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Origens históricas e culturais da festa junina

Publicado em 04/06/07 às 20:38

Por: Wander de Lara Proença

No início do terceiro século da era cristã, já havia sido elaborado um calendário eclesiástico, em
cujas datas fixas os cristãos deveriam celebrar acontecimentos memoráveis, como a Páscoa, por
exemplo. Aos poucos também foram inseridos neste calendário o dia da morte de cristãos que
haviam sido martirizados durante as perseguições impostas pelo Império Romano. Além da visitação
aos locais em que estavam sepultados estes “heróis da fé”, e orações feitas em sua memória, as
relíquias (objetos pessoais) deixados por estes, já começavam a ser objeto de veneração.

As homenagens a São João e a São Pedro começaram a ser feitas neste período. São João (João
Batista) era primo de Jesus, e, segundo a tradição, nascido a 24 de junho, e morto por decapitação
no dia 29 de agosto do ano 31, na Palestina, a mando de Herodes. Pedro, segundo a tradição,
depois de exercer importante liderança como apóstolo na igreja de Jerusalém, transferiu-se para a
cidade de Roma, capital do Império. No ano 67, durante perseguição imposta por Nero, acabou
sendo preso e condenado a morrer crucificado. Relatos do segundo século afirmam que o apóstolo,
antes de sua execução, disse que não era digno de morrer como morrera Jesus, o seu Senhor, e
pediu para que fosse crucificado de cabeça para baixo, e assim ocorreu.

1.SIGNIFICADOS DOS SÍMBOLOS PRESENTES NA FESTA JUNINA

O uso de comidas, bebidas e danças, presentes hoje nas festas juninas, deve sua origem ao
sincretismo feito entre o culto cristão e o culto a Dionísio (deus grego da alegria e do vinho, e
também das colheitas, chamado Baco entre os romanos.) Nos cultos populares que os gregos e os
romanos ofereciam a Dionísio, se verificavam farta alimentação e bebidas, música, danças, com
uma forte tendência à sensualidade, o que era geralmente feito à noite. Ocorriam também
adivinhações para o casamento, prognóstico para o futuro e banhos coletivos pela madrugada.

Quando o cristianismo se tornou religião oficial do Império Romano no 4º século, multidões


aderiram à fé cristã sem uma genuína conversão. Desta forma, os antigos deuses serão substituídos
por “santos” (apóstolos e mártires) cristãos, tornando-se, assim, os santos padroeiros das cidades
greco-romanas, o que também ocorre até hoje em nosso país. O uso de fogueiras em homenagem a
estes santos vai aparecer no período medieval, quando na Europa se desenvolve o feudalismo –
sistema esse em que a sociedade concentra-se basicamente na zona rural, vivendo da agricultura.
Nos meses de junho e julho, com a proximidade das colheitas, acendiam-se fogueiras para afastar
os demônios da esterilidade e repelir as pestes dos cereais. Neste período, os camponeses
realizavam danças ao redor do fogo, e saltos sobre as chamas para afugentar os demônios da fome,
do frio e da miséria.

O ritual de pisar sobre as brasas com os pés descalços, também já era praticado no 1º século da era
cristã pelos fiéis da deusa Diana, em Éfeso.

2.O DESENVOLVIMENTO DA FESTA JUNINA NA CULTURA BRASILEIRA

No Brasil, as festas de São João e São Pedro foram trazidas pelos portugueses durante o período da
colonização. Na Península Ibérica (Espanha e Portugal) o culto a São João é um dos mais antigos e
populares. Ali, durante a Idade Média, as expressões de fé e crenças populares existentes em
relação aos antigos deuses, foram transferidas e adaptadas aos “santos” católicos. Em nosso país,
os missionários católicos, no período colonial, usavam as festas juninas para a conversão dos índios
à sua fé. Os indígenas se identificavam bastante com rituais e cerimônias que utilizassem fogo e
danças.

Em 1583, o missionário jesuíta Fernão Cardin, indicando as três festas religiosas celebradas pelos
indígenas com maior alegria, escreveu: “A primeira é as fogueiras de São João, porque suas aldeias
ardem em fogos, e para saltarem as fogueiras não os estorva a roupa.” Também o franciscano Frei
Vicente do Salvador, um dos cronistas do Brasil, informava que os indígenas “só acodem todos com
muita vontade, nas festas em que há fogueira, como no dia de São João Batista”. O ritual com
danças também representava forte apelo sensual aos escravos de cultura africana, presentes em
nosso país.
No Brasil, estas festividades se desenvolveram bastante entre as populações agrícolas,
estabelecendo um sincretismo entre a tradição cristã, crenças e costumes indígenas, e cultos afro.
Além da travessia sobre o braseiro, estas datas são acercadas de magias e superstições. O
conhecido escritor brasileiro, Gilberto Freire, em seu livro Casa Grande e Senzala, em que analisa o
Brasil colonial, afirma que:

As festas que fazem na noite ou na madrugada de São João, festejadas a foguetes, visam no Brasil,
como em Portugal, a união dos sexos, o casamento, o amor que se deseja e não encontrou ainda
(...) Santo Antônio, por exemplo, é um dos santos que mais encontramos associados às práticas de
feitiçaria afrodisíaca no Brasil. É a imagem desse santo que freqüentemente se pendura de cabeça
para baixo dentro da cacimba ou do poço para que atenda as promessas o mais breve possível.

No interior do país, especialmente no Norte e Nordeste, a fogueira de São João é de iniciativa


familiar e posta diante de cada residência. Durante a noite de 23, rapazes e moças se fazem
compadres e comadres. Até por volta de 1912, nas regiões mais interioranas, casamentos eram
realizados de verdade ao redor da fogueira, em presença dos pais, dos noivos, padrinhos, pessoas
da família e convidados. Devido ao número insuficiente de sacerdotes para atender as zonas rurais,
estas cerimônias eram válidas até que o missionário passasse por aqueles lugares e, oficialmente,
abençoasse a união. Daí, até hoje, o costume de se realizar o “casamento caipira” como parte das
festividades.

Desenvolveu-se também a crença de que São João permanece dormindo durante o dia do seu
aniversário, por isso acendem fogueira durante a noite, soltam fogos ou disparam armas de fogo
para que o santo seja despertado e, vendo o clarão feito em sua honra, desça do céu a fim de
festejar juntamente com os seus devotos.

São Pedro é festejado semelhantemente a São João, embora em menor escala. Criou-se a tradição,
no interior do Brasil, de que todo homem que tinha a palavra “Pedro” ligada a seu nome, possuía a
obrigação de acender uma grande fogueira diante de sua porta e soltar fogos ou disparar armas de
fogo. Este voto já era feito pelos pais quando o filho recebia o nome de batismo.

3.O CARÁTER FOLCLÓRICO DA FESTA JUNINA ATUAL

Especialmente a partir da década de 1970, em que o Brasil experimentou um grande processo de


êxodo rural e conseqüente urbanização, os costumes tipicamente do campo foram transportados
para a cidade. Desta forma, gradativamente, as festas juninas foram perdendo o seu sentido mais
propriamente religioso e místico, assumindo um caráter folclórico e cultural. Daí, não somente
escolas, por exemplo, mas também igrejas de tradição evangélica realizarem festividades nesta
época do ano, procurando evitar a participação nas festas de conotação mística e religiosa, que aqui
foram anteriormente apresentadas. Estes cristãos preferem realizar os seus próprios “eventos
juninos”, atribuindo aos mesmos um sentido de divertimento e lembranças de um passado rural,
com o qual geralmente possuem fortes laços de memória, de afeição e de saudosismo.

Comentários neste assunto:


Origens históricas e culturais da festa junina | 1 comentário |

Festas Juninas
Escrita em 07/06/07 às 2:18 por carloscarvalho

Depois de minha conversão, sempre achei um disparate o nosso povo celebrar uma festa que
comemora a morte de um tão grande profeta - segundo Jesus- que foi morto em virtude de uma
festa com semelhanças a essa.

Fonte: Faculdade Teológica Sul Americana - www.ftsa.com.br

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