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ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE

CONTEMPORÂNEA

ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE


CONTEMPORÂNEA

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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1. Compreender a importância da arte, da história e da estética para o homem hoje.

2. Explicar a evolução histórica das ideias estéticas, de seus principais pensadores e influências, desde a

Antiguidade até hoje.

3. Chegar ao surgimento dos conceitos necessários para a compreensão do cenário artístico atual.

1 Introdução
Olá! Seja bem vindo a nossa primeira aula!

Por que estudar a arte?

Antes de mais nada, é bom registrar que o homem sempre produziu arte. A arte tomou formas, e foi

compreendida de maneiras diferentes ao longo do tempo. Porém, jamais o homem produziu tantas imagens

quanto produz hoje, que vivemos a “civilização da imagem”. Profissionais da imagem precisam estar sempre

familiarizados com a arte. No campo da arte se dá as pesquisas e gerações de novas imagens.

No vídeo, você assiste a uma cena clássica de Picasso trabalhando em uma obra.

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=ExCQZ940Rbw

Entender os mecanismos da arte de hoje, além de um diferencial, é uma ferramenta para o trabalho. Seu domínio

pode representar uma vantagem profissional, além de permitir acesso a uma fonte de ideias para trabalhos

relacionados.

Para compreender isso, vamos estudar como a arte chegou a ser o que é hoje. Antes de começarmos a estudar

essa história, vamos falar, de modo resumido, do pensamento que acompanha a arte. A estética é o ramo da

filosofia que estuda a arte.

2 O nascimento do conceito de estética


A reflexão filosófica sobre a arte nasceu na Grécia, no século VI a.C.

Os primeiros filósofos, chamados de físicos, por Aristóteles (hoje conhecidos por pré-socráticos.), fundaram

uma tradição de investigação da natureza.

No século V a.C. os sofistas introduziram o ponto de vista reflexivo-crítico, característico da filosofia.

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Sócrates os criticou por sua falta de rigor e principalmente por usar a habilidade de raciocínio para confundir os

adversários - e se beneficiar disso.

Sócrates foi o primeiro a indagar a respeito do que seria uma pintura.

O que seria uma pintura?

Livro: A república

Platão, discípulo de Socrátes, problematizou em seu livro A república, a existência e a finalidade das artes,

ligando-as ao problema mais geral da realidade e do conhecimento, do sentido da beleza e da vida psicológica e

moral, assim como os pré-Socráticos tinham problematizado anteriormente a natureza.

Livro: Poética

Aristóteles, discípulo de Platão, desenvolveu em seu livro Poética ideias relativas à origem da poesia e à

conceituação dos gêneros poéticos, representando uma primeira teoria da arte.

Podemos dizer que a doutrina de Platão condensou a experiência do Belo, alcançada pela cultura antiga:

O princípio da imitação, para definir a natureza da arte (As artes imitam a realidade.), o estético para

estabelecer as condições necessárias de sua existência e o moral para julgar seu valor.

Ela se baseou, portanto, no que chamamos de princípios da beleza clássica:

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Na Grécia em geral, as artes deviam representar o que é belo, tanto no sentido estético como moral, para que o

espírito, estimulado pelo prazer da contemplação do perfeito, sinta-se inclinado à prática dos conhecimentos e

da verdade.

Veremos como essas noções, pensadas por essas tribos gregas, foram influentes em nossa arte e ainda

constituem hoje uma base de referência e compreensão do gosto popular.

Logo, nas épocas clássicas (Greco-romanas), a estética era definida como a “filosofia do belo”.

O belo era uma propriedade do objeto, que era captado e estudado, subdividindo-se entre o belo da arte e da

natureza.

Influenciada por Platão, a filosofia estabeleceu uma hierarquia entre esses dois belos, considerando que o belo

da natureza tinha primazia sobre o da arte.

Figura 1 - Detalhe de Platão, em “A Escola de Atenas”, obra do renascentista Rafael.

Vamos conhecer como a filosofia platônica influenciou o conceito de estética?

Observe:

Platão não foi capaz de julgar com equidade as artes plásticas, tendo-as identificado com as artes miméticas que

apenas imitavam a aparência sensível do mundo dos corpos.

"A filosofia platônica não era simpática às artes.

A filosofia platônica considerava que as artes de “imitação por cópia ou por simulacro” tendiam a duplicar

inutilmente o mundo sensível ou, ainda, induziam em erro o nosso olhar.

Por isso, na República (de Platão) ideal não eram bem vistas as artes de “imitação por cópia ou por simulacro”,

entre as quais incluíam-se a pintura e a escultura."

Para Platão, a obra de arte não devia pretender alcançar uma categoria mais elevada do que a da “imagem” por

se opor ao conceito de “ideia” que caracterizava o “conhecimento verdadeiro”.

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Para Platão:

• Idade Média

Com a queda do Império Romano e com a dispersão do pensamento, não se discutiu a questão estética.

O belo era considerado pertencente a Deus e não era considerado nas discussões sobre as artes, que

tinham por função transmitir a doutrina cristã para os que não sabiam ler.

• Renascimento

O Renascimento surgiu com o fim do período conhecido por “Idade Média” conjuntamente à filosofia

denominada Humanismo.

Nesse período, o belo retorna à esfera das artes por meio de outro conceito, o de natureza. Passa a ser

tarefa do artista, identificar e destacar da natureza os belos aspectos da criação divina.

• Conceito de Estética

O conceito de estética surge como uma disciplina filosófica com A. G. Baumgarten, no século XVIII,

conceituada como ciência do belo e da arte, mas vai ganhar importância com a contribuição de Kant.

Foi ele quem estabeleceu a autonomia desse domínio do belo.

Logo, o belo converteu-se, depois de Kant, na questão da experiência estética, que passa a ser interpretada pelas

diversas tendências do século XIX.

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Já Hegel, no século XVIII, elaborou um sistema filosófico (Ao qual a filosofia da Arte se submetia.) e contribuiu

para fazer dessa filosofia o que ela é hoje: uma reflexão que tem, como um de seus fins últimos, justificar a

existência e o valor da arte.

Vamos agora, apresentar os conceitos mais importantes da evolução da estética:

1. Influencia Kantiana

Por influência de Kant, os pensadores subdividiram o campo estético. Kant cria um sistema focado, não na

definição do belo, mas no estabelecimento da “Crítica da capacidade de julgar”. A reflexão sobre a beleza assume

a forma de uma descrição da consciência estética, da impressão produzida pela obra. O entendimento estético

passa a ser considerado ligado à imaginação e contrasta agora o belo com o sublime.

Na verdade, este fato não era novo. Aristóteles havia considerado a comédia como associada à “arte da

desordem”, aproximando-a do “feio” e contrapondo-a à harmonia convencional, sem, no entanto, deixar de

entendê-la como estando inserida no campo estético.

A ideia do sublime funda uma estética nova, que supera a definição clássica do belo (A ordem, a harmonia, a

perfeição).

A obra de arte em vez de imitar a natureza, passa a tornar visível um mundo desconhecido.

O sentimento do sublime nasce do deleite, do arrebatamento ou êxtase misturada a certa dose de terror

originado pelo espetáculo do desconhecimento e do poder da natureza (É o sentido que experimentamos face

ao oceano em fúria, por exemplo.).

2. Pensamento pós-kantiano

O pensamento pós-kantiano, no entanto, começou a inquirir se era válido definir a estética como “filosofia do

belo”, já que o campo estético incluía categorias que nada tinham a ver com a beleza, como no caso do cômico.

Propuseram estes filósofos, então, a categorização da estética como uma ciência, substituindo a palavra

“belo” por “estético”.

Da “filosofia do belo e da arte” surgiu a “ciência do estético”, passando a incluir todas as categorias pelas quais

os artistas e pensadores haviam refletido, assim como o trágico, o sublime, o gracioso, o risível e o humorístico,

reservando para a denominação de belo aquele modelo clássico definido pela harmonia e pelo senso de

proporção.

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3. Idealismo Hegeliano

No Idealismo Hegeliano, com seu pensamento de substrato platônico, o conceito de estética passou a considerar

o belo da arte como sendo superior ao belo da natureza.

Para o pensamento hegeliano, a beleza artística revelava uma maior dignidade do que a beleza natural, pois

enquanto a natureza era nascida uma vez do espírito, a arte nascia duas vezes do espírito. Considerava a beleza

da natureza uma coisa distinta e assim a estética passou a ser considerada uma “filosofia da arte”.

E, como consequência, a arte passou a ser percebida como uma forma de manifestação do pensamento visual

(Ou de pensamento por imagens.).

Para Hegel o belo não é mais um julgamento da origem subjetiva, mas uma ideia que existe na realidade. A arte

será, como a religião e a filosofia, uma das manifestações do espírito.

E o belo será a manifestação sensível, numa obra de arte histórica, desse espírito.

Logo, a “filosofia da beleza” clássica foi reformulada pelas observações da estética pós-kantiana sobre as obras

de arte baseadas no feio e no mal.

A estética, após Hegel, passou a ser um conceito capaz de compreender finalmente, o amargor e a aspereza das

obras de Rimbaud, Goya, Bosch, Brueghel, da arte africana, do Barroco, do gótico e do românico, do Cubismo, do

Dadaísmo e do Expressionismo.

Da arte moderna e contemporânea, com seus aspectos monstruosos e contraditórios. Na modernidade, a estética

passou a ser também identificada com o grotesco, representando uma reformulação da filosofia inteira ante a

beleza e a arte.

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Figura 2 - “O grito”, de Munch.

Este trabalho não é considerado “belo”, mas é valorizado por sua capacidade de traduzir em formas a expressão

pretendida pelo artista.

Na modernidade os conceitos que eram empregados no passado, para categorizar as obras de arte, passaram a

ser indeterminados quanto:

Aos gêneros; Comédia, tragédia, drama ou romance, que se misturam nas obras modernas.

Às formas; Soneto, sonata, pintura, escultura, que por vezes também se misturam

A o s

períodos ou Clássico, barroco ou moderno

estilos;

O u
Impressionista, simbolista, realista, naturalista.
movimentos.

Vários dos novos movimentos que surgiram então tinham as mesmas características dessas classificações e eram

evidentemente diferentes, não só formalmente, como oriundos de pensamentos e situações sociais diferentes.

Assim, as novas formas levaram críticos e historiadores a criar novas classificações (Expressionismo,

futurismo, cubismo, etc.).

A expressão e a experiência da obra de arte passaram a não mais ser definidas pelo uso de simples pares de

adjetivos como belo e feio, requintado ou grosseiro, leve ou pesado. Isso representou motivo de confusão para o

espectador leigo e desavisado. Nesse contexto, na modernidade aumentou a importância do crítico de arte, que

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“explica” para os não especialistas os trabalhos aparentemente incompreensíveis e os classifica para facilitar sua

compreensão. Atua também como guia para os investidores que surgiram com o desenvolvimento do conceito

moderno de indivíduo, do público apreciador e colecionador de arte e dos lucros.

Já na pós-modernidade, diversas possibilidades estéticas e antiestéticas coexistem em um mesmo tempo e lugar,

de modo diverso do passado (A renascença, por exemplo, existiu durante muito tempo na Itália apenas.).

Essa situação é caracterizada por críticos como Pluralismo.

Na atualidade a crítica utiliza, para elaborar suas teorias e propor classificações, conceitos filosóficos e estéticos,

tanto antigos (Como os pares referidos.) como novos, estreitando a relação entre arte e filosofia.

3 A estética e a modernidade
Segundo os críticos e historiadores, a afirmação consciente de um “olhar puro” surge com Manet, no domínio da

pintura impressionista, revelando uma afirmação da onipotência do olhar criador.

Esse olhar, definido pela mestria do artista sobre aquilo que lhe pertencia em particular, ou seja, a forma e a

técnica enquanto um fim exclusivo da arte e como uma espécie de retorno reflexivo e crítico dos produtores

sobre sua própria produção, era capaz de se aplicar a qualquer tipo de tema, confrontando-se com a tradição

acadêmica que valorizava certos temas nas pinturas.

Os antigos conceitos utilizados para classificar e criticar a arte secularmente deixaram de ser suficientes com o

surgimento da arte moderna.

Antes de Manet, o Realismo de Courbet passou a retratar temas sociais e pessoas simples. O Impressionismo

passou a pintar objetos “insignificantes” que se tornam pretexto para o artista criador exercer seu poder

“semidivino de transmutação”.

Figura 3 - "Quebradores de pedras" Uma das obras sobre temas sociais de Courbet.

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Figura 4 - Obra Impressionista "A estação de Saint-Lazare" por Monet.

No Modernismo foi superada a concepção acadêmica de que havia temas dignos de serem representados. A

atenção volta-se para o modo como foi representado e, posteriormente, para como foi pintado (A partir do

expressionismo e, em especial, na arte abstrata.).

O desenvolvimento desse caminho (E dessa ideia.) resultou em uma arte não mimética (Ou não

representacional.) ou na arte abstrata moderna, que atingiu o seu ápice no Expressionismo abstrato norte-

americano (E no chamado Tachismo da Europa.).

Mas a pintura continua existindo hoje, tanto figurativa como abstrata, como uma espécie de geradora de

significados novos que refletem por sua vez as novas formas geradas na sociedade contemporânea.

Figura 5 - “A morte e a donzela”, por Egon Schiele

Figura 6 - “Fábrica de tijolos”, por Erich Heckel

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Figura 7 - “O espelho falso”, Magritte.

Artista surrealista que deu aos objetos ordinários uma torção irracional com a justaposição de elementos do

absurdo.

Figura 8 - “Fonte”, Marcel Duchamp.

Embora cronologicamente pertencendo ao moderno, o trabalho de Duchamp abre possibilidades que continuam

a ser tratadas na pós-modernidade, como seu questionamento da estética e da arte.

4 A estética e a pós-modernidade
Ainda no século XX, a atitude modernista de Marcel Duchamp no dadaismo e contemporânea de Andy Warhol na

pop arte, de exporem “objetos do mundo” como obras de arte, representou um tratamento de choque que

indicou uma onipotência da atitude “criadora pura” do artista, retratando o vulgar, o mediocre e o cotidiano.

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Mas o mictório de Duchamp e as latas de sopa Campbell de Warhol deviam suas estruturas formais e seu valor

estético somente à estrutura do campo intelectual onde se situam muitos trabalhos da arte conceitual e da arte

contemporânea também. Cada um com suas implicações estéticas próprias, relacionadas a condições históricas,

sociais e espaciais próprias.

Figura 9 - Lata de Campbell’s Soup, Andy Wahrol

Na atualidade, todos esses desenvolvimentos relacionam-se entre si, somados aos desenvolvimentos da pintura,

da escultura, da fotografia e de outras formas de arte. Assim a arte assume hoje, e continuará assumindo, formas

muito variáveis na chamada “Civilização da Imagem”. Para compreendê-la é fundamental o conhecimento dos

caminhos que a geraram.

A produção e o consumo de obras resultante das “vanguardas” modernistas e pós-modernistas, que se

caracterizavam por rupturas históricas com a tradição artística clássica, tendem, no entanto, a se tornar também

históricas, apesar de seu caráter eminentemente não-histórico de formalismo.

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Andy Warhol usou ícones da cultura popular desenvolvida no pós-guerra, para produzir uma arte inovadora em

oposição ao predomínio que havia da arte abstrata do período. Rompeu assim com a separação entre Alta

Cultura e Cultura Popular.

Esta disciplina pretende mostrar o processo histórico refletindo uma percepção diacrítica da obra de arte, ou

seja, uma postura atenta às relações estabelecidas com outras obras modernas, contemporâneas e também do

passado.

Isso vai permitir a você o acesso a uma análise das manifestações das artes visuais modernas e contemporâneas

e suas relações com as diferentes sociedades que as produziram.

O que vem na próxima aula


• Na próxima aula vamos começar a ver a história do surgimento do que chamamos arte e como essa ideia
chegou até a Idade Moderna.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Compreender as diversas transformações ocorridas com o conceito de arte e de estética;
• Ter noção da ligação da evolução histórica das sociedades e das suas transformações correspondentes
nas artes;
• Identificar noções do pensamento estético de diferentes épocas;
• Conhecer os agentes principais (filósofos) de cada corrente de pensamento que procuraram
compreender e explicar a arte de seu tempo.

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