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TÍTULO ORIGINAL
West Side Story
REVISÃO
Júlia Ribeiro
Luiz Felipe Fonseca
PROJETO GRÁFICO
Lana J. Roff
DESIGN DE CAPA
Chelsea McGuckin
ADAPTAÇÃO DE CAPA
Henrique Diniz
REVISÃO DE E-BOOK
Laura Zúñiga | Zúñiga Consultoria Textual GERAÇÃO DE E-BOOK
Joana De Conti
E-ISBN
978-65-5560-319-4
Edição digital: 2021
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SUMÁRIO
[Avançar para o início do texto]
Folha de rosto
Créditos
Mídias sociais
Sumário
*
Pelo modo como seus companheiros caminhavam, pelo jeito
como assobiavam, riam e contavam vantagens, Riff sabia que os
Jets achavam que haviam conseguido uma vitória e tanto, e
melhor ainda: em cima da polícia. Muita gente tinha visto os
tiras conversando com eles, tinha visto como ele resistira à
punição, e tudo isso chegaria aos ouvidos dos porto-riquenhos.
Poderia até chegar aos ouvidos de Tony, que talvez decidisse se
juntar aos Jets.
Se Tony quisesse voltar e assumir o comando, Riff
concordaria. Riff sorriu para si mesmo, porque sabia que, se isso
acontecesse, Action ficaria arrasado, mas tudo bem. Action o
vira se desembaraçar do policial babaca, apesar de seu punho
forte. Ele queria massagear o ombro dolorido, mas se recusava a
fazer isso porque queria que os Jets acreditassem que não
sentira nada. Ninguém poderia dizer que ele não tinha resistido
ao castigo como um verdadeiro líder.
Acima das janelas gradeadas de um joalheiro, o relógio da rua
indicava a Riff que eram quase dez da noite. As coisas tinham
acontecido muito depressa. De volta à sua esquina, os rapazes
seriam capazes de passar mais uma hora falando sobre o
assunto, interpretando seus papéis, contando uns aos outros o
que quase disseram a Schrank e Krupke e o que poderiam ter
feito se os malditos tiras tivessem ousado dar um soco que fosse.
Então já seriam onze horas.
Ainda cedo demais para voltar para casa, mas não para ir
atrás das garotas. Havia muito tempo pela frente até a manhã
chegar, horas sem nada para fazer, e toda aquela energia dentro
dele pronta, ansiosa, a ponto de explodir.
Ele precisava ver Tony, conversar de novo com ele, implorar
que voltasse. Enquanto Tony estivera no comando, cada minuto
tinha sido aproveitado, repleto de coisas a fazer. É verdade que,
naquela época, Tony e os outros Jets sempre estavam ocupados
lutando para dominar o território. Precisaram enfrentar muita
gente para se apropriar daquela área, e Riff e o restante da
gangue tinham cicatrizes para provar que haviam conquistado e
mantido o território. Ninguém das proximidades sequer pensara
em desafiá-los, até aparecer Bernardo, um dos primeiros porto-
riquenhos a se mudar para o quarteirão.
Os outros porto-riquenhos moravam em outras partes do
bairro, mas Bernardo continuava a trazê-los para a área dos Jets.
O que ele tinha em mente era muito óbvio: assumir o controle do
quarteirão. Se Bernardo e os Sharks conseguissem fazer isso,
todas as pessoas brancas teriam que se mudar, e essa seria mais
uma vitória para os porto-riquenhos, com seu incompreensível
linguajar próprio. Nesse caso, para onde eles iriam? Para dentro
do rio?
Não ele, disso Riff tinha certeza. Se era para alguém viver na
água, que fossem os Sharks. Malditos cucarachos! Nunca
tomavam banho, guardavam carvão na banheira; chutá-los para
dentro do rio seria até um favor para eles.
— Riff!
Riff encolheu os ombros e se recusou a se virar.
— Ei, Riff! — Anybodys estava ao seu lado. — O que Schrank
queria?
Riff olhou para a garota pálida, magra e intensa, com um corte
de cabelo quase masculino. Não tinha seios sob a camiseta, e sua
calça jeans surrada escorregava da cintura porque também lhe
faltavam quadris. Seus pés imundos estavam enfiados em um
par de tênis sujos amarrados com cadarços puídos, e quando
Baby-John correu para apalpar sua bunda, Anybodys se virou
para dar um chute nele pela direita, e o movimento foi igual ao
de um menino.
Como o chute não o atingiu, ela xingou Baby-John com voz
monocórdica e áspera, depois cuspiu nele.
— Te pego mais tarde — avisou ela a Baby-John. — O que
aconteceu, Riff?
— Tivemos uma conversa.
— Sobre o quê? — quis saber Anybodys.
— Sobre você — respondeu Riff. — Schrank perguntou se
queríamos nos livrar de você, e nossa resposta foi afirmativa.
Anybodys tentou segurá-lo pelo braço, mas Riff encolheu os
ombros e escapou.
— Não acredito — desafiou ela. — Você não diria uma coisa
dessas sobre uma Jet.
— Você não é uma Jet. Mas não por falta de tentativa —
admitiu Riff.
— Por que, então? — Anybodys apressou o passo para
acompanhar o ritmo de Riff e conseguiu agarrá-lo pelo cinto. —
Estou disposta a fazer o que qualquer um dos outros faz.
— É sério? — perguntou Riff.
— Faça um teste comigo.
— Vamos atrás de mulheres — disse Riff, a voz alta o
suficiente para chegar a seus companheiros. — Todos nós. Até
Baby-John. Vamos transar. Quem você recomenda?
O soluço que explodiu dos lábios de Anybodys foi abafado
por uma gargalhada dos outros. Sem refletir, ela tentou dar um
soco em Riff, mas ele se protegeu do golpe com o braço
esquerdo, e Baby-John correu de novo para pegar na bunda dela.
Lágrimas escorreram pelo seu rosto sujo, e a frustração a fez
procurar uma pedra, um pedaço de pau, uma garrafa, qualquer
coisa, mas não havia nada por perto; cercada pelos ruidosos Jets,
ela se virou para se lançar no meio do tráfego. Correu entre
rodas e para-lamas, alheia aos toques inesperados de buzina, até
chegar à outra calçada.
— Nada mau — comentou Action, elogiando Riff. — Tony
nunca se livrou dela tão depressa quanto você.
O Coffee Pot era uma pequena lanchonete com uma única janela
e luzes muito fortes, mais do que o necessário. Mas era essa
iluminação intensa que permitia aos policias terem, de suas
viaturas, uma visão do interior, porque o proprietário do Coffee
Pot já não aguentava mais que seu estabelecimento fosse usado
como local de treinamento para ladrõezinhos baratos.
Os cardápios presos nas paredes brancas esmaltadas estavam
cobertos por uma grossa camada de gordura, o que dificultava a
leitura de alguns dos pratos mexicanos, porto-riquenhos e
americanos.
Na frente do longo balcão havia uma fileira de bancos altos
com assentos de couro já gasto pelo uso, deixando à mostra o
estofado de algodão sujo. Um balconista cansado lavava copos
de café como um sonâmbulo, e, sentados nos bancos altos, um
homem negro bem-vestido e sua acompanhante ouviam a
música alta e estridente que saía do jukebox. Quando Riff abriu a
porta com um chute, o balconista e o casal de clientes ergueram
rapidamente os olhos. Com um movimento suave, o homem
deslizou algumas moedas pelo balcão, segurou a mulher pelo
braço e conduziu-a para a rua e para longe de possíveis
confusões.
— Relaxe — disse Riff para o balconista assustado, mostrando
uma nota de um dólar. — Café para todos. Alguém nos procurou
por aqui?
O balconista se arrastou em direção à cafeteira alta que havia
anos não era polida.
— Não, ninguém, Riff. Escutem, companheiros, o simples fato
de estar vivo já me traz a dose de problemas que consigo
suportar. Não me tragam mais nenhum.
Impaciente, Riff estalou os dedos.
— Queremos café... sem creme, sem açúcar, sem enrolação.
— Quero açúcar — protestou Baby-John. — Gosto de açúcar.
Com o cotovelo, Ice empurrou Baby-John para o balcão, e o
mais jovem dos Jets esfregou o braço e se sentou em um dos
bancos. Em seguida tirou um gibi do bolso, abriu-o e começou a
ler com interesse. Como membro júnior, ele precisava aprender a
ser paciente e manter a boca fechada; e o que ele fazia agora
provaria a Ice que não era idiota a ponto de não ter entendido o
recado.
— Onde eles se enfiaram? — perguntou Ice, e apontou para
um relógio na caixa registradora. — Se vamos ter um conselho
de guerra hoje à noite, eles já deviam estar aqui.
Riff direcionou o olhar para o balconista assustado, que se
virara de repente para eles.
— Você é muito engraçado, Ice. E os cafés? — provocou ele. —
Por que tanta demora?
— Estão chegando. Não consigo preparar mais de um por vez.
— O Super-Homem seria capaz de encher todos os copos tão
depressa que nem daria para vê-los. — Baby-John falava como a
autoridade que era. — Quer saber mais uma do Super-Homem?
Ele não usa facas. Também não precisa de pistola atômica. Deixa
isso para os inimigos. Ele só usa isto — afirmou, e mostrou um
punho cerrado.
— Não me diga! — A-Rab parecia interessado. — Ele derruba
paredes e tudo?
— Digo a você que sim! — confirmou Baby-John. — Ele é
muito superior ao Batman. — Apontou para a porta. — Ei,
tranque tudo logo antes que entre a Sra. Casa Mal-Assombrada.
— Ouvi o que você falou, porco fedorento — disse Anybodys,
fechando a porta ao entrar. — Tenho tanto direito aqui quanto
vocês. E quero provar isso.
— Vá lá para trás e se sente — ordenou Riff. Ele estava
ocupado demais aquela noite para se preocupar em enxotar
Anybodys. — Traga um café para ela — pediu ao balconista.
— Claro, claro — concordou o homem, mas logo olhou para a
rua, apreensivo. Malditos policiais, nunca estavam por perto na
hora certa. — Devo fechar daqui a pouco.
Gee-Tar fez que não com a cabeça.
— É contra a lei recusar clientes que pagam em dinheiro. Qual
é o problema, amigo, não gosta dos nossos modos? Agora
termine de servir os cafés e volte para a sua pia até chamarmos
você de novo.
— Não estou atrás de confusão — alegou o balconista —,
então por que me provocam?
— Não estamos provocando ninguém — retrucou Riff, e
voltou a consultar o relógio. Não conseguira localizar Tony, e
Action ainda não tinha dito nada, só olhado, o que era pior. —
Bernardo que deu a ideia de nos encontrarmos aqui. Conhece
Bernardo?
— Mais ou menos — respondeu o balconista.
— Não importa quem ele conhece — gritou Anybodys.
Riff fez um gesto para que ela se calasse.
— Dê alguma coisa para ela comer — pediu. — Por que essa
cara de esfomeada? Você nunca vai para casa?
— A resposta a essa pergunta é não — disse ela.
Baby-John ergueu os olhos de seu gibi, irritado porque
Anybodys tinha lido o diálogo do balão em voz alta.
— Então você devia estar lá fora, andando pelas ruas como
sua irmã.
Os nós dos dedos de Anybodys atingiram Baby-John no lado
da cabeça.
— Vamos — desafiou ela —, diga ao Super-Homem que bati
em você e que vou fazer o mesmo com ele.
O balconista tinha servido o último café e dado a Anybodys
um pão doce em um guardanapo de papel.
— Preciso de mais sessenta centavos — disse ele. — E não
estou cobrando o imposto.
— Fique com o troco, meu bom rapaz — disse Mouthpiece,
amassando uma nota de um dólar e jogando-a no balcão.
— Não vi Bernardo a noite toda — afirmou o balconista. — Se
quiser minha opinião, acho que ele não vai aparecer. Na verdade,
ele quase nunca vem aqui, já que deve cinco dólares ao patrão.
— Ele vai aparecer — retrucou Riff, soprando pela borda do
copo. — Ele escolheu este território neutro para nossa reunião
do conselho. Queremos debater com os porto-riquenhos sobre o
lugar deles na sociedade. Quer participar?
— Desculpe, eu já tinha marcado de me embebedar, ser preso
e mandado para a casa de correção por trinta dias — respondeu
o balconista. — Por isso, sem querer ofendê-lo, preciso recusar
seu convite. Mas posso dar um conselho? Vá para casa e deixe
isso para lá.
— Não conseguimos ouvir você — disse Diesel com as duas
mãos nos ouvidos. — Que tipo de armas acha que ele vai
escolher?
— Pergunte a Bernardo — respondeu Riff, descendo do banco
para ir abrir a porta —, porque aí vem ele.
Baby-John deixou o gibi de lado, e Anybodys girou seu banco
para apoiar os cotovelos sujos no balcão às suas costas. Com
gentileza exagerada, Riff abriu a porta e fez um gesto para que
Bernardo e os Sharks entrassem.
Bernardo olhou ao redor, convenceu-se de que nenhuma
emboscada seria possível e, com um movimento de ombro,
indicou aos Sharks que entrassem com ele no pequeno
restaurante.
— Espero que não estejam aqui há muito tempo — disse
Bernardo, quebrando o silêncio.
— Aproveitamos o tempo — retrucou Riff. — Quer um café?
— Vamos ao que interessa.
Riff olhou para o relógio, depois para Action.
— Bernardo ainda não aprendeu as regras para uma
convivência civilizada.
— Deixa de papo furado — rebateu Bernardo —, também não
gosto de você. — Ele se virou para o balconista. — Apague
algumas dessas luzes e vá fazer alguma coisa lá nos fundos.
— Escute, não quero confusão aqui dentro — preveniu o
homem.
Irritado, e para provar que era tão durão quanto Bernardo,
Riff contornou o balcão e desligou a luz antes de empurrar o
balconista para trás.
— Você tem trabalhado demais. Relaxe. Não vamos criar
confusão, mas também não queremos que nos cause problemas.
E fique longe desse telefone!
— O telefone público fica lá na frente — disse o balconista. —
E faça-me um favor: mantenha sua palavra e não crie confusão
aqui dentro.
Riff não se deu ao trabalho de responder quando voltou para
trancar a porta da frente e olhar de novo para a rua. Tony não
estava por perto. E se Bernardo já quisesse começar naquela
noite? Ele teria que aceitar.
— Bernardo, temos um desafio para vocês. Total e definitivo.
Aceitam?
— Aceitamos — respondeu Bernardo, e esperou todos, que
concordavam em coro, terminarem de responder. — Quais as
condições?
— As que quiserem. — Riff abriu as mãos. — Deixamos você
escolher.
— Vocês que começaram isso — provocou Pepe.
— E, por sua causa, estamos concluindo — rebateu Riff para
Pepe e Nibbles. — Vocês dois são marginais tão baixos que
atacam um menino no cinema. E não esquecemos o que fizeram
com ele, o lance do banheiro e tudo o mais.
Bernardo não conteve um sorriso.
— Um banho, do tipo que fosse, só faria bem a ele. E, afinal,
quem foi que me atacou no dia que me mudei para cá?
— Quem pediu para você se mudar para cá?
— Meus pais — respondeu Bernardo. — Você pode dizer o
mesmo?
— Cucaracho de merda, vou ensinar umas boas maneiras para
você — retrucou Action, erguendo-se do balcão.
Bernardo afastou os pés em postura de combate.
— Estou esperando, filho da puta desgraçado. Mas acho que
você não vai ser um bom professor.
— Esperem. — Riff se colocou entre eles. — Aceitam ou não?
— Aceitamos — respondeu Bernardo. — Marque a hora.
— Você marca — devolveu Riff.
Bernardo pensou por um momento.
— Amanhã à noite?
— Perfeito! — Riff estava radiante; agora poderia encontrar
Tony. Para selar o compromisso e mostrar aos Jets como um
verdadeiro líder faz, estendeu a mão para Bernardo. — Onde vai
ser? No parque ou no rio?
— Que tal embaixo do viaduto? — sugeriu Bernardo,
apertando a mão de Riff.
Com a cabeça, Riff confirmou que aprovava o campo de
batalha.
— E as armas?
— Você escolhe.
Quando estava pronto para dar os detalhes que provariam que
os Sharks estavam preparados para encarar qualquer arma que
os Jets escolhessem, Bernardo viu alguém do lado de fora da
lanchonete e reconheceu o maldito polaco que tinha dançado
com sua irmã. Foi até a porta e abriu-a para deixar Tony entrar.
— Seu chefe está aqui — disse ele, provocando Riff e tendo a
certeza de que havia conseguido. — Precisamos repetir tudo?
Tony olhou pela janela da lanchonete para o semáforo que
piscava na esquina. Estava vermelho agora, como um alerta de
perigo e um aviso para que reagisse devagar. No final do
quarteirão, as letras quebradas de um letreiro em néon acendiam
e apagavam com intermitência, e o silêncio da rua foi quebrado
por uma explosão de risadas dentro de um carro que passava.
— Não precisam repetir nada — afirmou Tony. — A única
coisa que me interessa é saber o que vamos usar.
— Talvez facas e pistolas — sugeriu Riff, porque queria
impressionar Tony com sua coragem.
— Foi o que pensei — respondeu Tony. — Exatamente o que
eu esperaria de um bando de frangotes.
— Quem você está chamando de frangote? — Action avançou
para encarar Tony. — Pode falar.
— Cada um conhece os seus. — Bernardo se levantou para
enfrentar o polaco. — Por isso imagino que não estava falando
com a gente.
Mais cedo naquela noite, Tony havia se escondido dos Jets.
Agora, por razões que sabia que eles não conseguiriam entender,
os procurava. Mas fazia isso tanto por Bernardo quanto por sua
irmã. Se fosse de algum modo possível, ele queria provar a
Bernardo que tinha o direito de ver Maria, que havia
abandonado os Jets porque não se interessava mais em brigar
com os Sharks, que havia crescido e era um homem que
compreendia o que significava estar apaixonado.
— Estou chamando todos vocês de frangotes — disse, por fim.
— Por que precisam usar tijolos, facas ou pistolas? Qual é o
problema? Estão com medo de ficar cara a cara? — Mostrou-lhes
os nós de seus dedos brancos e rijos. — Medo de um corpo a
corpo?
— Que tipo de briga é corpo a corpo? — perguntou Baby-John.
— Pelo menos lixo precisamos poder usar.
— Deixamos nas mãos deles a escolha das armas — explicou
Riff a Tony. — De qualquer jeito, vamos usar nossos punhos,
então agora é com eles.
— Vocês dois estão tirando o corpo fora — continuou Tony.
Ele precisava falar logo tudo que queria enquanto mantinha a
vantagem psicológica. — Uma briga limpa resolve qualquer
coisa. Isto é, se vocês tiverem coragem de arriscar. E se cada lado
tiver um bom candidato disposto a lutar.
— Eu estou disposto — disse Bernardo depressa, e seus olhos
indicavam que ele esperava que Tony representasse os Jets. —
Que seja uma briga limpa.
— Nardo — gritou Pepe em desespero —, você quer dizer que
o resto de nós vai só ver?
— Não vou ficar parado só vendo! — protestou Action,
enquanto amassava seu copo de café vazio contra o balcão. —
Não vou mesmo!
— Os chefes decidem — disse Riff para Action, e logo se virou
para Bernardo. — Tudo bem, briga limpa, então. Fica combinado
assim? — disse ele, sugerindo que apertassem as mãos.
— Não precisamos disso — afirmou Bernardo. — Você já tem
minha palavra, e por que esperar até amanhã à noite quando
podemos ir agora mesmo? — Fez uma pausa e olhou para Tony.
— Estarei à sua espera embaixo do viaduto.
— Espere aí — disse Riff, ao mesmo tempo que gesticulava
para Diesel dar um passo à frente. — Este é o nosso homem com
os melhores punhos. E amanhã à noite está ótimo para nós.
Sem conseguir esconder sua decepção, Bernardo apontou para
Tony.
— Mas pensei...
— Vocês escolhem quem? — perguntou Riff.
— Eu mesmo — respondeu Bernardo enquanto olhava para
Tony e decidia que Maria precisava casar com Chino antes do
planejado. Eu represento os Sharks.
Diesel uniu as mãos acima da cabeça.
— Fico maravilhado com a honra.
— Eu quis dar um aperto de mão para confirmar — disse Riff
a Bernardo. — Mas vocês não quiseram. Isso significa por acaso
que estão dando para trás?
Action se lançou à frente para receber atenção dos Sharks.
— Escute, Bernardo, se quiser mudar de ideia, aqui está um
homem disposto a ouvir.
— Cale a boca, Action — interveio Riff no mesmo instante. —
Temos a visita de um cavalheiro. Abra a porta.
O detetive Schrank entrou na lanchonete na hora em que o
balconista voltava dos fundos, e seu olhar triste passou dos
rapazes para o detetive.
— Boa noite, detetive Schrank. Minha ideia é fechar assim que
os meninos acabarem.
Schrank se inclinou sobre o balcão para pegar do bolso da
camisa do balconista um maço de cigarros quase cheio.
— Posso? — disse o detetive.
— Por que não? Tem sido assim minha vida inteira.
Schrank acendeu o cigarro devagar, deu várias tragadas
longas e jogou o fósforo queimado no copo de café mais
próximo, que era o de Tiger.
— É uma regra minha sempre fumar no banheiro — começou
ele devagar. — Mas qual a diferença entre lá e um lugar cheio de
mestiços, hein, Riff?
Fez uma pausa e viu que o movimento de Bernardo em sua
direção havia sido percebido por Riff, e esse gesto comprovou o
que Duas Caras lhe dissera, que os garotos teriam uma briga e
que aquele era um conselho de guerra.
— Sumam daqui, cucarachos — disse ele para Bernardo, com
um leve sorriso. — Ah, sim, este é um país livre e não tenho o
direito de mandar vocês embora. Mas tenho um distintivo. A
vida é dura em qualquer lugar. Agora façam o que mandei. —
Apontou com o cigarro na direção da porta. — Sumam daqui. E
isso significa sumir da rua.
Schrank observou os Sharks se afastarem em silêncio e
rodearem Bernardo. Antes que Krupke conseguisse sair da
viatura, os Sharks se separaram e correram em todas as direções.
Seria impossível segui-los, e Schrank fez sinal para que Krupke
continuasse no banco do motorista.
— Muito bem, Riff, onde vai ser a briga?
Ele esperou pela resposta, fez um sinal com a cabeça para
vários dos Jets e viu que todos olhavam para o outro lado.
Quando deu um passo na direção de Baby-John e Anybodys, os
dois se concentraram em uma aventura no gibi.
— Qual é? Sei que americanos normais não se misturam com
os dentes de ouro a não ser para uma briga. No rio? No parque?
— E, quando continuou, a voz estava mais tensa, mais mordaz:
— Estou com vocês. Quero esta área limpa. Vocês também.
Então, por que não nos ajudamos? Onde vai ser a briga? Na
quadra? No terreno baldio?
Ele mencionou outro campo de batalha e de novo esperou
pela resposta.
— Arruaceiros de merda! — esbravejou com raiva. — Eu devia
arrastá-los para o xadrez agora mesmo e esmagar suas cabeças
de tanta porrada! Vocês e a laia de imigrantes vigaristas que
pariram vocês! Como está a tremedeira de seu pai, A-Rab? Como
vão as coisas no colchão de sua mãe, Action? Muito movimento?
Schrank girou o corpo lentamente apoiado nos calcanhares
enquanto sua mão direita deslizava para o cassetete. Preparado,
esperou que Action saltasse em sua direção, mas Riff e Gee-Tar
correram para contê-lo.
— Podem deixar, parceiros, podem deixar — assegurou
Schrank. — Porque qualquer dia desses não haverá ninguém
para segurá-lo. — Com os olhos nos rapazes e a mão no
cassetete, Schrank se dirigiu para a porta. — Vou descobrir onde
será. Mas tratem de acabar uns com os outros antes de eu
chegar. Porque, se não fizerem isso, eu farei.
Os Jets esperaram o carro de polícia ir embora para então
deixar a lanchonete. Na porta, Riff aguardou Tony, mas o amigo
se sentou ao balcão sujo, curvado sobre as mãos unidas e tensas.
— Vem com a gente, Tony? — perguntou Riff.
Tony permaneceu imóvel por um instante, depois girou
devagar no banco.
— Por que não me escolheu para enfrentar Bernardo?
— Porque Diesel não se incomoda com uma briga suja. E você,
Tony, parece que não conheço mais você. Mais uma coisa...
— Sim?
— Se for homem a homem, Diesel é sacrificável. E você e eu
conhecemos Bernardo. Não confio naquele palhaço. — Riff
interrompeu o que dizia e fez uma careta para a sua mão direita
antes de limpá-la na perna da calça. — Pode me imaginar
apertando a mão de algum Shark, especialmente a dele?
— Posso imaginar.
Riff se conteve.
— Outra coisa, Tony, você é meu amigo e o último cara que
quero ver machucado. Mas se Diesel for derrotado, ainda
podemos apelar para você. O que acha?
— Vá para o inferno.
— Faço qualquer coisa por um amigo. Me diga uma coisa —
Riff inclinou a cabeça —, como está aquela irmã de Bernardo?
Acha que vai conseguir dar uns amassos com ela? Cara, isso não
ia ser o mesmo que ferrar com Bernardo? — insinuou, e fez um
gesto obsceno com o braço direito.
— Sabe o que tenho a dizer para vocês? — perguntou Tony. —
Para Bernardo e para você? O inferno é bom demais para vocês
dois.
— Qual é o problema, cara? — gritou Riff. — Isso quer dizer
que está nos descartando?
Tony se levantou do banco.
— Significa o que você quiser. — Sua voz vacilava. — Agora,
dê o fora daqui antes que eu faça um favor a Schrank e acabe
com você.
CAPÍTULO SEIS
Riff jogou fora sua lata de cerveja, secou os lábios e olhou para o
relógio mais uma vez. Eram dez para as nove, e estava na hora
de começar.
— Muito bem — orientou os tensos e nervosos Jets —, vamos
nos espalhar e seguir para o viaduto. E, pelo amor de Deus,
cuidado com Schrank. Ele andou atrás de mim o dia inteiro.
Os Jets desapareceram na escuridão. Na rua seguinte,
Bernardo dava instruções semelhantes aos Sharks.
— Você precisa voltar para casa esta noite? — perguntou ele a
Anita.
Ela pressionou o corpo contra o dele e girou os quadris
devagar.
— Falei para minha mãe que faria companhia a Maria. Ela
disse que tudo bem. Mas para onde vamos?
— Ainda vamos ver — respondeu ele. — Agora preciso correr.
— Tome cuidado, Nardo. E não demore. Vou ficar esperando
aqui mesmo.
Bernardo acenou de novo e desceu a rua. Um quarteirão
adiante, parou para verificar a mola de sua faca retrátil. O clique
instantâneo que ouviu quando a lâmina saltou e travou na
posição correta lhe deu uma sensação de confiança. Com essa
faca ele apunhalaria com vontade um mundo estranho.
Porque a faca o tornava tão grande quanto qualquer um,
maior até; porque ela podia reduzir qualquer um ao seu
tamanho, cortar alguém em pedacinhos, que ele podia chutar
para o lado depois. Bernardo guardou a faca.
Ele não planejava usá-la aquela noite, mas se os Jets achassem
que ele não estava preparado para agir com calma, se
começassem a fazer graça, teriam uma grande surpresa.
Dezessete centímetros de surpresa.
Bernardo esperou um carro passar e atravessou a rua em
disparada. Cravou os calcanhares no barranco e começou a
descer devagar, com cuidado, porque não era hora de torcer o
tornozelo. Seus olhos estavam acostumados à escuridão, e ele
podia ver que, apesar do calor, alguns Sharks usavam jaquetas
por cima das camisetas.
Identificou-se com um assobio, ouviu Chino e Pepe chamarem
seu nome e um dos Jets comentar que o chefe cucaracho tinha
por fim aparecido. Cucaracho... Algum dia, quando tivesse
tempo, mostraria a eles tudo que um cucaracho era capaz de
fazer. Cara, o sangue jorraria de verdade.
— Cada um para um lado — ordenou aos Sharks. — E
mantenham os olhos em mim. Se eles começarem alguma coisa...
— Estamos de olho, Nardo — disse Toro. — Não confiamos
nem um pouco neles.
— Vou te dar cobertura — prometeu Chino quando Bernardo
começou a tirar a camisa.
— Ótimo. — Bernardo flexionou os músculos das costas e dos
ombros e conferiu a faca no bolso. — Vamos.
— Nosso homem está pronto — gritou Chino.
— O nosso também — gritou Riff de volta. — Que eles se
aproximem e se cumprimentem.
Bernardo cuspiu na escuridão.
— Para quê? — perguntou.
— É assim que se faz — disse Riff, lacônico, depois de se virar
e, com os Jets, rir dos porto-riquenhos ignorantes.
— Ah, mais uma coisa da vida civilizada — debochou
Bernardo. — Olhem só... — Apontou para Diesel e Riff, mas
incluiu todos os Jets e qualquer um igual a eles. — Não me
interesso pela merda de fantasia que vocês têm neste país. —
Vocês odeiam cada um de nós...
— Você está certíssimo — interrompeu Riff.
— ... e nós odiamos vocês também. Não bebo com quem odeio
— Bernardo cuspiu de novo —, e por isso não aperto a mão de
quem odeio.
Com os punhos erguidos e preparados, avançou com cautela.
— Tudo bem — disse Riff —, se é assim que você quer. — O
garoto deu um passo para o lado e se voltou para Diesel. — Ele é
todo seu.
Com a expressão cada vez mais sombria e abrindo e fechando
o punho direito, Diesel se aproximou devagar. Ele era mais
pesado do que Bernardo, e a luz não estava tão boa quanto ele
gostaria; mas se sentia confiante de que conseguiria conter
qualquer golpe que Bernardo tentasse. Ainda assim, manteve a
cautela, pois, embora o cucaracho fosse leve, tinha fama de
atacar com violência. Bernardo tinha conquistado uma boa
reputação nas brigas de rua, e havia quem dissesse que, se
conseguisse eliminar seu ódio interior, manter a calma e o
profissionalismo, poderia no mínimo lutar como um bom peso
médio na televisão, porque conseguia bater como um meio-
pesado.
Diesel tentou um golpe com a esquerda, que o cucaracho
evitou dando um passo para trás antes de contra-atacar com sua
própria esquerda, da qual Diesel desviou sem dificuldade. Diesel
lançou a esquerda de novo, fingiu que usaria a direita e recuou a
cabeça a tempo de evitar o punho de Bernardo, que apenas roçou
sua orelha.
O cucaracho tentaria um nocaute, o que significava que ele
não trabalharia o corpo, e isso era perfeito para Diesel, porque
Bernardo lutaria com as mãos no alto. Se conseguisse acertar um
soco forte no estômago de Bernardo, ele se enrolaria como uma
rosca, e um gancho o faria erguer o tronco de novo e se
endireitar para levar um golpe duro na boca, que afrouxaria pelo
menos três ou quatro de seus lindos dentes brancos.
Quando recebeu o golpe curto de esquerda de Bernardo no
ombro, Diesel contra-atacou com sua própria esquerda nas
costelas do oponente. O soco perdeu força porque Bernardo
tinha girado na hora, mas não antes de golpear com a esquerda o
lábio de Diesel, que logo começou a inchar.
O americano era durão, Bernardo sabia, e quando sua mão
acertou a boca de Diesel, ele teve vontade de gritar por aquela
vitória. Com os pés seguros e confiantes, Bernardo se
movimentava ao redor de Diesel, aproximando-se para acertar
um golpe, levar outro, desviar-se e recomeçar.
Lutar era como uma dança; tinha certos passos e ritmos que,
uma vez aprendidos, eram executados com naturalidade, sem ser
preciso pensar neles. Ele giraria um pouco mais no sentido
horário, distribuindo socos diretos e ganchos, fintando e se
esquivando, para então começar a circular no sentido anti-
horário. Isso poderia derrubar Diesel e fazê-lo baixar as mãos
por um segundo, que era o tempo necessário para Bernardo
desferir o golpe certeiro.
Bernardo ouviu alguém chamar, cambaleou para o lado, e
então percebeu que Diesel também havia recuado.
— Esperem!
— É Tony — gritou alguém. — Antes tarde do que nunca.
Tony respirou fundo quando se colocou entre eles.
— Qual é o seu problema? — perguntou Riff, dando um passo
à frente.
— Calma! Todos vocês! — ordenou Tony, aproximando-se
para tentar impedir que Bernardo e Diesel trocassem socos.
— Cara, você está encrencado — vociferou Riff, explodindo de
raiva. — O que você está fazendo? É melhor falar logo, Tony.
À espera, atento, respirando através dos lábios entreabertos,
Bernardo socava a mão direita na palma da esquerda.
— Talvez ele tenha criado coragem para lutar as próprias
batalhas — observou, e sorriu quando os Sharks riram de sua
brincadeira.
Tony também riu, e o sorriso continuou em seus lábios
quando ofereceu a mão a Bernardo.
— Não é preciso criar coragem se tem uma batalha, Nardo.
Mas nós não temos.
Bernardo bateu na lateral da mão de Tony antes de empurrá-lo
com força e jogá-lo no chão.
— Para você e essa ralé aí, meu nome é Bernardo. E a partir
desta noite, vai ser Sr. Bernardo.
— Chega! — gritou Riff enquanto ajudava Tony a se levantar e
fazia sinal para que os Jets se acalmassem. Ele tinha a situação
sob controle. — O trato é uma briga limpa entre você e Diesel.
Bernardo avançou e deu um leve tapa com as costas da mão
no rosto de Tony.
— Fique calmo, o seu está guardado para mais tarde — avisou
ele a Diesel. — Primeiro vou pegar o bonito aqui para um
aquecimento — provocou ele, dirigindo-se a Tony, que estava
massageando a bochecha. — Qual é o problema, bonitão? Está
com medo? Amarelou, frangote?
Riff puxou Tony para trás dele.
— Agora chega — avisou ele a Bernardo.
Tony, no entanto, recusava-se a se alinhar com os Jets.
Percebia agora a gravidade do erro que havia cometido.
Teria sido melhor, apesar do que Tony dissera ou prometera a
Maria, deixá-los acertar as contas. Se Diesel tivesse espancado
Bernardo, tudo ficaria resolvido, e ele poderia então ter feito
uma excelente jogada oferecendo-se para enfrentar Diesel para
provar a Bernardo que queria a paz entre eles.
Se Nardo tivesse espancado Diesel, Tony poderia ter proposto
um aperto de mão ao futuro cunhado, e se Nardo tivesse
recusado e o repelido, teria tentado um golpe certeiro em
Bernardo. Depois, quando se recuperasse, ele poderia ter
aceitado o aperto de mão ou o repelido de novo.
Agora era tarde demais para qualquer das opções, e Tony
estremeceu ao perceber a frieza e o ódio de Bernardo. Não havia
mais nada que ele pudesse fazer. Era tarde demais. Por Maria,
porém, precisava tentar; estava disposto até a se humilhar.
— Bernardo, você entendeu errado. — Tony mantinha a voz
baixa e firme.
Bernardo negou, meneando a cabeça.
— Não, eu entendi certo. Você é medroso, covarde.
— Por que não consegue entender? — insistiu Tony, e fez um
sinal para que Action continuasse de boca fechada.
Bernardo se aproximou-se com uma das mãos em concha
sobre a orelha, enquanto com a outra dava um peteleco no nariz
de Tony.
— Não consigo te ouvir, frangote — provocou ele. — O que
disse? A-Rab quer que você me bata. Mas você é covarde demais.
— Bernardo, não.
Satisfeito consigo mesmo, Bernardo girou ao redor de Tony
para tocar seu nariz, seu queixo, dar um tapa em sua orelha,
fazer uma pirueta como se fosse um toureiro.
— Não posso chamá-lo de toro porque ele é medroso demais
— disse aos Sharks, que se divertiam, admirados. — Vamos,
frangote. — Bernardo insistia em insultar Tony. — O que tem a
dizer antes de eu começar a fazer você cacarejar de medo?
Era demais para Riff. Ele pensou, envergonhado, em todos os
momentos, os dias, as semanas e os meses que passara
defendendo Tony, seu melhor amigo, dos ataques de Action e
Diesel, e até de Baby-John e Anybodys. Não fazia sentido.
Nenhum homem branco com um pouco de orgulho aceitaria o
que aquele cucaracho estava fazendo. Tony estava maluco ou
algo assim para ouvir calado os desaforos de um maldito
cucaracho? Talvez Tony não sentisse vergonha, porque alguém
doente da cabeça ou sem coragem não sentiria, mas Riff, sim.
Tocou o bolso de trás e sentiu o volume tranquilizador de sua
faca retrátil.
Bernardo deu mais um tapa em Tony.
— Frangote covarde...
— Pelo amor de Deus, Tony! — gritou Riff, angustiado. —
Filho da puta idiota, você está louco! Não deixe ele fazer isso!
— Acabe com ele, Tony! — gritou Anybodys.
Baby-John pulava sem parar.
— Acabe com ele!
— Ele não acaba com ninguém — zombou Bernardo. — Seu
merda, seu cretino...
Com um grito de raiva, Riff empurrou Tony para o lado e
saltou na garganta de Bernardo. Conseguiu desequilibrá-lo, em
seguida o puxou do chão, colocou-o de pé e esmurrou sua boca
com o punho fechado.
Bernardo sentiu a boca se encher de sangue, mas baixou a
cabeça para atingir Riff direto no rosto, e quando este perdeu o
equilíbrio e cambaleou para trás, Bernardo sacou a faca.
Enquanto limpava a boca, viu o brilho da lâmina de Riff. Era
isso, era assim que devia ser. Mandou que os Sharks se
afastassem, era aquilo que ele queria. Com o canto do olho, viu
Tony avançar, mas Action e Diesel o seguraram.
Competindo por posição, fintando, movendo as facas em
círculos defensivos, os dois líderes diminuíram a distância entre
si. Ambos tinham experiência suficiente para saber que esse tipo
de luta nunca durava muito. Podia acabar com um só golpe;
nunca precisava de mais de dois ou três.
Ao redor deles o espaço se estreitava, e quando Diesel e
Action avançaram, relaxaram o controle sobre Tony por um
momento, que foi o tempo suficiente para ele se soltar.
Tudo aconteceu muito rápido, como um borrão. Ele ouviu Riff
gritar para que voltasse, desgraçado, e quando Riff gesticulou
para enfatizar a ordem, abriu bem o braço esquerdo. Isso
proporcionou os poucos segundos de que Bernardo precisava
para se aproximar depressa, levantar a faca em um violento arco
mortal e desferir um golpe que terminou no corpo de Riff, logo
abaixo do coração.
Riff já estava morto antes mesmo de cair e, com um grito de
angústia, Tony tirou a faca de sua mão inerte e avançou com
tamanha velocidade que Bernardo foi apanhado desprevenido.
Incapaz de mover os pés corretamente para se defender, toda a
extensão da lâmina perfurou a lateral de seu corpo, e ele,
moribundo, foi ao chão.
O estertor e o suspiro da morte, a terra cada vez mais escura,
as formas débeis de repente desprovidas de ódio, violência e
vida, pareciam terríveis demais para suportar. Então o som de
uma sirene, o chiado dos pneus de um carro de polícia que
parava acima deles e o facho de um holofote explorando o
acostamento do viaduto dispersaram os Jets e os Sharks.
Diesel segurou o braço de Tony e, enquanto corria com os
olhos cegos pelas lágrimas e sentindo seu mundo desabar, Tony
chamou o nome dela repetidas vezes, sem parar, mas só teve
como resposta o som descontrolado e desesperador da sirene.
CAPÍTULO SETE