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Susana Sousa, A93489

Estudos Portugueses
“Moraliza o poeta a sua decadência”, Gregório Matos
MORALIZA O POETA NA SEGUINTE OBRA A SUA DECADÊNCIA NO AMORTECIDO DESMAIO DE
UMA POMPOSA FLOR

De que serviu tão florida, Fazendo da pompa alarde, Assim, pois, quando contemplo
Caduca flor, tua sorte, Abre a rosa mais louçã Tua vida e tua morte,
Se havia da própria morte E o que é gala na manhã, Em ti, flor, da minha sorte
Ser ensaio a tua vida? Em luto se torna à tarde: Encontro o mais vivo exemplo :
Quanto melhor advertida Se à dita pois mais cobarde, Subi da fortuna do templo,
Andaras em não nascer? Se à mais frágil duração Mas apenas subi dino,
Que se a vida houvera ser Renasceste, porque não Quando me mostra o destino
Instrumento de acabar, Terei de crer fundamento, Que a quem não é venturoso
Em deixares de brilhar Que foi o teu luzimento O chegar a ser ditoso
Deixarias de morrer. Da tua sombra ocasião? É degrau de ser mofino.
Enquanto presa te viste E pois acabas florida,
No botão onde moraste, Bem se vê, flor desditosa,
Bem que a vida não lograste Que a não seres tão formosa,
De esperança te vestiste: Não foras tão abatida:
Mas depois que flor abriste, Desgraçada por luzida,
Tão depressa feneceste. Ofendida por louçã,
Que quase a presumir deste, Mostras bem na pompa vã
Se se pode presumir, As mãos do tempo cobarde,
Que para a morte sentir Que feneceste de tarde,
Somente viver quiseste. Por luzires de manhã.

A nível formal, este poema é constituído por cinco décimas, versos em redondilha maior e
rimas emparelhadas e intercaladas.
Neste poema está claramente presente o tema da fugacidade da vida, recorrendo à
metáfora da rosa. O sujeito poético inicia o poema utilizando perguntas para perguntar à
flor de que lhe valeu nascer e brilhar, se o seu destino seria a morte. Podemos também ver
uma metáfora muito especifica, da mesma maneira em que a flor está no botão, os bebés
estão na barriga das mães e, quando nascem, estão cobertos de esperança, pois têm toda
uma vida pela frente, mas a partir desse momento começa a contagem do tempo até à
morte. A flor teve uma vida muito curta, pois tão depressa nasceu como morreu, “Mas
depois que flor abriste, / Tão depressa feneceste.” e “Abre a rosa mais louçã/E o que é gala
na manhã, /Em luto se torna à tarde:”. Por mais bela que esta flor fosse, a morte ia ser
inevitável, como se estivesse escrito no destino da flor “Se havia da própria morte / Ser
ensaio a tua vida?”. O sujeito poético caracteriza a flor além de bela e luminosa,
caracteriza-a como triste. Existe também uma acusação dirigida ao tempo, “(…) tempo
cobarde”, o sujeito poético diz que é possível, através do destino tão cruel da flor, observar
as consequências da passagem do tempo.
O sujeito poético termina o poema fazendo uma reflexão sobre a própria situação dele,
dizendo mesmo que o decorrido com a flor servia de exemplo para si mesmo “(…) da
minha sorte / Encontro o mais vivo exemplo”, ele diz que, apesar de ter tido um caminho
brilhante “Subi da fortuna do templo”, não consegue fugir ao mesmo destino da flor
“Quando me mostra o destino um destino triste/ (…) É degrau de ser mofino”.
Todo o poema é uma lição de vida, desde que nascemos estamos a contar o tempo até à
nossa morte e que é um destino do qual ninguém consegue fugir, nem mesmo a flor mais
bela.

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