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40-A Missa do Burro-I

Hoje quero falar-vos de um costume religioso que durou séculos até o Concílio de Trento, no século XVI acabar com
ele: a Missa do Burro. É conhecida também por outros nomes: Missa dos Batoteiros, Missa dos Doidos, Missa dos
Estúpidos e até Festa do Báculo ou da Verga.
Sabemos que o cristianismo nasceu dentro do império romano. Quer isto dizer que os primeiros cristãos não eram
indiferentes aos costumes populares romanos que, mais tarde, acabariam por cristianizar naquela máxima do papa
Gregório Magno: se não conseguirem acabar com um hábito pagão, cristianizem-no.
Nas Festas de Inverno, os Romanos divertiam-se com as chamadas Saturnalia, ou festas em honra ao deus Saturno
que, segundo eles, tinha governado no tempo em que os homens eram todos iguais. As festas iniciavam em 17 de
Dezembro e prolongavam-se por uma semana até ao dia 25. Assim, nesse período, os escravos ganhavam os mesmos
direitos que os senhores, vestindo-se de igual e comendo com eles à mesa. Permitiam-se jogos e outros
divertimentos proibidos durante o resto do ano. Havia também troca de presentes. No fundo, existia uma espécie de
reversão de valores: o que não era permitido, nestes dias era até aconselhado.
O Natal cristão só foi fixado no tempo do imperador Constantino, no século IV. O nascimento não era valorizado nem
motivo de comemorações. A morte, sim, e com alguma lógica: uma pessoa só faz coisas em vida, logo, fará falta
quando morre. Os primeiros cristãos só comemoravam a morte de Cristo. Quando pensaram em fixar uma data para
o seu nascimento, porque os evangelhos nada escrevem sobre isso, pensaram-se várias datas: 25 e 28 de Março, 2 e
19 de Abril e até 29 de Maio. O 25 de Dezembro acabou escolhido por coincidir com a festa romana ao deus Sol, a
data em que o sol renascia. Assim, associando Cristo ao Sol da salvação, ficou escolhida a data comemorativa. Além
da data, assimilaram os conceitos das saturnalia no que respeita à igualdade/caridade, à comida e à troca de
presentes.
Estas festas em que o proibido passa a permitido não são exclusivas deste período natalício. As recentes festas a S.
Nicolau cabem neste costume bem como, mais para a frente, as festas carnavalescas. Aliás, há que lembrar que o
ano novo já começou em Março ao tempo em que o ano tinha 10 meses.
Estas brincadeiras de fim de ano, assentam no princípio de que andamos direitinhos e bem comportados o ano
inteiro. Logo, há necessidade de extravasar em algum período do ano. Na justificativa das festas dos loucos eles
afirmavam que um barril de vinho se lhe não abrirem o batoque de vez em quando, acaba por rebentar…
Deixo para a semana mais umas pinceladas sobre este costume original (para os dias de hoje) e para vos fazer ouvir
uma paródia ao Kyrie eleison dessa Missa parodiada.

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