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John Kanumbo
DIVORCIADO DE
DEUS
DIVORCIADO DE DEUS
ISBN: 979-888-2825-84-2
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DEDICATÓRIA
Aos viceras
Que primeiramente terão que sugar o meu frio sangue na tumba!
ÍNDICE
Agradecimentos i
Prefácio 3
As Promessas Quebradas 7
O Deus Ciumento 20
A Inconstância Divina 32
Bibliografia 46
Sobre Mim 47
AGRADECIMENTOS
Ao,
Cornélio Chipaki,
Atanásio Fabrino.
PREFÁCIO
Caro amigo leitor,
Ao segurar este livrinho em suas mãos, você está prestes a embarcar em uma
jornada íntima e provocativa através das complexidades da espiritualidade, da fé e
da busca pela verdade interior. “O Divorciado de Deus” não é apenas uma
narrativa pessoal, mas uma reflexão profunda sobre as interseções entre a
experiência humana e o divino, entre a liberdade individual e as estruturas
religiosas. Aqui, não encontrará respostas prontas ou dogmas a serem seguidos,
mas sim um convite para explorar as complexidades e nuances da experiência
espiritual humana.
Nesta obra, eu, John, convido você a explorar os labirintos da minha própria
jornada espiritual, marcada por questionamentos, descobertas e, finalmente,
libertação das garrascrências. Desde os primeiros passos na infância até os
momentos de confronto com a inconstância divina, cada página revela uma busca
incansável por autenticidade e significado. Ao longo de minha própria jornada
espiritual, deparei-me com desafios e questionamentos que me levaram a reavaliar
minhas crenças e a buscar uma compreensão mais profunda do divino.
Nas páginas que se seguem, compartilho minhas reflexões, descobertas e
significados ao confrontar com as promessas ilusórias, as inconstâncias, ilusão e
limitação do amor divino. Não pretendo impor uma verdade absoluta, mas sim
oferecer um convite especial para o diálogo e a reflexão sobre questões que são
fundamentais para a experiência humana. Um apelo amigável é que ném me julgue
e ném se julguem ao terminar esta obra.
À medida que desvendamos as camadas dessa narrativa, também exploramos
as vozes de pensadores e filósofos ao longo da história, religiosas e espirituais,
desde os antigos filósofos gregos até os pensadores modernos, cujas ideias
ressoam nas intersecções entre o humano e o divino. De Platão a Nietzsche, de
Simone de Beauvoir a Erich Fromm, cada voz contribui para o diálogo contínuo
sobre a natureza da fé, da liberdade e da busca pela verdade como se diz a verdade
nunca tem idade. Nossa jornada não se limita apenas aos domínios filosóficos,
mas também mergulha nas águas turbulentas da história e da cultura. Ao olharmos
para trás, encontramos os ecos das antigas epopeias hindus, os ensinamentos dos
profetas bíblicos e as reflexões dos poetas místicos, todos eles tecendo um rico
tapete de experiência humana e espiritualidade.
No entanto, esta obra não é apenas um exercício intelectual, mas um convite
à reflexão pessoal e à autodescoberta. À medida que você avança pelas páginas,
convido-o a questionar suas próprias crenças, a explorar os recantos mais
profundos de sua alma e a abraçar a liberdade de buscar sua própria verdade
interior. Que estas palavras possam abrir portas para novas possibilidades e
perspectivas, convidando-nos a abraçar a plenitude de nossa humanidade e a
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John Oreste.
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Neste capítulo introdutório, eu sujeito pensante relato como foi seduzido pelas promessas de
amor eterno de Deus, representado pelos ensinamentos dos líderes religiosos.
No altar da minha alma, eu me ajoelhei diante da divindade. Como um amante
ardente, entreguei meu coração a um ser que prometia amor eterno, proteção e
salvação. Fui seduzido pelas palavras doces dos profetas, enfeitadas com a
promessa de um amor transcendental, capaz de preencher todos os vazios da
minha existência. Aceitei, sem questionar, os votos que me ligavam a uma entidade
que se dizia todo-poderosa, omnisciente e amorosa e sumo bom e de todas
bondades.
Porém, o que começou como um conto de fadas espiritual rapidamente se
transformou em um pesadelo de decepções e desilusões. As promessas feitas nos
sermões de domingo evaporaram-se na névoa da realidade, deixando para trás um
vazio doloroso e uma sensação de abandono. A mão divina, que deveria guiar-me
com segurança pelos caminhos da vida, pareceu recuar quando mais precisei dela,
deixando-me à mercê das tempestades da existência humana.
Neste pequiníssimo tratado, desvelarei as cortinas que ocultam a verdade por
trás do véu do divino. Não recuarei diante da linguagem rígida que me é sugerida,
pois é com a força das palavras que desmantelarei as estruturas que me
aprisionaram por tanto tempo. Seguirei adiante com determinação, sem desviar-
me do propósito desta obra: desvendar as amarras que me ligavam a um Deus
ciumento, inconstante e ilusório, e proclamar minha liberdade além das fronteiras
da fé.
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AS PROMESSAS QUEBRADAS
Aqui, exploro as expectativas frustradas do eu sujeito pensante em relação à ajuda divina e
à realização das promessas feitas por Deus.
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Assim, ao confrontar essas questões, descobri que o verdadeiro amor não pode
ser imposto por meio de regras e regulamentos, mas deve brotar livremente do
coração humano. Não mais aceitando a ilusão de um amor divino condicional,
abracei a ideia de um amor humano, imperfeito, mas genuíno e libertador. Nesse
amor, encontrei consolo e redenção, longe das expectativas irreais de um Deus
distante e implacável. Esta foi uma jornada dolorosa e transformadora, mas
também uma que me trouxe uma nova compreensão do que significa amar e ser
amado. Ao confrontar a ilusão do amor divino incondicional, mergulhei ainda
mais fundo na compreensão do amor humano e suas nuances. Enquanto o amor
divino prometia uma perfeição irreal e uma conexão transcendental, o amor
humano revelou-se como uma experiência genuína e enraizada na realidade da
vida cotidiana.
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quando confrontada com a realidade da vida humana. Por outro lado, o amor
humano é marcado pela imperfeição e pela vulnerabilidade. Não há promessas de
perfeição ou transcendência, mas sim um compromisso mútuo de aceitar e apoiar
um ao outro em meio às imperfeições e falhas. É no reconhecimento e na
aceitação dessas imperfeições que o verdadeiro amor humano floresce. Enquanto
o amor divino promete cura instantânea e libertação de todas as aflições, o amor
humano se manifesta nas pequenas acções do dia a dia. Um abraço reconfortante
em tempos de tristeza, uma palavra de encorajamento em momentos de dúvida,
são expressões tangíveis do amor humano que transcendem as promessas vazias
do amor divino.
Por sua vez, fui buscar Erich Fromm em “A Arte de Amar” obra publicada em
1956, Fromm explora o amor humano como uma arte que requer dedicação e
prática. Ele enfatiza a importância da maturidade emocional e do
autoconhecimento no desenvolvimento de relacionamentos amorosos saudáveis.
Para Fromm, fui-lhe pereceber que ele critica a concepção de Agostinho sobre o
amor divino ao destacar a importância da liberdade e responsabilidade individuais
no amor humano. Argumentando que o amor verdadeiro é uma escolha
consciente e activa, baseada na autenticidade e na capacidade de se relacionar com
os outros de forma saudável e significativa.
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Ao dialogar com esses pensadores, percebi que a busca por orientação divina
é uma jornada complexa e multifacetada. Enquanto Pascal e Kierkegaard me
lembram da importância da fé e da confiança no divino, Nietzsche me alerta sobre
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O confronto entre o professor e os alunos no filme pode ser visto como uma
metáfora para a jornada individual de assumir a responsabilidade por nosso
próprio destino e buscar significado em meio às complexidades da vida. Ao
enfrentar desafios e adversidades, somos confrontados com a necessidade de fazer
escolhas autênticas e comprometidas, independentemente das expectativas sociais
ou pressões externas. Ao unir essas reflexões filosóficas com a narrativa do filme
“Deus Não Está Morto”, podemos encontrar significados valiosos sobre a
importância de assumir a responsabilidade por nosso próprio destino e buscar
significado em meio à complexidade da vida. Essa jornada de autodescoberta e
crescimento pessoal nos desafia a confrontar nossas próprias crenças e
convicções, e a encontrar sentido em nossas experiências e escolhas individuais.
Outro filme no qual esta na minha mente é “O Nome da Rosa” (The Name of the
Rose), dirigido por Jean-Jacques Annaud e baseado no romance homônimo de
Umberto Eco. Este filme apresenta uma narrativa rica que pode ser relacionada a
questão da responsabilidade pessoal, busca por significado e confronto com a
autoridade institucional. No enredo de “O Nome da Rosa”, o monge franciscano
William de Baskerville (interpretado por Sean Connery) é enviado a um mosteiro
no norte da Itália para investigar uma série de misteriosas mortes. Ele descobre
que os assassinatos estão relacionados à disputa sobre a presença de um livro
proibido na biblioteca do mosteiro - um livro sobre a comédia de Aristóteles. Este
conflito entre o conhecimento proibido e a autoridade da instituição religiosa me
ofereceu várias reflexões sobre este tratado:
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Busquei refúgio na promessa de que Deus seria minha fonte de consolo e paz
interior, acalmando as tempestades que rugiam dentro de mim e trazendo cura
para minhas feridas emocionais. No entanto, à medida que lutava contra a dor e
o sofrimento, descobri que essa paz era fugaz e efêmera. Encontrei-me preso em
um ciclo interminável de angústia e desespero, sem encontrar alívio em lugar
algum. A busca por consolo e paz interior é uma aspiração universal, e muitas
vezes encontramos conforto na promessa de uma fonte divina de alívio e cura.
No entanto, ao confrontar o sofrimento e a dor da vida, essa promessa pode se
revelar insuficiente. Vamos explorar como alguns pensadores críticos da religião
abordam essa questão no qual eu encontrei o consolo e paz interior fora de Deus:
Richard Dawkins em seu livro “Deus, um Delírio” publicado em (2006):
Dawkins argumenta que a crença em um Deus consolador é uma ilusão criada
pela religião para lidar com o medo da morte e o desconforto diante da incerteza.
Ele sugere que é mais honesto e libertador confrontar a realidade da vida sem
depender de promessas de consolo divino. Segundo Dawkins, encontramos
significado e conforto na comunidade humana, na arte, na ciência e na exploração
do universo natural.
François-Marie Arouet (1694–1778), um dos principais filósofos do
Iluminismo, criticou fortemente as instituições religiosas de sua época,
especialmente a Igreja Católica. Ele argumentava que a religião frequentemente
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O DEUS CIUMENTO
Este capítulo abordo a natureza ciumenta e controladora de Deus, que sufoca a liberdade e
a autonomia do indivíduo. Reflecti sobre as interpretações teológicas e filosóficas que atribuem ao
divino características humanas, incluindo emoções como ciúme e possessividade.
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Alcorão (Islamismo)
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a religião, a religião não faz o homem.” Essa frase resume a visão de Feuerbach
de que a religião é uma criação humana, moldada pelas necessidades e desejos dos
seres humanos, em vez de ser uma revelação divina ou uma expressão da verdade
transcendente. Essa reflexão destaca a ideia central de Feuerbach de que a religião
é um reflexo das condições humanas e uma projeção das características humanas
nos deuses.
Para dele, a concepção de um Deus ciumento era uma expressão das fraquezas
e limitações humanas, não uma característica genuína da divindade. Para
Feuerbach, a religião era uma forma de escapismo, onde os seres humanos
buscavam conforto e segurança em uma divindade imaginária. Ele via a ideia de
um Deus ciumento como parte dessa ilusão religiosa, que servia para justificar as
estruturas de poder e controle na sociedade.
“O ciúme é uma paixão que só pode existir onde há igualdade. O ciúme de
Deus pressupõe que ele tenha uma necessidade, uma necessidade de amor
humano, uma necessidade de ser tudo em tudo para o homem. Por conseguinte,
o amor do homem, a afeição e a devoção do homem a Deus são as coisas mais
gratas para Deus. Mas tudo isso é apenas uma projeção da relação de amor entre
o homem e o homem para a relação de amor entre o homem e Deus.”
Essa citação resume a crítica de Feuerbach à ideia de um Deus ciumento,
argumentando que o ciúme divino é uma projeção das necessidades e desejos
humanos na divindade, reflectindo as relações de amor e devoção entre os seres
humanos. Ele sugere que a concepção de um Deus ciumento é uma ilusão, b°uma
construção da imaginação humana, e não uma característica genuína da divindade.
Portanto, a crítica de Feuerbach à ideia de um Deus ciumento faz parte de uma
desconstrução mais ampla das concepções religiosas tradicionais. Ele busca
mostrar como as crenças religiosas são construídas a partir das necessidades e
desejos humanos, em vez de serem reflexos da realidade divina. Ao desafiar a ideia
de um Deus ciumento, Feuerbach convida os leitores a reconsiderarem suas
concepções sobre a religião e a divindade.
Arthur Schopenhauer (1788 -1860), conhecido por sua filosofia pessimista,
também abordou questões relacionadas à religião e à natureza de Deus. Em suas
obras, como “O Mundo como Vontade e Representação”, ele oferece uma crítica à visão
antropomórfica de Deus, sugerindo que o ciúme divino é uma projeção das
fraquezas humanas. Schopenhauer aborda o ciúme divino como parte dessa visão
antropomórfica de Deus. Ele argumenta que o ciúme é uma emoção humana,
baseada na insegurança e no medo de perder algo ou alguém que é considerado
valioso. Ao atribuir ciúme a Deus, os seres humanos estão projetando suas
próprias inseguranças e desejos possessivos no divino. Schopenhauer vê essa
representação como uma distorção da verdadeira natureza de Deus, que
transcende as limitações humanas e não pode ser compreendida através de
categorias antropomórficas.
A crítica de Schopenhauer à visão antropomórfica de Deus e ao ciúme divino
é importante porque desafia as concepções tradicionais de religião e teologia. Ele
instiga os leitores a questionar suas próprias crenças e a considerar uma
perspectiva mais ampla e não antropocêntrica sobre a natureza do divino. Além
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para instilar medo e submissão nas pessoas, promovendo assim a obediência cega
às autoridades religiosas. Para Dawkins, a religião é vista como uma forma de
opressão que limita a liberdade individual e promove a intolerância e o conflito.
Ele, argumente, “Religião é sobre poder. É sobre controle. É sobre estrutura. É
sobre regras. É sobre seguir ordens. É sobre obedecer”. Com essa citação,
Dawkins destaca a natureza controladora e manipulativa das instituições religiosas,
que muitas vezes utilizam a ideia de um Deus ciumento para subjugar e controlar
as massas. Sua abordagem científica e cética estimula a reflexão sobre as
motivações por trás das crenças religiosas e incentiva a busca por uma
compreensão mais fundamentada e livre de dogmas sobre questões espirituais e
metafísicas.
Essa fundamentação filosófica lança luz sobre as origens antigas do conceito
de ciúme divino e sua influência ao longo da história da religião e da filosofia. Ao
examinarmos essas raízes, podemos começar a compreender melhor como o
ciúme de Deus foi percebido e interpretado em diferentes tradições culturais e
religiosas, e como isso pode ter influenciado as experiências individuais de fé e
espiritualidade. Ao se inspirar nessas ideias e explorar as diferentes interpretações
do ciúme divino ao longo da história, é natural que você como eu comecemos a
questionar e reflectir sobre nossa própria experiência de fé e espiritualidade. Aqui
estão algumas maneiras pelas quais você como eu podemos chegar à ideia de que
Deus é realmente ciumento:
Ao estudar passagens das escrituras sagradas ou textos religiosos, eu encontrei
várias referências que retratam Deus como um ser ciumento. Essas narrativas e
ensinamentos podem ter ressoado com as minhas experiências pessoais e levado
a uma maior conscientização sobre essa característica divina. Experiências
pessoais: minhas próprias experiências de vida e interações com a religião
contribuíu para minha percepção do ciúme divino. Por exemplo, situações em que
eu me senti pressionado a seguir determinada crença ou práticas religiosas, sob a
ameaça de punição ou rejeição divina, levando me a questionar a natureza de
Deus. Ao se envolver com ideias e pensamentos filosóficos sobre a natureza de
Deus e a experiência religiosa, eu comecei a considerar me as características
atribuídas a Deus, como o ciúme, são compatíveis com uma compreensão mais
ampla de divindade e espiritualidade. Conversas e debates com outros pensadores,
sejam eles religiosos, filósofos ou críticos da religião, desafiaram as minhas crenças
e levado me a explorar novas perspectivas sobre o ciúme divino e suas
implicações. Um exame crítico e reflexivo da minha própria fé e prática religiosa
pode tê-lo levado a questionar certas representações de Deus, incluindo aquelas
relacionadas ao ciúme. Esse processo de questionamento e autoexame pode ter
sido crucial para o desenvolvimento de sua compreensão pessoal da divindade.
Essas são apenas algumas maneiras pelas quais você como cheguei à ideia de que
Deus é realmente ciumento. Independentemente do caminho que o levei a essa
conclusão, é importante continuar explorando e questionando suas crenças,
buscando sempre uma compreensão mais profunda e significativa da
espiritualidade e da natureza da divindade.
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A INCONSTÂNCIA DIVINA
O Eu sujeito pensante, neste capítulo, reflecto sobre a inconstância de Deus em fornecer ajuda
e orientação quando mais necessária, deixando-me desamparado e confuso.
Falta de orientação
Intervenção selectiva
Às vezes, pode parecer que Deus intervém selectivamente nas vidas das
pessoas, favorecendo algumas enquanto ignora outras. Por exemplo, alguém pode
testemunhar milagres ou bênçãos divinas na vida de outras pessoas, enquanto suas
próprias preces parecem cair em ouvidos surdos. Testemunhar bênçãos divinas
na vida de outras pessoas enquanto minhas próprias preces pareciam ser ignoradas
gerou um sentimento de injustiça e ressentimento. A percepção de que Deus
intervém selectivamente nas vidas das pessoas levantou questionamentos sobre a
equidade divina e o propósito de minhas próprias provações. Essa percepção de
parcialidade divina pode levantar questões sobre a equidade e a justiça de Deus,
gerando ressentimento e indignação.
Silêncio divino
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Flutuações de fé
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Caprichos da providência
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verdade interior, longe das ilusões e amarras da religião. Não obstante, diante das
inconstâncias divinas que permearam minha jornada espiritual, deparei-me com
um profundo questionamento sobre a essência do divino e sua relação com o
mundo humano. Nesse processo reflexivo, encontrei eco nas ideias de diversos
pensadores que, de maneira similar, contestaram a constância e a coerência das
concepções tradicionais de Deus.
Um desses pensadores é Friedrich Nietzsche, cuja crítica à moralidade religiosa
e à figura divina como um ser todo-poderoso e benevolente ressoa com minha
própria experiência de confronto com a inconstância divina. Nietzsche argumenta
que a moralidade cristã, ao atribuir valores de bondade e pureza a Deus, cria uma
imagem de divindade que reflete os ideais e tabus da sociedade humana, em vez
de representar uma verdadeira natureza divina independente das concepções
humanas. Essa perspectiva contesta a ideia de um Deus constante e confiável,
sugerindo que nossa compreensão do divino é moldada por nossas próprias
necessidades e projeções psicológicas.
Além disso, o filósofo existencialista Jean-Paul Sartre também ofereceu-me
entendimento valiosos sobre a inconstância do divino. Em sua obra “O Ser e o
Nada”, Sartre argumenta que, se Deus existe, sua ausência de intervenção directa
no mundo humano é evidência de sua inconstância ou indiferença. Para Sartre, a
falta de evidência convincente da presença divina desafia a noção de um Deus
constante e confiável, sugerindo que a existência ou não do divino é uma questão
de escolha e responsabilidade humanas.
Ao reunir essas reflexões com minha própria experiência de desilusão diante da
inconstância divina, chego à conclusão de que minha busca pela verdade e
autenticidade espiritual só pode ser alcançada através da emancipação da
dependência religiosa e da aceitação da responsabilidade pela minha própria
jornada. Minha crítica fervorosa à inconstância divina é, portanto, um convite para
a autonomia espiritual e a busca por significado e propósito além das amarras da
religião institucionalizada.
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A ILUSÃO DO AMOR DIVINOO
Aqui, o eu sujeito pensante ergo examinar a natureza ilusória do amor divino, que me
mantinha preso a uma relação desigual e opressiva.
A ilusão do amor divino é como uma névoa que envolve a mente e o coração,
obscurecendo a visão da verdadeira natureza do divino. Essa névoa, por tanto
tempo, acreditei cegamente nas promessas de um amor eterno e incondicional,
oferecido por um Deus que se dizia todo-poderoso e benevolente. No entanto, à
medida que os véus da ilusão se dissipavam, revelava-se uma verdade amarga e
perturbadora. Filósofos como Jean-Paul Sartre e Friedrich Nietzsche oferecem
sabees sobre a natureza ilusória do amor divino. Sartre, argumenta que a ausência
de intervenção directa de Deus no mundo humano sugere sua indiferença ou
inexistência, desafiando a noção de um amor divino verdadeiro. Nietzsche, por
sua vez, critica a moralidade religiosa, apontando-a como uma construção que
reflecte os valores humanos em vez de uma verdadeira benevolência divina.
realidade pode levar à perda da fé e à busca por respostas fora do âmbito religioso.
Ao confrontar a ilusão do amor divino, deparei-me com a verdade nua e crua: não
existe amor verdadeiro em uma relação baseada no medo e na dependência. O
Deus que me prometia vida em abundância apenas servia para alimentar minhas
ilusões e manter-me acorrentado a uma fé que já não mais me sustentava.
A ilusão do amor divino pode ser comparada à alegoria da caverna de Platão,
onde os prisioneiros, acorrentados e restritos à visão distorcida das sombras na
parede, acreditam que essa é a realidade. Da mesma forma, os crentes presos na
ilusão do amor divino estão confinados a uma visão distorcida da divindade,
incapazes de perceber a verdadeira natureza do divino. Essa abordagem crítica da
ilusão do amor divino destaca a importância de questionar as crenças e buscar
uma compreensão mais profunda e autêntica da espiritualidade, além das ilusões
que nos aprisionam.
A ilusão do amor divino é severamente criticada por revelar-se uma armadilha
mortal, destinada a aprisionar as almas em correntes de servidão e submissão. Essa
crítica ecoa a ideia de que a fé baseada no medo e na dependência não pode gerar
um verdadeiro amor. À medida que as ilusões sobre o amor divino são desfeitas,
o sujeito pensante confronta a discrepância entre a fé professada e a experiência
vivida, gerando sentimentos de decepção, traição e perda.
Descoberta da Liberdade
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LIBERDADE ALÉM DAS FRONTEIRAS DA FÉ
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da própria existência.
Simone de Beauvoir, foi uma filósofa existencialista que explorou a questão da
liberdade e da autonomia feminina em sua obra “O Segundo Sexo”. Ela argumentou
que as mulheres devem buscar sua própria autonomia e independência, em vez de
dependerem dos homens ou das estruturas sociais patriarcais. Sua defesa da
liberdade individual pode inspirar sua busca por autenticidade e realização pessoal
além das fronteiras da fé. Ao renunciar à fé que me aprisionava, encontrei uma
nova fé, uma fé na minha própria capacidade de criar significado e propósito em
um universo aparentemente sem sentido. Não mais dependente das promessas
vazias de um Deus distante e inacessível, pude finalmente encontrar a paz e a
plenitude dentro de mim mesmo, reconhecendo que a verdadeira divindade reside
na própria essência da humanidade.
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EM BUSCA DA VERDADE INTERIOR
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BIBLIOGRAFIA
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SOBRE MIM
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