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Inesquecível

Kacau Tiamo
Copyright © 2017 Kacau Tiamo

INESQUECÍVEL

Capa: Evy Maciel

Revisão: Ana Aguiar

Diagramação Digital: K acau Tiamo

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens,


lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Quaisquer semelhanças com nomes,
datas e acontecimentos reais são mera coincidência.

Todos os direitos reservados.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de


qualquer parte destas obras, através de quaisquer meios
— tangível ou intangível — sem o consentimento escrito
da autora.

Criado no Brasil.
"Até você se tornar
consciente, o inconsciente irá
dirigir sua vida e você vai
chamá-lo de destino."
Carl Gustav Jung
Agradecimentos
Sempre começo agradecendo minhas

Pimentinhas, mas esse, vou iniciar agradecendo a um

grande amigo, Manuel Alejandro, por todo o carinho,

tanto comigo, como com minhas Pimentinhas! Obrigada

por ter aceito ser o rosto, voz e corpo do nosso Victor

durante todo o processo de construção dessa história e

para sempre.

Pimentinhas, espero que tenham gostado dessa nova


experiência com nosso avatar real e que gostem da
história de Victor e Bianca! Obrigada por todo apoio e
incentivo diário! Vocês moram em meu coração! <3
Obrigada mais que especial as minhas miguxas do
peito, M. Gregori, Karoline Gomes, Alexsandra Peres,
Marina Peres (Cotinha), Dani de Mendonça, Kelly Faria,
Erica Pereira, Gisele Melo, Andreia Calegari, Graziela
Lopes, Lilia Britto, Luana Silva, Luciana Rangel, Mônica
Menezes, Diana Camêlo, Ionara Carvalho, por todo
incentivo e companhia dia e noite. Sem vocês… eu nada
seria. Amo muito cada uma de vocês.

Não posso esquecer de agradecer aos meus filhotes,


que me escutaram tanto contando essa história e por
entenderem quando eu dizia que precisava escrever e me
apoiaram dia e noite (principalmente nas madrugadas).

Às minhas amigas de panela e profissão, caraca


maluco, amo vocês!

A Itamara Rzezak, pela assessoria psicológica no


caso Victor.

Bem, meus amores, obrigada de coração a cada um de


vocês que lerão essa história de superação e amor sem
limites, desejo a cada um que o destino mexa seus
pauzinhos em suas vidas também.

Beijocas.
Sinopse
Certas coisas acontecem na vida da gente e

ficamos sem entender o porquê, situações onde temos que

nos adaptar, outras inesquecíveis... Assim foi com a vida

de Victor Van Hugel.

Após um grave acidente, ele desperta, machucado,


sem memória e sozinho em um hospital. Sem amigos,
família ou qualquer lembrança, ele luta pela vida e a
reconstrói, tendo por único amigo o enfermeiro que o
cuidou.

Mas o destino tem suas artimanhas e o coloca frente a


frente com seu passado… mostrando que o amor, mesmo
adormecido nas profundezas da mente, é inesquecível!

Descubra mais dessa deliciosa e quente história, em


“INESQUECÍVEL”
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
A autora
Contato
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Capítulo 1
Hoje estava prometendo uma chuva daquelas.

O meio dia já se aproximava, mas estava escuro como o

crepúsculo, o céu cinza, coberto de nuvens carregadas.

Olhei em volta, á procura de uma opção.

Eu preciso sair daqui!

Andei por alguns minutos e avistei um carro velho,


escrito vende-se em letras garranchadas e infantis, no
vidro da frente. O carro tinha a porta aberta e um rapaz
maltrapilho estava sentado ao volante.

—Ei, companheiro. Quanto está pedindo no carro?

—Três mil.

—Posso dar uma olhada no motor?

—Claro!
O rapaz puxou a alavanca por dentro do carro e,
saindo, abriu o capô. Fingi um olhar entendido, passei os
dedos por algumas mangueiras…

—Seu carro tem alguns probleminhas. A


documentação está ok? Está com você?

—Tá tudo certinho. Sei que o carro não está em


perfeitas condições…

Não o deixei terminar. Abri minha mochila e tirei um


maço de notas.

—Aqui tem dois mil e duzentos. Se você aceitar, te


pago agora, você me passa a documentação toda,
assinada. Agora. Tenho pressa, preciso do carro.

Ao ver o maço de dinheiro, os olhos do rapaz


brilharam. O carro mal valia a quantia que eu estava
oferecendo de tão acabado, mas eu precisava de alguma
coisa, alguma saída urgente e ele teria que servir.

Entrando no carro, o rapaz pegou o documento,


assinou e me entregou. Passou seu número de telefone,
mas, graças a Deus, ele ficou tão fascinado por receber
em dinheiro que nem pediu nada meu. Retirou alguns
pertences pessoais e me passou a chave.

Entrei no carro, ajustei o banco e retrovisores e,


dando a partida, coloquei o carro em movimento. Fui
obrigado a parar no primeiro posto para abastecer e então
peguei uma estrada secundária, rumo à capital.

O vento em meu rosto era agradável, fazia dos meus


problemas, nesse momento, meros detalhes. A paisagem
linda, com os relâmpagos cortando o céu, deixava uma
leve sensação de sonho, como se eu fosse protagonista de
um filme e não um cara fugindo do inferno.

A chuva chegou forte, o limpador de para-brisas mal


dava conta de abrir espaço entre a água, para que eu
enxergasse alguma coisa à minha frente. Uma serra surgiu
e senti um frio na espinha, mas eu tinha que continuar!

No meio de uma subida, o carro engasgou e morreu.

Por minutos fiquei ali, parado na estrada, tentando


fazer com que a geringonça pegasse, mas nada. Resolvi,
então, soltar o freio e deixar que pegasse velocidade na
descida, quem sabe assim ele pegasse no tranco.

Por diversas vezes tentei, mas nada. Escutei uma


buzina alta e olhei para trás, pelo espelho retrovisor, mas,
devido à chuva forte, só pude perceber o farol alto de um
caminhão enorme se aproximando.

Pisei no freio, mas em vão.

O carro não obedecia e não pegava!

Virei o volante, na esperança de chegar ao


acostamento, mas não deu tempo. Só ouvi o barulho do
metal se retorcendo e perdi a consciência.
Capítulo 2
Abri meus olhos devagar. Uma dor chata

tomava conta de todo meu corpo e eu não conseguia me

mover. Tentei falar, mas percebi que havia um tubo em

minha boca. O pânico me tomou e senti meus batimentos

acelerando.

Onde eu estou?

Como vim parar aqui?

Meu olhar percorria cada canto da sala clara e um


barulho cada vez mais forte tomava o ambiente.

Um homem vestido de azul entrou no meu campo de


visão e desligou o barulho ensurdecedor.

—Olha só! Você acordou! Acalme-se, vou retirar o


tubo de sua boca. Quando eu chegar no três, você tosse.—
Assim eu fiz e senti minha garganta pegando fogo quando
o tubo foi retirado. Tentei falar, mas parecia que minha
boca estava tomada de areia.— Já falei, acalme-se. Tudo
vai ficar bem. O pior já passou. Tome, beba um golinho de
água.

Ele encostou um copinho plástico em minha boca e


senti aquele líquido abençoado aplacando o fogo que me
consumia enquanto o engolia.

—Onde estou?— Consegui perguntar, minha voz


saindo rouca e baixa, entrecortada.

—Está no hospital. Sofreu um acidente muito grave,


senhor Victor.

—Victor… — Repeti, o nome completamente


estranho para mim.— Eu não me lembro… de nada...—
Sussurrei.

—Isso é muito normal, ainda mais depois de um


evento traumático, sem falar que você sofreu uma pancada
fortíssima na cabeça. Fique tranquilo, com o tempo tudo
retornará.
— Há quanto tempo estou aqui?

—Hoje, faz dezoito dias.

Fechei os olhos, imaginando o estado do meu corpo


para que eu não conseguisse me mover.

—Perdi algum membro? Não consigo me mexer.

O enfermeiro riu.

— Não, Victor. É tudo culpa do remédio para dor que


administramos. Não perdeu, mas você sofreu um corte
feio no braço, na altura do ombro. Os médicos fizeram
tudo o que puderam, foram horas e horas no centro
cirúrgico, mas conseguiram salvá-lo. Quebrou vários
ossos, teve uma pequena perfuração no pulmão e seu baço
não teve salvação. O importante é que você está vivo.

—Você é muito faladeiro.

—Ah, sim. Já tomei algumas advertências, sou muito


extrovertido e, por vezes, falo mais do que devo. Bem,
vou avisar seu médico de que está consciente.

—Ei, companheiro. Qual é o seu nome?


—Sou Luís. Hoje e amanhã serei seu enfermeiro na
parte da tarde.

—Obrigado, Luís.

—Imagine, agradeça ao doutor Prado. Ele fez um


verdadeiro milagre com seu braço.

Virando as costas, ele saiu e fiquei sozinho.

Victor… até meu nome soava estranho para mim.


Victor do quê? Forcei-me a lembrar, mas sem sucesso.

Pessoas, lugares… nada! Minha mente era uma tela


em branco, total e absoluta. Pânico me tomou e comecei a
ofegar. Nem me exasperar direito eu podia, pois não
conseguia me mexer!

Me forcei a controlar a respiração.

Não há nada que eu possa fazer… pensei resignado.


Minutos se transformaram em horas e nada do médico
aparecer. Uma comichão começou nos dedos dos meus
pés e foi subindo por minhas pernas. Logo todo o meu
corpo parecia estar em brasa, pela dor que me tomou
quando tentei, novamente, mover meus pés. Ela foi bem-
vinda, pois dessa feita eu consegui movê-los e um alívio
me tomou.

Foi então que percebi estar com as pernas engessadas


por baixo do lençol que cobria todo meu corpo.

Abri a boca para gritar, mas minha voz não passava


de um sussurro rouco.

Meu Deus! Eu enlouqueceria aqui, sozinho dessa


maneira.

Uma batida na porta me fez suspirar.

Finalmente alguém!

—Boa noite. Desculpe minha demora, mas estava em


cirurgia. Vamos ver como você está. Bom saber que
recobrou a consciência, é um alívio e tanto para toda a
equipe. Consegue falar?

Pigarreei, limpando a garganta.

—Sim, Doutor, consigo, mas parece que minha


garganta está em brasa.— Murmurei.
—Não se preocupe. Você sofreu um acidente
gravíssimo. Ficou preso nas ferragens, seu braço
esmagado entre elas, o que de certo modo te salvou, pois
estava comprimindo a artéria. Quando te retiraram, o
trouxeram diretamente para cá e entramos no centro
cirúrgico no mesmo instante. Você nasceu novamente,
rapaz. Teve muita sorte, mesmo com tanto azar. Os
bombeiros conseguiram recuperar sua mochila e o
documento do seu carro, Victor.

Eu só escutava. Não tinha nenhuma recordação de


nada disso!

—Eu não me lembro de nada. Nenhuma mísera


informação sobre mim, quem sou, de onde sou ou o que
faço…

—Geralmente, é temporário. Não se esforce demais.


Pelos seus traumas e estado geral, terá que ficar mais
algum tempo por aqui. Já que não se lembra de nada e nós
não temos como entrar em contato com nenhum parente ou
verificar suas impressões digitais, pois elas apresentam
falhas, estão apagadas, o que nos faz pensar que você
trabalhava muito com digitação, computadores e afins.
Quando tiver alta, nós o encaminharemos para um
albergue aqui na cidade e lhe providenciaremos uma
colocação no mercado. Mantemos um programa de
inclusão social na cidade e você é um candidato com alto
potencial para tal.

—Obrigado, doutor. Serei imensamente agradecido.

—Eu sabia que não tinha errado em meu julgamento.


Pode não se lembrar de nada, mas a educação é uma coisa
inata.

Sorri, sem jeito.

O médico começou com seus exames físicos e


escreveu algo em sua prancheta.

— O enfermeiro logo virá com sua medicação.


Faremos a aplicação por meio intravenoso por hoje e
assim que sua garganta estiver melhor, passaremos para
administração oral.

Concordei com a cabeça, lentamente.


Ele, com um gesto de mão se afastou, saindo do meu
campo de visão.

Minutos mais tarde, o extrovertido Luís adentrou meu


quarto. Dessa vez ele começou a me inteirar sobre a
programação da TV, novelas e seriados.

—Não querendo ser negativo, mas você, pelos seus


traumas, vai ficar assim, deitado e imóvel por mais um
tempo, até que seus ossos estejam perfeitos. Então, saber
a programação da TV será seu passatempo. — Luís riu e
aplicou a medicação pelo acesso em minha mão.

Foi então que tomei consciência do quão quebrado eu


estava.

Meu braço direito estava, segundo Luís, com vários


pontos, por conta do corte profundo que quase decepou-o.
Radio quebrado, meu fêmur havia sofrido uma fratura
exposta, outros ossos também, trincados ou quebrados,
incluindo algumas costelas. Segundo ele, simplesmente
não havia chegado a minha hora, pois ele já havia
presenciado a morte de pessoas por acidentes muito
menores.

—Alguém lá em cima, gosta muito de você.— Luís


colocou a mão em meu ombro esquerdo, o único lugar em
mim sem ataduras, gesso ou talas.
Capítulo 3
O tempo passou e nos tornamos muito amigos,

tanto que em seus dias de folga, Luís vinha me visitar,

trazia algumas revistas e também seu notebook, onde me

mostrava as novidades tecnológicas, redes sociais, coisas

que eu simplesmente não lembrava da existência e que

eram surpreendentes para mim.

Dias viraram semanas… Semanas viraram meses, até


que tive alta, com a promessa de comparecer às sessões
de fisioterapia. Fui levado por Luís até um albergue,
muito limpo e organizado, onde ganhei uma suíte
individual. Simples e confortável. Luís também me deu
algumas roupas, pois as que eu tinha em minha mochila
estavam largas demais em mim..

—Essas roupas foram doadas pelo pessoal do


hospital, para que sua recolocação no mercado seja a
melhor possível. Sua história comoveu muitas pessoas que
passaram esses meses com você, sua maneira de agir, sua
educação e toda a paciência e empenho na sua lenta
recuperação. No primeiro dia, aquele que você acordou,
eu lhe disse que alguém lá em cima devia gostar muito de
você. Agora digo que naquele hospital você ganhou uma
família. Todos se juntaram e deram um pouquinho. Alguns
ajudaram doando roupas, outras roupas de cama, banho…
e outros, com dinheiro. Com a ajuda do Dr. Prado, foi
aberta uma conta poupança no banco, com algum dinheiro
para você recomeçar. Também com a ajuda do Dr., você
ganhou um trabalho lá no hospital, na área administrativa.
Você vai começar na função de secretário e vão ver como
você evolui, mesmo não se lembrando do que fazia ou do
que tem conhecimento. A esperança é que você,
trabalhando, lembre-se de algo ou demonstre habilidade
para outros setores. Agora é com você.

Quando ele acabou de dizer tudo isso, eu estava


chorando, silenciosamente. As lágrimas escorriam e eu
não tentava impedi-las.

Abracei Luís, sem reservas.

—Obrigado, meu amigo. Vocês realmente foram anjos


por esses meses todos. Salvaram minha vida, cuidaram
tão bem de mim que hoje estou recuperado. Não vou
decepcioná-los. A nenhum de vocês, que apostaram tanto
em alguém que mal conhecem. Obrigado mesmo.

— O que é isso… você é uma pessoa boa,


supereducado com todos. Quem faz o bem, recebe o bem.
Vamos manter o ciclo. Faça o bem a quem você achar que
deve. Não precisa ser hoje ou amanhã. Apenas quando
achar que deve, faça. Combinado?

—Combinado.

— Certo, então. Amanhã cedo esteja lá no hospital, na


recepção, às oito, e eu o levarei até o encarregado. Não
tem como se perder, pois para chegar ao hospital é só
atravessar a rua. Aqui o cartão do banco, com algum
dinheiro para se manter, comprar alguma coisa para comer
por esses dias, até vir seu primeiro salário. Cortesia do
Dr. Prado, e não se preocupe pelo fato da conta estar no
nome dele. — Me entregou o cartão com a senha escrita
em um papel e me deu um tapinha nas costas.— Você vai
ficar bem? Tenho que voltar ao trabalho.

—Vou sim. Pode ficar sossegado. Amanhã cedo


estarei lá.

— Quem sabe amanhã não podemos sair por aí e


azarar algumas gatinhas? Você tá precisando, cara, ficou
preso naquela cama de hospital por muito tempo.

Ri e concordei em sairmos.

Isso seria legal. Mesmo com receio de não ser bem-


aceito, por causa da minha aparência, uma vez que o
doutor havia dito que eu tinha perdido muito peso e massa
muscular, tanto que as roupas que estavam em minha
mochila ficaram frouxas no meu corpo, eu iria.

Hoje realmente minha vida recomeçava. Despedi-me


de meu amigo e fechei a porta.

Um banho! A primeira coisa que eu faria seria


tomar um banho, sozinho e sem risco de entrar alguém
para ver como eu estava!

Tirei a roupa e entrei no pequeno banheiro.

No espelho, a cicatriz em meu braço, avermelhada,


chamou minha atenção e me incomodou sobremaneira.
Luís tinha uma tatuagem que cobria todo seu antebraço.
Essa seria uma boa alternativa para acabar com essa
sensação horrível que me tomava cada vez que eu olhava
para ela. Eu sempre saberia que ela estava ali, mas sua
visão não me causaria mais essa sensação.

Entrei no box e liguei o chuveiro. A água fria me


atingiu e fez minha pele formigar. Aos poucos, foi ficando
morna e retirou de mim toda a tensão dos músculos,
relaxando todo meu corpo. Desliguei o chuveiro, meio que
a contragosto, mas já estava ficando com as pontas dos
dedos enrugadas.

No quarto, liguei a televisão antiga e notei um


frigobar no canto, embaixo da bancada. Abri para
verificar seu conteúdo e havia algumas frutas, leite
achocolatado, caixinhas de suco e um sanduíche de
presunto e queijo, com alface e tomate.

Peguei o lanche e um suco, me sentei na cama, de


toalha mesmo, e devorei tudo. Entorpecido pelo banho e
pela comida, o sono me tomou e deitei na cama, macia e
cheirosa.
Capítulo 4
Acordei com os raios do sol entrando pela

janela. Comi uma fruta, fiz a barba, escovei os dentes e

tomei um banho rápido, colocando um jeans e camiseta, o

tênis que havia vindo junto com tudo e, trancando a porta,

saí para meu primeiro dia de trabalho.

Chegando na recepção, Luís estava lá.

—Rapaz, você está com uma cara péssima.— Disse a


ele, dando um tapinha em suas costas.

—Depois do turno da madrugada, não tem como estar


melhor. Vamos lá, vou te levar até a administração.

Fomos andando pelos corredores, passamos em frente


ao quarto que ocupei por tanto tempo e cumprimentei a
todos ali, que retribuíram com empolgação, me dando
boas vindas à equipe. Eu me sentia muito bem e à vontade
entre todos eles.

Logo chegamos ao setor onde eu trabalharia.

— Helen, esse é o Victor. Ele começa hoje. Você


pode mostrar tudo a ele?

Helen era uma morena muito bonita, aparentando ter


uns vinte e sete anos. Cabelos e olhos castanhos e um
sorriso meio malicioso que me deixou desconcertado.

—Pode deixar, Luís. Tudo, tudo, eu ainda não posso


mostrar, mas vou te levar à sua mesa, Victor. Siga-me.

Ela deu uma piscada e seu sorriso ficou ainda maior.

Luís me deu uma cutucada e balançou as sobrancelhas


para mim, sussurrando: Tá no papo!

Ri do comentário machista, se bem que Helen parecia


estar me dando bola mesmo… Acenando para Luís, segui
Helen até o final do corredor e paramos em frente a uma
mesa, onde havia um computador, bloco, caneta e também
um aparelho de telefone.

—Olhe, Victor, todos sabemos que você está com


problemas para se recordar das coisas, então, precisando
de qualquer coisa, qualquer dúvida que você tenha, pode
me chamar. Aqui, no telefone, estão anotados os ramais e
para quem eles são. Atenda e passe a ligação ou anote o
recado, se não atenderem. O computador tem acesso à
internet, mas lembre-se de que ele é monitorado. Tem uma
conta de e-mail configurada em seu nome, a qual se
encontra no início dessa agenda, junto com seu usuário e a
senha de funcionário. Essa é provisória, você pode e deve
trocá-la assim que puder. Por enquanto é isso. Conforme
for se adaptando, vamos acrescentando coisas e logo
trabalhará a pleno vapor. — Dessa vez seu sorriso foi
sincero. — Seu horário de almoço começa ao meio dia.
Tem uma hora e um intervalo de quinze minutos, às três.
Ás cinco e meia da tarde, você está liberado.— Ela jogou
os cabelos para trás e continuou.— Tenha um bom
primeiro dia de trabalho e não se esqueça que estou à
disposição para qualquer dúvida.

Virou-se e voltou para sua mesa, no início do


corredor.
Capítulo 5
Sentei e olhei em volta, pensando na sorte que

eu tive. Suspirei e liguei o computador, fazendo o login.

Em meu e-mail, uma mensagem já me aguardava, pedindo

que eu passasse no departamento de RH para assinar os

papéis de admissão.

Passei as mãos pelo rosto, me sentindo vivo!

Assim, comecei em meu novo emprego, com fé


renovada e muita vontade de dar o meu melhor.

Um pouco antes do meu horário de almoço acabar,


passei para assinar os papéis, voltei para minha mesa e,
quando me dei conta, o expediente havia terminado.

Despedi-me de Helen e do pessoal que encontrei no


caminho. Chegando à rua, fui direto para meu quarto e,
depois de um banho, resolvi tirar tudo da mochila, o que
haviam resgatado do meu carro.

Virei todo o conteúdo em cima da cama.

Havia cuecas, algumas peças de roupa, escova de


dentes, um chaveiro com algumas chaves e itens de
higiene. Dobrei as roupas, na esperança de que um dia
voltassem a caber em mim e também como uma
recordação do que me aconteceu.

Peguei a mochila e dobrei ao meio, mas senti uma


resistência, como se tivesse um monte de folhas dentro.
Virei-a pelo avesso e encontrei um zíper escondido na
parte interna. Ao abri-lo, senti meus olhos se
arregalando...

Dinheiro!

Muito dinheiro!

Daria para eu ter uma boa vida e por um bom tempo.

Perguntas surgiram em minha cabeça…

De onde viera aquele dinheiro?


O que eu havia feito para estar com tanto dinheiro
escondido na mochila?

Era lícito ou ilícito?

Guardei tudo novamente no bolso camuflado e enfiei


no fundo do armário. Seja lá o que tivesse feito, ou o que
eu fosse antes do acidente, a vida havia me dado uma
nova chance, uma chance de recomeçar e eu me esforçaria
para que esse recomeço fosse bom e proveitoso.

Deitei e o cansaço me pegou. Por mais que eu


quisesse fazer algo diferente, ainda estava debilitado por
ter passado tanto tempo deitado naquela cama de hospital.
Teria que dar tempo ao tempo…

Fechei os olhos, tentando me recordar de alguma


coisa, qualquer coisa…
Capítulo 6
Uma batida na porta me despertou.

—Victor! Abra a porta!— A voz de Luís chegou até


mim.— Vamos cara, vamos nos divertir! — Bateu
novamente.

Pulei da cama, esfregando o rosto para espantar o


sono.

Abri a porta e o deixei entrar.

—Você estava dormindo? Não acredito! Vamos, as


gatinhas nos aguardam! É quase quinta-feira, homem!
Quase final de semana!

—Luís, eu estou um bagaço. Saí do hospital ontem,


trabalhei o dia todo…

—Nem venha com desculpas. E você estará


acompanhado de um profissional habilitado. — Ele sorriu
e me deu um tapinha nas costas.— Se troque e vamos. Só
um pouco, ver gente nova, respirar novos ares.

—Ok, você venceu. Só um pouco.

—Isso aí!

Ele sentou-se em minha cama e ligou a TV. Recostou-


se como se estivesse em casa.

Meneando a cabeça, tomei uma ducha e logo


estávamos saindo.

O barzinho onde fomos era bem movimentado e,


mesmo não estando em minha melhor forma, chamei a
atenção de muitas mulheres. Com cabelos escuros meio
crescidos, olhos verdes e meses no hospital, que me
deixaram com a pele pálida pela privação do sol, fizeram
com que as mulheres se encantassem pelo contraste e nem
percebessem a minha magreza.

Sentados em uma das mesas, cada um com uma


cerveja, assistíamos a luta de MMA que passava no telão.
Percebi que gostava muito e me vi torcendo por um dos
lutadores, rindo e brincando com Luís sobre os murros e
pontapés que desferiam um no outro, na tela.

Entretido com isso, me assustei quando o garçom


chegou ao meu lado e estendeu um bilhete para mim.

— Aquela morena ali — apontou para duas mulheres


sentadas um pouco distante de nós — pediu para que te
entregasse.

Agradeci ao garçom que saiu rindo, creio que da


minha cara de assustado.

—Aí, hein, garanhão! Arrasando corações! Vai lá,


ataca a gatinha!

—Pare com isso, Luís! Debilitado como estou, vou é


passar vergonha!

—Puta merda, cara! Se a mulher deu bola, vai atrás!


Ela tá te querendo, olhe lá, toda sorridente!

—Não. Eu não estou preparado pra essas coisas


ainda.

—Meu Deus, homem! É só conversar! Vamos lá,


falamos um pouco com elas e saímos para ir ao banheiro.
Damos um perdido nelas e você perde esse medo bobo.
Mulher não morde não, cara, a menos que você peça. —
Luís riu abertamente. Ele era meio louco e esse lado dele
me divertiu. Impossível ficar sério perto dele.

Sem me dar chance de pensar, ele levantou-se e foi


até elas, fazendo sinal para que eu me levantasse também.
E lá fui eu, enfiando minha timidez sabe-se lá onde.

Luís tinha razão, e conversar não tirava pedaço.

Horas depois saímos do bar e, em meus bolsos,


vários números de telefone. Não que eu fosse ligar para
alguma delas amanhã ou depois, mas fez muito bem para
meu ego.
Capítulo 7
Acordei novamente com a luz do sol

entrando pelas frestas da janela antiga. Depois de tanto

tempo no hospital, com enfermeiros me acordando para a

medicação, havia se tornado um hábito acordar sempre

no mesmo horário.

Cheguei ao trabalho alguns minutos antes do horário e


Helen já estava em seu posto.

—Bom dia! Chegando cedo, hein?— Ela debochou de


mim e senti meu rosto queimar.

Eu estava corando?

Precisava comprar um celular urgentemente e não me


esquecer de chegar sempre pontualmente no horário. Essa
sensação de vergonha, eu não gostei de sentir.
Meio contrariado comigo mesmo, caminhei até minha
mesa e liguei o computador. Em cima dela havia vários
prontuários que precisavam ser colocados no sistema.
Cruzei os dedos das mãos, estalando-os, e comecei.

Eu digitava muito bem!

Mal precisava olhar para o teclado! Uma boa


descoberta sobre mim mesmo!

No final do expediente, eu estava extremamente


satisfeito. Passei na pousada, peguei algum dinheiro da
mochila e saí, em busca de um celular. Na rua, olhei em
volta e avistei o shopping. Era para lá que eu iria!

Duas quadras depois da pousada, uma academia me


chamou a atenção. Entrei, e depois de perguntar na
recepção pelo valor, fiz minha matrícula.

Algo em minha cabeça me dizia que era o certo a se


fazer, já que minha condição física me incomodava. Mais
quatro quadras e cheguei ao shopping onde comprei o
celular, roupas para a academia, um tênis para corrida e
alguma comida no mercado. A volta para a pousada foi
exaustiva, carregando todo aquele peso. Realmente, a
academia se fazia necessária.

Em meu quarto, após guardar tudo e tomar uma ducha,


me atirei na cama, completamente esgotado, coloquei o
celular para carregar e, depois de ajustar o despertador,
fechei os olhos.
Capítulo 8
A rotina chegou e foi bem-vinda!

Eu gostava da regularidade e do sentido de


organização que vinha junto com ela. Minha vida se
resumia em trabalho, academia e sair com Luís todo final
de semana.

Eu trabalhava de segunda a segunda, com dois


Domingos no mês, de folga; os quais passava lendo em um
parque próximo ou ia ao cinema.

Com meu primeiro salário e o aval do Dr. Prado, me


mudei para um apartamento de um dormitório, mobiliado,
pois não podia sair usando o dinheiro da mochila a torto e
a direito.

As mulheres que se interessavam antes, agora se


atiravam sobre mim. Eu estava ficando com os músculos
definidos, após quatro meses de treinos diários. Até tentei
sair com algumas, mas na hora de levá-las para meu
apartamento, algo me bloqueava e a coisa não acontecia.
Acabava me despedindo antes da coisa esquentar o
suficiente e um banho frio resolvia o problema.

As cicatrizes que tanto me incomodavam, estavam


cobertas por tatuagens. Desde que saí do hospital, eu
estava indo a cada quinze dias no estúdio de tatuagem
onde Luís havia feito as dele, o que fazia com que eu me
sentisse muito melhor e fortalecia minha autoestima. Em
oito sessões, elas já cobriam parte do meu braço, ombros
e costas.
Capítulo 9
Hoje havia sido sensacional!

Após uma ligação de um parceiro norte-americano do


hospital, fui promovido, pois descobriram que meu inglês
era fluente, o que chocou até a mim mesmo, para variar.
Foi tão natural que, ao atender a ligação, já respondi e
levei a conversação toda em um inglês perfeito. Somente
quando desliguei foi que percebi Helen me olhando como
se tivesse surgido uma segunda cabeça em meu pescoço.

A partir de amanhã, eu seria o novo gerente de


compras!

Com a promoção, eu teria um carro à minha


disposição e deveria me vestir melhor, usando gravata
todos os dias.

Saí do trabalho e fui direto ao shopping, onde


comprei algumas peças. Para combinar com o visual mais
requintado, resolvi mudar e cortar o cabelo também, coisa
que não fazia desde o acidente. Para comemorar minha
promoção, jantei no shopping um belo filé a
parmegianna!

Satisfeito comigo mesmo e com meu novo guarda-


roupas, retornei para o apartamento.

O que um homem sozinho não tinha que fazer!

Lavei e sequei as camisas novas, passei uma e


guardei o restante, penduradas no roupeiro.
Capítulo 10
—Bom dia, Helen!— Cumprimentei-a,

parado diante de sua mesa.

Ela levantou os olhos em minha direção e me senti


violado, pela cobiça estampada em seu olhar.

—Uau, Victor! Quem diria que um banho de loja e um


corte de cabelo fariam tanta diferença! Você está gostoso,
homem! Meu Deus! Multiplicai, Senhor!

— Comporte-se, Helen! — Desviei a atenção com


uma reprimenda, sorrindo de leve, e segui meu caminho,
sentindo os olhos dela queimarem minha pele.

Dei uma olhada para trás e ela estava secando minha


bunda, tal qual nós, homens, fazemos com as mulheres.
Meneando a cabeça, entrei em minha nova sala.

O trabalho era exaustivo, mas muito bem-vindo.


Os dias eram tomados por reuniões e mais reuniões
com representantes de empresas farmacêuticas, com suas
pastas de couro enormes e muitas amostras grátis.

Com tantas drogas assim à disposição, dei graças por


não ter a tendência ao vício. Ao pensar nisso, me lembrei
de todo o dinheiro da mochila…

Sacudi a cabeça com força, para afastar esse


pensamento. Eu não era um traficante ou coisa do tipo,
não podia ser.

Uma batida na porta me tirou das divagações…

—Pode entrar. — Me fiz ouvir por quem estava do


outro lado.

A porta se abriu e Luís entrou, com um sorriso no


rosto.

—Quem te viu e quem te vê! Tá todo chique aí atrás


dessa mesa, parece o poderoso chefão.

—Deixe de deboche!— Ri com ele. —Se estou aqui,


é graças a você e a todos que me ajudaram quando
precisei. Sou grato por isso e não me esquecerei nunca.

—Relaxa, eu sei disso. Soube assim que entrei


naquele quarto e vi você lá, todo estropiado. Agora, uma
coisa séria.— Luís me olhou e balançou as sobrancelhas
e, o conhecendo bem, lá vinha bomba.— Abriu um lugar
aí que dizem ser “o lugar” para se ir numa sexta à noite. O
que acha? Vamos conhecer, hoje? Faz um tempão que não
saímos por aí…

Passei a mão pelos cabelos. Eu estava precisando


relaxar um pouco mesmo.

—Está bem, vamos lá!

—Isso aí! Prendam suas cabras, os bodes estão


soltos!— Luís fez um gesto com a mão, despedindo-se.—
Passa lá em casa às dez.

Dizendo isso, saiu, fechando a porta atrás de si. Luís


era como poucos, um amigo confiável.

Em casa, pensei na sorte que eu havia tido. Fosse qual


fosse meu passado, hoje eu era um homem bem-sucedido,
com um emprego muito bem remunerado.

À noite, fomos conhecer a nova casa noturna que


havia inaugurado há poucos dias, um pouco distante, do
outro lado da cidade.
Capítulo 11
— Rapaz , você precisa de ação. Pensa que
não percebo que você nunca leva ninguém para lugar

nenhum? Sempre vai embora sozinho.— Luís falou, tão

logo entramos na casa noturna, mas dei de ombros e

continuei andando, abrindo espaço pela multidão. — Isso

mesmo, finge que não me escuta…

Sorri para ele e apontei com a cabeça um grupo de


lindas mulheres que estavam dançando em um dos cantos
da pista.

— Vamos lá, quem sabe?

Luís se empertigou todo e um sorriso conquistador


surgiu em seu rosto.

— Isso aí! É exatamente disso que precisamos!


Como quem nada quer, fomos andando, chegando
perto delas… Luís olhava fixamente para uma bela
morena, magrinha demais para meu gosto, mas exatamente
do tipo que ele sempre ia atrás.

Em poucos minutos, ele conversava com a morena e,


por causa da música alta, ele chegava bem próximo ao
ouvido dela para falar, dando um beijo em seu rosto toda
vez, cada vez mais próximo à boca. Por experiência
própria, eu sabia que logo perderia meu parceiro de noite.

Assim que ele me olhou e balançou a cabeça, soube


que já havia levado a garota na lábia e que o veria
somente no dia seguinte. Falei para a outra garota, com
quem eu conversava, que já voltaria e saí de fininho,
andando pelo espaço repleto de corpos que dançavam ao
som hipnótico da música eletrônica.

Fui até o bar, pegar alguma coisa para beber, apenas


para ter com o que ocupar as mãos, quando um arrepio
tomou conta de mim. Olhei em volta, procurando por
alguma coisa, mas em vão.
Que coisa estranha…

Pegando o copo de cerveja, olhei em volta


novamente, a sensação de formigamento não me deixava.

Me sentia inexoravelmente atraído por alguma coisa!

Andando às cegas, em meio à escuridão e luzes


pulsantes, parei junto a um pilar, observando a multidão
de corpos à minha frente.

Do nada, longos fios de cabelos castanhos se


engancham em meus dedos e o perfume que veio deles me
deixou tonto e duro na hora, como um adolescente.

A dona dos longos cabelos virou-se para se desculpar


e seus olhos se prenderam aos meus. Me vi viajando no
azul magnífico que me encarou. Ela me olhava incrédula e
empalideceu, como se estivesse olhando para um
fantasma.

Sua boca de abriu e ela disse alguma coisa, que não


consegui entender pelo volume da música. Coloquei o
copo na mesa alta atrás de mim e a segurei pelos ombros,
pois ela parecia que perderia a consciência a qualquer
momento.

—Você está bem? —perguntei, preocupado. Ela


apenas sacudiu a cabeça, negando.— Venha comigo, você
precisa de ar. — Tomando sua mão fria, a levei para a
enorme sacada que dava para a rua. — Respire um pouco.
— Sussurrei, pois lá fora estava bem quieto e as poucas
pessoas que estavam ali, estavam aos beijos pelos cantos.

Ela me olhou e suspirou.

— Desculpe, já estou melhor. Deve ter sido o calor lá


de dentro mesmo, misturado com a dança e a música… —
Ela parou de falar e voltou a me encarar.

Sua voz era rouca e suave, penetrando nos meus


ouvidos como uma música suave, me encantando. Seus
olhos nos meus pareciam perscrutar minha alma e me vi
novamente perdido neles. Meus dedos acariciaram de
leve seu rosto e ela se inclinou para minha mão, à procura
de mais. Hipnotizado por seu olhar, me aproximei de seu
rosto, chegando mais e mais perto.
—Bianca. Meu nome é Bianca. — Ela sussurrou e
meu olhar caiu para sua boca.

Era tarde demais para que eu pudesse parar.

— Victor… prazer, Bianca.

Nossos lábios se encostaram e um tremor me


percorreu. A mão dela encostou em meu rosto,
percorrendo de leve minha mandíbula e não me aguentei.
Intensifiquei o beijo, trazendo-a para mais perto com a
outra mão, pela cintura.

Sentia seu corpo todo colado ao meu e, pela primeira


vez em meses, eu estava louco para levar alguém para
meu apartamento, mas ainda era cedo demais.

Cedo DEMAIS!

Com essa constatação, me afastei e a olhei


novamente. Seu rosto estava corado e ela arfava
levemente, tão descontrolada quanto eu próprio.

— Desculpe, Bianca. Não sei o que me deu, mas eu


precisava… — me afastei um pouco, passando a mão
pelos cabelos. — Realmente, me desculpe. Não saio
beijando mulheres assim, que mal conheço.

Bianca sorriu, tímida, se abraçou e passou os dedos


pelos lábios.

— Nem eu, mas tem uma primeira vez para tudo nessa
vida.

Levantou o olhar para me encarar e sorriu.

Aquele sorriso mudou tudo em mim e me vi sorrindo


de volta.

Como um bobo.
Capítulo 12
—Acho melhor recomeçarmos. Prazer, sou

Victor. — Disse dando a ela meu melhor sorriso.

Ela retribuiu com um sorriso lindo, que iluminou seus


olhos.

—O prazer é todo meu, Victor. Me chamo Bianca. —


A essa declaração seguiu-se uma risadinha.

Linda!

—E você veio com quem, Bianca?

—Com algumas amigas, e você?

—Com um amigo também, mas ele já foi embora.


Suas amigas ficariam muito chateadas se você saísse
comigo? Quer ir a algum lugar, comer alguma coisa, sei
lá… um lugar mais calmo, onde a gente possa conversar?

— E o que me garante que você não é um louco que


quer me levar para algum lugar e fazer sabe Deus o que,
comigo?

—Eu tenho cara de louco psicopata?— Perguntei,


fazendo cara de santo.

Bianca me olhou com aquele sorriso lindo no rosto.

—Não. Não tem não. Tudo bem, mas você me traz de


volta antes das duas?

Olhei no relógio. Teria duas horas para conhecê-la


melhor.

—Combinado. — Estendi a mão para ela.— Vamos?

Quando ela depositou a mão na minha, uma corrente


elétrica me percorreu.

—Vamos.

Mais do que depressa, segurei sua mão e a levei dali


até meu carro.

— Com fome?— Perguntei depois de ligar o carro.

— Um pouco.
Percebi um tremor em sua voz. A olhei de relance e
suas mãos estavam segurando as coxas e ela olhava para
elas.

—Bianca, sei que parece tudo louco e rápido demais,


mas não sou assim. Só queria conhecer você, conversar.
Se quiser, a gente não vai a lugar nenhum e fica aqui no
carro mesmo, lá dentro, com aquele barulho todo, não dá
para conversar.

—Verdade, é loucura. Podemos ficar aqui mesmo.—


Ela relaxou visivelmente e desliguei o carro, deixando o
rádio ligado, baixinho. — Por que você não começa me
falando um pouco mais sobre você?

Uma risadinha nervosa escapou de mim.

— Eu não tenho muito o que dizer sobre mim.


Novamente, parece loucura, mas não sei muita coisa sobre
mim mesmo. —Fiz uma pausa, tentando encontrar
palavras para fazer tudo parecer menos doido do que era.
Ela me olhava, aguardando pacientemente. — Há quase
um ano, acordei em uma cama de hospital, sem memória e
todo quebrado. — Ela abriu a boca, para dizer alguma
coisa, mas fechou e permaneceu assim. — Então, a equipe
do hospital me adotou, me deram casa e trabalho. E estou
aqui.

—Nossa, Victor! Que loucura! —Ela levou a mão à


boca, espantada.

—O carro onde eu estava virou uma lata de sardinha.


Disseram que nasci de novo e não duvido. Foi muito
tempo deitado naquela cama, enquanto meu corpo se
recuperava.

Seus olhos ficaram marejados e quando ela piscou,


lágrimas escorreram por seu rosto.

Meu Deus, eu queria secar aquelas lágrimas com


minha boca e não deixar que mais se juntassem àquelas.

—Poxa, e todo esse tempo… eu… nossa! —Ela


encostou a cabeça no banco e secou as lágrimas, passando
as mãos pelo rosto, respirando fundo.

—Não fique assim. Eu fiquei bem. — Sorri, pegando


sua mão entre as minhas. Bianca tremia um pouco. — Sei
que é uma história triste, inacreditável até, mas essa é
minha vida.

—Você não se lembra de nada? Nadinha? — Agora


ela estava virada para mim e me olhava desconfiada.

—Nada. Quando abri os olhos, tentei com todas as


minhas forças lembrar pelo menos do meu nome, mas até
isso me foi dito por outros.

—Caramba, Victor. Não deve ter sido fácil pra você.


— Bianca se ajeitou no banco e, chegando mais perto,
tocou de leve em meu rosto. Me vi inclinando à procura
de mais, como um gato carente.

E eu estava!

Eu queria mais daquele toque reconfortante, que


tocava fundo em mim, uma carícia tão leve, mas que teve
um efeito devastador.

Devagar, fomos nos aproximando e nossas testas se


tocaram. Eu sentia o calor de seu hálito em meus lábios e
queria novamente sentir o sabor deles. Como que atraídos,
nos encaixamos e delicadamente passei a língua por eles,
roubando um gemido baixo de Bianca. Foi tudo o que meu
corpo precisou para entrar em ação.

Um beijo louco se seguiu e puxei-a para meu colo.


Bianca agarrou-se em meus cabelos retribuindo o beijo
com vontade. Sentir sua bunda contra meu pau foi uma
tortura, mas eu queria mais, queria sentir o calor de sua
boceta, o peso de seus seios em minhas mãos, queria tê-la
embaixo de mim, gemendo e se contorcendo enquanto
metia meu pau fundo em sua carne molhada, quente…

Gemi diante da imagem que se formou em minha


cabeça. Nunca, desde que saí do hospital, quis tanto uma
mulher como a queria desde que senti seu perfume,
perfume esse que agora me embriagava e fazia com que
aprofundasse ainda mais o beijo. Minhas mãos percorriam
seu corpo, suas curvas e, sem folego, interrompi o beijo,
para provar o sabor de sua pele.

Eu queria mais!
Eu precisava de mais dela!

Meus lábios percorreram seu pescoço e, louca de


tesão, Bianca inclinou a cabeça para trás, me oferecendo
mais. Suguei e mordisquei enquanto a puxava para mais
perto.

Ela colocou as duas mãos em meu peito e, pensando


estar indo rápido demais, me afastei, respirando como um
touro bravo, mas, para minha surpresa, ela estava apenas
apoiando-se para me montar.

Quase perdi o controle quando o calor de sua boceta


me atingiu e fechei os olhos, pedindo a Deus um pouco
mais de controle, mas sendo ouvido pelo capeta, pois a
boca dela voltou a se colar na minha.

Meu pouco controle foi às favas e coloquei as duas


mãos em sua bunda, puxando-a mais para minha ereção,
me apertando contra ela, que começou a rebolar, roçando-
se ainda mais em mim.

Faminto por mais, escorreguei minhas mãos para


cima, levando com elas sua blusa, revelando seu sutiã. Um
tremor me percorreu quando ela, com os dedos
entrelaçados em meus cabelos, me puxou de encontro aos
seus seios, pedindo mais…

Abocanhei por cima do tecido e estremeci diante do


gemido rouco de Bianca. Ela se entregava a mim,
deliciosamente, rebolava em meu pau de uma maneira…

—Bianca... —sussurrei seu nome, apertando-a contra


mim, segurando-a. Um pouco mais daquelas reboladas e
eu não responderia por mim.

Ela afastou-se um pouco, seus olhos dançando nos


meus.

EU não devia ter dito seu nome, pois naquele


momento percebi a realidade de tudo caindo sobre ela,
quando ela passou as mãos pelos cabelos e saiu de cima
de mim. Ela mal tinha voltado ao seu banco, descabelada
e sem fôlego, quando seu celular tocou.

Me ajeitei no jeans e, virando mais a chave, abri um


pouco os vidros, que estavam todos embaçados.
Bianca remexeu na bolsa, tirando o celular de dentro,
atendendo-o. Depois de algumas palavras, ela desligou e
olhou a hora.

—O tempo passa rápido quando a gente se diverte…


— Ela disse sorrindo, tristemente.— Tenho que voltar,
elas estão indo embora.

—Não quer que eu te leve?

—Não, Victor. Um pouco mais disso e vamos acabar


nos arrependendo depois. Outro dia?

—Está bem. Aqui.— Abri o porta-luvas, pegando um


cartão de lá. — Esse é meu telefone. Promete que me liga
quando der?

—Prometo. Vamos comigo até lá?

—Claro! Não vou deixá-la andar sozinha no meio da


madrugada.

Ela riu e o som do riso… aqueceu meu coração.

Mexeu profundamente comigo…


Retirando a chave, saí do carro e dei a volta, a tempo
de ajudá-la a sair. Fechei sua porta e acionei o
travamento, os vidros se fecharam e as luzes piscaram.

Bianca me observava, satisfeita.

É… Ela devia ter gostado um pouquinho de mim… eu


esperava com todas as minhas forças que ela tivesse
gostado e quisesse me ver novamente.

A abracei e voltamos assim para a casa noturna.

—Não queria que você fosse embora agora… —


Confessei.

— Eu te ligo. Tenho que ir agora. Até mais, Victor.

—Até mais, Bianca.

A puxei para mim novamente, beijando-a pela última


vez. As amigas já estavam do outro lado da rua, paradas
próximas a um carro e começaram a chamar por ela, que
se afastou, me dando tchau com a mão, correndo até elas.

Suspirei e fiquei observando enquanto ela entrava no


carro com as outras garotas e até o carro se afastar, para
só então sair do transe e caminhar até meu próprio carro.

Em meu peito, havia um buraco… Bianca havia


levado consigo meu coração.
Capítulo 13
Bati a porta do escritório com um pouco de

força demais.

—Não tem como eu ser mais burro!— Disse, dando


voz ao pensamento novamente, acho que pela milésima
vez, desde que havia entrado em meu carro, depois de
observar Bianca se afastar no carro das amigas.

Eu não havia chegado em minha mesa ainda, quando


ouvi umas batidas na porta e ela se abriu devagar. Me
virei a tempo de ver Luís enfiando a cara pelo espaço
aberto.

—É seguro eu entrar?— Fiz um movimento com a


mão para que ele entrasse e me sentei. — Onde você está
com a cabeça? Te chamei lá no corredor quando te vi
entrando e depois mais umas duas vezes até aqui. Depois,
pela maneira que descontou na porta… o que aconteceu?

Passei a mão pelo rosto, sentindo a barba um pouco


crescida.

—Conheci uma mulher naquele dia.

O rosto de Luís se iluminou e ele sentou-se à minha


frente, visivelmente interessado.

—Uma mulher é? Cara, graças a Deus, eu já estava


pensando que você jogava no outro time.

—Engraçadinho. Uma morena linda, dona de um par


de olhos azuis capazes de enlouquecer qualquer homem.
Baixinha, ela chegava aos meus ombros, cabelos pela
cintura e um sorriso daqueles, de deixar a gente de pernas
bambas.

—Uau! E você pegou?

—Olhe esse jeito de falar! Pegou… eu fiquei com ela


sim, e…

—Levou pra sua casa? Deu um trato daqueles na


mulher e deixou ela apaixonada, louca por você e depois
a levou embora?

—Se você continuar com essas coisas, eu não vou


contar nada. — Fechei a cara.

Eu nunca faria isso, ainda mais com Bianca… Ah,


quando eu a tivesse na minha cama…

—Cara, vou ficar quieto, prometo.

—Fui muito burro! Puta que o pariu! Quando percebi


o que eu não tinha feito, juro que queria me bater! Dei meu
cartão, mas não peguei o número dela! Não sei seu
sobrenome, nem nada. Apenas seu nome e nada mais.

—Sossega! Ela vai te ligar. Mulher sempre liga!

—Por isso você está solteiro até hoje, por causa


desse seu jeito em relação às mulheres. Elas não são uma
coisa que você usa e joga fora. Você tem sorte que elas te
ligam ou saem uma segunda vez com você.

— Elas se apaixonam pela pegada do negão aqui. E


por outra coisa digna de admiração, que carrego aqui
comigo. — Luís se pavoneou e aprumou-se na cadeira.

—Quero ver um dia você se apaixonar por uma delas


e “ela” se comportar como você.
— Para de jogar praga! — Luís fez o sinal da cruz e
riu. — O lance foi você se apaixonar assim, por uma
mulher que viu uma vez na vida e pelo jeito deu só uns
amassos. Burrice, na minha opinião.

— O cheiro dela… se eu fecho os olhos eu ainda


sinto o perfume, o calor… —Calei minha boca antes que
falasse o que não devia.

—Realmente, você foi burro.— Luís estava


gargalhando. Olhei feio para ele, o que fez com que risse
ainda mais. — É realmente engraçado ver você assim,
suspirando por alguém.

—O meu dia chegará. Te desejo um amor de verdade,


daqueles que te deixam com os quatro pneus arriados e
com olhar de peixe morto.

— Obrigado, meu amigo, mas essa eu passo. Ver tudo


em você, já é o suficiente para mim. —Ele se levantou e
dirigiu-se à porta. — Eu só estava preocupado com você
por não ter dado sinal de vida, mas já vi que você está
bem… bem ferrado, mas bem.
Ele abanou a mão em um tchau e sumiu porta afora.

Me recostei e olhei para o vazio, pensando nela. Uma


única palavra me veio à mente…

BURRO!
Capítulo 14
A semana passou como sempre… trabalho,

academia e casa. Já eram dez da noite quando meu celular

tocou. Olhei a tela, ansioso, mas era Luís.

Desgostoso e meio a contragosto, atendi.

—Fala, seu mala.

—Eita, que humor do cão! Tô te ligando porque voltei


aqui, onde viemos semana passada e, cara, tem uma
morena baixinha de olhos azul-piscina, parada do lado da
bilheteria com uma outra morena, não tão bonita quanto
ela. Parece que está à procura ou à espera de alguém. Faz
uns 15 minutos que estou parado na fila e ela fica só
olhando para quem passa. Vai que é a sua morena?

—Me manda uma foto dela, se for minha Bianca, eu


chego aí em menos de dez minutos.

—Ei, mas esse lugar é do outro lado da cidade, é


impossível!

—Pare de falar e tire logo a bendita foto!

Desliguei e fiquei à espera da mensagem de Luís.


Logo apareceu a foto, carregando.

Era ela!

Liguei para Luís.

—É ela. Segure-a aí que já chego!

— Pode deixar.

Não me despedi, apenas desliguei e corri para tomar


um banho.

Não me lembro de ter tomado um banho tão rápido na


minha vida, nem de estar tão ansioso para chegar em
algum lugar.

Demorei quase o dobro do tempo prometido para


chegar até lá por causa do trânsito e mais um pouco para
achar uma vaga para estacionar. A todo momento, eu
mandava mensagens para Luís.
Eu estava enlouquecido de vontade de revê-la, de tê-
la em meus braços novamente, sentir seu perfume… o fato
dela não ter me ligado durante toda a semana e hoje estar
ali, tinha que significar alguma coisa…
Capítulo 15
Luís estava exatamente onde disse que estaria.
Desde que saí do carro, não tirei os olhos dela, já

superexcitado na expectativa de tê-la só para mim.

Me aproximei, de olhos fixos nela, que, quando me


viu, suspirou. Não quis saber se tinha alguém perto, a
enlacei pela cintura e a beijei, demonstrando toda minha
vontade.

Bianca agarrou-se a mim e, muito satisfeito com a


recepção, aprofundei ainda mais o beijo.

— Cara, pelo menos dá um oi para as pessoas.—


Escutei Luís dizendo enquanto dava tapinhas nas minhas
costas. — Não ligue viu, Vanessa. Victor não é esse ogro
todo.

Bianca se afastou, rindo feliz.

Me virei para Luís e a amiga dela.


—Desculpem o mau jeito. Prazer, Vanessa, sou Victor.

Bianca se abraçou à minha cintura e então percebi que


Luís já estava meio abraçado à Vanessa.

Esse não perdia tempo!

Ela me respondeu com aceno de cabeça e um sorriso,


que me dizia que ela já tinha ouvido falar muito sobre
mim.

—Desculpem, mas eu acho que nós quatro


deveríamos ir tomar um chopp, conversar em algum lugar
por aí. Se entrarmos aqui, só vamos conseguir conversar
se ficarmos gritando. — Luís falou e sorri.

Ele não era de querer sair para “conversar” com uma


mulher. Com ele era pá e pum! Meu sorriso só aumentou
ao vê-lo olhando para Vanessa. Minha praga estava
pegando!

—Concordo plenamente.— Respondi e sussurrei no


ouvido de Bianca. — Se bem que eu queria ficar sozinho
com você.
Ela ergueu o olhar para mim.

—Mais tarde.

Aquela promessa me esquentou e o fogo em seus


olhos azuis me disseram que essa espera valeria a pena.

—Então, vamos?— Luís perguntou para Vanessa

—Não sei, Luís. Hoje eu vim apenas trazer Bianca


aqui e ficaria com ela somente até que Victor aparecesse.
Ou não. — A decepção e o interesse no rosto de Luís
foram algo incomum de se ver. A negativa, ainda que
fraca, de Vanessa, o deixou assim.

—Vamos, prometo que não demoramos. — Luís fez


cara de cachorro carente e Vanessa sorriu, concordando.

—Ok, só um pouquinho.

Fomos caminhando lado a lado na calçada, cheguei


perto de Luís e sussurrei.

—Eu disse!

Me afastei, inclinando-me para beijar Bianca, de


leve.

Chegamos ao meu carro e abri a porta para ela.

—Venha, Vanessa, vamos comigo. Meu carro está


logo ali na frente.

Percebi a troca de olhares das duas e então Vanessa


se foi com Luís.

— Eu avisei a ela sobre ele. Você tinha dado a


entender que ele apenas pegava e saia, então a deixei de
sobre aviso. — Ela explicou assim que entrei no carro.

—Sim, Luís é assim, mas é um bom sujeito. Creio que


com o estímulo certo ele se ajeite. — Puxei-a para mais
perto. — Agora me explique o que veio fazer aqui e por
que não me ligou…

— Então, né? Naquele dia as meninas estavam meio


altas e pegaram seu cartão de mim, ele acabou voando
pela janela do carro. Não tinha como entrar em contato
com você.

—Entendi. Fiquei a semana toda me martirizando por


não ter pego seu número, por não saber mais nada sobre
você, achando que não iria te ver mais…

—Fomos dois...— Ela disse, já chegando mais perto,


nossas bocas atraídas uma pela outra.

—Isso não vai se repetir…— Sussurrei já bem


próximo, nossos lábios roçando lentamente.

—Não mesmo… — Ela respondeu no mesmo tom,


sua língua acariciando meu lábio inferior.

Fogo me consumiu ao sentir sua carícia tímida e


provocante. Nossas línguas se encontraram e tudo em
volta perdeu o sentido, meu mundo resumido àquele corpo
delicioso à minha frente, minha perdição e minha
redenção.

Minhas mãos exploravam seu corpo, assim como


minha língua, a sua boca.

—Bianca, eles estão nos esperando…

Seu riso me envolveu e sua voz me fez estremecer.

—Vanessa sabe bem que não vamos nos encontrar


com eles. Quero você. Todinho para mim.

Meu coração parecia querer sair pela boca.

Eu a queria e saber que ela me queria da mesma


maneira me deixou louco de tesão. Me ajeitando no jeans,
me afastei ligando o carro.

—Quer conhecer minha casa?— A olhei de lado,


preocupado com sua resposta.

—Quero sim.

Suspirei aliviado e coloquei o carro em movimento.


Fomos conversando durante todo o percurso até meu
apartamento, ela me contou sobre sua semana e me
admirei em como éramos parecidos.
Capítulo 16
—Muito bonito o seu apartamento.

Aconchegante. — Ela disse ao entrar na sala e olhar em

volta.

—Aluguei há alguns meses, não deu para ajeitar muita


coisa ainda, mas o básico eu tenho.

Me sentei no sofá e dei uma batidinha no assento ao


meu lado.

— Seu básico é de muito bom gosto. —Disse ao se


sentar e recostar em mim.

—Bianca, olhe para mim. — Ela elevou o olhar e


engoli em seco. — Preciso que saiba que nunca trouxe
ninguém aqui. Desde que acordei naquela cama de
hospital, eu não quis saber de casos, sexo ou o que fosse.
Saí com algumas mulheres, mas nunca passou de beijos,
nenhuma despertou em mim esse desejo louco. Mas você
mexeu comigo de uma maneira que não consigo explicar.
Desde que te beijei não penso em outra coisa a não ser te
ter em meus braços, minha boca na sua, meu corpo colado
ao seu.

Passei os dedos por sobre sua sobrancelha perfeita,


Bianca sorriu para mim e novamente me vi perdido em
seus olhos azuis.

Meu Deus, como eu a queria!

—Pode parecer que eu esteja dizendo isso só porque


você disse, mas há meses eu não tenho ninguém. Estava
esperando por você. — Seus olhos brilharam e Bianca
respirou fundo, piscando várias vezes.

—Eu te quero tanto...— Meu olhar dançou pelo seu


rosto e parou em sua boca. Vi sua língua sair rapidamente
para umedecer seus lábios e meu pau pulsou. Eu precisava
dela… logo ou enlouqueceria.

A beijei. Não fechei os olhos, pois queria guardar


cada momento em minha mente. Ela se mexeu e montou em
meu colo, como em nosso primeiro beijo no carro. Logo
eu a tinha rebolando devagar sobre meu pau. Interrompi o
beijo e corri minha boca por sua pele.

Bianca arrancou a blusinha que usava, ficando de


sutiã na minha frente, seus seios fartos mal contidos pela
peça de renda negra.

Suguei a pele exposta e fui brindado com um gemido


rouco.

Abaixei a renda, o suficiente para liberar um mamilo


para a exploração da minha língua. Senti seu calor
aumentar em meu colo. Passei a mão por sua coxa e
escorreguei minha mão para dentro de sua calcinha,
tocando-lhe a carne úmida. Bianca se elevou um pouco,
permitindo que eu fosse mais para dentro.

Retirando minha mão, a deitei no sofá e tirei sua saia.

—Tão linda… — Me vi sussurrando ao olhá-la ali,


só de lingerie, arfando de tesão à minha espera.

Arrancando minha camisa, joguei longe e recomecei


a beijá-la, minha boca percorrendo cada pedacinho de
pele exposta. Quando cheguei em seu umbigo, o cheiro da
sua excitação me embriagou e eu sabia, mais do que tudo
na vida, que eu precisava prová-la.

Sem aviso ou cuidado, afastei sua calcinha e caí de


boca, percorrendo sua fenda com a língua, aprofundando e
separando suas pernas, abrindo-a para minha exploração.

Bianca enterrou os dedos em meus cabelos e foi


minha vez de gemer em sua carne molhada. Ela
estremeceu e se entregou ao prazer, ondulando o corpo em
direção à minha boca.

—Victor, pare por favor...— Ela sussurrou.— Não


quero gozar sem você.
Capítulo 17
BIANCA

Ele levantou a cabeça do meio das minhas

pernas, me olhando com os olhos brilhantes de tesão, mas

algo a mais dançava entre eles.

Será que se lembrou de alguma coisa?

Eu não poderia perguntar uma coisa dessas agora!

—Vem, minha princesa, sou todo seu.

Aquela frase…

Ele parecia estar absorto em mim, devia ser seu


subconsciente falando… Caramba!

Ele me pegou nos braços e me levou para seu quarto.


Me colocou em sua cama e tirou o restante de sua roupa.
Ele ostentava tatuagens, desconhecidas por mim. Eu ainda
estava de lingerie e continuei assim.
Meu amor tinha tara por calcinhas e adorava me
comer vestida com uma.

Virei-me de costas, balançando a bunda para ele e o


ouvi gemer. Me ergui um pouco, empinado-a em sua
direção e lá estava ele, de rosto enterrado nela.

O prazer me tomou e abracei um travesseiro,


mordendo-o. Ele lambia de cima abaixo, o orgasmo
querendo chegar como um tsunami avassalador.

—Acabei de me lembrar de uma coisa. Eu não tenho


camisinha, minha princesa… nós temos que parar… —
Ele disse com a respiração pesada, montando meu corpo e
roçando seu pau grosso em mim.

—Pega minha bolsa, lá dentro tem. Eu sabia que te


encontraria… — Disse me virando um pouco para beijar
sua boca que mordiscava meu lóbulo.

Ele riu e se afastou, dando um tapa estalado na minha


bunda. Fiquei esperando por ele, que voltou, já colocando
o preservativo.
— Como sabia que para mim tinha que ser essa
extragrande?

—Eu te senti, apenas chutei que seria essa. —


Respondi com um sorriso safado.

— Uma garota que sabe o que quer… — Disse


voltando para cima de mim, chupando a pele sensível do
meu pescoço.

—Te quero, Victor. Muito.

— E vai me ter…

Senti que ele se afastou um pouco e me preparei para


recebê-lo em meu corpo.

Puta merda!

Nenhum preparo foi o suficiente para o fogo que me


consumiu ao senti-lo me abrindo, afundando em mim. Ele
começou a meter devagar, mas eu queria o tigre que se
escondia nele. E sabia muito bem como despertá-lo!

Rebolando, coloquei a mão em minha bunda e, me


acariciando, penetrei um dedo em meu rabinho, gemendo.
Ele seguiu meu gemido e me segurou fortemente pelos
quadris, aumentando a velocidade das estocadas.

Virei a cabeça para olhá-lo e sussurrei.

—Bate, amor.

Senti seu corpo estremecer e logo sua mão desceu


sobre minha bunda, a pele pinicando e o prazer irradiando
pelo meu corpo todo.

— Fode, princesa.

Nem precisava pedir!

Meu corpo respondeu sozinho e se balançava contra


ele, na mesma velocidade em que ele se metia em mim,
num sincronismo delicioso e perfeito.

Seu polegar tomou o lugar do meu e gritei de prazer,


quando o orgasmo me atingiu.

Rapidamente, ele se livrou do preservativo e me


virou para ele. Sua mão percorria todo seu comprimento
enquanto com a outra, me puxava para ele. Roçando sobre
minha barriga e me beijando alucinadamente, ele gozou
sobre mim, me marcando e gemendo em minha boca.

Como eu amava aquele homem!

O sentimento me consumia e queria escapar de meus


lábios, mas me segurei.

Eu não podia deixar nada escapar. Simplesmente


ainda não podia…

Ele nos limpou com o lençol, jogando-o longe, se


deitou ao meu lado e me aconcheguei em seus braços. Ele
passou o braço por cima do meu pescoço, num gesto de
posse e fiquei ali, presa e satisfeita, me sentindo querida e
cuidada. Suspirei e deixei que o torpor pós orgasmo me
tomasse…
Capítulo 18
BIANCA

Acordei desorientada e com seu corpo duro

agarrado ao meu. Ele tremia levemente e, com os pés,

puxei o edredom com muito cuidado para não acordá-lo,

cobrindo a nós dois, voltando a fechar meus olhos.

Ao som de pássaros, despertei. Ele desvencilhou-se


de mim e foi até a sala buscar o celular.

—Tenho que trabalhar, mas volto logo. Você me


espera aqui?— Ele perguntou com uma urgência
estampada no olhar, que não me deixou escapatória a não
ser concordar.

—Vou ficar dormindo até você voltar.


Visivelmente aliviado, ele me beijou.

—Vou tomar banho. Não demoro.

Deu outro beijo e se foi, encostando a porta do


banheiro.

O barulho da água caindo, junto com o cansaço de


dias sem conseguir dormir direito, me levaram
rapidamente para o mundo dos sonhos.

***

Saí do banho, enrolada na tolha e secando meus


cabelos com outra, quando meu celular tocou. Corri para
pegar minha bolsa na sala, atendendo sem ver quem era.

— Oi…

—Sua louca! Está com ele?

—Oi, Van. Bom dia pra você também.— Disse


sorrindo para mim mesma. —Estou na casa dele ainda,
mas ele foi trabalhar.

—Então, a noite foi boa…


—Demais! E a sua?

—Não dei bola para o Luís, não. Ele ficava babando


feito um bobo, mas quando comecei a falar sobre vocês
ele entendeu o motivo de eu ter ido com ele àquele bar.

—E o que ele disse?— Fui andando pelo apartamento


e cheguei a cozinha. Me servi de um copo de suco
enquanto ela falava.

—Ele vai conversar com o médico que atendeu Victor


e ver qual a melhor abordagem, qual o melhor caminho
para vocês. Ele concorda que você não deve falar nada
agora e vai me ligar assim que conseguir falar com o
médico.

—Entendi. Tá certo então. Já esperei tanto tempo por


ele, ficar quieta mais um pouco vai me custar muito, mas
você tem razão, Van. Se Luís também concorda e vai falar
com o médico, não tem o que se fazer a não ser esperar.

—Tenha paciência, Bianca. O trauma que Victor


sofreu foi muito grave, Luís me contou tudo. Está vivo e
inteiro, graças ao esforço da equipe médica e por vontade
de Deus. O carro em que ele estava virou um monte de
ferro retorcido.

Suspirei e um arrepio me tomou ao pensar novamente


em tudo o que ele havia passado.

— Vou ter.

—Ah, se Victor perguntar, diga que a noite de ontem


foi deliciosa. Vamos levar essa mentirinha, já que vamos
conversar bastante nos próximos dias. Melhores amigos
são para isso e, quem sabe, mais pra frente não vire
realidade.

—Humm, estou vendo que você não ficou tão imune


ao charme do Luís, hein? Pode deixar.— Um barulho na
porta da sala me chamou a atenção. — Van, acho que
Victor está chegando. Nos falamos depois, tá?

—Está certo. Mate as saudades do teu tigrão. Até


mais.

—Até. Beijo, Van.

Desliguei e tomei o resto do suco, bem na hora em


que ele chegou por trás de mim, me abraçando.

—Demorei, né? Mas trouxe nosso almoço. — beijou-


me no ombro e continuou. — Tem que voltar para casa ou
avisar alguém onde está?

—Não, acabei de falar com Vanessa e ela sabe que


estou com você.

—Venha, já são duas e meia da tarde, você deve estar


com fome.

— Nossa, como eu dormi! Fazia dias que não


conseguia dormir direito, preocupada, sem saber como
falar com você.

— Ainda não resolvemos isso. Me dê seu celular.—


Peguei-o de cima da pia e entreguei a ele, que salvou seu
nome e número. — Prontinho. —Disse, apertando para
completar a ligação para ele mesmo. Seu celular tocou e
ele desligou a chamada. — Agora eu tenho o seu e você o
meu. Não nos perdemos mais.

—Victor VanHugel— li seu nome na tela.— … nome


forte, diferente… chique!— Larguei o celular e me virei,
abraçando-o. — Estou sem nada por baixo dessa toalha…
— Sussurrei em seu ouvido.

—Vamos comer o que eu trouxe. Vai ser uma tortura


almoçar sabendo que está prontinha pra mim, desse jeito,
mas você precisa de energia para o que tenho em mente
para a sobremesa...— Me deu um beijo e me soltou,
abrindo a porta do armário acima da minha cabeça, para
pegar os pratos.

Nos sentamos à mesa e o aroma da comida fez com


que meu estômago reclamasse de fome e nem me
lembrasse mais que estava apenas de toalha…
Capítulo 19
BIANCA

No final da tarde de Domingo, Victor me

deixava na frente da casa de Vanessa.

—Não queria te deixar aqui. Vou sentir sua falta.

—Eu também. Sexta a tarde eu estarei aqui


novamente.

—Você vai vir como?

—De ônibus. Moro perto, apenas uma hora daqui.

—Me avisa a hora que chegará, te pego direto na


rodoviária e você fica comigo o final de semana todo.

—Você sai do trabalho que horas?

— Ás seis e meia.

—Às sete então chegarei.


—Combinado. Boa viagem, princesa.

O beijei, cheia de saudade.

Saudade por tudo.

O pouco tempo que passei com ele não foi o


suficiente para tirar de dentro de mim aquela ansiedade,
nem todo o desespero dos últimos meses.

Saí do carro, me abraçando à bolsa e observando-o


se afastar. Uma mão em meu ombro me fez sobressaltar.

—Que susto, Van!

Ela apenas me abraçou e deixei que todo o sentimento


que eu estava guardando escapasse pelos meus olhos.
Encostei a cabeça em seu ombro e senti meu corpo todo
sacudindo pelo choro.

—Venha, vamos entrar e você me conta tudo.

Entramos em sua casa e ela fechou a porta. Me atirei


no sofá e sequei as lágrimas.

— Quando quiser falar…


—Ah, Van. Nem sei o que dizer. Ele é tão ele, sabe?
Mas ao mesmo tempo é outra pessoa. Não lembra de
nadica de nada e isso é tão frustrante! Não sei quantas
vezes eu quis gritar o nome dele durante esses dias, contar
a ele toda a verdade...— Passei a mão pelo rosto na
tentativa de secar e parar as lágrimas que insistiam em
cair.

—Não vá hoje, Bia. Se chegar assim na sua casa, sua


mãe vai cair matando em cima de você. Fica, se acalma,
amanhã você sai cedinho, te empresto uma roupa e você
vai direto para o trabalho. Assim quando chegar em casa
já estará um pouco mais normal, tudo melhora com o
tempo.— Ela se sentou ao meu lado e me recostei em seu
ombro.

—Você tem razão e é minha anjinha. Obrigada por me


convencer a sair um pouco, semana passada.

—Eu tinha certeza de que tínhamos que ir naquele


lugar. Meu coração me dizia que tínhamos que ir.

—E seu coração estava certo, como em todas as


outras vezes. Sua intuição é demais!

Sorri, em meio as lágrimas. Ainda me lembrava do


quanto ela havia insistido para que eu fosse. Graças a
Deus!

—Já comeu? O que acha de um filme e sorvete?—


Perguntou, já se levantando.

—Perfeito! Mas nada romântico, por favor!

Levantei-me também, indo até o lavabo para lavar


meu rosto. Chega de chororô. Se eu chorasse mais,
amanhã eu estaria toda inchada e como encararia o
pessoal do trabalho e suas inquisições?

E se eu pensasse bem, nem tinha mais motivos para


chorar. Agora eu o tinha de volta e deveria ficar aliviada
por tê-lo vivo e são, comigo. Uma sorte sem tamanho…
ou era o senhor Destino mexendo seus pauzinhos?

Voltei para a sala e Vanessa já me esperava, sentada


no sofá, colocando um filme de ação e sobre a mesa de
centro, dois potes de sorvete, cada um com uma colher
enfiada e alguns guardanapos, além de duas garrafinhas de
água.

—Minha miguxa The Flash! — Bati palmas para ela,


meu humor melhorando bastante.

Vanessa riu também, pegou seu pote de sorvete,


recostando-se e apertando o play...

— Qual filme vamos ver?— Me sentei, imitando-a.

—Rota de fuga. Ação, sem romances ou beijocas.

—Uhuuu! Se eu não estivesse tão louca por um pouco


de açúcar eu largaria o pote só para bater palmas pra
você!

—Então vamos brindar com nossos potes. —


Batemos os potes, como se fossem taças e rindo como
bobas, começamos a comer e a prestar atenção no filme
que começava.

Enquanto assistíamos, uma dorzinha chata se instalou


em meu ventre. Lá vinha ela, a dona monstra estava
avisando que chegaria com força total.
Capítulo 20
BIANCA

Nada como um tempo na estrada e a janela do

ônibus para fazer a gente pensar na vida. Eu já contava as

horas para chegar na rodoviária e revê-lo.

A Dona Monstra sempre me deixava ruim, cólicas


terríveis e noites mal dormidas. Eu já tinha ido aplicar o
anticoncepcional injetável trimestral logo no primeiro dia
novamente e poderia senti-lo todo em mim, sem a
presença incomoda daquele plastiquinho fdp em volta
dele. Nunca me dei bem com preservativos, me causavam
uma alergia leve, que incomodava muito e os anti-
histamínicos me causavam mais mal do que bem.

A semana se arrastou como nunca antes, mas, graças a


Deus, a sexta-feira havia chegado!

Em menos de quinze minutos eu o encontraria.


Vanessa e Luís se falaram durante toda a semana e logo
depois de cada conversa, Vanessa me ligava e me contava
tudo. A ideia era introduzir objetos e vivências passadas,
na esperança de que ele se lembrasse.

Eles também haviam arquitetado uma ida a cachoeira


e eu trazia uma bolsa térmica, alguns itens que segundo o
Dr. Prado, auxiliavam a memória. Meu tigrão adorava
trilhas e água, íamos sempre que dava e era bom de garfo
também!

Perdida em pensamentos, me surpreendi quando o


ônibus parou na plataforma e me levantei para alcançar a
mala de mão e a bolsa térmica, que estavam no
compartimento acima do banco. Meu coração já o sentia
do lado de fora, nem era preciso olhar pela janela para ter
a certeza de que ele estava ali.

Desci do ônibus e ali estava ele, à minha espera. Me


atirei em seus braços, largando as bagagens no chão,
deixando que seu perfume me embriagasse e a saudade
transbordasse em mim.
—Que saudade de você! — suspirei, apertando-o
bem forte.

—Não mais do que eu. — Me beijou de uma maneira


tão possessiva que o fogo se alastrou pelos meus ossos.
— Vamos pra casa, te quero só pra mim, ficar agarrado,
pertinho, só para ver se essa falta que eu sinto de você em
meus braços diminui.

Ele sorriu e pegou minhas coisas do chão, agarrando


minha mão com a sua, grande e quente. Não podia me
impedir de pensar em outra coisa grande e quente que eu
queria em mim… não depois daquele beijo! Retribui seu
sorriso, certa de que minhas intenções estavam
estampadas em meu rosto.

Entrando no carro, Victor colocou a chave na ignição,


mas parou, virando-se para mim, me examinando.

— Você está tão linda, Bianca. Queria ir com calma,


te abraçar e curtir um tempo com você, fazer alguma coisa
diferente hoje, mas olha como eu estou...— Disse
colocando minha mão sobre seu zíper e chegando mais
perto de mim. — Estou louco de tesão. Se não fosse
contra as leis, me atiraria sobre você aqui mesmo no
estacionamento, no carro. — Encostou a testa na minha e
continuou, próximo ao meu ouvido, num sussurro.— Eu
posso não ser muito gentil quando entrarmos em casa.
Estou louco pra te foder.

Um estremecimento me tomou.

—Não seja. Por favor, não seja…

Sussurrei de volta, já em sua boca.

Meu Deus, como isso era possível? Com dois beijos


eu estava a beira de um precipício, louca de tesão,
trêmula e ofegante. Para piorar minha situação, sua mão
grande se meteu entre minhas pernas e gemi deliciada em
sua boca.

—Por Deus, Bianca. Você me deixa louco! Como vou


aguentar chegar até em casa?

Victor grunhiu e sua outra mão aventurou-se por


debaixo da minha blusa.
— Acho melhor você correr um pouco… estou
morrendo aqui, de tanto te querer.

Com uma expressão séria, mas cheia de tesão, ele se


afastou, suspirando, e ligou o carro.

—E eu acho melhor você colocar o cinto…

Ri de sua seriedade, mas ele era assim. Impaciente,


forte, impetuoso e decidido… sempre havia sido e era por
esse homem que eu havia me apaixonado anos atrás…

Quase vinte minutos depois, estávamos entrando na


garagem. Victor não disse uma palavra, maxilar travado e
olhos escuros, tempestuosos.

Se eu não o conhecesse bem, estaria com medo do


que estava prestes a acontecer, mas, pelo contrário, era o
que eu mais ansiava desde o nosso reencontro.

Victor pegou minhas coisas no banco traseiro e


estendeu a mão para mim. Ele não conseguia ficar longe,
parecia ter necessidade de me tocar e eu me sentia muito
bem por isso.
Meu homem possessivo!

Entramos no elevador e ele olhou para o chão, os


dentes rangendo e seus dedos acariciavam os meus,
impacientes. Finalmente a porta se abriu. Logo a outra
também, de seu apartamento, e estávamos dentro e
sozinhos.

—Não consigo mais esperar. Preciso de você.

Foi tudo o que escutei, antes de tê-lo agarrado a mim.


Com as mãos em minha bunda, ele me puxou para seu colo
e cruzei as pernas em sua cintura. Usando a parede como
apoio, Victor me pressionou contra ela, e passou as duas
mãos por meu pescoço, descendo para o decote de minha
blusa fina.

—Me desculpe…

Olhei meio aturdida por ele estar se desculpando,


mas, em seguida, eu escutei o tecido se rasgando. O tesão
que o som me causou, foi indescritível. A impetuosidade
dele estava de volta!
Sua boca escorregou sobre minha pele, sugando meus
seios, que foram libertos do sutiã.

—Morde, amor…

Me vi sussurrando enquanto ele grunhia, atacando


meus seios. Gritei com o frisson que me consumiu, meu
interior pulsando de desejo…

A saia que eu usava havia subido e eu esperava por


seu ataque em minha calcinha…

Sem aviso, me segurou pela cintura, levando-me para


o sofá. Abriu o jeans e seu pau gostoso pulou para fora,
pronto para mim.

Afastando minha calcinha, ele meteu-se em mim.

Todo de uma vez!

Gemi alto, erguendo os braços, me agarrando ao


braço do sofá. Meus seios balançavam com a ferocidade
com que ele me comia. Sua boca estava por todo lugar,
distribuindo beijos e lambidas deliciosas, mordidas leves
e chupadas.
Levando-me com ele, sentou-se.

—Me come, mostra sua vontade por mim, minha


delícia.

Agarrado à minha cintura, enfiou o rosto entre meus


seios. Comecei a rebolar, ir e vir naquele pau grosso. Ele
ia tão fundo assim, que sentia uma leve dor, mas que só
me deixava mais louca por ele.

Victor afrouxou o aperto, recostando-se no sofá.


Segurando meu rosto com as mãos em concha, ele
entreabriu os lábios, num pedido mudo por um beijo,
gemendo baixinho, sem conseguir conter.

Aumentei a velocidade das reboladas e uma de suas


mãos escorregou para o meio de minhas pernas,
acariciando meu clitóris. Agarrei seu braço, querendo
afastá-lo dali. Era estimulo demais para meu corpo em
brasas… mas ele era implacável e senti meu corpo
convulsionar em um orgasmo louco. Uma mistura de riso e
gemido escapou de mim, o orgasmo se multiplicando com
suas metidas e carícias intensas. Perdi o controle dos
tremores do meu corpo e ele agarrou-se à minha cintura,
com um grunhido animal ao se derramar dentro de mim.

O abracei pelo pescoço, trêmula e exausta, porém,


satisfeita.

— Eu gozei dentro de você… — Ele disse ofegante,


olhando dentro dos meus olhos. — Eu não devia…

—Ei. Está tudo bem. Estou tomando anticoncepcional


e nada vai acontecer hoje.

—Certeza?

—Absoluta… — Cheguei mais perto, falando


baixinho em seu ouvido. — Você pode gozar dentro de
mim todas as vezes que quiser.

Senti seu pau se mexendo dentro de mim. E Victor


sorriu.

—Ele gostou de ouvir isso…

Levantou-se sem esforço e me levou ao banheiro,


sentando-me sobre a pia para limpar-me. Quando senti seu
pau me deixando, uma contração interna fez com que sua
porra escapasse de mim e gemi… seguido de perto pelo
gemido dele e seus dedos em mim, espalhando tudo e
fazendo lambança.

—Isso é sexy pra caralho. Um tesão louco…

Esquecendo completamente o que ia fazer, meteu-se


novamente em mim, sua boca tomando a minha…
Capítulo 21
BIANCA

Horas mais tarde, eu o deixava adormecido na

cama, para fazer o jantar. Luís tinha acabado de trazer um

belo pedaço de carne, junto com um pote de sorvete de

baunilha, conforme o combinado. Enchi uma jarra de água

e coloquei ramos de alecrim, guardando na geladeira,

para dar um gostinho.

Coloquei a panela no fogo com azeite e, quando


estava quente, selei os lados da carne, o aroma invadiu a
cozinha e eu orei baixinho para que ele não acordasse
antes da hora, com o cheiro da comida.

Temperei com cominho, pimenta do reino e sal,


coloquei um pouco de água e deixei cozinhando. Enquanto
isso fiz o arroz e preparei as maçãs ao forno.
Segundo Dr. Prado, esses ingredientes, junto com
amêndoas, fariam bem a ele e, conforme suas próprias
palavras, esses remédios naturais auxiliariam no
fortalecimento do cérebro e consequentemente a memória.

Nada muito difícil de inserir na alimentação diária.

Com a carne quase pronta, torrei as amêndoas.


Colocando a carne na travessa, joguei-as por cima e
voilá! Tudo estava pronto!

Estava acabando de preparar a mesa quando Victor


chegou na cozinha, de boxer e descalço.

— Ah, minha delícia fazendo delícias!

Ele brincou, me abraçando pela cintura e beijando de


leve. Ri e o enlacei pelo pescoço.

—Diga isso novamente, depois de provar tudo.

Nos servimos e sentamos à mesa.

Fiquei observando enquanto ele cortava um pedaço


da carne e levava à boca. Mastigou e fechou os olhos,
gemendo baixinho.
— Humm, isso está realmente delicioso. Não sabia
que essas coisas iam bem com carne.

— Nem eu. Mas peguei a receita essa semana num


site onde garantia que certos ingredientes auxiliavam a
recuperar a memória. A cura pela natureza.

— Princesa, você quer que eu recupere minha


memória?— Ele perguntou, estendendo a mão para mim
por cima da mesa.

— Quero sim, Victor.

—Mas e se eu, antes do acidente, fosse casado? Sei


lá, tivesse filhos?

— Exatamente por isso. — Menti descaradamente. —


Eu acho que seria ótimo você se lembrar do seu passado,
para que possamos pensar no futuro. Sem receios.

—Você está certa. Eu vou fazer as sessões de terapia


que o Dr. Prado me ofereceu essa semana. Quem sabe
ajuda em alguma coisa.

— Não quero que faça alguma coisa só porque eu


falei.

—Não é só por você ter dito, não. Eu tenho pensado


nisso desde que saí do hospital. Mas sempre tive um
receio do que iria me lembrar, do que eu posso ter sido
antes. Até porquê eu tenho uma vida boa aqui, pessoas que
me aceitaram como sou e me deram grandes
oportunidades… mas realmente, tenho que enfrentar o que
quer que eu tenha sido.

— Falando dessa maneira, até parece que você sabe


de alguma coisa que não está me dizendo. Você lembrou
de alguma coisa? Mínima, que seja?

Victor coçou a testa, inclinando a cabeça.

— Não é que eu me lembre de algo.— Ele recostou-


se e respirou fundo antes de continuar.— Quando saí do
hospital, Luís entregou o que conseguiram resgatar do
carro. Uma mochila. Só que essa mochila tinha uma parte
escondida, tipo um forro falso onde tinha muito dinheiro,
em notas grandes. O que eu fazia com tanto dinheiro?—
Respirou fundo novamente, visivelmente incomodado com
o desabafo.— Já pensei em tanta coisa… e nada de bom
saiu desses pensamentos.

— Isso deve ter uma explicação lógica. Você poderia


estar fugindo de alguma coisa, levando consigo todo o
dinheiro que conseguiu juntar.

Joguei a pista, na esperança de que isso o auxiliasse


de alguma maneira…

Se ele soubesse…

Se eu pudesse falar, contar tudo a ele…

— Essa é uma boa teoria. Nunca pensei em uma coisa


assim.

Elogiando novamente meus dotes culinários, o assunto


mudou, agora sobre a nossa viagem de final de semana
com Luís e Vanessa. Seria uma boa chance dele recordar
ou, pelo menos, reativar recordações.

— Agora a sobremesa!— Disse, me levantando e


indo preparar.

Coloquei pedaços de maçã em um prato, reguei com


um pouco de mel e adicionei uma bola de sorvete.

—Vou me acostumar mal.

—É bom que se acostume a comer essas coisas. Pelo


que eu pesquisei, são ótimos para…

—Sim, sim… essa parte eu entendi. Agora, esse


sorvete está me dando ideias… — Balançou
maliciosamente as sobrancelhas para mim e levantou-se,
carregando o prato com ele, em minha direção. Entrando
na brincadeira, fugi dele, passando pela pia e levando o
pote comigo, corri para o quarto, com ele em meus
calcanhares.

Uma vez dentro, deixei que ele me alcançasse.


Colocando o prato em cima da cômoda, ele colocou uma
colherada de sorvete na minha boca.

—Esse sorvete é uma delícia.— Eu disse, engolindo.

— Vai ficar mais delicioso agora…

Victor colocou uma colherada de sorvete na boca e


ajoelhou-se a minha frente, colocando uma das minhas
pernas em seu ombro, beijou meu sexo, lambendo e
espalhando o sorvete…

***

A manhã chegou e com ela um Victor superanimado


para a nossa viagem de final de semana.

— Vamos, Bianca. Levante-se dorminhoca.

Disse, me dando beijos no pescoço. Me virei,


preguiçosa e elevando meus braços, o envolvi pelo
pescoço.

— Tem certeza que quer se enfiar no meio do mato


com aqueles dois? Poderíamos ficar aqui… sozinhos…
— Disse a última parte distribuindo beijinhos por seu
pescoço, atiçando-o.

— Pode parar. Vamos lá, vai ser uma delícia. —


Sussurrando em meu ouvido, ele continuou.— Tenho
ideias mais deliciosas ainda envolvendo uma cachoeira,
dois corpos nus…

Ri e, me desvencilhando de seu abraço, levantei-me.


O olhar de Victor percorreu meu corpo e vi quando
ele engoliu em seco, seus olhos brilhando de tesão.

— Repetindo suas palavras… Pode parar. Se


continuar me olhando dessa maneira, não sairemos
mesmo.

Victor grunhiu e levantou-se pronto para me pegar e


corri para o banho.
Capítulo 22
BIANCA

— Sério mesmo que eu deixei que você me

convencesse a andar no meio do mato e ainda por cima

carregando a casa nas minhas costas? — Luís reclamou

para Victor, enquanto caminhávamos pela trilha que

levaria a cachoeira.

— Você vai me agradecer, quando chegarmos lá. E,


caramba, quem teve a ideia foi você!

Uma rápida troca de olhares entre mim e Vanessa


aconteceu e engolimos em seco. Luís brincou e mudou de
assunto.

— Tô zoando, cara. Mas puta merda, esse troço não


acaba mais não?
Rimos e continuamos a caminhada. Uma paisagem
paradisíaca nos rodeava, o cheiro da grama e do sol dava
a sensação de estar sonhando.

Victor tirou a camiseta e a enfiou na alça da mochila,


que pendia em um dos seus ombros. Seus braços tatuados,
com os músculos delineados me deixaram com um tesão
louco. Aquelas tatuagens se estendiam por suas costas e,
uau, o dragão ali parecia se mexer, vivo a cada contração
involuntária de seus músculos, a cada passo.

Ele comandava a caminhada, eu mesmo estando há


meses sem andar por terrenos acidentados como agora, o
acompanhava de perto, mas Luís e Vanessa penavam atrás
de nós.

Percebendo o estado deles, cutuquei Victor.

— Amor, acho melhor darmos uma parada para


descansar. Luís e Vanessa estão exaustos e pingando suor.
— Sussurrei para ele, que se virou para constatar o que eu
havia dito.

— Ei cara, que belo preparo físico hein? Achei que


as noites de plantão, pra lá e pra cá no hospital o haviam
deixado em melhor estado. — Victor debochou do amigo,
mas já parando e sentando-se em uma pedra grande.

— Vai zoando. Puta merda, vou entrar pra sua


academia. Você não está nem ofegante, enquanto nós
estamos morrendo, com um palmo de língua pra fora.

Luís riu e pegou a garrafa de água, tomando um


grande gole.

— Realmente, pra quem não está acostumado, essa


caminhada detona. E olhe o tamanho da mochila do Luís!
Ele deve ter posto a casa lá dentro! — Vanessa comentou,
sorrindo.— Já estou até arrependida de ter aceitado!

Olhei para os dois, grata por estarem comigo nessa


jornada, tão cansados, mas ali, firmes e fortes.

— Não sei de onde veio a ideia, mas eu adorei.


Parece que era o que faltava para me sentir bem, o contato
com a natureza, o cheiro do mato, sei lá.— Victor disse,
inspirando o ar fresco.
— Espere até chegar na cachoeira.— Comentei,
enroscando os braços em seu pescoço, dando um beijinho
leve em seus lábios.

—Você não está como eles, mortinha de cansada.

Sorri, olhando em seus olhos.

—Meu personal sex me preparou muito bem.—


Sussurrei em seu ouvido, mordendo a pontinha.

—Não brinque assim comigo, Bibi.

Meus olhos se arregalaram ao ouvir o apelido.


Caramba… me recostei entre seus joelhos, meus olhos
momentaneamente marejados. Enfiei a cabeça entre seu
ombro e pescoço, abraçando-o e piscando ferozmente
para afastar as lágrimas.

Vanessa, ao ouvir o apelido e ver minha reação,


pigarreou e se levantou.

—Vamos então? Porque se me deixarem sentada por


mais tempo vão ter que me levar nas costas o resto do
caminho!
Rindo, para disfarçar, me afastei de Victor e o puxei
pela mão.

Mais vinte minutos andando e chegamos à clareira,


aos pés da cachoeira. O calor estava infernal e a
promessa de um refresco naquelas águas transparentes
parecia boa demais para ser verdade.

—Primeiro vamos armar as barracas. Depois


estaremos tão cansados que mal conseguiremos tirar a
roupa molhada.—Luís avisou, colocando sua mochila
gigante no chão.

Vanessa afastou-se um pouco e fui com ela.

—Caramba, Bianca! Minutos de caminhada e ele já te


chamou de Bibi. Eu sabia que isso daria certo!

—Tomara que ajude mesmo… se bem que ele já me


chamou de princesa e fez algumas coisas que fazia antes,
mas não se lembrou de nada. Às vezes, acho que nunca
mais vou ter meu A…

—Não diga o nome. Se ele escuta vai querer saber


quem é e vai tudo por água abaixo.

—O que vocês duas estão cochichando aí? Venham


aqui e deem um apoio moral pra gente. — Victor nos
chamou.

—Vamos lá… e seja o que Deus quiser. —Disse


retornando para perto deles. — Fomos babar um pouco na
cachoeira. Falta muito aí?

—Não, Victor parece que nasceu para armar a


barraca!

Eu ri e Vanessa ficou vermelha, por causa da frase


dúbia.

Passei as unhas por suas costas e Victor grunhiu.

—Não vejo a hora.

Victor grunhiu mais alto, imitando um bicho feroz e


virando-se rapidamente, me agarrando pela cintura, me
fazendo gritar e rir.

A barraca não era difícil de armar e eles terminaram


as duas rapidamente.
—Essa será a barraca das meninas e aquela dos
meninos! — Vanessa e Luís não tinham nada um com o
outro, então não faria os dois dormirem juntos.

Percebi o suspiro de Victor e o riso de Luís.

—Por enquanto… — ouvi Luís cochichar para Victor.


Capítulo 23
BIANCA

A felicidade imperava quando Victor pulou na

água gelada do lago que se formava abaixo da cachoeira,

espalhando respingos para todo canto.

Entrei devagar, me arrepiando a cada passo. Devia ter


feito como ele e pulado de uma vez… a água estava
congelante, em contraste com o calor absurdo que fazia.

Meus mamilos enrijeceram e minha pele se arrepiou


toda.

—Com essa visão não tem água gelada que dê jeito.


Venha para meu colo, Bibi. Eu te esquento.

Os braços fortes de Victor me envolveram e suspirei.


O frio deu lugar a outro tipo de arrepio. Sua pele estava
quente e me enrosquei em seu corpo. Victor foi andando
comigo para longe de Luís e Vanessa.

—Que vontade de chupar esses peitões até ter você


gemendo e se contorcendo em meus braços. Seus
biquinhos estão pedindo minha língua. — Victor lambeu o
lóbulo de minha orelha e me esfreguei em seu pau.

—Outro lugar está pedindo sua língua também.

Victor grunhiu e, sem aviso, afundou-se na água, me


levando junto.

Voltei à tona rindo e esperneando, mas firmemente


presa em seus braços.

—Temos que nos acalmar. Eles estão olhando.

— Por debaixo da água não aparece nada… te quero


dentro de mim.— Sussurrei em seu ouvido.

—Bibi, você me tira do sério. — apertou-se contra


meu corpo, roçando meu clítoris e gemi baixinho.

— Ei, vocês dois! O que acham de um pouco de


música?— Luís gritou da beirada do lago, mostrando o
celular e duas caixinhas de som.
Victor levantou o polegar e uma balada latina
começou a tocar. Eu conhecia bem aquela música, Ay
Vamos de J. Balvin, que ele tanto gostava e esperei pela
reação dele. No mesmo segundo, seus quadris começaram
com aqueles movimentos deliciosos, dançando comigo em
seu colo dentro d'agua.

—Acho que já escutei essa música em algum lugar…

Emocionada com sua expressão de reconhecimento,


seus ombros começaram a se mover no ritmo da música.

— Qué pena me daría, no tenerte en mi vida, vida


mía, mami...Ah ah ah, ah ah ah, peleamos, nos
arreglamos, nos mantenemos en esa pero nos amamos,
Ay vamos… — ele cantou junto com a música, envolvido
pela melodia.

Ri feliz.

Música sempre mexe com o subconsciente.

Cantarolei com ele, acariciando seus cabelos… a


essa se seguiram várias em espanhol, ele era fluente nessa
língua antes e, quando percebeu, estava cantando as letras
junto com as músicas.

Luís e Vanessa entraram, vieram para perto e as


brincadeiras na água começaram, e aquela sacanagem
gostosa que estava rolando antes da música foi adiada…

Exaustos, depois de mais de uma hora dentro d'água,


saímos e nos enxugamos. Minha pele estava arrepiada e
me arrepiei ainda mais ao sentir os lábios de Victor em
meu ombro, quentes e macios.

—Cansada, Bibi?

O olhei por sobre o ombro e sorri.

—Acabada seria o termo mais correto.

Coloquei uma camiseta por cima do biquíni úmido e


me virei para ele, enlaçando seu pescoço, roçando meus
lábios nos dele de leve, numa aberta provocação.

—Não provoca… não se não tiver a intenção de


terminar embaixo de mim, ali dentro da barraca. — Victor
sussurrou em meus lábios e me rocei inteira nele.
—Eles nos ouviriam… — Olhei em seus olhos,
fazendo cara de inocente e mordendo seu lábio inferior.

— Para que não fizesse barulho nenhum, te


amordaçaria com a camiseta…

—Promessas… — Um sorriso descarado escapou de


mim e ele me acompanhou no riso.

— Bianca está cansada, vamos tirar um cochilo


rapidinho.—Victor falou alto o suficiente para que eles
ouvissem e eu ri de sua audácia.

—Nem pensem! — Luís disse, vindo em nossa


direção. — Estou faminto! Temos que fazer alguma coisa
pra comer.

— Eu trouxe lanches de carne desfiada, frutas e suco.


Não tem como a gente fazer nada aqui.

— Aí é que você se engana! Acha que minha mochila


de acampamento não tem seus trunfos? Não carregaria
aquele trambolho à toa. Venham ver!— Luís riu, me pegou
pela mão e Victor veio junto.
Capítulo 24
BIANCA

Abrindo o zíper de sua mochila gigantesca,

ele retirou uma caixa, fazendo o maior suspense.

—Não acredito! Você trouxe uma churrasqueira?

—Sim, uma churrasqueira elétrica com uma pequena


bateria, potente o suficiente para durar 2 dias, sendo
utilizada para o que a gente precisar. Eu não dou ponto
sem nó, meu camarada!

—Ah! Mas esqueceu da carne! Certeza que não


caberia tudo aí!

—A carne está comigo! — Vanessa entrou na


conversa, satisfeita consigo mesma. — Em uma
embalagem térmica, porque não sou tonta! Ah, e trouxe
aquela linguicinha fininha que você tanto ama, Bianca!

—Ai. Meu. Deus! Não brinca! Ahhhh, eu já disse que


amo vocês dois? Caraca! Tô morta de fome!

—Ei, meu camarada… acho que o cansaço de alguém


se foi. — Luís brincou com Victor.

—Sua sorte é que eu estou louco de fome também…


Vamos ligar isso aí e colocar alguma carne pra assar!

Brincando, preparamos tudo e em pouco tempo o


cheiro delicioso fazia com que meu estômago roncasse e
em minutos eu estava com um espetinho de linguiça nas
mãos, atacando-o com vontade.

—Faz isso comigo não… — Victor sussurrou em meu


ouvido, enviando uma corrente elétrica pelo meu corpo.
— Com a vontade que eu estou de te pegar de jeito, ver
você colocando isso na boca, está fazendo misérias
comigo.

— Aguente-se, Tigrão. Estou faminta… por você


também. — Pisquei e dei mais uma mordida no espetinho,
fazendo Victor puxar o ar entre os dentes.

Luís fez sinal para Victor, que se aproximou da


churrasqueira para pegar comida. Assim, descontraídos,
comemos e conversamos até o céu começar a mudar de
cor.

Victor, surpreendendo a todos, retirou duas lanternas


com lâmpadas amarelas e pendurou uma em cada entrada
das barracas.

—As lâmpadas são revestidas com citronela, vão


espantar os pernilongos, mas trouxe repelente também,
caso não sejam boas o suficiente.

—Eu tinha esquecido disso, já estava achando que os


mosquitos me comeriam viva. —Peguei o repelente que
ele estendia para nós.

—Sou possessivo, princesa. Sou o único que pode


comer você!— Falou baixinho para que os outros não
escutassem, mas aquele tom de voz, me deixou arrepiada.
— Depois que eles dormirem, você vai ser toda minha. —
Sussurrou em meu ouvido e mordeu a pontinha, de leve.

Incapaz de falar qualquer coisa, apenas o olhei e


engoli em seco, o tesão tomando conta de toda e qualquer
parte do meu corpo.

Vanessa chegou perto de nós, pedindo um pouco do


repelente e me forcei a sair daquele transe, piscando
repetidamente e respondendo a ela.

De relance, eu olhava para Victor, que seguia todos os


meus movimentos, sem disfarçar.

O impetuoso estava dando as caras, meu amor estava


ressurgindo das profundezas de sua própria mente. Eu
amava esse Victor preocupado, carinhoso… Óbvio que
isso ele sempre foi, mas aquele algo mais, a maneira de
me olhar, de me devorar com os olhos, de demonstrar sua
vontade e a fazer valer nas horas mais deliciosas… disso
eu estava sentindo falta. A pegada selvagem e forte! Em
outras ocasiões, a essa altura, nós já teríamos sumido dali
há muito tempo…

Mantive-me à distância dele, para provocar o tigre


adormecido dentro dele.
Capítulo 25
VICTOR

Estávamos nos divertindo, mas meu

pensamento corria em torno daquele corpo fofinho e

delicioso. Deus como eu queria me perder em suas curvas

e me enterrar em seu calor! Não pensei que eu fosse

assim, insaciável e muito menos tão intenso. Eu a queria

mais que qualquer coisa e queria que ela soubesse disso.

Não conseguia mais ficar com as mãos longe dela, a

seguia com os olhos para onde quer que ela fosse.

Como agora, prestes a dormir, elas precisavam fazer


xixi e iriam para o meio do mato. As duas riram quando
me ofereci para ir junto, de guarda-costas. Com suas
bolsinhas, se afastaram de nós.
—Cara, deveríamos ir pro outro lado também. Trouxe
papel higiênico se precisar. Sabe que no mato, quando se
tem dor de barriga, você tem que cavar um buraco para
fazer suas necessidades dentro dele e depois tampar? Pois
é.

Ri da cara seria do Luís.

—Ta com dor de barriga, Luís? Se tiver, pode ir


sozinho, eu não preciso estar por perto não! E não esqueça
de levar sua pazinha para cavar.

—Ria, seu debochado! Dor de barriga não dá em uma


pessoa só não e nem só uma vez! — Luís se afastou,
balançando sua pequena pá e necessaire pequena.

Fiquei sozinho e fui para perto do lago, com uma


garrafa de água e minha necessaire também. Homens
também tem essas coisas, afinal onde guardaríamos
escova de dentes e tudo mais?

O barulho da cachoeira ali era mais forte. Me aliviei


perto de uma árvore e joguei a água em cima. À beira do
lago, lavei as mãos, joguei um pouco de água no rosto e
escovei os dentes.

—Que bonitinho! Importa-se de dividir a pia


conosco?

Bianca e Vanessa estavam ao meu lado, sorridentes.

—À vontade, mocinhas!

Me afastei um pouco para dar privacidade às duas,


mas perto o suficiente para acudir se acontecesse alguma
coisa.

Vê-la escovar os dentes foi uma tortura!

Meu Deus, como eu havia virado esse ser louco por


sexo? Não conseguia estar por perto dela sem querer tocá-
la, sentir seu perfume ou imaginar a maior cena de sexo,
suado e quente em qualquer lugar que estivéssemos…
como ali mesmo, se no lugar daquela escova de dentes
fosse meu pau entrando em sua boca…

Balancei a cabeça e desviei o olhar, chutando uma


pedra para longe e colocando as mãos nos bolsos, na
tentativa de disfarçar minha ereção.
— Prontinho… tudo feito. Vamos dormir? — Bianca
perguntou, chegando perto e ficando nas pontas dos pés
para me beijar de leve.

A agarrei pela cintura e puxei-a para mim.

—Dorme comigo. Luís é um cara respeitador, não vai


fazer nada que Vanessa não queira. — Sussurrei em seu
ouvido, mas já sabendo a resposta.

—Aí é que está o problema. O que ela quer. Nem ela


mesmo sabe…

Falou baixinho, observando a amiga que já entrava na


barraca destinada às duas, para guardar suas coisas.

Esquecendo da presença dos outros, tomei sua boca,


colando o corpo dela no meu, agarrando-a pelos cabelos e
mantendo-a presa à minha boca, tal qual sua bunda, que
estava sendo apalpada com vontade. Com um suspiro,
Bianca passou os braços pelo meu pescoço, emaranhando
os dedos em meus cabelos, acariciando de leve.

A suspendi e suas pernas enlaçaram-se em minha


cintura. Aproveitando a escuridão da sombra da árvore, a
apoiei contra ela e investi de leve, atiçando e
demonstrando meu tesão.

— Estava louco para te beijar assim… —Me vi


sussurrando em sua boca.

—Te quero dentro de mim.— Bianca sussurrou de


volta e afastei seu biquíni, acariciando sua carne molhada.

Impossível resistir àquele pedido. Que Deus ajudasse


que nenhum deles viessem atrás da gente. Tirei meu pau
de seu confinamento e encostei em sua boceta quente. Seu
calor irradiou-se por meu corpo e senti minhas bolas
retesarem. Os primeiros centímetros dentro dela foram
uma tortura. Apertada e inchada pela excitação, as
paredes de sua boceta me agarravam como um punho e
alguma coisa selvagem dentro de mim deu as caras.
Protegendo as costas dela da aspereza do tronco, com meu
braço, meti fundo e forte. Um gritinho de tesão de Bianca
foi abafado pela minha boca. O beijo era tão selvagem
como a força e a intensidade que eu a comia. A tinha
grudada em mim e apenas meus quadris se afastavam dela,
o suficiente para se chocarem novamente com os dela. O
barulho da cachoeira abafava os nossos gemidos e
suspiros que tentávamos conter, um na boca do outro.

Bianca estava entregue e tão louca de tesão quanto eu.


Quando sua boceta me apertou mais forte, senti a
escuridão tomar meus olhos e uma tontura me tomou
quando ela interrompeu o beijo e sussurrou “Te amo,
Tigrão.”

Aquela declaração, aquele sussurro fez com que


flashs desconhecidos pipocassem em minha cabeça, e vi
Bianca embaixo de mim, contorcendo-se de prazer,
sussurrando a mesma coisa, mas em um lugar que nunca
estive.

A perca do controle me fez estremecer e meter mais


forte, levando-a ao êxtase. Deixei que ele me consumisse
também, gozando fundo naquele corpo que era meu. Com
toda a certeza do mundo, era meu.

—Também te amo, minha Bibi. Pra caralho!

Bianca me olhou surpresa. Seus olhos ficaram


marejados e seu corpo languido em meus braços. Eu
sabia, no fundo da minha alma, que aquilo era verdade.
Impossível amar alguém em tão pouco tempo? Eu não
achava, pois essa certeza eu sentia nos ossos.

Deixar seu corpo foi a pior sensação do mundo


naquele momento. Eu queria adormecer dentro dela,
abraçado a ela. Mas não podia. Não hoje, não agora.

Tirei sua camiseta e devagar a levei para uma parte


do lago onde formava uma piscina natural e a água, por
causa do calor do sol durante o dia, estava deliciosa. Sem
uma palavra, a lavei e fiquei abraçado a ela até que o
cansaço nos tomou e voltamos para as barracas. Pegamos
as toalhas que estavam penduradas nas laterais delas e nos
secamos.

Bianca pigarreou e disse baixinho: “Boa noite, amor.


Bons sonhos...” Ficou nas pontas dos pés, me beijou de
leve e recolocou a camiseta, tirando o sutiã do biquíni e
entrando para sua barraca.

Concordei com a cabeça e fiquei ali parado, atônito,


olhando para a entrada da barraca dela, imaginando-a
tirando a calcinha molhada do biquíni, lá dentro, sem
saber se eu entrava atrás ou se ia para a outra, onde os
roncos de Luís eram audíveis, mesmo do lado de fora.
Capítulo 26
VICTOR

Eu não poderia ficar ali plantado a noite toda…

balançando a cabeça, derrotado, entrei na barraca que

dividiria com Luís. Tirei a roupa molhada e coloquei uma

boxer, deitando-me por cima do saco de dormir.

Deixei o torpor do sono me envolver e tive sonhos


nítidos de uma outra vida, com Bianca.

—Você não vai se casar com ela! — Um homem que


eu sabia ser meu pai, esbravejava, com as veias
aparecendo em sua testa, o rosto vermelho.

—Me impeça, então. Eu a amo e nada, nem ninguém


vai me impedir!

—Margarida, venha aqui imediatamente e coloque


juízo na cabeça do seu filho!
— Filho, você não pode casar-se com Bianca! Olhe
para nós e para ela! É apenas uma funcionária da
empresa do seu pai! É inconcebível que um Vega se case
com uma qualquer!

—Vocês vivem em um mundo de fantasia! Olhem o


absurdo que estão dizendo!

—Essa conversa vai ficar para outra hora! Nem


pense em fazer nenhuma besteira enquanto estamos
longe. Temos um encontro com o embaixador e voltamos
na segunda. Então continuaremos essa conversa.

— Nem morto que vou aceitar o que estão dizendo.


Não sou fútil como vocês!

—Essa mulher só quer o status que o sobrenome


Vega trará a ela! Nunca aceitaremos isso!— Minha mãe
posicionou-se ao lado do meu pai e o tomou pela mão.

—Vocês enlouqueceram. Sou maior e vacinado,


Tomarei a decisão que achar melhor. Não preciso da
permissão de nenhum de vocês. Para nada.
Sob o olhar de desaprovação dos dois, saí batendo a
porta, só para ser agarrado por dois seguranças com o
dobro do meu tamanho e arrastado a contragosto para
uma sala escura...

O som da porta batendo, me despertou e sentei-me


esfregando os olhos. Eu estava todo suado e trêmulo. Que
porra de sonho foi esse?

Tentei me lembrar de tudo, mas apenas fragmentos do


sonho voltaram. A sensação de ter vivido aquilo era
nítida. Tão nítida quanto o que me veio enquanto fodia
Bianca de encontro à árvore.

A claridade do dia já era visível através da lona da


barraca. Uma dor de cabeça monstruosa me tomava e me
levantei, pegando uma bermuda na mochila, vestindo-a.

Sentei-me a beira do lago e abracei os joelhos,


olhando para a água da cachoeira, que caia continuamente.
O barulho da água era relaxante, mas minha cabeça
latejava… recostei a testa nos joelhos e fechei os olhos…
imagens desconexas dançavam em minha mente e eu não
conseguia entender nada.

Não sei quanto tempo fiquei assim, mas ao sentir os


dedos macios de Bianca em meus ombros, eu levantei a
cabeça e a olhei.

—O que foi, amor? Por que está com essa cara?

—Uma dor de cabeça, só isso. — Como eu contaria


pra ela, de um sonho que nem eu mesmo me lembrava?

—Tenho remédio na minha mochila. Quer? — Neguei


com a cabeça, mas ela insistiu. — Não vai ficar passando
dor à toa. Espere um pouco.

—Não, Bianca. Vem senta aqui do meu lado e fica


comigo. Vai passar.

Estendi a mão para ela, que pegou e sentou-se ao meu


lado. Tê-la em meus braços aliviou a angustia do meu
coração. Aquele sonho tinha mexido comigo, a sensação
de que aquilo realmente tinha acontecido não me deixava,
e pensar em perder minha Bianca me deixava
desesperado.
Fiquei abraçado a ela, acariciando seus cabelos, até
que Vanessa juntou-se a nós e logo em seguida, Luís. Logo
a música estava ligada e a dor de cabeça foi diminuindo a
medida que eu me deixava envolver pelo clima
descontraído e deixava o sonho de lado.
Capítulo 27
VICTOR

Comemos as frutas e os sanduíches que

Bianca havia trazido, ficamos um pouco mais na cachoeira

e logo a hora de voltar pra casa chegou. Nos secamos,

desarmamos tudo e tomamos o cuidado de deixar o lugar

limpo como estava quando chegamos. Meia hora de

caminhada e estávamos onde havíamos deixado nossos

carros.

—Vamos almoçar onde? Essa caminhada me deixou


virado de fome! —Luís disse, ao colocar a mochila dele e
de Vanessa no porta-malas de seu carro, enquanto eu fazia
o mesmo. — Preciso de carboidratos! Tem um restaurante
no caminho, que tem rodízio de massas.
—Mas olhe só nossas roupas! — Vanessa reclamou.

—Você está mais linda do que muitas mulheres que eu


já vi frequentando lá. Não arrume desculpas, Van! — Luís
disse, abraçando-a de lado, dando um beijo em seu rosto.

Vanessa ficou vermelha e eu me aproveitei da


intimidade dos dois e puxei Bianca para mim também. A
fome depois do exercício físico já era minha companheira
e meu estômago estava roncando.

—É melhor irmos logo… o dragão das costas dele já


está urrando de fome. Juro, estou ouvindo os barulhos
daqui!

—Me segue. — Disse Luís, olhando Vanessa entrar


em seu carro, para só depois entrar. Abri a porta para
minha Bianca e logo estava atrás dele na estrada, rumo a
comida!

O almoço tardio foi tudo de mais delicioso que podia


haver em relação a massas.

—Aceitam um canelone ao molho de amendoim?— O


passador ofereceu e todos passaram, mas fiquei curioso
em relação ao sabor e aceitei.

—Não, Victor. Melhor você não comer isso. E se for


alérgico? Muita gente é.— Disse Bianca, alarmada.

— Imagina. Você fez aquela carne com amêndoas


torradas. Amendoim não vai fazer nada.

—Verdade, cara. Melhor não arriscar. Estamos muito


longe de qualquer hospital e essas coisas de alergia são
terríveis, só eu sei como, cuido de cada uma…

—Ta bem, não comece a me contar essas coisas aqui,


estamos comendo.— Ri e virei-me para o passador. —
Obrigado, eles me convenceram.

—Sem problemas, trarei um ao molho funghi que faz


o maior sucesso. Com licença.

Assim que ele se afastou, Bianca pegou seu copo e


tomou um bom gole de seu suco, recostando-se em
seguida, um tanto pálida.

— Você está bem, Bianca?— Perguntei, preocupado.


—Ah, sim. Deve ter sido o sol da caminhada, nada
demais não.

Percebi uma troca de olhares entre Luís e Vanessa e


me senti como se tivesse perdido alguma coisa. Logo em
seguida, o passador retornou com rondelli ao molho
funghi e todos aceitaram. Mais algumas massas
diferentes, pelo menos, para mim, quase tudo era
novidade, e me recostei, satisfeito. Bianca me olhava com
os olhos brilhantes e com um sorriso no rosto. Luís olhava
fascinado para Vanessa, que contava uma história que
havia acontecido com uma tia, a qual eu mal prestava
atenção.

—Vamos fugir daqui, Bibi. Quero ficar sozinho com


você e logo terá que ir embora. — Falei baixinho, para
que não nos ouvissem.

Bianca concordou com a cabeça.

—Hoje é por minha conta. Alguém quer sobremesa?

—Sinceramente? Agora bateu uma moleza daquelas.


Não aguento mais nada… Acho que a caminhada e essa
comida toda fizeram um estrago com meu corpinho. —
Luís brincou, passando a mão pela barriga, satisfeito.

— Verdade. Parece que sou uma ursa pronta para


hibernar. — Completou Vanessa.

Fiz sinal para o garçom fechar nossa conta e logo ele


trouxe a pastinha, verifiquei o valor e coloquei algumas
notas dentro dela.

— Vamos, então? — Todos nos levantamos e saímos


do restaurante e ficamos esperando o manobrista trazer
nossos carros.

— Foi um final de semana muito gostoso. —


Comentou Vanessa.

— Nem fomos comidos pelos pernilongos! — Bianca


brincou, abraçando-me pela cintura.

—Graças às minhas lanternas de citronela!

—Uhum, graças a você, amor.

Bianca elevou o rosto, oferecendo a boca para um


beijo, que logo aceitei.
Luís pigarreou e nós rimos deles dois.

—Nosso carro chegou. Até mais. — Me despedi de


Luís com aquele nosso abraço de macho, ou seja, um tapa
no ombro e um beijo no rosto de Vanessa. Bianca também,
mas se despediu da amiga com um abraço carinhoso, que
me deu um ciúme bobo.

Ao entrar no carro, ela deu tchau para eles com a mão


e quando estávamos saindo eu olhei pelo retrovisor e eles
estavam engatados em um papo. O que era bom… Luis
precisava de foco e Vanessa estava dando isso a ele.

—Espero que aqueles dois se entendam. Formam um


casal bonito.

— Vanessa já está caindo na lábia dele. Seria bom


para Vanessa também, ter alguém com ela, para ela. É
muito sozinha, mas por opção.

Peguei sua mão e a beijei, sendo brindado por um


sorriso lindo… É, eu amava essa mulher!
Capítulo 28
VICTOR

—O que acha de um banho? Depois te levo pra

casa. — Perguntei, depois que deixamos nossos tênis na

área de serviço.

Queria muito saber onde ela morava. Conhecer sua


família seria o próximo passo.

—Não, Victor. Me deixe na rodoviária. Meu irmão


vai me buscar.

—Você tem um irmão? — Fui falando enquanto a


puxava para o banheiro do meu quarto.

—Tenho. Ele é uns anos mais velho que eu. Deve ter
mais ou menos a sua idade.

—Você nunca perguntou minha idade…

—Isso porque idade é apenas um número. O que sinto


por você independe de idade ou qualquer coisa do tipo.
— Ela tirou a camiseta e chegou perto de mim.— Amo
você, quero você…

Abri e tirei seu sutiã e bermuda, enquanto a beijava.


Bianca soltou-se em meus braços, envolvida por meus
beijos. Abaixei minha bermuda e cueca, pisando em cima
para me livrar de tudo, as unhas de Bianca roçaram a pele
sensível do meu saco, atiçando fogo em minhas veias.
Estiquei o braço e abri o chuveiro. Me afastei o suficiente
para tirar a camiseta e jogá-la no chão, o que deu a Bianca
espaço para segurar meu pau com a outra mão e começar
uma punheta deliciosa.

Ela me deixava louco, nunca se negando e atacando


meu fogo com igual intensidade. Devagar andei com ela
daquela maneira para dentro do box…

***

—Tem certeza que não quer que eu te deixe na porta


da sua casa?
—Sim, amor. Meu irmão estará me esperando. Ligo
assim que chegar.

Ela sorriu para mim e meu coração de manteiga foi


incapaz de insistir mais.

— Está bem. Não se esqueça, assim que chegar, me


ligue, fico preocupado.

—Pode deixar.

Dei um último beijo e passei a mão por seu rosto.


Não queria, mas tinha que deixá-la ir. Abri a porta e fui
pegar sua mala de mão no porta-malas. Logo ela estava ao
meu lado. Fechei e acionei o alarme, abraçando-a.

Levei-a até a plataforma, onde seu ônibus já


aguardava com a porta aberta.

—Amo você. Se cuida. —Ela disse, me olhando com


os olhos marejados.

—Temos que dar um jeito nessa coisa. Não gosto


quando você vai embora.

—Eu sei, também não gosto, mas tenho que ir. — Uma
lágrima rolou por seu rosto e a sequei com o polegar. —
Não gosto nada disso, nem de te deixar e nem de chorar
como uma molenga.

—Isso acontece porque nos amamos, princesa.


Daremos um jeito nisso.

A puxei para mim, em um último abraço apertado, um


último beijo e deixei que ela se fosse. Fiquei observando-
a entrar no ônibus e me dar tchau, lá de dentro.

Quando o motorista deu rá para sair da plataforma,


eu permiti que meus pés se movessem e voltei para o
carro, cabisbaixo.

Voltei para casa e me atirei na cama, que ainda tinha o


cheiro dela. Fiquei abraçado ao travesseiro dela, me
lembrando de trechos do sonho.

Não sei quanto tempo fiquei assim, deitado, mas me


surpreendi quando o celular tocou. Era Bianca dizendo
que havia chegado bem, o ônibus havia acabado de chegar
na rodoviária e que já estava vendo seu irmão do lado de
fora, à sua espera.
Aliviado por ela estar bem e em segurança, desliguei
e deixei que o cansaço me tomasse.
Capítulo 29
VICTOR

Segunda-feira havia se tornado o pior

dia da semana para mim, o dia que eu mais sentia falta de

Bianca, após ter passado o final de semana com ela.

O dia se arrastou e finalmente o final do expediente


chegou. Fui direto para a academia e descontei toda minha
frustração nos aparelhos e pesos. Treinei até meus
músculos tremerem, fadigados.

Sem vontade, apenas peguei minhas coisas no armário


do vestiário e fui para casa. Entrei no carro e retirei a
camiseta molhada de suor, jogando-a em cima da mala de
mão onde estavam minhas roupas.

Na garagem, estacionei e saí do carro, pensativo, a


caminho dos elevadores. Entrei e apertei o número do
meu andar. Me olhei no espelho e percebi as linhas de
cansaço que estavam presentes ali, mas que no dia
anterior não existiam. Eu precisava de Bianca comigo.
Sempre.

O elevador parou e as portas abriram. Saí sem prestar


muita atenção em nada nem ninguém, mas ao chegar
próximo a porta do meu apartamento, levantei o olhar e
me deparei com um homem um pouco mais forte que eu,
mas da mesma altura. Ele me encarou e seu rosto ficou
vermelho, suas feições tomadas pela raiva.

—Você de novo? Já não fez minha irmã sofrer demais


não?

—Quem é você?

—Agora vai se fazer de santo, seu retardado! Ela


demorou a refazer tudo o que você estragou! Filho da
puta!

Olhei para ele sem entender sobre o que ele estava


falando, mas seu punho fechado fez contato com meu rosto
antes que eu pudesse formular uma palavra… Senti uma
dor pungente e a escuridão me tomou.
Capítulo 30
VICTOR

Abri os olhos e me deparei com o piso duro do

corredor e a parede lateral.

Que cara louco!

A parte de trás da minha cabeça latejava, minha boca


e nariz também. Passei a mão pelos meus lábios e eles
ficaram cheios de sangue. Me levantei lentamente, meio
tonto.

Olhei em volta e estava sozinho.

Com dificuldade, coloquei a chave na fechadura e


abri a porta. Fechei-a com cuidado e fui direto tomar um
banho, cambaleante, me amparando nas paredes. Meu
corpo, exausto pelo excesso de exercício, não ajudava em
nada.

Entrei direto no box e então abri o chuveiro. A água


gelada fazendo com que eu recobrasse um pouco mais os
sentidos. Não me demorei muito, meu rosto doía demais e
sentia meus lábios inchados.

Peguei a toalha que estava pendurada em cima do box


e enxuguei lentamente meus cabelos, tomando cuidado
com a parte de trás da minha cabeça, onde um galo
enorme havia se formado. Com o mesmo cuidado, sequei
meu rosto, manchando a toalha com um pouco de sangue
de algum lugar. Coloquei-a em cima da pia e peguei outra,
enxugando meu corpo.

Ainda estava tonto quando me olhei no espelho.


Quando encarei meus olhos verdes ali, a realidade, todas
as minhas lembranças vieram com força total, me fazendo
arregalar os olhos para mim mesmo. Uma onda de náusea
me tomou e me ajoelhei no chão, vomitando tudo o que
tinha, no vaso sanitário. Incrédulo com tudo, me sentei
sobre ele, dei descarga e segurei minha cabeça com as
duas mãos.

Bianca… minha Bibi… minha princesa! Como ela


pôde?
Aquela dor não era nada, comparada com a de ter
sido traído por ela!

Porque ela não tinha me contado!

Vanessa também sabia de tudo!

Luís! Eu precisava conversar com alguém e esse


alguém era ele. Escovei os dentes com cuidado pois meus
dentes estavam sensíveis e eu ainda sangrava pelo corte
em meus lábios.

Meu cérebro estava a mil por hora… meus pais,


Bianca... Bernardo! O sonho, a trilha e a cachoeira, as
músicas… a insistência dela em me fazer lembrar! Tudo
isso não fazia sentido para mim!

Fui para meu quarto, me enfiei no primeiro jeans que


achei, a primeira camiseta e saí, rumo à casa de Luís.

Com força, bati à porta dele.

—Quem é? — Sua voz embargada pelo sono me


deixou com peso na consciência. Sequer tinha olhado as
horas, apenas saído como um louco.
—Sou eu, A… — Respirei fundo e me corrigi. —Sou
eu, Victor.

A porta se abriu e ele apareceu, eu realmente o tinha


tirado da cama.

—O que aconteceu, cara! Caramba, olha seu rosto!


Entre!—Preocupado ele me puxou para dentro.— Você
está sangrando. —Tirou a camiseta e colocou em meu
rosto e me sentou no sofá.— Encoste a cabeça aí e
pressione, já volto.

Saiu correndo e logo voltava com uma caixa de


primeiros socorros e gelo.

Limpou o corte em minha boca e meu nariz, com


perícia, aplicou uma pomada e cobriu, me entregando uma
luva de látex cheia de gelo, amarrada.

—Obrigado, camarada.

—O que é isso! Amigos são pra essas coisas. Agora


me diz, o que aconteceu? Por que está todo estropiado
assim?
—Bernardo… — Passei a mão pelos cabelos e
recomecei. —Quando voltei da academia hoje, um homem
me esperava na porta do meu apartamento. Quando me viu
ficou louco, me xingou e meteu um soco na minha cara.
Caí desacordado, nocauteado e acordei pouco tempo
atrás, lá, largado no chão, sangrando.

—Temos que ir ao hospital. Há pouco tempo você se


machucou feio, pode ter tido uma concussão, ou coisa
pior.

— Luís… — O encarei pela primeira vez, desde que


cheguei. —Eu me lembrei de tudo.
Capítulo 31
VICTOR

Estudei sua reação à minha declaração.

Ele arregalou os olhos e soltou um palavrão.

—Puta que o pariu! E como você está?

—Como você acha que estou? Estou puto, sem


entender porra nenhuma! E pela sua cara, você também
sabe de tudo!

—Sei.

—E por que caralhos ninguém me disse nada?


Ficaram me tratando como um tonto, me chamando pelo
nome de outra pessoa, mesmo sabendo o meu verdadeiro!
Por que Bianca não me disse nada e ficou me fazendo de
bobo esse tempo todo? Tô me sentindo traído, feito de
idiota por ela e por vocês!

—Victor!
—Esse não é meu nome, caralho! — O interrompi
gritando, possesso!

— Cacete, eu sei que não é, mas não consigo te


chamar pelo seu nome, porra! E não grite comigo, me
deixe tentar explicar! —Envergonhado pela minha
explosão, fiquei quieto.— Bianca e todos achavam que
você tinha morrido. Tem detetives atrás de você por aí,
que seus pais colocaram para te procurar quando
perceberam que você tinha sumido. Pobre da Bianca
quase teve um infarto quando te encontrou na boate e
depois sem saber como te reencontrar por causa das
amigas! Porra, cara, vocês iam fugir juntos! Ela largou
tudo o que conhecia por você, para te encontrar e você
não apareceu. Já pensou nisso? E depois, naquele dia que
se reencontraram, ela ia falar tudo, mas percebeu que só
ia piorar as coisas, pois você não se lembrava de nada!
Conversei com Vanessa aquele dia, que só saiu comigo
para falar sobre isso e prometi ajudar. No dia seguinte
falei com o Dr. Prado, sobre a melhor maneira de te
contar, sobre o que fazer e só estávamos seguindo ordens
médicas. — Ele passou a mão pelo rosto, perplexo. —
Quando você se lembrou de tudo, não pensou no
sofrimento que é para Bianca, você não se lembrar do que
sentia por ela? Do que viveram? De todos os planos que
tinham? Aquela mulher ama você mais do que a ela
mesma! Tem que sair de casa, falando que vai para a casa
da amiga, pois, se alguém souber, vai logo cagoetar para
seus pais e você sabe muito bem como são e o que
aconteceria!

—É, eu sei. E fugi de tudo isso! Não os quero


comandando meus dias e noites.

Suspirei, derrotado. Ele tinha razão. Eu estava sendo


um egoísta, pensando apenas na minha dor. Minha pobre
Bianca devia estar sofrendo diariamente com isso, durante
todo esse tempo.

—Entendeu agora por que ninguém te disse nada?


Como ficaria sua cabeça se do nada ela te dissesse que
vocês iam fugir para se casar pois seus pais eram
controladores e não aceitavam a relação de vocês, pois
são podres de ricos, a nata da sociedade e ela uma
simples empregada de uma das empresas deles? Você
tinha que se lembrar de tudo sozinho! Foi um verdadeiro
milagre vocês se encontrarem assim, do nada. Destino,
cara. Se você não acredita nisso, não sei o que mais
poderia ser. — Ele colocou a mão em meu ombro e
continuou. — Esse nocaute veio a calhar, estou superfeliz
que tenha se lembrado de tudo, mas agora temos que ir ao
hospital e fazer exames nessa sua cabeça dura aí. A força
de um soco pode causar danos permanentes no seu
cérebro já machucado, sem falar na força com que você
deve ter socado a cabeça no piso, caindo desacordado.

—Não, eu estou bem. Um pouco tonto, mas nunca me


senti melhor!

—Por acaso, vomitou? Ficou confuso e teve tonturas?


Então pode ser sinal de algum traumatismo, concussão ou
até mesmo início de um derrame.

—Não vou ficar preso no hospital de novo! Preciso


falar com Bianca e com Bernardo também! Ele me viu e à
essa altura deve ter feito alguma coisa, falado, sei lá!
—Tudo isso pode esperar. Você quer ter um AVC e
acabar vegetando numa cama? Porque pode acontecer a
qualquer momento. Vamos para o hospital fazer os exames
e depois você vê isso tudo.

—Não quero nada disso… acabei de me lembrar de


tudo, não quero esquecer… ou ficar pior.

Passei a mão pelos cabelos.

Eu estava confuso e possesso.

As emoções dentro de mim estavam descontroladas e


eu não sabia o que fazer. O que parecia certo em um
momento, no outro parecia idiotice total, meu estômago
estava revirado e minha cabeça e rosto, latejavam
terrivelmente.

Passei a mão devagar pelo meu rosto e meu celular


tocou. Na tela, o nome de Bianca.

—Não posso atender. Não posso falar com ela desse


jeito.

—Tudo o que ela fez foi por amor. Quando ela te viu
foi um choque. Não poder contar para as amigas naquele
dia e ainda por cima perderem seu cartão… Vanessa é a
única que sabe e pelo jeito o irmão de Bianca também,
agora. Eu e Vanessa temos conversado muito e devo isso à
situação de vocês dois. Sua praga pegou, camarada.
Quero aquela mulher como nunca quis nenhuma antes, mas
ela não dá sinais de me querer.— Deu de ombros e eu ri,
gemendo de dor. —Bora, cara. Vamos lá, me escute. Sei o
que é melhor nesse momento. Já vi muitos casos que não
acabaram bem.

Concordei e fui com ele, deixando meu carro


estacionado em sua garagem. Antes de sair, ele ligou para
o Dr. Prado, que foi para o hospital, me atender.
Capítulo 32
VICTOR

Fizeram uma tomografia e eu tive que ficar

em observação por algumas horas. Enquanto isso,

ministraram antibióticos e suturaram o corte em minha

boca. Pela manhã, com recomendação de repouso, o

Doutor me deu alta.

—Você realmente tem muita sorte, Victor. Pense bem


no que vai fazer daqui para frente e aproveite a nova
chance em sua vida. Você foi nocauteado pelo homem que
te acertou e isso abalou tudo dentro de seu crânio.
Lutadores experientes as vezes se dão bem mal com um
soco desses.— Dr Prado disse e concordei.

Luís, que estava ao meu lado o tempo todo, suspirou


aliviado.
— Tudo bem então com esse cabeça dura?

—Com a graça de Deus, ele está bem. Mas, devido a


tudo o que aconteceu antes, é bom ficar em repouso por
alguns dias. Só vou receitar remédios para a dor e
antibiótico por causa dos pontos em sua boca. Eu
encaminho seu atestado, fique tranquilo.

Nos despedimos e passamos na farmácia do hospital


para pegar os medicamentos.

Voltamos para a casa de Luís, onde peguei meu carro


e o fiz prometer não contar nada a Vanessa nem a Bianca.

Ao chegar em casa, esgotado, deitei-me. Não me


deixaram dormir, por causa da pancada e agora o cansaço
cobrava seu preço. Dormiria por umas horas e então
procuraria Bernardo. Com esse pensamento, fechei meus
olhos…

Acordei, resolvido a levar a cabo o plano inicial.


Precisava falar com Bernardo e explicar a situação. No
final, eu tinha que agradecer o protecionismo dele e até
mesmo pelo nocaute.

Tomei um banho e os cuidados prescritos pelo


médico. Apanhando as chaves do carro e as que haviam
na mochila, peguei a estrada, rumo a minha cidade natal.
Chegando, fui direto à loja de suplementos de Bernardo,
que, quando me viu, veio direto para cima.

—Bernardo, espere. Preciso te contar o que


aconteceu.

—Você virou um porra louca com esse monte de


tatuagens! Agora se lembra de mim? Tá querendo o quê?

—Quero que me escute. Por favor.

—Você tem cinco minutos para se explicar ou vou te


fazer em pedacinhos!

Suspirei e comecei a contar tudo a ele, me olhava


incrédulo.

—Sei que parece história de filme, mas foi o que


aconteceu, tenho as cicatrizes para provar que não estou
mentindo e seu soco fez com que eu me lembrasse de tudo,
na noite passada. Eu amo sua irmã, com todo meu coração
e não vou fazer mal a ela.

—Você tá de brincadeira! Acha que sou imbecil?

Tirei a camiseta e me virei de costas para ele.

—Olhe bem e verá que não estou.

Bernardo resfolegou quando percebeu todas as


cicatrizes por baixo das tatuagens.

—Caralho, homem de Deus!

—Nunca falei mais sério em toda a minha vida.


Preciso de sua ajuda. Bianca não sabe que me lembrei de
tudo e quero levar nosso plano adiante. Me ajuda com
tudo?

—Você tem certeza de que vai enfrentar tudo e todos


por ela? Sua família não é flor que se cheire.

—Eu não sou como eles. E não preciso deles em cima


de nós nem nada que venha deles. Tenho minha vida e era
independente deles antes de tudo isso acontecer. Fiquei ao
lado deles esses anos todos, são meus pais e agradeço por
tudo o que fizeram por mim, minha vida toda. A educação
que me deram e tudo mais, mas sou livre para tomar
minhas próprias decisões. Ao me fazerem escolher entre
ser uma marionete nas mãos deles ou ter o controle sobre
minhas escolhas e minha vida, não tenho nem que pensar
sobre.

—Eles estão como loucos atrás de você. Quando o


encontrarem...

—Quando me encontrarem, não vai acontecer nada.


Sou dono da minha vida, maior de idade e não dependo
dos deles para nada. Como eu mesmo disse a eles, antes
de tudo isso acontecer, eu não vou deixar minha vida de
lado para seguir os passos de meu pai na empresa,
empresa essa que sempre fiquei de fora por não seguir os
padrões que eles estabeleceram. Não podem chegar do
nada e jogar em cima de mim uma coisa dessas e tomarem
todas as decisões por mim. Não sou e nem nunca fui
brinquedo de ninguém.
—Certo. Eu sei o quanto Bianca sofreu esse tempo
todo. E foi o fato dela estar louca de felicidade que me fez
segui-la até a rodoviária sexta passada e depois segui
vocês de longe até seu prédio. Esperei até que ela
voltasse, não sou nem louco de fazê-la sofrer uma isca
novamente e então fui atrás de você.

—Eu só tenho a agradecer, Bernardo. Principalmente


pelo soco. Foi o que me fez lembrar de tudo claramente.
Eu já estava tendo uns flashs durante o final de semana,
mas o nocaute foi o que faltava.

Bernardo riu e estendeu a mão para mim. Bati minha


mão na dele e estava selado nosso pacto.

—Vou arrumar tudo para uma cerimonia particular,


depois veremos se a habilitação de casamento está
valendo ainda. De qualquer maneira, o civil fazemos
depois. Já a fiz esperar por muito tempo e a quero comigo.

Passei a ele tudo o que planejava fazer e ele


concordou com tudo.

—Sou um romântico inveterado! Pode deixar que eu


dou um jeito nisso. Vai ser complicado, mas tudo que é
mais difícil tem um gosto especial e tudo vai dar certo,
tenho certeza.

Deixei meu número do celular com ele e me despedi.

—Até mais, Bernardo.

—Boa sorte, nos falamos.

Saí e entrei no carro. Agora meus documentos… não


me casaria com Bianca, com o nome do cara que me
vendeu aquele carro. Ela teria o meu sobrenome.

Passei em meu antigo apartamento, peguei-os no cofre


e saí, sem que ninguém me visse.

À tardinha, retornei para casa.


Capítulo 33
VICTOR

Que tudo desse certo!

Durante todo o dia, Bianca tentou falar comigo, mas


não atendi. Agora em casa e com tudo organizado em
minha cabeça eu estava pronto para ela e então liguei.

—Onde você está? O que aconteceu? Por que não


atendeu quando te liguei? Estou morrendo de
preocupação!

—Eu caí ontem à noite, no corredor, e fiquei no


hospital, em observação. Mas não se preocupe, estou bem.

—Caiu como? Desmaiou? O que disseram? Ah, meu


Deus!

— Um louco estava correndo e deu um encontrão em


mim, batendo a cabeça na minha. Caí feito uma jaca
madura.
—E está machucado? Vou praí!

—Não precisa, princesa. Estou bem. Vou ficar em


casa alguns dias, de repouso, por ter batido a cabeça de
novo. Luís ficará comigo, depois do trabalho.

—Está certo, então. Se precisar de mim, me liga?


Qualquer coisa. Promete?

—Sim, Bibi. Prometo.

— Te amo. — Ela disse do outro lado da linha e


fechei os olhos, sentindo como se estivesse na minha
frente.

— Também amo você. Boa noite. Sonha comigo.

— Vou sonhar. Você também.

—Até mais.

—Até…

E nada de nenhum desligar.

Bianca riu do outro lado e seu riso me aqueceu.


— Ok, vamos desligar juntos. No três.— Eu disse.

—Tá bem.

— Um…

— Te amo.— Ela sussurrou.

— Dois…

— Te amo muito. Se cuide.

—Três…

E ela desligou. Sempre tão obediente, minha Bianca.

Meu Deus, que vontade de estar com ela! Se tudo isso


não tivesse acontecido, hoje estaríamos morando juntos
em algum lugar, casados e felizes.

Tomei o antibiótico e o remédio para a dor que estava


me deixando louco e me deitei, adormecendo em seguida.

A sexta-feira chegou e com ela a certeza de que logo


estaria com minha Bianca nos braços.
Hoje, sairíamos com Luís e Vanessa. Tínhamos planos
de juntar os dois e um jantar e uma esticadinha para uma
boate seria perfeito.

Às sete da noite, eu estava na frente da plataforma,


mais ansioso do que nunca. E com mais tesão do que
nunca.

Será que ela perceberia alguma coisa? Ou pensaria


que como tudo até agora era coisa do meu inconsciente?

Assim que ela desceu do ônibus, meu olhar grudou no


seu e percebi a mudança nela. Seu olhar ficou mais
languido e ela entreabriu os lábios.

Com passos firmes andei até ela e, segurando seu


queixo com uma mão e sua cintura com a outra, a beijei
profundamente.

— Vamos, Bianca. Eu te quero comigo, em meus


braços e em minha cama.

Ela respirou fundo e não disse uma palavra.


Capítulo 34
BIANCA

Puta merda, o que foi aquilo? O impetuoso estava


todinho ali, na minha frente. Minha surpresa foi tamanha
que fiquei sem palavras e apenas o segui. Eu também, o
queria mais do que qualquer coisa. A semana longe dele,
sabendo que ele havia se machucado, me deixou com a
ansiedade e o tesão nas alturas… ainda mais depois de
todas as horas que passamos ao telefone.

Entramos no carro e encostei minha mão em sua


coxa.

— Tudo bem, amor? Nossa, seu rosto ainda está


arroxeado… e seu lábio, quase bom.

— Ontem, retirei os pontos. Eles queriam me deixar


mais alguns dias com eles, mas cuidei bem, está fechado e
não precisava daquelas coisas pinicando.— e, me
encarando daquela maneira louca, continuou com uma voz
rouca.— Quero estar com minha boca livre para te deixar
louca.

Engoli em seco e sorri.

—Só falando assim, você quase atinge seu objetivo…


—Sussurrei, pois ele tinha chegado perto, sua testa na
minha e sua boca a centímetros da minha.

Sua língua saiu para brincar com meus lábios e minha


respiração acelerou.

— Me aguarde, minha delícia! — Deu um beijo


rápido em minha boca e afastou-se. —Pronta? Cinto
colocado? —Confirmei com um gesto de cabeça, pois
estava trêmula por dentro, me segurando para conter o
tesão que me consumia.

Victor sorriu e pegou minha mão, beijando-a. Ligou o


carro e a música que escutamos na cachoeira estava
tocando.

Algo estava diferente nele… talvez seu verdadeiro eu


aflorando das profundezas de sua mente... Seu modo de
me olhar estava diferente, com uma fome e desejo
intensos, como acontecia antigamente quando ficávamos
sozinhos.

Antes do acidente, ele era um homem pacato,


programador e game designer como nenhum outro, seus
jogos faziam muito sucesso e tornou-se independente dos
pais, financeiramente, ainda muito jovem, o que os deixou
loucos.

Quando nos conhecemos eu não fazia ideia de quem


ele fosse ou do que possuía, vi apenas um homem com um
coração gigantesco e amável, que ajudava a quem
precisasse. Ainda me lembro que estávamos num mutirão
de ajuda comunitária, entregando comida aos
necessitados, ele vestido com uma bermuda de tactel,
camiseta e tênis, um boné virado para trás, com os cachos
de seu cabelo crescido, escapando dali e um sorriso
genuíno no rosto. Depois que fomos embora, todos juntos,
começamos a conversar e marcamos de sair.

Nossa primeira noite juntos, me mostrou um lado que


nem imaginava que habitasse em seu corpo. Um homem
impetuoso, preocupado com meu prazer, possessivo e ao
mesmo tempo romântico e atencioso.

Ele não lembrava em nada esse homem musculoso e


cheio de tatuagens que estava ao meu lado. Se seus pais o
vissem hoje, teriam um ataque cardíaco!

Digo isso, pois eles são podres de ricos, esnobes e de


nariz em pé. Acham que são melhores que todos no mundo
e nada, nem ninguém, os fazem mudar de ideia. Nem
mesmo seu único filho, que sempre bateu de frente com
suas ideias humanitárias e bom coração.

A última gota, o que deixou Victor possesso, foi eles


quererem que ele largasse tudo o que havia criado, para
“tomar posse de seu lugar de direito nas empresas da
família e na sociedade”, dizendo que o período de festas e
brincadeiras havia acabado e que ele deveria se tornar o
homem que eles haviam criado para ser.

Deixar para trás seus jogos, suas conquistas, sua


própria empresa e a mim também. Por isso íamos fugir de
tudo isso e morar bem longe deles e viver nossa vida
como bem entendêssemos.
Eu o amava pela pessoa que ele era, não pelo que
poderia lucrar estando com ele, como seus pais diziam.
As pessoas esperam dos outros, o reflexo delas mesmas,
pois, na casa dos Vega, imperava a falsidade e interesse,
aquela futilidade de viver de aparências e fingir
felicidade. Eles não tinham um amigo de coração, mas sim
pelo status que fulano ou sicrano trariam. Como Victor foi
sair tão diferente dos pais? Ele era a prova viva de que a
bondade é inata nas pessoas…
Capítulo 35
BIANCA

Saí de minhas divagações quando chegamos em

frente a garagem.

—Tudo bem, Bianca? Você veio tão quietinha,


olhando para a movimentação da rua… aconteceu alguma
coisa? Está preocupada com algo?— disse ao parar o
carro na vaga.

Sorri, afastando o passado e os pais dele de minha


cabeça. Eu o tinha para mim novamente e nada poderia ser
mais importante ou especial do que isso.

—Nada demais, me perdi em pensamentos. As


músicas fazem isso com a gente.

— É, fazem. Agora vou fazer você se perder de


verdade… em mim. Vamos.

Saí do carro e dei a volta, pois ele estava pegando


minha mala no banco de trás.

—Você está diferente hoje. Sei lá, mais…

— Estou com saudades, Bibi. Fiquei a semana toda


em casa, só pensando em você, esperando que a sexta
feira chegasse. Quero você, minha delícia. —Me puxou
com a mão livre, pela cintura, colando meu corpo ao dele.
—Todinha… e logo. Não estou me aguentando de vontade
de você.— Com um suspiro me entreguei ao beijo, que
logo foi quebrado. — Vamos subir, não quero parar na
delegacia por atentado violento ao pudor.

Ri com ele e fomos, abraçados, até o elevador.

Victor abriu a porta de seu apartamento e fez um gesto


floreado para que eu entrasse, entrando logo atrás de mim,
colocando minha mala no chão ao lado da porta.

Com um olhar selvagem, ele andou em minha direção


e resolvi fazer uma brincadeira antiga, e fui caminhando
de costas. Ele avançava e eu recuava. Fiz cara de medo e
um sorriso gigantesco e conquistador surgiu em seu rosto,
junto com um rosnado animal.
Com um gritinho, saí correndo, com ele em meu
encalço, direto para o quarto. Parei pertinho da cama, de
frente para ele. Com um olhar sensual, capaz de inundar
qualquer calcinha, ele começou a retirar sua camisa e meu
olhar foi se deleitando em seu corpo trincado. Esse novo
Victor era um pecado ainda maior do que era antes.

Completamente nu e pronto para mim, ele avançou em


minha direção e estendi os braços, me protegendo,
mantendo distância.

Ele riu e, como os lutadores de boxe, gingou na minha


frente.

—Não tem como fugir, moça. Você será minha…—


Disse com aquela voz carregada de tesão.

Engoli em seco. Ele entrou na brincadeira, como se


soubesse bem o que estava fazendo e acostumado com
isso.

Aproveitando meus segundos de hesitação, ele pulou


sobre mim, me abraçando. Seu pau duro contra minha
barriga parecia uma barra de aço quente.
Sua boca caiu sobre a minha, possuindo, exigente.
Juntei os lábios, impedindo que ele avançasse no beijo e
sua mão escorregou para minha bunda, me puxando para
seu colo. Enrolei minhas pernas em sua cintura e sua mão
se aventurou por debaixo de minha saia, atiçando minha
intimidade e me penetrando com a ponta do dedo.

—Essa brincadeira está te deixando excitada. Toda


molhada, quentinha, minha delícia.

Seu pau se encaixou ali e ele afastou ainda mais


minha calcinha, com um movimento de quadris, o levei
para dentro de mim e gemi alto com a invasão brusca.

Victor aproveitou e aprofundou o beijo. Me agarrei


em seu pescoço e ele segurou minha bunda com as duas
mãos, mantendo as estocadas em um ritmo louco.

Nos abaixando sobre a cama, ele me deitou e abriu


minha camisa, abaixando o bojo de meu sutiã, sua boca
tomou meu mamilo, sugando e mordendo. Gemi deliciada
com as sensações. A cada estocada eu ia mais para cima
na cama e ele vindo junto… Deitou-se, me levando para
cima dele e o montei, terminando de tirar a camisa e o
sutiã.

Com a mão em minha nuca, ele me puxou e me


manteve de corpo colado ao dele. Com a outra, estalou um
tapa na minha bunda.

— Fode, princesa! —Sussurrou em minha boca. —


Fode seu macho! Fode, Bibi.

Sua voz rouca me enlouqueceu e logo o tinha gemendo


embaixo de mim, agarrando meus seios, sugando e
mordiscando meus mamilos, minha pele, me deixando
arrepiada e à beira do orgasmo. Seu pau grosso me
preenchia de uma maneira plena, tocando todos os
recantos escondidos dentro de mim.

Segurando meus seios em concha, ele me colocou


sentada novamente e apertou um mamilo entre os dedos.

Seu olhar prendia o meu.

Sua mão percorreu o caminho entre meus seios e


minha boceta, tocando meu clitóris. Abri a boca a procura
de ar, meu corpo trêmulo e traidor queria gozar, por mais
que eu estivesse me segurando para mantê-lo longe.

Com movimentos sinuoso de quadris, eu


acompanhava seus dedos, meus músculos internos
apertando-o tanto que chegava a causar uma leve dor.

Seu rosto tomado pelo tesão era lindo de se olhar…

Quando ele fechou os olhos e apertou a cabeça contra


o travesseiro, eu soube que ele já estava quase lá e deixei
que o orgasmo me consumisse, gemendo e sentindo em
seguida o jorro de esperma quente dentro de mim, junto
com seu grunhido de prazer.

Deitei-me sobre seu peito, úmido de suor, o meu


misturando-se ao dele, nossas bocas coladas em um beijo
refolegado e cheio de amor.
Capítulo 36
BIANCA

— Amo você, Bibi. Te quero comigo todos

os dias.

Sua declaração me deixou com os olhos marejados.


Eu não podia ficar com ele assim, desmemoriado. Cada
segundo que passava, eu me culpava por não contar para
ele todo o seu passado.

—Seria muito gostoso ficar com você assim, sempre.

Rolei para o lado e ele me abraçou.

—Nada mais gostoso do que ficar com você em meus


braços, todas as noites, ter sua companhia durante os dias
e um amorzinho gostoso a qualquer hora… — ele riu,
beijando meus cabelos. — Amo conversar com você, amo
seu sorriso, amo o modo como joga os cabelos para trás
enquanto fode meu pau, amo como se entrega a mim, amo
seus beijos… — Ele foi intercalando beijinhos enquanto
falava até chegar em minha boca.

Deus! Eu nunca teria o suficiente dele!

Meu celular tocando nos interrompeu.

—Deixe que toque.

—Deve ser a Vanessa, para confirmar sobre hoje à


noite.

— E se não formos? Se deixarmos os dois lá


esperando por nós, eles vão acabar se entendendo.

— Sacanagem com eles!

Ri de sua carinha de esperto e seu sorriso bobo.


Quando ele queria fazer gracinha sempre era assim.
Depois piscava e me beijava. Como agora.

Realmente, hoje ele estava muito diferente, muito


mais parecido com meu amor do passado do que com o
Victor. O que era muito bom, pois aos poucos ele voltava
a ser quem sempre foi… mas e se não lembrasse de tudo?
No fundo, até seria melhor para ele não se lembrar dos
pais controladores e opressores que resolveram mostrar
as garras de uma hora para outra. Se bem que nunca
esconderam o que realmente eram, apenas não ligavam
para o que ele fazia ou deixava de fazer, mudando de uma
hora para outra de “Tô nem aí” para “você nasceu para
isso Kal-el ” numa comparação chula com o homem de
aço.

—Ok, vamos tomar um banho bem gostoso e depois


nos encontramos com eles.

O abracei, rindo, e beijei… e esse foi meu erro...


Capítulo 37
VICTOR

Chegamos ao restaurante, abraçados e

felizes.

—Caramba! Até que enfim! O que vocês estavam


fazendo pra demorar tanto assim? — Luís perguntou,
levantando-se e estendendo a mão para mim.

Bati em sua mão e dei um beijinho em Vanessa.


Bianca os cumprimentou também e puxei a cadeira para
que ela se sentasse, sentando-me em seguida.

—Já escolheram o que pedir?— Perguntei, fugindo da


pergunta do Luís.

—Perguntei, mas, pensando bem, não quero nem


saber. O que importa é que vocês chegaram! Estamos
morrendo de fome!

Luís pegou a mão de Vanessa sobre a mesa e


acariciou o nó de seus dedos. Olhei para Bianca, que já
encarava Vanessa com um sorrisinho nos lábios, o qual
Vanessa retribuiu e ao perceber que eu observava, esse
sorrisinho mudou de cúmplice para envergonhado.

Luís olhava de um para outro sem entender nossas


reações.

—O que são essas caras? Só falei que estávamos com


fome…

—Sei… agora você fala por vocês dois… —


Brinquei e Bianca me deu um tapinha no braço.

—Deixe-os em paz!

—Não disse nada demais...— ri e a beijei de leve.

—Estou vendo que vocês dois também estão bem


felizes.

—Sempre, meu amigo, sempre. Agora me digam o


que escolheram pra comer, estamos morrendo aqui sem
opções.

Luís começou a mostrar as coisas no cardápio e


pedimos dois pratos. Eu sou louco por parmeggiana e fui
nele sem hesitar. Bianca riu da minha escolha e disse que
comeria comigo.

Logo a comida estava sendo servida e, entre


conversas e brincadeiras, a hora da sobremesa chegou.

Meu peito ardeu em expectativa, meu coração


acelerou e achei que ia ter um treco. Tomei um gole do
meu suco e respirei fundo. E então ali estava a surpresa de
Bianca em uma bandeja de prata, coberta com a tampa
brilhante.

Com um sinal meu, o garçom a abriu teatralmente.

Ali, uma torta de morangos, a preferida dela, e ao


lado, a caixinha do anel e das alianças que eu havia
comprado durante a semana.

Emocionada, Bianca levou a mão à boca, me olhando


espantada.

Peguei a caixinha do anel e, indo até seu lado, me


ajoelhei.

— Minha Bibi, minha vida, minha delícia. Casa


comigo? Não sei mais viver sem você.

Lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto. Dessa


vez eu estava fazendo tudo como devia ser.

—Você tem certeza? É tão pouco tempo…

—Absoluta. Tempo não é nada. O que importa é o que


eu sinto aqui. — Coloquei a mão sobre o peito. — em
meu coração. E ele me diz que você é a mulher da minha
vida.

—Caso. Me caso com você, amor.

Ela me abraçou e entre lágrimas nos beijamos.

O restaurante todo havia parado para observar a cena


e agora explodia em palmas e assovios.

Coloquei o anel em seu dedo e peguei a caixinha das


alianças, colocando sobre o anel. Dei a minha a ela, que
colocou em meu dedo também. Beijei sua aliança.

— É assim que deve ser. Você comigo e eu com você.


Sempre.
Luís e Vanessa se levantaram e vieram até nós, nos
cumprimentar.

— Agora falta vocês dois se acertarem. Parem de


besteira… vamos lá, aproveitem o clima...

Luís sorriu daquele jeito conquistador e virou-se para


Vanessa, enlaçando-a pela cintura e tentando beijá-la. Ela
permitiu um selinho e riu.

— Já é alguma coisa! — Disse Luís, sorrindo


abertamente.

—Pelo que eu sei, já e muita coisa! — Disse Bianca,


rindo alto da cara que a amiga fez para ela.

—Vamos comer nossas sobremesas e ir pra gandaia!


Hoje temos que comemorar duplamente! O noivado de
vocês dois e nosso primeiro beijo!— Luís disse, feliz da
vida.

—Isso aí!—Brindamos com nossos sucos. Beijei


novamente a aliança de Bianca. — Essa aliança foi feita
para estar nesse dedinho. Olha que coisa mais linda!
Ela enlaçou os braços em meu pescoço e mesmo de
lado me beijou.

— Vocês têm que marcar a data— Vanessa bateu


palmas ao dizer.

— Isso eu já vi essa semana. Se dermos entrada nos


papéis amanhã cedo, em um mês poderemos nos casar.
Passaremos lá amanha. Vocês querem ir com a gente?

— Vamos sim. — Eu já havia combinado com Luís,


pois precisava deles junto conosco para que Bianca não
percebesse meus documentos. Eles chamariam sua atenção
quando fosse necessário.

— Mas por que tão rápido? — Bianca perguntou.

— Por dois motivos. Primeiro porque eu não aguento


mais ficar a semana toda sem você… as segundas são os
piores dias para mim, pois, depois de passar três dias
com você, sou obrigado a te ver ir embora no domingo e
sei que terei a semana toda de saudades. E segundo, é
claro, tem que ser antes que você mude de ideia e veja a
besteira que está fazendo. — Ri, brincando.
— Está bem, amanhã vamos ver isso.

Comemos e fomos dançar. O lugar estava um pouco


vazio e entramos rapinho.

—De volta onde tudo começou!— Luís comentou.

—Obrigada por ter me convencido, Luís. Se eu não


tivesse vindo…

— Digo o mesmo, Van. Se vocês não tivessem me


arrancado da cama pra vir, nada disso seria possível.

— Imagina. Quando o destino resolve agir, não há


nada que o impeça.—Vanessa sorriu e piscou.

Bianca abraçou-se a mim e ficamos dançando,


envolvidos em mundo só nosso. Depois de algumas
músicas assim, olhei por sobre a cabeça dela e vi Luís
aos beijos com Vanessa.

— Olhe lá! Até que enfim se entenderam.

—Estou tão feliz com isso! Vanessa merece um cara


bom pra ela. Acho que Luís será esse cara.
— Ah, eu também. Desde que a conheceu ele não saiu
com ninguém, só fala nela e me confessou que está louco
por ela como nunca esteve antes por mulher nenhuma.

—Olha só, hein? Como ela disse, o destino não


brinca. Certas coisas acontecem sem a gente entender o
porquê, mas sempre tem um motivo… — Disse, olhando
em meus olhos, e me abaixei para beijá-la.

—Sempre, Bibi. Sempre.


Capítulo 38
VICTOR

O cartório abria as dez horas.

Dez e dez, estamos estacionando o carro em frente,


com Luís e Vanessa estacionando logo atrás. Às onze
estávamos indo tomar café em uma padaria ali perto, os
documentos oficialmente encaminhados e Bianca nem se
preocupou em conferir os dados, de tão eufórica com
tudo, além de Luís e Vanessa ajudarem bastante para seu
estado de espírito.

Agora era marcar a data e agilizar as coisas com


Bernardo. Saímos da padaria e parei em frente a igreja
para marcar o dia.

—Faremos uma coisa pequena, só para nós, como os


casamentos em Las Vegas. O importante é ter a benção de
Deus em nossas vidas. Com todas as chances que Ele me
deu, é preciso agradecer.
E com essas palavras a convenci. Marcamos para
daqui a quatro semanas. A habilitação sairia em mais ou
menos vinte dias. Isso daria tempo para preparar a
surpresa para ela.

Passamos o resto do dia em casa, assistindo a filmes,


de bobeira no sofá, namorando e curtindo.

—É tão bom te ter comigo, Bibi. É como um balsamo


para as feridas do dia a dia.

—Não tem lugar melhor no mundo, pra mim, do que


em seus braços, amor.

— Ah, tem sim… — Sussurrei em seu ouvido e


coloquei sua mão sobre meu pau, que pulsava dentro do
moletom.— montada no meu pau, rebolando e gemendo.

Bianca gemeu e nos perdemos em carinhos e


safadezas.

Infelizmente, o Domingo chegou e também a hora de


levá-la para a rodoviária.
— Bianca, deixe suas roupas aqui. Não tem sentido
você levar e trazer todo final de semana.

— As roupas estão sujas, amor. Por isso levo de


volta. Simples assim.

— Pois então deixe tudo aqui. Eu lavo as minhas e


coloco as suas, junto, sem problema nenhum.

—Você não existe…

— Existo sim e te quero comigo.

— Uma coisa que não pensamos é sobre meu


trabalho.

—Você não precisa trabalhar mais lá. Peça as contas


assim que entrar para trabalhar amanhã. Procuraremos
outro pra você aqui, um em que você se sinta muito bem.
— Bianca ainda trabalhava na empresa dos meus pais e eu
sabia muito bem que ela não era feliz lá e que eles não
facilitavam a vida dela em nada.

— Realmente, qualquer outro emprego seria melhor


do que aquele. Você tem razão.
Assim, mais um problema foi riscado da lista.

Logo após ela ter entrado no ônibus e eu tê-la visto


sumir ao longe, liguei para Bernardo.

—Não acredito! Você não perde tempo!

— Perdi tempo demais com tudo o que aconteceu.


Você consegue?

— Tenho que conseguir! Meu Deus, isso é tudo muito


louco.

—É sim, mas ela vai amar. Será inesquecível.

—Com certeza. Se ela não te matar no altar, vai ser


inesquecível… pensando bem, será inesquecível mesmo
se ela te matar!

— Nem brinca! Estou torcendo para que ela não fique


tão possessa comigo quando descobrir, como eu fiquei
quando me lembrei de tudo.

— Ela não vai. Se não ficou quando te reencontrou,


não fará nada na frente do padre.
—Ela quase desmaiou, pobrezinha. Você tinha que
ver.

— Eu imagino, mas ela não meteu a mão em você nem


nada do tipo por ter desaparecido sem deixar rastros e
estar se divertindo em uma casa noturna.

— Verdade. Nunca tinha pensado nisso.

—Pois pense. Você tem muito o que agradecer a Deus


nessa sua nova vida, porque a ira de Bianca não é fácil e
você foi poupado.— Bernardo gargalhou do outro lado da
linha. — Já sofri muito com a ira daquela baixinha. Jesus,
que mulher brava.

—Eu sei bem. Um dos motivou de eu não me


preocupar com a hipótese de meus pais irem falar com
ela. Bianca enfurecida é como um touro bravo, solto na
arena.

Bernardo estava às gargalhadas e eu ria junto. Era


impossível ficar sério com ele rindo daquela maneira.

—Cara, que bom que está tudo bem e que todos estão
felizes. Bianca está radiante esses dias todos, desde que te
reencontrou. Um pouco tristonha depois que volta daí, mas
só isso. Ela passou por meses muito ruins, sem saber onde
você estava ou o que tinha acontecido.

— Eu imagino, mas não foi uma escolha. Aconteceu.

— Eu sei e ela também sabe. Mas isso não tira a


importância do que ela sentiu o passou.

—E eu me esforçarei dia e noite para que ela nunca


mais sinta um nada do que sentiu esse tempo todo. Minha
meta na vida é fazê-la feliz.

— Bom saber. Então tá, noivinho. Ajeita seu lado aí


que eu ajeito o meu aqui.

—Fechado. Até mais.

Desliguei o celular, pensando em tudo o que ela deve


ter sentido. Tadinha da minha Bianca.
Capítulo 39
VICTOR

Três semanas se passaram. Nossa casa nova

estava comprada, mobiliada e era exatamente como nos

sonhos de Bianca. Os conhecidos do hospital estavam

convidados, Bernardo havia feito a parte dele com

maestria, a nossa lua de mel estava tudo certo, hotel,

avião, tudo!

Esse final de semana seria inesquecível.

Sentado em minha mesa, com o pensamento na lua de


mel, um barulho vindo do corredor me chamou a atenção.
Uma gritaria, Helen esbravejando alguma coisa e gritando
pelos seguranças.

Abri a porta, pronto para intervir e dei de cara com


meu pai.

—Pode deixar, Helen. Eu cuido de tudo aqui.

Meu pai respirava pesado, seu rosto vermelho com as


veias saltadas.

—Pode me explicar o que um Vega faz trabalhando


como funcionário de um hospitalzinho chinfrim?

—Não, pois não é da sua conta.

—Olhe como você fala com seu pai! Tenha respeito!

—Ah, sim. O mesmo que você teve para comigo ao


querer que eu jogasse minha vida pela janela para servir
aos seus propósitos como um ditador alucinado,
mandando seus brutamontes me jogarem em um quarto até
que eu mudasse de ideia. Por sorte consegui fugir daquilo!

—Você mudou de nome, de cidade, tudo para fugir do


seu destino! Você enlouqueceu!

—Não fale assim de destino, pois você não tem noção


da importância que tem essa palavra na vida das pessoas.
Se o detetive que colocou atrás de mim fosse tão bom,
saberia que sofri um acidente que quase custou minha vida
e que fui salvo por pessoas de bem, que não faziam ideia
de quem eu fosse quando acordei. Mas, com a graça de
Deus e do destino, quem deveria estar em minha vida
voltou para ela e me ajudou a lembrar de tudo.

—Você vai se casar com aquelazinha! Eu não vou


permitir!

— Pai, entenda que sou adulto, livre e desimpedido,


dono da minha vida. Não tenho que dar satisfação do que
faço e muito menos pedir permissão para ir e vir, quanto
mais para me casar. E, por favor, tire esse cara do meu pé.
Se eu quisesse que vocês soubessem do meu casamento,
teria enviado um convite. Agora, se me der licença, tenho
trabalho a fazer.

—Você não precisa desse salário medíocre! Muito


menos ficar fechado nesse escritório minúsculo! Você,
apenas com seus rendimentos, ganha mais do que com o
salário de um mês de trabalho! É dono de um império
perto disso aqui.
—Sim, eu sei. Mas isso se chama livre arbítrio. Uma
coisa que você não faz ideia do que seja. Eu quero assim,
me sinto bem assim e amo o que faço. Tenho um carinho
inestimável pelas pessoas que me cercam e é uma escolha.
A minha escolha e a minha vida. Assim como me casar
com quem eu bem entender.

—Nós o criamos com tanto amor para isso! Filho


ingrato!

— O amor que vocês me deram… engraçado como a


visão das pessoas sobre o amor é deturpada. Nunca tive
nenhum de vocês em reuniões escolares, festinhas, jogos
ou coisas do tipo. Era levado e buscado na escola por
motoristas, cuidado no restante do tempo por babás e
governantas. Os via quando suas viagens permitiam, o que
era quase nunca.

—Mas pagamos por tudo isso! Pelo seu zelo e


educação.

— Pai, coloque uma coisa na sua cabeça. Dinheiro


não é amor. Não se compra a felicidade de ninguém. Por
sorte e obra divina, as pessoas que cuidaram de mim eram
pessoas de bem, de boa índole e me ensinaram valores
que seu dinheiro não foi capaz. Tudo isso por terem
carinho por mim, pois não fazia parte do trabalho de
nenhum deles. Agora, por favor. — Estendi a mão para a
porta, mostrando-lhe o caminho.— Você é meu pai, não
meu dono. Não lhe devo obediência. Não mais.

Com fogo nos olhos, meu pai virou as costas e saiu


com passos largos.

—Desculpe pelo incômodo, Helen.— Falei alto o


suficiente para que ela ouvisse e fechei a porta.

Liguei para Bernardo e pedi que ele cuidasse da


segurança de Bianca nos próximos dias. Cuidado nunca
era demais.
Capítulo 40
VICTOR

Na sexta-feira, passei em nossa casa nova para

ver se estava tudo certo. Espaçosa e aconchegante, em um

condomínio próximo ao hospital, ela era linda. Arrumei a

cama com primor, a noite seria deliciosa, mas amanhã a

casa estaria cheia de gente. Uma equipe completa de

esteticistas com direito a massagista, maquiador,

cabeleireiro, manicure e podólogo estariam à disposição

e Bianca e Vanessa teriam um dia de rainha antes do

casamento à tarde. Luís traria Vanessa pela manhã e nós

ficaríamos a ver navios sem nossas mulheres.


Parti para a rodoviária apreensivo.

Eu sabia que Bianca não havia contado aos pais, nem


para Bernardo, que se casaria comigo, por medo de que
eles me reconhecessem e falassem alguma coisa, por isso
não insisti quando ela disse que buscaríamos suas coisas
uma outra hora.

Meneei a cabeça, afastando os pensamentos


contraditórios. Tudo daria certo!

Ao vê-la descendo do ônibus, a certeza de que tudo


daria certo me atingiu.

Bianca entregou o ticket da bagagem para o motorista


que estava retirando-as do bagageiro do ônibus. Ela
apontou qual era e entrou la debaixo, pois a mala dela
havia escorregado para o fundo. Hoje sua mala era bem
maior do que sempre foi e sorri para ela.

—Pode deixar que eu pego. — Disse ao motorista,


que sofria com o peso para conseguir empurrá-la para a
saída.
Com a mala em uma mão, abracei minha Bianca pela
cintura, puxando-a para mim.

—Saudade de você. Agora veio para ficar! Não vou


mais sofrer com sua ausência toda segunda e nosso
domingo será inesquecível.

—Todos os dias ao seu lado serão.

Ela levantou a cabeça pedindo um beijo, que não


recusei. Colocando a mala no chão a abracei e beijei com
todo meu amor, emaranhando meus dedos nos fios de seus
cabelos.

—Venha, tenho uma surpresa pra você.

Peguei sua mala e fomos até o carro. Guardei-a no


porta-malas, enquanto Bianca, ansiosa, já entrava no
carro.

Quando entrei e liguei o carro, ela sorria de orelha a


orelha.

—Estou tão feliz! Nem acredito!

—Ainda dá tempo de mudar de ideia e sair correndo


para as montanhas.

—Só corro pra você.

Aquela afirmação aqueceu meu coração. Saber que


ela me queria de qualquer maneira era bom demais. Só
esperava que ela não ficasse brava por eu não contar que
havia recuperado a memória. Colocando o carro em
movimento, fui em direção a casa nova.

—Vamos passar em um lugar antes, tá?

—Tudo bem. — Ela respondeu no automático, mas


percebi que essa não era sua vontade. — Vamos demorar
muito?

—Não, é rapidinho. — Meio que para sempre,


continuei em pensamento. Parei em frente a nossa casa, saí
e abri a porta para ela— Venha comigo.

Ela saiu admirando a casa.

—Essa casa é linda! Olha que coisa mais fofa a


escultura viva no jardim! — Eu sabia que ela gostaria da
escultura na planta. Estufei o peito satisfeito. 1x0 para
mim!

Abri a porta e fiz sinal para que ela entrasse.

—Uau! Que coisa mais linda! —Ela passou a mão


pelo tecido do sofá que ocupava um bom espaço da sala.
— Essa cor é linda demais. —Posso me sentar?

— Claro. — Sentei-me também, com ela ao meu lado.

— Tão fofinho!— Ela não conseguia parar de passar


a mão no tecido. Antes do acidente, tínhamos ido a uma
loja de móveis, para procurar móveis para nossa casa
imaginaria, apenas por ir, e ela havia se apaixonado por
um sofá exatamente como aquele, por isso eu o havia
comprado.

—Olhe em volta. O que acha?

Meus olhos grudaram em seu rosto. Eu nem piscava, à


espera do reconhecimento e de sua reação.

Então seus olhos passearam pela sala e bem a sua


frente, no painel da parede, haviam várias fotos nossas,
que Luís havia tirado no dia do passeio na cachoeira, que
eu tinha mandado imprimir em preto e branco e
emoldurado. Agora elas faziam parte da decoração da
nossa sala.

Ao perceber, seus olhos se arregalaram e ela cobriu a


boca com as mãos.

— Somos nós!

Abri um sorrisão e a puxei para meu colo.

—Bem-vinda ao lar, Bibi. Essa é a nossa casa.

Lágrimas de felicidade escorreram por seu rosto e ela


se agarrou ao meu pescoço.

—É tudo tão lindo! E esse sofá… eu babei por um


desses, tempos atrás.

Não disse nada, apenas sorri e a beijei. Devagar e


demoradamente… agora eu a tinha para mim, para todo o
sempre.
Capítulo 41
VICTOR

—Quer ver o resto da casa?— Perguntei,

dando um tapa em sua bunda e me levantando com ela no

colo.

—Uhum. — Ela murmurou, observando tudo,


emocionada.

A coloquei no chão e ela foi olhando tudo,


comentando e achando tudo maravilhoso! Mas quando
chegou na porta do nosso quarto, deu um gritinho.

Eu havia me esmerado na decoração do quarto. Ele


era o maior cômodo da casa. À nossa frente, uma cama
king size, com uma cabeceira alta, estofada,
impecavelmente arrumada com um conjunto fofinho e
repleta de almofadas, o papel de parede claro com toques
de verniz se iluminava com a iluminação tênue no teto,
uma grande janela, emoldurada por cortinas que tomavam
a parede toda. Haviam duas poltronas em um dos cantos
do quarto, com uma mesa aparadora, o banheiro com uma
banheira de hidromassagem e nosso closet. Em um lado,
próximo à outra janela que tomava quase toda a parede, eu
havia feito um cantinho de leitura. Uma chaise
confortável, de frente a ela, onde ela poderia ler seus
livros com a vista maravilhosa do nosso jardim de
inverno e uma minibiblioteca na parede atrás da chaise.

Aos pés da cama, um recamier ostentava uma grande


bandeja com morangos, duas taças e uma chandon no
gelo.

— Bem-vinda a nossa casa, Bianca. Uma casa que


transformaremos em um lar, onde seremos felizes, com os
filhos que Deus nos agraciar. Amo você com todo o meu
coração e minha alma.

Bianca me olhava com os olhos brilhantes e a emoção


que ela sentia era genuína. Me abraçou e a beijei,
levando-a para nossa cama, onde degustei cada pedacinho
de seu corpo delicioso, devagar, me demorando em suas
reentrâncias e descobrindo lugares que a faziam delirar de
prazer.

Depois de horas no quarto e na banheira, levei-a para


ver o lado de fora da casa e nosso jardim secreto, com
ofurô aquecido e piscina. Eu havia contratado um serviço
de buffet para nos atender hoje e amanhã e ela havia se
surpreendido quando a campainha tocou e começaram a
montar tudo para que jantássemos.

—Hoje você é minha, só minha. Não faremos nada,


apenas vamos nos curtir, nos amar e nada mais.

Levantei a taça que o garçom havia acabado de nos


servir e brindei com ela. Pratos saborosos foram
colocados a nossa frente.

—Humm, assim vou ficar mal acostumada.

— É o que eu pretendo, Bibi. Te fazer feliz para o


resto dos seus dias. — Peguei sua mão e depositei um
beijo.

—De onde veio tudo isso?


—Ah, Bibi, tudo o que eu tinha era o hospital quem
pagava. Meu apartamento, meu carro, almoçava la no
hospital e ainda ganhava cesta básica. Durante todo esse
tempo eu mal mexi no meu salário, que, graças a Deus, é
bom, e ainda tinha todo o dinheiro da mochila. Não se
preocupe com isso. — Não menti para ela, pois realmente
tudo isso era verdade. O pessoal do hospital eram como
anjos na minha vida e eu seria agradecido a eles
eternamente por tudo o que fizeram por mim.

A comida estava uma delícia e foi seguida por uma


sobremesa leve. Algumas frutas foram deixadas para nós,
sorvete e petiscos.

Assim que acabamos a sobremesa, tudo foi recolhido


e o pessoal nos deixou a sós novamente.

Na sala, abrimos o sofá e nos deitamos para assistir a


um filme e ficamos ali, namorando até tarde.

—Melhor irmos dormir, amanhã o dia vai ser cheio.


— Disse, me levantando e estendendo a mão para ela, que
a pegou e fomos para o quarto. Uma passada rápida pelo
banheiro, escovar os dentes e um pouco de privacidade
para cada um e estávamos prontinhos para dormir.

Nos despimos e deitamos abraçados, entre os lençóis


macios, adormecendo.
Capítulo 42
VICTOR

Espreguicei e meu corpo doía

terrivelmente. Cama nova fazia isso com a gente. Por mais

confortável, até que o corpo se acostumasse ao colchão,

seria um martírio. Bom demais ter nossa casa, mas essa

era uma coisa que não tinha jeito.

—Ei, dorminhoca, acorde. — Beijei seu pescoço de


leve. — Já já teremos visitas. Vamos tomar um banho bem
gostoso de banheira? Estou moído com essa cama nova.

—O bom de ficar com você todo final de semana é


que meu corpo se acostumou com uma cama diferente.
Não estou tão ruim quanto você.— Ela respondeu,
espreguiçando-se também e gemendo ao alongar os
músculos.
Ainda que aquele gemido nada tivesse de sexual, meu
pau ganhou vida, auxiliado pela visão de seus seios nus
que, com seu movimento, apareceram debaixo do lençol.

Eu tinha prometido para mim mesmo, deixá-la


aproveitar o dia, sem encostar nela hoje, dia do nosso
casamento. Será que eu ia conseguir?

Suspirando, saí da cama e fui encher a banheira com


água morna e coloquei alguns sais dentro para fazer
espuma e também auxiliar no relaxamento.

Hoje tudo seria bem-vindo.

Eu estava nervoso e ansioso para logo mais.

Logo a visão de Bianca, nua, entrando no banheiro,


me deixou louco novamente. E olha que com o nervosismo
que eu estava o bicho tava a meio mastro já, mas foi só
olhar pra ela… Como era difícil manter uma promessa
com essa tentação a minha frente!

Entrei na banheira e a ajudei. Me deitei e esperei que


ela prendesse os cabelos em um coque no alto da cabeça.
Estendi a mão para ela, que se acomodou entre minhas
pernas, encostando a cabeça em meu ombro.

A puxei mais para mim, a água auxiliando no


processo de unir ainda mais nossos corpos. Com uma
esponja e sabonete líquido, comecei a massagear seu
corpo todo. Eu não faria nada, mas a deixaria tão louca de
tesão quanto eu estava.

A espera seria doce…

Em minutos, Bianca elevava o rosto para poder me


ver e seus lábios se abriram em busca de um beijo.

Beijar podia, né? Não me lembro de ter prometido


não beijar, apenas nada de sexo gostoso e suado…

Encostando minha boca na dela, a beijei de leve…


mas Bianca não tinha feito a mesma promessa que eu e,
virando, montou meu corpo, aprofundando o beijo,
rebolando em meu pau e roçando seus seios em meu peito.

Brincar podia, né? Não era sexo gostoso e suado…

Minhas mãos escorregavam em sua pele, apalpando


carne, sentindo as curvas de seu corpo, coladas ao meu.

Escorreguei a boca para seus seios e suguei seus


mamilos… Como eu queria me meter em seu calor, deixá-
la louca de tesão, gemendo e gozando no meu pau!

Deus! Era tentação demais!

— Bianca, eu prometi que só faríamos sexo hoje,


depois de casados.

Ela me olhou e ficou imóvel.

— E de onde saiu uma coisa dessas?

—Todo mundo não fala que no dia do casamento os


noivos devem fazer voto de castidade? Eu prometi que
hoje eu só faria sexo com você depois que o padre nos
declarasse marido e mulher.

— Ah, meu Deus! — Ela disse com uma vozinha fofa.


— Que lindo, amor! Tudo bem, eu não vou fazer você
quebrar sua promessa.— Ela continuou em meu ouvido,
sussurrando provocante. — Mas posso te fazer
enlouquecer, sem sexo, certo?
Engoli em seco e a encarei. Seu rosto demonstrava
todo o tesão que ela sentia e em seus lábios surgiu um
sorriso safado.

Indo para o outro lado da banheira, ela se recostou e


afastou as bolhas, que já estavam rareando. Então
começou um showzinho particular para mim… suas mãos
desceram para os seios e os acariciaram, apertando os
mamilos. Bianca gemeu e fechou os olhos por um segundo.

Eu queria que fossem minhas mãos...

Uma de suas mãos deixou seus seios para escorregar


para baixo d'agua. Puta merda!

Seus olhos não deixaram mais os meus, ainda que por


vezes quisessem se fechar de tesão, mas ela ficou me
encarando.

Seus gemidos eram entrecortados por palavras


sacanas, pedindo por mim, dizendo que me queria dentro
dela e o quanto estava gostoso e seria ainda mais se, em
vez de seus dedos, fosse minha boca.
Eu não ousava me tocar. Estava a ponto de gozar e de
mandar tudo pelos ares, atacando aquele corpo
provocante, que eu tanto amava. Mas Bianca tinha outras
ideias e seus pés encontraram meu pau.

—Caralho, Bibi!

—Ah, amor! — Ela gemeu e seu corpo estremeceu,


seus pés, que provocavam meu pau o apertaram e
estremeceram também e me deixei levar pelo tesão,
gozando com ela, mas, ao mesmo tempo, tão distante…

Ficamos ali, um olhando para o outro, ofegantes.

Inacreditável.

Delicioso!

Inesquecível…

Abri o escoamento e me levantei. Ela fez o mesmo e


me abraçou.

—Promessa intacta.— Me beijou e riu baixinho.

—Uhum, mas estou com muito mais vontade de te


foder agora do que antes. Minha delícia!

— Espere pela noite, meu amor. Poderá me ter de


todas as formas que você quiser. Hoje serei sua de todas
as maneiras…

—Todas?

—Uhum, todas.

—Meu Deus! E esse tempo que não passa!

Rimos e fomos tomar um banho de chuveiro.


Capítulo 43
VICTOR

Tínhamos acabado de colocar nossas

roupas, quando o interfone tocou.

Era a equipe de esteticistas. Deixei que entrassem e


logo a área da piscina estava tomada por equipamentos,
espelhos e pessoas. Em seguida, Luís e Vanessa chegaram
também e as duas começaram com seus tratamentos de
beleza e fofocas.

—Ei, o que acha de fazermos as unhas?— Brinquei


com Luís.

—É, acho que estou precisando mesmo. —


Respondeu na brincadeira, mas fiz sinal para que as
manicures nos atendessem.

—Vamos lá!

Ele arregalou os olhos, mas não tinha como fazer uma


cena ali e deixou que cuidassem de suas mãos e pés.

—Ah… que coisinha mais linda vocês dois aí


conversando e fazendo as unhas! — Vanessa brincou com
a gente, seguida pelo riso de Bianca.

Assim que terminaram de cuidar de nós, nos


despedimos delas.

—O pessoal do buffet já está chegando para cuidar


do almoço de vocês. Bianca, seu vestido de noiva está no
nosso quarto.— Ela abriu a boca para falar alguma coisa,
mas continuei.—Fique sossegada que eu não espiei, por
mais que estivesse louco pra fazer isso. — Me
aproximando, beijei-a de leve.— Nos vemos na igreja.
Um carro estará a espera de vocês às cinco e meia.
Qualquer coisa que precisar de mim, é só ligar. Vou estar
no apartamento do Luís.

Me despedi dela, partindo com o coração na mão.


Capítulo 44
VICTOR

Mal entrei no carro do Luís, liguei para

Bernardo.

—E aí? Tudo certo?

—Rapaz, isso aqui está uma loucura. Tudo certo,


fique sossegado.

Desliguei e passei a mão pelos cabelos.

—Me diga, ela não desconfiou de nada?

—Estranhou a casa, perguntou de onde veio tudo.


Falei uma meia verdade, não nadei tanto para morrer na
praia. Não ia estragar a surpresa de mais tarde.

—Espero que seus pais não façam um show.

—Não vão fazer não. Não vão querer a imprensa em


cima deles ou seus rostos nos jornais por conta de um
vexame público. Essa semana meu pai me procurou no
hospital. Não foi bonito, mas falei o que tinha que ser
dito.

— Ele sabe que você se lembrou de tudo?

—Sabe, e sabe que vou me casar com Bianca.

—Cacete!

Para dar fim ao assunto, uma música começou a tocar


e Luís cantou a plenos pulmões, arrancando risos de mim.
Ele sabia como encerrar um assunto com maestria!

Paramos em uma churrascaria para almoçar e


comemos como dois cavalos.

Mais tarde, em sua casa, nos arrumamos e partimos


para a igreja. No bolso interno do meu terno estavam
nossas alianças de casamento, com nossos nomes
gravados em seu interior.

BIANCA
—Que casa linda, Bianca! — Vanessa disse assim
que eles saíram.

—Também achei. Fiquei apaixonada por tudo. Depois


vou te levar para conhecer o resto da casa.

— Vi o sofá assim que entrei. Igualzinho ao que


vimos no shopping aquela vez!

—Levei-o para ver, antes do acidente. Vimos todos os


móveis que queríamos para nossa casa dos sonhos
imaginária. Muitos deles estão aqui. Até aquele cantinho
de leitura que eu tanto falava ele fez.

—Não acredito! Sério?

—Uhum. É incrível, não é?

—Demais. A mente da gente é uma coisa


inexplicável…

—Pois é…

O assunto morreu e logo depois ela soltou outra


bomba.
— E, Bibi, me diga uma coisa… você não contou aos
seus pais sobre seu casamento?

—Não. Parti com o coração na mão, mas não posso


correr o risco de algum deles falar alguma coisa para
Victor sobre seu passado. Você sabe o que disse o Dr.
Prado, ele tem que se lembrar sozinho. É um mal
necessário. Mas creio que eles entenderão quando eu
contar, depois de tudo feito.

—Não sei não. Mãe sempre tem aquela coisa de ver a


filha de noiva, dar uma coisa azul e uma usada por ela
para se casar, e pai sempre tem o sonho de entrar com a
filha de braços dados, na igreja.

—Eles vão ter que entender, Van. Não tenho escolha.


Não vou arriscar tudo por causa disso.

— Bem, você é quem sabe.

—Vai dar tudo certo. Depois explico tudo direitinho


para eles.

—Vai sim, tenho fé que tudo vai dar certo, mesmo


algumas coisas dando errado.

Passamos por vários procedimentos, massagem


relaxante com reflexologia, limpeza de pele leve,
esfoliação e depilação, hidratação e corte de cabelos e
depois maquiagem e penteado. Até que, por fim, eu estava
com meu vestido de noiva e pronta para sair.

—Olha, como sua mãe não vai poder, vou fazer as


vezes. Aqui, uma coisa azul para dar sorte e esse colar,
que era do casamento da minha mãe. Esse é só
emprestado, ela me mata se você perder.

Meus olhos marejaram e me abanei para secá-las,


piscando. A abracei rindo para não chorar.

—Obrigada por pensar em tudo isso, Van. E obrigada


por estar comigo nessa. Não conseguiria ter forças antes,
nem depois de tudo, se não fosse você comigo…

— Tá, tá, vamos parar, senão vamos borrar toda essa


maquiagem maravilhosa. Estamos parecendo modelos!

Dei uma voltinha, me olhando no espelho do closet.


— Verdade! Nem pareço eu mesma!

Rimos e saímos, pegando o buquê que estava em cima


da mesa de jantar. Eu teria que deixar aquela gente toda na
casa e confiar em cada um deles… mas outra vez, eu não
tinha outra opção.

Em frente a casa estava uma limousine preta, a nossa


espera.

— Uau! Victor não está poupando nada, hein?

Sorri e preferi não pensar nisso… até porquê ele


tinha dito que não era para eu me preocupar com isso.

Seis horas em ponto, chegávamos em frente a igreja.


Vanessa me ajudou a sair do carro e ajeitou meu vestido.
Um fotógrafo não perdia um só movimento meu.

Subi as escadas e entrei na igreja. Ela era dividida


em duas partes, com uma porta que dava para a parte
interna. Respirei fundo e me posicionei para entrar.

Quase morri do coração quando uma mão quente


segurou meu braço.
—Pai! — Quase gritei de susto.

Vanessa estava estarrecida ao meu lado e, atrás de


meu pai, estavam minha mãe e Bernardo.

—Achou que se casaria sem a gente? — Ele disse


sorrindo.

Me atirei em seu pescoço, lutando contra as lágrimas


que teimavam em querer sair. Estendi a mão e minha mãe
se juntou ao abraço, seguida pelo gigante que era meu
irmão, que abraçou a todos nós.

—Mas como?

—Não importa. Vamos entrar, pois seu futuro marido


a espera.

Bernardo abriu a porta e fez sinal para alguém lá


dentro e a marcha nupcial começou, inundando a igreja
com seus acordes. Me arrepiei toda e mil perguntas
surgiram em minha cabeça. Eu estava prestes a me casar
e tudo estava tão certo! Mas como era possível?

A porta à minha frente se abriu, minha mãe e


Bernardo entraram de braços dados e depois de alguns
minutos, fui andando lentamente de braço dado com meu
pai.

A cada passo que eu dava, me admirava mais e mais.


De um lado da igreja estavam os amigos de Victor, do
hospital e do outro lado, meus amigos e parentes, que me
olhavam emocionados.

No altar, Victor me aguardava com um sorriso no


rosto. Meu pai me deu um beijinho leve no rosto e me
entregou a ele, que segurou minhas duas mãos e as beijou.

—Você está um arraso, Bibi.

—Você também, amor. Amo você.

— Eu também te amo. Mais que a mim mesmo.—


Disse, virando-se para o padre e me levando com ele.

A cerimonia começou e tudo o que o padre dizia era


lindo, ficaria guardado em meu coração para sempre.

—Noivos caríssimos, vieram à casa da Igreja para


que o propósito de contrair Matrimônio, seja firmado
com o sagrado selo de Deus, perante o ministro da
Igreja e na presença da comunidade cristã. Cristo vai
abençoar o amor conjugal de ambos. Ele, que já os
consagrou pelo santo Batismo, vai agora dotá-los e
fortalecê-los com a graça especial de um novo
Sacramento para poderem assumir o dever de mútua e
perpétua fidelidade e as demais obrigações do
Matrimônio. Diante da Igreja, vou interrogá-los sobre
suas disposições.

Alejandro Vega e Bianca Del'aqua, vieram aqui para


celebrar o Matrimônio. É de livre e espontânea vontade
e de todo o coração que pretendem fazê-lo? — O padre
disse e quase desmaiei ao ouvir seu nome verdadeiro
completo.
Capítulo 45
VICTOR

Bianca me olhou como se tivesse nascido em

mim uma segunda cabeça.

—Mas como?

—Depois te conto. Quer casar comigo? — Perguntei


apreensivo.

O padre, percebendo o impasse, repetiu a pergunta.

— É de livre e espontânea vontade e de todo o


coração que pretendem fazê-lo?

Olhei para ele e respondi em alto e bom som.

—Sim.

—Sim. — Bianca respondeu em um fiapo de voz e a


tensão em meu corpo foi se esvaindo.
—Vocês que seguirão o caminho do Matrimônio,
estão decididos a amarem-se e a respeitarem-se, ao
longo de toda a vida?

—Sim. — Respondemos juntos dessa vez e o alívio


me tomou. O susto dela havia passado.

—Estão dispostos a receber amorosamente os filhos


como dom de Deus e a educá-los segundo a lei de Cristo
e da sua Igreja?

—Sim. — Novamente respondemos juntos e a alegria


tomou conta de mim e apertei sua mão na minha, de leve.

— Uma vez que o propósito de vocês contraírem o


santo Matrimônio, unam as mãos direitas e manifestem o
consentimento na presença de Deus e da sua Igreja.
—Como o padre havia pedido, unimos nossas mãos.—
Repitam depois de mim. Eu Alejandro, recebo-te por
minha esposa Bianca, e prometo ser fiel, te amar e
respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença,
todos os dias da nossa vida.

Repeti e então foi a vez de Bianca… Ouvi-la dizer


meu nome quase me fez gritar de felicidade. Quanto
tempo esperando por esse momento!

—Se alguém for contra esse casamento, fale agora


ou cale-se para sempre.

A igreja permaneceu em silêncio e então a porta se


abriu, chamando a atenção de todos. E ali, parados,
estavam minha mãe e meu pai.

Eles entraram, andando devagar, com o queixo


erguido, e tomaram seus lugares no altar.

Olhei para Bianca, que me encarava também tomada


pela surpresa.

—Confirme o Senhor, o consentimento que


manifestaram perante a sua Igreja, e Se digne
enriquecê-los com a sua bênção. Não separe o homem o
que Deus uniu. Eu vos declaro, marido e mulher. Pode
beijar a noiva.

A abracei e a beijei de leve. Bianca se agarrou a meu


pescoço e me beijou com vontade. Retribuí e
interrompemos o beijo, rindo.

Luís e Vanessa vieram até nós e nos cumprimentaram.

—Vemos vocês dois na festa! — Disse a eles, peguei


Bianca pela mão e a levei dali sob os aplausos de todos.

Do lado de fora, uma fila de pessoas jogaram arroz na


gente e entramos na limousine que nos aguardava com a
porta aberta, para nos levar à recepção.

Assim que o motorista fechou a porta, Bianca me


encarou e eu soube que era a hora da verdade.

—Alejandro, Alejandro… Você sabe que eu vou


querer todos os detalhes disso tudo...— Ela falou
ameaçadoramente, mas o sorriso e a felicidade,
estampados em seu rosto, me diziam que ela não estava
nem um pouco brava comigo.

—Então… lembra quando eu disse que caí no


corredor? Pois bem, foi Bernardo quem me nocauteou
com um belo murro na cara…— Contei tudo para ela e
seu sorriso só aumentava.
—Bem, se ele já te esmurrou, não preciso fazer isso.

—Ainda dói aqui...— Apontei para meu nariz e ela


deu um beijinho. — E aqui também… — Apontei para
minha boca e quando ela veio me dar um beijinho como
no nariz, a abracei e aprofundei o beijo.

—Agora que já somos marido e mulher… já pode me


comer.— Ela sussurrou contra minha boca e meu pau já
duro, pulsou.

—Não diga uma coisa dessas assim, Bibi.

—E eu estou de fio dental, tigrão. Toda molhada, com


um tesão louco e morrendo de vontade de você.— Seu
sussurro acabou com meu pouco controle.

Grunhi e a virei de quatro sobre o assento de couro,


levantando todas as camadas de seu vestido, dando graças
a Deus pela divisória escura que nos separava do
motorista.

—Segure-se, minha delícia. Você pediu, você vai ter.


Vou te foder até não poder mais.
Em um último resquício de bom senso, peguei o
comunicador e disse ao motorista para que não nos
interrompesse e nem parasse em lugar algum até que
disséssemos o contrário.

Bianca balançou a bunda me chamando e não a deixei


esperando, lambendo e provocando aquele rabo
emoldurado pelo fio dental de renda branca.

E assim começamos nossa vida de casados… da


maneira mais gostosa que existia, nos entregando ao
prazer… inesquecível.

FIM
A autora

A paulistana Kacau Tiamo tem 41 anos e

atualmente mora no interior de São Paulo. Mãe de três

filhos, de 19, 17 e 8 anos, ela se divide entre cuidar deles,

da casa e escrever histórias de amor e superação,

superquentes e envolventes.

Formada em educação física em Porto Alegre,


começou a escrever no final de 2013 o livro Calor Latente
onde conta a história de Jessica, uma mulher madura,
gordinha e mãe. Jessica nasceu do desejo de ter uma
personagem mais “real”, com problemas reais, mostrando
que é possível superar qualquer coisa, basta dar o
primeiro passo e continuar sempre em frente… sem falar
de Rick, que a ama exatamente como ela é… Ah, Rick! *
suspiros* :D

Voltando à autora, Kacau acredita que o amor vence


barreiras, distâncias e preconceitos… sonha e corre atrás
da realização de seus sonhos… e um deles foi realizado!

Kacau Tiamo fechou contrato com a editora Universo


dos Livros e logo teremos alguns de seus meninos em
todas as livrarias do Brasil! Quem está ansiosa por
Ramon em livro físico?

O e-book de Sedução Irresistível já se encontra a


venda na saraiva, amazon e Google Play! Ele vem com
mais história e um final surpreendente e lindo de viver <3

Kacau tem também 13 livros lançados em e-book na


amazon de forma independente: Calor latente, Amor em
dobro, inevitável, incondicional, indomável, o conto
Caminhos do Coração e Paixão Antiga ( hots); dois
minicontos: Clã Benedetti ( fantasia) e Meu Mundo é Você
( drama), Destinos e Destinos Selados ( romance light),
Atração irresistível e SEDUÇÃO IRRESISTÍVEL pela
Universo dos Livros.

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estão baratinhos! Confiram!

Também, diretamente com a autora pelo chat, você


pode adquirir os livros físicos: Calor Latente, Amor em
Dobro, Inevitável, Incondicional, Indomável e o conto
Atração irresistível e Caminhos do Coração.
Contato

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para saber mais sobre os projetos e próximos

lançamentos:

FACEBOOK
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Instagran : @kacautiamo
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sociais e na avalie na Amazon, indicando-o para futuros
leitores.
Obrigada.
Outras obras na Amazon
Calor Latente

Jessica, uma mulher de 37 anos, resolve tomar

as rédeas de sua vida e algumas atitudes. Mudar seu corpo

e deixar seu marido.

Na academia conhece Patrick, lindo e carinhoso, que


sonhava com ela desde sua adolescência.
Em suas aulas (e entre elas) eles se veem presos a uma
atração selvagem, que os impedem de manter as mãos
longe do outro.
Traição, amor, romance e sexo apimentam essa história
deliciosa!
Amor em dobro

Após assumir o controle, dar um up em sua vida e


autoestima, Jess encontrou o amor onde nunca imaginou,
amor esse que agora dava frutos...
Rick, possessivo e apaixonado, a quer para sempre... seu
antigo sonho tornando-se realidade, seu Anjo finalmente
seu e só seu...
Mas a felicidade dos dois incomoda outras pessoas...
Será que alguma coisa poderá apagar o fogo que apenas
duas almas gêmeas são capazes de sentir?
Confira em Amor em Dobro, um romance emocionante,
apaixonante e muito quente!
Inevitável

Uma amizade...

Um olhar...

Um desejo insano...

Uma atração irresistível...

Pamela, uma mulher bem-sucedida, encontra-se com o


inevitável.

Theo, com seus cabelos revoltos e olhos verdes, tira


seu sono e agora também sua concentração no trabalho...

Além de um grande amor, a oportunidade de salvar


uma vida, faz com que Pam tome uma atitude inesperada...

O que será que o destino reserva a esses dois?

Muitas surpresas o aguardam em Inevitável!

Sedutor, erótico, emocionante e delicioso, esse


romance vai prender você!
Incondicional

Ella tem a saúde frágil, só conheceu a dor e o

desespero causados pela terrível doença que a consome,

dia após dia, drenando suas forças... mas não sua vontade

de viver!

Durante seu tratamento, Dr. Guilherme é companhia


constante e seu anjo salvador.

Guilherme, cirurgião e chefe da oncologia do


Hospital Geral, é o melhor amigo do irmão de Ella, desde
a infância.
Ele sempre ajudou Theo a espantar os tubarões que
chegavam perto de sua irmã caçula…

Agora é a vez dele realmente cuidar dela.


Encantado pela doçura e ingenuidade de Ella... ele quebra
todas as regras e resolve mostrar as delícias que a vida
oferece à sua paciente terminal.

“Emocionante e sensual, Incondicional vai amarrar


você, do início ao fim.”
Indomável

Bruno é diferente de todos os lobos. Sempre

havia sido. No alto de seus 2 metros de altura, cabelos

longos e barba por fazer ele é, sem sombra de dúvidas, o

mais solitário.

Seus únicos amigos, Rick, Theo e Guilherme estão


comprometidos e ele ama a todos, são como uma grande
família, mas observando seus amigos com suas mulheres e
filhos, mais do que nunca, ele se sente sozinho. Mesmo
estando sempre rodeado de mulheres que fariam qualquer
coisa por ele, ele se sente assim.

Essa coisa de amor, nunca havia acontecido com ele e


duvidava seriamente que um dia o cupido o acertasse.

Com um físico invejável, Bruno chama a atenção por


onde passa. Senhor absoluto e amante das mulheres, sabe
como seduzir e não poupa esforços até conseguir a que
quer e então parte para a próxima. Ele está acostumado a
ser assim, não se ligando a nada nem a ninguém e se
divide entre cuidar de seu bar ( e clube privativo de sexo)
e seu trabalho como enfermeiro.

A única hora em que se doa é enquanto trabalha no


hospital. É um enfermeiro atencioso, gentil e se comove
com a dor dos pacientes, fazendo de tudo para que sintam
bem.

O que a vida reserva para esse belo enfermeiro que


encara a vida como um jogo de sexo e sedução?
Sedução Irresistível

Quando tudo

dá errado na vida de Claudia Lima, ela resolve aproveitar

suas férias forçadas e realizar seu antigo sonho: muda-se

para o litoral, e recomeçar sua vida do zero. Enquanto

procura um bom lugar para recomeçar, ela se depara com


o homem mais impressionante que já viu na vida. Ramon

Marrero é um homem enigmático, dono de metade da

cidade, acostumado a conseguir tudo o que quer, e, no

momento, ele quer Claudia, a forasteira que invadiu sua

cidade e seus pensamentos. Mas a última coisa que

Claudia quer é um homem em sua vida, principalmente

depois de tudo o que aconteceu. Porém, Ramon não está

disposto a desistir tão rápido, e não poupará esforços

para tê-la.
Contos:
Caminhos do Coração

Um único encontro, pode transformar duas

vidas?

Luana é uma mulher solitária, que vive para seu trabalho.

Um dia, Roberto entra em sua vida, de maneira nada

convencional.
Através de uma rede social, eles se tornam amigos e
se falam diariamente.

A amizade cresce e um dia, Roberto aparece. Após


um dia maravilhoso e uma noite melhor ainda, eles se
descobrem apaixonados.

Mas o destino tem outros planos para esse amor...


Descubra em caminhos do coração!

Um conto romântico, hot e emocionante.


Paixão Antiga

Após sair de sua vida

e nunca mais dar notícias, Will reaparece repentinamente,

fazendo o coração de Carla balançar.

Dono de suas lembranças mais quentes, a simples


presença dele em seu escritório a faz desejá-lo
novamente… mas ela não o receberia de braços abertos,
ela o faria implorar… Ah, faria sim!
Willian Degrossi… o homem que fez com que Carla
Laurentino se tornasse uma mulher fria e voltada somente
aos negócios, ressurge para mostrar a ela que também é
quem a faz estremecer…
Atração Irresistível

Você acredita em amor à


primeira vista?

Nem eu, mas acredito em tesão à primeira vista!

Amanda Barros é uma confeiteira de mão cheia.


Tímida e voltada ao trabalho, ela nunca foi uma mulher de
aventuras, mas se viu perdida no sorriso daquele moreno
que sentou-se ao seu lado no voo para casa… perdida a
ponto de cometer loucuras ali mesmo, em pleno ar.

Adam Tupelo, ex jogador de futebol, acostumado com


a fama e com mulheres caindo aos seus pés, se vê atraído
como nunca antes pela morena de seios fartos e sorriso
tímido ao seu lado, que não fazia a menor ideia de quem
ele fosse!

Dois desconhecidos que estão aqui para provar que


os opostos realmente se atraem… irresistivelmente!
Assim começa essa deliciosa história de tesão, atração
irresistível e de um amor lindo!

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