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ETA - ESTÚDIO DE TREINAMENTO ARTÍSTICO

TEATRO PROFISSIONALIZANTE
M01 - DOMINGO MANHÃ

PARÁBOLA DO PORCO-ESPINHO

PRÓLOGO

Ao abrir as cortinas, observamos dois corpos que juntos começam a montar


diferentes esculturas com seus corpos, até que eles começam a falar.

Ferno: Não és bom


Purgo: Nem és mau
Ferno: És triste e humano
Purgo: Vives ansiando, em maldições e preces
Ferno: Como se, a arder, no coração tivesses, o tumulto e o clamor de um largo oceano
Purgo: Pobre, no bem como no mal, padeces; E, rolando num vórtice vesano
Ferno: Oscilas entre a crença e o desengano, entre esperanças e desinteresses.
(Ambos começam a falar com o público)
Purgo: Um certo dia, uma sociedade de porcos-espinho se juntou em um dia frio de inverno
e, para evitar o congelamento, procuraram se esquentar mutuamente.
Ferno: Contudo, logo sentiram os espinhos uns dos outros, o que os fez voltarem a se
separar.
Purgo: Quando a necessidade de calor os levou a aproximar-se
outra vez, se repetiu aquele segundo mal; de modo que oscilaram de um lado para o outro
entre ambos os sofrimentos.
Ferno: Feridos, magoados e sofridos, dispersaram-se por não suportar mais tempo os
espinhos de seus semelhantes.
Purgo: Até que encontraram uma distância média na qual puderam resistir melhor.
Ferno: Sendo assim, a distância entre eles já era o suficiente para sobreviver sem se ferir e
sem machucar quem estava ao seu redor.

(Ambos saem do palco)

CENA I

(Triste, Safira está sozinha no camarim do cabaré. Ela fica congelada e logo em
seguida descongela e começa a olhar para os lados, reparando se está sendo
observada por alguém. Ao notar que só tem ela ali em sua mais vaga solidão, tira de
sua bolsa uma garrafa de bebida e começa a tomar goles. Algum tempo depois,
Diamond entra no ambiente e se desespera ao ver a cena em sua frente. Ela parte
para cima de Safira e tenta tirar a garrafa das mãos dela)

Diamond: O que você está fazendo?


Safira: Só estou afogando minhas mágoas da forma em que estou acostumada. Mas, o que
isso importa no fim das contas?
Diamond: Você está agindo da mesma maneira que agia antes de eu te trazer para cá.
Lembra que você se sentia fraca e sempre descontava tudo em uma garrafa de bebida?
Safira: Eu lembro, e sei que prometi a você que nunca mais faria isso, mas dessa vez eu
não pude cumprir com minha palavra.
Diamond: Mas o que aconteceu dessa vez que te levou a isso? É de novo por causa do
seu namorado?
Safira: Sim, é com o Bruno… Sabe, as vezes sinto que estamos tão conectados e do nada
existe um abismo entre nós....fico me perguntando: será que ele ainda me ama? Será que
está se sentindo preso em nosso relacionamento?
Diamond: O que foi que ele aprontou dessa vez?
Safira: Ele anda distante, quase não responde minhas mensagens, passamos dias sem nos
ver e quando nos vemos parece que há um muro que distancia ainda mais nossa conexão
como um casal. Mas talvez a errada seja eu, como sempre sou em todas as situações…
Diamond: Se está se sentindo assim, já tentou ter uma conversa honesta com ele? Falar o
que você está sentindo? Sofrer sozinha é a pior coisa que você pode fazer...
Safira: (Monólogo) Uma conversa séria? Como falar para ela que não tenho coragem de
ter uma conversa séria com ele? A Diamond me acolheu quando eu estava triste, sozinha e
virando uma garrafa de bebida, chorando pelo Bruninho e morrendo de medo de ser
abandonada novamente, assim como fui abandonada pelo meu pai na infância… Depois de
ouvir toda minha história ela me acolheu e, em um ato de sororidade, me trouxe para o
Cabaré para que eu pudesse me amar e acreditar em mim mesma. Me fez tão bem fazer
algo por mim!! Sinto que nos palcos me transformo numa mulher empoderada e forte como
sempre sonhei. Quando o Bruno descobriu ele disse que não se importava, e falou para
continuarmos juntos, mas tem ficado cada vez mais distante de mim. E isso me fez
questionar se ele não me ama ou se somente está confuso...E me falta coragem de
perguntar, pois não sei se aguentaria ouvir que ele não me ama mais. Só que não consigo
mostrar essa fraqueza para alguém que acredita tanto em mim como a Diamond...
Safira: Eu posso tentar. Mas tenho medo da dor que tudo isso pode causar.
Diamond: Como pode existir uma dor maior do que a que você vem enfrentando? Olha
para você, tudo isso te levou a voltar para os seus vícios, vícios esses que você tinha
deixado para trás e abraçado a sobriedade.
Safira: É a única saída que eu encontro para curar esse sofrimento.
Diamond: Safira, quanto mais elevado é o espírito, mais ele sofre. E cabe a você decidir
como lidar com as situações infelizes da vida.
Safira: Você tem razão. Sou unicamente eu quem posso trilhar o meu caminho e eu
prometo que as coisas serão diferentes. Eu não vou mais sofrer por ninguém. (Ambas dão
um abraço apertado como se fosse o mesmo do dia em que se conheceram)
Diamond: Agora eu preciso ir até a rua resolver uns assuntos importantes. Você promete
que ficará bem?
Safira: Eu prometo.
(Elas se abraçam novamente e Diamond dá um beijo na testa da amiga)

Purgo: Prefiro sentir-me vigiado do que sozinho, eu prefiro me sentir criticado do que
largado pela indiferença.
Ferno: Vivemos em um mundo onde os normais são loucos, e os loucos são normais.
Purgo: A solidão não quer dizer um isolamento, mas é a consciência que a minha dor é, de
fato ninguém é responsável pelo fracasso e ninguém é responsável pela minha felicidade.
Ferno: A vontade de estar junto é a vontade de produzir a dois um sentido. É um privilégio
amar e ser amado.
CENA II

(Lua está sozinha no hall da agência. Ela tira seus fones de ouvido e pega um pote de
remédios em sua bolsa. Ela analisa o pote por um bom tempo e depois olha para sua
barriga. Por fim, ela decide tomar um pouco dos comprimidos e guarda o pote
novamente, com receio de ter sido vista por alguém)
Lua: (Monólogo) Sinto como se estivesse dando passos para trás a cada vez que estou
nesse lugar. Eles me mandam fazer poses, vestir os menores tamanhos de roupas, arrumar
o meu cabelo nos salões mais caros, mas esquecem que aqui dentro há um coração. E é
nesse coração que eu penso quando tomo atitudes como essa. Carrego um filho em minha
barriga, mas como posso continuar minha carreira com isso em meu caminho? O que será
dos meus pais quando souberem que a filha perfeita deles não poderá ir até o desfile mais
importante do país por estar se sentindo enjoada? E o Christopher… como ele reagiria ao
saber que a modelo favorita dele está o decepcionando mais uma vez? Entre o dilema de
viver infeliz em cima dos palcos ou feliz construindo uma história diferente, me encontro
perdida.
(Kauan entra em cena, cabisbaixo, não diz uma palavra à Lua, ao invés disso, vai até
o banheiro. Ele começa a forçar sua garganta para vomitar até conseguir. Do outro
lado, Lua ouve tudo e apesar de querer esnobar a situação por não gostar do modelo,
ela fica preocupada)
(Kauan sai do banheiro com as mãos molhadas e passando o punho na boca)
Lua: Kauan, está tudo bem com você?
Kauan: Isso importa para você? Eu sempre me senti invisível e indiferente em sua
presença, então não sabia que você se importava.
Lua: Quando as coisas chegam no nível em que chegaram para você, eu me sinto sim na
necessidade de me preocupar. Não é justo eu me fingir de cega vendo você se auto
punindo dessa forma.
Kauan: Me auto punindo da mesma forma em que você também faz isso?
Lua: (Se assusta) E como você descobriu isso?
Kauan: (Pega do chão um dos comprimidos que Lua deixou cair) Acho que isso
explica.
Lua: (Respira fundo e se retrai) Todos nós temos segredos. As pessoas estão
acostumadas a achar que somos perfeitos, mas essa perfeição não existe. Eu só queria
conseguir a minha liberdade.
Kauan: Eu também queria, mas não posso. Preciso continuar aqui até conseguir encontrar
a minha irmã.
Lua: Ela trabalha aqui?
Kauan: Não. Mas eu sei de uma pessoa próxima a ela que está relacionada a todo esse
antro criado pelo Christopher.
Lua: (Olha para o relógio em seu pulso e corta o assunto) Desculpa, mas não estou
com cabeça para ouvir histórias agora. Temos que nos preparar para a sessão de fotos que
terá mais tarde, não quero ouvir mais xingamentos.
(Ela se levanta e logo em seguida Kauan também se levanta, seguindo a garota e
saindo de cena ao mesmo tempo)

Purgo: Às vezes, uma dor me desespera...


Ferno: Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Purgo: Cismo e padeço, neste outono, quando
Ferno: Calculo o que perdi na primavera.
Purgo: Versos e amores sufoquei calando,
Ferno: Sem os gozar numa explosão sincera..
Purgo: Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Ferno: Mais viver, mais penar e amar cantando!
CENA III

(Rubi está no camarim do cabaré se preparando para o show de mais tarde)


Rubi: (Para si mesma no espelho) Argh, mais uma noite e mais homens nojentos para eu
atender. A minha sorte é que são todos frouxos e nunca percebem quando seus cartões
somem das carteiras. Eu só preciso receber mais entorpecentes para colocar nas bebidas
dos clientes e voilà, Rubi entra em ação.
(Cristal aparece no camarim. Amedrontada, ela caminha em passos lentos até Rubi)
Cristal: Olá, aqui é o camarim, certo?
Rubi: Se isso aqui parece outra coisa para você… enfim, perdeu alguma coisa?
Cristal: Na verdade, não, desculpa. Eu me chamo Sammy e hoje é meu primeiro dia de
trabalho.
Rubi: Então é você a menina que a Diamond tanto comentou essa semana? Sinto muito
que tenha vindo parar aqui, mas seja bem-vinda.
Cristal: Obrigada… eu acho.
Rubi: Agora me conta como você veio parar aqui, sweetie. Não é possível que tenha vindo
por conta própria.
Cristal: Eu tentei uma vaga como modelo na agência Lux, mas fui rejeitada. De lá me
mandaram para cá garantindo que eu teria as mesmas regalias… e como estou precisando
muito de dinheiro, aceitei.
Rubi: Mas você aparenta ser tão novinha, que tristeza ter que te ver aqui, mas sei que
seremos grandes amigas. Inclusive, me chamo Rubi. Estou me preparando para o show de
mais tarde, aceita uma ajudinha?
Cristal: Seria ótimo!!
(Cristal larga seus pertences de lado e se senta em uma cadeira. Rubi fica ao seu lado
e começa a fazer uma maquiagem)
Rubi: Sammy, você sabe que não pode usar esse nome aqui, certo? Todas nós temos
nomes de pedras preciosas.
Cristal: Mas eu não tenho ideia do que usar…
(Passa as mãos pelos cabelos de Cristal como quem estivesse tramando algo)
Rubi: O que acha de 'Cristal'? Sinto que combina com você.
Cristal: É perfeito.
(Cristal esboça uma reação de falsa felicidade e se mostra insatisfeita com o
ambiente em que está. Enquanto Rubi continua arrumando a garota, a cena vai se
encerrando)

Purgo: Maldita sejas pelo ideal perdido!


Ferno: Pelo mal que fizeste sem querer!
Purgo: Pelo amor que morreu sem ter nascido!
Ferno: Pelas horas vividas sem prazer!
Purgo: Pela tristeza do que eu tenho sido!
Ferno: Pelo esplendor do que eu deixei de ser!.

CENA IV

(O cenário da agência volta e dessa vez Lua e Kauan estão com outras roupas,
exaustos após uma sessão de fotos para uma revista.)
Kauan: Achei que não íamos terminar nunca de fazer poses para aquele fotógrafo.
Lua: Só você? Essas fotos sempre me deixam exausta, odeio quando pedem para eu
encolher a barriga.
(Jaqueline entra em cena segurando duas pastas e entrega cada uma nas mãos dos
modelos)
Jaque: A pedidos do Christopher, aqui está a pasta com o cronograma de dietas para essa
semana. Ele implora para que vocês estejam impecáveis, então cumpram a agenda com
cautela. (Ela olha para os olhos dos modelos e em seguida começa a olhar para as
laterais do palco, procurando por câmeras de segurança)
Jaque: (Monólogo) Até quando? Até quando terei que segurar que me sinto incomodada
com a forma em que os modelos são tratados? E o pior é ter a sensação de que também os
trato de uma forma ruim. Mas não há muito o que fazer, é meu trabalho, eu preciso do
dinheiro que recebo aqui e se eu disser algo a eles que fuja do meu propósito nessa
agência, o Christopher me fará lavar a minha boca com sabão para me arrepender do que
eu possa ter dito a eles. É uma toxicidade que eu preciso aceitar para não acabar solitária e
afundando em meus próprios pensamentos.
Kauan: (Se assusta e fica irritado) Para que tudo isso? Você realmente acha que vai dar
tempo até o desfile?
Jaque: Kauan, você sabe que tem que dar, é assim que funciona.
Lua: Ele quer que fiquemos impecáveis e que rendamos dinheiro. Acho que é o certo.
Kauan: O certo..
Kauan: (Monólogo) É como se colocassem dois olhos sobre uma mesa e dissessem a mim
que sou cego. Isso é aquilo que vê, essa é a matéria que vê. Toco os dois olhos sobre a
mesa, lisos, tépidos ainda, arrancaram há pouco, gelatinosos, mas não vejo o ver.
Lua: Aí Kauan, há sonhos que devem permanecer nas gavetas, nos cofres, trancados até o
nosso fim...
Kauan: Sonho? Ando me questionando se uma coisa construída em algo tão efêmero pode
ser considerada um sonho... Ou uma prisão?
Jaque: Bom, preciso retornar ao meu trabalho. Qualquer dúvida estarei em minha sala.
(Jaque dá as costas, respira fundo e sai de cena)

CENA V

(Christopher entra na sala e assusta seus contratados)


Christopher: (Irônico) Ora, ora, nossos dois modelos exemplares estão juntinhos hoje.
Posso participar da conversa?
Lua: Não estávamos conversando e sim esperando você chegar.
Christopher: Então ótimo. Aproveitando que estão os dois aqui, acho que precisamos de
uma conversa.
Christopher: (Puxa Lua pelos braços) Você é uma completa inútil mesmo, o fotógrafo me
enviou uma mensagem reclamando que você não estava se sentindo bem durante a
sessão. Está com mal estar por acaso?
Lua: Você está me machucando. Me solta.
(Christopher solta o braço dela e começa a rir)
Christopher: Abusadinha, nunca aprende mesmo. E você (vira para o Kauan) onde acha
que irá chegar estando tão gordo dessa forma? Só ter o rosto bonito não vai te levar a lugar
algum.
Kauan: Gordo? Onde que você está vendo isso? Eu estou fazendo de tudo para me
encaixar nos padrões que você pede, mesmo não sendo necessário.
Christopher: Não é necessário lá fora, na rua, onde você está acostumado. Aqui dentro
quem faz as regras sou eu e se você quer continuar aqui, siga. Agora se quiser sair, vá e
aproveite sua solidão, porque ninguém nunca mais vai te dar credibilidade nessa vida.
(Kauan encara Christopher e vira as costas, saindo correndo após ouvir aquelas
duras palavras).
Lua: Você não acha que está sendo duro demais?
Christopher: Não acho. E você, quando irá fazer a plástica no nariz que eu pedi há um
mês?
Lua: Eu não quero e eu já te disse isso.
Christopher: Não seja dramática, é só uma plástica. Ninguém irá te amar se você não for
atraente.
(Christopher usa seu poder de persuasão e acaricia o rosto de Lua. Enquanto isso, a
cena vai se encerrando com eles naquela posição)

Purgo: Quem sou eu além daquele que fui?


Ferno: Quem sou eu além daquele que aqui está?
Purgo: Sou vários, menos este.
Ferno: O que aqui estava, jamais está e jamais estará
Purgo: Sou eu o que fui e cada vez mais o que quero ser. Mudo, caio, ergo, sumo, apareço,
bato, apanho, odeio, amo…
Ferno: Mas no momento seguinte será diferente.
Purgo: Posso estar no caminho da perfeição cheio de imperfeições.
Ferno: Sou o que você vê… ou o que quero mostrar.
Purgo: Mas se olhar por mais de um segundo, verá vários “eus”, eu o que fui, eu o que sou
e eu o que serei.

CENA VI

(Bianca está no bar do cabaré mexendo no celular enquanto está inquieta,


preocupada com algo)
Bianca: (Fala para si mesma) Se controla, você precisa se controlar…
(Rubi entra em cena ao lado de Cristal, que está completamente transformada)
Rubi: Pelo visto as coisas andam mal por aqui.
Bianca: (Se assusta) Rubi! Não apareça assim sem avisar antes. Quem é essa garota?
Rubi: Ela é a Cristal, a mais nova imagem adotada para o cabaré.
Cristal: Muito prazer. Você também é dançarina?
Bianca: Não, não. Perdão, sou a Bianca e sou somente a bartender.
Rubi: Uma ótima bartender, inclusive. É graças aos drinks dela que eu consigo rios de
dinheiro em uma única noite.
(Bianca fica sem graça e Rubi percebe algo estranho)
Rubi: Eu conheço essa cara, sweetie, tem algo te incomodando hoje. Desembucha e me
serve um drink enquanto isso. Serve um para a Cristal também.
Cristal: Ah, não, não acho bom beber antes do expediente.
Rubi: Querida, aqui tudo é liberado.
(Cristal fica sem graça e Bianca traz as bebidas)
Bianca: Rubi, eu só estou ansiosa porque hoje finalmente irei me abrir sobre um dos
segredos que guardei durante anos. E me abrirei para a pessoa em que mais confio no
mundo, só estou torcendo para que as coisas deem certo.
Rubi: Anda guardando segredinhos? Ui, me conta!
Bianca: Não, eu não posso, desculpa.
Cristal: Rubi, não seja inconveniente.
Rubi: (Se irrita) Agora as duas vão querer se voltar contra mim por eu apenas querer saber
sobre algo que foi mencionado? Ah, mas eu também não faço questão, afinal, também
guardo meu segredo a sete chaves e vocês nunca o descobrirão.
(Rubi ri e dá goles em seu drink enquanto seus olhos maliciam o que comete com seus
clientes)
Bianca: Eu preciso ir ao banheiro, fiquem de olho nas bebidas até eu voltar, por favor.
(Bianca sai e as duas se aproximam)
Cristal: Não irá me contar sobre esse segredo? Eu preciso ficar por dentro das coisas para
chegar ao seu nível.
Rubi: Tudo bem, eu conto, mas isso não sai daqui. Enfim, eu aplico alguns golpes nos
caras que vão para a red room comigo e roubo seus cartões de crédito.
Cristal: (Surpresa) E você não tem medo de ser denunciada para a polícia?
Rubi: Darling, e por acaso eu tenho algo a perder para ter medo? Olha para mim, olha para
nós, presta atenção no lugar em que estamos. Um pouco de diversão nunca é demais.
(Rubi volta a persuadir Cristal com toques em seu cabelo e pele, até que a cena se encerra)

Ferno: No frio do inverno (ou na solidão) buscamos ficar mais próximos uns dos outros, o
que, inevitavelmente, causará dor para nós e para os próximos, graças aos espinhos.
Purgo: Apesar da solução parecer simples, se nos afastamos, nos sentimos isolados.
Ferno: O que eu penso, não muda nada além do meu pensamento, o que eu faço a partir
disso, muda tudo!
Purgo: Pessoas elevadas falam de ideias; pessoas medianas falam de fatos; pessoas
vulgares falam de pessoas.
Ferno: Provavelmente a indiferença seja a maior e mais cruel das maldades humanas, pois
ela significa que eu sequer estou lhe vendo.
Purgo: Todo fracasso tem seu motivo, como o sucesso tem seu custo

CENA VII

(Christopher está em seu escritório mexendo em seu notebook. Jaqueline aparece


por trás)
Jaque: Senhor Christopher, há uma visita pedindo permissão para entrar.
Christopher: Olha só, finalmente aprendeu a cumprir com suas obrigações como
secretária. Quem é que quer me ver?
Jaque: (Desconfortável) É a Diamond.
Christopher: E por que você está a fazendo esperar, sua inútil? Sabe que ela não precisa
de autorização para vir até aqui.
Jaque: Mil perdões. Estarei mandando entrar.
(Diamond entra e caminha até eles)
Diamond: Não precisa, já estou aqui.
(Christopher sorri ao ver a parceira e faz sinal com as mãos para Jaque sair da sala,
ela obedece e sai da cena)
Christopher: Diamond, a que devo sua presença?
Diamond: Vim tratar de um assunto importante e de extrema urgência.
Christopher: Então sente-se, me diga no que posso ajudá-la.
(Diamond se senta e coloca sua bolsa apoiada em seu colo)
Diamond: Serei direta e não tomarei seu tempo. Estou precisando de ajudas financeiras
para continuar com o cabaré. As contas estão vindo muito altas e nosso público tem
diminuído, não estou conseguindo arcar com todas as despesas.
Christopher: Me desculpa, querida, mas você está me pedindo dinheiro?
Diamond: Eu não pediria se não fosse realmente urgente, acredite.
Christopher: Diamond, eu fico tristíssimo pela sua falência mas eu não posso te ajudar.
Estou no meio de uma temporada de desfiles, cheio de assuntos importantes e coisas a
resolver. A Lux é uma empresa séria, eu não posso ficar abrindo o caixa pra qualquer
probleminha que aparece, eu sinto muito.
(Christopher faz sinal para Diamond sair. Ela se levanta e encara seu sócio, dando as
costas e saindo em passos ferozes)

CENA VIII
(Christopher continua na sua sala e volta a mexer em seu notebook enquanto começa
a falar sozinho)
Christopher: Como eu vou fazer para explicar que não posso ajudá-la porque também
estou indo à falência? Esse desfile é minha única esperança de reerguer minha fortuna. Eu
preciso que a Jaqueline me traga uma água antes que eu passe mal.
Christopher: (Grita) Jaqueline, me traz um copo d’água, urgente!
(Bruninho entra discretamente no escritório e abraça Christopher por trás)
Bruninho: Ooooi!
Christopher: Garoto!
Bruninho: Te atrapalho?
Christopher: Claro que não, mas você está louco de aparecer aqui assim sem me avisar?
Estou no meu horário de trabalho!
Bruninho: Ah, me desculpa, Senhor Importante, eu volto em outra hora.
Christopher: Mas nem pensar, Senhor Mimadinho! Agora que você já está aqui, vai ficar.
(Ambos dão um selinho)
Bruninho: Olha só, eu te trouxe um presente.
(Entrega rosas nas mãos de Christopher, que começa a procurar algo entre elas e
acaba encontrando dois pinos de cocaína)
Christopher: Só isso?
Bruninho: Foi tudo o que eu consegui dessa vez, mas vou voltar e pegar mais depois.
Christopher: (Ironiza) Como pode um traficante de drogas sequer ter drogas para
repassar? Está precisando de algumas aulinhas. (Puxa Bruninho para mais perto e beija
ele)
Christopher: Ah, já ia esquecendo… (Tira dinheiro do bolso e entrega nas mãos do
ficante) aqui está.
Bruninho: (Pega o dinheiro) Obrigado por me apoiar. Acho que você é o único que
acredita em mim…
Christopher: Mas, e a Safira? Ela não acredita em você?
Bruninho: Nem motivos para ela acreditar em mim eu dou. Ela não sabe que eu estou
traficando drogas e já te disse sobre isso…
Christopher: E ela nem vai saber, porque eu já disse que te tirarei dessa vida. Só espera
as coisas melhorarem que eu vou te dando tudo aquilo que prometi…
Bruninho: Tudo o que você tem me dado até agora já me deixa contente.
Christopher: (Passando a mão pelo corpo do Bruninho) O que acha da gente ter uma
rapidinha aqui agora, já que está aqui?!
Bruninho: Acho que é um pouco arriscado.
Christopher: Mas o perigo é o que torna tudo muito mais gostoso. Não é excitante imaginar
alguma modelo me vendo por cima de você e tendo que engolir a reação por saber que
será demitida se contar o que viu para alguém?
Bruninho: Não seria tão excitante se a sua secretaria visse. Você sabe que ela me conhece
e ela é amiga de uma das meninas daquele cabaré podre. Qualquer descuido e uma das
duas conta pra Safira e você sabe que eu não quero isso.
Christopher: (Ironiza) A Safira não irá saber de nada, e se souber, o que tem? Eu consigo
a convencer de sermos um trisal. Não é mais gostoso?
(Ambos riem e começam a esquentar o clima. Os dois tiram suas camisas e começam
a se tocar. Entre beijos e amassos, derrubam as flores no chão e os pinos caem junto.
Do outro lado, Diamond volta em cena e se choca com o que está sendo visto. Ela
fica paralisada e logo se aproxima dos rapazes)
Diamond: Ora, ora, ora, o que está acontecendo aqui?!
Christopher: Diamond! O que você pensa que está fazendo aqui? (Chris começa a ficar
nervoso) Você não tinha ido embora?
Diamond: Eu tinha, mas voltei pois tinha esquecido de te contar outra, sobre a Sammy.
Lembra dela? (Ri)
Bruninho: Droga… Christopher, eu disse que era arriscado.
(Ambos vestem suas roupas)
Christopher: Silêncio, Bruno. Olha Diamond, eu acho que é melhor você esquecer o que
viu aqui agora. Ninguém pode saber que eu faço essas coisas dentro do meu escritório, a
minha reputação não pode ficar manchada dessa forma.
Diamond: Mas não é com você que estou tão preocupada, e sim com o Bruno. (Olha para
Bruninho) Afinal, você não tem vergonha de deixar a Safira sofrendo enquanto você a está
traindo com um homem?
Bruninho: Eu estou errado, mas tenho meus motivos…
Christopher: Diamond, por favor, vamos ter uma conversa outra hora.
Diamond: Podemos ter essa conversa, mas agora é com outro assunto. Eu quero que até
amanhã você me dê 500 mil reais, assim, eu não conto nada para a mídia e também não
digo nada a Safira, todos saem ganhando. Não é ótimo?
Christopher: Você só pode estar maluca! (Fica irritado e Bruninho o segura para não
bater em Diamond)
Diamond: Se é isso que você acha… (Ela sorri e dá as costas se retirando do local)
Bruninho: Droga, droga, droga. Tá vendo o que você fez? Eu te disse que isso ia acontecer
mas você me ouviu?! Não! Isso tudo é culpa sua.
Christopher: Culpa minha? Mas foi você que veio aqui me ver!
Bruninho: Te ver, não transar com você. Mas você não consegue se controlar não é
mesmo? É claro que ia dar nisso e agora a Safira vai descobrir tudo.
Christopher: Minha carreira agora entrou em jogo e você está preocupado com a Safira?
Sinceramente, sai daqui. Vá atrás dela, já que é sua única preocupação.
Bruninho: (Respira fundo) Ah claro, porque como sempre, você só pensa em si mesmo.
(Ele sai da sala irritado e deixa Christopher sozinho até a cena encerrar)

Ferno: Pessoas que foram magoadas demais pela vida.


Purgo: Pessoas que viveram o abandono ou a frustração dos seus sonhos mais caros, se
perdem em total falta de autoestima, caindo na depressão mais profunda, sem forças para
reagir…
Ferno: Para todas estas pessoas, o caminho mais rápido para a “luz no final do túnel” é o
autoperdão.
Purgo: É a prática diária e recorrente do perdão pelas ilusões que criaram. Perdão pelas
vezes em que acreditaram demais nas pessoas.
Ferno: Perdão pela falta de atenção para com as próprias emoções. Perdão pelas
derrapadas emocionais que viveu.
Purgo: O sol, pronto para aquecer o seu coração, cheio de esperança pelo porvir.
Ferno: Afirmando que é tempo de reconstruir o castelo, pedra por pedra.
Purgo: E para começar, é só sorrir.

CENA IX

(Bianca está fazendo os drinks, Safira está no cabaré em um ambiente sem a


presença de suas colegas)
Safira: (Pensa alto) Onde que você se meteu Bruno… eu tenho que conversar com você
antes do maldito show começar. É hoje ou nunca mais vou querer te ver em minha frente!
(Ela fica apreensiva, até que Bruninho entra com uma aparência visivelmente
cabisbaixa e se senta ao lado da namorada)
Safira: Nossa, achei que nunca mais iria te ver!!
Bruninho: Não sei que tipo de pensamento irreal é esse?
Safira: Você sumiu faz dois dias. Isso é irreal?
Bruninho: Você sabe que eu fiquei ocupado com as tarefas da faculdade...
Safira: Desculpas novas, é? Você sempre aparece com uma diferente...
Bruninho: Não há motivos para falar assim!
Safira: É que estou cansada de te esperar e você nunca aparece!! Tenho me deitado
sozinha todas as noites e fico só me perguntando porque você me deixa sozinha...
Bruninho: Giovanna…
Safira: Me chame de Safira, por favor! Estou no meu local de trabalho e é assim que quero
ser chamada a partir de agora.
Bruninho: Sabe que não gosto do que você faz...
Safira: Eu amo me apresentar e todos aqui me acolheram! Além disso, você sabe que não
tenho outra renda para me manter...
Bruninho: Está jogando algo na minha cara? Você sabe que eu não tenho condições de
manter você no momento...
Safira: Nunca te pedi isso!
Bruninho: Você podia trabalhar com outra coisa...Não faz bem pra nós, você trabalhando
aqui. O que meus amigos diriam?
Safira: Amigos? Aqueles que você nunca me apresentou?...Bruno, preciso que me
responda com sinceridade....você ainda me ama?
Bruninho: (Fala com o público) A resposta que um dia estava na ponta da língua, hoje é
difícil de sair da minha garganta. Quem um dia eu amei, hoje estou decepcionado com
minhas atitudes. Ao mesmo tempo em que eu quero estar com a Giovanna, e amá-la
incondicionalmente, eu sinto que quando ela se transforma em Safira um obstáculo é
colocado em nosso caminho. Os olhares dos outros caras que ela atrai me deixam
inseguro… Mas, ao mesmo tempo, se ela ceder aos meus pedidos, viveríamos de quê?
Teria que largar de Christopher e perderia tudo o que eu conquistei com ele...O Christopher
é minha válvula de escape, dou o que ele quer e consigo viver como eu quero. A Giovanna
me dá amor, afeto e cuida de mim, mas o Chris me dá o dinheiro e promessas que podem
me fazer subir na vida!
Safira: Isso é sério, não consegue nem responder? Bom, eu vou porque está na hora do
meu show....
Bruninho: Espera que eu prometo que as coisas vão melhorar....
(Incrédula, Safira dá as costas e se segura para não chorar e borrar a maquiagem)

CENA X

(Bianca se aproxima de Bruninho e olha ao seu redor para ver se ambos estão
sozinhos ali)
Bianca: Você trouxe a erva que eu pedi?
Bruninho: Não e nem iria trazer. Você está louca? Você nunca usou essas coisas antes.
Bianca: (Fala para o público, caminhando pelo palco) E tudo isso por causa de um
sentimento que eu não escolhi ter. Amar outra pessoa nos faz sentir vivos, mas o que
acontece quando esse amor é mantido em segredo, escondido a sete chaves? Mas eu
aprendi. Aprendi a não ter medo de expor o que sinto dentro de mim, e apenas deixo com
que as batidas do meu coração me guiem para a minha liberdade. Finalmente chegou o
momento, o momento de colocar as emoções cara a cara e deixar com que o destino
escreva o que está reservado.
Bianca: Mas eu precisava disso para ter coragem de chegar na Jaque.
Bruninho: Seja mulher e faça isso por conta própria.
(Bianca fica apreensiva mexendo em seu celular e logo Jaque aparece)
Bruninho: Por falar nela…
Bianca: Jaqueline?
Jaque: Bia, o que houve?
Bruninho: (Irônico) Oi Jaque!!
Jaque: O que ele faz aqui?
Bruninho: Como pode falar com um amigo assim?
Jaque: (Fala para Bruninho) Com licença, não estou falando com você. (Fala para
Bianca) Se ele ficar aqui vou embora agora.
Bianca: (Fala para Bruninho) Será que você pode nos dar licença?
Bruninho: Desculpa! Que mau humor é esse?
Jaque: (Acusando) Tenho certeza que você sabe quem é o culpado né? Ou quer que eu
grite o nome aqui?
Bruninho: Tá bom, Tá bom, já to indo embora. Espero que muitos segredos sejam
revelados nessa conversa.
Jaque: O que ele quis dizer?
Bianca: Não é nada! Ele é só um babaca. Estava te esperando porque não tenho muito
tempo.
Jaque: Ele me tira do sério. Cara ridículo, folgado. Enfim, demorei porque eu saí um pouco
mais tarde do trabalho hoje, nem te conto o que acontece essa semana por lá e parte disso
é culpa dele.
Bianca: Imagino. Tem um tempo que não nos falamos né? Nossos empregos estão nos
consumindo bastante.
Jaque: Sim, (Respira fundo) estou esgotada. Mas, e por aqui?
Bianca: Ah mesma coisa de sempre. Quer uma bebida para relaxar?
Jaque: Você sabe que eu não bebo essas coisas.
Bianca: Desculpa, só estou sendo educada. Enfim, te chamei aqui porque queria muito te
ver, mas também quero ter uma conversa séria.
Jaque: Ah, então pode falar, sou toda a ouvidos.
Bianca: (Respira fundo) Jaque, desde que eu te conheci, sabia que um sentimento
diferente ocorria. Para mim, nossa amizade nunca foi como as outras, até que eu me dei
conta de que eu gosto de você de uma forma diferente, não é só esse sentimento entre
amigas.
Jaque: Um sentimento de irmãs, você quer dizer?
Bianca: (Receosa) Não, (Pega na mão dela) muito mais do que isso. Eu sou
completamente apaixonada por você (Jaque retira sua mão) e venho mantendo isso em
segredo com medo da sua reação. Eu nunca contei a ninguém sobre esse meu outro lado,
então me sinto apreensiva, mas sei que estou fazendo o que é certo.
Jaque: Apaixonada por mim? (Surpresa) Espera, você gosta de mulheres? Disso eu
realmente não sabia.
Bianca: Sim, mas…
Jaque: Desculpa, mas isso não faz sentido para mim. Eu não gosto de você dessa forma e
nem sei o que fez você pensar que eu corresponderia. Como você pôde fingir ser minha
amiga, só pra me seduzir desse jeito?
Bianca: Não foi assim…
Jaque: Eu sinto muito Bianca, mas eu não estava esperando por isso. Preciso ir embora.
Bianca: Fica só mais um pouco, por favor.
(Jaque começa a sair e se esbarra com Kauan que está entrando no local)
Jaque: Kauan, o que você está fazendo aqui?
Kauan: É uma longa história, Jaqueline.
Jaque: Tudo bem, esquece, eu tenho que ir embora desse lugar.
(Jaque saí e Bianca congela)

CENA XI

(Safira entra e pergunta pra Bianca se viu a Rubi, Kauan fica encarando)
Safira: Você viu a Rubi?
Bianca: Ela estava aqui, mas saiu há pouco tempo.
Safira: E aquele rapaz ali parado, quem é?
Bianca: Não sei... Vou lá atrás pegar gelo, já volto.
Safira: (Vai até Kauan) Oi? Você está precisando de ajuda?
Kauan: (Admirando) Nossa...(fica em silêncio por um tempo) você realmente tem os
olhos dele...
Safira: Não entendi… A gente se conhece?
Kauan: Desculpe, estou sendo rude.. Meu nome é Kauan, Giovanna… sei que você não me
conhece, mas eu venho te acompanhando faz um tempo...
Safira: É um cliente aqui do Cabaré? Como sabe o meu nome?
Kauan: Não, não! É um pouco mais complicado que isso… Eu… eu sou seu irmão...
Safira: Meu irmão?....(fica um tempo em silêncio) O que você está fazendo aqui? Como
foi que você me achou?
Kauan: Eu venho te acompanhando faz um tempo. Sempre quis falar com você, mas só
agora consegui vir até aqui...
Safira: Sempre soube que tinha um irmão, mas nunca pensei que um dia ia te conhecer... O
que você quer comigo?
Kauan: Desde criança sempre pensei de como seria bom ter uma irmã para ser minha
amiga, como irmãos devem ser.
Safira: (Ri) Isso é uma piada né? Você sabe que foi por causa de você e da sua mãe que
meu pai me abandonou, né? Depois disso minha mãe adoeceu e eu fiquei sozinha no
mundo....Por que eu iria querer qualquer coisa com você?
Kauan: Mas, eu não tenho culpa disso… Você acha que foi fácil para mim?
Safira: Não sei como foi para você, mas foi você quem o nosso pai escolheu! Olha, não
tenho tempo para isso, já estou lidando com meus próprios problemas e não preciso de
mais um agora!
Kauan: Então você está me rejeitando?
Safira: Eu nunca te aceitei para poder te rejeitar… A verdade é que o único sentimento que
tenho por você é raiva!!
Kauan: Você acha que as coisas foram fáceis para mim, mas não foram... Será que não
podemos pelo menos nos conhecer?
Safira: Não sei… Sinceramente não consigo ver isso dando certo...
Kauan: Me dê uma chance!!
Safira: Desculpa, eu não confio em você…
(Safira aproveita a ausência de Bianca no bar e pega uma bebida, bebendo quase tudo de
vez. Kauan se preocupa ao ver a irmã naquele estado)
Kauan: Está tudo bem?
Safira: (Grita) Me deixe em paz! (Ela sai irritada e deixa Kauan sozinho e sem
respostas)

CENA XII

(Rubi está fumando na porta do cabaré e Cristal está ao seu lado. Elas veem Lua
andando em direção a elas e comentam)
Rubi: E essazinha vindo aí, quem é?
Cristal: Eu acho que já a vi em algum lugar…
Lua: Boa noite… aqui que é o cabaré da Diamond?
Rubi: É sim, precisa de ajuda?
Cristal: Lua! É você mesmo? Meu Deus, eu não acredito! (Se entusiasma)
Lua: Sim, sou eu, mas eu não quero tanta euforia com meu nome. Eu só vim procurar a
dona daqui.
Rubi: Queridinha, no momento ela não se encontra, mas anda logo, fala o que veio fazer
aqui.
Lua: Eu vim atrás de uma proposta de emprego. Queria saber se ela me aceita aqui por
pelo menos uns cinco meses…
Cristal: E você vai largar a carreira de modelo para ficar aqui? Só pode estar doida, eu faria
de tudo para estar em seu lugar!
Lua: Então vá! Fique no meu lugar, sofra as mesmas coisas que eu sofro e tente aguentar
tudo isso calada. Eu não devo satisfações a ninguém, eu só quero essa oportunidade de
emprego e os motivos não são do seu interesse.
Rubi: Aí sweetie se acalma. A Diamond não está aqui, mas nós estamos. Vem trabalhar
com a gente, boba, você não precisa de ordens porque é uma menina lindíssima. (Rubi
persuade Lua da mesma forma em que estava fazendo com Cristal. Cristal fica
enciumada mas acaba se calando)
Lua: Eu sei disso. E é por isso que quero vir para cá, é o jeito mais fácil de conseguir
dinheiro sem precisar sofrer nas mãos de um patrão estúpido.
Rubi: (Monólogo) O dinheiro… o dinheiro compra ansiolíticos, mas não a capacidade de
relaxar. Compra um quadro de pintura, mas não a capacidade de contemplar. Compra
seguros, mas não a habilidade de proteger a emoção. Compra lentes de contato, mas não a
capacidade de ver os sentimentos não expressos. O dinheiro compra um manual de regras
para educar quem amamos, mas não compra um manual de vida.
(A cena se encerra com as três personagens congeladas)

Purgo: O mundo acontece. O mundo gira.


Ferno: As pessoas importantes assinam contratos, ganham dinheiro.
Purgo: As pessoas simples lutam por um lugar na condução, um lugar no mundo.
Ferno: Estão todos lutando. Estão todos ganhando dinheiro.
Purgo: Estão todos fazendo algo mais importante e mais maduro do que suspirar mesmo
sem tem ar
Ferno: Somente pensando no momento de se superar.

CENA XIII

(Há um ambiente onde existem somente duas cadeiras posicionadas. Diamond é a


primeira a aparecer e se senta em uma das cadeiras. Logo em seguida, Christopher
também aparece e se senta na outra cadeira)
Christopher: Acho que chegou a hora da verdade.
Diamond: Porque me chamou até aqui? Sabe que não posso ficar muito tempo, o show
começa em trinta minutos.
Christopher: Não se preocupe com o show, eu sei que ele estará em bons comandos. A
preocupação agora é com nós dois. Você me chantageou dizendo que iria contar para a
mídia que eu transo dentro da agência, e também disse que contaria a Safira que o Bruno
está a traindo. Mas uma coisa eu não entendi… desde quando você se tornou essa pessoa
tão podre?
Diamond: Simples, desde que eu entendi que a partir do momento em que as pessoas nos
fazem de idiotas, nós devemos usar nossos poderes para espetá-las com seus pontos
fracos.
Christopher: (Ironiza) Isso não é muito cruel da sua parte?
Diamond: Cruel é ver o que você está fazendo com as pessoas! Não sente vergonha?
Christopher: Vergonha?! Eu não sou uma pessoa cruel e jamais fui. Se eu fosse cruel,
então porque teria um traficante de drogas do meu lado? Ah, é do Bruninho que estou
falando, ou não sabia disso também?!
Diamond: (Chocada) Não sabia, mas…
Christopher: Mas agora você sabe! E vai usar isso para chantagear o garoto também? (Ri)
Você acha que é fácil querer passar por cima de mim.
Diamond: E você acha que eu me intimido por você sempre se sentir superior a todos?
Christopher: Não! Mas é que você não entende. Se eu cair, você também cai junto. Temos
nossa parceria de anos e só nós dois sabemos do esquema de prostituição que acontece
quando eu mando uma garota pra trabalhar no seu cabaré. Se a mídia souber sobre meu
escândalo, eu também contarei sobre o seu.
Diamond: (Apreensiva) Nisso você tem razão, mas como eu posso seguir com meus
trabalhos sem dinheiro? Eu não vou conseguir manter o cabaré por muito tempo e eu lutei a
vida inteira por aquilo.
Christopher: Não é nenhum mal. (Pega sua maleta e entrega nas mãos de Diamond)
Aqui tem 50 mil reais somente para você. Pegue e faça com essa quantia o que achar
necessário.
Diamond: Eu nem acredito nisso. Apesar de tudo, ainda somos parceiros e mesmo que nos
machuquemos quando estamos juntos, nenhum inverno pode nos separar.
(Ambos se levantam e se aproximam)
Christopher: Você é mais do que minha sócia, é minha amiga.
(Christopher dá um sorriso falso e abraça Diamond. Nesse momento, ele tira um
facão de seu bolso e aponta para as costas de Diamond, que não percebe o
movimento dele. A cena se encerra em total mistério sobre o que aconteceu a seguir,
deixando para que o público crie suas teorias)

ENCERRAMENTO

(Ferno e Purgo surgem das laterais do palco e caminham até o meio dele)

Purgo: As necessidades sociais, a solidão e a monotonia impulsionam os “porcos-espinho”


a se reunirem, apenas para se repelirem devido às inúmeras características espinhosas e
desagradáveis de suas naturezas.
(Enquanto eles falam, os demais personagens vão surgindo no palco para criar a
escultura do porco-espinho)
Ferno: A distância moderada que os homens finalmente descobrem é a condição
necessária para que a convivência seja tolerada; é o código de cortesia e boas maneiras.
Purgo: Quando solitários, somos livres, porém passamos frio.
Ferno: A dois ou em grupo, as diferenças causam dores.
Purgo: As vezes, teríamos de achar uma distância segura…
Ferno: Que trouxesse o calor, e evitasse o ataque.
(A peça se encerra com a escultura devidamente montada)

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