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A origem do Halloween, também chamado de dia das bruxas é uma celebração que tem

origem nos tempos pré-cristãos, no antigo folclore pagão europeu. Nessa época, final de
outubro, lá no hemisfério norte está sendo vivido o outono. É, justamente, o meio do caminho
entre outono e inverno. Ou seja, é uma data que avisa que o inverno está chegando. Hoje em
dia nós temos acesso à energia, tecnologias, supermercados. Mas para os antigos povos
pagãos europeus, o inverno era um período muito sombrio. Ou seja, era muito frio e
necessário que eles se recolhessem mais. A natureza ficava mais escura, menos fértil e as
noites eram mais longas. Então era necessário armazenar todas as comidas colhidas e caçadas
nos períodos anteriores para ter como enfrentar esse período tão difícil que era o inverno.

Como esses povos pagãos cultuavam a natureza, todos os “poderes” da natureza eram
personificados em deuses – sol, lua, terra, água, etc. Toda e qualquer mudança de ciclo na
natureza, mudança de estação, era celebrada. E dentre todos esses povos pagãos, os celtas
chamavam essa data comemorativa de Samhain. Essa data marcava, justamente, a “morte do
sol” – ou deus sol. O fim do sol, já que o inverno estava chegando. Ou seja, “adeus solzinho
quentinho, olá frio sinistro”. Esse momento era o fim total das colheitas, nada mais seria
colhido ou nasceria. Por isso, essa comemoração trazia comida em abundância, como se fosse
um agradecimento pelas colheitas que foram feitas antes (tipo quando a gente faz uma festa
de aniversário cheia de guloseimas e nos reunimos para comemorar o nascimento daquela
pessoa querida).

Agradecimento pelas coisas que a natureza deu para esses povos e que vai ajuda-los a passar
pelo inverno duro. Eram acesas grandes fogueiras à noite, provavelmente para pedir por calor
e luz (sim, como uma oração) para enfrentar o inverno que estava chegando. Dessa forma,
essa ideia de “morte do sol”, nos leva a capacidade da natureza de “morrer” para depois
renascer. Por exemplo, algumas plantas ficam sem folhas, flores, parecem até que estão secas
no inverno, mas basta o verão e a primavera chegar, que vemos, novamente, essas plantas
ganharem vida. Ficarem lindas novamente. E, como também somos natureza... Essa data
também é especial para homenagear os mortos, os ancestrais. Então, durante a noite de
Samhain, acreditava-se que o “véu” que separa o mundo dos mortos e dos vivos está mais
fino, então todo “contato” com espíritos já desencarnados é favorecido (Tipo aquele filme “A
vida é uma Festa”, sabe? Onde eles se reúnem para lembrar-se de seus entes queridos, orar
por eles. Ou como o dia de finados daqui.). Com isso, vai se criando uma cultura de celebrar os
antepassados e também de se proteger de espíritos negativos. É nesse momento que a ideia
de se fantasiar surge. As pessoas passam a colocar fantasias assustadoras com o objetivo de
espantar os maus espíritos. Acho que até aqui você já compreendeu de onde vem essa
temática de morte, coisas assustadoras e fantasias do Halloween, né?

Mais pra frente, quando a gente tem a consolidação do cristianismo (Você vai estudar isso em
detalhes logo), a religião católica foi se misturando e se apropriando, lentamente, de diversas
comemorações do folclore pagão para que o povo fizesse uma transição religiosa do
paganismo para o cristianismo. Daí, quando chegamos ali por volta do século VIII (8), o Papa
Gregório muda a data do Dia de Todos os Santos, que era em 13 de maio, para 1 de novembro.
Para ficar próxima a comemoração de Samhain e acabar transformando uma antiga
comemoração pagã, em uma nova festa cristã. No dia de todos os santos, são homenageados
todos os santos e mártires (pessoas que deram sua vida em prol do bem). E, por volta do
século XIII (13), o dia de finados, que homenageia os mortos, começa a ser celebrado em 2 de
novembro. Com tudo isso, mesmo com o cristianismo, nós temos nesse período entre 31 de
outubro e 2 de novembro, um período que fala sobre a morte, espíritos, e como devemos
lembrar de nossos entes queridos que se foram em corpo, mas permanecem em nossos
corações. Em inglês, o termo “all hallows” significa “todos os santos” e o termo “eve”, significa
véspera. O dia 31 de outubro, então, passa a ser a “véspera de todos os santos”, ou seja “all
hallows’eve” que, mais tarde, vai originar o nome que a gente conhece: Halloween.

Okay, mas tudo isso rolou na europa. Como é, então, que o Halloween se tornou uma
comemoração tão americana?

No século XIX (19), os irlandeses foram para os Estados Unidos, devido a grande crise que
estava acontecendo na Irlanda (um dia falamos sobre isso), e os irlandeses levaram esses
costumes de Samhain, misturado com o dia de todos os santos, para os Estados Unidos. E lá,
tudo isso se mistura com mais coisas ainda. Os nabos que eram iluminados com carvão pelos
irlandeses, por conta de uma lenda que havia nesse período - a lenda da lanterna de Jack, uma
alma penada que ficava vagando pelo limbo, são substituídas por abóboras com velas dentro.
Porque nos Estados Unidos, as abóboras eram bem mais abundantes do que os nabos. Aquela
fartura de alimentos, banquetes, devido à colheita é ser substituídas por doces. E as
brincadeiras, como guerras de comida, que tinha na Europa, se tornaram o famoso “doces ou
travessuras”. Com isso, o Halloween passa a ser uma festa comemorativa e mais divertida para
o publico geral, como um carnaval, por exemplo, do que uma comemoração espiritual,
religiosa, como era lá no antigo paganismo. O Halloween é hoje o maior feriado não cristão
que existe. Essa coisa de chamar o Halloween de dia das bruxas é mais uma questão de
tradução que foi feita, endossada por filmes que trazem aquela imagem hollywoodiana das
bruxas, que se tornou uma fantasia tradicional do Halloween. Uma tradução para “dia dos
mortos” teria mais a ver, mas acabaria se misturando com o dia de finados. Por isso, acabou
ficando como dia das bruxas mesmo.

Celebrar o Halloween no Brasil é cercado de várias polêmicas. O dia do Saci, por exemplo, foi
colocado para ser celebrado no dia 31 de outubro para que a gente honre o folclore brasileiro
e não uma festa estrangeira. E é sim muito importante a gente estudar mais sobre nosso
folclore que é a mitologia da nossa terra, honrar nossas lendas que são muito interessantes.
Não só trazer de fora. No entanto, nesse período de Halloween, tem sempre alguém – ou
grupinho – que condena a data. Por exemplo: “Comemorar o dia das bruxas abre as portas das
nossas casas para coisas ruins”, “ah, é ridículo brasileiros festejarem festas estrangeiras”.

Diante disso, é interessante te apresentar outras informações históricas sobre essa e outras
datas comemorativas para que você não cresça com a mente fechadinha igual à desse povo.
Da mesma forma que o Halloween vem da comemoração de Samhain, a tradição de árvores e
guirlandas enfeitadas também vem dos antigos pagãos que celebravam o solstício de inverno,
uma data que representava o ápice do inverno e também o “nascimento do sol” – ou
nascimento do deus (porque eles transformavam em deuses todas as coisas da natureza),
afinal, após o inverno... O verão chega com tudo. Por isso, durante a consolidação do
cristianismo, a comemoração do nascimento de Jesus foi colocada nessa mesma época para
substituir as antigas comemorações do paganismo. Ou seja, o natal, assim como o Halloween,
é uma comemoração que também tem origem no antigo paganismo.

Outro exemplo, sabe os coelhos e os ovos na páscoa? É outro costume do folclore pagão que o
mundo absorveu. Veio do mito da deusa Eostre e a Lebre (naquela aulinha de mitologia que
você me pediu, eu vou te contar), que é dentro da celebração de Ostara. Nessa época do ano,
os ovinhos eram pintados e decorados para serem dados de presente para outras pessoas
queridas. Inclusive, é do nome da deusa Eostre que vem “easter”, que é páscoa em inglês.

E as fogueiras de São João da nossa famosa Festa Junina? Bem, o São João é uma festa que
tem influência de vários costumes, várias culturas ao redor de todo mundo. Costumes que
vieram do antigo paganismo, de povos africanos... Uma verdadeira salada mista e é cheio de
semelhanças com a celebração de Litha, a qual havia várias danças, bem tradicional, e
brincadeiras ao redor do fogo para celebrar o solstício de verão. Aquelas tranças com fitas,
sabe? São bem tradicionais da celebração de beltame.

Interessante, não é? Então, a gente vê, todos os dias, vários costumes em festas que vieram de
culturas diversas, povos antigos e sempre com um objetivo simples: Comemorar. Não há
maldade, não há coisas ruins. Somente visões diferentes. Nosso planeta é imenso. Muitos
povos e culturas foram instintos, muitos desapareceram, mas permanecem em nosso
imaginário. Há muitos países nesse mundo com culturas diferentes da nossa. O que é estranho
para nós, pode não ser para eles. Assim como a gente adora tomar banho e tem alemão que se
contenta com um paninho úmido.

Feliz Halloween! Aproveite os doces, seu grande prêmio e minah mania de falar de história
com você! Temo, pequelusca!

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