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“...

NO VENTILADOR”
Texto Para Teatro
Escrito Por Serginho Clemente
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PERSONAGENS

VAGNER
(Dedetizador e Micro Empresário – Sócio de Vinicius)

VINICIUS
(Dedetizador e Micro Empresário – Sócio de Vagner)

INDICAÇÕES

Época (s): 1992


Local: Rio de Janeiro (RJ – Brasil)
Gênero (s): Comédia

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...No Ventilador
1992. Subúrbio da Cidade do Rio de Janeiro. Pequena e humilde Loja de Dedetização V&V. Vagner
está sentado, debruçado sob a mesa e cochilando, com um ventilador ligado em cima de si. Recém-saído
de uma dedetização, Vinicius chega ao local com equipamentos e um maço de cartas em uma das mãos.

Vinicius está cansado, suado e saturado, ele fica inconformado ao ver o conformismo de Vagner.
Vinicius tira o plug do ventilador da tomada e se desfaz de seus equipamentos. Vagner desperta e observa
o ventilador desligado.

VAGNER

“Por que você desligou o ventilador?”

VINICIUS

“Porque eu não aguento mais andar pra cima e pra baixo e ver você aí... igual a um bicho preguiça
se refrescando...”

VAGNER

“Pô, cara... eu fui dormir tarde pra caramba... e tá o maior calor!”

VINICIUS

“Sim, tá calor... tá muito calor... Poxa, você tá sempre indo dormir tarde! ...Duas, das muitas coisas
que você tem que aprender, é ter responsabilidade no serviço e um pouquinho só de consideração a minha
pessoa!”

VAGNER

“Relaxa... você tá com a cabeça quente! ...Vai beber uma água gelada e liga o ventilador, por favor!”

VINICIUS

“Vagner, é o seguinte... eu tô caindo fora!”

(Vinicius joga o maço de cartas sob a mesa e em seguida bebe água. Vagner fica
completamente chocado e se levanta)

VAGNER

“Que negócio é esse, Viny?”

VINICIUS

“O negócio é que eu tô caindo fora e pronto acabou! ...Chega! ...Eu numa luta danada, dedetizando
a casa de um e de outro, com um veneno que a gente faz no fundo do nosso quintal... a firma naufragada
em dividas... e você aí... acomodado na frente desse ventilador!”

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VAGNER

“O que eu não quero é esquentar a minha cabeça como você!”

(Vinicius fica muito estressado)

VINICIUS

“A questão não é esquentar a cabeça, não! ...Uma questão é você ter responsabilidade! ...E a outra
questão é você ter consideração!”

VAGNER

“E você precisa ter compreensão!”

VINICIUS

“Compreensão?”

VAGNER

“Exatamente! ...Você sabe bem as dificuldades que eu tenho passado lá em casa! ...Você sabe bem
as lutas que eu tenho enfrentado!”

VINICIUS

“Ah, Vagner... Lutas? ...Todo mundo tem! Dificuldades? ...Todo mundo tem! ...O que a gente não
pode é ficar acomodado... conformado... dormindo na frente de um ventilador!”

VAGNER

“A final de contas... o que você tem contra o ventilador?”

VINICIUS

“Eu não tenho nada contra o ventilador! O que eu tenho contra é você ficar na frente dele, passivo
de tudo o que a gente tem passado!”

VAGNER

“Escuta uma coisa... Você acha que eu vou me apavorar com tudo o que tá acontecendo? ...Eu não
tô nem me importando! ...Eu já joguei tudo no ventilador!”

VINICIUS

“No ventilador?”

VAGNER

“Isso mesmo! ...Eu já joguei tudo no ventilador!”

VINICIUS

“Eu também vou jogar tudo no ventilador! ...Inclusive você!”

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(O clima fica muito tenso)

VAGNER

“Eu posso ter defeitos mas você tem mais defeitos do que eu!”

(Vinicius bebe água. Vagner pega o maço de cartas sob a mesa e o observa)

VAGNER

“...O que é isso?”

VINICIUS

“São cartinhas de amor pra você!”

VAGNER

“Sério? ...De quem? ...Das minhas fãs?”

VINICIUS

“Não! ...Do banco! ...Dos credores! ...Só de gente que não presta!”

(Vagner fica saturado e joga o maço de cartas sob a mesa)

VINICIUS

“Não vai abrir as cartas?”

(Vagner coloca o plug do ventilador na tomada e o liga)

VAGNER

“Eu não...”

(Vagner se senta, se acomoda e se refresca na frente do ventilador)

VAGNER

“Provavelmente o banco e esse povo todo, tá querendo que a gente negocie ‘as grandes dividas’
que a gente tem! ...Tô nem aí... Já joguei todas essas dividas no ventilador...”

VINICIUS

“Cara, é impressionante o quanto você é desleixado! Eu sabia disso, mas você ultrapassou todos os
limites! ...Foi a maior burrada da minha vida, eu ter feito essa sociedade com você! Eu tô pagando muito
caro pelo meu erro!”

(Vinicius se senta e fica angustiado)

VAGNER

“Qual é, Viny... não fala assim, não! ...Você sabe muito bem que uma sociedade é como um
casamento! ...Tem os seus momentos bons e os seus momentos ruins!”
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VINICIUS

“Mas até agora nesta porcaria de sociedade, a gente só tem vivido momentos ruins!”

VAGNER

“Deixa de ser mentiroso, Viny!”

VINICIUS

“Deixa de ser omisso, Vagner! ...Até hoje a gente só tem ruído o osso!”

VAGNER

“E aquela dedetização no apartamento daquela loira, que a gente pegou ela?”

VINICIUS

“Primeiro... não foi a gente que pegou ela, foi só você! Segundo... ela era mais feia que um cão
chupando manga! E terceiro... aquela loira era um travesti!”

VAGNER

“Pô, Viny... tu cisma que aquela loira era um travesti! ...Não era, não, cara! Ela não era um travesti!”

VINICIUS

“Se aquela praga não era um travesti, era o que então?”

VAGNER

“Era uma boneca!”

VINICIUS

“Eu tô sabendo que ao invés de comer uma empada você prefere comer um kibe!”

VAGNER

“É bom diferenciar de vez em quando! Comer sempre a mesma coisa faz mal a saúde!”

VINICIUS

“Se eu fosse ficar mal de saúde, pelo fato de todos os dias comer a minha mulher, garanto que eu já
estaria morto!”

VAGNER

“...Viny, por que você não tira umas férias? ...Pega a Amanda, o Jean e a sua sogra, leva eles para
dar uns passeios! Tem tantos lugares bons pra passear com a família! ...Praia, Cinema, Teatro... A Quinta da
Boa Vista... ...Você tá precisando disso! ...E aproveita toma bastante suco de maracujá e chá de camomila!”

VINICIUS

“Eu é vou tirar férias de você! ...Eu vou tirar férias eterna de você!”
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VAGNER

“Você não quer fazer isso... Alias, você não vai fazer isso!”

VINICIUS

“Você duvida? Duvida?”

VAGNER

“Eu não duvido, eu tenho certeza que você não vai me abandonar neste momento critico, com a
firma nesta situação! ...Até porque você jurou isso! Você jurou que estaria comigo pro que der e vier!”

VINICIUS

“Eu deveria estar bêbado! Porque em sã consciência eu nunca diria isso pra você!”

VAGNER

“É... Realmente, quando você me disse isso, você estava muito bêbado!”

(Vinicius se levanta)

VINICIUS

“Então... Adeus, sócio! Ou melhor... ex. sócio!”

(Vagner se levanta)

VAGNER

“Qual é, Viny? ...Tira um ou dois meses de férias! ...Aí, você volta! Isso é um mal estar!”

VINICIUS

“Não dá! Não dá! A realidade é que eu tô dando socos em ponta de faca! ...A firma não tem futuro,
não! ...Além do mais... tá sendo um desastre trabalhar com você!”

VAGNER

“Tá me usando como boi de piranha?”

VINICIUS

“Eu não sei se você tá se fazendo de maluco, ou sei lá o que... Eu acabei de dizer: Que além de está
sendo um desastre trabalhar com você, a firma não tem futuro! ...Entendeu? Por isso eu tô caindo fora!”

VAGNER

“Não tem nem 3 meses que a gente abriu a firma e você já pediu pinico! Olha... você é muito
fraco!”

VINICIUS

“Eu pedi pinico? ...Essa é boa!”


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VAGNER

“É... pediu pinico: desistiu!”

VINICIUS

“E só de eu pensar que eu desisti do meu antigo emprego de carteira assinada, pra me meter nesta
roubada com você, sinceramente dá vontade de me matar!”

VAGNER

“Ah, Viny... Você tá careca de saber que todo o começo é difícil! O que você não pode é pedir pinico
nas primeiras adversidades que aparecem! ...Você tem que insistir!”

VINICIUS

“Insistir no erro é burrice! Eu vivo pela razão! Eu não vivo pela emoção muito menos pelo
sentimento! ...Todo o dinheiro que eu tinha, eu coloquei aqui! E desde que a gente abriu a firma, eu dei
cada gota do meu sangue! E... Cadê os resultados? Cadê os lucros? ...Parece que quanto mais a gente
trabalha, ou melhor... quanto mais eu trabalho... Mais dívidas surgem! Mais problemas aparecem!”

VAGNER

“Viny, eu tô nesta luta também!”

VINICIUS

“Se você tivesse nesta luta você estaria igual a mim! Olha só pra você!”

(Vagner pega o seu atestado médico e mostra para Vinicius)

VAGNER

“Lembra disso aqui?”

VINICIUS

“O que? Seu atestado de vagabundo?”

VAGNER

“Você respeita o meu atestado médico! Além do mais o que a gente combinou depois disso, foi que
você fizesse as dedetizações e eu ficasse aqui na firma!”

VINICIUS

“Mas quando nós dois fazíamos as dedetizações, a gente via pelo o menos um pouquinho de
resultado! Bem pouco, mas via! Agora eu sozinho pra fazer tudo... e você aí sentado na frente do
ventilador!”

VAGNER

“Viny... Fazer o quê? ...É a minha saúde! ...Considera o meu atestado médico!”

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VINICIUS

“Você não tem a mínima consideração a minha vida!”

VAGNER

“Você viu o que esse veneno fez comigo? ...A médica disse pra eu nunca mais chegar perto de
veneno! ...Ela disse pra eu não pegar sol, não fazer esforço físico e repousar o quanto eu puder!”

VINICIUS

“A médica também mandou você ficar na frente do ventilador?”

(Vagner fica bastante irritado)

VAGNER

“Lá vai você tocar no ventilador outra vez...”

VINICIUS

“Então tá, Vagner... Muda de profissão! Arrume um serviço que se encaixe nos seus padrões!”

VAGNER

“Não... eu não preciso disso! Eu sou feliz aqui! Eu gosto desse trabalho!”

VINICIUS

“E gosta de me fazer de otário também! ...Sendo que agora você tá ferrado! Porque o cara que faz a
firma funcionar tá caindo fora! ...Eu quero ver o que você vai fazer!”

VAGNER

“Simplesmente, eu vou arrumar um otário pra ser o meu sócio!”

(Vinicius fica indignado)

VINICIUS

“Ah, então agora você finalmente confessou, que pra ser seu sócio precisa ser otário?”

VAGNER

“Eu precisei confessar uma coisa obvia!”

VINICIUS

“Escuta aqui, Vagner... você toma muito cuidado! Porque o seu ex. sócio e ex. otário, pode a
qualquer momento quebrar todos os dentes que você tem na boca!”

VAGNER

“Calma aí, Vinicius... fica frio! Eu tô brincando!”

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VINICIUS

“Você pode ter certeza que quando eu sair daqui, a primeira coisa que eu vou fazer, vai ser arrumar
um advogado pra te ferrar mais ainda!”

VAGNER

“Tá... tá bom... faz o que você bem entender... Se realmente você for fazer tudo isso que você tá
dizendo, eu desejo tudo de ruim pra sua vida!”

(Vinicius fica chocado)

VINICIUS

“O que? ...Você deseja o que pra mim?”

VAGNER

“Eu desejo tudo de ruim pra sua vida!”

VINICIUS

“Vem cá, Vagner... você perdeu o juízo? ...Como é que você pode desejar tudo de ruim pra minha
vida?”

VAGNER

“Ué, meu caro... você que fazer ruindade com a minha vida; Nada mais justo do que eu desejar
ruindade pra tua vida!”

VINICIUS

“Então é assim?”

VAGNER

“Lógico! Você não tá querendo me ferrar? Você não tá querendo me ferrar mais ainda? ...Então, eu
desejo que você se ferre e se ferre mais ainda, cem vezes mais!”

VINICIUS

“Praga rogada em mim não pega! O meu corpo é fechado!”

VAGNER

“Eu nuca pensei que você fosse fazer isso comigo!”

VINICIUS

“Fazer o que?”

VAGNER

“Ter as atitudes que você tá tendo! Falar o que você tá falando!”

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VINICIUS

“Coitadinho... Agora vai se fazer o papel da vítima... Seu cínico!”

VAGNER

“Seu maior defeito é que você é muito orgulhoso! Você não é humilde! Você quer sempre dar uma
liçãozinha de moral pra ficar por cima da carne seca!”

VINICIUS

“Eu tô pouco me lixando pro que você tá pensando de mim! ...O que eu quero e vou fazer, vai ser
jogar está firma e você na droga desse ventilador!”

VAGNER

“Se você jogar a firma e eu no ventilador, além de ser o maior erro que você vai cometer na sua
vida, você não vai ter direito na indenização que a firma tem pra receber! ...Se esqueceu?”

(Vinicius sorri de deboche)

VINICIUS

“O dia em que o ‘Coelhinho da Páscoa’ chegar lá na minha casa, com ovos de chocolate pro meu
filho, aí a firma vai receber essa indenização! ...Isso se a firma existir até lá...”

VAGNER

“Vinicius, independente do ‘sarro’ que você tá tirando com a minha cara... independente de tudo o
que você tá falando, pensando, fazendo e querendo fazer... eu quero te dizer uma coisa... uma não! Duas
coisas! ...A primeira coisa, é que eu te considero como irmão!”

VINICIUS

“Consideração? Consideração é uma coisa que você nunca teve por mim e nunca vai ter! ...O dia em
que você tiver consideração por mim, eu vou andar pelado no calçadão da Praia de Copacabana!”

VAGNER

“Quer ver eu provar que tenho consideração por você?”

VINICIUS

“Eu quero ver! Prova!”

VAGNER

“Quem vai sair da firma não vai ser você, sou eu!”

(Vinicius fica surpreso)

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VAGNER

“Eu saio da firma e você fica com ela, só pra você! Aí você faz o que bem quiser... Mas só um
detalhe... se um dia a indenização sair... eu quero a minha parte!”

VINICIUS

“E quem disse que eu quero ficar com a firma? ...Se eu tô falando que a firma não tem futuro! Se eu
tô falando que a minha realidade aqui dentro, é que eu tô dando murros em ponta de faca! ...Mesmo que
você saia eu não vou continuar com a firma!”

VAGNER

“Talvez o problema seja eu! Talvez a firma não esteja dando resultados por minha causa! ...Eu
penso no bem da firma! ...Poxa, a gente trabalhava que nem escravos de carteira assinada! ...Quando a
gente teve a oportunidade a gente abriu isto aqui! ...Depois do duro que foi pra gente chegar até aqui...
tudo acabar assim, fácil... É doloroso pra caramba!”

VINICIUS

“Antes da gente abrir isto aqui... a gente só viu o lado bom! A gente não pensava que o mercado da
dedetização, era tão difícil e competitivo!”

VAGNER

“Dificuldade e competição tem em todos os mercados! O que a gente não pode é pedir pinico
quando enfrentamos isso e outras coisas!”

(Vinicius fica perplexo)

VINICIUS

“Qual é a segunda coisa que você ia me dizer?”

VAGNER

“...A segunda coisa eu já disse pra você!”

VINICIUS

“O que é?”

VAGNER

“Não lembra? ...A primeira coisa é que eu te considero como irmão! E a segunda coisa é que quem
vai sair da firma não vai ser você, sou eu! ...Você fica com a firma e faz o que bem quiser! Agora, você vai
ter de cumprir a sua promessa de andar pelado no calçadão da Praia de Copacabana!”

VINICIUS

“Isso foi força de expressão! Um ser humano consciente jamais faria isso! Andar nu na sociedade é
atentado ao pudor!”

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VAGNER

“Desculpinhas bem fajutas, hein... Além de ser fraco é mentiroso e covarde!”

VINICIUS

“Quem anda nu na sociedade é maluco como você!”

VAGNER

“E por que você prometeu andar pelado em Copacabana?”

VINICIUS

“Foi força de expressão, Seu débil mental!”

VAGNER

“...Não vai andar?”

VINICIUS

“...O que?”

VAGNER

“Pelado!”

(Vinicius fica muito irritado com Vagner)

VINICIUS

“Se você quiser, eu ando pelado na sua frente! ...Você quer?”

VAGNER

“Não, de maneira nenhuma! ...Você tem que andar pelado lá no calçadão da Praia de Copacabana!”

VINICIUS

“Vagner, vai se ferrar!”

VAGNER

“Não, obrigado! Vai você!”

VINICIUS

“Quando eu sair daqui, eu vou meter um processo tão grande em você, que você vai querer se
enterrar vivo!”

VAGNER

“Se você realmente for fazer isso, você não vai passar daquela porta com vida! ...O que foi? ...Tá
com medo?”
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VINICIUS

“Medo? ...Eu não tenho medo de você! Nem muito menos das suas pragas!”

VAGNER

“Vamos tratar do futuro da nossa firma? ...Então como vai ser?

VINICIUS

“Você ainda tem a cara de pau de me pergunta isso?”

VAGNER

“A firma é nossa! Você é o meu sócio! Nós temos que tomar decisões juntos!”

VINICIUS

“Depois de tudo o que eu disse, eu acho que a minha decisão já foi tomada!”

(Vinicius pega um contrato de rescisão, o assina, o carimba e o entrega para Vagner, que
observa o documento, fica surpreso e ao mesmo tempo decepcionado)

VINICIUS

“Quanto à multa e a quebra de acordo, eu vou arrumar um advogado pra cuidar de tudo isso pra
mim!”

(Vagner se senta e fica perplexo)

VAGNER

“Existem três coisa que vão e não voltam mais...”

VINICIUS

“Uma flecha atirada, uma palavra dita e uma oportunidade perdida!”

VAGNER

“Você não faz ideia da oportunidade que você perdeu!”

VINICIUS

“Eu não sabia que você era vidente! ...Vê se consegue prever algo mais sobre o meu futuro... no seu
‘ventilador de cristal’!”

VAGNER

“Já que você fez o que fez... e pretende fazer coisa pior do que fez... por que agora você não segue
o seu caminho?”

VINICIUS

“Não precisa se preocupar comigo! Eu já sou bem grandinho! ...Sei cuidar do meu nariz!”
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(Vagner pega o maço de cartas e passa para Vinicius)

VAGNER

“...E também vai saber cuidar muito bem dessas dividas!”

VINICIUS

“Essas dividas a gente vai dividir! Cada um vai pagar uma parte! Enquanto eu não arrumar um
advogado, essas contas ficam com você!”

(Vinicius passa o maço de cartas para Vagner)

VAGNER

“...Comigo?”

VINICIUS

“É com você! ...Agora a firma é tua!”

(Vagner passa o maço de cartas para Vinicius)

VAGNER

“...E você tá pensando que eu vou ficar com essa ‘batata quente’ nas minhas mãos?”

(Vinicius passa o maço de cartas para Vagner)

VINICIUS

“Nas minhas é que não vão ficar! Essas contas... Essas cobranças... tem que ficar tudo aqui!”

VAGNER

“Eu sei que você vai me ferrar! Mas eu vou te ferrar mais ainda... muito mais do que você imagina!”

(Vagner passa o maço de cartas para Vinicius)

VINICIUS

“...Eu vou literalmente fazer o que você sempre fala!”

VAGNER

“O que?”

VINICIUS

“Vou jogar tudo no ventilador!”

(Vinicius desamarra o maço e joga todas as cartas no ventilador de uma só vez. As cartas
ficam espalhadas. Vinicius fica com muito ódio de Vagner, que observa bem uma carta e a pega nas mãos.
Vagner lê a carta rapidamente e sorri feito um louco deixando Vinicius com muito mais ódio)

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VINICIUS

“Tá rindo do que, babaca? ...Tá rindo do que? ...Tá rindo de mim ou tá rindo pra mim?”

VAGNER

“As duas coisas! ...E tô rindo de felicidade também!”

VINICIUS

“Por quê?”

VAGNER

“Porque aqui nesta carta do banco, diz que a indenização que a firma tem pra receber, saiu há 3
dias!”

(Vinicius fica completamente surpreso)

VINICIUS

“O que?”

(Vinicius toma a carta das mãos de Vagner e a observa bem)

VINICIUS

“Não... isso é mentira! ...Não pode ser verdade!”

VAGNER

“Pois é... você não acreditava... de onde que não se espera é que se sai!”

VINICIUS

“Vagner, eu não tô acreditando! ...Como é que pode todo esse dinheiro sair de uma só vez?”

VAGNER

“Milagres... Milagres acontecem!”

(Vinicius medita)

VINICIUS

“Eu vou querer a minha parte! ...Eu vou querer a minha parte!”

VAGNER

“Agora já era! Você perdeu sua oportunidade! ...Uma oportunidade perdida não volta mais! Você
assinou e carimbou o documento por livre e espontânea vontade!”

VINICIUS

“Não, Vagner... Eu rasgo esse documento e a gente volta como era antes!”
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VAGNER

“Negativo! ...Se tratando do dinheiro você quer voltar no tempo? ...Mas agora você vai pagar por
tudo o que você disse!”

VINICIUS

“Nem que eu tenha que contratar um exército de advogados, isso não vai ficar assim!”

VAGNER

“Fica a vontade... Contrata quem você quiser... Sendo que de acordo com a burrice que fez, você
em assinar e carimbar esse documento; você não vai receber um cruzeiro dessa indenização!”

VINICIUS

“Tá bom... Tudo bem... Passe bem com o seu dinheiro!”

(Vinicius amassa a carta e joga em cima de Vagner)

VINICIUS

“...Seu vagabundo de meia tigela!”

VAGNER

“Obrigado!”

VINICIUS

“...Quem também vai pegar o rumo comigo, é o meu ventilador!”

(Vinicius tira o plug do ventilador da tomada e o pega nas mãos)

VINICIUS

“...Que você morra de calor! ...Desgraçado!”

(Vinicius deixa o local com o ventilador em mãos)

VAGNER

“É ruim que eu vou morrer de calor! ...Daqui dessa bolada, eu vou separar um grana e vou comprar
um bom ar condicionado!”

FIM

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