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134-Viva Saturno

Como já devem ter reparado, sou um amante da mitologia grega. Através desta mitologia, os gregos
explicavam a natureza e tudo o que a rodeava. Tal como hoje, procuravam a explicação para as coisas.
Assim, tal como os cristãos, eles têm a figura de um deus criador de todas as coisas, o Caos a primeira
divindade que ordenou um universo todo caótico, passe a redundância. Só depois deste ordenamento é que
aparece o Céu (ou Urano) e a Terra (ou Gaia) de cuja união nasceram os Titãs. Mas Urano, com medo de ser
destronado, à medida que iam nascendo, enviava estes filhos de volta para o seio da Terra. Com raiva, por
ficar sem os filhos, salvou um deles, de nome Cronos (ou Tempo) que, a mando da mãe, lhe cortou os
testículos tornando-o estéril. Diz a história que do sangue que caiu sobre a terra, nasceram as deusas da
vingança, chamadas Erínias ou Fúrias. Do sangue que caiu no mar nasceu Afrodite ou Vénus, a deusa do
amor.
Ora este deus do tempo, herdou do pai o receio de ser também ele destronado e começou a devorar os
filhos que foi tendo com a mulher, a deusa Réia. Esta, à semelhança da sua sogra, conseguiu enganar o
marido e salvou alguns deles. Um deles foi Zeus ou Júpiter que venceu o próprio pai e o destronou
expulsando-o. A mitologia romana transformou o Cronos grego em Saturno, uma divindade agrícola, que,
depois de expulso, reinou em Itália e com sucesso, já que durante o seu reinado, os itálicos viveram
pacificamente, sem quaisquer guerras, sempre com boas colheitas, onde não havia propriedade privada,
nem escravos e senhores. Uma verdadeira idade de ouro em que toda a gente vivia bem e em harmonia.
É no culto a este deus agrícola, que os romanos comemoravam o fim da época das colheitas e o início do
Inverno com a esperança que o novo ano agrícola, quando chegasse, fosse próspero. Toda esta introdução
mitológica só serviu para contextualizar este deus Saturno e as festas que lhe dedicavam, a que chamavam as
Saturnália.

Estas Saturnálias iniciavam-se primitivamente a 19 de Dezembro, mas com a reforma do calendário por Júlio
César que acrescentou 2 dias a Dezembro, passaram para o dia 17. No espírito de Saturno, as pessoas
modificavam comportamentos: os escravos eram substituídos pelos seus donos nas tarefas que lhes
competiam, os jogos de azar, proibidos durante o ano, eram permitidos, visitavam-se os amigos e familiares
com trocas de presentes e havia um banquete público. Os tribunais fechavam o que permitia, de certa forma,
a transgressão de valores, obrigatórios durante o ano. Escravos e senhores, neste período, ficavam em
igualdade de direitos.

Não é preciso fazer um retrato para vermos nestes costumes romanos antigos uma semelhança flagrante
com o afã da compra de presentes para a troca na véspera de Natal, festa que os romanos chamavam de Sol
Invencível, em latim: Natalis solis invicti. No fundo, quando a Igreja adoptou este dia 25 para comemorar o
nascimento de Cristo, por arrasto, trouxe também estes costumes antigos, fazendo deste período o mais
aguardado do ano, um período que chama a reunião da família, e não esquecendo o banquete romano,
agora transformado em Ceia de Natal.

Como só vou regressar a este programa no próximo ano de 2024, deixo aqui os meus votos de festas felizes
que incluem a passagem para o novo ano. Para vincar estes meus votos, ofereço-vos esta canção que Amália
Rodrigues fez ao Menino Jesus que foi sempre a referência da minha infância já que o Pai Natal ainda não
tinha sido importado dos países nórdicos.

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