Você está na página 1de 398

Hidráulica e hidrometria

aplicada
Com o programa Hidrom para cálculo

Álvaro José Back

1
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri)
Rodovia Admar Gonzaga, 1347, Itacorubi, Caixa Postal 502
88034-901 Florianópolis, SC, Brasil
Fone: (48) 3665-5000, fax: (48) 3665-5010
Site: www.epagri.sc.gov.br

Editado pela Gerência de Marketing e Comunicação (GMC).

Editoria técnica: Paulo Sergio Tagliari


Revisão e padronização: João Batista Leonel Ghizoni
Normatização: Ivete Teresinha Veit
Arte-final: Zelia Alves Silvestrini

Primeira edição: junho 2006


Segunda edição (revisada e ampliada): 2015
Tiragem: 1000
600 exemplares
Impressão: Dioesc

É permitida a reprodução parcial deste trabalho desde que citada a fonte.

Ficha catalográfica

BACK, Á.J. Hidráulica e hidrometria aplicada (com o programa


Hidrom para cálculo). Florianópolis: Epagri, 2015. 398p.

Hidráulica; Hidrometria aplicada; Hidrostática; Energia hidráulica;


Cálculo.

ISBN: 85.85014-50-4
O

2
AUTOR

Álvaro José Back


Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Estação Experimental de Urussanga,
Rod. SC-446, Km 19, Bairro da Estação, 88840-000 Urussanga, SC, fone:
(48) 3465-1209, e-mail: ajb@epagri.sc.gov.br

Outras publicações do autor:


BACK, A.J. Precipitações extremas para o estado de Santa Catarina.
Florianópolis: Epagri, 1995. 39p. (Epagri. Documentos, 154).
BACK, A.J. Chuvas intensas e chuva de projeto de drenagem superficial
no estado de Santa Catarina. Florianópolis: Epagri, 2002. 65p. (Epagri.
Boletim Técnico, 123).
BACK, A.J. Hidráulica e hidrometria aplicada: com programa Hidrom®
para cálculos. Florianópolis: Epagri, 2006. 299p.
BACK, A.J. Medidas de vazão com molinetes hidrométricos e coleta de
sedimentos em suspensão. Florianópolis: Epagri, 2006. 56p. (Epagri.
Boletim Técnico, 130).
BACK, A.J. Chuvas intensas e chuva para dimensionamento de
estruturas de drenagem para o estado de Santa Catarina: com
programa HidroChuSC® para cálculos. Florianópolis: Epagri, 2013. 193p.

3
BACK, A. J. Bacias hidrográficas: Classificação e caracterização física
(com programa Hidrobacis para cálculos).Florianópolis: Epagri, 2014,
162p.

Programas de computador:
Hidrom® - Programa para cálculos de hidráulica e hidrometria.
Hidromolinetes® - Programa para cálculo de vazão e determinação dos
tempos de amostragem de coleta de sedimentos em suspensão para
trabalhos de hidrometria realizados com molinetes hidrométricos.
HidroSedimentos® - Programa para cálculos dos tempos de amostragem
de sedimentos em suspensão para medições de vazão com equipamentos
acústicos de efeito Doppler.
HidroChuSC® - Programa para estimativa da chuva de projeto para o
estado de Santa Catarina.
Hidrobacis - Programa para cálculos de índices físicos de bacias
hidrográficas.

4
PREFÁCIO

Para a maioria dos ecossistemas terrestres, a água é o fator limitante


mais importante, já que a precipitação define se haverá desertos ou
florestas de vegetação exuberante. O homem aprendeu, desde que
começou a praticar a agricultura, que dominar as técnicas para
armazenar, captar, conduzir, tratar e distribuir a água permitia modificar
o ambiente. Desde então, não parou de construir obras hidráulicas.
Nas últimas décadas, a sociedade tem tomado consciência de que a
água é um bem finito. Essa era uma noção presente apenas em regiões
de clima semiárido ou em locais onde as precipitações apresentavam
distribuição extremamente irregular. Atualmente, o aumento da
demanda pela água e a poluição dos mananciais de superfície fazem
com que, até nas regiões onde os fenômenos de escassez registrados
sejam relativamente raros, haja preocupação com o bom uso dos
recursos hídricos.
Hidráulica e hidrometria aplicada é um livro que aborda
principalmente tópicos relativos à condução de água em canalizações e
canais e à medição das vazões, sempre com abordagem teórica precisa
e exemplos práticos na forma de exercícios resolvidos. Este livro, que
temos o prazer de apresentar ao leitor, com certeza contribuirá para
aumentar a eficiência do uso da água devido a um importante diferencial
em relação aos outros textos semelhantes: completa-se com um
programa de computador, Hidrom, de fácil utilização, que permite
elaborar cálculos a partir de todas as equações apresentadas. De nossa
5
experiência com ensino de Hidráulica na UFSC nos últimos 18 anos, temos
percebido a dificuldade que estudantes e profissionais já graduados têm
para passar da leitura à elaboração de projetos hidráulicos. O programa,
por sua interface amigável, com certeza contribuirá para superar essa
barreira.
O autor coloca à nossa disposição, neste livro, sua experiência em
ensino e pesquisa, que, assim como em outras obras de cuja elaboração
participou, será de grande valia para tratarmos com mais eficiência deste
recurso fundamental: a água.

Antônio Augusto Alves Pereira, Dr.


Professor de Hidráulica do Curso de Agronomia da Universidade
Federal de Santa Catarina

6
APRESENTAÇÃO

Este livro constitui-se numa revisão dos tópicos de hidráulica e


hidrometria aplicada para os cursos de engenharia. São apresentadas
as diversas equações bem como tabelas com os coeficientes para ser
utilizados nas equações para a solução de problemas de hidráulica.
Acompanha o livro o programa Hidrom, que contém rotinas para a
resolução das equações e os procedimentos citados no livro.
Durante os cursos de pós-graduação e na nossa atividade
profissional, fomos elaborando vários programas para atender
necessidades acadêmicas e dimensionar projetos. Esses programas estão
reunidos e organizados no Hidrom de forma que possam ser utilizados
por outros usuários. Não temos a pretensão de apresentar novos
conceitos em Hidráulica e Hidrometria; apenas apresentamos os
conteúdos acompanhados de uma ferramenta para os cálculos,
substituindo algumas tabelas, figuras e ábacos utilizados para a solução
das equações, muitas vezes de forma tediosa e imprecisa. Dessa forma,
acreditamos que o livro e o programa se constituem numa ferramenta
útil tanto para estudantes de engenharia como para profissionais que já
atuam na área.
No primeiro capítulo são apresentadas as propriedades dos fluidos
e as unidades do sistema internacional utilizadas no livro, bem como
tabelas para conversão entre as unidades. Nos capítulos 2 e 3 são
apresentados os conceitos de hidrostática e aplicações para a engenharia
hidráulica. No capítulo 4 são apresentados os aspectos teóricos da
7
hidrodinâmica. Nos capítulos 5 a 7 encontram-se as equações para
cálculo do escoamento em condutos forçados, e no capítulo 8 são
discutidos os aspectos relacionados ao dimensionamento de uma
estação elevatória. Nos capítulos 9 a 11 são tratados os aspectos da
hidráulica em canais, com ênfase no movimento uniforme em canais.
Nos capítulos 12 e 13 são tratados aspectos teóricos e práticos
relacionados à hidrometria. No capítulo 14 são apresentados alguns
aspectos da hidráulica aplicada à drenagem urbana. Finalmente, no
capítulo 15 do livro se encontra uma breve descrição do programa
Hidrom destacando as páginas principais e ilustrando a forma de
utilização.

A Diretoria Executiva

8
SUMÁRIO

1 Fundamentos da Hidráulica ........................................................... 27


1.1 Introdução ............................................................................... 27
1.2 Conceitos básicos ..................................................................... 27
1.3 Unidades empregadas .............................................................. 28
1.4 Aceleração da gravidade .......................................................... 40
1.5 Propriedades dos fluidos ......................................................... 41
1.5.1 Massa específica ou densidade absoluta (r) .......................... 41
1.5.2 Peso específico (g). ................................................................ 43
1.5.3 Densidade relativa ou densidade (d) ..................................... 43
1.5.4 Módulo de elasticidade (e) .................................................... 45
1.5.5 Coeficiente de compressibilidade (a) ..................................... 46
1.5.6 Viscosidade dinâmica ou absoluta (m) ................................. 46
1.5.7 Coeficiente de viscosidade cinemática .................................. 47
1.5.8 Coesão e adesão ................................................................... 48
1.5.9 Tensão superficial (s) ............................................................. 49
1.5.10 Capilaridade ........................................................................ 49
1.5.11 Pressão de vapor ................................................................ 52
2 Hidrostática .................................................................................... 58
2.1 Conceitos fundamentais da hidrostática ................................. 58
2.2 Escala de pressões ................................................................... 61
2.3 Aplicações da equação fundamental de hidrostática .............. 63
2.4 Manometria. ............................................................................ 65
2.4.1 Manômetro de Bourdon ....................................................... 66
2.4.2 Piezômetro ........................................................................... 66
2.4.3 Tubo em U ............................................................................ 67
2.4.4 Manômetros diferenciais ..................................................... 68
2.4.5 Manômetro de tubo inclinado ............................................. 69
3 Equilíbrio relativo ........................................................................... 72
3.1 Movimento uniformemente acelerado sobre um plano
horizontal ................................................................................ 72
3.2 Movimento uniformemente acelerado sobre um plano
inclinado .................................................................................. 73
3.3 Movimento vertical ................................................................. 74
3.4 Pressão exercida pelos líquidos em repouso ........................... 75
3.5 Centro de pressão ou de empuxo ............................................ 76
3.6 Dimensionamento de barragens de gravidade. ....................... 83

9
4 Hidrodinâmica. ............................................................................... 86
4.1 Classificação dos movimentos ................................................ 86
4.2 Regimes de escoamento .......................................................... 90
4.3 Condutos hidráulicos ............................................................... 91
4.4 Equação da continuidade ........................................................ 93
4.5 Teorema de Bernoulli ............................................................... 94
5 Escoamento sob pressão ................................................................ 98
5.1 Introdução ............................................................................... 98
5.2 Número de Reynolds (NR) ....................................................... 98
5.3 Perda de carga ....................................................................... 100
5.4 Perdas de carga ao longo da canalização ............................... 101
5.4.1 Fórmula universal de perda de carga .................................. 101
5.4.2 Fórmulas práticas para o cálculo da perda de carga ........... 111
5.5 Perdas de cargas localizadas ................................................. 130
5.5.1 Método de Borda-Belanger ................................................. 130
5.5.2 Método dos comprimentos equivalentes .......................... 134
5.5.3 Método dos diâmetros equivalentes .................................. 139
6 Construção da linha de carga ....................................................... 141
6.1 Posição dos encanamentos em relação à linha de carga ....... 141
7 Cálculo dos condutos sob pressão ............................................... 146
7.1 Diâmetro nominal e diâmetro interno ...................................... 146
7.2 Velocidade de escoamento ........................................................ 148
7.2.1 Velocidade mínima ................................................................. 148
7.2.2 Velocidade máxima ................................................................ 150
7.3 Diâmetro mínimo ...................................................................... 151
7.4 Pressão mínima ......................................................................... 151
7.5 Pressão máxima ........................................................................ 152
7.6 Condutos equivalentes .............................................................. 153
7.7 Condutos mistos ou em série ................................................... 153
7.8 Tipos de tubo ............................................................................ 157
7.8.1 Tubos de PVC .......................................................................... 157
7.8.2 Tubos de polietileno ............................................................... 159
7.8.3 Tubos de cimento amianto ..................................................... 160
7.8.4 Tubos de concreto .................................................................. 160
7.8.5 Tubos de alumínio .................................................................. 160
7.8.6 Tubos de ferro fundido ........................................................... 162
7.8.7 Tubos de aço ........................................................................... 162
7.8.8 Uniões .................................................................................... 162
7.9 Golpe de aríete .......................................................................... 163

10
7.9.1 Manobra rápida ..................................................................... 166
7.9.2 Manobra lenta ....................................................................... 166
8 Estações elevatórias ..................................................................... 170
8.1 Bombas hidráulicas. ............................................................... 170
8.2 Classificação de bombas centrífugas ...................................... 173
8.3 Canalização de sucção ............................................................ 175
8.4 Canalização de recalque ......................................................... 176
8.5 Dimensionamento econômico da canalização de recalque .... 177
8.5.1 Para bombas em funcionamento contínuo ......................... 178
8.5.2 Para bombas em funcionamento descontínuo ................... 179
8.5.3 Dimensionamento baseado na velocidade de escoamento 179
8.6 Dimensionamento da linha de sucção ................................... 180
8.7 Altura geométrica .................................................................. 180
8.8 Altura manométrica ............................................................... 181
8.9 Potência da bomba ................................................................ 183
8.10 Potência do motor ............................................................... 184
8.11 Curvas características da tubulação ..................................... 187
8.12 Curva característica da bomba ............................................. 190
8.13 Ponto de trabalho ................................................................ 194
8.14 Associação de bombas ......................................................... 195
8.15 Rotação específica ................................................................ 196
8.16 Rotação específica com potência unitária (ns) ...................... 200
8.17 Mudanças nas curvas características. .................................. 201
8.18 Cavitação ............................................................................. 204
8.19 Instalação da bomba centrífuga. .......................................... 206
8.20 Etapas de um projeto de estação elevatória ........................ 207
8.21 Exemplo de projeto de bombas ........................................... 207
8.22 Carneiro hidráulico .............................................................. 211
9 Movimento uniforme em canais .................................................. 217
9.1 Elementos geométricos da seção do canal. ........................... 219
9.2 Fórmulas para o cálculo da velocidade média (V) e da
vazão (Q) ............................................................................... 223
9.2.1 Fórmula de Chézy ............................................................... 223
9.2.2 Fórmula de Bazin ................................................................ 223
9.2.3 Fórmula de Ganguillet e Kutter ........................................... 224
9.2.4 Fórmula de Kutter ............................................................... 228
9.2.5 Fórmula de Manning ........................................................... 228
9.2.6 Fórmula de Forchheimer ..................................................... 230
9.2.7 Fórmula de Strickler ............................................................ 230

11
9.3 Variação da velocidade na seção transversal ......................... 233
9.4 Velocidades aconselháveis ..................................................... 233
9.5 Declividade-limite .................................................................. 235
9.6 Inclinação das paredes ........................................................... 236
9.7 Folga nos canais ou borda livre .............................................. 237
9.8 Seções econômicas ou de máxima vazão ............................... 238
10 Dimensionamento de canais ...................................................... 245
10.1Dimensionamento de canais circulares e semicirculares..... 245
10.2 Dimensionamento de seções trapezoidais,
retangulares ou triangulares .............................................. 247
10.2.1 Método das tentativas .................................................... 247
10.2.2 Método gráfico. ............................................................... 249
10.2.3 Método numérico. .......................................................... 252
11 Energia em escoamento livre ..................................................... 252
11.1 Energia específica ............................................................... 253
11.2 Número de Froude ............................................................. 253
11.3 Regimes de escoamento .................................................... 254
11.4 Profundidade crítica........................................................... 256
11.5 Degraus nos canais. ........................................................... 258
11.5.1 Distância entre degraus .................................................. 259
11.5.2 Dimensões dos Degraus .................................................. 259
11.5.3 Método empírico para dimensionamento de quedas ..... 264
11.6 Determinação do fator n .................................................... 266
11.6.1 Coeficiente n composto (ne) ............................................ 267
12 Orifícios, bocais e tubos curtos .................................................. 270
12.1 Escoamento em orifícios .................................................... 270
12.2 Equação de Torricelli .......................................................... 271
12.3 Aberturas grandes ............................................................. 276
12.4 Escoamento com nível variável ......................................... 277
12.5 Orifícios afogados .............................................................. 278
12.6 Contração incompleta ........................................................ 279
12.7 Vazão nos bocais................................................................ 280
12.8 Vazão em tubos curtos ...................................................... 282
12.9 Vazão em bueiros. ............................................................. 283
13 Hidrometria ................................................................................ 285
13.1 Medição direta .................................................................. 286
13.2 Método do vertedor .......................................................... 286
13.2.1 Instalação e operação dos vertedores ............................ 290
13.2.2 Fórmula para vazão de vertedor retangular ................... 291

12
13.2.3 Vertedor triangular .......................................................... 296
13.2.4 Vertedor trapezoidal ....................................................... 298
13.2.5 Vertedor circular .............................................................. 299
13.2.6 Vertedor de crista de barragens ...................................... 300
13.2.7 Vertedor tubular .............................................................. 303
13.2.8 Vertedores em paredes laterais ....................................... 306
13.2.9 Comporta de fundo plano ............................................... 314
13.3 Calhas medidoras ............................................................... 315
13.3.1 Calhas Parshall ................................................................ 316
13.3.2 Calhas CTR ....................................................................... 330
13.3.3 Calha WSC ....................................................................... 336
13.4 Medição de vazão por processos químicos ou traçadores . 338
13.5 Tubos de Pitot. ................................................................... 339
13.6 Método das coordenadas ................................................... 343
13.7 Método Califórnia .............................................................. 344
13.8 Medidor Venturi ................................................................. 345
13.9 Medição de vazão determinando a velocidade e a área ..... 347
13.9.1 Método do flutuador....................................................... 347
13.9.2 Uso de molinetes ............................................................. 350
13.9.3 Métodos acústicos .......................................................... 366
14 Aplicações na drenagem urbana ................................................ 371
14.1 Sarjetas .............................................................................. 371
14.1.1 Dimensões-padrão para sarjetas .................................... 372
14.1.2 Sarjeta parcial ................................................................. 373
14.1.3 Sarjetões ......................................................................... 373
14.1.4 Para seções compostas ................................................... 373
14.2 Bocas de lobo. .................................................................... 374
14.2.1 Bocas de lobo do tipo guia .............................................. 376
14.2.2 Bocas de lobo com grades .............................................. 376
14.3 Galerias .............................................................................. 378
15 Instruções sobre o programa Hidrom ........................................ 380
Referências ...................................................................................... 395

13
14
Lista de tabelas

1. Unidades e símbolos do Sistema Internacional de Unidades. ....... 29


2. Unidades suplementares e unidades derivadas com nomes
especiais do SI. .................................................................................. 30
3. Unidades especiais. ....................................................................... 30
4. Principais unidades dos sistemas MKS e CGS. .............................. 31
5. Prefixos utilizados no Sistema Internacional de Unidades ............ 32
6. Comprimentos equivalentes ......................................................... 35
7. Outras unidades de comprimento ................................................ 35
8. Unidades de área equivalentes. ..................................................... 36
9. Outras unidades de área. .............................................................. 36
10. Volumes equivalentes ................................................................. 37
11. Outras unidades de volume. ....................................................... 37
12. Vazões equivalentes. ................................................................... 37
13. Velocidades equivalentes ............................................................ 37
14. Forças equivalentes. .................................................................... 38
15. Potências equivalentes ................................................................ 38
16. Energias equivalentes .................................................................. 38
17. Pressões equivalentes ................................................................. 39
18. Aceleração da gravidade (g) em m/s² .......................................... 41
19. Massa específica média de alguns líquidos (kg/m³) .................... 42
20. Propriedades de alguns líquidos ................................................ 44
21. Módulo de elasticidade de alguns líquidos ................................. 45
22. Compressibilidade da água ......................................................... 46
23. Tensão superficial de alguns líquidos em contato com o ar ........ 49
24. Valores do ângulo de contato a para diferentes interfaces. ....... 51
25. Valores de pressão de saturação de vapor .................................. 53
26. Propriedades físicas da água doce no Sistema Internacional
considerando a pressão atmosférica .......................................... 54
27. Propriedades físicas da água doce no Sistema Técnico ............... 55
28. Propriedades físicas da água doce no Sistema CGS ..................... 56
29. Variação da pressão atmosférica com a altitude ......................... 57
30. Propriedades físicas do ar considerando a pressão
atmosférica padrão no SI ............................................................ 57
31. Momento de inércia e centro de gravidade para figuras
geométricas ................................................................................ 78
32. Valores de viscosidade cinemática (u) ......................................... 99
33. Valores típicos de rugosidade absoluta (k) ................................ 103

15
34. Procedimento para resolução da equação universal de perda
de carga com o diagrama de Rouse. ......................................... 109
35. Procedimento para resolução da equação universal de perda
de carga com o diagrama de Moody ........................................ 110
36. Valores de b para a fórmula de Darcy para tubos de ferro
fundido ou de aço. .................................................................... 113
37. Valores de K, K’ e K” para uso da fórmula de Darcy para tubos
de ferro ou de aço ..................................................................... 115
38. Coeficiente f da fórmula de Darcy-Weissbach em função
do material ............................................................................... 116
39. Valores do coeficiente de atrito f para tubos conduzindo
água fria .................................................................................... 116
40. Valores dos coeficientes b e k da fórmula de Flamant .............. 118
41. Valores dos coeficientes b e k da fórmula de Bazin e Kutter ..... 120
42. Coeficientes C e Ks da fórmula de Scobey ................................. 121
43. Valores dos coeficientes C para tubos de concreto ................... 121
44. Valores do coeficiente (n) de Manning para
dimensionamento de condutos forçados. ................................ 123
45. Valores do coeficiente C de Hazen-Williams para tubos de
ferro fundido em função do tempo de uso ............................... 125
46. Coeficiente C de Hazen-Williams ............................................... 126
47. Coeficiente K para cálculo das perdas de carga localizadas ....... 131
48. Comprimento equivalente para canalização de PVC ou
cobre (D £ 100mm) ................................................................... 135
49. Comprimento equivalente para canalização de PVC
ou cobre (D > 100mm) .............................................................. 136
50. Comprimento equivalente para canalização de aço galvanizado
ou ferro fundido (D £ 100mm) ................................................ 137
51. Comprimento equivalente para canalização de aço galvanizado
ou ferro fundido (D > 100mm) .................................................. 138
52. Diâmetros equivalentes para cálculo da perda de carga ........... 139
53. Valores do diâmetro de tubos de PVC rígido obtidos do
catálogo de produtos Tigre ....................................................... 148
54. Valores do diâmetro de diversos tubos Tigre............................ 149
55. Tubos de PVC/PBA. NBR 5647 (ABNT, 1999) ............................. 158
56. Características dos tubos de PVC DEFoFo ................................. 159
57. Características dos tubos de alumínio ...................................... 162
58. Características dos tubos de ferro dúctil classe K7 com junta
elástica ...................................................................................... 163

16
59. Características dos tubos de ferro dúctil classe K9 com junta
elástica ...................................................................................... 164
60. Valores práticos do coeficiente de elasticidade (k) da
tubulação .................................................................................. 165
61. Valores de velocidade em função do coeficiente K da fórmula
de Bresse .................................................................................. 178
62. Valor de rendimento médio de bomba centrifuga de
1.750rpm .................................................................................. 184
63. Rendimentos aproximados dos motores elétricos trifásicos .... 185
64. Folga recomendada para os motores elétricos ......................... 185
65. Consumo de energia de diversos motores ................................ 186
66. Cálculos da carga para determinação da curva característica
da tubulação ............................................................................. 189
67. Rotação dos motores elétricos .................................................. 190
68. Classificação de bombas em função da rotação específica (nq) 198
69. Classificação de bombas em função da rotação específica ns. .. 201
70. Fator j para cálculo do NPSHr .................................................. 205
71. Rendimento médio do carneiro hidráulico em função da
relação entre a altura de queda (h) e a altura do recalque (H).. 214
72. Tamanhos usuais do carneiro hidráulico e suas principais
características ........................................................................... 215
73. Dados de carneiro hidráulico modelo Kenya ............................. 215
74. Diâmetros recomendados para tubulação de adução e
recalque em função da vazão .......................................................... 216
75. Elementos geométricos das seções transversais usuais ........... 221
76. Elementos geométricos das seções transversais especiais. ...... 222
77. Valores do coeficiente m de Bazin. .......................................... 224
78. Valores de m para a fórmula de Bazin ....................................... 225
79. Valores do coeficiente n de Ganguillet e Kutter ........................ 226
80. Valores do coeficiente m da fórmula de Kutter ......................... 226
81. Valores de n para a fórmula de Manning e Ganguillet e Kutter 227
82. Valores de n de Manning ........................................................... 229
83. Valores do coeficiente C de Forchheimer .................................. 230
84. Valores de K da fórmula de Strickler ......................................... 232
85. Valores de velocidade não erosiva em canais............................ 234
86. Valores de velocidades médias mínimas recomendadas .......... 234
87. Valores práticos de velocidade recomendada ........................... 235
88. Declividades recomendadas para canais ................................... 236
89. Declividade dos coletores de esgoto ......................................... 235
90. Valores recomendados para inclinação das paredes ................. 236
91. Valores recomendados de z, V e n para alguns tipos de canal .. 236

17
92. Valores de borda livre para canais de irrigação. ........................ 238
93. Elementos geométricos dos canais de máxima vazão ............... 244
94. Valores de k para relações Y/D .................................................. 247
95. Modelo para dimensionamento de canais pelo
método das tentativas.............................................................. 248
96. Variação da energia com a profundidade do canal .................... 255
97. Fórmulas para o cálculo da profundidade crítica ...................... 258
98. Coeficiente de velocidade (Cv) para orifícios circulares
em parede delgada ................................................................... 273
99. Coeficiente de vazão (C) para orifícios circulares ..................... 274
100. Coeficiente de vazão (C) para orifícios afogados ..................... 274
101. Coeficiente de vazão (C) para orifícios retangulares ............... 275
102. Coeficientes de vazão para bocais cônicos convergentes........ 276
103. Coeficiente de vazão para bocais ............................................ 281
104. Valores de coeficiente de vazão para tubos curtos ................. 282
105. Coeficientes de vazão para tubos curtos................................. 283
106. Coeficientes de vazão para bueiros ......................................... 284
107. Coeficientes de vazão (C) para vertedor retangular de
parede delgada ........................................................................ 295
108. Coeficientes de vazão (C) para vertedores retangulares ......... 296
109. Valores de x e y para perfil Creager para altura de H = 1m ..... 301
110. Coeficientes de vazão para vertedor Creager .......................... 303
111. Valor de k para estimativa da vazão de vertedor tubular ....... 304
112. Vazões mínimas e máximas de vertedores tubulares
verticais .................................................................................. 304
113. Dimensões dos componentes da calha Parshall em
milímetros segundo a norma ASTM 1941 .............................. 319
114. Dimensões da calha Parshall (m) segundo a
NBR/ISO 9826:2008 ............................................................... 320
115. Limites de aplicação para calhas Parshall segundo Walker
e Skogerboe (1984) ................................................................. 323
116. Limites de aplicação para calhas Parshall
ASTM: 1941:1975 .................................................................. 324
117. Características das calhas Parshall segundo a
norma NBR/ISO 9826:2008 .................................................... 325
118. Dimensões da calha CTR e faixas de vazão medidas ................ 331
119. Dimensões da calha WSC ........................................................ 337
120. Correção da área para tubos incompletos .............................. 342
121. Fator de ajuste C da velocidade de escoamento ..................... 349
122. Métodos de cálculo da velocidade média da vertical .............. 353
123. Distância recomendada entre verticais ................................... 355

18
124. Exemplo de cálculo da velocidade média na vertical ............... 359
125. Exemplo de cálculo da vazão pelos métodos da
seção média e da meia seção .................................................. 360
126. Valores de coeficiente de Manning para sarjetas .................... 372
127. Custo dos tubos de concreto .................................................. 379

19
20
o. .................................................................................................. 36

Lista de figuras
1. Ilustração do comportamento de líquidos e gases ........................ 28
2. Ascensão e depressão capilar ........................................................ 50
3. Ângulo de contato ......................................................................... 51
4. Ilustração da lei de Pascal .............................................................. 59
5. Ilustração do princípio de Arquimedes .......................................... 59
6. Ilustração da lei de Stevin .............................................................. 60
7. Atuação da pressão atmosférica ................................................... 61
8. Representação da pressão como altura de coluna líquida ............ 62
9. Ilustração do nível hidrostático em vasos comunicantes .............. 63
10. Paradoxo hidrostático ................................................................. 64
11. Ilustração do funcionamento de prensa hidráulica ..................... 64
12. Altura de líquidos com densidades diferentes ............................ 65
13. Manômetro de Bourdon ............................................................. 66
14. Piezômetro .................................................................................. 67
15. Tubo em U ................................................................................... 68
16. Manômetro diferencial ............................................................... 68
17. Manômetros de tubo inclinado .................................................. 69
18. Ilustração do exemplo 8 .............................................................. 69
19. Ilustração do exemplo 9 .............................................................. 70
20. Ilustração do exemplo 10 ............................................................ 70
21. Ilustração do exemplo 11 ............................................................ 71
22. Representação da superfície de nível sobre plano horizontal ..... 72
23. Ilustração do exemplo 12 ............................................................ 73
24. Representação da superfície de nível sobre plano inclinado ....... 74
25. Representação do movimento vertical ........................................ 75
26. Representação do centro de pressão e do centro de
gravidade de superfícies imersas ................................................ 77
27. Ilustração do exemplo 15 ............................................................ 80
28. Ilustração do exemplo 16 ............................................................ 81
29. Ilustração do exemplo 17 ............................................................ 82
30. Barragem de gravidade ............................................................... 83
31. Perfis de barragem por gravidade estáveis ................................. 84
32. Ilustração do exemplo 19 ............................................................ 84
33. Ilustração do escoamento permanente uniforme ....................... 88
34. Ilustração do escoamento permanente acelerado ...................... 88
35. Escoamento permanente uniforme............................................. 89

21
36. Escoamento variado .................................................................... 89
37. Escoamento permanente não uniforme ...................................... 90
38. Ilustração do regime laminar ...................................................... 90
39. Ilustração do regime turbulento ................................................. 91
40. Ilustração de tubos de corrente .................................................. 91
41. Ilustração de condutos forçados ................................................. 92
42. Ilustração de condutos livres ...................................................... 92
43. Ilustração da equação da continuidade ....................................... 93
44. Ilustração do teorema de Bernoulli ............................................. 95
45. Representação da perda de carga ............................................... 96
46. Ilustração do exemplo 23 ............................................................ 97
47. Perdas de carga em condutos forçados ..................................... 100
48. Rugosidade da tubulação .......................................................... 102
49. Variação da velocidade na tubulação segundo o regime de
escoamento .............................................................................. 104
50. Diagrama de Moody .................................................................. 107
51. Diagrama de Rouse.................................................................... 107
52. Ábaco para fórmula de Hazen-Williams .................................... 129
53. Estreitamento brusco ................................................................ 132
54. Alargamento brusco .................................................................. 132
55. Posição do encanamento e linhas de carga ............................... 141
56. Representação dos planos e carga ............................................ 142
57. Ilustração do segundo caso ....................................................... 143
58. Ilustração do terceiro caso ........................................................ 143
59. Esquema sem (A) e com (B) caixa de passagem ........................ 144
60. Esquema de funcionamento de sifão ........................................ 144
61. Ilustração do sexto caso ............................................................ 145
62. Ilustração do sétimo caso.......................................................... 145
63. Representação do diâmetro externo e do diâmetro interno ..... 147
64. Esquema de funcionamento de condutos mistos ..................... 154
65. Ilustração do exemplo 39 .......................................................... 155
66. Tubo PBA Tigre .......................................................................... 158
67. Tubos DEFoFo Tigre ................................................................... 159
68. Tubos de polietileno .................................................................. 159
69. Tubos de cimento amianto ........................................................ 160
70. Tubos de concreto ..................................................................... 161
71. Tubos de alumínio ..................................................................... 161
72. Estação elevatória ..................................................................... 171
73. Elementos da bomba centrífuga ............................................... 172
74. Tipos de rotor ........................................................................... 174
75. Classificação da bomba em relação ao movimento do fluido ... 174

22
76. Diâmetro econômico ................................................................. 177
77. Desenho esquemático de uma instalação de recalque .............. 181
78. Curva característica da tubulação ............................................. 189
79. Mosaico de campo de utilização da bomba KSB Meganorm ..... 192
80. Curva característica da bomba KSB 32-125.1............................ 193
81. Curvas características típicas de bombas centrífugas radiais .... 194
82. Curva característica da bomba KSB Meganorm 80-250 –
1.750rpm .................................................................................. 194
83. Ponto de trabalho da bomba .................................................... 195
84. Esquema de bombas trabalhando em paralelo ou em série ..... 196
85. Tipos de bomba de acordo com a rotação específica ................ 197
86. Carneiro hidráulico .................................................................... 211
87. Elementos do carneiro hidráulico ............................................. 212
88. Ilustração do talude do canal .................................................... 220
89. Ilustração do ângulo teta .......................................................... 220
90. Variação da velocidade de escoamento em canais .................... 233
91. Mudança da declividade (A) e alteração no formato do
canal (B) .................................................................................... 235
92. Canal retangular de máxima vazão ........................................... 240
93. Canal trapezoidal de máxima vazão .......................................... 240
94. Canal triangular de máxima vazão ............................................ 241
95. Relações hidráulicas de um canal circular ................................. 243
96. Método gráfico para dimensionamento de canais .................... 249
97. Representação do perfil longitudinal do canal .......................... 252
98. Variação da energia com a profundidade do canal .................... 256
99. Representação do ressalto hidráulico ....................................... 256
100. Ilustração de degrau em canais ............................................... 259
101. Dimensões do degrau .............................................................. 261
102. Dimensionamento de quedas pelo método empírico ............. 264
103. Ilustração do exemplo 57 ........................................................ 269
104. Ilustração de um orifício e vertedor ........................................ 271
105. Representação de parede delgada e parede espessa ............... 271
106. Escoamento em orifícios ......................................................... 272
107. Escoamento em aberturas grandes ......................................... 276
108. Esvaziamento de reservatórios por meio de orifícios ............. 277
109. Orifícios afogados.................................................................... 279
110. Coeficiente K para contração incompleta ................................ 280
111. Vazão em tubos curtos ............................................................ 282
112. Vazão em bueiros .................................................................... 283
113. Medição de vazão pelo método direto ................................... 286
114. Elementos do vertedor ............................................................ 287

23
115. Formas de vertedor ................................................................. 287
116. Vertedor de descarga livre ou descarga afogada ..................... 288
117. Vertedor de parede delgada e parede espessa ........................ 288
118. Parede delgada ........................................................................ 289
119. Classificação dos vertedores quanto à largura relativa ........... 289
120. Vertedor retangular ................................................................. 293
121. Vertedor triangular ................................................................. 297
122. Vertedores triangulares truncados .......................................... 298
123. Vertedor trapezoidal ............................................................... 298
124. Vertedor circular ..................................................................... 300
125. Vertedor em barragens ........................................................... 301
126. Perfil Creager de parede a montante vertical .......................... 302
127. Vertedor tubular ..................................................................... 304
128. Esquema de vertedor em parede lateral ................................. 306
129. Vertedor em parede lateral com saída simples ....................... 307
130. Vertedor em parede lateral com saída em canal ..................... 308
131. Esquema do vertedor lateral com energia específica
constante ................................................................................ 311
132. Vazão em comporta de fundo ................................................. 314
133. Escoamento em calhas Parshall .............................................. 316
134. Modelo de calha Parshall ........................................................ 318
135. Elementos da calhas Parshall segundo a
NBR/ISO 9826:2008 ................................................................ 321
136. Elementos hidráulicos do funcionamento da calha Parshall ... 328
137. Limite de submersão (Ls) da calha CTR ................................... 332
138. Valores dos coeficientes KL e nL da calha CTR escoando
em fluxo livre ......................................................................... 333
139. Coeficientes KS e nS para escoamento afogado ....................... 335
140. Calhas WSC.............................................................................. 337
141. Dimensões da calha WSC ........................................................ 338
142. Esquema de medição por métodos químicos ......................... 339
144. Esquema de funcionamento do Tubo de Pitot ........................ 340
145. Método das coordenadas ....................................................... 341
146. Método das coordenadas para tubo com seção parcial .......... 341
147. Método das coordenadas para tubo inclinado ....................... 343
148. Método das coordenadas para tubo vertical .......................... 343
149. Método Califórnia ................................................................... 345
150. Medidor de Venturi ................................................................. 346
151. Medição de vazão pelo método do flutuador ......................... 348
152. Molinete hidrométrico modelos General Oceanic e Ott ......... 352
153. Molinete hidrométrico com contador de pulsos .................... 352

24
154. Molinete hidrométrico suspenso em guincho com lastro ...... 352
155. Perfil de velocidade ................................................................. 354
156. Ilustração do método da seção média .................................... 356
157. Ilustração do método da meia seção ...................................... 357
158. Método da Isótacas ................................................................. 358
160. Medição a vau ......................................................................... 361
162. Medição de vazão a partir de pontes ...................................... 361
161. Medição de vazão com barco preso a um cabo ...................... 362
162. Molinete transportado por teleférico (A) e detalhe
do acionamento do teleférico (B) ............................................ 362
163. Réguas linimétircas ................................................................. 364
164. Formatos de curva-chave ........................................................ 365
165. FlowTracker ............................................................................. 367
166. Detalhes do transmissor e receptor do FlowTracker ............... 368
167. Direção do fluxo em relação aos receptores............................ 368
168. Equipamento M9 .................................................................... 369
169. Montagem do equipamento M9 com GPS .............................. 369
170. Distribuição da velocidade medida com equipamento M9. .... 370
171. Sarjeta parcial ......................................................................... 373
172. Sarjetão ................................................................................... 374
173. Sarjetas compostas ................................................................. 374
174. Boca de lobo tipo guia ............................................................. 375
175. Boca de lobo tipo grade .......................................................... 378
176. Tela principal do Hidrom 2.0 ................................................... 380
177. Exemplo de conversão de Unidades ........................................ 382
178. Exemplo de cálculo de condutos forçados com Hidrom ......... 383
179. Rotina para cálculo de perdas de carga localizadas ................. 384
180. Exemplo do cálculo de bombas com Hidrom .......................... 385
181. Rotina para cálculo da curva característica no Hidrom 2.0 ..... 386
182. Opções de procedimento para canais no Hidrom ................... 387
183. Exemplo de cálculo de canais no Hidrom ................................ 388
184. Procedimento Projeto de Canais do Hidrom ........................... 389
185. Relatório do projeto de canais do Hidrom 2.0 ........................ 390
186. Opções de fórmulas de vertedor retangular no Hidrom ......... 391
187. Cálculo da vazão com fórmula de Francis no Hidrom ............. 392
188. Cálculo da vazão pela calha Parshall ....................................... 393
189. Exemplo de cálculo de sarjetas com Hidrom ........................... 393

25
26
1 Fundamentos da Hidráulica

1.1 Introdução
Nos diferentes ramos da Engenharia deparamos com problemas
envolvendo o escoamento e armazenamento de líquidos, principalmente
a água. A solução desses problemas requer conhecimento dos princípios
fundamentais da mecânica dos fluidos e das propriedades dos líquidos
envolvidos, que variam de acordo com sua composição e temperatura.
Neste capítulo estão resumidos os principais conceitos necessários para
o entendimento dos problemas de hidráulica, é apresentada uma revisão
sobre as propriedades dos principais fluidos envolvidos nos problemas
de hidráulica, e se encontram tabelas com os valores dessas
propriedades, com ênfase para a água. Também é apresentada uma
revisão sobre os sistemas de unidades adotados e tabelas para
conversões entre as unidades das principais grandezas envolvidas na
hidráulica.

1.2 Conceitos básicos


• Fluido: é qualquer substância não sólida capaz de escoar e assumir
a forma do recipiente que a contém. Os fluidos podem ser
divididos em líquidos e gases, e uma forma prática para distingui-
-los é quando, colocados num recipiente, os líquidos tomam a
forma dele, apresentando, porém, uma superfície livre enquanto

27
os gases preenchem totalmente o recipiente, sem apresentar
nenhuma superfície livre (Figura 1).

Figura 1. Ilustração do comportamento de líquidos e gases

• Fluido Ideal: é aquele no qual a viscosidade é nula, isto é, entre


suas moléculas não se verificam forças tangenciais de atrito.
• Líquido Perfeito: em hidráulica, consideram-se de uma forma geral
os líquidos como sendo um Líquido Perfeito, isto é, um fluido ideal,
incompressível, perfeitamente móvel, contínuo e de propriedades
homogêneas.
• Hidráulica: o termo ‘hidráulica’ se refere ao estudo dos líquidos.
Como no princípio o líquido mais estudado era a água, atribui-se o
prefixo hidro-. A hidráulica pode ser subdividida em hidrostática,
que estuda os líquidos em repouso, e hidrodinâmica, que estuda
os líquidos em movimento.
• Mecânica dos Fluidos: parte da física que estuda problemas
relativos a líquidos e gases, quer em repouso, quer em movimento.

1.3 Unidades empregadas


No Brasil se adota, oficialmente, desde 1962, o Sistema Internacional
de Unidades (SI), que foi adotado e recomendado pela Conferência Geral
de Pesos e Medida (CGPM). Contudo, na literatura especializada em
engenharia, é comum o emprego de unidades de outros sistemas de
unidades, como os sistemas CGS e o sistema Técnico (MKS).
O SI é composto de sete unidades de base, também chamadas de
unidades fundamentais, que são aquelas que representam as grandezas
físicas independentes. Além das unidades de base, existem as unidades
28
derivadas, que são formadas pela combinação de duas ou mais unidades
de base. Existem ainda unidades cuja definição é puramente matemática,
sendo chamadas unidades suplementares. Nas Tabela 1 e 2 estão
relacionadas as principais unidades do SI com os símbolos adotados. Os
símbolos obtidos para as unidades derivadas são obtidos por meio de
sinais matemáticos de multiplicação e divisão e do uso de expoentes.
Existem algumas unidades amplamente empregadas cujo uso é
permitido pelo Comitê Internacional de Pesos e Medidas (CIPM). Na
Tabela 3 são apresentadas as unidades especiais que vêm sendo
utilizadas com muita frequência nos problemas de hidráulica. As principais
unidades dos sistemas MKS e CGS estão na Tabela 4.

Tabela 1.Unidades e símbolos do Sistema Internacional de Unidades


Grandeza Unidade Símbolo
Unidades básicas
Comprimento Metro m
Massa Quilograma kg
Tempo Segundo s
Intensidade de corrente elétrica Ampere A
Temperatura termodinâmica Kelvin K
Quantidade de matéria Mol mol
Intensidade luminosa Candela cd
Unidades derivadas

Área Metro quadrado m²


Volume Metro cúbico m³
Velocidade Metro por segundo m/s
Aceleração Metro por segundo
quadrado m/s²
Densidade Quilograma por metro
cúbico kg/m³
Viscosidade cinemática Metro quadrado por
segundo m²/s
Fonte: Taylor (1991).

29
Tabela 2. Unidades suplementares e unidades derivadas com nomes especiais
do SI
Grandeza Unidade Símbolo Expressão
Unidades suplementares
Ângulo plano Radiano rad m/m = 1
Ângulo sólido Esterradiano sr m²/m² =1
Unidades derivadas com
nomes especiais
Frequência Hertz Hz s
Força Newton N kg.m.s²
Pressão, tensão Pascal Pa N/m²
Energia, trabalho Joule J N/m
Viscosidade dinâmica Poise P kg.m.s-1
Potência, fluxo radiante Watt W J/s
Quantidade de eletricidade Coulomb C A/s
Potencial elétrico Volt V W/A
Resistência elétrica Ohm W V/A
Fluxo luminoso Lúmen lm cd.sr
Iluminância Lux lx lm/m²
Fonte: Taylor (1991).

Tabela 3. Unidades especiais


Grandeza Unidade Símbolo Conversão para o SI
Minuto min 1 min = 60 s
Hora h 1 h = 60 min = 3600 s
Tempo Dia d 1 d = 24 h = 86400 s
Grau o
1 o = (p/180) rad
Ângulo Minuto ’ 1 ’ = (1/60)o = (p/10800) rad
Segundo “ 1 “ = (1/60)’ = (p/648000) rad
Volume Litro(1) l ou L 1 L = 0,001 m³
Massa Tonelada(2) t 1 t = 1000 kg
Fonte: Taylor (1991).
(1)
O símbolo alternativo L foi adotado para evitar a confusão com a letra “l” e o número “1’.
(2)
Em alguns países de língua inglesa, também é chamada de tonelada métrica.

30
Tabela 4. Principais unidades dos sistemas MKS e CGS
Grandeza Sistema MKS Sistema CGS
Unidade Símbolo Unidade Símbolo
Comprimento Metro m Centímetro m

Massa Unidade técnica


de massa UTM1 Grama g

Tempo Segundo s Segundo s

Superfície Metro Centímetro


quadrado m² quadrado cm²

Volume Metro cúbico m³ Centímetro cm³


cúbico

Força Quilograma-
-força kgf Dina dyn

Velocidade Metro por Centímetro


segundo m/s por segundo cm/s
Quilograma-força
Viscosidade por segundo por kgf.s.m-2 Poise P
metro quadrado
Quilograma-força
Pressão por metro kgf/m² Bária b
quadrado
Vazão Metro cúbico Centímetro
por segundo m³/s cúbico por cm³/s
segundo
1
1 UTM = 9,80665 kgf/m/s².

Em função da magnitude da grandeza, é comum a utilização de


múltiplos e submúltiplos de unidades, por exemplo, 34,2 hm³ em vez de
34.200.000 m³, ou 12 mm em vez de 0,012 m. Na Tabela 5 se encontram
os prefixos com os respectivos símbolos utilizados no SI de unidades.
Na escrita dos símbolos e unidades devem-se observar os princípios
gerais constantes na resolução no 7 da CGPM, entre os quais se
destacam:
31
• Os símbolos das unidades derivadas de nomes próprios devem ser
escritos com a primeira letra maiúscula; os outros devem ser
apresentados em minúscula, exceção feita para litro, que pode ser
escrito em minúscula ou maiúscula (l ou L).

Exemplos: N (newton); Pa (pascal); m (metro).


• O símbolo da unidade não deve ser seguido por um ponto, e seu
plural não é seguido de s.

Exemplo: 5 m e não 5 m. ou 5 ms.


• Na unidade da temperatura termodinâmica são omitidos a palavra
“grau” e seu símbolo (°), que, por sua vez, são mantidos para designar
a temperatura em graus Celsius.

Tabela 5. Prefixos utilizados no Sistema Internacional de Unidades


Prefixo Símbolo Múltiplos e submúltiplos Fator
Yotta Y 1 000 000 000 000 000 000 000
000 10 24
Zetta Z 1 000 000 000 000 000 000
000 10 21
Exa E 1 000 000 000 000 000
000 10 18
Peta P 1 000 000 000 000
000 10 15
Tera T 1 000 000 000
000 10 12
Giga G 1 000 000
000 10 9
Mega M 1 000
000 10 6
Quilo k 000 1 10 3
Hecto h 100 10 2
Deca da 10 10 1
Deci d 0,1 10 -1
Centi c 0,01 10 -2
Mili m 0,001 10 -3
Micro m 0,000 001 10 -6
Nano h 0,000 000 001 10 -9
Pico p 0,000 000 000 001 10 -12
Femto f 0,000 000 000 000 001 10 -15
Atto a 0,000 000 000 000 000 001 10 -18
Zepto z 0,000 000 000 000 000 000 001 10 -21
Yocto y 0,000 000 000 000 000 000 000 001 10 -24
Fonte: Taylor (1991).

32
Exemplos: 298 Kelvin ou 298K e não 298 graus Kelvin ou 298 °K.
• 25 graus Celsius ou 25 oC.
• Os símbolos dos prefixos com grandezas iguais a ou maiores que
106 são escritos com maiúscula, e os demais são escritos com
minúscula.
Exemplos: G (giga); M (mega); h (hecto); k (quilo).
• Um prefixo não pode ser empregado sem a unidade a que se refere.
Exemplo: 106 J/m² e não MJ/m2.
• Entre o prefixo e a unidade não deve ser colocado espaço.
Exemplo: 2 hm e não 2 h m.
• Não se devem justapor dois prefixos.
Exemplo: 2 fm e não 2 µhm.
• O símbolo do prefixo ligado ao símbolo da unidade constitui-se
em um novo e inseparável símbolo, de modo que pode ser elevado a
potências positivas ou negativas e ser combinado com outros símbolos
de unidades para formar símbolos de unidades compostas. Assim, um
expoente se aplica à unidade como um todo, incluindo seu prefixo.
Exemplo: 1 hm3 = 100 m3 = 106 m3.
1 cm³ = (10-2 m)³ = 10-6 m³.
• Ao escrever um múltiplo ou submúltiplo de uma unidade por
completo, o prefixo deve ser também escrito por completo, começando
com letra minúscula.
Exemplo: megajoule, e não Megajoule ou Mjoule.
• O quilograma é a única unidade fundamental que, por razões
históricas, contém um prefixo. Seus múltiplos e submúltiplos são
formados adicionando-se os prefixos à palavra “grama”.
Exemplo: 10-6 kg = 1 mg = 1 miligrama e não 1 microquilograma ou 1
µkg.
• A representação da multiplicação dos símbolos das unidades deve
ser indicada inserindo-se um ponto “elevado”, ou deixando-se um espaço
entre os símbolos das unidades.

33
Exemplo: N .m ou N m.
• A representação da divisão pode ser indicada tanto pelo uso de
uma barra inclinada, como de uma barra de fração horizontal ou por
um expoente negativo.
m
Exemplo: m/s, ou , ou m s-1.
s
• Quando mais de uma unidade aparece no denominador, não é
permitido o uso repetido da barra inclinada; nesse caso, devem-se utilizar
parênteses ou expoentes negativos.
Exemplo: cal/(cm² dia) ou cal cm-2 dia-1 e não cal/cm²/dia.
• Na escrita por extenso, os nomes das unidades não devem ser
misturados com os símbolos das operações matemáticas.
Exemplo: Newton por metro quadrado e não Newton/metro
quadrado ou Newton metro2.
• Na escrita por extenso do produto de duas unidades, recomenda-
se o uso de espaço entre elas ou o emprego de hífen, mas nunca o uso
do ponto.
Exemplo: Newton metro ou Newton-metro, mas não New-
ton.metro.
• Ao escrever números com mais de quatro dígitos, pode-se separar
cada grupo de três dígitos por um espaço, porém não se podem utilizar
pontos ou vírgulas nas separações, para evitar confusões com as
marcações de decimais.
Exemplo: 0,000 000 058 e não 0,000.000.058.
1 258 435 000 e não 1.258.435.000.
• Entre o valor numérico e o símbolo da unidade deve ser colocado
um espaço.
Exemplo: 100 mm e não 100mm ou 100-mm.
• As frações decimais devem iniciar com o zero antes do marcador
de fração.
Exemplo: 0,25 kg e não ,25 kg ou .25 kg.

34
Muitos livros e manuais foram traduzidos trazendo consigo unidades
inglesas ou americanas. Assim, deve-se saber converter as unidades nos
diversos sistemas. Nas Tabelas 6 a 17 são apresentados os fatores de
conversão para as diferentes unidades.

Tabela 6. Comprimentos equivalentes


Unidade Símbolo Fator de conversão
m cm mm ft in
Metro m 1 100 1000 3,2808 39,370
Centímetro cm 0,01 1 10 0,0328 0,3937
Milímetro mm 0,001 0,1 1 0,00328 0,03937
Pé ft 0,3048 30,48 304,8 1 12
Polegada in 0,0254 2,54 25,4 0,0833 1

Tabela 7. Outras unidades de comprimento


Unidade Símbolo Unidades equivalentes
Angströn Å 10-10
m 0,1 nm 0,0000001mm
Quilômetro km 1000 m 0,6213712 mi 3280,84 ft
Milha terrestre mi 1609,344 m 5280 ft 63360 in
Milha náutica mi
náutica 1852 m 1,15077 mi 6076,11 ft
Milésimo de
polegada mils 0,00000254 m 25,4 mm 0,001 in
Jarda yd 0,9144 m 3 ft 36 in
Vara rod 5,02921 m 16,5 ft 198 in
Cadeia chain 20,1168 m 66 ft 792 in

35
Tabela 8. Unidades de área equivalentes
Área Fator de conversão
Símbolo km² m² ha acre milha²
Quilometro
quadrado km² 1 1000000 100 247,104 0,3861
Metro
quadrado m² 0,000001 1 0,0001 0,000247 3,861 10-7
Hectare ha 0,01 10000 1 2,47104 0,003861
Acre acre 0,0040469 4046,87 0,404687 1 0,00156
Milha
quadrada mi² 2,59 2590000 259 640 1

Tabela 9. Outras unidades de área


Unidade Conversões
Metro
quadrado (m²) 10 000 cm² 1 550 in² 10,764 ft²
Are (a) 1 dam² 100 m² 0,01 ha
Jarda
quadrada (yd²) 8 361,27 cm² 0,836127 m² 9 ft²
Vara
quadrada (rod²) 25,292953 m² 0,00625 acre 272,25 ft²
Milha
quadrada (mi²) 258,99 ha 2,59 km² 1 milha²
Alqueire paulista
(100x50 braças) (alq) 5 000 braças² 24 200 m² 2,42 ha
Polegada
quadrada (in²) 6,4516 cm² 0,00064516 m² 0,006944 ft²
Pé quadrado (ft²) 929,0304 cm ² 0,092903 m ² 144 in²
Alqueire mineiro
(100 x 100 braças) 10 000 braças² 48 400 m2 4,84 ha
Cinquenta ou
quadro (50 x 50 braças) 2 500 braças² 12 100 m² 12,1 ha
Quarta ou
quartel (50 x 25 braças) 1 250 braças² 6 050 m² 0,0605 ha
Tarefa (12,5 x 12,5 braças) 156,25 braças² 756 m² 0,0756 ha
Morgen
(sul-africano) 8 565 m² 0,8562 ha 0,3539 alq

36
Tabela 10. Volumes equivalentes
Volume Símbolo Fator de conversão
3
m L gal ft3 in³
Metro cúbico m³ 1 1 000 264,172 35,3147 61 024
Litro L ou l 0,001 1 0,264172 0,0353147 61
Galão líquido gal 0,0037854 3,785412 1 0,13368 231
Pé cúbico ft³ 0,02831685 28,31685 7,48052 1 1 728
Polegada cúbica in³ 0,000016387 0,016387 0,004329 0,0005787 1

Tabela 11. Outras unidades de volume


Unidade Símbolo Conversão
Metro cúbico m³ 1000 dm³ 1000000 cm³
Galão seco gal dry 4,404895 L 1,16365 gal
Galão imperial(1) gal imp 4,54609188 L 1,2000949 gal
Quart líquido(1) quart 0,946361 L 0,25 gal
Pint líquido(1) pint 0,4731765 L 0,5 quart
Barril de petróleo bbl 158,9873 L 42 gal
(1)
Unidades usadas nos Estados Unidos.

Tabela 12. Vazões equivalentes


Vazão Símbolo m3/s L/s ft³/s gal/s
Metro cúbico por
segundo m³/s 1 1 000 35,3147 264,172
Litro por segundo L/s 0,001 1 0,0353147 0,264172
Pé cúbico por segundo ft³/s 0,0283168 28,3168 1 7,48051
Galão por segundo gal/s 0,0037854 3,7854125 0,133681 1

Tabela 13. Velocidades equivalentes


Velocidade Símbolo m/s km/h Nós mi/h ft/s
Metro por
segundo m/s 1 3,6 1,94254 2,23694 3,2808
Quilômetro
por hora km/h 0,27778 1 0,539593 0,62137 0,91134
Milha náutica
por hora Nó 0,51444 1,852 1 1,15078 0,1568027
Milha por
hora mi/h 0,44704 1,609344 0,86839 1 1,46667
Pé por
segundo ft/s 0,3048 1,09728 0,59209 0,68182 1

37
Tabela 14. Forças equivalentes
Força Símbolo N dyn kgf gf lbf
Newton N 1 100 000 0,10198 101,98 0,2248089
Dina dyn 0,00001 1 1,02x10-6 0,00102 0,0000022
Quilograma-
-força (1) kgf 9,80665 980 665 1 1000 2,20448
Grama-força gf 0,009806 980,665 0,001 1 0,00220448
Libra-força lbf 4,448222 444 822,2 0,45362 453,62 1
Um quilograma é a massa do protótipo internacional do quilograma, e quilograma-força
(1)

é o peso desse protótipo submetido à ação da gravidade normal. Assim, 1 kgf = 9,80665 N.

Tabela 15. Potências equivalentes


Potência Símbolo CV HP W kW
Cavalo-vapor CV 1 0,9863 735,5 0,7355
Horsepower HP 1,01387 1 745,6 0,7456
Watt W 0,00136 0,00134 1 0,001
Quilowatt kW 1,36 1,341 1 000 1
Quilocaloria
por segundo kcal/s 5,690 5,61293 4 185 4,185
Quilogrâmetro
por segundo kgm/s 0,01333 0,01315 9,80665 0,0098
Pé-libra-força
por segundo ft.lbf/s 0,0018434 0,00181842 1,355818 0,00135582
BTU por segundo BTU/s 1,434127 1,4147 1 054,8 1,0548
Poncelet poncelet 1,3333 1,31527 980,665 0,980665

Tabela 16. Energias equivalentes


Unidade de Símbolo Fator de conversão
potência J kWh HPh CVh
Joule J 1 2,778 x 10-7 3,725 x 10-7 3,777 x 10-7
Quilocaloria kcal 4185,5 0,001162 0,001559 0,001581
Quilowatt-hora kWh 3 600 000 1 1,341022 1,35964
Horsepower-hora HPh 2 684 525 0,7457 1 1,013872
Cavalo-vapor-hora CVh 2 647 796 0,7355 0,9863 1
Quilogrâmetro kgm 9,80665 2,724 x 10-6 3,653 x 10-6 3,7037x10-6
British thermal unit BTU 1054,8 0,000293 0,00039292 0,0003984
Pé-libra-força ft.lbf 1,355818 3,766x10-7 5,08x10-7 5,121x10-7
Erg erg 10-7 2,778x10-14 3,725x10-14 3,777x10-14

38
alebat rimirpmi

Tabela 17. Pressões equivalentes


Pressão atm kgf/m 2 mca mmHg kgf/cm 2 PSI bar mb Pa = N/m² kPa
Atmosfera-padrão
(atm) 1 10 333 10,332 760 1,0333 14,6969 1,01325 1 013,25 101 325 101,325
kgf/m 2 0,00009678 1 0,001 0,07355 0,0001 0,0014223 0,00009806 0,098045 9,806037 0,009806
Metro de coluna
de água (mca) 0,09678 1 000 1 73,5514 0,1 1,42234 0,0980604 98,0604 9 806,04 9,8060
mm de mercúrio
(mmHg) 0,001316 13,594 0,013594 1 0,0013594 0,01934 0,0013332 1,3332 133,322 0,13332
kgf/cm 2 0,96778 10 000 10 735,514 1 14,2234 0,9806037 980,6037 98060,37 98,060
Libra/pol 2 (PSI) 0,06804 703,07 0,70307 51,7116 0,070307 1 0,0689479 68,9479 6 894,79 6,89479
Bar 0,9869233 10 1978 10,1978 750,06 1,01978 14,50377 1 1000 100000 100

39
Milibar (mb) 0,0009869 10,1994 0,0101994 0,750247 0,0011994 0,0145015 0,001 1 100 0,1000
Pascal (Pa) 0,00000987 0,10199 0,000102 0,007500 0,0000102 0,000145 0,000 01 0,01 1,0 0,001
Quilopascal (kPa) 0,0098717 101,994 0,101994 7,500 0,010197 0,14501 0,01 10 1000 1
Valores normalmente adotados em hidráulica
1 atm 1 10 000 10 760 1 14,7 1 1 013 101 300 101,3
Outras relações entre unidades de pressão: 1 dyn/cm² = baria (ba) = 0,1 Pa; 1 MPa = 1 000 kPa; 1 kPa = 10 hPa = 1 000 Pa; 1 polegada
de coluna de mercúrio (inHg) = 3 386,69 Pa = 25,4 mmHg; 1 pé de coluna de água (ftH 20) = 2 988,88 Pa; 1 libra-força por pé quadrado
(lbf/ft²) = 47,88 Pa.
1.4 Aceleração da gravidade
A aceleração da gravidade, considerada como valor padrão da
gravidade ou gravidade normal, é de 980,665 cm/s², e usado na Física
para a relação entre massa e peso. Esse valor foi medido em 1901 numa
latitude de 45o, ao nível do mar. Segundo List (1971), a constante 980,616
cm/s² constitui uma melhor aproximação para a latitude 45o e altitude
do nível de mar. De acordo com Vianello & Alves (1991), na superfície
terrestre a gravidade varia com a latitude e com a altitude, podendo ser
corrigida conforme estas correlações:

à correção em função da latitude

g f = 980 , 616 é1 - 0 , 0026373 cos( 2 f ) + 0 , 0000059 cos 2 ( 2 f ) ù


êë úû

à correção em função da altitude:


[ ] [ ]
g = g f - 3,085462 × 10 -4 + 2 ,27 × 10 - 7 cos( 2f ) Z + 7, 254 × 10 -11 + 10 -13 cos( 2f ) Z 2

[
- 1 , 517 × 10 - 17 + 6 × 10 - 20 cos( 2 f ) Z 3 ]
em que g = aceleração da gravidade (cm/s²), f = latitude (graus), e Z =
altitude (m).
Na Tabela 18 são apresentados os valores da aceleração da
gravidade (g) calculados conforme as equações 1 e 2 para diferentes
latitudes e altitudes.

40
Tabela 18. Aceleração da gravidade (g) em m/s²
Latitude Altitude (m)
(graus)
0 200 400 600 800 1 000 1 500 2 000
0 9,7804 9,7797 9,7791 9,7785 9,7779 9,7773 9,7757 9,7742
5 9,7807 9,7801 9,7795 9,7789 9,7783 9,7777 9,7761 9,7746
10 9,7819 9,7813 9,7807 9,7801 9,7794 9,7788 9,7773 9,7757
15 9,7838 9,7832 9,7826 9,7820 9,7813 9,7807 9,7792 9,7776
20 9,7864 9,7858 9,7851 9,7845 9,7839 9,7833 9,7818 9,7802
25 9,7896 9,7889 9,7883 9,7877 9,7871 9,7865 9,7849 9,7834
30 9,7932 9,7926 9,7920 9,7914 9,7908 9,7902 9,7886 9,7871
35 9,7973 9,7967 9,7961 9,7955 9,7949 9,7942 9,7927 9,7912
40 9,8017 9,8011 9,8004 9,7998 9,7992 9,7986 9,7970 9,7955
45 9,8062 9,8055 9,8049 9,8043 9,8037 9,8031 9,8015 9,8000
50 9,8107 9,8100 9,8094 9,8088 9,8082 9,8076 9,8060 9,8045
55 9,8150 9,8144 9,8138 9,8132 9,8125 9,8119 9,8104 9,8088
60 9,8191 9,8185 9,8179 9,8173 9,8166 9,8160 9,8145 9,8129
Nota: A correção para a altitude é muito pequena, na ordem de -0,001 m/s2 para cada 300 m
de altitude. O valor médio da gravidade para as condições do Brasil varia entre 9,78 e 9,80.

1.5 Propriedades dos fluidos

1.5.1 Massa específica ou densidade absoluta (r)


É a relação entre a massa e o volume do corpo,
massa
r=
volume
dada em kg/m³ no Sistema Internacional, kgf.s2/m4 no Sistema Técnico,
ou g/cm³ no sistema CGS.
Na Tabela 19 consta a massa específica média de diversos tipos de
líquidos.

41
Tabela 19. Massa específica média de alguns líquidos (kg/m³)
Líquido r (kg/m³) Líquido r (kg/m³)
Acetona 790 Glicerina 1260
Ácido acético 1050 Glicose 1350 a 1440
Ácido clorídrico a 10 % 1050 Gordura de porco 960
Água destilada a 4oC 1000 Leite 1020 a 1050
Água do mar a 15oC 1022 a 1030 Melado 1400 a 1500
10 GL 987 Mercúrio 13590 a 13650
20 GL 976 Óleo combustível médio 865
30 GL 965 Óleo combustível pesado 918
40 GL 952 Óleo de algodão 880 a 930
50 GL 934 Óleo de cereais 924
Álcool etílico 15,5oC 60 GL 914 Óleo fúsel 838
70 GL 890 Óleo de linhaça 925 a 940
80 GL 864 Óleo de mamona 960
90 GL 834 Óleo de soja 930 a 980
95 GL 816 Solução de sacarose 20oC
98 GL 803 0°Brix 1000
Azeite de oliva 915 10°Brix 1040
Benzeno 870 a 910 20°Brix 1083
Benzina 680 a 700 30°Brix 1129
Betume 1100 a 1500 40°Brix 1178
Cerveja 1020 a 1040 50°Brix 1232
Éter de petróleo 670 Solvente para limpeza 728
Dejeto líquido de suínos 0,3% MS 1004 Sulfato de cobre 1100 a 1150
Dejeto líquido de suínos 2% MS 1012 Sulfato de zinco 1100 a 1400
Dejeto líquido de suínos 5% MS 1026 Tetracloreto de carbono 1590
Dejeto líquido de suínos 10% MS 1048 Vinho 990
Gasolina 660 a 740 Xarope de cana 1290 a 1390

42
1.5.2 Peso específico (g)
Representa o peso de uma substância por unidade de volume. As
unidades mais comuns são N/m³ no Sistema Internacional, kgf/m³ no
Sistema Técnico, e dyn/cm³ no sistema CGS.
peso massa gravidade
g= = =rg [3]
volume volume
em que g é a aceleração da gravidade em m/s².

1.5.3 Densidade relativa ou densidade (d)


É a relação entre as massas ou os pesos específicos de uma
substância em relação a uma substância de referência ou padrão. Em
geral, considera-se a água na temperatura de 4 °C como referência para
os líquidos, e o ar como referência para os gases.
É importante observar que a densidade relativa não tem unidades;
é um número adimensional. Na Tabela 20 estão a massa específica e a
densidade relativa de alguns líquidos.

Exemplo 1: Calcular a densidade do mercúrio.


Massa específica da água a 4 °C = 1 000 kg/m3
Massa específica do mercúrio = 13 600 kg/m3

13600 kg / m 3
Densidade do mercúrio dHg = = 13,6
1000 kg / m 3
Exemplo 2: Sabendo que 6 m³ de óleo têm massa de 5100 kg, calcule
a massa específica, o peso específico e a densidade relativa desse óleo
nos sistemas: a) Internacional e b) técnico.
Dados: volume = 6 m³; massa = 5 100 kg; g = 9,8 m/s²;

r h 0 = 1000 kg / m 3 .
2

43
Tabela 20. Propriedades de alguns líquidos
Líquido Massa específica (g) Densidade
(kg/m3) (kgf m-4 s-2) relativa (d)
Água 0oC 999,87 102,028 0,99987
2oC 999,97 102,038 0,99997
3oC 999,99 102,040 0,99999
4oC 1000,00 102,041 1,00000
5oC 999,99 102,040 0,99999
10 o C 999,73 102,013 0,99973
25 o C 997,07 101,742 0,99707
100 o C 958,4 97,796 0,95840
Água do
mar 1020 a 1030 104,1 a 105,1 1,020 a 1,030
Água com
material
suspenso 1100 112,2 1,100
Derivado de
petróleo 650 a 850 663 a 86,7 0,650 a 0,850
Mercúrio
a 0oC 13 596,0 1387,35 13,5960
Mercúrio
a 25oC 13 550,0 1382,65 13,5500
a) No sistema Internacional
m 5100
- Massa específica r = = = 850kg / m 3
V 6
- Peso específico g = rg = 850 kg/m³ 9,80 m/s² = 8 330 N/m³

850 kg / m 3
- Densidade relativa d = = 0,85
1000 kg / m 3
b) No sistema técnico
O peso é de 5 100 kgf, então:
Peso 5100kgf
- Peso específico g = = = 850kgf / m 3
V 6m 3

44
g 850
- Massa específica r = = = 86,73kgf .s 2 / m 4
g 9,8

86,73
- Densidade relativa d = = 0,85
102,04

1.5.4 Módulo de elasticidade (e)


A compressibilidade é a propriedade que os fluídos têm de reduzir
seus volumes sob a ação de pressões externas. Se, sob um aumento de
pressão (Dp), o volume (V) do fluido sofre uma redução (DV),
denominamos de módulo de compressibilidade (e) ou módulo de
elasticidade, a relação
Dp
e=
DV [4]
V
O módulo de elasticidade é um parâmetro constante para cada
líquido em uma dada temperatura. Para a água a 0ºC e@ 2,0 108 kgf/m2,
isto é, para provocar uma redução de 1% no volume, é necessário
aumentar a pressão cerca de 2,0 x 106 kgf/m2. Na Tabela 21 são
apresentados os valores de módulo de elasticidade de alguns líquidos
usados nos problemas de hidráulica.

Tabela 21. Módulo de elasticidade de alguns líquidos


Líquido Módulo de elasticidade (e)
kgf/m² Pa
Éter (14oC) 7,9 x 108 7,74 x 109
Álcool (15oC) 1,1 x 108 1,08 x 109
Mercúrio (15oC) 53,5 x 108 52,4 x 109
Petróleo 1,2 x 108 1,18 x 109
Glicerina 4,0 x 108 3,92 x 109
Fonte: Neves (1989).

45
1.5.5 Coeficiente de compressibilidade (a)
O coeficiente de compressibilidade é o inverso do módulo de
elasticidade, isto é, a = 1/e. Como o coeficiente de compressibilidade
(a) é muito pequeno, em geral se pode considerar a água como um líquido
incompressível, exceto no cálculo do golpe de aríete. Na Tabela 22 são
fornecidos os valores de módulo de elasticidade e o coeficiente de
compressibilidade de alguns líquidos usados nos problemas de hidráulica.

Tabela 22. Compressibilidade da água


Líquido Módulo de Coeficiente de
elasticidade (e) compressibilidade (a)
10 8 kgf/m2 10 6 N/m² (Pa) 10 –9 m2/kgf 10 -10 m²/N (Pa-1)
Água (0°C) 2,06 2020 4,85 4,95
Água (10°C) 2,14 2100 4,67 4,76
Água (20°C) 2,22 2180 4,50 4,59
Água (30°C) 2,27 2225 4,41 4,49
Água (50°C) 2,33 2290 4,28 4,37
Água (100°C) 2,11 2070 4,74 4,83
Benzina (20°C) 1,05 1030 9,52 9,71
Tetracloreto de
carbono (20°C) 1,12 1100 8,91 9,09
Glicerina (20°C) 4,44 4350 2,25 2,30
Mercúrio (20°C) 26,72 26200 0,37 0,38
Fonte: Delleur (1995), adaptado.

1.5.6 Viscosidade dinâmica ou absoluta (m)


Quando um fluido escoa, verifica-se um movimento relativo entre
suas partículas, resultando em atrito entre elas. O atrito interno ou
viscosidade é a propriedade dos fluidos responsável por sua resistência
à deformação.
A viscosidade exerce influência importante no fenômeno do
escoamento, principalmente nas perdas de carga (energia) no
escoamento dos fluidos. A influência da viscosidade depende da
temperatura e da natureza do líquido. Assim, ao se referir à viscosidade
de um líquido, deve-se sempre especificar a temperatura bem como a
unidade em que ela é expressa.
46
A viscosidade dinâmica exprime a medida das forças internas de
atrito do fluido e representa o coeficiente de proporcionalidade entre a
tensão de cisalhamento e o gradiente de velocidade. É simbolizada pela
letra grega m e tem dimensões da força por unidade de área.
As unidades mais usadas para a viscosidade dinâmica são o N s/m²,
para o SI, dyn s/m², que recebe o nome de poise (P), para o sistema
CGS, e kg.s/m² no sistema técnico. Para indicar a viscosidade de óleos
lubrificantes há uma escala arbitrária estabelecida pela Society of
Automotive Engineers (SAE). Os graus SAE são expressos por dezenas
inteiras, e o óleo mais fino, ou menos viscoso, é o de grau dez.
Para a água, o valor da viscosidade pode ser calculado pela fórmula
de Poiseville e Reynolds como:
0,0178
m= dyn × s / cm 2 ( poise) [5]
1 + 0,03368 T + 0,000221 T 2

0,000181
m= kgf × s / m 2 [6]
1 + 0,03368 T + 0,000221 T 2

Exemplo 3: Calcule a viscosidade de água a 20 oC no sistema


CGS.
m = 0,01009 poise, isto é, aproximadamente 1 centipoise.

1.5.7 Coeficiente de viscosidade cinemática


A relação entre a viscosidade e a massa específica é denominada de
coeficiente de viscosidade cinemática, simbolizada pela letra grega u.
m
u= [7]
r

47
As unidades mais utilizadas para a viscosidade cinemática são o Stoke
e o centiStoke para o sistema CGS, e m²/s para o sistema técnico. Para
a água, pode-se estimar a viscosidade cinemática pelas expressões:
1,78
u= x10 - 6 m 2 / s [8]
1 + 0 ,03368 T + 0, 000221 T 2

1,78
u= x10 -2 cm 2 / s ( Stokes ) [9]
1 + 0,03368 T + 0,000221 T 2
Para outras unidades de viscosidade, podem-se utilizar as seguintes
relações:

1 kgf.s/m2 = 98,1 poise


1 m2/s = 10 000 stokes
1 poise (P) = 100 cP = 0,0102 kgf.s/m2 = 1,0
dyn.s/cm² = 0,1 N s/m²
1 Stoke (St) = 0,0001 m2/s = 1 cm²/s
1 lb.s/ft² = 478,7 poises

1.5.8 Coesão e adesão


A coesão e a adesão são fenômenos de origem molecular devidos a
forças eletroquímicas que provocam a atração recíproca das moléculas.
Coesão é a propriedade que os líquidos têm de resistir a pequenos
esforços de tensão devidos à atração entre as partículas do líquido. A
forma da gota deve-se à coesão. Adesão é a propriedade que os líquidos
têm de se unir a outros corpos.
Para a água, a adesão é maior que a coesão, então a água molha o
vidro. Já para o mercúrio, a adesão é menor que a coesão e se diz que o
mercúrio não molha o vidro.

48
1.5.9 Tensão superficial (s)
Na superfície de um líquido em contato com o ar há a formação de
uma verdadeira película elástica. Isso é devido ao fato de a atração
entre as moléculas do líquido ser maior que a atração exercida pelo ar
sobre o líquido e ao fato de as moléculas superiores, atraídas para o
interior do líquido, tenderem a tornar a área da superfície mínima. Esse
fenômeno é devido à tensão superficial. O coeficiente de tensão
superficial (s) representa energia superficial por unidade de área. Na
Tabela 23 são apresentados os valores de tensão superficial de alguns
líquidos usados nos problemas de hidráulica.
No SI a tensão superficial é dada em N/m, no sistema CGS em dyn/
cm e no Sistema Técnico em kgf/m, sendo as relações entre elas
expressas por:
1 N/m = 1000 dyn/cm = 0,10197 kgf/m.

Tabela 23. Tensão superficial de alguns líquidos em contato com o ar


Líquido (temperatura) s - Tensão superficial (N/m)
Água (20 °C) 0,07275
Tetracloreto de carbono (20 °C) 0,02666
Mercúrio (20 °C) 0,513
Álcool (20 °C) 0,0255
Glicerina (20 °C) 0,634
Benzina (20°) 0,029
Hidrogênio (-257 °C) 0,003
Querosene (20 °C) 0,025
Oxigênio (-195 °C) 0,015
Óleo SAE 10 (20 °C) 0,037
Óleo SAE 30 (20 °C) 0,036

1.5.10 Capilaridade
A elevação de um líquido em tubos capilares (de pequeno diâmetro)
é devida à tensão superficial e depende das forças de adesão do líquido
às paredes do tubo e de coesão do líquido. A superfície do líquido se
eleva nos tubos capilares quando as forças de adesão são maiores que
49
a coesão (caso da água em tubos de vidro), formando uma superfície
côncava. Nesses casos, diz-se que o líquido molha as paredes. Quando
a coesão é maior que a adesão (caso do mercúrio em tubos de vidro), o
líquido não molha as paredes e a superfície tem o formato convexo,
decrescendo no tubo (Figura 2).

Figura 2. Ascensão e depressão capilar

Nos meios porosos, o fenômeno da capilaridade ocorre em


circunstâncias equivalentes, sendo responsável pela elevação da umidade
nos solos e em paredes de alvenaria.
A altura da ascensão ou depressão capilar pode ser calculada pela
fórmula:
4 s cos( a )
h= [10]
rg D
em que:

h = altura de ascensão ou depressão capilar (m);


s = tensão superficial (N/m);
a = ângulo de formado pela superfície do líquido com a parede de
tubo em contato com o ar (graus);
r = massa específica do líquido (kg/m3);
g = aceleração da gravidade (m/s²);
D = diâmetro do tubo (m).
50
É importante observar que:
- Em caso de duas placas separadas pela distância (D), a altura da
elevação capilar (h) é a metade do valor indicado na fórmula 10.
- Para ângulos (a) menores que 90o ocorre ascensão capilar, isto, é h
assume um valor positivo, e para valores do ângulo a maiores que 90o
ocorre depressão capilar, ou seja, h assume valores negativos.
- O valor do ângulo de contato (Figura 3) varia de acordo com a
interface do líquido com a superfície e a fase gasosa. Na Tabela 24 são
fornecidos alguns valores do ângulo de contato para diferentes
interfaces.

Figura 3. Ângulo de contato

Tabela 24. Valores do ângulo de contato (α) para diferentes interfaces


Interface α - Ângulo de contato (graus)
Água-ar-vidro 25,5
Mercúrio-ar-vidro 128,9
Água em contato com solos minerais 0
Álcool e vidro 0
Éter etílico e vidro 5a8
Água-ar-parafina 107
Água e prata 90
Exemplo 4: Calcular a elevação da coluna de água a 20oC em um
tubo de vidro com 1 mm de diâmetro.
4 s cos( a ) 4 × 0,0728 cos( 25,5)
h= = = 0,0268 m = 2,68 cm
rg D 998,23 × 9,80 × 0,001
51
Exemplo 5: Idem para mercúrio (s = 0,513 N/m)
4 s cos( a ) 4 × 0,513 cos(128,9)
h= = = -0,0097 m @ 1,0 cm
rg D 13600 × 9,80 × 0,001

Exemplo 6: Qual a altura de ascensão capilar de um solo mineral


com poros com diâmetro de 10 micra (0,001 cm) para a temperatura de
20oC?
4 s cos( a ) 4 × 0,0728 cos( 0)
h= = = 2,97 m
rg D 998,23 × 9,80 × 0,00001

1.5.11 Pressão de vapor


Representa a pressão parcial criada pelas moléculas de vapor em
espaço fechado. A pressão de vapor depende da temperatura e sobe
com o aumento da temperatura. Na hidráulica a determinação da
pressão de vapor tem importância na análise das condições de
funcionamento das bombas. A pressão de vapor para o ar saturado pode
ser estimada pela fórmula de Tétens:

æ 7,5 t ö
ç ÷
[11]
Pv = a 10è 237,3+ t ø
em que:
t = temperatura em oC;
a = constante que vale 0,61078 kPa; 6,1078 mb; 4,582 mmHg;
0,0088572 PSI;73,257 kgf/m²; 0,062286 mca; 0,0060278 atm; e
Pv = pressão de vapor na mesma unidade da constante a.
Na Tabela 25 são apresentados os valores de pressão de vapor para
diferentes valores de temperatura do ar, calculados com a equação 11.
Para a solução de problemas de escoamento de água, frequentemente
há necessidade de utilizar os valores de determinadas propriedades dos
líquidos e do ar. Nas Tabelas 26 a 28 são fornecidos os valores das

52
propriedades da água em diferentes temperaturas no Sistema
Internacional, no Sistema Técnico e no Sistema CGS respectivamente.

Tabela 25. Valores de pressão de saturação de vapor


Temperatura Pressão de saturação de vapor (Pv)
do ar (oC) kPa mb mmHg PSI kg/m² m.c.a. atm

0 0,611 6,108 4,582 0,089 62,296 0,0623 0,006


2 0,706 7,056 5,293 0,102 71,968 0,0720 0,007
4 0,813 8,132 6,101 0,118 82,944 0,0829 0,008
5 0,872 8,723 6,544 0,126 88,966 0,0890 0,009
6 0,935 9,351 7,015 0,136 95,371 0,0954 0,009
8 1,073 10,73 8,047 0,156 109,41 0,1094 0,011
10 1,228 12,28 9,212 0,178 125,24 0,1252 0,012
12 1,402 14,02 10,52 0,203 143,04 0,1430 0,014
14 1,598 15,98 11,99 0,232 163,04 0,1630 0,016
15 1,705 17,05 12,79 0,247 173,92 0,1739 0,017
16 1,818 18,18 13,64 0,264 185,44 0,1854 0,018
18 2,064 20,64 15,48 0,299 210,50 0,2105 0,020
20 2,338 23,38 17,54 0,339 238,47 0,2385 0,023
22 2,644 26,44 19,83 0,383 269,64 0,2696 0,026
24 2,984 29,84 22,38 0,433 304,31 0,3043 0,029
25 3,167 31,67 23,76 0,459 323,06 0,3231 0,031
26 3,361 33,61 25,21 0,487 342,81 0,3428 0,033
28 3,780 37,80 28,35 0,548 385,49 0,3855 0,037
30 4,243 42,43 31,83 0,615 432,72 0,4327 0,042
40 7,375 73,75 55,32 1,07 752,18 0,7522 0,073
50 12,34 123,35 92,54 1,79 1258,10 1,2581 0,122
60 19,93 199,30 149,51 2,89 2032,74 2,0327 0,197
70 31,21 312,11 234,14 4,53 3183,37 3,1834 0,308
80 47,52 475,16 356,46 6,89 4846,35 4,8464 0,469
90 70,50 705,04 528,91 10,22 7190,97 7,1910 0,696
100 101,33 1013,25 760,00 14,70 10333,00 10,33 1,000

53
Tabela 26. Propriedades físicas da água doce no Sistema Internacional considerando a pressão atmosférica
Tempe- Massa Peso Viscosidade Viscosidade Tensão Pressão de Módulo de Coeficiente de
ratura específica específico dinâmica cinemática superficial vapor (e) elasticidade compressi-
(oC) r(kg/m 3) g (N/m³) m(N s/m 2 ) u(m²/s) x10-6 (água com ar) (kN/m 2) e(N/m² x10 6) -bilidade
s (N/m) a(m²/N x 10-10)
0 999,87 9798,7 0,00178 1,781 0,0756 0,61 2020 4,95
2 999,97 9799,7 0,00167 1,666 - 0,70 - -
4 1000,00 9800,0 0,00156 1,558 0,0751 0,81 - -
5 999,99 9799,9 0,00152 1,518 0,0749 0,87 2060 4,85
6 999,97 9799,7 0,00147 1,471 - 0,93 - -
8 999,88 9798,8 0,00139 1,387 - 1,07 - -
10 999,73 9797,4 0,00131 1,307 0,0742 1,23 2100 4,76
12 999,52 9795,3 0,00124 1,240 - 1,40 - -

54
14 999,27 9792,8 0,00118 1,176 - 1,60 - -
15 999,13 9791,5 0,00114 1,140 0,0735 1,70 2140 4,67
16 998,97 9789,9 0,00112 1,117 - 1,82 - -
18 998,62 9786,5 0,00106 1,062 0,0730 2,06 - -
20 998,23 9782,7 0,00100 1,004 0,0728 2,34 2180 4,59
25 997,07 9771,3 0,00089 0,893 0,0720 3,16 2220 4,50
30 995,68 9757,7 0,00080 0,801 0,0712 4,24 2225 4,49
40 992,20 9723,6 0,00065 0,658 0,0696 7,37 2280 4,39
50 988,10 9683,4 0,00055 0,554 0,0679 12,32 2290 4,37
60 983,20 9635,4 0,00047 0,474 0,0662 19,90 2280 4,39
70 977,80 9582,4 0,00040 0,413 0,0644 31,17 2250 4,44
80 971,80 9523,6 0,00035 0,364 0,0626 47,46 2200 4,55
90 965,30 9459,9 0,00032 0,326 0,0608 70,41 2140 4,67
100 958,40 9392,3 0,00028 0,294 0,0589 101,3 2070 4,83
Tabela 27. Propriedades físicas da água doce no Sistema Técnico
Tempe- Massa Peso Viscosidade Viscosidade Tensão Pressão de Módulo de Coeficiente de
ratura específicar específico dinâmicam cinemática superficial vapor (e) elasticidade compressi-
(oC) r(kgf.s 2/m4) g (kgf/m³) m(kgf/m 2) u (m²/s) (água com ar) (kgf/m 2) e (kgf/m²x10 6) bilidade
s (kgf/m) a(m²/kgf x 10-9)
0 102,03 999,87 0,000181 0,00000177 0,00771 62,3 206,0 4,85
2 102,04 999,97 0,000169 0,00000166 - 72,0 - -
4 102,04 1000,00 0,000159 0,00000156 0,00766 82,9 - -
5 102,04 999,99 0,000154 0,00000151 - 89,0 210,1 4,76
6 102,04 999,97 0,000150 0,00000147 - 95,4 - -
8 102,03 999,88 0,000141 0,00000138 - 109,4 - -
10 102,01 999,73 0,000133 0,00000131 0,00757 125,2 214,1 4,67
12 101,99 999,52 0,000126 0,00000124 - 143,0 - -

55
14 101,97 999,27 0,000119 0,00000117 - 163,0 - -
15 101,95 999,13 0,000116 0,00000114 - 173,9 218,2 4,58
16 101,94 998,97 0,000113 0,00000111 - 185,4 - -
18 101,90 998,62 0,000108 0,00000106 0,00745 210,5 - -
20 101,86 998,23 0,000103 0,00000101 0,00743 238,5 222,3 4,50
25 101,74 997,07 0,000091 0,00000090 - 323,1 226,4 4,42
30 101,60 995,68 0,000082 0,00000081 0,00726 432,7 226,9 4,41
40 101,24 992,20 0,000067 0,00000066 0,00710 752,2 232,5 4,30
50 100,83 988,10 0,000056 0,00000055 0,00690 1258,1 233,5 4,28
60 100,33 983,20 0,000047 0,00000047 0,00676 2032,7 232,5 4,30
70 99,78 977,80 0,000041 0,00000041 0,00657 3183,4 229,4 4,36
80 99,16 971,80 0,000035 0,00000036 0,00638 4846,3 224,3 4,46
90 98,50 965,30 0,000031 0,00000032 0,00620 7191,0 218,2 4,58
100 97,80 958,40 0,000028 0,00000028 0,00601 10330,0 211,1 4,74
Tabela 28. Propriedades físicas da água doce no Sistema CGS
Tempe- Massa Peso Viscosidade Viscosidade Tensão Pressão de Módulo de Coeficiente de
ratura específica específico dinâmica cinemática superficial vapor (e) elasticidade compressi-
(oC) r(g/cm 3) g (dyn/cm³) m(poise) u (stokes) (água com ar) (mb) e (g/cm²x10 5) bilidade
s (din/cm) a(cm²/g x 10-8)
0 0,9999 980,47 0,017800 0,017802 75,56 6,11 206,0 4,85
2 1,0000 980,57 0,016663 0,016663 - 7,06 - -
4 1,0000 980,60 0,015638 0,015638 75,07 8,13 - -
5 1,0000 980,59 0,015163 0,015163 - 8,72 210,1 4,76
6 1,0000 980,57 0,014710 0,014711 - 9,35 - -
8 0,9999 980,48 0,013867 0,013869 - 10,73 - -
10 0,9997 980,34 0,013099 0,013102 74,19 12,28 214,1 4,67
12 0,9995 980,13 0,012396 0,012402 - 14,02 - -

56
14 0,9993 979,88 0,011750 0,011759 - 15,98 - -
15 0,9991 979,75 0,011447 0,011457 - 17,05 218,2 4,58
16 0,9990 979,59 0,011157 0,011168 - 18,18 - -
18 0,9986 979,25 0,010609 0,010624 73,05 20,64 - -
20 0,9982 978,86 0,010102 0,010120 72,81 23,38 222,3 4,50
25 0,9971 977,73 0,008989 0,009016 - 31,67 226,4 4,42
30 0,9957 976,36 0,008057 0,008092 71,15 42,43 226,9 4,41
40 0,9922 972,95 0,006591 0,006642 69,58 73,75 232,5 4,30
50 0,9881 968,93 0,005500 0,005566 67,62 123,35 233,5 4,28
60 0,9832 964,13 0,004664 0,004744 66,25 199,30 232,5 4,30
70 0,9778 958,83 0,004009 0,004100 - 312,11 229,4 4,36
80 0,9718 952,95 0,003484 0,003585 62,52 475,16 224,3 4,46
90 0,9653 946,57 0,003058 0,003168 - 705,04 218,2 4,58
100 0,9584 939,81 0,002706 0,002823 58,9 1013,25 211,1 4,74
Na Tabela 29 são fornecidos os valores da pressão atmosférica
em diferentes altitudes, calculadas de acordo com a equação 11. Na
Tabela 30 são fornecidos os valores de algumas propriedades físicas do
ar à pressão atmosférica.
Tabela 29. Variação da pressão atmosférica com a altitude
Altitude (m) Pressão atmosférica
atm kg/cm² m.c.a. mb mmHg
0 1,000 1,033 10,332 1013 760
100 0,990 1,022 10,224 1002 752
200 0,979 1,012 10,117 992 744
300 0,969 1,001 10,009 981 736
400 0,958 0,990 9,902 971 728
500 0,948 0,979 9,794 960 720
600 0,938 0,969 9,686 950 713
700 0,927 0,958 9,579 939 705
800 0,917 0,947 9,471 929 697
900 0,906 0,936 9,364 918 689
1000 0,896 0,926 9,256 908 681
1500 0,844 0,872 8,718 855 641
2000 0,792 0,818 8,180 802 602
2500 0,740 0,764 7,642 749 562
3000 0,688 0,710 7,104 697 523

Tabela 30. Propriedades físicas do ar considerando à pressão atmosférica


padrão no SI
Tempe- Massa Peso Viscosidade Viscosidade
ratura específica específico u (N.s/m) cinemática
T (oC) r (kg/m³) g (N/m³) (m²/s)
-40 1,515 14,86 1,49 0,98
-20 1,395 13,68 1,61 1,15
0 1,293 12,68 1,71 1,32
10 1,248 12,24 1,76 1,41
20 1,205 11,82 1,81 1,50
30 1,165 11,43 1,86 1,60
40 1,128 11,06 1,90 1,68
60 1,060 10,40 2,00 1,87
80 1,000 9,81 2,09 2,09
100 0,946 9,28 2,18 2,31
200 0,747 7,33 2,58 3,45
Fonte: Delleur (1995).

57
2 Hidrostática
É o ramo da Hidráulica que estuda os líquidos em repouso e os
esforços exercidos pelos líquidos sobre as estruturas submersas.

2.1 Conceitos fundamentais da Hidrostática


Pressão: Denomina-se de pressão que um líquido exerce sobre uma
superfície o quociente entre a intensidade da força que o líquido exerce
sobre a unidade e a área dessa superfície. É representada pela fórmula:
F
p= [12]
A
em que:
p = pressão;
F = força;
A = área da superfície.
Para o caso de líquidos sujeitos ao campo da gravidade, isto é, sob a
ação de seu peso, pode-se demonstrar que a equação fundamental de
hidrostática é:
dp = -r g dz = - g dz [13]

Empuxo (E): é a força exercida por um fluido sobre um corpo quando


este se encontra imerso no fluido, total ou parcialmente.

58
Lei de Pascal: De acordo com
a Lei de Pascal, “em qualquer
ponto no interior de um líquido em
equilíbrio a pressão é a mesma em
todos os sentidos” (Figura 4). A
importância da lei de Pascal está
na comunicabilidade das pressões
entre os pontos de uma massa
líquida. Além disso, ela tem
Figura 4. Ilustração da lei de Pascal
aplicações práticas nas prensas,
nos elevadores e nos freios hidráulicos.
Princípio de Arquimedes:
“Todo corpo mergulhado, total ou
parcialmente, num fluido em
repouso recebe um empuxo, de
baixo para cima, de intensidade
igual ao peso do fluido deslocado.”
Com o corpo em equilíbrio, as
intensidades do empuxo e do peso
do corpo são iguais (Figura 5), isto
é:

Figura 5. Ilustração do princípio de


Arquimedes

E = P = mVg [14]
em que:
E = empuxo;
P = peso;
m = massa específica do líquido;
V = volume do líquido deslocado;
g = aceleração da gravidade.

59
Lei de Stevin
Segundo a lei de Stevin, “num líquido em repouso, a diferença
de pressão entre dois pontos da massa líquida é igual à diferença de
profundidade entre esses pontos multiplicada pelo peso específico do
líquido”, conforme representado na Figura 6.

Figura 6. Ilustração da lei de Stevin

Em que:
P2 = pressão no ponto 2;
P1 = pressão no ponto 1;
h2 = profundidade do ponto 2; [15]
h1 = profundidade do ponto 1;
g = peso específico do líquido;
P2 - P1 = g (h2-h1).

Aplicando o teorema acima para um ponto 2 na profundidade h2 e


um ponto 1 na superfície sob a pressão atmosférica, temos:
P2 - Pa = g h2 [16]

em que:
Pa = pressão atmosférica.
60
2.2 Escala de pressões
A pressão na superfície de um líquido é exercida pelos gases que se
encontram acima, geralmente a pressão atmosférica.

Levando-se em conta a pressão atmosférica, tem-se:


P1 = Pa + y h1 [17]
P2 = P1 + y (h2-h1) = Pa + y h2 [18]

Na maioria das aplicações relativas a pressões, na Hidráulica o que


interessa conhecer é a diferença de pressões, e nesse caso a pressão
atmosférica não precisa ser considerada, pois age igualmente em todos
os sentidos (Figura 7). Na solução de problemas hidráulicos, a pressão
pode ser expressa como:

Figura 7. Atuação da pressão atmosférica

Pressão absoluta: é dada pela soma da pressão atmosférica com a


pressão hidrostática, isto é:
Pressão absoluta = Pa + g h.
A pressão absoluta zero corresponde ao vácuo perfeito, não existindo
valores negativos de pressão absoluta.

61
Pressão relativa: é a pressão cuja referência é a pressão atmosférica
local, isto é:
Pressão relativa = g h.
A pressão relativa de zero corresponde à pressão atmosférica local,
podendo ter valores negativos (se P < Pa) ou positivos (P > Pa).

Pressão hidrostática: é a pressão representada por uma altura (h)


de líquido correspondente, pois:
p
p=ghÞh= [19]
g
A altura (P/g) é chamada de altura piezométrica, ou carga
piezométrica, e corresponde à altura de uma coluna líquida, de peso
específico (g), capaz de equilibrar a pressão P (Figura 8).

Figura 8. Representação da pressão como altura de coluna líquida

62
De acordo com a experiência de Torricelli, o valor da pressão
atmosférica é de 101,234 kN/m2, e essa pressão pode ser expressa por:

p 101234 N / m 2
h= = = 10 ,33 m de coluna d’água (10,33
g 9800 N / m 3
m.c.a.), ou

p 101234 N / m 2
h= = = 0 , 760 m de coluna de mercúrio (760
g 133280 N / m 3
mmHg)

Essa é a atmosfera física ou atmosfera normal (AN), que equilibra


com a coluna de altura equivalente a 10,33 m de água ou de 760 mm de
mercúrio.
1 AN = 10330 kgf/m² = 1,033 kg/cm² = 101,234 kPa = 1013,25 mb =
10,33 mca = 760 mmHg
Para simplificar, é costume adotar a atmosfera técnica (atm).
1 atm = 10000 kgf/m² = 1,0 kg/cm² = 101 kPa = 1000 mb = 10 mca.
Para conversões de unidades de pressão, consulte a Tabela 17.

2.3 Aplicações da equação fundamental de


hidrostática
• Nível hidrostático. O nível da superfície do líquido homogêneo,
numa série de vasos comunicantes, é o mesmo em todos eles (Figura 9).

Figura 9. Ilustração do nível hidrostático em vasos comunicantes

63
• Paradoxo hidrostático. O esforço total exercido por um líquido
sobre o fundo plano de um recipiente é igual ao peso da coluna líquida
de base igual à superfície do fundo, e a altura igual à do líquido,
independendo da forma do recipiente e do peso do líquido (Figura 10).

Figura 10. Paradoxo hidrostático

• Prensa hidráulica. É um exemplo corrente de aplicação do princípio


fundamental da hidrostática, de larga aplicação na prática para o
levantamento de grandes cargas com aplicação de pequeno esforço
(Figura 11).

Figura 11. Ilustração do funcionamento de prensa hidráulica

A 2
W 2 = W1
A1 [20]
em que:
W2 = força transmitida no êmbolo maior (N);
W1 = força aplicada no êmbolo menor (N);
A2 = área da superfície do êmbolo maior;
A1 = área da superfície do êmbolo menor.

64
Exemplo 7. Uma prensa hidráulica possui os êmbolos de 4 e 15 cm
de diâmetro. Se for aplicada uma força de 120 N no êmbolo menor,
calcule a força transmitida ao êmbolo maior.

p 42
A1 = = 12,57 cm 2
4

p 15 2
A2 = = 176 , 71 cm 2
4

A2 176 , 71
W 2 = W1 = 120 = 1687 ,5 N
A1 12 ,57

• Vasos comunicantes. Contendo líquidos não miscíveis, de


densidades diferentes, têm altura dos líquidos acima da superfície de
separação inversamente proporcional à sua densidade (Figura 12).

Figura 12. Altura de líquidos com densidades diferentes

2.4 Manometria
O conhecimento das pressões no interior de tubulações é importante
para o controle da vazão, o funcionamento dos equipamentos como
aspersores ou de um conjunto motobomba, como também para calcular
o esforço exercido sobre as paredes da tubulação. A pressão pode ser
medida com aparelhos chamados de manômetros, ou, no caso de
pressão negativa, vacuômetros. Entre os tipos de manômetros mais
usados destacam-se os metálicos, os aneroides, e os de coluna líquida,
ou piezômetros. O manômetro metálico mais comum é o manômetro
de Bourdon.
65
2.4.1 Manômetro de Bourdon
No comércio se encontram manômetros metálicos (Figura 13) com
capacidade de operar em diferentes amplitudes de pressão. Apresentam
como vantagens a instalação fácil e a permissão da leitura direta em
um mostrador. No entanto, podem sofrer deformações permanentes e,
por isso, apresentam baixa precisão.

Figura 13. Manômetro de Bourdon

2.4.2 Piezômetro
Também chamado de tubo piezométrico ou manômetro aberto
(Figura 14), é a forma mais simples de manômetro. Consiste da inserção
de um tubo transparente na canalização ou no recipiente onde se quer
medir a pressão. O líquido subirá no tubo piezométrico a uma altura (h)
correspondente à pressão interna. Nos tubos com diâmetro igual ou
superior a 1 cm o efeito da capilaridade é desprezível.
66
Figura 14. Piezômetro

2.4.3 Tubo em U
É utilizado para medir pressões muito pequenas ou muito grandes
para os piezômetros. O líquido utilizado para indicar a altura da pressão
é chamado de líquido indicador e deve ter como características
principais: apresentar densidade bem definida e formar menisco bem
visível com o líquido para medir pequenas pressões. Geralmente,
emprega-se como líquidos indicadores água, tetracloreto de carbono
ou benzina. Quando o problema é medir pressões elevadas, usa-se o
mercúrio como líquido indicador.
Para obter a expressão geral da pressão em um ponto ou da
diferença de pressões entre dois pontos, no caso dos manômetros
diferenciais, parte-se de uma extremidade para a outra, iniciando com
a pressão em um ponto e somando (se o ponto estiver abaixo) ou
subtraindo (se o ponto estiver acima) as pressões relativas das colunas
onde existir uma separação de líquidos (Figura 15).

67
Figura 15. Tubo em U

2.4.4 Manômetros diferenciais


São indicados para medir a diferença de pressão entre duas
tubulações, conforme mostra a Figura 16.

Figura 16. Manômetro diferencial


68
2.4.5 Manômetro de tubo inclinado
Indicado para medir pequenas pressões. Nele se obtém uma escala
ampliada de leitura (Figura 17). Emprega-se a fórmula
PA = g h = seno (q) L [21]
em que:
PA é a pressão no centro da tubulação (ponto A);
q é o ângulo de inclinação do tubo;
L é a leitura na escala (m); e
g é o peso específico do líquido.

Figura 17. Manômetros de tubo inclinado

Exemplo 8. Calcular a pressão no interior da tubulação da Figura 18.

Figura 18. Ilustração


do exemplo 8

PA = h2g 2 - h1g 1

PA = 0,54m × 133280N / m ² - 0,28m × 9800 N / m ²


PA = 69227,2 N / m ² = 7064kgf / m ²

69
Exemplo 9. Calcular a pressão no interior da tubulação da Figura 19,
sendo o líquido indicador a benzina (gm = 6762 N/m³).

Figura 19. Ilustração do exemplo 9

Exemplo 10: Calcular a perda de pressão na tubulação da Figura 20.

Figura 20. Ilustração do exemplo 10

PA – z gágua -0,348 m gHg + (0,348 + z) gágua = PB


PA – PB = 0,348m 133280 N/m³ - 0,348 m 9800 N/m³
PA – PB = 42 971 N/m²
70
Exemplo 11. Calcular a perda de pressão entre os pontos A e B da
tubulação da Figura 21, considerando o tetracloreto de carbono (g =
15582 N/m³) como líquido indicador.

Figura 21. Ilustração do exemplo 11

PA - (1,5 + 0,4 + 0,6)m × g água + 0,6m × g m + 0,4m × g água = PB

PA - PB = 2,5m × 9800N / m³ - 0,6m × 15582N / m³ - 0,4m × 9800N / m³

PA - PB = 11230,8 N / m ²

71
3 Equilíbrio relativo
Um líquido está em equilíbrio relativo quando suas partículas,
embora em movimento, se encontram em repouso umas em relação
às outras, e em relação às paredes do recipiente que o contém. É o
caso do líquido dentro de um tanque transportado por um caminhão.

3.1 Movimento uniformemente acelerado sobre um


plano horizontal
Pode-se demonstrar que a superfície de nível tem inclinação
constante de ângulo (q) em relação à horizontal (Figura 22), e se usa a
fórmula seguinte:
a
tg q = [22]
g
em que:
a = aceleração (m/s2);
g = aceleração da gravidade (m/s2).

Figura 22.
Representação da
superfície de nível
sobre plano
horizontal
72
Exemplo 12: Calcular a altura da água em cada extremidade de um
tanque com 3 m de comprimento, 2 m de largura e 2,5 m de altura
contendo 1,8 m de água (Figura 23), se ele é movimentado com
aceleração de 1,5 m/s2. Aplica-se esta fórmula:
a 1,5
tg q = = = 0 ,153
g 9 ,8
em que:
h1 = 1,8 + 1,5 tg (q) = 1,8 + 0,23 = 2,03 m;
h2 = 1,8 – 1,5 tg (q) = 1,8 – 0,23 = 1,57 m.

Figura 23. Ilustração do exemplo 12

3.2 Movimento uniformemente acelerado sobre um


plano inclinado
No caso de plano inclinado (Figura 24), a inclinação da superfície do
nível do líquido (q) é dada por:
a cos a
tg q = [23]
a sen a + g
em que:
q = ângulo de inclinação da superfície de nível do líquido (o);
a = aceleração (m/s²);
g = aceleração da gravidade (m/s²);
a = ângulo de inclinação da superfície (o).

73
Figura 24. Representação da superfície de nível sobre plano inclinado

Exemplo 13: Um recipiente aberto é acelerado num plano inclinado


de 12o a 3,8 m/s². Qual a inclinação da superfície da água?
a cos a 3,8 cos(12 )
tgq = = = 0,35 à q = 19,3o
asen a + g 3,8sen (12) + 9,8

3.3 Movimento vertical


Para o movimento vertical (Figura 25), a pressão em qualquer ponto
do líquido é dada por:

æ aö
P = g h çç 1 ± ÷÷ [24]
è gø

em que:
P = pressão (N/m³);
g = peso específico do líquido (N/m³);
h = altura da coluna de líquido (m);
a = aceleração do movimento (m/s²);
g = aceleração da gravidade (m/s²).

O sinal positivo é usado para movimento ascendente, e o sinal


negativo para o descendente.

74
Figura 25. Representação do movimento vertical

Exemplo 14. Um tambor de 80 cm de diâmetro e 1,2 m de altura


contendo óleo de densidade 0,86 é elevado verticalmente (a = 2,8 m/
s²). Comparar a pressão total exercida no fundo do tanque com a pressão
do recipiente em repouso.
Em repouso:
P = g h = 0,86 × 9800 N / m 3 × 1,2 m = 10113,6 N / m 2

Em movimento ascendente:
æ aö æ 2,8 ö
P = g hçç1 + ÷÷ = 0,86 × 9800 N / m 3 × 1,2mç1 + ÷ = 13003,2 N / m 2
è g ø è 9,8 ø
No movimento ascendente há um aumento da pressão da ordem de
2889,6 N/m².

3.4 Pressão exercida pelos líquidos em repouso


Nos projetos de estruturas que devem resistir a pressões exercidas
pelos líquidos, como nos projetos de comportas, barragens, canalizações,
etc., deve-se conhecer a grandeza e o centro do empuxo.
A pressão total exercida pelo líquido sobre uma superfície de área
(A) é dada por:
P = g hg A [25]

75
em que:
P = pressão total ou empuxo (N/m2);
g = peso específico do líquido (N/m3);
hg = profundidade do centro de gravidade em relação à superfície
(m);
A = área da superfície (m2);
Empuxo é a força resultante da pressão hidrostática sobre uma
superfície plana imersa no líquido. É dado pelo produto da área pela
pressão relativa ao centro de gravidade da área. O empuxo exercido
sobre uma superfície plana e imersa é perpendicular a essa superfície.

3.5 Centro de pressão ou de empuxo


É o ponto de aplicação da pressão total (P) que atua sobre as
superfícies. Nas superfícies planas e horizontais, o centro de pressão
coincide com o centro de gravidade, mas se a superfície é horizontal ou
inclinada, o centro de pressão está sempre abaixo do centro de
gravidade (Figura 26) com estas equivalências:
XOM = plano da superfície livre do líquido;
XOY = plano que contém a superfície de área A;
a = ângulo de inclinação entre os planos XOM e XOY;
Cg = centro de gravidade da figura;
Cp = centro de pressão da figura;
A = área da superfície da figura;
hp = profundidade do centro de pressão (Cp) em relação à superfície
livre do líquido;
hg = profundidade do centro de gravidade (Cg) em relação à superfície
livre do líquido;
yp = profundidade do centro de pressão (Cp) em relação à reta OX;
yg = profundidade do centro de gravidade (Cg) em relação à reta OX;
Io = momento de inércia da área (A) em relação ao eixo baricêntrico
paralelo à OX.

76
Figura 26. Representação do centro de pressão e do centro de gravidade de superfícies
imersas

A profundidade do centro de pressão em relação ao eixo OX pode


ser calculada pela fórmula:
IO
yP = yg + [26]
A yg
em que:
yP = profundidade do centro de pressão em relação ao eixo OX (m);
yg = profundidade do centro de gravidade em relação ao eixo OX
(m);
IO = momento de inércia que passa pelo centro de gravidade (m4);
A = área da figura (m2).

Considerando a superfície livre do líquido, a profundidade do centro


de pressão pode ser calculada por:
Io
hP = hg + (sen( a )) 2 [27]
A hg

Se os planos da superfície de área (A) forem verticais, teremos:

77
a = 90° ¨sen(a) = 1¨hp = yp
Também se pode demonstrar que, para o caso de a superfície estar
em um plano horizontal, a profundidade do centro de pressão coincide
com a profundidade do centro de gravidade, pois:
a = 0 ¨sen(a) = 0¨hp = hg
Para os demais casos (0° < a £ 90°), o centro de pressão se localiza
abaixo do centro de gravidade, isto é: hp > hg.
Para o cálculo da área, do centro de gravidade e do momento de
inércia das principais figuras geométricas, pode-se utilizar a Tabela 31.

Tabela 31. Momento de inércia e centro de gravidade para figuras


geométricas
Momento de Distância do centro de
Área da
Formato Figura inércia gravidade ao bordo
figura (A)
(Io) superior da figura (hg)

bd 3 d
Retângulo Io = A = bd hg =
12 2

bd 3 bd 2d
Io = A= hg =
36 2 3
Triângulo

bd 3 bd d
Io = A= hg =
36 2 3

pd 2
pd 4 A= hg =
d
Círculo Io = 4
64 2
(Continua)

78
(Continuação)
Momento de Distância do centro de
Área da
Formato Figura inércia gravidade ao bordo superior da
figura (A)
(Io) figura (hg)
pd 2
I o = 0 , 00686 d 4 A =
8 hg = 0 , 2144 d

Semicírculo
pd 2
I o = 0 , 00686 d 4 A =
8 hg = 0 , 2878 d

p a 3b A=p ab
Elipse Io = hg = a
4

Io =
(B 2
+ 4 Bb + b 2 ) d 3(B + b )
A = d d (2B + b)
Trapézio B+b 36 2 hg =
3 (B + b )

I =
(B 2
A=
)
+ 4 Bb + b 2 (Bd+ 3b )
d d (B + 2 b)
Trapézio o
B + b 2
36 hg =
3 (B + b)

8 2bd 3
Io = b d3 A = hg = d
Parábola 3
175 5

2bd
8 A = 2
Parábola Io = b d3 3 hg = d
175 5

8 2bd 3
Meia A =
Io = b d3 3 hg d
parábola 175 5

79
Exemplo 15: Determinar a pressão e a profundidade do centro de
pressão numa comporta de 1,4 m de largura e 1,8 de altura colocada
perpendicularmente numa barragem de modo que o topo da comporta
fique a 6 m abaixo da superfície (Figura 27).

Figura 27. Ilustração do exemplo 15

bd 3 1,4x1,83
Io = = = 0,6804 m4
12 12
A = 1,8 x 1,4 = 2,52 m²
a = 90°
d 1,8
h g = 6,0 + = 6,0 + = 6,0 + 0,9 = 6,9 m
2 2
P = g hg A = 9800 N/m³ 6,9 m 2,52 m² = 170402,4 N = 170,04 kN
Io 0,6804
yp = yg + = 6,9 + = 6,939 m
A yg 2,52 × 6,9
Nesse caso: a = 90° hp = yp = 6,939 m.

80
Exemplo 16: Determinar a pressão e o centro de pressão para uma
comporta circular com 50 cm de diâmetro colocada verticalmente numa
barragem com 8 m de água sobre o topo da comporta (Figura 28).

Figura 28. Ilustração do exemplo 16.

pd 4 p(0,5) 4
Io = = = 0,049 m4
64 64
pd 2 p (0,5) 2
A= = = 0,1963 m²
4 4
a = 90°
yg = hg = 8,0+0,25 = 8,25 m
P = g hG A = 9800 N/m³ x 8,25 m x 0,1963 m² = 15 874,8 N

Io 0,049 m 4
y P = yg + = 8,25 m + = 8,28 m
A hg 0,1963 m 8,25 m 2

Nesse caso: a = 90° hp = yp = 8,28 m.

Exemplo 17. Calcular o esforço exercido pela água sobre uma


comporta retangular de 1,5 m de largura e 2,0 m de altura colocada
inclinada em 45 ° numa barragem de modo que a superfície da água

81
esteja a 3 m de profundidade da borda superior da comporta (Figura
29). Calcular também a profundidade do centro de pressão.

Figura 29. Ilustração do exemplo 17

A = b d = 1,5 m2 m = 3 m²

bd 3 1,5 × ( 2,0) 3
Io = = = 1,0 m4
12 12
a = 45°
2,0
hg = 3,0 + sen(45) = 3,0 + 0,707 = 3,707 m
2,0
3,0
yg = + 1 = 5,243 m
sen ( 45)

Io 1,0 m 4
y p = yg + = 5,243 m + = 5,306 m
A yg 3,0 m 2 5,243m

Io 1,0 m 4
h p = hg + sen 2 (a ) = 3,707 m + sen 2 ( 45 ) = 5,752 m
A hg 3,707 m 2 5, 243 m

82
3.6 Dimensionamento de barragens de gravidade
Nas barragens de gravidade, é o peso da estrutura que deve resistir
às forças de tombamento. Considerando a barragem triangular da Figura
30, a resultante das forças F e W deve cair no terço médio da base.
Assim, pode-se escrever:
h b
F =W [28]
3 3
Para a largura unitária de 1 m, pode-se escrever:
h
F = g hG A = g a h ×1 [29]
2
b×h
W = 1× gb [30]
2
Substituindo as equações 29 e 30 pela equação 28, tem-se:
ga
b= h [31]
gb

em que:
b = largura da base da barragem (m);
h = altura da barragem (m);
ga = peso específico do líquido representado na barragem (N/m³) ;
gb = peso específico da barragem (N/m³).

Figura 30. Barragem de gravidade

83
A equação 31 é válida para outros modelos de barragem, conforme
a Figura 31.

Figura 31. Perfis de barragem por gravidade estáveis

Exemplo 18. Calcular a espessura da base de uma barragem


triangular a ser construída em terra compactada (g = 18 130 N/m³) com
a altura do nível da água de 3 m.
Exemplo 19. Para uma barragem construída com material de
densidade 1,85, com talude 1:1 (Figura 32), e sabendo-se que essa
barragem tem 8 m de profundidade de água e 40 m de largura, pede-se:
a) calcular a pressão exercida pela água sobre a barragem;
b) calcular a profundidade do centro de aplicação;
c) definir a espessura mínima da barragem para ser considerada
barragem de gravidade.

Figura 32. Ilustração do exemplo 19

84
a) A área da seção molhada (para talude de 1:1):
8m
A = × 40 m = 11 , 314 m × 40 m = 452 , 55 m 2
sen( 45 )

F = g h G A = 9800 N/m³ 4 m 452,55 m² =17 739,89 kN

40 × (11,314 ) 3
b) Io = = 4827 ,18 m4
12
hg = 4,0 m
4 ,0 4,0
yg = = = 5 , 6568 m
sen( a ) sen( 45 )

Io 4827 ,18 m 4
yp = yg + = 5,6568 + = 7,5424 m
A yg 452,55 m 2 5,6568 m

Io 4827 ,18 m 4
hp = hg + sen 2 ( 45 ) = 4 ,0 + = 5 ,333 m
A hg 452 ,55 m 2 4 , 0 m
Observe que hp = 2/3 h.

ga 9800
b=h 8 = 5,88 m
c) gb = 1,85 × 9800

85
4 Hidrodinâmica
Hidrodinâmica é o ramo da hidráulica que estuda os líquidos em
movimento. Denomina-se de vazão ou descarga (Q) numa determinada
seção o volume de líquido que atravessa essa seção na unidade de
tempo.
volume
Q= [32]
tempo
Normalmente, a vazão é dada em metros cúbicos por segundo (m³/
s). No caso de vazões pequenas, é comum expressar a vazão em litros
por segundo (L/s). Para outras unidades podem-se converter as vazões
equivalentes utilizando-se as Tabelas 10 a 12.

4.1 Classificação dos movimentos


Os movimentos dos líquidos estão classificados:
Ö em relação ao tempo:
o movimento permanente;
o movimento não permanente ou transitório;

Ö em relação ao espaço:
o movimento uniforme;
o movimento não uniforme ou variado.

86
No movimento permanente, as características dos líquidos (força,
pressão, velocidade) para cada ponto permanecem constantes e
independem do tempo, isto é,
¶V ¶P ¶r
=0 =0 =0
¶t ¶t ¶t
em que:
¶ é o símbolo para a derivada representando a variação;
V é a velocidade;
P é a pressão;
r é a massa;
t é o tempo.
No movimento transitório as características do líquido variam de
instante para instante em cada ponto, isto é, são funções do tempo.
¶V ¶P ¶r
¹0 ¹0 ¹0
¶t ¶t ¶t
O movimento é permanente e uniforme quando a velocidade média
permanece constante ao longo da corrente.

¶V
=0
¶L
em que:
V = velocidade;
L = distância.

No movimento permanente não uniforme os pontos podem ser


acelerados ou retardados.
¶V
> 0 movimento não uniforme acelerado
¶L

87
¶V
< 0 movimento não uniforme retardado
¶L
O movimento de um rio serve de exemplo:

a) Nos trechos regulares do rio (Figura 33), o movimento pode ser


considerado permanente uniforme.

Figura 33. Ilustração do escoamento permanente uniforme

b) Nos trechos em que o rio se estreita ou forma correnteza (Figura


34), o movimento se torna permanente acelerado (permanente porque
a vazão é constante).

Figura 34. Ilustração do escoamento permanente acelerado

88
c) Quando ocorre enchente, o movimento é transitório porque a
vazão varia com o tempo. Outros exemplos:
Ö Se a água escoa por um conduto longo, de seção constante e carga
constante (Figura 35), o regime é dito permanente uniforme.

Figura 35. Escoamento permanente uniforme

Ö Se a água escoa com seção constante de carga decrescente (Figura


36), o regime é variado.

Figura 36. Escoamento variado

89
Ö Se a água escoa em conduto com seção crescente e vazão
constante (Figura 37), o regime é permanente não uniforme.
Q1 = Q2 à S1 < S2 à V1> V2

Figura 37. Escoamento permanente não uniforme

4.2 Regimes de escoamento


Considerando as trajetórias seguidas pelas partículas do líquido,
podemos classificar os regimes de escoamento em:

Regime laminar: quando as trajetórias das partículas são bem


definidas e não se cruzam (Figura 38).

Figura 38. Ilustração do regime laminar

Regime turbulento: quando as partículas se movem desordena-


damente (Figura 39).

90
Figura 39. Ilustração do regime turbulento

Em um líquido em movimento, consideram-se linhas de corrente as


linhas orientadas segundo a velocidade do líquido, que gozam da
propriedade de não serem atravessadas por partículas do fluido. As linhas
de corrente também podem ser chamadas de linhas de fluxo ou linhas
de escoamento. Quando o regime de escoamento é permanente, a linha
de corrente é a trajetória de uma partícula individual do fluido.
No regime laminar, consideram-se as linhas de corrente, orientadas
segundo a velocidade do líquido, que têm a propriedade de não ser
atravessadas pelas outras. Um conjunto constituído de linhas de corrente
recebe o nome de Tubo de Corrente. É uma figura imaginária limitada
por linhas de corrente (Figura 40).

Figura 40. Ilustração de tubos de corrente

4.3 Condutos hidráulicos


Com base na pressão reinante nos condutos hidráulicos, estes podem
ser classificados em:

91
Condutos forçados: aqueles em que a pressão interna é diferente
da pressão atmosférica. Nesta categoria de condutos, as seções
transversais são sempre fechadas e o fluido os enche completamente.
O movimento pode efetuar-se em ambos os sentidos do conduto (Figura
41). As tubulações de recalque e sucção das instalações de bombas, as
redes de abastecimento de água, as instalações hidráulicas prediais e os
sistemas de irrigação são exemplos de condutos forçados.

Figura 41. Ilustração de condutos forçados

Condutos livres: são aqueles em que o líquido circulante apresenta


a superfície livre sobre a qual reina a pressão atmosférica. A seção
transversal não tem necessariamente o perímetro fechado; quando isso
acontece, funciona parcialmente cheia. O movimento se faz no sentido
decrescente das cotas topográficas (Figura 42). A rede de drenagem
pluvial, os canais de irrigação e as redes de coleta de esgoto geralmente
funcionam como condutos livres.

Figura 42. Ilustração de condutos livres


92
4.4 Equação da continuidade
Admitindo que um líquido seja incompressível e que seu peso
específico seja constante em todos os pontos, a quantidade de líquido
que entra na seção 1 do tubo de corrente (Figura 43) é igual à que sai na
seção 2.

Figura 43. Ilustração da equação da continuidade

A vazão em ambas as seções também é igual e seu valor é dado por:


Q = S1 V1 = S2 V2 ou Q = S V [33]

em que:
Q = vazão (m3/s);
V = velocidade média na seção (m/s);
S = área da seção de escoamento (m2).

Exemplo 20. Calcular a vazão de um canal retangular com largura


de fundo de 1,5 m com 80 cm de profundidade da água no canal para a
velocidade de escoamento da água de 0,75 m/s.
S = 1,5 m . 0,8 m = 1,2 m²
Q = 1,2 m² . 0,75 m/s = 0,9 m³/s.

Exemplo 21. Calcular a velocidade de escoamento da água numa


tubulação de 150 mm de diâmetro com vazão de 25 L/s.
pD 2 p ( 0 ,15 ) 2
S= = = 0 , 01767 m 2
4 4

93
Q 0,025 m 3 / s
Q = SV Þ V = = = 1,41m / s
S 0,01767m 2
Exemplo 22. Qual o diâmetro de uma tubulação para a vazão
de 12 L/s se a velocidade máxima da água no conduto deve ser
de 1,5 m/s?

pD 2 4Q 4 x 0,012
Q= VÞD= = = 0,100 m = 100 mm
4 pV p x1,5

4.5 Teorema de Bernoulli


Definição: “Ao longo de qualquer linha de corrente, é constante a
soma das energias cinética, piezométrica e de posição”.
Este teorema é uma extensão do princípio da conservação da
energia:

V2
a) energia de velocidade ou energia cinética: (m)
2g
em que:
V = velocidade de escoamento do líquido (m/s);
g = aceleração da gravidade (m/s²).
p
b) energia de pressão ou energia piezométrica: g (m);

em que:
P = pressão do líquido (kgf/m²);
g = peso específico do líquido (kgf/m³).

c) energia de posição ou energia potencial: z (m);

94
em que:
z = altura em relação a um plano de referência (m).

Essas grandezas lineares são denominadas de carga, e sua soma


chama-se carga total (H):
z + p/g + v2/2g = H [34]

Consideremos o seguinte tubo de corrente (Figura 44):

Figura 44. Ilustração do teorema de Bernoulli

V12 p V2 p
+ 1 + z1 = 2 + 2 + z 2 = constante [35]
2g g 2g g

Desse teorema se conclui que:


Ö Aumentando a energia cinética (pela diminuição de seção), a
energia de pressão diminui (e vice-versa).

95
Ö Diminuindo a altura (energia potencial z), aumenta a energia de
pressão (e vice-versa).
A água não é um liquido perfeito e ocorrem perdas de energia (perdas
de carga) ao longo do tubo em consequência das forças de atritos e de
sua viscosidade. Para compensar essas perdas de carga, foi introduzido
um termo corretivo, denominado hf (Figura 45), na equação de Bernoulli,
passando a ser expressa por:

V12 p1 V22 p 2
+ + z1 = + + z 2 + hf [36]
2g g 2g g

Figura 45. Representação da perda de carga

Exemplo 23. Considere uma tubulação de 150 mm de diâmetro


escoando livremente com a vazão de 16 L/s conforme a Figura 46.
Calcule as energias cinética, piezométrica, potencial e total nos pontos
A, B, C e D.

96
Figura 46. Ilustração do exemplo 23

Velocidade de escoamento:
4Q 4 × 0 ,016
V= = = 0 ,905 m / s
2
pD p × ( 0 ,150 ) 2

V 2 ( 0,905 ) 2
Energia cinética: = = 0,042 m
2g 2 × 9,8

Perda de carga total: hf = 145 - 136,2 - 0,042 = 8,758 m


Perda de carga por metro de tubulação
8 , 758 m
= 1400 m = 0 , 06256 m / m

Perda de carga no trecho AB = 150m 0,6256 m/m = 0,938 m


Perda de carga no trecho BC = 750 m 0,6256 m/m = 4,692 m
Perda de carga no trecho CD = 500 m 0,6256 m/m = 3,128 m

Energia Energia Energia Perda Energia


Ponto potencial piezométrica cinética de carga total
2
Z (m) P/g (m) /(2g) (m)
V hf (m) H (m)
A 145,0 0,000 0,000 0,000 145,000
B 130,5 13,520 0,042 0,938 144,062
C 84,0 55,328 0,042 5,630 139,370
D 136,2 0,000 0,042 8,758 136,200

97
5 Escoamento sob pressão

5.1 Introdução
Nos condutos forçados, o escoamento ocorre sob pressão, isto é, a
pressão interna é maior (na maioria dos casos) ou menor (no caso de
sifões) que a pressão atmosférica. O cálculo das instalações hidráulicas
residenciais e prediais, as estações elevatórias, os sistemas de irrigação
por aspersão, bem como os sifões e as adutoras são exemplos de
aplicação da hidráulica em condutos forçados. Neste capítulo serão
discutidos conceitos e fórmulas para o cálculo das perdas de carga.

5.2 Número de Reynolds (NR)


O número de Reynolds é um índice que serve para classificar o regime
de escoamento, sendo calculado da seguinte forma:
VD
NR = [37]
u

em que:
NR = número de Reynolds;
V = velocidade de escoamento do fluido (m/s);
D = diâmetro da canalização (m);
u = coeficiente de viscosidade cinemática (m2/s).

98
O coeficiente de viscosidade pode ser obtido de tabelas apropriadas.
Na Tabela 32 constam valores de viscosidade cinemática para a água, a
gasolina e o óleo combustível.
Se NR > 4000, o regime é dito turbulento; se NR < 2000, o regime é
dito laminar; se 2000 < NR < 4000, diz-se que se está em zona de transição.
Nessa faixa não se pode definir com exatidão se o regime é laminar ou
turbulento e, como consequência, não se podem determinar com
exatidão as perdas de carga nas canalizações.
Para as seções não circulares ou condutos livres, o número de
Reynolds é calculado pela expressão:
V 4 Rh
NR = [38]
u
em que Rh é o raio hidráulico do canal.

Tabela 32. Valores de viscosidade cinemática (u)


Água Gasolina
T (oC) Viscosidade T(oC) Viscosidade
cinemática (m2/s) cinemática (m2/s)

0 0,000 001 792 5 0,000 000 757


2 0,000 001 673 10 0,000 000 710
4 0,000 001 567 15 0,000 000 681
5 0,000 001 519 20 0,000 000 648
10 0,000 001 308 25 0,000 000 621
15 0,000 001 146 30 0,000 000 596
20 0,000 001 007
30 0,000 000 804 Óleo combustível
40 0,000 000 659 o
T ( C) Viscosidade
cinemática (m2/s)
50 0,000 000 556 5 0,000 005 98
60 0,000 000 478 10 0,000 005 16
70 0,000 000 416 15 0,000 004 48
80 0,000 000 367 20 0,000 003 94
90 0,000 000 328 25 0,000 003 52
100 0,000 000 296 30 0,000 003 13
Fonte: Azevedo Netto (1998).

99
Exemplo 24: Qual o regime de escoamento de uma tubulação de
150 mm de diâmetro escoando água a 15 oC, com velocidade de 0,4 m/s?

VD 0,40 m / s × 0,15 m
NR = = = 52356 àRegime turbulento.
u 0,000001146 m 2 / s
Para os problemas de escoamento de água em encanamentos,
geralmente o regime é turbulento devido à baixa viscosidade da água.
Exemplo 25: Qual o regime de escoamento em uma tubulação de 20
cm de diâmetro conduzindo 10 L/s de óleo (u= 0,000065 m2/s).
V D 0,32 m / s × 0, 20 m
NR = = = 979 à Regime laminar..
u 0,000065 m 2 / s

5.3 Perda de carga


A perda de carga nas tubulações ocorre devido ao atrito interno das
moléculas do líquido e também devido ao atrito externo do líquido com
as paredes da tubulação. Essas perdas são chamadas de perdas de carga
ao longo da tubulação. A perda de carga está diretamente relacionada
com a turbulência que ocorre no escoamento do líquido. As canalizações
são formadas por tubos retilíneos e também por diversas peças especiais,
tais como: peças de derivação, peças de ampliação ou redução, curvas,
registros. Todas essas peças especiais causam turbulência no
escoamento dos líquidos responsáveis por novas perdas de carga
chamadas perdas de carga localizadas (Figura 47).

Figura 47. Perdas de carga em condutos forçados

100
As perdas de carga podem ser classificadas em:
a) Perdas de carga ao longo da tubulação: ocasionadas pelo
movimento da água na própria tubulação. Admite-se que sejam
uniformes em qualquer trecho de uma canalização de diâmetro
constante, independentemente da posição da canalização.
b) Perdas de carga localizadas ou acidentais: provocadas por peças
especiais e demais singularidades de uma instalação.
Didaticamente, o cálculo das perdas de carga ao longo da tubulação
e das perdas de carga localizadas é realizado separadamente para,
posteriormente, serem consideradas em conjunto.

5.4 Perdas de carga ao longo da canalização


Em geral, pode-se afirmar que a perda de carga é:
• diretamente proporcional ao comprimento da canalização;
• inversamente proporcional ao diâmetro;
• função de uma potência da velocidade;
• variável de acordo com a natureza do tubo (rugosidade), no caso
de regime turbulento;
• independente da posição do tubo e do sentido do escoamento;
• independente da pressão interna com a qual o líquido escoa.

5.4.1 Fórmula universal de perda de carga


A fórmula universal para cálculo da perda de carga é:

L Vn
hf = f [39]
D 2g
em que:
hf = perda de carga (m);
L = Comprimento da tubulação (m);
D = diâmetro da tubulação (m);
V = velocidade de escoamento (m/s);
g = aceleração da gravidade (m/s²);

101
n = potência da velocidade;
f = coeficiente.
A rugosidade relativa é definida pela relação k/D, onde k é a
rugosidade absoluta da parede e D é o diâmetro da canalização (Figura
48). Na Tabela 33 são indicados valores da rugosidade k para diferentes
tipos de materiais.

Figura 48. Rugosidade da tubulação

Quando o regime é laminar, n é praticamente igual à unidade (n = 1)


e f é função apenas do NR e independe da rugosidade k/D. Nesse caso,
seu valor é dado pela relação de Poiseville:
64
f= [40]
NR
Quando o regime é turbulento, a perda de carga aumenta com o
quadrado da velocidade (n = 2) e f passa a depender de NR e de k/D até
chegar ao extremo de depender exclusivamente de k/D, quando o regime
é fortemente turbulento.
Na zona de transição ou zona crítica, a perda de carga não pode ser
determinada com segurança, pois o regime de escoamento não é bem
definido (2000 < NR < 4000).
No regime laminar, a velocidade máxima ocorre no centro da
tubulação, diminuindo gradativamente até o valor nulo junto às paredes
(Figura 49). A velocidade máxima é o dobro da velocidade média da
seção, isto é:

102
V máxima = 2 V média
No regime turbulento, a velocidade máxima é dada por:

120
Vmáxima = Vmédia
98

Figura 49. Variação da velocidade na tubulação segundo o regime de escoamento

O coeficiente f também pode ser obtido analiticamente para fluxo


turbulento através de várias expressões. Entre as mais conhecidas estão:
a) Equação de Prandtl-Von Karman: para tubos hidraulicamente
lisos.
1
( )
= 2 log NR f - 0,8 [41]
f
Nota: Um tubo é considerado hidraulicamente liso quando k 0,01
mm. Essa equação é válida para qualquer valor de NR acima do valor
crítico (4000 < NR < ¥).

103
Tabela 33. Valores típicos de rugosidade absoluta (k)
Material do tubo Rugosidade absoluta k (mm)
(1) (2) (3)
Aço comercial novo 0,046 - 0,045
Aço laminado novo - - 0,04 a 0,10
Aço soldado novo 0,04 a 0,06 - 0,05 a 0,10
Aço soldado em uso 2,4 - 0,15 a 0,20
Aço soldado moderadamente oxidado - - 0,4
Aço soldado revestido de cimento
centrifugado - - 0,10
Aço laminado revestido de asfalto - - 0,05
Aço rebitado novo 1a3 - 1a3
Aço rebitado em uso 6 - 6
Aço galvanizado novo 0,15 a 0,20 - -
Aço galvanizado em uso 4,6 - -
Aço galvanizado, com costura - - 0,15 a 0,20
Aço galvanizado, sem costura - - 0,06 a 0,15
Aço rebitado, poucos rebites - 0,9 -
Aço rebitado, muitos rebites - 9,0 -
Aço trefilado novo - 0,0015 -
Cimento amianto novo 0,025 - 0,025
Concreto centrifugado novo - - 0,16
Concreto armado liso, vários anos de uso 2,5 - 0,20 a 0,30
Concreto com acabamento formal - - 1a3
Concreto protendido Freyssinet - - 0,04
Concreto, superfície lisa 0,3 a 1,0 0,3 -
Concreto, superfície irregular 1,0 a 2,0 3,0 -
Concreto, superfície rugosa 3,0 a 9,0 - -
Madeira em aduelas 0,2 a 1,0 - -
Madeira, superfície lisa - 0,18 -
Madeira, superfície irregular - 0,9 -
Manilha, cerâmicas novas 0,6 - -
Manilha, cerâmicas novas em uso 3,0 - -
Ferro forjado 0,04 a 0,06 - 0,05
Ferro fundido novo 0,25 a 0,5 0,26 0,25 a 0,50
Ferro fundido com leve oxidação - - 0,30
Ferro fundido velho 3a5 - 3a5
Ferro fundido centrifugado - - 0,05
Ferro fundido com revestimento asfáltico - - 0,12 a 0,20
Ferro fundido oxidado - - 1 a 1,5
Ferro galvanizado novo - 0,15 -
Cobre, latão, aço revestido de epóxi, PVC,
plásticos em geral, tubos extrudados - - 0,0015 a 0,010
Tubos lisos como chumbo, cobre, latão, vidro < 0,01 - -
PVC 0,02 - -
Polietileno 0,002 - -
Fonte: (1) Azevedo Netto (1998); (2) Gribbin (2009), adaptado; (3) Porto (2006).

104
b) Equação de Nikuradse: para tubos rugosos em regime de
completa turbulência (NR > 50 000).

1 D
= 2 log + 1,74 [42]
f 2k
Nota: f depende somente da rugosidade relativa.

c) Equação de Colebrook-White: para a região intermediária.

1 æ k 2,51 ö
= -2 logç + ÷ [43]
f è 3,7 D NR f ø

A equação de Colebrook-White, embora inicialmente estabelecida


somente para a faixa de transição, redunda em bons resultados nas
outras faixas. Essa equação é considerada a mais precisa e tem sido
utilizada como padrão referencial. No entanto, apresenta a
particularidade de ser implícita em relação ao fator de atrito, isto é, o
fator f está presente nos dois membros da equação s; por isso, não pode
ser explicitada em relação às demais grandezas. Para sua solução, deve-
-se usar um processo iterativo, como a função solver encontrada em
alguns modelos de calculadoras científicas (como nas calculadoras HP
séries 48, 49 e 50), ou nas planilhas eletrônicas (como no Excel). Nas
décadas passadas, a solução da equação Colebrook-White sem esses
recursos eletrônicos era extremamente complicada e, por isso, foram
desenvolvidas alternativas à equação de Colebrook-White que, embora
menos precisas, podem ser resolvidas mais facilmente. Entre essas
opções, destacam-se as seguintes equações:

1 é k 5,16 æ k 5,09 öù
= -2 logê - logç + ÷
0 ,87 ú [44]
f ë 3,7 D NR è 3,7 D NR øû

1 éæ k ö1,11 6,9 ù
= -1,8 log êç ÷ + ú [45]
f êëè 3,7 D ø NR úû

105
1 æ k 5,15 ö
= -2,0 logç + 0,892
÷ [47]
f è 3,7D NR ø

1 æ k 5,74 ö
= -2,0 logç + 0 ,9
÷ [48]
f è 3,7 D NR ø

1 é k æ 7,0 ö ù
0, 9

= -2,0 log ê +ç ÷ ú [49]


f êë 3,7 D è NR ø úû

0,25
f=
2
é æ k 5,74 öù
êlogçç + ÷ú [50]
0,9 ÷øú
ëê è 3,7D NR û

(válida para 5 x 10³ < NR < 108 e 10-6 < k/D < 10-2)
1 æ k 5,13 ö
= -2,0 logç + ÷
f è 3,7D NR ø
0 ,89 [51]

(para NR > 105)

Os erros com as equações acima são inferiores a 1 % quando


comparadas com a equação de Colebrok-White. Swamee & Jain (1976)
apresentaram uma equação geral para o cálculo do fator de atrito válida
para os escoamentos laminar, turbulento liso, de transição e turbulento
rugoso, na seguinte forma:

0,125
ì -16 ü
0,8 6
ïæ 64 ö é æ k 5,74 ö æ 250 ö ù ï
f = íç ÷ + 9,5êlnçç + ÷÷ - ç ÷ ú ý [52]
ïè NR ø êë è 3,7D NR 0,9 ø è NR ø úû ï
î þ

Outra forma de resolver a equação de Colebrook é utilizando os


diagramas de Moody (Figura 50) ou Rouse (Figura 51), que relacionam
os valores f, NR, D/k.
106
Figura 50. Diagrama de Moody

Figura 51. Diagrama de Rouse

107
Para a resolução de problemas de hidráulica com a fórmula universal,
deve-se, inicialmente, calcular o número de Reynolds e verificar o regime
de escoamento. Se o escoamento for laminar, calcula-se f = 64/NR, e se
o escoamento for no regime turbulento, pode-se seguir as Tabelas 34 e
35 para resolver os problemas

Exemplo 26: Calcular a perda de carga numa tubulação de ferro


fundido (k = 0,05 mm) com 2450 m de comprimento e 200 mm diâmetro,
conduzindo 19,0 L/s de água (temperatura de 15oC).

Dados: Q = 0,019 m³/s; D = 200 mm


Incógnitas: hf àProblema tipo I
4Q 4 × 0 , 019
1o passo: V = 2
= = 0 , 60 m / s
pD p 0 ,2 2

VD 0 , 60 × 0 , 2
2o passo: NR = v = 0 , 000001146 = 105547

D 200
3o passo: = = 4000
k 0 , 05
4o passo: Com D/k = 4000 e NR = 105 000 obtém-se pelo diagrama
f = 0,019.
LV 2 2450 × 0,6 2
5o passo: hf = f D 2 g = 0,019 0,2 × 2 × 9,8 = 4,275 m

Exemplo 27: Calcular o diâmetro da tubulação de ferro fundido (k =


0,05) para escoar a vazão de 10 L/s, sabendo que a perda de carga
permitida é de 6 m nos 860 m da tubulação.

Dado: Q = 0,010 m³/s; hf = 6 m


Incógnitas D e V à problema tipo III

108
Tabela 34. Procedimento para resolução da equação universal de perda de carga com o diagrama de Rouse

Tipo Dado Incógnita 1o passo 2o passo 3o passo 4o passo 5o passo

Determinar f
4Q VD D LV2
I D, Q hf V = NR = pelo hf = f
πD 2 v k D2g
diagrama
2g hf D 3 D Obter f do hf D 2g πD 2
II D, hf V, Q NR f = V= Q= V
L υ2 k diagrama fL 4

109
f * 8L Q 2 Obter f do diagrama e
Estimar f* D=5 4Q D
III hf, Q D, V hf π 2 g NR = comparar com f*; se
(tentativa) πDυ k
necessário, repetir os
passos 1 a 5 até que
Estimar f* LV 2 VD D
IV hf, V D, Q D = f* NR = f* = f
(tentativa) hf 2g v k

4Q
V V, Q D, hf D = Com D conhecido, passa a ser problema tipo I
π

πD 2
VI V, D Q, hf Q= V Com Q conhecido, passa a ser problema tipo I
4
Tabela 35. Procedimento para resolução da equação universal de perda de carga com o diagrama de Moody

Tipo Dado Incógnita 1o passo 2o passo 3o passo 4o passo 5o passo

VD D Determinar f pelo LV 2
I D, Q V, hf 4Q NR = hf = f
V = v k diagrama D2g
πD 2
D Obter f do diagrama
Estimar f* hf D 2 g k πD 2
II D, hf V, Q V = Repetir passos até que Q= V
(tentativa) f8 L VD 4
NR = f* = f
v

110
Estimar f* f * 8L Q 2 4Q D
III hf, Q D, V D= 5 NR = Obter f do diagrama e
(tentativa) hf π 2 g πD υ k comparar com o valor
inicial f*; se necessário,
Estimar f* VD D repetir os passos 1 a 5
IV hf, V D, Q LV 2 NR =
(tentativa) D = f* v k até que f = f*
hf 2 g

4Q
V V, Q D, hf D = Com D conhecido, passa a ser problema tipo I
π
πD 2
VI V, D Q, hf Q = V Com Q conhecido, passa a ser problema tipo I
4
Passo 1a tentativa 2a tentativa
1o f* = 0,025 estimativa inicial f* = 0,020

2
f * 8 L Q 2 = 0 , 025 × 8 × 860 × 0 , 010 = 0,124 0 ,025 × 8 × 860 × 0 , 010 2 = 0,119
2o D = 5 5 D =5
hf p 2 g 6 p 2 9 ,8 6 p 2 9 ,8

4Q = 4 × 0 , 01 = 102 680 4 × 0 , 01 = 93363


3o NR = NR =
p D u p 0 ,124 × 0 , 000001146 p 0 ,119 × 0 , 000001146

D = 124 = 2480 D = 119


4o = 2380
k 0 , 05 k 0 , 05
Com NR = 102.680 e D/K = 2480, obtém-se do diagrama = Com NR = 93363 e D/K = 2380, obtém-se do
5o 0,020. Como f* ¹ f, repetir os passos partindo de f = 0,20 diagrama = 0,020. Como f* = f, então D = 119
mm

Exemplo 28: Calcular a perda de carga em uma tubulação de aço


com 250 mm e 3500 m de comprimento que conduz 20 L/s de um óleo
pesado ( u = 0,0000705 m²/s).
4Q 4 × 0 ,020
V = = = 0 , 407 m / s
pD 2 p × 0 , 25 2
VD 0 , 407 × 0 , 25
NR = = = 1443 à Regime Laminar
u 0 , 0000705
64 64
f = = = 0 ,044
NR 1443
LV 2 3500 × 0 , 407 2
hf = f = 0 ,044 = 5, 2 m
D 2g 0 , 25 × 2 × 9 ,8

5.4.2 Fórmulas práticas para o cálculo da perda de


carga
Existe um número elevado de fórmulas para o dimensionamento de
condutos forçados. Neste resumo constam a equações mais utilizadas
e recomendadas para diversos tipos de dimensionamentos de condutos
forçados, seja em sistemas mais complexos, como as redes de
encanamento, seja em sistemas simples.
A Fórmula Universal, além de ser mais exata e indicada para sistemas
mais complexos, é a única aplicável em dimensionamentos que envolvem
quaisquer tipos de fluidos e temperaturas. As demais são fórmulas

111
práticas e, portanto, de aplicação restrita para a água doce à temperatura
ambiental normal, dependendo ainda de uma escolha criteriosa dos
coeficientes de rugosidade dos materiais envolvidos. Contudo, elas são
de ampla aceitação e aplicação, especialmente nos dimensionamentos
mais comuns, pela simplicidade e precisão satisfatória.

Os símbolos utilizados têm os seguintes significados:


Q = vazão (m3/s);
D = diâmetro do conduto (m);
A = área de seção transversal (m2);
P = perímetro molhado (m);
Rh = raio hidráulico (m);
V = velocidade média do líquido (m/s);
L = comprimento do conduto (m);
hf = perda de carga total do conduto (m);
J = perda de carga unitária (m/m);
g = aceleração da gravidade (9,8m/s2);
A perda de carga total pode ser expressa em relação ao
comprimento unitário do conduto, assim:
hf
J= [53]
L
sendo J a perda de carga unitária (m/m) utilizada nas fórmulas
práticas e nos ábacos correspondentes. Em alguns gráficos e tabelas, a
perda de carga costuma ser expressa em m/100m ou m/km.

5.4.2.1 Fórmula de Darcy


A fórmula de Darcy é comumente usada para diâmetros acima de
50 mm e tem as seguintes apresentações:

a) Apresentação Francesa
DJ
= b V2 [54]
4
112
4bV 2
J= [55]
D

em que b é um coeficiente que depende da natureza das paredes


dos tubos (Tabela 36).

Para tubos de ferro fundido:


b
b =a + [56]
D

em que:
a = 0,000253;
b = 0,00000647 para tubos novos;
a = 0,000507;
b = 0,00001294 para tubos usados;

Tabela 36. Valores de b para a fórmula de Darcy para tubos de ferro fundido
ou de aço
Coeficiente Coeficiente
Diâmetro b Diâmetro b
D (m) Tubos Tubos D (m) Tubos Tubos
novos usados novos usados
0,020 0,000577 0,001154 0,200 0,000285 0,000572
0,025 0,000512 0,001025 0,250 0,000279 0,000559
0,050 0,000382 0,000766 0,300 0,000275 0,000550
0,075 0,000339 0,000680 0,350 0,000271 0,000544
0,100 0,000318 0,000636 0,400 0,000269 0,000539
0,125 0,000305 0,000611 0,450 0,000267 0,000536
0,150 0,000296 0,000593 0,500 0,000266 0,000533

113
Exemplo 29: Calcular a perda de carga em uma tubulação nova de
ferro fundido com 200 mm de diâmetro e 740 m de comprimento, com
vazão de 38 L/s.
b 0 , 00000647
b=a+ = 0 , 000253 + b = 0,000285
D 0,2
Q 0 , 038
V = =
A é p (0 , 2 )2 ù
ê ú V = 1,2 m/s
êë 4 úû

4 bV 2 4 × 0 , 000285 × 1, 2 2
J= = = 0 , 0082 m / m
D 0 , 20

hf = J L = 0,0082 m/m 740 m = 6 m

b) Apresentação Alemã

Na Apresentação Alemã, podem ser utilizadas estas fórmulas:


J = KQ2 [57]

V2
= K ' Q2 [58]
2g
V = K’’Q [59]
em que K, K’ e K” são coeficientes, indicados na Tabela 37.

Resolvendo o exemplo 29 pela apresentação alemã, teremos:


J = KQ2 = 5,79 (0,038)² = 0,0083 m/m
hf = J L = 0,00836 m/m 740 m = 6,18 m

c) Apresentação Americana

Também conhecida como fórmula de Darcy-Weissbach, é a forma


de apresentação mais utilizada e tem formato igual ao da fórmula
universal de perdas de carga, isto é:
114
Tabela 37. Valores de K, K’ e K” para uso da fórmula de Darcy para tubos de ferro
ou de aço
D K K’ K’’
Metro Polegada Tubo usado Tubo novo
0,01 3/8 116785000 58392500 8263800 12732
0,02 ¾ 2338500 1169250 516490 3183
0,03 - 250310 125155 102022 1414,7
0,04 - 52560 26280 32281 795,8
0,05 2 15874 7937 13222 509,8
0,06 2½ 6021 3011 6376,4 353,68
0,075 3 1990 995 2730,0 230,00
0,10 4 412,4 206,2 826,38 127,32
0,125 5 133,0 66,5 344,00 81,90
0,15 6 50,64 25,32 163,24 56,59
0,20 8 11,57 5,79 51,649 31,831
0,25 10 3,705 1,853 21,155 20,372
0,30 12 1,468 0,734 10,202 14,147
0,35 14 0,6704 0,3852 5,507 10,394
0,40 16 0,3413 0,1707 3,228 7,958
0,45 18 0,1880 0,0940 2,015 6,288
0,50 20 0,1104 0,0552 1,322 5,093
0,55 22 0,0683 0,0342 0,903 4,210
0,60 24 0,0440 0,0220 0,638 3,537
Fonte: Azevedo Netto (1998).

L V2
hf = f [60]
D 2g
4Q
Substituindo V = em 60, tem-se:
pD 2
Q2
hf = 0,08271f L [61]
D5

O valor do coeficiente f para tubos de ferro fundido ou de aço e


para tubos de concreto pode ser obtido na Tabela 38. Os valores de f
para outros materiais constam na Tabela 39.

115
Tabela 38. Coeficiente f da fórmula de Darcy-Weissbach em função do
material
Tipo de tubulação Coeficiente ou fator f(1)
Cobre e PVC 0,009 a 0,05
Aço galvanizado novo com costura 0,0012 a 0,06
Aço galvanizado novo sem costura 0,009 a 0,012
Ferro fundido revestido com asfalto 0,014 a 0,10
Ferro fundido revestido com cimento 0,012 a 0,06
Ferro fundido usado sem revestimento 0,020 a 1,50
Mangueiras de incêndio 0,022
Os menores valores de f correspondem aos maiores diâmetros das canalizações.
(1)

Fonte: Brentano (2011).

Resolvendo o exemplo 29, obtém-se:


2
Q
hf = 0 , 08271 f L 5
D

= 0 , 08271 × 0 , 024 × 740


(0 , 038 )2 = 6 , 63 m
(0 , 2 )5
Tabela 39. Valores do coeficiente de atrito f para tubos conduzindo água fria
Para tubos novos de ferro fundido ou aço
D Velocidade média (m/s)
mm pol. 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,50 2,00 3,00
13 ½ 0,041 0,037 0,034 0,032 0,031 0,029 0,028 0,027
19 ¾ 0,040 0,036 0,033 0,031 0,030 0,028 0,027 0,026
25 1 0,039 0,034 0,032 0,030 0,029 0,027 0,026 0,025
38 1½ 0,037 0,033 0,031 0,029 0,029 0,027 0,026 0,025
50 2 0,035 0,032 0,030 0,028 0,027 0,026 0,026 0,025
75 3 0,034 0,031 0,029 0,027 0,026 0,025 0,025 0,024
100 4 0,033 0,030 0,028 0,026 0,026 0,025 0,025 0,023
150 6 0,031 0,028 0,026 0,025 0,025 0,024 0,024 0,022
200 8 0,030 0,027 0,025 0,024 0,024 0,023 0,023 0,021
250 10 0,028 0,026 0,024 0,023 0,023 0,022 0,022 0,020
300 12 0,027 0,025 0,023 0,022 0,022 0,021 0,021 0,019
350 14 0,026 0,024 0,022 0,022 0,022 0,021 0,021 0,018
400 16 0,024 0,023 0,022 0,021 0,021 0,020 0,020 0,018
450 18 0,024 0,022 0,021 0,020 0,020 0,020 0,020 0,017
500 20 0,023 0,022 0,020 0,020 0,019 0,019 0,019 0,017
550 22 0,023 0,021 0,019 0,019 0,018 0,018 0,018 0,016
600 24 0,022 0,020 0,019 0,018 0,018 0,017 0,017 0,015
(Continua)

116
(Continuação)
Tubos de aço ou ferro fundido Tubos de concreto
D Com 10 anos de uso Velhos Novos ou Velhos
Velocidade média
mm pol. 0,50 1,00 1,50 3,00 qualq. 0,50 1,00 1,50
25 1 0,054 0,053 0,052 0,051 0,071 - - -
50 2 0,048 0,047 0,046 0,045 0,059 - - -
75 3 0,044 0,043 0,042 0,041 0,054 - - -
100 4 0,041 0,040 0,039 0,048 0,050 - - -
150 6 0,037 0,036 0,035 0,034 0,047 - - -
200 8 0,035 0,034 0,033 0,032 0,044 0,033 0,032 0,032
250 10 0,033 0,032 0,031 0,030 0,043 0,031 0,030 0,028
300 12 0,031 0,031 0,030 0,029 0,042 0,030 0,029 0,027
350 14 0,030 0,030 0,029 0,028 0,041 0,028 0,027 0,026
400 16 0,029 0,029 0,028 0,027 0,040 0,027 0,026 0,025
450 18 0,028 0,028 0,027 0,026 0,038 0,026 0,025 0,024
500 20 0,027 0,027 0,026 0,025 0,037 0,025 0,024 0,023
550 22 0,026 0,026 0,025 0,024 0,035 0,025 0,023 0,022
600 24 0,025 0,024 0,023 0,022 0,032 0,024 0,022 0,021
Fonte: Azevedo Netto (1998)

5.4.2.2 Fórmula de Fair-Whipple-Hsiao


É indicada nos Estados Unidos para o cálculo de condutos de
pequeno diâmetro e de instalações domiciliares. As fórmulas de Fair-
-Whipple-Hsiao são recomendadas pela Norma Brasileira para projetos
de instalações hidráulicas prediais (NBR5626) para cálculo de perda de
carga em canalizações com diâmetro de até 100 mm.
Para tubos de aço galvanizado conduzindo água fria:
2,596 0,53
[62]
Q = 27 ,115 D J
Q 1,88 [63]
J = 0,002021
D 4 ,88

Para tubos de cobre, latão ou PVC conduzindo água fria:


Q = 55 ,934 D 2 , 71 J 0 , 57 [64]
Q 1 , 75
J = 0 , 00859 [65]
D 4 , 75
117
Para tubos de cobre ou latão conduzindo água quente:

Q = 63, 281 D 2 ,71 J 0 ,57 [66]

Q1, 75
J = 0,000692 [67]
D 4 , 75

5.4.2.3 Fórmula de Flamant


Essa equação é recomendada para cálculo de instalações prediais
de água fria com ferro galvanizado de diâmetro entre 10 mm e 100 mm.

V 1, 75
J = b 1, 25 68]
D
Q1,75
J =k [69]
D 4 , 75
em que b e k = coeficiente que depende do material (Tabela 40).

Tabela 40. Valores dos coeficientes b e k da fórmula de Flamant


Tipo de material b k
Conduto de ferro fundido ou
aço galvanizado em uso 0,00092 0,0014
Conduto de ferro fundido ou
aço galvanizado novo 0,00074 0,00113
Conduto de chumbo 0,00056 0,00086
Conduto de cimento amianto 0,00062 0,00095
Conduto de concreto 0,00074 0,00113
PVC, plástico(1) 0,00054 0,000824
Para D £ 150 mm.
(1)

Fonte: Neves (1989)

Exemplo 30: Calcular a perda de carga em 70 m de uma tubulação


de PVC com 18 mm de diâmetro e vazão de 0,3 L/s.

Q1,75 (0,0003)1,75
J = k 4,75 = 0,000824 = 0,109m / m
D (0,018) 4,75
118
hf = J L = 0,109 m/m 70 m = 7,65 m

5.4.2.4 Fórmula de Bazin-Kutter


As fórmulas de Bazin e de Kutter são semelhantes entre si e dadas
por:

Q = 0,3927 C D5 J [70]

em que:

na fórmula de Bazin

87 D 87 Rh
C= = [71]
2m + D m + Rh

na fórmula de Kutter

100 D 100 Rh
C= = [72]
2m + D m + Rh

em que:

D é o diâmetro (m);
Rh é o raio hidráulico (m);
m é o coeficiente (Tabela 41).

119
Tabela 41. Valores dos coeficientes b e k da fórmula de Bazin e Kutter
Tipo do conduto Kutter Bazin
Conduto com revestimento muito liso,
madeira aplainada, chapa metálica 0,10 0,06
Revestimento liso de cimento, conduto de
cimento amianto, ferro fundido novo 0,175 a 0,18 0,10
Conduto de madeira revestida com cimento
comum ou argamassa, tubo liso de concreto,
tubo de ferro novo 0,20 0,16
Conduto de cimento com juntas, ferro
fundido em serviço 0,25 a 0,275 0,23
Conduto de concreto não liso, aço rebitado,
ferro fundido incrustado 0,35 a 0,375 0,30
Tubos de ferro fundido muito incrustado 0,45 0,36
Fonte: Neves (1989).

5.4.2.5 Fórmula de Scobey


São fórmulas próprias para o cálculo dos condutos de aço, madeira
e concreto, tendo grande reputação nos Estados Unidos. No Brasil
também é muito utilizada na engenharia de irrigação.
a) Para condutos metálicos
V = 0,272CD0,58 J 0,526 [73]

Q = 0,2136CD 2,58 J 0,526 [74]

Outras expressões encontradas para a equação de Scobey:

Ks V 1,9
J= [75]
387 D 1,1
18,07 2 ,58 0, 526
Q= D J [76]
Ks 0 ,526

120
Na Tabela 42 são indicados os valores dos coeficientes C e Ks para
uso nas fórmulas de Scobey.

Tabela 42. Coeficientes C e Ks da fórmula de Scobey


Material da tubulação C Ks
Alumínio com engate rápido a cada 6 m 132 0,43
Aço galvanizado com engate rápido a cada 6 m 129 0,45
Plástico e cimento amianto 154 0,32

b) Para condutos de madeira


Q = 0 , 2105 CD 0 , 265 J 0 , 555 [77]

sendo:
C = 224 para tubos em boas condições;
C = 170 para tubos em más condições;
C = 185 para tubos em condições médias.
c) Para tubos de concreto

Q = 0, 2113 CD 2 , 625 J 0 ,5 [78]

Os valores de C são indicados na Tabela 43.

Tabela 43. Valores dos coeficientes C para tubos de concreto


C Tipo de conduto
133 Grandes diâmetros, fundidos em forma metálicos
90 a 130 Fundido em forma de madeira, em más e boas condições
95 De parede interna muito irregular, juntas não alisadas
110 Pré-moldado de concreto seco, de pequeno diâmetro e
revestimento pouco alisado
123 Pré-moldado de concreto úmido, monolítico fundido em
forma de aço
132 De revestimento interno muito liso, galerias de grandes
dimensões
Fonte: Neves (1989).

121
Exemplo 31: Calcular a perda de carga em 120 m de uma tubulação
de alumínio com engate rápido de 100 mm de diâmetro com vazão de
10 L/s.
4Q 4 × 0,010
V= = = 1,27 m / s
pD 2
p × (0,100)2

Ks V1,9 0,43 (1,27 )1,9


J= = = 0,022m / m
387 D1,1 387 (0,100 )1,1
hf = J L = 0,022 m/m 120 m = 2,64 m

5.4.2.6 Fórmula de Scimeni


A Fórmula de Scimeni é aplicada somente para tubos de cimento
amianto. A perda de carga é estimada por:

V 1,786
J = 0,00063 [79]
D1,21
A equação de Scimeni expressa em função da vazão tem a seguinte
forma:

Q = 48 ,66 D1,80 J 0 ,56 [80]

Exemplo 32: Calcular a perda de carga numa tubulação de cimento


amianto com 100 mm de diâmetro com vazão de 6 L/s.
4Q 4 × 0,006
V= = = 0,76 m / s
pD 2 p × (0,100)2

(0,76)1,786
J = 0,00063 = 0,0062m / m
(0,100)1,21

122
5.4.2.7 Fórmula de Manning
Esta fórmula, muito usada para dimensionamento de condutos livres
ou canais, pode ser empregada também para condutos forçados. Sua
forma fundamental é:
1 2 3 12
V= R J [81]
n
em que n é um coeficiente que depende da rugosidade da parede da
tubulação (Tabela 44).

Tabela 44. Valores do Coeficiente (n) de Manning para dimensionamento


de condutos forçados
Tipo de conduto n
Ferro fundido limpo, sem revestimento 0,013 a 0,015
Ferro fundido limpo, com revestimento 0,012 a 0,014
Ferro fundido sujo ou incrustado 0,015 a 0,035
Ferro forjado galvanizado 0,014 a 0,017
Ferro fundido galvanizado 0,015 a 0,017
Ferro forjado preto 0,013 a 0,015
Latão, bronze liso, cobre 0,011 a 0,013
Condutos de tábuas lisas aplainadas 0,011 a 0,013
Condutos de tábuas comuns 0,012 a 0,013
Concreto com juntas ásperas 0,016 a 0,017
Concreto poroso sem acabamento 0,014 a 0,016
Concreto bem acabado 0,012 a 0,014
Cimento liso 0,011 a 0,013
Manilhas vitrificadas para esgotos 0,013 a 0,016
Manilhas de argila comum para drenos 0,012 a 0,015
Metal corrugado 0,023 a 0,025
Rocha sem revestimento 0,038 a 0,041
Aço esmaltado laqueado 0,009 a 0,011
Cimento amianto, plástico, PVC 0,009 a 0,011
Alumínio 0,011 a 0,012
Alumínio com juntas de acoplamento rápido 0,012 a 0,013
Madeira em aduelas 0,011 a 0,013
Tijolo 0,014 a 0,016
Plástico corrugado, aço galvanizado, aço rebitado
ou soldado em espiral 0,015 a 0,017
Aço soldado 0,011 a 0,014
Fonte: Azevedo Netto (1998).

123
A fórmula de Manning para o cálculo de condutos forçados pode
ser expressa das seguintes formas:
0,314 2, 667 0,5
Q= D J [82]
n
0, 375
æ Qn ö
D = çç ÷
0 ,5 ÷ [83]
è 0,314 J ø

Q2
J = 10, 293n 2 [84]
D 5 ,33

5.4.2.8 Fórmula de Hazen–Williams


Atualmente, é uma das fórmulas com maior aceitação em vários
países da América e da Europa. Tem as vantagens de apresentar bons
resultados práticos para grande amplitude de diâmetros possíveis (de
2’’ até 120’’) e aplicação para todos os materiais industriais. Outras
vantagens são a comprovação experimental e o estabelecimento dos
coeficientes para os materiais mais comumente utilizados na hidráulica
(Tabelas 45 e 46).
A velocidade de escoamento pela equação de Hazen-Williams é dada
por:
V = 0,355 C D 0,63 J 0,54 [85]

Aplicando a equação da continuidade, podem-se obter as


transformações para as outras formas úteis para diferentes tipos de
dimensionamentos.

Para o cálculo da vazão:


Q = 0,2788C D 2,63 J 0,54 [86]

124
Tabela 45. Valores do coeficiente C de Hazen-Williams para tubos de ferro
fundido(1) em função do tempo de uso
Anos de Diâmetro (mm)
uso 100 150 200 250 300 350 400 450 500 600 750 900 1050 1500
0 130 130 130 130 130 130 130 130 130 130 130 130 130 130
5 117 118 119 120 120 120 120 120 120 120 121 122 122 122
10 106 108 109 110 110 110 111 112 112 112 113 113 113 113
15 96 100 102 103 103 103 104 104 105 105 106 106 106 106
20 88 93 94 96 97 97 98 98 99 99 100 100 100 100
25 81 86 89 91 91 91 92 92 93 93 94 94 94 95
30 75 80 83 85 86 86 87 87 88 89 90 90 90 91
35 70 75 78 80 82 82 83 84 85 85 86 86 87 88
40 64 71 74 76 78 78 79 80 81 81 82 83 83 84
45 60 67 71 73 75 76 76 77 77 78 78 79 80 81
50 56 63 67 70 71 72 73 73 74 75 76 76 77 78
Fonte: Azevedo Netto, (1998).
(1)
Para tubulações de aço:
a) soldado: considerar os valores de C indicados para tubos de ferro fundido 5 anos mais
velhos;
b) rebitado: considerar os valores de C indicados para tubos de ferro fundido 10 anos mais
velhos;
c) com revestimentos especiais, admitir C = 130.

Para o cálculo da perda de carga:

V 1,852
J = 6,81 [87]
C 1,852 D 1,167

Q 1,852
J = 10,65 88]
C1,852 D 4,87

125
Tabela 46. Coeficiente C de Hazen-Williams
Tipo de material Idade Diâmetro (mm) C
Até 100 118
100 a 200 120
Novo
225 a 400 125
450 a 600 130
Até 100 107
100 a 200 110
10 anos
225 a 400 113
Ferro fundido pichado 450 a 600 115
Aço sem revestimento, soldado Até 100 89
100 a 200 93
20 anos
225 a 400 95
450 a 600 100
Até 100 65
100 a 200 75
30 anos
225 a 400 80
450 a 600 85
Até 100 107
Novo 100 a 200 110
225 a 400 113
Aço sem revestimento, rebitado 450 a 600 115
Até 100 89
100 a 200 93
Usado
225 a 400 96
450 a 600 100
Até 100 120
Ferro fundido cimentado, cimento amianto, Novo ou 100 a 200 130
concreto usado 225 a 400 136
450 a 600 140
Aço revestido Novo ou 500 a 1000 135
Concreto usado > 1000 140
Até 50 125
Novo ou
Plástico (PVC) 60 a 100 135
usado
125 a 350 140
Até 100 107
Nova ou
Manilha cerâmica 125 a 200 110
usada
225 a 400 113
Aço galvanizado 125
Vidro 140
Latão 120
Cobre 130
Chumbo 130
Alumínio com engate rápido 130
Mangueiras de incêndio (hidrantes ou mangotinhos) 140
Fonte: Silvestre (1979), adaptado.

126
Para o cálculo do diâmetro:

Q 0 ,38
D= [89]
0,615C 0,38 J 0, 205

Em alguns livros, é comum encontrar ábacos para solução das


equações de hidráulica. A título de exemplo, colocamos o ábaco da
fórmula de Hazen-Williams (Figura 52), porém com a facilidade da
informática e o uso de microcomputadores ou de calculadoras
programáveis, a utilização desses ábacos não se justifica.

Exemplo 33: Calcular o diâmetro e a velocidade de escoamento de uma


tubulação de PVC com 574 m que liga uma caixa de passagem (cota 44,5 m)
a uma estação de tratamento (cota 35,9 m) com vazão de 10 L/s.

hf = 44,5 – 35,9 = 8,6 m


8,6
J= = 0,015m / m = 15 m/km
574

a) Usando o ábaco (Figura 52)

Admitindo C = 135, tem-se k = 0,58.


JC = J100 K à J100 = J135 /K
J100 = 15/0,58 = 25,6 m/km

Traçando uma linha que passa pelos pontos Q = 10 L/s e J = 25,6 m/


km, tira-se do gráfico o diâmetro aproximado de 100 mm e a velocidade
de 1,2 m/s.

127
b) Usando a fórmula
Q 0 ,38 0,010 ,38
D= = = 0,104 m = 104 mm
0,615C 0 ,38 J 0 ,205 0,615 x135 0 ,38 x 0,015 0 , 205

V = 0 ,355 C D 0 , 63 J 0 , 54
=0,355 135 (0,10)0,63 (0,015)0,54 = 1,16 m/s

Exemplo 34: Calcular a velocidade de escoamento e perda de carga


em 1 km de uma adutora de PVC de 200 mm de diâmetro (C = 140) com
vazão de 47 L/s.

a) Usando o ábaco
Conhecidos os dados de Q = 50 L/s e D = 200 mm, traçamos uma
reta unindo esses pontos e prolongando-a. Da interseção dessa reta com
os respectivos eixos obtêm-se estes valores:

V = 1,6 m/s
J100 = 20 m/km

Como C = 140 àK = 0,536

Jc = J100 K

J 140 = 20 m / km = 10 , 72 m / km

b) Usando a fórmula
V = 0 ,355 C D 0 , 63 J 0 , 54
=0,355 135 (0,10)0,63 (0,015)0,54 = 1,16 m/s

Q 1 ,852 10 , 65
(0 , 05 )1 , 852 = 0 , 0111 m / m
J = 10 , 65 =
C 1 , 852 D 4 , 87 (140 )1 , 852 (0 , 2 )4 , 87

128
Figura 52. Ábaco para a fórmula de Hazen-Williams

129
5.5 Perdas de carga localizadas
As perdas de carga localizadas, também chamadas de perdas
acidentais ou singulares, são ocasionadas por mudanças se seção de
escoamento ou de direção da corrente. Essas peças causam uma
perturbação no escoamento que leva à conversão de parte da energia
cinética em calor, resultando em perda de energia ou perda de carga.
As perdas de carga localizadas assumem grande importância no caso
de condutos com muitas peças e comprimento relativamente curto,
como em instalações prediais e no caso de tubulação de sucção da
bomba. Como regra prática, podem-se desprezar as perdas localizadas
quando a velocidade é menor que 1 m/s, ou o comprimento da tubulação
é superior a 4 mil vezes o diâmetro (L/D > 4000), ou ainda quando existem
poucas peças na tubulação.
Para o cálculo das perdas de carga localizadas, pode-se utilizar o
método de Borda-Belanger ou o método dos comprimentos
equivalentes. Outra opção é o método dos diâmetros equivalentes.

5.5.1 Método de Borda-Belanger


Pelo método de Borda-Belanger as perdas localizadas podem ser
calculadas pela fórmula:

V2
hf = K [90]
2g
em que:
K = coeficiente que depende da peça (Tabela 47);

V2
= energia cinética (m); [91]
2g
h f = perda de carga devida à peça (m).

O valor do coeficiente K varia com a geometria da peça e também


com o número de Reynolds. Quando em regime completamente
turbulento (NR > 50 000), pode-se considerar constante o valor de K

130
para determinada peça, independentemente do diâmetro da tubulação,
da velocidade e da natureza do fluido.

Tabela 47. Coeficiente K para cálculo das perdas de carga localizadas


Peça Tipo K
Entrada normal 0,50
Entrada reentrante 1,00
Entradas Entrada em sino 0,05
Entrada em cone 0,20
Entrada de borda 1,00
Saída normal 1,00
Saídas Saída submersa 1,10
Saída após uma peça 2,00
Registro de gaveta aberto 0,20
Registros Registro globo aberto 10,00
Registro de ângulo aberto 5,00
Registro borboleta aberto 0,20
Válvula de retenção 2,50
Válvulas Válvula de pé 1,75
Válvula de pé com crivo 2,50
Válvula flap 0,50
Cotovelo 90o 0,90
Cotovelo 45o 0,40
Curvas Curva 90o 0,40
Curva 45o 0,20
Curva 22,5o 0,10
Curva de retorno (180o) 2,20
Tê passagem direta 0,60
Tês Tê saída lateral 1,30
Tê saída bilateral 1,80
Ampliação gradual(1) 0,30
Redução gradual(1) 0,15
Medidor Venturi 2,50
Acessórios Bocal 2,75
Comporta aberta 1,00
Crivo 0,75
Junção 0,40
Luva 0,10
Válvula de boia 6,00
Esguicho tronco-cônico 0,10
Com base na velocidade maior.
(1)

Fonte: Adaptado de Azevedo Netto (1998).

131
Para o cálculo de perda de carga em estreitamento (Figura 53) ou
alargamento brusco (Figura 54), pode-se obter o valor de K conforme as
expressões abaixo:
Para estreitamento brusco:
4æ s ö
K= ç1 - ÷ [92]
9è Sø
Para alargamento brusco:
2
æ sö
K = ç1 - ÷ [93]
è Sø

Figura 53. Estreitamento brusco

Figura 54. Alargamento brusco

132
Exemplo 35: Uma canalização nova de ferro fundido com 500 m de
comprimento e 150 mm de diâmetro está conduzindo água de uma
represa para um reservatório com vazão de 42 L/s. A canalização possui
as seguintes peças especiais: uma entrada normal; dois registros de
gaveta abertos; quatro curvas 90o e três tês passagem direta. Calcular
as perdas localizadas pelos diferentes métodos, dado que:

Q = 0,042 m³/s
D = 0,150 m
C = 120 (aço)

4Q 4 × 0,042
V= = = 2,38m / s
pD 2 p 0,15 2

L 500
= = 3333
D 0,150
Como a velocidade é maior que 1 m/s e L é menor que 4 mil vezes o
diâmetro (L/D < 4000), verifica-se que é importante o cálculo das perdas
localizadas.

V2 V 2 (2,38)2
hf = K à = = 0,289m
2g 2g 2 × 9,8
Peça K No de peças nK
Entrada normal 0,5 1 0,5
Registro gaveta 0,2 2 0,4
Curva 90o 0,4 4 1,6
Tê passagem direta 0,6 3 1,8
Soma - - 4,3

V2
hf = K = 4,3 × 0,289 = 1,243 m
2g

133
5.5.2 Método dos comprimentos equivalentes
Este método consiste em expressar um comprimento equivalente
de uma tubulação fictícia de seção constante em que se produziria ao
longo de sua extensão uma perda de carga distribuída igual à perda de
carga localizada da peça em questão. A perda de carga é calculada pela
expressão:
hf = J L v [94]

em que:
J é a perda de carga unitária ao longo da tubulação (m/m);
Lv é o comprimento virtual ou equivalente (m) (Tabelas 48 a 51).

Exemplo 36: Do exemplo anterior, calcule as perdas de carga


localizadas pelo método dos comprimentos equivalentes.
a) Perda de carga ao longo da tubulação

Q 1,852
J = 10,65 à
C 1,852 D 4 ,87

J = 10,65
(0,042 )1,852 = 0,0436m / m
(120 )1,852 (0,15)4,87
hf = J L = 0,0436 m/m 500 m = 21,8 m

b) Perdas localizadas

Peça Lv No de peças n Lv
Entrada normal 2,5 1 2,5
Registro gaveta 1,1 2 2,2
Curvas 90o 2,5 4 10
Tê passagem direta 3,4 3 10,2
Soma - - 24,9

hf = J Lv = 0,0436 m/m 24,9 m = 1,086 m


134
Tabela 48. Comprimento equivalente para canalização de PVC ou cobre
(D £ 100 mm)
Diâmetro nominal (polegada)
½ ¾ 1 1¼ 1½ 2 2½ 3 4
Peça
Diâmetro nominal (mm)
13 19 25 32 38 50 63 75 100

Curva 90o 0,4 0,5 0,6 0,7 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6

Curva 45o 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0

Joelho 90o 1,1 1,2 1,5 2,0 3,2 3,4 3,7 3,9 4,3

Joelho 45o 0,4 0,5 0,7 1,0 1,3 1,5 1,7 1,8 1,9
Tê de
passagem 0,7 0,8 0,9 1,5 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6
direta
Tê de saída
2,3 2,4 3,1 4,6 7,3 7,6 7,8 8,0 8,3
lateral
Tê de saída
2,3 2,4 3,1 4,6 7,3 7,6 7,8 8,0 8,3
bilateral
Saída da
0,8 0,9 1,3 1,4 3,2 3,3 3,5 3,7 3,9
canalização
Entrada
0,3 0,4 0,5 0,6 1,0 1,5 1,8 2,0 2,2
normal

Entrada de
0,9 1,0 1,2 1,8 2,3 2,8 3,3 3,7 4,0
borda
Registro de
gaveta 0,1 0,2 0,3 0,4 0,7 0,8 0,9 0,9 1,0
aberto
Registro de
globo 11,1 11,4 15,0 22,0 35,8 37,9 38,0 40,0 42,3
aberto
Registro de
ângulo 5,9 6,1 8,4 10,5 17,0 18,5 19,0 20,0 22,1
aberto
Válvula de
8,1 9,5 13,3 15,5 18,3 23,7 25,0 26,8 28,8
pé e crivo
Válvula de
retenção 2,5 2,7 3,8 4,9 6,8 7,1 8,2 9,3 10,4
tipo leve
Válvula de
retenção 3,9 4,1 5,8 7,4 9,1 10,8 12,5 14,2 16,0
tipo pesado
Luva de
- 0,3 0,2 0,15 0,4 0,7 0,8 0,85 0,95
redução(1)
União - 0,1 0,1 01 0,1 0,1 0,1 0,15 0,2
O diâmetro se refere à menor bitola de redução concêntrica com fluxo da maior para a
(1)

menor.

135
Tabela 49. Comprimento equivalente para canalização de PVC ou cobre (D >100 mm)

Diâmetro nominal (polegada)


5 6 8 10 12
Peça
Diâmetro nominal (mm)
125 150 200 250 300

Curva 90o 1,9 2,1 2,8 3,4 4,0

Curva 45o 1,1 1,2 1,6 1,9 2,3

Joelho 90o 4,9 5,4 7,1 8,7 10,0

Joelho 45o 2,5 2,6 3,4 4,2 5,0

Tê de passagem direta 3,3 3,8 4,8 5,9 6,9

Tê de saída lateral 10,0 11,0 14,0 17,0 21,0

Tê de saída bilateral 10,0 11,0 14,0 17,0 21,0

Saída da canalização 4,9 5,5 6,9 8,5 10,0

Entrada normal 2,5 2,8 3,8 4,7 5,6

Entrada de borda 5,0 5,6 7,2 9,0 11,0

Registro de gaveta
1,1 1,2 1,6 2,0 2,4
aberto
Registro de globo aberto 50,9 57,0 72,0 89,0 106,0
Registro de ângulo
26,2 - - - -
aberto

Válvula de pé e crivo 37,4 43,0 53,0 66,0 78,0


Válvula de retenção tipo
12,5 14,0 18,0 22,0 26,0
leve
Válvula de retenção tipo
19,2 21,0 28,8 34,0 41,0
pesado
Luva de redução(1) 1,2 - - - -
União 0,3 - - - -
(1)
O diâmetro se refere à menor bitola de redução concêntrica com fluxo da maior para a
menor.

136
Tabela 50. Comprimento equivalente para canalização de aço galvanizado ou ferro
fundido (D £ 100 mm)
Diâmetro nominal (polegada)
½ ¾ 1 1¼ 1½ 2 2½ 3 4
Peça
Diâmetro nominal (mm)
13 19 25 32 38 50 63 75 100

Curva 90o 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,9 1,0 1,3 1,6

Curva 45o 0,2 0,2 0,2 0,3 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

Joelho 90o 0,5 0,7 0,8 1,1 1,3 1,7 2,0 2,5 3,4

Joelho 45o 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,8 0,9 1,2 1,5

Tê de passagem
0,3 0,4 0,5 0,7 0,9 1,1 1,3 1,6 2,1
direta
Tê de saída
1,0 1,4 1,7 2,3 2,8 3,5 4,3 5,2 6,7
lateral
Tê de saída
1,0 1,4 1,7 2,3 2,8 3,5 4,3 5,2 6,7
bilateral
Saída da
0,4 0,5 0,7 0,9 1,0 1,5 1,9 2,2 3,2
canalização

Entrada normal 0,2 0,2 0,3 0,4 0,5 0,7 0,9 1,1 1,6

Entrada de borda 0,4 0,5 0,7 0,9 1,0 1,5 1,9 2,2 3,2

Registro de
0,1 0,1 0,2 0,2 0,3 0,4 0,4 0,5 0,7
gaveta aberto
Registro de globo
4,9 6,7 8,2 11,3 13,4 17,4 21,0 26,0 34,0
aberto
Registro de
2,6 3,6 4,6 5,6 6,7 8,5 10,0 13,0 17,0
ângulo aberto
Válvula de pé e
3,6 5,6 7,3 10,0 11,6 14,0 17,0 22,0 23,0
crivo
Válvula de
retenção tipo 1,1 1,6 2,1 2,7 3,2 4,2 5,2 6,3 6,4
leve
Válvula de
retenção tipo 1,6 2,4 3,2 4,0 4,8 6,4 8,1 9,7 12,9
pesado
Luva de
- 0,29 0,16 0,12 0,38 0,64 0,71 0,78 0,9
redução(1)
União - 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,02 0,03
O diâmetro se refere à menor bitola de redução concêntrica com fluxo da maior
(1)

para a menor.

137
Tabela 51. Comprimento equivalente para canalização de aço galvanizado ou
ferro fundido (D > 100 mm)
Diâmetro nominal (polegadas)
5 6 8 10 12 15
Peça
Diâmetro nominal (mm)
125 150 200 250 300 350

Curva 90 o 2,1 2,5 3,3 4,1 4,8 5,4

Curva 45 o 0,9 1,1 1,5 1,8 2,2 2,5

Joelho 90 o 4,2 4,9 6,4 7,9 9,5 10,5

Joelho 45 o 1,9 2,3 3,0 3,8 4,6 5,3

Tê de passagem direta 2,7 3,4 4,3 5,5 6,1 7,3

Tê de saída lateral 8,4 10,0 13,0 16,0 19,0 22,0

Tê de saída bilateral 8,4 10,0 13,0 16,0 19,0 22,0

Saída da canalização 4,0 5,0 6,0 7,5 9,0 11,0

Entrada normal 2,0 2,5 3,5 4,5 5,5 6,2

Entrada de borda 4,0 5,0 6,0 7,5 9,0 11,0

Registro de gaveta
0,9 1,1 1,4 1,7 2,1 2,4
aberto
Registro de globo aberto 43,0 51,0 67,0 85,0 102,0 120,0
Registro de ângulo
21,0 26,0 34,0 43,0 51,0 60,0
aberto

Válvula de pé e crivo 30,0 39,0 52,0 65,0 78,0 90,0


Válvula de retenção tipo
10,4 12,5 16,0 20,0 24,0 28,0
leve
Válvula de retenção tipo
16,1 19,3 25,0 32,0 38,0 45,0
pesado

138
5.5.3 Método dos diâmetros equivalentes
Por este método, o comprimento equivalente das peças é calculado
em função do número de diâmetros (N) da canalização existente por:
Lv = N D [95]

em que:
N é o número de diâmetros (Tabela 52);
D é o diâmetro da tubulação em questão, dado em metros.

Tabela 52. Diâmetros equivalentes para cálculo da perda de carga


Peça N – número de diâmetros
Ampliação gradual 12
Cotovelo 90o 45
Cotovelo 45o 20
Curva 90o 30
Curva 45o 15
Entrada normal 17
Entrada de borda 35
Junção 30
Redução gradual 6
Registro gaveta aberto 8
Registro globo aberto 350
Registro de ângulo aberto 170
Saída de canalização 35
Tê passagem direta 20
Tê saída lateral 50
Tê saída bilateral 65
Válvula de pé e crivo 250
Válvula de retenção 100
Fonte: Azevedo Netto (1998).

Devido às diferentes fontes de dados e às simplificações assumidas,


podem ser observadas diferenças nos resultados obtidos nos cálculos
das perdas de carga localizadas utilizando métodos diferentes. Para
superar esse inconveniente, as perdas de carga localizadas de todas as
peças são estimadas mediante uma percentagem das perdas de carga
ao longo da tubulação. Esse percentual varia de acordo com o tipo de
rede em estudo, ficando normalmente entre 5% e 15 %. Para projetos

139
de irrigação, normalmente se consideram as perdas localizadas como
10 % das perdas ao longo da tubulação.

Exemplo 37: Resolvendo o exemplo 35 pelo método dos diâmetros


equivalentes.
Método dos diâmetros:

Peça N No. de peças nN


Entrada normal 17 1 17
Registro gaveta 8 2 16
Curvas 90o 30 4 120
Tê passagem direta 20 3 60
Soma 213

L = ND = 213 0,150 m = 31,95 m


hf = J L = 0,0436 m/m 31,95 m = 1,393 m

140
6 Construção da linha de carga
Numa canalização escoando sob pressão, denomina-se de linha de
carga efetiva (LCE) o lugar geométrico dos pontos representando a soma
das três cargas: de posição, pressão e cinética. A linha piezométrica
corresponde à altura (P/g) que o líquido sobe em piezômetros instalados
ao longo da canalização e está distante da linha de carga pela distância
correspondente à energia cinética, isto é, V²/2g. Nos problemas correntes,
geralmente se pode desprezar a parcela de energia cinética, confundindo
assim a linha de carga efetiva com a linha de pressão ou piezométrica.

Figura 55. Posição do encanamento e linhas de carga

6.1 Posição dos encanamentos em relação à linha de


carga
A posição do encanamento em relação à linha de carga tem
influência decisiva no seu funcionamento. Em geral, são considerados

141
dois planos de carga estáticos: o plano de carga efetivo (PCE), referente
ao nível de montante, que na Figura 56 coincide com o nível de água no
reservatório R1, e o plano de carga absoluta (PCA), situado acima do
anterior, da altura representativa da pressão atmosférica (P/g).

Figura 56. Representação dos planos e carga

Tendo em vista a posição do encanamento em relação às linhas de


carga e de energia, Azevedo Netto (1998) descreve os seguintes casos:

Primeiro caso: A tubulação AB está inteiramente abaixo da linha de


carga efetiva (Figura 56). Em todos os pontos da tubulação a pressão
relativa é positiva (p/g > 0). Assim, instalando-se piezômetros na
tubulação, a água subirá até a altura p/g. Em condutos como esse, o
escoamento será normal e podemos garantir a vazão que foi calculada.
É a situação que o engenheiro deve preferir para conduzir seus projetos.
Como recomendação prática, deve-se procurar manter a tubulação
4 m abaixo da linha de carga efetiva no maior trecho possível.
Segundo caso: A canalização coincide com a linha piezométrica
efetiva (Figura 57). Em qualquer ponto da tubulação, a pressão é nula
(p/g = 0). A água não subirá num piezômetro instalado em qualquer ponto
da tubulação. Mesmo tendo contorno fechado, o funcionamento é de
conduto livre.
Terceiro caso: A tubulação passa acima da linha de carga efetiva,
porém abaixo da carga absoluta (Figura 58). Nessa parte da tubulação,
a pressão será negativa (p/g < 0), ou seja, a pressão é menor que a
atmosférica, ocorrendo o desprendimento de ar em dissolução na água,

142
que tende a se acumular no ponto de cota mais alta, formando bolsa de
ar e diminuindo a vazão.

Figura 57. Ilustração do segundo caso

Figura 58. Ilustração do terceiro caso

Quarto caso: A tubulação corta a linha de carga absoluta, mas fica


abaixo do plano de carga efetivo (Figura 59). A vazão é reduzida e
imprevisível, sendo esta posição da tubulação considerada defeituosa e
deve ser evitada. Uma forma de solucionar esse problema é utilizar uma
caixa de passagem entre os dois reservatórios de forma que a tubulação
funcione com dois trechos, como no primeiro caso. Observe que como
a perda de carga no primeiro trecho é menor, exigirá um diâmetro maior.
Quinto caso: A canalização corta a linha de carga e o plano de carga
efetivo, mas fica abaixo da linha de carga absoluta (Figura 60). Trata-se
de um sifão funcionando em condições precárias, exigindo
escorvamento sempre que entrar ar na canalização.

143
A

Figura 59. Esquema (A) sem e (B) com caixa de passagem

Figura 60. Esquema de funcionamento de sifão

144
Sexto caso: A canalização está acima do plano de carga efetivo e da
linha de carga absoluta, porém abaixo do plano de carga absoluto (Figura
61). Trata-se de um sifão funcionando nas piores condições possíveis.

Figura 61. Ilustração do sexto caso

Sétimo caso: A canalização corta o plano de carga absoluto (Figura


62). Neste caso, é impossível ocorrer escoamento por gravidade,
havendo, para isso, necessidade de utilizar uma bomba hidráulica.

Figura 62. Ilustração do sétimo caso

145
7 Cálculo dos condutos sob pressão
Do ponto de vista hidráulico, o cálculo dos condutos forçados
consiste em determinar os quatro elementos: vazão (Q), diâmetro (D),
velocidade média de escoamento (V) e perda de carga unitária (J).
Para a resolução dos problemas de hidráulica, deve-se utilizar a
equação da continuidade e uma das fórmulas de perda de carga vistas
anteriormente. Para tanto, supõe-se conhecida a natureza do material
dos tubos empregados na tubulação. Em geral, esses problemas podem
ser resolvidos diretamente pelo uso das equações adequadas.

7.1 Diâmetro nominal e diâmetro interno


Nas fórmulas empregadas, o valor do diâmetro (D) se refere ao
diâmetro interno da tubulação. No entanto, as tubulações são
comercializadas com valores de diâmetro nominal (DN). De acordo com
a NBR 5648, esses termos podem ser definidos como:
Diâmetro nominal (DN): simples número que serve como designação
para projeto e para classificar, em dimensões, os elementos de tubulação
(tubos, conexões, dispositivos e acessórios). Ele corresponde,
aproximadamente, ao diâmetro interno dos tubos, em milímetros. O
diâmetro nominal (DN) não deve ser objeto de medição, nem deve ser
utilizado para fins de cálculos.
Diâmetro externo (DE): simples número que serve para classificar,
em dimensões, os elementos de tubulação (tubos, conexões, dispositivos

146
e acessórios). Ele corresponde ao diâmetro externo médio (Dem) dos
tubos, em milímetros.
Diâmetro externo médio (Dem): relação entre o perímetro externo
do tubo e o número 3,1416, aproximada para o décimo de milímetro
mais próximo.
Diâmetro Interno (DI): refere-se ao diâmetro útil.
Espessura da parede (e): valor da espessura de parede (Figura 63),
medida ao longo da circunferência do tubo, arredondado para o décimo
de milímetro mais próximo. O DI pode ser calculado de acordo com a
fórmula:
DI = DE – 2e [96]

em que:
DI = diâmetro interno (mm);
DE = diâmetro externo (mm);
e = espessura da parede (mm).

Figura 63. Representação dos diâmetros externo e interno

Os valores do diâmetro externo devem ser conferidos com os


catálogos de produtos dos respectivos fabricantes. Nas Tabelas 53 e 54
estão os valores de diâmetro de diversos tubos fabricados pela Tigre.

147
Tabela 53. Valores do diâmetro de tubos de PVC rígido obtidos do catálogo de produtos
Tigre
Diâmetro DN DE e (espessura DI
de referência (diâmetro (diâmetro da parede) (diâmetro
(polegadas) nominal) externo) (mm) interno)
(mm) (mm)
½ 15 20 1,5 17,0
¾ 20 25 1,7 21,6
1 25 32 2,1 27,8
1¼ 32 40 2,4 35,2
1½ 40 50 3,0 44,0
2 50 60 3,3 53,4
2½ 65 75 4,2 66,6
3 75 85 4,7 75,6
4 100 110 6,1 97,8

7.2 Velocidade de escoamento


No dimensionamento de uma tubulação deve-se observar o valor
da velocidade de escoamento da água na tubulação. Quanto maior a
velocidade do líquido, menor o diâmetro empregado, porém devem-se
evitar velocidades excessivas, pois elas implicam grandes perdas de
carga, que diminuem a pressão na canalização. Além disso, com
velocidades altas, aumenta o desgaste das canalizações, dos elementos
de conexão e das peça especiais, e aumentam também as vibrações na
rede.
Por outro lado, as velocidades muito baixas encarecem as redes e
possibilitam a sedimentação de materiais finos em suspensão. Assim, a
velocidade da água deve ficar entre os pontos máximo e mínimo, que,
para condições gerais, podem ser considerados os seguintes valores:

7.2.1 Velocidade mínima


A velocidade mínima é recomendada para haver permanente
circulação de água na rede e não prejudicar a qualidade da água. Azevedo
Netto (1998) recomenda que, para evitar deposição nas canalizações, a
velocidade mínima deve ser fixada entre 0,25 e 0,40 m/s, dependendo
da qualidade da água. Para águas que contenham certos materiais em
suspensão, a velocidade não deve ser inferior a 0,50 m/s, como no caso
de esgotos.
148
Tabela 54. Valores do diâmetro de diversos tubos Tigre
Tipo de tubo DN DE (mm) e (mm) DI (mm)
DEFoFo Tigre Vinilfer 100 118 4,8 108,4
DEFoFo Tigre Vinilfer 150 170 6,8 156,4
DEFoFo Tigre Vinilfer 200 222 8,9 204,2
DEFoFo Tigre Vinilfer 250 274 11,0 252,0
DEFoFo Tigre Vinilfer 300 326 13,1 299,8
DEFoFo Tigre Vinilfer 400 429 17,2 394,6
DEFoFo Tigre Vinilfer 500 532 21,3 489,4
PBA PVC 12 JE 60 75 3,4 68,2
PBA PVC 15 JE 60 75 4,2 66,6
PBA PVC 20 JE 60 75 5,3 64,4
PBA PVC 12 JEI 50 60 2,7 54,6
PBA PVC 12 JEI 75 85 3,9 77,2
PBA PVC 12 JEI 100 110 5,0 100,0
PBA PVC 20 JEI 50 60 4,3 51,4
PBA PVC 20 JEI 75 85 6,1 72,8
PBA PVC 20 JEI 100 110 7,8 94,4
PE 80 PN 6 - 25 1,9 21,2
PE 80 PN 6 - 63 4,7 53,6
PE 80 PN 6 - 75 5,6 63,8
PE 80 PN 6 - 90 6,7 76,6
PE 80 PN 8 - 110 8,1 93,8
PE 80 PN 8 - 125 9,2 106,6
PE 80 PN 8 - 160 11,8 136,4
PE 80 PN 8 - 180 13,3 153,4
PE 80 PN 8 - 225 16,6 191,8
PE 80 PN 8 - 25 1,9 21,2
PE 80 PN 8 - 63 4,7 53,6
PE 80 PN 8 - 75 5,6 63,8
PE 80 PN 10 - 90 6,7 76,6

149
Velocidades muito baixas também podem trazer problemas devido
à retenção de ar na tubulação, que provoca efeito semelhante ao
aumento da perda de carga. Para provocar a remoção do ar, é
recomendado que a velocidade média de escoamento seja entre 0,6 e
0,9 m/s. A norma NBR 12218 (ABNT 1994) estabelece que a velocidade
mínima nas tubulações deve ser de 0,6 m/s. No entanto, como a mesma
norma impõe um diâmetro mínimo de 50 mm para as tubulações, no
caso de vazões muito baixas não é possível garantir a velocidade mínima.

7.2.2 Velocidade máxima


A velocidade excessiva pode causar problemas diversos, como danos
mecânicos prejudiciais à tubulação, ruídos desagradáveis e limitação da
perda de carga. O limite recomendado depende da situação. Por
exemplo:
a) Sistema de abastecimento de água (Azevedo Neto, 1988)

Vmáx = 0,6 + 1,5 D [97]

em que:
D = diâmetro da tubulação (m);
Vmáx = velocidade máxima recomendada (m/s).

b) Canalizações prediais, de acordo com a NBR 5626/98

Vmáx = 14 D (para Vmáx até 3 m/s [98]

c) Linhas de recalque
Geralmente se adota velocidade entre 0,6 m/s e 2,4 m/s.
d) Instalações industriais
A velocidade geralmente está compreendida entre 1 e 2 m/s.
e) Redes de abastecimento público (NBR 12218)
A velocidade máxima da tubulação deve ser de 3,5 m/s.
f) Instalações de combate a incêndio (NBR 13714; ABNT, 2011)
150
A velocidade máxima da tubulação de recalque é de 5 m/s e na
canalização de sucção é de 4 m/s.

7.3 Diâmetro mínimo


No dimensionamento das tubulações, empregando uma das fórmulas
de condutos forçados, obtém-se o valor do diâmetro calculado. No
entanto, existem valores mínimos de diâmetro recomendados, que têm
por objetivo evitar perdas de carga ou velocidades excessivas. Algumas
recomendações e normas de diâmetro mínimo podem ser citadas, como:

a) Para redes de abastecimento público


A NBR 12218 (ABNT 12218) estabelece o diâmetro mínimo de 50
mm para tubos da rede urbana.

b) Para sistemas de recalque


Para bombas de ¼ HP, o diâmetro mínimo é de 19 mm, e para bombas
acima de ¼ HP, o diâmetro mínimo é de 25 mm.

7.4 Pressão mínima


A pressão hidráulica efetiva das redes hidráulicas é importante nos
projetos de abastecimento urbano e também nos projetos de irrigação.
Nos projetos de combate a incêndios, deve-se garantir a pressão mínima
na válvula do mangotinho mais desfavorável da instalação. A NBR 10897
(ABNT, 2007) recomenda pressão mínima de 50 kPa em sistemas de
chuveiros automáticos .
No caso de rede de abastecimento, a pressão mínima é estabelecida
para garantir que a água chegue aos pontos de consumo com carga
suficiente para vencer as perdas nas instalações e alcançar as torneiras
com a vazão adequada. No Brasil, a norma NBR 12218 (ABNT, 1994)
estabelece que a pressão dinâmica mínima em qualquer ponto da rede
nas tubulações distribuidoras deve ser de 100 kPa (equivalente a 10
m.c.a.). A NBR 5626/98 estabelece as pressões mínimas de acordo com:
Ö ponto de utilização: 10 kPa;

151
Ö rede de distribuição: 5 kPa;
Ö caixa de descarga: 5 kPa;
Ö válvula de descarga: 15 kPa.
Nos projetos de irrigação, a pressão mínima na rede deve ser igual à
pressão de serviço do aspersor (ou outro equipamento de irrigação),
somadas as perdas de carga no equipamento.

7.5 Pressão máxima


A rede de distribuição estará submetida à pressão estática,
representada pela linha piezométrica total sempre que a vazão
transportada seja nula. Nessa situação, a rede estará submetida a
pressões estáticas iguais em cada ponto, à diferença entre a cota
piezométrica inicial e à cota do terreno onde está instalada a tubulação.
A pressão dinâmica é dada pela altura piezométrica na tubulação. Na
tubulação podem ocorrer fenômenos hidráulicos transitórios, como o
golpe de aríete, devido à manobra da válvula de retenção, pela expulsão
do ar contido no interior da tubulação; pela parada do sistema de
bombeamento; ou, ainda, pelo fechamento brusco dos registros, que
geram sobrepressões na tubulação.
As pressões máximas que podem atuar na tubulação, provocadas
pelas pressões estáticas ou dinâmicas ou pelas sobrepressões
decorrentes dos golpes de aríete, são conhecidas como pressões de
trabalho. Os tubos deverão possuir resistência mecânica caracterizada
por suas pressões nominais adequadas em função da pressão de trabalho
que possa atuar sobre eles.
As pressões máximas são limitadas com a finalidade de limitar o custo
energético de bombeamento, uma vez que a altura manométrica
aumenta proporcionalmente à pressão. Quanto maior a pressão na rede,
maior o risco de ruptura e maiores perdas de água nas fissuras ou nas
juntas dos tubos. O custo da tubulação também aumenta com a pressão
de serviço na rede. A NRB 12218/94 estabelece que a pressão máxima
nas tubulações distribuidoras deve ser de 500 kPa (50 m.c.a.). A NBR
5626/98 estabelece a pressão máxima de condições estáticas no ponto
de utilização de 400 kPa.

152
Nos projetos de combate a incêndio também existem valores
máximos de pressão. Por exemplo, a pressão máxima permitida para
sistemas de hidrantes e de mangotinhos é de 1000 kPa. Para sistemas
com chuveiros automáticos, a pressão máxima é de 1200 kPa (Brentano,
2011).

7.6 Condutos equivalentes


Dois ou mais condutos são equivalentes quando fornecem a mesma
descarga com a mesma perda de carga.

hf = J L [99]

10,65Q1,852
pela equação de Hazen-Williams J = 1,852 4 ,87
C D
hf1 = hf1

Então se pode escrever:

10,65Q1,852 10,65Q1,852
hf1 = L1 = hf 2 = L2
C1,852D14,87 C1,852D2 4,87
4,87
L1 D1
= [100]
L2 D 24,87

Exemplo 38: Considerando os diâmetros de 100 e 125 mm, pode-se


dizer que 100 m da tubulação de 100 mm equivalem a 296,4 m da
tubulação de 125 mm. Isso significa que, para escoar a mesma vazão
(Q), a perda de carga que ocorre em 100 m da tubulação de 100 mm é a
mesma que ocorre em 296,4 m da tubulação de 125 mm.

7.7 Condutos mistos ou em série


Uma canalização é mista ou em série quando constituída por diversos
trechos de diâmetros diferentes, porém constante a cada trecho (Figura

153
64). A vazão que percorre todos os trechos é a mesma, e a perda de
carga total é igual à soma das perdas que ocorrem em cada trecho.

Figura 64. Esquema do funcionamento de condutos mistos

Há casos em que o projetista dispõe de uma extensão (L) para


transportar uma vazão (Q) com a perda de carga total obrigatória (hf).
Se não houver o diâmetro comercial que satisfaça as condições, poderá
dividir o comprimento (L) em dois trechos de comprimentos diferentes,
de modo que:
L = L1 + L2 [101]

Esses dois trechos terão perda de carga contínua (hf1 e hf2) e podemos
escrever:
JL = J1L1 + J2L2 [102]

em que J, J1 e J2 são as perdas de carga unitária nos trechos de


comprimento L, L1 e L2 e diâmetro D, D1 e D2 respectivamente. Assim,
teremos:

æ J - J1 ö
L2 = çç ÷÷ L [103]
è J 2 - J1 ø
L1 = L – L2 [104]

154
Exemplo 39: Dimensionar a tubulação com vazão de 20 L/s,
admitindo que existam tubos de PVC (C = 130) nos diâmetros comercias
100, 125, 150 e 200 mm. As condições topográficas são resumidas na
Figura 65.

Figura 65. Ilustração do exemplo 39

a) Dimensionamento considerando um único trecho:


hf = 242 – 128 = 114 m
114
J= = 0,0467 m / m
2440

D=
(0,02 )0 ,38 = 0 ,108 m
0 , 205
0 ,615 × (130 )0,38 × 0, 0467

Ö Verificando o funcionamento da tubulação no Ponto B, observar


que:
hf (AB) = 0,0467 m/m 500 m = 23,4 m

Portanto, a linha de energia ficará 5,4 m abaixo da tubulação, e o


funcionamento não será adequado. Para resolver esse problema, será
colocada uma caixa de passagem no ponto B, e o dimensionamento da
tubulação será feito em dois segmentos:
a) dimensionamento do segmento AB:

155
hf = 242 – 224 = 18 m
18
J= = 0,036m / m
500

D=
(0,02 )0,38 = 0,114 m = 114 mm
0,615 × (135 )0,38 × (0,036 )0, 205

Não existindo o tubo comercial de 114 mm, será dimensionada uma


tubulação mista (parte com diâmetro de 125 mm e o restante com 100
mm).
J = 0,036 m/m

J1 = 10 ,65
(0,20 )1,852 = 0,02311 m / m
(130 )1,852 (0,125 )4,87

J 2 = 10 ,65
(0,20 )1,852 = 0 ,06852 m / m
(130 )1,852 (0,100 )4 ,87
æ J - J1 ö æ 0,036 - 0,02311 ö
L 2 = çç ÷÷ L = ç ÷ 500 = 142 m da
è J 2 - J1 ø è 0,06852 - 0,02311 ø
tubulação de 100 mm

L1 = L - L2 = 500 – 142 = 358 m da tubulação de 125 mm

b) dimensionamento do segmento BC:


hf = 224 – 128 = 96 m
96
J= = 0 ,0495 m / m
1940

D =
(0 , 02 )0 , 38 = 0 ,107 m = 107 mm
0 , 615 × (130 )0 , 38 × (0 , 0495 )0 , 205

156
Novamente será dimensionada a tubulação mista com os diâmetros
de 125 e 100 mm.

J = 0,0495 m/m, J1= 0,02311 m/m; J2 = 0,06852m/m

æ J - J1 ö æ 0 ,0495 - 0 ,02311 ö
L 2 = çç ÷÷ L = ç ÷ 1940 = 1127 , 4 m da
è J 2 - J1 ø è 0 , 06852 - 0 ,02311 ø
tubulação de 100 mm

L1 = L – L2 = 1940 – 1127,4 = 812,6 m da tubulação de 125 mm

7.8 Tipos de tubo


Os tubos utilizados nas instalações hidráulicas variam de acordo com
o tipo de material e a forma de união. Os materiais mais utilizados são
plástico (PVC), polietileno, poliéster revestido com fibra de vidro (PRFV),
tubos de ferro fundido, alumínio e aço. Para a seleção adequada dos
tipos de tubo, devem-se considerar vários fatores: diâmetro e custo das
tubulações, custo da instalação, necessidade e facilidade de
manutenção, qualidade da água, local onde serão instalados.

7.8.1 Tubos de PVC


Os tubos de PVC (cloreto de polivinil) são os mais empregados nos
projetos de adutoras de redes de abastecimento para diâmetro nominal
(DN) até 500. São muito usados em sistema de irrigação, principalmente
em linhas laterais de sistema de irrigação convencional e nas redes de
distribuição dos sistemas de irrigação com tubulações de diâmetro
inferior a 300 mm. Também nos sistemas de abastecimento e nas
instalações hidráulicas prediais são os mais empregados.
O PVC tem como vantagem a alta resistência à corrosão e ao ataque
químico de águas impuras e a baixa rugosidade das paredes, que
determina menor perda de carga. O PVC também tem como vantagem
o baixo peso, diminuindo os custos de transporte e instalação. Como
desvantagem, pode-se destacar a resistência mecânica dos tubos, que
diminui com o tempo e com o aumento da temperatura. Tubos de PVC
157
instalados em locais expostos ao sol têm vida útil bem menor que aqueles
enterrados.
Os tubos de PVC rígidos são divididos em dois tipos: o tipo PBA (ponta
e bolsa com junta elástica e anel de borracha) e os tubos da linha DEFoFo.
O tipo PBA possui cor marrom (Figura 66). Os tubos PBA Tigre são
preferivelmente utilizados não só nos sistemas públicos de
abastecimento de água, mas também nas instalações de água para uso
industrial e rural. As características desse tipo de tubo encontram-se na
Tabela 55.

Figura 66. Tubo PBA Tigre

Tabela 55. Tubos de PVC/PBA. NBR 5647 (ABNT, 1999)

Dimensões
Bitola Massa (kg/m)
Espessura (mm)
Profund. L Compri-
DN DE da bolsa CL1 CL CL mento (m) CL CL CL
2 15 20 12 15 20
50 60 67,3 2,7 3,3 4,3 6,0 0,735 0,800 1,119
75 85 99,6 3,9 4,7 6,1 6,0 1,476 1,781 2,237
100 110 118,1 5,0 6,1 7,8 6,0 2,460 2,958 3,709

Os tubos da linha DEFoFo (diâmetro equivalente ao dos tubos de


ferro fundido) são fabricados na cor azul (Figura 67). Na Tabela 56 estão
algumas características desse tipo de tubo.

158
Figura 67.Tubos DEFoFo Tigre

Tabela 56. Características dos tubos de PVC DEFoFo


DN DE DI Espessura Comprimento Massa
(mm) (m) (kf/m)
100 118 108,4 4,8 6 2,670
150 170 156,4 6,8 6 5,500
200 222 204,2 8,9 6 10,966
250 274 252,0 11,0 6 13,920
300 326 299,8 13,1 6 19,855
400 429 394,6 17,2 6 -
500 532 489,4 21,3 6 -

7.8.2 Tubos de polietileno


Os tubos de polietileno são flexíveis e seu uso está limitado
praticamente às linhas laterais de irrigação. Para diâmetros abaixo de
DE 125 mm são fornecidos em bobina, e para diâmetros acima de DE
125 mm (Figura 68) são fornecidos
em barras de 6 ou 12 metros. Têm
como vantagem em relação ao
PCV maior resistência às
intempéries, maior facilidade de
instalação e menor fragilidade. Por
outro lado, têm como
desvantagem o fato de serem mais
caros. São muito utilizados nos
sistemas de irrigação localizada
(gotejamento e microaspersão). Figura 68. Tubo de polietileno

159
7.8.3 Tubos de cimento amianto
Os tubos de cimento amianto (Figura 69) eram empregados em redes
de esgoto e também em sistema de irrigação. Esses tubos têm como
desvantagem o fato de se romperem com facilidade quando submetidos
a impactos. A produção e a comercialização de produtos de cimento
amianto vêm encontrando restrições legais em vários estados brasileiros
e, por isso, tem diminuído a sua utilização.

Figura 69. Tubos de cimento amianto

7.8.4 Tubos de concreto


Os tubos de concreto armado (Figura 70), com ou sem reforço de
aço, podem ser viáveis em tubulações com diâmetro superior a 800 mm.
Têm como vantagem a resistência aos ataques químicos da água e aos
esforços mecânicos externos. A desvantagem são os custos de transporte
e a instalação.

7.8.5 Tubos de alumínio


Os tubos de alumínio são muito empregados em sistemas de
irrigação, principalmente em linhas laterais, e nas tubulações de sistemas

160
Figura 70. Tubos de concreto

portáteis de irrigação (Figura 71). Têm com vantagens menos peso e


maior resistência à corrosão. Como desvantagens, podem-se destacar
o custo mais elevado e a menor resistência a pressões hidráulicas bem
como a choques externos. Atualmente, os tubos de alumínio vêm sendo
substituídos pelos tubos de PVC rígido e por aço galvanizado. Na Tabela
57 constam os dados de tubos de alumínio.

Figura 71. Tubos de alumínio

161
Tabela 57. Características dos tubos de alumínio

Diâmetro externo Espessura Peso Pressão


Polegadas mm (mm) (kg/m) máxima (kgf/cm²)
Linha convencional
2 50,80 1,27 0,54 36
3 76,20 1,27 0,81 24
4 101,60 1,27 1,08 18
Linha leve
2 50,80 1,10 0,47 31
3 76,20 1,10 0,70 21
4 101,60 1,10 0,94 16

7.8.6 Tubos de ferro fundido


Atualmente, os tubos de ferro fundido (FoFo) são constituídos de
ferro fundido dúctil. São revestidos internamente por uma argamassa
de cimento e externamente com zinco e pintura betuminosa. Têm como
vantagem a resistência a altas pressões de trabalho e como desvantagem
o custo mais elevado. São empregados para trabalhar com pressões de
serviço superior a 1 MPa, para as quais os tubos de PVC não são indicados.
Na escolha de tubulações de ferro fundido, devem-se consultar os
catálogos dos fabricantes para obter as características funcionais dos
tubos. Nas Tabelas 58 e 59 constam os dados de tubos de ferro fundido
dúctil de classe K7 e K9.

7.8.7 Tubos de aço


Os tubos de aço são indicados para diâmetros maiores e para
pressão alta, que limitam a aplicação de tubos de PVC.

7.8.8 Uniões
As uniões entre dois tubos podem ser do tipo engate rápido, usado
nos sistemas de irrigação para facilitar a montagem e desmontagem
dos condutos. A união entre dois tubos de uma tubulação fixa se efetua
por juntas, que podem ser flexíveis ou rígidas. As juntas flexíveis são
162
indicadas para casos em que as condições de trabalho são desfavoráveis,
como terrenos instáveis e empuxo na tubulação. As juntas rígidas
impedem qualquer movimento da tubulação e são fixadas por meio de
solda (no caso de tubos metálicos) ou cola.

Tabela 58. Características dos tubos de ferro dúctil classe K7 com junta
elástica
DN L DE e DI Massa PMA
(m) (mm) (mm) (mm) (kg/m) (MPa)(1)
150 6,0 170 5,2 159,6 23,3 6,0
200 6,0 222 5,4 211,2 31,9 6,0
250 6,0 274 5,5 263,0 40,3 4,9
300 6,0 326 5,7 314,6 49,8 4,3
350 6,0 378 5,9 366,2 64,9 3,8
400 6,0 429 6,3 416,4 77,9 3,6
450 6,0 480 6,7 466,6 91,8 3,5
500 6,0 532 7,0 518,0 106,1 3,4
600 6,0 635 7,7 619,6 137,9 3,1
700 7,0 738 8,4 721,2 176,5 2,9
800 7,0 842 9,1 823,8 216,3 2,8
900 7,0 945 9,8 925,4 259,4 2,8
1000 7,0 1048 10,5 1027,0 306,2 2,6
1200 8,19 1255 11,9 1231,2 411,9 2,5
1400 8,19 1462 13,3 1435,4 566,4 -
1500 8,18 1565 14,0 1537,0 635,3 -
1600 8,18 1668 14,7 1638,6 707,2 -
1800 8,17 1875 16,1 1842,8 860,5 -
2000 8,13 2082 17,5 2047,0 1024,0 -
PMA = pressão máxima de serviço: pressão interna máxima, incluindo golpe de aríete, que
(1)

um componente pode suportar em serviço.

7.9 Golpe de aríete


Também conhecido com transiente hidráulico, é o fenômeno que
consiste na variação da pressão acima e abaixo do valor de
funcionamento normal dos condutos forçados em consequência das
mudanças das velocidades da água por conta das manobras dos registros
de regulagem da vazão. Esse fenômeno causa um ruído desagradável
em instalações hidráulicas e pode romper as tubulações e danificar
aparelhos e equipamentos, como as bombas hidráulicas.

163
Tabela 59. Características dos tubos de ferro dúctil classe K9 com junta
elástica
DN L (m) DE (mm) e (mm) DI (mm) Massa(kg/m) PMA (MPa)(1)
98 6,0 98 6,0 86,0 14,55 7,7
100 6,0 118 6,1 105,8 18,00 7,7
150 6,0 170 6,3 157,4 27,26 7,7
200 6,0 222 6,4 209,2 36,70 7,4
250 6,0 274 6,8 260,4 48,00 6,5
300 6,0 326 7,2 311,6 60,42 5,9
350 6,0 378 7,7 362,6 79,74 5,4
400 6,0 429 8,1 412,8 94,783 5,1
450 6,0 480 8,6 462,8 111,83 4,8
500 6,0 532 9,0 514,0 129,32 4,6
600 6,0 635 9,9 615,2 168,41 4,3
700 7,0 738 10,8 716,4 215,13 4,1
800 7,0 842 11,7 818,6 264,07 3,8
900 7,0 945 12,6 919,8 317,22 3,7
1000 7,0 1048 13,5 1021,0 375,06 3,6
1200 8,19 1255 15,3 1224,4 505,32 3,4
1400 8,19 1462 17,1 1427,8 689,00 3,3
1500 8,18 1565 18,0 1529,0 773,50 3,2
1600 8,18 1668 18,9 1630,2 861,70 3,2
1800 8,17 1875 20,7 1833,6 1050,30 3,1
2000 8,13 2082 22,5 2037,0 1253,30 3,1
(1)
PMA = pressão máxima de serviço: pressão interna máxima, incluindo golpe de aríete, que
um componente pode suportar em serviço.

É a sobrepressão recebida pelas canalizações quando ocorre, por


exemplo, o fechamento brusco de um registro. Na prática, o fechamento
sempre ocorre com um determinado tempo. E mesmo sendo esse tempo
o menor possível, a energia a ser absorvida transforma-se em esforços
de deformação e compressão nas paredes da tubulação.
Quando ocorre o fechamento do registro em uma tubulação, a onda
de pressão se propaga do registro para o reservatório e, depois, retorna
do reservatório para o registro de forma repetida, até a dissipação dessa
energia. O tempo necessário para a onde de pressão ir da válvula ao
reservatório e depois retornar é denominado de fase ou período da
canalização, e pode ser calculado por:
2L
t= [105]
C
164
em que:
t = Período ou fase (s);
L = comprimento da canalização (m);
C = velocidade de propagação da onde ou celeridade (m/s).

A velocidade de propagação da onda pode ser calculada pela fórmula


de Alleivi:

9900
C=
D [106]
48,3 + k
e

em que:
C = celeridade da onda (m/s);
e = espessura do tubo (m);
k = coeficiente de elasticidade (Tabela 60);
D = diâmetro do tubo (m).

Tabela 60. Valores práticos do coeficiente de elasticidade (k) da tubulação


Material Coeficiente de elasticidade (k)
Aço 0,5
Ferro fundido 1,0
Concreto e chumbo 5,0
Cimento e amianto 4,4
Tubo de PVC rígido e plástico 18,0
Fonte: Silvestre (1979).

O tempo de fechamento da válvula ou do registro é fator importante


no cálculo das pressões em tubulações. Se o fechamento for muito
rápido, o registro ficará fechado completamente antes que a atuação
da onda de depressão alcance o reservatório. Por outro lado, se o
fechamento for muito lento, a onda de depressão poderá atuar antes
do fechamento completo. Assim, em função do tempo T de fechamento
do registro ou da válvula, tem-se:

165
Manobra rápida se T < t;
Manobra lenta se T > t.

O cálculo das pressões máximas pode ser feito de forma simplificada


por fórmulas empíricas para as manobras rápidas ou lentas. A pressão
máxima na tubulação pode ser calculada por:

Pmax = H = ha

em que:
Pmax = pressão máxima na tubulação (m);
H = pressão de serviço ou pressão inicial (m);
ha = sobrepressão devida ao golpe de aríete (m).

7.9.1 Manobra rápida


A sobrepressão máxima no extremo da linha pode ser calculada por
esta expressão:
CV [107]
ha =
g

em que:
ha = aumento de pressão ou sobrepressão máxima (m.c.a.);
C = celeridade (m/s);
v = velocidade (m/s);
g = aceleração da gravidade (m/s²).

7.9.2 Manobra lenta


A pressão máxima pode ser calculada pelas seguintes fórmulas:
a) Fórmula de Vensano
2 LV [108]
ha =
gT

166
Segundo Azevedo Neto (1982), essa fórmula leva a valores superiores
aos verificados experimentalmente, porém vem sendo usada na prática
por estar a favor da segurança.

b) Fórmula de Warren
LV
ha =
æ L ö [109]
gç T - ÷
è C ø

c) Fórmula de Fanning
LV
ha = [110]
gT

d) Fórmula de Sparre
2 LV 1
ha =
gT é LV ù
2 ê1 - ú [111]
ë 2 gTH û

e) Fórmula de Johnson

ha =
LV
[
LV + 4g ² H ²T ² + L ²V ² ] [112]
2g 2 HT 2
em que:
ha = sobrepressão máxima (m.c.a);
L = comprimento da linha de tubulação (m);
V = velocidade média da água (m/s);
g = aceleração da gravidade (m/s²);
T = tempo de manobra (s);
H = carga ou pressão inicial (m);
C = celeridade (m/s).

167
Exemplo 40: Determine a pressão total numa tubulação de ferro
fundido com 500 mm de diâmetro, espessura de 6,33 mm e comprimento
de 360 m; a velocidade é de 3,1 m/s. Considerando que o tempo de
fechamento do registro seja de 2,3 s, e a pressão de serviço na tubulação
seja de 52 m.c.a., os dados serão:

D = 0,5 m
e = 0,00633 m
L = 360 m
V = 3,1 m/s
T = 2,3 s

A velocidade de propagação da onda é calculada como:

A fase da canalização é dada por:

Como T > t, então a manobra é do tipo “lenta”.


A sobrepressão é calculada como:

Fórmula de Vensano:

Fórmula de Warren:

360x 3,1
ha = = 60,3mca
æ 360 ö
9,8ç 2,3 - ÷
è 877,48 ø

168
Fórmula de Fanning:
360 x 3,1
ha = = 49 ,5 mca
9,8 x 2,3

Fórmula de Sparre:
2 x 360 x 3,1 1
ha =
9,8 x 2,3 é 360 x 3,1 ù = 94,5 m.c.a.
2 ê1 -
ë 2 x 9,8 x 2,3 x 52 úû

Fórmula de Johnson:

ha =
360 x 3 ,1
[360 x 3,1 + 4 x 9 ,8 ² x 52 ² x 2 ,3 ² + 360 ² x 3 ,1 ² ]
2 x 9 ,8 2 x 52 x 2 ,3 2

= 78,4 m.c.a.

Considerando a fórmula de Vensano, a pressão máxima na tubulação


é dada por:

Pmax = 52 + 99 = 151 m.c.a.

169
8 Estações elevatórias
Quando se deseja conduzir um líquido de uma fonte ou reservatório
para outro, em nível superior, é necessário fornecer, por meios
mecânicos, certa quantidade de energia a esse líquido. Essa energia é
fornecida por meio de bombas hidráulicas.
A instalação de bombeamento é constituída pelo conjunto mecânico
(motobomba) que transmite energia hidráulica ao líquido a ser recalcado
pelas canalizações (Figura 72). Para efeito de cálculo, pode-se dividir a
instalação de bombeamento em:
a) conjunto motobomba, formado por uma bomba que impulsiona
o líquido, acoplada a um motor, que fornece energia;
b) tubulação de sucção, que liga a fonte de captação à bomba;
c) canalização de recalque, que liga a bomba ao local para onde o
líquido deve ser transportado.

8.1 Bombas hidráulicas


As bombas são máquinas que fornecem energia ao líquido com a
finalidade de transportá-lo de um ponto para outro. Em geral, as bombas
recebem energia mecânica dos motores e a transformam em energia
hidráulica sob a forma de pressão, de posição ou de energia cinética.
De acordo com o princípio de funcionamento, as bombas são
classificadas em:

170
Figura 72. Estação elevatória

171
a) centrífugas ou turbobombas: convertem parte da energia cinética
pela velocidade do rotor em energia de pressão.
b) de deslocamento positivo ou volumétricas: nelas não há troca
interna de energia na massa líquida. O líquido sofre uma pressão interna
e, por estar confinado, desloca-se de uma posição estática para outra
mais elevada.
As bombas centrífugas (Figura 73) são as mais usadas pela
simplicidade, pelo baixo custo e pela facilidade de operação em
condições variadas de temperatura, pressão e vazão.

Figura 73. Elementos da bomba centrífuga

A movimentação do fluido ocorre pela ação de forças que se


desenvolvem em sua massa em consequência da rotação de um eixo ao
qual é acoplado um disco (rotor ou impulsos). Esse disco, dotado de pás
(palhetas, hélices), recebe o fluido pelo seu centro e o expulsa pela
periferia, pela ação da força centrífuga. Por isso, são denominadas de
bombas centrífugas (Figura 73). O caracol reúne o fluido que chega de
todas as direções, conduzindo-o para o bocal de saída da bomba. Como
existe uma folga entre o rotor e o caracol, parte do líquido pode
recircular internamente. Devido ao formato do caracol, com maior área
à medida que se aproxima da saída, as pressões tendem a diminuir e,
dessa forma, direcionam o fluxo para a saída da bomba. No entanto, se

172
a folga for excessiva pelo desgaste, a recirculação é maior, o que diminui
a vazão e o rendimento da bomba. Também o fechamento parcial da
válvula na tubulação de saída pode aumentar a recirculação, até o caso
extremo da válvula completamente fechada; nesse caso, todo o líquido
é obrigado a recircular, e a vazão será nula. Com o fechamento da válvula
de saída, a pressão interna aumenta até um determinado ponto, quando
se torna constante, sem haver necessidade de válvula de segurança.

8.2 Classificação de bombas centrífugas


As bombas centrífugas podem ser classificadas:

a) quanto à altura manométrica (Hman), em:


- baixa pressão (Hman £15 m.c.a.);
- média pressão (15 £ Hman < 50 m.c.a.);
- alta pressão (Hman ³ 50 m.c.a.);

b) quanto à vazão de recalque (Q), em:


- pequena vazão (Q £ 50 m³/h);
- média vazão (50 < Q < 500 m³/h);
- grande vazão (Q > 500 m³/h).

c) quanto à forma do rotor, em:


- aberto: para bombeamento de água sem materiais estranhos que
podem se alojar entre o rotor e as chapas laterais (Figura 74, A);
- semiaberto: para recalque de água bruta ou líquidos que contenham
materiais fibrosos e alguns sólidos, sedimentos e outros materiais em
suspensão (Figura 74, B);
- fechado: usado para líquidos sem substâncias em suspensão (água
tratada). É o melhor tipo, pois as tampas dificultam a recirculação do
líquido (Figura 74, C).

173
A - Rotor fechado B - Rotor semiaberto C - Rotor aberto

Figura 74. Tipos de rotor

d) quanto ao número de rotores, em:


- de simples estágio: existe apenas um rotor;
- de múltiplos estágios: quando a bomba possui mais de um rotor
fixado no mesmo eixo. São utilizadas para grandes elevações ou para
sistemas que exigem grandes pressões.

e) quanto à velocidade de rotação (R), em:


- baixa: R £ 500 rpm;
- média: 500 £ R £ 1800 rpm;
- alta: R > 1800 rpm.

f) quanto à direção do movimento do fluido dentro do rotor (Figura


75), em:

Figura 75. Classificação da bomba em relação ao movimento do fluído

174
- centrífugas radiais (puras): a movimentação do fluido dá-se do
centro para a periferia do rotor, no sentido perpendicular ao eixo de
rotação. São bombas empregadas para pequenas e médias descargas e
para qualquer altura manométrica, porém caem de rendimento para
grandes vazões e pequenas alturas.
- centrífugas de fluxo misto (hélico-centrífugas): O movimento do
fluido ocorre na direção inclinada (diagonal) ao eixo de rotação. São
empregadas em grandes vazões e pequenas e médias alturas.
Estruturalmente, caracterizam-se por serem bombas de fabricação
muito complexa.
- centrífugas de fluxo axial: o movimento do fluido ocorre paralelo
ao eixo de rotação. São empregadas para recalcar grandes vazões e
altura média de elevação (Hman < 40 m).

g) quanto à disposição do conjunto motobomba, em:


- de eixo horizontal: mais comum para captações superficiais.
- de eixo vertical: mais empregado para bombas submersas e onde
o espaço para instalação é reduzido.

h) quanto ao número de entradas, em:


- sucção única, aspiração simples ou unilateral: mais comuns;
- sucção dupla, aspiração dupla ou bilateral: para médias e grandes
vazões, e aplicação em saneamento básico, mineração, irrigação, etc.

i) quanto à posição relativa, em:


- bomba afogada: quando a cota da instalação do eixo da bomba
está abaixo da cota do nível de captação da água;
- bomba não afogada, quando a cota de instalação do eixo da bomba
está acima da cota de captação da água.

8.3 Canalização de sucção


É o trecho de uma instalação de recalque que vai da captação até a
entrada da bomba. Para evitar a entrada de ar e a formação de vórtices,
a válvula deve estar mergulhada a uma altura mínima (hmin), assim
calculada:
175
hmin = 2,5 Ds + 0,10 [113]

em que:
Ds é o diâmetro da sucção (m);
hmin é a altura mínima entre o nível de água e a parte superior do
crivo (m).
Da mesma forma, a válvula de pé não deve ficar muito próxima ao
fundo para evitar a sucção de lodo e outros materiais que podem
danificar a bomba. O diâmetro mínimo dos tubos de sucção é de ¾
polegada (19 mm) para bombas de ¼ HP, e de 1polegada (25 mm) para
as demais. Embora a altura teórica máxima de sucção ao nível do mar
seja de 10,33 m, adota-se como limite prático a altura de 7 m, diminuindo
0,1 m para cada 100 m de altitude.
Numa instalação de recalque, há necessidade de instalação de
algumas peças especiais para garantir o bom funcionamento do sistema.
As principais são:
a) válvula de pé e crivo: instalada na extremidade inferior da
tubulação de sucção, é uma válvula unidirecional, isto é, só permite a
passagem do líquido no sentido ascendente. Com o desligamento do
motor de acionamento da bomba, esta válvula mantém o corpo da
bomba e a tubulação de sucção cheios de líquido recalcado (escorvado).
O crivo tem a finalidade de impedir a entrada de partículas sólidas e
corpos estranhos, tais como folhas, galhos, pedras, etc.
b) curva de 99o: necessária pelo traçado da linha de sucção, pois
geralmente as bombas têm a entrada da água no eixo horizontal.
c) redução excêntrica: liga o final da tubulação de sucção à entrada
da bomba, de diâmetro geralmente menor. A excentricidade visa evitar
formação de bolsa de ar na entrada da bomba.

8.4 Canalização de recalque


É a tubulação que liga a saída da bomba ao ponto de consumo ou
reservatório final. Algumas peças especiais necessárias nesta tubulação
são:
a) ampliação concêntrica: liga a saída da bomba, de diâmetro
geralmente menor, à tubulação de recalque.
176
b) válvula de retenção: é unidirecional e instalada à saída bomba,
antes do registro da gaveta. Tem função de impedir que a coluna d’água
seja sustentada pela bomba, o que poderia desalinhá-la e provocar
vazamentos e evitar o refluxo de água quando a bomba está desligada.
Alguns fabricantes recomendam colocar uma válvula de retenção a cada
20 m.c.a. de pressão.
c) registro de gaveta: instalado após a válvula de retenção, tem as
funções de regular a vazão e permitir reparos na válvula de retenção. A
bomba centrífuga deve sempre ser ligada e desligada com o registro
fechado. Outras peças poderão ser necessárias, como curvas, medidores
de pressão, etc.

8.5 Dimensionamento econômico da canalização de


recalque
O custo da canalização aumenta com o aumento do diâmetro da
tubulação. Por outro lado, diâmetros menores implicam velocidades
altas e maiores perdas de carga. Em consequência, as alturas
manométricas são maiores, requerendo conjunto motobomba mais
potente e caro, exigindo maior consumo de energia elétrica. Esse aspecto
fica bem claro na Figura 76. O projetista deve analisar diversas opções,
escolhendo o diâmetro econômico (menor custo total).
Custo

Figura 76. Diâmetro econômico

177
8.5.1 Para bombas em funcionamento contínuo
Quando a estação elevatória é projetada para trabalhar 24 horas
por dia, a fórmula de Bresse é de grande utilidade prática para o pré-
-dimensionamento da tubulação de recalque, e o diâmetro da tubulação
pode ser estimado pela seguinte relação:

D=K Q [114]
em que:
D = diâmetro da tubulação (m);
Q = vazão (m³/s);
K = coeficiente que depende de uma série de fatores, como o custo
da energia, da tubulação e da instalação, fatores econômicos que variam
com a época do ano e a região, podendo assumir valores variando de
0,6 a 1,6, e geralmente o valor de K fica entre 0,7 e 1,3.

Para simplificar, alguns autores relacionam o fator K com a


velocidade da água na tubulação de recalque conforme a Tabela 61,
sendo o valor mais frequente K = 1. Para evitar uma análise econômica
mais detalhada, é recomendando, como medida de segurança, adotar o
valor K = 1,2.

Tabela 61. Valores de velocidade em função do coeficiente K da fórmula


de Bresse
K 0,75 0,80 0,85 0,90 1,00 1,10 1,20 1,30 1,40
V(m/s) 2,26 1,99 1,76 1,57 1,27 1,05 0,88 0,75 0,65

Como a fórmula de Bresse aborda o problema de determinação do


diâmetro econômico de forma muito simplificada, ela é indicada para
ser utilizada em anteprojetos. Para sistemas de menor porte, com
diâmetro de recalque de até 150 mm, o emprego da fórmula de Bresse
pode conduzir a um diâmetro aceitável. Para valores de diâmetro maior
ou sistemas mais complexos, recomenda-se uma análise mais criteriosa
na determinação do diâmetro.

178
8.5.2 Para bombas em funcionamento descontínuo
Nas estações elevatórias projetadas para trabalhar apenas Tx horas
por dia (Tx < 24), como os sistemas de recalque para reservatórios
residenciais ou prediais, para sistema de combate a incêndio a ABNT
(NBR 5226) recomenda a seguinte expressão:
0, 25
æ Tx ö
D = 1,3 Q ç ÷ [115]
è 24 ø

em que:
D = diâmetro da tubulação (m);
Q = vazão (m3/s);
K = coeficiente que varia de 0,75 a 1,40 (mais usados são valores
entre 1 e 1,2);
Tx = número de horas de funcionamento por dia.

O número de horas de funcionamento da bomba por dia depende


de cada tipo de projeto. No caso de projetos de combate a incêndio,
considera-se o tempo médio de funcionamento da bomba igual a 1 hora
(Tx = 1) (Brentano, 2011).

8.5.3 Dimensionamento baseado na velocidade de


escoamento
Conhecida a velocidade da água nas tubulações, pode-se
dimensionar a tubulação pela equação da continuidade, isto é:

4Q
D= [116]
pV

em que:
D = diâmetro da tubulação (m);
Q = vazão de escoamento (m³/s);
V = velocidade de escoamento (m/s).
179
Geralmente, a velocidade média das instalações de recalque situa-
-se entre 0,6 e 2,4 m/s. Nas instalações de recalque de grande extensão,
a velocidade deve ser baixa, entre 0,65 e 1,3 m/s. As maiores velocidades
são empregadas em instalações que funcionam apenas algumas horas
por dia.

8.6 Dimensionamento da linha de sucção


A canalização de sucção deve ser a mais curta possível e nunca
ultrapassar 7,5 m, que é o limite prático. Para o diâmetro de sucção,
recomenda-se adotar o diâmetro comercial imediatamente superior ao
adotado para o recalque.

8.7 Altura geométrica


A altura geométrica (Hg) representa o desnível entre o nível do líquido
da fonte de captação (reservatório de sucção) e o reservatório onde se
deseja recalcar o líquido. A altura geométrica pode ser dividida em duas
parcelas, chamadas de altura geométrica de sucção (Hs) e altura
geométrica de recalque (Hr)

Hg = Hs + Hr [117]

em que:
Hs = altura de sucção, dada pela distância vertical do nível do líquido
no reservatório até o eixo da bomba;
Hr = A altura geométrica de recalque é a distância vertical do eixo
da bomba até o ponto de descarga do recalque, conforme mostra a
Figura 77.
Quando o nível do líquido da fonte de captação estiver abaixo do
nível da bomba, o Hs é positivo e a bomba é dita de sucção positiva. No
caso contrário, a altura de sucção (Hs) é negativa e a bomba é
considerada afogada ou autoescorvante.

180
hf

hmin Hr

H5

Hman

Figura 77. Desenho esquemático de uma instalação de recalque

8.8 Altura manométrica


A altura manométrica (Hm) representa a energia total que o sistema
terá que vencer. É dada pela altura geométrica somada às perdas de
carga e às eventuais pressões necessárias no final da tubulação,
expressas em metros de coluna de água.
Quando o sistema de recalque está operando, verificam-se perdas
de carga acidentais e contínuas ao longo da tubulação. Desse modo,
podemos escrever, para as perdas de carga na tubulação de sucção,
2
V
hf s = J s L s + å K s [118]
2g
ou
hfs = Js (Ls + Lvs) [119]

181
em que:
hfs é a perda de carga total na sucção (m);
Lvs é o comprimento virtual da tubulação de sucção (m);
Ls é o comprimento da tubulação de sucção (m);
Js é a perda de carga unitária na tubulação de sucção (m/m);
K é o coeficiente de perda de carga de cada peça especial da
tubulação;
V é a velocidade de escoamento (m/s);
g é a aceleração de gravidade (m/s2).

Da mesma forma, tem-se para a tubulação de recalque:


2
VR
hf R = J R L R + å K [120]
2g
ou
hfR = JR (LR + LvR) [121]

A soma da altura geométrica (Hg) com as perdas de carga na sucção


e no recalque constitui a altura manométrica real ou total:

Hm = Hg + hfS + hfR + (V2/2g) [122]


em que V /2g é a parcela de energia cinética no recalque
2

(normalmente desprezada em virtude da pequena grandeza em relação


aos demais termos).

No sistema de irrigação por aspersão, normalmente o aspersor exige


uma determinada pressão de serviço (Ps) para adequado funcionamento,
então a altura manométrica pode ser obtida por

Hm = Hg + hfS + hfR + ha + Ps [123]


em que ha é a altura do aspersor e Ps é a pressão de serviço do
aspersor.

182
8.9 Potência da bomba
Com os dados de vazão e altura manométrica, escolhe-se a bomba
pela análise das curvas características fornecidas pelos fabricantes. A
potência absorvida no ponto de operação do sistema pode ser
determinada diretamente pela curva característica da bomba ou pela
equação
g QHm
Pb = [124]
75 h b
em que:
Pb = potência absorvida pela bomba (C.V.);
g = peso específico do fluido bombeado (kgf/m3);
Q = vazão da bomba (m3/s);
Hm = altura manométrica (m);
hb = rendimento da bomba (0 £ hb £ 1).

Considerando que o líquido a ser bombeado é a água (g = 1000 kgf/


m³), a fórmula pode ser escrita como:
QHm 0,37
Pb = [125]
100 h b
em que:
Pb = potência em cavalo vapor (C.V.);
Q = vazão da bomba (m3/h);
hb = rendimento da bomba [0 £ hb £ 1].

O rendimento da bomba é em função das perdas na transformação


da energia mecânica em energia hidráulica devido a uma série de fatores
como rugosidade da superfície das paredes internas da bomba,
vazamento nas junções, recirculação de líquido no interior da bomba,
energia dissipada no atrito entre as partes da bomba e entre o líquido e
a bomba. O rendimento da bomba depende da vazão, da altura
manométrica, do tipo de bomba, variando normalmente entre 30 % e
90 %. Para as bombas centrífugas de 1750 rpm, tem-se os valores médios

183
de eficiência na Tabela 62, que podem ser usados somente para um pré-
-dimensionamento. No entanto, no projeto de bombas deve-se consultar
o rendimento da bomba selecionada para as condições de vazão e altura
manométrica do projeto. Essa informação é obtida nas curvas
características da bomba, que é fornecida pelo fabricante.

Tabela 62. Valor de rendimento médio de bomba centrífuga de 1750 rpm


Q (L/s) 5 7,5 10 15 20 25 30 40 50 100 200
nb (%) 52 61 66 68 71 75 80 84 85 87 88
Fonte: Azevedo Netto (1998).

8.10 Potência do motor


O acionamento da bomba pode ser feito de diversas formas. Entre
elas pode-se citar o uso de motores elétricos, motores estacionários,
turbinas hidráulicas, energia eólica, ou rodas d’água. Os motores
estacionários, pelo maior custo, são aplicados nos sistemas de combate
a incêndio ou onde não há energia elétrica. Os motores elétricos são os
de melhor relação custo/benefício e por isso são geralmente usados.
A potência instalada, considerando o rendimento do motor de
acionamento, é calculada por:
Pb
Pins = [126]
hm
O rendimento do conjunto motobomba pode ser calculado pelo
produto do rendimento do motor (hm) pelo rendimento da bomba (hb),
isto é:
h = hm hb [127]

Em geral, podem ser tomados os seguintes rendimentos para


motores elétricos para a potência indicada na placa do motor (Tabela
63):

184
Tabela 63. Rendimentos aproximados dos motores elétricos trifásicos
Potência (HP) Rendimento (hm) Potência (HP) Rendimento (hm)
¼ 0,58 4 0,80
1
/3 0,60 5 0,81
½ 0,64 7½ 0,83
¾ 0,67 10 0,84
1 0,72 15 0,86
1½ 0,73 20 0,86
2 0,75 30 0,87
2½ 0,76 50 0,88
3 0,77 100 0,90
Fonte: Azevedo Netto (1998).

Azevedo Netto (1982) recomenda que a potência instalada tenha


um acréscimo (folga) em relação à potência absorvida como margem
de segurança para evitar que o motor venha, por uma razão qualquer, a
operar com sobrecarga. A Tabela 64 apresenta a folga necessária para
motores elétricos.

Tabela 64. Folga recomendada para motores elétricos


Potência absorvida (HP) Folga (%)
Até 2 50
De 2 a 5 30
De 5 a 10 20
De 10 a 20 15
Acima de 20 10
Fonte: Azevedo Netto (1998).

Nos catálogos de bombas fornecidos por alguns fabricantes, podem


ser encontrados valores de folga recomendada que difiram ligeiramente
dos valores da Tabela 63. Para motores a óleo diesel, recomenda-se
uma folga de 25 % e a gasolina 50 %, independentemente da potência
calculada.
Para a determinação da potência instalada (Pins), deve-se observar
que os motores elétricos nacionais são fabricados com as seguintes
potências comerciais em HP, padronizadas pela ABNT, cujos valores são
¼, 1/3, ½, ¾, 1, 1 ½, 2, 2 ½, 3, 4, 5, 6, 7 ½, 10, 12, 15, 20, 25, 30, 40, 45, 50,
60, 75, 80, 100, 125, 150, 200 e 250.

185
O consumo de energia pelo conjunto motobomba pode ser calculado
por:
E = 735 Pins Ht [128]

em que :
E = o consumo de energia (W);
Pins = potência instalada (C.V.);
Ht = horas de funcionamento (h).

Uma bomba funcionando próximo do rendimento máximo


economiza energia. A Tabela 65 fornece os valores de consumo de
energia para motores a diesel e alguns motores elétricos.

Tabela 65. Consumo de energia de diversos motores


Potência do Consumo de motor
motor (C.V.) Diesel(L/h) Elétrico (kW/h)
Monofásico Trifásico
e bifásico
1 0,225 1,13 1,01
2 0,450 2,16 1,96
3 0,677 3,20 2,90
4 0,902 4,15 3,87
5 1,188 5,11 4,84
6 1,353 6,05 -
7,5 1,602 7,46 7,08
8 1,805 7,96 -
9 2,030 8,83 -
10 2,256 9,68 9,44
12,5 2,820 11,90 11,40
15 3,384 14,20 13,50
20 4,513 18,60 17,70
25 5,641 23,0 21,90
30 6,769 - 25,70
40 9,026 - 33,80
50 11,283 - 41,30
60 13,539 - 49,60
75 16,926 - 61,30
100 22,567 - 81,80
125 28,209 - 102,00
150 33,852 - 123,00
200 45,135 - 164,00

186
8.11 Curvas características de tubulação
Para a solução de problemas de estações de recalque e seleção da
bomba, é necessária a definição das curvas características da tubulação
ou da instalação. Essa curva expressa a relação entre a altura
manométrica e a vazão, e pode ser obtida calculando-se a altura
manométrica para diferentes valores de vazão dentro da faixa de
operação da bomba.
A altura manométrica foi definida como a altura geométrica somada
às perdas de carga nas tubulações de sucção e recalque, isto é:
H m = H g + hf s + hf r [129]
em que:
Hm = altura manométrica (m);
Hg = altura geométrica (m);
hfs = perdas de carga na tubulação de sucção (m);
hfr = perdas de carga na tubulação de recalque (m);
No cálculo de perdas de carga, devem-se considerar as perdas
distribuídas ao longo da tubulação e também as localizadas. Adotando-
-se o método dos comprimentos equivalentes, o cálculo das perdas de
carga pode ser expresso por:
Hf = J L [130]
em que:
J = perda de caga unitária (m/m);
L = comprimento virtual da tubulação (m), dado pela soma do
comprimento real com o comprimento equivalente.
Adotando a fórmula universal de perda de carga, tem-se:
LV 2
hf = f [131]
D 2g
Expressando em função da vazão, obtém-se:

8LQ 2
hf = f [132]
p 2 D5g
187
Considerando
8L
K=f [133]
p D5g
2

pode-se calcular a perda de carga por:


hf = KQ2 [134]

Como o diâmetro da tubulação e o valor de f são diferentes na


tubulação de sucção e no recalque, pode-se apresentar a função para o
cálculo da carga na tubulação conforme esta fórmula:
H = H g + K s Q2 + K r Q 2 [135]

Se a fórmula empregada for a de Hazen-Williams, tem-se:

LQ1,852
hf = 10,65 [136]
C1,852 D 4 ,87
L
Considerando K = 10,65 1,852 [137]
C D 4,87
hf = KQ1,852 [138]

H = H g + K s Q1,852 + K r Q1,852 [139]

Atribuindo valores de vazão crescente, pode-se estimar o valor da


carga e traçar a curva do sistema.
Exemplo 41: Determinar a curva característica da tubulação de uma
bomba com os seguintes dados:
• altura geométrica de sucção: 2 m
• altura geométrica de recalque: 15 m
• vazão de projeto: 25 L/s
• diâmetro da tubulação de sucção: 200 mm
• diâmetro da tubulação de recalque: 150 mm
• comprimento da tubulação de sucção: 5 m

188
• comprimento da tubulação de recalque: 250 m
• coeficiente de rugosidade Hazen-Williams C: 130
• Ks = 16,42
• Kr = 3331,98
Atribuindo valores crescentes de vazão, obtêm-se os dados da Tabela
66, representados na Figura 78.

Tabela 66. Cálculos da carga para determinação da curva característica da tubulação


Q - Vazão H - Carga
(m³/h) (m³/s) (m)
20 0,0056 17,22
40 0,0111 17,80
60 0,0167 18,70
80 0,0222 19,90
100 0,0278 21,39
120 0,0333 23,15
140 0,0389 25,19
160 0,0444 27,49
180 0,0500 30,04
200 0,0556 32,85
220 0,0611 35,91

Figura 78. Curva característica da tubulação

189
8.12 Curva característica da bomba
A curva característica é um gráfico que relaciona a vazão e a altura
manométrica da bomba com uma série de outras características, como
rotação, diâmetro do rotor, potência absorvida, eficiência da bomba e
NPSH requerido. Essas curvas características são obtidas em laboratório
e são fornecidas pelo fabricante, para cada modelo de bomba. A forma
de apresentação pode variar de acordo com o fabricante.
Como os motores elétricos de corrente alternada de 2 e 4 polos são
de menor custo e mais utilizados nas instalações hidráulicas prediais e
industriais, as curvas características foram determinadas para essas duas
opções. O número de rotações pode ser determinado pela relação

120 f
R= [140]
p
em que:
R = número de rotações por minuto (rpm);
f = frequência (no Brasil, f = 60 Hz);
p = número de polos.
Dessa forma, o número de rotações dos motores elétricos de 2 e 4
polos é, respectivamente, de 3600 rpm e 1800 rpm. No entanto, para
compensar a diminuição da rotação do motor que ocorre com o
aumento da vazão, os fabricantes de bomba resolveram adotar duas
rotações padronizadas, garantindo que todos os pontos apresentados
na curva característica funcionem numa rotação constante, conforme
a Tabela 67. Existem ainda bombas ensaiadas para motores com 6 polos;
no entanto, como o custo delas é bem mais elevado, raramente são
empregadas.

Tabela 67. Rotação dos motores elétricos


No de polos Rotação síncrona (rpm) Rotação padrão (rpm)
2 3600 3500
4 1800 1750
6 1200 1150

190
Os motores elétricos de menor número de polos têm menor custo.
Por isso, em geral, há preferência pelas bombas de 3500 rpm. No entanto,
além dos custos de aquisição, devem-se considerar os custos de
manutenção. Assim, em projetos de grandes bombas é necessária uma
análise mais criteriosa para a seleção da bomba. Os motores de baixa
rotação geralmente apresentam menos problemas de manutenção e
menor gasto com energia quando comparados com a mesma bomba
sujeita a uma rotação maior. Por isso, para as bombas de maior potência
há preferência por motores de baixa rotação. Para os motores de
potência inferior a 10 CV, geralmente a única opção é a de 3500 rpm.
Os fabricantes com grande número de opções de modelos de bombas
apresentam um diagrama denominado de “campo de aplicação das
bombas” ou “mosaico de utilização de bombas centrífugas”, com a
finalidade de auxiliar na seleção da bomba. Na Figura 79 está
representado o campo de aplicação de bombas centrífugas KSB com
3500 rpm. Admitindo que se deseje selecionar uma bomba para a vazão
de 20 m³/h, e altura manométrica de 30 m, observa-se que a bomba
indicada pelo fabricante é a bomba 32-125.1. Dessa forma, pode-se ir
diretamente à página do catálogo e obter as curvas características da
bomba (Figura 80).
O diagrama de curvas características geralmente é formado por uma
junção de várias curvas num único diagrama. A curva que relaciona a
altura manométrica com a vazão mostra que, à medida que aumenta a
vazão, diminui a altura manométrica (Figura 81, a). Também são
apresentadas as curvas de rendimento da bomba para cada vazão (Figura
81, b). Geralmente, os fabricantes apresentam as curvas somente para
a faixa de vazão de aplicação. Ainda são fornecidas as curvas de NPSH
requerido pela bomba (NPSHr) (Figura 81, c) e potência (Figura 81, d) em
função da vazão. Normalmente, os ensaios de bombas são realizados
para o rotor com o diâmetro máximo. No entanto, como existem as
opções para redução do diâmetro do rotor, o fabricante também
apresenta curvas para outros diâmetros possíveis de ser utilizados. Como
o diâmetro do rotor tem pouca influência no NPSHr, em alguns casos o
fabricante somente apresenta a curva de NPSHr para o diâmetro máximo
ou as curvas para os diâmetros máximo e mínimo.

191
Figura 79. Mosaico de campo de utilização da Bomba KSB Meganorm

Na Figura 80 constam várias curvas características para a bomba


selecionada: diâmetro do rotor: 138 mm; rendimento da bomba:
62,55%; NPSHr: 3,5 m; potência: 3,5 hp.
Observa-se que, para essa bomba, com diâmetro de rotor de 144
mm, o ponto de funcionamento ideal, que corresponde ao melhor
rendimento, é para a vazão de 23 m³/h e a altura manométrica de 31 m,
correspondendo à eficiência de 64 %. A mesma bomba, se colocada para
funcionar com 37,5 m de altura manométrica, teria vazão de 12 m³/h e
eficiência de 52,5 %.

192
Figura 80. Curva característica da Bomba KSB 32-125.1

193
Figura 81. Curvas características típicas de bombas centrífugas radiais

8.13 Ponto de trabalho


Em um determinado sistema e recalque, quando a bomba é ligada, a
vazão aumenta gradativamente, aumentando a Hm até atingir o
equilíbrio no ponto em que as curvas características da bomba e da
tubulação se cruzam. Esse ponto é chamado de ponto de trabalho. A
escolha de uma bomba deve ser baseada no princípio de que o ponto
deve estar localizado na faixa em que a bomba tem um rendimento
máximo.
As bombas centrífugas são máquinas projetadas para ser usadas em
faixas de vazão e altura manométrica bem definidas, nas quais seu
rendimento é máximo. No entanto, pode-se trabalhar com vazões
menores ou maiores, em alturas maiores ou menores respectivamente.
Para o Exemplo
41, tendo como base
a curva característica
da bomba KSB Mega-
norm 80-250 (1750
rpm) (Figura 82), tem-
se o ponto de trabalho
aproximado para a
vazão de 105 m³/h e a
altura manométrica
de 22 m (Figura 83). Figura 82. Curva característica da bomba KSB Meganorm
80-250, de 1750 rpm

194
Figura 83. Ponto de trabalho da bomba

8.14 Associação de bombas


Quando uma única bomba não é capaz de atender as condições de
vazão ou altura do projeto, podem-se associar duas ou mais bombas,
em paralelo ou em série (Figura 84). As bombas associadas em paralelo
têm por objetivo o aumento da vazão. Assim, duas bombas associadas
em paralelo, recalcando água em uma única tubulação, terão a mesma
altura manométrica com o dobro da vazão. É recomendável que cada
bomba tenha sua tubulação de sucção independente.
Nas bombas associadas em série tem-se a mesma vazão, porém
somam-se as alturas manométricas de cada bomba. As bombas de
múltiplo estágio nada mais são que bombas ligadas em série numa mesma
carcaça. A vazão que passa em cada rotor é a mesma, sendo adicionadas
novas pressões.

195
Figura 84. Esquema de bombas trabalhando em paralelo e em série

8.15 Rotação específica


A rotação específica ou velocidade específica ou ainda o número
de Brauer é um índice adimensional de projeto que identifica a
semelhança geométrica entre bombas. É usada para classificar os rotores
de acordo com seus tipos e proporções (Figura 85). Bombas de mesma
velocidade específica, ainda que de tamanhos diferentes, são
consideradas geometricamente semelhantes, mesmo sendo uma bomba
um tamanho múltiplo da outra. Considerando uma bomba “Unidade”
como modelo para a vazão (Q) de 1 m³/s e a altura manométrica (Hm)
de 1 m, e uma bomba real com N rotações, em que Hm e Q são retirados
do ponto de máximo rendimento, a rotação da bomba “Unidade” (nq)
pode ser expressa matematicamente pela seguinte equação:

N Q
nq = [141]
4
Hm 3

em que:
nq = rotação específica (rpm);

196
Q = vazão (m³/s);
Hm = altura manométrica (m);
N = rotação (rpm);

Observações:
a) Os valores de N, Q e Hm devem ser retirados do ponto de máximo
rendimento da bomba.
b) Em bombas com rotores de dupla sucção, dividir a vazão por 2
para entrar na fórmula.
c) Em bombas de multiestágios, dividir a altura manométrica total
Hm pelo número de estágios.
O nq representa o número de rotações da bomba geometricamente
semelhante à bomba considerada, capaz de elevar 1m³/s de água à altura
de 1 m.

Figura 85. Tipo de bomba de acordo com a rotação específica

197
De acordo com Santos (2007), após a determinação dos valores de
nq para várias bombas centrífugas radiais, foi estabelecido que a faixa
para esse tipo de bomba é de 10 a 40 rpm. Na Tabela 68 constam as
indicações do tipo de bomba em função da rotação específica.
A rotação específica pode ser utilizada na escolha entre bombas com
rotação de 3500 ou 1750 rpm. Pode-se calcular o nq para as duas
situações e selecionar aquela que cair dentro da faixa de bombas
centrífugas radiais.

Tabela 68. Classificação de bombas em função da rotação específica (nq).


nq (Rotação Tipo de bomba
específica) (rpm)
< 10 Deslocamento positivo, engrenagem,
pistões, palhetas, etc.
10 a 40 Centrífuga radial
35 a 80 Centrífuga helicoidal
80 a 150 Centrífuga diagonal
125 a 500 Axial
Fonte: Santos (2007).

Exemplo 42: Verificar a rotação específica nq para a bomba projetada


para a vazão de 25 L/s e a altura manométrica de 20 m.

1750 0,025
Para bomba 1750 rpm : n q = 4
= 29,3
20 3

3500 0,025
Para bomba 3500 rpm: n q = 4
= 58,5
20 3
Dessa forma, indica-se a bomba de 1750 rpm para adotar como
bomba centrífuga radial. Também nas situações em que a rotação
específica apresentar valores relativamente baixos, devido ao fato de
haver uma altura manométrica alta em relação à vazão, com a rotação
específica caindo na faixa de bombas com deslocamento positivo (nq <
10 rpm), podemos usar o valor mínimo da rotação específica para calcular

198
o número de bombas ou o número de estágios em uma bomba
multiestágio pela expressão
4
æ n 4 Hm3 ö 3

Z=ç ÷
q
ç N Q ÷ [142]
è ø

em que:
z = número de bombas ou rotores;
nq = rotação específica desejada (mínimo 10);
Hm = altura manométrica (m);
N = rotação da bomba (rpm);
Q = vazão (m³/s).

Exemplo 43: Uma instalação hidráulica necessita de 8 m³/h de água


com carga manométrica de 150 m. Escolher a rotação e o tipo de bomba
mais adequado levando em conta o menor custo possível.
Calculando o valor de rotação específica:

3500 0,00222
nq = = 3,85 rpm
3
150 4
Portanto, para motor com 3500 rpm, já fica indicado que não pode
ser bomba centrífuga radial (nq < 10), devendo-se usar motor de
deslocamento positivo. Uma solução é procurar usar motor de múltiplos
estágios. Adotando o limite de 10 para rotação específica, o número de
estágios é dado por:
4
æ 10 1500,75 ö 3
Z=ç ÷
ç 3500 0,002222 ÷ = 3,57 ¨4 bombas ou uma bomba com
è ø
rotor de 4 estágios.

199
Consultando o catálogo de bombas Schneider, verifica-se que a
bomba ME-24125, com 4 estágios e potência de 12,5 CV atende as
necessidades.

8.16 Rotação específica com potência unitária (ns)


Considerando a vazão unitária de 75 L/s e a potência unitária de 1
CV, a rotação específica é calculada por

N Q
n s = 3,65 [143]
4
Hm3
ou ns = 3,65 nq

Da mesma forma, a rotação específica, relativa à vazão, é dada por:

N P
ns = [144]
4
Hm 5

em que:
ns = rotação específica (rpm);
N = rotação (rpm);
P = potência (CV);
Hm = altura manométrica (m).
Notas:
1. Para bombas de múltiplo estágio, deve-se dividir a vazão pelo
número de estágios (rotores);
2. Para bombas com entrada bilateral, a vazão deve ser dividida por
dois.
Bombas podem ser classificadas de acordo com a Tabela 69.

200
Tabela 69. Classificação de bombas em função da rotação específica ns
Denominação ns (rpm) Tipo de bomba
Lenta 30 < ns < 90 Bomba centrífuga pura, com pás
cilíndricas, radiais, para pequenas ou
médias vazões
Normal 90 < ns < 130 Semelhante à anterior
Rápida 130 < ns < 220 Bomba com pás de dupla curvatura
Extrarrápida ou
hélico-centrífuga 220 < ns < 440 Pás de dupla curvatura, para vazões
médias e grandes
Helicoidal 440 < ns < 500 Para grandes vazões
Axial ns > 500 Assemelha-se a hélices de propulsão e
destina-se a grandes vazões e
pequena altura manométrica

8.17 Mudanças nas curvas características


Quando o acionamento das bombas é realizado com uma rotação
não padronizada, por exemplo, utilizando-se motores de combustão
interna, turbinas hidráulicas, motores especiais, as curvas características
dos catálogos devem ser corrigidas para a nova condição. As principais
alterações de comportamento em função da alteração da condição de
funcionamento da bomba são:
a) Alteração na rotação da bomba:
Uma bomba que funciona na rotação R0 quando colocada para
funcionar na rotação R1:

æ R1 ö
Ö alteração na vazão: Q1 = Q 0 çç R ÷÷ [145]
è 0ø
2
æ R1 ö
Ö alteração na pressão: H1 = H 0 çç ÷÷ [146]
è R0 ø
3
æ R1 ö
Ö alteração na potência: P1 = P0 çç ÷÷ [147]
R
è 0ø
201
em que:
Q0 = vazão inicial (m³/s);
Q1 = vazão final (m³/s);
H0 = Pressão inicial (m.c.a.);
H1 = pressão final (m.c.a.);
P0 = potência inicial (CV);
P1 = potência final (CV).

Exemplo 44: Uma bomba centrífuga de 3500 rpm que fornece a vazão
de 25 m³/h com altura manométrica de 52 m.c.a. e potência de 10 CV é
colocada para funcionar com 2750 rpm. Verificar as alterações no
funcionamento:
R0 = 3500; Q0 = 25 m³/h; H0 = 52 m.c.a.; P0 = 10 CV
R1 = 2750 rpm = redução de 21,4 % da rotação

æR ö 2750 ö
Q1 = Q 0 çç 1 ÷÷ è Q1 = 25æç 3
÷ = 19,6 m / h
R
è 0ø è 3500 ø
2 2
æR ö
H1 = H 0 çç 1 ÷÷ è H 1 = 52æç 2750 ö÷ = 32,1 mca
è R0 ø è 3500 ø
3 3
æ R1 ö æ 2750 ö
P1 = P0 çç ÷÷ è P1 = 10ç ÷ = 4,8CV
è R0 ø è 3500 ø

Verifica-se que a redução de 21,4 % na rotação causa redução de


21,4 % da vazão, de 38,3 % da pressão e de 52 % da potência absorvida.

b) Alteração no diâmetro do rotor:


Da mesma forma que a alteração na rotação, a alteração no
diâmetro do rotor leva a alterações proporcionais na vazão, potência e
pressão. Em geral, admite-se que os rotores podem ser reduzidos, no

202
máximo, 20 % do seu diâmetro original. Os novos valores de vazão,
potência e pressão podem ser estimados pelas equações:

æD ö
Q1 = Q 0 çç 1 ÷÷ [148]
è D0 ø
2
æD ö
H1 = H 0 çç 1 ÷÷ [149]
è D0 ø
3
æD ö
P1 = P0 çç 1 ÷÷ [150]
è D0 ø

Exemplo 45. Da curva característica, observa-se que uma bomba


com rotor de 160 mm fornece 100 m³/h à altura de 40 m.c.a com potência
de 19 CV. Verificar as alterações se o diâmetro do rotor for reduzido
para 140 mm.

D0 = 160 mm; Q0 = 100 m³/h; H0 = 40 m.c.a.; P0 = 19 CV


D1 = 140 mm = redução de 12,5 % do diâmetro do rotor

æD ö 140 ö
Q1 = Q 0 çç 1 ÷÷ ¨ Q1 = 100æç 3
÷ = 87,5m / h
è D0 ø è 160 ø
2 2
æD ö
H1 = H 0 çç 1 ÷÷ ¨ H 1 = 40æç 140 ö÷ = 30,6 mca
è D0 ø è 160 ø
3 3
æD ö 140 ö
P1 = P0 çç 1 ÷÷ ¨ P1 = 19æç ÷ = 12,7 CV
è D0 ø è 160 ø

203
8.18 Cavitação
Quando a pressão no interior da bomba hidráulica cai abaixo da
pressão de vapor, haverá a formação de bolhas no interior das quais o
líquido se vaporiza. Com a condução da corrente líquida em grande
velocidade, essas bolhas atingem zonas com grande pressão, onde se
verifica seu colapso brusco e condensação. Essa passagem ocorre de
forma brusca e o líquido atinge a superfície do rotor em alta velocidade,
produzindo alta pressão em superfície reduzida. Esse processo, chamado
de cavitação, diminui o rendimento da bomba, danifica o rotor e a
carcaça da bomba, provoca ruídos e trepidação, diminuindo a vida útil
da bomba.
Para evitar a ocorrência do fenômeno da cavitação, as bombas
devem funcionar com uma condição de aspiração adequada,
caracterizada pelo termo NPSH (Net Positive Suction Head), que
representa a energia disponível na entrada da bomba. Cada bomba tem
um NPSH requerido (NPSHr), fornecido pelo fabricante, que representa
a energia do líquido que a bomba necessita para seu funcionamento. O
projetista deve calcular o NPSH disponível (NPSHd) e, para o bom
funcionamento da bomba, ele deve ser maior que o requerido, isto é,
NPSHd > NPSHr.

O NPSHd é dado por


NPSHd = Patm – Hs – hfs – Pv [151]

em que:
Patm = pressão atmosférica (m);
Hs = altura de sucção (m);
hfs = perdas de carga na sucção (m);
Pv = pressão de vapor (m).
A pressão atmosférica pode ser calculada como:
Patm = 10,336 – 0,0011 H [152]
em que H é a altitude local (m).

204
A pressão de vapor pode ser calculada pela equação de Tétens:

æ 7,5t ö
çç ÷
è 237,3 + t ÷ø [153]
Pv = 0,062286x10

em que:
Pv = pressão de vapor (m.c.a.);
t = temperatura ambiente (oC).
Para que não ocorra cavitação, é necessário que a energia de que o
líquido dispõe na entrada da bomba seja maior que a energia que vai ser
consumida no interior da bomba. Para segurança, é recomendada uma
folga de 5 %, limitada a um mínimo de 0,3 m, isto é,
1,05 NPSHd > NPSHr + 0,3 [154]
Quando o fabricante não fornece a curva NPSHr em função da vazão,
pode-se calcular um valor aproximado para o NPSHr pelas seguintes
expressões:
NPSHr = j nq 4 / 3 Hm [155]

NPSHr = j n 4 / 3 Q 2 / 3 [156]

em que:
NPSHr = NPSH requerido (m);
j = fator que depende da rotação específica (nq) (Tabela 70);
Q = vazão no ponto do rendimento máximo (m³/s);
N = rotação nominal da bomba (rpm).

Tabela 70. Fator j para cálculo do NPSHr


Fator j Tipo de bomba
0,0011 Centrífuga radial, lenta e normal
0,0013 Helicoidal e hélio-axial
0,00145 Axial

205
Exemplo 46: Estimar o NPSHr de bomba centrífuga de 3500 rpm, em
que a vazão no ponto de rendimento máximo é 6,4 L/s e a altura
manométrica é de 31 m.

NPSHr = 0,0011(3500 ) 4 / 3 (0,0064 ) 2 / 3 = 2,015 m

8.19 Instalação da bomba centrífuga


Na instalação de uma bomba centrífuga recomenda-se adotar os
seguintes cuidados:
- manter a tubulação de sucção de menor comprimento possível
para diminuir as perdas de carga e diminuir a possibilidade de cavitação
(formação de bolha de ar na tubulação);
- não colocar registro na tubulação de sucção por causa da perda
de carga e de uma eventual entrada de ar. O registro deve ser colocado
na tubulação de recalque;
- a tubulação de sucção deve ter diâmetro maior que a tubulação
de recalque para diminuir as perdas de carga e a velocidade de
escoamento;
- usar redução excêntrica na entrada da bomba para evitar
aprisionamento de ar;
- a válvula de pé deve ter área maior que a do cano (recomenda-se,
no mínimo, três vezes a área do cano);
- o crivo não deve ficar muito próximo ao fundo nem às paredes;
- os encanamentos devem ficar escorados para evitar danos à
bomba;
- a bomba deve ficar em local de fácil acesso;
- recomenda-se colocar a válvula de retenção na linha de recalque;
- antes de pôr a bomba em funcionamento, deve-se escorvá-la
(encher com água);
- nunca permitir o funcionamento da bomba sem água no seu
interior;
- o conjunto motobomba deve estar bem nivelado e alinhado, bem
fixo (chumbado) à base da fundação a fim de evitar ruídos e vibrações.

206
8.20 Etapas de um projeto de estação elevatória
Para a elaboração de um projeto de estação elevatória, recomenda-
-se seguir estes passos:
1o) Determinar os dados de vazão necessária (Q), características do
líquido, peso específico, viscosidade, agressividade, etc.
2o) Traçar a linha, com o levantamento da altura geométrica de
sucção, a altura geométrica de recalque, o comprimento das tubulações
e as peças necessárias;
3o) Definir o material da tubulação;
4o) Determinar o diâmetro da tubulação de recalque;
5o) Determinar o diâmetro da tubulação de sucção;
6o) Calcular as perdas de carga nas tubulações;
7o) Determinar a altura manométrica total;
8o) Calcular a rotação específica e determinar o tipo de bomba e a
rotação adequadas;
9o) Pré-selecionar a bomba no diagrama de campo de aplicação da
bomba;
10o) Consultar a curva característica da bomba, determinando o
ponto Q x Hman.
11o) Determinar a curva característica da instalação;
12o) Traçar a curva característica da instalação sobre a curva
característica da bomba e escolher o diâmetro do rotor que permita
uma vazão um pouco maior que a vazão necessária;
13o) Calcular o NPSH disponível;
14o) Verificar as condições de cavitação;
15o) Calcular a potência da bomba;
16o) Calcular a potência do motor;
17o) Listar todos os itens e orçar o custo do sistema.

8.21 Exemplo de projeto de bombas


Dimensionar uma bomba para recalcar 14 L/s de água de um rio
para uma estação de tratamento por um período de 12 horas diárias. A

207
localidade está situada a 100m de altitude e a temperatura média nos
meses mais quentes é de 24 oC. As condições topográficas do local
definem:
- altura geométrica de sucção = 3,5 m;
- altura geometria de recalque = 25,5 m;
- comprimento da tubulação de sucção = 5,5 m;
- comprimento da tubulação de recalque = 240 m;
- peças na tubulação de sucção: válvula de pé com crivo (1); curva
90 (1) e redução (1).
o

- peças na tubulação de recalque: ampliação gradual, válvula de


retenção; registro gaveta (2), curva 90o (5), tê passagem direta (3), saída
da canalização.
Ö Determinação dos diâmetros da tubulação de recalque e sucção:
0,25 0,25
æ Tx ö æ 12 ö
Dr = 1,3 Q ç ÷ = 1,3 0,014ç ÷ = 0,129 m = 129 mm
è 24 ø è 24 ø

Será adotado no recalque tubo de PVC (C = 140) com diâmetro


comercial de 125 mm e na sucção a tubulação de ferro (C = 130) com
diâmetro de 150 mm. Com isso, as velocidades na tubulação de sucção
(Vs) e recalque (VR) são:
4 × 0,014
VS = = 0,79 m / s
p × (0,150)2

4 × 0,014
VR = = 1,14 m / s
p × (0,125)2
Ö Determinação das perdas de carga na sucção:
• Perdas localizadas: utilizando o método de Borda Belanger:
Peça K
Válvula de pé com crivo 2,5
Curva 90o 0,4
Redução 0,15
Soma 3,05

208
hf = K
V2
= 3,05
(0,79)2 = 0,097m
2g 2 × 9,8

• Perdas ao longo da tubulação:

J = 10,65
Q 1,852
= 10,65
(0,014 ) 1,852
= 0,0049 m / m
1,852
C D 4 ,87
(130 )1,852 (0,15)4,87
2
Vs
hf s = J s L s + å K
2g
= 0,0049 m/m5,5 m + 0,097m = 0,124 m

Ö Determinação das perdas de carga no recalque:


• Perdas localizadas, utilizando o método dos comprimentos
equivalentes:
Peça N Lv N Lv
Ampliação 1 ? -
Válvula de retenção 1 12,5 12,5
Registro gaveta 2 1,1 2,2
Curva 90o 5 1,9 9,5
Tê passagem direta 3 3,3 9,9
Saída da canalização 1 4,9 4,9
Soma - - 39,0

Como não consta o valor do comprimento virtual para a ampliação,


será utilizado o método de Borda-Belanger para esta peça:

hf = K
V2
= 0,3
(1,14 )2 = 0 ,020 m
2g 2 × 9 ,8

J = 10 , 65
Q 1 , 852
= 10 , 65
(0 , 014 )1,852 = 0 , 0104 m / m
C 1 , 852 D 4 , 87 (140 )1, 852 (0 ,125 )4 ,87
hf = J Lv = 0,0104 m/m 39,0 m + 0,020m = 0,426 m

209
• Perdas ao longo da tubulação:
hf R = JRLR
hf R = 0,0104 m/m 210 m = 2,496 m

• Perdas no recalque = 0,426 m + 2,496 m = 2,922 m


• Perda de carga total:
Hf = hfS + hfR = 0,124 m + 2,922 m = 3,046 m

• Altura geométrica:
Hg = HS + HR = 3,5 m + 25,5 m = 29,0 m

• Altura manométrica:
Hmam = Hg + hf = 29,0 m + 3,0466 m =32,046 m
• Potência absorvida pela bomba:
Utilizando a curva característica da bomba com diâmetro do rotor
de 140 mm, verifica-se uma eficiência aproximada de 72 % com potência
absorvida de 8,2 CV. Calculando a potência absorvida, temos:
g QHm 1000 × 0,014 × 31,734
Pb = = = 8,3 CV
75 h b 75 × 0,72

Considerando a folga de 20 %, a potência instalada será de:


Pins = Pabs 1,20 = 9,96 CV, adquirindo portanto, o motor comercial
de 10 CV.

• O consumo de energia será de:


E = 735 . Pins = 735 x 10 = 7350 W/h = 7,35 kW/h

• Verificação de condição de cavitação:


O NPSH requerido pela bomba, segundo o fabricante, é calculado
por:

V2
NPSHr = 10 - Hs + + 0,5
2g

210
em que:
Hs é o valor fornecido na curva característica;
V e a velocidade na tubulação de sucção.

NPSHr = 10 - 7,1 +
(0,79 )2 + 0,5 = 3,432 m
2 × 9,8
NPSHd = Patm ± Hs – hfs – pv
Patm = 10,224
Pv = 0,304
NPSHd = 10,224 m – 3,5 m – 0,124 m – 0,304 m = 6,296 m
1,05 x NPSHd > NPSHr + 0,3
1,05 x 6,296 > 3,432 + 0,3
6,611 > 3,732 ¨ Portanto, não há riscos de cavitação.

8.22 Carneiro hidráulico


O carneiro hidráulico (Figura 86) é uma
máquina motora que recalca água, aproveitando
o aumento de pressão devido ao efeito
denominado golpe de aríete. O carneiro hidráulico
foi inventado em 1796 pelo cientista francês
Jacques E. Montgolfier e funciona de acordo com
o princípio da equivalência entre a energia cinética
e trabalho mecânico. Pode ser uma solução para
pequenas vazões, aplicável a pequenos Figura 86. Carneiro
produtores rurais, e a regiões onde o acesso à hidráulico
rede convencional de energia é limitado.
As principais vantagens do carneiro hidráulico são (Figura 87):
Ö É uma máquina simples, robusta e de baixo custo;
Ö Apresenta rendimento (h) relativamente elevado, podendo variar,
na maioria dos casos, de 50 % a 80 %;
Ö Apresenta baixo custo de manutenção;
Ö Trabalha dia e noite (24h / dia) sem qualquer energia externa,
exceto a da própria queda d’água.
211
O carneiro hidráulico é constituído dos seguintes elementos:
Tubos de admissão: conduz a água do manancial até o aríete. Nos
de dupla ação, existem dois tubos: um para água suja, cuja energia é
usada para o recalque, e outra de água limpa, que se juntam depois da
válvula de escape e antes da válvula de recalque.
Válvula de escape: posicionada junto ao tubo de alimentação e
acoplada a um braço articulado, é provida de contrapeso. Esta válvula,
ao fechar-se, provoca o denominado golpe de aríete.
Válvula de recalque: acoplada à extremidade interna do tubo de
admissão, na base da campânula, fecha-se sob a carga de recalque,
impedindo o retorno da água.
Válvula de admissão de ar: localiza-se na base da campânula,
imediatamente abaixo da válvula de recalque. Tem por função
estabelecer o equilíbrio da pressão interna do tubo de admissão com a
pressão atmosférica, imediatamente depois de ter ocorrido o golpe de
aríete.
Campânula de ar: posicionada sobre a base do aríete, tem a função
de conter certo volume de ar, necessário ao funcionamento do carneiro
hidráulico.
Tubo de descarga: conduz a água sob pressão da base da campânula
à tubulação de recalque.

Figura 87. Elementos do carneiro hidráulico

212
O funcionamento do carneiro hidráulico pode ser descrito da seguinte
maneira: Ao abrir a válvula de escape (v), um fluxo de água (Q) conduzido
pela tubulação de adução (a) escoa com velocidade crescente. À medida
que aumenta a velocidade, a válvula de escapamento é forçada até que
se fecha abruptamente. Nesse momento, ocorre uma súbita interrupção
do fluxo de alta velocidade, que provoca o fenômeno denominado de
golpe de aríete, caracterizado por um aumento repentino da energia de
pressão. O aumento da pressão determina a abertura da válvula de
recalque (r) e uma parte da água entra na campânula (c), comprimindo
o ar, e a válvula de recalque se fecha. Na campânula se restabelece o
equilíbrio da pressão do ar com aquela de recalque, baseado num
determinado volume de água. No tubo de admissão se forma uma
depressão da válvula de admissão (e) e a válvula de escape se abre
novamente, dando início ao novo ciclo de funcionamento do carneiro
hidráulico.
Para o funcionamento do carneiro hidráulico, devem-se observar
os seguintes critérios:
- É necessária a existência de queda de água;
- Deve ser utilizada com água limpa, pois a água a ser recalcada é
parte da água de acionamento;
- Ocorre a elevação de somente uma parte da água; a outra é perdida
para o manancial.
Admite-se instalar o carneiro hidráulico em condições de 1,5 m < h <
9 m, mas as condições ótimas são para 2 m < h < 5 m.
O comprimento da tubulação (LTA) de adução deve ser proporcional
à altura da queda (h), isto é, 5 h < LTA < 10 h.
Se o comprimento superar o limite, deve-se usar tubo de diâmetro
maior que o recomendado pelo fabricante.
Para o tubo de alimentação, há as seguintes recomendações:
- ser o mais reto possível;
- estar sempre abaixo da linha piezométrica;
- possuir ralo de entrada;
- ter um registro próximo ao carneio;
- usar, de preferência, tubos metálicos (maior golpe de aríete).

213
Para os tubos de recalque, recomenda-se:
- ser o mais curto possível;
- ser colocado em posição ascendente até o reservatório.
Periodicamente, deve-se permitir a entrada de ar na campânula.
Na seleção do carneio hidráulico, devem-se determinar os seguintes
dados:
· vazão disponível;
· vazão necessária;
· altura do desnível vertical da fonte em relação à base do carneiro;
· altura do desnível vertical do recalque em relação à base do
carneiro.
O rendimento do carneiro hidráulico pode ser calculado por:
qH
h= [157]
Qh

em que:
h = rendimento (adimensional);
q = vazão recalcada (L/s);
Q = vazão de alimentação (L/s);
h = altura da queda (m);
H = altura total de recalque (m).
O rendimento médio do carneiro hidráulico pode se estimado em
função da relação h/H de acordo com a Tabela 71.

Tabela 71. Rendimento médio do carneiro hidráulico em função da


relação entre a altura da queda (h) e a altura do recalque (H)
Relação h/H 1:2 1:3 1:4 1:5 1:6 1:7 1:8

Rendimento 80 75 70 65 60 55 50

A seleção do carneiro hidráulico pode ser feita em função da vazão


de alimentação e da altura da queda, com base nas informações
fornecidas pelos fabricantes (Tabelas 72 e 73). Para a tubulação de
214
adução e recalque, são indicados os valores de diâmetro de acordo com
a Tabela 74.

Tabela 72. Tamanhos usuais do carneiro hidráulico e suas principais


características
No Vazão de Tubulação Tubulação Altura
alimentação adução recalque de queda
(L/min) (pol) (pol) (m)
2 7 a 11 ¾ 3/8 2 a 3,5
3 7 a 15 1 ½ 2,5 a 4
4 11 a 26 1¼ ½ 3a5
5 22 a 45 2 ¾ 4a6
6 70 a 120 3 1¼ 5a7
Fonte: www.marumby.com.br.

Tabela 73. Dados de carneiro hidráulico modelo Kenya


Modelo do carneiro hidráulico (No)
Dados
3 4 5
Vazão de adução (L/min) 12 a 20 20 a 30 40 a 65
Cano entrada 1″ 1¼″ 2″
Cano recalque ½″ 1/2″ ¾″
Peso (kg) 14 20 34
Proporção (h:H) Recalque (L/h)
01:03 180 a 300 300 a 420 640 a 950
01:04 120 a 210 220 a 320 440 a 700
01:05 100 a 170 180 a 270 350 a 570
01:06 80 a 140 150 a 220 300 a 480
01:07 70 a 120 115 a 190 245 a 420
01:08 60 a 105 105 a 170 210 a 360
01:09 55 a 100 90 a 150 180 a 320
01:10 45 a 85 85 a 135 150 a 290
01:11 40 a 80 75 a 120 140 a 255
01:12 40 a 70 70 a 110 125 a 255
01:13 35 a 65 65 a 100 110 a 195
01:14 30 a 60 60 a 95 100 a 175
01:15 30 a 55 55 a 85 85 a 155
01:16 25 a 50 50 a 80 80 a 140
01:17 20 a 45 50 a 75 70 a 125
01:18 20 a 40 45 a 70 60 a 110
01:19 18 a 40 40 a 60 55 a 105
01:20 15 a 35 40 a 55 45 a 100

215
Tabela 74. Diâmetros recomendados para tubulação de adução e recalque
em função da vazão
Vazão (L/min) Diâmetro da tubulação (polegadas)
Adução Recalque
3a7 ¾ 3/8
6 a 15 1 ½
11 a 26 1¼ ½
22 a 53 2 ¾
45 a 94 2½ 1
Fonte: Miale (1980).

A altura de H é dada pela altura de recalque somada às perdas de


carga. As perdas de carga ao longo da tubulação podem ser calculadas
pelas equações de Flamant, Hazen-Williams ou de Darcy-Weissbach.

Exemplo 47: Uma propriedade rural tem consumo diário de 8m³ de


água. Para o abastecimento, dispõe de uma fonte com vazão de 45 L/
min e a altura da queda é de 5 metros. A altura do recalque é de 20 m.
Determinar o tamanho do carneiro hidráulico necessário.
Dados: Q - vazão de alimentação: 45 L/min
H - Altura de queda: 5 m
8000 L
q - vazão recalcada: = 333,3L / h = 5,6 L / min
24h
Perdas de carga estimadas: hf = 4,5 m
H - altura de recalque total: 20 + 4,5 = 24,5 m
Relação h:H : 5:24,5 @ 1:5
Rendimento estimado: 65%
5,6 x 24,5
Rendimento calculado:h = = 0,61 ou 61 %
45 x5
Nas Tabelas 72 e 73 se observa que o carneiro hidráulico indicado é
o número 5. O diâmetro da tubulação de adução recomendada é de 2,5
polegadas e para o recalque o diâmetro de 1 polegada (Tabela 74).

216
9 Movimento uniforme em canais
A hidráulica de condutos livres apresenta algumas diferenças
importantes em relação à hidráulica de condutos forçados. Nos
condutos forçados, geralmente a seção transversal é circular, e os
condutos livres podem assumir qualquer outra forma. Nos condutos
livres, a rugosidade das paredes tem maior variação que nos condutos
forçados, podendo variar com a profundidade do escoamento e ao longo
do canal. Consequentemente, a seleção do coeficiente de atrito é
cercada de maiores incertezas do que no caso de condutos forçados.
A forma do canal pode variar muito, desde seções prismáticas bem
definidas até seções não prismáticas e irregulares, dependendo de uma
série de fatores, entre os quais se destacam:
· as características hidrodinâmicas do escoamento;
· a resistência à erosão das paredes e do fundo do canal;
· o tipo de máquina usada na escavação ou manutenção do canal;
· a vazão escoada;
· o custo da construção do canal;
Os cursos naturais apresentam-se, geralmente, com seções
transversais muito irregulares, aproximando-se de uma parábola ou de
um trapézio. Nos cursos sujeitos a fortes incrementos de vazão, o canal
poderá consistir numa seção principal capaz de atender as descargas
normais e uma ou mais secções complementares à principal para atender
as vazões esporádicas.

217
Os canais artificiais geralmente são projetados com seções de
regularidade geométrica. A forma trapezoidal da seção é comumente
adotada para canais sem revestimento, como canais com margens de
terra, e com paredes laterais de taludes que ofereçam condições de
estabilidade.
As secções retangulares e triangulares constituem-se em casos
especiais das seções trapezoidais. As secções retangulares, com paredes
laterais verticais, são recomendadas para construção de canais em leitos
naturais muitos estáveis (rochosos) ou no caso de canais revestidos
(alvenaria, concreto ou gabiões). A forma triangular é usualmente
adotada para canais de pequenas dimensões, como em canais laterais
de encostas, sarjetas, etc.
A seção circular é a forma mais utilizada para seções de tamanho
pequeno ou médio, sendo a forma mais utilizada para drenagem urbana,
galerias pluviais e bueiros. Apresenta grandes vantagens, como facilidade
de construção e instalação e custos relativamente mais baixos. A seção
semicircular é um caso especial da seção circular, recomendada para
vazões menores.
A seção em formato de parábola é muito utilizada como secções
aproximadas à morfologia natural dos cursos d’água de pequenas e
médias dimensões. Também os terraços usados na conservação do solo
podem ser considerados como canais parabólicos de pequena
dimensão.
Algumas outras formas podem ser empregadas em casos especiais.
A secção retangular de fundo arredondado é uma adaptação da secção
retangular visando suavizar os efeitos das arestas e seu incremento ao
atrito do movimento da massa fluvial.
A seção de fundo na forma de um triângulo arredondado aproxima-
-se do modelo parabólico, sendo, geralmente, resultado dos trabalhos
de escavações de dragas mecânicas ou equipamentos usados na limpeza
e manutenção do canal.
Os problemas de dimensionamento de canais são mais difíceis de
resolver porque a superfície livre pode variar no tempo e no espaço e,
em consequência, a profundidade, a vazão, a declividade do fundo e do
espelho líquido são grandezas interdependentes.

218
Neste capítulo estudaremos as condições de movimento uniforme,
isto é, de velocidade média constante e profundidade constante.

9.1 Elementos geométricos da seção do canal


No escoamento em condutos livres, há os seguintes elementos
geométricos:
a) Profundidade de escoamento (Y): é a distância entre o ponto
mais baixo da seção e a superfície livre.
b) Área molhada (A): é toda a seção perpendicular molhada pela
água.
c) Perímetro molhado (P): é o comprimento da linha de contorno
molhada pela água.
d) Raio hidráulico (Rh): é a relação entre a área e o perímetro
molhado.
A
Rh = [158]
P
e) Profundidade média ou profundidade hidráulica (Ym): é a
relação entre a área molhada (A) e a largura da superfície liquida (B).
A
Ym = [159]
B
f) Declividade de fundo (I): é dada pela tangente do ângulo de
inclinação do fundo do canal.
g) Declividade de superfície (J): é dada pela tangente do ângulo de
inclinação da superfície livre da água.
h) Talude (z): é a tangente do ângulo (a) de inclinação das paredes
do canal (Figura 88), isto é,
z = tangente (a) [160]
Nas Tabelas 75 e 76 são apresentadas as fórmulas para calcular os
diversos elementos geométricos dos canais com diferentes formatos
da seção.

219
Z
a
1

Figura 88. Ilustração do talude do canal

No cálculo dos canais circulares e semicirculares deve-se conhecer


o ângulo que a superfície livre da água forma com o centro do canal,
como representado na Figura 89. As relações entre o ângulo (q) com o
diâmetro (D) e a profundidade hidráulica (Y) são dadas por:
æ 2Y ö
q = 2 arccos ç 1 - ÷ [161]
è D ø

Dæ q ö [162]
Y= ç1 - cos( ) ÷
2 è 2 ø

Figura 89. Ilustração do ângulo teta

Nas Tabelas 75 e 76 são apresentadas as fórmulas para calcular os


diversos elementos geométricos dos canais com diferentes formatos
da seção.
220
Tabela 75. Elementos geométricos das seções transversais usuais
Área molhada Perímetro molhado Largura da Raio hidráulico
SeSeçãoções (A) (P) superfície (B) (Rh)

Y ( b + zY )
A =Y(b+zY) B = b+ 2zY Rh =
P = b + 2Y z 2 + 1 b + 2Y 1 + z 2
Trapezoidal

zY
A = z Y2 Rh =
P = 2Y z2 + 1 B =2 z Y 2 1+ z2
Triangular

221
P=b+2Y bY
A=bY B=b Rh =
b + 2Y
Retangular

D2 D sen θ 
A = (θ * − sen θ )
8 θ*D  θ Rh = 1 − 
P = B = D sen  4 θ* 
2  2
Circular
Nota: θ* é o ângulo em radianos e θ é o ângulo em graus.
Tabela 76. Elementos geométricos das seções transversais especiais
Seção Área molhada (A) Perím etro m olhado (P) Largura da superfície (B)

πD 2
A = P = πD B=D
8
Semicircular

2 8 Y 2 3 A
A = BY P = B + B =
3 3 B 2 Y

Parabólico

π
A=( − 2 )r 2 + ( b + 2r ) Y P = (π − 2 )r + b + 2 Y B = b + 2r
2
Retângulo com fundos

222
arredondados

 B  B 2
A = BY −


4z 
P = 2Y +
z
( 1+ z −1 ) B=b

Canal retangular com fundo


inclinado

B2 r2 B 2r
A = − (1 − z arc cot( z ) ) P = 1 + z2 − (1 − z arc cot( z ) ) B = 2  z ( Y − r ) + r
4z z z z 
1 + z 2 

Triângulo com fundo
arredondado
9.2 Fórmulas para o cálculo da velocidade média (V) e
da vazão (Q)
As fórmulas mais empregadas no dimensionamento de canais são:

9.2.1 Fórmula de Chézy


A fórmula de Chézy para calcular a velocidade de escoamento é dada
por:

V = C RhI [163]

em que:
V = velocidade média de escoamento (m/s);
C = coeficiente de rugosidade da parede do canal;
Rh = Raio hidráulico (m);
I = declividade do canal (m/m).
A equação de Chézy é similar à equação de Darcy para condutos
forçados. O coeficiente C depende da rugosidade, do número de Reynolds
e da forma da seção transversal. Pode-se demonstrar que o coeficiente
C se relaciona com f da seguinte forma:

8g
C= [164]
f
Dessa forma, pode-se usar o diagrama de Moody para determinar o
valor do coeficiente C.

9.2.2 Fórmula de Bazin


De grande aceitação na França, Itália, Alemanha, a fórmula de Bazin
tem a seguinte apresentação:

87 Rh
C= [165]
m + Rh
em que:
223
Rh = Raio Hidráulico (m);
m = coeficiente que depende da natureza das paredes, conforme a
Tabela 77.

Tabela 77. Valores do coeficiente m de Bazin


Classe Natureza das paredes m
1 Muito lisas (cimento alisado, madeira aplainada) 0,06
2 Lisas (madeira não aplainada, pedra regular, tijolos) 0,16
3 Alvenaria de pedra bruta 0,46
4 Paredes mistas (parte revestida com pedra e
parte sem revestimento) 0,85
5 Canais em terra 1,30
6 Canais em terra com grande resistência ao
escoamento (fundo com vegetação e pedras) 1,75
Fonte: Neves (1989).

As experiências de Bazin foram realizadas em canais pequenos, sendo


válidas unicamente para essas condições. Posteriormente, obtiveram-
-se os valores de m mais detalhados, conforme a Tabela 78.

9.2.3 Fórmula de Ganguillet e Kutter


De grande aceitação nos Estados Unidos, na Inglaterra e na
Alemanha, atualmente a fórmula de Ganguillet e Kutter vem sendo
substituída pela fórmula de Manning.

0,00155 1
23 + +
C= I n
æ 0,00155 ö n 166]
1 + ç 23 + ÷
è I ø Rh

em que:
C = coeficiente de rugosidade de Chézy;
n = coeficiente de rugosidade de Ganguillet e Kutter e também de
Manning;

224
I = declividade do canal (m/m);
Rh = raio hidráulico do canal (m).
A influência da declividade só é significativa se a declividade do fundo
for menor do que 0,1% (I £ 0,001 m/m).

Tabela 78. Valores de m para a fórmula de Bazin


Natureza da parede Estado da parede
Perfeito Bom Regular Mau
Cimento liso 0,048 0,103 0,157 0,212
Argamassa de cimento 0,103 0,157 0,212 0,321
Aqueduto de madeira aparelhada 0,048 0,157 0,212 0,267
Aqueduto de madeira não aparelhada 0,103 0,212 0,267 0,321
Canais revestidos de concreto 0,157 0,267 0,377 0,485
Pedras brutas rejuntadas com cimento 0,430 0,594 0,870 1,142
Pedras não rejuntadas 0,870 1,142 1,303 1,419
Pedras talhadas 0,212 0,267 0,321 0,430
Paredes metálicas de seção semicircular 0,103 0,157 0,212 0,321
Paredes de chapas corrugadas 0,733 0,870 1,007 1,142
Paredes de terra, canais retos e uniformes 0,430 0,594 0,733 0,870
Paredes de pedras lisas em canais uniformes 0,870 1,142 1,308 1,419
Paredes rugosas de pedras irregulares 1,419 1,690 1,965 -
Canais de terra com grandes meandros 0,733 0,870 1,007 1,142
Canais de terra dragados 0,870 1,007 1,142 1,308
Canais com leito de pedras rugosas e
vegetação 0,870 1,142 1,419 1,690
Canais com fundo de terra e pedras nas
margens 1,025 1,142 1,303 1,419
Canais naturais
1) Limpos, margens retilíneas, nível máximo 0,870 1,007 1,142 1,303
2) Canais retilíneos com vegetação e pedras 1,142 1,308 1,419 1,690
3) Com meandros, zonas mortas e regiões
pouco profundas 1,419 1,690 1,965 2,240
4) Mesmo que 3, durante estiagens, sem
declividade e seção menores 1,690 1,965 2,240 2,515
5) Mesmo que 3, com alguma vegetação
e pedras nas margens 1,308 1,419 1,690 1,965
6) Mesmo que 4, com pedras 1,965 2,240 2,515 2,780
7) Zonas de pequenas velocidades, com
vegetação, ou zonas mortas profundas 2,240 2,780 3,340 3,880
8) Zonas com muita vegetação 3,610 4,980 6,360 7,720
Fonte: Neves (1989).

225
Inicialmente, foram consideradas oito categorias para a natureza
das paredes, conforme a Tabela 79. A fórmula de Manning foi muito
estudada, e os valores de n foram tabelados por vários pesquisadores,
conforme as Tabelas 80 e 81.

Tabela 79. Valores de coeficiente n de Ganguillet e Kutter


Classe Natureza das paredes n
1 Paredes muito lisas (cimento alisado, madeira
aplainada) 0,010
2 Paredes lisas (tijolos, pedra aparelhada, madeira
não aplainada) 0,013
3 Paredes pouco lisas (alvenaria de pedra regular) 0,017
4 Paredes rugosas (alvenaria de pedra bruta) 0,020
5 Parede de terra, ou com taludes de pedra 0,025
6 Paredes de terra, com pedras e vegetação 0,030
7 Idem, irregulares e mal conservadas 0,035
8 Idem, muito irregulares, com vegetação e lodo 0,040
Fonte: Neves (1989).

Tabela 80. Valores do coeficiente m da fórmula de Kutter.


Natureza da parede m
Cimento liso, seção semicircular 0,12
Cimento liso, seções retangulares 0,15
Tubos novos de ferro fundido 0,175
Tubos de concreto 0,175
Madeira aplainada, seção retangular 0,20
Madeira bruta, alvenaria aparelhada 0,25
Tubos de ferro fundido novos 0,275
Alvenaria comum 0,35
Tubos de ferro fundido muito usados 0,375
Águas de esgoto, canais de alvenaria ordinária
sem argamassa 0,45
Alvenaria comum com má conservação 0,55
Alvenaria mal executada, fundo coberto de lodo 0,75
Alvenaria abandonada, fundo com lodo 1,00
Canais abertos em rochas mal desbastadas, canais
de terra com seções regulares 1,25
Canais de terra mal conservados com vegetação e
seixos no fundo 1,75
Cursos d’água naturais com leito de terra 1,75
Canais de terra abandonados, cursos d’água naturais
com leito pedregoso 2,50
Fonte: Neves (1989).

226
Tabela 81. Valores de n para as fórmulas de Manning e de Ganguillet e
Kutter
Natureza da parede Estado da parede
Perfeito Bom Regular Mau
Cimento liso 0,010 0,010 0,011 0,012 0,013
Argamassa de cimento 0,011 0,012 0,013 0,015
Aqueduto de madeira aparelhada 0,010 0,012 0,013 0,014
Aqueduto de madeira não aparelhada 0,011 0,013 0,014 0,015
Canais revestidos de concreto 0,012 0,014 0,016 0,018
Pedras brutas rejuntadas com cimento 0,017 0,020 0,025 0,030
Pedras não rejuntadas 0,025 0,030 0,033 0,035
Pedras talhadas 0,013 0,014 0,015 0,017
Paredes metálicas de seção semicircular 0,011 0,012 0,0275 0,030
Paredes de terra, canais retos e uniformes 0,017 0,020 0,0225 0,030
Paredes de pedras lisas em canais
uniformes 0,025 0,030 0,033 0,035
Paredes rugosas de pedras irregulares 0,035 0,040 0,045 -
Canais de terra com grandes meandros 0,0225 0,025 0,0275 0,030
Canais de terra dragados 0,025 0,0275 0,030 0,033
Canais com leito de pedras rugosas e
vegetação 0,025 0,030 0,035 0,040
Canais com fundo de terra e pedras
nas margens 0,028 0,030 0,033 0,035
Canais naturais
1) Limpos, margens retilíneas,
nível máximo 0,025 0,0275 0,030 0,033
2) Retilíneos, com vegetação e pedras 0,030 0,033 0,035 0,040
3) Com meandros, zonas mortas e
regiões pouco profundas 0,035 0,040 0,045 0,050
4) Mesmo que 3, durante estiagens,
sem declividade e seções menores 0,040 0,045 0,050 0,055
5) Mesmo que 3, com alguma vegetação
nas margens e pedras nas margens 0,033 0,035 0,040 0,045
6) Mesmo que 4, com pedras 0,045 0,050 0,055 0,060
7) Zonas de pequenas velocidades, com
vegetação, ou zonas mortas profundas 0,050 0,060 0,070 0,080
8) Zonas com muita vegetação 0,075 0,100 0,125 0,150
Fonte: Neves (1989).

227
9.2.4 Formula de Kutter
Para declividades maiores do que 0,0005 m/m, Kutter simplificou a
fórmula anterior, usando a seguinte expressão, bastante usada na
Alemanha e na Itália:

100 Rh
C= [167]
m + Rh
em que m são valores tabelados (Tabela 80) conforme a rugosidade da
parede.

9.2.5 Formula de Manning


A fórmula de Manning resultou de uma simplificação da fórmula de
Ganguillet-Kutter, fazendo:
1 1
C = Rh 6 [168]
n
e substituindo na fórmula de Chézy, obtém-se:
1 2 / 3 0, 5
V = Rh I [169]
n
Aplicando a equação da continuidade, é obtida a expressão para o
cálculo da vazão pela fórmula de Manning, dada por:
A 2 / 3 0, 5
Q= Rh I [170]
n
em que n é o mesmo da fórmula de Ganguillet e Kutter.
Essa fórmula dá resultados bastante próximos aos da fórmula de
Ganguillet e Kutter e, por ser mais simples, está sendo usada em lugar
dela, com grande aceitação nos Estados Unidos e na Inglaterra. Seu
emprego vai aos poucos se generalizando entre nós, substituindo a
fórmula de Bazin. Os coeficientes de n podem ser obtidos nas Tabelas
81 e 82.

228
Tabela 82. Valores de n de Manning
Tipo de canal Valores de (n)
Mínimo Máximo
Canais revestidos
Semicircular, metálico, liso 0,011 0,015
Metal corrugado 0,023 0,024
Canaleta de tábuas lisas 0,010 0,015
Canaleta de tábuas não aplainadas 0,011 0,015
Revestido de cimento liso 0,010 0,013
Concreto 0,012 0,018
Cimento e cascalho 0,017 0,030
Alvenaria de tijolos revestidos de cimento 0,012 0,017
Parede de tijolos lisos, esmaltados 0,011 0,015
Superfície de argamassa de cimento 0,011 0,015
Canais não revestidos
Terra, retilíneo e uniforme 0,020 0,025
Com leito dragado 0,025 0,033
Escoamento lento e tortuoso 0,023 0,030
Fundo com pedras, vegetação nos taludes 0,025 0,040
Fundo de terra e taludes com cascalho 0,028 0,035
Canais escavados em rochas, lisos e uniformes 0,025 0,035
Irregulares, com recortes e saliências 0,035 0,045
Canais de terra pequenos, rasos com vegetação
Grama alta (13’’) verde 0,042 -
Grama alta dormente 0,035 0,28
Grama rasteira (3’’) verde 0,034 -
Grama rasteira dormente 0,034 -
Arbustos altos (16’’) verdes 0,076 0,22
Arbustos curtos (2’’) verdes 0,033 -
Cursos naturais
1. Limpos, margens retas e uniformes, leito
cheio, sem desvio e sem escavações
profundas 0,025 0,033
2. Como 1, com pedras e vegetação 0,030 0,040
3. Curso tortuoso, limpo, com empoçamentos
e bancos de areia 0,033 0,045
4. Como 3, declive e secção irregulares 0,040 0,055
5. Como 3, algumas pedras e vegetação 0,035 0,050
6. Cursos muito cheios de vegetação, capim 0,075 0,150
Fonte: Chow (1959).
229
9.2.6 Fórmula de Forchheimer
Aconselhada especialmente para canais de grandes dimensões, a
fórmula de Forchheimer tem a seguinte expressão:

V = C Rh 0 ,7 I [171]

sendo C praticamente igual a 1/n (Tabela 83) (n é o coeficiente de


Manning e de Ganguillet-Kutter).

Tabela 83. Valores do coeficiente C de Forchheimer


Natureza da parede C
Canais com revestimento de cimento liso ou madeira 80 a 90
Canais com revestimento de alvenaria de pedra em
boas condições 70
Canais com revestimento de concreto, novos sem alisar 60
Canais com revestimento pouco liso de cimento ou
alvenaria comum 50
Canais de terra em boas condições 30 a 42
Para cursos d’água naturais 24 a 30
Fonte: Neves (1989).

9.2.7 Fórmula de Strickler


Análoga à fórmula de Manning, sendo K = 1/n.
V=K Rh 2 / 3 I [172]
em que K é o coeficiente de rugosidade da parede (Tabela 84) para a
fórmula de Strickler.
Exemplo 48. Calcular a vazão e a velocidade de um canal trapezoidal
de terra com talude 2:1, tendo 2,4 m de largura de fundo e 1,5 m de
altura de água e sendo a declividade de 0,5 m/km.
A = Y (b + zY) = 1,5 (2,4 + 2.1,5) = 8,10 m²

P = b + 2 Y z 2 + 1 = 2,4 + 2 × 1,5 2 2 + 1 = 9,108 m

230
Rh = 0,889 m
a) Fórmula de Bazin: m = 1,3 (Tabela 77)

87 Rh 87 0,889
C= =C = = 36,6
m + Rh 1,3 + 0,889

V = C Rh × I = 36,6 0,889 × 0,0005 = 0,771 m / s


Q = A V = 8,10m² 0,771 m/s = 6,24 m³/s

b) Fórmula de Ganguillet e Kutter: n = 0,025 (Tabela 79)


0 , 00155 1 0,00155 1
23 + + 23 + +
C = I n 0,0005 0,025
0 , 00155 ö n = C = = 39,06
æ æ 0,00155ö 0,025
1 + ç 23 + ÷ 1 + ç 23 + ÷
è I ø Rh è 0,0005 ø 0,889

V = C Rh × I = 39,06 0,889 × 0,0005 = 0,824 m / s


Q = A V = 8,10m² 0,771m/s = 6,67 m³/s

c) Fórmula de Kutter: m = 1,25 (Tabela 80)

100 Rh 100 0,889


C= = = 43
m + Rh 1,25 + 0,889

V = C Rh × I = 43x 0,889 × 0,0005 = 0,906 m / s


Q = A V = 8,10m² x 0,906 m/s = 7,34 m³/s

d) Fórmula de Manning: n = 0,025 (Tabela 81)

1 2 / 3 0, 5 1
V = Rh I = ( 0,889) 2 / 3 (0,0005) 0 ,5 = 0,827m / s
n 0, 025
Q = A V = 8,10 m² 0,827 m/s = 6,7 m³/s

231
e) Fórmula de Forchheimer: C = 40 (Tabela 83)

V = C Rh 0 ,7 I = 40 ( 0,889) 0,7 0,0005 = 0,824m / s


Q = A V = 8,10 m² 0,824= 6,67 m³/s

f) Fórmula de Strickler: K = 40 (Tabela 84)


2/3
V=K Rh 2 / 3 I = 40 x 0,889 0,0005 = 0,827m / s
Q = A V = 8,10 m² 0,827 m/s = 6,7 m³/s

Tabela 84. Valores de K da fórmula de Strickler


Natureza da parede K
Canais com revestimento de concreto bruto 53 a 57
Canais com revestimento bem alisado 80 a 90
Galerias de concreto lisas 90 a 95
Canais mal conservados 40 a 50
Galerias escavadas em rocha 25 a 40
Galerias com fundo e abóbada de concreto comprimido e
paredes laterais de alvenaria de pedra 85 a 90
Galerias com fundo, paredes laterais com revestimento e
abóbada sem revestimento 55
Canais antigos com depósito ou vegetação 43 a 52
Canais de terra 30 a 40
- seixos grandes 35
- seixos médios 40
Canais com fundo não
revestido - pedra fina 45
- pedra fina e areia 50
- areia fina Até 90

Canais de alvenaria bruta 50


Canais de alvenaria comum 60
Canais de tijolos ou pedra emparelhada 80
Canais muito lisos Até 90

Rios e arroios Fundo rochoso, rugoso 20


Medianamente rugoso 20 a 28
Fonte: Neves (1989).

232
9.3 Variação da velocidade na seção transversal
Nos canais, o atrito entre a superfície livre e o ar acentua as
diferenças das velocidade nos diversos pontos da seção transversal
(Figura 90).
A velocidade máxima numa vertical da seção transversal situa-se
geralmente entre 5 % e 25 % da profundidade de escoamento ( 0,05Y a
0,25Y). O valor da velocidade média em uma vertical da seção reta,
geralmente, é igual à média das velocidade nas profundidades de 20 % e
80 % da profundidade de escoamento ( 0,2Y e 0,8Y), ou aproximadamente
igual à velocidade a 60 % da profundidade de escoamento (0, 6Y).

Figura 90. Variação da velocidade de escoamento em canais

9.4 Velocidades aconselháveis


A velocidade de escoamento deve ficar entre valores mínimos e
máximos que, por sua vez, dependem da qualidade da água e da natureza
da parede (Tabelas 85 a 87). Os valores mínimos de velocidade são
fixados para evitar que o material em suspensão contido na água se
deposite no fundo, produzindo o assoreamento do canal e deve ser
obedecida, principalmente nos canais com grande descarga sólida
(coletores de esgotos). A velocidade máxima é imposta para evitar danos
físicos nas paredes do canal. Pode-se efetuar o controle da velocidade
de escoamento no canal alterando o raio hidráulico e, mais
efetivamente, pela mudança da declividade através de quedas no canal
(Figura 91).
233
Tabela 85. Valores de velocidade não erosiva em canais
Material das paredes do canal Velocidade (m/s)
Média Máxima
Areia muito fina 0,20 0,30
Areia solta 0,30 0,45
Areia grossa, terreno arenoso pouco
compactado 0,45 0,60
Terreno arenoso comum 0,60 0,75
Terreno argiloso 0,75 0,80
Terreno de aluvião 0,80 0,90
Terreno argiloso compacto 0,90 1,15
Terreno argiloso duro, solo cascalhento 1,15 1,50
Cascalho grosso, pedregulho 1,50 1,80
Rochas sedimentares, cascalho aglutinado 1,80 2,40
Alvenaria 2,44 3,05
Rochas compactas 2,40 4,00
Concreto 4,50 6,00
Fonte: Neves (1989).

Tabela 86. Valores de velocidades médias mínimas recomendadas


Característica do líquido Velocidade mínima (m/s)
Água com suspensões finas 0,30
Água transportando areias finas 0,45
Água residuária (esgotos) 0,60
Águas pluviais 0,75
Fonte: Azevedo Netto (1998).

Tabela 87. Valores práticos de velocidade recomendada


Tipo de canal Valores práticos (m/s)
Canais de navegação sem revestimento Até 0,50
Aquedutos de água potável 0,60 a 1,30
Coletores e emissários de esgoto 0,60 a 1,50
Canais sem revestimento 0,40 a 0,80
Canais com revestimento 0,60 a 1,30
Fonte: Azevedo Netto (1998).

234
Figura 91. (A) Mudança da declividade e (B) alteração no formato do canal

9.5 Declividade-limite
A velocidade é função da declividade e, em consequência dos limites
estabelecidos para a velocidade, podem ser estabelecidos limites para
a declividade, como indicados nas Tabelas 88 e 89.

Tabela 88. Declividades recomendadas para canais


Tipo de canal Declividade (m/m)
Canal de navegação Até 0,00025
Canal industrial 0,0004 a 0,0005
Canal de irrigação pequeno (0,1 a 3 m³/s) 0,0005 a 0,001
Canal de irrigação médio (3 a 10 m³/s) 0,00025 a 0,0005
Canal de irrigação grande (> 10 m³/s) 0,0001 a 0,0003
Aqueduto de água potável 0,00015 a 0,001
Fonte: Azevedo Netto (1998).

Tabela 89. Declividade dos coletores de esgoto


Diâmetro (m) Declividade mínima (m/m) Declividade comum (m/m)
0,10 0,020 0,020 a 0,250
0,15 0,006 0,016 a 0,200
0,20 0,004 0,004 a 0,150
0,25 0,003 0,0030 a 0,125
0,30 0,002 0,0020 a 0,100
0,40 0,0015 0,0015 a 0,050
0,50 0,0010 0,0010 a 0,040
0,60 0,0010 0,0010 a 0,030
0,80 0,00075 0,00075 a 0,020
1,0 0,00050 0,00050 a 0,010
Grande seção 0,00025 0,00025 a 0,005

235
9.6 Inclinação das paredes
Deve-se observar a limitação da inclinação das paredes conforme a
natureza delas. Nas Tabelas 90 e 91 estão indicados os valores
recomendados do talude para evitar o desmoronamento das paredes
do canal.

Tabela 90. Valores recomendados de inclinação das paredes


Natureza da parede z = tg q qo
Canais em solos muito arenosos 3 71,6
Canais em terra sem revestimento 2,5 a 5 68,2 a 78,7
Canais em saibro, terra porosa (solo arenoso) 2 63,4
Cascalho roliço, canais de terra agrícolas
(solo franco) 1,50 a 1,75 56,3 a 60,2
Terra compacta sem revestimento 1,5 56,3
Terra muito compacta, paredes rochosas 1,25 51,4
Rocha estratificada 0,5 26,5
Rocha compacta, alvenaria acabada, concreto 0 0

Tabela 91. Valores recomendados de z, V, n, para alguns tipos de canais


Tipo de superfície Inclinação dos Velocidade Coeficiente
taludes z máxima (m/s) (n) Manning
Canais de terra
Arenoso 3:1 0,3 a 0,7 0,030 a 0,040
Barro arenoso 2:1 a 2,5:1 0,5 a 0,7 0,030 a 0,035
Barro argiloso 1,5:1 a 2:1 0,6 a 0,9 0,030
Argiloso 1:1 a 2:1 0,9 a 1,5 0,025 a 0,030
cascalho 1:1 a 1,5:1 0,9 a 1,5 0,030 a 0,035
rocha 0,25:1 a 1:1 1,2 a 1,8 0,030 a 0,040
Canais revestidos
Concreto moldado no
local 1:1 a 1,5:1 1,5 a 2,5 0,015
Pré-fabricado 1,5:1 1,5 a 2,0 0,018 a 0,022
Tijolo 1,5:1 1,2 a 1,8 0,018 a 0,022
Asfalto 1:1 a 1,5:1 1,2 a 1,8 0,015
Membrana plástica 2,5:1 0,6 a 0,9 0,025 a 0,030

236
9.7 Folga nos canais ou borda livre
A borda livre é a distância vertical do topo do canal até o nível da
água calculado para as condições de vazão de projeto. Essa folga é
recomendada para evitar problemas que podem ocorrer nos canais,
tais como:
- diminuição de sua capacidade, causada pela deposição de material
transportado pela água;
- aumento da rugosidade das paredes do canal devido ao
crescimento de vegetação (canais de terra) ou à falta de manutenção
do canal;
- aumentos de vazão devidos ao escoamento superficial em ocasião
de chuvas;
- formação de ondas pela ação do vento ou pelo fluxo de
embarcações;
- ocorrência de ressalto hidráulico;
- sobrelevação do nível da água nas curvas acentuadas dos canais
com velocidade de escoamento muito alta.
- incertezas no dimensionamento, como o coeficiente de rugosidade
a ser adotado.
Não há regra universalmente aceita para a determinação da altura
da borda ou a folga do canal. Alguns autores recomendam a borda livre
variando entre 5 % e 30 % da profundidade hidráulica do canal. Outros
recomendam no dimensionamento do canal deixar folga equivalente a
20 % a 30 % da vazão de projeto.
USBR (1952), apresentou o critério para dimensionamento da borda
livre, que também pode ser utilizado da seguinte forma:

F = 0,552 C Y [173]

em que:
F = borda livre (m);
Y = profundidade de escoamento (m);
C = coeficiente variável entre 1,5 (para vazões de até 0,60 m3/s) e
2,5 (para vazões maiores que 85 m3 /s).

237
Segundo ainda USBR, a borda livre pode variar de 30 cm para
pequenos canais até aproximadamente 120 cm, no caso de grandes
canais (vazão maior que ou igual a 85 m3/s). Para canais de irrigação
são indicados os valores de borda livre conforme a Tabela 92.

Tabela 92. Valores de borda livre para canais de irrigação


Vazão (m³/s) Borda livre (m) Autor
< 0,39 0,20 Bernardo (1986)
0,39 a 0,69 0,35 Bernardo (1986)
0,70 a 0,99 0,45 Bernardo (1986)
1,00 a 2,99 0,55 Bernardo (1986)
< 1,5 0,50 Chaudhry (1993)
1,5 a 85 0,75 Chaudhry (1993)
> 85 0,90 Chaudhry (1993)

9.8 Seções econômicas ou de máxima vazão


Dizemos que a seção transversal de um conduto livre é de máxima
eficiência quando, para determinada área e declividade, a vazão é
máxima. Isso significa que, para uma dada vazão (Q), o canal tem um
mínimo perímetro molhado e uma máxima velocidade de escoamento.
Pela equação de Manning, temos:
A
Q= Rh 2 / 3 I
n
Aplicando o conceito de raio hidráulico, temos:

1 A5/ 3
Q= I [174]
n P2/3
Analisando a expressão acima, pode-se observar que, considerando
A, n e I constantes, a vazão será máxima quando o perímetro molhado
for mínimo. Pode-se conseguir uma maior vazão:
- aumentando a área (A), o que implica maiores custos;
- aumentando a declividade (I), que é limitada pela velocidade
máxima para evitar a erosão das paredes do canal;

238
- diminuindo a rugosidade (n), que geralmente implica maiores custos
(revestimento);
- aumentando o raio hidráulico (Rh), o que pode ser conseguido
diminuindo o perímetro (P), que é uma alternativa viável, pois quando P
for o mínimo, a vazão será o máximo.
Considerando um canal retangular,
A
A=bY à b = [175]
Y
A
P= b+2 YàP = + 2Y [176]
Y
Por definição, a seção de máxima eficiência é aquela para a qual
¶P ¶P - A
=0 = +2=0 [177]
¶Y ¶Y Y 2
A
2
= 2 Þ A = 2Y 2 [178]
Y
Substituindo 178 em 175, obtém-se:

2Y 2
b= Þ b = 2Y [179]
Y
Ficou demonstrado que um canal retangular é de máxima vazão
quando a largura do fundo (b) é o dobro da profundidade (Y), isto é, b =
2 Y , tendo o canal o formato de um semiquadrado (Figura 92).
Fazendo procedimento semelhante, pode-se demonstrar que, para
canais trapezoidais, a seção de máxima eficiência é aquela em que o
talude é dado por z = 0,5773:1, levando à forma de um semi-hexágono
(Figura 93), isto é:
1
z= = 0,5773 [180]
3

Y = 0,866 b [181]

239
Figura 92. Canal retangular de máxima vazão

Figura 93. Canal trapezoidal de máxima vazão

240
Os canais triangulares são de máxima vazão quando z = 1 e têm o
formato de um semiquadrado (Figura 94).

Figura 94. Canal triangular de máxima vazão

Adotando-se os formatos de seção de máxima vazão, as fórmulas


para o cálculo dos elementos geométricos se simplificam conforme a
Tabela 93. Para canal circular, pode-se demonstrar que:
a) a vazão é máxima para q = 5,379 rd = 308o usando-se a expressão:
Dæ qö Dæ 308 ö
Y= ç 1 - cos ÷ , vem Y = ç1 - cos ÷ ¨y = 0,95 D [182]
2è 2ø 2è 2 ø

b) a velocidade máxima para q = 2570 e Y = 0,81 D [183]

Notas:
• Como nas condições de canal circular de vazão máxima o
escoamento é hidraulicamente instável, podendo trabalhar como

241
conduto forçado para um acréscimo da profundidade, recomenda-se
como limite prático em canais circulares dimensionar o canal para a
relação: Y = 0,75 D.
• a vazão escoada para Y = 0,82 D iguala-se à vazão para o canal a
seção plena.
• a velocidade média a plena seção é igual à velocidade a meia seção
porque o raio hidráulico é o mesmo, e em razão disso a vazão a seção
plena é o dobro da vazão a meia seção.
No dimensionamento do canal, o projetista deve dar preferência às
seções de máxima vazão, pois tendem a ser mais econômicas
(considerando os custos de abertura do canal, revestimento, etc.). No
entanto, em algumas situações a forma da máxima vazão não é a ideal,
pois pode ter uma profundidade excessiva, ou a velocidade é muito alta,
provocando a erosão nas paredes e no fundo do canal.
No dimensionamento dos canais, devem-se considerar ainda outras
limitações como:
• muitas vezes, a profundidade do canal é limitada por condições
topográficas, como cota de drenagem ou presença de rochas compactas
abaixo de certa profundidade e podem impedir ou inviabilizar
economicamente a escavação;
• em áreas urbanas, há limitações quanto a largura do canal;
• o talude do canal pode ser limitado pelas características da máquina
(escavadeira hidráulica) ou do solo.
Exemplo 49. Calcule a velocidade e a vazão de um canal circular
com diâmetro de 1 metro construído em concreto (n = 0,015), com
declividade de 0,0008 m/m para profundidade hidráulica variando de 5
cm a 1 m.
Na Figura 95 estão representadas as relações entre área (A),
perímetro (P), raio hidráulico (Rh), velocidade (V) e vazão (Q) em função
da relação Y/D.

242
Y (m) ARh2/3 A (m²) P (m) Rh (m) q (rd) Q (m³/s) V (m/s)
0,05 0,001 0,015 0,451 0,033 0,902 0,003 0,192
0,10 0,007 0,041 0,644 0,064 1,287 0,012 0,300
0,15 0,015 0,074 0,795 0,093 1,591 0,029 0,387
0,20 0,027 0,112 0,927 0,121 1,855 0,051 0,460
0,25 0,043 0,154 1,047 0,147 2,094 0,081 0,524
0,30 0,061 0,198 1,159 0,171 2,319 0,115 0,581
0,35 0,082 0,245 1,266 0,193 2,532 0,155 0,631
0,40 0,105 0,293 1,369 0,214 2,739 0,198 0,675
0,45 0,130 0,343 1,471 0,233 2,941 0,245 0,714
0,50 0,156 0,393 1,571 0,250 3,142 0,294 0,748
0,55 0,183 0,443 1,671 0,265 3,342 0,344 0,778
0,60 0,209 0,492 1,772 0,278 3,544 0,395 0,803
0,65 0,236 0,540 1,875 0,288 3,751 0,445 0,823
0,70 0,261 0,587 1,982 0,296 3,965 0,492 0,838
0,75 0,284 0,632 2,094 0,302 4,189 0,536 0,848
0,80 0,305 0,674 2,214 0,304 4,429 0,574 0,853**
0,85 0,321 0,712 2,346 0,303 4,692 0,606 0,851
0,90 0,332 0,745 2,498 0,298 4,996 0,626 0,841
0,95 0,335 0,771 2,691 0,286 5,381 0,632* 0,819
1,00 0,312 0,785 3,142 0,250 6,283 0,588 0,748
* Vazão máxima e ** Velocidade máxima.

Figura 95. Relações hidráulicas de um canal circular


243
Tabela 93. Elementos geométricos dos canais de máxima vazão

Perímetro Largura Raio hidráulico


Seção Área (A)
molhado (P) superficial (B) (Rh)
Trapezoidal
z = 0,577 4 3 1
A = 3 Y 2 P = 2 3 Y B = Y Rh = Y
3 3 2
z =
3
Retangular 1
A = 2 Y2 P=4Y B=2Y Rh = Y
b=2Y 2
Triangular
A = Y2
2
P=2 2Y B=2Y Rh = Y
z=1 4
Semicircular pD 2 D
A = P = p B=D Rh = 0,25D
Y = 0,5D 8 2
2 8 2
Parabólica A = 4 Y 2 P = Y B = 2 2 Y 1
3 3 Rh = Y
Y = 0,354B 2
Fonte: Chow (1959).

244
10 Dimensionamento de canais
Em geral, há três tipos de problemas de hidráulica que podem ser
resolvidos com a equação de velocidade (Manning ou outra) e a equação
da continuidade, sendo:
- Problema 1: Conhecendo-se n, I, A, Rh, calcular Q;
- Problema 2: Conhecendo-se n, A, Rh, Q, calcular I;
- Problema 3: Conhecendo-se Q, n, I, calcular A e Rh.
Os problemas 1 e 2 são facilmente resolvidos com meras aplicações
da equação de velocidade e da equação de continuidade.
O problema 3, que é de dimensionamento de canais, e é o que se
encontra com maior frequência na prática, apresenta maior dificuldade
para solução matemática, pois, aplicando a equação de Manning, temos:
nQ
A Rh 2 / 3 = [184]
I
Nesse problema, não são conhecidos a área (A) e o raio hidráulico
(Rh), que são interdependentes. Esse tipo de problema pode ser resolvido
da seguinte forma:

10.1 Dimensionamento de canais circulares e


semicirculares
Para canais circulares e semicirculares, a dimensão desconhecida é
o diâmetro, que, por sua vez, depende da relação Y/D desejada. Pelas
fórmulas de canais circulares, pode-se demonstrar que:
245
D2 *
A=
8
(
q - sen(q) ) [185]

D q*
P= [186]
2

Rh =
(
D q* - sen q 2 ) [187]
8 q*
Exemplo 50. Dimensionar uma galeria pluvial (formato circular) de
concreto (n = 0,016) para a vazão de 130 L/s, sabendo que a declividade
do terreno é de 0,008 m/m e a norma exige que a relação Y/D seja de
0,75.
2Y
Fazendo: q = 2 arccos(1 - ) = 2 arccos(1 - 1,5) = 2400
D
e q* = 4,1888 rd

D2 *
A =
8
( )
q - sen( q ) = D 2 0 , 6318

D q*
P = = D 2 , 09
2

Rh = 0,30166 D
Substituindo na equação 184, temos:
2/3 nQ 2
2 nQ
A Rh = ¨ 0 ,6318 D ( 0 ,30166 D )
3
=
I I
3 0 , 375
8 nQ æ nQ ö 8
æ nQ ö
D 3
= 3 ,52031 ¨ D = ç 3, 52031 ÷ = 1, 603 ç ÷
I è I ø è I ø

0 , 375
æ 0 , 016 ( 0 ,130 ) ö
Portanto, D = 1, 603 çç ÷
÷ = 0 , 391 m
è 0 , 008 ø

246
Procedendo desenvolvimento semelhante, pode-se chegar a uma
equação geral:
0, 375
æ nQ ö
D = kç ÷ [188]
è Iø
em que k = 1,603 é válido para a relação Y/D = 0,75. A Tabela 94 fornece
os valores de k para outras relações Y/D.

Tabela 94. Valores de k para relações Y/D


Y/D k Y/D k
0,05 11,464 0,55 1,892
0,10 6,607 0,60 1,797
0,15 4,812 0,65 1,719
0,20 3,859 0,70 1,655
0,25 3,263 0,75 1,603
0,30 2,854 0,80 1,562
0,35 2,555 0,85 1,531
0,40 2,328 0,90 1,512
0,45 2,150 0,95 1,507
0,50 2,008 1,00 1,548

10.2 Dimensionamento de seções trapezoidais,


retangulares e triangulares
A solução desse tipo de problema não é direta. Para solucionar tais
problemas existem diversos métodos, como métodos gráficos, métodos
das tentativas ou utilizando-se de rotinas de programação com técnicas
de cálculo numérico. Com as facilidades atuais da informática, quando
da utilização frequente de tais cálculos, recomendamos programar
rotinas para a solução de tais problemas. Muitas calculadoras científicas
têm funções que facilitam esses cálculos.

10.2.1 Método das tentativas


Uma forma de resolver o problema é o método das tentativas, em
que se atribuem determinados valores calculando-se em seguida a vazão
247
Q*. Compara-se a vazão de projeto Q com a vazão calculada, e se o
valor de Q* for maior que o valor de Q, diminuem-se os valores iniciais.
Por outro lado, se Q* for menor que Q, aumentam-se os valores iniciais.
Repetem-se os cálculos em que a diferença Q – Q* pode ser desprezada.
Para facilitar o cálculo, recomenda-se utilizar a Tabela 95.
Tabela 95. Modelo para dimensionamento de canais pelo método das
tentativas

Tentativa b Y A P Rh Rh 2/3
I V Q* Q − Q*
n
1
2
..
n

Exemplo 51. Dimensionar um canal trapezoidal para a vazão de 11


m³/s a ser construído em concreto (n = 0,015) com talude 1,5:1. Lembrar
que as condições do terreno implicam declividade de 0,2 m/km e a largu-
ra de fundo máxima de 3 m.
Solução: Podem-se fazer algumas tentativas buscando o valor de Y
(profundidade) que satisfaça a vazão de projeto:
Dados: b = 3,0 m
n = 0,015
Z = 1,5
I = 0,0002m/m
Q = 11,0m³/s
Partindo de uma estimativa inicial de Y = 1,5 m, temos:

Y A P Rh V Q* Q* -
Tentativa Rh 2/3 I n
(m) (m²) (m) (m) (m/s) (m³/s) Q
1 1,5 7,88 8,41 0,937 0,958 0,943 0,903 7,114 -3,886
2 2,0 12 10,21 1,175 1,114 0,943 1,050 12,598 1,598
3 1,8 10,26 9,49 1,081 1,053 0,943 0,993 10,189 -0,811
4 1,9 11,12 9,85 1,128 1,084 0,943 1,022 11,361 0,361
5 1,87 10,86 9,74 1,114 1,075 0,943 1,013 11,003 0,003

248
Considerando a diferença Q* - Q de 0,003 m³/s desprezível, obtém-
-se a profundidade desejada de 1,87 m.

10.2.2 Método gráfico


O método gráfico é similar ao método das tentativas e consiste de
calcular o valor de vazão para alguns valores da variável a ser definida,
plotando os resultados parciais num gráfico. A partir desse gráfico pode-
-se obter o valor da variável.
Exemplo 52. Para a drenagem de uma estrada será construído um
canal de concreto (n = 0,014) com formato triangular (z = 1:1) com
declividade de 0,008 m/m. Calcule a profundidade do canal para escoar
as vazões 50 L/s, 120 L/s e 350 L/s.
Dados: n = 0,014; Z = 1; I = 0,008
Y (m) A (m²) P (m) Rh (m) Q (m³/s) V (m/s)
0,1 0,01 0,283 0,035 0,0069 0,6882
0,2 0,04 0,566 0,071 0,0437 1,0925
0,3 0,09 0,849 0,106 0,1288 1,4315
0,4 0,16 1,131 0,141 0,2775 1,7342
0,5 0,25 1,414 0,177 0,5031 2,0123

0,6

0,5

0,4
Q (m³/s)

0,3

0,2

0,1

0
0 0,2 0,4 0,6
Y (m)
Figura 96. Método gráfico para dimensionamento de canais

Do gráfico acima podem-se obter os seguintes dados:


· para a vazão de 50 L/s (0,05m³/s) ¨ Y = 0,21 m (21 cm );
249
· para a vazão de 120 L/s (0,12m³/s) ¨ Y = 0,29 m (29 cm );
· para a vazão de 350 L/s (0,35m³/s) ¨ Y = 0,44 m (44 cm ).

10.2.3 Método numérico


Utilizando-se técnicas de cálculo numérico, podem-se elaborar
programas para dimensionar os canais. Algumas calculadoras têm a
função Solver, que é útil para esse tipo de problema.
Uma técnica muito usada na resolução de tais problemas é utilizar o
método de Newton, que consiste na seguinte fórmula iterativa:
f ( x[ j])
x[ j + 1] = x[ j] -
df
(x[ j]) [189]
dx
em que:
x é a variável desconhecida;
j é o número de iterações;
f é a função que é zero quando x[j] é o valor correto;
df/dx é a derivada da função f com relação a x.
Para resolver a equação de Manning utilizando o método de Newton,
é necessário escrever a função da variável desconhecida igual a zero.
Uma maneira adequada para se ter a equação de Manning é:

f ( x ) = nQP 2 / 3 - A 5 / 3 I = 0 [190]

em que:
x representa a variável desconhecida.
P é o perímetro molhado; P = b + 2 y z 2 + 1 [191]

A é a área da secção molhada; A = b y + z y2 [192]


As derivadas de P(x) são:
df 2 dP 5 dA
= nQP -1 / 3 - I A2 /3 [193]
dx 3 dx 3 dx

250
em que dP/dx e dA/dx dependeram das variáveis desconhecidas como
segue:

Ö Se y é desconhecido:
dP dP
= = 2 z2 + 1 [194]
dx dy

dA dA
= = b + 2 z Y2 [195]
dx dy

Ö Se z é desconhecido:
dP dP 2 Yz
= = [196]
dx dz z2 + 1

dA dA
= = Y2 [197]
dx dz
Ö Se b é desconhecido:
dP dP
= =1 [198]
dx db
dA dA
= =Y [199]
dx db

251
11 Energia em escoamento livre
O princípio básico que rege o escoamento em canais é o da
conservação da energia total, expresso pela equação de Bernoulli da
seguinte forma:

V2 V2
H=Y+h+a =Z+a [200]
2g 2g
em que:
H = energia total (m);
Y = profundidade hidráulica (m);
h = altura do canal (m);
a = coeficiente de Coriolis;
V = velocidade de escoamento (m/s);
g = gravidade (m/s²);
Z = cota em relação a um plano de referência (m) (Figura 97).

Figura 97. Representação do perfil longitudinal do canal


252
O coeficiente a varia entre 1,0 e 1,1 conforme a variação da
velocidade que existe na seção. Na prática, adota-se a valor a = 1 com
boa aproximação, resultando em:

V2
H=Y+z+ [201]
2g

11.1 Energia específica


Tomando-se como referência o fundo do canal (z = 0), a carga na
seção é dada por:

V2
E=Y+ [202]
2g
em que E é a carga específica ou energia específica que resulta da soma
da altura da água com a energia cinética.
A energia específica representa a energia por conta da profundidade
da água e de sua energia cinética. Quando o movimento é uniforme,
sendo a velocidade e a profundidade constantes, a energia específica
também se mantém constante ao longo do canal e a energia potencial
vai sendo absorvida pela perda de carga.

11.2 Número de Froude


Representa o fator cinético do escoamento, dado por:
V
Fr = [203]
g Ym
A energia específica pode ser escrita como:
Ym 2
E = Y+ Fr [204]
2
O número de Froude desempenha papel importante, pois permite
definir os regimes de escoamento dos canais

253
11.3 Regimes de escoamento
Fazendo V = Q/A, a energia específica pode ser expressa por:

Q2
E = y+ [205]
2 g A2
Mantendo constante a vazão e fazendo variar a velocidade e a
profundidade, pode-se determinar a variação da energia específica em
função dessas grandezas para cada seção do canal. Com pequenas
declividades obtêm-se grandes profundidades e pequenas velocidades,
ocorrendo o inverso para grandes declividades.
Exemplo 53. Em um canal retangular com 4 m de largura e vazão de
8 m3/s, calcular a energia específica para as profundidades de 0,3 a 2,6
m.
Q Q
Q = AV Þ V = = [206]
A 4Y

V2 Q2
E = Y+ Þ E =Y+ [207]
2g 16 × 19 ,6 × Y 2
A variação da energia específica em função da profundidade pode
ser visualizada na Tabela 96 e na Figura 98, onde se pode observar que:
a) existe um valor mínimo da energia específica (chamado energia
crítica, Ec), que corresponde ao valor Yc da profundidade, chamada de
profundidade crítica;
b) para a energia E > Ec existem dois valores de profundidade Y,
isto é, existem dois regimes de escoamento.
Quando a profundidade Y > Yc, o escoamento é dito escoamento
superior, tranquilo, fluvial ou subcrítico. Nesse regime, a energia potencial
é maior que a energia cinética. Quando Y < Yc, o escoamento é dito
escoamento inferior, rápido, torrencial ou supercrítico. A energia cinética
é maior que a energia potencial.
O escoamento correspondente a Y = Yc chama-se escoamento em
regime crítico, ocorrendo equilíbrio entre a energia cinética e a potencial.
No ponto crítico o escoamento é bastante instável, podendo pequenas

254
alterações na energia específica provocar sensíveis alterações na altura
da lâmina líquida, trazendo transtornos para o funcionamento da obra.

Tabela 96. Variação da energia com a profundidade do canal


Y V2/2g E V Y V2/2g E V
(m) (m) (m) (m/s) (m) (m) (m) (m/s)
0,3 2,268 2,568 6,67 1,6 0,080 1,680 1,25
0,4 1,276 1,676 5,00 1,7 0,071 1,771 1,18
0,5 0,816 1,316 4,0 1,8 0,063 1,863 1,11
0,6 0,567 1,167 3,33 1,9 0,057 1,957 1,05
0,7 0,416 1,116 2,86 2,0 0,051 2,051 1,00
0,8 0,319 1,119 2,50 2,1 0,046 2,146 0,95
0,9 0,252 1,152 2,22 2,2 0,042 2,242 0,91
1,0 0,204 1,204 2,00 2,3 0,039 2,339 0,87
1,1 0,169 1,269 1,82 2,4 0,035 2,435 0,83
1,2 0,142 1,342 1,67 2,5 0,033 2,533 0,80
1,3 0,121 1,421 1,54 2,6 0,030 2,630 0,77
1,4 0,104 1,504 1,43 2,7 0,028 2,728 0,74
1,5 0,091 1,591 1,33 - - - -

O escoamento em regime supercrítico pode trazer problemas de


velocidades elevadas, sobrelevações, propagação de ondas que
desaconselham o projetista a trabalhar com escoamento supercrítico.
O ressalto hidráulico é um exemplo da passagem de regime supercrítico
para subcrítico (Figura 98).
Quando Fr = 1, o regime é crítico, situação que deve ser evitada;
Fr < 1, o regime é lento ou subcrítico;
Fr > 1, o regime é rápido ou supercrítico.
O FHWA (2001) recomenda que se adotem valores do número de
Froude menores que 0,8.

255
Yc
<
>

Figura 98. Variação da energia com a profundidade do canal

Escoa ment o
crítico
R es sa l t o
hi dráuli co R e ma n so

Movimento Movimento
uni forme va ri a do

Figura 99. Representação do ressalto hidráulico

11.4 Profundidade crítica


A profundidade crítica representa o limite da profundidade de
escoamento para definir o regime deste. Se a profundidade de
escoamento for menor que a profundidade crítica, tem-se o regime de
escoamento supercrítico. Para o cálculo da profundidade crítica, podem-
-se utilizar as expressões da Tabela 97.

256
Exemplo 54. Um canal retangular de concreto (n = 0,012) com largura
de 4,2 m e declividade de 0,01 m/m está com profundidade de 0,80 m.
Calcule a vazão, o número de Froude e a profundidade crítica.

A= b Y = 4,2 x 0,8 = 3,36 m² P = b + 2Y = 4,2 + 2. 0,8 = 5,6 m

A 3,36 A 3,36
Rh = = = 0,579 m Ym = = = 0,8 m
P 5,6 B 4,2

ARh 2 / 3 I 3,36 × (0,5779) 0,667 0,001


Q= = = 6,15m 3 / s
n 0,012

Q 6,15m3 / s
V= = = 1,83m / s
A 3,36 m 2

V 1,83
Fr = = 0 = 0,65
g Ym 9,80x 0,8

Com Fr < 1, o regime é subcrítico;

1 1
æ Q2 ö 3 æç (6,15 )2 ö 3
÷
ç g ÷ 9,8 ÷
hc = ç 2 ÷ =ç = 0,60m
çç b ÷÷ ç (4,2 )2 ÷
è ø ç ÷
è ø
como Y > Yc, o regime é subcrítico.

257
Tabela 97. Fórmulas para o cálculo de profundidade crítica
Seção Equação empírica para estimar Yc eq
0 , 27 para 0,1 < Q/b < 0,42,5
æ y ö b
Yc = 0 , 81 çç ÷÷ -
Trapezoidal è z 0 , 75 b 1 , 25 ø 30 z 208
se Q/b2,5 < 0,1, usar equação para canal retangular
0 , 20
æ 2y ö
Triangular Yc = çç ÷÷ 209
è z2 ø
1
Para canais retangulares: æ Q2 ö
ç
3

g ÷
Retangular hc = ç 2
÷ 210
çç b ÷÷
è ø

æ 1 , 01 ö 0 , 25
Yc = çç ÷÷ y
Circular è D 0 , 26 ø 211
para 0,02 £ Yc/D £ 0,85
Yc = (0 ,84 c y )0 , 25
Parábola 212
P = cx2 = à c = 4Y/B2
0 , 25
æ y ö para 0,05 £ Yc/(2b) £ 0,85
Yc = 0 , 84 b 0 , 22 çç ÷÷
Elíptica èa2 ø 213
a é o eixo maior e b é o eixo menor

Q2
em que y = [214]
g
sendo Q a vazão (m³/s) e g a aceleração da gravidade (m/s²).

11.5 Degraus nos canais


Em situações em que a declividade elevada do terreno implica
velocidades excessivas, podem-se construir degraus para dissipar parte
da energia.Na aproximação do degrau, a lâmina vertente, em
escoamento livre, como num vertedor, inverte sua curvatura e passa
para escoamento supercrítico. Normalmente, há formação de um
ressalto hidráulico (Figura 100).

258
Figura 100. Ilustração de degrau em canais

11.5.1 Distância entre degraus


A distância entre os degraus pode ser estimada por esta equação:
1000 d
LD = [215]
In - Ir
em que:
LD = espaçamento entre os degraus (m);
In = declividade natural do terreno (m/km);
Ir = declividade do fundo do canal adotada (m/km);
d = altura do degrau (m).
D = número de queda;

11.5.2 Dimensões dos degraus


Considerando um canal retangular, pode-se demonstrar que a altura
do degrau é dada por:

d = 0,428Y0 +
g
(
1 2
V1 + 0, 49V02 - 1,7 V1V0 ) [216]

em que:
d = altura do degrau (m);

259
Y0 = profundidade do escoamento na seção 0, considerada igual à
profundidade crítica do canal (m);
V0 = velocidade de escoamento na seção 0, considerada igual à
velocidade crítica do canal (m/s);
V1 = velocidade de escoamento na seção 1 (m/s).
Os demais elementos do degrau podem ser calculados por:

æ V02 ö
ç
Y1 = 0,714Y0 ç 1 + 0,28 - 1÷÷
Y0 [217]
è ø
A velocidade de escoamento na seção 1 pode ser estimada a partir
da equação da continuidade:
Q
V1 = [218]
b Y1
Chow (1959) define um termo chamado de número de queda D,
calculado como:

q2
D= [219]
g d3
em que:
D = número de queda;
q = vazão específica (vazão por metro de largura da soleira);
d = altura do degrau (m).
As demais funções expressas em função do número de queda são:

L1 = d × 4,30 D 0 ,27 [220]

Yp = d × D 0, 22 [221]

Y1 = d × 0,54 D 0 ,425 [222]

Y2 = d × 1,66 D 0 , 27 [223]

L 2 = 6,9( Y2 - Y1) [224]


260
em que:
L1 é o comprimento da queda (m) (distância desde o espelho do
degrau até a posição de profundidade Y1);
Yp é a profundidade a jusante junto ao pé do degrau (m);
Y1 e Y2 são as profundidades conjugadas do ressalto (m).
Essas considerações são válidas se o comprimento da crista do
vertedor (largura da queda) for aproximadamente igual à largura do canal
de aproximação. Se a profundidade do degrau for inferior a Y2, o ressalto
forma-se mais a jusante, exigindo proteção especial do fundo numa
extensão maior. Se, por outro lado, a profundidade a jusante for maior
que Y2, o ressalto será afogado. Nesse caso, devem-se se verificar as
condições de submergência não prejudicam o funcionamento da seção
de controle. Mais detalhes podem ser consultados em Chow (1959).
Segundo Martins (1995), para a contenção do ressalto hidráulico no
pé do degraus, pode ser empregada uma bacia de dissipação na qual
valem as seguintes relações (Figura 101):

Y1

Yc

Y2

Y1

L1 L2

Figura 101. Dimensões do degrau

1, 275
æ Yc ö
Y1 = d × 0,54ç ÷ [225]
è d ø
0, 275
æ Yc ö
Y1 = Yc × 0,54ç ÷ [226]
è d ø

261
0,81
æ Yc ö
Y2 = d ×1,66ç ÷ [227]
è d ø
0,09
æ Yc ö
L1 = d × 4,30ç ÷ [228]
è d ø
L 2 = 6,9( Y2 - Y1) [229]

Exemplo 55. Dimensionar um canal retangular com fundo de terra e


paredes revestidas de pedra (n = 0,028) para a vazão de 3,2 m³/s. A
declividade natural do terreno é de 0,006 m/m e as condições do solo
exigem velocidade máxima de 0,9 m/s. Se necessário, projetar e
dimensionar as quedas.
Dados: Q = 3,2 m³/s;
I = 0,006 m/m;
n = 0,028.
Dimensionando como um canal de máxima vazão, obtém-se:
b – largura do canal = 1,94 m
Y – profundidade do canal = 0,97 m
A – área da seção = 1,876 m²
P – perímetro molhado = 3,87 m
Rh – raio hidráulico = 0,484 m
V – velocidade de escoamento = 1,706 m/s
Yc – profundidade crítica = 0,653 m
F – número de Froude = 0,554
Observa-se que a velocidade de escoamento é muito superior à
velocidade máxima permitida. Isso torna necessária a construção de
quedas. Para a velocidade máxima de 0,9 m/s pode-se obter a
declividade máxima de 0,001 m/m. Nessas condições, o
dimensionamento será:
Dados: Q = 3,2 m³/s;
I = 0,001 m/m;
n = 0,028.

262
Dimensionando como um canal de máxima vazão, obtém-se:
b – largura do canal = 2,71 m
Y – profundidade do canal = 1,35 m
A – área da seção = 3,67 m²
P – perímetro molhado = 5,42 m
Rh – Raio hidráulico = 0,678 m
V – Velocidade de escoamento = 0,871 m/s
Yc – profundidade crítica = 0,52 m
F – número de Froude = 0,239
Para a profundidade crítica de 0,52 m, a velocidade crítica é de 2,26
m/s. As dimensões da queda são calculadas como:

æ (2,26)2 ö
ç
Y1 = 0,714 × 0,52ç 1 + 0,28 - 1÷÷ = 0,3477m
0,52
è ø

3,2 m3 / s
V1 = = 3,40m / s
2,71m × 0,3477m

d = 0,428 × 0,52 +
1
9,8
( )
(3,4)2 + 0,49 × (2,26)2 - 1,7 × 3,4 × 2,26 = 0,324 m

3,2
q= = 1,18
2,71

(1,18) 2
D= = 4,43
9,8(0,324)3

L1 = d × 4,30 D 0 ,27 = 0,324 . 4,30 (4,43)0,27 = 2,08 m

Yp = d × D 0, 22 = 0,324 (4,43)0,22 = 0,45 m

Y1 = d × 0,54 D 0 ,425 = 0,324 . 0,54 (4,43)0,425 = 0,33 m

263
Y2 = d × 1,66 D 0 , 27 = 0,324 . 1,66 (4,43)0,27 = 0,80 m
= 6,9 (0,80 – 0,33) = 3,3 m
O espaçamento entre os degraus será:
1000 × 0,32
LD = = 64 m
6 -1

11.5.3 Método empírico para dimensionamento de


quedas
Para canais com vazão de até 300 L/s, pode-se dimensionar a queda
usando a seguinte relação (Figura 102) :
H = 1,67 Y [230]
em que:
H = altura da queda referente à diferença de nível entre o fundo do
canal a jusante e a montante da queda (m);
Y = profundidade de escoamento (m).

H
d Y

Figura 102. Dimensionamento de quedas pelo método empírico

A profundidade do poço pode ser estimada por:

d = 1,8H 0,325 q 0,54 [231]

em que:
Y
d = profundidade do poço (m);
H = altura da queda (cm);
q = vazão unitária (m³/s)/m de largura da queda.
264
O comprimento da queda é calculado por:
L = 3H + 0,4Y [232]
A vazão unitária pode ser estimada por:
Q
q= [233]
L
sendo Q a vazão do canal (m³/s) e L a largura média (m).
Exemplo 56. Deseja-se construir um canal trapezoidal de máxima
vazão com capacidade de 240 L/s num solo argiloso (n = 0,020) de
declividade 8 m/km. Dimensione o canal e as quedas necessárias se a
velocidade máxima permitida no canal é de 1 m/s.
Dados: Q = 0,24 m³/s
z = 0,577
I = 0,008 m/m
n = 0,020
Resultados do dimensionamento:
b – largura da base = 0,37 m;
Y – profundidade = 0,32 m;
V – velocidade média de escoamento = 1,33 m/s.
Como a velocidade é superior à máxima permitida, deve-se diminuir
a declividade para I = 0,0035 m/m. As dimensões do canal, então, serão:
b – largura da base = 0,436 m;
Y – profundidade = 0,377 m;
B – largura da superfície = 0,871 m;
V – velocidade média de escoamento = 0,973 m/s.
Dimensionamento das quedas:
H = 1,67. 0,377 = 0,63 m

Q 0,24 0,24
q= = = = 0,38
L æ 0,436 + 0,871 ö 0,624
ç ÷
è 2 ø

265
d = 1,8(0,63)0 ,325 (0,38 )0 ,54 = 0,92 m
L = 3 (0,63) + 0,4 (0,377) = 2,04 m
1000 × 0,63
LD = = 140m
8 - 3,5

11.6 Determinação do fator n


A rugosidade das paredes depende do tipo de material, da forma de
construção do canal e de outros fatores, como:
• irregularidades do canal: irregularidades no leito e variações da
seção transversal, tamanho e forma ao longo do comprimento do canal;
• curvas suaves de grande raio dão um valor baixo de n, enquanto
curvas mais pronunciadas aumentam seu valor;
• obstruções por pilares de pontes e outros materiais aumentam a
rugosidade;
• tipo de vegetação nas paredes ou no fundo do canal;
• tamanho e forma do canal;
• idade e manutenção do canal;
• carga e tipo de sedimentos transportados.
Normalmente, considera-se um único valor do coeficiente de
rugosidade (n) para representar a rugosidade de um trecho do canal.
Em se tratando de canais com revestimento rígido, pode ser admitido
um valor constante de n, independentemente da declividade e da forma
do canal e da profundidade de escoamento. Entretanto, em várias
situações de canais construídos ou canais naturais, o coeficiente de
rugosidade varia ao longo do perímetro do canal. Nesses casos, é
necessário calcular um coeficiente composto médio, também chamado
equivalente (ne) .

266
11.6.1 Coeficiente n composto (ne)
Podem-se utilizar os seguintes métodos para calcular o coeficiente
médio:
1) Horton (1933) e Einstein & Banks (1950) desenvolveram um
método que assume que em cada área da subdivisão o fluxo tem a
mesma velocidade da seção total, isto é,

V = V1 = V2 = ... = Vn , então:

2
é P n 32 ù 3
ne = ê
å i i ú
[234]
ê P ú
ë û

em que:
ne = coeficiente de rugosidade de Manning equivalente;
Pi = perímetro da subseção i;
ni = coeficiente de rugosidade da subseção i;
P = perímetro da seção total.
2) Se é assumido que a força total de resistência é igual à soma das
forças de resistência das subseções, então:

ne =
å Pi ni 2 [235]
P
3 ) Se é assumido que a vazão total é igual à soma das vazões das
sub-bacias,

P Rh5 / 3
ne =
æ 5 ö
ç Pi Rhi 3 ÷
åç n ÷ [236]
ç i ÷
è ø
em que Rhi é o raio hidráulico da subseção i.

267
4) Cox (1976) atribuiu o método ao U.S. Army Corps of Engineers
District da seguinte forma:

ne =
å ni Ai
[237]
A
em que Ai é a área da seção i e A é a área total.
5) Método Colebat, descrito por Cox (1973):

2
æ 3 ö 3
ç å ni Ai 2 ÷
ne = ç ÷ [238]
ç A ÷
è ø
Os métodos 1, 2 e 3 são mais indicados para canais naturais, enquanto
os métodos 4 e 5 são mais indicados para canais artificiais. Segundo
Chaudhry (1993), pesquisas realizadas em 36 canais naturais apontaram
o método 1 como o mais indicado.
Exemplo 57: Calcular o valor de n equivalente para o canal da Figura
103.
2
é P n 3 2 ù 3 é 0,0763 ù 2 3
ne = ê
å i i ú =
ê P ú ê 28,17 ú = 0,0194
ë û ë û

åP
2
i ni 0,0111
ne = = = 0,0199
P 28,17

ne =
ån i Ai
=
0,555
= 0,0208
A 26,6

268
5
P Rh 5 / 3 28,17 × 0,94 3
ne = = = 0,0176
æ 5 ö 1442,42
ç Pi Rh i 3 ÷
åç ÷
ç ni ÷
è ø

2
æ n A 32 ö 3
å i i ÷
2 3
æ 0,0825 ö
n e = çç ÷÷ =ç ÷ = 0,0212
ç A è 26,6 ø
è ø

Figura 103. Ilustração do exemplo 57

Determinação de ne:
5 /3
A P Rh PRh
I ni Pn 1i , 5 Pn 2
Ai ni An 1i, 5
(m²) (m) (m) i
ni
1 8,0 4,00 2,00 0,028 0,0187 0,0031 453,54 0,224 0,0375
2 2,3 3,35 0,67 0,025 0,0132 0,0021 69,02 0,056 0,0089
3 2,3 3,35 0,69 0,023 0,0117 0,0018 77,83 0,053 0,0080
4 8,0 8,00 1,00 0,015 0,0147 0,0018 533,33 0,120 0,0147
5 5,0 5,00 1,00 0,018 0,0121 0,0016 277,78 0,090 0,0121
6 0,5 2,24 0,22 0,013 0,0033 0,0004 14,17 0,007 0,0007
7 0,5 2,24 0,22 0,011 0,0026 0,0003 16,75 0,006 0,0006
26,6 28,17 0,94 0,133 0,0763 0,0111 1442,42 0,555 0,0825

269
12 Orifícios, bocais e tubos curtos
Azevedo Netto (1998) apresenta um critério para classificar as peças
de acordo com a relação entre o comprimento (L) e o diâmetro (D):
L < 1,5 D Orifício parede delgada
1,5 D < L < 3,0 D Bocais
3,0 D < L < 500 D Tubulações curtas
500 D < L < 4.000 D Tubulações curtas
L > 4.000 D Tubulações longas
Nos caso de tubulações longas, a vazão é calculada de acordo com
as fórmulas de condutos forçados, vistas no Capítulo 5. Para os demais
casos, pode-se utilizar a fórmula geral de escoamento em orifícios.

12.1 Escoamento em orifícios


Em hidráulica, chama-se de orifício a abertura regular praticada na
parede ou no fundo de um recipiente através da qual sai o líquido contido
nesse recipiente, mantendo o contorno completamente submerso
(Lencastre, 1983). Caso essas abertura se situem na superfície do líquido,
são chamados de vertedores (Figura 104).
De acordo com a forma geométrica, os orifícios podem ser
classificados em circulares, retangulares, triangulares, etc. Quanto à
dimensão relativa, os orifícios podem ser grandes ou pequenos. Como
regra geral, consideram-se pequenos os orifícios em que o diâmetro ou
a dimensão vertical (d) seja menor que um terço da carga hidráulica,

270
isto é, d < h/3. Para orifícios pequenos, de área inferior a 1/10 da superfície
do recipiente, pode-se desprezar a velocidade V do líquido.

Figura 104. Ilustração de orifício e de vertedor

Quanto à natureza das paredes, podem ser classificados em orifícios


em parede delgada e orifícios em parede espessa. A parede é delgada
quando o jato líquido apenas toca a perfuração em uma linha que constitui
o perímetro do orifício. Numa parede espessa, o jato adere à parede
(Figura 105). Os orifícios em parede delgada são obtidos em chapas finas
ou pelo corte em bisel. O acabamento em bisel é necessário se a
espessura (e) da chapa é inferior ao diâmetro (d) do orifício suposto
circular (ou a menor dimensão se o orifício tiver outro formato).

Figura 105. Representação de parede delgada e parede espessa

12.2 Equação de Torricelli


Aplicando a equação de Bernoulli para o caso do orifício (Figura 106),
obtém-se:
271
V12 p V2 p
+ 1 + z1 = 2 + 2 + z 2
2g g 2g g
Considerando o ponto 1 na superfície do líquido e o ponto 2 no
centro do orifício, e desprezando a velocidade da água dentro do
reservatório (V1 = 0), obtém-se a expressão para a velocidade de
escoamento no orifício:
p1 - p 2
V2 = 2 g (h + ) [239]
g
Estando ambos os pontos sob a pressão atmosférica, admite-se que
p1 = p2 e, assim, obtém-se a expressão da velocidade teórica (Vt):
Vt = 2 gh [240]

Figura 106. Escoamento em orifícios

Como a água não é um líquido perfeito, a velocidade real do jato é


um pouco menor que a velocidade teórica, sendo corrigido por um
coeficiente chamado coeficiente de velocidade (C v), com valores
próximos a 0,97 ou 0,98 para a água ou líquidos de viscosidade
semelhante. Na Tabela 98 são indicados os valores de coeficiente de
velocidade para orifícios circulares. A velocidade real (V) pode ser
estimada por:
272
V = Cv Vt¨ V = Cv 2 gh [241]
em que Cv é o coeficiente de redução de velocidade.
Tabela 98. Coeficiente de velocidade (Cv) para orifícios circulares em parede
delgada
Carga h (m) Diâmetro do orifício (cm)
2 3 4 5 6
0,20 0,954 0,964 0,973 0,978 0,984
0,40 0,956 0,967 0,976 0,981 0,986
0,60 0,958 0,971 0,980 0,983 0,988
0,80 0,859 0,972 0,981 0,984 0,988
1,00 0,958 0,974 0,982 0,984 0,988
1,50 0,958 0,976 0,984 0,984 0,988
2,00 0,956 0,978 0,984 0,984 0,988
3,00 0,957 0,979 0,985 0,986 0,988
5,00 0,957 0,980 0,987 0,986 0,990
10,0 0,958 0,981 0,990 0,988 0,992

Fonte: Azevedo Netto (1998).

Como o jato que sai do orifício de área A1 tem uma trajetória


parabólica contraindo-se, essa contração continua mesmo depois de o
jato passar pelo orifício até uma seção A 2. Como a área da seção
contraída (A2) é menor que a área do orifício (A1), a vazão deve ser
corrigida por um coeficiente, chamado coeficiente de contração, dado
por Cc = A2/A1.
O valor médio prático de Cc é 0,62. O valor de Cc para orifícios longos
e abertos em paredes delgadas pode ser calculado pela expressão
p
Cc= [242]
p +2
Aplicando a equação da continuidade, a vazão teórica é dada por
Q t = A c Vt [243]
e a vazão real será:
Q = A CC CV 2 gh = C A 2 gh [244]
em que C = coeficiente de descarga ou coeficiente de vazão, dado
por:
273
C= CC CV [245]
Para orifícios em geral, tem-se o valor médio de C = 0,61. Nas Tabelas
99 a 102 se encontram valores de coeficiente de vazão para diferentes
tipos de orifício.

Tabela 99. Coeficientes de vazão (C) para orifícios circulares


Carga no centro Diâmetro do orifício (cm)
do orifício (m)
30 18 6 3 1,5 0,6
0,12 - - - 0,618 0,631 -
0,15 - 0,592 0,600 0,615 0,627 -
0,18 - 0,593 0,601 0,613 0,624 0,655
0,21 0,590 0,594 0,601 0,611 0,622 0,651
0,24 0,591 0,594 0,601 0,610 0,620 0,648
0,27 0,591 0,595 0,601 0,609 0,618 0,646
0,30 0,591 0,595 0,600 0,608 0,617 0,644
0,40 0,593 0,596 0,600 0,605 0,613 0,638
0,60 0,595 0,597 0,599 0,604 0,610 0,632
0,90 0,597 0,598 0,599 0,603 0,606 0,627
1,20 0,596 0,597 0,599 0,602 0,605 0,623
1,80 0,596 0,597 0,598 0600 0,604 0,618
2,40 0,596 0,596 0,598 0,600 0,603 0,614
3,00 0,595 0,596 0,597 0,598 0,601 0,611
6,00 0,594 0,596 0,596 0,596 0,598 0,601
30,0 0,5920 0,592 0,592 0,592 0,592 0,593
Fonte: Neves (1989), adaptado.

Tabela 100. Coeficientes de vazão (C) para orifícios afogados


Carga Dimensões do orifício
(cm) Circular Quadrado Circular Quadrado Retangular
(d=1,5 cm) (L = 1,5 cm) (L = 3 cm) (d=3 cm) (1,5 x 3 cm)
15 0,615 0,619 0,603 0,608 0,623
30 0,610 0,614 0,602 0,606 0,622
45 0,607 0,612 0,600 0,605 0,621
60 0,605 0,610 0,599 0,604 0,620
75 0,603 0,608 0,598 0,604 0,619
90 0,602 0,607 0,598 0,604 0,618
120 0,601 0,606 0,598 0,604 -

274
Tabela 101. Coeficientes de vazão (C) para orifícios retangulares
Carga no
centro do Altura do orifício (cm)
orifício (cm) 20 10 5 3 2 1
0,5 - - - - - 0,705
1 - - 0,607 0,630 0,660 0,701
1,5 - 0,593 0,612 0,632 0,660 0,697
2 0,572 0,596 0,615 0,634 0,659 0,694
3 0,578 0,600 0,620 0,638 0,659 0,688
4 0,582 0,603 0,623 0,640 0,658 0,683
5 0,585 0,605 0,625 0,640 0,658 0,679
6 0,587 0,607 0,627 0,640 0,657 0,676
7 0,588 0,609 0,628 0,639 0,656 0,673
8 0,589 0,610 0,629 0,638 0,656 0,670
9 0,591 0,610 0,629 0,637 0,655 0,668
10 0,592 0,611 0,630 0,637 0,654 0,666
12 0,593 0,612 0,630 0,636 0,653 0,663
14 0,595 0,613 0,630 0,635 0,651 0,660
16 0,596 0,613 0,631 0,634 0,650 0,658
18 0,597 0,615 0,630 0,634 0,649 0,657
20 0,598 0,615 0,630 0,633 0,648 0,655
25 0,599 0,616 0,630 0,632 0,646 0,653
30 0,600 0,617 0,629 0,632 0,644 0,650
40 0,602 0,617 0,628 0,631 0,642 0,647
50 0,603 0,617 0,628 0,630 0,640 0,644
60 0,605 0,617 0,627 0,630 0,638 0,642
70 0,605 0,616 0,630 0,629 0,637 0,640
80 0,605 0,606 0,630 0,629 0,636 0,637
90 0,605 0,616 0,626 0,628 0,634 0,634
100 0,605 0,615 0,626 0,628 0,633 0,632
120 0,604 0,614 0,624 0,626 0,628 0,626
140 0,603 0,612 0,621 0,622 0,622 0,618
150 0,602 0,611 0,620 0,620 0,619 0,615
180 0,601 0,609 0,615 0,615 0,614 0,612
200 0,601 0,607 0,613 0,612 0,612 0,611
300 0,601 0,603 0,606 0,608 0,610 0,609
Fonte: Neves (1989).

275
Tabela 102. Coeficientes de vazão para bocais cônicos convergentes
Coeficiente Ângulo de convergência (a)
o o
0 5 10 o 15 o 20 o 25 o 30 o 40 o 50 o
Cv 0,82 0,911 0,947 0,965 0,971 0,973 0,976 0,981 0,984
Cc 1,00 0,999 0,992 0,972 0,952 0,935 0,918 0,888 0,859
C 0,82 0,910 0,939 0,938 0,924 0,911 0,896 0,871 0,845

12.3 Aberturas grandes


Quando as aberturas são grandes (quando o diâmetro ou a altura é
maior que 1/3 da carga hidráulica), a hipótese de que a velocidade é
igual em toda a seção não é verdadeira, e não se pode considerar uma
única carga (h). A descarga da abertura pode ser obtida integrando a
expressão entre os limites h1 e h2 (Figura 107), obtendo-se:

2 h 1,5 - h 11,5
Q = CA 2 g 2 [246]
3 h 2 - h1
No caso de abertura retangular de largura (b), a vazão é estimada
por:

Q=
2
3
(
C 2 g b h 12,5 - h 11,5 ) [247]

Figura 107. Escoamento em aberturas grandes


276
12.4 Escoamento com nível variável
Um reservatório com área da superfície de A metros quadrados
contém uma abertura com área S instalada a h metros (Figura 108).

Figura 108. Esvaziamento de reservatórios por meio de orifícios

Para reservatórios com nível variável, pode-se estimar o tempo de


escoamento entre os níveis h1 e h2 por:

t=
2A
( h1 - h 2 ) [248]
CS 2g
em que:
t = tempo (s);
A = área da superfície do reservatório (m²);

277
C = coeficiente de descarga da abertura;
S = área da abertura (m²);
h1 = nível inicial do reservatório (m);
h2 = nível final do reservatório (m).
Para o esvaziamento completo (h2 = 0), o tempo é dado por:
2A
t= h [249]
CS 2g
Exemplo 58: Uma empresa tem um reservatório com 5 m x 12 m de
área de superfície e 2,8 m de profundidade. No fundo do reservatório
existe uma abertura circular de 15 cm de diâmetro. Determinar o tempo
de esvaziamento do reservatório considerando o coeficiente de descarga
de C = 0,62.
Dados: A = 5 x 12 = 60 m²

D2 0,15 2
S=p = 3,14 = 0,01767 m²
4 4
2 * 60
t = 2 ,8 = 4208 s = 70 min
0 ,61 ( 0 ,01767 ) 2 ( 9 ,8 )

12.5 Orifícios afogados


Quando a vazão de um orifício se dá embaixo d’água, diz-se que o
orifício é afogado ou submerso (Figura 109). Em geral, os valores dos
coeficientes de vazão para orifícios afogados são ligeiramente menores
que os correspondentes à descarga livre, contudo o erro cometido com
a utilização deles é pequeno.
A vazão é estimada pela equação geral em orifícios, isto é:
Q = CA 2 gh
em que h é a diferença dos níveis a montante e a jusante.

278
Figura 109. Orifícios afogados

12.6 Contração incompleta


Quando a água não se aproxima livremente do orifício em todas as
direções, a contração não é completa. Como a contração da veia líquida
diminui a seção útil de escoamento, a vazão aumenta quando a
contração é incompleta, podendo ser calculada pela fórmula:

Q = C’ Q = C ' S 2 gh [250]
em que C’ é o coeficiente de vazão correspondente.
O coeficiente C’ pode ser obtido em função da relação entre a parte
do perímetro em que não há contração com o perímetro total do orifício,
denominada de K (Figura 110) e calculada por:
perímetro sem contração
K = [251]
perímetro total
O valor de coeficiente C’ é, então, calculado por:
a) orifícios retangulares: C’ = C (1 + 0,155 K); [252]
b) orifícios quadrados: C’ = C (1 + 0,1523 K); [253]
c) orifícios circulares: C’ = C (1 + 0,128 K); [254]
K = 0,25 para orifícios junto à parede lateral;
K = 0,25 para orifícios junto ao fundo;
K = 0,50 para orifícios junto ao fundo e a uma parede lateral;
279
Figura 110. Coeficiente K para contração incompleta

12.7 Vazão nos bocais


Bocais são constituídos por peças tubulares adaptadas aos orifícios
e servem para dirigir o jato. Os bocais costumam ser classificados em:

K = 0,75 para orifícios junto ao fundo e a duas parede laterais.


Para o cálculo da vazão nos bocais aplica-se, em geral, a fórmula
deduzida para os orifícios, e os coeficientes de vazão dependem da
relação entre o comprimento (L) e o diâmetro (D) do tubo e seu formato,
conforme a Tabela 103.
Com os bocais cônicos convergentes, a vazão aumenta, sendo a
máxima vazão obtida para o ângulo de convergência (a) 13,5o, que
corresponde ao coeficiente de vazão C = 0,94. A Tabela 102 (ver pág.
276) fornece os valores de coeficiente de vazão para diferentes ângulos
de convergência.

280
Tabela 103. Coeficientes de vazão para bocais
1 Tipo de bocal 2 L=D 3 L = 5D 4 L = 10 D

C = 0,88 C = 0,81 C = 0,77

C = 0,96 C = 0,89 C = 0,85

C= 0,52

a = 22O C = 0,82 C = 0,76 C = 0,69

a = 45O C = 0,82 C = 0,71 C = 0,69

C @ 1,0

L = 10 D à C = 0,77
L = 20 D à C = 0,73
L = 30 D à C = 0,70
L = 40 D à C = 0,66
L = 60 D à C = 0,60

281
12.8 Vazão em tubos curtos
O coeficiente de vazão para os tubos curtos depende da relação
entre o comprimento e o diâmetro (L/D) do tubo e seu formato (Figura
111). A Tabela 104 fornece os valores médios de coeficiente de vazão
obtidos por diferentes autores. Na Tabela 104 são apresentados valores
de coeficientes de vazão para tubos curtos de diferentes materiais
usados em tomadas de água para irrigação.

Figura 111. Vazão em tubos curtos

Tabela 104. Valores de coeficientes de vazão para tubos curtos


L/D Azevedo Neto Bazard Eytelwein Fanning
300 0,33 - - 0,38
200 0,39 - - 0,44
150 0,42 - - 0,48
100 0,47 0,50 - 0,55
90 0,49 0,52 - 0,56
80 0,52 0,54 - 0,58
70 0,54 0,57 - 0,60
60 0,56 0,60 0,60 0,62
50 0,58 0,63 0,63 0,64
40 0,64 0,66 0,66 0,67
30 0,70 0,70 0,70 0,70
20 0,73 0,73 0,73 0,73
15 - 0,75 0,75 0,75
10 - 0,77 0,77 0,77
Fonte: Azevedo Netto (1998).

282
Tabela 105. Coeficientes de vazão para tubos curtos
Comprimento Diâmetro Cd
Material (m) (mm) Descarga Afogados(1)
livre
PVC 0,8 a 1,2 40, 50, 75 e 100 0,76 0,76
Polietileno
(mangueiras) 0,8 a 1,2 40 e 50 0,72 0,72
Bambu
gigante 0,8 a 1,2 87 0,48 0,54
Manilha de
barro 0,6 a 1,2 70 a 150 0,82 -
(1)
Para a altura de afogamento variando entre 5 e 25 cm.

12.9 Vazão em bueiros


Os bueiros têm o funcionamento semelhante ao dos tubos curtos e
geralmente trabalham afogados. A vazão é função da relação entre o
comprimento (L) e o diâmetro (D) (Figura 112). Azevedo Netto (1998)
recomenda os valores de coeficientes de vazão da Tabela 106 para
cálculo da vazão em bueiros.

Figura 112. Vazão em bueiros

283
Tabela 106. Coeficientes de vazão para bueiros
Tipo de bueiro L D - Diâmetro (m)
(m) 0,30 0,45 0,60 0,90 1,20 1,50 1,80
3 0,86 0,89 0,91 0,92 0,93 0,94 0,94
Com entrada 6 0,79 0,84 0,87 0,90 0,91 0,92 0,93
chanfrada 9 0,73 0,80 0,83 0,87 0,89 0,90 0,91
12 0,68 0,76 0,80 0,85 0,88 0,89 0,90
15 0,65 0,73 0,77 0,83 0,86 0,88 0,89

3 0,80 0,81 0,80 0,79 0,77 0,76 0,75


6 0,74 0,77 0,78 0,77 0,76 0,75 0,74
Com entrada 9 0,69 0,73 0,75 0,76 0,75 0,74 0,74
viva 12 0,65 0,70 0,73 0,74 0,74 0,74 0,73
15 0,62 0,68 0,71 0,73 0,73 0,73 0,72
Fonte: Daker (1983).

Exemplo 59. Numa barragem foi colocado um tubo de 30 cm de


diâmetro e 6 m de comprimento para permitir o escoamento de água
para irrigação. Calcular a vazão, sabendo que o nível da reservatório
está 8 m acima do tubo.
L 600 cm
= = 20 Portanto, trata-se de um tubo curto.
D 30 cm
Q = CA 2 gh

O coeficiente (C) pode ser estimado como C = 0,73 (Tabela 103):

p × ( 0 ,30 ) 2
Q = 0 ,73 2 × 9 ,8 × 8, 0 = 0,646 m³/ss
4

Exemplo 60. Calcular a vazão em um bueiro com 9 m de


comprimento e 1 m de diâmetro, admitindo a altura máxima da água de
2,2 m. O coeficiente (C) pode ser obtido na Tabela 106 (para bueiros
com entrada viva), C = 0,74.

p × (1, 0 ) 2
Q = 0 , 74 2 × 9 ,8 × 2 , 2 = 3,816 m³/ss
4

284
13 Hidrometria
O conhecimento da vazão de tubulações, rios, córregos ou canais
artificiais é de importância em várias áreas de recursos hídricos, como
irrigação, abastecimento, monitoramento ambiental, regularização de
vazão e tratamento de efluentes.
Existem vários métodos que podem ser utilizados para a medição
de vazão; alguns deles exigem equipamentos caros e sofisticados, outros
são simples e baratos. O melhor método para cada condição dependerá
da vazão a ser medida, das condições onde as medidas serão realizadas
e da precisão desejada.
Os principais métodos utilizados para a determinação da vazão são:
• método volumétrico ou medição direta;
• uso de vertedores ou calhas Parshall;
• uso de equipamentos especiais, como tubo de Pitot ou medidor de
Venturi;
• por processos químicos ou com traçadores;
• por flutuadores, que medem apenas a velocidade superficial do
escoamento;
• por molinetes, com os quais se determina a velocidade média do
escoamento com medições em vários pontos de seção.

285
13.1 Medição direta
Consiste em determinar o tempo que a água leva para encher um
recipiente de volume conhecido. O volume do recipiente dividido pelo
tempo gasto para enchê-lo fornece o valor da vazão, isto é,
V
Q= [255]
t
em que:
Q = vazão (L/s);
V = volume do recipiente (L);
t = tempo gasto para enchê-lo (s).
É um método simples, requer poucos equipamentos e apresenta boa
precisão, porém é aplicável somente para pequenos vazões (menores
que 15 L/s). Quanto maior for o recipiente, maior o tempo para enchê-
-lo e maior será a precisão. Segundo Bernardo (1989), o tamanho do
recipiente deve ser tal que o tempo para enchê-lo seja maior que 20
segundos. Também se recomenda fazer no mínimo três repetições. Para
a aplicação do método, deve-se abrir uma trincheira transversal ao canal
de irrigação e colocar um pedaço de tubulação ou calha para conduzir a
água para o recipiente (Figura 113).

Figura 113. Medição de vazão pelo método direto

13.2 Método do vertedor


Vertedores são dispositivos utilizados para medir ou controlar a
vazão em escoamento de canais. Diferenciam-se dos orifícios pelo fato
de a abertura ocorrer na parte superior, e a veia líquida está em contato
com a pressão atmosférica.

286
Um vertedor é caracterizado pelos seguintes elementos (Figura 114):
• crista ou soleira: a parte superior da parede em que há contato
com a lâmina vertente;
• faces: as paredes laterais do vertedor;
• largura da soleira (L): a dimensão da soleira onde ocorre o
escoamento;
• altura do vertedor (P): a diferença de cota entre a soleira e o fundo
do canal;
• carga do vertedor (h): diferença de cota entre o nível da água a
montante e o nível da soleira;
• espessura da soleira (e): valor dado pela espessura da parede da
soleira;
• inclinação das faces (a): ângulo de inclinação das paredes laterais
do vertedor.

Figura 114. Elementos do vertedor

Os vertedores podem ser classificados:


a) quanto à forma: retangular, triangular, trapezoidal ou circular
(Figura 115).

Figura 115. Formas de vertedor


287
b) Quanto à altura da soleira: quando a superfície da água a jusante
do vertedor está distante o bastante da crista do vertedor de modo que
o ar tenha fluxo por debaixo da lâmina vertente, o fluxo é dito descarga
livre. Caso contrário, o fluxo é dito descarga afogada (Figura 116).

Figura 116. Vertedor de descarga livre e de descarga afogada

c) Quanto à natureza da parede: quando a espessura da parede (e)


da crista do vertedor for menor que 2/3 da altura (H), diz-se que a parede
é delgada. Em caso contrário, a parede é espessa (Figura 117). Deve-se
dar preferência aos vertedores de parede delgada por terem os
coeficientes de vazão mais bem ajustados. Para construir vertedores
de madeira com parede delgada, pode-se cortar a parede em bisel, ou
colocar chapas metálicas nas paredes. Neste caso, a abertura da madeira
deve ser de aproximadamente 8 mm maior que a chapa metálica (Figura
118).

Figura 117. Vertedor de parede delgada e de parede espessa

288
Figura 118. Parede delgada

a) Quanto à largura relativa: quando a largura e a profundidade do


canal são suficientemente grandes para provocar uma aproximação
lateral da água até a crista do vertedor, este é dito de contração (Figura
119). Caso a contração ocorra nas duas faces, é dito de contração
completa ou total, e se a contração ocorre somente em uma lateral é
dito de contração incompleta. Se as faces do vertedor estão a pequenas
distâncias ou junto com as paredes do canal, o vertedor é dito sem
contração. Para obter vertedores de contração completa, os extremos
do vertedor devem estar a uma distância de pelo menos o dobro de sua
carga (2H).

Figura 119. Classificação dos vertedores quanto à largura relativa

289
13.2.1 Instalação e operação dos vertedores
Os vertedores devem ser instalados em um trecho do canal mais ou
menos retilíneo e com escoamento em regime uniforme. Deve ser
instalado perpendicularmente à direção do escoamento e com as
extremidades encaixadas nas paredes do canal tanto nas margens
quanto no fundo, de forma que todo o escoamento se dê sobre a crista
do vertedor.
Com a aproximação da lâmina de água no vertedor ocorre uma
aceleração da velocidade de escoamento produzindo uma redução na
altura da lâmina (transformação de energia potencial em energia
cinética), que pode ser observada a uma distância de aproximadamente
o dobro da carga (H). Dessa forma, a medida da carga hidráulica deve
ser realizada a uma distancia mínima de quatro vezes a carga hidráulica
(D e” ≥ 4H). Para obter a leitura direta da carga hidráulica, recomenda-
se instalar uma estaca no mesmo nível da soleira do vertedor.
Kraatz & Mahajan (1976) recomendam, para o bom funcionamento
e precisão nas medições, observar os seguintes aspectos na instalação
do vertedor:
• a carga a ser medida (H) não deve ser menor que 6 cm nem maior
que 60 cm;
• para vertedores retangulares e trapezoidais, a carga (H) não deve
ser maior que 1/3 do comprimento da soleira;
• a soleira deve ser delgada (com espessura menor que 2 mm),
horizontal e perpendicular à direção do fluxo;
• para vertedores retangulares as faces laterais devem ser
perpendiculares e ter a mesma espessura da crista;
• a altura do vertedor (P) deve ser maior que o dobro da carga
hidráulica (2H) e não inferior a 30 cm;
• a distância das faces aos lados do canal deve ser no mínimo 2 H e
não inferior a 30 cm;
• a carga (H) deve ser medida a montante do vertedor e a uma
distância mínima de 4 H; em geral, usa-se 1,5 m;
• o nível de água a jusante deve ficar abaixo da soleira, no mínimo
10 cm;

290
• o ar deve circular livremente por debaixo das laterais da lâmina
vertente.

13.2.2 Fórmula para vazão de vertedor retangular


Aplicando a integração sobre toda a vertical, pode-se expressar a
fórmula para o cálculo da vazão unitária de um vertedor retangular como

éæ 1,5 1,5 ù
2 V2 ö æ V2 ö
q= 2 g êç h + ÷ -ç ÷ ú
[256]
3 êç 2g ÷ ç 2g ÷ ú
êëè ø è ø úû
Introduzindo o efeito da contração da veia, pode-se expressar a
equação assim:

éæ 1,5 1 ,5 ù
2 V2 ö æ V2 ö
ú
q = Cc 2 g êç H + ÷ -ç ÷
[257]
3 êç 2g ÷ ç 2g ÷ ú
êë è ø è ø úû

Introduzindo o coeficiente de descarga (Cd), pode-se expressar a


vazão unitária como
2
q= Cd 2gH1,5 [258]
3
em que:
éæ 1, 5 1 ,5 ù
V2 ö æV2 ö
Cd = C c ê ç H + ÷ -ç ÷ ú
[259]
êç 2g ÷ ç 2g ÷ ú
êë è ø è ø úû

Fórmula de Du Buant:
Para a largura da soleira (L), a vazão é dada pela fórmula conhecida
como fórmula de Du Buant, expressa por
2
Q = CdL 2 g H 1 ,5 [260]
3
em que:
Q = vazão (m³/s);
291
Cd = coeficiente de descarga;
L = largura da soleira (m);
g = aceleração da gravidade (m/s²);
H = carga hidráulica (m)
e chamando de coeficiente de vazão C, expresso por
2
C= Cd [261]
3
Substituindo na equação 260, pode-se obter a equação idêntica à
equação para escoamento em orifícios retangulares (A = L H), isto é,

Q = CL 2 g H 1,5 [262]
Para cada vertedor, pode-se obter um coeficiente K, dado por
K = C 2g [263]
A equação genérica para determinar a vazão do vertedor pode ser
expressa como
Q = KLH 1,5 [264]
Formula de Weissbach:
Levando em conta a velocidade de aproximação, tem-se conhecida
a fórmula de Weissbach, expressa por

éæ 1, 5 1 ,5 ù
2 V2 ö æ V2 ö
Q = CdL 2 g êç H + a ÷ - ça ÷ ú
[265]
3 êç 2g ÷ ç 2g ÷ ú
ëê è ø è ø ûú
em que a é o coeficiente de Coriolis (em média a = 1,66, mas na prática
se adota a= 1).
Quando não se despreza a velocidade de aproximação, o cálculo da
vazão se torna mais difícil uma vez que a velocidade depende da vazão.
Considerado um canal retangular (A = L (h+P)) e com transformações
matemáticas, pode-se obter a expressão

2 é 2 Cd 2 H 2 ù
Q = CdL 2 g H 1,5 ê1 + a ú [266]
3 êë 3 (H + P ) 2 úû

292
O vertedor retangular (Figura 120) é o mais utilizado, sendo de fácil
construção. O valor do coeficiente de vazão tem determinado
experimentalmente a relação com geometria e condições do
escoamento, carga hidráulica, altura da soleira (P), largura do canal, faixa
de vazão, velocidade de aproximação, etc.

Figura 120. Vertedor retangular

As fórmulas mais usadas para cálculo da vazão de vertedor retangular


são:
a) Fórmula da Sociedade Suíça de Engenheiros e Arquitetos
2
æ 1,816 öé æ H ö ù 1,5
Q = ç 1,816 + ÷ ê1 + 0,5ç ÷ ú LH [267]
è 1000 H + 1,6 ø ê è H+Pø ú
ë û
Essa fórmula é válida para P > 0,3 m; 0,10 < H < 0,80 m; e P > H.

b) Fórmula da Bazin
2
æ 0 , 003 ö é æ H ö ù
Q = ç 0 , 405 + ÷ ê1 + 0 ,55 ç ÷ ú LH 1,5 2g [268]
è H øê èH + P ø úû
ë
Essa fórmula é válida para 0,08 < H < 0,50 m, e 0,20 < P < 2,0 m.
Quando não se leva em conta a velocidade de aproximação, a fórmula
de Bazin se simplifica para
æ 0 , 003 ö 1, 5
Q = ç 0 , 405 + ÷ LH 2g [269]
è H ø

293
c) Fórmula de Rehbock

é æ H + 0,0011 öù 1,5
Q = ê1,782 + 0,24ç ÷ú L ( H + 0,0011) [270]
ë è P øû
Essa fórmula é válida para 0,03 < H < 0,75; L > 0,30 m; P > 0,30 m
e H < P.

d) Fórmula de Francis
Francis considerou vertedores de parede delgada sem contrações
laterais com coeficiente de descarga (Cd) 0,622 (C = 0,415) e levando
em conta a velocidade de aproximação, chegando a estas fórmulas:

éæ 1, 5 1, 5 ù
V2 ö æ V2 ö
Q = 1,838 L ê ç H + ÷ -ç ÷ ú
[271]
êç 2g ÷ ç 2g ÷ ú
êë è ø è ø ûú

æ L2 H 2 ö
÷ LH 1 ,5
Q = 1,838 ç 1 + 0 , 26 [272]
ç A2 ÷
è ø
Desprezando a velocidade de aproximação, a formula de Francis se
simplifica para

Q = 1,838 L H 1,5 [273]

em que:
Q = vazão (m³/s);
H = carga hidráulica (m);
L = largura da soleira (m).
Para considerar o efeito da contração nas paredes, a fórmula de
Francis se simplifica para
æ 2 H ö 1,5
Q = 1,838 ç L - ÷h [274]
è 1000 ø

e) Fórmula de Poncelet
Q = 1, 77 L H 1 ,5 [275]

294
Indicada para estimativa da vazão em vertedor retangular de parede
delgada com contrações nas faces, considerando Cd = 0,6 (C = 0,40).

f) Formula de Bélanger

Q = 1, 71 L H 1,5 [276]
Indicada para vertedor de parede espessa, sem contrações nas
laterais considerando Cd = 0,58 (C = 0,386).

g) Fórmula de Lesbrós

Q = 1,55 L H 1,5 [277]

Indicada para vertedor de parede espessa, com contrações nas


laterais, considerando Cd = 0,525 (C = 0,35). Nas Tabelas 107 e 108 são
indicados os valores de coeficiente de vazão para vertedores de parede
delgada com diferentes níveis de água a montante e a jusante.
Exemplo 61. Calcular a vazão de um vertedor retangular com parede
delgada com 1,4 m de largura de soleira e carga hidráulica de 28 cm.
Usando a fórmula de Poncelet, temos:
Q = 1,77 LH1,5 = 1,77 x 1,4 x 281,5 = 367,1 L/s

Tabela 107. Coeficientes de vazão (C) para vertedor retangular de parede


delgada
P/H Carga (H) sobre o vertedor (m)
0,05 0,1 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,5
0,5 0,533 0,516 0,513 0,512 0,511 0,511 0,511 0,510
1 0,470 0,463 0,458 0,458 0,458 0,466 0,457 0,457
2 0,443 0,436 0,433 0,432 0,431 0,431 0,431 0,430
10 0,422 0,415 0,412 0,410 0,410 0,410 0,409 0,409
> 10 0,417 0,410 0,407 0,405 0,404 0,404 0,404 0,404
Nota: P é a profundidade da soleira ao fundo do canal.

295
Tabela 108. Coeficiente de vazão (C) para vertedores retangulares

H (m) (h 1) Altura de água a montante do vertedor até a soleira (m)

0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,80 1,00 1,50 2,00 > 2,00
0,05 0,458 0,453 0,451 0,450 0,449 0,449 0,441 0,448 0,448 0,448
0,06 0,456 0,450 0,447 0,445 0,445 0,444 0,440 0,443 0,443 0,443
0,08 0,456 0,447 0,443 0,441 0,440 0,438 0,438 0,437 0,437 0,436
0,10 0,459 0,447 0,443 0,439 0,437 0,435 0,434 0,433 0,433 0,432
0,12 0,462 0,448 0,443 0,438 0,436 0,433 0,432 0,430 0,430 0,429
0,14 0,466 0,450 0,443 0,438 0,435 0,432 0,430 0,428 0,428 0,427
0,16 0,471 0,453 0,444 0,438 0,435 0,431 0,429 0,427 0,426 0,425
0,18 0,475 0,456 0,445 0,439 0,435 0,431 0,428 0,426 0,425 0,423
0,20 0,480 0,45 0,447 0,440 0,435 0,431 0,428 0,425 0,423 0,421
0,22 0,484 0,462 0,449 0,442 0,437 0,431 0,428 0,424 0,423 0,420
0,24 0,488 0,465 0,452 0,444 0,438 0,432 0,428 0,424 0,422 0,419
0,26 0,492 0,468 0,455 0,446 0,440 0,432 0,429 0,424 0,422 0,418
0,28 0,496 0,472 0,457 0,448 0,441 0,433 0,429 0,424 0,422 0,418
0,30 0,500 0,475 0,460 0,450 0,443 0,434 0,430 0,424 0,421 0,417
0,35 0,500 0,482 0,465 0,455 0,447 0,437 0,431 0,424 0,421 0,416
0,40 0,500 0,489 0,472 0,459 0,451 0,440 0,433 0,424 0,421 0,414
0,45 0,500 0,495 0,477 0,464 0,455 0,442 0,435 0,425 0,421 0,413
0,50 0,500 0,495 0,482 0,468 0,459 0,445 0,437 0,426 0,421 0,412
Fonte: Daker (1983).

13.2.3 Vertedor triangular


O vertedor triangular (Figura 121) é mais preciso para pequenas
vazões. A vazão é dada pela fórmula
BH
Q =C 2 gH [278]
2
em que B é a largura da superfície e C o coeficiente de vazão, que
depende da relação L/H, normalmente próxima a 0,32:
Fazendo B = 2 H tg (a/2), pode-se escrever:

296
Q = 1,4 H2,5 tg (a/2) [279]

Figura 121. Vertedor triangular

É muito comum a utilização de vertedor com a inclinação das paredes


laterais com 45o, (a = 90 o) e a fórmula para determinar a vazão conhecida
como fórmula de Thompson,
Q = 1,4H2,5 [280]
em que Q = vazão (m³/s) e H = carga hidráulica (m). Essa fórmula é
indicada para 0,05 < h < 0,38 m; P > 3 h e B > 6 h.
Outras fórmulas encontradas:
Para a = 120o, e Q = 0 , 02302 H 2 , 449 [281]

Para a = 135o, e Q = 0 , 03187 H 2 , 47 [282]


No caso de vertedores truncados (Figura 122), tem-se:
Para a = 90°, e H > Hb

[
Q = 1,32 H 2 ,47 - (H - Hb )2 , 47 ] [283]
Para a = 120°, e H > Hb

[
Q = 2 ,302 H 2 ,449 - (H - Hb )2 ,449 ] [284]

297
Figura 122. Vertedores triangulares truncados

Exemplo 62. Calcular a vazão de um vertedor triangular (a = 90 o)


para carga hidráulica de 12 cm.
Q = 0,014 x 0,122,5 = 0,00698 m³/s = 6,98L/s

13.2.4 Vertedor trapezoidal


O vertedor trapezoidal (Figura 123) pode ser considerado como a
junção do vertedor retangular e do triangular. Assim, a vazão pode ser
determinada por:
4
Q = CLH 2 gH + c' L' H [285]
15

æ 8 ö
ou Q = H 2 gH ç c ' L '+ CL ÷ [286]
è 15 ø

Figura 123. Vertedor trapezoidal

298
em que C é o coeficiente de vazão para vertedor retangular e c’ o
coeficiente de vazão para vertedor triangular.
O vertedor trapezoidal com as faces inclinadas de 1:4 (uma horizontal
e quatro verticais, que corresponde a a = 104 o) é chamado de vertedor
trapezoidal de Cipolletti. Esse vertedor foi dimensionado de modo que
as inclinações laterais compensem o efeito da contração lateral do
vertedor retangular de mesma largura da soleira. Pode-se adotar o
coeficiente de vazão Cd = 0,63 (C = 0,42), sendo a vazão estimada por:
Q = 1,86 L H1,5 [287]
em que:
Q = vazão (L/s);
H = carga hidráulica (cm);
L = comprimento da soleira (m).
Esse vertedor é indicado para 0,08 < h < 0,60 m; a > 2 h; L > 3 h; P >
3 h; largura do canal 30 a 60 h.
Para o vertedor trapezoidal com a = 120 o, a equação fica:
Q = 1,86 L H1,5 + 0,56 H2,47 [288]
Exemplo 63. Calcular a vazão de um vertedor Cipolletti com 1,5 m
de largura de soleira e 32 cm de carga hidráulica.
Q = 1,86 x 1,5 x 321,5 = 505 L/s

13.2.5 Vertedor circular


O vertedor circular (Figura 124) é de construção mais fácil, não
exigindo nivelamento da soleira, porém apresenta menor precisão. Na
prática, é pouco empregado.
A vazão pode ser estimada pela equação:
Q = 1,518 D 0 ,693 H 1,807 [289]
em que:
Q = vazão (m3/s);
D = diâmetro do vertedor (m);
H = carga hidráulica (m).

299
Figura 124. Vertedor circular

Exemplo 64. Calcular a vazão de um vertedor circular com 60 cm de


diâmetro e carga hidráulica de 20 cm.
Q = 1,518 x (0,60)0,693 x (0,20)1,807 = 0,0581 m³/s = 58,1 L/s

13.2.6 Vertedor de crista de barragem


O escoamento da água no vertedor das barragens é de soleira plana,
e a água escoando sobre ela funciona como vertedor. A soleira plana é
usada somente em barragem de pequena altura devido ao impacto da
água sobre o solo a jusante e aos problemas de pressões negativas na
face inferior da lâmina vertente, que podem provocar cavitação do
concreto. Assim, procura-se construir a barragem de crista arredondada,
cujo perfil a jusante da crista se assemelha com a lâmina vertente a
jusante de uma soleira delgada livre (Figura 125).
Um dos métodos mais usados é o emprego do perfil de Creager, que
pode ser construído por meio de valores tabelados (Tabela 109) das
coordenadas x e y da parede do vertedor (Figura 126) para altura H de 1
m. Para valores de H* diferentes de 1 metro, deve-se multiplicar o valor
das coordenadas tabeladas pelo valor de H* adotado.

300
Figura 125. Vertedor em barragens

Tabela 109. Valores de x e y(1) para perfil Creager para altura de H = 1 m


X (m) y (m) - Parede a montante
Na vertical Inclinada 45 o
0,0 0,126 0,043
0,1 0,036 0,010
0,2 0,007 0,000
0,3 0,000 0,005
0,4 0,007 0,023
0,6 0,060 0,090
0,8 0,142 0,189
1,0 0,257 0,321
1,2 0,397 0,480
1,4 0,565 0,665
1,7 0,870 0,992
2,0 1,220 1,377
2,5 1,960 2,140
3,0 2,820 3,060
3,5 3,820 4,080
4,0 4,930 5,240
4,5 6,22 6,580
Para valores de x e y para H diferente de H = 1, multiplicar os valores pelo novo valor de H.
(1)

301
Figura 126. Perfil Creager de parede a montante vertical

A vazão pode ser estimada pela fórmula geral de vertedor retangular


como:
2
Q= CdLh 1,5 [290]
3
O valor do coeficiente de descarga (Cd) da barragem do perfil de
Creager varia com a altura h (Tabela 110), mas, de forma genérica, a
vazão pode ser estimada por:

Q = 2,2Lh1,5 [291]

302
Tabela 110. Coeficientes de vazão para vertedor Creager
Paramento de Paramento de
montante vertical montante inclinado 45o
Hx/H Cd Hx/H Cd Hx/H Cd Hx/H Cd
0,20 0,403 0,95 0,490 0,15 0,405 0,90 0,483
0,25 0,411 1,00 0,491 0,20 0,416 0,95 0,484
0,30 0,419 1,00 0,495 0,25 0,425 1,00 0,484
0,35 0,428 1,05 0,493 0,30 0,436 1,0 0,488
0,40 0,433 1,10 0,490 0,35 0,443 1,05 0,486
0,45 0,441 1,15 0,486 0,40 0,454 1,10 0,485
0,50 0,446 1,20 0,484 0,45 0,459 1,15 0,484
0,55 0,454 1,25 0,480 0,50 0,464 1,20 0,483
0,60 0,459 1,30 0,476 0,55 0468 1,25 0,482
0,65 0,466 1,35 0,475 0,60 0,471 1,30 0,481
0,70 0,471 1,40 0,474 0,65 0,476 1,35 0,480
0,75 0,478 1,45 0,471 0,70 0,478 1,40 0,479
0,80 0,483 1,50 0,468 0,75 0,479 1,45 0478
0,85 0,485 1,55 0,466 0,80 0,480 0,50 0,477
0,90 0,489 1,60 0,465 0,85 0,483 1,60 0,475
Fonte: Neves (1989).

13.2.7 Vertedor tubular


Os tubos verticais instalados em tanques, reservatórios, caixas d’água
podem funcionar com vertedores desde que a carga hidráulica seja
inferior à quinta parte do diâmetro externo (Figura 127), isto é,
H < De/5
Neste caso, a vazão é dada por:

Q = KLH n [292]
em que: L = p De [293]
Segundo Azevedo Neto (1982), o valor de n é 1,42 e K depende do
diâmetro do tubo (Tabela 111).

303
Figura 127. Vertedor tubular

Tabela 111. Valor de k para estimativa da vazão de vertedor tubular


Valor do De(m) K
0,175 1,435
0,25 1,440
0,35 1,455
0,50 1,465
0,70 1,515
Fonte: Azevedo Neto (1982),

Para valores de De/5 < h < 3De, o tubo funciona como orifício, com
interferências provocadas pelo movimento do ar. Os tubos verticais
instalados nos reservatórios para funcionar como ladrões apresentam
as descargas para essas condições de lâmina vertente de acordo com a
Tabela 112.

Tabela 112. Vazões mínimas e máximas de vertedores tubulares verticais


Valor do diâmetro (mm) Vazão mínima (l/s) Vazão máxima (l/s)
200 15 54
300 32 154
400 64 320
500 108 530
600 174 870

304
13.2.8 Vertedores em paredes laterais
Os vertedores laterais, colocados paralelamente à corrente, são
usados em sistema de alívio de vazões em drenagem urbana, em partição
de vazões em projetos de irrigação e em controle de fluxo em estações
de tratamento. Neste tipo de vertedor, o escoamento sobre a soleira
não mantém uma vazão unitária constante, mas espacialmente variada
(Figura 128).
O escoamento do vertedor lateral possui um comportamento
complexo, pois o fluxo varia ao longo do vertedor, o que não ocorre nos
vertedores transversais. O escoamento passa através dos vertedores
laterais em ângulos oblíquos, ângulos que variam com a velocidade de
escoamento.
Admitindo que h1 > h0, pode-se expressar a fórmula

2 h12,5 - h 2o,5
Q = CL 2g [294]
5 h1 - h 0
Essa fórmula pode ser usada para calcular a vazão em função da
altura da água no início e no fim da soleira, ou o comprimento da soleira
quando se conhece a vazão a ser derivada.
A vazão unitária de um vertedor retangular de largura b, parede fina,
sem contrações laterais, em que o coeficiente de vazão (Cd) é
considerado constante, e dada por:
2
q= Cd 2g (Y - P)1,5 [295]
3
em que:
q = vazão unitária;
Cd = coeficiente de descarga;
g = aceleração da gravidade;
Y = nível da água sobre a soleira do vertedor lateral;
P = altura da soleira.
Considerando o Cd constante com a largura, pode-se expressar a
largura do vertedor pela fórmula conhecida como fórmula de De Marchi,
expressa por:

305
3 b
L= (f 2 - f1 ) [296]
2 Cd
2 E 0 - 3P Eo - Y Eo - Y
sendo f = Eo - P - 3arcsen [297]
Y-p Y-P

Figura 128. Esquema de vertedor em parede lateral

A vazão pode ser calculada pela fórmula de Engels:

Q = Cd 2 g 3 L 2 ,5 h 15 [298]

O Cd indicado é de 0,414, podendo variar de 0,49 a 0,57. A largura


do vertedor pode ser calculada como

Q1,2
L = 0,484 [299]
h 12

306
Para vertedor em parede delgada retangular com saída simples
(Figura 129), pode-se aplicar a fórmula de Subramanya e Awasthy, dada
por
2
Q = Cd 2 g Lh 1,5 [300]
3
Cd = 0,622 - 0 ,222 Fr [301]
válida para p < 0,60 m,
em que Fr = número de Froude do canal principal e L = largura do fluxo
lateral.

Figura 129. Vertedor em parede lateral com saída simples

Para vertedor de parede delgada retangular com saída lateral em


canal (Figura 130), pode-se aplicar a fórmula de Ranga Raju, dada por
2
Q = Cd 2 g Lh 1,5 [302]
3
Cd = 0,81 - 0,60 Fr [303]

válida para 0,20 £ P £ 0,50 m,


em que Fr = número de Froude do canal principal e L = largura do fluxo
lateral.

307
Figura 130. Vertedor em parede lateral com saída em canal

Para o caso de um vertedor de parede espessa com canal lateral, a


equação é modificada pela introdução de um parâmetro K que leva em
conta o efeito do comprimento M da crista do vertedor, na forma
Cd = (0,81 - 0,60 Fr )K [304]
sendo K = 1 para (Y1 – P) ≥ 2M
(Y1 - P )
K = 0,80 + 0,10 [305]
M
para (Y1 – P) < 2M

Vários pesquisadores procuraram obter os valores experimentais de


Cd para vertedores laterais, propondo expressões para estimativa de
Cd em função das condições geométricas e hidráulicas. Entre elas,
destacam-se:

æ P L ö
Cd = çç 0,687 - 0,46Fr - 0,30 + 0,06 + 1,20So ÷÷ [306]
è Y1 b ø

308
æ P Lö
Cd = çç 0,70 - 0,48Fr - 0,30 + 0,06 ÷÷ [307]
è Y1 bø

P
Cd = 0,33 - 0,18Fr + 0,49 [308]
Y1
válida para 0,06 £ P £ 0,12 m e 0,10 £ L £ 0,20 m;

æ P ö
Cd = 0,71 - 0,41Fr - 0,22çç ÷÷ [309]
è Y1 ø
válida para 0,01 £ P £ 0,19 m e 0,20 £ L £ 0,75 m;
0,868 -0,303 0,149
æY Pö æ L ö æ Y2 ö
Cd = 0,65 - 0,149ç 2 - ÷ çç ÷÷ ç ÷ [310]
è P ø è Y2 - P ø è P ø

æY ö
Cd = 0,66 - 0,173Fr - 0,05ç 1 ÷ [311]
è P ø

válida para 0,15 £ P £ 0,30 m e L= 3,0 m,


em que:
P = altura da soleira;
L = comprimento da soleira;
So = inclinação do fundo;
Fr = número de Froude do canal principal (a montante).

O cálculo da largura do vertedor lateral para derivar uma


determinada vazão é um problema em projetos de tratamentos de água
e canais em geral. Como se trata de um fluxo espacialmente variado, as
equações fundamentais de mecânica dos fluidos apresentam dificuldade
no desenvolvimento analítico. Por isso se ajusta a fórmulas
semiempíricas. Essas fórmulas podem ter resultados diferentes em
função das restrições e simplificações que se consideram nas equações
309
de energia e quantidade de movimento. Assim, existem fórmulas que
consideram que a energia específica no canal ao longo do vertedor é
aproximadamente constante, e outras que descartam a hipótese de
energia específica constante e utilizam as equações de mudanças na
quantidade de movimento para determinar a variação da energia
específica. Essas equações são teoricamente mais ajustadas à realidade,
porém são muito trabalhosas. Em alguns casos particulares, como quando
se trata de canais prismáticos de pequena declividade e com regime
subcrítico, os dois critérios produzem resultados similares.
O método descrito abaixo utiliza o critério da energia específica
constante. No cálculo da largura do vertedor para funcionamento em
regime subcrítico, as variáveis envolvidas (Figura 131) são:

• L = Largura do vertedor;
• Q1 = vazão no canal a montante do vertedor;
• Q2 = vazão no canal a jusante do vertedor;
• Qv = vazão derivada pelo vertedor;
• Fr1 = número de Froude no canal a montante do vertedor;
• Fr2 = número de Froude no canal a jusante do vertedor;
• P = altura da crista do vertedor acima do fundo do canal;
• B = largura do vertedor;
• Y1 = profundidade do canal a montante do vertedor;
• Y2 = profundidade do canal a jusante do vertedor;
• So = declividade do canal;
• α = coeficiente de Coriolis para correção da equação de energia;
• β = coeficiente de Boussinesq para correção da equação de
mudança na quantidade de movimento;
• n = coeficiente de rugosidade de Manning do canal;
• Cv = coeficiente de descarga do vertedor;
• I = declividade longitudinal da água ao longo do vertedor;
• e = coeficiente de perdas por mudança na direção e choque contra
as paredes do vertedor.

310
Em função do grande número de variáveis envolvidas, e para facilitar
o cálculo, são realizadas restrições sem afetar significativamente a
precisão do cálculo. No caso do vertedor em parede lateral de canal

Figura 131. Esquema do vertedor lateral com energia específica constante

retangular com baixa declividade e seção constante, as limitações que


se consideram são:
• O regime do canal é subcrítico (Fr < 1,0) imediatamente antes e
depois do vertedor;
• A crista do vertedor lateral é horizontal e a declividade do canal no
trecho ocupado pelo vertedor é desprezível;
• O canal é de seção retangular com largura constante;
• A crista do vertedor tem Cv = 2,2;
• A energia específica do canal ao longo do vertedor é constante.
311
Segundo Chow (1959), por meio da integração da equação do fluxo
espacialmente variado, Di Marchi obteve a fórmula

æ b 2g ö ìï 2 E - 3 P E-Y æ E-Y ö üï
X =ç ÷í - 3 arcsen ç
ç
÷ ý + C [312]
֕
ç Cv ÷ï E - P Y-p Y-P
è øî è øþ

A largura do vertedor é dada por


L = X2 – X1 [313]
em que X2 e X1 são as abscissas correspondentes às profundidades Y1 e
Y2 .
Quando o escoamento é subcrítico, a profundidade Y2 é conhecida
e igual à profundidade normal de escoamento do canal a jusante, e X2
pode ser fixado arbitrariamente. Conhecidos Y2 e X2, calcula-se a
constante de integração.
Para calcular os valores de Y1 e X1, aplica-se a fórmula de Di Marchi
por meio de aproximações sucessivas que satisfaçam a equação da
vazão:
X2
Qv = Cv ò ( Y - P )1,5 dx [314]
X1

No problema, são conhecidos Qc, Cv,P, X2, Y2, E e C. As incógnitas


são X1 e Y1. Como o processo de integração é dispendioso, pode-se utilizar
uma equação de aproximação. Salamanca (1970) recomenda a equação:

L (2 Zm ' )1,5
Qv = [315]
1,27
em que:

Zm =
(Y1 - P ) + ( Y 2 - P )
[316]
2
O coeficiente Cv adotado é de 2,2. Na prática, o coeficiente é menor
devido ao efeito da mudança de direção do fluxo que verte sobre o
vertedor e de seu choque contra as paredes do vertedor. O coeficiente
corrigido é dado por:

312
æ Q2 ö
Cv = 2,2 çç 1 - k ÷ [317]
è Q1 ÷ø

em que k é um fator que se determina experimentalmente. Em vertedores


pequenos, k é aproximadamente 0,15.
A equação da vazão com a correção do coeficiente resulta em:

æ Q2 ö
L çç 1 - k ÷ ( 2 Zm )1,5
÷
Q1 ø
Qv = è [318]
1,27
Exemplo 65 Dimensionar um vertedor lateral para derivar a vazão
de 0,4 m³/s em um canal retangular de concreto liso com largura de 2 m
e declividade de 0,00 m/m. A vazão no canal de entrada é de 2,5 m³/s.
Dados: Q1 = 2,5 m³/s
Qv = 0,4 m³/s
B = 2,0 m
So = 0,001m/m
N = 0,015
Valores calculados:
Q2 = 2,1 m³/s;
Y2 = 0,840 m;
Fr2 = 0,436 m, portanto o fluxo é subcrítico;
E = 0,92 m;
P = 0,6 m;
Z2 = 0,24 m (P-Y2).
Arbitrando um valor para X2 = 5, obtém-se da fórmula de Di Marchi
C = 13,158. Por aproximações, pode-se obter o valor de Y. Assumindo a
primeira aproximação, Y1 = 0,80, aplicando a fórmula de Di Marchi para
C, Y1, E, P, obtém-se: X1 = 1,37, L = 5 – 1,37 = 3,62 e Zm = 0,22.

313
Com os valores de Zm, Q, Cv, k obtém-se o valor de L da equação
318: L* = 1,99. Como L* > L (1,99 < 3,62), se aproxima outro valor para
Y1 (maior que 0,80) e repete-se o procedimento, até que as diferenças
sejam desprezíveis (por exemplo, < 0,01m). Fazendo dessa forma, obtém-
-se: L = 1,88 m; Y1 = 0,8175 m e Y2 = 0,840 m.

13.2.9 Comporta plana de fundo


A comporta plana de fundo (Figura 132) é uma estrutura utilizada
como controle em canais. A vazão da comporta é função do nível de
água a montante e da abertura do orifício inferior. Dependendo da
condição hidráulica a jusante, a vazão pode ser livre ou afogada.
A equação para cálculo da vazão pode ser dada por:

Q = C b L 2gY1 [319]

Figura 132. Vazão em comporta de fundo

Para descarga livre:


0,072
æ Y -b ö
C = 0,611çç 1 ÷
÷ [320]
è Y1 + 15b ø

314
Para escoamento afogado:

C=
(
C Y1 - Y3 0,7 )
0,7
é 0,72 ù
æ Y3 ö
0,32ê0,81Y3ç ÷ - Y1ú + (Y1 - Y3 )0,7 [321]
ê è b ø ú
ë û

Nesse caso, considera-se:


Y2 = Cc b [322]
Cc = 0,61 (aproximadamente constante)
Condição para descarga livre é dada por:
0,72
æY ö
Y1 ³ 0,81Y3 ç 3 ÷ [323]
è b ø
Exemplo 66: Calcular a vazão de uma comporta plana vertical de
largura (L) 1 m, altura (b) de 0,5 m e coeficiente e contração (C) de 0,61
em escoamento livre, com altura da água montante (Y1) é de 3 m.
0,072
æ 3 - 0,5 ö
C = 0,611çç ÷÷ = 0,551
è 3 + 15(,5) ø

Q = 0,551(0,5)(1) 2 * 9,8 * 3,0 = 2,113 m³/ss

13.3 Calhas medidoras


Outra forma de medir a vazão é a utilização de estruturas em forma
de calhas. Ao fluir por elas o escoamento sofre uma mudança no seu
regime, passando de regime fluvial para torrencial e criando uma zona
com profundidade crítica dentro da instalação. Assim, a vazão pode ser
estimada com a medida da altura da água nessa calha por meio de
equações do tipo
Q = ah [324]

315
Como exemplo dessas calhas, temos as calhas Parshall e as calhas
WSC.

13.3.1 Calhas Parshall


As calhas Parshall são estruturas adaptadas para a medição de vazão
em canais, consistindo numa adaptação do medidor Venturi para canais.
Consiste de três seções principais (Figura 133): uma seção com paredes
laterais convergentes a montante, uma seção contraída, chamada de
garganta, e uma seção com paredes laterais divergentes.
As calhas Parshall têm sido muito estudadas e utilizadas nos Estados
Unidos para medições de vazão em áreas irrigadas. As principais
vantagens dessas calhas são:

Figura 133. Escoamento em calhas Parshall


316
• apresentar maior campo de aplicação que os vertedores, podendo
ser utilizadas para medir vazões sob pequenas cargas hidráulicas;
• possibilitar medições mais precisas (com erros inferiores a 5 % da
vazão);
• poder ser construídas em diversos tamanhos, possibilitando
medições de vazões pequenas (0,8 L/s) bem como de vazões grandes
(80.000 L/s).
• não alterar significativamente as condições naturais do rio, não
modificando a circulação de sedimentos e nutrientes e a vida aquática.
As desvantagens desse método, comparado aos vertedores, são:
• não poder ser utilizado como comportas;
• possuir custo mais alto comparado com vertedores;
• exigir mão de obra mais especializada para a construção e
instalação.
A maioria das calhas Parshall existentes obedecem às normas ASTM
1941:1975 (Figura 134), porém a norma vigente no Brasil é a NBR ISO
9826:2008.
O tamanho da calha Parshall é dado pela largura da seção contraída
ou garganta, geralmente dada em unidade inglesa (polegadas ou pés).
Assim, a calha de 6 polegadas é a calha com largura da garganta de 6
polegadas ou 15,24 cm. A escolha do tamanho da calha Parshall depende
das vazões a serem medidas. Na Tabela 113 são dadas as dimensões da
calha pela norma ASTM 1941, e na Tabela 114 constam as dimensões
das calhas Parshall segundo a NBR ISO 9826:2008 (Figura 135).
Os medidores Parshall trabalham em condições de escoamento livre
ou afogado. Se afogado, a elevação da superfície de água na seção
divergente do medidor reduz o escoamento.
No caso de calhas em escoamento livre, a vazão depende somente
do nível de água na seção contraída (Ha). Por outro lado, o medidor
Parshall pode trabalhar com um grau relativo de submergência, sem
redução na vazão desde que a relação entre o nível de água na seção
divergente (Hb) seja tal que a relação Ha/Hb seja menor que o limite de
Hb/Ha estabelecido. Essa relação Hb/Ha é chamada de razão de
submergência.

317
Para as condições de escoamento livre, o cálculo da vazão na calha
Parshall é dado por:
Q = K Han [325]
em que:
Q é a vazão (m³/s);

Figura 134. Modelo de calha Parshall

318
Tabela 113. Dimensões dos componentes da calha Parshall, em milímetros, segundo a norma ASTM 1941
W Garganta Dimensões
W A B C D E F G K N X Y M P R
1” 25,4 363 356 93 168 229 76,2 203 19 28,6 8 13 - - -
2” 50,8 414 406 135 214 254 114 254 22 43 16 25 - - -
3” 76,2 467 457 178 259 457 152 305 25 57 25 38 - - -
6” 152,4 621 610 394 397 610 305 610 76 114 51 76 305 902 406
9” 228,6 879 864 381 575 762 305 457 76 114 51 76 305 1080 406
1 ft 304,8 1372 1343 610 845 914 610 914 76 229 51 76 381 1492 508
1½ ft 457,2 1448 1419 762 1026 914 610 914 76 229 51 76 381 1676 508
2 ft 609,6 1524 1495 914 1206 914 610 914 76 229 51 76 381 1854 508
3 ft 914,4 1676 1645 1219 1572 914 610 914 76 229 51 76 381 2222 508
4 ft 1219,2 1829 1794 1524 1937 914 610 914 76 229 51 76 457 2711 610

319
5 ft 1524,0 1981 1943 1829 2302 914 610 914 76 229 51 76 457 3080 610
6 ft 1828,0 2134 2092 2134 2667 914 610 914 76 229 51 76 457 3442 610
7 ft 2133,6 2286 2242 2438 3032 914 610 914 76 229 51 76 457 3810 610
8 ft 2438,4 2438 2391 2743 3397 914 610 914 76 229 51 76 457 4172 610
10 ft 3048 2743 4267 3658 4756 1219 914 1829 152 343 305 229 - - -
12 ft 3658 3048 4877 4470 5607 1524 914 2438 152 343 305 229 - - -
15 ft 4572 3505 7620 5588 7620 1829 1219 3048 229 457 305 229 - - -
20 ft 6096 4267 7620 7315 9144 2134 1829 3658 305 686 305 229 - - -
25 ft 7620 5030 7620 8941 10668 2134 1829 3962 305 686 305 229 - - -
30 ft 9144 5792 7925 10566 12313 2134 1829 4267 305 686 305 229 - - -
40 ft 12912 7316 8230 13818 15481 2134 1829 4877 305 686 305 229 - - -
50 ft 15240 8975 8230 17272 18529 2134 1829 6096 305 686 305 229 - - -
Nota: ” = polegadas; ft = pés.
Tabela 114.Dimensões da calha Parshall (m) segundo a NBR/ISO 9826 :2008
NO Garganta Seção de entrada Seção de saída HC(1)
B L X Y hp1 b1 L1 Le La b2 L2 hp2
1 0,152 0,305 0,050 0,075 0,115 0,400 0,610 0,622 0,415 0,390 0,610 0,012 0,60
2 0,250 0,600 0,050 0,075 0,230 0,780 1,325 1,352 0,900 0,550 0,920 0,072 0,80
3 0,300 0,600 0,050 0,075 0,230 0,840 1,350 1,377 0,920 0,600 0,920 0,072 0,95
4 0,450 0,600 0,050 0,075 0,230 1,020 1,425 1,454 0,967 0,750 0,920 0,072 0,95
5 0,600 0,600 0,050 0,075 0,230 1,200 1,500 1,530 1,020 0,900 0,920 0,072 0,95
6 0,750 0,600 0,050 0,075 0,230 1,380 1,575 1,607 1,074 1,050 0,920 0,072 0,95
7 0,900 0,600 0,050 0,075 0,230 1,560 1,650 1,683 1,121 1,200 0,920 0,072 0,95
8 1,000 0,600 0,050 0,075 0,230 1,680 1,700 1,734 1,181 1,300 0,920 0,072 0,95
9 1,200 0,600 0,050 0,075 0,230 1,920 1,800 1,836 1,227 1,500 0,920 0,072 1,00
10 1,500 0,600 0,050 0,075 0,230 2,280 1,950 1,989 1,329 1,800 0,920 0,072 1,00

320
11 1,800 0,600 0,050 0,075 0,230 2,640 2,100 2,142 1,427 2,100 0,920 0,072 1,00
12 2,100 0,600 0,050 0,075 0,230 3,000 2,250 2,295 1,534 2,400 0,920 0,072 1,00
13 2,400 0,600 0,050 0,075 0,230 3,380 2,400 2,448 1,632 2,700 0,920 0,072 1,00
14 3,050 0,910 0,305 0,230 0,343 4,760 4,270 2,745 1,830 3,660 1,830 0,152 1,22
15 3,660 0,910 0,305 0,230 0,343 5,610 4,880 3,045 2,030 4,470 2,440 0,152 1,52
16 4,570 1,220 0,305 0,230 0,457 7,620 7,620 3,510 2,340 5,590 3,050 0,203 1,83
17 6,100 1,830 0,305 0,230 0,686 9,140 7,620 4,260 2,840 7,320 3,660 0,305 2,13
18 7,620 1,830 0,305 0,230 0,686 10,670 7,620 5,025 3,350 8,940 3,960 0,305 2,13
19 9,140 1,830 0,305 0,230 0,686 12,310 7,930 5,820 3,880 10,570 4,270 0,305 2,13
20 12,190 1,830 0,305 0,230 0,686 15,480 8,230 7,320 4,880 13,820 4,880 0,305 2,13
21 15,240 1,830 0,305 0,230 0,686 18,530 8,230 8,975 5,890 17,270 6,100 0,305 2,13
(1)
HC = altura da parede.
Ha é a altura da água na seção convergente (m);
K e n são os coeficientes ajustados para cada calha (Tabelas113 e
114).
Na Tabela 115 constam os limites de altura e vazão, os coeficientes
para cálculo da vazão, e o limite da razão de submergência para

Figura 135.Elementos da calhas Parshall segundo a NBR ISO 9826:2008

321
escoamento livre indicados por Walker & Skogerboe (1984). Na Tabela
116 constam esses valores de acordo com a ASTM:1941:1975. Na Tabela
117 constam os valores coeficientes indicado na norma NBR ISO
9826:2008.
Exemplo 67. Calcular a vazão de uma calha Parshall de 6”, com altura
de água (Ha) de 15 cm e Hb de 8 cm. A razão de submergência é dada
por: Hb/Ha = 8/15 = 0,53, caracterizando escoamento livre.
A vazão é dada por:

Q = 0,3812 Ha 1,58 = 0,3812 (0,15 )1,58 = 0,0190 m 3 / s = 19,0 L / s


Quando o nível de submergência (relação Ha/Hb) for maior que o
limite da razão de submergência indicado, deve-se corrigir a vazão
calculada. Walker & Skogerboe (1984) recomendam a seguinte equação
para o cálculo da vazão corrigida:

K 1(Ha - Hb )n
Qc =
ns
é æ Hb ö ù [326]
- êlog ç ÷ + 0 , 0044 ú
ë è Ha ø û

Para escoamento afogado, a vazão pode ser calculada por


Qc = Q = K Han – Qe [327]
Para W < 3,05 m, a ISO 9826 apresenta a equação para estimativa
de Qe como

æé 4 ,57 - 3,14 S ö
ç ù ÷
çê ú ÷
çê ha ú ÷
Qe = 0 ,07 ç ê ú + S ÷ W 0 ,815
æ 1 ,8 ö
çê ç ì 1,8 ü ú ÷ [328]
ç ê 0 ,305 ç í S ý - 2 ,46 ÷ ú ÷
î þ ÷
ç ëê è ø ûú ÷
è ø

em que:
ha = profundidade no primeiro ponto de medição (m);

322
Tabela 115. Limites de aplicação para calhas Parshall segundo Walker & Skogerboe (1984)
W - Largura da garganta Valores-limites de H (m) Coeficientes Limites de vazão Limite
Pés Pol. m Mín. Máx. K n K1 nf Mínimo Máximo de Hb/Ha
Calhas pequenas L/s L/s
1 0,0254 0,015 0,21 0,0604 1,550 0,0534 1,000 0,09 5,4 0,56
2 0,0508 0,015 0,24 0,1207 1,550 0,1093 1,000 0,18 13,2 0,61
3 0,0762 0,03 0,33 0,1771 1,550 0,1634 1,000 0,77 31,8 0,64
Calhas médias m³/s m³/s
0,5 6 0,1524 0,03 0,45 0,3812 1,580 0,3072 1,080 0,0015 0,1080 0,55
0,75 9 0,2286 0,03 0,61 0,5354 1,530 0,4377 1,060 0,0025 0,2513 0,63
1 12 0,3048 0,03 0,76 0,6909 1,522 0,5359 1,080 0,0033 0,4542 0,62
1,5 18 0,4572 0,03 0,76 1,1040 1,538 0,780 1,115 0,0048 0,6939 0,64
2 24 0,6096 0,046 0,76 1,4260 1,550 1,061 1,140 0,0121 0,9336 0,66
2,5 30 0,7620 0,046 0,76 1,796 1,56 1,297 1,150 0,0150 1,1724 0,67
3 36 0,9144 0,046 0,76 2,1820 1,566 1,554 1,160 0,0174 1,3801 0,68

323
4 48 1,2192 0,06 0,76 2,9350 1,578 2,030 1,185 0,0353 1,9017 0,70
5 60 1,5240 0,06 0,76 3,7280 1,587 2,507 1,205 0,0434 2,3989 0,72
6 72 1,8288 0,076 0,76 4,519 1,595 2,968 1,230 0,0747 2,9051 0,74
7 84 2,1336 0,076 0,76 5,312 1,601 3,440 1,250 0,0859 3,4204 0,76
8 96 2,4384 0,076 0,76 6,112 1,607 3,866 1,260 0,0982 3,9091 0,78
Calhas grandes
10 - 3,0480 0,09 1,07 7,515 1,59 4,642 1,275 0,1634 8,3686 0,80
12 - 3,6576 0,09 1,37 8,895 1,59 5,494 1,275 0,1934 14,6737 0,80
15 - 4,5720 0,09 1,67 10,966 1,59 6,773 1,275 0,2384 24,7846 0,80
20 - 6,0960 0,09 1,83 14,420 1,59 8,906 1,275 0,3135 37,6920 0,80
25 - 7,6200 0,09 1,83 17,873 1,59 11,039 1,275 0,3885 46,7185 0,80
30 - 9,1440 0,09 1,83 21,326 1,59 13,172 1,275 0,4636 55,7450 0,80
40 - 12,1920 0,09 1,83 28,230 1,59 17,436 1,275 0,6137 73,7931 0,80
50 - 15,2400 0,09 1,83 35,137 1,55 21,702 1,275 0,7639 91,8461 0,80
Tabela 116. Limites de aplicação para calhas Parshall ASTM :1941:1975
Largura da garganta W Valores-limites e H (m) Coeficientes Limites de vazões (L/s) Limite de
Pés Pol. mm Mínimo Máximo K n Mínimo Máximo Hb/Ha
- 1 25,4 0,015 0,21 0,0604 1,550 0,09 5,4 0,50
- 2 50,8 0,015 0,24 0,1207 1,550 0,18 13,2 0,50
- 3 76,2 0,03 0,33 0,1771 1,547 0,77 32,1 0,50
(m³/s)
- 6 152,6 0,03 0,45 0,3812 1,580 0,0015 0,111 0,60
- 9 228,6 0,03 0,61 0,5354 1,530 0,0025 0,251 0,60
1 12 304,8 0,03 0,76 0,6909 1,522 0,0033 0,457 0,70
16 18 457,2 0,03 0,76 1,056 1,538 0,0048 0,695 0,70
2 24 609,6 0,046 0,76 1,428 1,550 0,0121 0,937 0,70
3 36 914,4 0,046 0,76 2,184 1,556 0,0174 1,427 0,70

324
4 48 1219,2 0,06 0,76 2,953 1,578 0,0353 1,923 0,70
5 60 1524,0 0,06 0,76 3,732 1,587 0,0441 2,424 0,70
6 72 1828,8 0,076 0,76 4,519 1,595 0,0741 2,929 0,70
7 84 2133,6 0,076 0,76 5,312 1,601 0,0858 3,438 0,70
8 96 2438,4 0,076 0,76 6,112 1,607 0,0972 3,949 0,70
10 - 3,0480 0,09 1,07 7,463 1,60 0,16 8,28 0,80
12 - 3,6576 0,09 1,37 9,859 1,60 0,19 14,68 0,80
15 - 4,572 0,09 1,67 10,96 1,60 0,23 25,04 0,80
20 - 6,096 0,09 1,83 14,45 1,60 0,31 37,97 0,80
25 - 7,620 0,09 1,83 17,94 1,60 0,38 47,14 0,80
30 - 9,1440 0,09 1,83 21,44 1,60 0,46 56,33 0,80
40 - 12,192 0,09 1,83 28,43 1,60 0,60 74,33 0,80
50 - 15,240 0,09 1,83 35,41 1,60 0,75 93,04 0,80
Tabela 117. Características das calhas Parshall segundo a norma NBR ISO 9826 :2008
Calha N o W (m) Altura ha (m) Vazão (m³/s) Coeficiente Limite
Mín. Máx. Mín. Máx. k n hb/ha
1 0,152 0,03 0,45 0,0015 0,100 0,381 1,580 0,6
2 0,25 0,03 0,60 0,003 0,250 0,561 1,513 0,6
3 0,30 0,03 0,75 0,0035 0,400 0,679 1,521 0,6
4 0,45 0,03 0,75 0,0045 0,630 1,038 1,537 0,6
5 0,60 0,05 0,75 0,0125 0,850 1,403 1,548 0,6
6 0,75 0,06 0,75 0,025 1,100 1,772 1,557 0,6
7 0,90 0,06 0,75 0,030 1,250 2,147 1,565 0,6
8 1,00 0,06 0,80 0,030 1,500 2,397 1,569 0,7
9 1,20 0,06 0,80 0,035 2,000 2,904 1,577 0,7

325
10 1,50 0,06 0,80 0,045 2,500 3,668 1,586 0,7
11 1,80 0,08 0,80 0,080 3,000 4,440 1,593 0,7
12 2,10 0,08 0,80 0,095 3,600 5,222 1,599 0,7
13 2,40 0,08 0,80 0,100 4,000 6,004 1,605 0,7
14 3,05 0,09 1,07 0,160 8,280 7,463 1,60 0,8
15 3,68 0,09 1,37 0,190 14,68 9,859 1,60 0,8
16 4,57 0,09 1,67 0,230 25,04 10,96 1,60 0,8
17 6,10 0,09 1,83 0,310 37,97 14,45 1,60 0,8
18 7,62 0,09 1,83 0,380 47,16 17,94 1,60 0,8
19 9,14 0,09 1,83 0,460 56,33 21,44 1,60 0,8
20 12,19 0,09 1,83 0,600 74,70 28,43 1,60 0,8
21 15,24 0,09 1,83 0,750 93,04 35,41 1,60 0,8
Hb = profundidade no segundo ponto de medição (m);
S = razão de submergência (S = Hb/Ha);
W = largura da garganta (m).
Exemplo 68: Calcular a vazão numa calha Parshall de 6 polegadas
onde foi medida Ha = 30 cm e Hb = 20 cm. A razão de submergência é
dada por S = 20/30 = 0,667, portanto o escoamento é afogado.
A vazão, considerando escoamento livre, é dada por:

Q = 0 ,3812 Ha 1,58 = 0,3812 (0,3)1,58 = 0,0569 m 3 / s = 56 ,9 L / s

A vazão corrigida pela fórmula de Walker & Skogerboe (1984) é dada


por:

K 1(Ha - Hb )m 0 , 3072 (0 ,3 - 0 , 20 )1 , 58
Qc = =
ns 1 , 080
é æ Hb ö ù é æ 0 , 20 ö ù =
- ê log ç ÷ + 0 , 0044 ú - ê log ç ÷ + 0 , 0044 ú
ë è Ha ø û ë è 0 , 3 ø û
0,0542 m³/s = 54,2 L/s.

Pela fórmula da ISO 9826, tem-se:

æé 4 ,57 - 3,14 x 0 ,667 ö


ç ù ÷
ç ê ú ÷
çê 0,3 ú ÷
Qe = 0,07 ç ê ú + 0,667 ÷ 0,152 0 ,815
çê æ ì 1,8 ü1,8 öú ÷ =
ç ÷
ç ê 0,305 ç í ý - 2,46 ÷ ú ÷
0 ,667
ç êë èî þ ø úû ÷
ø
è

0,0107

Qc = 0,0569 – 0,0107 = 0,0462

Em laboratório, as calhas Parshall podem operar a precisão inferior


a 2%. A velocidade de aproximação à calha Parshall deve ser inferior a

326
gA
V = Fr [329]
B

em que:
Fr = número de Froude (Fr < 0,5);
g = aceleração da gravidade;
A = área da seção transversal perpendicular ao fluxo;
B = largura da superfície da água.
Na instalação da calha, devem-se observar as seguintes condições:
• Parshall deve ser instalado precedendo a montante ou por um
reservatório de grande dimensão onde a velocidade seja sensivelmente
baixa, ou por um trecho de canal prismático onde o escoamento seja
uniforme;
• O medidor deve ser alinhado longe o suficiente de comporta ou
curvas para que o escoamento na entrada do medidor seja uniforme e
completamente livre de turbulências;
• A crista do medidor deve estar rigorosamente em nível a fim de
assegurar a mesma vazão para o mesmo nível ao longo da largura da
calha;
• As paredes laterais devem estar paralelas e verticais;
• Pode-se construir, com aclive de 1:4, uma rampa no início da seção
convergente;
• Pode-se construir um degrau na saída ao fim da seção divergente.

13.3.1.1 Seleção da calha Parshall


Na seleção do tamanho da calha, devem-se conhecer os seguintes
dados:
- largura do canal a montante e a jusante;
- vazões máxima e mínima;
- profundidade da água no canal;
- perda de carga admissível;
- previsão de vazão futura.

327
Para cada vazão existem vários tamanhos de calha que podem ser
utilizados. Na seleção do tamanho da calha devem-se levar em
consideração os aspectos relacionados ao funcionamento e ao custo
da calha. Quanto maior a calha Parshall, menor será a perda de carga
no canal e, consequentemente, menor a variação da altura da água no
canal a montante da calha. Por outro lado, maior é o custo da calha. É
aceito que as calhas de maior viabilidade econômica tenham a garganta
ocupando cerca de 1/3 a 1/2 da largura do canal.
Ao projetar uma calha, deve-se estabelecer a altura de colocação
da calha em relação ao fundo do canal (Figura 136) e calcular a perda de
carga para verificar se a colocação da calha não comprometerá o
funcionamento hidráulico do canal.
Para exemplificar, serão utilizados os dados do canal de irrigação da
Associação de Drenagem e Irrigação Santo Izidoro, localizado em Nova
Veneza, SC. O canal possui formato retangular com largura de 3 m e
profundidade de 1 m; para a vazão de 2 m³/s a profundidade hidráulica é
de 0,66 m. Nesse canal se pretende instalar uma calha Parshall para o
controle da irrigação.
Entre as várias opções de calha existentes na Tabela 115, optou-se
pela calha de 5 pés (W = 1,524 m), que é a menor para essa vazão, visando
diminuir os custos. No dimensionamento e na verificação da calha,
recomendam-se os seguintes passos:
1o) Determinar a altura da água (Ha) para a vazão de projeto. Com a
equação 325 e os respectivos coeficientes da Tabela 115, tem-se:
2,0 = 3,701Ha 1,58 ¨Ha = 0,677 m

Figura 136. Elementos hidráulicos do funcionamento da calha Parshall

328
2o ) Determinar a altura de água (Hb). Para a condição de descarga
livre, obtém-se a relação máxima Hb/Ha da Tabela 111, portanto:
Hb = 0,72 . 0,677 = 0,487 m
3o) Determinar a altura (Z) da calha em relação ao fundo do canal.
Z = Yb – Hb [330]
Z = 0,66 - 0,487 = 0,172 m
4o) Determinar a perda de carga na calha.
De acordo com Bernardo (1989), a perda de carga (Hf) na calha pode
ser estimada como
Hf = 1,2 ( Ha + Z - Yb) [331]
É importante lembrar que Yb representa a profundidade hidráulica
a jusante da calha e pode ser considerado o valor existente sem a
instalação da calha.
Hf = 1,2 (0,677 + 0,172 – 0,66) = 0,227 m
5o) Calcular a nova altura de água a montante da calha como sendo
a soma da profundidade antes de instalar a calha Parshall com a perda
de carga na calha, isto é,
Y = Yb + Hf [332]
Y = 0,66 m + 0,227 m = 0,887 m
Portanto, com a colocação da calha, o nível de água a montante da
calha passará a ser de 0,887 m. Caso essa altura seja maior que a
profundidade do canal, deve-se estudar alternativa, podendo-se testar
uma calha de dimensão maior e, consequentemente, menor perda de
carga.

13.3.2 Calhas CTR


Um medidor de vazão denominado Cuthrout Flume foi desenvolvido
por Skogerboe et al. (1967), sendo denominada Calha CTR, também
chamada de calha Skogerboe ou calha de fundo plano ou calha sem

329
pescoço. Esta calha consiste de uma seção de entrada com paredes
verticais convergentes de 3:1, uma garganta e uma seção de saída com
paredes verticais divergentes na relação 6:1. O fundo da calha medidora
é plano e horizontal. Na Figura 137 é apresentado um desenho
esquemático da calha. As seções de entrada e de saída possuem a mesma
largura, denominada B, que é determinada pela relação:
L
B=W + [333]
4 ,5
em que:
W = largura da garganta (cm);
L = comprimento da calha (cm);
B = largura das seções de entrada e saída (cm).
As medidas da profundidade da água podem ser realizadas
instalando-se réguas graduadas nas paredes laterais nos pontos
distanciados da garganta conforme estas fórmulas:
2
La = L [334]
9
5
e Lb = L [335]
9
em que:
La = distância da garganta ao ponto de medição do nível da água
(Ha);
Lb = distância da garganta ao ponto de medição do nível da água
(Hb);
L = comprimento da calha.
O tamanho da calha é determinado pela largura da garganta (W) e
pelo comprimento da calha (L). Assim, a calha 60 x 270 corresponde a
uma calha com 60 cm de largura de garganta com 270 cm de
comprimento. As dimensões mais comuns de calha e as faixas de vazões
medidas são dadas na Tabela 118.
Dependendo das profundidades da água (Ha e Hb), a calha CTR
funciona em escoamento livre ou em escoamento afogado. Uma
importante característica desta calha é sua capacidade de funcionar em
330
Figura 137.Esquema e dimensões da calha Parshall.

condições de fluxo livre, mesmo quando ocorre uma elevação da água


a jusante dela.
Tabela 118. Dimensões da calha CTR e faixas de vazão medidas
Escoamento livre Escoamento afogado
Dimensões da calha (cm) Vazão Vazão Vazão Vazão
mínima máxima mínima máxima
W L L1 L2 La Lb B (m³/s) (m³/s) (m³/s) (m³/s)
10 90 30 60 20 50 30 0,001 0,082 0,001 0,081
20 90 30 60 20 50 40 0,001 0,174 0,001 0,165
30 90 30 60 20 50 50 0,001 0,253 0,001 0,251
20 180 60 120 40 100 60 0,001 0,206 0,001 0,213
40 180 60 120 40 100 80 0,001 0,419 0,001 0,433
60 180 60 120 40 100 100 0,001 0,635 0,001 0,657
30 270 90 180 60 150 90 0,001 0,398 0,001 0,402
60 270 90 180 60 150 120 0,001 0,809 0,001 0,816
100 270 90 180 60 150 160 0,001 1,366 0,001 1,380

O limite de submersão (LS) é o valor da submersão em que o


escoamento na calha passa de fluxo livre para fluxo afogado.

331
13.3.2.1 Cálculo da vazão
No cálculo da vazão, o primeiro passo é determinar o valor da
submersão (S) pela seguinte relação :
Hb
S= [336]
Ha
Num segundo passo, deve-se comparar o valor de S com os valores
limites Ls da Figura 138, que dependem somente do comprimento da
calha. Se o valor de S for menor que o valor de Ls, o escoamento é em
fluxo livre. Caso contrário, o escoamento é afogado.
Na condição de fluxo livre a determinação da vazão é calculada pela
seguinte expressão:
nL
Q = C L Ha [337]
em que:

Figura 138. Limite de submersão (Ls) da calha CTR


332
Q = vazão da calha (m³/s);
Ha = profundidade da calha a montante (m);
CL = coeficiente de fluxo livre;
nL = expoente de fluxo livre.
O valor do coeficiente de fluxo livre CL é função do comprimento da
calha (L) e da largura da garganta (W), dada por:
C L = K L W 1, 025 [338]
em que W é a largura da garganta (m) e KL é o coeficiente que depende
do comprimento (Figura 139).
Para medições mais precisas, recomenda-se manter a relação Ha/L
aproximadamente igual a ou menor que 0,33, pois valores maiores
aumentam o número os erros nas medidas de vazão.

Figura 139. Valores dos coeficientes KL e nL da calha CTR escoando em fluxo livre

333
Exemplo 69: Calcular a vazão em uma calha de 60 cm x 270 cm onde
foram medidos Ha = 35 cm e Hb = 25 cm.
25
S= = 0,71
35
Com S = 0,71 se obtém, na Figura 138, Ls = 0,795. Como S < Ls, então
o fluxo é livre.
Da Figura 139 obtém-se nL = 1,565 e KL = 2,15.
CL = 2,15 (0,60)1,025 = 1,274;
Q = 1,274 (0,35)1,565 = 0,246 m³/s.
O escoamento afogado ocorre quando o nível da água a jusante é
elevado de tal forma a retardar o escoamento da água na calha. Pode
ocorrer devido à declividade muito baixa ou à presença de obstáculos
que retardam o escoamento.
Para o fluxo afogado, a vazão é dada por:

Cs (Ha - Hb )n L
Q=
ns
é æ Hb ö ù [339]
ê - log ç Ha ÷ ú
ë è øû

em que:
Q = vazão (m³/s);
Ha = profundidade da água a montante (m);
Hb = profundidade da água a jusante (m);
nL = expoente de escoamento livre;
ns = expoente de escoamento submerso.
CS = coeficiente de fluxo submerso, é dado por:

Cs = KsW 1, 025 [340]


em que Ks é o coeficiente que depende do comprimento da calha
(Figura 140) e W é a largura da garganta (m).

334
Exemplo 70: Calcular a vazão em uma calha de 60 cm x 270 cm onde
foram medidos Ha = 35 cm e Hb = 32 cm.

Figura 140 . Coeficientes KS e nS para escoamento afogado

32
S= = 0,91
35
Da Figura 138 tira-se: Ls = 0,795. Como S > Ls, então o fluxo é
afogado.
Da Figura 140 obtêm-se KS = 1,06 e nS = 1,378.
CS = 1,06 (0,60)1,025 = 0,628

335
0 , 628 (0 , 35 - 0 , 32 )1, 565
Q = = 0 , 228
1, 378
é æ 0 , 32 öù
ê - log ç ÷ú
ë è 0 , 35 øû

Não é recomendável o uso desta calha para submergência acima de


95%, pois acima desse limite, pequenos erros na medição de Ha ou Hb
resultam em erros significativos no cálculo de vazão. A calha deve ser
localizada em um trecho retilíneo do canal, procurando-se evitar grandes
turbulências na seção inicial de modo a evitar grandes turbulências na
seção de entrada.

13.3.2.2 Vantagens e desvantagens da calha CTR


As calhas CTR possuem algumas vantagens em relação às demais
calhas. Essas vantagens são:
• há grande facilidade de construção e instalação;
• não há sobrelevação do fundo;
• não ocorre a formação de depósitos de materiais a montante da
calha;
• podem suportar submergência elevadas;
• não necessitam de aferição local;
• podem ser construídas com vários tipos de materiais, tais como
concreto, alvenaria, madeira, chapas de metal;
• podem ser colocada dentro de um canal de concreto.
Na construção dos medidores de vazão, deve-se dar especial
atenção à vedação dos medidores construídos com madeira. Essa
vedação pode ser feita com o uso de cola e massa apropriadas entre as
emendas, ou com o uso de mata-juntas nas paredes externas. Também
se deve cuidar para que a parede interna seja o mais lisa possível.

13.3.3 Calha WSC


A calha desenvolvida pelo Washington State College, Washington,
dos Estados Unidos, conhecida pelo nome WSC (Figura 141), é utilizada
para medições de água de irrigação. Pode ser construída de folhas de
metal e também cimento ou madeira. Conforme as dimensões, pode
ser classificada em Pequena (A), Média (B) e Grande (C), possibilitando
336
medições de vazões entre 0,06 e 76 L/s. As dimensões são dadas na
Tabela 119 e na Figura 142.
O WSC flume de tamanho A (Figura142) é o mais utilizado para
medições de vazão em sulcos. A vazão pode ser estimada pela equação
Q = 0,0055 H 2,54 [341]
em que Q é a vazão (L/s) e H é a carga hidráulica (cm).
Para o WSC flume B, a equação fica
Q = 0,010 H 2 ,295 [342]

Figura 141. Calhas WSC.

Tabela 119. Dimensões da calhas WSC


Dimensões Modelo
A B
y 10,0 17,0
a 12,0 20,0
e 5,1 5,1
b 12,5 17,8
c 10,5 17,8
d 5,0 7,6
fg 1,27 1,27
i 13,5 17,5
j 15,0 23,0
k 2,5 2,5
Vazão máxima 1,5 L/s 7,0 L/s
Fonte: Bernardo (1989).
337
Figura 142. Dimensões da calha WSC.

13.4 Medição de vazão por processos químicos ou


traçadores
Nos casos em que não se consegue utilizar outro método de medição
de vazão devido à dificuldade de instalação de estruturas apropriadas
ou ao risco oferecido ao operador, como no caso de grandes
correntezas, pode-se utilizar um elemento químico, chamado de
traçador, e o cálculo da vazão é feito com base na diluição desse produto.
Lança-se no rio, durante certo tempo, uma vazão constante (q) do
traçador (solução salina), cuja concentração é representada por C na
fórmula; colhem-se, na seção de medição, várias amostras com
concentração média C1 (Figura 143). Então,
C [343]
Q=q
C1
338
Figura 143. Esquema de medição por métodos químicos

em que:
Q = vazão do rio (m³/s);
q = vazão da solução salina (L/s);
C = concentração da solução (g/L);
C1 = concentração de sal na água (mg/L).
Os traçadores devem possuir algumas características importantes,
entre as quais:
- apresentar boa solubilidade na água;
- não ser tóxico ao meio ambiente;
- não estar presente no local onde está sendo medida a vazão;
- permitir dosagem precisa em concentrações muito baixas.
Entre os traçadores mais utilizados, destacam-se bicromato de sódio
e isótopos radioativos, como Na24, Br82 e P32. Para locais com baixa
concentração de cloreto de sódio, este pode ser utilizado como traçador,
com a vantagem do baixo custo.

13.5 Tubos de Pitot


Henri Pitot idealizou um método para medir a velocidade de
escoamento por meio de um tubo curvado no sentido contrário à direção
do escoamento (Figura 144). A velocidade do escoamento está

339
relacionada com a altura da água no tubo, como pode ser demonstrado
pela equação de Bernoulli.
A velocidade do escoamento pode ser estimada por:

V = C v 2 gh
[344]
em que:
V = velocidade do escoamento (m/s);
Cv = coeficiente de velocidade para corrigir o efeito das perturbações
ocasionadas pela haste do aparelho;
g = aceleração da gravidade (m/s2);
h = altura devida à velocidade (m).
Nos condutos forçados, o piezômetro deve ser instalado sempre a
montante do tubo de Pitot e numa distância suficientemente próxima
para poder desprezar a perda de carga entre ambos.

Figura 144. Esquema de funcionamento do Tubo de Pitot

13.6 Método das coordenadas


Para a água escoando em uma tubulação horizontal com seção cheia
(Figura 145), pode-se estimar a vazão por:
x
Q = 2,21S [345]
y
em que:
Q = vazão (m³/s);
340
S = área da seção (m²);
x = distância na horizontal (m);
y = distância na vertical (m).

Figura 145. Método das coordenadas

Quando o tubo não está completamente cheio (Figura 146), deve-se


considerar somente a área molhada, isto é,
x
Q = 2,21S m [346]
y

Figura 146. Método das coordenadas para tubo com seção parcial
341
em que:

Sm = área da seção molhada (m²);


Y = c + b (m); [347]

c = profundidade na canalização (m);


b = distância do fundo do conduto até a superfície do líquido que
escoa (m);
x = distância na horizontal (m);
y = distância na vertical (m).
A área da seção molhada pode ser obtida pela relação (Sm/S) da
Tabela 120, em que S é a área da seção plena.

Tabela 120.Correção da área para tubos incompletos


c/D Sm/S c/D Sm/S
0,05 0,0187 0,55 0,5636
0,10 0,0520 0,60 0,6265
0,15 0,0941 0,65 0,6881
0,20 0,1424 0,70 0,7477
0,25 0,1955 0,75 0,8045
0,30 0,2523 0,80 0,8576
0,35 0,3119 0,85 0,9059
0,40 0,3735 0,90 0,9480
0,45 0,4364 0,95 0,9813
0,50 0,5000 1,00 1,0000

Para tubos não horizontais, a vazão pode ser calculada pelas


expressões:
a) para tubo inclinado (Figura 147):

L D2
Q= [348]
288
em que:
Q = vazão (L/s);
L = distância para y = 25 cm (cm);
D = diâmetro do tubo (cm).
342
Figura 147. Método das coordenadas para tubo inclinado

b) para tubo vertical (Figura 148):

Figura 148. Método das coordenadas para tubo vertical


343
D2 H
Q= [349]
28,8
em que:
Q = vazão (L/s);
D = diâmetro do tubo (cm);
H = altura do jato (cm).
Exemplo 71: Um tubo de 150 mm de diâmetro colocado
horizontalmente contém altura de água de 105 mm, sendo medidas as
distâncias x e y de 40 e 28 cm respectivamente:
z/D = 105/150 = 0,7
Sm = 0,7477 S

pD 2 px 0,15 2
S= = = 0,01767 m 2 => S m = 0,7477 x 0,01767 =
4 4
0,0132 m²
x 0,40
Q = 2,21S m = Q = 2,21x 0,0132 = 0,0221m³/s = 22,1 L/ss
y 0,28

13.7 Método Califórnia


A medição da vazão é feita em tubos horizontais (ANA, 2011). Pode
ser colocada uma adaptação para medir a vazão em poços profundos,
fazendo a água verter por um tubo horizontal (Figura 149).
A vazão é dada pela seguinte expressão:

Q = Kh 1,88 [350]
K = 0 , 057 + 0 ,01522 D [351]
em que:
D = diâmetro da tubulação (cm);
Q = vazão (L/s);
h = altura da lâmina (cm).
344
Figura 149. Método Califórnia

13.8 Medidor Venturi


É uma peça especial instalada na tubulação com o objetivo de medir
a vazão em condutos forçados. Consiste, basicamente, de três partes:
uma seção convergente, uma seção divergente e uma intermediária
chamada de garganta (Figura 150).
A recomendação de instalação é após um trecho retilíneo de
comprimento equivalente a 15 vezes o diâmetro da tubulação.
Aplicando o teorema de Bernoulli e a equação da continuidade,
pode-se deduzir a equação para determinar da vazão da tubulação
escoando água utilizando o mercúrio como líquido indicador, conforme
esta fórmula:

12,35 h
Q=K
1 1
- [352]
D 2 D14
4

em que:
Q = vazão (m³/s);
h = diferença de pressão no manômetro;
D2 = diâmetro da garganta;
D1 = diâmetro da tubulação;

345
K = coeficiente devido à perda de carga na peça, sendo K
aproximadamente 0,98 para os medidores Venturi maiores, e K
aproximadamente 0,97 para os medidores menores.
Para um líquido manométrico qualquer, usamos a fórmula

D14 D 42 æ gm ö
Q = 3,4771K h çç - 1÷÷ [353]
D14 - D 42 è gl ø

em que:
D2 = diâmetro da garganta (m);
D1 = diâmetro da tubulação (m);
gm = peso específico do líquido manométrico (kgf/m³);
g1 = peso específico do líquido escoando na tubulação (kgf/m³).

Figura 150. Medidor de Venturi

Exemplo 72: Calcule a vazão que passa numa tubulação de 200 mm


de diâmetro onde está instalado um medidor Venturi com 75 mm de
garganta e deflexão de 50 cm na coluna de mercúrio.

12 ,35 0 ,50
Q = 0 ,98 = 0 , 0486 m³/s = 48,6 L/s
1 1
-
( 0 , 75 ) 4 ( 0 ,2 ) 4

346
Exemplo73: Numa tubulação de 300 mm de diâmetro escoando
líquido com densidade 1,2 foi instalado um medidor Venturi com
diâmetro de garganta de 150 mm, tendo o mercúrio como líquido
manométrico. Calcule a vazão para a altura de 85 cm na coluna de
mercúrio, considerando ainda o coeficiente de perda de carga de 0,98.

(0,3) 4 (0,15) 4 æ 13600 ö


Q = 3,4771(0,98) 0,85ç - 1÷ = 0,235 m³/ss
4
(0,3) - (0,15) 4 è 1200 ø

13.9 Medição de vazão determinando a velocidade e a


área
Com base na equação da continuidade, pode-se observar que,
medindo-se a velocidade e a área da seção, obtém-se a vazão.
A velocidade de escoamento da água em canais pode ser
determinada de diferentes formas: para pequenos canais ou quando não
se exige grande precisão, pode-se usar um método mais simples com
emprego de um flutuador; para grandes canais ou rios, ou quando se
necessita maior precisão, podem-se utilizar equipamentos mais
sofisticados, como o molinete hidrométrico ou equipamentos
eletrônicos.

13.9.1 Método do flutuador


É um processo menos preciso que os vertedores, sendo normalmente
usado em cursos de água maiores, onde é impraticável a medição direta
e difícil a instalação de vertedores.
A vazão é dada pela expressão
Q = A.V [354]
em que A é a área da seção de escoamento e V é a velocidade de
escoamento.
A área da seção pode ser determinada pelo levantamento
hidrotopográfico. A velocidade média do escoamento pode ser
determinada da seguinte forma:

347
• determinar no córrego ou no canal um trecho de 20 a 30 m de
comprimento com seção uniforme e retilínea (Figura 151);
• demarcar sobre o rio duas linhas separadas por uma distância (E)
de 10 a 20 metros;
• soltar um objeto (flutuador) aproximadamente 10 m antes da
primeira seção e marcar o tempo (t) de deslocamento do flutuador entre
as duas seções;
• repetir a operação no mínimo três vezes;
• determinar a seção do canal.

Figura 151. Medição de vazão pelo método do flutuador

A velocidade de deslocamento superficial do objeto é calculada


dividindo a distância entre as seções (E) pelo tempo gasto, isto é:
E
Vs = 355]
t
A velocidade de escoamento (V) pode ser estimada corrigindo o valor
de Vs em função da parede do canal, conforme esta fórmula:
V = C Vs [356]
em que C é fator de correção (Tabela 121).
Exemplo 74: Num canal trapezoidal com talude 1:1, largura de fundo
de 1,5 m e altura da lâmina da água de 0,80 m foram realizadas três
medidas da velocidade de escoamento de um flutuador em um trecho
de 20 m, obtendo-se os tempos de 28, 30 e 27 segundos. Calcule a vazão
do canal.

348
Tabela 121. Fator de ajuste C da velocidade de escoamento
Natureza do canal Rh - Raio hidráulico (m)
0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,50 1,00 2 a 5
Paredes lisas
(cimento, madeira) 0,76 0,79 0,81 0,82 0,82 0,83 - -
Paredes pouco
lisas (canais de terra) 0,65 0,70 0,74 0,76 0,77 0,80 0,80 0,81
Paredes irregulares
(terra com vegetação) - 0,54 0,58 0,62 0,64 0,70 0,75 0,78

• Cálculo da velocidade na superfície:


E 20
Vs1 = = = 0,714 m/s
t1 28

E 20
Vs 2 = = = 0,667 m/s
t 2 30
E 20
Vs3 = = = 0,741m/s
t3 27

Vs1 + Vs 2 + Vs 3 0,714 + 0,667 + 0,741


Vs = = = 0,707 m/s
3 3
• Área molhada: A = 0,80 (1,5 + 1(0,80 )) = 1,84 m²
• Perímetro molhado: P = 1,50 + 2(0,8) * 1² + 1 = 2,63 m

A 1,84
• Raio hidráulico: Rh = = = 0,70 m
P1 2,63
• Com Rh = 0,70 obtém-se na Tabela 121 o fator de correção C =
0,80.
· Velocidade média do canal:
V = CVs = 0,80 ( 0,707 ) = 0,566 m/s

· Vazão: Q = AV = 1,84 m ²0,566 m / s = 1,041 m ³ / s

349
13.9.2 Uso de molinetes
Os molinetes são aparelhos que permitem a determinação da
velocidade do escoamento através da medida do tempo necessário para
uma hélice (ou conjunto de conchas) dar certo número de rotações. A
velocidade angular da hélice é transmitida a um mecanismo de contagem
do número de giros (mecânico ou eletromagnético) que emite um sinal
sonoro, elétrico ou luminoso por cada N de rotações efetuadas. Marca-
-se o tempo (t) entre esses sinais, podendo-se calcular o número de
rotações por segundo (n).
N
n= [357]
T

Cada molinete é aferido em laboratório para determinar a equação


de calibração geralmente da forma
V = a + bn [358]
em que os coeficientes a e b são determinados em laboratório.
Normalmente, cada molinete possui duas hélices, para velocidades
altas e baixas, correspondendo a duas equações cuja validade é
delimitada por um dado valor n.
Existem duas categorias de molinetes: os de hélice (eixo horizontal)
e os diferenciais, com características diferentes relacionadas com
sensibilidade, resistência mecânica e custo. Os molinetes são colocados
no rio, suspensos por cabos de aço acionados por guinchos
hidrométricos que permitem manuseio fácil. Para manter o aparelho na
posição vertical usa-se um lastro de peso variável (de 25 a 100 kg)
segundo a velocidade do fluxo. Na Figura 152 constam molinetes para
medição a vau (micromolinetes). Os molinetes hidrométricos podem ser
presos a uma haste (Figura 153), usados para medição a vau, ou presos
a um cabo com lastro (Figura 154) para medição a partir de embarcações.
Exemplo 75: Foram medidas 184 rotações durante um tempo de 50
s. Calcular a velocidade de escoamento se as equações do molinete são:
V(m/s) = 0,0062 + 0,2627 N para N £ 1,19
V (m/s) = - 0,0043 + 0,2715 N para N > 1,19

350
N = 184/50 = 3,68
V = - 0,0043 + 0,2715 x 3,68 = 0,995 m/s

Figura 152. Molinetes hidrométricos modelos General Oceanic e Ott

351
Figura 153. Molinete hidrométrico com contador de pulsos

Figura 154. Molinete hidrométrico suspenso em guincho com lastro

352
13.9.2.1 Velocidade média
A velocidade de escoamento varia com a profundidade, e essa
variação depende da rugosidade do fundo, mas, em geral, apresenta
forma parabólica, embora essa curva possa ser radicalmente alterada
na presença de obstáculos ou irregularidades na seção de medição.
Para obter a velocidade média em uma determinada vertical, podem-
-se utilizar os métodos descritos na Tabela 122.

Tabela 122. Métodos de cálculo da velocidade média da vertical


Profundi-
No de
Posição Cálculo da velocidade -dade
pontos
(m)
1 0,6p v = v 0 ,6 p < 0,6
(v 0 ,2 p + v 0 ,8 p )
2 0,2 e 0,8p v = 0,6 a 1,2
2
(v 0, 2 p + 2 v 0 , 6 p + v 0 ,8 p )
3 0,2; 0,6 e 0,8p v= 1,2 a 2,0
4
(v 0,2 p + 2 v 0 , 4 p + 2 v 0 , 6 p + v 0 ,8 p )
4 0,2; 0,4; 0,6 e 0,8p v= 2,0 a 4,0
6
6 S 0,2; 0,4; 0,6; 0,8p e F v=
[ (
vs + 2 v0,2p + v0,4p + v0,6p + v0,8p + vF ) ] > 4,0
10

O ideal é que o hidrometrista, quando instala uma nova seção de


medição, faça um levantamento bem detalhado para verificar como se
comporta o perfil de distribuição de velocidades. Quanto mais irregular
for o perfil, maior o número de pontos que deverão ser realizados.
Com o levantamento detalhado, pode-se desenhar o perfil da
velocidade x profundidade (Figura 155) e obter a velocidade média por
planimetria.
Exemplo 76. Dado o levantamento da velocidade de escoamento
abaixo, obter a velocidade média por planimetria e comparar com a
velocidade média calculada pelos diferentes métodos.
Observa-se que, para essa vertical, a velocidade média obtida pela
planimetria foi de 1,10 m/s e os valores obtidos pelos diferentes métodos

353
Figura 155. Perfil de velocidade

deram resultados muito próximos. O perfil da velocidade de escoamento


pode variar muito de acordo com as características do fundo do leito.

Profundidade (cm) Velocidade (m/s)


0 (superfície) 1,20
10 1,25
20 1,29
30 1,25
40 1,23
50 1,18
60 1,16
70 1,14
80 1,11
90 1,06
100 1,00
110 0,92
120 0,89
130 0,87
140 0,75
150 (fundo) 0,64

354
Método Posição Cálculo da velocidade
1 0,6p v = 1 , 06
(1 , 25 + 0 , 895 )=
2 0,2 e 0,8p v =
2
1 , 07

(1 , 25 + 2 x 1 , 06 + 0 , 89 ) = 1 , 06
3 0,2; 0,6 e 0,8p v =
4
(1 , 25 + 2 x 1 ,16 + 2 x 1 , 06 + 0 , 89 )
4 0,2; 0,4; 0,6 e 0,8p v =
6
= 1 ,10

[1,20 + 2 (1, 25 + 1,16 + 1, 06 + 0 , 89 ) + 0 , 64 ]


6 S 0,2; 0,4; 0,6 e 0,8p e F v=
10
= 1, 06

13.9.2.2 Números de verticais


Como critério prático, aceita-se um número tal de verticais que a
descarga parcial resultante em cada faixa não seja superior a 10 % da
vazão total. Para fins práticos, pode-se utilizar a Tabela 123.

Tabela 123. Distâncias recomendadas entre verticais


Largura do rio (m) Distância entre verticais (m)
<3 0,30
3a6 0,50
6 a 15 1,00
15 a 300 2,00
30 a 50 3,00
50 a 80 4,00
80 a 150 6,00
150 a 250 8,00
> 250 12,00

13.9.2.3 Cálculo da vazão


A descarga pode ser calculada por métodos aritméticos (métodos
de Simpson e método da meia seção) e por procedimentos gráficos
(métodos das isótacas).
a) Método de Simpson – Consideram-se setores triangulares (nos
extremos) e trapezoidais, com velocidade média igual à média aritmética
das verticais extremas (Figura 156).
A velocidade média em cada seção parcial é dada pela média
aritmética das velocidades das verticais adjacentes, isto é,

355
Figura 156. Ilustração do método da seção média

æ V + Vi -1 ö
Vi = ç i ÷ [359]
è 2 ø
A área da seção pode ser calculada com a área dos trapézios, isto é,

æ h + h i -1 ö
Ai = ç i ÷(d i - d i -1 ) [360]
è 2 ø
A descarga parcial qi é
q i = A i Vi [361]
n

e a descarga total é Q = å
i =1
qi [362]

em que:
vi = velocidade média na vertical i (m/s);
Vi – velocidade média na seção i (m/s);
hi = profundidade na vertical i (m);
di = distância i (m) a partir do ponto inicial (PI) (m);
Ai = área da seção i (m²);
qi = vazão na seção i (m³/s).
b) Método da meia seção – Consideram-se setores retangulares
definidos pelas profundidades médias entre duas verticais adjacentes
(Figura 157).

356
Figura 157. Ilustração do método da meia seção

A vazão parcial é calculada multiplicando-se a velocidade média na


vertical pelo produto da profundidade da vertical pela soma das
semidistâncias das verticais adjacentes, isto é, a descarga parcial qi é

æd - d i -1 ö
q i = Vi h i ç i +1 ÷ [363]
è 2 ø
n
e a vazão total é Q = å q i
i =1
c) Método das isótacas – Com o levantamento detalhado das
velocidades de escoamento, define-se o traçado das linhas isótacas por
interpolação gráfica (Figura 158). Planimetrando as áreas entre isótacas
sucessivas, calcula-se a vazão pela expressão

æ V + Vi +1 ö
qi = Ai ç i ÷ [364]
è 2 ø

em que:
qi = vazão na área compreendida entre duas isótacas (m³/s);
Ai = área (obtida por planimetria) (m²);
Vi = velocidade de escoamento da isótaca i (m/s).
Para esses, podem-se realizar os seguintes cálculos:

357
n

• Cálculo da vazão total (Q): Q = å qi [365]


i

Q
• Cálculo da velocidade média: V = [366]
A

• Cálculo da largura do rio (L): L = dn – d1 [367]


em que:
d1 = distância até a primeira vertical (m);
dn = distância até a última vertical (m), geralmente tomada em relação
ao ponto inicial (PI).
A
• Cálculo da profundidade média: h= [368]
L
Exemp lo 77: Dado s de velocidade do rio Tubarão
Velocidade Velocidade m édia Área Vazão
(m /s) V (m /s) A i (m ²) q i (m ³/s)
1,20 1,30 1,25 11,68 14,600
1,10 1,20 1,15 21,60 24,840
1,00 1,10 1,05 17,92 18,816
0,90 1,00 0,95 14,16 13,452
0,80 0,90 0,85 12,96 11,016
0,70 0,80 0,75 4,56 3,420
0,60 0,70 0,65 4,00 2,600
0,50 0,60 0,55 2,56 1,408
0,40 0,50 0,45 1,76 0,792
0,30 0,40 0,35 2,00 0,700
Som a 93,20 91,644
Velocidade média = 91,644 / 93,20 = 0,983 m /s.

Figura 158. Método das isótacas


358
Exemplo 78. Na Tabela 124 estão os dados de campo de medições
de vazão rio Itoupava com os cálculos de vazão pelos métodos da seção
média e da meia seção (Tabela 124).

Tabela 124. Exemplo de cálculo da velocidade média na vertical


80 % Prof. 60 % Prof. 20 % Prof.
Veloci-
dade
Vel. (m/s)

Vel. (m/s)

Vel. (m/s)
Prof. (cm)

média
Rotações

Rotações

Rotações
Dist. (m)
Vertical

(m/s)
n

n
0 0 0 - - - - - - - - - 0,000
1 3 105 80 1,60 0,430 - - - 96 1,92 0,517 0,474
2 7 152 128 2,56 0,691 139 2,78 0,750 149 2,98 0,805 0,749
3 11 162 138 2,76 0,745 154 3,08 0,832 172 3,44 0,930 0,835
4 15 178 145 2,90 0,783 163 3,26 0,881 183 3,66 0,989 0,884
5 19 182 150 3,00 0,810 157 3,14 0,848 189 3,78 1,022 0,882
6 23 178 148 2,96 0,799 179 3,58 0,968 191 3,82 1,033 0,942
7 27 170 165 3,30 0,892 171 3,42 0,924 187 3,74 1,011 0,938
8 31 159 147 2,94 0,794 163 3,26 0,881 171 3,42 0,924 0,870
9 35 135 141 2,82 0,761 156 3,12 0,843 173 3,46 0,935 0,845
10 39 84 113 2,26 0,609 - - - 141 2,82 0,761 0,685
11 43 0 - - - - - - - - - 0,000

Data: 18/10/2001 Hora inicial: 8h Nível da régua: 110 cm


Hora final: 9h10min Nível da régua: 109 cm
Tempo: 50 segundos
Equação do molinete V = 0,0062 + 0,2627 N para N < 1,19
V = - 0,0043 + 0,2715 N para N > 1,19
Back (2006) apresenta o programa Hidromolinetes, que permite fazer
os cálculos de vazão com medição realizada com molinete hidrométrico.

359
Tabela 125. Exemplo de cálculo da vazão pelos métodos da seção média e
da meia seção
Vertical Seção média Meia seção
V (veloc.) A (área) Q (vazão) V (veloc.) A (área) Q (vazão)
(m/s) (m2) (m³/s) (m/s) (m2) (m³/s)
0 - - - - - -
1 0,237 1,575 0,373 0,474 3,675 1,740
2 0,611 5,140 3,142 0,749 6,080 4,555
3 0,792 6,280 4,973 0,835 6,480 5,408
4 0,859 6,800 5,842 0,884 7,120 6,291
5 0,883 7,200 6,356 0,882 7,280 6,422
6 0,912 7,200 6,566 0,942 7,120 6,706
7 0,940 6,960 6,541 0,938 6,800 6,377
8 0,904 6,580 5,947 0,870 6,360 5,533
9 0,858 5,880 5,043 0,845 5,400 4,566
10 0,765 4,380 3,352 0,685 3,360 2,303
11 0,343 1,680 0,576 0,000 - -
Soma - 59,675 48,713 - 59,675 49,900

13.9.2.4 Técnicas de medição de vazão


Dependendo da profundidade, da velocidade e da largura do rio,
podem-se utilizar diferentes técnicas de medição de vazão com
molinetes. São exemplos:
a) Medição a vau: Quando o hidrometrista atravessa o curso d’água
segurando o molinete preso a uma haste metálica (Figura 159). Esta
técnica é usada em rios com profundidade inferior a 1 metro e para
velocidades inferiores a 1 m/s.
b) Medição de pontes: O molinete é suspendo por guindastes sobre
as pontes (Figura 160). É mais indicado para as pontes que não têm
pilares dentro da área molhada do rio.
c) Medição com barco preso a um cabo: Muito usada para rio com
até 300 m de largura. Prende-se uma corda (para rios de até 150 m de
largura) ou um cabo de aço no PI e no PF. Posteriormente, o barco é
preso nesse cabo nas verticais onde se pretende fazer a medição da
velocidade (Figura 161).

360
Figura 159. Medição a vau

Figura 160. Medição e vazão a partir de pontes

361
A B

Figura 161. Medição de vazão com barco preso a um cabo

d) Medição com sistema de teleférico: O molinete é preso num


cabo, é acionado a partir da margem do rio e transportado para o ponto
desejado (Figura 162). Tem custo inicial mais alto, porém oferece mais
segurança para o hidrometrista, especialmente para as grandes vazões.

A B
Figura 162. (A) Molinete transportado por teleférico e detalhe do (B) acionamento
de teleférico

c) Medição com barco ancorado: Neste método o barco fica


ancorado no fundo do rio e as distâncias são medidas a partir da margem
do rio com teodolitos ou outros distanciômetros eletrônicos. As
profundidades e velocidades de escoamento são medidas da mesma
forma que no caso do barco preso a um cabo. A maior dificuldade deste
método está justamente em ancorar o barco na vertical desejada,
principalmente em rio com grande profundidade (profundidade maior
362
que 30 m) e velocidade, além do risco que oferece em épocas de
enchentes devido ao arraste de madeiras e outros detritos que podem
prender-se no cabo do molinete. Este método, quando bem empregado,
permite obter vazões com erro relativo inferior a 10 %.
d) Medição com barco em movimento: Para rios com mais de
300 m de largura, o barco é mantido em movimento com aceleração
suficiente para vencer a velocidade de deslocamento da água. Requer
uma equipe de apoio em terra com equipamento topográfico para
auxiliar na manutenção da direção e nas tomadas de distância. Mais
detalhes de medições de grandes rios encontram-se em Jaccon (1984),
Filizola & Guyot (1999), ANA (2009), e Back et al. (2012).

13.9.2.5 Estação hidrométrica


A estação hidrométrica é constituída por um conjunto de dispositivos
colocados num ponto do curso d’água com a finalidade de obter as
vazões ao longo do tempo. Para a escolha do local de implantação de
uma estação hidrométrica, devem ser considerados os seguintes
aspectos:
- localização num trecho retilíneo do rio e de margens paralelas;
- trecho de rio com perfil longitudinal regular, livre de vegetação,
rochas e outros obstáculos;
- leito e margens do rio estáveis;
- perfil transversal da seção de medição com taludes elevados para
não permitir extravasamento;
- facilidade de acesso ao local e proximidade do observador;
- afastamento suficiente de confluências para evitar efeito de
remanso;
- existência de um adequado “controle” natural estável ou condições
para implantação de um controle artificial;
- condições apropriadas para a construção de todas as instalações
da estação (poço linigráfico, teleférico, etc.).
Na estação hidrométrica ficam instaladas as réguas linimétricas, os
linígrafos, sempre referidos a pelo menos um ponto da cota conhecida
e materializada no terreno (RN). Normalmente, a seção de medição de
vazão é próxima a esse local, contando, assim, com as instalações para
363
medição da vazão tais como barcos, ponto inicial (PI) e ponto final (PF),
cabos aéreos ou postes, e as estruturas de controle (naturais ou
artificiais).
As réguas linimétricas são instaladas para possibilitar a medição das
cotas mínimas até as cotas máximas esperadas nas enchentes. Para
tanto, podem-se instalar vários lances de réguas (Figura 163).

Figura 163. Réguas linimétricas

Para que se tenha sempre uma mesma relação entre o nível e a vazão,
deve-se instalar a estação hidrométrica a montante do ponto do rio,
conhecido como controle, que elimina o efeito de todas as outras
condições a jusante sobre velocidade do fluxo na seção escolhida. Os
controles naturais podem ser as pequenas quedas d’água ou corredeiras.
Na ausência de controles naturais, e em pequenos cursos d’água, podem-
-se construir controles artificiais, como é o caso dos vertedores e das
calhas.

364
13.9.2.6 Curva-chave
Com a realização de várias medições de vazão numa amplitude
razoável do nível do rio, pode-se ajustar uma função matemática ou
gráfica relacionando a vazão com a cota do nível d’água (Figura 164). A
curva-chave pode ter os seguintes formatos:

Figura 164. Formatos de curva-chave

Pode-se ajustar uma equação aos dados de vazão e cota. As formas


mais comuns são:
2 [369]
Q = a + bH + cH
ou Q = a (H-Ho)n [370]
em que:
Q é a vazão (m³/s);
H é a cota (cm);
Ho é a cota para a vazão nula;
a, b, c e n são os coeficientes da equação.
No exemplo acima teríamos
Q = - 147,01 + 1,0278 H + 0,003159H2

365
13.9.3 Métodos acústicos
Atualmente existem vários equipamentos para a medição da descarga
líquida com base na tecnologia Doppler (ADP – Acoustic Doppler Profiler
–, ou ADCP –Acoustic Doppler Current Profiler). Back (2006) comenta
que os métodos acústicos empregados na medição de vazão e
profundidade se baseiam na medição do eco de pulsos de ondas de
ultrassom (ondas de alta frequência) refletidas pelas partículas sólidas
em suspensão na massa líquida e pela superfície sólida do fundo.
A utilização dessa tecnologia para medição de vazão permite que se
tenha um perfil formado por células, que são áreas em vez de pontos, e
milhares de medidas em cada área em vez de medidas pontuais (ANA,
2009). Esses equipamentos apresentam como vantagens em relação aos
métodos tradicionais de medição de vazão com molinetes maior rapidez
para execução da medição, redução de riscos de acidentes,
principalmente em cotas altas, melhor determinação do perfil da seção
transversal e determinação da área da seção, além da possibilidade da
determinação de um número grande de verticais. Back (2006) argumenta
que os métodos acústicos apresentam vantagens em relação à medição
com molinetes devido à maior precisão na medida da velocidade,
principalmente nos escoamentos em grandes profundidades, pois não
dependem de uso de lastro ou correção da catenária no cabo esticado
sobre o rio. Por outro lado, eles têm algumas desvantagens, como o
custo relativamente alto dos equipamentos, a medição da velocidade
de uma parte da seção e a extrapolação dos dados próximos das
margens, no fundo e na superfície.
No Brasil, o método acústico tem sido empregado, nos últimos anos,
com frequência, por entidades operadoras de redes de monitoramento
hidrológico, universidades, centros de pesquisa e empresas privadas e
bons resultados estão sendo alcançados. Entretanto, o método
convencional ainda é o mais utilizado nas medições de descargas líquidas
em grandes rios (Filizola et al., 1999). Com a evolução das tecnologias
Doppler e a incorporação de GPS (Global Positioning System), percebe-
-se uma evolução crescente nesses equipamentos e a tendência de
substituição dos molinetes.

366
13.9.3.1 FlowTracker
O FlowTracker (Figura 165) é um medidor acústico de vazão utilizado
para medir vazões em locais com baixa profundidade, em que a medição
pode ser realizada a vau. A medição de vazão com este equipamento
segue basicamente os mesmos passos da medição de vazão com
molinetes hidrométricos.

Figura 165. FlowTracker

No equipamento FlowTracker o transmissor gera um pulso curto de


som numa frequência conhecida. Quando o pulso passa através do
volume de amostragem, o som é refletido em todas as direções da
matéria particulada (sedimento, organismos pequenos, bolhas). Os
receptores acústicos captam o sinal refletido. O FlowTracker mede a
mudança na frequência (efeito Doppler) para cada receptor.
O equipamento é montado numa haste de regulagem e de um suporte
adaptador especial. O princípio Doppler diz que se uma fonte de som
está se movendo com relação ao receptor (Figura 166), a frequência do
som no receptor é diferente da frequência de transmissão. Os receptores
são montados para focar numa distância fixa (~ 10 cm) da sonda. A
interseção do feixe determina o local do volume de amostragem. No
equipamento FlowTracker o transmissor gera um pulso curto de som
numa frequência conhecida.

367
Figura 166. Detalhes do transmissor e receptor do FlowTracker

Na medição, deve-se observar a orientação apropriada da sonda


para as medições de vazão. A fita métrica é instalada perpendicularmente
à direção do fluxo primário. O eixo X do FlowTracker deve estar
perpendicular à fita métrica (Figura 167).

Figura 167. Direção do fluxo em relação aos receptores

13.9.3.2 ADCP M9
Os equipamentos ADP RiverSurveyor M9 e S5 da SonTek vêm sendo
bastante difundidos no Brasil e podem ser empregados em medições de
vazão em rios tanto de pequeno como de grande porte. O equipamento
368
usado foi o modelo M9 acoplado com GPS diferencial. É um sistema
perfilador acústico Doppler (ADP) projetado para medir vazões fluviais,
fluxos de água tridimensionais, profundidades e batimetria por meio de
uma embarcação em movimento ou estacionária.
O equipamento M9 contém nove
feixes, sendo dois conjuntos de quatro
feixes perfiladores (quatro
transdutores de 2 MHz e quatro de 1
MHz) e um feixe vertical de 0,5 MHz
(Figura 168). Este equipamento tem
alcance máximo de 40 metros para a
medição da velocidade de perfil e
alcance máximo de 80 m para
medições de profundidade.
O sistema é acoplado a um GPS
RTK que fornece dados de
posicionamento em tempo real Figura 168. Equipamento M9
preciso (+/- 3 cm). Inclui ainda um
modem de rádio spread spectrum para comunicações com a estação de
base RTK. O equipamento pode ser montado numa prancha Hidroboard
(Figura 169) ou ficar acoplado a um barco.

DGPS

Módulo de comunicação
e alimentação
Hidroboard

Figura 169. Montagem do


equipamento M9 com GPS

O software dos equipamentos acústicos apresenta a possibilidade


de acompanhar a qualidade das medições por meio de uma série de
gráficos. A Figura 170 mostra a variação da velocidade ao longo da seção,
e é possível observar as velocidades máximas na faixa de 1,5 m/s.
369
Figura 170. Distribuição da velocidade medida com equipamento M9

370
14 Aplicações na drenagem urbana

14.1 Sarjetas
As sarjetas podem ser consideradas canais de seção triangular
formados pelas laterais das ruas limitadas verticalmente pela guia do
passeio. O dimensionamento das sarjetas pode ser feito usando a fórmula
de Izzard:
æ z ö
Q = 0 , 375 ( yo )
8
3 Iç ÷ [371]
ènø

em que:
Q = vazão (m³/s);
yo = altura da água na guia (m);
I = declividade longitudinal da sarjeta (m/m);
z = talude, dado pelo inverso da declividade transversal;
n = coeficiente de rugosidade de Manning.
Como valores de n para sarjetas, são indicados os valores da Tabela
125.
Para o cálculo da altura da água junto ao meio-fio, temos:
3
æ Qn ö 8
yo = 1, 445 çç ÷
÷ [372]
è I n ø

371
Para o cálculo da velocidade de escoamento, temos:
0 , 25 0 , 75
æQö æ I ö
V = 0,958 ç ÷ ç ÷ [373]
è zø ç n ÷
è ø

Tabela 126. Valores de coeficientes de Manning para sarjetas


Tipo de pavimento n
Concreto bem acabado 0,012
Asfalto suave 0,013
Asfalto rugoso 0,016
Concreto suave com pavimento de asfalto 0,013
Concreto rugoso com pavimento de asfalto 0,015
Concreto com acabamento com espalhadeira 0,014
Concreto com acabamento manual alisado 0,016
Concreto com acabamento manual áspero 0,020
Ruas com declividade > 1 % 0,013
Ruas com declividade £1 % 0,016
Pedras 0,016

Exemplo: 79. Calcular a vazão de uma sarjeta com asfalto rugoso,


declividade de 2,5 %, talude transversal de 12:1 e a altura da água de 12
cm.

8 æ 12 ö
Q = 0,375 (0,12 ) 3 0,025 çç ÷÷ = 0,1558 m³/s = 155,8 L/ss
è 0,016 ø

14.1.1 Dimensões-padrão para sarjetas


Em geral, as sarjetas são construídas com dimensões padronizadas
de:
• profundidade máxima: h = 15 cm;
• lâmina de água máxima: y = 15 cm;
• lâmina de água máxima para evitar transbordamento: Yo = 13 cm;
• largura: b = 60 cm;

372
• declividade mínima: I = 0,004 m/m;
• velocidade mínima de escoamento: V min = 0,75 m/s;
• velocidade máxima de escoamento: V máxima = 3,50 m/s.

14.1.2 Sarjeta parcial


Quando a pista de rolamento das ruas recebe uma camada de
revestimento, parte da seção da sarjeta é ocupada pelo revestimento
(Figura 171). Essa situação é comum quando uma pista de calçamento é
revestida por asfalto. Nesse caso, a vazão é dada por:

æzö
Q = 0,375 æç yo 3 - yr 3 ö÷
8 8
I ç ÷ [374]
è ø ènø

yr

yo

Figura 171. Sarjeta parcial

14.1.3 Sarjetões
Para os sarjetões (Figura 172), podem ser usadas as seguintes
equações:
T
z= = tg (q1 ) + tg (q 2 ) [375]
y
T = y (tg(q1) + tg (q1)) [376]

14.1.4 Seções compostas


Para o caso de sarjetas com diferentes declividades transversais
(Figura 173), pode-se calcular a vazão como se fossem duas sarjetas

373
independentes; da soma desse cálculo se subtrai a vazão correspondente
à que escoaria pela parte da seção que lhes é comum, ou seja:
Q = Qa – Qb + Qc [377]

q2 q1

Figura 172. Sarjetão

Qa Qb Qc

Figura 173. Sarjetas compostas

Exemplo 80. Dada uma sarjeta com as seguintes dimensões: altura


da guia Y = 8 cm; taludes Z1 = 24 e Z2 = 50; W = 60 cm e coeficiente de
Manning = 0,020, calcular a vazão, sabendo que a declividade é de 5%.
Com a equação 371, obtém-se:
Qa = 118 L/s
Qb = 44 L/s
Qc = 90 L/s
Q = 164 L/s

14.2 Bocas de lobo


Se a água, ao se acumular sobre a boca de lobo, tiver altura menor
que a abertura da guia, essa boca de lobo funciona hidraulicamente igual
a um vertedor, e a vazão pode ser calculada pela fórmula:
Q = C L h3 2 [378]

374
em que:
Q = vazão ou capacidade de engolimento da boca de lobo (m³/s);
C = coeficiente de vazão (considerando C = 1,7);
L = largura da boca de lobo ou comprimento da soleira (m);
h = altura da água próxima à abertura da guia (m).
Se a altura da água sobre a boca de lobo for maior que o dobro da
abertura da guia, essa boca de lobo funciona hidraulicamente
semelhante a um orifício, sendo a vazão estimada por

Q = CA 2gh [379]

em que:
Q = vazão ou capacidade de engolimento da boca de lobo (m³/s);
C = coeficiente de vazão (considerando C = 0,7);
A = área da abertura do orifício (m²);
h = profundidade da água acima da cota média da abertura da guia
(m).
Existem vários tipos de bocas de lobo, sendo os principais os do tipo
guia (Figura 174) e aqueles com grades (Figura 163).

Passeio

Sarjeta
Via

Figura 174. Boca de lobo tipo guia


375
14.2.1 Bocas de lobo do tipo guia
a) Se a altura da água (y) for menor que ou igual à abertura na guia
(h) (y £ h), o funcionamento é tido como vertedor, e a vazão pode ser
calculada por:
Q = 1,703 L y 1, 5 [380]

em que:
Q = vazão (m³/s);
L = largura da soleira (m);
y = altura máxima da água junto à guia (m).
b) Se y ³ >2 h,
y
Q = 3 ,101 L h 1, 5 - 0 ,5 [381]
h

em que:
Q = vazão (m³/s);
L = largura da soleira (m);
h = altura da abertura da boca de lobo (m);
y = altura máxima da água junto à guia (m).

Exemplo 81. Calcular a vazão de uma boca de lobo tipo guia com
largura de 1 m e altura de 12 cm para a altura da água de 5 cm.

Q = 1,703 x 1,0 x 0,051,5 = 0,0190 m³/s = 19,0 L/s

14.2.2 Bocas de lobo com grades


a) Para cargas de até 12 cm:
Q = 1,655 P y 1,5 [382]
b) Para cargas superiores a 42 cm:
Q = 2,91 A y [383]

em que:

376
P é o perímetro da abertura, não considerando as barras e os lados
sobre os quais a água não entra, dado em metros;
A é a área útil da grade (m²), sem considerar as áreas das barras da
grade.
Para as bocas de lobo com grades (Figura 175) comuns, pode-se
demonstrar que:
A=bne [384]
P = 2 (a + b) [385]
P = 2 a + b caso a grade esteja colocada junto à guia [386]
em que:
A é a área útil (m²);
b é comprimento da grade (m);
a é a largura da grade (m);
e é a largura do espaço entre as barras da grade (m);
n é o número de aberturas.

Sarjeta

Via

Passeio

Figura 175. Boca de lobo tipo grade

Exemplo 82. Calcular a vazão de uma boca de lobo tipo grade com
90 cm de comprimento (b) e 60 cm de largura (a), sendo a distância entre
as barras (e) de 5 cm para a carga de 10 cm (Y).

377
P = 2 a + b = 2 . 0,6 + 0,9 = 2,1 m
Q = 1,655 P y 1, 5 = 1,655 . 2,1 . (0,10)1,5 = 0,0996 m³/s = 99,6 L/ss

14.3 Galerias
Denomina-se galeria de águas pluviais todo conduto fechado
destinado ao transporte das águas de escoamento superficial originárias
das precipitações pluviais captadas pelas bocas coletoras. Considera-
-se como galerias pluviais o conjunto de bocas coletoras, condutos de
ligação, galerias e seus órgãos acessórios, tais como poços de visita e
caixas de ligação. É a parte subterrânea de um sistema de
microdrenagem.
As seções circulares são as mais empregadas por sua maior
capacidade de escoamento e pela facilidade de obtenção de tubos pré-
-moldados de concreto para a confecção dos condutos. O diâmetro
mínimo recomendado para galerias pluviais é de 400 mm. No entanto, é
comum, principalmente em projetos de baixo custo, o emprego do
diâmetro de 300 mm em trechos iniciais e em condutos de ligação,
encontrando-se tubos comercias de 300, 400, 500, 600, 800, 1.000, 1.200
e 1.500 mm. O recobrimento mínimo das galerias é de 1 m para
tubulações sem estrutura especial. Quando as condições topográficas
não permitem, devem-se utilizar galerias com estruturas reforçadas. Para
galerias com diâmetros equivalentes superiores a 1,5 m, situações pouco
frequentes em sistemas de microdrenagem, pode-se recorrer ao
emprego de seções quadradas ou retangulares, em geral, com paredes
verticais em alvenaria e em lajes horizontais em concreto armado.
O dimensionamento das galerias é feito com as equações de
movimento uniforme em canais, sendo a mais utilizada a equação de
Manning e Chezy. Nos condutos circulares a capacidade máxima é
calculada pela seção plena, e nos retangulares recomenda-se uma folga
superior mínima de 0,1m .
A velocidade de escoamento mínima deve ser de 0,75 m/s, evitando
a sedimentação natural do material sólido em suspensão na água. Para
evitar danos às galerias, tanto pelo grande valor da energia cinética como
pelo poder abrasivo do material sólido em suspensão, o valor-limite da

378
velocidade máxima é função do material de revestimento das paredes
internas dos condutos, tendo-se como limite a velocidade de 4 m/s.
A declividade de cada trecho é estabelecida a partir das condições
topográficas do local, procurando manter a declividade natural do
terreno ao longo do trecho, desde que a velocidade fique dentro dos
limites estabelecidos. Na prática, os valores empregados variam
normalmente de 0,3 % a 4 %, pois para declividades fora desse intervalo
é possível a ocorrência de velocidades incompatíveis com os limites
recomendados.
Quanto maior a declividade das galerias, maior será a velocidade de
escoamento e menor o diâmetro necessário, diminuindo os custos. Na
Tabela 127 são apresentados custos médios dos diferentes tubos de
concreto.

Tabela 127. Custo dos tubos de concreto


Diâmetro (mm) Preço (R$)
200 5,4
300 7,3
400 11,1
500 16,2
600 22,1
600 1 40,4
800 44,8
800 1 53,9
1.0001 73,9
1.0002 84,4
1.2002 127,5
1
Concreto com uma armação de ferro.
2
Concreto com duas armações de ferro.

379
15 Instruções sobre o programa Hidrom
O programa Hidrom foi elaborado em linguagem Delphi e consta de
oito unidades principais, cada uma delas contendo uma série de
procedimentos (Figura 176). Para selecionar uma das unidades, basta
clicar sobre a paleta ou usar as teclas de atalho Alt + a letra sublinhada
da paleta correspondente. Ao entrar com uma variável, deve-se ter o
cuidado de usar a vírgula como separador de decimal.

Figura 176. Tela principal do Hidrom 2.0

380
Na unidade Ferramentas estão os procedimentos para os seguintes
cálculos:
• equação de continuidades;
• número de Reynolds;
• aceleração da gravidade;
• teorema de Bernoulli;
• calculadora (utiliza a calculadora do Windows).
Na unidade Hidrostática estão os valores tabelados e os
procedimentos para os seguintes cálculos:
• viscosidade da água (valores tabelados);
• tensão superficial (valores tabelados);
• módulo de elasticidades (valores tabelados);
• coeficiente de compressibilidade (valores tabelados);
• pressão de vapor;
• capilaridade;
• pressão hidrostática;
• dimensionamento de barragem de gravidade.
Na unidade Conversões estão os procedimentos para conversões
entre diferentes unidades de:
• comprimento;
• área;
• volume;
• vazão;
• temperatura;
• força;
• potência;
• velocidade;
• energia;
• pressão.
No quadro Converter de, selecione a unidade cujo valor deseja
converter e entre com a quantidade a ser convertida (Figura 177). No
quadro Converter para, pode-se selecionar a unidade para a qual se
381
deseja converter. Podem-se selecionar várias unidades; o programa já
traz algumas unidades selecionadas. No campo casas decimais, entre
com o número de casas decimais que deseja obter nas respostas. Caso
o número a ser convertido seja menor que o número em casas decimais,
o programa apresentará a resposta em formatação científica. Para
converter o valor, basta clicar no botão Calcular. O botão Limpar zera
todos os campos. Para terminar o procedimento, clique em Fechar.

Figura 177. Exemplo de conversão de unidades

Na unidade Condutos forçados, encontram-se as fórmulas para o


cálculo de condutos forçados, incluindo:
• fórmula universal de perda de carga;
• fórmula de Darcy, apresentação alemã;
• fórmula de Darcy, apresentação francesa;
• fórmula de Darcy, apresentação americana;
• fórmula de Fair-Whipple-Hsiao;
• fórmula de Flamant;
382
• fórmula de Bazin-Kutter;
• fórmula de Scobey;
• fórmula de Scimeni;
• fórmula de Manning;
• fórmula de Hazen-Williams;
• cálculo de condutos mistos;
• perdas de carga localizadas;
• golpe de aríete.
Para cada fórmula o programa exibe as equações utilizadas e possui
o quadro Opções de cálculo, onde o usuário deve selecionar uma variável
a ser calculada (Figura 178). Nas demais variáveis deve-se entrar com
os valores nas unidades solicitadas. Para os valores tabelados, o
programa apresenta opção de consultar os valores tabelados. Em
algumas equações foram ajustadas equações de regressão aos valores
tabelados, permitindo o cálculo dos coeficientes a partir de uma
informação conhecida. Clicando no botão Adotar, o programa transfere
o valor sugerido para o campo de entrada de dados. Para obter os
resultados, clicar no botão Calcular, e no quadro Resultados aparecerão
os valores da variável a ser calculada e outros resultados
complementares.

Figura 178. Exemplo de cálculo de condutos forçados com Hidrom


383
Na opção Perdas localizadas estão incluídas as rotinas para cálculo
de perdas de carga localizadas pelos métodos dos comprimentos
equivalentes, de Borda-Belanger e dos diâmetros equivalentes (Figura
179). Para cada método são listadas as peças, e o usuário deverá
informar o número de peças nas células destacadas em amarelo.

Figura 179. Rotina para cálculo de perdas de carga localizadas

Na paleta Bombas (Figura 180) estão os procedimentos para os


cálculos de:
• potência da bomba;
• potência do motor;
• NPSH disponível;
• fórmula de Bresse;
• alteração na rotação da bomba;
• alteração no diâmetro do rotor;
• NPSH requerido;
• rotação específica;

384
• curva característica da tubulação;
• carneiro hidráulico.

Figura 180. Exemplo do cálculo de bombas com Hidrom

Para o cálculo de potência da bomba e do motor (Figura 181),


deverão ser informados o peso específico do líquido, a vazão, a altura
manométrica e o rendimento do motor. O programa informa a potência
da bomba e do motor elétrico com a folga indicada. Também é
informado o consumo estimado de energia elétrica. No cálculo do NPSHd
deverá ser informado, junto com a altura de sucção e perdas localizadas
na sucção, o valor da altitude e a temperatura que o programa informa
a pressão atmosférica, a pressão de vapor e o valor do NPSH disponível.
As rotinas NPSH requerido, rotação específica, curva característica
da tubulação e carneiro hidráulico não constavam na versão anterior.

385
Figura 181. Rotina para cálculo da curva característica no Hidrom 2.0

Na unidade Canais se encontram as rotinas para os seguintes


cálculos:
• dimensionamento de canais;
• cálculo da profundidade crítica;
• cálculo da distância entre as quedas;
• dimensionamento das quedas;
• dimensionamento das quedas – método empírico;
• cálculo do coeficiente de rugosidade composto;
• projeto de canais.
Nos procedimentos, o usuário deve optar por uma equação e um
formato do canal conforme a Figura 182.

386
Figura 182. Opções de procedimentos para canais do Hidrom

Nesse procedimento o usuário deverá selecionar uma EQUAÇÃO e


um FORMATO do canal, e ao clicar Calcular, o programa chama a rotina
para os cálculos.
No dimensionamento de canais o programa exibe a equação
utilizada junto com uma figura ilustrando as variáveis do problema (Figura
183). No quadro OPÇÕES DE CÁLCULO o usuário deverá selecionar a
variável que deseja calcular, entrando com as demais grandezas
conhecidas do problema. Os valores dos coeficientes tabelados para
cada equação podem se consultados no respectivo quadro e, ao clicar
no botão Adotar, o valor sugerido é transferido para o campo no quadro
OPÇÕES DE CÁLCULO. Ao clicar no botão Calcular, o programa apresenta
os resultados dos cálculos no quadro RESULTADOS. Ao passar o mouse
sobre as variáveis desse quadro, o programa exibe por um instante o
significado delas.

387
Figura 183. Exemplo de cálculo de canais no Hidrom

A rotina Projeto de Canais possui três paletas, nomeadas de Dados


do projeto, Desenho do canal e Descritivo para relatório. Na paleta
Dados do projeto o usuário deve selecionar o formato e a fórmula
desejada e entrar com as informações solicitadas no quadro Dados do
projeto (Figura 184). Depois de clicar sobre o botão Calcular, são
mostrados os resultados para a seção de projeto, isto é, considerando a
profundidade hidráulica e também para a seção plena, ou seja,
profundidade igual à profundidade hidráulica somada à folga. Ao clicar
no botão Relatórios, o Hidrom abre um relatório para impressão com
todos os dados e com o desenho do canal.
Na paleta Desenho do canal, é mostrado um desenho, e o usuário
pode alterar alguns dados do desenho, como os valores máximos e
mínimos dos ambos os eixos, a apresentação das linhas de grade e as
dimensões da figura. O Hidrom atualiza automaticamente a figura
sempre que algum dos dados for alterado. Nessa paleta há também a
possibilidade de imprimir a figura clicando no botão Imprimir figura.

388
Figura 184. Procedimento Projeto de canais do Hidrom

Na paleta Descritivos para o relatório, o usuário pode informar


alguns dados descritivos para serem incluídos no relatório e o número
da página que esse relatório apresentará (Figura 185).
Na unidade Hidrometria, o usuário encontra procedimentos para
os seguintes cálculos:
• vazão em orifícios ou tubos curtos;
• vazão em aberturas grandes;
• tempo de esvaziamento de reservatório;
• vazão com vertedor retangular;
• vazão com vertedor triangular;
• vazão com vertedor trapezoidal;
• vazão com vertedor circular;
• vazão com vertedor Creager;

389
• vazão com vertedor tubular;
• vazão com vertedor lateral;
• vazão em comporta de fundo;
• vazão em calhas Parshall;
• seleção das calhas Parshall;
• vazão em calhas Skogerboe;

Figura 185. Relatório do Projeto de canais do Hidrom 2.0


390
• vazão em calhas WSC;
• vazão pelo método das coordenadas;
• vazão pelo método Califórnia;
• vazão pelo medidor Venturi usando mercúrio;
• vazão pelo medidor Venturi – Fórmula geral.
Para cada procedimento, o programa permite uma série de opções,
como mostrado na Figura 186. Para cada fórmula, o programa exibe
nova tela com o cálculo da vazão (Figura 187). O usuário, consultando
os capítulos 12 e 13 do livro, encontrará a explicação de todas as
fórmulas usadas.

Figura 186. Opções de fórmulas de vertedor retangular no Hidrom

391
Figura 187. Cálculo da vazão com a fórmula de Francis no Hidrom

Para o cálculo da vazão pelo método das calhas Parshall, o programa


Hidrom 2.0 (Figura 188) permite escolher as fórmulas de acordo com a
metodologia de Walker e Skogerboe, ou as normas ASTM:1941 e NBR
ISO 9826 (Figura 188).
Na unidade Hidráulica Urbana, o usuário encontrará os seguintes
procedimentos para cálculos da hidráulica aplicada à drenagem urbana
(Figura 189):
• cálculo de sarjetas;
• cálculo de sarjeta composta;
• cálculo de sarjetas parciais;
• cálculo de bocas de lobo tipo guia;
• cálculo de bocas de lobo tipo grade;
• cálculo de galerias pluviais.

392
Figura 188. Cálculo da vazão pelas calhas Parshall

Figura 189. Exemplo de cálculo de sarjetas com Hidrom

393
394
Referências

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (BRASIL). Medição de descarga líquida em


grandes rios: manual técnico. Brasília: ANA; SGG, 2009. 88p.
ANTUNES, A. J. Coeficiente de vazão para tubos afogados, usados em
tomadas de água para irrigação. 1986. 56f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 1986. .
AZEVEDO NETO, J.M.; ALVAREZ, G.A. Manual de hidráulica. São Paulo: Edgard
Blücher, 1998. 669p.
BACK, A.J.; ALVES, F.V.; BONETTI, A.V. Técnicas de medição de vazão em grandes
rios. In: CONGRESO NACIONAL, 12. y LATINOAMERICANO DE AGRIMENSURA,
8., 2012, Vila Carlos Paz, AR. [Anais...]. Córdoba, AR: Colégio de Agrimensores,
2012. p.1-34.
BACK, A.J.; BONETTI, A.V. Técnicas de medição de vazão em rios de pequeno
e médio porte In: CONGRESO NACIONAL, 12. y LATINOAMERICANO DE
AGRIMENSURA, 8., 2012, Vila Carlos Paz, AR. [Anais...]. Córdoba, AR: Colégio
de Agrimensores, 2012. p.1-26.
BASTOS, F. A. Problemas de mecânicas dos fluidos. Rio de Janeiro: Ed.
Guanabara, 1983. 483p.
BERNARDO, S. Manual de irrigação. 5.ed. Viçosa: UFV, 1989. 596p.
BERNARDO, S. Condução d’água para irrigação. Viçosa: UFV, 1979. 63p.
CHAUDHRY, H.M. Opens-Channel Flow. New Jersey: Prentice-Hall, 1993. 483p.
CHOW, V.T. Open channel hydraulics. New York: McGraw-hill Book Company,
1959. 680p.
COX, R. G. Effective hydraulic roughness for channels having bed rough-
ness different from bank roughness. Vicksburg, MS : Army Engineers Wa-
terways Experiment Station, 1973. (Miscellaneous paper H-73-2, U.S).
DAKER, A. A água na agricultura: hidráulica aplicada a agricultura. Rio de
Janeiro: Livraria Freitas Bastos. 1983. v.1. 316p.
DELLEUR, J.W. Hydraulic engineering. In: CHEN, W.F. The civil engineering
handbook. New York: CRC press,1995. p 949-978.

395
DRUMOND, L.C.D. Coeficientes de vazão para tubos curtos, sob afogados
condição de descarga livre e afogada , utilizada em tomadas de águas para
irrigação. Viçosa: UFV, 1989. 66p.
EINSTEIN, H.A.; BANKS, R.B. Fluid resistance of composite roughness. Trans-
actions of the American Geophysical Union, v.31, n. 4, p.603-610, 1950.
FEDERAL HIGHWAY ADMINISTRATION. Introduction to hydraulics. Wash-
ington: US Department of Transportation, 2001. 480p. (Publication FHWA.
NH101-029).
FENDRICH, R.; NICOLAU, L.O.; AISSE, M.M. et al. Drenagem e controle da
erosão urbana. 3.ed. São Paulo: Ibrasa; Curitiba: Champagnat, 1991.
442p.
FILIZOLA, N.P.; GUIMARAES, V.S.; GUYOT, J.L. Medição de vazão em
grandes rios: uso de perfilador Doppler acústico de corrente. O Estado
das águas no Brasil -1999: Perspectivas de gestão e informação de
recursos hídricos. Brasília: SIH/ANEEL/ SRH/MMA;MME, Brasília, 1999.
p.197-212.
FRENCH, R.H. Open-channel hydraulics. New York: McGraw-Hill, 1985.
739p.
HORTON, R.E. Separate roughness coefficients for Channel bottom and
sides. Engineering News Record, v.3, n.22, p.652-653, 1933.
JACCON, G. Curso sobre técnicas de medição de descarga líquida em
grandes rios. Brasília: MME/DNAEE, 1984.
KRAATZ, D.B.; MAHAJAN, I.K. Pequeñas obras hidráulicas. Roma: FAO,
1976. 283p. (Estudio FAO: Riego y drenaje 26/2).
LENCASTRE, A. Hidráulica Geral. Lisboa, Hidroprojeto. 1983. 654 p.
LINSLEY, R.K.; FRANZINI, J.B. Engenharia de recursos hídricos. São Paulo:
Mc Graw Hill do Brasil, 1978.
LIST, R.J. Smithsonian meteorological tables. 6.ed. Washington:
Smithsonian Institution Press, 1971. 527p.
LOZANO, F.G. Medición del agua de riego. Madrid: Centro de Estudios
Hidrográficos, 1977. 171p.
MARTINS, J.R.S. Obras de macrodrenagem. In: TUCCI, C.E.M.; PORTO,
R.L.L.; BARROS, M.T. Drenagem urbana. Porto Alegre: ABRH; Ed. da
UFRGS, 1995. p.167-240.

396
NEVES, E.T. Curso de hidráulica. Porto Alegre: Ed Globo, 1989. 577p.
PORTO, R.M. Hidráulica básica. São Carlos: EESC –USP, 2006. 540p.
SANTOS, I. ; FILL, H.D.; SUGAI, M.R.V.B. et al. Hidrometria aplicada.
Curitiba: Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento, 2001. 772p.
SALAMANCA, L. Estudios del vertedero lateral. Bogotá: Universidad
Nacional de Colombia, 1970.
SILVA, F.G.B; ARENS, H.G; NEVES, L.A. Curva NPSH(Q) de uma bomba
centrífuga radial para rotações não padronizadas. Revista. Brasileira de
Recursos Hídricos, Porto Alegre, v.7, n.2, p. 57-62, 2002.
SILVESTRE, P. Hidráulica geral. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos,
1982. 312p.
TAYLOR, B. N. The International System of Units (SI). [s.l.]: National
Institute of Standards and Technology, 1991. 56p. (NIST. Special Publica-
tion 330).
TUCCI, C.E.; PORTO, R. La L.; BARROS, M.T. de. Drenagem urbana. Porto
Alegre: ABRH; Ed. da UFRGS, 1995.
TUCCI, C.E. Hidrologia. Porto Alegre: ABRH; Ed. da UFRGS, 1995.
USBR. Diseño de presas pequeñas: Vertederos de Demasías. Washington:
Department of Agriculture, 1960. Cap.8.
USBR. Design and constructions manual: Channel and related structures.
Washington: Department of Agriculture, 1952. (Design Supplement no.3).
VIANELLO, R.L.; ALVES, A.R. Meteorologia básica e aplicações. Viçosa: UFV,
1991. 449p.
VIANNA, M.R. Mecânica dos Fluidos para engenheiros. 3.ed. Belo
Horizonte: Imprimatur, 1997. 582p.
WALKER, W.R.; SKOGERBOE, G.V. The theory and practice of surface
irrigation: A guide for study in surface Irrigation Engineering. Logan. Utah:
Utah State University, 1984.
WILKEN, P.S. Engenharia de drenagem superficial. São Paulo: Cetesb,
1978.

397
COMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO

ESTADO DE SANTA CATARINA


Secretaria de Estado da Administração
Diretoria da Imprensa Oficial e Editora de Santa Catarina

Rua Duque de Caxias, 261 | Saco dos Limões


CEP 88045-250 | Florianópolis | SC
Fone: (48) 3665-6200

O.P. 7288 - ADP. 97990

Você também pode gostar