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Acérdiios TRG Processo: Relator Descritores: N° do Documento: Data do Acordio: Votasao: Texto Integral Meio Processual: Decisiio: Indicagies Eventuais: Sumério: Decisio Texto Integral: Acérdao do Tribunal da Relacao de Gi 1562/17. 9T8VNF-G JOSE ALBERTO MOREIRA DIAS ANULACAO DA VENDA EXECUTIVA VICIOS DE DIREITO DA COISA E LIMITAGOES RG 06-06-2019 UNANIMIDADE s APELACKO PARCIALMENTE PROCEDENTE, |." SECCAO CIVEL jimaraes ‘Sumirio (do relator): 1- A anulagao da venda executiva prevista na 1* parte do art. 838°, n.°1 do CPC, reporta- se a vicios de direito da coisa transmitida, isto 6, a situagées de erro acerca do objeto juridico desta (énus ou limitagdes), enquanto a 2* parte daquele preceito reporta-se a vicios materiais da coisa, quer esses vicios recaiam sobre a identidade, quer sobre as qualidades da coisa transmitida 2. So vicios ou limitagdes que determinam erro do adquirente sobre o objeto jurfdico da coisa transmitida os direitos reais de goz0 que nao devam caducar com a venda executiva (ex: direito de uso e habitagao, usufruto, etc.), os direitos pessoais de gozo que sejam eficazes em relagao ao comprador (ex: arrendamento), assim como a pendéncia de agao em que esteja em Iitigio o bem objeto da venda. 3. Para que seja declarada a invalidade da venda executiva com fundamento em erro sobre 0 objeto juridico da coisa transmitida 6 necessario que: a) os énus ou limitages que a oneram néo tenham sido comunicados no ato de publicitagao da venda, ainda que Se trate de énus que estejam registados; e b) que esses énus ou limitagoes excedam os. limites normais inerentes aos direitos da mesma categoria, como 6 o caso de 6nus ou limitagdes que excedam os limites normais e gerais impostos pela lei ao direito de propriedade. 4-Asimples pendéncia e 0 registo de uma agao pauliana, tendo por objeto os prédios vendidos no ambito da venda executiva e em que, a titulo subsidiério, se pede a anulacao de uma doagdo que tem por objeto esses mesmos prédios, ainda que essa ago nao tenha qualquer virualidade juridica de vir a privar o adquirente do direito de propriedade sobre esse prédios, que comprou na venda executiva, configura uma limitagao relevante a0 direito de disposigao deste sobre esses prédios, pela natural desconfianca que o registo dessa agao suscita nos potenciais interessados na compra dos mesmos, € confere ao adquirente 0 direito a requerer a anulagdo da venda executiva com fundamento em erro sobre 0 objeto juridico da coisa que the foi transmitida, quando a pendéncia dessa acao ndo foi mencionada na publicitagao da venda, sequer foi dado conhecimento aquele da pendéncia dessa ago no ato da compra, Acordam os Juizes do Tribunal da Relagao de Guimaraes. |. RELATORIO Recorrente: (...) Nos autos de insolvéncia em que so insolventes (...) e(...), fol ordenada a venda dos bens apreendidos a ordem do proceso de insolvéncia. Em 19/10/2018, foi lavrado auto de aceitagao de proposta apresentada Por (...) para aquisigao dos bens descritos no auto de apreensao sob as verbas n.'s 1, 2, 3 4 (cfr. doc. de fis. 21 e 22). Por requerimento datado de 29/10/2018, (...) , residente na Rua Unido de Freguesias (...) concelho de (...) €, notificado do auto de aceitagao de proposta antes referido, na qualidade de filho dos insolventes, apresentou-se a exercer 0 direito de remigao dos bens apreendidos pelo respetivo prego de adjudicacao, a saber: - verba n.° 4 — 16.400,00 (dezasseis mil e quatrocentos) euros; - verba n.° 2 ~ 16,400,00 (dezasseis mil e quatrocentos) euros; - verba n.° 3 - 16,900,00 (dezasseis mil e novecentos) euros; & - verba n.° 4 ~ 16,900,00 (dezasseis mil e novecentos) euros (crf. fis. 23) Nesse requerimento, o identificado A. R., apesar de nao ter sido apresentada qualquer proposta de aquisicao pelo bem da verba n.° 5, propés-se adquirir o mesmo pelo preco de 100,00 euros (cfr. fls. 23), proposta esta que veio a ser aceite, Por escritura publica de compra e venda de 06/12/2018, (...) , comprou aqueles bens (incluindo o da verba n.° 5, este pelo prego de cem euros) no exercicio do direito de remigao e pelos pregos atrds referidos (cfr. fis. 26 a 32). Averba n.° 1, corresponde a um prédio urbano, composto por lote de terreno para construgao, denominado “Lote ...”, sito em(...) , concelho de (...), inscrito na respetiva matriz sob o art. ... e descrito na Conservatéria do Registo Predial de (...) sob 0 n.°..... /(...) (cfr. doc. de fils. 26 a 32); Averba n.° 2, corresponde a um prédio urbano, composto por lote de terreno para construgao, denominado “Lote ...”, sito em (...) a, concelho de (...), inscrito na respetiva matriz sob o art. ... e descrito na Conservatéria do Registo Predial de (...) sob 0 n.°.... I...) (off. doc. de fis. 26 a 32); Averba n.° 3, corresponde a um prédio urbano, composto por lote de terreno para construgao, denominado “Lote ...”, sito em (...) concelho de (...), inscrito na respetiva matriz sob o art. ... e descrito na Conservatéria do Registo Predial de (...) sob on.’ .../(...) (cfr. doc. de fis. 26 a 32); E a verba n.° 4, corresponde a um prédio urbano, composto por lote de terreno para construgéo, denominado “Lote ...", sito em (...) concelho de (...), inscrito na respetiva matriz sob o art. ... e descrito na Conservatéria do Registo Predial de (...) sob on.’ ... /(..) (cfr. doc. de fis. 26 a 32). Pela ap. (...) , de 2018/10/03, foi inscrito, no registo, sob os prédios atras identificados relativos as verbas n.°s 1, 2, 3 4, 0 Proc. (...) TBBRG, do Tribunal Judicial da Comarca de Braga, Juizo Central Civel de Braga, Juiz 2, em que o ai Autor (...) demanda os aqui insolventes(..) , bem como (...) pedindo que se declare ineficaz, relativamente ao Autor, as doagées e permutas destes iméveis, e se declare o direito do Autor de os executar no patriménio dos Réus, (...9 , a fim de satisfazer o seu crédito, ou, caso assim se nao se entenda, se declare nulo e de nenhum efeito 0 contrato de doagao constante da escritura datada de 13 de agosto de 2013, pela qual os Réus (...9 doaram a Ré (...) a propriedade destes prédios (cfr. doc. de fis. 33 a 38). Durante a prospegao de mercado, antincio de venda dos bens supra descritos e recegao de propostas, o administrador de insolvéncia desconhecia a pendéncia da ado atras descrita (cfr. doc. de fls. 49). Por requerimento de fls. 16 a 19, (...) , requereu, ao abrigo do disposto nos arts. 838°, n.° 1 do CPC e 17° do CIRE: a- a anulagdo da venda por negociagao particular ao aqui requerente, no exercicio do direito de remigdo de todos os iméveis constantes da escritura publica de compra e venda realizada no dia 06 de dezembro de 2018, no Cartério Notarial do Dr...) , melhor identificados no documento n 4, declarando-se tal escritura nula e de nenhum efeito, com o consequente cancelamento dos registos efetuados a favor do requerente; b- a devolugao ao requerente da quantia de 66,700,00 euros, correspondente a totalidade do montante por este pago pela aquisi¢ao dos aludidos imévei c- a indemnizagao ao requerente, correspondente ao valor por este pago a titulo de IMT — 4.334,00 euros -, imposto de selo — 533,60 euros -, despesas com escritura e registos — 834,29 euros — e despesas com emissao do cheque visado — 52,00 euros, tudo no montante de 5.753,89 euros. Para tanto alega, em sintese, que apés a celebragao da escritura de compra e venda teve conhecimento que havia sido registada, em 03/10/2018, a ago n.° 4275/18.0T8BRG, no ambito do qual se peticiona a ineficdcialnulidade de determinados negécios celebrados pelos insolventes e que envolvem os prédios por ele remidos; Aeventual procedéncia dessa agao permitiré executar todo aquele patriménio, agora pertencente ao requerente; O requerente desconhecia a existéncia daquele énus a data da celebragao da escritura e, por isso, o mesmo nao foi tomado em consideracao, sequer foi referido na escritura; Assua vontade negocial foi assim viciada, no que respeita aos seus motivos determinantes no que se refere ao objeto do negécio, o qual nunca teria sido realizado se conhecesse aquele énus do registo da ago. Por requerimento de fls. 41 a 42, A. R. veio reformular o requerimento atras referido, pedindo que: a- se anule a venda por negociagao particular ao requerente de todos os prédios urbanos — lotes 2, 3, 9 e 10 -, constantes da escritura publica de compra e venda realizada no dia 06 de dezembro de 2018, no Cartorio Notarial do Dr. (...), melhor identificados no documento n.° 4, declarando- se tal escritura nula e de nenhum efeito relativamente a tais prédios, com © consequente cancelamento dos respetivos registos efetuados a favor do requerente; e b- a devolugao ao requerente da quantia de 66,600,00 euros, correspondente a totalidade do montante por este pago pela aquisigao dos aludidos prédios (cfr. 54 e 55) Em 13/03/2019, sobre o assim requerido por A. R., recaiu a seguinte decisao: “Nos termos do art. 251 CC, O erro que atinja os motivos determinantes da vontade, quando se refira 4 pessoa do declaratério ou ao objeto do negocio, torna este anuldvel nos termos do artigo 247.° Consoante disposto no art.° 247 CC, Quando, em virtude de erro, a vontade declarada nao corresponda a vontade real do autor, a declaragao negocial é anulavel, desde que o declaratério conhecesse ou nao devesse ignorar a essencialidade, para o declarante, do elemento sobre que incidiu 0 erro. Jé nos termos do disposto no art.” 838 CPC, sob a epigrafe Anulagao da venda e indemnizagao do comprador 1- Se, depois da venda, se reconhecer a existéncia de algum énus ou limitagdo que nao fosse tomado em consideragao e que exceda os limites normais inerentes aos direitos da mesma categoria, ou de erro sobre a coisa transmitida, por falta de conformidade com o que foi anunciado, o comprador pode pedir, na execugao, a anulacao da venda ea indemnizagao a que tenha direito, sem prejuizo do disposto no artigo 906.° do Cédigo Civil. (...) Heinrich Ewald Horster refere (A Parte Geral do Cédigo Civil Portugués, Teoria Geral do Direito Civil, 6* reimpressao, Almedina, pag. 567) que «o negécio juridico apenas pode desempenhar as suas fungdes quando a vontade, que se manifesta através da declaraco negocial, se formou de uma maneira esclarecida, assente em bases correctas, e livre, sem deformagées provindas de influéncias exteriores. Se a vontade nao se formou esclarecida e livremente, ela esta viciada. Na sequéncia do vicio, que fere a vontade, também a declaragao negocial em que esta se manifesta fica viciada». © vicio da vontade negocial que se traduza ou envolva uma deficiéncia de discernimento do seu autor constitui, assim, erro que corresponde a ignorancia ou falsa representagao de uma realidade (a ignorancia do que se ignora) que poderia ter intervindo ou interveio entre os motivos da declaragao negocial. O erro, particularmente no quadro dos desvalores de um negécio juridico, equivale sempre a ignorancia de algo e implica, em geral, «uma avaliagao falsa da realidade: seja por caréncia de elementos, seja por ma apreciagao destes». Fala-se a este respeito «no desconhecimento ou na falsa representacao da realidade que determinou ou podia ter determinado a celebracao do negécio» O erro situa-se, assim, na formagao do negécio juridico, portanto em momento logicamente anterior a este. E deve notar-se que «sé existe erro quando falta um elemento ou a representacao mental esté em desacordo com um elemento da realidade existente no momento da formagao do negécio juridico. De salientar, desde jd, que nem todo o erro é considerado juridicamente relevante e origina a anulagao do negécio realizado. As necessidades de seguranga e estabilidade do trafico juridico exigem que a relevancia do erro como fundamento da anulagao do negécio dependa de determinados pressupostos, ou seja, é necessdrio que «concorram certos requisitos», sendo que, relativamente ao seu regime de relevancia, «cada ordem juridica esta perante um dilema: se nao atende ao erro, vale um resultado que o errante nao quis, ficando assim violado 0 seu direito autodeterminagao a realizar por meio do negécio juridico; se atende ao erro, fica desiludida a expectativa da outra parte que confiou naquilo que entendeu e é perturbada a seguranga do comércio juridico Para a solugao desse dilema e na falta de uma solugao geral tida por correta, cada ordem juridica opta, de acordo com a mentalidade dos seus destinatarios e dentro do seu sistema, por estabelecer os critérios, de relevancia do erro que considera ajustados e que o Céd. Civil condensa nos art.°s 247° a 252°, interessando, para 0 caso em aprego, 0 erro vicio na formagao da vontade, também chamado, por vezes, erro- vicio, ou erro-motivo, para o distinguir do erro na deciaragao, figura de divergéncia entre a vontade real e a vontade declarada, prevista no art.° 247° do Céd. Civil e a que se chama correspondentemente erro obstativo ou erro-obstaculo. Este recai apenas sobre o elemento externo da declaracao e afeta o comportamento declarativo, isto é, a exteriorizagao da declaragao, produzindo uma divergéncia entre a vontade, que nao esta viciada ou deformada, e 0 que é declarado. Trata-se, portanto, de um erro no processo de formulagao ou de manifestagao da vontade, enquanto 0 erro-vicio, que, frise-se, é 0 que esta suscitado no caso vertente, incide 6 sobre a prépria vontade (elemento interno) e nao gera qualquer divergéncia entre esta e a declarago, que se apresenta em pereita conformidade ou consondncia com aquela. A vontade é que se encontra mal formada ou viciada na sua formagao por erro, logo mal esclarecida, mas coincide com a declaragao exteriorizada. Manuel A. Domingues de Andrade caracteriza-o, nos moldes seguintes: ‘fo] erro-vicio consiste na ignorancia (falta de representagao exacta) ou numa falsa ideia (representacao inexacta), por parte do declarante, acerca de qualquer circunsténcia de facto ou de direito que foi decisiva na formagao da sua vontade, por tal maneira que se ele conhecesse o verdadeiro estado das coisas nao teria querido 0 negécio, ou pelo menos ndo o teria querido nos precisos termos em que o concluiu”, - Acérdao do Supremo Tribunal de Justiga (Ex.mo Conselheiro ANTONIO JOAQUIM PIGARA) de 15.5.2012, no Processo 5223/05.3TBOER.L1.S1 © mesmo ensinou o Supremo Tribunal de Justiga (Ex.mo Cons.° AZEVEDO RAMOS) em seu Acérdao de 27.5.2010, no Proceso 237/05.6TBSRE.C1.S1, assim sumariado: 1 O erro que versa sobre a area dos prédios é um erro sobre as suas qualidades, ou seja, um erro sobre o objecto do negécio. II No erro sobre o objeto do negécio, além da essencialidade, requisito geral da relevancia do erro, para 0 negécio ser anulavel, tem de se verificar, em alternativa, 0 seguinte circunstancialismo : - 0 declaratério conhecer a essencialidade, para o declarante, do motivo sobre que recaiu o erro; - 0 declaratario, nao conhecendo essa essencialidade, nao a dever contudo ignorar Il— Este conhecimento ou cognoscibilidade respeita 4 essencialidade e nao ao erro. No caso em aprego temos que A. R., filho dos insolventes, apresentou- se, em 18-10-18, aos autos, com a intengao de exercer 0 seu direito de remigao na aquisigao dos bens apreendidos 4 ordem da massa insolvente, num total de 5 verbas. Foi realizada escritura de compra e venda em Dezembro de 2018, junta a fis. 18. Vem agora requerer a declaragao de anulagao da venda (com excego da verba n.° 5) com base no desconhecimento do registo de acgao de impugnagao pauliana, instaurada pelo Banco ..., SA contra os seus progenitores, cujo objeto so, precisamente os iméveis por si adquiridos. Da andlise da certidao de registo predial junta a fis. 23 constata-se que tal registo ocorreu em Outubro de 2018. Notificado, argui 0 Al que durante os procedimentos de venda, no existia tal 6nus, sendo que o registo ocorreu em momento posterior & comunicagao pelo Al da aceitagao da proposta do requerente. Ais. 36, veio 0 credor Banco ..., SA pugnar pelo indeferimento da peticionada anulagao da venda, porquanto o desconhecimento da existéncia do énus impende sobre o requerente, que descurou 0 seu dever de aferir do real estado dos imoveis a adquirir, pois que o registo ¢ publico. Bem se sabe que a aco pauliana se nao trata de acco de nulidade. Os bens continuam em poder e na propriedade do terceiro, mas 0 impugnante pode, além de praticar os atos de conservagao da sua garantia, executar os bens alienados no patriménio de terceiro onde se encontram, como se eles nao tivessem safdo do patriménio do devedor, na medida do necessario para satisfagao do seu crédito, sem sofrer a competicao dos credores do adquirente ou do devedor, uma vez que a procedéncia da pauliana sé ao impugnante aproveita — art.° 616, n° 4 cc. Com a pauliana nao visa a lei atacar a validade do ato mas antes garantir o credor; por isso deixa intacto o ato na medida excedente ao necessério a satisfagao do credor requerente. Trata-se, portanto, de uma agao pessoal com escopo indemnizatério -e nao de uma agao de declaracao de nulidade ou de anulagao, ou de uma ago resolutéria ou rescisoria dos negécios realizados pelo devedor. O STJ tirou AUJ no sentido de que a pauliana no esta sujeita a registo - AUJ n? 6/2004, no DR IA de 14.7.2004. O art. 3°, n.° 1, al. a) do CRP (redagao dada pelo Dec.-Lei n.° 116/208, de 4 de Julho, estabelece que a aco pauliana esta sujeita a registo, embora, na al, b) do n.° 1 do art. 8°-A excepcione esta aceao da obrigatoriedade do registo. Conjugando, entéo, factos e direito, temos que entre a proposta de venda e a sua concretizacdo ocorreu 0 registo de um énus (agdo de impugnagao pauliana) incidente sobre parte dos imoveis adquiridos pelo remidor, Este registo, como se viu, nao foi publicitado pelo Al, porquanto foi posterior as diligéncias de venda. Por outro lado, o registo nao é Obrigatério, o que equivale a dizer que se 0 A Banco ... tivesse optado por nao registar a ago, o remidor desconheceria a existéncia da mesma, até mais tarde, nao se podendo, portanto assacar responsabilidade ao vendedor, aqui Al. O reconhecimento do énus poderia ter ocorrido antes da venda, e sé nao ocorreu por descuido do adquirente/remidor. Assim, e por todo o exposto, indefere-se a requerida anulacdo da vendas das verbas 1a 4”. Inconformado com 0 assim decidido, A. R., interpds 0 presente recurso de apelagao, em que apresenta as seguintes conclusées: 1. O recorrente, ao abrigo do disposto no artigo 842.° e seguintes do C\P.C, exerceu 0 Direito de Remigao relativamente a todos os bens apreendidos da massa insolvente, cuja escritura de compra e venda por negociagao particular teve lugar no dia 6.12.2019 e a qual é omissa relativamente a quaisquer énus que nao os que resultam da inscrigao de hipotecas e/ou registo da agao de insolvéncia, cancelados oficiosamente nos termos do artigo 101, n.° 5 do Cédigo do Registo Predial. 2. Apés a celebracao da escritura, o requerente/remidor teve conhecimento que havia sido também registada em 03.10.2018, na descrigao dos iméveis a) a d), a ado n.° 4275/18.0T8BRG do Juizo Central Civel J 2 do Tribunal da Comarca de Braga (Agao Pauliana), no Ambito da qual se peticiona a ineficdcia/nulidade de determinados negécios juridicos celebrados pelos insolventes e que envolvem os prédios remidos pelo recorrente, cuja eventual procedéncia permitira ao respetivo autor executar todo aquele patriménio, agora pertencente ao recorrente. 3. O registo da referida agéo constitui um énus que incide sobre quatro prédios adquiridos pelo recorrente, o qual nao foi publicitado pelo Administrador de Insolvéncia durante 0 processo de venda e que o recorrente desconhecia 4 data da celebragao da escritura. 4. Avontade negocial do remidor/recorrente foi assim viciada, no que respeita aos seus motivos determinantes no que se refere ao objeto do negécio, o qual o recorrente nunca teria realizado se conhecesse aquele onus. 5. Preceitua 0 artigo 17.° do CIRE, que quanto a venda realizada em liquidagao dos bens da massa insolvente sao aplicaveis as normas do processo executive que nao contrariem as disposigdes do CIRE, designadamente, o artigo 838° n.° 1 do Cédigo de Processo Civil 6. Do n.° 1, da citada norma, com relevaincia para os autos, retiram-se duas conclusées: primeira, que o erro sobre a coisa transmitida, por falta de conformidade com o que foi anunciado, é motivo de anulagao da venda e segunda, que o comprador tem a faculdade de reagir pedindo a nulidade da venda e a indemnizagao que tenha direito ou conformar-se com aquele énus. 7. O erro em que incorreu o recorrente (falta de conformidade do bem com 0 que foi anunciado na sua venda) nao pode ser apreciado a luz da teoria geral do vicio da vontade segundo as normas dos artigos 247.° a 252.° do Cédigo Civil, como erradamente refere o despacho recorrido, seguindo antes, a disciplina do artigo 838° n.° 1 do C.P.C 8. “E ponto assente que somente naquele n.° 1 do artigo 838° do CPC que se devem procurar os requisitos e efeitos do erro sobre 0 objecto, nao no Cédigo Civil” (cfr. Rui Pinto, Manual da Execugdo e Despejo, 2013, p. 970). No mesmo sentido, o Acérdao do Tribunal da Relagao de Coimbra, de 17-09-2013, no processo 513/10.6TBACN-H.C1, o Acérdao da Relacao de Coimbra, de 11.02.2014, no processo 304/08. 4TBFND-G.C1 e ainda 0 Acérdao da Relacaio de Guimardees, de 20.09.2018, no processo 227/15.0T8PRG-S.G1, todos disponiveis em www.dgsi.pt 9. Adesconformidade de um imével com o que foi anunciado para sua venda na liquidagao da massa insolvente é assim, por si $6, suficiente para que comprador obtenha a anulagao e a indemnizagao das despesas ou prejuizos que tenha sofrido, nos termos do art.° 838, n.° 1 do CPC, aplicavel ex vi do art.° 17 do CIRE, conferindo ao recorrente 0 direito a anulagao da aludida venda, com a subsequente restituigdo do prego e reembolso das despesas que 0 recorrente teve com a mesma, devidamente documentadas no requerimento de 25.01.2019. 10. Decidindo de outra forma, violou o Despacho recorrido, as normas do artigo 17.°, n.° 1 do CIRE e 838.9, n° 1 do C.P.C, Nestes termos e nos melhores de Direito aplicaveis, revogando 0 despacho recorrido e substituindo o mesmo por outro que julgue procedente o pedido de anulagao da venda por negociagao particular ao aqui requerente, dos iméveis das alineas a), b), c) e d) constantes da escritura publica de compra e venda realizada no dia 6 de Dezembro de 2018, com o consequente cancelamento dos registos efetuados a favor do requerente e ordenando-se a devolugao ao requerente da quantia de 66.600,00 € (sessenta e seis mil e seiscentos euros), correspondente 4 totalidade do prego por este pago pela aquisi¢ao dos aludidos iméveis, bem como a indemnizagao ao recorrente correspondente as despesas por aquele suportadas por via da aludida compra, V. Exas. fargo a acostumada JUSTICA! Nao foram apresentadas contra-alegagées. Cortidos os vistos legais, cumpre decidir. Il- FUNDAMENTOS 0 objeto do recurso é delimitado pelas conclusées da alegagao do apelante, nao podendo este Tribunal conhecer de matérias nelas néo incluidas, a nao ser que as mesmas sejam de conhecimento oficioso - cfr. artigos 635.°, n? 4 e 639.°, n°s 1 © 2, do CPC. No seguimento desta orientacao a Unica questao submetida pelo apelante apreciacao desta Relagao consiste em saber se o despacho recortido, que indeferiu a anulagdo da venda executiva dos prédios das verbas n.°s 1a 4, que aquele comprou no exercicio do direito de remigao, padece de erro de direito por violar o disposto no art. 838°, n.° 1 do CPC ex viart. 17° do CIRE A- FUNDAMENTAGAO DE FACTO Os factos que relevam para a decisao a proferir na presente apelagao so 0s que constam do relatério acima elaborado. B- FUNDAMENTAGAO JURIDICA Insurge-se o apelante contra a decisdo recorrida que indeferiu o requerimento que apresentou em que o mesmo requeria a anulagéo da venda que Ihe foi realizada dos prédios das verbas n°s 1, 2,3 e 4, no Ambito do processo de insolvéncia, em que os seus pais foram declarados insolventes, bens esses que 0 mesmo adquiriu no exercicio do seu direito de remigdo, imputando erro de direito a decisao recorrida, que fundamentou 0 indeferimento dessa sua pretensdo no facto do “reconhecimento do énus poderia ter ocorrido antes da venda, e sé nao ocorreu por descuido do adquirente/remidor’ Vejamos se assiste razo ao apelante nas criticas que aponta a deciséo recorrida. Como referido, o apelante pretende a anulagdo parcial da compra, celebrada em 06/12,/2018, por escritura de compra e venda junta aos autos a fis. 26 a 32, a qual teve por objeto os prédios ai identificados sob as verbas n.°1 a 5, restringindo, no entanto, a sua pretensao anulatéria aos prédios objeto dessa escritura e ai identificados sob as alineas a), b), c) ed) — verbas n.°s 1 a 4 do auto de apreensao. O apelante realizou a compra desses prédios no Ambito dos autos de insolvéncia, em que foram declarados insolventes os seus pais, ¢ no exercicio do direito de remigdo, pelo que, nos termos do disposto no art. 17° do CIRE, impée-se apreciar a sua pretensdo a luz do regime legal enunciado no CPC, ja que aquele preceito manda aplicar 0 CPC ao processo de insolvéncia em tudo o que ndo contrarie as disposigses do CIRE. Posto isto, o direito de remigao encontra-se previsto nos arts. 842° a 845° do CPC e traduz-se na concessao a certos interessados do direito potestativo de se fazerem substituir a0 adjudicatario ou ao comprador, na preferencial aquisigao de bens penhorados, mediante o pagamento do prego por eles oferecido, reconduzindo-se, por isso, a remigao a “um direito de preferéncia qualificado, com o qual se quis proteger o patriménio familiar, evitando que os bens saissem para fora da familia, pondo o patriménio do executado (membro dela) a coberto de outros prejuizos, de qualquer das maneiras sem pér em causa a esséncia da satisfagao do interesse do exequente" (1) Deste modo, acabando o remidor por adquirir os bens penhorados no exercicio desse seu direito de preferéncia qualificado que a lei Ihe reconhece, compreende-se que as causas de anulacao da venda executiva que a lei preveja funcionem também em relacao ao remidor (2). Dispde o art. 838°, n.° 1 do CPC, que se depois da venda, se reconhecer a existéncia de algum énus ou limitag&o que néo fosse tomado em consideragao e que exceda os limites normais inerentes aos direitos da mesma categoria ou de erro sobre a coisa transmitida, por falta de conformidade com 0 que foi anunciado, o comprador pode pedir, na execugao, a anulagao da venda e a indemnizagao a que tem direito, sem prejuizo do disposto no art. 906° do CC. Prevé o normativo acabado de transcrever um regime especifico de anulago da venda executiva, nos casos em que ocorram determinados vicios na formagao da sua vontade, regime este que se afasta das regras gerais enunciadas no CC. Significa isto que sempre que ocorram os vicios na formagao de vontade do comprador/remidor que caiam sob a algada do n.° 1 do art. 838° do CPC, a anulagao da venda executiva rege-se exclusivamente pelo regime juridico previsto no art. 838° e nao, também, por apelo ao regime geral dos arts. 247° e 251° CC (3) De acordo com o referido art. 838°, n.° 1, a venda executiva pode ser anulada, a requerimento do comprador, a apresentar na propria execugdo onde foi realizada a venda, em duas situacées distintas, a saber: a) quando se reconhega a existéncia de algum énus ou limitagao que no tenha sido tomado em consideragao e que exceda os limites normais inerentes aos direitos da mesma categoria; ou b) quando ocorra erro sobre a coisa transmitida, por falta de conformidade com o que foi anunciado. Como refere Lopes Cardoso, Galvao Telles classifica a primeira causa de anulagao da venda acabada de enunciar (primeira parte do n.° 1 do art. 838°) como vicio de direito, enquanto o contemplado na segunda parte como vicio da coisa (4) De facto, a enunciada primeira causa de anulagao da venda reporta-se a situagdes de erro acerca do objeto juridico da coisa transmitida (nus ou limitagdes) enquanto a segunda, respeita a vicios materiais daquela, quer esses vicios recaiam sobre a sua identidade, quer qualidade Debrugando-se sobre esta problematica Lebre de Freitas aponta como casos de erro acerca do objeto juridico da coisa e como consubstanciando, por isso, “énus ou limitagdes”, os direitos reais de gozo que nao devam caducar com a venda, os énus como os de redugao eventual de doagao sujeita a colagao ou de renda limitada ou econémica, e os direitos pessoais de gozo que sejam eficazes em relagao ao comprador, como é 0 caso do direito ao arrendamento (5) Na mesma linha, Rui Pinto aponta como exemplos de énus ou limitagdes a que se reporta a primeira parte do n.° 1 do art. 838°, a permanéncia do direito de uso e habitagdo apés venda da propriedade do bem penhorado ou a pendéncia de agdo, seja declarativa, embargos de terceiro ou outra, ou de recurso, em que esteja em litigio 0 direito a vender (6). Ainda Marco Gongalves pondera a propésito desta problematica e na mesma linha dos autores acabados de enunciar que: “Assim, por exemplo, se um prédio for vendido em sede executiva como se tratando de um prédio riistico e 0 adquirente vier, posteriormente, a constatar que sobre esse prédio jé se encontrava construida uma edificagao antes da venda — constituindo-se, por via da venda executiva, um direito de superficie a favor do dono dessa edificacao — 0 adquirente pode requerer a anulagao da venda executiva com fundamento nesse énus que nao foi, previamente, tomado em consideragao. Do mesmo modo, a venda executiva poderd ser anulada quando, tendo um bem imével penhorado sido publicitado para venda como se encontrando livre de qualquer énus ou encargos, 0 adquirente venha, posteriormente, a constatar que esse bem se encontra onerado com um arrendamento, constituido previamente a penhora e que, por isso, ndo se extinguiu com a venda executiva. Na realidade, se o agente de execucao tomou conhecimento de que o imével penhorado se encontrava onerado com um arrendamento para habitagao, comércio ou industria, este devia incluir essa informagao nos antincios de publicidade da venda, por ser relevante para a formagao da vontade de adquirir o bem penhorado. Ainda a titulo meramente exemplificativo, constitui fundamento de anulago da venda a falta de licenga de habitabilidade de um imével vendido em execucao, na medida em que tal constitui limitaco que excede os limites normais inerentes ao direito arrematado, No entanto, ja no constitui fundamento de anulagao da venda a existéncia de um énus sobre 0 bem penhorado, consubstanciado num direito real de garantia, j4 que, nos termos do art. 824° do CC., com a venda executiva extinguem- se os direitos reais de garantia que onerem os bens penhorados, assistindo ao respetivo titular o direito de reciamar o seu crédito em execugao” (7). Precise-se que a anulagao da venda executiva com fundamento em erro sobre o objeto juridico da coisa, tal como resulta do n.° 4 do art. 838°, esta dependente da verificacao de dois pressupostos legais cumulativos: 1) que os énus ou limitagdes que onerem a coisa transmitida nao tenham sido tomados em consideraco aquando da publicitagdo da venda, ou seja, que a existéncia desses énus ou limitagdes nao tenha sido dada conhecimento ao adquirente, ainda que se trate de énus que estejam registados (8); € b) que os mesmos excedam os limites normais inerentes aos direitos da mesma categoria, como seja 0 caso de énus ou limitagdes que excedam 05 limites normais impostos ao direito de propriedade. Deste modo, nao preencherdo este ultimo requisito as limitagdes gerais impostas pela lei ao direito de propriedade, as restrigdes provenientes de providéncias administrativas gerais e abstratas, os énus resultantes de planos de urbanizagao ou as servidées legais ainda nao constituidas, posto que em todos esses casos se esta na presenga de limitagdes legais ao direito de propriedade e que, por isso, se situam dentro das restrigdes normais impostas pela lei a esse direito (9) Passando ao segundo fundamento de anulagao da venda executiva, 0 mesmo, como ja dito, reporta-se a situagdes de erros materiais da coisa transmitida, quer porque esta nao corresponde a coisa anunciada (erro sobre a identidade da coisa — exemplo: anunciou-se a venda de um determinado imével ¢ a venda recaiu efetivamente sobre um veiculo automével ou anunciou-se a venda de um prédio sito em determinada localidade e este situa-se noutra distinta), quer porque nao tem as qualidades anunciadas ou que era pressuposto que tivesse (ex: anuncia- se a venda de um veiculo automével e vem-se a constatar, apés a compra, que este se encontra avariado, ou anuncia-se a venda de um prédio de determinado ano de construgao e apés a venda vem-se a constatar que este apresenta um estado de deterioragao tal que nao é compativel com o envelhecimento e um uso normal de um prédio do ano construtivo anunciado). Aanulagdo da venda executiva com fundamento em “erro sobre a coisa” esta dependente da verificacao de dois pressupostos cumulativos: a) que 0 ato que concretizou a venda esteja viciado por erro acerca da identidade ou a qualidade da coisa transmitida; e b) que esse erro provenha de falta de conformidade entre a identidade ou as qualidades da coisa e aquilo que tiver sido anunciado (10). Reafirma-se, para além destes dois requisitos a lei ndo exige outros para que a venda executiva seja anulada, de onde resulta que, contrariamente ao que acontece com a anulagao da venda com fundamento nos arts. 247° e 251° do CC, no caso particular da venda executiva, a lei ndo exige a verificagdo do requisito da essencialidade do erro para o declarante, sequer que o declarante desconhecesse o vicio. Quando a venda executiva esteja viciada por um dos enunciados vicios assiste ao comprador/remidor o direito, nao sé a requerer a anulagao da venda, como a ser indemnizado (art. 836°, n.° 1 do CPC). Note-se que os dois enunciados fundamentos de anulagao (existéncia de nus ou limitages nao considerados e erro sobre a coisa transmitida) visam a tutela do comprador/remidor e dai que se encontre na sua exclusiva disponibilidade a opgao de requerer ou nao a anulagao da venda. Finalmente, fazendo o compradoriremidor a op¢ao pela anulagdo da venda e pela indemnizagao que Ihe assiste, aquele tera de apresentar esse pedido no processo executivo onde foi realizada a venda cuja anulagdo peticiona, no prazo de um ano a contar do conhecimento do vicio, nos termos do art. 287° do CC (11), onde o juiz, apés audi¢ao do exequente, executado e dos credores interessados e de examinadas as provas que se produzirem, decide (n.° 2 do art. 838° do CPC). Feitas as enunciadas destringas, revertendo ao caso em analise, apurou-se que o apelante exerceu o seu direito de remigao na venda dos bens apreendidos sob as verbas n.°s 1 a 5 aos insolventes, seus pais, tendo por escritura publica de compra e venda de 06/12/2018, adquirido 0 direito de propriedade sobre esses prédios. Mais se provou que em 03/10/2018, pela ap. 1960, foi inscrito no registo, sob os prédios das verbas n.°s 1a 4, a pendéncia de uma aco, instaurada pelo Banco ..., contra os insolventes, A. R. eA. F.e, bem assim, F.C. e (...) - Investimentos Imobiliarios, S.A., em que aquele Autor pede que se declare a ineficdcia, em relagao ao mesmo, das doages e permutas destes iméveis e se declare que tem direito de os executar no patriménio dos Réus A. R. A. F., a fim de satisfazer o seu crédito e, subsidiariamente, que se declare nulo e de nenhum efeito a doagao constante da escritura datada de 13/08/2013, pela qual os Réus A.R.A. F, doaram a Ré F, C. a propriedade destes prédios. O primeiro dos enunciados pedidos formulados pelo Banco ... naquela ago corresponde a um pedido de impugnagao pauliana dos negécios de doagao e de permuta celebrados entre os aqui insolventes e F. C., os quais tiveram por objeto os prédios apreendidos a ordem dos presentes autos de insolvéncia sob as verbas n.°s 1 a 4, prédio esses que o apelante comprou no ambito destes autos no exercicio do seu direito de remigao, enquanto o segundo pedido (0 subsidiario) é um pedido de anulagao da escritura de 13/08/2013, na qual os aqui insolventes declararam doar a identificada F. C. a propriedade desses mesmos prédios, Como é sabido, o instituto da impugnagao pauliana encontra-se regulado nos arts. 610° a 618° do Cédigo Civil e insere-se nos meios de conservacao e garantia patrimonial que a lei coloca ao dispor do credor, dando-Ihe a possibilidade de reagir contra atos praticados pelo devedor que inconvenientemente diminuam o seu ativo ou aumentem o seu passivo patrimonial (12). Contrariamente a outros institutos, como ¢ 0 caso da simulagdo (art 240°, n.° 2 CC), a impugnagao pauliana nao tem como efeito a declaragao da nulidade do negécio impugnado, sequer a declaragao da sua anulabilidade, mas apenas torné-lo ineficaz relativamente ao impugnante, que fica com a possibilidade de executar o bem ou bens objeto do negécio impugnado na esfera juridica do terceiro adquirente, na estrita medida em que tal se tone necessario para a satisfagaio do crédito que detém sobre o devedor, transmitente desse bem ou bens, mantendo-se, por isso, 0 negécio juridico impugnado incdlume. Concretizando o que se acaba de referir, nos termos do disposto no n.° 4 do art. 616° do Cédigo Civil, “julgada procedente a impugnagao, o credor tem direito a restituigéo dos bens na medida do seu interesse, podendo executa-los no patriménio do obrigado a restituicao e praticar atos de conservacao da garantia patrimonial autorizados por lei” e conforme decorre do seu n.° 4 “os efeitos da impugnagao pauliana aproveitam apenas ao credor que a tenha requerido” Consequentemente, a impugnagao pauliana é uma ago vincadamente pessoal, em que os seus efeitos juridicos medem-se pelo interesse do credor que a promove pelo que, em caso de procedéncia, 0 ato impugnado nao € globalmente anulado, mantendo antes a sua validade juridica e tratando-se de negécio cujo objeto seja divisivel ou de coisas determinaveis por conta, peso ou medida, os efeitos da impugnagao apenas recaem sobre o “quantum” necessério a satisfacdo dos interesses do credor. Por outro lado, sé 0 credor impugnante beneficiara dos efeitos da procedéncia da ago pauliana, o que significa que quanto aos demais credores, tudo se passa como se 0 ato impugnado se mantivesse intocado, nao Ihes aproveitando, consequentemente, a impugnacao julgada procedente. O efeito da impugnagao € que o objeto do negécio impugnado pode ser executado “no patriménio do obrigado a restituir’, o que significa que aquele nao sai do patriménio do adquirente por via do negécio impugnado, permanecendo nele, onde ai pode ser penhorado pelo impugnante, para cobranga coerciva do seu crédito e apenas na medida em que tal seja necessério a satisfagao do mesmo. Enfim e em sintese, conforme escreve lapidarmente Antunes Varela, a impugnagdo pauliana traduz-se no instituto que permite a “intromissao de terceiros (0 credor) num ato realizado pelo devedor” (13), perseguindo o bem ou bens cuja propriedade foi transmitida da esfera juridica do devedor para a de terceiro por via do negocio impugnado, podendo-0(s) penhorar e executar no patriménio deste, na medida em que tal se mostre necessério a satisfagao do seu crédito perante o devedor, compreendendo-se, assim, que a lei subordine a sua concessao a verificagao de requisitos apertados. Resulta do que se vem dizendo que a pendéncia de uma acao de impugnagdo pauliana, em que o autor impugna os negécios juridicos que tém por objeto os prédios comprados pelo apelante no ambito da presente acdo de insolvéncia, traduz, em condigées normais, necessariamente, a imposigao de um énus sobre os prédios objeto dessa compra, na medida em que, em caso de procedéncia da impugnagao, o autor dessa agao poder executar esses prédios no patriménio do adquirente, também réu na aco pauliana, a fim de se cobrar coercivamente pelos créditos que tenha sobre os seus devedores (08 insolventes). De igual modo, 0 pedido subsidiario, em que o Banco ... pede a anulagao da escritura de doagao celebrada entre os aqui insolventes e F. C. em 13 de agosto de 2013, mediante a qual os primeiros declararam doar a segunda os prédios comprados pelo apelante no ambito da presente ago, (em situagdes normais) traduz necessariamente um énus sobre esses bens objeto da doagao cuja invalidade se peticiona, por via dos efeitos dessa anulagao previstos no art, 289° do CC. Os enunciados énus sao énus juridicos que oneram os prédios objeto da venda executiva realizada ao apelante no Ambito da presente aco, e nao énus que afetam a identidade ou a qualidade desses prédios. Assim é que salvo 0 devido respeito por posigao contréria, contrariamente Aquela que é a posi¢ao sustentada pelo apelante nas suas alegagGes de recurso, em que defende que o erro em que se encontra incurso em relagdo aos prédios comprados consubstancia um erro material, que incidird sobre as qualidades desses prédios, prefigura- se-nos que assim nao é, mas antes que o erro em que aquele se encontra incurso incide sobre o objeto juridico dos prédios comprados, na medida em que estes se encontram onerados com os enunciados énus decorrentes da pendéncia daquela agao de impugnagao pauliana, intentada pelo BANCO ... e de nela este pedir, a titulo subsidiario, a anulagao do negécio de doagao tendo por objeto os prédios comprados. Deste modo, a situagao de erro a que se reportam os autos é aquela a que alude a primeira parte do n.° 1 do art. 838° do CPC (erro acerca do objeto juridico dos prédios transmitidos ao apelante, por via destes se encontrarem onerados com os enunciados énus decorrentes da pendéncia da mencionada ago) e nao a da ultima parte daquele preceito (erro material sobre as qualidades dos prédios transmitidos). Como referido, a procedéncia do pedido anulatério da venda executiva que incidiu sobre os prédios das verbas n.°s 1 a 4, é necessario que, por um lado, os énus que oneram esses prédios nao tivessem sido “tomados em consideragao", e, por outro, que os mesmos “excedam os limites normais inerentes aos direitos da mesma categoria’ Tal como enunciado supra, pelo primeiro requisito exige-se que os referidos énus que oneram os identificados prédios nao tenham sido tomados em consideragao aquando da publicitagdo da respetiva venda e que, consequentemente, a existéncia dos mesmos nao tenha sido comunicada ao apelante, ainda que se trate de énus registados. Ora, compulsada a matéria de facto apurada ¢ indiscutivel que este pressuposto legal, contrariamente ao entendimento sufragado pela 1* Instancia, que sufragou o entendimento segundo o qual cabia ao apelante verificar, no momento da compra, designadamente, junto do registo predial, se os prédios comprados se encontravam ou nao onerados com os identificados énus (leitura que nao tem qualquer suporte legal), se encontra preenchido, j4 que se provou que, durante a prospecao de mercado, antincio da venda e recegao de propostas, 0 administrador de insolvéncia desconhecia a pendéncia daquela aco intentada pelo Banco ..., pelo que, em face desse seu desconhecimento, naturalmente que nao péde dar conhecimento da existéncia da mesma aos potenciais interessados na compra dos prédios no momento da publicitagao da venda, sequer no momento em que o apelante comprou os mesmos. Quanto ao segundo requisito, é apodictico que este se encontra igualmente preenchido, na medida em que os referidos énus que emerge daquela agao excedem os limites normais do direito de propriedade do apelante sobre os prédios que comprou no ambit da presente acdo executiva, na medida em que se traduz num énus adicional a esse direito de propriedade, nao anunciado aquando da Publicitagao dessa venda, sequer quando aquele comprou os bens e que podera levar a perda pelo mesmo do direito de propriedade sobre os identificados prédios e que em nada se relaciona com as restrigdes gerais impostas pela lei ao direito de propriedade. Aqui chegados, em condigdes normais, seriamos levados a concluir encontrarem-se preenchidos os requisitos legais fixados no n.° 1 do art 838°, n.° 1 do CPC, que conferem ao apelante o direito a obter a anulagao da compra e venda que efetuou sobre os prédios das verbas n2s 1a 4, a que restringiu o seu pedido anulatério. Acontece que a situagaio sobre que versam os autos nao & manifestamente “normal’, dado que em face dos escassos elementos de que dispomos (certiddo da conservatéria do registo predial referente aos prédios cuja compra o apelante pede seja anulada), impera concluir que a referida acdo intentada pelo Banco ... contra os aqui insolventes e, bem assim, F.C. e (...) - Investimento Imobilidrio, S.A., consubstancia apenas um “nus aparente" sobre os prédios aqui em discussao. Com efeito, nessa ago o ai Autor impugna as doagées e permutas realizadas entre os aqui insolventes, F.C. e (...), Réus nessa agdo, com vista a ser-Ihe reconhecido 0 direito de executar no patriménio dos insolventes o seu credito e, subsidiariamente, que se declare nulo e de nenhum efeito a doagao que os insolventes declararam fazer a F.C. Nao obstante estes pedidos nao sejam esclarecedores sobre se 0 crédito que o ai Autor Banco .... refere ser titular se reporta a créditos que © mesmo detém sobre os insolventes ou sobre F. C. e/ou a (...), sempre se dira que caso se trate de créditos que 0 Banco ... detenha sobre os aqui insolventes A. R. A. F. (conforme indicia o pedido subsidiario formulado), esses seus direitos de crédito tém de ser por ele reclamados no Ambito dos presentes autos de insolvéncia, sob pena de nao poderem obter pagamento (arts. 90°, 128° e 146° do CIRE), o que significa que, neste caso, ndo se descortina qualquer viabilidade a procedéncia da referida agao. Acresce que independentemente do que se acaba de referir, a agao de impugnagao pauliana apenas se encontra instaurada contra os aqui insolventes, F. C. e a sociedade (...), de onde resulta que ainda que aquela agao venha a proceder, nunca essa procedéncia podera afetar o direito de propriedade do apelante sobre os bens objeto da compra e venda que o mesmo pretende anular, dado que aquele nem sequer & parte naquela agao de impugnagao pauliana, de onde resulta que 0 Banco ... nunca poder executar os bens comprados pelo apelante por via da procedéncia da aco pauliana Quanto ao pedido de anulagao da doagao que os insolventes A. R., A. F. alegadamente fizeram em 13 de agosto de 2013, trata-se de doacao anterior a propositura da presente ado de insolvéncia, os quais foram intentados em 2017. Nesse contexto, ou aquela doagdo foi entretanto anulada por doadores e donatéria, ou os primeiros adquiriram, entretanto, os bens objeto dessa doagao a donataria, ou essa doagao foi resolvida pelo administrador de insolvancia a favor da massa insolvente, posto que os bens objeto dessa doagao e que foram vendidos ao apelante foram apreendidos no Ambit da presente aco de insolvéncia Em qualquer uma destas situagées (a esclarecer no ambito da ago declarativa intentada pelo BANCO ...), 0 pedido subsidiario em que o ai Autor, BANCO ...., pede que se declare nulo e de nenhum efeito 0 contrato constante da escritura datada de 13 de agosto de 2014, pelos Réus A. R. A. F. doaram a Ré F. C. a propriedade destes prédios, salvo 0 devido respeito por entendimento contrario, nao tem objeto, nunca podendo, consequentemente, este pedido proceder e afetar o direito de propriedade do apelante sobre os bens cuja compra pede que seja declarada nula. Resulta do que se vem dizendo, que aquela aco intentada pelo Banco ... jamais podera afetar o direito de propriedade do apelante sobre os prédios das verbas n.°s 1 a 4 que comprou no Ambito dos presentes autos de insolvéncia, no sentido de este poder ficar privado desses bens por via da procedéncia dessa ago, nao pasando, por conseguinte, essa agdo de um “pseudo énus” ou “énus meramente aparente’, o qual efetivamente nao constitui qualquer énus real ou efetivo sobre os bens objeto da venda executiva efetuada ao apelante. Deste modo, porque os bens das verbas n°s 1 a 4, comprados pelo apelante nao se encontram efetivamente onerados com qualquer énus real ou verdadeiro que decorra, ou possa decorrer, daquela agao intentada pelo Banco ..., em principio, impunha-se concluir pela improcedéncia do pedido anulatério formulado pelo apelante. No entanto, se é certo que a dita agao nao configura qualquer verdadeiro, real ou efetivo énus juridico sobre os prédios comprados pelo apelante, é indesmentivel que a simples pendéncia daquela agao configura uma limitagao ao direito de propriedade daquele sobre esses bens, quando para mais a pendéncia dessa aco foi levada ao registo. Na verdade, destinando-se o registo a dar publicidade a situagao juridica dos prédios, tendo em vista a seguranga juridica do comércio juridico imobilidrio (art. 1° do CRP), em que qualquer pessoa pode pedir certiddes e obter informagées verbais ou escritas sob a situagao juridica dos mesmos (art. 104° do CRP), é inegavel que caso 0 apelante pretenda vender os prédios que agora comprou, como é seu direito fazer (art. 1305° do CC), aquele ira deparar-se com dificuldades acrescidas em granjear interessados nessa compra perante a inscrigao da pendéncia da agao intentada pelo Banco ... no registo, o que, naturalmente, ira suscitar fundadas dividas e desconfiangas a esses potenciais interessados na compra sobre a seguranca desse negécio. Deste modo, apesar da inscrigdo, no registo, da pendéncia da agao intentada pelo Banco ... ndo configure, efetiva e realmente, qualquer nus efetivo sobre os prédios comprados pelo apelante, é inegavel que a inscrigdo dessa aco, cuja procedéncia, ainda (ao que tudo indica) seja totalmente invidvel, mas cuja inscrigdo do registo apenas pode ser eliminada perante o transito em julgado da sentenga que julgue improcedente essa aco (0 que podera implicar o decurso de anos), consubstancia uma limitagao ao direito de disposi¢ao dos bens que comprou e, consequentemente, ao direito de propriedade deste sobre esses bens (art. 1305° do CC). Essas limitagGes ao direito de propriedade do apelante sobre os referidos bens, na vertente do direito de disposigao dos mesmos que, enquanto proprietario, he assiste, nao configura qualquer limitagdo ou restrigdo geral imposta pela lei ao direito de propriedade, mas emerge de uma situagao especifica que decorre do Banco ... ter intentado aquela ago. A instauragao daquela agao no foi mencionada aquando da publicitagao da venda, sequer foi comunicada ao apelante quando este comprou os prédios das verbas n.°s 1 a 4, cuja anulacdo peticiona, o que significa que se trata de limitagao ao seu direito de propriedade nao tomada em consideragao, Decorre do que se vem dizendo que nos presentes autos ocorre erro do apelante acerca do objeto juridico dos prédios comprados, posto que os Ultimos encontravam-se, a data em que o apelante os comprou no Ambito da venda executiva realizada nos presentes autos de insolvéncia, onerados com uma limitagdo ao direito de disposigao, inerente ao direito de propriedade sobre os mesmos, limitagao essa que nao foi considerada pelo apelante no momento da compra, porque nao transmitida aos potenciais interessados na compra aquando da publicitagao da respetiva venda, sequer a sua existéncia foi comunicada aquele pelo administrador de insolvéncia, no momento em que aquele efetuou essa compra, limitagao essa que excede os limites normais inerentes ao direito de propriedade sobre os identificados prédios. Consequentemente, encontram-se preenchidos os requisitos legais previstos na primeira parte do n.° 1 do art. 838° do CPC, que conferem ao apelante o direito de Ihe ser deferida a anulagao da venda que peticiona. O apelante restringiu a anulagao da venda aos prédios das verbas n.°s 1 a4 do auto de apreensdo e a que se reportam as alineas a), b), c) e d) — 1 alinea d) (nao a segunda al. d), que se reporta a venda, por cem euros, do prédio rustic, composto por terreno de eucaliptal, inscrito na matriz sob 0 art. 1693°, e descrito na CRP de (...) sob 0 n.° 508/..., cuja compra aquele pretender manter). Consequentemente, impde-se deferir a pretensao do apelante e declarar a nulidade parcial do negécio de compra e venda consubstanciado na escritura de compra e venda celebrada em 06/12/2018, junta aos autos a fils. 26 a 32, ficando essa anulacdo restringida aos prédios urbanos ai identificados sob as alineas a), b), ) e d) —lotes 2, 3, 9e 10 -, excluindo-se desta anulagao 0 prédio ristico ai identificado. O apelante pagou pela compra dos prédios que agora se anula a quantia global de 66.600,00 euros, pelo que, por forga da anulagao dessa venda, nos termos do disposto no art. 289°, n.° 1 do CC, impée-se ordenar a restituigao ao mesmo da referida quantia. O apelante pretende ser indemnizado pelas quantias que despendeu em consequéncia da venda que agora se anula a titulo de IMT, imposto de selo, despesas com escritura e registos e despesas com emissao de cheque visado. No que se refere as despesas despendidas a titulo de IMT ¢ imposto de selo, na medida em que anulada a venda, deixou de existir 0 fundamento que levou a liquidacdo e cobranga desses impostos pela Administragao Fiscal, 0 apelante poderd reaver essa quantia junto dessa entidade, pelo que nao existe fundamento para Ihe pagar essa quantia a titulo de indemnizagao. Aanulagao da venda objeto dos presentes autos foi parcial, na medida em que 0 apelante optou por manter a compra do prédio da verba n? 5 incélume. Consequentemente, independentemente da anulacao da venda agora determinada, o apelante sempre teria de despender a quantia de 52,00 euros a titulo de despesas com a emissao do cheque visado para pagamento do prego da compra do prédio ristico. Deste modo, improcede a pretensao do apelante no sentido de ser-Ihe paga a mencionada quantia de 52,00 euros. Quanto as despesas com escritura e registos, no montante de 834,29 euros, importard apurar qual seria o montante dessas despesas que o apelante teria despendido, a data em que foi celebrada a escritura publica de compra e venda de fils. 26 a 32 (em 06/12/2018) e quando efetuou os registos, caso esses atos incidissem exclusivamente sob 0 prédio riistico (verba n.° 5). Na verdade, ao apelante apenas assiste o direito a ser indemnizado pelo diferencial entre a quantia de 834,29 euros que pagou e aquela que teria pago caso esses atos apenas tivessem incidido sobre o prédio rustico. Acontecendo que no contendo os autos elementos que permitam determinar esse diferencial, impde-se que a 1* Instancia, oficie ao. Cartério Notarial onde a escritura de fis. 26 a 32 e, bem assim, & Conservatéria do Registo Predial de (...) para que preste essa informagao e, apés notificacao dessas informagao as partes, fixe a indemnizacao a arbitrar ao apelante nos termos acima referidos. Resulta do exposto, impor-se concluir pela procedéncia parcial da presente apelacao, impondo-se, consequentemente, revogar o despacho recorrido e declarar anulada a venda executiva relativa aos prédios das verbas n.°s 1a 4 e, consequentemente, ordenar a restituigao a0 apelante da quantia de 66,600,00 euros que o mesmo pagou, a titulo de prego, por via da compra que agora se anula e, bem assim, arbitrar-Ihe, a titulo de indemnizagao, o diferencial entre a quantia de 834,29 euros que o mesmo pagou a titulo de despesas com escritura e registo e a quantia que teria pago caso esses atos apenas tivessem incidido sobre esse prédio riistico (verba n.° 5), diferencial este a determinar nos termos atras referidos, improcedendo, no restante, a sua pretensao. Decisao: Nesta conformidade, os juizes desembargadores desta 1* Secgao Civel do Tribunal da Relagao de Guimaraes, acordam em julgar a presente apelagao parcialmente procedente e, em consequéncia, revogam a sentenga recorrida e, em sua substituigao, decidem o seguinte: |- anulam a compra e venda celebrada por escritura publica junta aos autos a fis. 26 a 32, outorgada no dia 06 de dezembro de 2016, entre Dr. A. V., este na qualidade de administrador de insolvéncia, e 0 apelante A. R., quanto aos prédios urbanos ai identificados como lotes 2, 3,9 ¢ 10 (als. a), b), c) e d), excetuando-se desta anulagao a venda do prédio rustico (segunda al. d) da escritura), declarando tal escritura nula e de nenhum efeito relativamente a tais prédios e ordenam o cancelamento dos registos e da inscrigdes prediais efetuadas a favor do apelante A. R em relacao aos mesmos (lotes 2, 3, 9 e 10); I ordenam a restituigao ao apelante A. R. da quantia de 66.600,00 (sessenta e seis mil e seiscentos) euros, correspondente ao montante por este pago, a titulo de prego, pela aquisicao dos prédios cuja compra e venda agora se anula; Ill- arbitram ao apelante A. R., a titulo de indemnizagao, o diferencial entre a quantia de 834,29 euros (citocentos e trinta e quatro euros e vinte e nove céntimos) que o mesmo pagou a titulo de despesas com escritura e registo e a quantia que teria pago caso esses atos apenas tivessem incidido sobre o prédio ruistico (verba n.° 5) que se encontra identificado na escritura de compra e venda identificada em |), diferencial este a determinar e a arbitrar pela 1* Instancia nos termos supra determinados; IV- no mais, improcede a apelagao. Custas pelo apelante na proporgao do respetivo decaimento, que se fixa em 10% (art. 527°, n.°s 1 e 2 do CPC). Notifique. Guimaraes, 06 de junho de 2019 Assinado eletronicamente pelos Juizes Desembargadores: Dr. José Alberto Moreira Dias (relator) Dr. Anténio José Satide Barroca Penha (1° Adjunto) Dra. Eugénia Maria Marinho da Cunha (2* Adjunta) 1. Rui Pinto, “A Agdo Executiva’, AAFDL, 2018, pags. 885 ¢ 886, 2. Eurico Lopes Cardoso, “Manual da Agao Executiva’, 3* ed., Almedina, 1992, pag. 591. 3, Neste sentido Lopes Cardoso, ob. cit., pags. 588 a 590; Rui Pinto, ob, cit., pag. 917, onde escreve: “E somente neste n.° 1 do art, 838° que se devem procurar os requisitos e efeitos do erro sobre o objeto, nao no Cédigo Civil. Efetivamente, tanto no caso de énus oculto, como de desconformidade objetiva, o erro sobre 0 objeto vendido nao apresenta, nomeadamente, o requisito geral subjetivo (cfr. artigos 247° e 251° do CC) da cognoscibilidade para o declarante (in casu, o Estado, através do agente de execucdio) da essencialidade para o declaratario (0 terceiro adquirente) do elemento sobre que incidiu o erro em questao por parte do declaratario. Isto porque o interesse do adquirente prevalece sobre 0 interesse do exequente ou do credor reclamante”. No mesmo sentido, Marco Carvalho Gongalves, “Ligdes de Processo Civil Executivo", Almedina, 2016, pag. 388. Também Lebre de Freitas, “A Agdo Executiva A Luz do Cédigo de Processo Civil de 2013", Coimbra Editora, 6* ed., pag. 396 4. Eurico Lopes Cardoso, ob. cit., pag. 592. 5. Lebre de Freitas, ob. cit., nota de fis. 396 e 397. 6. Rui Pinto, ob. cit., pag. 916. 7. Marco Carvalho Gongalves, ob. cit., pag. 388. 8. Rui Pinto, ob. cit., pag. 915.d 9. Lebre de Feitas, ob. cit., nota da pag. 397. 10. Marco Carvalho Gongalves, ob. cit., pag. 388. 11, Marco Carvalho Gongalves, ob. cit., pag. 388. 12. Antunes Varela, “Das Obrigagdes em Geral", vol. Il, 7* ed., Almedina, pag. 446. 13. Antunes Varela, ob. cit., pag. 447.

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