Você está na página 1de 7

RELAÇÕES ENTRE DIREITO E ECONOMIA NO PENSAMENTO DE MAX WEBER:

PEQUENAS COMPARAÇÕES COM RUDOLPH STAMMLER E A ANÁLISE ECONÔMICA DO


DIREITO

RELATIONS BETWEEN LAW AND ECONOMY IN MAX WEBER: SOME COMPARISONS WITH
RUDOLPH STAMMLER AND THE ECONOMIC ANALYSIS OF LAW

Lucas Noura de Moraes Rêgo Guimarães

RESUMO
Direito e economia se encontram em constante diálogo e, na sociedade em que vivemos, baseada em
instituições que precisam lidar com aspectos da vida social cada vez mais dinâmicos e complexos, nem
sempre tal diálogo se dá de forma tranquila. No intuito de entender melhor as perguntas e respostas trocadas
neste diálogo, o pensamento weberiano acerca do tema nos parece profícuo, pois vê direito e economia
apenas como dois – dentre inúmeros outros – fatores que afetam o vasto universo das relações sociais,
relações estas não estanques e não mecânicas. Embora reconheça os fatores econômicos como
preponderantes nas escolhas das pessoas, Weber rechaça o materialismo histórico marxista e refuta a análise
mecânica stammleriana entre direito e economia. Ademais, a coação jurídica não é o instrumento primeiro na
determinação da conduta das pessoas e não há um direito natural “apriorístico” e afastado de qualquer
costume ou prática regular de determinado ato. Para Weber, portanto, há aspectos do direito que não
guardam relação com a economia; uma ordem jurídica pode não mudar, embora mude a economia, da mesma
forma que uma ordem econômica pode mudar, embora permaneça imutável o direito; pode-se falar numa
independência da economia frente ao direito; e, conceitualmente, o Estado e seu uso do aparato coativo do
direito não são fundamentais para o funcionamento da economia.
PALAVRAS-CHAVES: DIREITO E ECONOMIA; MAX WEBER; VISÃO SOCIOLÓGICA DO
DIREITO; AUSÊNCIA DE MECANICIDADE NA RELAÇÃO ENTRE DIREITO E ECONOMIA.

ABSTRACT
Law and economy are in permanent dialogue and, in the society in which we live in, based on institutions that
must deal with social life aspects each day more dynamic and complex, not always that dialogue is held
calmly. In order to better understand the questions and answers exchanged in this dialogue, the weberian
thinking about the subject looks fruitful, for it sees law and economy merely as two – among others –
circumstances that affect the social relations wide universe, marked by untight and non mechanical relations.
Although he recognizes economic factors as meaningful in people`s choices, he repels Marx`s historical
materialism and refutes the Stammler`s mechanistic analysis of law and economy. Besides, legal coercion
itself is not the main instrument in determining people`s conducts and there is not an “aprioristic” natural law,
apart from any habit or the regular practice of a particular act. In Weber`s thoughts, therefore, there are legal
aspects that have no relation with economy; a legal order, sometimes, can remain without change, while
economy changes, as well as an economic order can change without being verified changes in legal order;
one can speak of economy as independent from law; and, conceptually, the State and its law`s coercive
apparatus are not fundamental for the economy`s functioning.
KEYWORDS: LAW AND ECONOMY; MAX WEBER; LAW`S SOCIOLOGICAL VIEW; ABSENCE
OF MECHANICALNESS IN THE RELATION BETWEEN LAW AND ECONOMY.

Introdução
O presente artigo tem por escopo analisar, tomando por base trechos de algumas obras de Max
Weber, as relações entre direito e economia. O interesse no estudo deste tema surgiu depois de verificar o
crescente movimento da análise econômica do direito, encabeçado principalmente pela Escola de Chicago.
Após alguma pesquisa, verificamos alguns problemas com relação aos argumentos daqueles que sustentam
uma maior instrumentalização do direito em direção à realização de fins puramente econômicos, em especial
no que diz respeito à diferença de métodos de operacionalização do direito e da economia[1], bem como
alguns pressupostos desta última, tais como o da racionalidade do homem[2] (homem como “maximizador”
de interesses) e da eficiência como critério de análise[3] a ser inserido no Direito. Para não fugir ao objeto
deste artigo, não será analisada a fundo a análise econômica do direito. Para os efeitos deste texto, portanto,
consideraremos que a análise econômica do direito – movimento de estudos surgido na década de 60 do
século passado e que busca um maior diálogo entre direito e economia –, reconhece o impacto e importância
do direito na determinação dos resultados econômicos e, assim, oferece ao aplicador do direito ferramentas
econômicas na resolução de casos judiciais, na criação de políticas públicas e em outras situações diversas.
Ademais, vê a lei como um incentivo, ou seja, entende ser possível, por meio de leis, direcionar e prever o
comportamento humano.
Certos de que a análise econômica do direito não trazia respostas satisfatórias com relação ao
diálogo entre os dois campos – direito e economia –, nossa pesquisa tomou outras direções, havendo
estacionado na obra de Rudolph Stammler intitulada “Economia y derecho segun la concepción materialista
de la história”[4], onde fica claro que direito e economia teriam objetos comuns – o homem –, enquanto ser
social que, sob uma regulação, coopera com outros homens para a satisfação de suas necessidades. Assim, o
direito seria a forma da vida social – regulação exterior – e a economia seria a matéria da vida social –

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2306
cooperação para satisfação de necessidades –, não havendo a distinção entre necessidades materiais e ideais.
Nesse sentido, a contribuição de Stammler para um entendimento das relações entre direito e economia
fazem frente ao movimento da análise econômica do direito, que vê a economia como importante ferramenta
para a elaboração de normas mais eficientes, partindo de pressupostos de racionalidade, eficiência e
maximização das necessidades. Em virtude do espaço concedido para este artigo, não se abordará, da mesma
forma, todo o pensamento de Rudolph Stammler acerca das relações entre direito e economia, o que não
prejudicará, entendemos, as comparações feitas ao longo do texto.
Não obstante, percebemos que Max Weber também se debruçou sobre o tema, razão pela qual
sentimos a necessidade de ampliar as pesquisas a respeito do diálogo entre direito e economia, com vistas a
entender outras maneiras de se compreender este fenômeno. Este terceiro passo é importante porque, para
Weber, Stammler está equivocado ao relacionar frontalmente os dois campos, como se houvesse alguma
relação lógica e mecânica que permitisse atribuir uma regulação – jurídica ou não – a determinada conduta
do homem. Weber, pelo contrário, vê direito e economia como fenômenos importantes, porém não únicos e,
inclusive, não determinantes para a conduta do indivíduo, influindo aí outros aspectos, tais como costumes,
convenções sociais, dentre outros. Neste sentido, cumpre-nos verificar como Weber vê estes dois campos, a
fim de ampliar nosso conhecimento sobre o tema.

1. Uma outra visão de direito


Um ponto importante, que deve desde logo ser destacado, guarda relação com a distinção feita por
Weber entre o conceito de direito segundo os próprios juristas, e aquele de cunho sociológico. Assim,
enquanto o primeiro conceito seria normativista, ou seja, cuidaria de verificar quais “devem ser” idealmente
as condutas humanas, o segundo verificaria o que, de fato, ocorre na comunidade, em razão da existência de
determinada ordem jurídica.
Da mesma forma que o direito “segundo a visão sociológica”, a economia debruça-se sobre
questões reais. Ter-se-ia aí um primeiro problema, que seria o de estabelecer um diálogo possível e inteligível
entre a ordem jurídica normativa e a esfera econômica positiva[5]. Ocorre que, para Weber, tal interação é
frequentemente verificada, razão pela qual devemos acreditar que algum outro tipo de visão do direito toma
forma; e é neste ponto que ganha importância a noção sociológica de direito, que verifica, na prática, como o
direito influi sobre o comportamento das pessoas. O direito passa ser visto como instituição que fornece
inputs quanto ao modo das pessoas se comportarem, empiricamente verificável [6], e não como algo estanque
que apenas prescreveria como alguém deveria comportar-se.

2. Direito e coação jurídica


Ademais, ponto importante abordado por Weber é aquele da probabilidade. O direito e, por
conseguinte, a existência de uma regra jurídica, passa a ser visto como probabilidade, isto é, como um fator –
dentre inúmeros outros – que pode ou não ser levado em consideração por uma pessoa quando da prática de
condutas. Por este “cálculo” passa considerações referentes à validade da norma, confiança no sistema
jurídico e garantia de que outras pessoas também agirão conforme outras agirào, em relação ao respeito pelo
sistema jurídico vigente [7]. Dito de outro modo, não obstante a força que o direito exerce sobre a tomada de
decisão das pessoas, esta não é a única, e nem mesmo a determinante força. Weber é bastante claro neste
sentido:
“O fato de que alguns homens se conduzem de um determinado modo porque
consideram que assim está prescrito por normas jurídicas constitui, sem dúvida, uma
componente essencial para o nascimento empírico, real, de uma “ordem jurídica” e
também para seu prolongamento. Mas não significa isso, de modo algum, que todos
e nem sequer que a maioria dos participantes naquela conduta atue em virtude de tal
motivo. Isto não ocorre nunca. As amplas camadas de participantes se conduzem de
acordo com a ordem jurídica porque o mundo circundante assim aprova ou reprova o
contrário, ou por uma nova habituação rotineira às regularidades da vida arraigadas
como costumes; mas não por uma obediência “sentida” como obrigação jurídica”[8].
Para Weber, portanto, não há no homem um sentimento natural de que ele deve obedecer ao direito,
porque o ordenamento jurídico assim demanda. Na verdade, outros fatores influem no atendimento a uma
norma, e não apenas a existência da punição ou da reparação, razão pela qual se diz que é “possível” que
alguém cumpra uma norma porque o direito assim prescreve, muito mais do que é “provável”. O “aparato
coativo” do direito, portanto, possui destaque apenas dentro da lógica interna do próprio direito, ou seja,
para fazer valer os seus preceitos (direito como sistema válido), e não para ajustar as pessoas conforme o
direito. Para esta segunda missão, o direito – com seu “aparato coativo” – seria apenas mais um elemento na
equação. A coação jurídica estaria para sustentar o direito como arranjo formal, para reforçá-lo, e não para
determinar, por si só, as ações das pessoas. Em uma frase, não é a coação jurídica que faz com que as
pessoas ajam conforme o direito.

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2307
Weber aduz que “os motivos de submissão ao preceito jurídico podem ser os mais distintos que se
pode imaginar. Em sua maioria adotam, segundo o caso, um caráter mais utilitário ou mais ético ou mais
‘convencional’, em sentido subjetivo, temendo a desaprovação do ambiente”[9]. Assim percebe-se que
quando da tomada de decisão sobre a disposição ou não de um bem de valor econômico, pessoas levam em
consideração, em algum grau, o quão válida uma norma é dentro da sociedade. Dependendo da situação, a
pessoa decide alienar determinado bem ou mantê-lo por mais tempo. A análise econômica do direito, por
exemplo, entende ser possível mensurar esse grau de validade de uma norma e relacioná-lo com as escolhas
feitas pelas pessoas, as quais sempre girariam em torno de um fim econômico. Ver as normas como
probabilidades (de influírem na conduta das pessoas), e não como meros comandos a serem cumpridos e
respeitados, é uma das funções da análise econômica do direito. Esta instrumentalização do direito acaba por
diminuir seu papel como sistema que dirime conflitos e traz paz social – partindo-se da ideia de que, em tese,
é essa sua função. Desta forma, podemos citar como exemplo o cálculo realizado por uma empresa de
telecomunicações sobre os gastos anuais com indenizações frutos de ações judiciais, com vistas a considerar
tais cálculos na tarifa que é cobrada de seus consumidores. Direitos transformam-se em números e cifras,
abrindo-se mão da realização de preceitos tais como serviço adequado, tarifas módicas, dentre outros.
Vale destacar, ademais, que não há, no pensamento weberiano, uma relação pura e simples entre
direito e coação jurídica, pois, para ele, pode existir direito quando não há coação jurídica, bem como o
aparato coativo jurídico muitas vezes se vê fortalecido por forças externas ao próprio direito, como os
cartéis, boicotes, “listas negras”, e, ainda, podem tais instrumentos existir sem que sequer exista coação
jurídica[10].

3. Direito natural e costumes


Weber cuidou de afastar os argumentos que defendiam a existência de um direito natural,
“apriorístico” e que, em consequência, guiaria as condutas dos homens. Utilizou, para tanto, o exemplo dos
“homens primitivos” e seus padrões de regularidade, os quais existiam não em razão de uma “regra” ou
“ordem” que os impelia a agir de tal ou qual forma, mas sim pelo costume, repetido constantemente, até criar
o padrão (regularidade). Nesse sentido, ao invés de uma regra dispondo que tal conduta é obrigatória, a qual
guiaria a ação humana, há primeiro a verificação da regularidade, a qual, posteriormente, soma-se sua
“ordem naturalizada”, seja por meio de convenções, seja por meio do direito[11]. Não há um direito natural
“apriorístico” e afastado de qualquer costume ou prática regular de determinado ato. Muito pelo contrário,
qualquer convenção ou “direito” vem depois de verificada a regularidade (costume), que é moldada sempre
de forma orgânica, por nosso ambiente e pelas interações entre pessoas.
Há clara crítica ao jusnaturalismo de Stammler, para quem, ao separar forma e matéria da vida
social, entende que direito é a forma da vida social, enquanto a economia é a matéria. Assim, Stammler reduz
a relação entre direito e economia a uma relação lógica entre forma e matéria da vida social, sendo o direito
condicionante lógico – não temporal-causal – da economia[12]. Embora Stammler deixe claro que a
condicionante é lógica, e não causal, ou seja, não se trata de um vir “primeiro” que o outro, mas sim de um,
para existir, “depender” do outro; há uma preponderância de um (direito) sobre o outro (economia). Esta
preponderância é rechaçada por Weber, não obstante, em suas críticas à Stammler, entenda que este último
vê relação causal entre os dois campos, o que não é verdade. Desta forma, o fato de Weber afirmar que a
relação entre direito e economia trazida por Stammler é causal – o que não é verdade, pois Stammler deixa
claro que a relação é lógica –, não prejudica o argumento de que, na verdade, há outros fatores que
impulsionam o agir do homem (costumes), e que o direito nada mais é que reflexo destas formas de agir.
Sendo o direito algo determinado pelas regularidades de conduta, ao invés do contrário, então as
ordens das associações e demais agrupamentos humanos apenas em pequena medida são consequências de
regras jurídicas[13]. Primeiro há o costume, depois a convenção, e apenas depois o direito. O direito,
portanto, em termos absolutos, não cria comportamentos, nem funciona de forma predominante e única
como incentivos às condutas humanas. Tal ponto é frequentemente ignorado pela análise econômica do
direito, rotulada como reducionista ao mirar apenas no direito como instrumento de realização de
“eficiências econômicas”, passando ao largo das questões que geraram os próprios direitos. Ademais, não se
escapa à ideia reducionista ao responder que são os fins econômicos que guiarão a elaboração de normas;
apenas estar-se-ia sendo reducionista em outro sentido, ignorando que há outros fatores, que não os
econômicos, que são levados em consideração pelo legislador e pelos juízes.

4. Direito e economia: 6 relações


Para Weber, vale anotar que, teoricamente, a economia é indiferente aos motivos que levam as
pessoas a trocarem bens:
“O fato de que alguém deve um bem a outro significa, do ponto de vista sociológico,
que existe a probabilidade de que quem se ligou por este ato, seja uma promessa de

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2308
dívida, seja uma obrigação de indenizar ou o que for, corresponderá à expectativa do
outro, fundada no curso normal das coisas, de que, no momento determinado,
colocará na sua efetiva disposição o bem em questão. Para a economia são
primariamente indiferentes os motivos mediante os quais isto acontece”[14].
O que faz com que as transações ocorram não é o medo da sanção caso não seja cumprida a parte
que cabe à determinada pessoa no negócio. O direito vem para dar mais garantia e segurança às relações,
mas ele não é por si só “A” garantia. Não é requisito necessário a existência de uma “ordem” – jurídica ou
convencional –, externa às partes, que obrigue a conclusão do negócio ou realização das trocas. Não é o
direito que determina o proceder econômico das pessoas. Não obstante, Weber arrola dois fatores
importantes na condução dos negócios, de forma a aumentar a confiança que as pessoas nutrem entre si: (i)
alta difusão da crença subjetiva de que as normas são válidas, ou seja, quanto mais pessoas acreditarem que
as normas são válidas, mais confiança teríamos; e (ii) que a aprovação ou desaprovação social tenha um
status de “garantia” convencional ou, se tal aprovação ou desaprovação é corroborada ou reprimida,
respectivamente, pelo aparato coativo, tenha-se uma “garantia jurídica”[15]. Para Weber, o direito e as
instituições encarregadas de aplicar o direito nem sempre são levadas em consideração pelas pessoas, quando
da realização de suas trocas econômicas. Ora, se é assim, muito menos então o direito e suas instituições
precederiam à economia, como faz Stammler. Por outro lado, podemos dirigir o pensamento de Weber como
crítica também à análise econômica do direito, no sentido de que esta não faz bem quando dá importância
demasiada às regras como fator de influência no comportamento das pessoas. Por fim, Weber é claro ao
colocar que “a princípio, (...) para fins sociológicos e econômicos, a intervenção da garantia jurídica significa
apenas um aumento da segurança com que se pode contar, a respeito da realidade do fato economicamente
importante”[16].
É notório que o direito não consegue prever todas as situações e todos os intrincados
comportamentos do homem enquanto ser que convive junto a outros. Neste sentido, ele espera o fato social
precisar de regulação, e aí sim atua – embora tenha previamente fixado parâmetros, princípios, ideais, a
serem buscados. Por isso que, para a sociologia jurídica, é dito que o que o direito não proíbe, está
permitido, já que o direito é uma “componente histórica que aparece quase sempre tardiamente”. Não se
concebe o direito estabelecer uma sanção ou vedar uma prática que ainda não foi verificada – ou ao menos
imaginada – no mundo dos fatos. A justificar este pensamento, Weber traz o exemplo da negativa de um
monarca a nomear um novo ministro, em lugar do outro deposto, deixando o cargo vago. Tal situação
poderia não estar regulada pelo direito, e assim seria porque faltaria um “costume” em que possa se basear o
direito para regular dita situação. Nesta linha, Weber conclui:
“Uma vez mais, isto nos ensina, de um modo muito claro, que o direito, a convenção
e o costume não são, de maneira alguma, os únicos poderes com os quais se conta ou
se pode contar como garantidores de uma conduta que se espera do outro, por
promessa ou porque para ele vale como obrigatória, mas sim que junto a eles se
conta, sobretudo, com o próprio interesse do outro na continuação de um
determinado atuar consensual”[17].
O modo de agir das pessoas pode ser visto sob diversos ângulos e responder a diferentes ordens:
costumes, convenções, ordenamentos jurídicos, regulação pelo chefe de família, ou pelo chefe da igreja.
Todavia, o agir existe por si (gerando costumes), e não em razão destas ordens. A ordem jurídica, portanto,
é apenas parte de algo maior, que é a atividade do homem. A regulação normativa, portanto, é apenas uma
circunstância, e não a “forma” universal, tal como defendido por Stammler. Da mesma forma, não é a coação
que faz com que uma norma seja válida; na verdade, segundo Weber, a ordem jurídica é tida por válida
porque está arraigado nas pessoas o “costume” de obedecer ao direito – reconhecendo, assim, sua validade
–, e o desrespeito ao direito é reprovado pela “convenção”[18].
São seis as considerações de Weber sobre as relações entre direito e economia. Primeiro, ele afirma
que o direito não é função meramente da economia, pois há regulações jurídicas que não possuem viés
econômico, tais como alguns preceitos direcionados à honra da pessoa, questões procedimentais, de direito
de família, formalidades políticas. Há inúmeras atuações do direito que não tem envolvimento algum com
motivos econômicos. Ainda a demonstrar que direito e economia não possuem uma relação tão direta e
mecânica, as segunda e terceira considerações de Weber, respectivamente, afirmam que uma ordem jurídica
pode seguir imutável, embora as relações econômicas sofram acentuadas mudanças[19], bem como uma
ordem jurídica pode ser amplamente alterada, sem que tal alteração impacte na economia[20]. Há, aqui,
notória crítica de Weber ao materialismo histórico[21], o qual situa todos os fenômenos sociais como
tendentes à realização de fins econômicos.
Com relação à crítica ao materialismo histórico, um outro texto de Weber deixa muito claro que não
é tarefa das ciências empíricas, tal como a economia, estabelecer normas e ideais obrigatórios a partir de
práticas verificadas[22]. Entende Weber que a economia não pode, enquanto ciência empírica, ser o fim de
alguma ação humana – tal como coloca o materialismo histórico – porque a escolha de meios e fins cabe
sempre ao homem, que toma suas decisões baseado em suas próprias vivências. O que a ciência pode – e

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2309
deve – fazer, é deixar claro para o homem que suas escolhas representam ações e inações em favor ou
desfavor de determinados valores. Weber acredita na importância e “promissoriedade” de uma análise das
práticas sociais condicionadas por fatores econômicos, embora rechace o materialismo histórico marxista,
pois este apresenta a economia como denominador comum e explicação causal (fim, portanto) de toda a
realidade histórica. Na verdade, a economia tem grande importância para a explicação dos fenômenos
sociais, mas não é a única explicação[23].
Na sua quarta consideração, contudo, Weber deixa claro que o direito está a serviço dos interesses
econômicos[24], pois reconhece que o poder jurídico é mantido, de alguma maneira, pela ação consensual de
grupos sociais, os quais são formados, em alto grau, pelos interesses materiais comuns[25].
O quinto ponto diz respeito ao fato de que o direito, especificamente a coação jurídica, é um fraco
instrumento de assunção de resultados diante da economia. Assim, embora o direito deva priorizar a
realização de interesses econômicos – conforme vimos acima –, este não possui força para, por si só e
mediante o uso da coação jurídica, promover mudanças na economia, caso os interesses econômicos em jogo
queiram manter o status quo. Embora o direito deva priorizar a realização das necessidades materiais do
homem, há uma independência da economia com relação ao direito. No trecho abaixo Weber deixa isso
claro:
“O grau de possibilidade de influência sobre a conduta econômica humana não é,
portanto, uma simples função da sujeição geral à coação jurídica. Os limites de êxito
da coação jurídica resultam mais dos limites do poder econômico dos interessados:
não apenas os recursos são limitados, mas também as possíveis formas de utilização
são limitadas pelas formas usuais de utilização e de troca entre as unidades
econômicas, as quais podem ser acomodadas, se é que se acomodam, a ordens
heterônomas somente após uma difícil reorientação de todas as disponibilidades
econômicas, e quase sempre com perdas ou, ao menos, desgastes”[26].
Assim, o direito por si só não é suficiente para alterar as práticas econômicas das pessoas. Tal ponto
já foi reconhecido no início, quando Weber explica que pode haver uma mudança na ordem jurídica sem
reflexo na economia, e vice-versa, já que o campo de um não se limita pelo campo do outro. Todavia, ainda
que se proceda a uma mudança no direito intencionada a mudar aspectos das relações econômicas, ainda
assim, apenas o direito – e seu aparato coativo – não bastaria. Seria também necessária uma inclinação das
pessoas a abandonar o status quo econômico – em razão de critérios utilitaristas e pessoais, como destacou
Weber – e partir para o acatamento da nova mudança legislativa, a qual, acredita-se, poderia trazer maiores
benefícios no que diz respeito a garantir interesses econômicos.
Por último, a sexta consideração, que decorre desta última citada, implica a prescindibilidade do
direito, enquanto instrumento de força de que se vale o Estado, para a manifestação dos fenômenos
econômicos. Contudo, devemos lembrar a ressalva feita por Weber: tal pensamento vale do ponto de vista
puramente “conceitual”, pois, com a aceleração das relações de troca verificada na sociedade moderna,
torna-se cada vez mais necessário o socorro a um direito rápido e seguro. Talvez resida aí a grande
importância que a análise econômica do direito dá ao próprio direito, relegando, por vezes, outros aspectos
da vida social. Neste sentido, a ordem econômica moderna precisa do direito [27], mas de um direito,
segundo o próprio Weber, “calculável segundo regras racionais”.
Em síntese, os seis comentários de Weber sobre a relação entre direito e economia são os seguintes:
(i) há aspectos do direito que não guardam relação com a economia, razão pela qual a relação entre estes
dois campos não é meramente mecânica; (ii) uma ordem jurídica pode não mudar, embora mude a economia;
(iii) uma ordem econômica pode mudar, embora permaneça imutável o direito; (iv) há um predomínio dos
interesses econômicos dentro do que o direito busca proteger, tendo em vista a forte influência – mas não
única, como quer o materialismo histórico – que as relações econômicas desempenham no agir humano; (v) a
fraca e não determinante influência que o direito exerce sobre a economia, razão pela qual se fala numa
independência da economia frente ao direito; e (vi) conceitualmente, o Estado e seu uso do aparato coativo
do direito não é fundamental para o funcionamento da economia, podendo-se falar, então, em
prescindibilidade da garantia estatal do direito para a manifestação de fenômenos econômicos.
5. Conclusões
Diante destas considerações, Maria José Fariña Dulce conclui:
“... para Weber, no âmbito das relações entre direito e economia se produz uma
quebra da eficácia da coação jurídica – ou do direito –, como meio de controle
social. Evidentemente, do ponto de vista material, as ‘leis’ meramente econômicas da
luta do mercado podem conduzir a inexoráveis situações de coação. Cada
ordenamento econômico, bem como a repartição da riqueza, impõe sua própria
coação, à margem da coação jurídica institucionalizada, de característica formal, que,
por outro lado – como já se disse –, supõe uma garantia de caráter histórico”[28].
Para Max Weber, direito e economia são dois campos que apenas dialogam enquanto se considera o
direito não do ponto de vista normativo, mas como produto das interações do homem. Superado este ponto,

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2310
torna-se possível comparar as duas áreas. Permeia o pensamento weberiano a necessidade de ser abandonada
qualquer concepção mecânica e estanque que relacione direito e economia. Tal assertiva pode ser
direcionada ao materialismo histórico, à distinção stammleriana entre forma e matéria da vida social, e à
análise econômica do direito. Ao primeiro porque este vê as interações sociais, dentro das quais está o
direito, como tendo por único objetivo a realização de fins econômicos. À segunda porque Stammler atribuiu
ao direito, universalmente, a forma da vida social, enquanto que há, para Weber, outras “formas” da vida
social. Ademais, o direito sequer seria “forma” de algo, pois trata-se de algo posterior às interações. Assim,
há regulações alheias ao direito que, da mesma forma, moldam comportamentos, tais como aquelas
verificadas no seio do lar, na igreja, nas organizações e associações de pessoas. Devemos somar a isso o fato
de que, em Weber, a “matéria” da vida social não é apenas a economia, pois nem toda ação humana é
direcionada a um fim econômico, ou à cooperação entre pessoas. Desta forma, cai por terra a dicotomia
direito como “forma” – economia como “matéria” da vida social, ainda que Stammler defenda um
“monismo”. Com relação à análise econômica do direito, dá-se o oposto ao jusnaturalismo de Stammler:
instrumentaliza-se o direito em prol da criação – seja por juízes, em países do common law, seja por
legisladores – de regras mais eficientes e que, em última instância, diminuam os custos incorridos por quem
se vale do direito. Ocorre que, ao assim proceder, dá-se demasiada importância ao direito, a qual tem por
consequência reduzir tanto o papel do direito – já que este não lida apenas com questões que tenham a
economia como pano de fundo – quanto simplificar o rol de instituições que influem na economia,
desconsiderando o fato de que o direito não está em tudo nem as pessoas agem sempre pensando nas
consequências jurídicas de suas ações.
As relações entre direito e economia para Weber cuidam para diminuir a importância destes dois
campos dentro de um espectro de possibilidades muito mais amplo, que envolvem costumes, convenções,
instituições alheias ao direito, entre outros. Em Weber, economia e direito não se preenchem mutuamente,
não se encaixam perfeitamente como duas peças de um quebra-cabeça, feitas uma para a outra. Weber
reconhece que o direito, na sociedade moderna, é importante para a economia, e que o direito deve primar
pela realização de interesses econômicos; mas, ao mesmo tempo, adverte que a economia dele não depende,
pois essa interação não é única e sobre ela deitam inúmeros outros fatores. Ao fim, portanto, fica o
entendimento de que uma visão sociológica do direito – tal como feita por Weber – nos ajuda a compreender
o fenômeno jurídico enquanto possibilidade, e não como tábua de salvação das relações entre homens.

6. Bibliografia
AKTOUF, Omar. Pós-globalização, administração e racionalidade econômica – A síndrome do avestruz.
São Paulo: Atlas, 2004.
DULCE, Maria José Fariñas. La sociología del derecho de Max Weber. 1. Ed. Madrid: Editorial Civitas
S.A., 1991.
GUSMÃO, Paulo Dourado de. O pensamento jurídico contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 1955.
KORNHAUSER, Lewis A. El nuevo análisis económico del derecho: las normas jurídicas como incentivos.
In: ROEMER, Andrés. Derecho y economía: una revisión de la literatura. México: Fondo de cultura
económica, 2000.
POSNER, Richard A. Economic Analysis of Law. 7. Ed. Estados Unidos: Aspen Publishers, 2007.
SANCHIRICO, Chris. Deconstructing the new efficiency rationale. Cornell Law Review, v. 86, n. 1005,
2001.
STAMMLER, Rudolph. Economía y derecho según la concepción materialista de la historia. 4. Ed.
Madrid: Editorial Réus, 1929. Tradução: W. Roces.
SZTAJN, Rachel. Law & Economics. In: ZYLBERSZTAJN, Decio; SZTAJN, Rachel. Direito & Economia
– análise econômica do Direito e das organizações. 1. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 76.
WEBER, Max. Economía y sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964. Tradução: José
Medina Echavarría, Juan Roura Parella, Eugenio Ímaz, Eduardo García Máynez y José Ferrater Mora.
______. La “objetividad” cognoscitiva de la ciencia social y de la política social. In: Ensayos sobre
metodología sociológica. Argentina: Amorrortu editores S.C.A., 1958. Tradução: José Luis Etcheverry.

[1] A diferença metodológica entre Direito e Economia é verificada por Posner, quando discorre acerca da desnecessidade de
economistas provarem suas premissas: “Porque a economia não responde à questão de se a distribuição existente de renda e de
riqueza é boa ou ruim, justa ou injusta, embora ela possa nos dizer os benefícios de se alterar os custos desta distribuição existente, o
economista não pode expedir prescrições mandatórias visando a mudanças sociais. (...) Mostrando como uma mudança na política
econômica poderia levar-nos à obtenção de uma determinada meta, eles [economistas] podem fazer uma declaração normativa sem ter
que defender suas premissas fundamentais”. POSNER, Richard A. Economic Analysis of Law. 7. Ed. Estados Unidos: Aspen
Publishers, 2007, p. 14.
[2] Lewis A. Kornhauser afirma que a racionalidade, tal como apresentada pela análise econômica do direito, possui duas
características distintas: “Em primeiro lugar, impõe um alinhamento substantivo aos objetivos que o agente persegue. Em termos
heurísticos, os objetivos de um agente devem poder ser traduzidos em uma hierarquização completa e direta de opções. Expressando
de modo técnico, a racionalidade econômica requer que cada agente tenha preferências bem definidas, completas e transitivas sobre as
alternativas relevantes que enfrenta. Em segundo lugar, a racionalidade econômica postula que em situações de escolha os agentes
mostrem a persistência suficiente, visão e capacidade analítica para estarem sempre em condições de escolher a melhor alternativa
possível”. KORNHAUSER, Lewis A. El nuevo análisis económico del derecho: las normas jurídicas como incentivos. In: ROEMER,
* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2311
Andrés. Derecho y economía: una revisión de la literatura. México: Fondo de cultura económica, 2000.
[3] Rachel Sztajn aduz que “no que diz respeito à eficiente circulação da riqueza, o critério usual é o proposto por Pareto, segundo o
qual os bens são transferidos de quem os valoriza menos a quem lhes dá mais valor”. SZTAJN, Rachel. Law & Economics. In:
ZYLBERSZTAJN, Decio; SZTAJN, Rachel. Direito & Economia – análise econômica do Direito e das organizações. 1. Ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2005, p. 76. Richard Posner apresenta considerações interessantes acerca do conceito de eficiência e outros
conceitos que o cercam, tais como valor e utilidade. Entende Posner que o valor de algo é medido pela disposição de alguém em pagá-
lo. Ter-se-ia eficiência quando a alocação de recursos fosse para onde o valor é maximizado. Não obstante, o próprio Posner
reconhece que tais definições chocam-se com questões éticas, ao dizer que “... o termo ‘eficiência’, quando usado neste livro para
denotar a alocação de recursos onde o valor é maximizado, tem limitações como um critério ético de realização de decisões sociais”.
POSNER, Richard A. Economic Analysis of Law. 7. Ed. Estados Unidos: Aspen Publishers, 2007. pp. 10-11. Em sentido contrário à
eficiência como critério para elaboração e aplicação de normas, ver SANCHIRICO, Chris. Deconstructing the new efficiency
rationale. Cornell Law Review, v. 86, n. 1005, 2001, e AKTOUF, Omar. Pós-globalização, administração e racionalidade
econômica – A síndrome do avestruz. São Paulo: Atlas, 2004, p. 73.
[4] STAMMLER, Rudolph. Economía y derecho según la concepción materialista de la história. 4. Ed. Madrid: Editorial Réus,
1929.
[5] Este é um dos pontos levantados pelos críticos da análise econômica do direito, para quem uma frutífera aproximação entre os dois
campos esbarra na diferença de métodos: enquanto a economia analisa as práticas concretas e daí elabora modelos abstratos, o direito
estipula condições ideais de comportamento a serem alcançadas para, em seguida, regular as práticas de modo a atingir este fim.
Todavia, se vemos o direito “segundo a visão sociológica”, para usar a expressão de Weber, esta barreira desaparece.
[6] Seja propositadamente ou não, a análise econômica do direito parte da ideia acima colocada, qual seja, a de que o direito é um
instrumento influenciador na conduta do homem, um sistema de motivações que é levado em consideração.
[7] WEBER, Max. Economía y sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964, p. 251.
[8] WEBER, Max. Economía y sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964, p. 252.
[9] WEBER, Max. Economía y sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964, p. 254.
[10] WEBER, Max. Economía y sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964, p. 256.
[11] WEBER, Max. Economía y sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964, p. 259-260.
[12] GUSMÃO, Paulo Dourado de. O pensamento jurídico contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 1955, p. 23.
[13] WEBER, Max. Economía y sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964, p. 262.
[14] WEBER, Max. Economía y sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964, p. 265.
[15] WEBER, Max. Economía y sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964, p. 265.
[16] WEBER, Max. Economía y sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964, p. 266.
[17] WEBER, Max. Economía y sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964, p. 267.
[18] WEBER, Max. Economía y sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964, p. 269.
[19] Tal ideia também é verificada em outro texto de Weber, quando afirma que: “Ainda permanecendo as normas jurídicas vigentes
formalmente idênticas, o significado cultural das relações jurídicas objeto das normas, e, com isso, das próprias normas, pode variar
radicalmente. Com efeito, para entregar-nos por um momento a uma fantasia antecipatória, poderia ser concebida teoricamente uma
‘socialização dos meios de produção’, realizada sem que nenhum ‘esforço’ consciente fosse originado oara obter tal resultado, e sem a
supressão ou adição de parágrafo algum de nossa legislação: a frequência estatística de certas relações objeto de regulação jurídica se
alteraria fundamentalmente, e em muitos casos se reduziria a zero”. WEBER, Max. La “objetividad” cognoscitiva de la ciencia social
y de la política social. In: Ensayos sobre metodología sociológica. Argentina: Amorrortu editores S.C.A., 1958, p. 72.
[20] Maria José Fariña Dulce relata que este argumento serviu para Weber justificar o desenvolvimento do capitalismo em
ordenamentos jurídicos distintos, tal como o direito anglo-saxão inglês e o direito europeu continental: “Em ambos os casos, existindo
ordenamentos jurídicos radicalmente distintos, foram desenvolvidas as mesmas relações econômicas que caracterizam o capitalismo
moderno”. DULCE, Maria José Fariñas. La sociología del derecho de Max Weber. 1. Ed. Madrid: Editorial Civitas S.A., 1991, p.
203.
[21] Diz-se materialismo porque se põe como meta última a ser atingida algum fim econômico, material. Histórico porque se acredita
que “o fim de qualquer ciência é ordenar sua matéria num sistema de conceitos, cujo conteúdo se obteria mediante a elaboração de
regularidades empíricas, a formação de hipóteses e a verificação destas, até o momento em que disso surgisse uma ciência ‘completa’
e, por tanto, dedutiva”. WEBER, Max. La “objetividad” cognoscitiva de la ciencia social y de la política social. In: Ensayos sobre
metodología sociológica. Argentina: Amorrortu editores S.C.A., 1958, p. 95.
[22] WEBER, Max. La “objetividad” cognoscitiva de la ciencia social y de la política social. In: Ensayos sobre metodología
sociológica. Argentina: Amorrortu editores S.C.A., 1958, p. 41.
[23] WEBER, Max. La “objetividad” cognoscitiva de la ciencia social y de la política social. In: Ensayos sobre metodología
sociológica. Argentina: Amorrortu editores S.C.A., 1958, pp. 57-58.
[24] Maria José Fariña Dulce, inclusive, em tese de doutoramento intitulada La sociologia del derecho de Max Weber, chama este
quarto ponto de “princípio do predomínio dos interesses econômicos”. DULCE, Maria José Fariñas. La sociología del derecho de
Max Weber. 1. Ed. Madrid: Editorial Civitas S.A., 1991, p. 203.
[25] WEBER, Max. Economía y sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964, p. 270.
[26] WEBER, Max. Economía y sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964, pp. 270-271.
[27] Inclusive porque, como ressalta Weber, “a economia moderna destruiu, pela sua peculiaridade, as demais associações que eram
portadoras de direito e, portanto, garantia do mesmo. Esta é a obra do desenvolvimento do mercado”. WEBER, Max. Economía y
sociedad. 2. Ed. México: Fondo de Cultura Económica, 1964, p. 272. É como se a economia, com sua força avassaladora e crescente
velocidade, atropelasse as demais instituições da sociedade, as quais eram fortes por valer-se do direito e de seus comandos, o que
culminou na necessidade de socorrer-se ao direito, mas um direito firme, racional e calculável.
[28] DULCE, Maria José Fariñas. La sociología del derecho de Max Weber. 1. Ed. Madrid: Editorial Civitas S.A., 1991, p. 205.

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2312

Você também pode gostar