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Sinopse
Prólogo
Um Novo Normal
Segurança
Fugindo
O Casulo
A Carona
Nova Etapa
Retomando
O Jogador
Testando os Limites
Em Cena
Perdendo o Controle
Acolhida
O Embate
Controlando-se
A Invasão
No Trajeto
A Proposta
Encurralada
O Encontro
Surpreendido
Negociando
Impedida
Descontrolado
Gatilhos
Confusa
A Noiva
Sem Saída
Questionada
Desestabilizado
Última Vez
A Tocaia
A Notícia
Visita Inesperada
O Segredo
Respostas
Tomando à Rédea
Acuada
O Noivado
De Volta
Esperançosa
Mudança de Planos
O Evento
Comemorando
A Busca
Declarando-se
Mentindo
Aceitando
Adaptações
Saiu pela Culatra
O Pedido
Epílogo
Agradecimentos
About The Author
Bem-Vindo ao Jogo
Books By This Author
O METÓDICO
Série Bem-Vindo ao Jogo
Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de
19/02/1998.
Nenhuma parte desse livro, sem autorização prévia da autora por
escrito, poderá ser reproduzida ou transmitida, seja em quais forem
os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos,
gravação ou quaisquer outros.
Esta é uma obra fictícia, qualquer semelhança com pessoas reais
vivas ou mortas é mera coincidência.
Revisão: NEIDE MENDES
Capa: FABIANE MENDES BUENO
Sinopse
Gabrielle
Enrico
Yasmin
Gabrielle
Enrico
Yasmin
Gabrielle
Eu sabia que ser uma Bennett era uma maldição, mas não tinha
ideia de quanto seria difícil lidar com o peso do nome. Queria poder
xingar todos e sair chutando a bunda de cada idiota instalado na
porta do distrito. Infelizmente, Bento não exagerou. Os “abutres” se
amontoaram ali. Eram tantos que, mesmo que eu pudesse, ficaria
complicado chutar a bunda de cada um. Fiquei me perguntando o
porquê de ainda estarem atrás de uma notícia, relativamente, velha,
afinal, passou-se mais de um mês.
— Detetive, quando vai assumir seu posto na empresa do seu
pai?
— Onde você estava todo esse tempo?
— É verdade que seu irmão retirou as queixas contra você?
— Como teve coragem de atirar em seu próprio pai?
— Conseguiu o que queria, se vingar pela sua mãe!?
— Detetive...
— Detetive...
— Já falou com seu pai, depois que ele acordou?
— Sabe que deixou seu pai na cadeira de rodas?
— Atirou no pênis dele como vingança?
Fui afastando os aparelhos celulares e as câmeras que foram
enfiando no meu rosto. Coloquei tanta força nos meus braços, que
eu não sei como não derrubei alguns deles. Bento me ajudou na
tarefa, soltando milhões de palavrões, enquanto entrávamos no
distrito. Respirei fundo, assim que botei os pés para dentro do recinto
e Bento fechou a porta. Ergui a cabeça e dei de cara com uma
plateia. Todos os policiais civis junto com a sargento, me
observavam. Não soube, de imediato, se estavam a favor ou contra,
até que uma salva de palmas irrompeu o local.
Ângela, a sargento, foi a primeira a vir me abraçar. Me apertei
ao corpo dela, sentindo-me em casa.
— Não está sozinha — garantiu e se afastou um pouco –
colocando meu rosto entre suas mãos. — Não se deixe abalar por
aquilo lá fora, daqui a pouco, arrumam outra coisa pra focarem,
tenha paciência.
Meneei a cabeça e sorri com os lábios fechados.
— Chega de melação, por hoje, temos muito o que fazer lá em
cima — apressou Bento e a sargento lançou-lhe um olhar fulminante.
Bento ergueu as mãos em rendição e eu sorri de verdade.
A única que consegue fazer com que Bento recue, é a Ângela.
Graças a Deus, alguém tem esse poder. Agradeci a equipe de civis
com um aceno e acompanhei Bento pelas escadas, até o
departamento da inteligência. Lá em cima, no meu local de trabalho,
meus companheiros não economizaram abraços. Cada um dos
brutamontes veio até mim e expressou seu apoio. João Pedro ficou
no canto, de braços cruzados, esperando que me liberassem.
Assim que me vi livre da equipe, abri os braços no meio da
sala e fiz um gesto ao meu parceiro, para que viesse até mim. João
sorriu de canto e balançou a cabeça – aceitando meu convite.
— Bem-vinda de volta, madame — sussurrou no meu ouvido,
apertando-me ao seu corpo.
Afundei o rosto em seu pescoço e absorvi seu cheiro peculiar.
Depois de tantos anos trabalhando juntos, sinto como se João fosse
parte de mim. Sabemos exatamente o que o outro vai fazer, somente
com um olhar. Belisquei seu abdômen trincado e ele deu um
pequeno salto.
— Sentiu minha falta?
— Sabe que sim. — Beijou minha têmpora e apoiou o queixo
no topo da minha cabeça.
Ficamos um tempo assim até Bento chegar apressando tudo:
— Na minha sala, Gabrielle.
Me afastei do meu parceiro e beijei seu queixo.
— Hora do show! — brinquei e marchei à sala do meu chefe-
padrinho.
Como de costume, Bento estava de costas para mim, com as
mãos enfiadas nos bolsos da frente da calça jeans, se balançando
em seus calcanhares – olhando para a janela.
Me acomodei na cadeira em frente sua mesa e aguardei que
ele se virasse. Embora tivéssemos tido nossa rotina matinal, ali, eu
sabia que era meu chefe. Não seria burra em achar que me trataria
diferente dos demais. Muito pelo contrário, a cobrança seria muito
maior – pior do que antes.
Ele se virou e ficou me escrutinando por um tempo, passando
a língua pela gengiva. Mesmo que eu estivesse acostumada,
naquele momento, sentia-me frágil.
Desviei um pouco o olhar e ele percebeu meu incômodo.
Sentou-se em sua cadeira e abriu a gaveta de sua mesa. Retirou
minha Glock e meu distintivo e jogou em cima da mesa. Estiquei o
braço para pegá-los e ele segurou minha mão – olhando-me sério.
— Vou me arrepender?
Engoli em seco e neguei com a cabeça. Sem ter certeza de
que minha resposta era verdadeira. Se antes de minha mãe me
deixar, eu já queria acabar com o velho asqueroso, depois, não
respondia pelos meus atos.
— Gabrielle — disse em tom ameaçador.
— O que quer que eu diga, porra! — explodi, apertando as
unhas na mão que estava no meu colo.
— Quero que você seja racional, inteligente, coisa que você
não foi até aqui, caralho! — vociferou e soltou minha mão, permitindo
que eu pegasse os itens que me pertenciam.
Bento jogou o corpo no encosto da cadeira e cruzou as mãos
sobre a mesa. Ficou me encarando, enquanto eu arrumava meu
revólver e distintivo em minha cintura.
— Farei o meu melhor — respondi, depois de um tempo, mais
para mim do que para ele.
A verdade é que eu nem sabia o que era o melhor a fazer.
Desafiei o idiota do Henry a tomar o posto dele, mas não podia parar
as investigações contra o velho asqueroso. Ele jamais sairia impune
das maldades que fez.
— Preciso encontrar uma maneira de conciliar as duas coisas
— pensei alto e Bento franziu o cenho. Fiz um gesto de deixa pra lá
e saí.
O Jogador
Enrico
Yasmin
Gabrielle
Enrico
Yasmin
Gabrielle
Enrico
Yasmin
Gabrielle
Enrico
Yasmin
Gabrielle
Enrico
Você controla o que pode para lidar com o que não pode. Não
quebro as regras do jogo – nunca. Leandra faz parte do jogo,
Yasmim é apenas uma diversão. Tenho os passos planejados e,
embora Yasmim tenha sido, no início, um acidente de percurso,
passou a ser parte dos meus planos. No momento em que me
rejeitou, transformou-se em um jogo e os Bennett não jogam para
perder, muito menos, desistem.
Meu foco sempre será na minha carreira, até porque, se tem
uma coisa que aprendi com Isaac Bennett, é que o amor nos deixa
fracos. Razão é o meu nome do meio.
Se no dia trinta e um as pessoas tinham sumido, no primeiro
dia do ano, as ruas pareciam sofrer de um ataque aéreo e todos
tinham se escondido em abrigos subterrâneos. Nenhuma viva alma.
A parte boa é que passei horas dirigindo pela cidade sem
necessidade de escolta. Achava até que a história do meu pai já
tinha sido suprida por outra e agradecia.
De volta à cobertura, encostei-me ao parapeito de vidro – da
área da piscina –, e fiquei pensativo. Cheguei à conclusão de que o
chute de Yasmin não foi ruim, afinal, me tirou do torpor que ela me
causava. Pude voltar ao controle e mostrar que teria o que eu
quisesse, mesmo que demorasse um pouco. A garota precisava
entender que não se nega nada a um Bennett e que dinheiro compra
tudo.
Quando se tem dinheiro e poder, não tem nada que nos pare.
Sorte que a minha irmã não podia ler pensamentos, porque
arrancaria minhas bolas. Foi bom lidar sozinho com a situação. Manu
me influenciaria com a sua mania de achar que tenho que encontrar
o amor. Ela nunca compreendeu minha forma de pensar, porque não
tem ideia do quanto é difícil estar à frente de todas as máquinas de
uma potência como as empresas Bennett. Um vacilo e tudo vem a
baixo.
— Demorou pra ligar — atendi o celular em tom descontraído.
— Pelo jeito, está se divertindo bastante.
— Oi, gostosão, aqui é maravilhoso. Graças a você, estou
realizando meu sonho. — A alegria da minha irmã é contagiante. Até
mesmo de mim, ela consegue tirar alguns sorrisos.
Ajeitei os óculos no rosto e entrei à sala – evitando que o
barulho do vento forte me impedisse de ouvir Manu corretamente.
Assim como a recepção de primeira classe, não abri mão de dar a
melhor lua de mel que minha irmã pudesse ter. Ela escolheu A
Cidade Luz,, claro que escolheria. Manu não poderia ser mais clichê.
— Como foi a passagem do ano em Paris?
— Nenhuma palavra faria jus a descrição, Enrico. Perco o
fôlego só de me lembrar.
— Imagino. Fico feliz que esteja aproveitando.
— E você, onde ficou ontem à noite?
Limpei a garganta buscando uma desculpa, de modo algum
Manu poderia saber da existência da Yasmin. Certamente, quando
voltasse me faria apresentá-la e viraria sua melhor amiga, ela
detesta a Leandra.
— Você sabe que não ligo pra essas coisas.
— Aff, quando vai começar a viver, Enrico? Não está ficando
mais novo, sabia?
— Está me chamando de velho?
— Entendeu o que eu disse. E aquelazinha, estava aí com
você?
— Manu... — grunhi.
— Deixa pra lá, ela não merece meu tempo, interesseira de
merda.
— Maldição, Manu. Quando é que vai parar de se meter na
minha vida?
— Quando vai acordar, Enrico. Não vê que ela te suga?
— São negócios, quantas vezes tenho que te explicar?
— O cacete!
— Manu, a boca! – vociferei na linha e ouvi seu bufar.
— Não foi pra isso que te liguei. Só quero desejar um feliz ano
novo e que, de verdade, você encontre o amor. Porque você merece.
— Sabe que minha perspectiva é outra, mas agradeço. Mande
um abraço ao Carlos.
— Te amo, gostosão. Logo estaremos de volta e vou te encher
o saco de novo. — Manu mandou um beijo e desligou.
Passei um tempo olhando o visor do celular com várias coisas
sobrevindo à minha mente, a mais preocupante: Yasmin. Deixar que
uma mulher dominasse meus pensamentos, não fazia parte dos
meus planos.
§§§§
Estratégia era tudo o que precisava para conseguir ter Yasmin
na minha cama. Passei a tarde elaborando uma forma de deixá-la
sem opção. Se eu consigo fechar negócios milionários na empresa,
levar uma garota para cama não seria tão complicado. Mesmo
porque, eu estava no lugar certo. Só bastava fazê-la entender isso.
Entreguei a chave do meu Maserati ao manobrista e entrei no
clube. Cumpriria com a promessa de abordá-la todos os dias, porque
não volto atrás de uma decisão. A Hostess me olhou espantada e me
cumprimentou – levando-me ao mesmo lugar de sempre.
Assim que a garota designada a me atender me viu, nem se
aproximou. Certamente, o gerente já a tinha instruído. Me ajeitei no
confortável e luxuoso sofá vermelho e aguardei Yasmin aparecer.
No momento em que ela apontou, suguei o ar entredentes e
soube que precisaria buscar um controle anormal para estar à frente
da situação. A noiva-sedutora sabia fazer um homem perder a
cabeça. Estar ciente, deixava-me com os nervos à flor da pele.
Sentia-os endurecidos.
— Diversão, Enrico — ciciei a mim mesmo – lembrando-me
do motivo de estar ali.
— Boa noite, senhor Bennett — cumprimentou-me sorridente,
eu franzi o cenho – sem entender toda aquela expansividade
repentina.
Estreitei os olhos e entortei os lábios. Inclinei a cabeça para o
lado e fiquei a escrutinando.
O vestido parecia mais curto; mais justo; o decote maior do
que o outros. Não era só a entrada dos seios que estava à mostra, o
tecido só cobria os bicos. A fenda da frente ia quase até a cintura. Eu
podia estar enganado, mas parecia que ela tinha emagrecido. As
pernas, quase inteiras de fora, incluíam um vão grande as
separando. Sem contar os braços, estavam finos. Podia ser que,
somente naquele momento, que realmente estava observando com
cuidado seu corpo.
Ergui os olhos para o rosto dela e notei as bochechas mais
secas. Mesmo com maquiagem, pude ver olheiras. Queria não me
importar, entretanto, aquele anseio de escondê-la e protegê-la quis
me dominar. Apertei os punhos e cerrei o maxilar – controlando um
lado meu desconhecido. Assustador.
— Apenas Enrico — corrigi-a – sério.
— Perdão, Enrico. Posso te trazer a mesma bebida? —
ofereceu, ainda com o sorriso largo enfeitando seu rosto.
Meneei a cabeça em concordância e ajeitei a frente da minha
calça jeans – que sufocava uma ereção fora de hora.
— O que essa garota tem, merda! Ela me rouba o ar e a
razão, porra! — retruquei baixinho.
Nunca fui a favor de falar palavrões, acho muito baixo. Prezo
pelo meu vocabulário, mesmo porque lido com empresários do alto
escalão. Só que, perto dela, me transformo em outra pessoa. Uma
que começava a me deixar em alerta. Porque sei muito bem lidar
com o planejado, o inesperado é amedrontador. Yasmin se afastou e
olhar para o seu rebolado piorou o meu estado, a bunda, sem
sombra de dúvida, é a melhor parte do seu corpo.
A banda saudou as pessoas e agradeci por começarem a
tocar, assim me distrairia dos sons incertos da minha respiração
impulsiva. Fechei os olhos, inclinando a cabeça e a encostando ao
sofá, na busca insana do controle. A voz atraente me fez voltar à
posição anterior.
— Prontinho — avisou e inclinou o corpo sobre a mesa –
deixando os seios próximos ao meu rosto ao colocar o copo à minha
frente. Franzi mais ainda o cenho.
— O que mudou? — questionei de imediato. A garota
continuava inclinada, praticamente em cima de mim.
— Por quê? — indagou melosa. Segurei seu punho, quando
tentou se afastar e a fiz me olhar dentro dos olhos.
— Me provocando — sussurrei com a boca a milímetros da
dela.
Um sorriso maroto cresceu em seus lábios e eu soube que
não precisaria mais lutar. Yasmin estava disposta a aceitar minha
proposta, ela nem precisou abrir a boca para eu ter certeza. Soltei
seu punho e a garota se acomodou ao meu lado, sem que eu
pedisse. O vestido subiu e consegui ver a renda da sua calcinha
preta. Senti o coração disparar e o pau latejar. Yasmin olhou para o
meio das minhas pernas e sorriu – sabendo exatamente que estava
no domínio.
Mesmo que tentasse, de forma alguma, reaveria a razão. O
desejo emotivo já comandava meu cérebro: a razão tinha perdido a
batalha. Levei a mão à uma de suas coxas e fui subindo lentamente
– sem tirar os olhos dos dela. Nossas respirações foram ficando
descontroladas, à medida em que minha mão chegava mais perto do
meu alvo. De repente, Yasmin impediu-me de continuar – cravando
suas unhas no meu punho – provocando um gemido rouco no meu
peito.
— Não tão rápido, Bennett. Temos que negociar.
Tirei rapidamente a mão e fiquei ereto – detestando saber que
ela tinha entendido que era uma negociação. Confuso, afinal, era
exatamente o que eu buscava. Passei as mãos pelos cabelos –
inclinando a cabeça para trás e respirando fundo.
— Você tem razão — afirmei – recuperando o fôlego.
— Nunca fiz isso — iniciou e eu assenti —, só que estou sem
opção. — Disse e baixou os olhos para o colo. Tirou um fio invisível
de seu vestido e voltou a me olhar. Permaneci calado, tentando
decifrar a mulher que estava conseguindo me desestabilizar. —
Antes, preciso saber de uma coisa.
— Estou ouvindo — incentivei-a, já que prendeu os lábios nos
dentes e ficou me encarando.
— É porque sou negra que acha que sou prostituta?
Recuei o tronco e enruguei a testa – sem compreender onde
ela queria chegar.
— Do que exatamente está me acusando? — defendi-me,
porque, por mais que meu corpo quisesse muito aquela garota,
entrar nessa de preconceito e discriminação, não valeria a dor de
cabeça.
Ela deu de ombros e desviou o olhar.
— Sei lá, só eu sou negra por aqui e... — suspirou —, nunca
se interessou pelas outras.
Negociando
Yasmin
Gabrielle
Achei que estava tendo uma visão quando abri os olhos e dei de
cara com o Dr. Kauê.
— Pelo jeito não seguiu meu conselho — comentou enquanto
enfaixava uma das minhas mãos.
— Não sou muito boa nisso — gracejei e sorri de lado.
— Percebi.
Olhei em volta e senti meu peito virar uma “ervilha”. Estava de
volta ao lugar que tinha roubado a pessoa mais importante da minha
vida.
— Quem me trouxe pra cá?
— Um dos seus irmãos.
— Não tenho irmãos — rosnei e ele desviou os olhos, do
curativo que fazia, para o meu rosto.
— Lucca Bennett e sua esposa, eles te trouxeram.
Assenti e ficamos nos encarando.
— Vai demorar pra terminar? — apressei-o, porque precisava
me afastar dali o mais rápido possível.
— Não vou te dar alta, Gabrielle. Não enquanto não passar
com a minha colega, Rita, psiquiatra.
Sentei bruscamente e o lancei um olhar temível.
— Nem fodendo que vou me consultar com uma psiquiatra,
não sou louca. — Ignorando-me, Kauê pegou novamente minha mão
e continuou fazendo o curativo. — Você ouviu?
— Sim, mas, aqui, você não dá ordens. Só vai sair quando eu
autorizar — comunicou – sem me olhar.
— Kauê... — suspirei —, por favor, estou bem.
— Prontinho. — Deu uma batidinha nas costas da minha mão
– colocando-a em cima das minhas pernas. As duas mãos estavam
completamente enfaixadas. — Você teve uma crise de pânico,
Gabrielle. Suas mãos vão demorar uns dias para cicatrizarem. Está
sob minha responsabilidade, não vou colocá-la em risco.
— Como assim, me colocar em risco? O que acha que posso
fazer?
Ele abriu um sorriso complacente e alisou meu rosto com as
costas das mãos. Nem sabia o quanto precisava daquilo. Há quanto
tempo ninguém cuidava de mim? Meus olhos se fecharam
institivamente e minha cabeça se inclinou em direção à sua mão.
— Aqui, você está segura, prometo — garantiu baixinho e eu
senti algo estranho dentro de mim. Um calor que só o idiota do Henry
conseguia despertar. Era a oportunidade que estava tendo para
desviar o foco. Fazer meu corpo entender que a tensão sexual com
meu meio irmão era algo inadequado e impraticável.
Interrompendo nossa interação, a porta do quarto foi aberta e
João Pedro, acompanhado de Bento – os dois com cara de poucos
amigos –, entraram.
— Boa noite, doutor — cumprimentou João e me olhou de
esguelha demonstrando que, mais uma vez, percebia o ocorrido.
Kauê cumprimentou as visitas, pediu licença e nos deixou.
Ele já tinha saído há alguns minutos e nenhum de nós tinha
dito algo. Eu sabia que Bento estava prestes a explodir, temia que
fosse ali. Porque, sinceramente, o médico tinha razão. Meu estado
psicológico era duvidoso. A raiva, que carreguei por trinta anos,
parecia ter quintuplicado dentro de mim. Tinha vontade, a todo
instante, de pegar minha Glock e sair atirando no primeiro que me
irritasse.
— Vai me dizer que porra pensa que está fazendo, Gabrielle?
— vociferou Bento – aproximando-se da cama.
— Fiz o que mandou — rebati.
— Mandei? Em qual momento fiz isso? Te avisei, a vida toda,
garota, que essa vingança só te destruiria. Quantas vezes tenho que
te dizer que precisamos ir pelos meios legais. Consiga as provas que
enfiamos todos atrás das grades, se é que é isso mesmo que você
quer — disparou a falar – com o dedo em riste.
— O que está insinuando? Que não quero colocar eles na
cadeia?
— Tenho minhas dúvidas. Depois do que vi essa manhã. —
Referiu-se ao confronto meu com o Henry no escritório dele.
Respirei fundo e desviei o olhar. Queria que tudo não
passasse de um pesadelo, no entanto, não tinha outra opção, a não
ser: enfrentá-los.
Descontrolado
Enrico
Yasmin
Gabrielle
Enrico
Yasmin
Gabrielle
Enrico
Buscava uma maneira de sair do meu prédio sem ser visto e não
encontrava uma saída. Não teria jeito, precisaria da ajuda do
Francisco com meu carro.
O chão da sala da cobertura furaria, se eu continuasse a
andar de um lado para o outro. Já passava das nove da noite e eu
não sabia o que fazer para despistar os paparazzis que acampavam
à minha porta. Só deram trégua nas festas de final de ano – uma
pena.
— Quando é que vão encontrar outra história mais
interessante? — resmunguei para mim.
Cida içou as sobrancelhas de onde estava – ignorei-a. Sentei
no sofá, inclinei o corpo – apoiando os cotovelos nos joelhos,
olhando para o celular. Os passos leves da Cida avisaram-me de que
começariam os questionamentos. Bufei, antes mesmo de ela iniciar.
— Vai me dizer o que está te desestabilizando? — indagou e
sentou-se ao meu lado – vestida com um robe – pronta para deitar-
se.
Cida soube me ler corretamente – estava completamente
desestabilizado. Ter consciência desse fato me tirava o sono. A todo
instante, buscava o equilíbrio das minhas emoções para ter o
controle das minhas ações. Uma busca sem sucesso. Coisa que
nunca havia me acontecido. As pessoas se irritam com o meu modo
metódico. Não entendem que meu cérebro é todo sistematizado,
quando saio da rotina, fico perturbado.
— Filho — continuou e passou a mão pelas minhas costas —,
fala comigo, não vou te julgar — insistiu.
— Em qual momento me deixei levar, porra! — praguejei e
ouvi Cida respirar fundo. Até mesmo ela, que está comigo há muito,
se espantou com meu vocabulário.
Ficamos em silêncio um tempo, enquanto Cida tentava me
ajudar com seu carinho em minhas costas.
— Foi depois que a Leandra voltou, que ficou assim —
deduziu e eu a olhei por cima dos ombros. — Por que não termina
logo com isso, Enrico?
— De novo, essa ladainha? Quantas vezes preciso explicar?
— Me chateei. Por que teimam em dizer que precisamos seguir o
coração?
Se antes de sentir algo por alguém, já achava um absurdo
essa história de coração, depois de Yasmin, tinha certeza. Minha
condição era a prova da minha teoria. Emoções só atrapalham.
— Você conheceu alguém — prosseguiu, mais uma vez, me
lendo corretamente. Nesses momentos, preferia que ela estivesse
em sua casa, assim não precisaria encarar a realidade. Voltei a olhar
para o celular e não respondi – incentivando-a. — Como ela se
chama? — perguntou divertida.
— Pare — murmurei, sem olhar para ela.
— Em todos esses anos, pedi à Nossa Senhora que
colocasse uma pessoa em seu caminho, que abrisse seus olhos.
Acho que ela me ouviu.
Bufei e balancei a cabeça – negando.
— Vocês e essa mania de achar que uma peça de gesso vai
atender a algum pedido — ironizei e recebi um leve tapa no ombro.
— Não seja rebelde, filho. Deus pode te castigar.
Novamente, me calei – ainda indeciso sobre o que fazer. Se
continuasse com o acordo que tinha feito com a Yasmin, me
satisfaria, mas correria muitos riscos – principalmente – o de me
apaixonar. Coisa que, até então, eu nem acreditava que poderia
acontecer comigo. Se desistisse... só em pensar em não vê-la mais,
meu corpo endurecia. Era um sinal de que tinha que recuar – só não
sabia como.
Levantei-me de supetão e cliquei no contato do Francisco.
— Vou acabar com isso, essa noite — garanti e Cida sorriu –
um daqueles risinhos que demonstram incredulidade.
Francisco atendeu e eu pedi que distraísse os paparazzi,
saindo com o carro – que tinha os vidros escuros. Assim que
pegassem uma distância, sairia com o meu.
§§§§
Quase não dei atenção à Hostess, que já foi me conduzindo
ao mesmo lugar de sempre. Me acomodei e logo uma garota se
aproximou – toda sorridente.
— Olá...
— Chame a Yasmin — interrompi-a porque queria resolver
àquela questão e sair logo dali.
— Ela não veio, hoje — comunicou, com o sorriso
desaparecendo do seu rosto.
Franzi o cenho e controlei a respiração – porque as batidas do
coração eu não podia equilibrar.
— Eu posso te atender.
Meus ouvidos costumam ser seletivos, principalmente, quando
preciso de algo e não tenho o poder de conseguir. Ignorando a fala
da garota, olhei por cima de seus ombros, na direção do barmen –
amigo dela. Ele atendia uma pessoa, prestando à atenção em mim.
Fiquei em pé e, sem me justificar à garota, caminhei até o
local da pessoa que teria uma explicação.
Sentei-me no banco alto de frente ao balcão e esperei que ele
terminasse o que fazia. Meus pés batiam no chão sem parar e, por
vezes, me vi passando as mãos na nuca.
Depois de “intermináveis” minutos, o rapaz veio até mim.
— Olá, o que vai beber? — perguntou, se fazendo de
desentendido.
— É sério isso? Cadê a Yasmin?
— E por que eu te diria? — enfrentou-me de cara – cruzando
os braços.
Travei o maxilar e me contive. Se eu perdesse o controle,
mais uma vez – naquele local –, seria constrangedor. Nunca, em
toda a minha vida, me expus como estava acontecendo ali.
Cheguei com o corpo perto dele e falei baixinho.
— Só me diz, porra!
Ele recuou um pouco e ergueu as sobrancelhas – deixando
claro que não me atenderia.
— Se não vai beber nada, com licença, algumas pessoas
querem suas bebidas. — Virou as costas e me deixou com os nervos
pulando.
Inclinei a cabeça para trás e fechei os olhos. Eu realmente
precisava conversar com a Yasmin. Tirar a garota da minha mente,
de uma vez por todas. Naquele momento, tive uma ideia. Peguei o
celular do bolso e disquei o número do Rodolfo.
— A essa hora, cara!? — rateou, assim que atendeu a
ligação.
— O que já sabe sobre a garota?
— Eu mal comecei, meu! Não sei muita coisa, você está
furando com o prazo que me deu.
— Sabe o endereço?
— Isso sim, mas só.
— Me manda o link da localização, agora — ordenei e
encerrei a ligação – saindo do banco e caminhando à saída.
O trajeto até o meu carro foi rápido. Me vi ligando meu
Maserati com um pequeno tremor nos dedos. Parei o que fazia e
fechei os olhos – inclinando a cabeça e apoiando no encosto do
banco. Fiquei uns minutos respirando com dificuldade, até sentir que
estava voltando ao normal.
— Isso precisa acabar, hoje — decretei e peguei o celular,
para ver a localização que o detetive tinha me enviado.
§§§§
Estacionei o carro em frente ao prédio e analisei o local.
Yasmin não morava em um bairro menos favorecido financeiramente,
como imaginei. Muito pelo contrário, só pessoas da alta sociedade
poderiam manter os custos de moradia naquele bairro. Mais um
motivo para me deixar intrigado. Por que, no fim das contas, ela
trabalhava naquele clube? E do que estava fugindo vestida de noiva?
Será que era realmente do seu casamento?
Se eu imaginasse, na época, que teria algum tipo de
envolvimento com ela, teria feito um interrogatório, nas horas em que
passamos juntos.
Observei o funcionamento da portaria, por um tempo. Teria
que ter um bom argumento com o porteiro, pois, certamente, se ele
me anunciasse, Yasmin não permitiria minha entrada.
Passados alguns minutos, vi quando o porteiro saiu de sua
cabine e foi para dentro do prédio.
— Chega alguém — torci, assim entraria como morador.
Duvidava que todos se conhecessem, em um prédio com tantos
andares.
Saí do carro e, como se os deuses estivessem a meu favor, vi
uma pessoa se aproximar da entrada de pedestres. Fui em direção a
ela – todo simpático.
— Nossa, o porteiro não está em seu posto, novamente.
Temos que conversar com o síndico — disse, como quem não quer
nada.
A senhora me olhou desconfiada e eu abri um sorriso –
desarmando-a
— Tem razão — concordou e abriu o portão. Entrei junto,
puxando outro assunto, já que o porteiro vinha em nossa direção.
— De qualquer maneira — prossegui e abri a porta de vidro
da recepção – fazendo um gesto para que ela entrasse primeiro. —
É um bom lugar para se morar.
— Ah, sim. Só alguns detalhes e ficaria perfeito.
Entramos no elevador e fomos conversando até o andar da
senhora – que me agradeceu, quando saiu da caixa de aço.
Meu peito se encheu de ar – assim que me vi sozinho e me
conscientizei do que fazia. Balancei a cabeça – indignado. Se eu
contasse para qualquer pessoa que me conhece, diria que eu
enlouqueci. Ou, no mínimo, tinha sonhado com àquela loucura.
As portas do elevador se abriram e eu saí confiante. Verifiquei
que era apenas um apartamento por andar.
Yasmin
Gabrielle
Enrico
Yasmin
Gabrielle
Enrico
Yasmin
Gabrielle
Enrico
Yasmin
Gabrielle
Enrico
Yasmin
Gabrielle
Enrico
Yasmin
Gabrielle
Enrico
Yasmin
Gabrielle
Enrico
Yasmin
Fim
Beijinhos. Anny!
About The Author
Anny Mendes
Paulista – nascida em Santo André – SP, apaixonada pela cidade de
São Paulo.
Incentivada pela mãe, assim que aprendeu a ler passou a viajar nas
histórias. Os livros tornaram-se seu vício.
O Caçula
“A vida é um jogo” – é a máxima da “Família Bennett”.
Você entraria despreparado em um jogo? Se jogar fosse tudo o que
conseguisse fazer, o que pensaria? E se, as regras mudassem no
meio do jogo?
O Cowboy
Jogar é o que os Bennett fazem de melhor. Kaíque não tem nada
que o caracterize como um Bennett, a não ser o sobrenome. O belo
cowboy, de sotaque arrastado e o vocabulário peculiar do mineiro,
achou que usando seu "talento" conseguiria as terras da Laura, que
herdou uma fazenda em uma cidade do Sul de Minas, entre as das
empresas Bennett, com facilidade – ledo engano.
Laura fez uma promessa ao pai, em seu leito de morte, e vai lutar,
com todas as forças, para cumpri-la. Seu pai a preparou para ser
uma fazendeira forte, que não dependa de homem nem um. Diante
de um monte de dívidas, ela não tem outra escolha, a não ser jogar
com seu adversário: o cowboy de araque – segundo ela.