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10

2.º Ciclo do Ensino Secundário 10.ª classe

Língua

R
P
Portuguesa
Livro do aluno
Hermenegildo Seca

Reforma Educativa
Ministério da Educação – Angola
ABC
Exploração do manual

R
Como utilizar o manual?

P
O manual de Língua Portuguesa da 10.ª classe tem o objectivo de proporcionar aos alu-
nos oportunidades de desenvolvimento de competências veiculadas pelos conteúdos
inerentes ao Programa de Língua Portuguesa aprovado pelo INIDE (Instituto Nacional de
Investigação e Desenvolvimento da Educação) de uma maneira simples, adequada e que
facilite o processo de ensino-aprendizagem nas escolas da República de Angola.

Comunicação
e linguagem

1
Unidade
Texto
narrativo

Texto narrativo
2.1 Conceito e características desta tipolo-
gia textual
2.2 Alguns géneros da narrativa
2.3 Elaboração de um guião de uma história
2
Unidade
Abertura da unidade
Imagem apelativa relacionada com a
temática a estudar e índice de conteúdos
abordados ao longo da unidade.
2.5 Elaboração de conto
2.6 Categorias da narrativa
2.6.1 Estrutura do texto narrativo: intro-
dução, desenvolvimento e conclusão
2.6.2 O narrador
2.6.3 A personagem
2.6.4 O tempo
Comunicação e linguagem 2.6.5 O espaço
1.1 Comunicação 2.6.6 Os modos de representação e de ex-
pressão do discurso
1.6 Os papéis da língua na sociedade
Funcionamento da língua / Escrita
1.7 A língua portuguesa no mundo
– variedade europeia, variedade 2.4 Relação entre as palavras
brasileira, variedade timorense e 2.7 Sistema da língua
variedades africanas 2.7.1 Valores semânticos dos tempos ver-
Funcionamento da língua / Escrita bais: estado, acontecimento, processo
2.7.2 Discurso relatado (directo, indirecto
1.2 Enunciação e modalização e indirecto livre)
1.3 Elementos da comunicação e funções 2.7.3 Marcadores textuais
da linguagem 2.8 Níveis/formas de tratamento
1.4 Registos de língua 2.9 Normas técnicas de elaboração de re-
1.5 Relações em interacção comunicativa sumo e síntese de textos

4 Textos informativos diversificados 4.2 Noção de verbos, tempos e modos

Lê e compreende
1. Quais são as vantagens que a publicidade apresenta para o cliente com o salário domici-
liado neste banco?
4.2 Noção de verbos, tempos e modos

Se leres qualquer texto com o objectivo de contares as palavras nele contidas, notarás que
as mais utilizadas são os verbos. Tanto é assim que a produção de textos sem verbos é um
Desenvolvimento de temáticas
2. Que relação se pode estabelecer entre a expressão «uma mão cheia» e a imagem? desafio que poucos ousam enfrentar, como esta poetisa:
3. Por que razão achas que se usou a imagem de alguém famoso nesta publicidade?

Textos, imagens, tabelas, esquemas e


4. Refere-te à forma como esta publicidade cumpre com os requisitos do esquema AIDMA.
Poema sem verbos
Manhã azul cinzenta, levemente baça,
de Primavera.
As mimosas suspensas – amarelos ausentes.
Funcionamento da língua

ilustrações elaborados com informação


Flores tímidas, promessas de arco-íris.
5 Pássaros silenciosos, simples traços de carvão,
1. Qual a forma de tratamento usada no enunciado? asas de papel.
1.1. Passa-a para o tratamento oposto.
Crianças. Muitas crianças. Sorrisos, claro.
2. Identifica o tempo/modo verbal usado e comenta a sua importância neste contexto. Não sorrisos claros – nem sequer em fuga.

rigorosa.
Sorrisos de estátua nos meus olhos. Só nos meus olhos.

10 Olhos sem vento sem sol sem sonhos sem beijos.


Escreve e fala Poema sem verbos – morto.
Sandra Costa, in antologiadoesquecimento.blogspot.com/2006/05/poema-sem-verbos.html
(acedido em 06/03/2014)

1. Elabora, com a ajuda dos teus colegas


e professor, uma publicidade sobre
uma marca de ténis, seguindo os re- O que são então verbos?

Actividades e organização de temáticas


quisitos do esquema estudado. Depois
Os verbos são um grupo de vocábulos que servem para, como diz Marcos Bagno (2012:
de concluída, apresenta-a à turma.
509), «expressa[r] os estados das coisas, ou seja, as acções, os estados e os eventos de que
precisamos dar conta quando falamos ou escrevemos». Eles flexionam (variam) em muitos
aspectos, tais como:

• Tempo (presente, passado e futuro);

relativas às seguintes competências:


• Modo (infinitivo, indicativo, imperativo, condicional e conjuntivo);
• Aspecto (inceptivo, cursivo e terminativo);
• Voz (activa, passiva, reflexa e recíproca);
• Número (singular e plural);
• Pessoa (primeira, segunda e não-pessoa).

Leitura, Funcionamento da Língua,


São, de facto, as palavras mais abundantes numa língua.
Vamos, nesta secção, proceder ao estudo dos modos e tempos verbais.
O modo traduz a forma como o falante encara a acção ou o estado designados pelo verbo.
Embora existam vários modos, vamos dar atenção aos mais recorrentes – o indicativo, o
conjuntivo e o imperativo.

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Pesquisa, Escrita, Fala e Audição.

Unidade 4 Textos informativos diversificados

Testa os teus conhecimentos


Lê o seguinte texto e responde com clareza às questões que se seguem.
Compreensão
1 Faz o levantamento das características que permitem classificar este texto de informativo.

2 A qual dos géneros estudados pertence o mesmo? Argumenta.


Testa os teus conhecimentos
Funcionamento da língua
Experiências para mimar os
cinco sentidos
Relaciona os conteúdos estudados para
1 Retira do texto verbos nos aspectos estudados nesta unidade.

2 Identifica as conjunções presentes no texto e classifica-as.

O Mussulo não oferece apenas sol, 3 Divide e classifica as orações constantes do período abaixo.
areia branca, e banhos num mar quase “Se quiser, pode ainda desfrutar do ofurô, uma ampla selha de madeira, para um banho frio.”
sempre tépido. Em descanso de fim-de-

que o aluno possa proceder à sua


4 Extrai do texto verbos nas conjugações especiais abordadas.
-semana ou noutro dia qualquer, pode
5 também entregar-se a verdadeiros mo- 5 Cria palavras derivadas a partir dos seguintes vocábulos: «sol», «novo» e «opções».

mentos de relaxe e descontracção, com 6 Retira do texto palavras compostas por justaposição e cognatas.
massagens relaxantes e tratamentos de
7 Copia do texto todos os estrangeirismos. Refere-te ao seu significado.
pele que prometem fazê-lo sentir-se

autoavaliação, reflectindo sobre a sua


novo e com energias para novas aven- 8 Identifica no texto dois morfemas lexicais e três morfemas gramaticais, justificando a tua escolha.
10 turas, dentro ou fora deste paradisíaco 9 Enumera alguns dos elementos estudados que contribuem para a coerência deste texto.
recanto, mesmo à porta de Luanda.
Esses momentos únicos de frescura e bem-estar podem ser vividos no 10 Observa as seguintes frases:

Kandy Spa, um confortável e surpreendente espaço integrado no Ssulo a) “O Mussulo não oferece apenas sol, areia branca, e banhos num mar quase sempre tépido.”
Club Resort Hotel, o qual oferece opções que vão desde a simples massagem b) “No seu conjunto, o Kandy Spa oferece seis agradáveis espaços, completamente equipados,

assimilação dos conteúdos.


15 relaxante aos tratamentos de cavitação (eliminação de gorduras localizadas, para momentos revigorantes e envolvidos em melodias suaves.”
através de lipoaspiração não invasiva), pressoterapia (drenagem linfática 10.1. Procede à análise sintáctica das mesmas.
que ajuda na eliminação de toxinas) e radiofrequência (que combate as 10.2. Diz o subtipo e a forma em que cada uma delas se encontra.
rugas, flacidez, celulite e gorduras localizadas). 10.3. Identifica o modo no qual está conjugado cada um dos verbos, explicitando o seu valor se-
À entrada, a recepção soalheira oferece um amplo balcão de mármore, mântico.
20 envolto num cenário que recria a praia e o mar: conchas e pedrinhas de
vários tamanhos, estrelas-do-mar e, ao fundo, pintados sobre duas cadeiras Escrita
coloridas, pequenos peixes, ouriços e algas retratam, na parede, a vida
marinha. No seu conjunto, o Kandy Spa oferece seis agradáveis espaços, 1 Seguindo a estrutura estudada, elabora uma notícia sobre um facto ocorrido hoje na tua
completamente equipados, para momentos revigorantes e envolvidos em escola.
25 melodias suaves que se misturam no ar com as agradáveis fragrâncias de
2 Imagina que és o secretário da escola. Produz a acta da última reunião do director-geral com
rosas, jasmim, alfazema ou coco. (…) os funcionários.
Se quiser, pode ainda desfrutar do ofurô, uma ampla selha de madeira,
para um banho frio.
Para finalizar, pode levar consigo o que acabou de experimentar, pois o
30 Kandy Spa disponibiliza todos os produtos utilizados nas massagens e
tratamentos. No pequeno bazar da recepção, pode adquirir ou encomendar
cremes, óleos revigorantes, leite drenante, peeling de sais marinhos,
manteiga corporal e chás para poder continuar esta relaxante viagem em
sua casa.
Pedro Correia, in revista Rotas & Sabores, n.º 2, Abril-Maio 2014, pp. 64-68 (texto com supressões)

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I S B N 9 7 8 - 9 8 9 - 6 11 - 5 6 2 - 3
2
Índice Texto narrativo
2.1 Conceito e características desta tipologia

R
Comunicação e linguagem 2 textual 38

P
1.1 Comunicação 8 2.2 Alguns géneros da narrativa 38

1 Texto: «Breve historial da comunicação»


Lê e compreende
Diário
Texto: «Cão com lágrimas»
39

Pesquisa e escreve Lê e compreende


Fala Experimenta, aprende e fala
1.2 Enunciação e modalização 9 Biografia 41
Texto Texto: Roderick Nehone
Lê e compreende Lê e compreende
Pesquisa e aprende Pesquisa, aprende e fala
1.3 Elementos da comunicação e funções Outros textos: «Angola que canta»
da linguagem 11 Anedota 43
Lê e compreende Texto
Experimenta, aprende e fala Lê e compreende
1.4 Registos de língua 13 Escreve e fala
Pesquisa e fala Banda desenhada 44
1.5 Relações em interacção comunicativa 15
Texto: «Feliz aniversário»
Funcionamento da língua
Lê e compreende
Experimenta, aprende e fala
Escreve e fala
1.6 Os papéis da língua na sociedade 16
Conto 46
Textos
Texto: «Joaquim e Catarina»
Lê e compreende
Lê e compreende
Pesquisa, aprende e fala
Outros textos
1.7 A língua portuguesa no mundo 18
Lê e compreende
Textos A e B
Pesquisa, escreve e debate
Lê e compreende
Novela 49
Experimenta, aprende e fala
Texto: Excerto de Quem me dera ser onda
Pesquisa, aprende e debate
Lê e compreende
Texto C
Alarga os teus conhecimentos
Lê e compreende
Reflecte e escreve
Texto D
Romance 52
Lê e compreende
Texto: Excerto de O ano do cão
Ouve [notícia]
Lê e compreende
Pesquisa, escreve e fala
Alarga os teus conhecimentos
1.8 Variação do português no tempo 26
Fábula 54
Texto A: Digades, filha, mia filha velida» Texto: Excerto de O Gato Malhado e a Andorinha
Texto B: «Tinha um cravo no meu balcão» Sinhá – uma história de amor
Lê e compreende Lê e compreende
1.9 Breves noções sobre textualidade 28 Mito 55
Texto literário e texto não-literário 28 Texto: «Iemanjá»
Texto A Lê e compreende
Texto B Lenda 57
Lê e compreende Texto: «Lenda das Amendoeiras em Flor»
Escreve Lê e compreende
Lê e compreende Epopeia 58
Denotação e conotação 32 Texto: «Reunião dos Deuses no Olimpo»
Lê e compreende Lê e compreende
Ouve [entrevista] Alarga os teus conhecimentos
Testa os teus conhecimentos 34

3
2.3 Elaboração de um guião de uma Texto lírico
história 60 3.1 Conceito e características desta tipologia

R
Experimenta, escreve e lê
3 textual 96

P
2.4 Relação entre as palavras 61 Fala e debate
Funcionamento da língua Texto: «Eu – Mistério»
2.5 Elaboração de conto 63 Lê e compreende
Experimenta, escreve e lê Funcionamento da língua
2.6 Categorias da narrativa 64 Características do texto lírico 98
 strutura do texto narrativo
2.6.1 E 64 Texto: «Ópio»
Texto: «A Gulosa» Lê e compreende
Lê e compreende Funcionamento da língua
2.6.2 O narrador 67 Experimenta, escreve e fala
Texto: «Princesa Escrava» Texto: «País Novo»
Lê e compreende Lê e compreende
Funcionamento da língua Funcionamento da língua
Experimenta, aprende e representa Entre textos
2.6.3 A personagem 70 Outros textos: «Idade das Palavras»
Texto: E xcerto de A vida verdadeira de Domingos Lê e compreende
Xavier A rima (quanto à combinação)
Lê e compreende Texto: «Fruto maduro»
Escreve e fala Lê e compreende
2.6.4 O tempo 73 Funcionamento da língua
Texto: «Mbangu a Musungu» Outros textos
Lê e compreende Lê e compreende
2.6.5 O espaço 76 A rima (quanto à qualidade)
Texto: «A paciência é recompensada» Texto: «Novo rumo»
Lê e compreende Lê e compreende
2.6.6 Os modos de representação e de expressão Funcionamento da língua
do discurso 78 3.1.1 Desenvolvimento temático 107
Texto: Excerto de O ano do cão Texto
Lê e compreende Lê e compreende
2.7 Sistema da língua 81 3.1.2 Recursos estéticos 108
2.7.1 Valores semânticos dos tempos verbais: Texto: «Afirmação»
estado, acontecimento, processo 81 Lê e compreende
Texto: «A importância da organização» Funcionamento da língua
Funcionamento da língua Outros textos: «Quando a manhã vier»
2.7.2 Discurso relatado 84 Lê e compreende
Texto: Excerto de Vidas Novas Escreve
Funcionamento da língua Texto: «Se me quiseres conhecer»
2.7.3 Marcadores textuais 87 Lê e compreende
Texto: Excerto de Vidas Novas Funcionamento da língua
Funcionamento da língua Escreve
2.8 Niveis/formas de tratamento 89 Texto: «Mar Portuguez»
Texto: Excertos A e B Lê e compreende
Funcionamento da língua Funcionamento da língua
2.9 Normas técnicas de elaboração de resumo Escreve
e síntese de textos 90 3.1.3 Ritmo 115
Texto: «Soneto do amor total» Texto: «Auto-retrato»
Escreve Lê e compreende
Ouve [notícia] Funcionamento da língua
Testa os teus conhecimentos 92 Escreve

4
3.1.4 Sonoridades 117 Lê e compreende
Escreve

R
Texto: «Adeus, irmão branco!»
Texto: «Ciência matinal»

P
Lê e compreende
Funcionamento da língua Lê e compreende
3.1.5 Espacialização do texto 118 Funcionamento da língua
Texto: «Monangamba» 3.6 Sinais de pontuação 138
Lê e compreende Texto: «Sonho de um camponês»
Funcionamento da língua Lê e compreende
3.1.6 Forma poética 120 Funcionamento da língua
Texto (Soneto) Texto: «Mulher de homem amante do mar»
Lê e compreende Funcionamento da língua
Funcionamento da língua Texto: «Cante, Batuque!»
Texto (Vilanete) Lê e compreende
Lê e compreende Funcionamento da língua
Funcionamento da língua Testa os teus conhecimentos 145
Texto (Haiku)
Lê e compreende Textos informativos diversificados
Funcionamento da língua 4.1 Conceito e características desta tipologia
Escreve
3.2 Distinção entre prosa e poesia 124
4 textual
Notícia
148
148
Texto: «Escolas são os agentes da inovação»
Texto A
Lê e compreende
Lê e compreende
Funcionamento da língua
Texto B Escreve e fala
Lê e compreende Outros textos: «Muzongué da Tradição…»
Prosa vs Poesia Reportagem 152
Funcionamento da língua Texto: «Adeus, Ilha!»
Ouve [notícia] Lê e compreende
3.2.1 Prosa poética 127 Funcionamento da língua
Texto: Excerto de Livro do Desassossego Entrevista 154
Lê e compreende Texto
Funcionamento da língua Lê e compreende
3.3 Estudo dos sons 128 Funcionamento da língua
3.3.1 Classificação dos sons 129 Acta 156
Texto: «De mãos vazias» Texto: «Acta número dois»
Lê e compreende Lê e compreende
Funcionamento da língua Funcionamento da língua
3.4 Articulação e prosódia 130 Escreve e fala
3.4.1 Articulação vocálica e consonântica 131 Relatório 157
Texto: «Vício na fala» Texto
Lê e compreende Lê e compreende
Funcionamento da língua Funcionamento da língua
3.4.2 Alguns aspectos da prosódia 132 Publicidade 159
Texto: «Para sempre» Texto
Lê e compreende Lê e compreende
Funcionamento da língua Funcionamento da língua
3.5 Acentuação das palavras 134 Escreve e fala
Texto: «Canção de alta noite» 4.2 Noção de verbos, tempos e modos 161
Funcionamento da língua Texto: «Poema sem verbos»
Características do modo indicativo
Texto: «Quem, de três milénios»
Funcionamento da língua

5
Texto: «Docentes reconhecem qualidades das obras 4.3.5 Palavras cognatas, divergentes
de Rui Monteiro» e convergentes 184

R
Lê e compreende Texto: «Despacho n.º 355/14, de 11 de Junho»

P
Funcionamento da língua Lê e compreende
Características do modo conjuntivo Funcionamento da língua
Texto: «Elevação do nível do mar ameaça sobretudo 4.3.6 Modos de enriquecimento lexical 185
pequenos Estados Insulares» Texto
Lê e compreende Lê e compreende
Funcionamento da língua Funcionamento da língua
Pesquisa, aprende e escreve Pesquisa e escreve
Características do modo imperativo 4.4 Estudo da frase 188
Texto: «Nova vida, muitos prejuízos» Texto: «Elementar, meu caro Watson!...»
Lê e compreende Lê e compreende
Funcionamento da língua Funcionamento da língua
Aspecto verbal 4.4.1 Subtipos de frase 190
Texto: «Pioneiro da internet ganha Prémio da Paz do Texto: «O Cágado paciente e o Lagarto esperto»
Comércio Livreiro Alemão» Lê e compreende
Lê e compreende Funcionamento da língua
Funcionamento da língua 4.4.2 Coordenação e subordinação 192
4.2.1 Formas especiais de conjugação 172 Texto: «Candidatos ao concurso público de ingresso»
Texto: «Mulato de sangue azul» Lê e compreende
Lê e compreende Funcionamento da língua
Funcionamento da língua Escreve e fala
4.3 Estudo da palavra 175 Texto: «Abandono de trabalho»
Texto: «Decreto Legislativo Presidencial n.º 5/12, de Funcionamento da língua
15 de Outubro» Texto: «Um tiro no pé»
Lê e compreende Lê e compreende
Funcionamento da língua Funcionamento da língua
4.3.1 Morfemas lexicais e morfemas Escreve e fala
gramaticais 177 4.5 Sujeito e predicado 198
Texto: «Ministério das Finanças» Texto: «As eleições»
Lê e compreende Lê e compreende
Funcionamento da língua Funcionamento da língua
4.3.2 Processos morfológicos de formação 4.6 Complementos do verbo e do nome 200
de palavras 179 Texto: «Estatuto da sociedade Sowilo, Limitada»
Texto: «Decreto Presidencial n.º 47/12, de 22 de Março» Lê e compreende
Lê e compreende Funcionamento da língua
Funcionamento da língua 4.7 Estudo do texto 202
Pesquisa, escreve e fala 4.7.1 Coerência textual 202
Ouve [entrevista] Texto: «Renascence»
4.3.3 Campos semânticos, campos associativos Lê e compreende
e família de palavras 182 Funcionamento da língua
Texto: « Despacho Presidencial n.º 43/12, de 22 de Pesquisa e debate
Março» Outros textos
Lê e compreende 4.7.2 Conexão textual 206
Funcionamento da língua Texto: «Equilíbrio»
4.3.4 Léxico comum e léxicos especializados 183 Lê e compreende
Texto Funcionamento da língua
Funcionamento da língua Testa os teus conhecimentos 208
Apêndice gramatical 210

6
Comunicação

R
P
e linguagem

1
Unidade

Comunicação e linguagem
1.1 Comunicação
1.6 Os papéis da língua na sociedade
1.7 A língua portuguesa no mundo
– variedade europeia, variedade
brasileira, variedade timorense e
variedades africanas
Funcionamento da língua / Escrita
1.2 Enunciação e modalização
1.3 Elementos da comunicação e funções
da linguagem
1.4 Registos de língua
1.5 Relações em interacção comunicativa
1 Comunicação
e linguagem

R
P
1.1 Comunicação

Como sabes, a comunicação está presente em vários sectores. As abelhas, dentro ou fora
da colmeia, e as formigas, no interior ou no exterior do formigueiro – entre outros exemplos –,
são seres que têm comunicado entre si com os mais variados objectivos, desde alimentar-se
a proteger-se contra perigos.
Informa-te agora sobre o historial da comunicação na sociedade humana lendo atenta-
mente o texto abaixo.

Breve historial da comunicação


A comunicação, e a necessidade de comunicar, são, desde
sempre, uma característica intrínseca ao ser humano, tendo-se
desenvolvido ao longo dos tempos na sua forma e suportes.
Na história humana, as sociedades dotadas de meios e redes
5 de comunicação mais desenvolvidas obtiveram daí uma
vantagem competitiva relevante em relação aos seus rivais.
A invenção do telégrafo e do telefone no século XIX marcou o início de
uma nova era, não só na forma de comunicar mas também no estilo de vida
das sociedades. O desenvolvimento da telefonia móvel, e a chegada da era
10 digital, proporcionou novo salto de sofisticação, em que o impacto da
tecnologia e acesso proporcionado mudaram o nosso estilo de vida,
revolucionando a forma como acedemos à informação, como consumimos
e até como nos relacionamos com os outros, e, pelo caminho, alterando
profundamente várias indústrias (Ainda se lembra da Blockbusters?
15 Quantas discotecas ainda frequenta para comprar música?) e fazendo
surgir novos players de dimensão internacional (o Google ou o Facebook são
bastante ilustrativos).
De facto, e num passado mais recente, o desenvolvimento tecnológico
tem acelerado, suportando redes de telecomunicações cada vez mais
20 avançadas, que, por sua vez, suportam cada vez mais serviços. As redes de
telecomunicações têm contribuído decisivamente para a evolução da
sociedade, através da facilitação da partilha de informação de forma mais
rápida, permitindo às pessoas e aos negócios ficar conscientes das
mudanças mais cedo e reagir mais rapidamente às mesmas.
Delloite, «As redes de nova geração e o crescimento económico»,
in Revista Economia &Mercado, Novembro 2013, p. 32

8
1.2 Enunciação e modalização

Lê e compreende

R
1. Como definirias comunicação?

P
2. Para haver comunicação, é necessária a existência de linguagem.
2.1. O que entendes por linguagem? Dá exemplos.
3. De acordo com o texto, que invenções do século passado revolucionaram a forma de as
pessoas comunicarem entre si?
3.1. Refere alguns exemplos das alterações que estas inovações causaram no estilo de
vida das sociedades.

Pesquisa e escreve
1. Pesquisa na internet sobre a história desta moderna ferramenta
de comunicação global.
1.1. E m seguida, redige um artigo de opinião no qual abordes
brevemente os aspectos que achares mais importantes.

Fala
1. Debate com os teus colegas e professor sobre o seguinte tema:
O «internetês» enriquece ou empobrece a língua portuguesa?

1.2 Enunciação e modalização

Já ouviste falar em enunciação e modalização? Aprende sobre estes e outros conceitos


com eles relacionados nas linhas seguintes.

Enunciação: acto mediante o qual um sujeito, em determinado contexto comunicativo


utiliza a língua para produzir enunciados em determinada situação de comunicação. A dêixis
é um fenómeno de referenciação que faz parte da enunciação.
Os dêicticos assinalam:

a pessoa, o sujeito enunciador e a quem se dirige o acto comunicativo (eu e tu);


o tempo da enunciação (agora);
o espaço da enunciação (aqui).

9
1 Comunicação e linguagem

Enunciador: é o indivíduo que produz um enunciado, o qual pode ser falado ou escrito.
Por exemplo, quando dizes aos colegas «Bom dia!», tu és o enunciador, o que dizes é o enun-
ciado e os teus colegas desempenham o papel de enunciatários (interlocutores).

R
P
Modalização: consiste na manifestação, na mensagem, das atitudes do locutor relativa-
mente à mensagem que transmite através de um no conjunto de elementos, como a entoa-
ção, os verbos e advérbios usados, que possibilitam ao enunciatário:

identificar a atitude do emissor face ao conteúdo de determinado enunciado


Ex.: Infelizmente, cheguei atrasado à aula.

r epresentar valores de:


• probabilidade
Ex.: Talvez estude contigo amanhã.
• certeza
Ex.: Duvido ter tempo amanhã para passear contigo.
• permissão
Ex.: Podes sair mais cedo de casa.
• obrigação
Ex.: Temos de estudar mais para o teste.

Lê e compreende
1. Tendo em conta os conceitos anteriormente apresentados, lê o seguinte texto.

Prof. Makyadi,
Passei por cá hoje, como combinado, mas não o encontrei. Falei com o
homem, e ele sugeriu que o professor produzisse os seguintes documentos:
1. Programa (módulos, objectivos, metodologia, número de horas para
cada módulo...);
2. Carta dirigida à empresa (número de formandos, custos do curso, total
de horas do curso).
Pode fazer isso a próxima semana?
Saudações,
Tchissola (bilhete deixado no ISCED a 31/10/2013)

2. Identifica, no texto acima, as três categorias da enunciação:


a) a pessoa – quem é o eu (enunciador) e o tu (enunciatário);
b) o tempo – qual é o «hoje» e a «próxima semana»;
c) o espaço – a que local se refere o «cá».

10
1.3 Elementos da comunicação e funções da linguagem

Pesquisa e aprende

R
1. Se quiseres aprender mais consulta um dicionário de termos linguísticos e copia os concei-

P
tos de:
• Enunciado
• Dêictico
• Alocutário
• Não-pessoa

1.3 Elementos da comunicação e funções da


linguagem
Lê com atenção as seguintes informações.

Emissor/destinador: aquele que emite


uma mensagem. Pode ser uma pessoa, um
grupo, uma empresa, uma instituição.

Receptor/destinatário: aquele a quem


a mensagem é dirigida e que produzirá, do
mesmo modo, uma mensagem.

Código: sistema de signos/sinais parti-


lhado pelo emissor e o receptor.

Mensagem: o conteúdo daquilo que se


comunica.

Canal: meio físico (voz ou página escrita) ou virtual (rede social) através do qual o emissor
e o receptor comunicam.

Referente: aquilo a que o emissor se refere ou o que é objecto de comunicação.

A estes elementos da comunicação é possível associar seis funções da linguagem.

Função emotiva: centrada no próprio emissor, permite expressar emoções e estados de


espírito ou o ponto de vista sobre determinado facto, através de um discurso subjectivo e o
uso da 1.ª pessoa.

Função apelativa: centra-se no receptor, tentando convencê-lo, persuadi­‑lo, através do


uso da 2.ª pessoa, do vocativo, do imperativo.

Função referencial: a mensagem está centrada no referente e a informação é transmitida


de modo objectivo, através do uso da 3.ª pessoa.

11
1 Comunicação e linguagem

Função poética: centra-se na própria mensagem, sendo que a relação entre a expressão
e o conteúdo se processa de modo simbólico e subjectivo.

R
Função fática: encontra-se centrada no canal, tendo por objectivo prolongar a comunica-

P
ção, mantendo o interesse entre o emissor e o receptor.

Função metalinguística: centra-se no código, recorrendo-se a verbos de existência/sig-


nificação (ser, parecer, significar) no presente do indicativo. A linguagem fala da linguagem.

Lê e compreende
1. Identifica a função da linguagem predominante nos seguintes textos.

a. b.

Linguagem
Datação sXIII
substantivo feminino
1. Rubrica: linguística.
qualquer meio sistemático de comunicar
ideias ou sentimentos através de signos
(Publicidade em outdoor do Banco convencionais, sonoros, gráficos, gestuais, etc.
Millennium em Luanda)
Exs.: l. humana
c. funções da l.
Aí vão as laranjas 2. Derivação: por extensão de sentido.
como eu me ofereci ao álcool qualquer sistema de símbolos ou sinais ou
para me anestesiar objetos instituídos como signos; código
e me entreguei às religiões Exs.: l. da dança
para me insensibilizar a l. das cores
e me atordoei para viver.
(excerto de poema)
(verbete do Dicionário Houaiss)

d.
Precauções:
S7: Manter o recipiente bem fechado.
S16: Manter afastado de qualquer chama ou fonte de ignição – não fumar.
S46: Em caso de ingestão, consultar imediatamente o médico e mostrar­
‑lhe a embalagem ou o rótulo.
S25: Não colocar em contacto com os olhos ou mucosas.
S26: Em caso de contacto com os olhos lavar imediata e abundantemente
com água e chamar o médico.
S2: Manter fora do alcance das crianças.»
(fragmento de rótulo de álcool etílico)

12
1.4 Registos de língua

Experimenta, aprende e fala

R
1. 
Transcreve uma conversa que tiveste com um amigo

P
no Facebook e refere, através de esquema, os seguintes
aspectos:
a) os elementos da comunicação aí presentes;
b) as funções da linguagem predominantes.

1.1. Em seguida, relaciona os elementos do teu esquema.


1.2. Apresenta as tuas conclusões à turma.
2. 
Identifica agora os elementos da comunicação usados
numa conversa oral por telefone que tiveste com um dos teus colegas.

1.4 Registos de língua

Dependendo da situação de comunicação em que os falantes se inserem, é necessário


utilizar diferentes registos de língua. Estes funcionam como peças de vestuário, isto é, cada
roupa deve ser adequada para a ocasião certa; não vamos à praia com roupa de gala, nem à
escola de fato de banho.
Os registos de língua que vais estudar são os seguintes:

Cuidado: caracteriza-se pela utilização de frases bem construídas e léxico rico e com-
plexo, sobretudo em situações muito formais ou solenes, tais como conferências, discursos
políticos, formaturas, etc.
Ex.:
Senhor Presidente, gostaria de começar por saudá-lo pela sua eleição à
presidência em exercício da União Africana e augurar-lhe muitos êxitos
durante o vosso mandato.
Excerto do discurso do Vice-Presidente de Angola, Manuel Vicente, em Adis-Abeba, 30/01/2014

Corrente: caracteriza-se pela obediência às regras estabelecidas pela norma-padrão, isto


é, a variedade da língua mais prestigiada do ponto de vista social, e é usado na comunicação
entre pessoas pertencentes a diferentes estratos sociais. Este registo aparece frequente-
mente em programas noticiosos, em jornais, etc.
Ex.:
O nacionalista revolucionário e escritor Agostinho André Mendes de
Carvalho afirmou em vida o desejo de ser enterrado na sua terra natal,
Calomboloca, região de Catete, disse ao Jornal de Angola um familiar.
Excerto de notícia, in http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/mendes_de_carvalho_sepultado_em_catete
(acedido em 15/02/2014)

13
1 Comunicação e linguagem

Familiar: como o próprio nome indica, consiste no registo empregado no âmbito familiar
e com quem se tem muita intimidade (amigos, vizinhos, etc.). Usa-se frequentemente um
vocabulário simples, uma pronúncia mais espontânea e palavras afectivas. Actualmente, este

R
registo aparece bastante nas mensagens de texto em telemóveis.

P
Ex.:
Reizinho, já estou em casa.

Popular: este registo é usado pelos falantes com pouca escolarização, tais como os robo-
teiros, as kínguilas e as zungueiras. Além de ser falado, é muitas vezes utilizado por escritores
de obras literárias (maioritariamente narrativas) através do discurso directo.
Ex.:
– Antão, véia, hoje nada?
– Nada, mano Filisberto...
– Hoje os tempo tá mudado…
– Mas tá passá gente perto...
5 Como é aqui tá fazendo isso?
– Não sabe?! Todo esse povo
Pegô num costume novo
Qui diz qué civrização:
Come só pão com chouriço
10 Ou toma café com pão…
Excertos de «Makezu», Viriato da Cruz, Poemas (1961)

Pesquisa e fala

1. Pesquisa na internet exemplos para cada um dos registos de língua estudados.


1.1. T ranscreve-os para o teu caderno e, depois, apresenta-os à turma, de modo que os
teus colegas identifiquem o registo de língua presente em cada um deles.

14
1.5 Relações em interacção comunicativa

1.5 Relações em interacção comunicativa

R
A interacção comunicativa, entendida como processo de trocas linguísticas entre os utentes

P
de uma determinada língua, é feita por meio de actos de fala. De acordo com o ILTEC (Instituto de
Linguística Teórica e Computacional), um acto de fala consiste no «uso de um enunciado, linguis-
ticamente funcional, para realizar uma acção, como, por exemplo, prometer, avisar, informar, or-
denar, etc., considerada apropriada às circunstâncias de uma comunicação particular.» (Projecto
Diversidade Linguística na Escola Portuguesa, p. 3). Eles podem ser directos ou indirectos.
Vamos agora abordar cada uma destas tipologias de actos de fala.

Actos de fala directos: são aqueles que exprimem de modo directo a intenção comuni-
cativa do falante ou locutor, ou seja, têm um sentido literal em relação à intenção comunica-
tiva do enunciador.

Existem quatro tipos de actos de fala directos:


acto de fala declarativo
Ex.: O Kasumba faltou hoje às aulas.
acto de fala interrogativo
Ex.: Que horas são?
acto de fala imperativo
Ex.: Desliga o ar-condicionado.
acto de fala exclamativo
Ex.: Quanta coisa pude ver na cidade do Huambo!

Actos de fala indirectos: opõem-se aos anteriores por exprimirem de forma indirecta a
intenção comunicativa do falante ou locutor, a qual deve ser interpretada pelo ouvinte ou
enunciatário.
Ex.: Podes desligar o ar-condicionado?
(Neste acto de fala, o locutor não quer saber se o interlocutor é ou não capaz de realizar tal
acção. É um pedido indirecto, realizado de modo mais delicado (por confronto ao acto de
fala imperativo), pois o locutor está a sentir muito frio.)

Funcionamento da língua
1. Marca com um (D) os actos de fala directos e com um (I) os actos de fala indirectos.
a) Senhor João, venha até ao meu gabinete, por favor.
b) Seria possível emprestares-me o teu dicionário, Maria?
c) Podes passar-me a kizaka?
d) Os meus colegas são muito simpáticos.
1.1. Agora, justifica as tuas escolhas.
2. Produz quatro frases, sendo duas com actos de fala directos e duas com actos de fala
indirectos.

15
1 Comunicação e linguagem

Experimenta, aprende e fala

R
1. Copia do teu telemóvel pelo menos duas mensagens de texto e classifica os actos de fala

P
aí concretizados.
1.1. Apresenta as tuas conclusões à turma.

1.6 Os papéis da língua na sociedade

Lê os seguintes textos.

Texto A
ARTIGO 19.º
(Línguas)
1. A língua oficial da República de Angola é o português.
2. O Estado valoriza e promove o estudo, o ensino e a utilização das demais
línguas de Angola, bem como das principais línguas de comunicação
internacional.
Constituição da República (2010)

Texto B
ARTIGO 9.º
(Língua)
1. O ensino nas escolas é ministrado em
língua portuguesa.
2. O Estado promove e assegura as
condições humanas, cientifico-técnicas,
5 materiais e financeiras para a expansão e a
generalização da utilização e do ensino de
línguas nacionais.
3. Sem prejuízo do n.º 1 do presente artigo,
particularmente no subsistema de educação
10 de adultos, o ensino pode ser ministrado
nas línguas nacionais.
Lei de Bases do Sistema de Educação (Lei 13/01, de 31 de
Dezembro)

16
1.6 Os papéis da língua na sociedade

Texto C

Três funções da língua

R
P
portuguesa em Angola
Em Angola, a língua portuguesa desempenha várias funções. A sua
utilidade reflecte-se em vários domínios, graças ao(s) estatuto(s) que o
domínio político lhe tem conferido quer no tempo colonial, quer no período
pós-colonial. Desde língua franca (utilizada nas relações económicas entre
5 indivíduos de línguas maternas diferentes) à perspectiva actual de língua
em nacionalização, tem sido o garante, a nível territorial, de funções que
nenhuma outra língua de Angola poderia exercer. Este posicionamento
tem-lhe reservado um lugar privilegiado na encruzilhada linguística
angolana. No âmbito das funções que o português desempenha em Angola,
10 vão merecer destaque, pela relevância, três: função comunicativa, função
democratizadora e função identificadora.
Domingos Nzau, A Língua Portuguesa em Angola: Um Contributo para o Estudo da sua Nacionalização,
Universidade da Beira Interior (tese de doutoramento, 2011)

Lê e compreende
1. Tendo em conta as funções que o português desempenha em Angola (Texto C), identifica
as que constam dos extractos da legislação angolana apresentados (Textos A e B).
1.1. Fundamenta a tua resposta citando partes desses textos.
2. Explica, por palavras tuas, em que consistem as três funções referidas no Texto C.

Pesquisa, aprende e fala

1. 
Vai à Biblioteca do Instituto de
Línguas Nacionais e informa-te
sobre algumas línguas que têm o
estatuto de línguas nacionais no
nosso país.
1.1. A
 presenta uma listagem das
principais línguas nacionais
faladas em Angola.

PLA-LP10_02
17
1 Comunicação e linguagem

1.7 A língua portuguesa no mundo – variedade


europeia, variedade brasileira, variedade

R
timorense e variedades africanas

Texto A

P
Lê o seguinte diálogo que aborda a questão do português-padrão e as suas variedades.

5
– Não existe uma “variedade-padrão”. E por que não existe? Porque para
nos referirmos a uma variedade de língua, é preciso também,
obrigatoriamente, nos referirmos aos seres humanos que falam essa
variedade. Ora, quando falamos de padrão não estamos falando de uma
variedade de língua viva, concreta, palpável, que a gente possa gravar em fita
ou coletar em textos escritos. O padrão é sempre um modelo, uma referência,
uma medida, um critério de avaliação. Um padrão nunca é a própria coisa a
ser medida, avaliada. Por isso, usar a expressão variedade-padrão chega a
ser um paradoxo.
10 – Será que estou entendendo...? – diz Emília.
– Veja bem, Emília: o molde de um vestido nunca é o vestido mesmo,
não é? Ele nem é feito de tecido, em geral é feito de papel ou papelão.
Mesmo que a gente cole ou costure todos aqueles pedaços de papel ou
papelão, o resultado nunca será um vestido que alguém possa usar, certo?
15 – Certo.
– O mesmo acontece com o padrão da língua. Existe um conjunto enorme
de regras para o uso da língua que compõem uma norma, um padrão de
língua, mas que, na realidade, não é uma variedade, pois ninguém obedece
rigidamente a todas aquelas regras ali prescritas, nem mesmo o falante mais
20 culto, mais escolarizado, mais preocupado em controlar sua fala ou sua
escrita. Esse falante pode até conseguir respeitar uma boa percentagem das
regras padronizadas, mas nunca respeitará todas elas.
– Então, Irene, se estou entendendo, não existe um português-padrão de
um lado e um português não-padrão do outro, mas, sim, a língua com todas
25 as suas variedades de um lado e uma norma ou um padrão, do outro.
É isso? – pergunta Sílvia.
– Precisamente, Sílvia.
– Seria possível a gente falar da diferença entre o real e o ideal, tia? Porque
as variedades linguísticas existem concretamente, eu falo uma, a Eulália fala
30 outra, cada um de nós fala uma variedade ou mais. Essas variedades, como
eu já tenho estudado na faculdade, podem ser registradas, gravadas,
coletadas. Já o padrão, por não ser falado por ninguém, seria, na verdade,
aquela língua ideal, que a gente tem como um modelo abstrato do que é
“bom” e “correto”. Seria algo assim?

18
1.7 A língua portuguesa no mundo

35 – Sim, Verinha, essa sua análise está muito boa, ou pelo menos coincide
com meu modo de ver as coisas. As variedades da língua são reais e
concretas. A norma-padrão é um ideal de língua, uma abstração.

R
P
Marcos Bagno, A língua de Eulália – novela sociolinguística,
Ed. Contexto, 16.a edição (extracto), pp. 158-159

Para saberes onde o português é falado, lê com atenção o texto seguinte.

Texto B

Português no Mundo
Actualmente, o português é língua oficial de nove países (Portugal,
Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e
Príncipe, Timor-Leste e Guiné Equatorial). Apesar da incorporação de
vocábulos nativos e de modificações gramaticais e de pronúncia próprias
5 de cada país, as línguas mantêm uma unidade com o português de Portugal.
O português também é falado em pequenas comunidades, reflexão de
povoamentos portugueses datados do século XVI, como é o caso de:
• Zanzibar (na Tanzânia, costa oriental da África);
• Macau (ex-possessão portuguesa encravada na China);
10 • Goa, Diu, Damão (na Índia);
• Málaca (na Malásia).

A Língua Portuguesa se faz presente em todos os continentes. Observe:


América: O Brasil é o único país de Língua Portuguesa na América.
Durante o período colonial, o português falado no Brasil foi influenciado
15 pelas línguas indígenas, africanas e de imigrantes europeus. Isso explica as
diferenças regionais na pronúncia e no vocabulário verificadas, por
exemplo, no nordeste e no sul do país.

Países com língua oficial portuguesa

19
1 Comunicação e linguagem

Europa: O português é a língua oficial de


Portugal. Em 1986, o país passa a integrar a
20 Comunidade Económica Europeia (CEE) e a

R
Língua Portuguesa é adoptada como um dos

P
idiomas oficiais da organização. Existem
falantes concentrados em França, na
Alemanha, na Bélgica, em Luxemburgo e na
25 Suécia, sendo França o país com mais
falantes.
Ásia: Entre os séculos XVI e XVIII, o
português actuou como língua franca nos portos da Índia e sudeste da Ásia.
Actualmente, a cidade de Goa, na Índia, é o único lugar do continente onde
30 o português sobrevive na sua forma original. Entretanto, o idioma está sendo
gradualmente substituído pelo inglês. Em Damão e Diu (Índia), Java
(Indonésia), Macau (ex-território português), Sri Lanka e Málaca (Malásia)
fala-se o crioulo, língua que conserva o vocabulário do português, mas
adopta formas gramaticais diferentes.
35 Oceania: O português é idioma oficial em Timor-Leste. No entanto, a
língua dominante no país é o tétum. Devido à recente ocupação indonésia,
grande parte da população compreende o indonésio bahasa, mas apenas
uma minoria compreende o português.
África: O português é a língua oficial de cinco países, sendo usado na
40 administração, no ensino, na imprensa e nas relações internacionais. A
língua convive com diversos outros idiomas.

Em Angola, cerca de 60% da população fala o português como língua


materna. Os restantes 40% falam línguas de origem bantu, sendo as mais
faladas o Kikongo, o Kimbundu, o Umbundu.
45 Em Cabo Verde, quase todos os habitantes falam o português e o crioulo
cabo-verdiano, que mescla o português arcaico a línguas africanas. Há duas
variedades desse crioulo, a de Barlavento e a de Sotavento.
Na Guiné-Bissau, uns 90% da população fala crioulo guineense ou
línguas africanas, enquanto apenas cerca de 10% utiliza o português.
50 Em Moçambique, somente uns 0,18% da população consideram o
português como língua oficial, embora seja falado por mais de 2 milhões de
moçambicanos. A maioria dos habitantes usa línguas locais, principalmente
as do grupo bantu.
Nas ilhas de São Tomé e Príncipe, apenas uns 2,5% dos habitantes falam
55 a língua portuguesa. A maioria utiliza línguas locais, tais como o crioulo
santomense (também conhecido por forro) e o angolar.
Para concluir, desde 2010 o Português é a terceira língua oficial da
República da Guiné Equatorial, cujos primeiros contactos com os navegadores
portugueses remontam à segunda metade do séc. XV.
in http://www.soportugues.com.br/secoes/portuguesMundo.php
(acedido em 28/12/2013 – texto adaptado e com supressões)

20
1.7 A língua portuguesa no mundo

Lê e compreende

R
1. Presta agora atenção ao extracto retirado do Texto A.

P «Existe um conjunto enorme de regras para o uso da língua que


compõem uma norma, um padrão de língua, mas que, na realidade,
não é uma variedade, pois ninguém obedece rigidamente a todas
aquelas regras ali prescritas, nem mesmo o falante mais culto, mais
escolarizado, mais preocupado em controlar sua fala ou sua escrita.
Esse falante pode até conseguir respeitar uma boa percentagem das
regras padronizadas, mas nunca respeitará todas elas.»

1.1. Concordas com esta afirmação? Justifica.


1.2. A que variedade do português pertence o Texto A? E o Texto B? Justifica a tua
resposta.
2. Atenta, agora, no Texto B.
2.1. Enumera os países onde o português é a língua oficial.
2.2. Em que localidades a Língua Portuguesa é falada por comunidades pequenas?
2.3. Em Angola, o português convive com outras línguas. Cita outras além das constantes
do texto.
2.4. Qual é o novo país que adoptou o português como língua oficial? A que continente
pertence?

Experimenta, aprende e fala


1. Irás desenvolver um trabalho prático sobre o português-padrão e as suas variedades. Para
isso, respeita as seguintes etapas:
• 1.ª etapa: Grava-te falando no Skype com um amigo – ou conversando por escrito com
ele via internet – sobre assuntos do quotidiano (escola, rapazes, raparigas, roupas,
aparelhos electrónicos de última geração, etc.).
• 2.ª etapa: Faz o mesmo quando apresentares um trabalho de pesquisa numa aula, lendo
e explicando os dados da tua investigação ao professor e aos colegas.
• 3.ª etapa: Depois de analisares os registos de vídeo/áudio, responde às seguintes questões:
a) Em que situação é que procuraste obedecer com mais esforço às regras padronizadas?
b) Porque é que assim aconteceu?
c) A que conclusão chegaste? Concordas com as ideias no excerto acima ou discordas
delas? Fundamenta a tua opinião.
• 4.ª etapa: Para concluir, apresenta as tuas reflexões à turma.

21
1 Comunicação e linguagem

Pesquisa, aprende e debate

R
1. Procura um dicionário, preferencialmente de termos linguísticos, ou acede à internet e

P
pesquisa os seguintes conceitos:
• Língua oficial • Língua franca • Crioulo
1.1. Explica por que razão o português tem a função de língua oficial em Angola.
1.2. Enumera os crioulos que derivaram da Língua Portuguesa e refere pelo menos um
cantor que use um dos crioulos de base portuguesa nas suas canções.
1.3. Apresenta as tuas conclusões à turma.
2. Dá exemplos das variedades:
a) geográficas (Norte e Sul de Angola);
b) sociais (zungueiras, cobradores de táxi, professores);
c) situacionais (conversa de aluno com director, conversa entre colegas de escola no inter-
valo ou entre amigos no Facebook).
3. Debate com os teus colegas e professor sobre o tema seguinte.
Que medidas adoptar para a oficialização das línguas angolanas de origem bantu?

Lê com atenção o texto seguinte.

Texto C
O ato social, cultural e político de nomear uma língua é um processo
muito mais complexo e conflituoso do que a maioria das pessoas imagina.
Antes de tudo, justamente por ser um ato político, ele escapa alegremente do
domínio restrito dos especialistas em linguística e exige uma abordagem
5 sócio-histórica bem embasada. E quando aplicamos essa abordagem às
diferentes situações sociolinguísticas do mundo, encontramos, no mínimo,
duas tipologias bem distintas: (1) línguas iguais com nomes diferentes e
(2) línguas diferentes com nomes iguais.
O caso do português entra nessa segunda situação, ou seja, línguas
10 diferentes do ponto de vista estrutural e dos usos (fonológico, morfossintático,
semântico, pragmático, etc.), mas que recebem o mesmo nome. Já sabemos
que o nome das línguas não depende das opiniões dos especialistas. No caso
do Brasil, ocorreu, na década de 1930, uma tentativa de designar a nossa
língua majoritária como “brasileiro”, mas o projeto de lei que previa essa
15 designação se afogou no meio do turbilhão político que acabou por instituir
o Estado Novo e a ditadura de Getúlio Vargas.
Uma análise racional pode partir da seguinte pergunta: por que, 500 anos
depois do desmoronamento do Império Romano, a bibliografia especializada
já reconhece a existência de “línguas” como o francês, o castelhano e o

22
1.7 A língua portuguesa no mundo

20 português, mas não reconhece, 500 anos depois da expansão marítima


portuguesa, a existência de diversas “línguas” derivadas do português
quinhentista? Por que a mesma porção de tempo vale para uma classificação

R
(línguas românicas: francês, espanhol, português, etc.) mas não vale para

P
outra (“variedades” do português)?
25 As pesquisas linguísticas empreendidas no Brasil têm demonstrado
amplamente que o português europeu e o português brasileiro já são duas
línguas diferentes, tanto do ponto de vista estrutural (fonológico,
morfossintático, semântico), quanto do ponto de vista pragmático,
discursivo, etc. Seja qual for o nome que se dê a cada uma dessas línguas, o
30 importante é reconhecer sua diferença e, principalmente, reconhecer que o
português brasileiro é uma língua plena, autônoma, um sistema linguístico
perfeitamente regrado e que nada tem de inferior a língua nenhuma do
mundo, muito menos ao português europeu. Pelo contrário, o português
brasileiro apresenta características únicas, que atraem a atenção dos
35 linguistas estrangeiros, intrigados com esses fenômenos estruturais que
isolam a nossa língua dentro do conjunto geral das línguas românicas.
Marcos Bagno, in http://ilcao.cedilha.net/?p=11212
(acedido em 05/12/2013 – texto adaptado e com supressões)

Lê e compreende
1. Identifica a variedade do português no texto acima, justificando com excertos do mesmo
(por exemplo, vocabulário, ortografia e posição dos pronomes pessoais).
2. Atenta no seguinte fragmento do texto.

«As pesquisas linguísticas empreendidas no Brasil têm demonstrado


amplamente que o português europeu e o português brasileiro já são
duas línguas diferentes, tanto do ponto de vista estrutural (fonológico,
morfossintático, semântico), quanto do ponto de vista pragmático,
discursivo, etc.»

2.1. Dá exemplos de diferenças entre a variedade do português brasileira e a europeia nos
seguintes aspectos:
a) Fonológico (ligado à pronúncia das palavras);
b) Sintáctico (relacionado com a organização das palavras nas frases);
c) Semântico (relativo ao significado dos vocábulos).
3. No texto, é referido que as línguas apresentam diferenças tendo em conta o ponto de vista
pragmático e o ponto de vista discursivo.
3.1. Consulta um Dicionário de Termos Linguísticos ou uma gramática (em suporte de
papel ou na internet) e explica em consiste cada um desses pontos de vista.

23
1 Comunicação e linguagem

Texto D

Nos próximos dez anos seremos

R
P
300 milhões a falar português
O universo de falantes de português varia consoante se inclua a população
total dos oito países lusófonos, ou só a parte que fala de facto o português. O
número de pessoas também se altera se contarmos – ou não – “aquilo que
poderíamos chamar um outro país”, segundo as palavras da presidente do
5 Instituto Camões Ana Paula Laborinho, o país das diásporas e que só no caso
de Portugal representa 4,8 milhões de pessoas e no caso do Brasil três
milhões.
Mas a tendência de crescimento não deixa dúvidas. Com os 250 milhões
de pessoas a falar português em todo o mundo, a perspectiva é para que
10 sejam 300 milhões nos próximos cinco a dez anos.
“Com uma população jovem em grande crescimento [nos países
lusófonos], há uma previsão de um aumento significativo dos falantes dentro
de cinco a dez anos”, disse ao Público Ana Paula Laborinho. A população
jovem que fala português também explica a conquista do mundo digital.
15 Na internet, o português já é a quinta língua mais usada. Nas redes sociais
– Facebook e Twitter – é a terceira. Também alcançou esse ranking, terceiro
mundial, nos negócios de gás e petróleo, em grande parte graças a Angola e
Brasil.
“Nos próximos cinco a dez anos, mais de 300 milhões de pessoas no
20 mundo serão falantes de português”, diz a responsável, numa altura em que
Portugal se prepara para acolher a 2.ª Conferência sobre a Língua Portuguesa
no Sistema Mundial, que se realiza esta terça e quarta-feira na Aula Magna
da Reitoria da Universidade de Lisboa.
in http://www.publico.pt/cultura/noticia/nos-proximos-dez-anos-seremos-300-milhoes-a-falar-
portugues-1610625 (acedido em 28/12/2013 – texto com supressões)

24
1.7 A língua portuguesa no mundo

Lê e compreende

R
1. De acordo com o texto, que percentagem de aumento se estima que terá a população lu-

P
sófona daqui a uma década?
1.1. Comprova a tua resposta com uma citação do texto.
2. Com base nos terceiro e quarto parágrafos, a Língua Portuguesa tem ganhado muito es-
paço na internet.
2.1. A que se deve este fenómeno?
3. Segundo o parágrafo inicial, que critérios se pode usar para determinar o número de falan-
tes de português?
3.1. Na tua opinião, qual é o critério mais válido? Justifica.

Ouve
1. Vais ouvir uma notícia sobre o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (www.
dw.com/pt).
1.1. Preenche o quadro, no teu caderno, com as informações ouvidas.

Nome e função dos Situação do Acordo Situação do Acordo Países lusófonos


intervenientes Ortográfico nos PALOP Ortográfico em Portugal não mencionados

2. Transcreve integralmente a notícia depois de a ouvires com muita atenção.

Pesquisa, escreve e fala

1. Usa a internet para recolheres os seguintes dados:


a) Posição que ocupa o português na lista das línguas mais faladas no Mundo;
b) O uso do português nas organizações internacionais (ONU, OPEP, UE, UA).

1.1. E m seguida, redige um texto com os dados encontrados, apresentando as causas


dos mesmos e algumas sugestões para alcançar uma maior internacionalização
da nossa língua.
1.2. Por último, apresenta as tuas conclusões à turma.

25
1 Comunicação e linguagem

1.8 Variação do português no tempo – sincronia e


diacronia

R
P
Lê, atentamente, os dois poemas que se seguem.

Texto A
Digades, filha, mia filha velida1, 10 Tardei, mia madre, na fria fontana,
por que tardastes na fontana fria? cervos do monte volv[i]am a áugua.
Os amores hei2. Os amores hei.

Digades, filha, mia filha louçana1, Mentir, mia filha, mentir por amigo,
5 por que tardastes na fria fontana? nunca vi cervo que volvesse o rio.
Os amores hei. 15 Os amores hei.

Tardei, mia madre, na fontana fria, Mentir, mia filha, mentir por amado,
cervos3 do monte a áugua volv[i]am. nunca vi cervo que volvess'o alto4;
Os amores hei. Os amores hei.
Pero Meogo (in http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1221&pv=sim – acedido em 07/03/2014)

1 formosa; 2 tenho; 3 veados; 4 alto mar (rio).

Texto B
Tinha um cravo no meu balcão:
Veio um rapaz e pediu-mo
– Mãe, dou-lho ou não?

Sentada, bordava um lenço de mão;


5 Veio um rapaz e pediu-mo
– Mãe, dou-lho ou não?

Dei um cravo e dei um lenço,


Só não dei o coração;
Mas se o rapaz mo pedir
10 – Mãe, dou-lho ou não?
Eugénio de Andrade, Poesia e Prosa, 4.ª edição,
O Jornal/Limiar (1990)

Cada um dos textos corresponde a um estádio da evolução da língua portuguesa: o Texto


A foi escrito na Idade Média; o Texto B é actual, contemporâneo. Representam, por conse-
guinte, fases diferentes da língua.

26
1.8 Variação do português no tempo – sincronia e diacronia

Como sabemos, tudo evolui e se transforma com o tempo. E, assim, a língua pode ser ana-
lisada sob duas perspectivas:

R

Tendo em conta o seu estudo num dado momento histórico (estudo estático ou sincró-

P
nico) – sincronia.
Se estudarmos isoladamente cada um dos textos do ponto de vista da escrita, pronún-
cia, ordenação das frases e significado das palavras, estamos diante da perspectiva
sincrónica.


Tendo em conta a evolução que as palavras sofrem através dos tempos, quer quanto ao
significante, quer quanto ao significado (perspectiva histórica ou diacrónica) – diacronia.
Se compararmos, por exemplo, os dois textos, vamos verificar que há:
• palavras que mudaram de forma – madre (mãe), cervos (veados);
• palavras com sentido diferente – amigo (namorado);
• palavras com alteração de pronúncia – áugua (água).

Assim, podemos concluir que a língua evoluiu no que toca à pronúncia, à escrita e ao
significado.

Lê e compreende
1. Identifica, no Texto A, como se escreviam as seguintes palavras e/ou expressões e trans-
creve-as.
a) Diz, minha filha
b) Tenho amores / estou apaixonada
c) mexeram

2. Podemos, através destes exemplos, concluir que a língua (marca com um X a opção certa):
é estática, isto é, não sofre alterações através dos tempos.
é dinâmica, isto é, vai sofrendo evoluções.

3. Lê a seguinte afirmação.

A língua pode ser estudada tendo em conta a sua evolução. Mas também pode ser estudada
tendo em conta um dado momento histórico (Ex.: séc. XV ou séc. XX).

3.1. Mostra que a afirmação acima apresentada é verdadeira.

4. Actualmente, em Angola (no Norte e no Sul, por exemplo), há formas diferentes de usar a
Língua Portuguesa.
4.1. Achas que essas diferenças enriquecem ou empobrecem a língua? Apresenta pelo
menos três argumentos que justifiquem a tua opinião.

27
1 Comunicação e linguagem

1.9 Breves noções sobre textualidade

R
Vamos agora apresentar dois conceitos: o de texto e o de textualidade.

P
Texto: é a produção linguística, oral ou escrita e de qualquer dimensão, que compreende
uma unidade semântica. Isto quer dizer que uma conserva e um cartaz publicitário são tex-
tos tais como uma notícia, um poema ou um romance.

Textualidade: consiste no conjunto de características que fazem do texto uma unidade


complexa de sentido, não apenas um aglomerado de frases desconexas. Algumas destas ca-
racterísticas são a coesão e a coerência, sobre as quais vamos falar com certa profundidade
no capítulo 4.

Texto literário e texto não-literário


Lê os seguintes textos.

Texto A

Partida para o contrato


O rosto retrata a alma se afogam
amarfanhada pelo sofrimento no mar
escurecendo
Nesta hora de pranto
o céu escurecendo a terra
vespertina e ensanguentada
e a alma de mulher
Manuel
o seu amor Não há luz
partiu para S. Tomé não há estrelas no céu escuro
para lá do mar Tudo na terra é sombra
Até quando? Não há luz
Além no horizonte repentinos Não há norte na alma da mulher
o sol e o barco Negrura
Só negrura...
Agostinho Neto, Sagrada Esperança, Edições Maianga, 2004

28
1.9 Breves noções sobre textualidade

Texto B

Nani reaparece em palco na

R
P
abertura da temporada anual
do Centro Cultural Kilamba
Mostrando ao público que apesar das vicissitudes continua igual a si
mesma, Nani, numa total versatilidade, deixou em palco o que de melhor
fez em termos musicais, contagiando os presentes com a qualidade vocal
que sempre a caracterizou em pé de dança.
5 Bem sincronizada em termos vocais, Nani viu o seu esforço recompensado
com o “assalto” da pista de dança do público, com destaque para a ministra
da Cultura, Rosa Cruz e Silva, que fez questão de estar presente no local.
Apesar de ser uma jornada em que também era dedicada a homenagem
ao cantor Augusto Chacaia, Nani monopolizou a atenção de quem fez
10 questão de deixar a comodidade de casa para passar uns momentos de
diversão no Kilamba, ao ritmo do melhor da música angolana.
in http://www.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/noticias/lazer-e-cultura (acedido em 10/02/2014)

Como pudeste notar, o Texto A é um poema e o Texto B, uma notícia. A última pertence
ao grupo dos textos não-literários e a composição intitulada «Partida para o contrato» é um
texto literário.

Vê as razões desta classificação no quadro abaixo.

Texto literário Texto não-literário


1. Privilegia a dimensão estética da linguagem, 1. Privilegia o uso da função informativa da
fazendo uso frequente da função poética. linguagem.
Ex.: « Além no horizonte repentinos o sol e o Ex.: « Nani reaparece em palco na abertura da
barco se afogam no mar» (Texto A) temporada anual do Centro Cultural
Kilamba» (Texto B)
2. É conotativo e plurissignificativo, pois nele as 2. É denotativo e objectivo, pois as palavras são
palavras podem adquirir vários significados. empregadas com o seu sentido literal.
Ex.: « Não há norte na alma da mulher» (Texto A). Ex.: « Nani, numa total versatilidade, deixou em
Neste excerto, a palavra «norte» não significa palco o que de melhor fez em termos
um ponto cardeal, mas é uma metáfora da musicais» (Texto B)
desorientação que a mulher sente pela partida
do seu amado.
3. Tem finalidade essencialmente recreativa, ou 3. Tem finalidade essencialmente utilitária
seja, serve para entreter, divertir. (informar, explicar, argumentar, aconselhar,
etc.).

29
1 Comunicação e linguagem

Lê e compreende

R
1. Analisa os dois textos abaixo.

P
1.1. Identifica qual é o literário e o não-literário, justificando a tua escolha com base nos
conteúdos estudados anteriormente.

a.
«Actualmente os antigos combatentes contribuem para a manutenção
da paz sendo fonte histórica de patriotismo e tendo a missão de
transmitir às novas gerações valores culturais relacionados com as
conquistas desde o tempo colonial até aos dias de hoje.»
in http://jornaldeangola.sapo.ao/reportagem/herois_da_patria_sao_recordados
(acedido em 15/01/2014)

b.
“As saudades moram quimeras perdidas, moram vontades esquecidas,
moram verdades acumuladas nesta alma que a terra comerá.
Leva-me.(…)»
Vítor Burity da Silva, Jornal Cultura, 14 a 27 de Outubro de 2013, p. 2

Agora aprende um pouco mais sobre dois tipos de texto não-literários: o explicativo e o
informativo.

Texto explicativo: esta é uma tipologia textual cujo objectivo principal é expor e explicar
algo. Para isso, apresenta características tais como:
• vocabulário específico ligado a uma área do conhecimento, por exemplo, em Linguís-
tica: diglossia, língua veicular, fonema, léxico, etc.
• emprego do tempo presente do modo indicativo para apresentar realidades univer-
salmente aceites: O ponto de ebulição da água é 100ºC.
• frases do tipo declarativo: Química é a ciência que se ocupa do estudo das substâncias.

As enciclopédias, os dicionários, os manuais escolares, como este que estás a ler, perten-
cem a esta tipologia textual.

Texto informativo: esta tipologia tem a finalidade de dar informações de âmbito gené-
rico ou específico. Apresenta, entre outras, as seguintes características:
• linguagem objectiva;
• ausência de juízos de valor ou opiniões pessoais;
• citações das fontes de informação, a fim de transmitir um certo grau de imparcialidade.

Os jornais, as revistas e os programas noticiosos televisivos e radiofónicos são exemplos


desta tipologia textual.

30
1.9 Breves noções sobre textualidade

Escreve

R
1. Seguindo as características ora estudadas, produz um texto informativo sobre um evento

P
cultural ocorrido na tua escola.

Lê e compreende
1. Classifica os textos abaixo (informativo/explicativo), fundamentando a tua resposta à luz
dos conteúdos estudados.

a.
Autismo é uma alteração “cerebral” / “comportamental” que afecta a
capacidade da pessoa comunicar, de estabelecer relacionamentos e de
responder apropriadamente ao ambiente que a rodeia.
Algumas crianças, apesar de autistas, apresentam inteligência e fala
intactas, algumas apresentam também retardo mental, mutismo ou
importantes atrasos no desenvolvimento da linguagem. Alguns parecem
fechados e distantes e outros parecem presos a comportamentos
restritos e rígidos padrões de comportamento.
O autismo é mais conhecido como um problema que se manifesta por
um alheamento da criança ou adulto acerca do seu mundo exterior
encontrando-se centrado em si mesmo, ou seja, existem perturbações
das relações afectivas com o meio.
A maioria das crianças não fala e, quando falam, é comum a ecolalia
(repetição de sons ou palavras), inversão pronominal, etc. O
comportamento delas é constituído por actos repetitivos e
estereotipados; não suportam mudanças de ambiente e preferem um
contexto inanimado.
in http://dislexia.do.sapo.pt/autismo.html (acedido em 06/02/2014 – excerto adaptado)

b.
O Programa de Estudos de Mestrado em Ensino da Língua Portuguesa
(LP) e das Literaturas em Língua Portuguesa do ISCED/Luanda dará
início em Março de 2014 à 2.ª edição do Mestrado em Ensino da Língua
Portuguesa e Ensino das Literaturas em Língua Portuguesa, cujas
inscrições para a selecção de candidatos estarão abertas, de 6 a 24 de
Janeiro de 2014.
Objectivos do Curso de Mestrado
• Proporcionar a continuação dos estudos em LP dos licenciados em
Ensino da LP.

31
1 Comunicação e linguagem

• Aprofundar o conhecimento da LP e, paralelamente, a LP usada em


Angola.

R
• Aprofundar o estudo e a investigação da literatura portuguesa dos

P
séculos XIX e XX e as mútuas relações com a literatura angolana.
• Contribuir para a melhoria da capacitação científica e pedagógica
dos professores de LP e de Literaturas de LP.
• Incentivar o desenvolvimento de projectos de pesquisa nas áreas da
Língua Portuguesa e das Literaturas de Língua Portuguesa,
patrocinando um trabalho inovador, crítico e criativo.
• Integrar o Programa na dinâmica do ISCED, marcando a sua presença
crítica e transformadora da realidade angolana.
• Colaborar com centros de pesquisa nacionais e estrangeiros que
desenvolvam projectos de investigação nestas e em outras áreas
transversais das Ciências Humanas e Sociais.
Edital de Mestrado em Ensino da Língua Portuguesa (LP) e das Literaturas em Língua Portuguesa
do Departamento de Língua Portuguesa do ISCED/Luanda (excerto adaptado)

Denotação e conotação
Lê com atenção este texto.

É muito importante percebermos como são utilizadas a conotação e a denotação


no universo linguístico do quotidiano. De facto, muitas são as vezes que, ao falarmos,
fazemos uso de ambos os conceitos sem termos consciência da sua utilização.
Assim, se entendermos por denotação o uso da palavra no seu carácter geral,
5 comum, literal, na sua finalidade prática, utilitária, objectiva e usual, poderemos
exemplificar este conceito da seguinte forma: «A corrente está presa à porta». Nesta
frase o vocábulo em destaque significa grilhão, cadeia de metal, o que nos faz concluir
que se utiliza o signo no seu carácter geral e, por isso, denotativo.
Por outro lado, se entendermos por conotação o emprego do vocábulo no seu
10 sentido figurado, simbólico, expressivo, diferente daquele em que é empregado no
dia-a-dia e dependente do contexto no qual é utilizado, poderemos exemplificar este
conceito do seguinte modo: «A gente vai contra a corrente. /Até não poder resistir
mais» (Chico Buarque de Holanda). Neste contexto, a mesma palavra significa
opinião da maioria, o que nos permite percepcionar a existência de um significado
15 secundário para o vocábulo sublinhado e assim concluir que se utiliza a palavra no
seu sentido figurado e expressivo e, por isso, conotativo.
Concluímos desta forma que «na linguagem coloquial, ou seja, na linguagem do
dia-a-dia, usamos as palavras conforme as situações que nos são apresentadas»
(Gramática on-line, 1999), atribuindo-lhes um sentido conotativo ou denotativo
20 consoante as nossas necessidades expressivas.
Mariana de Barros Aguilar, Conotação e Denotação, Universidade de Lisboa, 2006 (adaptado)

32
1.9 Breves noções sobre textualidade

Lê e compreende

R
1. Com base no texto, explica em que consiste a denotação e a conotação.

P
2. A propósito destes dois conceitos, a autora, para melhor esclarecimento, dá exemplos com
a palavra «corrente».
2.1. Indica os significados atribuídos a esta palavra. Comenta-os.
2.2. Consegues dar mais exemplos? Apresenta pelo menos mais duas palavras e escreve
frases de modo a mostrares o seu sentido conotativo e denotativo.

Ouve
1. Vais ouvir uma entrevista feita a Justino Pinto de Andrade sobre os 40 anos do 25 de Abril
(www.dw.com/pt).
1.1. Transcreve duas frases onde Justino Pinto de Andrade empregou palavras com valor
denotativo, segundo o quadro abaixo.

Palavras com valor denotativo


Frases da entrevista (= significado contextual)
Frase 1

Frase 2

2. Escuta agora o recital do poema «Para depois», de Manuel Rui, no CD À Reconquista –


A Mulembeira Não Pode Secar, de Carlos Ferreira (faixa 22, 2004).
2.1. Explicita o valor conotativo das palavras destacadas nos seguintes excertos:
a) «Adormecer o mar»;
b) «Sorri assim como os dentes de uma fruta»;
c) «Percorre amor geográfico desenho».
2.2. Por fim, produz três frases em que as mesmas
palavras tenham valor denotativo.

PLA-LP10_03
33
Testa os teus conhecimentos

R
P
Compreensão
1 Lê os textos.

a) CLÁUSULA 1.ª
(Definições)
 Investimento Externo: – Significa a introdução e utilização, em Angola, com o recurso a acti-
vos domiciliados dentro e fora do território nacional, por pessoas singulares ou colectivas,
não residentes cambiais, de capitais, tecnologias e know how, bens de equipamentos e ou-
tros, em projectos económicos determinados, ou ainda a utilização daqueles fundos na cria-
ção de novas empresas, agrupamentos de empresas, ou outra forma de representação social
de empresas privadas, nacionais ou estrangeiras, bem como a aquisição da totalidade ou
parte de empresas de direito angolano já existentes, com vista à implementação ou continui-
dade de determinada actividade económica, de acordo com o seu objecto social;
 Investidores Externos: – Significa os segundos outorgantes;
 Investimento Privado: – Significa o projecto de investimento a ser realizado pelos Investido-
res Externos nos termos do presente Contrato.
(Diário da República n.º 3, II série, de 06/02/2014 - extractos)

b) O bureau político lembra que Maria do Carmo Medina integrou a delegação do MPLA nas
negociações dos Acordos de Alvor, em 1975, que definiram os alicerces políticos para a inde-
pendência de Angola em Novembro de 1975.
Formada em Direito em 1948, Maria do Carmo Medina participou em quase todos os julga-
mentos de presos políticos angolanos, no célebre Processo dos 50, em 1959, representando-
-os em inúmeras petições e recursos administrativos, dirigido às entidades coloniais.
Ao mesmo tempo em que apresenta condolências à família, o bureau político lembra que
Maria do Carmo Medina desempenhou as funções de secretária para os Assuntos Jurídicos da
Presidência da República, em 1976, vice-presidente do Tribunal Supremo, em 1990, e de pre-
sidente da mesa da Assembleia-Geral da Associação Angolana de Mulheres Juristas, em 1995.
(«MPLA destaca intervenção de Maria do Carmo Medina», in Jornal de Angola, 12/02/2014 - excertos)

1.1. D
 iz se as seguintes declarações são verdadeiras ou falsas.
1.1.1. Justifica a primeira e a última com elementos do texto.
a) O  uso de valores monetários angolanos no estrangeiro é uma actividade que faz parte do
investimento externo.
b) A  expressão inglesa presente no primeiro parágrafo do texto A refere-se aos conhecimen-
tos técnicos requeridos para a implementação deste projecto de investimento.
c) M  aria do Carmo Medina desempenhou um papel irrelevante nos Acordos de Alvor realiza-
dos na segunda metade do século passado.
d) A  jurista foi advogada da maioria dos arguidos no Processo dos 50.
e) O  bureau político mencionou, na nota de condolências, quatro funções desempenhadas
pela malograda.

34
Unidade 1 Comunicação e linguagem

Funcionamento da língua
1 Identifica, no seguinte diálogo, o enunciador e o enunciatário.

R
P
António,
Já devolvi o livro à biblioteca.
Beijo,
Ana

2 Identifica as funções da linguagem predominantes nos seguintes textos.
a) Pelas ruas desta cidade de Luanda, vêem-se zungueiras de olhar humilde e determinado. Per-
correm as ruas da cidade faça sol ou chuva. Algumas carregam os filhos às costas, ao mesmo
tempo que suportam o peso da mercadoria que vendem. Pode ser fruta doce como a fruta-pi-
nha, a manga perfumada, o abacate da cor da esperança que estas mulheres teimam em pre-
servar, ou sandes bem recheadas com fiambre e queijo. Produtos como roupa, sapatos, livros
escolares ou peixe são outros dos artigos escolhidos por estas lutadoras e provedoras do lar.
in http://pt.globalvoicesonline.org/2008/11/02/angola-zungueiras-enfrentam-vida-dura-com-dignidade-e-coragem
(acedido em 16/01/2014)

b) Caso se tenha esquecido de tomar Supofen


 Tome Supofen assim que se lembrar de acordo com a dose recomendada pelo seu médico ou
farmacêutico.
Não tome uma dose a dobrar para compensar uma dose que se esqueceu de tomar.
Caso ainda tenha dúvidas sobre a utilização deste medicamento, fale com o seu médico ou
farmacêutico.
(excertos da bula do medicamento Supofen)

3 Identifica os registos de língua usados nos textos que se seguem, fundamentando a tua resposta
com base nos conteúdos estudados.
a) « Amiga, pergunta: tem omo de 10 kwanza, sabonete de 50 kwanza, pepsodente de 100
kwanza… Arreou, arreou! Tá bom ou num tá bom? Tá muito bom!!!»
(pregão de uma zungueira)

b) « Angola e Guiné-Bissau sobem em termos de liberdade de imprensa, diz Repórteres sem


Fronteiras.»; «Está marcada primeira audiência no caso do tráfico de mulheres envolvendo
Bento Kangamba.»; «Negociações sírias sem progressos.»
(Destaques de um noticiário, in http://www.dw.de/programas/emiss%C3%B5es/s-9585 – acedido em 12/02/2014)

c) «1. Todos são iguais perante a Constituição e a lei.


2. Ninguém pode ser prejudicado, privilegiado, privado de qualquer direito ou isento de
qualquer dever em razão da sua ascendência, sexo, raça, etnia, cor, deficiência, língua, local
de nascimento, religião, convicções políticas, ideológicas ou filosóficas, grau de instrução,
condição económica ou social ou profissão.»
(artigo 23.º da Constituição da República de Angola 2010)

4 Classifica os seguintes actos de fala, justificando a tua resposta com base no estudo realizado ao
longo da unidade.
a) Podes falar mais baixo? c) O que queres que eu compre?
b) Estás a fazer barulho! d) Desliga o televisor, Tchissola.

35
Testa os teus conhecimentos

5 Lê os seguintes textos.

a) «– Uns franguinhos como vocês, quem é b) «Mocinha, eu sô pobrezinho

R
que vai acreditar que seja capaz de derru- Na minha casa num tenho nada

P
bar uma mulher? Isso devia ser algum xi- Mocinha, eu sô pobrezinho
bungo vestido de menina. (…) Na minha casa dorme no luando
– Tu também se faz de besta. Se quer é só Mocinha, quando quero de mim,
vim com a gente amanhã. Assim tu pode É melhore dizere sim!»
conhecer a zinha, que é um peixão.» (excerto da canção «Amorzinho», de Manré)
(extracto de Capitães de Areia, de Jorge Amado)

5.1. Qual a variedade do português presente no Texto A? E no Texto B?


5.1.1. Justifica a tua resposta apresentando pelo menos dois aspectos distintivos.
6 Atenta nas palavras destacadas de alguns versos de Os Lusíadas, de Luís de Camões, e reescreve­
‑as, actualizando a grafia das mesmas.
a) «Que outro valor mais alto se alevanta.» c) «Que não tenham enveja às de Hipocrene.»
b) «Um estilo grandíloco e corrente» d) «Dai-me ũa fúria grande e sonorosa»
7 Identifica, nos textos abaixo, o texto literário e o não-literário e justifica a tua escolha com exem-
plos de cada texto.
a) RECEBER CHAMADAS
 Atender uma chamada: toque em Atender. Se o iPhone estiver bloqueado, arraste a seta
para a direita. Também pode premir o botão central dos auriculares.
 Responder a uma chamada recebida com uma mensagem de texto: passe o dedo em para
cima, toque em “Enviar mensagem” e, em seguida, escolha uma resposta ou toque em Perso-
nalizar. Para criar as suas próprias respostas predefinidas, vá a Definições > Telefone > “En-
viar mensagem” e substitua qualquer uma das mensagens predefinidas.
(excertos do Manual do utilizador do iPhone-5, p. 47)

b) Vivo uma era anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho
em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele.
Por ali arrasto, até haver noite, uma sensação de vida parecida com a dessas ruas. De dia elas
são cheias de um bulício que não quer dizer nada; de noite são cheias de uma falta de bulício
que não quer dizer nada. Eu de dia sou nulo, e de noite sou eu. Não há diferença entre mim e
as ruas para o lado da Alfândega, salvo elas serem ruas e eu ser alma, o que pode ser que
nada valha, ante o que e a essência das coisas. Há um destino igual, porque é abstracto, para
os homens e para as coisas – uma designação igualmente indiferente na álgebra do mistério.
(Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, 2.ª edição, Editora Brasiliense - adaptado)

8 Recorda os conceitos de conotação e denotação.

8.1. P
 roduz dois pares de frases com sentido denotativo e conotativo nas quais uses as seguintes
palavras. Atenta nas informações dadas entre parênteses.
a) espelho (objecto / exemplo) b) coração (órgão / íntimo)

Escrita
1 Imagina que tens um primo que não sabe usar o computador. Produz um texto no qual lhe expli-
ques como manuseá-lo.
2 Escreve um poema no qual homenageies alguém que te seja querido e, de seguida, identifica a(s)
função(ões) da linguagem que aí predomina(m).

36
Texto

R
P
narrativo

Texto narrativo
2
Unidade

2.1 Conceito e características desta tipolo-


gia textual
2.2 Alguns géneros da narrativa
2.3 Elaboração de um guião de uma história
2.5 Elaboração de conto
2.6 Categorias da narrativa
2.6.1 Estrutura do texto narrativo: intro-
dução, desenvolvimento e conclusão
2.6.2 O narrador
2.6.3 A personagem
2.6.4 O tempo
2.6.5 O espaço
2.6.6 Os modos de representação e de ex-
pressão do discurso
Funcionamento da língua / Escrita
2.4 Relação entre as palavras
2.7 Sistema da língua
2.7.1 Valores semânticos dos tempos ver-
bais: estado, acontecimento, processo
2.7.2 Discurso relatado (directo, indirecto
e indirecto livre)
2.7.3 Marcadores textuais
2.8 Níveis/formas de tratamento
2.9 Normas técnicas de elaboração de re-
sumo e síntese de textos
2 Texto
narrativo

R
P
Vamos, nesta unidade, recordar algumas noções já estudadas nas classes anteriores e
aprofundar os teus conhecimentos em relação à narrativa.

2.1 Conceito e características desta tipologia textual

Lê atentamente o texto seguinte.

Da sua cubata de Samba Kimôngua, velho João saiu com a família, de


manhãzinha muito cedo, e desceu a calçada, atravessou a cidade, toda a
cidade mesmo, até os confins da baixa, passou pela ponte e pisou a ilha.
Mas não já a mesma ilha dos tempos antigos. Pisou uma ilha sem areia,
5 asfaltada, com casas bonitas onde não moram pescadores.
Velho João ia visitar o irmão que estava doente, mas também queria
escapar por algum tempo ao calor da cubata de latas de petróleo. A ilha é
fresca quando se repousa à sombra dos coqueiros contemplando os
pescadores a recolher o peixe.
Excertos do conto «Náusea», de Agostinho Neto,
in http://www.opais.net/pt/opais/?id=1929&det=34364&ss=n%E1usea (acedido em 02/03/2014)

O excerto que acabaste de ler é narrativo, pois possui um narrador (entidade fictícia que
conta a história), várias personagens (velho João, sua família e seu irmão), um aconteci-
mento ou acção (a visita ao irmão doente), um espaço (ilha), um tempo (de manhãzinha).
[Sobre o desenvolvimento das categorias, consultar o ponto 2.6, pág. 64]
O narrador, por um lado, faz uma apresentação das personagens, usando formas verbais
no pretérito perfeito simples do indicativo (saiu, desceu, atravessou, pisou) que indicam um
avanço na história, e, por outro, caracteriza um determinado espaço (cubata de lata, ilha
fresca), pessoas (doente), usando verbos no pretérito imperfeito do indicativo (estava, queria).

2.2 Alguns géneros da narrativa

A narrativa tem um número considerável de géneros textuais. Vamos falar sobre alguns
deles.

38
2.2 Alguns géneros da narrativa

Diário
Características do diário

R
P
É um género que consiste no relato de acontecimentos e experiências pessoais, em tom
confessional, seguindo uma ordem cronológica. O diário pode ou não ser publicado.
Temos como exemplos de diários famosos o do português José Saramago, Cadernos de
Lanzarote, cujo extracto vais analisar, e o Diário de um exílio sem regresso, da angolana Deo-
linda Rodrigues.

Lê o seguinte excerto.

Cão com lágrimas


22 de agosto de 1994

Pela primeira vez em tanto subir e descer de avião, pudemos ver, do alto,
a casa. Com a família toda ausente, em férias, e Luís a trabalhar à hora a que
chegámos, só tínhamos o Pepe a receber-nos. O pobre animal nem podia
acreditar que estávamos ali. Saltava de um para outro, enroscava-se nos
5 nossos braços, gemia de um modo quase humano, e diabos me levem se
não eram lágrimas, das autênticas, o que víamos correr-lhe dos olhos. A
este cão, com perdão da vulgaridade, só lhe falta falar. Mais tarde,
conversando com Pilar, manifestei uma pena: ter vivido sem cães até agora.
Na Azinhaga não faltavam, já se sabe, houve-os em casa dos meus avós, mas
10 não eram meus, olhavam-me desconfiados quando eu lá aparecia depois
de uma ausência e só passados uns dias é que começavam a tolerar-me.
Além disso, estavam ali para guardar a casa e o quintal, valiam pela utilidade
que tinham e só enquanto a tivessem. Não me lembro de que algum deles
chegasse a velho. Pensei nos golfinhos de Edmonton, tão bem ensinados, e,
15 embora não goste de ver exibições de animais amestrados, achei que
alguma razão profunda terá de haver para que certos animais consigam
suportar a presença humana... Perdi essa confiança à noite, vendo na
televisão como um elefante, num circo, matava a patadas e golpes da
tromba o domador, enquanto a música tocava e o público cria que tudo
20 aquilo fazia parte do espectáculo. À noite, quando me
deitei, extenuado por uma viagem de quase vinte e
quatro horas entre voos e esperas de aeroporto,
custou-me a adormecer: via os golfinhos sorridentes, o
elefante enfurecido calcando o corpo já destroçado do
25 domador. Foi então que me lembrei de uma velha
crónica, de 1968, Os Animais Doidos de Cólera, em que
imaginei a insurreição de todos os animais e a morte do
último homem devorado por formigas, pela primeira vez

39
2 Texto narrativo

lutando, não contra a humanidade, mas, agora já inutilmente, para defender


30 o que restava dela... E também me lembrei do poema “12” de O Ano de 1993,
aquele que acaba assim: «Privadas dos animais domésticos as pessoas

R
dedicaram-se activamente ao cultivo de flores / Destas não há que esperar

P
mal se não for dada excessiva importância ao recente caso de uma rosa
carnívora»... Alguma coisa está definitivamente errada no ser humano.
35 Morrerei sem saber o quê.
José Saramago, Cadernos de Lanzarote, in http://caderno.josesaramago.org/tag/cadernos+de+lanzarote
(acedido em 13/03/2014)

Lê e compreende
1. Quem recebeu Saramago ao chegar a casa?
1.1. T endo em conta as ações dessa personagem, reordena as frases apresentadas de acordo
com a sequência do texto.
Procurava o contacto humano.
Soltava lamentos.
Chorava.
Dava pulos com euforia.
2. Que lembranças o autor apresenta sobre Azinhaga, sua terra natal?
3. A que triste episódio Saramago assistiu à noite?
3.1. Que relação se pode estabelecer entre este episódio e o conteúdo da sua crónica de
1968?
4. Comenta o conteúdo das duas últimas frases do texto.
5. Faz o levantamento das características que nos permitem considerar este texto um diário.

Experimenta, aprende e fala


1. Cria um diário, escreve nele o que acontece contigo durante uma semana e, posterior-
mente, apresenta o teu trabalho à turma.
Atenção, os acontecimentos por ti relatados podem ser ficcionados ou não.

28 de Novembro de 2015

Este dia será inesquecível para mim, porque foi neste dia que comecei
a interessar-me pela história da minha família...

40
2.2 Alguns géneros da narrativa

Biografia
Características da biografia

R
P
A biografia é um género cujo objectivo é relatar factos sobre o historial da vida de um
indivíduo. Quando é escrita pela própria pessoa, denomina-se autobiografia.
Nas badanas/orelhas dos livros, costuma aparecer a biografia dos autores.

Lê o seguinte texto.

RODERICK NEHONE, pseudónimo literário de Frederico Manuel dos


Santos e Silva Cardoso, nasceu em Luanda, Angola, a 26 de Março de 1965.
Em 1989 concluiu a Licenciatura em Direito na Universidad Central de Las
Villas, Cuba, e foi docente da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, de
5 1991 a 2004. É membro da Ordem dos Advogados de Angola e vice­
‑presidente da União dos Escritores Angolanos. Roderick Nehone vive em
Luanda, capital da República de Angola.
Roderick Nehone, O ano do cão (2011), 4.ª edição, Mayamba Editora

Lê e compreende
1. Qual é o verdadeiro nome da pessoa de quem se fala neste texto?
2. Onde e quando se formou o autor?
3. Que actividades tem desempenhado desde o final do século passado?
4. Identifica as palavras que permitem comprovar que este texto não é autobiográfico.

Pesquisa, aprende e fala


1. Consulta a internet e pesquisa a biografia das seguintes personalidades:
• Holden Roberto e Nelson Mandela (políticos);
• Cheick Anta Diop e Joseph Ki-Zerbo (historiadores);
• Óscar Ribas e Luandino Vieira (escritores).
1.1. Toma notas sobre uma das figuras à tua escolha e apresenta a informação que re-
colheste à turma.
2. Entrevista um familiar teu (de preferência o pai ou a mãe), questionando-o sobre o
maior número de dados biográficos e factos sobre a sua vida possível.
2.1. De seguida, produz uma breve biografia da pessoa entrevistada.
2.2. Por último, apresenta a biografia à turma.

41
2 Texto narrativo

Outros textos

R
Lê a seguinte letra da música de Paulo Flores.

10
P
Angola que canta
Numa corda de viola numa estrada principal
Angola que canta
No trilho do sonho na força do grito do Marçal
Angola que canta
Na vida de choro que morreu sozinho
Angola que canta
Vem comigo meu amor meu amigo meu vizinho
Segue o meu caminho vem ouvir
Angola que canta

Na fúria da onda da nossa calema


25

30
Kota Lourdes kota Elias Carlos Vieira Dias
Força aqui força lá...
Angola que canta

Viriato minha cruz tua Angola me seduz


Força aqui força lá...
Angola que canta

Teta Lando vai seguir cantando


Eu vou voltar...
Angola que canta

Da ginga do puto na finta do esquema Eleutério vai pintar uma Angola pra eu cantar
Na nova esperança cadê o problema Força aqui força lá...
Angola que canta Angola que canta

Desse meu abraço sincero apertado Seja prosa ou poesia é linda a voz de Sofia Rosa
15 Te espero a meu lado a ouvir 35 Ser Ruy Mingas Manuel Rui ser a Angola que eu já fui
Angola que canta Força aqui força lá...
Angola que canta
Na sorte adiada na espera do sonho capital
Angola que canta  arlos Burity cantou o semba Bonga Kuenda na massemba
C
No domingo vou à ilha ver a Banda Maravilha
Põe essa tristeza de lado veste este sorriso
40 Brilha no céu kota Liceu num poema de Jacinto
20 Não faz mal
Por tudo isso vos pinto uma Angola que canta
Angola que canta
Angola que canta
Paulo Flores, Recompasso, faixa n.º 12 (1999)

1. Sublinha os nomes das figuras históricas da música angolana referidas no texto.


2. De seguida, pesquisa a sua bibliografia (pode ser na internet) para recolheres dados sobre
pelo menos três individualidades.
3. Produz, no teu caderno, um quadro de três colunas com os seguintes dados das figuras
históricas cujas biografias pesquisaste: Nome completo; Data e local de nascimento; Acti-
vidades desenvolvidas.
4. Com os dados recolhidos, escreve uma breve biografia de cada um e apresenta-as à turma.

42
2.2 Alguns géneros da narrativa

Anedota
Características da anedota

R
P
A anedota é um género narrativo cómico, ou seja, tem a função de contar uma breve his-
tória engraçada, que pretende divertir os outros.

Lê com atenção o texto abaixo.

Um camionista vê à beira da estrada um pequeno homem vestido com


uma camisola amarela a chorar.
Ele pára e pergunta-lhe o que se passa:
– Estou com esta roupa há dois dias, venho de Vénus e também estou
5 com fome.
– Bem – diz o camionista – posso dar-te uma sandes, mas, quanto ao
resto, não posso fazer nada.
Ele dá-lhe a sandes e continua o caminho. Um pouco mais além, vê um
pequeno homem, de camisola vermelha, que também está a chorar.
10 Ele para outra vez e pergunta-lhe o que se passa:
– Sou pobre, venho de Marte e estou com muita sede.
– Posso oferecer-te um refrigerante, mas para o resto não te vou poder
ajudar.
Ele dá o refrigerante e continua o seu caminho…
15 Um pouco mais longe, vê outro homem vestido de azul. Admirado e já
farto com aquela cena, grita:
– Então, homem… de que estúpido planeta é que tu vens?
E o pequeno homem diz:
– Carta de condução e documentos do carro, se faz favor…
Jornal de Angola, 25/03/2014, p. 42

Lê e compreende
1. Selecciona a alínea que completa correctamente as frases seguintes:
1.1. O camionista encontra-se na primeira vez com um
homem vestido com camisola vermelha.
homem vestido de azul.
homem vestido com camisola amarela.
1.2. Perante o homem de camisola amarela, o camionista
mostra-se solidário e ajuda-o como pode.
reage com irritação.
mostra-se solidário, mas afirma não o poder ajudar.

43
2 Texto narrativo

1.3. Para ajudar o homem de camisola vermelha, o camionista


oferece-lhe boleia.

R
dá-lhe uma sandes.

P
entrega-lhe um refrigerante.
1.4. Pela resposta dada, o terceiro homem é
um polícia.
um bombeiro.
um mecânico.
2. Procura explicar a possível relação entre as cores das roupas e os respectivos planetas.
3. Qual é o aspecto cómico/engraçado da história?

Escreve e fala
1. Produz duas anedotas, escreve-as e apresenta-as à turma.

Banda desenhada
Características da banda desenhada
A banda desenhada consiste num tipo de texto narrativo que alia a linguagem escrita ao
desenho. Neste género, as falas e os pensamentos das personagens aparecem no interior de
balões, que têm, no entanto, aspectos distintos.

Estes são os modos de apresentação da banda desenhada:

Prancha – página completa de


banda desenhada.

Tira – cada segmento horizontal


de uma prancha.

Vinheta – cada um dos quadradi-


nhos que constituem uma tira.

Atenção!
Em Língua Portuguesa, algumas histórias em
banda desenhada mais divulgadas são:
• Man’Kiko e Parada dos Kandengues (Angola);
• Chico Bento e A Turma da Mônica (Brasil).
Podes ler essas histórias na internet.

44
2.2 Alguns géneros da narrativa

Lê o seguinte texto ilustrado.

R
P
Revista Parada dos Kandengues, n.º 15, EAL, pp. 17-18

Lê e compreende
1. Que surpresa fez Salvadorzinho a Teté?
1.1. Qual o motivo da surpresa?
2. Qual foi a reacção da rapariga à surpresa?
3. O que estava a acontecer na realidade?
3.1. Como é que isso é evidenciado nas vinhetas que constituem a história?
4. Como reagiram os amigos de Teté ao aperceber-se do sucedido?
4.1. Qual foi a reacção do cão?

Escreve e fala
1. Cria uma banda desenhada cujas personagens sejam alguns colegas e professores teus.
No final, apresenta-a à turma.

45
2 Texto narrativo

Conto
Características do conto

R
P
O conto é um texto literário que narra uma história breve com uma só acção e numa lin-
guagem concisa, onde aparecem poucas personagens a movimentar-se num espaço limi-
tado e num tempo curto.

Faz agora uma leitura atenta deste texto.

Joaquim e Catarina
Caminhava Catarina nesses pensamentos, quando Joaquim, de chofre, lhe
aparece na frente. Aproximando-se, aperta-lhe afectuosamente a mão, e, ao
retirá-la, deixa-lhe um anel de prata. E ela, a querer e a não querer o brinde,
após tartamudas negativas, fica-se com um sorriso idiota:
5 – Ah! Não, não! Toma o teu anel! Não quero! Obrigada.
– Não me faças essa desfeita! Fica com isso! Mesmo aborrecida, aceita, o
meu coração é que te quer dar.
Os presentes encadeavam-se. Catarina comprazia-se com essas
manifestações, reputava-as como testemunho de muito afecto. Mas não lhe
10 dizia que sim, convinha demorar a resposta. Já gostava dele, porém devia
proceder de maneira que a não tomasse por leviana. A boca da mulher, que
inferno para positivar a conformidade afectiva!
Rolam dias sem afirmativas nem negativas. Uma noite, noite nevada de
luar, estando os dois nas traseiras do quintal de Catarina, Joaquim fala-lhe
15 mais ao coração: conta-lhe sua constante tristeza, em súplicas se desfaz
para obter o sim. Catarina, hesitante, apresenta subterfúgios. Entretanto
deliciava-se com o ardor da insistência. Mas não se decidia, o pudor
embaraçava-a. Joaquim, no entanto, teimava: aceitasse, não tivesse medo,
ele não queria brincar. Catarina, sempre esquiva, mantinha a angustiosa
20 indecisão. Joaquim, subitamente contrariado, cala-se. (…)
Ecoados minutos, Joaquim manifesta despedir-se:
– Bem: não queres, não é? Depois não te arrependas… Fica com Deus!
– Não te zangues só! Aceito sim – cicia enternecidamente Catarina, em
nervoso aperto de mão.
25 Envergonhada, foge de manso, num ângulo da cercadura do quintal
desaparece com amorável aceno. (…)
No dia seguinte, em confirmação da resposta, Catarina manda-lhe o
tradicional presente. E com que cuidados não o preparou! A cola e o
gengibre foram envolvidos num lencinho de algibeira, a garrafa de quitoto
30 num guardanapo, e tudo acomodado em bonita quinda: queria que a
dádiva calasse fundo no coração de Joaquim.
Namoram às escondidas durante meses.

46
2.2 Alguns géneros da narrativa

Uma tarde, duas mulhe-


res idosas vão à casa de Ca-
tarina. Com ar grave, a que o

R
35
esmero do traje dava mais

P
lustre, pedem à família o
consentimento de namoro.
Inquiridos os usuais porme-
40 nores sobre Joaquim, a res-
posta da mãe, salpicada de
gracinhas, sai favorável:
– Se eles se querem, na-
morem à vontade: também
45 já passámos por estes boca-
dos… Apenas o que não
queremos são filhos antes
do tempo…
Para se evitar a aceitação de outro pretendente, volvidos dois meses as
50 mesmas emissárias tornam com oferta de Joaquim: para Catarina um
vistoso turbante e uma muda de panos de riscado; e para a futura sogra,
uma botelha de aguardente, uma porção de tabaco, bocados de cola e
gengibre e um cachimbo.
Transcorrem mais uns meses. As referidas mensageiras, vestidas com o
55 aparato anterior, cumprem nova incumbência: fazem o pedido de
casamento. E pouco antes do conúbio, voltam para entregar o alembamento.
Constava de riscado e cassa para duas mudas de panos, um turbante, duas
garrafas de aguardente, duas de vinho tinto, uma botija de genebra e três
mil e seiscentos réis.
Óscar Ribas, Wanga (2009), Ministério da Cultura, pp. 42-44 (texto com supressões)

Lê e compreende
1. Diz se as seguintes afirmações são verdadeiras (V) ou falsas (F), de acordo com o texto. Em
seguida, corrige as falsas.
a) Joaquim ofereceu a Catarina uma pulseira de prata.
b) Catarina ficou muito contente e aceitou o presente sem pestanejar.
c) Catarina reagiu desse modo para mostrar que era uma rapariga séria.
d) Joaquim ameaçou Catarina caso esta não se decidisse e lhe desse uma resposta.
e) No dia seguinte, Catarina mandou-lhe uma carta a fim de formalizar aquela situação.
f) As “tias” de Joaquim não concordaram com o relacionamento dos jovens.
2. Comenta a moral implícita nas palavras da mãe de Catarina (ll. 43-48).
3. Refere a importância dos produtos constantes do alembamento de Joaquim a Catarina.

47
2 Texto narrativo

4. Agora completa o quadro-síntese em que se analisa o conto trabalhado.

CONTO

R
P
Características Exemplos

Espaço limitado
(numa rua, num quarto, numa sala, num
quintal, etc.)

«Rolam dias sem afirmativas nem negativas.»


(parágrafo 5);
Tempo curto
(horas ou dias; quando se dilata, aparece
apenas numa breve referência)
«Transcorrem mais alguns meses.» (último
parágrafo).
Poucas personagens Catarina, ,
(contribuindo para a condensação da e mãe de Catarina
história)
Acção
(apenas uma, pois as outras prováveis,
quer passadas quer futuras, são pouco
relevantes para a história)

Outros textos
Lê o seguinte texto.

Um homem estava descendo de


Jerusalém para Jericó. No caminho
alguns ladrões o assaltaram, tiraram a
sua roupa, bateram nele e o deixaram
5 quase morto. Acontece que um sacerdote
estava descendo por aquele mesmo
caminho. Quando viu o homem, tratou
de passar pe lo outro lado da estrada.
Também um levita passou por ali. Olhou
10 e também foi embora pelo outro lado da
estrada. Mas um samaritano que estava
viajando por aquele caminho chegou até
ali. Depois disso, o samaritano colocou-o
no seu próprio animal e o levou para uma pensão, onde cuidou dele. No dia
15 seguinte, entregou duas moedas de prata ao dono da pensão, dizendo:
— Tome conta dele. Quando eu passar por aqui na volta, pagarei o que
você gastar a mais com ele.
Extractos do Evangelho de Lucas, Nova Tradução na Linguagem de Hoje,
in https://www.bible.com/pt-BR/versions/211 (acedido em 25/03/2014)

48
2.2 Alguns géneros da narrativa

Lê e compreende

R
1. Identifica as categorias da narrativa presentes no texto, preenchendo o quadro abaixo.

PCaracterísticas

Tempo:

Espaço:

Personagens:

Acção:

Linguagem:
Exemplos do texto

Pesquisa, escreve e debate


1. Consulta a internet e pesquisa sobre as características específicas do conto africano.
2. A seguir, redige um texto com as ideias fundamentais apreendidas e apresenta as tuas
conclusões à turma.
3. Debate com os teus colegas e professor sobre o tema:
«O alembamento de hoje e de ontem – convergências, divergências, desafios e soluções».

Novela
Características da novela
A novela é um género literário maior que o conto quer em termos de quantidade de per-
sonagens e acções quer em termos de extensão do tempo e do espaço. Relativamente ao
romance, a novela é menor e apresenta os acontecimentos frequentemente em linha crono-
lógica, ou seja, numa sequência mais linear, evitando-se os avanços e recuos característicos
daquele género.

Três exemplos clássicos de novelas angolanas são:


• As aventuras de Ngunga, de Pepetela;
• A vida verdadeira de Domingos Xavier, de Luandino Vieira;
• Quem me dera ser onda, de Manuel Rui.
PLA-LP10_04
49
2 Texto narrativo

Lê o excerto da obra Quem me dera ser onda que a seguir se apresenta.

R
Na família Diogo cada vez mais se desenhava diferença de atitude em

P
relação a «carnaval da vitória». Os dois miúdos tratavam o porco como
membro da família. Limpavam o cocó dele, davam-lhe banho e, todos os
dias, passavam nas traseiras do hotel a recolher dos contentores pitéus
5 variados com que o bicho se giboiava.
O suíno estava culto, quase protocolar. Manheirava vénias de obséquio
com o focinho e aprendera a acenar com a pata direita, além de se pôr de
papo para o ar à mínima cócega que um dos miúdos lhe oferecesse na barriga.
Pai Diogo aferia o porco de maneira diferente. Para ele era tudo carne,
10 peso, contabilidade no orçamento familiar. (…)
Os garotos desgostavam daquela forma do pai ser. Entristeciam da cena
porque «carnaval da vitória» estava já na vida do coração deles ancho de
amor pelo amigo mais íntimo. (…)
Assim o tempo a voar com Zeca e Ruca a contarem novas estórias e
15 «carnaval da vitória» mais cada vez amigo bem conhecido nos intervalos
dos garotos da escola, que protestavam «vocês prometeram trazer ele para
aqui e nunca mais». Ruca e Zeca nas desculpas da amanhã talvez mas só
que faltava mesmo descobrir essa táctica de iludir a vigilância dos pais à
hora de saída de casa para a escola.
20 Até que por um aviso da mãe chegou o dia.
– Amanhã eu e o pai vamos almoçar fora. A vossa comida fica pronta e
vocês levam a chave. (…)
Esperaram só a mãe sair e quase nem comeram. «Carnaval da vitória»
consentiu imobilização, patas bem amarradas. Camuflaram bem o suíno e
25 arrastaram o saco até o elevador, em baixo. Beto estava preparado com o
carrinho de cargas.

50
2.2 Alguns géneros da narrativa

E na escola a grande festa começou.


Ruca segurava a trela. Zeca fez uma cócega na barriga do porco «vá,
carnaval da vitória», o bicho logo deitado de pança para o ar e a mexer as

R
patas num quase entendimento das palavras. Depois requadrupedava-se

P
30
pesadão, rodava a cabeça, farejava e mais outro miúdo queria cocegar-lhe a
barriga. Até que a professora surgiu na varanda da escola e bateu as palmas.
– Está na hora, meninos!
Qual quê! Ninguém lhe ligou. Ela desceu, veio no pátio e quis saber.
35 Ruca afagou a espinha do bicho e começou desde o princípio. O ladrão
de porcos. A resistência. A educação esmerada que dedicavam a «carnaval
da vitória».
– E os pais dele? – perguntou um dos miúdos, e outro respondeu:
– Devem ter morrido na guerra contra os talhos. – E todos desataram a
40 gargalhar.
Manuel Rui, Quem me dera ser onda (1991), Edições Cotovia, pp. 26-29 (texto com supressões)

Lê e compreende
1. Faz o levantamento das personagens presentes neste excerto.
2. Explica de que modo se relacionavam os diferentes membros da família Diogo com o suíno.
3. Na escola, os colegas de Zeca e Ruca deliciavam-se com as histórias do “carnaval da vitória”.
3.1. O que desejavam eles?
3.2. Transcreve a frase do texto que mostra que era um desejo antigo.
4. De que modo se organizaram os irmãos para cumprir o prometido?
4.1. A atitude deles parece-te correcta? Justifica.
5. Como reagiu a professora ao ver o porco brincar com os seus alunos? Parece-te um com-
portamento normal? Fundamenta.

Alarga os teus conhecimentos


1. Lê integralmente a novela Quem me dera ser onda e identifica os elementos que a fazem
pertencer a este género literário.

Reflecte e escreve
1. Escreve um texto em que reflictas sobre as vantagens e os inconvenientes de ter um ani-
mal de estimação.

51
2 Texto narrativo

Romance
Características do romance

R
P
O romance é um género literário mais extenso que a novela, dando-se mais relevo ao es-
paço e ao tempo e existindo um maior número de personagens. Além disso, os acontecimen-
tos podem ser relatados numa sequência não cronológica, com constantes avanços (pro-
lepses e elipses) e recuos (analepses).

A obra Lueji, o nascimento de um império, de Pepetela, é um exemplo clássico de romance,


em que as acções decorrem em dois planos: o do século XVI (com Lueji, a rainha do Império
Lunda, como protagonista) e o do século XX (com Lu, jovem descendente da nobre Lunda,
como personagem principal). Ademais, as acções de ambos os planos interferem umas nas
outras, como é próprio de uma ficção.

Outros romances que podes ler na íntegra são:


• Nambuangongo, de João Miranda (angolano);
• Predadores, de Pepetela (angolano);
• Famintos, de Luís Romano (cabo-verdiano);
• Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago (português);
• Capitães de areia, de Jorge Amado (brasileiro);
• Niketche, uma história de poligamia, de Paulina Chiziane (moçambicana).

Lê agora o excerto abaixo que é parte integrante do romance de Roderick Nehone, O ano
do cão.

Lesionado na perna traseira


direita, o animal arrastou-se
com esforço sobrecanino até
Porto Quipiri. Aproximou-se à
5 primeira tenda que encontrou.
Neste abrigo vivia Cassundinho,
um miúdo que ali se refugiara,
também proveniente de Caxito.
Ao ouvir os latidos ofegantes do
10 animal, saiu.
Cassundinho pegou no inde-
feso cachorro e levou-o para a
tenda onde estava instalada
uma brigada médica norue-
15 guesa. Os médicos engraçaram­
‑se com o animal e prestaram
todos os cuidados à sua perna magoada. Quando lhe perguntaram como se
chamava o seu cãozinho, respondeu espontaneamente:
– Bolinha!

52
2.2 Alguns géneros da narrativa

20 Ressuscitara desta forma o seu cão que morrera afogado nas últimas
cheias do rio Dande. Nesse fatídico dia o animal estava com diarreia, depois
de ter comido lagosta estragada. Debilitado, dormia na sua casota quando a

R
avalanche de água inundou o quintal e alcançou mais de meio metro sobre

P
o nível do chão.
25 – É muito bonito. Onde é que você comprou? – perguntou o galeno mais
alto e mais loiro, enquanto acariciava o animal.
– Veio dê Caxito. L’encontri detado atrás da minha tenda. E eu li pegui e
não mi fez nada.
– Então não é teu o cão?!
30 – O cão é meu – retorquiu autoritário – l’encontri do lado da minha casa.
Eu é qui l’encontri.
– E se chama Bolinha?
– Li chama intão ôtro nome. E mêmo Bolinha.
– Essa raça é muito fina – dirigiu-se resignado para a sua colega, que
35 assentiu com a cabeça, mas mantendo o automatismo das mãos que, com
pinças prendendo algodão com álcool, desinfectavam a ferida.
Lentamente Bolinha foi habituando-se ao seu novo dono. Ficou bom da
perna, apesar de coxo. O mais difícil foi a nova dieta. Nos primeiros dias
apenas cheirava a comida que lhe era servida em cima de uma lasca de folha
40 de bananeira. Dava meia volta e afastava-se para longe, sem sequer lamber os
alimentos. Deitava-se à sombra do tamarindeiro que ficava mesmo no centro
do acampamento e aí passava o resto do dia, como que morto.
Roderick Nehone, O ano do cão (2011), 4.ª edição, Mayamba Editora, pp. 25-26

Lê e compreende
1. Identifica o(s) espaço(s) onde tem lugar a acção do texto.
2. Como é que Cassundinho e o cão se conheceram?
3. Que problema de saúde tinha o cão e como foi resolvido?
4. Justifica a razão de Cassundinho ter dado o nome Bolinha ao cão.
5. Que dificuldade teve Bolinha ao viver com o seu novo dono?
6. Transcreve do texto pelo menos duas expressões que evidenciam a passagem do tempo.

Alarga os teus conhecimentos


1. Lê integralmente os romances O ano do cão e Predadores e identifica os elementos que os
fazem pertencer a este género narrativo.

53
2 Texto narrativo

Fábula
Características da fábula

R
P
A fábula é um género literário breve e com uma acção simples em que se dotam os ani-
mais de características humanas, tais como o pensamento abstracto e a linguagem.
Os textos pertencentes a este género podem ser escritos em prosa ou em verso, apresen-
tam poucas personagens e terminam com um ensinamento, uma moral.

Faz a leitura deste texto.

Em torno era a primavera, o sonho de um poeta. O Gato Malhado teve


vontade de dizer algo semelhante à Andorinha Sinhá.
Sentou-se no chão, alisou os bigodes, apenas perguntou:
– Tu não fugiste com os outros?
5 – Eu? Fugir? Não tenho medo de ti, os outros são todos uns covardes... Tu
não me podes alcançar, não tens asas para voar, és um gatarrão ainda mais
tolo do que feio. E olha lá que és feio...
– Feio, eu?
O Gato Malhado riu, riso espantoso de quem se havia desacostumado de
10 rir, e desta vez até as árvores mais corajosas, como o Pau Brasil – um gigante
– estremeceram. “Ela o insultou e ele a vai matar”, pensou o velho Cão
Dinamarquês.
O Reverendo Papagaio – reverendo porque passara uns tempos no
seminário onde aprendera a rezar e decorara frases em latim, o que lhe
15 dava valiosa reputação de erudito – fechou os olhos para não testemunhar a
tragédia. Por duas razões: por ser emotivo, não lhe agradando ver sangue,
menos ainda de andorinha tão formosa, e por não desejar servir como
testemunha se o crime chegasse à justiça, maçada sem tamanho, tendo de
decidir entre dizer a verdade e arcar com as conseqüências da ira do Gato
20 Malhado – processo por calúnia, umas bofetadas, o bico arrancado, quem
sabe lá o quê – ou mentir e ficar com fama de covarde, de cúmplice do
assassino. Situação difícil, o melhor era não testemunhar. Em troca rezou
pela alma da Andorinha Sinhá, ficando em paz com a sua consciência, uma
chata cheia de exigências.
25 A própria Andorinha Sinhá sentiu que exagerara e, por via das dúvidas,
voou para um galho mais alto onde ficou bicando as penas num gesto de
extrema faceirice. O Gato Malhado continuava a rir, apesar de se sentir um
tanto ofendido. Não porque a Andorinha o houvesse tachado de mau e sim
por tê-lo chamado de feio, e ele se achava lindo, uma beleza de gato.
30 Elegante também.
– Tu me achas feio? De verdade?
– Feiíssimo... – reafirmou lá de longe a Andorinha.
– Não acredito. Só uma criatura cega poderia me achar feio.

54
2.2 Alguns géneros da narrativa

– Feio e convencido!
35 A conversa não continuou porque os pais da
Andorinha Sinhá, o amor pela filha superando o

R
medo, chegaram voando, e a levaram consigo,

P
ralhando com ela, pregando-lhe um sermão
daqueles. Mas a Andorinha, enquanto a retiravam,
40 ainda gritou para o Gato:
– Até logo, seu feio...
Foi assim, com esse diálogo um pouco idiota,
que começou toda a história do Gato Malhado e da
Andorinha Sinhá.
Jorge Amado, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá –
uma história de amor (1981), Ed. Record, pp. 30-31

Lê e compreende
1. O que respondeu a Andorinha à pergunta do Gato Malhado?
2. Como reagiu o Gato Malhado a tal comentário?
3. Havia dois animais que acompanhavam a cena.
3.1. O que pensavam eles que iria acontecer?
4. De que modo terminou a conversa entre o Gato e a Andorinha?
5. Refere por que razão podemos considerar este texto uma fábula.

Mito
Características do mito
O mito é um género literário que tem a finalidade de dar uma explicação fantasiosa sobre
a génese das coisas, recorrendo-se para tal à presença de elementos sobrenaturais.

Lê o texto seguinte.

Iemanjá
Conta o mito da criação que, dos seios fartos de Iemanjá, brotaram os
oceanos e com ele os orixás seus filhos: Exu, Ogum, Oxossi, Xangô e Oxum.
Iemanjá, grande orixá das águas, era filha de Olokun, o senhor dos oceanos.
Era possuidora de um grande instinto maternal, que fez dela mãe de dez filhos.
5 Embora casada, não tinha grande apego por seu marido. Às vezes, pensava
em deixá-lo, mas ele era um homem muito importante e poderoso, e não

55
2 Texto narrativo

permitiria tal desonra. Iemanjá também pensava no


bem-estar de seus filhos, não podendo deixá-los
desamparados.

R
Seu marido usava o poder com tirania, inclusive com

P
10
sua família, tornando a vida dela insuportável. Ela não
aguentava mais se submeter aos caprichos de um
homem que ela desprezava.
Ela procurou o seu pai para se aconselhar sobre a
15 atitude que deveria tomar. No fundo, ela já estava
decidida a fugir, mas precisava do seu apoio. Olokun
não a recriminou, pois ela era uma soberana e, como tal, não poderia aceitar
o jugo de ninguém. Ele, então, deu à sua filha uma cabaça com
encantamentos, para que ela usasse quando estivesse em perigo.
20 Iemanjá colocou o seu plano em prática, fugindo com todos os seus filhos.
Quando ela já estava bem longe da sua aldeia, viu que estava a ser
perseguida pelo exército do seu marido. Pensou em enfrentá-los, mas eles
eram muitos e seria uma luta desleal. Iemanjá odeia os confrontos, pela
destruição que causam, já que é um Orixá propagador de vida.
25 Quando se sentiu acuada, resolveu abrir a cabaça e pedir socorro ao seu
pai. Do seu interior escoou um líquido escuro, que, ao tocar o chão,
imediatamente formou um rio, que corria em direcção ao oceano.
Foi nessas águas que Iemanjá e o seu povo encontraram um caminho
para a liberdade.
in http://www.emdefesadaumbanda.com.br/index.php/2012/01/31/o-mito-de-yemanja
(acedido em 13/04/2014)

Lê e compreende
1. Lê as afirmações seguintes e, de acordo com o sentido do texto, refere se são verdadeiras
(V) ou falsas (F). Corrige as falsas.
a) Conta o mito que os seios de Iemanjá deram origem a um rio.
b) Embora Iemanjá gostasse do seu marido, tinha intenção de abandoná-lo.
c) A relação que existia entre os dois era harmoniosa.
d) Iemanjá tinha receio de deixar o seu marido, pois não queria que os seus filhos
passassem dificuldades e, por outro lado, temia a reacção do seu marido.
e) O pai de Iemanjá mostrou a sua relutância quando lhe contou que queria separar-se do
marido.
f) O marido, muito ofendido com o comportamento de Iemanjá, foi atrás dela.
g) Iemanjá e os filhos escaparam à perseguição do marido graças a um encantamento que
lhe tinha sido dado por Olokun.
h) Este mito simboliza a importância da família que se deve manter unida incondicional-
mente.

56
2.2 Alguns géneros da narrativa

Lenda
Características da lenda

R
P
A lenda tem origem na tradição oral e é um texto narrativo que tem por base aconteci-
mentos reais, como um facto histórico, aos quais a imaginação popular acrescenta outros,
por vezes de carácter fantástico.
Muitas vezes, é possível identificar o espaço e o tempo da história.

Faz a leitura do texto abaixo.

Lenda das Amendoeiras em Flor


Há muitos e muitos séculos, antes de Portugal existir e quando o Al-Gharb
pertencia aos árabes, reinava em Chelb, a futura Silves, o famoso e jovem rei
Ibne-Almundim que nunca tinha conhecido uma derrota. Um dia, entre os
prisioneiros de uma batalha, viu a linda Gilda, uma princesa loira de olhos
5 azuis e porte altivo. Impressionado, o rei mouro deu-lhe a liberdade,
conquistou-lhe progressivamente a confiança e um dia confessou-lhe o seu
amor e pediu-lhe para ser sua mulher. Foram felizes durante algum tempo,
mas um dia a bela princesa do Norte caiu doente sem razão aparente. Um
velho cativo das terras do Norte pediu para ser recebido pelo desesperado rei e
10 revelou-lhe que a princesa sofria de nostalgia da neve do seu país distante. A
solução estava ao alcance do rei mouro, pois bastaria mandar plantar por todo
o seu reino muitas amendoeiras que quando florissem as suas brancas flores
dariam à princesa a ilusão da neve e ela ficaria curada da sua saudade. Na
Primavera seguinte, o rei levou Gilda à janela do terraço do castelo e a princesa
15 sentiu que as suas forças regressavam ao ver aquela visão indescritível das
flores brancas que se estendiam sob o seu olhar. O rei mouro e a princesa
viveram longos anos de um intenso amor esperando ansiosos, ano após ano, a
Primavera que trazia o maravilhoso espectáculo das amendoeiras em flor.
in http://eb23quintalomba.wikispaces.com/file/view/lendas-de-portugal.pdf (acedido em 26/03/2014)

57
2 Texto narrativo

Lê e compreende

R
1. Identifica o(s) espaço(s) onde tem lugar a acção desta lenda.

P
2. De que rei fala a lenda e em que tempo governou?
3. O que fez o rei a uma prisioneira de guerra e porquê?
4. Com que problema se deparou o rei e qual a solução encontrada para o mesmo?
5. Como termina esta bela história de amor?
6. Identifica no texto os elementos que permitem classificá-lo como uma lenda.

Epopeia
Características da epopeia
A epopeia é um género literário em verso cujo objectivo é louvar e enaltecer os feitos,
reais ou fictícios, de um herói ou de um povo. Aí é normal existirem referências mitológicas.
Apresentamos-te, de seguida, algumas das epopeias mais importantes, em termos histó-
ricos e literários.
Epopeia de Gilgamesh, a primeira obra literária de que se tem registo, datada do segundo
milénio antes de Cristo, cujo herói é um rei sumeriano chamado Gilgamesh.
Ilíada e Odisseia, atribuídas ao grego Homero, cujos heróis são, respectivamente, Aquiles
(que mata Heitor, príncipe de Tróia, na Guerra de Tróia) e Ulisses (o qual, após duas décadas
fora de Ítaca, seu reino, volta e vinga-se dos seus inimigos, reencontrando-se com o seu filho
já adulto, Telémaco, e a sua fiel esposa, Penélope).
Eneida, da autoria do romano Virgílio, tendo por herói Eneias, um dos jovens troianos so-
breviventes da Guerra de Tróia.
Sundjata ou a epopeia mandinga, obra africana da tradição oral que narra os feitos de
Sundyata Keita (c. 1217 – c. 1255), fundador do Império do Mali.
Os Lusíadas, do português Luís de Camões, publicado em 1572, cujo herói é o povo por-
tuguês, narra os feitos lusos relativos aos Descobrimentos, sobretudo da viagem marítima de
Vasco da Gama para a Índia.

58
2.2 Alguns géneros da narrativa

Lê agora um excerto de Os Lusíadas, uma epopeia do português Luís de Camões.

Reunião dos Deuses no Olimpo

R
P
Em luzentes assentos, marchetados Agora vedes bem que, cometendo
De ouro e de perlas, mais abaixo estavam O duvidoso mar num lenho leve,
Os outros Deuses, todos assentados 35 Por vias nunca usadas, não temendo
Como a Razão e a Ordem concertavam De Áfrico e Noto a força, a mais se atreve:
5 (Precedem os antigos, mais honrados, Que, havendo tanto já que as partes vendo
Mais abaixo os menores se assentavam); Onde o dia é comprido e onde breve,
Quando Júpiter alto, assi dizendo, Inclinam seu propósito e perfia
Cum tom de voz começa grave e horrendo: 40 A ver os berços onde nasce o dia.
«Eternos moradores do luzente, Prometido lhe está do Fado eterno,
10 Estelífero Pólo e claro Assento: Cuja alta lei não pode ser quebrada,
Se do grande valor da forte gente Que tenham longos tempos o governo
De Luso não perdeis o pensamento, Do mar que vê do Sol a roxa entrada.
Deveis de ter sabido claramente 45 Nas águas tem passado o duro Inverno;
Como é dos Fados grandes certo intento A gente vem perdida e trabalhada;
15 Que por ela se esqueçam os humanos Já parece bem feito que lhe seja
De Assírios, Persas, Gregos e Romanos. Mostrada a nova terra que deseja.
Já lhe foi (bem o vistes) concedido, E, porque, como vistes, tem passados
Cum poder tão singelo e ao pequeno, 50 Na viagem tão ásperos perigos,
Tomar ao Mouro forte e guarnecido Tantos climas e céus exprimentados,
20 Toda a terra que rega o Tejo ameno. Tanto furor de ventos inimigos,
Pois contra o Castelhano ao temido Que sejam, determino, agasalhados
Sempre alcançou favor do Céu sereno. Nesta costa Africana como amigos,
Assi que sempre, enfim, com fama e glória, 55 E, tendo guarnecida a lassa frota,
Teve os troféus pendentes da vitória. Tornarão a seguir sua longa rota.»
25 Deixo, Deuses, atrás a fama antiga, Estas palavras Júpiter dezia,
Que co a gente de Rómulo alcançaram, Quando os Deuses, por ordem respondendo,
Quando com Viriato, na inimiga Na sentença um do outro difiria,
Guerra Romana, tanto se afamaram. 60 Razões diversas dando e recebendo.
Também deixo a memória que os obriga O padre Baco ali não consentia
30 A grande nome, quando alevantaram No que Júpiter disse, conhecendo
Um por seu capitão, que, peregrino, Que esquecerão seus feitos no Oriente
Fingiu na cerva espírito divino. Se lá passar a Lusitana gente.
Luís de Camões, Os Lusíadas, Porto, Porto Editora, 2011

Rafael, O Consílio
dos Deuses,
1517-18 (frag.)

59
2 Texto narrativo

Lê e compreende

R
1. Selecciona a opção que completa correctamente cada uma das afirmações.

P
1.1. Os deuses ocuparam os seus lugares na reunião de acordo com
a sua altura. o seu estatuto. a sua idade.
1.2. Através da intervenção de Júpiter, subentende-se que este
profetiza um destino glorioso para os portugueses.
prevê grandes desgraças para a nau de Vasco da Gama.
se opõe às conquistas dos portugueses.
1.3. Terminada a intervenção de Júpiter, os outros deuses
vão-se embora. manifestam a sua opinião. organizam uma votação.
1.4. A deliberação de Júpiter
recebeu o acordo unânime dos outros deuses.
contou com o apoio incondicional de Baco.
provocou opiniões distintas no seio da reunião.

Alarga os teus conhecimentos


1. Atenta nas obras apresentadas na p. 58 e selecciona uma delas para leres na íntegra. Algu-
mas, como as de Homero e de Camões, estão disponíveis em formato PDF na internet.

2.3 Elaboração de um guião de uma história

Propomos-te este desafio interessante: escrever uma história da tua autoria com o auxílio
de um guião.
Vamos a isso!

Experimenta, escreve e lê
A. Escreve uma história com um grupo de colegas, sob a orientação do teu professor, com
base no seguinte guião.
1.º Como começa… (a situação inicial);
2.º Quem é o protagonista/herói (retrato físico e psicológico);
3.º Onde vive a personagem principal (descrição do espaço);

60
2.4 Relação entre as palavras

4.º Qual é a sua principal missão (o objecto do esquema actancial);


5.º Lugar onde há-de decorrer a acção (ampliação da descrição espacial);

R
6.º Quem será o maior inimigo do protagonista e por que motivos (o oponente do es-

P
quema actancial);
7.º Quem será o maior amigo do herói e como vai prestar-lhe auxílio (o adjuvante do es-
quema actancial);
8.º Como termina… (a situação final).
B. Depois de escreveres a história, ensaia com os colegas uma leitura dialogada (um faz o
papel de narrador e os outros, das personagens). Em seguida, apresentem-na à turma.

2.4 Relação entre as palavras

Como já aprendeste nas classes anteriores, pode existir uma relação de forma entre as
palavras.
Vamos recordar alguns conceitos e estudar outros novos.

Relações de significado, fonia e grafia

 inonímia: relação entre palavras que têm um sentido semelhante e podem ser usadas
S
no mesmo contexto.
Ex.: A Ana vive numa linda cidade.
A Ana vive numa bela cidade.

 ntonímia: relação entre palavras que apresentam significados opostos.


A
Ex.: Ele é alto, mas a sua irmã é baixa.

 omonímia: relação entre palavras que se escrevem e pronunciam da mesma maneira,


H
mas têm significados diferentes.
Ex.: A Joana e o Pedro são benguelenses.
O António não é um rapaz são.

 omofonia: relação entre palavras com significados diferentes, mas que se pronunciam
H
da mesma maneira, embora se escrevam de modo diferente.
Ex.: O aluno esqueceu-se de colocar o acento agudo na palavra.
O Bloco Democrático é um partido sem assento no Parlamento.

 omografia: relação entre palavras com a mesma grafia, mas pronúncia e significado
H
diferentes.
Ex.: Eu indico no mapa o oceano Índico.

 aronímia: relação entre palavras com pronúncia e grafia semelhantes, mas significado
P
distinto.
Ex.: A Maria tem uma letra ilegível, portanto não pode ser uma candidata elegível
para o concurso de ortografia.

61
2 Texto narrativo

Relações de hierarquia e de todo/parte

 iperónimo: termo genérico cujo significado inclui o de vários outros.


H

R
Veículo carro, motorizada, autocarro, barco, avião

P
 ipónimo: elemento específico contido na designação genérica que constitui o
H
hiperónimo.
Barco traineira, chata, lancha, paquete, canoa, caravelas…
(Barco é a designação genérica de qualquer tipo de embarcação, marítima ou fluvial, pelo
que é hiperónimo de vários hipónimos.)

 olónimo: palavra que, do ponto de vista semântico, se refere a um todo.


H
Corpo humano tronco, cabeça, braços, pés

 erónimo: palavra que, do ponto de vista semântico, se refere às partes que constituem
M
o todo.
Carro volante, espelho retrovisor, travão…

Funcionamento da língua
1. Produz frases com as palavras dadas.
a) grito (verbo/nome) d) estas/estás;
b) saber (conhecimento/sabor) e) aço/asso
c) seu/céu f) apertados/apartados
1.1. Explicita o tipo de relação que existe entre essas palavras.
2. Preenche a tabela com os merónimos da lista abaixo no seu holónimo respectivo.
coração • janela • cabeça • porta • olhos • quarto • cabelo • pés • tecto • sala

Holónimos Merónimos
Casa

Corpo

3. Indica hipónimos dos seguintes hiperónimos:


a) árvore
b) roupa
c) bebida

62
2.5 Elaboração de conto

2.5 Elaboração de conto

R
O conto, como o próprio nome indica, é o acto de contar uma história, ou seja, narrar, em

P
prosa, uma pequena história com poucas personagens. Ao escrever, é necessário manter a
concisão, a precisão e a profundidade. O conto não pode ser uma simples narrativa, é preciso
que o final seja forte, produzindo uma euforia, uma excitação no leitor. Portanto, uma história
curta e emocionante, com um final que surpreenda o leitor.

1.º Escolhe uma situação


A situação não precisa de ser uma história completa, basta ser um acontecimento, como,
por exemplo: uma bola no telhado, uma batida de carro, uma pessoa acordando após um
sonho. Enfim, um momento no tempo. Esse será o início do teu conto, ou seja, a narrativa
começará a partir daquele evento.

2.º Apresenta o acontecimento


É nesse momento que começarás a sair da realidade para a ficção, ou seja, é neste ponto
que a tua narrativa deixa de lado os factos para entrar numa realidade totalmente diferente
do evento observado, onde ganhará uma personagem e um ambiente.

Descreve o evento
A descrição ajuda tanto o leitor quanto o escritor. É através dela que poderás partilhar o
mesmo ambiente com a personagem e o leitor; é aquele momento mágico onde a tua imagina-
ção ganha asas e cria um mundo totalmente novo e inesperado. Assim, se o teu momento for,
por exemplo, uma batida de carro, descreve a batida e introduz a tua personagem na situação.
Podes optar por uma descrição detalhada, descrevendo os cacos de vidro, a gritaria, as si-
renes das ambulâncias, o alvoroço formado, enfim, permitir que o leitor entre na tua imagi-
nação. Porém, não exageres na extensão deste momento; descreve o ambiente para que o
teu leitor possa entrar na história como um observador. Se a descrição for muito longa, pode
ser que o teu leitor acabe por desistir da leitura antes do grande final.

Não inicies o teu texto com um momento descritivo


Embora possas ser um apreciador da descrição, para se iniciar o conto não é necessário o
uso da descrição. Usa o acontecimento apenas para dar início à narrativa, deixando a descri-
ção para um outro momento.

3.º Desenvolve a narrativa


Depois de teres apresentado e situado o protagonista no tempo e no espaço, terás de te
dedicar à criação da narrativa propriamente dita. Nessa parte, terás de narrar os aconteci-
mentos posteriores à situação inicial, conduzindo o leitor durante todo o trajecto até ao
ponto mais emocionante da história.

4.º Introduz diálogos


Os diálogos são essenciais para apresentar a personagem. Por meio deles, podes usar lin-
guagem popular/cuidada, demonstrando a que estrato pertencem as personagens, ou có-
mica, sugerindo que uma delas é extrovertida ou brincalhona. Em síntese, os diálogos,

63
2 Texto narrativo

quando bem criados, servem para ajudar o leitor a caracterizar a personagem através daquilo
que diz, diminuindo assim a presença da descrição no texto que vais produzir.

R
5.º Faz um esboço das tuas ideias

P
Usa um caderno para anotares as tuas ideias, mesmo as mais descabidas. À medida que
fores produzindo o teu conto, vais desenvolvendo umas e descartando outras. Além disso,
mesmo estas ideias que forem descartadas poderão ser utilizadas mais tarde, quando decidi-
res elaborar outro(s) conto(s).

6.º Finaliza bem a história


Não é preciso criares um fim muito complexo. O mais importante é que o final seja inespe-
rado, ou seja, fuja sempre ao óbvio. Isto pode ajudar o leitor a reflectir na história com al-
guma profundidade.

Experimenta, escreve e lê
1. Agora que já conheces alguns passos básicos para produzir um conto, escreve um e apre-
senta-o à turma.

2.6 Categorias da narrativa

O texto narrativo caracteriza-se por uma sucessão de acontecimentos relacionados entre


si, que se desenvolvem ao longo do tempo e ocorrem num determinado espaço.

2.6.1  strutura do texto narrativo: introdução,


E
desenvolvimento e conclusão
O texto narrativo pode dividir-se em três momentos:

Introdução: situação inicial e que corresponde, geralmente, a um momento de


apresentação das personagens, do espaço e do tempo.

Desenvolvimento: trata-se do desenrolar dos acontecimentos que compõem a acção.

Conclusão: corresponde ao momento final, podendo incluir um desfecho, isto é, resolução


de conflitos, dúvidas (narrativa fechada) ou não (narrativa aberta).

A história que vais ler de seguida é um texto narrativo, pois são relatados vários aconteci-
mentos relacionados entre si que se vão sucedendo uns aos outros, com personagens que
intervêm num determinado espaço e, neste caso, ao longo do tempo.

64
2.6 Categorias da narrativa

Lê o texto com atenção.

A Gulosa

R
P 5

10
Era uma vez uma mulher que era
casada com um pescador. Como era
muito gulosa e má, não fazia comida para
o marido. Dava-lhe só pão com azeitonas.
Mas, para ela fazia bons petiscos que
comia sozinha.

E depois de os comer sentava-se numa


cadeira, refastelada, e dizia:
Estende-te, perna,
Descansa corpinho,
Que lá anda no mar
Quem te há-de dar
Pão e vinho.
Quando o pescador vier,
15 Coma azeitonas se houver.

De facto, quando o marido chegava a casa, ela só lhe dava pão e azeitonas,
que ela não comia dizendo que já tinha comido. Isto acontecia todos os dias
e o pobre pescador lamentava-se da sua sorte. Andava ele desconfiado que
a mulher comia às escondidas, quando um dia, indo para o mar, encontrou
20 uma velhinha que lhe disse:
– Não te apoquentes mais que amanhã já comes melhor. Toma lá estas
quatro bonecas e põe uma em cada canto da cozinha, mas que a tua mulher
não veja.
Ele assim fez e abalou para o mar.
25 Preparava-se a mulher para comer os petiscos, quando ouviu:
(1.ª boneca) – O que vai aquela mulher fazer?
(2.ª boneca ) – Ora... vai comer!...
(3.ª boneca ) – Mas o marido não está em casa!
(4.ª boneca ) – Bem se importa ela com o marido! É uma gulosa!
30 A mulher, assustada, olhou mas não viu ninguém. Mais sossegada,
dispunha-se a comer quando ouviu novamente as mesmas vozes:
(1.ª boneca ) – O que vai aquela mulher fazer?
(2.ª boneca ) – Ora... vai comer!...
(3.ª boneca ) – Mas o marido não está em casa!
35 (4.ª boneca ) – Bem se importa ela com o marido! É uma gulosa!
Então, cheia de medo, saiu porta fora. Demorou-se por lá muito tempo,
mas tendo fome voltou para casa. Ia mais uma vez tentar comer, logo ouviu as
mesmas vozes. Assustada, resolveu esperar pelo marido para comerem juntos.

PLA-LP10_05
65
2 Texto narrativo

Ficou o pescador admirado com a mudança.


40 No dia seguinte, antes de sair para o mar, disse-lhe a mulher:
– Olha, vem cedo que eu tenho cá um bom jantarinho.

R
E assim foi, e nunca mais ela comeu sem o marido.

P
Tempos depois foi o pescador à procura da velhinha, que era uma fada,
entregou-lhe as bonecas e agradeceu-lhe muito o que lhe tinha feito, pois
45 agora já era feliz.
in http://www.minerva.uevora.pt/itic/sites/fdcarvalho/contostradicionais.html (acedido em 01/03/2014)

Lê e compreende
1. Como tratava a mulher o seu esposo?
2. Comenta o título do texto.
3. O que revela a letra da canção sobre o carácter da mulher?
4. O que fez o marido para dar a volta à situação?
5. Como contribuíram as bonecas para a mudança de comportamento da mulher?
6. O que fez o pescador após as coisas terem melhorado? Dá a tua opinião sobre tal compor-
tamento.
7. Qual a moral da história?
8. Identifica as partes que constituem o texto, preenchendo a grelha abaixo.

Partes do texto Parágrafos

Introdução
(Apresentação das personagens e do local onde se vai
desenrolar a acção.)

Desenvolvimento
(Conjunto de acontecimentos relacionados entre si.)

Conclusão
(Momento final em que se dá por terminada a história.)

9. Parece-te que se trata de uma narrativa aberta ou fechada? Justifica.

Atenção!
A narrativa que há pouco leste apresenta várias personagens (a mulher do pescador, o pescador, as
bonecas e a velha), cuja acção (a ambição) se desenrola num determinado espaço (em casa) e ao
longo de um determinado tempo, que não sabemos exactamente qual é. Esta narrativa tem
igualmente um narrador – aquele que conta a história e, portanto, não participa na acção, narrando
os acontecimentos na 3.ª pessoa («Era uma vez uma mulher que era casada com um pescador.»).

66
2.6 Categorias da narrativa

2.6.2 O narrador
O narrador é aquele que conta os acontecimentos e não deve ser confundido com o

R
autor do texto.

P
O narrador pode ser classificado segundo dois parâmetros.

Ciência ou conhecimento do narrador


Quanto à ciência, o narrador pode ser:

Narrador omnisciente: aquele que tem conhecimentos ilimitados relativamente às per-


sonagens, ao tempo, à acção, etc., conhecimentos que ultrapassam a mera observação. Sabe,
por exemplo, o que se passa no íntimo das personagens.

Sempre detestara ver a sobrinha, uma menina delicada de dez anos, a


brincar assim com o Carlinhos. Aquele belo e impetuoso rapaz, sem doutrina
e sem propósito, aterrava-a; e pela sua imaginação de solteirona passavam
sem cessar ideias, suspeitas de ultrajes que ele poderia fazer à menina.
Eça de Queirós, Os Maias (2005), Porto Editora, p. 72

Narrador não omnisciente: aquele que refere apenas o que é observável.

O mestre era tão querido pelos seus petizes que quando passava, todo ele
janota, vestido de calções e camisa bem brancas, meias altas e capacete
também da mesma cor do fato, sapatos à praia com lixa, ouvia-se o coro dos
rapazes que tributavam ao Tamoda.
Wanyenga Xitu, Mestre Tamoda e Vozes na Sanzala (2009), Mayamba Editora, p. 15

Presença ou participação do narrador


Em relação à participação, o narrador pode classificar-se como:

Autodiegético: conta a história na primeira pessoa gramatical e, enquanto personagem


central da mesma, relata as suas próprias experiências.

Desde pequeno sempre tive uma inclinação para a profissão de carpinteiro.


Era uma inclinação nata que só me deixou sossegar depois que lhe fiz a
vontade: aceitei tornar-me servo dela.
Wanyenga Xitu, Manana (2009), Mayamba Editora, p. 29

Homodiegético: relata uma história na qual participa apenas como testemunha ou per-
sonagem secundária.

O meu amigo Jacinto nasceu num palácio, com cento e novecentos contos
de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olival. (…)
Jacinto e eu, José Fernandes, ambos nos encontrámos e acamaradámos
em Paris, nas Escolas do Bairro Latino – para onde me mandara meu bom tio

67
2 Texto narrativo

Afonso Fernandes Lorena de Noronha e Sande, quando aqueles malvados


me riscaram da Universidade por eu ter esborrachado, numa tarde de
procissão, na Sofia, a cara sórdida do doutor Pais Pita.

R
P
Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (2009), Porto Editora

Heterodiegético: narra uma história na 3.ª pessoa, na qual não participa.

Marina fugiu para casa. Ele ficou com os olhos marejados, as mãos
ferozmente fechadas e as flores violeta caindo-lhe na carapinha negra.
Depois, com passos decididos, atravessou a rua, pisando com raiva a areia
vermelha e sumiu no emaranhado do seu mundo. Para trás ficava a ilusão.
Marina viu-o afastar-se. Amigos desde pequenos. Ele era o filho da
lavadeira que distraía a menina Nina. Depois a escola. Ambos na mesma
escola, na mesma classe. A grande amizade a nascer.
Luandino Vieira, “A fronteira de asfalto”, in A Cidade e a Infância,
in http://aeppea.wordpress.com/2011/06/12/luandino-vieira (acedido em 10/03/2014)

Lê o conto seguinte.

Princesa Escrava

De regresso das lavras distantes, algumas mulheres e crianças dirigiam-se


para casa. Iam insatisfeitas, com suas quindas à cabeça, cheinhas de
provisões. Do esforço de sua labuta, levavam a estimulante recompensa.
De repente, surgem-lhes dois quifumbes, saídos de uma moita. Num
5 ímpeto, assaltam o rancho. Eles rouquejam ameaças, estridulam angústias. E
na debandada, Ngueve, a pequena filha do soba Vúnji Calunga, é colhida
pelos bandoleiros.
– Mam’é… Mam’é!... Mam’é!... – pranteava a criança, debatendo-se entre os
braços musculosos de um deles.

68
2.6 Categorias da narrativa

10 A mãe ainda correu em sua defesa. Mas as companheiras, perante o


perigo, fizeram-lhe notar a imprudência.
– Não vás atrás deles! Sozinhas neste descampado, sem a protecção de um

R
homem, como nos poderemos defender, se nos tornam a atacar? Espera que

P
o pai a mande procurar! – dissuadiam-na.
15 Chorando como a própria filha, a desditosa mãe acatou o conselho.
– Aiuê, a minha filha! Quê mesmo lhe vão fazer esses quifumbes? Tomara
me levassem a mim, que já vivi mais tempo! – soluçava.
Embora sufocadas pela amargura, as parceiras consolavam-na:
– Não chores só assim, eles não a vão matar! Se a agarraram, foi para a
20 venderem! Espera que o pai, com o seu poder, ponha gente a procurá-la!
Espera só, Ngueve vai aparecer!
E a caravana, a princípio ruidosa, prosseguiu a marcha sob o pesadelo da
dor. Em cada coração, a mesma pergunta lancinante se atropelava: de
positivo, realmente, nada se podia esperar. Só por sorte, muita sorte, a jovem
25 podia aparecer! (…)
Óscar Ribas, Quilanduquilo (2009), Ministério da Cultura, pp. 43-44 (extracto)

Lê e compreende
1. O que aconteceu com Ngueve ao sair da lavra?
2. Como reagiu a mãe a tal situação?
3. Explica por palavras tuas o conselho que lhe deram as suas companheiras.
4. As personagens não sabem para que finalidade foi levada a rapariga.
4.1. Transcreve do texto a frase que comprova essa incerteza.
5. Comenta o último parágrafo.
6. Classifica o narrador quanto à sua ciência e presença na história, justificando a tua resposta
com excertos do texto.

Funcionamento da língua
1. Dá exemplos de sinónimos dos vocábulos abaixo extraídos do texto que analisaste.
a) estimulante (l. 3); c) desditosa (l. 15);
b) imprudência (l. 11); d) acatou (l. 15).
1.1. Agora, produz frases com os sinónimos que seleccionaste.
1.2. Repete o que te foi solicitado em 1.1., mas, desta vez, usando os respectivos antónimos.

69
2 Texto narrativo

Experimenta, aprende e representa

R
1. Vais efectuar uma actividade com base nas etapas seguintes:

P
 .ª etapa: Faz uma pesquisa sobre a escravatura em África (sugestões: os livros História
1
Geral de África, em 8 volumes, disponível para consultar na internet, e o filme Amistad).
2.ª etapa: De seguida, produz, com os teus colegas e sob a orientação do teu professor,

uma dramatização sobre as possíveis peripécias passadas por Ngueve, a rapariga raptada
do texto em análise.
3.ª etapa: Por fim, apresenta a peça teatral à turma.


2.6.3 A personagem
As personagens são os agentes intervenientes da acção e podem ser classificadas se-
gundo dois parâmetros.

Relevo
Quanto ao relevo, as personagens são classificadas de acordo com a importância que
apresentam para o desenvolvimento da história.

Personagem principal (ou protagonista): desempenha o papel mais importante da


história.
Personagem secundária: desempenha um papel menos importante, mas cuja acção
contribui para o desenrolar da história.
Figurantes: personagens sem intervenção que contribuem para a caracterização de
determinado espaço ou ambiente.

Composição
Quanto à composição, encontramos três tipos de personagens.

Personagem planas: constroem-se com base em algumas características que mantêm ao


longo de toda a narrativa.
Personagens modeladas: exibem uma maior complexidade psicológica, uma maior
profundidade, e apresentam modificações na sua personalidade.
Personagens-tipo: reúnem características individuais e, simultaneamente, colectivas,
representando traços específicos de grupos profissionais, culturais, económicos. Não
evoluem psicologicamente, tal como as personagens planas.

Caracterização das personagens


A caracterização é o retrato ou a descrição que se faz de uma determinada personagem.
Vejamos como pode ser feita.

70
2.6 Categorias da narrativa

Caracterização directa e caracterização indirecta: a personagem pode ser caracterizada


directamente pelo narrador, por outra personagem ou por si própria.

R
Desde o berço, onde a avó espalhava funcho e âmbar para afugentar a

P
«Sorte-Ruim», Jacinto medrou com a segurança, a rijeza, a seiva de um
pinheiro das dunas.
Não teve sarampo e não teve lombrigas. As Letras, a Tabuada, o Latim
entraram por ele tão facilmente como o sol por uma vidraça.
Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (2009), Porto Editora

A auto-caracterização é uma forma de caracterização directa em que a personagem se


caracteriza a si própria.
– E tu achas que está tudo como então? Como quando brincávamos à
barra do lenço ou às escondidas? Quando eu era o teu amigo Ricardo, um
pretinho muito limpo e educado, no dizer da tua mãe? Achas…
(…)
– A minha mãe era a tua lavadeira. Eu era o filho da lavadeira. Servia de
palhaço à menina Nina. A menina Nina dos caracóis loiros. Não era assim
que te chamavam? – gritou ele.
Luandino Vieira, “A fronteira de asfalto”, in A Cidade e a Infância,
in http://aeppea.wordpress.com/2011/06/12/luandino-vieira (acedido em 10/03/2014)

Por outro lado, o leitor pode tirar as suas conclusões relativamente a um acontecimento.
A caracterização é, então, indirecta:
– O país anda infestado de estrangeiros. Têm sido a nossa desgraça. Só cá
vêm fazer a vida cara.
– A quem a senhora o diz! Uma corja – polacos, judeus, italianos, russos…
Ah, esta terra era uma bênção. Agora é deles. Era acabar-lhes com a raça.
Rua. Vão roubar pra sua terra.
– Também eu digo.
José Rodrigues Miguéis, Uma Aventura Inquietante, in http://escolaefixe.yolasite.com/resources/
Portugu%C3%AAs%208%C2%BAano%20completo-%20J%C3%A1%20Passei.pdf (acedido em 10/03/2014)

Lê o excerto abaixo e responde às perguntas que se seguem.

Sô Simão, um velhote da oficina, muito em segredo, disse a Domingos o


rapaz não estava sozinho quando o administrador viera-lhe prender. A outra
pessoa, que estava com ele, tinha fugido na janelinha detrás. Passava da uma
da manhã quando isso se dera, mas velho Simão, com sua insónia crónica
5 trazida de S. Paulo, Brasil, estava na janela e vira o vulto fugir, mas não ligara,
pensava era aventura de mulheres. Mais tarde, porém, o nome que segredou
para Domingos, quando estava verificar a folga dos rastos do tractor, mas sem
dar certeza, foi para o tractorista não uma revelação, mas a confirmação das
suas suspeitas. Porque, nesse dia, Sousinha tinha-lhe falado:

71
2 Texto narrativo

10 – Sabe, amigo Domin-


gos?! Estou chateado. Esta
conversa do Timóteo… Co-

R
nhecias-lhe bem?

P
– Não. O rapaz vivia muito
15 só, ninguém lhe falava, toda
a gente, lá nas galerias, dizia
era perigoso, desses estu-
dantes… Afinal, olha! Vie-
ram-lhe buscar.
20 – Mas porquê, mano?
Porquê se o rapaz não fa-
lava, se o rapaz não se
metia, vivia sua vida de es-
tudo só?
25 Domingos sorriu, mexeu o chão com um pauzinho, e depois confidenciou:
– Olha, mano! Hoje me disseram ele era um dos bons. Esse rapaz tinha
cabeça. Livros, papéis, só mesmo em Luanda.
Sousinha abriu a boca, admirado, e viu a oportunidade. Cautelosamente,
respondeu:
30 – Não acredito, mano. Não pode!
– Verdade mesmo. Quem disse, não mente.
– E quem te disse, então?
O riso do amigo fez-lhe compreender que assim não conseguia nada.
Sorriu mais e só então começou ele a contar:
35 – Olha, mano! Ando pra te dizer uma coisa. Amigo não tem segredos. Por
isso vou-te contar. Mas você jura não diz a ninguém!
– Juro! Palavra! Podes contar!
Chegou mais a pedra para junto dele, virando a voz num ligeiro sussurro
a juntar nos outros ruídos da sanzala, e segredou:
40 – Eu sei você conheces bem Silvestre. Esse engenheiro te dá muita
confiança, eu te posso contar. Onde ele vai, eu vou também. Onde ele vai,
arranja sempre lugar para mim. Ele diz eu sou bom tractorista. Cheguei nesta
hora, me puseram logo no turno da noite. Um mês o turno não andou para
mim, os brancos só que faziam turno de dia, eu e o Carlitos, nada! Refilei com
45 o capataz, ele quis já cortar meio dia. De maneiras que fui falar no engenheiro…
Luandino Vieira, A vida verdadeira de Domingos Xavier (2003), Editorial Nzila, pp. 19-20

Lê e compreende
1. O que aconteceu com um rapaz?
2. Descreve o estado de espírito de Sousinha ao falar sobre isso.

72
2.6 Categorias da narrativa

3. Que informação deu Domingos a Sousinha sobre o rapaz?


3.1. Como podemos classificar esta forma de caracterização?

R
4. Que história pessoal começou a contar Domingos ao seu interlocutor?

P
5. Classifica as personagens, de acordo com a sua importância no excerto.
6. Classifica-as agora quanto à sua composição.

Escreve e fala
1. Dá seguimento à história de Domingos Xavier, criando um final feliz. A seguir, apresenta a
tua versão à turma.

2.6.4 O tempo
É o momento em que decorre a acção. Pode ser cronológico, histórico ou psicológico.

Tempo cronológico: é objectivo e representa os diferentes momentos em que os


acontecimentos se vão situando (um dia, um mês, um ano…), isto é, o tempo de duração da
história.

Tamoda, muito novo, dirigiu-se à cidade de Luanda, onde viveu muitos


anos. Nesta, trabalhava e estudava nas horas vagas, com os filhos dos
patrões e com os criados do vizinho do patrão. (…)
Já homem e na idade de casar abandonou a cidade e o emprego e voltou
à sanzala que o viu nascer.
Wanyenga Xitu, Mestre Tamoda e Vozes na Sanzala (2009), Mayamba Editora, p. 13

Tempo histórico: contexto temporal ou momento histórico em que se situa a narrativa.

A acção de “Mestre” Tamoda decorre na era colonial, enquanto vigorava


o Estado Novo português, algum tempo antes da luta pela independência.

Tempo psicológico: forma como as personagens vivem a passagem do tempo.

Rolam dias sem afirmativas nem negativas. Uma noite, noite nevada de
luar, estando os dois nas traseiras do quintal de Catarina, Joaquim fala-lhe
mais ao coração: conta-lhe sua constante tristeza, em súplicas se desfaz para
obter o sim. Catarina, hesitante, apresenta subterfúgios. Entretanto deliciava-se
com o ardor da insistência. Mas não se decidia, o pudor embaraçava-a.
Joaquim, no entanto, teimava: aceitasse, não tivesse medo, ele não queria
brincar. Catarina, sempre esquiva, mantinha a angustiosa indecisão.
Óscar Ribas, Wanga (2009), Ministério da Cultura, p. 42

73
2 Texto narrativo

Lê agora o conto abaixo.

R
Mbangu a Musungu

P 5

10
A noite atingia o ómega, suas jóias já se iam afundando no misterioso
relicário. Da banda do Oriente, esfarrapava-se o lúgubre crepe, de galas se
vestia o firmamento. E suave luminosidade escorria como ósculo de mãe.
Pardais, periquitos e outros cantores alados saíam então dos ninhos, em
estridente orfeão homenageavam o dia-menino. De mistura com alacridade,
rolinhas modulavam amorosamente, alguém do coração pareciam embalar.
(…)
Chega o momento anelado. Sob a determinação de Mbangu a Musungu,
o punga, com a sua buzina de corno de boi, suspende o folguedo. E todos,
humildes, mas numa angústia no coração, sentam-se no solo, mesmo em
frente de seu senhor.
– Vós, macotas e povo, vós todos que me ouvis, fixai bem o que vou dizer:
quero que, todos os dias – estais a ouvir? – vades visitar-me na nova pela!
Ninguém falte, a vontade do rei é uma ordem! – recomenda Mbangu a
15 Musungu, arquejante de comoção.
À uma, explode a promessa de fidelidade. E desoprimidos da primeira
inquietação, acompanham-no em formidável cortejo.
Um frenesi galvaniza os corações. Mas será efectivamente verdade?
Mbangu a Musungu meter-se-á mesmo naquele buraco, assim como se
20 fosse enterrado já depois de morto? Só vendo, só vendo! A verdade lia-se na
cara dele, sim, mas, no coração, podia estar escondida a mentira. Ah! Se ele
realmente se enterrasse!...
(…) Mbangu a Musungu, alvoraçado, introduz-se na caverna, depois a
mulher, por fim os escravos. E uma enorme laje, qual porta original, fecha o
25 paço régio.
Na manhã seguinte, a população dirige-se à nova corte, e um macota,
batendo na lousa, pergunta para dentro do respiradouro:
– Mbangu a Musungu, Mbangu a Musungu: então, como se tem dado
por aí?
30 – Menos mal… Só a escuridão é que não me agrada.
No segundo dia, itera-se a romaria. E a mesma personagem, procedendo
como na véspera, torna:
– Mbangu a Musungu, Mbangu a Musungu: então, como se tem dado
por aí?
35 – Isto, afinal, não é como eu supunha. Já estou a aborrecer-me. Se
continuar assim, volto para junto de vocês.
Os romeiros entreolham-se, trocam falas em surdina, e um pensamento,
igual em todos os cérebros, nasce espontâneo: evitar a saída de Mbangu a
Musungu. Semelhante a uma epidemia, lavra uma momice geral: careteiam,

74
2.6 Categorias da narrativa

40 fazem gestos descorteses, rosnam


impropérios. Ninguém o queria mais para
ser rei, o descontentamento concebera o

R
ódio. (…)

P
No terceiro dia, a turba, mais interessada
45 ainda, peregrina novamente ao real
sepulcro. Destapado o orifício, o mesmo
áulico repete a pergunta habitual:
– Mbangu a Musungu, Mbangu a
Musungu: então, como se tem dado por aí?
50 E a rogativa brota em fio:
– Aiué! Não posso continuar a viver aqui.
Tirem essa pedra, quero sair, senão morro!
Fartámo-nos de gritar, de pedir, mas ninguém acudiu! Aiué, depressa,
depressa, tirem essa pedra, sinto-me morrer!
55 Como resposta, vedam a abertura e antes que os singulares moradores
tentem ressuscitar, sobrepõem calhaus.
Na romagem imediata, nem ruído se ouve. Pelo silêncio, inferem que
Mbangu a Musungu já esteja governando…
Óscar Ribas, Ecos da Minha Terra (2009), Ministério da Cultura, pp. 25-33
(texto adaptado e com supressões)

Lê e compreende
1. Diz se as seguintes afirmações são verdadeiras (V) ou falsas (F), de acordo com o texto. Em
seguida, corrige as falsas.
a) A expressão “A noite já atingia o ómega” (l. 1) significa que a noite estava a chegar ao fim.
b) O rei decidiu mudar de ares.
c) O estado de espírito de Mbangu a Musungu manteve-se igual com o passar dos dias.
d) Os romeiros decidiram trair o rei, impedindo que o mesmo saísse da caverna.
e) Mbangu a Musungu no terceiro dia conseguiu libertar-se da armadilha que os romeiros
tinham preparado.
2. Comenta com os teus colegas qual é a moral da história.
3. Preenche o quadro tendo em conta as referências temporais do texto.

Tempo Fundamentação Excerto do texto


Cronológico
Histórico
Psicológico

75
2 Texto narrativo

2.6.5 O espaço
O espaço pode ser classificado da seguinte forma:

R
P
Espaço físico: é o local onde decorre o acontecimento.

Até que certo Natal aconteceu naquela casa uma coisa que ninguém
esperava. Pois terminada a ceia o Cavaleiro voltou-se para a sua família,
para os seus amigos e para os seus criados e disse:
– Temos festejado e celebrado juntos a noite de Natal. E esta festa tem sido
para nós cheia de paz e alegria. Mas de hoje a um ano não estarei aqui. (…)
Vou em peregrinação à Terra Santa e vou passar o próximo Natal na gruta
onde Cristo nasceu e onde rezaram os Pastores, os Reis Magos e os Anjos.
Sophia de Mello Breyner Andresen, O Cavaleiro da Dinamarca (2014), Porto Editora

Espaço social: corresponde ao meio cultural, económico, político e moral de uma


sociedade.

Na véspera do encontro, o vice-presidente dos Calomboloquenses fora


informado, por um “espião” que se deslocara propositadamente a Nganga
para saber a formação da linha e de outros pormenores feiticistas
relacionados com o encontro, de que o clube de Nganga tinha enterrado
um galo vivo no centro do campo e uma dibunda (pequeno embrulho de
pano com pós feiticistas) de musaku (sortilégio para diversos fins feiticistas)
em cada buraco da baliza, e mais mixórdias noutros sítios.
Wanyenga Xitu, Bola com Feitiço (2009), Mayamba Editora, p. 14

Como podes verificar, há características políticas/económicas (“vice-presidente dos


Calomboloquenses”, “espião”) e culturais (relacionadas com alguns costumes de feitiçaria)
que permitem uma melhor identificação do espaço social onde decorre a acção.

Espaço psicológico: corresponde às vivências emocionais das personagens e ao modo


como as suas emoções e sentimentos se relacionam com os acontecimentos da história.

Catarina comprazia-se com essas manifestações, reputava-as como


testemunho de muito afecto. Mas não lhe dizia que sim, convinha demorar
a resposta. Já gostava dele, porém devia proceder de maneira que a não
tomasse por leviana.
Óscar Ribas, Wanga (2009), Ministério da Cultura, p. 42

Neste excerto, pode-se depreender do facto de Catarina demorar em aceitar o pedido de


namoro que a rapariga estava preocupada com a sua reputação, pois achava que, se
respondesse de imediato, o rapaz poderia interpretar isso como um comportamento leviano
e que não a respeitasse mais.

76
2.6 Categorias da narrativa

Lê o texto abaixo.

A paciência é recompensada

R
P 5

10
Um japonês, apelidado imediatamente pelos kaluandas de Chibo, por
causa da barbicha que ostentava, montou a sua barraca de campista no meio
do largo, junto das tendas dos refugiados, se armou de toda a paciência
oriental e ficou durante dias, atrás da sua máquina de filmar com tripé,
apontada para os poucos prédios que restavam erectos, do lado da praça
onde tinha caído o primeiro. A malta da televisão angolana gozava o japonês,
metia conversa, filmava-o a ele e fazia reportagem sobre o insólito operador
de câmara que apostara filmar um prédio a cair. E até apostara no edifício,
pois a câmara estava vinte e quatro horas apontada para o mesmo. A malta da
televisão gozava e depois ia embora para alguma farra. Erro de
subdesenvolvido. Quando o prédio do restaurante caiu, só Chibo filmou a
cena toda. Era a primeira vez que se podia observar no vídeo e ao retardador
se apetecesse, um prédio do Kinaxixi a ruir. Chibo vendeu o vídeo a uma
televisão americana que se vê em todo o planeta, ficou rico, foi construir a sua
15 casa anti-sísmica numa ilha japonesa. E a malta da televisão angolana ficou a
roer as unhas, o raio do oriental lhes tinha ensinado que a paciência paga.
Pôssas, meu, com o produto ali mesmo na mão, lhe deixámos escapar embora
para o japonês. Só mesmo muita cerveja faria esquecer tanta frustração.
Com o vídeo do Chibo, já se podia estudar melhor o fenómeno. E
20 observar a reacção da senhora espanhola que, apanhada no ar por ventos
contrários, apenas se preocupava em apertar a saia para não mostrar as
cuecas. Ou a criança que sorria e agitava os braços tentando voar. Ou o
médico que desceu segurando o estetoscópio. Ou o polícia com as calças
arreadas, porque foi apanhado em plena retrete. No entanto, as escolas se
25 dividiam em debates, os especialistas das diversas áreas se pegavam à
pancada e sapatada como em alguns respeitáveis parlamentos, ninguém
conseguia apresentar uma tese plausível para explicar as causas da
síndrome de Luanda. Mesmo com o vídeo do japonês.
Pepetela, O Desejo de Kianda (2008), Dom Quixote, pp. 79-80

77
2 Texto narrativo

Lê e compreende

R
1. Qual a razão para os luandenses darem uma alcunha ao repórter asiático?

P
2. Por que razão os angolanos zombavam dele?
3. O que ajudou o japonês a persistir no seu trabalho?
4. Qual foi a recompensa pelo seu empenho?
5. Qual é a moral da história?
6. Completa o quadro, tendo em conta as referências espaciais do texto.

Tipo de espaço Fundamentação Excerto do texto


Físico
Social
Psicológico

2.6.6  s modos de representação e de expressão do


O
discurso
Existem dois modos de representação e de expressão do discurso do narrador: a narra-
ção e a descrição.

Narração: é a apresentação dos acontecimentos, a qual é feita pelo narrador ou por uma
personagem. Predomina neste modo o pretérito perfeito simples do indicativo:
Desde pequeno sempre tive uma inclinação para a profissão de carpinteiro.
Era uma inclinação nata que só me deixou sossegar depois que lhe fiz a
vontade: aceitei tornar-me servo dela.
Wanyenga Xitu, Manana (2009), Mayamba Editora, p. 29

Descrição: é um fragmento textual em que são referidas características de espaços, ob-


jectos, personagens, etc. Pode surgir de forma isolada ou integrada num texto narrativo.
Os aspectos linguísticos predominantes no texto descritivo são os seguintes:

• verbos copulativos, como o verbo ser, caracterizadores de qualidade e de estados.

O mestre era tão querido pelos seus petizes…


Wanyenga Xitu, Mestre Tamoda e Vozes na Sanzala (2009), Mayamba Editora, p. 15

• tempos verbais como o pretérito imperfeito do indicativo.


Tamoda (este nome é alcunha e gostava muito dele, foi-lhe dado pela
rapaziada quando garoto, sete anos, e poucos o não conheciam por outro
nome) não conseguiu levar o cabo.
Wanyenga Xitu, Mestre Tamoda e Vozes na Sanzala (2009), Mayamba Editora, p. 28

78
2.6 Categorias da narrativa

• abundância de adjectivos qualificativos.

Catarina, sempre esquiva, mantinha a angustiosa indecisão. Joaquim,

R
subitamente contrariado, cala-se. (…)

P
Óscar Ribas, Wanga (2009), Ministério da Cultura, p. 42

A descrição pode ainda ser estática e dinâmica.

Descrição estática: a situação descrita apresenta-se sem movimento:

Rosa era uma moça de olhos grandes, baixa de estatura e de muito cabelo.
Tinha o andar de pata, como a alcunhavam. A irmã, Gina, mais estreita, da
mesma estatura de Rosa, também com uma farta cabeleira, era mais simpática.
Wanyenga Xitu, Manana (2009), Mayamba Editora, pp. 37-38

Descrição dinâmica: a circunstância descrita apresenta movimento:

Nos primeiros dias apenas cheirava a comida que lhe era servida em
cima de uma lasca de folha de bananeira. Dava meia volta e afastava-se para
longe, sem sequer lamber os alimentos. Deitava-se à sombra do tamarindeiro
que ficava mesmo no centro do acampamento e aí passava o resto do dia,
como que morto.
Roderick Nehone, O ano do cão (2011), 4.ª edição, Mayamba Editora, p. 25

Lê agora o texto abaixo.

Cassundinho, preocupado, aproximava-se e olhava atentamente para a


barriga do cão, cujas contracções davam-lhe o tranquilizante sinal de que o
animal, apesar de cada dia mais magro, ainda estava com vida. A cena
repetiu-se por vários dias até que, não vendo qualquer mudança na ementa
5 e sentindo as suas energias esvaírem-se, decidiu provar o pitéu. Todas as
manhãs quando fosse à lagoa de Ibêndua o rapaz pensava nos dois. Ficava
lá o tempo necessário para que de regresso trouxesse alguns cacussos e
bagres para ambos. O resto trocava com batata-doce, mandioca, carvão e
outros ingredientes para preparar uma boa cacussada com mandioca ou
10 batata-doce e kizaka e o que sobrasse ainda, vendia. Inicialmente, quando
já não foi possível continuar com a greve de fome ser pôr a sua própria
existência em perigo, este manjar foi tragado por Bolinha com muita
dificuldade. Provocava-lhe alguns vómitos, excesso de salivação e mal-estar
depois da ingestão. Porém, pouco tempo passou para que se habituasse e
15 muito cedo começou a trazer problemas para o seu pequeno dono.
Muita gente queixava-se de que o cão do miúdo lhe roubara os cacussos
que estavam a ser assados no fogareiro. Tantas foram as denúncias que
Cassundinho arranjara então uma corda de nylon vermelho que amarrou-lhe

79
2 Texto narrativo

ao pescoço para tê-lo à rédea curta. Logo no


20 primeiro dia retirou-lhe e deitou fora a fralda
emporcalhada. Depois começou a levar o

R
cão consigo nas suas idas à lagoa, onde tinha

P
de conseguir também pescado para pagar os
prejuízos causados pelo animal.
25 Às quatro da manhã abandonavam
silenciosamente a tenda. O cão detectava
rapidamente o despertar do homem.
Percorriam quase dois quilómetros de
pisada ziguezagueante, descendo para a
30 lagoa. O zumbido de insectos vários, entre
libélulas e mosquitos, mesclado com o
chilreio matinal dos pássaros e o cheiro de
capim queimado proveniente das fogueiras
da gente que junto à lagoa aquecia-se ou
35 fazia o seu café, ambientava o local. Já na beira barrenta divisavam sobre as
águas calmas, lá bem longe, fugazes piscares de luzes. Eram os candeeiros a
petróleo que os pescadores levavam consigo nas frágeis canoas. A espera
durava hora e meia ou duas, em permanente agitação de palmadas sobre os
braços, costas, pernas e coxas para matar ou afugentar os mosquitos. As
40 orelhas também não ficavam a salvo.
Roderick Nehone, O ano do cão (2011), 4.ª edição, Mayamba Editora, pp. 25-26

Lê e compreende
1. Embora a princípio não quisesse comer cacusso, por que razão o cão se rendeu?
2. Que dificuldades teve Bolinha para se adaptar à nova dieta?
3. Depois de se adaptar à nova dieta, que problemas começou a causar o cão às pessoas?
4. O que tinha de fazer Cassundinho para reparar tais danos?
5. Descreve o ambiente à volta da lagoa.
6. Preenche a grelha, retirando do texto quatro excertos que exemplifiquem dois momentos
narrativos e dois descritivos. Fundamenta as tuas escolhas.

Classificação Excertos do texto Fundamentação

Narração (excerto 1)

Narração (excerto 2)

Descrição (excerto 1)

Descrição (excerto 2)

80
2.7 Sistema da língua

2.7 Sistema da língua

R
Vamos agora aprender sobre dois aspectos gramaticais e a sua função nos textos narrativos.

P
2.7.1  alores semânticos dos tempos verbais:
V
estado, acontecimento, processo
No texto narrativo, os tempos verbais mais usados são:

Pretérito imperfeito e presente do indicativo: indicam um momento de pausa na acção.

As noites eram frias, em Junho, a sanzala iluminada de lareiras alimentadas


de capim, à volta das quais bailavam miúdos, numa, e noutras contavam-se
as mais diversas histórias e petas que provocavam os gritos e assobios de
alegria. A madrugada neblina, cacimba; ao ir-se à lavra, a visibilidade é
dificultada por uma fumaça branca, ténue, fria, que não deixa divisar em
condições os carreiros traçados pelo piso secular das pegadas dos camponeses
e viandantes.
Wanyenga Xitu (2009), Os discursos do Mestre Tamoda, Mayamba Editora, p. 23

Pretérito perfeito e mais-que-perfeito do indicativo: apresentam as acções da história,


permitindo o avanço da mesma.
A frase sob o ponto de vista gramatical passou a significar também uma
saudação como «bom-dia», «boa-tarde?», «como estás?». Dúvidas não
houvera que Tamoda tinha que encontrar muitos inimigos. Lamentavam os
velhos que «desde os tempos recuados das escolas da nossa área onde
estudaram o Massangu (falecido velho Oliveira Fortunato), com a vinda do
Pastor Evangélico José Paulino e com o professor Manuel Kundinda (falecido
velho Manuel António da Silva), nunca os nossos filhos ficaram tão
assanhados como agora. Será que este Tamoda tinha aprendido numa escola
especial para endiabrar tanto assim os nossos filhos?»
Wanyenga Xitu (2009), Os discursos do Mestre Tamoda, Mayamba Editora, pp. 27-28

Por último, nas narrativas proféticas, muito frequentes na Bíblia, o tempo empregado é o
futuro do indicativo (ou do conjuntivo) com o objectivo de antecipar os acontecimentos da
narrativa.
Eis que ainda três reis estarão na Pérsia, e o quarto acumulará grandes
riquezas, mais do que todos; e, tornando-se forte, por suas riquezas, suscitará
a todos contra o reino da Grécia.
Depois se levantará um rei valente, que reinará com grande domínio, e
fará o que lhe aprouver.
Mas, estando ele em pé, o seu reino será quebrado, e será repartido para
os quatro ventos do céu; mas não para a sua posteridade, nem tampouco

PLA-LP10_06
81
2 Texto narrativo

segundo o seu domínio com que reinou, porque o seu reino será arrancado,
e passará a outros que não eles.
E será forte o rei do sul; mas um dos seus príncipes será mais forte do que

R
ele, e reinará poderosamente; seu domínio será grande.

P
Mas, ao fim de alguns anos, eles se aliarão; e a filha do rei do sul virá ao rei
do norte para fazer um tratado; mas ela não reterá a força do seu braço; nem
ele persistirá, nem o seu braço, porque ela será entregue, e os que a tiverem
trazido, e seu pai, e o que a fortalecia naqueles tempos.
Excertos do Livro de Daniel, Bíblia Sagrada – Versão Almeida Corrigida Fiel

De acordo com o contexto, os tempos verbais podem adquirir valores semânticos (ou sig-
nificados) diversos. Atenta nas seguintes informações.

Estado: é transmitido por verbos de significação indefinida (ficar, ser) seguidos de um


nome predicativo do sujeito.

… nunca os nossos filhos ficaram tão assanhados como agora.


Wanyenga Xitu (2009), Os discursos do Mestre Tamoda, Mayamba Editora, p. 28

Acontecimento: o emprego de verbos activos é muito frequente nos momentos de nar-


ração (fazer, causar, provocar…).
… o quarto acumulará grandes riquezas, mais do que todos…
Excertos do Livro de Daniel, Bíblia Sagrada – Versão Almeida Corrigida Fiel.

Processo: através do emprego de verbos meteorológicos (trovejar, chover, ventar), de ac-


tividade física (dançar, correr, lavar, limpar) e de movimento (ir, vir, viajar, voltar…).
As casas de latas de petróleo lá do Samba Kimôngua deixam passar a água
quando chove.
Agostinho Neto, «Náusea».

Lê o excerto abaixo.

A importância da organização
Após ter lido duas vezes o capítulo acerca de Aristóteles, Sofia meteu de
novo as folhas no envelope amarelo e olhou ao seu redor. Viu logo que estava
tudo desarrumado.
No chão, havia livros e dossiês. Do armário saíam camisas, meias e jeans.
5 Em cima da cadeira, junto à escrivaninha, estavam vestidos sujos, misturados.
Sofia sentiu um impulso irresistível de “arrumar”.
Em primeiro lugar, despejou todas as gavetas do armário.
Pôs os vestidos no chão. Era importante começar tudo do princípio. Assim,

82
2.7 Sistema da língua

deu-se ao trabalho de dobrar cuidadosamente todas


10 as peças de vestuário, e de as colocar nas prateleiras.
No armário havia sete prateleiras. Sofia reservou

R
uma para as cuecas e para as camisolas, outra para

P
meias e uma para calças. Deste modo encheu por
ordem todas as prateleiras do armário. Nunca teve
15 dúvidas sobre o lugar de cada peça de roupa. As
coisas que deviam ser lavadas colocou-as num saco
de plástico que encontrara na prateleira do fundo.
Só uma única peça de roupa lhe dava problemas.
Era uma meia branca comprida, normalíssima. O
20 problema não era apenas o facto de a segunda meia
faltar. A meia nunca pertencera a Sofia.
Observou a meia branca durante alguns minutos. Não havia nenhum
nome escrito.
Mas Sofia tinha uma forte suspeita de quem era a dona.
25 Atirou-a para a prateleira mais alta juntamente com o saco de peças de
Lego, a fita de vídeo e o lenço de seda vermelho.
Era a vez do chão. Sofia separou livros e “dossiês”, revistas e cartazes –
exactamente como o seu professor de filosofia tinha descrito no capítulo
sobre Aristóteles.
30 Quando o chão já estava despachado, fez primeiro a cama, e em seguida
passou à escrivaninha.
No fim de tudo, pôs as folhas sobre Aristóteles num monte ordenado.
Pegou num “dossiê” vazio e num furador, furou as folhas e juntou-as por
ordem no “dossiê”. Colocou o “dossiê” no armário, junto à meia branca. Mais
35 tarde, iria à toca buscar a caixa dos biscoitos.
A partir daí, devia haver ordem nas coisas. Sofia não pensava apenas nas
coisas do quarto. Depois de ter lido acerca de Aristóteles sabia que era
igualmente importante manter a ordem em conceitos e idéias.
Jostein Gaarder, O mundo de Sofia (1994), Editorial Presença, pp. 80-1

Funcionamento da língua
1. Identifica no texto verbos com os três valores semânticos estudados, justificando a tua escolha.
2. Identifica, no segundo parágrafo, todos os hipónimos que encontrares. Depois, refere os
hiperónimos dos respectivos hipónimos.
3. Classifica os seguintes vocábulos como homónimos ou homógrafos, justificando a tua res-
posta à luz dos conceitos estudados anteriormente.
a) peça (nome) / peça (verbo); c) fundo (nome) / fundo (verbo);
b) pára (verbo) / para (preposição); d) monte (verbo) / monte (nome);
3.1. A seguir, enquadra cada uma das palavras em frases mantendo a sua classe gramatical.

83
2 Texto narrativo

2.7.2 Discurso relatado (directo, indirecto e indirecto livre)


Na narrativa, o discurso – aquilo que é dito pelo narrador e pelas personagens – pode

R
tomar diferentes configurações.

P
Discurso directo: apresentação das falas da(s) personagem(ns) tal
como foram produzidas. Para o efeito, faz-se uso de dois sinais gráficos:

o travessão (–)
A mais-velha já tinha-lhe avisado:
– Dina! É hoje ele vai vir. Menina t’alegra-se!

as aspas (« ») ou vírgulas altas (“ ”)


Luandino Vieira, Vidas Novas

O mais jovem disse ao pai: «Pai, dá-me a parte da herança que me cabe.»
Parábola do Filho Pródigo

As características gerais deste discurso são as seguintes:

Características do discurso directo Exemplos (excertos de textos já estudados)


Pronomes e determinantes – Olha, mano! Ando pra te dizer uma coisa. Amigo não
na 1.ª e 2.ª pessoas tem segredos. Por isso vou-te contar. Mas você jura não
diz a ninguém!
– A minha mãe era a tua lavadeira.
Advérbios de
- lugar: aqui, cá «Quantos empregados de meu pai têm pão com
fartura, e eu aqui, morrendo de fome!»
- tempo: hoje, agora, ontem, amanhã «– Dina! É hoje ele vai vir.»
Verbos no
- presente do indicativo «– Amanhã eu e o pai vamos almoçar fora. A vossa
comida fica pronta e vocês levam a chave.»
- presente do conjuntivo «Pensei nos golfinhos de Edmonton, tão bem
ensinados, e, embora não goste de ver exibições de
animais amestrados, achei que alguma razão profunda
terá de haver para que certos animais consigam
suportar a presença humana...»
- futuro do indicativo «Quando eu passar por aqui na volta, pagarei o que
- futuro do conjuntivo você gastar a mais com ele.»
- imperativo «– Não me faças essa desfeita!»

Pontuação variada «(1.ª boneca) – O que vai aquela mulher fazer?»


«(2.ª boneca) – Ora... vai comer!...»

84
2.7 Sistema da língua

Discurso indirecto: reprodução das falas de uma personagem pelo narrador, com as de-
vidas transformações de tempo, espaço e pessoa. Além disso, existem verbos introdutores
(dizer, perguntar, ordenar…).

R
P
As características gerais deste discurso são as seguintes:

Características do discurso indirecto Exemplos (excertos de textos já estudados)


Pronomes e determinantes «Um dia as árvores se puseram a caminho para ungir
na 3.ª pessoa (ou não-pessoa) um rei que reinasse sobre elas.»
«Marajá era obrigado pelos pais da menina a levá-la a
casa quando o treino terminasse tarde.»

Advérbios de
- lugar: ali, lá «Dina estava lá, nessa hora do fim da tarde, quase sem
sol já, sentada na porta da cubata, coçando as pernas.»
- tempo: naquele dia, naquele «Arlete queria-a viva, para a levar ao liceu, e calhava no
momento, no dia anterior, no dia dia seguinte ter uma aula de ciências.»
seguinte
Verbos no
- pretérito imperfeito do indicativo «No dia do baptismo, na Igreja da Ilha do Cabo, o
chorado Padre que lá andava fez questão por causa
desse nome. Não era nome de Santa.»
- pretérito imperfeito do conjuntivo «Mas recomendou que a tratassem por Mariana ou
Ana, embora a registasse – segundo a vontade dos
avós – com o nome de MANANA.»
«Ao pular, os seios seguiam o ritmo de zacajamar;
- infinitivo
quando fazia o gesto de quem estava a macaquear,
- condicional
com a raquete à espera, à espreita de que lado a
adversária iria atirar, era beleza e daria gosto de ver a
brincar com a raquete.»

«Tempos depois foi o pescador à procura da velhinha,


Pontuação reduzida a praticamente que era uma fada, entregou-lhe as bonecas e
dois sinais: vírgula e ponto. agradeceu-lhe muito o que lhe tinha feito, pois agora já
era feliz.»

Discurso indirecto livre: consiste na junção de características de ambos os discursos, di-


recto e indirecto, por parte do narrador sem o uso de verbos introdutores, dando a sensação
de ser a personagem a expressar-se.
Alegria como ainda com esses olhos grandes, lá em cima da torre deles,
de ferro com tinta de alumínio, que mijavam à luz amarela nas areias
vermelhas dos musseques, despindo cubatas…
Luandino Vieira, Vidas Novas (1985), União dos Escritores Angolanos, p. 13

85
2 Texto narrativo

Lê o texto que se segue.

R
Estes casos passaram no Santo

P
Rosa, em Maio de 61.
Dina estava lá, nessa hora do fim
da tarde, quase sem sol já, sentada
5 na porta da cubata, coçando as per-
nas. As moscas não lhe largavam na
ferida, e as mãos já sabiam mesmo
o jeito de lhes enxotar. Pelas areias
fora, como ainda a luz do dia, as
10 pessoas voltando no serviço iam-se
escondendo, guardar sua tristeza
ou alegria nas cubatas pequenas e
escuras, e nas portas e quintais os
monas brincavam só. E essa tristeza
15 que tem nos fins das tardes de Maio
amarrava mais, adiantava comer na
alegria que ia precisar no serviço
desse dia. A mais-velha já tinha-lhe
avisado:
20 – Dina! É hoje ele vai vir. Menina t’alegra-se!
Mas também alegrar como então nesses dias assim, nessas horas de
confusão das pessoas e das coisas, tiros dentro das noites, muitas vezes
gritos de cubatas invadidas, choros e asneiras e mais tiros e depois ainda o
fugir de passos, o correr de jipes com soldados de metralhadora disparando
25 à toa, nas sombras e nas luzes, nos gatos e nas pessoas? Alegria como ainda
com esses olhos grandes, lá em cima da torre deles, de ferro com tinta de
alumínio, que mijavam à luz amarela nas areias vermelhas dos musseques,
despindo cubatas, sombras boas de cambular fregueses, dar encontro com
alguém que lhe queira fora desse serviço dessa velha Mabunda, sempre lhe
30 avisando, sempre arreganhando:
– Adiantou queixar você agora já não fazes serviço bem feito! Não sei
mesmo o que pensa na sua cabeça, menina. Um rapaz bonito então!... E
amigo, como você sabe!
Luandino Vieira, Vidas Novas (1985), União dos Escritores Angolanos, pp. 13-14

Funcionamento da língua
1. Retira do texto em análise quatro passagens (duas no discurso directo e duas no discurso
indirecto livre).
1.1. De seguida, passa os dois excertos no discurso directo para o indirecto.

86
2.7 Sistema da língua

2.7.3 Marcadores textuais


Os marcadores textuais apontam para a pessoa que produz o discurso ou a quem se dirige

R
o discurso, para o espaço ou para o tempo em que o mesmo foi produzido.

P
Pronomes pessoais: são usados no texto com o objectivo de estabelecer, entre outras,
relações de proximidade/distanciamento.

Quando eu passar por aqui na volta, pagarei o que você gastar a mais
com ele.
Extracto do Evangelho de Lucas, Nova Tradução na Linguagem de Hoje

(Neste excerto, o samaritano, ao usar «você», fá-lo para estabelecer uma relação de certo
distanciamento, pois não tem intimidade com o senhor da hospedaria.)
– Amanhã eu e o pai vamos almoçar fora. A vossa comida fica pronta e
vocês levam a chave.
Manuel Rui, Quem me dera ser onda

(O pronome «vocês» é usado pela mãe de Ruca e Zeca com o objectivo de estabelecer
uma relação de proximidade, pois refere-se aos seus filhos.)

Pronomes e determinantes demonstrativos: aparecem no texto como deícticos de


lugar, ou seja, estabelecem pelo menos as seguintes relações:

dimensão longe-perto
Põe essa tristeza de lado / veste este sorriso não faz mal
Paulo Flores, «Angola que Canta», Recompasso (1999)

Em virtude da tristeza do enunciatário, sentimento que lhe pertence, o autor destes versos
usa o demonstrativo «essa». Por outro lado, o enunciador traz alegria para o interlocutor,
evidenciado pelo «sorriso» antecedido pelo demonstrativo «este».

dimensão de tempo
(…) mas ela não reterá a força do seu braço; nem ele persistirá, nem o
seu braço, porque ela será entregue, e os que a tiverem trazido, e seu pai, e o
que a fortalecia naqueles tempos.
Excertos do Livro de Daniel, Bíblia Sagrada – Versão Almeida Corrigida Fiel

A palavra «naqueles» foi usada para indicar um momento distante em relação ao tempo
da enunciação, neste caso o futuro.

Caso se usasse o marcador «nestes», esta palavra haveria de remeter-nos para um


momento próximo em relação ao momento da enunciação (o presente).
«Sua filha sabe que só pode usar o celular até às 9 da noite, mas, duas
vezes nesta semana, você a pegou trocando mensagens de texto depois da
meia-noite.»
Revista Despertai! de Maio/2013, p. 4

87
2 Texto narrativo

Faz a leitura do texto abaixo.

Na mesma hora em que a professora chegou, já tinham-lhes separado.

R
Mesmo assim arrancou para o meio dos miúdos e pôs duas chapadas na

P
cara de Zito. O barulho das mãos na cara gordinha do monandengue calou
a boca de todos e mesmo o Feo, conhecido pelo riso de hiena, ficou
5 quietinho que nem um rato.
– Miúdos ordinários, desordeiros! Quem começou? – e a fala irritada da
mulher cambuta e gorda fazia-lhe ainda tremer os óculos na ponta do nariz.
Ninguém que se acusou. Ficaram mesmo com os olhos no chão da aula,
fungando e espiando os riscos que os sapatos tinham desenhado no
10 cimento durante a confusão. Raivosa, a professora deu um puxão na manga
de Zito e gritou-lhe:
– Desordeiros, malcriados! És sempre tu que arranjas complicações!
– É ele mesmo! – e essa acusação de Bino obrigou toda a gente a gritar,
apontando-lhe, sacudindo o medo de respeito que a professora trazia
15 quando chegava.
– Foi ele, sô pessora! Escreveu coisas…
– É bandido. O irmão é terrorista!
E os gritos, os insultos escondidos, apertaram-se à volta de Zito Makoa
enquanto a professora sacudia com força o braço, para ele confessar
20 mesmo. O miúdo, gordinho e baixo, balançava, parecia era boneco e não
chorava com soluços, só as lágrimas é que corriam na cara arranhada da
peleja que tinha passado.
Luandino Vieira, Vidas Novas (1985), União dos Escritores Angolanos, pp. 115-16

88
2.8 Níveis/formas de tratamento

Funcionamento da língua

R
1. Retira do texto um excerto com um marcador textual e refere o tipo de relação aí demonstrada.

P
2.8 Níveis/formas de tratamento

Atenta no seguinte extracto.

– Não te apoquentes mais que amanhã já comes melhor.


«A Gulosa», in http://www.minerva.uevora.pt/itic/sites/fdcarvalho/contostradicionais.html
(acedido em 01/03/2014)

Este discurso, pertencente a uma velha, foi dirigido para o pescador com quem ela se en-
controu no mar. E a velha, ao dirigir-se ao pescador, manifestou um certo grau de intimidade,
tratando-o por TU, como se pode evidenciar na frase acima descrita, em que as formas ver-
bais («apoquentes» – do verbo apoquentar e «comes» – do verbo comer, bem como a forma
pronominal «te») se encontram na 2.ª pessoa do singular.
Quando falamos com alguém, devemos ter em conta diversos aspectos: a idade, a posição
que a pessoa ocupa na sociedade, o grau de proximidade, o nível estudantil, profissional, etc.
Deste modo, tratamos por TU os nossos amigos, ou seja, as pessoas com quem temos uma
certa intimidade. E, a ser assim, vamos fazer, sempre que nos dirigirmos a alguém da nossa
confiança, o uso de formas verbais da 2.ª pessoa do singular, bem como das formas pronomi-
nais: te, ti, contigo, teu, tua, teus, tuas.

Ex.: – Não te apoquentes.

Ao dirigirmo-nos a uma pessoa desconhecida ou que não seja de idade superior à nossa,
devemos tratá-la, regra geral, por você, senhor, senhora. Para o caso, as formas verbais e pro-
nominais são as da não-pessoa: se, si, consigo, seu, sua, seus, suas, o, a, os, as, lhe, lhes.

Ex.: – Não se apoquente.

No contexto angolano existem formas de tratamento especiais como tio, mano, mais velho,
paizinho, papá, mamã, e outras semelhantes a estas. Quando estamos diante de alguém numa
posição hierarquicamente superior à nossa e quisermos pedir ou solicitar algo, sobretudo na
zona suburbana, tratamos os adultos por tio, uma vez que na cultura africana o pai do teu
amigo é também teu pai. É, portanto, falta de respeito dirigir-se a um mais velho, quer seja pai,
mãe, tio, vizinho, e tratá-lo por você. Quem assim o faz é repreendido de imediato, podendo
chegar inclusive a ser sancionado. Portanto, você, no contexto angolano, é informal, estando
sempre em termos de uso de igualdade com o tu. Os jovens entre si tratam-se por tu ou por
você, muitas vezes não uniformizando a forma de tratamento. Frases do tipo «Você não foi à
escola? É que não te vi.” são muito comuns. Portanto, você e tu funcionam na realidade socio-
linguística angolana como tratamentos informais, sendo mano, tio, paizinho… considerados
implicitamente como tratamentos formais, sobretudo nos meios mais suburbanos.

89
2 Texto narrativo

Lê os excertos A e B.

Excerto A

R
P
– Não, senhora Isaura, só teria medo se eu quisesse intrujar a rapariga.
Dou-lhe a minha palavra de honra que eu gosto da menina, e estou para
aguentar tudo o que vier. O facto de eu ser casado não influi no assunto.
Vivem, por aí, muitos com amantes!
– Está bem, senhor Felito, até o Pedro tem amantes, mas quando o seu
pai ouvir, assim como a sua senhora, todos vão-me meter no fogo!
Wanyenga Xitu, Manana (2009), Mayamba Editora, p. 69

Excerto B
– Olha, mano! Ando pra te dizer uma coisa. Amigo não tem segredos. Por
isso vou-te contar. Mas você jura não diz a ninguém!
– Juro! Palavra! Podes contar!
Luandino Vieira, A vida verdadeira de Domingos Xavier (2003), Editorial Nzila, p. 22

Funcionamento da língua
1. Identifica, nos diálogos acima, a forma de tratamento e, a seguir, passa-os para a forma oposta.

2.9 Normas técnicas de elaboração de resumo e


síntese de textos
Resumir ou sintetizar um texto é torná-lo menor, mas respeitando as ideias principais do
autor e a sequência lógica das mesmas, sem a introdução de ideias pessoais.

Os procedimentos gerais para um resumo eficaz são os seguintes:


• proceder à leitura atenta e integral do texto com o objectivo de apreender a ideia global
do mesmo;
• ler parágrafo por parágrafo para destacar as palavras-chave que poderão ser empregadas
no resumo;
• dividir o texto em partes lógicas e, de seguida, atribuir títulos a estas partes. Num texto
narrativo, por exemplo, cada sequência narrativa – situação inicial, complicação, acção,
resolução da complicação, situação final, moral (implícita ou explícita) corresponde a
uma parte lógica;
• resumir o texto por partes (parágrafo por parágrafo), tendo o cuidado de não omitir as
ideias principais;
• por fim, conectar os resumos das partes para produzir o resumo global do texto, fazendo
sempre uma revisão cuidadosa com o objectivo de se certificar de que o essencial consta
do resumo elaborado.

90
2.9 Normas técnicas de elaboração de resumo e síntese de textos

Exemplo de texto e seu resumo

Texto

R
Soneto do amor total

P 5

10
Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante


E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente


De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde


É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinicius de Moraes, in http://www.citador.pt/poemas/soneto-do-amor-total-vinicius-de-moraes
(acedido em 28/03/2014)

Proposta de Resumo
Ao declarar-se à sua amada, o sujeito poético descreve as qualidades
do seu amor, tais como a grandeza, a omnipresença e a intensidade, e fala
das consequências que advirão deste amor intenso.

Escreve
1. Aplicando os critérios estudados, resume o texto da página 86.

Ouve
1. 
Vais ouvir uma notícia intitulada «Optar por clarear a pele é sofrer de complexo de inferio-
ridade» (www.dw.com/pt).
1.1. Transcreve a fala de Puto Purtuguês.
1.1.1. Identifica o tipo de discurso nela presente.
1.1.2. Reescreve-a no discurso contrário.

91
Testa os teus conhecimentos

R
P
Lê o seguinte conto e responde com clareza às questões se lhe seguem.

Da sua cubata de Samba Kimôngua, velho João saiu com a família, de


manhãzinha muito cedo, e desceu a calçada, atravessou a cidade, toda a
cidade mesmo, até os confins da baixa, passou pela ponte e pisou a ilha.
Mas não já a mesma ilha dos tempos antigos. Pisou uma ilha sem areia,
5 asfaltada, com casas bonitas onde não moram pescadores.
Velho João ia visitar o irmão que estava doente, mas também queria
escapar por algum tempo ao calor da cubata de latas de petróleo. A ilha é
fresca quando se repousa à sombra dos coqueiros contemplando os
pescadores a recolher o peixe.
10 Depois do almoço, um bom almoço em boa paz familiar, onde tudo se
esqueceu, excepto a alegria de viver e a boa pinga, o velho saiu com o
sobrinho, a arrastar os pés pela areia quente da praia, deixando-se mesmo
molhar, com uma alegria infantil, por uma ou outra onda mais comprida.
Evocava os seus já distantes tempos de miúdo, quando era apenas o filho
15 mais novo dum pescador. Tinham-se passado anos. Preferira carregar sacos
às costas por conta de brancos da baixa a morar na cubata de latas de
petróleo de Samba Kimôngua. Mas se fosse agora! Ficaria embora na ilha; a
pescar e a sentir o mar.
De repente olhou para longe e disse ao sobrinho, estendendo o braço:
20 – O mar. Mu’alunga!
O sobrinho olhou para ele esperando mais alguma coisa, sem
compreender o significado que o tio queria dar àquela palavra. Porém, ante
o silêncio do tio, desviou a atenção.
Velho João já olhava de novo a areia e monologava intimamente.
25 Mu’alunga. O mar. A morte. Esta água! Esta água salgada é perdição. O mar
vai muito longe, por aí fora. Até tocar o céu. Vai até à América. Por cima,
azul, por baixo, muito fundo, negro. Com peixes, monstros que engolem
homens, tubarões. O primo Xico tinha morrido sobre o mar quando a canoa
se virou ali no mar grande. Morreu a engolir água. Kalunga. Depois vieram
30 os navios, saíram navios. E o mar é sempre Kalunga. A morte. O mar tinha
levado o avô para outros continentes. O trabalho escravo é Kalunga. O
inimigo é o mar.
Velho João lembrou-se de que umas vezes o mar estava muito furioso
mas nunca ninguém se levantou contra ele. Kalunga matava e o povo ia
35 chorar vítimas nos batuques. Kalunga acorrentou gente nos porões e o povo
apenas teve medo. Kalunga chicoteou as costas e o povo só curou as feridas.
Kalunga é a fatalidade. Mas porque foi que o povo não fugiu do mar?
Kalunga é mesmo a morte. Trouxe o automóvel e o jornal, a estrada e o
fecho éclair, mas para ficar embora ali ao pé da praia a fazer negaças.

92
Unidade 2 Texto narrativo

40 Ninguém sabe o que está no fundo do


mar. Kalunga brilha à superfície, mas no
fundo, o que há? Ninguém sabe. As

R
casas de latas de petróleo lá do Samba

P
Kimôngua deixam passar a água
45 quando chove. A civilização ficou
embora ao pé da praia, a viver com
Kalunga. E Kalunga não conhece os
homens. Não sabe que o povo sofre. Só
sabe fazer sofrer.
50 Os pés do velho João arrastavam-se
cada vez mais vagarosos sobre a praia.
Esquecera-se agora da sua alegria da
hora do almoço para pensar naquelas
coisas tristes. Tão tristes como o dia em
55 que a primeira mulher morreu após o
parto, a cheirar mal.
Abaixou-se para apanhar uma
concha colorida.
Olhou para Kalunga e sentiu-se mal, agora. Enjoava. Desviou os olhos de
60 Kalunga. Estes encontraram a linda rua asfaltada, verde e negra e lá adiante
a cidade, à beira do mar. Kalunga!
Sentiu náuseas. Não podia mais. Vomitou todo o almoço.
O sobrinho amparou-o e enquanto voltavam para casa, em silêncio, ia
pensando na mania que têm os velhos, de beber demais.
Agostinho Neto, «Náusea», Revista Mensagem, pp. 33-34

Compreensão
1 Apresenta três características que permitem classificar este excerto como um texto narrativo.

2 Classifica o narrador deste texto quanto à ciência e à presença.

3 Faz o levantamento das personagens do texto e preenche a grelha.

Quanto ao relevo Excertos do texto Quanto à composição Excertos do texto


Protagonista: Planas:

Secundária(s):

Modeladas:

Figurante(s):

93
Testa os teus conhecimentos

4 Retira excertos do texto que evidenciem o tempo cronológico e psicológico.

5 Identifica a acção principal e as acções secundárias.

R
6 Transcreve expressões relativas ao espaço físico, social e psicológico.

P
7 Transcreve do texto dois excertos narrativos e dois excertos descritivos. Justifica a tua escolha.

Funcionamento da língua
1 Produz um par de frases usando os vocábulos destacados no conto em estudo, em que evidencies
a sua relação de homonímia.
2 Apresenta cinco hipónimos de peixe e dois merónimos de casa.

3 Diz em que discurso está a frase que se segue. Seguidamente, passa-a para o discurso oposto.

«Velho João lembrou-se de que umas vezes o mar estava muito furioso mas nunca ninguém se
levantou contra ele.»
4 Copia do texto verbos com os valores semânticos apreendidos (estado, acontecimento e pro-
cesso.)
5 Identifica, nos extractos seguintes, a função dos determinantes demonstrativos destacados como
marcadores textuais. Fundamenta a tua resposta.
a) «O sobrinho olhou para ele esperando mais alguma coisa, sem compreender o significado que
o tio queria dar àquela palavra.»
b) «Esta água salgada é perdição.»

Escrita
1 Escreve a continuação do texto no qual dês um final diferente à história.

2 Seguindo os passos aprendidos em 2.9, produz um resumo deste conto.

3 Junto com os teus colegas e sob a orientação do professor, adapta o conto para o teatro (por es-
crito) e apresenta-o à turma.
4 Consulta um Dicionário de Termos Literários (talvez o de Massaud Moisés) para te informares
sobre as diferenças fundamentais entre um conto, uma novela e um romance. Redige um texto
expositivo em que apresentes as conclusões a que chegares.
5 Em 200 palavras, no máximo – e
usando o tratamento formal –, es-
creve uma carta a um amigo teu
que esteja fora de Luanda, na qual
deves informá-lo da situação dos
musseques do teu município em
tempo de chuva.

94
Texto

R
P
lírico

3
Unidade

Texto lírico
3.1 Conceito e características desta tipolo-
gia textual
3.1.1 Desenvolvimento temático
3.1.3 Ritmo
3.1.4 Sonoridades
3.1.5 Espacialização do texto
3.1.6 Forma poética
3.2 Distinção entre prosa e poesia
3.2.1 Prosa poética
Funcionamento da língua / Escrita
3.1.2 Recursos estéticos
3.3 Estudo dos sons: vogais, semivogais e
consoantes
3.3.1 Classificação dos sons: surdos, sono-
ros, orais e nasais
3.4 Articulação e prosódia
3.4.1 Articulação vocálica e consonântica
3.4.2 Alguns aspectos da prosódia
3.5 Acentuação das palavras
3.6 Sinais de pontuação
3 Texto
lírico

R
P
Nesta unidade, procederemos ao estudo do texto lírico, das suas características e de al-
guns dos seus géneros.

3.1 Conceito e características desta tipologia textual

Tipologia textual
Os textos lírico, narrativo e dramático representam atitudes diferentes em relação ao
mundo: dão conta do mundo interior, subjectivo (é o caso da lírica) ou traduzem preferen-
cialmente o mundo exterior, objectivo (no caso da narrativa e do drama).
O lirismo está presente nos textos que nos dão conta de sentimentos, estados de alma
experimentados pelo emissor.
Os acontecimentos exteriores, quando surgem na poesia lírica ou num texto lírico, em
prosa, apenas constituem um pretexto para o emissor falar de si.

Vê um exemplo de texto lírico.

(…) Todo o meu ser se debruça


Que me importa ante o drama da história
o perfume das rosas que nos legou
os lirismos da vida esta alma triste
5 se meus irmãos têm fome? 10 de submissão e sofrimento
(…)
Agostinho Neto, A Renúncia Impossível (2009), in http://www.agostinhoneto.org/index.
php?option=com_content&view=article&id=551:anestisia&catid=65:renuncia-impossivel&Itemid=233
(acedido em 07/10/2015)

Este texto lírico, através da maneira como se organiza, procura dar uma visão subjectiva
do mundo interior ou exterior.
Nesta tipologia textual é mais importante a forma como se diz do que aquilo que se diz. O
uso de um nível/registo de língua literário apresenta ambiguidade, plurissignificação e é,
portanto, aberto a diferentes interpretações.
Assim, tem uma intenção estética, procurando provocar a surpresa e o prazer. Para esse
efeito, emprega recursos expressivos que reflectem uma maneira original, diferente de ver e
de falar do mundo.
O problema da verdade da mensagem ocupa um lugar secundário. O sujeito lírico utiliza
uma linguagem conotativa.

96
3.1 Conceito e características desta tipologia textual

Fala e debate

R
1. Discute com os teus colegas os seguintes tópicos:

P
• definição de texto lírico;
• diferenças entre texto lírico e texto narrativo.

Lê o seguinte texto.

Eu – Mistério

Sou um mistério. Perto e longe


Vivo as mil mortes continuam massacrando-me a carne
que todos os dias sempre viva e crente
morro 15 no raiar dum dia
5 fatalmente. que há séculos espero.

Por todo o mundo Um dia


o meu corpo retalhado que não seja angústia
foi espalhado aos pedaços nem já esperança.
em explosões de ódio
20 Dia
10 e ambição
dum eu – realidade.
e cobiça de glória.
Agostinho Neto, A Renúncia Impossível (2009), in http://www.agostinhoneto.org/index.
php?option=com_content&view=article&id=553:eu-misterio&catid=65:renuncia-impossivel&Itemid=233
(acedido em 07/10/2015)

Lê e compreende
1. Refere a temática do texto.
2. A que mistério o sujeito poético faz referência na primeira estrofe?

PLA-LP10_07
97
3 Texto lírico

3. Salienta a expressividade da metáfora usada na primeira estrofe para referir a angústia do


sujeito poético.

R
4. Explica a antítese contida nas palavras «Perto e longe».

P
5. Procura estabelecer uma relação entre o conteúdo do texto e a realidade do continente africano.

Funcionamento da língua
1. Refere-te à presença da função poética da linguagem no texto.

Características do texto lírico


Versificação

Um poema não é um mero amontoado de palavras dispostas ao acaso. Todo o poema


possui uma determinada estrutura, embora nem sempre seja fácil percebê-la.
Versificação é o conjunto de técnicas que regem a estrutura ou organização de um
poema.
Na análise da estrutura de um poema em verso, é necessário ter em conta três aspectos
importantes: a estrofe, a métrica e a rima.

A estrofe
Já é do teu conhecimento que cada uma das linhas de um poema constitui um verso. Os
versos agrupam-se formando unidades de número variável, separadas graficamente por um
espaço. Estas unidades denominam-se estrofes ou estâncias.

As estrofes classificam-se de acordo com o número de versos. Atenta na informação a se-


guir apresentada.

N.º de versos 2 3 4 5 6

Designação Dístico Terceto Quadra Quintilha Sextilha

N.º de versos 7 8 9 10

Designação Sétima Oitava Nona Décima

Atenção!
Às estrofes com mais de dez versos não é atribuída uma designação específica, designando-se,
geralmente, de estrofe irregular.
Um verso apenas não é suficiente para constituir uma estrofe, pois esta é um conjunto de versos.
Este verso solitário recebe a designação de monóstico.

98
3.1 Conceito e características desta tipologia textual

Lê o seguinte texto.

R
P Ópio

5
Casaram-me com a tristeza!

A minha terra
negra de sol
– a minha Mãe –
que entoa magoadas melodias
em noites de festa
quando a lua ri
e a enigmática floresta
farfalha ritmos de jazz,
30
Porque a realidade é a tristeza
e não a quero assim.
Para a esquecer
e olvidar meus amores
os meus ideais
fumo ópio.

10 – a minha Mãe – – Eu sensualizo a vida:


deu-me tristeza em casamento bebo o brilho da luz
quando nasci. quando trabalho o sol
35 queimando os ombros nus
Não tive infância
gozo o sadismo do fogo
nem mocidade
quando danço à fogueira
15 não tive a alegria
e a lenha contorce
da primeira idade
sofrendo
por causa deste noivado prematuro
40 como o meu sofrimento
e senil.
amarfanha a alma.
Meus pesados dias são ilusões
Gozo
20 meus prazeres amarguras
gozo ingenuamente
a felicidade e a vida
a fingir que não sofro;
sonhos.
45 choro como quem ri!
Eu próprio sou uma ilusão
Sou a irrealidade Fumo o meu ópio
25 sou sonho. Para sonhar

Agostinho Neto, in http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=554


:opio&catid=65:renuncia-impossivel&Itemid=233 (acedido em 02/05/2014)

Lê e compreende
1. Por que razão o sujeito poético afirma que o casaram com a tristeza?
2. Em que momento ocorreu este casamento?
3. Quais as consequências sofridas pelo eu lírico em virtude dessa “união”?

99
3 Texto lírico

4. Comenta o conteúdo da estrofe três e identifica a justificação que o sujeito poético apre-
senta para se considerar uma ilusão.

R
5. O que decide fazer o sujeito poético para esquecer a realidade?

P
5.1. Concordas com esta atitude? Justifica.
6. Quantos versos tem o poema?
7. Agora, classifica as estrofes do poema quanto ao número de versos.

Funcionamento da língua
1. Faz o levantamento dos elementos que remetem para a presença da 1.ª pessoa no texto.
2. Passa a estrofe inicial (constituída por 11 versos) para o discurso indirecto.

Experimenta, escreve e fala


1. Faz o seguinte exercício em três etapas:
1º. Produz um poema em homenagem à tua mãe ou outra pessoa querida.
2º. Depois, lê-o para os teus colegas, se possível com a presença da pessoa homenageada.
3º. Por fim, cria uma melodia e musica o teu poema, cantando-o para a tua turma.

A métrica
A métrica é a medida poética que regula a disposição das sílabas acentuadas ou átonas de
cada verso.
A contagem das sílabas métricas é feita até à última sílaba tónica.
A sílaba terminada em vogal átona faz elisão com a vogal tónica seguinte, formando ape-
nas uma sílaba métrica. A este fenómeno atribui-se a designação de sinalefa.
Em português, os versos mais usados são os de cinco sílabas (redondilha menor), de sete
(redondilha maior) e de dez (decassílabos heróicos e sáficos).

Os versos de cinco sílabas têm acentos na 1.ª e 5.ª, 2.ª e 5.ª ou 3.ª e 5.ª sílabas:

Só| en|ten|do o| mar


1 2 3 4 5
A|tra|vés| da a|rei(a)
1 2 3 4 5
Se a| ve|jo| bri|lhar
1 2 3 4 5
Pedro Homem de Melo, in https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=423269687704314
&id=291151050916179 (acedido em 20/05/2014)

100
3.1 Conceito e características desta tipologia textual

Os versos de sete sílabas têm os acentos na 2.ª e 7.ª ou 4.ª e 7.ª sílabas:

Não| sou| es|per|to| nem| bru(to)

R
1 2 3 4 5 6 7

P
Nem| bem| nem| mal| e|du|ca(do)
1 2 3 4 5 6 7
Sou| sim|ples|men|te o| pro|du(to)
1 2 3 4 5 6 7
Do| mei|o em| que| fui| cri|a(do).
1 2 3 4 5 6 7
António Aleixo, in http://www.pessoalissima.com/Sitios/aleixo.htm (acedido em 20/05/2014)

Por sua vez, os versos de dez sílabas heróicos têm acentos na 6.ª e 10.ª sílabas:

As| ar|mas| e os| ba|rões| as|si|na|la(dos)


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Luís de Camões, Os Lusíadas (2001), Porto Editora, p. 71

Para além da sinalefa, há outros fenómenos que concorrem para a metrificação, a saber:

Sinérese – consiste na transformação de um hiato em ditongo.

De Á|fri|ca as| ter|ras| e| do O|rien|te os| ma(res)


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Luís de Camões, Os Lusíadas (2001), Porto Editora, p. 74

Diérese – é o oposto da sinérese, ou seja, tem o objectivo de transformar um ditongo em


hiato.
Nos| sa|u|do|sos| cam|pos| do| Mon|de(go)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Luís de Camões, Os Lusíadas (2001), Porto Editora, p. 159

Lê o seguinte texto.

País Novo
Vou contar-vos a história de um povo
Que tem tudo pra sorrir de novo
Vou falar-vos da velha coragem
Sacríficios e muitas viagens

5 Vou falar do soldado tombado


Anulando o sorriso rasgado
Do kandengue que sofreu calado
E do povo que estava cansado

Vou falar dessa terra de glórias


10 Nossa Angola de muitas memórias
Vou falar de um povo que quis
Finalmente agora feliz

101
3 Texto lírico

Vou mostrar-vos uma nova terra 35 Vou falar do meu povo de novo
Agora sem guerra Sem esquecer nosso craque Sayovo
15 Angola… do meu coração Vou falar-vos dos palancas negras

R
Os do penta do meu coração

P
Muangolê
Vou falar do tuga que ficou
Não se deixa 40 No gingar dessa negra angolana
Não vacila a hora é essa
Prá Europa nunca mais voltou
Dá-me a tua mão
E com a garina do Marçal ficou
20 Para junto comigo bumbar
Nossa Angola juntos levantar Esse povo que um dia chorou
Angola do meu coração... E a Deus seu destino entregou
45 Tuapandula Suku Yange
Vou falar do artista sofrido
Que pintou trinta anos de guerra Finalmente agora feliz
25 Finalmente hoje tem a honra
O passado sabemos foi duro
De pintar anos brancos de paz
Mas o futuro esta aí é seguro
Vou falar desse craque Mantorras
Tuapandula Suku Yange
Dos golaços do nosso Akwá
Mano brincadeira tem hora 50 Finalmente agora feliz...
30 Paz e alegria aqui mora Matias Damásio, in http://letras.mus.br/maya-cool/1805681
(acedido em 04/05/2014))
Vou falar pra você que emigrou
Na esperança de vida melhor
Olha o teu povo te espera
Teu povo te espera

Lê e compreende
1. O que propõe abordar o sujeito poético?
2. Comenta o conteúdo da quarta estrofe.
3. O eu lírico cita alguns desportistas angolanos, tais como Mantorras, Akwá e Sayovo.
3.1. Procura explicar por que razão os terá referido no contexto do seu poema.
4. Que mensagem transmite o sujeito lírico aos imigrantes? E aos emigrados?
5. Traduz o verso em umbundu e relaciona-o com a temática do texto.
6. Na tua opinião, por que razão o verso «Finalmente agora feliz» aparece repetido?
7. Faz a escansão dos versos da primeira estrofe do poema e diz quantas sílabas tem cada um deles.

Funcionamento da língua
1. Relê a estrofe cinco.
1.1. Diz em que registo de língua se encontra, tendo em conta as formas verbais e o voca-
bulário apresentado. Justifica a tua resposta com exemplos textuais.

102
3.1 Conceito e características desta tipologia textual

Entre textos
Estabelece uma comparação temática entre o texto que acabaste de estudar e o poema “Ópio”,

R
de Agostinho Neto (ver p. 99).

P
Outros textos
Lê o texto abaixo.

Idade das Palavras


Inventei alegorias, palavras cobrindo sublavras
eram metáforas quando meus dedos cantaram
o rosto de meu retrato. E concebi o lúmen
atravessado por silêncios.
João Maimona, in http://www.lyrikline.org/en/poems/idade-das-palavras-5531#.U2eSsfldVyx
(acedido em 05/05/2014)

Lê e compreende
1. O que sugere o eu poético ao dizer «Inventei alegorias»?
2. Na tua opinião, e de acordo com a temática do texto, qual o significado da última palavra
do primeiro verso?
3. Comenta o seguinte excerto: «eram metáforas quando meus dedos cantaram / o rosto de
meu retrato.»
4. Faz uma apreciação sobre o título do poema.

A rima (quanto à combinação)


Chamamos rima à semelhança de sons, regra geral verificável no final dos versos. Além
disso, a correspondência de sons conta-se apenas a partir da última sílaba tónica de cada
verso. Vejamos essa análise num excerto do poema “Jogo das forças” de José Saramago:

Do nascimento e morte os pólos vejo a


Na distorção que mostra a corda ferida, b
Contraditório medo, que é desejo a
De a conservar assim e ver partida. b
José Saramago, Os Poemas Possíveis (2014), Porto Editora, 8.ª edição, p. 32

O esquema rimático deste conjunto de versos é a b a b, o que quer dizer que o 1.º e o 3.º
versos rimam entre si, o mesmo acontecendo com o 2.º e 4.º versos. A uma rima deste tipo
damos o nome de rima cruzada.

103
3 Texto lírico

A rima emparelhada ocorre quando os versos rimam aos pares ou aos trios seguidamente.

Há também a rima do tipo interpolada, a qual ocorre quando os versos rimam com um

R
intervalo de dois ou mais versos com rima diferente. No exemplo abaixo, o esquema rimático

P
é a b b a, incluindo, por isso, rima interpolada (a) e rima emparelhada (b).

ó grande mar, que banhas estas plagas a


africanas, em ti ouço recados b
dum mundo a outro mundo, nos teus brados b
de prantos, risos, orações e pragas! a
Geraldo Bessa Victor, in http://angolapoetas.blogspot.com/2010/04/soneto-ao-mar-africano.html
(acedido em 20/05/2014)

Se a rima se estabelece entre o fim de um verso e uma palavra do verso seguinte, dizemos
que se trata de rima interior. É uma rima bastante rara.

Anjo sem pátria, fada errante,


Perto ou distante que de mim tu vás,
Há de seguir-te uma saudade infinda,
Hebreia linda, que dormindo está.
Tomás Ribeiro, in http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=26377 (acedido em 20/05/2014)

Atenção!
Quando os versos não rimam, chamam-se soltos ou brancos.

Lê com atenção o texto abaixo.

Fruto maduro
Quando os homens se entenderem
E a paz for fruto maduro
Ficará a guerra no escuro, sem futuro

Que haja gente que sonhe, falar não é um muro


5 É sempre melhor que o barulho, com o entulho

A cabeça é redonda, nela gira o pensamento


Já houve tempo pr’o vazio, sem fundamento

A Terra come a gente,


em plena horizontal
10 É a sorte de qualquer mortal,
da alvorada ao poente
Filipe Mukenga, Kianda ki Anda (1994), faixa 8

104
3.1 Conceito e características desta tipologia textual

Lê e compreende

R
1. Relaciona o título do poema com o seu conteúdo.

P
2. Refere-te à metáfora constante do segundo verso.
3. O que sugere a possibilidade de a guerra ficar “no escuro, sem futuro”?
4. Comenta o terceiro e quarto versos, relacionando-os com a conquista da paz.
5. O que podes deduzir das palavras «A Terra come a gente, / em plena horizontal»?
5.1. Como é que este facto pode ajudar as pessoas a entender-se?
6. Classifica as rimas do texto, fazendo o esquema rimático de todo o poema.

Funcionamento da língua
1. Refere se no texto predomina a função denotativa ou conotativa da linguagem. Justifica.

Outros textos
Lê o texto abaixo.

fiz voar uma noite consciente


apenas
uma lágrima imensa deixei cair
à beira da palavra perfeita
há uma noite que sobrevive em cada lágrima.
João Maimona, in http://www.ueangola.com/bio-quem/item/20-jo%C3%A3o-maimona
(acedido em 05/05/2014)

Lê e compreende
1. O que é que o sujeito poético deixou cair? O que sugere isso?
2. Que relação se pode estabelecer entre as palavras «noite» e
«lágrima»?
3. Comenta os dois últimos versos.
4. Que título atribuirias ao poema? Justifica.

105
3 Texto lírico

A rima (quanto à qualidade)


Quanto às classes das palavras que rimam, dizemos que há rima rica quando as palavras

R
que rimam pertencem a classes de palavras diferentes e rima pobre quando as palavras que

P
rimam pertencem à mesma classe de palavras.
Se considerares o excerto abaixo, verificarás que há rima entre «bruto» (adjectivo) e «pro-
duto» (nome) e também entre «educado» (adjectivo) e «criado» (verbo). Ambos os casos são
exemplos de rima rica.

Não sou esperto nem bruto


Nem bem nem mal educado
Sou simplesmente o produto
Do meio em que fui criado...
António Aleixo, in http://www.pessoalissima.com/Sitios/aleixo.htm (acedido em 22/05/2014)

Quanto à rima pobre, repara, no excerto seguinte, em que os vocábulos «sejam» e «vejam»
pertencem à classe dos verbos.

Pera que estes meus versos vossos sejam;


E vereis ir cortando o salso argento
Os vossos Argonautas, por que vejam
Luís de Camões, Os Lusíadas (2011), Porto Editora, p. 75

Lê o texto abaixo.

Novo rumo
Na alta noite dos caminhos
sem nome
o nosso nome é um ritmo
o nosso destino é a vida

5 O ritmo O destino
dos passos incertos dum filho pródigo 15 é a própria História
que por herança dos azorragues o Início
e se esbanjou em fé a Concordância
em hesitações em amor
Somos o ritmo construtivo
10 e regressa desiludido
do Novo
mas ainda crente
20 na alta noite
procurando em si
dos caminhos sem nome.
o homem que perdeu
Agostinho Neto, A Renúncia Impossível (2009), in http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_
content&view=article&id=547:novo-rumo&catid=65:renuncia-impossivel&Itemid=233 (acedido em 07/10/2015)

106
3.1 Conceito e características desta tipologia textual

Lê e compreende

R
1. Faz um comentário sobre o rumo novo a que o sujeito se refere.

P
2. Resume o texto, realçando o assunto principal.
3. Classifica o poema quanto ao número de estrofes que o compõem.
4. Como se denomina a primeira estrofe, de acordo com o número de versos?

Funcionamento da língua
1. Retira do texto um merónimo de “família” e um antónimo de “dia”.
2. Atribui sinónimos aos vocábulos «hesitações», «desiludido» e «concordância».
2.1. Enquadra, a seguir, essas palavras em frases.

3.1.1 Desenvolvimento temático


O desenvolvimento temático na poesia consiste na maneira como o poeta aborda um
determinado tema ou assunto nos seus textos.
Convém referir que, em caso de ausência de título em determinado poema, o primeiro
verso funciona como título do mesmo.

Lê o texto abaixo.

Não tenho dinheiro no banco,


porém,
meu jardim está cheio de rosas.
Carlos Drummond de Andrade, in http://marisadomingosgiglio.
blogspot.com/2010/06/carlos-drummond-de-andrade-haicais.html
(acedido em 13/05/2014)

Lê e compreende
1. De que sente falta o eu lírico?
2. O que sugere o emprego da palavra «porém»?
3. O que parece ser mais importante para o sujeito poético? Justifica.
4. Refere-te ao desenvolvimento temático deste poema.
5. Qual é o título convencional do poema?
5.1 Que título atribuirias ao poema?

107
3 Texto lírico

3.1.2 Recursos estéticos


Já deves ter ouvido as pessoas referirem-se ao estilo de um determinado autor. O estilo diz

R
P
respeito ao conjunto dos traços formais que caracterizam o modo como alguém utiliza a
língua ou a maneira como um autor escreve, normalmente obedecendo a uma intenção
estética. Esses aspectos formais incluem a utilização de processos expressivos a nível fónico,
sintáctico e semântico.

Nível fónico
A onomatopeia consiste numa palavra cujo significado imita um som natural e que tem
um grande valor sugestivo-imitativo de que os escritores e os publicitários tiram efeitos
muito especiais.

Troc… troc… troc… troc… Madrugada. Troc… troc…


ligeirinhos, ligeirinhos. pelas portas dos vizinhos
Troc… troc… troc… troc… vão batendo, troc… troc…
vão cantando os tamanquinhos… vão cantando os tamanquinhos…
Cecília Meireles, in http://peregrinacultural.wordpress.com/2008/07/28/a-cancao-dos-tamanquinhos-
poema-infantil-cecilia-meireles/ (acedido em 20/05/2014)

No texto anterior, a palavra «troc» imita o som do bater dos tamanquinhos criando uma
certa musicalidade, reforçada pelos diminutivos «ligeirinhos» e «tamanquinhos».

A aliteração consiste na repetição de sons consonânticos em várias palavras seguidas ou


em sílabas da mesma palavra.

Cestos de peixes no chão.


Cheio de peixes, o mar.
Cheiro de peixe pelo ar.
E peixes no chão.
Cecília Meireles, in http://run.unl.pt/bitstream/10362/9172/1/TESE-ULTIMA.pdf
(acedido em 16/05/2014)

A assonância corresponde à repetição de sons vocálicos em sílabas tónicas de várias palavras.

Nota que não é apenas em textos literários que ocorrem a aliteração e a assonância; a lin-
guagem publicitária recorre, também, a estes recursos, bem como as realizações familiar e
popular da língua.

há só vento no meu país


vento branco
verde vento negro
Eugénio de Andrade, in http://bloguedooscar.blogspot.com/2010/10/ha-so-vento-no-meu-pais.html
(acedido em 20/05/2014)

108
3.1 Conceito e características desta tipologia textual

Faz a leitura do seguinte texto.

Afirmação

R
P
Ah!

Faça-se luz no meu espírito


LUZ!

Calem-se as frases loucas


5 Desta renúncia impossível.

Eu – todos nunca me negarei


nunca coincidirei com o nada
não me deitarei nunca debaixo dos comboios

Não fui eu quem falou


10 da salvação do mundo
à custa da minha existência
da transformação do valor negativo em Zero
por meio do castigo ao inocente
em super – suicídio novidade histórica
15 Quem falou não fui eu Sou um valor positivo
foi a minha loucura. 25 da humanidade
e não abdico,
O meu lugar está marcado
nunca abdicarei!
no campo da luta
para conquista da vida perdida Seguirei com os homens livres
O meu caminho
20 Eu sou. Existo
30 para a liberdade e para a Vida.
As minhas mãos colocaram pedras
nos alicerces do mundo Perdoem-me os cinco minutos de loucura
Tenho direito ao meu pedaço de pão que vivi.
Agostinho Neto, in http://www.agostinhoneto.org/index.php?ption=com_content&view=article&id=537:a-renuncia-
impossivel&catid=65:renuncia-impossivel&Itemid=233 (acedido em 05/05/2014)

Lê e compreende
1. Na tua opinião, qual o simbolismo que a palavra «luz» tem neste contexto?
2. Explicita o sentido do seguinte verso (7): «nunca coincidirei com o nada».
3. Por que razão o sujeito poético responsabiliza a sua loucura pelas suas palavras?
4. Que sentimentos se manifestam nas palavras da antepenúltima estrofe?
5. O que sugere o facto da palavra «Vida» estar grafada com maiúscula?

109
3 Texto lírico

6. Reflecte sobre a relação entre o título do poema e o seu conteúdo.


7. Identifica no texto exemplos de aliteração e de assonância.

R
P
Funcionamento da língua
1. Transcreve o verso em que é possível identificar o destinatário da mensagem do sujeito
poético.

Outros textos
Lê o texto abaixo.

Quando a manhã vier


Quando a manhã vier
com um sol maduro
ofertando beijos
aos órfãos da ternura

5 quando a manhã vier


em apoteose de luz
a semear no vento
risos de alegria

quando a manhã vier


10 definitivamente
em alvorecer róseo
de paz e tranquilidade

de mãos nas mãos


Jofre Rocha, Assim se fez madrugada (1988),
saberemos chegado o nosso dia. União dos Escritores Angolanos, p. 37

Lê e compreende
1. Na tua opinião, o que sugere o sujeito poético na primeira estrofe?
2. Refere-te à repetição do verso «Quando a manhã vier».
3. Qual o simbolismo que a palavra «manhã» adquire neste contexto?
4. Que relação o eu poético estabelece entre a manhã e o bem-estar?
5. Explica, por palavras tuas, o significado da última estrofe.
6. Retira do texto dois exemplos de assonância.

110
3.1 Conceito e características desta tipologia textual

Escreve

R
1. Elabora um pequeno poema em que uses os recursos estilísticos indicados:

P
• onomatopeia;
• aliteração;
• assonância.

Nível sintáctico
O paralelismo consiste na repetição de uma estrutura morfossintáctica em determinadas
frases ou versos.

Às nossas terras
vermelhas de café
brancas de algodão
verdes dos milharais
Agostinho Neto, Sagrada Esperança (1988)
in http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&id=561:desterro (acedido em 07/10/2015)

A anáfora é a repetição de uma palavra ou palavras no início de vários versos ou frases.

Na raiva de crescer se continua,


Na prova de viver azeda o sal,
Na cava do amor sua e tressua.
José Saramago, Os Poemas Possíveis (2014), Porto Editora, 8.ª edição, p. 20

O refrão ou estribilho ocorre quando se repete um ou mais versos no final de cada es-
trofe. É muito frequente nas canções.

Às casas, às nossas lavras Às nossas terras


às praias, aos nossos campos vermelhas de café
havemos de voltar brancas de algodão
verdes dos milharais
havemos de voltar
Agostinho Neto, Sagrada Esperança (1988), União dos Escritores Angolanos, p. 134

O hipérbato constitui-se numa inversão da estrutura normal dos sintagmas (SVO), ou da


ordem das palavras, com o objectivo de dar mais ênfase ao elemento que aparece no início
do verso.
Já no largo Oceano navegavam
Luís de Camões, Os Lusíadas (2011), Porto Editora, p. 75

111
3 Texto lírico

O assíndeto consiste na supressão intencional de conjunções entre os versos. Repara, no


exemplo, na supressão da conjunção «e».

R
A cegueira dos vermes, branca de sol,

P
Contrai-se devagar, acende, queima
Frios cristais de neve, revelações.
José Saramago, Os Poemas Possíveis (2014), Porto Editora, 8.ª edição, p. 39

O polissíndeto, sendo o oposto do assíndeto, tem a finalidade de repetir intencional-


mente as conjunções.

Absorto e lasso e morto no regaço


José Saramago, Os Poemas Possíveis (2014), Porto Editora, 8.ª edição, p. 65

Procede à leitura deste texto.

Se me quiseres conhecer
Se quiseres me conhecer,
estuda com os olhos bem de ver
esse pedaço de pau-preto
que um desconhecido irmão maconde
5 de mãos inspiradas
talhou e trabalhou
em terras distantes lá do Norte.

Ah, essa sou eu:


órbitas vazias no desespero de possuir a vida,
10 boca rasgada em feridas de angústia,
mãos enormes, espalmadas,
erguendo-se em jeito de quem implora e ameaça,
corpo tatuado de feridas visíveis e invisíveis
pelos chicotes da escravatura...
15 Torturada e magnífica,
altiva e mística,
África da cabeça aos pés,
– ah, essa sou eu:

Se quiseres compreender-me
20 vem debruçar-te sobre minha alma de África,
nos gemidos dos negros no cais
nos batuques frenéticos dos muchopes
na rebeldia dos machanganas
na estranha melancolia se evolando
25 duma canção nativa, noite dentro…

112
3.1 Conceito e características desta tipologia textual

E nada mais me perguntes


Se é que me queres conhecer...
Que não sou mais que um búzio de carne,

R
Onde a revolta de África congelou

P
30 Seu grito inchado de esperança.
Noémia de Sousa, in SAÚTE, N. (org./2004) Nunca Mais é Sábado – Antologia de Poesia Moçambicana,
Edições Dom Quixote, Lisboa, 2004, pp. 164-165

Lê e compreende
1. Descreve física e psicologicamente o sujeito poético.
2. Quem é o eu lírico deste poema? Justifica.
3. Recorrendo aos teus conhecimentos históricos sobre o continente africano, comenta os se-
guintes versos: «corpo tatuado de feridas visíveis e invisíveis / pelos chicotes da escrava-
tura… / Torturada e magnífica, / altiva e mística».
4. Na tua opinião, por que razão o sujeito poético afirma, no fim do poema, que “África conge-
lou / Seu grito inchado de esperança”?
5. Identifica, no texto, um dos recursos estéticos a nível sintáctico que acabaste de estudar.

Funcionamento da língua
1. Retira do texto frases dos tipos declarativa e imperativa.
1.1. Transforma-as em exclamativas e interrogativas.
1.2. Comenta o efeito expressivo desta mudança.

Escreve
1. Produz um pequeno poema no qual empregues pelo menos dois dos recursos estéticos a
nível sintáctico abordados.

Nível semântico
A comparação consiste na aproximação de duas realidades de forma explícita, através de
elementos comparativos (tal, como, qual, etc.).

Teu nome é como um óleo que se despeja.


Salomão, Bíblia Sagrada

PLA-LP10_08
113
3 Texto lírico

A metáfora consiste numa comparação de dois elementos sem a presença de uma pala-
vra comparativa.

R
Seus seios laranjas – laranja do Loge

P
Seus dentes… marfim…
Viriato da Cruz, «Namoro», in http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/angola/viriato_da_
cruz.html (acedido em 16/05/2014)

A antítese caracteriza-se pela aproximação de ideias de sentido contrário, normalmente


ligadas por conjunções coordenativas (neste exemplo, o «e»).

Repousa lá no Céu eternamente


E viva eu cá na terra sempre triste
Amélia Pinto Pais, Eu cantarei de amor – Lírica de Luís de Camões, Areal Editores, p. 129

A hipérbole caracteriza-se pelo exagero de uma determinada realidade.

Guias cegos, que coais o mosquito, mas engolis o camelo.


Jesus Cristo, Bíblia Sagrada

A ironia tem por objectivo dizer algo com a intenção de transmitir uma ideia totalmente
oposta ao que é dito. É muito usada na linguagem quotidiana.

Que belo trabalho fizeste! (diz a mãe ao seu filho, que acabou por estragar
algo)

O pleonasmo é uma repetição de ideias com a finalidade de as enfatizar. Também é bas-


tante empregue no discurso do dia-a-dia.

Vi o Makyadi a descer para baixo do estádio.

Personificação – consiste na atribuição de características humanas a seres irracionais.

Fiz voar uma noite consciente.


João Maimona

Faz a leitura do seguinte texto.

Mar Portuguez
Ó mar salgado, quanto do teu sal Valeu a pena? Tudo vale a pena
São lagrimas de Portugal! Se a alma não é pequena.
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quem quer passar além do Bojador
Quantos filhos em vão resaram! 10 Tem que passar além da dor.
5 Quantas noivas ficaram por casar Deus ao mar o perigo e o abysmo deu,
Para que fosses nosso, ó mar! Mas nelle é que espelhou o céu
Fernando Pessoa, Mensagem (2010), Porto Editora, p. 81

114
3.1 Conceito e características desta tipologia textual

Lê e compreende

R
1. Atenta nos dois primeiros versos do poema e explica por que razões são importantes para

P
o desenvolvimento do poema.
2. Comenta a resposta do sujeito poético à interrogação da segunda estrofe.
3. O que sugere a expressão «passar além da dor»?
4. Que relação existe entre o «abismo», o «céu» e o «mar»?
5. Concordas com o título do poema? Porquê?
6. Dá exemplos de dois recursos estéticos estudados no poema em análise.

Funcionamento da língua
1. Transcreve do poema verbos com os seguintes valores semânticos:
a) estado;
b) acontecimento;
c) processo.

Escreve
1. Elabora um pequeno poema em que uses os recursos estilísticos indicados:
• onomatopeia;
• aliteração;
• assonância.

3.1.3 Ritmo
O ritmo é um dos componentes do texto poético e consiste na alternância entre sílabas
fortes, ou acentuadas, e sílabas fracas, ou átonas.
Quando um poema tem um esquema rítmico que se estrutura com um número de sílabas
métricas igual em todos os versos, diz-se que os versos deste poema são regulares (é o caso
do soneto). Se acontecer o oposto, caracteriza-se os versos do poema como livres ou irregu-
lares (é o caso da poesia moderna e contemporânea).
Vê abaixo um exemplo de versos regulares quanto ao ritmo.
Cantando espalharei por toda a parte
Se a tanto me ajudar o engenho e a arte
Luís de Camões, Os Lusíadas (2011), Porto Editora, p. 71

115
3 Texto lírico

Agora, apresentamos um exemplo de um poema com versos livres ou irregulares.

Velho negro

R
P
Vendido
e transportado nas galeras
vergastado pelos homens
linchado nas grandes cidades
esbulhado até ao último tostão
humilhado até ao pó
sempre sempre vencido
(...)
Agostinho Neto, in http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=602:
velho-negro&catid=45:sagrada-esperanca&Itemid=233 (acedido em 14/12/2015)

Lê o seguinte texto.

Auto-retrato
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno:

5 Incapaz de assistir num só terreno,


Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades


10 (Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento;


Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Manuel Maria Barbosa du Bocage, in http://www.infopedia.pt/$auto-retrato-(bocage)
(acedido em 10/05/2014)

Lê e compreende
1. Com base na primeira estrofe, procede à descrição física do sujeito poético.
2. Faz o retrato psicológico do sujeito poético à luz do que é referido nas duas estâncias sub-
sequentes.

116
3.1 Conceito e características desta tipologia textual

3. Neste soneto, o eu lírico confunde-se com o autor.


3.1. Comenta a afirmação acima.

R
4. Classifica o ritmo presente no primeiro e último versos do soneto em estudo.

P
5. Faz a escansão dos versos dos tercetos.
5.1. Classifica-os quanto ao número de sílabas métricas.

Funcionamento da língua
1. Assinala com um X o holónimo de «olhos», «pés» e «nariz».
• livraria • estádio
• corpo • nenhuma das opções anteriores
1.1. Produz uma frase com o holónimo que identificares.
2. Retira do texto todos os hipónimos do vocábulo «pessoa».

Escreve
1. Elabora um texto descritivo, em forma de poema, no qual faças o retrato físico e psicoló-
gico de um(a) amigo(a). Depois de concluído, apresenta-o à turma.

3.1.4 Sonoridades
As sonoridades no texto lírico têm a ver com elementos tais como a rima, a harmonia (ou
ritmo) e recursos estéticos fónicos (onomatopeias, aliteração e assonância). Todos estes as-
pectos já foram abordados nas páginas anteriores.

Faz agora a leitura do texto que se segue.

Adeus, irmão branco!


Chegou a hora de você voltar Você há-de falar das terras africanas,
para a Europa, a sua terra. da mata e da cubata,
Quando você chegar, há-de falar dos montes e das chanas;
dos encantos que encerra mas não se esqueça da alma.
5 esta África Negra, tão distante, 15 Você há-de falar do sol fogoso,
tão distante, irmão branco... das caçadas e queimadas,
Pois eu quero, neste instante das noites que viveu em batucadas
da partida, pedir-lhe uma promessa: no mais feiticeiro gozo;
– Não se esqueça da alma do negro, mas não se esqueça da alma.
10 não se esqueça!

117
3 Texto lírico

20 Vai falar do café, do algodão, do sisal,


da fruta tropical, enfim, de toda a flora;
mas não se esqueça da alma.

R
Você há-de falar dos negros no seu mato,

P
da negra tentadora
25 de corpo sensual,
mostrando até retrato;
mas não se esqueça da alma.

Adeus, meu irmão branco! Lá na Europa,


quando falar da tropical paisagem,
30 não se esqueça da alma do negro.

Adeus, meu irmão branco, boa viagem!


Geraldo Bessa Victor, in http://amateriadotempo.blogspot.
com/2011/10/dois-poemas-de-geraldo-bessa-victor.html (acedido
em 10/05/2014)

Lê e compreende
1. Que pedido faz o eu lírico ao seu irmão branco?
2. Comenta o conteúdo do verso 9: «Não se esqueça da alma do negro».
2.1. Comenta o facto de este verso ser repetido várias vezes ao longo do poema.
3. Enumera os aspectos sobre os quais o irmão branco irá falar depois de partir.
4. Classifica as rimas presentes no texto quanto à qualidade.
5. Transcreve um exemplo de uma aliteração e outro de uma assonância.
6. Analisa e comenta o ritmo dos dois primeiros versos.

Funcionamento da língua
1. Identifica a forma de tratamento presente no texto.
2. Passa o poema integral para a forma de tratamento contrária.

3.1.5 Espacialização do texto


Os espaços no texto poético podem assemelhar-se aos do texto narrativo, já estudados
por ti na unidade anterior, os quais podem ser divididos em: físico, social e psicológico.

118
3.1 Conceito e características desta tipologia textual

Meu mundo é outro:


Aljube…

R
Meu mundo é de quatro paredes

P
nuas e frias
e sol aqui dentro
só o globo foscamente aceso
de dia e de noite.
Jofre Rocha, Assim se fez madrugada (1988),
União dos Escritores Angolanos, pp. 35-36

No excerto acima, o espaço físico é a cadeia do Aljube, o espaço social do sujeito poético
refere-se ao grupo de presos políticos durante o regime colonial e, por último, o espaço psi-
cológico do sujeito lírico é a solidão, a tristeza, a frustração, etc.

Lê o texto seguinte.

Monangamba
Naquela roça grande não tem chuva Quem faz o milho crescer
é o suor do meu rosto que rega as plantações. e os laranjais florescer

Naquela roça grande tem café maduro Quem?


e aquele vermelho-cereja
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
5 são gotas do meu sangue feitas seiva.
25 máquinas, carros, senhoras
O café vai ser torrado e cabeças de pretos para os motores?
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.

Negro da cor do contratado!


10 Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:

Quem se levanta cedo? Quem vai à tonga?


Quem traz pela estrada longa
15 a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
«porrada se refilares»?

20 Quem?

119
3 Texto lírico

Quem faz o branco prosperar, 35 Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras


ter barriga grande – ter dinheiro? Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras

R
Quem?
«Monangambééé...»

P
30
E as aves que cantam, António Jacinto, in http://www.lusofoniapoetica.com/
artigos/angola/antonio-jacinto/monangamba.html
os regatos de alegre serpentear (acedido em 14/12/2015)
e o vento forte do sertão
responderão:
«Monangambééé...»

Lê e compreende
1. O que sugere o facto de o eu poético usar o verbo ter, em vez em de haver, no primeiro verso?
2. Fala sobre o simbolismo do suor e do sangue no contexto em que são referidos.
3. Comenta a expressividade da comparação feita na terceira estrofe.
4. Enumera as actividades penosas desempenhadas pelo contratado a mando do colonizador.
4.1. De que forma é ele recompensado? O que achas disso?
5. O que o sujeito poético decide fazer para, alegadamente, se livrar dos seus problemas?
5.1. Concordas com esta atitude? Justifica.
6. Refere-te à espacialização do texto em análise, citando exemplos concretos. Distingue o
espaço físico rural do urbano.

Funcionamento da língua
1. Retira do texto dois vocábulos parónimos.
1.1. Escreve duas frases novas em que integres os vocábulos seleccionados.

3.1.6 Forma poética


Vamos, nesta secção, falar sobre três formas poéticas fixas: o soneto, o vilancete e o haiku.

Soneto
Características do soneto

O soneto é um texto poético formado por catorze versos distribuídos por quatro estrofes,
sendo as duas primeiras quadras e as últimas tercetos.

120
3.1 Conceito e características desta tipologia textual

No soneto clássico, produzido abundantemente na época do Renascimento, os versos são


decassilábicos (dez sílabas métricas) e as rimas são interpoladas nas quadras e cruzadas nos
tercetos.

R
Relativamente à temática, o soneto clássico aborda, geralmente, o amor nas suas mais di-

P
versas vertentes.

Lê agora o texto abaixo.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,


muda-se o ser, muda-se a confiança:
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

5 Continuamente vemos novidades,


diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem – se algum houve – as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,


10 que já coberto foi de neve fria,
e em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,


outra mudança faz de mór espanto:
que não se muda já como soía.
Amélia Pinto Pais, Eu cantarei de amor – Lírica de Luís de Camões,
Areal Editores, p. 146

Lê e compreende
1. Refere o assunto abordado no poema.
2. Embora a mudança seja apresentada como uma realidade universal, o sujeito poético
apresenta os diferentes domínios em que ela se verifica.
2.1. Especifica-os.
3. Refere a importância do predomínio do presente do indicativo para a construção da men-
sagem do poema.
4. A Natureza reflecte a passagem do tempo.
4.1. Transcreve os versos que comprovam a afirmação acima.
5. Identifica, no texto em estudo, as características do soneto estudadas.
6. Faz o esquema rimático de todo o poema.

121
3 Texto lírico

Funcionamento da língua

R
1. Atenta nos seguintes vocábulos da estrofe final: «mór» e «soía».

P
1.1. Qual o significado de cada um deles?
1.2. Como se escreve actualmente o primeiro vocábulo?
1.3. Produz frases nas quais empregues sinónimos deste par de palavras.
2. Transcreve do texto todas as palavras pertencentes ao campo lexical de “mudança”.
2.1. Agora, divide-as de acordo com a classe de palavras a que pertencem.

Vilancete
Características do vilancete

O vilancete é uma composição poética constituída por um mote e uma ou duas glosas,
também chamadas voltas ou coplas. O primeiro consiste numa espécie de introdução do
tema a abordar, ao passo que nas glosas se procede ao desenvolvimento desse tema. O mote
é constituído normalmente por dois ou três versos. A glosa compõe-se por sete versos.
Quanto à métrica, os versos podem ser de redondilha menor (cinco sílabas) ou de redondilha
maior (sete sílabas). A temática deste género da poesia é sobretudo o amor e a saudade.

Lê agora o texto abaixo.

Adorai, montanhas,
o Deus das alturas,
também das verduras.

Adorai, desertos
5 e serras floridas,
o Deus dos secretos,
o Senhor das vidas.
Ribeiras crescidas
louvai nas alturas
10 Deus das criaturas.

Louvai arvoredos
de fruto prezado,
digam os penedos:
Deus seja louvado!
15 E louve meu gado,
nestas verduras,
o Deus das alturas.
Gil Vicente, in http://poesiaretro.blogspot.com/2010/04/vilancete-lembranca-inesquecivel.html
(acedido em 09/05/2014)

122
3.1 Conceito e características desta tipologia textual

Lê e compreende

R
1. Enumera os destinatários a quem se dirige o sujeito poético.

P
2. Por que razão o sujeito poético enaltece o ente divino?
3. Atribui um título ao texto.
4. Refere-te à estrutura deste vilancete.
5. Classifica as rimas do texto quanto à qualidade.

Funcionamento da língua
1. Identifica o modo verbal usado no texto e relaciona-o com o conteúdo do mesmo.

Haiku
Características do haiku

O haiku é um texto poético de origem japonesa com apenas três versos, no qual se exalta
a objectividade e a concisão. Os três versos têm a seguinte metrificação: cinco sílabas para o
primeiro e o último versos e sete sílabas para o verso intermédio, totalizando dezassete síla-
bas. Relativamente à temática, o haiku aborda a passagem do tempo e a forma como ela in-
fluencia as pessoas.

Lê agora este texto.

Noite. Um silvo no ar,


Ninguém na estação. E o trem
passa sem parar.
Guilherme de Almeida, in http://pensador.uol.com.br/frase/MTEzNTI/
(acedido em 07/010/2015)

Lê e compreende
1. Identifica a referência temporal presente no poema.
2. Refere os acontecimentos que são descritos no poema.
3. Identifica um recurso expressivo que contribui para a dimensão estética desta composição.
4. Atribui um título ao texto.
5. Identifica as características do haiku no texto.
6. Faz a escansão dos três versos do poema.

123
3 Texto lírico

Funcionamento da língua

R
1. Indica sinónimos das seguintes palavras:

P
a) silvo
b) estação
c) trem

Escreve
1. Com base nas características deste tipo de poema, produz um haiku.

3.2 Distinção entre prosa e poesia

A prosa é um texto escrito em frases e parágrafos, com uma linguagem mais ou menos
objectiva. Repara que a prosa pode surgir em verso (prosa versificada).
A poesia, por sua vez, é um texto literário com presença de linguagem conotativa, escrito
normalmente em verso, e através dele o eu lírico exprime a sua visão do Mundo.

Lê os textos seguintes.

Texto A
Sinto-me, sem sentir, todo abrasado
No rigoroso fogo que me alenta;
O mal que me consome me sustenta,
O bem que me entretém me dá cuidado.

5 Ando sem me mover, falo calado,


O que mais perto vejo se me ausenta,
E o que estou sem ver mais me atormenta;
Alegro-me de ver-me atormentado.

Choro no mesmo ponto em que me rio,


10 No mor risco me anima a confiança.
Do que menos se espera estou mais certo.

Mas, se de confiado desconfio,


É porque, entre os receios da mudança,
Ando perdido em mim como em deserto.
António Barbosa Bacelar,
in http://www.comamor.com.br/ausencia.asp (acedido em 09/05/2014)

124
3.2 Distinção entre prosa e poesia

Lê e compreende

R
1. Descreve o estado de espírito do sujeito poético baseando-te em expressões textuais.

P
2. Explica a expressividade do verso 5: «Ando sem me mover, falo calado».
2.1. Que recurso estilístico está aqui presente?
3. Na tua opinião, por que razão o eu lírico se considera perdido?
4. Identifica um recurso estilístico presente na última estrofe do poema.
5. Faz a divisão do texto em partes, justificando as tuas opções.
6. Por fim, atribui títulos às partes e resume o poema.

Texto B
A seca que se faz sentir no sul do país afecta
sobretudo as populações das províncias da
Huíla, Cunene e Namibe. A falta de chuva
agravou a situação, pois as poucas culturas
5 que podiam sobreviver acabaram por secar,
comprometendo grande parte das culturas
como o milho, massango, massambala.
As organizações não-governamentais
como a Associação Construindo Comunida-
10 des, ACC, a Caritas de Angola, afecta à Igreja
Católica, bem como a Acção de Desenvolvi-
mento Rural e Ambiente, ADRA, falam na des-
locação de mais de 2000 famílias para as zonas
onde a seca não se faz sentir.
15 O certo é que a situação está a levar os po-
pulares a procurarem refúgio, maioritaria-
mente a pé, nas regiões vizinhas, como o mu-
nicípio do Kuvango. Luís Ndala, administrador
desta autarquia, confirma a vinda dos popula-
20 res, precisando que um grupo estimado em mais de cento e cinquenta pes-
soas da zona do Kuvelai está instalado na área do Muvundu. Ndala acres-
centa “estar de mãos atadas para acudir as populações afectadas” por não
dispor de meios, e pede assistência para receber melhor os refugiados.
in http://www.dw.de/governo-de-angola-acusado-de-abandonar-popula%C3%A7%C3%A3o-afectada-
pela-seca/a-17619481 (acedido em 09/05/2014)

125
3 Texto lírico

Lê e compreende

R
1. Quais são os angolanos mais afectados pela escassez de água?

P
2. Que consequências trouxe a seca ao trabalho de campo?
3. Que dados apresentaram algumas ONG sobre o fluxo migratório das populações afectadas?
4. Parafraseia as informações dadas por Luís Ndala.
5. Que apelo fez o administrador do Kuvango?

Prosa vs Poesia
1. Classifica ambos os textos em prosa ou poesia, justificando a tua resposta com excertos
dos textos.
2. Faz referência a alguns recursos estéticos presentes no texto A.

Funcionamento da língua
1. Retira do texto A um par de antónimos.
2. Cita os hipónimos de província presentes no texto B.
3. Cria frases com cada um dos hipónimos identificados.
4. Passa a última frase do texto B para o discurso directo.

Ouve
1. Vais ouvir uma notícia intitulada «Cresce o êxodo dos jovens ango-
lanos do campo para a cidade» (www.dw.com/pt).
1.1. Ouve novamente e preenche o quadro abaixo.

Causas do êxodo Províncias de origem Locais de destino Actividades desenvolvidas

1.2. Atribui sinónimos aos seguintes vocábulos:


a) êxodo b) tramancar c) urbe
1.3. Por último, transcreve os hipónimos de província citados na notícia.

126
3.2 Distinção entre prosa e poesia

3.2.1 Prosa poética


Tal como já aprendeste, o texto poético pode apresentar-se em frases organizadas em

R
parágrafos (prosa poética) ou em linhas descontínuas formando estrofes (poesia em verso).

P
A grande diferença entre ambas é meramente gráfica (uma em prosa, outra em verso). As
semelhanças são as mesmas que servem para caracterizar qualquer texto poético.

Lê agora o texto abaixo.

Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou. Uma réstia
de parte do sol, um campo próximo, um bocado de sossego com um bocado
de pão, [o] não me pesar muito o conhecer que existo, o não exigir nada dos
outros nem exigirem eles nada de mim… Isto mesmo me foi negado, como
5 quem nega a esmola não por falta de boa alma, mas para não ter que
desabotoar o casaco.
Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido,
sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca
coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem‑se de
10 milhares de vidas, a paciência de milhões de almas, submissas como a minha
ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes
momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais
porque vivo maior. Sinto na minha pessoa uma força religiosa, uma espécie de
oração, uma semelhança de clamor. Mas a reacção contra mim desce‑me da
15 inteligência… Vejo‑me no quarto andar alto da Rua dos Douradores; sinto‑me
com sono; olho, sobre o papel meio escrito, a minha mão sem beleza e o cigarro
barato que a esquerda estende sobre o mata‑borrão velho.
Aqui, eu, neste quarto andar, a interpelar a vida! a dizer o que as almas
sentem! a fazer prosa como os génios e os célebres! Aqui, eu, assim!…
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego (2013), Assírio & Alvim, 11.ª edição, p. 54

Lê e compreende
1. O sujeito poético desabafa sobre as suas expectativas em relação à vida.
1.1. Trata-se de desejos materiais? Justifica a tua resposta baseando-te no texto.
2. A que comparação recorre o eu lírico para falar sobre o modo como lhe foram negados os
seus pedidos e explica a sua expressividade.
3. Sobre que assuntos reflecte o sujeito de enunciação no seu quarto?
4. Comenta a seguinte frase: «Vivo mais porque vivo maior.»
5. Dá um título ao texto.
6. Explica por que razões podemos classificar este texto como prosa poética.

127
3 Texto lírico

Funcionamento da língua

R
1. Divide e classifica as orações retiradas do texto.

P
a) “Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou.” (l. 1)
b) “Vivo mais porque vivo maior.” (ll. 12-13)
2. Relê a frase:
“Vejo‑me no quarto andar alto da Rua dos Douradores.” (l. 15)
2.1. Classifica sintacticamente a palavra destacada.

3.3 Estudo dos sons: vogais, semivogais e consoantes

A língua portuguesa é constituída por três categorias de sons, a saber:

Sons vocálicos (ou vogais): são aqueles cuja emissão envolve a passagem total de ar
pela cavidade bucal de modo livre. Existem no português padrão europeu – o qual adoptá-
mos como modelo para Angola – um conjunto de nove vogais.

• / / - sela • /e/ - vê
• / / - óbito • /i/ - caminho
• /ε/ - ela • /o/ - calor
• /i/ - dente • /u/ - alto
• /a/ - já

Sons consonânticos: são os sons emitidos com certa obstrução na passagem de ar pela
cavidade bucal. Algumas consoantes em português são as seguintes:

• /b/ - bata • /η/ - caminho


• /k/ - casa • /p/ - capela
• /d/ - dama • /R/ - rato
• /f/ - alface • /r/ - coro
• /g/ - gota • /s/ - cacete
• /3/ - degelo • /t/ - Catete
• /l/ - lata • /v/ - voto
• / / - Julho • /∫/ - foz
• /m/ - camelo • /z/ - fuso
• /n/ - nódoa

Sons semivocálicos (orais e nasais): são aqueles que partilham características de ambos
os grupos supracitados. Em português, há apenas duas semivogais.

• /j/ - pai, piada, cópia • /~j/ - sem, além


• /w/ - automóvel, meu, riu, quadro • /~w/ - não, trabalham

128
3.3 Estudo dos sons: vogais, semivogais e consoantes

3.3.1 Classificação dos sons: surdos, sonoros, orais e nasais


Os sons que pronunciamos podem ser surdos ou sonoros, orais ou nasais.

R
P
Sons surdos: são aqueles cuja articulação é feita sem a vibração das cordas vocais. Per-
tencem a este conjunto algumas consoantes, tais como:

• /p/ - palco • /∫/ - Caxito


• /t/ - tecto • /s/ - sério
• /k/ - seco • /f/ - frio

Sons sonoros: são os fonemas articulados mediante a vibração das cordas vocais. Todas
as vogais e semivogais pertencem a este grupo. As consoantes sonoras são as seguintes:

• /b/ - bola • /ȝ/ - mesmo


• /d/ - disco • /z/ - zebra
• /g/ - guerra • /v/ - vela

Sons orais: consistem nos sons que são produzidos apenas pela cavidade bucal. Podem
ser surdos ou sonoros, vocálicos ou consonânticos.

• /k/ - quilo • /a/ - África


• /s/ - palhaço • /g/ - gola
• /d/ - delta • /e/ - meu

Sons nasais: fazem parte deste grupo os fonemas cuja produção obriga a que o ar passe
simultaneamente pelas cavidades bucal e nasal.

• /m/ - mata • /ẽ/ - presente


• /n/ - nada • /ĩ/ - íntimo
• /η/ - vinho • /õ/ - ponto
• / / - cansado • /ũ/ - atum

Lê o texto.

De mãos vazias
As mãos trago-as vazias
só nos olhos conservo o sonho.

E no íntimo
guardo recordações amargas
5 do género dito humano.

As mãos trago-as vazias


mas volto rico de presentes
para todos vós, camaradas.

PLA-LP10_09
129
3 Texto lírico

Minha bagagem de escravo forro, Mas para vós, camaradas


10 ei-la: trago também um peito aberto
um punhado de folhas soltas para as dores do nosso sofrer

R
contendo meus versos tristes trago os braços abertos

P
sabendo a fome e maresia. 20 para a solidariedade dum abraço.

As mãos trago-as vazias Volto de mãos vazias


15 e minha bagagem são só versos tristes... de mãos vazias sim, camaradas
mas nos olhos conservo o sonho.
Jofre Rocha, Assim se fez madrugada (1988), União dos Escritores Angolanos, 3.ª edição, p. 18

Lê e compreende
1. Explica o conteúdo da primeira estrofe.
2. Enumera os elementos que constam da bagagem do eu lírico.
2.1. Refere a sua simbologia.
3. De que forma se relacionam os elementos enunciados na penúltima estrofe?
4. Explica a importância da repetição do verso “As mãos trago-as vazias”.
5. Que relação podes estabelecer entre a última estrofe e o título do poema?

Funcionamento da língua
1. Transcreve do texto um exemplo de:
a) um som vocálico, d) um som consonântico surdo;
b) um som oral; e) um som sonoro.
c) um som semivocálico nasal;

3.4 Articulação e prosódia

A articulação consiste nos mecanismos que os falantes usam para pronunciar os sons, as
palavras ou as frases de uma determinada língua.
A prosódia é, por seu turno, uma área dos estudos linguísticos que se concentra no es-
tudo de elementos da fala essenciais para a determinação da entoação e do significado da-
quilo que é dito. Alguns destes elementos são o acento tónico e a tonalidade da voz, sobre os
quais vamos falar mais à frente.

130
3.4 Articulação e prosódia

3.4.1 Articulação vocálica e consonântica


A articulação dos sons vocálicos pode ser classificada de acordo com vários critérios, no-

R
P
meadamente:

• zona de articulação
– anteriores ou palatais, quando pronunciadas a partir da parte frontal da cavidade
bucal (i, e);
– médias ou centrais, quando produzidas na zona central da mesma cavidade (a, e fechado);
– posteriores ou velares, quando articuladas na zona posterior da cavidade citada (o, u).

• grau de abertura da cavidade bucal


– abertas (á, é, ó) – água, recto, pólo;
– médias (â, ê, ô) – ceia, perto, posto;
– fechadas (i, u, e) – pião, peito, tarde.

Para os sons consonânticos, os critérios são os seguintes:

• ponto de articulação, relacionado com os órgãos do aparelho fonador que inter-


vêm na sua produção:
– palatais (η) – produzidas com o auxílio do palato;
– alveolares (n, d, t) – articuladas com a intervenção dos alvéolos;
– bilabiais (b, p, m) – pronunciadas com a ajuda de ambos os lábios;
– labiodentais (f, v) – produzidas mediante a intervenção dos lábios e dos dentes;
– velares (k, g) – articuladas por meio do véu palatino.

• modo de articulação, relativo à forma como são articuladas:


– oclusivas (p, b) – produzidas com uma oclusão ou obstrução momentânea da passa-
gem de ar pela cavidade bucal;
– fricativas (f, v) – articuladas mediante uma fricção;
– vibrantes (r, R) – pronunciadas através de vibrações, as quais podem ser simples ou
múltiplas.

Lê o texto.

Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
Oswald de Andrade, in http://www.literaturaemfoco.
com/?p=2016 (acedido em 10/05/2014)

131
3 Texto lírico

Lê e compreende

R
1. De que pessoas se fala no texto?

P
2. Ao pronunciarem «mio», «teia», «teiado», que fonema elas omitem?
2.1. E o que é suprimido ao pronunciarem «mió» e «pió»?
3. Há algum preconceito lactente neste poema? Justifica a tua resposta com excertos do
mesmo.

Funcionamento da língua
1. Classifica as vogais presentes no verso inicial.
2. Classifica todas as consoantes que aparecem no poema.

3.4.2 Alguns aspectos da prosódia


Vamos considerar aqui três aspectos fundamentais relacionados com a prosódia.
A entoação é uma sequência de tons, em interacção com a duração e a intensidade. A
variação desses tons em sequência forma uma curva entoacional.

Como podes verificar nos exemplos seguintes, a entoação, num mesmo enunciado oral,
permite a comunicação de intenções comunicativas distintas. Vejamos.
1. Entoação declarativa: Vamos ao Huambo.
2. Entoação interrogativa: Vamos ao Huambo?
3. Entoação imperativa: Vamos ao Huambo!
4. Entoação exclamativa: Vamos ao Huambo!
5. Entoação persuasiva: Vamos ao Huambo!

Supõe ainda este contexto: chegas atrasado ao jogo e alguém te informa:


O Petro está a ganhar ao Kabuscorp.

Se estiveres a apoiar o Petro, poderás repetir a frase com uma entoação que traduzirá sur-
presa, satisfação, euforia ou algo semelhante.
O Petro está a ganhar ao Kabuscorp!

Se, pelo contrário, gostares de ver o Kabuscorp jogar, a entoação, a intensidade e o ritmo
utilizados vão expressar surpresa, incredulidade, indignação, fúria ou algo parecido. A acen-
tuação de certas sílabas é mais enfática.
O Petro está a ganhar ao Kabuscorp?!

132
3.4 Articulação e prosódia

A intensidade relaciona-se com as variações na pressão do ar no momento da produção


do som. As três propriedades acústicas (tom, duração e intensidade) concorrem para a deter-
minação do acento em português.

R
P
A pausa pode ser silenciosa e preenchida. A pausa silenciosa corresponde a um momento
de supressão de voz normalmente no final da sequência. É importante para a organização do
enunciado.

Para exemplificar, lê a frase em voz alta.


Não falo contigo.

Experimenta, agora, fazer uma pausa depois de «Não». O sentido do enunciado oral é
oposto ao da frase anterior.
Não. Falo contigo.

Concluis, assim, que a pausa permitiu organizar o enunciado.


A pausa preenchida corresponde normalmente a uma hesitação e pode ter durações variadas:
Não falo… am… contigo.

É evidente que, ao falarmos, devemos evitar o uso excessivo de pausas preenchidas, visto
que tornam o discurso pouco fluido e enfadonho para o enunciatário.

Lê o texto.

Para sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
5 luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
10 água pura, ar puro, 20 Fosse eu Rei do Mundo,
puro pensamento. baixava uma lei:
Morrer acontece Mãe não morre nunca,
com o que é breve e passa Mãe ficará sempre
sem deixar vestígio. junto de seu filho
15 Mãe, na sua graça, 25 e ele, velho embora,
é eternidade. será pequenino
Por que Deus se lembra feito grão de milho.
– mistério profundo – Carlos Drummond de Andrade, in http://letras.mus.br/carlos-
de tirá-la um dia? drummond-de-andrade/460829/ (acedido em 10/05/2014)

133
3 Texto lírico

Lê e compreende

R
1. Por que achas que o poeta grafou a palavra «Mãe» em maiúscula ao longo do texto?

P
2. Relê os versos 15-16: «Mãe, na sua graça, / é eternidade».
2.1. Procura explicar o seu significado.
3. Identifica o desejo do sujeito poético.
3.1. Concordas com ele? Fundamenta.

Funcionamento da língua
1. Recita o poema, aplicando os aspectos prosódicos ora estudados.
2. Relê o verso seguinte dando-lhe entoação interrogativa e exclamativa: «Mãe não morre
nunca».
3. Classifica os sons vocálicos e consonânticos presentes nos dois últimos versos.

3.5 Acentuação das palavras

Vamos, a partir de agora, falar de dois tipos de acentuação:


a tónica (ligada à pronúncia) e a gráfica (relativa à escrita).

Acentuação tónica
Quando pronunciamos lentamente uma palavra, dividimo-la em pequenos segmentos
fónicos: li-ber-da-de. Apercebemo-nos então da existência de uma sílaba acentuada, isto é,
de uma sílaba que possui uma vogal ou ditongo com intensidade, duração e altura de tom
superiores. Essa sílaba, à qual chamamos sílaba tónica, recebe o acento tónico da palavra. O
acento gráfico, intimamente relacionado com estas propriedades sonoras, recai sobre a sí-
laba acentuada.
Cada palavra tem um único acento tónico. Quanto à incidência do acento tónico, as pala-
vras podem ser:

• agudas (ou oxítonas), se a sílaba tónica é a última (rapaz, sabiá, cantor);


• graves (ou paroxítonas), se a sílaba tónica é a penúltima (sobremesa, pónei, item);
• esdrúxulas (ou proparoxítonas), se a sílaba tónica é a antepenúltima (máquina,
propedêutico, caríssimo).

134
3.5 Acentuação das palavras

Lê o texto.

Canção de alta noite

R
P
Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta


não necessita de casa.

5 Acaba-se a última porta.


O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,


não necessita de sono.

Andar... Perder o seu passo


10 na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,


nem necessita de vida.

Andar... – enquanto consente


Deus que seja a noite andada.

15 Porque o poeta, indiferente,


anda por andar – somente.
Não necessita de nada.
Cecília Meireles, in http://www.casadobruxo.com.br/
poesia/c/cecilia05.htm/ (acedido em 14/05/2014)

Funcionamento da língua
1. Retira do poema um exemplo de uma palavra aguda, de uma grave e de uma esdrúxula.
Destaca a sílaba tónica, sublinhando-a.

Acentuação gráfica
Palavras agudas
Acentua-se graficamente as palavras agudas:

• terminadas em -a, -e e -o seguidos ou não de -s: pá(s), José, avó, café;


• terminadas em -ém ou -éns com mais de uma sílaba: refém, também, manténs.

Não se acentuam, porém, as palavras agudas terminadas nas vogais i e u: Mali, calulu.

135
3 Texto lírico

Lê o texto.
Quem, de três milénios,

R
Não é capaz de se dar conta,

P
Vive na ignorância, na sombra,
À mercê dos dias, do tempo.
Johannes Wolfgang von Goethe, in http://pensador.uol.com.br/frase/NDQ4ODkw/ (acedido em 15/05/2014)

Funcionamento da língua
1. Retira do texto três palavras agudas que apresentem acento gráfico.
1.1. Justifica a razão pela qual elas são graficamente acentuadas.

Palavras graves
Coloca-se o acento:

• nas palavras que, na última sílaba, têm -i ou -u, seguidos ou não de -s: táxi, vírus, hóquei,
fáceis, lápis;
• nas palavras que terminam em -um ou -uns: fórum, álbuns;
• nas palavras com ditongos abertos: paranóico, heróica, jóia;
• nas palavras terminadas em ditongos crescentes (ia, ie, io, ua, ue, uo): cárie, sério, estátua,
área;
• nas palavras que terminam em -l, -n, -r e -x, ditongo oral, ditongo nasal ou vogal nasal ã:
agradável, hímen, carácter, tórax, órfã.

Palavras esdrúxulas
O uso de acento gráfico é obrigatório em todas as palavras esdrúxulas. Este acento pode
ser agudo ou circunflexo.

Lê e compreende
1. Coloca o acento nas palavras em que tal for necessário.
a) Existem individuos preparados nesta area.
b) Não de espaço ao Antonio.
c) Queriamos que fosses ao estadio.
d) O medico esta no centro. Teras de aparecer as 14 horas.
e) A Claudia, a Julia e a Suzete interpretaram musicas com letras poeticas.
2. Classifica cada uma delas quanto à posição da sílaba tónica.

136
3.5 Acentuação das palavras

3. Por fim, justifica a acentuação gráfica de todas elas.


4. As palavras «caju» e «ali» não se acentuam graficamente. Porquê?

R
5. Dá exemplos de palavras agudas terminadas em -i e em -u que sejam acentuadas grafica-

P
mente.

Escreve
1. Produz uma breve história cómica que demonstre a importância da acentuação.

Hiatos e homógrafos
Acentua-se a vogal tónica dos hiatos – representada pelas letras -i e -u – sucedida ou não
de -s: baía, ataúde, egoísmo, baú.
Porém, se a vogal tónica dos hiatos (-i ou -u) aparecer antes das consoantes -l, -m, -n, -z,
ou outra consoante que não seja -s, com a qual formam sílaba, ela não deve ser acentuada:
Amboim, Raul, saindo, raiz.
Quanto aos homógrafos, acentuam-se com o objectivo de diferenciar:

• o presente e o passado perfeito da primeira pessoa do plural dos verbos da 1.ª conjugação
(visitamos / visitámos);
• substantivos e verbos (polícia / policia);
• verbos e preposições (pôr / por).

Faz a leitura do texto abaixo.

Ciência matinal
Eu canto o silêncio da tempestade
no teu ventre onde vejo
uma asa íntegra de sangue.

Canto as peças de arte sacra


5 que esculpes
nesse teu exíguo clima
de maturar a fruta.

Canto essa ciência matinal


do pão com manteiga sobre a mesa.
José Luís Mendonça, Olfacto do afecto (2011),
União dos Escritores Angolanos, p. 46

137
3 Texto lírico

Lê e compreende

R
1. O que sugere o facto de o sujeito lírico cantar o silêncio da tempestade?

P
2. Que outros assuntos são objecto do canto do sujeito de enunciação?
3. Explica o significado da última estrofe.

Funcionamento da língua
1. Retira do texto dois exemplos de palavras cuja acentuação gráfica permite distinguir clas-
ses de palavras.
2. Repõe os acentos em falta nas seguintes frases:
a) A saida do jogador aconteceu na primeira parte da partida.
b) Ontem compramos fruta no supermercado.
c) A critica do juri foi muito severa.
3. Justifica a acentuação dos seguintes vocábulos: silêncio, íntegra, exíguo e ciência.

3.6 Sinais de pontuação

Vamos abordar neste ponto os sinais de pontuação mais usados, dando especial atenção
à vírgula, cuja utilização suscita mais dúvidas.

Ponto (.)
Este sinal é empregue com o objectivo de marcar uma pausa maior em finais de frases, de
parágrafos e até mesmo de textos.

A seca que se faz sentir no sul do país afecta sobretudo as


populações das províncias da Huíla, Cunene e Namibe. A falta
de chuva agravou a situação, pois as poucas culturas que podiam
sobreviver acabaram por secar, comprometendo grande parte
das culturas como o milho, massango, massambala.
in http://www.dw.de/governo-de-angola-acusado-de-abandonar-
popula%C3%A7%C3%A3o-afectada-pela-seca/a-17619481 (acedido em 09/05/2014)

Ponto e vírgula (;)


Este sinal de pontuação, menos frequente do que a vírgula, é utili-
zado para separar os vários itens de enunciados, leis ou outros docu-
mentos.

138
3.6 Sinais de pontuação

ARTIGO 4.º
(Liberdade de consciência)

R
Os cidadãos, em matéria de crenças e de culto religioso, são livres de:

P
a) professar ou não alguma crença religiosa, mudar de confissão ou
abandonar a que tenham;
b) exprimir as suas convicções;
c) difundir por escrito, por meios audiovisuais ou quaisquer outros meios
de comunicação, a doutrina da religião que professam;
d) praticar os actos de cultos, específicos da religião professada, em privado
ou em público.
Diário da República n.º 41, 1.ª série, de 21 de Maio de 2004, p. 826

Ponto de interrogação (?)


Tem a função de assinalar, na escrita, uma pergunta. Nalguns casos, sobretudo em ques-
tões seguidas, pode usar-se letra minúscula a seguir a este sinal de pontuação. Nota, porém,
que nas orações interrogativas indirectas o mesmo é dispensado.

Qual a apreciação que faz sobre o mercado habitacional no país?


Revista Economia & Mercado, Abril de 2014, p. 65

Ponto de exclamação (!)


Este é empregue com o objectivo de exprimir sentimentos. É normalmente usado para fi-
nalizar uma frase, embora, tal como o ponto de interrogação, possa ser sucedido em certas
situações por letra minúscula.

Fica o repto para uma adaptação para cinema!


Revista Rotas & Sabores, Abril – Maio de 2014, p. 19

Faz a leitura do texto abaixo.

Sonho de um camponês
Eu vou voltar pra minha terra
Aquela que me viu nascer
Quando acabar esta maldita guerra
Eu vou ver minhas crianças
Meu milho eu vou ver crescer
Pelas savanas correr
5 Eu vou plantar a liberdade Sem medo no olhar
Para colher felicidade Nem do olhar que me fez sofrer
Amar sorrir o dia inteiro 15 Vou fazer das minhas lembranças
Valorizar o meu viver Um conto de crianças
Na minha Angola de amanhã Pois não quero que meus vindouros
10 Na minha Angola de amanhã Tenham o meu destino como herança

139
3 Texto lírico

R
P20
Eu vou voltar para o meu kimbo
E nova vida começar
Vou trabalhar aquela terra
Deixando o vento me aconselhar 30
Dormir sempre bem cansado
Mas com sorriso de contente
Esperando um novo dia
Pra apreciar o sol poente

Lá no meu kimbo vou ter tudo Eu vou voltar para o meu kimbo
Tudo tudo o que a cidade não me deu E ali viver devagarinho
25 Vou ter paz, trabalho e carinho Eu vou plantar o amor que tenho
E pra dormir vou ter um ninho E então colher muito carinho
Teta Lando, Esperanças Idosas (1993), faixa 4 (adaptado)

Lê e compreende
1. Qual o desejo do sujeito poético apresentado na estrofe inicial?
2. O que pretende o eu lírico ao chegar à sua terra natal?
3. Refere-te a outras expectativas do sujeito de enunciação ao regressar ao campo.
4. Na tua opinião, pode-se afirmar, como o sujeito poético, que a felicidade é um dos efeitos
da liberdade?
5. Que relação podes estabelecer entre o título do poema e o seu conteúdo?

Funcionamento da língua
1. Retirámos do texto os sinais de pontuação.
1.1. Pontua o poema de acordo com o que te parecer indicado.
1.2. Justifica o emprego dos sinais de pontuação por ti escolhidos.

140
3.6 Sinais de pontuação

Travessão (–)
É usado nas seguintes situações:

R
• introduzir a fala de uma personagem no texto narrativo;

P – Fraternidade, Manaus, diz fraternidade, diz comigo fra-ter-ni-da-de,


fraternidade.
José Eduardo Agualusa, A Conjura (2008), Leya, p. 13

• separar a fala da personagem da fala do narrador no texto narrativo;

– Ficamos mais sozinhos – falou Caninguili quando lhe foram dar a


notícia; seu jeito manso de acariciar as palavras.
José Eduardo Agualusa, A Conjura (2008), Leya, p. 12

• substituir a vírgula em frases com aposto e frases intercaladas.

Esta segunda edição do Festival Sons do Atlântico, que também celebrou


o Dia Internacional da Mulher – 8 de Março –, levou ao palco nomes
conhecidos da música angolana e internacional, num conjunto de concertos
que se prolongaram madrugada dentro.
In Revista Rotas & Sabores, Abril – Maio de 2014, p. 7

– É no falar que se revelam os príncipes e no coaxar que os sapos se


denunciam – dissera Trony, para logo acrescentar –, pelo que ao meu amigo
lhe aconselho a mais severa abstinência verbal. Não abra a boca que não
seja para engolir as moscas.
José Eduardo Agualusa, A Conjura (2008), Leya, p. 12

Reticências (…)
São empregues com a finalidade de indicar a suspensão de ideias por parte do enuncia-
dor que podem transmitir hesitação, surpresa, entre outros estados de espírito.

Saudade que eu sei donde me vem…


Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Florbela Espanca, Sonetos (2002), Publicações Europa-América, 4.ª edição, p. 49

Funcionamento da língua
1. Redige uma frase em que exemplifiques o uso do travessão e das reticências.
1.1. Explicita a função desempenhada por ambos os sinais de pontuação na frase que
redigiste.

141
3 Texto lírico

Vírgula (,)
A vírgula é usada para:

R
• separar partes de frases com a função de aposto e de vocativo.

P
Fui assistir ao espectáculo de Filipe Mukenga, músico angolano.
Cuidado, Matondo, para não caíres!

• intercalar orações coordenadas introduzidas ou não por conjunções.


Cheguei, entrei, mas não demorei muito.

• separar orações subordinadas quando em posição não habitual (ou seja, antes da
subordinante).
Sempre que chegares cedo, vou-te dar um presente.

• isolar complementos circunstanciais em posição não canónica.


No próximo ano, a Tchissola lançará um livro sobre a gastronomia angolana.

• separar orações relativas explicativas.


A sequóia, que é uma árvore gigantesca, pode viver milhares de anos.

• separar ideias intercaladas:


Amélia, disse o Pedro, venho-te buscar às 15h00.

Não se pode usar vírgula nos seguintes casos:

• entre o sujeito e o predicado.


x A Global Seguros, comunica aos seus clientes que terá novos serviços em breve.

• entre o verbo e os seus complementos.


x O Mavinga comprou, uma enciclopédia para a esposa.

• entre o nome e os seus modificadores, à excepção do aposto.


x O carro, de lata que fiz na infância era muito bonito.

O uso da vírgula torna-se opcional nas seguintes situações:

• separação de orações com sujeitos diferentes ligadas pela conjunção «e».


Porque o sol e a chuva são as influências da parte do Céu, e deixar de
frutificar a semente da palavra de Deus nunca é por falta do Céu, sempre é
por culpa nossa.
António Vieira, Sermões (2008), Leya, p. 145

• separação de orações consecutivas.

…continuou por diante a semear, e foi com tanta felicidade, que nesta
quarta e última parte do trigo se restauravam com vantagem as perdas do
demais…
António Vieira, Sermões (2008), Leya, p.141

142
3.6 Sinais de pontuação

• separação de ideias alternativas.


Deixará de frutificar a sementeira, ou pelo embaraço dos espinhos, ou
pela dureza das pedras, ou pelos descaminhos dos caminhos; mas por falta

R
das influências do Céu, isso nunca é nem pode ser.

P
António Vieira, Sermões (2008), Leya, p. 145

• separação de orações que comecem com locuções subordinativas em posição canónica.

Em tudo sou o que não sente, para que sinta.


Fernando Pessoa, Livro do Desassossego (2013), Assírio & Alvim, 11.ª edição

Procede à leitura do texto seguinte.

Mulher de homem amante do mar


Sou a mulher 20 Mas um dia
Que ama um homem Acabo com ele
Que ama o mar Tenho um queixume
Que ama o mar Pra cada ciúme
5 Que ao pé de mim Fico zangada
Tem pouco tempo 25 Arreliada
Para ficar Mesmo magoada
Que enche de ilusão Quando ele voltar
Meu coração Prometo brigar
10 E que me encontra
No mesmo trilho Mas o tempo
Em cada ano
30 Que ele está ao pé de mim
Esperando um filho É tão curto
Tem logo fim
Já me vieram contar
15 Que há outra mulher Desta vez, não vou explodir a minha mágoa
Num porto qualquer Desta vez, na fervura vou pôr água
E que gasta o dinheiro
35 Desta vez, tenho muito amor a dar
De poupar no lar Ao homem amante do mar
Filipe Zau, Canto da Sereia – o encanto (1996), CD2, faixa 2
Bebendo num bar

Funcionamento da língua
1. Justifica o emprego da vírgula num dos versos do poema.
2. Retira do texto dois versos sem vírgula e usa este sinal de pontuação correctamente. Justi-
fica o seu emprego.
3. Com base na temática do texto, produz frases nas quais apareçam situações de emprego
opcional da vírgula.

143
3 Texto lírico

Lê o seguinte texto.

Cante, Batuque!

R
P
Silêncio no luar, Cante angolanidade sem vaidades,
Silêncio no olhar, Cante independência sem ditadura,
Silêncio para meditar, 20 Cante que há indecência na cultura,
Conhecimentos sistematizar, E, nos corações, milhões de maldades.
5 E na morte calar.
Cante e eleve o seu nome sublime
Para deleitar, o som Acima do som do pop,
Da dança das ondas do mar, Além da fama do rock,
Das fofocas dos pássaros no ar, 25 Bem alto, sem droga nem crime.
Ou dum instrumento bom.
Cante para que o mundo escute
10 Muitas vozes, muito tom A força dos negros na mão,
A arma fala com negrura, A luta para progredir a nova geração,
O vento fala com candura, E perceba a linguagem do Batuque.
Mas só do Batuque eu quero o som.
30 Cante, cante bem alto,
Por isso, convido-o solenemente: Cante no musseque e no asfalto,
15 – Cante, meu Batuque querido, Cante, meu ilustre Batuque,
Cante Angola, solo do destemido, Pois o seu é o som da Negritude.
Cante estridentemente!
Cante, cante, caaannnttteee…!
Hermenegildo Seca e Osvaldo Calandula
(Novembro de 2005)

Lê e compreende
1. Que convite faz o eu lírico?
1.1. A quem é dirigido o convite?
2. Relaciona o conteúdo da quinta estrofe com a realidade da tua localidade.
3. O que objectiva o sujeito poético para elevar a reputação do batuque?
3.1. Achas que isso é já uma realidade? Justifica.
4. O que sugere o pedido do sujeito poético no seguinte verso: «Cante no musseque e no
asfalto»?
5. Faz o esquema rimático do poema completo.

Funcionamento da língua
1. Comenta o valor semântico do uso de todos os sinais de pontuação presentes no poema.
2. Classifica os actos de fala usados nas estrofes 3 e 4.

144
Unidade 3 Texto lírico

Testa os teus conhecimentos

R
P
Lê o poema que se segue. Depois, responde com clareza às questões abaixo.

Com os olhos secos

Com os olhos secos


– estrelas de brilho inevitável
através do corpo através do espírito
sobre os corpos inânimes dos mortos
5 sobre a solidão das vontades inertes
nós voltamos

Nós estamos regressando África


e todo o mundo estará presente
no super-batuque festivo
10 sob as sombras do Maiombe
no Carnaval grandioso
pelo Bailundo pela Lunda

Com os olhos secos


contra este medo da nossa África
15 que herdamos dos massacres e mentiras

Nós voltamos África


estrelas de brilho irresistível
com a palavra escrita nos olhos secos
– LIBERDADE

Agostinho Neto, A Renúncia Impossível (2009), Ministério da Cultura, pp. 91-92

PLA-LP10_10
145
Testa os teus conhecimentos

Compreensão
1 Apresenta três características que permitem classificar o texto como poético.

R
2 Classifica as estrofes do texto quanto ao número de versos.

P
3 Faz a escansão do primeiro verso da segunda estrofe.

4 Classifica as rimas presentes no poema quanto à disposição e à qualidade.

5 Identifica dois recursos estéticos presentes no texto.

6 Refere-te ao ritmo do poema com base na segunda estrofe.

7 Relaciona o título do poema com o seu conteúdo.

8 Faz o esquema rimático do poema.

Funcionamento da língua
1 Classifica os sons vocálicos e consonânticos constantes na terceira estrofe.

2 Retira do texto duas palavras agudas e três graves, sublinhando a sílaba tónica de cada uma delas.

3 Justifica a acentuação gráfica de três palavras do texto.

4 Justifica o emprego do travessão nos seguintes versos:


a) « – estrelas de brilho inevitável»;
b) «– LIBERDADE».
5 Usa a vírgula no lugar certo nos seguintes versos:
a) «através do corpo através do espírito»;
b) «Nós voltamos África».

Escrita
1 Tendo por tema o teu continente – África –, elabora um
soneto clássico. Lembra-te do seguinte:
a) o soneto é organizado em duas quadras e igual
número de tercetos;
b) t odos os versos devem ter dez sílabas métricas
(decassílabos);
c) a rima das quadras é interpolada e a dos
tercetos, cruzada.

146
Textos
informativos

R
P
diversificados

4
Unidade

Textos informativos diversificados


4.1 Conceito e características desta tipologia textual
Funcionamento da língua / Escrita
4.2 Noção de verbos, tempos e modos
4.2.1 Formas especiais de conjugação: conjugação
pronominal reflexa, recíproca e perifrástica
4.3 Estudo da palavra
4.3.1 Morfemas lexicais e morfemas gramaticais
4.3.2 Processos morfológicos de formação de
palavras
4.3.3 Campos semânticos, campos associativos e
família de palavras
4.3.4 Léxico comum e léxicos especializados
4.3.5 Palavras cognatas, divergentes e convergentes
4.3.6 Modos de enriquecimento lexical:
neologismos, estrangeirismos, onomatopeias,
nominalizações
4.4 Estudo da frase
4.4.1 Subtipos de frase
4.4.2 Coordenação e subordinação
4.5 Sujeito e predicado
4.6 Complementos do verbo e do nome
4.7 Estudo do texto
4.7.1 Coerência textual
4.7.2 Conexão textual
4 Textos informativos
diversificados

R
P
Na unidade 1 já apresentámos o conceito de texto informativo e de algumas das suas ca-
racterísticas.

4.1 Conceito e características desta tipologia textual

O texto informativo é uma tipologia textual que tem a finalidade de apresentar informa-
ções de índole diversificada.
Nesta unidade, vamos proceder à abordagem e à interpretação de seis géneros pertencen-
tes a esta tipologia textual, a saber: notícia, reportagem, entrevista, acta, relatório e publicidade.

Notícia
A notícia é um género da tipologia textual informativa cujo objectivo é apresentar infor-
mações, relatando-as, sobre acontecimentos de interesse colectivo, produzido de um modo
que possa facilmente ser entendido pelo público. Certos jornalistas apresentam um conceito
de notícia bastante interessante e abrangente, a saber: «tudo o que o público necessita saber;
tudo aquilo que o público deseja falar; quanto mais comentário suscite, maior é o seu valor; é
a informação exacta e oportuna dos acontecimentos, descobrimentos, opiniões e assuntos de
todas as categorias que interessam aos leitores; são os factos essenciais de tudo o que aconte-
ceu, acontecimento ou ideia que têm interesse humano. A notícia se funda, pois, no público, e
deve-se avaliar seu interesse apreciando nela o que interessa ao público. A essência, pois, da
notícia, está determinada pelo interesse público» (Dicionário de Comunicação, p. 15).
A notícia pode ser escrita (tal como a que a seguir se apresenta), falada (na rádio, por
exemplo), ou audiovisual (na televisão).

Características da notícia
A notícia é um relato breve e deve apresentar uma linguagem clara e objectiva. Deve res-
peitar ainda a técnica da pirâmide invertida, isto é, apresentar os factos por ordem de impor-
tância decrescente.
Este género textual tem a seguinte estrutura:

1. Título: deve ser apelativo para atrair a atenção dos leitores.


2. Lead ou lide: parágrafo inicial no qual se apresenta o essencial da notícia e se procura
responder a estas quatro questões – Quem? O quê? Quando? Onde? – de forma concisa
e objectiva.

148
4.1 Conceito e características desta tipologia textual

Lê o excerto da notícia e verifica.

O director do Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED),

R
Daniel Mingas Casimiro, considerou ontem em Luanda que as instituições

P
do ensino superior têm maiores responsabilidades na criação e transmissão
de pensamento e o dever de se assumirem enquanto agentes de inovação.
in http://jornaldeangola.sapo.ao/sociedade/saude_e_educacao/escolas_sao_os_agentes_da_inovacao
(acedido em 25/02/2014)

• Quem? – O director do Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED), Daniel Mingas


Casimiro, …
• O quê? – … considerou… que as instituições do ensino superior têm maiores
responsabilidades na criação e transmissão de pensamento e o dever de se assumirem
enquanto agentes de inovação.
• Quando? – … ontem…
• Onde? – … em Luanda…

3. Corpo da notícia: conjunto dos parágrafos subsequentes cuja finalidade é ampliar as


informações do lead, apresentando as causas que provocaram o acontecimento
(Porquê?) e descrevendo as circunstâncias em que o mesmo ocorreu (Como?).

Lê agora a notícia completa.

Escolas são os
agentes da inovação
O director do Instituto Superior de Ciências
da Educação (ISCED), Daniel Mingas
Casimiro, considerou ontem em Luanda que
as instituições do ensino superior têm maiores
5 responsabilidades na criação e transmissão de
pensamento e o dever de se assumirem
enquanto agentes de inovação.
Daniel Mingas Casimiro, que falava na cerimónia de abertura do ano
académico 2014 no ISCED, que agora funciona na Centralidade do Kilamba,
10 disse que os desafios do processo de desenvolvimento no país exigem cada
vez mais sabedoria e tacto.
“Angola, face à mundialização dos desafios, à explosão das novas
tecnologias e à globalização das trocas comerciais e dos fluxos informativos
e financeiros, tem de acelerar o seu processo de desenvolvimento”, alertou o
15 gestor escolar.
Angola deve apostar, de forma aberta e decisiva, na educação e na
formação do potencial humano, disse. O Executivo aprovou o Plano
Nacional de Desenvolvimento e o Plano Nacional de Formação de Quadros,

149
4 Textos informativos diversificados

lembrou. “O ISCED de Luanda, na qualidade de estuário para a formação


20 de formadores, participa activamente neste processo”, acentuou. O ISCED
de Luanda compromete-se a inserir a breve trecho, de modo transversal

R
nos seus currículos, conteúdos ligados à educação para a paz, para permitir

P
que os formandos e formadores utilizem esta ferramenta nas suas
actividades futuras.
25 O ISCED ministra dez cursos de licenciatura e de forma regular quatro
de mestrado. “Realizámos um intenso trabalho de formação e melhoria da
qualidade dos nossos docentes, com um aumento exponencial de docentes
doutorados”, informou o director do Instituto Superior de Ciências da
Educação.
in http://jornaldeangola.sapo.ao/sociedade/saude_e_educacao/escolas_sao_os_agentes_da_inovacao
(acedido em 25/02/2014)

Lê e compreende
1. Em que dia e lugar aconteceram os eventos apresentados no texto?
2. Que alerta deu o director do ISCED?
3. De acordo com este gestor escolar, qual é o objectivo deste instituto superior a curto prazo?
4. Identifica, no corpo da notícia, as respostas às questões:
a) Como? b) Quem?

Funcionamento da língua
1. A função da linguagem predominante no texto é:
a) apelativa c) metalinguística
b) referencial d) emotiva
1.1. Fundamenta a tua escolha com base no que estudaste na unidade 1.
2. Atenta no seguinte excerto:
«O ISCED de Luanda, na qualidade de estuário para a formação de formadores, participa
activamente neste processo”, acentuou.»
2.1. Justifica o emprego das três vírgulas.

Escreve e fala
1. Produz uma notícia sobre um facto ocorrido na
aula de hoje. Apresenta-a à turma.

150
4.1 Conceito e características desta tipologia textual

Outros textos
Lê o texto abaixo e, a seguir, identifica nele as partes da notícia estudadas.

R
P
Muzongué da Tradição domingo
no Centro Kilamba com Bangão,
Tony do Fumo Filho e Clara
Monteiro

Os músicos Bangão, Tony do Fumo Filho e Clara Monteiro são os


convidados para a edição de Junho do programa Muzongué da Tradição, a ter
lugar neste domingo (8) no Centro Cultural e Recreativo Kilamba, em Luanda.

A informação foi avançada hoje, segunda-feira, à Angop, pelo responsável


5 do espaço, Estêvão Costa, que adiantou tratar-se de um programa onde
também se fará juntar a uma amostra de trajes típicos da Ilha de Luanda
(Bessangana).

Para além dos artistas convidados, de acordo com a fonte, o programa


servirá também para uma homenagem a Prado Paim.

10 “A intenção é juntar num só programa música, dança e uma amostra das


vestimentas típicas de zona da capital angolana, pelo seu valor no mosaico
cultural angolano”, reforçou.

Relativamente à homenagem a Prado Paim, Estêvão Costa realçou que


se pretende levar o público a reviver alguns dos bons momentos com uma
15 das glórias da música angolana, no âmbito do projecto de resgate e
divulgação do cancioneiro angolano.

“É um artista com uma história no mercado nacional, portanto, nada


melhor do que proporcionar aos seus fãs e ao público em geral alguns
momentos ao som, ao ritmo das suas músicas”, frisou.
in http://www.portaldeangola.com/2014/06/muzongue-da-tradicao-domingo-no-centro-kilamba-com-
bangao-tony-do-fumo-filho-e-clara-monteiro/ (acedido em 05/06/2014)

151
4 Textos informativos diversificados

Reportagem
A reportagem consiste num texto informativo do âmbito jornalístico cujo objectivo é, tal

R
como a notícia, informar sobre um facto, mas de modo mais detalhado. Ao contrário da notí-

P
cia, o repórter pode fazer comentários pessoais e usar expressões valorativas, mostrando o
seu ponto de vista.
Este género textual aparece frequentemente em jornais e revistas (reportagem escrita),
na televisão e na rádio (reportagem audiovisual e falada, respectivamente).

Características da reportagem
A reportagem é mais extensa do que a notícia, pode abordar temas que não sejam tão
actuais e admite maior criatividade na linguagem, beirando não raro ao texto literário. No
corpo do texto podem incluir-se testemunhos das pessoas que o jornalista entrevistou.

Procede à leitura do texto abaixo.

Adeus, Ilha
Segunda-feira, 20 de Abril de 2009, Ilha de Luanda, Avenida Murtala
Mohamed. Eram 16 horas e 15 minutos. O sol lançava a sua luz amarelo­
‑alaranjada sobre as águas calmas do mar, que convidavam a um mergulho.
No entanto, as pessoas que lá estavam tinham muito que fazer, ou pelo
5 menos muito em que pensar. Perguntavam-se umas às outras, incertas:
“Como é o Zango?”, “Será que lá tem escolas, casas e discotecas?”.
Perguntas que ficavam no ar nas horas de espera ao longo da estrada da
Ilha junto à rotunda da peixeira, zona do “Lelo”, que se assemelhou, durante
dias e noites a fio, a um autêntico campo de refugiados exposto aos olhares
10 de todos os que cruzavam a Ilha.
Ninguém sabia nada sobre o local para onde seriam transportadas,
senão que era diferente do seu bairro Benfica, de onde desde sábado mais
de 700 famílias eram consecutivamente levadas para o que alguns
chamaram “o desterro do Zango”.
15 As autoridades apressaram-se em apontar um culpado da transferência
repentina dos moradores: as calemas que inundaram o musseque no
último final de semana. Declarações oficiais que surgiram dois dias depois
do anúncio da requalificação da via principal da Ilha, sobre que a
governadora de Luanda avançou que seria dada uma solução às famílias do

152
4.1 Conceito e características desta tipologia textual

20 bairro Benfica sem avançar, no entanto, que tal “solução” seria aplicada 48
horas depois. Apanhados de surpresa, os moradores desconfiam, assim, das
calemas enquanto justificação para a sua transferência: “Tivemos uma

R
reunião há duas semanas com a administração municipal, que nos disse que

P
a saída era urgente, mas em nenhum momento nos informou de quando isso
25 ia acontecer”, realça um morador. E continua: “Nenhum de nós esperava sair
já. É claro que iríamos embora, mas não agora e nestas condições”.
Na última quarta-feira, no final do encontro com os moradores para a
apresentação do projecto de “Revitalização da Avenida Mortala Mohamed”, a
administradora da Ingombota, Susana de Melo, voltou a insistir que o Governo
30 apenas agiu em socorro dos moradores sinistrados que, depois das primeiras
inundações, contactaram as autoridades clamando por ajuda. “Não obrigámos
ninguém a retirar os seus bens de casa”, disse a administradora. Agastado com
o depoimento da responsável, um cidadão juntou-se aos jornalistas que
entrevistavam Susana de Melo e protestou: “Isso é mentira! Como é que vamos
35 permanecer em casa se vocês estão a destruir tudo?” Perante o silêncio da
administradora, retirou do bolso uma câmara digital e exibiu um filme que
mostrava casas a serem demolidas. Susana de Melo não reagiu.

A Caminho do Zango
Amontoadas em camiões de diversas marcas e cores, que foram
40 perfilados em frente ao Hotel Panorama (a partir de terça-feira as
autoridades disponibilizaram também vinte autocarros de passageiros), as
pessoas esperavam pela hora da partida. O tempo passava, a ansiedade era
cada vez mais evidente. Finalmente, a Polícia ligou a sirene e ordenou que
os carros partissem. Eram 16:35. Com os rostos entristecidos e os olhos
45 encharcados de lágrimas, os antigos habitantes do Benfica contemplavam o
agora antigo bairro, olhando para trás. “Adeus, Ilha!”, diziam, acenando para
os vizinhos e conhecidos que se encontravam à beira da estrada.
Sebastião Vemba, Novo Jornal, 24 de Abril de 2009, pp. 16-17

Lê e compreende
1. A que facto se faz referência nesta reportagem?
2. O repórter elogia ou denuncia este acontecimento? Justifica com excertos do texto.
3. Refere de que modo reagiram os populares ao acontecimento relatado.
4. Como é que as autoridades justificaram as suas próprias acções?
5. Comenta o título do texto.
6. Identifica, no texto lido, pelo menos duas características principais da reportagem ora
abordadas.

153
4 Textos informativos diversificados

Funcionamento da língua

R
1. Refere-te à expressividade do uso dos pontos de interrogação e de exclamação no texto

P
em estudo.

Entrevista
A entrevista é um texto que consiste num diálogo entre entrevistador(es) e entrevistado(s),
no qual são abordados temas variados, relacionados, por exemplo, com a sociedade ou com
a actividade do(s) entrevistado(s). Nela podem ser feitas perguntas de vária índole, dando-se
porém maior destaque àquelas que incentivem o(s) entrevistado(s) a expressar-se mais, ex-
plicando, argumentando, refutando, enfim, dando a sua opinião sobre o assunto em análise.
Além disso, para se ser fiel na reprodução escrita das respostas, é aconselhável que se grave a
entrevista num aparelho portátil. Antes da sua publicação, é também conveniente solicitar
ao(s) entrevistado(s) que proceda(m) à revisão da entrevista, de modo que se rectifiquem
determinados pontos sugeridos por ele(s).

Características da entrevista
A entrevista deve incluir os seguintes momentos:

1. Introdução: apresentação breve do entrevistado;


2. Desenvolvimento: diálogo entre o entrevistador e o entrevistado;
3. Conclusão: síntese dos temas tratados ou destaque de algum aspecto mais importante.

Lê o seguinte texto.

E&M – Qual o comentário que faz sobre os financia-


mentos públicos para o relançamento da produ-
ção do algodão, considerando que o Banco de
Desenvolvimento de Angola (BDA) interrom-
5 peu os créditos por falta de reembolso?
AMT – Desconhecia que o BDA tivesse interrompido os créditos por falta
de reembolso. Entretanto, agora não é em nada estranho que a
razão da interrupção dos créditos seja a falta de reembolso. De
facto, não vejo como é que o programa consiga honrar as suas
10 obrigações sem que, para o efeito, esteja a produzir e a transformar
a matéria-prima.
E&M – De que forma os financiamentos devem ser fiscalizados de modo a
torná-los mais eficientes, começando por desenvolver uma selecção
mais justa e exigente dos beneficiários?
15 AMT – Enquanto persistir a promiscuidade actual de empresários, militares
e políticos, muitas vezes constituídos numa pessoa só, será difícil
alterar o estado de coisas. (…)

154
4.1 Conceito e características desta tipologia textual

E&M – De que forma a participação da agricultura familiar pode contribuir


para este desafio? E qual a importância do desenvolvimento de
cooperativas de agricultores?

R
20
AMT – O envolvimento de agricultores familiares, de camponeses ou de

P
agricultores tradicionais, é uma estratégia importante por alargar o
número de famílias e de pessoas envolvidas. Essa estratégia já deu
bons resultados tanto na produção de milho como de café e de
25 algodão nos anos áureos da produção agrícola em Angola, antes da
independência, e hoje vê-se a sua praticabilidade na produção do
milho. O mesmo pode e deve dizer-se do valor e respectiva
importância na produção animal. Aproveitemos as boas experiências.
No que concerne ao desenvolvimento de cooperativas de agricultores,
30 também não há dúvidas da sua importância por facilitar o acesso dos
produtores ao crédito. Um exemplo digno de realce está a acontecer
com produtores envolvidos num projecto dinamizado pela acção
para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), no município do
Longonjo, província do Huambo.
Sebastião Vemba, “Entrevista – António Manuel Teixeira, Engenheiro Agrónomo”,
in Revista Economia & Mercado, Julho 2014, pp. 67-68 (texto com supressões)

Lê e compreende
1. Que argumento apresenta o entrevistado sobre a interrupção dos créditos por falta de
reembolso?
2. Qual a sugestão dele para a melhoria na fiscalização dos empréstimos?
3. Cita os exemplos dados por António Teixeira para encorajar a aposta na agricultura familiar
e no desenvolvimento de cooperativas agrícolas.
4. Faz um comentário sobre a pertinência das perguntas feitas nesta entrevista.

Funcionamento da língua
1. Refere-te ao emprego do travessão no texto.
2. Justifica a acentuação gráfica dos seguintes vocábulos: constituídos, áureos, agrícola.
3. Atenta na seguinte frase:
«O mesmo pode e deve dizer-se do valor e respectiva importância na produção animal.»
3.1. Atribui sinónimos à palavra destacada.
3.2. Usando a ferramenta WordNet. PT Global (www.clul.ul.pt/wnglobal), copia pelo menos
dez hipónimos do vocábulo «animal».

155
4 Textos informativos diversificados

Acta
A acta é um género textual que tem por finalidade relatar fielmente tudo o que ocorreu

R
de relevante numa reunião ou congresso, bem como registar todas as decisões tomadas.

P
Características da acta
As suas principais características são: ausência de espaços, os quais devem ser preenchi-
dos com tracejados ou algo semelhante; números escritos por extenso, seja referentes a
datas seja referentes a outros contextos; apresentação lógica das intervenções dos partici-
pantes; fecho característico num parágrafo, seguido da data de produção da acta e das assi-
naturas do presidente e do secretário da reunião.

Lê atentamente o texto.

Acta número dois


---Aos catorze dias do mês de Agosto de dois mil e treze, às dezasseis
horas, na sala número dois da Escola Nimi-ya-Lukeni, reuniram-se
os membros do grupo número dois da turma única do quarto ano
do curso de português, pós-laboral, com a seguinte ordem de
5 trabalhos: ----------------------------------------------------------------
---Ponto único: Análise dos temas propostos para as aulas práticas.
---Nesta reunião estiveram presentes todos os membros do grupo.-
---Estudaram-se estratégias de como enquadrar a regência nominal
nas diferentes etapas da aula. Levantaram-se algumas dúvidas
10 sobre a regência nominal directa. Não encontrando solução, o
grupo pensou em ligar para um professor, a fim de oferecer um
esclarecimento a respeito. ----------------------------------------------
---Foram dissipadas as dúvidas, pois ficaram a saber que são raras
as vezes em que ocorre regência nominal directa. -------------------
15 ---Seguidamente, organizaram-se as estratégias para a
implementação da regência verbal directa e indirecta durante a
aula. Depois foi a vez de pensar em como seria a aula de revisão
para os dois temas anteriores. -----------------------------------------
---Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a reunião, da qual se
20 lavrou a presente acta que, depois de lida e aprovada, vai ser assinada
pela presidente do grupo e por mim que a secretariei. ---------------

Luanda, aos quinze de Agosto de dois mil e treze.

A presidente O secretário
Sofia da Cruz Abrantes Fernandes

Produzida por estudantes finalistas do ISCED/Luanda (adaptada)

156
4.1 Conceito e características desta tipologia textual

Lê e compreende

R
1. Qual foi o objectivo desta reunião?

P
2. O que fez o grupo para esclarecer as dúvidas que surgiram?
3. Quais foram as últimas actividades do encontro?

Funcionamento da língua
1. Comenta sobre o emprego da vírgula no último parágrafo do texto.

Escreve e fala
1. Produz uma acta referente a uma reunião feita com os teus colegas para a elaboração de
um trabalho em grupo. Apresenta-a à turma.

Relatório
O relatório consiste num texto cujo objectivo é relatar com pormenor um assunto, que
pode ser uma visita de estudo, a execução do plano estratégico de uma empresa, as aulas de
uma determinada disciplina, entre outras situações.

Características do relatório
Diferente da acta, o relatório admite a utilização de números escritos por compreensão e
opiniões pessoais em forma de sugestões e/ou recomendações.

Faz a leitura do texto.

O presente relatório tem o objectivo de apresentar, em linhas gerais, as


actividades relacionadas com a cadeira de Prática Docente I no curso de
português ao longo deste ano lectivo.

1. As actividades consistiram em procedermos à:


5 •
Abordagem de alguns pressupostos teóricos
relativos à actividade docente (programas,
metodologia, recursos de ensino, princípios
didácticos, caracterização do estudante
adolescente, etc.);

157
4 Textos informativos diversificados

10 • Planificação das aulas simuladas, por parte de cada grupo,


acompanhada da produção de actas para cada encontro;
• Execução das aulas planificadas com a duração de 25 minutos e

R
respectiva avaliação, quer ao longo da sua ministração (pelos membros

P
do grupo através do preenchimento de uma ficha de observação) quer
15 na sessão de crítica (a cargo do professor, de qualquer observador e até
mesmo do próprio observado).

Para a prossecução das mesmas, solicitámos aos estudantes – num total


de 36 – que formassem 9 grupos de 4 elementos cada, os quais foram
orientados a trabalhar em união sob a supervisão de um coordenador
20 nomeado por eles próprios.
(…)

2. Tendo em conta o apresentado acima, gostaríamos de sugerir o seguinte


para os próximos anos:
• Seleccionar uma instituição do ensino secundário que nos possa apoiar
na realização das aulas de Prática Docente II no período nocturno.
25 Caso não haja, negociar com a Direcção do ISCED a hipótese de as
aulas poderem ser ministradas no 1.º ano pós-laboral;
• Reduzir o número de estudantes por professor – por exemplo, 15 para
cada – a fim de se melhorar a eficácia do acompanhamento daqueles
por parte deste.
Hermenegildo Seca (2012), Relatório de Prática Docente em Língua Portuguesa (texto com supressões)

Lê e compreende
1. Qual o propósito deste relatório?
2. Refere-te, sinteticamente, às actividades desenvolvidas citadas no texto.
3. Que sugestões são apresentadas e com que objectivo?
4. Analisa a estrutura deste relatório.
5. Compara a estrutura do relatório com a da acta.

Funcionamento da língua
1. Refere de que modo a pontuação contribui para a clareza das ideias apresentadas.
2. Indica os antónimos de «sob», «pós-laboral» e «eficácia».
2.1. Produz frases com os antónimos atribuídos.
3. Usando a ferramenta WordNet.PT Global (www.clul.ul.pt/wnglobal), transcreve pelo menos
dois sinónimos da palavra «ensino».

158
4.1 Conceito e características desta tipologia textual

Publicidade
A publicidade é um texto misto que combina palavras e imagens e é usado com o objec-

R
tivo de atrair o receptor para a compra ou a solicitação de um produto (publicidade comer-

P
cial) ou alertar para determinado problema (publicidade institucional).

Características da publicidade
O texto publicitário deve apresentar uma linguagem simples e clara, adjectivação expres-
siva e frases do tipo imperativo e exclamativo.
Quanto à estrutura do texto publicitário, este deve conter:

1. Título ou slogan: apresenta a informação essencial do anúncio;


2. Texto argumentativo: desenvolve a mensagem do slogan, apresentando argumentos
sobre a qualidade do produto/serviço/comportamento;
3. Imagem: atrai a atenção, por isso é um elemento essencial;
4. Marca: permite identificar o produto.

Há um esquema a que a maior parte dos textos publicitários obedece: o AIDMA (Acção,
Interesse, Desejo, Memorização e Acção). Vê como ele funciona na explanação abaixo.

1. Captar a Atenção do receptor através de elementos que agradem os sentidos (imagens,


cheiros, sons, etc.);
2. Despertar o Interesse do público-alvo pela coisa publicitada (bem ou serviço);
3. Fazer o receptor ter o Desejo de adquirir tal bem ou aceder a tal serviço;
4. Usar estratégias para a Memorização da mensagem (textos curtos, talvez com rimas,
canções, etc.);
5. Levar o público-alvo à Acção, ou seja, a comprar o produto ou a solicitar o serviço.

Lê o texto.

159
4 Textos informativos diversificados

Lê e compreende

R
1. Quais são as vantagens que a publicidade apresenta para o cliente com o salário domici-

P
liado neste banco?
2. Que relação se pode estabelecer entre a expressão «uma mão cheia» e a imagem?
3. Por que razão achas que se usou a imagem de alguém famoso nesta publicidade?
4. Refere-te à forma como esta publicidade cumpre com os requisitos do esquema AIDMA.

Funcionamento da língua
1. Qual a forma de tratamento usada no enunciado?
1.1. Passa-a para o tratamento oposto.
2. Identifica o tempo/modo verbal usado e comenta a sua importância neste contexto.

Escreve e fala

1. Elabora, com a ajuda dos teus colegas


e professor, uma publicidade sobre
uma marca de ténis, seguindo os re-
quisitos do esquema estudado. Depois
de concluída, apresenta-a à turma.

160
4.2 Noção de verbos, tempos e modos

4.2 Noção de verbos, tempos e modos

R
Se leres qualquer texto com o objectivo de contares as palavras nele contidas, notarás que

P
as mais utilizadas são os verbos. Tanto é assim que a produção de textos sem verbos é um
desafio que poucos ousam enfrentar, como esta poetisa:

Poema sem verbos


Manhã azul cinzenta, levemente baça,
de Primavera.
As mimosas suspensas – amarelos ausentes.
Flores tímidas, promessas de arco-íris.
5 Pássaros silenciosos, simples traços de carvão,
asas de papel.

Crianças. Muitas crianças. Sorrisos, claro.


Não sorrisos claros – nem sequer em fuga.
Sorrisos de estátua nos meus olhos. Só nos meus olhos.

10 Olhos sem vento sem sol sem sonhos sem beijos.

Poema sem verbos – morto.


Sandra Costa, in antologiadoesquecimento.blogspot.com/2006/05/poema-sem-verbos.html
(acedido em 06/03/2014)

O que são então verbos?

Os verbos são um grupo de vocábulos que servem para, como diz Marcos Bagno (2012:
509), «expressa[r] os estados das coisas, ou seja, as acções, os estados e os eventos de que
precisamos dar conta quando falamos ou escrevemos». Eles flexionam (variam) em muitos
aspectos, tais como:

• Tempo (presente, passado e futuro);


• Modo (infinitivo, indicativo, imperativo, condicional e conjuntivo);
• Aspecto (inceptivo, cursivo e terminativo);
• Voz (activa, passiva, reflexa e recíproca);
• Número (singular e plural);
• Pessoa (primeira, segunda e não-pessoa).

São, de facto, as palavras mais abundantes numa língua.


Vamos, nesta secção, proceder ao estudo dos modos e tempos verbais.
O modo traduz a forma como o falante encara a acção ou o estado designados pelo verbo.
Embora existam vários modos, vamos dar atenção aos mais recorrentes – o indicativo, o
conjuntivo e o imperativo.

PLA-LP10_11
161
4 Textos informativos diversificados

Características do modo indicativo


O modo indicativo é empregue geralmente com o objectivo de se exprimir algo conforme

R
à realidade.

P
Ex.: O João lança um CD de música africana hoje.

Presente: refere-se a algo que decorre no momento da enunciação.


Ex.: Vou à escola.

Passado (ou Pretérito) imperfeito: usa-se geralmente com dois objectivos:


• indicar algo não concluído;
Ex.: Engomava a minha bata quando cortaram a luz.
• aludir a alguma coisa que decorria repetidamente num momento anterior ao da
enunciação.
Ex.: Quando criança, subia às mangueiras do meu quintal a fim de tirar mangas para
alimentar a minha família.

Passado (ou Pretérito) perfeito: exprime a ideia de que algo foi concluído (tempo sim-
ples) ou ocorreu de modo repetido antes do momento da enunciação (tempo composto).
Ex.: Engomei a minha bata. (tempo simples)
Tenho engomado a minha bata desde os nove anos. (tempo composto)

Passado (ou Pretérito) mais-que-perfeito: refere determinado evento anterior a outro


já passado. Pode ser simples ou composto. O primeiro é pouco usado, dando-se preferência
à forma composta.
Ex.: Quando a mãe chegou, eu já engomara a minha bata há horas. (tempo simples)
Quando a mãe chegou, eu já tinha engomado a minha bata há horas. (tempo composto)

Futuro imperfeito: usa-se, em linhas gerais, com duas principais finalidades:


• indicar algo a ocorrer num momento posterior ao da enunciação;
Ex.: Engomarei a minha bata no fim-de-semana.
• exprimir incerteza.
Ex.: Será que já engomei a minha bata?

Futuro perfeito: tempo composto empregado para se referir a algo a ser realizado antes
de outro evento no futuro.
Ex.: Quando o pai ligar, já terei chegado a casa.

Atenção!
O futuro imperfeito, no quotidiano, é muitas vezes expressado através de construções perifrásticas,
obedecendo aos seguintes esquemas:
• Verbo ir no presente do indicativo + verbo principal no infinitivo impessoal.
Ex.: Vou limpar o chão do meu quarto no fim-de-semana.
• Verbo ir no futuro imperfeito do indicativo + verbo principal no infinitivo impessoal.
Ex.: Quando é que irás visitar os teus avós?

162
4.2 Noção de verbos, tempos e modos

Lê o texto.

Docentes reconhecem

R
P
qualidades das obras de
Rui Monteiro
Docentes universitários enalteceram hoje, quarta­
‑feira, em Luanda, as qualidades das obras produzidas
pelo escritor Manuel Rui, por contribuírem no
desenvolvimento sociocultural das sociedades.
5 O ponto de vista foi expresso à margem da sessão de
apresentação das obras Quem me dera ser onda e As
tranças à comunidade estudantil da Faculdade de
Letras, da Universidade Agostinho Neto.
Em declarações à Angop, o docente universitário
10 Arlindo Isabel afirmou que o autor é uma das figuras
mais importantes e incontornáveis da literatura
angolana, pelo que tem contribuído na tradução e
produção do imaginário cultural.
O docente realçou que as obras publicadas por
15 Manuel Rui têm ajudado de maneira considerável as
populações, elevando o nível de conhecimento Manuel Rui
académico e literário.
Por sua vez, o vice-decano para a área científica da Faculdade de Letras,
Petelo Nguinamau Fidel, afirmou que as obras Quem me dera ser onda e As
20 tranças irão despertar as populações sobre a realidade das origens dos
antepassados e das culturas africanas em geral, levando às boas práticas de
convivência social.
O conjunto de obras literárias de Manuel Rui inclui textos de poesia e de
ficção publicados desde 1967 até à presente data. É o autor do primeiro livro
25 de poesia e do primeiro livro de ficção publicados em Angola após a
Independência.
Galardoado com inúmeros prémios, Manuel Rui recebeu o Prémio
Caminho das Estrelas, em 1980, pela emblemática obra Quem Me Dera Ser
Onda, já adaptada para televisão e teatro em Moçambique, Portugal e
30 Angola, e agora publicada pela Mayamba Editora.
Em 2003, renunciou ao Prémio Nacional de Cultura na área da Literatura
atribuído pelo conjunto da sua obra.
Os seus textos encontram-se traduzidos em diversas línguas destacando-se
o umbundo, espanhol, francês, norueguês, hebraico e mandarim.
in http://www.portaldeangola.com/2014/06/docentes-reconhecem-qualidades-das-obras-de-rui-monteiro/
(acedido em 05/06/2014)

163
4 Textos informativos diversificados

Lê e compreende

R
1. Quem foi o escritor homenageado e porquê?

P
2. Que elogios foram feitos por Arlindo Isabel?
3. Comenta as considerações proferidas por um dos gestores da Faculdade de Letras.
4. Que informações são apresentadas sobre a obra Quem me dera ser onda?
5. Em que línguas estão traduzidas as suas obras?

Funcionamento da língua
1. Identifica no texto todos os verbos no modo indicativo.
1.1. Refere o respectivo tempo em que cada um se encontra.

Características do modo conjuntivo


O modo conjuntivo é empregue com o objectivo de exprimir as ideias de desejo, dúvida
ou incerteza e possibilidade.

Este modo subdivide-se nos seguintes tempos:

Presente: conjugado de acordo com a conjugação a que pertence o verbo. Os verbos da


1.ª conjugação (limpar, estudar, etc.) formam este tempo por mudar a vogal temática -a- por
-e- (limpe, estude), ao passo que os das restantes conjugações (escrever, partir, etc.) trocam,
respectivamente, a vogal temática -e- e -i- por -a- (escreva, parta).

Passado imperfeito: formado a partir da não-pessoa do plural do passado perfeito sim-


ples do indicativo, substituindo a desinência -ram por -sse (limpasse, escrevesse, partisse) e
respectivas desinências de pessoa (limpasses, partíssemos, partissem).

Passado perfeito: tempo composto cuja formação é feita pelo conjunto verbo ter/haver
no presente do conjuntivo + verbo principal no particípio passado (tenha limpado), usado
em circunstâncias similares às do passado perfeito do indicativo.

Atenção!
Há situações específicas em que o uso destes tempos do conjuntivo é recomendado, nomeadamente:
• Após as conjunções e locuções concessivas (embora, se bem que, apesar de, conquanto…),
condicionais (desde que, caso…) e alguns advérbios de dúvida (talvez…);
Ex.: Embora não o queiras, vou-te dar este livro para leres quando te apetecer.
• Após construções frásicas do tipo verbo ser + adjectivo + que + verbo.
Ex.: É/era necessário que sejas/fosses forte.

164
4.2 Noção de verbos, tempos e modos

Futuro imperfeito: forma-se com base na não-pessoa do plural do pretérito perfeito sim-
ples do indicativo, substituindo-se a desinência -am pelas mesmas do infinitivo pessoal (lim-
par, limpares, limpar, limparmos, limpardes, limparem).

R
P
Atenção!
Este tempo confunde-se muitas vezes com o infinitivo pessoal. Para resolver este problema, tem
em atenção que:
• O infinitivo pessoal é introduzido por preposição, enquanto o futuro imperfeito do conjuntivo é
introduzido por conjunção (para chegarmos lá… / quando chegarmos lá…);
• Apenas coincidem quando se trata de verbos regulares quanto ao radical – aqueles que mantêm
o radical em toda (ou na maioria) a sua conjugação (até estudarmos… / se estudarmos…); em
verbos irregulares, vê-se claramente a diferença entre os dois (até fazermos / se fizermos).

Futuro perfeito: tempo composto com a estrutura verbo ter/haver no futuro imperfeito
do indicativo + verbo principal no particípio passado (tiver limpado), usado em circunstân-
cias similares às do futuro perfeito do indicativo.

Lê o seguinte texto.

Elevação do nível do mar


ameaça sobretudo pequenos
Estados Insulares
Como consequência do aquecimento global, o nível
do mar está aumentando até quatro vezes mais nos 52
Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento
(PEID) do que no restante do mundo, revelou o
5 Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), num relatório publicado nesta quinta-feira
(05/06), Dia Mundial do Meio Ambiente.
Enquanto a média global de elevação do nível do mar é de 3,2 milímetros
por ano, em algumas ilhas do Pacífico foi registado um aumento anual de 12
10 milímetros, entre 1993 e 2009. Trata-se da maior ameaça para o meio
ambiente e o desenvolvimento socioeconómico nesses Estados, a qual
pode resultar em perdas anuais de triliões de dólares.
O PNUMA pede políticas e investimentos globais imediatos em energia
renovável e economia verde para evitar o agravamento desses impactos das
15 mudanças climáticas.
“Esses 52 países, com mais de 62 milhões de habitantes, produzem
menos de 1% dos gases do efeito estufa emitidos no mundo, mas sofrem
desproporcionalmente com as mudanças climáticas causadas pelas
emissões globais”, alerta Achim Steiner, diretor-executivo do PNUMA.

165
4 Textos informativos diversificados

20 Steiner ressalta que, felizmente, estudos mostram que há meios de


combater essa tendência. Segundo o director, cabe à comunidade
internacional ajudar os PEID, por meio de um acordo climático a ser

R
implementado em 2015, que terá como objectivo cortar emissões e

P
minimizar os impactos das mudanças climáticas sobre essas ilhas.
25 O relatório faz um alerta sobre a magnitude e a frequência dos riscos
provocados pelo clima, que irão aumentar devido ao avanço do aquecimento
global, atingindo especialmente as pequenas ilhas.
Se políticas e acções voltadas para a economia verde não forem colocadas
em prática, esses países sofrerão impactos desproporcionais e intensos em
30 vários sectores, como turismo, agricultura, pesca, energia, saneamento e saúde.
A pesca, por exemplo, é responsável por até 12% do Produto Interno
Bruto (PIB) em alguns desses países. Além disso, o peixe representa 90% da
proteína animal na dieta das comunidades das ilhas do Pacífico.
O turismo, extremamente importante para a economia dos PEID,
35 também poderia ser gravemente afectado. A ilha caribenha de Granada,
por exemplo, perderia 60% de suas praias com um aumento de 50
centímetros no nível do mar. (…)
O Dia Mundial do Meio Ambiente foi estabelecido pela Organização das
Nações Unidas (ONU) em 1972. A cada ano, um tema e um país-sede são
40 escolhidos. Em 2014, as mudanças climáticas nos PEID são o foco em Barbados.
in http://www.dw.de/eleva%C3%A7%C3%A3o-do-n%C3%ADvel-do-mar-amea%C3%A7a-sobretudo-
pequenos-estados-insulares/a-17683651 (acedido em 06/06/2014)

Lê e compreende
1. O que entendes por Estados Insulares?
2. Qual o problema que estes Estados estão a enfrentar?
3. Segundo o PNUMA, a que se deve esta situação?
4. Fala sobre as possíveis consequências deste problema para a economia destes países.

Funcionamento da língua
1. Observa a seguinte frase:
“Se políticas e acções voltadas para a economia verde não forem colocadas em prática,
esses países sofrerão impactos desproporcionais e intensos em vários sectores, como tu-
rismo, agricultura, pesca, energia, saneamento e saúde.”
1.1. Por que razão o verbo destacado está no conjuntivo?
1.2. Reescreve a frase, passando o verbo para o passado do mesmo modo, fazendo todas
as alterações necessárias.

166
4.2 Noção de verbos, tempos e modos

Pesquisa, aprende e escreve

R
1. Faz uma pesquisa sobre os problemas ambientais em Angola. Com base na tua pesquisa,

P
produz um relatório sobre os dados que encontraste. Não te esqueças de apresentar su-
gestões e recomendações para as autoridades e para a sociedade.
Respeita as características deste género textual (ver p. 157).

Características do modo imperativo


O modo imperativo é usado com o objectivo de ordenar, aconselhar, advertir, solicitar.
Remete-nos para o tempo presente.

Este modo pode subdividir-se em duas formas:

Imperativo informal: é usado em situações não formais ou nas relações entre superiores
e subordinados, recorrendo-se à 2.ª pessoa (verbos, pronomes pessoais de complemento e
pronomes/determinantes possessivos). Esta forma de imperativo pode ser:

• afirmativa: formada a partir da forma verbal da não-pessoa do plural do presente do


indicativo (Ex.: Ele/Ela lê o jornal. – Lê o jornal.);

Atenção!
A única excepção a esta regra é o verbo ser, que forma o imperativo informal afirmativo do seguinte
modo: Sê uma mulher responsável.

• negativa: constituída com base na forma verbal da 2.ª pessoa do singular do presente
do conjuntivo (Ex.: É importante que tu leias o jornal. – Não leias o jornal.)

Atenção!
No português popular angolano, tanto o imperativo informal afirmativo quanto o negativo são
formados exclusivamente com o auxílio do modo indicativo.
Ex.: Fala muito. / Não fala muito.

Imperativo formal: é usado em situações de comunicação formais ou nas relações entre


iguais em termos de hierarquia, fazendo-se recurso à não-pessoa (verbos, pronomes pessoais
de complemento e pronomes/determinantes possessivos). De modo similar, esta forma de
imperativo pode ser:

• afirmativa: usa-se a forma verbal da não-pessoa do singular/plural do presente do conjuntivo


Ex.: É importante que ele leia o jornal. / É importante que eles leiam o jornal. – Leia/Leiam o
jornal.

167
4 Textos informativos diversificados

• negativa: concebida por meio de uma palavra/expressão negativa seguida da mesma


forma verbal para a formação do imperativo formal afirmativo.
Ex.: Não leia/leiam o jornal.

R
P
Atenção!
No português informal angolano, o imperativo – independentemente de ser afirmativo ou negativo,
formal ou informal – é formado única e exclusivamente pela forma verbal da não-pessoa do
presente do indicativo.
Ex.: Leva o lixo, menino. / Não leva o lixo, menino.

Em síntese, vê o quadro abaixo.

Modo Pronomes pessoais


Formas verbais Possessivos
imperativo de complemento
Informal Não-pessoa do singular do te, ti, contigo teu, tua, teus, tuas
afirmativo presente do indicativo
(excepção: ser)
Informal 2.ª pessoa do singular do te, ti, contigo teu, tua, teus, tuas
negativo presente do conjuntivo
Formal Não-pessoa do singular/ Complemento directo: se, Singular/plural: seu, sua,
afirmativo plural do presente do si, o, a, os, as (e variações) seus, suas
conjuntivo Complemento indirecto: se, Plural: vosso, vossa,
si, lhe, lhes vossos, vossas
Formal Não-pessoa do singular/ Complemento directo: se, Singular/plural: seu, sua,
negativo plural do presente do si, o, a, os, as (e variações) seus, suas
conjuntivo Complemento indirecto: se, Plural: vosso, vossa,
si, lhe, lhes vossos, vossas
Complemento
circunstancial: consigo

Lê o texto que se segue.

Nova vida, muitos prejuízos


À chegada ao Zango, trocavam-se impressões sobre a nova morada, que
está equipada com uma escola, posto de saúde, esquadra da polícia e
algumas lojas. Era noite, e as ruas estavam iluminadas por postes públicos.
“Até que não é mau de todo”, disse Laurindo a Pedro, chefe de uma família
5 de quatro membros. “Ainda assim a vida vai ser dura, mano”, retorquiu o
jovem de 26 anos, apontando os custos de transporte que serão obrigados a
fazer para chegar aos seus trabalhos, na cidade.
As contas eram feitas de cabeça, entre os dois moradores: “de Viana à
Ilha, de autocarro é possível gastar-se apenas 200 Kwanzas, mas para isso
10 temos de nos levantar às quatro da manhã para tomar o primeiro autocarro,

168
4.2 Noção de verbos, tempos e modos

que parte às seis horas, e chega por volta


das nove. Se vamos de comboio,
paramos na zona do Tunga e daí em

R
diante temos de pegar táxis”.

P
15 “E as crianças!?”, lembrou-se Pedro,
olhando para as duas filhas que foram
obrigadas a abandonar a escola que
frequentavam na Ilha. No Zango não
será possível pô-las a estudar em escolas
20 públicas, porque as que existem, segundo moradores contactados, não são
suficientes para albergar todas as crianças matriculadas.
Mas há mais prejuízos. Devido à forma desordenada como as pertenças
das pessoas foram transportadas e postas fora dos veículos, muitos bens
ficaram danificados. Pelo chão, viam-se, espalhados, electrodomésticos e
25 mobílias diversas. “Infelizmente já não servem”, disse um cidadão, agastado,
que protestou pelo modo como foram transportados. “Assim mesmo está
certo carregarem as pessoas como se fossem animais?”, questionou-se com
um ar entre o furioso e o triste. Depois do desabafo calou-se e voltou a
recolher as coisas, amontoando-as junto a uma árvore onde passou a noite
30 com a família.
Olhando para esse cenário, Pedro procurou ser mais cauteloso. “Poisa
devagar!”, aconselhou ao jovem que, encavalitado no camião, lhe passava os
haveres. Este, a dada altura exclamou: “Isso está quente!”. Surgiram então
duas panelas, “o jantar”, segundo o jovem chefe de família. Uma com arroz,
35 outra com feijão. A refeição foi cozinhada antes da partida, “para o que
desse e viesse”. Quem não teve esta possibilidade, preparou a comida ali
mesmo, no meio do descampado onde os habitantes foram descarregados
mal chegaram. Os que não tinham alimentos para cozinhar compravam
bolachas e refrigerantes na loja do bairro.
Sebastião Vemba, Novo Jornal, 24 de Abril de 2009, p. 17

Lê e compreende
1. Que aspectos positivos são apresentados pelo repórter em relação ao Zango?
2. Que desafios enfrentariam os novos moradores quanto ao transporte e às crianças?
3. A que outros prejuízos se faz referência no penúltimo parágrafo?
4. Explica por que razão podemos dizer que Pedro é uma pessoa precavida.
5. Identifica duas características da reportagem presentes no texto, exemplificando-as com
excertos do mesmo.

169
4 Textos informativos diversificados

Funcionamento da língua

R
1. Retira do último parágrafo do texto uma frase no imperativo.

P
2. Identifica o tipo de imperativo em que a mesma se encontra (formal/informal) e passa-a
para a forma negativa.
3. Agora, transforma a frase para o imperativo contrário (formal/informal), nas formas afirma-
tiva e negativa.

Aspecto verbal
O verbo também pode variar em aspecto, o qual nos dá informações sobre a visão do
enunciador relativamente à situação expressa no enunciado.

Os aspectos verbais podem classificar-se das seguintes maneiras:

• inceptivo: relaciona-se com o começo de determinado acontecimento.


Ex.: O professor está a chegar.
Começaram a pintar as janelas da escola hoje.

• cursivo: tem a função de transmitir a ideia de continuidade de certo acontecimento.


Ex.: Quando era pequeno, brincava muito com carros de lata.
O meu pai tem estado muito contente nos últimos três meses.

• terminativo: como o próprio nome indica, refere-se ao encerramento de um


acontecimento.
Ex.: Embora doente, o atleta queniano acabou por ganhar a maratona.
Só deixei de estudar quando acabaram as aulas.

Lê o seguinte texto.

Pioneiro da internet ganha


Prémio da Paz do Comércio
Livreiro Alemão
O pioneiro da internet e escritor americano Jaron
Lanier ganhou nesta quinta-feira (05/06) o Prémio
da Paz do Comércio Livreiro Alemão, uma das
maiores distinções literárias do país.
5 É a primeira vez que o prémio é concedido a um
pioneiro da revolução digital. O informático, de 54
anos, advertiu para os perigos que uma sociedade
enfrenta quando as pessoas são reduzidas a categorias

170
4.2 Noção de verbos, tempos e modos

digitais e quando lhes é retirado poder de determinar livremente suas vidas,


10 segundo a justificativa do júri.
O guru da tecnologia, conhecido como criador do termo “realidade

R
virtual”, é também empresário e participou de inúmeros projectos de

P
desenvolvimento digital. Seu último livro chama-se “Who Owns The
Future?” (A quem pertence o futuro?, em tradução livre) e é um
15 “chamamento a estar alerta à falta de liberdade, a abusos e à vigilância”,
escreveu o júri.
“O mundo digital deveria oferecer estruturas para zelar pelos direitos do
indivíduo e fomentar a participação democrática de todos”, acrescentaram os
jurados. Lanier, que também é músico, vive na cidade californiana de Berkeley.
20 O Prémio da Paz do Comércio Livreiro Alemão é dotado de 25 mil euros
e concedido desde 1950. A entrega acontece no último dia da Feira do Livro
de Frankfurt. Entre os agraciados estão escritores como o peruano Mario
Vargas Llosa (1996), o checo Vaclav Havel (1989) e o alemão Hermann
Hesse (1955).
in http://www.dw.de/pioneiro-da-internet-ganha-pr%C3%AAmio-da-paz-do-com%C3%A9rcio-livreiro-
alem%C3%A3o/a-17684960 (acedido em 06/06/2014 – adaptado)

Lê e compreende
1. Diz se são verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações seguintes, de acordo com o sentido
do texto. Corrige as afirmações falsas.
a) Jaron Lanier foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz.
b) O júri justificou a atribuição do prémio a este informático por ele ter criticado a forma
como se usam as novas tecnologias para reduzir a liberdade da pessoas.
c) A sua mais recente obra cinematográfica intitula-se Who Owns The Future?.
d) O vencedor do prémio reside numa cidade nos EUA.
e) Nenhum informático tinha ganhado este prémio antes do pioneiro da internet.

Funcionamento da língua
1. Repara na seguinte frase:
“O pioneiro da internet e escritor americano Jaron Lanier ganhou nesta quinta-feira (05/06)
o Prémio da Paz do Comércio Livreiro Alemão, uma das maiores distinções literárias do
país.”
1.1. Identifica o valor aspectual da forma verbal nela presente.
1.2. Cria duas frases com o mesmo verbo nos aspectos verbais em falta ora abordados.
2. Reescreve a segunda frase do penúltimo parágrafo de modo a que o verbo viver esteja no
aspecto cursivo.

171
4 Textos informativos diversificados

4.2.1  ormas especiais de conjugação:


F
conjugação pronominal reflexa, recíproca e perifrástica

R
P
Como já aprendeste nas classes anteriores, existem algumas formas especiais de conjuga-
ção, as quais têm as suas particularidades e funções específicas.

Conjugação pronominal reflexa


A conjugação pronominal reflexa é usada para transmitir a ideia de que o elemento que
concorda com o verbo é, ao mesmo tempo, sujeito e objecto da ideia expressa pelo verbo.
Ex.: O Makyadi lavou-se cedo.
A cadela e eu escondemo-nos no quarto.

Conjugação pronominal recíproca


A conjugação pronominal recíproca é usada a fim de expressar a ideia de mutualidade
entre os agentes, apresentando-se sempre no plural.
Ex.: Os noivos beijaram-se após terem entrado no salão de festas.
Nem sempre é possível entendermo-nos uns com outros.

Conjugação perifrástica
A conjugação perifrástica é formada, em termos gerais, por um verbo auxiliar seguido do
verbo principal no infinitivo ou no gerúndio. A conjugação perifrástica pode apresentar, de
entre outros, os seguintes valores semânticos:

• obrigatoriedade ou necessidade;
Ex.: Devemos fazer a tarefa. / Temos de fazer a tarefa.

• futuro imediato;
Ex.: Vou viajar esta semana.

• certeza ou confiança;
Ex.: Hei-de conduzir este ano.

• incerteza ou possibilidade.
Ex.: Deviam ser 15 horas quando o professor chegou.

172
4.2 Noção de verbos, tempos e modos

Lê o texto.

Mulato de sangue azul

R
P
Luís Alvim nunca se considerou um mulato benguelista de bravura,
dançarino, brigão ou pontapé na bola. Foi mesmo de evitar qualquer
requebro no andar. Filho mais velho do colono de Bragança, teve o ensejo de
figurar nos registos com o nome de Alvim e de fazer exame do segundo grau.
5 Por isso, esqueceu cedo quatro irmãos, mulatos benguelistas de pureza, e três
irmãs prostitutas em cujos seios, fartos como mamões, repousaram todas as
cabeças dos brancos importantes da época. Mulatas a quem colonos
endinheirados propuseram privativas; mulatas que deixaram folhas de
pergaminho na história, por escrever, das zaragatas à porta do «ás-de-ouros».
10 Em Benguela, Alvim caprichou, sempre, em pronunciar um português
correcto. Em acenar com a mão esquerda, atirando seu anel de brasão às
vistas, na resposta aos «olá sôr Alvim». Fugiu de entrar em farras de
massemba e em rebitas de «apaga a luz» nem pensar. Nem em festas sérias,
desde que pousassem mulatos ou negros, como as de Matilde Farinha,
15 preta invulgar e cerimoniosa, santomista que estivera em Lisboa e até
tocava piano, mulher de um mulato enfermeiro que receitava bem. Em tudo
Alvim fugia de negros e mulatos, e muamba, prato dos domingos
benguelenses, só comia às escondidas.
S. Filipe de Benguela, voltada ainda pró mar, não é já o que era dantes.
20 Benguela, outrora princesa, princesa sem ter amor, rumou pra terras do
norte em busca de casamento. E outra Benguela ficou posta no mesmo

173
4 Textos informativos diversificados

lugar. Com estradas asfaltadas. Casas de vários andares. Luz eléctrica


subterrânea. Bares com empregados brancos. E numa cidade tão grande,
onde nem os aviões assustam, ostentar sua nobreza para Luís Alvim piorou.

R
O comboio solavancou a paragem. Luís Alvim, de mala e bengala, foi

P
25
ocupar um lugar na 2.ª classe. Suspirou um último pensamento para a
histórica cidade de S. Filipe. Ninguém se viera despedir dele. Nem brancos,
nem mulatos, nem pretos. Ele, o filho de Luís de Sampaio Costa Alvim!
Avivou-se-lhe a imagem do pai e, atravessada, a incómoda recordação da
30 mãe. Luís Alvim sabe a história de cor. Centenas de vezes a ouviu da boca
do pai. Sabe do cipaio, intermediário em amores, que trouxe a negra ao
colono. E do arreganho de Luís de Sampaio Costa Alvim que, cônscio da
portugalidade e da responsabilidade em transmitir a cultura da Pátria,
indagou na ocasião:
35 – Como se chama?
– Chitula.
– Pois de agora em diante passa a chamar-se Fátima.
Foi assim esse amiganço.
Depois que o colono morreu, Fátima regressou à sanzala com o nome de
40 Chitula, sobrevivendo com o auxílio das filhas que vendiam, barato, o corpo
já cansado na cidade.
Luís Alvim nunca quis saber da mãe. Lembrou-se agora. Mas num ápice,
como quem enxota uma mosca, não resistiu e disse em voz alta para a
carruagem: «Adeus, Benguela!»
Manuel Rui, Regresso adiado, União dos Escritores Angolanos, pp. 29-31

Lê e compreende
1. Refere a origem de Luís de Alvim.
2. Que relação tinha ele com os seus irmãos?
3. Porque achas que Alvim mostrava o anel de brasão às pessoas que o saudavam?
4. Que episódio da mãe recorda Luís Alvim?

Funcionamento da língua
1. Retira do texto verbos nas conjugações ora estudadas.
2. Observa a seguinte frase:
“Lembrou-se agora.”
2.1. Reescreve-a na conjugação perifrástica para exprimir três dos valores semânticos
abordados.

174
4.3 Estudo da palavra

4.3 Estudo da palavra

R
A área da linguística que se ocupa do estudo da estrutura das palavras denomina-se

P
Lexicologia. Vamos então ver quais os elementos que compõem uma palavra, como se cha-
mam e qual a função de cada um deles no todo que constitui um vocábulo.

Radical
O radical é a parte invariável de uma palavra, que não pode ser dividida em constituintes
menores e que contém o sentido básico da palavra.

Ex.: cobrir – cobr- (radical) + -i- (vogal temática) + -r (desinência do infinitivo)


cacho – cach- (radical) + -o (vogal temática)
quente – quent- (radical) + -e (vogal temática)

Atenção!
O verbo é composto pelo radical, a vogal temática, que indica a conjugação a que pertence o verbo
– -a (1.ª conjugação), -e* (2.ª conjugação) e -i (3.ª conjugação). No caso dos nomes e dos adjectivos,
porém, o radical é sucedido por uma vogal cuja função é indicar, na maioria das vezes, o género da
palavra – -a (feminino – coisa/bela), -o (masculino – fato/belo) e -e (masculino – caule; feminino –
árvore). No entanto, há muitas excepções: tribo, embora tenha por vogal temática -o, é um nome
feminino, e mapa, apesar de possuir o -a como vogal temática, é um nome masculino; para os
adjectivos, canalha tanto pode ser masculino como feminino; e assim por diante.
* O verbo pôr e os seus derivados são verbos de 2.ª conjugação devido à sua forma antiga latina (ponere > poer > pôr).

Afixos
Os afixos são partículas que se juntam ao radical com o objectivo de formar novas pala-
vras. Eles podem ser prefixos (se aparecem à esquerda do radical) ou sufixos (caso surjam à
direita) e têm, entre outras, as seguintes características:

• indicam, quando sufixos, a classe gramatical do vocábulo;


Ex.: estende (verbo), nacionalização (nome), normal (adjectivo)
• o mesmo não acontece com os prefixos.
Ex.: feliz/infeliz (adjetivos); sabor/dissabor (nomes)

Os sufixos também são designados por desinências. Estas podem ser:

• desinência modo-temporal: ocorre somente nos verbos, com a finalidade de determinar


o modo e o tempo em que este se encontra;
Ex.: cobríssemos – cobr- (radical) + -i- (vogal temática) + -sse (desinência modo-temporal)

175
4 Textos informativos diversificados

• Desinência número-pessoa: ocorre em verbos, com o objectivo de determinar se a


palavra está no singular/plural ou na 1.ª/2.ª/3.ª pessoa (não-pessoa). Pode ocorrer
também em nomes e adjectivos, somente para indicar o número e o género.

R
Ex.: verbo: cobríssemos – cobr- (radical) + -i- (vogal temática) + -sse (desinência modo­

P
‑temporal) + -mos (desinência número-pessoa)
nome: palitos – palit- (radical) + -o- (vogal temática/desinência de género) + -s
(desinência de número)
adjectivo: curiosas – curios- (radical) + -a- (vogal temática/desinência de género) + -s
(desinência de número)

Faz uma leitura atenta do texto abaixo.

Decreto Legislativo Presidencial n.º 5/12


de 15 de Outubro
Considerando que o Presidente da República exerce as suas funções e
competências constitucionais, auxiliado por órgãos que compõem a
Administração Pública;
Convindo reajustar a orgânica actual dos Órgãos Auxiliares do Presidente
5 da República que permita assegurar o exercício dessas funções e
competências ao Presidente da República, enquanto Chefe de Estado,
Titular do Poder Executivo e Comandante-Em-Chefe das Forças Armadas;
O Presidente da República decreta, nos termos das alíneas e) e f ) do
artigo 120.º e do n.º 2 do artigo 125.º, ambos da Constituição da República
10 de Angola, o seguinte:

ARTIGO 1.º
(Aprovação)
É aprovada a Organização e Funcionamento dos Órgãos Auxiliares do
Presidente da República, anexa ao presente Diploma e que dele é parte
15 integrante.

ARTIGO 2.º
(Revogação)
É revogada toda a legislação que contraria o presente Diploma,
nomeadamente os Decretos Legislativos Presidenciais n.º 1/10, de 5 de
20 Março, n.º 7/10, de 5 de Outubro, n.º 8/10, de 29 de Novembro, e n.º 2/12, de
30 de Janeiro.

ARTIGO 3.º
(Dúvidas e omissões)
As dúvidas e omissões resultantes da interpretação e aplicação do
25 presente Diploma são resolvidas pelo Presidente da República.

176
4.3 Estudo da palavra

ARTIGO 4.º
(Entrada em vigor)
O presente Diploma entra em vigor na data da sua publicação.

R
Apreciado em Conselho de Ministros, em Luanda, aos 3 de Outubro

P
30 de 2012.
Publique-se.

Luanda, aos 5 de Outubro de 2012.


O Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
Diário da República n.º 197, I série, de 15/10/2012, p. 5300

Lê e compreende
1. De acordo com a parte inicial do texto, qual o objectivo deste decreto?
2. Que bases legais legitimam esta acção do Presidente?
3. Quais são os diplomas legais revogados por este decreto?
4. De que forma se resolverão as incertezas e os casos omissos?
5. Qual a data da publicação deste diploma?

Funcionamento da língua
1. Identifica nas palavras abaixo o radical e os respectivos afixos.
a) presidente c) funcionamento
b) reajustar d) assegurar

4.3.1 Morfemas lexicais e morfemas gramaticais


Aprende agora dois conceitos fundamentais para o estudo da palavra e dos seus constituintes.

Os morfemas lexicais são aqueles que têm categorias que lhes permitem ter uma defini-
ção no dicionário. Constituem, portanto, morfemas que formam o léxico (a quantidade de
palavras) de uma língua.
Ex.: amar, limpo, gente…

Os morfemas gramaticais, por seu turno, constituem elementos cuja função é, como o
próprio nome diz, meramente gramatical, ou seja, servem para se juntar a um morfema lexi-
cal de modo a alterar, por exemplo, a classe ou o grau das palavras. É o caso dos afixos (prefi-
xos e sufixos) já estudados nas páginas anteriores.
Ex.: limpinho, amavelmente, gentil…
PLA-LP10_12
177
4 Textos informativos diversificados

Lê o texto.

MINISTÉRIO DAS FINANÇAS

R
P
Despacho n.º 1003/14
de 24 de Abril

Em conformidade com os poderes delegados pelo Presidente da


República, nos termos do artigo 137.º da Constituição da República de
Angola, e de acordo com as disposições combinadas dos n.os 1 e 4 do artigo
2.º do Decreto Presidencial n.º 6/10, de 24 de Fevereiro, da alínea d) do n.º 1
5 do artigo 3.º do Estatuto Orgânico do Ministério das Finanças, aprovado
pelo Decreto Presidencial n.º 235/12, de 4 de Dezembro, e do n.º 1 do artigo
12.º do Decreto-Lei n.º 16-A/95, de 15 de Dezembro, determino:
1. São subdelegados ao Director Nacional do Património do Estado,
Sílvio Franco Burity, plenos poderes para outorgar, em representação do
10 Ministério das Finanças, o Auto de Afectação do Edifício denominado
«LAASP», localizado no Bairro Maculusso, Rua Liga Africana, 78, Município
da Ingombota, Província de Luanda, propriedade do Estado Angolano.
2. Este Despacho entra imediatamente em vigor.
Publique-se.

15 Luanda, aos 21 de Abril de 2014.


O Ministro, Armando Manuel.
Diário da República n.º 77, I série, de 24/04/2014, p. 1980

Lê e compreende
1. Qual o diploma legal que delega poderes no ministro das finanças para proceder a este
acto?
2. Em quem são delegados poderes por este ministro e com que finalidade?
3. Quando é que o conteúdo deste diploma legal entra em vigor?

Funcionamento da língua
1. Faz uma lista de dez morfemas lexicais e quatro morfemas gramaticais presentes no texto.
2. Cria palavras acrescentando morfemas gramaticais aos seguintes morfemas lexicais cons-
tantes do despacho:
a) acordo c) Estatuto
b) Ministério d) artigo
2.1. De seguida, produz frases usando os vocábulos que criaste.

178
4.3 Estudo da palavra

4.3.2 Processos morfológicos de formação de palavras


Os processos morfológicos de formação de palavras de que vamos falar, em recordação dos

R
P
conteúdos que aprendeste nas classes anteriores, são dois: a derivação e a composição.

Formação por derivação


Derivação por prefixação: ocorre com a junção de um afixo à esquerda do radical – um
prefixo. Este pode originar significados distintos do da palavra primitiva, tais como:

• oposição;
Ex.: legal – ilegal; ligar – desligar
• anterioridade;
Ex.: citado – supracitado
• inferioridade.
Ex.: mercado – minimercado

Derivação por sufixação: caracteriza-se pela junção de um afixo à direita do radical – um


sufixo. Este pode atribuir alguns dos significados abaixo:

• diminutivo;
Ex.: carro – carrinho; rapaz – rapazito
• aumentativo.
Ex.: boca – bocarra; inteligente – inteligentíssimo

Derivação regressiva: consiste no processo de formação de nomes a partir de verbos


mediante a extracção de afixos.
Ex.: colar (verbo) – cola (nome)

Derivação imprópria: refere-se à formação de vocábulos pela simples mudança da res-


pectiva classe gramatical.
Ex.: Gosto de olhar pela janela. (verbo) / O olhar da Rosa revela tristeza. (nome)

Formação por composição


Composição por justaposição: é caracterizada pela junção de duas ou mais palavras,
geralmente mediante o uso do hífen, conservando cada uma delas o seu acento.
Ex.: guarda-chuva; estrela-do-mar; malnutrido

Nos casos em que há uma preposição de permeio, regra geral, o elemento inicial é que
flexiona.
Ex.: caminho-de-ferro – caminhos-de-ferro; fim-de-semana – fins-de-semana

Excepções: mestre-de-cerimónias; mulher-a-dias

179
4 Textos informativos diversificados

Se o primeiro elemento for um verbo, este nunca flexiona, passando a flexionar apenas o
último elemento.
Ex.: guarda-fato – guarda-fatos

R
P
Composição por aglutinação: consiste, por sua vez, na junção de palavras com a assimila-
ção de alguns morfemas, passando o composto a ter apenas um acento – o da última palavra.
Ex.: embora (em + boa + hora), pernalta (perna + alta), socioeconómico (social + econó-
mico), qualquer (qual + quer).

Lê o texto que se segue.

Decreto Presidencial n.º 47/12


de 22 de Março
Considerando que a Província de Luanda apresenta um novo figurino
no âmbito da nova divisão político-administrativa de que resultou a
constituição da Cidade de Luanda, coincidente com o Município de Luanda,
como órgão desconcentrado da Administração Local do Estado, com
5 estatuto próprio e autonomia administrativa, financeira e patrimonial;
Tendo em conta que a constituição da Cidade de Luanda trouxe consigo
desafios de gestão para uma melhor promoção, orientação e desenvolvimento
socioeconómico do novo Município de Luanda;
Havendo necessidade imperiosa de se criar os Distritos Urbanos da
10 Cidade de Luanda, conforme disposto no n.º 1 do artigo 5.º do Decreto
Presidencial n.º 277/11, de 31 de Outubro, que aprova o Estatuto Orgânico
do Município de Luanda;
O Presidente da República decreta, nos termos da alínea d) do artigo120.º
e do n.º 1 do artigo 125.º, ambos da Constituição da República de Angola, o
15 seguinte:

ARTIGO 1.º
(Objecto)
O presente diploma define os Distritos Urbanos que compreendem a
Cidade de Luanda.

20 ARTIGO 2.º
(Distritos Urbanos)
1.º — A Cidade de Luanda é constituída, nos limites constantes da descrição
e mapa anexos, pelos seguintes Distritos Urbanos:
a) Distrito Urbano da Ingombota;
25 b) Distrito Urbano da Maianga;
c) Distrito Urbano do Kilamba Kiaxi;
d) Distrito Urbano do Rangel;
e) Distrito Urbano da Samba;
f ) Distrito Urbano do Sambizanga.

180
4.3 Estudo da palavra

30 2.º — Os Distritos Urbanos podem organizar-se em Bairros, estes em Zonas


e as Zonas em Quarteirões.
3.º — O Distrito Urbano é dirigido por um Administrador. (…)

R
P
Publique-se.

Luanda, 7 de Março de 2012.


35 O Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
Diário da República n.º 56, I série, de 22/03/2012, pp. 1333-4 (texto com supressões)

Lê e compreende
1. Que razões são apresentadas para a reformulação da divisão administrativa de Luanda?
2. Cita os distritos pertencentes à Cidade de Luanda.
3. De que modo os distritos podem ser estruturados?

Funcionamento da língua
1. Identifica no texto quatro palavras derivadas e duas compostas.
1.1. Classifica-as de acordo com o processo de derivação e de composição.

Pesquisa, escreve e fala


1. Faz uma pesquisa em grupo sobre o teu município baseada nos seguintes aspectos:
a) data da fundação
b) origem e significado do nome (referir nomes antigos, se for o caso)
c) divisão administrativa (distritos, comunas, bairros)
d) administradores (do primeiro ao actual)
2. Seguidamente, redige com os teus colegas um texto, expondo por ordem lógica os dados
investigados, e apresenta-o à turma.

Ouve
1. Vais ouvir uma entrevista de Manuel Vieira à arqui-
tecta Ângela Mingas sobre o estado arquitectó-
nico da cidade de Luanda (www.radioecclesia.org).
1.1. Após a audição, faz um resumo das principais
ideias apresentadas pela especialista.

181
4 Textos informativos diversificados

4.3.3  ampos semânticos, campos associativos e família de


C
palavras

R
P
Aprende agora três conceitos relacionados com o léxico.

Campo semântico: é um conjunto de palavras relacionadas com determinada área da


realidade.
Ex.: jornalismo – notícia, redacção, reportagem, produção, editorial, etc.

Campo associativo: é um grupo de termos organizados com base num termo-chave.


Ex.: casa – casa das leis, casa de banho, casa de câmbio, etc.

Família de palavras: é um conjunto de vocábulos que têm por origem um mesmo radical.
Ex.: comer – comida, comilão, comestível, comensal

Lê o texto.

Despacho Presidencial n.º 43/12


de 22 de Março
Considerando que as questões de desenvolvimento sustentável são
transversais e compreendem não só uma dimensão ambiental mas também
a económica e social;
Havendo necessidade de dotar a Comissão Multissectorial criada ao
5 abrigo do Despacho Presidencial n.º 14/12, de 16 de Fevereiro, de outras
valências visando desta forma o desenvolvimento sustentável;
O Presidente da República determina, nos termos da alínea d) do artigo
120.º e do n.º 1 do artigo 125.º, ambos da Constituição da República de
Angola, o seguinte:

10 1.º — São integradas no Grupo Ministerial da Comissão Multissectorial de


Desenvolvimento Sustentável, coordenada pelo Ministro de Estado e Chefe
da Casa Civil do Presidente da República, as seguintes entidades:
a) Ministro das Finanças;
b) Ministro do Interior;
15 c) Ministra da Justiça;
d) Ministro da Ciência e Tecnologia.

2.º — O presente despacho entra em vigor na data da sua publicação.

Publique-se.

Luanda, 20 de Março de 2012.


20 O Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
Diário da República n.º 56, 1.ª série, de 22/03/2012, p. 1338

182
4.3 Estudo da palavra

Lê e compreende

R
1. Por que motivos é reforçado o Grupo Ministerial da Comissão Multissectorial de Desenvol-

P
vimento Sustentável?
2. Que diploma legal autoriza o Presidente da República a determinar isso?
3. Quais os membros do Executivo integrados mediante este despacho?

Funcionamento da língua
1. Cria uma família de palavras com os seguintes vocábulos: constituição, ministro e vigor.

4.3.4 Léxico comum e léxicos especializados


Dentro do estudo da palavra, podemos ainda aprender os conceitos que se seguem.

Léxico comum: o conjunto de todos os vocábulos usados de maneira genérica, sem o


rigor de uma especialidade.

Léxicos especializados: abarcam toda a terminologia técnica inerente a uma área especí-
fica do saber, tais como:

• Matemática: cálculo, logaritmo, expoente, denominador…


• Física: volume, densidade, força, quilograma…
• Linguística: pidgin, empréstimo, decalque, lexema, enunciação
• Direito: lei, julgamento, instrução do processo, procuradoria,
dolo, réu, absolvição, arguido…

Lê o texto abaixo.

Assente nos pilares da democracia plural, a Constituição da República de


Angola consagra ou reconhece, ao lado das estruturas estaduais, formas de
participação dos cidadãos na gestão do interesse e das necessidades
colectivas, as normalmente consideradas formas de exercício do poder
5 autónomo e local. Em desenvolvimento dos princípios consagrados no n.º 1,
in fine, do artigo 2.º, artigo 8.º, n.º 1 e 2 do artigo 199.º e n.º 2 do artigo 213.º
(democracia participativa, descentralização, autonomia local), reconhece,
três formas de exercício desse tipo de poder administrativo: as autarquias
locais, as instituições do poder tradicional e as outras modalidades
10 específicas de participação dos cidadãos, nos termos da lei.
Excerto de um acórdão do Tribunal Supremo, in Diário da República n.º 204, 1.ª série,
de 23/10/2013, p. 2864

183
4 Textos informativos diversificados

Funcionamento da língua

R
1. Identifica alguns vocábulos, no texto da página anterior, que pertencem ao léxico do «Direito».

4.3.5

P Palavras cognatas, divergentes e convergentes


Vamos, a partir deste momento, falar sobre três conceitos potencialmente novos para ti.

Palavras cognatas: são vocábulos que têm um radical comum.


Ex.: órgão – organismo, orgânico, organizar…

Palavras divergentes: constituem-se, por seu turno, pelos vocábulos que, embora sejam
diferentes, originam de um mesmo étimo.
Ex.: macula (do latim) – malha, mágoa, mancha

Palavras convergentes: pertencem a este grupo os vocábulos que, apesar de derivarem


de étimos distintos, têm a mesma forma e pronúncia.
Ex.: O António está são e salvo. (adjectivo, do latim sanus)
A Lukeni e a Ndomba são grandes amigas. (verbo, do latim sunt)

Lê o texto.

Despacho n.º 355/14


de 11 de Junho
Por conveniência de serviço público;
No uso das competências que me são conferidas pelas alíneas q) e y) do
artigo 10.º do Estatuto Orgânico da Universidade Agostinho Neto, aprovado
pelo Decreto Presidencial n.º 229/11, de 19 de Agosto, determino:
5 1. É Margarida M. Faria Agostinho, Operária Qualificada Encarregada da
Reitoria, desvinculada do Quadro de Pessoal da Universidade, sendo-lhe
concedida a reforma, nos termos do artigo 3.º do Decreto n.º 40/08, de 2 de
Julho.
2. O presente Despacho entra imediatamente em vigor.

10 Publique-se.

Luanda, 20 de Março de 2012.


Universidade Agostinho Neto, em Luanda, aos 6 de Dezembro de 2012.
O Reitor, Orlando Manuel José Fernandes da Mata.
Diário da República n.º 17, II série, de 11/06/2014, p. 254

184
4.3 Estudo da palavra

Lê e compreende

R
1. Que diplomas legais dão competências ao reitor para produzir este despacho?

P
2. Que acto foi efectuado mediante este documento?

Funcionamento da língua
1. Identifica, no texto em análise, palavras cognatas.

4.3.6  odos de enriquecimento lexical:


M
neologismos, estrangeirismos, onomatopeias,
nominalizações
Aprende agora alguns modos de enriquecer o léxico de uma língua.

Os neologismos são vocábulos recentemente criados ou já existentes na língua, mas que


adquirem significados novos ou surgem para designar novas realidades. Quando surgem de
outras línguas, costumam adaptar-se às regras da língua portuguesa. No entanto, o neolo-
gismo, com o passar do tempo, pode deixar de ser designado como tal.

Ex.: comunicólogo (especialista em comunicação); aguentar (ficar com algo de alguém


sem o seu consentimento); dar mbaia (fazer uma manobra perigosa), etc.

Os estrangeirismos ou empréstimos, por sua vez, consistem em palavras vindas de ou-


tras línguas e que mantêm o seu formato original. Normalmente, em textos escritos apare-
cem em itálico ou entre aspas.
Ex.: e-mail, site, last but not least, sine qua non…

As onomatopeias são palavras que tendem a imitar o som de algum animal ou coisa.
Ex.: Psit! (silêncio), pi-pi (buzina), ui-on-ui-on (ambulância)…

As nominalizações caracterizam-se pelo processo de formação de nomes com base em


vocábulos que pertencem a outras classes de palavras.
Ex.: Vou olhar pelos meus ao atingirem a 3.ª idade. (verbo)
O professor varreu a sala com o seu olhar. (nome)

Atenção!
A linguagem jornalística e publicitária é muito fértil no uso destes modos de enriquecimento
lexical.

185
4 Textos informativos diversificados

Procede à leitura desta entrevista.

R
Kultafro – Como artista solo e integrante do Conjunto

P
Ngonguenha, empreendedores de suas próprias
trajectórias artísticas, na sua opinião, quais são os
desafios de músicos que são ao mesmo tempo
5 independentes e auto-agenciados no mercado angolano
e fora dele?
Keita Mayanda – Penso que o maior desafio de um
músico independente é ter exposição sem se moldar às
exigências da indústria e por indústria entendo os meios
10 (rádios, TVs), entendo as empresas ou pessoas que

produzem os shows e que contratam artistas para esse


efeito e, por fim, as editoras, que muitas vezes vêem os
artistas independentes como um incómodo. Acho que
em todo o mundo a dinâmica de produção, distribuição
15 e venda de música mudou bastante desde a última

década, os artistas buscaram e têm cada vez mais


Keita Mayanda controle sobre a sua criação, e também sobre toda a
renda que é gerada – não apenas com a música, mas
também com merchandising e publicidade.
20 Kultafro – Conte-nos sobre a Editora/Produtora Wakuti Música e o estúdio
que você e os seus companheiros de grupo mantêm. Quando surgiu, que
trabalhos já realizaram e que perspectivas futuras vocês têm?
Keita Mayanda – A Wakuti Música é uma editora pequena, temos um
estúdio, onde gravamos parte de algumas músicas do primeiro CD do
25 Conjunto Ngonguenha e a quase totalidade do segundo, onde gravei
inteiramente o meu primeiro CD, o Leonardo Wawuti gravou o seu segundo
CD. Já gravamos outros artistas, mas não é uma actividade lucrativa ainda,
porque usamos apenas como base para o nosso trabalho. Somos quatro
artistas solo na editora, 7 Xagas, Leonardo Wawuti, Conductor e eu, sendo
30 que os últimos três fazemos parte do Conjunto Ngonguenha que também
faz parte da editora. Temos três CD lançados e esse ano provavelmente
sairão mais três sendo que um deles em plataforma digital no sistema de
download gratuito.
Kultafro – O seu segundo trabalho solo está previsto para 2013. O que o
35 público do Brasil e do mundo pode esperar dele?
Keita Mayanda – O meu segundo CD solo vai intitular-se “Anos Luz –
Introdução ao Afrofuturismo”. O conceito é bastante influenciado pelo
movimento iniciado pelo jazzista Sun Ra e que no Brasil tem representantes
como Jorge Ben Jor ou mesmo Nação Zumbi, em termos de estética musical
40 que busca unir os conceitos de ancestralidade africana com ficção científica,
existe na música, existe na literatura, no cinema, nas artes visuais, o

186
4.3 Estudo da palavra

afrofuturismo como conceito de um desenvolvimento científico, político,


artístico, filosófico de matriz afro. Em termos sonoros, eu vou fazer um
revival do hip-hop da primeira metade da década de 90 (a “golden age”).

R
45 Em termos de temática, vai gravitar à volta das questões afro-africanas­

P
‑contemporâneas como identidade, desenvolvimento sustentável e filosofia
moderna africana.
Kultafro – Ouvindo seu primeiro trabalho “O homem e o artista”, percebe-se
que consegue trazer mensagens fortes, ásperas em muitos momentos, mas
50 envoltas por sons leves e líricos. Você atribui esta qualidade ao fato de ter
encontrado a literatura e poesia antes da música ou às suas influências
musicais?
Keita Mayanda – Eu sou grato a minha família, porque permitiu-me desde
cedo ter contato com livros e ter incentivo para ler, acho que em primeiro
55 lugar foi influência literária, mas hoje tudo que eu ouvi em termos de
música tem uma influência mais forte, apesar de continuar a buscar um
caminho lírico e a moldá-lo de acordo com o que me influencia diariamente,
porque eu sou compositor antes de ser rapper.
in http://www.kultafro.com.br/2013/03/entrevista-com-rapper-angolano-keita-mayanda
(texto com supressões – acedido em 07/03/2014)

Lê e compreende
1. Indica aquele que, segundo Keita Mayanda, é o maior desafio para um músico indepen-
dente.
2. Que informações apresenta o entrevistado sobre a sua editora?
3. Fala sobre os conteúdos do novo CD deste artista.
4. Por que motivo o músico sente gratidão pela sua família? O que achas disso?

Funcionamento da língua
1. Retira do texto estrangeirismos e neologismos.
2. De que modo estão grafados os primeiros? Porquê?

Pesquisa e escreve
1. Faz a recolha de vinte onomatopeias muito comuns em Angola.
2. Produz uma exposição na qual abordes o significado de cada uma delas.

187
4 Textos informativos diversificados

4.4 Estudo da frase

R
Nesta secção, vamos proceder à abordagem da frase e de alguns dos seus constituintes.

P
Antes, porém, recorda o conceito de frase.

Conceito de frase
A frase é um conjunto linguístico unitário que conserva um sentido completo. A frase
pode ser constituída por uma ou várias palavras, ter um ou mais verbos (conjugados ou não)
e até mesmo formar-se sem a presença de um verbo.
Ex.: Acorda, Tchissola!
O Matondo gosta de ir à escola, mas assimila os conteúdos com dificuldade.
Ordem!

Frase simples e complexa


Além disso, a frase pode ser simples (com apenas um verbo conjugado) ou complexa
(com mais de um verbo conjugado). Mesmo não havendo verbos, pode considerar-se uma
frase complexa aquela que apresenta mais de uma ideia.
Ex.: Vou comprar um dicionário de termos linguísticos. (frase simples)
Queres ir comigo comprar o dicionário ou ficas em casa? (frase complexa)

Lê com atenção o texto abaixo.

Elementar, meu caro Watson!...


Geralmente, a concorrência entre empresas resulta sempre em mais
benefícios e maior poder negocial para os clientes. De facto, na ausência de
distorções, atrás do aumento da intensidade concorrencial entre firmas que
disputam quotas dos respectivos mercados, vêm os ganhos crescentes para
5 os consumidores, nomeadamente a descida dos preços, o incremento na
qualidade do atendimento, mais serviços pós-venda e uma gradual
diversidade da oferta.
E isto é o resultado de nestes mercados coabitarem muitas empresas a
fornecer produtos ou serviços idênticos, obrigando-as a colocar o foco na
10 retenção dos clientes que possuem, evitando que migrem para os outros
fornecedores, a lutar para serem as primeiras a agarrar os potenciais clientes,
antecipando-se às suas concorrentes, e ainda a piscar o olho e a seduzir os
clientes dos adversários, sendo que entre estes existe uma percentagem
significativa de insatisfeitos, indecisos ou curiosos, os quais podem ser
15 levados a quebrar a relação com a concorrência e conduzidos a assumir um
novo contrato comercial. (…)

188
4.4 Estudo da frase

Em Angola, o mercado de venda de automóveis parece evidenciar sinais


de estar a evoluir para se tornar bastante concorrencial. Com um universo
superior a 30 concessionárias, mais uma franja do mercado paralelo que vai

R
ganhando “jeitos de formal”, uma vasta e diversificada oferta de marcas e

P
20
modelos, perspectivas de crescimento do número de clientes futuros, mas
menores ganhos na abordagem focada no produto e no preço, resta a estas
empresas fazer o que, timidamente, já se vai sentindo – orientação para o
cliente, em particular na qualidade e celeridade do atendimento, no leque e
25 disponibilidade dos serviços pós-venda, e ainda na procura de soluções
específicas e adaptadas ao perfil individual dos vários segmentos de clientes,
pois são estes activos que poderão fazer a diferença e acrescentar mais valor
ao acto de adquirir um carro.
E este é o caminho para a criação de um tecido empresarial competitivo,
30 orientando as empresas para crescerem diferenciando-se da concorrência e
ganhando vantagens únicas, enquanto apostam igualmente na criatividade e
na inovação para abarcar mais mercado e vão incrementando o valor
acrescentado que colocam na economia...
Pelo exposto, é elementar que se deixe de alimentar a manutenção de
35 monopólios e oligopólios, ou de empresas protegidas e/ou subsidiadas por
fundos públicos, que, tomando conta de uma parte relevante do mercado,
não servem os clientes do mercado e, ainda menos, os interesses dos países.
Helena Rodrigo Costa, in revista Economia & Mercado, Junho 2014, p. 5

Lê e compreende
1. Que benefícios a concorrência pode trazer para os consumidores? Porquê?
2. Qual o ponto de situação do mercado automóvel no nosso país?
3. Que crítica faz a autora aos monopólios e oligopólios?
4. De que te faz lembrar o título deste texto?
4.1. Por que razão terá a autora do artigo usado este título?

Funcionamento da língua
1. Retira do texto três frases, uma simples e duas complexas.
2. Consulta um dicionário. Atribui significados aos vocábulos «monopólio» e «oligopólio».
2.1. Cria duas frases complexas usando ambos os vocábulos.
3. Recorrendo à ferramenta WordNet.PT Global (www.clul.ul.pt/wnglobal), indica, pelo menos,
três hiperónimos de «automóvel».

189
4 Textos informativos diversificados

4.4.1 Subtipos de frase


Lembras-te, com certeza, de que, na unidade 1, estudámos os tipos de frase (ver p. 15).

R
P
Existem também os subtipos de frase, sobre os quais vamos falar agora.

Subtipos de frases interrogativas


As frases interrogativas podem ser:

• interrogativas totais ou globais, cuja resposta é sim/não e cuja interrogação recai


sobre toda a frase;
Ex.: O Manuel é teu irmão?

• interrogativas parciais, cuja interrogação recai apenas sobre o elemento interrogativo


presente na frase;
Ex.: Quem te convidou? / Quais são os planos para as próximas férias?

• interrogativas múltiplas, cuja interrogação recai sobre mais de um elemento


interrogativo pertencente à frase;
Ex.: Onde, quando, como e porque isto aconteceu?

• interrogativas de eco, empregada nas situações em que é necessário confirmar-se uma


determinada informação, passando o elemento interrogativo para a posição final da
frase. Repara no seguinte diálogo:
A: A Mafuta foi ao Belas.
B: A Mafuta foi aonde?
A: Ao Belas ver um filme.
B: Foi ao Belas fazer o quê?
A: Ver um filme com a irmã dela.
B: Ver um filme com quem? (...)

Atenção!
Embora em situações muito formais o elemento interrogativo apareça principalmente no final da
frase somente em frases interrogativas de eco em situações informais, é muito comum este
elemento aparecer nesta posição em interrogativas parciais.
Ex.: Joaquim, só chegaste agora porquê? Estavas aonde?

Subtipos de frases exclamativas


As frases exclamativas, por seu turno, podem ter os seguintes subtipos:

• exclamativas totais, formadas sem elemento exclamativo algum, a não ser o ponto de
exclamação;
Ex.: O Sango fez cá um lindo trabalho!

190
4.4 Estudo da frase

• exclamativas parciais, formadas com a presença de um elemento exclamativo.


Ex.: Que lindo trabalho fez o Sango!

R
Lê o seguinte conto tradicional africano.

P 5
O Cágado paciente e
o Lagarto esperto
Num ano em que havia pouca comida, o
Cágado pegou no dinheiro que tinha economizado
e foi a Nanhangaia, onde comprou um saco de
milho. Quando voltava para casa, viu, a certa
altura, um tronco de árvore atravessado no
caminho. Como não conseguia passar por cima
dele, atirou o saco de milho para o outro lado e
depois foi dar a volta. Quando estava a dar a volta,
ouviu uma voz a gritar:
10 – Viva, viva, tenho um saco de milho que caiu lá de cima.
Era o Lagarto, que segurava o saco que o Cágado tinha atirado.
O Cágado protestou:
– Não. O saco é meu. Comprei-o agora e vou levá-lo para casa.
O Lagarto não quis ouvir nada e levou o saco para casa dele, dizendo:
15 – Eu não o roubei a ninguém. Encontrei-o. Vou comer milho porque encontrei
o saco.
O Cágado ficou muito zangado mas não podia fazer nada. Cheio de fome, no
dia seguinte foi com os filhos ver se encontrava alguma coisa para comer. A certa
altura, viram o rabo do Lagarto, que saía de dentro de um buraco, só com o rabo de
20 fora. O Cágado agarrou no rabo e numa faca e preparou-se para o cortar. Depois de
cortado, levou-o para casa e comeu-o com os filhos. O Lagarto, que entretanto
tinha conseguido sair do buraco, foi queixar-se ao responsável da aldeia:
– O Cágado cortou-me o rabo. Mande-o chamar para ele dizer porque é que
me cortou o rabo.
25 O responsável convocou o Cágado e perguntou-lhe:
– É verdade que tu cortaste o rabo ao Lagarto?
O Cágado, que era muito esperto, disse:
– É verdade que eu encontrei um rabo perto de um buraco e o levei para casa
para comer, mas não era de ninguém. Eu não vi mais nada senão o rabo.
30 – Mas o rabo era meu – gritou o Lagarto – tens de o pagar.
O Cágado respondeu:
– Não, não pago. Eu fiz o mesmo que tu fizeste ontem. Tu ontem encontraste
o meu saco de milho e comeste-o. Eu hoje encontrei o teu rabo e comi-o. Agora
estamos pagos.
35 O responsável achou que ele tinha razão e mandou-os embora.
Recreio – suplemento infantil do Jornal de Angola, n.º149, série III, 06/04/2014, p. 11

191
4 Textos informativos diversificados

Lê e compreende

R
1. O que fez o Lagarto com o saco de milho do Cágado?

P
1.1. Que argumento apresentou para tal atitude?
2. Qual foi a reacção do lesado perante este acto egoísta?
3. Ao levar o caso às autoridades, qual foi o desfecho do caso?
4. Pronuncia-te relativamente à moral da história.

Funcionamento da língua
1. Extrai do texto frases interrogativas e classifica-as quanto ao subtipo.
2. Cria, com base no texto, frases exclamativas pertencentes aos subtipos estudados.
3. Cria palavras derivadas a partir dos seguintes vocábulos:
a) árvore c) responsável
b) verdade d) razão

4.4.2 Coordenação e subordinação


As frases e os parágrafos são produzidos através de conexões (ligações). Estas podem ser
efectuadas, de entre outras, por dois processos que vamos estudar agora.

Coordenação
Este tipo de conexão consiste na ligação de partes textuais que estabelecem uma relação
de autonomia entre elas.
Ex.: As minhas irmãs foram ao cinema, mas eu fiquei em casa.

A coordenação pode, porém, ocorrer sem o uso de conectores conjuncionais.


Ex.: As minhas irmãs foram ao cinema, eu fiquei em casa.

Conjunções coordenativas
As conjunções coordenativas são o grupo de palavras mais usado com o objectivo de es-
tabelecer relações de coordenação entre os elementos de um texto. Elas classificam-se em:

• copulativas ou aditivas: servem para adicionar uma ideia à outra;


• adversativas ou contrastivas: têm o objectivo de apresentar uma ideia oposta à outra;
• disjuntivas ou alternativas: são usadas para apresentar uma opção diferente da outra;
• conclusivas: têm a finalidade de introduzir uma conclusão.

192
4.4 Estudo da frase

Vê o quadro abaixo.

Tipos Conjunções Locuções coordenativas* Exemplos

R
e funções coordenativas

P
Copulativas e, nem não só… mas também Fui à escola e estudei bastante.
(adição)
Adversativas mas, porém, todavia, no entanto, não obstante Saí tarde de casa, mas cheguei
(oposição) contudo a tempo.
Disjuntivas ou ora… ora, quer… quer, Joana, vê televisão ou lê um
(opção) ou… ou livro.
Conclusivas portanto, pois, logo, por conseguinte, por isso, És aplicado; portanto, vais
(conclusão) assim por consequência aprender a conduzir depressa.

*As locuções são formadas por mais do que um vocábulo.

Lê o seguinte texto.

Candidatos ao concurso público


de ingresso
Aviso n.º 2

Em conformidade com o Despacho n.º 001, de 10 de Março, do Gabinete


do Presidente do Conselho de Administração do Instituto para o Sector
Empresarial Público (ISEP), e nos termos do Artigo 16.º, n.º1, do Decreto
Presidencial n.º 102/11, de 23 de Maio, publica-se a lista dos candidatos
5 admitidos e excluídos para o provimento de 13 (treze) vagas na categoria de
Técnico Superior de 2.ª Classe, 4 (quatro) vagas na categoria de Técnico de
3.ª Classe, 3 (três) vagas na categoria de Técnico Médio de 3.ª Classe,
2 (duas) vagas para a categoria de Escriturário-Dactilógrafo, 3 (três) vagas
para Técnico Superior de 1.ª Classe (Acesso) e 1 (uma) vaga para Motorista
10 de Ligeiros de 1.ª Classe (Acesso), a que se refere o aviso publicado nos dias
14 e 18 de Março do ano corrente.

O local e data das provas serão anunciados oportunamente.

Luanda, 2 de Maio de 2014.

O Presidente do Júri
Jornal de Angola, 8/05/2014, p. 29

Lê e compreende
1. Qual o assunto deste aviso?
2. Refere o número de vagas à disposição dos candidatos.
3. Quando foi publicado o primeiro aviso?

PLA-LP10_13
193
4 Textos informativos diversificados

Funcionamento da língua

R
1. Fala sobre o valor semântico da única conjunção coordenativa usada no texto.

P
2. Lê a seguinte frase.
“O local e data das provas serão anunciados oportunamente.”
2.1. Transforma-a em frase complexa acrescentando-lhe uma oração coordenada conclusiva.
3. Classifica as seguintes palavras quanto ao processo de formação (composição e derivação):
a) conformidade c) escriturário-dactilógrafo
b) administração d) motorista
3.1. Justifica a tua resposta.

Escreve e fala
1. Elabora um aviso para os teus colegas informando-os de um acontecimento que irá ocor-
rer na tua escola. Apresenta-o à turma.

Subordinação
Este tipo de conexão é usado com o objectivo de estabelecer relações de dependência das
ideias introduzidas por conectores subordinativos em relação à ideia principal, ou subordinante.
Ex.: A Clarice chegou a casa quando começou a escurecer.

Conjunções subordinativas
As conjunções subordinativas são o grupo de palavras que mais se emprega a fim de esta-
belecer relações de dependência entre os elementos de um texto. Elas classificam-se em:

• causais: exprimem o motivo, ou a causa, do acontecimento apresentado na oração


principal;
• comparativas: servem para efectuar uma comparação;
• finais: introduzem uma ideia de finalidade em relação ao expresso na oração principal;
• completivas: têm a função de complementar a oração principal;
• condicionais: expressam uma condição para a realização da ideia contida na oração
principal;
• consecutivas: introduzem uma ideia de consequência em relação ao expresso na oração
principal;
• concessivas: apresentam uma ideia contrária à da oração principal, mas incapaz de
impedir a sua realização;
• temporais: transmitem a ideia de tempo relativamente à oração principal.

194
4.4 Estudo da frase

Observa, em síntese, o quadro abaixo.

Tipos Conjunções Locuções Exemplos

R
e funções subordinativas subordinativas

P
Causais porque, porquanto visto que, já que, Não levantei o dinheiro
(motivo) na medida em que porque não havia sistema.
Comparativas como assim como, como se, Fizeste o trabalho como te
(comparação) tal como foi orientado.
Finais que (= para que) a fim de que, para que Estuda para que aprendas
(objectivo) mais.
Completivas que, se Perguntaram-me se já
(complemento) tinham pago o salário.
Condicionais se, caso desde que, sem que, Se o Pedro aparecer, falarei
(condição) a não ser que com ele.
Consecutivas que (precedida dos de modo que, Corremos de tal maneira
(consequência) termos tal, tão, tanto, etc.) de forma que, que conseguimos ganhar.
de maneira que
Concessivas embora, conquanto apesar de que, Se bem que tenhas
(ideia oposta à se bem que chegado tarde, concluíste
principal mas não o trabalho a tempo.
impedidora)
Temporais quando, mal, enquanto antes que, à medida que, Chovia torrencialmente
(tempo) depois que, logo que quando cheguei ao
Moxico.

Lê o seguinte texto.

Abandono de trabalho
A Clínica Multiperfil comunica ao trabalhador abaixo mencionado que o
declara na situação de abandono de trabalho, conforme o Artigo 254.º da
Lei Geral do Trabalho, se no prazo de três dias seguintes a este comunicado
não provar documentalmente a razão da sua ausência e a impossibilidade
de ter cumprido com a obrigação de informar e justificar a mesma,
estabelecida no Artigo 151.º.

Luanda, aos 17 de Abril de 2014.


Jornal de Angola, 8/05/2014, p. 14

Funcionamento da língua
1. Identifica as conjunções subordinativas presentes no texto que acabaste de ler e pronun-
cia-te sobre o valor semântico de cada uma delas.

195
4 Textos informativos diversificados

Orações coordenadas e subordinadas


As conjunções coordenativas introduzem orações coordenadas e atribuem-lhes o respec-

R
tivo nome. Por exemplo, no parágrafo abaixo, a oração introduzida por uma conjunção coor-

P
denativa alternativa classifica-se como uma oração coordenada disjuntiva ou alternativa.
Ex.: Fico em casa ou vou até à marginal.

Por sua vez, as orações subordinadas são introduzidas, de entre outros elementos, pelas
conjunções subordinativas, as quais também atribuem o respectivo nome às orações.
Ex.: Ele disse que iríamos embora.

A oração principal, ou subordinante, é a seguinte: Ele disse. A oração subordinada, por ser
introduzida pela conjunção subordinativa integrante “que”, é classificada como oração subor-
dinada completiva ou integrante, que é a seguinte: que iríamos embora.

Além disso, as orações subordinadas podem ser introduzidas por pronomes relativos (ora-
ções relativas) ou por verbos no gerúndio (orações gerundivas) e pelo particípio passado
(orações participiais). As duas últimas são também denominadas orações adverbiais, visto
que podem desempenhar a função de complementos circunstanciais.
Ex.: Ficámos a observar o sol, que continuava a vislumbrar-se no horizonte. (oração subor-
dinada relativa)
Informa-se ainda que a não comparência dos membros à assembleia será considerada
como sendo auto-exclusão do referido órgão. (oração subordinada gerundiva)
Terminada a conversa, o médico recostou-se na cadeira, deixou-se ficar assim uns minu-
tos, depois levantou-se, despiu a bata em movimentos cansados, lentos. (oração subordi-
nada participial)

Faz a leitura deste texto.

Um tiro no pé
Falar em formação, sem incorporar a componente emprego, é ver apenas
uma das faces de duas realidades indissociáveis, sendo que o sucesso de
uma implica, ou deve implicar, necessariamente o sucesso de outra.
Assim, e apesar de o primeiro foco do tema de capa desta edição ter sido
5 a componente da formação dos quadros nacionais, à medida que o trabalho
de pesquisa e os contactos foram decorrendo, tornou-se evidente que não
podíamos dissociar esta realidade do componente emprego.
De facto, apostar em formação sem se criarem as condições para que a
nossa economia seja capaz de absorver essas pessoas qualificadas e
10 proporcionar-lhes emprego e melhor qualidade de vida é dar um tiro no pé.
Em Angola, e pese embora as enormes deficiências ao nível da formação
dos nossos recursos humanos, com o próprio Orçamento Geral do Estado
deste ano a dar uma tesourada nas receitas para a educação, temos um
problema que me parece ainda maior, em particular porque somos um país

196
4.4 Estudo da frase

15 de jovens: no universo da ainda insuficiente capacidade nacional para formar


quadros, em particular no universo dos jovens, é aparentemente maior a
incapacidade da economia para empregar estes cidadãos qualificados.

R
Ora, não só estes jovens são o futuro do país e, deste modo, impedi-los

P
de crescer é travar o crescimento e desenvolvimento do país, como estamos
20 a criar um divórcio entre a formação e o emprego que resultará em jovens
frustrados, insatisfeitos, dependentes dos pais e sem perspectivas de futuro.
Já algumas vezes aqui escrevi que, em meu entender, olhar para o futuro
do nosso país, perspectivando e desenhando estratégias que alavanquem a
melhoria do seu desempenho e, consequentemente, das condições de vida
25 dos cidadãos, implica competências e compromissos de cruzamento dos
vários sectores que compõem a Nação e que, no seu conjunto, podem
potenciar o desenvolvimento.
Assim, se já não é bom perceber que o orçamento para a educação, no
seu geral, foi substancialmente reduzido, malgrado um aumento das verbas
30 para o ensino superior – facto que ainda não me foi racionalmente explicado,
mais difícil é ainda compreender como é que as políticas de criação de
emprego não acompanham esta quase obsessão pelos licenciados.
É que, sem uma fortíssima aposta e investimento na diversificação da
estrutura produtiva do país, a única que será capaz de criar emprego para
35 quem agora se está a formar, quase todos estes jovens e quadros, melhor
formados, mais bem preparados, substancialmente mais esclarecidos e
com expectativas de melhoria da sua condição de vida, ficarão no
desemprego. E depois? Quem é que responderá pela sua frustração pessoal
e pelo desperdício dos recursos aplicados na sua formação?!
Helena Rodrigo Costa, in Revista Economia & Mercado, Março 2014, p. 5

Lê e compreende
1. A que “duas realidades indissociáveis” a autora faz referência no início do texto?
2. Explica por que razão formar sem criar condições para a inserção dos quadros no mercado
de trabalho é, na opinião da autora, «dar um tiro no pé».
3. Que consequências podem advir desta lacuna?
4. Comenta as perguntas que concluem o texto.

Funcionamento da língua
1. Divide e classifica as orações dos penúltimo e último parágrafos do texto.
2. Produz frases com os esquemas abaixo.
a) oração concessiva + oração principal + oração completiva
b) oração gerundiva + oração condicional + oração disjuntiva + oração principal
c) oração principal + oração relativa + oração adversativa + oração comparativa
197
4 Textos informativos diversificados

Escreve e fala
1. Produz uma reportagem sobre o fenómeno do desemprego na tua comunidade. Após

R
tê-la redigido com muito cuidado, apresenta-a à turma.

P
4.5 Sujeito e predicado

Vamos agora recordar os tipos de sujeito e de predicado que estudaste nas classes anteriores.

Sujeito
O sujeito, de acordo com o linguista Marcos Bagno (2007: 64), é o «termo, ou expressão, sobre
o qual recai a predicação [atribuição de propriedades a uma entidade animada ou inanimada]
da oração e com o qual o verbo [na maior parte das vezes] concorda [em número e pessoa].»

O sujeito pode ser:

• simples: constituído por um grupo nominal;


Ex.: O Kwanyama é uma língua falada no Cunene.

• composto: constituído por mais do que um grupo nominal;


Ex.: O Nsingi, a Kimpa e o Makuta são irmãos.

• subentendido: não expresso, mas facilmente deduzido mediante a desinência verbal;


Ex.: Vesti-me elegante para o jantar de gala. (= Eu)

• indeterminado: não expresso nem deduzível através do verbo;


Ex.: Sujaram o portão da escola. / Vende-se cimento.

• inexistente: quando se trata de frases com verbos impessoais.


Ex.: Ontem amanheceu tarde.

Predicado
O predicado é a função sintáctica desempenhada pelo grupo verbal e cujo núcleo é o verbo.

O predicado pode ter as seguintes tipologias:

• predicado verbal: composto por um ou mais verbos transitivos ou intransitivos;


Ex.: Este ano estou a ler um romance muito interessante.

• predicado nominal: composto por verbos de significação indefinida (ser, estar, ficar,
permanecer, etc.) seguidos de um predicativo (nome, adjectivo, etc.).
Ex.: O meu filho é a minha razão de viver. / A Raquel está muito feliz.

198
4.5 Sujeito e predicado

Lê o texto abaixo.

As eleições

R
P
As eleições de Maio de 2014 na África do Sul voltaram
a consagrar o ANC como partido do Governo com
maioria absoluta no Parlamento. O Congresso Nacional
Africano venceu com 62,15% dos votos e conquistou
5 249 deputados (menos 15 do que há cinco anos).
A Aliança Democrática (AD) obteve 22,23% e conseguiu eleger 89
deputados, mas a grande surpresa destas eleições foi o surgimento de uma
nova força política sul-africana, o Partido dos Combatentes pela Liberdade
Económica (EFF), novíssimo partido de extrema-esquerda liderado pelo
10 ex-líder da Juventude do ANC, Julius Malema, um dos principais
contestatários internos do presidente Jacob Zuma. O EFF conquistou 6,35%
do eleitorado e entrou para o parlamento sul-africano com 25 deputados.
Malema foi considerado por muitos o grande vencedor das eleições, a
votação que obteve representa mais de um milhão e cem mil votos, sendo
15 que, na região mais povoada do país, que inclui a capital Joanesburgo,
conseguiu uns impressionantes 10% de eleitores.
Os restantes dez partidos concorrentes completam o quadro parlamentar,
conseguindo, cada um, menos de 5% dos votos.
Ana Filipa Amaro, in Revista Economia & Mercado, Junho 2014, p. 83

Lê e compreende
1. Quando e onde decorreram as eleições?
2. Quais foram os resultados das eleições para o ANC?
3. Qual foi o partido-revelação e que feitos realizou?

Funcionamento da língua
1. Atenta na seguinte frase:
“Os restantes dez partidos concorrentes completam o quadro parlamentar […]”
1.1. Identifica o sujeito e o predicado da oração, classificando-os.
2. Produz frases com os esquemas abaixo:
a) sujeito subentendido + predicado nominal (verbo ficar) + oração subordinada causal
b) sujeito composto + predicado verbal + c. c. de lugar
c) sujeito inexistente + predicado verbal (verbo trovejar) + c. c. de tempo

199
4 Textos informativos diversificados

4.6 Complementos do verbo e do nome

R
Os complementos do verbo são os seguintes:

P
• complemento directo: exigido por um verbo transitivo directo, tem a função de
responder à pergunta O quê? / Quem? feita ao verbo;
Ex.: O Ngunga limpou o vidro. / A Nzinga elogiou a sua professora.

• complemento indirecto: pedido por verbos transitivos indirectos, é identificado por se


fazer ao verbo a pergunta A quem? / A quê?;
Ex.: A professora emprestou o livro ao aluno.

• complementos circunstanciais: podem ser de vários tipos, expressando principalmente


as circunstâncias de:
– tempo (Quando?)
Ex.: Amanhã, vou contigo para a escola.
– lugar (Onde? Aonde? De onde? Por onde? Para onde?)
Ex.: Ontem falhou a luz em minha casa.
– modo (Como?)
Ex.: O Carlitos realizou a prova calmamente.

Os complementos do nome podem ser:

• complemento determinativo: é seleccionado por um nome e pode ser um grupo


preposicional ou, menos frequentemente, um grupo adjectival, podendo exprimir, de
entre outras, as ideias de:
– origem
Ex.: A kizaka de Malanje é muito saborosa.
– matéria
Ex.: O pai ofereceu-me um fato de linho.

• nome predicativo do sujeito: é composto por verbos copulativos de significação


indefinida, os quais são seguidos de nomes, adjectivos ou expressões equivalentes;
Ex.: Apesar da pressão, os alunos permaneceram concentrados nas suas tarefas.

• nome predicativo do complemento directo: é um elemento que caracteriza o


complemento directo, aparecendo normalmente em frases com os verbos considerar,
nomear, etc.;
Ex.: O director de turma nomeou a Luzia chefe de limpeza.

• nome predicativo do complemento indirecto: tem a mesma função que o anterior,


mas só é usado com o verbo chamar;
Ex.: Por ser muito inteligente, os colegas da Denise chamam-lhe Génio.

200
4.6 Complementos do verbo e do nome

• aposto: é uma palavra ou oração que faz uma caracterização do nome separada por vírgula;
Ex.: Mário Coelho Pinto de Andrade, intelectual angolano de mão cheia, escreveu uma
biografia sobre Amílcar Cabral, que era seu grande amigo.

R
P
• atributo: consiste também numa caracterização do nome, porém não separada por vírgula.
Ex.: O estudante Patrício gosta muito de participar nas aulas.

Procede à leitura do seguinte texto.

Estatuto da sociedade Sowilo, Limitada


ARTIGO 1.º
(Denominação e sede)
A sociedade adopta o tipo de sociedade por quotas e a denominação
«Sowilo, Limitada», com sede social na Província de Luanda, Município de
5 Luanda, Distrito do Rangel, Bairro Rangel, Largo Camilo Pessanha, Casa
n.º 6, podendo transferi-la livremente para qualquer outro local do território
nacional, bem como abrir filiais, sucursais, agências ou outras formas de
representação dentro e fora do País.

ARTIGO 2.º
10 (Duração)
A sua duração é por tempo indeterminado, contando-se o início da sua
actividade, para todos os efeitos legais, a partir da data da celebração da
presente escritura.

ARTIGO 3.º
15 (Objecto)
A sociedade tem como objecto social consultoria, prestação de serviços,
hotelaria e turismo, comércio geral, comércio a grosso e a retalho, indústria,
pescas, agro-pecuária, agricultura, informática, telecomunicações,
construção civil e obras públicas, fiscalização de obras, saneamento básico,
20 compra e venda de móveis, modas e confecções, transporte marítimo, aéreo
e terrestre de passageiros ou de mercadorias, transitários, oficina auto, salão
de cabeleireiro, botequim, assistência técnica, comercialização de petróleo e
lubrificantes, exploração de bombas de combustíveis, farmácia, centro
médico, clínica, perfumaria, agência de viagens, promoção e mediação
25 imobiliária, relações públicas, pastelaria e panificação, exploração de parques
de diversões, realização de espectáculos culturais, recreativos e desportivos,
exploração mineira e florestal, estação de serviço, representações comerciais,
serralharia, carpintaria, venda de alumínio e sua utilização, cultura e ensino
geral, segurança de bens patrimoniais, importação e exportação, podendo
30 dedicar-se a qualquer outro ramo do comércio ou indústria em que os sócios
acordem e seja permitido por lei.
Diário da República n.º 79, III série, de 28/04/2014, p. 5499

201
4 Textos informativos diversificados

Lê e compreende

R
1. Marca com uma cruz (X) a resposta certa, justificando a tua opção com base no texto.

P
a) A empresa é do tipo
anónima.
limitada.
unipessoal.
b) Esta sociedade tem a sua sede num dos municípios seguintes da capital do país
Belas.
Cacuaco.
Luanda.
c) Três elementos do seu objecto social são
centro médico, clínica e veterinário.
agência de viagens, livraria e venda de carvão.
assistência técnica, botequim e exploração mineira.

Funcionamento da língua
1. Identifica, no texto da página anterior, os complementos do verbo e do nome ora aborda-
dos, classificando-os.
2. Cria uma frase com o seguinte esquema: c. c. de lugar + c. c. de tempo + sujeito composto +
predicado verbal + c. directo + c. indirecto + aposto.

4.7 Estudo do texto

Vamos agora estudar o texto e alguns elementos que contribuem para que o texto possa
ser considerado como tal, com destaque para a coerência e a conexão textuais.

4.7.1 Coerência textual


A coerência refere-se à organização das frases e dos textos, contribuindo para transmitir
um sentido claro ao receptor.
Um dos princípios fundamentais da coerência é o da não-contradição, ou seja, o que é
apresentado posteriormente não deve contradizer o que já foi dito. Vê dois exemplos.

1. Vindo da [igreja] / não entendi nada / porque o que o padre dizia / eu já sabia
2. Não sou inocente / mas também não sou culpado.

202
4.7 Estudo do texto

No primeiro exemplo, a incoerência reside no facto de o enunciador justificar a impossibi-


lidade de entender o que se dizia na igreja com o argumento de já ter conhecimento de tudo
aquilo que era dito! Ora, isso não é possível. Para tornar o texto coerente, podia-se trocar

R
“entendi” por “aprendi”, por exemplo.

P
Quanto ao segundo exemplo, sabemos que “inocente” e “culpado” são antónimos; se o
emissor diz que não é uma coisa nem outra, que adjectivo neutro se lhe poderá atribuir?
O texto pode tornar-se coerente, por exemplo, com a inserção da expressão “o único” antes
do último adjectivo.
Existem vários recursos que contribuem para a formação de um sentido claro do texto.
Por exemplo, existem processos de recorrência/retoma (relacionados com a repetição de vo-
cábulos e períodos), que vamos abordar de seguida.

Tipos de recorrência
Verbal: relaciona-se com o enquadramento adequado dos tempos verbais, de modo a
não transmitir ideias ambíguas ou absurdas.
Ex.: Se eu comprasse um livro de psicologia, a minha esposa lia-o logo.
(Temos duas acções ocorridas no passado. Porém, caso o verbo inicial estivesse no
futuro – comprar – e o verbo seguinte se mantivesse no passado, a frase seria incoe-
rente quanto ao tempo verbal.)

Nominal: consiste no emprego de nomes mediante o recurso a sinónimos ou antónimos,


hiperónimos ou hipónimos, holónimos ou merónimos, etc.
Ex.: Antónimos
«se o dominador falar terá de falar também o dominado»
(Bob da Rage Sense, “Sonho devolvido”, in Menos Pão, Luz e Água)

Ex.: Hiperónimo e hipónimos


«há sítios onde não se vende água mas vende-se coca-cola
minha esperança ganha asas mas nunca descola
o sítio é Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Angola»
(Bob da Rage Sense, “Palop”, in Menos Pão, Luz e Água)

Ex.: Merónimos e holónimo


«porque o sistema é uma rocha que se forma
sobre a face de um rio e eu sou a corrente que o contorna
empunhar armas bem alto como a tribo yaqui
com a autoconfiança de Salvador Dalí
expressa a arte neste quadro que o mundo te oferece»
(Bob da Rage Sense, “Sonho devolvido”, in Menos Pão, Luz e Água)

203
4 Textos informativos diversificados

Pronominal e articular: ocorrem com o fim de substituir nomes e elementos afins por
pronomes, tornando o texto mais variado em termos vocabulares.
Ex.:

R
“Merece atenção o drama dos clientes da Ridge Solutions que gastaram as

P
suas únicas poupanças, e outros endividaram-se junto dos bancos, para
adquirir imóveis que não lhes são entregues há mais de seis anos.”
(Sebastião Vemba, “Sem justiça não há paz”, in revista Economia & Mercado, Abril 2014, p. 10)

Atenção!
Neste excerto, as palavras «que», «suas», «outros», «se» e «lhes» referem-se ao nome «clientes»; ao
passo que o último «que» substituiu o nome «imóveis».
A repetição do mesmo vocábulo nem sempre deve ser evitada; depende do efeito e da intenção
comunicativa do enunciador.
Observa o seguinte exemplo:
«Caixa aberta ou caixa fechada. É sempre muita caixa.» (Publicidade de automóvel em outdoor)
Na frase inicial, a palavra repetida refere-se ao formato carroçaria do automóvel, algo facilmente
deduzido pelos adjectivos que a acompanham. Já na frase concludente, o vocábulo em referência
faz alusão à quantidade de caixas (talvez de mercadorias) que se pode transportar na carroçaria
deste veículo.

Lê o seguinte texto.

Renascence
Serão flores verdadeiras,
ou um conto de fadas,
ou serão as flores que eu semeei
que me dás agora, nesta aurora

5 Quem semeia amor, colherá


fruta madura, bem madurinha
que são as flores mais lindas
as mais lindas flores
do mundo novo que vem aí
Waldemar Bastos, in Renascence, 2004, faixa n.º 9

Lê e compreende
1. Explica a razão pela qual o eu lírico estabelece uma relação entre “flores verdadeiras” e
“conto de fadas”.
2. Que comparação se pode estabelecer entre o amor e a lavoura?

204
4.7 Estudo do texto

Funcionamento da língua

R
1. Identifica o nome substituído por cada pronome relativo presente no texto. De seguida,

P
refere qual o processo de recorrência usado pelo autor.
2. Refere-te à coerência temporal dos verbos presentes no texto.

Pesquisa e debate
1. Faz uma investigação sobre os diversos tipos de amor – desde o familiar ao amor ao pró-
ximo. De seguida, debate com os teus colegas, sob a orientação do professor, acerca des-
tes conceitos e a realidade da tua comunidade.

Outros textos
1. A sequência do texto abaixo apresenta-se de forma aleatória.
1.1. Munido dos conhecimentos adquiridos sobre coerência textual, organiza-o de modo
a torná-lo compreensível.

a. Autoridades da indústria chinesa de algodão já minimizaram o impacto


das enormes reservas do país, após os preços recuarem mais de 2% na
bolsa de Nova Iorque por causa das intenções recentes da China e da
Índia de venderem as suas existências da fibra.
b. As últimas informações dão conta de que a China deverá vender, este
ano, cerca de três milhões de toneladas de algodão das reservas públicas
de cerca de 10 milhões de toneladas. A Índia, por outro lado, ainda não
revelou quanto pretende vender.
c. O país asiático manteve as importações e os chineses têm algodão
suficiente para 620 dias de consumo. Prevê-se, agora, que o país mais
poderoso da Ásia reduza o apetite na próxima safra. Em 2011/2012, a
China comprou 5,3 milhões de toneladas, devendo, em 2014, adquirir
apenas 1,7 milhões de toneladas, de acordo com o USDA.
d. O relatório de oferta e procura de produtos agrícolas do Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), apresentado em Junho, não
traz muitas novidades em relação ao mercado internacional, pois a
importação desmedida do produto pela China torna a avaliação mais
difícil.
e. A ambiciosa política chinesa de armazenamento de algodão elevou os
preços domésticos e forçou a maior indústria têxtil mundial a elevar as
importações de fio, enquanto os custos mais baixos no sudoeste asiático
estimularam os produtores a elevar a produção.
Edjaíl do Santos, “Ambição chinesa dificulta avaliação do mercado internacional”,
in revista Economia & Mercado, Julho 2014, p. 62

205
4 Textos informativos diversificados

4.7.2 Conexão textual


A conexão de um texto faz-se, regra geral, por meio dos conectores. Estes podem ser con-

R
P
junções (já abordadas atrás), preposições, advérbios, etc. Vê o exemplo abaixo, com os
conectores conjuncionais a negrito, os preposicionais em itálico e os adverbiais sublinhados.

«O sector da distribuição alimentar está em franco crescimento e promete


maior expansão pelas províncias nos próximos quatro anos, assim como a
entrada de “players” internacionais prontos a disputar a quota de mercado
do principal centro de consumo – Luanda –, onde o sector formal coabita
5 com o informal, com grande destaque para as cantinas. Segundo o estudo
“Evolução do mercado da Distribuição em Angola”, elaborado pela Deloitte,
a população das cidades angolanas tem evoluído a uma taxa de 3,4% ao
ano, pelo que se estima mais de três milhões de pessoas nos centros urbanos
até 2018. Este aumento, aliado ao crescimento económico, tem vindo e vai
10 continuar a impulsionar positivamente o consumo, o que impulsionará
igualmente o crescimento do sector.»
Quingila Hebo, “Mais de três milhões de clientes até 2018”, in revista Economia & Mercado,
Abril 2014, p. 26

Se reparares, verás que, só para dar três exemplos, os conectores conjuncionais introdu-
zem adições à ideia inicial (l. 1), o primeiro conector adverbial refere-se ao lugar que é o
«principal centro de consumo» (l. 4), ao passo que o primeiro conector preposicional trans-
mite a ideia de coabitação entre os sectores formal e informal da distribuição de alimentos
na capital angolana. (l. 5).

Faz a leitura do texto abaixo.

Equilíbrio
A mágica da vida está no amor
E em tudo aquilo que dele se pode dispor
Amor todos o trazem na boca, poucos no coração
É o ingrediente primário na construção de uma relação
5 Construir uma relação significa, antes de mais
Ter noção de partilha das diferenças espirituais
Partilhar é sermos um bocado como o nosso parceiro
Um exercício que deve ser praticado a tempo inteiro
Afirmo a minha pequenez diante do infinitivo do verbo amar
10 Abro a gaiola dos sentimentos e deixo-os viajar
Para dentro das profundezas da natureza humana
Buscando entender as razões de quem ama
Equilíbrio é a palavra-chave para quem se comunica
Nesta linguagem sempre transformada e rica.

206
4.7 Estudo do texto

15 Todos querem ter relações felizes, mas são incapazes


De deixar pequenos orgulhos e fazer as pazes
O egoísmo fala alto e faz-nos agir como crianças

R
A volta de brigas por coisas sem importância

P
O egoísmo é o ladrão do equilíbrio na relação
20 Porque é pensarmos só na nossa satisfação
É difícil gerir uma relação se a mesma pessoa sempre abre mão
Dos seus projectos, vivendo apenas em função
Da vontade da pessoa a quem se dedica atenção

É preciso comunicar o amor em palavras e actos


25 Argumentos esfumam-se diante de factos
Casais que não conversam são como estranhos na mesma estória
Que não sabem os papéis que desempenham, erram na trajectória
As mentiras sempre destroem a confiança
A paixão se desgasta, o vazio avança
30 O coração torna-se um depósito de mágoas antigas
Amores traídos tornam pessoas inimigas
O amor é responsável e inteligente, não se escraviza
O amor não vive de migalhas de afecto, o amor suaviza
O amor não cria gaiolas, não rouba espaço
35 Traz antes o conforto de um verdadeiro abraço
O amor tudo compreende, pergunta antes de acusar
O amor não é egoísta, o amor sabe partilhar...
Keita Mayanda, O Homem e o Artista, faixa n.º 10

Lê e compreende
1. Por que razão o autor afirma que a mágica da nossa existência reside no amor?
2. Comenta os seguintes versos:
“Construir uma relação significa, antes de mais / Ter noção de partilha das diferenças espirituais”
3. Segundo o texto, quais as causas do fracasso de muitas relações românticas?
4. Que sugestões são apresentadas nele para que haja equilíbrio e amor nessas relações?
5. Tece alguns comentários sobre a forma como o autor define o amor.

Funcionamento da língua
1. Transcreve dois conectores usados neste texto.
1.1. Comenta sobre o valor semântico de cada um deles.

207
Testa os teus conhecimentos

R
P
Lê o seguinte texto e responde com clareza às questões que se seguem.

Experiências para mimar os


cinco sentidos
O Mussulo não oferece apenas sol,
areia branca, e banhos num mar quase
sempre tépido. Em descanso de fim-de­
‑semana ou noutro dia qualquer, pode
5 também entregar-se a verdadeiros mo-
mentos de relaxe e descontracção, com
massagens relaxantes e tratamentos de
pele que prometem fazê-lo sentir-se
novo e com energias para novas aven-
10 turas, dentro ou fora deste paradisíaco
recanto, mesmo à porta de Luanda.
Esses momentos únicos de frescura e bem-estar podem ser vividos no
Kandy Spa, um confortável e surpreendente espaço integrado no Ssulo
Club Resort Hotel, o qual oferece opções que vão desde a simples massagem
15 relaxante aos tratamentos de cavitação (eliminação de gorduras localizadas,
através de lipoaspiração não invasiva), pressoterapia (drenagem linfática
que ajuda na eliminação de toxinas) e radiofrequência (que combate as
rugas, flacidez, celulite e gorduras localizadas).
À entrada, a recepção soalheira oferece um amplo balcão de mármore,
20 envolto num cenário que recria a praia e o mar: conchas e pedrinhas de
vários tamanhos, estrelas-do-mar e, ao fundo, pintados sobre duas cadeiras
coloridas, pequenos peixes, ouriços e algas retratam, na parede, a vida
marinha. No seu conjunto, o Kandy Spa oferece seis agradáveis espaços,
completamente equipados, para momentos revigorantes e envolvidos em
25 melodias suaves que se misturam no ar com as agradáveis fragrâncias de
rosas, jasmim, alfazema ou coco. (…)
Se quiser, pode ainda desfrutar do ofurô, uma ampla selha de madeira,
para um banho frio.
Para finalizar, pode levar consigo o que acabou de experimentar, pois o
30 Kandy Spa disponibiliza todos os produtos utilizados nas massagens e
tratamentos. No pequeno bazar da recepção, pode adquirir ou encomendar
cremes, óleos revigorantes, leite drenante, peeling de sais marinhos,
manteiga corporal e chás para poder continuar esta relaxante viagem em
sua casa.
Pedro Correia, in Revista Rotas & Sabores, n.º 2, Abril-Maio 2014, pp. 64-68 (texto com supressões)

208
Unidade 4 Textos informativos diversificados

Compreensão
1 Faz o levantamento das características que permitem classificar este texto de informativo.

R
2 A qual dos géneros estudados pertence o mesmo? Argumenta.

P
Funcionamento da língua
1 Retira do texto verbos nos aspectos estudados nesta unidade.

2 Identifica as conjunções presentes no texto e classifica-as.

3 Divide e classifica as orações constantes do período abaixo.


“Se quiser, pode ainda desfrutar do ofurô, uma ampla selha de madeira, para um banho frio.”
4 Extrai do texto verbos nas conjugações especiais abordadas.

5 Cria palavras derivadas a partir dos seguintes vocábulos: «sol», «novo» e «opções».

6 Retira do texto palavras compostas por justaposição e cognatas.

7 Copia do texto todos os estrangeirismos. Refere-te ao seu significado.

8 Identifica no texto dois morfemas lexicais e três morfemas gramaticais, justificando a tua escolha.

9 Enumera alguns dos elementos estudados que contribuem para a coerência deste texto.

10 Observa as seguintes frases:


a) “O Mussulo não oferece apenas sol, areia branca, e banhos num mar quase sempre tépido.”
b) “No seu conjunto, o Kandy Spa oferece seis agradáveis espaços, completamente equipados,
para momentos revigorantes e envolvidos em melodias suaves.”
10.1. Procede à análise sintáctica das mesmas.
10.2. Diz o subtipo e a forma em que cada uma delas se encontra.
10.3. Identifica o modo no qual está conjugado cada um dos verbos, explicitando o seu valor se-
mântico.

Escrita

1 Seguindo a estrutura estudada, elabora uma notícia sobre um facto ocorrido hoje na tua
escola.
2 Imagina que és o secretário da escola. Produz a acta da última reunião do director-geral com
os funcionários.

PLA-LP10_14
209
Apêndice gramatical

Unidade 1 – Comunicação e linguagem

R
A comunicação é o processo de transmissão de informações entre uma fonte e um receptor

P
através de um sistema de sinais.
A linguagem é a capacidade humana de comunicar mediante o uso sistemático e convencional
de sons, sinais ou símbolos escritos.

Tipos de linguagem
Verbal: forma de expressar as ideias e os sentimentos através da escrita ou da oralidade.
Não-verbal: comunicação por meio de gestos, sons, mímica, etc.
O acto comunicativo pode realizar-se através dos seguintes elementos:
Enunciação: processo de produção de enunciados numa dada situação comunicativa. Assim,
numa situação comunicativa verificam-se as dêixis (referentes de uma enunciação) e estas, por
sua vez, resultam em deícticos.
Os deícticos assinalam:
• a pessoa, o sujeito enunciador e a quem se dirige o acto comunicativo (eu e tu);
• o tempo da enunciação (agora);
• o espaço da enunciação (aqui).
 nunciador: aquele que produz um acto discursivo. Neste acto discursivo, o enunciador faz
E
referência ao seu pensamento, ao seu sentimento e também à pessoa a quem ele se dirige (tu,
vós, você, vocês e outras formas de tratamento equivalentes).
Enunciatário: pessoa a quem o enunciador se dirige.

Elementos da comunicação
Os elementos constituintes do processo de comunicação são os seguintes:
Emissor/destinador: aquele que emite a mensagem.
Receptor/destinatário: aquele que recebe a mensagem.
Código: conjunto de sinais convencionais que permite a transmissão e a sua consequente
recepção.
Mensagem: o conteúdo daquilo que se comunica.
Canal: meio físico através do qual se envia a mensagem.
Referente: contexto ou situação em que se realiza a comunicação.

Funções da linguagem
Função emotiva: o emissor exprime os seus pensamentos, os seus desejos e as suas emoções.
Marcas linguísticas: emprego da primeira pessoa verbal, vocabulário de carácter afectivo e
emocional, frases subjectivas, repetições, frases exclamativas, interjeições, uso de pronomes da
primeira pessoa (eu, nós, meu, nosso, me, etc.)
Função apelativa: o emissor dá ordem, conselho ou faz um pedido ao receptor.
Marcas linguísticas: uso da segunda pessoa verbal, uso do modo imperativo, uso do vocativo,
uso de reticências e interjeições.
Função referencial: o emissor transmite uma informação ao receptor.
Marcas linguísticas: emprego da terceira pessoa verbal, frases declarativas, pouca adjectivação.
Função poética: o emissor embeleza a mensagem usando palavras no sentido figurado.

210
Unidade 1 Comunicação e linguagem

Esta função pode ser encontrada em textos de natureza diversa, como em poesia, romances e
até em títulos de notícias.

R
Marcas linguísticas: adjectivação, figuras de estilo, conotação.

P
Função fática: o objectivo do emissor é estabelecer o contacto, verificar se o receptor está a
receber a mensagem de forma autêntica ou visa prolongar o contacto.
Marcas linguísticas: predomínio de expressões usadas nos cumprimentos como: Bom dia, Oi!
Pronto! Alô!
Função metalinguística: centrada no código. Usa-se a própria língua para explicar a língua, ou
seja, emprega-se o código para explicar o próprio código, é o caso dos dicionários.
Metalinguagem é o acto de dar uma explicação, seja ela qual for. Esta é a função metalinguística
da linguagem – usar a linguagem para explicitar algo.
Marcas linguísticas: uso de verbos de existência/significação (ser, parecer, significar) no presente
do indicativo.

Registos de língua
Cuidado: registo de língua que encontramos nos discursos parlamentares, nas conferências, nos
ensaios, nos artigos de crítica literária. Este registo caracteriza-se por um vocabulário mais
seleccionado, menos usual.
Corrente: registo de língua que permite a comunicação dos falantes da mesma língua,
independentemente das condições sociais e económicas, da cultura e da região. Este registo é
difundido pela escola e pelos meios de comunicação social.
Familiar: registo de língua usado entre amigos e caracterizado pelo emprego de vocabulário e
frases não cuidados.
Popular: registo de língua usado pelo povo, quer quando fala, quer quando escreve. Caracteriza-se
pela simplicidade do vocabulário e pelos desvios à norma-padrão nos domínios fonético,
morfológico e sintáctico. Este registo pode incluir vocabulários de gíria e calão e ainda regionalismos.

Relações em interacção comunicativa


Um acto de fala é uma acção verbal com uma intenção comunicativa, como fazer perguntas, dar
ordens, informar, expressar opiniões, ameaçar, etc.
Os actos de fala podem ser directos ou indirectos.
Actos de fala directos: a intenção comunicativa está explícita no que é dito.
Existem quatro tipos de actos de fala directos:
• acto de fala declarativo Ex.: A Uassamba não foi à Igreja.
• acto de fala interrogativo Ex.: Aonde vais a esta hora?
• acto de fala imperativo Ex.: Não fales alto.
• acto de fala exclamativo Ex.: Quão bonita está a cidade do Huambo!
 ctos de fala indirectos: a intenção comunicativa tem de ser captada, não só ao nível do que é
A
dito, como ao nível do que se quis dizer, havendo, portanto, um plano implícito a considerar.
O contexto comunicativo é importante para se captar e produzir um determinado acto de fala.

Variação do português no tempo – sincronia e diacronia


Sincronia: estudo da língua considerando o seu funcionamento num dado momento histórico,
sem ter em conta o processo de mutação histórica.

211
Apêndice gramatical

Diacronia: conjunto de factos linguísticos considerados na sua evolução através do tempo ou a


disciplina que se ocupa do seu estudo (linguística diacrónica). A diacronia pode ainda ser

R
encarada como uma sucessão de sincronias.

P
Deste modo, o estudo da língua pode fazer-se:
• numa perspectiva sincrónica, quando se estuda o funcionamento da língua num dado momento;
• numa perspectiva diacrónica, quando se estudam as alterações da língua ao longo do tempo.

Breves noções sobre textualidade


 exto: unidade com sentido completo, funcionando como um todo com princípio, meio e fim, e
T
que é organizada logicamente e construída de acordo com as regras de determinado modelo
(género de texto).
Textualidade: conjunto de traços que transformam frases num todo com sentido, num texto.
Esses traços, que constituem os padrões de textualidade, são: a intencionalidade, a aceitabilidade,
a idade, a intertextualidade, a coesão e a coerência.

Texto literário e texto não-literário

Texto literário Texto não-literário


Privilegia a dimensão estética da linguagem, Privilegia o uso da função informativa da
fazendo uso frequente da função poética. linguagem.
É conotativo e plurissignificativo, pois nele as É denotativo e objectivo, pois as palavras são
palavras podem adquirir vários significados. empregues com o seu sentido literal.
Tem finalidade essencialmente recreativa, ou seja, Tem finalidade essencialmente utilitária (informar,
serve para entreter, divertir. explicar, argumentar, aconselhar, etc.)

Texto explicativo: é um tipo de texto não literário cujo objectivo é explicar conhecimentos
previamente construídos. Este tipo de texto apresenta características tais como:
• Vocabulário específico ligado a uma área do conhecimento, por exemplo, em Matemática:
equação, monómio, inequação, etc.
• Emprego do tempo presente do modo indicativo para apresentar realidades universalmente
aceites. Ex.: O ponto de ebulição da água é 100 ºC.
• Frases do tipo declarativo. Ex.: Química é a ciência que se ocupa do estudo das substâncias.
Texto informativo: é um tipo de texto não-literário cujo objectivo é dar a conhecer sobre
alguém ou alguma coisa.
Os jornais, por exemplo, dão-nos diversas informações sobre alguém (um chefe de Estado) ou
sobre alguma coisa (incêndio numa determinada localidade).
Este tipo de texto apresenta as seguintes características:
• linguagem objectiva;
• ausência de juízos de valor ou opiniões pessoais;
• citações das fontes de informação, a fim de transmitir um certo grau de imparcialidade.

Denotação e conotação
Denotação: tem a ver com o significado literal de uma palavra, ou seja, o significado propriamente
dito de um vocábulo.
Ex.: Em Angola há muito ouro.

212
Unidade 2 Texto narrativo

Aqui a palavra ouro significa elemento metálico maleável, dúctil, amarelo, univalente e trivalente.
(in http//www.ciberduvidas.com – acedido em 20/11/2015)

R
 onotação: tem a ver com os outros significados que nós enquanto utilizadores atribuímos a
C

P
uma palavra.
Ex.: A Rita tem um coração de ouro. (Aqui a palavra ouro tem o significado de bom, puro.)

Unidade 2 – Texto narrativo


Relação entre as palavras
 elações de significado, fonia e grafia
R
• Sinonímia: relação de semelhança entre palavras com sentido equivalente. Ex.: alegre feliz,
satisfeito
• Antonímia: relação de oposição entre palavras com sentido oposto. Ex.: feliz infeliz, insatisfeito
• Homonímia: relação gráfica e de pronúncia entre palavras que se pronunciam e se escrevem
da mesma forma, mas têm significado diferente. Ex.: Por favor, conta o que sabes. (verbo) / Voltei
a errar esta conta! (nome)
• Homofonia: relação gráfica e de pronúncia entre palavras que se pronunciam da mesma
maneira, mas se escrevem de maneira diferente e têm significado diferente. Ex.: Quero comprar
cem cabeças de boi, mas estou sem dinheiro. (numeral/preposição)
• Homografia: relação gráfica e de pronúncia entre palavras que se pronunciam de maneira
diferente e têm significado diferente. Ex.: Eu indico no mapa o oceano Índico. (verbo/nome)
• Paronímia: relação gráfica e de pronúncia entre palavras que se escrevem e se pronunciam de
forma semelhante mas têm significados diferentes. Ex.: Apesar de a Joana não possuir uma letra
legível, é elegível para o cargo a que se candidata.
 elações de hierarquia e de todo/parte
R
• Hiperónimo: palavra com significado mais abrangente. Ex.: transporte
• Hipónimo: elemento específico contido na designação genérica.
Ex.: transporte carro, motorizada, avião, comboio, etc.
• Holónimo: palavra que remete para o todo. Ex.: computador
• Merónimo: palavra que remete para uma parte incluída num todo maior.
Ex.: computador teclado, rato, monitor, etc.

Sistema da língua
 alores semânticos dos tempos verbais:
V
• Pretérito imperfeito e presente do indicativo: estes tempos verbais no texto narrativo indicam
um momento de pausa na história; constituem, portanto, uma das características da descrição.
• Pretérito perfeito e mais-que-perfeito do indicativo: estes tempos verbais no texto narrativo
indicam um avanço na história; constituem uma característica essencial da narração.
• Futuro do indicativo: este tempo verbal é usado nas narrativas proféticas, muito frequentes
na Bíblia, com o objectivo de antecipar os acontecimentos da narrativa.
De acordo com o contexto, os tempos verbais podem adquirir valores semânticos (significados)
diversos:
• Estado: transmitido por verbos de significação indefinida (ficar, ser) seguidos de um nome
predicativo do sujeito.

213
Apêndice gramatical

• Acontecimento: o emprego de verbos activos é muito frequente nos momentos de narração


(fazer, causar, provocar…).

R
• Processo: através do emprego de verbos meteorológicos (trovejar, chover, ventar), de actividade

P
física (dançar, correr, lavar, limpar) e de movimento (ir, vir, viajar, voltar…).

Discurso directo, discurso indirecto e discurso indirecto livre


Discurso directo: processo através do qual o narrador reproduz exactamente as palavras da
personagem.
Discurso indirecto: reprodução das falas de uma personagem pelo narrador, com as devidas
transformações de tempo, espaço e pessoa. Além disso, existem verbos introdutores (dizer,
perguntar, ordenar…).
• Discurso indirecto livre: consiste na junção de características de ambos os discursos (directo
e indirecto) por parte do narrador sem o uso de verbos introdutores, dando a sensação de ser a
personagem a expressar-se.

Níveis/formas de tratamento
No dia-a-dia, quando nos dirigimos a alguém em função da proximidade ou afastamento, usamos
as formas tu, você, senhor, senhora.
Assim, se alguém for da minha intimidade ou confiança, devo tratá-lo por tu.
Se alguém não me for íntimo, mas for da minha idade, no mesmo contexto, também podemos
usar a forma você.
Se for alguém desconhecido e não da minha idade, usamos senhor, senhora, ou ainda tio, tia, pai, mãe.

Unidade 3 – Texto lírico


Características do texto lírico
Versificação: é o conjunto de técnicas que regem a estrutura ou organização de um poema.
Estrofe: conjunto de versos; podem também ser denominadas estâncias ou coplas. As estrofes
são separadas por um espaço em branco. Uma estrofe pode ter dois ou mais versos e um poema
pode ter uma ou várias estrofes.
Métrica: é a medida dos versos, ou seja, a contagem das sílabas que compõem um verso.
Em geral, as sílabas métricas coincidem com as sílabas gramaticais; no entanto, há casos em que
isso não acontece. Por vezes, as sílabas métricas resultam:
• da sílaba terminada em vogal átona fazendo elisão com a vogal tónica seguinte, formando
apenas uma sílaba métrica (sinalefa);
• da transformação de um ditongo em hiato (diérese);
• da transformação de um hiato em ditongo (sinérese).
Rima
A rima é a correspondência de sons entre dois ou mais versos.
Rima quanto à combinação
• E mparelhada: quando os versos rimam dois a dois ou de forma seguida;
• Cruzada: quando os versos rimam de forma alternada;
• Interpolada: quando os versos são separados por dois ou três tipos de rima diferente;

214
Unidade 3 Texto lírico

• Encadeada: quando a palavra final de um verso rima com uma palavra do meio do verso seguinte;
• Interior: quando se verifica rima no mesmo verso.

R
Rima quanto à qualidade

P
• R
 ica: quando a correspondência se verifica entre palavras de classes gramaticais diferentes;
• P
 obre: quando a correspondência se dá entre palavras da mesma classe gramatical.

Recursos estéticos
Nível fónico
• Onomatopeia: refere-se à imitação de sons da realidade;
• Aliteração: consiste na repetição de sons consonânticos em várias palavras seguidas ou em
sílabas da mesma palavra;
• Assonância: corresponde à repetição de sons vocálicos em sílabas tónicas de várias palavras.
Nível sintáctico
• Paralelismo: consiste na repetição de uma estrutura morfossintáctica em determinadas frases
ou versos;
• Anáfora: consiste na repetição de uma palavra ou de uma expressão no início de versos, de
frases ou de orações;
• Refrão ou estribilho: ocorre quando se repete um ou mais versos no final de cada estrofe; é
muito frequente nas canções;
• Hipérbato: troca da ordem normal das palavras na frase;
• Assíndeto: consiste na supressão intencional do elemento de ligação entre os versos;
• Polissíndeto: consiste na repetição intencional do elemento de ligação entre os versos.
Nível semântico
• Comparação: é a relação entre duas realidades diferentes, através das expressões como, parece,
assim, tal como, etc.;
• Metáfora: comparação abreviada ou reduzida;
• Antítese: oposição entre o significado de duas palavras ou expressões, com a finalidade de
destacar o contraste entre duas ideias;
• Hipérbole: utilização de palavras ou expressões que exageram de forma desmedida a realidade
a que se referem;
• Ironia: apresentação de uma ideia contrária ao que a realidade mostra;
• Pleonasmo: emprego de uma palavra ou expressão que repete e reforça a ideia já existente;
• Personificação: atribuição de características humanas a entidades não humanas.

Estudo dos sons: vogais, semivogais e consoantes


Sons vocálicos: são aqueles cuja emissão envolve a passagem total de ar pela cavidade bucal de
modo livre.
Sons consonânticos: são os sons emitidos com certa obstrução na passagem de ar pela cavidade
bucal.
Sons semivocálicos (orais e nasais): são aqueles que partilham características de ambos os
grupos supracitados.

Classificação dos sons: surdos, sonoros, orais e nasais


• Surdos: são aqueles cuja articulação é feita sem a vibração das cordas vocais;
• Sonoros: são os fonemas articulados mediante a vibração das cordas vocais. Todas as vogais e
semivogais pertencem a este grupo;
215
Apêndice gramatical

• Orais: consistem nos sons que são produzidos apenas pela cavidade bucal. Podem ser surdos
ou sonoros, vocálicos ou consonânticos;

R
• Nasais: fazem parte deste grupo os fonemas cuja produção obriga a que o ar passe

P
simultaneamente pelas cavidades bucal e nasal.

Articulação vocálica e consonântica


A articulação consiste nos mecanismos que os falantes usam para pronunciar os sons, as palavras
ou as frases de uma determinada língua.
 ona de articulação
Z
• Anteriores ou palatais: quando pronunciadas a partir da parte frontal da cavidade bucal (i, e);
• Médias ou centrais: quando produzidas na zona central da mesma cavidade (a, e fechado);
• Posteriores ou velares: quando articuladas na zona posterior da cavidade citada (o, u).
 rau de abertura da cavidade bucal
G
• Abertas (á, é, ó): área, recto, pólo;
• Médias (â, ê, ô): ceia, perto, posto;
• Fechadas (i, u, e): pião, peito, tarde
 onto de articulação
P
• Palatais (η): produzidas com o auxílio do palato: sonho;
• Alveolares (n, d, t): articuladas com a intervenção dos alvéolos: nasal, dedo, tolo;
• Bilabiais (p, m, b): pronunciadas com a ajuda de ambos os lábios: pala, barro, monte;
• Labiodentais (f, v): produzidas mediante a intervenção dos lábios e dos dentes: fez, vento;
• Velares (k, g): articuladas por meio do véu palatino: cada, gato.
 odo de articulação
M
• Oclusivas (p, b): produzidas com uma oclusão ou obstrução momentânea da passagem de ar
pela cavidade bucal: pato, bolo;
• Fricativas (f, v): articuladas mediante uma fricção: fita, vocal;
• Vibrantes (r, R): pronunciadas através de vibrações, que podem ser simples ou múltiplas: caro,
corrente, rato.

Acentuação das palavras


Acentuação tónica
• Palavras agudas: quando o acento tónico recai na última sílaba.
• Palavras graves: quando o acento tónico recai na penúltima sílaba.
• Palavras esdrúxulas: quando o acento tónico recai na antepenúltima sílaba.

Sinais de pontuação
A pontuação permite organizar o texto conferindo-lhe um sentido. É, portanto, essencial para a
sua compreensão.

Sinais de pontuação Emprego Exemplos


Ponto (.) Marca uma pausa longa; utiliza-se no fim de O Sr. Nlandu vive no Palanca.
um período ou de abreviaturas.
Vírgula (,) Marca uma pausa breve no interior da frase; Vi o Pedro, a Joana e a Rodé.
separa elementos de uma enumeração. Ó filho, vem cá.
Isola o vocativo e o nome do lugar nas datas. Luanda, 30 de Junho de 1981.

216
Unidade 4 Textos informativos diversificados

Sinais de pontuação Emprego Exemplos

R
Ponto de Usa-se no final de uma frase interrogativa. Como te chamas?

P
interrogação (?)
Ponto de Utiliza-se no final de frases exclamativas e Ah! Como é belo estar aqui!
exclamação (!) imperativas e depois de interjeições.
Dois pontos (:) Introduz uma enumeração e o discurso directo. Na mala da Joana havia o
seguinte: pentes, sabonetes,
perfumes, tesouras, etc.
Ponto e vírgula (;) Separa elementos de uma frase mais longa, na Da revista, vi imagens; do
qual geralmente já existem vírgulas. jornal, li o título; o livro, nem
o abri.
Reticências (…) Marcam a interrupção ou suspensão da frase Quem tudo quer…
para expressar hesitação, dúvida, reflexão ou
surpresa.
Travessão (–) Assinala o discurso directo. – Só vendo, irmão! – disse
Intercala palavras, expressões ou frases no texto. Firmínio.

Unidade 4 – Textos informativos diversificados


Noção de verbos, tempos e modos
O verbo é uma palavra variável que exprime acção, estado e existência situados no tempo.

Flexão dos verbos


O verbo é a palavra mais flexionável da língua. Varia em modo, tempo, aspecto, voz, número e
pessoa.

Modos verbais
Modo indicativo: exprime certeza ou realidade.
Ex.: A Zita está em casa com os filhos.
Este modo verbal possui os seguintes tempos verbais:
Presente: apresenta um acontecimento, um estado ou uma existência como actual ou habitual.
Ex.: Agora vejo o canal 1 da TPA.
Passado (ou pretérito) imperfeito: exprime uma acção inacabada, transmitindo uma ideia de
continuidade, repetição ou duração.
Ex.: A Ana saía quando eu entrei.
Passado (ou pretérito) perfeito: indica uma acção acabada ou concluída.
Ex.: Ontem vi a Mingota no Bairro Palanca.
Passado (ou pretérito) mais-que-perfeito: indica um facto passado, anterior a outro também
já passado.
Ex.: A Ana saíra quando entrei.
Futuro imperfeito: indica não só um acontecimento num momento posterior àquele em que se
enuncia, como também uma incerteza.
Ex.: Amanhã visitarei a Ana. (momento posterior à enunciação)
Será que passei no exame de condução? (incerteza)

217
Apêndice gramatical

Futuro perfeito: tempo composto empregue para se referir a algo a ser realizado antes de outro
evento no futuro.

R
Ex.: Quando o pescador estiver em terra, já terei ido ao mar.

P
Modo conjuntivo: exprime incerteza, dúvida, desejo ou possibilidade.
Ex.: A Zita está em casa com os filhos. modo indicativo
Talvez a Zita esteja em casa com os filhos. modo conjuntivo
O conjuntivo é introduzido por conjunções e locuções concessivas, condicionais, alguns advérbios
de dúvida e construções impessoais.
Este modo possui os seguintes tempos:
Presente: forma-se a partir do infinitivo do verbo que se quer conjugar, procedendo-se da
seguinte forma:
• Substituir a vogal temática de verbos regulares da 1.ª conjugação (amar, lavrar) por e.
Ex.: amar ame
• Substituir a vogal temática dos verbos regulares da 2.ª conjugação (comer, dever) por a.
Ex.: comer coma
• Substituir a vogal temática dos verbos regulares da 3.ª conjugação (partir, vir) por a.
Ex.: partir parta
Nota: Os verbos irregulares no modo conjuntivo não seguem o modelo de conjugação acima
apresentado.
Passado perfeito: tempo composto cuja formação é feita pelo conjunto do verbo ter/haver no
presente do conjuntivo + verbo principal no particípio passado empregue em circunstâncias
similares às do passado perfeito do indicativo.
Ex.: tenha limpado (frequentemente usado); haja falado (raramente usado)
Futuro imperfeito
• Dos verbos regulares: forma-se a partir do infinitivo do respectivo verbo.
Ex.: misturar se eu misturar, se tu misturares…
• Dos verbos irregulares: forma-se a partir da não-pessoa do plural do pretérito perfeito do
indicativo, retirando-se a desinência -am.
Ex.: vir se eu vier, se tu vieres, se ele vier…
Futuro perfeito: tempo composto com a estrutura verbo ter/haver no futuro imperfeito do
indicativo + verbo principal no particípio passado, empregue em circunstâncias similares às do
futuro perfeito do indicativo.
Ex.: tiver limpado (frequentemente usado); houver falado (raramente usado)
Modo imperativo: exprime ordem, conselho, pedido, exortação.
Ex.: Vem cá, ó menino!
Este modo possui duas formas:
Imperativo informal: usado entre pessoas da mesma intimidade, recorrendo-se portanto à
segunda pessoa gramatical. Esta forma de imperativo pode ser:
• afirmativa: formada a partir da forma verbal da não-pessoa do plural do indicativo.
Ex.: Vê o telejornal da TPA.
• negativa: constituída com base na forma verbal da 2.ª pessoa do singular do presente do
conjuntivo.
Ex.: Não percas o telejornal da TPA.
Imperativo formal: usado entre pessoas desconhecidas ou que não sejam da mesma intimidade,
recorrendo-se a formas pronominais e verbais da não-pessoa. Esta forma de imperativo pode ser:

218
Unidade 4 Textos informativos diversificados

• afirmativa: usa-se a forma verbal da 3.ª pessoa do singular/plural do presente do conjuntivo.


Ex.: Oiça/Oiçam o noticiário da RNA.

R
• negativa: concebida por meio de uma palavra/expressão negativa seguida da mesma forma

P
verbal para a formação do imperativo formal afirmativo.
Ex.: Não desligue/desliguem o rádio.

Aspecto verbal
O aspecto verbal prende-se com a forma como o enunciador vê o realizar da acção expressa pelo
verbo.
Os aspectos verbais podem classificar-se das seguintes maneiras:
• Inceptivo: relaciona-se com o início de determinado acontecimento.
Ex.: Hoje comecei a trabalhar na loja 5.
• Cursivo: transmite a ideia de continuidade.
Ex.: O estudante estava a escrever um requerimento.
• Terminativo: transmite uma acção acabada.
Ex.: O Sukumula acabou de falar sobre a economia angolana.

Formas especiais de conjugação: conjugação pronominal reflexa, recíproca e perifrástica


 onjugação pronominal reflexa: quando a acção praticada pelo sujeito recai sobre ele mesmo.
C
Ex.: O Paulo queimou-se.
Conjugação pronominal recíproca: exprime a ideia de mutualidade ou reciprocidade.
Ex.: Eles felicitaram-se.
Conjugação perifrástica: forma-se através de diferentes tempos de um verbo auxiliar (andar,
continuar, estar…) e o infinitivo ou gerúndio do verbo principal. A conjugação perifrástica pode
apresentar, de entre outros, os seguintes valores semânticos:
• Obrigatoriedade ou necessidade – Ex.: Devemos respeitar os nossos pais. / Temos de respeitar
os nossos pais.
• Futuro imediato – Ex.: Vou viajar esta semana.
• Certeza ou confiança – Ex.: Hei-de falar francês este ano.
• Incerteza ou possibilidade – Ex.: Deviam ser 15 horas quando o professor chegou.

Estudo da palavra
Os elementos que constituem uma palavra são os seguintes:
Radical: elemento que contém o significado da palavra.
Ex.: dançar: danç (radical) + a (vogal temática) + r (desinência do infinitivo).
Afixos: elementos que se acrescentam a um radical para a formação de uma nova palavra.
Podem ser:
• prefixo: afixo que se associa à esquerda do radical: incapaz.
• sufixo: afixo que se associa à direita do radical: perfeitamente.

Morfemas lexicais e morfemas gramaticais


Os morfemas lexicais têm categorias que lhes permitem ter uma definição no dicionário.
Constituem, portanto, morfemas que formam o léxico (a quantidade de palavras) de uma língua:
comer, sublime, alienação…

219
Apêndice gramatical

Os morfemas gramaticais constituem elementos cuja função é, como o próprio nome diz,
meramente gramatical, ou seja, servem para se juntar a um morfema gramatical de modo a alterar,

R
por exemplo, a classe ou o grau das palavras. Os afixos (prefixos e sufixos) fazem parte deste

P
grupo: irregular, felicidade…

Processos morfológicos de formação de palavras


Os processos morfológicos de formação de palavras podem ser os seguintes:
 ormação por derivação
F
• Derivação por prefixação: formação de uma palavra pelo acrescento de um afixo à esquerda
do radical, podendo o prefixo originar significados distintos do da palavra primitiva, tais como
oposição, inferioridade e anterioridade: desleal, antediluviano…
• Derivação por sufixação: formação de uma palavra pelo acrescento de um afixo à direita do
radical, podendo o sufixo originar alguns significados como diminutivo, aumentativo e outros:
reizinho, bocarra…
• Derivação regressiva: consiste no processo de formação de nomes a partir de verbos:
plantar planta
• Derivação imprópria: refere-se à formação de vocábulos pela simples mudança da respectiva
classe gramatical.
Ex.: Da janela do meu quarto aceno à Rosa.; Um simples aceno da Rosa e já ficarei feliz.
 ormação por composição
F
• Composição por justaposição: palavras ligadas por hífen, que conservam cada uma o seu
acento próprio: arroz-doce, fim-de-semana, porta-bagagem…
• Composição por aglutinação: consiste, por sua vez, na junção de palavras com a assimilação
de alguns morfemas, passando o composto a ter apenas um acento – o da última palavra:
Santiago (Santo + Tiago), pernalta (perna + alta)…

Campos semânticos, campos associativos e família de palavras


Campo semântico: conjunto de significados que uma palavra pode assumir nos diferentes
contextos linguísticos.
Campo associativo: é um grupo de termos organizados com base num termo-chave.
Ex.: Casa: casa de adobo, casa de bloco, casa de chapa, etc.
Família de palavras: é um conjunto de vocábulos que têm por origem um mesmo radical.
Ex.: Casa: casamento, casinha, casarão, casota, casebre, etc.

Léxico comum e léxicos especializados


Léxico comum: o conjunto de todos os vocábulos usados de maneira genérica, sem o rigor de
uma especialidade.
Léxicos especializados: abarcam toda a terminologia técnica inerente a uma área específica do
saber. Por exemplo, na área ou domínio da Química, temos o seguinte léxico: átomo, azoto, ácido,
nitrogénio, oxigénio, etc.

Palavras cognatas, divergentes e convergentes


Palavras cognatas: vocábulos que têm um radical comum.
Ex.: Livro: livrinho, livraria, livresco…

220
Unidade 4 Textos informativos diversificados

Palavras divergentes: vocábulos que originam de um mesmo étimo, apesar de serem diferentes.
Ex.: macula (do latim): malha, mágoa, mancha, mácula

R
Palavras convergentes: vocábulos que têm a mesma forma e pronúncia, embora derivem de

P
étimos diferentes.
Ex.: Nunca atravessei o rio Bengo. (nome, do latim rivu)
Em tempo chuvoso, eu rio pouco. (verbo, do latim rideo)

Modos de enriquecimento lexical


Neologismos: palavras ou expressões novas resultantes de processos de criação da língua
quanto à forma e/ou ao significado. No nosso contexto linguístico, por exemplo, a palavra
deskwanzado significa não possuir a moeda nacional, ou seja, ficar sem dinheiro.
Estrangeirismos ou empréstimos: transferência de uma palavra de uma língua para outra,
podendo manter o seu formato original.
Ex.: marketing, dossiê…
Onomatopeia: palavra criada por imitação de um som (de coisa ou animal).
Ex.: Psit! (silêncio), pi-pi (buzina)
Nominalizações: caracterizam-se pelo processo de formação de nomes com base em vocábulos
pertencentes a outras classes de palavras.
Ex.: O Mendes é baixo. (adjectivo)
Mendes, fala baixo! (advérbio)
Simples: constituída por uma só oração (um só verbo conjugado).
Ex.: Este menino vive na Kibala.
Complexa: constituída por duas ou mais orações (com dois ou mais verbos conjugados).
Ex.: O Seca diz que este menino vive na Kibala.

Subtipos de frase
 ubtipos de frases interrogativas
S
• Totais ou globais: cuja resposta é sim/não e cuja interrogação recai sobre toda a frase;
Ex.: Ontem foste à escola?
• Parciais: cuja interrogação recai apenas sobre o elemento interrogativo presente na frase;
Ex.: Aonde levaste a criança?
• Múltiplas: cuja interrogação recai sobre mais de um elemento interrogativo pertencente à
frase; Ex.: Onde, quando, como e porque isto aconteceu?
• De eco: usadas nas situações em que é necessário confirmar-se uma determinada informação,
passando o elemento interrogativo para a posição final da frase.
Ex.: O Kizua fez ontem um belo discurso.; O Kizua fez o quê?
 ubtipos de frases exclamativas
S
• Totais: formadas sem a presença de um elemento exclamativo, excepto o ponto de exclamação;
Ex.: O primeiro aluno já cá está!
• Parciais: formadas com a presença de um elemento exclamativo.
Ex.: Que asneiras fez o aluno da turma A!

221
Apêndice gramatical

Coordenação e subordinação
Coordenação: processo de ligação entre duas ou mais frases simples, estabelecendo uma relação

R
de independência.

P
Ex.: A rapariga é bonita, porém falta-lhe simpatia.
A coordenação pode, porém, ocorrer sem o uso de conectores conjuncionais.
Ex.: A Antónia foi visitar os tios, tu dormiste até tarde.
Conjunções coordenativas
As conjunções coordenativas estabelecem uma relação de coordenação entre os elementos
da frase. Elas classificam-se em:
• Copulativas ou aditivas: servem para adicionar uma ideia à outra.
• Adversativas ou contrastivas: têm o objectivo de apresentar uma ideia oposta à outra.
• Disjuntivas ou alternativas: são usadas para apresentar uma opção diferente da outra.
• Conclusivas: têm a finalidade de introduzir uma conclusão.
Subordinação: processo de articulação entre orações de uma frase complexa, estabelecendo
uma relação de dependência entre a subordinante e a(s) subordinada(s).
Ex.: Vou ao cinema se não chover.
 onjunções subordinativas
C
As conjunções subordinativas são o grupo de palavras que mais se emprega a fim de
estabelecer relações de dependência entre os elementos de um texto. Elas classificam-se em:
Tipos Conjunções Locuções Exemplos
e funções coordenativas coordenativas
Copulativas e, nem não só… A Ana vai frequentar o curso de Direito e o
(adição) mas também pai vai apoiá-la.
Adversativas mas, porém, no entanto, A Ana frequentou o curso de Direito, mas o
(oposição) todavia, contudo não obstante pai não a apoiou.
Disjuntiva ou ora… ora, quer… quer, Quer a Ana frequente o curso de Direito,
(opção) ou… ou quer não, o pai vai apoiá-la.
Conclusivas portanto, logo, por conseguinte, A Ana vai frequentar o curso de Direito,
(conclusão) pois, assim por consequência, portanto o pai vai apoiá-la.
por isso

Nota: As orações coordenadas, quando precedidas de conjunções (ou locuções conjuncionais),


são denominadas de acordo com as conjunções que as introduzem.
• Causais: exprimem o motivo do acontecimento apresentado na oração principal;
• Comparativas: servem para efectuar uma comparação;
• Finais: introduzem uma ideia de finalidade em relação ao expresso na oração principal;
• Completivas: têm a função de complementar a oração principal;
• Condicionais: expressam uma condição para a realização da ideia contida na oração principal;
• Consecutivas: introduzem uma ideia de consequência em relação ao expresso na oração
principal;
• Concessivas: apresentam uma ideia contrária à da oração principal, mas incapaz de impedir a
sua realização;
• Temporais: transmitem a ideia de tempo relativamente à oração principal.

222
Unidade 4 Textos informativos diversificados

Tipos Conjunções Locuções Exemplos


e funções subordinativas subordinativas

R
Causais porque, visto que, na medida A Ana vai frequentar o curso de Direito

P
(motivo) porquanto em que, já que porque o pai a vai apoiar.
Comparativas como assim como, Não fizeste o trabalho como te foi
(comparação) como se orientado.
Finais que (= para que) a fim de que, A Ana vai frequentar o curso de Direito
(objectivo) para que a fim de que o pai a apoie.
Completivas que, se O Jornal de Angola anuncia que vai
(complemento) chover.
Condicionais se, caso desde que, Se ela for apoiada pelo pai, vai
(condição) a não ser que, frequentar o curso de Direito.
sem que
Consecutivas que (precedida de modo que, Chovia imenso, de modo que não pude
(consequência) dos termos tal, de forma que, sair.
tão, tanto, etc.) de maneira que
Concessivas embora, apesar de que, Embora o pai não a apoie, a Ana vai
(ideia oposta à conquanto se bem que frequentar o curso de Direito.
principal mas
não impedidora)
Temporais quando, à medida que, Ela frequentou o curso de Direito logo
(tempo) enquanto, mal depois que, antes que, que o pai a apoiou.
logo que

Nota: As orações subordinadas recebem o nome das conjunções (ou locuções conjuncionais) que
as introduzem.

Sujeito e predicado
Sujeito: ser sobre o qual recai a predicação e na maior parte dos casos concorda com o verbo. O
sujeito pode ser:
• simples: constituído por um grupo nominal; Ex.: O Kinaxixi tinha um mercado municipal.
• composto: constituído por mais do que um grupo nominal; Ex.: O Nlandu, o Coxe e o Nsimindele
vivem no Palanca.
• subentendido: não expresso, mas facilmente deduzido mediante a desinência verbal;
Ex.: Comprei um casaco ontem. (eu)
• indeterminado: não expresso nem deduzível através do verbo; Ex.: Levaram as crianças ao
interior do país. / Vende-se carro usado.
• inexistente: quando se trata de frases com verbos impessoais. Ex.: Amanhã vai chover.
Predicado: é a função sintáctica desempenhada pelo grupo verbal e cujo núcleo é o verbo.
O predicado pode ter as seguintes tipologias:
• verbal: composto por um ou mais verbos transitivos ou intransitivos; Ex.: A Makiesse leu um
livro. / O Tito queria ser bailarino.
• nominal: composto por verbos de significação indefinida (ser, estar, ficar, permanecer, etc.)
seguidos de um predicativo (nome, adjectivo, etc.). Ex.: Nós somos felizes. / A Raquel está
incomodada.

223
Apêndice gramatical

Complementos do verbo e do nome

R
Tipos de complemento

P
Directo: exigido por um verbo transitivo directo, tem a função de responder às perguntas
O quê? / Quem? feitas ao verbo. Ex.: O Petelo vendeu uma casa. / A Ndomba presenteou o seu filho
com um livro de contos africanos.
Indirecto: pedido por verbos transitivos indirectos, é identificado por se fazer a pergunta
A quem? / A quê? ao verbo. Ex.: A professora emprestou o livro ao aluno.
Circunstanciais: podem ser de vários tipos, expressando principalmente as circunstâncias de:
• tempo (Quando?) Ex.: Amanhã, vou contigo para a escola.
• lugar (Onde? Aonde? De onde? Por onde? Para onde?) Ex.: Ontem falhou a luz em minha casa.
• modo (Como?) Ex.: O Carlitos realizou a prova calmamente.
Os complementos do nome podem ser:
Determinativo: é seleccionado por um nome e pode ser um grupo preposicional ou, menos
frequentemente, um grupo adjectival, podendo exprimir, entre outras, as ideias de…
• origem; Ex.: A comida de Malanje é muito saborosa.
• matéria; Ex.: O pai ofereceu-me um fato de linho.
Nome predicativo do sujeito: é composto por verbos copulativos de significação indefinida, os
quais podem ser seguidos de nomes, adjectivos ou expressões equivalentes; Ex.: Apesar da
pressão, os alunos permaneceram concentrados nas suas tarefas.
Nome predicativo do complemento directo: é um elemento que caracteriza o complemento
directo, aparecendo normalmente em frases com os verbos considerar, nomear, etc. Ex.: Os
alunos consideram o Paciência bom professor.
Nome predicativo do complemento indirecto: tem a mesma função que o anterior, mas só é
usado com o verbo chamar. Ex.: Os alunos do Mendes chamam-lhe fabuloso por ser muito competente.
Aposto: é uma palavra, expressão ou oração que faz uma caracterização do nome separada por
vírgula. Ex.: Miguel, melhor aluno da turma A, recebeu um prémio.
Atributo: consiste também numa caracterização do nome, porém não separada por vírgula.
Ex.: A aluna bailarina viajou a Caxito.

Estudo do texto
Coerência: organização de frases e de textos, contribuindo para transmitir um sentido claro ao
receptor. Um dos princípios fundamentais da coerência é o da não-contradição, ou seja, o que é
apresentado posteriormente não deve contradizer o que já foi dito.
Os recursos que contribuem para a formação de um sentido claro do texto são os processos de
recorrência/retoma.
 ipos de recorrência
T
• Verbal: relaciona-se com o enquadramento adequado dos tempos verbais, de modo a não
transmitir ideias ambíguas ou absurdas.
Ex.: Irei a Benguela se tiver dinheiro. (duas acções no futuro)
Iria a Benguela se tivesse dinheiro. (duas acções no passado)
• Nominal: consiste no emprego de nomes mediante o recurso a sinónimos ou antónimos,
hiperónimos ou hipónimos, holónimos ou merónimos, etc.
Ex.: A Lei é para pobres e ricos. (antónimos)
• Pronominal e articular: ocorre com o fim de substituir nomes e elementos afins por pronomes,
tornando o texto mais variado em termos vocabulares.
224

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