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Acérdios STI Processo: 1N’ Convencional: Relator Deseritores: Data do Acordio: Votasio: Texto Integr Privacidade: Meio Processual: Decisio: Area T Legistagio Nacional: Referdncias Internacionais: Sumario Acérdio do Supremo Tribunal de Justiga 2485/10.8TBGMR.GISI I" SECGAO GABRIEL CATARINO ALIMENTOS DEVIDOS A MENORES RESPONSABILIDADES PARENTAIS DIREITO A ALIMENTOS PROGENITOR PARADEIRO DESCONHECIDO FUNDO DE GARANTIA DE ALIMENTOS 72.95.2013 UNANIMIDADE s 1 REVISTA CONCEDIDAA REVISTA DIREITO CIVIL - DIREITO DA FAMILIA / FILIAGAO / EFEITOS DA FILIAGAO/ ALIMENTOS. DIREITO CONSTITUCIONAL - DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIIAS PESSOAIS - DIREITOS E DEVERES SOCIAIS. DIREITO PROCESSUAL CIVIL - PROCESSOS ESPECIAIS / PROC! SJURISDICAO VOLUNTARIA. 'SSOS DE. CODIGO CIVIL (CC): - ARTIGOS 18742, 18782, 1905-, 1917, 2008, NPI. CODIGO DE PROCESO CIVIL (CPC): -ARTIGO 1410, CONSTITUICAO DA REPUBLICA PORTUGUESA (CRP): 69 DLN: 164/99, DE 13-8: - ARTIGOS Ne1,A). LELN/ 75:98, DE 19-11 - REGIME DO FUNDO DE GARANTIA DE ALIMENTOS DEVIDOS A MENORES: - ARTIGO 1: ORGANIZACAO TUTELAR DE MEN NeS3ES, CONVENCAO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANGA: -ARTIGO 27. N: ACORDAOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIC. -DE 08/05/2008; -DE 5/11/2009, IN WWW.DGSLPT; -DE 28/10/2010, P. N.*272/06.7TBMTR.PLS1, IN WWW.DGSLPT; -DE 1272011; “DE 27/9/201 -DE 22/5/12, P. N° $168/08.STBAMD.L1.S1; -DE 15/5/12, P. N° 2792/08.0TBAMD.L1.S1; -DE 08/05/2013, IN WWW.DGSLPT . de 1 - A lei estabelece uma obrigagao legal, a cargo dos pais, contribufrem para o sustento dos filhos, a qual decorre do estabelecimento de uma relagdo natural ou biolégica constituida e tutelada pelo direito, a relagdo paternal II - Independentemente do interesse do menor e para além dele, a lei constitui uma obrigagio de prestago de alimentos que nio se compadece com a situagdio econémica ou familiar de cada um dos progenitores, no colhendo a tese de que nao tendo o progenitor condigdes econémicas para prover ou materializar 0 contetido do direito definido, se deva alienar o direito e aguardar pela superveniéncia de um estado econémico pessoal que Ihe permita substanciar, no plano fictico- material, a exigéncia normativa que decorre da sua condigao de progenitor. Decisio Texto Integral: III-A essencialidade de que se reveste para o interesse do menor a prestaco alimentar imp@e ao tribunal que Ihe confira o necessario conteiido, ndo se podendo dar, e ter, por satisfeita pela constatagdo da falta de elementos das condigdes econémicas do progenitor requerido, particularmente se por auséncia deste em parte incerta ou de colaboragiio sua. IV - E pressuposto necessario, etapa prévia indispensavel da intervengo subsididria do FGADM, que a pessoa visada, para além de estar vinculada por lei, 4 obrigagao de alimentos, tenha ainda sido, judicialmente, condenada a presté-los ao menor, em consequéncia de uma antecedente decistio, mesmo que nfo transitada em julgado. V-A abstengiio ou demissio do tribunal da obrigagdo/dever de definir 0 direito a alimentos, que é medida e equacionada em fungao das necessidades do menor e das condigdes do obrigado a prestagao, conduziré a uma flagrante e insustentével desigualdade do menor perante qualquer outro, que tenha obtido uma condenagao do tribunal a0 pagamento de uma prestagdo alimentar e que o obrigado, inicialmente capaz de suportar a prestagio, deixou momentaneamente de a poder prestar. I.- RELATORIO. Porque o pai do menor AA, BB, deixou de estar ¢ ter contacto com 0 menor desde Margo de 2001, tendo desde essa data a mie, CC, passado a suportar todas as despesas com educagiio, alimentagio e vestuario, foi requerido ao tribunal que procedesse & regulagdo das responsabilidades parentais, ai incluindo a prestag&o do requerido para as despesas inerentes ao sustento do menor. Na conferéncia a que alude o artigo 175.9 da OTM, foi logrado seguinte acordo: “ 1.° O menor fica confiado & guarda e cuidados da sua me, a quem caberd 0 exercicio das responsabilidades parentais.-—- 2.° Uma vez que 0 menor nao tem contacto com o pai, nao se encontrando familiarizado com a figura deste, o menor passara um Domingo por més com o pai, a combinar com a mie e na sua presenga. 3.° O pai contribuira com a quantia mensal de € 125,00 a titulo de prestagao de alimentos para o seu filho menor”, tendo, apés, sido proferida a seguinte sentenga: “Nos presentes autos de regulagao das responsabilidades parentais relativas ao menor AA, em que ¢ requerente CC e requerido BB, homologo por sentenga o acordo relativamente & guarda e visitas que julgo valido, quer pelo seu objecto, quer pela qualidade da requerente e requerido, condenando-os na sua observancia. Oportunamente cumpra o disposto no artigo 1920.°-B do C. Civil. Nao homologo o acordo relativamente aos alimentos, ante as informagées prestadas pelo ilustre mandatario do requerido quanto a sua actual situago socioeconémica. Com efeito, tem-se assistido a um recurso cada vez maior dos progenitores a este tribunal para regulago das responsabilidades parentais dos filhos menores apenas com 0 dinico fito ser fixada uma prestago alimenticia, que ndo seré cumprida pelo obrigado a alimentos, ea final ser accionado o Fundo de Garantia a Alimentos devidos a Menores. Os alimentos compreendem tudo o que é indispensavel ao sustento, habitaco, vestuario, instrugo e educagao do alimentando (art. 2003." CC), competindo a ambos os pais (1878.° CC e Principio 8 da Recomendagiio (R) 84) de igual modo (art. 36.°/3 CRP). Os alimentos sao fixados atendendo quer as necessidades do alimentando, quer as possibilidades do prestador de alimentos (art. 2004. CC). Aparentemente o obrigado principal a alimentos nio terd possibilidade de os prestar. Se assim for, entdo urgird accionar outros obrigados a alimentos, talqualmente previsto no art, 2009.° CC, ao invés de o FGADM, Assim sendo, ¢ a fim de esclarecer quais as reais possibilidades de 0 obrigado principal a alimentos os prestar ao filho, determino: - Oficie ao Instituto de Seguranga Social e CGA solicitando informagao sobre 0 requerido se encontra a efectuar descontos e, na afirmativa, por conta de quem; em caso negativo, se beneficia de alguma penso ou subsidio e qual o respective montante; - Averigde na base de dados do registo automével se em nome do requerido se encontra inscrita a propriedade de qualquer vefculo automével; - Oficie & Repartigao de Finangas da area de residéncia do requerido solicitando que informe se em nome do mesmo se encontra inscrita a propriedade de quaisquer prédios.” Realizado inquérito social e outras diligéncias achadas pertinentes ~ eft. fls. 112 e segs. — foi proferida sentenga— fi. fls. 197 a 200 —_que decidiu: “[ndo] condenar o requerido no pagamento de qualquer prestagdo alimenticia a favor do filho AA." Inresignado com o decidido interpés 0 Ministério Publico, recurso de apelagao, tendo, no julgamento do recurso, sido decidido a sua confirmagio — ef. fls. 229 a 232. Invocando contradigao de julgados, impulsou o Ministério Paiblico, recurso de revista excepcional — eff. fls. 237 a 241 — por verificagio de oposigao de julgados entre 0 acérdao proferido a 20 de Novembro de 2012, neste proceso, com o proferido, pela mesma Relagdo de Guimaries, em 19 de Janeiro de 2012, junto a fls. 243 a 256. Submetida a preliminar apreciagao da formagao a que alude o n.° 3 do artigo 721.°-A do Cédigo Processo Civil, veio, por douto acérdao, de fis. 271 a 276, a considerar-se que se verificava “a oposig&o que permite que, ndo obstante a dupla conformidade, entre a decisdo da 1.* instancia e a da Relagdo, o STJ conhega, excepcionalmente, da revista interposta.”” Para a revista que interpés, dessumiu o recorrente, 0 quadro conclusive que a seguir queda extractado, L.A. - QUADRO CONCLUSIVO. “1.8 O tribunal deve sempre fixar alimentos a menor mesmo que se prove que o progenitor nao tem capacidade de os prestar ou Ihe seja desconhecida qualquer fonte de rendimento. 2. - $6 com tal fixa 4o o devedor pode incorrer em incumprimento. 3.4- Eo incumprimento é fundamental para que se possa langar mao do mecanismo da L 75/98 (Fundo de Garantia de Alimentos a Menores). 44 $6 com a fixagao de alimentos se respeitam os superiores interesses dos menores ¢ se cumprem os principios consagrados na lei fundamental (arts. 36.°, n.° 5 ¢ 69.° da CRP) e no direito comum digo Civil) 5.4 - Omitindo tal fixagdo o aresto em crise violou, entre outros, os arts. 1878.°, 2003.°, 2004,° do CC e o art. 1.° da Lei n.° 75/98. 6. - Deve 0 acérdio recorrido ser revogado e substituido por outro que fixe, em favor da menor, a prestago de alimentos a cargo do requerido em montante nao inferior a 100 euros mensais, actualizaveis anualmente de acordo com a taxa de inflagdo publicada pelo INE.” LB. - QUESTAO A APRECIAR. Reconduzindo a questo a sintese contraditéria debuxada no douto acérdio da formagio, extrai-se como questo a apreciar, nesta revista excepcional, saber se: - Nao tendo o menor sido confiado a guarda de um dos progenitores este pode ser condenado a pagar um montante conereto, a titulo de alimentos ao menor, ainda que nao Ihe nao seja conhecida qualquer fonte de rendimento. II. - FUNDAME! TOS. ILA. — DE FACTO. Do acérdio recorrido ressuma, com interesse para a apreciagao da questo enunciada, a sequente factualidade: “a) O AA nasceu em 20... e € filho da requerente ¢ do requerido (CAN a fils. 6); b) Requerente e requerido nao so casados entre si; ©) O requerido é casado com DD no regime da separagio de bens (CAN afls. 79 e CAC a fs. 93); d) A avé paterna do menor recebe mensalmente uma pensio de velhice de € 246,36 (doc. fls. 85): ¢) O requerido reside com a esposa em casa de uma filha com esta, 0 genro ¢ o neto (relatério de fls. 106 ss), sem que seja suportada qualquer quantia pela ocupagio desse espago (relatério de fls. 112 ss); f) O requerido ¢ a esposa encontram-se desempregados sem auferirem qualquer rendimento ou receber qualquer prestagao social (doc. fls 192); g) A filha do requerido, consigo residente, encontra-se desempregada, auferindo subsidio de desemprego no valor mensal de € 419,10 (relatério de fls. 112 ss); h) O genro do requerido aufere mensalmente € 485,00 (relatério de fls. 112s); i) O neto do requerido recebe mensalmente, a titulo de abonos, € 178 (relatério de fls. 112 ss); j) O neto do requerido padece de paralisia cerebral, pelo que em média é dispendido em fisioterapia € 360/més (relat6rio de fls. 112 ss).” IL.B. — DE DIREITO. II.B.1. — Fixagao de alimentos a menor. Tomando de empréstimo, com a devida vénia, ao acérdao recorrido, 0 enquadramento das posigdes jurisprudenciais que justificam a existéncia de oposigdo de julgados, quanto a questdo da fixagdo de alimentos ao menor, sdo as seguintes as posi¢des em confronto: “[por] um lado, hd os que defendem que a fixagao da pensio de alimentos nao 6 obrigatéria nas decisées que regulam o poder paternal, sempre que 0 obrigado nao tiver quaisquer meios para cumprir esse dever de prestar alimentos. Entendendo, que nao é possivel a fixagdo da prestagdo de alimentos, com o argumento de que, cabendo ao autor o énus de provar os elementos constitutivos do seu direito e nado se provando o modo de vida do réu, o tribunal encontra-se impossibilitado de apreciar, por forma a dar cumprimento ao critério da proporcionalidade consagrado non 1, do art. 2004.°, devendo abster-se de fixar qualquer pensio de alimentos, ver entre outros neste sentido Acs RL de 18.1.2007, de 4.12.2008 e de 17.09.2009 e AC.RP de 25.3.2010, todos in www.dgsi.pt Outra corrente jurisprudencial, tem afirmado a primazia dos principios constitucionais consagrados nos artigos 35.°, n.°5 e 69.° da CRP, que impdem o dever dos pais de sustentar os filhos e o direito das criangas ao seu desenvolvimento, do que resulta que o dever dos progenitores de prestar alimentos aos filhos menores, previsto nos artigos 1874.° 1878.° do CC, s6 é afastado pela total impossibilidade fisica de providenciarem tal sustento.” O ora signatirio interveio, como 2.° adjunto, na decisdo plasmada no acérdio deste Supremo Tribunal, de 27 de setembro de 2011, relatado pelo Conselheiro Gregério de Jesus — que por sua vez teve por base a doutrina plasmada no acérdao de 12 de Julho de 2011 — de que o relator havia sido 1.° Adjunto. A posigdo da sec¢do mostra-se expressa nos mencionados arestos endo descortinamos argumentos que possam contrariar a argumentagio neles expendida. Com as necessarias adaptagdes, ¢ porque, iteramos, nfo haverd muito mais a acrescentar ao que quanto a matéria em tela de juizo foi explanada nos mencionados arestos, pedimos vénia para transcrever os trogos mais significantes e que servirio de base ao remate do caso que nos é colocado para decisio. Assim, esereveu-se no aresto por nés subscrito, como ja havia sido escrito no aresto de 12 de Julho de 2011, que: “[o] fundamento sociolégico e juridico da obrigagao de alimentos radica-se na natureza Vital e irrenunciavel do interesse, juridicamente, tutelado, que tem subjacente a responsabilidade dos pais pela concepgdo ¢ nascimento dos filhos, independentemente da relagao afectiva e do convivio, realmente, existente entre o progenitor nao guardiao e os filhos, a ponto de permanecer intacta, na hipdtese do mais grave corte da relagdo entre ambos, como acontece com a situagao de inibigao do exercicio do poder paternal, que “em nenhum caso isenta os pais do dever de alimentarem 0 filho”, como decorre do estipulado pelo artigo 1917°, do Cédigo Civil (co). A obrigagao de alimentos é, igualmente, de interesse e ordem publica, de cardcter indisponivel, irrenunciavel, intransmissivel e impenhoravel, constituindo preocupagaio do Estado que quem deles esteja carecido possa recorrer, desde logo, aos seus familiares. Dispde o artigo 1878.°, do CC, que “compete aos pais, no interesse dos filhos, ..., prover ao seu sustento, ...”, sendo responsdveis por todas as despesas ocasionadas com a educagio, saiide, alimentago, vestuario e instrugdo dos seus filhos menores, devendo sustenti-los, satisfazendo as despesas relacionadas com o seu crescimento e desenvolvimento, participando, com iguais direitos e deveres, na sua manutengdo, atento 0 estipulado pelo artigo 36°, n°s 3 ¢ 5, da Constituigo da Republica, ainda que nao seja, necessariamente, idéntica a forma do cumprimento desta obrigagio. (...) A obrigagdo de alimentos dos pais para com os filhos menores representa um exemplar manifesto da catalogag’o normativa dos deveres reversos dos direitos correspondentes, dos direitos-deveres ou poderes-deveres, com dupla natureza, em que se assiste a elevagdio deste dever elementar, de ordem social e juridico, a dever fundamental, no plano constitucional, de modo a “assegurar, dentro das suas possibilidades e disponibilidades econémicas, as condigdes de vida necessrias ao desenvolvimento da crianga”, como estabelece o artigo 27°, n° 2, da Convengao sobre os Direitos da Crianga.” O dever irrefragavel e inafastavel que recai sobre os pais de contribuirem para o sustento dos filhos, nao pode ceder 4 argumentagio da impossibilidade de averiguaco do tribunal do qualitativo com que, ou com quanto, deve contribuir. Constituem-se patamares de diversa qualificagdo e parametrizago o dever dos pais ¢ 0 correlativo direito dos filhos a prestar alimentos e a exigi-los, respectivamente, da quantificagdo que esse dever deve ou pode ser exigido em cada situagio ou em cada momento. Na verdade, a lei estabelece um dever de prestaciio (alimentar), ou seja uma obrigagao legal, que decorre do estabelecimento de uma relago natural e biolégica constituida tutelada pelo dircito, a relagdo paternal. Independentemente do interes do menor e para além dele, a lei constitui uma obrigagdo (de prestag’o de alimentos) que nao se compadece com a situago econémica ou familiar de cada um dos progenitores mas, outrossim, atina com um dever irremovivel inderrogavel de aqueles que deram vida a alguém terem, enquanto durar a incapacidade de eles angariarem sustento pelos scus proprios meios, proverem ao seu sustento, mediante uma prestagao alimentar. Apurar ou averiguar qual o montante que essa prestagfio deve assumir é questo que nao colide com o direito em si, mas que importard incorporar no conspecto sécio-familiar e pessoal de cada um dos obrigados 4 prestagdo da obrigagio e alimentos. c Nao colhe a tese de que no tendo o progenitor, considerado devedor da prestagdo alimentar, condigdes econdmicas para prover ou materializar © conteiido do direito definido, se deva alienar o direito e aguardar por superveniéncia de um estado econémico pessoal que lhe permita substanciar, neste plano factico-material, a exigéncia normativa que decorre da sua condigao de progenitor e, pour cause, obrigado a contribuir para um dos segmentos em que se desdobra e completa a responsabilidade parental Tomando novamente de empréstimo 0 que foi dito no acérdio por nés subscrito, relatado pelo Conselheiro Gregério Jesus, ¢ no reforgo do que acabamos de asserir: “[do] mesmo modo, todas as decisdes relativas a menores terdo primacialmente em conta o interesse superior da crianga. E 0 que resulta do estabelecido no n° | do art. 1878° do Cédigo Civil (CC), do disposto no art. 1905° do mesmo Cédigo que recusa a homologagao do acordo dos pais referente aos alimentos devidos ao filho se “nao corresponder ao interesse do menor”, e sfio ainda os interesses do menor a que o art. 180° da OTM faz apelo quando regula a sentenga que deva ser proferida. Significa tudo isto, que a essencialidade de que se reveste para o interesse do menor a prestago alimentar impée ao tribunal que The confira 0 necessario contedido, nao se podendo dar, ¢ ter, por satisfeita pela constatagdo da falta de elementos das condigdes econémicas do progenitor requerido, particularmente se por auséncia deste em parte incerta ou de colaborago sua. Tal vazio sé devera ocorrer perante a demonstragdo de qualquer incapacidade laboral, permanente ou definitiva, do progenitor que o iniba de procurar e diligenciar por uma actividade profissional ou laboral que Ihe permita cumprir os seus deveres para com o menor, como se escreveu no Ac. deste Supremo de 12/11/09, Proc. n° 110-A/2002.L1.S1, no ITIJ, a propésito de situagdo de contornos proximos dos destes autos.” Para, numa perspectiva constitucional se afirmar, como jé se havia se havia afirmado no acérdao de 12 de Julho de 2011, relatado pelo Conselheiro Hélder Roque: “[a] natureza constitucional da obrigagao de prestaciio de alimentos encontra expresso ordindria, ao nivel da tutela penal da violagdo da obrigagdo do credor de alimentos menor, com consagragGo no artigo 250.°, do Cédigo Penal, ¢ na especifica compressio, em sede executiva, do préprio direito 4 sobrevivéncia condigna do progenitor vinculado ao dever de prestar alimentos, desanexado, atento o referencial basico das necessidades fundamentais dos filhos menores, do valor do salario minimo nacional, como reduto inexpugnavel do devedor, mas que, inversamente, nao releva como pressuposto negativo da intervengiio do Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores, ou seja, 0 requisito da “inexisténcia de rendimentos liquidos do alimentando superiores ao salério minimo nacional” Efectivamente, uma das concretizagdes mais marcantes deste direito fundamental dos filhos menores prestagao alimentar, por parte dos seus progenitores, encontra-se na instituigdo pelo Estado de uma prestagdo social substitutiva, com vista ao reforgo da protecgao social dos menores carenciados, expressa no regime do Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores, constante da Lei n° 75/98, de 19 de Novembro, regulamentada pelo DL n° 164/99, de 13 de Maio. Com efeito, para além dos meios processuais tutelares habeis com vista 4 obtenciio de alimentos destinados a menores, de natureza declarativa, a lei consagrou ainda procedimentos coercivos, de indole pré-executiva, para tornar efectiva a prestacao de alimentos devidos a menores. Entre eles, destaca-se a efectivagdo da prestagaio dos alimentos devidos a menores, ja, judicialmente, fixados, através do Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores, com natureza subsidiaria, dependendo esta prestagiio substitutiva do Estado da verificagao cumulativa de varios requisitos, nomeadamente, a existéncia de sentenga ou acérdio, mesmo que nao transitados, que fixem os alimentos devidos a menores, ou de decisio que estabeleca alimentos provisorios, a favor dos mesmos, a cargo da pessoa obrigada, a residéncia do menor, em territério nacional, a inexisténcia de rendimentos liquidos do alimentando superiores ao salario minimo nacional, 0 ndo recebimento pelo alimentando, na mesma quantidade, de rendimentos de outrem, a cuja guarda se encontre, superiores ao salario minimo nacional, sempre que a capitagdo de rendimentos desse agregado familiar nao exceda aquele salario, e 0 no pagamento, total ou parcial, por parte do devedor, das quantias em divida, designadamente, através de uma das formas previstas no artigo 189°, da OTM, independentemente do recurso A via da execugiio especial por alimentos, como resulta das disposigdes combinadas dos artigos 1°, da Lei n° 75/98, de 19 de Novembro, 2°, n° 2 3°, n° I, a), do DL n° 164/99, de 13 de Maio, Assim sendo, € pressuposto necessario, etapa prévia indispensavel da intervengao subsididria, de natureza garantistica, do Fundo de Alimentos Devidos a Menores, que a pessoa visada, para além de estar vinculada, por lei, 4 obrigagdo de alimentos, tenha ainda sido, judicialmente, condenada a prest4-los ao menor, em consequéncia de uma antecedente decisdo, mesmo que nio transitada em julgado. Com efeito, a prestacdo do Fundo nfo visa substituir, definitivamente, a obrigagao legal de alimentos devidos a menores, mas antes propiciar uma prestag&o «a forfaity de um montante, por regra, equivalente ao que fora fixado, judicialmente Ora, nao tendo sido fixada a prestagao de alimentos, a cargo do requerido, na sentenga que regulou o exercicio do poder paternal, nao pode o Fundo de Alimentos Devidos a Menores assegurar pagamento de prestagdes alimentares que, oportunamente, nao foram estabelecidas, “a pretexto da sua caréncia econémica, o que seria susceptivel de vedar ao filho carenciado 0 acesso a tal prestagao social, com o argumento de que nao existiria pessoa judicialmente obrigada a prestar alimentos ao menor.” Sendo certo que o artigo 2004.°, n.° 1, do Cédigo Civil prescreve que “Os alimentos sero proporcionados aos meios daquele que houver de presti-los e d necessidade daquele que houver de recebé-los”, ¢ no caso em apre¢o o pai, ndo possui condigdes econémicas, por razées de ordem familiar, que Ihe permitam contribuir, concretizar ou materializar 0 direito 4 prestagdo alimentar, nem por isso, como se procurou demonstrar supra, o érgio encarregado de determinar e definir o direito, se pode abster de afirmar a existéncia desse direito, no momento presente, permitindo a constituigao de uma obrigagdo que, naio podendo ser executada desde j4, possibilite, a sua exequibilidade em momento posterior, ou quando existirem condigdes econdmicas para a prestagio poder ser efectivamente coneretizada. Nao parece adequado ¢ ajustado, como se afirmou no aresto que subscrevemos, que: “[a] solugdo perfilhada na decisio recorrida de deixar para o futuro, de duragdo incerta se ndo mesmo inalcangavel, campo para novas iniciativas por banda da mie dos menores ou do M° P® com 0 objectivo de descobrir o paradeiro do requerido-pai - [no caso a superveniéncia de melhores condiges econémico-financeiras] - e as suas condigdes de vida ou expectar o seu surgimento, compromete inevitavelmente a eficdcia juridica da satisfagdo das necessidades basicas dos menores alimentandos, prolongando no tempo de forma injustificada, a ndo ser 0 estrito sentido literal do eritério do art. 2004° do CC, a caréncia continuada de recebimento de qualquer prestagio social de alimentos, em que a falta de solidariedade familiar do requerido jé se vem demonstrando desde ha cerca de 5 anos. Em suma, com 0 devido respeito, a andlise detalhada do acérdio recorrido evidencia que em vez de procurar tutelar os interesses dos menores que esto em causa abragou uma hermenéutica juridica acauteladora dos interesses do progenitor ausente, conduzindo a um resultado inadequado. Inadequado, porquanto nao sé manteve completamente desonerado 0 progenitor requerido da responsabilidad decorrente do poder paternal, ‘maxime da sua contribuigdo para alimentos dos filhos a que se encontra juridicamente vinculado pela paternidade, como acabou por deixar desprotegidos os menores, que no podem ser deixados is contingéncias de eventuais apoios de familiares e amigos, precisamente quem o direito da familia essencialmente mais pretende tutelar. Neste contexto e nesta area, a fixagdio de uma prestagdo alimenticia nos moldes pretendidos pelo requerente é a solugdo substancialmente mais justa, sabendo-se, para mais, que nos encontramos no dominio da jurisdico voluntaria onde vigora o principio do predominio da equidade sobre a legalidade, que subtrai o julgador aos critérios puros e rigorosos normativamente fixados, por vezes indutores de soluges social ¢ éticamente indiferentes (cf. art. 1410° do CPC).” ‘Nao se nos afigura procedente a argumentaco estendida no acérdio recorrido de que “[nos] artigos 1.° ¢ 6.° n.° 3 da Lei 75/98 resulta que estamos somente na presenga de um mecanismo de (mera) substituigao temporaria do devedor de alimentos, o qual s6 funciona quando este, estando em condigdes de assumir e cumprir a obrigagao de alimentos, adopta uma conduta de incumprimento. Nada se encontra nessa lei que suporte a conclusao de que o Fundo de Garantia dos Alimentos Devidos a Menores tem a seu cargo uma prestagao social pura e dura, permita-se a expresso. Na verdade nfo se diz na Lei 75/98 que "o Estado assegura as prestacdes" de alimentos a menores quando nao for possivel fixar a um dos progenitores um montante de alimentos por ele no ter meios de os prestar. ‘Ao Fundo, bem ou mal, foi apenas confiado o papel de substituir, provisoriamente, quem pode pagar alimentos mas que nao o esté a fazer, caso em que, mais tarde, esse obrigado tera que reembolsar 0 que aquele, entretanto, pagou, sendo previsivel que esse reembolso se poder concretizar, visto que anteriormente, aquando da fixago dos alimentos, se apurou e reconheceu que o obrigado tem capacidade econémica para realizar esse pagamento. Neste contexto, ndo se afigura adequado pretender fixar um montante de alimentos ao requerido, ficcionando-se, em violagio ao disposto no

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