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Haroldo Mattos de Lemos

Curso de Pós Graduação em Gestão Ambiental 2007

Camada de Ozônio
Prof.Haroldo Mattos de Lemos

1. A camada protetora de ozônio

O ozônio – O3 é um gás tóxico, com alto poder oxidante, que está presente no ar "natural"
(baixa atmosfera) em pequenas concentrações: 0,02 partes por milhão em volume - ppmv. A
concentração máxima permitida de O3 num ambiente de trabalho, para uma exposição de 8
horas por dia, é de 0,1 partes por milhão - ppm. O ozônio é produzido naturalmente pelo
efeito das radiações solares e relâmpagos. É produzido artificialmente (com descargas
elétricas - alta voltagem) em algumas estações de tratamento, para a desinfecção da água.
O ozônio está presente em quantidade relativamente pequena na atmosfera terrestre, e sua
concentração varia com a altitude, desde o nível do mar até cerca de 50 km de altura. Na
estratosfera (15 a 50 km de altura) a concentração de ozônio atinge seu valor máximo,
menor que 10ppmv, a cerca de 30 km. Por isso, dizemos que entre 12 e 35 km existe uma
“camada de ozônio”. Ela atua como um filtro para a radiação ultravioleta (UV) tipo B emitida
pelo Sol, que tem comprimento de onda entre 280 e 320 nanômetros – nm (1 nm = 10-9 m),
impedindo que a maior parte desta radiação nociva atinja a superfície da Terra.
O O3 é um gás tão reativo que ataca e oxida quase qualquer substância com quem entra em
contato, inclusive tecidos vegetais e pulmões humanos. Próximo da superfície da terra,
portanto, o O3 é um gás poluidor de vida curta, pelo número grande de partículas e
superfícies com quem reage. Na estratosfera encontramos poucas partículas, e as
moléculas de O3 duram mais tempo, entre 50 e 100 anos. Ozônio é constantemente
produzido na alta atmosfera pela ação da luz solar sobre as moléculas de oxigênio. Por este
motivo, uma “Camada de Ozônio” se formou entre 12 e 35 km acima da superfície da terra.
A cerca de 25 km de altitude, onde a “camada” é mais densa, temos menos de 10 moléculas
de O3 em cada um milhão de moléculas no ar. Mas esta concentração é suficiente para
absorver a maior parte da perigosa radiação ultravioleta B – UVB da luz solar incidente
sobre o planeta. A radiação UVB pode ser comparada a uma saraivada de pequenos
projéteis de energia que possuem a freqüência certa para quebrar moléculas orgânicas,
incluindo o DNA que carrega o código para a reprodução da vida. Quando a UVB atinge
organismos vivos, um das conseqüências pode ser o câncer de pele, (melanoma). O
melanoma ataca principalmente pessoas com peles claras que passam um tempo
considerável de suas vidas fora de casa. Estima-se que para cada 1% de redução da
camada de ozônio, teríamos um aumento de 2% de UVB na superfície da terra, e um
aumento de 3 a 6% na incidência de câncer da pele.
Na realidade, a UVB ameaça duplamente a pele humana: pela indução do crescimento de
câncer e pela supressão da habilidade do sistema imunológico de combater o câncer, o
herpes e outras doenças infecciosas.
Além da pele, os olhos também são atacados, provocando queimadura da córnea em
esquiadores e montanhistas a grandes altitudes. A chamada cegueira das neves (snow
blindness) ocasional é muito dolorosa, e sua repetição reduz permanentemente a
capacidade de visão. A UVB pode provocar também danos à retina e estimular a formação
de catarata nas lentes dos olhos.

Alguns resultados das pesquisas sobre os danos provocados pela radiação UVB são:
- Organismos unicelulares e pequenos organismos são mais vulneráveis aos danos
do que outros organismos maiores, porque a UVB penetra somente em poucas camadas de
células;
- A UVB penetra somente nos primeiros metros da superfície dos oceanos, que é
onde a maioria dos organismos aquáticos vive1. Mas estes organismos (como o krill, na
Antártica) são a base da maioria das cadeias alimentares oceânicas;
- A exposição à UVB reduz a área da folha das plantas, a altura das plantas e a
fotossíntese. O efeito da UVB varia com a espécie vegetal, mas para 60% dos vegetais
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produzidos para alimentação a produtividade cai com o aumento da UVB. Um estudo feito
com soja indicou que uma redução de 25% da camada de ozônio resultaria na redução de
20% da produção2.
- A radiação ultravioleta aparentemente degrada polímeros e plásticos usados ao ar
livre (como borracha de pneus), e é um agente na formação de ozônio na baixa atmosfera,
que é um ingrediente do smog urbano.

Os organismos vivos evoluíram em muitas formas para se proteger das radiações


ultravioletas: pigmentação mais escura da pele, cobertura com pelos ou escamas,
mecanismos para reparar o DNA, e padrões de comportamento que mantém as criaturas
mais sensíveis escondidas da radiação solar forte (hábitos noturnos, por exemplo).

Figura 1 – Perfil típico da concentração de ozônio, segundo Kirchhoff 19883

A radiação UV B é responsável por efeitos nocivos à saúde, como queimaduras e câncer da


pele, maior incidência de catarata (danos à visão), prejuízos ao sistema imunológico,
redução da camada de gordura, com aumento de infecções fúngicas e bacterianas e
envelhecimento e enrugamento precoce da pele4. Outros efeitos nocivos são danos à
vegetação, com redução da fotossíntese e do crescimento das plantas (prejuízos para a
agricultura), e danos aos materiais (particularmente mármore e estruturas de ferro). O
plâncton marinho, ao ser afetado, reduz a absorção de CO2 pela fotossíntese, resultando de
maior concentração de gás carbônico na água, o que contribui para o "efeito estufa"
(aquecimento da Terra).
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A energia solar que chega ao nosso planeta é composta por um conjunto de radiações,
denominado espectro solar, cujos comprimentos de onda variam entre 120 a 4.000 nm. A
parte visível do espectro solar (luz solar), com comprimentos de onda entre 400 e 700 nm,
promove a fotossíntese e é responsável pela vida na Terra. Mas uma parte das radiações
ultravioletas (invisíveis) pode danificar ou até destruir os ecossistemas terrestres e, portanto
a vida no planeta. A radiação ultravioleta A (320 a 400 nm) é menos perigosa, mas tem
efeitos sobre a pele, acelerando seu envelhecimento e contribuindo para o câncer de pele.
As radiações ultravioletas B (280 a 320 nm) e C (150 a 280 nm) são extremamente
perigosas. Como já vimos, a maior parte da radiação ultravioleta B que atinge a alta
atmosfera é "filtrada" pela camada de ozônio, e a parte que atinge a superfície da Terra
pode provocar os problemas mencionados acima. Felizmente, toda a radiação UV C que
atinge a alta atmosfera é absorvida totalmente pelas moléculas de oxigênio (O2), muito mais
abundante que o ozônio, e, portanto, não atinge a superfície da Terra.

Figura 2 – Absorção da radiação ultravioleta pela atmosfera (Fonte:PNUMA)

As reações químicas que acontecem na atmosfera podem ser bastante complexas.


Daremos a seguir uma explicação simplificada da absorção das radiações UV B e C na alta
atmosfera (figura 3 a seguir). Quando a radiação UV C proveniente do sol atinge a alta
atmosfera e encontra moléculas de oxigênio (O2), sua energia é gasta para quebrar estas
moléculas em dois átomos de oxigênio (I e II). Como a atmosfera tem relativamente muito
oxigênio, toda a radiação UV C é consumida neste processo, e ela não atinge a superfície
da Terra. Um dos átomos de oxigênio (I) ao encontrar uma molécula de oxigênio (O 2) se
junta a ela, formando uma molécula de ozônio (O3). A seguir, quando a radiação UV B
incidente sobre a alta atmosfera encontra uma molécula de ozônio, ela usa sua energia para
quebrar esta molécula em um átomo de oxigênio e uma molécula de oxigênio (O2). Como a
quantidade de ozônio na atmosfera é relativamente pequena, uma parte da radiação UV B
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não encontra moléculas de ozônio pelo caminho e atinge a superfície da Terra. O átomo de
oxigênio recém liberado ao encontrar uma molécula de oxigênio (O2) vem a formar uma
outra molécula de ozônio (O3), que ao encontrar o átomo de oxigênio (II) que tinha sido
liberado na primeira reação, se transforma em duas moléculas de oxigênio (O2).

Figura 3 – Absorção das radiações UV B e C na alta atmosfera (Baseado em Stolarski 1998)

As moléculas de óxido nítrico (NO) presentes na estratosfera catalisam esta última reação,
que resulta na destruição das moléculas de ozônio:
NO + O3 NO2 + O2
NO2 + O NO + O2
e o resultado final é:
O3 + O 2O2
Os NO são liberados na pelos fertilizantes nitrogenados e pela queima de combustíveis
fósseis, e apesar de terem uma vida relativamente longa na atmosfera, apenas uma
pequena fração atinge a estratosfera. Aviões supersônicos e foguetes espaciais emitem
óxidos de nitrogênio (NOX) na estratosfera, mas a quantidade ainda é relativamente
pequena.
Com base na explicação anterior, podemos entender porque os médicos recomendam que
freqüentemos as praias (principalmente se levamos crianças) de manhã cedo ou no fim da
tarde, evitando o sol do meio dia. Tanto na parte da manhã quanto no fim da tarde, os raios
solares percorrem um caminho maior dentro da camada de ozônio, aumentando assim as
chances de encontrar uma molécula de ozônio e ter sua energia absorvida na quebra desta
molécula. Significa que de manhã cedo e no fim da tarde, a quantidade de radiação UV B
que atinge a praia é menor do que a que atinge ao meio dia.
O ozônio é também um "gás estufa", e o aumento de sua concentração na baixa atmosfera
resulta num maior aquecimento da Terra. O O3 é produzido na baixa atmosfera pelas
descargas elétricas (relâmpagos).
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2. A destruição da camada de ozônio

Durante os anos 20 foram realizadas medições isoladas da camada de ozônio, mas


medições sistemáticas só foram iniciadas nos anos 50, após o término da Segunda Guerra
Mundial. A partir dos anos 60 verificou-se uma diminuição na concentração de ozônio na alta
atmosfera, de aproximadamente 4% por década. A preocupação com esta descoberta
estava relacionada com a estimativa que uma redução de 10% na concentração de ozônio
na estratosfera deveria provocar um aumento de 20% na radiação ultravioleta que atinge a
superfície da Terra.
No início dos anos 70, pesquisas científicas revelaram o potencial dos clorofluorcarbonos
(CFCs) e halons para destruir a camada de ozônio. Os CFCs são gases artificiais,
descobertos em 1928, que apresentavam várias qualidades importantes: eram inodoros,
incolores, não inflamáveis, não corrosivos, atóxicos e muito estáveis (não reagiam com
outras substâncias na baixa atmosfera). Alguns CFCs evaporam e recondensam à
temperatura ambiente, o que os torna gases refrigerantes perfeitos (conhecidos como gás
Freon). Em virtude destas qualidades "maravilhosas", começaram a ser utilizados
comercialmente em refrigeração, substituindo a amônia (tóxica e inflamável), e em
aerossóis, como perfumes, pois não reagiam com as substâncias presentes nos frascos,
mantendo a qualidade dos perfumes por um tempo muito maior. Como não eram corrosivos,
passaram a ser usados também na limpeza de circuitos eletrônicos, e por sua baixa
condutividade térmica, passaram a ser usados em isopores para copos de refrigerantes,
placas para isolamento térmico de paredes, etc..
Os CFCs eram baratos para produzir e, acreditava-se, podiam ser descartados na atmosfera
sem maiores cuidados. Entre 1950 e 1975, a produção mundial de CFCs cresceu mais de
11% ao ano, e em 1985 a industria estava produzindo um milhão de toneladas por ano.
Somente nos Estados Unidos, os Freons eram usados em 100 milhões de geladeiras, 30
milhões de freezers, 45 milhões de aparelhos de ar condicionado domésticos, 90 milhões de
aparelhos de ar condicionado em automóveis e centenas de milhares de aparelhos em
restaurantes, supermercados e caminhões refrigerados. O americano ou o europeu médio
estava usando 0,9 quilogramas de CFC por ano, ao passo que a média na China ou Índia
era de menos de 0,03 quilogramas5.
Em 1974, dois trabalhos científicos confirmaram a ameaça dos CFCs à camada de ozônio.
Um deles, “Stratospheric Chlorine: A Possible Sink for Ozone”, de Richard Stolarski e
Richard Cicerone, publicado no Canadian Journal of Chemistry 52, afirmava que átomos de
cloro na estratosfera poderiam ser destruidores poderosos de ozônio. O outro,
“Stratospheric Sink for Chlorofluoromethanes: Chlorine Atomic Catalysed Destruction of
Ozone”, de Mario Molina e F. Sherwood Rowland, publicado na revista Nature 249, dizia que
CFCs estavam atingindo a estratosfera e sendo quebrados, liberando átomos de cloro. Em
virtude desta pesquisa, Molina e Rowland ganharam o Premio Nobel de Química em 1995.
As duas pesquisas revelaram que os CFCs liberados na atmosfera poderiam produzir sérias
conseqüências para a humanidade.
Na alta atmosfera, as moléculas de clorofluorcarbonos são quebradas pela intensa radiação
ultravioleta, liberando átomos de cloro, que vão catalisar a decomposição de milhares de
moléculas de ozônio:

UV B e UVC
CFCl3 Cl + CFCl2
Cl + O3 ClO + O2 (repetidamente)
ClO + O Cl + O2 (repetidamente)
cujo efeito final é:
O3 + O 2O2

Este processo catalítico é tão eficiente que apenas um átomo de cloro, proveniente da
molécula de CFC quebrada pela radiação UV, é capaz de destruir até 100.000 moléculas de
ozônio. Os efeitos destrutivos dos átomos de cloro e dos átomos de bromo só são
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bloqueados quando eles combinam com outras substâncias presentes na estratosfera, como
o dióxido de nitrogênio (NO2) e o metano (CH4), formando ClNO3, HCl (ácido clorídrico) e
BrNO3, que não destroem o ozônio6.

Figura 4 - Destruição do ozônio pelos CFCs (Fonte: Beyond the Limits)

É importante notar a demora para que as conseqüências ambientais da produção e uso dos
CFCs fossem notadas. Um CFC usado em um aparelho de refrigeração só era liberado
algum tempo após seu uso, ou por vazamento ou pelo descarte do aparelho. Uma vez
liberado na atmosfera, o CFC somente atinge a alta atmosfera, levado pelas correntes de ar,
alguns anos depois. E uma vez liberado pelas radiações ultravioletas, o átomo de cloro pode
durar muitos anos na alta atmosfera, destruindo cataliticamente as moléculas de ozônio.

Em 1974 ambientalistas americanos iniciaram uma campanha contra o uso de CFCs como
gases propelentes em sprays de perfumes, desodorantes e cremes de barbear, que resultou
numa queda de 60% na venda destes produtos, e pressão para uma lei que banisse o uso
de CFCs em sprays. Como sempre acontece nestes casos, a indústria resistiu. Richard E.
Benedick cita em “Ozone Diplomacy”, publicado pela Harvard University Press em 1991, que
um executivo da DuPont afirmou em 1974, em depoimento perante o Congresso Americano:
“a hipótese cloro-ozônio é neste momento meramente especulativa, sem evidência concreta
para apóia-la”. Mas prometeu: “Mas se dados científicos comprovados mostrarem que CFCs
não podem ser usados sem ameaça à saúde, DuPont cessará a produção destes produtos”.
Somente 14 anos depois esta promessa foi cumprida, mas uma lei proibindo o uso de CFCs
como propelentes foi aprovada pelo Congresso Americano em 1978.
Em 1975 a Organização Metereológica Mundial (OMM) publicou um documento científico:
"Modificações na camada de ozônio devido às atividades humanas e algumas
conseqüências geofísicas possíveis". Como resposta à crescente preocupação com a
possibilidade de destruição da camada de ozônio, o PNUMA e a OMM realizaram uma
reunião de cientistas em março de 1977, em Washington, que adotou o Plano de Ação
Mundial sobre a Camada de Ozônio. Em 1978, como vimos acima, os Estados Unidos
proibiu a utilização de CFCs como propelentes em aerossóis. Em maio de 1981, o Conselho
de Administração do PNUMA resolveu iniciar negociações para um acordo internacional
para proteger a camada de ozônio.
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3. A Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio


Em outubro de 1984 (primavera no Hemisfério Sul), pesquisadores da British Antartic
Survey, descobriram um “buraco” na camada de ozônio sobre a Baía de Halley, na Antártica,
com redução de 40% na concentração de ozônio, e atingindo uma área de cerca de 20
milhões de km2. Descobriu-se em seguida que a redução da camada de ozônio sobre a
Antártica vinha ocorrendo desde 1979, durante as primaveras, mas os cientistas pensavam
ser devida a erros nas medições. Esta redução começava no final de agosto, atingia seu
ponto máximo no início de outubro e desaparecia em novembro.
Em maio de 1985 J. C. Farman, B. G. Gardiner e J. D. Shanklin publicaram na revista
Nature 315 sua pesquisa “Large Losses of Total Ozone in Antarctica Reveal Seasonal
ClO/NO2 Interaction”, revelando a existência do “buraco de ozônio” na Antártica. Na
primavera de 1987, a concentração de ozônio chegou a diminuir até 60% em algumas áreas
sobre a Antártica. Este “buraco” continuou a crescer e atingiu, em setembro de 2000, uma
área de 28,3 milhões de km2 (três vezes o território dos EUA).
O buraco na camada de ozônio ocorre sobre a Antártica em virtude de certas condições
especiais7. A maior parte do ozônio sobre as regiões polares é formada nos trópicos e
transportada para os pólos pela circulação de massas de ar na estratosfera. Como a
Antártica é rodeada por oceanos, os ventos podem circular em volta do continente sem ser
interrompidos por massas de terra e montanhas. Durante o inverno e no início da primavera
forma-se um redemoinho, um "vórtice polar", que a isola o ar sobre a Antártica e evita que
se misture com o resto da atmosfera. Significa que durante este fenômeno, o ozônio
formado nos trópicos não entra na estratosfera da Antártica. Em virtude das baixas
temperaturas dentro do vórtice (a estratosfera da Antártica é o lugar mais frio do planeta,
chegando a atingir –900C), formam-se nuvens estratosféricas de cristais de gelo, que agem
como catalisadores, favorecendo as reações químicas que quebram as moléculas de CFCs
liberando átomos de cloro. Estes átomos de cloro reagem uma vez com moléculas de
ozônio para formar ClO. Duas moléculas de CLO se juntam para formar um dímero ClOOCl
relativamente estável, que se acumula esperando a luz da primavera. Em setembro, no
começo da primavera, a radiação solar quebra os ClOOCl e libera enormes quantidades de
átomos de Cl, que iniciam a destruição do ozônio. O retorno gradual da luz solar dissipa o
vortex polar (por volta de novembro), e o ozônio das outras regiões vem preencher o "vazio"
do buraco que tinha sido formado.
A radiação UV B possui suficiente energia para danificar tanto o DNA (ácido
desoxirribonucléico) quanto o sistema fotossintético das plantas, o que faz com que o
fitoplâncton seja muito vulnerável a esta radiação. Na Antártida, em virtude da existência do
buraco na camada de ozônio, estima-se que já houve uma redução entre 6 a 12% na
produtividade do fitoplâncton. No Ártico não existe um vórtice tão forte em volta do pólo
norte, e lá a temperatura não cai tanto quanto na Antártica, e o buraco de ozônio é bem
menor. Entretanto, reduções de até 12% já foram encontradas em regiões do norte da
Europa, Rússia e Canadá.
Em março de 1985, dois meses antes do anúncio da descoberta do buraco de ozônio sobre
a Antártica nas primaveras, o PNUMA promoveu numa reunião em Viena, Áustria, onde 21
países e a Comunidade Européia aprovaram e assinaram a Convenção de Viena para a
Proteção da Camada de Ozônio. Esta era uma convenção quadro, pois apenas definia o
problema a ser resolvido, definia sua estrutura institucional, mas não impunha obrigações de
redução do uso de substâncias que destroem a camada de ozônio nem estipulava
penalidades para quem não cumprisse com as reduções que seriam decididas mais tarde.
O processo de negociação não foi fácil, pois os governos estavam enfrentando um problema
ambiental global antes que ele fosse completamente entendido e tivesse produzido danos
mensuráveis à saúde humana ou à economia. Os Estados Unidos desempenhou um papel
de forte liderança, apesar da falta de unanimidade dentro da Administração Reagan.
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4. O Protocolo de Montreal
Em setembro de 1987, foi assinado o Protocolo de Montreal sobre as Substâncias que
Destroem a Camada de Ozônio, ratificado até março de 2004 por 187 países. O Protocolo
de Montreal definia medidas de controle para os cinco CFCs mais usados, cuja produção
deveria ficar congelada nos níveis de 1986. Os países desenvolvidos deveria reduzir sua
produção em 20% até 1993, e reduzir em mais 30% até 1998. Aos países em
desenvolvimento era permitido até aumentar seu consumo destas substâncias que destroem
a camada de ozônio (SDOs) antes de assumirem compromissos de redução.

Tabela 1 – Substâncias que destroem a camada de ozônio (SDOs).

Potencial de
Tempo de vida
Substância Destruição de Usos
na atmosfera
O3
Aparelhos de refrigeração, ar
CFC-11
1,0 75 condicionado, espumas flexíveis e
(CFCl3)
poliuretano rígido
Espumas de poliuretano rígido, ar
CFC-12
1,0 111 condicionado, refrigeração,
(CF2Cl)
aerossóis, esterilização
CFC-113
0,8 90 Solvente
(C2F2Cl3)
CFC-114 Espumas rígidas, ar condicionado,
1,0 185
(C2F4Cl2) refrigeração
CFC-115
0,6 380 Refrigeração, ar condicionado
(C2F6Cl)
Halon-1211
3,0 25 Extintores de Incêndio portáteis
(CF2BrCl)
Halon-1301
10,0 110 Sistemas de extinção de incêndio
(CF3Br)
Halon-2402
6,0 -- Extintores de Incêndio
(C2F4Br2)

3.2.4.1. Segunda Reunião das Partes do Protocolo de Montreal (MOP 2): Londres, 1990
Pouco tempo após a assinatura do Protocolo de Montreal, ficou claro que a redução
proposta não seria suficiente para evitar a destruição da camada de ozônio, mesmo que as
medidas fossem atendidas. A concentração dos átomos de Cl que destroem o ozônio na
estratosfera continuaria aumentando indefinidamente. Um dos motivos era a grande
quantidade de CFCs que já tinham sido produzidos mas ainda não haviam sido liberados na
atmosfera, e os CFCs que já tinham sido liberados mas não haviam atingido ainda a
estratosfera. A China, como a maioria dos países subdesenvolvidos que estavam se
industrializando, não assinou o Protocolo, e estava tentando equipar milhões de domicílios
com refrigeradores.
Com a divulgação do aumento progressivo do buraco de ozônio, a DuPont anunciou em
1988 que cessaria completamente a produção dos CFCs, e em 1989 os Estados Unidos e a
União Européia declararam que iriam parar toda a produção dos cinco CFCs mais usados
até o ano 2000. Como o Protocolo de Montreal previa avaliações periódicas da situação da
camada de ozônio e a tomada de medidas mais fortes, caso fosse necessário, após
negociações lideradas pelo PNUMA 92 paises se reuniram em Londres em 1990 e
concordaram em terminar toda a produção de CFCs até o ano 2000.
Durante a MOP 2, os delegados concordaram em apertar os planos de controle a
acrescentaram mais dez CFCs à lista de SDOs, além dos halons, tetracloreto de carbono e
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metilclorofórmio. Foi criado o Fundo Multilateral para a Implantação do Protocolo de


Montreal, para cobrir os custos incrementais dos países em desenvolvimento, incluindo
atividades de assessoria técnica, informação e treinamento, para possibilitar a compra e
instalação de tecnologias para permitir a substituição das SDOs8. Durante a Quinta
Reunião, realizada em novembro de 1993, o Fundo Multilateral foi confirmado como fundo
permanente, e destinados a ele US$ 510 milhões para o período 94-96. O Fundo é
renovado a cada três anos, e já desembolsou até hoje quase 2 bilhões de dólares. Até
março de 2004, 171 países já tinham ratificado as Emendas de Londres.
3.2.4.2. MOP 4: Copenhagem, 1992
Em 1991, novas medições de satélites sobre o Hemisfério Norte mostraram que a
destruição do ozônio estava ocorrendo com o dobro da velocidade que era esperada. Em
virtude destas notícias, vários países liderados pela Alemanha resolveram parar de fabricar
CFCs e halons mais rápido do que era exigido naquele momento.
Uma nova reunião de negociação (MOP 4) foi realizada em Copenhagen em 1992, onde os
países resolveram apertar ainda mais os planos de controle, com os países industrializados
eliminando a produção de halons até 1994 e de todos os CFCs até 1996. Foram incluidos o
brometo de metila (desinfetante de solos), hidrobromoflúorcarbonos (HBFCs) e
hidroclorofluorcarbonos (HCFCs) na relação dos SDOs. As Emendas de Copenhagem foram
ratificadas por 159 Partes, até março de 2004.
O Plano de Eliminação das SDOs para os países desenvolvidos, acordado em
Copenhagem, previa que a produção de CFCs seria reduzida em 75% em 1994 (ano base
1986) e em 100% em 1996. Para os halons, 100% em 1994 (ano base 1989); o tricloroetano
(metilclorofórmio), 50% em 1994 (ano base 1989) e 100% em 1996; o tetracloreto de
carbono, 85% em 1995 (ano base 1989) e 100% em 1996; o hidrobromoflúorcarbonos
(HBFC), 100% em 1996 (ano base 1989). Já os HCFCs – hidrocloroflúorcarbonos, que
inicialmente substituíram os CFCs, mas ainda tinham potencial de destruição da camada de
ozônio e são “gases estufa” importantes, ficou acordado que sua produção e uso nos países
desenvolvidos sofreria uma redução inicial de 35% (ano base 1989) em 2005, até atingir
100% em 2030. Para o brometo de metila, usado em esterilização de solos (plantação de
morangos) e fumigação de grãos estocados, foi acertada uma estabilização da produção em
1996 (ano base 1991). Posteriormente, a VII Reunião das Partes, realizada em 1995, proibiu
sua produção e uso nos países desenvolvidos.
O sucesso das medidas adotadas pelo protocolo de Montreal pode ser comprovado pelo
fato dos países industrializados terem reduzido a produção e consumo de SDOs de mais de
1 milhão de toneladas de ODP em 1986 para cerca de 200 mil toneladas de ODP em 1995
(ODP é o ozone depleting potential, calculado levando em conta o potencial de destruição
de ozônio de cada uma das substâncias produzidas, como indicado na Tabela 1 anterior).
Os países em desenvolvimento, entretanto, aumentaram sua produção no mesmo período,
de cerca de 40 mil toneladas de ODP para 100 mil toneladas de ODP7.
Entre 1986 e 1995, o consumo mundial de CFCs aumentou 40%. A maior parte deste
crescimento aconteceu em países com rápida industrialização, como Brasil, Índia, China e
México. A China aumentou sua produção de halons de 4 mil toneladas em 1991 para 10 mil
toneladas em 19557. Este aumento é preocupante, pois os halons destroem de 3 a 10 vezes
mais ozônio que os CFCs10.

O Plano de eliminação das SDOs para os países em desenvolvimento prevê, em resumo:


 CFCs 11, 12, 113, 114 e 115 (base: média de 1995-97): congelamento da produção e
consumo em 01/07/99; reduções de 50% em 01/01/2005, 85% em 01/01/2007 e 100%
em 01/01/2010 (com exceção dos usos essenciais);
 CFCs 13, 111, 112, 211, 212, 213, 214, 215, 216 e 217 (base: média de 1998-2000):
reduções de20% em 01/01/2003, 855 em 01/01/2007 e 100% em 01/01/2010 (com
exceção dos usos essenciais);
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 Halons 1211, 1301 e 2402 (base: média de 1995-97): congelamento em 01/01/2002;


reduções de 50% em 01/01/2005 e 100% em 01/01/2010 (com exceção dos usos
essenciais);
 Tetracloreto de Carbono (base: média de 1998/2000): reduções de 85% em 01/01/2005 e
100% em 01/01/2010 (com exceção dos usos essenciais);
 Metilclorofórmio (base: média de 1998/2000): congelamento em 01/01/2003; reduções
de 30% em 01/01/2005, 70% em 01/01/2010 e 100% em 01/01/2015 (com exceção dos
usos essenciais);
 HCFC (base: 2005): congelamento em 01/01/2016 e redução de 100% em 01/01/2040;
 Brometo de Metila (base: média de 1995-98): congelamento em 01/01/2002 (com
exceção dos usos essenciais – aplicações em quarentena e pré-embarque).

3.2.4.3. MOP 9, Montreal, Canadá, 1997


Durante a comemoração dos 10 anos do Protocolo de Montreal, os paises membros
decidiram criar um novo sistema de licenciamento para a importação e a exportação de
SDOs, e proibiram o comércio de brometo de metila com os países que não eram Partes da
Emenda de Copenhagem (ratificada por 159 países até março de 2004). A Emenda de
Montreal foi ratificada por 113 países até março de 2004.

3.2.4.4. MOP 11, Pequim, China, 1999


Foram aprovados controles sobre a produção de HCFCs e de bromoclorometano (BCM), e a
reposição de US$ 477,7 milhões para o Fundo Multilateral, para o período 2000-2002. Até
março de 2004, 66 Partes tinham ratificado a Emenda de Pequim.

3.2.4.5. MOP 14, Roma, Itália, 2002


As MOPs 12 e 13 foram realizadas respectivamente em Ouagadougou, Burkina Faso, em
2000, e Colombo, Sri Lanka, em 2001. Durante a MOP 14, realizada em Roma, em 2002, as
Partes decidiram repor US$ 573 milhões no Fundo Multilateral, para o período 2003-2005.
Os delegados também discutiram a proibição do uso do brometo de metila, a destruição de
SDOs, e as sinergias entre a destruição do ozônio e as mudanças climáticas.

3.2.4.6. MOP 15, Nairobi, Quênia


A Reunião das Partes realizada em novembro de 2003 adotou várias decisões, como sobre
as implicações da entrada em vigor da Emenda de Pequim (principalmente com relação aos
HCFCs). Como não houve acordo em relação ao brometo de metila, a decisão foi transferida
para uma reunião extraordinária das Partes, a ser realizada no ano seguinte.

3.2.4.7. Reunião Extraordinária das Partes do Protocolo de Montreal (ExMOP), realizada em


Montreal, entre 24 e 26 de março de 2004, com mais de 350 participantes, representando
114 países, Agências das Nações Unidas, ONGs, Organizações Intergovernamentais
(OIGs), indústrias e setor acadêmico. Foi adotado o conceito de limite duplo, fazendo a
distinção entre uso e produção para exceções de uso crítico para o brometo de metila. Foi
aprovada também redução adicional de brometo de metila para os países do Anexo 5 (em
desenvolvimento) após 2005, e condições para conceder e relatar exceções de uso crítico
de brometo de metila. Os níveis de produção e consumo permitidos com exceções de uso
crítico de brometo de metila foram de: 145 t para a Austrália, 47 para a Bélgica, 55 para o
Canadá, 407 para a França, 186 para a Grécia, 2.133 para a Itália, 284 para o Japão, 50
para Portugal, 159 para a Espanha, 128 para o Reino Unido e 7.659 para os Estados
Unidos. A recomendação foi, entretanto, para que os países procurassem reduzir
progressiva e significativamente sua produção e consumo de brometo de metila para as
exceções de uso crítico.
Haroldo Mattos de Lemos
Curso de Pós Graduação em Gestão Ambiental 2007

3.2.4.8. Resumo do plano atual de controle das SDOs, resultantes das várias emendas e
ajustes ao Protocolo de Montreal:
a) Os países desenvolvidos (não relacionados no Artigo 5) foram requisitados a
terminar a produção de halons até 1994, CFCs, tetracloreto de carbono,
metilclorofórmio e HBFCs até 1996, bromoclorometano até 2002, brometo de metila
até 2005. A produção de HCFCs devia ser estabilizada até 2004 e seu consumo
terminado até 2030.;
b) Os países em desenvolvimento (Artigo 5) foram requisitados a terminar a produção
de HBFCs até 1996 e bromoclorometano até 2002. Terão que parar de produzir
CFCs, halons e tetracloreto de carbono até 2010, metilclorofórmio e brometo de
metila até 2015. A produção de HCFCs deve ser estabilizada até 2016 e seu
consumo terminado até 2040.

5. Programa Brasileiro de Eliminação da Produção e Consumo das Substâncias que


Destroem a Camada de Ozônio – PBCO

O Governo Brasileiro criou um grupo interministerial, o Prozon, do qual fazem parte, entre
outros, os Ministérios: do Meio Ambiente; Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;
Ciência e Tecnologia e Relações Exteriores, para coordenar as ações internas para o
atendimento do que foi estabelecido pelo Protocolo de Montreal. Em 1994, o Prozon
encaminhou ao Fundo Multilateral do Protocolo de Montreal o Programa Brasileiro de
Eliminação da Produção e Consumo das Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio –
PBCO. Este Programa4, preparado com a participação do setor industrial e aprovado com
elogios pelo Fundo de Montreal, previa a antecipação da eliminação da produção dos
Halons 1211 e 1301 para 1994, dos CFCs 11, 12, 113, 114 e 115, e do Tetracloreto de
Carbono e Metil Clorofórmio para 2001. Em 1996 o Programa Brasileiro já estava
financiando 41 projetos, em diversos setores, com desembolso superior a US$23 milhões.
Desde 1991, o Fundo Multilateral já empregou mais de US$ 1 bilhão em mais de 110 países
em desenvolvimento para a adoção de novas tecnologias para substituir as substâncias
agressivas à camada de ozônio.

EM 2000, o consumo de CFCs no Brasil era de seis mil toneladas por ano, abaixo das 10 mil
por ano estabelecido como teto para 1999. No final de 2000, por solicitação de alguns
setores industriais, o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, do Ministério do
Meio Ambiente, aprovou a Resolução n0 267/00 prorrogando os prazos anteriormente
acordados. A eliminação da produção de CFCs ficou para 2007, três anos antes do prazo
final estabelecido pelo Protocolo de Montreal para os países em desenvolvimento (2010).

Em setembro de 2003, a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, assinou portaria criando o
Grupo de Trabalho do Ozônio, sob responsabilidade da Secretaria de Qualidade Ambiental
do MMA. Na cerimônia de lançamento da Semana Nacional de Proteção à Camada de
Ozônio, a Ministra anunciou investimentos de 26,7 milhões de dólares para o PBCO, sendo
9,5 milhões em 2003. Com os recursos de 2003 o governo distribuiu 12 mil equipamentos de
recolhimento de CFCs e vai implantar 10 unidades regionais de reciclagem e regeneração
destes gases.

O Ministério do Meio Ambiente pretende instalar em 2007 um centro de regeneração de


CFCs no Rio de Janeiro. Há dois anos, uma central como essa funciona em São Paulo:
recebe CFC usado, retira sua sujeira e o devolve para ser reutilizado. O Brasil não fabrica
nem importa mais CFC. Por isso, é preciso regenerar o gás existente no mercado para
manutenção dos equipamentos que ainda o utilizam - principalmente refrigeradores e
aparelhos de ar-condicionado antigos. Cerca de 7 mil técnicos foram treinados para recolher
o gás de geladeiras velhas. Normalmente, quando o produto quebrava, o CFC que estava
dentro do equipamento era liberado e substituído por outro novo. Hoje, é enviado para a
central de regeneração. O treinamento é feito em parceria entre o Ministério do Meio
Ambiente e o Senai - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
Haroldo Mattos de Lemos
Curso de Pós Graduação em Gestão Ambiental 2007

Estima-se que cerca de 40 milhões de geladeiras ainda utilizem CFC no Brasil. Substituir
esses eletrodomésticos é outra estratégia para eliminar o uso do produto. Em alguns
estados, como a Bahia, por meio de programas de eficiência energética, concessionárias de
energia elétrica doam geladeiras novas para famílias de baixa renda e o MMA recolhe o gás
das velhas. A expectativa é de que no futuro sejam abertos mais dois centros de
regeneração, um na região Nordeste e um no Centro-Oeste.
O Ministério do Meio Ambiente entregou a associações de agricultores da região de Atibaia
(SP) em janeiro de 2007, oito caldeiras a vapor para tratamento de solo no valor de US$ 50
mil cada. Os equipamentos possibilitam eliminar o uso do brometo de metila, que teve sua
importação proibida no Brasil a partir de 01 de janeiro de 2007.
O MMA apresentou também o coletor solar, artefato que substitui a utilização do brometo de
metila em menor escala. O treinamento dos operadores faz parte do Programa Nacional de
Eliminação do Brometo de Metila, coordenado pelo MMA. Os 27 operadores aprenderam a
utilizar os equipamentos doados pelo governo brasileiro com recursos do Fundo Multilateral
do Protocolo de Montreal.
Até maio, será entregue o lote completo de caldeiras, com 27 unidades, um investimento de
US$ 1,35 milhão, ou quase R$ 3 milhões. O governo brasileiro prevê, ainda, entregar 600
coletores até o fim de 2007, em regiões produtoras de flores em São Paulo, incluindo
Atibaia, Ibiúna e Holambra, bem como no estado de Pernambuco.
Tanto a caldeira quanto o coletor podem ser aplicados para o tratamento do solo e o controle
de formigas sem causar danos ao meio ambiente ou à saúde das pessoas que o
manuseiam. A caldeira já é utilizada em outros países, inclusive na vizinha Argentina, onde
agrônomos brasileiros vinculados ao plantio de flores tiveram a oportunidade de conhecê-la.
Já o coletor solar foi desenvolvido pela Embrapa e possui tecnologia 100% nacional.
Parecido com uma mesa, o coletor é feito de madeira. Apoiado em quatro pés, possui uma
caixa de madeira no topo, recoberta por uma camada plástica. No interior da caixa estão
instalados tubos metálicos, onde a terra deverá ser depositada. Após o aquecimento a
temperaturas médias de 60ºC, a terra estará livre de organismos nocivos ao cultivo de
plantas ornamentais e hortaliças, como o morango. A caldeira também adota o aquecimento
da terra para tratar o solo, utilizando-se de vapor de água em grandes quantidades de terra.
A Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial - UNIDO está
iniciando um processo de licitação para produzir os coletores em escala. Atualmente, o
custo estimado de cada coletor é de US$ 100 (R$ 220). O Fundo Multilateral do Protocolo
de Montreal dispõe de US$ 2 milhões (cerca de R$ 4,4 milhões) para investir nas caldeiras e
coletores.

6. Conclusão

O Protocolo de Montreal é considerado como um modelo entre os acordos ambientais


multilaterais, pois reconhece o princípio das “responsabilidades comuns, porém
diferenciadas”, e tem um mecanismo financeiro forte (Fundo Multilateral do Protocolo de
Montreal) para apoiar os trabalhos necessários nos países em desenvolvimento. Isto foi
conseguido porque os países em desenvolvimento se uniram e se recusaram a cooperar até
que recebessem a garantia de apoio técnico e financeiro que precisavam para fazer as
mudanças necessárias. Os países reconheceram que tinham ultrapassado um limite
perigoso, o da capacidade da Biosfera para absorver e neutralizar as substâncias que

destroem a camada de ozônio. Embora relutantes no início, concordaram em abrir mão de


um grupo de produtos industriais úteis e lucrativos. Por sua vez, o PNUMA demonstrou mais
uma vez que questões de alta complexidade técnica e sensibilidade política podem ser
tratadas com sucesso por uma abordagem multilateral e colaborativa (como no caso do
Programa de Proteção ao Mar Mediterrâneo).
Haroldo Mattos de Lemos
Curso de Pós Graduação em Gestão Ambiental 2007

Em 1995 e 1996 a redução da concentração de ozônio sobre o Pólo Norte atingiu recordes
históricos, incluindo uma redução de pouca duração de 45% sobre a Sibéria 11. Em 1998, 200
e 2003 o buraco de ozônio sobre o Pólo Sul bateu recordes de extensão e profundidade,
mas o crescimento do buraco de ozônio estava cada vez menor. Em 2002, a Avaliação
Científica da Organização Metereológica Mundial – WMO afirmou que a camada de ozônio
iria se recuperar lentamente durante os próximos 50 anos, supondo que o Protocolo de
Montreal e os acordos subseqüentes fossem cumpridos, que fosse finalizada a produção
ilegal de CFCs e outros produtos, e que não ocorressem grandes erupções vulcânicas (que
podem consumir ozônio estratosférico por curtos períodos). Mas um estudo mais recente
revelou (UNEP 2005 Annual Report) que mesmo que todas as metas do Protocolo de
Montreal sejam atingidas, a camada de ozônio não se vai se recuperar inteiramente até
2065, portanto 15 anos após o que tinha sido previsto anteriormente, devido à contínua
liberação de CFCs dos equipamentos de refrigeração antigos.

Um dos problemas que ainda enfrentamos é o contrabando de CFCs produzidos em países


em desenvolvimento (produção permitida até 2010) como Índia e China para os Estados
Unidos e Europa, muitas vezes disfarçados como CFCs reciclados. O Departamento de
Justiça dos Esdtados Unidos chegou a declarar que o lucro com a importação ilegal de
CFCs era maior do que com a cocaína. Embora a importação ilegal fosse estimada em 20 a
30.000 toneladas por ano no início deste século, a produção total de CFCs continua a cair
no mundo.

Uma das soluções intermediárias foi usar CFCs hidrogenados – HCFCs, que destruíam a
camada de ozônio somente entre 2 e 10% da destruição provocada pelos CFCs11. A
produção dos HCFCs será proibida a partir de 2030, tempo considerado suficiente para
encontrar soluções definitivas para o problema. Os Estados Unidos criou um imposto que
fez com que a reciclagem dos CFCs e o conserto dos vazamentos nos equipamentos seja
rentável.

Um dos substitutos importantes para os CFCs e HCFCs são os HFCs (hidrofluorcarbonos),


como o HFC-134a que está sendo usado em equipamentos de ar condicionado em
automóveis. Os HFCs não destroem a camada de ozônio, mas contribuem de forma
significativa para o efeito estufa, pois o potencial de aquecimento global de vários HFCs é
de 150 a 4.000 vezes maior do que o CO2. Por este motivo, o Protocolo de Quioto
(Convenção de Mudanças Climáticas) incluiu os HFCs entre os seis gases que os países
desenvolvidos devem reduzir a emissão em 5% até 2008-2012.

Fabricantes de circuitos eletrônicos desenvolveram substitutos para limpeza dos circuitos,


alguns simplesmente com soluções aquosas, e modificaram o processo de produção para
eliminar totalmente as fases de limpeza, com ganhos econômicos consideráveis. Os
isopores são produzidos agora usando outros gases, e experiências tem sido feitas em
várias partes do mundo para eliminar ou reduzir o uso de brometo de metila. Fazendeiros
quenianos começaram a usar gás carbônico no lugar do brometo de metila para fumigar
grãos armazenados, e um estudo do PNUMA concluiu que 90% do uso do brometo de
metila poderia ser evitado com o emprego de outras medidas de controle. Com custos mais
reduzidos.

A Reunião das Partes (MOP) realizada em Dakar, Senegal, em Dezembro de 2005


comemorou o vigésimo aniversário da Convenção de Viena para a Proteção da Camada de
Ozônio decidiu aumentar em US$ 470 milhões o orçamento para apoiar os países em
desenvolvimento no período de 2006 a 2008. Este valor vai suplementar os quase US$ 2
bilhões já desembolsados pelo Fundo Multilateral do Protocolo de Montreal, em projetos de
eliminação de substâncias que destroem a camada de ozônio e capacitação em países em
desenvolvimento. Os países em desenvolvimento têm prazo até 2015 para eliminar a
produção e uso do brometo de metila.
Haroldo Mattos de Lemos
Curso de Pós Graduação em Gestão Ambiental 2007

Consumo de CFCs, HCFC e Brometo de metila

Figura 5a – Consumo de CFCs (linha cheia) e HCFCs (tracejada) em toneladas de ODP


(ozone-depleting potential) nas regiões do mundo e total (linhavermelha);
Figura 5b – Consumo de brometo de metila em toneladas de ODP.

A interrupção da produção e uso de substâncias que destroem a camada de ozônio, como


os gases CFCs (clorofluorocarbos), tem sido apontada como um grande sucesso da luta
ambientalista pela preservação do planeta, com sua substituição por produtos menos
agressivos. Mas o brometo de metila ainda tem sido empregado largamente, sob a alegação
de que os produtos alternativos são ineficientes ou caros.

Entretanto, cerca de 5.000 fazendeiros, companhias e organizações mundiais, como a rede


de supermercados Marks & Spencer e a FAO (Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e Alimentação), anunciaram parceria, em abril de 2006, para acelerar a
substituição nas lavouras do uso do pesticida brometo de metila. Esse pesticida tem sido
largamente empregado em fazendas para eliminar pestes nos solos antes do plantio de
safras de tomates, morangos, melões e flores.

Agora, a partir de exemplos concretos identificados em um levantamento global, os


parceiros dessa iniciativa pretendem mostrar que pelo menos 5.000 fazendas comerciais,
espalhadas por mais de 30 países, já produzem tomates, pimentas, melões, morangos e
flores sem o uso do brometo de metila. Esses parceiros querem estabelecer uma rede
internacional de serviços para interligar produtores certificados com mercearias e
supermercados que estejam à procura de mercadorias produzidas sem o uso desse
pesticida. Fazendeiros e companhias que se reuniram nessa parceria verde já
interromperam totalmente o uso do brometo de metila ou se comprometem a cortar sua
utilização pela metade até setembro de 2007, quando será celebrado o aniversário de 20
anos do Protocolo de Montreal.

O Programa OzonAction do PNUMA tem o objetivo de ajudar países em desenvolvimento e


países com economias em transição a cumprir as metas do Protocolo de Montreal e tomar
decisões conscientes sobre tecnologias alternativas e políticas favoráveis à camada de
ozônio. Este programa, inicialmente financiado pelo Fundo Multilateral, está recebendo
apoio do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (Global Environment Facility – GEF). Em
maio de 2005, o OzonAction recebeu o premio US Environmental Protection Agency’s
Haroldo Mattos de Lemos
Curso de Pós Graduação em Gestão Ambiental 2007

Stratospheric Ozone Protection Award, da Agência de Proteção Ambiental dos Estados


Unidos.

O OzonAction está trabalhando com a Coca-Cola, a Unilever, o MacDonald’s e o


Greenpeace para incentivar ações voluntárias das indústrias em relação às mudanças
climáticas e à proteção da camada de ozônio. Nos últimos cinco anos, os parceiros e seus
fornecedores desenvolveram, testaram e adotaram tecnologias inovadoras de refrigeração
com HFCs e “CFCs free “ viáveis comercialmente. As geladeiras Bosh já substituíram os
HFCs (que tinham substituído os CFCs) pelo gás R 600 (isobutano), tecnologia
desenvolvida na Alemanha em 1992 pelo Instituto Dortmund e pelo Greenpeace.

Algumas lições poder ser destacadas da experiência de proteção da camada de ozônio:


a) Cientistas, políticos, corporações e consumidores podem reagir rapidamente quando
percebem a necessidade, mas não instantaneamente. Gastamos 13 anos entre os
primeiros alertas científicos em 1974 e assinar o Protocolo de Montreal em 1987.
b) Quando o conhecimento é incompleto, os acordos ambientais devem ser escritos
com grande flexibilidade, e devem ser revistos regularmente. É necessário um
monitoramento constante para acompanhar a evolução do problema e decidir sobre
os ajustes e melhorias necessários.
c) Previsões das indústrias sobre as conseqüências econômicas de cumprir com a
legislação ambiental podem ser exageradas, muitas vezes com o intuito de retardar
mudanças necessárias. Como afirmava o cientista Mário J. Molina: “Em 1978,
quando os Estados Unidos proibiu o uso de CFCs como propelentes em spays,
especialistas disseram que esta proibição resultaria em muitas pessoas
desempregadas. Isto não aconteceu”.

Leitura adicional pela Internet:

1. Proteção da Camada de Ozônio, Ministério do Meio Ambiente: www.mma.gov.br


2. Programa Estadual de Prevenção à Destruição da Camada de Ozônio (São Paulo):
www.cetesb.br/prozon.html
3. Protocolo de Montreal: www.unep.org/ozone/index.asp
4. PNUMA: www.uneptie.org/ozoaction.html
5. Buraco do Ozônio: www.theozonehole.com/fact.htm

Bibliografia

1. Osmund Holm-Hansen, E. W. Heibling, e Dan Lubin, “Ultraviolet Radiation in Antarctica:


Inhibition of Primary Production”, em Photochemistry and Photobiology 58, 1993.
2. A. H. Teramura e J. H. Sullivan, “How Increased Solar Ultraviolet-B Radiation May Impact
Agricultural Productivity”, em “Coping with Climate Change”, Climate Institute, Washington
DC, 1989.

3. Kirchhoff, V. W. J. H., "A redução da camada de ozônio: efeitos sobre o Brasil", Revista
Engenharia Ambiental, vol. 7, 32-35, 1989.
4. Ministério do Meio Ambiente, "O Brasil e a Proteção da Camada de Ozônio", Brasília,
1977.
5. Arjun Makhijani, Annie Makhijani, e Amanda Bickel, “Saving Our Skins: Technical Potential
and Policies for the Elimination of Ozone-Depleting Compounds”, Environmental Policy
Institute and the Institute for Energy and Environmental Research, Washington DC, 1988.
6. Araújo, M. A. R., "O que é a Destruição da Camada de Ozônio – Como o Brasil pode ser
afetado", Coleção Cara Pintada de educação Ambiental, Belo Horizonte, 1993.
Haroldo Mattos de Lemos
Curso de Pós Graduação em Gestão Ambiental 2007

7. Oberthur, S., “Production and Consumption of Ozone-Depleting Substances 1986-1995”,


Bonn, Alemanha, 1997.
8. Centro das Nações Unidas para Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento, “The
Relevance of Technology to the Debate on Environment and Development”, Nova York,
1990.
9. Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, "Plan for Halon Phase Out in
China", Canadá, 1996.
10. World Resources Institute, "World Resources 1998-1999: A guide to the global
environment", Oxford Press, Nova York, 1998.
11. Meadows, D. e Randers, J., “Limits to Growth: The 30-Years Update”, Chelsea Green
Publishing Co., Vermont, USA, 2004.

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