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AMOR LÍQUIDO PAULO PERREIRA

“AMOR LÍQUIDO”.

Monólogo de: Paulo Pereira

Copyright©2021 by Paulo Pereira.

Registro Biblioteca Nacional. Protocolo de registro 867.107 folha. 244

Protocolo 2022SP 1745 em 01/11/2022.

(11) 98362– 1017 Todos os direitos reservados varal1.dasartes@gmail.com

1- (Sugestão da Cena de abertura).

Cenário: O palco representa o interior da casa de Madalena, em uma noite


chuvosa, com poucos móveis e uma atmosfera sombria. Há uma cama
desarrumada no centro do palco, indicando uma cena de violência doméstica
recente. Há também um espelho quebrado pendurado na parede,
representando a fragmentação das relações modernas. Há uma pequena mesa
com uma garrafa de vinho e dois copos, indicando a paixão por essa bebida.
Atrás da mesa, há um pequeno espaço onde tem uma vitrola onde ela pode
cantar e dançar, e uma cadeira onde ela se senta para refletir. As mudanças
de cenário acontecem por meio de iluminação e dos guarda-chuva que
Madalena pinta no decorrer do espetáculo e projeções, representando as
diferentes situações vividas por Madalena.

Personagem: Madalena, uma mulher de aparência frágil, com os olhos


cansados e machucados. Ela está sentada na cama, com o olhar perdido e
uma expressão de tristeza em seu rosto.

(Madalena começa seu monólogo em tom de desabafo, dirigindo-se


diretamente ao público.)

MADALENA:
"Amor líquido... é assim que eles chamam. Relacionamentos efêmeros,
passageiros, como água escorrendo entre os dedos. Relacionamentos que não
duram, que não têm consistência. Relacionamentos em que o amor é volátil,
incerto, fugaz."

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AMOR LÍQUIDO PAULO PERREIRA

(Madalena levanta-se da cama e começa a andar de um lado para o


outro, demonstrando sua agitação.)

(Apontando para o espelho quebrado na parede)


"Assim como esse espelho quebrado, minha vida amorosa é um reflexo
fragmentado do que era para ser. Eu acreditava na ilusão do amor ideal, do
companheiro perfeito, da felicidade eterna. Mas o que eu encontrei foi um
amor líquido, que escorreu por entre meus dedos e me deixou machucada,
confusa e perdida."

(Madalena senta-se novamente na cama e olha para suas mãos, que


estão tremendo.)
(Empurrando o cabelo para trás, revelando marcas de abuso em seu rosto)
"Ele me machucou. Fisicamente, emocionalmente. Mas eu ainda o amava. Eu
ainda amo. É irônico como o amor líquido pode ser tão poderoso, mesmo
quando é tóxico. Eu me afoguei nesse amor, esperando que ele me salvasse,
mas só me afundou ainda mais."

(Madalena levanta-se novamente e começa a andar de um lado para o


outro, demonstrando sua confusão e dor.)

"E quando eu tentei buscar ajuda, encontrei mais obstáculos. As instituições


são frias, impessoais. As pessoas me julgam, duvidam da minha história. É
como se a efemeridade dos relacionamentos contemporâneos tivesse se
infiltrado em nossa sociedade como um vírus, corroendo a empatia, a
solidariedade, a compaixão."

(Madalena senta-se novamente na cama e abaixa a cabeça, em


silêncio por um momento.)
(Murmurando para si mesma)
"Mas eu sou mais do que uma vítima. Eu sou uma sobrevivente. Eu posso
mudar isso. Eu mereço um amor verdadeiro, sólido, duradouro. Um amor que
não me machuque. Um amor que não seja líquido, mas que seja uma rocha,
uma base firme para minha vida."

(Levanta-se e vai até a janela).


Meu... Deus, que chuva é esta? 3 dias sem parar.... isso já é demais...
Eu não gosto de sair em dia de chuva.
Em dias de chuva os ratos saem dos bueiros, as baratas se espalham nas
calçadas...
Eu detesto ratos e baratas.
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Mas eu também não posso ficar sem meu vinho.


...Na verdade, eu gosto de chuva, em dias de calor, adoro tomar banho de
chuva. Adoro correr na chuva... brincar na chuva, mas não gosto de raios e
trovões. ...Tenho pavor, morro de medo, na realidade eles me assustam...
Ai... Meu Deus... Meu coração até dispara...

(Som de trovão. Ao fundo. Se assusta). (respira fundo e assoprando).

- Me sinto sufocada, toda vez que chove, me lembro de quando eu era


menina, morávamos na beira de um córrego na Vila Esperança, eu, meu
irmãozinho João, minha mãe Maria Cristina e meu Pai Antônio, adorava tomar
banho de chuva, correr na chuva, brincar na chuva, mas não gostava de raios
e trovões.
Todos os dias de chuva eram dias de pânico para todos os moradores da Vila
Esperança. Principalmente os moradores da beira do córrego, a água da
chuva entrava nos barracos e levava tudo que encontrava pela frente! Meus
pais ficaram desesperados para salvar as nossas vidas e, das poucas coisas
que a gente tinha...era desesperador e apavorante sem contar os nojentos
dos ratos e as baratas que entravam no barraco. Aquilo era um horror...

02. – (Atriz está em um canto apavorada com os trovões). (Som de


trovão. ).

MADALENA:
- Esta chuva que não passa..., mas vai passar... vai passar... Quer saber...
Enquanto essa chuva não passa... eu vou tomar um bom vinho e ouvir uma
boa música.
(Abre uma garrafa de vinho e enche a taça de vinho).
(Escolhe um disco vinil depois põem na vitrola.)
Disco na vitrola - Canção #01 de abertura Dalva de Oliveira – QUEM
SERÁ).
(Atriz canta e dança um trecho da música).
- Quando eu era mais jovem minhas amigas me achavam um pouco cafona
pelo fato de eu gostar dessas canções. Elas gostavam de Beatles, eu até
entendia, afinal eles estavam na crista da onda. Mas eu gostava dessas
canções que tocavam o coração. Essas canções trazem lembranças de quando
eu era menina, minha mãe ouvia os programas de auditório, concursos de
calouros, eleições das “rainhas” e “reis” do rádio, ela adorava os cantores e
cantoras de grande êxito popular como Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Dalva
de Oliveira e Cauby Peixoto.
A minha predileta era Dalva de Oliveira, ela sim era uma cantora
maravilhosa...
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O rádio, Mamãe ganhou de presente de casamento do meu pai.

( Gargalhada). Continua dançando.

03. - (Telefone toca).

MADALENA:

Caramba, isto são horas de tocar essa porcaria de telefone?

( aos berros). Já vai, já vai…

( Pega o telefone e atende). Alô! alô! quem é?

Quem...? É você...?
Não! Não esperava que você me procurasse.
Claro que não!
Se estou surpresa?
Depois do que aconteceu, eu estou surpresa sim!
Onde eu gostaria de estar agora?
Deixe-me pensar...
Em Paris, precisamente nas lojas Chic 's da Champs-Élysées.
Paris, sim senhor.
O que você quer Pedro Paulo?
Segredo?
Sei dos seus segredos, são sempre os mesmos.
Nos encontrar, hoje?
Não! Não podemos!
Por causa dessa tempestade!
Vai passar! É claro que vai passar...
Vai passar, claro que vai passar…, mas quando?
O que mais você quer de mim Pedro Paulo?
Conversar?
Não! Eu não tenho mais nada pra conversar!
Não! Eu já disse que não vou me encontrar com você.
Entendeu?
O que você quer? Absolvição? Aplausos?
Ou ver nos meus olhos uma ponta de dor?
Quer que eu derrame um rio de lágrimas é isso?
Não! É não Pedro Paulo!

(Desliga o telefone). (Põem-se a pensar).

(Com raiva).
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Desgraçado... É sempre assim, some, fica um tempão sem aparecer e do


nada...aparece...Um tempo atrás brigamos e ele resolveu ir embora…
respeitei sua decisão.

(Pensativa) Agora aparece como se nada tivesse acontecido!! Ouvi sua


conversa, ouvi a sua respiração, e tudo mais, mas não senti nada de concreto
em suas palavras. Alguma coisa aconteceu…

(Tomando vinho!)

(Pega uma peça de roupa e interage com a peça como se fosse outra
pessoa).
- Muitas vezes perdemos tempo e oportunidades por besteiras.
Medo de falar e demonstrar para outras pessoas o que ela significa pra gente
sem ela saber.
Quer saber? pouco me importa o que aconteceu para ele me procurar.
O importante é saber que ele ainda sente alguma coisa por mim... e nada
mais importa neste momento. Dane-se pra mim basta. eu não vou me meter
em mais uma enrascada.
Se sou ou não a sua amante pouco importa... Pedir desculpas? Não! Não vou
mesmo!
Não sou eu a culpada, eu não tenho que te pedir desculpa pelos seus erros.
Eu não vou fazer isto só porque você quer!
A culpa é tua! e não minha...
Não fui eu quem te traiu, eu também sou vítima nesta história.
Quer saber? Foda-se se alguém questionar que eu sou uma amante de quem
quer que seja.
Foda-se, se alguém é contra a minha atitude. Foda-se, ninguém goza por
mim, meu bem!!! Ninguém goza pelo outro. Ninguém!

(Pequena Pausa dramática).

Quando a gente se conheceu, ele achou que eu fosse "dessas mulheres pra
comer com dez talheres".

- Eu era muito boba. Já tinha feito sexo casual antes, mas sem achar muita
graça, então havia decidido que não transaria mais sem estar muito
apaixonada. Eu queria amor, ele sexo. Não rolou nem uma coisa nem outra na
primeira semana. Nem na segunda. Tampouco na terceira. Depois já era
réveillon, aí todo santo ajuda. Recordo-me, com toda a nitidez do mundo, da
primeira vez que ele me deu um tapa na minha cara na cama – e foi
catastrófico. Falar "não faça isso" teve o mesmo efeito que dizer "faça na

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primeira oportunidade". Bastou um tapa, de leve, para o clima zerar


completamente. Na hora, fui invadida por um misto de surpresa, vontade de
revidar e interesse em continuar. Mas a sensação que eu tinha era a de que
ele não sabia fazer amor, só sexo. Levei um tempo para entender que é
possível fazer amor com algumas doses de sexo sujo. E então descobri que
esse é um caminho sem volta.

(Demonstra certa euforia).

(Pausa dramática).

- Só que essa situação, saiu da cama e virou rotina. Muitas das vezes eu
apanhava sem saber o porquê! Tudo era motivo para ele me agredir, eu
tomava tapas na cara, puxão de cabelo, ponta pé na bunda, na coxa... soco
nas costelas. Ele me agredia só pelo fato de eu estar usando uma roupa, mais
curta ou decotada, que para ele era indiscreto… Ele me xingava de tudo
quanto era nome.

(Fazendo uma concha em forma de proteção com os braços).

- Para... Pedro Paulo, não faça isso por favor! Você tá me machucando....
Não! eu não sou nenhuma “idiota, nem vagabunda e nem tão pouco puta” eu
sou mulher, pode não parecer, mas eu sou mulher. O que foi que eu te fiz de
tão mau? Me diz Pedro Paulo?

(Pausa dramática, brava e debochando).

04. - Disco na vitrola - toca canção #2 – “Bandeira Branca”, Dalva de


Oliveira. Canta e dança um trecho! A música
continua em tom baixo.

MADALENA:

- O amor é uma doença e ninguém sobrevive com a doença. Desde muito


jovem eu sonhava em entrar vestida na igreja toda de branco. Eu sonhava em
jogar o buquê e torcer para que a minha melhor amiga o pegasse. Toda
mulher que está perdidamente apaixonada sonha com esse momento.
Eu ia todos os finais de semana na Rua São Caetano, provei diversos vestidos
até encontrar o vestido dos meus sonhos.

(Pequena Pausa dramática).

(Enquanto fala o texto: Pega o pincel ou um tecido molhado de tinta e

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deixe escorrer sobre um ou mais Guarda-chuvas criando efeitos


abstratos).

- Eu me preparei meses e meses por esse momento, enfrentei diversas


tempestades, superei todas, apesar de ter que controlar a minha ansiedade e
a depressão. Tudo certo, tudo marcado, data, vestido, igreja, padrinhos, salão
de festa, fotógrafo e convidados.

(Toma um gole da bebida).

- Um dia antes de nós celebrarmos nosso sonho, fui surpreendida pela pessoa
em quem confiei cegamente, a pessoa a quem eu ia me entregar de corpo e
alma, pela pessoa com quem eu sonhei em formar uma família, a pessoa que
me fez juras de amor. Ele me surpreendeu com uma acusação inesperada que
acabou com tudo que eu sonhei para nós dois!

(Pausa Dramática)

- Como é que é... Pedro Paulo, eu tenho um amante? Quem te disse isso?

Você nos viu, com os seus próprios olhos? Sério? Como ele é? Louro, negro,
branco, pardo, alto, baixo, gordo ou magro? Por acaso ele é gostoso? Você o
viu de costas? E que mais de interessante Pedro Paulo? Você nos viu
abraçados e fazendo carícias? Incrível... E onde foi isso? Quando foi Pedro
Paulo? Ah... você não se lembra... ou é mais uma piração da tua cabeça?
Meu querido, você está inventando história para me difamar. O problema é a
minha doença, não é Pedro Paulo? O que? Eu não sou nada sem você? Você é
louco? Só falta você dizer que foi você que me inventou? Você é louco! Meu
Deus… Você acabou com os meus sonhos… Brincou com os meus
sentimentos. A realidade é que você tem vergonha de mim, Pedro Paulo. É
isso sim, senhor!!

(Gargalhada irônica).

- O que deu na sua cabeça pra inventar essa história? É isso? Você é um
psicopata! Louco...

(Com raiva).

Você está me acusando de traição, você está emitindo juízos morais sobre a
minha conduta Pedro Paulo, me expondo a uma situação mentirosa, me
rebaixa o tempo todo com as suas grosserias, com seus xingamentos me

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desvaloriza por causa do meu corpo, com meu modo de vestir, você me
maltrata o tempo todo por qualquer coisa, por qualquer besteira Pedro Paulo.
Você me trata como se eu fosse a tua propriedade. Não meu querido eu não
sou a tua propriedade! Quer saber? Foda-se esse amor... foda-se você. Foda-
se as suas histórias, as suas invenções, some da minha vida… Chega!.... estou
cansada de apanhar, estou cansada... some da minha vida... eu não sou a tua
propriedade!

(Talvez chore por um instante ou apenas uma pequena Pausa


dramática).

05. - Enquanto fala o texto: Pega o pincel ou um tecido molhado de


tinta e deixe escorrer sobre um ou mais Guarda-chuvas criando
efeitos abstratos.

MADALENA:
- Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os
pés no chão. Vou ser sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma
pra sempre!
Porque eu gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das
drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais
complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou te dizer:
E daí? Eu adoro voar!

(Gargalhada).

06. - (Se olhando no espelho).

MADALENA:
- E você quem é ?
Por acaso é a amante dele?
De quem?
De Pedro Paulo!
Sim... Sou a que transita nas suas relações.
Sou eu quem ele procura para os teus caprichos, para teus prazeres.
Não me importa quem é você, ou quem deixa de ser.
Eu não escolho sexo, nem cor, nem raça e principalmente classe social.
Sou eu quem ele chama de “minha putinha”.
Sou eu quem ele chama de “minha safadinha”.
É no meu pescoço que ele sussurra quando vocês os abandonam.

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Ou quando o teu relacionamento vai ficando monótono, desgastado e chato.


É na minha cama que ele vem se deitar e se deleitar,
É em mim que ele pensa quando vocês brigam por pequenas coisas...
Ou quando o teu ciúme sai dos limites é em mim que eles veem afogar as
suas mágoas.

( Desarma o guarda-chuva).

- Beijar uma pessoa para esquecer outra é bobagem. Sim, claro que é...
Se eu estou errada? Talvez sim! Talvez não! Talvez ele esteja errado...
Eu? Eu vou ser sempre a outra... Com toda a certeza do mundo... Eu vou ser
sempre a outra, aquela que ele nunca vai prometer fidelidade, a que ele
nunca vai dizer que ama de verdade, a que ele nunca vai sonhar em formar
uma família...eu vou ser sempre a outra.
A outra e nada mais.
(Toma um gole da bebida).

07. - Disco na vitrola - Dalva de Oliveira - A Noite do meu Bem (1960)


Composição: Dolores Durán. (Canta um trecho da canção. Continua
em baixo volume. (Pausa dramática toma um gole da bebida).
MADALENA:
- Ah...Dalva, Dalva, também protagonizou um escândalo familiar na época,
pois saiu de casa, solteira, para viver com o namorado, ainda oficialmente
comprometido. O amor tinha dessas
coisas.
A música continua em tom baixo. (Pequena Pausa dramática). (Desfila
no palco movimentando alguns objetos de cena).
(Som de chuva e de raios e trovões). (Improvisa algum certo
conflito).
- Ai meu deus... Socorro... Socorro...

(Rezando a oração de Santa Bárbara).

- Santa Bárbara, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência
dos furacões, fazei que os raios não me atinjam, os trovões não me assustem
e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura.

(Efeitos de raios e trovões). (Continua).

- Vai passar... Vai passar, vai passar...

(Reza gaguejando).

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- Fica sempre ao meu lado para que possa enfrentar de fronte erguidas e
rosto sereno todas as tempestades e batalhas de minha vida. Vai passar... vai
passar... vai passar...
(Respirando fundo e assoprando reza gaguejando).
- Para que, vencedor de todas as lutas, com a consciência do dever
cumprido, possa agradecer a vós, minha protetora, e render graças a Deus,
criador do céu, da terra e da natureza.
Vai passar... vai passar... vai passar...
(Respirando fundo e assoprando/Reza gaguejando).
- Este Deus que tem poder de dominar o furor das tempestades e abrandar a
crueldade das guerras.
Vai passar... Vai passar, vai passar... Santa Bárbara rogai por nós.
Eu tenho medo desta porra... de raios e de trovões.
Me perdoe minha santa... Me perdoe. Eles me assustam...
Vai passar... vai passar, vai passar...
(Efeitos de raios e trovões). (respirando fundo e assoprando).
- Eu não gosto de sair em dia de chuva.
Os ratos saem dos bueiros, as baratas se espalham nas calçadas.
Eu detesto Ratos e baratas. Socorro.
- Ai meu deus... Socorro... minha santinha, que sois mais fortes que as torres
das fortalezas.
- Vai passar... vai passar... vai passar...

08. – Respirando fundo). (Pausa dramática) Retomando a respiração.

(Toma um gole do vinho).


MADALENA:
-A vida não é fácil não minhas queridas. E pra quem é, não é mesmo?
Eu já fui amante de reis e de rainhas, de príncipes e de princesas de toda a
Europa. Nos bons tempos das paixões arrebatadoras, filhos ilegítimos e
amores ilícitos que nunca foram
contados.
Fui representada por Damas de rainhas, prostitutas, escravas, cantoras líricas,
atrizes, mulheres do povo e senhoras da alta burguesia, todas competiam
pela minha atenção e pelos favores do Rei.
Nos tempos antigos, há 50 anos ou mais, era comum, no sentido de
corriqueiro e não no de normal, o marido manter alguns casos fora do
relacionamento.
E lá estava eu.
Os mais ousados ainda constituíam uma família paralela.

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Por vezes, as esposas tinham conhecimento da vida amorosa fora de casa dos
seus maridos, mas consentiram e seguiam a vida como "boas"
companheiras.
E..., mas os tempos mudaram e hoje a mulher quer mais do que um homem
ao seu lado, ela quer um amante, de preferência lindo e gostoso, um amante
que te dá prazer, que te faça feliz e não cobre a sua fidelidade.
Meu amor, já foi o tempo em que a mulher gritava por causa de uma simples
baratinha. Quer saber, tem muuuuuitas mulheres hoje em dia que elas é
quem tem que matar as tais baratas... Sim, somos todas loucas, loucas pelo
amor, pela paixão, pelo sexo.
Esta é a razão da minha existência.
Mulheres com força, seguras, dedicadas e femininas conseguiram ser as
grandes mulheres à frente de seus grandes homens.
Afinal, quem nasceu pra ser plateia, vai morrer aplaudindo meu amor.

09 - SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO


(Ainda com a taça de vinho na mão)
MADALENA:
- Ser ou não ser, eis a questão.
“Será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e flechas com que a
Fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de
provocações e em luta pôr-lhes fim”?
Morrer... dormir".
A vida é cheia de tormentos e sofrimentos, esta é a minha dúvida: será
melhor aceitar a existência com a minha dor inerente ou acabar com a vida?
Se a vida é um constante sofrimento, a morte parece ser a solução, porém a
incerteza da morte supera os sofrimentos da vida.
A consciência da existência é o que acovarda o pensamento suicida, pois
diante dela se detém o medo do que possa existir após a morte.
Há muitos mistérios entre o universo e a terra...
(William Shakespeare em Hamlet).
Puta que o pariu esse cara era foda...

10. - A SAUDADE.

(Olhando para o retrato e começa a gargalhar muito).


(Com raiva).
MADALENA:
- Filho da puta... aqui também tem um coração ferido e despedaçado.

(Olhando para o retrato ). (Continua).

- Quando foi a última vez que rimos juntos?


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Parece que foi há tanto tempo, que nem me lembro mais... que saudade de rir
de novo, que saudade das suas histórias. Das suas piadas sem graça.
Saudades dos teus braços fortes me abraçando, de teus olhos azuis me
admirando como se admira uma joia. Saudades dos teus lábios carnudos
beijando todo o meu corpo... ah... Pedro Paulo!
Agora tudo está triste sem sentido, sem você. Tem um vazio tão grande
dentro de mim. Um abismo.
Amanhecer todos os dias está cada vez mais difícil, e o adormecer... bom,
esse sempre é mais fácil.
A gente briga, a gente faz as pazes, a gente se ama, a gente se odeia. Às
vezes penso que vivemos juntos em outras vidas, mas definitivamente a
gente não se entende, uma hora tá tudo bem, daqui a 5 minutos não tá
mais... Dois anos sem nos falarmos, sem nos vermos...
E hoje você me surpreendeu... com aquele telefonema e me convidou para
sairmos...

(Toma outro gole de vinho olhando no espelho). Pequena pausa


dramática.

MADALENA:
- Puta que pariu, como é difícil controlar este sentimento, esta paixão... eu sei
que não é amor..., mas e daí?
Ele gosta de você! Eu não tenho dúvida nenhuma disso, tanto que ele fala
comigo diversas vezes sobre você e sobre o quanto ele gostaria de ter em
você tudo aquilo que ele tem em mim!
Mas ele não fala com palavras, ele fala no olhar, na sua respiração, no seu
jeito de me possuir, na forma de me conquistar, na forma de me admirar e
principalmente quando nos despedimos depois de um encontro bem gostoso.
Eu não quero nunca estar no teu lugar... Nunca. Também não desejo que
você esteja no meu.

(Pequena Pausa dramática(Mostra uma joia de perolas).

- Veja que linda esta joia. Linda, não é?


Acredito que ele também te deu uma idêntica a esta.
Mas esta é especial.
Ele me presenteou no terceiro aniversário de nosso caso!
Ele é tão maravilhoso... Só você não vê isto!

(A joia cai ou arrebenta a atriz se desespera a procurar ( ver um tipo


de Joia que mais facilita para a construção da cena. improvisar).

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11 – A LOUCURA.
(Toma um gole do vinho). (Olha para o retrato depois retorna para a
plateia). (Continua).
MADALENA:
- Eu ainda choro. Choro! Por que será que eu ainda choro? Não é mais choro
de revolta nem de medo, sabe? É uma coisa boa. Que me dá alívio. Andei
pensando sobre isso. Eu acho que eu choro porque talvez seja a única coisa
em mim que ele não pode tocar: as lágrimas. Ele não pode puxar, apertar,
sacudir, espancar as minhas lágrimas. Como fazia com o meu corpo. Também
não pode mais me manipular, nem controlar a minha aparência, nem abusar
de mim como fazia antes. Como fez com a minha cabeça, com meu corpo e
com a minha vida.
Hoje eu que controlo a minha vida graças a Deus e a minha Santa Barbara.
(Beija a santa e se benze).
(Acende um baseado (back), e, fuma).
- Como diria meu amigo Zé. . ..A natureza, é a natureza... com ela ninguém
pode...

(Gargalhada).

MADALENA:
- Tem um verso que ele fala da maconha, que é uma erva que dá no meio do
mato, se fumada provoca um tal barato, a maior emoção que a gente sonha,
a viagem às vezes é medonha, dá suor, dá vertigem, dá fraqueza, mas,
porém, quase sempre é uma beleza, eu por mim experimento todo dia, pois a
coisa é da Santa Natureza.
(Canta).
Se essa rua fosse minha, se essa rua fosse
minha.
Eu mandava, eu mandava ladrilhar.
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes para o meu, para o meu amor
passar... (Gargalhada). (Toma um gole da bebida).

12 - OS TRAIDORES NÃO PRECISAM DE MOTIVOS PARA TRAIR.


MADALENA:
- Os traidores não precisam de motivos para trair. Precisam de
oportunidades.
Trair é toda e qualquer forma de ferir quem, um dia, confiou em você.
Traímos de tantas formas que, muitas vezes, temos consciência disto.
Traímos quando esquecemos as pequenas gentilezas;
Traímos quando fingimos que tudo está bem quando, na verdade, não está.

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Traímos quando negligenciamos nossas próprias vontades para agradar outras


pessoas. Traímos quando deixamos de sermos protagonistas da própria vida,
quando deixamos os outros ditarem as regras.
Traímos os mais diversos motivos.
Quem, em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez - a si
próprio?
Trair não é um deslize diário, é uma opção.
É preciso entender que ninguém trai por acaso.
Da mesma forma que você escolhe ser fiel, a traição nada mais é do que uma
opção voluntária.
Judas traiu Jesus, com um beijo.
Um simples beijo mudou o rumo da história de toda a humanidade!
Atirem a primeira pedra quem nunca traiu...

13. - (Gargalhada). (Toma um gole da bebida). Disco na vitrola - toca


canção #04. “Tudo acabado entre nós”. Dalva de Oliveira
Composição: J. Piedade / atriz canta um e dança trecho. Música
continua em tom baixo. (Coreografia desfila pelo palco com alguns
guarda-chuva usar efeitos de luz e imagens) efeitos luzes!

MADALENA:
- Serei sempre a grande bandida. Sim... é assim que os marxistas nos
consideram... Oi queridinhos! O que a mulher não tem em casa ela vai
procurar na rua sim.
Direitos iguais. Isto é fato nos dias de hoje.
Esses caras sempre imaginaram que esse era um privilégio só deles.

(gargalhada).

- Bobinhos... Claro que nesse meio existe casal que adora um fetiche: adora
uma fantasia erótica, troca de casal. Outros gostam de um swing
Eu gosto é do real... do olho no olho, do corpo a corpo.... de boca na boca...
de... tudo que mistura dá um caldo bom.... sexo, queridinho... Sexo...

(Gargalhada, Pausa dramática).

- O que me dói é quando uma das partes parte para a violência. Ai meu
amor... o tempo mostra quem é quem,
Quem foi tudo e hoje não é ninguém, quem mente e quem diz a verdade,
quem é fiel e quem age na falsidade,
O tempo derruba e arranca máscaras de pessoas que não tem personalidade,
e precisam fingir ser quem não são para viver na realidade.

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AMOR LÍQUIDO PAULO PERREIRA

(Toma, mas um gole de vinho). (Continua).

(Pequena Pausa Dramática).


- Eu sempre pensei que o amor fosse algo sólido, que pudesse ser tocado,
sentido e vivido. Mas ao longo dos anos, percebi que as coisas mudaram, e
que o amor agora é líquido. Não há mais aquela solidez, aquele compromisso,
aquela segurança.
Hoje em dia, os relacionamentos são marcados pela fluidez, pela falta de
solidez e pela inconstância.
Oi. Queridinha, acorda pra vida, as pessoas não querem se comprometer,
não querem se prender, não querem se responsabilizar. Querem apenas
desfrutar do momento, do prazer e da paixão. E quando tudo isso passa,
partem para outra aventura.

(Se Olhando no espelho). - Mas será que isso é amor de verdade? Ou


apenas uma ilusão passageira, um sentimento efêmero que não dura mais
que alguns dias ou semanas? Será que as pessoas estão realmente buscando
o amor, ou apenas uma satisfação momentânea?
(Volta para o Público).
Esse amor é uma armadilha, uma cilada que nos faz acreditar que estamos
vivendo algo verdadeiro, quando na verdade, estamos apenas brincando com
os sentimentos alheios. É uma busca insaciável por algo que não existe, por
um amor idealizado, que não pode ser alcançado.
E quando finalmente encontramos alguém que nos completa, que nos faz feliz
e que nos ama de verdade, muitas vezes não sabemos lidar com isso. Não
sabemos como construir uma relação duradoura, como cultivar o amor e como
superar os desafios que surgem no caminho.
O amor nos torna frágeis, inseguras e incapazes de construir relações
verdadeiras. Ele nos faz acreditar que a felicidade está em outro lugar, em
outro amor, em outra aventura. E assim, vamos pulando de relação em
relação, buscando algo que nunca encontraremos.

(Pequena Pausa dramática).

- O que é ser uma amante?


Um instrumento no qual nos esfregamos para ter prazer?
Não! Não... Senhoras e senhores, nenhum amor é proibido enquanto algum
amante não deixar de lutar.
- Como podemos lutar contra as adversidades do destino sozinhas, sem a
ajuda de amigos fiéis e dedicados, sem um companheiro de vida, pronto para
compartilhar os altos e baixos?

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AMOR LÍQUIDO PAULO PERREIRA

Não... não sou contra o casamento.


Não... não é isso, apenas sou contra casamentos infelizes.
Liberte-se e liberte quem você ama.
Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o início deste milênio.
As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e
revolucionando o conceito de amor.
- A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com
o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. Tudo se
transforma em líquido. Tudo desaparece sem mais nem menos... apenas
desaparece.
- Mas que merda, eu fico criando diálogos dentro da minha cabeça sobre mim
e ele, e penso em coisas que eu poderia ter feito diferente, mas simplesmente
penso nele! Será por que sinto a sua falta? Não! Não é isso.

15. - Disco na vitrola - toca canção #05 – canta um e dança trecho


Disco na vitrola: Dalva de Oliveira “Um Pequenino Grão De Areia”.

MADALENA:
- Essa aí também, todo mundo achava que era mulher sem moral... ainda
mais sendo cantora... coitada. Se hoje ainda é assim... imagina naquela
época.

(Toma um gole do vinho, Pequena Pausa dramática).

- Ele me convidou pra sair esta noite.


E mesmo eu recusando inúmeras vezes, ele insistiu, persistiu, e disse para
não me preocupar com nada... acredita que eu recusei?
Sim, eu recusei e fiquei pensando por que ele não levaria você ao invés de
mim? Não! Eu não sou a culpada...
- Nem estou aqui para te pedir desculpas por todas as vezes que estive na
cama com ele, nem das vezes que saímos pra jantar, e tu mandavas
mensagens e ele ignorava. Não vou te pedir desculpas por causa daquela vez
que ele trocou um bom filme no sábado à noite no sofá da tua casa... por um
gostoso sexo selvagem no carro dele, em algum lugar desconhecido...

(Pequena Pausa dramática).

- Hoje ele pode estar contigo e amanhã estará comigo, ou talvez até hoje
mesmo, a qualquer momento ele pode entrar por aquela porta e me possuir
da maneira mais louca... Me deixar totalmente arruinada...
E depois vai embora... Satisfeito e feliz... Sem me dizer uma só palavra sobre
você!

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AMOR LÍQUIDO PAULO PERREIRA

Por que eu falo isso? Porque de alguma maneira eu gosto dele, não aquele
gostar de estar perdidamente apaixonada, mas aquele gostar como quem se
preocupa, como quem cuida, e como quem morreria de saudade se não
tivesse mais notícias dele.
Ele me faz bem, apesar de tudo eu sei do meu papel e da minha posição,
somos amigos e já confiamos muito um no outro e sempre tivemos lá quando
um de nós precisou.

(Pequena Pausa dramática. Continua com certo descontrole


emocional).

MADALENA:
- Acredite, nunca o influenciei a acabar a relação contigo, até disse que eu
não queria... Eu não queria mais por que... porque dói, eu sei que dói! Eu não
gostaria de saber que você está sofrendo por causa dessa traição.
Você pode não acreditar, mas eu tento te ajudar, pergunto inúmeras e
inúmeras vezes por ti, como vocês estão, e porque ele te trata desta maneira,
mas simplesmente ele não quer falar sobre isso, talvez por não querer falar
das brigas que vocês tiveram, não quer falar desse teu ciúme doentio, desta
tua arrogância e do desprezo que você causa a ele.
Quer saber? É porque ele quer te esquecer por algum momento.
Pronto, falei!

(Toma um gole da bebida. Volta pintar os guardas chuvas.


Chicoteando com tecido molhado de tinta).

MADALENA:
- Não tem que meter o foda-se, não tem que continuar sendo da hora... Azar
é quem te perdeu, sorte de quem te encontrar.
Como uma pessoa pode viver a vida inteira sem provar as boas coisas da
vida?
Viver algumas aventuras, pular de paraquedas, pular de band-dawnp' escalar
o pico do Everest, ou até mesmo o pico do Jaraguá. Mas se você achar que
esses esportes radicais é o máximo. Eu sugeriria coisas mais simples, até
banais, ou coisas que você jamais vai ter, de qualquer maneira, tipo:
experimentar um prato novo feito por você; ler um livro de um autor
desconhecido, sentir o perfume duma flor, da terra ou tomar um banho de
chuva e se emocionar...
Todas nós sentimos vontade de provar outras experiências, algo diferente,
principalmente no sexo. Se permita...
O sexo é um direito de todos, ele é social e democrático.
A vida sem sexo é sem graça.
Nada na vida é pra sempre, tudo se transforma, tudo é líquido.
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AMOR LÍQUIDO PAULO PERREIRA

A vida é líquida, a amizade é líquida, o amor é líquido... eu sou líquido, você é


líquido...

(Pequena Pausa dramática).

Tá bom! Eu também tenho os meus segredos, trair não é a minha


especialidade, mas como ninguém é 100% fiel, eu tenho os meus
segredinhos.

(mostra seu fiel brinquedinho, um vibrador ou uma prótese)

MADALENA:
- Esse é o meu fiel e amado companheiro, ele não reclama de nada, está
sempre à minha disposição, faz tudo que eu quero do jeito que eu quero. E o
melhor de tudo é que ele não abre a boca pra nada. Sofre um pouquinho, mas
sofre calado.
Afinal de contas ninguém é de ferro meu amor.
Minhas amigas, toda mulher deveriam ter um desse em casa.
Não tem essa de idade não, o importante é o prazer!
Tem de todas as cores, de todos os tamanhos... e de todos os gostos,
pequeno, médio e tem até dos grandes... Claro que gosto é uma coisa que
não se discute, cada um tem o seu... eu tenho vários...

(Beija o vibrador)

- Felizes aqueles que desfrutam desse banquete de prazeres.

16. - (Toca o telefone e a atriz continuam com o vibrador ou a prótese


na mão durante a conversa. (Criar uma cena sensual).
MADALENA:
- Alô! Tudo bem com você? Sim, eu estou me preparando... Acabei de sair do
banho...
Hummmm... estou... Não totalmente...
Estou usando aquela que você gostava. Ahmmm..., mas... agora... é que...
ahmmmm...
Pára... hummm.... ai... Pára........Pedro Paulo, Pára......
Não faz isso... não... hummm...
Não... Pára...... Pára...... você está me deixando... ahmmm...
Pára.... Pedro Paulo, Pára... podemos continuar depois do...
Gosto, claro que sim..., mas... é que... Hummmm... Pára...... aí... por
favor.... Pára......
Deixa pra depois...
Sim... todinha pra você. Ai.... Pára... Sim.......... todinha

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AMOR LÍQUIDO PAULO PERREIRA

Espera a gente se encontrar, tá bom? Pára... com isso...


Não demoro, prometo........... beijos!

17. - (Ansiosa e respirando fundo e assoprando. Som de relógio tik...


tak. tik. tak.).
MADALENA:
- Ah........ que dúvida cruel, eu vou ou não vou a este encontro?
Oh... minha Sta. Barbara, me ajude....
Ah... eu tenho que achar uma resposta....
Pense.... pense... num plano.... pense... pense...
Eu sei que homens não gostam de mulheres fracas, carentes e inseguras.
Mas, e daí? As mulheres também não gostam de homem frouxo...
Pense... pense num plano.... pense... pense...

(Ansiosa e respirando fundo e assoprando).

- E esta chuva que não passa...


Vai passar... vai passar, vai passar...
E se ele me deixar esperando plantada nesta chuva?
Não é possível! ele me ligou com tanta disposição.
Até me seduziu com palavras doces...

(Ansiosa e respirando fundo e assoprando).

- Pense.... pense... num plano.... pense... pense...


Ainda não decidi o que vestir!
E com qual guarda-chuva eu vou?
21H15. Ainda tenho um tempinho pra me decidir!

(experimentando diversas roupas e falando com ela mesma em frente


ao espelho).

Que tal esse terninho? Não, não... é formal demais. Não combina com esse
guarda-chuva, nem com esse, tão pouco com esse e, além do mais ele vai
achar que está saindo com a mãe ou com a chefe dele.
Um jeans? Não! Casual demais...
21hs. 30mm
(Som de relógio. (Olhando no relógio) (experimenta outra roupa).
- Com que roupa eu vou?
Esse vestido? É provocante demais. Ele vai logo achar que eu só quero sexo.
Também não tenho um guarda-chuva que combine com esse vestido...
Meu Deus, daqui a pouco ele deve estar chegando.

19
AMOR LÍQUIDO PAULO PERREIRA

Fica calma, mulher, respira.


E esta chuva que não passa... Vai passar, vai passar...

18. - (Telefone toca, atriz olha para o telefone e não atende, cria ação
de suspense).
MADALENA:
- Só pode ser ele me ligando pra dizer que cancelou o jantar, que deve se
atrasar, ou que isso e aquilo... não vou atender...
Eu não vou atender, isso é um desaforo! Logo agora que estou me trocando...
não vou atender.

(Som de relógio. (Olhando no relógio experimenta outra roupa.).

22hs.
- Acho que essa é perfeita... só falta um guarda-chuva pra combinar.
(Pega um guarda-chuva que combina com a roupa).
- Perfeito! É esse...
Caramba já passou da hora... O que será que aconteceu? Eu deveria atender
o telefone!
(Pega o celular e pede para tocar novamente).
- Toca telefone, toca por favor, me dá notícias.
Só um telefonema! Ou uma mensagem!
Toca por favor... Só uma vez-zinha...

22hs.15

- O pneu do carro deve ter furado... é isto!


Não! Não pode ser.
Ele some... assim, sem mais nem menos!
Será que a mãe dele morreu?
Uma árvore deve ter caído e matado ele...
Não! Não pode ser... porra que cabeça a minha.
A bateria do celular deve ter descarregado.
Só pode ser isso...
Ai meu Deus, fica calma, mulher, respira. Vai passar... vai passar, vai
passar...

23h30.

- ... Essa chuva que não passa...


Será que ele foi engolido pela enxurrada?

(respirando fundo e assoprando).


20
AMOR LÍQUIDO PAULO PERREIRA

Meu Deus, os ratos, os ratos devem ter atacado e roído ele todinho... Não!
Não pode ser.

(respirando fundo e assoprando). Som de chuva e raios.

19. - (Som de efeitos.). (Projeção: Atriz está caminhando na chuva,


diversas micro cenas são projetadas nos guardas chuvas. (luz a pino
de lanterna dentro do guarda-chuva).

(Som de efeitos ). Atriz está ajoelhada de costas para o público,


vestida com um véu preto sobre a cabeça, um buquê de rosas negras
em uma das mãos; após o tiro vira-se para o público).

MADALENA:
- Hoje eu estou de luto por mim. Por mim e pelas minhas escolhas.
Minhas escolhas me escondem. Eu me perco tentando viver. O silêncio aqui é
perturbador, posso ouvir meu coração bater. Eu já não choro mais.

Eu já não sinto aquela dor. Eu já não me importo.


Acredito que alguma coisa boa pode acontecer, mas tenho medo de voltar a
perder e ter que recomeçar outra vez.
Então é hora de já começar a fazer uma faxina... Agora e já, chega dessa
tortura!
(ecoa um tiro).
- Hoje eu estou de luto por mim e pelas minhas escolhas. (Som de efeito).

20. - (Senta-se em uma cadeira. Toma o restante do vinho virando a


garrafa na boca).

Pode até acender e fumar mais um back.

MADALENA:
- Porra caralho.... cansei de tudo isso... (respira fundo). Quer saber?
Os "amores" que não são "amores" não duram... é verdade... acreditem em
mim...
Os amores passageiros não são tão abomináveis quanto falam, pois tudo tem
uma utilidade na vida. Nada é pra sempre... tudo tem seu tempo... Nada é
para durar.
Preste atenção nas suas relações, elas falam por si.

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AMOR LÍQUIDO PAULO PERREIRA

Os romances passageiros com prazo de validade, mantidos apenas pela


admiração, o encanto e algumas doses de ilusão, também são úteis!
São como líquidos... apenas nos refresca e passa... passa...
E por causa dessa busca constante sempre vive pequenos amores e se torna
mais,
forte a cada
término.
(Joga o buquê). Pausa dramática).
- Eu gosto da ideia de ninguém precisar ser colecionador de amores
relâmpagos, mas se a relação nem sempre dura para sempre, então que se
possa fazer bom uso dos sorrisos e dos momentos agradáveis que as
pequenas histórias doam.
São essas relações que não ficam para a vida que acabam servindo como
diretrizes para quem sabe um dia conseguir viver um amor feliz e quem sabe
pra sempre.
Afinal são nessas relações que vivem as pessoas que não tem nada a ver com
você, e que irão involuntariamente te ajudar a entender que você precisa
encontrar similaridades.
Amores passageiros, você percebe depois que ele passa....... que a melhor
coisa a ter acontecido foi justamente ele não durar.
Eu te desejo amor “eterno”, mas só se ele for verdadeiro.

21 - LIBERDADE, LIBERDADE ABRE AS ASAS SOBRE MIM...

(Disco na vitrola - toca canção toca dança um por um tempo


Canção:#7– (EDITH PIAF Marion Cotillard) (canta).
MADALENA:
- Liberdade, liberdade abre as asas sobre mim...
Como é bom poder ser eu mesma, reencontrar minha essência, voltar a sorrir
sem medo, viver longe de tudo que faz mal...
Tinha me perdido de mim mesma numa busca sem noção para agradar os
outros.
A serenidade é algo que só a paz pode trazer.
Amo esta mulher que se escondeu atrás de julgamentos. Amo a mulher que
me tornei porque eu lutei para ser ela.
Amo meu sorriso largo, amo poder ser eu mesma num mundo cada vez mais
de aparências .

22
AMOR LÍQUIDO PAULO PERREIRA

22. - Cena final.

(Atriz abordará uma moça, trazendo-a ao palco e pede para lhe ajudar
a fechar o zíper do vestido; depois de vestida, oferece uma taça de
vinho e, em seguida, o casal dança por um instante).
MADALENA:
- Você pode me ajudar?
Como estou?
Estou bem?

(Depois do jantar). (A música continua em tom baixo).


- Ah... Que noite maravilhosa...
Foi inesquecível... Eu adorei o jantar, o vinho, adorei estar ao seu lado... até a
chuva cessou... Adorei tudo. E você, o que achou?
Você terá um lugar especial no meu coração, você é minha melhor amiga.
Eu também gostaria de passar o resto da minha vida com você.
Tenho certeza de que seremos muito felizes e construiremos um futuro
baseado na verdade, no companheirismo e no amor.
Sim, eu tenho consciência de quem eu sou... Eu pensei que você era a única
para mim!
Não! Não foi culpa sua! Foi um acidente! Teve que acontecer. Aconteceu!
Foi ele quem dizia que te amava e depois te traía! Não eu! Eu também sou
vítima nesta história...

(Pequena Pausa dramática).

- E quanto a mim, você me ama?


Você já decidiu qual será o nosso destino? Psiuuuuu, não! Não fale nada...
Eu estaria mentindo se eu dissesse que eu não sentirei a sua falta e, eu vou
ser eternamente grata ao nosso amor.
Eu cresci no amor que você me deu, vou ser eternamente a tua amante!
Eternamente.
No dia que for possível à mulher amar se em sua força e não em sua
fraqueza; não para fugir de si mesma, mas para se encontrar; não para se
renunciar, mas para se afirmar, nesse dia então o amor tornar–se á para ela,
como para o homem, fonte de vida e não perigo mortal.
Sim... Foi Simone de Beauvoir que disse essas doces palavras.
O amor pode ser sedutor, pode nos atrair com sua leveza e liberdade. Mas no
final das contas, ele nunca nos preencherá por completo. É hora de buscar
algo mais sólido, algo que realmente valha a pena. É hora de buscar o amor
verdadeiro.

23
AMOR LÍQUIDO PAULO PERREIRA

(Madalena levanta-se com determinação e olha para o público com


esperança).
Eu sei do meu papel, sei desde sempre! Sempre soube. Mas eu não posso
mais viver sem mim. ADEUS.
(Luz a pino). Atriz caminha até a cadeira atriz senta-se sons- de
chuva e trovões se funde com a música... (luz cai em resistência).
Mulher Acorrentada.
Sugestão final. https://www.youtube.com/watch?v=O5-c79LQ3aM
Fim!!

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