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Agradeço a Kimberley Whalen, Ann Leslie Tuttle e Dianne Moggy — mulheres

divertidas e destemidas que embarcaram nesta aventura comigo.


E aos meus leitores, que me inspiram todos os dias.
Sumário

Ardente
1
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8
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10

Sobre a autora
Créditos
Ardente
1

Havia uma leve brisa de outono na manhã em que entrei no arranha-céu de vidro
espelhado no centro de Manhattan, deixando para trás o barulho das buzinas e dos
pedestres para penetrar um silêncio refrescante. Meus saltos batiam no mármore escuro
do vasto saguão, no ritmo acelerado de meu coração. Com as mãos úmidas de suor,
deslizei minha identidade pelo balcão da recepção. Recebi o crachá de visitante e fui em
direção ao elevador, cada vez mais nervosa.
Você já desejou tanto alguma coisa que simplesmente não era capaz de imaginar
como seria se não a conseguisse?
Eu tive dois motivos na vida para me sentir assim: o cara por quem tinha me
apaixonado e o cargo de assistente administrativa para o qual ia ser entrevistada.
O cara tinha se revelado um erro; o emprego poderia mudar minha vida de maneira
inacreditável. Eu não podia ser menos que perfeita naquela entrevista. Tinha a sensação
de que trabalhar como assistente de Lei Yeung era justamente o que precisava para abrir
minhas asas e voar alto.
Apesar do meu encorajamento mental, perdi momentaneamente o fôlego ao sair do
elevador no décimo andar e deparar com a entrada de vidro escuro da Savor. O nome da
empresa estava gravado em uma fonte metálica feminina sobre as portas duplas,
desafiando-me a sonhar alto e a aproveitar cada momento ali.
Enquanto esperava para entrar, examinei a fileira de jovens bem-vestidas aguardando
na recepção. Diferente de mim, não usavam roupas da coleção passada. E eu duvidava
que alguma delas tivesse se desdobrado em três empregos simultâneos para pagar a
faculdade. Eu estava em desvantagem em praticamente todos os aspectos, mas já sabia
que seria assim, e isso não me intimidava… muito.
A porta automática abriu e, ao entrar, reparei nas paredes cor de café com leite,
repletas de fotografias de grandes chefs e restaurantes da moda. Havia um leve aroma de
açúcar no ar, um cheiro reconfortante da minha infância. Mas nem assim eu conseguia
relaxar.
Respirei fundo e me apresentei à recepcionista, uma jovem negra e bonita, dona de um
sorriso gentil. Afastei-me discretamente, à procura de um trecho desocupado de parede
no qual encostar. Eu tinha achado o horário da entrevista — para a qual chegara trinta
minutos adiantada — estranha, mas logo me dei conta de que cada candidato tinha uma
conversa rápida de cinco minutos e era dispensado com pontualidade britânica.
Minha pele enrubesceu de leve e senti que estava suando frio quando chamaram meu
nome. Afastei-me da parede com tanta pressa que titubeei sobre os saltos, a falta de jeito
refletindo minha insegurança. Acompanhei um rapaz atraente ao longo de um corredor
até um escritório de canto com uma recepção vazia, seguida de outra porta que levava à
sala de Lei Yeung.
O rapaz abriu a porta para mim com um sorriso. “Boa sorte.”
“Obrigada.”
Ao entrar, a primeira coisa que notei foi a decoração moderna e despojada, e depois
reparei na mulher sentada atrás de uma mesa de madeira tão grande que a fazia parecer
minúscula. Se não fosse pelo tom vivo de vermelho em seus óculos, que combinava
perfeitamente com o batom nos lábios cheios, ela talvez tivesse sido eclipsada pela
vastidão do ambiente, que tinha uma vista estonteante da paisagem urbana de Manhattan.
Parei um instante para registrar a mulher, admirando a maestria com que uma mecha
de cabelo grisalho havia sido disposta no penteado. Ela era esguia, com um pescoço
gracioso e braços compridos. Quando ergueu os olhos do currículo para me avaliar,
senti-me exposta e vulnerável.
Lei Yeung tirou os óculos e recostou-se na cadeira. “Sente, Gianna.”
Atravessei o carpete creme e escolhi uma das duas cadeiras de couro e metal cromado
diante da mesa.
“Bom dia”, cumprimentei, ouvindo, tarde demais, o sotaque do Brooklyn que estava
disposta a disfarçar a todo custo. Ela não aparentou notar.
“Fale sobre você.”
Limpei a garganta. “Bem, me formei na Universidade de Nevada, em Las Vegas…”
“Acabei de ler isso no seu currículo.” Ela amenizou o tom das palavras com um
ligeiro sorriso. “Fale alguma coisa sobre você que ainda não sei. Por que a indústria de
restaurantes? Sessenta por cento dos novos estabelecimentos fracassam em cinco anos.
Tenho certeza de que sabe disso.”
“Não o nosso. Minha família tem um restaurante em Little Italy há três gerações”,
respondi, cheia de orgulho.
“E por que você não trabalha lá?”
“Porque você não trabalha lá.” Engoli em seco. Uma resposta pessoal demais. Lei
Yeung não pareceu se incomodar, mas meu excesso de sinceridade me abalou. “Quer
dizer, lá nós não temos ninguém com seu dom”, acrescentei depressa.
“Nós…?”
“Sim.” Fiz uma pausa para me recompor. “Tenho três irmãos. Seria difícil dividir a
gerência do Rossi’s quando meu pai se aposentar, e nem é o que eles querem. O mais
velho vai ficar com o restaurante e os outros dois… bem, cada um quer ter seu próprio
Rossi’s.”
“E sua contribuição é um diploma em gerenciamento de restaurantes e um coração
grande.”
“Quero aprender mais sobre o negócio para ajudar meus irmãos a realizar o sonho
deles. E outras pessoas também.”
Lei Yeung assentiu e pegou os óculos novamente. “Muito obrigada por ter vindo,
Gianna.”
E assim, sem mais nem menos, fui dispensada. Sabia que não tinha conseguido o
emprego. Não tinha dito o que ela esperava escutar do escolhido.
Fiquei de pé, as ideias de como dar a volta por cima na entrevista fervilhando na
minha cabeça. “Sra. Yeung, eu realmente quero este emprego. Trabalho duro. Nunca
falto. Sou proativa e penso no futuro. Em pouco tempo, vou aprender a antecipar as
coisas de que precisa antes que precise delas. Não vai se decepcionar se me contratar.”
Lei me fitou. “Tenho certeza disso. Você teve vários empregos e suas boas notas na
faculdade não caíram. É inteligente, determinada e não tem medo de trabalhar duro.
Estou certa de que seria excelente. Mas acho que não sou a chefe certa para você.”
“Não estou entendendo.” Meu estômago revirou com a notícia de que meu emprego
dos sonhos tinha me escapado por entre os dedos, e a decepção doeu.
“Não se preocupe”, ela disse, simpática. “Acredite em mim. Há uma centena de
restaurantes em Nova York que podem oferecer a você o que procura.”
Ergui a cabeça. Eu costumava me orgulhar da minha aparência, da minha família e
das minhas raízes. Detestava o fato de que agora colocava esse orgulho em dúvida com
frequência.
Num impulso, resolvi dizer por que queria tanto trabalhar com ela. “Temos muito em
comum, sra. Yeung. Ian Pembry subestimou você, não é verdade?”
Um fogo repentino se acendeu em seus olhos diante da menção inesperada do homem
por quem fora traída, mas ela permaneceu em silêncio.
A essa altura, eu não tinha nada a perder. “Um homem me subestimou também. Só
quero fazer o mesmo que você: provar que todo mundo estava errado.”
Ela inclinou a cabeça de lado. “Espero que consiga.”
Percebendo que não havia mais nada que pudesse fazer, agradeci e saí da sala com o
máximo de dignidade possível.
Sem sombra de dúvida, tinha sido uma das piores segundas-feiras da minha vida.

“Escute o que estou dizendo, ela é uma idiota”, tornou a dizer Angelo. “Você teve foi
sorte de não conseguir aquele emprego.”
Eu era a caçula da família. Angelo era o mais novo dos meus três irmãos. A ira com
que me defendia me fez sorrir, apesar do meu estado.
“Ele tem razão”, disse Nico. O mais velho — e o mais brincalhão — deu um chega
pra lá em Angelo e colocou um prato diante de mim com um floreio.
Eu estava no bar, já que o Rossi’s estava lotado como sempre. Os fregueses da noite
eram barulhentos, e muitos deles eram conhecidos da casa. Vez por outra aparecia uma
celebridade à paisana para comer em paz. Essa mistura era um sinal evidente da fama do
serviço acolhedor e da comida excelente do Rossi’s.
Angelo devolveu o empurrão e fez uma careta. “Sempre tenho razão.”
“Até parece!”, desdenhou Vincent pela janela da cozinha, deslizando dois pratos
fumegantes sobre o balcão e arrancando as comandas correspondentes. “Só quando você
repete o que eu digo.”
Tive que rir daquilo. Então senti a mão de alguém tocar minha cintura um segundo
antes de perceber o perfume Elizabeth Arden predileto da minha mãe.
Ela me deu um beijo. “Que bom ver você sorrindo. Tudo na vida acontece…”
“… por um motivo”, completei. “Eu sei. Mas é um saco.”
Eu era a única da família que havia feito faculdade. Tinha sido um esforço coletivo,
com participação dos meus irmãos. E era impossível não sentir como se tivesse
decepcionado todo mundo. Claro que havia centenas de restaurateurs em Nova York,
mas Lei Yeung não era apenas capaz de transformar chefs desconhecidos em marcas, ela
era fora de série.
Lei Yeung sempre falava sobre a presença das mulheres no mundo dos negócios e
havia sido convidada para diversos programas de TV. Era filha de imigrantes e tinha
batalhado e estudado, tornando-se um sucesso mesmo tendo sido traída por seu mentor.
Trabalhar para ela era tudo o que eu queria.
Ou era disso que eu tinha me convencido.
“Coma seu fettuccine antes que esfrie”, disse minha mãe, e se afastou para receber
novos fregueses.
Enrolei o macarrão no garfo. O molho Alfredo cremoso ficou pingando enquanto a
observava. Muitos clientes também olhavam para ela. Mona Rossi estava perto da casa
dos sessenta, mas jamais se adivinharia isso pela sua aparência. Era linda e sensual de
uma maneira exuberante. Os cabelos ruivos eram volumosos e emolduravam um rosto
dotado de uma simetria clássica, com lábios cheios e olhos como duas jabuticabas. Era
escultural, tinha curvas generosas e um gosto por joias de ouro.
Homens e mulheres a adoravam. Minha mãe era segura de si e descontraída. Poucos
desconfiavam do trabalho que meus irmãos tinham dado quando jovens. Mas agora eles
estavam bem treinados.
Respirando fundo, procurei absorver a atmosfera reconfortante à minha volta: os sons
queridos de gente se divertindo, o cheiro de dar água na boca da comida cuidadosamente
preparada, o tinir de talheres nas louças e copos se chocando em brindes. Eu queria mais
da vida, o que às vezes me fazia esquecer quanta coisa já possuía.
Nico voltou e olhou para mim. “Tinto ou branco?”, perguntou, colocando a mão sobre
a minha afetuosamente.
Ele era um dos favoritos da clientela, especialmente entre as mulheres, e ficava no
bar. Era moreno e bonito, tinha cabelos bagunçados e um sorriso malicioso. Um
paquerador convicto, tinha fã-clube próprio. As mulheres iam ao bar em busca de seus
ótimos drinques e de seu papo sedutor.
“Que tal uma champanhe?” Lei Yeung sentou-se elegantemente no banco ao meu
lado, que tinha acabado de ser liberado.
Pisquei, incrédula.
Ela sorriu para mim. Usava uma calça jeans e uma blusa rosa de seda, e parecia bem
mais jovem do que na entrevista. Seus cabelos estavam soltos, e o rosto, sem
maquiagem. “Vi muitas avaliações entusiasmadas deste lugar na internet.”
“É a melhor comida italiana daqui”, respondi, sentindo o coração acelerar.
“Muitos dizem que este lugar ficou ainda melhor nos últimos anos. Foi quando você
começou a colocar em prática o que estava aprendendo?”
Nico colocou duas taças altas à nossa frente e serviu champanhe até a metade. “É isso
mesmo”, ele disse, entrando na conversa.
Lei segurou sua taça e acariciou-a com os dedos. Seu olhar cruzou com o meu. Nico,
que sabia muito bem a hora de desaparecer, foi para a outra ponta do bar.
“Voltando ao assunto…”, ela disse. Comecei a me curvar, com medo do que viria,
mas logo me endireitei no banco. Lei Yeung não teria se deslocado até o Rossi’s só para
me dar uma lição de moral. “Ian me subestimou, sim, mas ele não se aproveitou de mim.
Se eu dissesse isso exageraria sua participação no caso. Eu deixei a porta aberta, e ele
passou por ela.”
Fiz que sim com a cabeça. As circunstâncias do rompimento dos dois eram
desconhecidas, mas eu havia deduzido algumas coisas a partir das reportagens nas
revistas especializadas do ramo, e preenchido as lacunas com informações das colunas
de fofoca e blogs. Juntos, eles haviam erguido um império culinário, transformado chefs
em celebridades, montado várias cadeias de restaurantes e uma linha de livros de receitas
e utensílios de cozinha a preços acessíveis que vendiam aos milhões. Foi então que
Pembry anunciou o lançamento de uma nova cadeia de restaurantes financiada por atores
e atrizes famosos — da qual Lei não fazia parte.
“Ele me ensinou muito”, prosseguiu ela. “E cheguei à conclusão de que aprendeu
tanto quanto eu.” Lei fez uma pausa, pensativa. “Estou ficando acostumada demais
comigo mesma e com a maneira como faço as coisas. Preciso de outro ponto de vista.
Quero me alimentar da vontade de vencer de outra pessoa.”
“Você quer uma discípula.”
“Exatamente.” Sua boca se curvou num sorriso. “Não havia percebido isso até falar
com você. Eu sabia que estava em busca de algo, mas não sabia o que era.”
Eu estava eufórica, mas mantive o tom profissional. Girei o banco para encará-la.
“Estou dentro, se você quiser.”
“Esqueça o horário comercial”, avisou ela. “Não é algo que se faça das nove às seis.
Vou precisar de você nos fins de semana e talvez telefone no meio da madrugada.
Trabalho o tempo todo.”
“Não vou achar ruim.”
“Eu vou.” Angelo se aproximou por trás de nós. Meus irmãos tinham deduzido quem
ela era, e eles gostavam de se intrometer. “Preciso ver minha irmã de vez em quando.”
Dei uma cotovelada nele. Eu, meus três irmãos e a esposa de Angelo, Denise,
dividíamos um apartamento grande mas precário, no Brooklyn. A maior parte do tempo
reclamávamos que nos víamos demais.
Lei estendeu a mão e se apresentou a Nico e Angelo, depois à minha mãe, que havia
chegado para ver o que estava acontecendo. Meu pai e Vincent gritaram da janela da
cozinha. Alguém pôs diante de Lei um cardápio e uma cesta de pão fresquinho e azeite
importado de um pequeno produtor na Toscana.
“A panna cotta é boa?”, perguntou Lei.
“A melhor”, respondi. “Você já jantou?”
“Ainda não. Lição número um: a vida é curta. Não adie as coisas boas.”
Mordi o lábio inferior para conter um sorriso largo. “Isso significa que o emprego é
meu?”
Ela ergueu a taça com um movimento afirmativo da cabeça. “Saúde.”
2

Um ano depois…

“Estou muito pilhada”, exclamou Lei, os pés batendo no chão sob a mesa de jantar.
“Não me canso disso.”
Abri um sorriso largo, pois, ao longo dos meses em que trabalhamos juntas, aprendi a
me sentir da mesma maneira. Experimentáramos diversos momentos de êxtase, mas
aquele dia — uma tarde de fim de setembro de céu limpo — era especial. Depois de
meses de bajulação e convencimento, estávamos perto de fechar negócio com duas das
maiores estrelas de Ian Pembry. Seria uma bela revanche pelo que ele tinha feito a Lei
algum tempo antes, além de ser excelente para nós.
Lei tinha se produzido para a ocasião, e eu não ficava atrás. Usava um vestido
transpassado Diane von Fürstenberg vintage vermelho, cor que era sua marca registrada.
Com botas pretas, ela transmitia um ar destemido e sensual. Eu estreei um conjunto de
blusa dourada e calça cigarette da coleção de outono da Donna Karan. O conjunto ficava
chique e refletia meu novo eu, uma Gianna que havia evoluído muito desde o ano
anterior.
Impaciente para fechar o negócio, voltei-me para a entrada do bar do hotel e senti uma
onda de adrenalina quando os gêmeos Williams apareceram, como se estivessem
esperando meu olhar. Irmão e irmã causavam uma impressão forte, com seus cabelos
castanho-avermelhados e olhos verdes. Formavam uma grande equipe na cozinha, tendo
se estabelecido no mercado com comida caseira do sul dos Estados Unidos, mas
modernizada e gourmet. Eles vendiam livros e lindas latinhas de temperos. Eles
pareciam ter tudo, mas a realidade era outra: por trás das câmeras, os dois se detestavam.
Esse foi o erro fatal de Pembry ao lidar com a dupla dinâmica. Ele ordenou que
engolissem suas diferenças e fizessem o negócio funcionar, porque estavam faturando
milhões com a história de sucesso em família. Lei oferecera então o que eles realmente
desejavam: a chance de se separar e brilhar por conta própria, capitalizando em cima da
rivalidade, como se fosse uma brincadeira. O plano dela era criar uma rede de
restaurantes que competissem entre si, dentro dos cassinos e resorts Mondego,
mundialmente famosos.
“Chad. Stacy”, Lei cumprimentou, ficando de pé ao mesmo tempo que eu. “Vocês
estão ótimos.”
Chad se aproximou e me deu um beijo antes mesmo de responder a Lei. Ele vinha
flertando comigo havia algum tempo, e isso se tornara parte das negociações.
Em determinados momentos eu ficava tentada a fazer mais do que flertar, mas a
possibilidade de irritar a irmã me continha. Chad não era nenhum santo e sua ambição
não tinha limites. Stacy, no entanto, era a que dava mais trabalho, e parecia ter mais ódio
de mim do que do irmão. Apesar de todas as minhas tentativas iniciais, decidiu que não
gostava de mim, o que dificultava o processo.
Eu suspeitava que ela estivesse dormindo com Ian Pembry — ou que tivesse pelo
menos uma vez — e de alguma forma andava defendendo os interesses dele. Imaginei
que era por isso que não gostava muito de Lei, mas talvez ela fosse só uma daquelas
mulheres que detestam todas as outras.
“Espero que os quartos sejam confortáveis”, eu disse, sabendo que não havia dúvida
de que eram. O Four Seasons não era um hotel cinco estrelas por acaso.
Stacy deu de ombros, o cabelo lustroso deslizando sobre a clavícula. Possuía um rosto
lindo e angelical, pálido e polvilhado de sardas. Era desconcertante como alguém de
aparência tão doce e inocente, com um sotaque sulista tão açucarado, fosse uma megera
tão descontrolada. “São o.k.”
Chad revirou os olhos e puxou a cadeira para mim. “São ótimos, dormi como uma
pedra.”
“Eu não”, chiou a irmã, ocupando graciosamente seu assento. “Ian ficou me ligando o
tempo todo. Está suspeitando de alguma coisa.”
Ela olhou de lado para Lei, como se para medir o impacto de suas palavras.
“Claro que ele suspeita”, concordou Lei com suavidade. “Ian é um homem esperto. O
que me deixa ainda mais surpresa que não tenha trabalhado mais para manter vocês dois
contentes. Ele sabe o que faz.”
Stacy fez um beicinho. Chad me lançou uma piscadela. Em geral, eu não gostava que
piscassem para mim, mas com ele funcionava. Era parte de seu encanto de menino do
interior, embora ele fosse muito sexy. Havia algo a seu respeito que sugeria que talvez
soubesse usar uma espátula para disciplinar garotas malvadas tão bem quanto na
cozinha.
“Ian fez tanto por nós”, protestou Stacy. “Eu me sinto como se estivesse sendo
desleal.”
“Mas não deveria. Você ainda não assinou nada”, respondi. Tinha aprendido que
psicologia reversa era a melhor arma contra a natureza opositiva de Stacy. “Se você
sente que ser parte dos gêmeos Williams é melhor do que Stacy Williams, deve seguir
seu instinto. Foi o que trouxe vocês até aqui.”
De canto de olho, vi Lei contendo um sorriso. Saber que ela ficara satisfeita me fazia
vibrar por dentro. Fora ela quem me ensinara tudo o que eu sabia sobre usar o ego alheio
em meu proveito.
“Não seja burra, Stacy”, resmungou Chad. “Você sabe que é uma oportunidade de
ouro para a gente.”
“Isso é verdade, mas talvez não seja a única oportunidade”, rebateu ela. “Ian diz que
temos que dar uma chance a ele.”
“Você contou para ele?”, perguntou o irmão, impaciente e com uma cara feia. “Puta
merda, a decisão não é só sua, sabia? A minha carreira também está em jogo!”
Lancei um olhar preocupado para Lei, mas ela simplesmente balançou a cabeça
negativamente, de modo quase imperceptível. Não dava para acreditar que podia se
manter tão calma e controlada, considerando que era a oportunidade perfeita de se vingar
de seu rival.
Os restaurantes de Hollywood que Ian havia roubado dela foram à falência quando
deixaram de ser novidade para as celebridades investidoras, que saíram à procura de
outras saídas para seus impostos, que não necessitassem tanto de sua presença física.
Além disso, dois dos chefs mais importantes tinham voltado para o país de origem,
deixando um peso enorme sobre os jovens ombros dos irmãos Williams.
“O acordo com a Mondego, como vocês sabem, é exclusividade da Savor”, afirmou
Lei. “O que Ian propôs?”
O que tinha dado errado? Olhei de um irmão para o outro, depois para minha chefe.
Os contratos estavam na minha bolsa, debaixo da mesa. Estávamos na reta final e, de
uma hora para outra, nosso cavalo reduzia o passo.
Senti um arrepio de reconhecimento, mas imaginei que fosse apenas um
pressentimento ruim, como um aviso de que o negócio tinha afundado muito antes
daquela reunião.
Então, eu o vi.
Tudo dentro de mim parou, como se eu pudesse me tornar invisível a um predador
caso não me movesse. Ele entrou no bar com um passo provocante que me fez fechar as
mãos em punhos debaixo da mesa. Aquele caminhar, relaxado, suave e confiante. Ainda
assim, de alguma maneira ele transmitia ao cérebro feminino que havia um poder intenso
entre aquelas pernas longas e fortes, e que ele sabia usá-lo.
Meu Deus, e como sabia.
Usando um suéter cinza e calça social de um tom mais escuro, aparentava ser um
executivo bem-sucedido tirando um dia de folga, mas eu sabia que não era isso. Jackson
Rutledge jamais se dava um dia de folga. Ele trabalhava duro, jogava duro e fodia duro.
Estendi a mão trêmula para pegar um copo de água, rezando para que ele não me
reconhecesse como a menina que se apaixonara perdidamente por ele. Eu não parecia
mais a mesma. Não era mais a mesma.
Jax também estava diferente. Mais magro. Mais sério. Marcadas pela nitidez das
linhas do queixo e das maçãs do rosto, suas feições pareciam mais impressionantes. A
visão dele me fez tomar um fôlego profundo e trêmulo, reagindo à sua presença como se
tivesse sofrido um golpe físico.
Nem percebi que Ian Pembry caminhava ao seu lado, até que eles pararam junto à
nossa mesa.

“Será que Jackson Rutledge é parente do senador Rutledge?”, perguntou Lei


placidamente, ao nos acomodarmos no banco traseiro do seu sedan. “Ou de qualquer um
dos Rutledge, aliás?”
O motorista saiu com o carro, e eu mexi no tablet só para ter uma desculpa para evitar
contato visual. Temia revelar demais, temia que os olhos perspicazes de Lei notassem o
quanto eu estava abalada.
“Ele é”, respondi, com os olhos fixos na tela do tablet e no rosto maravilhoso que
achava que nunca tornaria a ver — ou melhor, que torcera para nunca mais ver.
“Jackson e o senador são irmãos.”
“O que Ian está fazendo com um Rutledge?”
Eu tinha me perguntando a mesma coisa quando vi o negócio pelo qual havia
trabalhado tanto desmoronar na minha frente — tínhamos chegado com contratos e
canetas em punho e saímos com as mãos abanando. Infelizmente, perdi o fio da meada
da conversa no momento em que Jax deu um beijo no rosto de Stacy. O sangue latejando
em meus ouvidos abafou todo o resto.
As unhas vermelhas de Lei tamborilavam em silêncio no apoio de mão acolchoado do
carro. Manhattan se expandia à nossa volta, as ruas formigando de carros, e as calçadas,
de gente. O vapor se erguia sinuosamente do metrô abaixo de nós, e as sombras nos
cobriam, a luz do sol escondida pelos arranha-céus.
“Não sei”, respondi, um tanto intimidada pela energia irradiada por aquela mulher,
uma tigresa à procura da presa. Será que Jackson tinha noção do que estava fazendo ao
se meter no caminho de Lei? “Jackson é o único homem da família Rutledge que não
ocupa um cargo político em algum canto do país”, prossegui. “Ele gerencia a Rutledge
Capital, uma firma de capital de risco.”
“É casado? Tem filhos?”
Odiava que eu soubesse a resposta sem ter que consultar a internet. “Não. Está sempre
com uma mulher diferente. Em público, prefere loiras de famílias importantes, mas
jamais deixa passar a oportunidade de dar uns amassos em alguém mais… chamativo.”
Não me esquecia de como a mulher do primo de Jax, Allison Kelsey, uma vez me
descrevera. Você chama a atenção, Gianna. Os caras gostam de comer mulheres assim.
Eles ficam imaginando que estão com uma atriz pornô. Mas é isso que os espanta
depois. Aproveite enquanto pode.
A voz melodiosa e as palavras cruéis de Allison ecoaram em minha mente,
relembrando-me da razão pela qual alisei o cabelo escuro e naturalmente ondulado e
parei de usar unhas postiças que faziam eu me sentir mais sensual. Não era culpa minha
a genética ter me presenteado com uma bunda exageradamente generosa e seios fartos,
mas passei a buscar um perfil mais discreto e ser menos chamativa.
Lei virou para mim seu olhar aguçado. “Você concluiu tudo isso com cinco minutos
de internet?”
“Não.” Suspirei. “Concluí tudo isso depois de cinco semanas na cama dele.”
“Ah.” Um brilho de interesse tomou conta de seus olhos escuros. “Então é ele. Agora
está ficando interessante.”

Estava preparada para ouvir Lei me dizer que o conflito de interesses seria um
problema. Fazia um enorme esforço mental para achar um jeito de diminuir a
importância do fato.
“Não foi nada sério”, afirmei, enquanto subíamos no elevador. Pelo menos, não para
ele… “Foi mais um lance de uma noite só que se esticou. Acho que ele nem me
reconheceu.”
E isso doera. Jax nem olhara para mim.
“Você não é uma mulher que um homem esquece, Gianna.” Ela parou, pensativa.
“Acho que podemos dar um jeito na situação, mas se for pessoal demais para você,
precisamos conversar sobre isso agora. Não quero te deixar desconfortável. Também não
quero colocar meu negócio em risco.”
Meu primeiro instinto foi mentir. Queria que Jax significasse tão pouco para mim
quanto eu para ele. Entretanto, respeitava Lei e gostava do meu emprego demais para ser
falsa naquele momento. “Não posso dizer que sou indiferente a ele.”
Lei fez que sim com a cabeça. “Deu para notar. Ainda bem que está sendo honesta a
respeito. Vamos manter você no negócio por enquanto. Pode desestabilizar Rutledge, e
precisamos disso. E você é minha porta de entrada com Chad Williams. Ele gosta de
negociar com você.”
Soltei um suspiro de alívio. Ela estava errada sobre Jax, mas eu não ia estragar tudo
ressaltando isso. “Obrigada.”
Saímos do elevador e esperamos pelo zumbido das portas de vidro. A recepcionista,
LaConnie, ergueu as sobrancelhas ao me ver, notando nossa agitação. Deveríamos
retornar triunfantes, e não frustradas.
“Alguma ideia de por que Rutledge de repente teria interesse na indústria de
restaurantes?”, Lei perguntou, enquanto seguíamos para sua sala.
“Se eu tivesse que dar um chute, diria que alguém da família devia um favor a
Pembry.” Era assim que os Rutledge operavam. Trabalhavam juntos como uma equipe
bem entrosada e, apesar de Jax não ser político, sabia desempenhar seu papel.
Lei foi direto para a mesa e se sentou. “Precisamos descobrir em que moeda ele está
recebendo.”
Notei o tom sutil de irritação em sua voz e o compreendi. Havia anos que Ian Pembry
a vinha sabotando de incontáveis maneiras, mas Lei esperara sua hora — um exercício
de paciência que a tinha tornado uma executiva melhor. Minha chefe estava determinada
a provar que havia aprendido bem sua última lição sobre traição, e eu estava determinada
a ajudá-la nisso.
“Certo.” Eu entendia um pouco o que Lei estava passando. Ainda tinha raiva de mim
mesma por ter ido para a cama com Jax. Sabia quem era, conhecia sua reputação, mas
ainda assim pensei que era sofisticada o suficiente para ele.
Pior, iludi-me a ponto de achar que Jax se importava. Ele morava em Washington; eu,
em Las Vegas. Durante cinco semanas, Jax pegava um avião para me ver todo fim de
semana e um ou outro dia da semana. Eu me dizia que um cara tão bonito e sensual
como ele não teria todo esse trabalho e despesa só para comer alguém.
O que não tinha levado em conta era como Jax era rico. O suficiente para achar
divertido atravessar o país de avião só para pegar alguém e cauteloso o bastante para
manter sua amante proibida bem longe dos olhos do público e da família.
O telefone da minha mesa começou a tocar e corri da sala de Lei para atendê-lo. Eu
trabalhava perto da porta do escritório dela, o que fazia de mim a última barreira que
qualquer visitante enfrentaria antes de uma reunião com Lei.
“Gianna.” A voz de LaConnie chegou cortada e breve. “Jackson Rutledge está na
portaria, querendo falar com Lei.”
Odiava o jeito como meu coração pulava ao escutar aquele nome. “Ele está aqui?”
“Foi o que eu acabei de dizer”, caçoou ela.
“Mande subir. Eu o acompanho até a sala de reuniões.” Coloquei o fone no gancho e
voltei à sala de Lei. “Rutledge está subindo.”
Suas sobrancelhas se ergueram. “Está com Ian?”
“LaConnie não falou.”
“Interessante.” Ela olhou para o relógio de pulso incrustado de diamantes. “São quase
cinco da tarde. Você pode ficar para a reunião com Rutledge ou pode ir pra casa, você é
quem sabe.”
Sabia que devia ficar. Já tinha a sensação de que tinha dado mancada no Four
Seasons. A aparição inesperada de Jax me chocara demais para lidar com a situação com
os gêmeos Williams. Infelizmente, eu não estava em melhores condições agora.
“Em vez de ficar por aqui, talvez eu devesse aproveitar para falar com Chad”, sugeri.
“Tentar sacar o que ele acha disso tudo. Sei que queríamos levar os dois de uma vez,
mas mesmo que consigamos só um gêmeo, já vai ser um golpe e tanto em Pembry.”
“Boa ideia.” Ela sorriu. “Vai fazer bem ao Rutledge me conhecer um pouco melhor,
não acha? É melhor deixar bem claro que não sou uma cretina, caso Ian o tenha
convencido do contrário.”
Quase sorri ao imaginar Jax e Lei batendo de frente. Ele estava acostumado com
mulheres caindo aos seus pés, tanto por sua aparência devastadora quanto pelo
sobrenome, que era a coisa mais próxima de realeza que os Estados Unidos tinham para
oferecer.
“Vou fazer uma pesquisa depois de conversar com Chad e ver se descubro a conexão
entre Pembry e a família Rutledge” eu disse, retirando-me da sala de costas.
“Ótimo.” Ela juntou as mãos com os dedos esticados e descansou o queixo sobre eles,
avaliando-me. “Desculpe a intromissão, Gianna, mas você se apaixonou por Jackson?”
“Achei que estávamos apaixonados.”
Lei suspirou. “Queria que essa fosse uma lição que as mulheres não tivessem que
aprender da pior maneira.”
3

Antes de rumar para a recepção, peguei a bolsa na minha mesa e a segurei como se
fosse um talismã que me permitiria me afastar de Jax antes que ele percebesse quem eu
era. O caminho até a saída pareceu demorar uma eternidade.
Era duro engolir o fato de que ele ainda me afetava tanto. Jax só estivera em minha
vida por um curto período. Eu saíra com outros dois caras e achava que já o tinha
superado.
Quando fiz a curva para passar pela recepção, vi que ele estava estudando um
mostruário dos nossos livros de culinária mais vendidos e perdi o fôlego por um instante.
Sua forma alta e vigorosa era realçada à perfeição por um terno muito bem cortado, uma
marca de respeito por Lei que eu tinha que reconhecer. Nunca o vira arrumado com tanta
formalidade. Por incrível que pareça, tínhamos nos conhecido num bar. Eu havia saído
com uns colegas, e ele estava numa despedida de solteiro.
Eu deveria saber que não podia acabar bem.
Mas ele era incrível. O cabelo escuro, cortado rente embaixo e ligeiramente mais
comprido em cima. Os olhos castanhos quase pretos, implacáveis em sua intensidade, e
cílios espessos. Como eu podia ter pensado que eram meigos e carinhosos? Aquela boca
lasciva e sensual me cegara, assim como a covinha. Não havia nada de leve a respeito de
Jackson Rutledge. Ele era um homem duro e cínico, fruto de uma estirpe impiedosa.
Jax virou-se para mim, olhando-me de cima a baixo, devagar e intensamente, e meus
dedos se fecharam de nervoso.
Todos sabiam que Jax era um connaisseur de mulheres. Eu disse a mim mesma que
qualquer uma receberia aquela olhada, mas, no fundo, sabia que não era verdade. Meu
corpo se lembrava dele. Lembrava-se do seu toque, do seu cheiro, da sensação de sua
pele…
A julgar pelo modo como me fitava, as mesmas memórias faziam o sangue dele
esquentar.
“Olá, sr. Rutledge”, cumprimentei formalmente, pois até então Jax não dera sinal
algum de que soubesse quem eu era. Enunciei cada palavra com cuidado, numa voz
contida que não era bem a minha. Em geral, já não tinha mais que me esforçar para
esconder o sotaque do Brooklyn, mas ele fazia com que eu me esquecesse de mim
mesma.
Jax fazia com que eu quisesse me esquecer de tudo.
“A sra. Yeung já está vindo”, prossegui, parando a poucos passos dele de propósito.
“Vou acompanhar você até a sala de reuniões. Aceita água? Café? Chá?”
Seu peito expandiu-se com uma inspiração profunda. “Não, obrigado.”
“Por aqui.” Passei por ele, conseguindo ainda lançar um sorriso forçado para
LaConnie ao passar por ela. Eu sentia o cheiro dele, aquele traço sutil de bergamota e
especiarias. Sentia seus olhos em minhas costas, na minha bunda, nas minhas pernas.
Fiquei extremamente consciente de meu caminhar, o que por sua vez me fez sentir
desengonçada.
Jax não proferiu uma palavra sequer. Eu tinha medo de falar, a garganta seca demais
para que eu soasse natural. Sentia um impulso terrível — quase desesperador — de tocá-
lo como um dia fizera. Era difícil acreditar que já tivera aquele homem em minha cama.
Que já o tivera dentro de mim. Como era possível que tivesse reunido coragem para
encará-lo?
Senti um alívio ao tocar a maçaneta abençoadamente fria da porta da sala de reuniões
e abri-la.
O hálito de Jax soprou de leve em minha orelha. “Até quando vai fingir que não me
conhece, Gia?”
Ao ouvi-lo sussurrar o apelido que apenas ele usava, fechei os olhos.
Empurrei a porta e dei um passo para dentro, ainda segurando a maçaneta para não
deixar dúvidas de que não ficaria ali.
Jax chegou bem perto de mim, e ficamos cara a cara. Era um pouco mais que um
palmo mais alto que eu — mesmo eu estando de salto. Suas mãos estavam nos bolsos,
sua cabeça estava inclinada na minha direção. Invadindo meu espaço pessoal. Era íntimo
demais. Familiar demais.
“Por favor, volte para o seu lugar”, falei baixinho.
Ele se moveu, mas não se afastou. Sua mão direita deixou o bolso e desceu ao longo
do meu braço, do cotovelo até o pulso. Senti seu toque através da seda da blusa,
agradecendo às mangas compridas por esconderem meus pelos arrepiados.
“Você mudou tanto”, murmurou ele.
“Tanto que nem me reconheceu hoje mais cedo.”
“Meu Deus. Você acha que eu não sabia que era você?” Jax virou as costas, mas isso
não diminuiu seu impacto. A vista de trás era tão esplêndida quanto a da frente. “Você
não é capaz de se esconder de mim, Gia. Reconheceria você até vendado.”
Fiquei paralisada com o choque e a confusão por um instante. Havíamos passado de
distantes e impessoais a perigosamente íntimos num piscar de olhos. “O que está
fazendo aqui, Jax?”
Ele caminhou até as janelas e fitou a cidade lá fora. Não longe dali, o Central Park era
uma mancha verde já pincelada com os vermelhos e laranjas do outono, uma explosão
vibrante de cores numa selva de pedra. “Vou oferecer a Lei Yeung o que for necessário
para ela ir brincar no quintal de outra pessoa.”
“Não vai funcionar. É pessoal.”
“Negócios nunca deveriam ser pessoais.”
Dei um passo para trás, em direção à porta, ansiosa para escapar. A sala de reuniões
era espaçosa e arejada, com janelas do piso até o teto de um lado e uma divisória de
vidro do outro. As paredes eram de um azul leve, e havia um bar bem equipado à direita
e um grande monitor à esquerda. Ainda assim, Jax dominava o ambiente, dando-me a
sensação de ser um bicho enjaulado.
“Nada é pessoal, certo?”, retruquei, lembrando-me de como um dia ele simplesmente
sumiu. E nunca mais apareceu.
“Já foram entre nós”, ele disse, com sua voz grave e um pouco rouca. “Um dia.”
“Não, não foram.” Não para você…
Ele se virou de repente, e eu dei mais um passo cauteloso para trás, mesmo tendo
quase a sala inteira entre nós. “Então, nada de ressentimentos. Ótimo. Não há motivos
para não recomeçarmos de onde paramos. Minha reunião com Yeung não vai demorar
nada. Quando terminar, podemos ir para meu hotel e botar o papo em dia.”
“Vá se foder”, devolvi.
Sua boca se curvou num sorriso, revelando aquela covinha deliciosa. Aquilo o
transformava, maquiava o perigo que representava com um toque de charme juvenil. Eu
detestava e amava aquilo.
“Agora, sim”, comentou Jax, com uma nota inconfundível de triunfo na voz. “Estava
quase achando que a Gia que eu tinha conhecido não existia mais.”
“Não brinque comigo, Jax. Você está acima disso.”
“Quero estar em cima de você.”
Sabia que ele ia dizer aquilo, caso eu desse a deixa, mas precisava ouvir. Tinha que
escutá-lo pronunciar aquelas palavras. Jax era muito direto quando se tratava de sexo,
sensual e natural como um animal. Eu adorava aquilo, porque tratava o sexo da mesma
maneira.
Eu era insaciável. Nada mais na vida me fazia sentir daquele jeito.
“Estou saindo com alguém”, menti.
Jax pareceu não titubear, mas, de algum jeito, fiquei com a impressão de que havia
tocado em uma ferida. “Aquele tal do Williams?”, ele perguntou, tranquilo demais.
“Olá, sr. Rutledge”, anunciou-se Lei, irrompendo na sala com seus sapatos Jimmy
Choo matadores. “Presumo que tem boas notícias.”
“Talvez tenha.” Ele voltou sua atenção para ela tão completamente que me senti
dispensada.
“Vou deixar vocês trabalharem”, disse, retirando-me. O olhar de Lei cruzou com o
meu, e captei a mensagem silenciosa. Teríamos que conversar em breve.
Não tornei a olhar para Jax, mas ainda assim recebi o mesmo recado dele.

Liguei para Chad Williams assim que passei pela catraca da portaria. “Oi”, eu disse
assim que escutei seu sotaque sulista arrastado. “Sou eu.”
“Estava torcendo para que você ligasse.”
“Tem planos para o jantar?”
“Hã… Posso não ter.”
Sorri, um pouquinho culpada de ter tomado o lugar de quem quer que ia levar um
bolo, mas era gostoso massagear um pouco o ego. Reencontrar Jax acabara com minha
autoconfiança.
Não podia esquecer como ele era. Atrevido, provocante, afetuoso. Se fechasse os
olhos, ainda era capaz de senti-lo chegando por trás, tirando meu cabelo do caminho e
beijando meu pescoço com aquela boca gostosa. Ainda podia ouvi-lo gemendo meu
nome quando estava dentro de mim, como se o prazer fosse demais para suportar.
“Alô? Gianna?”
“Oi, desculpa.” Comecei a arrancar os grampos que prendiam meu cabelo alisado num
coque. “Conheço um restaurante italiano que é uma delícia. Aconchegante e informal. A
comida é excelente.”
“Fechado.”
“Vou chamar um táxi. Te pego em uns quinze minutos. Combinado?”
“Espero você.”

Como prometido, Chad estava na calçada quando o carro encostou. Usava calça jeans
preta, botas e uma camisa Henley verde-escura do tom dos seus olhos. Em se tratando de
companhia para o jantar, era da melhor qualidade.
Chad deu um passo em direção ao táxi, mas quase foi atropelado por um motoboy e
pulou para trás, xingando.
“Meu Deus”, resmungou, ao se ajeitar ao meu lado no assento. Em seguida, olhou
para mim, enquanto o carro saía e se misturava ao trânsito da hora do rush. “Gostei do
seu cabelo solto. Fica bem.”
“Obrigada.” Tinha levado tempo para me acostumar com o cabelo preso. Era tão
grosso e cheio que o peso chegava a me dar dor de cabeça… como a que eu estava tendo
bem naquele momento. “Tenho que confessar uma coisa…”, comecei.
“Espero que seja um belo pecado.”
“Humm, não. É que vamos nos meus pais.”
Ele pareceu surpreso. “Você vai me apresentar aos seus pais?”
“É isso aí. Eles têm um restaurante. Assim não precisamos ficar esperando por uma
mesa — coisa que é bem difícil numa quinta à noite —, e poderemos ficar o tempo que
quisermos.”
“Você tem planos de ficar comigo muito tempo, é?”, brincou ele.
“Bem que eu gostaria. Acho que a gente ia funcionar muito bem juntos.”
Chad fez que sim, retomando a seriedade. “Stacy sabe que o que vocês estão
oferecendo é exatamente o que queremos, mas… ela está tendo um caso com Ian, e isso
complica tudo.”
“Imaginei.” Ian Pembry era um cinquentão elegante e distinto, de cabelos grisalhos e
olhos azuis penetrantes. Não era propriamente bonito, mas tinha um carisma e uma conta
bancária que atraíam muitas mulheres. Stacy tinha um desafio nas mãos: desde Lei, ele
não mantinha um relacionamento longo. “Qual é a proposta dele para vocês ficarem?”
E onde entra Jax nessa história? Será que ao me ver ele tinha ficado ao menos um
pouco abalado?
“Ian diz que pode montar um negócio parecido com o de vocês ou até melhor, porque
Lei não tem o cacife necessário. E é por isso que ela está tentando roubar os chefs dele.”
“Você sabe que isso é balela.”
“É, eu sei.” Ele sorriu. “Você não trabalharia para Lei se ela não fosse a melhor.”
“E a rede de hotéis Mondego é cinco estrelas em todos os quesitos”, aproveitei para
relembrar. “Eles não topariam trabalhar com alguém que não fosse top. É uma
oportunidade única, Chad. Não deixe Stacy tirar isso de você.”
“Droga.” Ele apoiou a cabeça contra o encosto do carro. “Acho que não funcionamos
separados. É por isso que essa ideia de vocês não vai dar certo.”
“Vai dar certo. Mas você é capaz disso sozinho também.”
Chad tornou a me olhar, buscando alguma dica. “Abra o jogo, Gianna. Você vai dizer
qualquer coisa para fechar esse negócio, não vai?”
Lembrei-me do que Jax dissera sobre nunca deixar os negócios se tornarem pessoais.
Para mim, era sempre pessoal. Eu me importava.
“Tenho minhas razões”, admiti, e agora Jax era uma delas. Tinha me sacrificado
demais para ele chegar como quem não queria nada, valendo-se de sua fortuna, e
arruinar tudo. “Mas, não, não tenho porque enganar você. Lei e eu não ganharíamos
nada se você não tivesse sucesso. Não vou sumir assim que sua assinatura secar,
prometo.”
“E agora sempre vou poder achar você, através dos seus pais”, ele brincou, relaxando
um pouco.
“Há mais de trinta anos no mesmo estabelecimento.”
“Imagino que seja uma garantia tão boa quanto qualquer outra.”
Tendo deduzido quem Chad era pelas descrições que eu havia feito dele, minha
família não poupou esforços para recebê-lo quando chegamos ao Rossi’s. Ocupamos
uma mesa de canto e todos vieram se apresentar, dando a Chad uma dose cavalar da
hospitalidade Rossi.
Coloquei-o na cadeira de frente para o salão e sentei do outro lado da mesa. Queria
que ele sentisse a energia, que visse a cara dos clientes saboreando uma ótima refeição.
Queria que recordasse por que desejava o que a Savor estava oferecendo.
Após um brinde, ele declarou: “Você tinha razão. Este lugar é ótimo”.
“Jamais mentiria para você.”
Chad soltou uma risada. Era um pouco desmedida, porém bastante livre, e gostei dela.
Um tanto como ele próprio. Chad me atraía num nível confortável. Nada como a
explosão de corpo e mente que sentira no segundo em que botara os olhos em Jax.
Ninguém havia gerado aquela reação senão ele.
“Boa jogada me trazer aqui”, disse Chad, correndo a ponta do dedo ao redor da borda
da taça de vinho. Suspeitava que fosse pedir uma cerveja, mas não. “Para demonstrar
que tem o negócio no sangue. Não é só um emprego.”
“Minha família acaba de abrir a primeira filial do Rossi’s em Upper Saddle River.”
“Onde fica isso?”
“Nova Jersey. Um lugar fino. Meu irmão Nico está encabeçando o negócio.
Acabamos de completar três meses de funcionamento.”
“Então por que você não coloca sua família na jogada da Mondego?”
“Eles não querem. Gostam disto aqui…”, gesticulei para o restaurante com um
movimento largo de mão. “Comunidade. Abrir franquias nunca foi o sonho deles.”
Ele me estudou. “Você faz soar como se seus sonhos fossem diferentes dos deles.”
Recostei-me na cadeira. “E acho que são mesmo. Quero ajudar minha família a
alcançar o que deseja, mas quero algo diferente.”
“Tipo o quê?”
“Não descobri ainda.” Apesar de um dia ter achado que tinha descoberto. Um dia…
“Acho que só vou saber quando estiver bem na minha cara.”
“Talvez eu possa ajudar você a matar o tempo enquanto espera”, sugeriu ele, ousado.
Sorri. “É uma ideia.”
Talvez Chad fosse o que eu precisava. Já fazia muito tempo que eu não namorava.
Vinha trabalhando demais e socializando de menos. Não me enganaria a ponto de achar
que um pouco de sexo me daria uma imunidade mágica contra Jax, mas certamente não
faria mal. Sem dúvida amenizaria o problema, e Jax não ficaria em Nova York por muito
tempo. Sua vida e seu trabalho se dividiam entre Washington e o norte da Virgínia, e
logo, logo outro Rutledge o chamaria para algum serviço. Ele era o faz-tudo da família.
Aproximei-me de Chad, deixando a possibilidade aberta.
A boca dele se curvou num sorriso muito masculino, aquele levemente triunfante de
quem sabe que está prestes a se dar bem. Chad esticou a mão até a minha, seu olhar
passando por cima do meu ombro de um jeito relaxado. Então ele ficou tenso e franziu a
testa. “Merda.”
Sabia para quem estava olhando antes mesmo de me virar.
4

Senti na pele uma eletricidade que conhecia bem demais. Resolvi não me virar nem
dar a Jax a satisfação de ver meu rosto, que provavelmente retratava minha surpresa,
frustração e irritação.
Ele tinha mesmo muita cara de pau para ir até o Rossi’s depois de ter partido meu
coração. Minha família se lembrava dele — lembrava a última noite que passamos
juntos. Tínhamos ido a Nova York para passar o fim de semana, só para que eu pudesse
apresentá-lo à família sobre a qual tanto falava. Ficáramos até tarde no restaurante,
muito tempo depois de fechar, comendo, bebendo e dando risada com meus irmãos e
meus pais. Assim como eu, eles se apaixonaram por Jax. Naquela noite, acreditei que
realmente daríamos certo juntos.
Foi a última vez que o vi até entrar no bar do Four Seasons.
Chad me olhou. “Você convidou Stacy também?”
“Não.” Confusa, finalmente olhei por cima do ombro. Ver Jackson ajudando Stacy a
tirar a jaqueta jeans fez meus dentes rangerem. Chad não tinha noção de onde eu ia levá-
lo para jantar, mas Jax tinha.
E, sem mais, ele traçou uma reta até nós, trazendo Stacy junto. Minha mãe se pôs no
caminho, o sorriso largo como sempre, mas com as penas ouriçadas, em modo mãe
coruja.
Olhei para Chad. “A gente pode fugir pelos fundos.”
Ele riu, mas seus olhos estavam sérios.
Angelo veio até nós. “Vocês o estavam esperando?”, perguntou, apontando Jax com a
cabeça.
“Não…” Fitei Chad. “Eles não vão sentar com a gente.”
“Ótimo.” Chad recostou-se contra o banco, o olhar fumegante. “Stacy escolhe a
dedo… Ela pode ficar com o negócio do Ian se quiser. Eu fico com você e a Mondego.”
“Tá certo.” Angelo olhou para mim. “Vou garantir que eles fiquem em outra parte do
salão.”
Tomei um gole rápido de vinho enquanto meu irmão se afastava.
Chad me estudou por alguns instantes. “Ele toma conta de você.”
“É o jeito Rossi de fazer as coisas.”
“Stacy e eu éramos assim. Antes do Ian aparecer.”
“Sério?” Tentei ignorar a sensação do olhar de Jax em cima de mim. Podia senti-lo me
observando. “O que aconteceu?”
Chad encolheu os ombros. “Vai saber. Acho que o poder subiu à cabeça dela. Nem sei
se ainda pensa na comida. Está ocupada pensando em ficar rica e famosa.”
Minha mãe apareceu com mais vinho, pousando a mão sobre meu ombro enquanto
enchia mais uma vez nossas taças. Senti o toque suave de suas unhas feitas e escutei a
indagação silenciosa: Tudo bem com você?
Pus minha mão sobre a dela e apertei, em resposta. Não, não estava bem, mas o que
eu podia dizer? Não daria a Jax a satisfação de recusar o atendimento, nem minha
família. Ele comeria uma excelente refeição, com nosso melhor garçom e um vinho de
sua escolha por conta da casa.
Minha família pecaria pelo excesso. Ia afogá-lo com gentileza. Demonstraria que não
éramos mesquinhos nem baixos. Mas aquilo custaria caro. A todos nós. Meu cantinho
fora invadido, a energia dele permeando o espaço e meus sentidos. Cada nervo do meu
corpo titilava com sua presença.
Lori, umas das garçonetes, veio anotar os pedidos. Chad e eu decidimos dividir uma
massa. O tempo todo, durante a entrada e a salada, fiquei esperando que Jax viesse até
nós. Estava terrivelmente ligada em sua presença, incapaz de dar a Chad a atenção que
vinha oferecendo até então. Ele também desanimou, mantendo o olhar fixo no prato ou
em meu rosto. Nós dois evitávamos olhar para os outros fregueses.
Na minha cabeça, Jax estava se divertindo só para me afrontar. Por que teria levado
Stacy para jantar, se ela estava com Ian? Será que Stacy saía com os dois? Afinal de
contas, não havia demonstrado hesitação ao cumprimentá-lo com um beijo no rosto
quanto Jax tinha aparecido, mais cedo.
Antes de servirem o prato principal, Chad foi ao banheiro, e eu dei uma olhada em
meu celular. Tinha uma chamada perdida de Lei. Quando Chad voltou com uma cerveja
na mão, sorri e disse: “Já volto”.
Segui na direção dos banheiros, mas desviei e entrei no escritório dos fundos,
fechando a porta para isolar o barulho. Liguei para Lei e levei o aparelho ao ouvido.
“Gianna”, atendeu ela. “Tenho que parabenizar você por seu bom gosto.”
“Escolho bem, não acha?” Andei até a parede oposta, onde havia um retrato de família
pendurado. Eu devia ter uns doze anos, usava aparelho nos dentes e estava com o cabelo
desgrenhado. Nico, Vincent e Angelo aparentavam diversos níveis de esquisitice
adolescente. Meu pai estava imortalizado em seu auge, assim como minha mãe, que
pouco havia envelhecido desde então. “Como foi, então?”
“Como esperado. Você adivinhou direitinho. Jackson disse que se envolveu no
assunto como um favor a alguém.”
“Desculpa, ainda não tive tempo de ir atrás dos detalhes… Estou com Chad desde que
saí… Mas aposto que é algum Rutledge. Quando Jackson não está apostando alguns
milhões, está arrumando a bagunça dos outros membros da família.” E pegando
mulheres bonitas… “Quanto ao Chad, ele está na nossa, mas acho que devemos redigir
um contrato novo o mais cedo possível, antes que algo aconteça e ele mude de ideia. Jax
não vai dar o braço a torcer tão fácil. Chegou do nada aqui no Rossi’s, e ainda trouxe a
Stacy.”
Lei riu. “Desculpe, mas gostei dele.”
Retorci os lábios com pesar. “Acontece.”
“Ian ligou.”
“Ah é? Conte mais.”
“Pediu para me encontrar hoje à noite.”
“Ah, talvez seja por isso que Jax está com Stacy. Está de babá.” Para minha irritação,
isso me encheu de alívio.
“Pode ser. De qualquer forma, recusei. Tenho a impressão de que nossos homens
estão tentando fechar o cerco contra nós, o que significa que estamos no caminho certo.
Sinceramente, não me divirto tanto há anos.”
Nossos homens. Bufei e me virei a tempo de ver a porta se abrindo… e Jax
aparecendo. “Tenho que ir, Lei, mas estou aqui se precisar de mim.”
“Amanhã de manhã a gente conversa melhor, de cabeça fresca. Boa noite, Gianna.”
“Pra você também.” Pus meu telefone de lado.
Medimos um ao outro durante um longo minuto. Ele estava vestido com o suéter
cinza e a calça que usara mais cedo naquele dia, um estilo casual ao qual estava mais
acostumada, e que preferia. Uma mecha do cabelo escuro caiu sobre a testa, atenuando a
severidade de sua beleza. Jax estava recostado contra a porta, as mãos nos bolsos, as
pernas cruzadas na altura dos tornozelos, porém apenas um idiota deixaria de notar o ar
predatório que o cercava. Seus olhos semicerrados estavam vigilantes e atentos.
“Sinto falta dos seus cachos”, ele disse, afinal.
Escorei-me contra a escrivaninha do meu pai e cruzei os braços. “Isso é passado.”
Está uns dois anos atrasado…
“Você estava quase dando o bote quando cheguei. Está pensando em dar para o Chad
Williams porque está a fim dele ou porque quer que assine o contrato?”
Outra mulher talvez tivesse ficado de boca fechada, porque a pergunta não merecia
resposta. Permaneci calada porque fiquei magoada. Nunca vira Jax ser malvado ou cruel
de propósito — e ele simplesmente sumira da minha vida.
“Gia…”
“Não me chame assim.”
“Como você prefere?”
Meu pé batucava inquieto. “Prefiro não ver mais você, nem saber nada a seu
respeito.”
“Por quê?”
“Imagino que seja óbvio.”
Sua boca maravilhosa se contraiu. “Não para mim. A gente se conhece e se dá bem.
Muito bem mesmo.”
“Não vou dormir com você de novo!”, exclamei rispidamente, sentindo as paredes se
fecharem ao nosso redor. Ele tinha sempre o mesmo efeito sobre mim. Com ele, eu não
conseguia prestar atenção em mais nada.
“Por que não?”
“Pare de me perguntar isso!”
Jax se endireitou e o escritório ficou ainda menor. Minha respiração acelerou e meu
olhar disparou para a porta atrás dele.
“É uma pergunta válida.” Jax ajeitou a mecha sem tirar os olhos de mim. “Diga por
que está tão zangada.”
Fui tomada por um surto de pânico. “Você sumiu!”
“Sumi?” Ele deu um passo na minha direção. “Está dizendo que não sabia onde me
encontrar?”
Franzi a testa, confusa. “Como assim?”
“Tinha que acabar, e acabou.” Jax se aproximou. “Discretamente. Sem cena. Sem
memórias desagradáveis. Nós…”
“Sem escândalo.” Respirei fundo, mais ofendida do que nunca. Em seguida, retruquei,
em autodefesa. “Então para que cometer o mesmo erro?”
“Não podemos ser amigos?”
“Não.”
Jax invadiu meu espaço pessoal. “Não podemos fazer negócios juntos?”
“Não.” Descruzei os braços. “Você tornou isso pessoal logo de cara.”
Ele sorriu, exibindo a maldita covinha. “Você fica muito gostosa quando está brava
comigo. Devia ter irritado você mais vezes.”
“Cai fora, Jax.”
“Eu caí. Parece que não deu certo.”
“Na verdade, deu, sim. Volta lá pro seu mundo e me esquece.”
“Meu mundo.” O sorriso sumiu com o brilho em seus olhos. “Certo.”
Jax tinha interrompido o avanço, então passei por ele depressa, ciente de que tinha
desaparecido havia muito tempo e que Chad estava à minha espera.
Jax me segurou pelo braço e falou em meu ouvido: “Não vá pra cama com ele”.
Senti um arrepio. Estávamos ombro a ombro, virados para direções opostas, o que era
uma boa representação do nosso relacionamento. Eu podia sentir seu cheiro, seu calor, e
me lembrei de outras ocasiões em que ele havia falado junto ao meu ouvido.
Jax era um sedutor. Mesmo quando eu já estava no papo, ele me esquentava bem
antes de me levar para a cama. Lançava-me longos olhares sensuais, tocava-me com
frequência, murmurando safadezas que me faziam corar.
“E você, Jax, está se guardando?”, rebati.
“Eu me guardo, se você se guardar.”
Deixei escapar uma risada agressiva. “Ah, tá.”
Ele sustentou meu olhar. “Posso provar.”
“Não estou interessada em joguinhos.”
Alguém chacoalhou a maçaneta, fazendo-me pular de susto. “Gianna? Você está aí?”
Vincent. “Estou”, respondi alto. “Já saio.”
“Não vá pra cama com ele”, repetiu Jax, os olhos sombrios e sérios. “Estou falando
sério, Gia.”
Soltei o braço e me atrapalhei para abrir a tranca, mas logo escancarei a porta.
Meu irmão estava com a chave do escritório numa das mãos. Ele olhou por cima do
meu ombro para Jax. “Perdeu a vontade de viver, Rutledge?”
Revirando os olhos, empurrei Vincent para trás. “Deixa.”
“Vá caçar em outro lugar, cara”, insistiu Vincent, bloqueando a passagem assim que
passei por ele.
Por um instante, pensei em intervir, mas logo desisti da ideia. Eles eram grandinhos.
Podiam se resolver sozinhos.
Quando cheguei ao salão do restaurante, deparei com uma sacola com a comida
embrulhada para levar na mesa diante de Chad, que se levantou ao me ver.
“O que você acha de a gente levar isso aqui de volta para o hotel e comer em paz?”,
perguntou ele.
Olhei ao redor, notando facilmente o cabelo vivo de Stacy brilhando sob a meia-luz
dos lustres de ferro fundido. Ela nos fitava com ódio mal disfarçado.
“Tenho uma ideia melhor”, respondi, pegando minhas coisas. “Conheço um lugar
aonde podemos ir e em que ninguém vai nos encontrar.”

Levei Chad para o salão de beleza da minha cunhada, que ficava no Brooklyn. Ela
fechou o salão, achou uns pratos de papelão e nós nos deliciamos com o espaguete à
bolonhesa — morno, mas ainda delicioso — na sala de descanso dos profissionais, nos
fundos da loja, longe dos odores de tinta de cabelo e laquê.
“Você tem um sotaque de Nova York”, reparou Chad, após passarmos um tempo
comparando histórias de fregueses ensandecidos. “Nunca tinha notado.”
Dei de ombros. “Pois é. Como o dos seriados policiais na TV.”
Chad riu.
“É porque ela está em casa”, explicou Denise.
Não acrescentei mais nada. Não tinha nada de mais ele ter percebido. O sotaque
sempre aparecia quando eu estava com minha família ou meus amigos, quando baixava
minhas defesas e me sentia mais como a pessoa que era antes.
“É bonitinho”, comentou ele. “Eu também tenho sotaque”, ele disse, exagerando.
“Ela ficou boa nesse negócio de disfarçar o dela”, comentou Denise, cujo cabelo
platinado com pontas rosa estava arrumado em tranças elaboradas. Tinha piercings no
nariz e na sobrancelha, e uma tatuagem no braço esquerdo. Estava grávida de cinco
meses, o que me deixava emocionada. Estava louca para ser tia.
Meu celular começou a tocar dentro da bolsa, e estiquei o braço por cima da bancada
para procurá-lo. Talvez Lei precisasse de mim. Ela não estava brincando quando falara
dos horários no dia em que me contratou. Eu recebia ligações às duas da manhã e nos
fins de semana, mas adorava, porque só acontecia quando ela estava realmente
empolgada com alguma coisa.
Não reconheci o número que apareceu na tela e estava prestes a deixar a chamada cair
na caixa postal quando resolvi demonstrar um pouquinho mais do meu sotaque para
Chad.
“Escritório de Gianna Rossi”, atendi com naturalidade. “Como posso ajudar?”
Silêncio na linha, e então… “Gia.”
Prendi a respiração, balançada pelo jeito como Jax dizia meu nome. O mesmo de
quando éramos amantes e ele me ligava só para escutar minha voz.
“Fale alguma coisa”, disse ele, abruptamente.
Fortalecida pela visão da minha cara de espanto no espelho impiedoso, respondi com
frieza. “Como conseguiu este número?”
“Não venha com essa”, retrucou ele. “Fale como você costumava falar. A verdadeira
Gia.”
“Foi você quem me ligou.”
Ele resmungou algo. “Almoce comigo amanhã.”
“Não.” Levantei da cadeira e caminhei até a frente do salão.
“Sim. Nós precisamos conversar.”
“Não tenho nada para dizer.”
“Então vai me escutar.”
Arrastei a ponta do sapato sobre uma rachadura num dos azulejos do piso. Denise
estava apenas começando a recuperar o investimento inicial no salão, e havia ainda
várias melhorias a ser feitas no lugar. A região estava recuperando sua fama descolada, e
ela tinha sido esperta ao pendurar cartazes vintage nas paredes e fazer uma decoração
retrô que distraía o olhar dos pequenos defeitos.
Meu Deus, em que estado eu estava por causa de Jax. Meu cérebro estava disperso,
alternando-se entre pensamentos aleatórios.
Procurei me concentrar no homem que estava causando tudo aquilo. “Se eu almoçar
com você, jura que vai me deixar em paz depois?”
“Não posso prometer isso.”
“Então não vou”, retruquei. “Você não tem direito de invadir minha vida desse jeito.
Não é da sua conta. Você não tinha nada que se intrometer…”
“Mas que droga! Eu não sabia que você estava apaixonada por mim, Gia!”
Fechei os olhos diante da dor de ouvir aquelas palavras saindo de seus lábios. “Então
você não me conhecia mesmo.”
Desliguei.
5

“Descobri a relação entre Pembry e a família Rutledge”, contei a Lei assim que ela
chegou ao trabalho, seguindo-a até sua sala. “Em um artigo na revista FSR.”
Ela me olhou de lado. “A que horas você chegou aqui?”
“Faz meia hora, mais ou menos.” Na verdade, eu tinha ficado acordada até tarde
fazendo minhas pesquisas, sem conseguir dormir. Precisava saber por que Jax estava se
metendo na minha vida e como fazer com que ele caísse fora mais uma vez.
Não queria um pedido de desculpas ou uma explicação. Não queria que fôssemos
amigos. Não queria um motivo para ter esperança, porque era dolorosamente evidente
para mim que eu ainda o amava. E ele devia estar tomando conhecimento desse fato.
Tinha aprendido da primeira vez, e ele confirmara: nosso relacionamento tinha que
terminar. Sem recaídas.
Empurrei o artigo da Full-Service Restaurant sobre a mesa dela. “Uma minúscula
menção à contribuição de Pembry em apoio às campanhas Rutledge, no meio de um
artigo maior sobre restaurateurs na política.”
“Humm.” Seu olhar astuto se ergueu de encontro ao meu. “Vivi com Ian por cinco
anos. Ele nunca votou na vida. Além do mais, é sovina demais para gastar a grana
necessária para receber atenção personalizada dos Rutledge.” Lei recostou-se em sua
cadeira e girou-a de um lado a outro. “Dito isto, não consigo imaginar por que um
investidor de risco preferiria o negócio do Ian ao meu, a menos que tenha alguma
motivação pessoal. Não faz sentido, do ponto de vista financeiro.”
Erguendo as mãos, admiti: “Também não consigo entender”.
“Será que Jackson contaria o que despertou seu interesse em Ian, se você
perguntasse?”
“Pode ser que sim.” Sentei-me diante de sua mesa. “Mas ele não é o fator decisivo
aqui. Stacy prefere Ian, Chad prefere a gente. Temos isso a nosso favor.”
“Você não está curiosa?”
“Não o suficiente para correr atrás dele. Jax está começando a perceber que levei
nosso caso mais a sério do que deveria, e isso deixa as coisas… meio esquisitas.”
O olhar de Lei irradiava simpatia. “Acho que a melhor solução é fechar logo o
negócio. Vou conversar com a equipe da Mondego hoje sobre seguir em frente só com
Chad. Eles não estão muito animados com a ideia, o que não é nenhuma surpresa, mas
acho que encontrei uma alternativa atraente.”
Debrucei-me sobre a mesa para ouvir, e Lei sorriu diante de meu evidente interesse.
“Aqui.” Ela girou o monitor para me mostrar duas mulheres extremamente diferentes.
Uma morena exótica e uma loira de rosto jovem. “Faz meses que estou acompanhando
as duas. Isabelle, a morena, é especialista em culinária regional italiana; Inez, a loira, é
especialista em culinária regional francesa.”
Um leve sorriso surgiu em seu rosto. “Duelo de cozinhas internacionais.”
“Dá mais trabalho para fazer o cardápio, mas…”
“Ótimo.”
Lei esfregou as mãos. “Se tivermos sorte, ainda vamos estourar aquela garrafa de
champanhe.”
Ouvi pela porta aberta o telefone tocar na minha mesa e levantei.
Lei empurrou seu telefone na minha direção. “Atenda daqui.”
Puxei a chamada e atendi.
“Srta. Rossi, aqui é Ian Pembry. Bom dia.”
Ergui as sobrancelhas, espantada, e articulei Ian com os lábios para Lei. Sua boca se
curvou, em desagrado.
“Bom dia, sr. Pembry. Estava justamente falando do senhor.”
“Estava esperando sua ligação, mas perdi a paciência.” A afetuosidade bem-humorada
em seu tom me atingiu da maneira que suspeitava que atingia a maioria das mulheres.
Não havia dúvida alguma: sua voz tinha um tom íntimo e agradável.
“Aceita almoçar um dia desses?”, perguntei, assegurando-me com uma olhada, de que
Lei não se incomodava. Ela assentiu.
“Fico lisonjeado que me prefira a Jackson”, disse ele, provocando-me. “Mas na
verdade estava pensando num jantar. Tenho um compromisso hoje à noite e preciso de
companhia.”
Acionei o viva-voz. “E Stacy?”
“Ela é maravilhosa, claro, mas prefiro levar você. Você também vai querer ir, Lei”,
disse Ian, dirigindo-se diretamente à minha chefe, “para tomar conta da sua menina, e,
por mim, tudo bem. Quanto mais, melhor. É um evento formal. Estejam no heliporto
Midtown às seis.”
Lei sorriu largamente, apreciando o teor da conversa, porém não respondeu.
“Você está partindo do princípio de que não tenho planos numa sexta-feira à noite”,
argumentei.
“Não se ofenda, srta. Rossi.” Ele parecia estar se divertindo. “É um elogio à sua
dedicação profissional. Lei não a teria contratado se não pusesse o trabalho em primeiro
lugar. Vejo vocês mais tarde.”
Ian desligou e pus o fone de volta no gancho. “Bem… o que você acha?”
“Acho que temos que ir às compras.”
Quando voltei à minha mesa, encontrei um pacote à minha espera.
Rasguei o embrulho de papel pardo e deparei com uma caixa de chocolates. A onda de
desejo que me varou ao rever aquela marca específica — Neuhaus — e as memórias que
evocava aceleraram minha respiração. Minha pele se aqueceu.
Experimentara as trufas belgas apenas uma vez na vida, quando as havia chupado da
ponta dos dedos de Jax. Ele as tinha derretido com o calor de seu toque… e então escrito
em meu corpo, limpando depois com lambidas perversas.
Gia. Sexy. Doce. E minha preferida: Minha.
Senti as coxas se contraírem e cruzei os tornozelos, meu âmago se apertando com um
desejo sedento. Meu corpo não ligava que ele tivesse me largado sem dizer uma palavra.
Queria Jax. Desesperadamente.
O bilhete colado ao pacote era simples e não continha assinatura.

Reconheceria você até vendado.

Não saberia dizer aonde foi que Lei nos levou para comprar vestidos longos. Era uma
loja pequena, sem letreiro na fachada e com uma placa de fechado na porta. Atendiam
apenas com hora marcada. Assim que o sedan de Lei parou na frente, fomos
acompanhadas até um elegante showroom, onde nos serviram champanhe com
morangos. Não havia etiqueta de preço em lugar nenhum.
A hora seguinte transcorreu num revoar de sedas e tafetás. Fiquei encantada.
Havia momentos em meu trabalho com Lei em que eu era exposta a um mundo muito
além de qualquer coisa que já imaginara. Sempre batalhava para ocultar minha expressão
de deslumbre, os olhos arregalados, e tentava imitar Lei, que parecia à vontade e natural.
Precisava ficar me recordando de que suas origens não eram tão distintas das minhas.
Ela tinha adquirido o refinamento necessário ao longo dos anos, e eu podia fazer o
mesmo.
Estava namorando um longo preto com mangas de renda quando Lei pousou a mão
em meu ombro.
“Muito de velha para você”, disse.
Olhei-a de relance. “Achei discreto e elegante.”
“E é, para uma mulher da minha idade. Você tem vinte e cinco anos. Aproveite.”
“Preciso ser cuidadosa”, expliquei. Minha chefe era magérrima, graciosa e esbelta. Já
eu, era curvilínea. “Meus peitos são grandes demais. Que nem minha bunda.”
“Você tem um corpão”, afirmou ela, sem rodeios. “Disfarça no trabalho, o que eu
entendo e respeito, mas não desperdice isso. É um mito que uma mulher de sucesso não
pode ser sexy sem arruinar sua credibilidade. Não engula isso.”
Mordi o lábio inferior. Olhando ao redor, senti-me intimidada pelo ar de opulência
que o lugar projetava. Aquilo estava muito acima do meu nível. As paredes, por
exemplo, eram cobertas por uma seda marfim esvoaçante, em vez de papel de parede. Os
canapés vinham numa travessa de prata maciça. “Você me ajuda? Tenho medo de
escolher errado.”
“É para isso que estou aqui, Gianna.” Lei gesticulou para uma das três atendentes que
nos ajudavam. “Vamos ver o que vocês têm para uma jovem linda e voluptuosa.”

Os assovios com que me receberam quando saí do quarto algumas horas depois me
deixaram ao mesmo tempo empolgada e nervosa. Denise tinha voltado mais cedo do
trabalho para fazer meu cabelo e trouxera Pam, uma de suas maquiadoras. Angelo estava
largado no sofá, matando o tempo até seu turno no Rossi’s vendo TV.
“Uau”, disse meu irmão, endireitando-se no sofá. “Quem é você e o que fez com
minha irmã?”
“Cala a boca”, Denise e eu respondemos em uníssono.
“Ela está parecendo uma estrela de cinema”, disse Pam, voltando da cozinha, onde
tinha ido limpar seus pincéis. “Uma diva. Como Raquel Welch ou Sophia Loren.”
“Quem?” Denise franziu a testa.
Mas eu sabia de quem ela falava. Sempre tinha pensado em minha mãe da mesma
maneira.
No final das contas, o vestido que escolhemos também era preto, mas muito mais
sexy. Um broche de brilhantes prendia uma das alças. Com cetim franzido no busto, o
vestido era cingido na cintura por um fino cinto de diamantes e fendido na perna direita
até o meio da coxa. Vincent já estava no Rossi, mas teria tido um ataque se tivesse visto
o quanto da minha perna estava à mostra. Nico, que agora morava em Jersey, teria
adorado.
Com duas cervejas nas mãos, Denise se deixou cair no sofá, passou uma para o
marido e pôs a outra na mesinha de centro para Pam. Desde que soubera do neném, não
estava bebendo.
Argolas douradas brilhavam de dentro da massa de cabelos frisados. “Chad também
vai?”, ela perguntou.
“Não faço ideia.”
“E Jax?”, acrescentou Angelo, apreensivo.
Dei de ombros, mas meu coração disparou. Procurara não pensar em Jax enquanto me
preparava, mas não podia deixar de torcer para que ele me visse toda arrumada. Eu
estava maravilhosa.
“Você sabe que não deve, não sabe?”, disse meu irmão.
“Sim”, concordei. “Eu sei.”
Meu celular tocou. O motorista de Lei tinha chegado. “Tenho que ir!”
Apressei-me para pegar sapatos, bolsa e echarpe junto à entrada e acenei para Pam
enquanto saía pela porta. Decidi não esperar o antigo e temperamental elevador de carga
e desci os três lances de escada até a rua. O motorista já estava acostumado com a
demora.
Nico, Vincent e Angelo haviam comprado aquele apartamento na expectativa de
reformar e revender para ganhar algum dinheiro. Eu me mudara depois da faculdade e
acabara comprando a parte de Nico quando ele fora para Nova Jersey. Depois disso, eu e
Vincent tínhamos comprado a parte de Angelo quando ele foi morar com Denise,
deixando-nos com cinquenta por cento cada. Estávamos cogitando vender o lugar
quando Denise descobriu que estava grávida, e ela e Angelo voltaram, para economizar.
Eu gostava de entrar em uma casa cheia no fim do dia e sentia falta de Nico. Não
sabia bem o que seria de mim se morasse sozinha. Ter alguém presente a qualquer
momento me ajudara a me concentrar no trabalho e a sair menos. Nunca me importara
com aquilo, mas talvez estivesse só me recuperando de um coração partido. Talvez
devesse ter encarado isso antes. Agora, sem dúvida, era hora de enfrentar a situação.
Ofegante devido à correria, entrei no banco traseiro do sedan, e nos dirigimos à casa
de Lei. A região em que minha chefe morava era bem diferente da minha. Ela vivia a
uma ponte de mim, em Manhattan, mas podia ser outro mundo. Atravessamos o East
River, com o sol ainda brilhando no céu e refletindo na água perturbada apenas por um
rebocador esforçado.
Espantava-me que alguma vez tivesse acreditado que Jax poderia se encaixar naquela
vida. Eu passara a associá-lo tão completamente a Washington que não podia mais
imaginá-lo em qualquer outro lugar.
Exceto em minha cama. Era bem fácil imaginá-lo ali…

Estava pensando na melhor maneira de extrair informações de Ian Pembry quando o


carro encostou diante do prédio de Lei.
Eu havia visto seu vestido na loja, mas agora que a via com a maquiagem e o cabelo
arrumado o impacto era outro. O tecido verde-esmeralda do vestido em estilo grego
flutuava sobre seu corpo esguio à medida que ela atravessava a portaria do prédio,
sorrindo para o porteiro. A cor viva realçava sua pele perfeita e enfatizava o vermelho de
seus lábios, enquanto um lindo prendedor de pedras preciosas acentuava os fios
prateados junto da têmpora direita.
Lei sentou-se no banco ao meu lado, e notei sua tensão de cara.
“Você está bem?”
“Claro.”
Percorremos o curto trajeto até o heliporto em silêncio, ambas distraídas com nossos
pensamentos. Ao virar uma esquina, minha visão parou num parque canino e nos
animais barulhentos correndo livres e sem freios lá dentro. A exuberância brincalhona e
a alegria incontida deles me fizeram sorrir, apesar do tom sombrio de minhas reflexões
ao longo do dia.
Detestava admitir, mas estava chateada com o fato de que Ian sabia do convite de Jax
para almoçar. Quando Jax havia ligado, achara que era pessoal e que ele queria mesmo
recuperar o contato, nem que fosse só para se desculpar. Sempre tinha esperado demais
dele. No que se referia a Jax, meus instintos eram péssimos.
Em pouco tempo, estávamos num helicóptero, com os cintos afivelados e levantando
voo. Minha atenção se voltou para Lei. Ela fitava a paisagem pela janela enquanto o
chão se distanciava cada vez mais, exibindo a cidade para nosso deleite, um mar
espetacular de concreto e vidro reluzente tingido pela luz do sol. Fiz o mesmo,
absorvendo o panorama. O dia inteiro havia sido um reflexo de minha experiência de
trabalho com Lei. Minha família tinha uma visão microscópica do mundo, e preferia as
coisas assim. Já eu sempre desejara algo maior, queria ver o mundo através de uma
grande-angular.
“Você sabe para onde estamos indo?”, perguntei.
Lei fez que não com a cabeça. “Ian está querendo marcar uma posição com esse
passeio. Imagino que vamos nos surpreender.”

Perto das oito horas, eu me vi saindo de uma limusine diante de uma mansão
gigantesca em Washington. A cada quilômetro percorrido, eu ficara mais ansiosa, e isso
só piorou quando embarcamos num jato particular no aeroporto e a comissária de bordo
anunciou nosso destino.
“Ele se superou”, resmungou Lei quando Pembry desceu os degraus da larga
escadaria na frente da enorme mansão para nos receber.
O restaurateur estava muito elegante num smoking clássico, os cabelos grisalhos
penteados para trás com gel. Ele me cumprimentou primeiro, com um beijo no dorso da
mão, então virou os olhos azuis para Lei.
“Você está brincando com alguém da minha equipe”, disse ela friamente, observando-
o impassível erguer sua mão até os lábios. “Você jamais foi cruel.”
“Eu tinha um coração”, respondeu ele, com a fala carregada, “mas então alguém o
partiu.”
Olhei de um para o outro rapidamente, tentando fazer uma leitura da tensão entre os
dois. Tive a sensação de que era um peão em um jogo cujas regras todos sabiam, menos
eu.
Tudo bem. Se eu ficasse de boca fechada e ouvidos abertos, poderia acompanhar o
passo.
Ian ofereceu-me o braço. “Vamos?”
Ele me conduziu escada acima, e Lei nos seguiu sozinha. Uma olhadela para trás
confirmou que o fazia majestosamente, com a cabeça erguida sobre aquele pescoço
comprido que eu invejava. Uma luz se derramava pelas portas duplas abertas, e, atrás de
nós, limusines deixavam passageiros em levas regulares. Era uma festa incrível, e eu
nem tinha passado pela porta.
“Espero que os voos tenham sido do seu agrado”, disse Ian.
Fitei-o de relance e vi que estava me observando com cuidado excessivo. “Sim,
obrigada.”
“Já esteve em Washington antes?”
“Primeira vez.”
“Ah.” Ele sorriu, e pude notar um traço de seu charme. “Talvez considere passar o fim
de semana. Tenho uma casa em Georgetown. Pode ficar lá, se quiser.”
“Que gentil.”
Rindo, Ian desenlaçou nossos braços, pôs a mão de leve nas minhas costas e fez com
que eu passasse pelas portas. “Espero que diga mais do que duas ou três palavras no
decorrer da noite, srta. Rossi. Gostaria de conhecer você melhor, especialmente
considerando que tanto Lei quanto Jackson parecem muito interessados em você.”
Ao deparar com o que parecia ser uma fila de cumprimentos, diminui o passo. “O que
é esta festa?”
“É um evento para arrecadar fundos”, murmurou ele, junto ao meu ouvido.
De repente, entendi o que Lei queria dizer com crueldade. “Para um Rutledge?”
“Para quem mais?”, perguntou ele, a voz traindo seu divertimento.
A fila andou depressa, os homens oferecendo um aperto de mão brusco e as mulheres
ligeiramente mais delicadas. Estavam todos arrumadíssimos, nem um fio de cabelo fora
do lugar, e exibiam dentes ofuscantes de tão brancos em imensos sorrisos bem treinados.
Foi um alívio quando os cumprimentos terminaram e pude aceitar uma taça de
champanhe de um garçom sorridente. Fiquei ainda mais satisfeita de ver Chad, que
parecia tão pouco à vontade quanto eu. Seu rosto se iluminou ao notar nossa presença,
rostos familiares em meio a uma multidão de desconhecidos, e ele veio na nossa direção.
“Tomei a liberdade de colocar Chad como seu par, Lei”, disse Ian, deixando o olhar
deslizar pelo corpo dela.
Olhei ao redor em busca de Jax. Não consegui encontrá-lo, mas havia gente demais
perambulando pelo salão de baile. Um salão de baile, meu Deus… Na casa de alguém.
Quem poderia ter uma casa daquelas?
Dei um longo gole no espumante gelado. Jax poderia ter uma casa daquelas. O
elegante executivo que eu vira na Savor poderia se encaixar muito bem no ambiente,
mas não o amante que eu conhecera.
Você só achava que o conhecia…
Chad se aproximou de mim, deslizando o indicador ao longo do colarinho da camisa.
“Dá para acreditar neste lugar? Acabei de conhecer o governador da Louisiana. E ele
sabia quem eu era!”
Ian abriu um sorriso presunçoso, mas eu ainda não estava entendendo…
“Qual é a relação entre política e indústria alimentícia?”, perguntei a ele.
“Tenho que admitir que é uma parceria incomum.” Ian pegou minha taça vazia e a
entregou a um garçom que passava por nós, trocando-a por uma cheia. “Mas todo mundo
tem que comer.”
“Nem tudo mundo vota”, observou Lei, pegando ela mesma uma nova taça.
“Você sempre foi muito mais responsável nesse aspecto do que eu”, concordou Ian.
“E você, Gianna? Exerce seu direito de votar?”
“Achei que não era elegante discutir política.” Dei uma olhada numa bandeja de
canapés que passou por perto e percebi que estava ansiosa demais para pensar em comer.
“Por que não dançamos então?”, sugeriu ele.
Considerando que provavelmente seria uma chance única de falar com Ian a sós,
concordei. Chad pegou minha taça de champanhe e virou.
“Já vou avisando que não danço muito bem”, eu disse enquanto Ian me levava para a
pista. Eu tinha feito algumas aulas, para ganhar um pouco de confiança, mas nunca
tivera a oportunidade de dançar formalmente fora da academia e me faltava tempo para
praticar. Definitivamente, jamais dançara ao som de uma orquestra antes.
“Pode deixar que eu conduzo”, murmurou ele, puxando-me para junto de si.
Nós nos misturamos aos poucos casais na pista.
Eu estava tão concentrada em não pisar no pé dele que não disse uma palavra por mais
de um minuto.
“Como você conheceu Jackson?”, perguntou Ian.
“Não o conheço.” E era verdade, em todos os sentidos que importavam.
Ian ergueu as sobrancelhas, os olhos azuis me estudando. “Ontem não foi a primeira
vez que vocês se viram.”
“E como tenho certeza de que você sabia disso antes de envolver Jax, estou mais
interessada em saber como vocês dois se conheceram.”
“Sou amigo do pai dele, Parker Rutledge. Ele nos apresentou.” Ian ergueu o olhar para
além de mim. “E por falar no diabo…”
Minha coluna ficou rígida. Virei a cabeça, e meus pés vacilaram à medida que eu
observava um homem assustadoramente parecido com Jax dançar com uma mulher
muito bonita e mais jovem.
O desejo de deixar a festa foi quase incontrolável. Aquilo não era lugar para mim, um
evento político, um mundo que não tinha nada a ver comigo. Não conseguia entender
como uma dupla de chefs gêmeos tinha me levado àquilo e realmente não estava
interessada em dar sentido às coisas naquele momento. A sensação de que a noite ia ser
péssima foi se intensificando.
“Por que você nos trouxe aqui, Ian?”
Ele respondeu com outra pergunta: “Quão ambiciosa você é, Gianna?”
“Sou fiel a Lei.”
Ele sorriu. “Também já fui. Infelizmente, vai perceber que ela já não é tão fiel. Você
sabe tão bem quanto eu que se separar não é do interesse de Chad nem de Stacy. Eles
precisam um do outro.”
“Eles podem se dar muito bem sozinhos. Os dois são talentosos.” Minha irritação
aumentou. “Não podíamos discutir isso em Nova York?”
“Estou só defendendo o que é meu. Você tem que entender que não vou poupar
esforços.”
“Sua briga é com Lei, não comigo.”
“Você se sente deslocada aqui”, disse ele com uma voz suave e reconfortante. “Eu
conheço essas pessoas. Adoraria ajudar você a fazer conexões e encontrar seu caminho.”
Encarei-o. “Por que está me oferecendo isso? Por causa de Jackson? Se acha que
quero entrar na vida dele, não poderia estar mais enganado ao meu respeito.”
A música terminou, e eu me afastei, pronta para encontrar Lei e ver se ela também
queria ir embora.
Pembry entendeu o recado e me conduziu para fora da pista de dança. Eu estava quase
a salvo quando uma figura alta entrou em meu caminho. Olhei para cima e perdi o
fôlego, achando por um instante que Jax tinha aparecido afinal.
Então percebi que era seu pai.
“Ian”, disse Parker, estendendo a mão. Sua voz transmitia poder, assim como sua
postura. O patriarca Rutledge comandava uma família de grande poder no mundo da
política. Seu alcance e sua influência eram surpreendentes quando se pensava no
assunto, o que eu não podia deixar de fazer à medida que ele voltava os olhos escuros
para mim. “Acho que não fui apresentado ao seu belíssimo par esta noite.”
Fiquei surpresa ao ouvir o leve sotaque, incapaz de identificar de onde era.
Ian fez as honras. “Parker, esta é Gianna Rossi. Gianna, Parker Rutledge.”
“Olá”, cumprimentei.
“É um prazer, srta. Rossi. Esta é minha esposa, Regina.”
Olhei para a loira ao lado dele, a mesma com quem estava dançando antes e que não
poderia ser muito mais velha que eu. Sem dúvida não tinha idade para ser mãe de Jax.
Cirurgião plástico nenhum poderia preservar alguém tão bem. “Olá, sra. Rutledge.”
Seu sorriso não se refletiu em seus olhos. “Regina, por favor.”
“Dance comigo, Regina”, disse Ian, estendendo a mão num floreio.
Ela voltou-se para Parker, que assentiu com a cabeça. Então se virou para Ian. “Fale
mais sobre esse chef novo que você trouxe hoje à noite. É especialista em que?”
“Culinária do sul, mas com uma abordagem moderna.”
“Sério?” Eles seguiram para a pista de dança. “Vou organizar um jantar daqui a
algumas semanas. Será que…?”
“Olhando assim, você jamais desconfiaria”, comentou Parker, pousando a mão em
minha cintura antes que eu pudesse recusar a dança. “Mas Regina adora comer.”
“Acho difícil entender quem não gosta.”
Parker me conduziu para a dança com um floreio, e eu me segurei firme, respirando
fundo.
“Ela também adora uma festa”, continuou ele. “Mas até aí, ela é jovem e bonita.
Como você.”
“Obrigada.”
“Você é do ramo da culinária também, não? Acho que foi isso que Ian disse. Também
deve gostar de uma boa festa. O que está achando desta?”
“É…” Procurei uma resposta. “Preciso de um tempo para assimilar tudo isso.”
Parker riu, e o som não pareceu nem um pouco com o das risadas cálidas de Jax. Seu
pai tinha uma gargalhada estrondosa, do tipo que chama atenção. Era estranhamente
contagiante. Relutando, senti meus lábios se curvando num sorriso.
“Gianna”, ele disse, mais uma vez traindo um sotaque regional. “Um nome incomum,
não é? Jackson conheceu uma Gianna em Las Vegas, alguns anos atrás.”
Exatamente como previra, a noite estava evoluindo de desconfortável a desastrosa
numa velocidade assustadora. Eu achava que ninguém sabia. Mas Jax parecia ter contado
sobre mim. E isso não me deixava mais à vontade.
“Nem tanto”, respondi, controlando-me e me sentindo extremamente desconfortável.
“Deve ter sido uma surpresa e tanto encontrar Jax de novo.”
Examinei seu rosto. Será que ele ficaria parecido com o pai quando chegasse à sua
idade? Esperava que não. Torcia para que tivesse mais linhas de riso ao redor dos olhos e
menos tensão em torno da bela boca.
“Estou mais surpresa com o fato de Ian ter sentido necessidade de envolver seu filho
no trabalho.”
“Eu envolvi Jackson”, murmurou ele, estreitando os olhos enquanto fitava alguém
atrás de mim. “Ian me fez um grande favor ao me apresentar a Regina, então eu o ajudo
sempre que posso.” Ele voltou a olhar para mim. “Mas não sabia de você. Imagino que
Ian soubesse.”
Senti uma onda de inquietação tomar conta de mim. Parecia um peixe nadando em
meio aos tubarões.
“Com licença.”
Meu Deus. O som da voz de Jax reverberara em mim.
“Minha vez.”
Parker parou de dançar, e eu virei a cabeça, o coração pulando dentro do peito ao ficar
cara a cara com Jax.
“Achei que você não vinha mais”, Parker disse ao filho.
Jax me fitou de relance, então se voltou para o pai. “Você não me deu opção.”
Por um segundo, pensei em escapar enquanto os dois se ocupavam em olhar feio um
para o outro. Então Jax passou o braço por minha cintura e me afastou dali.
Parker me olhou de lado. “Vejo você no jantar, Gianna. Aproveite a festa.”
Jax me contornou, impedindo-me de ver as costas de seu pai se afastando da pista de
dança. “Você está linda”, ele disse baixinho, puxando-me para junto de si.
Meus ombros doíam de nervosismo. “Que bom que tenho sua aprovação.”
Ele deu o primeiro passo, e eu o segui.
“Respire, Gia”, Jax advertiu. “Deixe comigo.”
“Quero ir embora.”
“Então somos dois.” Ele acariciou minhas costas, num gesto reconfortante. “Odeio
estes eventos.”
“Mas você se encaixa neles perfeitamente.”
Seus olhos se encobriram com a sombra de uma emoção que não fui capaz de
identificar. “Nasci neste meio. Mas não vivo nele.”
O calor de seu corpo passava para o meu. A cada fôlego, seu cheiro me invadia; cada
movimento que fazia me inundava com ecos de antigas memórias.
“Agora sim”, prosseguiu ele. “Relaxe, linda.”
“Não começa.”
“Você está no meu mundo, Gia. Eu faço as regras.”
Balancei a cabeça. “Só estou aqui porque caí numa armadilha.”
Jax me puxou para junto de si, levando os lábios junto à minha têmpora. “Desculpe.”
“Você tinha que ter contado para todo mundo, não é? Não entendo você. Está na cara
que não era o segredinho sujo que achei que fosse.”
“Sujo, não.” Ele baixou a voz. “Tirando quando você queria que fosse. Ou pesado.
Você me tirava do sério.”
Pisei no pé dele de propósito.
Sua risada me atingiu.
“Você bebeu”, acusei, sentindo o cheiro de álcool em seu hálito.
“Não teve jeito.” Ele se afastou, com a mandíbula rígida. “Não sabia que ia ser tão
difícil ver você de novo.”
“Vou facilitar as coisas para você então. Me ajude a sair daqui com Lei.”
“Ainda não.” Jax deslizou os lábios macios por minha testa. “Passei uma noite com
sua família. Você me deve uma com a minha.”
“E depois posso desaparecer para sempre?”
Era o que eu queria. Passar de Cinderela a Gata Borralheira.
Jax me apertou, e senti seu peito em meus seios. “É esse o plano.”

Jax dançou mais duas músicas comigo, impedindo-me grosseiramente de dançar com
Ian e outros dois homens que tentaram me convidar. Entendi o recado tão bem quanto
qualquer um ali: eu chegara à festa com Ian, mas agora era de Jax.
Em determinado momento, decidi desempenhar à risca meu papel de Cinderela.
Espantei a voz em minha cabeça que havia dois dias me deprimia e ajeitei os dedos
dentro de meus sapatinhos de cristal.
“Quero mais champanhe”, anunciei abruptamente.
Jax me fitou, desconfiado. “Ah é?”
“É.”
Seus olhos adquiriram um brilho perverso que eu reconhecia muito bem. “Venha.”
Segurando minha mão, ele me conduziu para fora da pista de dança e pela multidão.
Ela crescia ao redor dele, como se estivesse tentando nos prender ali, mas Jax era bom
em cumprimentos e réplicas bruscos. Avistei um rosto familiar, a bela Allison Kelsey —
esposa do sujeito cuja despedida de solteiro tinha trazido Jax para minha vida —, e então
entramos num corredor. Em seguida, passamos por uma porta vaivém e entramos numa
imensa cozinha industrial, fervilhando.
Olhei ao redor, observando as várias estações de cozinha e os uniformes parecidos
com os dos filmes. Jax roubou uma garrafa de champanhe das mãos de um garçom,
envolveu a haste de uma taça com os dedos num gesto experiente e me levou por uma
porta lateral para outro corredor.
“Para onde estamos indo?”, perguntei, ainda tensa diante da ideia de ficar sozinha
com ele. Ainda o desejava. Nunca deixara de desejá-lo.
“Você vai ver.”
O som da festa ficou mais alto, e ignorei a pontada de decepção que senti diante da
possibilidade de voltar para o salão. No que eu estava pensando?
Jax me conduziu por uma porta dupla de vidro para uma varanda com vista para um
jardim encantado. Pelo menos era assim que parecia para mim, com seus caminhos de
cascalho iluminados por tochas e árvores antigas com lampadinhas brancas brilhando.
“De quem é esta casa?”, perguntei.
“É patrimônio Rutledge.”
O jeito como ele respondeu transmitia mais propriedade do que as palavras em si.
“Certo.”
“Finja que estamos aqui de penetra”, disse, fazendo-me descer por uma escada de
paralelepípedos até um banco de mármore em forma de meia-lua.
Sentei e fiquei observando enquanto ele servia o champanhe e me passava a taça.
“Parece que o fingimento nunca acaba, não é?”
Jax bebeu direto da garrafa e limpou a boca com as costas da mão, indolente e
rebelde. “Talvez. Mas conheço você melhor do que pensa.”
“Tenho a impressão de que não sei nada de você.”
“Então fique sabendo”, desafiou ele. “Do que tem medo?”
Tomei um gole do champanhe. “Dos becos sem saída e de ficar rodando em círculos.”
“Por que você simplesmente não aproveita?”
Eu adoraria fazer isso. Uma onda de desejo me dominou.
Ele colocou a garrafa no banco ao meu lado. “Vou beijar você.”
Perdi o fôlego. “Não, não vai.”
“Tente me impedir.”
Fiquei de pé. “Jackson…”
“Cale a boca, Gia.” Ele segurou meu rosto com as mãos e me beijou.
Por um momento fiquei estática, imóvel pela sensação de seus lábios nos meus,
macios e firmes ao mesmo tempo. Uma sensação dolorosamente familiar.
Enternecedora. Sua língua percorreu o contorno da minha boca. Eu a abri com um
gemido grave, e ele deslizou para dentro.
Deixei a taça cair. Ouvi, ao longe, o barulho do cristal se espatifando, mas nem liguei.
Meus braços envolveram seus ombros largos, meus dedos entrelaçaram seu cabelo
sedoso. Eu o estava saboreando, sentindo o gosto de champanhe misturado com Jax, na
ponta dos pés para intensificar o contato.
Como sempre, ele me ofereceu o que eu tinha exigido.
Segurando-me com firmeza, refestelou-se na minha boca, dando golpes com sua
língua aveludada, mordiscando com os lábios e os dentes, deslizando a boca ao longo da
minha. Saboreando-me. Transformando um simples beijo numa mistura erótica que me
fazia tremer de prazer.
Eu estava morrendo de saudades. Sentira muita falta da forma como ele me fazia
sentir.
Jax gemeu, o som rouco vibrando em mim. Desceu as mãos, alisando minhas costas,
segurando-me firme à medida que girava os quadris e esfregava o membro grosso e duro
contra minha virilha. Fui invadida pelo desejo, a pele ficando corada. Seu cheiro era
delicioso, uma fragrância sutil de sabonete misturada com um odor masculino que só ele
possuía. Queria me deleitar do jeito que eu fazia antes, apertando meu corpo nu contra o
seu até nenhum fio de ar ser capaz de passar entre nós.
“Gia”, ele murmurou com a voz rouca, os lábios passeando por meu rosto. “Quero
você agora.”
Fechei os olhos, e minhas mãos fecharam-se em meio aos fios grossos de seu cabelo.
Estava pegando fogo, minha pele parecia sensível e esticada demais. “Você me teve um
dia.”
“Ir embora foi a decisão certa.” Senti seu hálito contra minha têmpora. “Isso não
significa que não me arrependa.”
Uma pequena voz de alerta berrava dentro da minha cabeça. “Você vai me
machucar.”
“Vou venerar você.” Com uma das mãos, ele segurou minha nuca. Com a outra,
firmou meu quadril, deslizando o membro contra mim. “Você lembra como a gente era.
Horas com minhas mãos e minha boca em você, meu pau lá dentro…”
“Por quanto tempo?” Eu estava me contorcendo por dentro, louca por um orgasmo.
“Semanas.” Ele gemeu. “Meses. Estou tão duro que dói.”
Tentei me desvencilhar dele. “Preciso de mais do que sexo.”
Jax me soltou, mas seu olhar continuava feroz e sensual. “Vou dar tudo o que eu
tiver.”
“Por algumas semanas?” O esforço para me manter afastada, quando tudo o que eu
queria era ele, me deixou trêmula. “Meses?”
“Gia.” Jax levou as mãos ao rosto. “Que merda. Aceite o que estou oferecendo.”
“Não é o bastante!”
“Tem que ser. Caramba… Não me peça para transformar você num deles!”
Dei um passo para trás, assustada com sua veemência. “Do que você está falando?”
Jax virou de costas para a casa, pegou a garrafa de champanhe e deu um longo gole.
Examinei-o, confusa, e tudo o que vi foi teimosia. Concentrei o olhar além dele, no
salão de festas e nos casais glamorosos lá dentro. Foi quando Lei apareceu, entrando na
varanda de braço dado com Chad.
Naquele momento, entendi que precisava desvendar o mistério de Jax, o suficiente
para não me importar com o custo que isso teria para mim.
“Se importam se nos juntarmos a vocês?”, perguntou Lei, aproximando-se.
Nossos olhares se cruzaram. Desabei no banco, o corpo ainda latejando de sede
insaciada.
Notei, de relance, os olhos de Jax em mim. Havia um desafio naquelas profundezas
sombrias. Estendi a mão para a garrafa de champanhe e a segurei pelo gargalo assim que
ele a entregou para mim.
Ergui-a num brinde e bebi àquele desafio.
6

Não desapareça. Quero ver você de novo…


As últimas palavras de Jax, suspiradas ao pé do meu ouvido quando nos despedimos,
atormentaram-me no voo de volta para Nova York.
Se me envolvesse com ele, eu me machucaria, porque teria esperanças. Eu queria
mais. Mas que opção tinha? Precisava descobrir o que tinha acontecido antes e o que o
continha agora. Sempre imaginara que a questão era me manter afastada — por quem eu
era e de onde vinha —, e não o que ele era e queria no longo prazo.
Olhei de relance para Lei, sentada na minha frente no avião, enquanto abria sua bolsa
de festa e retirava uma folha dobrada de papel. Ela a deslizou ao longo da mesa entre
nós, e eu a abri. Li o primeiro parágrafo e baixei o olho para a assinatura no final, então
ergui a cabeça.
“Você conseguiu fazer Chad assinar?”
“É um acordo provisório”, observou ela. “Depende de conseguirmos trazer Isabelle e
Inez para a jogada, e de você coordenar o primeiro restaurante. Mas conseguimos o
cara.”
“Uau.” Dobrei o documento com cuidado, assimilando o fato de que acabara de
receber uma responsabilidade tremenda. “Não acredito que você trouxe isso na bolsa.
Sabia que Chad estaria na festa?”
“Conhecendo Ian, suspeitei.”
Devolvi o contrato.
“Rutledge monopolizou você esta noite”, ela comentou. “Ian tentou jogar você no
covil dos lobos, mas Jackson a manteve por perto.”
E me queria mais perto ainda.
Respondi dando de ombros, nem um pouco interessada em falar de algo tão pessoal.
“Aliás, Parker Rutledge explicou a conexão. Ian apresentou Parker à atual sra.
Rutledge.”
“Ah é?” Lei ergueu as sobrancelhas elegantes. “Então deve ser porque conhece
Regina Rutledge intimamente.”
“Não brinca?”
“Estou falando sério.”
“Então tá.”
Ela recostou-se contra o assento da poltrona. “Vamos aproveitar o fim de semana.
Desligue o telefone, esqueça um pouco o trabalho. Recarregue as baterias. Vamos com
tudo na segunda.”
A ideia era maravilhosa. “Eu topo, mas vou deixar o telefone ligado caso você precise
de mim.”
Lei sorriu. “Prometo que não vou precisar de você. Tenho um encontro esse fim de
semana.”
“O fim de semana inteiro?”
“Preciso tirar o atraso.”
Eu ri. Em um ano de trabalho com Lei, jamais soubera de um encontro. Ela merecia se
divertir. E eu também. “Vai com tudo.”
Lei me lançou um olhar. “A ideia é essa.”

Já passava de duas da manhã quando entrei em casa, e estavam todos dormindo.


Descalça, caminhei na ponta dos pés até meu quarto, ansiosa para tirar a roupa.
Ao abrir o zíper invisível na lateral do vestido, notei meu reflexo nas portas
espelhadas do armário. Parei por um instante e me analisei profundamente.
Será que Jax se sentira atraído pela refinada executiva em que eu havia me
transformado de um jeito que não se sentira pela garota que eu era antes? E eu ligava
para isso?
“Minha nossa.” Sentei na beira da cama, desejando que houvesse alguém acordado
com quem conversar. Se Nico ainda morasse conosco, estaria de pé. Era um sujeito
noturno.
Num impulso, peguei o telefone e liguei para ele. O telefone tocou três vezes antes de
meu irmão atender.
“Oi”, disse. “Espero que seja importante.”
Estremeci com seu tom irritado e ligeiramente ofegante. Devia estar com alguém em
casa. “Nico, oi. Desculpa. Ligo amanhã.”
“Gianna.” Ele exalou, e ouvi um farfalhar de lençóis. “O que foi?”
“Nada. Amanhã a gente conversa. Tchau.”
“Não desliga na minha cara!”, retrucou ele. “Você queria falar comigo, estou aqui.
Desembucha.”
Desliguei, imaginando que ele queria voltar logo para o que estava fazendo.
Meio segundo depois, o telefone tocou. Atendi depressa, torcendo para não ter
acordado o restante da casa. “Nico, deixa pra lá. Não é nada demais. Desculpe
incomodar a essa hora.”
“Gianna, se você não começar a falar, vou aí agora dar um jeito em você. Tem a ver
com Jackson?”
Suspirei. Deveria ter imaginado que alguém ia contar para ele. “Estou de folga esse
fim de semana. Pensei em fazer uma visita. Só para encher você um pouco. Ou muito.”
“Agora?”
A ideia original era essa, mas… “Não, amanhã.”
“Ninguém liga às duas da manhã para dizer que quer fazer uma visita no dia
seguinte.”
“Você está ocupado.”
“Na hora que você chegar, já não vou estar mais.” Sua voz se suavizou. “Você tem
como vir?”
“Nico…”
“Vou chamar um táxi.”
Fechei os olhos, agradecida por meu irmão e mais segura do que nunca de que passar
um tempo com ele ia me fazer um bem enorme. Fazia algumas semanas que não nos
víamos. Tempo demais. “Preciso tomar um banho e trocar de roupa.”
“Trinta minutos. Vejo você daqui a pouco.” Ele desligou.
Desliguei o telefone e corri para me trocar.

Quando cheguei ao condomínio de Nico, passava um pouco das quatro. Ele tinha
ligado havia poucos minutos, para saber onde eu estava, e me esperava de pé na calçada
quando o carro encostou. Usando um moletom e com uma leve sombra de barba por
fazer, ostentava um ar ligeiramente perigoso, daquele jeito rebelde que atrai tantas
mulheres.
Eu não podia falar muito, já que a masculinidade de Jax me inflamava por dentro.
“Oi”, disse, pegando minha mala das mãos do taxista e pagando a corrida. Nico me
envolveu pelos ombros e me conduziu até o apartamento. “É bom ver você.”
“Bom, coisa nenhuma.” Joguei o quadril contra o dele, e nós dois nos
desequilibramos. “Desculpe destruir sua noite.”
“Eu gozei.” Nico abriu um sorriso. “Ela também. Então não tem problema.”
“Eca. Informação demais.” Meu irmão era um mulherengo. Sempre fora. “Alguém
especial?”
“Não de um jeito sério. Não tenho tempo para um relacionamento agora. O novo
restaurante dá trabalho.”
Nico me soltou para destrancar a entrada, em seguida me conduziu pelo pátio interno.
Eu já tinha entrado no condomínio dele antes, no dia em que o ajudara com a mudança,
mas à noite o lugar parecia diferente. Quieto e estranho demais. Gostaria de saber se ele
se sentia sozinho sem o restante de nós. Pensar naquilo me deixou triste.
“Queria que você tivesse alguém para cuidar de você”, comentei.
“Olha quem fala”, respondeu ele, virando a mesa com habilidade. Nico era bom nisso.
Subimos a escada externa até o apartamento. Lá dentro, vi que meu irmão não havia
feito muita coisa desde que se mudara. O lugar era o típico lar de um homem solteiro, a
decoração esparsa mais preocupada com conforto do que com estética.
A TV de tela plana sobressaía-se na sala, onde havia um sofá preto de couro e uma
poltrona, além de uma mesa de centro e uma de canto com uma lata de refrigerante
aberta em cima. As únicas luzes a invadir o ambiente vinham da cozinha americana e do
quarto, cuja porta estava entreaberta, tentando corajosamente compensar a falta de
abajures.
“Então quer dizer que o Jax voltou”, disse ele, observando enquanto eu me deixava
cair no sofá. “Vincent me deve cem dólares.”
“Não brinca?” Eu teria jogado uma almofada em Nico, se ele tivesse uma. “Você está
apostando em Jax?”
“Estou apostando em você.” Meu irmão se sentou na poltrona e pousou minha bolsa a
seus pés. “O cara era louco por você, o que significava que ou ia querer casar ou ia fugir
apavorado. Sempre achei que ele ia fugir e depois voltar atrás, quando o medo tivesse
passado. Ele é homem, mas não é burro. A pergunta é: demorou demais? Imagino que
não, ou você não estaria aqui.”
“Talvez eu só quisesse ver você”, argumentei. “Sei lá por quê.”
“Pode ser”, respondeu ele num tom que me dizia que não acreditava em mim. “Ainda
está apaixonada por ele?”
Joguei a cabeça para trás, no encosto do sofá, e fechei os olhos cansados. “Sim.
Perdidamente.”
“E ele?”
“Está confuso.”
“Precisa que eu dê uma surra no sujeito? Para acabar com essa confusão?”
Ri baixinho. “Estava com saudades.”

Acordamos depois do meio-dia e saímos para comer, então ficamos jogando


videogame no sofá até meus polegares doerem. Eu havia deixado o celular na bolsa,
desligado, e estava reprimindo o impulso de ligá-lo. Tinha escrito um bilhete para
Angelo e Vincent avisando onde estaria. Com Lei fora de alcance no fim de semana,
ninguém mais ia me procurar até segunda-feira.
Quando chegou a hora de Nico sair para o restaurante, levantei do sofá com ele.
“Precisa de ajuda no Rossi’s?”, perguntei.
Ele abriu um sorriso. “Claro. Tenho uma camiseta sobrando em algum lugar por
aqui.”
Às sete da noite, eu estava trabalhando na filial e recordando o quanto adorava botar a
mão na massa. Não seria capaz de fazer isso sempre, como meus irmãos, mas me
lembrei de que ajudar uma vez ou outra fazia bem ao espírito. De calça jeans, com uma
camiseta preta do Rossi’s e o cabelo preso num rabo de cavalo, era praticamente como se
eu estivesse de volta aos tempos de colégio. Não conhecia nenhum dos fregueses, mas
eles logo notaram minha relação com Nico, em grande parte por causa da implicância
divertida que havia entre nós.
De braços cruzados junto ao bar, eu me debrucei, provocando-o: “Cadê os Bellini que
eu pedi? Vamos lá, Rossi. Que lerdeza. Estou esperando”.
“Você ouviu isso?”, Nico perguntou a uma ruiva bonita sentada diante dele. “Ela está
querendo apressar uma obra de arte.”
Notei os pelos da nuca se arrepiarem um instante antes de sentir a mão de alguém
tocar meu quadril. Virei a cabeça…
E vi Jax.
Pisquei, confusa, então o encarei, embevecendo-me com a visão dele de calça jeans e
uma camiseta Rossi’s de tempos atrás, antes de atualizarmos a marca. Mexeu comigo
que ele tivesse guardado o presente. E usado, a julgar por como a camiseta estava gasta.
“Jax. O que está fazendo aqui?”
“O que você acha?” Ele sorriu.
Merda. Aquela covinha me levava à loucura.
Virei para ele, escorando-me contra o balcão do bar e enganchando o sapato na barra
de ferro para apoiar os pés. Era uma pose deliberadamente provocante, e tive exatamente
a reação que estava esperando.
Jax correu os olhos escuros por mim da cabeça aos pés e de volta à cabeça,
demorando-se em minha boca. “Jante comigo.”
“Tudo bem.”
Ele ergueu as sobrancelhas, espantado com a resposta rápida.
“Aqui, seu pedido”, disse Nico, atrás de mim.
Virei-me para ele bem a tempo de vê-lo cumprimentar Jax com um movimento do
queixo e um aperto de mão.
“Jackson”, disse Nico. “Estava falando com Gianna sobre te dar uma surra.”
Jax abriu um sorriso. “É bom ver você também, cara.”
Nico ergueu o indicador num gesto de alerta e afastou-se para o outro lado do bar.
Enquanto transferia as três taças de Bellini para minha bandeja, senti as mãos de Jax
pousando de leve em minha cintura, numa manobra indiscutivelmente possessiva. Seus
lábios se aproximaram da minha nuca, tocando-a superficialmente. “Senti saudades”, ele
murmurou.
Minha mão tremeu ligeiramente ao pousar a última taça. “Não brinque comigo, Jax.
Não tem graça.”
“Você também sentiu.”
“É, senti. Chega pra lá.” Ergui a bandeja e segui em direção à mesa que estava
esperando o pedido. “Vem”, chamei por cima do ombro.
Coloquei as bebidas na mesa, dando um sorriso para as três amigas que tinham tirado
a noite para se divertir. Elas observaram Jax, que tinha se escorado de braços cruzados
em outra mesa, o olhar fixo em mim à medida que me inclinava para entregar as taças.
“Está em treinamento?”, perguntou a morena, escancarando um sorriso para Jax.
“Tentei ensinar umas coisinhas a ele”, brinquei. “Mas não deu certo.”
“Implorei para ela tentar de novo”, Jax disse, piscando para elas. Aquilo eriçou todas
as mulheres… inclusive eu.
“Dê outra chance a ele”, encorajou-me a loura. “Ele está tentando!”
Eu me afastei, e elas continuaram rindo e conversando com Jax, que permaneceu
junto à mesa enquanto eu deixava a bandeja vazia no bar.
“Tudo bem?”, perguntou Nico.
“Tudo.” Endireitei os ombros e escolhi uma linha de ação. Jax e eu poderíamos passar
dias naquela dança se eu deixasse. Mas me faltava paciência para isso. “Vou dar um pulo
lá fora.”
Meu irmão assentiu e apertou minha mão. “Faça esse cara comer o pão que o diabo
amassou.”
“Obrigada.” Girei o corpo e quase atropelei Jax, que chegara pelas minhas costas.
“Está hospedado em algum lugar?”
O leve ar de divertimento em sua expressão dissolveu-se em algo mais sombrio. Mais
quente. “Estou.”
“Vou pegar minha bolsa.”
Jax me segurou pelo cotovelo antes que eu me afastasse. “Gia.”
Eu o fitei, deixando-o me examinar.
Ele acariciou minha pele com o polegar. “Não tem pressa.”
“Faz três dias que você está me seguindo por três estados diferentes. E agora vai dar
para trás? Sério?”
Um sorriso lento se abriu em seus lábios. “Tem razão. Vou pegar o carro.”
*
Ao sair do Rossi’s, reparei na BMW elegante esperando do lado de fora. O carro era
alugado, mas combinava com Jax. Ele estava de pé, esperando-me para abrir a porta, e
seus lábios roçaram em minha bochecha antes de eu sentar no banco do carona.
O jeito como me tocava era viciante, como se não fosse capaz de se conter.
Jax sentou atrás do volante. O motor roncou, e nós partimos.
Recostando-me contra o assento, olhei para ele enquanto dirigia, excitada pela
confiança com que manipulava o carro potente. Suas mãos pousavam com leveza sobre o
volante, os braços estendidos exibindo a beleza de seus músculos delineados. A
sensualidade lhe era inerente, e eu estava perdidamente apaixonada por ele. Era capaz de
adorar qualquer coisa que Jax fizesse.
Isso não era justo, percebi. Nunca reconhecera seus defeitos, embora sem dúvida
existissem. Nunca reconhecera que poderia haver dilemas em sua vida, circunstâncias e
pessoas que talvez o arrastassem em direções distintas, para longe de mim. Nunca fora
além da superfície.
Estendi o braço e pousei a mão em sua coxa, sentindo minha palma formigar assim
que percebi o músculo forte contrair-se em reação ao meu toque. Jax trocou a mão com
que dirigia para segurar a minha, sua pele quente e seca.
Ele olhou para mim. “Nervosa?”
“Não.” Apreensiva, eu diria, mas não nervosa. “Quero você.”
Ele assentiu e acelerou.
Permanecemos em silêncio durante todo o caminho até o estacionamento do hotel e
assim continuamos depois de chegar. Jax parou o carro, e passamos por um portão
lateral que se abriu com um cartão, entrando num pátio central. Pegamos um elevador,
mantendo-nos de pé em lados opostos do espaço confinado, os olhos fixos um no outro à
medida que os segundos se passavam.
A tensão era tanta que ficava difícil respirar. Inspirei fundo, e meus lábios se
separaram. Podia sentir o desejo que irradiava dele, a sede deixando seus músculos
contraídos e afiando seus sentidos para cada reação que meu corpo tinha ao dele. Já
estava duro, o pênis apertado contra o fecho da calça jeans.
Eu estava molhada e pronta, sentindo a dor entre as pernas, os seios cheios e pesados.
Meus mamilos estavam tão rígidos que pulsavam e se empinavam descaradamente na
direção dele.
Seu olhar estava em meu peito, acariciando-me, a língua deslizando ao longo do lábio
inferior numa promessa evidente do que ele ia fazer comigo assim que estivéssemos
sozinhos.
O elevador apitou anunciando nossa chegada ao andar em que ele estava hospedado, e
Jax veio na minha direção, segurando minha mão e me arrastando atrás de si. Depois de
atravessar um longo corredor, abriu apressado a porta do quarto e, num instante, estava
em cima de mim, agarrando-me com tanta força que meus pés deixaram o chão. Larguei
minha bolsa e me segurei nele.
Jax tomou minha boca na sua assim que a porta se fechou, um braço em volta da
minha cintura e a outra mão enfiada em meu cabelo, soltando o elástico que prendia o
rabo de cavalo. A elegância que havia demonstrado na noite anterior desaparecera,
restando apenas a fome animal em seu lugar. Seus lábios apertavam os meus, a língua
invadindo-os ritmicamente, convidando-me a escalar seu corpo grande.
Minhas pernas enlaçaram a cintura esguia, meus braços envolveram seus ombros,
enquanto meus quadris se moviam para me esfregar no contorno rígido de sua ereção. A
pressão me enlouquecia, fazendo-me soltar um gemido, as camadas de jeans entre nós
grossas demais para me proporcionar qualquer alívio.
“Jax.” Engoli em seco junto à sua boca.
“Aguente aí”, rosnou ele, espremendo-me contra a porta.
Voltei as pernas ao chão e levei as mãos até o fecho da minha calça. Abri o botão e
baixei o zíper, forçando-me contra o corpo de Jax, que estava puxando minha camiseta.
Suas mãos encontraram meus seios e os apertaram através do tecido fino do sutiã.
Engoli em seco, assustada com a intimidade.
“Meu Deus, você é linda”, suspirou ele, os polegares circulando os mamilos
endurecidos.
Minha cabeça pendeu para trás, contra a porta, enquanto meus pulmões lutavam por
ar.
Jax baixou o rosto e me lambeu através do sutiã, seus lábios me envolvendo. Chupou
com força, e me contorci, arranhando a porta atrás de mim.
“Anda logo, Jax. Caramba!”
Vi sua covinha reaparecer, e então ele estava me beijando de novo, o corpo rígido
contra o meu, as mãos no meio de nós enquanto ele abria o botão da calça. Mal tive o
bom senso de tirar sua carteira do bolso antes de Jax baixar a calça. Atrapalhada,
encontrei um preservativo e atirei a carteira no chão.
Estava rasgando a embalagem com os dentes quando ele começou a baixar minha
calça bruscamente. Tropecei, rindo, e cai em cima dele, deixando-o me erguer de novo e
me colocar no chão.
Chutei os sapatos e me agarrei a ele, nossos braços e pernas se entrelaçando à medida
que tentávamos nos livrar das roupas ao mesmo tempo que lidávamos com a urgência
desesperada. Jax arrancou a camisa, tirou uma das pernas da minha calça e murmurou
ofegante: “É o bastante”.
Rasgou minha calcinha e assobiou por entre os dentes enquanto eu vestia a camisinha
nele. Em seguida, abriu minhas coxas e enterrou-se em mim.
Sua primeira investida me fez arquear as costas.
“Gia.”
Com o pescoço rígido, os ombros tensos e o suor brilhando no peito, Jax não podia
estar mais bonito. Ele latejava dentro de mim, grosso e forte, fundo. Meus calcanhares
enterraram-se no carpete à medida que meus quadris se moviam, tentando acomodá-lo.
“Espere”, arfou ele, segurando-me pela cintura para me manter parada. “Estou muito
perto…”
“Jax… por favor!”
Ele me fitou com ferocidade, os olhos brilhando na meia-luz do quarto, iluminado
apenas pela luz da rua.
“É isso que você quer?” Ele afastou-se, saindo de dentro de mim. E entrou de novo.
“Ah”, gemi, trêmula. “Não pare.”
Uma mão de cada vez, Jax entrelaçou os dedos nos meus e passou meus braços ao
redor de sua cabeça. Girando os quadris, moveu-se fundo dentro de mim, esfregando-me
com perfeição do lado de fora. Com toda a impaciência que tivera para me conquistar,
Jax estava se demorando bastante agora que o conseguira.
Seus lábios roçaram minha orelha, e ele sussurrou: “Mostra pra mim. Me deixa sentir
você”.
Movendo-me na direção dele, envolvi as pernas em sua cintura e o apertei contra
mim, gozando com um gemido rouco e dolorido, tremendo de prazer à medida que meu
sexo se tensionava em espasmos desesperados ao redor dele.
“Assim”, ele me incentivou com a voz rouca, voltando a se mexer. “Ah, que delícia.”
Segurei firme, suas investidas controladas mantendo-me excitada e sedenta. Senti meu
corpo se contorcer, preparando-se para outro orgasmo.
“Você está tão duro”, sussurrei, adorando a sensação dele escorregando dentro de
mim.
“É por sua causa.” Jax me beijou, as mãos apertando as minhas à medida que seus
quadris se projetavam de novo e de novo, reivindicando-me com investidas profundas e
demoradas. “Gia… você vai me fazer gozar.”
Ele acelerou o ritmo, então ficou tenso, a cabeça jogada para trás ao ser dominado
pelo orgasmo. Fiquei assistindo, admirada, aos tremores que tomaram seu tronco
musculoso. Com os olhos bem fechados, Jax gemeu meu nome, tensionando o pescoço e
gozando com tanta intensidade que atingi o clímax novamente.
Virando a cabeça, enfiei os dentes em seu antebraço, abafando assim os gritos, à
medida que a ânsia se intensificava dolorosamente, para então abrandar e se transformar
num anseio quente e doce.
“Gia.” Ele me abraçou com força, aninhando o rosto suado no meu.
Envolvida em seus braços, ainda sentindo-o dentro de mim, soltei a mordida e apertei
os lábios contra a marca que acabara de deixar, desejando que fosse possível ser tão fácil
marcá-lo como meu.
7

Jax rolou para o lado, ficou de costas no chão e gemeu. “Não consigo sentir as
pernas.”
Eu ri, sabendo bem como ele se sentia. Estava com o corpo inteiro formigando, como
se tivesse acordado de uma longa hibernação.
O que infelizmente era verdade.
Ele virou a cabeça para mim. Eu o fitei.
“Oi”, disse, pegando minha mão e levando-a aos lábios.
“Oi.” Fiquei examinando-o, observando aquele calor gentil em seus olhos do qual
sentira tanta falta.
“Desculpe não ter conseguido chegar à cama.”
“Tudo bem.” Sorri. “Não tenho do que reclamar.”
“Levo você assim que conseguir andar de novo.”
“Está ficando velho, Rutledge?”, provoquei, sabendo que, aos vinte e nove, ele estava
no auge.
Jax fitou o teto elaborado. “Estou fora de forma.”
“Ah, tá.” Cobri o rosto com o braço para esconder minha reação. Não podia pensar
nele com outra mulher. Ficava louca diante da ideia. “Eu leio o jornal, sabia?”
“Sair com uma mulher e transar com ela são duas coisas completamente diferentes.”
Ele se aproximou de mim. Segurando meu pulso, Jax puxou meu braço e expôs meu
rosto. “Mas é bom saber que você ficou de olho.”
“Não fiquei.”
Sua covinha apareceu novamente. “Ah, tá.”
Ele ficou de joelhos e sentou nos calcanhares, tirando a camisinha. Seus movimentos
eram tranquilos e indiferentes, mas a visão de seu pau semiduro e brilhando de sêmen
fez minha boca salivar.
Ergui o tronco, apoiando-me nos cotovelos, e lambi os lábios. “Vem aqui.”
Jax respondeu na mesma hora, o membro endurecendo e aumentando de tamanho.
“Gia.”
Movi-me em direção a ele.
“Pro chuveiro”, disse Jax asperamente, colocando-me de pé e estendendo a mão para
mim. “Se não tomar um banho vou ficar com gosto de borracha.”
“Não me importo.”
“Mas eu, sim.” Jax me colocou de pé. “Depois que entrar na sua boca, vou querer
ficar um tempo lá.”
Olhei para ele, analisando-o, achando-o incrivelmente atraente ali de pé na minha
frente — alto e de peito nu, a calça jeans aberta e arregaçada até o chão, o pênis exposto
curvando-se em direção ao umbigo. Nunca tinha visto nada tão descaradamente
masculino e erótico.
Esse era o Jax que eu conhecia. E amava.
“Olhe para você”, murmurou ele, deslizando o polegar ao longo do meu lábio inferior
intumescido. “Tão sensual. Tão gostosa e bonita.”
“Tá bom.” Minha boca se curvou em desagrado enquanto eu avaliava minha situação.
Tinha uma das pernas presa na calça, a calcinha rasgada e a camiseta enrolada acima dos
seios. Sem dúvida, meu cabelo estava uma bagunça. “Falou como um homem que
acabou de ter um orgasmo e quer outro.”
“Não faça isso.” Ele ergueu meu rosto pelo queixo. “Não pode me pedir para dar tudo
o que tenho e depois não me levar a sério. Não é justo.”
“Não”, concordei. “Não é justo, é?”
Pela forma como ele apertou a mandíbula, sabia que tinha entendido o recado — ele
não me levara a sério… e depois me abandonara.
Jax agachou-se para puxar minha calça, liberando minha perna. Em seguida, pegou
minha mão e contornou comigo a mesinha de centro de vidro e ferro forjado.
Entramos num quarto com uma cama king-size em que havia uma cabeceira de
madeira escura que combinava com a escrivaninha e o armário. Havia uma área de estar
perto de uma janela que se estendia até o teto alto, e a entrada para o banheiro era um
arco maravilhosamente simples.
Quando Jax acendeu a luz, tentei disfarçar meu assombro, mas fiquei feliz por ele não
estar olhando para mim, pois tinha certeza de que havia falhado. O cômodo era enorme,
com um chuveiro que poderia acomodar três pessoas e uma banheira de hidromassagem.
Havia uma televisão embutida na parede, e a pia dupla estava numa peça da mesma
madeira maciça que os móveis do quarto.
Tive que perguntar. “Você reservou este quarto achando que ia me trazer aqui?”
“Torcendo por isso.” Jax me soltou para ligar o chuveiro. Deixei escapar um assobio,
impressionada com o imenso chuveiro embutido no teto, que produzia um jato para
baixo como o de uma cachoeira. Ele me fitou com um sorriso que me encantou. “Posso
terminar de desembrulhar você?”
Uma dor aguda tomou conta de mim. Gia, você é meu presente depois de um dia
longo e cheio. Uma das muitas coisas que ele me disse em Las Vegas e que fizeram eu
me apaixonar por ele.
Perguntei-me, de repente, se esse era só seu jeito, e se ele falava aquilo para qualquer
uma com quem estivesse. Talvez Jax não tivesse ideia de como bobagens açucaradas
como aquelas eram capazes de virar a cabeça de uma mulher. Ou talvez tivesse. O que
me deixava triste.
“Ei.” Ele ergueu meu queixo. “Não fique com essa cara. Estou aqui. Por inteiro.”
“Por quanto tempo? Esse fim de semana?” Afastei-me, com uma sensação incômoda
de autopreservação me avisando para sair enquanto estava por cima. “Não posso fazer
isso, Jax.”
Ele apertou a mandíbula. “Gia…”
Virei-me e corri para o quarto para pegar minhas roupas.
“Que merda é essa?”, exclamou ele, segurando-me pelo braço assim que atravessei o
batente da sala de estar. “Você quis isso.”
“Foi um erro.” Um erro terrível. Estava mergulhada demais em meus sentimentos para
achar que seria só uma despedida.
“Erro coisa nenhuma.” Jax me puxou, obrigando-me a ficar de frente para ele, e me
segurou pelos braços, impedindo que escapasse. “Por que fez isso? Você queria vir aqui.
Queria dormir comigo.”
“Eu queria você que me comesse”, rosnei, odiando ver o jeito como ele recuou diante
das minhas palavras. “Queria acabar logo com essa tensão para você começar a falar a
verdade. Não quero mais essa sua conversinha fiada. É tudo mentira. Você é uma
mentira.”
“Do que está falando? Isto aqui é a mais absoluta verdade, e você sabe disso.”
Soltei-me de seus braços e entrei na sala de estar, sentindo-me uma idiota, só de meias
e camiseta do Rossi’s. “Não tenho tempo para isso.”
“Tempo para quê? Para mim?” Com passadas largas, Jax logo me alcançou. Chegou
primeiro à minha calça e pisou na barra da perna, prendendo-a ao chão. Com os braços
cruzados, exibia todo o poder bruto de seu corpo perfeito. Não ligava a mínima para a
calça ainda desabotoada, embora em algum momento tivesse subido a cueca.
“Não tenho tempo nem paciência para fingir que estamos construindo uma coisa que
nunca vamos ter.” Prendi o cabelo, tentando me concentrar em manter o controle — pelo
menos por fora.
Sua carranca se intensificou. “Quem está fingindo?”
Joguei as mãos para cima. “Por que você fala comigo desse jeito? Toda essa baboseira
sobre me desembrulhar e sentir minha falta e… tudo isso! Por que não pode
simplesmente ser honesto sobre o que a gente tem, sobre o que a gente sempre teve?
Nada além de sexo!”
“Isso não é só sexo”, rosnou ele, aproximando-se. “Ninguém se apaixona só pelo
sexo.”
“Ah, então eu tenho que me apaixonar por você? Isso faz você se sentir melhor?” Para
meu horror, senti os olhos ardendo com lágrimas. “Você já conseguiu o que queria. Não
entendo por que tem que agir como se isso fosse um namoro. Não complique uma coisa
que deveria ser simples!”
“Nunca foi simples com a gente.” Ele exalou bruscamente e esfregou a nuca com a
palma da mão. “O que quer de mim, Gia?”
“Acho que a gente devia se concentrar no que você quer de mim, já que o que eu
quero é irrelevante.”
Ele fechou a cara. “Não é verdade.”
Levei as mãos à cintura. “Quero um compromisso, uma chance, um esforço para
tentar descobrir até onde as coisas podem ir entre a gente. Você já arruinou isso. Então
só restou o que você quer.”
“Quero você.”
“Você quer me comer”, corrigi. “Por que não pode ser honesto quanto a isso?”
“Gia.” Jax balançou a cabeça e soltou um suspiro. “Sou um idiota com todo mundo na
minha vida. Você é a única pessoa a quem dou valor. Não tire isso de mim.”
“Está vendo? É disso que estou falando! Por que você tem que falar esse tipo de
coisa? Por que não pode simplesmente dizer que gosta de mim ou sei lá o quê…?”
“Porque é mais do que gostar de você. Você me deixa louco. Só de pensar em você eu
fico excitado. Vejo você e esqueço quem sou. Não tem ideia do que faz comigo.” Sua
voz tornou-se perigosamente grave. “Você me faz querer fazer sexo o tempo todo, Gia.
Minha vontade é colocar você embaixo de mim e enfiar meu pau fundo até secar. Você
me deixa sedento…”
“Cala a boca!” Eu estava tremendo, e minha fome se intensificava numa reação às
ondas causticantes de desejo que emanavam dele.
“Você sabe do que estou falando. Também sente o que sinto. Me deixa te dar isso.”
“Não!” A recusa doeu fundo, como se eu estivesse imobilizando parte de mim com
arame farpado.
“Me dê a noite de hoje.” Ele pegou minha mão e apertou com muita força. “Uma
noite.”
Ri baixinho, mesmo com a visão ficando turva. “Uma noite para depois você me
esquecer? Que clichê, Jax. Isso nunca funciona. Sexo bom não deixa de ser bom só
porque você fez demais.”
“Então vamos ter uma noite de sexo bom. Nós dois queremos isso. Precisamos disso.”
“Não preciso disso.” Tentei puxar a mão de volta, mas ele não deixou.
“Duvido.”
Só a verdade ia funcionar com Jax. Ele lia meus pensamentos com muita facilidade,
era um especialista em focar na fraqueza do adversário e explorá-la ao máximo.
“Não posso fazer isso”, repeti, sustentando seu olhar. “Não sou como as mulheres
com quem você está acostumado a transar. Não posso fazer isso por diversão ou para
matar a vontade. Não com você. Na última vez, eu me apaixonei. Não posso fazer isso
de novo.”
“Você ainda está apaixonada”, respondeu ele, sem rodeios. “Me dê uma chance de
fazer você parar de se arrepender disso.”
Dei as costas para ele, e corri o olhar pela sala de estar, que era maior do que o meu
quarto. “Quero que você me leve de volta para o Rossi’s.”
“Então temos um problema.” Jax me abraçou por trás. Com os lábios junto ao meu
pescoço, sussurrou: “Quero levar você para a cama. E se você quiser, fico caladinho”.
Fechei os olhos, absorvendo a sensação dele atrás de mim. O calor de seu corpo, o
cheiro de sua pele agora almiscarada pelo suor e pelo sexo, a carícia suave de sua
respiração.
“Você deixou o chuveiro ligado”, falei, agarrando-me a algo vazio e muito menos
pessoal.
“Eu desligaria se não estivesse com medo de você fugir enquanto não estiver
olhando.”
“Você não pode me manter presa aqui.”
“E não quero. Quero que você fique por vontade própria. Quero a Gia que exigiu que
eu a trouxesse aqui e desse a ela o que queria.”
Olhei para ele por cima do ombro e vi seus olhos brilhando para mim por entre as
sombras que acariciavam seu lindo rosto. Senti a pulsão dentro de mim, aquela atração
inexorável entre nós. Não sabia como eliminá-la ou ignorá-la. Alguma piada cósmica
doentia tinha me programado para desejar Jax com todas as fibras do meu ser.
Será que eu tinha o que era preciso para convencê-lo a ficar? Eu tinha o que era
preciso para fazê-lo querer mais… já era um começo.
“Uma noite não é suficiente”, disse, em voz baixa.
“Graças a Deus. Só falei isso para ganhar tempo e convencer você a ficar.”
“Você não pode simplesmente ir embora sem se despedir, como da última vez.” Virei-
me em seus braços. “Quando cansar de mim, quero que me olhe nos olhos e diga que
acabou.”
Jax estreitou os lábios, mas fez que sim com a cabeça.
“Quero exclusividade.”
“Sem dúvida! Não vou dividir você com ninguém.”
“Estou falando de você”, retruquei, secamente.
“Isso é óbvio.” Ele segurou meu rosto. “O que mais?”
“Meus horários são irregulares. Meu trabalho é prioridade.”
“Eu me encaixei na sua vida antes… posso fazer isso de novo.”
Segurei-o pelos pulsos. Podia seguir em frente com minha lista de exigências, mas o
que precisava naquele momento era de espaço para colocar as coisas em perspectiva.
Precisava de tempo para me recompor, recuperar o fôlego e minha autoconfiança; só
então talvez fosse capaz de concluir qual seria o melhor passo a dar. “Quero que você
desligue aquela merda de chuveiro e me leve para jantar. Estou com fome.”
Jax riu, mas sua gargalhada soou forçada. “Você sempre fica faminta depois do sexo.
A gente não pode tomar um banho antes?”
“Não.” Aproximei-me dele. “Quero que você fique com meu cheiro na pele durante as
próximas horas.”
Ele soltou um gemido. “Você quer me punir.”
“É”, concordei. “Isso também.”

Quando Jax e eu voltamos ao Rossi’s, Nico me lançou um olhar de quem entendeu


tudo. Mostrei a língua para ele.
Escolhemos uma mesa e pedimos um vinho shiraz. Pedi lasanha para mim, Jax foi de
pollo alla cacciatora. Enquanto esperávamos pela comida, eu o examinei, admirando o
jeito como as pequenas velas na mesa o cobriam com um tom de dourado. Parecia mais
calmo, mais relaxado, e seu rosto não poderia estar mais bonito.
Tinha aquela expressão de quem acabou de se esbaldar na cama, um ar de que,
embora estivesse saciado, antecipava os prazeres que estavam por vir. Eu adorava ser a
responsável por aquilo, o que também me deixava morrendo de raiva. Porque não eram
apenas as coisas que ele dizia que representavam um perigo: tudo a respeito de Jax me
tornava vulnerável. O efeito que ele tinha em mim era em grande parte devido ao efeito
que eu tinha nele.
Eu o fazia feliz. Eu o deixava satisfeito. E era difícil não achar que isso me tornava
especial, mesmo não sendo boba.
“Regina é sua madrasta?”, perguntei, tentando pensar em outra coisa.
“É.” Ele fitou a própria taça.
“Como foi isso?” Será que ele ia falar de Ian…?
“Minha mãe morreu dez anos atrás.”
“Ah.” Ver o modo como ele se fechou me deixou em alerta — aquele era um assunto
espinhoso. “Sinto muito.”
“Não tanto quanto eu na época”, murmurou Jax, antes de virar a taça quase cheia em
três goles. Ele a encheu novamente e ergueu os olhos para mim. “Sua mãe parece
ótima.”
Assenti. “Ela está feliz. Os filhos estão bem de vida, o negócio vai bem, e em breve
vai virar avó.”
“Como Angelo está lidando com a ideia de virar pai?”
“Bem. Atrapalhou os planos dele de abrir outra filial do Rossi’s, mas acho que é
melhor assim. Denise já tem um negócio, então acho que seria puxado demais os dois
tomarem conta de dois empreendimentos e um casamento novo.”
“Você gosta dela?”, perguntou Jax, alisando a haste da taça.
“Muito. Ela é ótima.” Olhei para a mesa ao lado, uma família de quatro pessoas
discutindo animada como a comida estava boa. “Acho que vi Allison no evento ontem à
noite. Como ela e Ted estão indo?”
Para falar a verdade, não ligava a mínima para como estavam seu primo e sua mulher
rabugenta, mas a menção à mãe de Jax me fez perceber que ele sabia mais sobre mim do
que eu sobre ele. Tirando seus parentes políticos que apareciam nos jornais, Allison era a
única que eu conhecia.
“Bem.” Ele deu outro gole. “Ela é tudo de que ele precisa para concorrer a governador
na próxima eleição.”
“Que bom que ela o apoia.”
Jax soltou uma risada de desdém. “Os dois mal se falam. Mas Allison sabe lidar com a
imprensa e é muito ativa no planejamento da campanha. Ted escolheu bem. Ela combina
com ele exatamente como Regina com meu pai.”
“Achei que o estereótipo do casamento como uma parceria de negócios era coisa de
Hollywood.”
“Não.” Jax esticou o braço e alisou de leve as costas da minha mão. “É preciso lidar
com relacionamentos de forma pragmática. Casar por amor nunca dá certo. Meus pais se
amavam e eram infelizes. Agora, Regina e o meu pai… Eles vão dar certo. Ela sabe as
regras do jogo.”
“Ele parece gostar dela de verdade.”
“Depois do que passou com minha mãe, ela deve ser mesmo fácil.” Jax deu outro gole
e se recostou na cadeira enquanto nossos pratos eram servidos.
A mudança de humor foi outro alerta. Ele não parecia à vontade quando falava da
mãe. Eu teria que ser cuidadosa ao abordar o assunto. “Foi Ian que apresentou os dois,
não foi?”
“O que fez dele um homem de sorte, não é?”, devolveu Jax, com um tom de sarcasmo
na voz.
“Porque ele resolveu cobrar a dívida e você apareceu? Você não pode salvar o cara,
Jax.”
“Não é para isso que estou aqui.” Ele deu de ombros, com uma expressão fria nos
olhos. “Meu papel é manter Lei Yeung sob controle. E isso eu posso fazer.”
Nico se aproximou com um prato de macarrão fumegante nas mãos. “Posso me juntar
a vocês?”
Jax empurrou a cadeira diante dele com o pé. “Quanto mais Rossi, melhor.”
Infelizmente, quando mais Rutledge, mais assustador. E fora isso que tornara Jax o
homem que era.
Perdi-me em meus pensamentos enquanto Jax e Nico conversavam descontraídos, o
que me fazia lembrar como ele não tinha qualquer dificuldade para se encaixar na minha
vida… e quão pouco à vontade eu me sentia na dele.
8

Depois do jantar, Jax e eu seguimos para seu carro alugado. Antes de entrar, parei por
um instante. “Se eu voltar para o hotel agora, você vai ter que me levar para o
apartamento de Nico quando ele sair do restaurante.”
Jax descansou o braço na porta aberta do carro. “Você não vai passar a noite comigo?
Queria que passasse.”
Eu também queria. Uma vez, havia muito tempo, largara tudo por Jax e acabara
ficando magoada com ele por causa disso. Podia não ter aprendido a ficar longe dele,
mas agora sabia uma coisa ou outra sobre manter uma relação mais saudável. “Vim para
cá para passar um tempo com meu irmão.”
Ele estufou o peito e expirou profundamente. “Justo. Pode reservar uma hora para
ficar comigo?”
Estávamos muito próximos um do outro, espremidos no espaço entre o carro e a porta,
mas era como se houvesse um abismo entre nós. Fora eu quem criara aquilo, mas ainda
desejava que ele não existisse. “O que você tem em mente?”
“Qualquer noite durante a semana e, com certeza, o fim de semana que vem.”
Assenti, então entrei no carro. Jax bateu a porta e contornou o carro pela traseira,
dando-me um tempo para conjecturar como o restante da noite ia transcorrer. Mais sexo.
Mais Jax. Ansiava pelos dois, mas seria bom não ter tantas dúvidas e reservas. Sentia
falta de como éramos descontraídos. Mas acho que era uma ilusão minha. Jax sabia que
ia acabar desde o início.
Ele entrou no carro e fechou a porta, mas não deu a partida de imediato.
“Escute”, começou, “você deve saber que isso também é difícil para mim.”
“Mas você sabe o que está acontecendo”, argumentei, calmamente. “Eu não tenho
ideia.”
Jax virou-se em seu assento e estendeu o braço, segurando-me pela nuca e me
puxando na sua direção. Fechei os olhos, antecipando o momento em que seus lábios
entreabertos tocariam os meus. Sua língua delineou o contorno da minha boca, uma
carícia demorada que fez eu me aproximar dele em busca de mais.
“Tão doce”, murmurou Jax. “Vou colocar você na cama e lamber seu corpo dos pés à
cabeça.”
“Você é bom nisso”, respondi, ofegante, sentindo um tremor de ansiedade varar meu
corpo.
Jax se afastou, como que para ligar o carro, então voltou na minha direção, tomando
meus lábios num beijo ardente, molhado e voraz. Ele me comeu com a boca, a língua
movendo-se fundo e veloz dentro da minha. Estava tão sedenta quanto ele, a mão
deslizando entre seu cabelo, segurando os fios pela raiz à medida que o saboreava num
frenesi. Ele envolveu um de meus seios com a mão, apertando-o, envolvendo o mamilo
dolorido com o polegar e o indicador e puxando-o ritmicamente. Soltei um gemido,
excitada e faminta.
“Nossa”, murmurou ele, soltando-me e voltando bruscamente para o assento. “Quero
você aqui. Agora.”
Fiquei mais do que tentada pela ideia. Se estivéssemos em qualquer outro lugar que
não o Rossi’s, talvez tivesse subido em cima dele e concretizado sua vontade.
“Pisa fundo nesse acelerador”, falei para ele.
Jax soltou uma risada rouca e deitou a cabeça no encosto do banco para olhar para
mim. “Tudo bem. Mas, quando estivermos na cama, vou bem devagar.”

“Jax!” Com as mãos agarradas aos lençóis, eu tinha o corpo arqueado, tentando
escapar da tortura de sua boca, embora quisesse mais. Havia esquecido o que ele podia
fazer comigo, como me despia para chegar ao fundo, como seu controle completo de
meu corpo me deixava disposta a fazer ou dizer qualquer coisa em troca do prazer que
ele podia proporcionar.
Jax me segurava pelas coxas, a boca colada em meu sexo pulsante, a língua brincando
comigo. As carícias aveludadas em meu clitóris eram de tirar o fôlego, e a necessidade
de alcançar o clímax era tão violenta que eu estava empapada em suor, as pernas
tremendo pelo esforço.
“Por favor”, implorei, rouca, apertando os seios. Os mamilos estavam inchados e
sensíveis pelos longos minutos que Jax passara se dedicando a eles com puxões lentos e
calculados da boca.
Podia sentir seu cabelo sedoso roçando minha pele. Ele ergueu a cabeça. “Por favor o
quê?”
“Eu quero gozar.”
“Só mais um pouquinho.”
“Por favor!” Enfiei a mão entre as pernas, desesperada para chegar ao alívio.
Jax mordiscou meus dedos, e eu gritei, ofegante.
Com a cabeça baixa, sua língua traçava caminhos por minha pele inchada. Ele
circulou meu clitóris, então brincou junto à entrada mais abaixo.
Agarrei sua cabeça, segurando-o perto de mim e me esforçando para erguer os quadris
contra sua boca. Mas Jax era muito forte e me imobilizou com facilidade, o hálito quente
junto à minha pele sensível. Ele sugava com carinho, movendo-se com vagar ao longo
de minha abertura e fazendo a pressão exata para me enlouquecer.
“Me deixa virar”, arfei. “Me deixa chupar você.”
Sua risada soou tão divertida que me deixou arrepiada.
Então ele enfiou a língua dentro de mim.
“Jax!”
Ele segurou minha bunda e me levantou, inclinando-me em sua boca incansável. Sua
língua me fodia depressa, os mergulhos rasos em meu sexo trêmulo me conduzindo
direto ao orgasmo. Seu rosnado vibrou junto ao meu clitóris, seu prazer alimentando o
meu.
Agarrei seu cabelo, gemendo, cravando meus calcanhares no colchão para me mover
contra seus lábios.
“Não pare”, arfei, tão perto agora, todo o meu corpo formigando.
Jax ficou de joelhos, erguendo-me. Minhas pernas estavam arreganhadas, dando-lhe
acesso ilimitado. Jax me devorou, faminto e ganancioso. O prazer não me deixava
respirar. As lambidas frenéticas contra os tecidos sensíveis inundaram meus sentidos. Eu
fiquei observando, exatamente como ele queria que eu fizesse. A visão de sua cabeça e
de seus cabelos escuros entre as minhas coxas, as investidas rápidas de sua língua, a
beleza de seus bíceps contraídos por sustentar meu peso… era tudo insuportavelmente
erótico.
Jax era lindo. Tudo o que sempre quis. E a necessidade feroz estampada em seu rosto
me avisava que ele ia me conduzir ao meu limite antes de chegar ao fim.
Outro gemido irrompeu de minha garganta seca. “Ah, Jax… Vou gozar.”
“Espera”, ordenou ele. “Quero que goze com meu pau dentro de você.”
Soltei um grito frustrado por entre os dentes enquanto ele me colocava de volta na
cama e se afastava para pegar um preservativo. Um segundo depois, já estava de
camisinha, montando em mim, mas demorou demais. Eu estava sem paciência. Agarrei-
o entre os braços e as pernas e o puxei na minha direção, erguendo-me para ele.
Jax me deixou trazê-lo para junto de mim, mantendo as mãos espalmadas na cama ao
lado de meus ombros, os bíceps grossos rijos. Então colocou uma das mãos entre nós,
para segurar o pênis e acariciar minha pele escorregadia. Engoli em seco. Seus olhos
escureceram, as bochechas corando à medida que abria minha entrada sedenta.
“Jax”, rosnei.
Ele desceu com força, entrando fundo num único movimento, fazendo-me gritar ao
ser dominada pelo orgasmo. Com o pescoço arqueado e os olhos apertados, permaneci
rígida, sentindo o prazer correr por meu corpo, meu âmago se tensionando com aquele
pau grosso e poderoso dentro de mim.
“Assim”, gemeu ele, cerrando os punhos junto aos lençóis e impulsionando o membro
rijo e comprido em meu corpo trêmulo. O clímax se intensificou, exacerbado pelas
investidas rítmicas de suas pélvis contra meu clitóris… a sensação de sua ereção
pulsando implacável.
Eu me contorci, perdida, completamente entregue a ele, lutando para me segurar,
apesar de querer me render.
“Isso.” Os lábios de Jax estavam junto da minha orelha, sua respiração quente e
acelerada. “Enterra os dedos em mim.”
Minhas unhas agarravam suas costas molhadas de suor, sentindo os músculos se
flexionarem à medida que seu corpo trabalhava para satisfazer o meu. Seu quadril se
enrijecia e relaxava, suas pernas tensionavam e intensificavam o movimento.
Ele enfiou os dentes no lóbulo da minha orelha e gemeu, seu abdome trabalhado
contra meu estômago, o suor dele e o meu grudando-nos.
“Os barulhos que você faz”, arfou Jax. “Me deixam ainda mais duro.”
E ele estava duro. Feito pedra.
“É tão bom.” Tentei engolir, com a garganta completamente seca. “Jax… é bom
demais.”
“Você foi feita para mim”, disse ele, intensamente. “Ninguém mais, Gia. Você é
minha.”
E a cada investida ele provava seu ponto, devorando-me tão completamente que eu
não podia pensar em mais nada além da necessidade de gozar mais uma vez.
Meu corpo já não me pertencia.
Jax era o único capaz de fazer aquilo comigo… tirar-me do sério… virar um bicho.
Na cama com ele, não era eu mesma, era dele. Pronta e disposta a fazer tudo o que ele
quisesse, a aceitar qualquer coisa que me oferecesse, sabendo que me faria gozar de
novo e de novo…
Gemi baixinho, sentindo-o aumentar seu aperto, os músculos enrijecendo à medida
que o prazer aumentava.
Jax baixou o rosto úmido contra o meu. “Tão quente e apertadinha… Gia.”
Percebi que estava se agarrando a mim tão desesperadamente quanto eu a ele, aquela
urgência contagiando cada fôlego e cada toque. Jax estava me comendo como se fosse
morrer se tivesse que parar, como se fosse possível me foder forte o suficiente para
mergulhar ainda mais fundo em mim.
Quando o orgasmo me atingiu, meus olhos encheram-se de lágrimas, deixando-me
sem fôlego e embaçando minha visão. Um ruído grave que eu era incapaz de reconhecer
como meu escapou.
“Ah, linda.” Ele me beijou, absorvendo o som, desacelerando seus movimentos até
estar apenas movendo os quadris, mexendo a ereção pulsante dentro de mim. “Adoro o
som que você faz quando goza. Assim sei o quanto você gosta, o quanto ama meu pau…
minha boca… minhas mãos.”
Eu o amava muito.
Estava esparramada sob seu corpo, arreganhada e possuída, e Jax parecia um sonho.
Algo que eu havia conjurado.
“Sinta meu corpo”, sussurrou ele, erguendo o tronco para olhar para mim. Seus olhos
estavam escuros, o rosto corado, a pele tensionada pela luxúria, os ângulos esculpidos de
seu rosto. “Dentro de você…” Ele moveu o quadril. Em seguida, pegou minha mão e a
levou até seu peito molhado: “E você dentro de mim”.
“Jax…”
Ele tomou minha boca, beijando-me intensamente, a língua se esfregando na minha.
Seus quadris moviam-se devagar, o que me permitia sentir cada centímetro pulsante de
seu corpo. A carícia tranquila e deliberada sobre os nervos sensíveis me mantinha
excitada e ansiosa. Ele se lembrava muito bem do meu corpo, sabia exatamente como me
manter em ponto de bala.
“Senti saudade, Gia”, sussurrou ele, em meio ao beijo. “Você também sentiu minha
falta?”
Quando não respondi, Jax ajeitou os fios molhados do meu cabelo e me examinou em
busca de uma resposta.
Meu sexo latejava ao longo de seu membro. Com os olhos fechados e os lábios
entreabertos, Jax tensionou o corpo. “Ainda não. Não vou gozar agora.”
“Por favor…” Eu estava implorando e não ligava a mínima. Só queria que ele
gozasse. Queria isso mais do que qualquer coisa.
“Não vou apressar.” Ele levou a mão às costas para pegar meu pulso e estendeu meu
braço direito. Com a outra mão, apertou minha bunda, erguendo-me num impulso suave
e fácil. “Humm… perfeito. Sempre foi perfeito.”
Eu queria provocá-lo, jogar o jogo com tanta frieza quanto ele, mas não era capaz.
“Pare de pensar e sinta”, murmurou Jax, mordiscando o canto da minha boca. “Me
deixa fazer você se sentir bem. É tudo o que quero. Fazer você se sentir bem.”
Virando a cabeça, mordi seus lábios e deixei que ele fizesse o que queria.
*

Nico me observou enquanto eu me acomodava num dos bancos do bar do Rossi’s


depois do expediente, e eu tinha certeza de que notara que estava sem maquiagem, o que
traía a chuveirada que havia tomado meia hora antes. Meu irmão estava limpando o bar,
mas parou e pegou uma garrafa de cerveja, abrindo-a antes de deslizá-la para mim.
“Tinha esquecido como gosto de Jax”, ele disse, puxando conversa.
Concordei com a cabeça. Também gostava de Jax. O problema era que não sabia qual
Jax era o verdadeiro.
“Vocês voltaram?”
“Não, é temporário. Mas, desta vez, sei as regras do jogo.”
“Talvez não goste tanto dele assim.” Nico abriu outra garrafa e deu um longo gole.
“Ele está apaixonado por você, sabia?”
“Ele sente tesão por mim”, corrigi, secamente, descascando o rótulo da garrafa. “E,
por mim, tudo bem, posso viver com isso. Minha dificuldade é lidar com as outras
coisas: o jeito como ele fala comigo às vezes, como se fosse mais do que isso, e a
piração na minha cabeça sobre por que foi embora e agora voltou.”
“Minha oferta de dar uma surra no sujeito para ver se ele cria juízo ainda está de pé.”
Sorri. “Talvez fosse mais fácil e eficaz fazer com que eu criasse um pouco de juízo.”
“Também posso fazer isso.” Nico bateu sua garrafa contra a minha, num brinde. “Mas
você já é muito ajuizada. Sabe o que está fazendo. Só queria não estar fazendo. Ele
obviamente não tem ideia, pois se tivesse não correria o risco de deixar você escapar.
Nunca vai encontrar alguém melhor que você.”
“Ah, por favor, não venha com esse papo para cima de mim. Não vou aguentar.” Não
era brincadeira. Estava me sentindo chorosa e sentimental. Sexo com Jax me deixava
assim.
Nico sorriu. “Tudo bem. Levanta essa bunda da cadeira e me ajuda a limpar este lugar
pra gente poder sair logo daqui.”
Desci do banco com um suspiro. “Droga. Devia ter aceitado o papinho.”

No domingo de manhã, acordei com uma batida insistente na porta. Rolei para fora do
sofá com um palavrão e tropecei, decidida a praguejar contra quem fosse.
Ao usar o olho mágico, no entanto, o que vi foram rostos queridos.
Soltei a corrente de segurança e girei a maçaneta para abrir a porta para meus irmãos e
Denise. “O que aconteceu?”, resmunguei.
“Pois é. O que aconteceu?” Nico surgiu do quarto vestindo uma calça de moletom que
mal se segurava na cintura dele. Irmão ou não, eu sabia que ele era muito bonito. “Vocês
sabem que horas são?”
Vincent foi o primeiro a entrar. “Hora de acordar.”
Angelo veio logo atrás de Denise, segurando sua mão. “Você deixou Gianna dormir
no sofá? Sério?”
“Eu ofereci a cama.” Nico cruzou os braços. “Ela não quis.”
“Mais que compreensível”, disse Vincent. “Se aquela cama falasse, teria o próprio
reality show.”
“Deixe de ser ciumento”, retrucou Nico. “Tenho certeza de que sua cama um dia vai
ver algum tipo de ação. Apesar de tudo, você ainda é um Rossi.”
“O que estão fazendo aqui?”, interrompi. Estava feliz de vê-los. Ter minha família ao
redor trazia de volta um pouco da normalidade que perdera na última noite na cama de
Jax. Estava me sentindo como Gianna Rossi de novo — sem acreditar que era a mulher
se contorcendo, gemendo e unhando que gozara meia dúzia de vezes em uma questão de
horas. Era como se eu fosse duas pessoas diferentes.
E você está com raiva de Jax por ter duas caras…
“Estamos esperando vocês se vestirem pra gente ir tomar café”, respondeu Denise.
Seu cabelo estava preso em duas trancinhas que emolduravam seu rosto branco. O batom
combinava com o tom de rosa do cabelo, fazendo-a parecer algum tipo de heroína de
mangá. “Estou morrendo de fome.”
“Vocês têm problemas”, murmurou Nico. “É cedo demais para comer ou fazer
qualquer coisa.”
“São nove horas”, observou Vincent.
Nico me lançou um olhar e falou com a voz arrastada: “Então”.

Ao meio-dia, já tínhamos comido e estávamos na quadra de basquete do condomínio.


Modéstia à parte, eu era muito boa — tanto que tinha conseguido uma bolsa parcial na
Universidade de Nevada-Las Vegas. Claro que tudo o que sabia havia aprendido com
meus irmãos.
Tinha acabado de fazer uma cesta de três pontos e estava dispensando as provocações
e as zombarias com um aceno de mão quando avistei Jax caminhando na nossa direção.
Parei onde estava, admirando suas pernas compridas expostas pela bermuda e a camiseta
folgada. Estava de óculos escuros e girava as chaves do carro no dedo. Quando Nico
jogou a bola para ele, Jax pegou-a e me presenteou com seu sorriso e suas covinhas.
“Oi”, disse, aproximando-se de mim e pressionando os lábios contra minha testa
corada.
“Você nos achou.” Uma onda quente de prazer passou por mim. Ele havia me pegado
e me deixado no Rossi’s, portanto, encontrar o condomínio de Nico havia exigido
iniciativa e empenho.
“Senti falta de acordar do seu lado”, ele sussurrou contra minha pele.
Os óculos de sol tornavam impossível ler seu olhar. Peguei a bola e andei com ele,
para recuperar o fôlego.
“Rutledge”, Angelo cumprimentou, irritado.
“Segura a onda, nervosinho”, advertiu Denise, levantando da cadeira que seu marido
tinha arrastado da área da piscina. “Oi, sou Denise. Mulher do Angelo.”
Jax apertou a mão dela. “Prazer.”
“Ouvi muito a seu respeito”, comentou minha cunhada. “Só coisa ruim. Espero que
mostre que eles estavam errados.”
Jax me fitou de sobrancelhas arqueadas.
“Ah, ela não fala uma vírgula sobre você”, continuou Denise, fazendo-me sorrir. Ela
sabia dar suas alfinetadas.
Vincent e Angelo apertaram relutantes a mão de Jax. E então Vincent perguntou: “A
gente vai jogar ou o quê?”.
“Eu entro quando der”, disse Jax, surpreendendo-me.
Nico passou a mão pelo cabelo. “Entre no meu lugar, no time da Gianna. Estou
exausto, graças a umas visitas que resolveram aparecer cedo demais.”
“Viadinho”, murmurou Angelo.
“A gente estava destruindo vocês.”
“Porque a gente estava pegando leve”, respondeu Vincent, segurando a bola que
arremessei na direção dele. “Já que ninguém aguenta ouvir sua ladainha.”
“Vocês não precisavam ouvir nada, era só ter ficado em casa.”
“Já chega”, exclamei. “Vamos jogar.”
“Assim que eu gosto”, disse Jax com um sorriso.
Recomeçamos o jogo. E Jax era bom. Muito bom.
Jogava basquete de vez em quando. Não como você. Nunca me dediquei muito.
Lembrei-me das palavras que dissera um dia, sussurradas junto ao meu ouvido depois
do sexo, enquanto ficávamos abraçados. Ele obviamente havia treinado desde que nos
separáramos.
Será que fora por minha causa? Ou será que era viagem minha?
Jax passou a bola, e eu fiz a cesta.
Se ao menos compreendê-lo fosse assim tão fácil.
9

A segunda-feira foi um dia como qualquer outro, mas ainda assim pareceu diferente.
Foi preciso muito trabalho para tirar meus pensamentos de Jax. Pelo menos até chegar ao
escritório.
Cheguei meia hora adiantada, mas Lei já estava lá, sentada à sua mesa com um
vestido preto e um blazer com detalhes vermelhos. O cabelo estava preso, e os óculos
empoleirados na ponta do nariz. Ela ergueu o olhar quando passei pelas portas abertas de
sua sala, a boca maquiada formando uma linha tesa.
“Ian falou com Isabelle no fim de semana, e ela assinou com ele”, disse, retirando os
óculos.
“O quê? Como ele sabia?”
Lei recostou-se em sua cadeira. “Boa pergunta.”
Senti um frio na barriga. “Não contei para ninguém. Juro.”
Ela assentiu, entristecida. “Eu sei.”
“Você acha que Isabelle usou sua oferta para ganhar mais do Ian?”
“Talvez.” Lei gesticulou para que eu me sentasse em uma das cadeiras diante de sua
mesa. “Ele é mais conhecido do que eu.”
Graças à cadeia de lanchonetes temáticas de Hollywood que ela concebera e que Ian
roubara dela. Uma ironia dolorosa.
“Mas acho que não”, prosseguiu. “Uma das coisas que interessou Isabelle foi o fato de
a Savor ser dirigida por uma mulher. Ian deve ter feito uma oferta boa demais para ser
recusada.”
“Que tipo de oferta?”
“É o que pretendo descobrir. Vou almoçar com Isabelle para ver se consigo tirar
alguma informação dela.”
Sentei na cadeira. “Eu devia conversar com Chad. Talvez almoçar com ele.”
“É, eu ia sugerir isso.” Lei me avaliou. “Você encontrou Jackson Rutledge no fim de
semana?”
Hesitei por uma fração de segundo antes de responder, sentindo-me cercada.
“Encontrei”, confessei, “mas a gente não falou de negócios. Nem mesmo de forma
indireta.”
“Você confia nele?”
“Eu…” Franzi o cenho. Confiava nele com meu corpo. Confiava que soubesse o
quanto minha família significava para mim. Algo mais importava? “Em que sentido?”
Minha chefe sorriu de um jeito que indicava que sabia o motivo de minha hesitação.
“O que vai fazer com ele?”
Recostando-me na cadeira, assimilei a pergunta. Passara o fim de semana me fazendo
diversas versões da mesma questão, mas não tinha de fato pensado no assunto. O que eu
ia fazer? Dei-me conta de que nunca tinha feito nada quando o assunto era Jax. Ele
decidia quando nosso relacionamento começava e terminava, onde nos encontrávamos e
quando — e como — fazíamos sexo. Até agora, eu simplesmente seguia a corrente.
Já estava na hora de começar a estabelecer minhas próprias regras. Algo mais do que
pedir que se despedisse quando ele decidisse que estava tudo acabado.
“Não sei ainda”, respondi honestamente. Mas ia pensar a respeito.

Ao voltar para minha mesa, liguei para o Four Seasons e deixei um recado na
recepção para Chad me ligar. Era cedo ainda, e não queria correr o risco de acordá-lo.
Queria que estivesse descansado e ligado para repassar nosso plano de negócios.
Não tínhamos mais Isabelle. Precisávamos de alguém para substituí-la. E logo.
Revisei todas as anotações, procurando por chefs que tivessem despertado minha
atenção. Não havia muitos especializados em comida italiana, principalmente porque
minha origem me tornava uma pessoa difícil de impressionar. Dito isso, escolher outro
cozinheiro da área seria um problema — ficava difícil apresentar a deserção de Isabelle
de um jeito que não fizesse o novo participante se sentir como a segunda opção.
Bati de leve a caneta contra o queixo, pensando. “Um americano, um europeu…”
Lei saiu de sua sala.
“Um asiático!”, exclamei.
Ela parou num sobressalto, as sobrancelhas arqueadas. “O que foi?”
Fiquei de pé. “Chad representa a culinária dos Estados Unidos. Inez, a europeia. Acho
que a gente precisa de alguém que represente…”
“A Ásia.” Ela cruzou os braços. “Você tem ideia de quão difícil seria conceber um
cardápio com essa combinação?”
“Mais fácil do que convencer um chef de que não foi nossa segunda opção.”
Ela franziu os lábios. “É um bom argumento. Tem alguém em mente?”
“David Lee.”
Lei sorriu ligeiramente, os olhos ostentando uma expressão de aprovação. “Ele é bom,
só não sei se está pronto para isso.”
Assenti, concordando inteiramente com minha chefe. “É por isso que estou pensando
em levar Chad ao restaurante em que Lee trabalha. Apresentar os dois. Ver como se dão.
Se é que se dão. Chad pode orientar David.”
“Um mentor.” Lei assentiu, pensativa. “Cuide disso, e a gente se fala depois do
almoço. Vamos precisar agir logo, mas temos o restante do dia para decidir.”
Fiquei grata por sua confiança e estava determinada a não decepcioná-la. “Obrigada.”
Lei sorriu. “Gostei de sua rapidez de raciocínio, Gianna. Estou impressionada.”
Sorrindo de volta, voltei ao trabalho.

Pouco depois das dez, chegou um lindo buquê de lírios orientais num gracioso
vasinho cor-de-rosa. Ao ver LaConnie carregando-o pelo corredor, prendi a respiração.
Tinha certeza que eram de Jax. Eram minhas flores preferidas, e ele sabia disso.
“Quem mandou?”, perguntou LaConnie, colocando o vaso em minha mesa. “Pode ser
alguém interessado em algo mais.”
Quem dera… Segurei o cartão, mas não tive coragem de abrir na frente de ninguém.
Parecia pessoal demais. “Pelo menos tem bom gosto.”
LaConnie estreitou os olhos na minha direção antes de se afastar.
“Lindo vestido”, eu disse, admirando o tubinho preto, que tinha um viés azul-claro
combinando com os sapatos.
“Mudar de assunto não vai me distrair. Continuo querendo saber quem mandou as
flores”, avisou ela.
“Depois eu conto”, prometi.
LaConnie apontou na minha direção. “Vou cobrar, hein?”
Afastei-me, puxei o cartão e abri.

Janta comigo hoje à noite?

A pergunta direta era tão típica de Jax que não pude deixar de abrir um sorriso. Ainda
assim, as coisas tinham que ser diferentes agora. Ele havia se insinuado na minha vida
com tanta habilidade que eu não fora capaz de escapar das memórias até ir embora de
Las Vegas, apesar de mal ter entrado em sua vida. Quando ele terminasse de novo, ia
acontecer o mesmo com Nova York — eu teria memórias de Jax espalhadas por todo
canto. Mas ele estaria a salvo do meu fantasma.
Isso tinha que mudar. Daquela vez, eu ia persegui-lo do mesmo jeito que ele me
perseguia.
Vasculhei meu celular dentro da bolsa e encontrei o número com o qual me telefonara
na noite em que eu levara Chad para o salão de beleza de Denise. Mandei um
mensagem: Só se você cozinhar. Pode ser no seu apartamento?
Cinco minutos depois, o telefone vibrou. A resposta: Te pego que horas?
A onda de triunfo que senti iluminou meu dia. 5h30. Aliás… valeu pelas flores.
Lindas.
Você também, mandou ele.
Digitei uma resposta rápida: Diz o homem mais lindo que eu conheço.
Houve uma pausa tão longa que achei que ele não mandaria mais nada. Então recebi:
Só por fora.
Aquilo ficou na minha cabeça por um bom tempo.

Quando Chad me ligou de volta, pedi que fosse ao escritório da Savor. Achei que
seria uma boa relembrar a ele o quanto Lei era bem-sucedida. Chad chegou pouco antes
do meio-dia, muito bonito com uma calça cáqui e uma camisa social, com o colarinho
aberto e as mangas dobradas.
Fui encontrá-lo na recepção e o levei até minha mesa com o pretexto de buscar minha
bolsa. Queria aproveitar a oportunidade de exibir o lugar mais uma vez.
“Que bom que ligou”, disse Chad, caminhando ao meu lado. “Estou começando a ter
minhas dúvidas, com tudo o que tem acontecido.”
“Imagino. Tanta coisa acontecendo junto não pode parecer um bom sinal.”
“Pois é.” Ele me lançou um sorriso agradecido. “Você me entende.”
“Claro. É por isso que você tem que confiar em mim quando digo que vou avisar você
se chegar o momento em que for melhor jogar a toalha.” Paramos diante da minha mesa,
e me virei de frente para ele. “Não vou passar a perna em você, Chad. Prometo.”
Ele enfiou as mãos nos bolsos. “Estou encurralado no meio de um cabo de guerra
entre Ian e Lei, e não posso deixar de pensar que isso significa que não tem ninguém
além de você prestando atenção em mim. Eu podia ser qualquer um.”
“Mas você não é qualquer um. Você é um dos chefs mais talentosos do mundo, e
ainda vou ver você brilhar.”
Inclinando-se para a frente, ele pegou minha mão. “Obrigado.”
“Eu que o diga. Você está me dando a chance de fazer isso acontecer.”
Chad olhou para os lírios na minha mesa. “Bonitas flores. Você tem um admirador?
Tenho concorrência?”
“Não é nada demais.”
“É difícil ter alguma coisa séria quando se trabalha tanto quanto a gente.”
“É verdade.” Peguei minha bolsa. “Sou casada com minha carreira maravilhosa.”
Chad assentiu. “Sei como é. Fico feliz de saber que vamos enfiar a cara no trabalho
juntos pelos próximos meses. Se der tudo certo, claro. Talvez a gente consiga encontrar
algum tempo para se divertir. Sem compromisso.”
Minha boca se curvou num sorriso. “Pode ser. Pronto para uma aventura?”
“Desde que conheci você.”
Rindo, segurei seu braço e saímos do escritório.

“Rutledge Capital.”
Ergui os olhos e vi Lei se aproximando da minha mesa. Estava esperando por ela para
dar as boas notícias: a ideia de trabalhar com David Lee podia funcionar. Ele e Chad
tinham se dado bem de cara. E quando falei por alto com David sobre nossos planos para
Chad, ele disse abertamente que também estava esperando por uma oportunidade
daquelas.
“O que é que tem?”, perguntei, ficando de pé.
“Segundo Isabelle, a Rutledge Capital se comprometeu a fazer um investimento
significativo na Pembry. Ela disse que falou com o próprio Jackson Rutledge no
domingo, e ele confirmou.”
Senti como se tivesse uma pedra de gelo na barriga. “Ontem?” Um fim de semana que
Jax passara comigo. Em cima de mim…
Afundei lentamente na cadeira.
Lei assentiu, pesarosa. “Ian ofereceu a Isabelle um pacote extremamente lucrativo. Ela
seria uma idiota de recusar.” Minha chefe fechou os olhos e apertou a ponte do nariz.
“Que imbecil! E mesquinho. Ian não está tomando atitudes inteligentes. Nem Rutledge.”
Eu mal saíra da cama dele, e Jax me apunhalara pelas costas.
“A gente tem David Lee”, argumentei, com a voz rouca. Tinha que me concentrar em
nosso objetivo imediato. Ia dar certo se eu me dedicasse ao máximo. “Ele gostou da
ideia de um trio. Menos pressão enquanto encontra seu caminho.”
“Ah”, respondeu ela, seca. “Quer dizer que ele é humilde assim?”
“É uma decisão estratégica. Não vai demorar para querer se desvencilhar do projeto,
mas acho que conseguimos ficar uns dois anos com ele.”
Lei soltou um suspiro elaborado. “Fui em frente e assinei com Inez antes de Ian
conseguir falar com ela. Depende exclusivamente de fecharmos negócio com a
Mondego, mas nos dá uma segurança.”
“Então estamos de volta no páreo.” Olhei de relance para as flores em minha mesa. Se
Jax estava planejando se despedir naquela noite, ia ter uma surpresa. Eu não ia permitir
que ele simplesmente entrasse na minha vida e estragasse tudo… de novo.
Quem ri por último, ri melhor. E eu estava determinada a rir por último.
“Tudo bem com você?”, perguntou Lei, examinando meu rosto.
“Tudo”, respondi calmamente, sentindo o frio na barriga se espalhar por meu corpo,
deixando-me anestesiada. “É melhor a gente assinar com David o quanto antes.”
“Também acho. Vou cuidar disso.”
“E talvez a gente devesse levar Chad para visitar a Mondego, em Atlanta. Dar a ele
uma ideia de que as coisas estão andando bem rápido.”
“Você quer fazer isso.” Não foi uma pergunta.
“Acho que ia ser bom me afastar por uns dias.”
Lei debruçou-se por sobre minha mesa. “Se afastar de Jackson?”
“Na verdade, vamos jantar hoje à noite.”
Algo em meu tom de voz deve ter revelado meus pensamentos, porque seus lábios se
curvaram num sorriso irônico. “Isso vai ser interessante.”
“Pode apostar.” Expirei a mágoa que não podia mais conter e deixei a raiva tomar
conta de mim. A preocupação logo ocupou seu lugar. “Você se importa que eu esteja
saindo com ele?”
“Não esqueci por que contratei você, Gianna.” Lei seguiu em direção à sua sala. “Não
se preocupe, não me importo, e você vai ficar bem.”
Eu ia. Mas ainda não estava.

O relógio bateu cinco horas e minha ansiedade aumentou. E não só porque Chad havia
concordado em ir para Atlanta no dia seguinte e eu estava pronta para sair da cidade. A
verdade é que estava pronta para ver Jax e lidar com ele. Quando o vi esperando por
mim no meio-fio na saída do trabalho, tive que me forçar a desacelerar o passo e agir
como se não houvesse nada de errado em minha vida e eu tivesse todo o tempo do
mundo.
Ele estava recostado em um McLaren preto, um carro que aprendi a reconhecer
porque um dos chefs de Lei havia comprado um para comemorar o quinto aniversário de
seu primeiro restaurante. Jax tinha os braços e as pernas cruzados, em uma pose sensual
e relaxada. Óculos escuros protegiam seus olhos dos reflexos ofuscantes que os arranha-
céus à sua volta produziam. Estava de calça social preta, camisa branca e gravata cinza.
O cabelo escuro estava despenteado, como se tivesse simplesmente passado os dedos por
entre os fios e os deixado como ficaram.
As mulheres na rua o encaravam ao passar por ele, virando a cabeça para admirá-lo
mesmo enquanto andavam. Os homens o fitavam de relance e mudavam de caminho,
reconhecendo instintivamente um macho-alfa em repouso. Jax sempre tivera esse efeito
nas pessoas.
Endireitando os ombros, passei pelas portas giratórias e caminhei direto para ele.
Estava usando um tubinho preto da Nina Ricci. Era uma peça elegante e clássica que eu
havia combinado com os sapatos de salto Louboutin nude que meus irmãos tinham me
dado em meu último aniversário.
Eu parecia o tipo de mulher que seria vista ao lado de Jackson Rutledge. Mais que
isso: eu me sentia assim.
Mantendo o ritmo, marchei até ele, agarrei sua gravata com uma das mãos e me
estiquei para um beijo. Forte.
Fui recompensada pelo som grave que ele emitiu, seguido pelo desdobrar rápido de
seu corpo. Jax me agarrou antes que eu pudesse me afastar, segurando-me pela nuca e
pelo quadril, mantendo-me grudada a ele enquanto aprofundava o beijo numa fusão
completa de nossas bocas abertas.
De pé na rua, com os carros e as pessoas passando à nossa volta, nós nos beijamos
como se estivéssemos sozinhos.
“Oi, linda”, ele disse com a voz rouca, quando me afastei para encher os pulmões
extenuados. Jax passou a bochecha na minha.
Com um movimento rápido do corpo, soltei-me de seu abraço e lhe dei um tapa no
rosto.
Ele virou a cabeça de lado com o golpe, a respiração sibilante por entre os dentes.
Esfregando o queixo, virou-se para mim com os olhos ardentes. “Imagino que isso não
seja só porque você queira apimentar um pouco as coisas.”
“Você me sacaneou, Jax. Logo depois de me comer. Deu tempo de tomar um banho
antes? Ou ainda estava com meu cheiro no corpo quando deu o bote?”
“Entre no carro, Gia.”
“Você é um babaca.” Despejei toda a minha raiva borbulhante nele. Em mim. Em
toda a situação. Mas principalmente nele.
“Sempre fui”, Jax concordou com um tom sombrio na voz. Ele se endireitou e abriu a
porta do carona, puxando-a para fora e então empurrando-a para cima. “Você demorou
para descobrir.”
Fiquei ali por um instante, encarando-o. Ele me encarava de volta, os olhos
escondidos pelos malditos óculos escuros, a boca contraída numa linha inflexível.
“Não perca a autoconfiança agora”, zombou baixinho.
Minha mente girava. Por que ele queria que eu entrasse no carro? Por que as flores e o
convite para jantar? “Acha que vai rolar uma transa de despedida, é?”
“Não estou terminando. Quero você. Isso não é novidade.”
Sua atitude e sua falta de remorso me fez ranger os dentes. Era como se ele estivesse
me desafiando a terminar.
Sentei no banco e coloquei o cinto de segurança.
Jax enfiou a cabeça no carro e me fitou por cima dos óculos escuros. “No futuro,
lembre que o tapa não era necessário. Você me nocauteou só com o beijo.”
Ele se endireitou e fechou a porta.
Sorri, melancólica. Jackson Rutledge ia aprender uma coisa ou outra sobre brincar
comigo, fosse nos negócios ou fosse na cama.

Jax entrou com o carro no estacionamento subterrâneo de um prédio, e dois


manobristas usando gravatas-borboleta nos cumprimentaram. Enquanto um deles me
ajudava a sair do carro, notei mais uma vez o abismo financeiro que havia entre nós. Não
ficava intimidada por sua riqueza, mas talvez a disparidade fosse um problema maior
para ele.
Pensar nisso não melhorou meu humor.
Entrelaçando nossos dedos, Jax me conduziu até o elevador. Eu estava meio que
esperando que fôssemos pegar um avião para Virgínia ou Washington, e percebi de
repente que nunca me permitira imaginar a possibilidade de Jax viver pelo menos parte
do tempo em Nova York também. Mas fazia todo sentido que ele tivesse um
apartamento na cidade, o centro financeiro do país.
As portas do elevador se fecharam atrás de nós, e ele me puxou para junto de si na
mesma hora. Eu deixei. Jax recostou-se contra o corrimão de metal, abriu as pernas e me
colocou entre elas, correndo as mãos ao longo de minhas costas.
Fazia muito tempo que não era abraçada com tanta intimidade e tanto carinho.
Ele estava o tempo todo em Nova York…
Fechei os olhos e absorvi o calor de seu corpo, o cheiro de sua pele, a leve carícia de
sua respiração junto à minha têmpora. Havia muito tempo que me negara o conforto do
toque de um homem.
“Como foi seu dia?”, murmurou ele.
“Cheio. E o seu?”
“Não consegui parar de pensar em você.”
Fechei os olhos de novo, agarrando-me firmemente à minha ira. Era uma tarefa mais
difícil do que deveria ser.
Jax recostou o rosto contra minha testa. “Desculpe, Gia.”
“Pelo quê? Por ajudar Pembry a foder com a negociação que eu estava fazendo?”
Ele suspirou. “Você sabe como essas coisas funcionam. A gente falou disso.”
“Isso não é desculpa. Não me venha com essa.”
“É compreensível, mas você vai encontrar um jeito de lidar com isso. É só um
pequeno contratempo que você não vai ter problema nenhum em contornar.”
Fitei seus olhos. “Pode ter certeza.”
O elevador apitou, anunciando nossa chegada ao andar dele. Quando me virei e vi um
pequeno hall e portas duplas, percebi que Jax morava na cobertura. O que explicava por
que o elevador privativo não havia parado entre a garagem e o que eu agora sabia ser o
último andar.
Segurando minha mão novamente, Jax caminhou comigo pelo piso de mármore com
veios dourados e destrancou a porta ao pousar a palma da mão diante de um painel de
segurança instalado na parede.
“Aposto que as mulheres adoram essa parafernália de James Bond”, comentei, à
medida que a grossa porta de nogueira se abria automaticamente. Conseguira soltar as
palavras com casualidade, mas o ciúme me comia por dentro ao imaginá-lo com outras
mulheres.
“O que você achou?”, perguntou, olhando-me por cima do ombro.
“No fundo, sou uma garota simples.” Corri os olhos pela sala de estar rebaixada com
seu carpete impecavelmente branco, as poltronas de aço cromado e couro, e o tapete
safira. Um típico apartamento de solteiro, obviamente masculino e estéril.
Fiz uma cara feia. “Este lugar não tem nada a ver com você.”
A porta se fechou atrás de nós. “Não?”
Esperava cores quentes, tecidos variados, arte moderna colorida — uma decoração
que refletisse o homem vibrante, ligeiramente selvagem e às vezes excêntrico que eu
amava.
Adentrando um pouco mais o cômodo, lutei contra um profundo sentimento de
decepção. Será que estivera tão errada assim a respeito dele?
“Quer beber alguma coisa?”, perguntou Jax baixinho, aproximando-se por trás. E
parou tão perto de mim que eu podia sentir o calor irradiando de seu corpo.
“Pode apostar.”
Sua covinha piscou para mim. “Você não vai jogar na minha cara, vai?”
“Tenho que admitir que estou tentada”, respondi, secamente.
Ele pousou as mãos em meus ombros. “Lembra aquela noite no Palms?”
Cerrei as mãos em punhos. “Golpe baixo, Jackson.”
Jamais esqueceria, nós dois de pé no terraço do quinquagésimo quinto andar do resort,
Jax me abraçando por trás e eu segurando uma taça de vinho branco que nós dois
estávamos dividindo. A cidade de Las Vegas e o deserto se descortinavam para nós por
quilômetros e quilômetros, o brilho das luzes desaparecendo na escuridão.
Que vista, foi o que eu dissera, recostando-me contra ele, sentindo-me mais feliz que
nunca. Estava saindo com o cara perfeito, um homem que iluminava meus dias e fazia
meus dedos do pé se contorcerem à noite. Ele vai mudar minha vida, eu pensara. Vai
mudar quem eu sou, e para melhor.
Hoje aquilo parecia ridículo. Mudar era responsabilidade minha. Ter um cara
maravilhoso era só um bônus.
Tentei me afastar, mas ele me segurou no lugar.
“Desculpa”, ele disse de novo.
Tentei me mover de novo e ele me soltou, deixando que me virasse para fitá-lo.
“Então por que fez isso?”
“Por que faço as coisas que faço?”, respondeu ele bruscamente, os olhos sombrios e
firmes. “Porque sou um Rutledge. E a gente fode com todo mundo, Gia. É isso que a
gente faz.”
“É uma desculpa furada”, revidei.
“É a verdade.”
Afastei-me, olhando ao redor.
“Se quiser ir embora, pode ir”, disse ele baixinho. “Não vou impedir você. Mas queria
que ficasse.”
Parei. Virei-me de novo para confrontá-lo, odiando que suas expressões não
revelassem nada. “É isso que você quer, não é? Que eu termine. Você me irritou só para
eu ir embora. Seria um término discreto, rápido e definitivo. Do jeito que você gosta.”
“Eu ia odiar, Gia, mas não sirvo para você.” Ele passou por mim e foi até a cozinha.
Joguei minha bolsa numa das poltronas. “Acho que gosto de ser castigada.”
Jax tirou uma garrafa de vinho branco da geladeira e colocou na bancada. A cozinha
era tão desprovida de personalidade quanto a sala, com armários e bancadas pretos e só
uma cafeteira indicando que alguém morava ali. Vindo de um lar em que a cozinha era o
centro da casa, aquele lugar para mim era deprimente.
Jax me viu tirar os sapatos.
Quando ergui os braços para soltar os cabelos, avisei a ele: “Vou cobrir sua jogada
traiçoeira e acrescentar uma rodada de sexo furioso à aposta”.
Tirei a calcinha por baixo do vestido, e Jax entreabriu os lábios. “Gia.”
“Posso jogar este jogo.” Atirei a calcinha na direção dele e sorri de leve quando a
pegou. “E posso ganhar.”
10

Jax guardou a calcinha no bolso e caminhou na minha direção, abandonando a garrafa


fechada de vinho.
Ele segurou meu queixo, abaixou minha cabeça e a beijou, os lábios tocando os meus
com delicadeza. Suas mãos se moveram em meus ombros, então em minhas costas, os
dedos baixando o zíper do vestido com destreza.
Levei as mãos ao nó da gravata dele, deixando a raiva ferver em fogo brando e se
misturar à minha luxúria até culminar num desejo furioso. Concentrei-me nele. Em nós.
Na sensação de tê-lo sob minhas mãos, no cheiro que tanto adorava e que era só dele, no
jeito como sua respiração acelerava e seu coração disparava à medida que a sede crescia.
Nunca reparara em nada parecido em qualquer outra pessoa, o que tornava tão difícil
de aceitar que talvez Jax e eu não fôssemos feitos um para o outro.
“Você já tinha esse lugar quando veio comigo conhecer o Rossi’s?”, perguntei.
Tínhamos ficado num hotel. Se ele tivesse um apartamento na cidade naquela época,
isso lançaria uma nova luz sobre o que sentia por mim. Afinal, o que um cara que prefere
traçar uma mulher num hotel do que na própria cama sente por ela?
“Não. Comprei no ano passado. Gia…” Ele estava ali, de pé, com a camisa
desabotoada e aberta, o torso bronzeado à mostra, o corpo tão lindamente forte e
musculoso, os olhos escuros tão cálidos e atormentados…
Peguei sua mão e o conduzi para fora da cozinha. A ansiedade pulsava em minhas
veias, junto com algo mais sombrio. E mais perverso.

Jax agarrou os lençóis, os músculos da barriga tensos, enquanto eu enfiava a pontinha


macia de seu pau na boca. Estava duro e grosso, tão excitado que senti o líquido seminal
em minha língua. Segurei-o pela base e continuei a brincar com a pontinha ao mesmo
tempo que movia as mãos ao longo do membro, deliciando-me com os palavrões e os
gemidos que ele soltava.
“Nossa”, arfou ele, enquanto eu lambia uma veia grossa e pulsante. Movendo os
lábios entreabertos para cima e para baixo, provoquei-o, mantendo-o no limite, levando-
o até o ponto em que não havia mais volta.
“Não brinque comigo, Gia”, rosnou ele. “Ou você me chupa ou me deixa foder você.
Me faz gozar.”
Sorri, repousando o olhar no músculo rijo que atravessava o abdômen. Ele estava
banhado em suor, o lindo rosto corado e as pupilas brilhando. Com os olhos fixos em
mim, envolvi-o com a boca e chupei, enfiando-o até o fundo da garganta.
“Assim”, disse ele com a voz rouca, o pescoço arqueando para afundar a cabeça no
travesseiro. “Isso é bom. Sua boca…”
Naquele momento, eu o possuía. Jackson Rutledge era meu.
Seus dedos embrenharam-se em meu cabelo, deslizando pelas raízes úmidas, tirando
os fios do meu rosto. “Ah, Gia. Chupa assim, linda.”
Ele latejava em minha língua, o sabor e o desejo me intoxicando. Eu adorava aquilo.
Adorava lhe dar tanto prazer que seu corpo tremia.
“Vou gozar tão forte…”, arfou ele.
Desvencilhando-me dele, sentei no colchão e deslizei para fora da cama.
“Gia.” Jax me fitou com as pálpebras pesadas. “Que merda. Termina o que você
começou.”
“É ruim quando você está se dedicando a uma coisa… quando está tão empolgado que
é quase capaz de sentir aquilo se realizando… aí vem alguém e tira isso de você, não é?”
Rosnando, ele se ergueu num sobressalto. “Volta aqui.”
Sorri e peguei sua camisa no chão. “Acho que primeiro você precisa se acalmar.”
“Acho que você tem que trazer essa bunda linda aqui para a cama.” Jax levantou do
colchão feito um sonho orgástico encarnado, os músculos rijos e a pele dourada. O pau
estava grosso e longo, curvado para cima e tão duro que mal se movia à medida que
vinha na minha direção. Era proporcionalmente perfeito, ousadamente masculino.
Foi difícil resistir à tentação de pular na cama e deixá-lo me foder até eu dizer chega.
Jax tentou me segurar, mas eu o driblei, soltando uma gargalhada.
A campainha tocou.
Jax nem ligou. Estava me seguindo com uma determinação obstinada. Eu me
desvencilhei, lutando para passar os braços por sua camisa. O tecido tinha seu cheiro. Eu
gostava daquilo.
“Melhor atender”, disse a ele.
“Gia”, retrucou Jax, num tom de alerta. “Se quiser sexo controlado, melhor voltar para
a cama. Caso contrário, vou foder você na primeira superfície lisa que encontrar.”
Corri para longe dele, e a campainha tocou de novo. “Tem alguém na porta!”
“Que espere.” Ele agarrou o próprio pau. “Porque isto aqui não pode esperar.”
Ginguei para a direita, então para a esquerda, como nas fintas que aperfeiçoara nas
quadras de basquete. Estava impressionada com o fato de que ele estava me perseguindo
pelado e ainda assim parecia tentador e maravilhoso. Seu abdome brilhava com o suor; o
olhar era ávido e quente, o corpo rijo de músculos.
Jax me agarrou antes de eu passar pela porta do quarto. Seus braços me envolveram,
duros feito aço, o peito pesado contra minhas costas.
“Jax…”
“Fala que você não quer se for verdade”, arfou ele, asperamente. “Caso contrário,
tenho que comer você, linda.”
O tom de desespero em sua voz me amoleceu, fez com eu quisesse ceder. Ser desejada
por Jax era um dos maiores baratos que eu já tinha experimentado.
“Jackson.”
Nós dois nos sobressaltamos diante da voz de Parker Rutledge na sala de estar.
“Eu sei que você está aí”, gritou ele. “A gente precisa conversar, filho.”
Jax soltou um palavrão. Sua mão deslizou por entre a camisa aberta que eu vestira e
segurou meu seio possessivamente, seu aperto ao redor do meu corpo se intensificando
até erguer meus pés do chão.
“Me dê um minuto”, gritou ele, antes de dar um passo para trás e bater a porta com
um pontapé.
Achei que ia me soltar, mas ele me virou para si e me beijou, ofegante. Com uma das
mãos, segurava meu cabelo, enquanto a outra apertava minha bunda.
Quando me soltou de repente, tropecei, as pernas fracas pela ferocidade da paixão em
seu beijo.
Jax caminhou até o banheiro da suíte e pegou um roupão de seda preto, amarrando-o
com raiva na cintura. “Fique aqui.”
“Você não quer que eu diga oi?”, perguntei baixinho.
Jax nem sequer me olhou ao responder: “Não vou dar a ele essa satisfação”.
A porta se fechou com um pouco de força demais atrás dele, em seguida ouvi o som
de suas passadas. O tom de sua voz fora longe de convidativo, e me apressei a me vestir.
Não ia me esconder no quarto feito uma adolescente.
Quando terminei de colocar a roupa, já não ouvia mais o burburinho grave de vozes.
Quando abri a porta do quarto, fui recebida pelo silêncio.
Saí pé ante pé, em busca dos meus sapatos, e, quando os calcei, senti-me mais bem
preparada para lidar com Parker… apesar de preferir que meu cabelo estivesse preso.
Enquanto esperava que Jax e seu pai aparecessem, perambulei pela sala, examinando-
a com cuidado em busca de sinais do amante que achava que conhecia. O que encontrei
foi apenas um punhado de fotografias emolduradas, a maioria delas de uma loira
exuberante que imaginei ser a mãe de Jackson.
As fotos variavam de retratos em preto e branco de quando era jovem até os mais
recentes, em cor, e a transformação que as imagens documentavam era surpreendente. A
suavidade da juventude endurecera ao longo do tempo, fora polida numa fachada
reluzente e então desaparecera. A curva dos belos lábios gradualmente voltara-se para
baixo. Uma das fotos, tirada sem que tivesse percebido, a pegou mirando por uma janela.
O olhar em seu rosto elegante transmitia solidão.
Peguei-a, para examiná-la mais de perto, e notei que atrás havia um porta-retratos
virado para baixo. Puxei-o e levei um susto ao descobrir uma foto minha e de Jax.
Fora Vincent quem batera com seu celular e encaminhara para mim. Tinha sido tirada
durante aquele primeiro e último jantar em família com Jax no Rossi’s. Jax estava
sentado atrás de mim, escorando-me. Estávamos rindo, e ele tinha os braços em volta da
minha cintura. Eu tinha mandado a imagem para Jax e a colocara de papel de parede em
meu telefone até se tornar doloroso demais olhar para ela.
Com o coração disparando junto com meus pensamentos, coloquei o porta-retratos de
volta em seu lugar, de pé, e voltei a fotografia da mãe para a prateleira.
Onde Jax tinha se metido?
O apartamento estava estranhamente silencioso. Saí à procura dele, o olhar passando
distraído pela porta da frente e, então, parando no pequeno monitor de vídeo de
segurança instalado ao lado da porta. Jax estava com o pai no hall. Ele estava de braços
cruzados sobre o peito, e o pai com as mãos enfiadas nos bolsos. Por mais parecidos que
fossem fisicamente, não poderiam estar mais diferentes com aquelas roupas. Ainda
assim, Jax era obviamente capaz de manter a linha.
Estudei a distância entre eles, o jeito como se mantinham afastados, examinando-se
com cautela. A dinâmica daquela família era tão estranha para mim, tão longe do calor
Rossi.
Os Rutledge eram exigentes. Eu não sabia todos os detalhes da educação de Jax, mas
era óbvio que crescera num ambiente de grande pressão. Ele deixara claro que não tinha
muito apreço pela família, nem por ele mesmo, mas havia escolhido os Rutledge em vez
de mim, certificando-se de que Ian sabotasse o acordo com a Mondego depois de dizer
que eu era a única pessoa a quem dava valor.
Estava mais do que na hora de fazer uma pesquisinha.
Segui pelo corredor, sem qualquer vergonha de sair em busca de respostas. Jax estava
me escondendo alguma coisa, e eu ia bisbilhotar até encontrar.
Caminhei até o escritório e parei na porta, observando um cômodo mais parecido com
o que esperava dele. Embora a decoração fosse moderna e masculina, as paredes neutras
e os móveis de madeira clara com toques de vermelho e dourado davam um ar mais
aconchegante ao ambiente. Estantes forravam as paredes, cheias de uma seleção colorida
de exemplares de capa dura e livros de bolso de ficção popular bem gastos. Havia outra
foto minha numa das prateleiras: uma imagem vertical. Eu estava sozinha. Sem Jax.
Era uma foto recente. Tirada não mais do que seis meses antes.
Fitei o retrato do outro lado do cômodo, sentindo as mãos úmidas de suor.
Ele tinha ficado de olho em mim.
As dúvidas continuaram se acumulando em minha cabeça, mas algo muito importante
ficou evidente diante da existência daquela fotografia. Eu não podia decidir se sentia
alegria ou dor. Talvez uma mistura dos dois.
A mesa de Jax estava coberta de folhas espalhadas e pastas abertas, mas dei as costas
para todos aqueles documentos. Já tinha visto o suficiente.
Voltei para a sala de estar, peguei minha bolsa e parti em direção à porta. Os homens
lá fora pareceram surpresos quando a abri. Pararam de falar, e acenei rispidamente antes
de seguir até o elevador com a cabeça erguida.
“Gia.” Jax deu um passo na minha direção. “Não vá embora.”
“Desço com você, srta. Rossi”, ofereceu Parker, aproximando-se com um sorriso que
era gentil demais para meu gosto. “Que bom ver você de novo.”
“Sr. Rutledge.”
“Por favor, me chame de Parker.”
“Pai”, rosnou Jax, aproximando-se. “Ainda não terminamos a conversa.”
Parker deu um tapinha de leve no ombro dele. “Depois terminamos, filho.”
Jax virou-se para mim. “E o jantar?”
“Vou ter que deixar para outro dia.”
“Não faça isso, Gia.”
Sorri, enternecida. “Não se preocupe. Volto outro dia.”
O elevador chegou, e Parker gesticulou para que eu entrasse antes dele.
Jax me segurou pelo ombro. “Me dê cinco minutos.”
“Ligo mais tarde”, eu disse, percebendo que não estava nem tentada a ficar. Estava
despreparada demais, confusa demais. Precisava de um pouco de espaço.
Ele apertou a mandíbula.
“Pode deixar, Jackson”, disse Parker, calmamente. “Vou com ela até lá fora.”
Jax virou a cabeça lentamente para encarar o pai, a expressão rígida feito pedra. “Eu
estava falando sério.”
“Você sempre fala sério.” Parker abriu um sorriso cínico.
Entrei no elevador bem quando as portas haviam começado a se fechar. Parker se
juntou a mim, mas mantive a atenção em Jax, nossos olhares fixos um no outro. Ele
tinha as mãos cerradas em punhos, a mandíbula tensa e determinada. Mas os olhos…
aqueles olhos profundos e escuros… eles me faziam as mesmas promessas de sempre. E
eu acreditava nelas agora. Tinha a prova.
Parker virou-se para mim, sorrindo, assim que o elevador começou a descer. “Como
vai, Gianna?”
“Já estive melhor. E você?”
“Você torna difícil dizer que tem sido um dia proveitoso.”
Meus lábios se curvaram num sorriso. “E um dia proveitoso para seu amigo Ian.”
“Ah.” Seus olhos brilharam, divertidos. “Por favor, não desconte no Jackson.”
Dei de ombros. “São só negócios.”
“Você é uma mulher muito prática. Sem dúvida um dos muitos motivos por que ele
está tão encantado por você. Falando nisso…” Parker balançou-se nos calcanhares.
“Gostaria de conhecer você melhor, Gianna. Será que poderiam ir jantar comigo e com
minha mulher um dia desses? Uma coisa simples na nossa casa nos Hamptons, quem
sabe?”
“Adoraria.” E realmente adoraria qualquer coisa que me permitisse compreender Jax
melhor.
“Ótimo. Vou falar com Regina.” Seu sorriso se dissipou ligeiramente. “Não deixe
Jackson convencer você do contrário. Ele quer guardar você só para ele.”
“Ah é?”
Parker ficou ainda mais sério. “Ele é muito protetor.”
“É mesmo? Do que estaria me protegendo?”
“Somos homens, Gianna”, comentou ele, com a fala arrastada. “Nem sempre somos
racionais no que diz respeito a mulheres.”
Assenti, concluindo que Parker era tão enigmático quanto o filho. Parecia que os
Rutledge eram naturalmente inclinados a ser misteriosos e difíceis de interpretar.
O elevador se abriu, e entramos num ambiente pré-guerra meticulosamente restaurado
que transpirava luxo e privilégio.
“Tem um carro me esperando”, disse ele. “Quer uma carona?”
“Obrigada, mas não.” Não queria ter que contemplar a expressão no rosto de Parker se
ele visse onde eu morava. Comparado à portaria decorada em mármore do prédio de Jax,
com um recepcionista e um funcionário para abrir a porta, meu prédio pareceria…
desinteressante. Não sentia vergonha do meu apartamento nem da minha família, mas
achei que seria mais inteligente não dar motivo para levantar suspeitas de oportunismo
da minha parte até que os Rutledge me conhecessem melhor.
“Se você prefere assim.” Parker hesitou, como se estivesse me dando uma chance de
mudar de ideia. Como não falei nada, ele completou: “Aviso Jax sobre o dia do jantar.
Vai ser um prazer, Gianna”.
Pensei no homem sozinho lá em cima, no alto de sua torre, um estranho de tantas
formas, mas que me conhecia por dentro e por fora. “Será todo meu.”
Ouvi a música alta em nosso apartamento antes de o elevador de carga parar no andar.
Ao me aproximar, reconheci o antigo sucesso do Guns N’ Roses. “Welcome to the
Jungle.” Bem-vindo à selva. Muito apropriado, considerando minha noite com os
Rutledge.
Ao abrir a porta de casa, fui atingida pela força bruta do sistema de som de Vincent e
a visão de meu irmão fazendo abdominais na barra que ele instalara entre dois pilares.
Estava pingando de suor e rangendo os dentes, a tábua de músculos em sua barriga
contraindo-se à medida que erguia os joelhos até o peito. Vincent cortava o cabelo mais
curto que meus outros irmãos, praticamente um corte militar, que combinava bem com
suas feições italianas.
Uma vez li um livro que comparava o herói ao rosto cunhado numa moeda romana,
mas posso garantir que não chegava aos pés de Vincent. Sem camisa, descalço e usando
apenas um short de corrida, era a materialização dos sonhos de outras mulheres. Ao
contrário de Nico, Vincent era um namorador em série. Não tinha medo nenhum de
compromisso, mas nunca conseguia ultrapassar a marca de alguns meses de
relacionamento.
“Ei!”, reclamou ele, quando baixei o volume.
“Você ainda fala com Deanna?”, perguntei, referindo-me à jornalista com quem
costumava sair.
“Falo.” Ele se deixou cair de pé no chão e pegou uma toalha que havia deixado ao
lado de uma garrafa de água. “Por quê?”
Coloquei minha bolsa no banco junto à porta e chutei os sapatos para longe. “Preciso
de alguém para me atualizar a respeito dos Rutledge.”
Vincent coçou a cabeça, fechando a cara. “O cara é um babaca. Não merece você.”
“Não vou negar isso.” Deixei-me cair no sofá e fitei os canos e as vigas expostos do
teto. “Mas não significa que não possa ser salvo.”
“Pode esquecer esse negócio de mudar o cara. Ache um esperto o suficiente para
saber o que ele tem nas mãos desde o início.”
Olhei meu irmão de relance, observando seu pomo de adão mover-se à medida que
virava a garrafa inteira de água. “Você quer dizer que nunca estragou as coisas com uma
garota e quis uma segunda chance?”
“Não conta. Você é uma Rossi. Não tem desculpa para ele estragar as coisas além de
ser burro”, respondeu.
“Você vai falar com ela?”
“Tudo bem.” Vincent seguiu para a cozinha, acrescentando: “Mas só porque estou
torcendo para ela desencavar alguma coisa bem cabeluda a respeito dele”.
“Obrigada.”
“Não vá pensando que você vai conseguir um favor só na base do ‘obrigada’.” Ele
jogou a toalha sobre o ombro e lavou as mãos. A cozinha era a parte mais ajeitada do
apartamento, com utensílios de aço inoxidável novinhos, fogão profissional, forno duplo
e uma imensa ilha com bancada e pia. “Tenho um cesto cheinho de roupas para lavar.”
Sentei no sofá. “Está brincando?”
“Não. Melhor correr.” Ele abriu um sorriso. “Estou sem camisa do Rossi’s e meu
turno começa em duas horas.”

Havia acabado de fechar a porta que escondia a lavanderia quando ouvi meu celular
tocar. Corri para o quarto para atender, mas perdi a chamada. Não foi um problema, no
entanto, porque ele recomeçou a tocar na mesma hora.
Era Jax.
Respirando fundo, atendi e disse: “Oi”.
“Você disse que ia ligar”, acusou ele.
“Você também”, retruquei. “Levou dois anos.”
“Meu Deus.” Ele respirou asperamente. “Por que foi embora?”
“Estava na hora. Seu pai nos convidou para jantar.”
“Não vamos.”
Dei de ombros. “Vou sem você.”
“De jeito nenhum! Que merda, Gia. Você está nadando com os tubarões e fica agindo
como se estivesse de férias.”
“Definitivamente estou vendo coisas que nunca vi antes. Como aquelas fotografias
que você tem em casa. Há quanto tempo tem me seguido? Aliás, tem um lado meio
psicopata seu que eu não conhecia.”
Ele soltou um palavrão. “Você está transando com um Rutledge. Espionagem e
invasão de privacidade fazem parte do pacote.”
“Eu não estava transando com você na época daquela foto do escritório.”
“Você entrou no escritório? Está maluca, Gia?”
Minha boca fechou-se com tristeza diante da admissão involuntária de que havia mais
fotos que eu não encontrara. “Vou fazer parte da sua vida… Pode ir se acostumando.”
Jax ficou em silêncio por um longo período, então perguntou baixinho: “O que você
acha que está fazendo?”.
“Estou processando o fato de que está apaixonado por mim, Jax.” Ouvi-o prender a
respiração do outro lado da linha e senti uma onda triunfal de prazer. “E, mesmo assim,
você desapareceu. E agora está sabotando meu trabalho e suas chances comigo.”
“Gia…”
“Estou na sua cola, Jackson Rutledge.” Minha voz soou grave, séria e inabalável.
“Vou descobrir seus segredos.”
“Sou um livro aberto”, retrucou ele.
“Você é um prato cheio.” Ignorei a mala me esperando ao lado da cama, sentei à mesa
e mexi o mouse para ligar o computador. “E seus dias de homem misterioso estão
contados.”
Desliguei o telefone, coloquei em modo silencioso e comecei minha pesquisa.
IAN SPANIER PHOTOGRAPHY

SYLVIA DAY é autora best-seller #1 do New York Times e das


listas internacionais, com mais de 20 livros premiados,
vendidos em mais de 40 países. É autora #1 em 27 países,
com dezenas de milhões de livros impressos. Sua série
Crossfire teve os direitos comprados para TV pela produtora
Lionsgate.
Copyright © 2014 by Sylvia Day
Todos os direitos reservados.
Publicado em língua portuguesa por acordo com Harlequin Books S.A.
A Editora Paralela é uma divisão da Editora Schwarcz S.A.

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico


da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor
no Brasil em 2009.

TÍTULO original Afterburn & Aftershock

IMAGEM DE CAPA © Harlequin Enterprises

PREPARAÇÃO Laura Finisguerra

REVISÃO Renato Potenza Rodrigues e Julia Barreto

ISBN 978-85-438-0294-7

Os personagens e as situações desta obra são reais apenas no universo da


ficção; não se referem a pessoas e fatos concretos, e não emitem opinião
sobre eles.

Todos os direitos desta edição reservados à


EDITORA SCHWARCZ S.A.
Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 32
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