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4 - A Gramática Linguística
4 - A Gramática Linguística
GRAMÁTICA
LINGUÍSTICA
J. Bento
SUMÁRIO
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4
J. Bento
1.Objeto da sintaxe
Numa investigação sintática, podem ser observadas (embora não necessariamente nesta
sequência):
a)A ordem dos termos – o lugar que compete a cada um dos elementos linguísticos que compõem a
estrutura, seja em nível oracional, seja em nível sintagmático. Assim, por exemplo, é aceitável a
construção –
*A casa da esquina
*Casa a esquina da
b)A concordância dos termos – as diretrizes flexionais exigidas para a construção linguística, em
termos da harmonização morfemática. Assim, em português, se tivermos um núcleo nominal na
forma masculina/plural, seus especificadores se adequam a esta formalização: o núcleo “casas”
[feminino/plural], por exemplo, induzirá seus especificadores a se comportarem com o caráter de
[feminino/plural]:
*casas
*estas casas
*casas amarelas
c)A interligação dos termos – construções há cujos elementos fundamentais se conectam a outros
elementos através de partículas linguísticas existentes com esta função. Para se adjungirem “casa” e
“praia” no sintagma, deve ser observada a inserção de um item conectivo, chamado de preposição:
d)A especificação de sentido (ou função sintática) – os núcleos sintáticos (das orações e sintagmas)
costumam vir adjungidos de elementos linguísticos capazes de especificar-lhes as noções, naqueles
inscritas. Estes especificadores podem ser de natureza obrigatória (estruturais), como em –
*comer
*João come.
*boneca de pano
*casa amarela –
*casa pontiaguda
SINTAXE
de de de de de
colocação concordância regência especificação adequação
semântica
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a)Predicado verbal
Voc S P Atit
b)Predicado nominal
Voc S P Atit
c)Predicado verbo-nominal
Voc S P Atit
*Sujeito
SUJEITO
*Predicado
PREDICADO
3.Transitividade/intransitividade verbal
1]Princípio teórico
S P
SISTEMA
Verbo Adjunto
FALA
2]Correntes de pensamento
TRANSITIVIDADE
UNA MÚLTIPLA
↓ ↓
*Norma valencial variante *Sistema variante
*um só verbo *mais de um verbo
[transitividade fixa] [transitividade flexível]
*Facultatividade *Obrigatoriedade
[+/- alteração de sentido s/ alteração sintática] [+ alteração de sentido c/ alteração sintática]
*Elipse: Ø *Elipse: Δ
João trabalha.
– cuja norma valencial é de intransitividade, que concorre com sentenças em que o verbo “trabalhar”
adquire complementação –
11
– a menos que identifique como norma valencial do verbo “trabalhar” o que se passa na segunda
oração, ficando a notação de intransitividade em “trabalhar”, da primeira oração, como variante
elíptica.
A corrente “múltipla” de pensamento admite, no sistema, a possibilidade de mais de um verbo
com a mesma natureza significante (homonímia), de acordo com as distinções de transitividade, que
estão em correlação com a alteração de sentido. Ou seja, se tomarmos um determinado verbo, por
exemplo, “fumar”, e supondo-se que este se revela com sentidos diferentes, a depender da atualização
ou não atualização de determinado item sintático, estaremos diante de verbos homônimos, e não de
um único verbo com variação da norma valencial:
a)Corrente UNA
SISTEMA
↓
“comer x”
NORMA VARIANTE
↓ ↓
“comer x” “comer Ø”
FALA
“comer x” ou “comer Ø”
b)Corrente MÚLTIPLA
SISTEMA
“comer x” “comer”
NORMA NORMA
↓ ↓
“comer x” “comer Δ”
FALA FALA
↓ ↓
“comer x” “comer Δ”
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a)Verbo “passivo”
(Voc) S P (Atit)
b)Verbo de ligação
(Voc) S P (Atit)
c)Verbo intransitivo
(Voc) S P (Atit)
d)Verbo transitivo
(Voc) S P (Atit)
SINTAGMA NOMINAL
[S/CV/PRED/AGP/ADV]
b1)Núcleo substantival
ESTRUTURA NOMINAL
[núcleo: substantivo]
(ADN)
(CN)
(+/-prep) (mod) (ADN) SUBS (AP)
b2)Núcleo pronominal
ESTRUTURA NOMINAL
[núcleo: pronome]
(ADN)
(+/-prep) (mod) PRO (AP)
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b3)Núcleo adjetivo-advérbial
ESTRUTURA NOMINAL
[núcleo: adjetivo/advérbio]
(CN)
(mod) ADJ/ADV (AP)
CONSTRUÇÃO
LOCUÇÃO VERBAL
– se “andando” tiver leitura verbal, “ir” (auxiliar) tem sentido equivalente a [estar]: “estar
andando”; se “andando” tiver leitura adverbial-modal, “ir” (verbo nuclear), tem sentido de
[deslocamento]: “ir a algum lugar, andando”.
Entende-se a notação [+/- alternância], relativamente ao sujeito, através da possibilidade (ou
impossibilidade) de sua diferenciação referencial, no tocante aos verbos auxiliar e principal da
construção. Em –
*João quer [Ø] comprar o carro. (= João quer que ele mesmo {João} compre o carro)
– os sujeitos de “querer” e “comprar” são correferenciais, mas não há obrigação estrutural para isto.
A despeito de rearranjos flexionais, podemos substituir o sujeito de “comprar” por outro, diferente
do sujeito de “querer”:
Esta situação, que pode nos revelar a existência de duas orações contíguas (portanto, sem a
incidência de locução verbal), opõe-se, por exemplo, à construção com “ir” + infinitivo, pois neste
caso não há possibilidade estrutural de adjungir sujeitos referencialmente diferentes para os itens
verbais atualizados –
– levando-nos a categorizar a expressão “ir” + infinitivo como locução verbal. A locução verbal, por
conseguinte, necessariamente impõe a correferencialidade do sujeito entre os itens verbais.
NÚCLEO PÓS-NÚCLEO
+adjetivação
+posse
ADN sujeito
agente
-necessário
de (relacional)
DE
-adjetivação
-posse
CN objeto
paciente
+necessário
+preposição de (em relação a)
A/EM/PARA/POR/CONTRA CN
SOBRE
ABSTRATO COM ADN/CN
SEM ADN
SUBSTANTIVO
-preposição ADN
CONCRETO ADN
ADJETIVO + preposição CN
ADVÉRBIO + preposição CN
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Lendo:
- O núcleo do sintagma nominal pode ser de três tipos: substantivo, adjetivo, advérbio. Se o núcleo for
adjetivo/advérbio (e a expressão pós-núcleo vier preposicionada) → complemento nominal; se o núcleo
for substantivo, toca a análise pra frente.
- O núcleo substantivo pode ser concreto ou abstrato. Se for concreto → adjunto adnominal; se for
abstrato, toca a análise pra frente.
- A expressão pós-núcleo do substantivo pode ser preposicionada ou não-preposicionada. Se for não-
preposicionada → adjunto adnominal; se for preposicionada, toca a análise pra frente.
- As preposições podem ser “a”, “em”, “para”, “por”, “contra”, “com”, “sem”, “de”. Se forem “a”,
“em”, “para”, “por”, “contra” → complemento nominal; se for “sem” → adjunto adnominal; se for
“com” e a expressão puder ser transformável em adjetivo simples → adjunto adnominal (cf. “amor
com açúcar/amor açucarado”); se for “com” e a expressão não puder ser transformada em adjetivo
simples → complemento nominal (cf. “A viagem com o carro foi boa/*a viagem carrada foi boa”); se
for “de”, toca a análise para o último passo.
- Se a expressão pós-núcleo tiver, de acordo com o esquema a seguir, a preponderância dos traços
[+adjetivação, +posse, sujeito, agente, - necessário, de (= relacional)] → adjunto adnominal; se tiver a
preponderância dos traços [-adjetivação, -posse, objeto, paciente, +necessário, de (= em relação a)] →
complemento nominal.
ADN CN EXPLICAÇÃO
TERMO ADN CN AP
Item conectivo de, com, sem a, de, em, para sem conectivo
ou com, contra, por
sem conectivo sobre
Notas:
1)O traço natureza adjetival do ADN, em contraposição ao traço natureza substantiva do CN e do AP,
só causa problemas, evidentemente, nos casos em que o termo considerado não se apresentar
formalmente como adjetivo, mas como uma expressão preposicionada, por exemplo. Em outras
palavras, se o termo considerado já é um adjetivo, não há o que analisar, pois será sempre ADN.
Assim, em –
– “amarela” será sempre ADN, e nunca poderá causar confusões interpretativas com respeito ao CN
ou AP. Agora, se a expressão for –
– pode ser conveniente atentar para outro(s) traço(s) que confirmem a suspeita de “de barro” ser um
ADN, notadamente quanto à hesitação em torno de este termo poder também ser classificado como
CN. Veja-se, de passagem, que, embora o termo “de barro” não possa ser transformável em um
adjetivo simples (“casa *embarrada) – este que seria um dos possíveis testes para comprovar a
natureza adjetival da expressão, como no exemplo “noite de lua” = “noite enluarada” – ele pode
estruturalmente tomar o mesmo lugar (teste da permuta) de “amarela” no sintagma “casa amarela”:
amarela
uma casa
de barro
2)O traço item conectivo enseja duas observações pertinentes do ponto de vista da simplificação na
atividade do analista:
b – Observe que, ao contrário do ADN, CN nunca vem sem conectivo preposicional, o que, de
qualquer forma, não deixa de ser um traço diferenciador entre os dois termos. Já com relação ao AP,
tem-se, através do quadro acima, que este é desprovido de conectivo preposicional. No entanto, esta
é apenas a postulação geral, pois há casos de AP preposicionado (especificamente com o item “de”),
como em:
Duas táticas complementares podem ser aplicadas para determinar se se trata de AP:
3)O traço pontuação diz que ADN e CN nunca ocorrem com pontuação, enquanto para o AP a
pontuação (geralmente, o AP vem entre vírgulas ou separado por dois pontos) é o padrão substancial.
Há exceção à regra, como ficou evidente no exemplo de “a cidade de São Paulo”, em que o termo
“São Paulo”, aposto, não vem entre vírgulas, mas conectado por intermédio da preposição “de”. Além
de exemplos desse tipo, temos os casos em que não ocorre o elemento prepositivo, nem a pontuação:
O garoto João.
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A explicação, no entanto, equivale pari passu à que foi dada com relação à “a cidade de São Paulo”:
possibilidade de inserir o termo consequente entre vírgulas –
O garoto, João,...
4)O traço núcleo subordinante concorre para a facilitação na identificação dos termos pelo fato de se
esclarecer que o CN é o único a ser antecedido por adjetivo e advérbio nucleares. Em –
– concebe-se que “da verdade” e “ao acidente” só podem ser CN em razão de o núcleo sintagmático
ser, respectivamente, adjetivo (“convencido”) e advérbio (“posteriormente”).
Além disso, outro traço a ser usado, particularmente na diferenciação entre ADN e CN, é a
natureza concreta do núcleo subordinante no primeiro caso, em contraposição à natureza abstrata do
núcleo subordinante no segundo:
(embora nem sempre um substantivo abstrato leve à determinação de CN, como veremos adiante).
5)O traço natureza semântica vai exigir perspicácia do analista principalmente no sentido de ser capaz
de perceber a diferença entre especificar, complementar, e explicar, no contexto da construção
lingüística. Em suma, o ADN especifica, o CN complementa e o AP explica o núcleo subordinante de
acordo com o seguinte entendimento:
Uma dica que pode se fazer útil é, uma vez diante da expressão sob análise, pesar os três matizes
semânticos e ver do qual mais o termo se aproxima. Assim, por exemplo, em –
– a pergunta que deve ser feita é: “de fantasmas” indica uma característica de “medo”, preenche
uma lacuna de sentido reclamada por “medo” (quem tem medo, tem medo de algo) ou simplesmente
repete, reproduz a noção veiculada por “medo”?
Bem, “de fantasmas”, pelo menos na frase de ilustração, não pode ser uma característica de
“medo” (características de “medo” são, por exemplo, “medo brutal, de arrepiar, sem razão etc.);
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também muito menos pode ser, em nenhuma hipótese, a simples repetição de “medo” (basta ver que
“João tem medo de fantasmas” não é a mesma coisa que “João tem fantasmas”; se “de fantasmas”
apenas repetisse “medo”, essa relação poderia ser postulada). Então, “de fantasmas” só deve ser um
preenchimento de lacuna, exigida, no contexto, por “medo”: há a necessidade de se reportar ao tipo
ou motivo do medo de “João”. E assim por diante.
Outro aspecto sugerido pelo traço natureza semântica que pode ser utilizado para facilitar a
análise sintática é a condição de agente do ADN, em contraste com a condição de paciente (alvo) do
CN, especificamente nos casos que envolvem núcleo substantivo abstrato. Assim, em –
Produção do engenheiro
– “do engenheiro” deve ser classificado como ADN, porque equivale ao agente do processo ditado
por “produção”: “o engenheiro produz”. Agora, em –
Produção de energia
– “de energia” se classifica como CN, por que consiste no paciente do processo nominal: “a energia é
produzida”.
Só mais duas breves informações, para terminar o assunto dos componentes internos do
sintagma: a)com relação a esse problema de identificação do termo à direita do núcleo nominal (ADN,
CN ou AP), queremos dizer o seguinte: a resposta definitiva, pelo menos nos pontos cruciais, precisa
passar por uma reflexão em torno de cada um dos pontos arrolados acima. Se não funcionar... usar
o bom senso (!); b)é preciso, adicionalmente a tudo que foi dito, considerar a possibilidade de os
termos à direita do núcleo terem estrutura oracional, ou seja, ADN oracional, CN oracional e AP
oracional, mas nada que venha a contradizer o que se quis afirmar (ou se afirmou) no início desta
exposição: quando um termo, qualquer que seja ele, tem estrutura oracional não passa a ser outra
coisa (como às vezes deixa sugerir a abordagem das gramáticas), mas continua sendo a mesma coisa
(um CV oracional é um CV, um PRED oracional é um PRED, um ADN oracional é um ADN etc.
etc.), apenas (evidentemente) com alguns adendos estruturais a mais e, a rigor, sem necessidade de
modificação da linha de raciocínio que se segue quando se analisa uma frase de composição simples.
a)Vocativo
- Vem sempre separado por vírgula e pode aparecer em qualquer lugar da frase;
- É um termo de chamamento e invocação, por isso se refere a pessoas, animais ou algo personificado;
- Confunde-se geralmente com o sujeito;
- Para identificá-lo, pode-se usar o recurso da anteposição da partícula interjectiva “Ó!”;
- Exemplo: João, o café está esfriando! → em que “João” é o vocativo.
b)Atitudinal
- Vem geralmente separado por vírgula e pode aparecer em qualquer lugar da frase;
- Confunde-se geralmente com o ADV, pois encerra as mesmas características morfossintáticas deste;
- Difere do ADV porque representa a reação/comportamento do sujeito falante (quem propalou a
frase) a respeito do que é dito;
- Exemplo: Infelizmente, João não foi aprovado no concurso.
c)Modificador:
c1)Enfatizador
- Vem sempre junto a um verbo, enfatizando a noção nele contida;
- A gramática escolar chama-o, comumente, de partícula de realce;
- É representado por vocábulos da língua de uma lista restrita de itens, embora possa às vezes ser
realizado por expressões linguísticas algo complexas;
- Exemplo: João só trabalha.
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c2)Intensificador
- Vem sempre junto a um verbo, adjetivo ou advérbio, intensificando a noção neles contida;
- A gramática escolar confunde-o com um ADV intensidade;
- É representado por vocábulos da língua de uma lista restrita de itens, embora possa às vezes ser
realizado por expressões linguísticas algo complexas;
- Exemplo: João é muito estudioso.
c3)Negador
- Vem sempre junto a um verbo, recusando a informação veiculada por este;
- A gramática escolar classifica-o como um ADV de negação;
- É representado por vocábulos da língua de uma lista muito restrita de itens, embora possa às vezes
ser realizado por expressões linguísticas algo complexas;
- Exemplo: João não é muito estudioso.
c4)Dubitador
- Vem sempre junto a um verbo, intensificando a noção nele contida;
- A gramática escolar chama-o de ADV de dúvida;
- É representado por vocábulos da língua de uma lista restrita de itens, embora possa às vezes ser
realizado por expressões linguísticas algo complexas;
- Exemplo: João talvez seja estudioso.
fim
23
J. Bento
ESTRUTURA SINTÁTICA
FUNÇÃO
núcleo subordinado(s)
COLOCAÇÃO
REGÊNCIA
CONCORDÂNCIA
nominal e verbal
[gênero/número] [pessoa/número]
Do enredo acima, podemos deduzir que a Sintaxe, enquanto disciplina, encerra uma
classificação, do ponto de vista do objeto focalizado:
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SINTAXE
a)Sintaxe de funções – estudo dos elementos subordinados aos núcleos (nominal ou verbal), em
termos de sua natureza obrigatória ou facultativa, bem como seu papel sintático-semântico na
integralidade do construto oracional (basicamente, sujeito, complemento e adjunto);
b)Sintaxe de colocação – estudo do lugar que ocupa os elementos subordinados aos núcleos em
relação a seus respectivos núcleos (nominal ou verbal), assim como as possibilidades de variação,
ditadas pelo sistema linguístico;
c)Sintaxe de regência – estudo da natureza da conexão que se dá entre núcleo (nominal ou verbal) e
seus subordinados, em termos da ocorrência/não-ocorrência explícita de elos coesivos (chamados de
preposições ou conjunções). Obs.: a análise tradicional limita o estudo da regência às preposições.
fim
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J. Bento
Esquema sinóptico:
ORAÇÃO
sujeito predicado
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
SINTAGMA
Nota:
1.Cada um dos elementos oracionais – sujeito, complemento verbal, agente da passiva, predicativo e
ajunto adverbial – constituem o que se chama de sintagma (nominal).
2.Fora do escopo oracional, podem-se encontrar o vocativo (“João, venha cá.”) e/ou o atitudinal
(“Felizmente, João vem.’).
3.Internamente à oração, mormente sobre os núcleos, oracional e sintagmático, pode haver
modificadores (intensidade, ênfase, negação, dúvida – estes últimos, no geral, privativos do verbo).
4.O sintagma, ao contrário da oração (que só se utiliza do verbo), pode ter seu núcleo preenchido por
categorias léxico-gramaticais distintas – substantivo, pronome, adjetivo ou advérbio –, demandando
estruturas gramaticais também distintas, como se vê através do esquema.
fim
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J. Bento
1.Oração
O
Esp-esq Esp-dir
Δ Δ Ø
Notação:
Esp-esq. → especificador (estrutural) esquerdo
Esp-dir. → especificador (estrutural/adestrutural) direito
Mod. → modificador
V → verbo
Expl. → especificador (estrutural/adestrutural) explícito
Des. → especificador (estrutural) explícito por desinência verbal
Indet. → especificador (estrutural/adestrutural) indeterminado
Δ → índice de impedimento estrutural de ocorrência/não-ocorrência, pelos fatores:
a]alteração de sentido
b]gramaticalidade
c]alteração de sintaxe (determinação/indeterminação do sujeito)
Ø → ausência de especificador (estrutural) direito
[+] → ser especificador estrutural/adestrutural
[+/-] → ter/não-ter modificador; ser/não-ser especificador estrutural
Neg. → negação
Duv. → dúvida
Ênf. → ênfase
Intens. → intensidade
N → núcleo oracional
ESPECIFICADOR
↓
algo
alguém
atributo/
modo
lugar
tempo
assunto
valor
função/
finalidade
causa
meio/
instrumento
companhia
comparação
conformação
contrariedade
condição
consequência
proporção
Nota: A colocação de barrinhas entre determinados especificadores visa chamar a atenção para certas dificuldades em relação
à distinção semântica dos respectivos especificadores.
Cada verbo, ou categoria verbal, em particular, devido à sua natureza lógico-semântica, aceita,
resiste a ou rejeita membros da rede de especificação. É por essa razão que um especificador como
{valor}, por exemplo, é praticamente privativo de verbos como [comprar], [vender] etc., e
normalmente proibitivo em verbos como [amanhecer], [sonhar] etc.:
Faz sentido, por conseguinte, que estabeleçamos uma classificação dos verbos, com base nos
especificadores, em aceitos/resistentes a/rejeitados, em que “resistentes a” possa representar uma faixa
limítrofe entre aceitar totalmente e rejeitar totalmente, até quanto isto seja uma realidade efetiva a
nível do sistema linguístico considerado.
Do ponto de vista sintático-semântico, também podemos classificar os especificadores em três
categorias. Levando em consideração a estrutura sintática de línguas como o português, dividimos a
tabela de especificadores em:
valor
função/
finalidade
ADESTRUTURAL causa
meio/
instrumento
companhia
comparação
conformação
contrariedade
condição
consequência
proporção
28
algo
alguém
algo
alguém
atributo/
modo
lugar
tempo
assunto
valor
função/
finalidade
causa
meio/
instrumento
companhia
comparação
conformação
contrariedade
condição
consequência
proporção
Com base no esquema principal esboçado anteriormente, dizemos o delta (Δ), correspondente
ao índice de impedimento estrutural, é, na realidade, o fator determinante da caracterização do
especificador como estrutural (em contraposição às especificações adestruturais), pois que a sua
alternância ausência/presença redundaria, principalmente, em –
ou
b)agramaticalidade.
Considerado de outra maneira, podemos dizer que o índice de impedimento estrutural funciona
em duas frentes, conforme a situação sintática em conta:
Assim é que podemos estipular um modelo geral de descrição dos itens verbais da língua, na
perspectiva da especificação estrutural:
{especificador-esquerdo/Δ}
VERBO{especificador-direito/Δ}
Δ Δ
VERBO
X Y
em que X/Y:
*impedidos de não-ocorrer
*impedidos de ocorrer
Observações adicionais sobre esta proposta descritiva do verbo “estar”, implicam em:
a)O verbo “estar”, quando exige a presença de especificador esquerdo, não admite a sua ausência,
por agramaticalidade; concomitantemente, proíbe o especificador direito de se referir a tempo:
b)O verbo “estar”, quando exige a ausência de especificador esquerdo, não admite a sua presença,
por agramaticalidade; ao mesmo tempo, obriga o especificador direito a se referir a tempo:
*Ø está tarde.
*?algo/alguém está tarde.
30
c)O verbo “estar”, quando acionado um dos especificadores estruturais direitos, torna os demais
especificadores estruturais previstos, adestruturais; quando não acionado nenhum especificador
direito, agramaticaliza-se a oração:
Percebe-se que basta a atualização de um dos especificadores direitos para dispensar a atualização
do outro como especificação estrutural. É o caso típico de um especificador estrutural que se
adestruturaliza em função da concorrência de outro especificador estrutural já fixado no construto
oracional. Se se optar por –
– “em Teresina”, de especificador estrutural potencial, passa a especificador adestrutural, por ser
dispensável. O contrário também é possível: se for –
ESTAR
1 2
algo
{Δ}
ESTAR{tempo} {algo-alguém}
ESTAR atributo/modo
lugar
– em que a seleção de uma das especificações à direita dispensa as outras especificações, rebaixando-
as à categoria de especificação adestrutural.
Além disto, é conveniente verificar construções do tipo –
*Está frio. (em que “frio”, para todos os efeitos, toma a função de [tempo])
*O tempo está frio.
As duas construções são gramaticais, e se faz necessário explicar suas ocorrências em razão da análise
sintática ora proposta. Penso que se trata de variantes sintáticas livres, ou seja, são estruturações
sintáticas abonadas pelo sistema para representar o mesmo ordenamento semântico. Podemos
arriscar que a segunda construção decorre exatamente da intuição linguística do falante a respeito
do modelo de alocação quase absoluta do sujeito em sentenças do português. Situações como esta se
parecem, mais ou menos, com o que atestamos em sentenças com o verbo “haver” impessoal, que a
gramática tradicional insiste em configura-lo como impessoal (sujeito inexistente), enquanto o uso
efetivo costuma trata-lo de maneira oposta: inserindo um sujeito na estrutura.
31
Talvez contribua para tal direcionamento o fato de se ter usado um adjetivo no espaço
reservado a [tempo] – “frio” –, pois seria difícil não haver estranhamento se a oração se desse nestes
termos:
*Está tarde.
*?O tempo está tarde.
a)O verbo “comer” exige a presença de especificador esquerdo, não admitindo a sua ausência, por
agramaticalidade:
b)O verbo “comer”, quando exige a presença de especificador direito, não admite a sua ausência, por
alteração de sentido, e vice-versa – quando exige a ausência do especificador direito, não admite a
sua presença, por alteração de sentido:
Em português, portanto, o falante é constrangido a optar por uma das formulações, de acordo com
a proposta discursiva:
COMER
1 2
{algo-alguém}
COMER{algo} {algo-alguém}
COMER{Δ}
E assim, reformulemos o diagrama proposto, de compreensão única para verbos do tipo “comer”:
COMER
{algo-alguém}
COMER{algo}
a)O verbo “considerar” exige a presença de especificador esquerdo, não admitindo a sua ausência,
por agramaticalidade:
32
b)O verbo “considerar”, quando exige a presença de especificador direito {atributo}, aplicado ao
especificador direito {algo/alguém}, não admite sua ausência, por alteração de sentido, e vice-versa –
quando exige a ausência do especificador direito {atributo}, não admite sua presença, por alteração
de sentido:
c)O verbo “considerar”, quando exige a presença do especificador direito {algo/alguém}, não admite
a sua ausência, por alteração de sentido, e vice-versa – quando exige a ausência de especificador
direito {algo/alguém}, não admite a sua presença, por alteração de sentido:
{algo-alguém}
1. CONSIDERAR{algo-alguém/atributo}
{algo-alguém}
CONSIDERAR 2. CONSIDERAR{algo-alguém}
3. {algo-alguém}
CONSIDERAR{Δ}
COMPONENTE
explícito implícito
ESTRUTURAL
* “apaga” o sentido
[agramaticalidade]
* altera a sintaxe
altera o sentido
explícito implícito
ADESTRUTURAL
A presença da indicação em X, no componente estrutural, significa que o explícito não pode ser
implicitado e vice-versa, o implícito não pode ser explicitado, sem consequências sintático-semânticas
para o verbo ou meramente sintáticas para a oração (rearranjo sintático proveniente da
determinação/indeterminação do chamado sujeito). Nada destas implicações estão presentes nos
componentes adestruturais; daí, a liberdade de trânsito entre os termos explícito/implícito.
1]Se o que está explícito, não pode ser omitido sem alteração do sentido verbal ou agramaticalidade:
componente estrutural explícito
2]Se o que está explícito, pode ser omitido, sem alteração do sentido verbal ou agramaticalidade:
componente adestrutural explícito
3]Se o que se sabe implícito, não pode ser explicitado sem alteração do sentido verbal:
componente estrutural impedido
4]Se o que se sabe implícito, não pode ser explicitado sem alteração da organização sintática:
componente estrutural indeterminado
5]Se o que se sabe implícito, pode ser explicitado sem alteração do sentido verbal:
6]Se o que se sabe implícito, deveria ter sido explicitado, para suportar algum sentido verbal:
componente estrutural requerido
[agramaticalidade]
ESP-ESTR-ESQUERDO ESP-ESTR-DIREITO
Logo, não há como falar de impedimento estrutural (Δ) para este espaço sintático-semântico e, por
conseguinte, de especificação estrutural.
3.4.Demonstração do fato sintático-semântico estrutural
*João fala.
*João fala um monte de besteiras.
*João fala inglês.
*João fala sobre a situação política do país.
Talvez seja fácil perceber que o verbo “falar” altera sua semanticidade à medida que passemos
de uma frase para outra, semanticidade esta que pode ser descrita mais ou menos como segue:
Tal constatação, se estiver adequadamente analisada, nos sugere que o sentido do verbo “falar”
depende da construção em que está inserido, na perspectiva de sua direita linguística. Não é possível,
digamos assim, atribuir a leitura –
ou
– fora da situação em que “falar” esteja sem uma especificação equivalente a algo do tipo –
ou
ou
Estamos deduzindo destas observações que um verbo como “falar” consiste de uma homonímia
que inscreve, no mínimo, quatro itens lexicais, conforme a natureza do preenchimento sintático-
semântico direito, e que, por conseguinte, estes preenchedores são componentes estruturais do verbo
“falar”, que o modelam para o estabelecimento de estruturações sintático-semânticas distintas.
Em outras palavras, o verbo “falar” compreende a seguinte dimensão sintático-semântica:
alguém/Δ
FALARΔ/algo/assunto
Assim sendo, todas as vezes em que a especificação direita do verbo projeta leituras semânticas
alternantes sobre o verbo, é sinal de que estamos diante de uma especificação estrutural, visto que o
verbo só se configura com determinado sentido em razão da especificação (ou ausência de
especificação) no construto oracional considerado. Esse é o fator determinante típico da postulação
do caráter estrutural ou adestrutural da especificação. Há, portanto, especificações cujo
comportamento sintático-semântico não é interferente na semanticidade do verbo. Numa frase do
tipo –
– “hoje” e “no auditório da escola” podem ser removidos da oração, sem que isto implique em
alteração semântica do verbo:
[abordar um assunto].
O que especificações do naipe de {tempo} ou {lugar} assumem relativamente aos núcleos verbais do
modelo de “falar” é serem compatíveis/incompatíveis com os mesmos, do ponto de vista lógico-
discursivo. Se, por exemplo, a intenção comunicativa é declarar que João é falante do inglês, soará
estranho fazer tal declaração enunciando {lugar}. Em –
e não que –
36
– visto que fica difícil imaginar uma pessoa que só domina o inglês se for em determinado lugar, ou
seja, o domínio competente de uma língua independe do espaço geográfico de fala.
A propósito, retrocedamos um pouco: não seria “em Nova Iorque”, no exemplo –
Esp-esq Esp-dir
[estrutural] V [estrutural]
É conveniente lembrar que uma leitura do verbo “comer” que não leva em conta uma distinção
relevante entre {alimentar-se} e {deglutir/consumir} reconfigura a interpretação do verbo “comer”
para intransitivo (na nomenclatura tradicional), tornando adestrutural o especificador direito que
está, nesta análise, sendo posto como estrutural: {algo}. Por consequência, o verbo “comer” se
mostraria nulo com respeito à especificação estrutural direita:
Esp-esq Esp-dir
[estrutural] V [estrutural]
{algo/alguém}Δ {alimentar-se/deglutir/consumir} Ø
37
4.Sintagma
SN
Esp-esq Esp-dir
Δ Δ Ø
Núcleo
fim
38
J. Bento
{eu/alguém/algo/Δ} → sujeito
Notas adicionais:
a)Essenciais, indicados pelas setas pontilhadas, e existem ou não existem (Δ) de acordo com a
natureza semântica do verbo; no caso do agente da passiva, a existência/inexistência se relaciona à
estrutura ativa/passiva do verbo (estrutura passiva: ser + particípio + preposição).
b)Circunstanciais, subdivididos em:
b1 - dialogais, que pertencem à alçada das interações comunicativas interpessoais: vocativos e
atitudinais;
b2 - informacionais, que se referem ao conteúdo discursivo propriamente dito, enredado pelo sentido
do verbo: os demais circunstanciais, incluindo os modificadores verbais.
2.Os periféricos –
– podem ser duplicados, no sentido de haver mais de um na construção, do acordo com a natureza
semântica do verbo:
No que concerne a –
– a análise sintática tradicional prevê a distinção entre objeto direto (complemento verbal1) e objeto
indireto (complemento verbal2).
- {eu/alguém/algo/Δ} → sujeito
- {(a/para)eu/alguém/algo/Δ} → complemento verbal
- {com o atributo tal/Δ} → predicativosujeito/objeto
- {por eu/alguém/algo/Δ} → agente da passiva
– particularmente –
– e em especial –
– é saber se, quando estão ausentes na construção, mas são teoricamente aceitos pelo verbo, deverão
ser interpretados como inexistentes ou elípticos. Uma solução é verificar a alteração semântica do
verbo com a inclusão de um elemento hipotético na referida função: se houver uma alteração
significativa, inexistência (Δ); caso contrário, elipse (Ø). Em –
Como é possível estipular que a regra geral é de que a ausência/presença altera a significação
do verbo, devemos aplicar este princípio à análise sintática, considerando a ausência como
inexistência. Esta regra geral, não obstante, é sistematicamente quebrada nos casos que envolvem os
chamados objeto indiretos. Com efeito, aqui se passa o contrário, pois os objetos indiretos tendem a
poder ser apagados quando se adjungem a objetos diretos na mesma construção. O exemplo –
– pode-se argumentar que o objeto indireto está apenas elíptico (Ø). Afinal de contas, “dar”, no
sentido aplicado à oração, não prescinde do “receptor do relógio”, ou a quem foi dado, não se
alterando, portanto, a sua configuração semântica.
Lembremos, de passagem, que estamos tratando de elipse linguística, e não de elipse discursiva,
que pode atingir qualquer elemento da construção, inclusive o verbo. A elipse discursiva é recuperada
pelo contexto de fala, linguístico ou extralinguístico; já na elipse linguística, recorre-se à estrutura da
língua em si. Nesta perspectiva, o verbo “comer”, por exemplo, deve ser linguisticamente –
– razão pela qual nada obsta que haja uma interpretação única de um verbo que exige complemento
verbal, a despeito da ausência ocorrida em –
*João comeu.
– ainda que não se saiba – digamos – “o que foi comido”, por não se ter a informação contextual
devida.
A menos que se adote o argumento de que em “considerar” há uma alteração significativa, em
contraste com “comer”, cuja alteração não se mostraria tão relevante, podemos manter que, em
ambos os casos, há alteração semântica no verbo que justifica o posicionamento de item inexistente
(Δ), e não de item inexistente para “considerar” e item elíptico para “comer”.
a)Um ou mais deles podem exercer a função de periférico essencial, quando é reclamado pelo sentido
do verbo; o caso mais notável é {em/de/para lugar tal}, como na oração –
- {como talcomparação }
- {apesar de tal}
- {com a condição tal}
- {com a consequência tal}
- {à proporção tal}
c)O periférico {pelo valor tal} é específico de verbos cuja significação envolve transação monetária
ou equivalente: “comprar”, “vender” etc.
d)O periférico {sobre assunto tal} é específico dos chamados verbos dicendi: “dizer”, “falar”,
“perguntar” etc.
e)Verbos há que podem rejeitar ou dificultar este ou aquele periférico circunstancial; na construção
–
– “em companhia de Pedro” deve ser interpretado mais como condição ou tempo, do que mesmo
companhia, que se revelaria numa frase como –
f)Os periféricos –
– podem ser tidos como universais, por se adequarem, praticamente, a todo e qualquer verbo da
língua.
g)Por mais que venham a ser aceitos isoladamente por determinado verbo, nenhuma construção pode
ser composta integrando todos os periféricos. A frase se torna, quando não agramatical, inaceitável
por razões pragmáticas, psicolinguísticas (memória) ou adjacentes. fim
41
J. Bento
ESTRUTURA SINTÁTICA
ou
ESTRUTURA MORFOSSINTÁTICA
signoX signoY/Z/W
↓ ↓
núcleo periferia
determinado determinante
complemento ∆ adjunto Ø
vocabular
nominal
verbal
Nota:
a)A diferença essencial entre complemento e adjunto é que o complemento é uma exigência estrutural (pertencente ao sistema
linguístico stricto sensu), enquanto o adjunto é indicação comunicativa (conforme a situação de fala).
b)O complemento, como termo obrigatório, age sob duas vias antagônicas:
*obriga à atualização física → X;
*obriga à não-atualização física → ∆.
O adjunto, como termo facultativo, deve ser entendido como:
*explícito → X [enunciado];
*implícito → Ø [compreensível]
ESTRUTURA SINTÁTICA
ou
ESTRUTURA MORFOSSINTÁTICA
signoX signoY/Z/W
↓ ↓
núcleo periferia
determinado determinante
complemento ∆ adjunto Ø
vocabular
ESTRUTURA SINTÁTICA
ou
ESTRUTURA MORFOSSINTÁTICA
signoX signoY/Z/W
↓ ↓
núcleo periferia
determinado determinante
complemento ∆ adjunto Ø
Nominal
ESTRUTURA SINTÁTICA
ou
ESTRUTURA MORFOSSINTÁTICA
signoX signoY/Z/W
↓ ↓
núcleo periferia
determinado determinante
complemento ∆ adjunto Ø
Verbal
fim
43
J. Bento
*GRAMÁTICA TRADICIONAL
Voc S P Atit
classificação
dependente da
proposta de
sentido
(acepção)
inscrita na oração
*BENTO
Esp-esq Esp-dir
Δ Δ Ø
Δ Δ
VERBO
X Y
em que X/Y:
Pred Voc
S P Voc
SN SV (SPA)
Cóp SA
SN
SP
D E L P R T F V M I C A
fim
47
J. Bento
Eis o esquema geral que, aplicado a construções linguísticas reais, deverá sofrer adaptações
(nem todos os elementos se atualizam na frase) e/ou provocar adaptações nas respectivas construções
(os elementos podem se deslocar nos atos de fala):
Voc S P Atit
int.
neg.
enf.
duv. Cv/Pred/Agp/Adv
↓ ↓
* * * V * *
SN SN
Por curiosidade, uma analogia entre os dois níveis sintáticos – oracional e sintagmático –, em
sua configuração básica, nos daria:
O
(SN)
S Cv/Pred/Agp/Adv/ -
(adn) (cn - - adn/ap)
V
(N)
A direita verbal – Cv/Pred/Agp/Adv/ –, e a direita nominal – cn/adn/ap –, até poderiam ser pensados
nesses termos, pelo menos em alguma medida:
48
O
(SN)
Cv/Pred/Agp/Adv/
cn adn/ap
V
(N)
Ou seja: Cv/Agp, por um lado, e cn, por outro, assim como Pred/Adv, por um lado, e adn/ap, por
outro, se correspondem estruturalmente, ou parecem ter relativas semelhanças de comportamento
sintático-semântico entre si. O mesmo se dá com S, por um lado, e adn [esquerdo], por outro;
observemos, de passagem, o caráter de onipresença do adn [esquerdo] nas construções linguísticas,
que nos faz lembrar a onipresença quase absoluta de S no nível oracional.
Dado o aparente comparativo (e, de praxe, só se compara o que se assemelha), seria o nível
sintagmático uma espécie de repetição do nível oracional em escala nominal? Em outras palavras,
poderia se dar isto, no esquema abaixo –
SN
Adn Cn/Adn/Ap
S Cv/Pred/Agp/Adv
V
49
Voc S P Atit
int.
neg.
enf.
duv. Cv/Pred/Agp/Adv
↓ ↓
* * * V * *
SN SN
– por este –
Voc S P Atit
int.
neg.
enf.
duv. Cv/Pred/Agp/Adv
↓
SN SN
– que nos conduz à leitura segundo a qual o nível sintático superior prepara o espaço sintático-
semântico para a alocação dos componentes do nível sintático inferior, estando estes categorizados
como suborações, ou algo equivalente.
Obteríamos a seguinte análise para a construção –
Voc S P Atit
int.
neg.
enf.
duv. Cv/Pred/Agp/Adv
↓
SN SN
S P
Cv
↓
SN SN
N V adn N adn
↓ ↓ ↓ ↓ ↓
ela abafava a boca da criança
Cv
↓
SN
adn
↓
SN
A análise sintática, tradicional ou mais moderna, tem sérios problemas a resolver em – pelo
menos – dois pontos cruciais da estrutura sintática. Demonstraremos no esquema:
Voc S P Atit
int. problema1
neg.
enf.
duv. Cv/Pred/Agp/Adv
↓
SN SN
problema2
Ambos os problemas dizem respeito, em suma, ao caráter obrigatório ou facultativo, dos termos,
considerando-se que Cv/cn devem ser obrigatórios, enquanto Adv/adn, se definiriam como
facultativos, dispensáveis à estruturação oracional (embora não necessariamente dispensáveis ao ato
de fala, que se tende a guiar pelas circunstâncias comunicativas, circunstâncias tais que provocam,
por outro lado, a dispensabilidade de termos considerados obrigatórios). E haja dificuldade para
equacionar este fenômeno, que parece existir, mas que teima em não se deixar apreender.
Notação:
O = oração Voc = vocativo
S = sujeito P = predicado
Atit = atitudinal int. = intensificador
neg. = negação enf. = enfatizador
duv. = dúvida Cv = complemento verbla
Pred = predicativo Agp = agente da passiva
Adv = adjunto adverbial V = verbo
adn = adjunto adnominal N = nome
cn = complemento nominal ap = aposto
SN = sintagma nominal ∆ = inexistente
Ø = espaço vazio, não preenchido con = conectivo
fim
52
FATIAMENTO SINTÁTICO
J. Bento
– como um adjunto adverbial, e isso tem por base as nossas vivências, as quais nos sugerem, com
relação à mencionada construção, quatro fatias de sentido sequenciadas:
*alguém
*recolher
*algo
*de um modo
Acontece, porém, que frequentemente as estruturas oracionais, para além de suas relações com o
pensamento e/ou o senso de realidade que carregamos, ensejam outras leituras adicionais possíveis
(as quais só esperam um contexto de uso adequado para virem à tona). Essas leituras podem não
estar, a princípio, muito de acordo com nossa experiência de vida, mas, a despeito disso, não deixam
de ser indicações inferidas sob a urdidura oracional tal como se nos apresenta.
Assim é que, para a oração –
– poderiam muito bem ser factíveis, além da compreensão esperada, anteriormente estipulada –
Na primeira leitura destas duas, deve-se construir um mundo em que existam “bilhetes de
cigarro”, o que, devido ao inusitado da proposta, pode nos soar ininteligível num primeiro momento.
O que seriam, de fato, “bilhetes de cigarro”? Isso, no entanto, não é problema da sintaxe, mas da
pragmática, ou das realidades linguísticas em contato com as realidades do mundo, e vice-versa. A
sintaxe, em si, apenas fornece a estrutura, que, nos casos arrolados, são plenamente gramaticais,
deixando e elaboração do sentido para o nível ulterior do enredo linguístico-discursivo.
Evidentemente, ao se admitir, por acaso, a existência de –
*“bilhetes de cigarro”
– “na boca”, na mesma estrutura, passa a valer, sozinho, como um adjunto adverbial de lugar e, por
conseguinte, teríamos de imaginar um lugar que, evenutalmente, suporia uma parte a ser
denominada de “boca” etc., para se poder sustentar a razoabilidade do sentido a ser aplicado à
oração, ou na oração.
Na segunda leitura, o termo –
*“de cigarro”
53
– como se percebe, adquire, sozinho, a função de modo, ou seja, consistiria de um adjunto adverbial
de modo, como quando alguém pudesse falar que –
*“na boca”
– manteria a sua condição de lugar, equivalente ao que se dá com a primeira das duas leituras.
Outrossim, não fosse o aparente empecilho da preposição “em” [= em + a > na], ou melhor, se
substituíssemos esse construto pelo equivalente paradigmático “de”, a construção –
– em que –
*“em”
– por –
*“de”
– assim como foi feito, parece impedir qualquer uma das outras leituras anteriormente aventadas,
embora se pudesse imaginar pelo menos uma outra, diferente:
– em que “de boca” passaria a funcionar como adjunto adverbial de modo, apesar de ser difícil
explicar que modo seria este:
O que se poderia pensar a respeito de “alguém fazer algo de boca”? Obviamente, esse modo só não
tem um sentido captável porque ainda não se fez constante em algum universo de discurso, e não
porque seria inviável uma maneira de agir que fosse representada pela expressão “de boca”. Ou,
quem sabe, na gíria até poderíamos nos deparar com uma leitura equivalente.
Finalmente, apondo-se à preposição “de” o artigo “a”, como –
– “da boca” tanto poderia ser um adjunto adnominal como um adjunto adverbial de lugar, a
depender da compreensão que se impusesse:
54
A atividade de análise sintática, não raro, está a depender destas elucubrações, o que confere
ao estudo da língua em si, de uma maneira geral – e não somente no que importa à sintaxe –, uma
constante necessidade de recorrer a dados extralinguísticos e coisas assim. Ou, melhor dizendo, a
análise linguística, mormente no que tange à sintaxe, deve se precaver da constatação de que, por
trás de uma estrutura de superfície, uniforme, a gerar o que se chama de ambiguidade, podem se
esconder múltiplas estruturas profundas:
ESTRUTURA DE SUPERFÍCIE
ESTRUTURAS PROFUNDAS
Algo parecido se dá, por exemplo, com o nível semântico-lexical, numa das interpretações
possíveis, na qual se faz um paralelo com a sintaxe, tal como descrita acima:
ESTRUTURA DE SUPERFÍCIE
[cavalo]
ESTRUTURAS PROFUNDAS
/cavalo/1 → animal
ESTRUTURA PROFUNDA
/cavalo/
ESTRUTURAS DE SUPERFÍCIE
[cavalo]1 → animal
Poderíamos fazer o mesmo com a sintaxe, como fizemos com a semântica lexical?
ESTRUTURA PROFUNDA
ESTRUTURAS DE SUPERFÍCIE
J. Bento
a)Oração
Voc S P Atit
classificação
dependente da
proposta de
sentido
(acepção)
inscrita na oração
b)Orações coordenadas
Orações coordenadas são aquelas que não se encaixam uma(s) nas outra(s), à maneira das
subordinadas, embora, na perspectiva do período, possam ser interpretadas como pertencentes a uma
unidade oracional mais ampla, correspondente ao período em que se inscrevem.
Tradicionalmente, há uma classificação das orações coordenadas, que compreende as aditivas,
adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas. Isto significa, por dedução, que em períodos cujas
orações não contemplam um desses tipos (e cujas orações também não sejam subordinadas,
naturalmente), tais orações passem a ser chamadas de justapostas ou intercaladas, e poderiam ter um
tratamento mais em função do discurso, do que propriamente do enredo sintático em si.
57
Oinicial Ocoordenada
S P S P
ISTO ou AQUILO
[alternativa]
*Aconteceu alguma coisa com o João, porque ele nunca chega atrasado.
[dado] [explicação]
Observemos que a explicação – “nunca chegar atrasado” – não PROVOCA “alguma coisa que
supostamente deva ter acontecido a João”; ao contrário, “o ônibus quebrar” é um elemento
provocador de um “atraso” (no caso, “o atraso de João”). Então, assim fica clara a distinção entre
oração coordenada explicativa e oração subordinada causal.
58
c)Sintagma
SINTAGMA NOMINAL
[S/CV/PRED/AGP/ADV]
fim
59
J. Bento
1.Transitividade verbal
VERBO
*comprar
– talvez fosse categorizado pela transitividade variável ou com uma parcela de transitividade variável
e outra parcela de transitividade invariável. Não seria adequado ao conceito de transitividade diversa
porque a variação da transitividade não parece modificar o significado do elemento. Desta forma se
postularmos, como fundamento para análise, três espaços sintáticos para “comprar” –
X comprar Y a Z por W
Já um verbo do tipo –
*querer
X querer Y
“Comer”, “considerar” e “trabalhar”, por outro lado, deveriam ser classificados como de
transitividade diversa, pois que a variação na transitividade provoca diferenciação semântica:
X comer1 Y [= deglutir]
X comer2 [= alimentar-se]
João comeu1 a melancia.
João comeu2.
A propósito da diferenciação semântica, será útil assinalar que nem toda diferenciação semântica
resulta em diferenciação de transitividade, assim como, provavelmente, nem toda alteração de
transitividade resulta em diferenciação semântica.
A proposta de que verbos do tipo “comprar” têm (uma parcela de) transitividade variável só
faz sentido se mantivermos a posição de que Z e W são, de fato, funções sintáticas, e não apenas
funções semânticas.
Quando fazemos a análise sintática pela via tradicional, dificilmente nos perguntamos o que a
vem ser, exatamente, uma função sintática. Mas nós podemos entender este conceito através do
critério da imprescindibilidade, rigorosamente aplicado ao procedimento analítico. A
imprescindibilidade é um construto que visa discernir entre aqueles elementos da estrutura oracional
que contribuem para a sua efetiva organização, ou gramaticalidade – função sintática –, em
contraposição aos elementos, prescindíveis, que resultam do itinerário comunicativo, mas não de uma
exigência linguística stricto sensu – função semântica. Toda função sintática exerce, ainda que
indiretamente, uma função semântica, embora nem toda função semântica reclame uma função
sintática, nos termos em que estamos a compreender os fatos.
Vamos ilustrar este pensamento com a oração –
O sistema da língua é, todo ele, substancialmente coercitivo e, por conseguinte, a sintaxe não
poderia fugir à regra. Quando alguém seleciona um verbo como “comprar”, por exemplo, a
morfossintaxe cuida para que o falante não se abstenha de enunciar, basicamente, o comprador, o
objeto comprado, o tempo em que foi comprado, além de coordenar a concordância e regência entre
os elementos, da maneira em que é cobrado.
O que se diz a respeito da diferença entre função sintática e função semântica tem implicações
mais ou menos profundas no procedimento da análise sintática tradicional. Em particular, os
chamados adjuntos adverbiais e adjuntos adnominais devem ser realocados como funções meramente
semânticas, uma vez que não são exigências da estrutura oracional. Numa frase do tipo –
– os elementos sublinhados, “na semana passada” e “em Fortaleza” – adjuntos adverbiais –, são
dados meramente discursivos e, portanto, exercem função restritamente semântico-informacional. É
certo que a construção linguística integral está em conformidade com o modelo sintático esperado e,
neste sentido, é uma construção gramatical, inclusive por haver exigências com relação ao contexto
de inserção e disposição sintagmática dos elementos, mas tal constatação talvez não seja suficiente
para sustentar que os referidos elementos compõem a estrutura sintática stricto sensu, pois que
podem ser excluídos sem prejuízo da gramaticalidade, que é o ponto a ser focado.
Este mesmo raciocínio pode ser aventado com relação a “de couro”, como em –
Apesar de, ao selecionar “couro” para caracterizar “bola” – adjunto adnominal –, o falante seja
obrigado a interpor a preposição “de” – um dado sintático, portanto – ao falante não é dada a
obrigação, linguística, de caracterizar “bola”.
Estamos, neste ínterim, alcançando o vislumbre de dois aspectos linguísticos complementares:
a)Em primeiro lugar, o falante domina um conjunto de entradas lexicais – o Léxico –, que será
acionado em concordância com o propósito comunicativo: “comprar”, “bola”, “couro” etc.;
b)Em segundo lugar, o falante organiza estas unidades lexicais num plano sintático que prevê
obrigações linguísticas – a Sintaxe –, mas, dentro destas obrigações, há um número mínimo de itens
a serem impreterivelmente realizados, em conformidade com o verbo e, a partir do verbo, os nomes
complementares.
fim
62
J. Bento
*COMPRAR
Observação:
X comprou Y a Z por W
Não obstante, a norma linguística mais corrente geralmente dispensa dois desses elementos – a
alguém e valor monetário –, o que enseja duas possibilidades de análise:
a)Estes elementos dispensáveis são meros adjuntos, dependentes de fatores comunicativos (ou seja,
necessidade ou não-necessidade de explicita-los no ato de fala). Portanto, o verbo é transitivo direto.
Ou
b)Estes elementos dispensáveis continuam como complementos, apenas não atualizáveis no uso
comum do verbo. Desta forma, o verbo deverá ser tido como transitivo direto e indireto, dentro de
uma espécie esdrúxula, ou seja, não prevista na teoria gramatical corrente, pois conteria três
complementos.
*COMER
Observação:
Parece-nos evidente que o verbo “comer” encerra dois significados distintos dentro da norma
linguística, tais como previstos na descrição acima. No entanto, ainda é possível estabelecer duas
propostas de análise:
Ou
b)Considerar a persistência de um único verbo “comer” – transitivo direto – que tem uma formulação
variante na qual o complemento – objeto direto – não se atualiza, dando como resultado uma alteração
no significado.
*DAR
Este verbo, nesta acepção, é considerado transitivo direto e indireto, conforme sua configuração
semântica, mas a presença do termo a alguém tende a ser costumeiramente omitida, ficando muito a
cargo da situação de fala a necessidade de explicita-lo. Percebamos, de passagem, que a omissão do
termo algo, por seu lado, leva o verbo a conceber outro significado, quiçá um pouco alheio ao
anterior:
*DAR2
*CONSIDERAR
Observemos que, na primeira acepção, o verbo deveria ser tomado como transitivo direto e indireto,
ou algo parecido, mas não é isso que diz o ponto de vista tradicional. Na versão tradicional, o termo
assim, longe de ser um complemento verbal, é uma espécie de predicado “menor” no interior do
predicado “principal”; daí, o nome predicativo do objeto.
Na segunda acepção, tudo ocorre tal como previsto nos atributos do significado, inclusive sem
chance de omissão – do termo alguém – na perspectiva da língua.
fim
65
J. Bento
Grosso modo, os focos geradores de problemas são estes, indicados pelas setas:
Vocativo
Sujeito
Predicado
Complemento verbal
Adjunto adverbial
Predicativo
Agente da Passiva
Complemento nominal
Adjunto adnominal
Aposto
66
a)vocativo/sujeito
*Quando vocativo e sujeito têm o mesmo referente.
Exemplo: João, compre-me um quilo de feijão.
b)sujeito/complemento verbal
*Quando o sujeito está posposto, ou seja, no espaço sintático reservado ao complemento verbal.
Exemplo: Compra-se carro usado.
Obs.: Apesar de, em norma coloquial, o sujeito ser indeterminado, em norma padrão, “carro usado”
é o sujeito.
h)adjunto adnominal/aposto
*Quando o aposto não se registra separado por vírgula e se liga por preposição “de”.
Exemplo: João visitou a cidade de Fortaleza.
fim
67
J. Bento
S P
Notação:
O → Oração
S → Sujeito
P → Predicado
V → Verbo
Cv → Complemento verbal [objeto direto / objetivo indireto]
Pred → Predicativo [do sujeito / do objeto]
Agp → Agente da passiva
Adv → Adjunto adverbial
N → Nome
Adn → Adjunto adnominal
Cn → Complemento nominal
Ap → Aposto
68
Não é, obviamente, que toda oração contemple todos esses elementos de uma vez. Na verdade,
muito certamente nenhuma oração real poderá fazê-lo. O esquema geral – reiteramos – funciona
como uma espécie de mapa sintático, que visa situar/guiar o analista no ambiente da estrutura
oracional.
Assim é que, por exemplo, uma oração como –
S P
V cv
3
adn N N cn
1 2 4 5
Lendo:
1 – todo
2 – gato
3 – tem
4 – medo
5 – de cachorro
Observação:
fim
69
J. Bento
MOLÉCULA GRAMATICAL
[função]
subordinante subordinado
determinante determinado
núcleo periférico
complemento adjunto
obrigatório facultativo
integrante acessório
A posição, ou contexto, pode ser entendida como o “lugar” ocupado, na estrutura considerada,
do(s) elemento(s) subordinado(s) em relação ao elemento subordinante. Assim, numa estrutura como
–
X
[estrutura]
y z w
[núcleo] [subordinado1] [subordinado2]
z [subordinado1]
z y w
[subordinado1] [núcleo] [subordinado2]
z [subordinado1]
subordinante subordinado
determinante determinado
núcleo periférico
complemento adjunto
obrigatório facultativo
integrante acessório
↓ ↓
[posiçao1] [posição2]
fim
71
seres/
REALIDADE → coisas/
[o que há] eventos
CULTURA → saberes/
[cosmovisão] procederes
lugar das premissas/postulados
↓
lugar das conclusões/postulações
CONCEPÇÃO → interpretação
[entendimento]
SINTAXE → ordenamento
[linguagem] linguístico
É por esta linha de raciocínio que se considera, por exemplo, a sentença em português –
– como destituída de sujeito, não porque, sobre os fatos percebidos, não possa ser arregimentado, de alguma
forma, um agente para o evento, mas porque é assim que se compreenderia a realidade a partir do sistema de
linguagem a que denominamos de língua portuguesa, e que tende ou não a coincidir com outras universos
linguísticos, mais ou menos aparentados (francês, alemão, chinês...). Logo, realidade, de um lado, e
cultura/concepção/linguagem, de outro, não assumem um compromisso de fidelidade mútua, a despeito de se
poder, metodologicamente, construir-se este compromisso como base para a análise linguística, fazendo vistas
grossas para todos os senões que porventura se intrometam e obnubilem os caminhos traçados. Em outras
palavras, a Linguagem (incluindo-se aqui a cultura/concepção de mundo, pois que parecem ser, de fato,
indissociáveis entre si) representa a Realidade, mas fá-lo de maneira peculiar, a mercê da própria constituição
interna (estrutura), que lhe é inerente.
Observemos, outrossim, levando em conta o esquema ilustrativo acima, que mesmo os fatos de
cultura/concepção/linguagem não estabelecem, de todo, equivalências perfeitas entre si. Teoricamente, sempre
há espaço para distorções e incongruências, a ponto de podermos surpreender, com frequência, dados do
universo linguístico que não correspondem, ou não correspondem mais, à concepção/cultura dos falantes. Em –
*O sol nasce.
– pode estar um bom exemplo desta falta de sintonia entre linguagem e concepção/cultura, visto já termos
conhecimento acumulado suficiente, em nosso tempo, sobre a realidade factual que permeia aquele objeto
luminoso e quente, suspenso nos céus.
Assim, dizer, à maneira de retificação, que a linguagem representaria, não exatamente a realidade, mas o
que se pensa sobre a realidade, nos termos de cosmovisão subjacente, não melhora significativamente o ponto de
vista epistemológico que adota a linguagem como função representativa (de mundo).
Nada obsta, portanto, que a linguagem deva ter como função precípua, não a representação, mas a
ação/reação sobre os dados da realidade e/ou as circunstâncias discursivas que envolvem a interação entre
indivíduos dotados de interesses e perspectivas (ideológicas) de vida. Mas aqui começa outra estória...
De qualquer maneira, e voltando ao tema da linguagem como representação, uma análise linguística
(detidamente sintática) que afirma ser, por exemplo, o chamado objeto direto –
– tende a estabelecer pressupostos que normalmente não condizem, nem com os dados da realidade, nem com o
nosso modo trivial de ver esta realidade. Será preciso, acima de tudo, reaprender noções (do tipo recair, por
exemplo), dentro do contexto específico da análise linguística proposta, a fim de tornar minimamente
compreensível a que se refere, exatamente, o conceito de objeto direto (assim, naturalmente, como todos os
demais termos acionados por esta visão linguística).
fim
72
PERÍODO E ORAÇÃO
J. Bento
De maneira simplória, período é uma construção sintática que engloba uma ou mais orações,
caraterizada pela enunciação completa de uma trajetória de pensamento. Oração é uma construção
sintática composta de sujeito e predicado. Assim, podemos dizer que todo período consiste, a rigor,
de uma oração, mas nem toda oração se define como período.
Por exemplo, em –
– nós temos:
a)um período
a casa que João comprou é muito bonita
b)duas orações
a casa que João comprou é muito bonita
&
que João comprou
Observemos que –
Já em –
1]sujeito: João
2]predicado: comprou que (= a casa)
ORAÇÃO NO TEXTO
J. Bento
SIGNIFICANTE SIGNIFICADO
ORAÇÃO
Mas acontece que, nos discursos realizados, consumados em textos (escritos/orais), os elementos
que configuram a oração nem sempre são devidamente explicitados (há elipses ou afins), ou
organizados sob a chamada forma canônica (há inversões, truncamentos ou afins), ou prontamente
isolados dos demais construtos oracionais que concorrem para a feitura textual (há intercalações,
conglomerações, implementos coesivos).
Poderíamos dizer, em síntese e em termos aproximadamente saussurianos ou algo parecido,
que uma coisa é ver a oração como estrutura da língua, outra coisa é experimentar a oração como
investidura da fala.
Dito de outra maneira (e considerando que isto se passa também, impreterivelmente, com os
demais constituintes linguísticos, de todos os níveis e de todas as naturezas), é como se tivéssemos a
correlação entre um elemento variável – a oração originária na perspectiva da língua –, que se produz
sob distintas variantes – as orações derivadas na perspectiva da fala –, conforme uma série bem
complexa de fatores discursivo-textuais:
74
VARIÁVEL
[língua]
ORAÇÃO
↑
[fala]
VARIANTES
(Só lembrando, de passagem, que a estrutura variável postulada no esquema acima termina sendo –
por óbvio – uma premissa restritamente teórica, com viés detidamente explanatório, pois que será
preciso distinguir, no estudo de um sistema linguístico particular e a depender do grau de abstração
assumido, as eventuais estruturas subjacentes, diversificadas, que compõem o organismo sintático do
respectivo sistema.)
De todo modo, o que vamos encontrar nos textos reais são, numa palavra, orações reais, e não
orações ideais, as quais emanam da análise linguística implementada, estando, por conseguinte,
atreladas ao mecanismo lógico-dedutivo aplicado, ou pela competência linguística do falante nativo,
ou pelo arcabouço teórico-metodológico do especialista em linguagem verbal. No que tange ao
conhecimento especializado, nada obsta que a diretriz seguida possa provir de esquemas equivalentes
ao já esboçado anteriormente (e agora retomado) –
ORAÇÃO
fim
75
J. Bento
MAL SECRETO
Raimundo Correia
ANÁLISE
Período1
Se a cólera que espuma se estampasse no rosto, talvez tanta gente que nos causa inveja agora, nos causasse
piedade.
O1
Se a cólera que espuma se estampasse no rosto, talvez tanta gente que nos causa inveja agora, nos causasse
piedade.
O2
Talvez tanta gente que nos causa inveja agora, nos causaria piedade.
O3
O4
O5
Período2
Se a dor que mora na alma e destrói cada ilusão que nasce, se estampasse no rosto, talvez tanta gente que nos
causa inveja agora, nos causasse piedade.
O1
Se a dor que mora na alma e destrói cada ilusão que nasce, se estampasse no rosto, talvez tanta gente que nos
causa inveja agora, nos causasse piedade.
O2
Talvez tanta gente que nos causa inveja agora, nos causaria piedade.
76
O3
O4
A dor que mora na alma e destrói cada ilusão que nasce se estampa no rosto.
O5
O6
O7
Período3
Se tudo o que punge se estampasse no rosto, talvez tanta gente que nos causa inveja agora, nos causasse piedade.
O1
Se tudo o que punge se estampasse no rosto, talvez tanta gente que nos causa inveja agora, nos causasse piedade.
O2
Talvez tanta gente que nos causa inveja agora, nos causaria piedade.
O3
O4
O5
Período4
Se tudo o que devora o coração se estampasse no rosto, talvez tanta gente que nos causa inveja agora, nos
causasse piedade.
O1
Se tudo o que devora o coração se estampasse no rosto, talvez tanta gente que nos causa inveja agora, nos
causasse piedade.
O2
Talvez tanta gente que nos causa inveja agora, nos causaria piedade.
O3
O4
O5
Período5
Se se pudesse ver o espírito que chora através da máscara da face, talvez tanta gente que nos causa inveja agora,
nos causasse piedade.
O1
Se se pudesse ver o espírito que chora através da máscara da face, talvez tanta gente que nos causa inveja agora,
nos causasse piedade.
O2
Talvez tanta gente que nos causa inveja agora, nos causaria piedade.
O3
O4
O5
Período6
Tanta gente que ri, talvez guarde consigo um atroz, recôndito inimigo, como invisível chaga cancerosa.
O1
Tanta gente que ri, talvez guarde consigo um atroz, recôndito inimigo, como invisível chaga cancerosa.
O2
Período7
Talvez exista tanta gente que ri, cuja única ventura consista em parecer venturosa aos outros.
O1
Talvez exista tanta gente que ri, cuja única ventura consista em parecer venturosa aos outros.
O2
O3
A única ventura cuja [= sua = de tanta gente] consiste em parecer venturosa aos outros.
O4
fim
78
CLASSIFICAÇÃO DO SUJEITO
J. Bento
SUJEITO
existente inexistente
determinado indeterminado
Exemplos:
fim
79
J. Bento
Vejamos:
Nota: Aparentemente muito comum no espanhol coloquial da América Latina, essas estruturas,
apesar de gramaticalmente abonadas, são praticamente não-usuais em português brasileiro.
Por consequência, pode-se afirmar que a variante coloquial do português brasileiro tem abolida
a forma sintética de apassivação (com a partícula “se”), mantendo-se apenas a forma analítica de
apassivação (verbo “ser” + particípio).
Um dado interessante é o seguinte: se se perguntar –
*Por que, em norma padrão, verbos transitivos diretos com a partícula “se” têm sujeito posposto, e não
sujeito indeterminado, à maneira do que ocorre com a variante coloquial, e vice-versa?
*Porque sim.
Pois é, em linguística stricto sensu e ciências afins – as chamadas ciências humanas, em contraposição
às ciências naturais –, não se responde às questões arguindo fatores externos ao objeto analisado – no
caso da linguística, a língua em si, como diria Saussure.
As ciências humanas são campos de conhecimento regidos por regras (mecanismos abstratos,
volúveis e intangíveis), e não por leis (mecanismos concretos, constantes e tangíveis). Nestas
circunstâncias, uma regra concernente a um sistema linguístico qualquer é apenas uma regra, à qual
não se atribui nenhuma força alheia à própria feitura da regra em si. A regra funciona
contingentemente, prende-se a um tempo e a um espaço (sócio-geográfico-cultural), e somente até
enquanto dura; a lei funciona necessariamente, é atemporal e inespacial, e age todas as vezes em que
as respectivas condições se apresentarem.
Outra pergunta interessante é a seguinte:
*Por que, enquanto falantes do português, não sentimos a noção de apassivação/sujeito posposto,
derivada da regra da norma padrão?
*Porque não temos, internalizada, a gramática da norma padrão, pelo menos neste ponto específico de
sua estrutura.
Ou seja, é a mesma razão que nos leva a não saber utilizar, com desenvoltura, a partícula pronominal
“cujo” e assimiladas, por exemplo. O fato é que a norma padrão encerra um sistema de regras que
difere, em maior ou menor grau, do sistema linguístico que dominamos e do qual nos servimos.
fim
81
J. Bento
VERBO3ª pessoa/plural
b)Adjungir ao verbo no singular a partícula “se”, chamada (por isso mesmo) de índice de
indeterminação do sujeito
VERBOsingular-se
Estes recursos devem ser interpretados conforme o contexto linguístico-discursivo, pois que nem
sempre as fórmulas –
VERBO3ª pessoa/plural
&
VERBOsingular-se
VERBOsingular-se
VERBOsingular-se
82
*Aluga-se apartamentos
– em lugar de –
*Alugam-se apartamentos
Fora das condições estritamente gramaticais, ora reveladas, a indeterminação do sujeito, que
absorve diretamente ingerências do nível semântico-pragmático-situacional, pode se pautar em
função de outros mecanismos:
c)Utilizar-se da segunda pessoa do singular/plural, como também da terceira pessoa do plural (ex.,
“você é responsável por seus atos” / “nós somos responsáveis por nossos atos” / “eles – os estrangeiros
– têm ressalvas quanto aos brasileiros”), ou expressões substantivas equivalentes.
– o sujeito é qualquer um que venha a tomar ciência desta informação, afixada a uma plaqueta, e não
apenas João, Maria, Antonieta... Naturalmente, será o contexto discursivo que, em todo caso, definirá
a análise: esta mesma sentença poderia estar direcionada a alguém em particular, a depender da
situação comunicativa.
Compreensão parecida talvez deva ser invocada quando o sujeito gramatical é representado
pelos chamados pronomes indefinidos (como “alguém”, “todos”...) ou expressões equivalentes (“um
homem”, “uma pessoa”, como em “uma pessoa esteve aqui procurando por você”, etc.). Enfim,
quando a concepção de indeterminação do sujeito transcende os limites estritamente gramaticais, a
complexidade analítica amplia-se vertiginosamente.
fim
83
J. Bento
TEXTO:
Círculo Vicioso
[Machado de Assis]
PASSAGEM:
INTERPRETAÇÕES AVENTADAS:
1.
Se eu pudesse copiar o teu lume transparente da grega coluna à gótica janela, contemplou a lua
suspirosa, a fronte amada e bela!
2.
Se eu pudesse copiar-te o transparente lume que a fronte amada e bela, da grega coluna à gótica
janela, contemplou suspirosa.
3.
Se eu pudesse copiar teu lume transparente que contemplou a fronte amada, bela e suspirosa, da
coluna grega à janela gótica.
4.
Se eu pudesse copiar o teu transparente lume que contemplou suspirosamente a fronte amada e bela
da grega coluna à gótica janela.
5.
Se eu pudesse copiar teu transparente lume que contemplou a suspirosa fronte, amada e bela, da
coluna grega à gótica janela.
6.
Se eu pudesse copiar teu lume transparente e suspirante que contemplou a fronte amada e bela da
coluna grega à janela gótica.
84
1.
Se eu pudesse copiar o teu lume transparente da grega coluna à gótica janela, contemplou a lua
suspirosa, a fronte amada e bela!
Se... O
cv
S V
↓ ↓
eu pudesse copiar o teu lume transparente da grega coluna
à gótica janela, contemplou a lua
suspirosa, a fronte amada e bela
agramaticalidade/
assemanticidade
↓
desprovido de sentido
palpável
2.
Se eu pudesse copiar-te o transparente lume que a fronte amada e bela, da grega coluna à gótica
janela, contemplou suspirosa.
Se... O
cv
S V
↓ ↓
eu pudesse copiar o teu transparente lume que a fronte
amada e bela, da grega coluna à gótica
janela, contemplou suspirosa.
gramaticalidade/
semanticidade
↓
a fronte amada e bela (da coluna grega
à gótica janela) contemplou
suspirosa o teu lume transparente
85
3.
Se eu pudesse copiar teu lume transparente que contemplou a fronte amada, bela e suspirosa, da
coluna grega à janela gótica.
Se... O
cv
S V
↓ ↓
eu pudesse copiar teu lume transparente que contemplou
a fronte amada, bela e suspirosa,
da coluna grega à janela gótica
gramaticalidade/
assemanticidade
↓
o teu lume transparente contemplou a fronte
amada, bela e suspirosa, da coluna grega
à janela gótica
4.
Se eu pudesse copiar o teu transparente lume que contemplou suspirosamente a fronte amada e
bela da grega coluna à gótica janela.
Se... O
cv
S V
↓ ↓
eu pudesse copiar o teu transparente lume que contemplou
suspirosamente a fronte amada e bela
da grega coluna à gótica janela
gramaticalidade/
assemanticidade
↓
o teu transparente lume contemplou
suspirosamente a fronte amada e bela, da grega
coluna à gótica janela
86
5.
Se eu pudesse copiar teu transparente lume que contemplou a suspirosa fronte, amada e bela, da
coluna grega à gótica janela.
Se... O
cv
S V
↓ ↓
eu pudesse copiar teu transparente lume que contemplou
a suspirosa fronte, amada e bela, da
coluna grega à gótica janela
gramaticalidade/
assemanticidade
↓
teu transparente lume contemplou
a suspirosa fronte, amada e bela,
da coluna grega à gótica janela
6.
Se eu pudesse copiar teu lume transparente e suspirante que contemplou a fronte amada e bela da
coluna grega à janela gótica.
Se... O
cv
S V
↓ ↓
eu pudesse copiar teu lume transparente e suspirante
que contemplou a lua suspirosa,
a fronte amada e bela da coluna
grega à janela gótica
gramaticalidade/
assemanticidade
↓
teu lume transparente e suspirante
contemplou a lua suspirosa, a fronte
amada e bela, da coluna grega
à janela gótica
fim
87
J. Bento
PANORAMA GERAL
situação exemplo
fim
88
CONECTIVOS INTRASSINTÁTICOS
[pronomes relativos]
J. Bento
1.Consideração geral
CONECTIVOS
coordenativos subordinativos
2.Os relativos
PRONOMES RELATIVOS
Estas preposições são reivindicadas pela regência do verbo da oração na qual o pronome
relativo exercerá uma função sintática. Assim, por exemplo, em “o lugar por onde caminharam...”,
“onde” deve ter a preposição “por” devido ao fato de o verbo “caminhar” o exigir: “caminhar por
onde [= o lugar referenciado na comunicação].
A técnica para identificar a função sintática do pronome relativo (e, por conseguinte, dominar
a sua execução) é muito simples:
a)analisa-se a estrutura oracional do verbo a que se adjunge o pronome relativo (este verbo está
sempre logo adiante);
b)discrimina-se o que falta na estrutura oracional (sujeito, complemento verbal ou adjunto
adverbial), pois esta lacuna é a função sintática do relativo. A partícula “cujo” é um caso à parte:
sempre funciona como adjunto adnominal e, por estratégia de análise, testa-se a sua substituição pelo
possessivo “seu/sua/seus/suas”, conforme sugere a estrutura nominal: “sobre cuja fachada” [= sobre
sua fachada].
fim
89
J. Bento
a)Interpretação 1:
ORAÇÃO
sujeito predicado
Nota:
*Neste caso – análise menos recomendada –, “nos pensar melhor” é oração subordinada objetiva
direta, cujo sujeito se faz com o pronome oblíquo átono; daí, a dificuldade de se abonar tal análise,
já que, via de regra, não existe, em língua padrão, sujeito atualizado com pronome oblíquo átono.
b)Intepretação 2:
ORAÇÃO
sujeito predicado
Nota:
*Neste caso, “pensar melhor” é predicativo – veja o paralelo com um predicado verbo-nominal típico,
no exemplo “estas ações fazem-nos felizes” –
ORAÇÃO
sujeito predicado
J. Bento
A estrutura –
– no que tange ao espaço final, sublinhado, encerra comumente dupla interpretação sintática. Tanto
pode se tratar de complemento nominal, como de adjunto adnominal, conforme sua natureza
semântica relativamente ao espaço inicial – substantivo abstrato + de.
Tentemos uma caracterização dessa diferença a partir do seguinte postulado:
adjunto adnominal
[possuidor, detentor do/dado intrínseco]
SUBSTANTIVOabstrato + de ___________________________________
Mas em:
No entanto, prestemos atenção que pode haver a concorrência do fator contexto/situação para
definir se é complemento nominal ou adjunto adnominal:
forma + de _________________
– estipulada anteriormente como engendradora de adjunto adnominal, pode muito bem provocar
complementação nominal –
– adjunto adnominal:
Será preciso, portanto, no procedimento de análise sintática, aplicar o senso aguçado de percepção e
discernimento.
Ao lado de tudo que dissemos, também podemos pensar a diferenciação ocorrente entre adjunto
adnominal e complemento nominal em termos de produto/especificação, para o primeiro conceito, e
processo/processado para o segundo conceito. Assim é que –
ou
Em –
– “dos indígenas” seria adjunto adnominal, ainda que “vida” pudesse ser interpretado como um
processo, e não como um produto. Por quê? Porque “dos indígenas” não é um processado, que consiste
numa exigência do conceito de complemento nominal. Então, concluímos:
fim
93
J. Bento
Ilustração:
1)Composição simples
2a)Sem vírgula
Nota:
A formulação –
– de ‘2a' é meio temerária, senão mesmo inadequada ou estranha à usualidade da escrita, preferindo-
se, talvez, a construção –
– inscrita em ‘2c’.
3a)Sem vírgula
Nota:
A formulação –
– de ‘3d' é meio temerária, senão mesmo inadequada ou estranha à usualidade da escrita, preferindo-
se, talvez, a construção –
– inscrita em ‘3f’.
fim
96
J. Bento
O caso típico que gera confusão entre o adjunto adnominal e o complemento nominal reside na
estrutura –
SINTAGMA
Substantivo
Abstrato
Processual Não-processual
substantivo substantivo
verbal não-verbal
– até mesmo pela dificuldade em se distinguir entre um substantivo processual e um substantivo não-
processual e, dentro desta categoria, estabelecer a distinção entre um substantivo verbal e um
substantivo não-verbal.
(Adendo: Diz-se que o substantivo é verbal quando mantém uma interrelação estreita com o seu correspondente verbal,
como nos pares “canto/cantar”, “aparição/aparecer” etc.; do contrário, na situação em que a interrelação substantivo/verbo
não é tão próxima, o substantivo deve ser caracterizado como não-verbal, cujos exemplos mais salientes se fazem em torno dos
substantivos concretos – ex.: “pedreiro/pedreirar*”.)
Quando o antecedente é um substantivo abstrato processual, a função sintática do consequente
deve ser anotada como de complemento nominal, a exemplo de –
*Produção de pão
SINTAGMA
complemento nominal
Substantivo
Abstrato
Processual
97
*Produção do padeiro
– em que o consequente, “do padeiro”, é elemento ativo: o padeiro produz, quanto no exemplo –
*Partida de futebol
SINTAGMA
adjunto adnominal
Substantivo
Abstrato
Não-processual
Em suma, é o caráter passivo do consequente que, em última análise, definirá toda a questão,
pois que identificará o termo como complemento nominal. Não havendo passividade – função
semântica de paciente –, senão que atividade – função semântica de agente – ou “neutralidade” sob
esta dicotomia ativo/passivo, trata-se de adjunto adnominal.
Enfim:
Substantivo
Verbal
Não-processual Adjunto Adnominal
Não-verbal
fim
98
J. Bento
– a teoria gramatical clássica, em muitos casos, percebe nesse tipo de construção uma tríplice
ambiguidade sintático-semântica. A forma adjetival pode ser declarada:
a)predicativo do sujeito
b)predicativo do objeto
c)adjunto adnominal
Assim é como se dá em –
“doente”
– vai se referir a –
“Raimundo”
– ou seja –
*Raimundo (era que) estava doente, quando encontrou o menino. → predicativo do sujeito
– ou vai se referir a –
“menino”
Obviamente, também em muitos casos a ambiguidade se desvanece, não por conta da estrutura
sintática, mas em razão de certas informações semânticas alheias ao nível meramente sintático. É o
que mostra o exemplo –
Dado que –
“feliz”
– por incrível que possa nos parecer, termina vindo à tona a tríplice ambiguidade:
J. Bento
Oração
esp. esp.
S I N T A X E
M O R F O L O G I A
esp. Raiz esp. esp. Raiz esp. esp. Raiz esp. esp. Raiz esp. esp. Raiz esp. esp. Raiz esp. esp. Raiz esp.
↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓↓
F O N O L O G I A
Consoante Vorgal Consoante Vorgal Consoante Vorgal Consoante Vorgal Consoante Vorgal Consoante Vorgal Consoante Vorgal
2.Caráter do especificador
a)Em sintaxe
ESPECIFICADOR
Estrutural Adestrutural
SINTAXE
100
Nota:
A diferença entre não-ter (simbolizado por Ø) e obrigado-não-ter (simbolizado por Δ), ambos não-
ocorrentes, é que este último é o contraponto de obrigado-ter, no sentido de que a não-atualização do
obrigado-não-ter se deve à oposição com obrigado-ter: se se põe o elemento x, uma leitura; se não se
põe o elemento x, outra leitura. Logo, a comutação de leituras faz com que haja necessidade de
escolha, o que não acontece com o não-ter, em que não há escolha. O especificador facultativo-ter é,
como o próprio termo sugere, decorrência da decisão do falante no ato comunicativo (do ponto de
vista estritamente linguístico, escolha livre).
ESPECIFICADOR
Estrutural Adestrutural
MORFOLOGIA
FLEXIONAL
ESPECIFICADOR
Estrutural
não-ter obrigado-ter
Δ x/Ø
MORFOLOGIA
FLEXIONAL
101
ESPECIFICADOR
Estrutural Adestrutural
MORFOLOGIA
DERIVACIONAL
ESPECIFICADOR
Estrutural Adestrutural
não-ter facultativo-ter
Δ +/-x
MORFOLOGIA
DERIVACIONAL
Nota:
Em morfologia, devido à ausência da função estrutural obrigado-não-ter – aparentemente restrita ao
nível sintático –, faz-se mais adequado deslocar o símbolo delta (Δ) para a condição não-ter,
reservando-se o zero (Ø) para indicar morfema desprovido de forma fônica.
fim
102
J. Bento
1. SISTEMA
Gênero Número
2. NORMA
LINGUAGEM VERBAL
↓ Gênero Número
morfologia
↓
flexão nominal
3. FALA
Gênero Número
Nota:
Sistema – nível abstrato das potencialidades = impositivo estrutural
Norma – nível abstrato das possibilidades = impositivo sociolinguístico
Fala – nível concreto das realidades = deliberativo circunstancial do ato de fala
Obs.: Em termos de norma, colocamos apenas os elementos funcionais básicos, a título de ilustração, mas sabemos que há
variações linguísticas (chamadas de alomorfias) no construto normatizado, ou seja, a norma costuma se compor de variantes,
dentre as quais se pode eleger o elemento de maior relevo como representante do todo.
fim
103
J. Bento
VOC
Nota:
Δ → elemento inexistente, não-aplicável
Ø → vazio significativo/opositivo
(...) → elemento fisicamente atualizado
– deverá ser:
VOC
Δ est Δ e Ø Ø
Ø cadern Ø o Δ Ø
Δ me Δ Δ Δ Δ
Ø pertenc Ø e Ø Ø
Falando estritamente em morfossintaxe, nós podemos pensa-la, como uma de suas facetas, em termos da
ingerência núcleo-periferia, ou determinado-determinante, na atualização dos elementos mórficos que compõem
uma estrutura oracional. Assim, na oração-exemplo acima, destaquemos que o núcleo central é o verbo –
“pertence” –, pois coordena morfossintaticamente os sintagmas “este caderno” e “me”, que o acompanham. Já
o sintagma “este caderno”, visto ser composto de mais de uma unidade linguística (ao contrário do sintagma
“me”, monolinguístico), se deixa categorizar, também, em determinado-determinante, constando-se o
substantivo – “caderno” – como núcleo, e o pronome adjetival “este” como item sintaticamente periférico.
Esta relação determinado-determinante, em línguas como o português, é conduzida essencialmente pelo
chamado fenômeno da concordância, verbal ou nominal, em que os determinantes devem seguir, conforme sua
natureza mórfica, as flexões estipuladas sobre o determinado. Basicamente, dá-se isto:
J. Bento
Toda classificação, em qualquer instância e circunstância, requer três fases interligadas para
demonstrar seu sucesso/insucesso:
Então:
MARCHA DA CLASSIFICAÇÃO
Teoria
ou critério(s)
Propósito
adequado inadequado
classificaçãoem si
adequado inadequado
aplicação
adequado inadequado
105
Teoria
ou critério(s)
Propósito
adequado
classificaçãoem si
adequado
aplicação
adequado
A)critério inadequado
Teoria
ou critério(s)
Propósito
inadequado
classificaçãoem si
adequado
aplicação
adequado
106
B)classificação em si inadequada
Teoria
ou critério(s)
Propósito
adequado
classificaçãoem si
inadequado
aplicação
adequado
C)aplicação inadequada
MARCHA DA CLASSIFICAÇÃO
Teoria
ou critério(s)
Propósito
adequado
classificaçãoem si
adequado
aplicação
inadequado
107
Partimos da premissa de que as palavras de uma língua, apesar de muitos senões, podem ser
classificadas pelo critério sintático-funcional, quando observamos uma tendência generalizada de as
palavras ocuparem funções sintáticas específicas, no âmbito da construção gramatical. Os desvios
ocorrentes nesta tendência, na maioria das vezes, podem ser explicados em função de fatores
adicionais, como a homonímia e a derivação imprópria (correlata à homonímia), além de um ou outro
mecanismo sintático presente na estrutura linguístico-gramatical.
Quando se diz que as palavras não devem ser classificadas pela função sintática porque muitas
delas mudam de função sintática, será conveniente argumentar que subjaz ao fenômeno linguístico o
fator homonímico, em que duas ou mais unidades gramaticais detêm o mesmo construto fonológico.
Portanto, cabe o contra-argumento de que não se trata de uma mesma unidade, mas duas ou mais
unidades com aspectos fonológicos indistintos – homonímia.
Quando se diz que as palavras não devem ser classificadas pela função sintática porque há
uma regra, chamada tradicionalmente de derivação imprópria, que transporta uma palavra de uma
classe para outra, cai-se no mesmo problema da homonímia, visto através do ângulo da derivação
imprópria. O que, de fato, ocorre é a postulação de outra unidade linguística, diferente da ordem
original, digamos assim. Desta maneira é que “azul”, em português, vem a ocupar as funções
sintáticas de substantivo e adjetivo, não porque são a mesma palavra com funções cambiantes, mas
duas palavras sob o princípio da homonímia, em derivação imprópria, segundo a terminologia
tradicional.
Por esta linha de raciocínio, sugiramos um esquema sinóptico que evidencie, a grosso modo,
as relações prováveis entre função sintática e classe morfológica do vocábulo. Perceba-se de passagem
que, no modelo requerido, conceitos como substantivo, pronome (ou proformas que, na construção,
tomam o lugar dos substantivos) adjetivo, verbo, advérbio (ou modificador verbal/adjetival), dêiticos
(sob os quais podemos inserir o artigo, pronomes adjetivos e numerais) e conectivos são, a um só tempo,
da alçada sintática e morfológica, o que significa, mais ou menos (e por exemplo) –
– em que a função substantiva tende a ser preenchida, via de regra, por um espécime da classe dos
substantivos, e por aí vai.
108
SINTAXE
[função sintática]
[classe morfológica]
MORFOLOGIA
Só reiterando o que se disse, este quadro se sustenta na relação biunívoca entre a função
sintática do vocábulo e a classe morfológica a que o vocábulo pertence, mais ou menos na forma do
princípio de que, por exemplo, uma função substantiva será ocupada por um espécime substantivo,
ou da classe dos substantivos, e vice-versa, etc.
fim
109
J. Bento
1.Critério semântico-gramatical
MORFEMA
[unidade significativa mínima]
lexical gramatical
O mecanismo flexional (de gênero) pode ser preterido em favor da via meramente lexical –
supletiva –, como no exemplo [homem]/[mulher], [bode]/[cabra], em que a indicação de gênero
consiste em alternar os referidos itens lexicais.
As chamadas derivação regressiva e derivação imprópria se originam, respectivamente, da
comutação flexional nome-verbo e reclassificação da palavra (por ex.: substantivo se transformar em
adjetivo, e vice-versa), estando, portanto, ao lado da derivação propriamente dita como instrumento
de criação lexical.
A raiz é dita produtiva quando acolhe afixos derivacionais, criando outros itens lexicais na
língua; é improdutiva quando não é capaz de fazer inserir novas unidades lexicais, através dos afixos
derivacionais.
A chamada vogal temática – ou afixo temático –, em razão de sua total ausência de viés
significativo, talvez não devesse ganhar o atributo de morfema, mas de mero aporte fônico dos afixos
ou da raiz, compondo uma extensão dos mesmos.
110
2.Critério formal
MORFEMA
[unidade significativa mínima]
Patente Latente
[+carregamento fonológico] [-carregamento fonológico]
lexical gramatical
x y Δ Ø
– que, a posteriori, deverá ser preenchida, por adição, nos espaços estruturais indicados por x e y:
bolach a Δ Ø
Nota:
O símbolo Δ significa inexistência de elemento mórfico correspondente, e Ø, morfema sem
carregamento fonológico, ou morfema zero.
111
MORFEMA
[unidade significativa mínima]
Patente Latente
lexical gramatical
Podemos, finalmente, tornar mais completa a classificação dos morfemas, adotando o critério
funcional, o qual consiste em observar o comportamento do morfema no discurso, e, de quebra,
enveredarmos em direção a uma classificação do signo linguístico com base na morfologia:
112
3.Critério funcional
MORFEMA
[unidade significativa mínima]
Patente Latente
lexical gramatical
palavra
vocábulo
signo linguístico
Percebe-se uma relação de inclusão que se estabelece entre palavra, vocábulo e signo linguístico:
signo linguístico
vocábulo
palavra
fim
114
J. Bento
Preâmbulo:
CLASSE MORFOLOGIA
Flexional Derivacional
Algumas notas:
1)Contra esta visão geral, obviamente – como é de praxe nas línguas naturais, eivadas de irregularidades –, existem exceções,
as quais, às vezes, não são poucas. Por exemplo, de [hoje], advérbio, existe [hodierno], adjetivo (derivado do advérbio). Além
disso, devemos estar atentos às eventuais interpretações divergentes sobre o mesmo fato, bem como às também eventuais
interpretações múltiplas – mais de uma interpretação –, as quais, aparentemente não conflitam entre si.
2)Os numerais se mostram paupérrimos em flexão (de gênero) – [um-uma], [dois-duas], [duzentos(s)], [trezentos(as)] etc., e só
– e, por sua natureza semântica, não encerram flexão de número. A composição, e não a derivação, é o mecanismo mórfico por
excelência nos numerais (cf. [trezentos] = [três] + [cem], em que [cento] é alomorfe de [cem]), a despeito de também se poder
constatar derivação, com o sufixo /ze/, privativo dos numerais, e destes numerais, especificamente: [onze], [doze], [treze],
[catorze] e [quinze].
3)Cabe lembrar, outrossim, que nos fixamos, nesta oportunidade, apenas nos chamados numerais cardinais por considerarmos
os numerais por excelência, restando aos demais numerais a categorização, mais adequada, de adjetivos.
115
Detalhamento:
CLASSE MORFOLOGIA
fim
116
J. Bento
VOC
SUF
DES
RAIZ
V N
Δ Ø Δ Δ Δ ∆ Δ Δ
Ø ↓ Ø Ø Ø Ø/o/i/ou Ø Ø
↓ ↓ a/ã/e/i/o va/ve/a/e s/ste/Ø a/Ø/sub/alt s/Ø
a/e/i/o/u Ø/ra Ø/u/o/i+alt/Ø+alt
ra/re mos
re/rá/rã is/stes/s/des/i/de
ria/ríe m/o
e/a
sse
r/re
Ø/e/a
r
ndo
do/to/o/e
Notação:
VOC → vocábulo
DES → desinência
RAIZ → raiz
V → verbo
N → nome
PRE → prefixo
LEX → lexical
GRA → gramatical
SUF → sufixo
VT → vogal temática
MT → desinência modo-temporal
NP → desinência número-pessoal
GE → gênero
NU → número
Δ → não existe ou não se aplica; indica a ocorrência de uma espécie de antimorfema.
Ø → vazio significativo/opositivo
↓ → número extenso mas limitado de itens
→ número potencialmente ilimitado de itens
J. Bento
VOCÁBULO
Verbo Não-Verbo
Nome Não-Nome
[conectivo]
Notas:
a)simbologia:
x – elemento estrutural explícito, identificável pela forma fônica;
+/- – elemento adestrutural, facultativo
ø – elemento estrutural implícito, identificável pelo contraste [oposição];
Δ – elemento estrutural inexistente por impedimento estrutural, fonológica ou
semanticamente determinado.
b)Dá-se o nome de raiz à base dos conectivos para manter uma linha descritiva harmônica, pois que
o termo “raiz” deveria pressupor adjunção de elementos mórficos presos, ou afixos.
c)Prefixos e sufixos também podem ser interpretados como estruturais (e não adestruturais), caso
que envolveria a anulação da dicotomia primitivos e derivados, já que os chamados primitivos, de
fato, conteriam prefixação/sufixação zero:
VOCÁBULO
Verbo Não-Verbo
Nome
fim
118
J. Bento
A partir de –
Prefixo - ∆
Raiz - ø
Sufixo - ∆
Vogal temática - o
Gênero - ø
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - garot
Sufixo - ø
Vogal temática - o
Gênero - ø
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - compr
Sufixo - ø
Vogal temática - o
DMT - ø
DNP - u
Prefixo - ∆
Raiz - um
Sufixo - ∆
Vogal temática - ø
Gênero - a
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - bol
Sufixo - ø
Vogal temática - a
Gênero - ∆
Número - ø
arranj
ganh sem condicionantes morfossintático-semânticas
chut
...
– não se observando a mínima alteração morfossintática do quadro inicial, no qual se inclui compr:
119
Prefixo - ∆
Raiz - ø
Sufixo - ∆
Vogal temática - o
Gênero - ø
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - garot
Sufixo - ø
Vogal temática - o
Gênero - ø
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - arranj/ganh/chut
Sufixo - ø
Vogal temática - o
DMT - ø
DNP - u
Prefixo - ∆
Raiz - um
Sufixo - ∆
Vogal temática - ø
Gênero - a
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - bol
Sufixo - ø
Vogal temática - a
Gênero - ∆
Número - ø
Por outro lado, se ao invés disso, se proceder à comutação de compr por itens como –
vend[er]
consegu[ir] com condicionantes morfossintáticas
...
Prefixo - ∆
Raiz - ø
Sufixo - ∆
Vogal temática - o
Gênero - ø
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - garot
Sufixo - ø
Vogal temática - o
Gênero - ø
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - vend/consegu
Sufixo - ø
Vogal temática - e/i
DMT - ø
DNP - u
Prefixo - ∆
Raiz - um
Sufixo - ∆
Vogal temática - ø
Gênero - a
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - bol
Sufixo - ø
Vogal temática - a
Gênero - ∆
Número - ø
120
cant[ar]
assanh[ar] com condicionantes semânticas
cham[ar]
Prefixo - ∆
Raiz - ø
Sufixo - ∆
Vogal temática - o
Gênero - ø
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - garot
Sufixo - ø
Vogal temática - o
Gênero - ø
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - cant/assanh/cham →?
Sufixo - ø
Vogal temática - o
DMT - ø
DNP - u
Prefixo - ∆
Raiz - um
Sufixo - ∆
Vogal temática - ø
Gênero - a
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - bol
Sufixo - ø
Vogal temática - a
Gênero - ∆
Número - ø
mor[ar]
rosn[ar] com condicionantes morfossintático-semânticas
lut[ar]
Prefixo - ∆
Raiz - ø
Sufixo - ∆
Vogal temática - o
Gênero - ø
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - garot
Sufixo - ø
Vogal temática - o
Gênero - ø
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - mor/rosn/lut →?
Sufixo - ø
Vogal temática - o →?
DMT - ø
DNP - u
Prefixo - ∆
Raiz - um
Sufixo - ∆
Vogal temática - ø
Gênero - a
Número - ø
Prefixo - ø
Raiz - bol
Sufixo - ø
Vogal temática - a
Gênero - ∆
Número - ø
Em suma, dado um determinado construto oracional, cabe auferir os contextos que são
suscetíveis a comutação (na verdade, praticamente todos, com exceção dos indicados por [∆]),
distinguindo:
a)os elementos que podem substituir o elemento original referido, sem provocar alterações na
urdidura morfossintática e/ou implicações restritivas na cadeia semântica;
b)os elementos que, ao substituírem o elemento original referido, promovem alterações na urdidura
morfossintática e/ou implicações restritivas na cadeia semântica.
Nestas circunstâncias, cabe deduzir que a lista de elementos passíveis de comutação, em cada
contexto, sem a contrapartida de alterações em outros contextos do complexo oracional e/ou sem o
estabelecimento de restrições semânticas, pelo menos a nível de norma, será sempre relativamente
reduzida, ainda que estejam em consideração elementos da ordem lexical (sistema aberto).
Nota:
No texto, dispomos a organização sintagmática na vertical (e, por conseguinte, a organização
paradigmática na horizontal) em razão da comodidade proporcionada pelo espaço da página
(virtual/física). De fato, e conforme as diretrizes lógicas, o correto seria o inverso: relações
sintagmáticas, na horizontal; relações paradigmáticas, na vertical.
fim
122
FLEXÃO NOMINAL
J. Bento
VOC
SUF
RAIZ DES
Δ Ø Δ Δ Δ Δ
Ø ↓ Ø Ø Ø Ø
↓ ↓ a/e/i/o/u a/Ø/sub/alt s/Ø
a)
VOGAL TEMÁTICA
↓
é toda vogal átona, oral, em final de vocábulo, que não seja indicativa
de feminino dentro da oposição flexional masculino/feminino
b)
GÊNERO
MASCULINO FEMININO
↓ ↓
{Ø} A
Ø
subtração
alternância
c)
NÚMERO
SINGULAR PLURAL
↓ ↓
{Ø} S
Ø
NOTAS PONTUAIS:
1.O vocábulo pode SER do gênero/número X (isentando-se, pois, da flexão correspondente) ou ESTAR,
eventualmente, no gênero/número X (quando, então, alterna entre uma flexão e outra conforme o contexto
linguístico/extralinguístico).
2.Não há vogal temática em nomes não-flexionais (“nada”, “tudo” etc.) – terá a notação em delta (Δ) – e nomes
flexionais terminados em vogal tônica ou vogal nasal (“café”, “ímã” etc.) – terá a notação em zero (Ø). A vogal
temática também pode ser postulada como [Ø] nos casos em que ela aparece, segundo a flexão: em “animal”, a
vogal temática é [Ø] por contraposição a “animais”, que é [i].
3.SUB e ALT querem dizer, respectivamente, morfema subtrativo e morfema alternativo. São tipos morfemáticos
esdrúxulos no português: o primeiro consiste em subtrair a vogal temática sem apor a desinência de gênero,
feminino (cf. “órfão/órfã”); o segundo consiste em uma comutação de fonemas no interior da raiz: “avô/avó”
(em que /ɔ/, ao substituir /o/, torna-se o indicativo morfemático de feminino).
fim
123
FLEXÃO VERBAL
J. Bento
VOC
SUF
DES
RAIZ
V
Ø Ø Ø Ø ∆
↓ ↓ a/ã/e/i/o va/ve/a/e Ø/o/i/ou
Ø/ra s/ste/Ø
ra/re Ø/u/o/i+alt/Ø+alt
re/rá/rã mos
ria/ríe is/stes/s/des/i/de
e/a m/o
sse
r/re
Ø/e/a
r
ndo
do/to/o/e
VOGAL TEMÁTICA
a)Norma A
b)Alomorfia:
*P3PtP
Exceção: O
- dar/estar → [E]
*P1PtP
*dar/estar [PtP/ImpS/FtS/MqP] E
*dar/estar [P6PrI] Ã
*P1PrI/PrS/P346Ip Ø
*Particípio reduzido
124
VOGAL TEMÁTICA
a)Norma E
b)Alomorfia:
*P1PtP
Exceção:
- caber/saber/haver/trazer/poder → [E]
*ImpI
Exceção:
- ser/ter/-ter (conter, reter...)/pôr/-por (compor...) → [Ø] I
*Part
Exceção:
- formas reduzidas → [Ø]
*P1PrI/PrS
*P346Ip
*ser
Exceção:
- Part → [I]
*crer/ler
Exceção:
- P6PrI → [E]
- Part → [I]
*ver
Exceção: Ø
- P6PrI → [E]
*ter/-ter (conter, reter...)
Exceção:
- PtP/MqP/ImpS/FtS → [E]
- Part → [I]
*pôr/-por (compor...)
Exceção:
- P236PrI/P2456PtP/P2Ip/MqP/FtS → [E]
*dizer/fazer/trazer[P3PrI/FtI]
*haver[P236PrI]
*querer[P3PrI]
*Particípio reduzido
125
VOGAL TEMÁTICA
a)Norma I
b)Alomorfia:
*P23PrI/P2Ip
Exceção:
- verbos -air (atrair, contrair...)/ir → [I] E
*P6PrI
Exceção:
- ir/vir → [Ø]
*vir[P2456PtP/MqP/ImpS/FtS]
*P346Ip
Exceção:
- verbos -air (atrair, contrair...) → [I]
*P1PrI/PrS
Exceção:
- verbos -air (atrair, contrair...) → [I] Ø
*vir
Exceção:
- P2456PtP/MqP/ImpS/FtS → [E]
*ir
Exceção:
- P23PrI/P2Ip → [I]
a {norma}
o – P3PtP, exc. dar/estar: E
CI e – P1PtP;
dar/estar: PtP/ImpS/FtS/MqP
ã – dar/estar: P6PrI
Ø
e {norma}
VT: vogal que se segue à RAIZ* CII i – ImpI, exc. ser/ter/-ter/pôr/-por: Ø;
Part, exc. formas reduzidas: Ø
Ø
i {norma}
e – P23PrI/P2Ip, exc. -air (atrair ...)/ir: I;
CIII P6PrI, exc. ir/vir: Ø;
vir: P2456PtP/MqP/ImpS/FtS
Ø
126
(,) → marcador de exceção aos casos arrolados para o espécime flexional imediatamente anterior (p.
ex., P3PtP, exc. = “exceção ao espécime P3PtP”).
(;) → cada um dos espécimes em série com distintas condições teóricas (p. ex., P1PtP e dar/estar têm
vogal temática E, mas dar/estar, diferentemente dos demais verbos, fazem a vogal temática E em
outras tantas condições, além de P1PtP).
(/) → cada um dos espécimes em série com igualdade de condições teóricas (p. ex., P6PrI, exc. ir/vir:
Ø, em que ir e vir são, igualmente, exceção a P6PrI).
(:) → condição teórica do elemento anterior (p. ex., ir/vir: Ø quer dizer que ir e vir fazem a vogal
temática com zero).
* → Didaticamente, pode-se identificar mais facilmente a RAIZ visualizando-se uma das formas
nominais do verbo, o infinitivo, por exemplo. Neste caso, é preciso apenas ter cuidado com os
seguintes itens verbais irregulares, da segunda conjugação – ser/crer/ler/ver/ter (e eventuais
derivados) –, cuja vogal “e”, apesar da aparência superficial, seria melhor analisada como
componente da raiz, e não vogal temática. Atente para sua dimensão teórica: “ser” → sedere > seer
> ser; “crer” → credere > creer > crer; “ler” → legere > leer > ler; “ver” → videre > veer > ver;
“ter” → tenere > teer > ter; em que a vogal temática, de fato, é a que “some” da estrutura, pelo
fenômeno da crase, numa perspectiva diacrônica. Assim, o “e” desses vocábulos deve ser analisado
apenas como componente da raiz, sendo Ø a vogal temática, de acordo com certa interpretação.
VT
CI CII CIII
↓ ↓ ↓
a e i
o i e
e Ø Ø
ã
Ø
127
DESINÊNCIA MODO-TEMPORAL
DESINÊNCIA NÚMERO-PESSOAL
a)Norma................................................................................................... Ø
b)Alomorfia:
*PrI (exc. ser/estar/dar/ir/haver/saber)................................... O
*PtPCI/PtP[ser/ir]/FtPr/PrI[haver/saber].................................. I
*PrI[ser/estar/dar/ir]................................................................. OU
Notação:
CI → primeira conjugação CII → segunda conjugação CIII → terceira conjugação
PrI → presente do indicativo
PtP → pretérito perfeito do indicativo
ImpI → imperfeito do indicativo
MqP → mais-que-perfeito do indicativo
FtPr → futuro do presente do indicativo
FtPt → futuro do pretérito do indicativo
PrS → presente do subjuntivo
ImpS → imperfeito do subjuntivo
FtS → futuro do subjuntivo e infinitivo flexionado (homonímia integral na terminação)
Ip → imperativo (afirmativo); imperativo negativo é homônimo a P rS
P art
→ particípio Ger → gerúndio Inf → infinitivo
P 1
→ 1ª pessoa do singular P2
→ 2ª pessoa do singular P3 → 3ª pessoa do singular
P4 → 1ª pessoa do plural P5 → 2ª pessoa do plural P6 → 3ª pessoa do plural
fim
129
FLEXÃO VERBAL
[dmt’s e vt’s em distribuição complementar]
J. Bento
Apesar de, na maneira clássica, se proceder à discriminação entre DMT´s (modos indicativo,
subjuntivo e imperativo tomados como morfemas per si) e VT´s (primeira, segunda e terceira
conjugações tomados como morfemas per si), o fato é que se pode fazer uma leitura distributiva entre
esses elementos, julgando-os sob o conceito de distribuição complementar, ou seja, por variação
contextual de um único elemento linguístico. Não teríamos, assim, morfemas distintos, mas um
mesmo morfema que se alomorfiza de acordo com o contexto linguístico.
A vogal temática, por exemplo, seria uma só – [a], correspondente ao que se chama de primeira
conjugação –, ficando as demais vogais temáticas (segunda e terceira conjugações) registradas como
alomorfia desta:
– se revelariam os alomorfes –
– sem a efetiva preocupação com a classe a que pertencem, se modo indicativo ou subjuntivo. O modo
imperativo talvez pudesse ser incluído neste modelo descritivo, também, acrescentando-se, então, o
–
Ø/e/a/r
DESINÊNCIA MODO-TEMPORAL
Presente
a)Norma................................................................................................ Ø
b)Alomorfia:
*PrSCI....................................................................... E
*PrSCII/III................................................................... A
*FtSP1345.................................................................... R
*FtSP26....................................................................... RE
Imperfeito
CI –
a)Norma................................................................................................. VA
b)Alomorfia:
*P5............................................................................. VE
*ImpS.......................................................................... SSE
CII/III –
a)Norma……………………………………………………………….. A
b)Alomorfia:
*P5…………………………………………………. E
*ImpS.......................................................................... SSE
Pretérito Perfeito
a)Norma................................................................................................. Ø
b)Alomorfia:
*P6............................................................................. RA
*ImpS.......................................................................... SSE
Pretérito Mais-Que-Perfeito
a)Norma................................................................................................. RA
b)Alomorfia:
*P5............................................................................. RE
*ImpS.......................................................................... SSE
Futuro do Presente
a)Norma................................................................................................. RE
b)Alomorfia:
*P23........................................................................... RÁ
*P6............................................................................. RÃ
*FtSP1345.................................................................... R
*FtSP26...................................................................... RE
Futuro do Pretérito
a)Norma................................................................................................. RIA
b)Alomorfia:
*P5............................................................................. RÍE
*ImpS.......................................................................... SSE
131
VOGAL TEMÁTICA
a)Norma A
b)Alomorfia:
*P3PtP
Exceção: O
- dar/estar → [E]
*P1PtP
*dar/estar [PtP/ImpS/FtS/MqP]
*norma em CII
*variação em CIII:
a]P23PrI/P2Ip
Exceção:
- verbos -air (atrair, contrair...)/ir → [I] E
b]P6PrI
Exceção:
- ir/vir → [Ø]
c]vir[P2456PtP/MqP/ImpS/FtS]
*dar/estar [P6PrI] Ã
*variação em CII:
a]P1PtP
Exceção:
- caber/saber/haver/trazer/poder → [E]
b]ImpI
Exceção:
- ser/ter/-ter (conter, reter...)/pôr/-por (compor...) → [Ø] I
cPart
Exceção:
- formas reduzidas → [Ø]
*norma em CIII
*P1PrI/PrS/P346Ip
*variação em CII:
a]P1PrI/PrS
b]P346Ip
c]ser
Exceção:
- Part → [I] Ø
d]crer/ler
Exceção:
- P6PrI → [E]
- Part → [I]
e]ver
Exceção:
- P6PrI → [E]
f]ter/-ter (conter, reter...)
Exceção:
- PtP, MqP, ImpS, FtS → [E]
- Part → [I]
132
Continuação...
g]pôr/-por (compor...)
Exceção:
- P236PrI/P2456PtP/P2Ip/MqP/FtS → [E]
h]dizer/fazer/trazer[P3PrI/FtI]
i]haver[P236PrI]
j]querer[P3PrI]
l]Particípio reduzido
*variação em CIII:
a]P346Ip Ø
Exceção:
- verbos -air (atrair, contrair...) → [I]
b]P1PrI/PrS
Exceção:
- verbos -air (atrair, contrair...) → [I]
c]vir
Exceção:
- P2456PtP/MqP/ImpS/FtS → [E]
d]ir
Exceção:
- P23PrI/P2Ip → [I]
Notação:
CI → primeira conjugação
CII → segunda conjugação
CIII → terceira conjugação
PrI → presente do indicativo
PtP → pretérito perfeito do indicativo
ImpI → imperfeito do indicativo
MqP → mais-que-perfeito do indicativo
FtPr → futuro do presente do indicativo
FtPt → futuro do pretérito do indicativo
PrS → presente do subjuntivo
ImpS → imperfeito do subjuntivo
FtS → futuro do subjuntivo e infinitivo flexionado (homonímia integral na terminação)
FtI → futuro do indicativo
Ip → imperativo (afirmativo); imperativo negativo é homônimo a P rS
Part → particípio
Ger → gerúndio
Inf → infinitivo
P1 → primeira pessoa do singular
P2 → segunda pessoa do singular
P3 → terceira pessoa do singular
P4 → primeira pessoa do plural
P5 → segunda pessoa do plural
P6 → terceira pessoa do plural
fim
133
J. Bento
PRIMEIRA CONJUGAÇÃO
VT DMT DNP
PrI P1 P2 P3 P4 P5 P6
{ø} o {s} {ø} {mos} {is} m
ou o
PtP P1 P2 P3 P4 P5 P6
ø {i} {ste} u {mos} {stes} {m}
ra ø+alt
ImP P1 P2 P3 P4 P5 P6
va {ø} {s} {ø} {mos} {is} {m}
ve
MqP P1 P2 P3 P4 P5 P6
ra {ø} {s} {ø} {mos} {is} {m}
re
FtPr P1 P2 P3 P4 P5 P6
re {i} {s} {ø} {mos} {is} {o}
rá
rã
FtPt P1 P2 P3 P4 P5 P6
C1 ria {ø} {s} {ø} {mos} {is} {m}
a ríe
o
e PrS P1 P2 P3 P4 P5 P6
ã {e} {ø} {s} {ø} {mos} {is} {m}
ø
ImpS P1 P2 P3 P4 P5 P6
{sse} {ø} {s} {ø} {mos} {is} {m}
FtS P1 P2 P3 P4 P5 P6
r {ø} {s} {ø} {mos} {des} {m}
re
Ip P1 P2 P3 P4 P5 P6
ø {Δ} {ø} {ø} {mos} {i} {m}
e
Ipn P1 P2 P3 P4 P5 P6
{e} {Δ} {s} {ø} {mos} {is} {m}
InfP P1 P2 P3 P4 P5 P6
r {ø} {s} {ø} {mos} {des} {m}
re
134
SEGUNDA CONJUGAÇÃO
VT DMT DNP
PrI P1 P2 P3 P4 P5 P6
{ø} o {s} {ø} {mos} is m
ou des o
i
PtP P1 P2 P3 P4 P5 P6
ø ø {ste} u {mos} {stes} {m}
ra i ø+alt
i+alt
ImP P1 P2 P3 P4 P5 P6
a {ø} {s} {ø} {mos} {is} {m}
e
MqP P1 P2 P3 P4 P5 P6
ra {ø} {s} {ø} {mos} {is} {m}
re
FtPr P1 P2 P3 P4 P5 P6
re {i} {s} {ø} {mos} {is} {o}
rá
rã
FtPt P1 P2 P3 P4 P5 P6
C2 ria {ø} {s} {ø} {mos} {is} {m}
e ríe
i
ø PrS P1 P2 P3 P4 P5 P6
{a} {ø} {s} {ø} {mos} {is} {m}
ImpS P1 P2 P3 P4 P5 P6
{sse} {ø} {s} {ø} {mos} {is} {m}
FtS P1 P2 P3 P4 P5 P6
r {ø} {s} {ø} {mos} {des} {m}
re
Ip P1 P2 P3 P4 P5 P6
ø {Δ} {ø} {ø} {mos} i {m}
a de
Ipn P1 P2 P3 P4 P5 P6
{a} {Δ} {s} {ø} {mos} {is} {m}
InfP P1 P2 P3 P4 P5 P6
r {ø} {s} {ø} {mos} {des} {m}
re
135
TERCEIRA CONJUGAÇÃO
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fim
136
J. Bento
fim
140
J. Bento
1.Visão Geral
VOC
SUF
DES
RAIZ
V
Ø Ø Ø Ø ∆
↓ ↓ a/ã/e/i/o va/ve/a/e Ø/o/i/ou
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do/to/o/e
2.Casos particulares
VOC
SUF
DES
RAIZ
V
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↓ ↓
141
VOC
SUF
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V
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↓ ↓
VOC
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V
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↓ ↓
VOC
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V
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142
VOC
SUF
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V
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↓ ↓
VOC
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RAIZ
V
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↓ ↓
VOC
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V
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143
VOC
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V
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↓ ↓
VOC
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V
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VOC
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V
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144
VOC
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V
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↓ ↓
VOC
SUF
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V
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VOC
SUF
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V
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V
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VOC
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V
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VOC
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146
VOC
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V
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VOC
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V
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VOC
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147
VOC
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V
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VOC
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V
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VOC
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V
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148
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V
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VOC
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VOC
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V
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149
VOC
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V
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VOC
SUF
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V
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↓ ↓
VOC
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V
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V
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V
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151
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V
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V
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VOC
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V
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152
VOC
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V
Ø Ø e/Ø ra m
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VOC
SUF
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V
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VOC
SUF
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V
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153
VOC
SUF
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RAIZ
V
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VOC
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RAIZ
V
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VOC
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V
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154
VOC
SUF
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V
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VOC
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V
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VOC
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V
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155
VOC
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V
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V
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V
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156
VOC
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V
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V
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157
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V
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↓ ↓
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V
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SUF
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V
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V
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V
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V
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163
VOC
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V
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↓ ↓
VOC
SUF
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V
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VOC
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V
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VOC
SUF
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V
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V
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VOC
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VOC
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SUF
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V
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V
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V
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VOC
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VOC
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V
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VOC
SUF
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V
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VOC
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V
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VOC
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V
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V
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V
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V
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V
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V
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V
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V
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V
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V
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VOC
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V
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V
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V
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V
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V
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↓ ↓
VOC
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V
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VOC
SUF
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V
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VOC
SUF
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RAIZ
V
Ø Ø i/e/Ø Ø Ø
↓ ↓
VOC
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V
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↓ ↓
197
VOC
SUF
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V
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↓ ↓
VOC
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V
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↓ ↓
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V
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↓ ↓
198
VOC
SUF
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V
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↓ ↓
VOC
SUF
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V
Ø Ø Ø/i a Ø
↓ ↓
VOC
SUF
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V
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↓ ↓
199
VOC
SUF
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V
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↓ ↓
VOC
SUF
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V
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↓ ↓
*Infinitivo – Inf
VOC
SUF
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V
Ø Ø a-e/Ø-i r Δ
↓ ↓
200
*Gerúndio – Ger
VOC
SUF
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V
Ø Ø a-e/Ø-i ndo Δ
↓ ↓
*Particípio – Part
VOC
SUF
DES
RAIZ
V
Ø Ø a/Ø-i/Ø-i/Ø do/to/o/e Δ
↓ ↓
fim
201
J. Bento
ALTERNÂNCIA DE GÊNERO
Em sendo isto um fato, surge a dúvida de como saber se se trata de flexão de gênero ou, pelo
contrário, uma derivação ou variação sociolinguística. Parece que a flexão stricto sensu, e não a
derivação ou variação sociolinguística, carrega em si os seguintes traços mórfico-semânticos:
No que concerne à neutralização, queremos dizer que, por exemplo, ‘garoto’ / ‘garota’ podem
ter suspensas suas respectivas noções específicas, ligadas à sexualidade – ‘garoto’ / ‘garota’ >
‘garotos’ –, enquanto as noções veiculadas em ‘jarro’ / ‘jarra’ não podem ser reunidas através de
‘jarros’, da mesma forma que, em ‘chinelo’ / ‘chinela’, a opção ‘chinelos’ não contemplará a sua
contraparte ‘chinelas’ (ou vice-versa, se assim o quisermos):
ALTERNÂNCIA DE GÊNERO
Resumindo: a flexão de gênero, stricto sensu, deve ser aquela que faz alusão à sexualidade e
acolhe a neutralização (desta sexualidade). Não havendo estes traços caracterizadores, estaríamos
diante de derivação ou variação sociolinguística, conforme nos dirá a análise do fato linguístico em
observação.
fim
202
J. Bento
Eis um exemplo esclarecedor de como o gênero gramatical não combina com o gênero biológico,
e vice-versa:
/pombo/
masculino → “pombo”
feminino → “pomba”
– mas esta flexão não funciona como indicador/referenciador de sexo. Trata-se de um processamento
linguístico motivado por outro fator, talvez o tamanho, a coloração, o comportamento do animal etc.
Quando a questão é referenciar a sexualidade, o sistema do português, neste caso, abandona o campo
da morfologia flexional e apela para o nível sintático:
A necessidade de referenciação à sexualidade desse tipo de animal, por outro lado, não costuma estar
presente na cultura e na linguagem ordinária, cotidiana, e se aplica mais a uma área específica do
conhecimento, a Biologia. Sabe-se que a identificação do sexo em animais, em grande medida, não é
tarefa muito fácil, ao alcance da pessoa comum. Nada obsta que esta realidade tenda a explicar a
respectiva lacuna mórfico-flexional na língua portuguesa, cuja noção gramatical de gênero se dirige,
no campo semântico relativo a {animais}, à distinção sexual.
Aproveitamos para lembrar que [pombafeminino] não se flexiona em gênero quando referencia o
órgão genital masculino (e – diga-se de passagem –, levando em conta certo raciocínio, deveria ser
[pombomasculino] a unidade linguística “adequada”). Em outras palavras, a categorização de gênero,
na perspectiva do sistema linguístico em sua integralidade, é arbitrária, também no sentido de que
não costuma se alinhar por uma ordem conceitual constante e uniforme, mesmo quando tudo faria
crer que o aspecto cultural favorecesse tal deliberação).
fim
203
J. Bento
alunomasculino alunafeminino
alunoneutro
Isto significa que o neutro é o meio linguístico de anular a oposição dicotômica masculino/feminino.
Ou, por exemplo:
a)hipótese dominante
Não existe o gênero neutro, em português; aquilo a que se poderia chamar de neutro, é, de fato, o
masculino, ou seja, o masculino supre a ausência do neutro.
Hipótese, aparentemente, espelhada no latim (de onde emana o português), essa proposta
compreende o dado linguístico a partir da forma, ou seja, a identidade de formas entre o masculino
e o neutro exclui a possibilidade gramatical do neutro.
b)hipótese alternativa
Existe o gênero neutro em português, como forma homônima do masculino, fato que nos leva a
consultar o contexto, linguístico e/ou extralinguístico, para confirmar se se trata do masculino ou
neutro.
Hipótese apoiada no conteúdo, ou seja, sustenta que a identidade de forma não é suficiente para
desconsiderar a diferenciação do conteúdo. Devido à ação do fenômeno homonímico, as formas
claramente se identificam, mas os conteúdos distintos podem ser apreciados, mesmo assim, via
contexto.
204
Certos movimentos ideológicos que tentam impingir à linguagem natural um artifício para o
gênero neutro –
alunomasculino alunafeminino
alunxneutro
Pelas pretensões desse tipo de movimento, o gênero neutro – que não consistiria, simplesmente,
em deixar de pontuar a diferença entre masculino e feminino – chega a suplantar as noções de
masculino/feminino, as quais podem, inclusive, ficar suprimidas no discurso oficial e em outros
discursos públicos e assemelhados. Neste aspecto, visualizam-se, em seu todo, três etapas do processo
no decorrer dos últimos tempos, a contar do procedimento original e espontâneo:
1º. – A ocorrência da forma linguística dita masculina apenas, tanto em casos que envolvem
masculino/feminino, como até mesmo exclusivamente o feminino (quando se quer manter a
neutralidade na dicotomia masculino/feminino):
Aluno: -------------------------------------------
2º. – A adoção de formas linguísticas distintas, para contemplar ambos os sexos, masculino e
feminino, dando-se exclusividade ao feminino quando, sabidamente, o referencial consiste somente
de mulheres:
Aluno(a): -------------------------------------------
ou
Aluna: -----------------------------------------------
3º. – A adoção exclusiva da forma artificial criada para o neutro, para que não reste nenhuma dúvida
sobre a firme convicção do “respeito às diferenças [sexuais, ou de gênero]”:
Alunx: -----------------------------------------------
fim
205
J. Bento
O gênero, em português, é uma particularidade linguística dos nomes que implica em selecionar
o artigo [o] – se o perfil gramatical é o que se chama de masculino – ou o artigo [a] – se, ao contrário,
o perfil gramatical é o que se denomina de feminino –, no evento da constituição do sintagma nominal:
*O cofre
*A mamadeira
*O caderno barato
*A casa de Pedro
masculino → macho
feminino → fêmea
*a criança
*o crianço
*homem/mulher
*boi/vaca
*bode/cabra
Nesta circunstância, não há flexão de gênero, mas apenas nomes diferentes para a representação do
fator sexualidade: [homem], [boi] e [bode] são gramaticalmente masculinos, mas não se flexionam
em feminino; os seus correspondentes femininos, do ponto de vista semântico – [mulher], [vaca] e
[cabra] – são, porventura, nomes femininos, mas constituem-se de outros vocábulos da língua, ou não
resultam da flexão de seus respectivos pares masculinos.
Finalmente, o português pode neutralizar, ou suspender, a conotação semântica
masculino/feminino, através do uso do morfe destinado ao masculino: [aluno] – [aluna] = [aluno]. É
por esta razão que, muitas vezes, só se sabe, por exemplo, se [aluno] é masculino ou neutro
consultando-se o contexto linguístico ou a situação de fala. Os especialistas preferem dizer que não
há o gênero neutro nesta língua, o que é verdade do ponto de vista meramente morfológico.
fim
206
J. Bento
Os alunos de Letras
– que, de fato, arregimenta uma ambiguidade, por homonímia, a ser resolvida pela situação:
– que, de fato, representaria uma danificação do sistema linguístico original: torna-se “proibido”
suspender a referência ao sexo. A rejeição à forma neutra, homônima a do masculino, é
ideologicamente justificada para evitar o alegado machismo.
Mas depois se percebe que alguém “ficou de fora” – o que vamos chamar aqui de terceiro sexo
–, de maneira que só arranjando um terceiro morfema para suprir esta lacuna:
207
É preciso lembrar, de passagem, que esta incrustação do terceiro sexo, até quanto se sabe, parece não
ser encontrada em língua natural alguma. Trata-se, portanto, de uma invencionice esdrúxula,
capitaneada pela força ideológica esquerdista. Em outras palavras, salvo engano, não há o terceiro
sexo nas línguas naturais. Não obstante, este elemento exógeno é lançado no sistema linguístico
circulante, e chamam a isto de gênero neutro.
Vamos ver se a gente entende esta manobra ideológica algo confusa:
Excluíram o gênero neutro do sistema da língua e, depois, apresentaram um morfema para “gênero
neutro”, que não é gênero neutro, mas uma representação do gênero indefinido, que porventura irá
funcionar, também, como gênero neutro.
Por que isto é assim? Adivinharam, e eu já tinha frisado. É que o gênero neutro da língua histórica
não servia, por ser machista. Agora, este gênero neutro forjado serve, por não ser machista, mas
indefinista. Assim, ficaríamos com o gênero indefinido exercendo os papéis semântico-gramaticais de
[indefinido] e [neutro]:
E, lá na frente, quando a sociedade estiver toda desprevenida contra a “astúcia”, não deveremos ter
–
Os alunos e as alunas de Letras
– mas apenas:
Es alunes de Letras
Esta é a decorrência lógica do processo, que vai se consumando à medida que a sociedade vai
perdendo a sua identidade sociolinguística. Talvez leve muito tempo, mas o importante é que a coisa
caminhe nesta direção.
GÊNERO
Masculino Feminino
Neutro
GÊNERO
fim
209
J. Bento
Masculino Feminino
/o/ /a/
/o/
Neutro
Nesta situação, o gênero neutro é suprido pela forma masculina, ou também pode ser interpretado
como homônimo da forma masculina:
Masculino Feminino
o aluno a aluna
o aluno
Neutro
Masculino Feminino
/ø/ /a/
/ø/
Neutro
Masculino Feminino
/o/ ou /ø/ /a/
/x/
Neutro
Ou:
Masculino Feminino
o aluno a aluna
ox alunx
Neutro
Ou, melhor dizendo –
Neutro
ox alunx
Masculino Feminino
o aluno a aluna
o/ø > x
– ou então, numa análise mais detida, constatar, porventura, que foi atribuída ao neutro uma
categorização marcada (/x/), em paralelo com o feminino (/a/).
Mas, do ponto de vista pragmático, há toda uma reorganização semântico-ideológica,
exatamente por conta do itinerário claramente deduzível: desbancar a suposta e alegada
masculinidade (quer dizer, machismo), ora presente no sistema linguístico, colocando em seu lugar a
figura do gênero neutro como preponderante.
Em princípio, poder-se-ia pensar – e assim talvez seja divulgado – que esse gênero neutro
implementado estaria a funcionar como um mecanismo linguístico de promoção da igualdade sexual
entre homens e mulheres no mundo da realidade, uma proposta do bem que visaria também a inclusão
daqueles que assumem, dentro da visão tradicional, comportamentos sexuais não ortodoxos.
Não obstante, outras leituras podem ser feitas, principalmente quando se observa a fonte de
onde emana a proposta: movimentos ideológicos sabidamente radicais. Uma dessas leituras é a de
que subjaz ao procedimento o intuito de subjugar e defenestrar a classe masculina (detidamente a de
cunho heterossexual, ou os “machistas”, como são pejorativamente apelidados), contra a qual se
devota uma inimizade mortal. A subversão da linguagem é, por conseguinte, uma das vias escolhidas
para atingir esse objetivo. fim
211
J. Bento
“garoto” – masculino
“garota” – feminino
“ele” – masculino
“ela” – feminino
Ainda no português padrão, quando se quer suspender a orientação semântica específica – masculino
ou feminino –, elege-se a forma masculina para exercer esta função, a de neutro, ou seja, nem
masculino, nem feminino, mas ambos, indiferentemente. Esta formulação do neutro, quando se trata
de referenciação ao ser humano, particularmente, não é tão simples como se poderia imaginar à
primeira vista. De fato, soaria bastante estranho que um item como –
“garoto”
– no plural, aí sim, torna-se mais viável a dupla intepretação: serão apenas indivíduos do sexo
masculino ou, ao contrário, indivíduos do sexo masculino e feminino, juntos e misturados. Somente
o contexto situacional poderá nos fornecer esta informação.
Naturalmente, se a forma utilizada for a feminina –
– não restará a menor dúvida ao falante de que se trata apenas de garotas (sexo feminino).
De uns anos para cá, correntes ideológicas de Esquerda vêm reivindicando uma alteração na
base gramatical do português usual, a fim de atender àqueles indivíduos que não se sentem homem
ou mulher, pelo menos na percepção que é aplicada correntemente a tais referentes. São os não-
heterossexuais, nem todos, mas os que militam nesta causa ou são por ela cooptados.
Por esta via de raciocínio, advoga-se pela implementação de um morfema, adicional, para
representar tal fatia da sociedade, sob a justificativa de fazer valer a igualdade social, ou igualdade
sociolinguística, mais especificamente. Assim é que, para /garot/, por exemplo, deveria haver, mais
ou menos:
/garot/
/garot/
[garoto] [garota]
↓ ↓
masculino feminino
neutro
/garot/
neutro
– estaria satisfazendo a todas as exigências da nova língua. O item [garotes], com a função de neutro,
abrangeria, [garotos] e [garotas], além, evidentemente, do próprio [garotes]. Enfim, os defensores da
chamada “linguagem neutra” não querem “nadinha”, mas apenas que:
Relativamente ao item ‘b)’, deve-se notar, de passagem, sob a visão desta vertente esquerdista, a
seguinte diretriz ideológica: elimina-se o reclamado machismo da linguagem e, em seu lugar,
instaura-se o desejado elegebetismo. Ainda que possa nos soar estúpido, dada a flagrante
irracionalidade, pretende-se promover a igualdade social transpondo o suposto Poder de um lugar
para outro do espectro social.
213
Não, mesmo!
É, muito pelo contrário, linguagem supercarregada de vieses ideológicos, exatamente o que se
condena na estrutura do português usual. Os não-partidários deste pensamento – a imensa maioria
das pessoas comuns, ou as pessoas em geral – estão, simplesmente, correndo o risco de serem
desalojados de sua linguagem, historicamente constituída, ou sendo instigados (quiçá, depois,
obrigados por força de lei) a adotar uma forma de linguagem originária de um grupo específico e
minoritário da sociedade, a fim de atender às suas demandas e caprichos ideológicos.
Um fato curioso a ser notado é que as mulheres, na interpretação sociológica original, sequer
foram cogitadas durante o percurso de implementação da nova humanidade. A ninguém da ala
ideológica esquerdista ocorrera instituir para o neutro semântico-gramatical uma predominância
feminina, quer ainda na fase em que se guiava pela modalidade linguística padrão, o que daria –
/garot/
[garoto] [garota]
↓ ↓
masculino feminino
neutro
/garot/
neutro
Por que será que as mulheres de verdade dançaram nesse jogo? É uma resposta da qual não
tenho a menor ideia. O fato é que, sob o quesito do neutro semântico-gramatical, as mulheres (de
verdade) apenas passaram do jugo masculino para o jugo elegebetista.
E por que será que, ao lado do morfema de “neutro” – do tipo [garote], ou equivalente –,
aplicado ao {não-homem/não-mulher}, ou LGBT, não se bolou um morfema de neutro, formalmente
diferente, para sobrepor-se indistintamente ao masculino/feminino/“neutro”? Deve ser porque um
morfema específico para o neutro semântico-gramatical não sugeriria a noção de mando, pretendida
pela ideologia, em prol do {não-homem/não-mulher}. Ou também pode ser que a teoria linguística
na qual se basearam para a criação do esdrúxulo artifício linguístico não lhes possibilitou enxergar
a devida nuance.
fim
214
J. Bento
VOC
DES
RAIZ
LEX GRA VT GE
Ø a/e/i/o/u/Ø Δ
↓ Ø
a/Ø/sub/alt
x
GÊNERO
regras:
↓
aplicável [ser humano]
*agrupamentos homogêneos/heterogêneos (homens/mulheres) → [Ø/x/a]: “todos”/“todx”/“todas”
*infantes → [x]: “garotx”
*concordância determinado/determinante: “ox garotx é bonitx”
“todos os associados”
“todas as associadas”
“todx ox associadx”
fim
215
J. Bento
Nós podemos dizer que o português compõe seus vocábulos em termos de 6 elementos
morfêmicos, discretos:
gênero / número[nomes]
prefixo / raiz / sufixo / vogal temática
modo-tempo / número-pessoa[verbos]
Acontece, no entanto, que, no geral, tais elementos podem não ter existência física, corpórea –
ou seja, não têm um significante [sonoridade] para representa-los. Disso, decorre um dos dois
fenômenos:
VOCÁBULO
Perceba-se que a raiz, logicamente, nunca pode ser delta. Ainda com relação ao morfema delta, é
possível considera-lo quando tratamos dos nomes (em que há delta para modo-tempo e número-
pessoa) ou, pelo contrário, quando se analisam os verbos (em que há delta para gênero e número).
fim
216
J. Bento
Os componentes linguísticos –
Enformantes Enformados
Fonológico
Morfológico
Sintático Lexical
Semântico
Pragmático
– se interpenetram e exercem influência uns sobre os outros. Em morfologia, portanto, não poderia
ser diferente. Eis como se dão, em caráter ilustrativo, as ingerências de outros níveis sobre o nível
morfológico:
RESTRIÇÕES
Notas:
a)Como “pires” e “lápis” já terminam em ‘s’ no singular, e como o plural se faz em ‘s’, torna-se
praticamente inviável estabelecer distinção entre singular/plural: “píreses*” e “lápises*” seriam
formas fonologicamente muito esdrúxulas para se tornarem aceitas no padrão geral da língua.
b)Pode-se dizer “minhas tardes de verão”, no plural, mas em “chegamos tarde” a oposição
singular/plural é gramaticalmente obstada; “terrenosubstantivo” não se flexiona em gênero, embora
“terrenoadjetivo”, sim; nesta mesma perspectiva, temos apenas “deznumeral/plural”, mas
“dezsubstantivo/singular”/ “dezessubstantivo/plural”, e por aí vai.
c)O sistema semântico, no presente estágio da língua, não prevê a existência de “caneto” como forma
masculina de “caneta”, apesar de fonológica e morfologicamente não haver nenhum impedimento;
“núpcias” é privativamente plural, sem possibilidade semântica de oposição ao singular.
d)Itens como “dinheiro” e “sol” têm seus plurais a depender da variante linguística em jogo; na
maioria das variantes coloquiais, senão em todas, é, no mínimo, estranho pluralizar “dinheiro” e
“sol”, exatamente porque só temos um dinheiro, o Real, bem como só temos um sol, o Sol, aquele que
está sobre nossas cabeças o dia todo.
e)Distinções conceituais/factuais que se arguem entre os níveis sintático, semântico e pragmático são
passíveis de muita contestação em virtude das estreitíssimas interconexões que tais níveis mantêm
entre si. Na realidade, talvez não se possa conceber como um dado linguístico seja, rigorosamente,
apenas sintático ou apenas semântico ou apenas pragmático, mas, ao contrário, sempre sintático-
semântico-pragmático, concomitantemente.
fim
217
J. Bento
A neutralidade em morfologia, particularmente no que diz respeito à noção de gênero, pode ser
interpretada como uma relação hiperonímico-hiponímica, e tem analogias com fatos fonológicos e
lexicológicos:
hiperônimo/
arquifonema/
arquilexema
↓
[não-marcado]
[neutro]
“garoto(s)”
“homem”
“filho(s)”
“dia”
/p/
homonímia
hipônimo1/ hipônimo2/
fonema1/ fonema2/
lexema1 lexema2
↓ ↓
[não-marcado] [marcado]
[masculino] [feminino]
“garoto” “garota”
“homem” “mulher”
“filho” “filha”
“dia” “noite”
/p/ /b/
Notas:
3.Em português corrente, o gênero neutro/não-marcado não existe enquanto morfema independente,
ou terceira via, adotando-se a forma masculina como suporte, numa perspectiva homonímica, em
que somente o contexto linguístico/extralinguístico poderá nos informar se se trata do masculino ou
do neutro. Por exemplo, na sentença –
– no frigir dos ovos, tanto é possível uma leitura em que apenas os matriculados do sexo masculino
foram reprovados, como a leitura em que todos os alunos – do sexo masculino e feminino,
indistintamente – sob a referência foram reprovados.
218
4.Não obstante, nem sempre a forma masculina, em português, tem a prevalência da forma não-
marcada, pois há casos em que a forma feminina também faz este papel –
“cabra”
“cabra” “bode”
– em que não há necessidade de deixar de fora os bodes, os quais, normalmente, apesar de em menor
quantidade, também compõem os chiqueiros.
5.Dependendo da ideologia subjacente, a tentativa de inserir um morfema esdrúxulo (p. ex. [x] ou
algo que o valha) para representar o neutro pode estar ligada à aversão pela dicotomia biológica
macho/fêmea, substituindo-a pelo conceito progressista de diversidade sexual no ser humano.
Não seria, portanto, necessariamente, apenas uma preocupação com a indicação do gênero
gramatical neutro diferente do masculino, desbancando o suposto “machismo”, mas com a
implementação, nos parâmetros internos da linguagem, do conceito relativo a uma terceira opção
sexual, o gênero indefinido, o qual se encontraria excluído do campo linguístico. Faz sentido: ora, se
não existem apenas “homem” e “mulher” (na acepção clássica), por que admitir um sistema
linguístico que faça tal restrição, “simplória, deficiente e injusta”?
O interessante é que, devido à tendência da língua em arregimentar a categoria de neutro, ou
forma não-marcada, hiperonímica, não por acaso se deixa entender que o candidato exclusivo a
exercer esta função gramatical, a de neutro, passa a ser a forma esdrúxula inserida, significando que
não se trata de abolir o espaço do alegado “machismo”, sob o princípio da igualdade tão almejada
entre os indivíduos do corpo social, mas, exatamente, pôr em seu lugar uma “força mais conveniente”,
os grupos que se inserem ou se autoproclamam inseridos na categoria social de gênero indefinido:
hiperônimo
nem-masc./nem-fem.
fim
219
[1]
ELEMENTOS PRIMORDIAIS DO DISCURSO
PARTICIPANTES CIRCUNSTÂNCIA
[“pessoas”] [situação]
[2]
VISÃO CLÁSSICA DOS PARTICIPANTES
[2.1]
[3]
VISÃO PROPOSTA PARA OS PARTICIPANTESnota
1ª pessoa 2ª pessoa 3ª pessoa 1ª/2ª pessoas 1ª/3ª pessoas 1ª/2ª/3ª pessoas 2ª/3ª pessoas
[singular] [plural] [plural] [plural] [plural]
NOTA:
1.Os colchetes indicam que a forma é singular (ou plural), apenas, sem variação;
3.As formas paradigmáticas relativas aos participantes do discurso também podem ser interpretadas,
em grande medida, como alterações morfossintáticas de um único item (alomorfia), o que,
naturalmente, dispensa o conceito de sinonímia. Assim, em “me”, “mim”, “migo” é bastante viável
estabelecer o fenômeno da alomorfia (alterações de forma para representação de funções sintáticas
diversas, ou caso gramatical), antes que a sinonímia propriamente dita.
singular Δ
masculino
plural Δ
singular eu
primeira neutro
EU plural nós
singular Δ
feminino
plural Δ
singular Δ
masculino
plural Δ
singular tu
segunda neutro
TU plural vós
singular Δ
feminino
plural Δ
singular ele
masculino
plural eles
singular Δ
terceira neutro
ELE plural Δ
singular ela
feminino
plural elas
221
singular Δ
primeira neutro
EU plural Δ
singular eu
feminino
plural Δ
singular tu
masculino
plural vós1
singular Δ
segunda neutro
TU plural Δ
singular tu
feminino
plural vós1
singular ele
masculino
plural eles
singular Δ
terceira neutro
ELE plural Δ
singular ela
feminino
plural elas
singular Δ
masculino
plural nós1
singular Δ
quarta neutro
eu+tu+/-ele plural Δ
[nós]1
singular Δ
feminino
plural nós1
singular Δ
masculino
plural nós2
singular Δ
quinta neutro
eu+ele plural Δ
[nós]2
singular Δ
feminino
plural nós2
singular Δ
masculino
plural vós2
singular Δ
sexta neutro
tu+ele plural Δ
[vós]2
singular Δ
feminino
plural vós2 fim
222
J. Bento
VOCÁBULOX,Y..
– em que x e y correspondem às variações (flexões) que o vocábulo sofre para representar a categoria
(masculino/feminino, singular/plural):
“garotoØ [masculino]”
“garota [feminino]”
“corpoØ [singular]”
“corpos [plural]”
VOCÁBULOX
VOCÁBULOY...
“bode[masculino]”
“cabra[feminino]”
“eu[primeira pessoa] ”
“tu[segunda pessoa]”
“ele[terceira pessoa]”
O sistema do português prevê, nos nomes, abundantes restrições categoriais, sob as quais os
elementos da língua se limitam à adoção de uma categoria única, invariável:
“cadeira[feminino]”
“núpcias[plural]”
Neste ponto, e com exceção dos pronomes pessoais – que fazem variação categorial vocabular
(primeira > segunda > terceira) –, a categoria de pessoa é absoluta e em terceira:
“bode[terceira]”
“cabra[terceira]”
“cadeira[terceira]”
“núpcias[terceira]”
etc. etc.
Embora condições lógicas possam estar envolvidas (por exemplo, parece-nos inviável
pensarmos em –
“núpcias”
“um[singular] ”
“dois[plural] ”
223
“dinheiro[singular]”
– por exemplo, se torna refratário à pluralização, ou, no mínimo, de pluralização esdrúxula para
muitos falantes, não devido à inexistência de condições fono-morfológicas plenas –
“dinheiroØ[singular]”
“dinheiros[plural]”
“dinheira[plural]”
fim
224
J. Bento
P1 eu me mim comigo
↓ ↓ ↓ ↓
N N N N
P2 tu te ti contigo
↓ ↓ ↓ ↓
N N N N
P4 nós conosco
↓ ↓
N N
P5 vós convosco
↓ ↓
N N
Notação:
P1 – primeira pessoa/singular M – masculino
P2 – segunda pessoa/singular F – feminino
P3 – terceira pessoa/singular N – neutro
P4 – primeira pessoa/plural
P5 – segunda pessoa/plural
P6 – terceira pessoa/plural
Obs.:
1.P3-M, aparentemente, pode realizar a função semântica de neutro em situações cuja referência, anafórica, é abstrata, e não
concreta, pessoal, ou seja, cujo item referenciado já encerra o viés de neutralidade em função do gênero. Por exemplo: “Aluno
é bicho esperto; ele vive a querer passar a perna no professor”. Enquanto se dirige a indivíduos plenamente identificados, não
parece que P3-M possa, normalmente, realizar o neutro, restringindo-se ao fator masculino, ou sexo biológico, ou algo
figurativamente equivalente.
2.Atentemos que, nos casos indicados, P 6-M tem que dividir a sua carga semântica de masculino com N, neutro, enquanto F,
indistintamente, tem exclusividade semântica de feminino.
fim
225
J. Bento
Vendo:
Compreendendo:
1.O verbo –
comer[...]
– é pessoal (ou seja, tem sujeito), e segue a expectativa plena, flexionando-se em P1/P2/P3/P4/P5/P6,
enquanto
acontecer[ocorrer]
– apesar de pessoal (ou seja, tem sujeito), só se flexiona em P3/P6 → motivação semântica.
2.O verbo –
haver[existir]
– é impessoal (ou seja, não tem sujeito), e segue a expectativa plena, não se flexionando, enquanto
ser[horas]
– apesar de impessoal (ou seja, não tem sujeito), flexiona-se em P3/P6 → motivação sintática.
A motivação sintática de –
ser[horas]
– é, ademais, esdrúxula, no sentido de que a flexão não se dá com o sujeito, que é inexistente, mas
com o termo indicador da hora, ou o adjunto adverbial.
fim
226
J. Bento
Enredo diacrônico:
ideológico-cerimonioso x
Tempo1 → você/senhor significado conotativo =
ↆ ideológico-cerimonioso y
vossa mercê
referente = com quem se fala / segunda pessoa
ideológico-habitual
Tempo2 → você/senhor significado conotativo =
ideológico-respeitoso
– para –
– sem que haja uma correspondência a nível estritamente gramatical, que se mantém com o caráter
de terceira pessoa.
O significado denotativo –
– inscrito no Tempo1, pode ser melhor entendido se fizermos uma analogia com os discursos, muito
comuns, do tipo –
fim
227
J. Bento
Síntese:
VOC
SUF
RAIZ
A partir das bases, a adjunção dos sufixos pode alterar ou não a classe da palavra:
a)Base verbal
VERBO
Substantivo Adjetivo
↓ ↓
AGEM DOR
ÇÃO VEL
MENTO
ÂNCIA/ança
228
b)Base substantiva
SUBSTANTIVO
c)Base adjetiva
ADJETIVO
A derivação não se encerra nos limites da afixação. Existe um modelo formatador de vocábulos
na língua, dentro do mesmo princípio derivacional, que consiste em comutar as flexões (nominal →
verbal; verbal → nominal). Estou denominando este artifício de derivação por comutação flexional, e
os exemplos abaixo nos dão uma ideia do que se trata:
mudar ↔ muda
pescar ↔ pesca
ajudar ↔ ajuda
combater ↔ combate
atacar ↔ ataque
rematar ↔ remate
chorar ↔ choro
cortar ↔ corte
martelar ↔ martelo
coroar ↔ coroa
Como se pode perceber, de “mudar”, por exemplo, em que a estrutura mórfico-flexional verbal nos
sugere –
VOC
RAIZ vt dmt
mud a r
229
VOC
RAIZ vt dn
mud a Ø
VOC VOC
[nome] [verbo]
No caso da derivação afixal, a massa fônica do morfema nos revela o vocábulo derivado em
contraste com o primitivo. Na derivação por comutação flexional, esta informação, claramente, não
fica evidente.
Finalmente, instituindo-se idêntica disposição aplicada à comutação flexional, poderíamos
pensar na derivação por comutação funcional, ou derivação imprópria, como é chamada
tradicionalmente. Por esta categoria, as formas linguísticas simplesmente têm/adquirem a
propriedade de alternar sua função sintática, e certos nomes substantivos podem ser tipificados como
nomes adjetivos, e vice-versa, em português; assim, “céu azul” – “o azul do céu”. Outrossim, talvez
seja pertinente estabelecer, ulteriormente, a distinção entre derivação funcional e mero processo
metalinguístico, em que, por exemplo, qualquer elemento da língua pode se tornar um substantivo,
ou forma substantivada – “de” (preposição) / “o de” (nome) etc. Será preciso maior reflexão sobre
estes fatos.
fim
230
J. Bento
RAIZ LEXICAL
[bolach]
em - bolach - ar
im - - ecer verbo
a - - aremos
de(s) - - a
re - - ão
- agem
- ação
- amento
- ança
- aria
- eiro substantivo
- inha
- eco
- ice
- idade
- ez
- ral
- ador
- ado
- ante/ente/inte
- ável
- ense adjetivo
- ento
- érrimo
- íssimo
- oso
- udo
- amente advérbio
Notas:
1.Não há, no português, as chamadas classes de vocábulos, mas funções vocabulares a depender das
combinações afixais aplicadas às raízes. Fundamentalmente, seriam verbo, substantivo, adjetivo e
advérbio – ou, de outro modo:
O que há são tipos de raízes: raiz lexical (que recebe afixação, flexional/derivacional) e raiz
gramatical (que ou recebe afixação flexional nominal ou rejeita quaisquer afixações). Dizer, por
conseguinte, que tal vocábulo é um verbo, um adjetivo, um substantivo... é tecnicamente inadequado.
A rigor, está-se diante de uma raiz (lexical), a qual, adjungida de certo afixo, lhe confere a função –
obrigatória ou cambiante – de verbo, adjetivo, substantivo.
As raízes gramaticais invariáveis é que tendem a se prender às suas funções de saída: “hoje”,
por exemplo, excluída a situação da chamada derivação imprópria – “o hoje” substantiva “hoje” –, é
configurado para a função exclusiva de advérbio, e apenas nestes casos – em que se dá a relativa
equivalência entre classe e função, pode-se arguir pelo conceito de classe de vocábulo.
2.As combinações potenciais (no esquema acima) são privativas das raízes lexicais e certas raízes
gramaticais (estas, apenas no tocante às flexões nominais), pois que determinadas raízes, do tipo
gramatical (como as relativas aos conectivos, por exemplo), rejeitam variação mórfica, ou adjunção
afixal.
3.As combinações potenciais são posteriormente filtradas pelo uso, constituindo-se a(s) norma(s)
linguística(s).
4.As funções sintáticas do vocábulo construído podem ser obrigatórias (p. ex., [bolacharemos] só pode
ser verbo) ou cambiantes (p. ex., [bolachador] tende a ser substantivo ou adjetivo, conforme a
disposição no construto oracional).
RAIZ LEXICAL
[bolach]
bolach - a
- ão/ona
- eiro substantivo
- inha
O item [bolacheiro] não é comum, ou pelo menos não tão comum, mas – creio – não causaria
grande perplexidade, particularmente se a comunidade de fala tivesse um indivíduo que produzisse,
ou tivesse como atividade, a produção de bolachas para vender na vizinhança.
Além disso, havemos de atentar para o fenômeno da homonímia, em que [bolach], na verdade,
pode compreender três itens distintos, ligados pela identidade de significante: [bolach 1] = {biscoito}
– o item anterior – mais [bolach2] = {bofete} e [bolach3] = {região facial}, que suportam:
232
RAIZ LEXICAL
[bolach2]
bolach - ar
- ou verbo
- aremos
- etc.
- a
- ão substantivo
- inha
- ado adjetivo
RAIZ LEXICAL
[bolach3]
bolach - a
- ão substantivo
- inha
- ado adjetivo
- udo
6.No cômputo geral, o que se passa relativamente ao que se tem chamado de classe de palavra, é o
preenchimento de funções sintáticas previstas no construto oracional, as quais podem ser
teoricamente delineadas como segue:
233
ORAÇÃO
advérbio adjetivo
[modificador]
(pronome)
* * * * * *
E estas funções sintáticas costumam ser preenchidas por determinados itens lexicais/gramaticais de
maneira regular, atendendo prescrições afixo-funcionais. Assim, um vocábulo em [-dor] revela-se
com funcionalidade substantival e adjetival, rejeitando a função verbal ou conectiva. Substituindo-
se [-dor] por [-mos], em [cantador] –
canta-dor
↕
canta-mos
[cantar]
– por exemplo, não é rigorosamente um verbo por inerência, mas por ter adjungido o afixo [-ar] em
sua configuração mórfica.
fim
234
PRIMITIVO DERIVADOS
um(a) ~ on
dois(uas) ~ do ~ du
três ~ tre ~ tr
quatro ~ quator ~ quar
cinco ~ quin ~ cinqu ~ quinh
seis ~ sess
sete ~ set
oito ~ oit
nove ~ nov
dez
vinte
cem ~ cento(as) ~ zento(as) ~ ento(as)
mil ~ milh
– certos afixos –
ze
enta ~ inta
(lh)ão(ões)
bi
tri
quatri
quinti...
– a língua portuguesa constrói um pequeno montante dos numerais cardinais. Com o auxílio da organização
sintática, a qual, no caso desses numerais, se regula pelo mecanismo exclusivo da coordenação aditiva, dentro
de um modelo fixo que segue uma escala decrescente de valor numérico – por exemplo, em 22, vem primeiro o
“vinte” (valor maior), a que se adiciona o “dois” (valor menor) –, a língua fornece todas as possiblidades de
quantificação porventura requeridas:
22 = vinte e dois
114 = cento e quatorze
1954 = mil (e) novecentos e cinquenta e quatro
14.200 = quatorze mil e duzentos etc. etc. fim
235
J. Bento
DERIVAÇÃO
Por Por
afixação alternância
gramatical
Direcional: Não-direcional:
primitivo > derivado parte ↔ contraparte
ex.: “cantar > cantador” ex.: “cantarverb. ↔ cantosubs.”
“azulsubs. ↔ azuladj.”
↓ ↓
MORFEMA ADITIVO MORFEMA ALTERNATIVO
bacia abaciar
bactéria bacteriano
badalo abadalado
fim
238
VOCÁBULO FORMAL
[aspectos gerais]
J. Bento
ESTRUTURA MÓRFICA
[português]
mt np/∆
ge/∆ nu/∆
Fonologia Semântica
↓ ↓
construto fonêmico construto semêmico
/patAt´i/ {arquissemema}
[paʈat´e] {nbcgs}
[paʈat´i] {trsgj}
[pɐʈɐᵵ´ɛ] {dfmvi}
[pɐʈɐʈ´e] {rhbgu}
n
b
c
g
s
Nestas condições, enquanto a organização fonológica prevê uma série de elementos em variação
fonética individualizada, cada qual dispondo de sua própria variação –
{arquissemema}
n
b
c
g
s
t
r
s
g
j
d
f
m
v
i
r
h
b
g
u
Isto não quer dizer que os fonemas, em paralelo com os sememas, não tenham sua constituição
verticalizada. Cada fonema em particular deverá ser um composto de femas, como no exemplo de /p/
–
/p/
oclusivo
bilabial
surdo
240
– ou /t/:
/t/
oclusivo
dental
surdo
– e assim por diante. A propósito, estes femas se alteram, proporcionando os alofones do respectivo
fonema.
Isto também não quer dizer que os sememas não se organizem horizontalmente, pois que, nas
unidades linguísticas acima do vocábulo (e até mesmo interiormente aos vocábulos compostos de uma
série de unidades mórficas, ou morfemas), o que se passa é uma combinação sintática de sememas,
em que um se segue ao outro à maneira parecida com a dos fonemas em relação aos vocábulos:
{casa} + {amarela}
↓ ↓
lugar determinada
de morar cor
Nota:
[paʈat´e] {nbcgs}
[paʈat´i] {trsgj}
[pɐʈɐᵵ´ɛ] {dfmvi}
[pɐʈɐʈ´e] {rhbgu}
fim
241
J. Bento
Uma ideia abrangente daquilo que se deve entender por vocábulo precisa levar em conta o
seguinte esquema teórico:
VOCÁBULO
VOCÁBULO SEMÂNTICO
[Semântica]
A partir deste esboço, um tanto rudimentar, é possível observar que o termo vocábulo pode ser
considerado uma realidade múltipla, caracterizando-se apenas sob o ponto de vista que se adota:
fonológico, gramatical, lexicológico ou semântico. De um lado, nos encontramos com o vocábulo
mórfico em contraposição ao vocábulo fonológico; e, no âmbito do vocábulo mórfico, uma
subclassificação entre vocábulo gramatical e vocábulo lexical; finalmente, pode-se admitir a noção de
vocábulo semântico, quando levamos em conta o fenômeno da homonímia – dois ou mais vocábulos
lexicais (com estrutura significante igual), mas com significados diferentes. (A homonímia atinge,
também, a rede de vocábulos gramaticais, mas o foco crucial é a lexicalidade.)
O vocábulo fonológico é uma estrutura coordenada pelo significante no aspecto da tonicidade
silábica, pelo menos na perspectiva da língua portuguesa; o vocábulo mórfico é, por seu lado, uma
estrutura coordenada pelo significado, em que os elementos componentes (chamados morfemas) se
fazem acompanhar de sentido.
Basicamente, o sentido na língua pode ser visto sob duas dimensões: o sentido interno à língua
e o sentido externo à língua. Este modo de ver é, a rigor, praticamente uma tomada de posição
metodológica, já que todo sentido veiculado pela língua, a meu ver, tende a representar uma
determinada realidade extralinguística absorvida pelo mecanismo linguístico em seu funcionamento.
Porém, no geral, não é de todo desprovido de razão argumentar que os conhecidos artigos, as
preposições, as conjunções, os pronomes são construtos que estão mais voltados à organização dos
conteúdos nocionais em construções mais amplas (como a frase) – sentido interno –, do que a
representar ou denominar realidades das quais se fala, ao contrário dos substantivos, adjetivos e
verbos, que se empregam decididamente na função de nomear o mundo observável ou perceptível –
sentido externo.
O sentido interno pode ser rotulado de gramatical (consubstanciado em vocábulo gramatical),
pois consiste de nocionalidades onipresentes na construção linguística, condição sine qua non para a
gramaticalidade, digamos assim. Por exemplo, o artigo, no português, é um fato de língua imperioso:
alocar um substantivo numa frase imediatamente aciona, no falante do português, a necessidade de
seleção de uma forma articular (“o, a, os, as”) para servir de suporte ao nome; interligar os nomes
“café” e “açúcar” no sintagma obriga-nos a interpor uma preposição (“com”, “sem”).
É claro que tudo isso é muito relativo, e a nossa intenção é apenas enfatizar tendências gerais
inscritas no sistema da língua, a partir de uma tomada de posição. Alguém facilmente poderia
questionar: Mas se eu escolher um artigo na minha frase que pretendo elaborar também,
imediatamente, me vem à mente a seleção de um substantivo, e não de um verbo ou adjetivo, por
exemplo.
242
Tem razão, sem dúvida, pois tudo é uma questão de ponto de vista (como diria Saussure). No
entanto, parece haver uma diferença adicional entre as duas “escolhas automáticas” – do artigo para
o substantivo, do substantivo para o artigo: uma vez selecionado o substantivo a lista de opções sobre
o artigo é francamente reduzida (trata-se de um sistema fechado e, além disso, fixo); por outro lado,
se se começa a construção pelo artigo (digamos a forma “os”), o leque de possibilidades é
potencialmente infinito (pois se trata de um sistema aberto). Em outras palavras, depois de “os”
qualquer forma substantiva, real ou imaginável, desde que esteja no masculino/plural caberia na
construção.
Este traço me parece decisivo na compreensão daquilo que compete ao sistema gramatical,
stricto sensu, e o que compete ao léxico: visto que o léxico é a parte da língua responsável pela
nominação da realidade, a cada alteração percebida desta realidade, o léxico se apropria dos novos
dados, registrando-os linguisticamente. O mesmo nunca vai acontecer com os elementos gramaticais,
quando o sistema é observado sincronicamente. É como se a gramática, neste aspecto, consistisse de
uma urdidura autossuficiente e que se mantém indiferente ou alheia ao que se passa em derredor.
Outro traço muito sugestivo, profundamente ligado ao traço anterior, é a possibilidade de os
itens lexicais se replicarem, ou melhor, originarem-se de outros itens lexicais, primitivos, através do
mecanismo da derivação. Como os itens gramaticais são fixos, a derivação praticamente inexiste
entre eles. Nesta perspectiva, o vocábulo “casa”, por exemplo, pode ser a raiz de uma série inumerável
de outros vocábulos, tanto no que concerne ao já registrado e utilizado, quanto no que diz respeito
ao plausível: “caseiro”, “casario”, “casarão”, “casarucho” etc. etc.; qualquer preposição do
português, por outro lado, não se presta a esse tipo de potencialidade gramatical.
Seja como for, mantenhamos a distinção entre sentido interno e sentido externo, para justificar
a divisão dos vocábulos mórficos em vocábulos gramaticais e lexicais. E consideremos o vocábulo
mórfico como um nível estrutural do português, da maneira que sugere o esquema abaixo –
FRASE
SINTAGMA
VOCÁBULO
MORFEMA
– em que, grosseiramente, se pode ler: os morfemas se juntam para formar o vocábulo, que se juntam
para formar o sintagma, que se juntam para compor a frase. (Chamamos a atenção para o fato de o
esquema acima ser uma observação da língua a partir de sua feição gramatical, embora não
estejamos nos esquecendo de que, no nível vocabular, gramática e léxico (enquanto componentes do
sistema), se interpenetram; o léxico se inscreve na língua por intermédio do nível vocabular.)
Pois bem. Dado que subjacente ao nível vocabular constatamos a realidade de um nível mórfico
inferior – o nível morfemático –, cabe-nos deduzir que os vocábulos mórficos são feitos de morfemas
(assim como os vocábulos fonológicos são feitos de sílabas; e que estas, por sua vez, são feitas de
fonemas; e que estes são feitos de traços fônicos).
Se os vocábulos mórficos são feitos de morfemas, estes carregam substancialmente a mesma
diretriz semântica que aqueles, e com idêntico caráter. Assim, os morfemas podem ter significação
externa e interna, de acordo com o esquema abaixo:
Os morfemas de significação externa são, por essa razão, chamados de lexicais, radicais ou
semantemáticos. Fazem parte do acervo dicionarístico da língua, no sentido de conjunto de itens que
exercem diretamente a função nominativa da realidade. Os morfemas de significação interna são
chamados de gramaticais, ou instrumentos gramaticais, e compõem o estoque de elementos dispostos
pelo sistema linguístico com o fim de concatenação e ordenação dos signos léxico-gramaticais em
243
unidades maiores, até chegar ao nível da frase (unidade tradicionalmente reconhecida como o nível
máximo de construção gramatical).
Se morfemas e vocábulos mórficos partilham da mesma natureza sígnica de compreenderem
significante + significado e, além disso, poderem ser classificados em lexicais e gramaticais, o que os
distingue e motiva a hierarquia gramatical?
É que os vocábulos mórficos se inscrevem, prioritariamente (embora não só), no conceito de
forma livre (ou seja, são unidades discursivas, no sentido de que se prestam, isolada e/ou
eventualmente, a enunciar “ideias”), enquanto os morfemas se limitam a configurar essas unidades
vocabulares, conferindo-lhes o estatuto morfossintático e semântico correspondente, incluindo-se aí
a orientação sintática sob a construção frásica. O que os morfemas fazem, em essência, é:
a)Conduzir a significação radical do vocábulo mórfico, quer sejam estes lexicais ou gramaticais; ou
b)Formatar essas raízes (lexicais e gramaticais) para que exerçam sua condição de forma livre, ou
seja, vocábulos (vide os morfemas flexionais); ou
c)Possibilitar a criação de novos itens lexicais a partir de uma base lexical comum (vide os morfemas
derivacionais); ou
d)Possibilitar a alocação sintática dos vocábulos lexicais ou expressões afins na construção (vide os
conectivos, preposições e conjunções); ou
e)Preencher determinados espaços estruturais requeridos pela plano sintático da língua (vide
pronomes oblíquos).
Os morfemas são, portanto, formas agregadas (nos casos ‘a’, ‘b’ e ‘c’, acima) ou agregadoras
(os itens ‘d’ e ‘e’). Enquanto formas apenas agregadoras (e não substancialmente agregadas), os
morfemas tendem a partilhar ou ser tidos como de natureza vocabular, podendo, assim, ser
interpretados como vocábulos, particularmente de natureza gramatical. Na verdade, tais formas
agregadoras situam-se a meio-caminho entre o morfema e o vocábulo, revelando-se um campo neutro
de transição entre ambos os construtos:
Forma livre
VOCÁBULO
Forma agregadora
MORFEMA
Forma agregada
Isto quer dizer, por outra perspectiva, que referindo-nos à classificação dos vocábulos em
gramaticais e lexicais, enquanto os vocábulos lexicais só podem ser formas livres, os vocábulos
gramaticais podem ser formas livres ou agregadoras. Vejamos o esquema:
forma livre
Gramatical
forma agregadora
VOCÁBULO
ou seja, não há o que se vem a chamar de formas livres puras, compostas de uma única unidade
morfemática. Esta situação, não obstante, revela-se diferente no que concerne às formas agregadoras,
em que se faz presente a ocorrência de formas agregadoras puras, como se percebe a partir da notação
(+/-) na feição dos vocábulos gramaticais:
Gramatical
forma livre
Lexical (PALAVRA)
No esquema ainda se deve ler que a característica dos vocábulos gramaticais é serem formados
apenas de morfemas gramaticais; já os vocábulos lexicais (ou palavras) devem conter, pelo menos no
contexto de línguas como o português, morfema lexical e morfema gramatical. Se classificarmos os
morfemas gramaticais em flexionais, derivacionais e concatenadores sintáticos (do tipo preposições
e conjunções), os flexionais servem indistintamente aos dois tipos de vocábulos; os derivacionais são
privativos dos vocábulos lexicais; os concatenadores sintáticos são privativos dos vocábulos
gramaticais (inclusive sendo itens vocabulares per si).
Podemos dizer, inicialmente, que os vocábulos mórficos podem ser de dois tipos: vocábulos
gramaticais e vocábulos lexicais. Esta tipologia se baseia na natureza léxico-gramatical do sistema
linguístico como um todo, sob a qual determinados itens vocabulares são melhor definidos como de
característica gramatical, por fazerem parte de uma ordem pré-determinada de elementos
marcadores de noções internas e privativas ao sistema (por exemplo, os pronomes pessoais, no
português, são um fato distintivo da língua, a despeito de poder haver línguas com organização
pronominal equivalente), enquanto os demais buscam nocionalizar, efetivamente, a realidade
percebida ou sentida, em termos de nominação dos fatos e fenômenos ocorrentes fora da linguagem
em si.
Sob este raciocínio, por conseguinte, devemos dizer que os vocábulos gramaticais pertencem a
listas fechadas e mais ou menos delimitadas de elementos – constituem um sistema fechado –,
enquanto os vocábulos lexicais se inserem numa lista aberta de elementos, em que a todo momento
se pode adicionar nova unidade, sem comprometer a harmonia do sistema – compõem um sistema
aberto.
Os vocábulos gramaticais podem ser formas livres ou formas apenas agregadoras, enquanto os
vocábulos lexicais são apenas formas livres, dentro do critério sintático de classificação.
De maneira geral, os vocábulos gramaticais podem ser subdivididos em flexionais e não-
flexionais; quando flexionais, recebem as noções restritas aos nomes (gênero e número). Já os
vocábulos lexicais são, via de regra, flexionais, podendo conter, conforme o caso, flexões de natureza
nominal e flexões de natureza verbal (modo-tempo e número-pessoa, tradicionalmente falando). Este
é o critério mórfico de classificação dos vocábulos.
Os vocábulos gramaticais compostos de raízes têm-nas improdutivas: a raiz gramatical não se
presta ao enriquecimento lexical, ou aumento do acervo vocabular da língua. Os vocábulos lexicais
sempre contêm raízes, e raízes produtivas, teoricamente falando: a partir de uma raiz lexical
qualquer pode-se enfileirar uma série de vocábulos daí originados, só havendo limitação por conta
das necessidades nominativas circunstancialmente presentes no ambiente sociocultural (se
assumirmos a criatividade linguística do falante em seu nível máximo de proficiência). A este critério
de classificação, chamaremos de lexicológico.
Eis, então, que podemos esquematizar a classificação dos vocábulos como segue:
245
VOCÁBULOnota
Gramatical Lexical
Nota: As chamadas interjeições constituem um modelo à parte, ou intermediário, ou especial de vocábulos, pois que, a despeito
de serem classificadas dentro dos conceitos de sistema aberto e forma livre, como os lexicais, ao contrário destes, não recebem
flexão, nem encerram raiz produtiva. Além disso, pode haver outras considerações em torno deste tipo de vocábulo, mas que
devemos deixar de lado neste momento.
Aplicando-se concretamente esta diretriz a uma construção linguística qualquer, tal como –
– obteremos:
VOCÁBULO
Gramatical Lexical
– já que, uma vez atribuída uma determinada característica ao vocábulo, outra característica pode
ser plenamente redundante. Assim, dizer que “meninos” é vocábulo lexical está concomitantemente
dizendo que pertence ao sistema aberto, é forma livre, flexional e de raiz produtiva, e assim por
diante. Não obstante, a classificação anterior, mais “completa”, tem a utilidade de confirmar
hipóteses sobre a verdadeira classe em que se enquadra o construto; nem sempre a identificação é
clara e simples, devemos estar cientes disso.
Aparentemente, ou conforme muitos casos, tanto a atribuição de flexão (particularmente a
nominal), quanto a caracterização de uma classe para determinado vocábulo, está a depender de
fatores extra-morfológicos, quer sejam sintático-semânticos ou apenas sintáticos ou apenas
semânticos (coisa que ainda precisa ser melhor analisada).
Neste sentido, “dinheiro”, na frase destacada acima, a rigor, não parece comportar flexão (de
número), pelo menos no sentido nele inscrito: é o fator semântico-referencial influenciando, de algum
modo, a feição mórfica do construto, o qual, tomado isoladamente, sem um contexto semântico-
referencial, certamente será flexionável (em número): “dinheiro-dinheiros”.
Por outro lado, o item vocabular “só”, nas frases –
– pode ser interpretado como vocábulo lexical (em “Ele vive só”) ou vocábulo gramatical (em “Só ele
ganhou o prêmio”), a mercê do contexto sintático (ou sintático-semântico) que o rege.
Podemos interpretar que os itens linguísticos dotados de significado pertencem a duas esferas
distintas de caracterização linguística:
Os itens linguísticos de natureza gramatical incluem os primeiros – lexicais –, quando estes são
vistos em sua significação abstrata, isto é, alheia a universos de discurso determinados, mais os
elementos privativamente gramaticais, nomeadamente os conectivos, pronomes, advérbios, assim
como também as chamadas formas presas (morfemas flexionais e derivacionais).
Do ponto de vista do léxico, podemos entender que os conjuntos organizados de itens, que
assumem a feição genérica de listagens lexicográficas, ou compêndios lexicográficos (mais
correntemente apresentados como dicionários), de fato se distribuem em três categorias distintas,
conforme a natureza da significação que está em pauta:
a)Dicionário, propriamente dito – representa o conjunto total de itens lexicais com suas respectivas
significações em nível de abstração profunda, ou correlacionadas ao sistema;
c)Glossário – representa o conjunto de itens lexicais de uma norma, que foram utilizados em
determinado texto ou enredo discursivo, além das eventuais acepções especiais, desviantes, de que se
revestem os vocábulos atualizados naquela circunstância específica.
Os nossos conhecidos dicionários de uso costumam ser tipificados como o conjunto lexical da
língua, revestido das variadas significações que assumem em conformidade com as diversas normas
socioculturalmente existentes, ou universos de discurso, incluindo-se a própria dimensão significativa
abstrata, correspondente ao sistema como um todo.
247
COMPÊNDIO LEXICOGRÁFICO
fim
248
J. Bento
VISÃO TRADICIONAL
artigo substantivo adjetivo pronome numeral verbo advérbio preposição conjunção interjeição
249
átono
monossílabo
tônico
oxítono
dissílabo
paroxítono
fonológica
oxítono
trissílabo paroxítono
proparoxítono
oxítono
polissílabo paroxítono
proparoxítono
[esdrúxulo; ex.: “cantávamos-lhe”]
inflexionável
gramatical
flexionável → nominal
morfológica
nominal
lexical → flexionável
verbal
verbal
PERSPECTIVA determinado
nominal
sintática conectivo
verbal
determinante
nominal
substantivo
adjetivo
pronome
semântica numeral
verbo
advérbio
conectivo
gramatical
coloquial/vulgar
culto/nobre/clássico
estilístico/pragmática
frequente/familiar
raro/especializado
lexical regional
geral/comum
indecoroso/chulo
decoroso/corrente
ríspido/grosseiro
terno/delicado
250
VISÃO TRADICIONAL
artigo substantivo adjetivo pronome numeral verbo advérbio preposição conjunção interjeição
ordinal
fracionário
multiplicativo
cardinal
* *
ordem ordem
do do
SER ACONTECER
VISÃO MELHORADA
251
UNIDADE: VOCÁBULO
CLASSE FUNÇÃO
NOMINAL Substantivo
Adjetivo
Advérbio
CONECTIVO Coordenativo
Subordinativo
REALÇADOR Enfatizador
MONTEIRO, José Lemos. “Classes e funções”. In: Morfologia portuguesa. Fortaleza, EDUFC,
1987 (p. 203-213). [obs.: o conteúdo foi retirado do texto original para uso exclusivo em sala-
de-aula, como apoio didático.]
CLASSE TRAÇOS
Notação:
[NdP]
→ propriedade de exercer a função de núcleo do predicado
[PTN]
→ propriedade de ser marcado com as flexões de pessoa, tempo e número
[NSN]
→ propriedade de exercer a função de núcleo de um SN
[Adnpós]
→ propriedade de exercer a função de adjunto adnominal pós-núcleo
[Adnpré]
→ propriedade de exercer a função adjunto adnominal pré-núcleo
252
[Int__ ]
→ propriedade de ser marcado com elemento de intensificação (= intensificador)
[SNtotal]
→ propriedade de formar todo o SN, rejeitando a adjunção de outros elementos
[PredCV]
→ propriedade de exercer a função de predicativo do objeto
[íssimo]
→ propriedade de ser marcado com o sufixo “-íssimo”/ “-rimo” / “-imo”
[Rel]
→ propriedade de transformar SA em SA oracional, exercendo concomitantemente função sintática
no respectivo SA oracional
[Det]
→ propriedade de exercer a função de determinante
[PDet]
→ propriedade de exercer a função de predeterminante, posição antes do artigo
[pró-SAdj/SAdv]
→ propriedade de transformar SN em SAdj ou /SAdv
[pró-SAdv/SNoracional]
→ propriedade de transformar SN em SAdv oracional ou SN oracional
[Conectorconstituintes iguais]
→ propriedade de ligar dois constituintes de mesma classe
[NV]
→ propriedade de fazer a negação verbal
[Adv]
→ propriedade de exercer a função de advérbio
[Int]
→ propriedade de exercer a função de intensificador
[Atit]
→ propriedade de exercer a função de atitudinal
VOC
RAIZ
GRA
↓
253
VOC
DES
RAIZ
N
GRA VT GE NU
Ø a/e/i/o/u/Ø Δ Δ
↓ Ø Ø
a/Ø/sub/alt s/Ø
VOC
SUF
Ø
DES
RAIZ
N
Ø Ø a/e/i/o/u/Ø Δ Δ
↓ ↓ Ø Ø
a/Ø/sub/alt s/Ø
254
VOC
SUF
Ø
DES
RAIZ
V
Ø Ø a/ã/e/i/o/Ø Ø ∆
↓ ↓ va/ve/a/e Ø/o/i/ou
Ø/ra s/ste/Ø
ra/re Ø/u/o/i+alt/alt
re/rá/rã mos
ria/ríe is/stes/s/des/i/de
e/a m/o
sse
r/re
Ø/e/a
r
ndo
do/to/o/e
255
RAIZ LEXICAL
[bolach]
em - bolach - ar
im - - ecer verbo
a - - aremos
de(s) - - a
re - - ão
- agem
- ação
- amento
- ança
- aria
- eiro substantivo
- inha
- eco
- ice
- idade
- ez
- ral
- ador
- ado
- ante/ente/inte
- ável
- ense adjetivo
- ento
- érrimo
- íssimo
- oso
- udo
- amente advérbio
Notas:
1.Não há, no português, as chamadas classes de vocábulos, mas funções vocabulares a depender das
combinações afixais aplicadas às raízes. Fundamentalmente, seriam verbo, substantivo, adjetivo e
advérbio – ou, de outro modo:
O que há são tipos de raízes: raiz lexical (que recebe afixação, flexional/derivacional) e raiz
gramatical (que ou recebe afixação flexional nominal ou rejeita quaisquer afixações). Dizer, por
conseguinte, que tal vocábulo é um verbo, um adjetivo, um substantivo... é tecnicamente inadequado.
A rigor, está-se diante de uma raiz (lexical), a qual, adjungida de certo afixo, lhe confere a função –
obrigatória ou cambiante – de verbo, adjetivo, substantivo.
256
As raízes gramaticais invariáveis é que tendem a se prender às suas funções de saída: “hoje”,
por exemplo, excluída a situação da chamada derivação imprópria – “o hoje” substantiva “hoje” –, é
configurado para a função exclusiva de advérbio, e apenas nestes casos – em que se dá a relativa
equivalência entre classe e função, pode-se arguir pelo conceito de classe de vocábulo.
2.As combinações potenciais (no esquema acima) são privativas das raízes lexicais e certas raízes
gramaticais (estas, apenas no tocante às flexões nominais), pois que determinadas raízes, do tipo
gramatical (como as relativas aos conectivos, por exemplo), rejeitam variação mórfica, ou adjunção
afixal.
3.As combinações potenciais são posteriormente filtradas pelo uso, constituindo-se a(s) norma(s)
linguística(s).
4.As funções sintáticas do vocábulo construído podem ser obrigatórias (p. ex., [bolacharemos] só pode
ser verbo) ou cambiantes (p. ex., [bolachador] tende a ser substantivo ou adjetivo, conforme a
disposição no construto oracional).
RAIZ LEXICAL
[bolach]
bolach - a
- ão/ona
- eiro substantivo
- inha
O item [bolacheiro] não é comum, ou pelo menos não tão comum, mas – creio – não causaria
grande perplexidade, particularmente se a comunidade de fala tivesse um indivíduo que produzisse,
ou tivesse como atividade, a produção de bolachas para vender na vizinhança.
Além disso, havemos de atentar para o fenômeno da homonímia, em que [bolach], na verdade,
pode compreender três itens distintos, ligados pela identidade de significante: [bolach 1] = {biscoito}
– o item anterior – mais [bolach2] = {bofete} e [bolach3] = {região facial}, que suportam:
257
RAIZ LEXICAL
[bolach2]
bolach - ar
- ou verbo
- aremos
- etc.
- a
- ão substantivo
- inha
- ado adjetivo
RAIZ LEXICAL
[bolach3]
bolach - a
- ão substantivo
- inha
- ado adjetivo
- udo
6.No cômputo geral, o que se passa relativamente ao que se tem chamado de classe de palavra, é o
preenchimento de funções sintáticas previstas no construto oracional, as quais podem ser
teoricamente delineadas como segue:
258
ORAÇÃO
advérbio adjetivo
[modificador]
(pronome)
* * * * * *
E estas funções sintáticas costumam ser preenchidas por determinados itens lexicais/gramaticais de
maneira regular, atendendo prescrições afixo-funcionais. Assim, um vocábulo em [-dor] revela-se
com funcionalidade substantival e adjetival, rejeitando a função verbal ou conectiva. Substituindo-
se [-dor] por [-mos], em [cantador] –
canta-dor
↕
canta-mos
[cantar]
– por exemplo, não é rigorosamente um verbo por inerência, mas por ter adjungido o afixo [-ar] em
sua configuração mórfica.
fim
259
J. Bento
VISÃO TRADICIONAL
artigo substantivo adjetivo pronome numeral verbo advérbio preposição conjunção interjeição
ordinal
fracionário
multiplicativo
cardinal
* *
ordem ordem
do do
SER ACONTECER
VISÃO MELHORADA
260
O fenômeno da transposição de uma classe para outra, chamado derivação imprópria, resulta
em homonímia. Assim é que “azul”, por exemplo, não consiste de um único vocábulo do ponto de
vista gramatical, pois pode se tratar de um adjetivo –
*O céu é azul.
– ou um substantivo:
*O azul do céu.
*feliz → felizmente
Por conseguinte, a regra geral discrimina que grande parte dos adjetivos salta para a classe dos
advérbios pela simples sufixação em “-mente”. E muitas vezes, não há sequer necessidade deste
procedimento mórfico, até porque a norma linguística tende a rejeita-lo:
Mas não:
A classe dos vocábulos interjectivos tende a ser invadida por expressões linguísticas completas
– frases interjectivas ou equivalentes:
*Deus me livre!
Isto não deve invalidar, como alguns podem pretender, a classe das interjeições. Há vocábulos que,
apesar de características morfossintáticas esdrúxulas – por exemplo, não se deixam envolver pela
estruturação oracional regular –, são efetivamente vocábulos – com significante e significado – e,
portanto, hão de se encaixar numa categoria: “olá”, “vixe”, “arre!”, “xô!”, “caramba!”, “diabo!” etc.
fim
261
J. Bento
átono
monossílabo
tônico
oxítono
dissílabo
paroxítono
fonológica
oxítono
trissílabo paroxítono
proparoxítono
oxítono
polissílabo paroxítono
proparoxítono
[esdrúxulo; ex.: “cantávamos-lhe”]
inflexionável
gramatical
flexionável → nominal
morfológica
nominal
lexical → flexionável
verbal
verbal
PERSPECTIVA determinado
nominal
sintática conectivo
verbal
determinante
nominal
substantivo
adjetivo
pronome
semântica numeral
verbo
advérbio
conectivo
gramatical
coloquial/vulgar
culto/nobre/clássico
estilístico/pragmática
frequente/familiar
raro/especializado
lexical regional
geral/comum
indecoroso/chulo
decoroso/corrente
ríspido/grosseiro
terno/delicado
262
VOCÁBULO
VOC
RAIZ
GRA
↓
263
VOC
DES
RAIZ
N
GRA VT GE NU
Ø a/e/i/o/u/Ø Δ Δ
↓ Ø Ø
a/Ø/sub/alt s/Ø
VOC
SUF
Ø
DES
RAIZ
N
Ø Ø a/e/i/o/u/Ø Δ Δ
↓ ↓ Ø Ø
a/Ø/sub/alt s/Ø
264
VOC
SUF
Ø
DES
RAIZ
V
Ø Ø a/ã/e/i/o/Ø Ø ∆
↓ ↓ va/ve/a/e Ø/o/i/ou
Ø/ra s/ste/Ø
ra/re Ø/u/o/i+alt/alt
re/rá/rã mos
ria/ríe is/stes/s/des/i/de
e/a m/o
sse
r/re
Ø/e/a
r
ndo
do/to/o/e
fim
265
J. Bento
Do ponto de vista estritamente linguístico, o vocábulo pode ser classificado segundo critérios do
tipo –
a)fonológico
b)morfológico
c)sintático
d)semântico
monossílabos
dissílabos
trissílabos
polissílabos
b)Quanto à acentuação
átonos
oxítonos
tônicos paroxítonos
proparoxítonos
artigo
substantivo
adjetivo
numeral
pronome
verbo
advérbio
preposição
conjunção
interjeição
*o gato mia.
1]
ARCABOUÇO
↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓
∆ ø ∆ o ø ø sintagma
↓ ↓ ↓ ↓
2]
ARCABOUÇO
↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓
ø gat ø o ø ø sintagma
↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓
3]
ARCABOUÇO
↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓
ø mi ø a ø ø sintagma
↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓
*o gato mia
– poderiam, em tese e conforme o critério mórfico adotado, ser colocados, senão em uma única classe,
pelo menos em duas ou três classes:
a)duas classes – A e B – se, por exemplo, adotamos como critério a afixação (prefixo/sufixo), ou seja,
vocábulos que aceitam afixação (“gato” e “mia”) e vocábulos que rejeitam afixação (“o”);
b)três classes – A, B e C – se, por exemplo, adotamos critérios que levem em consideração mais
detalhes mórficos, que irão distinguir um vocábulo de outro. Assim, observamos que “o” e “gato” se
caracterizam por desinências chamadas nominais, enquanto “mia” se caracteriza por desinências
verbais; mas “o” e “gato” diferirão pela possibilidade de afixação no segundo item, inexistente no
primeiro, e por aí vai.
mt np/∆
ge/∆ nu/∆
VOCÁBULO
fim
268
APÊNDICE
Mário Perini
Vamos começar pela função de núcleo do predicado (abreviadamente, NdP). O NdP é o ponto
inicial que serve de fundamento à cadeia de definições que vou propor para as diferentes funções.
Vou então partir do seguinte postulado: o verbo desempenha na oração unicamente a função de
núcleo do predicado; essa é a única função que um verbo pode desempenhar, e somente um verbo
pode ser núcleo do predicado. Em outras palavras, o verbo é sempre o NdP da oração; e o NdP da
oração é sempre um verbo.
Vamos admitir, ainda, que o núcleo do predicado faz parte de um constituinte chamado
predicado (Pred). Desse modo, na oração –
– há um ou dois núcleos do predicado? Temos aqui um problema a discutir; e, a bem dizer, esse
problema não está cabalmente resolvido, no que pesem os diversos trabalhos que trataram dele nos
últimos anos. Aqui vou apresentar uma espécie de compromisso, que espero seja adequado para a
maioria dos casos, e que se harmoniza, no essencial, com a maioria das análises existentes.
O predicado faz certas exigências quanto aos complementos que o podem acompanhar na
oração. Assim, há verbos, como “fazer”, que exigem a presença de um objeto direto; outros, como
“falecer”, recusam a presença de objeto direto; e ainda há outros, como “comer”, que admitem o
objeto direto opcionalmente, já que se pode dizer –
– e também –
(4)Sarita já comeu.
Cada verbo tem, portanto, um conjunto de traços que especificam os complementos que ele
exige, recusa ou aceita livremente; esse conjunto de traços exprime a transitividade do verbo. Cada
predicado (e, portanto, cada oração) possui um conjunto próprio de traços de transitividade,
derivado da transitividade de seu verbo. Vendo o fato de outro ângulo, podemos dizer que em uma
sentença há tantos conjuntos de traços de transitividade quantos predicados (ou orações) ela contém.
Mas em uma frase como –
Não se pode generalizar essa análise para qualquer sequência de verbo finito + gerúndio. Em
certos casos, a situação é diferente, obrigando-nos a aceitar a presença de dois NdPs e dois predicados
separados. É o caso, por exemplo, de:
À primeira vista, não haveria diferença entre (5) e (2): ambas apresentam um verbo em forma
finita, seguido de um gerúndio. No entanto, no caso de (5), o verbo finito, “apanhou”, tem
transitividade própria e pode receber complementos independentemente do outro verbo, “lutando”.
Por exemplo, “lutar” não aceita complementação por um termo regido da preposição “de”, ao passo
que “apanhar” aceita:
Como a possibilidade de ocorrência desse termo não pode ser atribuída ao verbo “lutar” (já que (6)
é inaceitável), temos de admitir que o verbo apanhar em (8) faz valer seus traços de transitividade. A
diferença entre (2) e (5), portanto, é a seguinte: em (2), a transitividade de “está dormindo” é idêntica
à de “dormia”, por exemplo; ou seja, “está” não influi em nada. Já em (5) cada verbo tem
transitividade independente.
A conclusão é que, em (2), temos somente um predicado e, em (5), temos dois; e uma
consequência é que em (2) há uma oração, e em (5) duas.
Na frase –
Nesses casos, tal como em (2), o elemento conjugado (“vai”, “tem”) é irrelevante para efeitos de
escolha de complementos e, portanto, não forma, por si só, um predicado. Os verbos que funcionam
dessa maneira são denominados verbos auxiliares, ou simplesmente auxiliares. Em português, são
poucos:
ir (+ infinitivo)
ter, haver (+ particípio)
estar, vir, andar (+ gerúndio)
A esses é preciso acrescentar o verbo “ser” (mais raramente, “estar”) que ocorre na construção
passiva:
Isso porque o verbo “ser” nas passivas também não apresenta transitividade própria, e além do mais
a sequência ser + particípio parece funcionar como um constituinte.
E, finalmente, há ainda um grupo de auxiliares (tradicionalmente chamados modais e
aspectuais) que se constroem todos com infinitivo, e alguns com “de”, “que” ou “a”:
270
poder
dever
acabar de
deixar de
começar a
continuar a
ter de/que
haver de/que
O predicado complexo é, pois, sempre composto de auxiliar (Aux) – um ou mais de um, como
em –
– mais NdP.
Agora temos um ponto de partida para investigar a organização da estrutura oracional.
Verificaremos que cada um dos constituintes em que se divide a oração tem um comportamento
gramatical próprio, ou seja, cada um desempenha uma função própria. Há também alguns casos de
dois ou mais constituintes de comportamento semelhante; nesses casos, alguma função poderá ser
repetida. Isso não acontece com qualquer função, porém; só algumas funções podem ocorrer mais de
uma vez em uma estrutura, e isso deverá ser apurado e explicitado ao se definir cada uma das funções.
Nossa primeira observação será a seguinte: existe, na maioria das orações, um constituinte
que se harmoniza com o NdP em número e pessoa. Vejamos primeiramente o que vem a ser esse
fenômeno de harmonização em número e pessoa.
Seja um exemplo como o seguinte:
É fácil verificar que a forma do verbo (do NdP), “comeram”, depende, de certa forma, de traços
do constituinte “meus sobrinhos”. Assim, se no lugar de “meus sobrinhos” colocarmos o singular,
“meu sobrinho”, o verbo terá de se adaptar:
Por outro lado, uma mudança semelhante no constituinte “a melancia” não afeta a forma do verbo:
Ou seja, existe uma espécie de harmonia formal entre o verbo e o constituinte “meu(s)
sobrinho(s)”, mas não há nada parecido entre o verbo e “a(s) melancia(s)”. dizemos que “meu(s)
sobrinho(s)” e o verbo estão em relação de concordância (ou, simplesmente, que concordam).
A concordância não funciona apenas para o número (singular, plural), mas também vale para
a pessoa. O sintagma “meus sobrinhos” é de terceira pessoa (assim como a imensa maioria dos
271
sintagmas da língua). Isso significa, na verdade, que, quando o verbo concorda com ele, deve assumir
uma dentre várias formas igualmente denominadas de terceira pessoa:
Se substituirmos “meus sobrinhos” por uma das poucas formas rotuladas como de primeira
pessoa, o verbo deverá assumir formas diferentes; existe, pois, um outro conjunto de formas verbais,
denominadas de primeira pessoa. Por exemplo:
Essa será nossa definição de sujeito. É uma definição formal e não diz nada a respeito do papel
semântico ou discursivo do termo em questão; em outras palavras, não estamos aqui preocupados
com o termo que exprime o agente de uma ação, nem com o termo que exprime a entidade sobre a
qual se faz uma declaração. Trata-se simplesmente de um dos constituintes da oração, vinculado a
ela através de uma relação formal bem definida. A função de sujeito é um dos aspectos da organização
formal da oração, e não um dos aspectos da mensagem veiculada pela oração.
A propriedade “estar em relação de concordância com o NdP”, que define o sujeito, é também
chamada um traço que o constituinte tem na oração. Esse traço é abreviado assim: [+CV] (CV
significa concordância verbal); dizemos, então, que o sintagma “meus sobrinhos” em (15) é marcado
com o traço [+CV]; os outros sintagmas, que não estão em relação de concordância com o NdP, são
todos marcados [-CV].
Observe-se que a definição adotada de sujeito nos obriga a analisar como sem sujeito frases do
tipo:
A rigor, seria necessário negar que haja sujeito na primeira oração em (24), já que aí o verbo não
concorda com nenhum dos termos. No entanto, sob outros pontos de vista, “Marivânia” funciona
como se fosse um sujeito, o que cria um problema quanto a sua análise.
Acontece que o sujeito, definido por sua relação de concordância com o verbo, apresenta
também alguns traços que, se não estão presentes em todos os casos, estão presentes na maioria deles;
por conseguinte, esses traços contribuem para delinear o protótipo da função que chamamos sujeito.
O mais óbvio desses traços é a posição logo antes do NdP: sabemos que essa é a posição mais natural
272
do sujeito na maioria das frases. Em (24), o termo “Marivânia” está nessa posição, justificando pelo
menos a suspeita de que se trate de um sujeito.
Mas o mais significativo é que as condições que governam a possibilidade de ocorrência do
sujeito antes ou depois do NdP se aplicam igualmente aos casos evidentes de sujeito e casos como o
de “Marivânia” em (24). Assim, há casos em que não se permite a posposição do sujeito; podemos
dizer –
– mas não:
Isso certamente sugere que o gerúndio tem sujeito. Ou seja, se o gerúndio tiver sujeito, ficará mais
simples a descrição das condições que governam a possibilidade de posposição de elementos, como
“um amigo meu” e “um sobrinho meu” nas frases (27) e (28). Já se analisássemos esses termos como
desempenhando outra função qualquer, teríamos de considerar esse um estranho caso de
coincidência entre o comportamento do sujeito e o dessa outra função.
Outra razão é que o sujeito, como sabemos, pode ser retomado por pronome em caso reto:
“eu”, e não “me” ou “mim”. Desse ponto de vista, também o SN que acompanha o gerúndio parece
ser um sujeito:
Por essas razões, sugiro que “Marivânia” em (24), assim como “eu” em (29), seja analisado
como sujeito. Isso naturalmente complicará a conceituação de sujeito, já que não se poderá dizer
simplesmente que se trata do termo que está em relação de concordância com o verbo; mas traz
vantagens, porque nos permite analisar as condições de posposição de sujeito e de ocorrência dos
pronomes retos de maneira mais simples e unificada.
Voltemos ao exemplo:
Vamos agora ver que função deve ser atribuída ao sintagma “a melancia”. Já sabemos que não
é sujeito, porque é marcado (nessa frase) como [-CV] – ou seja, não está em relação de concordância
com o verbo.
A gramática tradicional distingue várias funções dentre as que marcaremos como [-CV].
Assim, temos casos como:
Tradicionalmente, analisa-se o elemento grifado de (15) como objeto direto; o de (30) como
predicativo do objeto; e o de (31) como adjunto adverbial. Existem intuições provavelmente corretas
por trás dessa análise; vou tentar encontrar justificativas formais para ela.
Vamos começar com o caso de “a melancia” em (15), que seria um objeto direto. Procuraremos
propriedades sintáticas (traços) desse constituinte, as quais poderão servir de base para definir uma
nova função.
Podemos começar observando o seguinte: existe uma oração correspondente a (15), na qual o
constituinte “a melancia” se encontra deslocado para o início da oração:
Esse é um traço do constituinte “a melancia” em (15); podemos dizer que esse elemento é
marcado [+Ant] (Ant quer dizer anteposição). Há elementos da oração que não podem aparecer
antepostos em frases correspondentes e que, portanto, são marcados [-Ant]:
273
Vamos admitir que esse traço é característico do objeto direto (abreviadamente, OD), que se
definirá, por enquanto, através do conjunto de traços [-CV, +Ant]. o objeto direto se distingue do
sujeito porque este é [+CV]; e se distingue da função representada por “uma droga” em (34) porque
esta é [-Ant].
Por ora, conseguimos distinguir o objeto direto tradicional do predicativo do objeto, através do
traço [Ant]. Mas ainda não fizemos a distinção entre o objeto direto e o adjunto adverbial que estaria
presente em:
Como decidimos dar um crédito à análise tradicional, vamos procurar um meio de distinguir
a função de “frequentemente” em (31) da função de “a melancia” em (15).
O traço que realiza essa distinção se baseia na seguinte observação: certos constituintes da
oração podem ser retomados em perguntas por meio do elemento “que” (ou “o que”, ou ainda
“quem”). Ou seja, pode-se definir uma relação discursiva tal que uma frase possa ser resposta
adequada a uma pergunta que é introduzida por um desses elementos interrogativos. As duas
(pergunta e resposta) se relacionam formalmente porque na pergunta o elemento “que” substitui o
constituinte em exame (com ou sem inversão de ordem). Assim, temos o par:
Creio que qualquer pessoa perceberá que (35b) é uma resposta adequada à pergunta (35a). Agora
veja-se o seguinte par:
Acontece que (36b) não é uma resposta adequada para (36a). Dizemos, nesses casos, que
“frequentemente” não pode ser retomado pelo elemento “o que”; o contrário acontece com “a
melancia” em (15), que pode ser retomado pelo elemento “o que”.
Esse traço é que distingue a função de “a melancia” em (15), que é marcada [+Q], da função de
“frequentemente” em (31), que é marcada [-Q].
Antes de passar adiante, vou abordar rapidamente alguns pontos de interesse. Em primeiro
lugar, é necessário decidir a função que deve ser atribuída ao constituinte anteposto “a melancia”
em:
Sabemos que na oração correspondente (15), em que “a melancia” aparece no final, a função é de
objeto direto; pergunta-se agora se deve continuar sendo objeto direto em (32), ou se a diferença de
posição deve valer para que se defina uma nova função.
A resposta será que “a melancia” é objeto direto tanto em (15) quanto em (32); ou seja, a
anteposição não afeta a função do objeto direto. Essa conclusão vale, obviamente, para todas as
demais funções que podem aparecer deslocadas de seus lugares em frase correspondentes.
Utilizando os traços vistos até agora, o sintagma “um artista” em –
(37)Vincent é um artista.
– deveria ser analisado como objeto direto, pois, como é fácil verificar, é marcado com os traços [-
CV, + Ant, +Q]. Essa análise contraria a da gramática tradicional, que analisa tais casos como de
predicativo do sujeito. Na verdade, não é muito fácil distinguir essas duas funções, mas me parece que
o mais indicado é manter a distinção entre o objeto direto e a função desempenhada por “um artista”
em (37), definindo-a através de um novo traço.
O novo traço se baseia na relação de concordância nominal que se observa com frequência
entre o sujeito e o complemento de verbos como “ser”, que vou denominar complemento do predicado
(CP). Observa-se que, quando o CP é representado por um item passível de concordância nominal,
ele concorda com o sujeito:
274
Por isso, diremos que os termos “entusiasmada”, “entusiasmado” são marcados [+CN]. Isso
estabelece a distinção entre CP e o objeto direto, que não mostra concordância nem mesmo nos raros
casos em que é representado por item apropriado:
Dessa maneira, temos aqui um novo traço distintivo, [CN], e uma nova função, o complemento
do predicado, cuja definição até o momento é [-CV, +Ant, +Q, +CN]. O objeto direto se define como
[-CV, +Ant, +Q, -CN]. Estou definindo o traço [CN] em função da possibilidade de concordância
nominal com algum outro termo da oração, não necessariamente o sujeito; isso porque, como
veremos, deve-se atribuir o traço [+CN] a certos termos que concordam com o objeto direto.
A identificação do CP apresenta determinado número de problemas práticos. O primeiro deles
diz respeito a limitações morfológicas de muitos itens léxicos. Assim, em –
(37)Vincent é um artista.
– não se pode dizer que haja concordância nominal explícita entre o sujeito e o CP; no caso, ambos
são masculinos e singulares, mas isso não é necessário:
Nesses casos, fica difícil demonstrar diretamente que “a próxima testemunha” é CP. É
importante notar que não há tampouco discordância, porque “a próxima testemunha” é um SN e
tem, por isso, gênero e número próprios, não atribuídos por concordância. O gênero e o número são
determinados, para os SNs, por razões semânticas, quando cabe; ou por marca idiossincrática, como
em (41): “testemunha” é idossincraticamente marcado como feminino.
A saída é lançar mão da transitividade normal do verbo como pista. Esse procedimento é
relativamente fácil porque há poucos verbos que aceitam CP ou OD, indiferentemente. Um desses
verbos é possivelmente “virar”, como em:
Mas não há realmente certeza de que se trate de um só verbo; talvez seja um caso de homonímia. Por
ora, portanto, deixaremos de lado esses casos problemáticos.
Os verbos que admitem CP são relativamente poucos; podemos citar:
ser
estar
parecer
continuar
ficar
virar
permanecer
chamar-se
tornar-se
sentir-se
(37)Vincent é um artista.
– não se pode observar diretamente a concordância nominal entre o sujeito e o CP. Ainda assim,
diremos que “um artista” é [+CN]; a concordância não se manifesta aí por causa das limitações
morfológicas da palavra “artista”, que não admite variação derivada (isto é, “artista” tem gênero e
número, mas estes são propriedades inerentes à palavra, e não resultado de concordância). Uma
solução semelhante foi proposta anteriormente, para podermos aceitar que os gerúndios têm sujeito,
275
embora, por razões morfológicas, não manifestam a concordância verbal. Reconhecendo embora a
inconveniência ocasional dessa solução, vou adota-la como a mais indicada no caso.
Um segundo problema ligado à identificação do CP provém de frases como:
Isso parece acontecer somente quando o sujeito é representado por um núcleo sem nenhum termo
acompanhante:
Não parece tratar-se de alguma restrição semântica, porque não se pode atribuir importe
semântico ao gênero: que significado se poderia atribuir à diferença de gênero entre “violão” e
“guitarra”? Esse problema deverá ficar de lado, à espera de estudos que o esclareçam.
Há ainda duas outras funções que se podem considerar definidas, com nossos quatro traços.
Vimos que o sujeito se define como [+CV]; que o objeto direto se define como [-CV, +Ant, +Q, -CN];
e que o complemento do predicado se define como [-CV, +Ant, +Q, +CN]. Agora: nas orações (30) e
(31) temos duas outras funções que já podem ser formalmente definidas. Vejamos o exemplo:
O constituinte “uma droga” é marcado [-CV], pois não está em relação de concordância com o NdP;
é marcado [-Ant], porque não pode aparecer anteposto em uma frase correspondente:
Temos, portanto, uma nova função, definida pelos traços [-CV, -Ant, +Q, +CN]. Vou chama-la
predicativo (Pv).
Passemos agora ao exemplo:
O constituinte “frequentemente” é marcado [-CV], por razões óbvias; é [+Ant], porque (51) é
aceitável:
E é marcado [-Q] porque, como já vimos, (36b) não é uma resposta adequada a (36a):
A função desempenhada por “frequentemente” em (31) se chama atributo (Atr) e se define pelos
traços [-CV, +Ant, -Q].
276
E quanto ao traço [CN]? Já vimos que esse traço só pode ser observado em certos casos. Se
substituirmos “frequentemente” por “indignado”, verificaremos que se trata ainda de um atributo,
pois deve ser marcado [-CV, +Ant, -Q]. E, além disso, é evidentemente [+CN]; vamos, pois,
acrescentar mais esse traço à definição de atributo: [-CV, +Ant, -Q, +CN].
As cinco funções estudadas até o momento (sujeito, objeto direto, complemento do predicado,
predicativo e atributo) são desempenhadas cada uma por um número muito grande de sintagmas;
não haveria meios de elaborar, por exemplo, a lista de todos os possíveis sujeitos do português.
Sabemos que a lista não acabaria nunca, pois incluiria não apenas palavras individuais, mas um
número ilimitado de sintagmas maiores.
Isso é o que acontece com muitas funções sintáticas. Por outro lado, existem outras funções que
só podem ser desempenhadas por um número limitado de elementos, de modo que é possível dar a
lista de todos eles. É o que acontece com a função que veremos agora, denominada negação verbal
(NV). Essa função é exemplificada pela palavra “não” na frase:
Essa função, como é fácil verificar, é marcada negativamente para os traços já vistos: [-CV, -
Ant, -Q]. Com isso, a negação verbal fica diferenciada das demais funções estudadas. No entanto,
essa função tem uma característica mais importante, que merece ser expressa em um traço especial:
a negação verbal só pode ocorrer logo antes do NdP, sem possibilidade de inserção de nenhum
elemento entre os dois. Vou abreviar essa propriedade através da notação [pNdP]; assim, a negação
verbal é marcada [+pNdP]; todas as outras funções vistas, claro, serão [-pNdP]. É obviamente
impossível a existência, em uma mesma oração, de dois constituintes marcados [+pNdP], pois ambos
teriam de ficar imediatamente antes do NdP.
Entre a negação verbal e o NdP não podem ocorrer nem mesmo elementos parentéticos
separados por vírgula, como os dois exemplos:
Mas:
A bem dizer, existe um pequeno grupo de elementos que podem aparecer entre a negação
verbal e o NdP, a saber, os pronomes clíticos, como “me”, “nos”, “lhe” etc.:
Mas, como se trata de um grupo bem delimitado, o fato não prejudica nossa definição; basta
acrescentar essa ressalva à formulação do traço.
Aparentemente, existem apenas duas palavras em português que podem desempenhar a função
de negação verbal: “não” e “mal”, em uma de suas acepções:
Há um grupo de itens que, provavelmente por razões de semelhança semântica, costumem ser
classificados juntamente com “não” e “mal”; no entanto, seu comportamento sintático é claramente
diferente de “não” e “mal”. Exemplos são “nunca”, “jamais”, “já”, “nada”, “ninguém”.
Uma última observação sobre a negação verbal: o fato de que ela não se pode separar do NdP
pela inserção de nenhum elemento (exceto clíticos) sugere que ela seja também parte do predicado –
não é, estritamente falando, um constituinte de nível oracional.
A gramática tradicional engloba, sob o rótulo adjunto adverbial, um conjunto bastante variado
de funções. Já vimos que uma dessas é a que chamamos aqui atributo; agora veremos outras três
funções, igualmente denominadas de adjuntos adverbiais pela análise tradicional.
Vejamos em primeiro lugar o comportamento do constituinte “completamente’ em:
Esse elemento tem os traços [-CV, -Q], tal como o atributo; mas, ao contrário dele, é [-Ant]:
Trata-se, portanto, de uma nova função, caracterizada, entre outras coisas, por uma posição
relativamente fixa na oração. Chamo-a adjunto adverbial (AA); define-se pelos traços [-CV, -Ant, -Q,
-CN, -pNdP]. Relembro que, apesar da identidade de nomes, o adjunto adverbial só compreende uma
pequena parte dos termos tradicionalmente chamados adjuntos adverbiais.
Passemos agora ao caso de “francamente” em:
Esse termo tem alguma semelhança com o atributo, porque é marcado [-CV, +Ant, -Q]; mas é
aparentemente marcado [-CN], o que o diferencia do atributo. Além disso, “francamente” em (60)
não parece compor constituinte com nenhum outro elemento, ao passo que em um caso claro de
atributo, como –
Dessa maneira, vamos utilizar o traço [Cl] para caracterizar o adjunto oracional. O adjunto
oracional, portanto, se define como [-CV, +Ant, -Q, -CN, -pNdP, -Cl].
Examinemos agora o comportamento de “muito” em:
Até onde podemos verificar, seria um atributo, pois é marcado com os traços [-CV, +Ant, -Q,
+Cl, -pNdP], e o traço [CN] pode não estar explicitado por causa da morfologia de “muito”, que é
invariável. Teria então a mesma função que “frequentemente” em:
Há, porém, uma diferença entre os dois casos no que se refere a suas possibilidades de
ocorrência em várias posições na oração. Sabemos que ambos podem ser antepostos (levados para o
início da oração) e, por isso, são marcados [+Ant]. Mas só o segundo pode ser colocado imediatamente
antes do NdP (ou da negação verbal, se houver):
278
Temos aqui base para a postulação de um novo traço, a que chamarei [PA] (de posição do
auxiliar). O traço [PA] exprime a propriedade de ocorrer entre o sujeito e o NdP (ou entre o sujeito
e a negação verbal mais o NdP, se for o caso).
Além disso, voltando ao traço [CN, observa-se que, quando a concordância nominal é possível,
o transporte para a posição do auxiliar também é possível:
Isso sustenta a ideia de que temos um atributo em (31), mas não em (66).
Temos, assim, condições de diferenciar a função de “muito” em (66) da de “frequentemente”
em (31): no primeiro caso, temos uma definição definida como [-CV, +Ant, -Q, -CN, -pNdP, +Cl, -
PA]; vamos chamar a essa função adjunto circunstancial (AC). No segundo caso, a função é definida
como [-CV, +Ant, -Q, +CN, -pNdP, +PA]; e trata-se, como sabemos, de um atributo.
Devo avisar desde já que, dos traços utilizados nesta análise, [PA] é provavelmente o menos
satisfatório; e isso principalmente porque são muito numerosos os casos em que há variação ou
insegurança no julgamento dos falantes. Por exemplo, na oração
não é claro para todos os falantes se “o dia inteiro” pode ou não pode ocorrer na posição de auxiliar.
O leitor poderá verificar isso por si mesmo, pedindo a algumas pessoas que deem seu julgamento de
aceitabilidade sobre a frase:
De qualquer maneira, como a presente análise não tem a pretensão de ser perfeita, ficaremos
com o traço [PA], no que pesem essas deficiências, como parte da distinção entre o atributo e o
adjunto circunstancial.
A essa altura já podemos fazer um sumário geral da análise da oração. Não acredito que haja
realmente esgotado a lista das funções de nível oracional. Mas as funções definidas aqui bastam para
fundamentar uma análise mais adequada e coerente da estrutura da oração do que a análise oferecida
pela gramática tradicional.
Vimos que a oração simples em português se compõe de um conjunto de constituintes de
comportamento sintático variado. Esse comportamento sintático pode ser descrito através de sete
traços distintivos, como segue:
Pred Voc
NOTAS:
a)O sujeito é também [+Ant, +Q, - pNdP, +Cl], mas esses traços não são cruciais para sua identificação, porque o sujeito é a
única função marcada [+CV].
b)O NdP, o auxiliar e a negação verbal possivelmente não são funções de nível oracional, mas fazem parte do predicado.
c)Traços distintivos:
*[CV] – a propriedade de estar em relação de concordância com o NdP;
*[Ant] – a propriedade de poder aparecer no início da oração em uma frase correspondente;
*[Q] – a propriedade de poder ser retomado pelos elementos “que”, “o que” ou “quem”;
*[CN] – a propriedade de estar em relação de concordância (nominal) com outro termo da oração;
*[Cl] – a propriedade de poder ocorrer como foco de uma frase clivada correspondente;
*[PA] – a propriedade de poder ocorrer na posição do auxiliar (entre o sujeito e o NdP);
*[pNdP] – a propriedade de só poder ocorrer imediatamente antes do NdP.
Um constituinte é marcado positivamente (+) quando tem a propriedade descrita, e negativamente
(-) quando não a tem.
É fácil ver que o constituinte “Serginho” tem os traços [-CV, +Ant, -Q, -Cl, +PA], o que faria dele um
AO.
No entanto, há certas considerações que nos levarão não só a negar que um vocativo seja um
caso de AO, mas ainda a afirmar que a análise por traços sintáticos não se aplica a ele, porque sua
conexão com a oração não é propriamente sintática. Quero dizer que a ligação entre o vocativo e a
oração junto à qual ele pode ocorrer não tem a ver com a estrutura própria da oração, mas com a
organização do discurso.
Há várias indicações formais que sugerem fortemente que esse é o caso. Em primeiro lugar, o
vocativo pode separar-se da oração não apenas por vírgula, como está em (73), mas também por
sinalização de final de período:
Na fala, isso se traduz pela possibilidade de uma pausa de duração indefinida entre os dois elementos.
Depois, o vocativo pode estar separado da oração por uma mudança de interlocutor, sem que
isso produza a impressão nítida de interrupção:
(75) – Serginho!
– O quê?
– A bandeira está no chão.
(76) – Serginho...
– O quê?
– ...vai fazer aniversário amanhã.
Finalmente, pode-se dizer que o vocativo tem uma resposta própria (como “O quê?” ou “Estou
aqui...” etc.), o que indica que ele pode constituir, por si só, uma frase independente. Isso não se aplica
a termos individuais da oração: a oração (ou, melhor dizendo, o período) é que pode ter uma resposta,
mas não o seu sujeito, ou predicado, ou adjunto circunstancial etc.
Razões como essas mostram com bastante clareza que o vocativo realmente não pertence à
oração. A semântica apoia essa conclusão: o significado de um vocativo não se integra ao significado
de uma oração contígua. Já com um adjunto oracional, por exemplo, há essa integração:
PERINI, Mário. “Funções sintática na oração”. In: gramática descritiva do português. São Paulo, Ática, 1996, p. 71-91.
Obs.: O texto foi copiado, com adaptação, para uso exclusivo em sala de aula, como apoio didático.
fim
280
Rocha Lima
Em sua estrutura básica, a oração consta de dois termos: a)Sujeito – o ser de quem se diz algo;
b)Predicado – aquilo que se diz do sujeito. O sujeito pode ser determinado ou indeterminado. É
determinado, se identificável na oração – explícita ou implicitamente; indeterminado, se não ou
pudermos ou não quisermos especifica-lo.
Para indeterminar o sujeito, vale-se a língua de um dos dois expedientes: 1)empregar o verbo
na 3ª pessoa do plural; 2)usá-lo na 3ª pessoa do singular acompanhado da partícula “se”, desde que
ele seja intransitivo ou traga complemento preposicional. Exemplos:
Pode-se dar o caso de a oração ser destituída de sujeito: com ela, referimo-nos ao processo
verbal em si mesmo, sem o atribuirmos a nenhum ser. Nem há o propósito de esconder o sujeito,
atitude psicológica orientadora das construções indeterminadas.
São orações sem sujeito – entre outras – as que denotam fenômenos da natureza –
Chove.
Trovejou ontem.
Anoitece tarde durante o verão.
– e as que têm os verbos “haver”, “fazer”, “ser” empregados impessoalmente em construções como
as seguintes:
Note-se que a impessoalidade de tais verbos se estende aos auxiliares que com eles formam
perífrases:
O predicado pode ser: nominal, verbal, verbo-nominal. O predicado nominal tem por núcleo
um nome (substantivo, adjetivo ou pronome):
é
está
anda
Pedro permanece doente.
continua
ficou
parece
Em todas, a declaração feita relativamente ao sujeito “Pedro” contém-se no adjetivo “doente”. Este
adjetivo é, na realidade, o predicado; mas, pelos seus caracteres de forma e posição, recebe
particularmente o título de predicativo. Os verbos que aí figuram (“ser”, “estar”, “andar”,
“permanecer”, “continuar”, “ficar”, “parecer”) são elementos indicativos de diversos aspectos sob
os quais se considera a condição de “doente” em relação a “Pedro”. Chamam-se verbos de ligação.
O predicado verbal, que exprime um fato, um acontecimento ou uma ação tem por núcleo um
verbo, acompanhado, ou não, de outros elementos. Da natureza desse verbo é que decorrem os mais
termos do predicado. Verbos há que são suficientes para, sozinhos, representar a noção predicativa.
Chamam-se intransitivos. Exemplos:
Neva.
O soldado morreu.
Todos fugiram.
281
Em função do tipo de complemento que exigem para formar uma expressão compreensiva, os
verbos classificam-se, pois, em dois grupos:
O predicado verbo-nominal tem dois núcleos: um, expresso por um verbo, intransitivo ou
transitivo; outro, indicado por um nome, chamado também predicativo. A razão é que o predicado
verbo-nominal representa a fusão de um predicado verbal com um predicado nominal. Exprimindo
um fato, encerra a definição de um ser. Cumpre distinguir dois casos:
O trem chegou.
2.O predicativo se refere ao objeto direto e, mais raramente, ao indireto, exprimindo, às vezes, a
consequência do fato indicado no predicado verbal:
Objeto direto
Objeto indireto
Complemento relativo
Complemento circunstancial
Objeto direto é o complemento que, na voz ativa, representa o paciente da ação verbal.
Identifica-se facilmente: a)porque pode ser o sujeito da voz passiva; b)porque corresponde, na
terceira pessoa, às formas pronominais átonas “o”, “a”, “os”, “as”. O objeto direto indica:
Castigar o filho.
Louvar os bons.
282
*O resultado da ação:
*O conteúdo da ação:
Ordinariamente não é o objeto direto precedido de preposição; todavia, casos há em que ela
figura em caráter facultativo, e outros, até em que sua presença se faz de rigor. O complemento
chamar-se-á, então, objeto direto preposicional. Exemplos:
Estes complementos chamam-se objetos diretos internos e, também, às vezes, são expressos por
palavras que, não sendo corradicais dos verbos respectivos, pertencem, todavia, ao mesmo grupo de
ideias:
Objeto indireto é o complemento que representa a pessoa ou coisa a que se destina a ação verbal,
ou em cujo proveito ou prejuízo ela se realiza. Apontem-se-lhe os seguintes caracteres típicos:
3.Acompanha certos conglomerados constituídos de verbo + objeto direto, de que depende o indireto:
“ter medo de” (= temer), “ter amor a” (= amar), “fazer guerra a” (= guerrear), “por freio a” (=
refrear), etc.
Ainda se pode incluir neste grupo conglomerados do tipo:
Complemento relativo é o complemento que, ligado ao verbo por uma preposição determinada
(“a”, “com”, “de”, “em” etc.), integra, com o valor de objeto direto, a predicação de um verbo de
significação relativa. Distingue-se nitidamente do objeto indireto pelas seguintes circunstâncias:
a)Não representa a pessoa ou coisa a que se destina a ação, ou em cujo proveito ou prejuízo ela se
realiza. Antes denota, como o objeto direto, o ser sobre o cai recai a ação;
b)Não corresponde, na 3ª pessoa, às formas pronominais átonas “lhe”, “lhes”, mas às formas tônicas
“ele”, “ela”, “eles”, “elas”, precedidas de preposição:
Assistir a um baile.
Depender de despacho.
Precisar de conselhos.
Anuir a uma proposta.
Gostar de uvas.
Irei a Roma.
Jantarei em Roma.
– verificaremos que, na segunda, o liame entre a preposição e o substantivo se nos mostra muito mais
íntimo do que na primeira, onde, pelo contrário, a preposição como que forma bloco com o verbo:
Irei a Roma.
Jantarei em Roma.
Por seu valor de verbo e direção, “ir” exige, por assim dizer, a preposição “a” para liga-lo ao
termo locativo. Outros exemplos:
Morar em Paquetá.
Estar à janela.
Ter alguém ao colo.
Agente da passiva é o complemento que, na voz passiva com auxiliar (também chamada voz
passiva analítica), representa o ser que praticou a ação verbal. Exemplos:
Sendo este complemento o verdadeiro agente, ou seja, aquele que exerce a ação, podemos
transformar a construção passiva em ativa e, neste caso, ele figurará como sujeito:
Adjunto adverbial é o termo que modifica o verbo, exprimindo as particularidades que cercam
ou precisam o fato por este indicado. É expresso:
a)por um advérbio:
Visito-o diariamente.
Cometeu o crime premeditadamente.
O navio passou longe.
Dar-lhe-ei o livro amanhã.
Outrora, éramos felizes.
Partiremos de madrugada.
Lerei seu romance na próxima semana.
Senhor! Por que nos deste uma língua tão pobre na gratidão?
Esquema da oração:
S P Voc
ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. “Teoria geral da frase e sua análise”. In: Gramática normativa da língua portuguesa.
Rio de Janeiro, Livraria José Olympio, 1976, p. 203 – 230.
Obs.: O texto foi copiado, e adaptado, para uso exclusivo em sala-de-aula, como apoio didático.
fim
285
– os sintagmas “Pedro”, “o policial”, “a criancinha doente”, “meu filho” e “você” têm como núcleo
um elemento nominal (nome ou pronome), tratando-se, pois, de sintagmas nominais. Já em “está
diante da vitrine de uma joalheria”, “deteve vários suspeitos do furto”, “adormeceu”, “sonha
ansiosamente com o dia de Natal” e “levará encomenda”, o elemento fundamental é o verbo, de modo
que se tem, no caso, sintagmas verbais.
A natureza do sintagma depende, portanto, do tipo de elemento que constitui o seu núcleo; além
do sintagma nominal (SN) e do sintagma verbal (SV), existem os sintagmas adjetivais (SA), que têm
por núcleo um adjetivo e os sintagmas preposicionais (SP), que são, normalmente, formados de
preposição + sintagma nominal.
Na estrutura da oração, em sua forma de base, aparecem como constituintes obrigatórios o SN
e o SV. Por exemplo:
Por mais longa que seja a frase, ela pode ser decomposta nesses dois subconjuntos:
(3)A irmã de uma conhecida de meu marido / recebeu uma belíssima homenagem de seus companheiros de trabalho.
SN SV
(4)A carrocinha de pão que passava pela minha rua todos os dias / pertencia a um antigo empregado da prefeitura municipal.
SN SV
O SN sujeito existe como posição estrutural, embora muitas vezes este elemento não se atualize,
isto é, sua posição não seja lexicalmente preenchida:
(5) Δ Chove.
SN SV
Além dos elementos obrigatórios, SN e SV, existem orações que apresentam um terceiro
subconjunto, com as seguintes características: a)é facultativo, isto é, sua ausência não prejudica a
estrutura sintática da oração; b)é móvel, ou seja, pode ser deslocado de sua posição normal (após o
SN e o SV), vindo anteposto a esses sintagmas ou, ainda, intercalado; c)apresenta-se, geralmente, sob
a forma de um SP:
Assim, ao lado das orações constituídas apenas de SN + SV, tem-se aquelas compostas de SN +
SV + SP, de modo que a estrutura frasal vem a ser como segue:
286
SN SV
↓ ↓
a criancinha doente adormeceu
SN SV SP
↓ ↓ ↓
as flores enfeitam os jardins na primavera
SN SV SP SP
↓ ↓ ↓ ↓
o leiteiro sai cedinho todos os dias
de madrugada
á mesma hora
– que as expressões grifadas, embora nem todas apresentem estruturas idênticas, desempenham o
mesmo papel: o de modificadores circunstanciais (no caso, de tempo). Levando-se em conta, contudo,
o fato de serem esses modificadores, em sua maioria, expressos por locuções verbais, normalmente
introduzidas por preposição, é possível atribuir-lhes a etiqueta de SP.
Quando o SP ocorre como constituinte independente, ou seja, uma terceira divisão da oração,
ele poderá veicular informações sobre as circunstâncias em que se efetivam os fatos na proposição
(tempo, lugar, modo, causa etc.), conforme o exemplo (11), ou indicar atitudes do falante, como nos
exemplos (12) e (13):
Observe-se que, em (12) e (13), ao contrário de (16), os SP não fazem parte do conteúdo proposicional:
em (12), exprimem os sentimentos do falante perante os fatos veiculados pela proposição, e em (13)
revelam o seu grau de engajamento relativamente ao enunciado que produz, funcionando em ambos
os casos como modalizadores ou modificadores atitudinais. Saliente-se, ainda, que esse tipo de
modificador circunstancial não se inclui nas definições apresentadas pela maior parte das gramáticas
de Língua Portuguesa, segundo as quais “o advérbio é a palavra invariável que modifica o verbo, o
adjetivo ou o próprio advérbio, acrescentando-lhes uma circunstância”. Alguns autores mais
287
modernos citam o modificador circunstancial da oração, mas não distinguem entre os dois subtipos
acima mencionados.
É necessário ressaltar, porém, que, além de apresentar-se, muitas vezes, como um terceiro
constituinte da oração, o SP pode ocorrer, também, dentro de um SN, de um SV ou de um SA,
funcionando como modificador do núcleo, como nos exemplos:
SN
SN
SV
SV
SV
SA
Examinando-se todas as ocorrências, podem-se distinguir dois tipos básicos de SP: os SPC, que
exercem a função de complementos nominais – (15) e (19) – ou verbais – (16) e (17) –, ocorrendo
necessariamente no interior do sintagma cujo núcleo complementam; e os SP A, que desempenham o
papel de adjuntos, apresentando-se ora no interior de outro sintagma (SN, SV, SA), como
modificadores nominais (14) ou verbais (18), ora no exterior de qualquer sintagma, formando um
constituinte à parte, como modificadores oracionais: (11), (12) e (13):
SP
SPC SPA
[interior do sintagma]
COMPLEMENTOS ADJUNTOS
288
A diferenciação entre os diversos tipos de SP nem sempre é das mais fáceis, apesar da existência de
alguns critérios de ordem predominantemente semântico-pragmática:
a)O SPA interno ao SV funciona como modificador ou intensificador do processo verbal: “andar
depressa”, “falar bem”, “trabalhar muito”, enquanto o SPA externo apresenta-se como modificador
circunstancial da oração como um todo, ou, então, como modificador atitudinal da frase, este último
ligado diretamente à enunciação. Note-se que, em se tratando de um SPA interno ao SV, é sobre ele
que recai a negação, e não sobre o processo verbal em si: “Ele não anda depressa”, “Ele não fala
bem”;
b)O SPC acompanha os verbos transitivos, isto é, de predicação incompleta, que exigem um
complemento preposicionado. Deve-se aqui considerar a transitividade em sentido lado, abrangendo
não apenas as construções com objeto indireto (tradicionalmente aceitas pelas nossas gramáticas),
mas também aquelas com verbos de movimento (como “ir”, “vir”, “chegar”, “morar” etc.), que
necessitam, na maioria das vezes, de um complemento para integrar-lhes o significado, insuficiente
por si mesmo. Já os SPA modificadores do verbo são termos estruturalmente acessórios, que
assinalam qualquer circunstância relativa ao processo verbal. Portanto, a classificação do SP como
SPC ou SPA depende da própria natureza semântica do verbo.
c)Finalmente, a distinção entre o SPC e o SPA interiores ao SN tem também causado inúmeras
controvérsias, embora possa, de maneira simplificada, ser relacionadas à questão de transitividade:
o SPC integra (como complemento) o significado incompleto de: 1)nomes abstratos de ação, de
movimento etc. derivados de verbos transitivos em sentido lato (deverbais), como “realização”,
“execução”, “ida”, “permanência”; 2)nomes abstratos de sentimentos que recaem sobre um alvo
específico, como “esperança”, “medo”, “saudade”; 3)nomes derivados de adjetivos de valor
transitivo, como “aptidão”, “incompatibilidade”, “capacidade”. O SPA, por sua vez, modifica nomes
intransitivos, isto é, de carga semântica completa, geralmente concretos, diminuindo-lhes a extensão
para aumentar-lhes a compreensão pelo acréscimo de uma caracterização, especificação,
delimitação, etc.
O sintagma verbal (SV), um dos elementos básicos da oração, pode apresentar configurações
diversificadas. Atribui-se a etiqueta verbo (V) ao constituinte do SV que contém a forma verbal,
composta de um só vocábulo (tempos verbais simples) ou de vários vocábulos (tempos compostos ou
locuções verbais).
O SV pode ser representado apenas pelo núcleo, isto é, o verbo, como em –
SV
SV
SV
SV
SV
SV
289
SV
b. A lua é um satélite.
cóp SN
SV
SV
Não raro, aparecem, ainda, dentro do SV, elementos modificadores do verbo (quer intransitivo,
quer transitivo), que ora intensificam o processo verbal (intensificadores), ora acrescentam
circunstâncias de tempo, lugar, modo etc. (SPA):
SV
SV
SV
SV
SN SV (SPA)
Cóp SA
SN
SP
290
Postula-se que a gramática sintagmática (esta que acaba de ser apresentada em suas linhas
gerais), em oposição à gramática tradicional, fornece meios mais adequados e simplificados para a
descrição estrutural das orações, com base, entre outros, nos seguintes argumentos referentes à
transitividade:
b)A distinção entre objeto direto e objeto indireto pode ser considerada como relativamente
secundária, já que são ambos complementos verbais, sendo a presença ou a ausência de preposição
condicionada apenas pelo próprio verbo (regência verbal); este fato parece não constituir razão
suficiente para se distinguirem dois tipos diferentes de relação entre o verbo e o seu complemento,
em casos como:
A distinção se justifica apenas no caso de verbos que exigem dois complementos (verbos transitivos
diretos e indiretos), em que o primeiro (objeto direto) funciona como alvo sobre o qual recai o
processo verbal ou o resultado desse processo, e o segundo (objeto indireto), como o destinatário ou
beneficiário:
– que não costumam ser consideradas em nossas gramáticas, já que não se admite a existência de dois
objetos indiretos na mesma frase. Em termos de análise tradicional, ter-se-ia de considerar “ao
diretor” como objeto indireto, e “de você” como um adjunto adverbial de assunto, ao passo que, na
análise aqui apresentada, ambos constituintes classificam-se como SPC.
Dentro dos modelos tradicionais, (42) é diferente de (43), visto que, na primeira, considera-se
“do Rio de Janeiro” como objeto indireto e, na segunda, como adjunto adverbial; por outro lado,
(43) e (44) são consideradas semelhantes, na medida em que os sintagmas preposicionados “do Rio
de Janeiro”, “no Rio de Janeiro” e “neste fim de semana” são analisados como adjuntos adverbiais.
A análise aqui exposta evidencia que (42) e (43) possuem SVs idênticos (V + SP C), diferenciando-se,
assim, de (44), em que tanto “no Rio de Janeiro”, como “neste fim de semana” são SPA independentes,
apresentando-se como um terceiro constituinte da proposição. A unidade SV permite, portanto,
distinguir os complementos verbais dos modificadores circunstanciais e atitudinais da frase: os
primeiros podem ou não ser introduzidos por preposição e completam a enunciação do processo
verbal, sendo, por esta razão, interiores ao SV; os segundos, por sua vez, veiculam informações sobre
291
f)A análise proposta permite, também, desfazer algumas ambiguidades. Assim, em frases como –
– numa primeira interpretação – a multidão estava na calçada, assistindo à cena que se passava em
outro local – tem-se a frase dividida em três constituintes: SN (a multidão apavorada) + SV (assistia
à cena) + SP (da calçada); numa segunda leitura (a multidão, de outro local, assistia à cena que se
passava na calçada), a estrutura é binária: SN (a multidão apavorada) + SV (assistia à cena da
calçada).
SOUZA E SILVA, M. C. P de & KOCH, I. G. V. “Organização e constituição da frase”. In: Linguística aplicada ao português:
sintaxe. São Paulo, Cortez, 2001, pág. 11 – 37.
Obs.: O texto foi copiado, com adaptação, para uso exclusivo em sala-de-aula, como apoio didático.
fim
A oração é um conjunto de locuções: as locuções de uma oração formam uma estrutura: uma
das locuções é o sol da oração; as outras são planetas. O sol da oração recebe o nome de predicado. O
predicado é ocupado por uma locução verbal.
Em –
O
1 2 3
O menino admira aquele homem
Aquele homem chamou o meu tio
O meu tio ouviu alguém
Alguém viu o menino
Ninguém conhece ninguém
– cada uma das orações tem três possibilidades, três locuções, três funções. (A segunda locução é um
conjunto de um só vocábulo; podiam estar dois ou mais: “vai admirar”; “tem chamado”; “há de
ouvir”.)
Verificamos rapidamente que os ocupantes das funções 1 e 3 são os mesmos: são locuções
substantivas. Os ocupantes da função 2 são outros: são locuções verbais:
Locuções substantivas não podem ocupar a função 2. Não ocorrem orações do tipo:
292
Locuções verbais não podem ocupar as funções 1 e 3. Não existem sentenças do tipo seguinte:
Chegamos à conclusão que esse tipo de oração tem 3 funções (três possibilidades de aparecerem
locuções) e 2 classes de locuções: a locução substantiva, que ocupa as posições 1 e 3; a locução verbal,
que ocupa a posição 2.
Em –
1 2
O menino dorme
Aquele homem chora
O meu tio sonha
Alguém caiu
Ninguém morreu
– temos um tipo de oração com duas possibilidades (2 funções). Na função 1, ocorrem as mesmas
locuções substantivas; mas seria a função 2 idêntica à função 2 da oração 123 (oração com as funções
1, 2 e 3)? Os ocupantes seriam locuções verbais? Parece que sim, pois num diálogo seria possível
encontrarmos:
1 2
O menino chamou
O menino admira
O menino conhece
O menino ouviu
O menino viu
Trata-se de restrição: certas locuções verbais não se articulam na sentença 123. Ocorre ainda
outro tipo de restrição. Em –
1 2
Os meninos dormem
Aqueles homens trabalham
Os meus tios sonharam
– é possível articular:
Os meninos trabalham.
Os meninos sonharam.
Aqueles homens dormem.
Aqueles homens sonharam.
Os meus tios dormem.
Os meus tios trabalham.
293
*O menino dormem
*Aquele homem trabalham.
Etc.
O sujeito é um planeta; portanto, não é de estranhar que haja orações sem o sujeito (ou
complemento subjetivo). O sujeito, como complemento, pode estar ou não na oração. O complemento
subjetivo é a função 1, a locução substantiva com que o verbo concorda na sentença.
Assinala-se o complemento subjetivo pelo algarismo 1. No caso dos substantivos “eu”, “tu”,
“nós” e “vós”, é mais frequente não se apresentar o sujeito; nos demais casos, geralmente o sujeito se
manifesta. Ocorrem também sentenças que não têm sujeito nem permitem a inclusão de nenhuma
locução com tal função.
Em –
Entendi o assunto.
– se nós conjugarmos o verbo, “entendi” se conjuga com “eu”. “Eu” não está escrito, mas pode ser
incluído (“Eu entendi o assunto”). A oração está sem sujeito, mas poderia ter um sujeito, o sujeito
“eu”, e apenas esse. O sujeito é facultativo. Já em –
– esta oração não tem sujeito nem admite a sua inclusão. O substantivo correspondente ao sujeito
deveria ser “ele”, “ela”, “isso”, “um desastre”. Não há concordância entre “houve” e “dois
desastres”; nem haverá concordância entre “houve” e “um desastre”: é pura coincidência.
294
1 2 3
O menino admira aquele homem
Meu tio chamou alguém
Ninguém conhece aquele homem
Neste tipo de oração, a ordem das locuções é obrigatória: em 1º lugar, o sujeito; depois aparece
o predicado; e, depois do predicado, a função 3. Na função 3 ocorrem as mesmas locuções que estão
no sujeito; por isso, a ordem é obrigatória, e qualquer troca de ordem implica em mudança de função
ou incompreensão.
Os ocupantes das funções 1 e 3 são locuções substantivas. É a ordem que revela as funções
desses substantivos. A posição 3 chama-se complemento objetivo, ou objeto.
Como existem variantes para o complemento objetivo, a ordem das locuções deixa de ser
constante. E, neste caso, frequentemente, o complemento objetivo surge antes do predicado:
Carlos me chamou.
Nós te adoramos.
O complemento objetivo que não se inicia por prepositivo é objeto direto; aquele que se inicia
por prepositivo é objeto indireto. Os vocábulos direto e indireto indicam respectivamente a ausência
ou a presença do conectivo prepositivo. A função é a mesma:
1 2 3
Suj Predicado Obj
↓ ↓ ↓
O leão matou o caçador = objeto direto
O leão matou ao caçador = objeto indireto
O complemento dativo, a função 4, é uma posição oracional obrigatória (desde que não evidente
pelo texto ou a situação) que corresponde ao pronome “lhe”. O dativo pode ser direto ou indireto. É
obrigatoriamente indireto e introduzido pelo conectivo prepositivo “a” quando se trata de locuções
nominais; nas locuções pronominais, o dativo é direto ou indireto, respectivamente: “me” / “mim”,
“te” / “ti”, “lhe” / “ele” etc.
1 2 4 3
Suj Predicado Dat Obj
↓ ↓ ↓ ↓
A professora deu ao menino os livros = indireto
A professora deu a ele os livros = indireto
A professor a deu lhe os livros = direto
O complemento dativo é uma posição oracional obrigatória: não pode faltar (a não ser com
permissão da situação ou do texto); seria incompleta a oração, e não satisfatória: em “A professora
deu os livros”, viria imediatamente a pergunta “A quem?”.
A ordem da posição 4 é livre, quando o dativo é indireto; mas comumente depois da posição 3:
295
A ordem é livre, no sistema, porque a função dativo é revelada pelo prepositivo e, neste caso, o
objeto não pode ser indireto; dativo indireto ou direto exclui a possibilidade de objeto indireto.
Os pronomes “me”, “te”, “se” e “vos” ocorrem tanto na função de objeto como de dativo; são
ambíguos na função. Por isso, não servem para comprovar a existência nem do objeto nem do dativo.
Apenas a 3ª pessoa tem formas específicas: “o”, “a”, “os”, “as” para o objeto, e “lhe”, “lhes” para o
dativo.
O complemento genitivo, a função 5, é uma posição oracional obrigatória (exigida pelo verbo,
desde que não evidente no texto ou na situação), iniciada por prepositivo e que não se deixa substituir
por locução mínima (de um só vocábulo) nem por locução de outra classe qualquer, e não se integra
em nenhuma outra posição. A locução substantiva pode comparecer com qualquer das duas
subclasses, nome ou pronome.
1 2 3 5
Suj Predicado Obj Gen
↓ ↓ ↓ ↓
Maria gosta ... de festas
João aspira ... ao cargo
O menino lembrou o pai da promessa
Vejamos que esta última oração (“O menino lembrou o pai da promessa”) tem uma estrutura
diferente de “O menino lembrou-lhe a promessa”, embora sejam orações equivalentes:
1 2 4 3
Suj Predicado Dat Obj
↓ ↓ ↓ ↓
O menino lembrou lhe a promessa
Em –
– ocorre uma nova função, a posição 6. É uma nova classe de locuções: a locução adjetiva. O vocábulo
que representa sozinho uma locução adjetiva é o adjetivo. Na posição 6 também pode ocorrer locução
substantiva (com ou sem prepositivo).
O complemento nominativo, a função 6, é uma posição sentencial obrigatória, manifestada por
locução adjetiva ou locução substantiva que, com o mesmo verbo, pode ser substituída por locução
adjetiva, embora nem sempre no mesmo texto.
Os verbos se subdividem em duas subclasses: verbos que admitem na posição 6 locuções
substantivas, como “ser”, “estar”, “parecer”, “ficar”; verbos que admitem na posição 6 unicamente
locuções adjetivas, como “permanecer”, “viver”, “cair”, “andar”, “ser”, “estar”, “parecer”, “ficar”.
296
1 2 6
Suj Predicado Nom
↓ ↓ ↓
As leis são belas
Os cabelos dela pareciam de prata
Os marrecos estão com fome
A mesa era de mármore
1 2 3 7
Suj Predicado Obj Acus
↓ ↓ ↓ ↓
Ele achava tudo delicioso
Os moradores consideravam o engenheiro seu legítimo representante
Todos têm a alma cândida
a)Toda locução adverbial (com ou sem prepositivo, obrigatória ou não) ou qualquer locução
substantiva ou adjetiva comutável por locução adverbial ou advérbio.
b)Toda locução adjetiva facultativa.
c)Toda locução substantiva facultativa e que não se deixa substituir por nenhuma outra classe de
locução.
Resumindo:
1.Todo e qualquer advérbio (vocábulo que pode representar sozinho a locução adverbial) ou locução
correspondente;
2.Adjetivo obrigatório é 6; facultativo, é 8;
3.Locução, com ou sem prepositivo, insubstituível e obrigatória é 5; facultativa, é 8.
Em –
– “ao cinema” não está ocupando nenhuma das posições estudadas até aqui; não é 3, 4, 5, 6 nem 7.
Estamos diante de uma nova posição, a posição 8. A locução substantiva pode ser substituída por
uma nova classe de locuções, as locuções adverbiais. O vocábulo que pode sozinho representar a
locução toda, ser promovido a locução adverbial, é o advérbio. As locuções adverbiais não podem
manifestar a nenhum dos complementos, a não ser os complementos ablativos.
297
1 2 8
Suj Predicado Abl
↓ ↓ ↓
Meu pai está no escritório
Minha irmã entrou no quarto
Minha irmã entrou lá
Encontramos uma nova classe de locuções: “lá”, “aqui”, “ali”. Jamais ocorrem nas primeiras
sete posições da oração. Portanto, constituem uma nova classe de ocupantes, que se denomina locução
adverbial. Preenche a função de complemento ablativo.
Apesar de essencialmente obrigatórios, existem também complementos ablativos facultativos:
Distinguir entre uma locução adjetiva na posição 6 ou 8 exige que se verifique se, no texto, a
locução adjetiva é obrigatória ou facultativa. Se for obrigatória, é nominativo; se for facultativa, é
ablativo:
Acusa-lo de injustiças.
Acusa-lo de injusto.
– “de injusto” é, do mesmo modo que “de injustiças”, complemento genitivo, porque se trata de
locução substantiva (com concordância). Para ser acusativo, o prepositivo “de” deve ser facultativo.
Reconhecemos o ablativo que é manifestado por uma locução substantiva:
b)Algumas locuções podem ser substituídas por adjetivos e, neste caso, não oferecem problemas: não
podem ser genitivo.
c)Algumas locuções não admitem substituição por nenhuma outra classe de locuções. São essas que
exigem maior exame.
A diferença é a seguinte: o genitivo é uma posição obrigatória; se for facultativa, será ablativo:
São 20 as posições na oração: um sol e 19 complementos possíveis. Nenhuma oração pode ter
as vinte, sobretudo porque algumas posições não coocorrem na mesma oração, como o 3 e o 6 ou o 6
e o 7.
Doze das vinte posições são reunidas sob o nome de complementos ablativos, pelas seguintes
razões:
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a)Uma, didática: enumera-las todas de 1 a 20 não seria muito claro e seria fácil confundi-las;
b)Outra, linguística: são quase todas posições manifestadas por vocábulos promovidos a locução;
todas podem ocorrer como posições facultativas, assim também aquelas que não podem ser ocupadas
por advérbios.
1 2 8 8 8 8
Suj. Predicado Abl T Abl M Abl I Abl L
↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓
Mário foi ontem com os amigos em ônibus para a praia
1 2 8 8 8 8
Suj. Predicado Abl T Abl I Abl R Abl P
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João voltou sábado de carro pela Estrada Ribeira de São Paulo
A presença de mais de um algarismo 8 não significa que se trata de função composta. Não existe
função composta, apenas forma composta. Cada algarismo 8 representa outra posição, que é
especificada a posteriori (pelas letras encimadas). Assim nos parece mais fácil e mais justo do que
enumerar de 8 a 19.
A melhor maneira de reconhecer o ablativo de extensão é ter presente a lista de ocupantes, por
ser reduzida: “já”, “também”, “ainda”, “sempre”, “apenas”, “nem”, “nunca”, “jamais”. É uma
posição facultativa.
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O complemento ablativo de lugar pode ser substituído por um dos advérbios de lugar. Os
advérbios de lugar são: “aqui”, “ali”, “fora”, “dentro”, “longe”, “perto”, “cá”, “lá”, “aí”.
Uma locução substantiva (adjetiva, não) pode ocupar a função de complemento de lugar; neste
caso, é introduzida por um dos prepositivos seguintes: “a”, “até”, “com”, “contra”, “de”, “em”,
“entre”, “para”, “perante”, “por”, “sob”, “sobre”.
a]por advérbios de tempo: “hoje”, “ontem”, “amanhã”, “cedo”, “tarde”, “agora”, “já”, “logo”,
“depois”, “após”...
b]toda locução substantiva ou adverbial que pode ser substituída por um dos advérbios acima.
c]toda locução substantiva iniciada pelo prepositivo “durante” que seja comutável por “em”.
O complemento ablativo de frequência é manifestado por uma das locuções seguintes: “de
novo”, “frequentemente”, “muitas vezes”, “raramente”...
A transformação não parece possível num exemplo como “Paulo se aproximou do poço”. Trata-se de
restrição semântica: não existe a sentença seguinte: “*O poço aproximou-se de Paulo”.
Outro exemplo:
a]por uma das locuções adverbiais seguintes: “muito”, “pouco”, “quanto”, “tanto”, “mais”, “menos”,
“bem”, “mal”...;
b]por uma locução que se deixa substituir por um dos advérbios acima;
c]por uma locução adjetiva facultativa ou por uma locução substantiva facultativa que se deixa
substituir por uma locução adjetiva.
O complemento ablativo de instrumento é iniciado pelos prepositivos “a”, “com”, “de”, “em”,
“mediante”, “por” (= por meio de), e que não se deixa substituir por nenhuma outra classe de locução,
nem substantiva, nem adjetiva.
O complemento ablativo de causa é manifestado por uma locução iniciada pelos prepositivos
“a”, “para”, “por”, “de” e locuções substantivas como “no sentido de”, “a fim de”, “a troco de”, “em
busca de”, “à procura de”. Na transformação para o período interrogativo, todos os complementos
de causa podem ser substituídos por “por que?”.
O complemento ablativo de alusão é uma locução iniciada pelos prepositivos “de”, “em”,
“sobre”, “por”, e permite a sua substituição por “a respeito de”, “em relação a”...
a]pelos pronomes “me”, “te”, “lhe”, “nos”, “vos”, “lhes” ou por locuções correspondentes;
b)por locuções introduzidas pelo prepositivo “a” que substituam ou dispensem partes de locução, e
podem ter aparência de obrigatórias, porque falta parte obrigatória da locução, mas não são exigidas
pelo verbo;
c)pelos pronomes “me”, “te”, “lhe”, “nos” e “vos” em substituição a complementos de causa e lugar.
O dativo e o limitativo podem coocorrer na mesma sentença. Contudo, há uma restrição: não
é possível substituir ambos por pronome conexo na mesma sentença.
D E L P R T F V M I C A
BACK, E. & MATTOS, G. “Sintaxe da sentença”. In: Gramática Construtural da Língua Portuguesa. São Paulo, FTD, 1972,
p. 178-250.
Obs.: O texto foi copiado, com adaptação, para uso exclusivo em sala-de-aula, como apoio didático.
fim