RAÍZES DA DESTRUIÇÃO chegar até mim.
Assustada com a possibilidade de ser morta, vendida
Grande. Imponente. Para os humanos, uma anciã. Mas, entre
o meu povo, eu era apenas uma criança. Já tive muitos títulos e
minha força e tamanho faziam com que eu não temesse as
tempestades, tanto quanto minhas irmãs menores. Eu achava que
nada poderia me derrubar, pois eu estava firmemente presa ao chão.
Fui muito ingênua ao pensar isso, pois aqueles seres que antes me
admiravam decidiram que eu era um objeto e, por isso, quiseram
determinar o meu destino, me derrubar e me vender, para que eu me
tornasse algo que enfeitaria a casa de alguém. Eu tenho décadas de
vida e meus galhos já presenciaram o surgimento e o
desaparecimento de muitas famílias de animais. De minhas folhas sai
o oxigênio que todos respiram. De meus frutos se alimentaram muitas
espécies que os humanos nunca chegaram a conhecer, e nunca
conhecerão, pois sua falta de respeito pela natureza fez com que,
pouco a pouco, estas maravilhosas criaturas começassem a
desaparecer. Mas todos estes fatos se tornaram irrelevantes para as
pessoas que quiseram cortar a mim e a minhas 96 irmãs, pois para
eles nossas vidas e a de todos que dependiam de nós para
sobreviver se tornavam minúsculas se comparadas ao dinheiro que
ganhariam.
Tudo começou em uma clara manhã de primavera. Tudo
parecia normal, mas um forte estrondo acabou com a paz que reinava
na floresta. Em seguida, comecei a ouvir o barulho de um motor e,
alguns minutos depois, um novo estrondo. Fiquei curiosa, pois não
conseguia ver o que estava acontecendo, mas logo descobri do que
se tratava, pois um pássaro pousou em um dos meus galhos e me
disse que os humanos estavam derrubando árvores ao norte da
floresta, não muito longe de onde estávamos. Ao ouvir esta notícia,
fiquei preocupada, assustada e com raiva, tudo ao mesmo tempo.
Preocupada com o que o pássaro havia dito porque, ao que parecia,
os humanos estavam matando minhas irmãs em um local próximo de
onde eu me encontrava e eles não demorariam muitos dias para
e ter um destino incerto, e com raiva daqueles que estavam nos
derrubando, pois fornecíamos tudo a eles e, ainda assim, sua
ganância estava nos matando. Como eu havia imaginado, os cortes
das árvores continuaram e, em duas semanas, os humanos já
estavam próximos de onde eu estava plantada. Atrás deles havia
apenas os tocos daquelas que um dia já haviam sido as árvores mais
altas da floresta. Eles levaram muitas das minhas irmãs e eu tive que
ouvir seus pedidos de socorro (que eram mudos para os assassinos
de duas pernas) sem poder fazer nada, pois meu tronco grosso e
minhas raízes firmes que outrora me salvaram das 97 tempestades,
hoje me impediam de salvar minhas irmãs e me salvar. Ao anoitecer,
como ocorria todos os dias, os humanos foram embora. Mas eu sabia
que, ao raiar do sol, eles estariam de volta, e eu seria a primeira
árvore a ser derrubada no dia seguinte.
(...)
Autora: Maria Fernanda Mathias
Disponível em :
http://unimed.coop.br/portalunimed/flipbook/cascavel/coletanea_de_contos_e_cronicas_suste
ntabilidade1/files/assets/common/downloads/publication.pdf
Responda em seu caderno:
1. Quem é o personagem principal do conto “Raízes da Destruição”?
2. Onde a narrativa se passa?
3. Em que época essa história acontece?
4. Quem são os personagens antagonistas dessa história?
5. Essa história tem personagens secundários? Se sim, quem são?
6. Qual é o conflito vivenciado pela personagem principal?
7. A história não teve um desfecho. O que você acha que ocorreu
com a personagem principal “no dia seguinte”?
 (...)
Contrariando seus hábitos, eles chegaram no meio da noite.
Pareciam ser pessoas diferentes. Mas depois de toda a destruição
que eu havia visto, resolvi não ter esperanças e me preparei para o
meu fim.
Contudo, eles não me cortaram. Ao invés disso, começaram a
se organizar no cemitério onde outrora estiveram minhas irmãs.
Quando amanheceu, aqueles humanos que estiveram nos cortando
há dias apareceram e ficaram muito surpresos e assustados (alguns
saíram correndo) ao notar aquelas pessoas que apareceram no meio
da noite. Fiquei muito confusa com isso, pois não estavam todos do
mesmo lado? Os homens que haviam chegado no meio da noite
estavam segurando armas e um deles disse:
- Vocês estão presos por cometerem crime ambiental. Esta é
uma reserva protegida pelo Ibama. Vocês podem permanecer
calados, pois tudo que disserem poderá ser usado contra vocês, no
tribunal.
E as coisas ficaram mais estranhas depois disso, pois todos
aqueles que haviam nos cortado estavam sendo algemados pelos
humanos armados e levados para alguns carros que haviam
aparecido depois e tinham a escrita “Policia Ambiental” gravada em
sua lateral.
Após aquele dia, não vi mais nenhuma pessoa aparecer na
floresta. Nunca entendi o que havia acontecido, mas eu sabia que
aqueles homens que haviam impedido que nos cortassem eram bons.
Vivi muitas décadas depois disso e, novamente, várias espécies
surgiram e desapareceram em minhas raízes. Mas não importava o
quão estranho fossem estes animais, pois, se comparados com os
seres que achavam que dominaram a terra, eles eram extremamente
normais, porque embora os homens tenham uma constituição física
parecida entre si, seus objetivos, conquistas e ambições eram
distintas, fazendo com que cada indivíduo se tornasse único, embora
precisassem de todos para sobreviver, o que os torna uma espécie
estranha. É por isso que esta espécie curiosa, exótica e contraditória
me assusta.
Autora: Maria Fernanda Mathias
Disponível em:
http://unimed.coop.br/portalunimed/flipbook/cascavel/coletanea_de_contos_e_cronicas_suste
ntabilidade1/files/assets/common/downloads/publication.pdf
Responda em seu caderno:
8. Que novo personagem surgiu a partir do desfecho do conto
"Raízes da Destruição”?
9. Por que a personagem principal ficou confusa com o
comportamento dos humanos que chegaram no meio da noite?
10. Depois de ter sido salva, o que a personagem principal passou a
achar dos humanos? Por que ela passou a achar isso?
Planejamento da produção de texto - Desfecho de conto
Você deverá produzir um novo desfecho para o conto “Raízes da
Destruição”. No seu desfecho, uma das personagens do livro
“Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes" deverá ser a heroína
que salva a personagem principal.
- Produza o rascunho em seu caderno.
- Escreva no mínimo 50 palavras.
- Use letra maiúscula para começar cada frase e nos nomes
próprios.
- Use sinais de pontuação em seu texto: vírgula, ponto-final,
exclamação, interrogação.
- Leia seu próprio texto e preocupe-se com a clareza do que
você está escrevendo.