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A Origem do Natal

Is 9.6 / Lc 2

O Natal se transformou numa festa que mistura tradições de muitas origens


com um consumismo desenfreado que, apesar do comércio eletrônico, continua
mobilizando as cidades. As luzes, as árvores, as compras, as feiras e o jantar ou
almoço da empresa talvez não nos deixem ver o principal: o Natal é uma festa
religiosa, em que os cristãos celebram o nascimento de Jesus. Mas, se pesquisamos
um pouco mais, vemos que sua origem se perde na Antiguidade, nas primeiras e
remotas crenças humanas, às quais, ao longo dos séculos, foram se incorporando
novas tradições. Desde o Império Romano, o Natal tem sido uma luta entre
elementos religiosos e pagãos, entre a festa e a liturgia, que se prolonga até nossos
shopping centers.

Por que celebramos o Natal em dezembro?


O solstício de inverno (no Hemisfério Norte) é a noite mais longa do ano, o
momento em que os dias começam de novo a crescer, uma vitória simbólica do Sol
contra a escuridão. Acontece entre 21 e 22 de dezembro e é comemorado desde
tempos imemoriais. O historiador Richard Cohen relata, em seu livro Persiguiendo
el Sol: La historia épica del astro que nos da la vida (perseguindo o sol: a história
épica do astro que nos dá a vida) que “praticamente todas as culturas têm uma
forma de celebrar esse momento”. “O aparente poder sobrenatural para governar as
estações, que se manifesta nos solstícios, inspirou reações de todos os tipos: rituais de
fertilidade, festivais relacionados com o fogo, oferendas aos deuses”, afirma Cohen.
Nessa mesma época do ano, em meados de dezembro, os antigos romanos
festejavam a Saturnália, festival em que eles ofereciam presentes entre si, mas
também trocavam os papéis sociais, uma mistura entre nosso Natal e o Carnaval.

O que aconteceu em 25 de dezembro?


“A data do Natal foi fixada em 25 de dezembro pelo imperador Constantino,
porque nesse dia era celebrada a grande festa solar em Roma”, explica Ramón Teja,
professor emérito de História Antiga da Universidade de Cantábria (Espanha),
especialista em história do cristianismo e presidente de honra da Sociedade
Espanhola de Ciência das Religiões. Assim, o imperador que transformou o
cristianismo na religião de Roma, e que governou entre 306 e 337, identificava de
alguma maneira sua figura com o divino, aproveitando o antigo festival do Dia do
Nascimento do Sol Invicto. “Foi uma fusão do culto solar com o culto cristão”, diz
Teja.

Então Jesus não nasceu no Natal?


Não existe nenhuma informação sobre a data de nascimento de Jesus. A
imensa maioria dos especialistas afirma que ele foi uma figura histórica, mas, assim
como existem dados sobre sua morte – foi crucificado por Roma em Jerusalém
durante a Páscoa judaica – seu nascimento é um profundo mistério. “O único dado
histórico é que Herodes I ainda reinava, de modo que o cálculo do ano zero estava
errado; seria preciso adiantar quatro ou cinco anos”, explica Teja, já que Herodes, o
Grande, morreu no ano 4 a.C.

O jornalista do EL PAÍS Juan Arias, um dos maiores conhecedores da figura de


Cristo e profundo divulgador da história cristã através de livros como Jesus: Esse
Grande Desconhecido (Objetiva), escreveu: “A história do nascimento de Jesus é
silenciada por dois dos quatro Evangelhos canônicos: o de Marcos, considerado o
mais antigo, e o de João. Eles iniciam o relato da vida de Jesus quando já era adulto.”
A revista National Geographic publicou, em sua edição de dezembro, uma
ampla reportagem sobre as certezas arqueológicas sobre Jesus, com texto de Kristin
Romey e fotos de Simon Norfolk, que se pronuncia no mesmo sentido. “A Igreja da
Natividade, em Belém, é o templo cristão mais antigo ainda em uso, mas nem todos
os especialistas acreditam que Jesus de Nazaré tenha nascido em Belém. A
arqueologia mantém silêncio sobre o assunto”, escreve Romey. O relato da
manjedoura e dos pastores aparece em Lucas; os Reis Magos, o massacre dos
inocentes e a fuga para o Egito, em Mateus. “É uma interpretação teológica a
posteriori”, afirma Teja. “Trata-se de uma forma de indicar que [Jesus] descende da
tribo do rei Davi, que procedia de Belém.”

O Natal é conhecido, atualmente, como um período para celebrações, troca


de presentes e jantares com a família. Porém, sua origem é completamente
diferente, remetendo a fatores históricos que envolvem desde o poderoso Império
Romano até rituais pagãos.
Embora muitas pessoas também aproveitem a data para comemorar o
nascimento de Jesus, a análise de determinados fragmentos dos Evangelhos, assim
como de outros documentos da época, permitem que historiadores e estudiosos
levantes as mais variadas hipóteses sobre o tema, excluindo, quase que totalmente, a
possibilidade de que Cristo tenha nascido no mês de dezembro.

Mas, qual seria a real origem do Natal? Quais as principais histórias e lendas
envolvendo tal festividade? Se você quer descobrir a resposta para essas perguntas,
basta continuar conosco até o final deste artigo.

O Natal e os romanos

Tudo começou no Império


Romano, onde o povo estava
acostumado a celebrar a
“Saturnália”, festa que acontecia
em dezembro, durava sete dias
e homenageava o deus Saturno
(equivalente ao deus grego
Cronos), divindade responsável
pela agricultura.

Na época, por volta de 350 d.C., o Papa Júlio I solicitou aos responsáveis pela
Igreja Católica que o nascimento do menino Jesus fosse comemorado na mesma
data, com o objetivo de converter os romanos ao cristianismo com maior facilidade.

O Mito

Da antiga mitologia romana, Saturno, identificado com o deus grego Cronos, era o
deus da agricultura e venerado em uma das mais importantes festividades da
antiguidade, a Saturnália. O festival dedicado a ele era comemorado durante três
dias no mês de dezembro, no solstício de inverno.
Essa obra também conhecida por Saturno
pertence ao Museu do Prado, em Madri. É
uma das mais famosas pinturas negras que
decoravam a Quinta do Surdo. O afresco
ocupava um lugar à esquerda da janela na
sala de jantar. Mostra o “deus” Saturno
comendo o próprio filho.

O conjunto de catorze cenas a que pertence


esta obra ficou conhecido como “Pinturas
Negras” pelo uso de pigmentos escuros e
negros, assim como pelo modo sombrio dos temas.

A obra representa o deus Cronos (deus do tempo), Saturno na mitologia


romana, no ato de devorar um dos seus filhos. A figura era um emblema alegórico
do passar do tempo, pois Saturno comia os filhos recém nascidos de Reia, sua
mulher, por temor a ser destronado por um deles.
Após alguns anos, já em 354 d.C., seu sucessor, o Papa Libério, tornou tal
pedido realidade. O primeiro registro de um banquete voltado à festa cristã data de
379 d.C., em Constantinopla.

Uma origem pagã

Conhecida como Yule, a festividade em celebração do solstício de inverno era


realizada todos os anos pelos povos germânicos pagãos, incluindo os vikings. Ao
todo, a festa durava doze dias, sendo dedicada a familiares e amigos falecidos e à
fertilidade, terminando por volta do dia 21 de dezembro.

Entre seus principais símbolos estão:

• A cabra de Yule: de origem escandinava, o boneco em formato de cabra é feito de


palha trançada e decora as casas até os dias de hoje. As renas seriam, portanto, suas
correspondentes natalinas;

• Javali de Yule: a carne oficial do Natal escandinavo;


• Yule singing: consistia no ato de percorrer a cidade com cânticos alegres. A tradição
permanece, porém, trocando as velhas letras pagãs pelos hinos natalinos;

• Yggdrasil: árvore perene colocada em todas as casas. Simboliza a árvore da vida na


mitologia nórdica e é a possível precursora dos atuais pinheiros de Natal;

• Vigília noturna: amigos e familiares costumavam se reunir na última noite de


comemorações, acendendo uma vela e passando momentos descontraídos na
companhia uns dos outros. Logo, essa seria a origem da famosa ceia de Natal.

Celebração ou pesar?

Na época das primeiras comemorações cristãs, muitos fiéis se recusaram a


adotar uma postura festiva para a data, afirmando que 25 de dezembro era um dia
religioso e de reflexão, não de festa. O mesmo discurso também ocorreu após a
Reforma Protestante, no século XVI, quando muitas pessoas se opuseram às
celebrações do Natal.

Outro fenômeno interessante ocorreu nas colônias americanas, onde


puritanos, quakers (grupos religiosos com origem em um movimento protestante
britânico do século XVII), batistas e presbiterianos também decidiram ignorar a
festa, enquanto anglicanos, luteranos e católicos faziam questão de mantê-la viva.

Por fim, o Natal se solidificou na América apenas no século XIX, graças aos
cultos natalinos introduzidos nas escolas dominicais e ao famoso romance “A
Christmas Carol” (Um Conto de Natal), que popularizou o feriado como um evento
alegre e familiar.

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