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TEATRO PROFISSIONALIZANTE
M01 - DOMINGO MANHÃ
PARÁBOLA DO PORCO-ESPINHO
PRÓLOGO
CENA I
(Triste, Safira está sozinha no camarim do cabaré. Ela fica congelada e logo em
seguida descongela e começa a olhar para os lados, reparando se está sendo
observada por alguém. Ao notar que só tem ela ali em sua mais vaga solidão, tira de
sua bolsa uma garrafa de bebida e começa a tomar goles. Algum tempo depois,
Diamond entra no ambiente e se desespera ao ver a cena em sua frente. Ela parte
para cima de Safira e tenta tirar a garrafa das mãos dela)
Purgo: Prefiro sentir-me vigiado do que sozinho, eu prefiro me sentir criticado do que
largado pela indiferença.
Ferno: Vivemos em um mundo onde os normais são loucos, e os loucos são normais.
Purgo: A solidão não quer dizer um isolamento, mas é a consciência que a minha dor é, de
fato ninguém é responsável pelo fracasso e ninguém é responsável pela minha felicidade.
Ferno: A vontade de estar junto é a vontade de produzir a dois um sentido. É um privilégio
amar e ser amado.
CENA II
(Lua está sozinha no hall da agência. Ela tira seus fones de ouvido e pega um pote de
remédios em sua bolsa. Ela analisa o pote por um bom tempo e depois olha para sua
barriga. Por fim, ela decide tomar um pouco dos comprimidos e guarda o pote
novamente, com receio de ter sido vista por alguém)
Lua: (Monólogo) Sinto como se estivesse dando passos para trás a cada vez que estou
nesse lugar. Eles me mandam fazer poses, vestir os menores tamanhos de roupas, arrumar
o meu cabelo nos salões mais caros, mas esquecem que aqui dentro há um coração. E é
nesse coração que eu penso quando tomo atitudes como essa. Carrego um filho em minha
barriga, mas como posso continuar minha carreira com isso em meu caminho? O que será
dos meus pais quando souberem que a filha perfeita deles não poderá ir até o desfile mais
importante do país por estar se sentindo enjoada? E o Christopher… como ele reagiria ao
saber que a modelo favorita dele está o decepcionando mais uma vez? Entre o dilema de
viver infeliz em cima dos palcos ou feliz construindo uma história diferente, me encontro
perdida.
(Kauan entra em cena, cabisbaixo, não diz uma palavra à Lua, ao invés disso, vai até
o banheiro. Ele começa a forçar sua garganta para vomitar até conseguir. Do outro
lado, Lua ouve tudo e apesar de querer esnobar a situação por não gostar do modelo,
ela fica preocupada)
(Kauan sai do banheiro com as mãos molhadas e passando o punho na boca)
Lua: Kauan, está tudo bem com você?
Kauan: Isso importa para você? Eu sempre me senti invisível e indiferente em sua
presença, então não sabia que você se importava.
Lua: Quando as coisas chegam no nível em que chegaram para você, eu me sinto sim na
necessidade de me preocupar. Não é justo eu me fingir de cega vendo você se auto
punindo dessa forma.
Kauan: Me auto punindo da mesma forma em que você também faz isso?
Lua: (Se assusta) E como você descobriu isso?
Kauan: (Pega do chão um dos comprimidos que Lua deixou cair) Acho que isso
explica.
Lua: (Respira fundo e se retrai) Todos nós temos segredos. As pessoas estão
acostumadas a achar que somos perfeitos, mas essa perfeição não existe. Eu só queria
conseguir a minha liberdade.
Kauan: Eu também queria, mas não posso. Preciso continuar aqui até conseguir encontrar
a minha irmã.
Lua: Ela trabalha aqui?
Kauan: Não. Mas eu sei de uma pessoa próxima a ela que está relacionada a todo esse
antro criado pelo Christopher.
Lua: (Olha para o relógio em seu pulso e corta o assunto) Desculpa, mas não estou
com cabeça para ouvir histórias agora. Temos que nos preparar para a sessão de fotos que
terá mais tarde, não quero ouvir mais xingamentos.
(Ela se levanta e logo em seguida Kauan também se levanta, seguindo a garota e
saindo de cena ao mesmo tempo)
CENA IV
(O cenário da agência volta e dessa vez Lua e Kauan estão com outras roupas,
exaustos após uma sessão de fotos para uma revista.)
Kauan: Achei que não íamos terminar nunca de fazer poses para aquele fotógrafo.
Lua: Só você? Essas fotos sempre me deixam exausta, odeio quando pedem para eu
encolher a barriga.
(Jaqueline entra em cena segurando duas pastas e entrega cada uma nas mãos dos
modelos)
Jaque: A pedidos do Christopher, aqui está a pasta com o cronograma de dietas para essa
semana. Ele implora para que vocês estejam impecáveis, então cumpram a agenda com
cautela. (Ela olha para os olhos dos modelos e em seguida começa a olhar para as
laterais do palco, procurando por câmeras de segurança)
Jaque: (Monólogo) Até quando? Até quando terei que segurar que me sinto incomodada
com a forma em que os modelos são tratados? E o pior é ter a sensação de que também os
trato de uma forma ruim. Mas não há muito o que fazer, é meu trabalho, eu preciso do
dinheiro que recebo aqui e se eu disser algo a eles que fuja do meu propósito nessa
agência, o Christopher me fará lavar a minha boca com sabão para me arrepender do que
eu possa ter dito a eles. É uma toxicidade que eu preciso aceitar para não acabar solitária e
afundando em meus próprios pensamentos.
Kauan: (Se assusta e fica irritado) Para que tudo isso? Você realmente acha que vai dar
tempo até o desfile?
Jaque: Kauan, você sabe que tem que dar, é assim que funciona.
Lua: Ele quer que fiquemos impecáveis e que rendamos dinheiro. Acho que é o certo.
Kauan: O certo..
Kauan: (Monólogo) É como se colocassem dois olhos sobre uma mesa e dissessem a mim
que sou cego. Isso é aquilo que vê, essa é a matéria que vê. Toco os dois olhos sobre a
mesa, lisos, tépidos ainda, arrancaram há pouco, gelatinosos, mas não vejo o ver.
Lua: Aí Kauan, há sonhos que devem permanecer nas gavetas, nos cofres, trancados até o
nosso fim...
Kauan: Sonho? Ando me questionando se uma coisa construída em algo tão efêmero pode
ser considerada um sonho... Ou uma prisão?
Jaque: Bom, preciso retornar ao meu trabalho. Qualquer dúvida estarei em minha sala.
(Jaque dá as costas, respira fundo e sai de cena)
CENA V
CENA VI
Ferno: No frio do inverno (ou na solidão) buscamos ficar mais próximos uns dos outros, o
que, inevitavelmente, causará dor para nós e para os próximos, graças aos espinhos.
Purgo: Apesar da solução parecer simples, se nos afastamos, nos sentimos isolados.
Ferno: O que eu penso, não muda nada além do meu pensamento, o que eu faço a partir
disso, muda tudo!
Purgo: Pessoas elevadas falam de ideias; pessoas medianas falam de fatos; pessoas
vulgares falam de pessoas.
Ferno: Provavelmente a indiferença seja a maior e mais cruel das maldades humanas, pois
ela significa que eu sequer estou lhe vendo.
Purgo: Todo fracasso tem seu motivo, como o sucesso tem seu custo
CENA VII
CENA VIII
(Christopher continua na sua sala e volta a mexer em seu notebook enquanto começa
a falar sozinho)
Christopher: Como eu vou fazer para explicar que não posso ajudá-la porque também
estou indo à falência? Esse desfile é minha única esperança de reerguer minha fortuna. Eu
preciso que a Jaqueline me traga uma água antes que eu passe mal.
Christopher: (Grita) Jaqueline, me traz um copo d’água, urgente!
(Bruninho entra discretamente no escritório e abraça Christopher por trás)
Bruninho: Ooooi!
Christopher: Garoto!
Bruninho: Te atrapalho?
Christopher: Claro que não, mas você está louco de aparecer aqui assim sem me avisar?
Estou no meu horário de trabalho!
Bruninho: Ah, me desculpa, Senhor Importante, eu volto em outra hora.
Christopher: Mas nem pensar, Senhor Mimadinho! Agora que você já está aqui, vai ficar.
(Ambos dão um selinho)
Bruninho: Olha só, eu te trouxe um presente.
(Entrega rosas nas mãos de Christopher, que começa a procurar algo entre elas e
acaba encontrando dois pinos de cocaína)
Christopher: Só isso?
Bruninho: Foi tudo o que eu consegui dessa vez, mas vou voltar e pegar mais depois.
Christopher: (Ironiza) Como pode um traficante de drogas sequer ter drogas para
repassar? Está precisando de algumas aulinhas. (Puxa Bruninho para mais perto e beija
ele)
Christopher: Ah, já ia esquecendo… (Tira dinheiro do bolso e entrega nas mãos do
ficante) aqui está.
Bruninho: (Pega o dinheiro) Obrigado por me apoiar. Acho que você é o único que
acredita em mim…
Christopher: Mas, e a Safira? Ela não acredita em você?
Bruninho: Nem motivos para ela acreditar em mim eu dou. Ela não sabe que eu estou
traficando drogas e já te disse sobre isso…
Christopher: E ela nem vai saber, porque eu já disse que te tirarei dessa vida. Só espera
as coisas melhorarem que eu vou te dando tudo aquilo que prometi…
Bruninho: Tudo o que você tem me dado até agora já me deixa contente.
Christopher: (Passando a mão pelo corpo do Bruninho) O que acha da gente ter uma
rapidinha aqui agora, já que está aqui?!
Bruninho: Acho que é um pouco arriscado.
Christopher: Mas o perigo é o que torna tudo muito mais gostoso. Não é excitante imaginar
alguma modelo me vendo por cima de você e tendo que engolir a reação por saber que
será demitida se contar o que viu para alguém?
Bruninho: Não seria tão excitante se a sua secretaria visse. Você sabe que ela me conhece
e ela é amiga de uma das meninas daquele cabaré podre. Qualquer descuido e uma das
duas conta pra Safira e você sabe que eu não quero isso.
Christopher: (Ironiza) A Safira não irá saber de nada, e se souber, o que tem? Eu consigo
a convencer de sermos um trisal. Não é mais gostoso?
(Ambos riem e começam a esquentar o clima. Os dois tiram suas camisas e começam
a se tocar. Entre beijos e amassos, derrubam as flores no chão e os pinos caem junto.
Do outro lado, Diamond volta em cena e se choca com o que está sendo visto. Ela
fica paralisada e logo se aproxima dos rapazes)
Diamond: Ora, ora, ora, o que está acontecendo aqui?!
Christopher: Diamond! O que você pensa que está fazendo aqui? (Chris começa a ficar
nervoso) Você não tinha ido embora?
Diamond: Eu tinha, mas voltei pois tinha esquecido de te contar outra, sobre a Sammy.
Lembra dela? (Ri)
Bruninho: Droga… Christopher, eu disse que era arriscado.
(Ambos vestem suas roupas)
Christopher: Silêncio, Bruno. Olha Diamond, eu acho que é melhor você esquecer o que
viu aqui agora. Ninguém pode saber que eu faço essas coisas dentro do meu escritório, a
minha reputação não pode ficar manchada dessa forma.
Diamond: Mas não é com você que estou tão preocupada, e sim com o Bruno. (Olha para
Bruninho) Afinal, você não tem vergonha de deixar a Safira sofrendo enquanto você a está
traindo com um homem?
Bruninho: Eu estou errado, mas tenho meus motivos…
Christopher: Diamond, por favor, vamos ter uma conversa outra hora.
Diamond: Podemos ter essa conversa, mas agora é com outro assunto. Eu quero que até
amanhã você me dê 500 mil reais, assim, eu não conto nada para a mídia e também não
digo nada a Safira, todos saem ganhando. Não é ótimo?
Christopher: Você só pode estar maluca! (Fica irritado e Bruninho o segura para não
bater em Diamond)
Diamond: Se é isso que você acha… (Ela sorri e dá as costas se retirando do local)
Bruninho: Droga, droga, droga. Tá vendo o que você fez? Eu te disse que isso ia acontecer
mas você me ouviu?! Não! Isso tudo é culpa sua.
Christopher: Culpa minha? Mas foi você que veio aqui me ver!
Bruninho: Te ver, não transar com você. Mas você não consegue se controlar não é
mesmo? É claro que ia dar nisso e agora a Safira vai descobrir tudo.
Christopher: Minha carreira agora entrou em jogo e você está preocupado com a Safira?
Sinceramente, sai daqui. Vá atrás dela, já que é sua única preocupação.
Bruninho: (Respira fundo) Ah claro, porque como sempre, você só pensa em si mesmo.
(Ele sai da sala irritado e deixa Christopher sozinho até a cena encerrar)
CENA IX
CENA X
(Bianca se aproxima de Bruninho e olha ao seu redor para ver se ambos estão
sozinhos ali)
Bianca: Você trouxe a erva que eu pedi?
Bruninho: Não e nem iria trazer. Você está louca? Você nunca usou essas coisas antes.
Bianca: (Fala para o público, caminhando pelo palco) E tudo isso por causa de um
sentimento que eu não escolhi ter. Amar outra pessoa nos faz sentir vivos, mas o que
acontece quando esse amor é mantido em segredo, escondido a sete chaves? Mas eu
aprendi. Aprendi a não ter medo de expor o que sinto dentro de mim, e apenas deixo com
que as batidas do meu coração me guiem para a minha liberdade. Finalmente chegou o
momento, o momento de colocar as emoções cara a cara e deixar com que o destino
escreva o que está reservado.
Bianca: Mas eu precisava disso para ter coragem de chegar na Jaque.
Bruninho: Seja mulher e faça isso por conta própria.
(Bianca fica apreensiva mexendo em seu celular e logo Jaque aparece)
Bruninho: Por falar nela…
Bianca: Jaqueline?
Jaque: Bia, o que houve?
Bruninho: (Irônico) Oi Jaque!!
Jaque: O que ele faz aqui?
Bruninho: Como pode falar com um amigo assim?
Jaque: (Fala para Bruninho) Com licença, não estou falando com você. (Fala para
Bianca) Se ele ficar aqui vou embora agora.
Bianca: (Fala para Bruninho) Será que você pode nos dar licença?
Bruninho: Desculpa! Que mau humor é esse?
Jaque: (Acusando) Tenho certeza que você sabe quem é o culpado né? Ou quer que eu
grite o nome aqui?
Bruninho: Tá bom, Tá bom, já to indo embora. Espero que muitos segredos sejam
revelados nessa conversa.
Jaque: O que ele quis dizer?
Bianca: Não é nada! Ele é só um babaca. Estava te esperando porque não tenho muito
tempo.
Jaque: Ele me tira do sério. Cara ridículo, folgado. Enfim, demorei porque eu saí um pouco
mais tarde do trabalho hoje, nem te conto o que acontece essa semana por lá e parte disso
é culpa dele.
Bianca: Imagino. Tem um tempo que não nos falamos né? Nossos empregos estão nos
consumindo bastante.
Jaque: Sim, (Respira fundo) estou esgotada. Mas, e por aqui?
Bianca: Ah mesma coisa de sempre. Quer uma bebida para relaxar?
Jaque: Você sabe que eu não bebo essas coisas.
Bianca: Desculpa, só estou sendo educada. Enfim, te chamei aqui porque queria muito te
ver, mas também quero ter uma conversa séria.
Jaque: Ah, então pode falar, sou toda a ouvidos.
Bianca: (Respira fundo) Jaque, desde que eu te conheci, sabia que um sentimento
diferente ocorria. Para mim, nossa amizade nunca foi como as outras, até que eu me dei
conta de que eu gosto de você de uma forma diferente, não é só esse sentimento entre
amigas.
Jaque: Um sentimento de irmãs, você quer dizer?
Bianca: (Receosa) Não, (Pega na mão dela) muito mais do que isso. Eu sou
completamente apaixonada por você (Jaque retira sua mão) e venho mantendo isso em
segredo com medo da sua reação. Eu nunca contei a ninguém sobre esse meu outro lado,
então me sinto apreensiva, mas sei que estou fazendo o que é certo.
Jaque: Apaixonada por mim? (Surpresa) Espera, você gosta de mulheres? Disso eu
realmente não sabia.
Bianca: Sim, mas…
Jaque: Desculpa, mas isso não faz sentido para mim. Eu não gosto de você dessa forma e
nem sei o que fez você pensar que eu corresponderia. Como você pôde fingir ser minha
amiga, só pra me seduzir desse jeito?
Bianca: Não foi assim…
Jaque: Eu sinto muito Bianca, mas eu não estava esperando por isso. Preciso ir embora.
Bianca: Fica só mais um pouco, por favor.
(Jaque começa a sair e se esbarra com Kauan que está entrando no local)
Jaque: Kauan, o que você está fazendo aqui?
Kauan: É uma longa história, Jaqueline.
Jaque: Tudo bem, esquece, eu tenho que ir embora desse lugar.
(Jaque saí e Bianca congela)
CENA XI
(Safira entra e pergunta pra Bianca se viu a Rubi, Kauan fica encarando)
Safira: Você viu a Rubi?
Bianca: Ela estava aqui, mas saiu há pouco tempo.
Safira: E aquele rapaz ali parado, quem é?
Bianca: Não sei... Vou lá atrás pegar gelo, já volto.
Safira: (Vai até Kauan) Oi? Você está precisando de ajuda?
Kauan: (Admirando) Nossa...(fica em silêncio por um tempo) você realmente tem os
olhos dele...
Safira: Não entendi… A gente se conhece?
Kauan: Desculpe, estou sendo rude.. Meu nome é Kauan, Giovanna… sei que você não me
conhece, mas eu venho te acompanhando faz um tempo...
Safira: É um cliente aqui do Cabaré? Como sabe o meu nome?
Kauan: Não, não! É um pouco mais complicado que isso… Eu… eu sou seu irmão...
Safira: Meu irmão?....(fica um tempo em silêncio) O que você está fazendo aqui? Como
foi que você me achou?
Kauan: Eu venho te acompanhando faz um tempo. Sempre quis falar com você, mas só
agora consegui vir até aqui...
Safira: Sempre soube que tinha um irmão, mas nunca pensei que um dia ia te conhecer... O
que você quer comigo?
Kauan: Desde criança sempre pensei de como seria bom ter uma irmã para ser minha
amiga, como irmãos devem ser.
Safira: (Ri) Isso é uma piada né? Você sabe que foi por causa de você e da sua mãe que
meu pai me abandonou, né? Depois disso minha mãe adoeceu e eu fiquei sozinha no
mundo....Por que eu iria querer qualquer coisa com você?
Kauan: Mas, eu não tenho culpa disso… Você acha que foi fácil para mim?
Safira: Não sei como foi para você, mas foi você quem o nosso pai escolheu! Olha, não
tenho tempo para isso, já estou lidando com meus próprios problemas e não preciso de
mais um agora!
Kauan: Então você está me rejeitando?
Safira: Eu nunca te aceitei para poder te rejeitar… A verdade é que o único sentimento que
tenho por você é raiva!!
Kauan: Você acha que as coisas foram fáceis para mim, mas não foram... Será que não
podemos pelo menos nos conhecer?
Safira: Não sei… Sinceramente não consigo ver isso dando certo...
Kauan: Me dê uma chance!!
Safira: Desculpa, eu não confio em você…
(Safira aproveita a ausência de Bianca no bar e pega uma bebida, bebendo quase tudo de
vez. Kauan se preocupa ao ver a irmã naquele estado)
Kauan: Está tudo bem?
Safira: (Grita) Me deixe em paz! (Ela sai irritada e deixa Kauan sozinho e sem
respostas)
CENA XII
(Rubi está fumando na porta do cabaré e Cristal está ao seu lado. Elas veem Lua
andando em direção a elas e comentam)
Rubi: E essazinha vindo aí, quem é?
Cristal: Eu acho que já a vi em algum lugar…
Lua: Boa noite… aqui que é o cabaré da Diamond?
Rubi: É sim, precisa de ajuda?
Cristal: Lua! É você mesmo? Meu Deus, eu não acredito! (Se entusiasma)
Lua: Sim, sou eu, mas eu não quero tanta euforia com meu nome. Eu só vim procurar a
dona daqui.
Rubi: Queridinha, no momento ela não se encontra, mas anda logo, fala o que veio fazer
aqui.
Lua: Eu vim atrás de uma proposta de emprego. Queria saber se ela me aceita aqui por
pelo menos uns cinco meses…
Cristal: E você vai largar a carreira de modelo para ficar aqui? Só pode estar doida, eu faria
de tudo para estar em seu lugar!
Lua: Então vá! Fique no meu lugar, sofra as mesmas coisas que eu sofro e tente aguentar
tudo isso calada. Eu não devo satisfações a ninguém, eu só quero essa oportunidade de
emprego e os motivos não são do seu interesse.
Rubi: Aí sweetie se acalma. A Diamond não está aqui, mas nós estamos. Vem trabalhar
com a gente, boba, você não precisa de ordens porque é uma menina lindíssima. (Rubi
persuade Lua da mesma forma em que estava fazendo com Cristal. Cristal fica
enciumada mas acaba se calando)
Lua: Eu sei disso. E é por isso que quero vir para cá, é o jeito mais fácil de conseguir
dinheiro sem precisar sofrer nas mãos de um patrão estúpido.
Rubi: (Monólogo) O dinheiro… o dinheiro compra ansiolíticos, mas não a capacidade de
relaxar. Compra um quadro de pintura, mas não a capacidade de contemplar. Compra
seguros, mas não a habilidade de proteger a emoção. Compra lentes de contato, mas não a
capacidade de ver os sentimentos não expressos. O dinheiro compra um manual de regras
para educar quem amamos, mas não compra um manual de vida.
(A cena se encerra com as três personagens congeladas)
CENA XIII
ENCERRAMENTO
(Ferno e Purgo surgem das laterais do palco e caminham até o meio dele)