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AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DO ATERRO MUNICIPAL DE PAIÇANDU/PR

ATRAVÉS DO MÉTODO IQR

1. OBJETIVO
Diagnosticar eventuais problemas operacionais e de infraestrutura do aterro
Municipal de Paiçandu/PR e sugerir proposições de readequação, visando o aumento
de sua vida útil, além do confinamento seguro dos rejeitos sem o comprometimento do
meio ambiente e da saúde pública.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Caracterização da área de estudo


A área em estudo encontra-se na cidade de Paiçandu-Pr, município de
pequeno porte, com população estimada, no ano de 2017, 40.156 habitantes. Possui
área territorial de 171,379 km² com um distrito administrativo chamado de Água Boa.
Sua economia é de perfil agropecuário, de solo fértil, popularmente chamada de “terra
roxa” (IBGE, 2017).
Por muitos anos, a disposição dos resíduos sólidos urbanos (RSU) no
município de Paiçandu foi realizada em lixão, que consistia na disposição dos resíduos
diretamente no solo sem nenhuma proteção. A Lei nº 12.305/10, que institui a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), criou metas para a eliminação dos lixões no
Brasil e também propôs a recuperação dessas áreas. Assim, atualmente a disposição
dos RSU no Município de Paiçandu é realizada em aterro sanitário (coordenadas
23º25'31,72'' S e 52º03'09,37'' O). O aterro está ativo e licenciado ambientalmente
desde o ano de 2013, com previsão de vida útil de 12 anos, segundo projeto de
implantação. O espaço é de posse da Prefeitura e conta com uma área de 12,10
hectares, essa em operação em segunda célula, como demonstra a Figura 01. O
aterro encontra-se a uma distancia aproximada de 3,5 km da zona central urbana e
recebe em média 652 ton/mês de resíduos domiciliares (21,73 ton/dia). Segundo a
Portaria Instituto Ambiental do Paraná - IAP n° 259/2014, o aterro é classificado como
categoria “A” (capacidade de recebimento de resíduos < 200 ton/dia). A Figura 02
representa a quantidade de resíduos dispostos no aterro nos últimos três anos.

Figura 01: Aterro Sanitário de Paiçandu-Pr

*Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente Paiçandu/Pr, 2017.


Figura 02: Pesagem de Resíduos no Aterro Sanitário de Paiçandu nos anos de
2014/2015 e 2016

900
800
700
600
Toneladas

500
400
300
200
100
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

2014 2015 2016


*Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente Paiçandu/Pr.

Avaliação e Diagnóstico

A coleta de dados foi realizada por meio de visitas in loco e consulta de


documentos junto a Prefeitura. O diagnóstico do aterro foi realizado através do método
do Índice de Qualidade de Aterros - IQR, proposto pela Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental – CETESB. Através de um questionário, foram avaliados 41
parâmetros pontuados, abrangendo condições locais (sub-total 1), de infraestrutura
(sub-total 2), e operacionais do aterro (sub-total 3).

A equação a seguir foi utilizada para a obtenção do valor do IQR:

IQR= (sub-total 1 + sub-total 2 + sub-total 3)


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A metodologia em questão permite a classificação do aterro sanitário como
adequado, controlado ou inadequado. O IQR que resultar em valores menores que 6,0
são considerados aterros inadequados, caso fique entre 6,1 e 8,0 são considerados
como aterros de condições controladas e valores maiores que 8,0 como condições
adequadas. Após avaliação foi possível realizar a classificação e a identificação das
falhas, permitindo assim proposições de melhorias (OBLADEN, 2009).

3. RESULTADOS OBTIDOS

Os resultados obtidos segundo a avalição foram expressos nas Tabelas 01, 02


e 03.

Tabela 01: Resultado da avaliação do aterro segundo características locais

CARACTERÍSTICAS LOCAIS
Subitem Avaliação Valor Subitem Avaliação Valor
Disponibilidade
Capacidade de
Adequada 5 material para Suficiente 4
suporte do solo
Recobrimento
Proximidade de Qualidade do Boa 2
núcleos Longe > 500 m 5 material para
habitacionais recobrimento
Condições do
Proximidade de sistema viário,
Longe > 200 m 3 Regulares 2
corpos d’água trânsito e
acesso
Profundidade do Isolamento visual
>3m 4 Ruim 0
lençol freático vizinhança
Permeabilidade Legislação da
Baixa 5 Permitido 5
do solo localização
Sub-total1: 35 pontos

Tabela 02: Resultado da avaliação do aterro segundo infraestrutura implantada

CARACTERÍSTICAS INFRAESTRUTURA
Subitem Avaliação Valor Subitem Avaliação Valor
Sistema de
Cercamento da
Sim 2 tratamento do Insuficiente 0
área
chorume
Acesso à frente
Portaria/guarita Sim 2 Bom 3
de trabalho
Impermeabilização
Sim 5 Vigilantes Não 0
base do aterro
Drenagem do Trator de esteiras
Suficiente 5 Permanente 5
chorume ou compatível
Controle do
Drenagem águas
Inexistente 0 recebimento de não 0
pluviais (definitiva)
cargas
Monitoramento
Drenagem águas
Inexistente 0 de águas Insuficiente 2
pluviais (provisória)
subterrâneas
Atendimento às
Drenagem de gases Inexistente 0 especificações Parcialmente 1
do projeto
Outros
equipamentos, Não 0
trânsito e acesso
Sub-total2: 24 pontos

Tabela 03: Resultado da avaliação do aterro segundo ordem operacional

ORDEM OPERACIONAL
Subitem Avaliação Valor Subitem Avaliação Valor
Descarga de
Aspecto geral Bom 4 resíduos não 4
industriais
Funcionamento
Ocorrência de lixo
Sim 0 de drenagem Inexistente 0
descoberto
pluvial definitiva
Funcionamento
Recobrimento do
Inadequado 1 drenagem Inexistente 0
lixo
provisória
Funcionamento
Presença de
Sim 0 drenagem Regular 3
urubus e gaivotas
chorume
Presença de Funcionamento
moscas em do sistema de
Não 2 Inexistente 0
grande Tratamento do
quantidade chorume
Funcionamento
do sistema de
Presença de
Não 3 monitoramento Regular 1
Catadores
das águas
subterrâneas
Eficiência da
Criação de
Não 3 equipe de Ruim 0
animais
vigilantes
Descarga de
Manutenção dos
resíduos da Não 3 Ruim 1
acessos internos
saúde
Sub-total3: 25 pontos

Segundo as pontuações obtidas nos subtotais 1, 2 e 3 foi possível realizar a


equação que determina o IQR do aterro sanitário do município.

IQR= (35 + 24 + 25)/13 = 6,46

O valor determinado indicou condições controladas para o aterro sanitário. No


que se refere às características locais, pode se observar que apenas dois subitens
apresentaram irregularidades. Com pouco cascalho em sua via, o aterro municipal tem
más condições de trafegabilidade, estando inacessível nos dias de chuva, além de não
possuir isolamento visual com cerca viva.
Nos requisitos de infraestrutura, pode-se observar que dos 15 subitens
avaliados, 6 deles obtiveram pontuações satisfatórias, sendo eles: o cercamento da
área, acesso à frente de trabalho, presença de portaria/guarita e de catadores,
impermeabilização da base do aterro e a drenagem de chorume. Os subitens que
obtiveram pontuações intermediárias foram: o monitoramento da água subterrânea, o
qual acontece com falhas nas datas de coleta e também o atendimento a
especificação do projeto. Já os subitens que obtiveram pontuações mínimas foram:
drenagem das águas pluviais definitivas e provisórias, drenagem de gases, ambas não
existem; e o sistema de tratamento de chorume não encontra em funcionamento.
Também não há vigilantes para controle de acesso de pessoas ao local e nem a
presença de balança rodoviária para a pesagem dos resíduos, uma vez que a mesma
foi furtada em duas ocasiões.
Em relação à ordem operacional, 6 subitens obtiveram pontuação máxima
sendo eles: aspectos gerais do aterro, a não presença de catadores, de moscas em
grandes quantidades e da criação de animais, a não descarga de resíduos da saúde e
industriais. Obtiveram pontuações intermediarias os subitens de recobrimento do
resíduo, visto que não é realizado diariamente, o sistema de funcionamento de
drenagem de chorume, o qual é irregular e o sistema de monitoramento das águas
subterrâneas. Foram caracterizados como inapropriados os subitens que se refere à
ocorrência de lixo descoberto, a presença de urubus, a inexistência de drenagem de
água pluvial definitiva e provisória, funcionamento do sistema de tratamento de
chorume, eficiência na equipe de vigilantes e manutenção dos acessos internos.

4. CONCLUSÕES

Diante das condições apresentadas, pode-se observar que as características


locais do aterro corresponderam a 80% de satisfação dos subitens avaliados. Algumas
recomendações fazem-se necessárias como, melhorias na via de acesso, que pode
ser realizada por meio de cascalhamento e a implantação de barreiras vegetais
(arbustos) em paralelo com as cercas de arame para isolamento visual e de odores.
Os subitens que correspondem à infraestrutura implantada e ao sistema de
operação obtiveram 64% de satisfação. Visando melhorias, recomenda-se a drenagem
dos gases gerados por meio da instalação de tubos de concretos verticais revestidos
de brita, devendo ser instalados no decorrer da ocupação da trincheira, além da
instalação de sistemas de drenagem das águas pluviais. A lagoa de contenção deve
possuir boto-bomba, que fará a recirculação do líquido para o interior da célula,
acelerando assim a decomposição dos resíduos. Faz-se necessário também, a
instalação da balança rodoviária para pesagem dos resíduos, bem como, a inserção
de vigilantes para o controle de pessoas. Faz-se necessário a elaboração e
apresentação do relatório de auto monitoramento do Aterro Sanitário ao órgão
ambiental estadual. A operação do aterro deverá ser feita diariamente, os resíduos
devem ser recobertos por uma camada de solo (cerca de 10 à 20 cm de espessura) no
final de cada jornada.
Dessa forma, com base nos resultados obtidos por meio do IQR, foi possível
determinar que o aterro sanitário do município de Paiçandu é de condições
controladas, não atendendo alguns dos aspectos que preconiza na legislação vigente
no estado do Paraná. Assim, cabem ao município a gestão e o gerenciamento dos
RSU de maneira segura, uma vez que é de responsabilidade da administração pública
assegurar a sua destinação. Todavia, sabe-se que não é uma tarefa de fácil execução,
principalmente pelas limitações financeiras e de equipe técnica preparada.

4. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8849: apresentação de


projetos de aterros controlados de resíduos sólidos urbanos. Rio de Janeiro, 1985.
BRASIL. Lei Federal nº 12.305/2010 - Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos;
altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. http://
planalto.gov.br/. Acesso em 09 Mar. de 2018.
CEMA, 2014. CONSELHO ESTADUAL DO MEIOAMBIENTE. Disponível em:
<http://www.legislacao.pr.gov.br/legislacao/listarAtosAno.do?
action=exibir&codAto=132724&indice=1&totalRegistros=4&anoSpan=2014&anoSeleci
onado=2014&mesSelecionado=0&isPaginado=true. Acessado em 15 de Mar. de 2018.
IBGE, 2017. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível
em: < https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/paicandu/panorama>. Acessado em: 15 de
Mar. de 2018
IAP, 2014. INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ. Disponível em: <
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=277837>. Acessado em 20 de Mar. de
2018.
LINS, CMM et al. Resíduos Sólidos: Projeto, operação e monitoramento de
aterros sanitários. Salvador: ReCESA, 2008.
OBLADEN, Nicolau Leopoldo; OBLADEN, Neiva Terezinha Ronsani; BARROS, KR de.
Guia para elaboração de projetos de aterros sanitários para resíduos sólidos
urbanos. Série de publicações temáticas do CREA-PR, v. 3, n. 4, 2009.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PAIÇANDU-PR. Secretaria Municipal de Meio
Ambiente, 2017.

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