, de risco im previsível e assem e­
lhado à ap o sen tad o ria p o r invalidez. Seus requisitos e critérios são praticam ente
iguais, diferenciando-se apenas em razão da gravidade e du ração da im possibili­
dade de trabalhar.
Sem alta m édica, obsta a volta ao trabalho.
Im p ro p riam en te, sim plificando a tarefa norm ativa, os regulam entos básicos
vin cu lam -n o ao benefício oficial, to rn an d o difícil a aplicação e a interpretação de
algum as regras.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
E m bora copiem o RGPS, às vezes, se esquecem de con tem p lar a hipótese do
ingresso do incapaz. C riam problem a ju ríd ico , se o INSS não se deu conta disso e
deferiu a prestação. A conclusão é no sen tid o de caber a concessão.
C om um ente, salvo no caso de acidente do trabalho, a carência é de 12 co n ­
tribuições m ensais anteriores à deflagração da incapacidade. A subsidiaridade do
sistem a obriga-o co n sid erar a fração do m ês an terio r aos 15 prim eiros dias, em bora
o salário co rresp o n d en te não faça parte do salário real de benefício.
Q uestão freqüente é o R egulam ento Básico silenciar sobre as 13 enferm idades
do art. 151 do PBPS, e o segurado obter o benefício oficial, sem carência. É devida
a concessão p o r parte do fundo de pensão.
U sualm ente, os regulam entos básicos em udecem sobre a obrigação de pagar
os prim eiros 15 dias. A lei previdenciária básica tem regra sobre isso. A trib u in d o ­
-se o ô n u s à p atro cin ad o ra, se não p actuado de form a diferente.
Inicia-se no l ó 9 dia contado do afastam ento do trabalho e term ina com a alta
m édica do INSS ou da entidade ou com a transform ação em aposentadoria por
invalidez.
Caso, d en tro do seu período básico de cálculo, o particip an te tenha usufruído
ou tro auxílio-doença, recom enda-se ter, com o salário real de participação, o salário
real de benefício do prim eiro.
2012. A p o sen ta d o ria p o r in v alid ez — A posentadoria p o r invalidez é benefí­
cio nào program ado, absorvendo boa parle das características do auxílio-doença,
oneroso para o plano e, por isso, geralm ente reclam a carência. Só dispensada q u an ­
do a incapacidade decorre de acidente do trabalho. Pode ser provisório ou perm a­
nente, é su b stitu id o r dos salários e não perm ite volta ao trabalho.
N orm alm ente, o período de carência é de 12 contribuições, m as alguns regu­
lam entos preferem alu d ir a 12 m eses, sem aten tar para a distinção e não aclaram
sobre o m étodo de contagem desses m eses (basta ter trabalhado um dia, nu m m ês,
para ele ser consid erad o), ou seja, deve co rresp o n d er a 360 dias ou até a 365 dias. A
m aioria fala em u m ano. Essa diferença de critérios co n d u z a situações incôm odas
para o fundo de pensão, principalm ente, q uando conflitar com o do INSS e ter sido
concedido o benefício pela autarquia.
G eralm ente, com parecem dois preceitos, um para a com plem entação com um
(incapacidade d eterm inada p o r doença ou enferm idade) e o u tro para a acidenlária
(acidente do trabalho, doença profissional ou do trabalho).
A m anutenção do benefício é frequentem ente adjudicada ao período de frui­
ção de igual prestação básica, em rem issão não aconselhável, dada a im ponderabi­
lidade do critério oficial. R ecom enda-se su b m eter o particip an te a exam e m édico
pericial para concessão, m anutenção e cessação da com plem entação.
Inicia-se no 169 dia de afastam ento do trabalho ou no dia seguinte à cessação
do auxílio-doença. Não há previsão de térm ino gradual, com o sucede com o art.
47 do PBPS. Nesse sentido, diante do silêncio da norm a pactuada, a extinção ocor­
re q u an d o d eix ar de ser dc intensidade m áxim a e p erm itir a volta ao trabalho.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1410 W la d im ir N o va es M a rtin e z
A exigência de ser concedido o auxílio-doença p re lim in arm en te varia contor-
m e as diferentes cláusulas contratuais.
A exem plo do auxílio-doença, abstenção norm ativa cobre a hipótese de, no
p erío d o básico d e cálculo, definidor do salário real de benefício, o particip an te h a ­
ver recebido au x ílio-doença em lapso de tem po ilhado ou p reced en te à concessão
da ap o sen tad o ria p o r invalidez. Da m esm a form a, n en h u m a palavra sobre os 25%
do art. 45 do PBPS.
2013. A p osentadoria especial — A posentadoria especial é espécie de aposen­
tadoria por tem po de serviço, concebida e interpretada com o caráter de excepcio-
nalidade. De pagam ento continuado, substituidora dos salários, não reeditável e no
RGPS, a co ntar da Lei n. 9.032/1995, inadm ite a volta ao trabalho na m esm a atividade.
T am bém a exem plo do sucedido com o auxílio-doença e aposentadoria por
invalidez, os regulam entos básicos sim plificam sua disciplina, transferindo a res­
p onsabilidade da definição do direito à concessão oficial. No m áxim o, lim itam -se
a estabelecer lim ite m ínim o de idade, preferindo não ad e n trar no cipoal de dificul­
dades in eren tes a esse benefício. A lguns reclam am duas exigências (com caráter
de carências paralelas à p ró p ria do benefício): a) estar inscrito há certo tem po; e b)
estar p restan d o serviços para a p atrocinadora h á algum tem po.
A co m p an h an d o o D ecreto n. 81.240/1978, o R egulam ento Básico da FUNBEP
faz a distin ção entre as atividades perigosas, penosas e insalubres e exige idade
m ínim a de 53 (p ara a de 25 anos), 51 (para a de 20 anos) e 49 (para a de 15 anos)
e um m ínim o de 10 anos de inscrição na entidade (art. 15, II).
Para o art. 28 do R egulam ento Básico da POSTALIS, são necessários 58 anos
de idade, vín cu lo de cinco anos à entidade e relação de em prego com a p atro cin a­
dora p o r 10 anos.
O art. 40 do R egulam ento Básico da CELOS detalha o valor: “renda m ensal
igual à diferença entre o salário real de benefício e o valor do benefício fixado pelo
INPS, m ultiplicada p o r tantos 1/35 (um trin ta e cinco avos) q u an to s forem os anos
de co n trib u ição para a Previdência Social”.
Em m u ito s casos, se requerido a tem po, com eça na m esm a data do benefício
oficial.
2 014. A p o sen ta d o ria p o r id ad e — A posentadoria p o r idade é benefício de
pagam ento co n tin u ad o , definitivo, não reeditável, su b stitu id o r dos salários, p erm i­
tin d o a volta ao trabalho, concedido ao participante hom em aos 65 anos e à m ulher
aos 60 anos de idade, observado determ inado período de carência.
C ada fundo de pensão fixa o patam ar básico ao qual são acrescidos p ercen­
tuais conform e o tem po de perm anência n a p atrocinadora e na entidade.
A legislação básica prevê a figura da aposentadoria com pulsória, para a m u lh er
com 65 anos e para o hom em com 70 anos, requerida pelo p ró p rio em pregador.
É m u ito co m u m ter início na m esm a data da prestação paga pelo INSS, isto é,
n a data de en trad a do requerim ento.

C u rso d f. D ir e it o P r e v id e n c iá m p

T om o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1411
2015. Aposentadoria p o r tempo de contribuição — A posentadoria p o r tem po
de co n trib u ição é benefício de pagam ento co n tinuado, definitivo, não reeditável,
su b stitu id o r dos salários, perm itindo a volta ao trabalho n a patrocinadora, se isso
fizer parte de sua política de recursos hu m an o s, ou em o u tra em presa.
Cada u m dos regulam entos básicos estabelece exigências próprias para a co n ­
cessão, p rin cip alm en te fixando lim ite de idade, igual ou su p erio r a 55 anos. Im põe,
ainda, período de carência na EFPC e tem po de trabalho m ínim o n a patrocinadora.
G eralm ente, os períodos considerados são os m esm os da previdência social,
em bora cada en tid ad e possa regrar diferentem ente o assunto. Nesse sentido, são
contados o tem po rural, de serviço m ilitar obrigatório, alguns casos de m enor
aprendiz e os de serv id or público, com base na contagem recíproca de tem po de
serviço, m as não o de estagiário nem aqueles d u ra n te os quais o trabalhador m an­
teve-se afastado da previdência social.
Requisito co m u m é o afastam ento do trabalho e, nesse caso, o R egulam ento
Básico deve d isp o r sobre a data de início, geralm ente, com eçando n o dia seguinte
e, tam bém em especial, q u an d o ele deve ser pago se req u erid o após certo tem po.
D ependendo da regra de rem issão estatuída n o R egulam ento Básico, se am pla,
perm itirá invocar o dispositivo corresp o n d en te do RBPS e, assim , se solicitada a
com plem entação até 90 dias do afastam ento da p atrocinadora, iniciar-se-á no dia
seguinte ao do ro m p im ento do vínculo laborai.
É conveniente o R egulam ento Básico disciplinar a volta ao trabalho do com ­
plem entado à p atro cin adora e suas conseqüências, inclusive prever cláusula a res­
peito de acidente do trabalho.
O art. 26 do R egulam ento Básico da VALIA contem pla a situação do aposenta­
do p o r o u tro regim e o u em inatividade rem unerada. A ssegura o direito ao benefício
na entidade se o p articip an te tiver, pelo m enos, 55 anos de idade, 15 de patrocina­
dora, 5 de fundo de pensão e sem direito ao benefício no INSS.
N orm alm ente, os regulam entos básicos não fazem distinção qu an to ao nível da
aposentadoria p o r tem po de serviço, se proporcional ou integral. Tam bém ignoram
a situação p articular do trabalhador, se jornalista ou professor; concedida a aposen­
tadoria oficial a esses profissionais, considera a possibilidade de com plem entá-la.
O abono de p erm an ên cia em serviço, raram ente previsto na previdência p ri­
vada, desapareceu em 15.4.1994 (Lei n. 8.870/1994). Q uando concebido, não d e­
pen d ia do oficial.
2016. A bono an u al — A bono anual é benefício de pagam ento ún ico , anua-
lizado, su b stitu id o r do décim o terceiro salário, tem porário e definitivo, reeditável
ou não, devido ao p articipante o u seu dependente.
Tal direito dispensa período de carência. O valor geralm ente é fixado em 1/12
avos, por m ês, do total recebido d u ra n te o ano a título de aposentadoria, auxílio-
-doença ou pensão p o r m orte — a rigor desvinculado da im portância devida pelo
INSS. Q uem recebeu benefício o ano inteiro fará ju s ao n u m erário de dezem bro. O

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
art. 41 do R egulam ento Básico da POSTALIS prevê 1/365 avos da com plem entação
referente àquele m ês, qu an to s forem os dias de gozo de benefício no m esm o exer­
cício, pago em dezem bro de cada ano.
2 017. Benefícios em razão da maternidade — O casam ento (e até a educação
dos filhos) deflagra vários benefícios: a) auxílio-nupcialidade; b) salário-m aterni-
dade; c) salário-fam ília; e d) auxílio-natalidade. N em todos com plem entados.
O auxílio -n u p cialidade é direito principal, não co m p lem en tar (inexiste o b e­
nefício oficial co rresp o n d en te), crédito do participante p o r ocasião e em razão do
casam ento, g eralm ente não acolhida, para esse fim, a u nião estável.
O art. 58, parágrafo único, do R egulam ento Básico da CELOS fixa um prazo
decadencial de 15 dias antes ou até 60 dias, contado do casam ento para requerer
o benefício, com carência de seis m eses, co rresp o n d en d o a 40% do salário real de
benefício. O art. 19 do R egulam ento Básico da POSTALIS exige carência de seis
m eses, n o valor do salário m ínim o, adm itindo-se o dobro no caso de os nubentes
serem particip an tes, devendo ser req u erid o em 90 dias. O art. 49 do R egulam ento
Básico da AGROS prevê um em préstim o nupcial, de valor até três vezes o salário
real de participação, prescritível em 90 dias, am ortizável entre 6 e 24 parcelas.
O s regulam entos básicos não registram com plem entação do salário-m ater­
nidade, pois esse benefício é devido pelo INSS no valor total da rem uneração da
gestante. R aram ente cuidam do salário-fam ília. Da m esm a form a, não é previsto o
au x ílio-natalidade, q uando su b stitu íd o pelo auxílio-nupcialidade.
20 1 8 . Benefícios dos dependentes — O falecim ento do particip an te deflagra
q u atro tipos de benefícios, sendo a pensão por m orte e o auxílio-reclusão de p a ­
g am en to co n tin u ad o , o pecúlio, de pagam ento único, e abono anual, pago a cada
m ês de dezem bro.
a) Pensão por morte: Pensão p o r m orte é benefício de pagam ento co n tin u ad o
definitivo, su b stitu id o r dos salários, não program ável, pessoalm ente não reeditá-
vel, observando com andos próprios de acum ulação, devido aos d ep en d en tes (in a­
d equada e g eralm ente designados com o beneficiários), em razão da m orte — ra­
ram en te discip lin ad o s — , ausência ou desaparecim ento do participante. Às vezes,
preferindo-se m en cionar a equivalência ao falecim ento.
Trata-se de faculdade com plexa, envolvendo o D ireito de Fam ília, sede de d i­
vergências d o u trin árias e q uestões fáticas, p rin cip alm en te q u an d o da concorrência
da esposa com a com panheira.
C aracteriza-se a ausência q u an d o o p articipante afasta-se do lugar de co n ­
vívio h ab itu al d u ra n te certo tem po m ínim o e sem ter havido notícia de desastre,
declarada pela au to rid ad e judicial após pro ced im en to de busca (exem plo, garoto
C arlinhos, do Rio de Janeiro). D esaparecim ento é o afastam ento do segurado após
desastre, pú b lico e n o tó rio , sem notícia do corp o do participante, adm itindo-se
ten h a sido vítim a do acidente (exem plo, d ep u tad o federal U lisses G uim arães).

C urso n r D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m a J V — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n ta r
C onsideram -se esposo(a) o hom em e a m ulher civilm ente casados, vivendo ju n ­
tos conform e as regras do Direito Civil. C om panheiro(a), hom em e m ulher vivendo
sob união estável. União estável, casam ento de fato, onde reciprocam ente dependen­
tes econom icam ente. Isto é, convivendo com a m útua intenção de se auxiliarem. C ôn­
juges canônicos são os casados apenas no rito religioso. Filhos, o fruto do casamento
ou da união estável, os fora deles e até m esm o os artificialm ente concebidos.
F ilhos inválidos são os sem capacidade para o trabalho, verificada essa co n d i­
ção p o r m eio de exam e m édico pericial. Seu direito depende da incapacidade física.
R ecuperada a higidez, cessa o benefício.
C ham a-se de d ep endente a pessoa em relação de subordinação econôm ica com
o segurado en q u an to vivo, e de pensionista, ao percipiente da pensão p o r m orte.
A p artir de 22.9.1991, o RGPS passou a o u L o r g a r pensão p o r m orte da se­
gurada falecida, ao seu ex-esposo ou ex-com panheiro. Se o R egulam ento Básico
não adm ite a hipótese, o benefício não pode ser outorgado p o r analogia; não está
com preendido na rem issão à legislação previdenciária oficial.
O utros d ep en d en tes são o pai e a m ãe do particip an te e, conform e cada R egu­
lam ento Básico, aí in clu ídos os irm ãos e até pessoa designada (alguém dep en d en d o
econom icam ente do participante, p o r ele inscrito).
C o n co rrên cia é a possibilidade de duas ou m ais pessoas d isp u tarem o b en e­
fício deixado pelo trabalhador. Na divisão da pensão p o r m orte, o valor outorgado
pelo p articipante é partilhado entre dois ou m ais dep en d en tes p erten cen tes a fa­
m ílias distintas.
C ada R egulam ento Básico fixa ou não período de carência; q u an d o exigido, é
de 12 co n trib u içõ es m ensais.
A data do início co rresponde à do óbito do segurado, m as, p ara algum as en ­
tidades, ao dia seguinte.
Regras de m an u ten ção variam , sobretudo em relação ao casam ento do cô n ju ­
ge fem inino. Na m aioria dos casos, o novo m atrim ônio faz cessar o benefício; em
outros, não. Sujeita-se ã convenção.
Os cônjuges en ten d em -se condicionados econom icam ente entre si e os filhos
em relação aos pais. Frata-se de p resunção jure et de jure, dispensando com prova­
ção. Mas, se o cônjuge afasta-se de fato do lar, a p resunção absoluta desaparece e
é preciso p rovar a dependência econôm ica (pela pensão alim entícia de fato ou de
direito ou de o u tra form a). Assim, ex-esposo(a), percipiente de pensão alim entícia,
concorre com a ex -co m panheira(o).
Os filhos sem pre têm direito.
D ependência econôm ica consiste em alguém condicionar-se total ou parcial­
m ente ao d in h eiro de o u tra pessoa para a sua subsistência, den tro ou fora do casa­
m ento ou da u n ião estável. Às vezes, a avó precisa do neto, um a prim a da o u tra, a
m ãe do filho e assim p o r diante. P resunção de dependência econôm ica consiste em
supor-se o corrida essa relação sem necessidade d e prova em contrário.

C u r so d f. D ir e it o P r e v id e n c iAr io

1414 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Os co m p o n en tes do nú cleo fam iliar (cônjuges e íilhos) não precisam dem o n s­
trar a d ep en d ên cia econôm ica; os dem ais, sim . E videntem ente, isso se subordina
ao regulam entado.
O valor da pensão varia conform e os diferentes regulam entos básicos, m as,
a c o m p an h an d o regras oficiais antigas, a m aioria prefere fixar p ercen tu al básico do
salário real de benefício ou do valor do benefício m an tid o q uando do óbito, geral­
m ente de 50%, m ais 10% por dependente.
b) Auxílio-reclusão: O auxílio-reclusão é benefício su b stitu id o r dos salários,
de p agam ento co n tin u ad o , não program ável, provisório, reeditável, devido aos
d ep en d en tes do p articipante (com direito à pensão p o r m orte) detido, preso ou
recluso.
O benefício é assem elhado à pensão p o r m orte, aproveitando todas as regras
com patíveis com a situação da pessoa recolhida à carceragem . Não é a condenação,
m as a prisão sim ples, a detenção ou reclusão, o fato determ inante.
A carência co stu m a ser igual à da pensão p o r m orte. O início dá-se com o
reco lh im en to da pessoa ao estabelecim ento penitenciário e cessa se o participante
foge ou deixa a prisão após o cu m p rim en to da pena ou o u tra m odalidade de liber­
tação. P erm ite certa atividade laborai na cadeia e algum a retribuição. Se o segurado
falece preso, o benefício é transform ado em pensão p o r m orte.
c) Pecúlio: O p ecúlio do participante, q uando não recebido p o r este, é devido
aos d ep en d en tes habilitados à pensão p o r m orte.
d) Abono anual: O abono anual dos dep en d en tes segue as regras do benefício
dos participantes.
2 019. P ecúlios do p a rtic ip a n te — Pecúlio é benefício de pagam ento único
ev en tu alm en te reeditável, co rresp o n d en d o às contribuições vertidas pelo p artici­
p an te, in clu in d o o u não a parle patronal, acrescido de correção m onetária a algu­
m a rentabilidade, deferido em determ inadas circunstâncias. Tam bém pode ser por
m orte com um ou acidentaria ou p o r aposenLadoria p o r invalidez q uando, então,
geralm ente de valor co nstante previam ente fixado.
a) Pecúlio propriamente dito: D iante do resgate e do vesting, bem com o do
pecúlio por invalidez ou m orte, o pecúlio p ropriam ente dito, co n stitu íd o de co n ­
tribuições do segurado, tem pouca expressão n o segm ento fechado, sendo raros os
reg u lam en to s básicos a contem plá-lo.
Dada a sua n atureza, dispensa a carência; o evento d eterm in an te é a vontade
do segurado de levantá-lo. N ão se tratan d o de benefício substituidor, pode ser
acu m u lad o com m u ito s outros.
b) Pecúlio por morte: Se previsto, concedido q uando da m orte do participante,
nesse caso, sendo previam ente fixado o seu valor. Para o art. 30 do R egulam ento
Básico da POSTAL1S, é de 10 vezes o salário real de benefício do m ês an terio r ao
da m orte.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1415
c) Pecúlio por invalidez: Q u ando da concessão da aposentadoria p o r invalidez,
especialm ente se acidentaria, os regulam entos básicos preveem pecúlio, im p o rtân ­
cia em d inheiro, de p agam ento único, entregue ao segurado aposentado.
2020. Valor dos benefícios — É difícil discorrer sobre o quantum dos b en e­
fícios da previdência co m plem entar ten d o em vista a m ultiplicidade de situações
e critérios. A tendendo à característica da com plem entaridade, a m aioria dos re­
gulam entos básicos convenciona a diferença entre o salário real de benefício e o
valor devido pelo INSS. Em o u tras hipóteses, o nível é estabelecido com condições
próprias, in d ep en d en tem en te do oficial, q uando então são definidos percentuais
do tem po de p atro cin ad ora ou entidade aplicados ao salário real de benefício. Em
todos os casos, com m ínim os e m áxim os.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1416 W J á d im í r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo CCII

S er v iç o s A s s is t e n c iá r iq s

2021. Médico-hospitalar, 2022. Atendimento odontológico. 2023. Re­


S u m a rio :
médios in natura. 2024. Salário-alimentação. 2025. Empréstimos subsidiados.
2026. Aquisição de bens duráveis. 2027. Bolsas de estudo. 2028. Financiamento
para a habitação. 2029. Preparação para a aposentação. 2030. Natureza jurídica
dos pagamentos.

Prestações supletivas assistenciárias — serviços e bens in natura — co n sti­


tu em m edidas de variada ordem , co m preendendo assistência social propriam ente
dita e à saú d e, ao p articip an te e de sua família. São facultativas para o em pregador
e p ró p rias do segm ento fechado.
Na ordem da representatividade de entidades adotantes, sào em préstim os
(9 0 ), assistência m éd ico-hospitalar (60), outros benefícios (47), farm acêutica (41),
odontológica (4 0 ), preparação para a aposentação (31), alim entação (28), educa­
ção (2 6), h ab itação (15), aquisição de bens duráveis (12), em n ú m ero s de 1993
("Q u an d o benefício assistencial passa a ser in v estim en to ”, elaborado pela CTP de
P rogram as A ssistenciais da ABRAPP, in “2010, C aos ou P rosperidade”, p. 21/30).
Eduardo de Camargo Oliva levantou dados e inform a: 100% das m u ltin acio ­
nais oferecem assistência m édica. Registra pesquisa da G rande São Paulo, com 140
em presas (44% do ABC e 56% da C apital), realizada pelo N úcleo de R ecursos H u ­
m anos do IMES — In stitu to M unicipal de E nsino S uperior de São C aetano do Sul,
em 1995, seg u n d o o qual são os seguintes os percentuais de em presas oferecendo
benefícios assistenciais ( “P esquisa de B enefícios”, p. 44):
A ssistência m é d ic a ............................................................ 91%
R estaurante no lo c a l......................................................... 71%
Seguro de v id a .................................................................... 64%
A ssistência fa rm a c ê u tic a ................................................. 56%
Cesta b á s ic a ......................................................................... 51%
C om p lem en tação de au x ílio -d o e n ç a ........................... 36%
T íq u ete-refeição .................................................................. 31%

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o IV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
C re c h e .................................................................................. 28%
Assistência o d o n to ló g ic a ................................................. 24%
Bolsas de e s tu d o ................................................................ 21%
T ra n s p o rte ........................................................................... 20%
C ooperativa de co n su m o ................................................. 16%
Em seu art. 39, § 1®, dizia a Lei n. 6.435/1977: “Independentem ente de au to ri­
zação específica, as entidades fechadas poderão incum bir-se da prestação de serviços
assistenciais, desde que as operações sejam custeadas pelas respectivas patrocinado­
ras e contabilizadas em separado”. C onsequentem ente, eram consideradas entidades
de assistência social, para os efeitos do art. 19 da C onstituição Federal de 1967.
Tendo em vista o interesse do Estado, as estatais não podem co n stitu ir a co ­
b ertu ra assistencial (art. 39, § 2e).
A incu m b ên cia exclusiva do encargo assistencial ao em pregador é política
lim itadora dessa ação privada e nisso errou o legislador pensando em pro teg er os
segurados. A participação financeira no custeio da assistência m édica p o r parte do
interessado é bem -vinda às relações laborais e previdenciárias. Os fatos superve­
nientes dem o n straram o anacronism o legislativo.
De certa form a, reg ulam entando o art. 39, § l 2, e ad equando-o à realidade e
em face da existência de superávits técnicos em algum as EFPC, a R esolução CGPC
n. 10/1994 au to rizo u a utilização de parcelas desses resultados “positivos para o
custeio de serviços assistenciais, exclusivam ente sob a form a de assistência à sa ú ­
de, aos p articip an tes e seus dependentes, inscritos n o plano previdenciário supe-
ravitãrio ”. Q uem não é inscrito no plano pode ad erir às prestações assistenciárias
m ediante contrib u içõ es pessoais. A utilização das reservas dep en d e de aprovação
da SPC. A in strução não tem previsão para a hipótese de extinção.
Com o art. 76 da LBPC, a política de assistência social das entidades fechadas
resultou b astan te com prom etida.
2021. M éd ico -h o sp italar — A assistência m édica é o principal serviço as-
sistenciário propiciado pelas EFPC aos participantes. Pode ser m inistrada d ireta­
m ente ou m ed ian te convênios com terceiros. F req u en tem en te, inclui aten d im en to
cirúrgico, am bulatorial, hospitalar, com consultas e exam es com plem entares.
Em virtude do alto custo, costum a im plicar cooperação do assistido.
2022. A ten d im en to odonto ló g ico — O utro exem plo de atenção à saúde é o
convênio com o dontólogos ou clínicas dentárias. Às vezes, com preende o forneci­
m en to de prótese, com ou sem subsídio.
A o dontologia m o d erna padece do m esm o problem a do alto custo, to rn an d o
quase inviável à pessoa o bter assistência técnica com seus p ró p rio s recursos.
2023. R em édios in natura — No aten d im en to à saúde, um dos itens bastante
significativos é o fo rn ecim ento gratuito ou subsidiado de m edicam entos. De nada
serve a assistência m édica ou odontológica sem a possibilidade de aquisição dos
rem édios.

C urso de D ir e it o P r e v id e n o a r io

1418 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
2024. Salário-alimentação — O principal p o n to é a cesta básica, m as, às ve­
zes, a en tidade m an tém cooperativa de consum o.
2025. Empréstimos subsidiados — R estabelecendo tradição da Previdência
Social básica, algum as en tid ad es propiciam em préstim os aos participantes a ju ro s
subsidiados. N o u tras siLuações, é form a de investim ento p ra tic am en te garantido,
direito b astan te afetado pelo art. 76 da LBPC.
No art. 30 do D ecreto n. 81.240/1978, dispõe-se sobre os em préstim os, afir­
m ando-se não h av er “restrição para a concessão de em préstim os sim ples em caso
de necessidade do p articip an te bem caracterizada, seg u n d o as norm as que forem
estabelecidas pelo C P C ” (item I) e “para em préstim os sem com provação de neces­
sidade, prevalecerá o lim ite m áxim o de 3 (três) vezes a m édia das rem unerações
percebidas n o s 12 (doze) últim os m eses pelo p artic ip a n te” (item II).
2026. Aquisição de bens d u rá v e is — Um su b p ro d u to dos em préstim os é o
m ú tu o para aquisição de bens duráveis com o autom óveis, m otocicletas, m icro­
co m p u tad o res etc.
2027. Bolsas de estudo — A m anifestação costum eira em relação à educação
consiste no pag am en to de bolsas de estudo, p o r prazo d eterm in ad o para o p artici­
pante ou seus depen dentes.
2028. F in a n ciam en to p ara a h a b ita ç ã o — A carteira im obiliária é aplicação
das reservas dos fundos de pensão de grande alcance social. Em m uitos casos,
transform a o so n h o do trab alh ad o r em realidade. N ão deixa de ser form a de inves­
tim en to da entidade.
2029. Preparação para a aposentação — O s Planos de Preparação para Apo-
sentação — PPA n ão são antigos. A obra clássica no gênero, “Velhice, um a nova
qu estão so cial”, de Marcelo Antonio Salgado, é de 1982, e “C om o viver feliz seus
100 an o s”, de C. A lzira Lopes, é de 1993. Im p o rtan te, tam bém , “Vamos, que já
en tard ece”, de Carlos Ernani Palheta Nunes.
Mas n en h u m a experiência psicossocial desenvolveu-se tanto com o essa, a
partir de trabalhos p ioneiros da C om panhia Paulista de F orça e Luz e m ais recen­
tem en te im p u lsio n ad o s pelo SESC na direção da terceira idade. N ão se p o dendo
esquecer o CEFTI, fundado p o r Ana P erw in F raim ann, ju n to à ABRAPP
O C entro de E studos/F undação da Terceira Idade — C EFTI apresentou tra ­
balho no XIV C ongresso B rasileiro dos F undos de Pensão, em 1993, historiando
o n ascim ento e o crescim ento desse ex traordinário serviço social e assistenciã-
rio. A p urou as vantagens e desvantagens para a entidade e para os participantes
(“C om o serão os ap osentados n o ano 2010”, p. 56/63).
M aria C ristina Nobre Teixeira e M aria Evangelina de Oliveira descreveram o
PPA da COS1PA, em trabalho prem iado, definiram -no com o objetivo de “oferecer
aos seus p articip an tes, buscar o tim izar os ganhos da m aturidade e ao o p o rtu n izar
os potenciais laten tes, passíveis de desenvolvim ento n o novo co n tex to de vida do
ap o sen tad o ” ( “Program a de R ecém -A posentado”, p. 64/66).

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T íjm o IV — P fe v id é n c m C o m p l e m e n ta r 1419
2030. Natureza jurídica dos pagamentos — D iscute-se sobre a essência dos
valores propiciados pelo fundo de pensão, especialm ente q uando a totalidade ou
m a i o r parte dos recursos p r o v é m da p a L r o c i n a d o r a , c o m vistas na definição da

hipótese d e incidência da contribuição previdenciária referida n o art. 28 da Lei n.


8.212/1991.
Poderia ser integrante do conceito de salário de contribuição, na condição de
salário indireto e — então — com plicando as coisas, se assim fosse, pela rem issão
prom ovida pela Lei n. 6.435/1977, haveria exigência sobre benefício com plem entar.
Salvo na hipótese de provedora, isto é, em presa assum indo inteiram ente o
encargo dos pagam entos, sem qu alq u er participação do em pregado, bem com o a
inexistência fática e form al da entidade gestora, nos dem ais casos, nào passa de
benefício securitário, razão de ser da Previdência Social, estatal o u particular, per­
dendo sentido a incidência de contribuições.
Pelo m enos por dois m otivos, o valor corresp o n d en te à assistência à saúde
não integra o salário de contribuição do RGPS: a) ser a saúde prestação securitária
constitucional; e b) ser im possível verificar-se, caso o em pregado não se utilize do
serviço, a incorporação ao patrim ônio. Assim en ten d eu a 4- Turm a do TRF da 1-
Região (Acórdão n. 11.280, n a Apelação Cível n. 1989.0100361-9/M G , in R epertó­
rio IOB de Ju risp ru d ên cia da 2a quinzena de m aio de 1990). M aria W ilm a de A. S.
Rezende, da C o nsultoria Ju ríd ica do MPAS, reportando-se ao Parecer CJ/MTPS n.
141/1991, acostou-se à natu reza não rem u n erató ria da assistência à saúde (Parecer
CJ/MPAS n. 107/1992, aprovado pela C onsultora Jurídica-C hefe, em despacho de
23.9.1992, in DOU de 13.11.1992).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c ía r io

1420 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Capítulo CCIII

R egimes F i n a n c e i r o s

2 0 3 1. Definições preliminares. 2032. Capitalização clássica. 2033. Repar­


S u m a r io :
tição simples. 2034. Capitais de cobertura. 2035. Despesas correntes. 2036. Or­
çamentário ou caixa. 2037. Repartição versus capitalização. 2038. Transferências
líquidas. 2039. Regime da Lei n. 3.807/1960. 2040. Opção da Lei n. 6,435/1977.

Na estru tu ração m atem ático-financeira de um p lano de previdência, o finan­


cista e o advogado devem levar em conta o regim e financeiro de sustentação das
reservas técnicas necessárias ao aten d im en to das obrigações (inicialm ente, apenas,
as despesas correntes, m as, no curso do tem po, tam bém as futuras) e a dim ensão
dos benefícios, se p reviam ente (desdobrando-se o segurador para o b ter os m eios)
ou p o sterio rm en te, q u an d o da realização da contingência protegida, aí em função
dos capitais acum ulados.
O s conceitos d o u trin ário s dos estudiosos variam em relação à ótica segundo a
qual concebem os d istin to s estam entos atuariais, havendo m aior u n an im id ad e na
eleição do tipo de p lano. Assim, in úm eras as descrições das diferentes estru tu ras
organizacionais vigentes, seus su b p ro d u to s e interpretações, to rn an d o -se em bara­
çosa a necessária síntese.
H á p reocupação na d o u trin a, p articularm ente, en tre os técnicos, n a escolha
do regim e ideal, sua adequação ao d esenho do plano, e q u an to às finalidades da
institu ição . Sopesam , cuidadosam ente, as vantagens e desvantagens, diante da di­
nâm ica social, tran sm u tação dem ográfica e co m portam ento da m assa coberta.
N ão há consenso na personalização de tais regim es. Alega-se ser o de capitais
de co b ertu ra sim ples variação do de repartição; o de capitalização com portaria
inú m eras espécies. Q u ando o profissional é criativo, in tro d u z m odificações no
m odelo clássico.
2031. D efinições p re lim in a re s — Rio Nogueira salienta a im portância dess
aspecto da atuária, d efinindo plan o de custeio com o “o co n ju n to de norm as quan-
tificadoras das receitas q u e deverão ser investidas pela entidade, a fim de gerar os
recursos necessários e suficientes à cobertura dos com prom issos p o r ela assum idos

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o /V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1421
em relação a ioda a m assa am parada, q u er em relação a benefícios já iniciados,
quer em relação a benefícios a co nceder” ( “Reservas e Regim es F inanceiros das
Entidades P revidenciais”, p. 13).
Da m esm a form a, define regim e financeiro em relação a determ inado b en e­
fício: “o critério de form ulação das norm as quantificadoras das receitas previstas
naquele p lano para garantir a cobertura do benefício co n sid erad o ” (ob. cit., p. 14).
Com o em toda área m atem ática, é patente a dificuldade de com unicação des­
ses profissionais em sin tetiz ar suas ideias e distinções. Ao explicar os regim es de
repartição e de repartição de capitais de cobertura, à exceção da troca da locução
“que se prevê” por “que se efetivem ”, é praticam en te igual a descrição de Manuel
Sebastião Soares Póvoas ( “P revidência P rivada”, p. 122/123).
Alfredo H. Conte-Grand aprofunda a discussão. Para ele, difundiu-se a ideia
de o regim e de capitalização ser m ais seguro para os beneficiários, su p eran d o o de
repartição sim ples, baseada na falácia das econom ias a serem acum uladas. “Para
los indivíduos, la función econôm ica es transferir co nsum o al futuro a través de la
seguridad social, para toda la sociedad no es posible, au n q u e sea parte de los que
co n su m en los retirados, es p roducido por la siguiente generación de trabajadores”
(“R eparto o C apitalización — G estión Pública o P rivada”, p. 5/6).
2032. C ap italizaç ão clássica — No regim e de capitalização, é fixada taxa
ún ica, invariável nos exercícios, de so rte, as rendas form adas, no dizer de Rio
N ogueira, “previstas p ara esses exercícios” terem o m esm o valor atual das rendas
geradas pelos totais prováveis dos fu n d o s garantidores das ren d as dos benefícios
iniciados em cada exercício ( “M étodos A tuariais — Variações sobre u m m odelo
sim p les”, p. 3).
Newton J. Monteiro vincula o regim e financeiro às reservas técnicas, e n te n d i­
das com o co n trap artid a do direito da entidade de receber as contribuições, isto é,
a garantia dos co m prom issos d u ra n te certo lapso de tem po. A m odalidade de cons­
tituição do m étodo assegurador das obrigações presentes e futuras varia conform e
o plano, sen d o u n iversalm ente conhecidos os regim es de capitalização e de repar­
tição. E suas in ú m eras variações ( “E studo A tuarial para Sistem as de Previdência
M unicip al”, p. 75).
“Nos regim es de capitalização”, ele aduz, “são co n stitu íd o s fu n d o s suficientes
para aten d er o volum e global dos com prom issos futuros de benefícios concedidos
ou a co n ced er”, p o d en do ser ô n u s coletivos ou individuais. P or o u tro lado, “N os
regim es de repartição, os recursos devem aten d er aos com prom issos de pelo m e­
nos um exercício”. N ota-se, pois, distinção fundam ental em relação ao m om ento
do cu m p rim en to da obrigação. S ubprodutos desse padrão, isto é, variantes, são a
repartição pura, a o rtodoxa ou a de capitais de cobertura.
N este regim e, as reservas técn icas co rresp o n d em ex a ta m en te aos deveres
do sistem a em relação a todos os seg u rad o s e beneficiários. N ew ton J. M onteiro
re p ro d u z a o p in ião de M ário Trindade: “N o regim e d e capitalização ap re se n ta m ­
-se o u tro s p ro b lem a s q u e p recisam ter so lu ção adequada: refiro-m e aqui, e n ­

C u rs o d e D ire ito P revidenciário


1422 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
tão, à defin ição d e p la n o s atu ariais q u e, c o n sid e ra n d o as carac te rístic as das
co letiv id ad es de b en eficiário s, o seu c o m p o rta m e n to n o tem p o , estabelecem
m ecan ism o s de ca p ita liza ção e de co b e rtu ra das re sp o n sa b ilid a d e s, capazes de
p re serv ar a so lv ab ilid ad e atu arial de q u a lq u e r p la n o , a so lv ab ilid ad e atual e, afi­
nal, a so lv ab ilid ad e d e caixa d esses p la n o s ” ( “S im pósio N acional de P revidência
P riv a d a ”, p. 142).
Para Hélio Portocarrero, “contribuições regulares são levadas a u m fundo acu ­
m u lad o à taxa de juros prevalecente e seus resultados d istrib u íd o s segundo regras
previam ente estipuladas” ( “A econom ia dos sistem as da Previdência e a necessidade
de refo rm a”, in RPS n. 144/95).
Para a ABRAPP, regim e de capitalização é “aquele em que as despesas com
os benefícios, sob a form a de pagam ento co n tin u ad o ou de pagam ento único são
estim ados, co n ju n tam en te, com relação a todos aqueles que serão concedidos nos
exercícios futuros, cada qual lido com o u m exercício inicial de concessão — co n ­
siderada a m an u ten ção do com prom isso nos respectivos exercícios subsequentes,
n os casos de benefícios sob a form a de pagam ento co n tin u ad o e cujo custeio é
g arantido pelos sucessivos capitais de co bertura que serão co n stitu íd o s, p o r m eio
de co n trib u içõ es p reviam ente fixadas e niveladas, além de rendas geradas p o r in ­
v estim en to s realizados com as disponibilidades desses capitais desde o início de
sua fo rm ação ” (p. 124).
Rio Nogueira assinala os defeitos da capitalização: a) a taxa anual m antém -se
nivelada ao longo do tem po; b) às reservas de benefícios concedidos se acrescen­
tam as g randes reservas de benefícios a conceder, in crem en tan d o fortem ente 0
p o ten cial das inversões a longo prazo; e c) em caso de paralisação do processo,
os ap o sen tad o s co n tarão com a co bertura das prim eiras reservas para garantir a
co n tin u id ad e dos seus benefícios, en q u a n to aos ativos será assegurado seu direito
líq u id o pela reserva de benefícios a co n ced er (ob. cit., p. 24).
A R esolução CPC n. 01/1978, em seu item 38, en ten d e o regim e de capitaliza­
ção com o “aquele que considera, na fixação das reservas técnicas, o com prom isso
total da en tid ad e para com os p articipantes, de tal m odo que, em relação a esses
com prom issos, possa a entidade atendê-los sem a utilização de o u tro s recursos de
sua arrecadação, se as condições estabelecidas se verificarem ”.
O D ecreto n. 81.240/1978 indica-o para as aposentadorias de qualquer n a tu re ­
za. A Resolução CNSP n. 10/1983 recom enda-o para as aposentadorias ou pensões.
Regime de capitalização tam bém é conceito de m atem ática financeira. No
dizer de Rogério Gomes de Faria, é “o esquem a segundo o qual se vai cobrar ju ro
p o r u m capital aplicado. Há dois regim es de capitalização: o regim e de capitaliza­
ção sim ples o u sistem a de ju ro s sim ples e o regim e de capitalização com posta ou
sistem a de ju ro s co m p o sto s” ( “M atem ática C om ercial e F in an ceira”, p. 2).
2033. R ep artição sim p le s — No regim e de repartição sim ples, é proposta
taxa de co n trib u ição , em cada exercício, capaz de gerar receita necessária às des­
pesas com os benefícios do m esm o período. No dizer de M anuel Sebastião Soares

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o ÍV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1423
Póvoas, “ele tem de ser organizado de form a a que o cálculo atuarial d eterm ine
u m a expressão para q ue as contribuições que vão ser cobradas e capitalizadas n u m
exercício econôm ico, e corresponda à expressão dos benefícios que se prevê sejam
co n stitu íd o s e pagos nesse m esm o exercício" ( “Previdência P rivada”, p. 122).
Newíon J. Monteiro tem este regim e conio o g aran tid o r dos com prom issos de
certo intervalo de tem po, geralm ente um exercício civil, sugerindo adaptações n e­
cessárias em m atéria de co n tribuições ou ajuste n o plano de benefícios.
Rio Nogueira ju stifica o título do regime: “Esse regim e se cham a repartição
sim ples porque a despesa do ano é repartida sim plesm ente pela correspondente
folha salarial, para g erar a taxa de contribuição. No térm ino do exercício, se a
previsão for exata, a receita em pata com a despesa, e o Balanço fecha com o patri­
m ônio v irtu alm en te n u lo ”.
No ensejo, assinala seus principais defeitos: a) crescim ento anual das taxas;
b) inexistência de recursos para serem aplicados; e c) total desam paro dos p a rti­
cipantes, ativos o u aposentados, n o caso de paralisação do processo (“Previdência
Privada — As opções da em presa u su á ria ”, p. 2 f).
Para Francisco Eduardo de Oliveira: “O regim e de repartição sim ples é aquele
em que toda a receita arrecadada em um dado exercício é utilizada p ara o pagam en­
to de benefício d en tro do m esm o exercício, não havendo, p o rtan to , acum ulação de
recursos. In versam ente, no regim e de capitalização os recursos provenientes das
contribuições (e de o u tras receitas) são acum ulados para pagam ento de benefícios
fu tu ro s” ( “Previdência Social, visão retrospectiva”, p. 15).
Segundo Hélio Portocarrero, é “aquele em q u e os rendim entos dos direitos
previdenciários serão auferidos a p artir de transferências fiscais, caracterizando-se
com o redistribuição intergeracional, pessoas ativas pagando p o r inativas” (“A eco­
nom ia dos sistem as da Previdência e a necessidade de reform a”, in RPS n. 144/95).
O Decreto n. 8 1 .240/1978 sugere aplicação desse regim e para o auxílio-do­
ença, auxílio-natalidade, salário-fam ília, auxílio-funeral e pecúlio. A Resolução
CNSP n. 10/1984 prefere-o para o pecúlio.
2034. C ap itais d e c o b e rtu ra — No regim e de capitais de co bertura, é fixada
taxa de co ntribuição para cada exercício suficiente para gerar receitas prováveis
para os fundos su sten tadores dos benefícios iniciados nesses exercícios.
C onsoante Newton J. Monteiro, o regim e financeiro onde as reservas técnicas
estão voltadas exclusivam ente para os benefícios con cedidos (ou, incluindo, os em
fase de concessão).
De acordo com co nclusão da ABRAPP, é “aquele que as despesas com b en e­
fícios, sob a form a de pagam ento con tin u ad o ou de pagam ento único, estão estim a­
das som ente em relação àqueles que podem ser concedidos dentro de um exercício
inicial, considerada a m anuLenção do com prom isso em exercícios subsequentes,
no caso de benefícios sob a form a de pagam ento co n tin u ad o , sendo o respectivo
custeio garantido pelo capital de co b ertu ra co n stru íd o no m esm o exercício inicial

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W ía d ím ir N o v a e s M a r tin e z
p o r m eio de co n trib u içõ es previam ente fixadas e pelas rendas geradas p o r investi­
m en to s realizados com as disponibilidades desse cap ital” ( “P revidência Privada",
p. 123).
N o ver de Ivan S. Ernandes, “a reserva total necessária para co b rir todos os
pag am en to s m ensais futuros deve ser in tegralm ente co n stitu íd a n o m o m en to em
que o benefício passa a ser dev id o ” ( “A C iência A tuarial e os F u n d o s”, p. 13/19).
Rio N ogueira assinala os principais vícios, aten u ad o s em com paração com
a repartição sim ples: a) taxa anual cresce m ais lentam ente; b) as reservas de b e­
nefícios co n ced id o s p erm item algum in v estim en to a longo prazo; e c) apenas os
ativos ficariam desam parados n o caso de paralisação do processo, po rq u e, suposto
o equilíbrio atu arial, os aposentados sem pre contam com a garantia dos respectivos
capitais de co b ertu ra ( “Previdência P rivada”, p. 23).
O item 37 da Resolução CPC n, 01/1978 define-o com o “aquele que co n si­
dera as reservas técnicas co rrespondentes ao valor atual dos benefícios co n ced i­
dos, líquidos de eventuais contribuições, considerados tam bém em seu cálculo
os benefícios cujos d ireitos já foram ad q u irid o s pelos participantes, em bora não
fo rm alm ente re q u e rid o s”.
2 0 3 5 . D e sp e sas c o rre n te s — Trata-se de variante do regim e d e repartição
sim ples, aplicado a u m ún ico exercício, tido com o de repartição p u ra para Mário
Trindade: “É evidente q u e um regim e de repartição p u ra não exigiria n e n h u m a ca­
pitalização, não exigiria n e n h u m a form a de acum ulação de recu rso s para o futuro,
m as sim p lesm en te teria que arcar, a cada ano, com os encargos daquele ano. E
apresen ta toda um a série de inconvenientes, com o nas fases de recessão, nas fases
de dificuldades econôm ico-financeiras, de to rn a r ex trem am ente difícil fazer face
aos encargos d eco rren tes” (ob. cit. p. 142).
Filadelfo Jnsolera assevera: “Pode-se tam bém p a rtir da suposição de que o
prêm io seja in d ep en d en te da idade e da duração ‘s’ do seguro, m as q u e varie com
o tem po ‘t’, o u seja, de u m ano para o u tro ” ( “C urso de M atem ática F inanceira e
A tu arial”, p. 82).
2 0 3 6 . O rç a m e n tá rio ou caixa — C ertas c o n ju n tu ra s obrigam ao aban d o n o
das técnicas atuariais, consagrando-se a relação entre receita e despesa, isto é, são
pagos os benefícios previstos m ais as despesas com ações ju d iciais co n stan tes de
orçam en to anual. É tam bém cham ado de regim e de caixa, sem n en h u m a pro v i­
são para o futuro. O legislador prevê am pliação ou dim inuição das obrigações em
razão da experiência do exercício an terio r e com base nos p arâm etro s dem ográficos.
A p arentem ente, é o seguido pelo RGPS.
2037. R ep artição versus ca p ita liza ção — Na d o u trin a nacional e estrangeira,
in ex istem con clu sõ es definitivas q u an d o do confronto en tre os dois regim es fu n d a­
m entais. A cada um deles são associadas ideias teóricas, com o: a) algum a ideologia
política; b) classificação científica; c) técnica específica; d) iniciativa d o titular; e)
tipo de benefício; 0 nível de solidariedade; g) capacidade con trib u tiv a; h ) história;
e i) tendência.

C urso m- D ireito P revidenciário


T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
Assim, freq uentem ente, o regim e de capitalização é próprio do neoliberalis-
m o, en q u ad rad o com o po u p an ça individual indisponível, da iniciativa privada,
para o p lano do tipo co ntribuição definida, com baixo nível de solidariedade, ho-
diern o e com tendência a se universalizar. Bom para as prestações program adas.
Por o u tro lado, o regim e de repartição sim ples, ideologicam ente seria social-
-dem ocrático, técnica previdenciária, de iniciativa estatal, para o plano do tipo
benefício definido, com elevada solidariedade, u ltrapassado no tem po e com te n ­
dência a desaparecer. P róprio das prestações não program adas.
As m anifestações de lado a lado, às vezes, radicais, parecem in d icar solução
conciliatória, pois os países não apresentam habitat ideal para cada u m deles, salvo
um ou o u tro caso. O correto parece ser adequar-se cada um a das n u an ças acen tu a­
das à realidade do cenário enfocado, respeitando-se as particularidades. P or exem ­
plo, definir-se a capitalização para os benefícios previsíveis e a repartição sim ples
para os im previsíveis.
2038. T ran sferên cias líq u id a s — A m a n d o C. Lopes, citan d o Alfredo H. Conte-
Crand (este últim o , p o r sua vez, baseado nos estudos de Som oza)) m ostra a d esn e­
cessidade do em bate en tre capitalização e repartição sim ples: “Para u n a esperanza
de vida al nacer de 77,5 anos con fecundidad 1, que son los valores a los que tien-
den m u ch o s de los paises de la región, los aportes son de 33,12% y 33,74% respec­
tivam ente (se refiere a capitalización y reparto) y a co n tin u ació n ello d em u estra la
poca utilid ad de la d iscusión entre capitalización y reparto y la evidencia de que
aquellos paises que aspiren a cu b rir adecuadam ente la vejez, lienen que dedicar
porcentajes de los ingresos dei nivel de los m encionados y no hay m uchas eleceio-
n es” ( “Asalto al F u tu ro — D em ocracia y Seguridad Social”, p. 85/117).
C o n sid eran d o capitalização e repartição sim ples, dois regim es oponentes,
estabelecem -se alguns pressu p o sto s para o seu m odelo de regim e financeiro: a)
para a planificação previdenciária ser possível é necessário prever o futuro; b) se
esta condição não se verifica, instala-se estado de angústia contra a estabilidade
em ocional das pessoas e o desenvolvim ento econôm ico da sociedade; c) quando,
p o r m otivo de idade ou invalidez, o hom em é privado de o b ter os ingressos com o
con traprestação p o r serviços prestados, deve subsistir m ecanism o assegurador de
sua participação na d istribuição das rendas, garantindo a dita previsão do futuro
e evitando o dano co n seqüente; d) tendo em vista a sub stitu ição da família tra­
dicional pela atual, a planificação da renda desta deixou de ser in stru m en to para
alcançar a participação nas rendas; e) as form as co n tratu ais de poupança, para ad ­
q u irir prestação vitalícia, m ediante o recolhim ento, possíveis de serem planejados
ind ividual ou setorialm ente, são ineficazes.
Resum e a posição seguinte em função de regim e financeiro, onde inexistente
correlatividade jurídica entre contribuição e benefício; este últim o deveria decorrer
da necessidade, ideia desenvolvida por Em est Kaiser, na década de 1950. Isto é,
“el derecho a la prestación no deriva dei aporte sino de un principio ético, en el
sen tid o de debe ser, que hace a co nstitución de la so ciedad”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1426 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A dota p o r objetivo “asegurar a todo aquel q u e p o r razones de edad avanzada
o invalidez no p u ed a tran sa r sus servicios person ales en el m ercado, u n ingreso,
h asta el dia d e su m uerte, que lo preserve de la m arginalidad relativa”.
P ro p o n d o ideias co rresp o n d en tes à seguridade, e n q u a n to técnica avançada
em relação à p revidência, assegura; a) as prestações em d in h eiro da seguridade
social (p o r invalidez ou p o r idade) não co n stitu em gasto algum , m as sim ples
tran sferên cias líq u id as d estin ad as a m odificar a d istrib u iç ão de ren d as d e c o rre n ­
tes das o p erações de m ercado; b) a função d istrib u id o ra que m odificar a ap ro p ria­
ção das ren d as resu ltan tes n o s m ecanism os de câm bio livre é legítim a p o rq u e tais
m o d alid ad es são incapazes de fazer chegar a parte da renda a qu em não participa
do m ercado; c) a so ciedade é organizada conform e a técnica d e transferência a d o ­
tada; d) só é possível alegar restrições econôm icas no caso extrem o de P roduto
In te rn o B ruto in su ficien te p ara a ten d e r as necessidades de su b sistên cia de toda a
p o p ulação.
À guisa de conclusão de suas ideias propõe: a) estabelecer o quantum da renda
a fim de d eterm in a r a parte do PIB a d istrib u ir (volum e das transferências líqui­
das); b) fixar a idade da aposentadoria p o r idade (requisito legal); c) definir a base
de cálculo da co n trib uição de cada um (d istribuição); d) estabelecer o m ecanism o
segundo o qual se retira do PIB a parte a d istrib u ir (financiam ento); e e) desen h ar
u m sistem a o perativo flexível e adequado a essas circunstâncias (adm inistração).
2 039. Regim e da Lei n. 3 .8 0 7 /1 9 6 0 — Os atuãrios são u n ân im es em aceitar
inicialm en te o regim e de capitalização e, no final, adoção da repartição sim ples,
do RGPS. E fetivam ente, nos últim os tem pos, transform ado, na prática, em regim e
orçam en tário ou de caixa.
Isso lem bra que a opção tem a ver, tam bém , com idade d o plano.
2 040. O p ção d a Lei n. 6 .4 3 5 /1 9 7 7 — A Lei n. 6.435/1977 o p to u pelos três
principais regim es: capitalização, repartição sim ples e capitais d e co bertura, adap­
tados aos d iferentes benefícios.
A aplicação da tal determ inação legal não vem sendo fiscalizada.
C onform e a circunstância que aponta, a LC n. 109/2001 sinaliza para um ou
o u tro desses regim es financeiros.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o IV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1427
Capítulo CCIV

T ip o s d e P la n o

2041. Benefício definido. 2042. Contribuição definida. 2043. Abordagem


S u m á r io :
híbrida. 2044. Porcentagem nos salários. 2045. Poupança (sciving piam). 2046.
Poupança-aposentadoria. 2047. Compra de ações. 2048. Participação nos lucros.
2049. Plano à vista ou diferido. 2050. Programa simplificado de aposentadorias.

Os program as de financiam ento e prestações do segm ento fechado, entre o u ­


tras m odalidades possíveis, basicam ente com preendem três espécies fundam entais,
designadas com o tipos de plano: a) benefício definido; b) contribuição definida; e
c) híbridos. O u tro s existem , p articularm ente nos Estados U nidos.
H istoricam ente, no Brasil, os prim eiros fundos de pensão, in stitu íd o s por
estatais, prestigiaram a prim eira hipótese, com binada com a repartição sim ples;
h o d iern am en te, é crescente o n ú m ero de entidades consagrando a contribuição
definida, não se d escartando o sistem a híbrido.
Ao prim eiro dos planos, com o dito, costum a-se associar o regim e financeiro
de repartição sim ples, e ao segundo deles, o de capitalização; ao últim o, a com ­
binação de am bos os regim es. O RGPS ainda é plano de benefício definido sob o
regim e de repartição sim ples.
Em lin h as gerais, no plano de benefício definido, antecipadam ente sabe-se o
valor das prestações, todavia, no de contribuição definida esta é conhecida, m as
não o nível daquelas m ensalidades. Só ao final do processo, o segurado tem co n h e­
cim ento de q u an to vai receber m ensalm ente.
N a co n trib u ição definida, a m aior desvantagem para o titu lar é, q uando de sua
aposentação, a possibilidade de seu capital acum ulado m ais a rentabilidade do sis­
tem a não serem capazes de atendê-lo, isto é, as contribuições pessoais e patronais
e o resu ltad o das inversões serem insuficientes para a m an u ten ção do p atam ar das
m ensalidades de pagam ento co n tinuado. O segurado só tem o pessoalm ente p o u ­
pado e o desem bolsado pelo em pregador, devendo servir-se de aportes de outros
trabalhadores (m u tu alism o ), q u an d o sobreviver além do atuarialm ente estim ado.
O s au to res avultam vantagens e desvantagens dos diferentes tipos de planos,
convindo, nesse sentido, exam inar a obra “Planos E m presariais”, traduzida por

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1428 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Áurea Dal Bó e N orm a Pinto de C arvalho, sob a coordenação de Rachel Rosemblum
e revisão técnica de M ário Dias Lopes, de au to ria de Everett T. Allen Jr., Joseph J.
M elone,Jerry S. Rosembloom e Jack L.Vanderhei.
2041. B enefício d efin id o — O plano de benefício definido caracteriza-se pelo
fato de o valor da prestação ser determ inado n o m o m ento da adesão do p artic ip a n ­
te ao sistem a, com base em fórm ulas de cálculo previstas n o R egulam ento Básico.
Para garanti-lo, o seg u rad o r apreende contribuições variáveis no curso do tem ­
po, necessárias para o aten d im en to das obrigações futuras. E videntem ente, tanto
qu an to sucede com o plano de contribuição definida, as afirm ações dependem de
vários aco n tecim en to s que sucedem no curso do tem po.
H istoricam ente, é a m odalidade p re d o m in an te em todo o m u n d o e expressão
m aior da solidariedade, adotada em quase todos os regim es oficiais básicos. Sem
som bra de dúvidas, o ideal da proteção social, garantindo a sub stitu ição da m édia
salarial do trabalhador.
Pode desdobrar-se em duas m odalidades: a) som ar o m o n tan te, com carac­
terística de pecúlio, p o r m eio do qual é ad quirida renda m ensal vitalícia; e b) a
co n trib uição é transform ada, autom aticam ente, na própria m ensalidade vitalícia.
É o regim e adotado no RGPS e em p raticam en te todos os regim es públicos
brasileiros.
2 0 4 2 . C o n trib u iç ã o d efin id a — N um a form a singela, no plano de c o n trib u i­
ção definida, o benefício é determ in ad o no m om ento de sua concessão e com base
nas con trib u içõ es an terio rm en te fixadas e vertidas.
Hélio Portocarrero e o u tro s assinalaram vantagens para a contribuição defini­
da: a) elim inação dos riscos de insolvência em razão das crises financeiras da p a ­
trocinadora; b) os trabalhadores têm interesse total em fiscalizar os gestores, pois
estes são responsáveis pelo valor final dos benefícios; c) os p articip an tes opõem -se
ao uso político dos in v estim entos, criando custo político para os governantes; d) o
prêm io, n o p lano de benefício definido é elevado em com paração com o de co n tri­
buição definida; e e) aum entam as resistências da sociedade às políticas m onetárias
inflacionárias, pois, causando ju ro s reais negativos, elas reduzem o fu tu ro valor das
aposen tad o rias, p rejudicando a rentabilidade dos fundos ( “Regim es C om plem en-
tares de P revidência”, p. 31).
Everett T. Allen Jr., enfocando o sistem a am ericano, ap o n ta vantagens e des­
vantagens, co m p aran d o -o ao benefício definido: a) o plano afeta in dividualm ente
os em pregados; b) a integração com o benefício básico é atingida em m elhores co n ­
dições com a co n trib u ição definida; c) os fundos realizados p o r ocasião da invali­
dez ou m o rte são m ais bem utilizados; d) esse plan o não propicia garantia contra a
inflação igual ao do benefício definido; e) os riscos são assum idos pelo em pregado,
na co n trib u ição definida e pelo em pregador, no benefício definido; f) o valor dos
benefícios varia em term os de tem po de contribuição, oscilando conform e a idade
do participante; m elh or q u an d o esse tem po é m aior e m enos confortável quando
m enor, o co rren d o ao contrário, no de benefício definido (ob. cit., p. 76).

C urso nr D ireito P revidenciário


TomoÍV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1429
Em razão do longo tem po de m atu ra ção de um plan o em relação a cada p ar­
ticip an te, ju stifica-se a g en eralid ad e das observações dos estu d io so s, re su ltan d o ,
afinal, deslocarem -se as d u as m o d alid ad es do eixo p ro tetiv o secu n d ário : o de
benefício defin id o é prev id en ciário , o de co n trib u içã o definida m ais p o u p an ça
in d isp o nív el. O nível de so lid aried ad e tam bém é afetado, m en o r no segundo e
m aior no prim eiro. A capacidade co n trib u tiv a de cada um , p o d e n d o acrescer
ap o rtes facultativos, é decisiva n a escolha d e u m ou o u tro , não sen d o ac o n selh a­
do o de co n trib u içã o definida, em term o s de previdência social un iv ersal, nu m
país de baixa p o u p an ç a, m á d istrib u iç ão de re n d as/riq u ezas e ausência de poder
co n trib u tiv o .
2043. A b ordagem h íb rid a — O plano de abordagem m ista o u híbrido p ro p i­
cia divisão entre as prestações: as program adas subm etem -se ao regim e de c o n tri­
buição definida e as não program adas, ao regim e de benefício definido.
Resum e as vantagens e as desvantagens de cada um dos sistem as, devendo ser
equilibrado conform e o desenho do plano.
2044. P o rcen tag em dos salário s — O plano de porcentagem dos salários,
conform e ensina N ewton Cesar Conde, é de benefício definido, e seu valor é d e­
term inado em função de percen tu al sobre o salário de participação, desprezando,
assim , o valor do benefício do INSS (“U m a visão básica e prática do D ireito Previ­
d en ciário ”, p. 3/5).
2045. P o u p an ça (saving plans) — Everett T. Allen Jr. (ob. cit., p. 196) ap re­
senta o u tra m o dalidade vigente nos Estados U nidos: plano dc poupança. Tem por
objetivo atrair e m an ter em pregados, pro p o rcio n ar renda diferida em bases trib u ­
tárias vantajosas, estim u lar os em pregados a econom izar e poupar, garantir b en e­
fícios co m p lem en tares de outros planos, n o s casos de doença, invalidez, m orte,
ap o sentadoria ou cessação do vínculo em pregaticio, acu m u lar fundos para outras
finalidades e prom over m aior sen tim en to de identificação com a em presa pela
aquisição de seus títulos.
Suas acen tu ad as características são as seguintes: a) a adesão é voluntária; b)
o trab alh ad o r pode o p tar pelo nível de participação; c) há contribuição igual do
em pregador, até certo patam ar; d) os aportes convergem para um fundo fiduciário;
e) os ativos do fu n d o sào aplicados em diversos investim entos, com os segurados
p o d en d o opinar; 0 o saldo da conta é geralm ente pago ao próprio em pregado; g)
o plano perm ite, na ativa, sacar o valor das suas contribuições e tam bém o total ou
parte dos seus direitos inerentes às contribuições da em presa.
2046. P o u p an ça -ap o se n ta d o ria — O Banco C entral do Brasil, no início de
1996, desenvolveu Projeto de Lei visando a aposentadoria-poupança, com os re­
cursos aplicados na área habitacional, facultado livrem ente a q u alq u er pessoa, ofe­
recendo ren d im en to s da caderneta de poupança (TR + 6% a.a.). O público-alvo,
os profissionais liberais. Com depósito indisponível entre 10 e 12 anos, isenção do
Im posto de Renda d u ra n te os depósitos (“M alan q u er lançar Previdência C om ple­
m e n ta r”, in Folha de S. Paulo, de 5.12.1995, p. 2-5).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1430 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
2 0 4 7 . C o m p ra d e ações — U m dos im p o rtan les m ecanism os de proteção
social con h ecid o no s E stados U nidos, onde o m ercado acionário en contra habitat
n atu ral, é o de co m p ra de ações. Trata-se de operação sim ples e, a exem plo do p la­
no de participação n o s lucros, são adquiridos títulos do em pregador, fato vedado
na legislação brasileira. Faz parte do gênero de planos onde “p arte o u o total dos
seus ativos realiza-se em papéis do em p reg ad o r”.
O C ódigo T ributário F ederal daquele país define-o com o “u m plan o qualifica­
do de bonificação em ações e plano de contribuição definida (money purchase) que
se d estin a a in v estir p rim o rd ialm en te em papéis do em p reg ad o r”,
Everett T. Allen Jr. (ob. c it., p. 213) assinala as vantagens e desvantagens do
plano. D uas são significativas: a prim eira, a associação com a em presa e seus riscos;
segunda, a possibilidade do sucesso do m esm o em preendim ento.
2 0 4 8 . P articip ação n o s lu cro s — No sistem a de participação nos lucros, o
m o n tan te devido ao trabalhador (nos term os do ditam e constitucional e da Lei n.
10.101/2000, no caso brasileiro) é depositado, sob form a de cotas, em sua conta-
-corrente, para fins de aposentadoria.
O m estno Everett T. Allen Jr. reproduz a definição da legislação trib u tária n o r­
te-am ericana a esse respeito: “é um plano estabelecido e m antido p o r um em p re­
gador para p erm ilir que os em pregados e seus beneficiários participem dos lucros
da em presa. O plano deve estabelecer um a fórm ula definida e p red eterm in ad a para
alocar as co n trib u içõ es feitas ao plano entre os p articipantes e para d istrib u ir os
fun d o s acu m u lad o s pelo plano depois de u m núm ero fixo de anos, depois que o
em pregado atin g ir um a certa idade, o u m ediante a ocorrência de eventos com o d e­
m issão em m assa, doença, invalidez, aposentadoria, m orte ou térm ino do vínculo
em p regatício” (ob. cit., p. 183).
N u m a técnica dessa natureza, on d e prom ovida acentuada aproxim ação do
trab a lh ad o r com a em presa e, im portante, com os seus resultados financeiros so­
cializando o capital, em relação a essa parte, perde sentido su b sistir participação
co n trib u tiv a do participante.
O bviam ente, ela faz dele sócio no em p reen d im en to , sem deter a propriedade,
assu m in d o os riscos da atividade econôm ica. Só poderia fu n cio n ar com o m étodo
auxiliar a o u tro , se não tivesse, intrinsecam ente, capacidade de am eaçar a proteção
social final. Tem a vantagem de p o p u larizar o capital, co m p ro m eter o obreiro com
a p ro dução, oferecendo-lhe a garantia q u an d o socialm ente ju sta e interessante à
distribuição dos lucros.
No Brasil, poderia viabilizar-se com o acréscim o ao plano vigente, d istrib u in ­
do-se os lucros à conta individual do em pregado, levantáveis so m en te nas h ip ó te­
ses de direito aos benefícios de pagam ento con tin u ad o .
As vantagens são as co m u n s aos tipos de participação nas em presas.
2049. P lano à v ista o u diferid o — N esta m odalidade securitária, o interessado
pode receber a co ntribuição do em pregador o u tê-la diferida para a ocasião propícia.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o ZV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1431
As principais características são: a) propicia resgate à vista, a q u alq u er m o­
m ento ou p o r ocasião do benefício; b) podem ser definidas as im portâncias dos
saques; c) os valores provisionados não são confiscáveis; d) é dispensável ter 12
m eses de em presa.
O in stru m en to pode fazer parte de um plano de participação nos lucros, de
com pra de ações ou de poupança, excluído o de contribuição definida.
D iante do resgate, as vantagens para o em pregado são bastante significativas.
2050. P rogram a sim p lifica d o de a p o se n ta d o ria s — A legislação no rte-am e­
ricana prevê plano sim ples, exigindo idade m ínim a de 21 anos para o participante.
Trata-se de co n trato escrito, on d e o em pregado p o d er sacar os fundos, resgatando­
-os a qualq u er m om ento, sem obrigação de d eixar parte dele para obrigar o em pre­
gador a c o n tin u ar ap o rtando.
A em presa deduz os valores do Im posto de Renda, e sua contribuição não
ultrapassa 15% da rem uneração do trabalhador. Porém , não há em préstim os.
A principal vantagem é a desburocratizaçào do p lano e o resgate livre de c o n ­
tribuições.

C urso de D ireito P revidenciarío


1432 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CCV

C á lc u lo A t u a r ia l

Su m á r i o : 2051. Noções históricas. 2052. Elementos mínimos de atuária. 2053.

Reserva matemática. 2054. Reserva não matemática. 2055. Reserva de poupança


e de contingência. 2056. Reserva técnica, comprometida e não comprometida.
2057. Equilíbrio, superávit e déficit técnicos. 2058. Fundos de solvência. 2059.
Carregamento no prêmio. 2060. Noções elementares de matemática financeira.

O cálculo atu arial é especialização da ciência m atem ática. Serve-se de encam i­


n h am en to s e elucubrações, às vezes, difíceis para o com um dos m ortais. N ão deixa
de ser concepção idealista do co m p o rtam en to hum ano, daí sobrevindo, inevitavel­
m ente, certa m argem de aproxim ação e m esm o esta, aritm ética ou algebricam ente
estim ável.
Q uem se interessa pelo assunto, além de d o m in ar m atem ática financeira (p ar­
ticu larm en te, ju ro s com postos, progressões sim ples e geom étricas, m édias aritm é­
ticas e p o n d erad as), deve buscar obras especializadas, especialm ente, as desenvol­
vidas sobre o cálculo da probabilidade, tábuas biom étricas, m utualism o, seguro
privado, co m p o rtam en to de m assas etc.
Os d esd o b ram en to s adiante visam tão som ente achegar ao assunto, sem a
preten são seq u er de explicar os fundam entos m atem áticos aplicáveis à previdência
social.
Da leitu ra das o b ras de divulgação de atu ária, resu lta a não uniform ização
sem ân tica ou co n ceitu ai, em baraços p o r parte do leigo em co m p reen d er as d is­
tin çõ es estabelecidas, a m erecer sistem atização. Boa parte dos entraves de co m u ­
nicação reside no fato de o cálculo atu arial servir-se de m atem ática financeira
com plexa, ao alcance apenas de iniciados, e não ser possível trad u zi-la em term os
co m u n s, sem os processos lógicos e algébricos. A concentração no p o sicio n am en ­
to técnico, su as incó g n itas e divergências afastam o atu ário do cidadão com um .
O bra esm iu çan d o o seu trabalho está p o r ser escrita. O m esm o se passou com a
F ó rm u la 95.
O p resen te capítulo sugere as prim ícias aritm éticas, tentativa de alcançar as
ideias do cálculo e to rn ar possível a inteligência da concepção dos estudiosos.

C urso de D i r f .h o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
2051. N oções h istó ric a s — O cálculo atuarial, em bora incipiente a M atem á­
tica, en co n tra form as p rim árias na antiguidade, havendo registros na M esopotâm ia
e no Egito.
Newton César Conde co n to u parte de sua história. Segundo ele, “no período
de 753 a 510 a. C., ou seja, no Im pério R om ano, já se m anifestava preocupação em
registrar os nascim en tos e as m ortes entre os habiLantes de algum as regiões, mas
foi no Século XVII q u e se iniciaram as prim eiras tentativas de calcular a probabi­
lidade de vida hu m an a, principalm ente na Inglaterra, o n d e algum as instituições
assum iam com prom issos ju n to a certas pessoas, no sentido de g aran tir pensões
vitalícias em cu m p rim en to de disposições testam en lãrias” ( “T ábua de M ortalidade
destinada a E ntidades Fechadas de Previdência P rivada”, p. 5).
G raças a Blaise Pascal, iniciaram -se os prim eiros estu d o s científicos pensando
no cálculo atuarial, obLendo aplicação prática com o desenvolvim ento do seguro
privado. No Brasil, na década de 1970, sem sofrer a p retendida influência norte -
-am ericana, com iniciativa verde-am arela (no dizer de Rio Nogueira), depois de
aban d o n ad o s os cu rso s universitários, o cálculo atuarial en c o n tro u ressonância no
sistem a fechado de previdência privada.
E m bora possa não ter sido o au to r da Lei dos G randes N úm eros Ja cq u es Ber-
nouille ex p licitou a teoria das probabilidades e deixou en u nciado o célebre teorem a
daquela descoberta (Lei da R egularidade E statística e Lei E m pírica do Acaso), no
seu Ars Conjectandi, no final do Século XVI.
M anuel Sebastião Soares Póvoas alude às tontinas, criação do italiano Tonti, na
Idade M édia, banidas em 1770, com o p ro tó tip o do seguro de vida. Fala tam bém do
The Life Assurance Act (1774), em bora voltado inicialm ente ao pagam ento. S egun­
do ele, a prim eira apólice de seguro data de 1583, em itida p o r R ichard M artin, a
favor de W illiam G ybbon, p o r 12 m eses, com taxa de 8%. M arco significativo desse
desenvolvim ento é a Friendly Societies Act, de 1896.
A Inglaterra, no Século XIX, reconheceu a im portância do atuário, m as só re­
centem ente, p or meio do Decreto-lei n. 806/1969, o Brasil regulam entou a profissão.
Q uase to d o s os estu d io so s apontam com o causa da fratu ra no m odelo p re ­
videnciário estatal a inexistência de o rd e n am en to pro g ram ad o e sistem ático e
não observância dos p o stu lad o s atuariais. Os órgãos gestores não sabem q u an to s
seg u rad o s e d ep e n d en tes co n stitu em a clientela protegida, desco n h ecem os seus
elem en to s b io m étricos, dem ográficos, salariais e suas condições pessoais. N um a
ú ltim a análise, em relação aos benefícios program áveis, ignoram q uando eles se
darão e quais as despesas previstas, não só para o ano seguinte, com o para os
próxim os.
A organização do RGPS despreza o cálculo atuarial na determ inação da base
de cálculo do fato gerador e da alíquota, na m argem de erro na realização da receita
e na form ulação do plano de benefícios. Talvez isso explique o insucesso governa­
m ental na área, processo m elancolicam ente assinalado pela extinção da Secretaria
de EstaLística e A tuaria (em 1992).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1434 W ía d im ir N o v a e s M a r tin e z
P o r m eio da P o rtaria MPAS n. 1.424/1994, foi criada C om issão P erm anente
de E stu d o s A tuariais — CPEA, com cinco m em bros, três dos quais o riu n d o s da Se­
cretaria de Previdência Social e “dois rep resentantes da sociedade civil de notório
saber em assu n to s a tu ariais”.
De form a diversa, possivelm ente sob a influência dos prim eiros fundos de p en ­
são, organizados sob a supervisão de m atem áticos, a LBPC, em diversos m om entos,
prescreve sobre a presença do atuário na estruturação dos diferentes planos.
2 052. E lem en to s m ín im o s de a tu á ria — O juízo do cálculo atuarial aplicado
à previdência social p ressupõe o co n h ecim en to de alguns conceitos elem entares.
São pro p o siçõ es in cip ien tes referentes às ideias de: a) proteção; b) m utualism o;
c) risco; d) sinistro; e) probabilidade; f) evento; g) m assa; h ) plano; i) tábuas de
m ortalidade; e j) prêm io.
a) Proteção: P roteção, individual ou coletiva, consiste no aten d im en to , por
parte do p articu lar ou do Estado, de certas necessidades arroladas na no rm a ou no
ajuste co n tra tu al, em favor do destinatário, m ediante atenções pessoais (serviços)
ou prestações (valores em d in h eiro ), classificados com o m odalidade securitária ou
previdenciária. C om preende largo espectro a ser especificado em cada caso. Tam ­
bém designada com o cobertura.
b) Mutualismo: M utualism o, m utu alid ad e (qualidade do m ú tu o ) o u seguro
m ú tu o é expressão m aterial da solidariedade em proteção social, condição aven-
çada m ed ian te a qual os com ponentes de grupo previam ente definido auxiliam -
se recip ro cam en te d ian te da presença de sinistro igualm ente convencionado. É,
tam bém , a organização segundo a qual trabalhadores com interesses em com um
cotizam -se para cobrirem certas contingências.
c) Risco: Risco q u er dizer a probabilidade de ocorrência de d eterm in ad o fato
previsível ou não, aco ntecim ento n o rm alm en te incerto, futuro, trau m ático , capaz
de p ro d u z ir efeitos sopesados pela técnica considerada. Assim, existe a possibili­
dade de acidente do trabalho, evento estim ável em term os m atem ãtico-estatísticos
nu m certo un iv erso e m om ento histórico.
Ele é possível, futuro, incerto, in d ep en d en te das ações das partes (acidentali-
d ad e), deflagrador de prejuízos e m ensurável econom icam ente. Isto é, algo susce­
tível de aco n tecer no p o rv ir e avaliável.
d) Sinistro: Sinistro é a realização do risco, info rtú n io danoso receado, isto é, o
fato, previsto o u não, consum ado. F ora do seguro privado, n a órbita da previdência
social, é designado com o contingência protegida.
e) Probabilidade: Probabilidade é relação m atem ática d eterm in a n te da efetiva­
ção do acontecim ento. D istingue-se da possibilidade, capacidade de o evento vir a
aco n tecer em d eterm in ado espaço de tem po e em certas circunstâncias.
A ritm eticam ente, define-se com o a divisão do n ú m ero de eventos favoráveis
pelo n ú m ero d o s possíveis. Assim, q u an d o jo g ad a m oeda para o alto, tendo ela
duas faces, e caindo um a só para cim a, a relação é: 1/2 = 0,5.

C urso de D ir e it o P r e v i d e n c i A i^ o

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1435
Na definição de Newton J. Monteiro, “se m é o núm ero de m odos pelos quais
pode o correr um evento E, constituindo-se de um su b co n ju n to de um a série com ­
pleta de n eventos, m u tu am en te exclusivos, e igualm ente possíveis, a probabilida­
de m atem ática de ocorrer o evento E, é definida pela razão m /n”.
f ) Evento: A proveitando as lições de Newíorc J. M onteiro, e adaptando-as à lin ­
guagem ju ríd ica, evento pode ser tido com o q u alq u er fato perceptível ao registro
hu m an o (ex.: m orte). E vento aleatório é aquele sob d ependência de agente deter­
m in an te de sua efetivação (ex,: m orte acidentária). E vento possível é o com mais
probabilidade de su ceder (ex.: nascim ento após o casam ento). E vento favorável,
o suscetível de realizar-se (jogado dado, de seis posições prováveis, u m a delas é
favorável). No evento excludente, q u an d o sucede um , o o u tro não sobrevem (a
m u lh er está grávida ou não está).
g) Massa: M assa, a som a de inform ações qualitativas e quantitativas dos p ro ­
tegidos, dados pessoais com o idade, salário, ocupação, estado de saúde, tem po de
serviço, con trib u içõ es vertidas, núm ero de dependentes. A legislação usa a expres­
são clientela ou destinatários.
h) Plano: Plano é co n ju n to de regras financeiro-aLuariais e norm ativas, com ­
posto de p o stulados m atem áticos e com andos ju ríd ico s, m ateriais e form ais, capa­
zes de e stru tu ra r o o rd en am en to científico do regim e previdenciário.
Nele, estabelecidos os conceitos de protegido (clientela ou m assa), bem coberto
(sinistro ou contingência), fontes de custeio (financiam ento, com definição de regi­
m e financeiro), elenco de prestações (com adoção de tipo de plano e extensão dos
serviços), além de norm as procedim entais. Mescla de trabalho atuarial e jurídico.
i) Tábuas: T ábuas biom étricas são estudos m atem ático-estatísticos e dem o­
gráficos visando definir o co m p o rtam en to de certo g rupo hu m an o sob diferentes
aspectos, com o sexo, natalidade, m ortalidade, doença, invalidez, m orte. M uitas
delas foram elaboradas no passado, na área de cálculo atuarial, e nào têm sido
atualizadas.
O art. 28, § 2a, do D ecreto n. 81.240/1978 (fechado), tem regra a respeito, o
m esm o aco n tecen d o com o art. 7a, IV, do D ecreto n. 81.402/1978 (aberto).
A lgum as recom endadas, com o a Com issioneis Standard Ordínary, 1958, CSO
58; a A nnuity Table, 1949, AT 49; a Tábua de E ntrada de Invalidez do IAPB, 1957;
e a Tábua de M ortalidade ou Invalidez, IAPB, 1957, adotadas pela Resolução CNSP
n. 10/1983 (item 12). Tam bém são conhecidas as English Lije Table 12, EET-12 e a
Experiência Brasileira n. 7-1975 e 7:75.
A experiência dos fundos de pensão brasileiros perm ite a elaboração de tábua
de m ortalidade (“C o nstrução de T ábua de M ortalidade com a experiência dos fun­
dos de p en sã o ”, p. 11/17).
j) Prêmio: Prêm io é im portância em d inheiro, estabelecida a p artir de estudos
probabilísticos e atuariais, fixada pela seguradora, paga antecipadam ente à vista ou
em parcelas, pelo seguro, capaz de aten d e r às despesas operacionais, configurar o
lucro e cobrir as indenizações.

C u rso dl D ireito P re v ip fn c iA rio

1436 W l a d i m i r N o v a e s M a r li n e z
Alexandre Luzzi Las Casas divide-o em três espécies: a) prêm io estatístico, a
relação en tre os previstos e os segurados e a totalidade dos participantes; b) prêm io
p u ro é o a n terio r acrescido d e percentual de segurança para co b rir possíveis flu tu ­
ações; e c) prêm io com ercial ou tarifário é o p u ro , m ais o carregam ento. É o preço
pago (Mercado Financeiro, p. 23/24).
20 5 3 . R eserva m a te m á tic a — C onceito perq u irid o pelo iniciante em atuaria
é “reserva m atem ática”, com binação de duas palavras heterogêneas, significando,
grosso modo, certa d im ensão m aterial (aspecto aritm ético) de recursos financei­
ros am ealhados (aspecto econôm ico), com vistas em algum objetivo definido na
lei securitária. O p roblem a avolum a-se com a convenção vern acu lar n em sem pre
assim ilada, disso resu ltan d o expressões com o “reserva técnica”, “reserva de p o u ­
p an ç a”, “reserva de co n tin g ên cia”, a m erecer explicações.
A ideia m ais sim ples de reserva m atem ática consiste em ser o nível da garantia
das obrigações assum idas com os particip an tes, in cluindo os co n trib u in tes ativos
e os atuais e fu tu ro s aposentados.
Rio Nogueira propicia algum as das distinções necessárias à elucidação desse
fenôm eno atuário. Inicialm ente, su sten ta, ju ríd ic a e econom icam ente, ser “a ex ­
pressão m o n etária d o direito líquido de u m g rupo segurado, peran te a entidade
previdencial, em su a fase de fu n cionam ento norm al, direito esse q u e varia n o tem ­
po, d ep en d en d o de com prom issos recíprocos pactu ados entre o g ru p o e a entidade,
através de n o rm as estatutárias, regulam entares, legais e tc.” (ob. cit., p. 43).
Dessa descrição, defluem algum as conclusões rápidas: a) resu ltad o da relação
ju ríd ic a en tre o p articipante e a entidade; b) direito do segurado perante a e n tid a ­
de; c) im p o rtân cia quantificável em condições norm ais; d) valor líquido e ilíquido,
pois varia no tem po; e) subordinação ã avença preestabelecida; e 0 subm issão às
n orm as co n tratu ais. É, pois, in stitu to com plexo.
C en su ra as expressões “reserva de benefícios co n ced id o s” e “reserva de b en e­
fícios a co n c ed er”, pois as reservas não seriam dos benefícios e sim das p articip a­
ções. Dir-se-á, a favor dos usuários dessas expressões, referirem -se tais reservas aos
segurados, os ú ltim o s e únicos d estinatários da instituição.
Ele a define, no to can te a d eterm in a d o benefício, com o “a diferença entre
o valor atual dos co m prom issos futuros assum idos pela entidade, q u an to à co n ­
cessão do benefício aos m em bros do grupo, e o valor atual da ren d a de receitas
futuras previstas para a co bertura dos referidos encargos, de acordo com o regim e
financeiro ad o tad o especificam ente para o benefício no plano de custeio vigente”.
Na descrição, evidentes referências às im portâncias: os valores são sem pre os
atu ais (logo, as reservas são aferíveis em determ in ad o m o m ento) e cristalizados em
função do regim e financeiro adotado (capitalização, repartição sim ples, capitais de
co b ertu ra o u outro).
N o u tro dizer, reserva m atem ática é a diferença entre os recursos e os encargos
futuros, m en su rad o s em valores atuais (com o se au sen te inflação o u o u tras varia­
ções da m oeda e aplicações).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v i d ê n c i a C o m p le m e n ta ?
m
A seguir, ele enfoca a reserva m atem ática em relação aos três principais regi­
m es financeiros. Definido o de repartição em função de avaliações periódicas, p re­
visão de receitas e despesas futuras, com valores anu alm en te identificados, reserva
m atem ática sem pre zerada. No regim e de capitalização, as receitas anuais futuras
não coincidem com as despesas anuais por acontecerem . No regim e de repartição
de capitais de co b ertu ra, as receitas dos anos v in d o u ro s devem igualar, respectiva­
m ente, os totais prováveis dos fundos de renda iniciados nesses anos.
2054. R eserva não m atem ática — C onfessando a dificuldade de os especialis­
tas em D ireito alcançarem os diferentes conceitos, Manuel Sebastião Soares Póvoas
desenvolve a ideia de reserva não m atem ática. Seriam elas as reservas de benefícios
a liq u id ar e reservas de rendas vencidas e não pagas.
Diz-se daquelas provisões não realizadas p o r q u alq u er m otivo. Dá-se exem plo
do pecúlio não recebido pelos herdeiros do segurado.
2055. R eserva de p o u p an ç a e de co n tin g ên cia — Rio Nogueira define reserva
de co n tingência com o “a diferença entre o total dos bens do ativo e o total das obri­
gações do passivo, no caso de ser positiva essa diferença e caso a diferença referida
exceder os 25% da reserva m atem ática, ela será consignada no passivo dos b alan ­
ços e balancetes com o valor desse p ercentual e o excesso, com o fundo de m elhoria
de benefícios; no caso contrário, a reserva de contingência é zero” (ob. cit., p. 72).
2056. R eserva técnica, c o m p ro m e tid a e n ão c o m p ro m e tid a — A N ota E xpli­
cativa CVM n. 06/1978 dá “com o reserva com prom etida a vinculada a desem bolso
de caixa program ado p ara curto prazo (entendido com o até 360 dias); não com ­
prom etidas, as dem ais, isto é aquelas vinculadas a desem bolso d e caixa previstos
para o corrência a longo prazo (acim a de 360 d ia s)” (item 11, a).
Para Rio Nogueira, com o “o valor provável da diferença entre o total das des­
pesas da en tidade previstas para os 360 dias su b seq u en tes ao da avaliação total das
co rresp o n d en tes receitas de contribuição, no caso de ser positiva essa diferença; no
caso co n trário , ela é zero ” (ob. cit., p. 72).
Para ele, reserva n ão com prom etida é a diferença entre a reserva técnica e a
reserva com prom etida. Reserva técnica é a reserva m atem ática dim in u íd a do défi­
cit técnico. E déficit técnico, a diferença entre o total das obrigações do passivo e
o total d o s bens do ativo, no caso de ser positiva essa diferença; ao contrário, ele
não existe e dá-se o superávit.
A R esolução CNSP n. 10/1983 decom põe as não com prom etidas em reservas
m atem áticas de benefícios a conceder, de oscilações de riscos e de riscos não expi­
rados, e as com prom etidas, em de benefícios concedidos, de obrigações em curso,
de benefícios a liq u id a r e de rendas vencidas e não pagas (item 23).
2057. E q u ilíb rio , su p e rá v it e déficit técn ico s — Ivan S. Ernandes fornece
descrição intuitiva do enfoque atuarial. Q uando o capital acum ulado é igual às
obrigações futuras, subsiste equilíbrio; se inferior, h á déficit, e, se superior, su p e­
rávit. Nas duas ú ltim as hipóteses, reclam ando providências do ad m in istrad o r e do
atuário ( “A Ciência A tuarial e os F u n d o s”, p. 13/14).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1438 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
2 058. F u n d o s de so lvência — A grande preocupação d o sistem a com o futuro
revela-se p o r m eio de vários m ecanism os criados visando c o n to rn a r dificuldades
operacionais e to rn a r possível a satisfação de obrigações program adas ao longo
prazo. De m odo geral, as reservas técnicas, decom postas em in úm eras m odalidades,
cada um a delas específica, dividindo-se em reservas m atem áticas de benefícios a
conceder ou benefícios concedidos, bem com o as reservas m atem áticas de obrigações
em curso e, até m esm o, no dizer de Manuel Sebastião Soares Póvoas ( “Previdência
P rivada”, p. 133), reservas não m atem áticas, riscos expirados e não expirados e,
finalm ente, oscilações de riscos dem o n stram a com plexidade da atuária.
A inda assim chegou-se à conclusão de que, “in d ep en d e n tem en te dos elem en­
tos que trad icio n alm ente g arantiam a solvência das seguradoras — os elem entos
que co n stitu íam o p atrim ônio líquido, isto é, capital e reservas livres — deveriam
ser criados reforços de solvência, equivalentes ao provável agravam ento das res­
p o n sab ilid ad es que a previsão deficiente, so b retu d o em relação ao risco catastrófi­
co e ao risco co n ju n tu ra l po d em determ inar, e que se cham ariam fu n d o s de solvên­
cia” (ob. cit., p. 139). Segundo ele, em o utros países foram feitas tentativas nesse
sentido, igual à im posição da lei brasileira de 50% do capital social das entidades
g aran tirem as reservas técnicas.
2 059. C arreg am en to no p rêm io — N o estudo da com posição da contribuição,
com parece expressão pouco utilizada fora da atuária: a técnica de carregam ento.
Ela diz respeito, em linhas gerais, à separação entre os valores d estinados às des­
pesas com a ad m inistração do seguro (adm inistração, com issões de corretagens e
ou tras despesas) e as consum idas com o p ró p rio seguro (co n trib u ição pura).
A Resolução CNSP n. 07/1979 havia fixado os percentuais incidentes conform e
o regim e financeiro, considerados elevados à época. C om a R esolução CNSP
n. 11/1979, foi criada a taxa de inscrição, m ais um co m p o n en te de carregam ento.
A respeito de despesas com produção, marketing, divulgação e propaganda ver
Resolução CNSP n. 10/1983. Todos esses percentuais subm etidos à regra do art, 32
da Lei n. 6.435/1977.
2 060. N oçõ es elem e n ta res de m atem ática fin an ceira — Vaga ideia da co m ­
plexidade do cálculo atuarial pode ser dada com alguns in stitu to s de m atem ática
elem en tar e de m atem ática financeira. O tem a abordará juros sim ples e com postos.
A apuração do m o n tan te — definido com o a som a do capital inicial e o valor
ob tid o com os ju ro s — pode elucidar essas concepções.
No cálculo dos ju ro s com postos, aqueles produzidos em cada período, p re­
viam ente d eterm in ad os pelo observador (m ês ou ano), são acrescidos ao capital
gerador, e, em seguida, essa adição no período seguinte gera m ais ju ro s, e assim
sucessivam ente.
N o final do p rim eiro período, o valor dos juros será dado por:
J =Cx i
C om capital de R$ 2.000,00 e ju ro s de 3% terem os:
J = R$ 2.000,00 x 3%
J = R$ 60,00

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1439
O capital acu m u lado ou m o n tan te, no prim eiro m om ento, serã:
Ml = C + i
M l = R$ 2.000,00 + R$ 60,00
M l = R$ 2.060,00
No segundo m o m en to , será:
M2 = C x ( l + i)!
No terceiro m om ento:
M3 = C x (1 + i)3
Para to d o s os casos: M n = C x (1+ i)n. Q uando o período for longo, n terá
nú m ero elevado, e será preciso co n su ltar tabela de logaritm os para resolver a eq u a­
ção. Dá-se exem plo com capital de R$ 2.000,00, aplicado a ju ro s de 0,5% a.m .,
d u ra n te 48 m eses. O capital inicial (R$ 2.000,00) foi acrescido, após 48 m eses,
totalizando R$ 2.480,00,
Ou seja: J = R$ 2.000,00 x 0,5% x 48 = RS 480,00.
Suponha-se, agora, com o acontece na previdência social, acum ulação m ensal
(co n trib u ição ) de R$ 2.000,00 d u ra n te 48 m eses a ju ro s com postos de 0,5%.
Ju ro s com postos, porque, a cada período (m ês), o capital é reaplicado e rende
novos ju ro s.
Se fossem ju ro s sim ples, ter-se-ia:
A fórm ula a ser utilizada é m ais com plexa:
M = C x [ ( l + i)" -l]
i
No caso, com C = R$ 2.000,00, n = 48 e i = 1%, ter-se-á: R$ 122.445,22.
O acréscim o (R$ 122.445,22 - R$ 96.000,00) é p o r causa do ju ro m ensal al­
tíssim o (1% ), de 26,44%.
Para se ter ideia da m atem ática aplicada à previdência social, considere-se ca­
pital acu m u lad o após 480 m eses (40 anos), sem in terru p ção , com ju ro s de 0,5% ao
m ês (6,17% ao an o ), depositados R$ 100,00 todos os m eses (isto é, 20,0% de um a
rem u neração de R$ 500,00). Ao final dos 40 anos, o d epositante terã acum ulado
R$ 199.149,07.
Este m o n tan te, co nvertendo-se em renda m ensal (o saldo rem anescente ge­
ran d o sem pre 0,5% de ju ro s com postos a cada m ês), propiciará ao aposentado
viver conform e a tabela abaixo:
Para duração
até R$ 9 6 0,00 — infinito
R$ 1.000,00 — 1.094 meses
R$ 1 .1 9 4 ,0 0 — 135 m eses
R$ 2.000,00 — 138 m eses

C urso dc D ireito P re v id e n c iá rio

W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
O u tro exem plo diz respeito aos ju ro s, m ensais e anuais. D epositando-se R$
1,00 a cada m ês, d u ra n te 30 anos, calculando-se com ju ro s m ensais de 0,5%, ao
final do p erío d o , ter-se-ão R$ 1.004,00. Caso se opere com ju ro s de 12% a.a., nos
m esm os 360 m eses, o resu ltad o será R$ 3.495,00.
N o cálculo da inflação anual, é significativo o efeito m u ltip licad o r dos per­
centuais. Im agine-se inflação co nstante de i = 2,0% ao m ês, d u ra n te 12 meses,
desejando-se saber a variação integral d u ra n te esse exercício.
A fórm ula é:

T = (1 + — — )12 - 1 .100
100
T = (1 + i)12 - 1 = (1 + 2% )12 - l 12 = 1,02 - 1 = 0,2682 = 26,82%
Para fixar ideias, configura-se situação em que um dos fatores iniciais da pre­
visão atu arial não se realiza. S uponha-se queda da rentabilidade do sistem a, geral­
m ente estim ada em 6% (juro atuarial), e saber o resultado.

Original Cenário 1 Cenário 2

C o n trib u iç ã o patrona! 6,18% 6,18% 11,09%

R en tab ilid ad e 6% 4% 4%

B enefício a sse g u rad o 60% 36% 60%

N o p rim eiro cenário, m anteve-se a contribuição da p atrocinadora, de 6,18%


da folha de pagam ento, m as a rentabilidade caiu de 6% para 4%; o benefício dim i­
nu i de 60% para 36%.
N o segundo, ouvido o atuário, com a m esm a rentabilidade (4% ), porém , com
co n trib u ição m aio r da p atrocinadora (11,09% ), o benefício m antém -se em 60%.
Lenda sobre a descoberta do xadrez é sem pre o p o rtu n a para ressaltar estes
aspectos. P reten d en d o reLribuir o in v en to r do jogo, L ahur Sessa, p o r tal m aravi­
lha, o Im p erad o r chinês Shaih prom eteu-lhe d ar 1 grão de trigo, co rrespondendo
à I a casa, 2 grãos em relação à 2a casa, 4 grãos p ertin en tes à 3ã casa, 8 grãos para a
4 a casa, 16 grãos para a 5® casa, 32 grãos para a 6â casa, 64 grãos para a 7ã casa e
128 grãos, isto é, o suficiente para en c h er u m a xícara de café para a 8 à casa, co m ­
pletan d o a p rim eira linha do tabuleiro. E assim p o r dian te, d o b ran d o a cada casa,
até chegar a 64ã. L ah u r Sessa sorriu para o Shaih e lhe disse: “N este caso, vossa
m ajestade terá de d ar todo o trigo p roduzido no p laneta Terra e m ais um p o u c o ”.
M atem aticam ente, a questão é resolvida no cam po d a progressão geom étrica.
A som a dos term os de u m a PG lim itada é dada por:
S = A.
O nde A = o p rim eiro term o; g = razão e n = q u an tid ad e de term os.
Para um tabuleiro de 8 x 8 = 64 casas, New ton César Conde ap u ro u a fórmula:
S64 = 1 + 2 (263 - 1), algo em torno de 18.000.000.000.000.000.000 de grãos!

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1441
Capítulo CCVI

A plicações Ec o n ô m i c a s e F i n a nc ei r as

2061. Títulos de crédito. 2062. Fundos de renda fixa e variável. 2063.


S u m á r io :
Letras mobiliárias. 2064. Mercado de câmbio. 2065. Ouro físico. 2066. Mercado
de ações. 2067. Aquisição de imóveis e empresas. 2068. Caderneta de poupança.
2069. Operações sob intermediação. 2070. Mercado de futuro e de opções.

O fin anciam ento da previdência social é realizado com contribuições da pes­


soa e da em presa, acréscim os p o r m ora, re n d im en to de patrim ônios, h o norários
por serviços prestados, rendas diversas (além de fontes atípicas com o legados,
concursos de prognósticos e o u tras m ais, o riundas d iretam en te da sociedade), e
verbas o rçam entárias do Estado, p o r ocasião das insuficiências do sistem a oficial.
Na previdência supletiva, os recursos provêm de aportes feitos pelo indivíduo
e pela sociedade, e os dos resultados financeiros das aplicações de capitais ac u m u ­
lados no m ercado m obiliário e im obiliário, principalm ente m ediante inversões em
fundos, títulos, ações e d eb ên tu res (Lei n. 4.728/1965).
Tendo em vista a segurança dos co n trib u in tes e a tranqüilidade do sistem a,
particu larm en te no segm ento fechado e, neste, o m o n tan te das reservas das e n ti­
dades patrocinadas p o r estatais, esses investim entos são controlados severam ente
pelo G overno Federal, p o r m eio de norm as legais, regulam entares, portarias m i­
nisteriais, resoluções e circulares da PREVIC, da SUSEP e do C onselho N acio­
nal de Seguros Privados e, principalm ente, do Banco C entral do Brasil (Lei n.
4.595/1964).
O u tro s entes fiscalizadores ou interessados são a C om issão de Valores M o­
biliários — CVM (Lei n. 6.385/1976) e o C onselho M onetário N acional — CMN
(Lei n. 4.595/1964). A certa distância, o Tribunal de C ontas da U nião — TCU.
De algum a form a, as Bolsas de Valores (R esolução BCB n. 39/1966) e pelo Banco
Nacional de D esenvolvim ento E conôm ico e Social — BNDES.
N este universo, presentes organizações financeiras de vários tipos e e stru ­
turas, estatais e paraestatais, bem com o privadas, a saber: instituições de crédito,
de interm ediação, de seguros e capitalização e de arrendam ento m ercantil, entre
as quais bancos com erciais, de desenvolvim ento, de investim ento, caixas econô­
m icas, cooperativas e sociedades de crédito, de financiam ento e de investim ento,

C urso n r D ir e it o P s e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
corretoras, d istrib u id o ras de arrendam ento m ercantil ( leasing), associações de
p o u p an ça e em p réstim o, em presas de crédito im obiliário e o u tras m ais ( “M ercado
F in an ceiro ”, p. 23/31).
Em seu art. 8 H, III, a Lei n. 6.435/1977 estipulava as condições técnicas sobre
custeio, investimentos, correção de valores m onetários e o u tras relações p atrim o ­
niais. No art. 15, § 1Q, atribui-se com petência ao CMN para estabelecer diretrizes
sobre as aplicações das EAPC. Para as EFPC, a determ inação é a do art. 35,1, c, com a
m esm a redação, bem com o do art. 40, § I a, sub o rd in ad as am bas ao CMN. C om
vistas na Resolução CMN n. 2.109/1994, a Instrução N orm ativa SPC n. 7/1995
atu alizo u o D em onstrativo A nalítico de Investim entos e de E n q u ad ram en to das
Aplicações. A In stru ção N orm ativa SPC n. 8, de 21.3.1996, revogou a de n. 7/1995,
alteran d o o form ulário “D em onstrativo A nalítico de Investim entos e E n q u ad ra­
m ento das A plicações”.
Nuno I P Carvalho, co n fro n tan d o os textos dos art. 40, da Lei n. 6.435/1977,
e art. 21, VIII, da C o nstituição F ederal, en ten d e caber à U nião, no caso o CMN,
apenas fiscalizar as aplicações dos fundos de pensão e não adm inistrá-las (inter­
ferindo), co n clu in d o pelo não albergam ento do dispositivo n a Lei M aior de 1988
(“Da In co n stitu cio n alidade do controle prévio das aplicações das reservas técnicas
dos fu nd o s de pensão pelo C M N ”, p. 90/94).
A Lei n. 8.177/1991 equiparou as EPC “às instituições financeiras e às insti­
tuições do sistem a de distribuição do m ercado de valores m obiliários, com relação
às suas operações realizadas nos m ercados financeiros e de valores m obiliários,
respectivam ente, inclusive em relação ao cu m p rim en to das diretrizes do C onselho
M onetário N acional q u an to às suas aplicações”.
As aplicações das EPC são o rientadas pelo CM N, m ediante resoluções baixadas
pelo BCB. A com provação contábil dos investim entos faz-se sob a C ircular SUSEP
n. 3/1981. A In strução N orm ativa SPC n. 01/1986 adota e n ten d im en to a ser obser­
vado pelas EFPC na aplicação dos recursos das reservas técnicas. O D ecreto-lei n.
2.296/1986 concede estím ulos aos program as d e previdência privada para in cen ti­
var a p o u p an ça de longo prazo. A Resolução BCB n. 1.947/1992 consolidou as nor­
m as regentes das aplicações, fixando os diferentes percentuais, já in au g u rad o s pelas
R esoluções BCB n. 1.362/1987 e n. 1.363/1987. N ovas regras foram estabelecidas
pela Resolução BCB n. 2.038/1993, p o sterio rm en te revogada pelas R esoluções BCB
n. 2.109/1994 e n. 2.132/1995. O assu n to está sistem atizado n o M anual de N orm as
e In stru çõ es do BCB.
O D em onstrativo A nalítico de Investim entos e de E n q u ad ram en to das A plica­
ções (In stru ção N orm ativa SPC n. 7/1995) classifica as diversas aplicações garan­
tido ras das reservas técnicas:
a) títu lo s p ú blicos de responsabilidade do Tesouro Nacional: NTN e LTN;
obrigações e b ô n u s do Tesouro N acional; b ô n u s do Banco C entral do Brasil; títulos
da dívida agrária; LFT e o u tro s títulos públicos federais;
b) in v estim en to s de renda fixa: títu lo s da dívida p ú b lica dos E stados e M u­
nicípios; d ep ó sito a prazo com o u sem em issão de certificado; d eb ê n tu res não

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o ÍV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1443
conversíveis de em issão pública; letras de câm bio de aceite de in stitu içõ es finan­
ceiras; cédulas p ig n o ratícias de deb ên tu res; cédulas hipotecárias; letras hip o tecá­
rias; no tas pro m issó rias de distrib u ição pública; outras obrigações de com panhias
abertas com d istrib u ição pública; q u o tas e obrigações do FND; títu lo s de d esen ­
volvim ento econôm ico; depósitos em co n tas de p o u pança; ouro físico; co ntratos
m ercantis de co m p ra de o u ro para recebim ento futuro; certificado representativo
do m ercado de com pra/venda a term o — energia elétrica; créditos securitizados do
Tesouro N acional; q u o tas de FIF renda fixa; qu o tas de aplicação em quotas de FIF
ren d a fixa; qu o tas de o u tro s fu n d o s m ú tu o s de renda fixa regulados pelo BCB; cer-
Lificados de privatização; qu o tas de fundo de in v estim en to n o exterior; títulos do
BNDES; títulos v in cu lad o s à venda/revenda e o u tro s in vestim entos de renda fixa;
c) in vestim entos de renda variável: ações de em issão de com panhias abertas;
m ercado à vista, a term o, futuro, futuro de índice de opções de cotnpra; ações
resgatáveis; valores a receber decorrentes de venda de ações; o u tras ações de em is­
são de co m p an h ias abertas; deb ên tu res conversíveis de em issão pública; b ô n u s de
subscrição de ações de em issão de co m panhias abertas; certificado de depósitos
de ações em itidas p or com panhias do Tratado MERCOSUL; q u o tas de fundos m ú ­
tuos de in vestim entos em ações regulam entadas pelo CVM; fu n d o s m útuos de in ­
vestim entos em em presas em ergentes; fundo de investim entos im obiliários; fundo
de investim ento em com modities; quotas de F u n d o s de Investim ento F inanceiro
FIF — renda variável; quotas de aplicações em quotas do FIF — renda variável;
outros fundos m ú tu o s de investim entos; ações de em issão de co m p an h ias fechadas
adquiridas no âm bito do PND; ações de em issão de com panhias abertas adquiridas
no âm bito n o PND; Bolsa de M ercadorias e F uturos; M ercadorias; F uturos; o utros
investim entos de renda variável;
d) in v estim en to s im obiliários: im óveis de uso próprio; im óveis com erciais;
investim entos em shopping center, subscrição de quotas de sociedades em contas de
participação em em p reen d im en to s im obiliários; terrenos; im óveis locados à p a tro ­
cinadora; im óveis em construção; o utros investim entos im obiliários autorizados
pelo CNPC;
e) em préstim os aos participantes;
f) financiam entos aos participantes;
g) outros investim entos: op erações com patrocinadoras transitórias ou co n ­
tratadas; operações em que assegurada rentabilidade m ínim a; outras m odalidades
de invesLim entos autorizados; outras operações.
Ary Oswaldo M attos Filho salientou a im portância das EFPC em term os de
investim ento: “Os fundos de pensão, já há algum tem po no Brasil, e antes disso
nos países de econom ia desenvolvida, vêm d esem p en h an d o u m pape! cada vez
m ais relevante com o in stru m en to ag lutinador de poupança p ara investim entos de
longo p razo ” (“A M aior Participação dos F u n d o s de Pensão no F inanciam ento do
D esenvolvim ento”, p. 40/50).

C u r s o de, D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1444 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Roberto Teixeira da Costa tem -nos com o fonte geratriz de desenvolvim ento
nacional e criação de em pregos, p ro p u g n an d o a dim inuição da ingerência estatal
e a presença nas em presas em q u e feitos os investim entos: “creio que, m ais cedo
do que se pod eria pensar, os gestores dos fundos de previdência privada no Brasil
deverão defrontar-se com problem as análogos (m arcar sua presença ju n to às com ­
p an h ias investidas) e deverão estar preparados para enfrentar esse novo desafio,
m arcando sua presen ça ju n to às com panhias investidas” (“Investim entos dos F u n ­
dos de Pensão com o fonte geradora de em pregos”, p. 71/78).
Wilson Brumer salienta as orientações m ínim as para os investidores: a) situ a­
ção política e m acroeconôm ica do país, aí en tendendo-se estabilidade das regras,
déficit fiscal, perfil inflacionário, nível de investim entos dom ésticos, adequação
das reservas cam biais etc.; b) taxas de reto rn o e liquidez das m odalidades sim ilares
de investim entos; c) qualidade e q u an tid ad e do fluxo de inform ações ( “Investi­
m entos não trad icio n ais”, p. 67/70).
Arnold WaM, envolvendo investim entos e im u n id ad e trib u tária, salienta esses
aspectos: “Em todos os países, a im u n id ad e trib u tária e os favores e incentivos
fiscais p erm itiram que se criasse u m in stru m en to que serve, sim ultaneam ente, à
com plem entação da previdência social e aos financiam entos e às aplicações em in­
vestim en to s e participações acionárias de longo p razo ” (“A Im u n id ad e dos F u n d o s
de P ensão e o M ercado de C apitais”, p. 43/48).
Roberto Teixeira da Costa anim a-se a po n to de afirm ar ser o m ercado d e capi­
tais su sten tad o p o r dois pilares: as aplicações externas e os fu n d o s de pensão (“O
Desafio da Previdência Social”, p. 23/26).
O d esenvolvim ento do m ercado de capitais em função dos investim entos dos
fundos de pensão (AFP) foi ap ro fundado p o r Patrício A irau Pons (“F o n d o s de
P ensiones y D esarrollo dei M ercado de C apitales en C hile, 1980-1993”, p. 29/54).
A bibliografia sobre o m ercado de capitais é respeitável, m as são poucas as
obras atualizadas, co nvindo o iniciado co n su ltar Eduardo Fortuna ( “M ercado F i­
nanceiro — p ro d u to s e serviços”).
2061. T ítu lo s de créd ito — Os títulos co n stitu em universo em m atéria de
aplicações. Existem em n ú m ero elevado e sob várias epígrafes. A Resolução BCB
n. 1.088/1986 disciplinou as operações e os com prom issos envolvendo os de renda
fixa. E ntre o u tro s, os principais são os seguintes:
a) Certificado de Privatização: A Lei n. 8.019/1990 criou o C ertificado de P ri­
vatização — CP, títu lo nom inativo de em issão do Tesouro N acional, não negociável
e sem data de resgate, utilizado p ara aquisição de em presas públicas desestatizadas.
Em seu art. 5B, au to rizo u o CMN a regulam entar o volum e e as condições de com ­
p ra p o r parte das en tidades de previdência privada.
A Resolução BCB n. 1.721/1990 estabeleceu condições para a aquisição do CP,
esten d id as às EFPC pela Resolução BCB n. 1.730/1990, e alteradas pelas R esolu­
ções ns. 1.775/1990, 1.776/1990 e 1.777/1990.
O C om u n icad o C O D IP n. 38/1990 expediu in stru çõ es sobre sua colocação. A
C ircular SFJSEP n. 10/1990 dispôs sobre aquisição dos CR P ortaria SPC n. 1/1990

C urso pe D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
reza sobre pro ced im en tos para operacionalização da aquisição de CP p o r parte das
EFPC. A P ortaria MEFP n. 683/1990 e o C om unicado C o n ju n to n. 30/1990 a u to ­
rizam a negociação em Bolsas de Valores.
b) Crédito rural: O D ecreto-lei n. 167/1967 criou a cédula rural pignoratícia,
a cédula rural hipotecária, a cédula ru ral p ignoratícia e hipotecária e a n ota de
crédito rural.
c) Crédito industrial: O D ecreto-lei n. 413/1969 dispôs sobre títu lo s de crédito
industrial: C édula de C rédito In d u strial e N ota de C rédito Industrial.
d) Dívida pública: Estão disciplinadas no D ecreto n. 83.974/1979 e conform e
a R esolução BCB n. 1.363/1987, lim itadas a 50% das reservas técnicas.
e) Crédito à exportação: As cédulas de crédito à exportação e as N otas de C ré­
dito à E xportação foram previstas na Lei n. 6.313/1975.
f ) Certificado de Depósito/Recibo de Depósito: D epósito a prazo, criado pela Lei
n. 6.385/1976, rem u n erad o pelo banco em itente, com taxas oferecidas de acordo
com o co m p o rtam en to do m ercado. O ren d im en to pode ser prefixado ou pós-
fixado; a aplicação, m ediante recibo (RDB) ou e stru tu ra l norm ativa (CDB), c o n ­
form e prazos variados. O CDB rural destina-se ao financiam ento agrícola, ou seja,
é vinculado a essa finalidade.
g) Certificado de Depósito Cambial: O CDC é título em itido pelos bancos, m e­
diante recursos o b tidos no estrangeiro.
h) Títulos de capitalização: A C ircular SUSEP n. 23/1991 disciplina o título
de capitalização, aplicação sim ples, com sorteios periódicos, prêm io pago pelo
inv estidor de u m a só vez ou m ensalm ente, com m ínim o de 12 m eses para resgate
e algum as características de jogo.
N os term os da R esolução CNSP n. 5/1994, os valores de resgate, sorteios,
reservas m atem áticas, prêm io e todos os dem ais, relativos aos títu lo s de capitaliza­
ção, devem ser expressos em URV P osteriorm ente, transform ados em reais.
i) Bônus do BCB: Os B ônus do BCB foram in stitu íd o s pela Resolução BCB n.
1.780/1990, negociados nas Bolsas de Valores, em m ercado aberto, n o valor de
m últiplos de Cr$ 1.000,00, nom inativo, com prazo m ínim o de 28 dias e resgate
pelo valor co n stan te do título. Sobre a aplicação, ver a C ircular BCB n. 1.876/1990.
j ) ORTN: A O brigação R eajustável do Tesouro N acional foi criada pela Lei n.
4.357/1964, vencível de 3 a 20 anos, com ju ro s m ínim os de 6% ao ano, calculados
sobre o valor n o m inal corrigido e im portância unitária m ínim a de Cr$ 1.000,00.
Na opinião de Rogério Gomes de Faria (“M atem ática C om ercial e F in an ceira”,
p. 89/99), é títu lo de correção m onetária pós-fixada e m ensal com ju ro s prefixados
incidentes sem pre sobre os valores corrigidos do papel.
2062. F u n d o s de ren d a fixa e variável — F undos, de renda fixa ou variável,
de valorização diária, são aquisições de cotas de aplicações abertas e solidárias,
representativas do p atrim ônio das em presas. C aracterizam -se pela solidariedade
entre os participantes.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1446 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Eles são m uitos, convindo m en cio n ar alguns: o FAP — F un d o de A plicação
Financeira, o F undo de Renda Fixa (R esolução CMN de 29.4.1994), o F undo de
R enda Fixa — Capital E strangeiro (R esolução BCB n. 2.028/1993), o F undo
de Investim ento em Commodities ( C ircular BCB n. 2.205/1992) e o F u n d o M útuo de
In v estim en to em Ações — FMIA (Instrução CVM n. 215/1994).
A inda existem : F undo de Ações Fechado (Instrução CVM n. 148), F undo de
Investim ento em Em presas E m ergentes — FIEE (Instrução CVM n. 209), F un d o
de In v estim en to s E strangeiros — FIE, F un d o de Investim ento Im obiliário, e o u ­
tros mais.
C ada b an co p o ssu i resp eitáv el ca rteira deles, b asta n d o v er a p u b licação
do B anco d o Brasil S.A., de 1995, re ferin d o -se a 1.350.804 ap lica d o res, n u m
to tal de R$ 9 .1 4 1 .0 6 2 .7 5 0 ,0 0 , p o r m eio dos seg u in tes fundos: BB F ix 30 (papéis
trad ic io n a is de re n d a fixa, in c lu in d o op eraçõ es n o m ercado fu tu ro ); BB E m p re­
sarial 30 (pap éis trad ic io n a is de ren d a fixa, com ou sem m eca n ism o de p ro teção
da ca rteira — hedge — , em o p eraçõ es n o s m ercad o s a term o , de opções, fu tu ro
e d em ais d eriv a tiv o s); BB Fix 60 (p ap éis tra d ic io n a is d e re n d a fixa, in c lu in d o
o p eraçõ es no m ercad o fu tu ro ); BB E m presaria] 60 (igual ao E m p resarial 30); BB
P rem iu m 60 (p ap éis de re n d a fixa e variável, in c lu in d o títu lo s re p resen ta tiv o s
de com m odities e o p eraçõ es n o s m ercad o s a term o , de op çõ es, fu tu ro e dem ais
d eriv a tiv o s); BB Hedge C am bial 60 (títu lo s da dívida p ú b lica federal atrelad o s
à v ariação cam b ial, títu lo s p rivados, com ou sem m eca n ism o de p ro teção da
carteira — hedge — , em o p eraçõ e s n o s m ercados a term o , d e op çõ es, fu tu ro e
d em ais d eriv ativ o s); BB F iex (b a sic am en te, títu lo s de dívida e x te rn a de re sp o n ­
sab ilid ad e da U n ião e o saldo rem a n esce n te em o u tro s títu lo s d e créd ito tra n ­
sac io n a d o s n o m ercado in te rn a c io n a l); BB C apital E stran g eiro Plus e BB Ações
M aster (b a sic am en te ações, p o d e n d o se r d e stin ad a parcela dos re cu rso s para o
m ercad o de d eriv ativos).
O F u n d o N acional de D esenvolvim ento — FND foi criado pelo D ecreto-lei n.
2.288/1986 e reg u lam entado pelo D ecreto n. 193/1991.
Para garantia de suas reservas técnicas não com prom etidas das EAPC, elas
po d em ad q u irir 50% desse valor (R esolução BCB n. 1.363/1987).
Eduardo Fortuna ( “M ercado F in an ceiro ”, p. 223) alude às carteiras adm inis­
tradas usadas para aplicações de grandes volum es de recursos com o os dos fundos
de pensão. São geridos os recu rso s pela taxa de adm inistração, variando de 1% a
4% ao ano.
2063. L etras m o b iliárias — O utro grupo de d o cu m en to s no m ercado são as
letras.
As N otas do Tesouro N acional — NTN foram criadas pelo art. 30 da Lei n.
8.177/1991, recen tem ente regulam entadas pelo D ecreto n. 1.732/1995 e reguladas
pela C ircular BCB n. 1.084/1991. O lim ite de aquisição é da ordem de 30% (Reso­
lução BCB n. 1.363/1987).

C u rso d e D i r e it o P r e v id e n c i á r i o
T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1447
Podem ser adq u iridas Letras F inanceiras do Fesouro — LFF até um m áxim o
de 50% das reservas técnicas. De acordo com a R esolução BCB n. 1.363/1987, o
lim ite é de 50%, observado um m ínim o de 5% em letras hipotecárias “com prazo
m ínim o de 1 (u m ) ano, atualização equivalente à dos depósitos de po u p an ça e
rendimenLo m ínim o de 6,5% a.a.”, de em issão da Caixa E conôm ica Federal, es­
tadual, associações de poupança e em préstim o (R esolução BCB n. 1.520/1988)
e das dem ais in stituições financeiras com carteira im obiliária (R esolução BCB n.
1.677/1990).
a) Letras de Câmbio: O Decreto-lei n. 2.044/2008 define letra de câm bio com o
“ordem de p agam ento”, devendo co n ter estes requisitos lançados, por extenso, no
contexto: “d enom inação letra de câm bio, som a a pagar, nom e da pessoa que vai
pagar, nom e da pessoa que vai receber, assinatura do sacad o r” (art. l e, I/V).
É in stru m en to de captação das sociedades de crédito, financiam ento e inves­
tim ento (Lei n. 4.728/1965, art. 27).
A p artir da R esolução BCB n. 1.144/1987, as letras do Banco C entral do Brasil
integram a categoria dos títulos públicos. A Resolução BCB n. 1.503/1988 dispôs
sobre aplicação em letra de câm bio com caução de warrant.
b) Nota Promissória: O D ecreto n. 57.663/1966 (C onvenção para a adoção
de lei u n iform e sobre Letras de C âm bio e N otas Prom issórias) descreve esta ú lti­
ma com o o títu lo de crédito em que inserida a denom inação “n ota p rom issória”
no anverso, co n sistin d o nu m a prom essa de pagam ento de valor quantificado, em
prazo estabelecido, lugar indicado, para pessoa determ inada, com data e local e a
assinatura do su b scrito r (F ítu lo II — Da Nota Promissória, art. 75).
Os arts. 54 e seguintes do D ecreto n. 2.044/2008 descrevem a nota prom is­
sória.
As entidades fechadas íoram autorizadas a ad q u irir notas prom issórias
(C o m u n icad o C o n ju n to n. 2/1991 e Resolução BCB n. 1.795/1991).
c) Letra hipotecária: A Resolução BCB n. 1.860/1991 au to rizo u as EPC a apli­
car em letras hipotecárias.
2064. M ercado de câm bio — M oeda é m odalidade de inversão genericam en­
te utilizada. D u rante algum tem po, pelo m enos até antes do Plano Real, entesourar
dólares representava m an u ten ção de valor e, conform e o m om ento, algum ganho
verdadeiro.
A negociação de m oedas estran g eiras n ão é livre, as operações de câm bio
são co n tro lad as pelo G overno F ederal. Por isso, su b siste m ercado de câm bio
paralelo. N esse sen tid o , reconhece-se o d ó lar paralelo, p ro n to , tu rism o , cabo e
com ercial.
Os investidores podem aplicar em m oedas p o r in term éd io de casas de câm bio.
Spread é a diferença entre o preço de venda e o de com pra.
2 065. O u ro físico — O ouro é aplicação de risco, valor sujeito ã oferta e p ro ­
cura. Frata-se de ativo real com certa liquidez, Londres, Nova York e Z urique são os
centros com erciais do metal. No Brasil, é com ercializado principalm ente n a Bolsa
de M ercadorias e F uturos.

C urso de D ír e it o P r e v id e n c iá r io

1448 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
Seu valor in tern o depende do dólar. Pode ser físico ou fiduciário. Se o clien­
te quiser, fica cu sto d iado no estabelecim ento bancário, a ele co rresp o n d en d o um
certificado negociável. A taxa de custódia dep en d e do volum e (peso). O ouro físico
tem m en o r liquidez e sua com ercialização depende do grau de pureza, então verifi­
cado. A presenta-se em m oedas cu n h ad as de 5 g, 10 g e 20 g, e barras de 20 g, 50 g
e 100 g. A cotação é en co n trad a diariam ente nos grandes jo rn ais.
As aplicações em ouro são trib u tad as na origem (IOF). O C om unicado C on­
ju n to BCB-SPC n. 22/1988 rege as aplicações em depósitos de p o u p an ça e c o n tra­
tos de ouro.
2066. Mercado de ações — Ação é parte individualizada do capital de socie­
dade anônim a. Todo o C apítulo III — Ações, da Lei n. 6.404/1976 (arts. 11/45),
é dedicado a esses docum entos. G eralm ente, elas são ordinárias ou preferenciais.
T ítu lo m obiliário negociável nas Bolsas de Valores, associações civis onde os
papéis p o d em ser com ercializados.
A ação o rd in ária perm ite ao acionista votar, e a preferencial representa privi­
légios nos ren d im en tos. P odem ser nom inativas ou escriturais.
O valor das ações flutua conform e a lei de oferta e procura, em razão de in ú ­
m eros fatores políticos, econôm icos e sociais.
U m p ercentual de aplicação em um a única sociedade está previsto na Reso­
lução BCB n. 1.362/1987, com a redação dada pela Resolução BCB n. 1.893/1992.
A R esolução BCB n. 1,885/1991 dispôs sobre a alienação de ações de com pa­
nh ias fechadas desestatizadas na form a da Lei n. 8.031/1990, integrantes das car­
teiras das EPC.
Para Hélio Portocarrero, “A aplicação no m ercado de ações, é de certo m odo
n atu ral para os fundos, vocacionados que são para a aplicação de longo p razo” ( “A
Previdência Privada no Brasil”, p. 11/32).
Robert John Van D ijk, preo cu p ad o com a Previdência Social, não deixando d ú ­
vidas q u an to à sua ideologia, preocupou-se com a realidade do m ercado em 1995,
destacan d o três causas significativas de sua instabilidade: a) efeitos da globalização
da econom ia e a falta de adaptação do m ercado brasileiro ao contexto in tern a­
cional, afetando o interesse dos investidores estrangeiros; b ) distorção estru tu ral
do m ercado n acional, com enorm e concentração em pequeno nú m ero de ações e
baixa relação en tre ações ordinárias e preferenciais; e c) reform a da Previdência
Social — o esquem a su ste n ta d o r estaria com prom etido com o regim e financeiro
de rep artição sim ples ( “O revigoram ento do m ercado de ações na ordem do dia”,
in Folha de S. Paulo, de 27.12.1995, p. B-2).
2067. A q u isição de imóveis e empresas — C om prar im óveis é aplicação tra­
dicional, caracterizados esses bens de raiz por sua segurança e pouca liquidez. Mal
ad m in istrad o s rep resentam perda de capital. Um dos problem as da previdência
social oficial é não ter podido preservar o im enso p atrim ô n io im obiliário a título
de reserva técnica.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1449
Paulo Ferraz tem a posse de shopping centers, hotéis e resorís com o in stru m e n ­
to ideal para investim entos, destacando suas vantagens (“As novas m odalidades e
veículos de in v estim en tos para os F u n d o s de P ensão”, p. 70/72).
D iscute-se sobre a validade de os fundos de pensão adquirirem em presas e em ­
preendê-las. A lguns ju lg am tratar-se de desvio da função prim ordial e outros p e n ­
sam referir-se à legítim a aplicação de capitais disponíveis com garantia de sucesso.
Para assegurar a realização de seus objetivos, as entidades têm necessidade de
aplicar o quantum acum ulado. Se o fazem em atividade econôm ica viável, com o,
p. ex., q u an d o com pram ações ou debêntures, alavancando a econom ia do País,
prom ovendo desenvolvim ento e gerando em pregos. O bviam ente, tal atividade tem
de ser co m p reen d id a no escopo de sua atividade-m eio, in stru m en to p ró p rio de
obtenção de novos recursos ou garantia dos valores apreendidos.
A C ircular SUSEP n. 34/1985 baixou instruções aplicáveis aos im óveis in te­
grantes da cobertura das reservas técnicas das sociedades seguradoras e EAPP.
O volum e das aplicações e os percentuais p erm itidos foram desenvolvidos
p o r M ilko M alipasáe ( “F u n d o s de Pensão e rearticulação da econom ia brasileira”,
p. 49/68).
2068. C ad ern eta de po u p an ça — As cadernetas de poupança são form as p o p u ­
lares de aplicação de pequenas econom ias. São antigas, garantidas pelo G overno F e­
deral até certo valor, de instrum entalização sim ples e conhecendo poucas variantes:
a) com uns; b) program adas; c) rendim entos crescentes; d) vinculadas; e e) rurais.
a) Caderneta com um : É a m ais vulgarizada, garantida pelo G overno Federal,
in stru m en to de p o u p an ça p o p u lar b astante sim plificado, operada pelos bancos,
oferecendo ren d im en to variável conform e a inflação.
b) Programada: N este tipo, instituído em 1978, o p o u pador obriga-se a fazer
depósitos frequentem ente, du ran te certo lapso de tem po, convencionado com o cap-
tador. A rem uneração cresce conform e a sucessão dos trim estres (6,14%; 6,4%; 6,8%;
7,2% etc.). O sistem a prevê carência e rendim entos creditados a cada três meses.
c) Rendimentos crescentes: Em 1982, foi criada a de ren d im en to s crescentes,
com rem unerações creditadas trim estralm ente à taxa de ju ro s avolum ados progres­
sivam ente (6,14%; 7%; 8%; 9% a.a.).
d) Vinculada: Em 1987, surgiu a caderneta de pou p an ça vinculada. Seus ob­
jetiv o s finais podem variar, m as substancialm ente consiste n a constituição de p e­
cúlio com vistas em financiam ento futuro. Só é operada pela Caixa E conôm ica
Federal. O s d epósitos ficam, no m ínim o, 12 m eses retidos. Paga juros de 3% a.a.
ou 0,25% a.m ., m ais a TR.
e) Rural: Igual à com um , m as os recursos vão para operações rurais e só p o ­
dem ad m inistrá-la o Banco do Brasil S.A., Banco do N ordeste do Brasil S.A. e o
Banco da A m azônia S.A.
2069. O p eraçõ es sob in te rm e d ia ç ã o — O Decreto n. 177-A, de 1883, previu
a em issão de deb ên tu res p o r pessoas ou sociedades e, historicam ente, é o prim eiro
d o cu m en to a autorizá-las.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1450 W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
D isciplinando o m ercado de capitais, na Seção VII — Debêntures conversíveis
em ações, os arts. 44 e seguintes da Lei n. 4.728/1965 tratam de debêntures. São
títu lo s sacados pelas em presas, geralm ente, sociedades anônim as, convertíveis ou
não em ações. Nos arts. 52/74, a Lei n. 6.404/1976 regra a sua em issão.
T ítulo, créd ito hipotecário, em itido com o aval do p atrim ônio do em itente, o
p o u p ad o r tem certas garantias n u m determ inado prazo. O prazo m ínim o de res­
gate é de 12 meses.
As d eb ên tu res são interm ediadas p o r pessoas, físicas ou ju ríd icas (em presa ou
banco). O objetivo é o cu m p rim en to das cláusulas do co n trato de em issão, e por
isso recebe com issão (fee).
Pode ser oferecida diretam ente, para um grupo de com pradores, com o os
fundos de pensão, ou publicam ente, com desconto (abaixo do valor nom inal) ou
com p rêm io (acim a do valor nom inal). As deb ên tu res estão sujeitas a 25% de IR
(pessoa física) e de 30 a 40% (pessoa jurídica).
Eugênio Gudin assinalava os seus ju ro s altos e a facilidade de colocação nas
Bolsas de Valores: “A facilidade com q u e se vendem em bolsa os títulos de prazo
longo, ações, d eb ên tu res, obrigações, cédulas etc., confere a esses títu lo s grande
possibilidade de liquidez, isto é, de redução a n u m erário , em caso de necessidade,
p o d en d o , assim , os títu lo s de longo prazo servir para aplicações o u especulações
de prazo c u rto ” ( “P rincípios de E conom ia M onetária”, p. 65).
O percentual de aplicação está previsto na R esolução BCB n. 1.362/1987, com
a redação dada pela de n. 1.896/1992.
São dadas com o exem plo de em issão as debêntures da S.A. In d ú stria e C o­
m ércio C hapecó, no valor total de R$ 36.000.000,00, em dezem bro de 1995, a u to ­
rizada pela A ssem bleia Geral E xtraordinária de 30.11.1995, n u m to tal de 12.000
convertíveis em ações, no valor nom inal de R$ 3.000,00, em qu atro séries, datadas
de 1Q. 12.1995, vencíveis em I a. 12.2000 e seguintes, atualizadas m onetariam enle
pelo valor acu m u lad o do índice N acional de Preços ao C o n su m id o r — INPC, ju ro s
de 12% ao ano, prêm ios variáveis (G azeta M ercantil, de 27.12.1995, p. B-3).
2070. Mercado de futuro e de opções — No dizer de Eduardo Fortuna ( “M e
cado F in an ceiro ”, p. 319), “o m ercado de futuro tem com o objetivo básico a p ro te­
ção dos agentes econôm icos (p ro d u to res prim ários, industriais, estabelecim entos
com erciais, in stitu içõ es financeiras e investidores) contra as oscilações dos preços
dos seus p ro d u to s e de seus investim entos em ativos financeiros”.
Para ele, esse m ercado facilita a transferência e a d istribuição do risco entre
os agentes econôm icos. Mas tam bém influi diretam ente na form ação fu tu ra dos
preços e ativos financeiros, nele negociados.
Trata-se de operações financeiras, avalizadas pelas m ercadorias ou bens p ro ­
duzidos.
Pelo C om u n icado C o n ju n to BCB-CVM n. 1/1, as EFPC haviam sido a u to ri­
zadas a ap licar nos m ercados futuros e de opções, m as tal perm issão foi revogada
pela Resolução BCB n. 2.109/1994.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o IV — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n ia r 1451
Capítulo CCVII

P r á t ic a s C o n t á b e is

2071. Normas regulares. 2072. Critérios gerais d e contabilidade. 2073.


S u m á r io :
Plano de Contas-Padrão. 2074. Exercício social. 2075. Despesas assistenciárias.
2076. Reservas matemáticas. 2077. Aplicação em ações. 2078. Atualização fi­
nanceira. 2079. Avaliações de bens. 2080. Imunidade tributária.

A ciência contábil é atividade de longa data regulam entada no Brasil. Pelo


Decreto-lei n. 9.295/1946, criou-se o C onselho F ederal de C ontabilidade — CFC
e, nessa n o rm a legal, estabelecidas as atrib u içõ es do profissional liberal (art. 25,
letras a/c), am pliadas pela R esolução CFC n. 560/1983 (art. l e). O CFC é o órgão
con tro lad o r do exercício profissional da categoria e tem atrib u ição para baixar
in stru çõ es sobre a m atéria (em parte dividida, na prática, com o u tro s entes go­
vernam entais).
O referido decreto-lei foi alterad o pelo D ecreto-lei n. 9.710/1946 e Lei
n.4 .695/1965. O C ódigo de Ética Profissional do C ontabilista faz parte da Re­
solução CFC n. 290/1970. D iversas resoluções d o CFC iratam das N orm as Bra­
sileiras de C o n tab ilid ad e (regras de co n d u ta e p ro ced im en to s técnicos, a serem
observados q u an d o da realização dos trab alh o s), em particular, sobre o balancete
(R esolução CFC n. 6 8 5 /1990), conceito, co n teú d o , e stru tu ra e n o m en clatu ra das
dem o n straçõ es co n táb eis (R esolução CFC n. 6 8 6/1990), perícia contábil (R eso­
lução CFC n. 7 3 1 /1992), avaliação profissional (R esolução C FC n. 732/1992) e
divulgação das d em o n strações contábeis (R esolução C FC n. 737/1992).
As entidades de seguros e previdência privada estão classificadas no Código
10.10 das N orm as Técnicas de Contabilidade, havendo distinção, no estudo da conta­
bilidade aplicada, entre Sociedade de Previdência Privada e Instituições de Previdên­
cia Privada (arl. 4Q, § 22, da Resolução do C onselho Federal de Educação n. 3/1992).
A R esolução CFC n. 700/1991 estipulou sobre as N orm as de A uditoria Inde­
pen d en te das D em onstrações C ontábeis.
Im p o rtan te R esolução do CFC é a de n, 750/1993. Ela trata dos princípios
fund am en tais de contabilidade, a saber, entidade, co n tin u id ad e, o p o rtu n id ad e, re­
gistro pelo valor original, atualização m onetária, com petência e prudência.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a rtin e z
As entidades de previdência privada, desde sua im plantação, estão obrigadas
a regras contábeis específicas. M uitas disposições em anadas da SPC e do CNSP
regem o assu n to , sem prejuízo da aplicação dos prin cíp io s da ciência contábil.
Em seu art, 8 9, Y a Lei n. 6.435/1977 atrib u iu ao “órgão norm ativo do Sistema
N acional de Seguros Privados estabelecer as n o rm as gerais d e contabilidade, a tu a­
ria e estatística a serem observadas”. No art. 27, dispôs sobre “b alancetes ao final
de cada trim estre, e balanço geral no ú ltim o dia de cada a n o ”.
Sérgio Luiz Machado destacou a im portância da revisão dos conceitos e nor­
m as de co ntabilidade das EFPC ( “Rever conceitos e práticas”, p. 5/6).
E m seu art. 3 5 , 1, e, a Lei n. 6.435/1977 repete a regra para as entidades fecha­
das, e p artic u la rm en te, p o r in term éd io d e órgãos executivos, “fiscalizar a execução
das n o rm as gerais de contabilidade, atu aria e estatística fixadas na form a do inciso
I, alínea e deste artig o”. O art. 48 reedita a regra do art. 27 q u an to aos balanços e
balancetes.
O assu n to vem tratado nos D ecretos ns. 81.240/1978 e 81.402/1978.
C om vistas em interesses específicos, a CVM e o BCB tam bém fixam norm as
contábeis.
2071. Normas regulares — As N orm as C ontábeis para as EFPC foram divul­
gadas pela Resolução CPC n. 4/1980.
Os prin cip ais itens eram : I — N orm as de C ontabilidade; II — C ritérios Gerais
de C ontabilidade; III — Plano de C ontas-P adrão; IV — F unção e Técnica de F u n ­
cio n am en to das C ontas; V — D em onstrações E conôm ico-F inanceiras.
N ovas determ in ações, em razão do D ecreto-lei n. 2.284/1986, sobrevieram
com a P ortaria CPC n. 01/1986 (fechada) e C ircular SUSEP n. 9/1986 (aberta).
No M anual da P revidência Privada A berta — MPPA, em p articu lar no item 10,
foram form uladas as disposições gerais sobre contabilidade e au d ito ria das EAPC
(R esolução SUSEP n. 50/1979).
As d em o n straçõ es financeiras das EAPP são verificadas p o r auditores in d e ­
p en d e n te s registrados n a C om issão de Valores M obiliários (C ircular SUSEP n.
10/1992). Segundo seu art. 6e, a SUSEP baixa N orm as de A uditoria In d ep en d en te
das D em o nstrações C ontábeis e P rincípios e C onvenções C ontábeis G eralm ente
Aceitos.
2072. C rité rio s gerais de c o n ta b ilid a d e — A P ortaria SPC n. 54/1983 dis­
cip lin o u am plam en te sobre os C ritérios G erais de C ontabilidade, fixando quatro
deveres principais: a) balancete m ensal; b) dem onstração m ensal das receitas e
despesas; c) b alanço patrim onial anual; e d) dem onstração do resultado do exer­
cício (item 6).
De acordo com a C ircular SUSEP n. 42/1984, a p a rtir de 1B. 1.1985, quando
publicados, os balanços e balancetes das seguradoras, sociedades de capitalização
e en tid ad es abertas de previdência privada, devem co n ter a assin atu ra do atuário
(art. 6e do D ecreto-lei n. 806/1969).
As d em o n strações financeiras e o relatório de ad m in istração com parativo,
entre 3 1.12.1994 e 31.12.1993, foram regradas pela C ircular SUSEP n. 4/1995.

C urso d e D i r e it o P r e v id e n c i á r i o
T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1453
A C ircular SUSEP n. 1/1993 fixou n o rm as de dem onstração do resultado
do exercício, aplicáveis às com panhias seguradoras, sociedades de capitalização,
EAPP e sociedades co rretoras de seguros. A C ircular SUSEP n. 10/1992 dispôs
sobre au d ito ria nas dem onstrações financeiras.
No Parecer CVM n. 24/1992, são firm ados pro cedim entos a serem observa­
dos pelas com panhias abertas e respectivos auditores independentes, aplicáveis às
dem onstrações contábeis.
Na R esolução n. 248/1990, do Tribunal de C ontas da U nião, foram fixadas
instruções sobre a prestação de contas das EFPC patrocinadas p o r autarquias, fu n ­
dações, em presas públicas, sociedades de econom ia m ista e dem ais entidades c o n ­
troladas direta ou in d iretam ente pela União.
2073. Plano de Contas-Padrão — O Plano de C ontas das EAPC foi im plan­
tado pela Resolução CNSP n. 13/1980, vigendo a p artir de l e.7.1981, dividido em
três iten s fundam entais: 1 — N orm as Básicas; II — Elenco de C ontas; e III — D e­
m onstrações Financeiras.
D entre as n orm as básicas, co m p o n d o os p rin cíp io s gerais, adota sete deles:
a) objetivo; b) escriLuração; c) exercício social; d) dem onstrações financeiras; e)
dem onstrações atuariais; 0 livros auxiliares; e g) classificação das contas.
Regra im p o rtan te diz respeito ao Plano de C ontas-P adrão. A P ortaria MTPS n.
3.671/1990 aprovou, a p artir de 1Q. 1.1991, a racionalização da Planificação C on­
tábil Padrão.
O Plano de C ontas das C om panhias S eguradoras e das EAPC foi alterado pela
C ircular SUSEP n. 49/1982. As atualizações do Plano de C ontas-P adrão m odifica­
das pela P ortaria CPC n. 54/1983. A lterações sobrevieram com a P ortaria SPC n.
60/1984.
Através da C ircular SUSEP n. 13/1985, o Plano de C ontas da EAPC foi alterado.
A Secretaria de Previdência C om plem entar foi autorizada a in clu ir e excluir
sub co n tas no Plano de C ontas das EFPC.
2074. Exercício social — O exercício social tem a duração de 12 m eses, c o n ­
tados de l 9 de jan eiro a 31 de dezem bro de cada ano.
A Portaria n. 79/1994 definiu procedim entos relativos ao encerram ento do
exercício financeiro das EFPC, de 1994, em m oeda de capacidade aquisitiva cons­
tante.
2075. Despesas assistenciárias — Q uando os gastos com serviços assistenciá-
rios su p erarem os ad ian tam entos propiciados pela patrocinadora ou p o r terceiros,
o excesso será im ed iatam ente lançado a débiLo dos responsáveis para reem bolso
até o final do m ês subsequente.
2076. R eservas matemáticas — A Portaria MTPS n. 3.142/1992 estabeleceu
três contas relativas às reservas m atem áticas: 2.2.1.1.00 — Benefícios C oncedidos;
2.2.1.2.00 — Benefícios a C onceder e 2.2.1.3.00 — Reservas a Am ortizar,
As sobras das EAPC foram reguladas pela R esolução CNSP n. 11/1980.

C u r s o d f. D ir e ít o P r e v id e n c iá r io

1454 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
2 0 7 7 . A plicação em ações — A P ortaria SPC n. 46/1983 estabeleceu N orm as
de C ontabilização das EFPC qu an to às aplicações em ações p o r via de operações
no m ercado futuro.
A C ircular SUSEP n. 3/1987 cu id o u da correção m o n etária em 31.12.1986. A
C ircular SUSEP n. 14/1987 congelou o valor dos co n trato s de previdência privada
em 12 de ju n h o de 1987. A C ircular SUSEP n. 16/1987 estabeleceu regras relativas
ao D ecreto-lei n. 2.335/1987.
2078. A tu alização fin an ceira — P or seu tu rn o , a C ircular SUSEP n. 11/1991
trato u da atualização m onetária de d em onstrações financeiras. Vedou a correção
m onetária, em razão da Lei n. 8.177/1991, voltando a tratar do assu n to na C ircular
SUSEP n. 17/1991.
O s valores da previdência privada aberta devem ser expressos em URV (Reso­
luções CNSP ns. 4 e 5/1994).
Para a Resolução CNSP n. 29/1994, as im portâncias das contribuições, b en e­
fícios, reservas m atem áticas e todas as dem ais, relativas aos planos de previdência
privada aberta devem ser consignadas em m oeda corrente nacional (Real). A Por­
taria CPC n. 44/1994 regrou o m esm o assunto para as EFPC. A C ircular SUSEP n.
30/1991 trato u da correção m onetária p atrim o n ial referida na Lei n. 8.200/1991.
2079. A valiações de b en s — C abe à Caixa Econôm ica F ederal, ou a órgão ou
en tidade de avaliações dos Estados ou D istrito Federal, quantificar os bens im ó­
veis das co m p an h ias seguradoras, sociedades de capitalização, e EAPC (Resolução
CNSP n. 2/1994).
20 8 0 . Im u n id ad e trib u tá ria — Em seu art. 39, § 3e, a Lei n. 6.435/1977 dita:
“As en tid ad es fechadas são consideradas instituições de assistência social, para os
efeitos da letra c do item III do artigo 19 da C o nstituição” de 1967.
Por seu tu rn o , reza o art. 6a, § 3 3, do D ecreto-lei n. 2.065/1983: “Fica revogado
o § 3e do artigo 39 da Lei n. 6.435, de 15 d e ju lh o de 1977”.
F in alm en te, reza o art. 1.50, VI, c, da C onstituição F ederal de 1988, discipli­
n an d o a n ão exigibilidade de im postos em relação a “p atrim ô n io , ren d a ou servi­
ços, dos p artid o s políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos
trabalhadores, das in stituições de educação e de assistência social, sem fins lu cra­
tivos, aten d id o s os requisitos da lei”.
Esta ú ltim a n o rm a gerou um a das m aiores polêm icas no segm ento fechado
de previdência privada, ju stific an d o um sem -núm ero de ações n a Ju stiça F ederal e
a em issão de pareceres de au to rid ad es em D ireito (“Im u n id ad e T ributária das E n­
tidades F echadas de P revidência P rivada”). Isto é, saber se a C onstituição Federal
de 1988 abrigou o m encionado decreto-lei, qual a entidade assistenciária aludida,
e se a expressão co n stitu cio n al “assistência” indica previdência e, finalm ente, se as
E FPC têm assento nessa hipótese.
Nelson Jobín, ten d o em vista o art. 149, parágrafo único da C onstituição F ede­
ral au to rizar os E stados e M unicípios a criarem contribuição para custear sistem as

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o 1V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1455
de previdência e assistência social para seus servidores (em que a palavra assistência
social pode estar significando prin cip alm en te assistência m édica) e não ser neces­
sariam ente não co n trib u tiva essa vertente da seguridade social — co n trarian d o a
d o u trin a segundo a qual assistência é técnica sem contribuição do assistido — ,
enten d eu serem as EFPC com o entidades de assistência social (ob. cit., p. 15/24).
G enericam ente, com vistas ao seu papel delegado de su b stitu id o r do Estado
e não ser a co n trib u ição (seguram ente do p articipante) sujeita à incidência, íves
Gandra da Silva Martins concluiu não poderem elas “ter tributação diversa daquela
atribuída aos dem ais in v estid o res” (ob. cit., p. 25/30).

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1456 W í a d im t r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo CCVIII

D ir e it o C o m p l e m e n t a r P r o c e d im e n t a l

S u m á r i o : 2081. Natureza jurídica. 2082. Objetivos do elo adjetivo. 2083. Caracte­


rísticas formais. 2084. Normas reguladoras. 2085. Órgão decisório e apreciador.
2086. Sujeitos da relação. 2087. Recurso de apelação. 2088. Efeitos jurídicos.
2089. Prazos para interposição. 2090. Princípios compatíveis.

C om o é n atu ral, com algum a habitualidade, sucede de n ão coincidirem os


ju ízo s en tre os p articip an tes e a entidade de previdência supletiva, p ertin e n te a
obrigações e direitos de am bos. Divergem q u an to a questões pream bulares, com o
o cab im en to de certa designação o u da própria inscrição e problem as essenciais,
caso do ped id o do benefício com plem entar ou de sua m an u ten ção . Polem izam
sobre a higidez do segurado o u de seu dependente. Não co n cordam a respeito dos
coeficientes aplicáveis ao salário real de benefício ou quais os índices d e correção
dos salários reais de participação válidos. Há conflito relativam ente ao m o m en to e
aos p ercen tu ais do reajustam ento das prestações m antidas. D iscutem a p ropósito
do lim ite m ín im o de idade de 55 anos para a aposentadoria p o r tem po de co n tri­
buição. D esentendem -se, p rincipalm ente, sobre a possibilidade de m odificação do
avençado no R egulam ento Básico, em m atéria de custeio e benefícios.
Enfim , caracterizam o conflito de interesses deflagrador do d ese n ten d im en to ,
a ser co m p o sto dom esticam ente o u no P oder Judiciário.
O E statu to Social e o R egulam ento Básico precisam d isp o r am plam ente sobre
as n orm as p ro cedim entais in tern as, regendo o co m p o rtam en to das partes, disci­
p lin an d o o exercício do direito de inconform idade, o expediente burocrático do
en cam in h am en to , os prazos e in stru m en to s utilizáveis para resolução.
A esse c o n ju n to de providências (e das referentes ao regim e repressivo) pode
se d esig n ar d e D ireito C o m p lem en tar P rocedim ental. Tem m u ita sem elh an ça com
o D ireito P revidenciário P rocedim ental, com ele se relaciona d iretam en te, o b ­
serv an d o , p o r sua vez, q u an d o com patível a rem issão, aos p o stu lad o s do D ireito
P rocessual Civil e do D ireito A dm inistrativo. P or co n seg u in te, exem plificativa-
m ente, m esm o silen tes as norm as in tern as, a vista dos au to s deve ser autorizada
ao interessado.

C urso de D i r f .i t o P r e v id e n c iá r io

T o m o JV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1457
Q u an d o se rep o rtam aos atos constitutivos, a lei e o regulam ento da previ­
dência fechada pouco regram sobre os recursos, com isso abrindo possibilidade de
am pla negociação entre as partes.
A m atéria não está sistem atizada (com o acontece com o regim e repressivo do
D ecreto n. 4.942/2003). O recurso de decisão do CGPC ao M inistro de E stado é
apenas entrevisto no subitem 7.1 da Resolução CPC n. 01/1978.
A In stru ção N orm ativa SPC n. 01/1995 tem com o requisito, para aprovação
do E statuto Social e R egulam ento Básico, a existência de preceitos sobre “recursos
de atos ad m in istrativ o s” (subitem 1.6). A Resolução CPC n. 01/1978 silenciou
sobre o assunto.
Para fins didáticos, pensando na legislação vigente, são concebíveis pro ced i­
m entos co m plem entares em três am bientes distintos: a) in tern o s — relações entre
p articip an te e entidade; b) ex tern o s — relações entre entidade e órgãos su p erv iso ­
res; e c) n o P oder ju d iciário .
C om o pano de fundo, a observância ao princípio da verdade real, q u er dizer,
o p ro ced im en to deve perm itir, d en tro do possível, todos os m eios de prova e a
qu alq u er tem po.
2081. Natureza jurídica — A com posição de divergências fáticas e jurídicas
nascidas entre p articipantes ou dependentes deste, e o fundo de pensão, inicialm en­
te, deve acontecer no âm bito da entidade, em entrevista, prestando-se os esclareci­
m entos ao interessado sobre os ô nus e faculdades inerentes à relação. P rincipalm en­
te, reportando-se à validade do convencionado e à subm issão ao direito privado.
P ersistindo a in co nform idade decorrente da negativa de bem ju ríd ic o p re­
ten d id o , notificado p o r escrito, é im perioso caber pedido de revisão da decisão
prolatada (geralm ente pelo direto r de seguridade social).
Tal procedim ento, iniciando-se e encerrando-se dom esticam ente na in stitu i­
ção, é n itid am en te adm inistrativo, acolhendo, em conseqüência, os trâm ites e p re­
sunções p ró p rio s desse expediente (v. g., transparência, publicidade, celeridade,
gratuidade, sim plicidade etc.). De preferência, o R egulam ento Básico não deve im ­
por representação profissional ou fundam entação ju ríd ica, facilitando o andam ento.
Sua essência n u clear é tríplice: a) subm issão à ju risd ição do P oder Judiciário;
b) am plo d ireito de defesa; e c) contraditório, direitos assegurados co n stitu cio n al­
m ente.
Nessas condições, em bora não recom endável, a reclam ação in tram u ro s não
obsta ação ju d icial, p o sterio r ou sim ultaneam ente.
Tais en cam in h am entos podem adotar com o referência os da previdência b á­
sica ( “C urso de D ireito P revidenciário”, São Paulo: LTr, Tomo III, 2. ed., 2007).
2082. O b jetiv o s do elo ad jetiv o — A m ediação entre as partes visa desfazer
a dissonância entre os polos da relação adjetiva, isto é, na instrução, du p lo grau de
apreciação, o reexam e dos p o n to s de vista, geralm ente, indeferim ento da pretensão
do p articip an te (p o d en do ser o contrário).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1458 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
De certa form a, acaba funcionando, tam bém , com o prestação de inform ações,
às vezes, con fo rm an d o-se o segurado com o não aten d im en to do solicitado.
A prin cip al razão de ser consiste em não ter de recorrer às vias judiciais, pois,
sab id am en te, m u itas questões po d em ser dirim idas en tre am bos. O CRPS solucio­
n a cerca de 20.000 pendências p o r ano.
2083. C a ra c te rístic a s form ais — As principais n u an ças do p rocedim ento
são: a) caráter ad m inistrativo; b) o fundo de pensão im p u lsio n ar os autos; c) gra­
tuidade; d) transparência; e) celeridade; f) sim plicidade; g) desnecessidade de re­
presentação; e h) d ep endência do P oder Judiciário.
A d m inistratividade q u er dizer estar circunscrita à entidade; a PREVIC e o
CNPC não têm atribuição a esse respeito.
Provocadas o u não pelo interessado, a iniciativa e a im pulsão do andam ento
p erten cem in teiram en te à EFPC.
Inexiste o h ábilo de serem cobradas custas ou decretação de sucum bência;
todo o an d am en to é não oneroso.
Salvo os fatos p rotegidos pela n o rm a jurídica (com o os relativos ao sigilo), o
en cam in h am en to não é reservado.
Pela n atureza da proteção com plem entar, tanto q u an to a da básica, deve ter
preferência sobre o u tro s expedientes e realizar-se celerem ente.
As prax es são sim ples, form alizadas o m ínim o possível, d ispensando-se exi­
gências não essenciais à elucidação da questão.
O p ró p rio p articip an te exercita o direito de contestação, não convindo recla­
m ar-se a presença d e rep resen tan te (renúncia do irrenunciável n ão prospera).
As decisões in terlo cu tó rias e a final co n stitu cio n alm en te restam subm etidas
ao crivo do P oder Judiciário. Não tem m uito sentido, em bora não esteja im pedida, a
en tid ad e bu scar a ju risd ição para o b star a execução de sua p ró p ria decisão.
2084. N o rm as reg u lad o ras — A LPBC pouco dispõe sobre o tema. A Lei n.
6.435/1977 e o Decreto n. 81.240/1978 silenciam sobre a reconsideração de atos
in tern o s das EFPC. No art. 3 5 ,1,/, ela pressupõe recurso contra decisão da PREVIC,
a ser apreciado pelo CRPC (e o m esm o se vê no R egim ento Interno deste colegia-
do, no art. 29, VI), possivelm ente relativos apenas às relações entre a entidade e o
G overno Federal.
Da m esm a form a, nos arts. 59 (in terv e n ção ) e 78 (m u lta ), p o d e m ser ap re ­
ciados recu rso s da in te rv in d a ou m ultada. Igual, no art. 1 5 , / , d o D ecreto n.
8 1 .2 4 0 /1 9 7 8 .
O D ecreto n. 4 .2 0 6 /2 0 0 2 p re te n d eu reg u lam en tar a LBPC, m as logo foi revo­
gado pelo D ecreto n. 4 .9 42/2003, que não chega, p o r seu tu rn o , a ser u m C ódigo
C o m p lem en tar P ro cedim ental, m as estabelece os p arâm etro s relativos às in fra­
ções ad m in istrativ as ( “D ireito P revidenciário P roced im en tal C o m p le m e n ta r”, São
Paulo: LTr, 2006).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o ÍV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1459
C om o advento da Lei n. 9.784/1999, um a norm a adm inistrativa repleta de
princípios, foi regulado o procedim ento adm inistrativo federal com preceitos uti-
líssim os para a o processo com plem entar. A lgum as ideias que podem ser invocadas
estão contidas na Portaria MPS n. 323/2007, que trata do contencioso ad m in istra­
tivo básico.
2085. Órgão decisório e apreciador — Os órgãos decisórios são as divisões
dep artam en tais in tern as, com capacidade estatu tária para resolver: D iretor de Se­
gu rid ad e Social ou D iretoria Executiva.
O C onselho de C uradores é o único e últim o nível apreciador de recurso in ­
terposto co n tra decisão dos órgãos decisórios estatutários.
2086. Sujeitos da relação — O s sujeitos da relação procedim ental com ple­
m en tar interna, de um lado, são o particip an te ou seus dep en d en tes, e até terceiros
interessados na lide, e, de ou tro , a p ró p ria entidade, configurada pelos seus órgãos
decisórios e apreciadores.
Participante é o titu lar principal da relação jurídica, quem tem o direito sub­
jetivo à adm issão e às prestações. D ependentes, indivíduos com o tais designados.
Terceiros interessados (v. g., trabalhador com pretensão de ser em pregado da p atro ­
cinadora; hom em ou m ulher, alegando qualidade de d ep endente do participante e
assim por diante). Em princípio, qualquer pessoa civilm ente capaz ou representada.
2087. Recurso de apelação — O recurso interponível é de apelação, cabendo
tam bém , q u an d o lacunosa ou confusa a decisão, re q u erim en to para esclarecim en­
tos (em bargos d eclaratórios adm inistrativos).
Singelo pela natureza, deve conter: a) destinatário da reclam ação; b) quali­
ficação do recorrente; c) razão de ser da inconform idade; d) se possível, a funda­
m entação legal; e e) pedido.
Vale recordar a Súm ula PREVIC n. 1: “O prazo para apresentação de defesa
em face de au to de infração conta-se a p artir da últim a notificação válida, q uando
forem dois o u m ais os au tu ad o s n o m esm o processo ad m in istrativ o ”.
2088. E feitos ju ríd ic o s — O R egulam ento Básico deve regrar o efeito sus-
pensivo, p resu m in d o -se presente o devolutivo. A questão é crucial, especialm ente
q u an d o se trata da suspensão do pagam ento de benefício em m anutenção. O ideal
é não su star o desem bolso e resolver-se rapidam ente a pendência.
A Súm ula PREVIC n. 2 diz que: “A plica-se n a previdência com plem entar
fechada o p rin cíp io da relroatividade da norm a m ais benéfica, inclusive hipótese
de en q u ad ram en to decorrente da alteração prom ovida pela Resolução CMN
n. 3,792, de 2 4 .9 .2 0 0 9 ”.
2089. P razo s p a ra in te rp o siç ã o — O prazo para recurso ao C onselho de
C uradores é estabelecido no E statuto Social ou R egulam ento Básico, reco m en d an ­
do-se equivalência com os da previdência básica, de 15 e de 30 dias.
D iante da im prescritibilidade dos direitos, não há prazo para o pedido de
revisão de cálculo.

C urso dc D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1460 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
2090. P rin cíp io s co m p atív eis — Os princípios aplicáveis ao procedim ento
ad m in istrativ o são praticam ente refletidos das características: a) da am pla defesa;
b) do co n trad itó rio ; c) da iniciativa adm inistrativa; d) da gratuidade. E, com o lem ­
brado, em particular, o da verdade real.
A todos deve ser assegurado o direito de contestação, im p o rtan d o no em prego
de q u aisq u er m eios regulares e legítim os reconhecidos pelo D ireito, prin cip alm en ­
te em m atéria de prova.
P o r co n tra d itó rio , hã de se en ten d e r a possibilidade de confrontação de co n ­
clusões em m atéria fãtica e ju ríd ica, cabendo ju n ta d a de m em oriais, pareceres,
a d u zim en to s etc. Tam bém significa, n o silêncio da parte contrária, a adm issão do
alegado anterio rm en te.
O p ro ced im en to com plem entar, igual ao básico, q uando in tern o , é im pulsio­
nado pela pessoa ju ríd ica. Daí estarem presentes algum as presunções, com o a da
legitim idade do ato praticado e com petência do signatário do d o cu m en to e obriga­
ções, p articu larm en te, a de en cam in h ar o feito, instruí-lo o m ais depressa possível.
Inexistem usos ou costum es de se cobrarem taxas ou em o lum entos pela ad ­
m issão do ped id o de reconsideração da decisão adm inistrativa.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io
Capítulo CCIX

P e n a l id a d e s A d m in is t r a t iv a s

S u m á r io : 2091. Questões introdutórias. 2092. Características da infração. 2093.


Advertência administrativa. 2094. Suspensão do exercício. 2095. Inabilitação pro­
fissional. 2096. Multa pecuniária. 2097. Responsabilidade pessoal. 2098. Normas
procedimentais. 2099. Garantia de instância. 2100. Reincidência delitiva.

Em norm a de grande alcance e repercussão, diz o art. 65 da LBPC: “A infra­


ção de qu alq u er disposição desta Lei C om plem entar o u de seu regulam ento, para
a qual não haja penalidade expressam ente com inada, sujeita a pessoa física ou
ju ríd ica responsável, conform e o caso e a gravidade da infração, às seguintes pena­
lidades adm inistrativas, observado o disposto em regulam ento:
1 — advertência;
IT — susp en são do exercício de atividades em entidades de previdência com ­
p lem en tar pelo prazo de até cento e o iten ta dias;
III — inabilitação, pelo prazo de dois a dez anos, para o exercício de cargo
ou função em entidades de previdência com plem entar, sociedades seguradoras,
in stitu içõ es financeiras e no serviço público; e
IV — m ulta de dois m il reais a um m ilhão de reais, devendo esses valores, a
p artir da publicação desta Lei C om plem entar, ser reajustados de form a a preservar,
em caráter p erm an en te, seus valores reais.
§ 1QA penalidade prevista no inciso IV será im putada ao agente responsável,
resp o n d en d o so lid ariam ente a entidade de previdência com plem entar, assegurado
o direito de regresso, e poderá ser aplicada cu m ulativam ente com as co n stan tes dos
incisos I, II o u III deste artigo.
§ 2- Das decisões do órgão fiscalizador caberá recurso, no prazo de quinze
dias, com efeito suspensivo, ao órgão com petente.
§ 3QO recurso a que refere o parágrafo anterior, na hipótese do inciso IV deste
artigo, som ente serã conhecido se for com provado pelo requerente o pagam ento
antecipado, em favor do órgão fiscalizador, de trinta por cento do valor da m ulta
aplicada.
§ 4 q Em caso de reincidência, a m ulta será aplicada em d o b ro ”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1462 W J a íiim ir N o v a e s M a r t i n e z
O D ecreto n. 4.942/2003 estabeleceu nada m enos do q u e 48 infrações ad m i­
nistrativas que po d em ser praticadas pelos gestores dos fu n d o s de pensão.
2 091. Questões introdutórias — O dispositivo é p o n tu a l em m atéria de p re­
vidência penal. N ão bastava m en cio n ar a Lei n. 9.784/1999, com o fazia na Lei n.
6.435/1977. A despeito de inúm eros regulam entos ad m inistrativos (R esoluções
CGCP n. 12/1996 e CNSP n. 60/2001), o legislador passa ligeiro sobre o tem a,
deix an d o lacu n as p ertin e n te s ao procedim ento, arriscando-se a facultar ao Poder
E xecutivo a integração. P ena que tom ou as m ú ltip las h ipóteses dos regulam entos
e os co n tem p lo u na LBBC.
N ão define a prescrição das infrações nem a reabilitação dos condenados. A
esse respeito, con v in d o co n su ltar o C ódigo Penal e C ódigo de Processo Penal.
N o T ítulo XVIII — Da Extinção da Punibilidade, no art. 58 da R esolução CNSP
n. 60/2001, dita: “E xtingue-se a punibilidade: í — pela m orte do infrator; 11 — pela
retroativídade adm inistrativa; ou III — pela retroatividade de ato norm ativo que
não m ais co n sidera infração o fato gerador da san ção ”.
Infringir m an d am en to s representa descum pri-los q u an d o insofism áveis e le­
gítim os, cientificam ente válidos e vigentes, o agente o p eran d o com capacidade
ju ríd ica, e q u an d o dele não era lícito esperar o u tra co n d u ta e se desse ato resultar
algum dan o a alguém .
A in observância dolosa ou culposa das regras legais, reg u lam en tares ou ad ­
m in istrativ as dá-se p o r leniência, ação ou om issão. In casu, terá de ser a prática
vedada e c o n stan te das fontes form ais in d icad as no dispositivo. Q u em concorre
com o in fra to r assum e o m esm o ô n u s da pena. À evidência, su scitan d o -se ques­
tões relativas ao estrito cu m p rim en to do dever e a obrigação de respeitar ordens
superiores.
O legislador fala de obrigações concebidas na LBPC e não em o u tro s atos
co n trário s à lei, com o desobedecer a requisição do M inistério Público (art. 64,
parágrafo único).
O ideal é o elaborador da norm a ser específico, facilitando a interpretação do
que seja o dever do adm inistrador, especificando claram ente quais as disposições
que podem suscitar a aplicação do preceito. Resultado perto de ser atingido com os
atos norm ativos inferiores (Resolução do CNPC/CNPS ou IN da PREVIC/SUSEP).
N ão há valoração nem p o n tuação da intensid ade da falta. E quip aran d o p e­
quen o s desvios de co n d u ta com atuações quase crim inosas, o com ando alude a
“q u alq u er” disposição, e isso não é boa construção norm ativa.
O ap licad o r tom ará o fato ap u rad o e o disting uirá p o r ocasião da fixação da
p en a (incisos I/IV). A inda um a vez, afirm a-se, ad nauseam, sua exegese reclam a
sabedoria e senso de justiça p o r parte desse intérprete.
Im porta avaliar a: a) an teced en tes do autor; b) presença inequívoca de dolo
ou culpa; c) circu n stâncias aten u an tes ou agravantes; d) intenção deliberada do
agente; e) n atu reza da falta; f) repercussão social; e g) danos causados.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o / V — P revidência C o m p l e m e n ta r
1463
A LC n. 109/2001 tem 79 artigos, em sua m aioria com andos efetivos, u n s p o u ­
cos co n stitu íd o s de esclarecim entos, classificações, conceituações ou definições.
À análise só interessam as prescrições dispositivas, aquelas que im perativam ente
determ in am a atuação hum ana.
Preceitos que possam suscitar a penalização alvitrada sào exclusivam ente os
con stan tes da LBPC. Caso ofendam à C arta M agna, à LC n. 1.08/2001 ou às norm as
adm inistrativas inferiores ao regulam ento, conform e cada caso, sujeitar-se-ão a
ou tras penas, com o as previstas na Lei n. 9.983/2000 ou n o C ódigo Penal.
No tocante à infração de disposições do R egulam ento da LBPC, será preciso,
em prim eiro lugar, avaliar-se sua p ropriedade e legalidade, para inferir-se da cul­
pabilidade do autor.
Sem autorização legal para isso, m as com certa procedência, a IN SPC n.
33/2002 o b stou a lavratura de AI p o r infração a fatos ocorridos sob a vigência a Lei
n. 6.435/1977, se: a) até 28.2.2002, não sobreveio autuação; b) inexistiu prejuízo
à EFPC ou aos participantes; e c) a entidade regularizou a situação.
Um a prim eira in terpretação diz que o regulam ento aludido é o decreto regula-
m entador, q u an d o p róprio e em seu leito natural. N ão po d e se estender às norm as
infrarregulam entares, m esm o com perm issão do P oder E xecutivo, p o r co n trariar
a lei.
Se u m a portaria, instrução norm ativa o u resolução dos entes supervisores,
diante da om issão do decreto regulainentador, regrarem diretam ente a lei, esses atos
norm ativos têm natureza de regulam ento, e assim devem ser interpretados, m as o
ideal é que os entes reguladores periodicam ente revejam a organicidade desse de­
creto para que ele contem ple a m aior parte das hipóteses e não provoque dúvidas.
E ntre outras, disposições sem penalidade vinculada na LC n. 109/2001, as
prin cip ais são:
a) oneração dos ativos garanlidores — art. 28, § 2S;
b) transferência para terceiros de participantes — art. 33, § 1Q;
c) constituição das entidades, com ercialização de planos, eleições e operações
de transferência — art. 38, I/ÍV;
d) lev an tam en to de balancetes e balanços — art. 40;
e) obrigação de p restar inform ações — art. 41, § 3a;
0 balanço geral de liquidação — art. 51;
g) responsabilidade dos adm inistradores e dos patrocinadores — art. 57;
h) não recolhim ento de contribuições — art. 58;
i) auto rid ad es cartorárias — art. 60, parágrafo único, 1/IV;
j) responsabilidade geral dos adm inistradores — art. 63;
k) operações com erciais e financeiras — art. 71, I/11I;
1) participação m ajoritária — art. 77, § 2Q;

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1464 W l a d i m i r N o v a e s M a rtin e z
m) adaptação às condições legais — art. 77, § 3°; e
n) d escu m p rim en to de obrigações — art. 77, § 8°.
U m a ou o u tra, à exceção das condutas antes exem plificadas, não tem pen ali­
dades expressam ente previstas. A IN SPC n. 15/1997 arrola exem plificativam ente
as inúm eras possibilidades.
As pen as do Direito P revidenciário C om plem entar, contidas na LBPC, quase
todas com caráter ad m inistrativo, pouco variam . Elas po d em ser:
a) adm oestativas (advertências);
b) p ecuniárias (m ulta);
c) restritivas do exercício (suspensão e inabilitação).
Para ser excluída das sanções fixadas nos incisos I/IV do art. 68, é necessário
que a co n d u ta reprovada tenha previsão positivada de punição, caso do art. 67 da
LBPC.
C om inação de pena é definição da punição ao agente. Com algum a frequência
a LC n. 109/2001 desaconselha, restringe, veda ou obsta operações, p o n tu an d o
obrigações de dar, fazer ou não fazer em bora não tão claram ente com o desejáveis.
A pessoa física ou ju ríd ica, diante da autoria da infração e sua caracterização,
assum e a im posição da pena. Pessoa física é o agente, o au to r da ofensa à norm a,
aquele in d ivíduo que, isolada ou co n co rren tem en te, praticou o ato condenado.
No in q u érito , designado com o suspeito, na den ú n cia com o indiciado, no processo
jud icial com o réu da ação persecutória, qu em não observou o diplom a legal ou
reg u lam en tar a que estava sujeito e que sofrerá a sanção. Um particip an te prestador
de serviços à EPC, o gestor da entidade e outras pessoas mais. Pessoa ju ríd ica é a
em presa, m uito possivelm ente a p atrocinadora ou in stitu íd o ra e a p ró p ria entidade
aberta ou fechada de previdência com plem entar, m as não exclusivam ente essas
pessoas e, in casu, sujeitas tão som ente às penas do inciso IV
Especificam ente, os responsáveis são: a) adm inistradores; b) participantes; c)
entes su p ervisores (E stado); e dem ais pessoas envolvidas na relação.
A n o rm a separa os ilícitos, seja p o r sua gravidade, seja por personalidade,
convindo-se verificar se a culpa é da pessoa física ou ju ríd ica, e levando em conta
que, sem pre que a pessoa ju ríd ica opera, o faz por interm édio de indivíduos.
Cada o co rrên cia a ser destacada, esm iuçada tecnicam ente, averiguada proce­
dim entalm ente, su scitando-se os expedientes, determ in an d o -se as responsabilida­
des para, so m en te então, serem decretadas as penas.
C om o na crim inalística, a infração será avaliada em sua intensidade, pois,
m u itas vezes, o aco n tecim ento é de som enos im portância, lana caprina. Isso se fará
em função da penalização e em razão dos três incisos do artigo, ali ordenados não em
seqüência (tem p o ral), m as em gravidade.
2092. C ara c te rístic a s da infração — U m a infração, com vistas à im posição
da pena, terá de ser considerada sob vários aspectos.

C u rso de D ir e it o P rev id en c iário


T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
1465
a) relevância em si m esm a — a co n d u ta im pugnada terá de ser considerada
em com paração com os m ovim entos do dia a dia;
b) desd o b ram en tos — a m edida desestim uladora deve abortar a ilicitude ab
initio;
c) m au exem plo — a prática reprovada, se não coartada, po d e prestar-se com o
m au exem plo;
d) co n seq ü ên cias — um ato, evento ou negócio dessa natureza geralm ente
causa prejuízos;
e) repercussão — a sensação de insegurança co n traria a tran q ü ilid ad e, fãtica
ou ju ríd ica, que é o elem ento de confiança da adm inistração;
0 risco assum ido pela in stitu ição — in ex istir certeza da pu n ição significa o
perigo da aprovação de atos prejudiciais ao segm ento;
g) n uanças aten u an tes — em cada caso, é preciso verificar se o au to r não tinha
o u tra opção para agir;
h) circunstâncias agravantes — d ep en d en te da posição assum ida pelo au to r e
do ilícito, as hipóteses podem agravar o cenário da ilicitude;
i) antecedentes do au to r — além das circunstâncias am bientais, carece sope­
sar a biografia do agente.
São três tipos de penas, de caráter adm inistrativo, u m a delas assinaladam ente
pecuniária.
C om inam -se penas de advertência, suspensão, inabililação e m ulta sim ples
ou em dobro.
Um caráter ad m inistrativo é ressaltado pelo legislador, p erd en d o eventual
nuança penal. Q uer dizer, perm anecem na esfera interna da entidade ou do sistem a,
sem necessidade de recorrer ao P oder Judiciário.
O elab orador da n o rm a arrisca-se em m atéria delicada, delegando a P oder
Executivo tarefa que é p ró p ria da lei.
2093. A dv ertência a d m in istra tiv a — A lei inicia o rol das penalidades pre­
vistas com a advertência, m odalidade punitiva com pequenas conseqüências, m as
com respeitável alcance m oral. A lgum as pessoas preferem pagar m ulta a serem
repreendidas.
A pena era prevista n o art. 7 5 , 1, da Lei n. 6.435/1977, e no art. ! Q, I, da Reso­
lução CG PC n. 12/1996 (fechada) e no art. 31, I, da R esolução CNSP n. 60/2001
(aberta), d estinada a: “diretor, adm inistrador, conselheiro fiscal, conselheiro d e­
liberativo, direta ou in diretam ente responsável pela prática de q u alq u er infração
previsLa nesta Resolução, desde que n ão seja reincidente. Parágrafo único. A adver­
tência será form alizada p o r escrito e com unicada via postal, com aviso de recebi­
m e n to ” (art. 32).
O item 3 da IN SPC n. 15/1997 descrevia as pessoas envolvidas “C aberá pena
de advertência ao(s) ad m in istrad o r(es), conselheiro (es) e responsáveis direta ou
in d iretam en te pela prática de infrações nos casos em que se verifique ausência de
dolo e seja o infrato r prim ário".

C urso de. D iiíe it o P R n v ip n N ciA R io


1466 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Em q u alq u er regim e de punições, a advertência é a m en o r das penalidades.
Tem lado m oral relevante porque atinge quem não é co n tra v en to r nem crim inoso,
m as apenas q u em se desviou de suas obrigações, às vezes, p o r ignorância de sua
função.
a) Papel — A lu n ção da advertência é ser alerta adm oestativo, para que não
so b revenha nova oco rrência do fato atribuído ao sujeito passivo da m edida e ele
cuide de incid ir em novas penalidades.
b) Forma — M odalidade de em issão solene e do cu m en tal, arquivada n a en ti­
dade e en treg u e m ed iante recibo.
c) Vínculo — Ela diz respeito à infração de peq u en a m o n ta, lim itando-se à
peq u en a ocorrência.
d) N atureza — R epreensão pream bular de caráter adm inistrativo, portan to ,
co ntida ap en as no seio da entidade, dispensa a publicidade externa.
e) Primariedade — U ltim ada, presta-se para solução a ser dada a conduta
reprovável posterior, com o au m en to da pena.
f ) Significado — Prom ovida para Irear procedim entos que po d em vir em cres­
cim ento.
g) Tipo — Verbal ou escrita, recom endando-se esta ú ltim a para que fique
do cum entada.
h) Objetivo — Penalizar faltas de peq u en a expressão.
i) Pressuposto lógico — P rim ariedade (inocência m oral), isto é, ausência de
dolo.
j) Alcance — A regra da publicidade varia conform e as circunstâncias; em
alguns casos, à guisa de exem plo, poderá ser divulgada, m as em outros, a notícia
pod erá p ô r a p erd er o profissional.
k) Elementos constituintes — O d o cu m en to a ser entregue ao advertido deve
co n ter su a identificação e cargo, as razões da atitu d e tom ada (descrição dos fatos),
a im p u tação e a n o rm a ofendida.
1) Cumulação — A advertência po d e ser cum ulada com m ulta pecuniária.
2094. S u sp en são do exercício — A Lei n. 6.435/1977 previa a suspensão no
art. 75, III, sendo colhida no art. I 9, III, da R esolução CGPC n. 12/1996 e item 3 da
IN SPC n. 15/1997. Esse item 3 fixava a suspensão em 90 dias (A nexo 2) e de 180
dias (A nexo 3).
Q uem está su sp enso, d u ra n te o p erío d o d a penalização, não pode praticar
o ato objeto da m edida im posta. Significa que o p u n id o está im pedido de prestar
serviços na EPC.
O bstado do exercício, não pode trabalhar e, nessas condições, tam bém não
pode gozar de licença não rem unerada. Sem prestar serviços na EPC, nada im pede
fazê-lo em o u tro lugar.
A proibição alcança não só a entidade onde oco rrid a a infração com o qu alq u er
ou tra EPC do segm ento com plem entar.

C urso d e D ire ito P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p k t n e n t a r 1467
A penas nas entidades e não na previdência com plem entar com o instituição.
A bstraindo o aspecto m oral, poderá operar dentro do sistem a, nas organizações
não governam entais.
O aplicador da pena estabelecerá o prazo, co n tín u o e vigente desde a ciência
da punição. O m áxim o é de 180 dias. Um prim eiro tem sido fixado em 90 dias.
2095. Inabilitação profissional — L em brando a C onstituição Federal, o in ­
ciso II cuida de n o rm a restritiva do direito de trabalhar.
A inabilitação estava contem plada no art. 75, IV, da Lei n. 6.435/1977, no art. 1-,
IV da R esolução CPG C n. 12/1996 (apenas para o cargo de direção ou de conse­
lheiro) e no item da IN SPC n. 15/1997.
Inabilitação é sério obstáculo à atividade profissional, rem u n erad a ou não
(p o r isso, inclui d iretores ou conselheiros). O alcançado com a sanção fica proibido
de exercer certas atividades, cujo ingresso sobrevenha com contraio ou concurso
público.
F ratando-se de form a agravada da suspensão; na m aioria dos casos, p ro m o ­
verá o afastam ento do culpado da entidade em condições tais que ele não poderá
reassum ir.
Se estiver ocup an do cargo em o utra entidade, será de bom alvitre reeditarem ­
-se as m edidas acautelalórias. Não se vislum bra na m edida óbice ao trabalho na
patro cin ad o ra ou na instituídora.
D escum prindo a punição, se o indivíduo vem a exercer a atividade vedada, só
restará p u n i-lo com a m ulta prevista no inciso IV do artigo 65.
A inabilitação não é definitiva, em bora de longa duração, tem o caráter de
provisoriedade. Terá início q u an d o da ciência da pu n ição ao sujeito passivo, per­
d u ran d o pelo tem po fixado no ato formal.
O prazo m ínim o é de dois anos, e o m áxim o, de dez anos. A m bos são severos
e, portan to , a eles deve corresponder infração grave. N ão h á suspensão ou inabili­
tação, dos 181 até 730 dias.
O exercício p ressu p õ e o cargo, sem d istin ç ão q u a n to a su a n atu re za ou
nível h ierá rq u ico , m as á evidência, aqueles q u e envolvem os gestores terão de
ser so p esad o s em p articu lar. A re sp o n sa b ilid a d e do p re sid e n te da D ireto ria E xe­
cutiva é m aio r do q u e a de seus ad m in istrad o s. C argo é expressão do D ireito
A dm in istrativ o . R ep resenta um a posição d istin ta no q u ad ro de carreiras, com
títu lo d efin id o , fu n ção específica, re m u n e raç ão p ró p ria , a se r p re en ch id o p o r
certa pessoa.
Falar em exercício de função é pleonasm o, p orque função é a atividade do
profissional, ineren te ao cargo.
Toda vez que o legislador m enciona a expressão “e ntidades de previdência
co m p lem en tar”, pela natureza da oração é perceptível que ele está falando nos
fu n d o s de pensão com o organização e não de toda a instituição do que se conven­
cio n o u ch am ar de “segm ento su p letiv o ”.

C urso dp PiRniioPREviDENCiARio
1468 W la d im ir N o v a es M a r tin e z
Todavia, neste m o m en to , d ian te da inclusão das sociedades seguradoras, ins­
tituições financeiras e do serviço público, não há com o desacolher a extensão da
ideia, e, com isso, concluir-se que a interpretação do alcance terá de ser extensiva,
abran g end o , p o r exem plo, os entes estatais, m as excluindo os n ão governam entais.
S ociedades seg u rad o ras são em presas n ão p re v id e n ciária s stricto sensu, even­
tu alm en te au to riz ad as a g erir EAPC, m as b asicam en te o cu p a d as com seguros.
Pessoas ju ríd ic a s de d ireito p riv ad o p re sta d o ras de serviços, cuja atividade-fim
co n siste em c o n tra ta r seguros p rivados d e variado esp ectro sec u ritá rio . In stitu i­
ções fin an ceiras é co n ceito am plo. O serviço p ú b lico co m p re en d e a a d m in istra ­
ção d ireta e in d ireta, fu n d a cio n al e au tárq u ica m u n icip al, d istrita l, estad u al ou
federal.
Desse âm bito, arredadas a sociedade de econom ia m ista, a em presa pública e
a fundação de direito privado.
2096. M u lta p e c u n iá ria — O preceito cuida de severa p u nição, afetando o
p atrim ô n io do infrator: m u lta pecuniária. Fica a im pressão de que os incisos estão
ord en ad o s seg u n d o a gravidade da infração, m as o raciocínio é q u eb rad o com a
m u lta m ínim a, de R$ 2.000,00 (inciso IV), incom paravelm ente m en o r que a inabi-
litação (inciso III), m esm o p o r dois anos, ainda que acum uladas.
A m ulta com parece no art. 75, II, da Lei n. 6.435/1977, na Resolução CGPC n.
12/1996 (art. I B, II), e item 6 da IN SPC n. 15/1997, em Lodos esses atos norm ativos
ficando claro que seriam aplicadas “em função da gravidade d a infração”.
O s atuais valores firm ados em reais não estão estratificados e assim não per­
derão o p o d er persu asório, esquecendo-se o legislador de fixar critério de a tu a­
lização para o caso de o pagam ento ocorrer tem pos após o seu estabelecim ento.
Presum e-se q u e esses p rocedim entos, desde a autuação, serão dem orados, em bora
a rig o r não haja p reocupação com o en riq u ecim en to dos entes fiscalizadores e sim
o alerta.
M ulta é p u n ição pecuniária, com caráter fiscal ou adm inistrativo. A LBPC fala
daq u ela com feição adm inistrativa. Suas principais características são:
a) n atu reza — sanção financeira d im in u id o ra do p atrim ô n io do agente;
b) objetivo — p u n ir o culpado e servir de exem plo p ara os dem ais;
c) variação — fixada em valor m ínim o e m áxim o, to rn an d o difícil sua apli­
cação em cada caso.
N o prazo, se a m u lta não for paga, os au to s serão en cam in h ad o s à P ro cu rad o ­
ria da Fazenda N acional, para a cobrança executiva, nos term os da Lei n. 6.830/1980.
A IN SPC n. 15/1997, em seus três anexos, arrola 18 + 18 + 30 = 66 (síc) condutas
sujeitas à m ulta.
A m ín im a é R$ 2.000,00, valor insignificante, descabido com o elem ento m o ­
ral e q ue d esn a tu ra a p ró p ria punição. A m áxim a é de R$ 1.000.000,00, ao co n ­
trário, p atam ar que im pressiona pelo seu nível, exagero com o elem ento m oral, e
incobrável na m aioria dos casos.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I V — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n t a r
A leitu ra do valor m áxim o da p en a (de um m ilhão de reais) tem de ser feita à
vista do § 4e do artigo. O legislador não a identifica com o sendo a m áxim a, m as o
extrem o do espectro; com isso, com binando-se com aquele dispositivo, a exigência
pode chegar a dois m ilhões de reais (sic).
P reo cu p ad a com a c u ltu ra in flacio n ária e os p ercen tu ais de d esv alo riza­
ção da m o ed a, é p re ceitu ad o critério de atualização dos m o n ta n te s o riginais da
LBPC.
Periodicam ente, os entes supervisores, m uito possivelm ente os reguladores
(C N PC /C N SP), terão de h o d iern izar esses níveis.
As im portâncias a serem atualizadas são os R$ 2.000,00 e o R $ 1.000.000,00,
não ficando claro q uem e com o prom overá a correção. Pela sua natureza, com o
antecipado, é in cum bência dos entes reguladores.
De m aio de 2001 até abril de 2002, o IGPI-DI deverá atingir cerca de 6% e será
preciso h o d ien izar o m ontante.
É p o n tu ad o critério inicial para a fixação do percentual de correção, conta­
do desde a LC n. 109/2001 (m aio/2001), em bora não fique definido o período da
frequência. A ndará bem o adm inistrador se pensar que o objetivo da lei é m anter
o significado do valor, tom ado com o referência (m eram ente indicativo em face da
Súm ula V inculante STF n. 4/2008) o salário m ínim o de m arço de 2012 (R$ 678,00)
ou o preço do dólar.
A LC n. 109/2001 é referência para a decantação do prim eiro reajustam ento.
P or tradição e em razão dos índices inflacionários, desde o Plano Real, ultim am ente,
tem sido anual, m as nada obsta que essa frequência seja m odificada, se presente
m aior ou m en o r percentual de inflação.
A id eia é o m o n ta n te da m u lta p e rm a n e c e r com seu p o d e r co ercitiv o , a
d esp e ito da p erd a d o p o d e r aq u isitiv o da m o ed a, em nível e q u iv a le n te aos fir­
m ad o s em m arço de 2008 (q u a n d o re p re se n ta v a d e cin co a cinco m il salários
m ín im o s).
C ada ano, provavelm ente p o r ocasião do aniversário da LC n. 109/2001 (cri­
tério sugerido, já que a lei não estabeleceu o u tro ), com a inflação totalizando de 4
a 6%, será a m elh o r o p o rtu n id ad e da atualização.
Não desejando fixar o quantum em outro referencial, o objetivo da correção
é fazer com que a m u lta não perca, diante da inflação, o seu p o d er de persuasão.
Para m an ter o nível real, é preciso que o in d ex ad o r inflacionário acum ulado
do p eríodo seja considerado.
E n q u an to existir inflação é im pensável não corrigir as im portâncias. Sobre­
vindo deflação (diferentem ente dos benefícios previdenciários), o processo será ao
contrário.
Para se preservar o p atam ar absoluto de m arço de 2008, im põe-se correção
m onetária a cada m ês, o que é im praticável diante dos atuais patam ares da inflação,
aceitando-se a atualização anual.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1470 W la d im ir N o v a e s M a rt in e z
2097. Responsabilidade pessoal — Trata o § I a d o art. 65 da responsabilida­
de do a u to r e da entid ade, qu an d o for a in d u to ra dos atos. O preceito estabelece
m o dalidade de solidariedade, apenas em relação à cobrança da m ulta, e ação re ­
gressiva, se o fundo de pensão tiver de desem bolsá-la.
Ao dizer que a penalidade “serã im putada ao agente responsável”, parece in ­
dicação óbvia, m as decorre da individualização da pena com vistas à solidariedade
indicada a seguir.
O s responsáveis pelas penas com inadas nos incisos I/Ill, são pessoas fisicas
(de m odo geral, os gestores). No § I a, o legislador dita regras para definição de
eventual responsabilidade, configurando quem é o agente passivo da açâo punitiva
relativa ao inciso IV
O preceito reporta-se à m ulta de caráter adm inistrativo, aquela capaz de d i­
m in u ir o p atrim ô n io da pessoa condenada e de lhe causar im pressão no am biente
de trabalho.
M ultas, desde o arl. 75, II, da Lei n. 6.435/1977, e art. 108, II, d o D ecreto­
-lei n. 73/1966, são u m a tradição no D ireito C o m p lem en tar Penal, po rém , sem a
solidariedade.
P o n d o fim à dúvida, a sanção é niLidamente individual, atribuível ao sujeito
passivo, devedor originário, podendo ser cobrada da pessoa ju ríd ica. Na hipótese
de o cu lpad o não pertencer à entidade, ela deixa de ser corresponsável.
A tarefa de averiguação operar-se-á em relação ao universo dos que podem
com eter falhas, os sujeitos ju rid icam en te capazes, ad m in istrad o res o u não, isto é,
tom ada a expressão relativam ente aos gestores em seu sentido m ais lato. ALé m es­
m o colaboradores não in teg ran tes da D iretoria Executiva ou dos conselhos podem
praticar as ações com inadas.
O vocábulo “a g en te”, tom ado em prestado do D ireito Penal, designa a pessoa
física.
D ecan tad a a a u to ria do ilícito ad m in istrativ o , firm ado o nex o causai en tre
a ação ou a om issão e o d an o , é preciso verificar se a pessoa p o d e se r re sp o n sa­
bilizada.
In d ep en d en tem en te da atribuição da responsabilidade ao cau sad o r da infra­
ção, a en tid ad e é corresponsável p o r via de solidariedade (possivelm ente, p orque
perm itiu que acontecesse, não exercendo o papel fiscalizador) — responsabilida­
de solidária, tam bém de caráter m oral e que se exprim e na obrigação de pagar a
m ulta, se o agente não o fizer. M esm o pagando, sem pre ficará a m ancha causada
à organização da entidade.
C om o, de m o d o geral, a falta é com etida contra a entidade (ainda que possa
se esten d er ao sistem a), que geralm ente é organização com capacidade econôm ico-
-financeira m aior do que dos seus dirigentes, no en tan to , o legislador lhe atribui
corresponsabilidade pela m ulta. Q u er dizer, o sujeito passivo da ação, em últim a
análise, é q u em paga.

C urso Pb D ir e it o P r o v id e n c ia r io

T om o ÍV — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n ta r
1471
A na Pauta Martins e Pierre Moreau, além da obscuridade do dispositivo, viram
incongruência: “A com panhando-se este raciocínio, a A dm inistração Pública já in­
dica, de im ediato, q uem são os infratores da Lei, sabendo que as vítim as são as p ró ­
prias E ntidades e, indiretam ente, os P articipantes dos P lanos Previdenciários por
elas adm inistrados. No entanto, elege a p ró p ria vítim a com o responsável solidária
com o infrator, g aran tin d o -lh es apenas o distante regresso" ( “R esponsabilidade dos
G estores das E ntidades P revidenciárias Privadas sob o Prism a da S olidariedade”,
in RPS n. 250/640).
Q uer dizer, se o m u ltad o paga a pena, a solidariedade desaparece. N ão existe
benefício e de ordem . Em prim eiro lugar, deve ser cobrada da pessoa física para,
so m en te depois, ser exigida da ju ríd ica. Descabe co n fu n d ir a responsabilidade ori­
ginária da en tidade com a sua solidariedade em relação aos adm inistradores e que,
p ertin en tem en te a estes, ele não é.
A en tidade arca com os atos dos seus gestores, em bora as co n d u tas sem pre
sejam hum anas.
Para p en a s de p e q u e n a m o n ta, p o ssiv elm en te q u an d o se esg o tar a cobrança
ad m in istrativ a ou ju d ic iá ria sem su cesso , já se terá in stalad a a d ecad ên cia ou
a prescrição . Im puLação possível a p e n as nas e n tid a d e s ab ertas e fechadas de
prev id ên cia co m p lem en tar, sem d istin ç ão q u a n to a ser fu n d o m u ltip a tro c in a d o
ou não.
A lei garante a possibilidade de essa m esm a organização corresponsável, por
sua vez, reaver do agente causador (p o r perdas e danos) o valor da m ulta. Da m es­
ma form a, regressividade prejudicada pelo tem po.
Sub-roga-se a EPC no direito de ten tar recom por-se do desem bolso da m ulta.
Levando em conta que o au to r pode ser trabalhador rem u n erad o pela EPC,
não fica claro se esta pode, à boca do cofre, desco n tar os seus salários ou se n e ­
cessita da haver a cob rança form al em apartado. C redora do valor, se descontar
en co n trará resistência do agente (quem , aliás, n ão q u ito u a m ulta), abrindo-se
nova discussão.
D ireito de regresso a ser exercitado da entid ad e contra o agente causador.
Esse direito é civil, individualizado e in d ep en d e n te do p rocedim ento oficial.
As razões para su a validade são a culpa de quem d eu causa à cobrança da U nião,
podem ser em prestadas as provas do expediente oficial e até m esm o a sua co n c lu ­
são, desobrigada a EFPC de ap u rar a responsabilidade.
Tom ando com o referência a pena pecuniária, o legislador autoriza ao ente
ap licad o r a possibilidade de cum ulá-las com as dem ais.
A evidência, se o fizer, a m ulta m ínim a (R$ 2.000,00) estará associada à ad ­
vertência, e a m áxim a (R$ 1.000.000,00), à inabilitação, p erm anecendo a m édia
com a suspensão.
De tal form a que o sujeito, além da advertência, suspensão ou inabilitação,
sub m ete-se à m u lta pecuniária.

C u r s o d f. D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1472 W la d im ir N v v a e s M a r tin e z
R esponde, d estarte, p o r duas penas, um a de natu reza restritiva da liberdade
de trab alh ar e, o u tra, pecuniária. Este dispositivo p o d erá su scitar discussão sobre
a d u plicidade de punições, a ser resolvida a favor da sua validade, de vez que será
de n atureza d istin ta, com o é com um no D ireito Penal.
Dessa form a, o u tras sanções que possam estar co ntem pladas em diferentes
n o rm as d ep en d em de regulam entação própria.
2098. Normas procedimentais — O art. 65 da LBPC, co m inando penas a
serem aplicadas depois de ap urada a autoria dos ilícitos, n o s §§ 29/3 s, dispõe sobre
regras p ro ced im en tais p ró p rias da inconform idade das pessoas.
O D ireito P revidenciário P rocedim ental engatinha, n ào tem d o u trin a de real­
ce nem experiência o u divulgação. No que se refere aos in q u érito s adm inistrativos,
p o u co se estu d o u a m atéria.
F in alm en te, o legislador refere-se à iniciativa do ente fiscalizador m inisterial,
n o to can te ao p ro ced im en to de apuração de resp o n sab ilid ad es e aplicação das
penas.
U m a vez ap u rad a a au to ria será aplicada a sanção, que terá de ser com unicada
p o r escrito ao autor. A decisão referida é a D ecisão-N otificação — DN, seqüencial
ao A uto de Infração — AI lavrado.
DN é o d o cu m en to p o r m eio do qual o ente fiscalizador dará conhecim ento
ao in frato r da aplicação da pena. N otificação Fiscal — NF, m eio pelo qual entidade
tom a ciência das infrações. AI, um d o cu m en to que caracteriza a infração.
Q uem tom ará, pois, a decisão de punir, p o r ato próprio, solene e escrito, é a
PREVIC o u a SUSEP (R esolução CNSP n. 60/2001).
O legislador, com o não poderia deixar de ser, faculta ao interessado discordar
da decisão do en te fiscalizador, dela divergir e opor-se form alm ente.
Um recu rso a ser in terp o sto é de apelação e co n tra a D ecisão-N otificação do
ente fiscalizador.
C o ntado da data da ciência da pena, o agente tem 15 dias úteis para in terp o r
recurso da resolução punitiva.
O prazo qu in zen al é razoável, p o rq u e o sindicado e in q u irid o já terá co n h eci­
m ento das acusações q u e pesam sobre si.
Em razão do efeito suspensivo, o procedim ento se estanca, a suspensão ou
inabilitação não ocorrem , n em m esm o a m ulta sobrevêm , en q u a n to não se resolver
a in co n form idade, restabelecendo-se a punição, se for o caso, assim q u e apreciado
o recurso. D iante de sua natureza, não é possível sustar-se a advertência.
A eficácia do efeito suspensivo, se os pro ced im en to s não forem agilizados,
in d u zirá a in u tilid ad e da pena (num País, onde a certeza da im p u n id ad e é o m aior
incentivo à crim inalidade).
Se a decisão é do ente fiscalizador, a ele cabe co n h e cer do recurso ou não e
rever sua decisão, m as, caso assim não entenda, fará subir as razões de inconfor­
m idade ao en te reg u lad o r (C G PC ou CNSP).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1473
2099. Garantia de instância — Até que o STF tivesse se m anifestado, no
âm bito da previdência social estava positivada a garantia de instância. Tratava-se
de tem a polêm ico, freq uentem ente, objeto de considerações d o u trin árias e ju ris-
prudenciais. Com certeza, a m ulta m áxim a e os seus 30% eram m uito discutidos
no P oder Judiciário. O valor era depósito, não era pagam ento.
A qu estão esteve aberta à discussão no âm bito fiscal (Lei n. 8 .8 7 0 /Í9 9 4 ).
A A dvocacia-G eral da U nião, ap recian d o a ADI n. 1.031-0/160, de 7.4.1994,
con sid ero u a referida exigência de acordo com a C arta de M agna de 1988 (in
RPS n. 161/392).
A proveitavam aqui observações feitas ao art. 126 do PBPS: “O prestígio do
trabalho fiscal é im p o rtante e seu lim ite é o abuso do p o d er ou excesso de exação.
N esse sentido, o depósito prévio pode estim ular o arbítrio fiscal. R ecursos protela-
tórios sem pre existirão e tal qual o arbítrio fiscal são de avaliação subjetiva, nunca
se resolvendo a pen d ên cia, convindo ficar a critério do ju lg ad o r im por o depósito
ou não, conform e cada caso. A antecipação e a garantia são questões objetivas,
apenas esb arrando no valor. No caso da m ulta fiscal, salvo exceção, nào im pede o
direito de oposição, m as na hipótese de débito vultoso, se não arbitrado em per­
centual, co n stitu i co n strangim ento sério; m elbor seria a lei ter tarifado os valores e
não vinculá-los à possível dívida em discussão, em m atéria fática, à insignificância
ou não da im p o rtân cia em relação ao sujeito passivo” ( “C om entários à Lei Básica
da Previdência Social”, p. 585).
A questão parecia estar sediada na dosagem , não na exigência, em si m esm o
cabível. O cioso, q u an d o o legislador não q u er configurar o nível do depósito, ele
se identifica com o m o n tan te da m ulta ou do débito e, então, pode constituir-se
em obstáculo à contestação.
O am plo direito de defesa, no caso do inciso IV (m ulta pecu n iária), era cons­
trangido com a obrigação de ser garantida. D efendendo a am plitude constitucional
da defesa, M aria Marta Rufino Penteado Gueller sustentava: “o interessado pode
con testar o A uto de Infração com ação an u lató ria e pode te n ta r não depositar com
m andado de seg u ran ça” ( “D epósito R ecursal”, in RPS n. 166/681).
Tendo em vista os casos anteriores, são m antidos alguns com entários, su p era­
dos em v irtu d e da extinção do depósito da garantia de instância.
A natureza do recurso é defesa prévia, com as características de apelação.
Nela, opostas razões aos argum entos capitulados do A uto de Infração.
C om o visto, o parágrafo an terio r tratava da interposição de defesa.
O legislador im pôs a garantia de instância apenas para o inciso IV, isto é,
q uando da pena pecuniária.
Por analogia com o art. 126, § 2e, do PBPS, será: “I — devolvido ao deposi-
lan te” e “II — convertido em pagam ento, devidam ente deduzido o valor da exi­
gência”.
O inciso IV tratava da m ulta pecuniária e foi inspirado no art. l e, II, da Reso­
lução CGPC n. 12/1996.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1474 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Com o art. 65 desaparecem as m ultas da Lei n. 6.435/1977 e os valores m en­
cionados na IN SPC ns. 14/1997 e 15/1997 e da R esolução CGPC n. 12/1996.
A regra era lim itadora. Se não atendida, o recurso não vai ao nível superior.
Um recurso era conhecido ou não, isto é, acolhido no nível p ró p rio para ser
apreciado em seu m érito ou não. O co n h ecim en to significava sua adm issão (na
prática, o p ro to co lo ), porque preenche os requisitos gerais de adm issibilidade, é
tem pestivo e tem garantida a instância.
O reco rren te tin h a de fazer a prova de haver recolhido aos cofres do ente fis­
calizador o co rresp o n d en te a 30% da m ulta fixada, m ediante guia própria.
Em vez de req u erente, o certo era recorrente, ainda que agindo m ediante p ro ­
curador, aquele deveria fazer o depósito do valor, que lhe será devolvido, caso seu
recurso seja co nhecido e provido no m érito.
A queles 30% tin h am de ser depositados. A lei falava, inadvertidam ente, em
pagam ento, m as era depósito. E n q u an to não sobreviesse a coisa julgada adm inis­
trativa, não estava co n stitu íd o o crédito da União.
O p razo para o desem bolso era o m esm o do recurso, até 15 dias. A ntecipação
em relação ao term o fatal e não ao prazo da interposição. As duas datas não p re­
cisavam coincidir, m as no term o os dois d o cu m en to s terão de estar protocolados
(recurso e guia de d e p ó sito ).
Ao definir o cred or do valor, o legislador se equivocava, dizendo ser quem é.
A U nião credita-se nessa im portância.
O recep to r da m u lta era o ente fiscalizador do MPS ou do MF, a favor da
U nião. A exem plo do recurso previsto n o PCSS, era de 30%, p ercentual alto e des­
nivelado, pois aceitável em relação a m ultas de nível pequeno, m as assustador, no
m o n tan te m áxim o. O s 30% dirão respeito ao piso u n itário (básico) o u em dobro
(derivado). Será da m ulta que foi aplicada à pessoa e não das im portâncias m en­
cionadas em tese na lei.
21 0 0 . R ein cid ên cia delitiv a — Na seqüência de ideias, o § 4e do art. 65, que
deveria ser o § 3e, trata da reincidência. O dispositivo é confuso e vai gerar d u v i­
da, já q ue a verdadeira duplicidade só terá sen tid o se o agente com eter a m esm a
infração.
Os anteced en tes da pessoa ju lg ad a são im p o rtan tes em D ireito Penal, c o n ­
siderados q u an d o da fixação da pena (CP, art. 29). A duplicidade da m ulta, que
sobrevirá em razão da reedição da infração, im põe sanção m ais pesada.
A reincidência é circunstância agravante (CP, art. 61, I), definida no art. 63
do C ódigo Penal: “Verifica-se a reincidência q u an d o o agente com ete novo crim e,
d epois de tran sitar em julg ad o a sentença que, no país o u no estrangeiro, o tenha
co n d en ad o p o r crim e an terio r”.
Pelo m enos, d u as reincidências subsistem no Direito: a genérica e a específica.
O legislador não se definiu, m as diante da conseqüência (duplicidade da
p ena) só po d e se referir àqueles fatos puníveis com m ulta pecuniária.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o /V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1475
D estarte, se o agente reincide em falta que justifique advertência (inciso I), a
pena a ser aplicada é a suspensão (inciso II) e, na reedição desta últim a, a da ina-
bilitaçâo (inciso III).
O p ressuposto do artigo e do parágrafo é a m oralidade da conduta, o que leva
a pen sar na reincidência genérica.
A m u lta é a sanção pecuniária estabelecida no inciso IV N ão se pode co n ­
fun d ir sua form a d obrada com a pu n ição agravada, pois o espectro eleito (só se
conhecem os extrem os: dois mil e u m m ilhão de reais) propicia confusão.
Nem sem pre um a m ulta de R$ 4.000,00 é o dobro de o utra, de R$ 2.000,00,
m as, com certeza, dois m ilhões só p o d erão ser tidos com o dobro de um m ilhão.
O ente fiscalizador, caracterizada a reincidência, d eterm in ará a aplicação da nova
pena.
E ntre o utras, as questões em aberto dizem respeito à reabilitação do agente, ao
ilícito acum ulado. Se ele volta a incidir na falta, q uando em curso ação instrutória
de prática anterior, o p rocedim ento deve cam in h ar apensado, m as em separado.
Silente a LBPC q u ando à prescrição da infração urge q u e a norm a substitui-
dora da R esolução CGPC n. 12/1996 d isponha sobre o assunto.
D obra a m u lta na reincidência. Se a infração foi exatam ente a m esm a, a seg u n ­
da serã o dobro da p rim eira, m as, se isso não aconteceu, a nova m ulta será prim ária
e dirá respeito à gravidade da causa determ in an te, e não em dobro.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1476 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo CCX

D ireito P enal C o m p l e m e n t a r

2101. Normas aplicáveis. 2102, Natureza do procedimento. 2103. Tipi­


S u m á r io :
ficação do ilícito administrativo. 2104. Classificação das infrações. 2105. Noti-
tia criminis. 2106. Órgão notificador e julgador. 2107. Sanções administrativas.
2108. Recursos interponíveis. 2109. Inscrição da dívida. 2110. Prescrição da
punição.

E m bora sem au to n o m ia científica, pode-se alu d ir a u m D ireito P revidenciário


Penal, área da legislação e do com p o rtam en to securitário in tim am en te relacionada
ao D ireito P enal e à crim inalística. Por isso, certas co n d u tas contrárias à ordem
ju ríd ica p o d em ser designadas p o r crim es previdenciários. Claro, tam bém práticas
tidas com o ilícitos ad m inistrativos, justificadoras de sanções de m en o r vulto, do
tipo m ultas e restrições de direito.
N o segm ento com plem entar, onde acentuada a preocupação do legislador e
do ad m in istrad o r com a segurança, tranqüilidade e a credibilidade do sistem a (não
n ecessariam ente com a figura da sonegação fiscal, prevista no art. 95 do PCSS até
a Lei n. 9.98 3 /2 0 0 0 ), subsistem eventos típicos e ações deflagradoras de sanções
p enais, p ecu n iárias e adm inistrativas.
A Lei n. 6.435/1977 estipulava sobre a repressão da ilicitude (arts. 75/79).
P rin cip alm en te no art. 77, onde define o crim e contra a econom ia popular: “ação
ou om issão dolosa, pessoal ou coletiva, de que decorra a insuficiência das reservas
ou de sua cobertu ra, vinculadas à garantia das obrigações das entidades de previ­
dência p riv ad a”.
F u n d am en talm en te, é descrição genérica, nada prática, de difícil adequação
à ação h u m an a punível. Os procedim entos capazes de atingir o resultado descri­
to p o r negligência, im prudência e im perícia do agente ou p o r dolo o u má-fé são
m u ito s, difusos e até indeterm inados. A lguns deles, fazendo parte do dia a dia do
fundo de pensão, com o arriscar-se nas Bolsas de Valores.
O D ireito Previdenciário Penal e o D ireito C om plem entar Penal, am bos d eri­
vados do Direito Penal, e subm etidos às suas linhas gerais, não estão sistem atizados,
gerando perplexidades n a aplicação e na interpretação das norm as dispositivas.

C urso de D ir e ito P r e v id en c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
D iante de ato p re su n tiv a m e n te c o n trá rio à ordem ju ríd ic a , é p reciso com -
p u ls a r as lições de D ireito P enal e v erificar se foi c o n su m a d o crim e o u c o n tra ­
venção; p o ste rio rm e n te , ex am inar-se as disp o siçõ es da Lei n. 8 .2 1 2 /1 9 9 1 , p ara
sab er se teriam sid o co m etid o s d elito s a d m in istra tiv o s o u m esm o crim es p re v i­
d en ciário s e, fin alm en te, se sobrevieram ações lesivas no âm b ito da previdência
su p letiv a, co in cid e n te s com os tipos c o n sta n te s do D ecreto-lei n. 2 .8 4 8 /1 9 4 0 e
da Lei n. 8 .2 1 2 /1 9 9 1 . P rin c ip a lm e n te , levar em co n ta o su jeito passivo da ação,
em cada caso.
Além de o u tro s ilícitos, os crim es, ditos “p revidenciários”, estavam com ina-
dos no art. 95 do PCSS. Passaram a fazer parte da Lei n. 9.983/2000 ( “Os C rim es
P revidenciários n o C ódigo P enal”). A lguns deles, universais p o r natureza (ou seja,
tam bém presentes no C ódigo P enal), são com uns às duas legislações, m as outros,
p artic u la rm en te securitários, têm com o sujeito passivo o INSS ou, na linguagem do
PCSS, a seguridade social (especialm ente, os das letras d , e e h, do art. 95), restando
dúvidas se os dem ais podem ser praticados contra EPC.
Sem contestação, p o r sua generalidade, o estelionato previdenciário (letra j)
pode ter com o sujeito passivo essas entidades e q uaisquer o u tras pessoas.
A apropriação in d ébita é crim e fiscal (Lei n. 4.729/1965), convindo exam inar
se a patro cin ad o ra, deixando de repassar à patrocinada, o valor descontado da re­
m u n eração dos p articipantes, seus em pregados, no prazo convencionado, com ete
ato reprovável ju rid icam en te. Na hipótese da lei citada, o sujeito passivo é apenas
o Fisco Federal e na do art. 95, d, o INSS. N estas condições, estas com inações não
pod em ser utilizadas para caracterizar a responsabilidade crim inal dos ad m in istra­
dores da patrocinadora.
Porém , diz o art. 168 do C ódigo Penal: “A propriar-se de coisa alheia m óvel,
de que tem a posse ou a detenção, é crim e p u n id o com pena de reclusão de u m a
quatro anos, e m u lta ”, aum entando-se de 1/3 a pena quando: “I — em depósito
necessário ”. Sem falar no m encionado art. 77 da Lei n 6.435/1977.
Na Resolução CGPC n. 4/1994, o C onselho de G estão da Previdência C om ­
plem en tar disciplina os ilícitos adm inistrativos a seguir desenvolvidos.
O regim e repressivo da Lei n. 6.435/1977 foi b astante alterado pelos arts.
63/67 da LC n. 109/2001, destacando-se seus arts. 65, q uando com ina várias p e n a ­
lidades adm inistrativas, e 67.
2101. N o rm a s aplicáveis — As principais fontes form ais são: a) C ódigo
Penal (D ecreto-lei n 2.848/1940); b) C ódigo de Processo Penal (D ecreto-lei n.
3.689/1941); c) Lei de Defesa do C o n su m id o r (Lei n. 8.078/1991); d) Lei de Defesa
da Econom ia P opular; e) Lei n. 6.435/1977; f) D ecreto n. 81.240/1978; g) R esolu­
ção CGPC n. 4/1994; h) art. 95 da Lei n. 8.212/1991; i) D ecretos n. 611/1992 e n.
612/1992; j) C ódigo Civil (Lei n. 3.071/1916) e, ultim am ente, a Lei n. 9.983/2000.
No C apitulo XIV — Do contrato de seguro, no art. 1.432, o C ódigo Civil b ra­
sileiro diz: “C onsidera-se co n trato de seguro aquele pelo qual um a das partes se
obriga para com a o u tra, m ediante a paga de um prêm io, a indenizá-la do prejuízo

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1478 W l a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
resu ltan te de riscos futuros, previstos no c o n tra to ”. Dita o art. 1.444: “Se o segu­
rado não fizer declarações verdadeiras e com pletas, o m itin d o circunstâncias que
possam in flu ir na aceitação da proposta ou na taxa do prêm io, perderá o direito ao
valor do seguro, e pagará o prêm io v en cid o ”. O 1.459 reza: “Sem pre se presum irá
não se ter obrigado o seg u rad o r a in d en izar prejuízos resultantes d e vício in trín ­
seco à coisa seg u ra”.
2102. N a tu re z a do p ro c ed im en to — A d enúncia de irregularidade, sua a p u ­
ração, as sanções deflagradas, os recursos cabíveis, o pagam ento da m ulta, todo o
p ro ced im en to derivado do art. 65 da LBPC têm caráter adm inistrativo. Por co n ­
seguinte, relacionam -se diretam ente com o D ireito A dm inistrativo, atraindo suas
p raxes e form alidades.
2103. T ipificação do ilícito ad m in istra tiv o — Dizia o art. 75 da Lei n.
6.435/1977: “As infrações aos dispositivos desta Lei sujeitam as entidades de p re­
vidência privada o u seus adm inistradores, m em bros de conselhos deliberativos,
consultivos, fiscais ou assem elhados, às seguintes penalidades, sem prejuízo de
ou tras estabelecidas na legislação vigente”.
M ais o u m enos, o m esm o texto vê-se no art. 1Bda Resolução CGPC n. 4/1994,
am pliando-se o objeto ju ríd ico em razão do contido no D ecreto n. 81.240/1978.
Assim, o d escu m p rim en to das estipulações da legislação previdenciária (ex­
cluídas as regulam entares, pois se trata de extensão ilegal, e as de natureza não p re­
videnciária) im plica in stru ção adm inistrativa, com vistas na apuração da autoria
ou responsabilidade e, caracterizadas estas e o ilícito, se não ex tin ta a punibilidade,
sobrevirá a p unição.
O sujeito ativo da ação delituosa é a entidade (cabendo-lhe tão som ente ad ­
vertência e m u lta) e os adm inistradores (sujeitos a quatro m odalidades de sa n ­
ções). O su jeito passivo é a coletividade de protegidos.
Não se cuida, na circunstância, de ilícito praticado pelo particip an te contra a
en tidade, a ser verificado p o r m eio de o u tro expediente e em respeito às norm as do
D ireito Civil ou, co nform e a gravidade, se for o caso, as do C ódigo Penal.
E xem plos de atos lesivos são vistos na Instrução N orm ativa SPC n. 03/1995.
2104. C lassificação d as in fraçõ es — As infrações classificam -se em leves,
definidas com o aquelas em que presentes as circunstâncias aten u an tes, e graves,
on d e presen tes circu n stâncias agravantes.
São circu n stân cias atenuantes: 1 — a ação do d elin q ü en te não ter sido dirigida
para a consecução da infração; e II — ser prim ário.
As circunstâncias agravantes são: I — ser o infrator reincidente; II — ter o
in frato r com etido a infração para obter vantagem indevida, de q u alq u er espécie;
III — a infração causar prejuízo ao p atrim ônio da entidade ou ao direito de seus
participantes; IV — d eixar o praticante, ten d o con h ecim en to do ato lesivo, de
to m ar as providências para evitá-lo ou para reparar seus atos; e V — ter o autor
agido com d olo ou má-fé.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o /V — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n ta r 1479
A m esm a fonte fornece o conceito de reincidência, com o a repetição do delito,
da m esm a espécie, p u n id a p o r decisão adm inistrativa anterior, não m ais sujeita a
recurso ordinário ou especial.
O C ódigo Penal estuda-as nos arts. 61/67.
2105. N otitia crim inis — O inicio do procedim ento visando a apuração de
responsabilidade e fixação da sanção dá-se p o r m eio de relatório fiscal, lavratura
de A uto de Infração ou representação.
Todos os três d o cu m en to s devem ser form alizados p o r escrito, assinados, e n ­
cam inhados à SPC, com identificação do representante, descrevendo-se os fatos,
ju n tan d o -se as provas e, se possível, a indicação da autoria. O art. 75, § l 9, im põe
esta últim a com o condição, m as, às vezes, o d en u n c ia n te não tem condições de
ap o n tar o autor, cabendo apuração p o sterio r desse dado, antes do aperfeiçoam ento
da representação.
2106. Ó rgão n o tificad o r e ju lg a d o r — P rotocolada a noíiíia criminis, a SPC
concluirá pela insubsistência, m an d an d o arquivar o d o cum ento ou acolherá a su b ­
sistência, prom ovendo a instauração de procedim ento, notificando a entidade (ou
o ad m in istrad o r), e ab rindo prazo de 15 dias para a apresentação de defesa.
T ranscorrido o prazo sem a inLerposição do recurso, os fatos reputar-se-ão
verdadeiros. Se necessário, os autos baixarão em diligência para apuração final do
ocorrido, inclusive p o r solicitação do denunciado. A seguir, a PREVIC prom overá
o en cerram en to da in stru ção , decidindo favoravelm ente ao den u n ciad o (e, nesse
caso, ato co n tín u o , recorrendo de ofício ao CRPC) ou su b m eten d o -o às sanções
previstas na lei.
2107. S anções a d m in istra tiv a s — A LBPC, em seu art. 65 prevê, hierarq u ica­
m ente postadas, q u atro sanções: a) advertência; b) m ulta pecuniária; c) suspensão
do exercício da atividade; e d) inabilitação tem porária para o exercício de cargo de
direção ou de conselheiro de EFPC; e, im pressionando, e) m ulta de até um m ilhão
de reais (que pode ser dobrada)!
O valor da m ulta, cum ulativa com o u tras sanções, será fixado pela PREVIC.
M elhor teria sido a LC n. 109/2001 ter p o n d erad o o seu alcance. A Resolução da
SPC poderá ser co n testada no Judiciário, pois o seu art. f s , § 4 Q, extrapola a com ­
petência legal. O fato de a lei ter-lhe com etido ao órgão ju lg ad o r a atribuição para
estipulá-la não lhe garante legalidade.
No passado, a In strução N orm ativa SPC n. 03/1995 estabeleceu as infrações
à Lei n. 6.435/1977, conform e as diferentes hipóteses contem pladas: a) letras a/c
— 2.000 UFIR; b) letra d — 4.600 UFIR; c) letras e/g — 6.900 UFIR; d) letra h —
11.769,15 UFIR.
2108. R ecursos in te rp o n ív e is — Da decisão de notificação do ato lesivo e
da decisão de fixação da sanção, cabem recursos ao CGPC, no prazo de 15 dias,
co n tados da data da notificação, com efeito suspensivo. Isto é, no caso de m ulta,
ela aguarda a decisão final.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1480 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
2109. In scrição da d ív id a — M antida a decisão da PREVIC pelo CRPC, aquela
prom overá a inscrição da dívida a favor da U nião. Segue-se a cobrança executiva
prevista na Lei n. 6.830/1980.
2110. P rescrição d a p u n ição — A LBPC, a Lei n. 6.435/1977, o D ecreto n.
81.240/1978 e a Resolução CGPC n. 4/1994 não preveem prazo de prescrição para
o ilícito ad m in istrativ o. É preciso buscar a regra aplicável n o âm bito do Direito
Civil e Penal. Vale lem brar algum as disposições.
No art. 109, parágrafo único, do C ódigo Penal dispõe-se: “A plicam -se às pe­
nas restritivas de direito os m esm os prazo s” de prescrição “previstos para as p ri­
vativas de lib erd ad e”.
O art. 114 reza: “A prescrição da m ulta em 2 (dois) anos, q uando a p en a de
m u lta é a ú n ica com inada, foi a única aplicada ou a que ainda não foi c u m p rid a”.
P o r seu tu rn o , diz o art. 178, § 6Q, 11, do C ódigo Civil, prescrever em um ano
“a ação do segurado co n tra o segurador e vice-versa, se o fato que o autoriza se
verificar no país; co n tado o prazo do dia em que o segurado tiver conhecim ento
do m esm o fato; fora do Brasil, é de 2 anos (art. 178, § 7Q, V )”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1481
Capítulo CCXI

Em baraço s C o n j u n t u r a is

S u m á r i o : 2111. Concentração financeira. 2112. Garantia de viabilização. 2113.


Solidariedade nos fundos multipatrocinados. 2114. Inchaço e nepotismo. 2115.
Desequilíbrio na participação indivíduo/sociedade. 2 ! 16. Profissionalização da
gestão. 2117. Desconhecimento do sistema. 2118. Aplicação de reservas técnicas.
2119. Credibilidade da instituição. 2120. Elitismo acidental.

A p revidência supletiva é su rp re e n d e n te fenôm eno em presarial, econôm ico-


-financeiro, técnico e ju ríd ico . Um in stru m en tal p roletivo em p erm a n en te
evolução. P oup an ça individual e coletiva, concentração de riquezas e renda,
in su sp eitad a há p o u cas décadas, in co rp o ro u -se positivam ente a p artir de 1978,
com os p rim eiro s fu n d o s de pensão au to rizad o s a fu n cio n ar e, em m enos de 30
anos, co n stitu iu -se em respeitável experiência adicional de proteção social, com
im enso espaço à frente.
Busca sua institucionalização, patrim onialização c a apuração de p rocedim en­
tos, decantação de conceitos científicos, técnicos e práticos. N os últim os 12 anos,
im p u lsio n o u os serviços assistenciários supletivos e to rn o u -se im p o rtan te investi­
dora e alavancadora da econom ia nacional. Prova disso é o interesse do G overno
F ederal em su p erv isio n ar suas reservas.
Logicam ente, aco m odando-se às transform ações econôm icas e sociais do País
— recessão e inflação, inform alidade e desem prego — , sofrendo a pressão dos
exem plos alienígenas, enfrenta óbices de natureza política, organizacional e o p e­
racional, e certa in co m preensão de seu papel.
D iscute a presença incôm oda do Estado, p erm an en tem en te, repassando q u es­
tões com o estatização e privatização parcial ou total do m odelo.
Enfrenta q u estio n am entos ju ríd ico s enorm es, com o era o caso da im unidade
trib u tária e saber se o segm ento faz parte ou não da seguridade social.
Parte desses form idáveis obstáculos deve-se a causas internas e externas, o ri­
gem histórica (fechada), problem as de insolvência (aberta), tím ido marketing, não
uniform ização das norm as, transparência, atuação m arcante do G overno Federal
e, p rincipalm ente, em razão do baixo nível de consciência de sua função social,

C urso d e D ir r it o P r e v id e n c iá r io

W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
elitism o co n ju n tu ra l e descrédito p o r certa m alversação de recursos, descum pri-
m ento de obrigações co n tratu ais e m á adm inistração gerencial. Sem falar na p re­
cariedade n o rm ativ a das cláusulas convencionais, um as copiadas das outras, sem
a p reocupação com a com plexidade da m atéria, sistem atização jurídica e excessiva
d ep en d ên cia das regras da previdência básica.
Afetada por m azelas da oficial, assum e responsabilidades inusitadas, care­
cen d o de especialistas e estudiosos. A d o u trin a é incipiente e n ão fora os esforços
da ABRAPP, ANAPP e ICSS, com trein am en to s e publicações e, então, ainda seria
m aior o d esco n h ecim ento no âm bito do próprio segm ento.
2 1 1 1 . C o n cen tra ção fin an ceira — A principal clientela dos fundos de pensão
e das com p an h ias seg uradoras é co n stitu íd a de em pregados, profissionais liberais e
peq u en o s em presários, auferindo ren d im en to s superiores ao lim ite do salário de
co n trib u ição do RGPS. Em 2008, cerca de 3 m ilhões de pessoas, geraram aportes,
em m édia, de 15% do excedente de R$ 3.038,99. Tal som a, aplicada em investi­
m entos, a cu rto e m édio prazo, dobra de valor a cada 12 anos, obtendo-se ren d i­
m ento de 6% a.a. (juro atuarial).
Esse m o n tan te é m ensalm ente adu zid o com novas cotizações in cash (e, por
isso, a m aior im p o rtância física m onetária do m u n d o — 4,5 trilhões de dólares —
é o p atrim ô n io dos pension junds am ericanos) e, em pouco tem po, o acum ulado
cresce vertiginosam ente.
E m bora tais im portâncias estejam pulverizadas em aproxim adam ente 378
entidades fechadas e 50 abertas, são recu rso s vultosíssim os nas m ãos de poucas
pessoas, com en o rm e capacidade de decisão. No C hile, i4 AFP detêm 30 bilhões
de dólares; por sua vez, controladas p o r apenas quatro seguradoras.
A con cen tração de capitais reclam a providências acauteladoras em relação à
econom ia no País, cuidados especialíssim os na sua condução, pois, desvirtuados
de suas verdadeiras funções, podem levar ao dom ínio de m ercado e o u tras nefastas
conseqüências.
É necessário ap ro fu n d ar o lem a, aproveitar as boas experiências estrangeiras,
d iscu tir am p lam en te no seio da sociedade e, em particular com os interessados, os
m ecanism os de co n trole a serem desenvolvidos para assegurar liberdade e re sp o n ­
sabilidade. A credibilidade do sistem a dep en d e disso.
D iscute-se o gigantism o das entidades, o pondo-se à pulverização dos diferen­
tes estam en to s profissionais. A tendência dos especialistas é aco lh er a m ultiplici­
dade de gestores para obstar a concentração financeira. P or outro lado, a dispersão
de m eios dilui as o p o rtu n id ad e s e reduz a rentabilidade.
2 1 1 2 . G a ra n tia d e viabilização — Em passado recente, m ontepios e algum as
en tid ades abertas de previdência privada d eixaram de aten d e r suas obrigações co n ­
tratuais, p o r falta de previsão q u an to à correção m onetária e insolvência de planos
m al ad m inistrados. D u ran te m u ito tem po, esse fato m acula o sistem a e co n stitu i­
ção, p o n d o em dúvida a sua segurança.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o IV — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1483
O s fundos de pensão po d em en tra r em agonia financeira, em v irtude dos
rum os da econom ia e, se não forem m uito bem geridos, com eficiência e perfeito
dom ínio das flutuações do m ercado, grosso modo, constituirão atividade de sério
risco.
U m dos m aiores problem as da previdência supletiva sem o aval do Estado é
aplicar seguram ente d u ra n te 40 anos. Precisa capitalizar individualm ente o sufi­
ciente para, com alíquota atraen te e suportável, gerar os recursos necessários ao
gozo de prestações ao fim da vida do poupador.
Urge reflex io n ar sobre seguro em g ru p o entre as en tid ad e s abertas, bem
com o entre as fechadas, d istin ta m e n te , a u to p ro te g en d o -se so lid ariam en te, no
caso de co n tra tem p o s o p eracio n ais de u m a delas. Isto é, criar su p e rse g u rad o ra e,
m ed ian te co n trib u içã o das en tid ad es, p ro v e r m aio r seg u ran ça aos investim entos.
2113. S o lid a ried ad e nos fu n d o s m u ltip a tro c in a d o s — Os fundos m ultipa-
trocinados são ten dência irreversível do sistem a. A aglutinação de clientelas dis­
tintas e interesses difusos, à evidência, geram dificuldades adicionais específicas,
a serem contornadas.
O plano pode ap resen tar déficit p ró p rio ou em cada um dos seus segm entos
aderentes, to rn an d o inviável a participação de pequenas em presas. Receiam assu­
m ir a solidariedade exigida nos convênios.
É im prescindível p ensar em m ecanism os estim uladores da adesão aos convê­
nios, co n to rn an d o -se os aspectos negativos da solidariedade.
2114. Inchaço e nepotismo — N ão só, mas, prin cip alm en te nas entidades
originárias de estatais, com o tam bém nas particulares, a adm inistração das EFPC
deve ser profissionalizada. N ão b u scando lucros, a m aior parte dos m eios carece
ser canalizada para o aten d im en to de obrigações correntes e não com despesas
adm inistrativas supérfluas.
Seriíssim o problem a consiste em o ad m in istrad o r n o m ear parentes e am igos
para p restar serviços nas entidades, inchando-as com executivos bem rem u n era­
dos, totalm ente dispensáveis.
A solução talvez seja legal, obstando-se essa prática, contrária à transparência,
racionalidade ad m in istrativa e interesse do sistem a.
Os fundos de pensão padecem dos m alefícios de associações ou entidades sem
fins lucrativos. Não precisam com petir no m ercado e, por isso, não desenvolvem a
produtividade. Se não se cuidarem , transform ar-se-ão em aziendas ineficientes,
sem a efetividade p ró p ria da iniciativa privada.
2115. Desequilíbrio na participação indivíduo/sociedade — Tem-se com o
dem ocrático e socialm ente ju s to haver correta e constante relação percentual en ­
tre a cotização do in d ivíduo (desconto) e da sociedade (parte patronal), pois a
Previdência Social não pode ser in stru m en to de correção da política salarial ou
ter o u tras finalidades. M esm o ind ep en d en tes os diferentes regim es, respeitadas
as particularidades, essa p roporção histórica deve ser nacional, atingindo a todos.

C urso d f D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1484 W í a d i m i r N o v a e s M a r ti n e z
N essa lin h a de pensam ento, cabe buscar o reequilíbrio n a contribuição das
p atro cin ad o ras em relação às obrigações dos participantes. Não tem de ser, neces­
sariam ente, a m esm a da previdência básica, o n d e outros os objetivos sociais (falta
de capacidade co n trib u tiv a da clientela e certa assistencialização).
Urge d efinir e padronizar, p o r faixas salariais, a participação da pessoa e da
coletividade, depois de am pla discussão científica dos p rós e dos contras.
2116. Profissionalização da gestão — A gestão das entidades pode ser inter
na (assu m in d o o p ró p rio particip an te a responsab ilidade pela gerência) ou contar
com a cooperação de terceiros, m ediante terceirização.
De qu alq u er form a, tem de ser profissionalizada, isto é, aperfeiçoar os m étodos
de trabalho, adequá-los à realidade do m ercado, desenvolver prod u tiv id ad e e com ­
petitividade, vivenciar as conquistas da tecnologia e, no m ínim o, inform atizá-la.
Victor H. C. Bagnati, em palestra p ro n u n ciad a em Sem inário prom ovido pela
F o ster & H iggins, em 28.11.95, ap o rto u m edidas gerais para re d u zir os custos de
um fu n d o de pensão. D ividiu em dois grupos básicos, antes da im plantação e após
a im plantação.
As p rin cip ais são: 1) avaliação cuidadosa dos objetivos a alcançar — com pe­
titividade n o segm ento de atuação; captação de profissionais; tendências gerais de
m ercado; turn over dos em pregados; falta de renovação dos q u adros gerenciais e
p olítica corp o rativ a dos R ecursos Flum anos; 2) sopesar sua capacidade financeira
para assu m ir o com prom isso — ser m ais um a despesa; gerar obrigações a longo
prazo; integrar-se no pacote de benefícios trabalhistas; 3) estu d ar cuidadosam ente
o m o m en to o p o rtu n o p ara iniciá-lo; 4) aconselhar-se com especialistas; 5) defi­
n ir d esen h o capaz de aten d e r aos objetivos e possibilidades, focalizando dentre
o u tros, a elegibilidade para participar; 6) benefícios — plano m odesto para d e­
pois m elhorá-lo; 7) data de início do plano — decisão dem orada pode significar
au m en to de custo; 8) co n trib u ição e participação do trabalhador; 9) elegibilidade
para fazer ju s aos benefícios; 10) estim ar o custo presente e futuro m ais provável
(avaliação atuarial), definindo as h ip ó teses financeiras e atuariais adequadas; 11)
escolha criteriosa do tipo de plano — contribuição definida, benefício definido
ou m isto; 12) desvinculação do RGPS; 13) definição de elem entos co n tratu ais —
u tilizar im agem sim ples e clara, respeitando as norm as legais; refletir os objetivos
das em presas e co o rd enar com avaliação atuarial; 14) escolha do veículo adequado
p ara viabilizá-lo — custo-benefício com parativo e filosofia d a em presa; e 15) co­
m unicação im ediata aos em pregados.
Após a im plantação ele sugere: 1) reavaliar periodicam ente — atingim ento das
m etas; grau de satisfação dos em pregados em relação às expectativas iniciais; infor­
m ações sobre o plano; concordância com os objetivos e custos efetivos da em presa;
2) ad o tar hipóteses atuariais, financeiras e econôm icas realistas; 3) transferir as
atividades-m eio para especialistas, g anhando eficiência e reduzindo custos da adm i­
nistração, avaliação e investim entos; 4) transferir os benefícios de risco a terceiros
(seguradoras), visando evitar os desvios estatísticos na frequência de eventos de

C urso de D ireito P rev id en ciá rio

T o m o I V — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n ta r 1485
invalidez ou m orte afetarem significativam ente o equilíbrio do fundo; 5) iniciar com
contribuição e benefícios m odestos; 6) p ro cu rar a participação dos em pregados; e
7) coordenar o program a com o dos o u tro s benefícios da em presa (vida e saúde).
2117. D esco n h ecim en to do siste m a — O participante, salvo m inoria de a d ­
m inistradores ou rep resentantes das entidades, o público em geral, não visualiza
os fundos de pensão e seu fu n cionam ento ou não com preende, especialm ente, as
form as de obtenção dos recursos necessários. Ignora sua principal origem patronal
e necessidade p erm an en te de ac o m p an h am en to p o r parte da instituidora. Não sabe
com o se aperfeiçoa o direito, sua d ependência do benefício oficial e a elaboração
dos cálculos de sua prestação, à vista do R egulam ento Básico. D esconhece o
cálculo atuarial. D esconfia dos indexadores e percentuais aplicados. Afasta-se dos
problem as institucionais da entidade ju lg an d o poder, p o r m eio da adesão e da co n ­
tribuição m ensal, transferi-los a responsáveis p o r isso. Se possível, d ian te de m aus
exem plos, q u er levar algum a vantagem , pagar pouco e receber m uito.
Previdência social é esforço co n ju n to da sociedade e n ão se realiza ind iv id u al­
m ente. É po u p an ça, m as não depósitos im obilizados (en teso u ram en to ), e, sim ,
investim entos dinâm icos e arriscados. Se fosse possível garantir, lodo o tem po, o
capital e fazê-lo crescer facilm ente, o sistem a básico não estaria em crise.
2118. A plicação d e re serv as técn icas — O C alcanhar de A quiles do siste­
ma são as inversões. Providência de risco, excessivo poder nas inàos de poucas
pessoas, trata-se de área m erecedora de atenção p o r parte do G overno Federal,
dos supervisores e dos interessados, em particular, dos organism os adm inistrativos
colegiados internos.
E xperiências m alsucedidas geram prejuízos incalculáveis. M au passo dado
p o r EFC atinge todo o o rd enam ento, co m p rom etendo a confiança depositada.
A assunção de políticas novas, com o a da profissionalização, terceirização,
am pliação de seu alcance (com a com pra de em presas, aplicação de reservas téc­
nicas n a p ró p ria p atro cinadora) e quais os investim entos a serem prestigiados, é
tarefa hercúlea, espinhosa e delicada.
Um sistem a de pesos e contrapesos, integração de controles particulares e
estatais, am plíssim a transparência e honestidade de propósitos são absolutam ente
im prescindíveis para o sucesso da instituição.
As aplicações são os m aiores desafios da previdência privada n o regim e
financeiro de capitalização e, principalm ente, no plano de contribuição definida.
A m aior parte dos m eios necessários à consecução dos seus objetivos provém do
resultado do ren d im en to dos capitais aplicados.
2119. C red ib ilid a d e da in stitu iç ã o — O bom nom e de q u alq u er organização
deve-se à sua capacidade passada e presente de prestar b ons serviços. Prom essas
d escum pridas d espertam descrédito; co ntratos mal com preendidos geram descon­
fianças e resistências; direitos não assegurados são experiências angustiantes para
o co n tratan te.

C l jr s o d e D ir f . i t o P r e v id e n c iá r io

1486 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
A adesão facultativa é fenôm eno psicológico curioso: de um Lado, a vontade
de co n scien tizar as pessoas, o b ter o m elhor resultado possível na angariação (com
m aior so lid aried ad e), aprovação total ou significativa e, p o r outro lado, o desco­
nh ecim en to da in stituição, ju lg an d o o particip an te p o d er resolver os seus proble­
m as de su b sistên cia, on eran d o terceiros.
O sistem a de previdência privada é social, dep en d e do ap o rte pessoal e p atro ­
nal e da solução d ad a ao capital acum ulado; não opera m ilagres nem pode, com o
o oficial, co m p ro m eter gerações futuras. É m atem ático, financeiro, enfrentando
intem péries.
A lguns aven tu reiros ou m al-avisados tnonlam planos m irabolantes ou com
objetivos reprováveis (caso de algum as P refeituras M unicipais), sem am paro da
Ciência das F inanças e do cálculo atuarial. O resultado é desastroso, p rin cip a lm en ­
te, q u an d o co m b in ad o com m á gestão e custo elevado de adm inistração.
A credibilidade das instituições com eça na cam panha de adesão, com am pla
divulgação das p ro p ostas, honestidade e clareza na redação das cláusulas co n tra­
tuais, p rin cip alm en te q uando da elaboração dos requisitos necessários à concessão
das prestações, os sobressaltos atuariais e a necessidade p erm an en te de captação
de recursos.
Persiste certa confusão entre previdência fechada e aberta e, nesta últim a,
entre em p reen d im en to s idôneos e não idôneos, no passado e n o presente. Algum a
in co m preen são q u an to aos term os do co n traio , o alcance do ajustado, as hipóteses
de elegibilidade do benefício com binado. Urge, co n seq u en tem en te, m aior publici­
dade das regras de convivência, dos resultados das aplicações e da adm inistração
de m o d o geral.
2120. E litism o ac id e n tal — H istoricam ente, a clientela dos assistidos da p re
vidência privada atraiu trabalhadores celetistas das estatais. P osteriorm ente, em ­
presas privadas de vulto criaram EFPC e, em núm ero, hoje, co n stitu em m aioria,
em bora o p atrim ô n io ainda esteja co n cen trad o nas prim eiras.
M esm o entre os particulares, a iniciativa perten ceu a m u ltin acio n ais trad i­
cionais e em presas de porte; em alguns casos, inicialm ente, d en tro de u m m esm o
em p reen d im en to , foram previstos benefícios apenas para os altos executivos. A
origem dos fu n d o s de pensão, nesses casos, confundia-se com a política de recu r­
sos h u m an o s, de propiciar benefícios laborais.
N atu ralm en te, em razão da p ró p ria com plem entação, os m aiores interessados
foram pessoas com salários acim a do teto previdenciário e, com isso, constituem
elite de assalariados, in d iv íd u o s com algum recurso e capacidade contributiva.
O fen ôm eno tende a desaparecer com a expansão do sistem a, m as sem pre
co n stitu irá ô n u s se a responsabilidade financeira co u b er à sociedade, com as em ­
presas rep assando as despesas para os custos dos seus p ro d u to s, em últim a análise,
sendo os co n su m id o res quem as custeia. O u sentem ser assim.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1487
Capítulo CCXII

P revi dênc ia P úbli ca C o m p l e m e n t a r

S u m á r io : 2 12 i .
Regras consultãveis. 2122. Origem histórica. 2123. Filiação do
participante. 2124. Inscrição dos beneficiários. 2125. Fontes de custeio. 2126.
Recolhimento da contribuição. 2127. Prestações à disposição. 2128. Regime
financeiro. 2129. Natureza jurídica. 2130. Princípios apropriáveis.

Um dos aspectos m ais im p o rtan tes da previdência sociai básica é o seu


alcance vertical. Até 1960, era praticam ente de dois salários m ínim os e a p artir
daí cresceu, ascendeu e regrediu, chegando em 2013 a R$ 4.159,00 (cerca de 6,29
salários m ínim os).
Esse patam ar abriga aproxim adam ente entre 90% e 92% da população obrei­
ra. Segundo inform ações do IBGE, apenas 800.000 trabalhadores auferem salários
ou ren d im en to s su p erio res a R$ 2.000,00.
Boa parte de q uem ganha acim a do lim ite do salário de contribuição (R$
4.159,00) é o serv id o r civil e m ilitar, m as até as EC ns. 20/1998 e 41/2003, para
am bos não havia lim ite para a base de cálculo da contribuição e do benefício.
Inicialm ente (LOPS), p ensando na com plem entação, incipiente à época e m ais
recen tem en te (Lei M aior de 1988), com vistas aos servidores públicos, dispôs-se
na Carta M agna sobre a previdência supletiva pública; em si u m contrassenso. De­
veria ter caráter público, m as ser entregue, p o r delegação à iniciativa privada, caso
contrário ficaria sem sentido, bastando p u ra e sim plesm ente au m en ta r o lim ite do
RGPS.
A in stituição da previdência com plem entar, aberta e fechada, particularm ente
esta últim a, é questão de grande indagação e, possivelm ente, resolvidos os seus
dilem as, ter-se-á em parte, a solução da previdência social brasileira.
2121. R egras c o n s u ltá v e is — In icialm en te, fix an d o as lin h as gerais da
prev id ên cia so cial e re p o rta n d o -se à u n iv ersa lid a d e d a c o b e rtu ra v ertical, dizia
a Lei M aior de 1988: “A P revidência Social m a n te rá seguro coletivo, de ca ráter
co m p lem en tar e facu ltativ o , cu stea d o p o r c o n trib u iç õ e s a d ic io n a is” (art. 201,
§ 7S).

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1488 W la d im irN o v a e s M a r tin e z


R egulam entando esse dispositivo reproduzido e su perado, dizia o art. 153 do
Plano de Benefícios: [lO Regime F acultativo C om plem entar de P revidência Social
será objeto de lei especial, a ser su bm etida à apreciação do C ongresso N acional
d en tro do p razo de 180 (cento e oitenta) d ias”.
A EC n. 20/1998 alterou o art. 40 da C arta M agna, acrescendo-lhe um § 14,
fixando regra seg u n d o a qual caso o ente político crie u m regim e de previdência
com plem entar, ele po deria estabelecer um lim ite para as aposentadorias e pensões,
que seria o do RGPS (R$ 4.159,00). Dizia tam bém q u e lei co m p lem en tar fixaria os
parâm etro s gerais desse regim e (§ 15), não confundível com a LC n. 108/2001, que
trata da p rev id ên cia supletiva dos em pregados das estatais. P or ú ltim o , p receitu-
ava q u e adm issão seria facultativa (§ 16).
Pela prim eira vez com pareciam disposições, verdadeiros princípios, aplicá­
veis à previdência co m p lem en tar (art. 202). Seu § 4 a p erm itiu a edição da LC
n. 108/2001. P or últim o, incluiu u m art. 249 sobre u m fundo de previdência dos
servidores.
C om a EC n. 41/2003, novas alterações no art. 40 da Lei Maior. O § 14 foi
alterado, au to rizad o o ente político a criar um a EFPC. A natu reza pública da e n ­
tidade foi deixada clara n o § 15. C ontinuava facultativa a adm issão no fundo de
pensão, pelo m en o s para “o servidor q u e tiver ingressado no serviço público até a
ata da p u b licação do ato de constituição do co rresp o n d en te regim e de previdência
co m p lem en tar” (§ 16).
2122. Origem histórica — A origem do dispositivo constitucional é o art. 68
da LOPS, ten d o participado da CLPS. C om pareceu, com p letam en te perdido, no
art. 28, § 6®, do Plano de C usteio. A ideia do em en d ad o r co n stitu cio n al é d a r c u m ­
p rim en to ao p rin cíp io constitucional da universalidade.
2123. Filiação do participante — De regra, a filiação ao regim e é facultativa,
q u ed an d o -se na d ep endência da vontade do interessado. M esm o em relação à c o n ­
tribuição d o s benefícios de risco im previsível, a adm issão é livre, condicionada ao
desejo do titular.
Se ela d isser respeito em p artic u la r ao servidor público, em co n tin u id ad e à
proteção até então oferecida com o integrante do vínculo institu cio n al com o ente
político, cabe o b rig atoriedade de filiação.
Q uem to m o u posse após a criação do fundo de pensão, diferentem ente da
previdência co m p lem en tar da iniciativa privada, a adm issão é obrigatória.
2 124. Inscrição dos beneficiários — A inscrição é form alizada, sim plificada
pela inform ática, processada junto ao órgão gestor.
P ouco ou nada vai d iferir da inscrição feita ju n to às entidades de previdência
privada, ap ro v eitan d o os in stitu to s ju ríd ico s da básica.
Na o p o rtu n id ad e da inscrição, além do certificado co rresp o n d en te, o par­
ticipante deverá receber exem plar do regulam ento da previdência com plem en­
tar, o n d e avultados, entre outros, os seguintes aspectos: a) período de carência;

C urso de D ireito P rev id en c iá r io

T om o IV — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n ta r
b) m odalidade dos benefícios; c) m odalidade de cálculo das diferentes com ple-
m entações; d) critério de rentabilidade dos depósitos; e) tipo de plano e regim e
financeiro consagrado; f) in d ex ad o r do reajustam enlo dos benefícios; g) fórm ula
de resgate, nas hipóteses de afastam ento do sistem a ou de transferência para o u tra
entidade; h) possibilidade de portabilidade dos recursos; e i) critério dos investi­
m entos.
2125. Fontes de custeio — A receita provirá servidor participante e do ente
político, de m o d o que tente obstar a transferência do encargo a quem não participa
do sistem a.
O custeio apresenta problem as de difícil solução e reclam a sabedoria do legis­
lador. Não pode on erar a grande m assa de co n trib u in tes, com o financiam ento de
benefícios para um a m inoria de pessoas.
Urge alíquota pessoal atraente, em que em butida: 1) a colização individual
co n stitu id o ra da co n ta pessoal, para os benefícios de risco previsível; e 2) parcela
capaz de enfrentar as contingências im previsíveis. D esestim ular freqüentes res­
gates. Percentuais, p lan os e regim es financeiros fixados, obviam ente, ouvidos os
atuários.
A co n trib u ição do E stado não prescinde de estu d o s aprofundados. Em p ri­
m eiro lugar, a rem u n eração acim a do lim ite do salário de co n trib u içã o do RGPS
é base de cálculo p ara a co n trib u ição de 20% destinada ao FPAS. Possivelm ente,
em aten d im en to à d isposição co n stitu cio n al, m anter-se-á em 11% da folha de
pagam ento.
2126. R eco lh im en to da co n trib u içã o — O recolhim ento das co n tribuições
pode ser feito nos m oldes da previdência básica, m ediante a retenção na folha de
pag am en to dos servidores, q uando coletivas e, configurada a figura do autopatro-
cínio, de carnê de pagam ento.
Na h ipótese do ingresso no sistem a facultativo, q u an d o quiser, da m esm a for­
ma, o servidor p o d erá dele se afastar, resgatando fração do cotizado, atuarialm ente
conform e o tipo de plano e o regim e financeiro adotados.
A m anifestação de vontade é externada, no caso do co n trib u in te individual,
m ediante o reco lh im en to m ensal de contribuição, perm itin d o -se certo atraso sem
prejuízos para o direito. N esta últim a hipótese, não aportadas as contribuições
pessoais ou patronais, salvo a parcela referente aos benefícios n ão program ados, as
dem ais não se p resu m em recolhidas.
2127. Prestações à disposição — C om o os da iniciativa privada, os fundos
de pensão públicos distinguirão dois tipos de benefícios: a) de risco program ado
— ap o sen tad o ria p o r idade e aposentadoria p o r tem po de contribuição e assim que
regulam entada, a ap o sentadoria especial; e b) de risco não program ado — auxílio-
-doença, ap o sen tad o ria p o r invalidez, pensão por m orte e auxílio-reclusão.
Serão prestações subsidiárias e co m p lem en tares ou não, ad m itin d o -se am bas
as h ip ó teses para p erm itir atração e desenvolvim ento do sistem a. Se possível,

C urso d e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1490 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
com b in ad as com a m odalidade de p o u p an ça disp o n ív el em certo lapso de tem po
e re n d im e n to m ín im o assegurado.
E x p erim en tan d o acolher a possibilidade de negociação, isto é, ser possível
ajustar a alíquota e a base de cálculo da contribuição (e até m esm o ap o rtes adicio­
nais) co nform e a vo n tade do titular e os cânones atuariais.
2128. R egim e financeiro — O ideal para a previdência co m p lem en tar é, no
caso das prestações previsíveis, um regim e financeiro de capitalização individual
de recursos, ap o rtan d o o co n trib u in te e, se for o caso, o E stado, um percentual
m ensal in cid en te sobre a diferença entre a rem uneração recebida e o lim ite do sa­
lário de co n trib u ição do RGPS.
Para os benefícios im previsíveis, regim e financeiro de repartição sim ples, ver­
tendo valor co n stan te, baseado na solidariedade social do sistem a e consoante a
recom endação dos atuários para o m om ento histórico e a m assa protegida.
O prim eiro tipo de benefícios pressupõe contribuição definida, e o segundo,
as prestações definidas.
Os benefícios program ados calculados no ato da aposentação pelo órgão ofi­
cial, to m ando-se p o r base o m o n tan te capitalizado e em razão da expectativa de
vida do titular. A p a rtir daí, levando em conta a rentabilidade do saldo credor.
A dm ite-se, tam bém n esta solução, certa negociação com o órgão gestor, aten d id o s
patam ares m ín im o s de valor e de m anutenção da prestação, pensando-se na renda
program ada e na renda vitalícia.
Se o segu rad o falecer antes de se aposentar, e sem ter cu m p rid o os requisitos
para a pensão p o r m orte ou se o falecim ento se der após a aposentação, m as antes
de esgotado o capital acum ulado, o saldo rem anescente, na form a de pecúlio, é
direito dos depen d en tes.
O s benefícios program ados perfilham as regras do RGPS, previam ente defini­
dos os seus valores, exigindo certo período de carência para a pensão p o r m orte e
auxílio-reclusão.
21 2 9 . N a tu reza ju ríd ic a — O títu lo atribuído freq u en tem en te à técnica s u ­
pletiva revela a dificuldade do seu enquadram ento. O riginariam ente, deverá ser
previdência co m p lem en tar pública, m as n ão necessariam ente estatal, isto é, com e­
tida à ad m in istração ao particular. A EFPC é pública, m as o plano de benéficos é
privado.
E m pregará praxes p ró p rias da previdência privada, aberta o u fechada e da
p o u p an ça in d iv id u al consagrada na caderneta de poupança.
Fodavia, poderá ser d en om inada com o previdência pública, p erm itin d o áreas
su b m etid as às diferentes norm as, públicas e privadas, im pondo-se, ao m esm o tem ­
po, a cogência e a liberdade de opções.
2130. P rin cíp io s apropríáveis — Os postulados regentes da previdência com ­
plem entar pública devem ser os inferidos da supletividade. Isto é, recom enda-se
perm anecer sob norm a pública em bora gerida, por delegação, pela iniciativa privada.

C urso de D ir e it o P r f .v i d e n c í A r i o

T om o /V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r 1491
C onsoante cada área e tipo de prestação, os princípios de direito privado. C on­
vencido o legislador de estar criando m odalidade de poupança individual (e coletiva).
Por isso, com estím ulos fiscais (v. g., dedução diferida do Im posto de Renda).
Subsidiariam ente, nesta ordem , consultados os preceitos da previdência
social básica e com plem entar.
En passant, a Súm ula PREVIC n. 3 m en cio n o u os p rin cíp io s que baseariam a
ação fiscalizatória do MPS: “A d estinação periódica de valores aos inativos a títu lo
de v erba co m p lem en tar insere-se no âm bito de fiscalização da PREVIC q uando
presen tes elem en to s e s tru tu ra n te s da relação ju ríd ic a de p revidência privada:
co m p lem en tarid ad e, au to n o m ia em relação aos regim es de previdência social;
facultatividade, co n lratu alid ad e, co n stitu ição de reservas p ara os benefícios p ro ­
gram ados e de prestaçõ es c o n tín u a s e in d ep en d ên cia da relação de trabalho do
ben eficiário ”.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1492 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Capítulo CCXIII

Eq u i l í b r i o F i n a n c e i r o e A t uari al

2131. Introdução da matéria. 2132. Conceito mínimo. 2133. Significa­


S u m á r io :
do lógico. 2134. Causa e surgimento. 2135. Classificação didática. 2136. Natu­
reza e consubstanciação. 2137. Alcance e abrangência. 2138. Objetivo técnico.
2139. Conseqüências jurídicas. 2140. Aplicação prática.

D esde o dealbar da Previdência Social, a im prescindível relação m atem ático-


-financeira entre o volum e das contribuições e o nível dos benefícios a serem m a n ­
tidos forçou o su rg im ento de u m a técnica su p erio r que a com anda, de alto nível,
na esfera científica e ju ríd ica, disciplinada com texto genérico na C arta M agna,
que, até que ap ro fu n dada pela d o u trin a e ju risp ru d ên c ia, vai g erar polêm ica e, no
m ais dos casos, en q u an to não aperfeiçoada, prestar-se-á com o bandeira sob a qual
po d em se fu rtar situações côm odas ou o u tro s objetivos.
A inda que invocada com presteza pelo político, ad m in istrad o r ou parlam en ­
tar, para ju stificar isto ou aquilo, m áxim e nu m a instituição em perm an en te tran s­
form ação, não foi concebida com essa intenção fluida e precisa ser resgatada e
levada ao seu verdadeiro leito, o animus legislatoris.
O d eseq u ilíb rio econôm ico-financeiro ou atuarial de u m plano ou regime
co m prom ete sua execução, daí a necessidade de ser plantada providência basilar
que obstaculize ou dificulte m edidas inadequadas, e até vede soluções in co n g ru e n ­
tes, com o a criação de prestações sem fonte próp ria de custeio ou a extensão de
trib u to s sem prévia destinação. Por isso, a ser perq u irid a em consonância com a
ideia da p recedência do custeio e outras políticas, co n d u cen tes à ordenação sistê­
m ica do edifício previdenciário.
À evidência, para não se desm oralizar, p erd er eficácia ou prestígio, o equilí­
brio econôm ico carece ser equacionado ap ro p riad am en te, co n ceitu ad o e bem d e­
finido, re su ltan d o circunscrito pela norm a legal, a experiência da ju risp ru d ên c ia e
o b o m -sen so da d o u trin a especializada.
2 131. In tro d u ç ão da m atéria — Inovando em face d a regulação anterior,
alteran d o o texto de 5.10.1988, com a redação dada pela E m enda C onstitucional
n. 20/1998, diz o caput do art. 201 da C onstituição Federal: “A previdência social

C urso de D ireito P rev id en ciá rio

T om o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n t a r 1493
será organizada sob a form a de regim e geral, de caráter contributivo e de filiação
obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial,
e atenderá, nos term os da lei”.
Na m esm a linha de raciocínio, o caput do art. 202 pontua: ao regim e de pre­
vidência co m p lem en tar será organizado “baseado na consliLuição de reservas que
garantam o benefício co n tra tad o ”.
Além de o u tros ângulos de realce (v. g., organização, natureza do regim e, con-
tributividade, caráter da filiação etc.), é de m eridiana clareza que o C o n stitu in te
E m endador deseja que a técnica protetiva a ser organizada ou certa fração dela
(u m regim e p ró p rio ), e até m esm o apenas u m plano (no tocante à com plem entar),
d eten h a solvência e liquidez, as fontes de custeio d iretam en te proporcionalizadas
às despesas operacionais, vale dizer, o buscado po n to de consenso e que, concom i-
tantem en te, ele seja financeiro e atuarial.
À evidência, é m an d am en to postado à base do sistem a protetivo, enten d id o
com o ferram enta indispensável à consecução do seu objetivo m aior: o c u m p rim e n ­
to regular, m aterial e form al, do ô n u s protetivo.
O m otivo de esse prim ado ter sido guindado à altura constitucional é sua
absoluta im periosidade no contexto do ordenam ento. Sem seu perfilham ento, difi­
cilm ente, o ad m in istrad o r público ou o p articu lar lograrão a intenção inicial a que
se p ro p u seram , vale dizer, a segurança da ordem previdenciária.
F req u en tem en te, o legislador regra esses cuidados m ínim os, com o é ocaso do
Chile. À guisa de lem brança, do po n to de vista prático, seg u n d o Julio Bustamante
Jeraldo, as AFP têm um lundo de reserva de flutuação da rentabilidade, obtida com
o excesso dos fru to s m édios dos últim os 12 m eses (“F u n cio n am ien to dei Nuevo
Sistem a de P ensiones”, p. 71).
No Brasil, Elaine Romeiro Costa estu d o u as form as de co n tro lar as aplicações
dos recursos, tu d o isso com vistas ao indigitado equilíbrio econôm ico ( “P revidên­
cia Privada e F u n d o s de P ensão”, p. 87).
2132. C o n ceito m ínim o — N ão se pode co n fu n d ir o insLiluto enfocado com
sua estru tu ra orgânica; cuida-se de preceito jurídico a ser cum prido pelo legislador
infraconstitucional e pelo organizador da Previdência Social, en q u an to o elem ento
m aterial que o in fo rm a d eü u i da natureza m esm a dos deveres hu m an o s presentes
na relação lógica securitária. Sem esse acerto de contas contábil, é im possível dar
prosseguim ento à p ro p o sta form ulada de consum ar as prestações.
Diz a regra técnica aí contida que a estru tu ra do regim e, seja o geral ou o
com plem entar, tem de ser estim ada a partir da clientela protegida, sua capacidade
co n trib u tiv a e a co b ertura desejável ou possível n u m m om ento histórico e, em
razão disso, quais os aportes usuais ou adicionais bastantes, assim com o o vulto
dos desem bolsos realizáveis. C onsoante se pode constatar, é relação econôm ica
que envolve e vincula o patam ar das en trad as e saídas, sopesando o passado (as
obrigações em cu m p rim en to ), o p resen te dos co n trib u in tes e o futuro (benefícios
a conceder).

C ursu de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1494 W l a d im i r N a v a e s M a r t i n e z
U m a previdência com critérios norm ativos equânim es é aquela capaz de
satisfazer as obrigações jacentes, estar preparada para os deveres em relação àqueles
que estejam nas p ro xim idades do cenário d ecan tad o r da pretensão, e q u e cor­
resp o n d a às proposições do program ado no p ertin e n te aos futuros beneficiários,
suficiente para acu d ir as despesas do dia a dia, e ajustada econom icam ente para
eventuais variações da m assa dentro de um a concepção que se aproxim e o m ais
possível da reserva m atem ática ideal.
O eq u ilíb rio econôm ico, acen tu ad am en te ju ríd ico , m as com expressão e ori­
gem m aterial, consiste na concepção form al oferecida pelo equilíbrio financeiro
e atu arial, envolvendo os aspectos pecuniários e m atem áticos que, se ausentes,
im pliquem m anifesta inconstitucionalidade.
A conceituação d o u trin ária do q u e seja esse equilíbrio pode ser fornecida em
linhas gerais, de form a difusa com tal abstração que a torna quase inútil. O que
interessa é a apuração, em cada caso, em face de um ou outro plano ou m assa e em
m o m en to certo, avaliação a ser operada p o r econom ista especializado em finanças
ou p o r m atem ático co n h eced o r de atuária. Esses profissionais habilitados ditarão
os p arâm etro s m ín im os a serem seguidos e que valem para a situação enfocada,
p o is o déficit indesejado pode provir de diferentes causas.
2133. Significado lógico — O preceito rep ro d u zid o q u er dizer que o c o n ju n
to n o rm ativo e técnico tem de ser ordenado para assum ir suas prom essas, erigido
para isso acontecer. Para tanto, ele precisa organizar-se de m olde que haja previsão
a longo p razo das despesas correntes, bem com o a provisão dos m eios necessários,
isto é, as co n trib u içõ es e seus rend im en to s sejam garantidores dos benefícios. Uma
performance e tanto.
Significa, tam bém , acolher todas as m edidas co n d u cen tes a esse desiderato,
p ostando-se, nessas condições, acim a do convencionado e p o dendo m odificá-lo
sem pre q u e p resen tes os pressupostos m ateriais.
N o dizer de Manuel Soares Póvoas: “Para que a entidade possa satisfazer seus
com prom issos, tem de, periodicam ente, m o strar a seguinte situação: as reservas
m atem áticas cuja co n stituição ao longo de cada co n trato é feita à base dos n ú m e ­
ros fornecidos pelo cálculo atuarial, deve ser igual, pelo m enos, ao fundo form ado
pelas co n trib u içõ es puras que recebe devidam ente capitalizadas; sem dúvida esta é
um a form a sim plista de explicar um a situação com plexa, m as que é suficiente para
m o strar q u e tal situação de equilíbrio dep en d e de inúm eros fatores aleatórios que
podem im pedi-lo, o p rincipal dos quais é a eventual possibilidade da entidade c o n ­
seguir n o m ercado de capitais, um a taxa efetiva de re n d im en to dos investim entos
que cau cio n am essas reservas, pelo m enos igual à taxa técnica atuarial, considera­
da n o respectivo cálcu lo ” ( “Previdência Privada”, p. 298).
Grosso modo, p lano equilibrado é aquele que não desprezou as recom endações
do CNSP, co n tid as no arl. 15 da Lei n. 6.435/1977, e as executou com sucesso:
“Para garantia de to d as as suas obrigações, as entidades abertas co n stitu irão reser­
vas técnicas, fu n d o s especiais e pro v isõ es” ... “além das reservas e fundos d eterm i­
nados em leis especiais”.

C u rs o d e D ire ito P rev id en ciá rio

T o m o IV — P r e v i d ê n c i a C o m p l e m e n ta r 1495
Para o art. 9 Qda LBPC: “as entidades de previdência com plem entar co n stitu i­
rão reservas técnicas, provisões e fundos, de conform idade com os critérios fixados
pelo órgão regulador e fiscalizador”.
Segundo o art. 11 da m esm a norm a: “Para assegurar com prom issos assum i­
dos junto aos p articip an tes e assistidos do plan o de benefícios, as entidades de p re­
vidência co m p lem en tar poderão co n tratar operações de resseguro, p o r iniciativa
pró p ria ou p o r determ in ação do órgão regulador e fiscalizador”.
Os arts. 249/50, da Lei M aior, autorizam a criação de fundos integrados por
bens, direitos e ativos, para “assegurar recursos para o pagam ento de p ro v en to s” e
“benefícios concedidos pelo RGPS”.
2134. Causa e su rg im e n to — A origem do po stu lad o é acidental, surgiu em
razão da história recente da Previdência Social, do problem a das insuficiências do
INSS e de m uitos fu n d o s de pensão abertos e fechados, privados e estatais. Disto-
nias que, p o r sua vez, co nhecem variadíssim as razões desde as dem ográficas até
as econôm icas.
N asceu n a n o rm a jurídica, em bora incutida n a consciência dos atuãrios havia
m u ito tem po. Pelo m enos, fazia parte da construção m atem ática até então não
observada e que acabou por im por-se ao legislador.
2135. Classificação didática — F u n d am en talm en te, o equilíbrio conhece
d uas m odalidades: a) financeira; e b) atuarial.
Por equilíbrio financeiro, entende-se literalm ente que as reservas m atem áti­
cas efetivam ente con stituídas sejam suficientes para garantir os ô n u s jurídicos das
obrigações assum idas, presentes e futuras.
E quilíbrio atuarial com preende as ideias m atem áticas (v. g., taxa de c o n tri­
buição, experiência de risco, expectativa de m édia de vida, tábuas biom étricas,
m argem de erro, variações e da m assa etc.) e as relações biom étricas que, de igual
m odo, to rn em possível estim ar as obrigações pecuniárias em face do co m porta­
m ento da m assa e o nível da contribuição e do benefício.
Por sua vez, p lano desequilibrado é aquele com déficit ou superávit, am bos
reclam ando providências do adm inistrador, a serem equacionadas im ediatam ente.
A ideia é vasta e suscita a filosofia do D ireilo Previdenciário convencionado
n u m certo m o m en to h istórico. Assim, p o r exem plo, leva em conta a relação entre a
participação do trab alh ador em relação à da em presa (e, se for o caso, à do E stado).
No âm bito da previdência co m p lem en tar (CF, art. 202, § 39), quis o legisla­
d o r co n stitu in te que houvesse um a paridade de u m p o r um , isto é, que o vulto
das co n trib u içõ es dos polos da relação fossem iguais (o que, aliás, não sucede no
RGPS). M edida que co n trarie essa proporcionalidade q u an d o consagra colide com
o po stu lad o enfocado.
2136. Natureza e consubstanciação — A essência do equilíbrio econôm ico é
técnica, funciona com o pressuposto da efetividade da proteção. C onsubstanciado
com a realização do p o n to ideal entre custeio e benefícios.

C u rso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1496 W iflíiim irN o v flc s M a r t i n e z


E m bora de con sistência e nu an ças com plexas, o p rin cíp io do equilíbrio é
sim ples em sua idealização, pois a singeleza da preten são é que o plano ou regim e
possam m an ter a solvência das reservas e a liquidez das prestações presentes e
futuras.
2137. Alcance e abrangência — A exigência do equilíbrio econôm ico apare­
ceu n a C arta M agna; nessas condições, é p rincípio previdenciário constitucional,
prescrito n o caput do art. 201, onde, incidentalm ente, o legislador contem pla a
Previdência Social básica.
Isso não q u e r dizer, en tretan to , que se aplique apenas e tão som ente ao RGPS.
N ào im p o rtan d o o sítio onde jaz, vale, sistem aticam ente, para os planos do servi­
d o r público, o regim e geral e, acentuadam ente, o com plem entar.
2 1 3 8 . O b jetiv o técnico — Ele procura fun cio n ar com o freio da desorganiza­
ção da Previdência Social. Em verdade, trata-se de m ecanism o de polícia visando a
im pugnação de m edidas co n d u cen tes à ingovernabilidade dos planos.
Q u er ex atam en te o que seu nom e diz: o equilíbrio econôm ico e, assim , sejam
co n d en ad as as m edidas que não o b u sq u em e que, ao contrário, possam co n trib u ir
para a criação de déficits.
Na lição de Fernanda Gama: “F ator im pactante nos resultados das avaliações
atuariais, conciliado com a hipótese de rotatividade dos em pregados, deve ser u ti­
lizado com b astan te critério, u m a vez que, baseando-se no ingresso de m assas jo ­
vens, levam o valor atual das obrigações futuras da entidade a ser inferior ao valor
atual das contrib u içõ es futuras relativas a esta m assa, resultando n u m a dim inuição
das reservas m atem áticas de benefícios a conceder. O u seja, projetam -se desses
novos en trad o s com contribuições m aiores que os benefícios q u e irão receber na
ap o sen tad o ria, co laborando, desta form a, solidariam ente para financiam ento dos
benefícios das m assas total de p articipantes do plano. Logo, a nào concretização
dessa h ipótese acarreta um déficit das reservas de cobertura dos com prom issos
fu tu ro s da m assa avaliada, p o d en d o na ocasião, sobrevir até, a insolvència do fun­
do de p en sã o ” ( “C ritérios A tuariais e G eração F u tu ra à N ecessária S egurança”, p.
33/34).
2139. C o n seq ü ên c ia s ju ríd ic a s — O equilíbrio foi enquistado no texto da
Lei M aior com o m an d am e n to a ser perseguido pelo legislador ordinário e acom pa­
nh ad o de p erto pelo organizador da Previdência Social, Não se trata de abstração
especulativa ou co n stru ção do u trin ária; é com ando dispositivo invocável q uando
das m edidas que aten tem co n tra sua determ inação.
Se ignorado pelo ad m in istrad o r ou legislador ordinário, vale dizer, pelo ap li­
cador da regra previdenciária, a providência tom ada reveste-se da classificação ju­
rídica de in co n stitu cio n al, sobrevindo os consectários inerentes.
2140. A plicação p rá tic a — Além do princípio que a estipulação substancia, o
caput do art. 201 da C onstituição F ederal é n o rm a im perativa, ordem para os vários
organizadores que lidam com a Previdência Social, em particular, o legislador e o
adm inistrador.

C u rso de D i r e i t o P b e v i d e n c i a í í i »
T o m o I V ■—■P re v id ê n c ia C ç t t ip l e m e n t a r 1497
A legislação de cada um desses segm entos proverá a conceituação do que se
deva en ten d e r p o r equilíbrio financeiro e atuarial e fixará as sanções cabíveis, de
toda ordem , no caso de sua ausência co m prom eter a saúde do plano.
Segundo a teoria m atem ática dos atuários, no curso do desenvolvim ento de
um plano, p o r causa da variação co m portam ental da m assa, ele experim enta su-
perávits e déficits m o m entâneos, corrigíveis com soluções im ediatas sem com pro­
m eter sua higidez. Não é dessa afetação sim ples que cuida o princípio, m as, sim,
da presença de indicadores significativos q u e po n h am em risco a eficácia do plano
e que exijam m edidas equacionadoras.
Dada a generalidade da dicção constitucional e a expressão m aterial que a
incorpora, v erdadeiram ente um concerto de ideias, ela não terá n en h u m a utilidade
prática ou será desvirtuada, caso o legislador infraco n stitu cio n al não esm iuçar os
seus lim ites e p ro p ósitos, estabelecendo sua aplicabilidade, isto é, os casos em que
se respeite o equilíbrio econôm ico.
Carece de ficar claras quais as reais hipóteses às quais ele se destina, particu-
larizando de fora para dentro: se é a Previdência Social com o um lodo, u m regim e
previdenciário em p articu lar ou apenas um plano, de vez que im pulsiona efeitos
significativos n a relação ju ríd ic a e pode causar danos irreparáveis.
A previdência h ospedada na ideia constitucional com põe-se de regim es (ge­
ral, dos servidores, com plem entar); esses grandes estam entos têm entidades que
em preendem seus in stitutos técnicos e, no caso particular da supletiva, p o dendo
dar-se de haver m ais de u m plano, de contribuição definida ou de benefício defi­
nido, cada u m deles sujeito a u m a análise específica, sendo que alguns deles, por
definição, n u n ca en tram em descom passo financeiro ou econôm ico.
O legislador o rd in ário carece de explicitar cada um desses p o n to s porque
conform e a LBPC, per se, ele determ ina grandes conseqüências práticas e jurídicas.
Q u an d o do exam e da constitucionalidade da Lei n. 9.876/1999, o STF invocou a
razão; para a m ais Alta C orte do País, a inexistência de correlatividade entre a co n ­
tribuição vertida e a renda m ensal inicial afetaria o equilíbrio do RGPS.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1498 W l a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
Capítulo CCXIV

D e s t in o d o S uperávi t

S u m a r i o : 2141. Introdução do tema. 2142. Fonte formal. 2143. Reserva espe­


cial. 2144. Tipo de plano. 2145. Equilíbrio atuarial. 2146. Decisão do Conselho
Deliberativo. 2147. Volição do legislador. 2148. Origem do superávit. 2149.
Aspectos infracionais. 2150. Destinatários do valor.

Nos anos 2006/2008, com o aquecim ento da econom ia nacional, o elevado


p atam ar da Bolsa de Valores, afirm ação do real e as dificuldades que os segurados
do RGPS en fren taram em relação à prestação básica, m u ito s planos de benefícios
passaram de eq u ilib rados para superavitários, ou seja, en tra ram na fase do dese­
q u ilíb rio n ão desejada pela C arta M agna.
A m aio r p arte d o s fundos de pensão aplicou corretam ente a mens legis do art.
20 da LBPC, m as algum as EFPC se viram diante de dúvidas em v irtude da om issão
n o rm ativ a sobre a m atéria. U m a m inoria equivocou-se na elaboração dos critérios
fixados na n o rm a legal.
2141. In tro d u ç ão d o tem a — E m bora nào seja tão com um , às vezes um p la­
no de benefícios de entidade fechada de previdência co m p lem en tar — EFPC se
m an tém atu arial e fin anceiram ente superavitário. No ensejo, valendo lem brar que
did aticam en te p lan o desequilibrado é o q u e experim enta déficit ou superávit.
Q u a n d o isso sucede, tem havido casos em que o C onselho D eliberativo —
CD opta p o r d isp en sar tem porariam ente as co n tribuições da patrocinadora, do
p articip an te ativo e do particip an te assistido, até que o plano volte reequilibrar-se.
U sualm ente, tal m edida gera insatisfação entre os p articipantes assistidos, que
preferem um a reform ulação do plano de benefícios com o au m en to das m ensalida­
des das com plem entaçòes.
21 4 2 . F o n te fo rm al — Se a decisão sucedeu após 29.5.2001, tem eficácia o
caput do art. 20 da Lei C om plem entar n. 109/2001, que estabelece a regra do d esti­
no dos valores su p eravitários dos p lan o s de benefícios: “O resultado superavitário
dos planos de benefícios das entidades fechadas, ao final do exercício, satisfeitas
as exigências regulam entares relativas aos m encionados planos, serã destinado à
co n stitu ição de reserva de contingência para garantia de benefícios, até o lim ite de
vinte e cinco p o r cento d o valor das reservas m atem áticas”.

C urso d l D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T om o Í V — P re v id ê n c ia C o m p t e m e n la r 1499
Logo, p rim eira providência a ser tom ada é provisionar 25% das reservas m a­
tem áticas, designada de reserva de contingência. O bserva-se que esse quantum,
con tab ilm en te a ser apartado, sem pre fará parte do p atrim ônio da entidade (que,
destarte, apenas de fato poderia ser en ten d id a ainda com o superavitária e estar
equilibrado o p lano de benefícios).
2143. R eserva esp ecial — De acordo com esse m esm o art. 20 da LBPC, a
EFPC co n stitu irá u m a reserva especial “para revisão do plano de benefícios”.
São, então, d u as provisões: a de em ergência, para enfrentar situações in u sita ­
das e a o u tra, para revisão do plano de benefícios (§ 29).
Essa revisão é facultaúva, m as a “não utilização da reserva especial p o r três
exercícios consecutivos d eterm in a rá” um a revisão do plano de benefícios com cer­
to caráter obrigatório (§ 39).
Por últim o , o m esm o artigo da lei básica da previdência co m p lem en tar reza:
“Se a revisão do p lano de benefícios im plicar redução de contribuições deverá ser
levada em consideração a proporção existente en tre a contribuições dos patrocina­
dores e dos p articipantes, inclusive dos assistidos” (§ 4e).
O exam e da p ro p ried ad e da decisão do CD, reproduzidas as fontes form ais
mais próxim as do tem a, recom enda algum as considerações pream bulares.
2144. T ipo d e p lan o — P rim eiram ente, deve-se esclarecer se o plano de b en e­
fícios da en tid ad e é da m odalidade benefício definido; significa dizer que neste tipo
de p lano de benefícios a variação ocorre nas contribuições e não nas prestações que
o p articipante farã ju s ao se aposentar.
Nesse p lan o , existe certo esforço coletivo para que cu m p rid o s os requisitos
estabelecidos na legislação vigente e no respectivo E statuto Social e R egulam ento
Básico, co n tem com recursos suficientes para h o n ra r com o benefício previam ente
acordado com seus participantes.
Leva-se em consideração no BD a realidade atuarial do conjunto da massa
de participantes, que pode ser m odificada p o r fatores internos (v. g., m orbidez de
participantes acim a do previsto) ou p o r indicadores externos (m udança nos rendi­
m entos dos investim entos do plano de benefícios afetados p o r fatores econôm icos).
Desta form a, cabe ao m atem ático fazer tais análises e verificar a adequação das
prem issas atuariais do plano aos com prom issos assum idos por este.
2145. E q u ilíb rio a tu arial — E stabelecendo u m novo preceito, a EC n. 20,
de 15.12.1998, criou o princípio do equilíbrio atuarial e financeiro da previdência
social (CF, arts. 40 e 201), em especial da cobertura com plem entar (“P rincípios de
Direito P revidenciário”, São Paulo: LTr, 4. ed., 2001, p. 91/97).
Desde sua im plantação até a extinção, no decurso do tem po, alguns planos
de benefícios da EFPC m antêm -se equilibrados ou desequilibrados; e nesta ú lti­
m a hipótese, eles serão deficitários ou superavitários. O ideal do ad m in istrad o r é
eles perm anecerem equilibrados, vale dizer, que suas reservas m atem áticas sejam
bastante para aten d er os com prom issos h o diernos e futuros ( “C om entários à Lei
Básica da Previdência C o m p lem en tar”, São Paulo: LTr, 2003. p. 203/209).

C urso p e D ir e it o P r e v id e n c iá r io

1500 W la d im ir N o v a e s M a r tin e z
Q u an d o eles en frentam algum déficit, a en tid ad e deverá aten d e r o preceitua-
do no art. 21 da LBPC, para que o equilíbrio seja restabelecido. Seu superávit, que
tam bém im põe m edidas p ró p rias de gestão, tem m otivação em vários aspectos do
plano de benefícios, com o o com portam ento da m assa protegida, enfatizando-se
os d eco rren tes de equívocos na fixação dos aportes da p atro cin ad o ra e a do p arti­
cipante ativo e assistido.
S im plificando esse in stitu to técnico e atu arial tem -se que: co n trib u içõ es
m en o res geram as insuficiências; co n trib u içõ es m aiores p ro d u z em os excessos
financeiros.
O legislador deseja planos de benefícios equilibrados, m as q u an d o eles apre­
sen tam excessos financeiros (e poderiam ser insuficiências atu ariais), estabelece
obrigações a cargo da EFPC.
C o m p u lsan d o -se o art. 20 conclui-se que ele estabelece um a seqüência o rd e­
nada de m edidas a serem observadas: p rim eiro, a constituição de reserva de c o n ­
tingência; segundo, a constituição de reserva especial para revisão de benefícios;
terceiro, a revisão do plan o de benefícios.
C onvém lem brar, en passant, que no § 2a, d eso rdenadam ente, o elaborador da
n o rm a preceitu a regra que deveria estar após o § 3 a sobre o dever da revisão, que
se to rn a o b rigatória (logo, a an terio r é facultativa).
2 1 4 6 . D ecisão do C o n selh o D elib erativ o — C om fulcro no § 3a, tem -se que
a decisão do CD po d e ser: a) re d u zir as contribuições, alteran d o , d esta form a, o
custeio d o p lan o de benefícios da entidade; ou b) m ajorar o valor das prestações
m antidas.
Psicologicam ente, os particip an tes assistidos preferem um au m en to de b en e­
fícios à d im in u ição das contribuições, m as esta decisão cabe tão so m en te ao CD.
E m b o ra os efeitos sejam p ra tic a m e n te os m esm os, a re d u ção da c o n trib u i­
ção do s ativos tem u m significado d istin to do a u m e n to d o s b enefícios dos in te ­
ressados.
Se a revisão de u m plan o — em lugar de extinguir provisoriam ente os aportes
— im plicasse au m en tar as m ensalidades das com plem entações, ele atingiria dife­
ren tem en te os participantes; m ais adiante, caso tivesse de re d u zir os benefícios, a
decisão seria m alvista pelos assistidos.
2 1 4 7 . Volição do leg islad o r — A LBPC não deseja que a reform ulação do p la­
no de benefícios signifique au to m aticam en te a m ajoração das prestações; oferece-
se apenas opção entre: re d u zir co n trib u içõ es ou a u m en ta r benefícios. Escolha que
p ertence ao arb ítrio ú nico e exclusivo do CD que, in stitu cio n a lm en te é o rep resen ­
tan te dos p articip an tes, a qu em cabe a decisão de escolher a m elh o r form a de rever
o plano de benefícios da entidade.
Para se ap re e n d e r a volição d o legislador, conviria d efin ir o d e te n to r dos ca­
pitais ac u m u la d o s pelos c o n trib u in te s. A p a ren tem en te , é d o p lan o de benefícios;
mas, com o este não tem p e rso n a lid a d e ju ríd ic a , co n clu i-se ser um bem da EFPC,

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io

T o m o I V — P r e v id ê n c ia C o m p l e m e n ta r
m
qu e se in sp irará n o in teresse coletivo e não exclusiva, ce n trad a e especificam ente
no interesse voLitivo cios p artic ip a n te s ativos o u p artic ip a n te s assistidos ( “C o­
m en tário s à Lei Básica da P revidência C o m p le m e n ta r”, São Paulo: LTr, 2003.
p. 203).
2148. O rigem d o su p e rá v it — No exam e do destino dos resultados positivos
será preciso lem brar que eles se devem , pelo m enos, a quatro causas básicas: a)
contribuições excessivas para o cu m p rim en to das obrigações; b) benefícios pa-
ram etrizados aquém da receita realizada; c) eficácia técnica p erm an en te com a
geração de riquezas na aplicação dos capitais acum ulados; e/ou d) natu reza e com ­
portam en to da clientela protegida.
A rigor, o C onselho D eliberativo da EFPC age com p ru d ên cia qu an d o tom a
a decisão de alterar o custeio do plano; caso optasse pela revisão dos benefícios,
criaria au m en to dos com prom issos. Ele pode ainda, d en tro o u tras opções, in stilu ir
benefícios ex trao rd in ários, aplicação de tábua de m o rtalidade m ais conservadora,
mas, ao fazer isso, pod eria o n erar em excesso o plano de benefícios da entidade;
acrescentaria obrigações que poderiam colocar o plano de benefícios da entidade em
risco de déficit. Se isso acontecesse, p atrocinadora, participante e assistido seriam
cham ados a eq u ilib rar o plano, nos term os do art. 21 da LBPC.
2149. A spectos in fra cio n ais — Esses cuidados da EFPC são sintom áticos. O
D ecreto n. 4.942/2003, u m regulam ento disciplinar da LBPC, diz que é vedado:
“U tilizar de form a diversa da prevista na legislação o resultado superavitário do
exercício ou deixar de c o n stitu ir as reservas de contingência e a reserva especial
para a revisão do plano de benefícios, bem com o deixar de realizar a revisão obri­
gatória do plano de benefícios” (art. 76). Tam bém é vedado: “E fetuar redução de
contribuições, em razão de resultados superavitários do plano de benefícios em
desacordo com a legislação” (art. 77).
Até a data-base da decisão, os particip an tes e os particip an tes autopatrocina-
dos (“p articip an tes alivos”) e assistidos, contribuem para criar o ativo da entidade,
a c u m u lan d o capitais consum íveis com as prestações. A p a rtir dessa data-base, os
p articipantes ativos deixam de contribuir, m as não logram n en h u m a vantagem
com a in terru p ç ão das contribuições.
A q uestão deve ser analisada sob a ótica da boa gestão do p lano de benefícios,
fazendo as reform ulações e reajustes de form a p ru d e n te em caso de desequilíbrio
do plano. A suspensão das contribuições deve ser concebida sopesando-se a revi­
são do plano com o u m todo, e não a concessão de vantagens a um determ in ad o
g rupo de participantes. O que se deve ter em m ira na suspensão dos aportes é a
intenção de bu scar o reequilíbrio do plano, ad equando-o aos com prom issos assu­
m idos p o r este atual e futuram ente.
2150. D e stin a tá rio s d o v alo r — Pode-se dizer, ainda, que em bora p a rti­
cip an tes ativos e assistidos integrem o m esm o p lano de benefícios e que sejam
solid ário s entre si, esses dois gru p o s de p artic ip a n te s en co n tram -se em situações
diferentes.

C u rso de D ir eito P re v id e n c iá rio

1502 W / a d im i r N o v a e s M a r t i n e z
E n q u an to os p articip an tes assistidos fazem ju s ao benefício convencionado
com a en tid ad e q u an d o da adesão, p articipantes ativos encontram -se n um a fase
pream bular, a de acu m ulação de recursos e possuem u m a expectativa de direito ao
seu benefício.
Nesse sen tid o , não h á falar em isonom ia entre os particip an tes ativos e os par­
ticipantes assistidos; os particip an tes assistidos têm direito ao benefício pactuado
com a en tidade (LBPC, art. 68, § l s ) e, ainda, a irred u lib ilid ad e deste benefício.
Se a EFPC co n stitu i a reserva de contingência de 25% das reservas m atem á­
ticas, obrigada pelo caput do art. 20 da LBPC, que m antém provisão para revisão
especial do p lan o de benefícios, e levando-se em conta que escolher entre re d u zir e
ex tin g u ir p ro v isoriam ente as contribuições ou au m en tar os benefícios é faculdade,
tem -se q ue o CD pode preferir dispensar p o r algum tem po as co ntribuições dos
particip an tes, em vez de m ajorar as prestações.
U m a decisão desse tipo não contraria o disposto nos arts. 76/77 do D ecreto
n. 4.942/2003 n em vai de enco n tro ao com ando do art. 20 da LBPC.

C urso de D ir e it o P r e v id e n c iá r io
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C urso de

D ireito
P r ev id en c iá r io

A crescido de novos capítulos este Curso de

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L \ Direito Previdenciário é um dos mais
\ completos estudos sobre a previdência
social que se escreveu no Brasil.
Desdobra-se em: t) Direito Previdenciário; II)
Previdência Social; II!) Direito Previdenciário
Procedimental; e IV) Previdência Complementar,

Wladimir Novaes Martinez


A dvogado esp ecialista em Direito Previdenciário

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